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numa relação amigo/inimigo; por outras palavras, pode-se sempre
tornar-se política, (...). Isto pode acontecer quando o outro, que
até aí só era considerado sob o prisma da diferença, começa a
ser compreendido como negando a nossa própria identidade,
como pondo em causa a nossa própria existência. Desse
momento em diante, qualquer relação do tipo nós/eles, seja
religiosa, nacional, econômica ou outra, torna-se centro de um
antagonismo político. (p.13).
Sendo assim, é importante salientar que os índios Pankararu residentes na
favela do Real Parque, muitas vezes são invisíveis, uma vez que negados. Muitos
moradores da comunidade e dos arredores ignoram a existência desses índios, o
que os impede de colocar na prática seus rituais e costumes.
Paradoxalmente, a cidade recebeu pessoas de diversos países, mas as
etnias tradicionais são negadas e esteriotipadas. Os indos ainda são vistos morando
em aldeias afastadas e escondidas do olhar do não-índio.
Para Goffman (1975), existe uma fachada, que se impõe em cada indivíduo:
A ‘fachada pessoal’ é relativa aos itens de equipamento
expressivo, aqueles que de modo mais íntimo identificamos com o
próprio ator, e que naturalmente esperamos que o sigam onde
quer que vá. Entre as partes da fachada pessoal podemos incluir
os distintivos da função ou da categoria, vestuário, sexo, idade e
características raciais, altura e aparência, atitude, padrões de
linguagem, expressões faciais, gestos corporais e coisas
semelhantes. (p. 31).
Então, é como se houvesse uma forma de ser índio, e que os Pankararu do
Real Parque não coincidissem com tal maneira, nem representassem o esperado.