CONCLUSÃO
Em primeiro de abril de 1942, pouco antes de ser capturado pelas forças de ocupação
Nazista na Holanda, Huizinga concedeu em Leiden uma breve entrevista ao jovem escritor
italiano o Gino Tomajuoli. Soldado da ofensiva alemã contra os russos em Karkov, Tomajouli
estava, naquela ocasião, acampado com sua tropa nas proximidades de Leiden. Sabendo de
sua proximidade ao famoso escritor de Nas sombras do Amanhã – livro que durante os seus
momentos no front lhe foi uma recordação constante – arriscou um pedido de entrevista a
Huizinga. Em 1944, apenas pouco tempo depois da libertação da Itália, esta entrevista foi
publicada num jornal de Roma, onde Gino Tomajuoli descreveu aquele encontro com bastante
comoção.
Entrei em um escritório quente, pequeno, iluminado por um cristalino
vidrado tão grande quanto a parede inteira. Passava, apenas, a porta e me
golpeou dentro do escritório, inesperadamente, a vista de um ramalhete de
narcisos amarelos e, junto, a impressão de quadros e livros, de fotografias e
objetos fundidos entre si, quase janelas irradiando diferentes luzes tranqüilas,
eles mesmos pretextos para a visão de um mundo imaginado e sereno. Por
certo, surpreso, hesitei porque me apanhou uma voz; deu-me as boas vindas
e vi, contra a vidraça, levantar-se um velho senhor, alto, apenas um pouco
curvo, e envelhecido. Os passos encontraram com aquela súbita certeza,
todavia, surpreso que aquele, então, era o aspecto humano de Huizinga.
Sentado diante dele, me encontrei a responder-lhe, sem outros preâmbulos,
que em dias de desespero, durante a retirada de Karkov, havia sentido a
necessidade de vir pedir-lhe ajuda; por isso estava em Leiden, no coração
quente de seu confortável lar holandês. Durante a retirada me parecia sentir
em concordância com milhões e milhões de homens que naquele instante
sentiam a necessidade, como eu, de clareza, de fé, de afirmar a liberdade de
seu próprio espírito em relação a pensadores nebulosos de um falso
conhecimento.
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TOMAJUOLI, G. apud. VILLARI, L. Uno storico del futuro. In: Lo Scempio del mondo. Op.cit.p.XI. “Entrai
in uno studio caldo, non grande, illuminato da una cristallina vetrata grande quanto l’intiera parete. Passavo,
appena, la porta e mi colpi entro la stanza, inattesa, la vista d’un fascio di narcisi gialli e, assieme, la sensazione
di quadri i libri, di stampe e oggetti fusi fra loro, quasi finestre irraggianti altre quiete luci, essi stessi pretesti alla
visione di un mondo immaginato e sereno. Certo, stupito, esitai perché mi riscosse una voce; mi diede il
benvenuto e vidi, contro la vetrata, alzarsi un vecchio signore, alto, appena um po’ curvo, e canuto. Gli andai
incontro con quella improvvisa certezza, tuttavia stupito che quello, dunque, era l’umano aspetto di Huizinga.
Sedetti difontre a lui e me trovai a rispondergli, senza altri preamboli, che in giorni di disperazione, durante la
ritirata di Karkov, avevo sentito il bisogno di venire a chiedergli aiuto; per questo ero a Leida, nel cuore caldo
della sua confortevole “home” olandese. Durante la ritirata mi era parso di sentirmi all’unisono con milioni e
milioni di uomini che in quell’instante sentivano come me il bisogno di chiarezza, di fede, di affermare la libertà
del proprio spirito dalle pesanti nebbie di una falsa conoscenza.”