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são extremamente desiguais e diferentes em relação ao estágio educacional francês
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Muitas vezes as estatísticas disponibilizadas no Brasil não revelam certos dados
importantes que podem ser observados nas pesquisas qualitativas.
Os trabalhos de Bourdieu trouxeram muitas contribuições à área
educacional; marcaram, principalmente a partir da década de 70, os estudos na
educação, em especial as questões relativas à seletividade no interior da escola,
apontando a diferença de rendimento em função das condições sociais dos alunos e
comparando indivíduos de baixa renda e de condição social mais elevada.
Bourdieu (1966) refutou as explicações baseadas em aptidões naturais e
individuais, ao mito do dom e demonstrou como o sistema escolar transforma o capital
cultural dos indivíduos em desigualdades escolares. O autor demonstrou que o sistema
escolar concede a aparência de legitimidade às desigualdades sociais, descreveu os
mecanismos que determinam a eliminação das crianças de meios desfavorecidos, que o
nível cultural global do grupo familiar mantém a relação mais estreita com o rendimento
escolar do aluno. As crianças advindas de meios favorecidos adquirem os hábitos úteis
para a realização das tarefas escolares, recebem ajuda de seus pais, herdam saberes, bom
gosto; nos domínios da cultura, os conhecimentos dos estudantes são mais amplos
quanto mais elevada é a sua origem social.
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Na França, a modernização e abertura social do ensino foram iniciadas no final da década de cinqüenta;
de acordo com IRELAND et al. (2007), inicialmente, todos os jovens foram acolhidos nos quatro anos de
escolaridade que se seguem ao ensino primário. Então, os collèges (1962) foram criados. Inicialmente,
foram organizados nos colégios os tipos de ensino clássico, moderno e prático, que diziam respeito às
capacidades dos alunos e à sua origem social. Os sociólogos elaboraram a teoria da reprodução nesse
período. Nas décadas de sessenta e início de setenta, ocorreram muitas lutas contra a desigualdade social
na escola; em 1975, o governo unificou os tipos de ensino em um colégio chamado único. A década de
oitenta marcou avanço no que diz respeito ao ensino médio. No início da década, cerca de um terço de
cada geração concluía o ensino médio; em 1985 foi decidido levar 80% da geração até esse nível no final
do século XX; os outros 20% deviam receber formação profissionalizante por meio da aprendizagem
prática nas lojas, usinas, oficinas... A oferta dos liceus, responsabilizados pelo ensino médio, foi
ampliada, acrescentando séries profissionais às gerais e tecnológicas. A meta de 80% não foi atingida.
Hoje, mais ou menos dois terços de cada geração completam o ensino médio (não são todos os que
conseguem o baccalauréat, exame e diploma nacional de final do ensino médio, que dá direito à vaga na
universidade; mais de 80% desses jovens conseguem esse diploma). Os outros se formam pela
aprendizagem profissionalizante fora da escola ou abandonam o ensino médio antes do final, há cerca de
10% dos jovens em situação de fracasso escolar grave. Em todos os grandes países do Primeiro Mundo,
há 8 a 15% de jovens aquém do nível de formação considerado como mínimo no país. Entre os alunos
considerados fracassados na França, a maioria entrou no colégio e completou o que corresponde aqui ao
ensino fundamental; eles sabem ler e fazer contas, mas têm dificuldades para entender as sutilizas de um
texto. A sociedade capitalista moderna precisa da escola que hierarquiza os alunos; não precisa de jovens
que não sabem ler, desempregados, violentos. Com a imigração, na periferia das cidades, há bairros onde
a maior parte da população é constituída por filhos e netos de imigrantes. As escolas desses bairros
acolhem até 80% dos jovens.