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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
VANIA RAMOS
VELHAS E VELHOS CONQUISTAM ESPAÇOS NAS
UNIVERSIDADES DE SÃO PAULO: POLÍTICA, SOCIABILIDADE
E EDUCAÇÂO
Doutorado em Ciências Sociais
SÃO PAULO
2008
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VANIA RAMOS
VELHAS E VELHOS CONQUISTAM ESPAÇOS NAS
UNIVERSIDADES DE SÃO PAULO: POLÍTICA, SOCIABILIDADE
E EDUCAÇÂO
Tese apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título de
Doutor em Ciências Sociais, sob a orientação da
Profª Drª. Silvana Tótora
PUC-SP
2008
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VANIA RAMOS
VELHAS E VELHOS CONQUISTAM ESPAÇOS NAS
UNIVERSIDADES DE SÃO PAULO: POLÍTICA, SOCIABILIDADE
E EDUCAÇÂO
Banca examinadora
________________________________
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PUC-SP
2008
Dedico este trabalho a Valentina Petrov
Zander, a minha mãe Diná Ramos, ao meu pai
José Roberto Ramos e a meu irmão Mauricio
Ramos (post mortem), aos meus pesquisados e
aos meus amigos que compartilharam
efetivamente e afetivamente desta construção.
Agradecimentos
___________________________________________________________
Aos espíritos de luz, que iluminam a minha vida...
`A Valentina Petrov Zander, pelo carinho, paciência, estímulo,
criticas e provocações, que motivaram a contínua reorganização do meu
texto...
`A minha mãe, por suas orientações e preces que fortaleceram os
meus passos, não me deixando sucumbir diante dos obstáculos...
`A Professora Doutora Silvana Tótora, pela orientação, e que, com
sua sabedoria, soube direcionar as suas opiniões, respeitando as minhas
idéias...
Às professoras Doutoras Laurinda Ramalho e Nadia Dumara Ruiz
Silveira, pela leitura cuidadosa e pelos apontamentos enriquecedores no
exame de qualificação...
Ao Professor Doutor Paulo Assunção, que sempre acreditou em meu
trabalho.
Às amigas e professoras Doutoras Suzana Medeiros, Maria de Los
Dolores, Cleide Silvério dos Reis, Elizabeth Mercadante, Beltrina Corte,
Ruth Gelehrter da Costa Lopes, que me orientaram com sabedoria e
exemplos sobre a arte de viver e envelhecer...
`As amigas professoras Doutoras Marinella Binda Rossetti, Maria de
Los Dolores Gimenes Peña e Nancy dos Santos Casagrande, pelo
incentivo e amizade...
Aos meus queridos amigos Silvinha, Heral, Márcia, Marisa, Malu,
Paulo, Maria Ercília, Suzi, Jacy, Maria Beatriz, Fabiola, Célia, Judith, Janny
e Helio, pela torcida e respeito aos meus momentos de solidão intelectual...
A Doutora Albertina Duarte, pelo apoio e brilhantismo na arte da
preservação da saúde da mulher.
Aos meus pesquisados Paula, Dina, Abigair, Mirian, Olga, Frima,
Manoel, Tereza, Rosa, Nadia, Lucia, Arlete, Marisa, Vani, Maitinha, Marlene,
Maria do Carmo, Ignez, Dinah, Luiza, Marilena, Zely, Lenina e Eda por
partilharem suas experiências existenciais...
Ao Centro Universitário Assunção pelo incentivo e por acreditar no
meu profissionalismo...
Ao CAPES pelo apoio financeiro...
RESUMO
________________________________________________________________________
O percurso do olhar atento deste trabalho passará pelas seguintes
etapas: diferentes visões do envelhecimento; análise da trajetória histórica das
universidades da terceira idade visando contextualizá-las no ambiente das
universidades paulistanas; elaboramos uma pesquisa qualitativa, através de um
estudo descritivo-analítico dos projetos de duas Universidades abertas à
Terceira Idade da cidade de São Paulo, (Universidade aberta `a Terceira Idade
da USP e a Universidade aberta `a Maturidade da PUC/SP), através da
aplicação de questionários e entrevistas feitas com alunos das universidades
citadas, desenvolvendo uma análise do discurso destes estudantes em relação
aos diferentes tipos de sociabilidade encontrados nestes espaços escolares e,
finalmente, na conclusão, descobrimos uma nova forma de envelhecer, um
modo de vida que enxergamos como inovador.
Palavras-chaves: envelhecimento, gerontologia educacional, amizade,
educação, universidade aberta a terceira idade.
ABSTRACT
________________________________________________________________________
This thesis focuses primarily on the following items: different visions on
aging, an analysis of the historical path of the so called open universities of the
Third Age (U3A) in order to bring them into the context of the universities located
in the city of São Paulo; a qualitative research was developed, based on an
analytical study on two distinctive projects for universities for the elderly in the
city of São Paulo (the Open University of the third age of USP – Universidade de
São Paulo and the University for the elderly of PUC / SP – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo), applying questionnaires and personal
interviews with some students from these universities. The next chapter
develops an analysis based on these students answers and statements. Finally,
the discovery of a new form of ageing, a lifestyle for the elderly that we envision
as innovative.
Key words: aging, educational gerontology, friendship, education, Open
University of the third age.
SUMÁRIO
_______________________________________________________
CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................12
CAPÍTULO 1
O CENÁRIO: A VELHICE SOB OLHARES ACADÊMICOS
1.1 Singularidade da velhice..............................................................................27
1.1.1 Afirmação da velhice..........................................................................32
1.1.2 Corpo envelhecido.............................................................................38
1.1.3 Forças reativas do envelhecimento: estigma e estereotipo..........53
1.2 Olhares sobre o envelhecimento: a universidade e as produções
acadêmicas...............................................................................................56
1.3 Educação permanente como instrumento de desenvolvimento na
velhice.......................................................................................................64
1.3.1 Universidade aberta a Terceira idade..............................................69
1.3.2 Educação continuada no Brasil voltada à chamada
Terceira Idade..........................................................................................72
CAPÍTULO 2
AS PEÇAS DO CENÁRIO: UNIVERSIDADES ABERTA À TERCEIRA IDADE
2.1 Montando o cenário: o espaço (palco)......................................................79
2.2. Os programas oferecidos por duas universidades paulistanas.............84
2.2.1 Universidade de São Paulo (USP): um pouco de história.........85
2.2.1.1 Universidade de São Paulo: cursos na área
do envelhecimento..........................................................87
2.2.1.2 Universidade aberta à Terceira Idade da Universidade
de São Paulo (USP)....................................................................91
2.2.2 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): Um
pouco de história..........................................................................107
2.2.2.1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo:
cursos na área de envelhecimento..........................................108
2.2.2.2 Curso de especialização em Gerontologia:................111
2.2.2.3 Universidade aberta à Maturidade da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo...........................113
2.2.2.3.1 Proposta educacional....................................117
2.2.3 Os dois projetos: olhares...........................................................123
2.2.3.1 O projeto da Universidade de São Paulo.....................124
2.2.3.2 O projeto da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo...............................................................................128
CAPÍTULO 3
OS PERSONAGENS E SUAS IDÉIAS: O ENVELHECER NA
UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE
3.1. O velho estudante e as inter-relações no espaço escolar...................134
3.3.1 Quem são os velhos estudantes?.............................................139
3.2 Os tipos de sociabilidades......................................................................143
3.2.1 A amizade.................................................................................143
3.2.2 A relação entre o público e o privado(família).......................158
3.2.3 O cuidado de si.........................................................................168
3.2.4 O Conhecimento.......................................................................178
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................196
BIBLIOGRAFIA................................................................................................242
ANEXOS...........................................................................................................210
“ Somente os idiotas se lamentam de
Envelhecer.” (Cícero, 44 a.C.)
12
Considerações iniciais
______________________________________________________
“ Sinta--se diante dos fatos como uma criança e
prepare-se para sacrificar todas as noções preconcebidas,
siga humildemente por toda parte e por todos os abismos
a que a natureza o levar; ou você não aprenderá nada”.
T.H.Huxley
13
_____________________________________________________________
Este trabalho surgiu como resultado de mais de 24 anos de
experiência, em que o corpo e o envelhecimento sempre foram focos de nossa
busca pelo conhecimento. Desde os primeiros anos de nossa formação
acadêmica, quando ministramos aulas de ginástica para turmas de terceira
idade, não acreditávamos que o envelhecimento pudesse ser o fim, marcado por
tantas perdas e degenerações, e o movimento humano apenas um gesto
mecanicista. Essas questões nos levaram ao estudo e ao aprofundamento de
um campo teórico-prático e de uma formulação teórica que, de diversas formas,
envolvia pessoas em processo de envelhecimento.
A necessidade de estudar esse tema foi marcada por angústias e
inquietações, através de experiências como professora e terapeuta em diversas
atividades exercidas em instituições, entidades, associações e em universidades
para a terceira idade.
No ano de 1998, desenvolvemos uma pesquisa sobre o
envelhecimento, que foi realizada com um grupo de alunos que estudavam em
duas Universidades abertas a terceira idade na cidade de São Paulo, e que
participavam, na ocasião, de nossas aulas no módulo “Corpo, Saúde e
Movimento – Gerontopsicomotricidade”.
Inicialmente, procuramos entender o movimento humano na sua inter-
relação corpo e movimento e a sua compreensão no processo do
envelhecimento, ressaltando as transformações ocorridas nos diferentes
aspectos: psicológico, biológico, motor e social. Isso nos levou a refletir sobre a
tragédia do não-movimento, pela perda da vontade, do prazer e do interesse. O
corpo é a totalidade daquilo que o homem percebe, sente, vive, em relação ao
14
significado dessas vivências, considerando que cada experiência dá uma nova
forma ao corpo que se constrói ao longo da vida.
Durante muitos anos, décadas, séculos, a velhice, na nossa sociedade,
tem sido entendida unicamente como um processo de degeneração biológica,
como uma doença, assim, como afirma Ajuriaguerra:A velhice reduz as forças,
extingue as paixões e vem sempre acompanhada de perdas
1
.
No decorrer da pesquisa que fizemos na época, pudemos analisar
como o idoso verbaliza a relação que estabelece com o seu próprio corpo; como
encara as suas limitações físicas e como lida com elas no seu cotidiano; como
sente a reação dos outros, frente aos sinais de envelhecimento de seu próprio
corpo.
Concluímos que o significado do movimento corporal para o idoso, e a
relação que ele estabelece com as transformações ocorridas no seu corpo, são
diferentes para cada pesquisado, mas fortemente relacionadas à esfera
existencial. O envelhecimento do corpo não é impedimento para que esses
idosos possam fazer planos e ir em busca de suas realizações. Como afirma
Fonseca
2
(1988) “O homem constrói o seu mundo através do seu mundo de
percepções e do seu mundo de ação, querendo demonstrar que o homem não
existe somente pelas suas ações, como o animal, mas existe pelo seu
conhecimento e pelos seus movimentos interiorizados”.
A partir deste trabalho pudemos nos familiarizar com as diversas
realidades ocorridas dentro das universidades de terceira idade, e percebemos
que a questão do envelhecimento exige uma nova articulação da trama social,
uma nova compreensão do envelhecer, pois estamos defronte a um novo velho.
Em nenhum outro momento no mundo, as pessoas poderiam pensar
que aos 60, 70 e até aos 90 anos de idade, teriam possibilidade de voltar aos
bancos escolares na condição de alunos, portanto nos deparamos com uma
redefinição, ou com uma nova forma de envelhecer: uma nova condição de
velhice.
1
AJURIAGUERRA, Manual de Psiquiatria, 1985:256.
2
FONSECA, Vitor, Da Ontogenese a filogenese da Psicomoticidade, 1988:159
15
No Brasil, o envelhecimento acelerado da população é um fato
reconhecido e amplamente divulgado. Observamos que, entre os censos
populacionais de 1991 e 2000, a população geral do país cresceu 15.6% (cerca
de 23 milhões de pessoas, enquanto a população com 60 ou mais anos de
idade, no mesmo período, cresceu 36,5% (cerca de 3,9 milhões de pessoas).
Embora os 8,5% de idosos na população geral do Brasil (14,5 milhões de
pessoas) sejam bem inferiores aos percentuais de idosos observados em países
desenvolvidos, os efeitos do aumento desta população já se fazem sentir nas
diversas demandas sociais.
3
As previsões apontam que, daqui a 15 anos, o Brasil será o sexto país
mais velho do mundo. A proporção de idosos vem crescendo mais rapidamente
que a proporção de crianças. Em 1980, existiam aproximadamente 16 idosos
para cada 100 crianças; em 2000, essa relação praticamente dobrou, passando
para quase 30 idosos por 100 crianças. A queda da taxa de fecundidade ainda é
a principal responsável pela redução do número de crianças, mas a longevidade
vem contribuindo progressivamente para o aumento de idosos na população. A
partir de 2020 teremos 50% de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil. O grupo
de pessoas de 75 anos ou mais de idade foi o que teve o maior crescimento
relativo (49,3%) nos últimos dez anos, em relação ao total da população idosa
4
.
Outra importante conseqüência dessa transição demográfica é o
envelhecimento da população economicamente ativa (PEA). Estudos sobre a
perspectiva de crescimento da PEA mostram que entre 1980 e 1990 o segmento
dessa população que mais cresceu foi o de 25 a 49 anos e, entre 2000 e 2020,
será o de pessoas acima de 50 anos.
5
O fenômeno do envelhecimento populacional que ocorre no Brasil
levanta questões importantes, seja do ponto de vista pessoal, seja do ponto de
vista sócio-econômico, questões essas que são interdependentes. A mais
importante dentre essas questões é a de saber se o ciclo de vida aumentado
3
Fonte: IBGE - Censo 2.000. (BELTRÃO, CAMARANO E KANSO, 2004).
4
LLOYD-SHERLOCK, 2004.
5
IPEA- Perfil de idosos responsáveis pelo domicilio no Brasil, Departamento da População e Indicadores
Sociais. Rio de Janeiro, 2002:99.
16
pode ser vivido com qualidade, ou será apenas um período de aumento de
estados patológicos e de morbidade que precedem a morte.
Quem é o idoso? No Brasil, é considerado como idoso ou idosa a
pessoa com idade igual ou superior a 60 anos de vida. Nos países
desenvolvidos, como por exemplo, Japão, Estados Unidos, França, Espanha,
Canadá e tantos outros, a pessoa é considerada idosa quando completa 65
anos de idade. Esse é um critério adotado pela Organização das Nações Unidas
(ONU), que leva em conta as questões relacionadas à qualidade de vida das
pessoas e ao crescimento econômico dos países
6
. Nos países que ainda não
alcançaram um alto índice de desenvolvimento, a idade é de 60 anos. A Política
Nacional do Idoso, Lei Federal 8.842/94 e regulamentada no decreto no.
1948/96
7
, que assegura os direitos sociais do idoso, também define o idoso
como sendo a pessoa maior de 60 anos.
A cidade de São Paulo
8
ocupa a quarta posição das capitais com
maior número proporcional de idosos. Estima-se que a população de idosos
paulista já ultrapasse um milhão de pessoas. No ano de 2000, a população de
idosos era de 972.199 pessoas, ou 9,3% da população total da cidade,
10.434.252 pessoas. Os homens representavam 40,5% da população e as
mulheres, 59,5% do total.
9
A população idosa se divide da seguinte forma por
grupo etário, apresentado no quadro 1:
6
LLOYD-SHERLOCK 2004
7
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Direito dos Idosos, 1997:83.
8
Os idosos não se distribuem de forma homogênea no espaço geográfico do município de São Paulo. A
região central da cidade concentra o maior número de idosos. A Subprefeitura de Pinheiros é a que tem a
maior concentração de idosos. Interessante destacar que é nesta subprefeitura que se têm o melhor
indicador de desenvolvimento humano. Nos distritos administrativos de Alto de Pinheiros, Itaim Bibi,
Jardim Paulista e Pinheiros, 19% da população é idosa; podemos considerar este índice bastante elevado
em relação ao total da cidade, que é de 9,3%. Fonte IBGE Censo Demográfico de 2000.
9
Fonte IBGE Censo Demográfico de 2000.
17
Quadro 1
Divisão dos idosos por grupo etário
Grupo Etário 60 a 64
anos
65 a 69
anos
70 a 74
anos
75 a 79
anos
80 ou
mais
Quantidade
972.199
301.419
238.434
193.539
122.245
116.562
Porcentagem
100%
31,0%
24,5%
19,9%
12,6%
12,0%
Fonte IBGE/ Censo Demográfico de 2000
Como podemos perceber, aumentou o número de idosos que vivem
sozinhos, especialmente as mulheres, que vivem mais que os homens. Entre as
mulheres, a média de idade é de 72,6 anos e, entre os homens, 64,8 anos. A
maior longevidade feminina é um fenômeno mundial, mas ganha intensidade no
Brasil, em razão da grande mortalidade de homens jovens por causas externas,
como acidentes e homicídios.
Por viverem mais e não serem tão dependentes de outras pessoas
quanto os homens, há muito mais mulheres vivendo sozinhas. O índice de
idosos que vivem sós é de 17,9%. É o dobro da média da população de todas as
idades. De 1,6 milhão de idosos vivendo sozinhos, apenas 33% são homens.
Geralmente, os homens se casam de novo ou vão morar com filhos e outros
parentes, diferentemente das mulheres que preferem ficar sozinhas.
10
Atualmente, a sociedade limita os serviços sociais e de saúde ao
contingente idoso, com afirmação do alto custo destes serviços para esta
população. No entanto, isso é um direito; se o ciclo de vida aumentado pode ser
vivido até seu final de forma saudável, com autonomia, independência e
qualidade para o indivíduo, isso representa um período de tempo que reflete um
mosaico de memórias felizes, bem como a culminância e a síntese de projetos
de uma vida bem vivida.
10
Fonte IBGE/PNAD 2003.
18
A luta não deve ser apenas por uma vida longa, mas sim por uma vida
longa com qualidade. Entretanto, a infra-estrutura necessária para responder às
demandas médicas, sociais e educacionais deste grupo, em termos de
instalações, programas específicos e mesmo recursos humanos adequados
quantitativa e qualitativamente, ainda é relativamente precária. Ao mesmo
tempo, são muitos os problemas que afetam significativamente a qualidade de
vida dos idosos, geram estresse familiar e consomem grande parte dos recursos
públicos.
O cenário se apresenta com uma certa ambigüidade, pois levamos em
conta os esforços para o prolongamento da vida, a busca da longevidade, e
existe um grande descuido com a qualidade de vida das pessoas que
envelhecem.
O conceito do envelhecimento ativo
11
contempla os princípios das
Nações Unidas de independência, participação, dignidade e auto-cuidado para
os idosos. Participar da vida social é dar ao idoso a igualdade de oportunidades
e de tratamento em todos os aspectos da vida, à medida que vão envelhecendo.
É a responsabilidade social de participar ativamente nos processos políticos,
comunitários e educacionais. Como afirma Kalache (1997):
O termo envelhecimento ativo foi adotado pela
Organização Mundial da Saúde no final dos anos
90. Procura transmitir uma mensagem mais
abrangente do que “envelhecimento saudável”, e
reconhecer, além dos cuidados com a saúde,
outros fatores que afetam o modo como os
indivíduos e a população envelhecem.
12
Dentre as diversas instituições, as Universidades vêm criando cursos
para a integração dessa faixa etária da população, através de inserção do idoso
no universo educacional.
Pensar o envelhecimento hoje é perceber essa nova forma de velhice e
contribuir com pesquisas, e com o desenvolvimento de projetos que estimulem a
11
KHALSA, D. S., Longevidade do cérebro, 1997:106.
12
KALACHE e KICKBUSCH, 1997, acessado no site envelhecimento ativo.doc em 22/03.2007.
19
manutenção de uma autonomia, uma vez que a expectativa de vida cresceu
muito e deve continuar crescendo. Precisamos de um novo meio de ser e fazer,
de aprender e de assumir a velhice, reconhecendo que as velhices são,
paradoxalmente, inúmeras e singulares. Como afirma Morin (1995):
Vivemos várias vidas em uma só vida. Vivemos a
nossa vida ao mesmo tempo em que vivemos a
vida herdada de nosso pai e nossa mãe, a vida de
nossos filhos e dos que estão próximos, a vida da
sociedade, a vida da espécie humana, a vida da
vida. Devemos viver para viver nossa vida
enquanto vivemos para as outras vidas, reais e
potenciais, que fazem parte da nossa vida e das
quais fazemos parte. Devemos viver privada e
publicamente, individual e socialmente, não política
e politicamente, no instante, no presente, no
imediato, no futuro, no devir,...
13
A velhice, aos poucos, passou a ser vista também como um momento
da vida quando se pode viver com prazer, satisfação, realização pessoal, de
maneira mais madura e também produtiva. Em face dessa nova visão, passaram
a ser valorizadas novas posturas de atendimento, de oferta de serviços e de
atividades aos idosos, compatíveis com a nova imagem do envelhecimento. Em
vários países, inclusive no Brasil, a universidade tem desempenhado essa
função por meio de programas voltados para a educação permanente de idosos.
Tendo como pressuposto a noção de que a atividade promove a saúde, o bem-
estar psicológico e social e a cidadania dessas pessoas genericamente
chamada de terceira idade, esses programas oferecem oportunidades para
participação em atividades intelectuais, físicas e sociais.
No entanto, em nosso país, a despeito do sensível aumento na oferta
de programas educacionais para idosos verificado nos últimos anos, ainda não
há um ponto de vista comum e tampouco um conjunto de práticas instituídas
para a formação dessas atividades educacionais.
13
MORIN, Terra-Pátria. 1995:303.
20
Diante dessa nova realidade, como pesquisadora do envelhecimento e
professora atuante em diversas Universidades abertas à Terceira Idade e
consciente da necessidade de refletir sobre a prática dessa nova realidade
educativa, temos como objetivo geral, nesta pesquisa, compreender o velho e
sua inserção social nas instituições que se denominam Universidades abertas à
Terceira Idade (Universidades dentro de Universidades).
Na cidade de São Paulo foram criados vários cursos em universidades de
renome, denominados de Universidade aberta à Terceira Idade, Universidade
aberta à Maturidade, Universidade Sênior, e outras denominações similares
14
.
Qual é o lugar do velho nesses espaços de ensino? Qual é o papel social da
Universidade da Terceira Idade dentro dessas Universidades ou Centros
Universitários? Qual o lugar social da Universidade que acolhe o velho? Qual o
impacto da Universidade no velho? Qual é o futuro de ambos?
A estruturação de microuniversidades temáticas, voltadas para a terceira
idade, pode ser um recurso importante para a formação permanente. Ali, os
idosos, além de obterem conhecimento, vivenciam atividades culturais e de
lazer, conquistando um espaço de convivência. Será que essa afirmação é
verdadeira? Essa indagação torna-se importante, e procuraremos respondê-la
no decurso deste trabalho.
A hipótese que guia esta pesquisa baseia-se na afirmação constante nos
projetos de que os velhos que freqüentam os cursos oferecidos para a terceira
idade nas Universidades e Centros Universitários da cidade de São Paulo,
asseguram a si mesmos uma maior autonomia nessa fase de suas vidas. Será
que esses cursos são realmente capazes de levar o velho à melhoria da
qualidade de sua vida, de resgatar a auto-estima, de promover a participação
social, contribuindo, dessa forma, com a sua inserção social no mundo
contemporâneo? Assim sendo, apresentamos as seguintes questões:
14
CACHIONI, Meire, No Brasil, ainda carecemos de estudos que busquem sistematizar e analisar a
emergência e organização das Universidades da Terceira idade, não existe até o momento um levantamento
que nos permita saber quantos cursos hoje temos no país, uma vez que o ritmo de expansão é vertiginoso e
que os registros são precários. Quem educa os idosos, 2003:78.
21
Por que os velhos procuram as universidades de terceira idade?
O projeto pedagógico das Universidades abertas à Terceira Idade geralmente
inserem, em suas propostas pedagógicas, programas que resgatam a auto-
estima do idoso, desenvolvem a autonomia e inserem-no socialmente. Cabe,
neste momento, a pergunta: eles realmente fazem isso, ou apenas entretêm os
velhos?
Que modo de sociabilidade se institui nesses espaços da universidade para
os velhos, que experimentos de vida ocorrem que vão além dos programas
educacionais?
Nesta pesquisa, analisamos as implicações sociais decorrentes da
implantação desses cursos oferecidos por Universidades abertas à Terceira
Idade, tendo como agente de análise os sujeitos envolvidos nos projetos.
Investigamos se o velho busca uma inserção social, ou uma proposta
educacional para atualizá-lo nas questões contemporâneas ao freqüentar a
universidade, ou se essa procura não é apenas por um passatempo, por um
entretenimento, se a função da universidade é de “distrair” velhinhos solitários,
sem maiores preocupações pedagógicas.
Desenvolvemos uma pesquisa qualitativa por meio da análise do discurso dos
alunos que freqüentam esses espaços educacionais e de um estudo analítico-
descritivo dos projetos de duas Universidades abertas à Terceira Idade.
Utilizamos, para a coleta de dados, a aplicação de questionários e entrevistas
semi-estruturadas aos alunos e a análise dos respectivos projetos pedagógicos.
Analisamos dois cursos oferecidos pelas Universidades em São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e a Universidade de
São Paulo (USP) e, assim, verificamos que tipos de sociabilidade podem ocorrer
nesses espaços educacionais.
Portanto, este trabalho de pesquisa traça como objetivos específicos:
Analisar as Universidades como lugar de acolhimento para a terceira idade;
Apresentar um quadro dos projetos curriculares e das propostas pedagógicas
dos dois cursos oferecidos aos velhos estudantes pela USP e PUC/SP;
22
Avaliar as concepções implícitas e explícitas, divulgadas através das
propostas curriculares;
Levantar alguns tipos de socialização que ocorrem dentro das universidades
e além delas, tais como: o espaço da relação da amizade, a relação entre o
público e o privado (familiar), o cuidado de si e o conhecimento;
Desvendar por que os velhos procuram as Universidades abertas à Terceira
Idade.
Esta pesquisa reflete sobre os mitos existentes em relação aos idosos
e as suas necessidades, desnudando as universidades voltadas para a terceira
idade e os seus projetos, analisando os modos de inserção do velho nas
Universidades da cidade de São Paulo. Como sugere Wallon (1995):
Aquele que se proíbe imaginar não descobre nada,
limita-se a acrescentar alguns fiapos de erva ao
relvado e conclui: Imaginar é o primeiro dever; o
segundo é verificar a legitimidade de suas
imaginações pela comparação rigorosa com o
objeto em questão.
15
Desta forma, tratar dessas questões na atualidade implica um recuo
histórico que se origina do olhar dos precursores, buscando inspiração em seus
pensamentos, mas sem se enredar em todos os pormenores de suas visões
teóricas e sem se fixar de modo absoluto em um autor ou em uma corrente.
Portanto, procuramos revelar a velhice e sua relação com o universo
educacional, por meio de linhas teóricas, retomando autores estrangeiros como
Simone de Beauvoir (1990), Jack Messy (1993), Edgard Morin (1999), Michel
Foucault (2004), Hannah Arendt (2001), Norberto Bobbio (1997); e com o
propósito de ampliar os nossos horizontes e reconhecer o valor das pesquisas
dos autores brasileiros como Suzana Medeiros (1999), Elizabete Mercadante
15
WALLON, As origens do Caráter na criança, 1995: 74.
23
(1997), Marcelo Salgado (1977), Ecléa Bosi (1994), Jordão Netto (2004), Guita
Debert (1999) e outros.
Revelamos como o velho se sente retornando aos estudos e como as
instituições de ensino superior lidam com esta nova realidade educacional. Para
uma abordagem mais estruturada sobre esse tema complexo, organizamos o
trabalho em três capítulos.
No primeiro capítulo, intitulado: “O cenário: a velhice sob olhares
acadêmicos”, desenvolvemos este tema por meio de uma reflexão sobre a
velhice. Nele, explicitamos os fundamentos teóricos que sustentam o estudo das
análises dos discursos e que norteiam os passos da investigação, na
perspectiva de demonstrar a singularidade do envelhecer. Aprofundamos nosso
olhar nas pesquisas acadêmicas que remetem a essa singularidade e que
discutem o processo de envelhecimento dentro das Universidades. Optamos por
analisar as produções acadêmicas do Programa de Estudos de Pós-graduação
em Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP),
entre 2000 e 2006. Neste capítulo apresentamos o cenário das universidades de
terceira idade, suas histórias, características e processos pedagógicos.
No segundo capítulo, denominado “As peças do cenário: Universidade
aberta à Terceira Idade”, apresentamos o palco desta peça, que são as
Universidades e seus projetos pedagógicos. Destacamos duas universidades
pesquisadas da cidade de São Paulo, a USP e a PUC/SP, apresentando suas
diversidades por meio do estudo e análise de seus programas: projetos
pedagógicos, concepção, objetivos dos cursos, infra-estruturas, componentes
curriculares, espaços físicos, vínculos departamentais com a instituição e corpos
docentes e discentes. Desenvolvemos uma análise crítica de seus projetos
pedagógicos, apresentando como é construído o espaço escolar para os velhos
estudantes.
24
No terceiro capítulo, intitulado “Os personagens e suas idéias: o
envelhecer na Universidade aberta à Terceira Idade, dialogamos com os
pensadores através do estudo das análises dos discursos que norteiam os
passos da investigação e revelamos as peças do cenário, apresentando o que
pensam os seus protagonistas principais: os alunos. Descrevemos a técnica
utilizada para obtenção dos dados, para em seguida sistematizar a proposta de
análise do conteúdo. Essa pesquisa apresenta dimensões que podem ser
tratadas mais apropriadamente através de quatro grandes temas-problema. São
eles: a amizade; a relação entre o público e o privado (familiar); cuidado de si e
o conhecimento.
Após traçarmos um panorama em que os temas-problema foram
apresentados, percebemos que escolhemos essa forma de pesquisa, porque
acreditamos ser a que melhor respondeu às questões suscitadas. Vimos que é
quase impossível entender o comportamento humano sem tentar entender o
quadro referencial dentro do qual os indivíduos interpretam seus pensamentos,
sentimentos e ações. De acordo com essa perspectiva, o pesquisador deve
tentar encontrar meios para compreender o significado manifesto e latente dos
comportamentos dos indivíduos, ao mesmo tempo em que procura manter sua
visão objetiva do fenômeno. Utilizamos esse método de pesquisa, para
compreender o mundo das Universidades abertas à Terceira Idade, os seus
personagens e as suas vivências:
Apresentamos a Universidade aberta à Terceira Idade como novo espaço de
socialização do velho na sociedade contemporânea.
Procuramos responder qual o papel da Universidade na construção deste
novo modo de envelhecer.
Mostramos a singularidade do velho que freqüenta a Universidade: “Novos
caminhos – novo velho”.
25
Através desta pesquisa analisamos estes dois modelos de ensino que
procuram suprir as exigências pedagógicas deste novo velho, a velhice que
transborda neste novo milênio, revelando o papel das universidades como fator
de integração social na comunidade. Apresentamos este novo velho no século
XXI e as suas possibilidades de mudança, o encontro com o seu corpo,
consciente de suas limitações, mas não impossibilitado de realizações.
26
Capítulo 1
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Fernando Pessoa
27
O cenário: a velhice sob olhares acadêmicos
Construímos este capítulo por meio de uma reflexão sobre a velhice.
Nele, explicitamos os fundamentos teóricos que sustentam o estudo das
análises dos discursos e norteiam os passos da investigação. Analisamos os
trabalhos acadêmicos, apresentando a tabulação de dados coletados das
produções acadêmicas do Programa de Estudos Pós-Graduação em
Gerontologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, entre 2000 e
2006. Apresentamos, também, o cenário das universidades de terceira idade.
1.1. Singularidade da velhice
É preciso nascer para viver; é preciso viver
para envelhecer.
Profª. Drª. Suzana Rocha Medeiros
16
Como abordar a velhice? Trataremos desse tema sob a perspectiva
dos autores que discutem o envelhecimento, revelando a singularidade em seus
múltiplos processos: o corpo envelhecido, os estereótipos e os estigmas, a
afirmação da velhice, a singularidade do estudante velho, a universidade e as
suas produções acadêmicas, e as universidades de terceira idade.
A velhice e a reflexão em torno da questão do processo do
envelhecimento do homem caminham em várias direções, tais como: a
16
De autoria da Profª. Drª. Suzana Aparecida Rocha Medeiros, Coordenadora Programa de Estudos Pós-
Graduados em Gerontologia da Puc/SP, e citado por Ignez Ribeiro, no Jornal da Universidade aberta para a
Maturidade da Puc-SP, 10, set.2001:8.
28
observação das mudanças corporais, afetivas, políticas e sociais, o estigma do
envelhecimento e a velhice como possibilidade positiva.
O debate em torno do assunto tem sido matéria de várias obras
filosóficas, literárias e científicas, e podemos observar uma multiplicidade de
pensamentos. Dadas as necessidades do trabalho e a amplitude do tema,
fizemos um recorte, abordando alguns estudos filosóficos, científicos e
acadêmicos.
Em termos de estudos acadêmicos, analisamos sob quais aspectos o
envelhecimento tem sido estudado nas Universidades que também abrigam as
chamadas Universidades abertas à Terceira Idade, espaço freqüentado pelos
velhos. Por meio de um olhar crítico dos trabalhos de pesquisa, notamos a
construção de uma produção múltipla e diversificada de um novo paradigma da
velhice.
Existem muitos modos de envelhecer, seja biológico, seja afetivo, seja
social. Além disso, existe ainda o descompasso entre as várias pessoas, pois
está comprovado o impacto diferente do tempo para cada uma delas, de acordo
com o que tenha sido a sua maneira de viver, sua saúde, suas condições de
trabalho. Como afirma Hayflick (1997):
Nossos órgãos, como os relógios em uma loja de
relógios, ’batem’ em ritmos diferentes dos órgãos
correspondentes em uma outra pessoa. Portanto, a
velocidade de queda ou falha de um órgão
específico é diferente para cada um de nós.
17
O próprio corpo tem vários ritmos e seus órgãos envelhecem em tempo
diferente e de forma diferente. Imagine pensar em um envelhecer igual para
todas as pessoas de uma mesma faixa etária. No Brasil, você é considerado
velho com 60 anos, mas as pessoas resistem em se perceberem velhas, e essa
atitude será só por preconceito, ou porque existem outros modos de envelhecer?
17
HAYFLICK, Como e porque envelhecemos, 1997:129.
29
Como conseguimos lidar melhor com os estigmas impostos socialmente pela
velhice?
Na visão de Bobbio (1997), ao lado da velhice censitária ou cronológica
e da velhice burocrática, existe também a velhice psicológica ou subjetiva. Ele
afirma que:
Biologicamente, considero que a minha velhice
começou no limiar dos oitenta anos. No entanto
psicologicamente, sempre me considerei um pouco
velho, mesmo quando jovem. Fui velho quando era
jovem e quando velho ainda me considerava jovem
até há poucos anos. Agora penso mesmo ser um
velho-velho. Exercem importância determinante
sobre estes estados de ânimo também as
circunstâncias históricas, aquilo que acontece à
nossa volta, tanto na vida privada (por exemplo a
morte de uma pessoa querida), quanto na vida
pública. Não escondo que nos anos de
contestação, quando surgiu uma geração rebelde
aos pais, senti-me de súbito envelhecido (eu já
completara sessenta anos)
.
18
Podemos então observar que em todos os níveis de organização e de
constituição do ser humano existe um caráter de individualização, que é a sua
singularidade. Entretanto, o geral acaba por banir e esconder o individual, o
original, o único. Devido a essa singularidade é que, não raro, manifestamos
surpresa quando alguém que nos é apresentado parece mais jovem ou mais
velho do que a sua idade cronológica. Estamos tão presos aos modelos sociais
de escalas etárias, que queremos preencher nossas expectativas normativas
com aquilo que acreditamos fazer parte de um modelo pré-estabelecido, que
categorize determinados indivíduos.
Não é possível a compreensão do indivíduo pela generalização, pois
sabemos que cada um de nós envelhece a seu próprio tempo, de modo
particular e individual, e que duas pessoas nunca serão exatamente
semelhantes, mesmo se dispuserem de um genótipo idêntico. Cada indivíduo
detém, como traço que o constitui, uma irrefutável diferença que o torna original
18
BOBBIO, O tempo da memória. De senectude a outros escritos autobiográficos, 1997:18.
30
dentre outros indivíduos. Assim, cada um é singular em seu temperamento,
dinâmica biológica, comportamento e morfologia, que determinam sua história.
Segundo Morin (1999):
A singularidade individual não concerne
unicamente à morfologia, à anatomia, à fisiologia
do organismo, mas à sua constituição molecular.
Cada proteína tem a sua singularidade em relação
a outras proteínas da mesma célula (...)
19
.
Os paradigmas simplificadores que controlam a ciência clássica não
respeitam e valorizam a singularidade do indivíduo, dando passagem ao
paradigma da generalidade. Esse paradigma, segundo Edgar Morin, retira o
indivíduo do campo do conhecimento científico, colocando-o entre parênteses,
contornando e negligenciando-o, fazendo dele uma amostra ou um espécime,
reduzindo-o ao não individual.
A individualidade é irredutível. Portanto, o envelhecimento humano não
pode ser entendido por mensurações deterministas, classificados por idades
cronológicas. Envelhecer é um processo do sujeito que vive o seu próprio
tempo, ou seja, é um processo particular e peculiar a cada um. Os sujeitos são
seres individuais que nascem, envelhecem, evoluem, morrem. Esse é o sentido
do caminho que trilham. Como afirma Morin (1999):
O indivíduo surge no mundo (nascimento) e
desaparece dele para sempre (morte). Ascendendo
à existência, emerge do nada ao todo, uma vez
que se torna unidade e totalidade. Perdendo a
individualidade, passa do todo ao nada.”
20
Queremos então salientar que, ao falar da velhice, percebemos que ela
é inúmera e que o nosso suposto conhecimento não é suficiente para defini-la.
19
MORIN, Edgard, O método 3. O conhecimento do conhecimento, 1999:141.
20
Ibidem, p. 137.
31
Então do que realmente falamos, quando falamos de velhice? E de que velho
falamos? Do velho engajado ativo e divertido, ou do outro deprimido e solitário?
Do velho reivindicativo que briga com todo mundo e por tudo, ou do velho
passivo que aceita seu destino sem reclamar? Da velha elegante que passeia
nos bairros nobres, ou da faxineira que ainda ajuda a cuidar dos netos? Da
velha que pratica ioga três vezes por semana, ou daquela que reclama sem
parar das dores no corpo? Dos que renunciam à sexualidade ou dos que
reivindicam seu direito ao prazer? Dos velhos que vivem na família, ou dos que
foram depositados em asilos? Do velho poderoso militar, ou do agricultor com
calos na mão? Da velha abandonada pelo marido que fica em casa cuidando
dos netos e reclamando da vida? Da prostituta que perdeu seu ponto para a
mais jovem? Da velha que não aceita as rugas e vive modificando o seu rosto
através de inúmeras plásticas, ou daquela que valoriza suas experiências
através dos traços marcados no rosto e no corpo? Do velho sábio? Da velha
bruxa? Do velho doente? Do velho estudante?
Segundo Goldfarb (1998)
21
, falamos de todos eles, pois são
personagens da nossa história, do nosso imaginário, são personagens
conhecidos na nossa cultura. As crenças a respeito da velhice, infelizmente, são
muitas e em sua maioria carregadas de atributos negativos que nos
acompanham desde muito cedo. Elas fazem parte de nós mesmos, estando
enraizadas em nosso próprio corpo. Dificilmente temos acesso a elas. Nosso
discurso e nossas atitudes são comandados por nosso aprendizado que se
transformou em hábito, considerado como verdade irrepreensível.
Do mesmo modo, tais crenças são reforçadas a todo momento por
outras pessoas que comungam delas. A mídia divulga informações em demasia
a respeito de ser velho, com os seus modelos estereotipados. Os velhos não
têm força suficiente para ir contra uma atribuição normativa pejorativa
estabelecida pela identidade de velho. Como afirma Moragas (1997):
O fato de envelhecer é processo inerente a todo
ser humano. Entretanto, a velhice, resultado do
21
GOLDFARB, Catullo Délia, Corpo, tempo e Envelhecimento, 1998:13.
32
envelhecimento, é vulgarmente considerada como
uma realidade que afeta somente uma parte da
população. Os velhos se configuram como uma
categoria independente da sociedade, separados
como grupo com características próprias. É obvio
que partilhem de características comuns, mas o
fato curioso é que esta diferenciação supõe maior
separação do resto da sociedade do que a
experimentada por outros grupos sociais: crianças,
adultos, operários, funcionários públicos etc
22
.
Segundo esse autor, a velhice separa mais os idosos do resto dos
cidadãos do que outros atributos cronológicos ou sociais. Suscita reações
negativas e não é somente uma variável descritiva da condição pessoal, tais
como a aparência física, o estado de saúde ou o sexo.
Para Simone de Beauvoir (1990)
23
: “O que define o sentido e o valor da
velhice é o sentido atribuído pelos homens à existência, e o seu sistema global
de valores.”, portanto, aprofundaremos nossas reflexões em relação aos valores
atribuídos à velhice em nossa sociedade, considerando que essa etapa possui
uma realidade própria e diferenciada das anteriores, limitada por condições
objetivas externas e subjetivas. De acordo com esse ponto de vista, a velhice
constitui um período semelhante ao das outras etapas vitais, como pode ser a
infância ou a adolescência. A velhice constitui uma etapa a mais da experiência
humana e, por isso, pode e deve ser uma fase positiva do desenvolvimento
pessoal.
1.1.1. Afirmação da velhice
Jack Messy (1993)
24
aponta que o envelhecimento é um processo que
se inscreve na temporalidade do indivíduo do começo ao fim da vida, logo não
envelhecemos a partir de um determinado tempo cronológico, mas sim, desde o
22
MORAGAS, Moragas, Gerontologia Social envelhecimento e qualidade de vida, 1997:17.
23
BEAUVOIR, Simone de, A velhice, 1990: 86.
24
MESSY, Jack, A pessoa idosa não existe, 1993:16
33
momento em que viemos ao mundo. Não é num momento que nos tornamos
velhos, mas sim, num processo de vivência: por meio das experiências,
aquisições e perdas que são acrescentadas em todos os momentos de nossa
existência, e não somente na velhice.
A memória nos devolve o tempo. Segundo Martins (1991):O tempo
não é um processo real, uma sucessão de eventos que nos dá prazer em
registrá-lo. O tempo origina-se das relações com as coisas em si mesmas” .
25
O
homem não pode ser uma série de eventos psíquicos, isto é, ser criança, ser
adolescente, ser adulto, ser velho, como um conjunto segmentado de eventos
assim, não podemos pensar na velhice como um evento isolado, dissociado do
contexto de vida anterior a ela. O velho não é uma pessoa estranha ao jovem
que foi um dia, mas sim, um ser que passa por uma constante transformação,
uma metamorfose, não deixando de ser ele mesmo (criança, adolescente, adulto
e velho) em nenhuma fase deste processo, como nos lembra Raquel de Queiroz
no texto abaixo, escrito quando completou 90 anos de idade:
Não me lembro como se chamam as tais bonecas
folclóricas russas: sei que são ocas e abre-se a
boneca maior e dentro dela há uma menor, e
dentro dessa, outra menor ainda, e depois outra e
mais outra, até chegar à última, que é uma
miniatura de boneca (...) pois a gente também é
assim. A princípio eu pensava que, com a
passagem das diferentes idades do homem, o
maior ia substituindo o menor, quero dizer o
adolescente ficava no lugar do menino, o moço no
do adolescente, o homem feito no de moço e o da
meia idade no do homem feito, o velho no lugar do
de meia-idade e por fim o defunto no lugar de
todos. Mas depois descobri que os indivíduos
passados não desaparecem, se incorporam ou,
antes, o individuo novo incorpora os superados
como se os devorasse, e uns vão ficando dentro
dos outros, sem se misturarem, tal como as
bonecas russas no começo da história(..)
26
25
MARTINS, Joel, Não somos Cronos, somos Kairós, 1991: 04.
26
QUEIROZ, Raquel, texto “Menino e Moço”, Jornal o Estado de São Paulo-Suplemento feminino
01/04/2000.
34
O envelhecimento como processo normal é a expressão da
temporalidade da pessoa, adere à história da sua vida. Envelhecemos como
vivemos; nem melhor, nem pior. Trata-se de equilibrarmos as duas noções: a
aquisição e a perda. E uma perda não é sempre um término, muitas vezes
engendra uma aquisição. Para Bobbio (1997):
A velhice não é uma cisão em relação à vida
precedente. É uma continuação da adolescência,
da juventude, da maturidade. (...) Reflete nossa
visão de vida e modifica nossa atitude em relação
a ela, segundo a maneira pela qual concebemos a
vida, como uma inacessível montanha que temos
que escalar, ou como um rio onde estamos
imersos e que corre lento para a foz, ou como uma
selva na qual vagamos sempre incertos sobre o
caminho a seguir para chegar a uma clareira.
27
Todas estas formas de viver dependem de como encaramos o nosso
presente, o passado ou o futuro, e o que queremos construir, destruir, ou
reconstruir na nossa existência, e com que material. Messy (1993)
28
nos diz que
o envelhecimento não é a velhice; assim como uma viagem não se reduz a uma
etapa dela. O envelhecimento é um processo irreversível que se inscreve no
tempo. Começa com o nascimento e acaba na morte do indivíduo.Como afirma
Thomas (1993):
A nossa sociedade prioriza a juventude,
reservando a ela as aquisições, benefícios e, à
velhice, as perdas, déficit; mas, em algumas
sociedades a velhice é considerada como
acumulação progressiva da personalidade, o
envelhecimento é pensado, antes de mais nada,
em termos de aquisição e progresso.
29
27
BOBBIO, O tempo da memória, 1997:29.
28
MESSY, Jack, A pessoa idosa não existe, 1993:16.
29
THOMAS in MESSY, 1993: 45.
35
Todos nós conhecemos pessoas que ao atingirem a velhice continuam
a viver a plenitude de suas possibilidades, extraindo o máximo de suas
potencialidades e, aceitando também sua limitação, não vêem o envelhecimento
como um peso, mas como algo que deve ser vivido. Como afirma Monteiro
(2001):
A velhice pode também desvelar um outro pólo,
dependendo da perspectiva do sujeito. Um pólo no
qual pode mostrar que o envelhecimento é um
processo, que ser velho não é ser menos, e sim
uma outra forma de ser que a oportunidade de
experimentar aquilo que ainda não foi possível ser
experimentado; de descobrir que a aparência física
é apenas parte de um aspecto, mas não a
totalidade do ser; de descobrir que ser velho não é
ser menos, e sim uma outra forma de ser que
contempla a existência humana; de descobrir que
mesmo que o sujeito não venha a existir mais
algum dia, poderá deixar marcas na história de
outros que o sucedem. Portanto, ele tem a escolha
de aceitar esse fato ou se preocupar em manter
uma imagem que não é assumida como a sua
imagem, praticando a rejeição de si mesmo e,
conseqüentemente, encontrando reflexo nos outros
que podem passar também a rejeitá-lo.
30
Não existe um processo único de envelhecimento. As mudanças
decorrentes do envelhecimento são altamente individualizadas. A velocidade de
envelhecimento de uma pessoa pode variar significativamente em relação ao
que poderia ser previsto. Não existe um padrão geral de envelhecimento que
possa ser aplicado a todos os nossos órgãos. O envelhecimento resulta da
interação de fatores genéticos, ambientais e estilo de vida. Para Goldfard (1998):
Falando de todas as velhices (dos outros) sempre
falamos de uma velhice (a nossa) e dos muitos
velhos que poderemos chegar a ser. Da velhice
que desejamos e da que tememos. Mas, se cada
sujeito tem sua velhice singular, as velhices são
incontáveis.
31
30
MONTEIRO, Envelhecer: histórias, encontros e transformações, 2001: 113.
31
GOLDFARB, Corpo, tempo e envelhecimento, 1998:13.
36
Como afirma Birman (1995):
32
ser idoso ou ser jovem, não é uma
questão tão simples assim de ser definida, não obstante a sua aparente
obviedade para a consciência individual de qualquer um de nós. É evidente que
sabemos perfeitamente para a nossa economia psíquica cotidiana, o que
querem dizer a juventude e a velhice. Porém, a questão se complica de imediato
quando nos recordamos que as concepções de juventude e de velhice se
transformam radicalmente ao longo de nosso percurso existencial, isto é, o que
é ser jovem se modifica substancialmente ao longo de uma existência.
Segundo Beauvoir (1990): “...para reencontrar uma visão de nós
mesmos, somos obrigados a passar pelo outro: como esse outro me vê?
Pergunto-o ao meu espelho”.
33
E sempre a resposta será incerta: as pessoas
nos vêem, cada uma à sua maneira e nossa própria percepção, certamente não
coincide com nenhuma das outras. O ser idoso, ou ser jovem parece tão simples
de ser definido, mas longe da sua aparente obviedade, para a consciência
individual, tal fato é conflitante. Como diz Odete, aluna da Universidade da
Terceira Idade: Agora sou mais feliz, porque eu nem olho no espelho, porque
não faço questão da minha cara no espelho, porque eu me sinto jovem por
fora.”
34
A relação existente entre ser, sentir e perceber é muito complexa. Eu
não sinto e não percebo o que sou, pois ser velho não é bom, portanto, não sinto
quem sou... Para Martins (1991)
35
: A análise do tempo ilumina todas as outras
análises, porque ela desvela o sujeito e o objeto como momento de uma
estrutura peculiar que é a presença, um estar presente. A importância de se
conceber que somos esse corpo, e que somos nosso corpo, está no fato de que
nossa existência pessoal é aberta, repousa num fundamento essencial adquirido
e estabilizado. Não poderia ser de outra forma, se admitirmos que somos
temporalidade, pois é esta dialética entre passado, presente e futuro que
32
BIRMAN, Um envelhecimento digno para o cidadão do futuro, 1995:30.
33
BEAUVOIR Simone, A velhice, 1990: 364.
34
Odete, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, RAMOS, Vitalidade no envelhecer uma visão
integral, 2006:100.
35
MARTINS, 1991: 14.
37
constitui o tempo. E continua: ‘O curso do tempo deve ser em primeiro lugar não
apenas um presente que passa e constitui um passado, mas também um futuro
que pressiona o presente. Toda visão do passado é também uma visão
perspectiva do futuro”.
36
Se aplicarmos esse conceito, a data de aniversário, ou
do nascimento, por exemplo, são recortes da totalidade espaço-temporal do ser.
É muito bom que se celebre alguma coisa neste tempo vivido. O aniversário é
um momento de alegria para o sujeito, mas não deve ser um recorte na
totalidade do tempo, o ser não deve ficar mais velho por isso. Como reafirma
Odete, aluna da Universidade da Terceira Idade:
Eu sou tão feliz hoje, que nem me lembro que sou
velha, às vezes estou me arrumando e penso: ‘não
tenho mais idade para me arrumar deste jeito...’ Aí
eu penso: ‘Quer saber de uma coisa? Eu estou
amassada e vou sair assim mesmo, feliz da vida.
37
Estas vivências nos levam a refletir sobre a relação existente entre seu
corpo e o tempo presente. “O homem não está no tempo, é o tempo que está no
homem”
38
, como afirma Martins (1991):
Sou uma pessoa com um passado que jamais será
vivido outra vez e com um futuro que não vivi
ainda. Posso abrir-me para a temporalidade fora de
minha experiência vivida e entrar num horizonte
social. Meu mundo expandirá a dimensão de uma
história que eu sou e que também é coletiva. Uma
história daqueles com quem convivo e com quem
convivi.
39
Temos um corpo e isso é inegável para qualquer um de nós. Somos o
nosso corpo e esta é minha essência. Da mesma forma que tenho um corpo-
essência, tenho um futuro que é também a essência de um presente. Nada é
estático ou parado. Nem uma abordagem científica, nem um pensamento
36
Ibidem, p.14
37
Odete, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, in RAMOS, Vitalidade no envelhecer uma
visão integral, 2006:100.
38
MARTINS, 1991: 12.
39
Ibidem, p 15.
38
objetivo podem revelar uma função corporal que seja estritamente independente
das estruturas corporais, assim como não podemos pensar no mental, no
espiritual, que não sejam limitados por infra-estruturas corporais. Odete afirma:
Eu amo o meu corpo, e acho que ele ainda tem muito a dar.”
40
Mesmo havendo fatores, próprios de inibição de cada pessoa, que
resultam principalmente de uma sociedade confinadora e cheia de tabus, existe
a possibilidade de elas se manterem ativas e em movimento, indo contra o
sedentarismo, que poderia ser minimizado estimulando-se o corpo com mais
intensidade e consciência, promovendo-se a manutenção de uma vida ativa com
qualidade e tomando consciência dos seus limites na vida cotidiana.
Outro dado a ser ressaltado é que, na linguagem corrente, no cotidiano,
há frases, palavras que instalam a inibição nas pessoas da terceira idade. São
expressões ouvidas por acaso, pronunciadas por qualquer um, por familiares e
também por membros do corpo médico, tais como: “Na sua idade, o senhor não
deveria ter tal atividade física
41
, é preciso descansar, pois o senhor não tem
mais vinte anos”. Como também é o caso do exemplo abaixo, em que o
preconceito, pelo fato de se aposentar, é fortemente ressaltado em nossa
sociedade. Como afirma Maria do Carmo, aluna da Universidade de Terceira
Idade:
(...) e de repente você está aposentada, então
esse termo pra mim é muito pesado eu não gosto
dele, eu evito falar quando as pessoas perguntam:
qual a sua profissão? Eu falo...Sinto vergonha em
falar aposentada eu me sinto assim, na sociedade
a pessoa depois dos 50 é muito estigmatizada,
então a gente se esforça pra não entregar os
pontos, só que é muito difícil, sabe?
42
40
Odete, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove in RAMOS, Vitalidade no envelhecer uma
visão integral, 2006:103.
41
Estudos em gerontologia têm demonstrado que atividade física, junto com hereditariedade, alimentação
adequada e hábitos de vida apropriados podem melhorar e muito a qualidade de vida dos idosos. Segundo
BERGES (1989) e SHEPHARD (1991) in OKUMA (1997:52), o declínio linear natural das capacidades
funcionais, que se inicia ao redor dos 30 anos, pode ser substancialmente modificado pelo exercício, pelo
controle de peso e pela dieta. Estas afirmações sobre o declínio não contemplam os avanços da
neurociências.
42
Maria do Carmo, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, in RAMOS, Vitalidade no
envelhecer: uma visão integral, 2006:66.
39
São também frases que, por medo de serem julgados, por não estarem
mais dentro das normas estabelecidas pela sociedade, os interessados dirigem
a si mesmos, para se desculparem ou obterem um favor: “O senhor sabe que já
não sou mais moço? Serei aceito com a minha idade?”, etc... É contra isso,
contra essa inibição corporal, esse cárcere social, que os velhos estudantes
lutam. Como reflete Beauvoir (1990): “Eu conservo, do passado, os mecanismos
que se montaram no meu corpo, os instrumentos culturais de que me sirvo, meu
saber e minhas ignorâncias, minhas relações com outrem, minhas ocupações,
minhas obrigações.“
43
Tais frases e palavras induzem as pessoas a pensar que o
envelhecimento está inevitavelmente associado à fragilidade, doenças e perda
da vitalidade. Esse é um estereótipo perpetuado em parte por muitos que vêem
essas alterações como conseqüência natural do envelhecimento. Como afirma
Maria do Carmo, aluna da Universidade de Terceira Idade: “Os anos vão
passando e a gente sente a dificuldade de muitos movimentos que são lentos e
que antigamente eram bem mais rápidos; a gente agia com maior facilidade,
sem tanta dependência...”
44
Segundo Mercadante (1997)
45
, as qualidades atribuídas aos velhos que
vão definir o seu perfil identitário são estigmatizantes, uma produção ideológica
da sociedade. Os velhos conhecem e também partilham dessa ideologia que o
define em geral, mas não em particular. Assim sendo, pessoalmente não se
sentem incluídos no grande modelo ideológico. O partilhar da ideologia revela o
fato lógico de que algum grupo de indivíduos preencha os requisitos necessários
para serem classificados como velhos. Dessa forma, se o “velho” não sou “eu”, o
velho é o “outro”. As diferenças e as qualidades são, então, levantadas e
apresentadas para definir uma identidade pessoal que se contrapõe à categoria
genérica de velho.
43
BEAUVOIR, A velhice, 1990: 459.
44
Maria do Carmo, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, in RAMOS, Vitalidade no
envelhecer: uma visão integral, 2006:75.
45
MERCADANTE, A construção da identidade e da subjetividade do idoso, 1997: 27.
40
Na frase a seguir, de Ziza,
46
aluna da Universidade de Terceira Idade,
podemos perceber o quanto o fato de a sociedade atrelar velhice a doenças está
introjetado na própria pessoa. “Ah, mas ela é velha!”, e ela responde: Até
quando eu puder, vou provar para eles que eu não sou, eu sou uma pessoa
saudável”. (grifo nosso).
A dificuldade principal para categorizar a velhice consiste no fato de
que ela não é unicamente um estado, mas sim um constante e sempre
inacabado processo de subjetivação. Assim, podemos dizer que na maior parte
do tempo não existe um “ser velho”, mas um “ser envelhecendo”, ou seja, em
processo de envelhecimento, independente da idade cronológica. Como Edna
47
diz: “Velho, todos os seres vivos ficam... Saber envelhecer é uma arte, como o é
saber viver, pois a vida é uma jóia preciosa que não pode e nem deve ser
perdida. Eu agradeço o idoso que sou.
1.1.2. Corpo envelhecido
“Não existe senão um único templo no universo,
e é o Corpo do Homem. Nada é mais sagrado
do que esta elevada forma.”
Novalis
48
Durante anos, décadas e até mesmo séculos, a velhice, na nossa
sociedade, tem sido entendida unicamente como um processo de degeneração
biológica, ou como uma doença. Segundo Fonseca (1985):
46
Ziza, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, in RAMOS, Vitalidade no envelhecer: uma
visão integral, 2006:74.
47
Edna, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove in RAMOS, Vitalidade no envelhecer: uma
visão integral, 2006:89. :
48
Pseudônimo do autor Frederich von Hardenberg, 1772, citado em Miscellaneous Essays, vol.II, de
Thomas Carlyle. MONTAGU, Tocar o significado humano da pele, 1988:21.
41
O envelhecimento é inevitável, constitui uma etapa
da vida que encerra um conjunto de modificações,
quer somáticas, quer afetivas, quer psicomotoras,
que mergulham em atitudes ambíguas, auto-
desvalorizações.
49
Esse autor insistiu no paralelismo existente entre a degradação das
faculdades mentais e a perda progressiva de praxias
50
e da noção do corpo.
As alterações percebidas no homem que envelhece ocorrem dentro de
um período de tempo e de forma variável entre as pessoas. O envelhecimento
biológico é um processo individual, obedecendo a ritmo e momentos diferentes
em cada pessoa. Se quisermos entender o processo do envelhecimento,
precisamos aprender mais sobre as mudanças próprias associadas à idade.
Como afirma Hayflick (1997): “O envelhecimento é a manifestação dos eventos
biológicos que ocorrem ao longo de um período”.
51
A idade cronológica nem sempre corresponde à idade biológica, e essa
diferenciação se torna relevante, porque enquanto a primeira pode ser medida
pelo tempo decorrido e comprovado com documentos e certidões, não existem
meios eficazes para medirmos a idade biológica.
O registro corporal é, sem sombra de dúvida, aquele que fornece as
características da pessoa de idade avançada: cabelos brancos ou calvície,
rugas, reflexos menos rápidos, enrijecimento, compressão da coluna vertebral,
etc.. Mas podemos apresentar essas características sem possuirmos idade
avançada, bem como não as apresentar, mesmo sendo mais velhos.
Numa perspectiva fisiológica, tudo depende da idade biológica. Porém,
a integridade das artérias, um coração gasto, pulmões congestionados ou a
artrose de bacia não podem ser sinônimos de definição de uma pessoa idosa.
49
FONSECA, Vitor, A psicomotricidade, 1985:351.
50
Praxia: capacidade de desempenhar uma série de movimentos com um fim determinado. Dicionário de
psicomotricidade, Hurtado , Johann, Porto Alegre, Prodil, 1900.
51
HAYFLICK Como e porque envelhecemos, 1997:4.
42
Independentemente da idade biológica, qualquer indivíduo está sujeito a
apresentar os problemas acima citados.
Olhando claramente para a velhice, certamente verificamos que muitas
perdas ocorrem. Segundo Ajuriaguerra
52
, existem perdas psicomotoras
acontecendo em sentido inverso ao das aquisições: a perda do espaço
simbólico, do espaço
representado, do espaço distante e corporal, a apraxia
53
construtiva, apraxia ideomotora
54
, espaço das manipulações, apraxia ideatória
55
.
Bobbio (1997) articula com clareza a decadência imposta pelos limites
fisiológicos da velhice: a lentidão não desejada no andar, no manejo dos
instrumentos, no pensar. Ele registra este drama na metáfora da escada: “o
velho percebe que vai descendo a escada da vida de degrau em degrau e, por
menor que este seja, sabe não só que não há volta, como também, que o
número de degraus que tem pela frente é sempre menor.”
56
O corpo tem uma história, o homem não é um complexo mecânico,
bioquímico, movido por um sistema de combustão ou eletrônico, similar ao
sistema que fornece energia a computadores, providos de prodigiosa
capacidade de estocagem para reter informações codificadas. Ele tem uma
história que é construída por experiências vividas na existência, que vão sendo
registradas no corpo.
O corpo
57
ultrapassa a definição simples do dicionário. Ele é a
totalidade daquilo que o homem percebe, sente e vive, em correlação aos
significados que ele atribui a essas vivências. É desse contexto de sensações e
percepções que surge o corpo. Keleman “considera que cada experiência dá
52
AJURIGUERRA, in FONSECA V., Da filogênese à ontogênese da motricidade, 1988:156.
53
Apraxia: perda total dos movimentos dos membros ou raciocínio das idéias. Dicionário de
psicomotricidade, Hurtado , Johann, porto Alegre, Prodil, 1900.
54
Apraxia ideomotora: manifesta-se pela impossibilidade de expressão de uma ordem dada ou de um gesto
ante um modelo. Dicionário de psicomotricidade, Hurtado , Johann, porto Alegre, Prodil, 1900.
55
Apraxia ideatória: Caracteriza-se pela alteração na conduta de um ato complexo, na sucessão lógica e
harmônica de diferentes gestos, cada um dos quais é corretamente executado se tomado de forma isolada.
(ibidem).
56
BOBBIO, O tempo da memória, 1997:34.
57
Corpo – s.m.:1. Estrutura física do homem e do animal 2. O cadáver humano 3. O tronco (por oposição
à cabeça e aos membros). 4. Porção limitada da matéria. Corporal – adj. 1. do corpo; corpóreo. 2. material
s.m.
FERREIRA, A. B Dicionário da Língua Portuguesa. 1999:505.
43
uma nova forma ao corpo que se constrói ao longo da vida e reflete a própria
pessoa.”
58
Olhar para as pessoas sob este ponto de vista é compreendê-las em
sua interação com o mundo. Suas formas corporais possibilitam compreender as
nuanças da vida. Portanto, não há um modelo de corpo, o que existe é um corpo
que deve ser tratado e cuidado. As pessoas são o próprio corpo, que expressa
de forma gradativa sua construção através das experiências de vida. Essas
formas têm significados, pois são as experiências da existência configuradas no
corpo.
As rugas e dobras do rosto são as inscrições
deixadas pelas grandes paixões, pelos vícios,
pelas intuições que nos falaram.
Walter Benjamin
59
O corpo está englobado na totalidade do existir. Todas as
manifestações do existir são, de certo modo, corporais, vividas pelo sentir,
mesmo sendo racionais e abstratas. O corpo não é simplesmente um
instrumento, mas é o próprio sujeito, pois seus significados são encontrados nas
suas estruturas, nas possibilidades prévias de ser corpo, naquilo que lhe
possibilita ser como é. Ele é o centro e a perspectiva do mundo a partir do qual o
indivíduo existe. Como afirma Nietzsche: “O fenômeno global do corpo é, do
ponto de vista intelectual, tão superior à nossa consciência, ao nosso espírito, à
nossa maneira de pensar, de sentir e de querer, quanto a álgebra é superior à
tabuada de multiplicação.”
60
O espaço corporal envolve nosso corpo como um todo, de forma que
sabemos onde estamos, sem precisar pensar sobre ele ou olhar para ele, pois
há uma referência prévia que nos dá essa orientação. Além disso, a consciência
que temos do nosso corpo é inseparável do mundo da percepção. As coisas são
percebidas sempre com referência ao corpo, pois existe uma consciência
58
KELEMAM apud OKUMA, O idoso e a atividade física, 1998:33.
59
BENJAMIN, Walter 1986: 46.
60
NIETZSCHE , apud BERGE, Y., Viver o seu corpo.,1975:21.
44
imediata dele, de como ele existe para si, ou seja, há uma familiaridade prévia
com o nosso corpo que nos permite agir sem mediações, de um modo direto.
Temos um esquema corporal
61
registrado em nosso cérebro, na nossa árvore
neurológica. Como afirma Merleau Ponty (1996):
O corpo é o veículo de ser no mundo, e ter um corpo
é, para um ser vivo, juntar-se a um meio definido,
confundir-se com certos projetos e empenhar-se
continuamente com eles. Pois é verdade que tenho
consciência de meu corpo através do mundo, que
ele é, no centro do mundo, o termo não-percebido
para o qual todos os objetos voltam a sua face, é
verdade que pela mesma razão que meu corpo é
pivô do mundo: sei que os objetos têm várias faces
porque eu poderia fazer a volta em torno deles, e
nesse sentido tenho consciência do mundo por meio
do meu corpo.
62
Segundo Mercadante (1997)
63
, a vivência primeira da velhice se dá no
corpo. O corpo por si só não revela como atributo a velhice, mas uma vez que
ela, como estigma se instala no corpo, passa a inquietar o idoso.
Certamente, a
inquietação é decorrente de uma avaliação também estigmatizada e, assim
sendo, uma abominação do velho diante do seu próprio corpo. A visão de um
corpo imperfeito, em declínio, enfraquecido, enrugado, não avalia só o corpo,
mas sugere imediatamente ampliar-se para além dele, sobre a personalidade, o
papel social, econômico e cultural do idoso.
Algumas pessoas, pelo próprio medo da velhice, a ela se entregam e
passam a exagerar nos sintomas comuns de um corpo em declínio. Como disse
Beauvoir (1990):
Porque se arrasta um pouco a perna, simula-se a
paralisia; se está um pouco surdo, pára-se de ouvir.
61
Estudos e pesquisas em Psicomotricidade abordaram o esquema corporal através de vários autores como:
Levin Esteban (2002-2003), Fonseca Vitor (1980-1985-1990), Shilder (1987), Lê Boulch (1985-1988).
62
MERLEAU-PONTY, Fenomenologia da percepção, 1996:122.
63
MERCADANTE, A construção da identidade e da subjetividade do idoso, 1997:29.
45
As funções que não se exercem mais se degradam e
de tanto fingir de doente, fica-se doente”.
64
Assim também comenta Edna, aluna da Universidade da Terceira
Idade: “A nossa muleta é a velhice. E a muleta do paraplégico? E a do deficiente
mental? E a muleta de outras deficiências?”
65
A idade só é fator de incapacidade corporal se o imobilismo se instalou,
interna ou externamente, por meio de alguma patologia.
66
Lembramos que o
meio também exerce papel de uma camisa-de-força, pois muitos idosos
subestimam seus potenciais físico e motor em função do amplo sentimento
negativo que vigora na sociedade a respeito da velhice, incorporando uma
sensação de incompetência para o movimento
67
. Como nos conta Maria do
Carmo
68
, em conversa com seu filho:
Filho fala para a mãe:
Mãe, a senhora sabe que
está com uma certa idade para fazer este serviço?
Mãe responde: Mas eu gosto, eu me sinto bem, eu
gosto, eu sou útil. Filho fala: Mãe, vá descansar
um pouco... Mãe: Eu não quero... Enquanto eu
puder fazer com calma, também não é agitação, com
calma eu vou fazer.
Esses mitos incorrem no erro de não levar em conta a importância que
a aptidão física tem para a manutenção da capacidade funcional do corpo,
ignorando o fato de que suas alterações mais importantes resultam do seu
64
BEAUVOIR, Simone de, A velhice, 1990:370.
65
Edna, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove in RAMOS, Vitalidade no envelhecer: uma visão
integral, 2006:88.
66
Evidências demonstram que mais da metade do declínio da capacidade física dos idosos é devida ao
tédio, à inatividade e à expectativa de enfermidade. Pesquisas sugerem que 50% do declínio,
freqüentemente atribuído ao envelhecimento biológico, na realidade é provocado pela atrofia por desuso,
resultante da inatividade física que caracteriza os países industrializados. (Spirduso1989; Paffenbarger
1994 in OKUMA 1997, p. 53)
67
Movimento-s.m:1. Mudança de um corpo de um lugar para outro ou de uma para outra posição; 2.
Abalo, comoção; oscilação. 3.Atividade; agitação, animação 4. Mudança (no modo de pensar e de viver
nas sociedades) (Ferreira, 1999 - Dicionário da Língua Portuguesa).
68
Maria do Carmo, aluna da Universidade aberta da Terceira idade da Uninove, in RAMOS, Vitalidade no
envelhecer: uma visão integral, 2006:64.
46
“desuso”
69
e de seu mau uso ao longo da vida, e não do processo de
envelhecimento.
A atividade física regular e sistemática aumenta ou mantém a aptidão
da população idosa e tem potencial de melhorar o bem-estar funcional e,
conseqüentemente, diminuir a taxa de morbidade e de mortalidade entre essa
população. Ela também tem sido associada à diminuição da incidência de
morbidade e mortalidade produzidas por doenças crônicas
70
entre indivíduos de
meia idade. Como afirma Matsudo (1992):
Resultados recentes mostram uma associação
favorável entre atividade física, aptidão física e
fatores de risco para doenças cardiovasculares
entre a população idosa, sugerindo a atividade
física como fator de proteção para esse grupo de
pessoas
71
Estimativas da prevalência da incapacidade funcional decorrente das
limitações apontam para o fato de que uma grande porcentagem de pessoas
(mais mulheres do que homens) tem dificuldade ou incapacidade para realizar
as atividades cotidianas, como carregar um peso ou caminhar alguns
quarteirões, sendo que tal dificuldade aumenta com a idade.
São as perdas no domínio cognitivo e as disfunções físicas que
contribuem para maior redução da independência do idoso
72
, limitando suas
69
Cada vez mais estudos vêm evidenciando a atividade física como recurso importante para minimizar a
degeneração provocada pelo envelhecimento, possibilitando ao idoso manter uma vida ativa com
qualidade. A atividade física tem potencial para estimular várias funções essenciais do organismo; mostra-
se não só um coadjuvante importante no tratamento de doenças crônico-degenerativas (como diabetes,
hipertensão, osteoporose), mas é também essencial na manutenção das funções do aparelho locomotor,
principal responsável pelo desempenho das atividades da vida diária e pelo grau de independência e
autonomia do idoso. MATSUDO e Matsudo, Exercício, densidade óssea osteoporose, 1992:39.
70
Dentre estas, são citadas as doenças coronarianas, a hipertensão, a hiperlipidemia, o diabetes não-
insulino dependente e o câncer. MATSUDO e Matsudo, Exercício, densidade óssea osteoporose, 1992:42.
71
MATSUDO e Matsudo 1992:43.
72
A perda da capacidade funcional leva a incapacidade tanto para realizar as Atividades da Vida Diária
(AVDs - as atividades de cuidados pessoais básicos, como vestir-se, banhar-se, levantar-se da cama e
sentar-se numa cadeira, utilizar o banheiro, comer e caminhar uma pequena distância), quanto as
Atividades Instrumentais da Vida Diárias (AIVDs - tarefas mais complexas do cotidiano e incluem,
47
possibilidades de viver confortável e satisfatoriamente, além de restringir sua
atuação na sociedade. Isso fatalmente tem reflexos nos domínios sociais e
psicológicos.
Do ponto de vista do modelo médico, tais limitações têm sido
tradicionalmente vistas como resultantes, predominantemente, de condições
patológicas, a ponto do “Committee on a National Agenda for Prevention of
Disabilities” afirmar que a incapacidade sempre tem origem numa condição
patológica.
73
Tal visão leva as pessoas a pensarem que o envelhecimento está
associado à fragilidade
74
, a doenças e à perda da vitalidade. Esse é um
estereótipo perpetuado por alguns profissionais da saúde, que vêem essas
alterações como conseqüência natural do envelhecimento.
O envelhecimento é um processo normal que ocorre em todos nós com
a passagem do tempo, e neste ínterim, existem muitas modificações da espécie
humana, que se desenvolvem ao longo de sua existência. Como afirma Hayflick
(1997): “Se existe um aspecto indiscutível sobre o envelhecimento, esse aspecto
é a magnitude das variações individuais”.
75
Sendo assim, para falarmos das mudanças que ocorrem na velhice,
recorremos a uma das fontes disponíveis: informações analisadas no estudo
longitudinal de Baltimore, conhecido como BLSA (Baltimore Longitudinal Study
on Aging), realizado em Baltimore, Maryland, no Nathan W. Shock Laboratories,
no Centro de Pesquisa em Gerontologia. Cerca de 150 gerontólogos participam
dessa pesquisa; esse estudo é chamado de Longitudinal, pois acompanha as
mudanças ocorridas em um grupo de pessoas desde 1958; mais de 2.200
pessoas participaram dele, com idades que variam de 17 a 96 anos.
necessariamente, aspectos de uma vida independente, como fazer compras, cozinhar, limpar a casa, lavar
roupa, utilizar meios de transporte e usar o telefone) in Okuma, O idoso e a atividade física,1997:55.
73
PHILLIPS E HASKELL 1995:262 in Okuma, O idoso e a atividade física, 1997:55.
74
De acordo com esses autores, há estudos que apontam a artrite, as doenças cardíacas, a cegueira
(diminuição da visão), a perda da força de membros inferiores e as doenças cérebro-vasculares como as
cinco principais causas de incapacitação e de limitações das atividades das pessoas entre 70 e 80 anos, isto
sem considerar que um mínimo de aptidão física é necessário para a realização das AVDs e das AIVDs.
PHILLIPS E HASKELL 1995: 262 in Okuma, O idoso e a atividade física, 1997:55.
75
HAYFLICK, L, Como e porque envelhecemos, 1997: 129.
48
Todos os participantes voltam aos laboratórios de pesquisa a cada dois
anos, para dois dias e meio de testes que envolvem mais de cem
procedimentos; alguns testes são desagradáveis e tediosos, outros exigem
grande esforço físico e mental, e as perguntas podem invadir a privacidade. O
estudo revelou muitas informações novas e confirmou a veracidade de algumas
idéias que anteriormente eram apenas imaginadas. Por exemplo, descobriu-se
que as mudanças associadas à idade ocorrem com uma velocidade muito menor
do que as mudanças de desenvolvimento que ocorrem antes da maturidade
sexual.
Os seres humanos mais idosos mostram uma gama maior de variação
individual em muitas medições psicológicas e fisiológicas do que os adultos
jovens. Isso desmente a antiga noção de que pessoas idosas são todas muito
parecidas. Segundo Hayflick (1997)
76
, os cientistas do BLSA descobriram
pessoas de oitenta anos extraordinariamente “jovens” e pessoas de quarenta
anos extraordinariamente “velhas”. Muitas pessoas mais idosas tiveram um
desempenho tão bom quanto o de pessoas mais jovens em vários testes.
O envelhecimento não resultou em perda inevitável de todas as
funções intelectuais. Em alguns casos, descobriu-se que o desempenho melhora
com o tempo, como resultado de mudanças do estilo de vida. Podemos citar, por
exemplo, a iniciação de um programa de exercícios. As mudanças associadas à
idade são altamente específicas, não só para cada um de nós, como para cada
um de nossos órgãos.
Os pesquisadores da BLSA acreditam que não há uma causa única
das mudanças associadas à idade, existem muitas causas, e algumas podem
interagir com outras de forma extraordinariamente complexa. Essas mudanças
são extremamente específicas, enfatizando a distinção vital feita entre idade
cronológica e idade biológica. Apresentamos a seguir as conclusões gerais do
BLSA:
76
Ibidem, p. 175.
49
- Não existem indícios de que um único fator ou um único relógio seja
responsável pelo controle da velocidade do envelhecimento em todos os nossos
órgãos.
- Como existe uma ampla variação individual, a idade cronológica
isolada não é um agente eficaz para a previsão do desempenho. Algumas
pessoas de oitenta anos podem ter um desempenho tão bom quanto o
desempenho médio de pessoas com cinqüenta anos.
- Alguns aspectos, por exemplo, a freqüência cardíaca em repouso e a
personalidade não mudam com a idade.
- Algumas mudanças lentas não são provocadas pelo envelhecimento,
mas sim por doenças, como por exemplo, a artrite ou a doença de Alzheimer.
- Algumas perdas são conseqüências inevitáveis do envelhecimento e
não se relacionam a qualquer doença. Essas mudanças fisiológicas ocorrem
com o tempo e fazem parte do processo normal do envelhecimento: por
exemplo, redução da velocidade de reação e perda da memória de curto prazo.
- As perdas repentinas são provocadas por doenças, especialmente
ataque cardíaco e derrame, e não em decorrência do envelhecimento.
- Mudanças primárias podem ocasionar mudanças secundárias.
Algumas mudanças normais que ocorrem à medida que envelhecemos podem
resultar de tentativas do organismo de compensar algumas outras perdas
normais. A quantidade de sangue bombeada pelo coração após o exercício
aumenta com a idade.
- Decisões relacionadas ao estilo de vida, especialmente à adoção de
uma dieta com baixos níveis de colesterol ou a interrupção do hábito de fumar,
podem influenciar a ocorrência ou o progresso de algumas doenças associadas
à idade. Não há indícios de um efeito direto sobre o processo fundamental do
envelhecimento.
- Mudanças longitudinais funcionais ajudam a diferenciar os processos
associados à idade das doenças. Como afirma Hayflick (1997): “As deficiências
50
que são freqüentemente associadas à velhice podem ser causadas pelos efeitos
de doenças, muito mais do que pelos processos de envelhecimento.”
77
A leitura minuciosa dos resultados dessa pesquisa nos leva a
compreender que tais resultados, em alguns casos, acentuam os mitos, e em
outros os negam. Se considerarmos uma visão mais global da questão, não
podemos esquecer do fato que o avanço científico sempre possibilita vencer as
dificuldades e resolver questões que até o momento se encontram sem solução.
Hoje, sabemos mais a respeito de mitos como a perda da memória,
com as novas pesquisas no campo da cognição; a neurociência
78
tem
contribuído bastante para uma melhor compreensão dos acontecimentos
ocorridos com o cérebro humano.
Até há pouco tempo, os cientistas pensavam que o cérebro era
essencialmente estático e que não havia possibilidade de repará-lo caso
houvesse algum dano. Mas, com os avanços tecnológicos, exames como
tomografia computadorizada, imagem por ressonância magnética e tomografia
por emissão de pósitrons comprovam a plasticidade do cérebro em regenerar
áreas arruinadas. Concordamos com Lima (2001), quando afirma que:
Estudando o funcionamento do cérebro aprende-se
a otimizar seu potencial, a levantar propostas para
retardar os sinais do que convencionalmente se
caracteriza como velhice, a promover a
longevidade e intervir nos estágios iniciais do
declínio cognitivo.
79
Segundo estudos efetuados no centro Madeuf de Pedagogia
Experimental avançada da Institut National des Sports (INS)
80
, experiências têm
77
Ibidem, p. 135.
78
No final do século XX, estas questões estão sendo validadas pelos resultados das últimas pesquisas feitas
na área da neuro-ciência pelos estudiosos Oliver Sacks, Dharma Singh Khalsa, Sally P.Springer, Georg
Deutsch, Damásio Antonio R., Morin Edgard, Churcland Patricia, Sejnowski T.J., Kandel E.R., Gardner
H., Churchland Paul, Edelman G.M. e Dennett .
79
LIMA, Pelloso Mariúza,Gerontologia educacional, 2001:29
80
HERMANT, G. Atualização em psicomotricidade: o corpo e sua memória, 1988:15.
51
demonstrado que a aquisição de novas coordenações é possível até uma idade
bem avançada, 80 anos e mesmo 90 anos. Nesse centro, são ensinados
natação e esqui a indivíduos dessa faixa etária, os quais aprendem e realizam
corretamente essas atividades; portanto, estamos provando que o cérebro pode
sempre fazer aquisições, pois essas atividades exigem a construção de novos
esquemas motores.
Segundo Chopra (1994) Uma descoberta encorajadora é que, ao
manter-se ativo, o idoso pode continuar produzindo novos dendritos
81
o tempo
todo”.
82
É também fundamental saber que o cérebro possui seus próprios
mecanismos para se ativar na velhice, como revela Oliver Sacks (1995), quando
apresenta seus estudos sobre a memória e o cérebro:
(...) sendo a visão do cérebro como um sistema
ubiquamente ativo, onde está em processo um
deslocamento permanente, e tudo é continuamente
reciclado, e novamente relacionado. Não há nada
de fotográfico, nada mecânico, na visão que
Edelman tem do cérebro: cada percepção é uma
criação, cada lembrança é uma recriação – toda a
recordação é relacionante, generalizante,
recategorizante. Sob essa perspectiva não pode
haver nenhuma lembrança fixa, nenhuma visão
“pura” do passado, não contaminada pelo
presente. Para Edelman, assim como para Bartlett,
há sempre processos dinâmicos em ação, e
lembrar é sempre reconstrução, não reprodução.
83
Como afirma Bobbio (1997):
84
Devemos empregar o tempo menos para fazer
projetos para um futuro distante ao qual já não
pertencemos, e mais para tentar entender, se
81
Dendrito: Prolongamento de neurônio, e que pode ser numeroso, especializado na função de receber
estímulos ambientais, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios. FERREIRA, A., 1999:623.
82
CHOPRA, Corpo sem idade, mente sem fronteira, O idoso e a atividade física, 1994:292.
83
SACKS Oliver, Um antropólogo em Marte, 1995:184.
84
BOBBIO, N., O tempo da memória: De senectude e outros escritos autobiográficos, 1997:30.
52
pudermos, o sentido ou a falta de sentido de
nossas vidas. Concentremo-nos. Não
desperdicemos o pouco tempo que nos resta.
Cada vez que se vive uma situação, dá-se a ela um novo significado,
como, por exemplo, ao se voltar ao mesmo lugar em que se passou a lua-de-mel
e perceber que essa experiência é outra, apesar de se tentar vivê-la da mesma
forma como foi vivida antes. Continuando Bobbio (1997):
Percorramos de novo nosso caminho. As
recordações virão em nosso auxílio. No entanto as
recordações não aflorarão se não as formos
procurar nos recantos mais distantes da memória.
O relembrar é uma atividade desgastante e
embaraçosa. Mas é uma atividade salutar. Na
rememoração encontramos a nós mesmos e a
nossa identidade... Quanto mais vivas as
lembranças que vêm à tona, mais remoto é o
tempo em que os fatos ocorreram. Cumpre-nos
saber, porém, que o resíduo, ou o que logramos
desencavar desse poço sem fundo, é apenas uma
ínfima parcela da história de nossa vida. Nada de
parar. Devemos continuar a escavar! Cada vulto,
gesto, palavra ou canção, que parecia perdido para
sempre, uma vez reencontrado, nos ajuda a
sobreviver.
85
Eu, corpo, me apresento: minha vinculação, minha classificação, minha
história estão inscritas em mim, gravadas em minha carne, foco de memórias e
de lembranças mais recônditas, memória permanente, que persiste, apesar das
vicissitudes da vida. Para Messy (1993): “A velhice é descrita em termos
estéticos, como um encontro inopinado do imaginário e do simbólico, portadores
de imagens negativas.”
86
Como reafirma Ziza, aluna da Universidade da
Terceira Idade: “Uma pessoa que olha para você, por mais que você tome
85
Ibidem, p. 55.
86
MESSY, A pessoa idosa não existe, 1993:24.
53
banho... Que você se perfume..., As pessoas às vezes olham para você com
certa repugnância, porque vêem que você é velha, então isto abala muito a
gente.”
87
Como já indicamos anteriormente, a imagem da velhice, construída
socialmente, foi calcada em valores e conceitos estigmatizantes, o que
evidenciou aspectos negativos dessa etapa da vida. A inatividade, a tristeza, a
feiúra, o abandono, a solidão, a pobreza, o isolamento e a doença são alguns
dos traços que caracterizam o “ser velho” no imaginário das pessoas, na
sociedade atual. Eles não têm força para ir contra essa atribuição normativa,
estabelecida pela identidade velho. Isso pode ser evidenciado freqüentemente,
pelo medo de parecerem ridículos e inconvenientes quando querem realizar
alguma tarefa, utilizar determinadas vestimentas ou mesmo ter algum desejo
que não condiz com a categoria socialmente estabelecida.
E então, a cada hora, amadurecemos e amadurecemos,
E então, a cada hora apodrecemos e apodrecemos,
E a história é essa. Assim é se lhe parece
William Shakespeare
1.1.3 Forças reativas do envelhecimento: estigma e estereótipo
Filho fala para a mãe “Oi, velha, está melhor?”
E a mãe responde: “Eu não sou velha, sou idosa...”
Filho diz: “Oi, mãe, você está ficando chata!”
88
:
87
Ziza, aluna da Universidade da Terceira idade da Uninove, RAMOS, Vitalidade no envelhecer:uma visão
integral, 2006:73
88
Maria do Carmo, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, RAMOS, Vitalidade no envelhecer:
uma visão integral, 2006:67 – Relato do dialogo com seu filho.
54
Quando Maria do Carmo diz ao seu filho que não é velha e sim idosa,
ela está repudiando todo o referencial negativo da palavra velho, que se instalou
através do tempo e persiste em nossa sociedade. A palavra “velho” vem
impregnada de mitos sobre o envelhecimento como: velho é imprestável,
esquecido, velho fede, é lento e, como o próprio dicionário da língua portuguesa
diz, fora de uso, perde o viço. Existe um re-significado da velhice, com a palavra
idoso, um novo envelhecimento, uma nova velhice, “o idoso”: o ”ser” da “Terceira
Idade”.
A definição de velho
89
extraída de dicionário, segundo a Comissão
Ministerial da Terminologia junto da Secretaria do Estado da França,
encarregada das Pessoas Idosas (1984) propõe: Velho qualifica uma pessoa
que viveu mais tempo que a maioria dos que a cercam, e a quem resta menos
tempo de vida do que o vivido.
90
Os termos velho e idoso também são utilizados de acordo com a
posição social ocupada pelo indivíduo. Assim, a expressão velha está associada
à idéia de decadência, de incapacidade para o trabalho e de exclusão social,
como afirma Áries (1990):
Na França no século XIX, a questão da velhice se
impunha essencialmente para caracterizar as
pessoas que não podiam assegurar seu futuro
financeiro, indivíduo despossuído, o indigente,
velho (vieux), ou velhote (vieillard), enquanto os
que possuíam bens eram em geral designados de
idosos (personne ágée)
.
91
Já o termo idoso engloba as pessoas de mais idade em diferentes
realidades, designando tanto a população envelhecida, como os indivíduos
pertencentes às classes médias. A nova designação transformou o velho em um
sujeito respeitado.
89
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Envelhecer: v.t.d. 1.Tornar velho; avelhantar; avelhentar;3.
Perder frescura, o viço 4. Durar muito tempo; permanecer; 5. Tornar-se desusado ou inútil. FERREIRA,
1999.
90
Comissão Ministerial da Terminologia junto da Secretaria do Estado da França in MESSY, 1993:19.
91
ARIES, Por uma história da vida privada, 1990:18.
55
Para Debert
92
(1999) a expressão “terceira idade” está sendo usada para
designar uma nova etapa da vida, em que o envelhecimento não impede a
continuidade de uma vida ativa e independente, vivida por meio de práticas que
levem à sociabilidade, principal objetivo de representação da velhice. Portanto,
quando Maria do Carmo diz que é idosa e não velha, sente que está num novo
momento de sua vida, e busca, através da mudança da terminologia, o
reconhecimento dessa nova visão do envelhecimento, esse novo envelhecer no
século XXI.
Neste século, como já mencionamos, assistimos ao quase
desaparecimento do substantivo “velho”, só permanecendo no uso corrente sua
função adjetiva, quando falamos de coisas antigas usadas. O substantivo “velho”
deu lugar a um senhor de “terceira idade” ou “idosa”, como também “uma
senhora de idade avançada”, e a muitas tentativas de nomeação de algo que é
inominável no discurso contemporâneo. Ora, se não tem um nome, pode tê-los
todos, e então a velhice vira uma espécie de buraco negro, onde qualquer
interpretação pode entrar, qualquer representação ser possível e onde
permanecemos ignorantes sobre o que realmente contêm.
Existe, sim, um certo inconformismo com a situação atual do idoso, e
de como ele é tratado no Brasil. Ziza
93
, aluna da Universidade de Terceira Idade,
se sensibiliza com esta questão e afirma:
Então, o que mais traz amargura para a pessoa
quando chega na velhice é a maneira como o velho
é tratado... O que magoa muito é a maneira com que
as pessoas olham o idoso, Como um traste velho...
Bota ele num canto, dá um prato de comida, uma
televisão, e deixa ele enfiado lá...Isso é que magoa
mais...Isso é que magoa mais... É essa a forma de
ver o idoso...
Podemos entender, por essa fala, que essa senhora está magoada,
ressentida com a forma como o idoso é tratado; ela sente que os outros a tratam
92
DEBERT, A reinvenção da velhice, 1999: 63.
93
Ziza, aluna da Universidade da Terceira Idade Uninove, in RAMOS, Vitalidade no envelhecer:uma visão
integral, 2006:72
56
também desta forma. O corpo do ser humano é submetido a várias impressões,
mas as impressões sociais são signos de aliança inscritos sobre o corpo. Existe
na fala desta senhora uma relação entre o que ela sente, o que ela fala do outro
e o que está em sua memória corporal. Mercadante (1997) analisa:
As qualidades atribuídas aos velhos que vão definir o
seu perfil identitário são estigmatizadoras e uma
produção ideológica da sociedade. Os velhos
conhecem e também partilham dessa ideologia que,
entretanto, define o velho em geral, mas não em
particular. Assim sendo, pessoalmente não se
sentem incluídos no grande modelo ideológico.
94
Compreendemos que os velhos ao se sentirem destituídos socialmente
de seus potenciais afetivos, econômicos e culturais, reinvidicam novos espaços,
onde seus corpos e suas histórias podem ser valorizadas e resignificadas
encontrando nas Universidades este apoio, ora como pesquisados, ora como
estudantes.
1.2. Olhares sobre o envelhecimento: a universidade e as produções
acadêmicas
A reflexão obriga-nos, ao mesmo tempo, a abrir
nossa cultura que se tinha fechado na sua
orgulhosa convicção de que detinha a universidade
da razão e da verdade... É preciso tentar elaborar
as novas idéias genéricas: as que fazem nascer,
viver, que mantém uma cultura rica e nova; co-
produzir uma cultura que diga respeito a toda
humanidade. É essa a tarefa do futuro...
Edgard Morin
95
94
MERCADANTE, A construção da identidade e da subjetividade do idoso, 1997: 27.
95
MORIN, Edgard, Para sair do século XX, Rio de Janeiro Nova Fronteira, 1986:251.
57
O envelhecimento é um evento complexo que não pode ser abordado
por uma só disciplina. Não é uma questão só biológica, só social, nem tampouco
é só cultural, ou só filosófica. O envelhecimento tem que ser analisado por
diversos olhares. Como afirma Matheus Papaleo Netto (1996):
A Gerontologia é um ramo da ciência que se impõe
estudar o processo de envelhecimento e os
múltiplos problemas que envolvem a pessoa idosa,
ela é paradoxalmente jovem. Esta realidade é
surpreendente, desde que o envelhecimento e os
clamores pelo aumento da longevidade são
seguramente tão antigos quanto a própria
civilização. O fato é que o envelhecimento, apesar
de ser um fenômeno universal e comum a quase
todos os seres animais, teve o seu estudo
negligenciado durante muito tempo e os
mecanismos envolvidos na sua gênese ainda
permanecem obscuros, existindo um longo
caminho a ser percorrido, até que novos estudos
sejam mais esclarecedores.
96
No Brasil, o ingresso da universidade na área da velhice vem sendo
lento e gradual. Como afirma Goldstein (2001),
97
nas décadas de 1960 e 1970
foram criados os primeiros serviços de geriatria,
98
no Rio de Janeiro, no Rio
Grande do Sul e em São Paulo. As primeiras dissertações aparecem em
meados da década de 1970 e, desde então, seu número vem aumentando,
principalmente na região Sudeste e em cursos de pós-graduação em Psicologia,
Educação, Ciências Sociais, Saúde Pública, Serviço Social, Enfermagem e
Medicina. No período de 1975-1999 foram identificadas cerca de trezentas
dissertações e teses defendidas nas áreas de Psicologia e Ciências Sociais.
96
NETTO, Matheus Papaléo Gerontologia, 1996:4, Netto é Professor Livre-Docente de Clinica Médica da
Disciplina de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
97
GOLDSTEIN, L.L, A pesquisa gerontologica no Brasil. Especiaria- Revista da UESC, ano IV, n. 7,
Jan/Jun., 2001.
98
O médico I.L. Naschcr (1863- 1944) pode ser considerado o pai da moderna Geriatria Americana; em
1912 fundou a Sociedade de Geriatria em Nova York e em 1914 publicou o livro Geriatria. O progressivo
interesse da comunidade medica pelos temas Geriátricos, desembocou nos Estados Unidos na criação de
duas sociedades: a “The American Society of Gerontology”em 1942 e a “The Gerontological Society” em
1945. Em 1950 foi fundada a Ïnternational Society Gerontology que passou a congregar, em nível mundial,
as sociedades médicas interessadas no estudo do envelhecimento. No Brasil, somente em 1961 é fundada a
Sociedade Brasileira de Geriatria, posteriormente designada Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (Matheus Papaléo NETTO Gerontologia,1996:23).
58
As inúmeras pesquisas de natureza científicas e acadêmicas que
discutem o envelhecimento são estudos que predominam na área da medicina,
e observamos que o enfoque desses trabalhos são as questões ligadas ao
estudo das doenças degenerativas. Como afirma Moragas (1997):
Em gerontologia social, as teorias são recentes
devido ao fato de que ela é uma disciplina surgida
há pouco tempo, e essas teorias são muito
influenciadas pelo peso dos fatores
biológicos.Tradicionalmente, aceitaram-se como
verdades irrefutáveis os fatos biológicos do
envelhecimento, passíveis de modificações por
ações psicossociais.
99
Reafirmamos que o envelhecimento deve ser analisado por meio de
diversos olhares. Não de olhares isolados mas daqueles que partam do que
cada disciplina teoriza sobre o envelhecimento, desenvolvam a discussão e o
diálogo, que podem resultar em um novo conhecimento. Optamos por analisar o
Programa de Estudos Pós-graduados em Gerontologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo
100
, porque tal programa vem desenvolvendo
pesquisas que apreendem a velhice nas suas múltiplas dimensões, apontando
para processos diferenciados do envelhecimento. Percebemos, ao analisarmos
este rico material bibliográfico, que a velhice é multifacetária, diversificada e em
transformação.
Apresentamos a seguir um resumo das análises das produções
acadêmicas deste programa, mostrando o repertório das dissertações
defendidas entre 2000 e 2006
101
. Esse profundo mergulho é justificado por ser o
99
MORAGAS, Moragas, Ricardo, Gerontologia Social envelhecimento e qualidade de vida, 1997:116.
100
A aprovação do Programa pelo Conselho Universitário da instituição ocorreu em 27 de Novembro de
1996, sendo reconhecido pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (Capes)
em Julho de 2000, parecer n. 966. O programa teve origem no Núcleo de Estudo e Pesquisa do
envelhecimento (Nepe), o qual é hoje um dos seus grupos de pesquisa - REVISTA KAIRÓS, São Paulo,
6(2), Dez.2003, pp. 147-165.
101
Foram analisados os resumos das dissertações do programa encontrados no portal do envelhecimento
no site e nos arquivos da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O recorte feito
59
único Programa de Estudos Pós-graduados – stricto sensu específico em
Gerontologia
102
na cidade de São Paulo, por ser um programa atento à não
caracterização do segmento idoso a partir de um ponto de vista teórico, e por se
propor a refletir para reafirmar a importância de políticas públicas, sociais e
profissionais que atendam a essa população e que, garantida a satisfação de
suas necessidades essenciais, abram espaço à produção de cidadãos. Como
afirma Beltrina Côrte (2003), docente do Programa:
Há, por parte dos docentes pesquisadores do
Programa de Gerontologia, a preocupação em
desenvolver o exercício interdisciplinar, não só no
abraço das várias áreas do conhecimento para
compreender a velhice, mas também no exercício
interdisciplinar da pesquisa e docência. Nessa não
separação entre a docência e pesquisa, o corpo
docente contempla via essa relação estreita uma
nova maneira de formar o mestre em Gerontologia, o
que resulta, seguramente, em nova forma de
produção de conhecimento sobre o processo de
envelhecimento e a velhice. O profissional docente,
como professor pesquisador, será, sobretudo, um
produtor de conhecimentos e não um simples
reprodutor.
103
Acreditamos que, para dar conta de um número cada vez maior de
idosos que vêm sendo colocados na condição de negligência, profissionais de
diversas áreas do conhecimento e das mais variadas formações buscaram no
programa de Gerontologia um saber mais profundo sobre o envelhecimento.
atendeu a proposta, qual seja, como os trabalhos de pesquisa compreenderam o envelhecimento no
período considerado.
102
O primeiro serviço Universitário apareceu por volta de 1975 na Universidade Católica do R. G.do Sul.
Na Universidade São Paulo em 1979, foi à criação do Serviço de Geriatria do Hospital das Clinicas, pouco
depois desta data iniciaram-se serviço de Geriatria na Escola Paulista de Medicina, no Instituto do Coração,
e na Santa Casa de Misericórdia. Em 1992 a Universidade São Paulo inclui a Geriatria como disciplina
obrigatória no currículo do quarto ano médico, tendo sido realizado o primeiro concurso de Livre-docência
em Geriatria. (Netto Gerontologia,1996:23P). Hoje existem no Brasil e reconhecidos pelo Capes três
Programa de Estudos Pós-graduados em Gerontologia - stricto sensu: PUC-São Paulo, Unicamp e PUC-
Rio Grande do Sul – (revista Kairós, São Paulo, 6(1), Junho 2003, pp. 99-100).
103
CÔRTE, Beltrina, Jornalista, doutora em Ciência da Comunicação / Jornalismo pela ECA/USP, docente
do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP- (revista Kairós, São Paulo, 6(2),
Dez.2003, pp. 147-165).
60
No ano de 2003, foi feito um estudo do perfil dos alunos do Programa
de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia,
104
identificando quem eram os
profissionais que buscavam essa área de conhecimento e quais eram as
tendências de maior procura profissional ao longo dos últimos anos.
Entre os ex-alunos e aqueles em formação, foram encontradas 27
profissões, que são: Administração, Arquitetura, Artes Plásticas, Biologia,
Ciências Autuárias, Comunicação, Direito, Economia, Educação Física,
Educação artística / música, Educação Artística, Enfermagem, Engenharia
Metalúrgica, Fisioterapia, Fonoaudiologia, História, Jornalismo, Letras, Medicina,
Nutrição, Odontologia, Pedagogia, Processamento de Dados / Informática,
Psicologia, Serviço Social, Teologia e Terapia Ocupacional, das quais se
destacam fisioterapeutas (20,93%), psicólogos (16,86%), assistentes sociais
(12,79%), enfermeiros (10,47%), pedagogos (9,88%) e médicos (4,65%). Essa
diversidade de áreas de conhecimento é explicada pelo caráter interdisciplinar
do Programa de Gerontologia e sua filosofia, que consiste em compreender a
complexidade do ser em processo de envelhecimento a partir de diversos
olhares.
105
Ao nos debruçarmos sobre as produções acadêmicas através de um
levantamento de todas as dissertações produzidas pelo Programa, com seus
devidos resumos, datas de defesa, nomes de mestrandos e orientadores, como
apresentado em anexo, chegamos a um número de 136 dissertações. Após a
leitura detalhada desse material, houve a necessidade de separarmos as
pesquisas por temas para uma melhor compreensão desse universo e
desenvolvemos alguns eixos temáticos, que são: Saúde, Sexualidade, Velhice,
Mercado de Trabalho, Família, Moradia, Políticas Públicas e Educação.
Apresentamos na tabela um, os eixos temáticos e a sua divisão
quantitativa.
104
Revista Kairós, São Paulo, 6(2), Dez.2003, pp. 147-165.
105
O corpo docente do Programa é composto também por profissionais de diversas áreas do conhecimento:
antropologia, comunicação, psicologia, serviço social, medicina, genética, filosofia, sociologia, história,
educação e sociologia por Beltrina Côrte, Maria A. Ximenes Lima e Nadja Maria G. Murta.- (Revista
KAIRÓS, São Paulo, 6(2), Dez.2003, pp. 147-165).
61
Tabela 1
PRODUÇÕES ACADÊMICAS
EIXOS TEMÁTICOS QUANTIDADE
Saúde 57
Sexualidade
06
Velhice 16
Mercado de Trabalho 11
Família
11
Moradia 09
Políticas Públicas 07
Educação
19
Programa de Gerontologia Dissertações entre 2000 a 2006
Observando a tabela 1, demonstramos as produções acadêmicas
separadas nos seguintes eixos temáticos: Saúde (42%), Sexualidade (4%),
Velhice (12%), Mercado de Trabalho (8%), Família (8%), Moradia (7%), Políticas
Públicas (5%) e Educação (14%). Conforme observamos no quadro acima,
percebemos que houve um grande destaque para as pesquisas na área da
saúde. Isso se torna mais claro quando visualizamos o gráfico apresentado a
seguir: (Gráfico 1)
62
ESTUDO GERAL
42%
7%
4%
12%
14%
5%
8%
8%
1 ESTUDO SAÚDE
2 ESTUDO MORADIA
3 ESTUDO SEXUALIDADE
4 ESTUDO VELHICE
5 ESTUDO EDUCAÇÃO
6 ESTUDO POLÍTICAS PÚBLICAS
7 ESTUDO FAMÍLIA
8 ESTUDO MERCADO DE TRABALHO
Nosso objetivo neste momento não é a análise pormenorizada das
pesquisas, mas revelar uma visão de envelhecimento apresentando as
pesquisas e os temas desenvolvidos pelos trabalhos acadêmicos revelando a
singularidade do envelhecimento e suas possibilidades. Portanto, apresentamos
este trabalho em anexo totalmente descriminado e tabelado nas paginas x.
Até recentemente, éramos um país de jovens, rapidamente nos
tornaremos “um país jovem de cabelos brancos”, como diz Renato Veras
(1995):
106
O fenômeno do envelhecimento populacional que ocorre no mundo
levanta questões importantes, seja do ponto de vista sócio-econômico, seja do
pessoal, questões essas que são interdependentes. A mais importante dentre
elas é a de saber se o ciclo de vida aumentado pode ser vivido com qualidade,
ou se será apenas um período de aumento de estados patológicos e de
morbidade que precede a morte.
A duração do período de morbidade tem implicações sociais, pessoais
e médicas de amplas dimensões. Para o indivíduo, tal período vivido por um
106
VERAS, Renato, (org.) Um envelhecimento digno para o cidadão do futuro, 1995:23.
63
prazo longo, representa sofrimento físico e psicológico e possibilidades de
dificuldades financeiras muito sérias. Para a sociedade, ter um contingente com
um número maior de indivíduos atingindo o limite do ciclo da vida nessas
condições pode representar sua falência, devido ao alto custo com serviços
sociais e de saúde.
No entanto, se um ciclo de vida aumentado pode ser vivido até seu
final de forma saudável, com autonomia, independência e qualidade para o
indivíduo, isso representa um período de tempo de memórias felizes, bem como
a culminância e a síntese de projetos de uma vida bem vivida, e não um
desastre econômico-social para as nações. A visualização desse novo
paradigma de velhice se deu com o surgimento de uma nova categoria
denominada Terceira Idade que se apresenta como um novo sujeito coletivo,
como já dissemos. Não são pessoas acomodadas, inativas, mas cheias de
desejos, com novas necessidades psicológicas, sociais, éticas e políticas.
O crescente contingente de pessoas da chamada terceira idade exige
da sociedade como um todo, atenções e cuidados inexistentes em décadas
anteriores, como a de solicitar políticas sociais que garantam um lugar social e
cultural aos idosos. Dessa maneira, talvez os idosos comecem a se relacionar
com o futuro como uma visão possível. Como afirma Birman (1991):
A responsabilidade social sobre a velhice se
incrementa de forma insofismável. Com isto, é
possível que a velhice acabe por receber um
reconhecimento simbólico, referente ao seu lugar
social e cultural, que não lhe foi atribuído nos
últimos duzentos anos. Se esboça a possibilidade
de reconhecimento da velhice como sujeito
psíquico existente e como agente social. Dessa
maneira, o idoso pode talvez se relacionar com o
futuro de uma outra maneira, redimensionando a
sua inserção na ordem da temporalidade.
107
107
BIRMAN, Um envelhecimento digno para o cidadão do futuro, 1991:38.
64
É preciso reconhecer o idoso como um sujeito com experiências
vividas, capacitado, participante de várias áreas da sociedade, criando e
propondo idéias. Assim, possibilitará a sua inclusão nos grupos sociais como um
produtor social, garantindo o seu valor e sua cidadania, independente de ter um
trabalho remunerado ou não.
Este tipo de análise nos leva a desenvolver um estudo singular sobre o
envelhecimento. Através desse olhar, apontamos pesquisas que fortalecem as
nossas reflexões e buscas na compreensão dessas
diferentes formas de
envelhecer que chamamos de singularidades da velhice. São concepções
apresentadas sobre o envelhecimento, nas quais ressaltamos que
envelhecemos conforme vivemos. Tomamos consciência da individualidade do
envelhecer, e, portanto, que as velhices são inúmeras.
Falar, então, do novo paradigma do envelhecimento implica romper
com a imagem que a nossa sociedade tem da velhice como um período de
perdas que se observam pelo declínio biológico. Aprendemos desde cedo que a
velhice é uma fase terminal e, portanto, de inatividade, falta de realização, de
dependências física e financeira. Ver a velhice desta forma é um aprendizado
cultural reforçado pela sociedade. Sendo cultural e aprendido, podemos lutar por
ações que impliquem uma profunda mudança de pensamento e na forma de se
encarar a questão do envelhecimento. Isto será feito através de uma educação
planejada para os próprios idosos e também para os jovens, para que tenham
um novo olhar sobre o envelhecimento, abrindo espaço para que enxerguem a
velhice como um período também de aquisições, e para que possam aceitar
sem medo o fato de que todos envelhecem.
1.3. Educação permanente como instrumento de desenvolvimento na
velhice
“ Educar o idoso, então, é dar-lhe um caminho para
alcançar novos níveis de percepção, de
conhecimento e de ação. E as pessoas dentro da
65
complexidade atual, visualizarão diferentes
bifurcações neste caminho” .
Mariuza Pelloso
108
Ao destacarmos na pesquisa o último eixo temático analisado e o mais
relevante ao nosso estudo, o da Educação, percebemos que, de 136 pesquisas,
apenas 14% são pesquisas direcionadas a educação de idosos. Por este motivo,
esse é o eixo temático que nos interessa para melhor analisarmos as
concepções sobre a Educação Permanente
109
. Ao observarmos o quadro 10
(anexo na pagina 222), no qual apresentamos um total de 19 dissertações,
ressaltamos que 9 (nove) escolheram o universo escolar para fonte de coleta de
dados e que apenas 7 (sete) relatam experiências educacionais dos velhos no
espaço das Universidades Abertas à Terceira Idade.
“Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no
mundo que nós nos fazemos”
Paulo Freire
Quando analisamos as pesquisas, percebemos que elas revelam que
vivemos um período em que as pessoas estão sendo bombardeadas por
informações que invadem os espaços públicos e privados e as levam a pensar
em projetos de desenvolvimento individual e coletivo. Sentem, então,
necessidade de ampliarem seus conhecimentos culturais, particularmente num
mundo em constantes mudanças tecnológicas, científicas, sociais e políticas.
Como afirma Cortella (2006):
108
PELLOSO, Mariuza, Gerontologia Educacional, 2001: 55
109
A expressão “Educação Permanente” surgiu pela primeira vez na França, em 1955, utilizada por Pierre
Arents, em um projeto de reforma de ensino que possuía como objetivo assegurar, depois da escola, a
continuação da instrução e da educação recebida. La Educación Permanente em las Jornadas, Olivetti de
Education, in Educadores, ano XV, n.93, 1972.
66
Começo de Terceiro Milênio! Profusão exuberante
de tecnologia, patamares científicos inéditos,
resultados econômicos estrondosos, produção
magnífica de bens de consumo. Olhando só para
as conquistas tudo é superlativo. Nos últimos 50
anos tivemos mais desenvolvimento inventivo do
que em toda a história anterior da humanidade: em
outras palavras: aceitando a hipótese de que há
aproximadamente 40.000 anos somos homo
sapiens sapiens, apenas na 5 décadas mais
recentes acumulamos mais estruturas de
conhecimento e intervenção no mundo do que em
todos os 39.950 anos anteriores.
110
Como acompanhar essas mudanças? Para enriquecer seus
conhecimentos, muitos optam por retomar o processo educacional, para
descobrir, reanimar e fortalecer seus potenciais criativos, intelectuais e críticos.
Os mitos que foram construídos sobre os velhos, que eles não
aprendem, que não mudam, que são conservadores, estão caindo por terra.
Muitos optam pela educação, na tentativa de quebrar as barreiras sociais que os
impedem de participar, com igualdade, do contexto social. Para Paiva (1985):
A educação constitui um processo em que cada
ser humano aprende a se formar, a se informar a
fim de transformar-se e transformar o seu contexto.
O homem é um ser inacabado e será através da
educação visto como um processo contínuo que só
termina com a morte (...)
111
A expressão Educação Permanente abarca conceitos diversificados e
complementares, como a educação de adultos, a formação profissional
continuada, a democratização da cultura, entre outros. Para Pierre Furter (1972),
ela pode ser definida como: “
(...) um sistema no qual o oferecimento de toda
oportunidade está disponível por meio da vida do indivíduo, tanto à luz de suas
110
CORTELLA, Mario Sergio, Não nascemos prontos!: Provocações filosóficas, 2006:17.
111
PAIVA, Vanilda, Educação permanente e o capitalismo tardio, 1985:40.
67
necessidades vocacionais como de seus desejos, necessidades e interesses
culturais”
112
.
A Educação Permanente exprime a idéia de totalidade, que tem como
centro o homem, em todas as suas dimensões e problemáticas existenciais,
estimulando-o a continuar constantemente a sua formação individual, seus
relacionamentos e seus projetos de vida. Como afirma Cunha (1988):
A educação permanente entende o social não só
como o relacionamento entre indivíduos, mas
também o relacionamento do indivíduo consigo
mesmo. Pressupõe ser o desenvolvimento pessoal
do indivíduo um dos objetivos da educação
permanente, que abre novos horizontes e
potencializa condições para o exercício da
liberdade, e para expressar sua personalidade de
forma mais autêntica e autônoma. A pessoa capaz
de relacionar-se consigo mesma é capaz de aceitar
e dar significado à relação com os outros e com o
mundo.
113
Para Jordão (2006)
114
, a educação permanente é um processo duplo
de aperfeiçoamento integral e sem solução de continuidade dos seres humanos,
desde o nascimento até a morte, e se traduz tanto pela experiência individual,
quanto social, pelo aprofundamento de conhecimentos, sejam informais
(extraídos das próprias vivências) ou formais (obtidos por meio da participação
num sistema educacional organizado em diferentes níveis de complexidade).
Os projetos das Universidades abertas à Maturidade, à Terceira Idade,
à Melhor Idade ou Universidade Sênior, como são denominados
115
, tem sua
112
FURTER, P., La Educacion Permanente en las Jornadas Olivetti de Educacion. In: Educadores, ano XV, n.
93,1972.
113
CUNHA, 1988:7-8 apud GARCIA, Denise S. Mazza; A orientação educacional a serviço da Educação
permanente: uma experiência com idosos. Dissertação (mestrado em Gerontologia),Pontificia Universidade
Católica de São Paulo. 2002:18.
114
JORDÃO, A. Educação permanente e a estrutura curricular da universidade aberta à maturidade da
Puc/SP, Dez.-2006, Disponível em http:/www. Pucsp.br/portaldoenvelhecimento em 17 Nov.-2007.
115
Existem inúmeros nomes de programas voltados aos velhos na área educacional são eles:Faculdade de
Maturidade, Faculdade Livre da Terceira Idade, Universidade sem Fronteira, Universidade Integrada da
Terceira Idade, Universidade aberta do Tempo Útil, Universidade na Terceira Idade Adulta. Em seu livro
CACHIONI, Quem educa os idosos, 2003:237, afirma existirem no Brasil em 2003, aproximadamente 100
universidades abertas a terceira idade e na cidade de em São Paulo, 42.
68
importância, pois se impõem cada vez mais os conceitos de educação ao longo
da vida, dadas as vantagens que oferecem em matéria de flexibilidade,
diversidade e acessibilidade no tempo e no espaço. É a idéia de educação
permanente que deve ser repensada e ampliada. Ela deve ser encarada como
uma construção contínua da pessoa, dos seus saberes e aptidões, da sua
capacidade de discernir e agir. Deve levar cada um a tomar consciência de si
próprio e do meio ambiente que o rodeia, e a desempenhar o papel social que
lhe cabe enquanto cidadão.
A questão educacional é de relevância indiscutível para todas as faixas
etárias e, portanto, não pode ser negligenciada para os idosos, pois eles, como
as crianças, os jovens e os adultos, buscam a construção de seu espaço de
cidadania, como seres históricos. Inicialmente, buscavam espaços que
favoreciam relações e atividades de lazer. Aos poucos, passaram a desejar bem
mais. Surgem as Universidades Abertas de Terceira Idade, nas quais buscam
aperfeiçoamento, atualização e orientações práticas para uma vida saudável.
Eles passaram a desejar participar das atividades educativas e culturais,
recusando-se a parar de aprender.
A Universidade Aberta para a Terceira Idade surge, na visão de
Canôas
116
, como proposta de integrar o idoso à sociedade, opondo-se às
instituições asilares que, pelo seu caráter fechado e pelas regras pré-
estabelecidas, acarretam aos seus integrantes a perda da individualidade, do
significado de seus valores e da sua própria identidade.
A proposta de Educação Permanente que norteia a Universidade da
Terceira Idade deve ter por base um trabalho que vai além da veiculação de
conhecimentos, que supere o plano das idéias, incorporando a prática de um
trabalho conjunto (aluno, professor, coordenador, comunidade e instituição).
Como afirma Valente (2001):
Aprendizagem continuada ao longo da vida
significa que, se uma pessoa tem o desejo de
aprender, ela terá condições de fazê-lo,
116
CANÔAS, Cilene Swain, A condição humana do velho, 1985:41.
69
independentemente de onde e quando isso ocorre.
Para tanto, é necessária a confluência de três
fatores: que ela tenha a predisposição de
aprendizagem, que existam ambientes de
aprendizagem adequadamente organizados e que
haja pessoas que possam auxiliar o aprendiz no
processo de aprender (agentes de aprendizagem).
117
Sendo assim, a universidade assume a sua vocação, como produtora
de saber, tanto quanto abre espaço para co-educação, permitindo ao idoso,
através da troca mútua, partilhar de uma cultura que vai além dos livros ou de
documentos, dado que a sua construção remete à experiência de vida.
1.3.1 Universidades abertas à Terceira Idade
“A escola deve ser entendida como um
espaço permanente de educação em todas
as fases da vida, pois estamos sempre
aprendendo”
Neves
118
As Universidades abertas à Terceira Idade pesquisadas (Universidade
aberta à Terceira Idade da Universidade de São Paulo e Universidade aberta à
Maturidade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) surgiram em São
Paulo na década de 90, e, para um melhor entendimento desse objeto, houve a
necessidade da compreensão histórica do universo em que elas estão inseridas.
Na década de 60, na França, foram criadas as Universidades do tempo
Livre, concebidas como um espaço voltado às atividades culturais e à
117
VALENTE, José Armando, Aprendizagem continuada ao longo da vida o exemplo da terceira idade, in,
KACHAR, Vitória (org), Longevidade um novo desafio para educação, 2001:37.
118
NEVES, apud, Garcia S. M., A orientação educacional a serviço da educação permanente uma
experiência com idosos, 1996:24.
70
sociabilidade, com o objetivo de ocupar o tempo livre dos aposentados e
favorecer as relações sociais entre eles.
Como conta Cachioni (2003)
119
, Pierre Vellas, professor de Direito
Internacional da Universidade de Ciências Sociais de Toulouse, desenvolveu um
amplo estudo sobre o conteúdo e a orientação de programas sobre velhice nas
Universidades Européias e Americanas, sobre os trabalhos de organizações
internacionais e sobre as políticas para a velhice praticadas pelos países
industrializados da Europa e da América do Norte. Levantou as atividades de
organizações não-governamentais, entre elas centro internacional de
gerontologia social, visitou hospitais, alojamentos e pensões de aposentados.
Confirmando suas suspeitas, traçadas a partir das histórias e dos
dramas pessoais dos estudantes, concluiu que, para muitos, o problema era na
verdade amostra de uma realidade generalizada: solidão, mania por remédios e
médicos, isolamento, depressão, doenças. Portanto, ficou claro que muitos dos
processos patológicos tinham como origem o problema da exclusão social, já
que as oportunidades oferecidas aos idosos eram quase inexistentes.
Em 1973, fez a proposta inovadora de que a universidade deveria se
abrir a todos os idosos, sem distinção de nível de renda ou educação, que
pudessem ocupar produtivamente o tempo livre e receber, através dos
programas intelectuais, artísticos de lazer e atividade física, os benefícios que
isso traria para sua saúde e bem-estar. Tirar os idosos do isolamento, propiciar-
lhes saúde, energia e interesse pela vida e modificar sua imagem perante a
sociedade foram os objetivos da Universidade da Terceira Idade idealizada pelo
autor.
O impacto inicial de uma universidade aberta a todos os idosos foi
modesto e as dificuldades muito grandes. Apenas 40 pessoas se inscreveram
por ocasião da primeira oferta do programa. Contudo, com a promoção que as
imprensas locais e internacionais fizeram sobre a novidade, poucos meses mais
tarde mais de mil idosos se inscreveram.
119
VELLAS, P. Lê Troisieme Soulfle, 1997 apud CACHIONI, 2003:48.
71
A partir de 1974, a Universidade da Terceira Idade de Toulouse
transformou-se num programa regular com cursos que duravam o ano inteiro.
Fazendo acordos com associações e municípios para a obtenção de
subvenções, Vellas criou unidades satélites da universidade em estações de
verão (terapêuticas termais) e de inverno (esqui na neve) para preencher a
lacuna das férias acadêmicas. Simultaneamente, universidades em outras
localidades passaram a criar os seus programas. Em Nantèrre, abriu-se a
possibilidade de pessoas idosas com apenas o curso primário freqüentarem as
disciplinas oferecidas tradicionalmente a alunos do curso superior. Com o
crescimento significativo de procura por parte dos idosos, essas Universidades
passaram a ser também centros de pesquisa em gerontologia.
Como aponta Neri (2004)
120
, em 1975, o programa Universidade da
Terceira Idade foi implantado por várias instituições em diversos países, como
Bélgica, Suíça, Polônia, Itália, Espanha, Canadá e Estados Unidos, com
diferentes modelos, projetos e mesmo propostas pedagógicas, mas todos com o
objetivo de criarem oportunidades para programas destinados a pessoas mais
velhas. Neste mesmo ano, foi fundada a Association Internationale des
Universitès Age (AIUTA)
121
, que, segundo seus estatutos, agrupa instituições
universitárias em qualquer parte do mundo, que contribuam para a melhoria de
qualidade de vida dos idosos, para sua formação e para pesquisas e serviços à
comunidade. E assim, em 1981, havia mais de 170 instituições associadas a ela,
que em 1999, contava com mais de cinco mil instituições catalogadas.
Também nesse ano de 1981, com uma substancial modificação do
modelo francês criado por Vellas, nasceu em Cambridge o modelo inglês. Nele,
os freqüentadores do programa podem atuar tanto como professores quanto
como alunos, com possibilidade de engajamento em pesquisas. Como afirma
Neri (2004):
O modelo inglês baseia-se no ideal de auto-ajuda,
corrente entre os anglo-saxônicos, na idéia de que
120
NERI, L et al. Velhice bem-sucedida: aspectos afetivos e cognitivos, 2004:36.
121
SWINDELL R. e THOMPSON J. An international perspective on the university of the third age,
Educational Gerontology, 1995, vol.21, n. 5,pp. 429-447.
72
a experiência de vida confere aos idosos um
cabedal de conhecimentos que deve ser
compartilhado, tendo em vista os benefícios para
as instituições, os outros idosos e os mais
jovens.
122
Como afirma Palma (2000)
123
, este tipo de Universidade chegou à
América Latina por intermédio das Universidades abertas da Terceira Idade do
Uruguai, com sede no Instituto de Estudos Superiores de Montevidéu, com base
nos princípios das Universidades abertas a Terceira Idade de Genebra, e se
expandiu para o Paraguai, a Argentina, o México, o Panamá, a Venezuela e o
Brasil.
1.3.2. Educação continuada no Brasil voltada à chamada terceira idade
“(...) a escola não pode ser concebida como um
espaço neutro ou problemático, mas como espaço
pedagógico, que reproduz formas de experiência
de si, nas quais os sujeitos podem se tornar
sujeitos de um modo particular”.
Borba
124
No Brasil, o trabalho educacional com idosos foi feito pioneiramente
pelo Serviço Social do Comércio (SESC)
125
, sob influência francesa. Na década
122
Ibidem, p. 38.
123
PALMA, L.T. Educação permanente e qualidade de vida: indicativos para uma velhice bem sucedida.
2000:32.
124
BORBA, 1999:61
125
Fundado em 1946, o Serviço Social do Comércio (SESC) é uma instituição privada, criada e mantida
pelos empresários do comércio. Entidade de âmbito nacional, possui departamentos regionais em todos os
Estados da Federação. Sua finalidade é o desenvolvimento sociocultural dos empregados do comércio e
seus dependentes, mas sua ação se estende a todas as categorias profissionais e à população em geral.
Possui instalações e equipamentos de excelente qualidade, oferecendo um bom padrão de atendimento. Em
seus centros culturais são desenvolvidas atividades de lazer que além do entretenimento, perseguem um
73
de 60, essa instituição fundou os primeiros grupos de convivência com o objetivo
principal de socialização dos idosos. Depois, continuando com o seu projeto e
mantendo a intenção inicial de fomento de convivência, implantou na década de
70 as primeiras Escolas Abertas à Terceira Idade. Segundo Salgado (1997), “o
maior objetivo das escolas abertas é o de propiciar ao indivíduo a redescoberta
de interesses que, uma vez assumidos, o reequilibrem socialmente e retardem
as modificações da velhice”.
126
,
Para atender a esse objetivo, essa escola aberta se propôs a criar
oportunidades de ampliação e atualização de conhecimentos. Essa iniciativa
partiu de duas premissas fundamentais preconizadas por especialistas e
atestadas na prática pelo trabalho social: a de que a atualização de informação
facilita a integração social dos velhos a um mundo de mudanças cada vez mais
aceleradas, e a de que o ser humano, mesmo em idade avançada, não só é
capaz de aprender, como também pode estar suficientemente motivado para tal,
pois existe, como afirma Salgado, grande possibilidade de desenvolvimento
intelectual na velhice, sobretudo quando acompanhada pela motivação e pelo
desejo do conhecimento.
Por outro lado, nas Universidades, as primeiras ações foram no âmbito
da extensão universitária na área gerontológica. Em 1982, foi fundado o NETI
(Núcleo de Estudos da Terceira Idade), da Universidade Federal de Santa
Catarina, que dava ênfase à realização de estudos e à divulgação de
conhecimentos gerontológicos. Portanto, o modelo de educação permanente ou
continuada criado por Vellas, como no resto do mundo, foi o modelo seguido no
Brasil.
Percebemos que os programas pesquisados nasceram todos de
maneiras relativamente intuitivas, semelhantes ao programa pioneiro de
Toulouse, no sentido de que, em sua maioria, os coordenadores não eram
especialistas em gerontologia ou em gerontologia educacional, mas sentiam um
objetivo pedagógico: através de um processo de educação informal, busca-se uma ocupação criativa do
tempo livre. FERRIGNO, José Carlos, Co-educação entre gerações. 2003:86.
126
SALGADO, Marcelo, 1977:19 in FERRIGNO, José Carlos, Co-educação entre gerações, 2003: 86
74
apelo pessoal proveniente do que identificavam como as necessidades dos
idosos em suas cidades.
A situação legal de educação para o segmento idoso no Brasil, de
acordo com as orientações da Política Nacional do Idoso, contemplada na Lei nº
8.842/94 e regulamentada no Decreto n.1948/96, como diz seu título, é
programa governamental permanente, conjugando os esforços da União, dos
Estados, Municípios e do Distrito Federal. As providências pretendem cumprir o
art. 230 da Constituição Federal de 1988, que no seu Artigo 10º, no item da
Educação, assegura
127
:
a) Adequar os programas educacionais destinados ao idoso;
b) Elaborar programas educativos sobre o envelhecimento;
c) Estimular e apoiar a admissão do idoso na universidade,
propiciando a interação intergeracional;
d) Incentivar o desenvolvimento de programas educativos voltados à
comunidade, aos idosos e a sua família, mediante os meios de
comunicação de massa;
e) Inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis de ensino
formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de
forma a eliminar preconceitos e produzir conhecimentos sobre o
assunto.
. Assim, a área da Gerontologia Educacional começou a ser
desenvolvida, como afirma Medeiros (2001):
”..é preciso formular uma Gerontologia Educacional
na perspectiva da educação transformadora que
permita ao idoso ‘como ser aprendente’, ocupar
um lugar significativo na sociedade e participar
plenamente vida. (...) não qualquer educação, mas
uma educação que estimule e liberte”.
128
127
MARTINEZ, Direito dos idosos, 1997:83.
128
MEDEIROS, Suzana Rocha, in Lima, P. Gerontologia Educacional, 2001 (prefácio).
75
Em vários países, inclusive no Brasil, a Universidade de ensino
superior tem desempenhado a função de desenvolver uma Gerontologia
Educacional. Esse termo, segundo Glendenning (2000)
129
, foi usado pela
primeira vez em 1970, na Universidade de Michigan, por David Peterson, no
contexto de um curso de doutorado em gerontologia. Em 1976, esse teórico
definiu-a como a área responsável pelo estudo e pela prática das tarefas de
ensino a respeito de orientar as pessoas envelhecidas e em processo de
envelhecimento, pela interface da educação de adultos e da gerontologia social.
Em 1980, o mesmo autor refez sua definição, acrescentando que a gerontologia
educacional é a tentativa de aplicar o que se conhece sobre a educação e
envelhecimento em benefício do aumento e da melhoria da vida dos idosos.
Estas teorias foram desenvolvidas por meio de programas voltados
para a educação permanente de adultos maduros e idosos, tendo como
pressuposto a noção de que a atividade promove a saúde, o bem-estar
psicológico e social e a cidadania dessas pessoas genericamente chamada de
terceira idade, esses programas oferecem oportunidades para participação em
atividades intelectuais, físicas e sociais. Como afirma Cachioni (2003):
A educação faz parte do amplo campo de
aplicação da Gerontologia. Tal como a
gerontologia, a educação reivindica o status de
área multi e interdisciplinar, fato que, com
freqüência, confundem os praticantes e os teóricos
de ambos os campos. Pertencem ao âmbito de um
novo campo interdisciplinar, o da gerontologia
educacional, a discussão sobre quais devem ser o
conteúdo e o formato da educação dirigida a
idosos, assim como a maneira como deve ocorrer
a formação de recursos humanos especializados
para o cumprimento dessas finalidades.
130
129
De acordo com GLENDENNING, Education Gerontology in Britain as an emerging field of study and
practice, 2000:10, a partir deste projeto, outras ações foram desenvolvidas sobre o tema, originando uma
conferência nacional sobre gerontologia educativa em Virgínia Beach, em 1976.
130
CACHIONI, Quem educa os idosos, 2003: 19.
76
Como observamos, desde a década de 1960, em vários países o
interesse pela educação de idosos é considerável, e no Brasil percebemos que
essa área está em desenvolvimento, mas pelo processo inverso, ou seja,
primeiro criamos as universidades de terceira idade, ou locais de ensino, para
depois capacitarmos os profissionais que trabalharão com os idosos. Segundo
Cachioni (2003):
Em nosso país, a despeito do sensível aumento na
oferta de programas educacionais para idosos
verificado nos últimos anos, ainda não há um ponto
de vista e nem um conjunto de práticas instituídas
para a formação e o acompanhamento do trabalho
dessa clientela; nem se discutem sistematicamente
os fundamentos e as práticas mais apropriadas
para a educação desses idosos.
131
Um primeiro passo a ser dado no sentido de alterar esse quadro é o de
oferecer cursos planejados e adequados a essa população que envelhece, além
da ampliação de pesquisas e o aperfeiçoamento dos profissionais voltados a
essa área, mesmo porque a existência da Universidade aberta à Terceira Idade
é um compromisso da própria universidade com a sociedade e particularmente
com esses novos estudantes.
131
Ibidem, p. 78.
77
Capítulo 2
Universidade aberta
Aberta à terceira idade
À idade da reproposta
Reproposta da vida,
Da vida da plenitude
Plenitude de cultura
Cultura, lazer e arte,
Arte de fazer parte,
Parte de um grande todo
De toda a universidade
Esther Alves Martirani
(aluna da USP)
78
As peças do cenário: Universidade aberta à Terceira Idade
Neste capítulo apresentamos as peças deste cenário, que são as
Universidades e seus projetos pedagógicos. Destacamos duas universidades
pesquisadas na cidade de São Paulo, apresentando as suas diversidades
através do estudo e análise de seus programas: projetos pedagógicos,
concepção, objetivos dos cursos, infra-estrutura, componentes curriculares,
espaço físico, vínculo departamental com a instituição e corpo docente.
2.1 Montando o cenário: o espaço (palco)
(...) A verdadeira universidade não se localiza num
lugar específico. Não tem propriedades, não paga
salários, não recebe taxas materiais. A verdadeira
universidade é um estado de espírito. É a grande
herança do pensamento racional que nos foi
legado no decorrer dos séculos e que não tem
lugar específico para ficar. É um estado de espírito
que se renova através dos séculos, graças a um
grupo de pessoas que ostentam tradicionalmente o
titulo de professor, titulo esse, que no fundo,
também não faz parte da universidade. A
verdadeira universidade é nada mais nada menos
que o corpo contínuo da razão em si.
Robert Pirsig
132
132
O escritor PIRSIG Robert (1991), através do personagem Fedro de seu livro Zen e a arte da manutenção
de motocicletas: uma investigação sobre valores, propõe-nos uma reflexão provocadora ao alertar sobre a
necessidade de diferenciar a “universidade legal” da “universidade verdadeira”.
79
Ao montarmos as peças deste cenário enveredaremos pelo mundo das
Universidades da Terceira Idade, apresentando um histórico deste panorama
educacional. Algumas indagações foram levantadas: por que implantaram estes
cursos? O que são estes cursos e quais os seus objetivos? Apresentamos o
espaço freqüentado pelos velhos estudantes, destacando duas universidades
que serão amplamente apresentadas, a Universidade de São Paulo (USP) e a
Pontifícia Universidade Católica de São.Paulo (PUC-SP), pois o nosso objetivo
neste capítulo é apresentar o processo de construção dessas instituições,
revelando as suas histórias e opções em relação à introdução dos velhos em
seu locus educacional. Analisamos o percurso percorrido por essas instituições
nas escolhas de seus projetos de inserção do velho no universo educacional,
como estudante e como agente estudado. Ao pesquisarmos essas
universidades, recorremos à análise de seus projetos através de seus catálogos,
folders promocionais, revistas e jornais dos programas e também de seus sites
na internet, com o objetivo de perceber, através destas fontes (material
pesquisado), como o estudante velho é inserido naquele espaço escolar,
naquelas instituições educacionais.
Ao destacar o possível papel das universidades paulistas no
concernente à situação das Universidades abertas a Terceira Idade em relação
a políticas públicas, cabe determinar, primeiramente, o sentido que tem, neste
trabalho, o termo “universidades brasileiras”. Ao tratar o referido termo no plural,
busca-se considerar a diversidade e multiplicidade de instituições de nível
superior que coexistem no território nacional e que são responsáveis pelo ensino
superior, ou seja, há uma similaridade de instituições que se comprazem em
oferecer à população uma modalidade de ensino - a denominada Universidade
Aberta à Terceira Idade. Porém, tal característica diferencia-se pelas condições
de ensino, pela organização em faculdades ou cursos, pelos recursos
financeiros e pela localização geopolítica das chamadas universidades
brasileiras.
80
Queremos salientar que o foco do nosso estudo são os velhos
estudantes das Universidades abertas à Terceira Idade, e ressaltamos, então, o
fato de que são Universidades dentro de Universidades. Portanto, que universo
é este que nos apresenta?
O Sistema de Instituições de Educação Superior
133
, segundo a
legislação em vigor, estão organizadas da seguinte forma: Universidades,
Universidades Especializadas, Centros Universitários, Centros Universitários
Especializados, Faculdades Integradas, Faculdades, Institutos Superiores ou
Escolas Superiores e Centros de Educação Tecnológica.
134
As instituições de educação superior brasileiras estão organizadas sob
as categorias administrativas (ou formas de natureza jurídica): públicas e
privadas.
As públicas são instituições criadas ou incorporadas, mantidas e
administradas pelo poder público, e podem ser: federais (mantidas e
administradas pelo governo federal), estaduais (mantidas e administradas pelos
133
Dado disponível em: www.mec.org.br , acessado em 10 de Dezembro de 2006.
134
Universidades: são instituições pluridisciplinares, públicas ou privadas, de formação de quadros
profissionais de nível superior, que desenvolvem atividades regulares de ensino, pesquisa e extensão.
Universidades Especializadas são instituições de educação superior, públicas ou privadas, especializadas
em um campo do saber como, por exemplo, Ciências da Saúde ou Ciências Sociais, nas quais são
desenvolvidas atividades de ensino e pesquisa e extensão, em áreas básicas e/ou aplicadas. Centros
Universitários são instituições de educação superior, públicas ou privadas, pluricurriculares, que devem
oferecer ensino de excelência e oportunidades de qualificação ao corpo docente e condições de trabalho à
comunidade escolar. Centros Universitários Especializados são instituições de educação superior,
públicas ou privadas, que atuam numa área de conhecimento específica ou de formação profissional,
devendo oferecer ensino de excelência e oportunidades de qualificação ao corpo docente e condições de
trabalho à comunidade escolar. Faculdades Integradas e Faculdades são instituições de educação
superior públicas ou privadas, com propostas curriculares em mais de uma área do conhecimento,
organizadas sob o mesmo comando e regimento comum, com a finalidade de formar profissionais de nível
superior, podendo ministrar cursos nos vários níveis (seqüenciais, de graduação,de pós-graduação e de
extensão) e modalidades do ensino. Institutos Superiores ou Escolas Superiores são instituições de
educação superior, públicas ou privadas, com finalidade de ministrar cursos nos vários níveis (seqüenciais,
de graduação, de pós-graduação e de extensão), Centros de Educação Tecnológica são instituições
especializadas de educação profissional, públicas ou privadas, com a finalidade de qualificar profissionais
em cursos superiores de educação tecnológica para os diversos setores da economia e realizar pesquisa e
desenvolvimento tecnológico de novos processos, produtos e serviços, em estreita articulação com os
setores produtivos e a sociedade, oferecendo, inclusive, mecanismos para a educação continuada. Brasil,
Mec, Disponível em: www.mec.gov, acessado em 15 de Fevereiro de 2006.
81
governos dos estados) e municipais (mantidas e administradas pelo poder
público municipal). As privadas são as mantidas e administradas por pessoas
físicas ou jurídicas de direito privado, podem se organizar como: instituições
privadas com fins lucrativos ou particulares em sentido estrito (instituídas e
mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado),
instituições privadas sem fins lucrativos, que podem ser: comunitárias
(instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas,
inclusive cooperativas de professores e alunos que incluam, na sua entidade
mantenedora, representantes da comunidade); confessionais (instituídas por
grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendam à
orientação confessional e ideológica específicas e filantrópicas), são as
instituições de educação ou de assistência social que prestem os serviços para
os quais foram instituídas e os coloquem à disposição da população em geral,
em caráter complementar às atividades do Estado, sem qualquer remuneração.
Ao nos depararmos com o ensino superior brasileiro atual como um
campo complexo, formado por instituições públicas e privadas, nesta dimensão
multifacetada e em transformação do ensino superior, percebemos que existem
diferenças marcantes não apenas entre as instituições públicas e privadas, mas
também no interior de cada um destes segmentos.
As perguntas a serem feitas para melhor compreensão deste universo
educacional são: como funcionam estas Universidades que recebem estes
velhos? Porque essas universidades surgiram? Existem modelos de programas
diferenciados de acordo com a instituição que o desenvolve? Priorizamos
compreender este universo selecionando duas universidades diferenciadas,
ambas situadas na cidade de São Paulo, mas com organizações pedagógicas
distintas. Como apresentado no quadro 11:
82
Quadro 11
DEMONSTRATIVO DAS UNIVERSIDADES PESQUISADAS
Setor
135
Segmento
136
Nome da
universidade
Nome das
universidades
pesquisadas
Curso na área de
gerontologia
Público
Estadual
Universidade de
São Paulo
Universidade
aberta à Terceira
Idade da USP
Curso de graduação,
Bacharelado em
Gerontologia
Privado
Comunitária e
Confessional
Pontifícia
Universidade
Católica de São
Paulo.
Universidade
aberta à
Maturidade da
PUC
Programa de
Estudos pós-
Graduados em
Gerontologia
Dados coletados e organizados através de catálogos da USP e PUC/SP e respectivos sites
Na escolha destas Universidades, algumas categorias importantes para
a compreensão deste universo foram meticulosamente selecionadas, tais como:
Universidades que abrigam Universidades de Terceira Idade (UNATI),
instituições de fomento a pesquisas na área de gerontologia, o método de
ensino e os conteúdos programáticos diferentes em cada uma das instituições.
As Universidades pesquisadas são de dois setores: público e privado;
pertencem aos segmentos estadual e comunitário confessional.
Ao apresentarmos essas duas Universidades revelamos que as
mesmas desenvolveram modelos diferentes de lidarem e estudarem o
envelhecimento. Sentimos a necessidade de ressaltar que em nenhum momento
estamos comparando estas duas universidades, e sim, apresentando os seus
projetos desenvolvidos para alunos da chamada terceira idade, pois acreditamos
que ambos são significativos para a compreensão da reconstrução do velho no
135
Termo utilizado na tabela apresentada por: ALMEIDA, C.R.S., O brasão e o logotipo: um estudo das
novas universidades de São Paulo, 2001:21.
136
Ibidem, p.21.
83
imaginário da sociedade brasileira e poderão ter relevância no campo das
políticas públicas.
Para um melhor entendimento deste cenário, surgiu a necessidade da
compreensão histórica do universo em que estão inseridas estas instituições de
ensino.
2.2 Os programas oferecidos por duas universidades paulistanas
(...) frente aos múltiplos desafios do futuro,
a educação surge como um trunfo indispensável na
sua construção dos ideais de paz, contínuo, tanto
das pessoas como das sociedades. Não como um
remédio milagroso, não como uma “abre-te
sésamo” de um mundo que atingiu a realização de
todos os seus ideais, mas, entre outros caminhos e
para além deles, como uma via que conduza a um
desenvolvimento mais harmonioso, mais autentico,
de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão
social, as incompreensões, as opressões, as
guerras...
Jacques Delors
137
E sonhando junto com meus mestres, fui buscar a resposta de como
funcionam estas Universidades.
Os modelos de programas são diferenciados de acordo com a
instituição que os desenvolvem, portanto revelaremos agora as Universidades
abertas à Terceira Idade (UNATI) da cidade de São Paulo pesquisadas: USP e
PUC/SP.
Como já apontamos, escolhemos estas duas universidades por se
localizarem na cidade de São Paulo e por desenvolverem dois modelos
diferenciados de lidarem com o envelhecimento. São universidades com projetos
para a terceira idade que desenvolvem pesquisas na área do envelhecimento,
137
DELORS, Educação um tesouro a descobrir, 1999:11.
84
através de cursos de graduação, especialização lato sensu e pós-graduação
stricto sensu em Gerontologia.
2.2.1 Universidade de São Paulo (USP): um pouco de história.
Quadro 12
DEMONSTRATIVO DA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Setor
Segmento
Nome
Nome da universidade
pesquisada
Curso na área de
gerontologia
Público
Estadual
Universidade
de São Paulo
Universidade aberta à
terceira idade da
Universidade de São
Paulo
Curso de graduação
bacharelado em
gerontologia
Dados coletados e organizados através de catálogos da USP e respectivo site
A Universidade de São Paulo
138
foi criada em 1934, num contexto
marcado por importantes transformações sociais, políticas e culturais, pelo
decreto estadual nº 6.283, de 25 de janeiro de 1934, por decisão do governador
de São Paulo, Armando de Salles Oliveira. A USP começou com algumas
escolas já existentes, sendo a mais antiga a Faculdade de Direito, que data de
1827, e com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, instituição à
qual caberia a missão de integrar o conhecimento literário, humanístico e
científico da nova universidade, e que mais tarde se subdividiria em unidades
autônomas. Vários professores estrangeiros, especialmente da França, Itália e
Alemanha, tais como Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Roger Bastide,
entre outros, foram convidados para dar aulas na nova instituição.
138
Dados disponível em:www.usp,org.br, acessado em 04 de Janeiro de 2007.
85
A Universidade de São Paulo é a maior instituição de ensino superior e
de pesquisa do País. É a primeira da América Latina e está classificada entre as
primeiras cem organizações similares dentre as cerca de seis mil existentes no
mundo. A USP tem projeção marcante no ensino superior de todo o continente,
forma grande parte dos mestres e doutores do corpo docente do ensino
particular brasileiro e carrega um rico lastro de realizações nas áreas da
educação, ciência, tecnologia e artes.
A USP foi criada com a finalidade de promover a pesquisa e o
progresso da ciência; transmitir pelo ensino conhecimentos que enriqueçam ou
desenvolvam o espírito e que sejam úteis à vida; e formar especialistas em
todos os ramos da cultura e em todas as profissões de base científica ou
artística. A tônica da instituição é “Vencerás pela ciência”. Está em seus
objetivos desenvolver um ensino vivo, acompanhando as transformações na
área do conhecimento e mantendo-se em permanente diálogo com a sociedade,
numa produtiva integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
A USP oferece cursos de bacharelado e de licenciatura em todas as
áreas do conhecimento. Na pós-graduação, dez dos vinte e três programas
nacionais receberam nota máxima atribuída pela Coordenação de Cooperação
de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério de Educação. Dados do
anuário estatístico
139
da USP de 1999 mostraram que nas unidades de ensino e
de pesquisa foram oferecidos em conjunto cerca de 617 cursos, sendo 130 de
graduação, freqüentados por cerca de 40.000 estudantes, e 487 de pós-
graduação, dos quais 257 de mestrado e 230 de doutorado. A USP forma
anualmente na graduação uma média de 4.600 estudantes. Em recursos
humanos, a comunidade uspiana é constituída por 4.705 professores e 14.659
funcionários.
139
Dados Disponível em: www.usp.org.br , acessado em 03 de Janeiro de 2007.
86
Alguns números dão uma idéia da riqueza e da variedade das
atividades desenvolvidas pela USP
140
: os museus e a Estação Ciência recebem
juntos quase um milhão de visitantes; os hospitais universitários da capital e do
interior servem a uma comunidade de mais de um milhão de pessoas. Além
destes serviços, o campus de São Paulo ainda possui um Centro de Práticas
Esportivas (Cepeusp), serviços de análises clínicas e genética, atendimento
psicológico, odontológico e clínica veterinária.
A USP é e sempre procurou ser uma instituição viva que cresce e se
renova com a chegada das novas gerações de estudantes e de pesquisadores,
sempre em consonância com o presente. Assim, as atividades de extensão
como o Projeto Avizinhar, as Cooperativas Populares e o Projeto Universidade
aberta à Terceira Idade cumprem um importante papel na transformação do
meio social das comunidades próximas ao campus universitário. E como esta
instituição está incluindo o velho em seu universo educacional?
2.2.1.1 Universidade de São Paulo: cursos na área do envelhecimento
A Universidade de São Paulo fez largos investimentos nos estudos
sobre o envelhecimento, criando o primeiro curso de graduação e bacharelado
em Gerontologia
141
do Brasil, desenvolvido desde 2005, na Escola de Artes,
140
Com a finalidade de manter uma boa comunicação com o público interno e externo, a USP integra na
Coordenadoria de Comunicação Social da USP (CCS) todas as mídias oficiais - a Rádio USP, a TV USP, a
Agência USP, a Revista USP, o Jornal da USP, o Portal Web da USP e a Revista Espaço Aberto.
140
Dados
Disponível em: www.usp.org.br , acessado em 03 de Janeiro de 2007 as 23hs.
141
O curso de bacharelado em Gerontologia tem duração: Ideal: Oito semestres: mínima: 8 semestres,
máxima: 12 semestres. Vagas Anuais 60 vagas (Vespertino) Objetivo do curso: O curso de graduação em
Gerontologia visa estabelecer e desenvolver uma modalidade de formação e qualificação de profissionais
vinculada a realidades locais, no
sentido de produzir o necessário e esperado impacto na qualidade da saúde
do idoso e de sua família. Esse profissional, integrado à equipe de saúde, será capaz de atuar de forma
autônoma, responsabilizando-se pela assistência ao idoso nos mais diferentes contextos (existentes ou
necessários), atendendo às suas necessidades físicas, emocionais e socioculturais. Além disso, participará
ativamente das transformações do quadro epidemiológico da saúde do idoso que ocorrem no país.
Disponível em: www.usp.gov, acessado em 20 de Dezembro de 2006.
87
Ciência e Humanidades (EACH), no campus Leste. Segundo sua coordenadora,
Dra Angela Machado de Lima (2006):
Há um vasto campo de pesquisa relacionado à
Gerontologia, que vem se desenvolvendo
acentuadamente nos últimos anos. No entanto, a
área específica que trata do cuidado gerontológico
precisa ser desenvolvida com urgência, uma vez
que esse campo de conhecimento específico é
ainda precário e, portanto, requer a formação de
um corpo profissional e específico. Outra área, em
franca expansão e igualmente relevante, diz
respeito às atividades de extensão comunitária,
referentes aos “cuidadores de idosos”, ocupação
reconhecida pelo Código Brasileiro de Ocupações.
142
Como afirma Dra Angela Machado de Lima (2006)
143
, atualmente os
idosos vêm sendo colocados em condições de descuidados, de negligência e
até de maus-tratos. Cabe à sociedade reverter essa situação, para a qual a
Universidade pode contribuir, auxiliando na formação de um corpo profissional
capacitado a atuar junto às demandas assistenciais específicas, apresentadas
por essa população.
Para isso, é importante estabelecer um curso com estrutura e duração
adequadas, para a qualificação de profissionais que tenham perfil e competência
necessários para participar ativamente das transformações do modelo
assistencial e do quadro epidemiológico da saúde em processo de transição.
A formação profissional para a assistência ao idoso e sua família
requer a verticalização de conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades
142
LIMA, Ângela Machado, Reproposta : a revista da terceira idade para todas as idades, 2006:88.
143
Ibidem:88.
88
provenientes das ciências básicas e aplicadas, das áreas biológicas e
humanas
144
.
A criação do curso de Gerontologia visa minimizar tal impacto, a partir
da colocação no mercado de trabalho de profissionais capacitados, da previsão
e dimensionamento das demandas espeficas dessa população nos mais
diferentes contextos e da promoção de assistência adequada.
Embora parte das afecções que acometem os idosos atinja também
adultos mais jovens, há vários fatores que fazem o cuidado ao idoso ser único,
destacando-se: a) a resposta dos idosos às diferentes doenças e à associação
entre elas; b) as manifestações dos vários estados de doenças nessa
população, bem como o impacto das alterações fisiológicas próprias da
senescência e suas conseqüências funcionais; c) as especificidades do cuidado
institucional e domiciliário, preponderantes e específicos para a referida
população; d) as intervenções junto às famílias e à rede de suporte social dos
idosos; e) os aspectos jurídicos que envolvem tais relações; f) a necessidade
urgente de criação de uma rede de suporte formal de acompanhamento e
assistência a esse grupo etário, como o investimento na educação.
Essas são as demandas provenientes dos idosos em geral, porém,
com o crescimento do envelhecimento populacional, outras serão acrescentadas
144
Ao final do curso de Gerontologia, o graduando deverá apresentar competências e habilidades
necessária para: colaborar e prestar assistência à saúde do idoso e sua família e, muitas vezes, coordenar as
ações. Atuar em instituições de saúde públicas e privadas (hospitais, ambulatórios, unidades básicas de
saúde, centros e hospitais-dia, centros de convivência, programas e serviços de assistência domiciliar);
instituições de ensino e domicílios nos programas de assistência aos idosos. Atuar em equipe
multiprofissional. Desenvolver um processo interativo e complementar com os diversos níveis de atuação.
Contribuir para a construção do conhecimento da área e fundamentar a sua prática no conhecimento
existente. Contribuir para a formação de recursos humanos na área específica. Refletir sensivelmente e
analisar criticamente a realidade de assistência à saúde do idoso. Para tanto, propor ações criativas para
solucionar os problemas encontrados, levando em conta o perfil epidemiológico, os fatores sóciopolíticos e
culturais, a tecnologia e os equipamentos, e os recursos disponíveis e necessários à pratica profissional.
LIMA, Ângela Machado, Reproposta: a revista da terceira idade para todas as idades, 2006:89.
89
por estarem relacionadas às demandas de saúde de populações especiais, tais
como os portadores de problemas mentais (em particular quadros de demência),
os moradores de zonas rurais, os moradores de rua ou em condições
subumanas, os imigrantes, as mulheres idosas, os idosos que moram sós e os
institucionalizados. Tais demandas tornam-se ainda mais especiais à medida
que se compreende que os idosos não são um grupo homogêneo e que
requerem, portanto, além de cuidados especializados, a sua individualização, de
forma a preservar sua dignidade. Como afirma Lima (2006):
O curso de graduação em gerontologia da USP
ambiciona contribuir para que muitos idosos com
problemas de saúde e sociais tenham uma melhor
qualidade de vida, pois todo o projeto pedagógico
tem sido direcionado para que os gerontólogos
sejam capazes de auxiliar os idosos e seus
familiares a encontrarem os serviços adequados à
sua assistência, (...) Com esses investimentos
apostamos na formação de profissionais
comprometidos em estender uma máxima da
Gerontologia: “É preciso acrescentar mais vida aos
anos e não mais anos à vida” para todos os idosos,
inclusive para aqueles menos desfavorecidos do
ponto de vista socioeconômico.
145
Este curso de bacharelado em Gerontologia foi criado em 2005, mas
antes disto, em 1993, a Universidade de São Paulo já havia desenvolvido o
projeto Universidade aberta à Terceira Idade, como apresentamos a seguir.
145
LIMA, Ângela Machado, Reproposta: a revista da terceira idade para todas as idades, 2006:90.
90
2.2.1.2 Universidade aberta à Terceira Idade da Universidade de São Paulo
(USP)
Universidade aberta
Aberta à terceira idade
À idade da reproposta
Reproposta da vida,
Da vida da plenitude
Plenitude de cultura
Cultura, lazer e arte,
Arte de fazer parte,
Parte de um grande todo
De toda a universidade
Esther Alves Martirani
146
O projeto da chamada “Universidade aberta à Terceira Idade” da
Universidade de São Paulo está vinculado à Pró-reitoria de Cultura e Extensão
da Universidade de São Paulo. Segundo informações colhidas, não há um
projeto específico, que trate dos pressupostos e funcionamento da chamada
Universidade Aberta, os quais constam das normas gerais do regimento interno
da Universidade de São Paulo. Assim, o objetivo desta proposta está inserido no
projeto mais amplo da USP de estender seus serviços à comunidade na qual
está inserida, como retratado no estatuto da Universidade.
Título I - Da Universidade e seus fins. Artigo 1º -
A Universidade de São Paulo (USP), criada pelo
Decreto 6283, de 25 de janeiro de 1934, é
autarquia de regime especial, com autonomia
didático-científica, administrativa, disciplinar e de
gestão financeira e patrimonial. Artigo 2º - São fins
da USP: I - promover e desenvolver todas as
formas de conhecimento, por meio de ensino e da
pesquisa; II - ministrar o ensino superior visando à
146
MARTIRANI, Esther Alves, Integrante do projeto da revista Reproposta: a revista da terceira idade
para todas as idades, 2006:90, Narrativas da terceira idade da USP, 2006:15.
91
formação de pessoas capacitadas ao exercício da
investigação e do magistério em todas as áreas do
conhecimento, bem como à qualificação para as
atividades profissionais; III - estender à sociedade
serviços indissociáveis das atividades de ensino e
de pesquisa. Artigo 3º - A USP, como
Universidade pública, sempre aberta a todas as
correntes de pensamento, reger-se-á pelos
princípios de liberdade de expressão, ensino e
pesquisa. Título II – Da constituição da
Universidade. Artigo 4º - A USP cumpre seus
objetivos por meio de Unidades, órgãos de
Integração e órgãos Complementares, distribuídos
em campi. Parágrafo único - Os campi se
organizarão de acordo com as atividades neles
desenvolvidas, na forma prevista no Regimento
Geral e em Regimento próprio.
147
Como afirma o artigo 60, sob o título VI - Do ensino, a missão da
USP como instituição pública, amplamente abordada em seu projeto, é de
ampliar as possibilidades de atuação junto à comunidade na qual está inserida,
portanto, no ano de 1993, foi implantado o projeto Universidade aberta à
Terceira Idade em todos os campi da Universidade de São Paulo.
Desta forma, como funciona o modelo uspiano de educação para os
idosos? Os alunos velhos, com idade mínima de 60 anos, (como estabelece a
ONU e a UNESCO), podem se matricular em cursos que dispõem de vagas para
esta categoria, em caráter de aluno especial ou como o chamado “aluno
ouvinte”. Estes alunos podem se matricular em disciplinas regulares,
elaborando seu currículo, através das escolhas de cursos e matérias que lhe
147
TÍTULO VI – DO ENSINO Artigo 59 – A Universidade ministrará o ensino em vários níveis, sendo,
entre outras, as seguintes modalidades: I – Graduação; II – Pós-Graduação; III – Extensão Universitária. §
1º - Os cursos de graduação, abertos à matrícula de candidatos que tenham concluído o curso de segundo
grau ou equivalente e obtido classificação em concurso vestibular, visam à habilitação para o exercício
profissional ou à obtenção de qualificação universitária específica. § 2º Os cursos de pós-graduação,
abertos à matrícula de candidatos que tenham concluído cursos de graduação, visam à obtenção dos graus
de Mestre e de Doutor. § 3º Os cursos de extensão universitária destinam-se a completar, atualizar,
aprofundar ou difundir conhecimentos. Artigo 60- A Universidade poderá instituir outros cursos, exigidos
pelo desenvolvimento da cultura e necessidade social.
(alterado pela Resolução nº 5230/2005). Disponível
em: www.usp.gov, acesso em 12 de Março de 2007.
92
interessam e para as quais são oferecidas vagas. Como afirma Ecléa Bosi
(2006), sua coordenadora:
O que se pretende é promover a integração de
idosos à comunidade universitária, em que os
alunos mais velhos são tratados da mesma forma
que os outros, realizando provas, trabalhos,
obtendo notas. Cabe ressaltar, porém, que, por ser
aluno especial ou ouvinte, os idosos não têm
direito ao diploma nem ao exercício da profissão.
Os alunos tendem a procurar vagas nas disciplinas
que melhor correspondam às suas disponibilidades
e facilidades de horário e transporte.
148
Existem também Atividades Complementares Didático-Culturais e
Físico-Esportivas como palestras, cursos, semanas culturais, caminhadas e
outros. Segundo sua coordenadora, o objetivo do projeto Universidade aberta à
Terceira Idade é possibilitar ao idoso aprofundar “conhecimentos em alguma
área de seu interesse e ao mesmo tempo trocar informações e experiências com
os jovens”. Este programa foi aprovado pelo Conselho de Cultura e Extensão
Universitária, estabelecendo as seguintes condições de ingresso:
1. Idade mínima 60 (sessenta anos), como
estabelece a ONU e a UNESCO; 2. os alunos do
projeto Universidade Aberta à Terceira Idade são
vinculados a este projeto, não recebendo número
USP, tendo direito apenas a atestado de
participação emitido por esta Pró-Reitoria de
Cultura e Extensão Universitária, quando o docente
assim o determinar; 3. disciplinas muito específicas
requerem exame prévio de currículo ou entrevista
com o docente responsável; na maioria delas,
porém, nada é exigido, desde que haja, pelo
menos, por parte do candidato, suficientes
condições de aproveitamento; 4. cada unidade da
USP é soberana na gestão do programa,
148
BOSI, Ecléa, Coordenadora do Programa da Universidade aberta a Terceira Idade da Universidade de
São Paulo. Graduada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1966), Mestre em Psicologia Social
pela Universidade de São Paulo (1970) e Doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo
(1971).. Disponível em: www.usp.br/prc/3idade/spo_dr_eca.htm, acessado em 6 de Março de 2006.
93
administrando-o conforme suas necessidades
internas.
149
Esta Universidade pública oferece vários cursos, aulas, palestras e
projetos, e as pessoas com mais de 60 anos podem se inscrever e participar
deles. Apresentamos no Quadro 13 e 14, as Disciplinas Regulares, que são
disciplinas oferecidas pelas faculdades, escolas e instituto do complexo uspiano,
onde o aluno idoso (especial ou ouvinte) participa das aulas.
Quadro 13
U S P - DISCIPLINAS REGULARES - 1º semestre 2006
FACULDADE DEPARTAMENTO DISCIPLINA VAGAS
Escola de Artes, Ciência e
Lazer e turismo 02 08
Humanidades
Curso de gerontologia 03 15
Escola de Comunicação e Artes
Artes plásticas 15 30
Artes cênicas 02 06
Comunicações e artes 12 67
Relações publicas e turismo 21 39
Jornalismo e editoração 05 21
Cinema, rádio e TV. 01 03
Escola de Educação física e Esporte
Esporte 02 06
Escola de Enfermagem
Enfermagem médico-cirúrgica 01 03
Orientação profissional 01 02
Escola Politécnica
Engenharia de const. civil 13 24
Engenharia. de produção 03 09
Engenharia mecânica 20 40
Engenharia mecatrônica 11 11
Fac. de Arquitetura e Urbanismo
Técnica da arquitetura 01 03
Faculdade de Direito
Direito do trabalho 07 28
Direito comercial 01 02
Faculdade de Economia
Administração 01 02
Administração e Contabilidade
Contabilidade e atuária 06 12
Economia 02 08
Faculdade de Educação
Metodologia ensino e educação 02 06
Faculdade de Filosofia
Antropologia 16 75
149
Catálogo de informações, Pró Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, Programa Universidade
aberta à Terceira Idade, 2007: 5.
94
Letras e Ciências Humanas
Ciência política 03 06
Letras modernas 05 23
Letras orientais 15 43
Sociologia 03 21
Lingüística 01 03
Faculdade de Odontologia
Cirurgia.t. m. faciais 02 35
Estomatologia 01 02
Instituto de Estudos Brasileiros
Área de literatura brasileira 01 03
Área de geografia 01 05
Instituto de Geociências
Geologia e ambiente 01 03
Minas e petrologia 02 10
Instituto de Matemática e Estatística
Ciência da computação 01 02
Estatística 03 06
Matemática 03 05
Matemática aplicada 03 15
Instituto de Psicologia
Psicologia da aprendizagem 02 06
Psicologia clínica 02 05
Psicologia do Trabalho 05 42
Instituto de Relações Internacional
Relações internacionais 10 22
Instituto Oceanográfico
Oceanografia física 02 10
Oceanografia biológica 05 14
Museu de Arte Contemporânea
Divisão técnica de educ. e arte 01 03
TOTAL 218 679
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da USP
Quadro 14
U S P DISCIPLINAS REGULARES 2º semestre 2006
FACULDADE DEPARTAMENTO
DISCIPLINA
VAGAS
Escola de Comunicação e Artes
Artes cênicas 01 03
Artes plásticas 05 14
Comunicações e artes disciplinas 06 53
Cinema, rádio e televisão 01 05
Jornalismo e editoração 01 05
Biblioteconomia e documentação 06 30
Relações pública propag. e turismo 11 24
Escola de Artes e Ciências
Curso de lazer e turismo 04 12
Gerontologia 01 05
95
Escola de Educação Física e Esporte
Biodinâmica 02 08
Esporte 01 02
Pedagogia 01 02
Escola de Enfermagem
Enfermagem em saúde coletiva 01 02
Enf. materno-infantil e psiquiátrica 01 02
Enfermagem médico-cirúrgica 03 07
Orientação profissional 02 04
Escola Politécnica
Engenharia de construção civil 12 24
Engenharia de constr. civil – pós 12 24
Engenharia mecânica 23 46
Eng. mecatrônica e de sist mec. 06 06
Engenharia metalúrgica e de mat. 02 06
Engenharia de produção 03 09
Sistemas eletrônicos 02 02
Faculdade de Ciência Farmacêutica
Análises clínicas e toxicológicas 01 01
Farmácia 01 05
Faculdade de Educação
Adm. Escolar, economia da educ. 02 10
Faculdade de Economia
Contabilidade 05 10
Faculdade de Filosofia, Letras e
Antropologia vespertino e noturno 13 65
Ciências Humanas
Letras orientais e modernas 18 56
Sociologia 05 19
Letras clássicas e vernáculos 01 10
Lingüística 01 03
Ciência política 05 10
Faculdade de Odontologia
Cirurgia, prótese e traum. maxilo 02 04
Odontologia social 04 11
Inst. de Astronomia e Geofísica
Astronomia 01 10
Instituto de Estudos Brasileiros
Literatura brasileira 02 08
Geografia 01 03
História e artes 02 08
Instituto de Geociências
Geologia sedimentar e ambiental 01 03
Mineralogia e geotectônica 02 10
Instituto de Matemática e Estatística
Ciência da computação 01 02
Estatística e matemática 07 14
Matemática aplicada 02 10
Instituto de Oceanográfico
Oceanografia biológica 04 09
Instituto de Psicologia
Psicologia clínica 03 06
Psicologia da aprend. e do desenv. 03 10
96
Psicologia social e do trabalho 07 50
Instituto de Relações Internacionais
Curso de relações internacionais 04 08
Museu de Arte Contemporânea
Curso científico de educ e arte 03 08
TOTAL 208 658
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da USP
As atividades acima apresentadas são atividades de disciplinas
regulares, que perfazem um total anual de 426 disciplinas, nas quais são
oferecidas anualmente 1337 vagas aos velhos estudantes. Nessas atividades os
alunos acima de 60 anos participam das diversas disciplinas oferecidas no
mesmo local (sala de aula), que os alunos que participaram do vestibular e estão
se preparando para uma formação acadêmica e profissional, portanto participam
de atividades educativas intergeracionais. A próxima foto ilustra esta situação,
onde Conceição, com 68 anos de idade, senta-se ao lado de Yasmin, com 20
anos de idade, no curso regular de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Sala de aula da Universidade de São Paulo
As atividades Complementares Didático-Culturais apresentadas no
quadro 15 e 16, são disciplinas oferecidas pelas faculdades, escolas e instituto
do complexo uspiano, onde o aluno idoso (especial ou ouvinte) pode escolher
matricular–se apenas nelas. São atividades específicas de informação para o
público na faixa etária superior a sessenta anos.
97
Quadro 15
U S P- ATIVIDADES COMPLEMENTARES DIDÁTICO- CULTURAIS 1 / 2006
Atividade Objetivo Vagas
A importância do condicionamento físico
na terceira idade
Informar ao público da terceira idade sobre o
condicionamento físico.
20
Aplicações da química no cotidiano
Introdução geral de química, seguida de aplicações em
nanotecnologia, arte e medicina
20
Apreciação musical
Apresentar conceitos da música erudita e clássica.
12
Astronomia para a terceira idade
Transmitir conceitos. Básicos de Astronomia e Astrofísica.
60
Atualidades sobre as plantas
Apresentar à terceira idade aspectos relevantes sobre à
importância biológico e econômico das plantas.
60
Biologia, ecologia e manejo de abelhas
sem ferrão
Introduzir aspectos da biologia e ecologia de abelhas e da
criação e manejo de colônias de abelhas sem ferrão
40
Clicar na terceira idade
Ensinar noções básicas do uso do computador em arquivos
e textos da internet
20
Coral da terceira idade
Proporcionar ao aluno uma prática em canto coral
orientada
60
Curso de difusão cultural
Difundir a oceanografia, seus estudos e técnicas utilizadas
5
Danças circulares dos povos e contos de
tradição oral
Promover a vivência de danças de roda e contos (conviver
em grupo e consigo mesmo).
25
Doenças cardiovasculares
Proferir palestra informativa sobre as doenças
cardiovasculares visando esclarecer a terceira idade.
20
Domingo na yayá
A programação se caracteriza pela variedade de estilos e
repertórios. Via práticas culturais da USP na cidade
ilimitada
Faculdade de Medicina – dep. de
Fisioterapia, Fonoaudioterapia e T.O.
Divulgar o funcionamento da memória, visando manter ou
melhorar sua autonomia e independência.
30
Faculdade de Medicina – dep. de
Cardiopneumologia
Discutir com o público sobre angina do peito e infarto do
coração, maiores responsáveis por óbitos em idosos
80
Discutir os cuidados com a saúde e hábitos úteis para
manter a qualidade de vida e aumentar a sobrevida.
80
Divulgar as características da hipertensão arterial em
idosos e as melhores formas de tratamento.
80
Formação dos acervos do museu paulista
Valorização do patrimônio histórico-cultural através do das
coleções do Museu Paulista e do Museu Republicano.
35
Lazer com arte para a terceira idade
Programa de arte-educação (lazer) atividades práticas de
ateliê.
42
Meditação dirigida
A meditação no controle do estresse e da ansiedade
melhoria da qualidade de vida.
80
Mídia e terceira idade – narrativas do
mundo e as narrativas da vida
Através do uso de recursos comunicacionais, refletir sobre
o papel dos meios de comunicação no nosso cotidiano.
15
Música popular e sociedade brasileira no
século XX – tentativa de um diálogo
Debater as relações entre a música popular e a sociedade
brasileira,através da análise da produção de seus intérprete.
20
98
O ano internacional do planeta terra
Apresentar o potencial dos métodos geofísicos na
preservação e no desenvolvimento sustentável
30
O mundo da música: intérpretes e
movimentos
O programa do curso trata da evolução das manifestações
musicais, para uma compreensão dos gêneros e de artistas
80
Oficina de construção de experimentos
Construir experimentos e discutir conhecimentos
científicos envolvidos
20
Oficina de memória: 3 idade construindo
conhecimentos no museu de arqueologia
Através das exposições trabalhará com conhecimentos de
sua memória de forma prazerosa, educativa e reflexiva
25
Oficina: vamos fotografar?
Introduzir conhecimentos dos bens materiais, culturais e
históricos, através da prática da Fotografia.
35
Osteoporose
Orientar os alunos sobre as causas da osteoporose.
20
A reproposta: narrativas da terceira
idade
Desenvolver a capacidade e o prazer de ler jornais e
experimentar e aperfeiçoar habilidades para fazê-los.
15
Teatro da maturidade
Trabalhar elementos básicos do fazer teatral: voz, corpo,
interpretação por meio de jogos e improvisações
20
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da USP
Quadro 16
U S P- ATIVIDADES COMPLEMENTARES DIDÁTICO-CULTURAIS 2 / 2006
Atividade Objetivo
Vagas
Oficina de promoção à saúde e qualidade
de vida
Promover estratégias para o alcance da qualidade de vida. 20
Oficina desafiando a memória
Aprender sobre as mudanças que ocorrem na memória
durante o envelhecimento
20
Ações para prevenção de quedas de
idosos
Mostrar os principais cuidados para evitar quedas e as suas
conseqüências para a saúde do idoso.
50
Caminhada supervisionada
Contribuir para a melhoria da aptidão física relacionada à
saúde dos participantes.
20
Coral da terceira idade
Proporcionar ao aluno da 3ª Idade uma prática em canto
coral orientada (técnica vocal e educação musical com
repertório em diversos estilos).
60
Reproposta, narrativa da terceira idade
Desenvolver a capacidade e o prazer de ler jornais e
aperfeiçoar habilidades para fazê-los.
10
Apreciação musical
Apresentar conceitos, definições e aspectos sobre música
erudita ou clássica, com a proposta âmbitos emocionais e
intelectuais.
12
Dança espontânea
Introduzir movimentos de danças folclóricas e de salão,
através de massagem DO-IN, relaxamento muscular de
Feldenkrais, e consciência corporal de Klauss Viana.
80
Música & memória: antologias de luar e
seresta
Apresentar e discutir o movimento seresteiro no Brasil a
partir de uma antologia recortada sobre o fenômeno mítico
do luar e suas ressonâncias poéticas
25
99
Paleoclima e a deriva dos continentes
Mostrar como os processos geofísicos afetam a superfície
do nosso planeta incluindo o seu clima.
30
Exposições da coleção de artes visuais
Oportunidade de apreciação da produção de artistas e
intelectuais brasileiros, do acervo do IEB.
Ilimitadas
Identificação de madeiras e a idade das
árvores
Através de palestra e aula prática, demonstrar como
identificar os principais tipos de madeira e definir a idade
das árvores.
40
Coleção de artes visuais
Passar por cada uma das etapas do tratamento museológico
(documentação, conservação preventiva, exposição,
divulgação e pesquisa).
3
Cultura científica
Discussão de tópicos de assuntos de ciência, de interesse
dos alunos, em linguagem acessível.
30
Saúde em viagens: antes, durante e depois
Este curso visa a divulgação de conceitos em saúde
internacional e doenças tropicais, especialmente
relacionadas a viajantes,
30
Ciclo da existência: a psicologia e a
terceira idade
Discutir temas relevantes à terceira idade, enfocando o
ciclo da existência humana.
30
Danças circulares dos povos
Promover, através das danças em roda, a vivência que
facilitam a experiência de pertencimento harmônico a um
grupo e a Si Mesmo.
35
Conhecendo o museu de arqueologia e
etnologia à exposição formas de
humanidade
Conhecer a Exposição: Formas de Humanidade;
compreender o processo de concepção de uma expôs.
Museográfica em museu de arqueologia e etnologia.
20
Oficina: o fazer no museu paulista
Divulgar ações de curadoria desenvolvidas em diferentes
áreas do Museu Paulista para estudo e preservação das
coleções
35
Museu paulista e as exposições
Desenvolver o senso critico para visita às exposições do
Museu Paulista e promover conhecimentos para
preservação de bens culturais.
35
Visita ao museu e ciclo de palestras
Oferecer informações sobre o museu, sobre animais e
temas de Zoologia, entre eles: Princípios de Zoologia,
Relógios Biológicos, Insetos e Saúde.
30
Bioenergia e auto-cura
Exercícios de visualização criativa.(aceitação, doação,
energia vital, auto-estima. Idéia diretriz nos fenômenos da
vida. A força da atitude. O despertar do curador interno).
35
Centro de preservação cultural – CPC
Promover atividades de cultura e extensão universitária
Ilimitadas
Teatro da maturidade
Dar possibilidade de contato com o universo teatral,
trabalhando alguns, elementos básico do seu fazer: corpo,
voz, interpretação e jogos.
20
Clicar na terceira idade
Introdução ao computador e à Internet, utilizando-se da
metodologia do Projeto clicar.
20
Mídia e terceira idade – narrativas do
mundo e as narrativas da vida
Ampliar o olhar do parti. Sobre o papel dos meios de
comunicação no cotidiano da sociedade, através da sua
capacidade de expressão, participação e protagonismo.
15
Oficina do departamento de Fisioterapia,
Fonoaudiologia e terapia ocupacional
Divulgar as principais estratégias de funcionamento da
memória como recursos a serem adotados no cotidiano,
visando melhorar sua autonomia e independência
30
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da USP
100
Apresentamos a seguir fotos de
atividades Complementares Didático-
Culturais: como aulas de informática e dança espontânea, sendo que estas
atividades são oferecidas apenas para os estudantes velhos.
Projeto desenvolvido pela USP - Clicar na Terceira Idade
Aula de Dança espontânea na USP
Os alunos com mais de 60 anos podem, em qualquer período, se
inscreverem nas palestras desenvolvidas pelos diversos institutos e faculdades
do complexo uspiano, como observado no quadro 17 a seguir:
101
Quadro 17
CICLO DE PALESTRAS DESENVOLVIDAS EM 2006
FACULDADE
TEMAS DESENVOLVIDOS
Instituto de Astronomia Divulgação de temas relacionados à meteorologia e mudanças Climáticas.
Faculdade de Medicina A mulher que perde urina.
Disciplina - Urologia Envelhecimento.
Faculdade de Medicina - Mal de Parkinson / Cefaléia ou dor de cabeça. O cérebro e a memória,
departamento de Neurologia Doenças vasculares do cérebro: derrames
Faculdade de Medicina – A importância do idoso como fonte de ensino
Obstetrícia e Ginecologia Complicações neurológicas do diabetes
Conhecendo os avanços da medicina: em lesões cardíacas,
Existem terapêuticas redutoras de risco para câncer de mama?
Medicamento: sendo benéfico, o uso constante pode torná- lo um agressor?
Aspectos psicológico.da alimento: quando este prazer se torna desprazer?
Doença reumatóide: deve ser uma figura fantasmagórica com o envelhecer?
Parceria do casal, ganho existencial ou perda permanente?
Complicações oftalmológicas no diabetes
Perfume de mulher: intensifica ou perde o vigor com o tempo?
“Cancerofobia”: quero ajuda para encarar este fantasma
Na história da vida: passado e futuro existem ou é uma dúvida existencial?
Avanços na prevenção da osteoporose: fatores fisiológicos do envelhecer
Glândula tireóide e a 3idade: o que esperar quando me defronto com as duas
Relação médico x paciente: brisa amena ou tempestade?
Faculdade de Medicina - Osteoartrose / Osteoporose
Ortopedia e Traumatologia Fraturas na terceira idade.
Importância da atividade física na terceira idade.
Faculdade de Medicina - Os avós e a criança
Pediatria Importância dos avós na formação da criança: ajudando a criar os netos
Como manter a saúde da criança: quebrando tabus
Nutrição e atividade física na criança e no adolescente
Doenças sexualmente transmissíveis e a família
A criança e a mídia: riscos e benefícios
O adolescente: sexualidade e gravidez / fumo, drogas e álcool
A criança e maus tratos / Avós e o aleitamento materno
O recém-nascido prematuro / O recém-nascido doente
Prevenção de acidentes domésticos
Faculdade de Medicina – Encontros e desencontros nas relações humanas: Como entender?
102
Departamento de Psiquiatria Psicoterapia individual e grupal vantagens e desvantagens
Alguns aspectos da comunicação humana - A sexualidade e o idoso
A depressão e o idoso: Contribuões atuais – Tiques e manias
Qual o significado da perda de memória na terceira idade?
Faculdade de Medicina – Orientar a população quanto a estratégias de envelhecimento saudável
Geriatria
Esclarecer as causas da ocorrência de demências, ansiedade e depressão .
Palestras sobre demências, ansiedade e depressão em idosos
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da USP
Os alunos tecem uma gama considerável de atividades, podendo ainda
participar de atividades esportivas no Centro de Práticas Esportivas da USP
(CEPEUSP), como apresentado no quadro 18 e nas fotos a seguir.
Quadro 18
PROGRAMA DE ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTIVAS PARA 3º IDADE
curso sexo dias vagas local
Atividade física 3ª idade MF 4ª/6ª 40 raia olímpica
Atividade física 3ª idade MF 3ª/5ª 40 raia olímpica
Atividade física 3ª idade MF 3ª/5ª 40 raia olímpica
Atividade.física 3ª idade MF 4ª/6ª 40 s.musc/s.fitiness
Ginástica MF 3ª/5ª 30 Sala de .fitness
Musculação MF 3ª/5ª 20 sala .musculação
Orientação nutricional MF 20 Sala 27
Usuário livre MF 2ª/3ª/4ª/5ª/6ª 100 Praça
Yoga MF 2ª/4ª 50 Sala de yoga
Yoga MF 2ª/4ª 50 Sala de.yoga
Yoga MF 2ª/4ª 50 Sala de.yoga
Público alvo: comunidade USP e comunidade externa
150
150
Disponível em: www.cepe.usp.br, acessado em 03 de Março de 2007.
103
Atividade física na terceira idade na USP
Aula de ioga na USP
São oferecidas por ano, um total de 480 vagas em atividades físicas e
esportivas, sendo 210 vagas em atividades de condicionamento físico (aeróbico
e anaeróbico), 150 vagas para ioga e 20 vagas em acompanhamento de
orientação nutricional, onde o velho estudante têm opção de ampliar a sua
performance física, tão importante para a manutenção de sua qualidade de vida.
Como afirma Bosi (2006):
104
A Universidade aberta à Terceira Idade já está
comemorando 13 anos de vida. Ao longo desse
tempo seu crescimento foi notável. Comparem-se
os números dos matriculados: 847 em 1994; 7.551
em 2005! Do ponto de vista quantitativo, tal
expansão reflete a presença ativa da USP na teia
demográfica da metrópole, onde a faixa de idosos
ativos cresce a olhos vistos. Do ponto de vista da
qualidade do projeto, o seu êxito tem a ver com a
constância dos princípios que o norteiam.
151
No ano de 1995, foi criada a Associação dos alunos das Universidades
Abertas à Terceira Idade (AAUATI), com o objetivo de congregar os alunos com
mais de 60 anos que freqüentam a Universidade de São Paulo.
No ano de 2006, foi implantado o projeto Universidade aberta à
Terceira Idade da Universidade de São Paulo no campus da Zona Leste, com
atividades complementares didático-culturais, como demonstrado no quadro 19
e na foto a seguir:
Quadro 19
UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE
USP LESTE
Atividades Complementares Didático - Culturais 2006
Ateliê de arte e criatividade
Desenvolver as habilidades cognitivas e sensíveis do
aluno por meio de práticas artesanais
15
Coral USP leste Atividade coral.
05
Exposição e oficina de artesanato
A atividade tem por finalidade divulgar o trabalho de
artesãs residentes na zona leste
20
Grupo de crescimento pessoal
Procura tratar das mudanças psicológicas e sociais que
acompanham o envelhecimento.
20
Oficina de cuidado à saúde e
prevenção de doenças na 3 idade
Conhecer os principais cuidados à saúde e prevenir
doenças mais comuns na terceira idade.
20
Oficina de participação popular e
envelhecimento
Propiciar ao idoso noções da importância da
participação social e comunitária ,
20
Oficina de promoção à saúde
Promover estratégias para o alcance da qualidade de
vida.
20
151
Disponível em: www.usp.br/prc/3idade/spo_dr_eca.htm, acessado em 6 de Março de 2006.
105
Semana da saúde e envelhecimento
Discutir a saúde no envelhecimento com enfoque em
sua promoção.
60
Semana do sono na terceira idade Divulgar conhecimento sobre sono e o envelhecimento.
60
Visitas monitoradas
Apresentar algumas coleções do Museu de Zoologia
15
Visitas monitoradas à exposição
Compartilhar os aspectos do conhecimento sobre água
nas área das ciências humanas, exatas e biológicas.
ilimitada
XXI Curso de especialização em
organização de arquivos
Capacitar pessoal de nível superior para atuar em
organização de arquivos públicos e privados.
02
TOTAL
1316
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da USP
Ateliê de arte e criatividade na USP/ LESTE
Concluímos, dessa forma, como a Universidade de São Paulo (USP)
elaborou e implantou o seu projeto para atender a população idosa. A seguir,
apresentaremos como a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC)
desenvolveu sua trajetória nesta área.
106
2.2.2 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): um pouco de
história
Quadro 20.
DEMONSTRATIVO DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Setor
Segmento
Nome da
universidade
Nome da
universidade
pesquisada
Cursos na área de
gerontologia
Privado
Comunitária e
Confessionária
Pontifícia da
Universidade
Católica de São
Paulo
Universidade
aberta à
Maturidade
Estudos pós graduados em
Gerontologia (strito-sensu) e
Curso de especialização em
Gerontologia
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da PUC
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) nasceu num
momento histórico, de significativas mudanças na vida brasileira e da vontade
política da comunidade católica de participar da construção de uma sociedade
justa e fraterna. Fundada em 13 de agosto de 1946, a partir da junção da
Faculdade de Filosofia e Letras de São Bento com a Faculdade Paulista de
Direito, a PUC-SP foi reconhecida como universidade no dia 22 de agosto do
mesmo ano. Em 1947, recebeu do Papa Pio Xll o título de Pontifícia. A Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo está incluída entre as chamadas
universidades comunitárias. Como afirma Daniel C. Levy (2001):
Apresentando diferenciação institucional e
hierárquica das clientelas educativas em
categorias: a Comunitária – busca ocupar um
espaço entre as universidades estatais e
empresariais (seculares de elite e de absorção
de demanda), com perfil básico orientado para o
social enquanto serviço com referencia
comunitária, distinguindo-se das outras
universidades por seu projeto pedagógico,
entendido num sentido amplo de projeto social
107
para comunidade; a Confessional – o modelo
hegemônico é o católico, que, se antes se
aproximava do público, vai se tornando cada vez
mais próximo ao secular de elite pela imagem de
eficiência e qualidade acadêmica que procura
proporcionar.
152
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo assumiu um importante
papel na resistência ao Regime Militar instaurado no Brasil em 1964. Nomes
importantes do meio acadêmico e social, perseguidos pela ditadura, passaram a
integrar o seu quadro docente, entre eles Florestan Fernandes, Octavio Ianni e
Paulo Freire. A Universidade teve ativa participação no processo de
redemocratização do país. No ano de 1977, abrigou a reunião anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a primeira reunião
de retomada da União Nacional dos Estudantes (UNE). No início dos anos 1980,
tornou-se a primeira universidade brasileira a eleger seu reitor pelo voto direto
dos alunos, professores e funcionários.
Reconquistada a democracia no país, a Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo intensifica uma política atuante de serviços e extensão
através de projetos de pesquisas, cursos, seminários e palestras. Continua a
investir na qualificação técnica de seu corpo docente, no reequipamento de suas
unidades, na exploração de novas tecnologias de ensino e na educação à
distância.
Nos últimos anos, a PUC-SP tem ampliado suas parcerias e interfaces
com o setor empresarial. Através do Núcleo de Excelência Organizacional, a
universidade desenvolve ações na busca do aprimoramento e treinamento dos
recursos humanos das organizações empresariais.
Nos diversos ambientes acadêmicos, pesquisas produzidas pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo exercem influência e são usadas
como referências. Centro de estimulação intelectual, a Universidade tem
152
LEVY C. Daniel, in ALMEIDA, Cleide R. S.de, O Brasão e o logotipo: um estudo das novas
universidades na cidade de São Paulo, 2001:44. Daniel Levy é Sociólogo, secretário geral do
governo Chileno, pesquisador sênior e professor da Facultad latino Americana de Ciências Sociais-
FLACSO, Chile, com área de concentração em Educação e Cultura.
108
recebido nos últimos anos solicitações no sentido de estender seus cursos para
outras instituições, através de convênios, contratos, intercâmbios nacionais e
internacionais.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo tem se destacado pela
formação oferecida aos seus 22 mil alunos, pela competência de seu corpo
docente composto por 2.001 professores ativos, a maioria com título de doutor
ou mestre, e pela presença ativa no estudo e na discussão das grandes
questões sociais e políticas do nosso país.
O rigor na produção do conhecimento, o compromisso com a
sociedade e a qualidade de ensino são os pilares da proposta educacional da
Universidade. Além de possuir alguns dos melhores cursos de graduação e pós-
graduação do Brasil, a PUC-SP vem contribuindo para a melhoria da qualidade
do ensino fundamental no país, através da formação de professores nas
diversas áreas do conhecimento.
Esta instituição investe maciçamente recursos próprios em pesquisa e
mantém programas de educação continuada para treinamento, reciclagem,
aperfeiçoamento e atualização de profissionais de todas as áreas.
Nos anos de 1960, a Universidade foi pioneira nos programas de
Educação Popular e mantém até hoje centros de referência nessa área. Mesmo
sendo uma instituição particular, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
tem se colocado permanentemente a serviço do bem público e da comunidade.
2.2.2.1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: cursos na área do
envelhecimento
Existem dois campos de atuação nesta área desenvolvidos por esta
Universidade: o programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia (stricto-
sensu) e curso de especialização em Gerontologia.
109
O Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, segundo
Suzana Medeiros,
153
originou-se no Núcleo de Estudos e Pesquisa do
Envelhecimento (NEPE). Iniciou em 1986, com a conclusão de uma pesquisa
realizada pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social. Esta
pesquisa foi desenvolvida entre 1986 a 1988, patrocinada pela ONU através da
U.N.O (United University de Tóquio), e fez parte de um levantamento mais
amplo realizado simultaneamente em sete países (Brasil, Coréia do Sul, Egito,
Índia, Cingapura, Tailândia e Zimbábue). O estudo teve como objetivo obter o
perfil da população idosa e caracterizar os recursos existentes para atendimento
de idosos, visando a apreender, em maior profundidade, a percepção do velho,
sua condição de vida, suas aspirações e necessidades
154
.
A criação do NEPE foi uma iniciativa dos pesquisadores responsáveis
por um dos módulos da pesquisa; é um núcleo que reúne pesquisadores e
profissionais de diferentes formações, fato que propicia e estimula o trabalho
multidisciplinar. Com a criação do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Gerontologia, o NEPE, originalmente ligado ao Programa de Estudos Pós-
Graduados em Serviço Social, vinculou-se ao novo Programa, aprovado pelo
Conselho Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 27
de novembro de 1996, e reconhecido pela CAPES em 13 de julho de 2000,
parecer nº 966. Como verificado no site do programa:
A proposta de criação do curso de pós-graduação
em Gerontologia justifica-se por muitos dados
concretos, dentre os quais um dos mais
importantes refere-se à explosão demográfica e ao
envelhecimento da espécie humana no século XX.
A especificidade desta proposta sustenta-se no
estudo da temporalidade do ser. Assim, a
concepção de velhice é pensada como uma
totalidade que não é simples e nem tampouco
abstrata. A velhice, pela complexidade de temas
a ela relacionados, propõe o desenvolvimento de
um saber novo que leve em conta uma
perspectiva interdisciplinar, em que a
153
CÔRTE B. et al (org.), Velhice, envelhecimento, complex(idade), 2005:1. MEDEIROS, Suzana
responsável pelo projeto, representante da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
154
Ibidem, p.1.
110
complexidade e a contextualização inerentes à
questão sejam efetivamente destacadas. A partir
da argumentação precedente o Programa
considera que não se deve, de um ponto de vista
teórico, categorizar o segmento idoso.
necessidade sim, de refletir para se reafirmar a
importância de políticas públicas e sociais que
atendam esta população e que, garantida a
satisfação de suas necessidades essenciais,
abram espaço à produção de novos sujeitos
.
155
.
Este programa
156
tem como objetivos: desenvolver atividades de
pesquisa na perspectiva interdisciplinar, formar profissionais que encontrem no
processo de envelhecimento e na velhice propriamente dita, suas áreas de
investigação acadêmica e de atuação profissional, análise e investigação da
velhice e do envelhecimento populacional.
O programa também desenvolve atividades de fomento à pesquisa
157
,
realização de cursos, seminários e debates, desenvolvimento de programas de
atendimento à população idosa, habilitação e treinamento técnico-profissional,
promoção social dos idosos, divulgação e sensibilização para o tema do
envelhecimento, crítica dos estigmas e delimitação de novas possibilidades de
ser e de viver a velhice, seminários de temas emergentes, desenvolvimento de
investigações e pesquisas, planejamento e implantação de programas de
orientação pré e pós-aposentadoria, elaboração de políticas de atenção e
promoção social do idoso. Como afirma Côrte (2003):
155
Disponível em: http://www.pucsp.br/pos/programas/ger/, acessado em 05 de Março de 2007.
156
CÔRTE, B, Revista Kairós- Gerontologia, v.06-n.2, A diversidade de alunos e pesquisas de Pós em
Gerontologia da Puc-sp, 2003:148. Estrutura Curricular: 06 Disciplinas-18 créditos (mínimo obrigatório),
Atividades programadas 06 créditos (mínimo obrigatório) Elaboração de resenha critica, artigo para
publicação, congressos e seminários, participação e organização de evento no NEPE, Estagio de pelo
menos um semestre em instituição de pesquisa no país ou exterior, cursos em áreas complementares
oferecidos por outras universidades. Elaboração de dissertação 06 créditos; Conclusão do curso mínimo de
30 créditos.
157
CÔRTE, B, Revista Kairós- Gerontologia, v.06-n.2, artigo: A diversidade de alunos e pesquisas de Pós
em Gerontologia da Puc-sp, 2003:148 Linhas de Pesquisa Gerontologia:Teorias e métodos, Investigação
dos fundamentos teóricos e metodológicos da Gerontologia como área de saber, radicada nos princípios da
complexidade e da interdisciplinaridade. Pesquisa das múltiplas dimensões do envelhecimento e da velhice
e das interfaces entre os saberes constituídos e os do segmento idoso. Gerontologia: Envelhecimento
processos e práticas sociais, políticas em instituições voltadas ao segmento idoso. Mapeamento,
identificação e análise dos diferentes serviços e espaços da existência do idoso na sociedade brasileira.
111
O programa está atento à não caracterização do
segmento idoso a partir de um ponto de vista
teórico, mas se propõe refletir para reafirmar a
importância de políticas públicas, sociais e
profissionais que atendam essa população e que,
garantida a satisfação de suas necessidades
essenciais, abram espaço à produção de
cidadãos.
158
2.2.2.2 Curso de especialização em Gerontologia
“Não é razoável que tantos esforços sejam feitos
para prolongar a vida humana, se não forem dadas
condições adequadas para vivê-la.”
Marcelo Salgado
159
O curso de especialização em Gerontologia
160
da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo tem por objetivo formar especialistas competentes em
sua relação cotidiana com o segmento idoso, inclusive quanto às implicações
sócio-econômicas, regionais e culturais do envelhecimento. Seu caráter
interdisciplinar abrange conhecimentos sociológicos, econômicos, políticos,
psicológicos, filosóficos, biológicos, entre outros. O corpo docente responsável
158
Ibidem, p.148.
159
SALGADO, Marcelo, Direitos humanos e pessoa idosa, 2005: 09.
160
Estrutura e Carga Horária: 380 horas-aula, divididas em quatro módulos semestrais consecutivos
e sendo 20 horas destinadas a monografia. O certificado de Especialização será obtido mediante aprovação
em cada disciplina e na monografia. Disciplinas/Módulos: Biologia do envelhecimento biotecnologia e
longevidade, Classificação etária e a velhice, Democracia, Modernidade e envelhecimento
,
Envelhecimento com dependência: os cuidadores, Laços comunitários e os idosos, Laços familiares e os
idosos, Memória e envelhecimento, Modalidades de atenção à saúde do idoso: uma visão interprofissional,
Psicogerontologia, Seminário de pesquisa, Sociedade moderna, Estado e envelhecimento. Disponível em
mttp://www.cogeae.pucsp.br/curso, acessado em 12. 04. 2007.
112
pelo projeto é constituído de professores titulados, que desenvolvem e publicam
pesquisas nas diversas disciplinas desenvolvidas.
Ressalta-se que o programa de Estudos Pós-Graduados em
Gerontologia (stricto sensu) e curso de especialização em Gerontologia da
PUC/SP foram implantados em meados de 1996, mas antes disto, em 1992, a
Universidade aberta à Maturidade de São Paulo já havia iniciado a sua primeira
turma, como apresentamos a seguir.
2.2.2.3 Universidade aberta à Maturidade da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo
A proposta da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, através
do Centro de Educação, apresenta o projeto da Universidade aberta à
Maturidade como atividade de extensão universitária e cultural para pessoas
maiores de 40 anos, com determinações claras e em consonância com os dados
demográficos sociais e econômicos, destacando a premência da Universidade
quanto às suas responsabilidades em relação às questões do envelhecimento.
Em seu projeto (anexo 01), denominado na época de sua criação
Universidade Sênior, voltado para pessoas acima de 50 anos, o Prof. Dr.
Antonio Jordão Netto (2001)
161
expõe um tripé de responsabilidades às
universidades de modo geral. Em primeiro lugar, cabe a elas formarem
profissionais competentes para atuarem na área de geriatria e gerontologia,
sugerindo a inclusão da disciplina Gerontologia Social nos cursos que mais se
relacionam com o assunto. Em segundo lugar, nestes cursos há de se enfatizar
161
NETTO, Antonio Jordão, Universidade aberta para a Maturidade: avaliação critica de uma avançada
proposta educacional, in KACHAR (org.) Longevidade um novo desafio para educação, 2001:50. Prof. Dr.
Jordão, na época da implantação da Universidade Sênior era professor titular da PUCSP (departamento de
Fundamentos da Educação do Centro de Educação) Sociólogo-chefe da secretaria do Trabalho da
promoção Social do Estado, membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia e autor do livro “A segregação do idoso na sociedade”.
113
a pesquisa sobre o envelhecimento humano. O terceiro eixo de atuação
sugerido refere-se à prestação de serviços à comunidade de idosos.
É neste último eixo que se detém a proposta, assegurando um trabalho
mais efetivo e concreto que atenda aos reclamos e necessidades da população
idosa da cidade de São Paulo. Neste sentido, já na justificativa do projeto, expõe
os objetivos da proposta em relação à promoção do auto-conhecimento (saúde
física e mental, situação econômica, lazer, etc.) e às possibilidades de
organização política e formação da cidadania; é uma proposta de curso de
extensão universitária e cultural para pessoas “que já ingressaram ou estão
prestes a ingressar na chamada terceira idade”. A proposta é de um trabalho
interdisciplinar, com participação de diferentes órgãos e unidades de ensino da
universidade.
Há também a perspectiva de se oferecer outros serviços à comunidade,
através da Universidade da Maturidade, como passou a ser chamada a partir do
ano 2000, tais como formação de grupos de convivência, atividades de lazer
dirigido, ciclo de debates, terapia ocupacional e programas de preparação para a
aposentadoria.
Os objetivos do projeto contemplam a questão da democratização do
espaço universitário, a participação e integração dos velhos, bem como a
atualização e reciclagem da chamada terceira idade, ao possibilitar acesso a
novos conhecimentos. Acredita-se na idéia de que, na maturidade, as pessoas
carregam nelas mesmas a capacidade de se superarem, de renovarem a si
mesmos e a própria comunidade. Já não são meras reprodutoras de atitudes e
valores, como ocorria na sua infância e adolescência, é essa capacidade que
será desenvolvida, para que cada participante possa produzir novos valores e
assumir novas atitudes frente à família, aos amigos e à sociedade.
Os cursos oferecidos estão organizados em três módulos, que
trabalham com a questão do envelhecimento em aspectos específicos, ou
seja
162
: o primeiro módulo é denominado Reciclagem e Atualização Cultural.
Neste módulo, a idéia é sintonizar os alunos com o mundo contemporâneo,
162
Disponível em www. puc.com.br, acessado em 18 de Setembro de 2006.
114
apresentando-lhes as situações e os problemas da atualidade e criando as
condições necessárias para que eles possam discutir sobre eles com qualquer
pessoa, com conhecimento de causa e segurança. Isso é possível porque o
programa prevê estudos nos campos de sociologia, antropologia, política,
economia, história, filosofia, psicologia e outros, para que os alunos possam
acompanhar as exposições e assimilar os conteúdos, mesmo que nunca tenham
entrado em contato com essas matérias antes. Apresentamos a seguir fotos da
sala de aula onde os alunos assistem a aulas expositivas:
Aula de História e República do Brasil na PUC/SP
Aula de Língua Portuguesa na PUC/SP
O segundo módulo é denominado “Orientações práticas para uma vida
alegre e saudável” e tem o intuito de orientar os participantes sobre como cuidar
115
da sua saúde física e mental. Essa orientação será dada por médicos geriatras,
gerontólogos, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas diversos e
outros especialistas, todos voltados a propiciar ao aluno condições de buscar da
melhor forma possível o bem-estar dentro da maturidade. Apresentamos a
seguir fotos da sala de aula onde os alunos assistem a uma aula de vitalidade e
estimulação cerebral.
Aula de Vitalidade e estimulação cerebral na PUC/SP
Já o terceiro módulo, denominado “Atividades sócio-culturais”, tem
como principal objetivo colocar os participantes em contato com o clássico e
com o moderno, no que diz respeito a literatura, música erudita e popular, artes
plásticas, cinema, teatro, apresentando-lhes os fundamentos dos diferentes
campos de produção cultural e dos estilos de seus criadores. Os alunos serão
estimulados a criar, despertando as capacidades e os talentos que possuem e
que talvez nunca tenham percebido. Apresentamos a seguir fotos da sala de
aula onde os alunos assistem a uma aula de introdução ao folclore brasileiro.
116
Aula de Introdução ao folclore Brasileiro na PUC/SP
Apresentamos no quadro 21 o representativo deste panorama, e as
disciplinas ministradas durante o curso.
Quadro 21
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO -
DISCIPLINAS
REGULARES
1 e 2 SEMESTRE / 2006
MODULO l
RECICLAGENS E ATUALIZACAO
CULTURAL
OBJETIVO
DISCIPLINAS
Nº VAGAS
Sintonizar os alunos com o
Introdução à Cultura Brasileira 45
mundo contemporâneo
Formação Econômica do Brasil 45
Painel Econômico Mundial 45
Introdução à Informática 45
História da República no Brasil 45
Atualidades Geográficas 45
Língua Portuguesa 45
Mitologia e Bioética 45
Biodiversidade / Oceanografia 45
Brasil, Rússia e Índia, novas potências séc. XXI 45
117
MODULO ll
ORIENTAÇÕES PRÁTICAS PARA UMA VIDA
ALEGRE E SAUDÁVEL:
OBJETIVO
DISCIPLINAS
Nº VAGAS
Orientar os participantes
O Universo do Seu Corpo
45
sobre. como cuidar da
Psicologia da Maturidade
45
sua saúde física e mental
Introdução à Criatividade 45
Filosofia da Maturidade 45
Medicina Ortomolecular 45
Estratégias de Comunicação 45
Vitalidade e Estimulação Cerebral 45
Florais para a Terceira Idade 45
Análise Transacional 45
MODULO lll
ATIVIDADES SÓCIO-CULTURAIS
OBJETIVO
DISCIPLINAS
Nº VAGAS
Colocar os participantes em Língua Espanhola I 45
contato com o clássico e com O Violão na Música Popular Brasileira
45
o moderno (literatura, artes
História da Inquisição no Brasil
45
plásticas, música erudita e
História dos Povos
45
popular)
História de São Paulo 45
Língua Espanhola II 45
Introdução ao Folclore Brasileiro 45
História das Revoluções 45
Dados coletados e organizados através de catálogos e site da PUC/SP
Além das disciplinas dos módulos acima, são oferecidas disciplinas
chamadas optativas, pois são disciplinas que alunos de qualquer módulo podem
se inscrever, favorecendo a convivência entre alunos que estão ingressando
118
com alunos que freqüentam a universidade há 10 anos, por exemplo. São essas
coral, informática, língua espanhola I e II e tai chi chuan. Vemos na foto a seguir
uma dessas atividades:
Apresentação do Coral da PUC/SP
2.2.2.3.1 Proposta educacional
Segundo Jordão (2007)
163
, o curso parte dos conceitos básicos
contidos nas teorias de autores consagrados, tais como Piaget, Rogers e Paulo
Freire. Como afirma:
O grande trunfo da proposta é que ela se utiliza de
uma estratégia geral que privilegia o princípio do
prazer como fator determinante de atração e
motivação dos interessados, isto é, não solicita dos
alunos, quer em termos de conteúdo curricular,
quer em função de atividades propostas, nada que
corresponda a exigências formais em termos de
escolha e participação.
164
Esta proposta significa trabalhar com o princípio da espontaneidade e
da participação ativa dos alunos no seu processo de aprendizagem. Por isso,
não são exigidas provas, exames, ou trabalhos obrigatórios de qualquer tipo. O
163
Os coordenadores do projeto são: Prof. Dr. Antônio Jordão Netto, Prof. Fauze Saadi e Profa. Dra.
Terezinha Calil Padis Campos. Disponível em: http://www.pucsp.br/, acessado em 12.05.2007.
164
Disponível em: http://www.pucsp.br/portaldoenvelhecimento, acessado em 18.05.2007
119
importante é que os alunos estejam sempre motivados para aquilo que é
proposto. A proposta de educação permanente é aberta, portanto, nenhum outro
pré-requisito, além da idade mínima, será exigido: nem provas, nem diplomas ou
certificados de escolaridade anterior.
Os cursos regulares duram quatro semestres. Qualquer um deles tem
90 horas-aula, e os encontros se dão duas vezes por semana, das 14 às 17
horas, de março a junho e de agosto a novembro, dentro do calendário letivo da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em cada semestre são
constituídas novas turmas. É importante que o aluno freqüente pelo menos 75%
das aulas e atividades ao longo dos quatro semestres dos cursos regulares, pois
somente assim terão direito, no final dos mesmos, a um Certificado de
Conclusão de Curso de Extensão Cultural, emitido pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Os alunos podem optar por participarem da formatura de
conclusão do curso, a qual é elaborada com todos os procedimentos de uma
formatura de graduação (missa, utilização de beca, jantar, álbum de formatura),
como apresentado na foto a seguir:
Cerimônia de Formatura dos alunos da PUC/SP
120
E se, depois de tudo, os alunos quiserem continuar freqüentando a
Universidade, poderão fazê-lo pelo tempo que quiserem. É que, para os
interessados, existem ainda fases especiais, a cada semestre, com
programações totalmente distintas daquelas desenvolvidas anteriormente,
dentro da proposta de educação permanente. Sendo assim, o aluno pode cursar
a Universidade aberta à Maturidade pelo tempo que quiser.
Ao longo de cada semestre, o aluno estuda os mais diferentes
assuntos, tais como história geral e do Brasil, atualidades geográficas, língua
portuguesa, psicologia aplicada, economia, ciências políticas, filosofia, práticas
medicinais alternativas, cultura indígena, cultura brasileira, estimulação da
memória, arte de ler o rosto, dinâmica de grupo e muitas outras. Pretende-se
que tudo seja apresentado de tal forma que os alunos acompanhem as matérias
sem o mínimo de dificuldade. Ao completarem os quatro módulos, passam pelo
processo de formatura (se assim desejarem), recebendo o certificado de
conclusão do curso numa cerimônia acadêmica. Como afirma Jordão (2007):
Como ninguém vem atrás de um profissional, por
imposição do mercado de trabalho ou obrigação
familiar, a procura é espontânea e as aulas,
embora tenham caráter de seriedade e fundamento
cientifico que todas as aulas devem ter, são
descontraídas e alegres. Tal clima gera uma
ampliação dos horizontes pessoais e coletivos dos
participantes, uma maior compreensão do mundo
atual e um conhecimento mais acentuado das
outras pessoas, proporcionando não só uma
efetiva inclusão social do aluno, como a obtenção
de uma melhor qualidade de vida na maturidade.
165
O projeto pedagógico inclui a realização de passeios, excursões,
viagens e visitas a espaços culturais diversos (teatros, museus, pinacotecas)
com o acompanhamento de monitores especializados, visando aprimorar o
conhecimento dos alunos através de atividades denominadas de estudo do
meio. Apresentamos a seguir algumas fotos destas atividades:
165
Disponível em: http://www.pucsp.br/portaldoenvelhecimento, acessado em 18/05/2007.
121
Atividade de caminhada – PUC/SP
Atividade de estudo do meio
Continua Jordão (2007):
A proposta educacional da Universidade baseia-se
nos princípios pedagógicos de importantes
educadores, como já mencionamos, o que significa
um grande respeito pelo conhecimento prévio dos
alunos e um grande incentivo para que eles
participem diretamente do próprio processo de
aprendizado. (...) Tudo o que a Universidade da
Maturidade procura proporcionar precisa ser
espontâneo e prazeroso, desde o próprio ato da
122
procura do curso pelo aluno até a relação cordial,
respeitosa e fraterna entre os mestres e alunos.
166
Segundo o seu coordenador, a Universidade aberta à Maturidade da
Pontifícia Universidade Católica foi criada dentro não só dos princípios
pedagógicos mais avançados, como está em total acordo com o Artigo 1º, inciso
III, Área da Educação, letra F, da Lei Federal 8842, que dispõe sobre a Política
Nacional do Idoso, assim como atende os princípios básicos do Estatuto do
Idoso.
O curso possui o apoio institucional da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia, Associação Nacional de Gerontologia, Conselho
Estadual do Idoso e do Grande Conselho Municipal do Idoso; está filiada à
Associação das Universidades e Faculdades Abertas para a Terceira Idade –
AUFATI
167
, entidade que congrega os principais cursos dirigidos à população
madura do Estado de São Paulo.
166
NETTO, Antonio Jordão, Universidade aberta para a Maturidade: avaliação critica de uma avançada
proposta educacional, in KACHAR (org.) Longevidade um novo desafio para educação, 2001:50.
167
AUFATI- Associação das Universidades e Faculdades Abertas para a Terceira Idade é uma
sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 27 de setembro de 1993, e está devidamente registrada no
2º Serviço de Registro de Títulos e Documentos da Capital, sob nº 57478.
Congrega , mediante livre adesão
das Instituições de Ensino Superior localizadas no Estado de São Paulo, cursos de extensão cultural com
diferentes denominações (Universidade Aberta para a Terceira Idade, Universidade Aberta para a
Maturidade, Universidade Sênior e outros) destinados a pessoas com 40 anos e mais, cursos esses onde o
ingresso dos interessados se faz sem nenhuma exigência formal em termos de apresentação de diplomas,
certificados ou realização de provas tipo vestibular ou semelhantes.
A AUFATI tem como objetivo
estatutário fundamental constituir-se um Fórum que integre os diferentes cursos acima citados, buscando:
a) fortalecer os cursos existentes, preservando sua autonomia; b) zelar pelo nível de qualidade dos cursos;
c) promover o caráter acadêmico dos programas desenvolvidos, na perspectiva de um processo de
educação permanente, de modo a evitar que ocorram apenas atividades meramente recreativas ou sociais;
d) estimular e assessorar a organização e implementação de novos cursos do gênero nas Instituições de
Ensino Superior tanto no Estado de São Paulo, como de outras unidades federativas interessadas;
e) difundir e ampliar o debate sobre questões de interesse para os segmentos populacionais formados por
pessoas com 40 anos e mais, especificamente no que se refere a aspectos educacionais; f) manter
intercambio com entidades congêneres e demais instituições que trabalham com projetos e programas
voltados para a população com 40 anos e mais, em especial aquelas cujo foco principal seja a educação.
Orientada por tais princípios estatutários, a AUFATI tem se empenhado arduamente no sentido de evitar
que o interesse que vem sendo despertado quanto à criação e implantação de cursos voltados para as
pessoas maduras acabe se transformando em mera exploração comercial de ensino, visando apenas lucro
fácil para as entidades promotoras, enfatizando que todo programa de educação permanente deve ter como
meta principal servir à comunidade no qual a Instituição de Ensino Superior promotora esteja inserida.
Estatuto da AUFATI, São Paulo, 09 de Dezembro de 1994.
123
2.2.3 Os dois projetos: olhares
Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem de repente aprende.
Guimarães Rosa
Apresentamos essas duas Universidades e revelamos que as duas
instituições desenvolveram modelos diferentes de lidarem e estudarem o
envelhecimento, como foi amplamente ressaltado nesse capítulo e apresentado
no quadro abaixo quadro 22:
Quadro 22
DEMONSTRATIVO DAS DUAS UNIVERSIDADES
Nome da
universidade
Nome das
universidades
pesquisadas
Atividades oferecidas
Início das
atividades
Público alvo
Universidade
de São Paulo
Universidade
aberta à
terceira idade
da
Universidade
de São Paulo
Disciplinas regulares
Atividades complementares
Didático culturais
Programa de atividades
Físicas e esportivas
Palestras
1993
Intergeracional
alunos acima
de 60 anos
Pontifícia
Universidade
Católica de
São Paulo
Universidade
aberta à
Maturidade
da Pontifícia
Universidade
Católica de
São Paulo
Disciplinas regulares
Disciplinas optativas
Atividades físicas/artísticas
Passeios educativos
Excursões, Palestras
Formatura
1992
Alunos acima
de 50 anos
Dados coletados e organizados através de catálogos e sites da PUC/SP e da USP
124
As questões sociais relativas à terceira idade cada vez mais se inserem
na totalidade histórica e social, expressando suas determinações e contradições,
constituindo-se num dos fatos sociais mais significativos do Brasil
contemporâneo e particularmente da sociedade paulista e paulistana, exigindo
atenção e ações concretas de todos os setores comprometidos com o
equacionamento e solução de problemas brasileiros, entre os quais o do idoso,
que se constitui num dos mais graves, pois resulta na marginalização após sua
retirada (espontânea ou compulsória) do mercado de trabalho.
2.2.3.1 O projeto da Universidade de São Paulo
Muitas questões podem ser suscitadas por este modelo de atendimento
à população idosa, oferecido por uma das maiores universidades deste país. Em
relação aos princípios que norteiam tal proposta pode-se constatar, apesar de
sua não explicitação, a necessidade de abrir espaços da universidade para uma
parcela da população destituída de seu direito de partilhar da produção do saber
acadêmico. Um outro aspecto a ser considerado refere-se à preocupação em
tratar os idosos de maneira não diferenciada e, assim, ao oferecer vagas em
cursos da universidade, permite a convivência entre gerações, de forma
aparentemente pacífica. Como afirma Bosi:
O ideal de abertura, a mais ampla possível. Aos
alunos não se pede senão o seu desejo de
aprender. Eles acorrem de todas as classes
sociais. Nosso aluno pode ser um porteiro de
edifício que precisa conhecer psicologia para lidar
com seus condôminos; ou um físico que deseja se
atualizar, ou um operário apaixonado por teatro, ou
uma comerciaria que sempre aspirou estudar
botânica. São exemplos que encontramos a cada
dia. Não há programas fechados. A escolha das
disciplinas é livre porque é livre nossa constelação
de interesses quando nos libertamos da rotina da
sobrevivência. O aluno compõe seu currículo:
Astronomia e Política, Dança e Biologia Marinha,
Chinês e Fotografia. As combinações são quase
125
infinitas, como se a liberdade fosse a nossa
vocação mais profunda. Tal escolha corresponde à
riqueza das funções cerebrais que elegem agora a
diversidade, não a especialização
.
168
Cabe, porém, questionar o sentido desta proposta, justamente na não
diferenciação curricular. Até que ponto um projeto de universidade aberta nestes
moldes contribui para a integração de velhos e velhas nas turmas de jovens e
minimiza a problemática da velhice no país? Percebemos através de um
relato
169
com a secretaria do departamento de Oceanografia da USP, (a qual
recebe as inscrições dos alunos idosos para assistirem as aulas oferecidas no
semestre), que o aluno pode assistir as aulas no campus, juntamente com os
alunos matriculados, mas não pode fazer nenhuma viagem programada pelo
curso, pois ele não é aluno matriculado e sim aluno especial, não tendo,
portanto, direito a participar de atividades extra classe (estudo de campo).
Pela proposta infere-se que há preocupação em não discriminar o
idoso, oferecendo-lhe o mesmo currículo vivenciado pelas gerações mais
jovens. Entretanto, não estaria havendo discriminação nas salas de aula, nas
relações travadas entre os alunos, com seus colegas mais velhos,
principalmente quando o idoso não pode ir aos mesmos lugares que os alunos
matriculados? Não estaria este modelo ignorando as reais e específicas
necessidades da população idosa através de um currículo aparentemente
significativo, enquanto na realidade, em algumas matérias, discrimina e restringe
os idosos inscritos, conforme vimos?
Como afirmou Trindade (1994):
Pode-se tentar imaginar o aluno idoso, ingressando
na Universidade de São Paulo, construindo sonhos
e buscando novas frentes, defrontar-se com um
mundo em que pouco sobra-lhe espaço, em que
presumivelmente seus jovens colegas lhe facilitam
algumas coisas, em que percebe os olhares
curiosos de outros, como se fosse uma raridade.
168
Disponível em: www.usp.br/prc/3idade/spo_dr_eca.htm, acessado em 6 de Março de 2006.
169
Entrevista executada em 28/02/2007 a secretaria do departamento de oceanografia.
126
Qual o espaço que tal aluno teria para confrontar
sua vida, seu passado, seu presente e lutar por
uma vida melhor? Ao ingressar num curso
qualquer, em que a maioria pertence a mesma
faixa etária, o idoso pode se sentir tão ou mais só
com seus anos, suas experiências, sua maneira
um pouco mais lenta de assimilar conhecimentos e
responder aos anseios da Universidade. Ao abrir
as portas da Universidade aos idosos, caberia
uma avaliação do andamento dos resultados
obtidos por esta proposta.
170
Outrossim, não seria uma forma de discriminar, caracterizando este
aluno como especial ou ouvinte, tornando o seu estudo apenas um adereço, um
passatempo, uma brincadeira de “faz-de-conta que sou aluno universitário”,
corroborando a sensação de incapacidade de velhas e velhos para aprender
como os jovens?
Parece-nos que, dessa forma, a Universidade abriu suas portas, mas
não apontou caminhos nem deu referências para o aprendizado de melhores
condições de vida no envelhecimento. Por exemplo, não seria importante aulas
específicas de estatuto do idoso e políticas públicas voltadas ao idoso, similar ao
existente na área de educação física (CEPEUSP), apresentado no quadro 18.
Caberia indagar qual a pretensão desta proposta e se o papel da
Universidade seria apenas o de abrir vagas e permitir matrículas de velhas e
velhos, em cursos destinados a todos, indiscriminadamente, sem pensar nas
necessidades específicas dos idosos? Qual o sentido político de uma proposta
de universidade aberta? Que possibilidade há em propiciar o surgimento do ser
cidadão, num projeto que mais camufla e segrega, porque isola e distancia
velhas e velhos em cursos diversos? A Universidade para a terceira idade não
pode ser apenas um fim, distanciando–se das necessidades humanas efetivas.
Como afirma Silveira (2007):
A educação para a cidadania se faz necessária,
dada a sua relevância como área de conhecimento
170
Trindade, Rita de Cássia, Tese de doutorado, Vida em vidas: velhos e velhas no espaço escolar projeto
educacional para a terceira idade e a qualidade de vida: um encontro possível? tese de doutorado do
Programa de Supervisão e currículo na PUC/SP, 1994:22.
127
estratégico para assegurar os direitos humanos
fundamentais, dentre eles: saúde, moradia,
transporte, trabalho, assistência social e a própria
educação. Assim, educar para a cidadania é a
principal atribuição de uma educação
comprometida com os direitos humanos. As ações
educacionais devem envolver pessoas de todas as
idades, em especial os idosos que precisam se
preparar, individual e coletivamente, para viver com
dignidade e plenitude a fase da velhice (...) A
educação ‘da e para’ a cidadania de pessoas
idosas deve ter como uma das suas preocupações
centrais o domínio de informações imprescindíveis
para o seu exercício, dentre elas o conhecimento
minucioso do Estatuto do idoso e do Plano
Nacional destinado aos interesses deste
segmento.
171
Ao analisarmos as interrogações de Silveira, percebemos que os
arranjos desenvolvidos pelos velhos estudantes em suas instituições de ensino
ultrapassam os limites institucionais, sociais e políticos. A partir da criação da
Associação dos alunos das Universidades abertas à Terceira Idade da USP
(AAUFATI) em 2000, aconteceram algumas mudanças, pois estes estudantes
velhos agora freqüentam um núcleo comum, onde atuam ativamente, em
projetos sociais, esportivos e políticos. Como afirma Kachar (2007):
É importante destacar que a educação não
acontece somente nos espaços formais,
organizados e sistematizados com essa finalidade,
mas também em ambientes sociais e de lazer. Por
isso o cuidado em ver para além das fronteiras da
instituição escolar, observar estes outros lugares e
apreender os objetivos que respeitam e preservam
a integridade da terceira idade, incluindo-a nas
interações com as diferentes faixas etárias e
atualizando-a com as evoluções sociais e
tecnológicas.
172
171
SILVEIRA, Nadia Dumara Ruiz, A educação de pessoas idosas: cidadania como pressuposto básico,
Disponível em: http://www.pucsp.br/portaldoenvelhecimento, acessado em 18.05.2007.
172
KACHAR,Vitória, Educação, currículo e terceira idade Disponível em: www.pucsp.br /portal do
envelhecimento, acessado em 18.05.2007.
128
2.2.3.2 O projeto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Com a proposta de implantação do projeto Universidade aberta à
Maturidade no âmbito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
pretende-se afirmar a necessidade e a importância da participação da
Universidade nas questões sociais, pois o envelhecimento da população é uma
realidade inegável e poder proporcionar um avanço na melhoria da qualidade de
vida de seus alunos é fator relevante para a instituição.
Na perspectiva de promover sua convergência, se insere o Projeto
Universidade aberto à Maturidade dentro da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, uma instituição que tem sido pioneira no Brasil no sentido de
contribuir para a ocorrência de mudanças qualitativas nas relações universidade
e sociedade, mudanças essas resultantes de vínculos orgânicos e de relações
de reciprocidade estabelecidas entre as organizações acadêmicas e científicas e
as organizações populares. Por fim, espera-se com a Universidade aberta à
Maturidade abrir um canal para todos aqueles que já ingressaram ou estão no
limiar da Terceira Idade e que desejam, além de conhecer, discutir e buscar
soluções para sua categoria social.
Os vários cursos oferecidos pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo pretendem ampliar ou reciclar conhecimentos nas diferentes áreas do
saber, representando, sob muitos aspectos, uma recuperação do verdadeiro
conceito de Universidade, hoje muito restrito, na medida em que faculdades e
cursos fecham-se em si mesmos, sem se abrirem para outros ramos ou áreas e
sem oferecerem a possibilidade necessária para ampliar e dinamizar a
informação acadêmica.
A Universidade aberta à Maturidade contradiz, então, os parâmetros
da cadeia de ensino das universidades brasileiras, todas departamentais, com
cursos específicos e matérias determinadas. Como afirma Jordão (2001):
129
Na realidade pode-se afirmar que os cursos de
extensão para a terceira idade representam uma
conquista educacional sem precedentes e que
muitos de seus aspectos sirvam de parâmetro para
mudanças na própria estrutura e funcionamento da
Universidade tradicional. Aliás, neste sentido, é
possível até conjecturar, talvez sarcasticamente,
porém com alguma ponta de verdade, que um
projeto que contempla os grupos de terceira idade,
justamente por se tratar de uma proposta
atualizada, que reflete muito de perto as
transformações da sociedade nacional e atende a
algumas de suas demandas, possa vir a servir de
modelos e inspiração para as atuais universidades
brasileiras, quem sabe desesclerosando-as.
173
Ressaltamos o sentimento de status experimentado pelos aluno velho
ao cursar uma universidade, muitas vezes realizando sonhos que apenas
puderam sentir através dos seus filhos e netos; isto se torna muito importante,
principalmente quando participam da cerimônia de formatura, atividade
amplamente valorizada por esta universidade.
Acreditamos que o fato de não ser cobrado nenhum tipo de
desempenho do aluno (avaliação), a não ser a participação em 75% de
freqüência no curso, pode ser considerado uma situação ambígua e que merece
uma profunda reflexão: por um lado o aluno sente-se livre e sem cobrança, por
outro lado não se pode analisar o desempenho desse aluno e verificar se, de
fato, o comparecimento às aulas lhe trouxe novos conhecimentos.
Um outro ponto a ser analisado é que as turmas que estão no quarto
módulo podem escolher as matérias que serão ministradas durante o semestre,
através da livre escolha dos conteúdos, exercendo em sala de aula uma ação de
cidadania. Essas turmas do quarto módulo são constituídas por alunos que já se
formaram e que continuam participando assiduamente das atividades. Como
afirma Freire (1995):
173
NETTO, Antonio Jordão, Universidade aberta para a Maturidade: avaliação critica de uma avançada
proposta educacional, in KACHAR (org.) Longevidade um novo desafio para educação, 2001:55.
130
(...) Somos velhos ou moços muito mais em função
de como pensamos o mundo, da disponibilidade
com que nos damos curiosos ao saber, cuja
procura jamais nos cansa e cujo achado jamais
nos deixa imovelmente satisfeitos. Somos moços
ou velhos muito mais em função da vivacidade, da
esperança com que estamos sempre prontos a
começar tudo de novo e se o que fizemos continua
a encarar nosso sonho eticamente válido e
politicamente necessário.
174
Chama-se a atenção para o caso do curso da PUC permitir a inscrição
de pessoas com menos de 60 anos, o que representaria uma espécie de
desvirtuamento de objetivos, já que terceira idade englobaria gente acima
daquela faixa etária. Embora sendo uma observação real, um de seus
coordenadores, professor Jordão, respondeu a questão:
(...) se trata de uma estratégia preventiva, ou seja,
abre-se a possibilidade de as pessoas que se
encontram no período “pré-terceira idade” (entre 45
e 59 anos) já irem se conscientizando e aceitando
a passagem do tempo de forma paulatina e serena,
não esperando chegar à terceira idade
propriamente dita para começar a pensar nos
percalços da velhice, sendo pegas como que de
surpresa e se chocando com uma situação até
então não pensada.
175
Sobre este tema, percebemos que se trata de relação intergeracional,
pois temos na mesma sala, alunos de 50 anos até acima de 90 anos, portanto,
gerações diferentes, experiências e vivências em décadas diversificadas.
A Universidade Aberta à Maturidade representa, assim, uma maneira
eficaz e agradável de preparo para o envelhecimento saudável e produtivo,
174
FREIRE, Paulo, A sombra desta mangueira, 1995:56.
175
NETTO, Antonio Jordão, Universidade aberta para a Maturidade: avaliação critica de uma avançada
proposta educacional, in KACHAR (org.) Longevidade um novo desafio para educação, 2001:56.
131
diminuindo bastante os traumas e desencantos que comumente acometem as
pessoas que se distanciam do seu envelhecimento e assim têm dificuldade para
lidar adequadamente com o passar dos anos.
Um ponto importante a ser revelado é sobre o espaço físico ocupado
por esses estudantes; são em média 450 alunos, distribuídos num mesmo andar
em um prédio central da PUC/SP, portanto, todos freqüentam o mesmo
ambiente ao mesmo tempo, inclusive com o horário do intervalo igual para todas
as classes. Podemos ver esta situação na foto:
Lanchonete da PUC/SP
Este modelo de Universidade aberta à Terceira Idade, desenvolvido pela
PUC/SP, facilita os encontros entre classes e as relações interpessoais. Como
afirma Stano (2007):
Frente aos desafios propostos, diante de
um espaço que estava ali para ser conquistado,
foram assumindo a escola como um espaço
possível para o renascimento da alegria, do brilho
nos olhos, de um projeto necessário à continuidade
da vida. Ao ouvir a voz do outro, ao partilhar dores
e experiência, o grupo iniciou um processo
132
autogerador do compromisso com a vida, com os
atos transformadores de sua qualidade.
176
Por que tais cursos despertam tanto interesse por parte da terceira
idade? Será o fato de que velhos e velhas sentem necessidade de lidar melhor
com o outro? Querem emitir e compreender melhor as mensagens, os diálogos,
as conversas? Talvez a comunicação seja a esperança que eles e elas têm de
integrar o mundo, de compreendê-lo com olhos diferentes, de partilhar dos
mesmos significados. Complementando esta busca de compreensão do outro,
pode-se perceber a necessidade de conhecimento e compreensão de si mesmo,
num corpo que não lhe é mais familiar, que não atende aos seus reclamos, num
projeto de vida que lhe falta, que lhe escapa, num mundo em que se percebe,
algumas vezes, sozinho, abandonado. E dessa forma os velhos ingressam na
Universidade, em busca de seu próprio desvelamento.
Apresentaremos estas análises no próximo capítulo, intitulado os
personagens e suas idéias: envelhecer na Universidade aberta `a Terceira
Idade.
176
STANO, Rita de Cássia M. T. , Idosos nos bancos escolares: possibilidades de qualidade de vida.
Disponível em: http://www.pucsp.br/portaldoenvelhecimento, acessado em 18.05.2007.
133
Capítulo 3
“Não tenho caminho novo.
O que tenho de novo é
o jeito de caminhar.”
Thiago de Mello
134
Os personagens e suas idéias: o envelhecer na Universidade
aberta à Terceira Idade
_______________________________________________________
Neste capítulo, dialogamos com os pensadores por meio das análises
dos discursos que norteiam os passos da investigação. Descrevemos a técnica
utilizada para obtenção dos dados, para, em seguida sistematizar a proposta de
análise do conteúdo. Esta pesquisa apresenta dimensões que podem ser
tratadas mais apropriadamente por quatro grandes temas-problema. São eles: a
amizade; a relação entre o público e o privado (familiar); cuidado de si e o
conhecimento.
3.1 O velho estudante e as inter-relações no espaço escolar
Morrer é uma possibilidade
Viver é um risco
Envelhecer é um privilégio
Marcelo Salgado
177
Este capítulo foi orientado pelo testemunho dos idosos que freqüentam
as universidades de terceira idade pesquisadas. O trabalho de análise buscou
verificar como as Universidades se transformaram em lugar de acolhimento para
os velhos, e que modo de sociabilidade se institui nesses espaços universitários
para os velhos.
Estudamos o fenômeno no local onde ele ocorreu. A instrumentação
metodológica deve permitir que se traga à tona as divergências, as oposições e
177
SALGADO, M. in MEDINA, Revista Reproposta, 2006:8.
135
contradições do objeto estudado, o qual buscamos apreender como um todo,
evitando fragmentar a realidade, além de explicá-la comparativamente;
resgatamos suas particularidades através de diferentes formas de coleta de
dados; atentamos para o caráter histórico dos dados coletados, analisados e
interpretados. Segundo Bogdan (1982):
O pesquisador exerce o papel subjetivo de
participante e o papel objetivo de observador,
colocando-se numa posição ímpar para
compreender e explicar o comportamento humano.
Ele tem o ambiente natural como sua fonte direta
de dados e os pesquisados como seu principal
instrumento. Os dados coletados são
predominantemente descritivos. O material obtido
nessas pesquisas é rico em descrições de
pessoas, situações, acontecimentos; inclui
transcrições de entrevistas e de depoimentos,
fotografias, e extratos de vários tipos de
documentos. A preocupação com o processo é
muito maior do que com o produto
178
.
A coleta de dados se deu mediante a aplicação de um questionário
(anexo), de entrevistas semi-orientadas com os alunos das instituições
analisadas e de anotações no diário de campo.
Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), foram
aplicados 80 questionários e entrevistados 12 alunos, sendo que 5 alunas
freqüentam a faculdade há 15 anos ininterruptamente e 7 alunas a freqüentam
há 7 anos ininterruptamente.
Na Universidade de São Paulo (USP), não foram aplicados
questionários, pois os mesmos tinham como objetivo selecionar os alunos dentro
do universo de sala de aula, e como nesta instituição os alunos foram
selecionados mediante participação no ambiente sócio-educativo (AAUATI)
179
,
não houve a necessidade desse procedimento; foram realizadas 12 entrevistas a
178
BOGDAN e BIKLEN, Investigação qualitativa em educação, 1982: 34.
179
AAUATI- Associação dos alunos da Universidade aberta à terceira idade da Universidade de São Paulo,
criada em 2000, por iniciativa dos alunos da faculdade de terceira idade e da coordenadora Dr. Ecléa Bosi.
136
alunos, sendo que 5 alunas freqüentam a faculdade há 10 anos ininterruptos e 7
alunas a freqüentam há 7 anos ininterruptos, como demonstrado no quadro 24.
Quadro 24
DEMONSTRATIVO DA
COLETA DE DADOS DAS UNIVERSIDADES
PESQUISADAS
Nome das universidades
pesquisadas
Número de
questionários
aplicados
Número de alunos
entrevistados
Anos de estudo dos alunos
nas instituições
pesquisadas
Universidade aberta à
Maturidade da Pontifícia
Universidade Católica de
São Paulo
80 questionários
12 alunos
5 alunas que estudam há 15
anos
7 alunas que estudam há
7anos
Universidade aberta à
Terceira Idade da
Universidade de São
Paulo
Nenhum
questionário
12 alunos
5 alunas que estudam há 10
anos
7 alunas que estudam há 7
anos
Dados coletados entre os anos de 2006 e 2007
O primeiro instrumento aplicado, o questionário (anexo), teve como
objetivo primordial executar uma análise do quadro geral dos alunos que
freqüentam essas universidades e selecionar os alunos para as entrevistas, os
quais foram escolhidos mediante critérios já apresentados anteriormente.
Os depoimentos foram gravados em fitas-cassete, sendo que os
encontros para sua coleta foram realizados em vários locais: nas próprias
universidades (sala de aula), nos apartamentos dos entrevistados e na
residência da pesquisadora, em horários previamente fixados pelos depoentes.
Os depoimentos e as fotos foram registrados com o consentimento dos
entrevistados e as fitas foram transcritas literalmente; o diário de campo permitiu
o registro das observações realizadas durante as entrevistas. Cada entrevista
teve em média a duração de 30 minutos.
137
Foram realizados pré-testes por meio da formulação de questionário
para aplicação com os alunos. Esses primeiros depoimentos foram essenciais
para a reformulação e mudança de instrumento passando para orientação de
entrevistas, reformulação do roteiro e condução de análise comparativa do
conteúdo. Terminada a fase das primeiras entrevistas, e a partir das
interpretações dos depoentes, foi desenvolvida uma segunda interpretação.
Essas análises foram elaboradas com base nas gravações em fita-cassete, na
sua transcrição, nas anotações do diário de campo e nas reflexões teóricas que
foram enriquecendo as análises.
Os registros dos depoimentos, em forma de entrevistas gravadas
contribuíram para composição e análise do discurso. Segundo Pêcheux
180
, a
definição de discurso associa-se às condições de produção e aos efeitos de
sentido produzidos entre interlocutores. Considerando que esses intelocutores
estão inseridos num contexto histórico-social, o discurso apresenta-se, então,
como produto dessa relação entre sujeito, história, sociedade e língua.
Sendo assim, observamos que o discurso é formado por enunciados e,
se tais enunciados são produtos do sujeito, torna-se possível afirmar que a
análise do discurso far-se-á a partir do momento em que descobrirmos, como
afirma Foucault (1987)
181
, “a intenção do sujeito falante, sua atividade
consciente, o que ele quis dizer ou ainda o jogo inconsciente que emergiu
involuntariamente do que disse ou da quase imperceptível fratura de suas
palavras manifestas”. Sendo assim, a noção do discurso se amplia para além
das relações estabelecidas entre interlocutores e contexto sócio-histórico.
Uma vez observada tal relação, faz-se necessário perceber como se
processa a organização do discurso mediante a relação entre os enunciados e o
porquê da utilização de um determinado enunciado e não de outro, ou ainda,
como afirma Foucault (1987):
Existe a necessidade de reconstruir um outro
discurso, de descobrir a palavra muda,
murmurante, inesgotável, que anima do interior a
180
PÊCHEUX M. Analyse automatique du discourse, 1969: 63.
181
FOUCAULT
,
A arqueologia do saber, 1987:79.
138
voz que escutamos, de restabelecer o texto miúdo
e invisível que percorre o interstício das linhas
escritas e, às vezes, as desarruma.
182
Afinal, é na produção de enunciados que reside a formação social do
sujeito, calcada no contexto em que está inserido. Revelar como as pessoas
comuns dão sentido às suas vidas dentro dos limites e da liberdade que lhes são
concedidos, investigar como as pessoas vivem o ciclo dos acontecimentos
chamado tempo de vida, e como o fazem imprimindo a própria marca ou
assinatura.
Neste momento, após apresentarmos os passos desta investigação,
fazemos nossos os passos da dança e as palavras de Rubem Alves (2003):
(...) para se aprender a pensar é preciso primeiro
aprender a dançar. Quem dança com as idéias
descobre que pensar é alegria. Se pensar lhe dá
tristeza é porque você só sabe marchar, como
soldados em ordem unida. Saltar sobre o vazio,
pular de pico em pico. Não ter medo da queda. Foi
assim que se construiu a ciência: não pela
prudência dos que marcham, mas pela ousadia
dos que sonham.Todo conhecimento começa com
o sonho. O conhecimento nada mais é que a
aventura pelo mar desconhecido, em busca da
terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se
ensina. Ele brota das profundezas do corpo, como
a água brota das profundezas da terra. Como
Mestre, só posso lhe dizer uma coisa: conte-me
seus sonhos, para que sonhemos juntos !”
183
Portanto, para transformar o sonho em realidade, tornou-se uma
exigência metodológica evitar a visão unidimensional para respondermos as
questões levantadas. Para iniciarmos a busca das respostas, começaremos por
buscar entender quem são essas velhas e velhos que freqüentam as
universidades de Terceira Idade.
182
Ibidem, p. 121.
183
ALVES, Rubem, Ao professor com carinho, 2003:52.
139
3.1.1 Quem são as velhas e os velhos estudantes?
Em primeiro lugar, são aqueles indivíduos que fogem do cenário mais
comum de isolamento e pasmaceira, que caracteriza, de uma maneira geral, a
vida das pessoas idosas que residem nas cidades brasileiras. São, em especial,
aquelas que moram em cidades situadas, via de regra, nas regiões mais
desenvolvidas do país, onde existe oferta dos programas ou iniciativas sociais
voltadas para o segmento. Como afirma Netto (2005):
Dentro deste contingente, que se destaca pelo
número sempre maior da presença feminina,
muitos freqüentam programas sociais oferecidos
tanto pelos poderes públicos municipais, estaduais
ou federais, como por entidades ou grupos
particulares. No caso das iniciativas não-
governamentais, o maior destaque tem ficado com
os programas do Serviço Social do Comércio
(SESC) e com os chamados “grupos de terceira
idade” de origem e extração diversa, nos quais as
atividades mais constantes dizem respeito à
organização de bailes, passeios e excursões. Isto
é, sem dúvida, um passo adiante frente ao
imobilismo predominante.
184
Tudo indica que, para uma parte de homens e mulheres de meia-idade
ou com mais de 60 anos, a expectativa existente nos centros urbanos mais
avançados, onde as faixas etárias mais altas crescem vertiginosamente como já
apontamos anteriormente, era que surgisse algo interessante, alguma coisa
capaz de lhes oferecer mais do que apenas exercitar o corpo em atividades de
ginástica ou competições esportivas, desenvolver dotes de pintura, escultura ou
artesanato, participar de brincadeiras de salão, taxadas por alguns de infantis,
ou mesmo ridículas, assistir a uma ou outra palestra feita por especialistas,
participar de “encontros de idosos”, dançar, passear, viajar ou se envolver em
outras atividades monitoradas, freqüentemente de forma inadequadas, às vezes
184
NETTO e SÁ MARTINS, Educação e a vida depois dos 40... in PACHECO, et al, Tempo: rio que
arrebata, 2005:268.
140
autoritárias, ou até direcionadas por leigos, ou não especializados que,
freqüentemente, infantilizam os idosos.
Para essas pessoas em particular é muito provável que existisse a
necessidade de aprender coisas novas, de fazer alguns cursos, de se atualizar,
pois o mundo mudou muito rapidamente, os conhecimentos adquiridos se
tornaram insuficientes para lidar com essa evolução contínua. Vivemos hoje
numa sociedade complexa, como enfatiza Nadia
185
:
(...) quando me inscrevi na faculdade,
começou a abrir um horizonte, descortinar um
horizonte maior porque eu estava parada,
tinha parado com tudo, não trabalhava mais e
comecei a ver um monte de assuntos
diferentes, atualidades e trocas de idéias, um
campo assim desconhecido pra mim. Muitas
matérias eu nunca havia estudado, então foi
uma renovação.
– Ah, por exemplo eu nunca tinha estudado
física e estudamos alguns aspectos da física
quântica, a influência que isso pode ter no
nosso comportamento, no nosso cérebro,
depois um pouco de sociologia, um pouco de
psicologia, se bem que eu tinha visto isso, um
pouquinho, no curso clássico, então como
ficou muito pra traz...
Para esses alunos, freqüentar a universidade representa entrar em
contato com o conhecimento, com o novo, mas não simplesmente através dos
meios de comunicação, dos jornais, dos livros, filmes, teatros, mas entre
carteiras escolares. Esses velhos estudantes demonstram prazer e satisfação
pelo fato de envolverem-se com o mundo acadêmico (espaço físico, corredores,
lanchonete, estacionamento, secretaria, aulas, professores, etc.). Como afirma
Maitinha
186
:
(...) é...eu estou na PUC porque logo que
entrei na PUC me identifiquei muito com todos,
com os meus coordenadores, com meus
185
Nadia, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 30/05/2006.
186
Maitinha, aluna da PUC/SP, que freqüenta as aulas há 15 anos ininterruptamente, entrevistada em 01/12/2005
141
colegas de classe e aquilo ali ficou como uma
coisa muito importante na minha vida. A gente
na PUC tem muitas informações, em tudo, no
convívio com as colegas, Isso que eu acho
mais interessante essa troca com as colegas
que eu adoro! Me identifiquei muito com as
colegas e com os professores...E também o
perfil da nossa faculdade... vibra...
Acreditamos que, se pudermos classificar as coisas e as pessoas,
possivelmente chamaríamos esses indivíduos que freqüentam essas
Universidades abertas à Terceira Idade como uma nova categoria de velhice.
São pessoas que procuram possibilidades de inserção social, mas não qualquer
inserção, mas aquela que visa à evolução pessoal através do conhecimento,
como afirma Dina
187
:
(...) Eu vim na primeira aula inaugural e me
matriculei e estou aqui até agora, pra mim foi
uma abertura de porta, janela, o que você
quiser porque eu continuei estudando coisas
que eu gosto, mas sem compromisso de
provas, com liberdade e encontrei muita gente
boa, como vocês aqui, e muitas outras mais,
né?
Portanto, revelaremos neste capítulo uma maneira diferenciada de lidar
com o envelhecer, e apresentaremos relatos de alunos nos quais fica
transparente a quebra do paradigma de velhice estigmatizada, que vive o seu
último período existencial, à espera da doença e da morte. Esses velhos que se
manifestam retratam uma categoria muito pouco estudada, ou mesmo valorizada
socialmente. Acreditamos estar diante de um novo modo de envelhecer: o velho
estudante.
Um levantamento feito pela UNIFESP
188
, em 2002, mostrou que 32%
desses estudantes têm nível superior e 14%, o ensino médio. Mais da metade,
187
Dina, aluna da PUC/SP há 7 anos e meio, entrevistada em 12/12/2005.
188
Fonte: Revista Educação ano 06, n. 67, Novembro de 2002:36.
142
portanto, teve apenas o ensino básico ou é semi-alfabetizada. O que todos têm
em comum é a vontade de continuar ativos e participativos da sociedade e o
lugar escolhido para isso é a Universidade. Como afirma Ecléa Bosi (2007)
sobre os alunos da Universidade aberta à Terceira Idade da Universidade de
São Paulo:
O programa trouxe uma grande variedade de
alunos. Nós recebemos alunos que fizeram a
universidade, de grande cultura, mas que
escolhem cursos diferentes daqueles nos quais se
diplomaram, porque é uma vocação da terceira
idade escolher com liberdade o seu caminho. Mas
nós também temos alunos que nunca tiveram a
oportunidade de estudar – e eu sempre digo, e
repito, que eles são a glória do curso. E são alunos
que vieram de estratos da população muito
humildes e que tiveram uma vida de muito
trabalho, uma vida de exclusão e marginalidade, e
conseguiram na maturidade realizar o velho sonho
de estudar, que não lhes foi concedido durante a
infância e a juventude.
189
Quando ressaltamos, no primeiro capitulo, que a velhice é singular, que
o envelhecimento é único e diferenciado entre os indivíduos, acreditamos que
existam alguns pontos em comum que fazem com que essas pessoas
compactuem dos mesmos ideais. As conversas que se estabelecem entre os
pares, as formas de comunicação institucionalizadas e a rotina que vão se
ritualizando em atos previsíveis fazem da escola um catalisador de mudanças,
uma agência de intercâmbio de experiências. Como afirma Frima:
190
(...) A sensação é muito legal por você estar
freqüentando uma USP, mesmo na terceira
idade. É uma oportunidade que não tenho
palavras pra falar...
189
BOSI, E., em entrevista, dado disponível em: www.usp.br/prc/calendario/sumario.php, acessado em 30 de
Outubro de 2007.
190
Frima, aluna da USP há 7 anos e meio, entrevistada em 20/07/2006
143
3.2 Os tipos de sociabilidades
Ao analisarmos as categorias propostas neste trabalho, consideramos
que tipos de sociabilidades acontecem nesses espaços institucionais, mediante
as construções que vão se fortalecendo entre os velhos estudantes e sua rede
social.
3.2.1 A amizade
“Quanto à amizade, ela contém uma série de
possibilidades. Em qualquer direção que a gente
se volte, ela esta lá, prestativa, jamais excluída de
alguma situação, jamais importuna, jamais
embaraçosa. Por isso, nem água nem fogo, como
se diz, nos são mais prestimosos que a
amizade.”
Lelio
191
A amizade foi utilizada como tema-problema, pois ao analisarmos o
material das entrevistas, vimos que ela foi um dos itens mais citados, por
resgatar o ideal da amizade estudantil trazendo para o presente o tempo já
vivido, efetivamente, ou ilusório, imaginário, desejado, ou vivido pelos seus filhos
e netos.
Fica claro, então, que a Universidade da Terceira Idade amplia as
possibilidades de amizade, permeando os corredores do tempo e do espaço
onde suas histórias foram inseridas e onde os velhos estudantes vão criando
uma série de laços de solidariedade e sociabilidade. Como afirma Tereza
192
:
Aqui eu renasci, eu remocei, eu tive novos
crescimentos, novas amizades
Porque é uma classe maravilhosa.
As amizades que eu tenho aqui é pra gente
guardar pra sempre...Porque são amizades,
assim, especiais.
191
LÉLIO, in CÍCERO, Saber envelhecer, 1997: 87.
192
Tereza, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 01/12/2005.
144
Coisa que eu nunca, nem sabia o que era isso,
entende... Eu nunca, nunca tive nada disso,
então;
Agora eu estou encontrando, encontrando meu
espaço, meu caminho,
Para Tereza, a amizade que vivencia na Universidade propicia
oportunidades de encontros (consigo e com outros), de espaço de vida e de
novos caminhos. Portanto, nesse momento, o nosso interesse é o de sublinhar a
ligação entre a amizade e uma nova estética de existência, que vislumbramos
por meio das análises das falas dos velhos estudantes. Como afirma Trindade
(1994):
Ao se considerar a subjetividade um processo que
se engendra no movimento mesmo da práxis, na
permanente inserção e reinserção dos sujeitos nos
espaços tempos sociais e históricos, os velhos, no
exercício da discência vão experimentando e
articulando modos de ser. Sendo a subjetividade,
vivida e assumida, precariamente no próprio
exercício social, ao se inscrever práticas em
determinadas unidades escolares, vai-se
cartografando modos de viver e conviver com o
grupo no qual se exerce a ação da atividade
discente.. Desta forma, a escola constitui o espaço
em que se forjam subjetividades que se mesclam,
se articulam e se introjetam numa musicalidade
intersubjetiva, processando os meios e agenciando
os modos de vida dos sujeitos.
193
Nessa pesquisa, percebemos a importância da amizade como objeto
de reflexão política, social e filosófica, baseando-nos nos estudos do
pensamento de Ortega (2002), de uma genealogia da amizade e nos
pensamentos de Aristóteles (337 a.C.) e Cícero (44 a.C.), entre outros.
A origem da palavra filosofia contém a expressão grega philia, que
significa amizade; a filosofia nasceu da amizade entre os homens que, por sua
193
TRINDADE Rita de Cássia: Vida em vidas: velhos e velhas no espaço escolar Projeto educacional para a
terceira idade Qualidade de vida: um encontro possível, 1994: 68.
145
vez, tinham amizade devido ao elo comum entre eles, a sabedoria. Como afirma
Hadot (1991): “A filosofia é amor e investigação da sabedoria, e a sabedoria é,
precisamente, um modo de vida.”
194
Quando os filósofos falam de amizade entre seres humanos, estão
dizendo algo parecido ao desejo de saber, literalmente traduzido por amigos
pela sabedoria.
Apontamos alguns elementos para uma nova forma de amizade,
entendida como experimentação de novas formas de sociabilidade entre os
velhos. Todos nós sabemos, por experiência própria ou por histórias da vida
cotidiana, das dificuldades encontradas entre os velhos de desenvolverem novos
vínculos relacionais, ou por pressão interna, pessoal (medos, tabus
educacionais e sociais, por exemplo), ou por pressão externa (o que vão pensar
de mim?).
Como afirma Ortega (2000), a pobreza das nossas formas de
sociabilidade e relacionamento se deve, principalmente, a nos encontrarmos
presos a um imaginário que determina nossa forma de interagir afetivamente,
seja no amor, seja na amizade.
Existem imagens dominantes tanto no pensamento
e na política quanto nas relações de amizade. Tais
imagens monopolizam nosso imaginário e
condicionam nossa maneira de pensar, amar, agir
e de nos relacionar afetivamente. Na filosofia, a
imagem ortodoxa corresponde ao pensamento
representativo, cujo domínio desde a modernidade
é incontestável. Na política a imagem dominante
194
HADOT, Pierre, O que é filosofia antiga? 1991:141. Evidentemente não se trata de negar a
extraordinária capacidade dos filósofos antigos de desenvolver uma reflexão teórica sobre os problemas
mais sutis da teoria do conhecimento, da lógica ou da física. Porém essa atividade teórica deve ser situada
em uma perspectiva diferente da que corresponde à representação corrente que se faz da filosofia. Em
primeiro lugar, ao menos desde Sócrates, a opção de um modo de vida não se situa no fim do processo da
atividade filosófica, como uma espécie de apêndice acessório, mas, bem ao contrário, na origem, em uma
complexa interação entre a reação crítica a outras atitudes existenciais, a visão global de certa maneira de
ver e o mundo. O discurso filosófico tem sua origem, portanto, em uma escolha de vida e em uma opção
existencial, e não ao contrario. Em segundo lugar essa decisão e essa escolha jamais se fazem na solidão:
nunca houve filosofia nem filósofos fora de grupo de uma comunidade, em uma palavra, de uma
escola”filosófica; e, precisamente, uma escola filosófica corresponde, nesse caso e antes de tudo, a uma
opção existencial, que exige do indivíduo uma mudança total da vida, uma conversão de todo o ser, e,
finalmente a um desejo de ser e de viver de certa maneira.
146
seria a democracia representativa e a política
partidária, e nas relações de amizade, a da
metáfora familiar. Somente criando alternativas,
seremos capazes de superar as frustrações. Fugir
desse imaginário é tarefa difícil, talvez impossível
que requer uma nova política da imaginação, um
gosto pela experimentação e a criação de algo
novo.
195
Foi em busca de algo novo, através do exercício de uma política de
imaginação, que buscamos compreender o que almejam os velhos estudantes, e
não pudemos deixar de observar um certo paralelismo com as escolas
filosóficas da antiguidade.
Para Aristóteles, discípulo de Platão, a amizade é uma virtude, a
excelência de algo, o objetivo último da vida moral, aquilo que define o ápice de
uma vida corretamente vivida. Saber ser amigo equivale a ser ético. A amizade é
superior à justiça, quando as pessoas são amigas não é necessária a justiça,
mas havendo a justiça, ainda precisamos de amizade.
Segundo esse filósofo, distinguimos três tipos de amizade, que se
baseiam na virtude, no agradável e no interesse, estabelecendo uma hierarquia
entre elas. Só a primeira equivale a uma amizade perfeita (teleia philia), ao
passo que as outras formas são consideradas imperfeitas, acidentais ou
instrumentais.
A amizade perfeita é definida como uma “benevolência recíproca”, em
que o amigo é amado por si mesmo (“em relação a um amigo dizemos que
devemos desejar-lhe o que é bom por sua causa”; EM, 1155b, 30); é um fim em
si mesmo e não um meio para atingir algum fim. A amizade perfeita é, no
entanto, útil e agradável e também permanente no tempo.
Como afirma Ortega (2002) analisando essa questão em Aristóteles:
Presença do amigo não faz somente nos sentirmos
felizes, mas é necessária, não só porque o homem
é um ser social, mas uma vez que, na condição de
agentes, absorvidos na própria ação, não temos a
distância necessária que permite determinar o
195
ORTEGA, Para uma política da amizade: Arendt, Derrida, Foucault, 2000:12.
147
significado e valor pleno das ações e obter o prazer
que acompanha a contemplação das ações boas,
parte constitutiva da felicidade. Por isso, é mais
fácil atingir a felicidade contemplando as ações do
amigo; ações ante as quais podemos ganhar a
distância que permite melhor avaliação e adotar
um ponto de vista externo, de expectador, por
serem ações do outro, mas que, ao mesmo tempo,
reconhecemos como expressão nossa,
precisamente por ser o outro, o amigo, um outro
eu, isto é, idêntico em caráter.
196
Em poucas palavras, Aristóteles afirma que a consciência de si, a
identidade pessoal, se dá através do outro, a contemplação do outro, nossa
imagem especular. Na amizade, o indivíduo se faz outro, sai de si, se objetiva; é
preciso tomar consciência do pensamento e da atividade do outro para ter
consciência do próprio pensamento e da própria atividade, condição da
eudaimonia
197
. Nesse período da vida, a amizade se torna um privilégio, pois é
uma fase de grandes perdas psicomotoras e sociais, mas como diz Jack Messy
(1993), também é um tempo (período) de aquisições, indicando que o
envelhecimento é um processo que se inscreve na temporalidade do indivíduo
do começo ao fim da vida.
Abigair
198
, aluna da PUC/SP, fala do encontro com seus colegas de
sala de aula, pois neste modelo de ensino as classes são formadas apenas com
alunos velhos.
(...) A gente é ouvida e ouve,
E em casa muitas vezes o jovem não tem
paciência de ouvir...
E com as amigas mais ou menos da mesma
idade...
Os problemas são diferentes de nome, mas
são todos parecidos... se entrelaçam...
196
ARISTÓTELES in ORTEGA, Genealogias da Amizade, 2002:41.
197
Eudaimonia (Felicidade), para uma melhor compreensão do tema ler: HOBUSS, João, Eudamonia e
auto-suficiência em Aristóleles, 2002 “...não importa qual seja a nossa situação, se somos ricos ou pobres,
educados ou não, de uma raça, gênero, religião ou outra coisa, todos desejamos ser felizes” Dalai Lama.
198
Abigair, aluna há 8 anos da Universidade aberta da Maturidade da PUC/SP, entrevistada em 12/12/2005.
148
Uma entende a outra, dá certos conselhos.
Você ouve se você quer, você faz se você
quer, se você não faz também não tem
problema,
O importante é que você é ouvida e é
compreendida, não é censurada.
Não é num momento que nos tornamos velhos, mas sim, num processo
de vivência: através das experiências, aquisições e perdas que são
acrescentadas em todos os momentos de nossa existência, e não somente na
velhice; portanto, o vínculo de amizade criado na sala de aula, nas atividades
extra-classe, promovida pelas universidades estudadas, propicia um novo
momento de viver a amizade entre os velhos estudantes. Como afirma Nadia
199
,
refletindo sobre sua vida social:
Eu criei novas amigas que estavam, vamos
dizer, passando por problemas semelhantes,
né? Algumas divorciadas, outras viúvas, outras
solteiras, né?
Então a gente começou a viver os mesmos
interesses, vivendo a mesma fase e daí foi um
pulo!
Pra combinar viagens, programas, então, a
gente freqüenta, vai... faz assim um jantar na
casa de uma, de outra, convida, alguma festa
ou outra e a gente se vê quase que
semanalmente fora da faculdade, né? Vai ao
cinema, vai ao teatro...
No depoimento da aluna, a amizade surge no encontro do outro com o
seu eu, existe uma idéia de aproximação por afinidade. Isso nos induz a refletir
sobre esta vivência, fazendo surgir as lembranças das experiências vivenciadas
com os parceiros reconhecidos e intitulados como amigos.
A consciência de si é precedida da consciência do outro, a percepção
do amigo é a forma privilegiada da percepção e da consciência de si. Assim, na
199
Nadia, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 30/05/2006.
149
Ética a Eudemo,
200
Aristóteles pode afirmar que “perceber um amigo deve ser,
de certo modo, perceber-se a si mesmo e conhecer-se a si mesmo”.
Encontramos uma observação semelhante na Magna Moralia (1213ª, 16-24):
Quando desejamos ver nosso rosto, fazemo-lo
olhando para o espelho, da mesma maneira,
quando desejamos conhecer a nós mesmos,
podemos obter esse conhecimento olhando para
nosso amigo.
201
Portanto, foi no encontro do outro, dos iguais, como nos diz Aristóteles
na citação acima, quando desejamos nos conhecer, olhamos para o nosso
amigo, que Nadia percebeu quem era, que tinha apoio das amigas de sala de
aula, que tinham passado por momentos parecidos de vida e que, ao se
encontrarem na Universidade, sentiram-se apoiadas umas pelas outras.
Claramente, percebemos que, ao traçarmos esse tipo de
entrelaçamento imaginativo, temos plena consciência do tempo histórico e de
como era a sociedade na época de Aristóteles, quando a virtude, “o homem
virtuoso”, era analisada e vivenciada de forma completamente diferente da
atualidade, mas ao fazermos esse exercício ampliamos a visão da amizade
entre os velhos estudantes e o seu cotidiano, acreditando que esses alunos
estão em busca de sabedoria, de aprendizagem, lutando e quebrando vários
paradigmas, e buscando – por que não? serem virtuosos.
Ao ser perguntada sobre o seu dia-a-dia na Universidade, Miriam
202
,
afirmou:
(...) Eu acho que a nossa convivência
enriquece muito a vida da gente,
200
Obras doutrinais de Aristóteles IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez livros,
provavelmente publicada por Nicômaco, seu filho, ao qual é dedicada; a Ética a Eudemo, inacabada,
refazimento da ética de Aristóteles, devido a Eudemo; a Grande Ética, compêndio das duas precedentes,
em especial da segunda; a Política, em oito livros, incompleta. Site pesquisado,
http:/www.mundodosfilosofos.com.br/aristoteles.htm.
201
ARISTÓTELES in ORTEGA, Genealogias da Amizade, 2002: 42.
202
Miriam, aluna da PUC/SP há oito anos, entrevistada em 12/12/2005.
150
A experiência de uma, de outra, enriquece
muito a gente e a gente aprende a ver as
pessoas sob outra dimensão, outra
proporção... isso é a nossa prova.
Você aprende a respeitar as diferenças...
Você aprende a respeitar as diferenças e não
a medir a pessoa só pelo que você viu...
Existe um tipo de amizade que acontece nesse espaço público, na
Universidade, pois eles são colegas de escola, são colegas de classe, são
relações que não têm uma hierarquia, mas que as pessoas vivem a partir de
determinados valores. Podemos então concluir por meio das palavras de
Aristóteles que:
(...) da mesma forma que para os amantes a visão
da pessoa amada é o que há de mais agradável, e
eles preferem a satisfação que lhes proporciona o
sentido da vista às satisfações através de qualquer
dos outros sentidos, porque o sentido da vista é a
sede e a origem do amor, pode-se então concluir,
repetimos, que para os amigos o que há de mais
desejável é a convivência? Com efeito, a amizade
é uma parceria, e uma pessoa está em relação a si
própria da mesma forma que em relação ao seu
amigo; em seu próprio caso, a consciência de sua
existência é um bem, e portanto a consciência da
existência de seu amigo também o é, e a atuação
desta conscientização se manifesta quando eles
convivem; é portanto natural que eles desejem
conviver. E qualquer que seja a significação da
existência para as pessoas e seja qual for o fator
que torna a sua vida digna de ser vivida. Elas
desejam compartilhar a existência de seus amigos;
sendo assim, alguns amigos bebem juntos, outros
jogam dados juntos, outros se juntam para os
exercícios de atletismo ou para a caça, ou para o
estudo da filosofia (synphilosophousin), passando
seus dias juntos na atividade que eles mais
apreciam na vida, seja ela qual for; de fato, já que
os amigos desejam conviver, eles compartilham as
coisas que lhes dão a sensação de convivência.
203
203
ARISTOTELES em, 1171b, 30-1172ª, 5 in ORTEGA, Genealogias da Amizade, 2002: 43.
151
A amizade em sala de aula traz em seu âmago a aprendizagem, são
amigos que se unem através do conhecimento e da busca de novas
experiências estudantis. Amigos pelo desejo de saber... Amigos pela
sabedoria...“velhos” amigos em busca da sabedoria...Como diz Nadia
204
:
Tanto que eu estou lá até hoje.
Eu me encontrei porque eu sempre gostei de...
Dos bancos escolares, eu sempre gostei de
estudar. E... teve uma época que não gostava
tanto de estudar como gostava da escola,
Então você se acostuma com aquele ambiente
de coleguismo e a fazer amizade e tal,
E realmente pra mim é ótimo porque eu
encontrei as duas coisas lá.
A gente encontrou assim um ambiente amigo,
camarada, e conhecimento...
Muito conhecimento...
Ortega (2002), de forma geral, queria mostrar que a amizade é uma
manifestação que não se comporta uniformemente no tempo e no espaço.
Segundo seus estudos, a genealogia da amizade ajuda a compreender como a
amizade (a qual tinha uma função fundamental na organização sócio-política e
cultural das civitas da antiguidade greco-romana, e que continuou, sendo um
elemento significativo no tecido social e relacional da modernidade que ligavam
os indivíduos entre si) foi progressivamente desaparecendo do espaço público,
deslocando-se cada vez mais para a esfera privada e doméstica, e sendo,
posteriormente, integrada à família nuclear. Em seus estudos, ele tentou mostrar
como o declínio da amizade nas sociedades contemporâneas está ligado aos
processos de despolitização e familiarização do privado. Como afirma Ortega
(2002):
Um processo que demora vários séculos para se
concluir, provocado por uma série de fatores, tais
como a incorporação do amor e da sexualidade no
matrimônio, a incidência de um dispositivo
biopolítico sobre a família, o novo papel
204
Nadia, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 30/05/2006.
152
centralizador do Estado, a passagem de um
dispositivo da aliança para um dispositivo da
sexualidade e do erotismo para a sexualidade, a
medicalização da homossexualidade, a invenção
da infância e da adolescência, etc. Todos esses
fatores promoveram no século XIX a hegemonia da
família nuclear e o declínio das práticas e da
reflexão sobre a amizade na sociedade moderna
205
Percebemos como para Maitinha
206
, a relação família e amizade está
enraizada nesta nossa entrevistada, que relaciona a amizade estabelecida na
universidade com a mesma de seu grupo familiar. Quando perguntada por que
freqüentava a PUC/SP há quinze anos, ela afirmou:
Nas aulas da PUC parece que somos parentes
sabe,
(...) O estudo é uma família também porque...
minhas colegas são minhas amigas...minha
família.
Elas se preocupam comigo...me ligam se falto
algum dia.
Para Lélio (1997)
Em suma, decidiremos, como se diz, com o nosso
bom senso primário. Todas as pessoas que, em
sua conduta, em sua vida, deram prova de
lealdade, de integridade, de equidade, de
generosidade, que não trazem dentro de si
cupidez, nem paixões, nem inconstância, e são
dotadas de uma grande força da alma, (...) podem,
penso eu, ser contadas como pessoas de bem,
isso as caracteriza, já que elas seguem tanto
quanto um ser humano é capaz, a natureza, que é
o melhor dos guias para viver de maneira correta.
Nesse sentido, penso discernir que somos feitos
para que exista entre todos os humanos algo de
social, e tanto mais quanto os indivíduos têm
acesso a uma proximidade mais íntima. Assim,
nossos concidadãos contam mais para nós que os
estrangeiros; nossos parentes próximos, mais que
205
ORTEGA, Genealogia da Amizade, 2002:15.
206
Maitinha, aluna da PUC/SP há 15 anos, entrevistada em 01/12/2005.
153
as outras pessoas. Entre parentes, a natureza
dispôs, com efeito, uma espécie de amizade, mas
ela não é de uma resistência a toda prova. Assim a
amizade vale mais que o parentesco, em razão de
o parentesco poder se esvaziar de toda afeição, a
amizade não: retire-se a afeição, não haverá mais
amizades digna desse nome, mas o parentesco
subsiste.
207
para Maria do Carmo
208
, a relação de amizade ultrapassa as
barreiras familiares, quando nos conta:
(...) uma vez eu falei pra elas...
Numa hora em que nós nos reunimos, nós nos
abraçamos,
Eu recebi delas uma energia tão forte,
Que me chocou...então você consegue captar
isso às vezes, né?
Então acho que você saindo de casa,
Saindo daquele ambiente familiar, que é ótimo,
mas você conseguindo..
Segundo Ortega (2002), perante a amizade criativa e erótica do amor-
philia
209
platônico, a dissociação do Eros permite Aristotéles afirmar que a
amizade é “em efeito, uma virtude ou vai acompanhada de uma virtude
(EM,1155ª,1-5) e assim estabelecer a ligação com a discussão da eudaimonia,
pois a virtude é uma condição fundamental da felicidade. A amizade é parte
estruturante da felicidade, entendida como “vida boa e boa conduta” (EM,
1098b,20). Os amigos apóiam nossa boa conduta como companheiros e como
objeto de ação virtuosa; a vida compartilhada com o amigo contribui para a
207
LÉLIO, in CÍCERO, Saber envelhecer, 1997: 84. Cícero: Guardei na memória, com nitidez, a substancia
dessa conversação, que exponho aqui, neste livro, `a minha maneira: nele introduzi, de certo modo, os
próprios interlocutores, para evitar a intervenção demasiado freqüente de “eu disse” ou “ele disse” e, para
dar a impressão dos protagonistas conversarem diante de nos. Gostaria que por um momento, desviasse de
mim, que imaginasses ouvir discorrer o próprio Lélio, (88 a.C.). Toda a dissertação da amizade ‘e dele, e ao
lê-la descobriras a ti mesmo.
208
Maria do Carmo, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 12/12/2005.
209
Amor-philia: A reflexão sobre philia permeia a totalidade do corpus platônico; o caráter dialógico de seu
pensamento coloca a amizade na base da procura pela verdade ORTEGA, Genealogia da amizade,
2000:25. De maneira geral, desde Homero, as palavras compostas em philo - serviam para designar a
disposição de alguém que encontra seu interesse, seu prazer, sua razão de viver, na dedicação a essa ou
aquela atividade. HADOT; O que é filosofia antiga, 2004: 37.
154
realização da excelência moral, na base da felicidade, pois a amizade cria uma
arena para a expressão da virtude. Assim como afirma Tereza
210
:
Você fica presa a uma televisão, a ver
receitas, programas que não te levam a nada,
porque não tem, você liga a televisão durante
o dia você não aprende nada então eu acho
que você só tem a aprender saindo, e acho
que todo mundo, eu estou com 61 vou fazer 62
o ano que vem, eu acho que você cada vez
mais precisa... nós temos uma experiência lá
da Vitorina, que está com 75 anos, 74 vai fazer
75, e essa é para nós um exemplo pra mim,
principalmente, um exemplo de vida ótimo.
Porque se eu chegar aos 75 com essa cabeça
que ela está, a gente vai aprender muito
entende...
A vida, compartilhada com o amigo, contribuí para a realização de uma
mudança de estilo de vida. Como continua Tereza:
211
uma colega aí.. que ela entrou aqui, parecia
uma pessoa de mal com o mundo, ela brigava
com todo mundo, ela... tudo era ruim, ela
brigava comigo, essa mulher mudou do dia pra
noite, de uma maneira que você não
acredita!...
Nesse contexto do mundo contemporâneo, existe uma relação entre as
qualidades de seus amigos, com a ação virtuosa compreendida entre os gregos,
revelando para esses velhos estudantes possibilidades de mudança de vida,
aprendendo através das qualidades que identifica no outro, nos seus iguais,
colegas de sala e professores. Como afirma Jeanette:
212
210
Tereza, aluna da PUC/SP há 7anos, entrevistada em 01/12/2005.
211
Tereza, aluna da PUC/SP há 7anos, entrevistada em 01/12/2005.
212
Jeanette, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 13/12/2005.
155
elas mudam por que tem outras experiências,
e algumas matérias, matérias, alguns módulos,
então eu acho que ela assim... as vivências, a
nossa vivência, ela melhorou assim, ela
melhorou uns 98%, porque quando ela entrou
aqui, ela falava assim com você, ela achava
todo mundo antipática e ela.... e ela dizia... eu
sou brava e sou ruim. Hoje em dia ela já fala
que ela gosta do filho dela, ela gosta do neto,
ela gosta de sair com a gente. Antes ela não ia
no aniversário de ninguém, o no passado ela
foi no aniversário da minha casa e ela gostou,
ela riu, ela contou piada.
Concordamos com Lélio (1997):
(...) De minha parte, tudo o que posso fazer é vos
incitar a preferir a amizade a todos os bens desta
terra; com efeito, nada se harmoniza melhor com a
natureza, nada esposa melhor os momentos,
positivos ou negativos, da existência
213
Essa afirmação de Lélio vem ilustrar a realidade vivida por Jeanette
214
;
aluna que sofria de depressão e nos contou sua história, quando perguntada na
entrevista sobre seu interesse pela universidade:
Eu acho que nós formamos uma amizade que
tem muita troca, na faculdade. Nós estamos
melhorando, internamente nós melhoramos
muito...Eu era muito exigente e eu acho que
hoje em dia eu não posso ser mais assim, Não
exigir tanto das pessoas,
O que eu acho que é certo pra mim, pra eles
não é...
(...) Eu não me interessava pela faculdade, e
sim mais pelas amizades,
Na realidade eu nem me interessava muito
pelo que eles (professores) falavam...Iá nos
passeios também assim...por ir, tudo por ir.
213
LÉLIO, in CÍCERO, Saber envelhecer, 1997:83.
214
Jeanette, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 13/12/2005.
156
E depois, aí eu fui mudando, ainda estou na
terapia até hoje. Já faz 5 anos que eu estou
com psiquiatra e agora eu vou a cada três
meses e...
Agora eu sou...voltei a ser quem eu era antes.
Com vontade de passear, de me arrumar,
minha auto-estima esta lá em cima, Eu me
sinto feliz, hoje em dia eu sou
feliz...
Fiz amizade, bastante amizade, entendeu.
Com pessoas da mesma idade.
É...é...com pessoas da mesma idade...eu acho
que foi muito bom... Foi o melhor caminho...
Se eu não tivesse procurado a faculdade eu
não sei talvez...
A faculdade, a integração com as pessoas, eu
fiz muitas amizades entendeu, E acho que
tudo isso ajudou, ajudou muito.
Na relação de amizade, elas sentem-se valorizadas. Nesse tipo de
universidade, os alunos têm a mesma idade e encontram pessoas com histórias
de vida semelhantes, dificuldades e problemas parecidos. Em que outro lugar
encontrariam isso? Como afirma Tereza:
215
:
Aqui eu renasci, eu remocei, eu tive novos
crescimentos, novas amizades porque é uma
classe maravilhosa. As amizades que eu tenho
aqui é pra gente guardar pra sempre porque
são amizades, assim, especiais. Coisa que eu
nunca, nem sabia o que era isso, entende, eu
nunca, nunca tive nada disso, então, agora eu
estou encontrando, encontrando meu espaço,
meu caminho, dentro do limite, entende, então,
com a graça de Deus, eu estou conseguindo.
Como afirma Ortega (2002)
216
: a amizade é um fenômeno público,
precisa do mundo e da visibilidade dos assuntos humanos para florescer. Nosso
apego exacerbado à interioridade, à “tirania da intimidade”, não permite o cultivo
215
Tereza, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 01/12/2005.
216
ORTEGA, Genealogias da Amizade, 2002:162.
157
de uma distância necessária para a amizade, já que o espaço da amizade é o
espaço entre os indivíduos. Como afirma Marlene:
217
É, eu acho que aqui sempre acrescenta mais,
pra cultura, pra convivência, pra aprender
também muito, a gente aprende muito, até
num papo assim do lado, a gente sempre
aprende alguma coisa..
...com a colega, sempre acrescenta, às vezes
batendo um papo a gente resolve até os
problemas da gente, é muito bom...mais
pessoas que pudessem...envolvidas, né?
Dentro dessa...acho que seria, assim, bem
legal, expandir mais essa...tem pessoas que
se acomodam e não tem vontade de levantar e
fazer alguma coisa, né? Acho que precisa
motivar.
A amizade precisa do mundo compartilhado, espaço da liberdade e do
risco, das ruas, das praças, dos passeios, dos teatros, dos cafés, e não o
espaço dos nossos condomínios fechados e nossos shopping-centers, meras
próteses que prolongam a segurança do lar. Um deslocamento da ideologia
familiarista e a correspondente reabilitação do espaço público permitiriam que
uma estilística da amizade fosse um experimento social e cultural plausível.
Intensificando nossas redes de amizade podemos reinventar o político. Como
afirma Arendt (1997):
(...) somente podemos ter acesso ao mundo
público, que constitui o espaço propriamente
político, se nos afastarmos da nossa existência
privada, e do pertencimento à família, a que nossa
vida está unida.
218
217
Marlene, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 13/12/2005.
218
ARENDT, Hannah, Qué es la política? 1997:45. Trata-se de uma questão fundamental, no centro de
uma possível re-politização da amizade para além dos vínculos familiares e fraternais, ORTEGA,
Genealogias da amizade, 2002: 45.
158
A idéia de amizade na cultura contemporânea corresponde a
determinados valores, relacionados à sociedade grega como justiça, coragem,
lealdade e integridade, acreditamos que na atualidade esses valores são
estruturados para esses alunos como companhia, preocupação com o outro,
compartilhar as coisas que são comuns, fazer trocas de experiências de vida. O
lazer para os gregos era estar no meio dos seus iguais, correspondentemente
como é para os velhos estudantes. Como afirma Teresa:
219
(...) este ano assim com uma turma muito boa
também,
E comecei a ir no cinema, que eu não ia,
Começamos a fazer passeios, que eu não
fazia,
Porque eu só trabalhava e era banco e casa...
Tomava conta dos meus filhos tudo e era só
isso. Não tinha amizades,
Não conhecia ninguém fora o meu trabalho...
E no trabalho eu não tinha amizades eu tinha
colegas ta! E era aquilo lá você trabalhou era
oi e tchau e acabou.
Então isso foi me despertando...
E gostando a ponto de passar pras pessoas
que realmente era interessante,
E é por isso que não quero parar de ficar na
faculdade, Porque eu tenho amigas agora.
Tereza, em sua fala, nos conta que sua vida era limitada, casa-
trabalho, casa-filho, todo o seu universo correspondia à casa, ao trabalho e aos
filhos, que seus parceiros de trabalho eram apenas colegas, e que foi a partir de
sua inserção na Universidade, durante esses sete anos de convívio com seus
pares, seus iguais, suas amigas, que ela pôde se sentir mais inteira, livre para
passear, se conhecer e estudar. Como ela mesma diz (...) então eu acho que a
gente só tem a aprender...
219
Tereza, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 01/12/2005
159
3.2.2 A relação entre o público e o privado (família)
“ A função de âmbito publico é iluminar os
acontecimentos humanos ao fornecer um espaço
das aparências, um espaço de visibilidade, no qual
homens e mulheres podem ser vistos e ouvidos e
revelar mediante a palavra e a ação quem eles
são. Para eles, a aparência constitui a realidade,
cuja possibilidade depende de uma esfera publica
na qual as coisas saiam da escura e resguardada
existência.”
Hannah Arendt
220
A relação entre os espaços público e privado baseou-se nas análises
das entrevistas realizadas, nas quais os pesquisados relataram terem percebido
que, ao iniciarem seus estudos nas Universidades da Terceira Idade, suas
relações familiares melhoraram; eles passaram a se sentir mais valorizados e
respeitados. Analisaremos esta valorização na sua relação com a aquisição do
conhecimento, por meio do retorno à vida estudantil (a universidade),
ressaltando o resgate da auto-estima para esses alunos.
Ao voltarem a estudar, eles estão constituindo um espaço de
sociabilidade, que é um espaço diferente daquele no qual esse público
tradicionalmente estava inserido e, para isso, existem vários facilitadores, como
não se exigir que eles (alunos) tenham concluído o segundo grau e os cursos
não terem sistema de provas. Como afirma Olga
221
:
é...a gente...percebe...ninguém quer ser só
avó, ninguém que ser só mulher, você pode
ser uma pessoa polivalente, você pode ser
uma ótima avó, mas não em período integral,
eu sempre achei isso um absurdo, tá certo,
você querer voltar a ser mãe quando você já é
avó, você não vai ser nem uma coisa nem
outra porque.. .quando você começa a abaixar
muito, quando você abaixa demais mostra o
220
ARENDT, Hannah, A condição humana, 2001: 32.
221
Olga, aluna da USP há 8 anos, entrevistada em 20/07/2006.
160
que não precisa então, antes que as pessoas
comecem a ocupar o seu espaço, você se
posicione e tal, 2ª e 4ª a mamãe tem um
compromisso, e se pede antes, você
poderia...não sendo o dia da minha aula e não
sendo uma coisa grave, está certo, isso é uma
maneira também de você se impor...
Esses espaços universitários são, predominantemente, formados por
mulheres que têm uma origem comum: vieram da vida doméstica, criaram
seus filhos, e, mesmo que algumas tivessem sido profissionais e com curso
superior, mantiveram-se fora, na sua maioria, de qualquer atividade no espaço
público, com pouca inserção no mercado de trabalho e na vida social. Como
nos diz Paula
222
:
Eu acho que a faculdade da 3ª idade ainda
propicia, às pessoas de idade, o
preenchimento de vida sem depender da
família, se não, você pode se tornar um idoso
que depende de tomar conta de um neto, de
fazer um favor pra uma amiga, pra poder ter a
sua vida preenchida, quando os filhos estão
fora de casa levando a sua própria vida
autônoma.
Então a faculdade também preenche, ajuda
você a ter vida própria.
A partir do momento em que freqüentam as universidades, os alunos
vão criando uma série de laços de solidariedade, de sociabilidades distintos.
Para uma melhor compreensão, desenvolvemos a nossa linha de análise
apoiada nas pesquisas de Arendt (2001), pois como a autora esclarece:
(...) tudo o que os homens fazem, sabem ou
experimentam só tem sentido na medida em que
pode ser discutido. Haverá talvez verdades que
fiquem além da linguagem e que podem ser de
grande relevância para o homem no singular, isto
é, para o homem que, seja o que for, não é um ser
político. Mas os homens no plural, isto é, os
homens que vivem e se movem e agem neste
222
Paula, aluna da PUC/SP há 8 anos, entrevistada em 13/12/2005.
161
mundo, só podem experimentar o significado das
coisas por poderem falar e ser inteligíveis entre si e
consigo mesmos.
223
Percebemos a importância das universidades para os idosos quanto a
relação com o desenvolvimento do cidadão, na qual os alunos, através da
validação do conhecimento na faculdade, levam para sua rede de vida privada
suas opiniões e conhecimentos, que muitas vezes já não eram ouvidas ou
validadas. Como afirma Abigair
224
:
... exatamente, e outra coisa, quando a gente
se reúne em família, que estão os filhos e os
netos, ninguém vai dizer a vovó não entende
nada...
Pelo contrário, entende, vovó entende mais!
aí você começa a se sentir uma pessoa que
existe, não é aquela velhinha, que é vamos
apagar a velhinha e você se enfia embaixo da
mesa, porque você fica o que...ah, a vovó está
desatualizada, é isso que eu não queria ser...
Os alunos perdem o medo e se sentem seguros, quando apoiados pelo
conhecimento e na convivência com os iguais (estudantes na mesma faixa
etária). Segundo Arendt (2001), todos os aspectos da vida humana têm relação
com a política.
Todos os aspectos da condição humana têm
alguma relação com a política, mas esta
pluralidade é especificamente a condição – não
apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per
quam – de toda vida política. Assim, o idioma dos
romanos – talvez o povo mais político que
conhecemos – empregava como sinônimas as
expressões «viver» e «estar entre os homens»
(inter homines esse), ou «morrer» e «deixar de
estar entre os homens» (inter homines esse
desinere)
225
.
223
ARENDT, A condição humana, 2001:12.
224
Abigair, aluna da PUC/SP há 8 anos, entrevistada em 12/12/2005.
225
ARENDT, A condição humana, 2001: 15.
162
Dessa maneira, acreditamos que, ao freqüentarem a universidade, os
alunos sentem-se mais vivos, como afirma Abigair
226
:
Eu acho que em certos casos a gente não
discute de igual pra igual não, a gente discute
até com superioridade, porque a gente tem
uma outra maneira de encarar, não é a
maneira da juventude, então a gente no final
das contas você conduz até a modernidade
melhor do que eles. Com amparo e com o
suporte de um estudo que nós fazemos na
PUC, que não aprofunda, que é uma coisa
superficial, mas que te dá uma base.
Para Arendt (2001), o termo «público» significa aquilo que pode ser
visto e ouvido por todos e pode ter a maior divulgação possível. Por outro lado, a
aparência daquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos constitui
a realidade. Até mesmo as maiores forças da vida íntima, as paixões, os
pensamentos, os deleites dos sentidos, para esta autora, vivem uma espécie de
existência incerta e obscura, até que sejam transformadas, desprivatizadas e
desindividualizadas, por assim dizer, de modo a se tornarem adequadas à
aparição pública. Como afirma Tereza
227
:
Nossa!!! Tudo, tudo é um desafio!!! Mesmo na
família...tô ótima tudo é bom nas aulas, tudo
se aprende...tudo! Na família eles me
chamam de mestra!! Porque eles acham que
eu dou palpite em tudo, que eu fico repetindo
as aulas. Em reuniões da família eu fico
repetindo o que eu escuto dos professores
então todo mundo...nossa!!!... quando eu falo...
nossa como estou importante!!!
226
Abigair, aluna da PUC/SP há 8 anos, entrevistada em 12/12/2005.
227
Tereza, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 01/12/2005.
163
Tereza se sente importante pelo fato de ser ouvida, saindo, assim, do
anonimato, tendo o seu conhecimento e as suas idéias valorizados pela família,
pois assim ela se reafirma como ser social. Como afirma Arendt (2001):
(...) Toda vez que falamos de coisas que só podem
ser experimentadas na privacidade ou na
intimidade, trazemo-las para uma esfera na qual
assumirão uma espécie de realidade que, a
despeito de sua intensidade, elas jamais poderiam
ter tido antes. A presença de outros que vêem o
que vemos e ouvem o que ouvimos garante-nos a
realidade do mundo e de nós mesmos.
228
É isto o que acontece na sala de aula: os alunos participam e são
ouvidos pelos professores através das diferentes metodologias empregadas
229
.
Sentem-se importantes, pois percebem que suas histórias de vida são
valorizadas pelos seus parceiros (alunos, professores e coordenadores), dando,
assim, novos significados a sua vida e a suas experiências. Conforme afirma
Olga
230
:
(...) enquanto elas estavam falando, eu estava
pensando...eu, eu não sei se eu mudei mas,
um aspecto pra mim é fundamental, que eu
percebo o respeito num círculo muito maior,
primeiro hoje de mim pelas outras pessoas e
principalmente num círculo menor que é a
família, como eu falei pra você, eu sou muito
ligada à família. Existe toda uma postura
respeitosa deles em relação a mim, pode ser
que eu até modifiquei um pouco meu discurso,
não sei, ele é pequeno mas existe....mas, eu
percebo isto então, o respeito das pessoas,
principalmente dos que estão mais próximos
de mim então, quando eu falo alguma coisa,
então é aquela coisa assim... mas você
228
ARENDT, A condição humana, 2001: 60.
229
Através de entrevista com professores das universidades pesquisadas, foram relatadas metodologias
aplicadas em suas aulas: como oficina de memória, dramatização, construção de poesia de textos,
confecção de livro sobre a história de suas vidas, árvore genealógica, resgate de história de vida, trabalho
com fotos de infância, fotos da família, fotos na transformação do tempo de vida etc.
230
Olga, aluna da USP há 8 anos, entrevistada em 20/07/2006.
164
aprendeu isso lá na USP?, eu digo, olha não é
tudo que eu aprendi na USP, mas ela me abriu
um pouco a cabeça, os olhos e é toda uma
postura que me faz realmente aumentar o
leque então, eu percebo que, realmente, esse
respeito maior existe...”.
A universidade trouxe o desenvolvimento em relação a sua vida, um
aprimoramento, a valorização dentro da vida privada (no âmbito familiar). Como
nos diz Lúcia
231
:
(...) então a gente percebe, a gente percebe
que nós buscamos é assim...é ter qualidade
pra poder mostrar para os nossos maridos,
pros nossos filhos, pros nosso netos, que nós
não estamos paradas no tempo, como era
antigamente, que a gente via, eu mesma, a
minha mãe muito amarrada... eu mesma,
quando eu entrei o professor que vocês
conhecem, o que a Tereza falou agora há
pouco, ele dava aula, eu lembro as meninas
até riram de mim, eu não falava nada eu era
super quieta. Aí uma vez, ele comentando
sobre os vulcões, eu comentei que eu sou da
Ilha dos Açores e também fui viajar e vi os
vulcões. Ele olhou pra mim, simplesmente ele
parou assim, olhou pra mim, elas são
testemunhas, não acredito, te dou aula há não
sei quanto tempo é a primeira vez que eu
escuto a tua voz, ele fez isso, foi verdade...é.
Então, poxa vida, eu agora eu já brinco, elas
mesmo falam: ah você mudou muito!, e eu to,
não que eu mudei...eu era assim, é que a
própria vida de ficar dentro de casa, eu era
uma pessoa alegre, brincalhona, você parece
que vai murchando, então acho que reviveu
tudo dentro de mim novamente.
A aluna faz uma reflexão, afirmando não ter realmente mudado, mas
sim resgatado o jeito antigo de ser, anterior à sua vida de dona de casa. Quando
231
Lucia, aluna da USP há 5 anos, entrevistada em 20/07/2006.
165
afirma que ficava em casa murchando... era isto que sentia, não sentia que
estava evoluindo, mas quando começou a freqüentar a universidade, saiu do
mundo privado e adentrou o universo público (escola), apropriando-se de si
mesma, descobrindo um discurso próprio e introduzindo-o no seu mundo
privado, como ela mesma comenta na entrevista:
232
Eu vejo assim... as pessoas me ouvem mais,
porque eu também falo mais e têm coisas mais
interessantes... eu participo das coisas que eu
vivencio aqui, a gente troca muita idéia, eu
com as minhas noras, principalmente uma
delas, a gente discute muito assim.. ponto de
vista porque ela também tem três filhos e
alguma coisa que eu aprendo aqui eu passo
pra ela em casa, pras minhas noras, isso aí
acabou unindo mais, eu acredito que melhorou
bastante nessa parte também... agora eu
converso com o meu marido...
Segundo Arendt, (2005):Sempre que a relevância do discurso entra
em jogo, a questão torna-se política por definição, pois é o discurso que faz do
homem um ser político”. Como reflete Tereza:
233
Não, antes não, antes eu nem sabia... que,
que eu era antes...?, uma no meio da
multidão... é.. era só dona de casa.
Me sinto importante... agora vai ter um almoço
muito importante que se não me engano vai
até o prefeito e, na sexta feira eu vou trabalhar
o dia todo, vou ajudar lá, vamos preparar o
almoço...não. Antes da faculdade eu não fazia
nada... não... fazia, costurava, era mais dona
de casa, era mais dona de casa...
Inclusive as crianças diziam: - minha mãe não
trabalha. Ela só fica em casa o dia inteiro.
232
Lucia, aluna da USP há 5 anos, entrevistada em 20/07/2006.
233
Tereza, aluna da PUC há 5 anos, entrevistada em 01/12/2005.
166
Para essa aluna, a universidade trouxe um desenvolvimento em
relação a sua vida privada, um aprimoramento, uma valorização, pois, para um
grupo de alunas, viver o universo dentro da vida privada era uma questão
complicada, já que o poder se encontra na mão de quem tem dinheiro, de quem
sustenta a casa, e como elas eram, muitas vezes, proibidas de trabalhar... (fora
de casa), não tinham poder, nem de expressar idéias, nem de proferir opiniões.
Como nos conta Ignes:
234
É a colocação. Houve uma época em que se
dizia que a dona de casa não fazia nada,
ficava em casa, então essa era a colocação,
né?
E meu marido dizia: mulher minha não
trabalha fora... Eu sou macho...mulher minha
eu sustento!
E quando essas alunas sentem-se mais fortes, com a auto-estima mais
elevada, mais motivadas e com mais saber, sentem-se como “homens no plural”
(segundo Arendt, 2001), agindo no mundo. Como afirma Dina
235
:
... eu me senti mais livre, as amarras que a
gente tinha em relação à sociedade, a muita
coisa, mesmo em relação aos professores,
professores abrindo a cabeça da gente falando
que nós temos condições de viver sozinhas,
não digo sozinha mas, de caminhar por si
própria, eu achei isso muito válido, pra mim foi
muito importante, por isso que eu continuo até
agora...
Conforme afirma Arendt (2001):
A condição humana compreende algo mais que as
condições nas quais a vida foi dada ao homem. Os
234
Ignes, aluna da USP há 7 anos e meio, entrevistada em 01/12/2005.
235
Dina, aluna da PUC/SP há 7 anos e meio, entrevistada em 12/12/2005.
167
homens são seres condicionados: tudo aquilo com
o qual eles entram em contato torna-se
imediatamente uma condição de sua existência. O
mundo no qual transcorre a vita activa consiste em
coisas produzidas pelas atividades humanas, mas
constantemente, as coisas que devem sua
existência exclusivamente aos homens também
condicionam os seus autores humanos. Além das
condições nas quais a vida é dada ao homem na
Terra e, até certo ponto, a partir delas, os homens
constantemente criam as suas próprias condições
que, a despeito de sua variabilidade e sua origem
humana, possuem a mesma força condicionante
das coisas naturais. O que quer que toque a vida
humana ou entre em duradoura relação com ela,
assume imediatamente o caráter de condição da
existência humana. É por isto que os homens,
independentemente do que façam, são sempre
seres condicionados.Tudo o que espontaneamente
adentra o mundo humano, ou para ele é trazido
pelo esforço humano, torna-se parte da condição
humana.
236
Portanto, essas alunas só percebem o seu valor social, a partir do
momento em que se apropriam de um discurso, começam a se valorizar e elevar
a auto-estima, como revelado no tema a seguir... e nas palavras de Ignes:
237
Não. Não satisfez totalmente porque a gente
tentava se realizar através do marido e dos
filhos, graças a Deus os filhos foram bem
criados e bem orientados e, realmente são
motivo de orgulho, mas... a gente não pode
transferir uma ansiedade da gente pra ser
satisfeita com a valorização de terceiros. Há
uma necessidade de haver um
reconhecimento, um mérito pessoal, o que
fazia muita falta que eu acho que faz pra nós
dona de casa é justamente levantar o ego,
trabalhar o emocional, auto-estima,
236
ARENDT, A condição humana, 2001:17.
237
Ignes, aluna da USP, entrevistada em 01/12/2005.
168
valorização da auto-estima, né?, porque você
sempre estava ali pra prestação de serviço!...
3.2.3 O cuidado de si
Eu sou eu, eu me conheço, eu me quero”
Santo Agostinho
238
Percebemos, por meio das entrevistas, que algumas Universidades
têm em seu elenco de disciplinas matérias que instigam a prática do que
podemos chamar de “cuidado de si” que, segundo os pesquisados, fazem com
que esses alunos reflitam sobre as suas práticas de vida.
Gostaríamos, então, de tomar, como ponto de partida, a compreensão
da noção do “cuidado de si mesmo” nos tempos atuais. Com este termo
Foucault tentou traduzir um conceito grego bastante complexo e rico, que
perdurou longamente em toda a cultura grega, a de epiméleia heautoû
239
, mais
precisamente, a elucidação dessa temática.
. Podemos objetar que, para estudar as relações entre sujeito e
verdade, é sem dúvida, um tanto paradoxal e sofisticado escolher esta noção,
pois todos sabemos, todos dizemos, todos repetimos, e há muito tempo, que a
questão do sujeito (questão do conhecimento do sujeito, do conhecimento do
sujeito por ele mesmo) foi originariamente apresentada em uma fórmula
totalmente diferente, em um preceito totalmente diverso: a famosa prescrição
délfica do gnôthi seauton
240
(“conhece-te a ti mesmo”).
238
SANTO AGOSTINHO in MORIN, E. O Método- 3. O conhecimento do conhecimento, 1999:63.
239
Epiméleia heautoû - que os latinos traduziram, por algo assim como cura sui. Epiméleia heautoû é o
cuidado de si mesmo, o fato de ocupar-se consigo, de preocupar-se consigo. O cuidado de si vai ser
considerado, portanto, como o momento do primeiro despertar. Situa-se exatamente no momento em que os
olhos se abrem, em que se sai do sono e se alcança a luz primeira. FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito
2004: pp. 4 -15.
240
“Meu caro tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por sua cultura e poderio, não te
envergonhas de cuidares (epimeleîsthai) de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e não te
importares nem cogitares ( ) da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?” Sócrates evoca,
pois, o que sempre disse e que está decidido a continuar dizendo a quem vier a encontrar E a interpelar:
169
O que estava prescrito nessa fórmula não era o conhecimento de si,
nem como fundamento da moral, nem como princípio de uma relação com os
deuses...“Conhece-te a ti mesmo”, seria o princípio segundo o qual é preciso
continuamente lembrar-se de que, afinal, é ser somente um mortal e não um
deus, devendo-se, pois, não contar demais com sua própria força nem afrontar-
se com as potências que são as da divindade
241
.
Mas para Foucault (2004), o cuidado de si é ocupar-se consigo, como
olhar para dentro de si mesmo, sem culpa, buscar evolução, perceber o
movimento de transformação de si. “O cuidado de si é de uma espécie de
aguilhão que deve ser implantado na carne dos homens, cravado na existência,
e constitui um princípio de agitação, um princípio de movimento, um princípio de
permanente inquietude no curso da existência”.
242
Continua ele:
É esta história na qual este fenômeno cultural de
conjunto (incitação, aceitação geral, princípio de
que é preciso ocupar-se consigo mesmo)
constituiu, a um tempo, um fenômeno cultural de
conjunto próprio da sociedade helenística e
romana (de sua elite, pelo menos), mas também
um acontecimento no pensamento. Parece-me que
a aposta, o desafio que toda história do
pensamento deve suscitar, está precisamente em
apreender o momento em que um fenômeno
cultural, de dimensão determinada, pode
efetivamente constituir, na história do pensamento,
um momento decisivo no qual se acha
comprometido até mesmo nosso modo de ser de
sujeito moderno.
243
Portanto, para Foucault (2004), primeiramente, a epiméleia heautou é
um certo modo de encarar as coisas, de estar no mundo, de praticar ações, de
ter relações com o outro. É uma atitude geral para consigo, para com os outros,
ocupai-vos com tantas coisas, com tanta fortuna, com vossa reputação, não vos ocupais com vós mesmos. E
continua: “E se algum de vós contestar que afirmando que tem cuidados com sua alma, com a verdade, com
a razão, não me irei embora imediatamente, deixando-o; vou interrogá-lo, examiná-lo, discutir a fundo”.
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2004:4.
241
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2004: 6.
242
Ibidem, p. 11.
243
Ibidem, p. 13.
170
para com o mundo. Enfim, com a noção de epiméleia heautoû, temos todo um
corpus definindo uma maneira de ser, uma atitude, formas de reflexão, práticas
que constituem uma espécie de fenômeno extremamente importante, não
somente na história das representações, nem somente na história das noções
ou das teorias, mas na própria história da subjetividade ou, se quisermos, na
história das práticas da subjetividade.
Em segundo lugar, a epiméleia heautoû é também uma certa forma de
atenção, de olhar. Cuidar de si mesmo implica converter o olhar, conduzi-lo do
exterior para o interior; e implica também converter o olhar, do exterior, dos
outros, do mundo, para “si mesmo”. O cuidado de si implica uma certa maneira
de estar atento ao que se pensa e ao que se passa no pensamento.
Portanto, essa questão é fundamental no tempo do envelhecimento e
para os idosos que freqüentam as universidades. Que conhecimento é esse que
procuram? Um conhecimento que serve para si? Foucault (2004) aponta para
um terceiro momento, a noção de epiméleia não designa simplesmente essa
atitude geral, ou essa forma de atenção voltada para si. Também designa
algumas ações que são exercidas de si para consigo, ações pelas quais nos
assumimos, nos modificamos, nos purificamos, nos transformamos e nos
transfiguramos. Temos, então, uma série de práticas que são, na sua maioria,
exercícios, cuja aplicabilidade (na história da cultura, da filosofia, da moral, da
espiritualidade ocidentais)
244
perdurará por longo tempo. São, por exemplo, as
técnicas de meditação, as de memorização do passado e as de exame de
consciência.
Verificamos que existem matérias relativas ao cuidado de si,
desenvolvidas nos currículos nas universidades pesquisadas, conforme
244
Temos, pois, com o tema do cuidado de si, uma formulação filosófica precoce, por assim dizer, que
aparece claramente desde o século V a.C. e que até os séculos IV-V d.C. percorre toda a filosofia grega,
helenística e romana, assim como a espiritualidade cristã. De todo modo, e a partir da noção da epiméleia
heautou que, ao menos a título de hipótese de trabalho, pode-se retomar toda esta longa evolução milenar
(século V a.c. – século V d.c.), evolução milenar que conduziu das formas primeiras da atitude filosófica tal
como se a vê surgir entre os gregos até as formas primeiras do ascetismo cristão. Do exercício filosófico ao
ascetismo, mil anos de transformação, mil anos de evolução – de que o cuidado de si é, sem dúvida, um dos
importantes fios condutores ou, pelo menos, para sermos mais modestos, um dos possíveis fios condutores.
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2004:15.
171
apresentado no capítulo dois. Constatamos uma análise positiva da
aprendizagem destas matérias através do depoimento do aluno Manuel
245
:
E veja bem, porque eu estou aqui, porque vim
pra cá. Eu acho que era uma oportunidade de
eu me conhecer melhor. Eu acho que quando
a gente se conhece melhor a gente acaba
conhecendo os outros um pouco também
melhor, e eu como sempre tive esse desejo...
porque acho que a gente veio aqui na terra
não é aprender outra coisa a não ser aprender
sobre a gente mesma, quem somos nós, para
que viemos, né? pra onde vamos. Isso é uma
preocupação que eu sempre tive, por isso eu
vim aqui ampliar esses conhecimentos porque
tem sido maravilhoso, professores muito bons,
eu aprendi bastante, como disse a minha
colega, tinha um pouco de insegurança, eu
também tinha um pouco e essa insegurança
de certa forma está indo embora e é muito
bom, eu estou feliz da vida, pretendo continuar
também.
Como afirma Foucault (2004):
“(...) ocupar-se consigo mesmo será ocupar-se
consigo enquanto se é ‘sujeito de’, em certas
situações, tais como sujeito de ação instrumental,
sujeito de relações com o outro, sujeito de
comportamentos, de atitudes em geral, sujeito
também da relação consigo mesmo. É sendo
sujeito, este sujeito que serve, que tem esta
atitude, este tipo de relações que se deve estar
atento a si mesmo”.
246
Existem alguns relatos de alunas que, ao freqüentarem o curso da
Universidade de Terceira Idade, foram voltando-se mais para si mesmas;
contam que se sentiam muito usadas
247
, relatam que pelo fato de se
aposentarem e de os filhos saírem de casa, eles começaram a incumbi-las de
245
Manoel, aluno da USP há 5 anos, entrevistado em 05/03/2006.
246
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2004: 3
247
Termo utilizado por uma aluna da terceira idade da USP, entrevistada em 06/04/2007.
172
várias tarefas (como cuidar dos netos, levá-los à escola, pagar contas em
bancos, ir aos supermercados e outras tarefas cotidianas) e, muitas vezes essas
atividades são feitas sem vontade, por obrigação. Porém, por meio das matérias
ministradas pelos professores das universidades, foram despertando para si
mesmas, aprendendo a reconhecer seus desejos e a dizer não. Como afirma
Nadia
248
:
Principalmente assim... você pensar mais em
você, se gostar mais, levantar auto-estima,
aprender a ser mais determinada, eu me sinto
hoje bem mais segura do que antes, né?.
Porque você aprende a ter um tempo, se
dedicar só pra você. Falar não quando você
tem que falar não! mesmo pra filho, pra mãe,
pra irmão, pra irmã, enfim, se posicionar
melhor, né?. Eu acho que o Jordão, nosso
coordenador lá, deu uma aula logo no início,
sobre alguns itens assim: como melhorar a tua
qualidade de vida e isso foi muito bom pra
mim, muito bom. Tenho até hoje anotado aí e
ele recomendava você dizer não quando fosse
necessário, sem se sentir culpado, não deixar
que nada, nem ninguém te ofendesse, te
magoasse, né?..
Em 1975, pesquisadores
249
do estado de Ohio deram início a um
estudo que duraria 20 anos. O objeto do estudo foi o envelhecimento de uma
cidade inteira. Os resultados foram publicados em 2002. Os participantes do
estudo foram questionados seis vezes, num período de 20 anos, sobre o que
pensavam de seu próprio envelhecimento e dos idosos. O estudo demonstrou
que aqueles que consideravam o envelhecimento uma fase realizada de suas
vidas e que pensavam de maneira positiva sobre os idosos viveram, em média,
sete anos e meio a mais que os que não esperavam nada da velhice. Essa
diferença permaneceu também quando controlamos o status social e
248
Nadia, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 30/05/2006.
249
SCHIRRMACHER, 2005:18 in B.R. Levy; M. D. Slade; S. R. Kunkel & Stanislav Kasl: “Longevity
lncreased by Positive Self-Perceptions of Aging”, in: Journal 0f Personality and Social Psychology, 2002,
Vol.83, No 2,pp. 261-270.
173
econômico, o sexo, as relações sociais e a saúde das pessoas. Como afirma
Schirrmacher (2005):
A expectativa de vida de sete anos a mais,
demonstrada em nosso estudo, é considerável. A
influência de uma auto-imagem positiva e de uma
imagem positiva do envelhecimento para a taxa de
sobrevivência das pessoas é maior que os efeitos
de hipertensão ou de um colesterol alto, que
causam um encurtamento da vida de quatro anos
ou menos.
250
Existe uma relação privilegiada entre a prática de si e a velhice, entre a
prática de si e, conseqüentemente, a própria vida, já que a prática de si toma
corpo na vida ou incorpora-se à própria vida. Como afirma Foucault
251
(2004) “a
prática de si tem por objetivo a preparação para a velhice que, por sua vez,
aparece como um momento privilegiado da existência ou, mais ainda, como
ponto ideal da completude do sujeito. Para ser sujeito é preciso ser velho. Como
afirma Ignez:
252
... melhorou porque... não bem o currículo,
vamos dizer o conhecimento de uma maneira
geral, as leituras feitas, seu auto-
conhecimento, a gente começa a observar o
que você pode fazer para sua estabilidade
emocional ...
Eu tenho 80 anos.
Eu quero te falar uma coisa: sabe eu cheguei a
uma conclusão agora aos 80 anos de idade,
que o mais importante, o mais importante é
estar bem com o seu corpo... E consigo
mesma, tudo, global... O corpo é equilibrado,
se sentindo inteira, sentindo.... você tem que
cuidar de você, comer bem, se alimentar bem,
dormir bem, se preocupar com você.... Você
estando bem com você, estando equilibrada,
você se sente forte pra poder lidar com
qualquer coisa...
250
SCHIRRMACHER, 2005:18 in B.R. Levy; M. D. Slade; S. R. Kunkel & Stanislav Kasl: “Longevity
lncreased by Positive Self-Perceptions of Aging”, in: Journal 0f Personality and Social Psychology, 2002,
Vol.83, No 2,pp. 261-270.
251
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2004:156.
252
Ignes, aluna da USP há 7anos, entrevistada em 01/12/2005.
174
É isso que eu descobri em pouco tempo, em
pouco tempo, não vem ao caso, mas as
meninas sabem que esses anos foram anos
muito difíceis pra mim, agora... esse equilíbrio
encontrado, o conhecimento encontrado e a
mudança de visão das coisas que a gente
muda, a gente se posiciona de uma outra
maneira, nossa... foi o que.... a gente
consegue superar, superar de uma maneira,
lidar com as coisas...
Como afirma Foucault (2004):
(...) a prática do cuidado de si trata-se de mostrar
as técnicas, os procedimentos e as finalidades
históricas segundo as quais, em uma relação
consigo determinada, um sujeito ético se constitui.
A prática de si identifica-se e incorpora-se com
própria arte de viver (a tékhne toû bíou). Arte de
viver e arte de si mesmo são idênticas, tornam-se
idênticas ou pelo menos, tendem a sê-lo.
253
É preciso aplicar-se a si mesmo e isso significa ser preciso desviar-se
das coisas que nos atrapalham, desviar-se de tudo o que se presta a atrair
nossa atenção, nossa aplicação, suscitar nosso zelo, ou seja, simplesmente
fazer disso um estilo próprio, uma singularidade, o cumprimento de um próprio
modo de vida, imprimir a sua forma no mundo, dobrar o mundo para torná-lo
com a sua marca. Fazer um estilo próprio de vida, em que sejamos nós
mesmos. É preciso desviar-se para virar-se em direção a si. É preciso, durante
toda a vida, voltar à atenção, os olhos, o espírito, o ser por inteiro, enfim, na
direção de nós mesmos. Trata-se da grande imagem da volta para si mesmo...
Trata-se da grande imagem da história de uma
resenha dos cursos dos Hautes Études. É a
história da imagem do pião. O pião gira sobre si,
mas gira sobre si justamente como não convém
que giremos sobre nós. O que é o pião? É alguma
coisa que gira sobre si por solicitação e sob o
impulso de um movimento exterior. Ademais,
253
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2002:253.
175
girando sobre si, ele apresenta sucessivamente
faces diferentes as diferentes direções e aos
diferentes elementos que lhe servem de circuito. E
por fim, embora permaneça aparentemente imóvel,
na realidade o pião está sempre em movimento.
254
Ora, contrariamente ao movimento do pião, a sabedoria consistirá em
não se deixar jamais ser induzido a um movimento involuntário por solicitação e
impulso de um movimento exterior. Pelo contrário, será preciso buscar, no
centro de nós mesmos, o ponto no qual nos fixaremos e em relação ao qual
permaneceremos imóveis. É na direção de si mesmo ou do centro de si, que
devemos fixar nossa meta. Como afirma Lúcia
255
, aluna da USP:
Eu acho até que, eu mesma me passei a
respeitar, a me valorizar, porque o meu marido
sempre dizia, ele ainda continua de vez em
quando dizendo pra mim, que eu tenho uma
coisa que não é boa em mim, eu não me
valorizo o suficiente, ele fala você não tem que
ver isso!, Você tem mais qualidade do que
defeito, então eu acho que a minha auto-
estima aumentou demais, isto está fazendo
com que tudo a minha volta se sentirá melhor,
eu acho que fica melhor.
Como esclarece Épicure em diálogo com Ménécée (in Foucault, 2004):
“O cuidado de si é uma obrigação permanente que
deve durar a vida toda”. (...) Quando se é jovem,
não se deve hesitar em filosofar e, quando se é
velho, não se deve deixar de filosofar. Nunca é
demasiado cedo nem demasiado tarde para ter
cuidados com a própria alma. Quem disser que
não é ainda ou não é mais tempo de filosofar
assemelha-se a quem diz que não é ainda ou não
há mais tempo de alcançar a felicidade. Logo,
deve-se filosofar quando se é jovem e quando se é
velho, no segundo caso, quando se é velho,
portanto; para rejuvenescer no contato com o bem,
para a lembrança dos dias passados, e no primeiro
254
Ibidem, p. 255.
255
Lúcia, aluna da USP há 5 anos, entrevistada em 20/07/2006.
176
caso quando se é jovem a fim de ser, embora
jovem, tão firme quanto um idoso diante do futuro.”
256
Como afirma Dina
257
em relação ao que a universidade lhe propicia:
Ela me deu mais força.
Eu acho que: pra andar com as próprias
pernas, não ficar dependendo de ninguém...
Eu me senti mais livre, as amarras que a gente
tinha em relação a sociedade, a muita coisa,
mesmo em relação aos professores,
professores abrindo a cabeça da gente falando
que nós temos condições de viver sozinhas,
num digo sozinha mas, de caminhar por si
própria, eu achei isso muito válido, pra mim foi
muito importante, por isso que eu continuo até
agora...
Como nos conta Foucault (2004), lembrando de um texto de Sêneca,
em que ele afirma que, no fundo, nada é mais nocivo que mudar de modo de
vida conforme a idade, ter determinado modo de vida quando se é adolescente,
outro quando adulto, e um terceiro, quando velho. Na realidade, é preciso fazer
tender a vida o mais rapidamente possível para seu objetivo, que é a
completude de si na velhice.
Em suma, dizia ele, “apressemo-nos para ser
velho”, já que a velhice constitui o ponto de
polarização que permite fazer tender a vida a uma
só unidade. (...) Então, muito pior que a escolha de
um modo de vida diferente para cada idade, ele
menciona aqueles que mudam de modo de vida
todos os dias e vêem chegar a velhice sem nela ter
pensado sequer um instante.
258
256
ÉPICURE A MÉNÉCÉE in FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito 2004:108..
257
Dina, aluna da PUC/SP há 7 anos e meio, entrevistada em 12/12/2005.
258
FOUCAULT, Hermenêutica do sujeito, 2004: 163.
177
Existem algumas matérias, ou mesmo alguns professores,
especialistas no envelhecimento, que ministram aulas na PUC/SP, ou mesmo
algumas palestras específicas sobre o tema na USP, que levam o aluno a refletir
sobre este momento de vida, em como viver da melhor forma essa fase da vida.
Como afirma Nadia:
259
Me deu essa abertura e lógico que eu tenho
outras atividades mas, ela também te
posiciona e também sabe... fica mais segura
nesse ponto e mais consciente né, que você
tem que construir a sua própria vida a sua
velhice.
Como afirma Foucault (2004)
260
De qualquer maneira, resulta que
doravante, a relação consigo aparece como objetivo da prática de si. Este
objetivo é a meta terminal da vida, mas, ao mesmo tempo, uma forma rara de
existência”. Concordamos então com Jeanette
261
, aluna da PUC/SP, quando
diz:
Eu acho que a faculdade é uma... é o melhor
caminho pra quem se sente triste, com a auto-
estima lá embaixo, eu acho que é a melhor
coisa.
Porque você vê, por exemplo, eu não me
arrumava, então eu via aquelas mulheres
todas lá na faculdade, indo todas arrumadas,
limpinhas, bonitinhas... eu não tinha vontade
fazer isso mas, dentro do meu consciente eu
sabia que eu tinha que melhorar, mas eu não
tinha vontade e a vontade foi chegando aos
poucos, da minha, acho que da minha vontade
interior entendeu, de eu ver os outros se
arrumar mas, se eu era assim porque eu não
posso voltar a ser?
259
Nadia, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 30/05/2006.
260
FOUCAULT. Hermenêutica do sujeito 2004:157.
261
Jeanette, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 13/12/2005.
178
Segundo Foucault (2004)
262
: ”A constituição de si como objeto
suscetível de polarizar a vontade, de apresentar-se como objeto, finalidade livre
e absoluta e permanente da vontade, só pode fazer-se por intermédio do outro.
Ou seja: entre o indivíduo.”
Como afirma Abigair
263
:
...não tem que ficar em casa de pijama,
fazendo tricô, na frente da televisão, você tem
aquela obrigação, você pagou, está disposta a
ir lá fazer o curso então, você se apronta e sai
de casa, isso eu acho importante...
todo mundo na classe se arruma pra ir à
faculdade, repare... ninguém vai de plumas e
paetês mas, você repare, todo mundo se
arruma, eu me arrumo como seu eu fosse
numa festa, eu gosto de me arrumar...
Como afirma Foucault (2004), dirigindo a atenção para si, não se trata,
como vimos, de abster-se do mundo e de constituir-se a si mesmo como um
absoluto, mas antes, de medir mais precisamente o lugar que se ocupa no
mundo e o sistema de necessidades no qual se está inserido.
O interesse do pesquisador, ao estudar um determinado problema, é
verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos, nas
interações cotidianas. O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida
são focos de atenção especial do pesquisador. Nesses estudos há sempre uma
tentativa de capturar a “perspectiva dos participantes”, isto é, a maneira como os
informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas, como
aprofundaremos no tema a seguir.
3.2.4 O conhecimento
O que importa, realmente, ao ajudar-se o homem é
ajudar-se a ajudar-se. É fazê-lo agente de sua
própria recuperação. É pô-lo numa postura
262
Ibidem. p. 165.
263
Abigair, aluna da PUC/SP há 8 anos, entrevistada em 12/12/2005.
179
conscientemente crítica diante de seus
problemas... Isto deve ser feito por uma educação
corajosa, que propõe ao homem a reflexão sobre si
mesmo, sobre seu tempo, sobre suas
responsabilidades.
Paulo Freire
264
O conhecimento como nosso quarto grande tema-problema se justifica,
quando percebemos que esses idosos rompem com um dos maiores mitos que
os perseguem, o de perderem as suas capacidades cognitivas, além do mito que
atormenta a humanidade das perdas da sua vontade, de seus desejos, da libido
e do estigma incutido na sociedade e por ela, de que “quando eu ficar velho vou
voltar a ser criança!” “Vou fazer xixi nas calças, esquecer os nomes das
pessoas, vou babar, etc.” Como reflete Medeiros (2001):
Velho aprende? Velho muda? Vale a pena criar
cursos para idosos, não será perda de tempo ou
desperdício de dinheiro num país onde muitas
crianças não têm garantido seu lugar nas escolas?
Mas, a população está vivendo mais, o que fazer
com estas pessoas que envelhecem? Há para elas
esperança? Serão os velhos “patrimônio ou peso”
para a sociedade?
265
Portanto, quando o aluno ingressa na universidade, ele vem em busca
da quebra desse conceito, o de descobrir se o velho aprende. Até os anos 90,
aceitava-se que o cérebro não desenvolvia novas células. Pesquisando esse
fenômeno, os neurologistas descobriram que o cérebro, mesmo com áreas
cerebrais danificadas, pode produzir novas células cerebrais por toda a vida.
Portanto, ao manter-se ativo, o idoso pode continuar produzindo novos
dendritos
266
o tempo todo. Como afirma Khalsa (1997)
267
: “Use-o ou perca-o”, e
264
FREIRE, Educação como prática de liberdade, 1980:59.
265
MEDEIROS, Suzana, in Lima, P.M. Gerontologia Educacional, 2001: (prefacio).
266
Dendrito: Prolongamento de neurônio, e que pode ser numeroso, especializado na função de receber
estímulos ambientais, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios. FERREIRA, A. B.1999:623.
267
KHALSA, D. S. Longevidade do cérebro, 1997:106.
180
a Dra. Rita Levi Montalcini
268
, que tem hoje 98 anos e recebeu o Prêmio Nobel
de Medicina há 21 anos, relata em entrevista:
E como está seu cérebro?
Igual quando tinha 20 anos! Não noto diferença em
ilusões nem em capacidade. Amanhã vôo para um
congresso médico.
- Mas terá algum limite genético?
Não. Meu cérebro vai ter um século... mas não
conhece a senilidade... O corpo se enruga, não
posso evitar, mas não o cérebro!
- Como você faz isso?
Possuímos grande plasticidade neural: ainda
quando morrem neurônios, os que restam se
reorganizam para manter as mesmas funções, mas
para isso é conveniente estimulá-los!
- Ajude-me a fazê-lo.
Mantenha seu cérebro com ilusões, ativo, faça-o
trabalhar e ele nunca se degenera.
- E viverei mais anos?
Viverá melhor os anos que viver, é isso o
interessante. A chave é manter curiosidades,
empenho, ter paixões....
- Descobriu como crescem e se renovam as
células do sistema nervoso?
Sim, em 1942: dei o nome de Nerve Growth Factor
(NGF, fator do crescimento nervoso), e durante
quase meio século houve dúvidas, até que foi
reconhecida sua validade e em 1986, me deram o
prêmio por isso.
A abordagem do envelhecimento ativo
269
respalda-se no
reconhecimento dos direitos humanos, das pessoas mais velhas e nos princípios
da independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização
estabelecidos pela ONU. Assim, o planejamento estratégico deixa de ter
enfoque baseado nas necessidades (que considera as pessoas mais velhas
como alvos passivos) e passa a ter uma abordagem baseada em direitos, o que
268
MONTALCINI, Rita Nasceu em Turím, Itália, em 1909 e obteve o título de Medicina na especialidade
de Neurocirurgia.. Em 1999 ainda estava no activo em Roma organizou um simpósio científico na
passagem dos 90 anos. Tem dupla nacionalidade: italiana e norte-americana. O contributo de Rita Levi-
Montalcini no campo da neuro-ciência é assinalável. É presidente honorária da Associação Italiana de
Esclerose Múltipla. Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/ Acessado a Internet em 20 de Novembro
de 2007.
269
KHALSA, D. S. Longevidade do cérebro, 1997:106.
181
permite o reconhecimento do direito dos velhos à igualdade de oportunidades e
tratamento em todos os aspectos da vida à medida que envelhecem.
Essa abordagem apóia a responsabilidade dos mais velhos no
exercício de sua participação nos processos políticos e em outros aspectos da
vida da comunidade, como na busca pelo conhecimento, através do
pertencimento às Universidades de Terceira Idade.
Quando consideramos a noção de conhecimento, podemos
legitimamente supor que ela se diversifica e multiplica-se. Ser, fazer, conhecer
são, no domínio da vida, originalmente indiferenciados e, quando forem
diferenciados, continuarão inseparáveis.
Como afirma Morin (1999):
Todo conhecimento comporta necessariamente: a)
uma competência (aptidão para produzir
conhecimentos); b) uma atividade cognitiva
(cognição), realizando-se em função da
competência; c) um saber (resultante dessas
atividades). As competências e atividades
cognitivas humanas necessitam de um aparelho
cognitivo, o cérebro, que é uma formidável
máquina bio-físico-química; esta necessita da
existência biológica de um indivíduo; as aptidões
cognitivas humanas só podem desenvolver-se no
seio da cultura que produziu, conservou, transmitiu
uma linguagem, uma lógica, um capital de saberes,
critérios de verdade. É nesse quadro que o espírito
humano elabora e organiza o seu conhecimento
utilizando os meios culturais disponíveis. Enfim, em
toda a história humana, a atividade cognitiva
interagiu de modo ao mesmo tempo complementar
e antagônico com a ética, o mito, a religião, a
política; o poder, com freqüência controlou o saber
para controlar o poder do saber.
270
Percebemos que esses idosos vêm em busca de conhecimento e
podemos afirmar que existe uma nova categoria de velhice, como ressaltamos
na nossa pesquisa. Existe um novo modo de envelhecer. São idosos que vão
270
MORIN, Edgard, O Método- 3. O conhecimento do conhecimento, 1999:20
182
em busca de conhecimento através da participação em instituições de ensino,
portanto, velhos estudantes. Como afirma Eda:
271
Eu acho que dentro da visão moderna de...
de... da terceira idade em geral, eu acho que
aqui a gente encontra uma nova maneira de
viver a vida nessa fase, graças aos
conhecimentos e também... sei lá... As
vivências que a gente acaba tendo aqui com
os professores, tão atualizados e modernos e
a gente vai até mudando a maneira de encarar
a vida, uma nova visão muito diferente daquela
que a gente teve... com repressão, com...
com... educação muito severa, educação
religiosa, que eu tive, seis anos, né? em
colégio, então, eu acho que está mudando
muito. Está sendo, assim, muito bem aceito
por toda a terceira idade, né? e também as
informações que nós temos agora, não só
aqui, em revistas, jornais, a mídia, em geral,
está se importando muito com a terceira idade
que futuramente vai ser a maioria da
população acredito que no Brasil.
O tipo de conhecimento oferecido para esses alunos, na verdade, é um
conhecimento de um modo de vida. Constatamos que alunos que cursaram a
Universidade aberta à Maturidade da Uninove
272
, durante o período de 1997 a
2000, quando este curso foi encerrado, criaram seu próprio curso, que eles
271
Eda, aluna da PUC/SP há 10 anos, entrevistada em 22/12/2006.
272
O curso da Universidade aberta a Maturidade da UNINOVE estava estruturado em duas linhas de ação:
1. Programa básico de atualização cultural: Desenvolvido através de matérias específicas de atualização,
orientação de saúde e atividades sócio educativas e de lazer. 2.Projetos Ação cidadania: Implantação de um
núcleo de trabalho de voluntariado com os idosos, estimulando o sentimento de participação e
solidariedade.
Tinha por objetivos: Valorizar as potencialidades dos idosos, por meio do resgate da auto-
estima, da reforma de pensamento (mudança do paradigma da velhice); Proporcionar ao idoso um espaço
para refletir sobre si e o mundo que o cerca; Auxiliar o idoso a viver o presente, capacitando-o para lidar
com os inumeráveis problemas práticos e psicológicos em um mundo complexo, fragmentado e em
mudanças; Educar o idoso para a vida: exercitá-lo na busca do sonho, da imaginação e da criação;
Promover a socialização dos integrantes; Apoiar o idoso na elaboração de um projeto de vida como
“sujeito-cidadão”; Contribuir para a diminuição da dependência física e emocional do idoso, beneficiando
seu bem-estar físico e psicológico, o que resultará em vantagens para ele, para as famílias e para a
sociedade. Coordenação e implantação do projeto: Vania Ramos, professora e Gerontóloga pela PUC/SP.
183
mesmos coordenam, contratam professores e administram. Como afirma Chopra
(1994):
Qualquer que seja a sua idade, seu corpo e mente
não passam de uma minúscula fração das
possibilidades ainda abertas a você – sempre há
um número infinito de novas habilidades, insights e
realizações à frente.
273
Esses alunos vão em busca do conhecimento. A vida só pode auto-
organizar-se com o conhecimento. Como afirma Morin (1999):
274
A vida só é
viável e passível de ser vivida com o conhecimento. Nascer é conhecer”. Esses
alunos não desejam o diploma, eles almejam, na verdade, um modo de vida.
Apreender esse novo momento da velhice, essas novas descobertas das suas
possibilidades.
Aprender e conhecer... Como afirma Lenina:
275
Porque o conhecimento está trazendo uma
vantagem da gente se entender como uma
pessoa que já viveu uma vida toda, cada ciclo,
cada década, e esta década aqui é
fundamental pra que a gente entenda e pra
que a gente sobreviva da melhor maneira
possível pra passar por ela. É isso aí que eu
acho.
Conhecer subentende que algo deve ser conhecido, como se as coisas
estivessem ali, e você não sabe; aprender subentende uma certa ignorância, no
sentido de que ela vai construir algo diferente, não é só uma aquisição de
conhecimento acumulado. Como afirma Netto (2005):
A universidade, com seu saber acadêmico carece
de ser alimentada pelo saber popular, sem o qual
se torna fria e distante da realidade. A comunidade,
273
CHOPRA, Keepack, Corpo sem idade, mente sem fronteiras 1994: 307.
274
MORIN, Edgard, O Método- 3. O conhecimento do conhecimento, 1999:64.
275
Lenina, PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 03/04/2006.
184
que é o meio social imediato, clama por palavras e
ações sábias, por meio das quais o conhecimento,
no seu mais alto grau, seja aplicado nas questões
controvertidas e conflituosas: se assim o é você
pode estar conjeturando: Eu não vou apenas
usufruir um conhecimento pronto e acabado. Eu
vou estabelecer uma relação de mão dupla. Eu
recebo e dou. Eu ajudo a construir, fazendo parte
do processo. Eu participo ativamente, como
pessoa e como cidadão. Parafraseando a
professora Elãene: Eu fecundo, ao mesmo tempo
em que sou fecundado. Eu busco a vida em sua
plenitude!”
276
O velho estudante traz em si a experiência de vida, portanto sente
necessidade do impulso encontrado na redescoberta de suas potencialidades na
busca pelo novo. Como nos conta Reiko
277
sobre a sua experiência como
estudante:
Despertou em mim uma curiosidade tão
grande por todas as coisas, por ler livros, por
pesquisar, principalmente a mente humana
que, assim, parece que eu peguei só uma
agulhinha nisso porque me deslumbrou muito,
destampou essa vontade de ler, de pesquisar,
então, eu tenho achado livros muito
interessantes e algumas aulas me
interessaram bastante, sobretudo as que
referem a esse aspecto, então, eu estou
bastante feliz e tenho outras coisas também
junto e tem me ajudado muito
Lima (2000) reflete sobre a educação promovida nos programas de
educação para idosos, os quais devem possibilitar a discussão corajosa de sua
problemática. Uma educação que os leve a uma nova postura diante dos
problemas de seu tempo atual e de reconquista de seu espaço. Uma educação
276
.NETTO e SÁ MARTINS, Educação e a vida depois dos 40... in PACHECO, et al, Tempo: rio que
arrebata, 2005: 270.
277
Reiko, aluna da USP há 7 anos, entrevistada em 05/04/2006.
185
que tem que ser uma tentativa constante de mudança de atitude. Como afirma
Frima
278
, aluna da USP:
Ah sim, eu mudei, né? Coisas que
eu...cheguei a analisar.. .coisas que... como é
que eu posso falar?...O jeito de olhar a pessoa
e de conhecer a pessoa, então cada um olha
de um jeito, é interessante que eu comecei a
ver, isso por causa de algumas matérias que
eu fiz, aí foi na Eca, na área de psicologia...
cada objeto, cada pessoa de um jeito, cada
uma vê de outro jeito, quer dizer que você não
pode interpretar do mesmo jeito que a outra
pessoa... aí eu comecei a ver isso e aí me deu
uma aula dentro de mim mesma fantástica.
Que coisas que eu via, que as pessoas
achavam que era defeito, que a pessoa tinha
que fazer igual a mim... que não eram, cada
um cada um... realmente foi assim uma lição
de vida pra mim que eu consegui me
modificar...
No decorrer da fala dos depoentes, buscamos apreender a visão sobre
o conhecimento, a aprendizagem e o seu uso na velhice. Percebemos que
esses alunos se apropriaram do saber e reformularam a sua prática de vida.
Revelamos o velho estudante por meio do seu discurso, dos seus códigos
culturais, assim como pelas práticas institucionais das universidades. Como nos
conta Rosa:
279
Meu nome é Rosa Satiko Oguri, estou há
catorze anos e pra mim a PUC mudou muito a
minha vida. Eu era uma dona de casa que
vivia fazendo cursinhos de artesanato,
culinária, fazia ginástica.
...é, e um dia vendo televisão eu vi o programa
da Silvia Popovic e vi o prof. Jordão com
algumas alunas... acho que fazendo
propaganda do curso que tinha sido
inaugurado no ano anterior, aí eu falei: puxa
278
Frima, aluna da USP há 7 anos, entrevistada em 20/07/2006.
279
Rosa, aluna da PUC/SP há 14 anos, entrevistada em 01/12/2005.
186
vida, deve ser interessante! Aí resolvi! Vim no
primeiro dia...
...então eu não podia me matricular, fazia 55
anos em 15 de agosto, então eu tive que
esperar o segundo semestre pra poder entrar
e também não tinha vaga mesmo. Foi daí que
eu comecei. Então minhas primeiras aulas
foram de neurolinguística, aí que eu comecei a
me desenvolver, quando eu cheguei na sala,
eu me lembro, que eu cheguei e fiquei num
cantinho; lá da porta a Maria Pina, nessa
época ela era viva, ela também me viu, chegou
perto de mim e ficamos conversando e acho
que tinham mais algumas que viram que eu
estava meio sem jeito na sala...então a minha
vida mudou bastante... ...não é porque a
neurolinguística eu... procurei... eu me
desembaracei um pouco... comecei a me
entender um pouco mais. Porque eu nem dava
mesmo muito valor, né? era dona de casa e
depois por ser oriental talvez também por
isso, eu nunca pensei muito em mim, pensava
mais no pessoal ao redor...
Na minha casa também, porque veja, eu moro
em São Bernardo, sempre morei em São
Bernardo. Quando eu comecei a freqüentar a
PUC, então eu tenho que vir de carro. Pra
começar vamos dizer eu era chofer, nova,
principalmente pra vir assim sozinha então no
começo foi um pouco difícil porque você fica
assim meio receosa de enfrentar...agora não,
agora eu vou pra qualquer canto se precisar
eu vou até em viagem de estrada assim, não
tenho medo.
Não podemos separar estes dois elementos fundamentais: a vida e a
educação. Não existe uma idade para a vida e muito menos para a educação.
Logo, não podemos parar. Existe uma dinâmica própria dos seres vivos,
confirmada pela biociências, que é a aprendizagem contínua.
187
A Teoria da Educação Libertadora
280
, de Paulo Freire, por exemplo,
possibilita ao indivíduo apreender o mundo a partir de sua realidade, num
processo que começa com o conhecimento de si e de seu universo, ampliando-
se para o mundo exterior que, por sua vez, é fruto de nós mesmos e sobre o
qual devemos assumir nossa parcela de responsabilidade e cidadania. Como
afirma esse autor:
O homem existe - existere – no tempo. Está dentro.
Está fora. Herda. Incorpora. Modifica. Porque não
está preso a um tempo reduzido, a um hoje
permanente que o esmaga, emerge nele. Banha-se
nele. Temporaliza-se. Na medida, porém, em que
faz esta emersão do tempo, libertando-se de sua
unidimensionalidade, discernindo-a, suas relações
com o mundo se impregnam de um sentido
conseqüente. Na verdade, já é quase um lugar-
comum, afirma-se que a posição normal do homem
no mundo, visto como não está apenas nele, mas
com ele, não se esgota em mera passividade. Não
se reduzindo tão somente a uma das dimensões
de que participa – a natural e a cultural – da
primeira, pelo seu aspecto biológico, da segunda,
pelo seu poder criador, o homem pode ser
eminentemente interferidor. Sua ingerência, senão
quando distorcida e acidentalmente, não lhe
permite ser simples espectador, a quem não fosse
lícito interferir sobre a realidade para modificá-la.
Herdando a experiência adquirida, criando e
recriando, integrando-se às condições de seu
contexto respondendo a seus desafios,objetivando-
se a si próprio, discernindo, transcendendo, lança-
280
FREIRE, P., Educação Libertadora: O método Paulo Freire consiste numa proposta para a alfabetização
de adultos, que criticava o sistema tradicional que utilizava a cartilha como ferramenta central da didática
para o ensino da leitura e da escrita. Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez no Centro
de Cultura Dona Olegarinha, um círculo de cultura do Movimento de Cultura Popular (Recife). Foi
aplicado inicialmente com 5 alunos, dos quais três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2
desistiram antes de concluir. Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300
trabalhadores, João Goulart, presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma campanha
nacional de alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000
círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara (Rio de
Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Mas com o Golpe de 64 toda essa mobilização social foi reprimida,
Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, esse grande projeto foi
infelizmente abandonado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a alfabetização, porém,
visceralmente distinta dos ideais freirianos. Disponível no site: http://pt.wikipedia.org, acessado em
10/08/2007.
188
se o homem num domínio que lhe é exclusivo, o da
História e o da Cultura.
281
Já vimos anteriormente que o idoso tem sua identidade e subjetividade
construída socialmente; uma prática educacional que o auxilie a se desenvolver
seria aquela que lhe propiciasse a oportunidade de aprender sobre si mesmo,
conhecer sua realidade e fazer-se indivíduo ativo e capaz de agir sobre si
próprio e o mundo. Por sua vez, o mundo inteiro transformou-se numa imensa
rede de conhecimento. Como afirma Netto (2005):
Educar tem se constituído na mais avançada tarefa
de emancipação individual social, rumo à plenitude.
(...) Viver em plenitude de vida é ser homem
curioso, insatisfeito, inacabado, incompleto. É
sentir-se como sujeito ímpar, que não pode ser
substituído. É ser útil, participar, interagir, amar,
transcender. É viver, a cada manhã, em novidade
de vida! Para tanto, há de suspender a rotina do
dia-a-dia, buscando a ciência, a arte, a moral, a
espiritualidade, o convívio, o cuidado essencial
para consigo mesmo, o outro, a comunidade, o
planeta Terra... Há que se educar!
282
Como nos conta Eda
283
, revelando a sua experiência como aluna:
(...) Foi uma surpresa muito grande por ser
tão gratificante.
Posso dizer que literalmente mudou a minha
vida, hoje eu não me sinto mais só...
E... não só pelos colegas todos que a gente
conheceu aqui, mas pela oportunidade da
reciclagem de conhecimento, né? Ampliação
daquilo que eu sempre quis aprender, sempre
mais. Eu já disse a um professor nosso, aqui
que eu sou aprendiz e vou ser até o fim dos
meus dias.
Se essa faculdade me agüentar aqui 20 anos,
281
FREIRE, Paulo, Educação como prática de liberdade, 1980:41.
282
NETTO E SÁ MARTINS, Educação e a vida depois dos 40 in PACHECO, et al, Tempo: rio que
arrebata, 2005: 271.
283
Eda, aluna da USP há 5 anos, entrevistada em 22/11/2006.
189
Se eu viver até lá, aqui eu ficarei.
Para os velhos estudantes o importante é o conhecimento, como o foi
para os gregos na antiguidade
284
, o conhecimento como fonte de sabedoria,
para melhor compreensão da vida. Como afirma Hadot (2004): “Na antiguidade
isso acontecia de outra maneira. Nenhuma obrigação universitária orienta o
futuro filósofo para esta ou aquela escola, mas é em função do modo de vida
que nela se pratica”
285
. E não o conhecimento compartimentado, voltado,
somente, para o mundo profissional, comercial e separado em saberes
específicos, onde o homem é totalmente dividido, fragmentado e especializado.
Como reflete Morin (1999):
O ser humano é a um só tempo físico, biológico,
psíquico, cultural, social e histórico. Esta unidade
complexa da natureza humana é totalmente
desintegrada na educação por meio das disciplinas
tendo-se tornado impossível apreender o que
significa ser humano. É preciso restaurá-la, de
modo que cada um, onde quer que se encontre,
tome conhecimento e consciência, ao mesmo
tempo, de sua identidade complexa e de sua
identidade comum a todos os outros humanos.
Deste modo, a condição humana deveria ser o
objeto essencial de todo o ensino.
286
A relação que procuramos estabelecer com os estudos realizados, na
época dos antigos gregos, é para focar o conhecimento como fonte de vida,
como fonte de busca da sabedoria e como reconhecimento da sabedoria dos
anos vividos, além de uma forma diferente de aprendizagem. Não a
aprendizagem para o profissionalismo, para se ter uma carreira, e sim o
aprendizado para “viver melhor”, saber mais para saber viver. Saber viver
284
Fenômeno particular que representam as escolas filosóficas na antiguidade, as condições do ensino da
filosofia eram, então, profundamente diferente das de nossos dias. O estudante hoje. Para nós modernos, a
noção de escola filosófica evoca unicamente a idéia de uma tendência doutrinal, de uma posição teórica
“escola” (fenomenológica, existencialista, desconstrucionista, estruturalista ou maxista)
Hadot, Pierre, A
filosofia como modo de vida, 2004:148.
285
HADOT, Pierre, A filosofia como modo de vida, 2004:148.
286
MORIN, O Método 3. O conhecimento do conhecimento, 1999:21.
190
buscando nas várias disciplinas e na sabedoria dos professores uma forma de
lidar melhor com a vida e com o envelhecimento. Como afirma Nadia:
287
– Ah...ela abre o campo, então você começa a
ampliar o teu horizonte. Vamos dizer: como
advogada eu estudava ou estava restrita a
minha área e você trabalhando dentro de uma
empresa você está mais limitado porque você
não envereda por outros campos do Direito,
né? a gente ficava muito mais afeta ao Direito
administrativo, ao Civil, se bem que eu atuava
um pouco lá no Contencioso mas era quase
que repetitivo entendeu, então depois de um
tempo você acaba ficando mais limitada, né? e
também não havia muito espaço para um
desenvolvimento maior por força de vínculo,
né? com marido, com filho, com as obrigações
domésticas, né? enfim, então eu acho que sob
esse aspecto a faculdade, mesmo sendo a
classe um pouco heterogênea, claro você
encontra pessoas de todos os níveis, gente
com uma formação maior outras menores, a
maioria das mulheres que teve uma vida mais
como do lar, uma esposa, mãe, não são
muitas as que assim, saíram pra trabalhar, não
é, mas mesmo assim o interesse, como
interesse delas, quem esta lá até hoje, o
interesse é grande em aprender alguma coisa,
em ter um acréscimo, né? , por força mesmo
da vida que elas levaram mais familiar, voltada
só pra cuidar dos filhos da família, eu vejo
assim a maioria dos depoimentos como uma
libertação, como um presente que se deram,
né?
O velho já passou por uma vida de vários papéis; foi filho ou filha, pai
ou mãe, marido ou esposa, avô ou avó e agora ele busca ser único, através do
conhecimento. Ele acredita no ser sábio, por meio das descobertas do mundo
287
Marisa, aluna da USP há 8 anos, entrevistada em 30/05/2006.
191
das palavras, dos livros, da relação da troca e do auto-conhecimento. Como nos
conta Dina
288
, sobre sua experiência como aluna:
Eu acho que todas nós temos um
denominador comum: houve um esvaziamento
na vida ou porque os filhos casaram e você
ficou sozinha ou porque você ficou viúva,
como é o caso dela e da Miriam, ou por outros
motivos que agora aqui não foram
mencionados então, como é o meu caso, você
procura o preenchimento deste vazio. A PUC
propõe um preenchimento, que eu acho muito
racional, que ela dá o ano letivo com vários
módulos, com diferentes assuntos. Quem
busca esse preenchimento, busca o
preenchimento intelectual, não busca o
preenchimento físico que o clube supriria com
a ginástica ou o preenchimento de diversão
que você poderia buscar noutro campo mas, é
o preenchimento intelectual, por isso é que a
PUC preenche esse vácuo de vida e você se
sente também atualizada, atualizada no
campo... no campo social também. Porque
com esta atualização que os professores te
oferecem você é capaz de ouvir, entender e
abordar, diferentes assuntos como é
economia, como é política, como é a nova
divisão geográfica do mundo. Aí também
entra, por exemplo, o curso da USP que eu me
interessei, eles exigem que você fique um
semestre freqüentando só uma matéria, com
freqüência obrigatória e com umas certas
obrigações com o grupo.
Nas Universidades da Terceira Idade pesquisadas são os alunos que
escolhem a maioria das matérias que querem ter. Como afirma Nadia:
289
Às vezes aparece assim uma matéria ou outra
que a gente não tem muito interesse, então a
maioria já pede pra que seja mudado, pra que
288
Dina, aluna da PUC/SP há 7 anos e meio, entrevistada em 12/12/2005.
289
Nadia, aluna da PUC/SP, entrevistada em 30/05/2006.
192
dê um enfoque onde o interesse seja mais
geral, então, a gente vai também escolhendo,
vai peneirando um pouco. Vai vendo o que a
gente gosta mais e aí pede pra que a
coordenadora tente trazer este ou aquele
professor.
Esse novo paradigma do envelhecimento é traduzido como a “nova
velhice”, a velhice que se transforma na busca do conhecimento. Como
revelamos, através das falas desses interlocutores, esses alunos se sentem
importantes por freqüentarem uma faculdade, como afirma Arlete
290
, e isto é
muito revelador para ela:
Meus filhos, eles têm orgulho que eu faço
faculdade da 3ª idade. Porque eles acham que
daqui eu levo muita coisa boa pra eles, pra
eles! Ontem quando eu cheguei lá que eu falei
do livro, porque nós fomos fazer amigo secreto
lá no escritório, né?... eles têm um escritório...
então eu quero o livro que o professor
recomendou entende, nem eles conhecem
esse livro. Então eles falam que: puxa mãe,
que bom que você trouxe isso pra nós,
entende? Então pra eles, eles também estão
aprendendo a nossa 3ª idade, a nossa
faculdade, eles já fizeram faculdade, só que
eles fizeram a faculdade informativa, não
fizeram a faculdade que nós fazemos
entende?... é diferente, é diferente... Eles
acham que a gente aprende, e depois tem
outra coisa, não só informação, eles acham,
que não é só informação, porque sempre que
a gente vai embora a gente leva uma
informação boa, vocês não pegam todo dia
uma coisa boa?...todo dia tem uma coisa boa!
Como afirma Schwartz (1999):
290
Arlete, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 12/12/2005.
193
À medida que se cresce, aprende-se mais. Se
ficássemos parados nos vinte e dois anos,
ficaríamos sempre ignorantes como quando
tínhamos vinte e dois. Envelhecer não é só decair
fisicamente. É crescer.
291
Mas para crescer, Vani
292
reflete sobre a importância de ir em busca de
conhecimento, de melhorar através dos estudos:
Eu acho também uma coisa muito importante,
parece que faz uma diferença, que até, vamos
supor, quando você é depositária de mais
experiência que as pessoas, você tem que
procurar melhorar ou acrescentar a sua
experiência... eu acho que também as pessoas
vêem a gente... olha...
Aprender a lidar com as pessoas, a cuidar de si, a ampliar suas
referências sociais, a descobrir o seu eu individual, através da amizade, e a
tornar-se uma pessoa socialmente atuante são conseqüências naturais para o
estudante dessas universidades. Como afirma Arendt (2001), ser responsável,
assumindo a sua vida e o seu envelhecer, sendo sujeito de si mesmo. Segundo
Barroso:
293
A convivência natural e sadia entre gerações, o estímulo ao auto-
crescimento humano e o interesse pelo bem comum transcenderão os
preconceitos, estereótipos e mitos, até então, ainda existentes sobre o processo
de envelhecimento”. Como nos conta Marisa:
294
Eu gosto, eu gosto de aprender, eu gosto de
escutar, eu gosto de ouvir coisas interessantes
que trazem conteúdo pra mim, inclusive, ela
sabe, eu sou de ficar vendo televisão até 1:00,
1:30 da manhã, mas eu gosto muito de
programas informativos da Discovery.
291
SCHWARTZ, Morrie, Lições sobre amar e viver, 1999:117.
292
Vani, aluna da USP há 5 anos, entrevistada em 05/04/2006.
293
BARROSO in MORAGAS, Gerontologia social: envelhecimento e qualidade de vida, 1997:9.
294
Marisa, aluna da USP há 8 anos, entrevistada em 22/11/2006.
194
Para Stano, (2006)
295
, muitas mulheres velhas, mais que os homens,
começaram a conquistar o espaço escolar com o corpo arcado, com as vozes
quase emudecidas pelas perdas sofridas. Perda de espaço na sociedade, perda
da imagem de ser produtivo, perda do desejo de luta. Ao embrenharem-se num
processo de reconstrução de significados para as suas vidas, foram despindo-se
de uma couraça que as amedrontava, que as imobilizava. Frente aos desafios
propostos, diante de um espaço que estava ali, para ser conquistado, foram
assumindo a escola como o espaço possível para o renascimento da alegria, do
brilho nos olhos, de um projeto necessário à continuidade da vida. Como afirma
Nadia:
296
Tanto que eu estou lá até hoje. Eu me
encontrei porque eu sempre gostei de... dos
bancos escolares, eu sempre gostei de
estudar e...teve uma época que não gostava
tanto de estudar como gostava da escola,
então você se acostuma com aquele ambiente
de coleguismo e a fazer amizade e tal, e
realmente pra mim é ótimo porque eu
encontrei as duas coisas lá. A gente encontrou
assim um ambiente amigo, camarada, fiz
novas amizades e me serviram e servem de
companhia até hoje, a gente viaja, sai, faz
programa e...
Para finalizarmos este capítulo, apresentaremos o discurso
pronunciado pela oradora da turma de formandos de 2006.
297
Acreditamos que o
seu “testemunho” através deste texto retrata o que ela e seus colegas de turma
descobriram ao freqüentar a universidade, o seu lugar de pertencimento, do
encontro com o conhecimento, do encontro com os seus iguais (amigos
estudantes) e como a Universidade da Terceira Idade pode proporcionar um
295
STANO, Rita de Cássia M.T, Idosos nos bancos escolares: possibilidades de qualidade de vida. Texto:
Portal do envelhecimento, acessado em 15.08.2007.
296
Nadia, aluna da PUC/SP há 5 anos, entrevistada em 30/05/2006.
297
Escrito por Marilena, aluna da Universidade aberta à Maturidade da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Texto cedido em entrevista em 04/04/2007.
195
novo modelo de vida, um novo modo de envelhecer, consciente de suas
limitações e de suas possibilidades.
(...) Hoje, senhora e senhores, a universidade aberta à maturidade é uma
jovenzinha com quinze anos e nós nos sentimos honrados em fazer parte
de seu corpo discente. (...) Feitas essas elucidações, queremos voltar ao
nosso primeiro dia de aula. Chegamos com muitas incertezas, mas logo
fomos nos entrosando e hoje nos perguntamos: mudou alguma coisa em
mim? O que mudou? O que eu sinto? Sim, meus amigos, mudou muita
coisa! E como foi rápida essa mudança. Nos tornamos pessoas mais
interessantes, com quem todos querem interagir. Mas, por quê isso?
Porque temos agora, algo a dizer, passamos a ter conhecimento
atualizado
298
e do conhecimento, chegaremos até a sabedoria...
Lembrem-se de que quando Deus perguntou a Salomão o que ele queria,
ele respondeu “quero sabedoria” e, através dela conseguiu tudo o que
quis. Quando nos tornamos mais velhos, ou nos aposentamos, nos
perguntamos: por quê não me sinto bem? a resposta é porque não me
sinto útil, ninguém precisa mais de mim! E aí os médicos dizem:- você
precisa andar, precisa fazer alongamento, precisa dançar, ou então:
faça muitas palavras cruzadas que é bom para a sua memória. Tudo
isso é verdade, porém, você faz tudo isso e não melhora! Há uma
tristeza no seu coração que não passa! Então, dizemos, senhores falta
em nossas vidas a interatividade com outras pessoas, falta, a troca de
aprendizados, falta, às vezes, a atenção do outro, ou falta carinho, falta
amor! assim sendo, procuramos e encontramos, um curso como este e...
tudo se transforma em nossas vidas, porque temos novas atividades,
novos amigos e o mais importante, temos um comprometimento –
com quem? com nós mesmos. temos deveres e obrigações! (...) temos
bastante conhecimento e experiência acumulados, no decorrer de muitos
anos e estamos agora, nos reciclando, nos atualizando. não vamos
parar. Não podemos parar. Hoje, nos respeitamos e somos
respeitados! Somos pessoas por inteiro. (...) estamos acompanhando o
progresso, fazemos parte da história! se por acaso faltamos às aulas,
as nossas amigas e queridas representantes, as quais muito
agradecemos, neste momento, nos telefonam, não só elas, outras
colegas, também o fazem. E perguntam, o que houve com você? Você
voltará não é? Você sabia que todos estão sentindo a sua falta? Você,
faz falta, sim! Essa simples frase faz com que paremos para refletir um
pouco e assim, descobrimos quem somos. somos importantes, para nós
mesmos e passamos a nos valorizar. Somos importantes para um grupo
de pessoas que estão numa universidade de qualidade. Enfim, nós
então, encontramos um lugar, o nosso lugar, fazemos parte de algo! na
universidade, não representamos papéis de pais, mães, filhos, esposas e
298
Grifos da aluna.
196
maridos. Somos nós mesmos e isso não tem preço!!! Somos nós
inteiros, emitindo opiniões, questionando os professores, tirando dúvidas.
Somos unos e nos tornamos plural. somos mais que um, somos
muitos, somos todos! Nós fazemos a nossa realidade; a vida esta aí
para o que quisermos fazer dela, mas temos que ousar, temos que dar o
primeiro passo. aqui chegando, ELA, a Universidade, como a grande
mãe, abre seus enormes e amorosos braços, para nos receber e fazer
com que voltemos a viver inteiramente. Aqui, renascemos, aqui somos
muito, muito felizes...
MUITO OBRIGADA!
197
CONSIDERAÇÕES FINAIS
___________________________________________________________
“ Os mitos que foram construídos sobre os velhos: que eles
não aprendem, que não mudam, que são conservadores, estão
caindo por terra. Portanto, os que envelhecem não podem e
nem querem ser excluídos da luta pela construção de uma
nova sociedade, uma vez que os sistemas que conhecemos
não respondem adequadamente as exigências de um novo
tempo.”
Profª. Drª. Suzana Medeiros
198
____________________________________________________________
Ao tecer as considerações finais deste trabalho percebi que minha
busca pela verdade é um desvendar de aprendiz, de “olhar” (observar, aprender
e ensinar) o sujeito velho por múltiplas perspectivas: através da lupa, do
microscópio, do telescópio e dos olhos do coração. Embora possa parecer
piegas, acredito que o olhar do coração é que nos leva, pesquisadores sociais, a
desvendar novos caminhos.
E nesses caminhos, como nos diz Sachs, cada nova recordação se
resignifica em nova vivência, portanto no desenvolvimento deste projeto... e
neste momento de reflexão das práticas deste novo universo que se
deslumbrou... que se deslumbra... de alunos, como os muito humildemente
caracterizamos de velhos estudante... percebi que dez anos se passaram entre
minha prática em sala de aula e como pesquisadora desta categoria que
denominamos de velhice.
Uma década....
A vida é formada de ciclos, como o sol que vejo através da janela, ele já
não é o mesmo, está ganhando intensidade e calor, despedindo-se do inverno
para abrir passagem ao sol da nova estação, para celebrar o verão. Mudar é a
lei da vida. A velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento de
um processo. Esta idéia está ligada à idéia de mudança... Um tal paradoxo
desconhece a essencial verdade da vida; esta é um sistema instável no qual, a
cada instante, o equilíbrio se perde e se reconquista: é a inércia sinônimo de
morte.
Muitas descobertas... e sempre a dúvida, o que levava estes velhos a
saírem de suas casas e freqüentarem as salas de aula de uma instituição
educacional, atentamente, sem faltar, ficando bravos com os professores
199
quando esses por um motivo ou outro não compareciam... Indignados com as
emendas dos feriados... Tristes com as férias...
E ao dar voz aos seus discursos, percebemos como este está atrelado
ao contexto histórico em que é produzido. Sob a influência do progresso social
que se refletiu em aumento da duração da vida, e na melhoria da qualidade de
vida, aos poucos foi sendo revisto o conceito clássico segundo o qual o avanço
da idade é algo negativo em si mesmo. A velhice aos poucos passou a ser vista
também como um momento da vida no qual se pode viver com prazer,
satisfação, realização pessoal e também de forma produtiva. Não podemos
esquecer que estamos vivenciando um momento de grandes mudanças, mas
que a nossa sociedade ainda não assimilou estas mudanças.
Ao se considerar a situação atual do velho no país, é preciso destacar a
precariedade dos serviços oferecidos. Ao tratar velhos e velhas de uma forma
unicamente curativa, o sistema social se abstém de contribuir para a melhoria
real da condição de vida da terceira idade, corroborando a “ideologia da velhice”,
destituindo este segmento de suas características históricas concretas, ou seja,
ao tratar o envelhecimento de maneira a curar doenças que lhe são próprias,
acaba-se por ocultar as condições de vida da promoção da saúde. Cabe
observar, no entanto, que podemos avançar em direção a uma nova fronteira: a
Saúde Coletiva
299
. Há pois, necessidade de acompanhar os idosos sadios, para
mantê-los nestas condições, para uma velhice sadia.
Esta pesquisa apontou para concepções sobre o envelhecimento, onde
tomamos consciência da individualidade do envelhecer, e, portanto, que as
velhices são inúmeras, e particulares a cada indivíduo. Falar então do novo
paradigma do envelhecimento implica romper com a imagem que a nossa
sociedade tem da velhice como um período de perdas que se observam pelo
299
Considera-se aqui como referência o conceito de "saúde coletiva" formulado por Paim & Almeida Filho
(2000):Podemos entender Saúde Coletiva como campo científico, onde se produzem saberes e
conhecimentos acerca do objeto "saúde" e onde operam distintas disciplinas que o contemplam sob vários
ângulos; e como âmbito de práticas, onde se realizam ações em diferentes organizações e instituições por
diversos agentes (especializados ou não) dentro e fora do espaço convencionalmente reconhecido como
"setor saúde".Ao se estabelecer uma estratégia de lazer, ensino, cultura e pesquisa, que tenha como fio
condutor este conceito, configura-se uma proposta de saúde coletiva baseada num modelo de vida ativa
com cidadania.
200
declínio biológico. Aprendemos desde cedo que a velhice é uma fase terminal e,
portanto, de inatividade, falta de realização, de dependências física e financeira.
Ver a velhice desta forma é um aprendizado cultural reforçado pela sociedade.
Sendo cultural e aprendido, podemos lutar por ações que impliquem numa
profunda mudança de pensamento e na forma de se encarar a questão do
envelhecimento. Isto se fará através de uma educação planejada para os
próprios idosos e também para os jovens, para que tenham um novo olhar sobre
o envelhecimento, abrindo espaço para que enxerguem a velhice como um
período também de aquisições, e para que possam aceitar sem medo o fato de
que todos envelhecem. Como afirma Freire (1995):
(...) Somos velhos ou moços muito mais em
função de como pensamos o mundo, da
disponibilidade com que nos damos curiosos ao
saber, cuja procura jamais nos cansa e cujo achado
jamais nos deixa imovelmente satisfeitos. Somos
moços ou velhos muito mais em função da
vivacidade, da esperança com que estamos sempre
prontos a começar tudo de novo e se o que
fizermos é continuar a encarar sonho nosso, sonho
eticamente válido e politicamente necessário.
300
Em face desta nova visão, passará a ser valorizada uma nova postura,
compatível com as novas imagens do envelhecimento.
A educação faz parte do amplo campo de aplicação da Gerontologia.
Tal como a gerontologia, a educação reivindica o status de área multi e
interdisciplinar, fato que, com freqüência, confundem os praticantes e os teóricos
de ambos os campos. Pertencem ao âmbito de um novo campo interdisciplinar,
o da gerontologia educacional, a discussão sobre quais devem ser o conteúdo e
o formato da educação dirigida a idosos, assim como a maneira como deve
ocorrer a formação de recursos humanos especializados para o cumprimento
dessas finalidades.
É preciso formular uma Gerontologia Educacional na perspectiva da
educação transformadora, que permita ao idoso como ser aprendente, ocupar
300
FREIRE, Paulo, A sombra desta mangueira, 1995:56.
201
um lugar significativo na sociedade e participar plenamente da vida. Não
estamos nos referindo a qualquer tipo de educação, mas a uma educação que
estimule e liberte.
A Universidade de ensino superior tem desempenhado a função de
desenvolver uma Gerontologia Educacional na tentativa de aplicar o que se
conhece sobre a educação e envelhecimento em benefício do aumento e da
melhoria da vida dos idosos
Percebemos que os dois projetos pesquisados necessitam de algumas
mudanças, que possam estruturar melhor seus modelos de lidarem com a
educação e o envelhecimento. Preparar melhor os professores... Que estes não
sejam apenas testados na prática ou aprendam apenas através de ministrarem
aulas para os velhos estudantes, mas que eles sejam mais bem preparados, que
tenham embasamento teórico, além dos conhecimentos práticos da vivência
diária. Os programas destas duas universidades devem:
Caracterizar e impulsionar a gerontologia educacional na construção
da profissão de educador em atenção às pessoas idosas;
Dar a conhecer aos profissionais da educação e do trabalho social
os novos campos de atividades associadas aos idosos;
Demonstrar a necessidade de especialistas nesta área, tanto nos
programas em instituições de ensino formal, como no meio comunitário;
Proporcionar instrumentos metodológicos de pesquisa-ação para
identificar problemas;
Elaborar conhecimento e estratégias para o trabalho educacional;
Capacitar para a elaboração de programas de ação sócio-educativa
como alternativa aos problemas específicos dos idosos;
Proporcionar o encontro intergeracional, construindo comunidades
de aprendizagem com a presença de idosos e jovens num mesmo espaço
educativo e formativo;
Proporcionar ao idoso um espaço para refletir sobre si e o mundo
que o cerca, auxiliando-o a viver no presente, saindo de um passado
202
cristalizado. Apoiar o idoso na elaboração de um projeto de vida como “sujeito-
cidadão”.
Promover estudos sobre o envelhecimento, dando visibilidade à
emergência de novas pesquisas com interesse nas questões relativas à velhice,
sempre numa visão multidisciplinar, buscando convergências entre as várias
áreas do conhecimento, observando suas semelhanças e diferenças,
estabelecendo então um diálogo que leve a criação de um novo saber. Como diz
Edgar Morin (2002):
O que me interessa não é a síntese, mas
um pensamento transdiciplinar, um pensamento
que não se quebre nas fronteiras com as
disciplinas. O que me interessa é o fenômeno
multidimensional, e não a disciplina que recorta
uma dimensão deste fenômeno. Tudo o que é
humano e, ao mesmo tempo, psíquico, sociológico,
econômico, histórico, demográfico, é importante
que estes aspectos não sejam separados, mas sim
que concorram para uma visão poliocular. O que
me estimula é a preocupação de ocultar o menos
possível a complexidade do real.
301
Considerando que a gerontologia educativa, enquanto prática, visa
evitar o envelhecimento precoce e possibilitar o crescimento psicológico, como
campo de estudo, investiga as alterações intelectuais que ocorrem com a idade;
as adaptações que os alunos mais velhos requerem na aprendizagem e as
motivações que poderão condicionar a participação ou a não participação nos
programas.
É a idéia de educação permanente que deve ser ampliada. Ela deve
ser encarada como uma construção contínua da pessoa, dos seus saberes e
aptidões, da sua capacidade de discernir e agir. Deve levar cada um a tomar
consciência de si próprio e do meio ambiente que rodeia, e a desempenhar o
papel social que lhe cabe enquanto cidadão.
301
MORIN, Edgard, O método 3. O conhecimento do conhecimento,1999: 123.
203
Os projetos das Universidades abertas à Terceira Idade pesquisadas
tem sua importância, pois impõe-se cada vez mais, o conceito de educação ao
longo da vida, dada as vantagens que oferece em matéria de flexibilidade,
diversidade e acessibilidade no tempo e no espaço.
Nesta pesquisa analisamos as implicações sociais decorrentes da
implantação desses cursos oferecidos por Universidades Abertas à Terceira
Idade, tendo como agente de análise os sujeitos envolvidos nos projetos.
Investigamos o velho na busca de uma inserção social, na procura de
uma proposta educacional para atualizá-lo nas questões contemporâneas.
Observamos que ao freqüentarem a universidade, esta procura não é apenas
por um passatempo, por um entretenimento. A função da universidade não é de
distrair velhinhos solitários, sem maiores preocupações pedagógicas.
Percebemos que as universidades procuram assegurar qualidade às
atividades planejadas, e que suas concepções levam em conta o escopo e a
complexidade do envelhecimento humano no país, reclamando uma superação
dos modelos até então vigentes.
Pelo fato de se localizarem no interior de duas grandes universidades
(pública e privada), estes modelos devem possibilitar o convívio entre distintas
gerações, como estratégia de redução da discrepância de valores e conceitos. A
enorme gama de cursos e atividades nas mais diversas áreas do conhecimento,
as estruturas de apoio, como laboratórios, bibliotecas, teatros, museus e, ainda,
as tecnologias inovadoras desenvolvidas nas universidades foram agregadas
aos projetos como suporte para a transmissão de conhecimentos novos e
qualificados em diferentes áreas, para os estudantes velhos.
Na PUC/SP houve a preocupação com a utilização de metodologias
que respeitassem as características dos alunos idosos. Levou-se em
consideração o modo de repassar as informações, e com esta finalidade foram
utilizados modelos pedagógicos específicos, que incorporam os valores, a
cognição e as características próprias desta faixa etária. O fato de que a maioria
dos alunos terem experiências de vida semelhantes, se torna um grande
facilitador de ocorrências sociais como a amizade.
204
Na USP o velho estudante foi integrado a um espaço de pessoas mais
jovens, oferecendo-lhe atividades que pudessem ser bem assimiladas e que
fossem tão relevantes quanto o são as atividades universitárias habituais para o
público mais jovem.
O importante é que a aprendizagem que acontece nestas situações é
determinada pelo aprendiz; ela não é prescrita e tampouco ministrada por outra
pessoa; não acontece por meio dos cursos; não exige validação e nem
diplomas. A aprendizagem que aqui se dá é controlada pelo aprendiz que quer
conhecer mais, motivado pelo prazer de satisfazer suas necessidades e
interesses.
Todo este trabalho se deu com uma preocupação, que constitui um dos
princípios dos programas: oferecer serviços de qualidade, fazendo com que as
atividades oferecidas aos idosos tenham relevância social e atendam ao
interesse deste público, levando em conta suas trajetórias de vida. Houve
preocupação explícita de não incluir nos projetos ações com o intuito exclusivo
de ocupar o tempo livre do idoso ou de tratá-lo como pessoa incapaz de
aprender novas habilidades e adquirir novos conhecimentos. Procurou-se evitar
o equívoco de estabelecer estruturas infantilizadoras, que pudessem reforçar os
estigmas e preconceitos da sociedade para com os idosos.
Em sintonia com a concepção de cursos e atividades para os idosos,
esteve sempre presente a preocupação da qualificação e formação de recursos
humanos capazes de lidar com este segmento etário. Seria contraditório lidar
com as demandas provenientes desta população, no interior de uma
universidade, sem o necessário estímulo à formação qualificada dos jovens que
estão se graduando em diversas áreas do conhecimento e que irão atuar em
uma sociedade marcada pelo crescente envelhecimento populacional.
Acreditamos que todos ganham quando a universidade faz seu papel
social e a convivência desses idosos nos espaços universitários é importante,
pois percebemos o valor do envelhecimento, quando entramos em contato com
ele, através do outro ou do nosso próprio envelhecimento. Como afirmam
Simone de Beauvoir (1990) e Jack Messy (1993): “o velho é sempre o outro”.
205
Ao analisarmos as entrevistas, percebemos que as mesmas ressaltam
que vivemos um período em que as pessoas estão sendo bombardeadas por
informações que invadem os espaços públicos e privados e as levam a pensar
em projetos de desenvolvimento individual e coletivo. Percebem então, que
durante a vida acumularam conhecimentos que lhes permitiu resolver seus
problemas, mas sentem necessidades de ampliarem seus conhecimentos
culturais, particularmente em um mundo em mudanças tecnológicas, cientificas,
sociais e políticas. Como acompanhar essas mudanças? Para enriquecer seus
conhecimentos, eles optam por retomar o processo educacional, para descobrir,
reanimar e fortalecer seus potenciais criativos, intelectuais, críticos e sociais.
A questão educacional é de relevância indiscutível para todas as faixas
etárias e, portanto, não pode ser negligenciada para o idoso, pois eles, como as
crianças, os jovens e os adultos, buscam a construção de seu espaço de
cidadania, como seres históricos, recusando-se a parar de aprender.
A educação constitui um processo em que cada ser humano aprende a
se formar, a se informar, a fim de transformar-se e transformar o seu contexto. O
homem é um ser inacabado e será através da educação visto como em um
processo contínuo de melhoria.
A Educação Permanente exprime a idéia de totalidade, que tem como
centro o homem, em todas as suas dimensões e problemáticas existenciais,
estimulando-o a continuar constantemente a sua formação individual, seus
relacionamentos e seus projetos de vida. Esta entende o social não só como o
relacionamento próprio e do meio ambiente que o rodeia, mas tendo que
desempenhar o papel social que lhe cabe enquanto cidadão.
A proposta de Educação Permanente que norteia a Universidade da
Terceira Idade deve ter por base um trabalho que vai além da veiculação de
conhecimentos, que supere o plano das idéias, incorporando a prática de um
trabalho conjunto (aluno, professor, coordenador, comunidade e instituição).
Sendo assim, a universidade assume a sua vocação, enquanto produtora de
saber, como abre espaço para co-educação, permitindo ao idoso, através da
206
troca mútua, partilhar de uma cultura que vai além dos livros ou de documentos,
dado que a sua construção remete à experiência de vida.
A importante missão que foi a ressignificação da velhice trabalhada
nessa década precisa colocar em evidência a concepção do envelhecimento e
da velhice como fase de vida, permitindo à pessoa idosa uma participação ativa
na sociedade e o exercício cotidiano de sua cidadania.
A comunicação é a esperança que os velhos estudantes têm de
integrar o mundo, de compreendê-lo com olhos diferentes, de partilhar dos
mesmos significados instaurados no mundo contemporâneo. Nesta busca de
compreensão do outro, pode-se perceber a necessidade de conhecimento e
compreensão de si mesmo, num corpo que não lhe é mais familiar, que não
atende aos seus reclamos, num projeto de vida que lhe falta, que lhe escapa,
num mundo em que se percebe, algumas vezes, talvez, sozinho, abandonado. E
ingressam na Universidade, em busca de seu próprio desvelamento.
Destacamos através desta pesquisa que os velhos procuram a
universidade por vários motivos, tais como amizade, conhecimento e assim eles
se revelam mais cuidadores de si mesmos, valorizando o envelhecimento e se
sentindo mais respeitados na sociedade. Não podemos deixar de relatar que os
velhos sentem solidão, que existe um esvaziamento de suas vidas, sentem que
estão defasados por terem dedicado uma vida inteira à família ou ao trabalho. E
buscam novas amizades, mas amizades com os seus iguais, amigos que
também buscam o conhecimento. Pelas respostas dadas pelos velhos às
nossas indagações, a auto estima é melhorada neste universo estudantil.
Como demonstramos no terceiro capítulo, os modelos de sociabilidade
que se institui nesses espaços da universidade para os velhos, os experimentos
de vida que ocorrem, vão além dos programas educacionais.
Esses alunos buscam o conhecimento. A vida só pode auto-organizar-
se com o conhecimento. A vida só é viável e passível de ser vivida com o
conhecimento. Nascer é conhecer. Esses alunos não desejam o diploma, eles
almejam, na verdade, um modo de vida. Apreender esse novo momento da
velhice, essas novas descobertas das suas possibilidades.
207
Aprender e conhecer... o conhecimento como forma de liberdade....
O velho estudante traz em si a experiência de vida, portanto sente
necessidade do impulso encontrado na redescoberta de suas potencialidades na
busca pelo novo. A Educação possibilita ao indivíduo apreender o mundo a partir
de sua realidade, num processo que começa com o conhecimento de si e de seu
universo, ampliando-se para o mundo exterior que, por sua vez, é fruto de nós
mesmos e sobre o qual devemos assumir nossa parcela de responsabilidade e
cidadania.
Já vimos anteriormente que o idoso tem sua identidade e subjetividade
construída socialmente; uma prática educacional que o auxilie a se desenvolver
seria aquela que lhe propiciasse a oportunidade de aprender sobre si mesmo,
conhecer sua realidade e fazer-se indivíduo ativo e capaz de agir sobre si
próprio e o mundo. Vimos também que o mundo que o cerca também se
transforma a cada minuto, no que podemos chamar de rede global de
conhecimento.
Esse novo paradigma do envelhecimento é traduzido como a “nova
velhice”, a velhice que se transforma na busca do conhecimento. Como
revelamos, através das falas desses interlocutores, esses alunos se sentem
importantes por freqüentarem uma faculdade, uma universidade.
Portanto, essas alunas só percebem o seu valor social, a partir do
momento em que se apropriam de um discurso, começam a se valorizar e
elevam a auto-estima. Os alunos perdem o medo de envelhecer e se sentem
seguros, quando apoiados pelo conhecimento e pela convivência com os iguais
(estudantes). Como afirma Dina
302
: “Se eu soubesse que envelhecer era tão
normal... Eu não teria tido tanto medo”.
Com efeito, o amor, de onde provem a palavra amizade, é no primeiro
fundamento, simpatia recíproca; ora, na amizade nada é fingido, nada é
302
Dina, aluna da PUC/SP.
208
simulado, tudo é verdadeiro e espontâneo. Como ressalta Caetano Veloso na
letra de sua música “Língua”, se referindo a valorização da amizade: “A poesia
está para a prosa assim como o amor está para a amizade. E quem há de negar
que esta lhe é superior... E quem há de negar que esta lhe é superior...”
A idéia de amizade na cultura contemporânea corresponde a
determinados valores; acreditamos que na atualidade esses valores são
estruturados para esses alunos como companhia, preocupação com o outro,
compartilhar as coisas que são comuns, fazer trocas de experiências de vida. O
lazer para os gregos era estar no meio dos seus iguais, correspondentemente
como é para os velhos estudantes.
No decorrer da fala dos depoentes, buscamos apreender a visão sobre
o conhecimento, a aprendizagem e o seu uso na velhice. Percebemos que
esses alunos se apropriaram do saber e reformularam a sua prática de vida.
Revelamos o velho estudante por meio do seu discurso, dos seus códigos
culturais, assim como pelas práticas institucionais das universidades.
Percebemos que esses idosos vêm até as universidades em busca de
conhecimento, e podemos afirmar que existe uma nova categoria de velhice,
como ressaltamos na nossa pesquisa. Existe um novo modo de envelhecer. São
idosos que desejam aprender, adquirem conhecimento através da participação
em instituições de ensino, portanto, são os velhos novos estudantes.
Refletindo sobre os aspectos pedagógicos nas Universidades abertas à
Terceira Idade, entendemos que os programas devem possibilitar a discussão
corajosa dos problemas enfrentados pelo seu corpo discente. Falamos de uma
educação que os leve a uma nova postura diante dos problemas de seu tempo
atual e de reconquista de seu espaço. Uma educação que proporcione uma
base para tentativas constantes de mudança de atitude.
Em nosso país, a despeito do sensível aumento na oferta de programas
educacionais para idosos verificado nos últimos anos, ainda não há um ponto de
209
vista e nem um conjunto de práticas instituídas para a formação e o
acompanhamento do trabalho desses alunos; nem se discutem
sistematicamente os fundamentos e as práticas mais apropriadas para a
educação desses idosos.
Um ponto importante é a aceitação do desafio de lutar por
reconhecimento interno e externo, pois o espaço acadêmico não é pródigo em
reconhecer trabalhos com minorias; esse desafio vai desde o embate por
espaços físicos, por recursos materiais, até a dificuldade de contratação e de
especialização de pessoal e a busca de parceiros e aliados entre dirigentes e
docentes. Assistimos constantemente e indignados a abertura de Universidades
de Terceira Idade e a seu fechamento quando o lucro estimado não é
alcançado.
Por outro lado, apesar da relevância indiscutível dos programas
educacionais, culturais e de lazer dirigidos aos idosos, sabe-se que muitos
idosos não se beneficiam destas atividades e isto se deve à relação estreita
entre o próprio processo de envelhecimento e as políticas publicas. O estado
não está preparado para as questões do envelhecimento deste Pais.
Muitas perguntas podem ser suscitadas por estes modelos de
atendimento a população idosa, oferecido por duas das maiores universidades
deste país. Em relação aos princípios que norteiam as propostas podem-se
constatar, apesar de sua não explicitação, a necessidade de abrir espaços da
universidade para uma parcela da população destituída de seu direito de
partilhar da produção do saber acadêmico. Acredito que seja um passo em
direção a modernidade, pois essas instituições perceberam a necessidade de se
pensar o futuro.
Sabemos que tais conquistas solaparam nestes estudantes velhos
vestígios ou marcas de um tempo em que a vida havia perdido sua razão de ser,
talvez, pelo desconhecimento de suas possibilidades enquanto seres habitantes
e cidadãs que são. Exercer este domínio sobre seus próprios corpos e ações
supõe uma retomada de valores esquecidos por uma sociedade instigada pelo
consumismo, pelo efêmero das relações e dos sentimentos: o resgate de velhas
210
e velhos como seres que produzem o novo, o prazer, a recuperação do sentido
da participação deles num mundo que parece traçado somente para as novas
gerações.
A redescoberta da alegria de conviver com o outro, de fazer amizade; a
perda do medo de enfrentar os desafios postos pela própria modernidade; a
capacidade de encarar o processo de envelhecimento com alegria e tristeza,
enfatizando seus prazeres e minimizando aspectos indesejáveis; a busca de
realizações e de desejos; a coragem de denunciar o desagradável são
conquistas de vidas humanas que se permitiram buscar um outro sentido para o
seu estar no mundo.
Estes são valores conquistados que confirmam a possibilidade de se
usar o espaço escolar como um possível lugar de recuperação de vida, para
vidas que pulsam há anos e que conseguem entender que o tempo ainda lhes
concede a construção de mundos. Acreditamos que esses espaços devem ser
ampliados, espalhados por todo o Pais, que os nossos governantes devam
apoiar políticas para a implementação da Educação Gerontológica, como forma
de valorização do velho.
Reconhecendo sua possibilidade de ser e aprender... E de contribuir...
Como afirma Cecília de Meireles (1983):
Tu tens um medo
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia
Que morres no amor
Na tristeza
Na duvida
No desejo
Que te renovas todo dia
No amor na tristeza
Na dúvida
No desejo
Que és sempre outro
Que és sempre o mesmo
Que morrerá por idades imensas
Até não teres medo de morrer
E então será eterno
211
ANEXOS
“Se a síntese pudesse ser efetiva, se minha experiência
formasse um sistema fechado, se a coisa e o mundo
pudessem ser definidos de uma vez por todas, se os
horizontes espaço-temporais pudessem, mesmo idealmente,
ser explicitados e o mundo pudesse ser pensado sem ponto
de vista, agora nada existiria, eu sobrevoaria o mundo e, longe
de que todos os lugares e todos os tempos se tornassem reais
ao mesmo tempo, todos eles deixariam de sê-lo porque eu não
habitaria nenhum deles e não estaria engajado em parte
alguma”
(Merleau-Ponty, 1999)
212
Quadro 2
EIXO TEMÁTICO SAÚDE – DOENÇAS FÍSICAS E MENTAIS
Data Sub
categoria
Título da Dissertação Temática
População Alvo
2000 Doenças
Físicas
Envelhecimento: imagem e
transformação corporal
Problemas de limitações. Residência
3 Idosas
2000 Doenças
Físicas
Envelhecimento, deficiência
física: um estudo das
representações simbólicas
Representações dos Idosos
Portadores de Lesões
Medulares.
Curitiba
4 Mulheres e
4 Homens
2001 Doenças
Físicas
Relacionamento do aluno de
enfermagem com o idoso:
uma experiência em campo
de estágio
Reflexões sobre a
Enfermagem, a Velhice, a
Família, o Asilo e a Solidão.
Asilo / Centro
Recreativo de 3ª
Idade - Idosos
2001 Doenças
Físicas
O estagiário de fisioterapia
no tratamento ao idoso
institucionalizado
Relacionamento profissional
com idosos.
Instituição
Geriátrica - Idosos
e estagiários de
Fisioterapia
2001 Doenças
Físicas
Tuberculose em idosos: o
abandono do tratamento na
região norte do munic, de SP
Discussão sobre os motivos
do abandono ao tratamento
pelos idosos
Postos de Saúde -
Idosos
2002 Doenças
Físicas
Finitude e envelhecimento:
significados da morte no
idoso soropositivo
Relação entre morte
patológica e envelhecimento.
Ambulatório de
infectologia
Soropositivos entre
60 e 72anos
2002 Doenças
Físicas
Idosos judeus sob cuidados
fisioterapêuticos
Estudo sobre o momento
terapêutico.
Cent.de Fisioterapia
- Pacientes
2002 Doenças
Físicas
Armadilhas do espaço urbano Relato de idosos vítimas de
quedas na cidade.
São Paulo
Moradores
2002 Doenças
Físicas
A experiência da
hospitalização na visão do
idoso e de seu acompanhante
Reflexão: a importância do
acompanhante junto ao idoso
no processo de internação
Hospitais - Idosos
e acompanhantes
2002 Doenças
Físicas
Um olhar aquém do
envelhecimento. O portador
de deficiência múltipla em
processo de envelhecimento
Investigação das
oportunidades sociais e
terapêuticas
São Paulo
Moradores
2002 Doenças
Físicas
A alimentação na promoção
da saúde em idosos
hipertensos: testando uma
nova técnica
Avaliar uma nova técnica
“Oficina de reconstrução da
prática alimentar”
Hospital
Idosos hipertensos
2003 Doenças
Físicas
Qualidade de vida de idosos
com câncer de próstata em
radioterapia
Análise das interferências da
Radioterapia na qualidade de
vida dos idosos
Hospital
7 pacientes
213
2003 Doenças
Físicas
O hóspede inesperado: Aids
no envelhecimento feminino
Investigação da
vulnerabilidade feminina
Hospital e
Ambulatório / SP
12 mulheres entre
55 e 75 anos
2003 Doenças
Físicas
Doença crônica no idoso:
uma investigação do “locus”
hospitalar
Compreensão do significado que
os idosos portadores (DPOC),
atribuem ao tratamento
fisioterápico e ao focus
hospitalar
Hospital
Pacientes com
doença (DPOC),
2003 Doenças
Mentais
A vida corre como uma flecha
ainda que dê a impressão de
estar parada. Estudo sobre a
memória de idosos internados no
Hospital
Juquery
Lembranças dos doentes
sobre suas vidas fora do
hospital
Hospital Juquery
5 pacientes
2003 Doenças
Físicas
Envelhecimento e quedas
domiciliares: trajetórias da
vida
Reflexões sobre as mudanças
ocorridas nos idosos após
uma queda
Hospital
3 idosas
2003 Doenças
Físicas
Alcoolismo tardio: um estudo
sobre os fatores que influenciam
o seu desenvolvimento em
idosos institucionalizados na
região de Sorocaba
Interpretação da
problemática sobre o
alcoolismo tardio.
Clínica em
Sorocaba
Idosos
Institucionalizados
2003 Doenças
Físicas
Corações atingidos: o
significado da
revascularização do
miocárdio no paciente
octogenário
Reflexão sobre a influência
desta patologia na
expectativa de vida do idoso
Hospital -
Octogenários
2003 Doenças
Físicas
A experiência da internação
em UTI na visão do idoso
com doenças cardio-
vasculares sob tratamento
fisioterapêutico
Os significados atribuídos ao
momento terapêutico e as
interferências no
desempenho da recuperação
destes idoso.
Hospital UTI -
Pacientes na UTI
2004 Doenças
Físicas
Reaprendizagem do olhar:
um estudo de baixa visão na
velhice
Reflexão sobre o acesso aos
significados atribuídos pelos
sujeitos à perda parcial da
visão ao processo de
resignificação da vida.
Consultório
Oftalmológico
idosos
2004 Doenças
Físicas
Incontinência x
incompetência. O impacto
das disfunções urinárias na
mulher envelhescente
Observação do impacto físico e
cultural nas disfunções urinárias
em mulheres envelhecidas e sua
relação com outras disfunções
pélvicas associadas.
Hospital Escola
Beneficiente
30 mulheres
2004 Doenças
Físicas
A nova idade da AIDS: Um
perfil epidemiológico de
portadores idosos
Estudo retrospectivo
descritivo e exploratório dos
idosos com Aids / HIV
Centro de
referência em Aids
Santos
97 pessoas
2005 Doenças
Físicas
Meninos & Mães da ABDIM: A
epopéia da longevidade de
pessoas que convivem com a
Distrofia Muscular de Duchenne
e envelhecem lado a lado
Refletir sobre mães e filhos
com a doença, que
envelhecem lado a lado, suas
dificuldades e contribuições
Associação
Beneficente de
Distrofia Muscular
SP (ABDIM)
50 Mães / 50 filhos
214
2005 Doenças
Físicas
O ônus físico pela ótica das
cuidadoras familiares de
idosos com episódios de
Acidente Vascular Cerebral
(AVC)
Reflexão sobre as sensações
de seu ônus físico e
emocional, frente as tarefas e
cuidados com o familiar
dependente
Residências
8 Cidadãs com mais
de 50 anos
2005 Doenças
Físicas
Osteoporose: O que se sabe a
respeito da epidemia silenciosa?
Análise do nível de percepção a
respeito da osteoporose em
mulheres idosas na Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo
Análise sobre o nível de
informação sobre a
osteoporose
Santa Casa de
Misericórdia de SP
150 Mulheres
2005 Doenças
Mentais
Breve estudo sobre depressão
e cognição em idosos
institucionalizados e
domiciliados
Observação dos aspectos da
depressão e da cognição em
idosos residentes em ILP e
no domicílio
ILP e domicílio
Santa Fé do Sul
8 Idosos portadores
de depressão há
mais de 1 ano
2005 Doenças
Físicas
Repercussões da cirurgia de
revascularização do
miocárdio em um grupo de
idosos da cidade de São
Paulo
Analisar as alterações na
capacidades funcional,
humor e na cognição de
idosos submetidos a cirurgia
cardíaca
Instituto do
Coração
HCFMUSP
6 Participantes
2005 Doenças
Físicas
Aspectos clínicos sociais
relacionados a tabagista idoso
assistido pelo programa de
saúde da familia
Reflexão sobre os hábitos
tabagistas dos idosos
Programa de saúde
da família no Capão
Redondo - 80
tabagistas
2006 Doenças
Físicas
Porque o familiar e /ou
paciente resistem à
assistência domiciliar
Estudo sobre quais os
motivos da não aceitação ou
resistência a assistência
domiciliar
Assistênc. Domic.
Em SP (médico,
paciente, enferm.
Assistentes sociais )
2006 Doenças
Físicas
Acidente Vascular Isquêmico
Direito e suas repercussões
em idosos
Análise sobre o estado
mental, comportamental e
funcionalidade na interação
social de indivíduos idosos
que sofreram (AVCFD)
Hospital
4 Pacientes entre
60 e 70 anos
2006 Doenças
Físicas
Assistência domiciliar análise
da atuação do profissional de
enfermagem na interação
com idoso portador de
enfermidade crônica
Reflexão sobre a assistência
domiciliar, sob a ótica da
família e do enfermo
Cidade de São
Paulo - 3 Idosos,
3 familiares e
2 profissionais de
enfermagem
2005 Doenças
Físicas
Subjetividades do homem idoso
e a relação com a não adesão no
tratamento anti-hipertensivo.
Estudo dos indivíduos do sexo
masculino cadastrados no
programa de saúde da família na
região leste de SP
Reflexão sobre os aspectos
culturais, sociais e cognitivos
do homem idoso e hipertenso
e a sua percepção em relação
à seção medicamentosa e os
profissionais da saúde
Velhos
Entre 67
e 85 anos
2006 Doenças
Físicas
A dificuldade ao se tomar
uma decisão sobre internar ou
não um familiar em fase
terminal sem autonomia
Reflexão sobre as decisões
utilizadas pela família para
decidir internar um familiar
em fase terminal e sem
autonomia
Hospital e
residência
8 pacientes entre
48 e 95 anos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
215
Quadro 3
EIXO TEMÁTICO SAÚDE – ATIVIDADE FÍSICA E VIDA SAÚDAVEL
Data Sub
categoria
Título da Dissertação Temática
População Alvo
2000 Atividade
Física
Corpo e movimento no
envelhecimento: reflexões dos
idosos sobre as transformações
do seu corpo
Universidade da 3ª Idade
Conscientização dos Idosos
sobre o Envelhecimento de
seus Corpos
Universidade.
Aberta a 3 Idade
7 alunos
2001 Qualidade
de Vida
Como abraço afetuoso em corpo
sofrido – saúde integral para os
velhos, pessoas idosas,
socialmente ativas e autônomas da
cidade de São Paulo, expressam
concepções diferentes de saúde.
Reflexões sobre: o
significado de uma
assistência integral à saúde
dos idosos. (Visão
biomédica e holística)
São Paulo
7 Alunos
2002 Atividade
Física
A transformação na última fase da
vida: uma visão multidisciplinar
do envelhecimento
Considerações sobre o
processo de envelhecimento
sob um olhar múltiplo
Psicoterapia
corporal
Uma idosa
2002 Atividade
Física
Sociabilidade do idoso no
campeonato paulista de águas
abertas
Convivência intergeracional
no esporte
Camp. Paulista de
Maratonas Aquáticas
Nadadores/idosos
2002 Vida
Saudável
Memória e alimentação:
testando uma nova técnica
Avaliação de uma nova
técnica na área de nutrição
Grupo de
convivência 9 idosas
2002 Atividade
Física
Memória corporal: o
simbolismo do corpo na
trajetória da vida
Compreensão das marcas
deixadas no corpo
Consultório –
Pacientes
2002 Vida
Saudável
A construção do envelhecimento
ativo: estudo de um grupo de
idosos da cidade de Bauru
Pesquisa sobre
envelhecimento autônomo,
saudável e ativo.
Bauru / Grupo de
convivência de
Idosos
2003 Vida
Saudável
Arte Terapia e envelhecimento
O trabalho apresenta através de
esculturas de mulheres
esculpidas pelas idosas, a
compreensão do seu processo
de envelhecimento
Atelier Terapêutico
Mulheres de
65 anos
2003 Vida
Saudável
Instituição de saúde
envelhecimento saudável: uma
proposta de atendimento
interprofissional
Proposta de trabalho inter
profissional priorizando a
velhice
Hospital
Idosos
2003 Atividade
Física
Idosos que se cuidam: uma
relação entre corpo e
envelhecimento
Reflexões sobre a
possibilidade na melhora dos
aspectos físicos e psíquicos em
idosos que executam uma
rotina de atividade física
Programa de
qualidade de vida
Alunos do
programa
2003 Vida
Saudável
Qualidade de vida de um grupo
de cuidadores familiares de
portadores de doença de
Alzheimer
Conhecimento e análise:
influência do desempenho de
cuidar de portadores de DA e a
qualidade de vida do cuidador
familiar
Associação
Brasileira de
Alzheimer
7 cuidadores
(familiares)
2003 Vida
Saudável
Significados da saúde bucal na
velhice
Reflexão sobre como a história
interdentária de cada um influi
na personalidade de idosos em
cada contexto vivido
Consultório dentário
Velhos de
67 a 85 anos
216
2004 Atividade
Física
Envelhecimento ativo, utopia ou
possibilidade: Percepção de bem-
estar nos usuários do Agita Assis
Análise do programa de
envelhecimento ativo
direcionado pela OMS
Assis - cidade
38 participantes
do programa
2004 Atividade
Física
Barreiras para o início da
prática de atividades físicas de
forma regular por idosos
Investigações sobre os
impulsos que impedem os
idosos de iniciarem a prática
em programa de atividade
física de forma regular.
Centro de
Convivência do
SESC Pompéia
5 Idosos
2004 Atividade
Física
Contribuições da atividade
física para uma velhice bem-
sucedida
Refletir sobre a relação entre a
prática de atividade física e o
envelhecimento bem sucedido
5 Idosas de
66 a 76 anos
2004 Vida
Saudável
Casas Lares da Prefeitura do
Município de São Paulo:
Atendimento alimentar e sua
contribuição sobre o estado
nutricional de indivíduos na
terceira idade
Estudo sobre o entendimento
das casas lares, identificando a
sua contribuição nutricionais,
para proporcionar uma melhor
qualidade de vida aos idosos
Duas Casas lares
do município –
Prefeitura de SP -
58 sujeitos entre
57 a 78 anos
2004 Atividade
Física
Significados que um grupo de
mulheres atribui a
modificações do seu corpo no
processo de envelhecimento
Compreensão num contexto
de interações físico-psico-
sociais, dos significados das
mudanças corporais
Bairros da cidade
de São Paulo
7 mulheres
2004 Vida
Saudável
Bordadeiras do Morro São
Bento: memória, trabalho e
identidade
Análise do comportamento
das bordadeiras com o
ofício e o envelhecimento
Morro São Bento
Santos
5 Velhos
2005 Vida
Saudável
A socialização do idoso e o
movimento corporal coletivo
Reflexão sobre como o
movimento corporal coletivo,
através da dança de salão,
promove uma nova
socialização ao idoso
Universidade da III
Idade de Santa fé
do Sul – 5 Alunos
acima de 60 anos
2005 Vida
Saudável
A arte de viver e envelhecer com
qualidade: Interfaces da Terapia
Ocupacional, Atividades artísticas
e Gerontologia
Compreender as questões
do envelhecimento
contemporâneo na cidade
de SP, através do PACTO
Programa de
Composições Artísticas
e terapia ocupacional-
Idosos
2006 Atividade
Física
Idosos de hoje, atletas
olímpicos do passado.
Compreender as percepções,
sentimentos e significados das
vivências experimentadas por
atletas idosos
7 Atletas
medalhistas
olímpicos
2006 Vida
Saudável
Psicanálise na maturidade: Um
resgate possível
Relação entre os aspectos inter
culturais, que fazem referência
a velhice e suas incidências
sobre o pensamento e método
em psicanálise.
Clínica terapêutica
3 Mulheres
2006 Atividade
Física
Atividade Física: Novos
Significados de vida para o
idoso
Refletir sobre a importância
da prática da atividade
física por pessoas idosas
Programa de III
Idade da Igreja
Metodista de Vila
Formosa 22 Idosos
2006 Vida
Saudável
A musicoterapia como
tratamento coadjuvantes à
doença de Parkinson
Análise de como o exercício de
tocar um instrumento, ou
cantar ou praticar um exercício
musical orientado, funciona
como terapia
Sociedade
Brasileira de
Parkinson - 10
sujeitos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
217
Quadro 4
EIXO TEMÁTICO – SEXUALIDADE
Data Título da Dissertação Temática População Alvo
2002
A menopausa em questão:
conversas com mulheres do
campo
Reflexão sobre a menopausa e
envelhecimento
Assentamento São
Domingos
Idosas
2002
A sexualidade idosa no
imaginário do jovem adulto
Discussão da sexualidade pelo
jovem adulto
Universidade
Jovens e Adultos
2003
Sexualidade e velhice: um estudo
das representações masculinas
Compreensão do lugar e os
significados da sexualidade na
vida do homem idoso
São Paulo
Idosos
2003
A percepção da sexualidade
feminina no processo do
envelhecimento: estudo
comparativo de mulheres da
quarta à oitava década
Reflexão sobre a percepção da
sexualidade feminina
São Paulo
15 mulheres de
45 a 80 anos
2003
A importância da informação
sobre sexualidade de homens
idosos após cirurgia de câncer de
próstata
Estudar as informações que os
idosos tinham a respeito do
câncer e da prostatectomia
radical RTUP, antes do
tratamento
Hospital
Idosos
2004
O pulso ainda pulsa: O
comportamento sexual como
expressão da vulnerabilidade de
um grupo de idosos soropositivos
Análise sobre os aspectos do
comportamento sexual que
tornaram os idosos vulneráveis
a HIV.
Instituto de
infectobiologia Emilio
Ribas - 8 sujeitos de
62 a 73 anos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
218
Quadro 5
EIXO TEMÁTICO - VELHICE
Data Título da Dissertação Temática População Alvo
2001 Um outro talvez novo tempo: a
velhice
Reflexões sobre a
subjetividade do envelhecer.
Grupo Psicoterapêutico
Senhoras Idosas
2002 Idosos reconstruindo-se com suas
histórias
Resignificação para
compreensão do presente
Oficina de Memória
3 Idosas
2003 Resiliência e desenvolvimento
pessoal: mais uma possibilidade
de se envelhecer?
Modos diferentes de
envelhecer
Consultório
Pacientes
2003 O significado e a percepção de
ser idoso
Compreensão da negação da
velhice pelos próprios idosos
Clínica
Pacientes
2003 Velhice e Senado Federal: O
olhar dos senadores idosos sobre
o envelhecimento
Velhice associada a uma
posição de poder
institucionalizado
Senado
Senadores
2003 Envelhecimento: reflexões a
partir de uma experiência em
grupo
Estudo do processo de
envelhecimento de idosos
Grupo de convivência
em SP - Moradores
entre 67 e 82 anos
2003 À espera da liberdade: Um
estudo sobre o envelhecimento
prisional
A velhice aprisionada em
instituição prisional
Penitenciária Masculina
Prisioneiros idosos
2004 Imagem da velhice na literatura
infantil
Representações da velhice
presentes nas ilustrações e
obras clássicas,
Livros infantis
2004 Um estudo sobre a visão de
homens negros em relação ao seu
próprio envelhecimento em S.P
Compreensão de como esses
homens negros constituem
seus espaços na sociedade
São Paulo
6 Homens negros com
mais de 60 anos
2000 No olhar da criança o ‘retrato
velado’ da discriminação do
idoso
Reflexão sobre a imagem de
crianças de 10 a 13 anos sobre
pessoas com mais de 65 anos
Escola pública e
particular SP. Alunos
crianças de 10 a 13 anos
2004 A Construção do
Envelhecimento
Análise de estudantes de
Gerontologia e não estudantes
sobre como vivenciam o
envelhecer
6 Indivíduos de
40 a 55 anos
(alunos do programa
de gerontologia)
2004 O idoso e a criança: o significado
da relação ao contar histórias
Reflexões sobre o significado
de contar histórias e a relação
entre crianças e idosos
Espaços públicos e
privados
Crianças e Idosos
2005 O idoso e o serviço de
emergência hospitalar:
investigação dos significados da
velhice para a equipe de saúde
Desvendar o lugar do idoso na
cultura da instituição
Instituição hospitalar
privada em SP -
Equipe de Saúde do
Serviço de Emergência
2005 A velhice masculina : até quando
caixeiros viajantes?
Reflexão sobre a velhice sob a
perspectiva gênero
1 idoso
2005 Reflexões sobre o processo de
envelhecimento nos
homossexuais masculinos
Análise e reflexão do velhice
dentro das diferenças que a
identidade sexual traz na vida
12 sujeitos
18 a 46 anos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
219
Quadro 6
EIXO TEMÁTICO – MERCADO DE TRABALHO
Ano Título da Dissertação Temática Público Alvo
2000 O homem de pijama: o
imaginário masculino em relação
à aposentadoria
Possibilidades de Vivenciar a
Aposentadoria através de Novos
Arranjos Sociais.
São Paulo – 4 Idosos
2001 Impacto causado por um
programa de demissão voluntária
– PDV – na vida dos aposentados
Efeitos do impacto causado por
um programa Institucional de
PDV, nos aposentados ativos e
daqueles em idade de se
aposentar.
Metrô
2001 O trabalho voluntário: uma
questão contemporânea e um
espaço para o aposentado
Conhecer as razões centrais que
levam um idoso ao trabalho
voluntário.
Instituições
2002 A cultura organizacional e o
envelhecer. Estudo de caso: a
paisagem mental simbólica de
uma empresa em relação ao seu
envelhecer e ao de seus
empregados
O significado da velhice na
sociedade capitalista
Empresa
Empregados
2003 Com trabalho e sem salário:
valorização para o idoso e
ganhos para a sociedade
Uma visão do velho mantendo o
nível de contribuição para a
sociedade com a força da
experiência, da cooperação e do
comprometimento
São Paulo
6 Idosos
2004 Programa pré-aposentadoria: O
recomeço de uma nova vida,
crise ou oportunidade? O caso
CESP
Análise das transformações
ocorridas na vida dos aposentados
que passaram pelo programa Pré-
aposentadoria CESP
CESP
8 Aposentados
2005 Por que contratar idosos? Um
estudo de caso da empresa
Biscoitos Festiva
Estudo da empresa que contrata
idosos experientes e os mantém
trabalhando, explorando o tripé
empresa /trabalhador idoso /
jovem e velho trabalhando
Empresa de biscoito
Festiva SP
20 Funcionários
2005 Gestão de serviços no processo
de envelhecimento, por
organizações do terceiro setor:
possibilidade atual ou futura?
Análise da relação atual entre o
setor e o processo de
envelhecimento, no que se refere
a gestão de serviço em todo
contexto
São Paulo
2005 A aposentadoria por idade no
direito brasileiro
Análise da evolução da proteção
social
2006 Aposentadoria e trabalho:
Investigação sobre a (re)Inserção
do idoso no Mercado de
Trabalho
Investigar a (re) inserção do idoso
aposentado que trabalha e
São Paulo
9 Indivíduos
aposentados entre
63 a 80 anos
2006 O trabalho na velhice: Novas
possibilidades
Reflexão sobre a capacidade e as
possibilidades dos idosos de (re)
socialização, através de trabalho e
de novas ocupações
Idosos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
220
Quadro 7
EIXO TEMÁTICO - FAMÍLIA
Ano Título da Dissertação Temática
Público Alvo
2000 Autonomia e cidadania:
caminhos e possibilidades para o
ser idoso
Expropriação da autonomia do
idoso dentro da família.
Família
2000 Velhos, cães e gatos:
interpretação de uma relação
Reflexão sobre a Relação de
Velhos com mais de 10
Animais Presentes em seu
Domicilio.
Casa dos Idosos
Atendidos pelo Centro
de Controle de Zoonoses
da PMSP
2001
As questões que envolvem a
responsabilidade assumida pelos
avós enquanto guardiões de seus
netos, no que se refere a formação de
referências sociais e aos legados
passados de geração em geração
Relação Intergeracional dentro
do universo familiar.
Residência
Avós e Netos
2002 A grupoterapia como instrumento
de mudanças na velhice: uma
revisão das relações do idoso
com seus familiares
Investigação da possibilidade
de mudança de vida de idosas,
através da expressão de
sentimentos reprimidos.
Grupoterapia
4 Idosas
2002 Se o idoso não é prioridade
também não é esquecido: a
complexidade de envelhecer no
Ceará
Reflexão sobre a relação
intergeracional na família num
contexto das políticas públicas.
Fortaleza
Asilo / Grupos de
convivência -idosas
2003 Das trajetórias e dos ritos na
singular experiência de esposas-
cuidadoras
História da relação de mulheres
cuidadoras de maridos idosos
dependentes
Residência
4 Esposas
2003 Avós que cuidam dos netos por
morte da mãe soropositiva
Investigação das relações
afetivas entre avós e netos pela
perda da mãe
Santa Casa de
Misericórdia de SP
Avós
2004 Avós e seus netos: Velhice ao
lado da adolescência em conflito
com a Lei
Comparação sobre que tipo de
relação é possível entre esses
segmentos etários
Programa de liberdade
assistida de Instituições
governamentais -
Idosos e jovens
2005 Pais que retornam a residir com
os filhos na velhice. Novas ou
velhas parcerias?
Conhecer como o idoso
percebe a instituição familiar
na atualidade e como lida com
as diferentes gerações
Família
2006 Homens idosos – Avôs:
Significado dos netos para o
cotidiano
Aprender como o idoso
interpreta a relação avô-neto
Residência
Avós
2006 O convívio do idoso na família Contextualizar a família no
aspecto sócio cultural na
convivência do idoso nessa
instituição
Centro de Convivência
Universidade da 3ª
Idade
Idosos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
221
Quadro 8
EIXO TEMÁTICO MORADIA
Data Título da Dissertação Temática População Alvo
2001
Vivendo, convivendo,
sonhando o cotidiano dos
idosos moradores nas
repúblicas de Santos/SP
Análise da possibilidade da
descoberta sobre o abrigo
como estrutura de acolhimento
e de vivência social.
Repúblicas na cidade de
Santos
Idosos
2001 Mulher, velhice e asilamento
voluntário.
Investigação dos motivos para
a decisão do asilamento
voluntário.
3 Instituções Asilares
de São Paulo
9 Mulheres
2002 Instituição gerontológica:
interdição do idoso ou
possibilidade de reconstrução
da história de vida
Análise das Instituições pelos
Idosos Asilados.
Instituição Gerontológica
Pública (RJ)
Asilados
2002 A estranha arte de envelhecer
longe da pátria: o cotidiano de
imigrantes espanhóis atendidos
pela sociedade beneficente
Rosália de Castro-SP-2001
Análise das peculiaridades do
envelhecimento de um grupo
de imigrantes espanhóis.
Sociedade Beneficente
Rosália de Castro
5 Sujeitos /Staff
2002 Casa-Lar: uma conquista dos
idosos de rua
Luta pelo direito de moradia,
baseando-se na cidadania.
Casa Lar / SP – Idosos
moradores de rua
2003 A Cidade e o Idoso: um estudo
da questão de acessibilidade
nos bairros Jardim de Abril e
Jardim do Lago, município de
São Paulo
A cidade como espaço de
produção, circulação e
consumo de serviços e
mercadorias, ao lado da
expropriação de seus
habitantes.
Periferia de
São Paulo
Idosos
2003 Asilo de velhos: espaço
possível de vivência afetiva, de
vida (in)digna?
Reflexão sobre a
institucionalização da velhice.
A partir da década de 60
Asilos
Asilados
2005 Breve estudo sobre idosos
institucionalizados de
Presidente Prudente – SP
Conhecer a população de
idosos institucionalizados,
quanto a situações de saúde,
sócio econômica e cultural
Instituição asilar em
Presidente Prudente -
141 Idosos
Institucionalizados
2005 O fazer institucionalizado: O
cotidiano do asilamento
Compreender a problemática
do cotidiano do asilado
Asilo – SP
5 Sujeitos , Direção e
Funcionários
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
222
Quadro 9
EIXO TEMÁTICO - POLÍTICAS PÚBLICAS
Data Título da Dissertação Temática População Alvo
2002
Políticas públicas de atendimento
ao idoso: a experiência da cidade
de Osasco
Alternativas de atendimento
oferecidas pelo Poder Público
Osasco
Pacientes
2002
Motivações e expectativas dos
idosos em grupos de convivência
de Atibaia/SP
Estudo da realidade social e as
relações em grupo
Grupo de
Convivência Atibaia
Idosos
2002
Os significados do
envelhecimento e do ser velho no
Movimento Sem Terra
Estudo das relações dos velhos
na batalha incessante por um
pedaço de terra
Acampamento Aziel
Alves
Idosos sem terra
2003
A trajetória de Maria Villela: a
participação do idoso nas políticas
sociais
Participação e conscientização
desta idosa em organizar-se
socialmente para a construção
de políticas
UBS da Santa Cruz /
Mogi Mirim
1 idosa
2003
Velhice, saúde e políticas
públicas: o Distrito Administ. De
Pinheiros, São Paulo
Dar voz aos idosos que
utilizam o serviço público
Distrito Admistrativo
. de Pinheiros
Idosos
2005
A velhice ao olhar da equipe do
Programa Saúde da Família em
Diamantina / MG
Análise da assistência prestada
aos idosos pela equipe (PSF)
Diamantina (MG)
39 profissionais,
26 agentes
comunitários e
4 auxiliares de
enfermagem
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
223
Quadro 10
EIXO TEMÁTICO - EDUCAÇÃO
Data Título da Dissertação Temática População Alvo
2000
Instituto de Educação Costa
Braga: um espaço comunitário
de reflexão sobre o
envelhecimento
Processo de Educação para o
Envelhecimento.
Universidade Aberta da
3ª Idade.
52 Alunos e
83 Funcionários
2000
Cooperação intergeracional:
significado de uma experiência
de administração no terceiro
setor
Interação entre Jovens
Universitários Profissionais e
Idosos.
Projeto área
Administrativa do 3º
Setor – Londrina
Jovens, idosos e
Profissionais
2000
Gerontologia Educacional –
uma pedagogia especifica para
o idoso, uma nova concepção
da velhice
Educação Permanente como
Instrumento de
Transformação do Cotidiano
do Velho.
Universidade aberta a 3ª
Idade FITO-FEAO/
Osasco - 22 Alunos e
4 Professores
2000
Velho com novo olhar: a
informática redimensionando as
relações
Processo Ensino
Aprendizagem na Velhice.
Escola de Informática
Idosos Estudantes
2001
Aspectos emocionais em
relação ao envelhecimento nos
freqüentadores de uma
universidade para a 3ª Idade da
Cidade de Osasco
Reflexões sobre a inclusão do
idoso e o resgate da cidadania
e a universidade como espaço
de convivência.
UNATI
Alunos
2002
Tocando a vida: música e
envelhecimento
Ensino da música aos idosos e
as interferências desta
atividade no envelhecimento.
Escola de música
6 Pessoas
2002
A orientação educacional a
serviço da educação
permanente: uma experiência
com idosos
Relação entre educação
permanente, orientação
educacional e velhice.
Universidade da 3ª Idade
-Alunos
2002
Da fisioterapia à gerontologia
Reflexão sobre a importância
dos estudos sobre
gerontologia para a
Fisioterapia
Universidade
Alunos de Fisioterapia
224
2002
A universidade aberta à 3
a
.
Idade: a velhice que se aprende
na escola ou de como ser
estudante aos 60 anos
Relação ensino /
aprendizagem
Universidade Aberta da
3ª Idade UNIFEO
Alunos
2002
A idosa analfabeta e seu
cotidiano: como o idoso vive na
nossa sociedade, sem condições
de ler e escrever
Avaliação dos idosos em
relação à alfabetização
Grupo de alfabetização
de idosos
8 Mulheres
2003
Velhice e Educação: do
desvelar das letras ao desvendar
do mundo.
O trabalho investiga as
relações entre letramento e a
velhice
Escola – Estudante
analfabeta Idosa
2004
Concepções de estudantes de
graduação em enfermagem
sobre envelhecimento
Análise das concepções dos
alunos que cursavam a
disciplina geriatria e
gerontologia sobre o
envelhecimento
Universidade de
Enfermagem – alunos
disciplinas de Geriatria e
Gerontologia
2005
O idoso e o aprendizado de uma
nova língua: O descortinar de
trocas sociais e afetivas
Verificar quais os significados
da aprendizagem de uma nova
língua para este sujeito
Sete Alunos de
65 a 75 anos
2005
Tecnologias de informação e
comunicação: o e-mail
redimensionando as relações
sociais de idosos
Análise das mudanças
ocorridas nas relações sociais
de idosos a partir do uso da
ferramenta de e-mail e
Internet
Universidade da Melhor
Idade Anhembi
Morumbi
Idosas
2005
A educação musical na terceira
idade: uma proposta
metodológica de sensibilização
e iniciação a linguagem musical
Sistematização de
metodologia de sensibilização
e iniciação musical para um
grupo de idosos
Escola de música
Voluntários
2006
Software novo em Hardware
antigo- Informática e terceira
idade
Discussão sobre os aspectos
que envolvem a inserção do
idoso na tecnologia através da
aprendizagem dos
mecanismos inerentes à
mesma
Universidade Aberta da
III Idade
Idosos
Dissertações defendidas entre 2000 a 2006 (programa de Gerontologia Social PUC/SP)
225
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROJETO
UNIVERSIDADE ABERTA PARA A TERCEIRA IDADE
AUTORIA
PROF. DR. ANTONIO JORDÃO NETTO
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
SÃO PAULO
1990
226
CONTEÚDO
1. Justificativa
2. Objetivos
3. Organização
4. Coordenação
5. Funcionamento e horário
6. Carga horária
7. Turmas e vagas
8. Corpo docente
9. Custos
10. Considerações finais
227
PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE CURSOS VOLTADOS PARA AS
PESSOAS MAIORES DE 50 ANOS, NÚCLEO DA UNIVERSIDADE SENIOR, A
SER CRIADA COMO ATIVIDADE DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E
CULTURAL DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –
PUCSP
1. JUSTIFICATIVA
Recente trabalho publicado pela Fundação Sistema estadual
de Análise de Dados Estatísticos – SEADE, (O Idoso na Região da Grande São
Paulo) dá conta que entre 1940 e 1980 a proporção de idosos no Brasil, isto é,
as pessoas que, cronologicamente, ultrapassaram os 60 anos, passou de 4,1%
para 6,1%. Assinala também o citado estudo que estimativas referentes aos
anos seguintes mostram uma rápida elevação deste percentual, que deveria
chegar a 8,3% no ano 2000 e quase 15% por volta do ano 2025. Em termos
absolutos, estes se traduzem em 7 milhões de idosos a mais no Brasil, de 1980
até o final do século, sendo 1 milhão apenas na Região da Grande São Paulo
(atualmente denominada Região Metropolitana).
Ressalta-se que, por outro lado, só no município de São
Paulo vivem mais de 500 mil idosos, sendo que sua concentração em bairros
como Consolação, Vila Mariana, Belenzinho, Santa Cecília, Cambucí, Lapa,
Bom Retiro, Perdizes, Jardim América, Pari, Jardim Paulista, Cerqueira César,
Barra Funda, Aclimação, Vila Madalena e Pinheiros, chega a superar a casa dos
10% da população total dos mesmos.
Outro dado demográfico importante diz respeito ao aumento
da vida média da população paulista, conforme mostra também o estudo de
SEADE o qual, com base nas estatísticas de óbitos referentes a 1985 e 1986,
revelou que houve um aumento de cerca de 1,5 anos na esperança de vida ao
nascer da população do Estado entre 1980 e 1985, mostrando que na atualidade
as taxas relativas ao assunto, para o Estado como um todo, está por volta dos
228
68,2 anos, enquanto para a Grande São Paulo atinge cerca de 67,9 anos e para
o município de São Paulo ao redor de 68,2 anos.
Todos esses indicadores revelam um processo de contínuo
envelhecimento da população paulistana, com enormes reflexos sobre as
questões da educação, trabalho, lazer e, em especial, sobre as políticas de
saúde e aposentadoria.
São todas questões de extrema importância, tanto para
aqueles que estão vivendo o processo, como pra todas as instituições,
governamentais ou não, que direta ou indiretamente tem responsabilidades,
maiores ou menores, no que tange ao atendimento das necessidades dos
idosos quanto as questões mencionadas.
Entre as instituições que não podem se omitir no que se
refere a complexa problemática da velhice está, sem dúvida, a Universidade,
sendo que as responsabilidades da mesma frente a questão são,
principalmente, de duas naturezas. A primeira diz respeito a formação de
profissionais competentes que possam atuar tanto no campo da geriatria, como
da gerontologia, ao mesmo tempo que deveria desenvolver e incentivar estudos
e pesquisas sobre o envelhecimento humano. Quanto a segunda, refere-se a
prestação de serviços a comunidades, no caso específico a comunidades de
idosos, por meio das mais variadas formas.
Relativamente a responsabilidade de formação acadêmica e
profissional, competiria a Universidade incluir, por exemplo, a disciplina
Gerontologia Social nos cursos que formam profissionais em áreas mais
diretamente relacionadas com questões que podem envolver a população idosa,
tais como as áreas de ciências biológicas, ciências humanas e educação, dentro
das recomendações do Parecer 550/82 do Conselho Federal de Educação, além
de oferecer cursos de especialização em geriatria e gerontologia naquelas
mesmas áreas. Tal aspecto, entretanto, demandaria projetos especiais e mais
complexos, que precisariam ser desenvolvidos a médio e longo prazo, já que
interfeririam com os currículos dos diferentes cursos normalmente oferecidos
229
pela Universidade, com os interesses das respectivas áreas em assumir a
proposta e assim por diante.
Entretanto, quando se pensa em termos de prestação de
serviços à comunidade, é possível se pensar em propostas imediatas e de
aplicação a curto prazo capaz de trazer benefícios concretos à categoria
representada pelos idosos, no que dz respeito a diferentes aspectos de sua vida,
levando-se a conhecer melhor sua própria condição, tanto nos aspectos de
saúde física e mental, situação sócio-econômica, cultural, de lazer, etc, assim
como abrir-lhes perspectivas de organização política com vistas a defesa de
direitos já conquistados e de lutas para obtenção de outros.
Uma proposta que se situa dentro das características retro
descritas diz respeito a oferta de cursos em nível de extensão universitária e
cultura para aquelas pessoas que já ingressaram ou estão prestes a ingressar
na chamada 3ª Idade, cursos esses que poderiam ser desenvolvidos em nível
interdisciplinar e assumidos por diferentes órgãos, unidade de ensino,
departamentos, e assim por diante, de uma forma integrada, e que poderiam se
constituir no núcleo de um tipo de UNIVERSIDADE SENIOR dentro da Pontifícia
Universidade católica de São Paulo.
Trata-se de uma proposta já testada com êxito em países
como França, Suécia e Alemanha e que recentemente foi implantada no Brasil
pela Pontifícia Universidade Católica – PUCCAMP, por meio de um projeto
intitulado “Universidade da Terceira Idade”, que teve grande repercussão na
imprensa e provocou enorme interesse por parte da comunidade de idosos
daquela cidade, havendo muita procura pelos cursos oferecidos.
Diante do exposto e considerando que a população idosa da
cidade de São Paulo é bem maior que a campineira (cerca de 500 mil contra 70
mil) constituindo-se assim numa clientela potencial muito mais significativa, fica
plenamente justificada a proposta de oferta de cursos à população maior de 50
anos (considerando-se uma perspectiva de prevenção do limiar convencional
dos 60 anos) residente no município, cursos esses que se constituíram no
230
núcleo da UNIVERSIDADE SENIOR, no âmbito maior da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
Em acréscimo, cabe lembrar que além dos cursos de
extensão universitária e cultural, em termos de oportunidade de reciclagem,
atualização e integração para as pessoas maiores de 50 anos, o Projeto da
Universidade Sênior se justifica também pela perspectiva que oferece no sentido
de prestar outros serviços à comunidade, por meio da formação de grupos de
convivência, grupos de orientação, projetos de resgate da memória, atividades
de lazer dirigido, prestação de ajuda comunitária, ciclo de debates, terapia
ocupacional, programas de preparação para a aposentadoria, etc. Para tais
atividades, a Universidade Sênior, poderá contar com a ajuda, colaboração,
apoio ou quaisquer outras formas de participação, de entidades públicas e
privadas externas à PUCSP, tais como a Secretaria do Trabalho e da Promoção
Social do Estado, Conselho Estadual do Idoso, Sociedade Brasileira de Geriatria
e Gerontologia, Associação Nacional de Gerontologia, Serviço Social do
Comércio, Associações de Aposentados, Empresas interessadas em programas
de preparação para a aposentadoria destinados a seus funcionários, entre
outras.
Vale ressaltar, tanto no que se refere a cursos como que
tange a outras formas de prestação de serviços, que a Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, através da Universidade Sênior, estaria, além de cumprir
um dos seus objetivos enquanto agência educacional e comunitária, sendo
beneficiada com a captação de recursos financeiros para complementar sua
receita, aspecto de suma importância dentro da atual conjuntura de crise que
vem enfrentando a instituição.
2. OBJETIVOS
Entre os objetivos manifestados que se propõe atingir com o
projeto UNIVERSIDADE SENIOR estão os seguintes:
231
a. atender a demanda reprimida representada pela população maior
de 50 anos que deseja se reciclar e atualizar em termos de
conhecimentos gerais e específicos, correspondendo estes aos
problemas que afetam diretamente as pessoas em processo de
envelhecimentos.
b. Abrir a PUCSP para uma faixa da população que deseja se reciclar
e atualizar dentro de um ambiente universitário, sem necessidade
de se submeter a provas de ingresso ou outras exigências formais,
democratizando assim i espaço acadêmico;
c. Oferecer, através de cursos e outras atividades, possibilidades
concretas de participação e integração para as pessoas que
envelhecem dentro de uma sociedade que tende a valorizar
apenas o novo e o jovem;
d. Desencadear, via Universidade Sênior, uma abertura maior da
PUCSP para comunidades, agilizando contatos e oferecendo
serviços para repartições públicas e privadas, a fim de ampliar o
papel social da instituição e, ao mesmo tempo, carrear recursos
para a mesma;
e. Possibilitar maior contato intergeracional, a fim de diminuir as
fricções e os choques entre as pessoas mais jovens e as mais
maduras, contribuindo assim para maior compreensão e
entendimento mútuo entre elas, dentro e fora do espaço
acadêmico.
2. ORGANIZAÇÃO
Visando aproveitar estruturas já existentes nos diversos
órgãos, unidades de ensino, departamentos, etc., da própria PUCSP, assim
como espaços e horários ociosos e, também, melhor aproveitamento de pessoal
docente com maior disponibilidade contratual (mas não de modo exclusivo),
232
propõe-se que os cursos a serem oferecidos inicialmente pela Universidade
Sênior sejam, a exemplo do que está sendo implantado pela PUCCAMP no seu
Projeto “Universidade da 3ª Idade”, desenvolvidos em módulos interdisciplinares,
abrangendo diferentes aspectos e situações que envolvam as pessoas de maior
idade, procurando ir ao encontro de seus interesses e necessidades.
Sugere-se, para uma experiência inicial, a constituição de 05
(cinco) módulos, a saber:
a. aspectos médico-sociais do envelhecimento humano;
b. aspectos psico-sociais do envelhecimento humano;
c. situação sócio-econômica e legal das pessoas que envelhecem;
d. perspectivas culturais para as pessoas que envelhecem;
e. os desafios e necessidade de organização social e política para as
pessoas que envelhecem.
Cada um desses diferentes módulos abrangeria temas
clássicos, que seriam desenvolvidos por meio de algumas atividades didático-
pedagógicas, envolvendo a participação de vários órgãos, unidades de ensino,
departamentos, etc., da PUCSP, com seus respectivos profissionais, que se
encarregariam de ministrar aulas, proferir palestras, fazer conferências, dirigir
seminários, conduzir mesas redondas, orientar exercícios e assim por diante.
Estruturando o que foi sugerido, ter-se-ia o seguinte:
A. Aspectos médico-sociais
Temas Básicos
- Os cuidados de saúde necessários para um organismo que envelhece.
- Mitos e tabus que cercam a saúde e a alimentação das pessoas que
envelhecem.
- Sexualidade das pessoas que envelhecem: aspectos médicos.
- Limitações físicas das pessoas que envelhecem e formas de reabilitá-las.
Atividades didático-pedagógicas
- Palestras.
233
- Aulas práticas.
- Painéis.
- Mesas redondas.
Órgãos, unidades de ensino, departamentos e outros envolvidos
- Medicina.
- Enfermagem.
- Fonoaudiologia.
- Psicologia.
B. Aspectos psico-sociais
Temas básicos
- As relações familiares das pessoas que envelhecem.
- Problemas vivenciais das pessoas que envelhecem.
- Sexualidade das pessoas que envelhecem: aspectos psicológicos.
- A segregação e marginalização das pessoas que envelhecem.
- Direitos das pessoas que envelhecem.
Atividades didático-pedagógicas
- Conferências.
- Palestras.
- Mesas redondas.
- Grupos de estudos.
Órgãos, unidades de ensino, departamentos e outros envolvidos
- Psicologia
- Sociologia (ciências sociais).
- Serviço social.
- Antropologia (ciências sociais)
C. Situação sócio-econômica e legal
234
Temas básicos
- Seguridade social e perspectiva das pessoas que envelhecem.
- Preparação para a aposentadoria: orientações legais, sociais e
psicológicas.
- Direitos constitucionais e civis das pessoas que envelhecem.
- O mercado de trabalho e os problemas das pessoas que envelhecem.
Atividades didático-pedagógicas
- Conferências.
- Palestras.
- Painéis.
- Aulas práticas.
Órgãos, unidades de ensino, departamentos e outros envolvidos
- Direito.
- Economia.
- Serviço Social.
- Psicologia.
D. Perspectivas culturais
Temas básicos
- A necessidades de educação permanente no mundo contemporâneo.
- A preservação da memória histórica como importante missão cultural das
pessoas que envelhecem.
- Produções artísticas e literárias que abordam questão do envelhecimento.
- Lazer espontâneo e lazer para as pessoas que envelhecem.
Atividades didático-pedagógicas
- Conferências.
- Palestras.
- Mesas redondas.
235
- Painéis.
- Seminários.
- Exibição e debates sobre vídeos que enfocam a temática do
envelhecimento (Regresso a Bounthiful, Chuvas de Verão, Conduzindo
Miss Daisy, etc.)
Órgãos, unidades de ensino, departamentos e outros envolvidos
- Educação.
- Letras.
- Jornalismo.
- História (Faculdade de Ciências Sociais).
- Psicologia.
E. Desafios e necessidades de organização e política
Temas básicos
- Movimentos sociais na luta pelos direitos das pessoas que envelhecem.
- A participação dos sindicatos e associações nos processos organizatórios
e reivindicatórios das pessoas que envelhecem.
- As pessoas que envelhecem e as questões da cidadania.
- Mecanismos de conscientização, mobilização e participação social para
as pessoas que envelhecem.
Atividades didático-pedagógicas
- Conferências.
- Palestras
- Mesas redondas.
Órgãos, unidades de ensino, departamentos e outros envolvidos
- Sociologia (Faculdade de Ciências Sociais).
- Política (Faculdade de Ciências Sociais).
- Direito.
236
- Serviço Social.
4. COORDENAÇÃO
Como o que se visa é desencadear todo um processo
educacional envolvendo reciclagem, atualização e integração de pessoas
maiores de 50 anos desejosas de conhecer melhor os problemas do
envelhecimento humano, como isso as afeta e como poderão lidar com os
mesmos e superá-los, sugere-se que a Coordenação do Projeto
“UNIVERSIDADE SENIOR” seja assumida pelo Centro d Educação da PUCSP,
o qual se encarregaria de tomar e solicitar todas as medidas e providências
cabíveis à implantação da proposta, se possível ainda no presente semestre,
uma vez que as atividades da Universidade Sênior não precisam,
necessariamente, acompanhar o calendário da PUCSP.
5. FUNCIONAMENTO E HORÁRIO
O período mais propício para o funcionamento inicial dos
cursos de extensão universitária que se constituirão no núcleo da Universidade
Sênior é, sem dúvida, o período vespertino, por várias razões.
A primeira delas diz respeito às próprias disponibilidades de
tempo dos futuros alunos, já que pelo perfil esperado deverão ser pessoas entre
50 e 70 anos, possivelmente com predominância feminina, que pela manhã tem
afazeres domésticos ou outros compromissos profissionais e/ou familiares a
cumprir e, a noite, devido a problemas de segurança e transporte, não gostam
de deixar suas casas.
Outra questão refere-se as próprias dificuldades de transporte
e de trânsito, já que pela manhã e no começo da noite os coletivos estão lotados
e as ruas congestionadas, dificultando a locomoção das pessoas, além das
237
dificuldades de estacionamento nas proximidades do campus Monte Alegre,
onde funcionarão os cursos.
Finalmente, há que se considerar que no período vespertino
existe maior disponibilidade de salas no campus Monte Alegre da PUCSP,
menor demanda do espaço físico e maior oferta de locais de estacionamento
nas proximidades do campus.
Quanto aos dias e horários de funcionamento propões-se que
os cursos sejam oferecidos no começo, duas vezes por semana, as 3ª e 5ª
feiras, no horário de 14 as 17:00 horas.
6. CARGA HORÁRIA
Considerando que um curso de extensão universitária deve
ter carga mínima de 30 h/a e que a oferta inicial da Universidade Sênior será um
curso de 05 (cinco) módulos interdisciplinares, sugere-se que cada módulo
abranja uma carga horária de 06 (seis) horas aulas.
Assim, levando em conta a proposta de funcionamentos dos
cursos em dois dias por semana, a título experimental, com carga horária de 3
h/a por dia, no prazo de 05 (cinco) semanas já estariam, permitindo logo uma
avaliação do Projeto e a pensar no desdobramento.
Como se trata de um projeto experimental, propõe-se que
seja o mesmo desenvolvido num período curto, mesmo porque uma extensão a
nível semestral, por exemplo, poderia levar ao desinteresse, desânimo ou
desestímulo do alunado, cujas características são especiais.
7. TURMAS E VAGAS
238
No começo a idéia é abrir 50 vagas para os interessados que
formariam uma única turma com o mínimo de 35 inscritos. Todavia, se a
demanda for grande pode-se aventar a possibilidade de se abrir uma segunda
turma, também com 50 vagas e com um mínimo de 35 inscritos para funcionar.
8. CORPO DOCENTE
Quanto ao corpo docente que se encarregará de realizar
palestras e conferências, ministrar aulas, conduzir mesas redondas, etc., a
intenção é contar , de preferência, com os professores das diferentes áreas de
ensino, departamentos e outros setores da PUCSP, já citados anteriormente,
que apresentem maior disponibilidade de horas em seus contratos de trabalho
desde que, é claro, sua área de especialização tenha a ver com os temas de
cada módulo a ser desenvolvido.
Todavia, esse não deve ser o único critério de escolha de
docentes, já que isso poderia chagar mesmo a inviabilizar o Projeto. O critério
fundamental, sem dúvida, será o da qualificação adequada, uma vez que se
pretende oferecer cursos de bom nível aos interessados e não algo improvisado
ou alinhavado apenas para carrear recursos para a PUCSP. É por isso que se
prevê, inclusive, que o funcionamento do curso só deverá ocorrer com um
mínimo de 35 (trinta e cinco) alunos matriculados, a fim de garantir remuneração
justa aos professores que venham a ser convidados e que já cumpram
integralmente as horas previstas em seus contratos de trabalho.
De outra parte, a indicação dos professores deverá ser feita
pelos responsáveis pelos diferentes órgãos, unidades de ensino, departamentos,
etc., arrolados para assumirem o desenvolvimento dos diversos módulos de
ensino já citados, mediante solicitação da Coordenação do Projeto e sempre
consultando o interesse dos docentes indicados em aderir a proposta da
Universidade Senior.
239
9. CUSTOS
Tratando-se de um Projeto de prestação de serviços à
comunidade, a Universidade Senior não se apresenta como uma proposta que
visa basicamente carrear mais receitas para a PUCSP, aliviando-a, ainda que
minimamente, da crise financeira que a vem afetando nos últimos tempos.
Mas, por outro lado, deve ser um Projeto auto-sustentado, a
fim de garantir sua viabilidade e continuidade, não se constituindo em mais um
ônus para a PUCSP. Para tanto, pressupõe contar, em parte, se possível, com
professores cujas horas contratuais não estejam totalmente preenchidas, que se
responsabilizam por, pelo menos, uma parte das atividades docentes previstas.
Entretanto, como se trata apenas de uma possibilidade, é necessário contar com
recursos financeiros suficientes para remunerar outros professores qualificados
que não se encontrem naquela situação de disponibilidade e também para cobrir
os custos operacionais da PUCSP, além de representar algum acréscimo de
receita.
Assim sendo, devem ser cobradas dos interessados taxas
compatíveis com os gastos de pessoal, uso de instalações e remuneração
institucional mas, ao mesmo tempo, há que se considerar que talvez parte
considerável dos interessados não disponha de um nível de renda suficiente
(principalmente se, se tratar de aposentado) para arcar com taxas muito
elevadas e também que não se trata de cursos profissionalizantes ou de
interesse profissional mais imediato, mas de ciclagem e atualização em
aspectos gerais dos problemas do envelhecimento. Isso posto, é possível que só
apenas uma pesquisa geral sobre as situações de disponibilidade contratual, e
definidos os docentes que cumprirão suas cargas e aqueles que receberão
remuneração por novas atividades, se possa ter uma idéias mais definida de
custos com corpo docente dos cursos e, conseqüentemente, quanto deverá ser
cobrado dos interessados em termos de taxas.
240
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a proposta de implantação do projeto “UNIVERSIDADE
SENIOR” no âmbito da PUCSP, pretende-se reafirmar, basicamente, dois
aspectos principais.
Em primeiro lugar, a necessidade e a importância da
Universidade nas questões gerias da sociedade, na instituição da crítica rigorosa
das questões sociais, nos serviços de apoio à sociedade civil e na articulação
com outras organizações sociais, no sentido de redimensionar o ensino e a
pesquisa, permitindo um avanço no sentido da crítica à proposta e da proposta à
ação.
Em segundo lugar, que as questões sociais relativas à 3ª
idade cada vez mais se inserem na totalidade histórica-social, expressando suas
determinações e contradições, constituindo-se num dos fatos sociais mais
significativos do Brasil contemporâneo e particularmente da sociedade paulista e
paulistana, exigindo atenção e ações concretas de todos os setores
comprometidos com o equacionamento e solução de problemas brasileiros,
entre os quais o do idoso se constitui num dos mais graves, pois resulta de um
processo acumulativo que abrange desde a exploração da força de trabalho na
juventude e vida adulta, até a marginalização após a retirada (espontânea ou
compulsória_ do mercado de trabalho.
Na reafirmação desses dois aspectos e na perspectiva de
promover sua convergência, se insere o Projeto “Universidade Sênior” dentro da
PUCSP, uma instituição que tem sido pioneira no Brasil no sentido de contribuir
para a ocorrência de mudanças qualitativas nas relações
Universidade/Sociedade, mudanças essas resultantes e vínculos orgânicos e de
relações de reciprocidade estabelecidas entre as organizações civis, as
acadêmicas e científicas e as organizações populares.
Por fim, espera-se com a “Universidade Sênior” abrir um
canal para todos aqueles que já ingressaram ou estão no limiar da Terceira
241
Idade e que desejam, além de conhecer, discutir e buscar para sua categoria
social, ampliar ou reciclar seus conhecimentos nas diferentes áreas do saber
que compõem os vários cursos oferecidos pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, numa perspectiva de um processo eletivo e que no seu conjunto
significa, sob muitos aspectos, uma recuperação do verdadeiro conceito de
Universidade, hoje muito restrito, na medida em que Faculdades e Cursos
fecham-se em si mesmos, sem se abrirem para outros ramos ou áreas e sem
oferecerem a possibilidade necessária para ampliar e dinamizar a informação
acadêmica.
São Paulo, 10 de setembro de 1990
Prof. Dr. Antonio Jordão Netto
NOTA: O autor do presente Projeto é Professor da PUCSP (departamento de
Fundamentações da Educação do Centro de Educação) Sociólogo-Chefe da
Secretaria do Trabalho e da Promoção Social do Estado, membro do Conselho
Estadual do Idoso, Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia e Autor do livro “A Segregação do Idoso na Sociedade”.
242
INSTRUMENTO DE PESQUISA ( anexo A)
Aplicadora : Profra. ms. Vania Ramos
Local: - Universidades abertas à terceira idade
TIPO: QUESTIONÁRIO
DATA DE HOJE:
NOME DO ALUNO:
DATA DE NASCIMENTO:
CIDADE ONDE NASCEU:
NACIONALIDADE:
QUANTO TEMPO ESTUDA
NESTE CURSO:
VOCE JÁ ESTUDOU EM
OUTRA UNIVERSIDADE DA
TERCEIRA IDADE? QUAL?
PORQUE ESCOLHEU ESTA
UNIVERSIDADE?
O QUE VOCE ESPERA
DESTE CURSO?
VOCE É APOSENTADO(A)? SIM( ) NÃO ( )
TEM MORADIA PRÓPRIA? SIM( ) NÃO ( )
VOCE MORA COMO? ( )FAMILIA ( )SOZINHO ( ) AMIGOS
( ) INSTITUIÇÃO OU OUTRA COMUNIDADE
VOVE GOSTARIA DE SER
ENTREVISTADO, PARA
EXPÔR AS SUAS IDÉIAS?
SIM( ) NÃO ( )
243
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portal.mec.gov.br/
sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=572&canal=revista
cristinafogaca.org/62101.html?*session*id*key*=*session*id*val*
Alunas pesquisadas :
Paula, Dina, Abigair, Mirian, Olga, Frima, Manoel, Tereza, Rosa, Nadia, Lucia,
Arlete, Marisa, Vani, Maitinha, Marlene, Maria do Carmo, Ignes, Luiza, Eda,
Marilena, Zely, Lenina e Eda
254
Se quisermos escolher
A cor da Terceira idade
Vamos nos pintar de verde.
Como os velhos pinheiros
Que em pleno inverno da vida
São cheios de clorofila,
De seiva, de energia.
Toda sua verdura
Exorcisa a amargura
Desperta a alegria
Aumente a esperança
De poder reconstruir
Nos devolve a pujança
Faz a força ressurgir.
Esther Alves Martirani
303
303
Ibidem, p. 55
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