Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOPATOLOGIA CLÍNICA E
EXPERIMENTAL – CLINEX
CARACTERÍSTICAS DO SUPORTE
NUTRICIONAL COMO PREDITORES DE
SOBREVIDA EM PACIENTES GRAVES
CARLA LOUREIRO MOURILHE SILVA
RIO DE JANEIRO, MARÇO DE 2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
CARLA LOUREIRO MOURILHE SILVA
CARACTERÍSTICAS DO SUPORTE
NUTRICIONAL COMO PREDITORES DE
SOBREVIDA EM PACIENTES GRAVES
RIO DE JANEIRO, MARÇO DE 2008
Dissertação de mestrado apresentada
ao Programa de Pós-graduação em
Fisiopatologia Clínica e Experimental –
CLINEX, do Centro Biomédico da
Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, como requisito parcial para
obtenção do título do curso de
mestrado acadêmico.
Orientador: José Ueleres Braga
ads:
Autor: Carla Loureiro Mourilhe Silva
Título: características do suporte nutricional como preditores de sobrevida em
pacientes graves
A Banca Examinadora composta pelos professores abaixo, sob a presidência do
primeiro, submeteu o candidato à análise da monografia e a julgou nos seguintes
termos:
Prof. Frederico Ruzany, Dr. UERJ
Julgamento: _______________________ Assinatura: _____________________
Prof. Célia Lopes da Costa, Drª. UERJ
Julgamento: _______________________ Assinatura: _____________________
Prof. Eliane Moreira Vaz, Drª. UFRJ
Julgamento: _______________________ Assinatura: _____________________
Menção Geral:
___________________________________________________________
Coordenador do Curso:
Prof. Dr. Egberto Gaspar de Moura
Dissertação de mestrado apresentada
ao Programa de Pós-graduação em
Fisiopatologia Clínica e Experimental –
CLINEX, do Centro Biomédico da
Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, como requisito parcial para
obtenção do título do curso de
mestrado acadêmico.
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho contou com o apoio e o estímulo de muitas pessoas:
professores, amigos, colegas e familiares. Cada um, ao seu modo, contribuiu para
que eu pudesse transpor os obstáculos e as dificuldades inerentes a um trabalho
como este. Por isso, aqui vai meu sincero agradecimento a todos que me ajudaram,
de alguma forma, na elaboração da monografia. Algumas pessoas, porém, foram
fundamentais.
O professor José Ueleres Braga, meu orientador, foi quem primeiro me incentivou a
levar adiante a idéia de realizar um trabalho sobre suporte nutricional e o prognóstico
de pacientes críticos, fornecendo o estímulo inicial e os subsídios necessários para
uma primeira reflexão sobre o tema. Em vários momentos, o seu apoio foi decisivo.
O médico intensivista e especialista em suporte nutricional Ricardo Rosenfeld, que
possibilitou o aprofundamento da discussão mediante suas observações, que muito
contribuíram para uma reflexão mais consistente. Sem dúvida, muito dos resultados
deste trabalho se deve a ele e as nutricionista da equipe de suporte nutricional da
Casa de Saúde São José, onde foi realizado o estudo, que me auxiliaram durante a
coleta dos dados.
As nutricionistas do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, colegas de trabalho, cuja
amizade foi de extrema importância, auxiliando-me nos momentos necessários.
Finalmente, ao meu marido que proporcionou todo o apoio moral necessário e
suportou o meu estresse durante todos os anos, e à minha família, aos quais
agradeço e dedico este trabalho.
RESUMO
Introdução: A resposta metabólica à doença grave e a falência de múltiplos
órgãos afetam o paciente crítico. A grande diversidade de fatores que podem
interferir no prognóstico destes indivíduos torna o conhecimento dos aspectos
envolvidos fundamentais para a melhora da sobrevida e da qualidade de vida. A
abordagem nutricional quando comparada a outras intervenções, tem sido
negligenciada no âmbito do Centro de Terapia Intensiva (CTI), apesar do suposto
reconhecimento dos efeitos deletérios da baixa ingestão nutricional. Parte desta
pouca atenção dispensada ao assunto pode estar relacionada ao
desconhecimento da influência do suporte nutricional, inclusive da qualidade
desta intervenção, no prognóstico do paciente crítico. Objetivo: Avaliar o efeito
das características relacionadas à qualidade do suporte nutricional enteral (SNE)
no prognóstico de pacientes críticos. A qualidade da terapia em questão foi
avaliada pelo: tempo de jejum, tempo médio para se alcançar à meta nutricional,
proporção de ingestão calórica e protéica de acordo com a meta e presença de
efeitos adversos. Metodologia: O desenho da investigação é do tipo estudo
observacional prospectivo conduzido em uma unidade hospitalar particular, no
município do Rio de Janeiro, no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006.
Foram estudados pacientes clínicos ou cirúrgicos em SNE pleno e internados por
mais de 5 dias no CTI. Esses pacientes foram acompanhados até a alta do SNE
ou morte ou por um período de no máximo 28 dias. Os fatores prognósticos foram
estudados agrupados em quatro grupos: características demográficas, preditores
clínicos, preditores nutricionais incluindo os fatores relativos à qualidade do
suporte nutricional e fatores relacionados às complicações clínicas e cirúrgicas.
Os desfechos de prognóstico se relacionaram ao tempo até o óbito. Análise
estatística de dados: Os resultados foram obtidos por análise de sobrevida, com
estimativas de probabilidades de sobrevida segundo as características estudadas
e construção de curvas de sobrevidas e como medidas de associação foram
calculadas razões de taxas de hazard por modelo de regressão de Cox ajustadas
para múltiplas exposições e os respectivos intervalos de confiança de 95%.
Resultados: A amostra foi composta de pacientes graves com a média do índice
de gravidade APACHE II de 18,9±6,8. A mortalidade observada foi 35,2%. Em
média a meta calórica calculada para os pacientes foi cerca de 25Kcal/Kg e de
proteínas 1,25g/Kg de peso ideal. A infusão menor do que 50% da meta calórica,
assim como, a infusão superior a 100% da meta protéica elevaram o risco de
morte mesmo após o ajuste para outros fatores que podem interferir no
prognóstico clínico. Dentre os efeitos adversos do suporte nutricional estudados,
a presença de resíduo gástrico elevado diminuiu a sobrevida dos pacientes
mesmo após o ajuste para outros fatores relacionados ao prognóstico, assim
como, o tempo de jejum prolongado. O tempo médio para alcançar a meta
nutricional não interferiu no prognóstico clínico. Conclusão: As características
relacionadas à qualidade do SNE avaliadas no presente estudo interferem no
prognóstico de pacientes críticos com exceção do tempo médio para se alcançar
à meta nutricional.
Palavras-chave: terapia nutricional, cuidados intensivos, prognóstico.
Abstract
Background: Metabolic response to serious illness as well as multiple organ failure
affect the critically ill patient. The great range of factors that can affect the outcome of
those individuals turn de knowledge of the related factors primary to improve the
survival and life quality. The nutritional approach, when compared to other
interventions, has been neglected at the scope of the Intensive Care Unit (ICU),
despite the presumpted recognition of the harm effects of low nutritional intake. Part
of the lack attention given to the subject may be related to the lack of knowledge
about the influence of the nutritional support, including the quality of this intervention,
in the outcome of the critically ill patient. Objective: To assess the effect of the
characteristics related to the quality of the enteral nutritional support (ENS) on the
outcome of critically ill patients. The quality of the therapy in question was evaluated
by: time of jejum, medium time to reach the nutritional goal, proportion of caloric and
protein intake according to the goal and presence of adverse effects. Methodology:
The design of the investigation is a prospective observational study lead in a private
hospital unit in the city of Rio de Janeiro, from January of 2004 to December of 2006.
Clinical and surgical patients that received full ENS and spent at least 5 days at the
ICU were included in this study. These patients were followed until ENS discharge or
death or for a maximum period of 28 days. The prognosis factors studied were
grouped in four groups: demographic characteristics, clinical predictors, nutritional
predictors, including the factors related to the quality of the nutritional support and
factors related to clinical and surgical complications. The outcomes of prognosis were
related to the time until death. Statistic analysis: The results were obtained from
survival analysis, with estimates of odds of survival according to the studied
characteristics and building of surviving curves and as association measures were
calculated ratio of hazard by the Cox regression model adjusted for multiple
expositions and the respective 95% confidence intervals. Results: The sample was
composed by critically ill patients with APACHE II indicator of severity of 18,9±6,8.
The observed mortality was 35,2%. The medium caloric goal calculated to the
patients was around 25Kcal/Kg and 1,25g of protein per Kg of ideal body weight. The
infusion of less than 50% of the caloric goal as well as the infusion superior to 100%
from the protein goal raised the risk of death even after the adjustment for other
factors that can intervene on the clinical outcome. Between the adverse effects of the
nutritional support studied, the presence of a high gastric residual volume as well as
prolonged time of starving decreased the survival of the patients even after the
adjustment for other effects related to outcome. The medium time to achieve the
nutritional goal didn’t affect the clinical prognosis. Conclusion: The characteristics
related to the quality of ENS, assessed at the present study, except the medium time
to achieve the nutritional goal, affect the prognosis of critically ill patients.
Key words: Nutritional therapy, intensive care, outcome.
SUMÁRIO
página
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................12
1.1 Características demográficas dos pacientes......................................................13
1.2 Preditores clínicos..............................................................................................14
1.2.1 Características clínicas do paciente................................................................15
1.2.2 Intervenções clínicas.......................................................................................17
1.3 Preditores nutricionais........................................................................................20
1.3.1 Estado nutricional............................................................................................20
1.3.2 Suporte nutricional ..........................................................................................23
1.4 Complicações Clínicas e Cirúrgicas...................................................................40
2 JUSTIFICATIVA....................................................................................................44
3 OBJETIVO.............................................................................................................45
4 METODOLOGIA....................................................................................................45
4.1 Desenho de estudo ............................................................................................45
4.2 Análise estatística de dados...............................................................................49
5 RESULTADOS......................................................................................................50
6 DISCUSSÃO .........................................................................................................71
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................87
8 REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS.....................................................................88
ANEXO......................................................................................................................96
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Representação esquemática do modelo teórico do prognóstico de
pacientes críticos.......................................................................................................43
Figura 2 – Preditores clínicos segundo a mortalidade...............................................53
Figura 3 – Curva de sobrevida referente ao efeito do suporte nutricional na
mortalidade segundo a adequação a meta calórica e protéica .................................57
Figura 4 – Razões de taxas segundo a meta calórica e protéica..............................59
Figura 5 – Curva de sobrevida referente ao efeito do suporte nutricional na
mortalidade segundo o tempo de jejum e o tempo de resíduo gástrico elevado.......60
Figura 6 – Representação esquemática dos modelos de prognóstico de pacientes
críticos.......................................................................................................................61
Figura 7 – Curva de sobrevida referente ao efeito do suporte nutricional na
mortalidade considerando a adequação a meta calórica e protéica segundo o nível 3
do modelo teórico......................................................................................................70
Figura 8 – Razões de taxas de fatores prognóstico clínicos e nutricionais ...............70
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Características demográficas dos pacientes segundo mortalidade..........50
Tabela 2 – Preditores clínicos segundo mortalidade.................................................52
Tabela 3 – Preditores nutricionais segundo mortalidade...........................................54
Tabela 4 – Indicadores de qualidade do suporte nutricional segundo mortalidade...55
Tabela 5 – Complicações clínicas e cirurgicas segundo mortalidade .......................56
Tabela 6 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade segundo a meta
calórica infundida ......................................................................................................58
Tabela 7 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade segundo a meta
protéica infundida......................................................................................................59
Tabela 8 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a
meta calórica infundida segundo o nível 1 do modelo teórico (características
demográficas)............................................................................................................61
Tabela 9 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a
meta protéica infundida segundo o nível 1 do modelo teórico (características
demográficas)............................................................................................................63
Tabela 10 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando
a meta calórica infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores clínicos)64
Tabela 11 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando
a meta protéica infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores clínicos)65
Tabela 12 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando
a meta calórica infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores
nutricionais)...............................................................................................................66
Tabela 13 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando
a meta protéica infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores
nutricionais)...............................................................................................................67
Tabela 14 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando
a meta calórica infundida segundo o nível 3 do modelo teórico (complicações clínicas
e cirúrgicas)...............................................................................................................68
Tabela 15 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando
a meta protéica infundida segundo o nível 3 do modelo teórico (complicações
clínicas e cirúrgicas)..................................................................................................69
LISTA DE ABREVIATURAS
AGS – Avaliação Global Subjetiva.
APACHE II – Acute Physiology and Chronic Health Evaluation.
ASPEN – American Society for Parenteral and Enteral Nutrition.
CTI – Centro de tratamento intensivo.
EMSN – Equipe multidisciplinar de suporte nutricional.
ESPEN – European Society for Parenteral and Enteral Nutrition.
g/Kg/d – Gramas por quilograma ao dia.
IC – Intervalo de confiança de 95%.
Kcal/Kg/d – Calorias por quilograma ao dia.
MRSA – Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
NE – Nutrição Enteral.
NP – Nutrição Parenteral.
RT – Razões de taxas de hazard.
SAPS – Simplified Acute Physiology Score.
SDMO – Sídrome da disfunção de múltiplos órgãos.
SIRS – Sídrome da resposta inflamatória sistêmica.
SOFA – Sequential Organ Failure Assessment.
TISS – Therapeutic Intervention Scoring System.
12
1 INTRODUÇÃO
Pacientes graves são aqueles em condições clínicas ou cirúrgicas que requerem
cuidados intensivos (Aspen, 2002; Gayle Minard, 2004). Os pacientes admitidos em
centros de tratamento intensivo (CTI) apresentam alterações metabólicas
características, que os tornam suscetíveis a desenvolverem a síndrome da resposta
inflamatória sistêmica (SIRS), que por sua vez pode evoluir para a síndrome da
disfunção de múltiplos órgãos (SDMO) (Accp, 1992; Vincent, Moreno et al., 1996;
Rosenfeld, 2001b; Aspen, 2002; Gayle Minard, 2004). Essas alterações metabólicas
caracterizam um estado hipermetabólico decorrente da produção de mediadores
endógenos, como os hormônios do sistema neuroendócrino (cortisol, glucagon e
catecolaminas) e as citocinas. Estas substâncias alteram o metabolismo
intermediário, estimulando a gliconeogênese, a glicogenólise, a lipólise e a proteólise
(Rosenfeld, 2001b).
A SIRS está presente na maioria dos pacientes graves podendo ocorrer devido a
uma condição mórbida subjacente ou a sepse. Pacientes que apresentam SIRS tem
as seguintes alterações metabólicas: hipermetabolismo, hiperglicemia com
resistência à insulina, aumento da síntese de proteínas de fase aguda, aceleração
da lipólise e do catabolismo protéico (Aspen, 2002; Gayle Minard, 2004; Villet,
Chiolero et al., 2005; Vincent, 2007). A sepse é uma infecção generalizada (Aspen,
2002; Gayle Minard, 2004), e a sepse grave está associada à falência de múltiplos
órgãos, resultando em resposta inflamatória generalizada (Accp, 1992; Bernard,
Vincent et al., 2001; Griffiths, 2003; Schwartz, 2005). O nível de mortalidade da
sepse grave, apesar dos avanços clínicos, alcança cerca de 30 a 50% (Bernard,
Vincent et al., 2001; Griffiths, 2003). A SIRS e a sepse permanecem sendo um
13
grande desafio no paciente grave principalmente devido à diversidade de fatores que
podem interferir no prognóstico (Galban, Montejo et al., 2000; Griffiths, 2003;
Rubinson, Diette et al., 2004).
O aperfeiçoamento do manejo do paciente crítico visando melhorar a sobrevida e a
qualidade de vida depende essencialmente do melhor conhecimento dos aspectos
envolvidos com seu prognóstico. Os principais fatores que podem interferir no
prognóstico destes pacientes podem ser classificados em quatro grupos: (1) relativos
às características demográficas dos pacientes, (2) relativos aos preditores clínicos,
(3) relativos aos preditores nutricionais, dentre eles as características relacionadas à
qualidade do suporte nutricional, quando utilizado e (4) aqueles relacionados às
complicações clínicas e cirúrgicas.
1.1 Características demográficas dos pacientes
Dentre as características demográficas dos pacientes destacamos a idade e o sexo
como fatores relacionados ao prognóstico.
A idade é um fator associado à sobrevida dos pacientes críticos (Knaus, Draper et
al., 1985). Os benefícios do tratamento de indivíduos idosos em termos de
sobrevivência e qualidade de vida estão constantemente em discussão (Dardaine,
Dequin et al., 2001). O prognóstico dos pacientes com idade superior a 85 anos,
admitidos no CTI, depende da função cardíaca na admissão, do número de falências
orgânicas, das intervenções terapêuticas necessárias no CTI e do nível de suporte e
assistência antes da hospitalização (Nierman, Schechter et al., 2001). Em indivíduos
14
idosos, a medida da circunferência do braço inferior ao percentil 10 é o melhor
preditor de mortalidade em um período de 6 meses. O decréscimo nos níveis séricos
de albumina associa-se com pior prognóstico, aumento de morbi-mortalidade e
maior risco de re-hospitalização nesses pacientes. No entanto, a idade isoladamente
não deve ser critério para não se utilizar o tratamento prolongado com ventilação
mecânica, pois segundo estudo realizado na França, a idade isoladamente não
aumenta a mortalidade, sendo a gravidade da doença o mais importante preditor de
pior prognóstico (Dardaine, Dequin et al., 2001).
Em relação ao sexo dos pacientes, alguns estudos têm mostrado que o sexo
masculino está associado com maior risco de morbidade no pós-operatório
(Barbosa-Silva e Barros, 2005) e um maior risco de desenvolvimento de pneumonia
durante a internação no CTI (Singh, Falestiny et al., 1998; Artinian, Krayem et al.,
2006).
1.2 Preditores clínicos
Os preditores clínicos dividem-se naqueles relacionados às características do
paciente e de sua doença e naqueles relacionados às intervenções clínicas
aplicadas aos pacientes críticos.
15
1.2.1 Características clínicas do paciente
Dentre as características clínicas do paciente que podem influenciar no prognóstico
destacam-se o diagnóstico principal, as co-morbidades associadas, a gravidade da
doença e as alterações metabólicas.
O diagnóstico de infecção, sobretudo a pneumonia, acomete cerca de 10 a 25% dos
pacientes admitidos no CTI, sendo frequentemente responsável pelo aumento da
mortalidade (Singh, Falestiny et al., 1998; Artinian, Krayem et al., 2006).
As co-morbidades associadas à doença de base como o diabetes mellitus, a
hipertensão arterial, a insuficiência cardíaca congestiva, a doença pulmonar
obstrutiva crônica e as neoplasias malignas implicam em maior risco de morbidade,
sobretudo no pós-operatório (Barbosa-Silva e Barros, 2005).
A gravidade da doença pode ser avaliada usando-se índices de prognóstico como o
Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE II), o Simplified Acute
Physiology Score (SAPS), o Therapeutic Intervention Scoring System (TISS) e o
Sequential Organ Failure Assessment (SOFA). O APACHE II considera sinais
clínicos, idade e estado de saúde prévio, pois as doenças crônicas avançadas pré-
existentes diminuem as chances de sobrevivência. O SAPS também considera
parâmetros clínicos. As variáveis para cálculo do APACHE II e do SAPS são
determinadas durante as primeiras 24 horas de internação no CTI. O TISS determina
a gravidade da doença pela avaliação clínica e pelas intervenções terapêuticas as
quais o paciente é submetido. Sabe-se que a mortalidade hospitalar está
16
diretamente relacionada a estes escores (Dardaine, Dequin et al., 2001; Krishnan,
Parce et al., 2003). O SOFA não caracteriza apenas a gravidade da doença, mas
descreve o grau de disfunção orgânica, sendo esta a maior causa de morbi-
mortalidade no doente crítico (Vincent, Moreno et al., 1996).
Dentre as alterações metabólicas que acometem o paciente grave destacamos a
hiperglicemia e a hipocolesterolemia.
A hiperglicemia associada com a resistência à insulina é comum no paciente crítico,
mesmo naqueles sem história de diabetes. A hiperglicemia pode ocasionar aumento
de infecções, polineuropatia, falência de múltiplos órgãos e morte (Van Den Berghe,
Wouters et al., 2001; Van Den Berghe, Wouters et al., 2003; Debaveye e Van Den
Berghe, 2006). O controle dos níveis glicêmicos por meio de terapia intensiva com
insulina visando manter os níveis abaixo de 110 mg/dl, ocasiona a redução da
mortalidade devido à falência de múltiplos órgãos, principalmente decorrente de
sepse (Van Den Berghe, Wouters et al., 2001). O tratamento da hiperglicemia com
terapia de insulina intensiva, previne a falência renal aguda, reduz o risco de
polineuropatia, o tempo de ventilação mecânica e o tempo de internação no CTI
(Van Den Berghe, Wouters et al., 2001; Van Den Berghe, Wouters et al., 2003;
Schwartz, 2005). Outros autores tem relatado elevadas taxas de mortalidade em
pacientes com hipoglicemia submetidos a terapia hipoglicemiante, o que indica que
baixos níveis de glicemia não resultam na redução de mortalidade. Conclui-se que a
infusão de insulina pode trazer benefícios devido as suas propriedades anti-
inflamatórias e anabólicas, mas principalmente pelo fato de evitar a hiperglicemia,
17
desde que o controle glicêmico se mantenha dentro dos níveis adequados (Vincent,
2007).
A hipocolesterolemia é comum no paciente crítico com sepse e é considerado um
fator independente para um pior prognóstico clínico. A diminuição nos níveis de
colesterol e HDL-colesterol associa-se com o aumento do risco de infecções
hospitalares. As baixas concentrações lipídicas podem prejudicar a imunidade inata
contra as endotoxinas. O mecanismo da hipolipidemia nesses pacientes é incerto,
alguns autores relacionam a capacidade dos lipídios de neutralizarem as
endotoxinas bacterianas ou a redistribuição do compartimento intravascular e do
extravascular comum nesses pacientes (Van Leeuwen, Heezius et al., 2003; Wilson,
Barletta et al., 2003).
1.2.2 Intervenções clínicas
As intervenções clínicas mais comumente citadas na literatura por influenciar no
prognóstico dos pacientes graves são o pós-operatório, a reposição volêmica e
assistência respiratória, a transfusão sangüínea, o uso de proteína C ativada, a
utilização de corticosteróides, o tempo de internação no CTI e o tempo de utilização
de antibióticos.
Os pacientes em pós-operatório apresentam desafios metabólicos e fisiológicos que
podem comprometer o estado nutricional mesmo em pequenas cirurgias. Nas
grandes cirurgias o catabolismo, risco de infecções e cicatrização de feridas são
obstáculos adicionais. Os pacientes desnutridos no pré-operatório têm um
18
significante aumento no risco de complicações e morte no pós-operatório quando
comparado com aqueles com estado nutricional preservado antes da cirurgia.
Mesmo os pacientes bem nutridos podem apresentar um pior prognóstico na
ausência de nutrição no pós-operatório por um período superior a 10 dias
(Huckleberry, 2004).
O atendimento emergencial do paciente, com a reposição volêmica adequada e
assistência ventilatória, melhoram significativamente o prognóstico de pacientes com
sepse grave, sobretudo por reduzir o risco de falência cardiovascular (Griffiths,
2003).
A transfusão sanguínea tem sido defendida com o propósito de aumentar o nível de
oxigênio disponível para as células e evitar os efeitos deletérios da hipoxemia,
porém pode levar ao aumento do risco de imunossupressão e complicações
circulatórias e infecciosas (Hebert, Wells et al., 1999; Gong, Thompson et al., 2005).
Estudos apontam que a transfusão sanguínea não ocasiona melhora da
sobrevivência em pacientes cujas concentrações de hemoglobina são superiores a
7g/dL (Hebert, Wells et al., 1999).
A proteína C ativada é uma proteína endógena que promove fibrinólise e inibe
trombose e inflamação, é um importante modulador da resposta inflamatória
associada a sepse grave (Bernard, Vincent et al., 2001; Schwartz, 2005). A
conversão da proteína C à proteína C ativada pode estar prejudicada durante a
sepse. A administração da proteína C ativada, drotrecogina alfa ativada, pode
19
melhorar o prognóstico em pacientes com sepse grave, reduzindo a mortalidade em
torno de 6% (Bernard, Vincent et al., 2001).
A utilização de corticosteróides permanece sendo discutida em relação aos seus
efeitos no prognóstico clínico. As propriedades de imunossupressão dos corticóides,
assim como, outros efeitos adversos como a hiperglicemia e miopatias já estão bem
definidas como causa de morbidade no paciente grave (Salluh e Fuks, 2006). Por
outro lado, existem fortes evidências que pacientes com sepse grave ou pneumonia
comunitária grave apresentam altas taxas de insuficiência adrenal. Neste grupo, a
utilização de baixas doses de hidrocortisona por 7 a 10 dias pode levar a uma
significante melhora da função adrenal e da mortalidade (Marik, Annane et al., 2006;
Salluh e Fuks, 2006; Vincent, 2007).
Os pacientes que permanecem em internação no CTI e em ventilação mecânica por
tempo prolongado tendem a ter um maior risco de desenvolverem pneumonia
nosocomial devido à contaminação por patógenos, como as bactérias gram
negativas e Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) durante a
aspiração (Singh, Falestiny et al., 1998). Acredita-se que o doente grave que
necessita de terapia intensiva por mais de 5 dias aumenta em 20% seu risco de
morte (Van Den Berghe, Wouters et al., 2001).
O uso empírico de antibióticos de amplo espectro para o tratamento de infiltrados
pulmonares, mesmo na ausência de infecções e pneumonia, pode elevar o risco de
desenvolvimento de pneumonia nosocomial e infecções, e conseqüentemente, uma
maior mortalidade (Singh, Falestiny et al., 1998).
20
1.3 Preditores nutricionais
Os preditores nutricionais da evolução dos pacientes críticos podem ser
classificados em dois tipos: (i) relacionados à situação nutricional do paciente e (ii)
referentes ao suporte nutricional e a qualidade desta intervenção.
1.3.1 Estado nutricional
O estado nutricional é citado como importante fator prognóstico dos pacientes
críticos. Cabe ressaltar que não existe um método ideal para a avaliação do estado
nutricional do paciente grave (Huang, Yen et al., 2000; Barbosa-Silva e Barros, 2005;
Villet, Chiolero et al., 2005). Na maioria das vezes, a avaliação é prejudicada devido
à presença de edema, disfunções orgânicas e alterações nos níveis plasmáticos das
proteínas (Hill, 1998; Aspen, 2002; Ravasco, Camilo et al., 2002; Rubinson, Diette et
al., 2004). A desnutrição pode ser avaliada por parâmetros objetivos ou subjetivos
(Detsky, Mclaughlin et al., 1987).
A avaliação nutricional laboratorial dos pacientes críticos inclui a avaliação das
proteínas viscerais, balanço nitrogenado e índice de creatinina-altura (Rosenfeld,
2001a).
As alterações metabólicas ocasionadas pela gravidade da doença prejudicam a
utilização de vários marcadores nutricionais como a albumina, a pré-albumina e a
transferrina, as quais sofrem influência do estresse (Lopez-Hellin, Baena-
Fustegueras et al., 2002). A atividade hepática é direcionada para a síntese de
21
proteínas de fase aguda, resultando em queda nos níveis das proteínas viscerais,
independente da ingestão nutricional (Raguso, Dupertuis et al., 2003). Estes
marcadores podem ser úteis para a avaliação do prognóstico do paciente durante a
fase crítica, pois sofrem grande influência do estresse e respondem menos ao
suporte nutricional (Lopez-Hellin, Baena-Fustegueras et al., 2002). Porém não
existem achados consistentes que justifiquem a utilização das proteínas viscerais
para a avaliação do prognóstico do paciente crítico (Raguso, Dupertuis et al., 2003).
Exceto para a albumina que tem sido considerada um forte indicador do prognóstico
cirúrgico, quando avaliada no pré-operatório (Huckleberry, 2004). O fator de
crescimento IGF insulina-like 1, não é influenciado pela situação de estresse,
mantendo-se sensível à ingestão nutricional, assemelhando-se ao balanço
nitrogenado, sendo o melhor indicador da eficácia nutricional (Lopez-Hellin, Baena-
Fustegueras et al., 2002).
O balanço nitrogenado é utilizado para determinar a intensidade do catabolismo e a
perda das reservas protéicas, sendo considerado o melhor método para a avaliação
da adequação do suporte nutricional, sobretudo da ingestão protéica (Huang, Yen et
al., 2000; Rosenfeld, 2001a; Lopez-Hellin, Baena-Fustegueras et al., 2002). O índice
de creatinina-altura avalia a reserva de proteína somática. Os valores inferiores a
90% indicam baixa reserva protéica, quando inferiores a 75% indicam desnutrição
protéica grave estando relacionado ao aumento do risco de sepse e mortalidade
(Huang, Yen et al., 2000; Rosenfeld, 2001a). A avaliação do balanço nitrogenado e
do índice de creatinina-altura tem como limitação à necessidade da integridade da
função renal (Rosenfeld, 2001a).
22
A perda muscular no paciente crítico normalmente é mascarada pela retenção de
fluidos, que pode ocasionar um aumento de 10 a 20% no peso corporal do indivíduo.
Desta forma, as técnicas de avaliação antropométrica podem não produzir
resultados válidos nestes pacientes. A perda muscular tem implicações evidentes na
recuperação, principalmente, em termos de desmame da prótese ventilatória (Reid,
Campbell et al., 2004; Rubinson, Diette et al., 2004). A circunferência do braço (CB)
é menos afetada pelo estado de hidratação do que o peso e associa-se com o
aumento de mortalidade quando encontra-se abaixo do percentil 15 (Dardaine,
Dequin et al., 2001; Ravasco, Camilo et al., 2002).
A avaliação global subjetiva é um método fundamentado em critérios clínicos, que
considera a história e o exame físico do paciente, caracterizando-o como bem
nutrido, moderadamente desnutrido ou gravemente desnutrido (Detsky, Mclaughlin
et al., 1987). Esta forma de avaliação tem sido descrita por vários autores como uma
das melhores técnicas para identificar pacientes em risco nutricional (Barbosa-Silva
e Barros, 2005). Além disso, apresenta boa correlação com outros métodos de
avaliação nutricional e pode ser utilizado como indicador de complicações no pós-
operatório (Detsky, Mclaughlin et al., 1987; Huckleberry, 2004; Barbosa-Silva e
Barros, 2005) e de risco de mortalidade em pacientes críticos (Detsky, Mclaughlin et
al., 1987).
Os pacientes desnutridos são comumente encontrados nas unidades hospitalares. A
gravidade da doença pode piorar o estado nutricional pelo aumento da taxa
metabólica e pelo prejuízo na utilização dos nutrientes (Barr, Hecht et al., 2004). A
desnutrição protéico-calórica associa-se com prejuízo na resposta imunológica e
23
maior debilidade da musculatura respiratória, levando a um maior tempo de
ventilação mecânica (Maclaren, 2000; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001;
Jeejeebhoy, 2001; Marik e Zaloga, 2001; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Heyland,
Schroter-Noppe et al., 2003; Rubinson, Diette et al., 2004) e conseqüentemente
aumento da morbidade infecciosa, tempo de internação, custos e mortalidade em
pacientes hospitalizados (Jolliet, Pichard et al., 1998; Preiser, Berre et al., 1999; De
Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001; Jeejeebhoy, 2001; Marik e Zaloga, 2001;
Jansen M. M. P. M., 2002; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Heyland, Schroter-Noppe
et al., 2003; Krishnan, Parce et al., 2003; Barr, Hecht et al., 2004; Rubinson, Diette et
al., 2004; Waitzberg e Baxter, 2004; Barbosa-Silva e Barros, 2005; Mark H. Delegge,
2005; Peter, Moran et al., 2005; Artinian, Krayem et al., 2006; Stapleton, Jones et al.,
2007).
1.3.2 Suporte nutricional
Os benefícios do suporte nutricional no paciente crítico incluem melhora da
cicatrização de feridas, diminuição da resposta catabólica, aumento da força da
musculatura respiratória, manutenção da resposta imunológica, melhora da função
gastrointestinal e do prognóstico clínico (Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Rubinson,
Diette et al., 2004; Rice, Swope et al., 2005; Petros e Engelmann, 2006). No entanto
o suporte nutricional não pode prevenir ou reverter às alterações metabólicas e
aquelas relacionadas à composição corporal do paciente grave (Aspen, 2002;
Stroud, 2007).
24
O modo pelo qual o suporte nutricional pode afetar o prognóstico clínico não é
facilmente demonstrado por achados clínicos. Apesar de alguns estudos
demonstrarem redução da incidência de infecção e complicações com a utilização
de fórmulas específicas de nutrição (Alexander, 1999; Galban, Montejo et al., 2000;
Heyland, Schroter-Noppe et al., 2003; Marik e Zaloga, 2003), a maioria demonstra
pouca diferença em relação ao prognóstico (Bertolini, Iapichino et al., 2003; Griffiths,
2003; Montejo, Zarazaga et al., 2003; Rubinson, Diette et al., 2004; Koretz, Avenell
et al., 2007). Os aspectos relativos ao suporte nutricional que mais são discutidos na
literatura como potenciais fatores prognósticos são: o tipo de abordagem nutricional:
enteral ou parenteral, a imunonutrição, a presença da equipe multidisciplinar de
suporte nutricional no hospital e os aspectos relacionados a qualidade desta
intervenção.
1.3.2.1 Abordagem nutricional: enteral e parenteral
A rota de administração do suporte nutricional também tem sido estudada como um
fator que influencia no prognóstico clínico. A nutrição enteral (NE) é geralmente a
rota de preferência por ser mais adequado fisiologicamente e estar menos
relacionado a disfunções hepatobiliar e desarranjos metabólicos (Barr, Hecht et al.,
2004).
A NE tem sido relacionada com a redução da resposta metabólica ao estresse,
diminuição de translocação bacteriana e manutenção da integridade da mucosa
intestinal, menos complicações e menor custo (Adam e Batson, 1997; Griffiths, 1997;
Jolliet, Pichard et al., 1998; Alexander, 1999; Mcclave, Sexton et al., 1999; Montejo,
25
1999; Maclaren, 2000; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001; Spapen, Diltoer et
al., 2001; Peter, Moran et al., 2005; Debaveye e Van Den Berghe, 2006). Além de
manter a integridade da função intestinal, a NE é importante para prevenir alterações
estruturais induzidas pelo jejum. A passagem do alimento pelo intestino proximal
aumenta o fluxo esplênico e estimula a função imune intestinal (Maclaren, 2000;
Mark H. Delegge, 2005). Alguns estudos apresentam que a atrofia do trato
gastrointestinal devido a sua não utilização, contribui para o aumento de morbidade
e mortalidade por permitir a translocação de bactérias para a circulação,
ocasionando sepse. Entretanto, estes resultados não foram observados em
experimentos com seres humanos (Jeejeebhoy, 2001; Aspen, 2002; Montejo, Grau
et al., 2002; Bertolini, Iapichino et al., 2003).
A nutrição parenteral (NP) esteve por muito tempo associada ao aumento de
complicações infecciosas principalmente devido à infecção do cateter intravenoso
(Maclaren, 2000; Neumann e Delegge, 2002; Bertolini, Iapichino et al., 2003;
Griffiths, 2003; Rubinson, Diette et al., 2004; Mark H. Delegge, 2005). Outros
estudos demonstraram que não existem diferenças nos níveis de infecção entre
pacientes críticos recebendo NE ou NP (Woodcock, Zeigler et al., 2001; Rubinson,
Diette et al., 2004). O aumento da mortalidade relacionada a NP deve-se tanto as
complicações infecciosas quanto a hiperalimentação, o que pode levar ao
desenvolvimento de hiperglicemia (Jeejeebhoy, 2001; Hoffer, 2003; Mark H.
Delegge, 2005).
A NP é tão efetiva quanto a NE, diminuindo o risco de mortalidade, quando é
utilizada em pacientes que não podem ser alimentados por via enteral,
26
principalmente, em casos de desnutrição (Braunschweig, Levy et al., 2001;
Jeejeebhoy, 2001; Griffiths, 2003; Heyland, Dhaliwal et al., 2003). Estudos recentes
sugerem que é mais importante a ingestão nutricional adequada do que a rota de
acesso nutricional (Vincent, 2007).
O suporte nutricional enteral pode ser fornecido por meio de fórmulas de NE
poliméricas ou oligoméricas. A fórmula de nutrição enteral oligomérica, com proteína
hidrolisada em forma de peptídeos, é mais facilmente absorvida no trato
gastrointestinal, porém não oferece vantagens em relação às formulas poliméricas,
com proteínas intactas, em termos de tolerância ou prognóstico do paciente grave
(Mowatt-Larssen, Brown et al., 1992; Jolliet, Pichard et al., 1998; Kreymann, Berger
et al., 2006).
1.3.2.2 Imunonutrição
A redução da incidência de infecção tem sido a meta das fórmulas nutricionais
conhecidas como imunomoduladoras. Estas formulações incluem a adição de
substratos como a glutamina, a arginina, os nucleotídeos e os ácidos graxos ômega
3 (Jolliet, Pichard et al., 1998; Beale, Bryg et al., 1999; Cynober, 2003; Montejo,
Zarazaga et al., 2003).
Estudos realizados com estas fórmulas não têm caráter conclusivo, devido à
heterogeneidade das formulações e dos pacientes estudados (Jolliet, Pichard et al.,
1998; Beale, Bryg et al., 1999; Cynober, 2003; Montejo, Zarazaga et al., 2003;
Vincent, 2007). Estudos recentes, realizados em CTI, com pacientes sépticos
27
sugerem que esta dieta pode levar a um aumento do risco de mortalidade (Heyland,
Novak et al., 2001; Griffiths, 2003; Heyland e Samis, 2003; Montejo, Zarazaga et al.,
2003; Mcclave, 2005). As evidências para a utilização de formulações
imunomoduladoras permanecem fracas, exceto para a suplementação de glutamina
(Vincent, 2007). Os benefícios das dietas imunomoduladoras são mais evidentes em
pacientes cirúrgicos, e sua ação se dá por meio da redução de episódios
infecciosos, dias de ventilação mecânica e tempo de hospitalização (Beale, Bryg et
al., 1999; Koretz, Avenell et al., 2007).
Glutamina
A glutamina é um aminoácido condicionalmente essencial para o paciente critico. É
utilizada como fonte energética para os enterócitos e colonócitos, sendo fundamental
para a manutenção da estrutura intestinal. Atua como precursor da glutationa, um
importante antioxidante (Jolliet, Pichard et al., 1998; Gayle Minard, 2004; Debaveye
e Van Den Berghe, 2006; Berger e Chiolero, 2007; Bongers, Griffiths et al., 2007).
Este aminoácido age restaurando a função imunológica, particularmente, a
imunidade mediada por linfócitos T. A glutamina quando oferecida por via parenteral,
diminui a incidência de infecção relacionada ao cateter e a redução da mortalidade
por falência de múltiplos órgãos (Griffiths, Jones et al., 1997; Griffiths, 2003). Os
efeitos da glutamina são observados após a utilização por mais de 9 dias (Griffiths,
Jones et al., 1997; Griffiths, 2003).
Estudos realizados com a glutamina por via enteral falharam em demonstrar efeitos
na mortalidade (Griffiths, 2003). Não existem pesquisas que suportem a utilização de
28
rotina da glutamina em pacientes críticos, a sua utilização poderia ser indicada
apenas em casos de queimados ou traumas (Heyland, Dhaliwal et al., 2003;
Kreymann, Berger et al., 2006).
Arginina
A arginina é um aminoácido não essencial que relaciona-se ao aumento da síntese
de colágeno, possivelmente devido ao estímulo endógeno da secreção do hormônio
de crescimento. Atua como precursor de poliaminas e do óxido nítrico, um potente
vasodilatador. Está envolvida na cicatrização de feridas e na defesa imunológica
(Carcillo, 2003; Cynober, 2003; Gayle Minard, 2004; Barbul e Uliyargoli, 2007).
Alguns estudos indicam que grandes quantidades de arginina podem ser deletérias
em pacientes sépticos instáveis devido à produção de óxido nítrico (Carcillo, 2003;
Cynober, 2003; Barbul e Uliyargoli, 2007; Vincent, 2007). Outra hipótese seria que a
arginina pode estar relacionada a um pior prognóstico devido à secreção do
hormônio de crescimento, o qual pode ser responsável pelo aumento da mortalidade
em CTI (Cynober, 2003). A utilização do hormônio de crescimento (GH) nos
pacientes críticos ocasiona um aumento na resistência à insulina e na hiperglicemia,
desencadeando uma elevação no nível de mortalidade, principalmente devido à
falência de múltiplos órgãos e sepse (Takala, Ruokonen et al. 1999; van den Berghe,
Wouters et al. 2001). Os estudos sugerem que as fórmulas suplementadas com
arginina não devem ser utilizadas em pacientes sépticos devido ao risco de
elevarem a mortalidade (Bertolini, Iapichino et al., 2003; Heyland, Dhaliwal et al.,
2003; Heyland e Samis, 2003; Vincent, 2007).
29
Omega 3
Os ácidos graxos ômega 3 afetam a estabilidade e fluidez da membrana celular,
levando a formação de eicosanóides que atuam na modulação da resposta
inflamatória (Gadek, Demichele et al., 1999; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Gayle
Minard, 2004; Berger e Chiolero, 2007). A suplementação dietética com ômega 3
tem sido relacionada com alterações na síntese de citocinas (Jolliet, Pichard et al.,
1998). Estes lipídios associam-se a redução da resistência vascular sistêmica e, em
pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo, à melhora da
oxigenação e ventilação (Gadek, Demichele et al., 1999; Heyland, Dhaliwal et al.,
2003; Gayle Minard, 2004; Berger e Chiolero, 2007). Os benefícios no prognóstico
clínico da suplementação de ômega 3 parecem ser dose dependente, sendo seus
benefícios observados com cerca de 0,15 a 0,2g/Kg/d (Berger e Chiolero, 2007).
Antioxidantes
A resposta de fase aguda presente no paciente crítico devido à liberação de
citocinas ocasiona o aumento da produção de radicais livres (Mette M. Berger, 2002;
Berger e Chiolero, 2007). A terapia antioxidante pode reduzir esta produção, por
meio de inibidores enzimáticos, ou aumentar as defesas antioxidantes; as doses
necessárias não são conhecidas (Gayle Minard, 2004). Os principais micronutrientes
antioxidantes são: vitamina C, E, cobre, selênio e zinco. A suplementação com
antioxidantes em pacientes graves, iniciada nas primeiras 24 horas do evento agudo,
relaciona-se com a redução de complicações infecciosas, a melhora da cicatrização
de feridas, a redução do tempo de internação no CTI (Mette M. Berger, 2002) e de
30
mortalidade (Mette M. Berger, 2002; Mcclave, 2005; Berger e Chiolero, 2007).
Estudos sugerem que a suplementação de selênio pode melhorar o prognóstico em
pacientes com sepse grave ou choque séptico, porém não está bem definido em que
quantidade e momento esta suplementação deve ser realizada (Berger e Chiolero,
2007).
1.3.2.3 Equipe multidisciplinar de suporte nutricional
A presença da equipe multidisciplinar de suporte nutricional (EMSN) possibilita que a
meta dos requerimentos nutricionais seja alcançada, por meio de um grupo
consciente dos benefícios relacionados (Fisher e Opper, 1996; Kirkland, 1999;
Mcclave, Sexton et al., 1999). A EMSN acarreta diminuições significativas nos níveis
de complicações metabólicas e infecciosas entre os pacientes. Já foi constatado o
impacto da EMSN na redução de morbidade e custos hospitalares (Fisher e Opper,
1996; Heyland, Schroter-Noppe et al., 2003; Waitzberg e Baxter, 2004).
1.3.2.4 Características relativas à qualidade do suporte nutricional
Os pacientes graves freqüentemente recebem inadequado suporte nutricional
durante a internação no CTI devido ao cálculo subestimado das necessidades
nutricionais, início tardio do suporte nutricional e, mesmo, pelas interrupções
freqüentes da infusão da dieta. O suporte nutricional adequado auxilia na prevenção
da desnutrição hospitalar e, conseqüentemente, das complicações associadas (Barr,
Hecht et al., 2004).
31
As características que se destacam na literatura como fundamentais para a
qualidade do suporte nutricional são: o tempo para o início do suporte nutricional, o
tempo para alcançar a meta nutricional, o atendimento das necessidades nutricionais
calóricas e protéicas e a ocorrência de intolerância gastrointestinal.
Tempo de início do suporte nutricional
Alguns estudos sugerem que o início do suporte nutricional dentro de 48 a 72 horas
de internação no CTI está associado com melhora do prognóstico clínico, diminuição
da taxa de infecções e tempo reduzido de internação hospitalar (Barr, Hecht et al.,
2004).
A indicação para o início do suporte nutricional ocorre quando se verifica que o
indivíduo será incapaz de alcançar as metas nutricionais por um período de 5 a 10
dias, tendo-se como preferência o acesso enteral, conforme a recomendação da
American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN) de 2002 (Jolliet,
Pichard et al., 1998; Aspen, 2002; Heyland, Dhaliwal et al., 2003). Porém, o último
guideline publicado pela European Society for Parenteral and Enteral Nutrition
(ESPEN) em 2006, orienta que o início do suporte nutricional deve ocorrer mais
precocemente, quando prevista a permanência do indivíduo em jejum por mais de 3
dias (Kreymann, Berger et al., 2006). Os pacientes com estado nutricional
preservado podem desenvolver déficit protéico e calórico dentro de 7 a 10 dias de
internação no CTI devido ao intenso catabolismo protéico aumentando o risco de
complicações (Dardaine, Dequin et al., 2001). Entretanto, o início do suporte
nutricional, em presença de desnutrição, deve ocorrer entre 1 a 2 dias, devido ao
32
aumento da morbi-mortalidade relacionada a desnutrição (Jolliet, Pichard et al.,
1998). O suporte nutricional normalmente é iniciado em cerca de 3 a 7 dias de
internação no CTI (Heyland, Cook et al., 1995; Adam e Batson, 1997; Mcclave,
Sexton et al., 1999; Krishnan, Parce et al., 2003). As razões mais comuns para não
iniciar a NE relacionam-se com a ausência de sons intestinais, a drenagem gástrica
elevada e a contra indicação à dieta (Heyland, Cook et al., 1995). O tempo de jejum
prolongado está associado com maior morbidade e complicações no pós-operatório
(Adam e Batson, 1997; Huckleberry, 2004), pois o número de dias em jejum pode
prejudicar o alcance da meta calórica e protéica no período de internação (Debaveye
e Van Den Berghe, 2006).
A NE precoce, isto é, administrada ao paciente dentro das primeiras 24 a 48 horas
de admissão no CTI, relaciona-se a diminuição de complicações infecciosas e tempo
de internação na unidade, sobretudo em pacientes cirúrgicos (Heyland, Cook et al.,
1995; Marik e Zaloga, 2001; Neumann e Delegge, 2002; Heyland, Dhaliwal et al.,
2003; Marik e Zaloga, 2003; Kelly A. Tappenden, 2004; Mark H. Delegge, 2005;
Peter, Moran et al., 2005). A NE precoce em pacientes submetidos a cirurgia
cardíaca aumenta o índice cardíaco e o fluxo sanguíneo esplênico (Mark H. Delegge,
2005). O maior perigo da NE nas horas iniciais da internação é a hipoperfusão
intestinal. A metabolização dos nutrientes pode aumentar a hipoxemia e ocasionar
necrose intestinal (Kelly A. Tappenden, 2004; Mark H. Delegge, 2005). A NE precoce
pode trazer benefícios para pacientes graves com trauma, mas as evidências ainda
não são suficientes para que seja recomendado (Jolliet, Pichard et al., 1998;
Debaveye e Van Den Berghe, 2006). Não existem achados conclusivos mostrando
melhora do prognóstico clínico com o uso prematuro de NE em pacientes graves,
33
porém se os pacientes tiverem estabilidade hemodinâmica e funcionamento do trato
gastrointestinal, o suporte nutricional deve ser iniciado mesmo que nas primeiras 24
horas de internação (Kreymann, Berger et al., 2006).
Os pacientes graves, sobretudo aqueles que permanecem em jejum por 7 a 10 dias,
apresentam risco de desenvolverem a síndrome de realimentação relacionada com
aumento de morbidade e mortalidade. A síndrome de realimentação é um processo
fisiopatológico que envolve distúrbios no metabolismo da glicose e desordens
hidroeletrolíticas, envolvendo principalmente íons intracelulares, como o fósforo,
potássio e magnésio (Crook, Hally et al., 2001).
Tempo para alcançar a meta nutricional
O tempo para alcançar a meta nutricional é fundamental para que os pacientes
recebam o aporte calórico e protéico necessário no decorrer do tempo de internação.
A meta nutricional tem sido alcançada dentro de três dias em somente 14% dos
pacientes (Kirkland, 1999).
Necessidades nutricionais calóricas e protéicas
O gasto energético total do paciente crítico varia na faixa de 20 a 30 calorias por
quilograma ao dia (Kcal/Kg/d) (Hill, 1998; Jolliet, Pichard et al., 1998; De Jonghe,
Appere-De-Vechi et al., 2001; Aspen, 2002; Hoffer, 2003; Gayle Minard, 2004). A
ESPEN orienta que a meta calórica entre 20 a 25 Kcal/Kg/d durante a fase inicial da
doença aguda pode estar associado a um prognóstico desfavorável e que durante a
34
fase de recuperação o objetivo deve ser fornecer cerca de 25 a 30 Kcal/Kg/d
(Kreymann, Berger et al., 2006). O cálculo do gasto energético total pode ser feito
pela fórmula de Harris & Benedict ajustada com um fator de estresse entre 1,2 a 1,5
de acordo com as condições clínicas do paciente (Hill, 1998; Jolliet, Pichard et al.,
1998; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001; Aspen, 2002; Hoffer, 2003; Gayle
Minard, 2004). Outros estudos sugerem que a meta clássica de 25 Kcal/Kg/d pode
afetar adversamente o prognóstico clínico (Debaveye e Van Den Berghe, 2006).
Pesquisadores têm sugerido que o fornecimento de energia abaixo dos
requerimentos atuais evita acentuada resposta metabólica adaptiva ao estresse
(Stapleton, Jones et al., 2007). O conceito de fornecer quantidade modesta de
calorias e proteínas na fase aguda da doença grave está crescendo entre os
especialistas em nutrição clínica favorecendo a melhora do prognóstico (Hise,
Halterman et al., 2007; Stroud, 2007).
Por outro lado, outros estudos demonstram que o grau de alimentação mensurado
pela proporção de calorias recebidas em relação às calorias necessárias, apresenta
um impacto clínico significante na função pulmonar. A alimentação abaixo das
necessidades associa-se a um pior prognóstico (Mcclave, Sexton et al., 1999). O
decréscimo no percentual de calorias infundidas relaciona-se a redução dos níveis
séricos de albumina. Esta associação pode ter relação com o fato de que o paciente
grave com uma maior resposta ao estresse apresenta níveis séricos de albumina
menores e menor tolerabilidade a alimentação enteral (Mcclave, Sexton et al., 1999;
Ravasco, Camilo et al., 2002). Apenas cerca de 70% a 85% das calorias calculadas
de acordo com a fórmula de Harris & Benedict e proteínas são infundidas em
pacientes críticos (Adam e Batson, 1997; Griffiths, 1997; Kirkland, 1999; De Jonghe,
35
Appere-De-Vechi et al., 2001; Strack Van Schijndel R. J. M., 2007). A ingestão
calórica acima de 65% das necessidades, aproximadamente 18 Kcal/Kg/dia,
associa-se com maiores níveis de morbidade e mortalidade (Krishnan, Parce et al.,
2003). O mínimo de calorias e de proteínas necessárias para trazer benefícios
terapêuticos ao paciente crítico ainda é desconhecido (Mcclave, 2005). Sabe-se que
a administração de dietas hipocalóricas, cerca de 50% das necessidades
metabólicas, é provável levar ao rápido desencadeamento da desnutrição
(Debaveye e Van Den Berghe, 2006) Outros autores demonstram benefícios
terapêuticos do suporte nutricional no prognóstico a partir da infusão de 60% das
necessidades. (Mcclave, 2005) A ingestão calórica inferior a 25% das
recomendações, cerca de 6 kcal/Kg/d, pode aumentar significantemente o risco de
infecções sanguíneas nosocomiais (Rubinson, Diette et al., 2004).
Os pacientes graves apresentam uma grande perda e necessidade de nitrogênio
como resultado da resposta metabólica, prejuízo da ingestão ou absorção, perdas
pelo trato gastrointestinal ou não cicatrização de feridas (Stroud, 2007). As
recomendações protéicas variam de 1,5 a 2,0 gramas de proteína por quilograma de
peso ao dia (g/Kg/d). Por outro lado, a ingestão protéica superior a 1,5 g/Kg/d não
melhora a síntese protéica e o balanço nitrogenado, contribuindo para elevação dos
níveis séricos de uréia (Hill, 1998; Jolliet, Pichard et al., 1998; Aspen, 2002; Jansen
M. M. P. M., 2002; Hoffer, 2003; Gayle Minard, 2004). Estudos sugerem que o
melhor balanço nitrogenado pode não estar relacionado a melhora do prognóstico
clínico, o excesso de nitrogênio durante a resposta catabólica pode comprometer a
resposta orgânica para a sobrevivência (Stroud, 2007). O National Institute for Health
and Clinical Excellence em 2006 sugeriu o uso de uma dieta normoprotéica para os
36
pacientes graves, em torno de 0,8 g/Kg/d de proteínas, nível bem menor do que os
recomendados pela ESPEN em 2006 e pela ASPEN em 2002, cerca de 1,5 g/Kg/d
(Kreymann, Berger et al., 2006; Stroud, 2007).
A meta calórica e protéica para o paciente crítico ainda está sendo bastante
discutida. Porém, está bem determinado que a hiperalimentação é prejudicial para
estes pacientes. A hiperalimentação pode ser definida como a administração de
energia e substratos acima da quantidade necessária para a manutenção da
homeostase, podendo ocasionar complicações metabólicas graves no paciente
crítico. As principais complicações apresentadas são: azotemia, desidratação
hipertônica, acidose metabólica, hipertrigliceridemia, hiperglicemia, hipercapnia e
esteatose hepática (Debaveye e Van Den Berghe, 2006).
A hiperalimentação pode prolongar o tempo de ventilação mecânica devido ao
aumento da produção de dióxido de carbono (Huang, Yen et al., 2000). Os pacientes
cronicamente desnutridos apresentam um maior risco de desenvolverem
complicações metabólicas associadas com a hiperalimentação (Huckleberry, 2004).
O excesso de lipídios fornecidos ao paciente devido a hiperalimentação, sobretudo o
ácido linoléico (ômega 6), afeta a função dos neutrófilos e leucócitos, bloqueia o
sistema fagocítico, contribui para a esteatose hepática e aumenta a síntese de
prostaglandinas vasodilatadoras (Jolliet, Pichard et al., 1998; Gayle Minard, 2004).
Este tipo de lipídio está relacionado à produção de agentes imunossupressores
(Huckleberry, 2004). A administração de altas doses de ácido linoléico é indesejável
37
em pacientes críticos, sobretudo naqueles com falência orgânica pulmonar
(Suchner, Katz et al., 2001).
A quantidade total de gordura ofertada ao paciente grave deve ser avaliada,
incluindo a monitorização do uso de propofol, visando prevenir o excesso de calorias
e determinar o percentual de gordura proveniente da dieta (Suchner, Katz et al.,
2001; Schwartz, 2005).
A mistura de triglicerídeos de cadeia média e triglicerídeos de cadeia longa com
adição de ômega 3 continuam sendo investigados em relação aos seus efeitos na
modulação da resposta imunológica e inflamatória (Jolliet, Pichard et al., 1998; Gayle
Minard, 2004). Porém, alguns autores afirmam que o tipo e a quantidade de gordura
ofertada ao indivíduo são fundamentais na regulação da resposta imune
(Cunningham-Rundles, 2003).
Intolerância gastrointestinal
A tolerância adequada à NE é definida pela infusão de mais de 90% dos
requerimentos calóricos, a ausência de efeitos adversos como vômitos, alto volume
de resíduo gástrico (acima de 150 - 200 mL), distensão abdominal, diarréia e
aspiração (Mcclave, Sexton et al., 1999; Maclaren, 2000). A principal causa de
inadequado suporte nutricional relaciona-se a intolerância gastrointestinal (Heyland,
Cook et al., 1995; Adam e Batson, 1997; Kirkland, 1999; Mcclave, Sexton et al.,
1999; Montejo, 1999; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001; Montejo, Grau et al.,
2002; Roberts, Kennerly et al., 2003; Petros e Engelmann, 2006). Outras causas
38
relacionam-se a procedimentos diagnósticos, manejo das vias aéreas e problemas
mecânicos (Heyland, Cook et al., 1995; Kirkland, 1999; Montejo, 1999; De Jonghe,
Appere-De-Vechi et al., 2001). Estudos sugerem que o esvaziamento gástrico
inadequado é a principal variável relacionada à tolerância da NE (Heyland, Cook et
al., 1995; Adam e Batson, 1997; Mcclave, Sexton et al., 1999; Montejo, 1999;
Kearns, Chin et al., 2000; Maclaren, 2000; Mentec, Dupont et al., 2001; Montejo,
Grau et al., 2002; Heyland, Schroter-Noppe et al., 2003; Krishnan, Parce et al.,
2003).
A intolerância digestiva alta está associada com broncoaspiração e pneumonia e,
conseqüentemente, aumento nos níveis de mortalidade (Heyland, Cook et al., 1995;
Mentec, Dupont et al., 2001; Heyland, Schroter-Noppe et al., 2003). O risco de
intolerância pode estar relacionado com a utilização de agentes paralíticos e drogas
vasoativas (Heyland, Cook et al., 1995; Mentec, Dupont et al., 2001). A disfunção na
motilidade gastrointestinal normalmente acomete os pacientes mais graves. A
etiologia pode se associar ao uso de medicamentos (dopamina, barbitúricos,
opióides); grandes procedimentos cirúrgicos; condições clínicas como diabetes,
trauma, sepse, queimaduras e aumento da pressão intra-craniana; alterações
metabólicas como a hiperglicemia e a hipocalemia e a administração de fórmulas
hiperosmolares (Maclaren, 2000; Doherty e Winter, 2003; Metheny, 2004).
O paciente crítico usualmente apresenta vários fatores associados com o risco de
aspiração como a intubação oro-traqueal, a ventilação mecânica e o uso freqüente
de sedação. Alguns estudos relacionam o posicionamento da sonda enteral com o
aumento do risco de aspiração e pneumonia associada à ventilação mecânica (Mark
39
H. Delegge, 2005). Dessa forma, alguns autores sugerem a utilização de estratégias
como o posicionamento da sonda pós-pilórica, em casos de gastroparesia, e a
administração de agentes procinéticos visando melhorar a tolerância gastrointestinal
(Heyland, Cook et al., 1995; Jolliet, Pichard et al., 1998; Montejo, 1999; Kearns, Chin
et al., 2000; Maclaren, 2000; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Heyland, Schroter-
Noppe et al., 2003; Marik e Zaloga, 2003; Barr, Hecht et al., 2004). Porém não
existem evidências que suportem a utilização do acesso jejunal, em preferência ao
acesso gástrico para reduzir o risco de infecção (Montejo, 1999; Maclaren, 2000;
Montejo, Grau et al., 2002; Neumann e Delegge, 2002; Griffiths, 2003; Heyland,
Dhaliwal et al., 2003; Marik e Zaloga, 2003; Kreymann, Berger et al., 2006; Petros e
Engelmann, 2006). Existem poucos estudos que sustentem o uso de rotina de
agentes procinéticos visando a melhor tolerância da NE. Além disso, a utilização de
medicamentos procinéticos não reduz a incidência de pneumonia associada à
ventilação mecânica (Doherty e Winter, 2003; Griffiths, 2003).
A NE é considerada um fator de risco independente para a pneumonia associada à
ventilação mecânica (Singh, Falestiny et al., 1998; Montejo, Grau et al., 2002;
Griffiths, 2003; Rubinson, Diette et al., 2004). A elevação da cabeceira da cama
(cerca de 30º a 45º) é a melhor estratégia para a redução do risco de pneumonia
(Kirkland, 1999; Kearns, Chin et al., 2000; Griffiths, 2003; Heyland, Dhaliwal et al.,
2003; Metheny, 2004).
A diarréia é outra grande causa de suporte nutricional inadequado que normalmente
ocorre em pacientes críticos em uso de NE podendo ocasionar aumento do risco de
infecções, problemas relacionados ao cuidado da pele, perda de eletrólitos, água e
40
nutrientes e aumento dos custos (Mcclave, 2005). A maior causa de diarréia em
pacientes em suporte nutricional relaciona-se ao uso de medicações contendo
magnésio e sorbitol, mas outras causas podem estar relacionadas como o uso de
antibióticos e contaminação da fórmula (Adam e Batson, 1997; Mcclave, 2005).
Apenas cerca de 20% dos casos de diarréia ocorre devido à malabsorção da fórmula
de NE (Mcclave, 2005). A diarréia persistente, por mais de três dias, em pacientes
em uso crônico de antibióticos, pode ser causada pelo Clostridium difficile. Nestes
casos, a administração de agentes anti-diarréicos e de Saccharomyces boulardii,
deve ser considerado (Jolliet, Pichard et al., 1998).
A utilização de fibras solúveis na fórmula enteral do paciente crítico pode levar a
redução da incidência de diarréia por prolongar o tempo de trânsito intestinal e
aumentar a síntese de ácidos graxos de cadeia curta (Jolliet, Pichard et al., 1998;
Spapen, Diltoer et al., 2001; Bengmark, 2003; Griffiths, 2003).
1.4 Complicações Clínicas e Cirúrgicas
Dentre as complicações clínicas e cirúrgicas que acometem o paciente grave
podemos destacar a infecção adquirida no CTI, a sepse e a falência de múltiplos
órgãos, como sendo fatores fundamentais para o prognóstico clínico.
Vários estudos têm demonstrado que os níveis de mortalidade aumentam conforme
a prevalência de infecção adquirida em terapia intensiva (Galban, Montejo et al.,
2000; Griffiths, 2003; Rubinson, Diette et al., 2004). Algumas enfermidades
associam-se a um maior risco de infecção como diabetes, insuficiência renal crônica,
41
cirrose hepática e doença pulmonar obstrutiva crônica (Rubinson, Diette et al.,
2004). Vários fatores estão associados com novas infecções, incluindo ventilação
mecânica, diagnóstico de trauma, uso de dispositivos invasivos e duração da
internação no CTI (Griffiths, 2003).
A sepse permanece sendo uma grande causa de morbidade e mortalidade nos
pacientes criticos. O grau de gravidade da sepse pode afetar independentemente o
prognóstico. A sepse grave resulta da resposta inflamatória e pró-coagulante a
infecção. As citocinas inflamatórias são capazes de estimular padrões múltiplos de
inflamação, resultando em disfunção endovascular, disfunção de múltiplos órgãos e
morte (Accp, 1992; Bernard, Vincent et al., 2001; Griffiths, 2003; Schwartz, 2005).
A falência de múltiplos órgãos é a maior causa de morte nos pacientes críticos,
sendo assim, o grau de disfunção orgânica está diretamente relacionado à
mortalidade (Vincent, Moreno et al., 1996). Dentre as falências orgânicas destacam-
se a falência renal aguda e a falência imune. A falência orgânica renal aguda implica
em taxa de mortalidade de 30%. A taxa de mortalidade difere de acordo com o fator
desencadeante da falência orgânica. A insuficiência renal aguda quando relacionada
a situações de hipermetabolismo apresenta alta mortalidade. Quando esta ocorre
como parte da falência de múltiplos órgãos os níveis de mortalidade aumentam para
70%. A presença de desnutrição nos pacientes com falência renal é um forte
marcador de morbi-mortalidade (Michael Y. Suleiman, 1994). O início precoce da
diálise tem sido defendido nestes pacientes devido à prevenção da desnutrição e
redução do tempo de hospitalização, mortalidade e custos, mas não existem estudos
que suportem esta indicação. A diálise expõe o paciente a complicações
42
relacionadas ao procedimento e aumento dos custos, desta forma, o mais
importante para o início da diálise é a indicação clínica (Beddhu, Samore et al.,
2003). A falência da resposta imunológica inata, demonstrada pelo prejuízo na
função dos neutrófilos, predispõe ao desenvolvimento de infecções e dificuldade na
cicatrização de feridas (Griffiths, 2003). A capacidade funcional do sistema
imunológico, sobretudo a barreira gastrointestinal, é fundamental para o prognóstico
do paciente crítico, reduzindo o desenvolvimento de infecções, falência de múltiplos
órgãos e promovendo a cicatrização de feridas (Heyland, Cook et al., 1995; Griffiths,
2003).
A disfunção mitocondrial tem um papel fundamental no desenvolvimento de falência
orgânica nos pacientes graves. O estado hipermetabólico é ocasionado pelo
aumento da respiração mitocondrial, entretanto estágios tardios da doença estão
associados com dano e disfunção mitocondrial, sugerindo que essas organelas
entram em um estado de hibernação com programação bioquímica e fisiológica
manifestadas clinicamente como disfunção orgânica múltipla. Algumas abordagens
terapêuticas que têm sido associadas com melhora do prognóstico, como estratégias
de ventilação mecânica e controle glicêmico intensivo, podem reduzir a disfunção
mitocondrial (Vincent, 2007).
Modelo teórico do prognóstico de pacientes críticos
Com base na revisão apresentada, isto é, a partir do conhecimento dos fatores que
podem interferir no prognóstico dos pacientes graves propomos a construção de um
diagrama representando-os em diferentes níveis hierárquicos. Esta é a
43
representação esquemática do que pode ser considerado um modelo teórico, que
será usado para estudar o grau de interferência de cada fator no prognóstico dos
pacientes críticos. Na figura 1 consta o modelo teórico elaborado para os fatores que
afetam o prognóstico na doença grave.
Figura 1 - Representação esquemática do modelo teórico do prognóstico de pacientes críticos
MORTE
N í ve l 1 – Car act erí sti ca s D e mográ f i cas
Nível 2Preditores Cnicos
Nível 3 –Complicações Clínicas e Cirúrgicas
Hipergl icemia
Gravidad e
Re p o si çã o
Volêmica
Neoplasia
Infecção /
Pneumoni a
Hi per t ens ão
Tempo de
Internão no
CTI
Diab et es
Hipocolesterolemia
Do ença Pul monar
Ob st rut i va Crôni ca
Estado
Nut ricional
Insuficiência
Car d íac a
Congest iva
* Temp o
de Jej um
Idade Se xo
Transfusão
Sanguínea
Circunferência do
Braço
Nível Sérico de
Prot eínas
Viscerais
Peso At ual
Pós-operatório
Imunon utrão
* Proporção
da Ingestão
da me ta
nutri ci onal
* Intolerância
Digestiva Alta
Fal ência
Orgânica
Se p s e
* Temp o para
alcançar a meta
Tempo d e
util ização
antib ióti co
Nível 2Preditores Nutricionais
* Características relativas a qualidade do suporte nut ricional
Equip e de
suporte
nu tricio nal
Abor dagem
nutri cional:
enteral o u
paren teral
Utilização de
corticosteróides
44
2 JUSTIFICATIVA
A resposta metabólica a doença grave e a falência de múltiplos órgãos afetam o
paciente crítico. Porém, os mecanismos relacionados ao prognóstico ainda são
pouco conhecidos, permanecendo controversa qual a abordagem terapêutica e
nutricional deve ser utilizada nestes pacientes (Vincent, 2007).
O conhecimento sobre os aspectos que interferem no prognóstico dos pacientes
graves internados no CTI permitiria a adoção de medidas de intervenção mais
específicas e efetivas resultando na melhora da sobrevida e da qualidade de vida
destes indivíduos. Os principais fatores que podem interferir no prognóstico podem
ser classificados em quatro grupos: relativos às características demográficas dos
pacientes, relativos aos preditores clínicos, relativos aos preditores nutricionais,
dentre eles a qualidade do suporte nutricional e aqueles relacionados às
complicações clínicas e cirúrgicas.
O modo pelo qual o suporte nutricional afeta o prognóstico dos pacientes críticos
ainda não foi totalmente esclarecido. A abordagem nutricional, quando comparada a
outras intervenções, tem sido negligenciada no âmbito do CTI, apesar do suposto
reconhecimento dos efeitos deletérios da baixa ingestão nutricional (Villet, Chiolero
et al., 2005). Parte desta pouca atenção dispensada ao assunto, pode estar
relacionada ao desconhecimento da influência do suporte nutricional, inclusive da
qualidade desta intervenção, no prognóstico do paciente crítico.
45
3 OBJETIVO
Avaliar o efeito das características relacionadas à qualidade do suporte nutricional
enteral no prognóstico de pacientes graves.
3.1 Objetivos específicos
Avaliar o efeito do tempo de jejum, do tempo médio para se alcançar à meta
nutricional, da proporção de ingestão calórica e protéica e dos efeitos adversos
relacionados ao suporte nutricional no prognóstico de pacientes graves.
4 METODOLOGIA
4.1 Desenho de estudo
O desenho da investigação é do tipo estudo observacional prospectivo que foi
conduzido na Casa de Saúde São José, situada no município do Rio de Janeiro, no
período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006. O estudo foi conduzido com a
aprovação do Comitê de Ética da unidade hospitalar (CAAE 0002.0.179.000-06), o
qual renunciou a necessidade do consentimento livre esclarecido e informado, por
tratar-se de um estudo observacional.
Foram estudados pacientes clínicos ou cirúrgicos em suporte nutricional enteral
pleno e internados por mais de 5 dias no CTI deste hospital. Esses pacientes foram
acompanhados até a alta hospitalar ou morte.
46
A qualidade da terapia nutricional foi avaliada pelo tempo de jejum, tempo médio
para se alcançar à meta nutricional, proporção de ingestão calórica e protéica de
acordo com a meta nutricional e presença de efeitos adversos do suporte nutricional.
Os dados foram registrados diariamente e de modo padronizado pela equipe de
suporte nutricional da unidade hospitalar, até a alta desta intervenção ou por um
período de no máximo 28 dias.
O suporte nutricional prescrito pela EMSN considerou o estado nutricional na
admissão e a perspectiva de tempo de jejum do paciente. As necessidades calórico-
protéicas foram determinadas de acordo com o recomendado para os pacientes em
estado grave por meio da equação de Harris-Benedict, em torno de 20 a 30 calorias
por Kg e 1,0 a 2,0 gramas de proteína por kg de peso ideal de acordo com a
gravidade da doença (Aspen, 2002).
Os critérios de inclusão no estudo foram ter idade superior a 18 anos e inferior a 90
anos, estar internado no CTI e ter informação disponível sobre o uso de suporte
nutricional enteral e de aspectos relacionados à sua qualidade. Os critérios de
exclusão foram: ocorrência de transferência para outra unidade hospitalar com
menos de sete dias de internação, indicação de nutrição parenteral e ausência de
possibilidades terapêuticas.
Os fatores prognósticos foram estudados agrupados em quatro grupos:
características demográficas, preditores clínicos, preditores nutricionais, incluindo os
47
fatores relativos à qualidade do suporte nutricional e fatores relacionados às
complicações clínicas e cirúrgicas.
Características demográficas: idade e sexo.
Preditores clínicos: gravidade da doença avaliada pelo índice de prognóstico
APACHE II - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation – realizado nas
primeiras 24 horas de admissão no CTI; diagnóstico primário; presença de co-
morbidades como diabetes, hipertensão e injúria neurológica; ocorrência de cirurgia;
fatores metabólicos como proteína C reativa, glicemia e colesterol; e medicamentos
utilizados (reposição de albumina, sedativos, proteína C ativada, drogas vasoativas,
narcóticos, corticóides, agentes paralíticos e procinéticos).
Preditores nutricionais: via de acesso enteral; tipo de fórmula enteral; nível de
proteínas viscerais na admissão como albumina, pré-albumina e transferrina;
utilização de imunomoduladores como arginina, glutamina e ômega 3; e o estado
nutricional avaliado pela circunferência do braço e pela avaliação global subjetiva
(AGS) que considera a história e o exame físico do paciente, caracterizando-o como
eutrófico (AGS A), moderadamente desnutrido (AGS B) ou gravemente desnutrido
(AGS C).
Indicadores de qualidade do suporte nutricional:
1 - Tempo de jejum: número de dias sem nenhum tipo de alimentação. O tempo de
jejum foi considerado prolongado quando superior a 7 dias;
48
2 - Tempo médio para se alcançar à meta nutricional: número de dias necessários
para o paciente receber o volume total de nutrição referente ao seu gasto energético
total e necessidades protéicas. O tempo para se alcançar à meta nutricional foi
considerado prolongado quando superior a 3 dias;
3 - Proporção de ingestão nutricional calórica e protéica de acordo com a meta
nutricional: ingestão nutricional calórica e protéica dividida meta nutricional calórica e
protéica e multiplicado por 100 (% infundido da meta);
4 - Efeitos adversos do suporte nutricional: intolerância digestiva alta caracterizada
pela presença de resíduo gástrico acima de 150 mL, o qual foi avaliado de 4 em 4
horas ou a presença de diarréia caracterizada por mais de 3 evacuações diárias
independentes da consistência. O tempo de resíduo gástrico elevado foi considerado
prolongado quando superior a 3 dias.
Complicações clínicas e cirúrgicas: sepse e falência orgânica (respiratória, renal,
cardiovascular, imune, hepática). A falência orgânica foi avaliada com base nos
dados disponíveis no prontuário do paciente.
O desfecho de prognóstico foi o tempo até a ocorrência do evento de interesse, isto
é, o óbito do paciente. Para os pacientes que não faleceram, este tempo foi
determinado pela data de entrada no estudo e a data da censura. Considerou-se
censura a saída do paciente do estudo por outro motivo além da morte, isto é, alta
hospitalar.
49
4.2 Análise estatística de dados
As variáveis contínuas foram descritas por média e desvio padrão e as variáveis
categóricas por freqüências absolutas e relativas. A análise estatística para
comparação de grupos de indivíduos foi realizada pelo teste t Student quando a
variável era contínua e pelo teste Qui-quadrado se os dados eram categóricos.
Foi realizada a análise de sobrevida, com estimativas de probabilidades de
sobrevida segundo as características estudadas e construção de curvas de
sobrevidas. Foram calculadas medidas de associação do tipo razões de taxas de
hazard (RT) por modelo de regressão de Cox e ajustadas para múltiplas exposições
e os respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Os valores de p menores ou
iguais a 0,05 foram considerados estatisticamente significantes.
A análise estatística foi realizada com o programa estatístico STATA/SE versão 9.0
(StataCorp LP., 2005). A construção dos modelos de regressão foi fundamentada na
análise univariada e nos níveis do modelo teórico apresentado na figura 1.
50
5 RESULTADOS
Dentre os pacientes admitidos no CTI durante o período de estudo, 196 pacientes
foram incluídos de acordo com os critérios de seleção. A média de idade foi de
73,9±12,6 anos, sendo 50,5% dos pacientes do sexo masculino. De acordo com o
APACHE II a amostra foi composta de pacientes graves com a média do índice de
gravidade de 18,9±6,8. A mortalidade observada foi 35,2%.
Os diagnósticos mais freqüentes se relacionaram a co-morbidades cardiovasculares
29,1% e pneumonia 29,1%, seguido de sepse 18,9% e neoplasias 16,3%. Cerca de
58% dos pacientes encontravam-se em pós-operatório.
A população de estudo é formada de idosos com semelhante proporção dos sexos
masculino e feminino (tabela 1). A média de idade foi maior no grupo de pacientes
que foram ao óbito (p=0,006).
Tabela 1 - Características demográficas dos pacientes segundo mortalidade
Mortalidade
Total
(n = 196)
Sim
(n = 69)
Não
(n = 127) p-value
Idade (anos)* 73,9 (± 12,6) 77,3 (± 11,1) 72,2 (± 13) 0,006
Sexo Feminino** 97 (49,5%) 36 (52,2%) 61 (48%)
Sexo Masculino 99 (50,5%) 33 (47,8%) 66 (52,0%)
Ns
* Valores apresentados como média ± desvio padrão
** Valores apresentados como número (%) segundo mortalidade
ns – não significante
A gravidade da doença foi semelhante em ambos os grupos (tabela 2). Os
diagnósticos e a presença de pacientes em pós-operatório, também não variaram
significativamente. Porém, a ocorrência de co-morbidades como diabetes mellitus foi
um pouco maior no grupo de pacientes que foram ao óbito (p=0,05).
51
A utilização de medicamentos como os corticóides e a proteína C ativada não variou
significantemente entre os grupos. Em relação ao estado metabólico dos indivíduos
estudados, os níveis séricos de colesterol foram significantemente menores no grupo
de pacientes que morreram (p=0,01) e os níveis séricos da proteína C reativa, foram
semelhantes em ambos os grupos. A média dos níveis séricos de glicose na
admissão foi significantemente maior no grupo de pacientes que foram ao óbito
(p=0,006).
O tempo médio de internação hospitalar foi de 63,8±94,9 dias e o tempo médio de
internação no CTI de 30,4±40,4 dias. Durante a internação no CTI o tempo médio de
ventilação mecânica foi de 12,6±9,1 dias e o tempo médio de utilização de
antibióticos de 14,1±7,4 dias. Quando se avalia a influência destes fatores de
prognóstico clínico na mortalidade, verifica-se que o tempo médio de internação
hospitalar não divergiu significativamente entre os grupos.
52
Tabela 2 – Preditores clínicos segundo mortalidade
Mortalidade
Total
(n = 196)
Sim
(n = 69)
Não
(n = 127) p-value
APACHE II* 18,9 (± 6,8) 18,9 (± 5,9) 18,9 (± 7,3) ns
Diabéticos** 42 (21,4%) 20 (29%) 22 (17,3%) 0,05
Pós-operatório 115 (58,7%) 36 (52,2%) 79 (62,2%) ns
Pneumonia 57 (29,1%) 24 (34,8%) 33 (26%) ns
Infecção 94 (47,9%) 36 (52,2%) 58 (45,7%) ns
Neoplasia 32 (16,3%) 9 (13%) 23 (18,1%) ns
Utilização de Corticóides 145 (73,9%) 54 (78,3%) 91 (71,6%) ns
Utilização de Proteína C Ativada 9 (4,6%) 1 (1,4%) 8 (6,3%) ns
Nível de Glicose na Admissão (mg/dL) 132,9 (± 51,1) 146,3 (± 66,6) 125,6 (± 38,7) 0,006
Nível de Colesterol na Admissão (mg/dL) 112,5 (± 40,3) 102,5 (± 34,4) 118 (± 42,3) 0,01
Nível de Proteína C Reativa na Admissão (mg/dL) 13,8 (± 9,9) 13,6 (± 10,7) 13,9 (± 9,5) ns
Tempo de Internação Hospitalar (dias) 63,8 (± 94,9) 59,9 (± 72,9) 65,9 (± 105,1) ns
Tempo de Internação no CTI (dias) 30,4 (± 40,4) 40,4 (± 60,7) 25 (± 21,4) 0,01
Tempo de Ventilação Mecânica (dias) 12,6 (± 9,1) 15,8 (± 9,1) 10,9 (± 8,7) 0,0003
Tempo de Uso de Antibióticos (dias) 14,1 (± 7,4) 15,7 (± 7,3) 13,3 (± 7,4) 0,03
* Valores apresentados como média ± desvio padrão
** Valores apresentados como número (%) segundo mortalidade
APACHE II - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation / ns – não significante
Entretanto houve diferença significativa para os tempos médios de internação no CTI
(p=0,01), de ventilação mecânica (p=0,0003) e de utilização de antibióticos (p=0,03),
que foram maiores no grupo de pacientes que morreram. Na figura 2 destacam-se
as medianas e percentis relativos aos respectivos tempos citados acima.
53
Figura 2 – Preditores clínicos segundo a mortalidade
Na avaliação do estado nutricional dos indivíduos de acordo com a avaliação global
subjetiva verificamos que 37,8% encontravam-se moderadamente desnutridos (AGS
B), 32,6% encontravam-se eutróficos (AGS A) e 29,6% gravemente desnutridos
(AGS C). Os pacientes que morreram tinham mais desnutrição grave (AGS C),
44,9% e menos bom estado nutricional (AGS A), 18,8% (p=0,001). A média de peso
atual na internação no CTI (66,2±15,1Kg) foi menor no grupo de pacientes que foram
ao óbito, apesar da presença de edema comum em pacientes graves (p=0,0001).
Entretanto os níveis séricos de proteínas plasmáticas foram semelhantes em ambos
os grupos (tabela 3).
O tempo médio de suporte nutricional, a via de acesso enteral e o tipo de formulação
utilizada não variaram de forma significativa entre os grupos. O tempo médio de
suporte nutricional enteral durante a internação hospitalar foi de 44,9±66,4 dias, a
principal via de acesso para a nutrição enteral foi a pré-pilórica 84,2% com a
utilização de fórmulas poliméricas 57,1% (tabela 3).
O principal nutriente imunomodulador utilizado foi a arginina 24,5%, seguido pela
glutamina 7,1%. O ômega 3 foi utilizado em apenas 3% dos pacientes. Em relação à
0 20 40 60 80
Tempo de Internacao no CTI
não óbito óbito
0 10 20 30
Tempo de Ventilacao Mecanica
não óbito óbito
0 10 20 30
Tempo de Utilizacao de Antibiotico
não óbito óbito
Preditores clínicos segundo mortalidade
54
utilização de fórmulas imunomoduladoras, todos os pacientes que utilizaram a
glutamina sobreviveram (p=0,004).
Tabela 3 – Preditores nutricionais segundo mortalidade
Mortalidade
Total
(n = 196)
Sim
(n = 69)
Não
(n = 127) p-value
Eutrófico – AGS** 64 (32,6%) 13 (18,8%) 51 (40,2%)
Desnutrição Moderada - AGS 74 (37,8%) 25 (36,2%) 49 (38,6%)
Desnutrição Grave - AGS 58 (29,6%) 31 (44,9%) 27 (21,3%)
0,001
Peso Atual na Internação (Kg)* 73,1 (± 18,2) 66,2 (± 15,1) 76,7 (± 18,7) 0,0001
Circunferência do Braço (cm) 29,3 (± 5,3) 27,8 (± 5,2) 30,1 (± 5,2) ns
Nível de Albumina na Admissão (g/dL) 2,3 (± 0,6) 2,2 (± 0,6) 2,4 (± 0,6) ns
Nível de Pré-Albumina na Admissão (mg/dL) 16,3 (± 8,5) 15,3 (± 7,9) 16,8 (± 8,7) ns
Nível de Transferrina na Admissão (mg/dL) 103,9 (± 38,9) 101,7 (± 42,7) 105,1 (± 36,9) ns
Tempo de Suporte Nutricional (dias) 44,9 (± 66,4) 47,7 (± 67,9) 43,4 (± 65,7) ns
Acesso Pré-pilórico 165 (84,2%) 56 (81,2%) 109 (85,8%) ns
Acesso Pós-pilórico 31 (15,8%) 13 (18,9%) 18 (14,2%) ns
Nutrição Enteral Polimérica 112 (57,1%) 41 (59,4%) 71 (55,9%) ns
Nutrição Enteral Oligomérica 84 (42,9%) 28 (40,6%) 56 (44,1%) ns
Imunomodulador - Glutamina 14 (7,1%) 0 (0,0%) 14 (11%) 0,004
Imunomodulador - Arginina 48 (24,5%) 16 (23,2%) 32 (25,2%) ns
Imunomodulador - Ômega 3 6 (3,1%) 3 (4,4%) 3 (2,4%) ns
* Valores apresentados como média ± desvio padrão
** Valores apresentados como número (%) segundo mortalidade
AGS – Avaliação Global Subjetiva / ns – não significante
O tempo médio de jejum foi de 3,5±2,9 dias e o tempo médio para alcançar a meta
nutricional de 5,8±3,9 dias. A média da meta calórica calculada foi em torno de
1521,7±254,7 Kcal/dia e de proteínas foi 77,4±17,5 gramas/dia considerando o peso
ideal do paciente que foi em média 61,7±7,3 Kg. Sendo assim, em média a meta
calórica calculada para os pacientes foi cerca de 25Kcal/Kg e de proteínas 1,25g/Kg
de peso ideal. Porém, apenas 35,7% dos pacientes receberam a meta calórica
adequada e 31,1% a meta protéica. Dentre os efeitos adversos estudados, os
episódios de diarréia se destacaram sendo observado pelo menos um episódio em
62,8% dos pacientes e a presença de resíduo gástrico elevado foi observada em
29,6%.
55
Na tabela 4 destacam-se os indicadores de qualidade do suporte nutricional segundo
a mortalidade. O tempo médio para alcançar a meta nutricional e o tempo médio de
jejum não variou entre os grupos, assim como, a adequação a meta calórica e
protéica e os efeitos adversos estudados.
Tabela 4 – Indicadores de qualidade do suporte nutricional segundo mortalidade
Mortalidade
Total
(n = 196)
Sim
(n = 69)
Não
(n = 127)
p-value
Tempo para Alcançar a Meta (dias)* 5,8 (± 3,9) 6,2 (± 4,9) 5,5 (± 3,1) ns
Tempo de Jejum (dias) 3,5 (± 2,9) 3,5 (± 3,0) 3,4 (± 2,8) ns
Meta Calórica Ingerida Adequada 70 (35,7%) 26 (37,7%) 44 (34,6%) ns
Meta Protéica Ingerida Adequada 61 (31,1%) 20 (28,9%) 41 (32,3%) ns
Efeito Adverso – Diarréia** 123 (62,8%) 47 (68,1%) 76 (59,8%) ns
Efeito Adverso - Resíduo Gástrico Elevado 58 (29,6%) 21 (30,3%) 37 (29,1%) ns
* Valores apresentados como média ± desvio padrão
** Valores apresentados como número (%) segundo mortalidade
ns – não significante
Quanto as complicações clínicas e cirúrgicas, a falência orgânica respiratória foi a
mais observada em 90,8% dos pacientes seguida pela falência renal em 41,3%,
dentre estes, a diálise foi necessária em 63% dos casos.
O diagnóstico de sepse e a presença de falências orgânicas não variaram de forma
significativa entre os grupos, com exceção da falência renal, a qual foi
significantemente maior no grupo de pacientes que morreram, em 58% dos casos
(p=0,000). Conseqüentemente a necessidade de diálise também foi superior neste
grupo, usada em 46,4% dos pacientes (tabela 5).
56
Tabela 5 – Complicações clínicas e cirurgicas segundo mortalidade
Mortalidade
Total
(n = 196)
Sim
(n = 69)
Não
(n = 127) p-value
Falência Respiratória* 178 (90,8%) 64 (92,7%) 114 (89,8%)
ns
Falência Renal 81 (41,3%) 40 (58%) 41 (32,3%)
0,000
Falência Cardiovascular 23 (11,7%) 8 (11,6%) 15 (11,8%)
ns
Falência Hepática 3 (1,3%) 2 (2,9%) 1 (0,8%)
ns
Falência Imune 14 (7,1%) 6 (8,7%) 8 (6,3%)
ns
Diálise 51 (26,1%) 32 (46,4%) 19 (15%) 0,000
Sepse 37 (18,9%) 12 (17,4%) 25 (19,7%) ns
* Valores apresentados como número (%) segundo mortalidade
ns – não significante
A avaliação da influência da qualidade do suporte nutricional na mortalidade foi feita
considerando separadamente o alcance das metas calórica e protéica dos pacientes.
Esta situação deveu-se a ocorrência de colinearidade apresentada por estas
variáveis.
Observando as metas nutricionais calórica e protéica, indivíduos que não alcançar a
meta tiveram pior prognóstico do que aqueles que receberam a quantidade
necessária dos nutrientes (Figura 3).
57
Figura 3 – Curva de sobrevida referente ao efeito do suporte nutricional na mortalidade segundo a
adequação a meta calórica e protéica
O efeito da qualidade do suporte nutricional, considerando a meta calórica infundida,
na mortalidade dos pacientes críticos está apresentada na tabela 6. Esta tabela
contém razões de taxas brutas (análise bivariada) e ajustadas (considerando os
efeitos simultâneos de todos os aspectos da qualidade do suporte nutricional). O
risco de morte foi 3,8 vezes maior no grupo de pacientes que recebeu menos do que
50% da meta calórica (RT 3,80; IC 95% 1,76 a 8,21; p=0,001). Em relação aos
efeitos adversos do suporte nutricional, a ocorrência de diarréia não influenciou na
mortalidade pela análise bivariada, por outro lado, o tempo de resíduo gástrico
elevado, acima de 3 dias, aumentou em 2,6 vezes o risco de morte (RT 2,64; IC 95%
1,19 a 5,85; p=0,017). O tempo de jejum e o tempo para alcançar a meta nutricional
prolongados não afetaram de forma significativa a mortalidade.
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0 100 200 300 400 500
Tempo de estudo em dias
Não Adequada Adequada
Adequação a meta calórica
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0 100 200 300 400 500
Tempo de estudo em dias
Não Adequada Adequada
Adequação a meta protéica
segundo a meta calórica e protéica
Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade
58
Tabela 6 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade segundo a meta calórica
infundida
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada *
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta calórica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 4,38 3,80 0,001 1,76 – 8,21
De 51 a 75% 1,46 1,41 ns 0,77 – 2,55
Mais que 100% 1,80 1,70 ns 0,73 – 3,97
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,06 ns 0,95 – 4,44
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,72 ns 0,41 – 1,27
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 2,64 0,017 1,19 – 5,85
ns – não significante.
* – ajustada para os demais fatores da qualiade do suporte nutricional.
A tabela 7 mostra o efeito dos indicadores de qualidade do suporte nutricional na
mortalidade considerando a meta protéica infundida. O risco de morte foi 2,6 vezes
maior no grupo de pacientes que recebeu menos do que 50% da meta protéica (RT
2,56; IC 95% 1,30 a 5,20; p=0,007), este risco aumentou para cerca de 4 vezes no
grupo de pacientes que recebeu acima de 100% da meta protéica (RT 4,12; IC 95%
1,56 a 10,93; p=0,004). O tempo de jejum prolongado, acima de 7 dias, aumentou
2,6 vezes o risco de morte (RT 2,64; IC 95% 1,23 a 5,68; p=0,013). O tempo para
alcançar a meta nutricional prolongado, acima de 3 dias, não afetou de forma
significativa a mortalidade. Em relação ao tempo de resíduo gástrico elevado,
quando presente, fez com que os pacientes tivessem risco de morrer 3,3 vezes
maior (RT 3,34; IC 95% 1,52 a 7,35; p=0,003).
59
Tabela 7 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade segundo a meta protéica
infundida
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta protéica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 2,56 2,60 0,007 1,30 – 5,20
De 51 a 75% 1,34 1,41 ns 0,77 – 2,56
Mais que 100% 3,64 4,12 0,004 1,56 – 10,93
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,64 0,013 1,23 – 5,68
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,79 ns 0,46 – 1,37
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 3,34 0,003 1,52 – 7,35
ns – não significante
As razões de taxas referentes aos efeitos do suporte nutricional na mortalidade
segundo a meta calórica e protéica podem ser comparadas pelos gráficos da figura
4. Percebe-se a importância de não ofertar ao paciente crítico, suporte nutricional
em volume abaixo de 50% da meta calórica e protéica e nem superior a 100% da
meta protéica.
Razões de taxas segundo meta calórica
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
12.0
Menos que
50%
De 51 a 75% De 76% a
100%
(referência)
Mais que 100%
Razões de taxas segundo meta proteica
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
12.0
Menos que
50%
De 51 a 75% De 76% a
100%
(referência)
Mais que 100%
Figura 4 – Razões de taxas segundo a meta calórica e protéica
60
Pacientes que tiveram tempo de jejum não prolongado tiveram melhor sobrevida em
relação aos demais. Também aqueles com tempo de resíduo gástrico elevado
prolongado tiveram pior sobrevida, como pode ser visto nos gráficos da figura 5.
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0 100 200 300 400 500
Tempo de estudo em dias
Não Prolongado Prolongado
Jejum prolongado - mais de 7 dias
Tempo de jejum
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0 100 200 300 400 500
Tempo de estudo em dias
Não Prolongado Prolongado
Resíduo gástrico elevado prolongado - mais de 3 dias
Tempo de resíduo gástrico elevado
segundo a meta calórica
Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade
Figura 5 – Curva de sobrevida referente ao efeito do suporte nutricional na mortalidade segundo o
tempo de jejum e o tempo de resíduo gástrico elevado
O efeito da qualidade do suporte nutricional na morte dos pacientes críticos foi
avaliada considerando-se o modelo teórico apresentado anteriormente (capítulo 1 -
Introdução, página 39). O ajuste dos modelos baseou-se na provável ocorrência de
confundimento (em inglês confounding) e de modificação de efeito atribuída aos
fatores que compõem cada nível do modelo. Para avaliar esta situação, foi feita uma
análise estratificada. Na figura 6 pode ser observada a representação das variáveis
selecionadas pela análise bivariada que deverão compor os modelos de predição da
mortalidade dos pacientes. Nele estão presentes apenas as variáveis que se
relacionavam significativamente com a sobrevida. A partir deste, foram construídas
as curvas de sobrevida de acordo com cada nível e os indicadores de qualidade do
suporte nutricional.
61
Figura 6 – Representação esquemática dos modelos de prognóstico de pacientes críticos
Considerando apenas características demográficas dos pacientes (nível 1 do modelo
teórico), foram estimados os efeitos da qualidade do suporte nutricional segundo as
proporções da meta calórica infundida (tabela 8). O risco de morrer quando o
paciente recebeu menos do que 50% da meta calórica aumentou quando ajustado
para demais variáveis de qualidade, sexo e idade (RT 4,62; IC 95% 2,05 a 10,41;
p=0,000) e não afetou de forma significativa a mortalidade nos outros níveis de
infusão da dieta. O tempo de jejum prolongado mostrou-se como fator de risco
independente (RT 2,47; IC 95% 1,12 a 5,41; p=0,025) e o tempo de resíduo gástrico
elevado se manteve aumentando o risco de morrer (RT 2,87; IC 95% 1,26 a 6,55;
p=0,006). A idade acima de 65 anos mostrou aumentar o risco de morte em 3,2
vezes (RT 3,21; IC 95% 1,40 a 7,35; p=0,006).
Tabela 8 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta calórica
infundida segundo o nível 1 do modelo teórico (características demográficas)
MORTE
Nível 1 – Características Demográficas
vel 2 –Preditores Clínicos
vel 3 Complicões Clínicas e Cirúrgicas
Hip er gl icemia
Gravidade
Infecção /
Pneumonia
Tem p o de
Internão no
CTI
Hipocolesterolemia
Est a d o
Nutricional
* Tempo de
Je jum
Idade Se xo
Circunfencia
do Braço
vel Sérico de
Pr ot e ín a s
Viscerais
Pós-operatório
* Proporção
da Ingestão da
meta
nutricional
* Intolerância
Digestiva Alta
Fancia
Orgânica
Sepse
* Tem p o
pa ra
alcançar a
meta
Nível 2 – Preditores Nutricionais
* Caractesticas relativas a qualidade do suporte nut ricional
62
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta calórica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 4,38 4,62 0,000 2,05 – 10,41
De 51 a 75% 1,46 1,48 ns 0,79 – 2,77
Mais que 100% 1,80 1,61 ns 0,69 – 3,76
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,47 0,025 1,12 – 5,41
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,86 ns 0,48 – 1,53
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 2,87 0,012 1,26 – 6,55
Idade (> 65 anos) 2,33 3,21 0,006 1,40 – 7,35
Sexo (masculino) 1,03 1,12 ns 0,65 – 1,93
ns – não significante
Em relação à meta protéica infundida (tabela 9), o risco de morrer manteve-se
elevado após o ajuste por sexo e idade, para os pacientes que receberam menos do
que 50% (RT 2,48; IC 95% 1,22 a 5,06; p=0,012) e que receberam acima de 100%
(RT 3,90; IC 95% 1,47 a 10,34; p=0,006) da meta protéica. Neste modelo, o tempo
de jejum prolongado aumenta o risco de morte (RT 3,20; IC 95% 1,46 a 7,01;
p=0,004), assim como, o tempo de resíduo gástrico elevado (RT 4,04; IC 95% 1,81 a
9,03; p=0,001). A idade acima de 65 anos aumentou o risco de morrer em 3 vezes
(RT 3,01; IC 95% 1,30 a 7,01; p=0,010).
63
Tabela 9 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta protéica
infundida segundo o nível 1 do modelo teórico (características demográficas)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta protéica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 2,56 2,48 0,012 1,22 – 5,06
De 51 a 75% 1,34 1,19 ns 0,65 – 2,17
Mais que 100% 3,64 3,90 0,006 1,47 – 10,34
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 3,20 0,004 1,46 – 7,01
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,95 ns 0,55 – 1,67
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 4,04 0,001 1,81 – 9,03
Idade (> 65 anos) 2,33 3,01 0,010 1,30 – 7,01
Sexo (masculino) 1,03 1,06 ns 0,63 – 1,77
ns – não significante
O nível 2 do modelo teórico engloba preditores clínicos e nutricionais que foram
considerados separadamente. A tabela 10 mostra os efeitos do suporte nutricional
segundo meta calórica infundida, ajustados pelos preditores clínicos. O risco de
morrer quando o paciente recebeu menos do que 50% da meta calórica diminuiu
para 2,5 quando ajustado para as variáveis clínicas (RT 2,51; IC 95% 1,05 a 6,02;
p=0,039) e manteve-se sem afetar de forma significativa a mortalidade nos outros
níveis de infusão da dieta. O tempo de jejum prolongado permaneceu como fator de
risco independente (RT 2,33; IC 95% 1,01 a 5,35; p=0,046), assim como o tempo de
resíduo gástrico elevado (RT 2,89; IC 95% 1,14 a 7,32; p=0,025). Dentre os fatores
clínicos estudados, o nível sérico de glicose acima de 150mg/dL na admissão
aumentou o risco de morte em 2,2 vezes (RT 2,24; IC 95% 1,30 a 3,87; p=0,004) e o
nível sérico de colesterol na admissão mostrou-se como um fator protetor,
diminuindo em 1% o risco de morte a cada aumento adicional de 1mg/dL nos níveis
de colesterol (RT 0,99; IC 95% 0,98 a 0,99; p=0,027). As outras variáveis clínicas
estudadas como o APACHE II, o pós-operatório, o tempo de internação no CTI e o
64
diagnóstico de pneumonia ou infecção não afetaram de forma significativa a
mortalidade.
Tabela 10 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta calórica
infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores clínicos)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta calórica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 4,38 2,51 0,039 1,05 – 6,02
De 51 a 75% 1,46 1,22 ns 0,67 – 2,23
Mais que 100% 1,80 1,85 ns 0,76 – 4,49
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,33 0,046 1,01 – 5,35
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,84 ns 0,46 – 1,53
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 2,89 0,025 1,14 – 7,32
Apache II 0,99 0,99 ns 0,96 – 1,03
Pós-operatório 0,59 0,65 ns 0,37 – 1,13
Tempo de Internação no CTI (dias) 0,99 1,00 ns 0,99 – 1,00
Diagnóstico de Pneumonia 1,71 2,07 ns 0,94 – 4,55
Diagnóstico de Infecção 1,39 0,62 ns 0,29 – 1,33
Nível Sérico de Glicose Elevado na Admissão (> 150 mg/dL) 2,10 2,24 0,004 1,30 – 3,87
Nível Sérico de Colesterol na Admissão (mg/dL) 0,99 0,99 0,027 0,98 – 0,99
APACHE II - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation / ns – não significante
Em relação às proporções da meta protéica infundida (tabela 11), que a quantidade
de proteína infundida quando inferior a 50% da meta, perdeu a significância
estatística quando ajustada para os demais preditores clínicos. A proporção da meta
protéica infundida, quando acima de 100% da meta, mostrou uma tendência como
fator de risco para o aumento da mortalidade (RT 2,67; IC 95% 0,96 a 7,37;
p=0,059). O tempo de jejum prolongado (RT 2,60; IC 95% 1,13 a 5,97; p=0,025) e o
tempo de resíduo gástrico elevado permaneceram como fatores de risco de morte
(RT 3,62; IC 95% 1,47 a 8,87; p=0,005), assim como, o nível sérico de glicose acima
de 150mg/dL na admissão (RT 2,02; IC 95% 1,18 a 3,45; p=0,010). O nível sérico de
65
colesterol na admissão manteve-se como um fator protetor (RT 0,99; IC 95% 0,98 a
0,99; p=0,016).
Tabela 11 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta protéica
infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores clínicos)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta protéica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 2,56 1,40 ns 0,64 – 3,07
De 51 a 75% 1,34 1,03 ns 0,55 – 1,93
Mais que 100% 3,64 2,67 0,059 0,96 – 7,37
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,60 0,025 1,13 – 5,97
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,88 ns 0,49 – 1,56
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 3,62 0,005 1,47 – 8,87
Apache II 0,99 0,99 ns 0,95 – 1,03
Pós-operatório 0,59 0,62 ns 0,35 – 1,11
Tempo de Internação no CTI (dias) 0,99 1,00 ns 0,99 – 1,00
Diagnóstico de Pneumonia 1,71 2,01 ns 0,90 – 4,49
Diagnóstico de Infecção 1,39 0,61 ns 0,28 – 1,32
Nível Sérico de Glicose Elevado na Admissão (> 150 mg/dL) 2,10 2,02 0,010 1,18 – 3,45
Nível Sérico de Colesterol na Admissão (mg/dL) 0,99 0,99 0,016 0,98 – 0,99
APACHE II - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation. / ns – não significante
O efeito do suporte nutricional na sobrevida dos pacientes críticos, retirando-se a
influência dos demais aspectos nutricionais e considerando a meta calórica
infundida, é apresentado na tabela 12. O risco de morrer diminuiu para 3 vezes
quando o paciente recebe menos do que 50% da meta calórica (RT 3,18; IC 95%
1,37 a 7,36; p=0,007). O tempo de jejum prolongado perdeu a sua significância
estatística como fator de risco para o aumento da mortalidade, porém o tempo de
resíduo gástrico elevado permaneceu aumentando o risco de morrer em cerca de
2,5 vezes (RT 2,62; IC 95% 1,14 a 6,01; p=0,023). Dentre os fatores nutricionais
estudados, a desnutrição grave determinada pela avaliação global subjetiva
aumentou o risco de morte em 2,2 vezes (RT 2,37; IC 95% 1,03 a 5,45; p=0,043). Os
66
outros fatores nutricionais estudados como a circunferência do braço e o nível sérico
de albumina na admissão não afetaram de forma significativa a mortalidade.
Tabela 12 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta calórica
infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores nutricionais)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta calórica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 4,38 3,18 0,007 1,37 – 7,36
De 51 a 75% 1,46 1,77 ns 0,94 – 3,31
Mais que 100% 1,80 1,96 ns 0,82 – 4,67
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 1,52 ns 0,65 – 3,55
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,80 ns 0,45 – 1,43
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 2,62 0,023 1,14 – 6,01
Desnutrição Moderada - Avaliação Global Subjetiva 1,68 1,38 ns 0,66 – 2,87
Desnutrição Grave - Avaliação Global Subjetiva 2,84 2,37 0,043 1,03 – 5,45
Circunferência do Braço (cm) 0,95 0,99 ns 0,93 – 1,05
Nível Sérico de Albumina na Admissão (g/dL) 0,78 0,71 ns 0,47 – 1,07
ns – não significante
Também foram calculados os efeitos em relação a meta protéica infundida. Quando
o paciente recebeu menos do que 50% (RT 2,60; IC 95% 1,25 a 5,40; p=0,011) ou
mais do que 100% (RT 4,03; IC 95% 1,48 a 11,00; p=0,006) da meta protéica o risco
de morrer se manteve de forma significativa. O tempo de jejum prolongado perdeu a
sua significância estatística como fator de risco e o tempo de resíduo gástrico
elevado aumentou o risco de morte (RT 3,24; IC 95% 1,45 a 7,22; p=0,004). A
desnutrição grave mostrou uma tendência para aumentar a mortalidade (RT 2,25; IC
95% 0,98 a 5,20; p=0,057) dentre os fatores nutricionais estudados (tabela 13).
67
Tabela 13 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta protéica
infundida segundo o nível 2 do modelo teórico (preditores nutricionais)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta protéica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 2,56 2,60 0,011 1,25 – 5,40
De 51 a 75% 1,34 1,65 ns 0,90 – 3,04
Mais que 100% 3,64 4,03 0,006 1,48 – 11,00
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 1,82 ns 0,78 – 4,28
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,87 ns 0,49 – 1,53
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 3,24 0,004 1,45 – 7,22
Desnutrição Moderada - Avaliação Global Subjetiva 1,68 1,39 ns 0,67 – 2,89
Desnutrição Grave - Avaliação Global Subjetiva 2,84 2,25 0,057 0,98 – 5,20
Circunferência do Braço (cm) 0,95 0,99 ns 0,93 – 1,05
Nível Sérico de Albumina na Admissão (g/dL) 0,78 0,69 ns 0,47 – 1,02
ns – não significante
Nas tabelas 14 e 15 podem-se observar, respectivamente, os efeitos da qualidade
do suporte nutricional considerando as proporções da meta calórica e protéica
infundida segundo o nível 3 do modelo teórico, as complicações clínicas e cirúrgicas.
Em presença de complicações, o fato de o paciente ter recebido menos do que 50%
da meta calórica (RT 3,43; IC 95% 1,56 a 7,58; p=0,002) permaneceu como fator de
risco para o aumento da mortalidade e quando a proporção de calorias infundidas foi
superior a 100% da meta (RT 2,42; IC 95% 0,99 a 5,88; p=0,052) mostrou uma
tendência ao aumento do risco de morrer. O tempo de jejum prolongado (RT 2,17; IC
95% 1,00 a 4,71; p=0,049) e o tempo de resíduo gástrico elevado (RT 2,58; IC 95%
1,16 a 5,75; p=0,021) permaneceram como fatores de risco. Dentre as complicações
clínicas e cirúrgicas estudadas, apenas a diálise mostrou-se como um preditor
independente para o aumento da mortalidade (RT 2,91; IC 95% 1,68 a 5,03;
p=0,000).
68
Tabela 14 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta calórica
infundida segundo o nível 3 do modelo teórico (complicações clínicas e cirúrgicas)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta calórica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 4,38 3,43 0,002 1,56 – 7,58
De 51 a 75% 1,46 1,10 ns 0,60 – 2,02
Mais que 100% 1,80 2,42 0,052 0,99 – 5,88
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,17 0,049 1,00 – 4,71
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,77 ns 0,44 – 1,37
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 2,58 0,021 1,16 – 5,75
Diálise 2,23 2,91 0,000 1,68 – 5,03
Falência Hepática 2,30 2,55 ns 0,56 – 11,58
Sepse 0,83 0,61 ns 0,31 – 1,18
ns – não significante
Quando o paciente recebeu menos do que 50% da meta protéica o risco de morrer
permaneceu em torno de 2,5 vezes como observado nos modelos ajustados para as
variáveis demográficas e nutricionais (RT 2,60; IC 95% 1,25 a 5,40; p=0,011), porém
quando a proporção da meta protéica infundida foi superior a 100%, o risco de morte
aumentou para 5,4 vezes (RT 4,03; IC 95% 1,48 a 11,00; p=0,006). O tempo de
jejum prolongado (RT 2,17; IC 95% 1,00 a 4,71; p=0,049) e o tempo de resíduo
gástrico elevado (RT 2,58; IC 95% 1,16 a 5,75; p=0,021) se mantiveram como
fatores de risco independentes. Apenas a diálise se mostrou como fator de risco
para o aumento da mortalidade (RT 2,25; IC 95% 1,03 a 5,45; p=0,043) dentre as
complicações estudadas.
69
Tabela 15 – Efeito da qualidade do suporte nutricional na mortalidade considerando a meta protéica
infundida segundo o nível 3 do modelo teórico (complicações clínicas e cirúrgicas)
Fatores
Razão de
Taxas
Bruta
Razão de
Taxas
Ajustada
p-value
Intervalo de
Confiança
(95%)
Proporção da meta protéica Infundida
De 76% a 100% (referência) 1,00 1,00 1,00 – 1,00
Menos que 50% 2,56 2,50 0,011 1,23 – 5,09
De 51 a 75% 1,34 1,26 ns 0,69 – 2,32
Mais que 100% 3,64 5,38 0,001 1,98 – 14,58
Tempo de Jejum Prolongado (>7 dias) 2,19 2,67 0,013 1,23 – 5,79
Tempo para Alcançar a Meta Prolongado (>3 dias) 0,82 0,84 ns 0,49 – 1,45
Tempo de Resíduo Gástrico Elevado (>3 dias) 2,85 3,04 0,006 1,37 – 6,71
Diálise 2,23 2,81 0,000 1,66 – 4,77
Falência Hepática 2,30 3,72 ns 0,84 – 16,41
Sepse 0,83 0,56 ns 0,28 – 1,11
ns – não significante
Na figura 7 podemos observar a piora das chances de sobrevida daqueles pacientes
que receberam menos do que 50% ou acima de 100% da meta calórica ou protéica,
ressaltando a importância da adequação das necessidades nutricionais no
prognóstico dos pacientes graves segundo o nível 3 do modelo teórico, relativo às
complicações clínicas e cirúrgicas.
70
Figura 7 – Curva de sobrevida referente ao efeito do suporte nutricional na mortalidade considerando
a adequação a meta calórica e protéica segundo o nível 3 do modelo teórico
Além dos efeitos das características do suporte nutricional como fatores
relacionados ao prognóstico destes pacientes, destacamos as razões de taxas
referentes aos preditores clínicos e nutricionais. As características clínicas e
nutricionais que mais afetam a sobrevida dos pacientes críticos são desnutrição
grave, nível sérico de glicose na admissão e nível sérico de colesterol na admissão,
além da realização de diálise (figura 8).
Figura 8 – Razões de taxas de fatores prognóstico clínicos e nutricionais
Razões de taxas segundo fatores de prognóstico
0.0
2.0
4.0
6.0
Desnutrição
Grave
Glicose Colesterol Diálise
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0 100 200 300 400 500
Tempo de estudo em dias
De 76 a 100% Até 50%
De 51 a 75% Acima de 100%
Adequação a meta calórica
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0 100 200 300 400 500
Tempo de estudo em dias
De 76 a 100% Até 50%
De 51 a 75% Acima de 100%
Adequação a meta protéica
nível 3 - complicações clínicas e cirúrgicas
segundo o nível 3 do modelo teórico
Efeito da meta nutricional na mortalidade
71
6 DISCUSSÃO
Sabe-se que o suporte nutricional adequado no paciente grave é fundamental para
prevenir as complicações relacionadas à desnutrição (Barr, Hecht et al., 2004). No
nosso estudo, cerca de 67% dos pacientes apresentaram algum grau de desnutrição
na admissão no CTI, de acordo com a avaliação global subjetiva. Trata-se de uma
amostra composta de pacientes graves, idosos e, em sua maioria com falência
respiratória, o que os torna ainda mais susceptíveis a desenvolver complicações.
O grande desafio deste estudo foi determinar se a qualidade do suporte nutricional
medida pela proporção da meta calórica e protéica infundida, o tempo de jejum, o
tempo para alcançar a meta nutricional e o tempo de resíduo gástrico elevado,
interferem na mortalidade do paciente grave, independente da existência de outras
condições clinicas e nutricionais.
A gravidade da doença é considerada por alguns autores o mais importante fator
prognóstico (Dardaine, Dequin et al., 2001) porém neste estudo, quando avaliada
pelo índice de gravidade APACHE II, não detectamos sua influência nos risco de
morrer dos pacientes críticos. Uma possível explicação pode ser a elevada
prevalência de pacientes com índice acima de 15, (75%). A média de idade foi
superior no grupo de pacientes que foram ao óbito, o mesmo foi descrito por outros
autores (Knaus, Draper et al., 1985).
Dentre as falências orgânicas estudadas, destaca-se a falência renal que foi
significantemente mais freqüente nos pacientes que morreram. De fato, já está bem
72
estabelecido que a insuficiência renal quando relacionada a situações de
hipermetabolismo apresenta alta mortalidade, principalmente quando ocorre como
parte da falência de múltiplos órgãos. Além disso, a presença de desnutrição
associada à falência renal, comum em nossa amostra, é um forte marcador de
morbi-mortalidade (Beddhu, Samore et al., 2003).
O nível de mortalidade da sepse grave, apesar dos avanços clínicos, alcança cerca
de 30 a 50% (Bernard, Vincent et al., 2001; Griffiths, 2003). No nosso estudo não foi
possível detectar a associação entre a presença de infecção na admissão no CTI e
sepse com a mortalidade dos pacientes. Entretanto, vários estudos demonstram que
os níveis de mortalidade aumentam conforme a prevalência de infecção adquirida
em terapia intensiva, porém nesta pesquisa, não foi possível avaliar se as infecções
ocorreram no ambiente do CTI (Galban, Montejo et al., 2000; Griffiths, 2003;
Rubinson, Diette et al., 2004).
A hiperglicemia pode ocasionar aumento de infecções, polineuropatia, falência de
múltiplos órgãos e morte (Van Den Berghe, Wouters et al., 2001; Van Den Berghe,
Wouters et al., 2003). Em nosso estudo a ocorrência de co-morbidades como
diabetes mellitus foi maior no grupo de pacientes que foram ao óbito podendo estar
relacionado a glicemia na admissão no CTI a qual se mostrou um preditor
independente de mortalidade hospitalar.
A utilização de medicamentos como os corticóides e a proteína C ativada não
variaram significativamente de acordo com a mortalidade. Os dados relacionados a
dose e tempo de utilização dos corticóides não foram avaliados, sendo uma das
73
limitações do estudo. A proteína C ativada é um importante modulador da resposta
inflamatória associada à sepse grave, podendo melhorar o prognóstico destes
pacientes (Bernard, Vincent et al., 2001; Schwartz, 2005). O uso da proteína C
ativada não esteve associado com a mortalidade, podendo ser devido ao pequeno
número de pacientes que sofreram esta intervenção.
O presente estudo confirmou a alta prevalência de desnutrição em pacientes graves,
assim como detectou a associação do estado nutricional, determinado pela
avaliação global subjetiva, com o maior risco de mortalidade. Este achado também
foi corroborado no trabalho de Detsky e col. (Detsky, Mclaughlin et al., 1987) Outros
estudos também confirmaram o nosso achado, mesmo tendo usado outros critérios
para diagnóstico da situação nutricional (Barr, Hecht et al., 2004; Barbosa-Silva e
Barros, 2005).
Não observamos variações nos níveis séricos dos marcadores bioquímicos
nutricionais relacionadas com maior mortalidade dos pacientes da nossa amostra.
Parece que as alterações metabólicas ocasionadas pela gravidade dos pacientes
críticos fazem com que a atividade hepática seja direcionada para a síntese de
proteínas de fase aguda resultando em queda nos níveis das proteínas viscerais
independente da ingestão nutricional. Além disso, não existem achados consistentes
que validem a utilização destas proteínas para a avaliação do prognóstico do
paciente crítico (Raguso, Dupertuis et al., 2003). Também os níveis séricos de
proteína C reativa na admissão não parecem estar associados ao aumento de
mortalidade, apesar de caracterizarem o estado inflamatório do paciente. Vale
74
ressaltar que 74% dos nossos pacientes tinham valores de proteína C reativa acima
de 6 mg%.
A hipocolesterolemia é considerada um fator independente para um pior prognóstico
clínico associando-se com o aumento do risco de infecções hospitalares e
mortalidade. Em nosso estudo, os níveis séricos de colesterol foram
significantemente menores no grupo de pacientes que morreram. As baixas
concentrações lipídicas podem prejudicar a imunidade inata contra as endotoxinas
bacterianas (Van Leeuwen, Heezius et al., 2003; Wilson, Barletta et al., 2003).
As características do suporte nutricional enteral não variaram de acordo com a
mortalidade, os pacientes tiveram em média tempo semelhantes de suporte
nutricional, tempo de jejum e tempo para alcançar a meta nutricional. A maior parte
dos pacientes (84,2%) foi nutrida com o acesso pré-pilórico e com nutrição
polimérica (57%). Apesar de não existirem evidências que suportem a utilização do
acesso jejunal, em preferência ao acesso gástrico para reduzir o risco de infecção,
(Montejo, 1999; Maclaren, 2000; Montejo, Grau et al., 2002; Neumann e Delegge,
2002; Griffiths, 2003; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Marik e Zaloga, 2003; Roberts,
Kennerly et al., 2003) a via de acesso enteral pós-pilórica é preferencialmente
utilizada no paciente grave visando reduzir o risco de intolerância gastrointestinal,
regurgitação e brancoaspiração (Barr, Hecht et al., 2004).
Uma das características do suporte nutricional estudadas foi a presença de efeitos
adversos gastrointestinais, pois são a principal causa de suporte nutricional
inadequado (Heyland, Cook et al., 1995; Adam e Batson, 1997; Kirkland, 1999;
75
Mcclave, Sexton et al., 1999; Montejo, 1999; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al.,
2001; Montejo, Grau et al., 2002; Roberts, Kennerly et al., 2003; Petros e
Engelmann, 2006). Dentre os efeitos adversos observados, os episódios de diarréia
se destacaram, sendo verificado pelo menos um episódio em 62,8% dos pacientes,
porém não se relacionaram a mortalidade. A presença de resíduo gástrico elevado,
acima de 150 mL, foi observada em 29,6%. O tempo de resíduo gástrico elevado
quando superior a 3 dias aumentou o risco de morte em 2,8 vezes, podendo estar
relacionado a gravidade da doença dos pacientes da amostra e, conseqüentemente,
a utilização de sedativos, opióides e infusões de catecolaminas que diminuem
significantemente a motilidade gastrointestinal e a absorção em pacientes críticos
(Barr, Hecht et al., 2004).
Quanto à utilização de fórmulas imunomoduladoras de NE, apenas a utilização de
glutamina variou entre os grupos, pois todos os pacientes que utilizaram o
imunomodulador sobreviveram. Porém, estudos realizados com a glutamina por via
enteral falharam em demonstrar efeitos na mortalidade (Griffiths, 2003). Assim
como, em nosso estudo a glutamina não se mostrou um preditor independente de
mortalidade.
Dentre as variáveis relacionadas ao prognóstico clínico, o tempo médio de
internação no CTI, o tempo médio de ventilação mecânica e o tempo médio de
utilização de antibióticos durante 28 dias de internação no CTI foram maiores no
grupo de pacientes que foram ao óbito, podendo estar relacionado ao
desencadeamento de infecção adquirida em terapia intensiva e, conseqüentemente,
maior mortalidade (Griffiths, 2003).
76
O cálculo da meta calórica do paciente grave é um grande desafio quando lidamos
com este grupo. Está bem estabelecido que o excesso de calorias pode ser danoso,
mas poucas calorias pode ser igualmente prejudicial. Existem várias fórmulas para
calcular as necessidades calóricas, a mais amplamente utilizada é a fórmula de
Harris-Benedict, entretanto esta fórmula foi elaborada a partir de indivíduos jovens
normais e pode não ser aplicada para o paciente crítico. A mensuração do gasto
energético pela calorimetria respiratória também pode apresentar dificuldades
técnicas e pode não ser muito útil em adaptar as necessidades energéticas (Vincent,
2007).
A meta calórica clássica para os pacientes graves é em torno de 25 Kcal/Kg/d,
porém alguns autores têm afirmado que este aporte calórico pode afetar
adversamente o prognóstico clínico (Debaveye e Van Den Berghe, 2006; Hise,
Halterman et al., 2007; Stroud, 2007). A ingestão calórica acima de 65% das
necessidades, aproximadamente 18 Kcal/Kg/dia, associa-se com maiores níveis de
morbidade e mortalidade (Krishnan, Parce et al., 2003; Petros e Engelmann, 2006;
Hise, Halterman et al., 2007; Stapleton, Jones et al., 2007). Entretanto, a ingestão
abaixo de 25% da meta calórica associa-se com risco aumentado de infecções
sanguíneas (Rubinson, Diette et al., 2004; Petros e Engelmann, 2006). O mínimo de
calorias e de proteínas necessárias para trazer benefícios terapêuticos ao paciente
crítico ainda é desconhecido (Mcclave, 2005; Petros e Engelmann, 2006; Hise,
Halterman et al., 2007; Stapleton, Jones et al., 2007). Por outro lado, outros estudos
demonstraram que a alimentação abaixo das necessidades associa-se a um pior
prognóstico (Mcclave, Sexton et al., 1999; Villet, Chiolero et al., 2005). Porém, a
77
administração de dietas hipocalóricas, cerca de 50% das necessidades metabólicas,
é provável levar ao rápido desencadeamento da desnutrição (Debaveye e Van Den
Berghe, 2006). Os pacientes graves são comumente alimentados abaixo ou acima
da meta determinada (Jansen M. M. P. M., 2002; Hise, Halterman et al., 2007;
Stapleton, Jones et al., 2007). Em nosso estudo, apenas 35,7% dos pacientes
receberam entre 75 a 100% da meta calórica e em relação a meta protéica apenas
31,1%.
A ingestão adequada de proteína também é difícil de quantificar. O estado
hipermetabólico observado na sepse está associado com aumento das perdas de
nitrogênio. Esta perda protéica muscular pode resultar de decréscimo ou mesmo
aumento da síntese protéica que está insuficiente para compensar a alta proteólise.
O catabolismo protéico acelerado está associado com diminuição da utilização de
aminoácidos pelo músculo e aumento do fluxo de aminoácidos para o fígado. Ao
mesmo tempo, a utilização de aminoácidos pelo fígado está aumentada para a
síntese protéica e gliconeogênese. De uma forma geral, as necessidades protéicas
estão aumentadas no paciente grave (Stapleton, Jones et al., 2007; Vincent, 2007).
Outros autores sugerem que o excesso de aminoácidos livres pode ser deletério,
que as necessidades protéicas durante a resposta catabólica não estão apenas
aumentadas, mas são diferentes do padrão de aminoácidos usual. O potencial dano
causado pelos aminoácidos livres se dá devido a elevação da uréia, pois os
pacientes graves normalmente cursam com falência renal. Mesmo no caso dos
pacientes com função renal preservada, normalmente apresentam edema e a alta
produção de uréia reduz a capacidade de excretar sódio e água. As recomendações
78
propostas por estes autores são opostas a prática correntemente aceita (Stroud,
2007).
No presente estudo, a maior parte dos pacientes não recebeu a meta calórica e
protéica adequada. Os protocolos de nutrição enteral podem favorecer o
recebimento da alimentação por limitar ou diminuir fatores que levam a interrupção
da dieta no CTI. As razões comumente citadas para suspensão da infusão da
nutrição são a realização de procedimentos invasivos ou testes diagnósticos, o
resíduo gástrico elevado, o desposicionamento do acesso enteral e a rotina de
cuidados de enfermagem (Barr, Hecht et al., 2004; Rice, Swope et al., 2005; Petros
e Engelmann, 2006). Como resultado os pacientes recebem em média de 50 a 75%
das necessidades calóricas diárias (Barr, Hecht et al., 2004; Rice, Swope et al.,
2005; Strack Van Schijndel R. J. M., 2007). O percentual médio da meta calórica
recebida em nosso grupo foi semelhante ao descrito na literatura (73%) apesar do
acompanhamento realizado pela equipe multidisciplinar de terapia nutricional da
unidade hospitalar. As razões de interrupções da alimentação não foram estudadas.
A infusão menor do que 50% da meta calórica elevou o risco de morte em 4,4 vezes,
do mesmo modo, mas em menor proporção, a infusão menor do que 50% da meta
protéica elevou em 2,5 vezes o risco do paciente morrer. Isto é facilmente explicado
pelo fato de que a desnutrição protéico-calórica associa-se com prejuízo na resposta
imunológica e maior debilidade da musculatura respiratória, levando a um maior
tempo de ventilação mecânica (Maclaren, 2000; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al.,
2001; Jeejeebhoy, 2001; Marik e Zaloga, 2001; Heyland, Dhaliwal et al., 2003;
Heyland, Schroter-Noppe et al., 2003; Rubinson, Diette et al., 2004) e
79
conseqüentemente aumento da morbidade infecciosa, tempo de internação, custos e
mortalidade em pacientes hospitalizados (Jolliet, Pichard et al., 1998; Preiser, Berre
et al., 1999; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001; Jeejeebhoy, 2001; Marik e
Zaloga, 2001; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Heyland, Schroter-Noppe et al., 2003;
Krishnan, Parce et al., 2003; Rubinson, Diette et al., 2004; Waitzberg e Baxter, 2004;
Mark H. Delegge, 2005; Peter, Moran et al., 2005). O balanço energético negativo foi
associado, em diversos estudos, com o aumento de complicações infecciosas (Villet,
Chiolero et al., 2005). Por outro lado, a infusão acima de 100% da meta protéica
também aumentou o risco de morte em 4 vezes quando ajustado para os outros
fatores de qualidade do suporte nutricional. Este fato pode estar relacionado à
hiperalimentação, administração de substratos acima da quantidade necessária para
a manutenção da homeostase, podendo ocasionar complicações metabólicas graves
no paciente crítico, como a azotemia e a acidose metabólica (Gayle Minard, 2004;
Petros e Engelmann, 2006), além da redução da capacidade de excreção de sódio e
água (Stroud, 2007).
No nosso estudo, o tempo de jejum prolongado foi caracterizado como um tempo
maior do que 7 dias. Acredita-se que é possível desenvolver um déficit protéico e
calórico dentro de 7 a 10 dias de internação no CTI devido ao intenso catabolismo
protéico aumentando o risco de complicações (Dardaine, Dequin et al., 2001).
Friedman e Still discutem que a habilidade dos médicos em predizer se o paciente
grave será capaz de se alimentar dentro de 2 a 7 dias de admissão no CTI é de
somente 41% (Barr, Hecht et al., 2004). Ainda não se sabe ao certo, quanto tempo
um indivíduo pode permanecer em jejum sem que ocorram conseqüências
deletérias, porém o déficit energético causado pelo jejum de uma semana de
80
internação no CTI, parece não ser compensado (Villet, Chiolero et al., 2005;
Stapleton, Jones et al., 2007).
Em nosso estudo, o tempo de jejum prolongado aumentou o risco de morte em
cerca de 2 vezes. Alguns autores advogam que o início do suporte nutricional dentro
das 48 a 72 horas de internação no CTI melhora o prognóstico clínico destes
pacientes, mas muitas vezes o início da nutrição não se dá precocemente. Esta
situação pode ocorrer devido à instabilidade clínica do paciente, ao atraso da equipe
multidisciplinar em iniciar a dieta e de posicionar o acesso enteral, além de cálculos
subestimados das necessidades nutricionais e freqüentes interrupções da
alimentação (Barr, Hecht et al., 2004; Artinian, Krayem et al., 2006). As causas de
início tardio da nutrição enteral não foram avaliadas neste estudo.
Nesta pesquisa, o tempo para alcançar a meta nutricional prolongado foi
caracterizado como um tempo superior a 3 dias. O alcance da meta nutricional é
fundamental para que os pacientes recebam o aporte calórico e protéico necessário
no decorrer da internação. A meta nutricional foi alcançada dentro de três dias em
apenas 27,5% dos pacientes, porém foi superior ao descrito por outros autores
(Kirkland, 1999; Petros e Engelmann, 2006). Dentre as características do suporte
nutricional estudadas esta foi a única que não se relacionou a mortalidade nos
pacientes graves.
Os indicadores de qualidade do suporte nutricional como a proporção da meta
calórica e protéica infundida, o tempo de jejum prolongado e o tempo de resíduo
81
gástrico elevado, mesmo quando ajustados conforme o modelo hierarquizado,
interferiram na mortalidade do paciente grave.
Quando os indicadores de qualidade do suporte nutricional foram ajustados
conforme o nível 1 do modelo teórico, as variáveis demográficas, o risco de morte se
manteve semelhante ao verificado antes do ajuste por sexo e idade. O risco de
morte se elevou um pouco quando o aporte protéico foi superior a 50% da meta,
aumentando o risco para 3,9 vezes. O tempo de jejum prolongado e o tempo de
resíduo gástrico elevado também aumentaram a sua influência no risco de morte
quando analisado conforme o aporte protéico. A idade, quando acima de 65 anos,
elevou o risco de morte em 3 vezes, demostrando ser este um fator associado à
sobrevida dos pacientes críticos, conforme descrito por outros autores (Knaus,
Draper et al., 1985). Por outro lado, o sexo masculino, apesar de associado com
maior risco de morbidade no pós-operatório (Barbosa-Silva and Barros 2005) e um
maior risco de desenvolvimento de pneumonia durante a internação no CTI, não se
relacionou com a sobrevida dos pacientes graves no nosso estudo (Singh, Falestiny
et al., 1998; Artinian, Krayem et al., 2006).
O nível 2 do modelo teórico englobou variáveis clínicas e nutricionais. Quando
estudamos os indicadores de qualidade do suporte nutricional ajustados para as
variáveis clínicas, verificamos que o risco de morte relacionado à infusão menor do
que 50% da meta calórica diminui para 2,5 vezes. O tempo de jejum prolongado e o
tempo de resíduo gástrico elevado mantêm-se exercendo a mesma influência na
mortalidade observada antes do ajuste para estas variáveis. A infusão inferior a 50%
da meta protéica deixa de estar associada à mortalidade e a infusão superior a
82
100% da meta protéica diminuiu a sua influência no risco de morte para 2,5 vezes. O
tempo de resíduo gástrico elevado aumentou a sua influência no risco de morte
quando analisado conforme o aporte protéico. O nível sérico de glicose elevado na
admissão no CTI aumentou o risco de morte em cerca de 2 vezes, o papel da
hiperglicemia no aumento da mortalidade hospitalar já está bem documentado,
principalmente pela sua relação com o aumento de infecções (Van Den Berghe,
Wouters et al., 2001; Van Den Berghe, Wouters et al., 2003; Debaveye e Van Den
Berghe, 2006). O nível sérico de colesterol na admissão no CTI se mostrou como
um fator protetor, diminuindo em 1% o risco de morte a cada elevação de 1 unidade
de mg/dL nos níveis de colesterol. Outros estudos já demonstraram que a
diminuição nos níveis de colesterol associa-se com o aumento do risco de infecções
hospitalares, podendo estar relacionado à imunidade inata (Van Leeuwen, Heezius
et al., 2003; Wilson, Barletta et al., 2003). Outros fatores como o índice de gravidade
APACHE II, o tempo de internação no CTI, o pós-operatório e os diagnósticos de
pneumonia e infecção não parecem ser preditores independentes de sobrevida,
apesar de que em outros estudos se relacionam de forma significativa com a
mortalidade (Singh, Falestiny et al., 1998; Van Den Berghe, Wouters et al., 2001;
Huckleberry, 2004).
O efeito do suporte nutricional na mortalidade quando ajustado para as variáveis
nutricionais representa um risco 3,2 vezes maior de morte quando a infusão foi
inferior a 50% da meta calórica. O tempo de resíduo gástrico elevado se manteve
aumentando o risco de óbito conforme observado antes do ajuste para as variáveis
nutricionais. O tempo de jejum prolongado não apresentou significância estatística
em elevar o risco do paciente morrer quando ajustado para as estas variáveis. A
83
infusão inferior a 50% da meta protéica manteve-se aumentando o risco de morte
em cerca de 2,5 vezes, conforme modelo anterior ao ajuste para as variáveis
nutricionais. Por outro lado, a infusão superior a 100% da meta protéica aumentou o
risco de morrer em 4 vezes. A desnutrição grave, avaliada por meio da avaliação
global subjetiva, aumentou o risco de morte em 2,3 vezes, corroborando diversos
outros estudos clínicos que apontam o estado nutricional como um importante fator
prognóstico para o paciente grave (Jolliet, Pichard et al., 1998; Preiser, Berre et al.,
1999; De Jonghe, Appere-De-Vechi et al., 2001; Jeejeebhoy, 2001; Marik e Zaloga,
2001; Jansen M. M. P. M., 2002; Heyland, Dhaliwal et al., 2003; Heyland, Schroter-
Noppe et al., 2003; Krishnan, Parce et al., 2003; Barr, Hecht et al., 2004; Rubinson,
Diette et al., 2004; Waitzberg e Baxter, 2004; Barbosa-Silva e Barros, 2005; Mark H.
Delegge, 2005; Peter, Moran et al., 2005; Artinian, Krayem et al., 2006; Stapleton,
Jones et al., 2007). Os pacientes desnutridos foram aqueles que apresentaram um
maior tempo de internação hospitalar e de internação no CTI, assim como uma
maior taxa de mortalidade. Outras variáveis nutricionais como a circunferência do
braço e o nível sérico de albumina na admissão não se associaram a mortalidade.
A escolha da variável relacionada à medida de circunferência do braço como dado
antropométrico se deu pelo fato de que não existe um método ideal para a avaliação
do estado nutricional do paciente grave (Huang, Yen et al., 2000; Barbosa-Silva e
Barros, 2005; Villet, Chiolero et al., 2005). A avaliação de peso do paciente está
prejudicada devido a presença de edema (Hill, 1998; Aspen, 2002; Ravasco, Camilo
et al., 2002; Rubinson, Diette et al., 2004). Sendo assim, a circunferência do braço
foi a variável de escolha por representar a massa muscular magra e ser menos
84
afetada pelo estado de hidratação, e supostamente estar associada com o aumento
de mortalidade (Dardaine, Dequin et al., 2001; Ravasco, Camilo et al., 2002).
A utilização do nível sérico de albumina na admissão ocorreu, pois este marcador
pode ser útil para a avaliação do prognóstico do paciente durante a fase crítica, e
sofre mais influência do estresse do que do suporte nutricional, apesar de não
existirem estudos que suportem seu uso para a avaliação do prognóstico do
paciente crítico (Raguso, Dupertuis et al., 2003). As alterações metabólicas
ocasionadas pela gravidade da doença prejudicam a utilização de vários marcadores
nutricionais como a pré-albumina e a transferrina, para avaliação do estado
nutricional (Lopez-Hellin, Baena-Fustegueras et al., 2002).
No nível 3 do modelo teórico temos as variáveis de complicações clínicas e
cirúrgicas. Quando o efeito da qualidade do suporte nutricional foi ajustada por estas
variáveis, verificamos que o risco de morte aumentou em 3,4 vezes quando a
infusão foi inferior a 50% da meta calórica. Neste modelo, quando a infusão foi
superior a 100% da meta calórica, o risco de morte aumentou em 2,5 vezes, o que
ainda não havia sido demonstrado pelos modelos anteriores. A hiperalimentação
pode ocasionar complicações metabólicas graves no paciente crítico, como a
azotemia, a desidratação hipertônica, a acidose metabólica, a hipertrigliceridemia, a
hiperglicemia, a hipercapnia e a esteatose hepática (Jansen M. M. P. M., 2002;
Gayle Minard, 2004; Debaveye e Van Den Berghe, 2006). O tempo de resíduo
gástrico elevado se manteve aumentando o risco de morte conforme observado
antes do ajuste para complicações clínicas e cirúrgicas. O tempo de jejum
prolongado também se manteve aumentando o risco de morte em cerca de 2,5
85
vezes conforme observado antes do ajuste para as variáveis do nível 3 do modelo
teórico. A infusão inferior a 50% da meta protéica manteve-se aumentando o risco
de morte em cerca de 2,5 vezes, por outro lado, a infusão superior a 100% da meta
protéica aumentou o risco de morte em 5,4 vezes. A falência de múltiplos órgãos é a
maior causa de morte nos pacientes críticos, sendo assim, o grau de disfunção
orgânica está diretamente relacionado à mortalidade (Vincent, Moreno et al., 1996).
Dentre as falências orgânicas estudadas em nosso estudo, apenas a falência renal e
a falência hepática se mostraram como importantes fatores de prognóstico. No
modelo, em vez de utilizarmos a falência renal como variável preditora, optamos por
utilizar a necessidade de diálise por estas duas variáveis serem colineares. O fato do
paciente dialisar levou a um aumento de cerca de 2,8 vezes no risco de morte. Está
bem documentado que a insuficiência renal aguda quando relacionada a situações
de hipermetabolismo apresenta alta mortalidade (Michael Y. Suleiman, 1994). A
falência hepática não esteve associada com a mortalidade e acreditamos que seja
devido ao número reduzido de indivíduos com falência hepática na amostra. O
diagnóstico de sepse também não foi considerado um preditor independente de
mortalidade, o que pode ser explicada pela diversidade de quadros de sepse e que
não foi avaliada em nosso estudo. É dito na literatura que o nível de gravidade da
sepse também pode afetar independentemente o prognóstico, resultando em
disfunção endovascular, disfunção de múltiplos órgãos e morte (Accp, 1992;
Bernard, Vincent et al., 2001; Griffiths, 2003; Schwartz, 2005).
A hiperalimentação está considerada prejudicial para o paciente grave. O perigo
normalmente é atribuído aos altos níveis de carboidratos e lipídios, mas não está
bem determinado se os altos níveis de nitrogênio também contribuem (Stroud,
86
2007). Em nosso estudo a infusão superior a 100% da meta protéica aumentou o
risco do indivíduo morrer, mesmo quando ajustado para as variáveis do modelo
teórico. Evidências sugerem que para a melhora da sobrevida do paciente crítico
devem-se fornecer quantidades modestas de calorias e proteínas e o início do
suporte nutricional deve ocorrer assim que possível (Stroud, 2007). Porém,
verificamos que a infusão inferior a 50% da meta calórica aumenta o risco de morte,
assim como, outros estudos que demonstraram que um persistente balanço
energético negativo está associado a um pior prognóstico (Villet, Chiolero et al.,
2005).
As limitações observadas em nosso estudo são pertinentes aos estudos realizados
com pacientes graves em internação no CTI, incluem uma população heterogênea,
pacientes clínicos e cirúrgicos. Também a utilização de diversas fórmulas de nutrição
enteral, incluindo aquelas com propriedades imunomoduladoras e outras fontes
calóricas provenientes de sedativos em emulsão lipídica ou soluções intravenosas
contendo dextrose que não são considerados como fonte energética na maior parte
dos trabalhos com exceção do estudo realizado por Mary e Hise e colaboradores
(2007).
O impacto destas limitações em nossos resultados é difícil predizer. Entretanto, o
conhecimento da relação entre o nível de ingestão calórica e protéica no prognóstico
clínico do paciente crítico ganhou mais evidências. Os nossos resultados indicam
que não devemos infundir abaixo de 50% das necessidades calóricas e nem acima
de 100% da meta protéica, além de ter atenção ao tempo de início do suporte
nutricional e ao tempo de resíduo gástrico elevado.
87
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão:
1. As características relacionadas à qualidade do suporte nutricional enteral
avaliadas no presente estudo interferem no prognóstico de pacientes críticos
com exceção do tempo médio para se alcançar à meta nutricional.
2. A infusão menor do que 50% da meta calórica, assim como, a infusão
superior a 100% da meta protéica elevaram o risco de morte mesmo após o
ajuste para outros fatores que podem interferir no prognóstico clínico.
3. Dentre os efeitos adversos do suporte nutricional estudados, a presença de
resíduo gástrico elevado diminuiu a sobrevida dos pacientes mesmo após o
ajuste para outros fatores relacionados ao prognóstico, assim como, o tempo
de jejum prolongado.
4. As características relacionadas à qualidade da intervenção podem ser
consideradas como preditores independentes de mortalidade para a
população estudada.
88
8 REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
Accp, A. C. O. C. P. S. O. C. C. M. American College of Chest Physicians/Society of
Critical Care Medicine Consensus Conference: definitions for sepsis and
organ failure and guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. Crit
Care Med, v.20, n.6, Jun, p.864-74. 1992.
Adam, S. e S. Batson. A study of problems associated with the delivery of enteral
feed in critically ill patients in five ICUs in the UK. Intensive Care Med, v.23, n.3, Mar,
p.261-6. 1997.
Alexander, J. W. Is early enteral feeding of benefit? Intensive Care Med, v.25, n.2,
Feb, p.129-30. 1999.
Artinian, V., H. Krayem, et al. Effects of early enteral feeding on the outcome of
critically ill mechanically ventilated medical patients. Chest, v.129, n.4, Apr, p.960-7.
2006.
Aspen, A. S. F. P. A. E. N. Guidelines for the use of parenteral and enteral nutrition in
adult and pediatric patients. J Parenter Enteral Nutr, v.26, p.90-92. 2002.
Barbosa-Silva, M. C. e A. J. Barros. Bioelectric impedance and individual
characteristics as prognostic factors for post-operative complications. Clin Nutr, v.24,
n.5, Oct, p.830-8. 2005.
Barbul, A. e A. Uliyargoli. Use of exogenous arginine in multiple organ dysfunction
syndrome and sepsis. Crit Care Med, v.35, n.9 Suppl, Sep, p.S564-7. 2007.
Barr, J., M. Hecht, et al. Outcomes in critically ill patients before and after the
implementation of an evidence-based nutritional management protocol. Chest
, v.125,
n.4, Apr, p.1446-57. 2004.
Beale, R. J., D. J. Bryg, et al. Immunonutrition in the critically ill: a systematic review
of clinical outcome. Crit Care Med
, v.27, n.12, Dec, p.2799-805. 1999.
Beddhu, S., M. H. Samore, et al. Impact of timing of initiation of dialysis on mortality.
J Am Soc Nephrol, v.14, n.9, Sep, p.2305-12. 2003.
Berger, M. M. e R. L. Chiolero. Antioxidant supplementation in sepsis and systemic
inflammatory response syndrome. Crit Care Med, v.35, n.9 Suppl, Sep, p.S584-90.
2007.
Bernard, G. R., J. L. Vincent, et al. Efficacy and safety of recombinant human
activated protein C for severe sepsis. N Engl J Med, v.344, n.10, Mar 8, p.699-709.
2001.
89
Bertolini, G., G. Iapichino, et al. Early enteral immunonutrition in patients with severe
sepsis: results of an interim analysis of a randomized multicentre clinical trial.
Intensive Care Med, v.29, n.5, May, p.834-40. 2003.
Bongers, T., R. D. Griffiths, et al. Exogenous glutamine: the clinical evidence. Crit
Care Med, v.35, n.9 Suppl, Sep, p.S545-52. 2007.
Braunschweig, C. L., P. Levy, et al. Enteral compared with parenteral nutrition: a
meta-analysis. Am J Clin Nutr
, v.74, n.4, Oct, p.534-42. 2001.
Carcillo, J. A. Does arginine become a "near" essential amino acid during sepsis?
Crit Care Med
, v.31, n.2, Feb, p.657-9. 2003.
Crook, M. A., V. Hally, et al. The importance of the refeeding syndrome. Nutrition
,
v.17, n.7-8, Jul-Aug, p.632-7. 2001.
Cunningham-Rundles, S. Is the fatty acid composition of immune cells the key to
normal variations in human immune response? Am J Clin Nutr
, v.77, n.5, May,
p.1096-7. 2003.
Cynober, L. Immune-enhancing diets for stressed patients with a special emphasis
on arginine content: analysis of the analysis. Curr Opin Clin Nutr Metab Care, v.6,
n.2, Mar, p.189-93. 2003.
Dardaine, V., P. F. Dequin, et al. Outcome of older patients requiring ventilatory
support in intensive care: impact of nutritional status. J Am Geriatr Soc, v.49, n.5,
May, p.564-70. 2001.
De Jonghe, B., C. Appere-De-Vechi, et al. A prospective survey of nutritional support
practices in intensive care unit patients: what is prescribed? What is delivered? Crit
Care Med, v.29, n.1, Jan, p.8-12. 2001.
Debaveye, Y. e G. Van Den Berghe. Risks and benefits of nutritional support during
critical illness. Annu Rev Nutr
, v.26, p.513-38. 2006.
Detsky, A. S., J. R. Mclaughlin, et al. What is subjective global assessment of
nutritional status? JPEN J Parenter Enteral Nutr
, v.11, n.1, Jan-Feb, p.8-13. 1987.
Fisher, G. G. e F. H. Opper. An interdisciplinary nutrition support team improves
quality of care in a teaching hospital. J Am Diet Assoc, v.96, n.2, Feb, p.176-8. 1996.
Galban, C., J. C. Montejo, et al. An immune-enhancing enteral diet reduces mortality
rate and episodes of bacteremia in septic intensive care unit patients. Crit Care Med,
v.28, n.3, Mar, p.643-8. 2000.
Gayle Minard, M. K. R. Enteral nutrition support challenges in the ICU. Nutrition
Week. USA, 2004. 116-119 p.
90
Gong, M. N., B. T. Thompson, et al. Clinical predictors of and mortality in acute
respiratory distress syndrome: potential role of red cell transfusion. Crit Care Med,
v.33, n.6, Jun, p.1191-8. 2005.
Griffiths, R. D. Feeding the critically ill--should we do better? Intensive Care Med,
v.23, n.3, Mar, p.246-7. 1997.
______. Nutrition support in critically ill septic patients. Curr Opin Clin Nutr Metab
Care, v.6, n.2, Mar, p.203-10. 2003.
Griffiths, R. D., C. Jones, et al. Six-month outcome of critically ill patients given
glutamine-supplemented parenteral nutrition. Nutrition
, v.13, n.4, Apr, p.295-302.
1997.
Hebert, P. C., G. Wells, et al. A multicenter, randomized, controlled clinical trial of
transfusion requirements in critical care. Transfusion Requirements in Critical Care
Investigators, Canadian Critical Care Trials Group. N Engl J Med, v.340, n.6, Feb 11,
p.409-17. 1999.
Heyland, D., D. J. Cook, et al. Enteral nutrition in the critically ill patient: a prospective
survey. Crit Care Med, v.23, n.6, Jun, p.1055-60. 1995.
Heyland, D. K., R. Dhaliwal, et al. Canadian clinical practice guidelines for nutrition
support in mechanically ventilated, critically ill adult patients. JPEN J Parenter Enteral
Nutr, v.27, n.5, Sep-Oct, p.355-73. 2003.
Heyland, D. K., F. Novak, et al. Should immunonutrition become routine in critically ill
patients? A systematic review of the evidence. Jama, v.286, n.8, Aug 22-29, p.944-
53. 2001.
Heyland, D. K. e A. Samis. Does immunonutrition in patients with sepsis do more
harm than good? Intensive Care Med
, v.29, n.5, May, p.669-71. 2003.
Heyland, D. K., D. Schroter-Noppe, et al. Nutrition support in the critical care setting:
current practice in canadian ICUs--opportunities for improvement? JPEN J Parenter
Enteral Nutr, v.27, n.1, Jan-Feb, p.74-83. 2003.
Hill, G. L. Implications of critical illness, injury, and sepsis on lean body mass and
nutritional needs. Nutrition, v.14, n.6, Jun, p.557-8. 1998.
Hise, M. E., K. Halterman, et al. Feeding practices of severely ill intensive care unit
patients: an evaluation of energy sources and clinical outcomes. J Am Diet Assoc,
v.107, n.3, Mar, p.458-65. 2007.
Hoffer, L. J. Protein and energy provision in critical illness. Am J Clin Nutr, v.78, n.5,
Nov, p.906-11. 2003.
Huang, Y. C., C. E. Yen, et al. Nutritional status of mechanically ventilated critically ill
patients: comparison of different types of nutritional support. Clin Nutr
, v.19, n.2, Apr,
p.101-7. 2000.
91
Huckleberry, Y. Nutritional support and the surgical patient. Am J Health Syst Pharm,
v.61, n.7, Apr 1, p.671-82; quiz 683-4. 2004.
Jansen M. M. P. M., H. F., Leusink J. A., Boer A. The quality of nutrition at an
intensive care unit. Nutrition Research, v.22, p.411-422. 2002.
Jeejeebhoy, K. N. Total parenteral nutrition: potion or poison? Am J Clin Nutr, v.74,
n.2, Aug, p.160-3. 2001.
Jolliet, P., C. Pichard, et al. Enteral nutrition in intensive care patients: a practical
approach. Working Group on Nutrition and Metabolism, ESICM. European Society of
Intensive Care Medicine. Intensive Care Med, v.24, n.8, Aug, p.848-59. 1998.
Kearns, P. J., D. Chin, et al. The incidence of ventilator-associated pneumonia and
success in nutrient delivery with gastric versus small intestinal feeding: a randomized
clinical trial. Crit Care Med, v.28, n.6, Jun, p.1742-6. 2000.
Kelly A. Tappenden, S. A. M., Gary Zaloga, Kenneth A. Kudsk. Feeding the
hypotensive patient. Nutrition Week. USA, 2004. 18-19 p.
Kirkland, L. L. Factors impeding enteral tube feedings. Crit Care Med, v.27, n.7, Jul,
p.1383-4. 1999.
Knaus, W. A., E. A. Draper, et al. APACHE II: a severity of disease classification
system. Crit Care Med, v.13, n.10, Oct, p.818-29. 1985.
Koretz, R. L., A. Avenell, et al. Does enteral nutrition affect clinical outcome? A
systematic review of the randomized trials. Am J Gastroenterol, v.102, n.2, Feb,
p.412-29; quiz 468. 2007.
Kreymann, K. G., M. M. Berger, et al. ESPEN Guidelines on Enteral Nutrition:
Intensive care. Clin Nutr, v.25, n.2, Apr, p.210-23. 2006.
Krishnan, J. A., P. B. Parce, et al. Caloric intake in medical ICU patients: consistency
of care with guidelines and relationship to clinical outcomes. Chest, v.124, n.1, Jul,
p.297-305. 2003.
Lopez-Hellin, J., J. A. Baena-Fustegueras, et al. Usefulness of short-lived proteins as
nutritional indicators surgical patients. Clin Nutr, v.21, n.2, Apr, p.119-25. 2002.
Maclaren, R. Intolerance to intragastric enteral nutrition in critically ill patients:
complications and management. Pharmacotherapy, v.20, n.12, Dec, p.1486-98.
2000.
Marik, P. E., D. Annane, et al. Using corticosteroids in intensive care. Arch Surg,
v.141, n.9, Sep, p.946-7; author reply 947. 2006.
Marik, P. E. e G. P. Zaloga. Early enteral nutrition in acutely ill patients: a systematic
review. Crit Care Med, v.29, n.12, Dec, p.2264-70. 2001.
92
______. Gastric versus post-pyloric feeding: a systematic review. Crit Care, v.7, n.3,
Jun, p.R46-51. 2003.
Mark H. Delegge, J. D. A. C., Stephen Mcclave. How to maximize efficacy from
enteral nutrition. Nutrition Week. USA, 2005. 292-296 p.
Mcclave, S. A. Optimizing what is delivered: dosing, formula, additives. Nutrition
Week. USA, 2005. 296-300 p.
Mcclave, S. A., L. K. Sexton, et al. Enteral tube feeding in the intensive care unit:
factors impeding adequate delivery. Crit Care Med, v.27, n.7, Jul, p.1252-6. 1999.
Mentec, H., H. Dupont, et al. Upper digestive intolerance during enteral nutrition in
critically ill patients: frequency, risk factors, and complications. Crit Care Med, v.29,
n.10, Oct, p.1955-61. 2001.
Metheny, N. A. A reassessment of risk factors and aspiration. Nutrition Week. USA,
2004. 298-301 p.
Mette M. Berger, R. L. C. Key vitamins and trace elements in the critically ill. Surgical
ICU and Burns Centre. Lausanne, Switzerland, 2002. p.
Michael Y. Suleiman, G. P. Z. Renal failure. In: G. P. Zaloga (Ed.). Nutrition in critical
care. USA: 1994, 1994. Renal failure, p.661-684
Montejo, J. C. Enteral nutrition-related gastrointestinal complications in critically ill
patients: a multicenter study. The Nutritional and Metabolic Working Group of the
Spanish Society of Intensive Care Medicine and Coronary Units. Crit Care Med, v.27,
n.8, Aug, p.1447-53. 1999.
Montejo, J. C., T. Grau, et al. Multicenter, prospective, randomized, single-blind study
comparing the efficacy and gastrointestinal complications of early jejunal feeding with
early gastric feeding in critically ill patients. Crit Care Med
, v.30, n.4, Apr, p.796-800.
2002.
Montejo, J. C., A. Zarazaga, et al. Immunonutrition in the intensive care unit. A
systematic review and consensus statement. Clin Nutr
, v.22, n.3, Jun, p.221-33.
2003.
Mowatt-Larssen, C. A., R. O. Brown, et al. Comparison of tolerance and nutritional
outcome between a peptide and a standard enteral formula in critically ill,
hypoalbuminemic patients. JPEN J Parenter Enteral Nutr, v.16, n.1, Jan-Feb, p.20-4.
1992.
Neumann, D. A. e M. H. Delegge. Gastric versus small-bowel tube feeding in the
intensive care unit: a prospective comparison of efficacy. Crit Care Med, v.30, n.7,
Jul, p.1436-8. 2002.
93
Nierman, D. M., C. B. Schechter, et al. Outcome prediction model for very elderly
critically ill patients. Crit Care Med, v.29, n.10, Oct, p.1853-9. 2001.
Peter, J. V., J. L. Moran, et al. A metaanalysis of treatment outcomes of early enteral
versus early parenteral nutrition in hospitalized patients. Crit Care Med, v.33, n.1,
Jan, p.213-20; discussion 260-1. 2005.
Petros, S. e L. Engelmann. Enteral nutrition delivery and energy expenditure in
medical intensive care patients. Clin Nutr
, v.25, n.1, Feb, p.51-9. 2006.
Preiser, J. C., J. Berre, et al. Management of nutrition in European intensive care
units: results of a questionnaire. Working Group on Metabolism and Nutrition of the
European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med
, v.25, n.1, Jan,
p.95-101. 1999.
Raguso, C. A., Y. M. Dupertuis, et al. The role of visceral proteins in the nutritional
assessment of intensive care unit patients. Curr Opin Clin Nutr Metab Care, v.6, n.2,
Mar, p.211-6. 2003.
Ravasco, P., M. E. Camilo, et al. A critical approach to nutritional assessment in
critically ill patients. Clin Nutr, v.21, n.1, Feb, p.73-7. 2002.
Reid, C. L., I. T. Campbell, et al. Muscle wasting and energy balance in critical
illness. Clin Nutr, v.23, n.2, Apr, p.273-80. 2004.
Rice, T. W., T. Swope, et al. Variation in enteral nutrition delivery in mechanically
ventilated patients. Nutrition, v.21, n.7-8, Jul-Aug, p.786-92. 2005.
Roberts, S. R., D. A. Kennerly, et al. Nutrition support in the intensive care unit.
Adequacy, timeliness, and outcomes. Crit Care Nurse
, v.23, n.6, Dec, p.49-57. 2003.
Rosenfeld, R. S. Alterações metabólicas e nutricionais no paciente crítico. In: J. R. A.
A. Hélvio Chagas Ferro, Sérgio Henrique Loss (Ed.). Nutrição parenteral e enteral
em UTI. São Paulo - Brasil, v.6, 2001a. Alterações metabólicas e nutricionais no
paciente crítico, p.311-334
______. Avaliação nutricional no paciente crítico. In: J. R. A. A. Hélvio Chagas Ferro,
Sérgio Henrique Loss (Ed.). Nutrição parenteral e enteral em UTI
. São Paulo - Brasil,
v.6, 2001b. Avaliação nutricional no paciente crítico, p.25-44
Rubinson, L., G. B. Diette, et al. Low caloric intake is associated with nosocomial
bloodstream infections in patients in the medical intensive care unit. Crit Care Med,
v.32, n.2, Feb, p.350-7. 2004.
Salluh, J. I. e A. G. Fuks. Corticosteroids in critically ill patients: A long and winding
road. Arch Surg, v.141, n.9, Sep, p.945; author reply 947. 2006.
Schwartz, D. B. Alimenting the patient receiving activated protein C. Clinical Nutrition.
USA, 2005. 20-22 p.
94
Singh, N., M. N. Falestiny, et al. Pulmonary infiltrates in the surgical ICU: prospective
assessment of predictors of etiology and mortality. Chest, v.114, n.4, Oct, p.1129-36.
1998.
Spapen, H., M. Diltoer, et al. Soluble fiber reduces the incidence of diarrhea in septic
patients receiving total enteral nutrition: a prospective, double-blind, randomized, and
controlled trial. Clin Nutr, v.20, n.4, Aug, p.301-5. 2001.
Stapleton, R. D., N. Jones, et al. Feeding critically ill patients: what is the optimal
amount of energy? Crit Care Med, v.35, n.9 Suppl, Sep, p.S535-40. 2007.
StataCorp LP. (2005). Stata graphics : reference manual : release 9. College Station,
Tex., StataCorp LP.
StataCorp LP. (2005). Getting started with Stata for Windows. College Station, Tex.,
StataCorp LP.
Strack Van Schijndel R. J. M., W. P. J. M., Koster C., Bissumbhar A., Melis G. C.,
Girbes A. R. J. A closer look at enterally delivered nutrition in the ICU; what you see
is not what they get. e-SPEN, the European e-Journal of Clinical Nutrition and
Metabolism, v.2, p.1-3. 2007.
Stroud, M. Protein and the critically ill; do we know what to give? Proc Nutr Soc, v.66,
n.3, Aug, p.378-83. 2007.
Suchner, U., D. P. Katz, et al. Effects of intravenous fat emulsions on lung function in
patients with acute respiratory distress syndrome or sepsis. Crit Care Med, v.29, n.8,
Aug, p.1569-74. 2001.
Takala, J., E. Ruokonen, et al. (1999). "Increased mortality associated with growth
hormone treatment in critically ill adults." N Engl J Med 341(11): 785-92.
Van Den Berghe, G., P. Wouters, et al. Intensive insulin therapy in the critically ill
patients. N Engl J Med
, v.345, n.19, Nov 8, p.1359-67. 2001.
Van Den Berghe, G., P. J. Wouters, et al. Outcome benefit of intensive insulin
therapy in the critically ill: Insulin dose versus glycemic control. Crit Care Med
, v.31,
n.2, Feb, p.359-66. 2003.
Van Leeuwen, H. J., E. C. Heezius, et al. Lipoprotein metabolism in patients with
severe sepsis. Crit Care Med, v.31, n.5, May, p.1359-66. 2003.
Villet, S., R. L. Chiolero, et al. Negative impact of hypocaloric feeding and energy
balance on clinical outcome in ICU patients. Clin Nutr, v.24, n.4, Aug, p.502-9. 2005.
Vincent, J. L. Metabolic support in sepsis and multiple organ failure: more questions
than answers. Crit Care Med, v.35, n.9 Suppl, Sep, p.S436-40. 2007.
Vincent, J. L., R. Moreno, et al. The SOFA (Sepsis-related Organ Failure
Assessment) score to describe organ dysfunction/failure. On behalf of the Working
95
Group on Sepsis-Related Problems of the European Society of Intensive Care
Medicine. Intensive Care Med, v.22, n.7, Jul, p.707-10. 1996.
Waitzberg, D. L. e Y. C. Baxter. Costs of patients under nutritional therapy: from
prescription to discharge. Curr Opin Clin Nutr Metab Care, v.7, n.2, Mar, p.189-98.
2004.
Wilson, R. F., J. F. Barletta, et al. Hypocholesterolemia in sepsis and critically ill or
injured patients. Crit Care
, v.7, n.6, Dec, p.413-4. 2003.
Woodcock, N. P., D. Zeigler, et al. Enteral versus parenteral nutrition: a pragmatic
study. Nutrition
, v.17, n.1, Jan, p.1-12. 2001.
96
ANEXO
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo