Download PDF
ads:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Biociências
Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular
Filogeografia e Variabilidade Genética de Calibrachoa
heterophylla (Sendtn.) Wijsman (Solanaceae)
Geraldo Mäder
Orientadora: Dra. Loreta Brandão de Freitas
Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Genética e Biologia Molecular da UFRGS como
requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Genética e Biologia Molecular.
Porto Alegre
Fevereiro de 2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
INSTITUIÇÕES E FONTES FINANCIADORAS
- Laboratório de Evolução Molecular, Departamento de Genética, Instituto de Biociências,
UFRGS
- Laboratório de Biologia Genômica e Molecular, Faculdade de Biociências, PUCRS
- Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (PRONEX)
- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
- Programa Especial em Taxonomia – PROTAX (MCT/CNPq/CAPES)
- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS)
- Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PROPESQ-
UFRGS)
ads:
AGRADECIMENTOS
Esse trabalho marca mais uma etapa na minha vida profissional, nem sempre é
possível lembrar o nome de todas as pessoas que me ajudaram nesse período, entretanto
não posso deixar de agradecer a algumas delas:
À minha orientadora Dra. Loreta Brandão de Freitas, pela amizade, disponibilidade
e atenção me auxiliando sempre que tive dúvidas, além de acreditar no meu potencial. Por
buscar soluções e transmitir tranqüilidade sempre que surgiu um novo obstáculo durante
esses dois anos.
Ao colaborador Dr. João R. Stehmann pelo auxílio na averiguação das exsicatas.
À Dra. Aline P. Lorenz Lemke, pela amizade e dedicação nos ensinamentos desde
utilização dos programas para a análise dos resultados até dicas fundamentais para a
conclusão deste trabalho.
Aos demais colegas do Laboratório de Evolução Molecular pela amizade no dia-a-
dia, auxílio nas coletas e atividades de laboratório, além de idéias para o desenvolvimento
dessa dissertação: Aline R., Carol, Clênio, Jéferson, Pakisa, Priscilla, Raquel e Tielli.
Aos professores e demais colegas do Departamento de Genética que muito me
ensinaram nesses anos, não esquecendo também dos colegas do Departamento de Botânica
com os quais aprendi a interpretar as questões com outros olhos.
Ao Elmo e à Ellen pela presteza em resolver tantas questões burocráticas.
À minha família que sempre me apoiou e incentivou a chegar até aqui.
Aos amigos, colegas de graduação e do futebol pelos momentos de descontração
durante a composição deste trabalho.
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Instituições e Fontes
Financiadoras.
4
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 06
ABSTRACT................................................................................................................. 09
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 12
1.1. Sinopse histórica do gênero Calibrachoa Cerv. ex La Llave & Lex.........
12
1.2. Caracterização do grupo de estudo............................................................ 14
1.3. Utilização e potencial ornamental............................................................. 16
1.4. Calibrachoa heterophylla (Sendtn.) Wijsman...........................................
17
1.5. A Planície Costeira do Rio Grande do Sul................................................ 19
1.6. Especiação e fluxo gênico......................................................................... 26
1.7. Filogeografia e conservação...................................................................... 29
1.8. Marcadores moleculares............................................................................ 32
2. OBJETIVOS............................................................................................................. 36
2.1. Objetivo geral............................................................................................ 36
2.2. Objetivos específicos................................................................................. 36
3. MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................... 37
3.1. Coletas....................................................................................................... 37
3.2. Extração do DNA...................................................................................... 39
3.3. Amplificação e seqüenciamento................................................................ 40
3.4. Análise das seqüências.............................................................................. 44
4. RESULTADOS........................................................................................................ 46
4.1. Caracterização das seqüências obtidas...................................................... 46
4.2. Estrutura populacional............................................................................... 49
5
4.3. Detecção de barreiras biogeográficas........................................................ 57
4.4. Dinâmica populacional.............................................................................. 62
5. DISCUSSÃO............................................................................................................ 66
5.1. A diversidade dos marcadores utilizados.................................................. 66
5.2. Geologia da Planície Costeira vs filogeografia de C. heterophylla........... 66
5.3. Expansão ou estabilidade populacional.................................................... 71
5.4. Conservação do ambiente.......................................................................... 72
5.5. Distribuição da espécie.............................................................................. 74
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 76
6
RESUMO
O gênero Calibrachoa (Solanaceae) é tipicamente Sul-americano, atingiu o sudeste
brasileiro através de uma provável rota migratória andino-pampeana. As espécies de
Calibrachoa não possuem mecanismos de dispersão de sementes a longas distâncias nem
qualquer estratégia de multiplicação vegetativa. Calibrachoa heterophylla é uma escie
que habita dunas e campos arenosos, preferencialmente ao longo da Planície Costeira do
Rio Grande do Sul (RS). Essa região pode ser considerada como uma área altamente
dinâmica do ponto de vista da geografia histórica. Oscilações periódicas no clima e na
disponibilidade de habitats, especialmente durante o Pleistoceno, tiveram grande efeito na
distribuição e história evolutiva de muitos grupos biológicos. Na Planície Costeira do RS,
áreas que conservam a fisionomia natural são cada vez mais raras e fragmentadas, devido à
urbanização e atividades agronômicas, fazendo com que muitas espécies vegetais e animais
estejam cada vez mais ameaçadas de extinção. A disponibilidade e o avanço das técnicas
moleculares, além do enriquecimento das análises filogenéticas intra-específicas, têm
possibilitado de maneira eficaz a interpretação de possíveis cenários evolutivos. Dados
filogeográficos permitem estabelecer uma estratégia que prioriza a conservação de grupos
que incluam representantes da maior parte da história evolutiva das espécies.
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar, através de marcadores
moleculares plastidiais, a variabilidade genética da espécie C. heterophylla ao longo de
toda sua distribuição geográfica conhecida, fornecendo dados sobre sua evolução,
taxonomia e filogeografia, associando-os à geologia da Planície Costeira.
Foram amostrados 220 indivíduos pertencentes a 13 populações ao longo da
distribuição da espécie no RS. O material coletado teve o DNA extraído a partir de folhas
jovens usando CTAB. Foram analisadas as seqüências dos espaçadores intergênicos
plastidiais trnH-psbA, e trnS-trnG. Análises filogeográficas e populacionais foram
7
realizadas com a finalidade de avaliar a diversidade e padrões evolutivos de C.
heterophylla.
O alinhamento das seqüências de trnH-psbA e trnS-trnG apresentou 1280 pb com
26 sítios polimórficos, variabilidade relativamente alta se considerarmos a recente história
evolutiva do grupo. Na network gerada foi observada uma estruturação geográfica
consistente onde 65,24% da variação detectada corresponderam à variação entre
populações (Φ
ST
=0,65238). Esta característica foi reforçada pela significante correlação,
entre as distâncias genética e geográfica, observada através dos testes de Mantel e
Autocorrelação Espacial. A análise de possíveis barreiras ao fluxo gênico na área de
estudo, realizada através do programa SAMOVA, indicou a existência de até duas barreiras
formando três grupos de populações. Não foram encontradas evidências de expansão
demográfica recente para o conjunto completo de dados: a análise da distribuição mismatch
apresentou uma curva bimodal e os índices D de Tajima e Fs de Fu não apresentaram
valores estatisticamente significativos. Entretanto, quando os mesmos parâmetros foram
calculados para os agrupamentos formados pelo programa SAMOVA isoladamente, dois
deles (1 e 2) parecem ter passado por um período de expansão demográfica recente.
A restrita capacidade de dispersão de sementes nesta espécie e, a herança materna
dos cloroplastos neste gênero, podem ser as prováveis razões para a baixa variabilidade
genética intrapopulacional encontrada, visto que os marcadores utilizados são seqüências
plastidiais. A alta diversidade observada entre alguns dos grupos dificilmente poderia ter
surgido, em sua totalidade, na Planície Costeira, pois essa é uma região geologicamente
muito recente (~ 400.000 A.P.). Então, distintas linhagens devem ter colonizado essa
região através de diferentes rotas ou em momentos diversos e não se uniram devido às
barreiras biogeográficas que encontraram no ambiente. Quando se compara a localização
das barreiras biogeográficas sugeridas pelo programa SAMOVA com a geologia da
8
Planície Costeira, percebe-se que essas barreiras coincidem com paleocanais mapeados
através de dados sísmicos por diversos autores.
Durante as coletas, muitas vezes não foi possível encontrar C. heterophylla em
regiões onde sua ocorrência era esperada. Pelo fato da Planície Costeira do RS ser cada vez
mais alvo da ação humana e de C. heterophylla demonstrar ser muito exigente quanto a
mudanças ambientais, essa escie pode ser indicada como altamente ameaçada.
Um resultado inesperado foi a descoberta da existência de populações de C.
heterophylla fora da Planície Costeira em coleta realizada por nosso grupo na região da
Campanha Sul-rio-grandense, em um ambiente muito semelhante àquele normalmente
encontrado na Planície Costeira. Este fato conduz à necessidade de averiguarmos a
existência de outras populações no interior do continente no RS. Fica como perspectiva
para o pleno conhecimento da evolução, origem e real distribuição de C. heterophylla,
investigar as redes hidrográficas localizadas no interior do Estado.
9
ABSTRACT
The South American genus Calibrachoa (Solanaceae) likely arrived at the Brazilian
southeast region through an andean-pampean migratory route. Calibrachoa species do not
have a long distance seed dispersal system or any strategy for vegetative propagation.
Calibrachoa heterophylla dwell in dunes and sandy fields, mainly at the Coastal Plain of
Rio Grande do Sul Brazilian state. Cyclic climatic and habitat occurrence oscillations in
the Pleistocene had high influence in the distribution and evolutionary history of many
biological groups. Areas that still maintain the original habitats in the Coastal Plain are rare
and mostly fragmented due to anthropic actions, leading many plant and animal species to
near extinction. The use of new molecular techniques and analytical methods bring
important insights into likely evolutionary scenarios. Besides, findings of phylogeographic
studies also brought new light into biological conservation strategies, focusing in
intraspecific history and patterns of diversity.
The main objective of this work is to use plastidial molecular markers to
characterize the genetic diversity of C. heterophylla through its distributional range, to
better understand its evolution, phylogeographic patterns and taxonomy, associated with
the geological history of the Coastal Plain.
We sampled 220 individuals from 13 populations through Rio Grande do Sul, from
which we obtained sequences from the plastidial intergenic spacers trnH-psbA and trnS-
trnG. The sequences were aligned and analyzed with several populational and
phylogeographic methods.
The alignment of trnH-psbA plus trnS-trnG spacers is 1280 bp with 26 variable
sites, a high value considering the likely recent evolutionary history of the specie.
The
10
haplotype network shows a clear geographical structure, with 65.2% of the variation being
among populations in the AMOVA as well as having a significantly high Φ
ST
(=0,65238).
We also found a significant correlation between the genetic and geographical distances and
significant patterns in the Spatial Autocorrelation analysis. The SAMOVA analysis found
two likely barriers to gene flow separating three groups of populations. No evidence for
population expansion for the species was found using a mismatch distribution analysis
(that was bimodal) or by neutrality tests (all non-significant). However, when these
statistics where estimated for each population-group found in SAMOVA, two of them (1
and 2) presented evidences for a relatively recent demographic expansion.
The limited seed dispersal ability of this species coupled with the maternal
inheritance of the plastidial markers used may be a likely explanation for the low
intrapopulational diversity found. The high divergence found between some groups could
not likely be explained has having originated in the Coastal Plain, as this region of
geologically very recent (~400.000 years ago). Consequently, already differentiated
lineages should have colonized the region perhaps by different routes and stayed isolated
due the barriers found in the area. When the location of the barriers suggested by
SAMOVA is compared with the geology of the region, there are coincidence between
those and the reconstructed path of ancient river channels.
During field work, at several sites where the presence of C. heterophylla was
expected, it actually could not be found. This is likely caused by the increasing human
interference in the habitat and the small tolerance of the species to habitat degradation, and
suggests that this species may be in danger of extinction.
An unexpected result was the discovery of one population of C. heterophylla
outside the Coastal Plain, in a region adjacent to it, in a place such as sandy river beach,
11
habitat that is very similar to its usual habitat in the Coastal Plain. Therefore, it is important
to better understand the evolutionary history of this species to continue investigating these
other populations outside its main area of occurrence.
12
1. INTRODUÇÃO
1.1. Sinopse histórica do gênero Calibrachoa Cerv. ex La Llave & Lex.
A família Solanaceae, pertencente à ordem Solanales, Euasterídeas I (APG II,
2003), é composta por aproximadamente 3000 espécies, distribuídas em 150 gêneros
(Souza & Lorenzi, 2005), sendo a América do Sul seu maior centro de diversidade
(Hunziker, 2001). No Brasil ocorrem 32 gêneros e 350 espécies (Souza & Lorenzi, 2005).
Essa família possui grande importância econômica para a sociedade, com diversas espécies
comestíveis, ornamentais e medicinais. D’Arcy (1991) dividiu Solanaceae em três
subfamílias: Solanoideae, Nolanoideae e Cestroideae. Estudos filogenéticos baseados em
informações do DNA plastidial (cpDNA) mudaram significativamente a compreensão dos
relacionamentos entre as subfamílias de Solanaceae e uma nova classificação foi proposta
(Olmstead & Palmer, 1992; Olmstead et al., 1999). A tradicional subfamília Cestroideae
foi dividida em cinco subfamílias menores: Cestroideae, Petunioideae, Schizanthoideae,
Nicotianoideae e Schwenckioideae. Petunioideae inclui os gêneros Petunia Juss. e
Calibrachoa Cerv. ex La Llave e Lexarza, além de outros gêneros da antiga tribo
Nicotianeae.
O nero Petunia foi descrito por Antoine L. Jussieu em 1803 a partir de duas
espécies, P. parviflora Juss. e P. nyctaginiflora Juss., hoje conhecidas como Calibrachoa
parviflora (Juss.) D’Arcy e P. axillaris (Lam.) Britton, Sterns & Poggenb.,
respectivamente (Stehmann, 1999). Outros autores, como Miers (1846) e Sendtner (1846),
publicaram importantes obras que contribuíram para o conhecimento do gênero e
acrescentaram diversas espécies. Em 1911, Fries publicou um trabalho reconhecendo 27
espécies para Petunia, sendo que nove destas nunca haviam sido descritas. Wijsman (1983)
13
e Wijsman & Jong (1985) perceberam que as escies de Petunia podiam ser divididas em
dois grupos de acordo com o número cromossômico e algumas características
morfológicas como pré-floração, hábito, forma da folha e coloração da corola. A partir
dessas informações, Wijnands et al. (1986) separaram esses grupos em dois gêneros:
Petunia, com 2n=14, e Calibrachoa, com 2n=18. O epíteto genérico Calibrachoa é uma
homenagem de Cervantes ao professor de botânica mexicano Antonii de la Cal et Bracho
(Stehmann, 1999). A recombinação de diversas espécies de Petunia sensu para
Calibrachoa foi realizada a seguir por Wijsman (1990), que transferiu 15 espécies e
Stehmann & Semir (1997) que acrescentaram mais dez (sendo uma espécie nova), ambos
os trabalhos baseados nas mesmas características diferenciais utilizadas por Wijsman &
Jong (1985). Atualmente, são reconhecidas 25 espécies para o gênero Calibrachoa,
entretanto algumas espécies descritas como pertencentes ao gênero Petunia, apesar de
possuírem características cromossômicas de Calibrachoa, ainda não foram recombinadas
por o terem sido analisadas após a separação dos dois gêneros (Stehmann & Semir,
2005).
Estudos mais recentes indicam que Calibrachoa pode ser divido em dois subgrupos
baseados na autocompatibilidade reprodutiva (Watanabe et al., 1997; Tsukamoto et al.,
1998; Ando et al., 2001; Tsukamoto et al., 2002), morfologia da superfície das sementes
(Watanabe et al., 1999), conteúdo de DNA nuclear (Mishiba et al., 2000) e análises
filogenéticas (Ando et al., 2005). Em todas essas análises, C. parviflora (Juss.) Wijsman e
C. pygmaea (R.E.Fr.) Wijsman ficam agrupadas, enquanto as outras espécies do gênero
formam um grupo à parte.
14
1.2. Caracterização do grupo de estudo
O gênero Calibrachoa, com a exceção de C. parviflora, ocorre exclusivamente no
sudeste da América do Sul, de Minas Gerais até o Uruguai, com abundância máxima nos
estados brasileiros do Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC) (Tsukamoto et al.,
2002). Gêneros irmãos de Calibrachoa e Petunia, como por exemplo, Fabiana Ruiz &
Pav., habitam regiões andinas e patagônicas. Sugere-se que os gêneros Calibrachoa e
Petunia teriam surgido através de uma radiação adaptativa a partir dos Andes, tendo sido
conduzidos a uma evolução divergente, colonizando áreas de clima subtropical como a
região pampeana e chegando posteriormente ao planalto catarinense (Stehmann, 1999).
A grande maioria das espécies possui distribuição contínua, associada a uma
determinada região fisionômica e restrita a uma condição edáfica característica (Stehmann,
1999). Segundo Stehmann & Semir (2005), no Brasil ocorrem 19 espécies, divididas em
dois grandes centros de diversidade: um nos Planaltos de Curitiba e Ponta Grossa (Paraná);
outro nos campos de altitude da borda oriental do planalto sul-brasileiro (Santa Catarina).
Segundo os mesmos autores existe ainda um terceiro, porém menor, centro de diversidade
na província Pampeana, fronteira entre Brasil e Uruguai. Calibrachoa, assim como a
maioria de seus gêneros irmãos, possui origem andina e é aceitável crer que tenha existido
no passado uma rota migratória andino-pampeana que permitiu que as espécies atingissem
o sudeste brasileiro (Stehmann, 1999). Esta hipótese biogeográfica é sugerida para vários
outros grupos de plantas, devido à presença de espécies de gêneros típicos dos Andes na
região subtropical do Brasil, especialmente em áreas mais altas e frias (Rambo, 1951;
Safford, 1999).
As espécies do gênero têm bito arbustivo, subarbustivo ou herbáceo e, em geral,
possuem menos de 70 cm de altura. Três padrões de hábito já foram observados em
15
Calibrachoa: ereto, decumbente e repente. A maioria das espécies possui caule lenhoso,
característica que sugere que essas sejam perenes. C. parviflora e C. elegans (Miers)
Stehmann & Semir são as únicas espécies comprovadamente anuais (Stehmann, 1999). O
indumento das plantas representantes do gênero pode ser pubérulo, tomentoso, piloso ou
subviloso, e constituído de tricomas simples e unisseriados. Braquiblastos, pequenos ramos
axilares, são encontrados principalmente no grupo de escies com folhas lineares, como
C. ericaefolia (R.E.Fr.) Wijsman, C. heterophylla (Sendtn.) Wijsman, C. micrantha
(R.E.Fr.) Stehmann & Semir e C. paranensis (Dusén) Wijsman. A corola é zigomorfa
infundibuliforme, com a base tubulosa amarela ou esbranquiçada, possui pré-floração
conduplicada, onde as duas maiores pétalas que formarão os lobos inferiores se dobram
sobre as três restantes. Os cinco estames estão arranjados em três alturas diferentes e o
pólen é amarelo, diferindo da maior parte das espécies de Petunia. A maioria das espécies
de Calibrachoa possui características morfológicas associadas à melitofilia, as exceções
são C. serrulata (L.B. Sm. & Downs) Stehmann & Semir e C. sendtneriana (R.E.Fr.)
Stehmann & Semir que são ornitófilas e C. parviflora que é autógama e o necessita de
dispersores de pólen (Stehmann, 1999).
As espécies do gênero são preferencialmente encontradas em afloramentos
rochosos, bordas de floresta, campos arenosos ou pedregosos. Nenhuma estratégia de
multiplicação vegetativa foi observada e as espécies de Calibrachoa não possuem
mecanismos de dispersão de sementes a longas distâncias, seus frutos são deiscentes e as
sementes (Figura 1) liberadas diretamente no solo, próximas à planta-mãe (Stehmann,
1999).
16
1.3. Utilização e potencial ornamental
O cultivo de Petunia para utilização como planta ornamental foi registrado pela
primeira vez por volta de 1830, através de sucessivos cruzamentos interespecíficos. Hoje já
existem cultivares de petúnia com praticamente todas as colorações de flor comumente
encontradas na horticultura (Murakami et al., 2004). Cultivares comerciais de Calibrachoa
foram inicialmente desenvolvidas no Japão, em 1994, e posteriormente na Europa, em
1996 (Rice, 1997). Desde então, diversos cruzamentos têm sido feitos e uma grande escala
de cores de corola já foi gerada. A hibridação entre espécies do gênero o é difícil e,
aparentemente, não existem mecanismos de isolamento reprodutivo pós-polinização ou
pós-zigóticos entre a maioria das espécies dentro de cada um destes gêneros (Watanabe et
al., 1997; Stehmann, 1999). Possíveis híbridos interespecíficos foram identificados em
seu ambiente natural: C. linoides (Sendtn.) Wijsman x C. sellowiana (Sendtn.) Wijsman
(Stehmann et al., 1996); C. linoides x C. excellens (R.E.Fr.) Wijsman (Fregonezi et al.,
2007) e C. sellowiana x C. serrulata (J.N. Fregonezi, comunicação pessoal). Mais
recentemente, foi desenvolvido a primeiro híbrido entre os dois gêneros (Calibrachoa x
Petunia), denominado Petchoa Boker & Shaw que é estéril
(Shaw, 2007).
Foto ilustrando
o fruto e sementes de
Calibrachoa heterophylla.
G. Mäder
17
1.4. Calibrachoa heterophylla (Sendtn.) Wijsman
A espécie alvo deste trabalho foi descrita por Sendtner (1846) como Petunia
heterophylla que, posteriormente, foi recombinada para o gênero Calibrachoa por
Wijsman (1990). Sua distribuição tem sido descrita para toda a Planície Costeira do RS,
em áreas de Formações Pioneiras com influência marinha, lacunar ou lacustre. Seu registro
mais setentrional foi feito em Imbituba (SC), enquanto o limite meridional é o norte do
litoral uruguaio, embora não tenham sido observadas, recentemente, plantas desta espécie
nos extremos de sua distribuição (P. Speranza, comunicação pessoal para ocorrência no
litoral uruguaio). Esta espécie habita dunas e campos arenosos, além de ambientes
alterados, como beiras de estradas e lavouras abandonadas. As plantas se caracterizam
como subarbustos, com base lenhosa, e muitos ramos inicialmente eretos, logo
decumbentes; suas folhas são pequenas e presença de braquiblastos axilares (Figura 2).
As folhas são sésseis, com lâmina geralmente linear, densamente pubérulo-glandulosas em
ambas as faces. Nos ramos mais velhos, as folhas caem e apenas o conjunto de pequenas
folhas dos braquiblastos persiste (Figura 3A). A presença destes dois tipos de folhas deu
origem ao epíteto específico. A perda das folhas maiores e a persistência nos braquiblastos
podem ser interpretadas como uma estratégia da planta para a economia de água, já que
essa espécie sofre grande estresse hídrico por habitar solos arenosos (Stehmann, 1999). As
flores são de cor magenta ou purpúrea, com fauce amarelada, circundada por um anel
purpúreo-escuro (Figura 3B). A morfologia floral está associada à melitofilia e os
polinizadores mais freqüentes são abelhas solitárias. É uma espécie caracteristicamente
psamófila, facilmente reconhecida pela coloração esbranquiçada ou acinzentada, conferida
pelos grãos de areia aderidos ao seu indumento, nos seus ramos jovens, folhas e cálice
(Stehmann, 1999) (Figura 3B). De acordo com observações em campo, essa espécie possui
18
uma considerável plasticidade fenotípica representada por diferentes padrões quanto ao
hábito, forma e tamanho das folhas ao longo da sua distribuição geográfica.
Figura 2 Indivíduo de Calibrachoa heterophylla fotografado no Horto Florestal da Aracruz, Barra
do Ribeiro/RS: hábito subarbustivo.
J.N. Fregonezi
19
1.5. A Planície Costeira do Rio Grande do Sul
O termo Província Costeira é amplamente utilizado para designar um grupo de
elementos geológicos característico da margem continental brasileira na atualidade.
Durante o Cenozóico, a erosão dos terrenos elevados situados a oeste gerou fácies
sedimentares que se acumularam ao longo da Província Costeira do RS. Em conseqüência
desse processo, a Província Costeira do RS pode ser dividida em dois compartimentos
geomorfológicos: o das terras altas” e o das terras baixas” (Villwock & Tomazelli,
1995). O Compartimento das “terras altas” agrupa o Planalto Sul-rio-grandense, a
Depressão Central e o Planalto das Araucárias; enquanto que o das “terras baixas” é
formado pela Planície Costeira e pela plataforma continental adjacente (Weschenfelder,
2005).
A Planície Costeira do Rio Grande do Sul constitui a mais ampla planície litorânea
do Brasil, cobrindo cerca de 33.000 km² (Tomazelli & Villwock, 2000). A atual praia
oceânica da Planície Costeira é extensa e contínua lateralmente, localizada em uma região
costeira aberta, dominada pela ação das ondas. As feições morfológicas da praia se
Figura 3
Calibrachoa
heterophylla.
A) Ramos com
predominância
de folhas dos
braquiblastos.
B) Flor em
detalhe e areia
aderida ao
indumento.
G. Mäder
J.R. Stehmann
20
caracterizam pela relativa homogeneidade e continuidade lateral, em contraste com a
marcante modificação antrópica, causada ao campo de dunas frontais, e à planície arenosa
adjacente (Weschenfelder, 2005).
A Laguna dos Patos é um dos componentes mais marcantes na fisiografia do
Estado. A Laguna é a bacia de captação da rede de drenagem da Bacia Fluvial do Sudeste
do RS e do Nordeste da República do Uruguai. A extensão total de sua superfície de
captação alcança 180.000 km² e as águas captadas desembocam diretamente no Oceano
Atlântico, através do Canal de Rio Grande, localizado no extremo sul da laguna
(Weschenfelder et al., 2005). Toda essa região pode ser vista como uma área altamente
dinâmica do ponto de vista geográfico.
Os eventos de transgressão-regressão do nível do mar que originaram a Planície
Costeira do Rio Grande do Sul, entre o Pleistoceno e o Holoceno, geraram quatro extensos
sistemas deposicionais do tipo laguna-barreira, paralelos à linha de costa (três
pleistocênicos e um holocênico). Cada um desses sistemas é caracterizado por uma barreira
arenosa e, atrás destes em direção ao continente, existem extensos depósitos lagunares
costeiros (Lima & Buchmann, 2005; Tomazelli & Villwock, 2005). A formação destes
sistemas foi relacionada com a alternância cíclica de períodos frios e quentes ocorridos
durante o Pleistoceno e Holoceno, os estágios glaciais e interglaciais. Durante estes
períodos havia a fusão (estágios interglaciais) ou crescimento (estágios glaciais) das
regiões polares e, conseqüentemente, subida (transgressão) ou descida (regressão) do vel
do mar (Villwock & Tomazelli 1995). cerca de 500 mil anos Antes do Presente (ka
A.P.), o nível do mar na região do RS estava 70 m abaixo do nível atual e a linha da costa
recuada mais de 100 km. 400 ka A.P. ocorreu uma grande transgressão marinha e, no
RS, o mar invadiu toda região de Porto Alegre, ficando somente os morros emersos.
21
Assim, formou-se a primeira barreira da Planície Costeira. O mar regrediu e, cerca de 75
ka depois, houve outra transgressão, dessa vez a área ocupada pelo mar foi
consideravelmente menor que a anterior, formando a segunda barreira da Planície Costeira.
Novamente o mar recuou e, há 120 ka A.P., ocorreu uma nova transgressão que resultou na
formação da terceira barreira da Planície Costeira e das restingas que delimitaram a
Laguna dos Patos.
A formação de uma barreira arenosa holocênica (quarta barreira),
surgida aproximadamente 5 ka A.P. e integrante de um sistema complexo de múltiplas
barreiras que reúne ainda a Laguna dos Patos e a Lagoa Mirim, foi o episódio final
conseqüente das variações do nível do mar que afetaram este setor costeiro (Figura 4).
Após esse último evento, formou-se uma restinga arenosa entre o planalto e o mar que
promoveu a ligação da Planície Costeira do RS com litoral do norte do País, permitindo a
migração da flora e fauna atuais e interrompeu o curso dos rios. A partir de então, toda a
drenagem continental que anteriormente atingia a quebra da plataforma continental ficou
retida no interior deste sistema lagunar (Weschenfelder et al., 2005). As desembocaduras
dos estuários e os canais fluviais foram soterrados pelas areias transgressivas. Desta forma,
o registro dos canais soterrados representa evidências da drenagem pleistocênica sobre a
antiga PC na atual plataforma continental (Abreu & Calliari, 2005). Paleocanais detectados
na linha de costa atual podem representar o antigo curso de alguns dos principais rios do
Estado como o Jacuí, o Camaquã e o Jaguarão, que fragmentavam a costa, desaguando
diretamente no Oceano Atlântico, como sugerem Corrêa (1996) e Weschenfelder (2005)
(Figura 5).
Na Tabela 1 são apresentados, resumidamente, acontecimentos da Era Cenozóica,
relevantes para o entendimento deste trabalho.
22
Figura 4 - Cenário paleogeográfico da Planície Costeira do RS (modificado de Tomazelli et al., 2000).
23
Figura 5 - Rede de paleocanais mapeados através de dados sísmicos segundo Weschenfelder (2005).
Tabela 1 - Escala geológica da Era Cenozóica e resumo dos acontecimentos recentes na Planície Costeira.
Era Período Época ka A.P Acontecimentos
Holoceno Atual a 11,5 Formação 4ª barreira da PC -5 ka
Superior 11,5 a 126 Formação 3ª barreira da PC -120 ka
Médio 126 a 781
Formação 2ª barreira da PC -325 ka
Formação 1ª barreira da PC - 400 ka
Ultima glaciação- 500 ka
Pleistoceno
Inferior 781 a 1806
Plioceno 1806 a 5332
Neogeno
Mioceno 5332 a 23300
Oligoceno 23300 a 33900
Eoceno 33900 a 55800
Surgimento de grande parte das
angiospermas atuais (Romero, 1993).
Cenozóico
Paleogeno
Paleoceno 55800 a 65500
ka= Mil anos A.P.: Antes do Presente PC: Planície Costeira
25
Essas oscilações paleoclimáticas periódicas alteraram fortemente a disponibilidade
de habitats e produziram grande impacto na distribuição e história evolutiva de muitos
grupos biológicos (Knowles, 2001). A Placie Costeira do RS possui exuberante
vegetação hidrófila e halófita em ambientes de muita instabilidade, que tornam as
comunidades vegetais altamente mutáveis (Werneck & Lorsheister, 2001). O revestimento
vegetacional dessa região, muitas vezes referido como vegetação pioneira, é composto, na
realidade, de um imenso mosaico de comunidades florísticas e estruturalmente distintas,
que depende mais do solo que do clima (Dorneles & Waechter, 2004). Cordazzo &
Seeliger (1988) consideram que o extremo sul do Brasil e o Uruguai representam o centro
de uma zona biogeográfica subtropical, transição entre as regiões temperada e tropical. As
espécies vegetais formadoras destas comunidades apresentam características que as
habilitam a colonizar solos pobres, arenosos, encharcados ou com certa salinidade, em
ambientes com ventos constantes (Porto & Dillenburg, 1986). O solo contém quantidades
de sal prejudicial à maior parte dos vegetais, portanto desenvolvem-se nele somente
espécies capazes de suportar essa adversidade (Rambo, 1954). Na zona das dunas móveis
prevalecem as gramíneas, nos intervalos mais calmos e úmidos surgem espécies rasteiras
de verbenáceas, leguminosas e compostas. Os arbustos por sua vez, aparecem na zona
das dunas fixas (Rambo, 1954).
Hasenack & Ferraro (1989) definiram o clima da região como sendo do tipo
subtropical úmido, sem estação seca e com verão quente. Segundo os mesmos autores, a
temperatura média anual é em torno de 2C, com amplitude térmica anual de ± 9,4° C; a
umidade relativa do ar varia de 80 a 86%, sendo mais elevada no inverno; a taxa de
precipitação pluviométrica é elevada e com grande regularidade ao longo do ano,
excedendo a taxa anual de evaporação, não caracterizando período de seca.
26
A paisagem da Planície Costeira tem sofrido modificações constantes devido à
urbanização, criação de gado, plantio e procedimentos da drenagem associados ao cultivo
de arroz (Freitas, 1995). O aumento progressivo da utilização da terra para atividades
agrárias afeta drasticamente o ambiente e coloca em risco diversas espécies animais e
vegetais como é o caso do roedor Ctenomys minutus, cuja distribuição está sendo
fragmentada e restringida a áreas cada vez menores (Marinho & Freitas, 2006). A maior
parte da urbanização nas praias do RS está localizada no Litoral Norte. Como existe uma
tendência de que essa urbanização aumente ainda mais, migrando no futuro próximo para
áreas pouco desenvolvidas, é importante caracterizar zonas prioritárias para preservação
nessa região.
Dentre as áreas de preservação criadas ou implantadas sobre a Planície
Costeira destacam-se: o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, que possui uma área de 344
km
2
, abrangendo porções litorâneas dos municípios de Mostardas e Tavares (RS)
(Dorneles & Waechter, 2004); a Estação Ecológica do Taim, administrada pelo IBAMA,
possui uma área de 1.113,17 km
2
, situa-se na estreita faixa de terra entre o oceano
Atlântico e a Lagoa Mirim (IBAMA, 2004); o Parque Estadual de Itapeva, localizado em
Torres (RS), possui 10 km
2
; e o Parque Estadual de Itapuã com área de 55,66 km
2
,
localizado em Viamão (RS) (SEMA, 2002).
1.6. Especiação e fluxo gênico
A definição de um conceito de espécie para plantas tem sido um grande desafio
para os botânicos. Essa dificuldade se deve a características como a hibridação
interespecífica e o fato da variação fenotípica que, em alguns grupos, não varia
prontamente em categorias discretas (Rieseberg & Willis, 2007).
27
As barreiras reprodutivas que isolam as espécies de plantas podem ser: (1) pré-
polinização, que limita a transferência de pólen de uma espécie para estigmas de outras
espécies através de isolamento ecogeográfico, mecânico ou temporal; (2) pós-polinização e
pré-zigóticas, onde ocorre a vantagem no desenvolvimento do pólen específico ou falha na
germinação do pólen o específico; (3) pós-zigóticas, através da inviabilidade,
esterilidade ou redução do sucesso reprodutivo do híbrido nas gerações subseqüentes
(Rieseberg & Willis, 2007). Na maioria dos casos, essas barreiras atuam juntas gerando
efeito acumulativo que aumenta o isolamento das espécies. O isolamento ecogeográfico é
tido como a mais importante barreira reprodutiva entre espécies vegetais. Esta hipótese tem
sido confirmada por estudos que mostram que espécies próximas ou subespécies possuem
diferentes preferências de habitat (Rieseberg & Willis, 2007). Quando contato
secundário entre espécies isoladas somente por barreiras ecogeográficas, a formação do
híbrido é provável e, como conseqüência disso, a utilização do conceito biológico de
espécie torna-se inadequada. No conceito filogenético, quando comparados com outros
grupos, os indivíduos de uma mesma espécie são mais relacionados entre si e suas
moléculas de DNA mostram um ancestral comum mais recente (Avise, 2000). Filogenias
construídas com a utilização de seqüências de DNA podem melhor esclarecer os processos
envolvidos na evolução e a utilização de várias seqüências do genoma descreve de forma
mais adequada estes processos (Templeton et al., 2000).
A especiação pode acontecer por alopatria, quando uma barreira física ou a própria
distância reduzem o fluxo gênico entre as populações. Esta barreira pode aparecer por
mudanças geológicas e geomorfológicas (rios, cadeias de montanhas, deriva continental,
formação de desertos, etc.) ou por eventos de dispersão (deslocamento de populações para
locais distantes, dispersão provocada pelo vento, correntes marinhas, etc.) As populações
28
isoladas se diferenciam através de mutações e alteram suas freqüências alélicas por deriva
ou seleção natural, até que ocorra isolamento reprodutivo. Se os alelos favorecidos pela
seleção são diferentes em duas populações adjacentes, estabelece-se uma clina de
freqüências alélicas. Se existe uma seleção suficientemente forte sobre loci relacionados ao
isolamento reprodutivo, as populações podem se diferenciar em espécies isoladas
reprodutivamente.
Especiação por vicariância ocorre quando duas populações são separadas pelo
surgimento de uma barreira extrínseca, enquanto a especiação peripátrica ocorre quando
formação de uma subpopulação periférica por dispersão a partir da população original e,
após várias gerações, ocorre o isolamento reprodutivo. Essa segunda possibilidade é
comum em eventos de colonização de ilhas a partir do continente. Em locais onde
populações distintas geneticamente se intercruzam são formadas zonas híbridas. Estudos
com marcadores genéticos podem esclarecer estes processos: (1) zonas híbridas compostas
por indivíduos geneticamente divergentes (similares aos parentais) são interpretadas como
locais de contato secundário entre as populações que se diferenciaram em alopatria; (2)
zonas híbridas formadas por indivíduos geneticamente intermediários entre os parentais
(variação clinal) são consideradas áreas de diferenciação in situ, ou seja, originadas pela
divergência primária de populações parapátricas (Avise, 2000).
Na especiação simpátrica, uma barreira biológica que impede o cruzamento se
origina dentro dos limites de uma população, sem o isolamento espacial das espécies
incipientes (Futuyma, 2002). Para isso, o propostos os modelos graduais e instantâneos,
sendo os modelos instantâneos mais aceitos: hibridação seguida de poliploidia
(alopoliploidia); modificação do sistema reprodutivo de auto-incompatível para
autocompatível; modificações cromossômicas estruturais, que levam à interesterilidade; e
29
mutações em genes de grande efeito nas estruturas reprodutivas (Judd et al., 1999).
Eventos de especiação simpátrica são comumente vistos em plantas, especialmente devido
a eventos de poliploidização, amplamente tolerados neste grupo.
O padrão da variação genética pode refletir o modo de especiação e o tempo de
divergência de prováveis espécies irmãs. Estes dados devem ser correlacionados com
fatores históricos e contemporâneos, como a distribuição geográfica, ecologia reprodutiva
e o modo de dispersão. O modo de dispersão tem influência direta na diversificação de
uma espécie, pois é o principal mecanismo responsável pelo fluxo gênico dentro e entre as
populações, além de determinar a sua distribuição. Quanto maior a área de distribuição de
uma espécie, mais elevada tende a ser a heterogeneidade genética entre suas populações,
isso por causa das diferentes pressões seletivas que essas populações sofrem ou por causa
dos níveis limitados de fluxo gênico entre elas (Takayama et al., 2006). Se a
heterogeneidade genética entre populações se torna grande o bastante, estas populações
podem eventualmente especiar. Por outro lado, o fluxo gênico é um dos processos mais
importantes na manutenção da unidade de uma espécie (Barton & Hewitt, 1989).
Geralmente, os efeitos do fluxo nico são tão grandes que um imigrante por geração é
suficiente para impedir uma forte diferenciação entre populações (Ellstrand & Elam 1993).
1.7. Filogeografia e conservação
A filogeografia é o campo de estudo relativo aos princípios e processos que
governam a distribuição geográfica das linhagens genealógicas, especialmente aquelas
dentro e entre espécies fortemente relacionadas. O tempo e o espaço estão ligados e são
considerados os eixos da filogeografia (Avise, 2000).
A disponibilidade de utilização e
avanço das técnicas moleculares, além do enriquecimento das análises filogenéticas intra-
30
específicas, tem possibilitado de maneira eficaz a interpretação de possíveis cenários
evolutivos, como o tempo e o padrão de divergência entre as populações de uma mesma
espécie ou de espécies relacionadas. Espécies de origem muito recente ou que apresentam
dispersão e fluxo gênico a longas distâncias podem o apresentar diferenciação
geográfica, não havendo coerência entre o relacionamento genético e a distribuição das
populações analisadas. espécies que apresentam linhagens genéticas distintas e formam
grupos monofiléticos, na maioria das vezes, estiveram isoladas geograficamente e
consequentemente tiveram seu fluxo gênico interrompido por certo período (Avise, 2000).
Dependendo da capacidade de dispersão do grupo que está sendo estudado, essas barreiras
podem ser rios, desertos, montanhas, entre outras.
A perda e a fragmentação do habitat favorecem o isolamento e a redução das
populações a níveis que favorecem o endocruzamento, à perda de variabilidade genética e
do potencial evolutivo (Frankham et al. 1999). Em casos extremos, o aumento de
homozigotos na população pode levar à expressão de alelos deletérios e, o efeito dessas
mudanças, pode resultar na extinção local da espécie (Leijs et al. 1999).
Diversos todos de estimativa da biodiversidade m sido propostos para a
identificação de áreas prioritárias para a conservação. Recentemente, o conhecimento da
biologia evolutiva dos organismos passou a ser valorizado neste contexto. Dessa forma,
muitos planos de conservação têm como objetivo a manutenção da variabilidade genética,
tendo em vista os processos evolutivos (Mace & Purvis, 2008). A filogeografia é uma das
ferramentas que pode ser utilizada com muito sucesso neste tipo de avaliação. Os dados
filogeográficos permitem estabelecer uma estratégia que prioriza a conservação de grupos,
que incluam representantes da maior parte da história evolutiva das espécies, identificando
populações com maior variabilidade genética (Vázquez & Gittleman, 1998). Regiões ricas
31
em endemismos devem ser bastante valorizadas devido à grande vulnerabilidade destas
espécies que, além de apresentarem uma distribuição geográfica restrita, muitas vezes
necessitam nichos ecológicos específicos (Primack & Rodrigues, 2001).
A maioria dos organismos possui uma distribuição disjunta, característica da
espécie ou determinada pela descontinuidade do habitat. A freqüência de alelos pode
apresentar uma estrutura espacial diferente, em função dos efeitos do fluxo gênico, das
diferentes pressões seletivas entre populações isoladas, da deriva genética e do sistema de
cruzamento (Wright, 1943). Em espécies com distribuição espacial contínua, o
endocruzamento é restrito a pequenas distâncias, limitado pelo alcance da dispersão. Isto é
especialmente relevante em plantas, onde as sementes representam a principal forma de
dispersão, a qual, na maioria dos casos, é limitada a distâncias curtas (Cain et al., 2000). A
ausência de fluxo gênico permite que essas populações possam se diferenciar com o passar
do tempo (Wright, 1943).
Hoje em dia, grande parte das paisagens originais foi reduzida a fragmentos de
habitats remanescentes, cercados por áreas desfavoráveis. Neste processo, grandes
populações foram reduzidas ou subdivididas, possivelmente levando ao isolamento. A
fragmentação do habitat pode levar à redução da variabilidade genética. Na Planície
Costeira do RS, áreas que conservam a fisionomia natural estão cada vez mais raras e
fragmentadas, devido à urbanização e atividades agronômicas, fazendo com que muitas
espécies vegetais e animais estejam cada vez mais ameaçadas.
Cientistas reconhecem que estudos evolutivos são componentes chave para o
manejo e conservação ambiental, entretanto, esse pensamento raramente tem sido colocado
em prática. Muitos planos de manejo e conservação do meio ambiente têm sido feitos sem
informações imprescindíveis devido à falta de comunicação entre evolucionistas e os
32
responsáveis pela determinação das áreas que serão preservadas, ou ainda pela urgência
com que essas decisões têm que ser tomadas. Para reduzir os obstáculos e integrar os
conhecimentos dos processos evolutivos nos planos de conservação e manejo, é preciso
estabelecer um vínculo direto entre cientistas e formadores de opinião, além disso, os
responsáveis pelas decisões devem atuar junto com esses cientistas do início ao fim do
trabalho (Mace & Purvis, 2008).
1.8. Marcadores moleculares
A utilização de marcadores moleculares tem demonstrado ser grande aliada nos
estudos que envolvem questões taxonômicas e evolutivas. Os todos de análise
taxonômica mais utilizados atualmente o os morfológicos e moleculares, ambos
apresentando vantagens e desvantagens próprias. Os dados moleculares o criticados,
porque é possível que representem somente a evolução do marcador e, não
necessariamente, das espécies (Pedersen & Seberg, 1998). Entretanto uma grande
vantagem dos marcadores moleculares é que a análise do DNA pode acessar indiretamente
informações sobre a morfologia, além de que, em alguns casos, pode apresentar muito mais
caracteres informativos que a análise da morfologia. Abordagens genéticas e morfológicas
se complementam e reforçam a avaliação taxonômica, pois, dessa forma, geram-se mais
caracteres para a análise, além destes não estarem diretamente relacionados.
O seqüenciamento de DNA tem sido uma das técnicas mais utilizadas em estudos
filogeográficos, pois permite a avaliação de diversos níveis taxonômicos em muitas escalas
geográficas (Avise, 2000).
A amplificação de seqüências do DNA mitocondrial (mtDNA) pode ser muito útil
para elucidar questões filogeográficas entre espécies animais (Zink et al., 2006), entretanto
33
essas seqüências são muito pouco informativas quando o grupo de estudo em questão é
uma espécie vegetal (Duminil & Petit, 2002; Dombrovska & Qiu, 2004). Outro marcador
molecular bastante utilizado em estudos populacionais, inclusive de plantas, são os
espaçadores internos transcritos (ITS1 e ITS2) do DNA ribossomal nuclear (nrDNA), mas
que no gênero Calibrachoa não possui variabilidade intra-específica suficientemente
informativa (J.N. Fregonezi, comunicação pessoal).
Seqüências do DNA plastidial (cpDNA) são atualmente as mais utilizadas em
trabalhos que inferem padrões evolutivos de plantas, podendo ser comparadas apenas ao
seqüenciamento da região ITS (Shaw et al., 2005). Enquanto genes do cpDNA como rbcL,
ndhF, atpB e matK passaram a ser cada vez mais utilizados na filogenia de plantas,
paralelamente, regiões não-codificadoras começaram a ser muito utilizadas em estudos de
níveis taxonômicos mais baixos como infra-genéricos e intra-específicos (Hwang et al.,
2003; Shaw et al., 2005). O seqüenciamento de regiões do cpDNA
é muito eficiente para
interpretar a dinâmica espaço/tempo dos organismos estudados, devido à taxa de evolução
apropriada das seqüências (Palmer et al., 1988). Entre as regiões do cpDNA que estão
sendo utilizadas em estudos filogeográficos de plantas, podem-se destacar os espaçadores
intergênicos plastidiais psbB-psbH, trnH-psbA e trnS-trnG. Essas regiões apresentam um
grande potencial de variação para estudos populacionais e evolutivos (Okaura & Harada,
2002; Pelser et al., 2003; Dobes et al., 2004), para investigações sobre a origem de
espécies híbridas (Iwata et al., 2000) e para identificar eventos de hibridação recente
(Olsen, 2002; Olsen & Schaal, 1999; Bleeker, 2003).
Um dos primeiros estudos com o espaçador intergênico trnH-psbA foi realizado por
Aldrich et al. (1988) que mostrou que essa região é rica em eventos de inserção/deleção
(indels) e que sua variabilidade está intimamente relacionada com a classificação
34
taxonômica das espécies. Sang et al. (1997) mostraram que essa região é altamente
eficiente para inferir a taxonomia de espécies, possuindo maior variabilidade genética
quando comparada com o gene matK e o espaçador trnL-trnF, dois dos marcadores
plastidiais mais utilizados a então. A utilidade do trnH-psbA foi também demonstrada
por Hamilton (1999) que utilizou essas seqüências para um estudo intra-específico com
espécies do gênero Corythophora (Lecythidaceae). Mais recentemente, estudos têm
mostrado que apesar do espaçador trnH-psbA possuir um grande percentual de sítios
variáveis (Azuma et al., 2001; Hamilton et al., 2003), ele é usualmente analisado junto
com outras regiões por ser comparativamente mais curto, podendo não gerar caracteres
informativos em número suficiente para a construção de filogenias bem resolvidas.
Hamilton (1999) desenvolveu primers para a amplificação do espaçador entre os
genes trnS e trnG (trnS-trnG) com a finalidade de estudar a dinâmica populacional entre
três espécies tropicais do gênero Corythophora (Lecythidaceae). Estudos subseqüentes têm
demonstrado que essa região também é altamente variável em outras famílias. Olson
(2002) publicou que as seqüências do espaçador trnS-trnG são tão polimórficas que tornam
o alinhamento bastante difícil na comparação de gêneros das famílias Caricaceae e
Moringaceae. Xu et al. (2000) mostraram que esse espaçador é o mais informativo de nove
regiões não-codificadoras do cpDNA na análise de dois subgêneros de Glycine altamente
relacionados. Trabalhos realizados recentemente demonstraram que o espaçador trnS-trnG
possui mais sítios informativos que as seqüências dos marcadores rpL16, íntron do trnL,
trnL-trnF, trnT-trnL e atpB-rbcL na tribo Sinningieae (Gesneriaceae) (Perret et al., 2003);
psbB-psbH, atpB-rbcL, trnL-trnF, e rpS12-rpL20 em Corythophora (Lecythidaceae)
(Hamilton et al., 2003); trnH-psbA, atpB-rbcL e matK em famílias de Myrtales
(Schönenberger & Conti, 2003)
35
O espaçador intergênico psbB-psbH, cujos primers para amplificação e
seqüenciamento foram desenvolvidos por Hamilton (1999), possui em média 527 pares de
bases (pb), variando entre 250 e 604 pb, e contém aproximadamente 230 pb na porção
codificadora, região relativamente invariável entre diferentes linhagens. Xu et al. (2000)
afirmaram que esse marcador, quando comparado com os espaçadores trnH-psbA e trnS-
trnG, é menos informativo.
36
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Caracterizar, através de marcadores moleculares, a variabilidade genética da
espécie Calibrachoa heterophylla ao longo de toda sua distribuição, fornecendo dados
sobre sua evolução, taxonomia e filogeografia.
2.2. Objetivos específicos:
a) Avaliar a variabilidade de seqüências espaçadoras plastidiais intergênicas trnH-
psbA, trnS-trnG e psbB-psbH de C. heterophylla.
b) Analisar a dinâmica populacional ao longo de toda a distribuição da espécie.
c) Correlacionar padrões de estruturação genética das espécies com a geografia da
área de estudo;
d) Demonstrar através de dados genéticos a importância da conservação de
ambientes naturais na Planície Costeira.
37
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Coletas
O material analisado foi obtido através de coletas em campo. Foram analisados
indivíduos de C. heterophylla coletados em diferentes populações ao longo de toda a
Planície Costeira do RS (Tabela 2). Excetuando-se o litoral catarinense e uruguaio, toda a
distribuição conhecida de C. heterophylla foi percorrida. Nessa região, 12 populações
foram encontradas, sendo que três delas não possuíam nem ao menos cinco indivíduos.
Curiosamente, foi encontrada uma pequena população no município de São Francisco de
Assis, à margem de um arroio no interior do Estado (Pop3). Com isso, pela primeira vez,
C. heterophylla foi comprovadamente relatada fora da Planície Costeira. É importante
destacar que os rios dessa região possuem margens bastante arenosas, ambiente muito
semelhante aos terrenos arenosos da Planície Costeira.
As coordenadas geográficas dos locais de coleta foram obtidas através do sistema
de posicionamento global (GPS). Para as análises genéticas foram coletadas folhas jovens
de forma a não danificar os indivíduos amostrados. Estas folhas foram acondicionadas em
sílica gel para secagem e posterior extração de DNA. As exsicatas confeccionadas foram
depositadas no Herbário BHCB, do Departamento de Botânica, Instituto de Ciências
Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, e determinadas pelo taxonomista Dr.
João Renato Stehmann, especialista no grupo.
38
Tabela 2 - Informações de coleta.
População
Nº de
Indivíduos
Origem Latitude Longitude
Pop1 01 Arambaré/RS 30° 55' 09''S 51° 29' 46''W
Pop2 23 Estrada Interpraias,Torres/RS 29° 25' 56''S 49° 47' 53''W
Pop3 04 São Francisco de Assis/RS 29° 34' 59''S 55° 06' 03''W
Pop4 03
Entre Bacopari e Solidão,
Mostardas/RS
30° 56' 15''S 50° 44' 21''W
Pop5 13
Balneário Mostardense,
Mostardas/RS
31° 06' 33''S 50° 54' 04''W
Pop6 26
Proximidades da Lagoa das Flores,
Rio Grande/RS
32° 31' 26''S 52° 32' 48''W
Pop7 24
Margem da Lagoa dos Barros,
Santo Antônio da Patrulha/RS
29° 53' 34''S 50° 25' 46''W
Pop8 33
Próximo a Bojuru, São José do
Norte/RS
31° 40' 00''S 51° 25' 33''W
Pop9 16
Próximo a Bojuru, São José do
Norte/RS
31° 40' 04''S 51° 25' 27''W
Pop10 02
Entre Praia do Mar Grosso e a sede
de São José do Norte/RS
32° 02' 47''S 52° 00' 36''W
Pop11 19
Beira da Lagoa Mangueira,
próximo a Curral Alto, Santa
Vitória do Palmar/RS
32° 59' 15''S 52° 43' 56''W
Pop12 26
Ilha do Barba Negra, Barra do
Ribeiro/RS
30° 28' 31''S 51° 08' 46''W
Pop13 30
Horto Florestal da Aracruz, Barra
do Ribeiro/RS
30° 25' 13''S 51° 13' 30''W
Total: 13 Populações
220 Indivíduos analisados
39
3.2. Extração do DNA
As folhas do material coletado, após secas em sílica gel, foram pulverizadas com
nitrogênio líquido em gral e o DNA extraído pela técnica de Roy et al. (1992) modificada,
como será descrito a seguir:
20 mg de material pulverizado;
Adição de 600 µl de tampão de extração (100 mM TRIS-HCl; 1,4 M NaCl; 20 mM
EDTA; 2% CTAB; 0,2% β-mercaptoetanol; 2% PVP 40), 60 µl de β-mercaptoetanol e 6 µl
de Proteinase K (10mg/ml);
Incubação a 65°C por 30 minutos;
Emulsão com 600 µl de fenol-clorofórmio (1:1);
Centrifugação por 15 minutos a 14000 rpm;
Recolhimento da fase aquosa e estimativa do seu volume;
Precipitação do DNA com um volume de isopropanol e 1/10 do volume de acetato de
sódio;
Armazenamento por 24 horas em freezer-18°C;
Centrifugação por 20 minutos e descarte do sobrenadante;
Lavagem do “pellet” com 200 µl de etanol 70% e secagem a temperatura ambiente por
20 minutos;
Eluição do “pellet” em 200 µl de água ultra-pura, estéril, e 2 µl de RNAse (10 mg/ml).
Os produtos de extração foram testados através de eletroforese horizontal em gel de
agarose 1%, corado GelRed
TM
e visualizado em transiluminador de luz ultravioleta. Para a
quantificação, os produtos foram comparados com um DNA padrão (λ DNA, Invitrogen).
40
3.3. Amplificação e seqüenciamento
Os marcadores moleculares utilizados foram os espaçadores intergênicos trnH-psbA
e trnS-trnG. As condições de amplificação, bem como as seqüências dos primers e a
literatura consultada estão nas Tabelas 3 e 4. As seqüências do espaçador plastidial psbB-
psbH também foram obtidas, porém a análise desse marcador foi descontinuada logo após
os primeiros seqüenciamentos (representando 11 das 13 populações estudadas), quando foi
possível perceber que ele não apresenta nenhum sítio variável entre as amostras das
diferentes populações. Após a amplificação, os produtos de PCR foram purificados com
polietilenoglicol (PEG) segundo o protocolo de Dunn & Blattner (1986).
41
Tabela3 - Protocolo para amplificação e seqüências dos primers do espaçador trnH-psbA.
Reação
Tampão 1X
dNTP 0,2 mM
MgCl
2
2 mM
Primer psbA F 0,2 µM
Primer trnH R 0,2 µM
Taq polimerase 1 U
DNA 50 ng
Condições de amplificação
94°C por 5 min
94°C por 45 s
30 ciclos
58°C por 1 min
72°C por 45 s
72°C por 5 min
Seqüências dos primers (Sang et al. ,1997)
Primer psbA F
5’
GTT ATG CAT GAA CGT AAT GCT C
3’
Primer trnH R
5’
CGC GCA TGG TGG ATT CAC AAA TC
3’
42
Tabela 4 - Protocolo para amplificação e seqüências dos primers do espaçador trnS-trnG.
Reação
Tampão 1X
dNTP 0,2 mM
MgCl
2
2 mM
Primer trnS 0,2 µM
Primer trnG 0,2 µM
Taq polimerase 1 U
DNA 50 ng
Condições de amplificação
94°C por 5 min
94°C por 1 min
25 ciclos
54°C por 1 min
72°C por 45 seg
72°C por 5 min
Seqüências dos primers (Hamilton, 1999)
Primer trnS (GCU)
5’
GCC GCT TTA GTC CAC TCA GC
3’
Primer trnG (UCC)
5’
GAA CGA ATC ACA CTT TTA CCA C
3’
43
O seqüenciamento do DNA foi realizado em seqüenciador automático MegaBACE
1000 (Amersham Biosciences GE Health Care), seguindo os protocolos que
acompanham o aparelho e o DYEnamic
TM
ET terminator sequencing premix kit, com
marcação terminal fluorescente. As condições da reação de seqüenciamento estão descritas
na Tabela 5. Antes do seqüenciamento, cada amostra foi purificada diretamente nas placas
do seqüenciador, como segue:
Adição de 1 µl de acetato de amônia 7,5 M pH e 30 µl de etanol absoluto (temperatura
ambiente);
Mistura por 30 inversões;
Centrifugação da placa por 45 min, a 1780 RCF a 20 °C;
Descarte do sobrenadante por inversão;
Spin a 500 RCF com a placa invertida e apoiada em papel toalha;
Adição de 100 µl de etanol 70% (temperatura ambiente);
Spin a 1780 RCF;
Descarte do sobrenadante;
Spin a 750 RCF com a placa invertida;
Adição de 10 µl de Loading Solution e fechamento da placa com adesivo;
Ressuspensão em vórtex por 5 min;
Spin a 1780 RFC;
Encaminhamento ao seqüenciador.
44
Tabela 5 - Condições das reações de PCR para seqüenciamento.
Componentes da reação Volume Condições de amplificação
DYEnamic
TM
ET terminator sequencing premix 4 µl
Produto de PCR purificado 40 ng
Primer
5 µM
Água estéril Completar 10 µl
35 ciclos:
95
o
C por 20 s
50
o
C por 15 s
60
o
C por 1 min
3.4. Análise das seqüências
As seqüências obtidas foram alinhadas no programa GeneDoc (Nicholas &
Nicholas, 1997) e, quando necessário, corrigidas manualmente após verificação dos
cromatogramas, como o auxílio do programa Chromas 2.33 (www.technelysium.com.au).
Estatísticas sicas como diversidade nucleotídica (π) e haplotípica (Hd) foram
calculadas no programa Arlequin 3.11 (Excoffier et al., 2005).
Os índices de neutralidade D de Tajima (Tajima, 1989) e Fs de Fu (Fu, 1996),
foram calculados pelo programa Arlequin 3.11 (Excoffier et al., 2005) com a finalidade de
avaliar a dinâmica das populações. Para verificar a existência de uma possível expansão
populacional recente, foi realizada a análise da pairwise mismatch distribution (Rogers &
Harpending, 1992) com intervalo de confiança de 95% e 1000 replicações de bootstrap
(programa Arlequin 3.11).
Os haplótipos foram gerados através do programa DnaSP 4.10.9 (Rozas et al.,
2003). As relações evolutivas entre as seqüências foram inferidas pelo todo de median-
joining network (ε=0; Bandelt et al., 1999) realizadas pelo programa Network 4.5
(www.fluxus-engineering.com). Ainda no programa Arlequin 3.11, foi estimada a
diferenciação genética entre as populações através da análise de variância molecular
45
(AMOVA; Excoffier et al., 1992) no intervalo de confiança de 95 % após 1000
permutações, onde foi calculado o índice Φ
ST
.
Para identificar a ocorrência de possíveis barreiras ao fluxo gênico entre as
populações estudadas foi utilizado o programa SAMOVA 1.0 (Dupanloup et al., 2002)
onde também foram calculados os índices de fixação correspondentes.
A correlação entre as distâncias genéticas e geográficas, para testar a hipótese de
isolamento por distância, foi realizada no programa Alleles In Space (AIS) 1.0 (Miller,
2005) através da realização do Teste de Mantel (Mantel, 1967) e do teste de
Autocorrelação Espacial.
46
4. RESULTADOS
4.1. Caracterização das seqüências obtidas
O seqüenciamento dos marcadores plastidiais gerou um alinhamento com 1280
pares de bases (pb) para os 220 indivíduos analisados. Destes, 487 pb corresponderam à
amplificação do espaçador intergênico trnH-psbA (de 1 a 487) e 793 pb (de 488 a 1280) do
espaçador trnS-trnG.
As análises foram conduzidas com as seqüências dos dois espaçadores combinadas
e o conteúdo de GC (guaninas e citosinas) apresentado foi de 30,7 %. Foram identificados
26 polimorfismos no alinhamento concatenado (12 na porção correspondente ao trnH-psbA
e 14 no trnS-trnG), sendo uma duplicação e 25 substituições, das quais oito foram
transições e 17 transversões. A diversidade nucleotídica (π) verificada foi de 0,003724 ±
0,002022, enquanto a diversidade haplotípica (Hd) de 0,822 ± 0,00024 entre os 22
haplótipos identificados pelo programa DnaSP. Quando os marcadores foram analisados
separadamente, os valores de π e Hd foram, respectivamente, 0,00376 ± 0,00413 e 0,770 ±
0,017 para trnH-psbA e 0,00334 ± 0,00275 e 0,718 ± 0,019 para trnS-trnG.
As principais características das seqüências analisadas, incluindo os valores
calculados para cada população, estão expostas na Tabela 6. Os haplótipos, suas
respectivas freqüências e as populações nas quais foram encontrados são apresentados na
Tabela 7.
47
Tabela 6 - Principais características das seqüências analisadas.
População
Nº de
indivíduos
Nº de sítios
polimórficos
Nº de
haplótipos
Diversidade
nucleotídica
Diversidade
haplotípica
Pop1
01
- 1 - -
Pop2
23
1 2
0,00007
(± 0,00007)
0,08696
(± 0,00606)
Pop3
04
0 1 0 0
Pop4
03
0 1 0 0
Pop5
13
1 2
0,00012
(± 0,00011)
0,15385
(± 0,01590)
Pop6
26
2 3
0,00050
(± 0,00040)
0,57846
(± 0,00320)
Pop7
24
2 3
0,00029
(± 0,00023)
0,30072
(± 0,01255)
Pop8
33
4 4
0,00031
(± 0,00019)
0,32386
(± 0,00969)
Pop9
16
0 1 0 0
Pop10
02
0 1 0 0
Pop11
19
7 4
0,00071
(± 0,00030)
0,45029
(± 0,01644)
Pop12
26
7 2
0,00239
(± 0,00099)
0,50769
(± 0,00162)
Pop13
30
7 3
0,00078
(± 0,00031)
0,24598
(± 0,00956)
Total
220
26 22
0,00372
(± 0,00202)
0,82200
(± 0,01600)
Valores entre parênteses: desvio padrão
Tabela 7 - Haplótipos amostrados nas populações analisadas.
Posição Nucleotídica
trnH-psbA trnS-trnG
Haplótipos
2
7
1
1
7
1
5
6
1
9
0
1
9
5
2
6
5
2
7
3
3
4
1
3
4
2
4
2
4
4
4
3
4
4
4
7
5
0
7
6
2
7
6
8
7
9
3
8
2
5
8
3
2
8
5
5
8
9
1
9
0
8
9
4
4
9
4
8
1
0
2
3
1
0
6
8
1
2
6
4
N° observado
Populações
amostradas
H1 T
G
C
A
C
A
G
T
C
T
T
A
T
G
G
A
G
C
T
A
A
G
A
G
C
C
01 Pop1
H2 . . . C
. . . . . . . . .
.
A
C
. . . . . . . T
. . 42 Pop2; 7
H3 . . . C
. . . . . . . . .
.
A
C
. . G
. . . . T
. . 01 Pop2
H4 . . . . G
. . . . . . . .
.
. . . . . . . . . T
. . 04 Pop3
H5 . . . . . . T
. . . . . .
.
. . . . . . . . . T
. . 03 Pop4
H6 . . . . . . T
. . . . . C
.
. . . T
. . . . - T
. . 71 Pop5; 6; 8; 9; 10
H7 . . . . . . T
. . . . . C
A
. . . T
. . . . - T
. . 01 Pop5
H8 . . . . . . C
. . . . . C
.
. . . T
. . . . - T
. G
02 Pop6
H9 . . T
. . . C
. . . . . C
.
. . . T
. . . . - T
. . 10 Pop6
H10 . . . C
. . . . . . . . .
.
A
C
. . . . . T
. T
. . 03 Pop7
H11 . . . C
. . . . . . A
. .
.
A
C
. . . . . T
. T
. . 01 Pop7
H12 . . . . . . T
. . . A
. C
.
. . . T
. . . . - T
. . 01 Pop8
H13 . . . . . . T
. . . . . C
.
. . A
T
. . . . - T
. . 04 Pop8
H14 . . . . . . T
. . . . . .
.
. . . . . . . . - T
. . 01 Pop8
H15 . A
. . . . . G
A
. . G
.
.
. . . . . . T
. . T
. . 14 Pop11
H16 A
A
. . . . . G
A
. . G
.
.
. . . . . . T
. . T
. . 03 Pop11
H17 . A
. . . . . G
A
. . G
.
A
. . . . . . T
. . T
. . 01 Pop11
H18 . . . . . . . . . . A
. .
.
. . . . . . T
. . T
. . 01 Pop11
H19 . . . . . . T
. . A
. . .
.
. . . . . T
. . - T
G
. 15 Pop12
H20 . . . . . . . . . . . . .
.
A
C
. . . . . . . T
. . 37 Pop12; 13
H21 . . . . . C
. . . . . . .
.
A
C
. . . . . . . T
. . 01 Pop13
H22 . . . . . . T
. . A
. . .
.
. . . . . . . . - T
G
. 03 Pop13
49
4.2. Estrutura populacional
O relacionamento entre as seqüências foi inferido pelo método de median-joining
(ε=0, Bandelt et al., 1999) no programa Network 4.5. Para facilitar a compreensão, os
códigos H1, H2,... Hn, representados na network (rede de haplótipos) (Figura 6), são
correspondentes aos códigos da Tabela 6.
Através da confecção da network foi possível verificar uma tendência de
estruturação geográfica, separando geneticamente os indivíduos das diferentes populações.
Dentre as características da rede de haplótipos que mais chamaram a atenção, pode-se
destacar o relacionamento entre as populações localizadas entre Mostardas e São José do
Norte (Pop5; 6; 8; 9 e 10). Nessas populações foi encontrado um haplótipo central bastante
freqüente fortemente relacionado a outros menos freqüentes encontrados em algumas das
mesmas populações (H6, n=71, presente em 78,89% das amostras destas populações e, em
32,27% da amostragem total).
A população localizada no extremo sul da amostragem (Santa Vitória do Palmar,
Pop11), foi a que se mostrou mais distante geneticamente das demais. Seus quatro
haplótipos ficaram agrupados e a menor distância evolutiva entre eles e um haplótipo de
outra população é de três sítios polimórficos. Além disso, a Pop11 está separada por no
mínimo seis sítios polimórficos da população mais próxima geograficamente (Pop6,
aproximadamente 54 km) indicando uma possível barreira ao fluxo gênico entre elas.
As populações Pop12 e Pop13, de Barra do Ribeiro (Ilha do Barba Negra e Horto
Florestal da Aracruz, respectivamente) foram as únicas que apresentaram haplótipos não
relacionados diretamente no mesmo ramo da network, ou seja, ocorrência de haplótipos
intermediários amostrados em outras populações. Essa característica influenciou
diretamente a elevação dos índices de diversidade nucleotídica e haplotípica nessas
50
populações (Tabela 5). Um dos haplótipos da Pop12 (Ilha do Barba Negra) é exclusivo
dessa população.
A população Pop3, de São Francisco de Assis, coletada em uma região nunca antes
citada como de ocorrência para a espécie, onde apenas quatro indivíduos foram
encontrados, apresentou um único e exclusivo haplótipo (H4).
Foram também verificados na rede de haplótipos dois vetores dios, indicando a
existência de haplótipos extintos ou não amostrados.
O grau de estruturação genética das populações pôde ser verificado através da
Análise da Variância Molecular (AMOVA) e do cálculo do índice de fixação Φ
ST
. Para
estes testes a população Pop1, por possuir apenas um indivíduo amostrado, não foi incluída
na análise. Observou-se que 65,24 % da variação encontrada entre as seqüências
correspondem à variação entre as populações, enquanto 34,76% da variação é relativa à
variação intrapopulacional. O valor de Φ
ST
foi de 0,65238 em um intervalo de confiança de
95 % após 1000 permutações (Tabela 8).
Quando a AMOVA é calculada sem a presença das populações Pop12 e Pop13
(únicas que apresentaram haplótipos não relacionados diretamente no mesmo ramo da
network) o percentual de variação entre as populações se eleva para 88,42 % com Φ
ST
de
0,88415.
Na Tabela 9 pode-se observar que entre boa parte das populações os índices de
fixação alélica das populações comparados par a par são significativamente diferentes.
O teste de Mantel teve como resultado a correlação moderada e significativa entre
as distâncias genéticas e geográficas para as populações de C. heterophylla [Coeficiente de
Correlação (r) = 0,4463; P<0,001] (Figura 7). Esse resultado também foi verificado através
do teste de Autocorrelação Espacial, onde é possível perceber um aumento contínuo da
51
distância genética conforme aumenta o distanciamento geográfico entre as populações.
Este padrão indica a existência de isolamento por distância (Figura 8). A distância genética
média estimada foi de 0,8289; observando-se um aumento significativo desta (P<0,05) a
partir da distância de 150 quilômetros entre as populações.
52
Figura 6 - Median-joining
network
(
ε
=0)
construído a partir das seqüências dos
espaçadores plastidiais
trnH-psbA
e
trnS-trnG
de
C. heterophylla.
O tamanho dos círculos
corresponde à freqüência dos haplótipos. Os
sítios polimórficos que separam as seqüências
estão representados pelas linhas transversais. As
cores dos haplótipos na
network
correspondem à
cor da população onde foram amostrados no
mapa acima. Vm = Vetor Médio.
53
Tabela 8 - AMOVA entre as populações amostradas de C. heterophylla.
Fonte de
variação
Graus de
liberdade
Soma dos
quadrados
Componentes
da variância
Percentual
de variação
Valor de P
Entre
populações
11 57,750 0,28754 65,24 <0,001
Dentro das
populações
207 31,716 0,15322 34,76 <0,001
Total
218 89,466 0,44076
Φ
ST
: 0,65238
Tabela 9 - Resultado do teste de Φ
ST
par a par das populações amostradas.
Pop2 Pop3 Pop4 Pop5 Pop6 Pop7 Pop8 Pop9 Pop10 Pop11 Pop12 Pop13
Pop2
Pop3
Pop4
Pop5
Pop6
Pop7
Pop8
Pop9
Pop10
Pop11
Pop12
Pop13
Sinal positivo = valor significante para P<0,05; Sinal negativo, valor não significante.
55
Figura 7 - Teste de Mantel. r = 0,4463 para P<0,001.
56
Figura 8 – Análise da Autocorrelação Espacial para C. heterophylla. Ay= média da distância
genética entre pares de indivíduos. A linha paralela ao eixo x” (azul) indica o valor dio de Ay
para o conjunto de dados (= 0,8289). Asterisco (*) = estatisticamente significativo (P<0,05).
57
4.3. Detecção de barreiras biogeográficas
A fim de detectar possíveis barreiras biogeográficas que impeçam o fluxo nico
entre as populações amostradas, foram feitas análises no programa SAMOVA 1.0. Esse
programa agrupa as populações de acordo com sua similaridade genética e localização
geográfica. As populações Pop1 e Pop3 não foram incluídas nas análises utilizando o
programa SAMOVA. A primeira por apresentar somente um indivíduo amostrado e a outra
por não estar no contexto biogeográfico da Planície Costeira e pela possível existência de
populações intermediárias, entre esta e as demais populações estudadas, que não foram
incluídas neste trabalho. Primeiramente, foi testada a hipótese da existência de uma
barreira biogeográfica, que separou a população Pop11 das demais, sugerindo uma barreira
(Barreira1) entre esses grupos (Figura 9). Como já havia sido visto anteriormente na
network, a população Pop11 está presente em um ramo separado dos demais e é
geneticamente bem distante da população mais próxima geograficamente (Pop6). A
AMOVA comparando esses dois agrupamentos resultou em F
CT
de 0,47248. Dentre a
variação observada, 47,25% correspondem à variação entre os grupos (Pop11 e demais
populações); 42,40% entre as populações dentro dos grupos e 10,35% dentro das
populações (P<0,001; Tabela 10).
A seguir, foi testada a hipótese de duas barreiras biogeográficas. Como resultado,
se obteve a formação de três agrupamentos: a população Pop11, novamente isolada
(Barreira1, Grupo1); as populações Pop5, 6, 8, 9 e 10 formando outro grupo (Grupo2); e
um terceiro agrupamento, isolado do Grupo2 pela Barreira2 e, formado pelas populações
Pop2, 4, 7, 12 e 13 (Grupo3) (Figura 10). A variação entre os grupos foi de 73,16%; entre
as populações dentro dos grupos foi de 14,32% e dentro das populações foi de 12,52%.
Nesse caso, o índice F
CT
calculado foi de 0,73158, para (P<0,001, Tabela 11). Análises que
58
consideravam a existência de três ou mais barreiras biogeográficas resultaram em valores
de F
CT
semelhantes ao observado para duas barreiras. Esta tendência é esperada devido à
relação dependente dos valores dos índices de fixação: (1 - Φ
ST
) = (1 - F
SC
) (1 - F
CT
). O
índice Φ
ST
parece insensível ao aumento do número de barreiras, entretanto a variação
entre as populações dentro dos grupos (F
SC
) diminui (já que o número de populações
presentes em cada grupo é reduzido) e conseqüentemente a diversidade entre os grupos
(F
CT
) aumenta (Dupanloup et al., 2002). Desta forma, além do alto valor de F
CT
, a
existência de duas barreiras foi considerada a mais provável por apresentar uma maior
coerência com o contexto geológico da região e com o relacionamento entre os haplótipos
pertencentes aos diferentes grupos.
Tabela 10 - AMOVA para a hipótese de uma barreira biogeográfica.
Fonte de
variação
Graus de
liberdade
Soma dos
quadrados
Componentes
da variância
Percentual de
variação
Valor de P
Entre grupos
2 105,930 2,02240 47,25% <0,001
Entre
populações
dentro dos
grupos
9 314,437 1,81463 42,40% <0,001
Dentro das
populações
207 90,396 0,44312 10,35% <0,001
Total
218 510,763 4,28014
F
CT
: 0,47248
59
Figura 9 - Localização da barreira biogeográfica inferida pelo programa SAMOVA 1.0
para a hipótese de existência de apenas dois grupos.
Barreira1
60
Tabela 11 - AMOVA para a hipótese de duas barreiras biogeográficas.
Fonte de
variação
Graus de
liberdade
Soma dos
quadrados
Componentes
da variância
Percentual de
variação
Valor de P
Entre grupos
2 342,722
2.5883
73,16 <0,001
Entre
populações
dentro dos
grupos
8 77,645
0.50668
14,32 <0,001
Dentro das
populações
204 90,396
0.44312
12,52 <0,001
Total
214 510,763
3.53810
F
CT
: 0,73158
61
Figura 10 - Localização das barreiras biogeográficas inferidas pelo programa SAMOVA
1.0 para a hipótese da existência de três grupos.
Barreira2
Barreira1
Grupo1
Grupo
2
Grup
o
3
62
4.4. Dinâmica populacional
Os testes de neutralidade utilizados para o conjunto completo de dados
apresentaram como resultados valores não significativos. Os valores obtidos para os
índices calculados são relacionados logo abaixo:
D de Tajima: 0,04962; P > 0,10
Fs de Fu: -1,450; P > 0,10
Os resultados destes testes estatísticos o apresentaram desvio significativo da
expectativa neutra das mutações indicando que essas populações se encontram em
equilíbrio quando consideradas haplótipos do cpDNA.
Esses índices de neutralidade também foram calculados para os três grupos de
populações gerados através da análise de barreiras biogeográficas inferidas pelo programa
SAMOVA, com o objetivo de verificar se o padrão observado na amostragem como um
todo se confirma nesses grupos (Tabela 11). Para o Grupo1, o teste estastico D de Tajima
apresentou resultado negativo e significativo para P < 0,05, entretanto o índice Fs de Fu
não foi significativo. A análise do Grupo2 resultou em índices Fs de Fu e D de Tajima
negativos e significativos para P < 0,05. O Grupo3 não apresentou resultados significativos
para nenhum dos índices de neutralidade calculados (Tabela 12). A significância dos testes
de neutralidade para os grupos 1 e 2, sugere que, ao contrário do que é visto na análise
geral das populações, esses agrupamentos estão em expansão demográfica, sobretudo o
Grupo2, que além de apresentar resultados significantes para os dois testes, é composto por
cinco diferentes populações tornando o resultado mais confiável.
63
Tabela 12 - Índices de neutralidade calculados para os grupos de populações estudadas.
Grupos
Nº de
Indivíduos
D de Tajima Fs de Fu
Grupo1
(Pop11)
19
-1,81758* -0,274
Grupo2
(Pop5, 6, 8, 9 e 10)
90
-1,66095* -4,669*
Grupo3
(Pop2, 4, 7,12 e 13)
106
0,37464 0,676
Total
215
0,04962
-1,450
*P < 0,05
Corroborando os resultados não significativos dos testes de neutralidade para a
amostra como um todo, a análise da mismatch distribution o apresentou sinal de
expansão demográfica recente no intervalo de confiança de 95% com 1000 replicações de
bootstrap (P< 0,05) Observando o gráfico da mismatch distribution, verificamos a
presença de duas modas quanto ao número de diferenças entre os haplótipos, uma entre
zero e um e outra em sete sítios polimórficos, e não um padrão unimodal como é esperado
quando um evento de expansão ocorreu recentemente (Figura 11).
Quando a mismatch distribution é testada para os três grupos formados através do
programa SAMOVA, é possível detectar sinal de expansão demográfica para os grupos 1 e
2 (P> 0,05; ou seja, não difere dos valores simulados para a hipótese de expansão recente),
concordando com a significância evidenciada em alguns dos índices de neutralidade
(Figuras 12, 13, e 14).
64
0
1000
2000
3000
4000
5000
0 3 6 9 12
Número de difereas
Freqüência
Observado
Esperado
Figura 11 - Mismatch distribution para o conjunto completo de dados.
0
20
40
60
80
100
0 1 2 3 4 5 6 7
Número de diferenças
Freqüência
Observado
Esperado
Figura 12 - Mismatch distribution para as amostras do Grupo1.
65
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
mero de diferenças
Freqüência
Observado
Esperado
Figura 13 - Mismatch distribution para as amostras do Grupo2.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
0 3 6 9 12
Número de diferenças
Freqüência
Observado
Esperado
Figura 14 - Mismatch distribution para as amostras do Grupo3.
66
5. DISCUSSÃO
5.1. A diversidade dos marcadores utilizados
Levando-se em consideração a recente história evolutiva de toda a subfamília
Petunioideae, os índices π e Hd obtidos para C. heterophylla podem ser considerados de
médios até altos para os marcadores utilizados. Fregonezi et al. (2007) observaram valores
de π e Hd para C. excellens e C. linoides semelhantes aos verificados neste trabalho, porém
é importante ressaltar que essas espécies possuem distribuição muito mais ampla que C.
heterophylla. Ramos et al. (2007) também observaram valores de diversidade semelhantes
para P. integrifolia subsp. depauperata ( R.E.Fr. ) L.B.Sm. & Downs, espécie com
distribuição muito semelhante a C. heterophylla. P. exserta Stehmann (Lorenz-Lemke et
al., 2006) e C. elegans (Togni et al., 2007) apresentaram índices de diversidade mais
baixos em relação aos que observamos, resultado esperado pelo fato dessas espécies
possuírem caráter micro-endêmico.
Entretanto quando os valores de diversidade desses marcadores são verificados para
espécies de outras famílias como, por exemplo: Silene vulgaris (Caryophyllaceae)
(Štorchová & Olson, 2004); Eryngium alpinum (Apiaceae) (Naciri & Gaudeul, 2007) e
Asplenium hookerianum (Aspleniaceae) (Shepherd et al., 2007), valores consideravelmente
mais altos podem ser observados, característica explicada por se tratarem de grupos com
história evolutiva mais antiga que as Petunioideae.
67
5.2. Geologia da Planície Costeira vs filogeografia de C. heterophylla
Através dos testes que comparam o relacionamento entre os haplótipos e a
distribuição geográfica das amostras foi possível detectar que as populações de C.
heterophylla analisadas estão altamente estruturadas geneticamente. Baixos níveis de fluxo
gênico foram evidenciados pela AMOVA, ao demonstrar que a maior parte da diversidade
genética observada está presente entre as populações, resultado também observado por
Fregonezi et al. (2007) para C. excellens e C. linoides e por Ramos et al. (2007) para P.
integrifolia subsp. depauperata. O padrão de isolamento pela distância foi confirmado pelo
teste de Mantel que apresentou uma correlação significativa entre distância genética e a
distância geográfica e pelo teste de Autocorrelação Espacial o qual indicou que a partir de
150 km, a distância genética entre as populações é significativamente maior que a média
(P<0,05). Essa alta estruturação não é surpreendente quando pensamos na biologia da
espécie e no tipo de marcador molecular utilizado. Como os marcadores foram seqüências
espaçadoras de genes plastidiais e os cloroplastos são predominantemente ou
exclusivamente herdados de forma uniparental (no caso de espécies de Petunia, os
cloroplastos têm herança materna, Derepas & Dulieu, 1992), a ausência de mecanismos de
dispersão das sementes nas espécies de Calibrachoa inviabiliza o fluxo gênico plastidial
entre populações relativamente distantes.
A ocorrência de vetores médios na network indica a presença de haplótipos extintos
ou o amostrados. Caso não tenham sido amostrados, esses haplótipos provavelmente
encontram-se fora da Planície Costeira do RS, visto que essa região foi amplamente
investigada, tendo sido percorrida integralmente. Com a descoberta de que essa espécie
pode ocorrer no interior do continente é possível que os haplótipos não amostrados existam
nessa região ou, ainda, na costa catarinense e uruguaia.
68
Possivelmente a Planície Costeira do RS foi colonizada a partir de distintas ondas
migratórias em diferentes períodos da história, rotas e/ou, ainda, a partir de diferentes
refúgios. Essa hipótese pode muito bem explicar o padrão estruturado de pelo menos três
grupos de populações. A alta diversidade encontrada entre alguns grupos dificilmente teria
surgido, em sua totalidade, na Planície Costeira, pois essa é uma região geologicamente
muito recente. Então, diferentes linhagens devem ter colonizado essa região através de
diferentes rotas ou em momentos diversos, e não se uniram devido às barreiras
biogeográficas que encontraram nesse ambiente.
A presença de haplótipos geneticamente distantes dentro das populações da Ilha do
Barba Negra e do Horto Florestal da Aracruz pode ser explicada por possível contato
secundário entre linhagens de diferentes origens. Um dos haplótipos encontrado Ilha do
Barba Negra apresenta polimorfismo em relação ao haplótipo mais próximo encontrado no
Horto da Aracruz. Outro haplótipo foi encontrado nessas duas populações. A partir desses
dados, é mais parcimonioso pensar que essas populações um dia estiveram em contato e
que o polimorfismo encontrado surgiu após o isolamento da ilha por deriva genética. De
acordo com a história geológica da Planície Costeira isso deve ter acontecido já no
Holoceno.
Quando se compara a localização das barreiras biogeográficas sugeridas pelo
programa SAMOVA com a geologia da Planície Costeira, percebe-se que essas barreiras
coincidem com paleocanais mapeados através de dados sísmicos por diversos autores
como Corrêa (1996) e Weschenfelder (2005) como pode ser visto na Figura 5.
A Barreira1 inferida no extremo sul do RS, entre as populações Pop6 e Pop11,
coincide com a localização sugerida para o antigo curso do Rio Jaguarão durante o
Pleistoceno (Figura 15). Após a última transgressão marinha, no Holoceno, formou-se a
69
Lagoa Mirim e, a partir de então, o Rio Jaguarão passou a desaguar nesta lagoa. Entretanto
a Lagoa Mirim continuou diretamente ligada ao oceano até mais recentemente (Corrêa,
1996). Concordando com isso, Ayup-Zouain et al. (2003) observaram na região do
banhado do Taim, através de análise digital de imagens de satélite, uma feição morfológica
que seria a ligação entre a Lagoa e o mar. O banhado do Taim ainda hoje é influenciado
pela presença constante de água ao longo da história, apresentando solo alagadiço. Solos
alagados não são adequados para o desenvolvimento de C. heterophylla que,
preferencialmente, habita campos arenosos (Stehmann, 1999). Através dessas informações,
podemos supor que a barreira ao fluxo gênico entre as populações de C. heterophylla
persista desde o Pleistoceno Médio até os dias de hoje.
A localização da Barreira2 se sobrepõe à região onde foi detectada a presença de
paleocanais correspondentes, durante o Pleistoceno, ao curso do Rio Jacuí (Corrêa, 1996;
Weschenfelder, 2005) (Figura 15). Após a formação da restinga que delimitou a Laguna
dos Patos, o Rio Jacuí passou a desaguar na região hoje chamada de Delta do Jacuí
(Corrêa, 1996). Entretanto, através de análises de sedimentos e datação por radiocarbono,
ficou provado que esses paleocanais continuaram atuantes na drenagem da laguna até o
mar até o Holoceno e, portanto, isolando os locais onde atualmente foram coletadas as
populações Pop4 e Pop5 (Weschenfelder, 2005).
Siqueira et al. (2006) confirmaram a hipótese de rios como barreiras ao fluxo
gênico para os peixes Acanthurus bahianus e A. coerulus no Rio Amazonas. No Brasil,
trabalhos confirmando essa hipótese através de dados genéticos para espécies vegetais
ainda não foram publicados (Silva, 2008).
70
Figura 15 - Rede de paleocanais detectados na Planície Costeira e seu possível papel no fluxo gênico
entre as populações de C. heterophylla. Modificado de Weschenfelder (2005).
71
5.3. Expansão ou estabilidade populacional
Através do cálculo dos índices de neutralidade e da mismatch distribution não foi
possível detectar eventos recentes de expansão demográfica quando foi considerada a
distribuição total da espécie. Esse resultado pode ter sido influenciado pelo fato de que o
conjunto geral de dados possui amostras pertencentes a diferentes linhagens. A presença
dessas diferentes linhagens pode encobrir resultados significativos. A presença de duas
modas no gráfico da mismatch distribution pode indicar dois eventos de expansão: um
deles tendo dado origem às diferentes linhagens (moda em sete diferenças) e outro bem
mais recente (moda entre zero e uma diferenças).
A existência de uma expansão populacional recente pode ser evidenciada quando a
análise é feita separando as populações em grupos demográficos de acordo com as
barreiras detectadas na Planície Costeira. Um evento de expansão recente fica claro quando
verificamos os resultados dessas análises no Grupo2: índices de neutralidade negativos e
significativos (Fs de Fu e D de Tajima para P < 0, 05,), mismatch distribution com padrão
unimodal e o padrão de relacionamento star-like entre os haplótipos destas populações
(se considerarmos somente os haplótipos H6, H7, H8, H9, H12, H13 e H14 na network da
Figura 6). Através desses resultados, é possível sugerir que esse grupo sofreu expansão
recentemente, pois este padrão é freqüentemente observado em populações que passaram
por uma expansão demográfica recente (Hartl & Clark, 1997).
Para o Grupo1, embora tenha sido observada significância do índice de neutralidade
D de Tajima e padrão unimodal significante na mismatch distribution, não é seguro afirmar
que tenha se expandido recentemente, já que este grupo é representado por apenas uma
população com 19 indivíduos amostrados. Para o Grupo3, as análises referentes à dinâmica
72
populacional indicaram que ele está em equilibro, não tendo passado por eventos de
expansão recentemente.
Fregonezi et al. (2007) não identificaram eventos de expansão populacional recente
para C. excellens e C. linoides, assim como Togni et al. (2007) estudando populações de C.
elegans, espécie endêmica dos campos de altitude de Minas Gerais. Entretanto esse evento
foi identificado para P. integrifolia subsp. depauperata (Longo, 2005; Ramos et al., 2007),
espécie do gênero irmão que possui distribuição muito semelhante a C. heterophylla.
5.4. Conservação do ambiente
A Planície Costeira do RS é cada vez mais alvo da ação humana, seja pela
construção civil, atividades agrárias ou extrativismo. Essas ações tornam as espécies que
habitam a região altamente vulneráveis. Dentre eles, C. heterophylla pode ser indicada
como altamente ameaçada, pois sua distribuição é quase que exclusivamente nessa região,
além de ser muito exigente quanto a mudanças ambientais principalmente relacionadas ao
solo. Durante as coletas, muitas vezes não foi possível encontrar esta espécie em regiões
onde, por características ambientais gerais, sua ocorrência era esperada (boa parte do lado
oeste da Laguna dos Patos e a Praia de Fora no Parque Estadual de Itapuã, por exemplo).
Em outras regiões, foram encontradas apenas populações muito pequenas. O Litoral Norte
do RS é a região do Estado mais afetada pelas ações humanas, tendo sido encontrada nesse
local apenas uma população, justamente na área de proteção ambiental do Parque Estadual
de Itapeva.
Os dados filogeográficos semelhantes aos obtidos nesse trabalho permitem
estabelecer estratégias que priorizem a conservação de grupos com representantes da maior
73
parte da história evolutiva das espécies, levando em consideração populações com maior
variabilidade genética, que é a matéria-prima para a sobrevivência das espécies.
Os pontos de coleta onde foram identificadas as maiores e mais vigorosas
populações de C. heterophylla foram o Horto da Aracruz e a Ilha do Barba Negra. O
primeiro possui apenas resquícios da vegetação original, devido à monocultura de
eucaliptos ali existente. Já o segundo, apesar de não ser área protegida por nenhum parque,
é um local bem preservado por ser utilizado apenas como ponto de parada para alguns
pescadores da região. Como nossos dados indicaram, a ilha além de possuir uma numerosa
e vigorosa população, apresenta altos valores de diversidade nucleotídica e haplotípica,
provavelmente devidos à presença de diferentes linhagens. Por se tratar de uma ilha,
possivelmente vários outros organismos vegetais e animais podem apresentar padrão
bastante semelhante ao verificado neste trabalho quanto à diversidade genética. Pela
proximidade, uma possibilidade interessante para preservar essas espécies seria incorporar
essa ilha ao Parque Estadual de Itapuã.
Outra população que chamou bastante a atenção em relação à preservação foi a
população de Santa Vitória do Palmar (Pop11). Esta, além de apresentar níveis altos de
diversidade genética, apresentou haplótipos exclusivos que, provavelmente, tiveram
origem distinta dos demais encontrados em todas as outras populações estudadas. Esse
local, apesar de estar muito próximo à Estação Ecológica do Taim, não possui nenhum tipo
de proteção ambiental. Como a barreira que separou essa população das demais demonstra
bastante consistência, é provável que populações de outras espécies também possuam
características semelhantes nesse local.
74
5.5. Distribuição da espécie
A descoberta da existência de populações de C. heterophylla fora da Planície
Costeira chama a atenção à necessidade da investigação de novas populações no interior do
continente no RS. O local onde foi coletada a população Pop3, São Francisco de Assis, tem
sua classificação quanto à vegetação como “Área de Formação Pioneira” pelo IBGE. Não
por acaso, a mesma classificação dada à vegetação que cerca a Laguna dos Patos e a Lagoa
Mirim (Figura 16). De fato, a fisionomia da região onde essa população foi coletada é
muito semelhante à encontrada na Planície Costeira: terrenos bastante arenosos, com a
presença de espécies típicas de restinga litorânea. Segundo o IBGE (1992), as “Áreas de
Formações Pioneiras são caracterizadas como a vegetação situada na Planície Costeira e
ao longo da rede hidrográfica da Depressão Central e da Campanha. Nestas áreas,
encontram-se espécies, de herbáceas a arbóreas, com ocorrência de variadas formas
biológicas, adaptadas às diferentes condições edáficas reinantes. As formações vegetais
encontradas são de influência marinha (restinga), fluvial (comunidades aluviais) e flúvio-
marinha (manguezal e campos salinos).
Como a origem de Calibrachoa é andina e esse gênero chegou ao RS migrando no
sentido oeste-leste, torna-se fundamental para o melhor entendimento dos processos
evolutivos que envolvem essa espécie, a obtenção de mais amostras coletadas no interior
do continente. Fica como perspectiva para o pleno conhecimento da evolução, origem e
real distribuição de C. heterophylla, investigar as redes hidrográficas localizadas na
Depressão Central e na Campanha Sul-rio-grandense a partir do mapeamento vegetacional
feito pelo IBGE (1992).
75
Figura 16 - Unidades de vegetação do RS segundo o IBGE (1992). Ponto vermelho:
indicação do local de coleta da população Pop3.
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abreu JGN & Calliari LJ (2005) Paleocanais na plataforma continental interna do Rio
Grande do Sul: evidências de uma drenagem fluvial pretérita. Rev Bras Geof 23: 123-
132.
Aldrich J, Cherney BW, Merlin E & Christopherson L (1988) The role of
insertions/deletions in the evolution of the intergenic region between psbA and trnH in
the chloroplast genome. Curr Genet 14: 137–146.
Ando T, Nomura M, Tsukahara J, Watanabe H, Kokubun H, Tsukamoto T, Hashimoto G,
Marchesi E & Kitching IJ (2001) Reproductive isolation in a native population of
Petunia sensu Jussieu (Solanaceae). Ann Bot 88: 403–413.
Ando T, Kokubun H, Watanabe H, Tanaka N, Yukawa T, Hashimoto G, Marchesi E,
Suárez E & Basualdo I (2005) Phylogenetic analysis of Petunia sensu Jussieu
(Solanaceae) using chloroplast DNA RFLP. Ann Bot 96: 289–297.
APG II Angiosperm Phylogeny Group (2003) An update of the Angiosperm Phylogeny
Group classification for the orders and families of flowering plants: APG II. Bot J Linn
Soc 141: 399–436.
Avise JC (2000) Phylogeography: The history and formation of species. Harvard
University Press, London, 447 pp.
Ayup-Zouain RN, Ferreira HP, Barboza EG & Tomazelli LJ (2003) Evidência morfológica
de um paleocanal holocênico da Laguna Mirim nas adjacências do banhado Taim. Anais
IX ABEQUA p. 82. Recife - PE.
Azuma H, García-Franco JG, Rico-Gray V & Thien. LB (2001) Molecular phylogeny of
the Magnoliaceae: the biogeography of tropical and temperate disjunctions. Am J Bot
88: 2275–2285.
Bandelt H-J, Forster P & Röhl A (1999) Median-joining networks for inferring
intraspecific phylogenies. Mol Biol Evol 16: 37-48.
Barton NH & Hewitt GM (1989) Adaptation, speciation and hybrid zones. Nature 341:
497–503.
77
Bleeker W (2003) Hybridization and Rorippa austriaca (Brassicaceae) invasion in
Germany. Mol Ecol 12: 1831-1841.
Cain ML, Milligan BG & Strand AE (2000) Long-distance seed dispersal in plant
populations. Am J Bot 87: 1217-1227.
Chen S, Matsubara K, Omori T, Kokubun H, Kodama H, Watanabe H, Hashimoto
G, Marchesi E, Bullrich L & Ando T (2007) Phylogenetic analysis of the genus Petunia
(Solanaceae) based on the sequence of the Hf1 gene. J Plant Res 120: 385-397.
Cordazzo CV & Seeliger U (1988) Guia ilustrado da vegetação costeira do extremo sul do
Brasil. FURG, Rio Grande, 275 pp.
Corrêa ICS (1996) Les variations du niveau de la mer durant les derniers 17.500 ans BP:
l'exemple de la plate-forme continentale du Rio Grande do Sul - Brésil. Mar Geol 130:
163-178.
D'Arcy WG (1991) The Solanaceae since 1976, with a review of its biogeography. In
Solanaceae III: taxonomy, chemistry, evolution (Hawkes JG, Lester RN, Nee M and
Estrada N, eds.), Royal Botanic Garden Kew and Linnean Society of London, London,
p.75-135.
Derepas A & Dulieu H (1992) Inheritance of the capacity to transfer plastids by pollen
parent in Petunia hybrida Hort. J Hered 83: 6-10.
Dobes CH, Mitchell-Olds T & Koch MA (2004) Extensive chloroplast haplotype variation
indicates Pleistocene hybridization and radiation of North American Arabis
drummondii, A. x divaricarpa, and A. holboellii (Brassicaceae). Mol Ecol 13: 349-370.
Dombrovska O & Qiu Y-L (2004) Distribution of introns in the mitochondrial gene nad1
in land plants: phylogenetic and molecular evolutionary implications. Mol Phylogenet
Evol 32: 246-263.
Dorneles LPP & Waechter JL (2004) Estrutura do componente arbóreo da floresta arenosa
de restinga do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Rio Grande do Sul. Hoehnea 31: 61-
71.
Duminil J, Pemonge M-H & Petit RJ (2002) A set of 35 consensus primer pairs amplifying
genes and introns of plant mitochondrial DNA. Mol Ecol Notes 2: 428-430.
78
Dunn IS & Blattner FR (1986) Sharons 36 to 40: multi-enzyme, high capacity,
recombination deficient replacement vectors with polylinkers and polystuffers. Nucleic
Acids Res 15: 2677-2698.
Dupanloup I, Schneider S & Excoffier L (2002) A simulated annealing approach to define
the genetic structure of populations. Mol Ecol 11: 2571-81.
Ellstrand NC & Elam DR (1993) Population genetic consequences of small population
size: implications for plant conservation. Annu Rev Ecol Syst 24: 217-242.
Excoffier LGL & S. Schneider S (2005) Arlequin ver. 3.0: An integrated software package
for population genetics data analysis. Evol Bioinform Online 1: 47-50.
Excoffier LGL, Smouse PE & Quattro M (1992) Analysis of molecular variance inferred
from metric distances among DNA haplotypes: application to human mitochondrial
DNA restriction data. Genetics 131: 479-491.
Frankham R, Lees K, Montgomery ME, England PR, Lowe E & Briscoe DA (1999) Do
population size bottlenecks reduce evolutionary potential? Annim Conserv 2: 255-260.
Fregonezi JN, Lorenz-lemke AP, Stehmann JR, Bonatto SL, Salzano FM & Freitas LB
(2007) Relações filogeográficas e dinâmica populacional em Calibrachoa excellens e
Calibrachoa linoides (Solanaceae). In: CD-ROM do 53º Congresso Brasileiro de
Genética. Águas de Lindóia - SP.
Freitas TRO (1995) Geographic distribution and conservation of four species of the genus
Ctenomys in Southern Brazil (Rodentia–Octodontidae). Stud Neotrop Fauna Environ
30: 53–59.
Fries RE (1911) Die Arten der Gattung Petunia. Kungl. Svenska Veten-skapsakademiens
Handlingar 46: 1-72.
Fu YX (1996) New statistical tests of neutrality for DNA samples from a population.
Genetics 143: 557–570.
Hamilton MB (1999) Four primers pairs for the amplification of chloroplast intergenic
regions with intraespecific variation. Mol Ecol 8: 513-525.
79
Hamilton MB, Braverman JM & Soria-Hernanz DF (2003) Patterns and relative rates of
nucleotide and insertions/deletion evolution at six chloroplast intergenic regions in New
World species of the Lecythidaceae. Mol Biol Evol 20: 1710-1721.
Hartl DL & Clark AG (1997) Principles of Population Genetics. 3nd ed. Sinauer
Associates. Sunderland Massachusetts 542 pp.
Hasenack H & Ferraro LW (1989) Considerações sobre o clima da região de Tramandaí,
RS. Pesquisas 22: 53-70.
Hunziker AT (2001) The genera of Solanaceae. ARG Gantner et Verlag KG, Konigstein,
Germany. 272 pp.
Hwang SH, Lin TP, Ma CS, Lin, CL, Chung JD & Yang JC (2003) Postglacial population
growth of Cunninghamia konishii (Cupressaceae) inferred from phylogeographical and
mismatch analysis of chloroplast DNA variation. Mol Ecol 12: 2689-2695.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(2004) Unidade: Estação Ecológica do Taim. (meio eletrônico:
http://www.ibama.gov.br/siucweb/mostraUc.php?seqUc=64).
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1992) Manual Técnico da Vegetação
Brasileira. Rio de Janeiro - RJ 92 pp.
Iwata H, Kato T & Ohno S (2000) Triparental origin of Damask roses. Gene 259: 53-59.
Judd WS, Campbell CS, Kellogg EA & Stevens PF (1999) Plant Systematics. A
phylogenetic approach. Sinauer Associates, Sunderland 464 pp.
Knowles LL (2001) Did the Pleistocene glaciations promote divergence? Tests of explicit
refugial models in montane grasshopprers. Mol Ecol 10: 691–701.
Kuhner MK (2006) Lamarc 2.0: maximum likelihood and Bayesian estimation of
population parameters. Bioinformatics 22: 768 – 770.
Leijs R, van Apeldoorn RC & Bijlsma R (1999) Low genetic differentiation in north-west
European populations of the locally endangered root vole, Microtus oeconomus. Biol
Cons 87: 39-48.
80
Lima LG & Buchmann FSC (2005) Novo afloramento fossilífero (Pleistoceno/Holoceno)
no sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. In: X ABEQUA Associação
Brasileira de Estudos do Quaternário, 2005, Guarapari. Boletim de resumos, v. 1.
Longo D (2005) Delimitação taxonômica do complexo Petunia integrifolia: uma
abordagem molecular. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Dissertação de Mestrado.
Lorenz-Lemke AP, der G, Muschner VC, Stehmann JR, Bonatto SL, Salzano FM &
Freitas LB (2006) Diversity and natural hybridization in a highly endemic species of
Petunia (Solanaceae): a molecular and ecological analysis. Mol Ecol 15: 4487-4497.
Mace GM & Purvis A (2008) Evolutionary biology and practical conservation: bridging a
widening gap. Mol Ecol 17: 9–19.
Mantel N (1967) The detection of disease clustering and a generalized regression
approach. Cancer Res 27: 209-220.
Marinho JR & de Freitas TRO (2006) Population structure of Ctenomys minutus (Rodentia,
Ctenomyidae) on the coastal plain of Rio Grande do Sul, Brazil. Acta Theriol 51: 53–
59.
Miers J (1846) Contributions to the Botany oh South America. London J Bot 5: 144-190.
Miller M (2005) Alleles In Space: Computer software for the joint analysis of
interindividual spatial and genetic information. J Hered 96: 722-724.
Mishiba KI, Ando T, Mii M, Watanabe H, Kokubun H, Hashimoto G & Marchesi E (2000)
Nuclear DNA content as an index character discriminating taxa in the genus Petunia
sensu Jussieu (Solanaceae). Ann Bot 85: 665-673.
Murakami Y, Fukui Y, Watanabe H, Kokobun H, Toya Y & Ando T (2004) Floral
coloration and pigmentation in Calibrachoa cultivars. J Hortic Sci Biotechnol 79: 47-
53.
Naciri Y & Gaudeul M (2007) Phylogeography of the endangered Eryngium alpinum L.
(Apiaceae) in the European Alps. Mol Ecol 16 (13): 2721-2733.
Nicholas KB & Nicholas HBJ (1997) GeneDoc: a tool for editing and annotating multiple
sequences alignments. Programa disponível no sítio: www.psc.edu/biomed/genedoc.
81
Okaura T & Harada K (2002) Phylogeographical structure revealed by chloroplast DNA
variation in Japanese beech (Fagus crenata Blume). Heredity 88: 322-329.
Olmstead RG & Palmer JD (1992) A chloroplast DNA phylogeny of the Solanaceae:
subfamilial relationships and character evolution. Ann Miss Bot Garden 79: 346–360.
Olmstead RG, Sweere JA, Spangler RE, Bohs L & Palmer JD (1999) Phylogeny and
provisional classification of the Solanaceae based on chloroplast DNA. pp. 111–137 in
Solanaceae IV: Advances in Biology and Utilization edited by Nee M, Symon DE,
Lester RN & Jessop JP. Royal Botanical Garden, Kew, UK.
Olsen KM (2002) Population history of Manihot esculenta (Euphorbiaceae) inferred from
nuclear DNA sequences. Mol Ecol 11: 901-911.
Olsen KM & Schaal BA (1999) Evidence on the origin of cassava: phylogeography of
Manihot esculenta. Proc Natl Acad Sci USA 96: 5586-5591.
Olson ME (2002) Intergeneric relationships within the Caricaceae-Moringaceae clade
(Brassicales) and potential morphological synapomorphies of the clade and its families.
Int J Plant Sci 163: 51–65.
Palmer JD, Jansen RK, Michaels HJ, Chase MW & Manhart JR (1988) Chloroplast DNA
variation and plant phylogeny. Ann Mo Bot Gard 75: 1180–1206.
Pedersen G & Seberg O (1998) Molecules vs morphology. In A. Karp et al. (ed.)
Molecular tools for screening biodiversity. Chapman and Hall, London. p 359–365.
Pelser PB, Gravendeel B & van der Meijden R (2003) Phylogeny reconstruction in the gap
between too little and too much divergence: the closest relatives of Senecio jacobaea
(Asteraceae) according to DNA sequences and AFLPs. Mol Phylogen Evol 29: 613-
628.
Perret, M, Chautems A, Spichiger R, Kite G & Savolainen V (2003) Systematics and
evolution of tribe Sinningieae (Gesneriaceae): evidence from phylogenetic analysis of
six plastid DNA regions and nuclear ncpGS. Am J Bot 90: 445–460.
Porto ML & Dillenburg LR (1986) Fisionomia e composição florística de uma mata de
restinga da Estação Ecológica do Taim, Brasil. Ci e Cult 38: 1288-1236.
82
Primack RB & Rodrigues E (2001) Biologia da Conservação. Editora Vida, Londrina, 328
pp.
Rambo B (1951) O elemento andino no pinhal riograndense. Sellowia 3: 7-39.
Rambo B (1954) História da flora do litoral riograndense. Sellowia 6: 113-172.
Ramos AMC, Lorenz-Lemke AP, Zamberlan PM, Stehmann JR, Bonatto SL, Salzano FM
& Freitas LB (2007) História paleogeográfica da Planície Costeira do RS: uma
abordagem filogeográfica através de Petunia integrifolia subsp. depauperata. In: CD-
ROM do 53º Congresso Brasileiro de Genética, Águas de Lindóia - SP.
Rice G (1997) Petunias: a garden paradigm. The Garden 122: 30-393.
Rieseberg LH & Willis JH (2007) Plant speciation. Science 317: 910-4.
Rogers AR & Harpending H (1992) Population growth makes waves in the distribution of
pairwise genetic differences. Mol Biol Evol 9: 552-569.
Romero EJ (1993) South American paleofloras. In P Goldblatt (Ed). Biological
Relationships between Africa and South America. Yale University Press, New Haven
and London, p 62-85.
Roy A, Frascaria N, MacKay J & Bousquet J (1992) Segregating random amplified
polymorphic DNAs (RAPDs) in Betula alleghaniensis. Theor Appl Genet 85: 173-180.
Rozas J, Sánchez-DelBarrio JC, Messeguer X & Rozas R (2003) DnaSP, DNA
polymorphism analyses by the coalescent and other methods. Bioinformatics 19: 2496-
2497.
Safford HD (1999) Brazilian Paramos I. An introduction to the physical environment and
vegetation of the campos de altitude. J Biogeogr 26: 693-712.
Sang T, Crawford DJ & Stuessy TF (1997) Chloroplast DNA phylogeny, reticulate
evolution, and biogeography of Paeonia (Paeoniaceae). Am J Bot 84: 1120-1136.
Schönenberger J & Conti E (2003) Molecular phylogeny and floral evolution of the
Penaeaceae, Oliniaceae, Rhynchocalycaceae, and Alzateaceae (Myrtales). Am J Bot 90:
293–309.
83
SEMA Secretaria Estadual do Meio Ambiente (2002) Unidades de Conservação. (meio
eletrônico: http://www.sema.rs.gov.br/sema/html/bio.htm).
Sendtner O (1846) Solanaceae. In Flora Brasiliensis (CFP von Martius, ed.). F Fleischer,
Lipsiae. Vol 10.
Shaw J, Lickey EB, Beck JT, Farmer SB, Liu W, Miller J, Siripun KC, Winder CT,
Schilling EE & Small RL (2005) The tortoise and the hare II: relative utility of 21
noncoding chloroplast DNA sequences for phylogenetic analysis. Am J Bot 92: 142-
166.
Shaw JMH (2007) A new hybrid genus for Calibrachoa × Petunia (Solanaceae).
Hanburyana 2: 50–51.
Shepherd LD, Perrie LR & Brownsey PJ (2007) Fire and ice: volcanic and glacial impacts
on the phylogeography of the New Zealand forest fern Asplenium hookerianum. Mol
Ecol 16 (21): 4536-4549.
Silva FB (2008) Filogeografia Comparada e História Evolutiva da Planície Costeira Sul e
Sudeste do Brasil. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Tese de
Doutorado.
Siqueira GW, Pereira SFP & Aprile FM (2006) Determinação dos elementos-traço (Zn,
Co, e Ni) em sedimentos da Plataforma Continental Amazônica sob influência da
descarga do rio Amazonas. Acta Amazônica 36: 321-326.
Souza VC & Lorenzi H (2005) Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das
famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APGII. Nova Odessa, SP,
Instituto Plantarum, p 141-142.
Stehmann JR (1999) Estudos taxonômicos da tribo Nicotianeae G. Don (Solanaceae):
revisão de Petunia Jussieu, das espécies brasileiras de Calibrachoa La Llave & Lexarza
e o estabelecimento do novo gênero Petuniopsis Stehmann & Semir. Universidade
Estadual de Campinas, Campinas. Tese de doutorado.
Stehmann & Semir (1997) A new species and new combinations in Calibrachoa
(Solanaceae). Novon 7: 417-419.
84
Stehmann JR & Semir J (2005) New species of Calibrachoa and Petunia (Solanaceae)
from subtropical south America. In: Festschrift for William G.Darcy: The Legacy of a
Taxonomist. R. C. Keating, V. C. Hollowell & T. B. Croat (eds.). Missouri Botanical
Garden Press, Syst Bot Monogr 104.
Stehmann JR, Semir J, Dutilh JHA & Forni-Martins RE (1996) Solanaceae. IOPB
chromosome data. Newsletter of the International Organization of Plant
Biosystematists, v. 26/27, p 24-24.
Štorchová H & Olson MS (2004) Comparison between mitochondrial and chloroplast
DNA variation in the native range of Silene vulgaris. Mol Ecol 13 (10): 2909-2919.
Tajima F (1989) Statistical method for testing the neutral mutation hypothesis by DNA
polymorphism. Genetics 123: 585-595.
Takayama K, Kajita T, Murata J & Tateishi Y (2006) Phylogeography and genetic
structure of Hibiscus tiliaceus — speciation of a pantropical plant with sea-drifted seeds
Mol Ecol 15: 2871–2881.
Templeton AR, Maskas SD & Cruzan MB (2000) Gene trees: A powerful tool for
exploring the evolutionary biology of species and speciation. Plant Species Biol 15: 211
222.
Togni PD, Fregonezi JN, Lorenz-Lemke AP, Stehmann JR, Bonatto SL, Salzano FM &
Freitas LB (2007) Filogeografia de Calibrachoa elegans (Solanaceae), uma escie
endêmica dos campos de altitude de Minas Gerais. In: CD-ROM do 53º Congresso
Brasileiro de Genética, 2007, Águas de Lindóia – SP.
Tomazelli LJ & Villwock JA (2000) O Cenozóico no Rio Grande do Sul: Geologia da
Planície Costeira. In: Holz M & De Ros LF (eds.). Geologia do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, IG/UFRGS, p 375-406.
Tomazelli LJ & Villwock JA (2005) Mapeamento geológico de planícies costeiras: o
exemplo da costa do Rio Grande do Sul. Gravel 3: 109-115.
Tomazelli LJ, Dillenburg SR & Villwock JA (2000) Late quaternary geological history of
Rio Grande do Sul coastal plain, southern Brazil. Rev Bras Geoc 30: 474-476.
85
Tsukamoto T, Ando T, Kokubun H, Watanabe H, Tanaka R, Hashimoto G, Marchesi E &
Kao T (1998) Differentiation in the status of self-incompatibility among all natural taxa
of Petunia (Solanaceae). Acta Phytotax Geobot 49: 115-133.
Tsukamoto T, Ando T, Waranabe H, Kokubun H, Hashimoto G, Sakazaki U, Suárez E,
Marchesi E, Oyama K & Kao T (2002) Differentiation in the status of self-
incompatibility among Calibrachoa species (Solanaceae). J Plant Res 115: 185-193.
Vázquez DP & Gittleman JL (1998) Biodiversity conservation: Does phylogeny matter?
Curr Biol 8: R379-R381.
Villwock JA & Tomazelli LJ (1995) Geologia costeira do Rio Grande do Sul. Notas
Técnicas 8: 1-45.
Watanabe H, Ando T, Iida S, Buto K, Tsukamoto T, Kokubun H, Hashimoto G &
Marchesi E (1997) Cross-compatibility of Petunia pubescens and P. pygmaea with
native taxa of Petunia. Japan Soc Hort Sci 66: 607-612.
Watanabe H, Ando T, Nishino E, Kokubun H, Tsukamoto T, Hashimoto G & Marchesi E
(1999) three groups of species in Petunia sensu Jussieu (Solanaceae) inferred from the
intact seed morphology. Am J Bot 86: 302-305.
Werneck PB & Lorscheitter ML (2001) Paleoambientes dos últimos milênios na zona da
mata do Faxinal, Torres, Rio Grande do Sul, Brasil, através de um estudo de sucessão
vegetal. Boletim de Resumos, Mudanças Globais e o Quaternário, VIII Congresso da
ABEQUA, Imbé-RS: 405-406.
Weschenfelder J (2005) Processos sedimentares e variação do nível do mar na região
costeira do Rio Grande do Sul. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre. Tese de Doutorado.
Weschenfelder J, Corrêa ICS & Aliotta S (2005) Elementos arquiteturais do substrato da
Lagoa dos Patos revelados por sísmica de alta resolução. Pesq Geoc 32: 57-67.
Wijnands DO, Boss JJ, Wijsman HJW, Schneider F, Brickell CD & Zimmer K (1986).
Proposal to conserve 7436 Petunia with P. nyctaginiflora as typ. cons. Taxon 35: 748–
749.
86
Wijsman HJW (1990) On the interrelationship of certain species of Petunia VI. New
names for the species of Calibrachoa formerly included into Petunia (Solanaceae). Acta
Bot Neerl 39: 101-102.
Wijsman HJW (1983) On the interrelationships of certain species of Petunia. II.
Experimental data: crosses between different taxa. Acta Bot Neerl 32: 97–107.
Wijsman HJW & Jong JH (1985) On the interrelationships of certain species of Petunia. 5.
Hybridization between P. linearis and P. calycina and nomenclatorial consequences in
the Petunia group. Acta Bot Neerl 34: 337-349.
Wright S (1943) Isolation by distance. Genetics 28: 114-138.
Xu DH, Sakai AJ, Kanazawa M, Shimamoto A & Shimamoto Y (2000) Sequence variation
of non-coding regions of chloroplast DNA of soybean and related wild species and its
implications for the evolution of different chloroplast haplotypes. Theor Appl Genet
101: 724–732.
Zink RM, Drovetski SV & Rohwer S (2006) Selective neutrality of mitochondrial ND2
sequences, phylogeography and species limits in Sitta europaea. Mol Phylogenet Evol
40: 679-686.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo