reprodução da vida social na sociabilidade capitalista – na sua integridade, ou seja, estudem as
expressões da “questão social” e, posteriormente, façam o esforço de retornar o conhecimento
produzido aos sujeitos envolvidos. Acreditamos, pois, que a função da ciência é desvendar o
não-aparente, ou melhor, nas palavras de Marx: “Toda ciência seria supérflua se a essência das
coisas e sua forma fenomênica coincidissem diretamente.” (apud LUKÁCS, 1979, p. 26).
Retornar o conhecimento produzido aos sujeitos das pesquisas é, antes de tudo, nas condições
sociais atuais, pôr as discussões teóricas adjacentes aos movimentos sociais, aos representantes
de classe e abordar as políticas sociais e sua eficiência ou ineficiência no enfrentamento da
“questão social”. Oportunizar o protagonismo dos movimentos sociais e segmentos da classe
trabalhadora na luta pelos seus direitos sociais é uma forma de potencializar o saber em favor
dos “usuários” do Serviço Social
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. Devemos ter claro que só o debate e a oportunização dos
direitos sociais não é, ainda, o ponto de partida, pois a política social, os direitos sociais, a
aclamada “cidadania” são mecanismos pacíficos e limitados do Estado
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burguês para amenizar
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Observe as contundentes palavras de Bourguignon (2007, p. 51): “A pesquisa para o Serviço Social deve gerar
um conhecimento que reconheça os usuários dos serviços públicos como sujeitos políticos que são, capazes,
também, de conhecer e intervir em sua própria realidade com autonomia, desvencilhando-se das estratégias de
assistencialismo, clientelismo e subalternidade, tão presentes nas ações governamentais e políticas públicas.
As pesquisas têm como possibilidades latentes a valorização do povo, da riqueza de suas históricas, de suas
experiências coletivas, mobilizadoras de novas formas de sociabilidade. Apreender estes elementos contribuirá
para o desenvolvimento de uma prática capaz de possibilitar aos usuários e destinatários das políticas públicas
e dos serviços sociais a experiência de ‘assumir-se como ser social e histórico [...]’, ou seja, assumir-se ‘[...]
como ser pensante, comunicante, transformador, criador [...].”
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Observe as clássicas colocações de Marx (1983, p. 24): “[...] Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que
as relações jurídicas – assim como as formas do Estado – não podem ser compreendidas por si mesmas, nem
pela dita evolução geral do espírito humano, inserindo-se pelo contrário nas condições materiais de existência
de que Hegel, à semelhança dos ingleses e franceses do século XVIII, compreende o conjunto da sociedade
civil; por seu lado, a anatomia da sociedade civil deve ser procurada na economia política [...] A conclusão
geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se
resumidamente assim: na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas,
necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de
desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura
econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual
correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção de vida material condiciona o
desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina
o seu ser, é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência”. A partir dessas notas, podemos
observar que os poderes políticos através do Estado são as relações jurídicas. O Estado é a expressão política
institucional jurídica e, o poder deste vem da sociedade civil, da base econômica. O Estado se enraíza na
sociedade civil, mas a anatomia está na economia política, ou melhor, na esfera da produção e reprodução da
vida material. Quando Marx descreve a anatomia da sociedade civil, ele encontra, na economia, a radicalidade
de sua intelecção de mundo. Na sociedade civil encontram-se as classes sociais, que são compostas pelos
possuidores dos meios de produção (burguesia) e os possuidores da força de trabalho (proletários) e, o poder
econômico de uma determinada classe - a burguesia - na sociedade faz com que o poder político fique
subsumido aos seus interesses, ou melhor, ao interesse da classe que detém os meios de produção. Ao
controlar a produção material, a classe dominante tem condições de controlar também as relações jurídicas e o
Estado, portanto, as relações sociais. A compreensão de Estado a partir das colocações de Marx nos esclarece
que a política social no capitalismo é um dos principais meios pacíficos de regulação da vida coletiva e
legitima, mais do que nunca, os interesses da burguesia.