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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, LETRAS E CIÊNCIAS EXATAS
CÂMPUS DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
CÁSSIO FLORÊNCIO RUBIO
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São José do Rio Preto
2008
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CÁSSIO FLORÊNCIO RUBIO
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Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Estudos Lingüísticos do Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto, como
exigência parcial à obtenção do título de Mestre em Estudos
Lingüísticos.
Área de concentração: Análise Lingüística.
Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Lingüística.
Orientador: Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves
São José do Rio Preto
2008
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Membros Titulares
Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves
(IBILCE/UNESP – São José do Rio Preto)
(orientador)
Prof. Dr. Roberto Gomes Camacho
(IBILCE/UNESP – São José do Rio Preto)
Profa. Dra. Maria Marta Pereira Scherre
(UnB – Brasília)
Membros Suplentes
Profa. Dra. Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi
(IBILCE/UNESP – São José do Rio Preto)
Profa. Dra. Maria Célia Pereira Lima-Hernandes
(FFLCH/USP – São Paulo)
São José do Rio Preto (SP)
2008
3
Às duas mulheres da minha vida, que sempre me
apoiaram incondicionalmente em todos os
momentos, minha mãe, Geni (in memoriam), e
minha esposa, Marina, companheira dedicada que
está sempre ao meu lado,
DEDICO
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Em primeiro lugar, a Deus, presença constante ao meu lado, que muito tem abençoado
a minha vida.
Ao meu pai Epifânio, que me ensinou (e ainda me ensina!) a buscar uma vida digna,
com honestidade e trabalho. De suas palavras simples, mas sábias, pude extrair lições
importantes para meu crescimento.
À minha família, que sempre incentivou meus novos empreendimentos, com muito
amor e carinho.
Aos amigos que partilharam comigo os momentos de dificuldade e sempre me
apoiaram e me incentivaram a não desistir. Obrigado pela amizade e pela compreensão nos
momentos em que não estive presente.
Às minhas sobrinhas Elisa e Eduarda, pelos momentos de alegria que me
proporcionaram e pelos gestos de carinho a mim dirigidos.
À FAPESP, pelo apoio financeiro que foi de suma importância para os resultados
alcançados.
À família de minha esposa, que agora também é minha família, pela acolhida
carinhosa e pelo apoio em meu projeto de vida desde o seu início. Ao meu sogro Bird e à
minha sogra Dirce, por terem me presenteado com o que eles tinham de mais precioso.
Aos professores da UNESP de São José do Rio Preto, presenças constantes, que me
ensinaram, dentre outras coisas, que nunca deixamos de aprender. Em especial, às professoras
Clélia, Erotilde, Fabiana, Fernanda, Lúcia, Luciane, Margarida, Maria Angélica, Maria
Heloisa, Marize, Maria Antônia, Norma, Sanderléia e Sônia e aos professores Cláudio, Eli,
José Luís, Luís Augusto, Marcos, Nelson, Roberto, Raul e Sebastião Carlos que, em suas
aulas, despertaram-me o interesse pela pesquisa e pela docência.
Às Professoras Doutoras Maria Marta Pereira Scherre, Rosane de Andrade Berlinck e
Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi e ao Professor Doutor Roberto Gomes Camacho, pelas
sugestões e pela colaboração durante o desenvolvimento da pesquisa.
Aos funcionários da UNESP de São José do Rio Preto, os quais não mediram esforços
na tarefa de auxiliar o bom andamento desse trabalho.
Aos informantes do projeto ALIP, por suas contribuições desinteressadas e
espontâneas, essenciais para alcance de nossos objetivos. Em especial, aos meus informantes,
5
que me receberam em suas casas com muita gentileza e permitiram compartilhar algumas de
suas experiências de vida.
À minha esposa Marina, presente que recebi de Deus, por compartilhar comigo minhas
alegrias e tristezas, sendo minha confidente, amiga e companheira. Obrigado por me apoiar
incondicionalmente em todos os meus projetos.
Em especial, a meu orientador, amigo e conselheiro, Professor Doutor Sebastião
Carlos Leite Gonçalves, pela dedicação, atenção, paciência e incentivo a mim ofertados. Sua
seriedade e paixão pelos estudos lingüísticos, bem como suas atitudes como ser humano,
despertaram em mim um grande sentimento de admiração e respeito. Muito obrigado!
6
Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho,
pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a
outra. Cada um que passa em nossa vida, passa
sozinho, mas quando parte, nunca vai nem nos
deixa a sós. Leva um pouco de nós, deixa um pouco
de si mesmo. os que levam muito, mas os
que não levam nada.
Kalil Gibram
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Lista de figuras, tabelas, quadros, gráficos e abreviaturas. ............
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Resumo ...........................................................................................
11
Introdução....................................................................................... 13
CAPÍTULO I – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS............................ 18
1.1 O surgimento da sociolingüística............................................. 18
1.2 A teoria da variação.................................................................. 20
1.3 A teoria da mudança................................................................. 26
1.3.1 Princípios empíricos para a teoria da mudança lingüística.
28
1.3.2 Alguns princípios gerais para o estudo da mudança
lingüística.......................................................................................
32
1.4. Funcionalismo e sociolingüística.............................................
34
CAPÍTULO II CARACATERIZAÇÃO DO FENÔMENO EM
ESTUDO........................................................................................
36
2.1 A CV e o princípio da relevância: observações
translingüísticas..............................................................................
36
2.2 A CV no Português Brasileiro.................................................. 41
2.2.1 Fatores lingüísticos............................................................. 42
2.2.2 Fatores externos.................................................................. 53
CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...... 58
3.1 Breve histórico e panorama atual da comunidade de fala........
58
3.1.1 A região de São José do Rio Preto..................................... 58
3.2 Da constituição do Banco de Dados Iboruna........................... 62
3.3 Composição da subamostra..................................................... 66
3.4 Da definição dos contextos variáveis...................................... 68
3.4.1 Fatores sociais..................................................................... 69
3.4.2 Fatores lingüísticos............................................................. 71
3.5 Da quantificação e da análise dos dados.................................. 79
CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS RESULTADOS..................... 81
4.1 Análise dos resultados...............................................................
80
4.1.1 Comparativo dos resultados gerais......................................
82
4.1.2 Ordem de significância dos fatores considerados................
85
4.1.3 Paralelismo formal – nível oracional...................................
85
4.1.4 Escolaridade.........................................................................
93
4.1.5 Paralelismo formal – nível discursivo.................................
97
4.1.6 Saliência fônica....................................................................
102
4.1.7 Posição do núcleo do sujeito em relação ao verbo..............
106
4.1.8 Traço semântico do sujeito..................................................
110
4.1.9 Faixa etária.......................................................................... 113
4.1.10 Gênero............................................................................... 116
4.1.11 Tipo morfológico do sujeito..............................................
123
Considerações finais....................................................................... 135
Referências bibliográficas.............................................................. 142
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Figura 1:
Mapa de localização da região administrativa de São José do Rio
Preto no Estado de São Paulo................................................................
60
Figura 2:
Mapa da região administrativa de São José do Rio Preto ...................
60
Figura 3:
Mapa da vista aproximada da cidade de São José do Rio Preto e dos
municípios circunvizinhos ....................................................................
61
Figura 4:
Distribuição da população da região de São José do Rio Preto............
65
Figura 5:
Número de informantes da Amostra Censo por cidade........................
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Tabela 1: Número de ocorrências analisadas e percentual de aplicação e não-
aplicação de CV..................................................................................
81
Tabela 2: Número de ocorrências analisadas e percentual de aplicação e não-
aplicação de CV em regiões do Estado de São Paulo.........................
83
Tabela 3: Percentual de aplicação e não-aplicação de CV em diferentes
variedades do PB...............................................................................
84
Tabela 4: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores paralelismo
formal – nível oracional.................................................
86
Tabela 5: Pesos relativos de aplicação da CV para o grupo de fatores
paralelismo formal nível oracional, obtidos em quatro
pesquisas.............................................................................................
92
Tabela 6: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores
escolaridade.......................................................................................
93
Tabela 7: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator escolaridade,
obtidos para três variedades do PB................................................
95
Tabela 8: Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal nível
oracional e escolaridade....................................................................
96
Tabela 9: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores paralelismo
formal – nível discursivo....................................................................
98
Tabela 10: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator paralelismo formal
– nível discursivo...............................................................................
100
Tabela 11: Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal nível
discursivo e escolaridade...................................................................
101
Tabela 12: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores saliência
fônica.................................................................................................
103
Tabela 13: Cruzamento dos grupos de fatores saliência fônica e
escolaridade........................................................................................
104
Tabela 14: Cruzamento dos grupos de fatores saliência fônica e paralelismo
formal – nível discursivo....................................................................
105
Tabela 15: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores posição do
núcleo do sujeito em relação ao verbo..............................................
107
9
Tabela 16: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator posição do núcleo
do sujeito em relação ao verbo, obtidos em pesquisas sobre o
PB......................................................................................................
109
Tabela 17: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores traço humano
do sujeito..................................................................
111
Tabela 18: Pesos relativos de aplicação da CV para o grupo de fatores traço
semântico do sujeito, obtidos em pesquisas sobre o
PB......................................................................................................
113
Tabela 19: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores
idade...................................................................................................
113
Tabela 20: Cruzamento entre os grupos de fatores escolaridade e faixa
etária..................................................................................................
115
Tabela 21: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores
sexo/gênero.......................................................................................
116
Tabela 22: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator gênero, em
variedades do PB................................................................................
117
Tabela 23: Cruzamento dos grupos de fatores gênero e paralelismo formal
nível oracional...................................................................................
118
Tabela 24: Cruzamento dos grupos de fatores escolaridade e gênero................
119
Tabela 25: Cruzamento dos grupos de fatores posição do núcleo do sujeito em
relação ao verbo e gênero.................................................................
120
Tabela 26: Cruzamento dos grupos de fatores idade e gênero..........................
122
Tabela 27: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores tipo de sujeito.
125
Tabela 28: Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal nível
oracional e tipo morfológico de sujeito............................................
128
Tabela 29: Cruzamento dos grupos de fatores gênero e tipo morfológico do
sujeito................................................................................................
130
Tabela 30: Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e
escolaridade......................................................................................
132
Tabela 31: Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e
saliência fônica..................................................................................
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Quadro 1: Paradigma de conjugação verbal do Bergamasco (província de
Bérgamo)............................................................................................
39
Quadro 2: Distribuição e identificação dos informant
es da Amostra Censo por
variáveis sociais...................................................................................................
63
Quadro 3: Distribuição da população da região de São José do Rio Preto.........
64
Quadro 4: Distribuição e identificação dos informantes da subamostra de AC..
67
Quadro 5: Hierarquização dos fatores lingüísticos na CVde 3PP .....................
138
Quadro 6: Hierarquização dos fatores sociais na CVde 3PP .............................
139
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Gráfico 1: Percentual geral de presença/ausência de CV....................................
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Gráfico 2: Presença de CV em relação ao paralelismo formal nível
oracional............................................................................................
87
Gráfico 3: Presença de CV em relação ao grupo de fatores
escolaridade........................................................................................
93
10
Gráfico 4: Presença de CV em relação ao grupo de fatores paralelismo formal
de nível discursivo..............................................................................
99
Gráfico 5: Presença de plural em relação ao grupo de fatores saliência fônica..
103
Gráfico 6: Presença de CV em relação à posição do núcleo do sujeito em
relação ao verbo..................................................................................
108
Gráfico 7: Presença de CV em relação ao traço semântico do
sujeito.................................................................................................
111
Gráfico 8: Presença de CV em relação à faixa etária...........................................
113
Gráfico 9: Presença de CV em relação ao gênero.......................................
117
Gráfico 10:
Cruzamento dos grupos de fatores gênero e escolaridade.................
119
Gráfico 11:
Cruzamento dos grupos de fatores posição do núcleo do sujeito em
relação verbo e gênero.......................................................................
121
Gráfico 12:
Presença de CV em relação ao tipo de sujeito...................................
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1PS Primeira pessoa do singular
1PP Primeira pessoa do plural
3PS Terceira pessoal do singular
3PP Terceira pessoa do plural
AC Amostra Censo ou Amostra Comunidade
ALIP
Amostra Lingüística do Interior Paulista
CV Concordância verbal
PB Português brasileiro
11
RUBIO, Cássio Florêncio. A concordância verbal na região noroeste do Estado de São
Paulo. 2008. 152f. Dissertação (Mestrado em Estudos Lingüísticos) Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto.
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Considerando que inúmeras pesquisas sociolingüísticas realizadas sobre a concordância
verbal (CV, daqui em diante) de terceira pessoa do plural (3PP, daqui em diante)
evidenciaram a variabilidade do fenômeno, e, considerando ainda que esse fenômeno é
constituído por uma variável binária, presença versus ausência de marcas de plural nos
verbos, buscamos neste trabalho investigar, por meio do controle de fatores sociais e
lingüísticos, a CV na fala da Região Noroeste do Estado de São Paulo, mais precisamente na
Região de São José do Rio Preto, usando, como subsídio principal, a Teoria da Variação
Lingüística (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972). O córpus utilizado
para a realização de nossa pesquisa provém do Banco de Dados Iboruna, que, constituído pelo
Projeto ALIP (Amostra Lingüística do Interior Paulista), compõe-se de amostras de fala de
152 informantes da região. Para a realização desta pesquisa, foi constituída uma subamostra,
composta de 76 entrevistas, estratificadas uniformemente mediante os fatores sociais
escolaridade, faixa etária e gênero. Do total de 3.308 ocorrências de 3PP analisadas, 2.314
(70%) apresentaram marcas de plural explícitas nos verbos, evidenciando tratar-se de um caso
de variação estável na comunidade investigada, instanciada pela interação entre os seguintes
fatores sociais e lingüísticos estatisticamente relevantes: paralelismo formal de nível
oracional, escolaridade, paralelismo formal de nível discursivo, saliência fônica, posição do
núcleo do SN-sujeito em relação ao verbo, traço semântico do sujeito, idade, gênero e tipo
morfológico do sujeito.
Palavras-chave: concordância verbal, terceira pessoa do plural, Português brasileiro, variação
lingüística.
12
RUBIO, Cássio Florêncio. The verbal agreement in the northwest region of the São Paulo
State. 2008. 152f. Thesis (Master degree in Linguistics studies) Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, São Paulo,
Brazil.
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Whereas many sociolinguistics searches conducted on the verbal agreement (VA hereinafter)
from the third person plural (3PP, hereinafter) demonstrated the variability of the
phenomenon, and, considering that such phenomenon consists of a binary variable, presence
versus absence of marks of the plural in the verbs, we sought in this study investigating,
through the control of linguistic and social factors, the VA from speech in the Northwest
Region of the Sao Paulo State, more precisely in the Region of São Jose do Rio Preto, using
as main tool, of the Theory of Linguistics Variation (WEINREICH, LABOV & HERZOG,
1968; LABOV, 1972). The corpus used in the research comes from the Database Iboruna,
which was constituted by the Project ALIP - Amostra Lingüística do Interior Paulista (Sample
Linguistics of the Interior Paulista), composed of samples of speech of 152 informants from
region. To conduct this research, a sub-sample was formed, consisting of 76 interviews,
stratified evenly through the social factors: education level, age and gender. A total of 3,308
occurrences of 3PP analyzed, 2,314 (70%) presented marks of plural explicit in the verbs,
showing it is a case of variation stable in the community investigated, instantiated by the
interaction between the social and linguistic following factors statistically relevant: formal
parallelism of a clause level, education level, formal parallelism of a discourse level, phonic
salience, position of the head of the subject-NP in relation to the verb, semantic feature of the
subject, age, gender and morphologic type of the subject.
Keywords: verbal agreement, third person plural, Brazilian Portuguese, language variation.
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Facilmente podemos perceber que grandes problemas enfrentados por professores
de Língua Portuguesa no exercício de suas funções, quando eles se deparam, em sala de aula,
com a enorme distância entre a prescrição da Gramática Normativa (GN) e o uso cotidiano e
distenso da língua, as situações espontâneas de fala, ou seja, a grande diferença entre o que é
considerado ideal e o que é real no uso da língua.
O professor não pode mais ignorar o fenômeno da variação lingüística e deve assumir
uma postura, frente ao ensino de português, que venha a contribuir com o aumento da
capacidade de comunicação de seus alunos, sem, contudo, desprezar as variedades dialetais
por eles trazidas do meio familiar. É tarefa do professor ensinar a norma padrão, seja por
questões culturais, sociais, seja por questões políticas; é também tarefa do professor saber
reconhecer que as variedades lingüísticas menos prestigiadas também são regidas por uma
gramática particular, por meio da qual as pessoas se comunicam perfeitamente. O primeiro
passo para enfrentar esse desafio é reconhecer a variação lingüística como um fenômeno
presente em todas as línguas naturais, entre as quais se inclui, obviamente, o português
brasileiro (PB, daqui em diante). A esse respeito, assim se pronuncia Camacho (2004, p. 59):
As formas alternativas de expressão podem conviver harmoniosamente na sala de aula: cabe
ao professor o bom senso de discriminá-las adequadamente, fornecendo ao aluno as chaves
para ele perceber as diferenças de valor social entre as variedades que lhe permitam depois
selecionar a mais adequada, conforme as exigências das circunstâncias da interação. O sistema
escolar tem um papel político relevante a desempenhar que é o de estender às camadas
marginalizadas o acesso a todos os bens simbólicos, dentre os quais se inclui indubitavelmente
o acesso à variedade padrão.
Alguns contextos de variação são atribuídos a classes sociais econômica e
culturalmente menos favorecidas, o que contribui sobremaneira para a disseminação do
preconceito lingüístico.
14
Neste trabalho, por meio de pesquisa sociolingüística, analisaremos o fenômeno da
concordância verbal (CV, daqui em diante) no dialeto do interior paulista, buscando
demonstrar empiricamente que o fenômeno da variação na CV se evidencia, em todos os
níveis sociais, inclusive nos níveis sócio-culturais mais elevados, ainda que de maneira menos
acentuada, conforme já atestaram trabalhos anteriores.
Ante o exposto, qualquer discriminação social motivada pela variação na CV não
poderia ser justificada, que o é possível atribuir qualquer comportamento a um ou outro
grupo social. Buscamos ainda, além de expor a vista o comportamento lingüístico de falantes
da região de São José do Rio Preto, evidenciar até que ponto os padrões lingüísticos de
variação nesta comunidade de fala se assemelham aos padrões lingüísticos de outras regiões
de nosso país, o que contribuirá para a caracterização geral do fenômeno da CV no PB.
Apesar de a temática da CV ter sido, de certa forma, um tanto quanto explorada, o
ineditismo deste trabalho reside no fato de estarmos propondo o estudo e a descrição de uma
variedade do PB ainda pouco conhecida. Ademais, a variação de córpus de estudo (ou
amostra de fala de uma comunidade) é sempre uma boa justificativa para qualquer estudo de
natureza sociolingüística, visto que todo e qualquer dialeto, lingüisticamente heterogêneo por
natureza, é único, em relação aos demais com os quais possa ter algo em comum. Assim, a
comunidade de fala riopretana apresenta características próprias, que a aproximam de outras
comunidades, mas que também delas a distanciam. Como forma de exemplificar uma das
marcas presentes na fala riopretana, podemos citar o r-retroflexo, também conhecido como
r-caipira”, estudado por Castro (2002), que constitui característica distintiva de outras
regiões do mesmo estado e que, por outro lado, pode também ser evidenciada na fala de
outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, dentre outros.
Deve-se ter claro que somente por meio de uma pesquisa variacionista, centrada em
amostras de fala atuais da comunidade riopretana, é possível detectar mudanças ou variações
15
da fala local em relação a dialetos de outras regiões. Além de importante contribuição para a
caracterização dessa comunidade de fala, consideramos que esse estudo, a exemplo de outros
dessa mesma natureza, poderá representar valioso subsídio para a amenização de preconceitos
lingüísticos, principalmente os advindos de variantes regionais, e para a relativização da
noção de “erro”, uma vez que buscaremos descrever o padrão real de uso da língua oral, que,
por vezes, é desqualificado e banido como expressão lingüística natural, conforme salienta
Mollica (2003).
Sob a vertente variacionista, dentre os estudos já realizados sobre a CV, podemos citar
o trabalho pioneiro de Lemle e Naro (1977), para o dialeto carioca; o de Nina (1980), para o
dialeto da Região Bragantina; o de Nicolau (1984), para o dialeto mineiro; o de Rodrigues
(1987), para o português popular de São Paulo; o de Graciosa (1991), para a fala culta
carioca; o de Rodrigues (1997), para o dialeto de Rio Branco; o de Anjos (1999), para a fala
pessoense; o de Monguilhott & Coelho (2002), para a fala da Região Sul, os estudos de
Gameiro (2005) e de Monte (2007), para a fala da região central do estado de São Paulo (São
Carlos, Araraquara e Itirapina), além das inúmeras contribuições mais recentes de Naro &
Scherre (1999, 2000a, 2000b, 2003 e 2007) e Scherre & Naro (1999, 2000, 2001, 2005 e
2006).
Essas referências mostram que, desde que a Sociolingüística se implementou de
maneira consistente no Brasil, a CV tem sido objeto de pesquisa, alcançando mais de três
décadas e abrangendo grande parte dos dialetos do PB. Apesar disso, um panorama completo
de sua manifestação para o PB está longe de ser alcançado, dada a variedade dialetal presente
no território brasileiro, principalmente se considerarmos as variedades faladas no interior dos
estados, que ainda merecem um olhar mais cuidadoso.
Por uma questão de delimitação do nosso objeto de pesquisa, nesse momento, nossa
escolha recai somente sobre a manifestação da CV em contextos de 3PP.
16
Desse modo, justifica o presente estudo o fato de nunca se ter realizado semelhante
pesquisa com dados de fala do noroeste do Estado de São Paulo, mais precisamente, da
Região de São José do Rio Preto. É assim necessária uma investigação para que se possa
verificar o comportamento lingüístico de informantes da região, no que se refere a contextos
variáveis capazes de influenciar a aplicação das marcas de concordância no verbo,
contribuindo, de modo mais específico, para a descrição e o conhecimento do português
falado no noroeste do estado de São Paulo, e, de modo mais geral, para a composição do
quadro descritivo mais amplo do PB.
Mais localmente, a análise das manifestações de fala de informantes da região de São
José do Rio Preto contribuirá para estimular a realização, em bases científicas, de novas
pesquisas e análises do patrimônio lingüístico dessa região, ainda um tanto desconhecido dos
próprios lingüistas e dos professores de língua portuguesa. Nesse sentido, contribuição
importante será a de buscar resultados que propiciem subsídios para o ensino da língua
portuguesa na região. De posse desses resultados, serão possíveis de perceber as reais
manifestações de fala da comunidade, e assim o professor poderá contar com subsídios para
adequação de suas aulas à realidade lingüística de seus alunos, explorando-a sem, entretanto,
discriminá-la.
Cabe mencionar ainda, que este estudo da CV, de modo mais específico, integra uma
frente de trabalho de cunho variacionista, que vem consolidando a linha de pesquisa
“Variação e Mudança Lingüística” voltada para a exploração dos aspectos sociolingüísticos
da região riopretana. Integram essa frente trabalhos de descrição em andamento e/ou
concluídos abordando a variação em seus vários níveis de análise: fonológico, morfossintático
e sintático. Citem-se os seguintes fenômenos: a haplologia (PAVEZI, 2005), o r-retroflexo
(CASTRO, 2002), a redução de gerúndio (FERREIRA, 2008), o alçamento e rebaixamento de
vogais pré-tônicas e pós-tônicas (SILVEIRA, 2006, 2008; CARMO, 2007; RAMOS, 2007), a
17
concordância nominal (SALOMÃO, 2008) e verbal (RUBIO, 2006, 2007; FIAMENGUI,
2008), o uso do futuro (HERNANDES, 2008) e a alternância indicativo/subjuntivo
(SANTOS, 2005), todos usando amostras de fala da região riopretana.
Como se pode observar, a pretensão é a de, em futuro próximo, consolidar os estudos
de natureza variacionista sobre a fala riopretana, de modo a se obter uma fotografia
sociolingüística da região noroeste do estado de São Paulo. Nesse contexto, a presente
pesquisa representa uma contribuição não para um melhor entendimento da regra que leva
à expressão das categorias verbais de número, mas também para o próprio entendimento do
modo de realização do sujeito em PB, o que pode reforçar os prognósticos de mudanças hoje
estabelecidos.
Diante dos objetivos da pesquisa aqui relatados, este trabalho encontra-se estruturado
da seguinte forma: no capítulo I, apresentamos os pressupostos teóricos considerados para a
elaboração de nossa pesquisa; no capítulo II, tratamos mais especificamente do fenômeno da
CV, em outras línguas e no PB; no capítulo III, expomos os procedimentos metodológicos
seguidos para a realização de nossa pesquisa, os critérios utilizados na composição do Banco
de Dados Iboruna, utilizado como córpus e, ainda, as características gerais da região de São
José do Rio Preto. No capítulo IV, encontram-se os resultados alcançados a partir da análise
quantitativa e qualitativa dos critérios lingüísticos e sociais considerados. Na última parte do
trabalho, as considerações finais, apresentamos uma apreciação concisa dos principais pontos
da pesquisa e dos principais resultados, à qual se seguem as referências bibliográficas.
18
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O primeiro capítulo do presente trabalho se compõe da seguinte forma: na primeira
seção (1.1.) tratamos do surgimento da Sociolingüística e sua relação com as demais vertentes
da Lingüística; na segunda seção (1.2.), são apresentadas a Teoria da Variação Lingüística e
suas premissas básicas, bem como a importância da figura de seu precursor, William Labov;
na terceira seção (1.3.), apresentamos a teoria da mudança lingüística, enfocando os
princípios empíricos e os princípios gerais considerados em seu estudo; por fim, na última
seção (1.4.), buscamos tratar dos possíveis pontos de convergência e divergência entre a
vertente funcionalista e a vertente sociolingüística.
1.1 O surgimento da Sociolingüística
O principal problema enfrentado pela lingüística moderna, ainda hoje, é a
caracterização de seu objeto de pesquisa. Na fundação da Lingüística como ciência, ao
distinguir a língua da fala, Saussure (1997) separa o que é geral, social e essencial do que é
particular e exclusivamente individual. No que era legítimo naquele momento, reconhece
apenas a língua como um objeto científico, relegando a exterioridade lingüística a um
segundo plano e, portanto, considerando a língua um objeto de estudo estritamente
lingüístico e formal, apreensível apenas na consideração como um sistema estruturado.
Subjaz a esse postulado básico uma concepção de linguagem com forte tendência para
a criação de um axioma de categoricidade, baseado em uma análise regularizada, com a
eliminação de qualquer espaço para a consideração da variabilidade da linguagem; em outras
19
palavras, da heterogeneidade. Somente um controle do estudo da linguagem por meio de
sua aproximação a uma disciplina exata como a matemática.
O paradigma estruturalista de Saussure, anos mais tarde, é reafirmado por Chomsky
(1957), que considera a linguagem sem relação com o meio ou com o contexto social do qual
ela é parte integrante. A concordância entre o estruturalismo e o gerativismo reside no fato de
que o falante tem acesso a diferentes sistemas gramaticais e as variações são livres e tratadas
como flutuação aleatória.
Com o lingüista Antoine Meillet, no início do século XX, encontramos uma concepção
mais sociológica do falante e da língua, com uma formulação consistente e sólida. Para o
autor, as condições sociais do falante têm influência decisiva sobre a língua e sobre as
mudanças, assim, a língua é concebida como um fato social e a lingüística é vista como uma
ciência social (MEILLET, 1951).
No Brasil, em 1920, Amadeu Amaral, em sua obra intitulada O dialeto caipira,
considerava fortemente a concepção sociológica do falante e da língua, o que demonstrava a
preocupação com a heterogeneidade no sistema lingüístico.
Fala-se muito num dialeto brasileiro, expressão consagrada até por autores notáveis de
além-mar...O falar do Norte do país não é o mesmo que o do Centro ou o do Sul. O de São
Paulo não é igual ao de Minas. No próprio interior deste Estado se podem distinguir sem
grande esforço zonas de diferente matiz dialetal o Litoral, o chamado ‘Norte’, o Sul, a parte
confinante com o Triângulo Mineiro.
(AMARAL, 1982, p. 43)
Contudo, somente a partir da cada de 60, é que os estudos da heterogeneidade da
fala ganham força, na busca de evidências da influência externa na variabilidade da
linguagem. E mais, os estudos variacionistas vêm demonstrar que os dados variáveis são em
si a prova da possibilidade de controle da variação. Marca-se, assim, uma ruptura com a
tradição lingüística e uma renovação teórico-metodológica.
20
A partir da década de 1970, uma nova corrente da lingüística, a Sociolingüística, passa
a ganhar terreno na comunidade lingüística, com sua atenção voltada para um tipo de
investigação que correlaciona a língua inserida em uma comunidade de fala a aspectos
lingüísticos e sociais.
O termo Sociolingüística, segundo Romaine (1994), surgiu pela primeira vez em 1950,
fazendo referência às perspectivas que lingüistas e sociólogos mantinham face à relação
estabelecida entre linguagem e sociedade, de maneira mais específica, à diversidade
lingüística inserida em um contexto social. O emprego do termo data do ano de 1952 e foi
empregado por Currie, para tratar da relação estabelecida entre o status social dos falantes e
seu comportamento lingüístico.
1.2 A teoria da variação lingüística: premissas básicas
Ainda que alguns autores tenham anteriormente tratado da relação entre linguagem e
sociedade, é William Labov, que, em 1963, inicio a um modelo de pesquisa que concebe a
língua em constante relação com a sociedade, influenciando-a e por ela sendo influenciada.
Inicia-se uma nova vertente da Lingüística, centrada em traços variáveis da língua decorrentes
da influência de fatores tanto lingüísticos quanto sociais. Diferentemente do modo gerativista
de conceber o falante, altamente em voga a essa época, os sociolingüistas passaram a
privilegiar em seus estudos a linguagem inserida no contexto social, cuja performance
depende de um falante/ouvinte real, já que nenhuma previsão é possível de ser feita baseando-
se apenas nas intuições do pesquisador. A heterogeneidade lingüística é característica inerente
do indivíduo e se acentua ainda mais na comunidade de fala da qual ele faz parte. A tarefa da
Sociolingüística é, portanto, demonstrar a covariação sistemática das variações lingüística e
21
social e, até mesmo, demonstrar uma relação casual em uma ou outra direção (FISHER,
1958).
Sob tal modo de abordar a linguagem, a língua passa a ser concebida como um
continuum heterogêneo, influenciado por um conjunto de fatores lingüísticos e
extralingüísticos que favorece ou desfavorece uma ou outra variante lingüística. Por exemplo,
na alternância de formas encontradas na CV, os fatores extralingüísticos em conjunto com os
fatores lingüísticos têm influência positiva ou negativa na probabilidade de ocorrer a
pluralização explícita dos verbos.
O conceito de comunidade de fala aplica-se, segundo Labov (1972), a um grupo de
falantes que seguem as mesmas normas relativas ao uso da língua, sem a implicação de que
esse grupo deva utilizar as mesmas formas lingüísticas. Para o estudo proposto neste trabalho,
a comunidade de fala considerada compreende os falantes da região noroeste do estado de São
Paulo, mais precisamente, da cidade de São José do Rio Preto e seis cidades circunvizinhas.
É, então, sob a premissa da heterogeneidade lingüística ordenada que se torna possível
identificar, no interior de uma comunidade lingüística, fenômenos lingüísticos variáveis, o
que significa dizer que os integrantes de uma comunidade de fala não se comportam
lingüisticamente de forma homogênea.
Para Labov (1972), a variação é inerente à natureza da linguagem humana e não deve
ser tratada apenas como um acidente, mas sim como uma característica das línguas naturais.
A variação implica o uso alternante de formas distintas para se transmitir um mesmo conteúdo
informativo. O conjunto desses usos constitui, por sua vez, a variável lingüística. Cada uma
dessas formas alternantes que expressa o mesmo valor de verdade em um mesmo contexto é
denominada variante lingüística. Por exemplo, para o fenômeno da CV, duas variantes,
ausência de marcas de plural nos verbos vs. presença de marcas de plural nos verbos,
constituem a variável lingüística.
22
Há uma relação de concorrência entre as variantes de uma comunidade de fala.
Conferem-se valores sociais diferentes a cada variante e, assim, essas variantes normalmente
são ou não selecionadas, ainda que inconscientemente, pelos falantes da comunidade de fala,
considerando-se, por vezes, as conseqüências sociais que decorrerão do uso de cada uma
delas.
Uma variante pode ser considerada de prestígio, se estiver associada a falantes ou a
grupos sociais de status considerado superior. Tal consideração pode ocasionar a reprodução
dessa variante, inclusive por outros grupos sociais, com o intuito de evitar o preconceito
lingüístico.
Por outro lado, considera-se estigmatizada a variante utilizada por falantes
desprestigiados socialmente na comunidade, seja por pertencerem a estratos econômica ou
culturalmente menos prestigiados, seja por possuírem baixo nível de escolaridade, ou ainda
por razões étnicas e de espaço geográfico. Na verdade, o estigma se faz pela oposição da
variante estigmatizada à forma considerada prestigiada na comunidade. Em qualquer caso, o
critério de definição não tem relação direta com padrões lingüísticos; é pautado pela avaliação
social atribuída ao usuário da língua. Como conseqüência dos valores sociais que entram em
questão, qualquer fuga dos padrões de prestígio será alvo de preconceito lingüístico por parte
dos falantes da comunidade de fala, também uma outra forma de preconceito social, ainda
pouco reconhecido.
Gnerre (1987, p. 4) afirma que:
Uma variedade lingüística “vale” o que “valem” na sociedade seus falantes, isto é, vale como
reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais. Esta
afirmação é válida, evidentemente, em termos “internos” quando confrontamos variedades de
uma mesma língua, e em termos “externos” pelo prestígio das línguas no plano internacional.
23
Aos moldes da relação entre variante de prestígio e variante estigmatizada, há a
oposição entre a variante inovadora e a variante conservadora. A forma mais antiga, em um
processo de variação e possível mudança, geralmente empregada por falantes de faixas etárias
mais elevadas, é considerada conservadora, ao passo que a forma mais recente e passível de
implementação, mais provável de ser encontrada na fala da geração mais nova, é considerada
inovadora.
Em meio a essas variantes tem-se, ainda, a variante padrão, normalmente, eleita como
a variante de prestígio dentro de uma comunidade de fala, por ser a variante prescrita pelos
manuais e gramáticas normativas. Do outro lado do embate entre as formas variantes, em
oposição à variante padrão, encontram-se as variedades não-padrão, também identificadas
como variedades populares, que refletem tipicamente a fala das classes que não possuem
prestígio social dentro da comunidade de fala.
Segundo Votre (2004), a forma não-padrão é registrada como vício ou erro nas
gramáticas escolares e nos manuais de descrição. O estudo e o ensino da língua e a escola
funcionam como promotores e defensores da variante padrão, podendo, assim, contribuir para
o aumento do preconceito em relação às variedades não-padrão e, ainda, para a elevação da
variante padrão ao papel de variante de prestígio da comunidade de fala.
Embora se costume considerar como sinônimas, de um lado, variantes de prestígio,
conservadora, padrão, e culta, e, de outro, variantes estigmatizada, inovadora, não-padrão e
popular, é preciso se ter claro que esses conceitos nem sempre se sobrepõem.
A implementação de uma variante inovadora dependerá do prestígio que esta adquirirá
na comunidade. A manutenção de uma forma conservadora, por outro lado, também
dependerá de seu prestígio na comunidade. A associação da variante de prestígio à variante
padrão nem sempre é determinante, visto, em certas circunstâncias, ocorrer a implementação
24
na comunidade de fala de formas inovadoras que não pertencem ao padrão, mas que não são
desprestigiadas na comunidade de fala.
Para Labov (1972), algumas formas lingüísticas assumem uma característica
socialmente marcada e são ostensivamente estigmatizadas por outros grupos sociais que não
as utilizam. Essas formas costumeiramente caracterizam um grupo social específico e são
chamadas de estereótipos. A caracterização de uma forma como estereotípica de um grupo vai
depender da reação social (preconceito) que essa forma lingüística irá gerar em outros grupos
sociais.
Diante desse quadro, tem-se, portanto, que fatores de ordem social influenciarão
sobremaneira as escolhas lingüísticas dos falantes, em razão das “pressões” sociais que
regularão a escolha de uma ou outra variante, ou seja, a inserção do indivíduo em um grupo
social influenciará o seu comportamento lingüístico, se não for o caso de realmente
determiná-lo.
Fatores sociais como gênero, escolaridade, profissão, classe social, religião, origem
geográfica e contexto de fala são importantes na caracterização do comportamento lingüístico
dos indivíduos.
Segundo Naro (2003), ainda que as organizações sociais de cada comunidade
lingüística possam possuir certas peculiaridades não previstas, um comportamento
considerado esperado. Por exemplo, falantes mais velhos costumam preservar mais as formas
consideradas conservadoras, o que pode ocorrer também com pessoas mais escolarizadas com
camadas da população que gozam de maior prestígio social, com grupos sociais que sofrem
pressão normatizadora, a exemplo de falantes do sexo feminino em geral, ou com pessoas que
exercem atividades socioeconômicas que exigem uma boa apresentação pública.
Relativamente às premissas aqui expostas, para o caso da CV no PB, a variante
presença de marcas de plural nos verbos é considerada a variante padrão, visto ser a forma
25
preconizada pela gramática normativa. Como conseqüência quase inevitável do efeito da
pressão da norma sobre as escolhas lingüísticas, a mesma variante foi eleita como a variante
de prestígio na comunidade e detém também o rótulo de variante conservadora, fato
considerado trivial na Sociolingüística. Na variação lingüística, ainda que não seja categórico,
em grande mero de casos, a variante considerada padrão assume a posição de variante de
prestígio e também de variante conservadora. Em oposição à variante padrão, tem-se a
variante ausência de marcas de plural nos verbos, que, por conseqüência natural, assume a
posição de variante não-padrão, por ser ignorada (ou não reconhecida) pela tradição
gramatical. É estigmatizada pela sociedade, por estar presente, com maior freqüência, na fala
das classes sociais menos favorecidas, seja do ponto de vista econômico ou seja do ponto de
vista cultural. É, ainda, considerada inovadora, em oposição à variante presença de marcas de
plural nos verbos, considerada conservadora.
Para o fenômeno variável da CV, Rodrigues (1987) afirma que, especificamente, para
a 1PP (primeira pessoa do plural), a ausência de marcas de plural nos verbos é considerada
como estereótipo presente na fala de indivíduos do interior do estado ou mesmo da zona rural,
fato constatado também por Rubio (2006), que, em estudo sobre variedade interiorana do PB,
confirmou que a atribuição de estigmatização social pode atuar em níveis diferentes para a
1PP e 3PP. Para a ausência de marcas nos verbos de 3PP, ainda que haja estigma social por
parte da comunidade em geral, não qualquer estereótipo quanto à origem geográfica do
falante, visto ser característica comum encontrada, se não em todos, em grande número de
estados do país, incluindo as capitais.
No Brasil, segundo Bagno (2003), a escolha da variante padrão no PB se deve,
principalmente, a motivos econômicos, políticos e culturais. O português empregado nas
cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, começou a ser considerado
modelo a ser imitado, a norma a ser seguida, o português padrão do Brasil, a partir do
26
momento em que essas cidades se tornaram pólos econômicos, políticos e culturais. A
transferência da capital da Colônia para o Rio de Janeiro, em 1763, fez com que o Rio de
Janeiro assumisse grande importância no país. Da mesma forma, no início do século XX, a
crescente industrialização de São Paulo fez com que a cidade passasse a compartilhar
importância econômico-político-cultural com o Rio de Janeiro. Por fim, a crescente força
política e econômica do estado de Minas Gerais, especialmente da capital Belo Horizonte,
cerrou o triângulo de influência na formação da variante considerada padrão no PB.
Variedades de outros estados, ou mesmo de regiões interioranas destes estados, que
não possuem influência econômica ou cultural de mesmo porte, como é o caso da região
nordestina, são consideradas, segundo o autor, “pitorescas engraçadas, divertidas,
grosseiras, erradas e feias”.
1.3 A teoria da mudança
Como esperamos ter ficado claro até este ponto, toda análise sociolingüística deve ser
orientada para a busca de variações sistemáticas, inerentes tanto ao objeto de estudo quanto à
comunidade de fala, o que significa considerar que a variação não é caótica, podendo,
portanto, ser analisada e sistematizada. Nos termos de Tarallo (1991, p. 5), o desafio que se
apresenta ao sociolingüista é a busca do processamento, análise e sistematização desse
“universo aparentemente caótico da língua falada”.
Em Weinreich, Labov & Herzog (2006), é clara a concepção de língua como sistema
heterogêneo e ordenado, condição sine qua non para o estudo da mudança lingüística. A
variação, lembram Paiva & Duarte (2006, p. 133), possui um caráter sistêmico e controlado e
cabe à Lingüística entender, descrever e explicar essa sistematicidade, depreendendo os
padrões que a governam. A idéia da variação como caótica e aleatória, desprovida de qualquer
27
regularidade significativa e interessante, decorre, geralmente, do desconhecimento das “regras
da língua”, não as impostas pela norma, mas as que regem o uso real desse instrumento de
comunicação empregado em situações concretas.
A mudança pode ser conseqüência da dinâmica interna das línguas naturais, porém
nem toda variação e heterogeneidade envolverão mudança. O reconhecimento da mudança
lingüística precede, obviamente, o advento da sociolingüística, contudo, era, anteriormente,
restrito a comparações entre fatos de língua e de linguagem situados em dois momentos
discretos no tempo. A compreensão dos estágios intermediários entre esses dois momentos e a
captação da instalação gradativa e contínua da mudança, ou mesmo a rivalidade entre as
variantes “velhas” e “novas” num mesmo recorte do tempo, passam a ser sistematicamente
observadas, após o advento da sociolingüística.
A mudança, para Weinreich, Labov & Herzog (2006), é apenas uma fase sincrônica da
variação e, assim, apenas com a ligação entre os dois eixos (sincrônico e diacrônico) é
possível se compreender os processos intermediários de variação. O exame da gradualidade
de mudanças em curso de implementação, bem como a contextualização social e estrutural
poderão fornecer hipóteses que expliquem os estágios intermediários.
A utilização de uma análise pautada sobre a regra variável permite ao analista extrair
as regularidades e tendências dos dados e, por meio dela, determinar como a seleção de certas
estruturas lingüísticas é influenciada pelas configurações específicas de fatores que
caracterizam o contexto em que elas ocorrem.
A compreensão dos processos de mudança não é simples, porque a instalação de uma
nova variante envolve questões cruciais como: os fatores condicionantes, a transição, o
encaixamento, a implementação e a avaliação, questões inter-relacionadas que irão fornecer
uma visão integrada da mudança.
28
É do que passamos a tratar a seguir, atrelando os fundamentos empíricos necessários
para uma teoria da mudança lingüística às considerações particulares do fenômeno que se
propõe estudar no presente trabalho.
1.3.1 Princípios empíricos para a teoria da mudança lingüística
Weinreich, Labov e Herzog (2006) organizam uma discussão na qual trazem a luz
alguns problemas que deverão ser resolvidos para a realização de uma pesquisa que se
proponha dentro de uma teoria de mudança. Na medida do possível, serão feitas rápidas
incursões no fenômeno variável da CV, alvo desta pesquisa, na tentativa de situá-lo
relativamente ao modo de investigação de cada um desses problemas.
1.3.1.1 O problema dos fatores condicionantes: é necessário, para uma teoria da
mudança, determinar o conjunto de mudanças possíveis e condições possíveis para a
mudança. Observa-se que, nem sempre, todos os fatores lingüísticos e sociais são observados
em um estudo. É necessário ao pesquisador procurar abarcar todos os condicionantes
possíveis para as mudanças no sistema.
Relativamente a esse problema, no tocante à CV, devem ser elencados tanto fatores
sociais quanto lingüísticos, que possam influenciar positiva ou negativamente a variação.
Mesmo que alguns fatores tenham sido atestados por trabalhos anteriores, é necessária a
confirmação de sua influência para a comunidade alvo desta pesquisa. Outros fatores, ainda
que não sejam comumente pesquisados, devem ser testados com o intuito de verificar se
exercem ou não influência na CV. É importante ter-se em vista que as comunidades são
socialmente diferenciadas e, assim, podem sofrer variações marcantes de comportamento,
bem como reagir de modo diferente diante de um mesmo contexto variável. Por meio da
29
investigação dos contextos variáveis que influenciam a CV no dialeto em questão, é possível
estabelecer contrastes e confrontos com outros dialetos.
1.3.1.2 O problema da transição: a teoria da mudança lingüística pode aprender mais
com os dialetos chamados transicionais do que com os dialetos nucleares. Deve-se considerar
todo dialeto como transicional. Ao considerarem-se subsistemas como arcaico/inovador, uma
teoria de língua pode observar a mudança lingüística enquanto ela ocorre, apreendendo
mudanças que estavam perdidas no passado. A mudança se dá: (i) à medida que um falante
aprende uma forma alternativa, (ii) durante o tempo em que as duas formas coexistem na sua
competência e (iii) quando uma das formas se torna obsoleta. Em verdade, cabe ao
pesquisador detectar os estágios intervenientes entre dois estágios distintos da língua, para
verificar em que pontos as variações estão ocorrendo.
Para a CV, a estratificação dos informantes de acordo com suas características sociais
propicia meios para a verificação de perfis que possam ser precursores das mudanças
lingüísticas ou mesmo se se trata apenas de uma variação estável. Ao considerarmos, por
exemplo, o fator escolaridade, sabe-se, de antemão, que, à medida que o falante trava maior
contato com o ambiente escolar, adquire também um contato maior com a variante padrão,
que, para o fenômeno variável da CV, seria a aplicação de marcas de plural nos verbos, ou
seja, no caso do fator social grau de escolarização, falantes com maiores níveis de
escolaridade tenderiam a aplicar com maior freqüência a pluralização nos verbos, por ser essa
a variante prescrita dentro do ambiente escolar. Para os aos falantes com baixa ou nula
escolarização seria atribuído o uso, com maior freqüência, da variante ausência de marcas de
plural nos verbos. O fato de uma variante ser a eleita como forma de prestígio pela
comunidade de fala e também o fato de ser a mesma variante prescrita no ambiente escolar
30
não acarretam a conseqüência de que essa variante se sobreponha a outra variante, encerrando
o processo de variação.
1.3.1.3 O problema do encaixamento: A mudança lingüística necessariamente deve
ser concebida como encaixada no sistema lingüístico e na matriz social, sem que isso
implique, no entanto, concebê-la como um movimento de um sistema inteiro para outro
completamente diferente. Em outras palavras, o que ocorre, num processo de mudança, é a
alteração gradual de um conjunto limitado de variáveis num sistema. O controle dessa
variação pode ser apreendido a partir da competência lingüística dos membros da comunidade
de fala. Da mesma forma, no desenvolvimento da mudança lingüística, a estrutura social pode
pesar de forma diferente sobre o sistema lingüístico abstrato. A questão do encaixamento,
portanto, lidará com o entrelaçamento das mudanças com outras que poderão afetar tanto a
estrutura lingüística quanto a estrutura social.
No fenômeno em estudo, especificamente, a redução no paradigma da conjugação
verbal pode acarretar alterações em outro subsistema da língua, como, por exemplo, na
estrutura oracional, levando a um maior preenchimento da posição de sujeito, em casos em
que a não pluralização do verbo, semelhantemente ao que ocorre em outras línguas, como
veremos mais adiante.
1.3.1.4 O problema da avaliação: é necessário que a teoria da mudança lingüística
estabeleça empiricamente o vel de consciência social dos falantes em relação às variáveis
lingüísticas. A imposição do processo contínuo de mudança vai depender diretamente dos
correlatos subjetivos e das avaliações dos falantes. A mudança, provavelmente, irá gerar
efeitos sobre a estrutura e o uso da língua. Estratos sociais diferentes reagem de forma
diferente às mudanças ocorridas no sistema.
31
Relativamente a esse problema, em Rubio (2007), confirmamos, para a comunidade da
região de São José do Rio Preto, que informantes do sexo feminino, assim como os
informantes de grau de escolaridade mais elevado, atribuem status diferentes para a CV de
1PP e de 3PP, pois apresentam índices maiores de CV para 1PP do que para 3PP. Isso
demonstra que, na comunidade pesquisada, a não-aplicação da regra para a 1PP é mais
estigmatizada socialmente do que a não-aplicação da regra para a 3PP, o que faz que falantes
mais sensíveis ao significado social da fala (mulheres e indivíduos com maior grau de
escolaridade) busquem se adequar mais à norma.
Ainda que, na composição do córpus, não tenha sido feito um controle para a medição
da avaliação social do falante em relação a sua fala e a fala dos demais membros da
comunidade, será necessário em nossa pesquisa recorrermos às características sociais que
normalmente estão associadas às formas de prestígio e, do mesmo modo, às características
mais associadas às formas desprestigiadas na comunidade, conforme aponta a literatura
sociolingüística.
1.3.1.5 O problema da implementação: O processo de mudança envolve estímulos e
restrições tanto da estrutura social quanto da estrutura da língua. O início de uma mudança
lingüística se quando traços característicos da variação na fala se difundem através de um
subgrupo específico da comunidade de fala. Esse traço lingüístico assume uma significação
social, ou seja, os valores sociais agregados àquele grupo. Com a inserção de novos membros
ao grupo, as mudanças secundárias tornam-se primárias. A etapa subseqüente é a elevação no
nível de consciência social daquela mudança e do estabelecimento de um estereótipo. A
última etapa é a perda da significação das alternâncias envolvidas e da seleção de uma das
alternativas como uma constante. O que o pesquisador buscará saber o as razões possíveis
para as mudanças ocorrerem em certa língua numa dada época. uma forte relação entre a
32
avaliação que os falantes fazem da variação ocorrida e a implementação dessa mudança;
assim, somente haverá a implementação se as barreiras da avaliação da comunidade forem
transpostas.
No caso da CV, alguns fatores avaliativos impedem que a forma o-padrão se
implemente totalmente na comunidade. Esses fatores estão associados à imposição da norma,
por parte da comunidade. Por outro lado, uma “forte pressão” dos segmentos sociais que
não têm acesso à norma para a implementação da forma desprestigiada, que é considerada, do
ponto de vista lingüístico, mais “enxuta”, mais econômica, justamente por sugerir uma
redução no paradigma verbal de quatro para duas possibilidades.
1
Além disso, a depender do
contexto lingüístico variável, há possibilidade de a mudança atingir um caso de CV como, por
exemplo, contextos de passiva sintética (Scherre, 2005) e de posposição do verbo em relação
ao sujeito, porque menos perceptível e menos estigmatizado socialmente, deixando de o fazer
em outros. A tendência pode ser também de que haja na comunidade uma variação estável,
em que as duas variantes permaneçam em concorrência devido aos fatores citados acima. Essa
variação estável, nesse caso, estaria então mais sujeita aos princípios considerados de ordem
social do que aos princípios de ordem lingüística.
1.3.2 Alguns princípios gerais para o estudo da mudança lingüística
Conforme salientam Weinreich, Labov & Herzog (2006), algumas considerações
devem ser feitas para o estudo das mudanças lingüísticas. É preciso ter claro que a mudança
lingüística não deve ser considerada como uma deriva aleatória, mas sim como a
generalização de uma alternância particular num dado subgrupo da comunidade de fala, que
irá assumir o caráter de uma diferenciação ordenada. A estrutura lingüística inclui a
1
Português padrão brasileiro: eu vou, você/ele vai, nós vamos, vocês/eles vão. Português não-padrão brasileiro:
eu vou, você/ele/nós/vocês/eles vai.
33
diferenciação ordenada dos falantes e dos estilos através das regras que governam a variação
na comunidade de fala.
Ainda que haja constante variação numa língua, nem toda variabilidade e
heterogeneidade implicam mudança, porém toda mudança implica necessariamente variação e
heterogeneidade. Em caso de mudança lingüística, não uma generalização imediata, mas
um processo de variação temporal e espacial.
Considerando ainda que as variações e as mudanças na comunidade de fala são
determinadas dentro da estrutura social, o idioleto (modo de falar característico de um
indivíduo) não pode oferecer uma base para gramáticas autônomas ou consistentes.
Consideremos o que afirma Teissier (1982, p. 79) a respeito da variação lingüística em
uma comunidade de fala:
A realidade, porém, é que as divisões dialetais no “Brasil” são menos geográficas que sócio-
culturais. As diferenças na maneira de falar são maiores, num determinado lugar, entre um
homem culto e o vizinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural
originários de duas regiões distantes uma da outra.
Não mudança lingüística confinada em etapas discretas dentro de uma única
família, pois ela é transmitida por toda comunidade.
Não devemos desprezar nem os fatores lingüísticos nem os fatores sociais, pois eles
estão totalmente inter-relacionados no âmbito de uma mudança lingüística. Explicações
confinadas a um ou outro aspecto, não importam quão bem construídas, falharão em explicar
o rico volume de regularidades que pode ser observado nos estudos empíricos do
comportamento lingüístico.
34
1.4 Funcionalismo e Sociolingüística
Atualmente a lingüística tem se dividido entre a distinção epistemológica que opõe as
abordagens de cunho formalista e as de cunho funcionalista. A sociolingüística tem por
fundamento o estudo da ngua em uso e, por isso, naturalmente é consistente com uma
abordagem funcionalista. Contudo, Labov (1990) manifesta-se favoravelmente à idéia de uma
Sintaxe autônoma, possível de ser considerada e estudada sem recurso à semântica.
Ocorre porém que, no momento em que a análise da variação sai do campo
fonológico, em que formas alternantes expressam o mesmo significado referencial, e parte
para o campo da sintaxe, uma perda significativa de sua operacionalidade. O conceito de
“mesmo significado” passa a se enfraquecer e a variação não deve mais ser considerada como
livre, visto não ser influenciada somente por fatores extralingüísticos, mas também por fatores
de ordem pragmática, ou seja pelas escolhas do falante que servem a seus propósitos
comunicativos. A variação passa a ser gerida também por processos de organização textual.
Para Casseb-Galvão & Nascimento (2006), alguns princípios funcionalistas, como o
da iconicidade são produtivos na explicação do uso de regras variáveis do PB e, dessa forma,
alguns fenômenos são mais visíveis se observados os princípios metodológicos variacionistas,
que consideram que todo tipo de mudança lingüística se em contextos reais de uso, com a
apreciação do perfil da comunidade envolvida.
Conforme afirma Berlinck (2002), a participação do funcional na definição da
variação depende da natureza do fenômeno que se vai analisar. Cada fenômeno deve ser
investigado segundo uma postura “ingênua”, sem o estabelecimento de expectativas de um
resultado menos ou mais favorável a uma ou a outra abordagem. Os fatos devem evidenciar
por si e levar o lingüista a resultados condizentes com os fatos a que se propõe analisar. A
esse respeito, são palavras de Camacho (2003, p. 64):
35
Seria altamente positivo para o progresso da ciência da linguagem o esgotamento de todas as
possibilidades de análise na explicação do fenômeno lingüístico, o que significaria submetê-lo
a todos os fatores que se mostrarem relevantes, sejam eles de natureza social, formal ou
funcional e, esgotadas as possibilidades, submeter a própria análise a uma avaliação criteriosa
sem assumir posições metodológicas apriorísticas, que servem apenas para acirrar ainda mais
um certo clima de competição... se quisermos contribuir seriamente para o progresso e a
evolução da teoria da linguagem, levando seriamente em conta seu próprio objeto de estudos.
36
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
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L
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E
M
M
E
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S
S
T
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U
D
D
O
O
Este capítulo possui a seguinte estrutura: na primeira seção (2.1.), apresentamos o
fenômeno da CV e sua relevância na modificação da estrutura verbal, remetendo a
considerações elaboradas para outras línguas românicas; na seção segunda (2.2.), tratamos do
fenômeno variável da CV no Português Brasileiro, com a consideração de estudos anteriores,
para outros dialetos, e os fatores sociais e lingüísticos expostos nesses estudos.
2.1 A CV e o princípio da relevância: observações translingüísticas
Resistente em reconhecer prognósticos de mudanças e o espectro mais amplo da
língua que a variação na CV atinge, a tradição gramatical portuguesa, no que lhe é legítimo,
estabelece, como regra quase categórica, que o verbo deve concordar com o número e a
pessoa gramatical do sujeito: se o sujeito for simples e plural o verbo deve necessariamente
receber marca de plural. Entretanto, em contextos especiais, casos admitidos de variação
(sujeitos compostos, expressões partitivas, construções predicativas etc), os quais não cabe
serem discutidos nesse momento (cf. BECHARA, 2001; CUNHA & CINTRA, 1985;
ROCHA LIMA, 1972; SACCONI, 1990; dentre outros).
Bybee (1985) mostra que a contribuição de um elemento significativo na modificação
do conteúdo significativo de outro elemento pode variar de acordo com o conteúdo semântico
do primeiro em relação ao segundo. Assim, podem-se atribuir diferentes graus de relevância
para categorias que afetam uma base lexical. Por exemplo, na modificação do radical de um
verbo, a categoria aspecto é muito mais relevante do que a de concordância número-pessoal,
37
que a primeira descreve a temporalidade interna do estado-de-coisas codificado pelo
próprio verbo, enquanto a segunda apenas se refere ao(s) argumento(s) verbal(is). Em outras
palavras, categorias de concordância não se referem à situação descrita pelo verbo em si, mas
sim, aos participantes envolvidos na situação.
Relativamente às categorias que podem afetar uma base verbal (valência, voz, aspecto,
tempo, modo e concordância), os estudos tipológicos de Bybee (1985), envolvendo cinqüenta
línguas, demonstram que a grande maioria delas (72%) traz expressa na base verbal a
categoria aspecto, ao passo que a CV de número e pessoa ocorre em menor número de línguas
(56%). Diante desses resultados, foi possível chegar a uma escala, em que as categorias
modificadoras da base verbal são dispostas de acordo com o seu grau de relevância:
+
Grau de relevância
-
Valência > Voz > Aspecto > Tempo > Modo > Concordância de número > Concordância de pessoa > Concordância de nero
De acordo com essa escala hierárquica, iconicamente categorias que ocupam a posição
mais à esquerda contribuem mais significativamente para a modificação do conteúdo da base
verbal do que as categorias posicionadas mais à direita. É de interesse apontar que, nessa
escala, categorias de concordância (número, pessoa e gênero) são as de menor relevância para
o significado codificado na base verbal. Talvez por figurar, nessa escala hierárquica, como a
segunda categoria de menor relevância é que a CV pode constituir-se fenômeno variável,
apontando, portanto, para o atendimento a um princípio que é de ordem mais funcional do que
formal.
Consoante a escala hierárquica dada acima, ao considerarmos as possibilidades de
apagamento de marcas categoriais de verbos em PB, observamos que a escala se implementa
de modo completo, pois a ordem das marcas flexionais, marca de modo-tempo e, em seguida,
de número-pessoa (como em canta+_va+_m) revela que é a categoria mais distante do
38
radical que experimenta os efeitos da variação, porque menos significativa na modificação do
conteúdo do radical. Embora essa mesma escala não se aplique aos nomes/adjetivos, regra
semelhante se aplica à concordância nominal, em que é a marca de número, a mais distante do
radical, que pode ou não ser apagada (como em menin+_a+_s, bonit+_a+_s), e nunca a de
gênero.
Ao lado desse princípio de relevância para os morfemas modificadores de base verbal,
a redundância no emprego das regras de concordância em contextos oracionais é outro ponto
destacado por Bybee (1985). Em algumas línguas, a CV é exigida, ainda que o número seja
expresso pelo SN-sujeito. Entretanto, línguas, como o Kwakuitl (BOAS, APUD BYBEE,
1985), que dispensam a marcação de plural no verbo se o SN ou outro quantificador
evidenciar a marcação de número plural do sujeito. Para Boas, a redundância seria um dos
fatores determinantes da não-marcação de plural nas formas verbais, evidência que se estende
para línguas que não a fazem, mesmo tendo como regra a CV determinada pela forma plural
do sujeito.
A exemplo dessa regra operante no Kwakuitl, algumas outras línguas, mesmo em sua
variedade considerada padrão, apresentam características de eliminação das marcas de
concordância de número com a pessoa gramatical do sujeito, em contextos específicos.
No francês, por exemplo, ainda que na escrita os verbos recebam a marca de
concordância de 3PP, oralmente, na linguagem padrão, não há distinção entre a forma
singular e a forma plural, que a pronúncia das duas formas é exatamente a mesma para
grande parte dos verbos.
2
Esse apagamento da marcação de plural se estende também à
concordância nominal de número, em que, na linguagem oral, o morfema -scaracterístico
2
De acordo com Blanche-Benveniste (1999), a o século XV, o –s do plural em francês era pronunciado.
Atualmente, na língua falada, somente se diferenciam as formas singular e plural pelos determinantes nominais e
pelos casos de ligação. Em comunicação oral, Maria Angélica Deangeli relata que, ao manter contato com
crianças francesas em processo de aquisição de escrita durante 4 anos, observou a falsa concepção das crianças
de que na escrita, assim como na oralidade, não há distinção entre a terceira pessoa do singular e a 3PP, ou seja,
em textos escritos pode ocorrer a não marcação do plural, regra que é abandonada somente com o ensino
explícito das normas gramaticais da língua escrita.
39
do plural é apagado em inúmeros contextos. Como reflexo do encaixamento de uma mudança
no sistema lingüístico e na matriz social (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), esse
aspecto típico da oralidade mostra seus efeitos na estrutura frasal da ngua francesa, hoje
caracterizada pelo preenchimento obrigatório da posição do sujeito. Fato semelhante ocorre
na maioria das línguas de preenchimento obrigatório da posição de sujeito, como é o caso do
inglês, cujas formas de passado e de futuro dos verbos não apresentam mais nenhuma
distinção em relação à marcação de pessoa e número gramatical do sujeito, em decorrência de
um “enfraquecimento” da morfologia de concordância.
Para o italiano, ainda que não haja registros de variação no dialeto padrão, o que é
confirmado veementemente até mesmo por falantes nativos, dialetos da Itália, como o
Bergamasco, nos quais o fenômeno da concordância muito se assemelha ao que ocorre no PB
popular, como mostrado no quadro a seguir, adaptado de Zanetti (2004).
3
Verbo regular maià (mangiare)
PRESENTE
PASSATO
FUTURO
CONDIZIONALE
me màe maiàe maierò maierès
te to màe to maiàet to
maierèt
to maierèset
al màia
la màia
al maiàa
la maiàa
al maierà
la maierà
al maierès
la maierès
nóter
an màia an maiàa an
maierà
an maierès
óter maif maiàef maierif maierèsef
lur i màia i maiàa i maierà i maierès
Quadro 1: Paradigma de conjugação verbal do Bergamasco (província de Bérgamo)
O paradigma verbal no italiano standard, como no português padrão, possui 6
posições, com formas verbais diferentes para cada pessoa. Para o dialeto Bergamasco,
entretanto, semelhantemente ao português não-padrão (coloquial), uma redução no número
3
Em consulta feita a falante nativo do italiano, foi-nos informado que não há, em qualquer parte do país,
variação na CV. Quaisquer casos de não-marcação de plural seriam considerados “erros”, reservados apenas a
estrangeiros, desconhecedores da língua italiana (BABINI, comunicação pessoal). Porém Renzi & Salvi (1991)
registram que em alguns dialetos italianos a marcação de plural nos verbos pode não possuir as mesmas
características do italiano standard (padrão), sendo possível a não-marcação de plural, fato confirmado por
outros consulentes especialistas da língua (ORTALE, comunicação pessoal).
40
de formas verbais. Em Bergamasco, uma forma para a 1PS e 2PS (màe / te to màe),
uma forma para a 2PP (óter maif) e uma terceira forma que serve tanto para a 3PS, quanto
para a 1PP e 3PP (al maia / la maia / nóter an màia / lur i màia); no português não-
padrão, uma forma para a primeira pessoa (eu como) e outra forma para as demais pessoas
(você, ele, ela, nós, vocês, eles come).
Pelo quadro de conjugação dado acima, observa-se então que não marca distintiva
na forma verbal de 3PS e de 3PP, em qualquer tempo e modo. A distinção é feita somente por
recurso ao próprio pronome pessoal (/e lur), acompanhado de marca de clítico de sujeito,
al e la, para 3PS, e i para a 3PP. No italiano standard, como no português padrão, pode haver
o apagamento do sujeito, o que justifica o uso do clítico antes do verbo (no caso do
Bergamasco), com o fim de evitar ambigüidade entre as pessoas verbais, em casos de sujeito
nulo. Interessante destacar que a colocação do clítico antes do verbo somente é feita nos casos
em que formas verbais de diferentes pessoas convergem para uma única.
No espanhol, não encontramos ainda gramáticas descritivas que considerem casos de
variação na CV, o que se justificaria pelo fato de, na língua espanhola, ser regra quase
categórica o apagamento do sujeito pronominal; contudo propomos, em momento futuro, uma
investigação mais acurada, a fim de confirmar ou refutar essa hipótese, principalmente na
consideração de casos em que é necessário o preenchimento da posição de sujeito, como é
caso de sujeitos compostos, por exemplo.
Essas observações translingüísticas têm levado inúmeros lingüistas brasileiros a
apontarem uma mudança paramétrica em curso no PB, qual seja, de língua não-drop para
língua pro-drop, caracterizando-se assim como também uma língua de preenchimento
obrigatório da posição de sujeito. Essa mudança se deve, sobretudo, às alterações no
paradigma pronominal e ao enfraquecimento da morfologia de concordância (DUARTE,
1993; GALVES, 1993).
41
Segundo Mattos & Silva (2006), a expansão de você e de a gente como pronomes
pessoais e a redução do uso do tu e do vós fazem com que a 3PP se generalize, reduzindo o
paradigma verbal para quatro ou três posições, mesmo na variedade culta
4
, ou para duas
posições, na variedade coloquial, o que faz com que o sujeito pronominal se torne necessário.
Essa necessidade torna o PB uma língua não-drop, semelhante às línguas inglesa e francesa, e
diferente do Português Europeu, em que as reduções não ocorrem e, dessa forma, é mantido o
padrão pro-drop.
No âmbito da Sociolingüística, está mais do que provado que, mesmo fora destes
contextos variáveis admitidos pela tradição gramatical, a CV constitui um caso de variação do
PB falado, que também atinge, em certa medida, a modalidade escrita da língua (v.
SCHERRE, 2005).
Um entendimento da variação na CV, quer para modalidade escrita quer para a falada,
se completa com o detalhamento dos fatores correlacionados à sua aplicação, que é o que
passamos a apresentar na seção seguinte.
2.2 A CV no Português Brasileiro
No tocante à determinação dos contextos de variação, Naro (2003) adverte que, em um
modelo quantitativo de análise, devem ser selecionados os fatores lingüísticos e
extralingüísticos que podem favorecer ou refrear o uso de uma ou outra variante
.
Nos estudos
sociolingüísticos brasileiros, vários fatores lingüísticos e sociais já se mostraram relevantes
para o estudo da CV. Assim, baseados numa revisão da literatura sobre o assunto,
selecionamos, nessa seção, os fatores que constituem nossas hipóteses de investigação sobre a
CV no dialeto riopretano. A escolha inicial desses grupos de fatores para o desenvolvimento
4
Quatro posições: eu falo, ele/você/a gente fala, s falamos, eles/vocês falam. Três posições: eu falo, ele/
você/ a gente fala, eles falam.
42
deste estudo é motivada pelo fato de, na literatura pesquisada, terem sido eles os selecionados
pelo programa estatístico como os de maior significância na implementação da variação.
Desse modo, no decorrer de nossa pesquisa outros fatores foram incluídos, como veremos
mais adiante.
2.2.1 Dos fatores lingüísticos já comprovados correlacionarem-se à variação da CV,
aqueles relacionados diretamente a propriedades do verbo, como transitividade e tipo
morfológico, aqueles relacionados diretamente ao SN-sujeito, como, por exemplo, traço
semântico do sujeito, tipo estrutural, e referencialidade, e aqueles que explicitam a relação
SN-sujeito/verbo, como paralelismo formal e posição do sujeito em relação ao verbo.
Explicitando primeiramente os fatores relacionadas ao verbo, a atuação da
transitividade tem-se mostrado relevante em alguns estudos da CV. Para esse fator, foi
proposta por Monguilhott & Coelho (2002) a investigação dos seguintes contextos variáveis:
(i) verbos inacusativos, que selecionam argumento interno, gerado na posição de
complemento do verbo (chegar, sair, morrer); (ii) verbos intransitivos, que selecionam
apenas argumento externo (trabalhar, sorrir, telefonar); (iii) verbos transitivos, que
selecionam argumento externo e interno (desejar, dar, querer); e, (iv) cópula, que seleciona
uma predicação reduzida, do inglês small-clause (parecer, ser, andar etc). Para esse grupo de
fatores, os resultados mostraram que os verbos inacusativos foram os que menos favoreceram
a aplicação da CV, ao passo que a cópula apresentou o maior índice de probabilidade de
marcas explícitas de pluralização.
Parece-nos desnecessário o controle desse grupo de fatores, pois uma correlação
direta entre esse e outros grupos de fatores, o que levaria a resultados evidentes. Para os
casos de verbo inacusativo, como em (1a,b) abaixo, é categórico que haja a inversão do
sujeito, o que influenciaria fortemente, como demonstraremos, a não-aplicação da CV. Assim,
43
o fato de haver baixo índice de CV para os casos com verbos inacusativos estaria ligado ao
fato de, nesses contextos, o sujeito vir em posição posposta ao verbo, e não ao fato de se tratar
ou não de um verbo inacusativo. Havendo o controle da posição e distância do sujeito em
relação ao verbo, haveria também o controle dos casos em que a posposição do sujeito em
relação ao verbo, como mostramos nas ocorrências em (1), extraídas do nosso próprio
córpus.
5
(1) a. aí ela disse que entrou mais dois meninos... de manhã...
[AC-006, l.416]
b.
uma copa... é onde fica as caixa de papelão que a gente não vai usando
[AC-024, l. 235]
O grupo de fator traço semântico do sujeito também está correlacionado ao grupo de
fator transitividade do verbo, pois a seleção de sujeitos [+/- humanos] é influenciada pelo
verbo. A expectativa é de que verbos intransitivos, por exemplo, selecionem argumentos [+
humanos], enquanto verbos inacusativos selecionam argumentos [+/- humanos]. A maior ou
menor marcação de plural nos verbos seria influenciada, dessa forma, pela seleção de tipos de
argumentos diferentes no sujeito (cf. Naro & Scherre, 1999).
O grande índice de pluralização encontrado nos casos em que o verbo é uma cópula
provavelmente é influenciado pela grande ocorrência do verbo ser (2), que, como se sabe, é a
cópula mais comumente usada em língua falada e que possui o grau máximo de saliência
fônica (é/são), que, por sua vez, é um fator que, reconhecidamente, exerce forte influência
positiva na aplicação da CV. Assim, a grande aplicação de marcas explícitas de plural nos
verbos do tipo cópula estaria ligada ao fator máxima saliência fônica e não ao grupo de
fatores transitividade. A falta de controle do grupo de fatores tipo morfológico do verbo e a
consideração apenas do grupo de fatores transitividade poderia ocasionar, para o fator cópula,
5
Nesta seção, nos adiantamos, exemplificando as discussões, quando pertinentes, com ocorrências do nosso
próprio córpus.
44
um enviesamento da amostra, causado pela grande incidência de ocorrências com o verbo ser,
que possui características morfológicas diferentes de outros verbos do tipo cópula.
6
(2)
bom as professoras são pessoas legais só que o ensino... é muito fraco
[AC-024, l.337]
Observamos que os resultados de Monguilhott & Coelho (2002), para o grupo de fator
transitividade, somente se mostraram significativos na interação com o grupo de fator tipo
morfológico, o qual se refere à diferença fônica entre a forma singular e a forma plural.
Quando essa diferença é reduzida, a ocorrência da falta de concordância é favorecida,
enquanto uma diferença fônica maior favorece o uso de concordância (NARO & SCHERRE,
2003, p. 16).
Nos pares verbais singular/plural, para os contextos de 3PP, a oposição se sempre
entre as terceiras pessoas do singular e do plural. A oposição mínima verificada entre a forma
singular e a forma plural nos verbos em terceira pessoa envolve apenas mudança na qualidade
da vogal na forma plural (cantava/cantavam, sabe/sabem) (3a, 3b).
7
A alta saliência fônica
ocorrerá, por exemplo, com o verbo irregular ser (é/são) (4a, 4b).
(3) a. essas coisas acho que influencia TAMBÉM... filme essas co::isas
[AC-010, l. 430]
b.
é claro que as pessoas influenciam as outras que tão lá… né
[]AC-051, l. 54]
(4) a. esses passos da segurança é muito importante
[AC-139, l. 340]
b.
às vezes certas administrações são ruim mas a empresa assim é boa
[AC-142, l. 45]
6
Consideremos alguns verbos como: está/estão, permanece/permanecem, continua/continuam, fica/ficam. Do
ponto de vista da saliência fônica, possuem características totalmente diferentes do verbo ser, porém,
considerando o fator transitividade, são tidos todos como verbos do tipo cópula.
7
Além da mudança na qualidade da vogal, pode ocorrer o acréscimo de outras vogais (“cantava / cantavãw”)
45
Levando em conta a grande importância que esse fator exerce sobre fenômenos
variáveis de ordem morfossintática e considerando também a influência por ele demonstrada
em outros trabalhos (v. LEMLE & NARO, 1977; NARO 1981; SCHERRE & NARO 1997,
SCHERRE & NARO, 2006, dentre inúmeros outros), Santos (2005) hierarquizou de forma
ascendente os verbos em graus de saliência fônica da seguinte forma:
8
(i) máxima
diferenciação fonológica, percebida pela total alteração das desinências modo-temporais e/ou
do radical, sendo uma forma completa ou parcialmente distinta da outra, mais precisamente,
observado na oposição entre é/são, fez/fizeram, pôs/puseram; (ii) média diferenciação
fonológica, percebida por uma alteração perceptível da desinência modo-temporal, sem
alteração do radical; são exemplos as oposições entre quis/quiseram; trouxe/trouxeram;
falou/falaram, morreu/morreram;; (iii) mínima diferenciação fonológica, percebida, na fala
espontânea, apenas pela nasalização da vogal final não-acentuada e/ou adição de uma semi-
vogal, sem envolvimento do radical, como, por exemplo, nas oposições entre fala/falam;
falava/falavam; come/comem; dá/dão; vai/vão; faz/fazem.
Ainda que a proposta de divisão da saliência fônica em apenas três níveis não seja a
mais comumente aplicada, por meio da consulta bibliográfica notamos que, em alguns
trabalhos em que se consideram seis níveis de saliência fônica (MONGUILHOTT &
COELHO, 2002, por exemplo),os percentuais e pesos relativos referentes a esses níveis muito
se assemelham em alguns níveis limítrofes, não sendo, portanto, níveis distintivos da saliência
fônica. Esse fato que influenciou o modo pelo qual procedemos na divisão desse grupo de
fatores.
9
Cabe salientar que a proposta foi testada em uma subamostra do Banco de Dados
8
Destaca-se que este trabalho de Santos, sobre os usos alternantes subjuntivo/indicativo, é um dos poucos
realizados com o dialeto da região de São José do Rio Preto, utilizando dados parciais do banco de dados
IBORUNA.
9
Em Monguilhott & Coelho (2002), observamos que os percentuais e pesos relativos apresentados, com exceção
de um subgrupo apenas, apresentaram distinção relevante apenas quando considerados os dois grandes grupos de
saliência fônica, oposição acentuada e oposição não-acentuada entre a forma verbal singular e a plural.
Considerando o subgrupo que apresentou comportamento distinto dos demais e a divisão apresentada por Santos
(2005), optamos pela divisão em três grupos de saliência.
46
Iboruna e os resultados obtidos foram semelhantes aos resultados de trabalhos com divisão
em seis níveis de saliência.
Como afirmado, relativamente à atuação dessa variável, Monguilhott & Coelho
(2002) mostram que pares do tipo é/são, altamente perceptíveis na alternância singular/plural,
são responsáveis por uma maior marcação de plural nos verbos.
Além dos citados, inúmeros estudos sobre a CV investigaram o fator saliência
fônica e verificaram que diferenciações maiores entre as formas verbais singulares e plurais
de verbos tendem a ser mais marcadas do que as menos salientes. Os resultados desses
trabalhos assemelham-se aos resultados apresentados por Naro & Scherre (2006), que
consideraram apenas a divisão em dois grandes grupos de oposição singular/plural, o que
demonstra que a oposição mais saliente exibe maiores índices de pluralização verbal, e que
casos de verbos com oposição menos saliente entre singular e plural exibem menores índices
de pluralização. Essa tendência correlaciona-se estreitamente com o fato de que as formas
mais salientes, por serem mais perceptíveis aos ouvintes e ao próprio interlocutor, sofrem
maior estigma por parte da sociedade. Alguns grupos sociais, como as mulheres e os falantes
mais escolarizados, em geral, evitam a não concordância verbal em situações de maior
saliência fônica.
10
Nesses casos, a não concordância é que sofre estigmatização e não a
própria oposição entre singular e plural.
Quanto às propriedades do SN-sujeito, o traço semântico é um outro fator que tem se
mostrado estatisticamente relevante para aplicação de CV. O traço [+humano] (5a)
favoreceria a presença de marcas de plural nos verbos, enquanto o traço [-humano] (5b) a
desfavoreceria. Na correlação com outros fatores, o traço humano concorre com o grupo de
fatores tipo de verbo, como aludimos anteriormente, que a expectativa é a de que verbos
10
Rodrigues (1987) demonstra que as mulheres e os falantes mais escolarizados são mais conscientes e mais
sensíveis ao significado social das variáveis lingüísticas, o que faz com que sejam mais conservadores quando as
mudanças lingüísticas estão operando em direção oposta à da variedade de prestígio. Quando a mudança
caminha em direção a uma forma prestigiada, ainda que não obedeça à forma padrão da comunidade, as
mulheres e os falantes mais escolarizados tendem a ser mais inovadores.
47
transitivos sempre selecionem, como argumento externo, sujeitos agentivos [+ humanos] e
verbos inacusativos selecionem argumentos [+/- humanos] (cf. MIOTO, 1986, apud
MONGUILHOTT & COELLHO, 2002). Em Naro & Scherre (1999), observamos que, em
contextos de sujeito composto, pode haver a ocorrência de um núcleo humano e outro núcleo
não humano. Nesses casos o traço é considerado misto (5c).
(5) a. os aluno ... porque tem aluno que vai lá ver
[AC-015, l. 868]
b.
daí num pode gritar muito alto só pá quem as vaca conhece assim
[AC-004, l. 311]
c. os cachorros e o menino estavam correndo no terreiro
[AC-031, l. 32]
O grupo de fatores tipo estrutural do sujeito pode exercer influência na CV, visto que
alguns tipos de sujeito, devido a suas características, apresentam-se de modo mais recorrente
que outros tipos, tendendo a influenciar, de modo geral, a marcação ou não de plural nos
verbos. É de extrema importância a análise desse fator, para detectar principalmente se os
sujeitos pronominais são mais propensos ou não a atuarem na manifestação da CV, pois,
segundo Galves (1993) e Duarte (1993), uma tendência maior, no PB, para o
preenchimento do sujeito pronominalmente, a fim de se evitar a CV, ou seja, ao abrir mão do
sujeito nulo, o falante, inconscientemente, evita a ambigüidade, dispensando assim a
aplicação da regra de concordância. Para esse grupo de fatores, é pertinente a investigação
dos seguintes contextos: (i) SN pleno simples (6a); (ii) SN pleno nu, aquele desprovido de
determinantes e modificadores restritivos (6b); (iii) SN pleno composto (6c) ; pronome
pessoal (6d); (iv) pronome indefinido (6e); (v) pronome demonstrativo (6f); (vi) quantificador
(6g); e, (vii) pronome relativo (6h).
11
11
Sob o rótulo de SN pleno simples abarcamos os SNs que, semanticamente, possuem apenas um referente
nuclear. Fica-nos claro, porém, que diferentes estruturas, podem ser consideradas dentro desta classe, como no
48
(6) a. as pessoas da cidade me contaram
[AC-029, l. 38]
b.
homens traem...mulheres são traídas
[AC-036, l. 321]
c. o meu pai e ele falou assim
[AC-121, l. 222]
d.
eles faz o que eles quer
[AC-022, l. 334]
e. algumas ficaram lá... outras saíram
[AC-102, l. 112]
f. Essas são as pessoas que realmente...
[AC-022, l. 12]
g.
todos querem que ele fique
[AC-006, l. 67]
h.
tem várias plantas que servem de remédio
[AC-122, L. 455]
Para sujeitos do tipo composto, é interessante destacar que os núcleos compostos
podem vir ambos no plural, ambos no singular ou se apresentarem um no plural e outro no
singular, conforme faz referência o trabalho de Naro & Scherre (2000a). Considerando que a
presença de uma marca de plural dentro do sintagma nominal composto, sujeito do verbo,
favorece a CV, se esta marca de plural advir no núcleo mais próximo do verbo, a chance de
ocorrer a pluralização do verbo aumenta.
Ainda com relação às propriedades do sujeito que, possivelmente, estejam
correlacionadas com a manifestação da CV, Naro & Lemle (1977) citam a referencialidade,
ou seja, os traços de definição e identificação dos referentes codificados pelo SN-sujeito.
Assim, a expectativa é a de que sujeitos com os traços [+referencial, + específico], cujo
núcleo nominal é modificado por um determinante de caráter definido (7a), por exemplo,
correlacionem-se mais fortemente com a aplicação da regra do que sujeitos com traços
[+referencial, -específico], cujo núcleo é modificado por um pronome ou quantificador
indefinido (7b).
exemplo (6a), em que o SN é acompanhado de um SPrep. A diferenciação entre estas estruturas será verificada
em outro grupo de fatores (paralelismo formal de nível oracional), como veremos a seguir.
49
(7) a. os meus colega são muito legal todos da minha classe são legais
[AC-004, l. 363
b.
ela era a fim de beiJAR uns menino que faz academia junto com a GENte
[AC-010, l. 98]
Relativamente às relações morfossintáticas envolvendo o SN-sujeito e o verbo, a
variável paralelismo formal constitui importante critério para a investigação da CV. Essa
variável prevê que o tipo de marca existente no sujeito pode influenciar o tipo de marca
existente no verbo, ou seja, as marcas de plural no sujeito podem levar à presença de marcas
de plural no verbo (8a), da mesma forma que a ausência de marcas de plural no sujeito levaria
a ausência de marcas no verbo (8b). Traduz essa assertiva do paralelismo formal a crença de
que marca leva a marca e zero leva a zero.
(8) a. os DOIS lados deveriam parar porque um lado querer para num adianta
né?
[AC-066, l. 455]
b.
uns elemento tentou cercar ele... prá tirar uma certa satisfação pessoal
[AC-103, l. 140]
Scherre & Naro (1993) verificaram que o paralelismo formal pode ser considerado sob
duas dimensões diferentes. A primeira, chamada paralelismo oracional, busca evidenciar se
correlação entre o tipo de marca existente no sujeito, controlador da concordância, e o tipo
de marca existente no verbo. Foram controlados também os casos com sujeitos complexos
que apresentam a possibilidade da marca de plural nos elementos de um SPrep interno a um
SN. Considerou-se apenas a última marca da construção. Os resultados apresentados pelos
autores confirmam que a presença de –s no último elemento do SN-sujeito é um fator
significativo para a marcação de plural nos verbos, ainda que esse elemento não seja o núcleo
do sujeito. Para os sujeitos com último elemento do tipo numeral, a concordância mantém-se
numa faixa intermediária, enquanto os sujeitos com a última marca neutralizada demonstram
50
ter comportamento semelhante aos casos em que a marca de plural no último elemento é
explícita.
A segunda dimensão do paralelismo formal, chamada paralelismo discursivo, busca
evidenciar se, em uma construção seriada, a presença de pluralização no(s) verbo(s)
anterior(es) pode levar a um maior índice de pluralização do verbo dentro da oração analisada.
Os resultados apresentados por Scherre & Naro (1993) confirmam que a presença de marcas
em um verbo influencia a marcação de plural no verbo subseqüente, e a não marcação de
plural em um verbo influencia negativamente a pluralização do verbo seguinte.
Considerando as duas dimensões apresentadas para o paralelismo formal,
implementam esse grupo os seguintes fatores:
1) no nível oracional (marcas no sujeito): (i) presença da forma de plural explícita (-s)
no último elemento não inserido em um SPrep (9a); (ii) presença da forma de plural zero no
último elemento não inserido em um SPrep (9b); (iii) presença da forma de plural explícita (-
s) no último elemento inserido em um SPrep (9c); (iv) presença da forma zero (plural ou
singular) no último elemento inserido em um SPrep (9d); (v) presença de numeral no último
elemento (9e); (vi) presença de neutralização no último elemento (9f), em razão de fonema
semelhante inicial no verbo;
(9) a. os meninos não sabiam o que tava pra acontecer…
[AC-002, l. 23]
b.
os pai num corrige quando é criança….
[AC-045, l. 281]
c. os quarto dos meninos também é a mesma coisa... né
[AC-090, l. 247]
d.
aqueles companheiro de trabalho que sempre em olho de você
[AC-103, l. 121]
e. os dois... não foram batizado... aí o meu cunhado ele passou a espírita
[AC-100, l. 491]
f. tem algumas que são chata mas algumas são legais...
[AC-004, l. 238]
51
2) no nível discursivo: (i) verbo precedido de verbo com marca formal de plural
explícita no discurso do falante ou do interlocutor (10a); (ii) verbo precedido de verbo com
marca zero de plural no discurso do falante ou do interlocutor (10b); (iii) verbo isolado ou
primeiro de uma série (10c).
(10) a. eles conseguiram fazer crescer um pouco mais e:: mesmo assim ficaram com
bastante fazen::da
[AC-045, l. 175]
b.
eles entra na religião deles ... começa a falar bonito falar ... gritado ...
sapatear vira bispo
[AC-147, l. 225]
c. Inf: eles sabiam que... havia uma competição porque aquilo lá valia.
[AC-146, l. 248]
Scherre & Naro (1993), mostram que, quando o último elemento do SN apresenta
marca explícita de plural, o verbo também tende a ser pluralizado. Do mesmo modo, a
presença de zero no último elemento favorece o não-aparecimento de plural no verbo.
Gameiro (2005, p. 148) afirma que o princípio do paralelismo formal atua mesmo em
casos de sujeito posposto, como no exemplo por ela citado e reproduzido abaixo, com a
numeração original:
(84) mudam os pacientes (FON, 52)
Acreditamos, diferentemente do que afirma a autora, que o paralelismo formal
somente irá atuar em situações de anteposição do sujeito em relação ao verbo, ainda que possa
haver um distanciamento maior ou menor deste em relação àquele. No exemplo apresentado
acima, a pluralização do verbo poderia ter se dado por outros fatores, dentre eles, os de ordem
social, mas não “devido ao paralelismo”. A influência da forma de plural “s”, ou mesmo do
“s” não representativo de plural no sujeito deve ser considerada como a causa que influencia a
pluralização dos verbos. Poderíamos afirmar ainda que o verbo pluralizado ocasionou, ou
52
influenciou, a aplicação da forma “s nos elementos seguintes, contudo, não seria possível
afirmar que o verbo foi pluralizado anteriormente, porque o artigo e o substantivo seriam
pluralizados. Casos como esses não se explicariam pelo princípio do paralelismo, mas
revelam que se trata de um falante extremamente consciente das normas de prestígio; dessa
forma, o que ocasiona a aplicação do plural é o reconhecimento do sujeito plural posposto ao
verbo, uma operação mais consciente da parte do falante.
Também a variável posição do sujeito (S) em relação ao verbo (V) é mencionada
como importante fator que se correlaciona à variação da CV (SCHERRE, 2005). Pontes
(1989) foi quem primeiramente mostrou que, quando o SN ocupa posição à direita do verbo
(V SN), a tendência é que não ocorra nenhuma marca de pluralização no verbo, uma vez que
o SN fora de sua posição prototípica de sujeito é mais provável de ser identificado como
objeto do que como sujeito da sentença, atuação que guarda relação estreita tanto com a
variável transitividade (não considerada neste trabalho, por razões previamente explicitadas)
quanto com a variável traços semânticos do SN. Em Naro & Scherre (1999) observamos as
seguintes variantes para a implementação dessa variável: (i) sujeito em posição pré-verbal
com núcleo distante de 0 a 2 labas do verbo (11a); (ii) sujeito em posição pré-verbal com
núcleo distante de 3 até 10 sílabas do verbo (11b); (iii) sujeito em posição pré-verbal com
núcleo distante mais de 10 sílabas do verbo (11c); (iv) sujeito em posição pós-verbal (11d).
(11) a. os pais ficam assim... acho que aloPRAdos vamos dizer né?
[AC-056, l. 318]
b.
éh esses teatros antigos de época... aparece em televisão
[AC-045, l. 203]
c. que os casais... éh... assim... a:: partir do momento que assume... ou que
casou na igreja... ou que casou... no civil
[AC-102, l. 360]
d.
no começo não freqüentava muito o comércio era mais o meu irmão e minha
irmã
[AC-067, l. 75]
53
Vale esclarecer que os contextos variáveis acima citados são apenas exemplificativos
das correlações estruturais que podem ser consideradas na aplicação da CV.
2.2.2 Dentre os fatores externos ao sistema lingüístico, alguns são inerentes ao
próprio indivíduo e outros, às circunstâncias que envolvem o falante ou o evento de fala.
Fatores sociais inerentes aos falantes são, por exemplo, faixa etária, escolarização,
sexo/gênero, nível cio-econômico etc, os quais influenciam conjuntamente a sua produção
lingüística. Ligado ao evento de fala, o contexto é também uma variável externa capaz de
influenciar a produção lingüística do falante, que cada indivíduo possui um repertório
lingüístico que varia dependendo de onde se encontra e da pessoa com quem fala. Situações
mais informais de interação sugerem uma menor preocupação com a aplicação de
concordância (MOLLICA, 2003).
Os fatores extralingüísticos podem ser diatópicos (dimensão geográfica) ou
diastráticos (dimensão social). A variação diatópica relaciona-se às diferenças lingüísticas
distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geográficas distintas. A
variação social, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores ligados à identidade dos
falantes e também à organização sócio-cultural da comunidade de fala. Dentre os fatores
sociais, Naro (2003) julga relevante para qualquer estudo variacionista a investigação de
fatores como idade, sexo, nível sócio-econômico e formação escolar.
O fator idade permite inferências acerca do desenvolvimento diacrônico da língua a
partir de análises sincrônicas. Pelo chamado tempo aparente, é possível fazer uma projeção do
comportamento lingüístico de gerações diferentes de falantes num determinado momento. A
hipótese é de que a fala de pessoas com maior idade reflita a fala de alguns anos atrás, ao
passo que a fala de pessoas de menor idade reflete a fala atual. As discrepâncias entre as duas
falas são atribuídas ao progresso da inovação lingüística nos anos que separam os dois grupos.
54
A combinação desse fator e dos demais fatores sociais está relacionada também com a
noção de prestígio, ou seja, falantes de certas classes sociais, de certas faixas de escolaridade,
e, ainda, de sexos/gêneros diferentes tendem a apresentar comportamento diferente com
relação à variação e à mudança lingüísticas.
Para esse conjunto de variáveis sociais, as hipóteses subjacentes à investigação de
qualquer fenômeno variável são as seguintes: (i) falantes de faixa etária mais elevada tendem
ao uso da variável padrão, porque são mais resistentes à mudança do que falantes de faixa
etária mais jovem, o que pode evidenciar uma mudança lingüística em progresso ou uma
variação dependente de gradação etária (LABOV, 1994); (ii) falantes do sexo feminino
tendem ao uso da variável padrão, porque reconhecem nela um fator de prestígio e de
ascensão social, enquanto falantes do sexo masculino tendem ao uso de uma forma que o leve
mais a se identificar com o grupo social de que faz parte do que com o prestígio que o uso de
tal forma possa lhe conferir socialmente; (iii) falantes de nível sócio-econômico mais elevado
tendem ao uso da forma considerada padrão, por conta do prestígio social conferido a tal
forma; (iv) falantes de nível de escolaridade mais elevado também tendem ao uso da
variedade padrão, porque mais contato tiveram com os padrões normativos da língua.
de se advertir, entretanto, que nesse quadro geral existem variáveis sociais que se
co-determinam e se cruzam na implementação da regra variável. Por exemplo, pode haver
uma forte correlação entre as variáveis nível sócio-econômico e nível de escolaridade, pois
espera-se que, quanto mais alto o nível sócio-econômico maior será o nível de escolaridade e,
portanto, uma propensão maior na aplicação dos padrões normativos da língua.
Desde o estudo precursor de Fisher (1958), que estudou a influência de fatores sociais
na fala de crianças de uma comunidade rural da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, sabe-se
55
que a escolha das variantes lingüísticas é influenciada pelo sexo.
12
Fisher comprovou que
falantes do sexo feminino usam mais a forma de prestígio -ing que os falantes do sexo
masculino, que optam com maior freqüência pela forma -in. Da mesma forma, em Labov
(1966), constata-se que as mulheres empregam mais a forma padrão nova-iorquina do /r/-
pós-vocálico do que os homens.
Em Wolfram (1969), Trudgill (1974), Laberge (1977), Sankoff & Thibault (1977),
Guy (1981), constata-se que representantes do sexo feminino têm maior tendência para
acompanhar as formas lingüísticas consideradas padrão em uma comunidade, ou seja, as
mulheres se mostram mais preocupadas com a norma imposta pela comunidade da qual faz
parte.
Labov (1990: 210, 213, 215) sumariza os resultados sobre a influência do fator social
sexo/gênero por meio dos seguintes princípios:
Princípio I: Ao se estabelecer uma estratificação sociolingüística, homens fazem uso, com
maior freqüência, de formas lingüísticas não-padrão do que as mulheres.
Princípio Ia: Em fenômenos variáveis, as mulheres são mais receptivas às
formas tidas como padrão na comunidade do que os homens.
Princípio II: Nas mudanças lingüísticas que privilegiam formas prestigiadas na comunidade,
as mulheres são mais inovadoras.
Para Chambers (2001, p.427), pode-se questionar a generalização elaborada por
Labov, a respeito da comunidade de fala, pois o comportamento de uma comunidade depende
da estratificação de suas classes sociais. Nas classes de trabalhadores, por exemplo, o uso das
formas lingüísticas o-padrão, por representantes do sexo masculino, está associado à
12
Segundo Cheshire (2001), o termo sexo é normalmente usado para referir-se à distinção fisiológica entre
homens e mulheres; já o termo gênero refere-se, normalmente, às diferenças sociais e culturais geradas pela
diferença entre o sexo, ou seja, as restrições ou papéis sociais, oportunidades e expectativas de comportamento
dos indivíduos. Acrescenta a autora que o termo gênero é, portanto, mais apropriado para o tratamento de
fenômenos sociais. Em citações extraídas de outros autores, serão mantidas as designações originais, contudo,
em nosso texto, será usado o termo gênero.
56
orientação das normas dessa comunidade, que associa esse comportamento lingüístico à
masculinidade.
Romaine (apud CHAMBERS, 2001, p.353) afirma que as mulheres possuem mais
consciência da pressão exercida pelas normas locais e também acerca do status inserido na
estrutura social.
Os estudos de Callou (1979) comprovam que as mulheres podem ser mais inovadoras
que os representantes do sexo masculinos em fenômenos de mudança para uma forma que não
seja desprestigiada na comunidade lingüística.
Rodrigues (1987), de acordo com os princípios preconizados por Labov (1990), afirma
que as mulheres são mais conscientes e mais sensíveis ao significado social das variáveis
lingüísticas, o que faz com que sejam mais conservadoras quando as mudanças lingüísticas
estão operando em direção oposta à da variedade de prestígio. Quando a mudança caminha
em direção a uma forma prestigiada, ainda que não obedeça à forma padrão da comunidade,
as mulheres tendem a ser mais inovadoras.
Os resultados apresentados pela autora sobre a influência do fator sexo/gênero na
aplicação da CV para a comunidade pesquisada, contudo, demonstram que os homens
aplicam mais a CV para a 1PP do plural do que as mulheres, fato atribuído, segundo
Rodrigues, à falta de acesso das mulheres, principalmente, ao mercado de trabalho. Para a
3PP os resultados apresentados demonstraram que o fator sexo resultou inoperante, já que os
números para ambos os sexos foram praticamente homogêneos. Ao elaborar uma comparação
entre a concordância de 1PP e 3PP, a autora constatou que os índices de não-aplicação de CV
para a 3PP superaram em muito os índices de não-aplicação para a 1PP, pois a noção de
“erro” é mais saliente, sob o ponto de vista social, principalmente nos grandes centros
urbanos. Essas formas são associadas a falantes do interior ou da zona rural. A noção de
57
“erro” associada a formas em 3PP sem a variante explícita de plural não tem o mesmo peso
social das formas em 1PP.
Uma explicação plausível, segundo Chambers (2001, p.354), para a divergência entre
os resultados apresentados, seria a divisão sócio-cultural do trabalho entre homens e
mulheres. Em comunidades em que a mulher possui maior mobilidade social e se insere no
mercado de trabalho, a discrepância entre a fala masculina e feminina é maior do que em
comunidades onde a mulher não goza das mesmas condições de participação social que os
homens. Nessas condições, o comportamento lingüístico tende a possuir características mais
semelhantes.
Sobre essas determinações, os resultados de Scherre (1996) para a regra de
concordância nominal no dialeto carioca mostram que, sob a atuação da variável gênero/sexo,
os anos de escolarização colaboram para que as mulheres apliquem mais a concordância, ao
passo que, para os homens, interferem na aplicação das marcas de plural, tanto a escolarização
quanto o mercado ocupacional. O fator idade, nesse mesmo estudo de Scherre, é de pouca
influência, tanto para informantes do sexo feminino quanto para os de sexo masculino,
“indicando haver aumento da concordância na faixa etária de 15 a 25 anos para os homens, e
na de 26 a 49 anos para as mulheres” (p. 263).
58
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Para o presente estudo, seguimos os preceitos metodológicos da sociolingüística
variacionista propostos por Labov (1972), uma vez que os informantes que compõem o nosso
córpus de pesquisa pertencem a um grupo social em cuja fala a concordância do verbo com o
sujeito aponta para um fenômeno variável, como identificamos em trabalho preliminar
(RUBIO, 2006, 2007).
Este capítulo está assim estruturado: na primeira seção (3.1.), expomos um breve
histórico da comunidade de fala pesquisada; na segunda (3.2.), apresentamos os
procedimentos de constituição do Banco de Dados Iboruna, base de onde provém nosso
córpus; na terceira seção (3.3.), é descrita composição da subamostra utilizada como córpus
nesta pesquisa; na quarta seção (3.4.), definimos os contextos variáveis (envelope
variacional); na quinta e última seção (3.5.), descrevemos os procedimentos de quantificação
e análise dos dados.
3.1 Breve histórico e panorama atual da comunidade de fala
3.1.1 A região de São José do Rio Preto
A cidade de São José do Rio Preto foi fundada em 1852, por famílias, em sua maioria,
oriundas do Sul de Minas Gerais. A aglomeração urbana se deu, principalmente, pela doação
de terras dessa região à Igreja Católica. Nesse mesmo período, a região era habitada por
índios guarani, o que propiciou uma grande mistura de raças.
59
Em 19 de julho de 1894, São José do Rio Preto é desmembrada de Jaboticabal,
transformando-se em Município, pela Lei 294. Era um imenso território, limitando-se nos
rios Paraná, Grande, Tietê e Turvo, com mais de 26 mil km² de superfície.
Em 1904 é criada a comarca de Rio Preto e, a partir de 1906, a cidade tem seu nome
reduzido para Rio Preto. Somente em 1945 retoma o nome original de São José do Rio Preto.
Com a chegada da Estrada de Ferro Araraquarense (EFA), em 1912, a cidade assume o seu
destino de pólo comercial de concentração de mercadorias produzidas no então conhecido
"Sertão de Avanhandava" e de irradiação de materiais vindos da capital.
A origem do nome do município vem da junção do nome do padroeiro da cidade, São
José, e do nome do rio que corta o município, o Rio Preto.
Outros municípios de menor porte, como Bady Bassitt, Cedral, Guapiaçu, Ipiguá,
Mirassol e Onda Verde, foram se formando posteriormente ao redor da cidade de São José do
Rio Preto.
Atualmente, a cidade de São José do Rio Preto possui cerca de 406 mil habitantes
13
,
que somados aos habitantes das cidades que compõem a região administrativa de São José do
Rio Preto perfazem cerca de mais de 1 milhão de habitantes. A região administrativa de São
José do Rio Preto localiza-se ao noroeste do Estado de São Paulo, fazendo divisa ao seu norte
com os estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Essa localização pode ser observada
nos mapas 1, 2 e 3, apresentados em seqüência.
13
IBGE-2005
60
Figura 1: Mapa de localização da região administrativa de São José do Rio Preto no Estado de
São Paulo
Figura 2: Mapa da região administrativa de São José do Rio Preto
61
Figura 3: Mapa da vista aproximada da cidade de São José do Rio Preto e dos municípios
circunvizinhos (em destaque com “ ”)
A cidade São José do Rio Preto dista 451 Km da cidade de São Paulo e 710 Km da
cidade de Brasília e possui uma economia diversificada que se destaca no setor de jóias,
produtos médico-hospitalares, madeira e mobiliário, confecções, metalurgia, alimentos e
bebidas, produtos relacionados à tecnologia da informação e agronegócios.
A população é predominantemente urbana, com apenas 5% da população habitando a
zona rural. O índice de alfabetização é de 95%
14
, números considerados para a população
residente no município com 10 anos de idade ou mais.
14
Alguns índices, como, por exemplo, o índice de alfabetização e o índice de população residente na zona rural,
são extremamente relevantes para a análise de fatores sociais que podem influenciar a variação lingüística.
62
3.2 Da constituição do Banco de Dados Iboruna
15
Antes de descrever os passos que guiaram a execução de nossa pesquisa, como ex-
integrante da equipe técnica responsável pela coleta das entrevistas que compõem o Banco de
Dados Iboruna, cabe-nos mencionar aqui alguns procedimentos metodológicos seguidos na
sua composição (cf. GONÇALVES, 2005).
O Banco de Dados Iboruna foi composto pelo Projeto ALIP (Amostra Lingüística do
Interior Paulista), no período de março/2004 até setembro de 2007. Trata-se de iniciativa
inédita, por constituir o primeiro banco de dados de amostras de fala do interior do Estado de
São Paulo, com rigorosa coleta de dados e controle de fatores sociais, abrangendo sete
municípios da região noroeste, quais sejam: Bady Bassitt, Cedral, Guapiaçu, Ipiguá, Mirassol,
Onda Verde e São José do Rio Preto.
Os informantes, de perfis sociais pré-definidos pelo entrecruzamento das
características sociais sexo/gênero, faixa etária, nível de escolaridade e renda familiar,
contribuíram com cinco tipos de textos orais diferentes: narrativa de experiência pessoal,
narrativa recontada, relato de descrição, relato de procedimento e relato de opinião. Além
de residir nas cidades abrangidas pelo projeto, era necessário que o informante nela residisse,
desde pelo menos os seus cinco anos de idade, ou, ainda, que houvesse nascido na cidade.
Do cruzamento dos quatro grupos de fatores sociais constituíram-se os perfis da
Amostra Censo ou Amostra Comunidade (AC), composta de 160 células, que definiram os
informantes contatados. Excluídas oito células impossíveis de serem preenchidas (faixa etária
de 7 a 15 anos vs. escolaridade Ensino Superior), obtivemos o total de 152 informantes, de
acordo com a distribuição apresentada no quadro 2 a seguir.
15
O nome Iboruna (=Rio Preto) tem motivação histórica; é um topônimo de origem tupi-guarani que se
pretendeu atribuir à cidade de São José do Rio Preto por ocasião da comemoração de seu cinqüentenário. A
contundente intervenção do episcopado riopretano não impediu a mudança como conquistou de maneira
definitiva a denominação primitiva, São José do Rio Preto, reduzida a Rio Preto de 1906 a 1944.
63
+ 25 SM 11 A 24 SM 6 A 10 SM ATÉ 5 SM RENDA / GÊNERO
FAIXA ETÁRIA
/ ESCOLARIDADE
MASC
FEM
MASC
FEM
MASC
FEM
MASC
FEM
SUB-
TOTAL
DE INF.
TOTAL
DE INF.
1o.C EF
001 002 003 004 005 006 007 008 8
2o. C EF
009 010 011 012 013 014 015 016 8
7 A 15
ANOS
ENSINO M
017 018 019 020 021 022 023 024 8
24
1o.C EF
025 026 027 028 029 030 031 032 8
2o. C EF
033 034 035 036 037 038 039 040 8
ENSINO M
041 042 043 044 045 046 047 048 8
16 A 25
ANOS
SUPERIOR
049 050 051 052 053 054 055 056 8
32
1o.C EF
057 058 059 060 061 062 063 064 8
2o. C EF
065 066 067 068 069 070 071 072 8
ENSINO M
073 074 075 076 077 078 079 080 8
26 A 35
ANOS
SUPERIOR
081 082 083 084 085 086 087 088 8
32
1o.C EF
089 090 091 092 093 094 095 096 8
2o. C EF
097 098 099 100 101 102 103 104 8
ENSINO M
105 106 107 108 109 110 111 112 8
36 A 55
ANOS
SUPERIOR
113 114 115 116 117 118 119 120 8
32
1o.C EF
121 122 123 124 125 126 127 128 8
2o. C EF
129 130 131 132 133 134 135 136 8
ENSINO M
137 138 139 140 141 142 143 144 8
+ 55
ANOS
SUPERIOR
145 146 147 148 149 150 151 152 8
32
1o.C EF
5 5 5 5 5 5 5 5 40
2o. C EF
5 5 5 5 5 5 5 5 40
ENSINO M
5 5 5 5 5 5 5 5 40
SUB-
TOTAL
DE INF.
SUPERIOR
4 4 4 4 4 4 4 4 32
19 19 19 19 19 19 19 19
152
38 38 38 38
TOTAL DE
INFORMANTES
76 76
*O número em cada uma das células identifica o perfil social de um informante, resultante do cruzamento das variantes sociais.
Quadro 2: Distribuição e identificão dos informantes da Amostra Censo por variáveis sociais.
Se incluída como variável a origem geográfica do informante, definida pelas sete
cidades do censo lingüístico, e, se atendida a recomendação de 5 informantes por célula, a
amostragem final seria de 5320 informantes, o que tornaria o projeto inexeqüível. Desse
modo, a definição da AC pautou-se pelos seguintes critérios: (i) preenchimento de apenas um
informante por célula; (ii) aplicação do método aleatório simples (SILVA, 2003), para a
distribuição proporcional dos 152 informantes ao número de habitantes das áreas geográficas
consideradas, conforme quadro 3.
64
Cidades da Região de São José do Rio Preto
Distância de SJRP População
1. Bady Bassitt 12 km, ao sul 11.475
2. Cedral 14 km, ao sul 6.690
3. Guapiaçu 16 km , ao leste 14.049
4. Ipiguá 18 km, ao norte 3.461
5. Mirassol 14 km, a oeste 48.233
6. Onda Verde 25 km, ao norte 5.407
7. São José do Rio Preto - 357.705
Total da população representada 447.020
Fonte: IBGE (Censo 2000)
Quadro 3: Distribuição da população da região de São José do Rio Preto.
O método aleatório simples de distribuição dos perfis sociais no espaço geográfico em
que se realiza o censo lingüístico consistiu dos seguintes passos: (i) distribui-se o total de
informantes proporcionalmente ao número de habitantes de cada área; (ii) de uma urna
1
, com
a identificação dos perfis sociais, e, de uma urna
2
, com a identificação das cidades, escolhem-
se simultaneamente um perfil social e uma cidade, definindo-se a origem geográfica do
informante; (iii) repõe-se na urna
2
a cidade escolhida até que o total de seus informantes esteja
definido, de modo a garantir que todos os perfis sociais tenham igual possibilidade de
pertencer a qualquer uma das cidades; (iv) repetem-se os procedimentos até que todos os
perfis sociais estejam distribuídos.
Como mencionado, as cidades selecionadas possuem número de habitantes
diferentes umas das outras, o que faz com que a quantidade de informantes requerida seja
proporcional a esse número. Assim, nas figuras a seguir temos, respectivamente, a
distribuição da população da Região de São José do Rio Preto, em percentuais, e o número de
informantes da amostra censo por cidade da região.
65
80%
3%
11%
1%
1%
3%
1%
Bady Bassit
Cedral
Guapiaçu
Ipiguá
Mirassol
Onda Verde
SJRP
Figura 4: Distribuição da População da Região de SJRP
4
122
2
5
1
16
2
Bady Bassit
Cedral
Guapiaçu
Ipiguá
Mirassol
Onda Verde
SJRP
Figura 5: Número de informantes da Amostra Censo por cidade.
Ressaltamos que os números apresentados aqui se referem ao Censo do ano de 2000.
Esses números serviram de base para a constituição do Banco de Dados Iboruna, iniciado em
2003. Os números atuais, referentes ao Censo do ano de 2005, podem destoar dos aqui
apresentados.
A manutenção do número de 152 informantes não compromete a representatividade da
amostra, como bem demonstraram outros projetos e o próprio Labov (1972), ao considerar
que a variação é bastante padronizada e, mesmo não havendo um imenso número de falantes
para sua comprovação, a regularidade lingüística emerge, o que autoriza generalizações
acerca da língua usada na comunidade como um todo. Entretanto, como adverte Paiva (1999,
66
p. 7), essas implicações, “embora não possam ser ignoradas, não chegam a comprometer o
estudo sociolingüístico” desde que se atente para duas questões importantes: a necessidade de
usar técnicas estatisticamente válidas de amostragem e o conhecimento prévio das dimensões
relevantes da estratificação, de forma a poder planejar corretamente a amostragem.
16
3.3 Composição da subamostra
Para uma análise da CV na Região de São José do Rio Preto optamos por selecionar
uma subamostra de 76 entrevistas do Banco de Dados Iboruna. Os informantes foram
selecionados mediante a análise de seus respectivos perfis sociais, a fim de que fosse
selecionado o maior número de perfis sociais possíveis, garantindo a homogeneidade da
amostra. Sendo assim, foram selecionados 38 homens e 38 mulheres, estratificados por faixa
etária e escolaridade. Devido ao insucesso na busca de seis perfis sociais dos 152, quando essa
subamostra de AC estava sendo composta
17
, optamos, na constituição dessa subamostra, pela
desconsideração do fator social renda familiar, mencionado anteriormente no quadro 2, a
partir do qual, apresentamos, no quadro 4, os perfis sociais que compõem essa nossa
subamostra (em destaque).
16
Uma pequena crítica a ser feita a composição do Banco de Dados Iboruna é a de que não foram considerados
os percentuais de distribuição da população em estratos sociais, ou seja, ainda que a porcentagem de indivíduos
de média escolarização (2º ciclo do EF e Ensino Médio) seja extremamente superior ao percentual de indivíduos
com vel superior, foi entrevistado o mesmo mero de informantes de todos os níveis de escolaridade, o que
ocorreu também para os demais contextos sociais. A desconsideração dessas peculiaridades resultou na dificuldade de
localizão de alguns perfis sociais, como, por exemplo, informantes de faixas etárias intermediárias (26 a 35 anos e 36 a 55
anos) com baixo nível de escolaridade (1º ciclo do EF). Outra consideração a ser feita é a desconsideração do grau de
escolaridade nulo, que contempla os analfabetos. Aproximadamente 5% da população da região é analfabeta.
17
Até a fase de finalização do banco de dados, somente um perfil não foi localizado, o referente à amostra AC-
060.
67
+ DE 25 SM DE 11 A 24 SM DE 6 A 10 SM ATÉ 5 SM RENDA / GÊNERO
FAIXA ETÁRIA
/ ESCOLARIDADE
MASC
FEM
MASC
FEM
MASC
FEM
MASC
FEM
SUB-
TOTAL
DE INF.
TOTAL
DE INF.
1o.C EF 001
002 003
004 005 006
007 008 8
2o. C EF
009
010 011
012 013 014
015 016
8
7 A 15
ANOS
ENSINO M
017 018 019 020
021 022 023 024
8
24
1o.C EF
025 026 027 028
029 030 031 032
8
2o. C EF
033 034
035 036 037 038
039 040 8
ENSINO M 041 042
043 044
045 046
047 048 8
16 A 25
ANOS
SUPERIOR
049 050
051 052 053
054 055 056 8
32
1o.C EF
057
058 059
060 061
062
063
064
8
2o. C EF
065
066 067
068 069 070
071 072
8
ENSINO M 073 074
075 076
077
078
079
080 8
26 A 35
ANOS
SUPERIOR
081
082 083
084
085 086
087 088 8
32
1o.C EF 089 090
091
092 093
094 095 096 8
2o. C EF
097 098
099 100
101
102 103
104 8
ENSINO M 105 106
107 108
109
110 111
112
8
36 A 55
ANOS
SUPERIOR
113
114 115
116
117 118
119 120 8
32
1o.C EF 121 122 123
124 125 126 127
128
8
2o. C EF 129
130 131
132 133 134
135 136 8
ENSINO M
137 138
139
140
141
142
143 144
8
+ 55
ANOS
SUPERIOR
145
146 147
148 149 150
151 152
8
32
1o.C EF
5 5 5 5 5 5 5 5 40
2o. C EF
5 5 5 5 5 5 5 5 40
ENSINO M
5 5 5 5 5 5 5 5 40
SUB-
TOTAL
DE INF.
SUPERIOR
4 4 4 4 4 4 4 4 32
19 19 19 19 19 19 19 19
152
38 38 38 38
TOTAL DE
INFORMANTES
76 76
Quadro 4: Distribuição e identificação dos informantes da subamostra de AC.
3.3.1 Da seleção das ocorrências
A partir da análise dessas 76 entrevistas, a pesquisa foi feita procedendo-se,
inicialmente, ao levantamento de todas as ocorrências pertinentes ao estudo da CV de 3PP,
em que a CV é aplicada, como mostrado em (12) e (13), ou não, como em (14) e (15).
(12) éh não houve assim nada de grave a não ser algumas pessoas que ficaram internadas
até por alguns dias...
[AC-113, l.88]
(13) até no Maria os aluno fumaram e cheiraram no banheiro... né?
[AC-015, l. 860]
68
(14) aí ela disse que entrou mais dois meninos... de manhã...
AC-006, l.416
(15) ela tinha que casar com ele porque eles ia unir a fazenda deles lá o sítio
[AC-144, l. 10]
Por uma questão de recorte metodológico, casos de hipercorreção, também
caracterizados como desvios da regra de CV (SCHERRE, 2005), não constituíram objeto de
investigação dessa pesquisa. Segue em (16) uma ocorrência desse tipo.
(16) então era tudo feito ali... e o pessoal da redondeza... das outras fazendas... que
moravam... éh freqüentavam ali
[AC-102, l. 11]
Foram excluídas também ocorrências de verbos como ter, vir e seus derivados, que,
como mostrado em (17) e (18), flexionados no presente do indicativo, não apresentam, na
modalidade falada, distinção entre a forma singular e a forma plural, ou seja, verbos cujas
pronúncias são homófonas nesses contextos.
(17) as pessoa m que repartir o cabelo... todinho por mechas... colocar piranhinhas no
cabelo...
[AC-072, l. 280]
(18) as duas contêm maca::cos... peque::nos e gran::des né
[AC-011, l. 100]
3.4 Da definição dos contextos variáveis (“envelope variacional”)
Cada ocorrência selecionada foi então submetida aos critérios definidos nos grupos de
fatores relacionados a seguir, os quais constituem os contextos variáveis definidos para esta
pesquisa.
69
A variável dependente é binária e constitui-se das seguintes variantes: aplicação de CV
para 3 PP, como em (19) e (20), e não-aplicação de CV, como em (21) e (22).
(19) alguns dos mais antigos contavam por exemplo DO... PAdre...
[AC-146, l.5]
(20) eles ficavam imitando viado... bicha e tal
[AC-046, l. 12]
(21) tem aquelas moça que trabalha na loja... reclama que é muito apertado
[AC-069, l.225]
(22) e os moleque começou coisar e... ficaram meio com medo não que ela seja brava
[AC-067, l. 160]
3.4.1 Fatores sociais
Considerando a importância atribuída anteriormente aos fatores sociais, buscamos
manter a estratificação dos informantes, de acordo com a segmentação das variantes propostas
para a composição do Banco de Dados Iboruna, conforme mostrado no quadro 3 acima, e a
seguir descritas.
a. idade
Foram selecionadas amostras de todas as faixas etárias abarcadas pelo banco de Dados
Iboruna. Dessa forma, os informantes foram estratificados em cinco faixas etárias:
i. 7 a 15 anos: faixa etária com intervalo de 9 anos, que cobre o período da infância até
pré-adolescência;
ii. 16 a 25 anos: faixa etária com intervalo de 10 anos, que cobre o período da
adolescência até o início da fase adulta;
70
iii. 26 a 35 anos: faixa etária com intervalo de 10 anos, em que o indivíduo está
totalmente integrado ao mercado de trabalho e, portanto, altamente susceptível às pressões
sociais ;
iv. 36 a 55 anos: faixa etária com intervalo de 20 anos, em que, mesmo integrado ao
mercado de trabalho, o indivíduo é menos susceptível às pressões sociais.
v. mais de 55 anos: faixa etária diversificada, no caso da subamostra selecionada, de
29 anos, visto o informante de maior idade pesquisado possuir 84 anos completos; nesta faixa
etária, o indivíduo, se já não se encontra fora do mercado de trabalho, prepara-se para dele
sair, estando, portanto, mais livre das pressões sociais que possam exercer qualquer influência
sobre seu comportamento lingüístico.
b. gênero
Do total de 76 informantes selecionados para nossa pesquisa, 50% (38) são do gênero
masculino, e os 50% (38) restantes são informantes do gênero feminino.
c. escolaridade
Os informantes foram classificados em quatro níveis diferenciados de escolaridade,
seguindo-se o critério, da quantidade de anos de escolarização, estabelecido pelo Banco de
Dados Iboruna:
i. ciclo do Ensino Fundamental: informantes que possuem de 1 a 4 anos de
escolarização;
ii. 2º ciclo do Ensino Fundamental: informantes com escolarização entre 5 e 8 anos;
iii. Ensino Médio: informantes que possuem entre 9 e 11 anos de escolarização;
iv. Ensino Superior: faixa escolar de informantes com 12 anos ou mais de
escolarização. Cabe lembrar que, ainda que a faixa escolar seja denominada apenas como
ensino superior, são inseridos nesta faixa também os informantes com pós-graduação.
71
3.4.2 Fatores lingüísticos
Considerando que os grupos de fatores lingüísticos foram previamente discutidos,
segundo critérios adotados por outros trabalhos, não tornaremos a discuti-los detalhadamente
nesta seção; porém, ao demonstrar a opção pela consideração de um grupo de fator,
efetuaremos uma breve explanação do motivo da escolha deste grupo. Assim, passaremos a
apresentar os grupos com seus respectivos fatores selecionados para a elaboração de nossa
pesquisa, bem como as ocorrências exemplificativas de cada um deles.
a. paralelismo formal
Como já exposto, essa variável diz respeito a tendência de marcas levarem a marcas
(POPLACK 1980, NARO 1981) ou formas gramaticais semelhantes ocorrerem juntas.
Considerando como base para a implementação dessa variável o trabalho de Scherre & Naro
(1993), as formas variantes tiveram a seguinte distribuição:
a.1. de nível oracional (marcas no sujeito):
i. presença da forma de plural explícita (-s) no último elemento não inserido em um
SPrep (23a);
ii. presença da forma de plural zero no último elemento não inserido em um SPrep
(23b);
iii. presença da forma de plural explícita (-s) no último elemento inserido em um
SPrep (23c);
iv. presença da forma zero (plural ou singular) no último elemento inserido em um
SPrep (23d);
v. presença de numeral no último elemento (23e);
vi. presença de neutralização no último elemento (23f).
72
(23) a. os médicos chegaram e falaram que ele teria que amputar a língua.
[AC-001, l.76]
b. hoje em dia homem e mulher tão traindo igualmente o sei quem dos dois trai
mais...
[AC-056, l.365]
c. éh os meninos... das escolas públicas tavam com essa... com esse problema
[AC-113, l.276]
d. aquelas travessinhas de vidro assim MARca os/ os mls lá sei LÁ...
[AC-010, l.263]
e. Os três cantam jun::tos...
[AC-102, l.88]
f. embora alguns tenha... éh::/ estejam gostando eles são mais fanáticos...
[AC-113, l.233]
Ao optarmos pela consideração também do SN inserido em um SPrep, acreditamos
que, ainda que o SPrep não ocupe a posição de núcleo do sujeito, a proximidade desse
elemento em relação ao verbo pode influenciar a pluralização do verbo. Em contextos em que
o SN inserido no SPrep possui seu último elemento no plural, pode haver influência positiva
na aplicação da CV; por outro lado, em ocorrências em que o último elemento do SPrep
encontra-se no singular, pode haver uma influência negativa na aplicação da CV. Vale
lembrar que somente foram considerados os casos em que o núcleo do SN-sujeito encontrava-
se no plural, ou seja, o contexto variável, para essas ocorrências, é somente a pluralização do
último elemento do SN inserido no SPrep que acompanha o SN-sujeito. Casos em que o
núcleo do SN-sujeito não apresenta pluralização não foram considerados em nosso estudo, por
se tratar de casos de 3PS, não selecionados em nosso córpus.
18
Consideramos casos de neutralização, os casos, como da ocorrência (23f), em que é
impossível detectar se o “s” pronunciado entre o SN-sujeito e o verbo pertence a um ou outro
elemento.
Para as ocorrências em que o elemento anterior ao verbo tratava-se do pronome
relativo “que”, consideramos como último elemento do SN-sujeito o referente anterior ao
18
A exclusão desses casos (núcleo do sujeito no singular - 3PS) não compromete a consideração da influência do
SPrep inserido na estrutura do sujeito, pois foram considerados os casos de sujeitos com núcleo no plural (3PP)
tanto com SPrep no singular quanto com SPrep no plural.
73
pronome ao qual este se reporta, ainda que formalmente o sujeito da sentença seja o pronome
relativo “que”. Assim, em casos como o da ocorrência (23g), o último elemento considerado é
o vocábulo “meninos”.
23 g. teve até uns meninos que chora::ram sabe...
[AC-042, l.73]
a.2. de nível discursivo (marcas do verbo):
i. verbo precedido de verbo com marca formal de plural explícita no discurso do
falante ou do interlocutor (24a);
ii. verbo precedido de verbo com marca zero de plural no discurso do falante ou do
interlocutor (24b);
iii. verbo isolado ou primeiro de uma série (24c).
(24) a. só que eles ficaram com o chinelo não devolveram o chinelo não...
[AC-015, p. 2, l. 68]
b. que os casais... éh... assim... a:: partir do momento que assume... ou que casou na
igreja... ou que casou... no civil..
[AC-102, p.9, l.361]
c. depois que que termina as eleição num tem jeito de de eles faz o que eles quer
[AC-135, p.4, l.160]
b. traço semântico do sujeito
Para essa variável, Naro & Scherre (1999) controlam os seguintes traços semânticos
do sujeito: [humano], [não humano] e [misto], este último atribuído para sujeitos compostos
de mais de um núcleo, nos quais possam figurar elementos humanos e não-humanos. Em
nosso trabalho, contudo, optamos por considerar também o traço animacidade do sujeito,
ainda que ele não tenha sido considerado relevante em outros trabalhos.
A insistência na consideração deste traço se deve a ele ter se mostrado relevante em
estudos preliminares realizados com uma amostra de 10 informantes do Banco de Dados
74
Iboruna (RUBIO, 2006). Ante o exposto, os contextos variáveis para traço semântico do
sujeito são as seguintes:
i. [+humano] (25a);
ii. [-humano, + animado] (25b);
iii. [-animado] (25c);
iv. [misto] (25d).
(25) a. as enfermeiras éh::... iam no quarto e falavam
[AC-102, p.1, l.21]
b. só pá quem as vaca conhece assim... que vai bastante... daí... to/ vai assim todo dia...
[AC-004, p.7 l. 311]
c. acho que já tava pra chegar as férias
[AC-006, p.3, l.101]
d. a irmã dele e os cachorro cheGOU::... daÍ:: ela pegou vazar eles vaZAram de lá
[AC-012, p.3, l.116]
c. posição do núcleo do sujeito em relação ao verbo
Para esse grupo de fator, consideramos a classificação elaborada por Naro & Scherre
(1999)
19
, efetuando uma pequena adaptação na classificação dos sujeitos pós-verbais, por
considerarmos que pode ser importante considerar também, além da posição, nesses casos, o
distanciamento, conforme se propõe para os sujeitos antepostos ao verbo. A hipótese é a de
que a freqüência de CV será maior quanto mais saliente ou óbvia for a relação entre
sujeito/verbo e/ou quanto mais perto estiver o sujeito do verbo a que se refere.
Dessa forma, propusemos os seguintes fatores, levando em conta a posição do sujeito
e distanciamento do sujeito em relação ao verbo:
i. posição pré-verbal com núcleo distante de 0 a 2 sílabas do verbo (26a-b);
ii. posição pré-verbal com núcleo distante de 3 a 10 sílabas do verbo (26c);
iii. posição pré-verbal com núcleo distante mais de 10 sílabas do verbo (26d);
19
Cabe ressaltar que a divisão de Naro & Scherre (1999) foi proposta para amostras de fala do português
arcaico.
75
iv. posição pós-verbal com núcleo distante até 5 sílabas do verbo (26e);
v. posição pós-verbal com núcleo distante mais de 5 sílabas do verbo (26f).
(26) a. depois que termina as eleição num tem jeito de de... eles faz o que eles quer
[AC-135, l.160]
b. dos alunos hoje os alunos não respeitam mais professor... né?
[AC-126, l.197]
c ninguém PAga só vai preso pessoas que às vez rouba às vez até pá comer..
[AC-053, l. 259]
d. os artista... quando acompanhado dos segurança nem olha pros fã...
[AC-015, l.287]
e. meu pai ficou aqui em Rio Preto trabalhando então foi eu minha irmã e o meu irmão
[AC-056, l.52]
f. aí... foram sabe... numa segunda feira... bem de manhãzinha minha avó e todo
mundo
[AC-022, l.58]
As ocorrências com sujeitos do tipo desinencial não foram consideradas para esse
grupo de fatores. Embora, nesses casos, o referente seja identificado facilmente em sentenças
anteriores, optamos pela não consideração, visto que os sujeitos desse tipo (v. (27a)) têm
comportamento diferente dos sujeitos distanciados em relação ao verbo em uma mesma
sentença (v. (26d)). Para o primeiro caso, conforme atestam inúmeros trabalhos, a tendência é
a marcação de plural nos verbos, enquanto para o segundo, a tendência é a ausência de CV. A
consideração das ocorrências de sujeito desinencial dentro desse grupo de fatores poderia
ocasionar um enviesamento da amostra. Esse tipo específico de sujeito (desinencial) foi
tratado no grupo de fatores tipo morfológico de sujeito.
Importante ressaltar ainda que, para esse grupo de fatores, em ocorrências com o
pronome relativo “que”, foi considerado o distanciamento do referente anterior em relação ao
verbo, e não do pronome relativo “que” em relação ao verbo, como mostrado na ocorrência
76
(27b), a qual mostra os referentes meu tio o primo em posição anteposta ao verbo, distante de
3 a 10 sílabas deste.
(27) a. eles queriam assaltar outra CHÁcara e confundiram com a nossa
[AC-001, l.16]
b o meu tio o primo tudo que foram assaltado com a gente
[AC-001, l. 56]
e. tipo de sujeito
Para a variável tipo de sujeito, recorremos aos trabalhos de Naro & Scherre (1999),
Naro & Scherre (2000a) e de Monguilhott & Coelho (2002), pois consideramos esses
trabalhos complementares no tocante a essa variável. Assim, em nosso trabalho elegemos os
seguintes fatores para tipo estrutural de sujeito:
i. SN-pleno simples (28a-b);
ii. SN-pleno nu (28c-d);
iii. SN-pleno composto com núcleo adjacente ao verbo no singular (28e);
iv. SN-pleno composto com núcleo no plural adjacente ao verbo (28f);
v. pronome pessoal (28g-h);
vi. pronome indefinido (28i);
vii. pronome demonstrativo (28j-k);
viii. quantificador (28l);
ix. pronome relativo (28m);
x. desinencial (28n).
(28) a. e se separam... aí ficam os filhos...éh:: uns ficam com as mães...
[AC-102, l.333]
b. esses bandidos já tin/já tava ali faz tEM::po éh... rodeando aquela á::rea
[AC-001, l. 42]
77
c. traição tá assim homens traem... mulheres são traídas ?
[AC-056, l.362]
d. e curiosos chegava via o carro-forte naquela situação roda... arrancada do carro-
forte...
[AC-103, l. 83]
e. o meu pai e ele falou assim... “se você num ficar de cima delas elas vão furar a
orelha da menina ”
[AC-102, l.73]
f. os portugueses e espanhóis vinham pro Brasil éh:: em busca de uma vida melhor
[AC-134, l 110]
g. aí acho que eles tinha querido eles queriam assaltar outra CHÁcara
[AC-001, l.15]
h. que eles podem até ter visto se eles viram a calcinha pode até ter visto...
[AC-015, l. 851]
i. é uma fase da vida de qualquer pessoa que muitos sabe aprender muitos não
sabem... muitos sabem aPROVEITAr
[AC-022, l.471]
j. e esses são os procedimentos nossos
[AC-051, l.356]
k. mas aqueles vai junto sempre na viagem prá fazer as compra
[AC-064, l. 234]
l. eu sei que os dois são mas eu acho que o Bush também é
[AC-001, l.257]
m.
as pessoas que casam né... que constitui família...
[AC-102, l.330]
n. eu acho que as menina tem que largar a mão de:: de dar ouvido pro que todo mundo
fa::la e façam o que elas (sentem) vontade assim sabe?
[AC-016, l.399]
Incluímos nos chamados SNs-plenos simples os sujeitos formados por um SN que
possua um núcleo acrescido de determinantes e/ou modificadores. Destacamos que essa
classificação pode ser discutível do ponto de vista estrutural, por considerar estruturas de
complexidade diferente dentro de uma única variante, o que pode ser resolvido pelo controle
do distanciamento do sujeito em relação ao verbo e também pelo controle do fator paralelismo
formal, sob o qual se consideram, inclusive, as construções de sujeito com estrutura
complexa, constituídas de um núcleo seguido de um SPrep.
Casos em que não ocorreram determinantes nem modificadores acompanhando o SN-
sujeito, foram classificados como SN-pleno nu.
Entendem-se como SN-pleno composto os tipos de sujeito que possuam mais de um
núcleo. Controlamos, nesses casos, se os núcleos próximos do verbo encontram-se no singular
78
ou no plural, por considerarmos que núcleos com a variante explícita de plural desencadeiam
marcas explícitas de plural nos verbos.
Para os tipos de sujeito pronome pessoal, pronome indefinido, pronome demonstrativo
e quantificador consideramos em nossa análise o vocábulo que está na posição nuclear do
sujeito, sem, contudo, considerar os vocábulos que possam estar subentendidos no SN.
Como tipo de sujeito pronome relativo entendemos os casos em que o verbo é
antecedido por um pronome relativo que funciona na oração como sujeito e que se reporta a
uma estrutura (na maioria das ocorrências um SN) anterior a ele.
Por fim, consideramos como sujeitos desinenciais os sujeitos que não foram expressos
na oração analisada, mas que possuem um referente localizado em orações anteriores.
f. saliência fônica
Consideraremos para essa variável as classificações de Santos (2005), que
hierarquizou três níveis diferentes de saliência entre a forma verbal singular e a plural, e de
Scherre & Naro (2006), que hierarquizaram dois grandes níveis de saliência fônica verbal:
i. máxima diferenciação fonológica, percebida pela total alteração das desinências
modo-temporais e/ou do radical, sendo uma forma completa ou parcialmente distinta
da outra, como as formas observadas, por exemplo, nas oposições entre pôs/puseram,
é/são (29a-b), fez/ fizeram (29c-d) etc.
ii. média diferenciação fonológica, percebida por uma alteração perceptível da
desinência modo-temporal, sem alteração do radical; são exemplos as oposições entre
quis/quiseram, trouxe/trouxeram, morreu/morreram, falou/falaram (29e-f).
iii. mínima diferenciação fonológica, percebida, na fala espontânea, apenas pela
nasalização da vogal final não-acentuada e/ou adição de uma semi-vogal, sem
envolvimento mudanças no radical, como, por exemplo, nas oposições entre
79
fala/falam, falava/falavam, come/comem, dá/dão, vai/vão, faz/fazem, faça/façam,
está/estão, dizia/diziam, tava/tavam (29g-h).
(29) a. esses passos da segurança é muito importante
[AC-139, l. 340]
b. às vezes certas administrações são ruim mas a empresa assim é boa
[AC-139, l. 110]
c. nessa fazenda... meus avôs fez um cercado... fez um pomar de:: jabuticaba.
[AC-102, l. 174]
d. e foram as pessoas da igreja que fizeram
[AC-105, l. 250]
e. meu amigos falou que já tinham visto mesmo na rua mas ninguém me falou
[AC-022, l. 130]
f. meus amigos falaram que tinha sido fundo o corte quase precisava dar ponto
[AC-037, l. 59]
g. é:: eles tava no sítio do pai dele tava o pai de::le a mãe
[AC-55, l. 59]
h. eles tavam entrando assim já tinham abrido o portão
[AC-001, l.69]
3.5 Da quantificação e da análise dos dados
Para a análise quantitativa, o processamento de dados foi feito eletronicamente,
empregando-se o “pacote” estatístico VARBRUL e seus subprogramas, criados com a
finalidade específica de tratamento de fenômenos variáveis. Esse programa extrai as
freqüências e os pesos relativos dos fatores lingüísticos e sociais no condicionamento da
variável dependente, bem como permite estabelecer o cruzamento dos fatores.
As ocorrências foram selecionadas no córpus e codificadas, de acordo com códigos
mnemônicos atribuídos a cada um dos fatores que constituem os contextos variáveis. Nessa
fase, o emprego da noção de grupo de fatores como proposta pela Sociolingüística
80
Variacionista é de fundamental importância, porque permite manipular uma grande
quantidade de dados, ao mesmo tempo em que garante que todos os dados sejam analisados à
luz dos mesmos critérios (contextos variáveis).
A fase precedente à quantificação dos dados é também importante, porque pressupõe,
de antemão, uma leitura qualitativa dos dados, que permite, após os resultados freqüenciais,
compreender e explicar as estatísticas numéricas oferecidas pelo programa.
Neste momento julgamos ser de extrema importância recorrer às seguintes palavras de
Naro (2003, p. 24):
Em princípio, os valores absolutos dos pesos relativos calculados não têm significância
analítica; o que importa é a sua ordenação, sendo justamente por isso que se deve preferir o
uso do termo “peso relativo”. Na verdade, quando, sob certas convenções matemáticas,
calculamos um valor numérico de, digamos, 0,4, é perfeitamente possível que sob outras
convenções o valor calculado seja 0,6, mas a ordenação relativa de valores dos diversos
fatores que compõem um grupo mudará. Por isso temos que ter muita cautela ao dizermos que
um peso menor do que 0,5 desfavorece a aplicação da regra ou ao compararmos valores
numéricos de pesos calculados para diversos conjuntos de dados.
Diante do exposto, partimos, no próximo capítulo, para a análise dos resultados
apresentados pelo pacote estatístico VARBRUL.
81
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
I
I
V
V
A
A
N
N
Á
Á
L
L
I
I
S
S
E
E
D
D
O
O
S
S
R
R
E
E
S
S
U
U
L
L
T
T
A
A
D
D
O
O
S
S
Seguem neste capítulo os resultados alcançados na investigação da CV na fala da
região noroeste do Estado de SP. São expostos e discutidos aqui os resultados apurados para
cada uma das variáveis, bem como para o cruzamento entre elas.
4.1 Análise dos resultados
Foi analisado, em nosso trabalho, um total de 3.308 ocorrências de 3PP, dentre as
quais 70% (2.314/3.308) apresentavam marcação de plural, enquanto 30% (994/3.308) não
apresentavam a aplicação da CV. Na tabela e no gráfico 1, observam-se os percentuais acima
apresentados.
Tabela 1: Número de ocorrências analisadas e percentual de aplicação e não-aplicação de CV.
presença de CV ausência de CV Total
70% (2.314/3.308) 30% (994/3.308) 100% (3.308)
70%
30%
presença de CV ausência de CV
Gráfico 1: Percentual geral de presença/ausência de CV.
82
Era de se esperar que, para uma variedade do português considerada “caipira”, o
percentual de ausência de CV fosse maior do que 30%. Entretanto, essa expectativa não se
confirmou, baseando-se nas ocorrências extraídas da amostra que compusemos.
Como observamos acima, o percentual de presença de CV prevalece com freqüência
que equivale a mais de duas vezes o percentual de ausência de CV. Podemos afirmar que, no
processo de variação que ocorre na comunidade, há uma prevalência da “norma” em relação à
variante coloquial, pois, ainda que haja uma competição entre as duas variantes
(presença/ausência de CV), considerando os percentuais apresentados, podemos antecipar que
não se trata de um caso de mudança em curso, mas um caso de variação estável na
comunidade, como tentaremos mostrar na parte relativa à discussão sobre a possibilidade de
implementação da variante não-padrão na comunidade e, principalmente, na consideração dos
fatores sociais investigados neste trabalho (v. seções 4.1.4., 4.1.9. e 4.1.10).
4.1.1 Comparativo dos resultados gerais
20
Efetuamos a comparação dos resultados obtidos em nosso estudo com os resultados
evidenciados em outras regiões do Estado de São Paulo e, posteriormente, com resultados
obtidos em outros estados brasileiros, a fim de verificar as possíveis semelhanças e
discrepâncias de percentuais de aplicação de CV no PB.
20
Sempre que possível, os resultados apresentados neste trabalho serão comparados com resultados de outros
autores. Essa comparação, por vezes, não é possível devido à escolha de estratégias diferentes de divisão dos
contextos variáveis.
83
Tabela 2: Número de ocorrências analisado e percentual de aplicação e não-aplicação de CV em
regiões do Estado de São Paulo.
REGIÃO CENTRAL ESTADO DE SÃO
PAULO
REGIÃO
NOROESTE
S. J. DO RIO PRETO
ARARAQUARA
(GAMEIRO, 2005)
SÃO CARLOS
(MONTE, 2007)
PRESENÇA DE CV
70 % (2.314/3.308) 45% (627/1.399) 25% (247/1.000)
AUSÊNCIA DE CV
30% (994/3.308) 55% (772/1.399) 75% (753/1.000)
Ao compararmos os índices apresentados, podemos verificar uma acentuada
discrepância entre o percentual de aplicação da CV evidenciado na região de São José do Rio
Preto e o percentual verificado por Monte (2007) (25%), em amostras de fala referentes à
cidade de São Carlos, localizada na região central do Estado de São Paulo, o que, se justifica
pela estratificação social dos informantes selecionados, também divergente, visto terem sido
considerados nessa pesquisa somente informantes com baixa ou nula escolaridade, escolha
que pode reflete o índice de aplicação de CV, segundo estudos evidenciados anteriormente e
como iremos demonstrar no decorrer de nossa análise.
Os resultados de Gameiro (2005), obtidos para o estudo da CV na cidade de
Araraquara (45%), também localizada na região central do Estado de São Paulo, encontram-se
em uma faixa intermediária em relação aos resultados obtidos para a região de São José do
Rio Preto e aos resultados de Monte (2005). Diferentemente da nossa pesquisa, a autora
incluiu na estratificação de suas amostras de fala também informantes de escolaridade nula,
fato que pode explicar a queda na freqüência geral de aplicação da CV.
Ao considerarmos, porém, estudos realizados para outras variedades do PB, como o
apresentado na tabela a seguir, podemos observar que os resultados obtidos para São José do
Rio Preto se aproximam relativamente dos resultados obtidos por Scherre & Naro (1998), por
Monguilhott & Coelho (2002) e por Rodrigues (1997) e, por outro lado, evidenciam uma
distância considerável em relação aos percentuais obtidos por Lucchesi (2006), que mais se
aproximam dos obtidos por Monte (2007).
84
Tabela 3: Percentual de aplicação e não-aplicação de CV em diferentes variedades do PB.
BRASIL SJRP -
SP
RIO DE
JANEIRO
(SCHERRE &
NARO, 1998)
FLORIANÓPOLIS -
SC
(MONGUILHOTT
& COELHO 2002)
RIO BRANCO
- AC
(RODRIGUES,
1997)
BAHIA
(LUCCHESI,
2006)
PRESENÇA
DE CV
70% 73% 79% 58% 16%
AUSÊNCIA
DE CV
30% 27% 21% 42% 84%
A semelhança de resultados apresentada entre este estudo e o estudo de Scherre e Naro
(1998) pode ser explicada, em parte, pela consideração, em nossa pesquisa, de uma
estratificação social relativamente semelhante a dos autores, seja nos níveis de escolarização
(3 níveis), seja nas faixas etárias (4 faixas) ou mesmo quanto ao gênero dos informantes
(masculino e feminino). No estudo de Monguilhott e Coelho (2002), do mesmo modo, há uma
semelhança parcial na estratificação dos informantes, os quais foram divididos em três faixas
etárias e dois níveis de escolarização (quatro anos e 11 anos), e a freqüência de plural
apresentada foi de 79%. Rodrigues (1997) investigou apenas informantes com escolaridade
nula, baixa ou média, ou seja, informantes analfabetos, com 1 a 4 anos de escolarização e com
5 a 8 anos de escolarização, e obteve uma freqüência de CV de 58%.
Os resultados apresentados por Lucchesi (2006) são de uma comunidade rural afro-
brasileira isolada, onde a estratificação social dos informantes é prejudicada por questões
como, por exemplo, a nula escolarização de quase todos os membros da comunidade, o que
pode explicar os índices discrepantes em relação aos estudos apresentados para outras regiões.
85
4.1.2 Ordem de significância dos fatores considerados
Dos fatores sociais e lingüísticos propostos para a análise, todos se mostraram
relevantes, em maior ou menor nível, conforme mostrado em (30), pela ordem de
significância indicada pelo VARBRUL. Nas próximas seções, passamos a expô-los, também
levando em consideração a hierarquia decrescente de importância na aplicação de CV.
(30) Ordem de significância dos fatores
1
o
.) paralelismo formal: nível oracional
2
o
.) escolaridade dos falantes
3
o
.) paralelismo formal: nível discursivo
4
o
.) saliência fônica verbal
5
o
.) posição do núcleo do sujeito em relação ao verbo
6
o
.) traço semântico do sujeito
7
o
.) faixa etária dos falantes
8
o
.) sexo / gênero dos falantes
9
o
.) tipo de sujeito (constituição morfossintática)
4.1.3 Paralelismo formal - nível oracional
O grupo de fatores paralelismo formal de nível oracional foi proposto por julgarmos
que as marcas formais existentes no sujeito tendem a se repetir também no verbo, como
discutido anteriormente. Dessa forma, caso existam marcas formais de plural no sujeito, a
expectativa é a de que existam marcas de plural no verbo que o acompanha; do contrário, se
não houver marcas de pluralização no sujeito a tendência é de que não haja também marcas de
pluralização no verbo subseqüente.
Esse grupo de fatores foi selecionado como o mais relevante entre os analisados em
nosso trabalho.
86
Foi analisado um total de 2.694 ocorrências, visto terem sido desconsideradas as
ocorrências com sujeito desinencial e também os casos em que o sujeito estivesse posposto ao
verbo. No primeiro caso, ficará clara a baixa influência do fator paralelismo formal, que
não um elemento formalmente considerado na posição do sujeito. Conforme defendemos
no capítulo 2, parece não fazer muito sentido considerar que as marcas de sujeitos pospostos
possam influenciar as marcas de verbos precedentes, razão pela qual ocorrências deste tipo
também foram desconsideradas na análise desse fator.
21
Na seqüência, expomos a tabela 4, seguida de seu gráfico correspondente,
22
o
percentual para cada variante desse grupo e seu respectivo peso relativo (PR, daqui em
diante). Os resultados confirmam o princípio do paralelismo, pois a presença da forma de
plural no último elemento do SN-sujeito influenciou positivamente a pluralização dos verbos
subseqüentes, enquanto a categoria ausência da forma de plural no último elemento do SN-
sujeito influenciou de forma negativa a pluralização dos verbos.
Tabela 4: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores paralelismo formal – nível
oracional
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE
PLURAL
PESO
RELATIVO
presença de plural no último elemento do SN 1.720/2.211
78% .56
ausência de plural no último elemento do SN 92/296 31% .17
presença de plural no último elemento de um SPrep
17/27 63% .50
ausência de plural no último elemento de um SPrep 44/81 54% .37
numeral 27/44 61% .47
neutralização 27/35 77% .50
21
Justificamos aqui as possíveis não correspondências entre o total de ocorrências consideradas dentro de alguns
grupos de fatores e o total de ocorrências apresentado no início de nossa análise, visto, em alguns casos, não
haver aplicabilidade dos fatores para todas as ocorrências.
22
A apresentação de gráficos e tabelas referentes a um mesmo conjunto de dados tem simplesmente a finalidade
de fornecer ao leitor maior facilidade de comparação dos resultados.
87
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 2: Presença de CV em relação ao paralelismo formal – nível oracional
O percentual de presença de marcas de plural no último elemento do SN foi de 78%
(1.720/2.211) e o PR, de .56. Ainda que o valor do PR não exceda muito o valor de .50,
julgamos, pela comparação desse valor (.56) com os demais PRs dos demais fatores desse
grupo, que o contexto presença da forma plural no último elemento do SN-sujeito é
discretamente favorecedor da presença de marcas de plural nos verbos.
23
Para a categoria
ausência da forma de plural no último elemento do SN-sujeito, o percentual de pluralização
nos verbos foi de apenas 31% e o PR, de .17, valores extremamente baixos, se comparados ao
percentual e PR da categoria anterior, constatação que nos leva a afirmar que esse fator
influencia fortemente a ausência de plural nos verbos.
23
É importante que se esclareça que a interpretação do PR deve ser feita tomando-se como parâmetro não
somente o valor de .50, mas também a comparação com os demais resultados para cada fator do grupo analisado.
88
Nas ocorrências em (31) podemos observar que a ausência de plural no último
elemento do SN-sujeito acarreta, na maioria das vezes, a não-concordância, mesmo nesses
contextos de verbos próximos ao sujeito.
(31) a. só que num ia nenhum aluno lá né? porque senão os aluno estraga né?...
[AC-015, l. 503]
b.
daí num pode gritar muito alto quem as vaca conhece assim... que vai
bastante
[AC-004, l. 311]
c. agora os outros inspetor é bravo o (Bill) é o/ é o mais bravo
[AC-004, l. 320]
Especificamente em (31c), embora se trate de verbo de alta saliência fônica,
24
ele não
apresenta pluralização, razão que pode ser atribuída ao fato de o último elemento do SN-
sujeito não possuir marcas de plural. O predicativo, acompanhando a tendência de que
“marcas levam a marcas e zeros levam a zeros”, também permanece no singular.
nas ocorrências em (32) a seguir, podemos evidenciar que a presença de marcas de
plural no último elemento do SN-sujeito, na maioria das vezes, ocasiona a aplicação de CV.
(32) a. as idéias devem ser apresentadas aos alunos...
[AC-146, l. 260]
b.
você vai tá sendo a favor pra que as pessoas comprem armas
[AC-042, l. 303]
c. os móveissão bem anti::gos ah tem seu sofá sua cama
[AC-170, l. 67]
24
Como apontado anteriormente, a hipótese apresentada por outros autores é a de que a alta saliência fônica
entre plural e singular nos verbos contribua para a sua marcação de plural em contextos de 3PP e 1PP.
89
Em (32c), o verbo com saliência fônica máxima encontra-se pluralizado, reforçando a
tendência de que a pluralização do último elemento do SN-sujeito ocasiona a marcação de
plural nos verbos e, da mesma forma, também no predicativo.
Para o par de fatores presença e ausência da forma plural no último elemento inserido
em um SPrep, os resultados se mostraram semelhantes aos apresentados anteriormente para o
par presença e ausência da forma plural no último elemento do SN-sujeito. Os percentuais e
os pesos relativos foram superiores nas ocorrências em que a presença da forma plural no
último elemento do SN inserido em um SPrep e inferiores nas ocorrências em que a
ausência da forma plural. Porém, tanto em termos freqüenciais quanto na consideração do PR,
é menor a diferença entre presença (63% e PR .50) e ausência (54% e PR .37) da forma de
plural no último elemento do SN inserido em um SPrep, quando comparada à presença (78%
e PR .56) e ausência (31% e PR .17) de marcas de plural no SN-sujeito. Esse resultado pode
ser explicado pela influência do SPrep dentro da estrutura do SN-sujeito, que faz com que
haja um distanciamento maior do núcleo do SN-sujeito em relação ao verbo, o que, como
mencionamos, pode exercer influência negativa na aplicação de CV. Em outras palavras, ao
fazer uso dessa forma, o falante nem sempre realiza a concordância com o núcleo do sujeito,
mas com núcleo do SN no interior do SPrep, seja ele singular ou plural. Fica claro porém,
pelos percentuais e PRs apresentados, que as marcas de plural inseridas no SN interno ao
SPrep não exercem a mesma influência das marcas de plural do SN-sujeito.
25
Nas ocorrências em (33), observamos que a influência do último elemento do SN
inserido em um SPrep não é a mesma exercida pelo SN-sujeito. Mesmo assim há uma relação
entre a marcação de plural nos SNs inseridos em SPreps e a marcação de plural nos verbos.
25
Não é demais chamar a atenção para o contraste estrutural que estamos estabelecendo para nos referirmos aos
casos de SN-sujeito (Os meninos ...) e ao SN interno de um SPrep (Os cachorros dos meninos...).
90
(33) a. são grande são bem grandes né? que até as reuniões de comício é feito lá....
[AC-023, l. 283]
b.
os agente de Rio Preto e região me perguntavam sobre coisas da agência
[AC-051, l. 44]
c. os quarto dos meninos também é a mesma coisa... né
[AC-090, l.247]
d.
os esgotos das casas passavam com manilha e por debaixo da casa
[AC-115, l. 120]
Ainda que houvesse a pluralização do núcleo do SN-sujeito, a não-pluralização do
último elemento do SN do SPrep pertencente ao sujeito, como em (33a.)
26
, acarretou uma
diminuição no percentual de aplicação de plural nos verbos (54%) e um PR menor (.37). As
ocorrências em que o SN do SPrep foi pluralizado (como em (33d)) apresentaram uma
freqüência de 63% e PR de .50, sendo importante destacar que, mesmo com um percentual
alto de CV, esses índices não atingiram o índice verificado para os SN-sujeitos sem o SPrep, o
que poderia ser explicado, como relatado, pelo menor distanciamento do núcleo do sujeito
em relação ao verbo, que influencia positivamente a aplicação da CV.
A conclusão a que se chega para a influência na CV de um SPrep no interior de SN é a
de que o falante pode considerar como elemento desencadeador da CV o núcleo nominal mais
próximo do verbo, independentemente de este ser ou não o núcleo de um SN-sujeito.
As ocorrências contendo numeral como sujeito apresentaram um percentual
intermediário dentre os apresentados pelos fatores acima (61% e PR .47), o que pode ser
explicado pelas características dessa categoria, que, apesar de alguns numerais
apresentarem terminação em ‘s’ , esta não é considerada uma marca que diferencia uma forma
singular de uma forma plural.
26
Embora não seja objeto de nossa pesquisa, vale notar que, nesse caso, o predicativo concorda em número e
gênero com o SN inserido no SPrep e não com o núcleo do SN-sujeito.
91
Apesar de optarmos pela diferenciação entre os numerais terminados em ‘s’ (como em
(34)) e os numerais não terminados em ‘s’ (como em (35)), realizamos o amalgamento dos
dois tipos de ocorrências, em vista de termos encontrado em nosso córpus um número
reduzido de ocorrências com numerais não terminados em ‘s’, casos que, se de freqüência
mais baixa do que os numerais terminados em ‘s’, poderiam ter comprovado a hipótese de que
esses exercem maior influência na marcação de plural nos verbos do que aqueles.
(34) a vaga era pra uma pessoa mas das três pessoas duas foram consideradas
aptas
[AC-114, l. 47]
(35) dos vinte computador acho que sete num funcionava
[AC-015, l. 595]
Conquanto os casos de neutralização apresentem alto índice de aplicação de CV
(77%), não devemos considerá-los na análise como casos em que haja uma tendência à
realização da concordância devido à presença de “s” no último elemento do SN-sujeito, pois
são contextos em que não é possível detectar se ou não a presença da forma plural no
último elemento do sujeito, ou seja, nem mesmo o PR de .50 pode trazer qualquer
contribuição para a análise.
4.1.3.1 Comparação com outras pesquisas
Ao compararmos os resultados apresentados em quatro estudos realizados para o PB
(tabela 5), evidencia-se um comportamento regular do grupo de fatores paralelismo formal
nível oracional.
92
Tabela 5: Pesos relativos de aplicação da CV para o grupo de fatores paralelismo formal – nível
oracional, obtidos em quatro pesquisas
VARIEDADE
P.FORMAL –
NÍVEL ORACIONAL
SJRP RIO DE
JANEIRO
(SCHERRE &
NARO, 1993)
FLORIANÓPOLIS
(MONGUILHOTT &
COELHO,2002)
SÃO CARLOS
(MONTE, 2007)
presença de plural
no último elemento
do SN
.56 .56 .54 .62
ausência de plural
no último elemento
do SN
.17 .17 .32 .19
presença de plural
no último elemento
de um SPrep
.50 .61 - -
ausência de plural
no último elemento
de um SPrep
.37 .24 - -
numeral
.47 .34 .53 -
neutralização
.50 .58 - -
Com a observação da tabela acima é possível notar que os pesos relativos referentes a
esse grupo de fatores possuem grande proximidade de valores nos estudos apresentados
(valores exatamente iguais, se comparados os fatores presença e ausência de plural no último
elemento do SN-sujeito, em Scherre & Naro (1993) e em nosso trabalho (.56 e .17)).
Ao considerarmos os outros fatores, como, por exemplo, presença e ausência de plural
no último elemento de um SPrep inserido em um SN-sujeito, notamos que não há total
convergência entre os valores, pois no estudo de Scherre & Naro (1993), a presença de plural
no SPrep eleva o valor além do atingido pelo fator presença de plural no último elemento do
SN-sujeito, o que não ocorre em nosso trabalho, o qual apresenta um peso relativo
intermediário para esse fator.
93
4.1.4 Escolaridade
Para o grupo de fatores escolaridade, segundo em ordem de relevância, a hipótese
inicial era a de que um aumento da escolaridade do informante e, conseqüentemente, um
maior contato com a norma culta presente no ambiente escolar acarretariam um maior índice
de pluralização verbal. Seguem abaixo os resultados obtidos:
Tabela 6: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores escolaridade
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE PLURAL PESO RELATIVO
1º ciclo do ensino fundamental 317/570 56% .28
2º ciclo do ensino fundamental 653/1.084 60% .40
ensino médio 568/767 74% .52
ensino superior 776/887 87% .73
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 3: Presença de CV em relação ao grupo de fatores escolaridade
Os percentuais e os PRs apresentados confirmaram totalmente a hipótese, que tanto
a freqüência quanto o PR crescem gradativamente em acordo com aumento do nível de
escolaridade dos informantes. Assim, os maiores índices de aplicação de CV nos verbos
foram apresentados por informantes de Curso Superior (87% e PR .73), aos quais se seguem,
ordenadamente, os índices de informantes do Ensino Médio (74% e PR de .52), os de
informantes do ciclo do Ensino Fundamental (60% e PR de .40) e, por fim, os de
94
informantes com mais baixo nível de escolaridade, o ciclo do ensino fundamental (56% e
PR de .28), Assim, também para a comunidade de fala riopretana, confirma-se a premissa de
que quanto maior o nível de escolaridade maior a probabilidade de aplicação da regra de CV.
Como observa Rodrigues (1987), a escola reconhece a marcação de CV, dentre outras
regras, como a realização do padrão culto da língua, e os alunos tendem a assimilar a regra
até o término do Ensino Médio. Conforme pode ser observado no gráfico, os índices
apresentados para o ciclo do Ensino Fundamental e para o ciclo do Ensino Fundamental
apresentam uma diferença percentual de apenas 4 pontos enquanto a apresentada entre os
percentuais para falantes do ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio é 14 pontos.
Da mesma forma, ao compararmos o comportamento dos informantes de nível de
escolaridade superior e os de nível médio, observa-se um salto no índice de CV: as diferenças
de percentual e de PR entre esses dois segmentos são de 13 pontos e .21, respectivamente, o
que talvez possa ser explicado pela inclusão, entre os falantes de nível superior, de indivíduos
pós-graduados (mestres e mesmo doutores), que possuem, em alguns casos, mais de 20 anos
de contato com o ambiente escolar e acadêmico, lugares de forte pressão normativa.
Com o intuito de verificar a atuação em conjunto dos grupos de fatores lingüísticos e
sociais, realizamos o cruzamento de todos os grupos entre si. Ao longo de nossa análise,
exibiremos os cruzamentos que demonstraram ser relevantes para o fenômeno da CV.
Justifica-se, portanto, a não exibição dos cruzamentos que porventura não apresentarem
contribuição para as análises.
Ainda que seja pouco comum o cruzamento entre fatores lingüísticos e sociais
(extralingüísticos), alguns fatores lingüísticos são mais perceptíveis aos falantes e, por essa
razão, mais característicos de certos grupos sociais, que, deliberadamente, podem escolher
entre uma forma alternante e outra.
27
Assim, em nosso trabalho, julgamos pertinente, em
27
Conforme salienta Coelho (2006), no uso alternante dos pronomes a gente versus nós, os falantes mais
escolarizados fazem uso, com maior freqüência, da forma a gente, que não exige pluralização verbal,
95
certos momentos, efetuar tais tipos de cruzamento, cuja apresentação será feita sempre após a
exibição do segundo grupo de fator envolvido.
4.1.4.1 Comparação com outras pesquisas
Na comparação dos resultados obtidos com os apresentados em outras pesquisas,
destacamos a grande regularidade evidenciada no aumento dos índices de CV para os
informantes da região de São José do Rio Preto. Ainda que os índices apresentem diferenças
sensíveis de valores, se comparados os três estudos, eles se mostram crescentes em relação
direta com a escolaridade dos informantes.
Tabela 7: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator escolaridade, obtidos para três
variedades do PB
28
VARIEDADE
ESCOLARIDADE
SJRP RIO DE JANEIRO
(SCHERRE & NARO,1998)
RIO BRANCO
(RODRIGUES,1997)
1 a 4 anos
(1º ciclo do EF)
.28 .39 .44
5 a 8 anos
(2º ciclo do EF)
.40 .56 .66
9 a 11 anos
(Ensino Médio)
.52 .58 -
mais de 11 anos
(Ensino Superior)
.73 - -
provavelmente, motivados pelo desejo de evitar desvios de concordância. Segundo o autor, o mesmo
comportamento não ocorre com os menos escolarizados, que usam com maior freqüência o pronome nós, com
ou sem a pluralização verbal.
28
Ainda que Gameiro (2005) tenha estratificado os informante em 5 níveis de escolaridade, a comparação com
os resultados desse trabalho não foi possível devido à consideração do cálculo da probabilidade de ausência de
CV, o que resultou na inversão dos pesos relativos, com maiores índices para falantes de baixa escolaridade (.76)
e os menores índices para falantes de elevada escolaridade (.07).
96
4.1.4.2 Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal nível oracional e
escolaridade
Investigamos o cruzamento entre o grupo de fatores paralelismo formal nível
oracional e o grupo de fatores escolaridade por julgarmos que o comportamento do falante
quanto a esse fator lingüístico pode variar de acordo com sua maior ou menor consciência em
relação à “norma”, ou seja, níveis de escolarização diferentes poderiam refletir diferentes
freqüências de CV, para cada categoria do grupo de fatores paralelismo formal – nível
oracional.
Tabela 8: Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal – nível oracional e escolaridade
paralelismo
formal – nível
oracional
Presença da
forma plural
Ausência da
forma plural
Presença da
forma plural
(SPrep)
Ausência da
forma plural
(SPrep)
Numeral neutralização
escolaridade
%
F %
F % F %
F %
F % F
1º ciclo do E.F.
64
230/358
32
24/74
60
3/5
25
2/8
46
5/11
80
4/5
2º ciclo do E.F.
71
493/692
25
39/159
33
2/6
23
5/22
50
8/16
64
9/14
Ensino Médio
80
413/514
39
15/38
83
5/6
52
13/25
63
5/8
80
4/5
Ens.Superior
91
586/647
56
14/25
70
7/10
92
24/26
89
8/9
91
10/11
Ao observarmos a tabela acima, podemos constatar que o grupo de fatores paralelismo
formal nível oracional correlaciona-se ao grupo de fatores escolaridade, que, para a
categoria presença da forma plural no último ou único elemento do SN-sujeito, há um
aumento gradativo da aplicação de CV, na medida em que o nível de escolaridade aumenta.
Para informantes com baixa escolaridade (1º ciclo do Ensino Fundamental), ainda que haja a
presença da forma de plural “s” no SN-sujeito, apenas 64% de marcação de plural nos
verbos; para informantes com escolaridade intermediária, ciclo do Ensino Fundamental e
Ensino Médio, os índices são, respectivamente, 71% e 80%, e, para informantes de
escolaridade elevada (Curso Superior), o percentual se eleva para 91%. O mesmo ocorre com
a categoria ausência da forma de plural s” no SN-sujeito, cujos resultados permitem
97
constatar que informantes com baixa escolaridade apresentam um percentual de 32% de CV,
contra 56% de CV para os informantes de nível superior.
A gradação se mantém também para a categoria numeral, para a qual os percentuais de
marcação de plural nos verbos crescem com o crescimento do nível de escolaridade
investigados (respectivamente, 46%, 50%, 63%, 89%).
Para as categorias presença e ausência da forma plural s” no ultimo elemento de um
SPrep, embora se apresentem patamares menos elevados de CV para informantes de baixa
escolaridade e patamares mais elevados de CV para informantes de nível de escolaridade mais
alto, o aumento gradual de CV, em relação direta com o aumento da escolaridade, não se
mantém, fato atribuído, conforme já aludimos, à “confusão” provocada pela inserção do
elemento pluralizado ou não (SN inserido em um SPrep) em posição intermediária entre o
núcleo do SN-sujeito e o verbo, o que ocasiona falta de clareza na distinção do verdadeiro
elemento desencadeador da marcação de plural no verbo.
Em (36), podemos constatar que, ainda que o cleo do SN-sujeito esteja no plural, o
SN do SPrep da madrasta, posicionado entre o núcleo filhas e o verbo num precisa, encontra-
se no singular, o que contribui para que o falante mantenha o verbo também no singular.
(36) as duas filhas da madrasta num precisa fazer nada...
[AC-024, L.161]
4.1.5 Paralelismo formal – nível discursivo
Para o grupo de fatores paralelismo formal de nível discursivo, a expectativa era a de
que os contextos em que os verbos anteriores fossem marcados com o plural favorecessem a
marcação de plural nos verbos posteriores, seguindo-se os mesmos parâmetros adotados na
98
categoria paralelismo formal de nível oracional. Por outro lado, verbos antecedidos de verbos
sem a marcação de plural refreariam a aplicação da CV. A expectativa para verbos isolados
ou primeiros de uma série é a de que não houvesse, nesses casos, influência negativa ou
positiva na aplicação (somente na consideração desse grupo de fatores).
Os resultados apresentados para esse grupo de fatores são os que seguem na tabela 9 e
no gráfico de número 4, dos quais as ocorrências em (37) são casos exemplares:
(37) a.
tipo as pessoas QUE::... não PENsa direito NA HOra não nem AÍ pra nada
vai e::... tanto FAZ e faz a coisa... nem LIga
[AC-010, l. 441]
b.
elas até comem bem... né... se CALÇAM bem... né... tão na moda...vão e
saem... mas te(ê)m
29
problema psicológico
[AC-102, l. 348]
c. os homens tão aqui no centro atacando
[AC-031, l. 24]
d.
e as moças tudo solteira já começava a paquerar
[AC-132, l. 343]
Tabela 9: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores paralelismo formal – nível
discursivo
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE PLURAL PESO RELATIVO
verbo anterior c/ marca de plural 84% 455/539 .64
verbo anterior s/ marca de plural 27% 42/154 .12
verbo isolado ou primeiro 72% 1749/2427 .50
29
Especificamente, as ocorrências com o verbo ter, conjugado no presente do indicativo, como já mencionado,
não permitem distinção entre singular e plural, na língua falada.
99
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 4: Presença de CV em relação ao grupo de fatores paralelismo formal de nível discursivo
A hipótese para o grupo de fatores paralelismo formal de vel discursivo também foi
confirmada, pois, como observamos na tabela e gráfico anteriores, os verbos antecedidos de
verbos com marca de plural ((37b)) tiveram alta freqüência de marcação de plural (84%) e
também um PR consideravelmente superior às demais categorias (.64), mostrando, assim, que
esse fator influencia positivamente a marcação de plural nos verbos. Os verbos antecedidos de
verbos sem marcas de plural, como em (37a), apresentaram baixa freqüência de marcação de
plural (27%) e PR muito inferior à categoria anterior (apenas .12), resultado quenos permite
verificar que esses são contextos altamente desfavorecedores da CV. Para os contextos em
que o verbo era o primeiro de uma série ou se apresentava isolado de outros verbos (exemplo
37d), a freqüência de aplicação foi de 72% e o peso relativo foi de .50, o que não nos permite
afirmar se ou não influência na marcação de plural dos verbos. Nesse caso, outros fatores,
tanto sociais quanto lingüísticos, irão influenciar a “escolha” dos falantes.
Em (37a), verificamos que o primeiro verbo (pensa) não foi pluralizado e, por essa
razão,levou o verbo subseqüente, com mesmo referente do verbo anterior (as pessoas), pelo
princípio do paralelismo formal (marcas levam a marcas, zeros levam a zeros), a não receber
também as marcas de plural e, desse modo, sucessivamente, ocorreu com os verbos tá, vai, faz
100
e liga. em (37b), a marcação de plural no primeiro verbo da seqüência (comem) atuou
positivamente para que todos os verbos posteriores (calçam, tão, vão e saem) também
recebessem o morfema de plural. Ainda que menos comuns, algumas ocorrências contrariam
o princípio do paralelismo formal e, assim, mesmo com a marcação de plural no verbo
anterior, pode ocorrer de o próximo verbo da seqüência não exibir marcas de pluralização,
como observamos em (37c).
4.1.5.1 Comparação de resultados
Por meio da comparação dos resultados obtidos em nossa pesquisa com os de Scherre
& Naro (1993), para o grupo de fator paralelismo formal – vel discursivo, é possível
observar o comportamento extremamente regular desse grupo de fatores, dada a proximidade
dos valores dos pesos relativos para todos os fatores, como revelam os resultados
comparativos da tabela 10.
Tabela 10: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator paralelismo formal – nível discursivo
VARIEDADE
P. FORMAL
– NÍVEL ORACIONAL
SJRP
RIO DE JANEIRO
(SCHERRE & NARO, 1993)
verbo anterior c/ marca de
plural
.64 .65
verbo anterior s/ marca de
plural
.12 .19
verbo isolado ou primeiro
.50 .48
Para o fator verbo anterior com marca de plural, o peso relativo evidenciado na
presente pesquisa é de .64, ou seja, praticamente o mesmo apresentado em Scherre & Naro
(1993) (.65). Para os outros fatores, ainda que não haja igualdade numérica, os valores
apresentados evidenciam comportamento semelhante, ou seja, o fator verbo anterior sem
101
marca de plural, considerando os números apresentados nas duas pesquisas (.12 e .19),
influencia a não aplicação da CV. Para os verbos isolados ou primeiros de uma série, da
mesma forma, apenas dois décimos separam os resultados de uma pesquisa e outra (.50 e .48).
4.1.5.2 Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal nível discursivo e
escolaridade
Realizamos o cruzamento entre o grupo de fatores paralelismo formal nível
discursivo e o grupo de fatores escolaridade por julgarmos que o comportamento do falante
quanto a esse fator lingüístico, semelhantemente ao grupo de fatores paralelismo formal -
nível oracional, pode variar de acordo com sua maior ou menor consciência em relação à
“norma”, ou seja, índices de escolarização diferentes podem conduzira diferentes freqüências
de CV, para cada categoria do grupo de fatores paralelismo formal – nível discursivo.
Tabela 11: Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal – nível discursivo e escolaridade
1º ciclo do EF 2º ciclo do EF Ensino Médio Ensino Superior
escolaridade
p. formal N.D.
% F % F % F % F
presença de
plural no verbo
anterior
74
69/93
78
118/151
90
122/136
92
146/159
ausência de
plural no verbo
anterior
22
7/32
29
17/58
26
11/43
33
7/21
verbo isolado ou
1º de uma série
57
235/409
61
500/821
78
416/535
90
598/662
Observamos na tabela acima a estreita correlação entre os dois grupos de fatores
considerados em razão do aumento gradativo dos índices percentuais, partindo dos níveis de
escolarização mais baixos para os níveis de escolarização mais altos, para todos os três fatores
do grupo paralelismo formal nível discursivo. Para o fator presença de plural no verbo
102
anterior, o percentual de aplicação de plural no verbo posterior foi respectivamente, de 74%
(1º ciclo do ensino fundamental), 78% (2º ciclo do ensino fundamental), 90% (ensino médio)
e 92% (ensino superior). Para o fator ausência de plural no verbo anterior, ainda que os
percentuais evidenciados sejam menores em todas as faixas de escolarização, conforme já
explicitamos, pode-se verificar um aumento do percentual de aplicação da CV, se
compararmos as faixas escolares máxima e mínima (33% e 22%, respectivamente). Em
ocorrências com verbos isolados ou que figuravam como primeiros de uma série, o aumento
da pluralização em relação direta com o grau de escolaridade se deu de forma extremamente
acentuada, pois os percentuais apresentados nas faixas extremas (escolaridade mínima e
máxima) foram, respectivamente, 57% e 90%, uma diferença considerável de 33 pontos
percentuais.
4.1.6 Saliência fônica
Para este grupo de fatores, verifica-se na bibliografia pesquisada que formas mais
salientes de plural em relação às suas formas singulares tendem a ser mais marcadas do que as
formas plurais menos salientes, ou seja, oposições mais salientes são mais perceptíveis e,
portanto, aumentam a probabilidade de ocorrência da variante explícita de plural. A
expectativa era a de que haveria um maior percentual de CV para verbos com grau máximo de
saliência fônica (como em (38)) e, ao contrário, verbos com grau mínimo de saliência fônica
(com em (39)) apresentariam valores percentuais menores de CV. Em uma posição
intermediária, estariam os verbos com grau médio de saliência fônica (como em (40)).
(38) as crianças não são / (é) feitas prá/ prá::/ prá bater nelas...
AC-004, l. 260
103
(39) quando as jabuticabas nasciam / (nascia)... que estavam na época de colher
AC-031, l. 24
(40) os três elemento que tava comigo eles foram / (foi)... encaminhado urgente prá Rio
Preto
AC-103, l. 115
Abaixo são apresentados a tabela e o gráfico de freqüência e PR de CV para o grupo
de fatores saliência fônica.
Tabela 12: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores saliência fônica.
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE PLURAL PESO RELATIVO
nível mínimo
1108/1756
63% .37
nível médio
897/1160
77% .62
nível máximo
309/392
79% .72
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 5: Presença de plural em relação ao grupo de fatores saliência fônica.
Como podemos observar, o aumento do nível de saliência fônica acompanha o
aumento do percentual de CV. Para os verbos em que a saliência fônica entre a forma plural e
a singular é mínima, casos em que não grande distinção entre a forma plural e a singular, a
freqüência de aplicação é de 63% e o PR é de .37. Há, portanto, um desfavorecimento no uso
de plural para esses contextos.
104
Para os veis de saliência médio e alto, a freqüência de aplicação é de 77% e 79%,
respectivamente, e os pesos relativos são de .62 e de .72, o que confirma que o aumento na
saliência fônica influencia positivamente a marcação de plural nos verbos.
4.1.6.1 Cruzamento dos grupos de fatores saliência fônica e escolaridade
O grupo de fatores saliência fônica, ainda que de natureza lingüística, está
intimamente ligado a fatores cognitivos, visto que os diferentes níveis de saliência fônica
entre a forma singular e a forma plural constituem uma das características da CV mais
perceptíveis pelo falante. Por meio do cruzamento dos grupos de fatores saliência nica e
escolaridade, buscamos checar a seguinte hipótese: falantes de veis de escolaridade mais
alto são mais sensíveis à CV quando se trata de verbos de níveis maiores de saliência fônica.
Tabela 13: Cruzamento dos grupos de fatores saliência fônica e escolaridade
mínima média máxima
saliência fônica
escolaridade
% F % F % F
1º ciclo do EF 47
140/301
64
125/195
70
52/74
2º ciclo do EF 49
286/583
72
274/381
78
93/120
Ensino Médio 69
256/370
81
240/297
72
72/100
Ensino Superior 85
426/502
90
258/287
94
92/98
Ao considerarmos o cruzamento acima, constatamos, embora em patamares diferentes,
que falantes de todas as faixas de escolaridade são sensíveis à saliência fônica dos verbos,
pois a marcação de plural nos verbos aumenta, em todos os graus de saliência (mínimo, médio
e máximo), à medida que a escolarização dos informantes atinge níveis maiores. Uma
exceção se faz apenas no cruzamento entre a categoria de escolaridade Ensino Médio e a
categoria saliência fônica máxima, que apresenta índice pouco menor (72%) que a categoria
anterior.
105
Falantes com nível de escolarização Superior, como era de se esperar, exibem
percentuais altos de pluralização nos verbos em todos os níveis de saliência fônica,
possivelmente por sofrerem maior pressão normativa. Observa-se que esses índices
aumentam gradativamente, quando se parte do nível de menor para maior saliência fônica
(85%, 90% e 94%).
4.1.6.2 Cruzamento dos grupos de fatores saliência fônica e paralelismo formal
nível discursivo
Para o cruzamento do grupo de fatores saliência fônica com o grupo de fatores
paralelismo formal nível discursivo, buscamos evidenciar se a atuação desses grupos leva a
índices de CV altamente acima da média, ou bem abaixo da média, o que demonstraria que
ambos os fatores são importantes na explicação da variação da CV. A insistência em um
cruzamento com resultados aparentemente óbvios se a fim de obtermos a confirmação da
relevância na consideração do grupo de fatores paralelismo formal nível discursivo, como
veremos a seguir.
Tabela 14: Cruzamento dos grupos de fatores saliência fônica e paralelismo formal – nível
discursivo
mínima média máxima
saliência fônica
paral. formal – N.D.
% F % F % F
presença de plural no
verbo anterior
73
160/220
92
236/257
95
59/62
ausência de plural no
verbo anterior
15
12/82
41
25/61
45
5/11
verbo isolado ou 1º da
série
67
915/1359
78
604/775
78
230/293
Pela leitura da tabela acima, pode-se perceber que os índices de pluralização dos
verbos se alteram de acordo com a presença ou ausência de plural no verbo anterior, que
temos percentuais acima da média geral de CV (70%) para ocorrências em que a presença
106
de plural no verbo anterior (73%, 92% e 95%), em todos os níveis de saliência, o que não
ocorre com os casos em que não pluralização no verbo anterior, os quais apresentam
índices muito abaixo da média de CV, respectivamente, da mínima para a máxima saliência
fônica, 15%, 41% e 45%.
Ao considerarmos separadamente cada categoria do grupo de fatores paralelismo
formal nível discursivo, também nos deparamos com um aumento gradativo que avança
sempre da categoria de menor saliência para a categoria de maior saliência fônica, pois, para a
categoria presença de pluralização no verbo anterior, os índices são de 73%, 92% e 95%,
respectivamente, da categoria de mínima para a máxima saliência; para a categoria ausência
de plural no verbo anterior, o menor valor verificado encontra-se no grau mais baixo de
saliência, 15%, enquanto para os graus médio e máximo os percentuais são, respectivamente
de, 41 e 45%.
Não podemos deixar de notar que, para a categoria de paralelismo formal nível
discursivo com verbo isolado ou primeiro de uma série, partindo-se da categoria de menor
saliência para a de maior saliência, os índices não sofrem grande alteração, principalmente se
considerarmos as categorias média e máxima saliência, para as quais os índices são os
mesmos (78%), fato interessante que nos remete a considerar a importância do grupo de
fatores paralelismo formal – nível discursivo no fenômeno da CV.
4.1.7 Posição do núcleo do sujeito em relação ao verbo
Considerando que o PB é uma língua do tipo SVO (sujeito + verbo + objeto), que
admite variação nesse padrão de ordenação, admitimos para esse grupo de fatores posições do
sujeito anteriores e posteriores ao verbo, controlando ainda a distância de um em relação ao
outro.
107
Como mencionado, diversos trabalhos empíricos demonstraram que sujeitos
distantes de seus verbos (como em (42)), ou sujeitos em posição pós-verbal (como em (43)),
distantes ou não do verbo, tendem a enfraquecer a CV (cf. LEMLE & NARO, 1977).
(41)
todas as meninas não eram muito minha amiga
[AC-006, l. 443]
(42) os artista... quando acompanhado dos segurança nem olha pros fã...
[AC-015, l.287]
(43) acho que já tava pra chegar as férias aí eu acho que eu fiquei uma semana
[AC-006, l. 101]
Para Pontes (1986), o SN-sujeito posposto pode apresentar características de objeto, o
que dificultaria a marcação de concordância. Para nossos resultados, era de se esperar,
portanto, que houvesse uma maior probabilidade de aplicação da regra para casos em que o
SN-sujeito ocorresse em situação de anteposição e mais próximo do verbo (como em (41)).
Vejamos abaixo a tabela de freqüência e PR para o grupo de fatores posição do núcleo
do sujeito em relação ao verbo:
30
Tabela 15: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores posição do núcleo do sujeito em
relação ao verbo
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE PLURAL PESO RELATIVO
pré-verbal dist. 0-2 sílabas
1.614/2.207
73% .53
pré-verbal dist. 3-10 sílabas
128/209
61% .50
pré-verbal dist. mais de 10 síl.
20/32
63% .48
pós-verbal
27/138
19% .10
30
Devido ao número reduzido de ocorrências com sujeito pós-verbal distante mais de 5 sílabas do verbo e
também ao comportamento semelhante ao comportamento para sujeitos pós-verbais próximos do verbo, optamos
por amalgamar esses dois fatores.
108
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 6 – Presença de CV em relação à posição do núcleo do sujeito em relação ao verbo
O grupo de fatores posição do sujeito em relação ao verbo foi o quinto grupo
selecionado pelo “pacote” estatístico VARBRUL. Podemos observar, como previsto em
trabalhos anteriores, que a probabilidade de aplicação da concordância foi maior em casos em
que o sujeito se antepõe ao verbo, em contextos de menor distanciamento de um em relação
ao outro, como observamos na tabela acima: sujeito pré-verbal com cleo distante de zero a
duas sílabas antes do verbo (73% e PR .53). Os casos de sujeito pós-verbal foram os que
apresentaram o menor PR, (.10), ou seja, como previsto, é menor a probabilidade de CV
nesses contextos.
Para a categoria núcleo do sujeito em posição pré-verbal distante mais de 10 sílabas do
verbo, a hipótese não foi totalmente confirmada, pois, esta apresentou uma freqüência
intermediária em relação às duas categorias com sujeito pré-verbal (63%) e um PR pouco
acima do esperado (.48), considerando que em outros trabalhos (NARO & SCHERRE, 1999)
comumente a categoria apresenta peso relativo menor, justificado pelo maior distanciamento
do sujeito.
109
4.1.7.1 Comparação de resultados
Antes de propormos um comparativo de resultados, cabe-nos ressaltar que a divisão de
fatores utilizada na pesquisa para o grupo de fatores posição do núcleo do sujeito em relação
ao verbo foi baseada na divisão proposta por Naro e Scherre (1999) para dados do português
arcaico escrito. Para dados do português falado, outras divisões podem ser propostas, como
podemos observar na tabela a seguir.
Tabela 16: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator posição do núcleo do sujeito em
relação ao verbo, obtidos em pesquisas sobre o PB
SJRP
RJ
(SCHERRE &
NARO, 1998)
FLORIANÓPOLIS
(MONGUI-LHOTT &
COELHO, 2002)
SÃO CARLOS
(GAMEIRO,2005)
RIO BRANCO
(RODRIGUES,
1997)
PR PR PR PR PR
suj. pré-
verbal
dist. 0-2
sílabas
.53
suj.
imediata-
mente
anteposto
ao verbo
.62
SN
anteposto
.58
suj.
anteposto
.69
imediata-
mente
antes do
verbo
.58
suj. pré-
verbal
dist. 3-10
sílabas
.50
sujeito
anteposto
distante do
verbo de 1
a 4 sil.
.55
-
-
-
-
pré-verbal
e separado
do verbo
.49
suj. pré-
verbal
dist. mais
de 10 síl.
.48
sujeito
anteposto
do verbo
distante
mais de 5
sil.
.39
-
-
-
-
-
-
suj. pós-
verbal
.10
sujeito
posposto
.08
SN
posposto
.17
suj.
posposto
.54
pós-verbal
.17
Como podemos notar na tabela, não há uniformidade na divisão desse grupo de
fatores, visto alguns autores se utilizarem apenas de duas categorias de classificação para o
grupo de fatores (MONGHILHOTT & COELHO, 2002; GAMEIRO, 2005), enquanto outros
autores propõem uma divisão em quatro categorias (SCHERRE & NARO, 1998, por
exemplo). Em nosso trabalho, optamos também pela divisão em quatro categorias,
110
considerando, além da posição de anterioridade ou posterioridade, o distanciamento do sujeito
em relação ao verbo.
É possível notar semelhança parcial entre os resultados (observação horizontal da
tabela), pois, para sujeitos pré-verbais, nota-se, nas pesquisas, uma tendência desse fator a
influenciar positivamente a aplicação da CV (PRs de .53, .62, .58, .69, .58). Por outro lado, na
observação da categoria sujeito pós-verbal (sujeito posposto ao verbo), considerando os pesos
relativos apresentados, é possível afirmar que essa categoria influencia negativamente a CV
(PRs de .10, .08, .17, .54, .17).
31
Ao considerar o estudo realizado por Scherre e Naro (1998), chega-se à conclusão de
que, à medida em que o sujeito distancia-se do verbo, gradativamente esse deixa de
influenciar positivamente a aplicação da CV, visto haver uma diminuição dos PRs, afirmação
constatada na leitura vertical da tabela, que indica os seguintes PRs: .62, .55, e .39. Da mesma
forma, em nossa pesquisa, ainda que de forma menos discreta, uma leitura vertical aponta os
seguintes PRs .53, .50, e .48. A diferença entre os resultados apresentados por Scherre e Naro
(1998) e os resultados apresentados nessa pesquisa podem, então, residir na opção de
categorização do grupo de fatores, considerando uma pesquisa realizada para o português
escrito do período arcaico. Uma categorização semelhante à de Scherre e Naro (1998) poderia
evidenciar diferentes resultados.
4.1.8 Traço semântico do sujeito
Conforme supusemos, um sujeito que apresentasse traço [+humano] tenderia a um
maior índice de aplicação da CV do que um sujeito que não tivesse características humanas.
31
O peso relativo (.54) apresentado por Gameiro (2005), para o fator sujeito posposto, a princípio, pode
contradizer o afirmado, porém, ao efetuar uma análise comparativa com a outra categoria proposta pela autora
(sujeito anteposto, PR de .69), é possível afirmar que essa categoria influencia positivamente a aplicação da CV
e a categoria sujeito posposto influencia negativamente a CV (remetemos o leitor à afirmação de Naro (2003), p.
80, deste trabalho).
111
Da mesma forma, acreditávamos, embasados em trabalhos anteriores, que sujeitos animados
apresentassem maior freqüência de CV que sujeitos inanimados. Vejamos os resultados na
tabela 17 e gráfico 7.
T
abela 17: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores traço humano do sujeito
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE PLURAL PESO RELATIVO
humano
2040/2805
73% .53
animado
15/26
58% .47
inanimado
259/477
54% .34
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 7: Presença de CV em relação ao traço semântico do sujeito
Os dados analisados mostraram, de acordo com nossas expectativas, que sujeitos que
codificam referentes humanos tendem a influenciar positivamente a CV. Em acordo com
essas expectativas, a freqüência de aplicação de plural para o tipo de sujeito com traço [+]
humano ((44) e (45)) foi de 73% e o PR foi de .53. Para sujeitos animados ((46) e (47)) (não-
humanos), o índice foi de 58% e o PR foi de .47, ou seja, superior aos índices de freqüência e
PR de CV em ocorrências com sujeito inanimado ((48) e (49)) (54% e PR .34,
respectivamente). Portanto, contextos em que figuram sujeitos inanimados tendem a ser
contextos em que há um refreamento da CV.
112
(44) os político tão passando a mão em tudo
[AC-067, l. 414]
(45) os cara bate mesmo se eles pegar
[AC-031, l. 15]
(46) e os pe::ixes::... andam mu::ito prá lá né...
[AC-011, l. 154]
(47) eu admirava de ver os burros obedecer o meu pai..
[AC-123, l. 210]
(48) eu acho que que que as leis deveriam ser mais severas
[AC-071, l. 270]
(49) as coisa muda né... aí cê muda totalmente... o teu modo de pensar
[AC-072, l. 678]
Apesar de todos os tipos de sujeito terem apresentado índices de CV acima dos 50%,
notamos que apenas os sujeitos com traço [+ humano] exibiram um percentual de
pluralização acima da média geral de aplicação de CV para a amostra (70%), pois os sujeitos
com traço [- humano], sejam eles [- animados] ou [+ animados] apresentaram uma
freqüência abaixo da média geral.
4.1.8.1 Comparação de resultados
Na tabela abaixo, expomos os resultados de Monghilhott & Coelho (2002) para o
grupo de fatores traço semântico do sujeito, em comparação com os resultados obtidos nesta
pesquisa. Ainda que o haja a mesma categorização do grupo, é possível notar que sujeitos
com traço [+ humano] têm o mesmo comportamento nas duas pesquisas, ou seja, contribuem
para a aplicação da CV; sujeitos com traço [- humano] (animados ou inanimados)
influenciam negativamente a CV.
113
Tabela 18: Pesos relativos de aplicação da CV para o grupo de fatores traço semântico do
sujeito, obtidos em pesquisas sobre o PB
VARIEDADE
T. SEMÂNTICO DO SUJ.
SJRP FLORIANÓPOLIS-SC
(MONGHILHOTT
& COELHO, 2002)
humano
.53 .55
animado
.47 -
inanimado
.34 -
não-humano -
.28
4.1.9 Faixa etária
Para o grupo de fatores idade, após a consulta bibliográfica, tínhamos a expectativa de
que falantes de maior idade tivessem maior probabilidade de realizar a CV, visto que são
menos propensos a aceitar mudanças no sistema lingüístico que fujam à norma. Vejamos os
resultados para esse grupo de fatores na tabela e gráfico abaixo.
Tabela 19: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores idade
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE
PLURAL
PESO RELATIVO
7 a 15 anos
343/609
56% .39
16 a 25 anos
405/539
75% .50
26 a 35 anos
387/565
68% .44
36 a 55 anos
584/776
75% .56
mais de 55 anos
595/819
73% .57
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 8:Presença de CV em relação à faixa etária
114
A hipótese de que faixas etárias mais elevadas tivessem maior propensão a manter a
regra de CV, ou seja, tendessem a fazer maior uso da forma padrão, foi confirmada em parte,
que, comparando-se as faixas extremas da tabela, temos pesos relativos e freqüências de
valores díspares. Para a faixa de menor idade (7 a 15 anos), a freqüência de aplicação de
plural foi de apenas 56% e o PR foi de apenas .39, enquanto, para a faixa etária de maior
idade (mais de 55 anos), os valores se elevaram para 73% de freqüência de pluralização e .57
de PR.
Um fato relevante a ser considerado e que pode explicar o menor índice de CV da
faixa etária compreendida entre 7 e 15 anos é que não há, nessa faixa etária, informantes de
nível superior, já que os informantes entrevistados, e quaisquer outros jovens com o limite de
idade de 15 anos, cursaram, no máximo, até o ano do ensino médio. Conforme citado
anteriormente, o grau de escolaridade é um fator de grande relevância para o aumento da
freqüência e probabilidade de aplicação da CV.
Vale a pena observar que, na consideração apenas do PR, confirma-se a hipótese de
que as faixas etárias mais novas são as que fazem o maior uso da variante não-padrão.
Informantes de 16 a 25 anos são indiferentes à aplicação de marcas de plural nos verbos e,
para informantes de 7 a 15 anos e de 26 a 35 anos, a tendência de aplicação de plural é baixa,
com PR inferior a .50.
A fim de explicitar melhor os resultados obtidos na consideração do grupo de fatores
faixa etária, efetuamos o cruzamento deste com os demais grupos de fatores sociais.
115
4.1.9.1 Cruzamento entre o grupo de fatores escolaridade e o grupo de fatores
faixa etária
Busca-se no cruzamento dos grupos de fatores escolaridade e faixa etária verificar se
o comportamento para a faixa etária se repete em todas as categorias de escolaridade, ou se
cada categoria tem um comportamento diferente.
Tabela 20: Cruzamento entre os grupos de fatores escolaridade e faixa etária
7 a 15 anos 16 a 25 anos 26 a 35 anos 36 a 55 anos + de 55 anos
idade
escolaridade
% F % F % F % F % F
1º ciclo EF 71
76/107
49
27/55
18
15/84
62
68/109
61
131/215
2º ciclo EF 48
164/339
76
142/187
58
104/180
69
140/204
59
103/174
E. Médio 63
103/163
81
83/103
84
92/109
75
177/236
72
113/156
E. Superior
79
153/194
92
176/192
88
199/227
91
248/274
No comportamento geral, à exceção da primeira faixa etária, em todas as demais, o
índice de CV cresce gradativamente com o avanço do nível de escolaridade. Há, entretanto,
um distanciamento significativo da média de CV encontrada na comunidade, variando de 52
pontos percentuais, como é o caso do grupo de informantes com ciclo do EF da faixa
etária (18% de CV), até 11 pontos percentuais, como se verifica para o grupo de informantes
com 2º ciclo do EF e com mais de 55 anos (91% de CV).
A taxa de CV (71%) para informantes de faixa etária entre 7 e 15 anos com
escolarização mínima (1º ciclo do EF) é uma das correlações para as quais não temos uma
hipótese explicativa suficientemente sustentável. Dados sociais desses quatro informantes de
7 a 15 anos poderiam fornecer uma explicação mais sustentável para o alto índice de CV
presente em suas amostras de fala: todos têm entre 10 e 11 anos; dois m família com renda
média de mais de 15 salários mínimos e dois de 6 a 10 salários mínimos; três deles convivem
com pessoas de alto nível de escolaridade e estudam em escolas privadas.
116
Outro resultado a explicar é o baixíssimo índice de CV dos informantes de 1
o
. Ciclo do
Ensino Fundamental e de faixa etária entre 26 a 35 anos. A hipótese explicativa mais
plausível parece ser mesmo o pouco contato e o distanciamento em relação aos padrões
normativos e, em conseqüência, a ocupação profissional desses indivíduos que não lhes
garante uma ascensão lingüística. Poder-se-ia ainda afirmar que essa faixa não tem
escolaridade proporcional, pois tem idade para possuir curso superior e, porém, possuem
somente o antigo primário.
4.1.10 Gênero
Nas comunidades urbanas do mundo ocidental, uma tendência de que falantes do
gênero feminino usem mais as formas de prestígio que falantes do gênero masculino, ou seja,
normalmente os representantes do gênero feminino buscam aproximar sua fala da variedade
padrão. Além disso, esse segmento social se mostra mais conservador se as mudanças
lingüísticas operam em sentido oposto à variedade padrão; do contrário, é mais inovador
quando a mudança privilegia a forma mais prestigiada.
A hipótese para esse grupo de fatores era a de que informantes do gênero feminino
apresentassem em suas amostras de fala um maior índice de CV do que os do gênero
masculino, assim como encontrado em outros estudos presentes na bibliografia pesquisada.
Vejamos os resultados na tabela 21 e no gráfico 9.
Tabela 21: Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores gênero
FREQÜÊNCIA DE PLURAL CATEGORIA
% F
PESO RELATIVO
masculino 68%
1.129/1.666
.47
feminino 72%
1185/1642
.53
117
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 9: Presença de CV em relação ao gênero
Observa-se, nos resultados apresentados acima, índices de freqüência e de PR de CV
maiores para informantes do gênero feminino (72% e .53) do que para informantes do gênero
masculino (68% e .47), como previa a hipótese.
4.1.10.1 Comparação de resultados
Ao compararmos a atuação do grupo de fatores gênero na CV para diferentes
variedades do PB, podemos notar grande regularidade nos resultados, os quais confirmam a
premissa sociolingüística de maior tendência de representantes do gênero feminino seguir os
padrões normativos da língua.
Tabela 22: Pesos relativos de aplicação da CV para o fator gênero, em variedades do PB
VARIEDADE
GÊNERO
SJRP – SP RIO DE
JANEIRO
(SCHERRE &
NARO, 1998)
RIO BRANCO
(RODRIGUES,
1997)
SÃO CARLOS
(MONTE, 2007)
masculino
.47 .45 .46 .45
feminino
.53 .54 .53 .55
118
4.1.10.2 Cruzamento dos grupos de fatores gênero e paralelismo formal –nível
oracional.
Considerando os índices e os pesos relativos apresentados pelos representantes do
gênero feminino e do gênero masculino, buscamos, por meio do cruzamento deste grupo de
fatores com o grupo de fatores paralelismo formal nível oracional, verificar se o
comportamento dos dois estratos sociais permanece semelhante, ou se demonstra
características diferentes para a variável lingüística em questão .
Tabela 23: Cruzamento dos grupos de fatores gênero e paralelismo formal – nível oracional
masculino feminino
sexo/gênero
paral. formal – N.O.
% F % F
presença da forma de plural 75
802/1072
81
921/1142
ausência da forma de plural 31
48/157
31
43/137
presença da forma de plural (SPrep) 62
8/13
64
9/14
ausência da forma de plural (SPrep) 47
17/36
60
27/45
numeral 55
11/20
65
15/23
neutralização 75
6/8
78
21/27
Ao analisarmos o cruzamento acima, verifica-se que as amostras de representantes do
gênero feminino apresentam maior índice de aplicação de plural nos verbos para os contextos
em que a forma de plural no último ou único elemento do SN-sujeito, contudo, para a
categoria ausência de plural no último ou único elemento do SN-sujeito, os percentuais
apresentados são exatamente os mesmos, demonstrando que, informantes do gênero feminino
são mais sensíveis ao princípio do paralelismo formal do que os do gênero masculino, pois,
em ocorrências em que há a marca de plural nos sujeitos, aqueles realizam mais a CV do que
estes.
119
4.1.10.3 Cruzamento dos grupos de fatores escolaridade e gênero
Abaixo, na tabela 24, apresentamos o cruzamento dos grupos de fatores sociais
escolaridade e gênero.
Tabela 24: Cruzamento dos grupos de fatores escolaridade e gênero
Masculino feminino
gênero / sexo
escolaridade
% F % F
1º ciclo do E. Fundamental 69
169/245
46
148/325
2º ciclo do E. Fundamental 55
336/612
67
317/472
Ensino Médio 71
316/443
78
252/324
Ensino Superior 84
308/366
90
468/521
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1º ciclo EF 2º ciclo EF E. Médio E. Superior
sexo masculino sexo feminino
Gráfico 10: Cruzamento dos grupos de fatores gênero e escolaridade
Ao observarmos o índice de CV apenas entre informantes que possuem o ciclo do
Ensino Fundamental, verificamos que os representantes do gênero masculino realizam a CV
com maior freqüência do que os do gênero feminino, o que, contudo, não é observado entre os
informantes dos demais níveis de escolaridade, nos quais informantes do gênero feminino
aplicam mais as marcas de plural do que os do sexo masculino.
Em Rubio (2006), demonstramos que representantes do gênero feminino e os mais
escolarizados são mais sensíveis ao significado social das variáveis lingüísticas, e, desse
120
modo, buscam se adequar mais à norma culta, em situações de maior preconceito lingüístico,
como é o caso da não-concordância de 3PP.
Por meio do gráfico acima, vemos que tanto informante do gênero masculino quanto
os do gênero feminino, a partir do momento que adquirem um grau de escolaridade mais
elevado, tendem a aplicar com maior freqüência marcas de plural nos verbos. O índice de
pluralização cresce gradativamente, subindo de 69% para 84%, no caso dos informantes
masculinos, e saltando de 46% para 90%, no caso dos informantes do gênero feminino. A
diferença entre o aumento de percentual dos representantes do gênero masculino e dos
representantes do gênero feminino reside na atuação do fator escolaridade em conjunto com o
fator gênero. Como mencionamos anteriormente, representantes do gênero feminino
possuem maior sensibilidade à estigmatização de uma variedade lingüística, da mesma forma
que os falantes mais escolarizados também a possuem; dessa forma, as duas forças atuam em
conjunto e fazem com que as freqüências aumentem em maior proporção do que para os
falantes do gênero masculino.
4.1.10.4 Cruzamento dos grupos de fatores posição e distanciamento do sujeito em
relação ao verbo e gênero
Seguem abaixo a tabela e o gráfico referentes ao cruzamento dos grupos de fatores p
osição e
distanciamento do sujeito em relação ao verbo e gênero
.
Tabela 25: Cruzamento dos grupos de fatores posição do núcleo do sujeito em relação ao verbo e
gênero
pré-verbal 0-2
sil.
pré-verbal 3-10
sil.
pré-verbal + de
10 sil.
pós-verbal
pos. do sujeito
sexo/gênero
% F % F % F % F
masculino 70
738/1061
57
53/93
50
8/16
23
17/73
feminino 76
876/1146
65
75/116
75
12/16
15
10/65
121
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
pré-verbal (0-2 sil) pré-verbal (3 - 10
sil.)
pré-verbal (+ de 10
sil.)
pós-verbal
sexo masculino sexo feminino
Gráfico 11: Cruzamento dos grupos de fatores posição do núcleo do sujeito em relação verbo e
gênero.
Pelo cruzamento dos fatores representados no gráfico acima, é interessante notar que
os índices para falantes do gênero feminino são mais elevados em todos os contextos de
sujeito anteposto ao verbo e, somente no contexto de posposição do sujeito, é que os
percentuais se invertem, e falantes do gênero masculino realizam a CV com maior freqüência
do que os do gênero feminino.
Como já mencionado anteriormente, acreditamos que integrantes do gênero feminino,
por serem mais sensíveis ao significado social das variantes lingüísticas e evitarem formas
menos prestigiadas dentro da comunidade, em contextos de sujeito anteposto, em que se nota
com maior clareza a relação de concordância, evitam a não aplicação da CV, porém, para
contextos de posposição do sujeito, em que a relação de concordância interposta entre sujeito
e verbo não é facilmente notável na oralidade, podendo os sujeitos ser facilmente confundidos
com objetos da sentença, apresentam, com maior freqüência, a não pluralização do verbo.
Considerando a ocorrência (50), extraída da amostra de um informante do gênero feminino,
pode-se notar que o sujeito da sentença (aquelas brigas), posposto ao verbo, facilmente pode
ser confundido com o objeto e, assim, não ser pluralizado pelo falante. Entretanto, em
122
contexto como o de (51), a posição anterior ao verbo faz com que o falante
(independentemente do gênero) note com clareza o elemento que se realiza como sujeito da
sentença (uns cara).
(50) tal aí já começou aquelas brigas aí... fui pro terceiro colegial
[AC-052, l. 22]
(51) uns cara encanou com a:: com a Maristela que é:: que era namorado do
Luciano
[AC-023, l. 55]
4.1.10.5 Cruzamento dos grupos de fatores idade e gênero.
Na tabela 26 abaixo, estão expressos os resultados obtidos para o cruzamento dos
grupos de fatores idade e gênero.
Tabela 26: Cruzamento dos grupos de fatores idade e gênero
7 a 15 anos 16 a 25 anos 26 a 35 anos 36 a 55 anos + de 55 anos
escolaridade
sexo/gênero
% F % F % F % F % F
masculino 58
221/382
75
224/299
71
193/270
74
255/345
64
236/370
feminino 54
122/227
75
181/240
66
194/295
76
329/431
80
359/449
Pelo cruzamento acima podemos notar que as diferenças de percentual entre o gênero
masculino e o feminino não são muito marcantes, na maioria das faixas de idade, não
ultrapassando os cinco pontos percentuais. Na faixa etária mais avançada, a diferença entre os
percentuais de CV de falantes do gênero masculino e do gênero feminino chega a 16%, o que
não deixa de ser uma diferença significativa, que, sem dúvida, contribuiu, inclusive, para que
a taxa de pluralização feminina superasse a taxa de pluralização dos informantes do gênero
masculino. O alto índice dessa faixa etária pode explicar também o PR elevado para esta faixa
etária (.57), e nos leva a afirmar que, considerando somente os informantes do gênero
123
feminino, a hipótese de que os mais idosos são mais resistentes à forma inovadora confirma-
se para a subamostra.
4.1.11 Tipo morfológico do sujeito
O grupo de fatores tipo de sujeito foi controlado por julgarmos que algumas estruturas
que ocupam a função de sujeito podem influenciar negativa ou positivamente a aplicação da
regra de CV, conforme se observa na bibliografia pesquisada. uma tendência para a não-
aplicação da CV em orações com sujeitos compostos, quando o núcleo adjacente ao verbo se
encontra no singular (como em (60), a seguir); para sujeitos compostos que possuem o núcleo
adjacente ao verbo no plural (como em (59)), a expectativa era de que houvesse uma maior
pluralização do verbo. Essa tendência pode estar relacionada com o grupo de fatores
paralelismo formal de nível oracional, visto que sujeitos compostos com o último de seus
núcleos no singular não apresentam o ‘s’ característico de plural no último elemento do SN-
sujeito, o que não ocorre, no entanto, com os sujeitos compostos que possuem o último núcleo
do SN-sujeito pluralizado que, dessa forma, exibem o “s” de plural no último elemento do
SN-sujeito. Para sujeitos do tipo pronome pessoal (como em (52)), a tendência geral é a de
que haja uma maior probabilidade de CV, o que pode ser explicado também pela correlação
existente entre os grupos de fatores tipo de sujeito, posição do sujeito e paralelismo formal,
conforme já mencionamos anteriormente, por não ocuparem a posição pós-verbal e por
trazerem em sua estrutura sempre a terminação “s” de plural, características que influenciam
positivamente a pluralização dos verbos (v. MONGUILHOTT & COELHO, 2002).
Para o sujeito desinencial (como em (53)), a expectativa era a de que houvesse um
índice elevado de aplicação da pluralização, já que não há, nesses casos, um referente presente
no período, a fim de desfazer possíveis ambigüidades quanto ao mero ou a pessoa
representada no evento.
124
Abaixo, além das ocorrências exemplificativas de cada caso, relacionamos também os
outros tipos de sujeitos, os quais foram controlados em nossa pesquisa, são eles: SN-pleno
simples (54), pronome relativo (55), quantificador (56), pronome indefinido (57), pronome
demonstrativo (60) e SN-pleno nu (61).
(52)
eles ligaram lá lá em casa falando que tinham encontrado a caminhonete
[AC-001, l. 49]
(53) o ano inteiro eles não procuram ninguém Ø treinam assim eh:: menina de
doze treze anos
[AC-074, l. 232]
(54) ele tava branco pálido os lábios dele tavam branco
[AC-109, l. 105]
(55) você começa dá muito detalhizinho coisas que saturam que enjoam
[AC-109, l. 610]
(56) muitos pensam isso entendeu?...
[AC-072, l. 620]
(57) outro é arquiteto outros tocam na no::ite
[AC-109, l.155]
(58) as reuniões e os cursos são feitos pelas mesmas pessoas todo mundo é
capacitado
[AC-086, l. 335]
(59) o bandido e o menor matou roubou o celular e foi embora..
[AC-071, l. 250]
(60)
o avião decola ou pra São Paulo ou pra Cuiabá e esses são os procedimentos
nossos
[AC-051, l. 356]
(61) homens faziam parte do cenário político brasileiro
[AC-085, l. 370]
Vejamos os resultados para cada um dos fatores desse grupo.
125
Tabela 27:Freqüência e PR de CV, segundo o grupo de fatores tipo de sujeito
CATEGORIA FREQÜÊNCIA DE PLURAL PESO RELATIVO
pronome pessoal
931/1157
80% .54
desinencial
529/726
73% .53
SN-pleno simples
461/788
59% .44
pronome relativo
248/388
64% .42
quantificador
26/46
57% .44
pronome indefinido
52/68
76% .54
SN-pleno comp. c/ núcleo adj. no sing.
32/85
38% .47
SN-pleno comp. c/ núcleo adj. no plural
16/22
73% .79
pronome demonstrativo
9/14
64% .42
SN-pleno nu
10/14
71% .47
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Gráfico 12: Presença de CV em relação ao tipo de sujeito
A hipótese proposta, que previa uma alta freqüência de plural para os sujeitos do tipo
pronome pessoal, foi confirmada parcialmente, pois esse tipo de sujeito apresentou um
percentual alto (80%) de marcação de plural nos verbos e um PR considerado apenas médio
(.54), se comparado a outros PRs da tabela. A alta taxa de freqüência pode ser explicada por
não ter havido uma única estrutura do tipo pronome pessoal em posição pós-verbal, nas
amostras submetidas à análise, o que, como citado, contribui para um aumento da
freqüência de pluralização nos verbos.
126
O sujeito do tipo SN pleno composto com núcleo adjacente ao verbo no singular,
também como previsto, demonstrou baixa freqüência de aplicação da regra de CV (38% de
freqüência de plural), o que pode ser explicado também pelo cruzamento desse fator com
outros fatores, como paralelismo formal de nível oracional, como mencionado anteriormente,
e posição do sujeito em relação ao verbo.
Para o tipo sujeito composto com núcleo adjacente ao verbo no plural, tanto
freqüência quanto PR ficaram acima da média (73% e PR .79), o que pode ser explicado se
considerarmos o fato de que a pluralização do elemento mais próximo do verbo contribui para
a marcação de plural nos verbos.
Os sujeitos do tipo desinencial, como esperado, demonstraram influenciar
positivamente a pluralização nos verbos e apresentaram, para a amostra, um percentual de
73% de CV e um PR de .53, o que, como dissemos, é explicável pela necessidade, na
maioria dos casos, da marcação número-pessoal nos verbos devido à ausência formal do
sujeito na sentença, ou seja, somente pela aplicação de plural nos verbos é que a ambigüidade
do referente é evitada.
Os tipos de sujeitos SN-pleno nu e SN-pleno simples apresentaram, respectivamente,
freqüências de 71% e 59% e PRs de .47 e .44. Acreditamos que a diferença evidenciada entre
ambos possa estar relacionada ao fato de, na categoria em que um SN-pleno nu figura como
sujeito (como em (63)), haver, necessariamente, a presença de plural no elemento nuclear e
único do SN-sujeito, o que contribui para a marcação de plural nos verbos. Para os SNs-pleno
simples (como em (62)) nem sempre a pluralização do elemento nuclear do sujeito, sendo
possível ocorrer a pluralização apenas do determinante, fator que influencia negativamente a
CV.
127
(62)
os moleque tava de bicicleta descendo a avenida
[AC-015, l. 25]
(63) homens traem... mulheres são traídas
[AC-056, l. 362]
Pela discordância de valores entre as freqüências e os pesos relativos, fica-nos clara a
atuação de outros fatores, o que demanda uma maior atenção ao cruzamento desse grupo de
fatores com outros.
4.1.11.1 Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal nível oracional e
tipo morfológico do sujeito
O cruzamento entre esses dois grupos foi realizado com o intuito de verificar se
diferentes tipos de sujeitos, dentre os quais aqueles que trazem obrigatoriamente a marca de
plural em seu único ou último elemento (pronome pessoal, por exemplo), podem apresentar
comportamento diferente dos demais, para os quais a marca de plural no único ou último
elemento do SN-sujeito é facultativa (SN-pleno simples, por exemplo).
Ao efetuarmos o cruzamento do grupo de fatores paralelismo formal nível oracional
com o grupo de fatores tipo de sujeito, pudemos observar que, de um total de 2.694
ocorrências analisadas para o grupo de fatores paralelismo formal nível oracional,
destacam-se, em números absolutos, os tipos de sujeito pronome pessoal, SN-simples e
pronome relativo, conforme resultados mostrados na tabela 28.
128
Tabela 28: Cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal – nível oracional e tipo
morfológico de sujeito.
32
Presença da
forma plural
Ausência
da forma
plural
Presença
da forma
plural
(SPrep)
Ausência
da forma
plural
(SPrep)
Numeral neutralização Paral. formal –
N.O.
tipo de sujeito
% F % F % F % F % F % F
pleno simples 78
343/438
23
39/167
50
4/8
64
27/42
77
20/26
pleno nu 80
8/10
Comp. núcl. adj. sing.
50
29/58
0
0/1
33
1/3
comp. núcl. adj. pl. 100
11/11
25
1/4
100
1/1
pronome pessoal 81
930/1154
Pron. indefinido 80
45/56
0
0/3
100
1/1
100
3/3
33
1/3
Pron. demonst. 70
7/10
quantificador 83
5/6
63
18/29
Pron. relativo
33
70
201/273
35
14/40
63
5/8
28
5/18
57
4/7
desinencial
Como se pode observar, a presença da marca de plural quando se trata de pronome
pessoal de 3PP leva à CV em 81% dos casos (930/1154) e, complementarmente, à não-
concordância em 19% dos casos. Segue em (64) um desses casos.
(64) eles vão ver televisão no meu quarto comigo dormindo
[AC-114, l. 580]
Cabe observar, a partir de (64), que esse pronome (eles) tem a característica de
aparecer como único elemento do SN-sujeito, tornando, assim, clara a necessidade de receber
a marca de plural, a fim de não haver ambigüidade com sua contraparte singular (ele). Logo,
todos os casos de pronome pessoal apresentavam o último (e único) elemento do SN-sujeito
com a marcação de plural, o que vem a influenciar a marcação de plural nos verbos, como se
verifica nos resultados da tabela 19. Os sujeitos do tipo SN-pleno nu e do tipo pronome
32
A nomenclatura das categorias da tabela foi apresentada aqui de forma abreviada, porém, para dirimir
possíveis dúvidas quanto à classificação, remetemos o leitor ao capítulo anterior, o qual trata das variáveis
consideradas em nosso trabalho.
33
Para o grupo de fatores paralelismo formal nível oracional, embora o que (pronome relativo) seja
considerado o sujeito da oração, consideramos a presença ou ausência da forma plural no referente ao qual ele se
reporta (cedeu pras pessoas que morava no Gonza/ lá no Gonzaga de Campo).
129
demonstrativo também apresentam todas as suas ocorrências com presença de marcas de
plural, contudo, com um número reduzido de ocorrências.
Não obstante, o pronome pessoal, como veremos mais adiante, possui uma posição
quase fixa na estrutura da sentença, ocupando, na quase totalidade das orações, a posição
anterior e próxima ao verbo, o que, como se observou em outros trabalhos, também influencia
positivamente a CV. Portanto, consideramos que o alto índice de CV apresentado para o fator
presença da forma plural no último ou único elemento do SN-sujeito pode ser explicado, em
parte, pelo grande número de ocorrências em que o pronome pessoal figura como SN-sujeito
da oração.
Observa-se que os percentuais caem para os outros tipos de sujeitos, quando estes
apresentam ocorrências em outras categorias do grupo de fatores paralelismo formal nível
oracional, como nos casos de sujeitos do tipo SN-pleno simples, que apresentam apenas 23%
de CV nas ocorrências com a ausência da forma plural “s” no último ou único elemento do
SN-sujeito (como em (65)). Em (66), pode-se constatar a não-adjacência dos constituintes S e
V, por se tratar de sujeito pleno simples (os aluno), imediatamente ao qual se seguem um
advérbio (daqui) e uma partícula de negação (num).
(65) daí num pode gritar muito alto quem as vaca conhece assim... que vai
bastante
[AC-004, l. 311]
(66) os aluno daqui num era muito::... muito quieto né?...
[AC-015, l.811]
130
4.1.11.2 Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e gênero
Exibimos a seguir a tabela de cruzamento entre o grupode fatores gênero e o grupo de fatores
tipo morfológico do sujeito.
Tabela 29: Cruzamento dos grupos de fatores gênero e tipo morfológico do sujeito
34
masculino feminino
sexo/gênero
tipo de sujeito
% F % F
pronome pessoal 77
463/602
85
469/555
desinencial 74
313/424
72
216/302
SN-pleno simples 53
176/332
63
285/456
pronome relativo 59
108/184
69
140/204
quantificador 52
13/25
62
13/21
pronome indefinido 68
23/34
85
29/34
composto (n. adj. no sing.) 44
16/36
33
16/49
composto (n. adj. no plural) 64
7/11
82
9/11
pronome demonstrativo 56
5/9
80
4/5
SN-pleno nu 56
5/9
100
5/5
Fato interessante a ser notado no cruzamento acima é que falantes do gênero feminino
apresentam maiores percentuais de aplicação da CV para a maioria das categorias do grupo de
fatores tipo de sujeito. Observemos que, na primeira categoria, referente aos sujeitos do tipo
pronome pessoal, os falantes do gênero feminino apresentam um percentual maior de
aplicação da regra (8% a mais que os de gênero masculino), o que poderia ser explicado se
levássemos em consideração o fato de nessas formas a percepção do elemento responsável
pela pluralização (núcleo do SN-sujeito) ser mais evidente, pela anteposição e proximidade do
sujeito em relação ao verbo e, ainda, pela presença, em todas as ocorrências, da forma “s” no
pronome. Da mesma forma, para sujeitos do tipo SN-pleno simples e do tipo composto com
núcleo adjacente no plural, também uma maior aplicação da CV neste mesmo segmento
social, o que atribuímos ao fato de, em contexto em que esses SNs trazem seu último
34
Ainda que estejamos propondo o cruzamento do grupo de fatores tipo de sujeito com os demais grupos de
fatores, optamos pela inversão da tabela, com o fator tipo de sujeito apresentado na vertical, visto que ele possui
10 categorias diferentes. Essa estratégia visa facilitar a leitura e não acarretará alterações nos resultados.
131
elemento pluralizado, estando ele ou não inserido em um SPrep, os representantes do nero
feminino aplicarem com maior freqüência as marcas de pluralização no verbo. O padrão de
comportamento feminino frente essas categorias se repete para outras: pronome relativo,
quantificador, pronome indefinido, pronome demonstrativo e SN-pleno nu, todas frente às
quais os representantes do gênero feminino reagem de modo mais conservador do que o
masculino, que, com maior freqüência fazem uso da variante presença de marcas de plural
nos verbos. Os demais contextos em que esse comportamento de gênero se inverte são
considerados contextos em que não há grande estigmatização social, caso o falante não realize
a CV. São eles: sujeitos do tipo desinencial, para os quais grande distanciamento do
referente em relação ao sujeito, e os sujeitos compostos com núcleo adjacente ao verbo no
singular, fator que , muitas vezes, leva o falante à confusão entre um referente plural ou um
referente singular.
O que estamos buscando evidenciar é um comportamento lingüístico típico de gênero,
ou seja, na comunidade de fala pesquisada integrantes do gênero feminino evitam situações
em que seja de fácil percepção a falta de CV. Nesses casos, o gênero feminino é mais
conservador e aplica com maior freqüência as marcas de plural nos verbos, porém, o
comportamento não é o mesmo quando se trata de contextos que podem propiciar certa
“confusão” na aplicação da CV (casos de sujeito desinencial, de sujeito posposto ou de sujeito
composto com núcleo mais próximo ao verbo no singular), casos, então, em que a diferença
lingüística de nero se anula ou em que o gênero masculino supera o feminino na
pluralização verbal.
132
4.1.11.3 Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e
escolaridade
Realizamos o cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e
escolaridade com o intuito de verificar se o comportamento dos falantes com veis mais
altos de escolaridade guarda semelhança com o comportamento dos falantes do gênero
feminino. Observemos os resultados.
Tabela 30: Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e escolaridade.
1º ciclo do EF 2º ciclo do EF Ensino Médio Ensino Superior
escolaridade
tipo de sujeito
% F % F % F % F
pronome pessoal 63
134/212
73
278/381
89
238/268
95
282/296
desinencial 59
76/128
67
154/230
76
139/183
86
160/185
SN-pleno simples
38
41/107
47
135/285
57
94/166
83
191/230
pronome relativo
53
34/64
50
56/113
60
57/95
87
101/116
quantificador 27
3/11
54
7/13
73
8/11
73
8/11
pronome
indefinido
90
18/20
60
9/15
74
14/19
79
11/14
composto (n. adj.
no sing.)
32
7/22
28
8/29
65
11/17
35
6/17
composto (n. adj.
no plural)
75
3/4
44
4/9
100
4/4
100
5/5
pronome
demonstrativo
17
1/6
100
3/3
100
5/5
SN-pleno nu 50
1/2
33
1/3
100
8/8
Notemos, por meio do cruzamento acima, que, ao considerarmos os diferentes tipos de
sujeito em relação ao grau de escolarização, o comportamento dos falantes mais escolarizados
(Ensino Superior), conforme mencionamos anteriormente, muito se assemelha ao
comportamento de falantes do gênero feminino, pois podemos, por exemplo, observar que
para os sujeitos do tipo pronome pessoal, caracterizados anteriormente, o índice de
aplicação de plural nos verbos se eleva para índices mais altos nos últimos níveis de
escolaridade (95%), o que não ocorre para os sujeitos do tipo composto com núcleo adjacente
133
ao verbo no singular, em que as freqüências de aplicação da CV de informantes do ciclo
(32%) são próximas às de informantes do Ensino Superior (35%) (com exceção apenas para
falantes do Ensino Médio, que apresentam um percentual de 65% de CV).
4.1.11.4 Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e saliência
fônica
Propusemos esse cruzamento apenas como forma de demonstrar que a atuação dos
fatores em conjunto pode levar a índices que muito se distanciam da média apresentada para a
amostra. Vejamos os resultados.
Tabela 31: Cruzamento dos grupos de fatores tipo morfológico do sujeito e saliência fônica
máxima média mínima
saliência fônica
tipo de sujeito
% F % F % F
pronome pessoal
99
80/81
88
371/420
73
481/656
desinencial
84
65/77
84
293/349
57
171/300
SN-pleno simples
66
79/119
54
123/228
59
259/441
pronome relativo
74
51/69
76
61/80
57
136/239
quantificador
86
6/7
65
11/17
41
9/22
pronome indefinido
93
13/14
88
14/16
66
25/38
composto (núcleo
adjacente no sing.)
36
5/14
47
18/38
27
9/33
composto (núcleo
adjacente no plural)
100
5/5
60
3/5
67
8/12
pronome demonstrativo
100
2/2
50
2/4
63
5/8
SN-pleno nu
75
3/4
33
1/3
86
6/7
Dos resultados acima, podemos notar a atuação dos grupos de fatores saliência fônica
e tipo de sujeito, uma vez que em alguns contextos, como tipo de sujeito pronome pessoal e
verbo de alta saliência fônica, o índice de pluralização verbal quase alcançou a casa dos 100
pontos percentuais (99%), resultado que demonstra que esse contexto é altamente favorecedor
da CV. Verbos com saliência fônica de vel médio apresentam um percentual pouco mais
134
baixo (88%), e, ainda assim, superam os índices dos verbos de saliência mínima (73% de
CV).
A gradação se mantém para a maioria dos tipos de sujeito, sempre partindo das formas
verbais mais salientes para as formas verbais menos salientes, com maiores e menores
percentuais, respectivamente; contudo, a exceção se verifica no contexto em que figuram
sujeitos do tipo composto com núcleo adjacente no singular, para os quais se verificam baixos
percentuais em todos os níveis de saliência fônica, com destaque para a saliência máxima,
com apenas 36% de aplicação de CV, percentual menor do que a taxa para ocorrências com
saliência fônica média (47%).
Ao considerarmos os resultados acima, podemos afirmar que um distanciamento maior
do sujeito poderá ocasionar uma menor atuação do grupo de fatores saliência fônica, visto
este atuar com maior intensidade em contextos em que o pronome pessoal figura como
sujeito, ou seja, contexto em que há grande proximidade do sujeito em relação ao verbo.
135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseados nos capítulos precedentes, apresentamos, nessas considerações finais, um
breve resumo do que foi tratado, destacando as principais conclusões a que pudemos chegar.
Diante dos resultados apresentados para a CV, foi possível, em primeiro lugar,
detectarmos que se trata de um fenômeno de variação, em que a variante padrão (presença da
forma plural nos verbos) prevalece sobre a variante não-padrão (ausência da forma plural nos
verbos). Todos os fatores propostos para análise foram selecionados como relevantes, em
maior ou menor nível de significância.
Por meio da seleção elaborada pelo pacote estatístico VARBRUL, foi-nos possível
chegar a uma escala hierárquica de relevância dos fatores internos e externos envolvidos na
variação da CV. Abaixo, apresentamos os fatores lingüísticos (internos), colocados em ordem
decrescente de relevância:
(67) hierarquização dos fatores lingüísticos
Paralelismo formal - nível oracional > paralelismo formal nível discursivo > saliência fônica
verbal > posição do núcleo do sujeito > traço semântico do sujeito > tipo morfológico do sujeito
Para o grupo de fatores paralelismo formal - nível oracional, selecionado como mais
relevante, a expectativa foi totalmente confirmada, pois as marcas de plural apresentadas no
sujeito influenciaram também a pluralização dos verbos e, em sentido oposto, a falta de
marcas do sujeito levou a um menor índice de CV. Os casos de SNs-sujeitos com SPrep no
seu interior apresentaram a mesma tendência das ocorrências anteriores, pois, em SPreps com
último elemento pluralizado, a freqüência de plural se mostrou maior do que em ocorrências
em que o último elemento não havia sido pluralizado. Para os numerais, a hipótese também se
136
confirmou, que o índice de CV foi menor do que o índice para sujeitos com marcas de
plural e maior do que o índice para sujeitos sem marcas de plural no último elemento, o que
reforça a hipótese de que o “s” apresentado em alguns numerais pode levar ao acionamento da
regra de pluralização dos verbos com maior freqüência do que os casos em que não o “s”
de plural.
A hipótese para o grupo de fatores paralelismo formal de vel discursivo também foi
confirmada, que, numa seqüência de verbos, aqueles que dispõem de marcação de plural
influenciada pelo primeiro da série apresentam índices muito maiores de pluralização do que
aqueles em que o primeiro da série não apresenta marcas de plural.
Para o grupo de fatores saliência fônica, foi confirmada a hipótese apresentada, a qual
previa um maior índice de pluralização verbal em formas que possuem maior saliência fônica
se considerada a oposição singular vs. plural. Assim, verbos com saliência máxima
evidenciam os maiores índices de freqüência e de PR, verbos com saliência média apresentam
freqüência e PR intermediário e verbos com saliência fônica nima são os que apresentam
menor índice de pluralização. O cruzamento dos grupos saliência fônica e paralelismo formal
de nível discursivo demonstra que esses dois fatores co-atuam na aplicação da CV, pois, para
contextos em que a máxima saliência coincide com a presença de plural no verbo anterior, o
índice de CV é de 95%, percentual alto, se considerarmos o contexto em que a saliência é
mínima e não há a presença de pluralização no verbo anterior, apenas 15% de CV.
Confirmando a hipótese apresentada em outros trabalhos, núcleos do sujeito em
posição pós-verbal demonstram influenciar negativamente a pluralização dos verbos e, no
reverso desse comportamento, núcleos em posição de anterioridade demonstram influência
positiva na CV, o que é evidenciado pelos altos índices de freqüência e PR. Para núcleos do
sujeito em posição pré-verbal distante do verbo, a previsão de que haveria, nesses casos,
137
baixos índices e PR para a CV não se confirma, pois essa categoria apresenta comportamento
próximo da categoria com núcleos do sujeito antepostos e próximos ao verbo.
A hipótese para o fator traço semântico do sujeito foi confirmada, pois, como se
previa, sujeitos com traço [+ humano] apresentam índice e PR mais altos de CV do que
sujeitos com traço [- humano] e [+ animado], que, por sua vez, superam os sujeitos com
traço [- animado].
Conforme a expectativa, concernente ao grupo de fatores tipo morfológico do sujeito,
sujeitos do tipo pronome pessoal e composto com núcleo adjacente ao verbo no plural
apresentam altos índices de CV, constatação que pode ser explicada, no primeiro caso, pela
relativa fixidez da posição do sujeito em relação ao verbo e também pela presença da forma
de plural “s” obrigatória para os pronomes pessoais. No segundo caso, dos sujeitos compostos
com núcleo adjacente ao verbo no plural, a alta freqüência de CV é conseqüência também da
presença de “s” no último elemento do SN-sujeito.
Sujeitos do tipo desinencial também apresentam freqüência relativamente alta, como
previa a hipótese, o que pode ser explicado pela necessidade de pluralização nos verbos a fim
de evitar ambigüidade de referente, que este se localiza em oração anterior. A expectativa
também se confirma para os sujeitos do tipo composto com núcleo adjacente ao verbo no
singular, que as freqüências de aplicação de plural são baixas para essa categoria,
demonstrando que a ausência de marcas de plural explícitas no sujeito levam,
conseqüentemente, a uma menor marcação de plural nos verbos.
Pelo cruzamento dos grupos de fatores paralelismo formal de nível oracional e tipo
morfológico do sujeito foi possível observar que a natureza estrutural de alguns sujeitos
influencia positivamente a CV, como é o caso do tipo pronome pessoal, que possui
obrigatoriamente a forma de plural s” em sua estrutura e encontra-se, na maioria das vezes,
em posição anterior e próxima ao verbo.
138
No quadro abaixo apresentamos para cada um dos grupos de fatores lingüísticos a
ordem de relevância de suas categorias internas.
Paralelismo formal – nível oracional
presença de plural no último elemento do SN-sujeito > presença de plural no último elemento de um SPrep
interno ao SN-sujeito > numeral > ausência de plural no último elemento de um SPrep interno ao SN-sujeito >
ausência de plural no último elemento do SN-sujeito
Paralelismo formal – nível discursivo
verbo anterior com marca de plural > verbo isolado ou primeiro de uma série > verbo anterior sem marca de
plural
Saliência fônica verbal
máxima > média > mínima
Posição do sujeito em relação ao verbo
pré-verbal distante 0-2 sílabas > pré-verbal distante 3-10 sílabas > pré-verbal distante mais de 10 sílabas > pós-
verbal
Traço semântico de sujeito
humano > animado > inanimado
Tipo morfológico de sujeito
SN-pleno comp. c/ núcleo adj. no plural > Pronome pessoal > pronome indefinido > desinencial > SN pleno nu >
SN-pleno comp. c/ núcleo adj. No sing. > SN-pleno simples > quantificador > pronome relativo > pronome
demonstrativo
Quadro 5: Hierarquização dos fatores lingüísticos na CV de 3PP.
Depois de exibidos os fatores lingüísticos responsáveis pela variação na CV, passamos
a tratar dos fatores sociais considerados em nosso trabalho e selecionados pelo pacote
estatístico VARBRUL, na seguinte ordem decrescente de relevância:
(68) hierarquização dos fatores sociais
escolaridade > idade > gênero
Em relação ao grupo de fatores escolaridade, fator social mais significativo, como
previa a hipótese, gradativamente, o aumento dos anos de escolarização dos falantes
proporciona maior presença de formas de plural nos verbos, ou seja, falantes com nível de
escolaridade máximo apresentam os índices mais altos de CV; falantes com nível mínimo de
escolaridade apresentam os menores índices de CV.
139
Para o fator idade, a expectativa, não confirmada totalmente, era de que falantes com
maior idade seriam mais resistentes às mudanças e, dessa forma, se valeriam mais da variante
considerada padrão. Ainda que a freqüência e o PR da CV para informantes da faixa etária de
7 a 15 anos sejam inferiores aos índices das outras faixas, estas não demonstram aumento
gradativo de percentual em relação direta com o aumento da idade.
Sobre o gênero em si, a hipótese de que mulheres aplicariam com maior freqüência
formas de plural nos verbos do que homens foi confirmada, com ressalvas, visto que, embora
as freqüências de aplicação de CV sejam maiores para o gênero feminino, a diferença
apresentada foi de apenas 4 pontos percentuais e .06 de PR. Por meio do cruzamento do grupo
de fatores escolaridade com o grupo de fatores gênero chegamos à conclusão de que a
escolarização exerce maior influência sobre falantes do gênero feminino do que sobre falantes
do nero masculino, visto que uma relação diretamente proporcional entre aumento de
escolaridade e aumento de freqüência na pluralização do verbo em maior percentual para
aqueles do que para estes. É possível notar, pelo cruzamento entre o grupo de fatores saliência
fônica e o grupo de fatores escolaridade, que todos os falantes são sensíveis à saliência fônica
dos verbos, porém, os índices de pluralização para informantes com escolaridade maior
também são mais elevados.
O quadro abaixo resume a hierarquização interna dos fatores de cada uma das
variáveis sociais consideradas.
Escolaridade
ensino Superior > Ensino Médio > 2º ciclo do ensino fundamental > 1º ciclo do ensino fundamental
Faixa etária
mais de 55 anos > 36 a 55 anos > 16 a 25 anos > 26 a 35 anos > 7 a 15 anos
Gênero
feminino > masculino
Quadro 6: Hierarquização dos fatores sociais na CV de 3PP.
140
Ao efetuarmos o cruzamento do grupo de fatores gênero com o grupo de fatores
paralelismo formal nível oracional foi possível constatar que as situações em que a
marcação de plural se faz presente no último elemento do SN-sujeito, ou seja, nos casos em
que a presença da forma de plural no último elemento, as amostras do gênero feminino
apresentam maior aplicação do plural, o que o se verifica nas ocorrências com ausência da
forma de plural, nas quais os índices para o gênero feminino e masculino se equivalem.
Portanto, em contextos nos quais a necessidade de pluralização se evidencia com maior
facilidade, representantes do sexo feminino realizam mais a CV.
Fato a ser destacado no cruzamento do grupo de fatores tipo morfológico do sujeito
com o grupo de fatores gênero é o índice maior de aplicação de plural dos falantes do gênero
feminino para as ocorrências em que o falante tem maior percepção do elemento responsável
pela pluralização nos verbos. Para situações em que não a mesma clareza sobre esse
elemento (casos de sujeito composto com núcleo adjacente no singular), ocorre a inversão de
percentuais, e os falantes do gênero masculino apresentam índices maiores. O mesmo
comportamento é observado para o grupo escolaridade, pois o cruzamento desse grupo com o
grupo de fatores tipo morfológico de sujeito mostra que os falantes mais escolarizados, assim
como os falantes do gênero feminino, evitam a não-marcação de plural nos contextos em que
o elemento a ser considerado na CV é mais evidente (pronome relativo, sujeito composto com
núcleo adjacente no plural).
No cruzamento entre o grupo de fatores posição do núcleo do sujeito em relação ao
verbo e o grupo de fatores gênero foi possível perceber que, para sujeitos pré-verbais, falantes
do gênero feminino aplicam com maior freqüência as marcas de plural, pela maior percepção,
no caso desses sujeitos, da necessidade de pluralização dos verbos; para sujeitos em posição
pós-verbais, informantes do gênero masculino realizam mais a CV.
141
Ao considerarmos os resultados apresentados por alguns fatores, principalmente de
ordem social, é possível afirmar que a implementação da variável não-padrão (ausência de
CV) não irá ocorrer de forma plena na comunidade de fala pesquisada. Levando-se em conta
o grupo de fatores faixa etária, principal grupo considerado na verificação da implementação
gradativa de uma mudança (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006), os índices exibidos
atestam que se trata de uma variação estável, que, conforme dito anteriormente, não
aumento gradativo em relação direta com o aumento da faixa etária.
Considerando o fenômeno como variação estável, remetemo-nos a Naro & Scherre
(2007), que afirmam que os traços de variação na CV estavam presentes na variedade de
língua portuguesa européia, que se implementou no Brasil séculos, sofrendo
transformações diversas que, porém, não geraram nenhuma mudança que alterasse a tipologia
da língua, consideração que exige mais estudos mais aprofundados nessa direção.
142
R
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E
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Autorizo a reprodução deste trabalho.
São José do Rio Preto, 26 de fevereiro de 2008.
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