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Eliana Leme Mamede de Lima
Cultura Escrita e Arte
Sobre construção de pontes-dialógo entre educação formal e não-formal no
CAIC (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) de Mogi Guaçu
Dissertação apresentada como exigência parcial
para obtenção do grau de Mestre em educação
à comissão julgadora do Centro Universitário
Salesiano de Americana, sob a orientação dos
Professores Doutores Augusto Novaski (in
memorian) e Severino Antônio Barbosa.
UNISAL
Americana
Campus Maria Auxiliadora
2007
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Lima, Eliana Leme Mamede de
L697c Cultura Escrita e Arte: sobre construção de pontes-diálogo
entre educação formal e não-formal no CAIC (Centro de
Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) de Mogi Guaçu /
Eliana Leme Mamede de Lima. - Americana: Centro
Universitário Salesiano de São Paulo, 2007.
102 p.
Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP.
Orientador: Prof. Dr. Severino Antônio Barbosa.
Inclui bibliografia.
1. Alfabetização. 2. Escrita e arte. 3. Educação formal.
4. Educação não-formal. I. Título.
CDD – 372.414
Catalogação elaborada por Terezinha Aparecida Galassi Antonio
Bibliotecária do Centro UNISAL – UE – Americana – CRB-8/2606
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SUMÁRIO
Para iniciar........................................................................................................ 12
CAPÍTULO 1: REFLEXÕES SOBRE CULTURA ESCRITA E
ARTE................................................................................................................ 18
1.1 Escrita: breve histórico.............................................................................. 18
1.2 Cultura Escrita: O papel da escola na formação
de leitores e escritores .............................................................................. 25
1.3 A aquisição da Cultura Escrita na diversidade........................................... 30
1.4 Sobre diálogos possíveis entre Cultura Escrita e Arte................................. 36
CAPÍTULO 2: IDÉIAS QUE ALIMENTAM AS AÇÕES DO CAIC
DE MOGI GUAÇU.......................................................................................... 41
2.1 Apresentação dos espaços.......................................................................... 41
2.2 O CAIC de Mogi Guaçu............................................................................ 43
2.2.1 Dos seus princípios e diretrizes.............................................................. 44
2.3 EMEF “Jardim Santa Terezinha II........................................................... 44
2.3.1 Idéias que alimentam as ações da EMEF................................................. 47
2.4 Oficinas de Artes da EMIA......................................................................... 49
2.4.1 Idéias que alimentam as ações da EMIA.................................................. 50
CAPÍTULO 3: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS
DIFERENTES VOZES.................................................................................... 53
3.1 A pesquisa de campo................................................................................... 53
3.2 Sobre as vozes dos alunos........................................................................... 56
15
3.3 Sobre as vozes dos funcionários ............................................................ 64
3.4 Sobre as vozes dos gestores ................................................................... 70
3.5 Sobre as vozes dos professores da EMEF
“Jardim Santa Terezinha II”......................................................................... 75
3.6 Sobre as vozes dos professores da EMIA ............................................. 81
3.7 O CAIC para a comunidade, a comunidade para o CAIC .................... 85
Para não terminar... ..................................................................................... 89
Bibliografia.................................................................................................. 93
Apêndice...................................................................................................... 98
Anexos.......................................................................................................... 99
A - Algumas imagens
B – Planta baixa do CAIC de Mogi Guaçu
C – Jornal da EMIA: Publicação da Escola Municipal de Iniciação Artística – Mogi Guaçu
Edições:
1ª - Maio/Junho de 2007
2ª - Julho/Agosto de 2007
3ª - Novembro/Dezembro de 2007
Eliana Leme Mamede de Lima
16
Cultura Escrita e Arte
Sobre construção de pontes-dialógo entre educação formal e não-formal no
CAIC (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) de Mogi Guaçu
UNISAL
Americana
Campus Maria Auxiliadora
2007
17
Toda ciência ou prática social, quando se converte em objeto de ensino escolar, acaba
inevitavelmente sofrendo modificações. A arte é diferente da Educação Artística, o esporte
é diferente da Educação Física, a linguagem é diferente do ensino de Língua Portuguesa, a
ciência é diferente do ensino de Ciências e assim por diante. [...] Cabe à escola garantir a
aproximação máxima entre o uso social do conhecimento e a forma de tratá-lo
didaticamente. Pois se o que se pretende é que os alunos estabeleçam relações entre o que
aprendem e o que vivem, não se pode, com o intuito de facilitar a aprendizagem, introduzir
dificuldades. Nesse sentido, o papel da escola [e demais espaços de educação] é criar
pontes e não abismos.
Telma Weisz
A vida boa, a vida feliz, a vida que merece ser preservada, nutrida, comunicada,
reproduzida e festejada é o desfrute compartilhado do afeto, da companhia, do trabalho,
do alimento, do descanso, da arte, do jogo da dança...enfim, da festa!
A vida boa, a vida feliz, é também aptidão para assumir criativamente [e coletivamente] o
sofrimento pessoal como dimensão intrínseca da própria vida. É igualmente, disposição
para apreciar e acompanhar a aflição dos outros com solidariedade e ternura. Mas a vida
boa, é também, esforço para superar o sofrimento injusto e evitar o sofrimento
desnecessário.
Otto Maduro
18
Dedicatória
Aos meus pais José Manoel e Anésia (in memorian) pela educação, carinho e história de
vida. Eternos exemplos de vida.
Aos meus irmãos: Célia Maria, José Roberto, José Rui, Celso Paulo e Cláudia Regina pelo
apoio e carinho continuado.
Aos meus sobrinhos: Vinícius, Vanessa, Letícia, Roberta, Diego, Bruno, Tales, Igor,
Thiago, Renan, Raul, Victória, Júlia, Jéssica, Pedro Henrique, Daniele e Giovana por
fazerem parte de minha vida de forma tão afetuosa.
Ao meu esposo Nelson pelas palavras de incentivo a cada manhã.
Agradecimentos
19
À fonte de eterna bondade e sabedoria.
À minha família e à família de meu esposo pelo respeito às minhas idéias e ao meu
trabalho, em especial à Dona Cida, Sr. Pedro e Solange.
A Márcio Lellis Rodrigues e Ângela Maria Indalécio pelo incentivo e reconhecimento.
À professora Célia Maria Mamede, pela sua sabedoria e grandiosa contribuição à Educação
e Cultura de Mogi Guaçu.
À Sandra Tomaz, pelas idéias construídas durante o mestrado e pela parceria de sempre.
Às amigas Andréa Rodrigues, Célia Sant’Anna, Magali Rosa , Maria Jussara Zamarian,
Patrícia Scarabel e Sandra Tomaz por compartilharem comigo da história do PROFA em
Mogi Guaçu
Às meninas dos olhos do PROFA: Carla, Daiana, Luciana e em especial à Taty que
contribui com esse trabalho.
A todos os meus amigos, em especial à Isaura Ana de Freitas Campos, Marilda Cristina
Bovolenta, Mara Fernanda Ortiz e Sueli Scarin Barzon.
À Mary Ferreira, Márcio Ferreira e Adriano Marchiori pelas contribuições a esse trabalho.
Às amizades conquistadas durante o mestrado.
A todos os educadores da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Jardim Santa
Terezinha II” em especial à Marilda Cristina Ferreira Bovolenta pelo incentivo e alegria de
SER.
Às professoras Roseli, Cibele, Marilda e Silvana gestoras do Centro de Atenção Integral à
Criança e ao Adolescente (CAIC) de Mogi Guaçu.
À Rita Morelli, gerente de cultura de Mogi Guaçu.
20
A todos que participaram da pesquisa de campo realizada, em especial às crianças das
oficinas de artes do núcleo da EMIA instalado no CAIC de Mogi Guaçu.
Aos educadores que contribuem para o acesso à Cultura Escrita.
Aos professores da EMIA de Mogi Guaçu, na pessoa do amigo Renato Barzon, pelas
contribuições à ARTE.
A todos os meus professores e mestres do UNISAL de Americana, campus Maria
Auxiliadora: Augusto Novaski (in memorian) Regis de Moraes, Marcos Francisco Martins,
José Luis Sigrist, João Ribeiro, Paulo de Tarso;
À professora Dra. Regina Célia Sarmento pela gentileza em fazer parte da minha banca,
pelo incentivo e pelas idéias enriquecedoras.
Ao professor Augusto Novaski (in memorian) pelas orientações primeiras.
Minha eterna gratidão ao professor co-orientador Luís Antonio Groppo pelo diálogo,
atenção e amizade.
E meu agradecimento infinito ao meu professor e orientador Severino Antônio Barbosa,
pela atenção, pelo cuidado com as palavras tecidas no trabalho, por seu imenso respeito à
palavra, à Cultura Escrita em forma de Arte, em especial, a poesia.
21
RESUMO
O presente trabalho traz inicialmente a reflexão
sobre a escrita e a importância do ato de
registrar como elementos substanciais que
marcam, inclusive, a história de cada um.
Versamos sobre o importante papel da escola
para a apropriação da cultura escrita, das
práticas sociais de leitura e escrita, bem como
do valor da Arte para a vida humana, ou seja,
como um caminho para nossa humanização.
Argumentamos sobre o termo cultura escrita
fundamentados nas idéias de Emilia Ferreiro e
Telma Weisz e sobre a Arte, embasados
principalmente nas idéias de João Francisco
Duarte Júnior. Falamos de pontes necessárias
entre cultura escrita e arte, sobre as
contribuições desses conhecimentos para que
todo cidadão possa verdadeiramente atuar
como partícipe de sua história e, de acordo com
suas necessidades, transformá-la. Além da
caracterização dos espaços tratados nessa
dissertação, refletimos também sobre relação
entre dois espaços, ou melhor, como têm sido
construídas pontes entre a educação formal
(EMEF Santa Terezinha II ) e não-formal
(Oficinas de Artes da EMIA - Escola
Municipal de Educação Artística), que
integram o CAIC de Mogi Guaçu, SP . O
caminho escolhido para a análise das relações,
do diálogo, foi a pesquisa de campo, pesquisa-
ação e o exercício de interpretação da
diversidade de vozes das pessoas que
trabalham no CAIC e demais aprendizes das
oficinas de artes que pertencem à comunidade;
comunidade essa que vislumbra esse espaço
como um leque de oportunidades, ou melhor,
como uma importante ponte entre
conhecimentos que entendemos vitais: a cultura
escrita e a arte.
Palavras-chave: cultura escrita, arte, pontes-
diálogo, educação formal e não-formal.
22
ABSTRACT
The present work shows initially the reflection above the writing and the importance of the
action of registering as substantial elements that mark, inclusively, the history of each one.
We turned on the important paper of the school for the appropriation of the written culture,
of the social practices of reading and writing, as well as of the value of the Art for the
human life, in other words, as a road for our humanization. We argued above the term
written culture based in Emilia Ferreiro and Telma Weisz ideas and about the Art mainly
based in João's Francisco Duarte Júnior ideas. We spoke about necessary bridges between
written culture and art, about the contributions of those knowledges for every citizen can
act truly as partnership of his history and, in agreement with their needs, to transform it.
Besides the characterization of the spaces treated in that dissertation, we also thought about
relationship among two spaces, or better, as bridges have been built among the formal
education (EMEF "Santa Terezinha II) and no-formal (Workshops of Arts of EMIA
Escola Municipal de Educação Artística), that integrate Mogí Guaçu's CAIC, SP. The
chosen road for the analysis of the relationships, of the dialogue, was the field research,
research-action and the exercise of interpretation of the diversity of voices of the people
that work in CAIC and other learners of the art workshops that belong to the community;
community that glimpses this space as a fan of opportunities, or better, as an important
bridge among knowledge that we understood vital: the written culture and the art.
Word-key: written culture, art, bridge-dialogue, formal and no-formal education.
23
Apêndice
Memorial
24
Anexos
A – Algumas imagens
B – Planta baixa do CAIC de Mogi Guaçu
C – Jornal da EMIA: Publicação da Escola Municipal de Iniciação Artística – Mogi Guaçu
Edições:
1ª - Maio/Junho de 2007.
2ª - Julho/Agosto de 2007.
3ª - Novembro/Dezembro de 2007.
.
25
PARA INICIAR...
No futuro, quando se lembrarem de nós, o que pensarão
desse nosso tempo de travessias? Que imagens fundadoras
emergirão? O que permanecerá como contribuição ao
trabalho civilizatório, à humanização da história?
Severino Antônio Barbosa
A participação não envolve uma atitude do cientista para
conhecer melhor a cultura que pesquisa. Ela determina um
compromisso que subordina o próprio projeto cientifico de
pesquisa ao projeto político dos grupos populares cuja
situação de classe, cultura ou história se quer conhecer
porque se quer agir.
Carlos Rodrigues Brandão
Este trabalho tem como fios condutores a Cultura Escrita e a Arte. Compreender e
analisar as pontes-diálogo desses conhecimentos no Centro de Atenção Integral à Criança e
ao Adolescente (CAIC) da cidade de Mogi Guaçu. A pergunta que motiva nossa pesquisa é
a seguinte: como têm sido construídas as pontes-dialógo entre Cultura Escrita e Arte,
saberes necessários à nossa existência. Como os espaços têm dialogado?
Dois espaços em um espaço maior, denominado CAIC
1
: EMEF “Jardim Santa
Terezinha II ”(Escola Municipal de Ensino Fundamental) e núcleo de Oficinas de Artes da
EMIA – (Escola Municipal de Iniciação Artística).
CAIC Dep. “Miguel Martini” - Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente de Mogi Guaçu,
complexo educacional de iniciativa federal criado no ano de 1994, hoje totalmente sob os cuidados da
Prefeitura Municipal de Mogi Guaçu, e diretamente ligado à Secretaria de Educação e Cultura. Neste
complexo também algumas oficinas sob a responsabilidade da Secretaria de Promoção Social do
município.
26
O primeiro espaço, a EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, tem como objetivos
principais organizar seu ensino de modo que o aprendiz possa apropriar-se da linguagem
escrita de forma eficaz, bem como interagir com as demais áreas de conhecimento que
compõem o currículo (História, Geografia, Matemática, Ciências, Educação Artística e
Educação Física), promover aprendizagem, desenvolver integralmente o aprendiz, formar o
cidadão crítico, responsável, solidário, consciente de seus direitos e cumpridor de seus
deveres conforme assinala o seu plano de gestão do ano de 2006.
Com relação ao segundo espaço, um núcleo composto por diferentes oficinas de
artes sob responsabilidade da EMIA, tem como objetivo não iniciar a criança na arte,
mas também que ela desenvolva o gosto pela mesma, que saiba, portanto, apreciar as mais
variadas formas de expressão artística, segundo regimento aprovado em 28 de Outubro de
1996.
A partir do exposto, a questão que fazemos é a seguinte: como são construídas as
pontes entre a educação formal e não-formal no CAIC de Mogi Guaçu? Ou seja, como se
dá o diálogo entre esses dois espaços e como essa interação tem beneficiado a comunidade?
Segundo o dicionário Houaiss,
2
diálogo é a interação entre dois indivíduos;
colóquio, conversa; contato e discussão entre duas partes, em busca de um acordo. Troca
de idéias, discussão de pontos de vista ou contatos diplomáticos.
Todo diálogo pressupõe um acordo, então nossa idéia principal é a de investigar a
realidade desses dois espaços, a conversa, a interação entre ambos. Por acreditarmos na
força do diálogo, no potencial de uma boa conversa, tivemos como referências, ou melhor,
interagimos com as idéias de educadores como: Paulo Freire, Emilia Ferreiro, Delia Lerner,
Telma Weisz, João Francisco Duarte Júnior, Ana Mae Barbosa, Paula Belfort Matos, entre
2
Disponível no site, www.uol.com.br/houaiss, visitado em 12-12-07.
27
outros autores, que tratam dos conhecimentos para os quais estamos focando nosso olhar
nesse trabalho: Cultura Escrita e Arte.
Um dos caminhos foi a pesquisa de campo junto a esses dois espaços, no sentido
de poder contribuir para que os sujeitos envolvidos na mesma possam olhar para o que
fazem e para o que podem fazer, a fim de que a interação entre ambos promova diálogos
incessantes e frutuosos para a conquista de seus objetivos.
Como pesquisadores, é necessário dizer que cultura escrita é um conhecimento
com o qual temos um pouco mais de experiência. Com relação à arte, não somos artistas,
mas tivemos o privilégio de nos tornar bons apreciadores através de trabalhos
desenvolvidos por professores apaixonados pela arte e por incluir em nossa formação a
reflexão sobre esse tipo de conhecimento. Hoje, como educadores, nossas experiências com
crianças com algumas dificuldades de relacionamento e consideráveis habilidades para
fazer arte, nos apontam que esse é um belo caminho, uma bela maneira de dizer e ser
ouvido, uma bela maneira de sentir e entender o sentido real do que é sentido.
O Capítulo 1, Reflexões sobre Cultura Escrita e Arte resgata de forma breve um
pouco da história da escrita e das contribuições dessa importante invenção para a
humanidade. A partir daí levantaremos algumas questões sobre alfabetização, cultura
escrita e demais conceitos que envolvem essa pesquisa, como forma de estabelecer uma
relação também dialógica e reflexiva com o leitor. Como é a diversidade na EMEF Santa
Terezinha II? E a diversidade das oficinas, a diversidade de oportunidades e a própria
diversidade das pessoas que participam das mesmas? Essa diversidade de oportunidades
atende às necessidades da comunidade? Se no mundo de hoje é preciso respeitar essa
diversidade, fruto das diferenças ou heterogeneidade, então, como estes dois espaços têm
dialogado? Como tem sido a apropriação da cultura escrita em meio a essa diversidade?
28
Quais ações didáticas a coordenação do CAIC, a escola e os responsáveis pelas
oficinas têm organizado para que seus alunos e a comunidade possam se apropriar não
somente da cultura escrita, mas da cultura geral oferecida pelas oficinas da EMIA?
O capítulo 2, Idéias que alimentam as ações do CAIC de Mogi Guaçu, terá dois
propósitos principais. Primeiramente, trataremos da caracterização dos espaços nos quais a
pesquisa foi realizada, com a finalidade de inserir o leitor nesses espaços vivos de ações
planejadas, de cultura escrita, artes e de aprendizagens.
Apresentaremos o perfil da comunidade escolar que freqüenta o CAIC a partir
dos fatores sociais, econômicos e culturais. Falaremos também da Escola Municipal de
Iniciação Artística (EMIA) desde sua origem, e do impacto desta escola para o município
de Mogi Guaçu; bem como os propósitos das oficinas de arte e de como nasceu a idéia de
se instalar parte de suas oficinas no CAIC.
Analisaremos também o impacto desse anexo para o CAIC e para a comunidade
que participa das oficinas oferecidas pela EMIA, que assim amplia seus conhecimentos
acerca das várias expressões artísticas, seu propósitos e a dimensão desse trabalho para a
formação artística e cultural de todos os envolvidos.
Um segundo propósito do capítulo 2 é o de explicitar as idéias que alimentam as
ações dos educadores do CAIC, mais especificamente dos anexos EMEF “Jardim Santa
Terezinha II”, e das Oficinas de Artes explicitando-as, analisando-as e, principalmente,
refletindo sobre a relação desses com as ações desenvolvidas nesse espaço de educação
sócio-comunitária.
uma boa conversa entre esses dois espaços? Suas propostas, de educação
formal e não-formal, têm contribuído para com a formação cultural, social, econômica e até
mesmo com a inserção de todos da comunidade de forma mais justa na sociedade? Eis as
29
nossas questões. Trataremos de buscar respostas, levantar questões, exercitar a observação,
a interpretação da realidade para poder analisá-la a partir dos nexos que a constituem.
No Capítulo 3, Uma análise a partir das diferentes vozes, teremos como desafio
não somente apresentar a pesquisa de campo realizada, mas também interpretar as
diferentes vozes das pessoas que atuam tanto na EMEF “Jardim Santa Terezinha II, como
dos professores das oficinas de Artes da EMIA e demais funcionários das diversas
repartições do CAIC de Mogi Guaçu. Um outro desafio deste capítulo é desvelar a relação
dialógica entre os espaços. De um lado a escola, espaço de educação formal e de outro a
escola de Artes da EMIA, espaço de educação não-formal. Também desejamos analisar os
propósitos desses espaços inseridos no CAIC em suas semelhanças, como por exemplo, a
concepção de Arte das pessoas ouvidas nessa pesquisa; como também divergências,
contradições e propor idéias que possam contribuir para que a aquisição da cultura escrita
promova a escrita da cultura pelos atores envolvidos historicamente com essa comunidade.
Felizmente, não tivemos muitos obstáculos relacionados aos procedimentos por
nós utilizados. A maioria das pessoas envolvidas na pesquisa de campo recebeu e
respondeu de forma tranqüila às questões. Uma dificuldade percebida foi com relação à
questão sobre os referenciais metodológicos que embasam as ações. Uma mudança possível
para essa questão seria a seguinte: ao invés de perguntarmos sobre os referenciais
metodológicos, indagaríamos sobre os autores que embasam suas ações, certamente
correríamos menos risco de não sermos ouvidos nessa questão que consideramos
fundamental para compreendermos melhor as relações entre as pessoas que compartilham
seu trabalho, sua vida e sua história através da pesquisa de campo realizada.
Para por luz à nossa reflexão recorremos às palavras de Imbernón:
30
O compartilhar no ensino [e na vida] é muito importante. Porém,
compartilhar significa viver a história de dentro. uma diferença entre
compartilhar uma história e contar uma história (assim como entre o sentir
e o ouvir). Para compartilhar, preciso dos demais, dos outros. E, mais que
compartilhar, na educação ouvem-se histórias. Os relatos que formam uma
pequena parte da história de vida profissional (relatos de vida supõem que
alguém conte sua experiência a outra pessoa, compartilhando fragmentos
da vida cotidiana) estão ligados intrinsecamente à vida coletiva das
instituições, às histórias das escolas. Nesse sentido, a história profissional
está ligada à história coletiva.
É necessário ouvir as vozes e os relatos dos professores [e demais
profissionais de uma instituição] para desvendar uma parte do interior do
ofício, para recuperar a esperança de que a paixão de ensinar [e de
aprender] ainda seja possível (IMBÉRNON, 2007, p.11)
Destarte, essa análise busca o sentido dos sentidos das vozes ouvidas, das
palavras tecidas, das idéias reveladas a partir das relações estabelecidas e compartilhadas
entre todos os profissionais, professores e demais funcionários, reconhecidos por nós como
educadores, e que compõem a coletividade do Centro de Atenção Integral à Criança e ao
Adolescente de Mogi Guaçu, o CAIC.
31
Capítulo 1
REFLEXÕES SOBRE CULTURA ESCRITA E ARTE
Escrevo porque à medida que escrevo vou me entendendo e
entendendo o que quero dizer, entendo o que posso fazer.
Escrevo porque sinto necessidade de aprofundar as coisas, de
vê-las como realmente são...
Clarice Lispector
Uma língua escrita não é uma língua oral transcrita, é um
fenômeno lingüístico e cultural.
Claude Hagège
1.1 Escrita: breve histórico
Este primeiro capítulo para nós foi um exercício teórico-conceitual na busca de
construção de pontes-diálogo entre a EMEF “Jardim Santa Terezinha II, como grande
responsável pela apropriação da cultura escrita pelas crianças, e o núcleo de oficinas de
Artes da EMIA, responsável não pela iniciação à arte pelas crianças, mas também pelo
desenvolvimento do gosto pelas mais diversas formas de expressão artística.
Acreditamos também que uma outra ponte necessária foi recorrermos à história da
escrita, voltarmos nosso olhar para a evolução das formas de registrar, pois desde os tempos
primitivos, o homem se utiliza dos registros como meio de explicitar suas idéias, seus
sentimentos e suas crenças, etc. São estes registros, que permitem às novas gerações uma
melhor compreensão dos vários momentos históricos, dos valores e, principalmente,
compreender a conseqüências destes na vida do homem, estabelecer relações e ir além.Mais
32
do que isso, traz a consciência de que somos seres constituídos capazes de transformar, agir
e refletir.
São esses registros que fazem com que nos enxerguemos como seres inacabados, a
necessidade da continuidade das nossas ações, a necessidade de analisá-las pelas nossas
reflexões materializadas pela própria escrita.
Por comungarmos das idéias da educadora Madalena Freire sobre o valor do
registro reflexivo escrito, recorremos ao PROFA (2000)
3
e transcrevemos o que ela diz a
respeito da reflexão escrita:
A reflexão, o diário cotidiano, é a arma para cortar a
anestesia reprodutora, passiva, domesticada, que fomos
educadas, ela é a arma pra despertar esse sujeito pensante,
reflexivo que observa, que estuda o tempo inteiro,
pesquisador e que registra. Não vale pensar sem registrar.
Estar tudo na minha cabeça não vale, porque está no reino
das lembranças. Não está no reino da memória. Memória é
registro.
Madalena Freire
A partir dessas idéias substanciais a respeito do registro, chegamos a uma primeira
conclusão: são os registros e as reflexões suscitadas a partir dele que nos revelam, nos
historificam.
Como registrar é preciso, trataremos de resgatar neste capítulo, mesmo que de
forma breve, um pouco da história da escrita pelo homem, inicialmente com base no
PROFA (2000)
4
, e dialogar com alguns conceitos que acreditamos fundamentais para uma
relação dialógica com o leitor de nossos escritos, nossos registros.
3
PROFA – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores MEC – SEF 2000 – Vídeo: Para
Organizar o Trabalho Pedagógico.
4
PROFA – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores MEC – SEF 2000 – Vídeo Construção da
Escrita.
33
Sabemos que em seu longo percurso, a humanidade construiu diversos sistemas de
escrita, como por exemplo, o alfabético, que é apenas um dos sistemas possíveis. É também
de nosso conhecimento, que na luta constante pela sobrevivência, o ser humano soube
aprimorar os seus sentidos e lidar com perigos da vida cotidiana. Desse modo, portanto,
aprendeu a ler os indícios e a interpretá-los, escolhendo a pedra para registrar esses seus
primeiros sinais.
Um longo tempo se passou, para que nossos ancestrais descobrissem uma maneira
que viria ampliar de forma considerável, os registros do homem. O homem passou assim, a
representar a linguagem não mais por desenhos e sim através da escrita, com a evolução
dos pictogramas. Esses foram utilizados por diferentes civilizações em diferentes épocas,
das quais destacamos os sumérios e os egípcios, aproximadamente cinco mil anos. Na
Ásia, cinco séculos depois dos egípcios, os chineses construíram pictogramas que deram
origem à sua escrita.
Com o desenvolvimento das cidades, e, conseqüentemente do comércio, cada povo
privilegiou um tipo de material como suporte para formas mais rápidas de escrever. Na
Mesopotâmia, os sumérios usavam a argila, ainda úmida, para os registros comerciais e
também para relatar os momentos de guerras e conquistas. Já os egípcios, desenvolveram o
papiro (papel rústico em que os pictogramas eram escritos à tinta); os chineses utilizavam
restos de cerâmica queimada para escrever, fazendo uso de pincéis.
Assim, a partir do momento em que a escrita começou a representar os sons da fala,
na passagem do pictográfico para o fonográfico, ampliaram-se as relações entre as
civilizações através da comunicação escrita.
Enfim, por volta dos anos 800 aC, os gregos, conhecendo a escrita consonantal
fenícia, nela acrescentaram as vogais, conseguindo introduzir, de forma separada, todos os
34
elementos componentes de uma sílaba. A humanidade chegou ao alfabeto, representando as
palavras não somente por seus sons, mas também por suas idéias.
Segundo Cagliari (2005), o sistema de escrita alfabético grego foi uma das maiores
contribuições culturais para o mundo ocidental, pois em sua origem situa-se a família dos
alfabetos que dominam o Ocidente, que o alfabeto latino se desenvolveu a partir do
alfabeto grego.
Muito embora a conquista da escrita alfabética tenha sido vista de forma
diferenciada ao longo dos tempos, atualmente, percebemos que a conquista da mesma
representa um forte fator de inclusão social e mais ainda de emancipação política,
econômica e cultural.
Em Cagliari, citado abaixo encontramos reflexões sobre os diferentes papéis
ocupados pela escrita, ao longo de sua história:
[...] O domínio da escrita nem sempre foi devidamente apreciado por todas
as sociedades. Muitas vezes, exaltado, outras temido ou reverenciado, foi
também desprezado e considerado uma tarefa destinada a subalternos.
Recordemos que qualquer tecnologia somente faz sentido para quem dela
necessita para viver melhor, com mais facilidade ou então como
possibilidade de “ser” mais. [...] A escrita consagrou uma segunda etapa
na história humana. Com ela, mudaram as relações entre o indivíduo e a
memória social. O sujeito pôde projetar no papel sua visão de mundo, sua
cultura, seus conhecimentos e vivências. Com essa ação, pôde analisar o
próprio conhecimento sobre as coisas e o mundo e fazê-lo chegar até os
homens de outras culturas e outros tempos. O saber que era condicionado
pela subjetividade da oralidade se tornou objetivo e possível de se
distanciar; a experiência pôde ser compartilhada em que o autor e leitor
necessariamente participassem do mesmo contexto. (CAGLIARI, 2005, p.
88)
35
Desse modo, refletimos que a escrita alfabética tem acompanhado, não somente o
nascimento, mas o desenvolvimento de muitas civilizações. A escrita alfabética é um
divisor de águas na história da humanidade.
Conquistar a escrita alfabética no mundo atual significa muito mais do que poder
estabelecer representações gráficas, uma relação entre o oral e o escrito, significa poder
fazer uso das várias formas da linguagem escrita, das várias formas de manifestação do
homem ao longo da sua história. Significa também a possibilidade de deixar marcas,
marcas que trazem em si, uma gama de significados de uma época, de um passado e de um
presente capazes de transformar o futuro.
Diante do exposto até o momento, as questões interligadas e intercambiantes que
trazemos são as seguintes: Como a EMEF “Jardim Santa Terezinha II” localizada no CAIC
de Mogi Guaçu, objeto de nossa pesquisa, tem contribuído para com o domínio, pela
criança, da cultura escrita? Como poderemos atuar para que a escrita, uma invenção social,
possa ganhar na escola um espaço real e não seja reduzida a apenas uma prática
escolarizada e sem sentido? Como as oficinas de arte têm contribuído para a cultura dos
alunos? Qual a relação dialógica entre esses dois espaços? De que forma essa relação
promove não somente a inserção dos alunos e comunidade no mundo da cultura em geral,
bem como, o seu reconhecimento como sujeitos históricos?
Responder a essas questões é mais uma forma de podermos refletir sobre o quanto
estamos oportunizando às futuras gerações, o direito à cultura escrita, direito já conquistado
por nós e que nos permite comunicar, apropriar-nos das diversas formas da linguagem
escrita, de concluir pesquisas científicas, tecer nossas reflexões, contribuir de alguma forma
para o prosseguimento de futuros estudos das próximas gerações.
Como vimos a escrita é uma prática social que vem se desenvolvendo ao longo da
36
história da humanidade. Parafraseando ABDALLA (1998) compreendemos que registrar
por escrito envolve um desejo que, ao mesmo tempo em que atinge o outro, também nos
atinge, nos envolve, nos faz transparente, nos evidencia, nos revela e até mesmo nos
tranqüiliza e tem, muitas vezes, efeito terapêutico frente a nossas dores, anseios e desejos
que insistem viver na clandestinidade.
Corroborando essa reflexão, consideramos iluminadoras suas palavras:
[...] na figura solitária do escritor se mesclam um “eu” e um “você” (eus e
vocês) dinamizando um espaço polifônico e polissêmico, dinamizando um
outro espaço intersubjetivo, que remete a expressão para muito além do
apenas observável. Muito da força e da complexidade da escrita residem
na arte de criar um espaço simbólico, que aguça a imaginação e se faz
completar e recriar na interpretação de um interlocutor, que vivencia e
constrói um tempo e um espaço, dimensionado pela história.
(ABDALLA, 1998, p.37)
Entendemos com essa fala que o que marca as relações do homem com os primeiros
atos de escrita e de leitura são suas necessidades, suas vontades no caminho de sua
existência.
Com o objetivo de investigar esse processo de transformação refletiremos a partir
da forma como Vigotysky reconstrói experimentalmente a pré-história da linguagem
escrita:
A história, começa com o aparecimento do gesto, como signo
visual, estando o mesmo ligado aos signos escritos em duas situações: nos
rabiscos infantis e no desenvolvimento do simbolismo no brinquedo. Dos
rabiscos ao desenho de pequenas figuras, a criança compreende que é
possível desenhar não somente coisas, mas também a fala. Esse
37
reconhecimento torna possível a transformação da escrita, de um ato
simbólico de primeira ordem, de um estágio mnemotécnico, ao estágio em
que é capaz de lidar maturamente com símbolos. Os brinquedos
apresentam a segunda forma de estabelecer a ligação entre o gesto e a
linguagem escrita. O brinquedo tem o significado de um complexo sistema
de fala através de gestos que comunicam e indicam significados.
(ABDALLA 1998, p.p 37, 38.)
Os estudos de Vygotsky sobre a pré-história da linguagem escrita, nos transportam à
própria evolução da construção da escrita pela humanidade, já referenciada nesse capítulo.
Uma outra fase, ou seja, a terceira etapa, na pré-história da escrita nos faz refletir
sobre o desenho, que se desenvolve na criança, quando a linguagem falada atingiu um
enorme avanço:
Primeiramente, desenha de memória não o que vê, mas o que sabe (fala gráfica), ou
seja, representa seu pensamento através da escrita. Escrita, que teve funções diferenciadas
ao longo dos tempos, como nos mostra Abdalla:
[...] as funções da escrita assumiram, também, sentidos diferentes ao longo
da história da humanidade, como: arte mágico-religiosa, privilégio de
sacerdotes e sábios; ritual (a exigência do silêncio no trabalho com a
linguagem, ou a verbalização permitida através do coro e da repetição);
consolidação de grupos sociais; em que um determinado sistema a
todos que praticam o sentimento de pertencer a um mesmo grupo;
comercial, que conduz a necessidades específicas de registro de bens e de
comunicação com outros povos. (ABDALLA, 1998, P.37).
A partir dessas considerações, entendemos que as palavras, além de representar
símbolos, imagens, pensamentos, são também instrumentos poderosos tanto de dominação,
alienação, quanto de liberdade para os grupos constituídos socialmente. Assim, sabemos
também que a palavra pode ser um instrumento de emancipação, aqui entendida como ação
38
que liberta que dá ao homem a possibilidade se ser e agir para poder, mais do que
sobreviver, construir sua história através da própria linguagem e, por que não dizer
também, recriar-se.
Por outro lado, entendemos também que toda essa liberdade de contato com a
cultura escrita, toda essa aproximação com as diferentes formas pelas quais a linguagem
nos é apresentada, não tem garantido ao homem fazer uso dela com propriedade e
autonomia, há muito que se caminhar para que isso aconteça, pois a sociedade nunca esteve
tão imersa no mundo letrado, mas, infelizmente essa imersão não tem garantido que
façamos bom uso da língua escrita para dizer o que pretendemos, para assumirmos nosso
papel de cidadão, partícipe da história.
1.2 Cultura Escrita: O papel da escola na formação de leitores e escritores
Quem tem muito pouco, ou quase nada, merece que a escola lhe abra
horizontes.
Emilia Ferreiro
Hoje mais do que nos tempos passados, precisamos pensar sobre o papel da escola
na formação de escritores e leitores, principalmente porque como já vimos anteriormente as
pessoas estão constantemente envolvidas com o mundo escrito, com a cultura escrita.
E como a escola pode transformar-se numa ponte frutuosa entre o mundo escrito e o
aprendiz? O que se pode fazer? A pesquisadora Delia Lerner nos ajuda a encontrar
respostas com a seguinte reflexão:
Se conseguimos criar outras condições didáticas em todas as escolas, é
provável que tenhamos mais escritores [...] o essencial é outra coisa: fazer
da escola um âmbito propício para a leitura é abrir para todos as portas dos
39
mundos possíveis, é inaugurar um caminho que todos possam percorrer
para chegar a ser cidadãos da cultura escrita.[das práticas sociais de leitura
e escrita (narrativas, bilhetes, cartas, poemas, poesias, notícias,
cartazes...)] (LERNER, 2001, p.75).
Portanto, nessa pesquisa nos ocuparemos em analisar e compreender a forma pela
qual a EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, instalada no CAIC de Mogi Guaçu, tem dado a
oportunidade para que seus alunos tenham mais do que contato que se apropriem da cultura
escrita e saiba como usá-la diante de suas necessidades.
Para isso, conforme exposto, revisitamos, ainda que brevemente, um pouco da
história da escrita, de como essa se constituiu, seus sentidos para as crianças, o sentido da
mesma para a humanidade nos diferentes tempos.
Como vimos a escrita não pode ser vista como uma simples forma de representação
da oralidade, que se construir seus diversos sentidos junto ao aprendiz. Como expressa
Vygotsky: (1978, p. 38) “ao negar suas funções comunicativas, a escola desvirtua a escrita,
fazendo com que a criança não acredite nessa escrita morta, que, não exigindo sua
participação, cobra-lhe apenas a repetição e a cópia: mero exercício, ausente de sentido, por
manter a margem da interação”.
Assim, entendemos que na maioria das vezes a escrita, infelizmente, é dada como
algo pronto, um presente do mundo externo à escola, à criança, algo que vem das mãos de
alguém que tenha se apropriado desse conhecimento, principalmente pelas mãos do seu
professor, e que não vai ao encontro das necessidades da criança; desse modo,
desconsidera, o desejo de conhecer e construir esse conhecimento. A escrita, que
entendemos não é algo que deva ser dado, é um conhecimento construído pelo aprendiz
através de sua interação com esse objeto e de sua relação com seu meio físico e social e,
40
principalmente, pela intervenção do professor.
É imprescindível que reconheçamos que a escrita surgiu anteriormente à criação do
espaço escolar, e que foi praticada pelo homem nas várias etapas de sua evolução. A escrita
é acima de tudo uma prática social e cultural. Portanto, a escola como um espaço social de
múltiplas interações é um dos poucos lugares em que a maioria das crianças brasileiras,
incluindo os aprendizes da EMEF “Santa Terezinha II”, pode ter a chance de pensar e falar
criticamente sobre seu pensamento, sistematizar os conhecimentos construídos e inserir-se
na cultura escrita. Cabe, portanto, a todos nós educadores, levar ao espaço escola, as
práticas sociais de leitura e escrita e transformá-las em conteúdos a serem ensinados, como
bem nos assinala Delia Lerner:
[...] definir como objeto de ensino, as práticas sociais de leitura e escrita
supõe dar ênfase aos propósitos da leitura e da escrita em distintas
situações - quer dizer, às razões que levam pessoas a ler e escrever-, às
maneiras de ler, a tudo que fazem os leitores e escritores, às relações que
leitores e escritores sustentam entre si, em relação aos textos. Estes,
naturalmente estão incluídos também nessas práticas e, portanto são
pertinentes todos os saberes vinculados a eles, que a lingüística textual nos
proporcionou, mas estão ali não como eixo fundamental do ensino, e sim
se me permitem uma imagem da gramática oracional – como objeto direto
das ações do ler e escrever. (LERNER, 2002 p.57)
5
.
Assim, entendemos que Delia (2002) nos aponta um caminho que seja desafiador e
possível quando se trata de incorporamos as práticas sociais de leitura e escrita como objeto
de ensino, pois é uma forma muito apropriada de lidarmos com situações reais, ou seja, as
práticas sociais de leitura e escrita que, nessa pesquisa, estamos tratando também como
cultura escrita.
O termo cultura escrita está em alta. Muitos pesquisadores têm influenciado nossas
5
Fragmento retirado do livro: Ler e escrever na escola – O Real, o Possível e o Necessário p.57.
41
reflexões que ora suscitam controvérsias, ora fundamentam discussões ou até mesmo
trazem novos sentidos a estudiosos que entendem o conhecimento como algo em constante
movimento, mutante. Anterior ao termo cultura escrita, as reflexões estavam mais voltadas
ao conceito de alfabetização e letramento.
6
Não podemos nos debruçar sobre o termo alfabetização sem mencionar os estudos
da pesquisadora argentina Emilia Ferreiro. Certamente cometeríamos uma enorme falta,
uma vez que a pesquisadora, discípula de Piaget, revolucionou o conhecimento que se tinha
sobre a aquisição da leitura e da escrita quando lançou, com Ana Teberosky, o livro
Psicogênese da Língua Escrita, no ano de 1975, mas que chegou ao Brasil no início dos
anos 80.
Com a publicação dos estudos de Emilia Ferreiro e de sua parceira Ana Teberosky,
começamos a entender que a escrita é um processo de construção, caminho este permeado
por hipóteses, testadas e descartadas e até mesmo confirmadas à medida que os aprendizes
avançam em seus conhecimentos e que durante esse caminho além de se alfabetizar, ela
pode se apropriar da cultura escrita, pois o que se propõe é a alfabetização através da
interação com textos que circulam socialmente, cumprindo, portanto uma função social. Os
estudos de Emilia Ferreiro publicados no Brasil a partir do ano 1980 causaram um impacto
muito grande nas concepções que nós educadores tínhamos até então sobre a forma como
as crianças construíam seus conhecimentos acerca da leitura e da escrita. Para a educadora
brasileira Telma Weisz, a história da alfabetização no Brasil pode ser divida em dois
grandes momentos: num antes e depois das idéias de Emilia Ferreiro.
6
Definições de alfabetização e letramento por Telma Weisz , transcritas do material do Guia do Formador do
PROFA (2000, p.209)
Alfabetização: capacidade de decodificar e ler autonomamente. É uma parte pequena, mas importante, de um
processo nuito maior que é a aprendizagem da língua.
Letramento: conjunto mais amplo de conhecimentos que permite participar do universo letrado. Para
participar do mundo de hoje é preciso ler e escrever bem, é preciso escrever a língua das classes dominantes.
42
Essa pesquisa representou um salto qualitativo, parafraseando Piaget, uma grande
reorganização das nossas idéias sobre como a criança aprende a ler e escrever. Fez-nos
rever não somente nossas concepções, mas também influenciou de forma positiva as
mudanças das políticas públicas voltadas à alfabetização.
Acreditamos também que compreender a Psicogênese da Leitura e da Escrita é um
grande passo para a não exclusão de tantas crianças, é um eterno acreditar nas
possibilidades de cada um diante do processo individual, mas não solitário que é aquisição
da leitura e da escrita pelo aprendiz.
Segundo Emilia Ferreiro (2004), é na interação com os mais diversos tipos de textos
que a criança, mesmo ainda não alfabetizada, vai se apropriando da cultura escrita, um
conceito mais amplo que o termo alfabetização, que hoje está mais ligado à idéia de
decodificação.
Emilia entende alfabetização/cultura escrita como um processo que tem seu início
bem cedo e nunca se finda, ou seja, começa antes da escola e nunca termina. Para
refletirmos mais um pouco sobre essa revolução da qual tratamos acima, achamos
oportunas as palavras de Weisz:
Emilia Ferreiro deslocou o foco da investigação do “como se ensina” para
o “como se aprende”. Colocou assim a escrita no lugar que lhe cabe de
objeto sociocultural de conhecimento tirou da escola algo que parecia
incontestável: o monopólio da alfabetização. Recolocou no centro dessa
aprendizagem o sujeito ativo e inteligente que Piaget descreveu. Um
sujeito que pensa, que elabora hipóteses sobre o modo de funcionamento
da escrita porque ela está presente no mundo onde vive, que se esforça por
compreender para que serve e como se constitui esse objeto. Que aprende
os usos e formas da linguagem ao mesmo tempo que compreende a
natureza do sistema alfabético de escrita. A idéia de que o aprendiz precisa
pensar sobre a escrita para se alfabetizar era mais que nova: era
revolucionária. (WEISZ:
7
2004 p.8)
7
TELMA WEISZ é doutora em psicologia da aprendizagem pela USP, autora dos Parâmetros Ccurriculares
Nacionais de Língua Portuguesa de a serie e assessora dos Referenciais Curriculares Nacionais da
43
Para Emilia Ferreiro, a melhor tradução de Alfabetização é Cultura Escrita,
entendendo que esta não tem início somente após a construção da base alfabética, dito de
outro modo, quando o aprendiz está alfabetizado; acontece no momento em que um
educador, ou mesmo um outro adulto um bom texto, por exemplo, contos clássicos em
voz alta para a criança, ação essa permanente nos lares das famílias de classe média muito
antes da escolaridade, ou mesmo quando acompanhada por um adulto vai até uma livraria,
uma banca de jornal e escolhe uma revista, um livro e lê para si ou para outros adultos e até
mesmo para seus pares.
Segundo a pesquisadora Emilia Ferreiro, para essas crianças, o processo de
alfabetização é naturalmente desencadeado com acesso à cultura escrita, a todo material
impresso de boa qualidade que naturalmente está a sua inteira disposição.
Entendemos com essas reflexões que, ao permitir o acesso à cultura escrita, a escola
estará cumprindo um de seus importantes papéis: que além de pedagógico é também
político, democratizando o acesso a informações e por que não dizer lançando um olhar
fundamental para a aprendizagem de todos seus alunos, sejam eles oriundos de classes
sociais menos favorecidas ou não.
1.3 A aquisição da Cultura Escrita na diversidade
O que temos de igual é o fato de sermos diferentes.
Telma Weisz
Educação Infantil, supervisora pedagógica do PROFA (Programa de Formação de Professores
Alfabetizadores MEC/SEF 2000 e do Programa Letra e Vida/Secretaria de Estado da Educação de São
Paulo (Seede/SP), coordenadora e professora do curso de especialização em Alfabetização do Instituto
Superior de Educação Vera Cruz.
44
Vivemos um período de grandes mudanças em nossa sociedade: os avanços
tecnológicos, a rápida produção de conhecimento, a globalização, a necessidade de
discutirmos o papel e a importância das diferenças, do diferente, não como prejudicial, mas
como algo complementar. Sendo assim, a escola como um espaço de interações sociais
também sente esta mudança e precisa mais do que outrora reavivar sue papel social,
reconhecendo as diferenças como uma riqueza que nos torna iguais.
Acatar a idéia de um passado não muito distante, de que escola para ser boa precisa
reprovar, gerou em nossa sociedade o senso comum de que escola boa era realmente aquela
que reprovava ou então aquela que tem a repetência como um bom serviço prestado.
Portanto, essa mesma questão que no passado parecia “tranqüila”, hoje incomoda
não somente os sistemas de ensino, como também os educadores e acadêmicos que
investigam as conseqüências da reprovação.
Entendemos que mais do que investigar, a academia pode contribuir para que a idéia
da avaliação com vistas à reprovação possa ser substituída pela idéia da avaliação que
balize um ensino melhor para todos.
Ao longo dos anos várias propostas já foram apresentadas. Dentre elas, o Projeto
de Aceleração de Estudos
8
, implantado na Rede Estadual de São Paulo em 1998, do qual
pudemos participar e constatar uma triste realidade: uma parcela considerável dos alunos
com faixa etária entre 10 a 15 anos, que já haviam freqüentado por no mínimo quatro
anos a escola em sua grande maioria, não estavam alfabetizados.
8
Projeto implantado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo à partir do Programa de
Reorganização da Trajetória Escolar, com uma política que objetivou a melhoria da qualidade de ensino
45
Essa condição nos angustiava muito, ficávamos a imaginar como alunos com tantos
conhecimentos e com habilidades, entre elas, a artística, que nos impressionavam, ainda
não estavam alfabetizados, sem esse direito fundamental que lhes garantiam o acesso ao
mundo da cultura escrita.
Trabalhar com esses alunos foi um aprendizado, e hoje, através da nossa pesquisa,
acreditamos que podemos aprofundar mais nossos conhecimentos, trazer à luz discussões
que possam ajudar o educador a trabalhar as diferenças em sala de aula, sejam elas de
conhecimentos, de credos ou costumes.
Planejar o ensino para salas heterogêneas, tendo em vista a aprendizagem foi
sempre um grande desafio para nós educadores, principalmente quando passamos a
entender melhor que é impossível organizar um ensino, sem entender e aceitarmos a
diversidade, sem entendermos os processos pelos quais as crianças constroem seus
conhecimentos acerca da leitura e da escrita tão bem fundamentados pelas intensas
pesquisas da doutora Emilia Ferreiro, isto é, sem estudarmos e compreendermos a partir
dos estudos da Psicogênese da Leitura e da Escrita, sem revermos nossa concepção acerca
da construção desse conhecimento pela criança e, mais ainda, sem levar em conta a
diversidade de saberes da sala de aula, se continuarmos acreditando que na sala todos são
iguais.
Segundo Telma Weisz (2001), o que se tem percebido, é que na prática, essa
idéia de que classes homogêneas facilitam o aprendizado dos alunos é um grande equívoco,
colabora, portanto para que o professor não assuma seu papel de organizar o ensino tendo
em vista a aprendizagem, pois ao delegar a responsabilidade pela aprendizagem dos alunos
a fontes externas (metodologias, materiais, manuais, produzidos com a intenção de ensinar
a ler e escrever), não se conscientiza do seu papel, da sua grande e fundamental importância
46
na aprendizagem dos seus alunos. Essa idéia é extremamente ruim porque contribui para a
falta de profissionalização do educador.
Diante do exposto, consideramos providencial a reflexão que se segue da
educadora Telma Weisz:
A escola que propomos e buscamos é uma escola aberta à diversidade a
diversidade cultural, social e também individual. Considera-se que as
formas de aprender diferem, que os tempos de aprendizagem também, e
que o tem sentido sonhar com todos os alunos caminhando igualmente
em seu processo de construção de conhecimento. A igualdade que se
defende não se refere ao processo de aprendizagem, mas às condições
oferecidas para favorecer a aprendizagem, pois o processo é sempre
singular, inevitavelmente. (WEISZ, 2001, p.106).
É preciso que continuemos a refletir sobre as mais diversas formas de ensino e
aprendizagem, que contribuamos de fato com os educadores que estão diretamente em sala
de aula, planejando ações que promovam a aquisição da cultura escrita que está além dos
muros das nossas escolas e dos muros acadêmicos.
É inegável que olhar de forma diferenciada para a mesma questão contribui muito
para que possamos chegar a uma melhor forma de não negar um direito fundamental a todo
cidadão, que é ser alfabetizado e, ao mesmo tempo, apropriar-se dos diversos usos de sua
cultura escrita e também da cultura geral.
Diante do exposto, nos propomos a refletir com esse trabalho, como tem sido o
diálogo entre a educação formal e não-formal do CAIC de Mogi Guaçu, e como essa
relação está contribuindo para com os aprendizes, que além da cultura escrita, precisam
também apropriar-se de sua cultura, em toda diversidade a partir das oficinas de artes do
núcleo da EMIA.
Entendemos que a aprendizagem da cultura escrita e de outras formas de cultura se
47
dá a partir da heterogeneidade (hetero – do grego – diferente; gêneo – do grego – origem).
Se a heterogeneidade é uma realidade com a qual precisamos trabalhar e sabendo
que o papel do professor é imprescindível para organizar as interações seja no espaço de
educação formal ou não-formal, acreditamos que três aspectos sejam fundamentais para a
organização do ensino: compreendermos os processos envolvidos na aprendizagem, os
conteúdos a serem ensinados e a forma de como organizar esses conteúdos, dito de outro
modo, a didática.
Como tratamos nessa pesquisa da aquisição da cultura escrita, pensamos ser
oportuno aclararmos um pouco os três aspectos citados em linhas anteriores.
O primeiro aspecto refere-se à compreensão dos processos pelos quais a
aprendizagem acontece, ou melhor, a clareza dos processos pelos quais o aprendiz constrói
seu conhecimento. A intervenção do professor, procurando entender a forma como a
criança pensou fomentará, servirá de apoio para que o aprendiz continue a pensar sobre.
Surge daí a necessidade de se criar novas situações para que o professor possa
investigar melhor, ver ao aluno como alguém capaz de pensar, o que contraria
veementemente a idéia do aluno como simples apertador de parafusos, ver o aprendiz como
alguém que pensa, reflete, que constrói seus conhecimentos a partir das interações com seus
pares e também das boas intervenções do professor, assim é possível para o professor
entender que o aprendiz não é uma tábula rasa, mas que já conhece muita coisa.
Entender os processos é antes de tudo dar oportunidade à criança de refletir e agir
sobre o objeto.
Essa mudança de concepção traz uma idéia fundamental destacada por Weisz com a
qual concordamos:
48
É equivocada a expectativa de que o aluno poderá receber qualquer
ensinamento que o professor lhe transmita exatamente como ele lhe
transmite. O professor é que precisa compreender o caminho de
aprendizagem que o aluno está percorrendo naquele momento e, em
função disso, identificar as informações e as atividades que permitam a ele
avançar do patamar de conhecimento que conquistou pra outro mais
evoluído. Ou seja, não é o processo de aprendizagem que deve se adaptar
ao de ensino, mas o processo de ensino é que tem de se adaptar ao de
aprendizagem. Ou melhor: o processo de ensino deve dialogar com o de
aprendizagem. (WEISZ, 2001, p. 65)
Como vimos anteriormente, desconsiderar o que aluno já sabe não é uma boa forma
de fazê-lo ir além, isto é, avançar em seus conhecimentos. É preciso considerar suas
hipóteses, intervir, para que ele possa confirmá-las ou não. E quanto ao professor? Quais
são suas hipóteses? Quais são suas concepções? Será que ele consegue estabelecer uma
relação de sua prática com uma concepção?
Segundo Weisz (2001), todo educador tem uma concepção que alicerça sua prática,
mesmo que às vezes não tenha consciência dela. Aponta ainda outros dois aspectos
importantes que devem ser considerados quando o que se pretende é analisar as ações do
professor: a concepção do conteúdo que deseja que o aluno aprenda e sua concepção de
ensino, estabelecendo um paralelo entre as diferentes concepções (empirista, construtivista,
inatista, etc.).
Pensando agora num segundo aspecto, o conteúdo e, especificamente, no conteúdo
expresso nas cartilhas, material muito difundido em nosso país, a concepção que está por
traz dela é que o alfabetizando é um sujeito vazio que tenta ajuntar informações, o pensar
não existe, a percepção é que determina a aprendizagem. Cabe ao professor ir depositando
49
informações e o aluno vai juntando, acumulando informações, fazendo uma analogia com a
educação bancária abordada por Paulo Freire.
Segundo Weisz (2001), os conteúdos escolares devem ser apresentados por inteiro,
desde a fase da aquisição do sistema de escrita, o aprendiz precisa interagir com a língua
em sua inteireza, interagir com a língua escrita na escola da mesma forma como esta se
apresenta fora dela.
Por último a didática, ou seja, a forma de organizar os conteúdos a partir do
conhecimento dos processos pelos quais o aprendiz constrói os seus saberes. Essa tarefa
cabe a nós diante dos conhecimentos que nossos alunos possuem. E, falando
especificamente da alfabetização, propor que eles escrevam, por exemplo, de sua forma, é
um meio de diagnosticar e a partir daí propor situações em que o educando possa interagir,
refletir, explicitar suas idéias num processo permeado por descobertas, no qual o professor
fará toda diferença, principalmente se tem clareza de sua concepção e também de algo que
parece óbvio, mas, não o é: saber distinguir ensino de aprendizagem.
Por entendermos que cultura escrita também é uma forma de fazer Arte, uma forma
notável de exprimir sentimentos e emoções, é a própria Arte materializada na escrita,
nossas próximas palavras tratam do diálogo desses dois conhecimentos.
1.4 Sobre diálogos possíveis entre Cultura Escrita e Arte
A poesia é uma forma de energia.
Severino Antônio
Para mim é o enfoque cognitivista do ensino da arte, centrado na
mobilização de processos mentais que possibilita a transferência de
comportamento de aprendizagem preparando a mente para melhor
conhecer também as outras disciplinas e também o mundo ao seu redor.
Ana Mae
50
Em linhas passadas, tratamos de definir cultura escrita. Agora nossa intenção é,
antes de estabelecermos pontes entre Arte e Cultura Escrita, refletir sobre Arte. Afinal de
contas, como definir Arte? Dentre as várias formas encontradas por João Francisco Duarte
Júnior para traduzir a palavra Arte, trazemos a seguinte;
A arte, em todas as suas manifestações, é, por conseguinte, uma tentativa
de nos colocar diante de formas que concretizem aspectos do sentir
humano. Uma tentativa de nos mostrar aquilo que é inefável, ou seja,
aquilo que permanece inacessível às redes conceituais de nossa
linguagem. As malhas dessa rede são por demais largas para capturar a
vida que habita os profundos oceanos de nossos sentimentos. Ali, quem
se põem a pescar são os artistas. (DUARTE, 2001, p. 49)
Compreendendo que leitura e escrita também são formas que traduzem os
sentimentos, acreditamos também que o dialogo entre cultura escrita e Arte é um trabalho
possível e necessário para quem está envolvido com a área de Artes; da mesma forma quem
trabalha com a cultura escrita precisa se valer da Arte para contribuir com o
desenvolvimento de um olhar mais aguçado, que perceba o sentido implícito nos textos, a
forma como um determinado autor compõe seus escritos, sua forma de expressar ao usar as
palavras.
Entendemos também que é chegado o momento de não mais nos distanciarmos da
Arte, pois infelizmente o que predomina na cultura de nossas escolas é um afastamento da
Arte.
Acreditamos na transdisciplinaridade como nos faz refletir João Francisco Duarte
Júnior:
51
[...] a busca de uma transdisciplinaridade, de blocos, mais amplos do
conhecimento, precisa começar na educação mais básica, no
desenvolvimento de todas as possibilidades humanas de apreensão do real.
Pessoas dotadas de maior sensibilidade e maior respeito pelas diversas
formas do saber por certo haverão de tentar sua articulação e integração,
seja no mais elementar cotidiano, seja numa atividade profissional. A
transdisciplinaridade, antes de tudo precisa engendrar-se em nossos corpos
e mentes; precisa ser, no estrito sentido do termo, incorporada, o que é
trabalho para uma educação bem mais abrangente do que aquela oferecida
atualmente, cujo objetivo tem se restringido ao treino instrumental da
razão (DUARTE, 2001, p.202).
Para além da cognição, quais seriam então as contribuições da Arte para as relações
sociais e também para a Cultura Escrita? Buscamos respostas no Referencial de
Expectativas para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora no Ciclo II do
Ensino Fundamental Artes produzido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo:
O conhecimento da arte contribui, juntamente com os conhecimentos
produzidos pelas outras áreas, para a maior inserção do aluno no mundo
da natureza, da cultura e das relações sociais. A arte é o lugar da
experiência, tanto da criação quanto da apreciação. A arte nos permite
dialogar com as diversas culturas e com elas construir castelos, reinventar
bosques, mares...(REFERENCIAL, 2006, p.17)
Criação e apreciação, dois dos objetivos perseguidos pela EMIA, com seu núcleo de
oficinas de artes instalados no CAIC de Mogi Guaçu.
Agora, uma pergunta que entendemos necessária responder ao leitor é sobre a
contribuição da Arte para a formação de leitores e escritores autônomos.
Novamente, recorremos aos referenciais acima citados para responder:
52
Um caminho está na compreensão da leitura e da escrita como vias de
acesso ao conhecimento, como práticas que estimulam a produção de
sentidos, que promovem experiências estéticas aos alunos. A leitura e a
escrita nas aulas de Artes [e a Arte nas aulas de leitura e escrita] são por
natureza, práticas de encantamento e transformação dos alunos.
(REFERNCIAL, 2006, P.17)
Então, diante do que foi exposto, e mais precisamente da idéia que comungamos de
leitura e escrita precisam e devem ser de responsabilidade de todas as áreas do
conhecimento apresentados aos aprendizes, pensamos que estas reflexões nos apontam para
ações mais equilibradas. Essas colocam, portanto a Arte num mesmo grau de importância
que as demais disciplinas, apontam-nos a necessidade de um estudo desse conteúdo, mais
ainda, fazem-nos compreender que a EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, o CAIC e a
EMIA precisam mais do que nunca refletir sobre as idéias que movimentam suas ações em
seus respectivos espaços, porque são essas idéias que tornam possíveis as pontes-diálogo
entre cultura escrita e arte.
Que tal começar pela poesia? Severino Antônio (2002) assim nos fala sobre a
poesia:
A poesia, como a linguagem, é ao mesmo tempo natureza e cultura. A
linguagem é natureza e cultura.
É natureza, porque todos os seres vivos organizam-se como sistemas
específicos de comunicação: a linguagem, a comunicação verbal, é a mais
específica comunicação do homem. É natureza, porque a capacidade de
linguagem enraiza-se na constituição orgânica do homem, do seu cérebro
(e não é possível separar o cérebro da linguagem nem das mãos...) enraiza-
se no seu corpo inteiro os pulmões, a garganta, a boca, a língua. E
realiza-se e desenvolve-se como grito e como gesto, como voz dos desejos
(mesmo os impronunciados), como pedaço e como continuação do corpo,
e como gemido e como canto. E como ação, ação corpo que se encontro
com o outro e como mundo. A palavra é parte do corpo. Mas, por outro
lado, o corpo é feito de palavra. E de cultura, [e de poesia] (Severino
Antônio, 2002, p. 26).
53
Acreditamos no poder vivificante da palavra, da poesia, da cultura, da cultura na
palavra e da palavra na cultura. Na poesia como linguagem que une, faz rir, porque também
pode fazer chorar, emociona ao trazer vida, no mesmo instante em que é cultura. Alimenta
a vida ao mesmo tempo em que alimenta nossas idéias, nossas ações. Poesia é cultura, uma
forma privilegiada de Cultura Escrita.
O capítulo 2 desse nosso trabalho tem o propósito de refletir um pouco sobre as
idéias que alimentam as ações desses espaços.
54
Capítulo 2
IDÉIAS QUE ALIMENTAM AS AÇÕES DO CAIC DE MOGI GUAÇU
Deus, o autor da criação
nos dotou com a razão
bem livres de preconceitos
mas os ingratos da terra
com opressão e com guerra
negam os nossos direitos.
9
Patativa do Assaré
A educação, qualquer que seja ela, é sempre uma
teoria do conhecimento posta em prática.
Paulo Freire
2.1 Apresentação dos espaços
Neste capítulo, conforme descrevemos na introdução desse trabalho,
apresentaremos os espaços nos quais a pesquisa foi realizada. Teremos como propósito
inserir o leitor nesses ambientes vivos; de um lado a EMEF Santa Terezinha II e de outro a
Escola Municipal de Iniciação Artística, que oferece algumas de suas oficinas para os
alunos da escola e também para a comunidade na qual está localizada.
Apresentaremos as idéias que fundamentam as ações desses espaços de educação
formal e não-formal oferecidos pelo CAIC de Mogi Guaçu.
9
Do livro: Patativa do Assaré Digo e não peço Segredo, Organização e prefácio de Tadeu Feitosa, 2003,
Fragmento do poema: Ideologia Patativana, p.42.
55
CARO (2005) nos traz importantes informações sobre educação formal e não-
formal:
De acordo com Trilla (1993), a educação formal e a não-formal contam
com objetivos explícitos de aprendizagem ou formação e apresentam-se
sempre como processos educativos diferenciados e específicos.
Normalmente são distinguidas pelo critério metodológico ou pelo critério
estrutural. No critério metodológico, é bastante usual caracterizar a
educação não-formal como aquela que se realiza fora do marco
institucional da escola ou a que se aparta dos procedimentos
convencionalmente escolares. A educação não-formal seria aquela que
tem lugar mediante procedimentos ou instâncias que rompem com
alguma, ou algumas determinações, que caracterizam a escola. No critério
estrutural, a educação formal e a não-formal se distinguiram, não
exatamente por seu caráter escolar ou não escolar, senão por sua inclusão
ou exclusão do sistema educativo regular.
Assim, neste, a distinção entre o formal e o não-formal é bastante clara, é
uma distinção administrativa e legal. O formal é o que assim definem, em
cada país e em cada momento, as leis e outras disposições administrativas;
a não formal, por sua parte, é a que fica à margem do organograma do
sistema educativo graduado e hierarquizado. Portanto, os conceitos de
educação formal e não-formal apresentam uma clara relatividade histórica
e política: o que era antes não-formal pode logo passar a ser formal, do
mesmo modo que algo pode ser formal em um país e não formal em
outro. (CARO; 2005)
Consideramos que no CAIC de Mogi Guaçu, uma distinção clara desses dois
espaços, ou seja, entendemos de acordo com o exposto anteriormente, que à EMEF Jardim
Santa Terezinha II cabe a educação formal e às oficinas de artes da EMIA, o espaço de
educação não-formal. Entendemos também que a educação não-formal tem sua forma, e
que uma de suas principais características é a flexibilidade, a abertura a novas idéias, a
novos projetos, principalmente àqueles que respondem a uma necessidade emergencial.
Esta nos parece ter sido a razão para a construção do CAIC de Mogi Guaçu no bairro Santa
56
Terezinha II e até mesmo a criação de um núcleo de oficinas de artes da EMIA em
um de seus espaços.
2.2 O CAIC DE MOGI GUAÇU
O Centro de Atenção Integral à Criança e Adolescente de Mogi Guaçu, assim
como os demais CAICs criados em todas as regiões do Brasil, em 1993, fazem parte de um
Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA) criado
sob Lei 8.642, de 31 de março de 1993, que dispõe sobre a instituição do Programa e
outras providências. Nesse programa os CAICs, são denominados Unidades de Serviços.
O PRONAICA, segundo seu manual de suporte técnico
10
, teve como objetivo
maior descentralizar ações, visando a participação dos Estados e Municípios a serviço da
comunidade que dela pode se beneficiar e se interage. Ainda, segundo esse documento, a
relação do governo com a comunidade não se efetua verticalmente, de forma autoritária e
assistencialista, respeita e precisa ir ao encontro das necessidades econômicas e sociais da
comunidade. A idéia é que a comunidade, ao interagir com o Programa assuma, de acordo
com suas possibilidades, o papel de auto-gestora e seja co-autora e co-responsável pelas
medidas adotadas.
Os Centros de Atenção Integral à Criança e Adolescente, embora
fundamentados em torno de um eixo educacional, não devem ser vistos como apenas um
ambiente físico, uma escola a mais, onde se executam outras atividades de atenção integral.
Deve ser um pólo de irradiação de uma nova política de atenção integral; um grande
10
Manual de Suporte Técnico ao PRONAICA – Ministério da Educação e do Desporto Secretaria de Projetos
Educacionais Especiais – Departamento de Desenvolvimento Tecnológico Brasília, junho de 1994.
57
laboratório pedagógico que transmite à comunidade uma nova filosofia de valorização da
criança e do adolescente, segundo o mesmo documento.
Todas as ações das unidades de serviço (CAICs) estão fundamentas nos
princípios e diretrizes do PRONAICA .
2.2.1 Dos seus princípios e diretrizes
Falando primeiramente dos princípios do Programa, gostaríamos de destacar a
concepção de criança e adolescente nesse programa: são sujeitos dos direitos definidos pela
Declaração dos Direitos da Criança, pela Constituição Federal e pelo estatuto da Criança e
do Adolescente; a criança e o adolescente são seres históricos, devendo ser considerados
tanto em termos individuais, como no âmbito de sua família e da comunidade em que
vivem intercâmbios de experiências, irradiação e disseminação de tecnologias adequadas á
concepção da atenção integral, entre outras.
Apoiada na filosofia de atenção integral, que não pode ser vista apenas como
um processo de transmissão de valores e pautas culturais que conduzem à socialização do
indivíduo, acredita, sobretudo que é através da educação na atenção, que o ser humano tem
consciência do que ele é, sua singularidade e pluralidade.
Ao CAIC está integrada a EMEF “Santa Terezinha IIum espaço destinado à
educação de crianças do ensino fundamental e também à educação de jovens e adultos.
2.3 EMEF “JARDIM SANTA TEREZINHA II”
O êxito da escola cujo ponto de chegada é o sucesso e a aprendizagem de
TODOS os alunos depende de um clima de cooperação, respeito e diálogo,
58
envolvendo toda comunidade escolar. O professor, a cozinheira, a guarda
escolar, o auxiliar de serviços gerais e o funcionário administrativo. O
sucesso será de todos assim como o fracasso.
Esse conjunto de pessoas deve, portanto transformar-se em GRUPO
empreendendo ações coletivas, decidindo, planejando, avaliando para
detectar e corrigir eventuais erros de percurso, consciente de que deve
prestar contas a quem financia a viagem: A COMUNIDADE. (Plano de
Gestão da EMEF – 2006).
Para apresentar condignamente esta escola, tivemos como referência o Plano de
Gestão do ano de 2006, pois até o momento em que havíamos dado início às primeiras
linhas desse trabalho, o Plano de Gestão do presente ano não havia sido entregue à
Secretaria de Educação de Mogi Guaçu. Esse plano, construído coletivamente, é definido
por seus autores como um documento integrado e integrador. Foi pensado junto com todos
os funcionários que fazem parte da escola a partir da avaliação dos resultados obtidos no
ano de 2005. Foi construído a partir de propósitos comuns. É justamente na idéia de
comunidade que as ações são planejadas para o longo do ano letivo.
Este plano contém, entre outros pontos, os combinados (assim chamadas as regras
para o bom andamento dos trabalhos), termo esse que consideramos importante respeitar
nesse trabalho, as idéias que fundamentam a prática do professor em sala de aula, as
características da clientela escolar e da comunidade que reside no entorno da escola.
A EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, municipalizada em 17 de abril de 2000, está
instalada dentro do prédio do CAIC - Centro de Atenção Integral à Criança e ao
Adolescente, complexo educacional de iniciativa Federal, hoje totalmente municipalizado,
contava em 2006 com 26 salas e 37 classes, sendo 19 classes funcionando no período da
manhã, do ano do Ciclo de Alfabetização ao ano do Ciclo Intermediário, e 18 no
período da tarde, com uma média de 30 alunos por classe. É considerada uma escola de
grande porte para o município.
59
Está localizada numa região periférica e populosa da cidade de Mogi Guaçu. Atende
aos seguintes bairros: Jardim Santa Terezinha I, Jardim Santa Terezinha II, Jardim Santa
Cecília, Jardim Fantinato, Nova Canaã, Jardim Vitória, Parque Industrial João Batista
Caruzo, Jardim Pansani, Chácara Santa Felicidade, Estância Ouro Preto e vários sítios. As
crianças provenientes da zona rural ou de bairros mais afastados fazem uso do transporte
escolar oferecido pela Prefeitura Municipal.
Na escola municipal de ensino fundamental – EMEF são atendidas crianças na faixa
etária de 6 a 13 anos que estudam do ano do Ciclo de Alfabetização ao ano do Ciclo
Intermediário do Ensino Fundamental, totalizando em 2006, 994 alunos, distribuídos nos
períodos da manhã e tarde. Além das necessidades econômicas, as crianças também
apresentam necessidades afetivas e culturais. Muitas passam todo o tempo contrário ao das
aulas sozinhas, na rua ou cuidando de irmãos menores e dos afazeres domiciliares. Um
outro ponto que nos chama a atenção é que, segundo o plano de gestão, as crianças da
escola recebem poucas orientações dos pais, algumas delas convivem com maus exemplos,
como por exemplo, pessoas da família que fazem uso de drogas.
Também segundo esse documento, existem famílias que impõem regras de religião,
oferecem dificuldade na realização do trabalho pedagógico. Diante dessa realidade a escola,
preocupada com as crianças, procura envolver mais as famílias, orientando-as a cooperar na
educação de seus filhos.
A comunidade é formada por operários, diaristas, domésticas, trabalhadores rurais
registrados e temporários, pequenos comerciantes, autônomos, servidores públicos e,
infelizmente, muitos desempregados. Possuem de modo geral, baixa escolaridade, com
60
porcentagem elevada de analfabetos. Têm em média quatro filhos por família e todos que
residem na zona urbana possuem casa de alvenaria com água e energia elétrica.
11
Felizmente, para muitas crianças também a escola tem sido um espaço de
oportunidades, de conviver socialmente, de interagir com a cultura escrita e com a arte de
forma mais ampla ao ficarem na escola no período contrário ao de aula e assim freqüentar
as oficinas de artes do núcleo da EMIA.
2.3.1 Idéias que alimentam as ações na EMEF
A escola tem fundamentado suas ações a partir das leituras que faz da proposta
construtivista de ensino e aprendizagem. Entende que o trabalho na “linha” construtivista
possibilita a formação do cidadão crítico, responsável, solidário, cônscio de seus direitos e
deveres.
A partir dessa concepção, seus educadores entendem que a escola deve
oferecer oportunidades de estudo e reflexão aos professores nas reuniões e HTPCs (Horas
de Trabalho Pedagógico Coletivo) que acontece uma vez na semana com carga horária de 2
horas, incentivando-os a perseguir os objetivos da escola na construção do ser humano e
ajudando o aluno a pensar e construir seu conhecimento.
Das metas a alcançar até o final do ano do ciclo intermediário, gostaríamos de
ressaltar quatro: dominar a linguagem de maneira eficaz (ler, interpretar e produzir textos);
resolver problemas da vida prática que envolvam números, medidas, conceitos
11
Essas características foram levantadas a partir de uma pesquisa realizada pela direção da escola através de
uma amostragem composta por 424 fichas contendo questões respondidas pelos alunos do ano do Ciclo de
Alfabetização ao ano do Ciclo Intermediário. Após uma análise conjunta, o perfil foi estatisticamente
apresentado e analisado.
61
geométricos; ter respeito pela cultura, patrimônio público e se esforçar para cuidar do meio
ambiente.
Das diretrizes, destacamos a avaliação diagnóstica dos conhecimentos prévios dos
alunos, a organização dos agrupamentos produtivos (alunos com conhecimentos próximos)
para a realização de atividades voltadas à reflexão sobre o sistema de escrita, a leitura diária
e de bons textos e a reflexão por escrito pelo professor, dos avanços dos alunos, bem como
também de sua própria prática.
No presente plano de gestão, não encontramos uma referência maior às oficinas do
núcleo da EMIA, apenas é citada como um espaço do CAIC.
A avaliação do processo de ensino-aprendizagem apóia-se na mesma
fundamentação que orienta sua prática, ou seja, a escola tem como meta uma avaliação
formativa. A avaliação formativa, segundo Macedo (2000), acontece em diferentes
momentos, ela é inicial ou diagnóstica, de percurso ou processual e final e se caracteriza
por estar a serviço da aprendizagem, avalia não somente os alunos, mas também os
professores e o ensino oferecido; valoriza os conhecimentos prévios dos alunos e considera
a diversidade de saberes e integra-os. Uma avaliação que ofereça subsídios para o
replanejar.
Parafraseando (Perrenoud, 1999) uma avaliação que indique caminhos para se
ensinar melhor, não um avaliar com um olhar voltado exclusivamente para o ato de
classificar.
62
2.4 OFICINAS DE ARTES DA EMIA
A utilização de qualquer linguagem artística tem como resultado a
realização de manifestações materiais (quadros, apresentações sinfônicas,
espetáculos de dança, filmes, desenhos, textos, etc.), pois nenhuma forma
artística existe fora do mundo material. Daí a dialética fundamental que
origina o que se costuma chamar de arte: materialidade que se projeta para
algo além, a parir de sua própria existência e sem abandoná-la; e,
existência que se realiza como transcendência. Aparecida Paiva
Antes de nos reportarmos às Oficinas de Artes oferecidas pelos professores da
EMIA aos alunos da EMEF do ‘Jardim Santa Terezinha II e moradores do entorno do
CAIC, consideramos prudente falar um pouco da Escola Municipal de Iniciação Artística
de Mogi Guaçu - a EMIA, assim conhecida carinhosamente pelos moradores da cidade.
A EMIA foi criada em 13 de agosto de 1986, pela professora Ivete Maria Bueno,
então secretária de educação e cultura do município, com o objetivo de oferecer à
população guaçuana a oportunidade de se envolver com atividades artísticas e se
desenvolver culturalmente através de oficinas de artes nas áreas de expressão plástica,
corporal e musical.
Desde o ano de criação da escola, ela sempre esteve localizada na região central da
cidade. Atualmente, a EMIA está devidamente instalada no Centro Cultural de Mogi Guaçu
e atende aproximadamente a 900 alunos distribuídos em 25 oficinas.
Vale destacar que no ano de 2007, a EMIA atingiu sua maioridade, completando
então 21 anos, conforme salientou a atual gerente de cultura professora Rita Moreli no
primeiro jornal da EMIA em sua primeira edição de maio/junho de 2007 (anexo c).
63
Com o objetivo de atender à demanda da região norte da cidade e, em especial, aos
moradores do bairro Jardim Santa Terezinha II e arredores, no ano de 1994, a Secretaria de
Educação e Cultura da cidade considerou prudente criar um espaço dentro do CAIC para as
oficinas de Arte, na qual os moradores dos bairros próximos do mesmo pudessem usufruir
das oficinas de arte e ampliar o horizonte cultural através das três áreas de expressão
envolvidas pela Arte, uma ação muito feliz.
Então, a partir desse ano, não somente os alunos, mas suas famílias passaram a
interagir com as diversas formas de expressão artística, convivendo e se envolvendo com
sua cultura num espaço próximo às suas residências onde, muito mais do que conhecer a
arte, pudessem também fazer e expressar sua Arte.
As oficinas oferecidas neste ano de 2007 são: jazz, teatro, ballet, desenho, pintura
em tecido, artes infantis, bordado, teclado, violão, musicalização, ginástica para os alunos
do CAIC e ginástica para os alunos da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos
Excepcionais).
2.4.1 Idéias que alimentam as ações da EMIA
Como anunciado, um dos nossos objetivos com esse trabalho é apresentar as
idéias que fundamentam o trabalho dos professores dos espaços aqui tratados.
Após uma análise dos materiais gentilmente fornecidos pela EMIA, o que pudemos
constatar até o presente momento, através dos planejamentos dos professores, é que os
mesmos seguem um roteiro que explicita seus objetivos, conteúdos e avaliação.
64
Com exceção de três de um total aproximado de 20 educadores, descrevem em seus
planos alguns autores e livros que pretendem trabalhar durante o ano. Entendemos que
devido à variedade de oficinas oferecidas realmente é um grande desafio ter fundamentos
comuns; a maioria nos evidencia que a idéia precípua que movimenta as ações do corpo
docente é a de que todos têm que contribuir para a iniciação do aluno em uma das
expressões artísticas, e que os mesmos possam a partir dos cursos oferecidos, serem
apreciadores da Arte, o que consideramos imprescindível.
Alguns dos professores explicitaram autores que embasam seus trabalhos. Nas aulas
de piano clássico, por exemplo, foram citados os seguintes autores: Cláudio Richerme
(técnica), Leila Fletcher e Ernest Van de Velde para os alunos que estão iniciando. Os
grandes autores como: Bach, Chopin, Clementi, Czerny e o grande compositor brasileiro
Villa-Lobos para alunos de nível médio em diante. Para as aulas de violão e musicalização:
Airton Pinto e Francisco Tarrega, Carl Orff, Lílian Rosa, Zoltan Kodaly são os autores
destacados.
Os professores que trabalham com artes plásticas, têm como referenciais os PCNs
(Parâmetros Curriculares Nacionais), e os autores Graça Proença e Duílio Batistoni Filho.
As informações sobre os referenciais teóricos dos professores da EMIA,
reconhecidos como arte-educadores foram obtidas com questionários elaborados que
seguem no próximo capítulo. Outras informações complementares foram obtidas em
entrevista com o professor e músico José Renato Barzon
12
.
12
O professor, pedagogo, e músico José Renato Barzon é formado pelo Conservatório Carlos Gomes de Campinas, trabalha
há 16 anos como educador na EMIA. Atualmente ministra aulas de piano clássico e apreciação musical. É um dos membros
da Academia Guaçuana de Letras, ocupante da cadeira nº8, cujo patrono é o escritor-romancista Érico Veríssimo.
65
Após caracterizarmos estes espaços e dizer das idéias que fundamentam suas ações,
será importante interpretarmos as diferentes vozes compõem esses espaços. O capítulo
subseqüente guarda essa intenção.
.
66
Capítulo 3
UMA ANÁLISE A PARTIR DAS DIFERENTES VOZES
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem
interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade
O ser humano, que não conhece arte, tem uma experiência de
aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força
comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia,
das criações musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o
sentido da vida.
Paula Mattos
3.1 A pesquisa de campo
Tivemos como foco principal de nossa pesquisa de campo, as oficinas de artes
do núcleo da EMIA, pois como dito anteriormente, o mesmo é parte integrante do CAIC
de Mogi Guaçu.
Nessa pesquisa, nosso objetivo não foi somente o de analisar a relação das
pessoas que integram e trabalham no CAIC com as oficinas de arte; pretendíamos ouvir
também as vozes dos freqüentadores dessas oficinas e conhecer como entendem esse
espaço que mais do que pertencer ao CAIC, pertence à comunidade do seu entorno.
Fizemos, então, cinco tipos de questionários com questões abertas (sem
alternativas de respostas dadas previamente) fechadas (com alternativas determinadas) e
dissertativas. Esses foram entregues aos alunos das oficinas de artes da EMIA, aos
professores da EMEF “Santa Terezinha II”, aos professores das Oficinas de Artes da
67
EMIA, aos funcionários dos variados espaços do CAIC, aos gestores da EMEF “Jardim
Santa Terezinha II (diretora, vice-diretora e coordenadoras) e à coordenadora geral do
CAIC, responsável por todos os anexos do prédio e as ações nele desenvolvidas.
Tivemos também a preocupação de não entregarmos pessoalmente os
questionários, pois como trabalhamos com formação de professores na cidade, temos um
contato maior com as pessoas que iriam responder; principalmente os professores. Essa foi
uma estratégia utilizada, para garantirmos maior autenticidade nas respostas.
Conseguimos uma amostra representativa das opiniões das pessoas
entrevistadas com relação às contribuições da escola de artes da EMIA, o somente para
os alunos da EMEF, como também das contribuições da mesma para a própria comunidade.
Com exceção dos alunos que participam das oficinas de arte, as questões
revelaram também as concepções de Arte das demais pessoas entrevistadas, as idéias que
embasam os trabalhos dos professores da EMIA e dos educadores responsáveis, bem como
dos profissionais que integram o quadro de gestores da escola e da coordenadora geral do
CAIC.
Tudo foi um aprendizado. Construir os questionários, entregar os mesmos,
esperar as respostas, lê-las e, ao final, nos surpreender com as respostas e com algumas
idéias explicitadas por elas.
Esperávamos por exemplo, que a maioria dos alunos que participa das oficinas
de arte, fosse alunos da própria EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, uma meta que
desejamos seja almejada a partir dos próximos anos não somente pela direção da escola e
coordenação geral do CAIC, mas por todos os envolvidos com as ações do complexo,
reconhecidos por nós como educadores, pontes-diálogo, entre os anexos que integram o
prédio.
68
Outra informação que nos deixou surpresos foi constatar que alguns
professores da EMEF desconhecem a existência das oficinas de arte da EMIA, o que
lamentamos muito, pois vislumbramos que estas oficinas podem muito bem contribuir para
que os alunos da EMEF “Jardim Santa Terezinha II possam não somente desenvolver o
gosto pela arte, como também apreciá-la e expressar-se artisticamente.
Entendemos que todas as disciplinas precisam e devam caminhar juntas,
acreditamos na transversalidade das mesmas, na integração, nos laços que o trabalho com
arte pode criar na formação do homem em sua inteireza. Acreditamos também na
capacidade de todo educador em poder organizar seu ensino de forma a garantir uma
integração dos conhecimentos, uma integração onde todos possam concomitantemente
exercitar razão e emoção.
Nesse contexto, vale registrar o que afirma Paula Mattos:
Apenas um ensino criador, que favoreça a integração entre a
aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá contribuir para o
exercício conjunto complementar da razão e do sonho, no qual conhecer é
também maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, arriscar
hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com
descobertas.[...] O que distingue essencialmente a criação artística das
outras modalidades de conhecimento humano é a qualidade de
comunicação entre os seres humanos. Que a obra de arte propicia, por uma
utilização particular das formas de linguagem. (MATTOS, 2003, p.22)
Por essa pesquisa de campo, acreditamos que seja possível e necessária a integração
cada vez maior entre dois espaços importantes que fazem parte do CAIC de Mogi Guaçu:
primeiro a EMEF, enquanto organizadora de um ensino capaz de uma linguagem que
congregue os diferentes tipos de conhecimentos, a começar pela cultura escrita, a
linguagem escrita, compreendida por nós como uma forma que o homem encontrou para
69
fazer uso da palavra e transformá-la em obras de arte materializadas, por exemplo, na forma
de poesia.
Por outro lado, as oficinas de artes da EMIA enquanto espaço de educação não-
formal, mas com um desafio grandioso, o de tomar pelas mãos seus aprendizes e não
somente criar momentos nos quais os mesmos não conheçam, mas também possam
manifestar seus sentimentos, desejos através da Arte.
Um problema que muitas vezes obstaculiza essa integração para outras instituições é
a inexistência desses locais. Portanto, se o CAIC de Mogi Guaçu compreende esses dois
espaços e, principalmente, ao nos darmos conta da importância dos mesmos para a
comunidade, por que não integrá-los cada vez mais?
Precisamos ouvir as vozes dos participantes das mesmas, precisamos mais do que
ouvi-las ou analisá-las, interpretá-las, pois essa interpretação nos traz à consciência a
realidade, que entendemos não ser estática, mas em constante movimento, em constante e
necessária transformação. Vamos às análises-interpretações.
3.2 Sobre as vozes dos alunos
Pela multiplicidade de pessoas envolvidas, optamos por trazer os questionários no
corpo do texto. A vozes dos alunos iniciam nossa interpretação.
Quando eu era pequeno, sempre quis aprender violão, não tinha
oportunidade. Agora que tenho a chance quero aproveitar porque a
música em geral faz parte da minha vida.
Aluno da Oficina de violão.
O questionário que trazemos abaixo foi respondido pelos alunos que freqüentam as
oficinas de Artes do Núcleo da EMIA que funcionam no CAIC.
70
QUESTIONÁRIO
Para os alunos que freqüentam as oficinas da EMIA:
Idade__________________________
Sexo: masculino ( ) feminino ( )
Série__________________________
2. Estuda na EMEF “Jardim Santa Terezinha II?”
( ) sim ( ) não
3. Qual ou quais oficinas você freqüenta?
( ) artes infantis ( ) bordado
( ) máscara ( ) ginástica ( ) desenho
( ) teatro
( ) pintura em tecido ( ) teclado
( ) pintura em tela
( ) violão
( ) jazz ( ) biscuit
4. Quem mais incentiva sua participação na oficina?
( ) mãe
( ) pai
( )professora
( ) seus irmãos
( ) diretora ou coordenadora da escola
( ) ninguém
( ) outros___________________________
5. Por que você participa das oficinas da EMIA?
Agradeço sua participação em meu trabalho.
71
Gráfico 1 - Idade dos alunos que freqüentam as oficinas da EMIA
As sete oficinas de artes da EMIA atendem no ano de 2007, a um número de
277 alunos. Desses, 130 alunos responderam ao questionário elaborado, representando,
portanto, uma amostra expressiva (aproximadamente 50%) do total de alunos.
Compreendendo uma faixa etária entre 5 a 60 anos, portanto uma boa diversidade,
conforme (gráfico1).
Gráfico- 2 Sexo
72
Pela amostra, percebemos que a maioria dos alunos que participa das oficinas é
composta por mulheres (gráfico 2) e em diferentes idades conforme já anunciado.
Um outro dado também nos revela que, do total de 1100 alunos matriculados na
EMEF “Santa Terezinha II”, 2,27%, ou seja, 49 alunos dos 130 que responderam ao
questionário participam das oficinas do núcleo de artes da EMIA. Esses são, em sua maior
parte, alunos do Ciclo Intermediário
13
, seguidos pelos alunos do Ciclo de Alfabetização,
outros são alunos de ensino fundamental e médio de escolas próximas, alunos da EJA
(Educação de Jovens e Adultos que estudam na EMEF “Santa Terezinha II”); ainda
aqueles que já completaram o ensino médio e outros que não estudam.
Gráfico 3 - Alunos da EMEF que freqüentam a EMIA
Esta análise precípua diante dos números explicitados no (gráfico 3) já nos revela
uma informação importante, de que não somente os discentes da EMEF “Jardim Santa
13
Desde o ano de 2006 a cidade de Mogi Guaçu adotou o sistema de ensino fundamental de 9 anos. O ensino,
desde então está constituído em ciclos : Ciclo de Alfabetização (2 anos) ; Ciclo Intermediário (3 anos) e Ciclo
final (4 anos).
73
Terezinha IIestão participando das oficinas, a comunidade compreendida pelo entorno da
escola também está integrada às oficinas.
Diante dessa primeira análise, na qual constatamos que a comunidade também está
inserida nesse espaço, o que para nós é imprescindível, uma maneira de poder relacionar
melhor com o outro e consigo mesmo, um investimento da saúde mental, gostaríamos de
trazer à reflexão uma importante idéia da professora Paula Mattos:
O nível de saúde das pessoas reflete a maneira como vivem, numa
interação dinâmica entre potencialidades individuais e condições de vida.
Não se pode compreender ou transformar a situação de um indivíduo de
uma comunidade sem levar em conta que ela é produzidas nas ralações
como o meio físico, social e cultural. (MATTOS, 2003, p.14)
Também fizemos uma questão para olharmos para as pessoas que mais
incentivam a participação dos alunos nas oficinas.
Gráfico 4 – Incentivo à participação nas oficinas
74
Nesta amostra percebemos o importante papel das mães para a formação
cultural dos filhos, pois sem dúvida alguma, 36,9% dos alunos com idade entre 5 a 10 anos,
consagrou a figura da mãe, como a grande incentivadora, seguida dos pais (pai e mãe) e
demais familiares compreendidos pelos irmãos, avós e esposos (gráfico 4).
Uma parte considerável, ou seja, 13,07% formada por alunos com idade
superior a 20 anos fez referência aos próprios professores da EMIA, como os grandes
incentivadores à participação nas oficinas.
Alguns alunos com idade entre 12 e 16 anos responderam que ninguém os
incentiva, características de uma idade em que estão procurando sua autonomia.
Gráfico 5 - Oficinas mais freqüentadas
75
Dentre as oficinas, a mais freqüentada é a de jazz, seguida pela de artes infantis,
teclado, desenho, violão e ginástica (gráfico 5).
Com relação ao motivo pelo qual freqüentam as oficinas, tivemos algumas
respostas que nos fizeram refletir muito. A maioria respondeu que participa porque gosta,
outros já participam porque acreditam que no futuro poderão ter um emprego melhor,
outras para fazer amizade, porque é divertido e faz bem à saúde e algumas respostas nos
indicam que além de gostar, participam porque o material é gratuito. Por essa questão,
confirmamos o quanto o fator econômico incide diretamente sobre os nossos desejos de
participar do leque de oportunidades, eis uma justificativa plausível para a existência
desse lugar sócio-comunitário que na verdade não é custo, é investimento.
Essa questão é muito importante porque se não tivessem essa oportunidade
muitas crianças não poderiam ter a possibilidade de apreciar e desenvolver o gosto e suas
habilidades para tocar um violão, um teclado, conhecer diferentes técnicas de desenho,
pintura, e mais do que isso, socializar-se ao mesmo tempo em que desenvolvem o gosto por
uma das expressões artísticas. Uma questão que merece o olhar dos responsáveis pelas das
políticas públicas voltadas a esse espaço.
Entendemos que estas questões não somente justificam a necessidade desse
espaço, mas também a responsabilidade dos professores que estão à frente do mesmo para a
formação artística e cultural de todos que participam das oficinas, ou seja, os alunos e a
comunidade e os próprios educadores que se sentem bem, ao ver que ao invés das ruas
esses alunos podem ter um contato com a arte e as várias formas de expressá-la.
Como refletimos uma das nossas surpresas com essa pesquisa, foi constatar que
um número ínfimo de alunos da EMEF “Jardim Santa Terezinha II” participam das oficinas
76
de artes oferecidas pela EMIA. Entretanto, também não esperávamos que todas as vagas
disponíveis estivessem sido ocupadas pelos alunos da escola, pois, entendemos a
necessidade da comunidade também estar presente.
Portanto, o que desejamos para os anos vindouros, é um aumento não somente
do número de vagas, como também um aumento na divulgação e incentivo à participação
pelas crianças da EMEF, para tanto, sugerimos que essa questão não seja apenas ponto de
reflexão, como também possa alicerçar ações que preferencialmente sejam pensadas
coletivamente não pelos educadores da EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, como
também pelo coletivo de educadores das oficinas de artes da EMIA em seus planos anuais
de trabalho.
É o nosso desejo que na construção desses planos tanto a coordenação da
EMEF, como também as coordenações do CAIC possam dar continuidade à construção
coletiva de seus planos de ação e que também continuem a ouvir as vozes dos funcionários
do CAIC, vozes presentes em nossa pesquisa de campo e que serão analisadas a seguir.
77
3.3 Sobre as vozes dos funcionários
Arte é uma maneira diferente de representar
a realidade, os sentimentos. Enfim, a vida
com muita criatividade.
Funcionário que respondeu à pesquisa.
Apresentamos abaixo o questionário respondido pelos funcionários das várias
repartições do CAIC de Mogi Guaçu.
QUESTIONÁRIO
Para os funcionários:
Idade_____________
Sexo: masculino ( ) feminino( )
Função:________________________________________________
1. Formação:
Fundamental ( )
Médio ( )
Superior ( )
Pós-graduação ( )
2. Para você, quais têm sido as contribuições das oficinas de artes da EMIA para a cultura
dos alunos da escola?
3. Você participa de alguma(s) oficinas? Quais?
4. Para você o que significa ARTE?
5. Das expressões artísticas abaixo, qual ou quais você aprecia mais?
( )filmes ( )pintura em tela
( )pintura em tecido ( )dança
( )música ( )ginástica
( )teatro ( )escultura
Agradeço sua participação em meu trabalho
78
Gráfico 6 - Funcionários do CAIC de Mogi Guaçu
Os dados acima foram obtidos e analisados através de questionários respondidos por
64 dos 70 funcionários que trabalham em todo prédio do CAIC, ou seja, 91,42%. Esses
funcionários exercem a função de merendeiros, auxiliares de serviços gerais, guarda
escolar, auxiliares de educação, monitor de informática, porteiro, auxiliar de biblioteca,
auxiliar de escritório, inspetora, encarregada da manutenção, secretária administrativa e
coordenadora da creche (gráfico 6).
79
Gráfico 7- Sexo
O questionário demonstra que o quadro de funcionários é composto por um público
eminentemente feminino (gráfico 7) com idade mínima de 16 anos e máxima de 62 anos.
O nível de escolaridade nos aponta que a maioria possui ensino médio e alguns
concluíram ou estão concluindo o curso superior.
80
Gráfico 8 - Formação dos funcionários do CAIC
Os funcionários do CAIC têm em sua maioria o ensino médio conforme (gráfico 8)
e certamente desejosos pela continuidade de em seus estudos.
Com relação à questão do olhar desses funcionários sobre as contribuições das
oficinas de arte para os alunos da escola, aproximadamente 98% respondeu que com as
oficinas as crianças ficam mais tempo na escola, que as crianças podem preencher o tempo
de forma lúdica, que as oficinas tiram as crianças da rua, que a socialização é uma das
grandes contribuições, assim como o contato com a arte e que as oficinas suprem a carência
do bairro. Uma quantidade ínfima desconhece as contribuições que as oficinas trazem não
somente para os alunos, como também para a comunidade.
Essa constatação nos evidencia o quanto as oficinas de artes são valorizadas pelos
funcionários.
81
Ainda com relação às contribuições da EMIA para os alunos da escola e também
para os demais moradores da comunidade, muitos disseram que uma das contribuições das
oficinas é que elas despertam para a criatividade e a sensibilidade artística, que as oficinas
podem contribuir para a vida profissional dos alunos e, é sem dúvida nenhuma, uma forma
de desenvolver talentos.
Outra análise pertinente é que muitos dos funcionários gostariam de participar das
oficinas, mas infelizmente não podem porque trabalham o dia inteiro. Alguns funcionários
sugeriram que houvesse oficinas no horário do almoço, assim poderiam participar.
Informação que precisamos considerar, pois mesmo não tendo a oportunidade de participar,
orientam seus filhos a se inscreverem em uma das oficinas. Em nossa pesquisa pudemos
refletir sobre as expressões artísticas apreciadas por eles. Os dados a seguir (gráfico 9)
trazem essas informações.
Gráfico 9 - Expressões apreciadas pelos funcionários do CAIC
82
E quanto à concepção de arte desses funcionários? A maior parte disse que arte é
expressão de sentimentos, seguida por dom, cultura, arte é criar algo novo para se tornar
objeto de apreciação pelo outro e também que arte é tudo o que as crianças produzem com
seus professores. São concepções que nos fazem entender acima de tudo, que arte é
expressar-se para desenvolver-se, trazer à tona nossa subjetividade, uma semelhança
constante nas diferentes vozes.
As respostas dadas pelos funcionários são claras, revelam entre outras informações
que o anseio por participar de alguma das oficinas é grande, de que gostam da arte, sendo a
música a forma de expressão mais apreciada, seguida pela dança, pintura em tela, ginástica,
teatro, filmes e esculturas e, o mais importante, a idéia de que pela arte podemos expressar
nossos desejos e revelar o que sentimos e pensamos.
Analisando as vozes, sentimos que a maioria veio ao encontro do que esperávamos
e também nos fez refletir sobre o quanto o questionário foi um instrumento no qual tiveram
a oportunidade de falar sobre suas preferências, lançar idéias para que possam, por
exemplo, participar das oficinas no horário do almoço.
Entendemos que foi um momento de dar voz às diferentes vozes que compõem um
importante grupo de pessoas envolvidas com as diferentes repartições do CAIC de Mogi
Guaçu.
Vislumbramos também a necessidade de dar voz a esse grupo sempre, pois
entendemos que todos são educadores em seus diversos contextos de trabalho, educadores
no sentido mais amplo que essa palavra possa ter e assumir, no sentido de ajudar o outro a
se ver como pessoa capaz de se olhar como ser reflexivo e pelas reflexões transformar-se
como nos faz pensar FREIRE:
83
Não sou apenas objeto da História mas seu sujeito igualmente. No mundo
da História, da cultura, da política, constato não para adaptar, mas para
mudar. No próprio mundo sico minha constatação não me leva à
impotência. [...] Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os
outros de forma neutra (FREIRE, 2002, p.p 85 e 86)
Acreditamos que os principais responsáveis em garantir que os funcionários tenham
cada vez mais voz e vez são os gestores da EMEF, juntamente com a coordenadora geral do
CAIC.
Nas linhas subseqüentes trazemos uma análise das vozes dos grandes responsáveis
pela ligação, ou melhor, pelas pontes entre os diferentes espaços.
3.4 Sobre as vozes dos gestores
O diálogo poderia ser melhor.
Coordenadora do CAIC
O questionário a seguir foi respondido pelas gestoras da EMEF e Coordenação Geral do
CAIC
QUESTIONÁRIO
Para os gestores:
1. Sexo: masculino ( ) feminino( )
2. Formação: magistério ( ) superior ( ) pós-graduação( )
3. Você tem contribuído para que seus alunos participem das oficinas de artes oferecidas pela
EMIA? Se sim, como?
4. Para você, quais têm sido as contribuições da EMIA para a cultura dos alunos da escola?
5. Para você o que significa ARTE?
6. Como você avalia o diálogo entre as oficinas da EMIA com as propostas da EMEF “Jardim Santa
Terezinha II
7. Qual ou quais referenciais teóricos fundamentam os trabalhos
do CAIC e das oficinas de artes da EMIA?
8. Você participa de alguma(s) oficinas? Quais?
Agradeço sua participação em meu trabalho
84
A administração geral do CAIC está, desde o ano 2000, sob a responsabilidade de
uma educadora que tem como função principal a coordenação de todas as ações que
envolvem o complexo do Jardim Santa Terezinha II. Como estamos tratando
especificamente de dois espaços nessa pesquisa, essa análise tem como foco as respostas da
coordenadora geral e das responsáveis pela EMEF do Jardim Santa Terezinha II, a diretora,
vice-diretora e coordenadoras pedagógicas.
Percebemos claramente, que duas formas de trabalho. Podemos dizer que as
responsáveis pela EMEF “Jardim Santa Terezinha II, ou seja, a diretora, vice-diretora e
coordenadoras pedagógicas desenvolvem conjuntamente as suas funções; é uma equipe
coesa, planeja junto as ações e são co-responsáveis pelos resultados alcançados. Por outro
lado, sentimos que a coordenadora geral, realiza um trabalho solitário, o que muito nos
preocupou, pois esperávamos que fosse diferente, um trabalho de ações coordenadas
coletivamente.
Acreditamos muito que, embora as funções sejam diferentes, as ações precisam ser
compartilhadas entre todos os envolvidos, que a função da coordenadora geral como ponte
integradora das ações precisa ser revista, principalmente porque é a responsável pelo
planejamento anual das ações, pela promoção de cursos nas mais diversas áreas com a
finalidade de contribuir para com o desenvolvimento social, familiar e econômico da
comunidade.
Esses dois grupos de gestoras são formados por quatro mulheres, todas graduadas
com nível superior. Todas afirmaram que a forma pela qual contribuem para a divulgação
dos cursos das oficinas quando ficam sabendo através dos bilhetes entregues. Entregam os
panfletos incentivando os alunos da EMEF a participar das oficinas de arte da EMIA. Uma
outra forma de divulgação das oficinas é nas reuniões com os pais. Essas reuniões com os
85
pais, garantidas bimestralmente, nas quais a escola tem um contato mais intensivo com os
familiares, precisam funcionar também como pontes entre os pais e as oficinas de arte. Que
tal garantir exposições permanentes dos trabalhos realizados nas oficinas, nos corredores
que dão acesso às salas de aula?
Uma outra informação diz respeito ao quanto a EMIA contribui para a cultura dos
alunos. Elas acreditam que as oficinas possibilitam o acesso à cultura, promovendo,
portanto uma igualdade de direitos, que desenvolve talentos e a profissionalização.
Com relação à participação em uma das oficinas, apenas a coordenadora
geral faz parte de algumas delas. Consideramos positiva essa participação não somente
como forma de se integrar, mas também como forma de avaliar as propostas da oficina que
participa.
A concepção de arte das gestoras também traz, assim como os demais
funcionários, a tônica principal da idéia de arte como expressão da sensibilidade, dos
sentimentos através da estética; enfim que arte é enxergar o mundo com os olhos da alma.
A pesquisa revela ainda que o diálogo entre as gestoras tem sido pouco. Elas
acreditam que pode ser melhor, tendo em vista a importância das várias ações constitutivas
do CAIC. Infelizmente os diálogos acontecem apenas quando alguma ocorrência entre
os alunos.
Diante dessa análise e refletindo sobre a necessidade de um planejamento
integrado e integrador, sugerimos que os gestores passem a ter uma programação de
encontros para que possam refletir sobre o que pode ser feito para melhorar esse diálogo,
diante do compromisso que todos têm com a educação de forma global das crianças e
também da comunidade que muito tem se beneficiado com as propostas do CAIC. Espaços
tão próximos fisicamente (anexo B), mas um tanto quanto afastados ideologicamente.
86
Um exemplo, partindo da entrevista com os alunos viu-se que apenas 2,27% dos
alunos da escola participam das oficinas. Então, diante dessa análise o que poderemos
fazer, como poderemos agir?
Uma possibilidade que vislumbramos é o diálogo que, para o educador Paulo Freire
sempre foi uma possibilidade de luta, uma luta envolvida pela linguagem e que tem na
relação respeitosa com o outro, grande chance de contribuir para sermos e fazermos melhor
aquilo que nos compete.
Diante dessas colocações, consideramos imprescindíveis as palavras do mestre do
diálogo, o educador a brasileiro Paulo Freire, como mais uma forma de balizar essas ações:
Nas minhas relações com os outros, que não fizeram necessariamente as
mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da
pedagogia, nem posso partir de que devo “conquistá-los”, não importa a
que custo, nem tampouco temo que pretendam “conquistar-me”. É no
respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que
faço e o que digo, que me encontro com eles ou com elas.
É na minha disponibilidade à realidade que construo a minha segurança,
indispensável à própria disponibilidade. É impossível viver a
disponibilidade à realidade sem segurança, mas é impossível também criar
a segurança fora do risco da disponibilidade.
(FREIRE, 2002 p.152)
São providenciais estas palavras do educador Paulo Freire, trata-se antes de tudo do
respeito ao que o outro pensa, independentemente da fonte que tenha alimentado suas idéias
ou seu posicionamento diante da vida e dos fatos decorrentes dessa existência. Versa sobre
o respeito que precisamos cultivar frente à diversidade de opiniões, opções, sobre a
diversidade do ser, sobretudo sua disponibilidade de ser. E diante da possibilidade de ser
um educador, essa disponibilidade é uma construção diária que precisa ser objeto de
reflexão continuadamente, pois nossa posição nos coloca referência. Referência de luta, de
87
posicionamentos e de diálogo. A esse respeito entendemos oportuno recorrermos às
palavras de Paulo Freire, a quem já nos reportamos como o mestre do diálogo:
Como professor não devo poupar oportunidade para testemunhar aos
alunos a segurança com que me comporto ao discutir um tema, ao analisar
um fato, ao expor minha posição em face de uma decisão governamental.
Minha segurança não repousa na falsa suposição de que sei tudo, de que
sou o “maior”. Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e
de que ignoro algo a que se junta certeza de posso saber melhor o que já
sei e conhecer o que ainda não sei. Minha segurança se alicerça no saber
confirmado pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de que
sou consciente, atesta de um lado minha ignorância, me abre, de outro, o
caminho par conhecer.
Me sinto seguro porque não razão para me envergonhar por
desconhecer algo. Testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade
curiosa à vida, a seus desafios, são saberes necessários à prática educativa.
(FREIRE, 2002 p.152 e 153)
Saberes esses tão necessários à nossa prática educativa, imprescindíveis para que
tomemos ciência de nossa incompletude, da nossa necessidade de nos relacionar com o
outro de nos enxergar incompletos nessa relação, e até vir a se melhor, basta que
consigamos nos abrir ao olhar do outro como muito bem nos assinala Freire:
Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo
como o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como
objeto da reflexão crítica deveria fazer parte da aventura docente (e do
educador). A razão ética da abertura, sem fundamento político, sua
referência pedagógica; a boniteza que nela como viabilidade do
diálogo. (FREIRE, 2002 p.153)
Oxalá, esse nosso trabalho possa de alguma forma servir como fonte de reflexão
para que as ações possam ser pensadas no diálogo, no respeito às diferenças, pois
acreditamos que todos ganham com essa disponibilidade que precisamos ter, enquanto
educadores comprometidos com as transformações que acreditamos necessárias para um
viver melhor.
88
É importante ressaltarmos que, mesmo sendo as gestoras, as principais pessoas que
organizam as ões, elas podem contar com um relevante grupo, que além de organizar o
ensino e as aprendizagens em sala de aula, deve ajudá-las a refletir sobre a melhor forma de
coordenar os professores da EMEF. É a análise da voz dos professores que faremos
adiante.
3.5 Sobre as vozes dos professores da EMEF “Jardim Santa Terezinha II”
Arte significa a beleza dos movimentos na expressão corporal, e é a
expressão cultural de todos os povos, é a beleza de todos os sentimentos.
Professora da EMEF
Destacamos abaixo o questionário respondido pelo grupo de educadores da EMEF
“Jardim Santa Terezinha II”.
89
QUESTIONÁRIO
Para o professor (a) da escola:
1. Idade: ____________________
2. Sexo: masculino ( ) feminino ( )
3. Ciclo em que leciona________________________________
4. Formação: magistério ( ) superior ( ) pós-graduação ( )
5. Você tem contribuído para que seus alunos participem das oficinas de artes oferecidas
pela EMIA? Se sim, como?
6. Para você, quais têm sido as contribuições das oficinas de artes da EMIA para a cultura
dos alunos da escola?
7.Para você o que significa ARTE?
Agradeço sua participação em meu trabalho
Após a devolução dos questionários precisamos salientar que 35 professoras
responderam o mesmo, o que representa exatamente 100% das educadoras. O questionário
nos indicou que, nessa instituição, cabe às mulheres a responsabilidade pela educação na
sala de aula, da mesma forma como às mulheres cabe a administração de todos os setores
do CAIC.
90
Gráfico 10 - A idade dos professores da EMEF
As educadoras têm entre 25 e 65 anos (gráfico 10), e ministram aulas desde o Ciclo
de Alfabetização até o Ciclo Intermediário (2ª e séries respectivamente). também
as professoras chamadas de volantes que substituem as professoras da sala em sua ausência.
Um dado muito importante é que a maioria das educadoras entrevistadas possui pós-
graduação, o que demonstra uma preocupação das mesmas com a necessária formação
continuada que precisa e deve acontecer sempre.
Sobre formação continuada é importante refletirmos que ela se faz necessária em
todo o processo de vida escolar do professor na constante relação em que reflexivamente
faz entre teoria e prática, parafraseando (IMBERNÓN apud Paiva 2001, p.26). Percebemos
que este investimento tem sido um objetivo na vida profissional das educadoras da EMEF
(gráfico 11).
91
Gráfico 11 - Formação das professoras da EMEF
Uma outra informação importante é que grande parte das educadoras que
respondeu ao questionário disse que está contribuindo para que seus alunos participem das
oficinas da EMIA apenas através da entrega de panfletos e valorizando os alunos que fazem
alguma das oficinas. ainda os que não estão contribuindo para que seus alunos
participem. Esse fato acontece basicamente porque as educadoras desconhecem os cursos
ou até mesmo a existência de uma parte da EMIA no CAIC, o que para nós foi uma
surpresa.
Uma de nossas propostas é que os professores da EMEF realizem entrevistas
com professores da EMIA ou que estes realizem palestras, mesas redondas para que se
interem e que nos anos vindouros tenham como meta a ponte entre a EMEF e Oficinas de
Artes. Vale lembrar de uma importante interação proporcionada especialmente pelas
educadoras da EMEF “Jardim Santa Terezinha II”, que é a interação com a cultura escrita,
com as variadas formas de linguagem escrita, com a arte expressa em palavras na literatura.
92
Ao explicitar a concepção de Arte, 90% dos professores dizem que arte é uma forma
de expressar sentimentos, emoções, a cultura de um povo, arte é desenvolver-se e que a arte
nos ajuda a nos desenvolvermos como seres humanos, que, enfim, arte é possibilidade de
sonhar.
Saber da concepção de arte de cada um é fundamental. Mesmo tendo uma
concepção capaz de fomentar o gosto pela arte e apreciação da mesma, o que ocorre muitas
vezes é que se expressar através de uma das três formas de arte, muitas vezes fica em um
plano inferior, o que é uma pena, pois sabemos que a linguagem artística é fundamental
para o desenvolvimento do homem; o que contraria a idéia compartilhada por educadores
de que a Matemática e a Língua Portuguesa são as disciplinas mais importantes. Com isto
não estamos dizendo que a educação artística é a mais importante, nossa idéia é pela
complementaridade das disciplinas que compõem a grade curricular, pois todas têm seu
valor.
Como vimos, as professoras dessa escola têm investido nos estudos, o que
demonstra uma preocupação pela formação que precisa e deve ser continuada. Nossa idéia
é que tenham a oportunidade de um contato maior com a riqueza da arte através de cursos,
oficinas nas quais tenham a oportunidade de se expressar através de uma outra forma de
linguagem, que acreditamos frutuosa, a linguagem artística.
Para engrandecer as reflexões delineadas até aqui, consideramos oportunas as
palavras de João-Francisco Duarte Júnior:
93
[...] a arte não possibilita apenas um meio de acesso ao
mundo dos sentimentos, mas também o seu desenvolvimento, a sua
educação. Como então, podem ser educados e desenvolvidos os
sentimentos? Da mesma forma que o pensamento lógico, racional, se
aprimora com a utilização constante de mbolos lógicos (lingüísticos,
matemáticos etc.), os sentimentos se refinam pela convivência com os
Símbolos da arte. O contato com obras de arte conduz à familiaridade com
os mbolos do sentimento propiciando o seu aprimoramento [...]
(DUARTE, 2001, p. 66).
Uma outra reflexão que nos faz acreditar nas palavras tecidas em linhas anteriores é
a seguinte: como os educadores podem intervir para que o outro possa apreciar o belo, ou
mesmo para que o outro possa ter a oportunidade de se expressar se em sua história de vida,
enquanto aprendiz, ou aluno, se ele próprio nunca teve a oportunidade de apreciar e
desenvolver esse gosto?
Diante do exposto, tratamos de resgatar aqui um dos objetivos da disciplina de Arte
presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais que é o seguinte: utilizar as diferentes
formas de linguagens verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal como meio para
produzir, expressar e comunicar suas ideais, interpretar e usufruir as produções culturais,
em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de
comunicação.
Desejamos que os educadores dessa comunidade tenham a oportunidade de refletir
que mais do que parâmetros a alcançar, vejam a arte como forma de aproximar-se do outro
e antes disso aproximar-se de si mesmo e nesse aproximar-se, reconhecer-se.
Que os educadores da EMEF possam compartilhar suas idéias com os professores
do núcleo de oficinas de artes da EMIA, instalado no CAIC, espaço tão rico de
oportunidades que não podem ser desconsideradas, espaço de expressão de sentimentos,
integração e de busca de sentido, espaços de Arte.
94
As vozes dos educadores da EMIA também foram ouvidas em nossa pesquisa de
campo. Assim como as demais vozes, foi muito bom ouvi-las e poder buscar seus sentidos.
Vamos a elas.
3.6 Sobre as vozes dos professores da EMIA
Uma pessoa participando da oficina de arte da EMIA se interessa por
arte e acaba influenciando outras pessoas da família, da comunidade,
leva a família a um teatro, assiste uma dança, exposições, assim a
cultura acaba fazendo parte de suas vidas.
Professora da oficina de pintura
Segue descrito abaixo, o questionário respondido pelos educadores que
desenvolvem oficinas de artes no núcleo da EMIA instalado no CAIC.
QUESTIONÁRIO
Para os professores das oficinas de artes (EMIA)
Idade: _____________________
Sexo: masculino ( ) feminino ( )
Curso (s) ministrados______________________________________________
Formação: magistério ( ) superior( ) pós-graduação (
)
5. Para você, quais têm sido as contribuições das oficinas de arte da EMIA para a
cultura dos alunos da escola?
2. Para você, quais têm sido as contribuições das oficinas de artes da EMIA, para a
cultura das comunidades próximas ao CAIC?
4.Para você o que significa ARTE?
5. Qual o referencial teórico que embasa todo o seu trabalho?
Agradeço sua participação em meu trabalho
95
Do total de 20 educadores que compõem o corpo docente da Escola Municipal de
Iniciação Artística de Mogi Guaçu, oito deles compõem o grupo de professores que
trabalham nas oficinas de artes do núcleo do CAIC do Jardim Santa Terezinha II.
O questionário entregue foi respondido prontamente por todos os professores que
compões o núcleo e que respectivamente, ministram os seguintes cursos: pintura em tela,
desenho, violão popular e musicalização infantil, ginástica, bordado, dança e jazz, pintura,
artes infantis e teatro. Tais cursos são oferecidos nos períodos da manhã, tarde e noite.
Esse grupo de educadores é formado essencialmente por mulheres, todos possuem
nível superior, uma exigência para poder ministrar as aulas e aproximadamente 50% possui
pós-graduação (gráfico 12).
Gráfico 12 - Formação dos educadores da EMIA
As questões sobre as contribuições das oficinas aos alunos da comunidade revelam
o quanto esse anexo da EMIA tem sua importância para os alunos, pois se não fossem tais
oficinas, a comunidade dificilmente tomaria conhecimento da EMIA e de todas as
possibilidades de Arte que ela oferece aos moradores da cidade em geral.
96
Além da integração, da oportunidade de aprender, os professores asseveram, ou
seja, dizem com firmeza que estão contribuindo para com a formação de alunos que tenham
uma visão crítica em relação à vida, observadores, capazes de perceber as diferentes
significações.
Uma outra grande contribuição que achamos oportuna é a de que além de
desenvolverem técnicas de apreciação artística, os alunos que participam das oficinas estão
inseridos em um contexto de arte que ao mesmo tempo os ajuda a apreciar e também a
gostar de arte, não somente na escola, mas também através de passeios culturais
proporcionados pela escola como, por exemplo, em passeios para exposições de arte,
museus.
Com relação à comunidade, os educadores da EMIA acreditam que têm contribuído
de forma positiva, com as interações, trocas de idéias, ampliando as oportunidades de
contato com a cultura, integrando jovens e adultos e ampliando a cultura dos moradores do
bairro.
Outra manifestação importante é a que aos para muitos jovens as oficinas têm sido
uma oportunidade extremamente sadia, distancia-os do contato intenso com as ruas e
conseqüentemente do o uso de drogas, um dos problemas sociais que infelizmente atingem
os moradores do Jardim Santa Terezinha e adjacências.
Também consideramos oportuno registrar que a própria comunidade tem sido uma
fonte de incentivo para que seus moradores participem das oficinas, pois geralmente um
integrante da família que participa sempre traz outro familiar ou até mesmo um vizinho
para se integrar às oficinas.
Uma outra questão que achamos necessário considerar foi com relação à concepção
de arte dos educadores.
97
As respostas nos apontam idéias, concepções diferenciadas tais como: expressão de
sentimentos, que arte é algo indispensável na vida de todo ser humano, que a arte é uma
forma de enxergarmos o sentimento dos alunos, que arte é uma forma de encontrar sentido
para a vida e, ainda que arte seja uma forma do belo e da estética chegarem até nós.
Essas concepções revelam uma multiplicidade de idéias, uma variação previsível,
necessária, fruto da diversidade que somos todos nós. E tem sido nessa diversidade de
idéias, de oficinas que os alunos têm aprendido a apreciar e tomar gosto pela arte em si e
também pela própria Arte que é viver e poder ter o direito de se expressar, projetar sonhos
ao mesmo tempo em que nos movem, faz mover o mundo. Um mundo hoje movido não
apenas pelas palavras, pelas realidades possíveis, concretas, mas também pelas utopias.
Nas palavras do arte-educador Duarte:
A utopia é também uma forma de tomarmos consciência do que existe
atualmente, de tomarmos consciência do atual estado do mundo humano.
Afinal, as visões de pessoas como Jesus ( ao propor sua ordo amoris) ou
de Marx (ao propor sua sociedade sem classes), são utopias que devem
conduzir a uma transformação do presente, para um futuro melhor.
(DUARTE, 2001, p. 68).
Apoiados nessa reflexão, lançamos mão da utopia e enxergamos um pouco da
realidade das oficinas de arte e do seu valor para todos nós. Iluminados pela fala acima, e,
como temos que ouvir, dizer e apontar caminhos novos gostaríamos de lançar a idéia de que
sejam oferecidas no CAIC oficinas de cultura escrita, oficinas essas que além do contato
com boas leituras, os aprendizes tenham a possibilidade não de apreciar bons textos,
mas também aprender os fazeres do escritor ao criarem com autonomia os seus próprios
textos, ao desenvolverem enfim, sua escrita com arte, dito de outro modo, produzirem
cultura, a cultura escrita.
98
3.7 O CAIC para a comunidade, a comunidade para o CAIC
Mire e veja: O importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não
estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre
mudando.
Guimarães Rosa
[...] O que proponho é substituir a pergunta centrada no ensino por outra
centrada na aprendizagem: deve-se permitir ou não que as crianças
aprendam sobre a língua escrita na pré-escola?
Emilia Ferreiro
Antes de nos adentrarmos às considerações finais gostaríamos de tecer algumas
idéias sobre o sentido do CAIC para a comunidade e o sentido da comunidade para o CAIC
de Mogi Guaçu, tendo o cuidado de centrarmos nos aos espaços nos quais direcionamos
nosso olhar nessa pesquisa de campo, considerada por nós um início de diálogo, porém,
absolutamente necessário.
A rotina do CAIC tem início logo pela manhã, por volta das 5h30 com a chegada
dos funcionários encarregados da limpeza, e da primeira alimentação do dia, o café da
manhã servido às crianças da EMEF que por volta das 7h00 já estão organizadas em grupos
para junto com suas professoras se dirigirem até às salas de aula.
No período da manhã e tarde funcionam salas do Ciclo de Alfabetização e as salas
do Ciclo Intermediário.
Em um dos nossos diálogos com a diretora e coordenadoras da EMEF que sete
anos estão na direção da escola, tivemos também acesso aos dados que revelam que no
início da administração (no ano de 2000) muitas crianças ainda da série não estavam
sequer alfabetizadas, e que hoje graças ao espírito de trabalho coletivo, no investimento na
99
formação continuada dos professores, na prática reflexiva dos mesmos e principalmente no
acompanhamento individual das crianças que apresentam dificuldades momentâneas, os
números hoje mostram que a grande maioria termina o Ciclo de Alfabetização, não
dominando o sistema de escrita, como também se apropriando das características da
linguagem escrita, ou como prefere chamar Emilia Ferreiro, já tem ricas experiências com a
cultura escrita.
A inclusão das crianças com 6 anos na escola, tem sido um ponto de muitas e
infindáveis discussões. A educadora Emilia Ferreiro em resposta à seguinte pergunta:
Emilia, continuemos com os mal-entendidos: pessoas que interpretaram sua proposta
em termos de ensinar a criança a ler e a escrever o mais cedo possível. Deve-se ou não
ensinar a criança a ler e escrever antes de entrar para a primeira série? De Rosa Maria
Torres, transcrita por nós, do livro - Emilia Ferreiro Cultura escrita e educação (2001). A
pesquisadora Emilia Ferreiro põe luz à questão com a seguinte resposta:
Os mal- entendidos... escrevi um artigo com título em forma de pergunta:
“Deve-se ou não se deve ensinar a ler na pré-secola?” Esse artigo circulou
bastante e foi traduzido para o português e para o italiano. Ali não
respondo nem sim, nem não. O que digo é que a pergunta está malfeita,
porque pressupõe que a resposta NÃO equivale a deixar essa
responsabilidade para o Ensino Fundamental. O que proponho é substituir
a pergunta centrada no ensino por outra centrada na aprendizagem: deve-
se permitir ou não que as crianças aprendam sobre a língua na pré-escola?
Nesse caso, a resposta é redondamente afirmativa.
(FERREIRO, 2001, p.146)
Acreditamos que criar momentos significativos de aprendizagem para as crianças
que, a partir dos 6 anos, estão sendo recebidas na escola é o grande desafio para nós
educadores e para os mantenedores das políticas públicas voltadas à educação; que devem
incluir entre outros pontos, a necessária formação continuada dos educadores, com projetos
voltados especialmente para acompanhar as ações dos professores do Ciclo de
100
Alfabetização, responsáveis pela interação das crianças de 6 anos de forma mais intensa no
mundo da cultura escrita, sem deixar de levar em conta o real sentido que as práticas de
leitura e escrita têm fora da escola e mais do que isso sem deixar de levar em conta sua
necessidade de brincar e ser feliz.
Em Mogi Guaçu, por exemplo, o projeto Alfabetização 100%, digno de referência,
tem balizado as ações das educadoras responsáveis pelo Ciclo de Alfabetização que não
estão sozinhas, mas apoiadas por uma equipe que o tempo todo procura aliar três pontos
fundamentais: estudo, prática e o exercício da reflexão.
Os professores do Ciclo de Alfabetização participam de uma formação continuada
em serviço, com as formadoras da Secretaria de Educação e Cultura de Mogi Guaçu, que
estão diretamente envolvidas e empenhadas no sucesso do projeto Alfabetização 100%
14
que consideramos audacioso, ousado e tem mostrado que as crianças podem perfeitamente
ser alfabetizadas aos 6 anos de idade, desde que o professor tenha conhecimento de três
pontos já tratados no primeiro capítulo dessa pesquisa: saber como os alunos aprendem, ter
clareza dos conteúdos e da forma como ensinar os mesmos, ou seja, a didática; um
importante aspecto já abordado nesse trabalho.
Até o presente momento vimos que a escola de ensino fundamental tem
cumprido com seu papel de inserir seus aprendizes na cultura escrita. Chamamos a atenção
para que a cada dia possa inseri-los mais e mais à Arte, incentivando uma participação
maior de seus alunos nas oficinas de arte da EMIA. A Arte assim, poderá cumprir uma
dentre suas importantes funções, como assinala FISCHER:
14
Este projeto teve seu início no ano de 2006, com a implantação do Ciclo Fundamental de nove anos na
Rede Municipal de Mogi Guaçu foi organizado e é coordenado pelas educadoras e formadoras Andréa
Rodrigues Ribeiro e Mary Aparecida dos Santos. Hoje, graças a esses esforços coletivos, as crianças de todas
as EMEFs de Mogi Guaçu em sua grande maioria, termina o primeiro ano do Ciclo de Alfabetização
alfabetizadas.
101
A função da arte [entre outras] não é a de passar por portas abertas, mas a
de abrir portas fechadas. Quando o artista descobre novas realidades,
porém, ele não o consegue apenas para si mesmo; ele realiza um trabalho
que interessa a todos os que querem conhecer o mundo em que vivem, que
desejam saber de onde vêm e para onde vão. O artista produz para uma
comunidade. [...] A desejável síntese entre a liberdade individual do artista
e a sua harmonia com a coletividade não pode ser conseguida de uma
vez; requer um pensamento nada dogmático e uma paciente
experimentação. Toda grande revolução é uma síntese explosiva, mas está
sempre sujeita a distúrbios, perturbações no equilíbrio dinâmico, e novas
síntese vão-se tornando necessárias para o restabelecimento dêsse
equilíbrio em condições que se transformam. ( FISCHER, 1966, p.238).
Entendemos que o Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente de Mogi
Guaçu, tem um importante papel na vida dessa comunidade, que comunidade e os espaços
que compreendem o CAIC se alimentam, se constituem.
Nosso desejo é que a possibilidade de um contato com as diversas formas de arte,
inclusive a arte expressa nas palavras, possa verdadeiramente restaurar pontes que se
quebraram ao longo da existência desse espaço. Que as vozes ouvidas em nossa pesquisa
de campo, possam ser a voz da comunidade dentro do CAIC, vozes que possam ajudar na
transformação das pontes-silêncio, emudecidas, em pontes-dialógo.
102
PARA NÃO TERMINAR...
A meu ver, a educação geral que uma criança recebe na escola é [em
algumas instituições] perfeitamente inútil [...] Minha verdadeira educação
se fazia à noite, quando minha mãe nos tocava Beethoven, Schumann,
Schubert, Mozart, Chopin, ou nos lia alto Schakespeare, Shelley, Keats ou
Burns. Essas horas eram para nós um encanto.
Isadora Duncan
15
Todo pesquisador sabe quantas emoções subjazem nas questões teóricas
durante o tempo dedicado a cada parágrafo do texto, ao esforço físico
necessário para manter a decisão de prosseguir na busca de informações,
ao isolamento voluntário para desenvolver reflexões amadurecidas... a fim
de levar a termo a obra [para o momento] acabada.
Antonio Chizzotti
É chegado o momento de dizer um pouco sobre nossa caminhada até aqui, das
nossas conquistas, do quanto aprendemos e do quanto ainda temos que aprender e não nos
envergonhar por isso, falar um pouco de nossas emoções, permeadas por descobertas e
conhecimentos. Acreditamos piamente que há muito que se analisar como também há
muito que se fazer e conquistar, rever, avaliar, reavaliar, construir para aprender, pois é
assim que entendemos o conhecimento. Acreditamos que a escola possa ser um espaço de
oportunidades, que a educação oferecida possa ser mais significativa do que inútil e que e a
aliança entre Cultura Escrita e Arte possa contribuir verdadeiramente para uma escola mais
sensível aos desejos individuais e àqueles compartilhados coletivamente, um espaço de
sentidos reais, úteis à vida.
Relato do texto biográfico de Isadora Duncan, extraído do Livro: Ler e Escrever, Um grande prazer! 1993, p.
29. Isadora Ducncan é considerada a maior dançarina de todos os tempos, Isadora Duncan nasceu em 1887,
em São Francisco e teve uma infância difícil, pois, a mãe, professora de piano, arcava sozinha com a
educação dos filhos.
103
Certamente, nossa angústia maior foi a de perceber a pouca interação entre os
espaços de educação formal e não-formal do CAIC de Mogi Guaçu, e que não basta
também existir espaços destinados à Cultura Escrita e Arte, é preciso haver também maior
interação entre eles.
Não queremos aqui encontrar “culpados” e nem travar uma discussão e
defendermos a superioridade da educação formal sobre a não-formal ou vice-versa, que em
nada poderá contribuir; nossa intenção é que os espaços se complementem porque a
existência do CAIC se justifica, sobretudo pela existência da comunidade e a comunidade
pode ter uma existência melhor, com um diálogo cada vez mais próximo desses espaços,
pois como dizem as coordenadoras o CAIC, é um ponto de apoio, uma ponte para a solução
dos problemas não necessariamente apenas relacionados à aprendizagem, mas à própria
vida.
Sobre a necessária ação integrada desses há uma colocação de Park e Fernandes que
nos ajudam a refletir sobre o que estamos argumentando:
Uma educação sem adjetivos se basearia no tripé – educação formal,
formal e informal, acontecendo de formas concomitantes. Propostas
educacionais ampliadas, sejam de que campo forem, expandem e
oferecem espaços e conhecimentos para os indivíduos que compõem os
variados grupos sociais.
(PARK e FERNANDES, 2007, p.128).
O CAIC é um espaço de esperanças para a maioria dos moradores do Jardim Santa
Terezinha II e adjacências; é um espaço de integração de conhecimentos, portanto de
culturas, ingredientes que entendemos não somente possíveis, mas também necessários para
a construção da cidadania.
104
Em atenção à resposta por nós formulada e que justifica todo esse nosso trabalho,
entendemos que o diálogo, como ponte que liga idéias, valores, sentimentos, desejos,
reflexões e ações, que consideramos fundamentais para todo o trabalho de qualquer
instituição seja ela formal ou não está sendo pouco ou na maioria das vezes, não está sendo
o exercitado.
Nossa proposta para a construção de pontes entre esses dois espaços é o continuado
exercício do diálogo, pois como bem nos faz lembrar (FREIRE, 2002, p.154) O sujeito
que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que
confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na
História.” Acreditamos nessa abertura, na força de uma boa relação dialógica.
Que a Arte possa fazer parte da rotina da EMEF “Jardim Santa Terezinha II não
somente como parte do currículo da disciplina de Educação Artística, que a interação
anunciada possa ser um compartilhar de idéias entre os professores da escola e os
professores do núcleo de oficinas de artes da EMIA.
Que todos os professores da EMIA, possam também contribuir ainda mais com a
cultura escrita, promovendo oficinas de cultura escrita, como por exemplo, saraus literários,
nos quais alunos e até mesmo a comunidade possa ter o prazer de ouvir e presenciar uma
bela idéia de Rubem Alves, os chamados por ele de concertos de leitura.
E para não terminar, pois entendemos que estamos num caminho permeado de
reflexões, descobertas, e sempre conscientes do desejo de conhecer mais e mais,
recorremos a este educador, refletindo sobre suas palavras:
105
concertos de música. Por que não concertos de leitura?[Por que não
concertos de leitura no núcleo de oficinas de Arte da EMIA, instalado no
CAIC?] Imagino uma situação impensável: o adolescente se prepara para
sair com a namorada, e a mãe lhe pergunta: “Aonde é que você vai?”. E
ele responde: Vou a um concerto de leitura. Hoje no teatro [do CAIC do
Jardim Santa Terezinha II], vai ser lido o conto A terceira margem do rio,
de Guimarães Rosa. Por que é que você não vai também com o pai?”. Aí,
pai e mãe, envergonhados, desligam o Jornal Nacional [ou a novela
preferida] e vão se aprontar... (Rubem Alves, 1996)
16
Então, que venham muitos concertos de leitura, que venha muitas conversas, que
venha a interação e, principalmente, que venha a humildade, para que se construam pontes,
pontes-diálogo que se solidifiquem na riqueza das relações entre pessoas que compartilham
dos dois espaços aqui tratados e tão necessários à vida humana, os espaços de Cultura
Escrita e de Arte.
16
Extraído da coletânea de textos literários do Módulo I do PROFA, 2000, Texto 1,Unidade 9 p. 2.
106
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111
Apêndice
Memorial
112
Anexos
A – Algumas imagens
B – Planta baixa do CAIC de Mogi Guaçu
C – Jornal da EMIA: Publicação da Escola Municipal de Iniciação Artística – Mogi Guaçu
Edições:
1ª - Maio/Junho de 2007
2ª - Julho/Agosto de 2007
3ª - Novembro/Dezembro de 2007
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