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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
Programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia
CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO:
um estudo sobre idosos moradores da Zona Sul de Manaus.
ERIKA RENATA DOS SANTOS ALMEIDA
Manaus/ AM
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
Programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia
ERIKA RENATA DOS SANTOS ALMEIDA
CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO:
um estudo sobre idosos moradores da Zona Sul de Manaus.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia,
da Universidade Federal do Amazonas, linha de
pesquisa Trabalho e Sociedade na Amazônia,
como requisito para obtenção do título de
mestre, sob orientação da Profª Dra. Yoshiko
Sassaki.
Manaus/ AM
2008
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ERIKA RENATA DOS SANTOS ALMEIDA
CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO:
um estudo sobre idosos moradores da Zona Sul de Manaus.
Aprovada em: 29/01/2008.
BANCA EXAMINADORA:
Profª. Dra. Yoshiko Sassak
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Profª. Dra. Heloísa Helena Corrêa
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Profª. Dra. Rita Maria dos S. Puga Barbosa
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
DEDIC
DEDICDEDIC
DEDICATÓRIA
ATÓRIAATÓRIA
ATÓRIA
A Deus por proporcionar ao homem total
arbítrio para que este escreva o enredo de seu
próprio destino. A minha família, pelo suporte
e compreensão por ter roubado-lhes longos
dias, os quais poderíamos ter passado juntos.
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
Espero não cometer injustiças, pois tenho muitas pessoas às quais devo
reconhecimento especial;
A DEUS por estar sempre presente em meu coração e pensamento,
impulsionando-me a vencer todos os dias, mesmo naqueles em que pensava desistir,
os quais muito me atormentaram;
À toda a minha família pelo amparo e carinho dedicado a minha pessoa ao
longo desses anos, em especial aos meus avôs (pais) por todo o ensinamento de vida,
mas principalmente pela humildade, serenidade e que eles constantemente
compartilham comigo. Tenho sorte de tê-los como minha família. AMO muito todos
vocês!
À minha orientadora, Profª. Drª. Yoshiko Sassaki, pela paciência e incentivo,
sempre disposta a me ouvir e prestar auxílio, compartilhando idéias, experiências e
instruções para o meu amadurecimento intelectual e desenvolvimento deste trabalho,
a qual me estimulou e me deu forças para continuar. Sem ela, eu teria desistido!
Obrigada por acreditar em mim!
Ao meu marido Henrique F. L. da Conceição Neto, fiel companheiro de todos
os momentos, sempre presente, paciente e solidário em importantes ocasiões da
minha vida. Você é muito especial para mim!
Aos protagonistas deste estudo (os idosos), pela compreensão e contribuição
para que o mesmo fosse realizado, em especial as assistentes sociais e estagiárias do
CAIMI que me ajudaram no momento da pesquisa de campo;
À Universidade Federal do Amazonas, especificamente, ao Programa de Pós-
Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia, representado pelo corpo docente, que
me proporcionou a oportunidade de realização desta meta.VALEU!
Às professoras Dras. Rita Puga e Simone Baçal de Oliveira, as quais
contribuíram bastante para a melhora deste trabalho, no Exame de Qualificação,
com contribuições muito oportunas. OBRIGADA!
À toda equipe da Fundação Doutor Thomas (Diretoria, Assistentes Sociais,
Estagiários, Assistentes Administrativos, etc), e também aos idosos residentes, onde
trabalho seis anos, pelo apoio, incentivo, idéias, e experiências trocadas. Vocês
são minhas referências!
À amiga Lílian Gomes, por nossa trajetória de luta buscando essa nova
conquista, uma companheira e amiga que junto comigo enfrentou inúmeras
“batalhas” dentro e fora do mestrado, sempre dedicada e perseverante. OBRIGADA
e até sempre!
▪ À Gimima Beatriz, secretária do mestrado PPGSCA, sempre educada e paciente
com os mestrandos, a minha sincera gratidão por me ajudar a continuar!
À todas as pessoas aqui não citadas explicitamente, que de forma direta ou
indireta me ajudaram a realizar este sonho. O meu sublime agradecimento!!!
“Eu vivia para o trabalho, trabalhei para
viver, sonhava com a aposentadoria,
enquanto trabalhava, e agora, aposentado,
sonho com o trabalho, que se perdeu no
tempo”.
(Autor Desconhecido)
(Autor Desconhecido)(Autor Desconhecido)
(Autor Desconhecido)
RESUMO
Buscou-se analisar as condições de vida e trabalho de idosos moradores da zona sul
de Manaus. O estudo teve como metodologia uma abordagem qualitativa/ quantitativa,
utilizando-se aplicação de formulários de entrevistas junto aos 36 idosos que
freqüentam assiduamente o CAIMI (Centro de Atendimento Integral à Melhor Idade). A
pesquisa aponta que a maioria deles está inserido em trabalhos informais, sem que
seja assegurados a previdência social e serviço de saúde. Ademais, em relação as
condições de vida desses idosos, é verificado que os mesmos se encontram em uma
situação precarizada, possuem baixa escolarização, a condição do domicílio
(habitação) é insatisfatória para as suas necessidades, os quais residem com familiares
e agregados, que na verdade são eles quem residem com os idosos, dependendo,
muitas vezes, da aposentadoria desses idosos e ainda da renda de seu trabalho. Desse
modo, podemos sinalizar que as condições de vida dos entrevistados estão de acordo
com suas condições de trabalho, estando a mesma precarizada, sendo esse segmento
o principal responsável pelo sustento de sua família, seja através da aposentadoria ou
do seu trabalho. Dessa forma, verificamos que as Políticas Sociais fundadas numa
sociedade centrada no trabalho, visando o direito à cidadania, ficam fragilizadas frente
à desestruturação do mercado de trabalho e do o envolvimento do Estado e
sociedade para assegurar esse direito.
Palavras-Chaves: Idoso, Condições de Vida, Trabalho.
ABSTRACT
One searched to analyze the conditions of life and work of aged inhabitants of the south
zone of Manaus. The study had a quantitative and qualitative boarding as methodology,
using form application of interviews with 36 aged ones that frequently attend the CAIMI
(Best Age Full Assistance Center).The research points that the majority of them is
inserted in informal works, without assurance of social welfare and health service. In
addition to it, relating to life conditions of these aged ones, is verified that the same ones
are found in a poverty situation, low education level, the condition of the domicile is
unsatisfactory for their necessities, which inhabit with relatives and people who became
part of the aged family, that in fact are the ones who inhabits with the aged ones,
depending, many times, of the pension of these aged ones and the income of their work
also. In this manner, we can assume that the conditions of life of the interviewed ones
are in accordance with its conditions of work, being the same one in state of poverty,
being this main segment the responsible one for the sustenance of the family, either
through the pension or income of his work. In this manner, we verify that the Social
Politics established in a society centered in the work aiming at the right to the
citizenship, are weakened front to the destabilization of the work market and omission by
the state and society to assure this right.
Key-word:
Aged ones, Life Conditions, Work.
LISTA DE SIGLAS
AM Amazonas;
BPC Benefício de Prestação Continuada;
CAIMI Centro de Atendimento Integral à Melhor Idade;
CAPS Caixa de Aposentadorias e Pensões;
CF Constituição Federal;
FDT Fundação Doutor Thomas;
FUNRURAL Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural;
IAPS Instituto de Aposentadorias e pensões;
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
IDH Índice de Desenvolvimento Humano;
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social;
INPS Instituto Nacional de Previdência Social;
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social;
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada;
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social;
LOPS Lei Orgânica de Previdência Social;
MP Ministério Público;
MPAS Ministério de Previdência e Assistência Social;
OMS Organização Mundial de Saúde;
ONU Organização das Nações Unidas;
PEA População Economicamente Ativa;
PIB Produto Interno Bruto;
PMI Política Municipal do Idoso;
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio;
PNI Política Nacional do Idoso;
PNUD Programa das Nações Unidas;
PT Partido dos Trabalhadores;
RS Rio Grande do Sul;
SUS Sistema Único de Saúde;
ZFM Zona Franca de Manaus.
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 População nas Datas dos Recenseamentos Gerais, Taxas Médias
Geométricas de Crescimento Anual e Distribuição Etária Brasil 1872 a
2025.......................................................................................................... 24
Tabela 02 População residente de 60 anos ou mais de idade, total e respectiva
distribuição percentual, por condição no domicílio, segundo o Brasil, a
Região Norte e o Amazonas – 1991......................................................... 26
Tabela 03 População residente de 60 anos ou mais de idade, total e respectiva
distribuição percentual, por situação no domicílio, segundo a população
urbana e rural............................................................................................ 27
Tabela 04 Rendimento nominal médio mensal das pessoas de 60 anos ou mais de
idade, responsáveis pelo domicílio, por situação do domicílio, segundo as
Grandes Regiões e Unidades da Federação - 1991/ 2000....................... 29
Tabela 05 Pessoas responsáveis de 60 anos ou mais de idade, total e respectiva
distribuição percentual, por classes de rendimento nominal mensal e
situação do domicílio, segundo o Brasil, a região Norte e o Amazonas
2000.......................................................................................................... 29
Tabela 06 Pessoas de 60 anos ou mais de idade, responsáveis pelos domicílios, total
e respectiva distribuição percentual, por classes de anos de estudo,
segundo o Brasil, a região Norte e o Amazonas – 1991........................... 30
Tabela 07 Pessoas de 60 anos ou mais de idade, responsáveis pelos domicílios, total
e respectiva distribuição percentual, por classes de anos de estudo
segundo o Brasil, a região Norte e o Amazonas – 2000........................... 31
Tabela 08 Sexo........................................................................................................ 100
Tabela 09 Faixa Etária............................................................................................. 101
Tabela 10 Estado Civil..............................................................................................102
Tabela 11 Naturalidade............................................................................................ 103
Tabela 12 Com quem reside.................................................................................... 106
Tabela 13 IDH dos Estados brasileiros.................................................................... 111
Tabela 14 IDH dos municípios de Manaus.............................................................. 113
Tabela 15 Escolaridade........................................................................................... 115
Tabela 16 Condição de habitação........................................................................... 119
Tabela 17 Valor do trabalho atual............................................................................ 122
Tabela 18 Renda familiar......................................................................................... 124
Tabela 19 Participação na renda familiar................................................................. 125
Tabela 20 Idade de entrada no mercado de trabalho.............................................. 128
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Motivo da vinda para Manaus...................................................... 104
Quadro 02 Trabalho exercido pelos entrevistados......................................... 129
Quadro 03 O trabalho segundo os depoentes............................................... 134
Quadro 04 Fatores que motivaram os entrevistados a retornarem ou
permanecerem no mercado de trabalho...................................... 137
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 16
Capítulo I – A QUESTÃO DO ENVELHECIMENTO E O IDOSO NA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .......................................................................................... 21
1.1 Aspectos demográficos do envelhecimento ............................................................ 21
1.2 Conceituando Velhice, Idoso, Terceira Idade: as diferentes
designações do envelhecimento ................................................................................... 34
1.3 O idoso na Legislação Brasileira ............................................................................. 46
1.3.1 O idoso na Constituição Federal .................................................................... 48
1.3.2 A construção da Política Nacional do Idoso ................................................... 51
1.3.3 A Política Municipal do Idoso: em Manaus ..................................................... 53
1.3.4 O Estatuto do Idoso: a regulamentação dos direitos ...................................... 56
Capítulo II – PROCESSO DE TRABALHO E ENVELHECIMENTO NO BRASIL......... 62
2.1 Processo de envelhecimento no capitalismo brasileiro ....................................... 62
2.2 O trabalho depois dos 60 anos ............................................................................ 69
2.3 Breve contextualização histórica da Aposentadoria no Brasil ............................. 80
2.4 Aposentadoria e trabalho: alguns aspectos sociais ............................................ 86
2.5 O idoso aposentado que trabalha ....................................................................... 91
Capítulo III – CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DE IDOSOS MORADORES
DA ZONA SUL DE MANAUS ........................................................................................ 96
3.1 Perfil dos idosos entrevistados: condição sócio familiar.......................................... 99
3.2 Condições de vida: uma análise da educação, habitação e renda dos sujeitos
da pesquisa................................................................................................................. 108
3.2 Índice de Desenvolvimento Humano – IDH: uma breve análise e exposição........ 108
3.2.1 A questão da educação................................................................................. 109
3.2.2 A questão da habitação................................................................................. 114
3.2.3 A questão da renda....................................................................................... 117
3.3 Situação de trabalho dos idosos moradores da zona sul de Manaus.................... 126
3.3.1 A visão dos entrevistados sobre o trabalho realizado depois dos
sessenta anos............................................................................................... 131
3.3.2 Visão dos entrevistados acerca do trabalho.................................................. 134
3.3.3 Permanência ou retorno do idoso ao mercado de trabalho: revelando
alguns impasses e perspectivas.................................................................... 136
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 144
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 148
ANDICE................................................................................................................... 153
Apêndice 01 - Formulário de Entrevista....................................................................... 154
Apêndice 02 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido T.C.L.E.)...................... 157
ANEXOS ..................................................................................................................... 159
INTRODUÇÃO
Até bem pouco tempo atrás, ouvia-se falar que o Brasil era um país de jovens, porém
esta realidade vem mudando. O país está apresentando um número expressivo de
pessoas acima de 60 anos e isto está fazendo com que a sociedade repense vários
aspectos como: aposentadoria e o que fazer após a mesma.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de
2000, o Brasil está deixando de ser o “País dos Jovens”. Em 1970, os brasileiros com
menos de 15 anos respondiam por 43% da população; em 2000 representavam apenas
30%. Os idosos com mais de 60 anos, que em 1970, eram apenas 3%, em 2000
representavam cerca de 8% e no ano 2020, conforme este mesmo Censo, serão
aproximadamente 15%.
O fato é que as pessoas estão tendo maior longevidade, o que é visto como um
dado positivo para alguns estudiosos do tema, mas também sinalizam para a existência
de alguns aspectos negativos, como por exemplo, o cenário em que a maioria dos
idosos brasileiros está inserida. Cenário esse, onde vivenciam situações de pobreza
que os faz assumir, a cada ano, a responsabilidade de sustentar as famílias, seja
através do seu trabalho ou mesmo de sua aposentadoria.
No geral, as pessoas estão envelhecendo de maneira bastante diferente do que no
passado e para uma boa parcela dessa população a disposição para o trabalho ainda é
grande, pois o trabalho gera renda, possibilita melhores condições de vida e ainda
preenche a mesma (BEAUVOIR, 1990; NERI, 2002).
Assim, diante desse cenário, destaca-se a relevância em tratar tal tema, justificado
pelo grau que tem alcançado tal problemática, pois a questão do envelhecimento atinge
a todos, sendo que o crescimento do número de idosos está ocorrendo no mundo todo,
pois ele é um processo biológico, cronológico e universal, ou seja, quem não morrer
antes, ficará velho, sendo que o aumento da expectativa de vida acontece devido,
sobretudo, aos grandes avanços tecnológicos, principalmente na área médica, bem
como do controle epidemiológico, da melhoria de produção de alimentos, da diminuição
da taxa de fecundidade e de natalidade.
Não obstante, o presente estudo representa para nós a continuidade e busca de
aprofundamento sobre a temática em questão, tendo em vista uma trajetória acadêmica
iniciada como pesquisadora de Iniciação Cientifica sobre o tema idoso e trabalho.
Portanto, desde então, desenvolvemos trabalhos nessas temáticas, o que tem
proporcionado uma construção coletiva do conhecimento. Cumpre mencionar que esta
é uma pesquisa exploratória devido ainda não existir na cidade de Manaus nenhum
estudo nesta vertente.
Ademais, dados do IBGE (2000) indicam ainda que 40% dos brasileiros com mais de
60 anos continuam trabalhando e gerando a metade da renda da sua família. No
Amazonas, por exemplo, em 2000, havia cerca de 137 mil idosos e destes, 60,4% eram
responsáveis por domicílios.
Dos 570.938 domicílios amazonenses existentes em 2000, 81.805 tinham idosos
como responsáveis, e representavam 14,3% do contingente total. Com rendimento
médio de R$ 485,00, as pessoas de 60 anos ou mais mostraram que continuam
economicamente ativos, garantindo além do próprio sustento, o de filhos e netos, tudo
isso com o seu salário e/ ou mesmo com sua aposentadoria (IBGE, 2000; CAMARANO,
2001).
É nesse sentido que esse estudo centrou-se na análise das seguintes questões:
Quais as condições de vida e trabalho dos idosos moradores da Zona Sul de Manaus,
verificando sua condição de educação, habitação e renda, para isso foram utilizados os
indicadores do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), identificando ainda a
situação de trabalho desses idosos e conhecendo os impasses e perspectivas desse
segmento.
Cumpre destacar que a cidade de Manaus foi escolhida por concentrar o maior
número de idosos (cerca de 110 mil), no Estado do Amazonas, sendo uma das
características da longevidade, a área urbana, conforme o IBGE de 2000, e a Zona Sul
por ser a mais antiga da cidade e, também, porque, conforme esse mesmo Censo, ela
abrange o maior número de pessoas idosas, pois a maioria veio do interior do Estado e/
ou de outras regiões no período de implantação da Zona Franca de Manaus
1
(ZFM), na
década de 60 do século XX.
Apesar desse número de idosos, 110 mil, não ser tão expressivo, face aos grandes
centros brasileiros, Manaus vem apresentando um crescimento progressivo dessa
população, a qual em sua maioria, junto com sua família, são de migrantes que vieram
em busca de trabalho, renda e/ ou melhor condições de vida. (IBGE, 2000).
Nesse sentido, o locus do estudo foi a Zona Sul de Manaus. Foi utilizado como
técnica de pesquisa, formulário de entrevista semi-estruturado, caracterizado pela
observação indireta, sendo entrevistados 36 idosos que exercem atividades
remuneradas. Dessa forma, acreditamos que o processo investigativo desta pesquisa
poderá trazer contribuições para o entendimento de como está a condição de vida e
trabalho de idosos na cidade de Manaus.
Desse modo, o presente estudo foi organizado em três capítulos que se seguem:
1
A Zona Franca de Manaus (ZFM) é um modelo de desenvolvimento econômico implantado pelo
governo brasileiro objetivando viabilizar uma base econômica na Amazônia Ocidental, promover a melhor
integração produtiva e social dessa região ao país, garantindo a soberania nacional sobre suas fronteiras.
A mais bem-sucedida estratégia de desenvolvimento regional, o modelo leva à região de sua
abrangência (estados da Amazônia Ocidental: Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima e as cidades de
Macapá e Santana, no Amapá) desenvolvimento econômico aliado à proteção ambiental, proporcionando
melhor qualidade de vida às suas populações. (OLIVEIRA, 2000).
O primeiro A questão do envelhecimento e o idoso na legislação brasileira”
aborda a questão da velhice, envelhecimento, suas designações (ou termos
classificatórios) e as legislações voltadas para esse segmento populacional no Brasil e
na cidade de Manaus, buscando compreender quem são esses sujeitos na sociedade
brasileira.
No segundo “Processo de trabalho e envelhecimento no Brasil” é apresentado
como se o processo do envelhecimento no capitalismo brasileiro, apontando os
aspectos sociais do trabalho depois dos sessenta anos, fazendo referência também
sobre a aposentadoria e o idoso, aposentado, que trabalha no Brasil.
No terceiro e último capítulo “Condições de vida e trabalho de idosos moradores
da zona sul de Manaus” faz-se inicialmente algumas considerações sobre a
metodologia da pesquisa e logo a seguir é apresentado o resultado da mesma, sua
análise e interpretação, à luz do referencial teórico adotado. E finalmente se tecem
algumas considerações finais sobre o estudo em questão.
Capítulo I
A QUESTÃO DO ENVELHECIMENTO E O IDOSO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Falar a respeito de velhice, envelhecimento populacional e direitos dos idosos na
legislação costuma gerar polêmica, porém, não se pretende aqui incrementar essa
discussão, ao contrário, buscar-se-á compreender os condicionantes que as unem.
Para isso, analisamos, a seguir, os aspectos demográficos do envelhecimento, as
designações ou termos classificatórios referentes a esse processo e uma síntese sobre
a legislação para o segmento idoso no Brasil.
1.1 Aspectos demográficos do envelhecimento
“O envelhecimento populacional é recente na história da
humanidade. Ele vem acompanhado de significativas
transformações demográficas, biológicas, sociais, econômicas e
comportamentais” (BERZINS, 2003, p. 23).
O aumento acentuado do número de idosos, particularmente nos países em
desenvolvimento, entre os quais o Brasil, trouxe, várias conseqüências dramáticas para
a sociedade e, principalmente, para quem o gerencia.
necessidade de se buscar os fatores determinantes das condições de vida e
trabalho dos idosos e de se conhecer as múltiplas facetas que envolvem o processo de
envelhecimento, para que o desafio seja enfrentado pelos gestores do Estado por meio
de planejamento adequado.
De acordo com Papaléo (2005), se for visto apenas pelo prisma biofisiológico é
desconhecer os problemas ambientais, sociais, culturais e econômicos que, em maior
ou menor extensão influem no processo de envelhecimento. Há que se ter visão global
deste, enquanto processo, e dos idosos enquanto indivíduos participantes de uma
coletividade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2000, a população de 60
anos ou mais de idade, no Brasil, era de 14.536.029 de pessoas em 2000, contra
10.722.705 em 1991. O peso relativo da população idosa no início da década de 90
representava 7,3%, enquanto, em 2000 essa proporção atingia 8,6%. Neste período,
por conseguinte, o mero de idosos aumentou quase em 4 milhões de pessoas, fruto
do crescimento vegetativo e do aumento gradual de esperança média de vida. Trata-se,
certamente, de um conjunto bastante elevado de pessoas, com tendência de
crescimento nos próximos anos.
Essas mudanças na pirâmide etária brasileira verificada através do perfil da
população idosa no Brasil, realizado pelo Censo em 2000, que considerou as
dimensões da situação demográfica e socioeconômica deste segmento partiu de
indicadores sobre as seguintes dimensões: condição no domicílio, renda e educação.
Inicialmente cabe explicitar que no mundo todo, tem-se observado, uma elevação
considerável na expectativa média de vida. Nos últimos anos, no Brasil o contingente
idoso vem aumentando em proporção igual, e até mesmo, superior a de alguns países
que, tradicionalmente, se apresentavam com os maiores índices.
Segundo Papaléo (2005), o crescente aumento da população idosa deixou de ser
um problema tipicamente europeu. O autor ressalta que na Europa vivem 12% da
população mundial e 28% destas tem mais de 65 anos de idade, não sendo mais
possível sustentar tal visão, pois que, desde 1960 mais de 50% dos idosos são
originários de nações que constituem o Terceiro Mundo.
Ele ressalta que esse fenômeno vem ocorrendo em todos os países de Terceiro
Mundo, nos quais o crescimento do número de velhos é proporcionalmente maior que
nas nações da Europa, no continente americano situado no hemisfério norte e no
Japão.
Estudos sobre projeções demográficas demonstram, por exemplo, que no Brasil
entre os anos de 1950 e 2025, a população total crescerá cinco vezes, enquanto a
população com idade igual ou superior a 60 anos aumentará 15 vezes.
As taxas de crescimento anual da população brasileira mantiveram-se altas por
muitas décadas, notadamente nas de 50 e 60 do século XX. Taxas altas de
crescimento como estas levaram praticamente à duplicação da população a cada 30
anos, de 1870 a 1980 (Tabela 1). No entanto, já a partir da década de 70 a taxa de
crescimento mostrou uma redução 2,48% ao ano. E na década de 80 reduziu-se ainda
mais, chegando a 1,93%.
Vejamos na tabela a seguir:
Tabela 1. População nas Datas dos Recenseamentos Gerais, Taxas Médias Geométricas de
Crescimento Anual e Distribuição Etária – Brasil – 1872 a 2025
Datas dos
Recenseamentos
Gerais
População
Residente
Taxa Média de
Crescimento Anual
(%)
Distribuição Etária (%)
0 a 14
anos
15 a 59
anos
60 anos
e +
1/8/1872
1
9.930.478 - - -
2,01
31/12/1890
1
14.333.915 - - -
1,98
31/12/1900
1
17.438.434 44,4 52,3 3,3
2,91
1/9/1920
1
30.635.605 42,8 53,2 4,0
1,49
1/9/1940 41.165.289 42,5 53,4 4,1
2,39
1/7/1950 51.941.767 41,9 53,9 4,2
2,99
1/9/1960 70.070.457 42,7 552,6 4,7
2,89
1/9/1970 93.139.037 42,1 52,8 5,1
2,48
1/9/1980 119.002.706 38,2 55,7 6,1
1,93
1/9/1991 147.053.900 34,7 57,9 7,4
1,6
2000 172.403.000 29,5 62,2 8,3
1,3*
2010** 195.469.000 26,3 63,7 10,0
1,0*
2025** 225.253.000 22,9 62,0 15,1
Fonte: -Fundação IBGE; NEUPET(1987).
Sinopse preliminar do censo demográfico 2000 – Brasil
**População estimada
*Taxa estimada
1
População presente
Como podemos observar a distribuição etária da população brasileira se alterou. No
começo do culo, 44,4% dos brasileiros estavam na faixa etária de 0
a 14 anos, 52,3%
na de 15 a 59 anos e os idosos (60 anos ou mais) constituíam apenas, 3,3%. Esta
proporção de idosos foi aumentando gradativamente: 4,1% em 1940, 5,1% em 1970,
6,1% em 1980, 7,4% em 1991 e o Censo de 2000 mostrou que os idosos brasileiros,
nesse período, eram mais de 8% da nossa população. Ao mesmo tempo, a
proporção de jovens vem caindo, constituindo em 2000 cerca de 29,5% da população.
As estimativas indicam que as taxas médias de crescimento anual vão continuar
diminuindo e a mudança na estrutura etária da população brasileira continuar se
configurando, sendo os idosos, que em 1980 perfaziam 8 milhões de pessoas, cerca de
14 milhões em 2000, deverão ser 32 milhões em 2025. Números bastante significativos
que sinaliza impacto social para o país.
As tabelas a seguir apontam como se define o perfil da população idosa no Brasil, e
centralizaremos como esse fenômeno se define na região Norte, no Estado do
Amazonas e em Manaus, o qual é o lócus da pesquisa.
Dentre os demais estados brasileiros, o Amazonas encontra-se com um dos
menores percentuais de população idosa. Podemos perceber esse fenômeno,
verificando a tabela 2, cuja composição de idosos que habitavam o Norte em 1991
correspondia a 4,3% do total de idosos no Brasil nesse mesmo ano. Pode-se, à
primeira vista, acreditar que esse percentual é baixo, pois comparado a outras regiões,
o Norte está entre as que menos apresentam idosos.
Observa-se, no entanto, que dentre os estados da região Norte, o Amazonas detêm
quase 20% de todos os estados da região em maior população de idosos. Esta mesma
tabela demonstra que a população com 60 anos ou mais de idade por condição no
domicílio no Amazonas apresenta 58% de idosos que são responsáveis, sendo que
também é visualizado esta mesma situação no Norte e no Brasil.
Tabela 2. População residente de 60 anos ou mais de idade, total e respectiva distribuição
percentual, por condição no domicílio, segundo o Brasil, a Região Norte e o Amazonas – 1991
População residente de 60 anos ou mais de idade
Condição no domicílio (%)
Brasil, Região Norte
e Amazonas
Total
Idosos que
são
responsáveis
Idosos que
são
cônjuges
Idosos que
são
outro
parente (1)
Idosos que são
outra condição
(2)
1991
Brasil 10 598 502
60,4
21,4
17,3
1,0
Norte 458 760
59,8
20,1
18,8
1,3
Amazonas
87 298
58,0
19,7
21,1
1,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Pode-se perceber que o contingente de idosos no Brasil, na região Norte e no
Amazonas aumentou consideravelmente de 1991 para 2000. No Amazonas o número
de idosos passou 87.298 idosos para 135.485, o que comprova que a proporção da
população brasileira e amazonense mais idosa (60 anos ou mais) está aumentando em
ritmo acelerado.
Continuando com o aspecto ora abordado na tabela 2, percebemos que houve
também um aumento no que se refere a idosos que são responsáveis por condição no
domicílio, uma vez que em 1991 era de 58%, em 2000 apresenta um percentual de
60,4%. Esta realidade vem desmistificando ser o envelhecimento a fase em que a
pessoa torna-se dependente de outros para manter sua vida. Berzins (2003) sinaliza
que:
Ainda é muito freqüente a idéia de que envelhecimento é sinônimo de
dependência econômica. Felizmente, este conceito tem sido alterado, pois
o idoso ocupa mais um papel de destaque na sociedade, desmistificando
esse conceito. O Censo 2000 verificou que 62,4% dos idosos eram os
responsáveis pelos domicílios brasileiros. Se comparado com os domicílios
brasileiros, o contingente, total representa 20% (p. 30).
No que se refere a Manaus, em 2000 eram 65.178 pessoas com 60 anos ou mais de
idade num contingente populacional total de 1.405.835 pessoas residentes na zona
urbana. E na zona rural o número era inferior se comparado ao número total de
população residente na capital do Amazonas. Ambas as zonas (urbana e rural) tem um
maior número de pessoas na faixa etária entre 60 a 64 anos.
Tabela 3. População residente de 60 anos ou mais de idade, total e respectiva distribuição
percentual, por situação no domicílio, segundo a população urbana e rural.
População residente de 60 anos ou mais de idade
Condição no domicílio (%)
Brasil, Região Norte
e Amazonas
Total
Idosos que
são
responsáveis
Idosos que
são
cônjuges
Idosos que
são
outro
parente (1)
Idosos que são
outra condição
(2)
2000
Brasil
14 377 562
62,4
22,0
15,1
0,6
Norte
699 830
61,9
21,0
16,1
0,9
Amazonas
135 485
60,4
20,7
18,1
0,8
População residente de 60 anos ou mais de idade, por
situação no domicílio
Grupos de idade
Capital do
Amazonas
População
residente
total
Total
60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 ou mais
Urbana
Manaus 1 405 835
65 178 21 830
16 029
11 874
15 445
Rural
Manaus 1 405 835 553 219 147 87 100
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Na zona urbana, 32% da população(total de 65 178) residente de 60 anos ou mais
de idade, está na faixa de 60 a 64 anos e na zona rural 39% (total de 553) dos idosos
pertencem ao mesmo grupo de idade.
No aspecto concernente a renda, conforme a tabela 4, verificamos o rendimento
nominal mensal médio das pessoas de 60 anos ou mais de idade. Percebemos que o
valor médio (entre valor mínimo e máximo) na zona urbana do estado do Amazonas se
revela com R$ 423, 00 e na zona rural R$ 208,00 em 1991. Em 2000 esse valor
aumenta, chegando na zona urbana a R$562,00 e na zona rural a R$212,00. Em se
tratando de um valor médio, considera-se que a renda da população idosa no
Amazonas tanto na zona urbana quanto na zona rural apresenta abaixo do que lhes
seria necessário e de direito, demonstrando assim as desigualdades predominantes
entre essas duas áreas e o quanto se faz urgente políticas promotoras para a
distribuição de renda justa.
Tabela 4. Rendimento nominal médio mensal das pessoas de 60 anos ou mais de idade,
responsáveis pelo domicílio, por situação do domicílio, segundo as Grandes Regiões e
Unidades da Federação - 1991/2000.
Rendimento nominal mensal médio das pessoas de 60
anos ou mais de idade, responsáveis pelo domicílio, por
situação do domicílio (R$)
1991 (1) 2000 (2)
Brasil, Região Norte e
Amazonas
Total Urbana
Rural Total Urbana
Rural
Brasil 403,00
477,00
168,00 657,00 739,00 297,00
Norte 300,00
364,00
197,00 438,00 502,00 280,00
Amazonas 365,00
423,00
208,00 485,00 562,00 212,00
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000.
A tabela 5 aponta como está o percentual por classe de rendimento nominal
mensal em salários mínimos. Na região Norte chama atenção a diferença percentual de
pessoas que recebem até um salário nimo que corresponde a 51,4% do total de
pessoas e o percentual de apenas 10,5% que recebem mais de 5 salários. Seguido de
16,3% de idosos que se encontram na faixa de mais de 1 a 2 salários mínimos.
de registrar que 10,9% de idosos que habitam no Amazonas não possuem
rendimentos, um percentual bastante superior ao da região e ao do país, denotando um
número expressivo de idosos que depende de parentes, terceiros ou exercem algum
tipo de atividade remunerada ou informal, para sobreviver.
Tabela 5. Pessoas responsáveis de 60 anos ou mais de idade, total e respectiva
distribuição percentual, por classes de rendimento nominal mensal e situação do domicílio,
segundo o Brasil, a região Norte e o Amazonas – 2000.
Pessoas responsáveis de 60 anos ou mais de idade
Classes de rendimento nominal mensal (salários mínimos) (%)
Brasil, Região
Norte e Amazonas
Total
Até 1
Mais de
1 a 2
Mais de
2 a 3
Mais de
3 a 5
Mais de
5
Sem
rendimento
2000
Brasil 8 964 850
44,5
15,6
7,7
9,3
17,8
5,0
Norte 433 397
54,2
16,7
5,4
5,5
10,1
8,1
Amazonas 81 805
51,4
16,3
5,8
5,6
10,5
10,4
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Na tabela 6 mostra que em 1991 na região Norte, o percentual de idosos que não
tinham instrução ou tinham menos de 1 ano de estudo era de 45% e no Amazonas 50%
revelando que era baixíssimo o índice de escolaridade nesse período, necessitando
para isso que um dos grandes desafios das políticas públicas seja logo efetivado que é
a promoção da inclusão através dos níveis de escolaridade.
Tabela 6. Pessoas de 60 anos ou mais de idade, responsáveis pelos domicílios, total e
respectiva distribuição percentual, por classes de anos de estudo, segundo o Brasil, a região
Norte e o Amazonas – 1991.
Pessoas de 60 anos ou mais de idade, responsáveis pelos
domicílios
Classes de anos de estudo (%)
Brasil, Região
Norte e
Amazonas
Total
Sem
instrução
e menos
de 1 ano
1 a 3
anos
4 anos
5 a 7
anos
8 a 10
anos
11 a
14
anos
15 anos
ou mais
1991
Brasil 6 396 502
45,0
21,3
19,4
2,4
4,3
4,4
3,1
Norte 274 474
53,0
25,2
12,9
2,6
2,9
2,4
1,1
Amazonas 50 646
50,1
23,7
12,9
3,6
4,7
3,7
1,3
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Na tabela 7 verifica-se que o percentual diminuiu com relação às pessoas sem
instrução e menos de 1 ano de estudo, em 2000 eles representavam 45,1% no Norte e
43,4% no Amazonas.
Berzins (2003) sinaliza que apesar do avanço do crescimento que houve no
percentual de idosos alfabetizados no país, em 2000 ainda existiam, no Brasil, 5,1
milhões de idosos analfabetos e 64,8% declararam que sabiam ler e escrever pelo
menos um bilhete simples. Segundo a autora: “Se compararmos com o índice nacional
de alfabetização, que é de 87,2%, podemos observar o quanto os idosos estão em
desvantagem” (idem,p.31).
Tabela 7. Pessoas de 60 anos ou mais de idade, responsáveis pelos domicílios, total e
respectiva distribuição percentual, por classes de anos de estudo segundo o Brasil, a região
Norte e o Amazonas – 2000.
Pessoas de 60 anos ou mais de idade, responsáveis pelos
domicílios, por sexo
Classes de anos de estudo (%)
Brasil, Região
Norte e
Amazonas
Total
Sem
instrução
e menos
de 1 ano
1 a 3
anos
4 anos
5 a 7
anos
8 a 10
anos
11 a
14
anos
15 anos
ou mais
2000
Brasil 8 964 850
34,7
24,7
20,5
4,2
5,4
6,4
4,1
Norte 433 397
45,1
27,3
13,4
4,5
4,0
4,1
1,5
Amazonas 81 805
43,4
25,1
12,6
6,4
5,0
5,6
1,7
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Os dados demográficos analisados à luz do censo de IBGE(2000), verifica-se que
um crescimento do segmento idoso e se comparado com outras faixas, estão em
situação de desvantagem em termos de escolaridade, rendimento,e responsável por
domicílio, pois mais da metade recebem até um salário mínimo, precarizando suas
condições de vida .
Segundo Berzins(2003) no decorrer da evolução humana, observa-se que a cada
época, o lugar e a cultura de cada povo as condições de vida são fatores determinantes
que influenciará durante todo o processo de envelhecimento de um indivíduo, face as
diferenças regionais. Aponta que “o envelhecimento, não é problema, e sim, vitória”
(p.20), e salienta que devemos nos preparar, através de políticas, programas
educacionais e sociais, a fim de promovermos um envelhecimento ativo visando
proporcionar qualidade aos anos adicionados à vida, uma vez que, até o ano de 2025,
as projeções apontam para uma população idosa superior, o que inverterá de fato a
pirâmide etária brasileira.
Comparando-se a longevidade de séculos passados com a atualidade, pode-se
dizer que o número de anos vividos cresceu consideravelmente, tendo em vista que na
pré-história, no Império Romano e na Grécia Antiga, a idade média do ser humano
girava em torno de 25 anos; subindo para 30 anos no século XVII, aumentando para 35
anos na metade do século XIX, 45 anos no período correspondente de 1900 a 1915, 65
anos em 1965 e, finalmente, para 76 anos nos tempos atuais (BERZINS, 2003;
PAPALÉO, 2005).
Demograficamente, o envelhecimento mundial era considerado um problema dos
países desenvolvidos, entretanto, em conformidade com a ONU (Organização das
Nações Unidas) a previsão de pessoas com mais de 60 anos chegará em torno de 2
bilhões em 2050, ou seja, esse número quase quadruplicar-se-á . Essa projeção será
mais visível e mais pida nos países em desenvolvimento, esperando-se que o
percentual de pessoas idosas aumente entre 8% a 19%, enquanto que o percentual de
crianças sofrerá um decréscimo de 33% para 22%.
A Divisão de População da ONU, órgão que estuda as causas que contribuem
para o envelhecimento mundial, sinaliza para quatro considerações básicas sobre a
transição demográfica mundial:
1. O envelhecimento da população mundial ocorre sem precedentes na
história;
2. O envelhecimento populacional é um fenômeno geral e afeta a todos
– homens, mulheres e crianças. A solidariedade e a intergeracionalidade
devem ser a base das ações da sociedade civil e dos estados;
3. O envelhecimento é importante e tem conseqüências em todos os
setores da vida humana, tais como econômico, saúde, previdência,
lazer, cultura.
4. O envelhecimento populacional está se processando de forma
gradual, contínuo e irreversível e transcorrerá acentuadamente no
século XXI.
Nesse aspecto, pode-se considerar que o envelhecimento da população brasileira
acompanha uma tendência mundial impulsionada pela queda da taxa de natalidade e
pelos avanços da biotecnologia. Os indicadores selecionados para apresentação ora
exposta, revelam que seu crescimento não ocorre apenas em níveis absolutos: é
particularmente relevante o aumento dos domilios sob responsabilidade dos
idosos.
Visando um melhor entendimento do tema, seapresentado no capítulo seguinte
como esse segmento se encontra, na zona sul de Manaus, analisando a sua
condição de vida e de trabalho, mas para tanto faz necessário, ainda neste capítulo,
conceituar a velhice, a partir de suas designações ou termos classificatórios,
apresentando também as principais legislações existentes para esse segmento,
como cidadãos de direitos.
1.2 Conceituando Velhice, Idoso, Terceira Idade: as diferentes designações do
envelhecimento.
Definir ou conceituar velhice, idoso, terceira idade é o ponto primeiro para reflexão
de qualquer estudioso que pretenda desenvolver tais temáticas. Porém, reportando-se
à Simone de Beauvoir
2
, em relação ao processo de envelhecimento, verifica-se o alto
grau de complexidade no que diz respeito a esse tema. Sobre a velhice, a autora
expõe:
2
Escritora francesa do clássico A velhice (1970), publicado sua tradução no Brasil nesta mesma década,
sendo que a edição ocorreu em 1990, onde a autora denuncia o drama cotidiano da velhice que é
visto em seu país de forma escandalosa, apresentando ainda a velhice vivenciada de diferentes formas e
em diversas culturas que embora diferentes em suas etnias, classes ou raças simboliza em sua essência
algo comum a todos os seres humanos, os quais passam a envelhecer a partir da fase embrionária da
vida.
A dificuldade é que não podemos adotar, com relação a esta, nem um
ponto de vista nominalista, nem um ponto de vista conceptualista. A
velhice é o que acontece às pessoas que ficam velhas; impossível
encerrar essa pluralidade de experiências num conceito, ou mesmo,
numa noção (1990 p.345).
Então, é partindo desse pensamento que se pretende, aqui, traçar a trajetória de
classificações ou noções a respeito das designações do envelhecimento para que
assim se possa entender um pouco mais sobre o sujeito da pesquisa.
Para tanto, procurou-se desvendar algumas representações sociais existentes tanto
no Brasil como na França, país que segundo alguns autores, como Clarice Peixoto
(1998)
3
, pode ser considerado como precursor de tais designações, configurando-se
também como um país com grande população acima de sessenta anos de idade.
E claro, o Brasil, o qual é apontado, conforme dados do IBGE (2000), como o
segmento que mais vem crescendo no país, visando situar essas classificações na
realidade brasileira.
Na França, esse assunto despertou interesse da filósofa existencialista, Simone de
Beauvoir, a qual escopo a esse estudo. Embora antes do culo XIX o tema do
envelhecimento ter sido abordado como um elemento de sociabilidade, foi no final
do século XX que alguns estudiosos passaram a dar um tratamento social à velhice.
3
Esta autora morou e estudou na França na década de 90. Em sua tese de doutorado, a mesma dedicou
o capítulo exclusivamente para tratar dos termos classificatórios do envelhecimento, e seu livro serviu
de base para o estudo ora analisado.
Contudo, as ciências sociais francesas despertaram interesse há algumas
décadas (PEIXOTO, 1998).
no Brasil, as políticas sociais e o interesse do Estado sobre tal temática também
vêm despertando
4
para a realidade do envelhecimento populacional. Em 1994 foi
sancionada a Política nacional do Idoso e, em 1999, ano considerado
internacionalmente ao Idoso, o governo aprovou a Política Nacional de Saúde do Idoso,
através da Portaria 1.395/99. E, em 2003 foi aprovado e sancionado o Estatuto do
Idoso
5
, e aos poucos, certas áreas das ciências estão despertando para o estudo desse
segmento.
Quanto a isso, acreditamos ser um processo sócio-político, pois à medida que a
longevidade aumenta, tornam-se necessários estudos e políticas sobre as
conseqüência desse fenômeno.
De modo que, com o rápido aumento da população idosa, considerado um
“fenômeno mundial”, por diversos autores (VERAS, 2000; NERI, 2002), a questão da
velhice passou a ser vista como um “problema social”, principalmente no que se refere
às conseqüências econômicas, tanto para as empresas, para o Estado (aposentadoria),
quanto para a família que arca com os custos de seus velhos.
4
Primeiros estudos desenvolvidos pelos profissionais do SESC(Serviço Social do Comércio) como
Marcelo Salgado, Cilene Swain, Eneida Haddad na década de 1980.
5
Dedicamos um item especialmente para esse tema, onde este será melhor apresentado.
O processo de transferência desse encargo para outra instância, como sinaliza
Peixoto (1998, p.80), vem ocasionando uma nítida quebra das relações entre geração
nas mais diferentes classes sociais, passando “a família-protetora ser substituída cada
vez mais pelo grupo social ou pelo Estado-protetor”.
Assim, ao longo do tempo, a representação social da velhice vivenciou muitas
modificações, devido às mudanças sociais reclamarem políticas sociais para a velhice.
Nesse sentido, essas políticas pediram novas categorias classificatórias adaptadas à
nova condição moral (PEIXOTO, 1998).
Dessa forma, é percebido que a questão da velhice, na França do século XIX se
estabeleceu essencialmente para caracterizar as pessoas sem condições financeiras,
ou seja, as pessoas sem posses, indigentes, pois as mais abastadas desfrutavam de
respeito (Idem).
Esse recorte social da população com mais de 60 anos foi acompanhado de
linguagens diferenciadas para tratar cada grupo de pessoas da mesma idade. Segundo
a autora acima o velho (vieux), por exemplo, ou velhote (vieillard)
6
, designava os
indivíduos que não possuíam estatuto social e quem possuía era chamado de idoso
(personne âgée).
6
O termo “velho” ou “velhote” podem ou não estar carregados de conotações negativas, mas quando são
usados, normalmente é para reforçar uma situação de exclusão social (PEIXOTO, 1998, p. 72).
Quanto à classificação idoso, em 1991, Ennuyer já fazia uma reflexão sobre a
posição moral a essa categoria, afirmando que “entendemos a palavra moral no que diz
respeito aos velhos, quando ouvimos dizer que um certo número de soluções são
consideradas boas, razoáveis por especialistas, médicos, tecnocratas.” (apud
PEIXOTO, 1998, p.26).
Nesse aspecto, essa moral constitui como objeto os velhos sem status social, ou
seja, os que possuem não são vistos como velhos, por exemplo, o presidente da
República, alguns políticos, os artistas, certos empresários, entre outros, mascarando,
de certa forma, as camadas de status social elevado, onde aparece o cidadão (com
nome próprio fulano de tal) e não lhe imputa a condição de velhice.
Segundo Peixoto, foi só a partir dos anos 60 do século XX na França, que realmente
houve uma mudança na estrutura da sociedade, pois com a nova política social para a
velhice ocorreram algumas transformações, na prática, dos termos de tratamento,
assim como outras percepções das pessoas envelhecidas.
7
A partir de então se passou a usar menos as expressões velho e velhote, vistas
como vocábulos pejorativos, passando a ser incorporado principalmente por textos
oficiais a categorização idoso, visto como uma noção menos estereotipada (PEIXOTO,
1998).
7
A elevação das pensões na França fez aumentar o prestígio dos aposentados e isso demandou nova
designação a essa população, como idoso e terceira idade, como será apresentado no decorrer deste
capítulo.
Alguns especialistas, conforme esta autora, criticaram bastante este termo idoso,
dizendo que apesar dele indicar mais respeito, não é tão preciso quanto velho,
apresentando de certa forma uma ambigüidade, mas abrangendo tanto a população
envelhecida em geral, quanto aos indivíduos das camadas sociais mais favorecidas,
homogeneizando todas as classes.
No entanto, cumpre destacar que esta nova designação deu outro significado ao
indivíduo velho, transformando-o em sujeito mais respeitado
8
, que o termo idoso
passou a caracterizar toda a população envelhecida, tanto os de alta como os de baixa
renda.
Porém, a designação de pessoa envelhecida não parou por aí. Na França, entre os
anos 1945 e 1960, houve uma revisão nas políticas sociais, visando entre outros a
integração da velhice assim como a transformação da imagem das pessoas
envelhecidas. Sendo que a partir desse momento, os aposentados passaram a ser
mais valorizados, pois de acordo com Peixoto (1998, p.75):
Os novos aposentados começaram a reproduzir práticas sociais das
camadas médias assalariadas, que a imagem de degradação estava
muito associada às camadas populares: o preto-e-branco de uma
velhice decadente toma o colorido de uma velhice associada à arte de
bem viver.
8
Grifo Nosso.
Nesse sentido, a autora esclarece que essa nova doutrina (arte de bem viver ou arte
de envelhecer, a qual vem permeada de uma autonomia proposta aos idosos no que
diz respeito aos estímulos de suas capacidades individuais) faz da velhice um
empreendimento privado, transformando a velhice bem vivida ou mesmo a decadente
num problema estritamente individual, mascarando, a questão do envelhecimento.
A partir desse novo cenário proposto ou imposto aos idosos aposentados, fêz-se
necessário criar um novo vocábulo para designá-los, principalmente aos jovens
aposentados, surgindo dessa forma a Terceira Idade, a qual passou a ser sinônimo de
envelhecimento ativo e independente, convertendo-se numa nova fase do ciclo da vida
entre a aposentadoria e a velhice.
Para Peixoto (1998), a invenção da Terceira Idade é resultado do produto da
universalização dos sistemas de aposentadoria e, do conseqüente surgimento de
instituições e agentes especializados no tratamento da velhice, e que prescrevem a
esse grupo etário maior vigilância alimentar e exercícios físicos, mas também
necessidades culturais, sociais e psicológicas.
A autora reporta-se ainda a Lenoir (1977) para explicar a terceira idade:
A expressão ‘terceira idade’ não é um simples substituto do termo ‘velhice’. O
trabalho de classificação é indissociavelmente um trabalho de eufemização e tem por
objetivo tornar nominável, ou seja, público, aquilo que até agora foi rechaçado e não
pôde se exprimir, como por exemplo, tudo que se relaciona à vida sexual que, em
vocabulário jargão, permite dizer a coisa sem pronunciar a palavra. (LENOIR apud
PEIXOTO p. 76, 1998).
Diante do exposto, identifica-se que a unificação de todas as idades no termo
aposentado, sob a designação terceira idade, apresenta um outro recorte social nas
faixas de idade, como anteriormente apresentado, parecendo importante distinguir os
“idosos jovens” dos “idosos velhos”, mencionados no começo deste estudo.
No que tange ao Brasil, o vocábulo “velho”, assim como na França vem
acompanhado de uma conotação negativa, embora seja importante mencionar que o
objeto velhice no país seja recente, datando dos anos 60, pois conformes alguns
estudiosos como Veras (2000), em 1900, a expectativa de vida ao nascer era de 33,7,
em 2000 aumentou para 68,6, indicando ser de 75,3 em 2025, representando a década
de 60 o “Boom” da longevidade no Brasil, também caracterizada pela urbanização e
concentração urbana.
Contudo, apesar de existirem outros termos classificatórios, nessa época, a pessoa
envelhecida era comumente chamada de “velha” ou “velho”
9
. Porém, este termo é
empregado de maneira geral, então não possui um caráter especificamente pejorativo
como na ngua francesa, apesar de também apresentar ambigüidade, podendo ser
tanto afetivo como pejorativo, dependendo da entonação de voz ou pelo contexto
utilizado, como afirma Peixoto (1998).
9
Conforme documentos oficiais (INPS) publicados antes dos anos 60 no Brasil, o termo “velho” era usado para as
pessoas maiores de 60 anos.
Com a mudança da imagem da velhice vindo da França, a partir da década de 60, a
grande maioria de documentos oficiais no Brasil passou a utilizar o termo idoso,
vocabulário que sempre existiu no país, mas era pouco usual, pois normalmente usava-
se velho (PEIXOTO, 1998).
Então, não muito diferente da França, velho e idoso podem confundir, mas o último,
assim como lá também marca um tratamento mais respeitoso.
Percebe-se ainda, segundo aponta a autora, que as instituições governamentais na
tentativa de amenizar a situação das pessoas envelhecidas, adotam outra
representação da velhice, porém isso não significa a implantação de uma política social
voltada especificamente para a velhice. O que existe na verdade é uma tentativa de
supressão do termo velho, dando lugar ao termo idoso, mascarando como outrora
mencionado, a questão do envelhecimento ou do envelhecente.
Verifica-se que Debert (1988), bem antes de Peixoto atentava para essa questão
da associação entre velhice e decadência. Discutindo sobre a representação social da
velhice, ela apresenta que a categoria velho, na percepção das pessoas envelhecidas
(tanto das camadas médias, quanto nas mais elevadas economicamente falando), está
relacionada à pobreza, à dependência e à incapacidade.
Para essas pessoas, o melhor a ser feito são melhoramentos em asilos para a
“população velha e pobre” (apud PEIXOTO, 1998), ratificando o que foi apresentado
um mascaramento da velhice feia e acabada mostrando nas entrelinhas desses
depoimentos que “velho é sempre o outro”.
Em relação ainda à terceira idade, Peixoto (1998, p.80-81) resume:
... ela constitui simplesmente um decalque do vocábulo francês adotado
logo após a implantação das políticas sociais para a velhice na França.
(...). A rubrica da terceira idade é fundamentalmente empregada nas
proposições relativas à criação de atividades sociais, culturais e
esportivas (...) terceira idade designa principalmente os jovens velhos’,
os aposentados dinâmicos, como a representação francesa. E não é por
acaso que surge um novo mercado para a terceira idade: turismo,
produtos de beleza e alimentares, bem como novas especialidades
profissionais, gerontólogos, geriatras etc.
Ou seja, segundo esta autora, a terceira idade passa a ser um “negócio” lucrativo
diferente de idoso que simboliza, apoiando-se principalmente na idéia de que esta
população é aposentada com previdência social, fonte com a qual gastará neste novo
“mercado de trabalho ou mercado de consumo”, ressaltando que ela (a terceira idade)
passa a ser uma designação de uma categoria social bastante heterogênea e, na
atualidade, bastante grande não só na França e Brasil, como na maior parte do mundo,
frente ao aumento da expectativa de vida.
Todavia e chegando ao final desta pequena análise dos termos, classificações ou
designações propostos, constata-se que tanto velho, idoso, terceira idade, seja qual for
a terminologia adotada, a finalidade, na essência é tipificar uma categoria social que,
em grande parte do mundo, sofre, principalmente na realidade da sociedade brasileira,
um processo de desvalorização que está intrinsecamente vinculado à perda da
importância deste contingente populacional no contexto das relações de produção.
Reforçando sobre esta questão apresentada, Goldman (2000, p.48) questiona em
pleno século XXI qual termo mais adequado para definir um sujeito que envelhece:
“velho, idoso, geronte, gerontino, velhote ou ancião?”.
Outrossim, constatamos e compartilhamos da opinião de Goldman (2000) que
sinaliza não ser possível conceituar o envelhecimento ou dar uma definição única, que
possa ser útil em todos os contextos.
Entre diversos estudiosos da área, verifica-se também não existir um consenso
sobre o que se chama de velhice, idoso, terceira idade, porque as divisões cronológicas
da vida humana não são absolutas e não correspondem sempre às etapas do processo
de envelhecimento natural, pois o processo do envelhecimento, em geral, é muito
pessoal e cada indivíduo envelhecendo pode apresentar involuções em diferentes
níveis e em diversos graus, no sentido de que certas funções e capacidades declinam
mais rapidamente que outras.
Ou seja, não é factível estabelecer definições de aceitação irrestrita, ou que se
encaixem perfeitamente em situações, lugares e épocas distintas. De acordo com
Papaléo (2005):
Biologicamente, o envelhecimento começa pelo menos tão precocemente quanto a
puberdade, a partir da concepção, e é um processo contínuo
durante a vida.
Socialmente, as características dos membros da sociedade, que são percebidas
como sendo de pessoas idosas, variam de acordo com o quadro cultural, com o
transcorrer das gerações e, principalmente, com as condições de vida e trabalho a que
estão submetidos os membros dessa sociedade, sendo que as desigualdades dessas
condições levam a desigualdades no processo de envelhecer.
Economicamente, algumas vezes se define que uma pessoa se torna idosa a partir
do momento em que deixa o mercado de trabalho, deixa de ser economicamente ativa.
Funcionalmente, quando começa a depender de outros para o cumprimento de suas
necessidades básicas ou de tarefas habituais. A deterioração da saúde física e mental,
que ocorre com o passar dos anos, leva os demais indivíduos a considerarem tal
pessoa como idosa.
Cronologicamente, uma dificuldade em se definir; a decisão torna-se arbitrária,
pois, dependendo do desenvolvimento socioeconômico de cada sociedade, os seus
membros apresentarão os sinais inexoráveis do envelhecimento, com suas limitações e
perdas de adaptabilidade, em diferentes idades cronológicas.
Verificamos que a maioria das literaturas sobre geriatria e gerontologia aceita um
ponto de corte aos 65 anos, idade, a partir da qual, os indivíduos seriam considerados
idosos.
Este é também o corte etário adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU)
para os países desenvolvidos. Para os países em desenvolvimento, onde a expectativa
média de vida é menor, adota-se os 60 anos como a idade de transição das pessoas
para o segmento idoso da população.
Nesse sentido, verificamos que sejam quais forem as terminologias, classificações
ou designações adotadas para a sua definição, a mesma, em sua maioria, tenta, sem
muito sucesso, suavizar no discurso a estigmatização do envelhecente, e nós enquanto
profissionais e estudiosos que trabalhamos com esse segmento devemos desmistificar
qualquer que seja a idéia pejorativa e errônea sobre essa populacão, a qual, se não
morrermos antes, pertenceremos algum dia.
1.3 O idoso na Legislação Brasileira
O processo de envelhecimento da população faz com que sejam demandadas
legislações para este segmento e a sociedade civil tem tido papel fundamental na
reivindicação dos direitos sociais, na construção e na efetivação de políticas públicas.
Dados das Nações Unidas (ONU, 2002) confirmam que o número absoluto de
pessoas com sessenta anos ou mais no Brasil em 2002, era 14,5 milhões e a estimativa
para 2025 sede aproximadamente 33,4 milhões, significando um aumento de quase
15% desta população. Ressalta ainda que, desde a década de 90, o Brasil vem
perdendo o conceito de “país jovem” (VERAS, 2000), em decorrência, sobretudo, dos
avanços da medicina na prevenção da saúde, aumentando a expectativa de vida e
também devido à diminuição dos índices de natalidade e mortalidade infantil.
Em face dessa nova realidade brasileira, o país tende a se deparar com legislações
desatualizadas, necessitando de novas legislações que garantam e efetivem as já
existentes.
Uma das primeiras idéias que ocorre quando se fala em Direito é o conjunto de
normas, sejam elas escritas, colocadas em códigos e tratados, sejam orais, aceitas por
costume e tradição. Seja estabelecendo deveres e obrigações, seja estabelecendo
privilégios e direitos, todo código, toda legislação supõe duas premissas fundamentais:
em primeiro lugar, trata-se de algo que é declarado publicamente, inclusive na maior
parte das vezes com toda pompa e circunstância; em segundo lugar e quase como
decorrência da primeira característica, trata-se de um conjunto de normas e leis que
tem como objetivo explícito regulamentar as relações sociais entre pessoas, grupos,
classes e instituições de uma determinada sociedade, mas sobretudo de regular as
relações entre a sociedade e o poder constituído.
Tais premissas básicas não devem impedir que visualizemos um dado essencial: ao
mesmo tempo em que o conjunto de leis e normas que constituem o Direito pretende
regular as relações sociais, sua constituição já informa em grande medida qual a
dinâmica daquelas relações em um determinado momento histórico.
Assim, apesar de uma certa divisão entre direitos individuais e direitos sociais, na
realidade todos os direitos são sociais, na medida em que todos supõem interação
entre pessoas ou grupos, mas costuma-se chamar de sociais apenas os direitos à
educação, à moradia, ao trabalho e às condições de vida.
Verificamos que o conceito idoso é adotado no meio jurídico e utilizado na legislação
brasileira a partir da Constituição Federal de 1988 e para melhor configurar as
legislações existentes, reportar-se-á nesse estudo a Constituição Federal, referendando
a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), à Política Nacional do Idoso (PNI); ao
nível de Manaus, à Política Municipal do Idoso (baseada na PNI) e também ao Estatuto
do Idoso, o qual está vigorando no país desde janeiro de 2004.
1.3.1 O idoso na Constituição Federal
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de
1988, em seu artigo define direitos sociais: “São direitos sociais a educação, a
saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
Com a promulgação da Constituição, um novo conceito de política social foi
materializado no conjunto da Seguridade Social, compreendendo a Previdência, a Saú-
de e a Assistência Social. Cada um desses elementos particulariza um segmento da
população brasileira. A Saúde, direito de todos (art.196 da Constituição Federal), é
universal; a Previdência Social atende aos que lhe são contribuintes e a Assistência
Social é prestada aos necessitados e desamparados (art. 203 da C.F.).
O princípio desta Carta Magna é o de assegurar os direitos sociais a todos os
cidadãos. Dessa forma, a política assistencial será grandemente afetada por inúmeros
artigos além daqueles incluídos no título específico da Assistência Social.
Os objetivos sintetizam, enfim, uma nova organização das políticas de previdência,
de saúde e de assistência social que se concretizados representariam um avanço na
melhoria das condições de vida da população, entre ela, a de idoso.
Enquanto os serviços de saúde são universais e a previdência estendida mediante
contribuição mensal; a assistência social, destina-se a quem dela necessitar,
independente de contribuição.
A Assistência Social prevista pelo artigo 203 da C.F. inciso V trata da garantia de
um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso
que comprove não possuir meios de subsistência ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. O fato de haver esse dispositivo constitucional não garante seu
efetivo exercício, pois a expressão "conforme dispuser a lei", obriga a edição de uma lei
ordinária para regulamentar a aplicação deste direito, para que ele possa ser pago ou
exigido o seu pagamento.
Para regulamentar o que preconiza a Carta foi editada a Lei 8.742 de 7 de
dezembro de 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social. Esta lei em seu artigo 20 e
parágrafos, regulamenta aquele direito constitucional sobre o pagamento de um salário
mínimo, especificando os requisitos necessários para que o idoso possa ser
considerado beneficiário.
São os termos deste artigo:
Art. 20 (Lei 8.742): O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um)
salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 (sessenta
e cinco) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção e nem de tê-la provida por sua família.
Nota-se que o avanço da seguridade social envolve o reconhecimento e o
tratamento da assistência social enquanto política pública, integrante das políticas
sociais: políticas que demandam ao Estado brasileiro maior alcance e efetividade.
1.3.2 A construção da Política Nacional do Idoso
A Política Nacional do Idoso
10
(PNI) representa um grande avanço para a sociedade
brasileira como um todo, e especialmente para o segmento idoso, que este é o
principal sujeito de suas ações.
Sobre essa afirmação, Veras (2000) aponta que tal relevância está ligada ao fato
dela dar publicização a um assunto até então tratado de forma fragmentada ou restrito
a esfera da família. Visa, de certa forma, evitar a exclusão da população idosa do
processo de desenvolvimento do país e de seus eventuais benefícios.
A mesma foi estabelecida em 04 de janeiro de 1994 sob a Lei n.º 8.842 e
regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 1.948, em 03 de julho de 1996, para assegurar os
direitos aos idosos e propor ações que garantam seu bem estar biopsicossocial, criando
normas para os direitos sociais dos idosos, garantindo autonomia, integração e
participação efetiva como instrumento de cidadania. Objetiva criar ainda, condições
para promover a longevidade com qualidade de vida, colocando em prática ações
voltadas, não apenas para os que estão velhos, mas também para aqueles que irão
envelhecer, listando as competências das várias áreas e seus respectivos órgãos
(BRASIL, 2000).
Essa política foi votada no Congresso Nacional, após vários estudos e debates
impulsionados por organizações governamentais e não-governamentais interessadas
10
Em virtude de sua extensão será exposto apenas parte da trajetória de sua aprovação.
no tema, sendo importante destacar também que esta Lei foi reivindicada pela
sociedade civil, representando o resultado de inúmeras discussões e consultas
ocorridas nos estados, nas quais participaram idosos, professores universitários,
profissionais da área de gerontologia
11
e geriatria
12
e várias entidades representativas
desse segmento, que elaboraram um documento que se transformou no texto base da
Lei (VERAS, 2000).
No que diz respeito à seguridade, a formulação, coordenação, supervisão e
avaliação da PNI, fica a cargo do Conselho Nacional de Seguridade Social e aos
Conselhos Setoriais, uma vez, respeitadas as respectivas esferas de atribuições
administrativas.
De acordo com o Art. do Capítulo I, um dos princípios norteadores desta Lei -
decretada e sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso -
“Considera-se idoso, para os efeitos desta política, a pessoa maior de sessenta anos de
idade” (BRASIL, 2000).
Esse artigo reforça o que a Organização Mundial de Saúde (OMS) expõe sobre as
diferentes idades para o envelhecimento no mundo, relatando que nos países
desenvolvidos o processo de envelhecimento começa aos 65 anos, nos países em
11
É a ciência que estuda o processo de envelhecimento e da velhice em si sob todos os seus aspectos:
biológicos, psicológicos, educacional, clínico, histórico, econômico e social. (VERAS, 2000).
12
É a especialidade médica que trata de doenças de idosos ou de doentes idosos, e também se
preocupa em prolongar a vida com saúde. Estuda as doenças da velhice e de seu tratamento. (idem).
desenvolvimento aos 60 anos, devido toda uma estrutura política e sócio-econômica
que favorece a primeira e desfavorece a última.
Dentre as várias resoluções que a PNI propõe, há uma considerada muito
importante referente à saúde, na qual é proposta uma readequação da rede de seus
serviços. Além disso, ela sugere ainda a reformulação de currículos universitários, o
desenvolvimento do turismo e do lazer, a assistência social integral ao idoso, dentre
outras medidas. (BRASIL, 2000).
Porém, cumpre-se destacar que o primeiro passo para efetivação dessa Política foi
dado desde a sua implementação, agora o importante é cumprir as deliberações
propostas nessa política para que de fato sejam garantidos os direitos da população
idosa no Brasil.
1.3.3 A Política Municipal do Idoso: em Manaus.
O Estado do Amazonas, assim, como os demais estados brasileiros também vêm
passando por mudanças em sua composição etária.
Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE/ 2000), em 1991, o Amazonas tinha 88.805 idosos, representado 4,2% da
população, em 2000 este segmento chegou a 137.060, aumentando para 4,9%. Apesar
de não ser expressivo, este aumento em dez anos, é confirmado pelo IBGE (2000), que
destes, cerca de 110.000 vivem na capital, Manaus (locus da pesquisa), ou seja, no
Estado do Amazonas a maioria das pessoas acima de 60 anos está localizada na
capital, e isto reflete a necessidade de implementação de políticas públicas para esse
segmento etário.
Nesses termos, a Política Municipal do Idoso (PMI) surge como documento legal,
buscando assegurar e melhorar o acesso dos idosos aos seus direitos, garantidos em
lei a partir da PNI. A qual está fundamentada no Plano Integrado de Ação
Governamental para o Desenvolvimento da Política Nacional do Idoso (BRASIL, MPAS:
1997), cujos princípios diretrizes são emanados pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social fundamentados juridicamente na Lei n.º 8.842, de 04 de janeiro de
1994 e regulamentada no Decreto n.º 1948, de julho de 1996, na qual está previsto a
municipalização das políticas públicas.
A partir de então é que se iniciou o processo de construção da PMI. Assim, nos dias
2 a 4 de junho de 1999, realizou-se uma oficina de trabalho para a elaboração do Plano
Integrado de Ação para o Desenvolvimento da Política Municipal do Idoso, realizado na
Fundação Doutor Thomas
13
e tendo a participação de 68 representantes de entidades
governamentais e não-governamentais ligadas à causa do idoso no município de
Manaus. Nesta oficina foi discutido sobre: promoção e assistência social, educação,
cultura, esporte e lazer, saúde, justiça e trabalho, previdência, habitação e urbanismo,
respaldando-se na Política Nacional do Idoso (ALMEIDA, 2004).
13
Esta instituição foi definida nesta época como coordenadora supervisora e responsável pelo
desenvolvimento da PMI.
Segundo Almeida (2004), após a conclusão desse trabalho, que tem como título:
“Plano Integrado de Ação para o Desenvolvimento da Política Municipal do Idoso”,
encaminharam-no ao prefeito da cidade de Manaus da época, Alfredo Pereira do
Nascimento, o qual caminhava para a reeleição.
Passado quase três meses da retomada de seu mandato, este prefeito
regulamentou a PMI, mais precisamente no dia 07 de março de 2001, através do
Decreto nº. 5.482, no qual significou um dos grandes passos dado para o avanço no
atendimento ao segmento idoso da população em Manaus.
Esta política, baseando-se na PNI, tem como objetivo principal “garantir os direitos
sociais da população idosa no município de Manaus, assegurando a promoção de sua
autonomia, integração e participação na sociedade por meio do acesso a bens e
serviços voltados para esse objetivo” (DIÁRIO OFICIAL/ AM, 2001, p.01).
Conforme a PMI seus princípios norteadores são:
I- a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os
direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade, bem estar e o direito à vida;
II- o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser
objeto de conhecimento e informação para todos;
III- o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV- o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das informações a serem
efetivadas através desta política;
V- as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as condições entre
o meio rural e o urbano deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela
sociedade em geral, na aplicação desta Lei.
Apesar disso, faz-se importante destacar que a PMI ainda está em processo de
implementação e consolidação. que registrar que algumas de suas diretrizes estão
funcionando em Manaus, a exemplo disso é o Parque Municipal do Idoso, inaugurado
em novembro de 2002, que tem como principal objetivo o desenvolvimento das
atividades de lazer, esportes e cultura, atendendo atualmente cerca de 2.000 idosos/
mês (RELATÓRIO DA FUNDAÇÃO DR. THOMAS, 2007).
Desse modo, a busca de novos direitos, e especialmente, a luta pela
implementação daqueles conquistados, impõem tanto aos idosos, como à sociedade
em geral, buscar participar na publicização e efetização dessa política para o município.
Nesse contexto é válido lembrar que tanto a PNI quanto a PMI funcionam muito mais
como lei e/ ou norma de política enquanto intenção e o Estatuto seria a Lei que
regulamenta essas políticas, para sua efetivação de fato, conforme será apresentado a
seguir.
1.3.4 O Estatuto do Idoso: a regulamentação dos direitos
O Projeto de Lei 3.561/ 97, de autoria do Deputado Paulo Paim (PT/ RS) cria o
Estatuto do Idoso no Brasil acrescentando novos dispositivos à Política Nacional do
Idoso. O mesmo está embasado na concepção da necessidade de aglutinação, em
norma legal abrangente, das postulações sobre idosos no país, exigindo um
redirecionamento de prioridades das linhas de ação das políticas públicas (RELATÓRIO
DO ESTATUTO DO IDOSO, 2003).
Após esse trajeto, emergiu da sociedade civil organizada, a cobrança pela sua
aprovação, a qual ocorreu cinco anos depois, em 23 de setembro de 2003, sendo
aprovado por unanimidade tanto na mara quanto no Senado. O mesmo foi
sancionado pelo atual Presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 1º de outubro do mesmo
ano, passando a vigorar recentemente, no primeiro dia de janeiro de 2004. Todavia,
algumas disposições originais foram vetadas na sanção presidencial.
O Estatuto do Idoso define medidas de proteção às pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos. Ele regulamenta os direitos dos idosos, e também determina
obrigações das entidades de assistências e estabelece penalidades para uma série de
situações de desrespeito aos idosos. Em outras palavras, existem penalidades para
quem infringir o Estatuto do Idoso, e o cumprimento dessas obrigações serão
fiscalizados pelos Conselhos do Idoso, pelo Ministério blico ou pela Vigilância
Sanitária, ficando as entidades infratoras sujeitas à diversas penalidades, no âmbito
administrativo ou judicial.
Dentre as várias disposições sobre o Estatuto do Idoso estão
14
:
Quanto aos planos de saúde, o projeto veta a discriminação do idoso
com a cobrança de valores diferenciados em razão da idade,
determinando ainda ao poder público o fornecimento gratuito de
medicamentos, assim como de próteses e outros recursos relativos ao
tratamento, habilitação ou reabilitação; (CAPÍTULO IV).
Ou seja, é vetada qualquer discriminação nos planos de saúde, pela cobrança de
valores diferenciados em razão da sua idade. E quanto ao fornecimento de
medicamentos, estes devem ser gratuitos, pois constitui um direito universal
preconizado pela Seguridade Social e Sistema Único de Saúde (SUS), visto ser um
processo natural à medida que a pessoa avança em idade de consumir mais
medicamentos, sendo também nesta época que a maioria possui menor poder
aquisitivo (BEAUVOIR, 1990; PEIXOTO, 1998; RODRIGUES, 2000).
Preconiza assegurar o desconto de pelo menos 50% nas
atividades culturais, de lazer e esportivas (CAPÍTULO V).
Referente à educação, cultura, esporte e lazer, os dispositivos procuram
proporcionar ao idoso maior facilidade de acesso a cursos especiais, programas
voltados para os idosos nos meios de comunicação, avanços tecnológicos, valorização
dos conhecimentos sobre processo de envelhecimento, respeito ao idoso e sua maior
participação nas comemorações de caráter cívico e cultural, assim como o desconto
14
Face à recente sanção do Estatuto será citada, de forma resumida e explicativa, apenas alguma
disposições presentes no mesmo, utilizando como referência o próprio Estatuto e um documento da
Fundação Doutor Thomas, 2003 (ver bibliografia) sobre o mesmo.
mínimo de 50% nos ingressos para eventos diversos. Acrescentando que o “esporte e
lazer são fundamentais para a saúde física e mental do idoso” (RODRIGUES, 2000).
Esta cláusula, abrange os idosos tidos da terceira idade e não os sujeitos de
assistência.
O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas
suas condições físicas, intelectuais e psíquicas (CAPÍTULO VI).
Sobre o trabalho, o direito do idoso de exercer atividade profissional não está sujeito
ao limite de idade. O mesmo deve ser estimulado também ao longo de toda a vida,
condizente com suas aptidões e condições físicas, intelectuais e psíquicas, sem
qualquer discriminação. Daí a necessidade de programas de geração de renda e
emprego e o conseqüente estímulo às empresas privadas assimilarem o trabalho do
idoso. Importa também nesse aspecto, a preparação para a aposentadoria, com
antecedência mínima de um ano, para estimular o idoso ao exercício de uma atividade
diversa e continuar sendo socialmente útil (RODRIGUES, 2000).
Nas aposentadorias, o relator acolheu redação de emenda do governo
que determina o reajuste dos benefícios na mesma data do reajuste do
salário mínimo, porém com percentual definido em regulamento;
(CAPÍTULO VII).
Nesse sentido, na área da Previdência Social, visa-se conservar o valor real dos
benefícios de aposentadoria e pensão, visto ser direito constitucional, que vem sendo
desrespeitado, em razão dos baixos valores dos proventos e pensões, completamente
defasados, deixando muitos idosos em situação de miséria.
O reajuste das aposentadorias e pensões deve observar mesmo percentual de
reajuste aplicado à menor aposentadoria, sendo essa a única forma de se garantir o
valor real desses benefícios. Além disso, fica estipulado o dia de maio como data-
base dos aposentados e pensionistas, coincidindo com a data de reajuste salarial dos
trabalhadores.
A idade para requerer o salário mínimo (BPC Benefício de Prestação
Continuada) estipulado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)
cai de 67 para 65 anos. (CAPÍTULO VIII).
Vale ressaltar que essa medida de redução de sessenta e sete para sessenta e
cinco anos, para recebimento do benefício de um salário mínimo pelos idosos carentes,
restabelece o patamar de idade previsto na Lei Orgânica da Assistência Social. Outro
ponto importante nessa área consiste na adequação da exigência de renda familiar per
capita, pois conforme a LOAS, pode postular o benefício o idoso cuja família possua
renda inferior a um quarto do salário mínimo por pessoa.
No caso do transporte coletivo intermunicipal e interestadual, ficam
reservadas duas vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual
ou inferior a dois salários mínimos e descontos de 50% para os idosos de
mesma renda que excedam essa reserva, além da gratuidade nos
transportes coletivos blicos para os maiores de 65 anos. Ressalvando
que a legislação local poderá dispor sobre a gratuidade também para
pessoas de 60 e 65 anos. (CAPÍTULO X).
Na área de Transportes, existem medidas que beneficiam o idoso de baixa renda.
Nos transportes urbanos e semi-urbanos, deverá ser reduzida para sessenta anos a
idade nima para a gratuidade, assegurada a reserva de dez por cento dos assentos.
Nos transportes interestaduais e intermunicipais, deverá ser garantida a reserva de
duas vagas gratuitas, por veículo, e ser dado um desconto de cinqüenta por cento no
valor da passagem, para os demais. Também é proposto uma reserva de 5% das vagas
nos estacionamentos públicos e privados, visando facilitar a mobilidade do idoso.
Conforme apresentado, consideráveis avanços em termos de políticas de atenção
ao idoso já estão garantidos em lei, principalmente a partir da PNI uma vez que
assegura ações do poder público na promoção das políticas sociais básicas de
atendimento ao idoso conforme mencionado anteriormente - enquanto o Estatuto do
Idoso consolida os direitos já assegurados na Constituição Federal de 1988, sobretudo
tentando proteger o idoso em situação de risco social, os quais incorpora novos direitos
e exigências de seu cumprimento pelo Estado e Sociedade.
Porém, após todos esses avanços”, concernentes à criação de legislações para o
segmento idoso no Brasil, o distanciamento entre a Lei e a realidade deste segmento
continua grande e para que esta situação se modifique é preciso que ela seja
socializada, debatida e reivindicada em todos os espaços possíveis, pois somente a
mobilização permanente dos próprios idosos e da sociedade será capaz de configurar
um novo olhar sobre o processo de envelhecimento dos cidadãos brasileiros e fazer
valer as legislações direcionadas a esse segmento populacional.
.
Capítulo II
PROCESSO DE TRABALHO E ENVELHECIMENTO NO BRASIL
O presente capítulo apresenta processo de trabalho e envelhecimento no
capitalismo brasileiro, apontando os aspectos sociais do trabalho, fazendo ainda
referência a aposentadoria e o trabalhador aposentado no Brasil, o qual é considerado
pelo Censo do IBGE (2000), como o principal contribuinte na renda familiar brasileira.
Contudo, faz-se importante registrar que em virtude da dificuldade de dados referentes
ao idoso que trabalha, no Brasil, e principalmente Manaus, foram citadas apenas os
aspectos considerados mais importantes para a pesquisa em questão, procurando,
atender os objetivos propostos no início deste estudo.
2.1 Processo de envelhecimento no capitalismo brasileiro.
Conforme foi apresentado no capítulo anterior, o envelhecimento populacional é
um fenômeno universal e as pessoas com mais de 60 anos de idade é
contemporaneamente o grupo etário da população que mais cresce. Preocupada com
esse fato, as Nações Unidades, em 1982, realizou um Assembléia Mundial sobre
Envelhecimento, ocorrida em Viena. Nessa Assembléia ficou declarada a Era do
Envelhecimento, período que se inicia em 1975 e vai até 2025, devido ao aumento
progressivo do envelhecimento populacional.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
(2000), o número de pessoas com mais de 60 anos aumentou, passando de 6,2
milhões de habitantes em 1975, para 15,1 milhões em 2000 e podendo chegar em 2020
a 31,8 milhões, sendo a faixa etária que mais cresce proporcionalmente, numa média
de 3,0% ao ano, o dobro da taxa de toda a faixa de pessoas entre 15 e os 59 anos.
Por esses dados pode-se perceber que o Brasil está deixando de ser um país de
jovem, para ser indicado como um país que está envelhecendo (VERAS, 2000).
As estimativas da Organização Mundial de Saúde OMS é de que entre 1950 a
2025, a população de idosos no país crescerá 16 vezes contra 05 vezes da população
total, apontando assim, o Brasil em lugar do Ranking Mundial, visto que em 2025 o
país terá cerca 32 milhões de idosos.
A expectativa de vida de um brasileiro em 1950 era de 43,2 anos, em 2000 de
68,6, podendo chegar em 2025 a 75,3. O aumento dessa expectativa acontece devido,
sobretudo, aos grandes avanços tecnológicos, bem como do controle epidemiológico,
da melhoria de produção de alimentos, da diminuição da taxa de fecundidade e de
natalidade, dentre outros fatores.
A questão do envelhecimento populacional atinge a todos, pois além do ser humano
estar caminhando para o seu próprio envelhecimento, está também sofrendo mudanças
em sua maneira de ser e sentir a cada período de tempo. Essas mudanças se dão em
seus corpos, espíritos e na observação da sociedade que está em sua volta. A cada dia
nos deparamos com mais pessoas idosas, sejam em nossas famílias ou nas ruas.
Entretanto, ainda se sabe poucos sobre eles e a questão do envelhecimento.
As concepções que existem em torno da velhice são variadas e para tentar ilustrar
em termos gerais o que poderia significar o que é envelhecimento, Simone de Beauvoir
em seu clássico livro “A Velhice”, nos diz que, “a velhice não poderia ser compreendida
senão em sua totalidade; ela não é somente um fato biológico, mas também cultural”
(1990, p.20).
Ao fazer essa afirmação, entende-se que a autora não concorda com o fato de que o
envelhecimento signifique apenas a deterioração física do indivíduo, mas ele irá
depender de todo arcabouço cultural que existe em determinada sociedade, bem como
o idoso traz consigo em seu modo de envelhecer.
Considerando que na velhice o indivíduo sofre significativas perdas (RODRIGUES,
2000), que engloba desde o afastamento dos familiares aexclusão do mercado de
trabalho (em conjunto com a aposentadoria, quando o tem), cresce no idoso um
sentimento de inutilidade, ocasionando sua marginalização social. Isso tudo na medida
em que o idoso não foi preparado para enfrentar esse período de perdas e afastamento
das funções que lhe dava ou não visibilidade pública. Não ele, como a própria
família, a sociedade não está preparada para envelhecer e isso implica em aceitar a
velhice, onde o ”velho é o outro”, não se reconhece como tal (BEAUVOIR, 1990).
Quando se pensa na objetivação do homem pelo trabalho nas sociedades
capitalistas, pode-se perceber que a vida inteira o homem, em sua maioria, trabalha
para provir seu sustento, amealhando recursos para o seu futuro, ou não. Muitos deles
não tiveram oportunidades de fazer atividade laborativa que lhes dessem prazer, e
quando chega à velhice, além da diminuição de sua capacidade laborativa e física, as
oportunidades de trabalho, quase não existem. Portanto, se não prover o futuro,
contribuindo com a previdência social, nem aposentadoria podem ter.
Beauvoir (1990, p.277) ilustra o fato dos idosos pauperizados serem tidos como
peso morto para a sociedade em geral, sinalizando que:
Eliminados cedo do mercado de trabalho, os aposentados constituem
uma carga que as sociedades baseadas no lucro assumem
mesquinhamente (...) as democracias burguesas, quando retiram dos
indivíduos a possibilidade de trabalhar, condenam a maioria deles à
miséria.
Para o trabalhador que viveu sua vida em função do trabalho, afastar-se dele é uma
tarefa difícil, pois ele depende para suprir suas necessidades básicas de existência,
principalmente aos que não amealharam recursos ou não possuem seguros
previdenciários, o que no Brasil é a grande maioria deles.
Ainda existem vários preconceitos contra a velhice, os quais são cruéis e
inadmissíveis. Não podendo retomar ao mercado de trabalho, pois ultrapassaram a
idade estipulada por esse mesmo mercado.
Geralmente, grande parte dos idosos sofre discriminações, ficando reduzidos aos
subempregos ou mesmo ao desemprego (BEAUVOIR, 1990), sem contar com a
pressão dos mais jovens e com tecnologias poupadoras de mão-de-obra.
O método de trabalho nas empresas foi modificando-se com o tempo e o funcionário
vem necessitando adaptar-se às novas tecnologias. Beauvoir (1990, p. 281) aponta que
“em todas as profissões, falta aos trabalhadores idosos interesse pela novidade; a
rotina prejudica seu rendimento”. Mesmo o acatando a idéia do novo, o aposentado
ou idoso, poderá aceitar participar, de continuar a ter participação ativa. Nesse caso,
ele correrá o risco de esbarrar em mais um preconceito: de que ele não consegue mais
se adaptar, por inúmeros motivos, sejam eles de ordem física ou mental.
É importante frisar que esses preconceitos se originam da ideologia do capitalismo,
que considera o idoso como não apto a aumentar a produtividade e o lucro do capital.
No Brasil, a condição econômica dos idosos é agravada pela desvalorização gradativa
do valor da aposentadoria, constituindo assim, um empecilho à manutenção do nível de
vida conquistado no tempo de atividade laborativa. O máximo do valor da
aposentadoria da maioria da população pelo INSS é de dez salários mínimos. E os
idosos, em sua maioria recebem apenas um salário mínimo.
De acordo com Haddad (1986), em geral, os problemas enfrentados pelos idosos
são semelhantes nos vários países da América Latina, pois dependendo do estágio de
desenvolvimento econômico de cada país e das particularidades de suas estruturas
sociais, pode-se perceber como é tratada a questão do envelhecimento e dos velhos no
seio de cada sociedade.
O Estado brasileiro, nesse caso, posiciona-se de forma objetiva, pois afirma que o
aumento da população idosa fez com que se defina uma “problemática social”
(HADDAD, 1986). Deve-se entender por isso então que, a responsabilidade direta
sobre os idosos recai sobre a família (quando os idosos possuem), as instituições e
sobre o próprio Estado, como foi apresentado anteriormente nas políticas sociais
voltadas para esse segmento.
Nas sociedades pré-industriais, as famílias se caracterizavam por sua extensão (era
comum o convívio de três a quatro gerações sob o mesmo teto). O idoso, como
membro mais velho da família, desfrutava de prestígio e status elevados em algumas
sociedades. A industrialização e a urbanização trouxeram como conseqüências,
mudanças sociais que afetaram a estrutura da família, originando modificações dos
padrões e valores culturais, como sinaliza Beauvoir (1990, p. 273):
Na sociedade antiga, composta essencialmente de camponeses e
artesões, havia uma exata coincidência entre profissão e existência; o
trabalhador vivia no lacal de trabalho; as tarefas produtivas e as
domésticas confundiam-se (...) quando se tornava inteiramente incapaz,
o velho vivia com a família, que assegurava sua subsistência.
A família, enquanto uma instituição fundamental para a vida das diferentes
sociedades passadas e atuais, vem sofrendo modificações com o desenvolvimento das
forças produtivas e o intenso processo de industrialização. Essas famílias foram
assumindo feões urbanas e tornando-se nucleares, ou seja, famílias antes eram
extensas, hoje se resume ao pai, mãe e filho em sua grande maioria.
Nesse contexto, o idoso que mora com sua família vai perdendo sua autonomia, seu
poder de decisão. Para Beauvoir (1990, p. 305), “eles [os idosos] sofrem com a
dependência. Sentem-se explorados ou maltratados pelo resto da família”. Os idosos
que não têm família moram sozinhos ou em instituições de Longa Permanência,
denominação contemporânea dada aos antigos Asilos.
Como alternativa para idosos que não têm mais como prover seu sustento ou que
não possuem mais condições físicas de residir sozinho, o asilo surge como última
opção.
Uma alternativa válida como forma efetiva de atender esse segmento seria,
mantendo a idéia de Estado
15
, em consonância com a PNI, de que o lugar do idoso é
fora da instituição asilar, poderiam ser mobilizados diversos setores da comunidade
15
De acordo com a PNI, o seu art. 3º faz referência a esse fato, quando coloca o Estado em último estágio como
provedor do bem estar do idoso.
para a criação e implementação de serviços destinados à população idosa, como forma
de ocupar produtivamente esse segmento da população, em colaboração com suas
comunidades. A esse respeito, Salgado (1990) sinaliza que envolvendo os idosos na
comunidade, favorece para que sejam desenvolvidas as relações familiares e sociais,
quando estas existirem.
Essa iniciativa de interação do idoso com a comunidade pode ser vista como um
fator positivo que vem contribuir para o seu bem estar social. Ademais, não podemos
esquecer da parcela de idosos que existem no Brasil, mais especificamente em Manaus
(lócus da pesquisa), a qual ainda se encontra apta ao trabalho e vivencia uma condição
de velho e trabalhador.
2.2 O trabalho depois dos 60 anos
O trabalho é compreendido como um fenômeno global que abrange todas as
dimensões humanas, as materiais e as intangíveis. Suas características na sociedade
contemporânea começam a mudar, qualitativamente quando aparece o desemprego
estrutural nas economias de todo o mundo, passando a ser objetivação humana e um
meio de sobrevivência.
Portanto, na se pôde sinalizar que a “era do trabalho” seja contemporânea, sendo
uma relação contraditória, que segundo Marx (1978), o trabalhador vende sua força de
trabalho para sua reprodução da vida e ao mesmo tempo ele se torna sua opressão,
porque na verdade vende seu tempo de serviço, não vende um produto, tornando ele
próprio uma mercadoria.
Muitas das concepções sobre o trabalho, inspiradoras da política econômica e
social, baseiam-se em situações do passado dificilmente reproduzíveis no futuro
(ANTUNES, 2005).
O trabalhador que envelhece se especialmente afetada pelas limitações do
trabalho existente, por estereótipos sobre sua capacidade de trabalhar e pela definição
clássica do trabalho como obrigação pouco prazerosa da qual se aposentam as
pessoas com o passar dos anos.
Para Moragas (2000), o significado moderno de trabalho industrial é considerado
incompatível com a velhice: o trabalho é coisa de adultos e de jovens.
Na idade média, o trabalho se realizava não como mera transação pelo salário, mas
com um significado global: o trabalho artesanal como um ofício supunha uma situação
vital permanente, com uma estrutura ocupacional definida com critérios de promoção,
status e assistência até a velhice. O velho artesão não era excluído subitamente de sua
atividade. O grêmio era seu protetor na velhice e até responsável pelo seu enterro. No
trabalho agrícola, a situação também era global (MILLS, 1969).
Quando surgem os ideais de liberdade pessoal e o nascente do capitalismo, tem-se
necessidade de mão-de-obra para suas empresas, surge assim a mão-de-obra
abundante, procedente do campo, que se dirigem às cidades para encontrar novas
formas de vida. O primórdio do capitalismo faz com que o artesão saia da sua casa,
lócus de seu trabalho de artesão para tornar força de trabalho, uma mercadoria, não
tendo mais a visão da totalidade de seu trabalho, a criação do produto do seu trabalho.
Antunes (2005), reporta-se em Marx apontando diversos acontecimentos que
contribuem para confirmar a natureza pesada, quase intolerável do trabalho industrial: a
exploração dos assalariados, aceleração dos ritmos de trabalho, entre outros. Sua
natureza alienadora se generaliza, fazendo com que se torne um patrimônio somente
dos adultos fortes, excluindo os mais fracos, as crianças e os velhos.
Trabalho e velhice são considerados realidades opostas na sociedade industrial, ou
ao menos dificilmente compatíveis, evocando papéis contraditórios.
De acordo com alguns estudiosos (MARX, 1978; CATTANI, 1996; SINGER, 1998;
ANTUNES, 2005) trabalho (papel ativo), constitui em produtivo; gerador de renda;
exigências sicas, psíquicas e sociais; ritmo intenso; obrigação, carga,
responsabilidade.
A velhice (papel passivo) para alguns autores da área do envelhecimento, constitui
em: não-produtiva; recebedora de pensão, pouca aptidão física; ritmo vital lento;
isenção de obrigações e de responsabilidades (MORAGAS, 2000).
Esta dicotomia, no entanto, constitui uma simplificação da realidade, mas a velhice
continua configurando-se como um período de vida caracterizado pela ausência de
trabalho.
Pouco importa que a realidade dos trabalhadores autônomos, profissionais ou
agricultores independentes, mostre que se pode trabalhar normalmente até o fim da
vida. A velhice acaba se definindo como um período de ausência de trabalho, e esta
atitude se reflete na quantidade de termos aplicáveis aos idosos: classes passivas,
aposentados, pensionistas e se incute na mentalidade popular a relação velhice-
ausência de trabalho, aparecendo os estigmas ora construídos pela sociedade, os
quais foram apresentados anteriormente nesse estudo.
Estatisticamente, comprova-se a queda da taxa de atividade, por idades, que é
decrescente em todos os países, a partir dos quarentas e cinco anos.
A prova de que os trabalhadores idosos podem ser competentes e efetivos é
constatada em tempos de guerra, quando os jovens partem para a frente de luta e as
indústrias bélicas recorrem aos aposentados, sem que os níveis de produtividade
baixem (HARVEY, 2005).
Em face dos mitos e da inaptidão do idoso para o trabalho, Moragas (2000) recorda
o trabalho dos agricultores independentes, dos profissionais, dos artesãos de qualquer
época passada, quando não existia o conceito de trabalhador aposentado, mas de
trabalhador realizando as tarefas de acordo com as próprias possibilidades, como
existe ainda hoje no meio rural, em que crianças e velhos se ocupam das tarefas
agrícolas, juntamente com os adultos. E, por fim, deve-se reconhecer que muitos idosos
trabalham por realização pessoal ou por necessidade econômica, especialmente
aqueles cujas pensões não satisfazem as necessidades básicas.
Para Marx (1978) o significado do trabalho para o desenvolvimento do homem,
assim como as distorções desse desenvolvimento na sociedade capitalista tornou o
homem uma criatura alienada, especializada, animalizada e despersonificada.
Mills (1969) sinaliza que os trabalhadores têm a opinião fatalista de que o trabalho é,
em si mesmo, desagradável e nas condições da época, o que não se diferencia muito
da época atual, os processos diretamente técnicos do trabalho vêm perdendo seu
significado para a massa dos empregados, enquanto em outros aspectos, a renda, o
poder e o status, sobem em primeiro plano.
Segundo Moragas (2000), no fim do século XIX, na Inglaterra, surgiram as primeiras
regulamentações sobre a idade da aposentadoria, fixada inicialmente em setenta anos
e progressivamente rebaixada. No Brasil, ha algumas décadas iniciou-se a revisão dos
limites de idade ou do direito ao trabalho, que é reconhecido em todas as constituições,
e com isso pode-se dizer, que se perde algum status, passando do ser ativo ao inativo.
Contemporaneamente, a nova tendência em decisões judiciais e as disposições
administrativas reconhecem, cada vez mais, o direito do cidadão ao trabalho, sem
considerar a idade, desde que possua as apties necessárias.
Entretanto, embora nos textos legais estejam sendo suprimidas essas limitações, os
usos sociais limitam e reduzem as idades para o ingresso no mundo do trabalho. As
empresas e a própria administração pública continuam preferindo os trabalhadores
jovens, e as idades de aposentadoria se reduzem continuamente (MORAGAS, 2000).
Os equívocos surgem quando se considera a idade cronológica como definidora da
capacidade de trabalho. Isto era certo no início do trabalho industrial, quando o esforço
físico era esgotante e os trabalhadores chegavam ao fim da vida extenuados,
necessitando realmente descansar. Seria realmente racional medir individualmente as
aptidões para desempenha cada tipo de trabalho com base em suas exigências e na
capacidade real da pessoa.
Moragas(2000) enfatiza dois fatores que influem sobre o trabalho dos idosos: a
redução da população ativa e a orientação ideológica.
Redução da população ativa. A quantidade de pessoas necesrias para
produzir os bens e os serviços nas sociedades modernas reduziu-se nos últimos anos.
A melhoria da produtividade se deve a inovações tecnológicas e ao interesse das
próprias empresas em reduzir a mão-de-obra. A máquina não se filia a sindicatos, nem
participa de greves. A população ativa diminui através de diversas medidas, da redução
das idades de aposentadoria para os adultos e do prolongamento da formação para os
jovens e sua entrada tardia na força de trabalho (Idem).
Orientação ideológica. Em face desta situação confrontam-se duas posturas
ideológicas. De um lado, os empresários e os economistas defendem o dinamismo da
economia na criação de funções de trabalho em virtude da expansão da demanda. De
outro lado, ideologias ecologistas, pacifistas, socialistas, clássicas, consideram que o
conjunto do trabalho a realizar é limitado. Para este grupo, a solução se baseia na
divisão do trabalho total disponível entre todos os demandantes (MORAGAS, 2000).
Caso prevaleça a ideologia do crescimento nos meios produtivos, os idosos terão
maiores possibilidades de trabalhar do que se prevalecerem as teorias da divisão do
trabalho bem limitado, que tem de ser distribuído eqüitativamente, visto que enquanto
trabalhador ativo, desfrutaram dele durante três ou quatro décadas, e devem ceder o
seu lugar aos jovens por solidariedade social.
Conquistar e garantir espaço no mercado de trabalho nacional é um sonho que tem
se tornado um grande pesadelo para muitos trabalhadores brasileiros. A situação
complica-se, mais ainda, quando o trabalhador é idoso. A seguir será exposto um
pouco sobre a realidade desses trabalhadores que se encontram com mais de 60 anos
no Brasil, que de acordo com os dados do IBGE, em 2000, havia 14.536.029 idosos,
destes 6.533.784 pertenciam ao sexo masculino e 8.002.245 ao sexo feminino. Deste
total cerca de 68% realizavam algum tipo de trabalho.
Assim, na realidade brasileira, o envelhecimento populacional e as alterações nas
regras da Previdência - a qual está passando por uma reforma, visando dentre outras
medidas elevar a idade mínima para a aposentadoria, criando a contribuição de inativos
e pensionistas, estabelecendo redutor de benefícios para aposentadorias precoces e
definindo teto e subteto salarial no funcionalismo, atingindo dessa forma, principalmente
os servidores públicos, deverão provocar alterações cada vez mais visíveis na estrutura
etária da população economicamente ativa. (PASTORE, 2003).
Atualmente, a onda de desemprego gerado em parte pelo processo de globalização
da economia, mas principalmente pela desigualdade social na distribuição de bens e
serviços, bem como das riquezas geradas na sociedade, afeta fortemente os adultos
mais velhos. Uma vez desempregados,homens e mulheres de mais de 40 anos
dificilmente encontram outra colocação, sendo que os postos de trabalho ao longo dos
anos vem sofrendo um drástico corte. Pastore (2003), sinaliza que as economias não
estão dando conta de criar novos empregos para atender à demanda da população
jovem, assim, pergunta-se: o que será dos mais velhos?
Em relação às leis brasileiras de proteção aos direitos dos idosos ao emprego e à
aposentadoria, na prática, quase não funcionam. O afastamento dos trabalhadores
antes de 60 anos, ou mesmo antes do tempo que lhes permita completar o tempo para
a aposentadoria, analisado por Neri (2002), indica que os mesmos são colocados à
margem do processo produtivo formal, portanto deixando de contribuir para a
Seguridade Social.
Estudos de Camarano, 2001 revelam que até os anos 1960, a faixa de idade em que
se considerava um trabalhador como idoso era de 50 a 55 anos. Nos tempos atuais,
mesmo nos países desenvolvidos, adultos que mal atingiram 40 anos de idade são os
primeiros a serem vítimas do desemprego e da falta de oportunidades de treinamento,
com a alegação de obsoletismo, ou seja, de um envelhecimento precoce e indesejável
ao mercado de trabalho.
Sobre isso Neri (2002), aponta que em contextos onde impera forte desigualdade
social, traduzida em baixos índices de desenvolvimento humano, a idade cronológica
chega a ser um elemento quase irrelevante para definir quem tem acesso a
oportunidades de trabalho formal. Mesmo assim, os trabalhadores idosos sofrem
sensível desvantagem graças aos estereótipos que afetam as pessoas mais velhas no
contexto do trabalho.
Para esta autora, esses estereótipos estão solidamente ancorados em crenças
correntes entre leigos, indo além, quando diz que tanto a medicina quanto a psicologia
têm contribuído de maneira importante para a sua manutenção, explicando que durante
pelo menos 60 anos, no século XX, ambas defenderam conceitos negativos de velhice,
identificando-a com doença, com incapacidade física cognitiva e com tendência à
rigidez e ao afastamento social.
A análise ora apresentada reforça o que já foi abordado neste trabalho em relação
as diferentes representações sociais da velhice e do envelhecimento, mas de maneira
geral, a mesma choca ainda mais por se tratar de ciências importantes para o ser
humano localizado dentro de uma sociedade, onde hipocritamente prezam a
democracia e a vida sem discriminações.
Contudo, nos dias atuais, verifica-se que essa realidade vem mudando, em face do
prolongamento da vida, caracterizado como um fenômeno mundial.
Mas, essa mudança caminha em passos lentos e por causa dos estereótipos ainda
presentes sobre velhice e envelhecimento, os trabalhadores mais velhos tendem a ser
visto como obsoletos, improdutivos, resistentes à mudança e desmotivados, muito
embora estudos revelem que isso é um mito e não um fato, como apresenta Neri (2002,
p.11):
O fato de os trabalhadores mais velhos serem eficientes em muitas
atividades que requerem persistência, precisão, experiência, capacidade
de solução de problemas práticos, pontualidade, assiduidade e cuidado,
bem como o fato de se mostrarem flexível e motivados a enfrentar
desafios, desmentem muitos dos estereótipos correntes sobre o
envelhecimento.
Ressalta ainda que a realidade tem mostrado que, embora lentamente, com maior
freqüência de erros e com maior necessidade de ajuda do que os mais jovens, muitos
adultos, assim como idosos são capazes de adaptar-se às mudanças tecnológicas. Ou
seja, a sua permanência no trabalho é um sinal de que os mais velhos são sensíveis ao
treino cognitivo e capaz de generalização de novas aprendizagens, a despeito de
estarem em desvantagem educacional frente aos trabalhadores mais jovens e,
ambientes desafiadores exercem influência capital sobre a continuidade de seu
funcionamento intelectual.
Assim, algumas dessas avaliações são apontadas como justificativas para não
investir nos idosos, vistos que pouco se acredita no retorno dos custos do seu
treinamento, e enfim para afastá-los do trabalho, para que seus erros não prejudiquem
a organização. (idem).
Isso é o que apontam algumas pesquisas, relatando que certas atividades
organizacionais geram diferentes conceitos quanto aos limites etários e às avaliações
das habilidades do trabalhador mais velho.
Em empresas onde os procedimentos de trabalho permanecem inalterados por
períodos mais longos, ou naquelas que precisam investir numa imagem conservadora
das tradições, por exemplo, os trabalhadores mais velhos são mais valorizados do que
naquelas em que o conteúdo de trabalho muda rapidamente, ou que pretendem
destacar-se pela novidade (Jornal À Crítica, agosto de 2002).
Apontam também que hotéis e pousadas; fábricas de remédios, fraldas e comida
para bebês; empresas de seguro, firmas de previdência privada e instituições para
idosos, como é o caso de Manaus (Parque Municipal do Idoso), tendem a valorizar a
presença de pessoas mais velhas, quer na produção e na administração, quer na
propaganda de seus produtos.
2.3 Breve contextualização histórica da Aposentadoria no Brasil
No Brasil, assim como em outros países, a aposentadoria surge a partir do
desenvolvimento industrial, do acirramento da relação Capital X Trabalho que acabou
mobilizando e organizando os trabalhadores a reivindicar a regulamentação da força de
trabalho e a exigir direitos e benefícios, sendo ainda destacada como o primeiro dos
seguros sociais que se colocou no centro do confronto entre essa relação.
O que seria a aposentadoria então?
Visando responder essa pergunta foi utilizado entre outros recursos o Novo
Dicionário de Economia de Sandroni (1994, p.15), o qual indica em poucas palavras o
seu teor:
É o direito que tem o segurado
16
de retirar-se da atividade profissional e
passar a receber um pagamento periódico por conta da instituição
previdenciária. Esse afastamento ocorre quando o segurado não pode
mais trabalhar, por invalidez ou velhice, ou depois que houver exercido
por longo tempo, fixado em lei, sua atividade profissional.
16
Segurados são todos os trabalhadores com carteira assinada, os quais automaticamente estão filiados a
Previdência, e também os que apesar de não terem sua carteira assinada, contribuem com a Previdência de forma
individual e/ ou autônoma (profissionais liberais/ estudantes etc), sendo que a legislação previdenciária possui as
figuras dos (1) contribuintes individuais, (2) segurados facultativos e (3) segurados especiais. (INSS, 2003).
Como se apresenta, verifica-se que a aposentadoria está ligada a Previdência
Social
17
, sendo que o surgimento desta instituição está vinculado à luta dos
trabalhadores e sindicatos por melhores condições de vida, conforme será apresentado
a seguir.
Segundo Cohn (1980), um dos primeiros países a estabelecer a aposentadoria foi à
Alemanha, por volta de 1880, instituindo ampla legislação assistencial, incluindo
pensões para os velhos. Mas as medidas previdenciárias se intensificaram com a
ascensão de governos social-democratas a partir da Segunda Guerra Mundial. Em
1915, foi a vez da Inglaterra, a qual instituiu o seguro social para os velhos. Na França,
o governo da Frente Popular, formado em 1936, promoveu reformas sociais que
incluíram a previdência social.
Conforme esta autora, o sistema previdenciário brasileiro é regido pela Lei Orgânica
da Previdência Social (LOPS), instituído em 26 de agosto de 1960, o qual se mantém
até hoje por meio de contribuições obrigatórias de empregados e empregadores,
calculadas sobre os salários pagos.
17
Sobre a Previdência Social, Sandroni (1994) expõe que a mesma é um conjunto de instituições estatais destinadas
a prestar assistência aos assalariados e suas famílias. Proporciona benefícios em dinheiro (pensões, auxílio-doença,
maternidade, funeral), além de atendimento médico e hospitalar. Dados oficiais (INSS, 2003) explicam ainda que
Previdência Social é a instituição pública que tem como objetivo reconhecer e conceder direitos aos segurados. Ela,
juntamente com a Saúde e a Assistência Social, compõem a Seguridade Social, que é a política pública de proteção
integrada da cidadania. Faz-se necessário comentar que nos dias atuais a previdência brasileira está passando por
uma reforma, a qual não será trabalhada neste pesquisa e sim citada no decorrer dos capítulos, por ser entendido
que a mesma além de fugir dos objetivos propostos, ainda está em via de consolidação.
Segundo ela, a primeira lei previdenciária no país foi a Lei Elói Chaves (Decreto-Lei
4.682), de 1923, criando as caixas de aposentadoria e pensões (CAPs) para os
ferroviários.
Faleiros (1985) compartilha da mesma opinião, e aponta ainda que a aprovação
dessa Lei significou a primeira medida de Política de Seguro Social no país,
desenvolvendo-se realmente um sistema de proteção social no interior das empresas.
Dessa forma, os trabalhadores passaram a contar com a assistência médica,
aposentadoria-doença, assim como pensão para os familiares em caso de morte do
segurado. Ou seja, o sistema de CAPs era restrito a cada empresa, sendo financiado
pelas contribuições dos empregados que, a princípio, foi de 3% do salário
18
, do
empregador e do Estado. Tanto os empregados, quanto os empregadores, em número
equivalente de representantes, administravam o fundo das pensões (COHN, 1980).
A esse respeito, Faleiros (1985), faz uma reflexão crítica quanto à participação do
trabalhador no financiamento das CAPs, alertando que o trabalhador é obrigado a
contribuir na manutenção de sua própria força de trabalho, beneficiando amplamente o
sistema:
Os seguros, ao estabelecerem um direito sócio-econômico e a
quotização obrigatória, permitem socializar os custos da
manutenção da mão-de-obra entre os próprios trabalhadores, sem
gastos complementares importantes para o capital. Assim, são os
próprios trabalhadores que financiam os serviços de saúde, de
18
É importante registrar que os trabalhadores sofreram aumentos posteriores no decorrer do tempo.
educação, jurídicos, de assistência, que eles recebem (idem, p.
25).
Segundo ainda este autor, mais tarde, na década de 30, do século XX, foram criados
vários institutos de aposentadorias e pensões (IAPs) dos industriários, comerciários,
bancários etc, ligados ao Ministério do Trabalho, sendo unificados em 1967 no Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS). Em 1974, a direção de todo o sistema
previdenciário passou ao então criado Ministério da Previdência e Assistência Social.
Faz-se oportuno enfatizar que na década de 30, o cenário econômico, político e
social do país estavam em crise, determinado pela crise de 29, impulsionando desse
modo, a ampliação do sistema previdenciário que passou a ser competência do Estado,
atendendo algumas reivindicações da classe operária, que organizada, reivindicava
vários direitos por se encontrar explorada e desassistida.
No que diz respeito ao Brasil, Peixoto (1998) chama atenção ao apontar que a
primeira concessão ao direito à aposentadoria data do final do século XIX,
especificamente no ano de 1890, quando o Ministério da Função Pública concedeu aos
trabalhadores das estradas de ferro federais direito à aposentadoria e férias
remuneradas. Logo depois, esse direito foi ampliado a outros funcionários públicos
como: os trabalhadores do Ministério das Finanças (1891), da Marinha (1892), da Casa
da Moeda (1911), do Porto do rio de Janeiro (1912). Ou seja, verifica-se que os
primeiros direitos trabalhistas foram concedidos depois da abolição da escravidão
em 1888, e já na república.
Seguindo o percurso, a previdência foi estendida ainda aos trabalhadores do campo
em 1971 (criação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural Funrural) e aos
empregados domésticos em 1972 (idem).
A autora ressalta também, no referente às políticas sociais voltadas para a velhice, à
criação em 1973, pelo Ministério do Trabalho e pelo INPS, da aposentadoria-velhice,
concedida aos homens de mais de 65 anos e às mulheres de mais de 60 anos, e do
Decreto-lei de 1974 que estabeleceu uma renda mensal vitalícia (60% do salário
mínimo) para as pessoas de mais de 70 anos.
Assevera ainda que apesar disso, foi somente em 1988, com a nova Constituição
Brasileira que se reconheceu pela primeira vez a importância da questão da velhice e
se estabeleceu que o valor da aposentadoria deveria basear-se no salário mínimo: “a
família, a sociedade e o Estado têm o dever de cuidar dos idosos, assegurando-lhes
uma participação na vida comuniria, protegendo sua dignidade e bem-estar,
garantindo-lhes o direito à vida” (art. 230). A partir de então, este artigo constitucional
passou a permear as posteriores políticas de atenção ao idoso criadas no Brasil. (ver o
Capítulo I).
É importante ressalvar que tem direito à aposentadoria quem estiver em dia com
a Previdência Social, contribuindo com a mesma, sendo este sujeito de direito. Caso
contrário e comprovando ser idoso carente, sem meios de prover a sua própria
subsistência, torna-se sujeito de assistência, tendo direito ao BPC (Benefício de
Prestação Continuada), ambos garantidos em lei.
Continuando a trajetória, em 1977 foi criado o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social, sendo desmembrado em um novo órgão, o setor de assistência
médica, denominado a partir daí de Instituto Nacional de Assistência Médica e
Previdência Social (INAMPS). E no ano de 1990 foi à vez do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), o qual foi substituído após a Constituição Federal de 1988,
pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), vigente até hoje (PEIXOTO, 1998).
Dessa forma, a Previdência Social faz parte da Seguridade Social no tripé:
Previdência Social, Assistência Social e Saúde, assegurada na Constituição Federal
Brasileira. Assim, tanto a previdência social, quanto a saúde e a assistência social
compõem, de forma integrada, a seguridade social que é financiada, também de forma
integrada, pela folha-de-salários, COFINS, lucro e CPMF, além de outras fontes (INSS,
2003).
Nesse sentido, a aposentadoria previdenciária em todos os países encontra-se
legalizada, apesar das diversidades existentes (variando de acordo com o aspecto
social, econômico, político e cultural de cada país).
Mas cabe registrar que ela é um direito de todos os trabalhadores que contribuem
para o seguro social. Estando a sua concessão estipulada em forma de aposentadoria,
na maioria dos países em via de desenvolvimento, como o Brasil, a partir de 60 anos
para as mulheres e, 65 anos para os homens, na zona urbana; e 55 anos para as
mulheres e 60 para os homens, na zona rural, existindo um tempo mínimo para sua
contribuição.
Normalmente, em território brasileiro esse tempo mínimo varia da zona rural para a
zona urbana, assim como em sua forma de contribuição. Sendo estipulado seu tempo
de contribuição em 30 anos para a mulher e 35 anos para o homem.
Sintetizando, em virtude da trajetória da aposentadoria brasileira ser bastante
extensa, a aposentadoria foi com certeza um dos principais e importantes direitos
conquistados pelos trabalhadores. A mesma encontra-se dividida em quatro tipos
dentro da Previdência Social: aposentadoria por invalidez; aposentadoria por idade;
aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria especial, juntando-se a outros
seis benecios oferecidos também por essa instituição aos seus segurados: auxílio-
doença; auxílio-acidente; auxílio-reclusão; pensão por morte; salário maternidade e
salário família.
2.4 Aposentadoria e trabalho: alguns aspectos sociais
Antes de serem analisados os aspectos sociais postos pela aposentadoria, faz-se
necessário explicar que a mesma está situada dentro de uma sociedade político,
econômico e socialmente organizada, como exposto anteriormente. Deste modo, os
seus aspectos dependem muito de tal sociedade, podendo ser apresentada de diversas
formas.
No Brasil, a sociedade é regida pelo modo de produção capitalista (isso porque ele é
um país dependente das tecnologias e do capital externo). A partir das leis que este
sistema impõem, os homens produzem e reproduzem as suas condições materiais da
existência e constroem as suas relações sociais.
Beauvoir (1990), em referência ao sistema capitalista, assinala que no mesmo é
levado em consideração na maioria das vezes apenas o interesse da economia, ou
seja, do capital e não das pessoas. Mesmo sendo através da força de trabalho do
homem construídas as riquezas do dono dos meios de produção. Nesse sistema, o
trabalho é fonte de lucro, pois, parafraseando Marx, é através da mais-valia que o
capital se reproduz.
Nesse aspecto, e referindo-se aos idosos, estes representam presa fácies para esse
sistema excludente, o qual privilegia a força de trabalho jovem. Assim, acabam sendo
eliminados cedo do mercado de trabalho, retirando deles a possibilidade de trabalhar, e
condenando a maioria à própria sorte, que o capitalismo considera a mão-de-obra do
velho inoperante no meio de produção (BEAUVOIR, 1990).
Remetendo-se essa análise a problemática do idoso, verifica-se que este é
percebido como não mais produtor de bens e serviços e, portanto, marginalizado nos
contextos sociais pautados pelo valor produtivo, reforçando que o sistema capitalismo
não aceita o velho, nem concebe possibilidades para a sobrevivência de sua obra,
sendo alijado da mesma quando perde a sua força de trabalho, como se não tivesse
mais condições de contribuir com ele (idem).
Rodrigues (2000) assinala que através dessa importância aferida ao indivíduo
enquanto trabalhador emergem questões referentes à aposentadoria, pois na língua
portuguesa, o vocábulo aposentadoria remete, etimologicamente, à noção de
recolhimento ao interior da habitação, dos aposentos, entre outros.
Assim, a aposentadoria simboliza a perda de um papel social fundamental o de
indivíduo produtivo passando a ser sintoma social de envelhecimento, negando a
identidade do mesmo e discriminando-o enquanto cidadão, ao mencionar o seu
“recolhimento”. Demonstrando que a própria imagem que se tem da aposentadoria está
inferida em sua própria terminologia, tendo uma significação pejorativa. O que explica
em parte, a negação ou rejeição da maioria dos trabalhadores em via de aposentadoria,
não aceitá-la. E ainda a lógica capitalista de sempre buscar o novo e o belo, não
pensando na perda ou morte.
Mas, para outros aposentados, sobretudo os “jovens aposentados”, as expressões
sobre a aposentadoria são vistas com entusiasmo, pois para alguns ela “significa
principalmente o tempo liberado à cristalização dos velhos sonhos e, portanto, à
realização de um novo projeto de vida” (PEIXOTO, 1998, p. 74).
Quanto a essa relação, Rodrigues (2000, p.28) apresenta algumas contradições:
...de um lado, alguns a vivem como um tempo de “liberdade”, de
“desengajamento profissional”, de “possibilidade de realizações”, de
“fazer aquilo que não se teve tempo de fazer” durante a vida ativa, de
“aproveitar a vida”, de “não ter mais patrão, horários obrigatórios”, etc.,
de outro, outros a consideram como um “tempo inútil”, de
“desvalorização social”, “sem sentido”, “vazio”, tempo de nostalgia”, de
enfado”, etc.
Esta autora enfatiza ainda que essa contradição não cessa por aí, ressaltando que o
tipo de trabalho realizado influi muito na hora da decisão de querer ou não se aposentar
e de ter ou não uma iia negativa sobre a mesma, reforçada, sobretudo pelo próprio
sistema vigente que exclui e marginaliza o velho. Assim Rodrigues ressalta:
...para os que realizam trabalho repetitivo, fatigante, a cessação
da atividade representa uma libertação, o final de um tempo
penoso, de um trabalho não desejado; ao contrário, os que
valorizam o trabalho, que lhes representa um enriquecimento
diário, não desejam a aposentadoria obrigatória, nem a cessação
da atividade profissional e aspiram à liberdade da escolha da
época e da idade para se aposentar. (2000, p.75).
O fato é que na legislação brasileira nem sempre o idoso tem escolha. Muita das
vezes ele é imposto a certas situações, como é o caso da aposentadoria obrigatória ou
compulsória (no Brasil essa legislação contempla a idade de setenta anos).
quem não concorde com essa legislação, defendendo que nem sempre ela é
justa, pois na maioria das vezes os trabalhadores são aposentados quando ainda
possuem capacidade e vontade de continuar trabalhando, ignorando o potencial
produtivo de cada um. E pior quando sob o ponto de vista administrativo, a mesma seja
vista como solução para a entrada dos jovens no mercado de trabalho, ignorando as
alternativas da aposentadoria voluntária e flexível, com emprego seletivo para os idosos
(RODRIGUES, 2000).
Segundo Beauvoir (1990, p. 299), ao analisar as conseqüências da aposentadoria, a
mesma apontou que ela (aposentadoria) “acarreta para a maior parte dos
trabalhadores, a perda de status e uma queda de nível de vida”, considerando
principalmente, o baixo valor das mesmas, principalmente em países periféricos, cuja
má distribuição de renda é um dos principais problemas sociais.
Refletindo sobre essa problemática da aposentadoria, verifica-se que quando o
idoso perde sua condição de ser produtivo, seja pela aposentadoria, seja pelo
desemprego, ocorre uma diminuição no seu poder aquisitivo, o que gera cortes no seu
consumo e queda no seu pado de vida. Como a valorização do ser humano nesta
sociedade é dada pelo valor atribuído à sua produção e poder de compra, e sendo o
retorno do idoso ao mercado de trabalho muito difícil, a idade passa a funcionar como
um valor que gera desvalorização.
É importante registrar também, que a aposentadoria tem significados diferentes para
o homem e para a mulher. O primeiro, lançado ao mercado de trabalho muito jovem,
quando se aposenta sem um projeto de vida
19
determinado ou planejado, sente-se
excluído, principalmente quando é substituído em casa pela mulher que geralmente
19
Segundo Rodrigues, o Projeto de Vida é eminentemente pessoal, devendo ser desenvolvido de acordo
com nossa criatividade, capacidade, valores, concepções de vida, saúde física e mental; depende de
nossa vontade de continuar vivendo, vivendo como cidadão “prestante”, quer dizer, sendo útil a si mesmo
e à sociedade. Deve ser um projeto exeqüível, flexível, capaz de ser posto em execução, respondendo às
nossas necessidades e aos nossos desejos. (2000, p. 19-20).
comanda a casa (em sua maioria, a mulher tem o controle do lar, mesmo exercendo
outras atividades fora dela), ou pelos filhos, desvelando os conflitos entre gerações.
a mulher quando se aposenta tende a sentir menos que o homem, essa perda e/ ou
ruptura social, devido ao cotidiano muitas vezes estressante em que ela convive
driblando os compromissos dentro e fora do lar, o que para grande parte, a chegada da
aposentadoria irepresentar uma fase de descanso”, pelo menos do trabalho fora de
casa (BEAUVOIR, 1990; RODRIGUES, 2000).
Desse modo, pode-se dizer que: a aposentadoria traz rias conseqüências
psicossociais e econômicas, entre elas, a perda do direito de continuar trabalhando,
mesmo que tenham vontade. Tornando visíveis os aspectos sociais ou as
conseqüências sociais positivas e negativas da mesma.
Todavia, e vindo à tona o objetivo central desta pesquisa, nem sempre a
aposentadoria representa um rompimento com o mundo do trabalho. No Brasil, por
exemplo, pressões econômicas, sociais, culturais ou outras fazem com que parte dos
idosos ,aposentados ou não, retornem para o mercado de trabalho, gerando ou não
impactos em suas vida no cotidiano, conforme será explicitado no próximo capítulo.
2.5 O idoso aposentado que trabalha no Brasil
A participação do idoso no mercado de trabalho brasileiro sofreu poucas variações
entre os anos de 1988 e 1998. Isto é o que confirma a pesquisa realizada por
Camarano em 2001.
Conforme tal pesquisa, nesses dez anos essa participação sofreu poucas variações,
não mostrando uma resposta expressiva ao aumento da participação de aposentados,
porém, considerando os padrões internacionais (o retorno do idoso aposentado de
outros países tem uma representatividade muito pequena frente à brasileira), a mesma
é vista como alta e significativa, podendo com a longevidade da população afetar a
composição da População Economicamente Ativa (PEA-2001).
Camarano (2001) acredita que duas variáveis influem na participação do idoso no
mercado de trabalho: a idade e a educação, sendo que a primeira é revelada como um
efeito negativo e a última, positivo. Outro dado interessante analisado pela autora, são
as variações na taxa de participação feminina idosa, representando ser menor do que
as verificadas para a correspondente masculina. Esses dados identificam que o retorno
da mulher ou sua permanência no mercado de trabalho vem crescendo, porém nada
comparável ao do homem que, histórica e culturalmente, entra mais cedo e permanece
por mais tempo no meio produtivo.
Na realidade, esse reflexo se deve ao fato da efetiva inserção da mulher no mercado
de trabalho. De acordo com Goldani (1994) foi a partir da década de 60, com o reflexo
da urbanização e industrialização no Brasil que houve significativas mudanças entre os
padrões familiares correspondentes à mulher. Seu início no mercado de trabalho foi
uma dessas mudanças. Ela ocorreu de maneira muito diferente da época da revolução
industrial em que as mulheres trabalhavam apenas como complemento da renda
familiar.
Na atualidade existem muitas mulheres chefiando famílias, ocorrendo uma
inversão de papéis. E isto tem reflexos na sociedade como um todo, pois culturalmente
as mulheres sempre foram ligadas a atividades domésticas e educadoras.
(RODRIGUES, 2000).
De acordo com Camarano (2001), em 1998, parte expressiva da PEA idosa era
constituída de aposentados, a qual vem crescendo ao longo do tempo. No caso
masculino, 58,6% mesmo aposentados continuavam trabalhando. o sexo feminino,
representava 40,1%.
O aumento da parcela da PEA constituído por aposentados pode estar refletindo,
pelo lado da oferta, maior cobertura do benefício previdenciário e aumento da
longevidade conjugado com melhores condições de saúde que permitam que uma
pessoa ao atingir os 60 anos possa, com facilidade exercer uma atividade econômica.
(idem).
Do lado da demanda, a contratação de um idoso representa para o empregador
algumas vantagens em termos de menores custos relativamente à contratão de um
não-idoso. Por exemplo, o empregador não terá gastos com vales transportes, pois os
maiores de 65 anos são isentos de pagamento de transporte público. (idem).
Outrossim, um idoso tem uma probabilidade maior de aceitar um emprego com
menos ou nenhuma garantia trabalhista. A não contribuição para a Seguridade Social é
um exemplo, quando o idoso é aposentado.
Saindo da realidade do idoso aposentado considerado ativo, e entrando na realidade
dos não-ativos, Pastore (2003) acredita que o retorno dos aposentados ao mercado de
trabalho é algo negativo, devido principalmente à maioria desempenhar funções que
estão aquém de suas capacidades cognitivas e racionais. Além disso, sem direitos
trabalhistas. Afirmando que com esse retorno o mercado aproveita para explorar o
aposentado.
Assim, o mesmo autor exemplifica criticando as funções geralmente dadas aos
idosos: office-boys, promotores de venda e recepcionistas etc, “essas atividades não
aproveitam os ganhos da maturidade, mas, ao contrário, acabam sinalizando e
destacando as perdas do processo de amadurecimento. Antes se falava office-boys,
agora estes estão sendo substituídos por office-idosos”. (PASTORE, 2003).
Ou seja, o empregador ao contratar o idoso não paga vale-transporte, não precisa
ter uma relação de trabalho formal, não recolhe INSS porque o trabalhador é
aposentado. Ele não tem a agilidade do jovem, mas tem filas especiais nos bancos,
passa a sensação de responsabilidade. Porém, quem acredite que “ele está tirando
o emprego dos jovens”, como a economista Camarano, coordenadora da área de
pesquisa em população e família do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA-
2001).
O fato é que embora eles permaneçam ativos, estudos revelam que depois de
aposentados a maioria não volta a trabalhar na mesma área em que se aposentou.
Contudo, é observado que a renda do trabalho do idoso assim como a sua
aposentadoria tem um peso bastante significativo na sua renda e também na de suas
famílias.
No Estado do Amazonas, por exemplo, de acordo com o Censo, em 2000, 60,4%
deles são responsáveis por domicílio. Na capital, Manaus, conforme esse mesmo
Censo, cerca de 60% não só contribuía com a renda familiar, como eram os
responsáveis por domicílios. Nesse sentido, o próximo capítulo analisará as condições
de vida e trabalho de idosos moradores da Zona Sul de Manaus, verificando quais os
impasses e perspectivas desse segmento.
Capítulo III
CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO
DE IDOSOS MORADORES DA ZONA SUL DE MANAUS
Tendo em vista todo o referencial anteriormente trabalhado, neste capítulo, irão ser
apresentados os resultados de uma pesquisa realizada com 36 idosos (ambos os
sexos), que exercem atividades remuneradas, residem na Zona Sul de Manaus, sendo
os mesmos aposentados ou beneficiários sociais (recebem BPC Benefício de
Prestação Continuada). Este estudo visa analisar as condições de vida e trabalho em
que os mesmos se encontram, a partir de três indicadores sociais apontado pelo IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), como mensurador de riqueza ou produção:
educação, habitação (ou condição no domicílio) e renda.
Face aos objetivos propostos nesta pesquisa, sua realização procedeu-se dentro de
uma abordagem quantitativa e qualitativa, a qual foi constituída pela observação
indireta, através de formulários de entrevistas, utilizando uma amostra significativa.
De acordo com Minayo (1994) o conjunto de dados quantitativos e qualitativos se
complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo
qualquer dicotomia. Assim, a pesquisa qualitativa permite o aprofundamento das
análises dos dados levantados na pesquisa quantitativa.
Nesse sentido, os sujeitos da pesquisa seriam idosos (aleatórios) residentes na
Zona Sul de Manaus que exercessem alguma atividade remunerada, no entanto,
tivemos dificuldades na pesquisa domiciliar, pois não encontrávamos idosos que
trabalhavam, assim, fez-se necessário buscar novas estratégias para a pesquisa em
questão. Cabe ressaltar que a Zona Sul
20
foi escolhida por ser a mais antiga da cidade
e, também, porque, conforme o IBGE (2000), ela abrange o maior número de pessoas
idosas, sendo que a maioria veio do interior do Estado e/ ou de outras regiões no
período de implantação da Zona Franca de Manaus.
Dessa forma, escolhemos uma instituição da Zona Sul de Manaus que trabalha
diretamente com o segmento idoso, sendo o CAIMI (Centro de Atendimento Integral à
Melhor Idade), o qual tem cadastrado cerca de 8.000 mil idosos, destes 600 são
acompanhados assiduamente pelo Centro, sendo que 60%, ou seja, 360 idosos são
moradores da zona sul, o restante são de zonas adjacentes e/ ou idosos que vêm do
interior do Estado em busca de atendimento/ tratamento médico.
Nesse sentido foi selecionada a amostra de 36 pessoas idosas (representando 10%
do universo de 360 idosos que freqüentam com assiduidade o CAIMI e que residem na
zona sul de Manaus). Assim, no momento da pesquisa documental verificou-se, através
20
A Zona Sul de Manaus congrega 31 bairros, sendo: Centro, Aparecida, Presidente Vargas, Praça 14 de Janeiro,
Cachoeirinha, Raiz, São Francisco, Petrópolis, Japiim, Educandos, Santa Luzia, Morro da Liberdade, Betânia,
Colônia Oliveira Machado, São Lázaro, Crespo e Vila Buriti (vide anexo).
do cadastro no setor de serviço social, deste Centro, que dos 360 idosos, 42 diziam
exercer alguma atividade remunerada, assim nós selecionamos uma amostra de 10%
do universo de 360, para a composição da pesquisa, sendo 36 idosos entrevistados.
Quanto às técnicas de pesquisa, foram aplicados 36 formulários de entrevistas com
questões semi-abertas junto aos idosos, para coleta de informações, referentes as suas
condições de vida e trabalho. De acordo com Pádua "formulário é o nome geralmente
usado para designar uma coleção de questões que são perguntadas e anotadas por um
entrevistador, numa situação face a face com o entrevistado" (2002. p.69).
Para a análise das informações obtidas foram sistematizados e utilizado a análise de
conteúdo, sendo agrupadas em quadros algumas falas dos entrevistados, visando
facilitar os aspectos a serem trabalhados. Elaborou-se ainda tabelas que demonstram
dados relacionados aos sujeitos da pesquisa, as quais servirão de base para a análise
em estudo.
Conforme Bardin, 1977, p.38 apud Franco, 2005, p.20, sobre a análise de conteúdo:
“... pode ser considerada como um conjunto de cnicas de análises de
comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens. A intenção da análise de
conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção e de recepção das mensagens, inferências esta que recorre a
indicadores (quantitativos, ou não)”.
Assim para a codificação da fala dos sujeitos foram utilizadas letras indicativas do
nome, a idade dos entrevistados e a profissão que exercem no momento (ex: A, 64
anos, mestre de obras), objetivando-se diferenciar as falas de cada um, como será
apresentado nas análises dos resultados da pesquisa.
Desse modo, a pesquisa de campo foi realizada entre o mês de agosto e outubro de
2007, visando analisar as condições de vida e trabalho dos idosos residentes na zona
sul de Manaus.
Assim sendo, ressalta-se que os dados foram analisados a partir das entrevistas
com os sujeitos da pesquisa e também à luz do referencial teórico utilizado, cumprindo
destacar que a pesquisa, enquanto investigação, não é algo estagnado, podendo ser
confirmadas ou refutadas as questões aqui inicialmente analisadas.
3.1 Perfil dos idosos entrevistados: condição sócio-familiar
Entendendo que as condições de vida e inserção ou não do idoso no mercado de
trabalho perpassa por aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais, foi traçado o
perfil sócio - familiar dos entrevistados, como forma de analisar melhor essa condição.
No que se refere ao sexo dos entrevistados, conforme a tabela a seguir:
Tabela 08: Sexo
Quantidade %
Masculino 31 86
Feminino 05 14
Total 36 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
A amostra configurou-se de 86% homens e 14% de mulheres. E confirmando
pesquisa realizada pelo IBGE de 2000, assim como pela Camarano em 2001, através
do IPEA, apontando que existem mais homens idosos no mercado de trabalho do que
mulheres, conforme se verifica na pesquisa, totalizando 31 homens para 05 mulheres.
Contudo, e apesar do contingente masculino ser expressivo, não se pode desprezar
a presença feminina neste processo, o qual implica dizer, que a mulher no decorrer dos
anos vem ganhando e garantindo seu espaço no mercado de trabalho, no que se refere
à divisão social do trabalho, significando que a sua volta ou continuação no meio
produtivo mesmo depois de aposentada ou beneficiária social é apenas um dos reflexos
dessa conquista (PASTORE, 2002).
Outrossim, pesquisas (IBGE, 2000; PNAD, 2001) apontam que as mulheres
constituem a maioria da população idosa brasileira. No Amazonas, em 2000 (IBGE),
existiam 70.148 mulheres idosas, contra 66.912 homens idosos, constituindo desse
modo 51% da população.
No tocante a idade dos entrevistados, detectou-se uma variação razoável entre as
mesmas, conforme tabela 02.
Tabela 09: Faixa etária
Quantidade % Quantidade % Total Geral
Homem Mulher
H + M
60 a 64 anos 14 45 03 60 (17) 47
65 a 69 anos 12 39 02 40 (14) 39
70 ou + 05 16 - - (05)14
Total 31 100 05 100 (36) 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Dos 36 entrevistados, 47% estavam entre 60 e 64 anos e 39% tinha de 65 a 69
anos. Assim, pode-se constatar que a maioria dos entrevistados (86%) que estão no
mercado de trabalho são idosos jovens
21
, o que pode representar um dos motivos de
ainda estarem atuando ou desenvolvendo alguma atividade remunerada, pois nem
todos estão aposentados ou em idade e perfil de receber o BPC.
Como observado, a idade é sempre um fator importante para o mercado de trabalho,
indicando uma predominância de o-de-obra obra de pessoas mais jovens, seja no
segmento idoso ou não.
21
Grifo Nosso.
Néri (2002) aponta que a predominância da mão-de-obra “jovem” do idoso”, é
proveniente da limitação natural ao qual o ser humano passa, à medida que a idade
aumenta.
Tabela 10: Estado Civil
Quantidade % Quantidade % Total Geral
Homem
Mulher
H + M
Solteiro 05 16 - - (05) 14
Casado 18 58 02 40 (20) 55,5
Separado 04 13 01 20 (05)14
Viúvo 04 13 02 40 (06)16,5
Total 31 100 05 100 (36) 100%
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Entre os entrevistados, um aspecto que chamou atenção é o fato de 16,5% serem
viúvos, sendo que a maioria é mulher, representando 40% da amostra de cinco
entrevistadas, conforme tabela 03, podendo ser ou não um indicativo da sua entrada no
mercado de trabalho.
Segundo Berzins (2003) a longevidade feminina pode ser explicada devido à
proteção hormonal do estrógeno que a mesma possui; a sua inserção diferente no
mercado de trabalho (as quais entram mais tarde e realizam trabalhos menos penosos
do que os homens); ao consumo diferente de tabaco e álcool; a postura diferente em
relação à saúde/ doença, assim como a sua relação diferente com os serviços de
saúde, a qual busca mais esses serviços do que o homem, apesar da nossa amostra
ser de 86% masculina, tendo como diferencial o fato dos homens com mais de sessenta
anos atuarem no meio produtivo por mais tempo que a mulher, que geralmente sai do
meio produtivo formal e fica apenas com o trabalho doméstico, o qual, em sua grande
maioria, nunca deixou de exercer.
Quanto à naturalidade, a tabela 04, revela que homens e mulheres respectivamente
48% e 40% dos entrevistados são de outros estados do Brasil (47%), seguido
respectivamente 33% e 40% do interior do Estado do Amazonas (34%), contra apenas
19% (homens) e 20% (mulheres) nascidos na cidade de Manaus (19%).
Tabela 11: Naturalidade
Quantidade % Quantidade % Total Geral
Homem Mulher
H + M
Amazonas (interior) 10 33 02 40 (12) 34
Manaus 06 19 01 20 (07) 19
Outros Estados 15 48 02 40 (17) 47
Total 31 100 05 100 (36) 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Esses dados inicialmente apresentados refletem a política de desenvolvimento do
Estado do Amazonas que na década de 60 demandou bastante mão-de-obra, surgindo
dessa forma, o fluxo migratório tanto do interior do estado quanto de outras regiões,
principalmente do Norte e Nordeste. (SOMBRA, 1994). Há de se notar que quase
metade do sexo masculino veio de outros estados, no entanto, 53% dos 36
entrevistados são nascidos no Estado do Amazonas.
Outro dado interessante é que todos os sujeitos da pesquisa residem na zona sul de
Manaus há mais de 30 anos, sendo 44% reside no bairro de Educandos, 27% no bairro
Colônia Oliveira Machado e o restante estão divididos entre os outros 29 bairros dessa
zona.
Quanto ao motivo do deslocamento das famílias para a cidade de Manaus, pode-se
observar no quadro a seguir que:
QUADRO 01: Motivo da vinda para Manaus
Motivos %
- Busca de trabalho (18);
- Busca de melhores condições de vida
(14);
- Veio com a família quando criança (04).
50
37
13
Total 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Vim de Autazes para Manaus ainda novo, na época da construção dos
galpões do Distrito, 1970. Tinha muito emprego e eu queria melhorar de
vida, já tinha três filhos, depois no interior, naquela época, não tinha água
encanada (...), trabalhava no roçado (...) a vida era muito mais difícil para
nós. Como tinha pouco estudo aprendi a trabalhar na construção aqui
(Manaus) e engrossei minhas mãos no concreto, mas pelo menos, hoje,
meus filhos trabalham lá (...). (J, 62 anos, mestre de obras).
A metade dos entrevistados veio para Manaus em busca de emprego e,
conseqüentemente, melhores condições de vida.
Esses dados nos confirmam que com a implantação da Zona Franca, na década de
60, Manaus atraiu milhares de pessoas do interior e de outros Estados brasileiros em
busca principalmente de trabalho, buscando conseqüentemente, melhores condições
de vida.
A implantação da Zona Franca de Manaus, ocasionou ofertas de empregos nos
comércios e nas indústrias, desta forma, a cidade de Manaus foi levada a um
crescimento descomunal e desordenada, além do considerável esvaziamento e
abandono da Zona Rural (OLIVEIRA, 2003).
De acordo com Oliveira (2003), o crescimento da cidade de Manaus, está
relacionada, em primeiro lugar, com a criação da Zona Franca de Manaus, vista como
um fator de atração e, em segundo lugar, com a crise do campo, decorrentes de
políticas públicas ineficazes ou inexistentes, que se pode considerar como fatores de
expulsão.
Para corroborar esse pensamento, citamos Oliveira (2000), a qual aponta que com
o crescente êxodo rural, o interior do Estado, ficou esvaziado e Manaus se tornou
abrigo de boa parte da população de desempregados de várias partes do país,
particularmente vindas de regiões do nordeste brasileiro.
A migração da força de trabalho do campo rumo a cidade foi considerado o principal
determinante do crescimento do setor informal urbano. A chegada do número cada vez
maior de pessoas aos centros urbanos dos países em processo de industrialização,
como aconteceu no Brasil, por exemplo, foram de trabalhadores que vinham em busca
de meios para assegurar a sua sobrevivência (OLIVEIRA, 2000).
Assim, os trabalhadores vindos do campo e de outras cidades, juntamente com os
trabalhadores que moravam na cidade de Manaus, formaram a força de trabalho
necessária à acumulação do capital.
no que diz respeito à composição familiar dos depoentes, 94% (34) revelaram ter
tido filhos. Vejamos com quem os mesmos residem, ou quem residem com eles,
conforme mostra a tabela 05:
Tabela 12: Com quem reside
Quantidade % Quantidade % Total Geral
Homem
Mulher
H + M
Mora com os
familiares
04 13 01 20 (05) 14
Mora só 04 13 01 20 (05) 14
Familiares moram
com o idoso
23 74 03 60 (26) 72
Total 31 100 05 100 (36) 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
72% dos entrevistados disseram que são seus familiares
22
que moram com eles,
seguido do empate dos 14% moram sozinhos, e 14% moram com familiares.
Conforme o IBGE (2000), o fato de existir idosos morando sozinhos revela ser esta
uma das novas características do envelhecimento, apontando que em 10 anos
aumentou o número de idosos que residem sozinhos, revelando ainda que a maioria é
constituída pelo sexo feminino, apesar destes dados não conferirem com essa amostra.
Lembrando que a mesma não é representativa, como outrora mencionado. No entanto,
72% revelou que sua família é que mora com eles, cuja maioria são filhos, netos, noras
e genros, os quais diante da crise econômica existente no país, voltam a residir com os
pais, ou nem saem de casa, trazendo o companheiro(a) para dividir o domicílio.
Nesse sentido, Berzins (2000) salienta que:
A crise econômica e de desemprego que o país vem sofrendo nas
últimas décadas tem provocado alterações nas condições de vida
das famílias brasileiras. Muitos filhos casados, junto com suas
famílias, têm voltado a morar com seus pais, por não terem
condições de arcar com as despesas do orçamento. (p.30).
3.2 Condições de vida: uma análise da educação, habitação e renda dos sujeitos
da pesquisa.
22
Quando aparecer familiares, entenda-se: filhos, netos, genros, noras e outros agregados.
O resultado sobre as condições de vida apresentados neste estudo será explicitado
a partir das condições de educação, habitação e renda dos sujeitos da pesquisa, já que,
de acordo com Lopes (1982), as condições de vida (educação, moradia, saúde,
trabalho, alimentação, transporte, vestuário, saneamento etc.) são resultantes da
organização social que conferem aos indivíduos a sua inserção na estratificação social.
Desse modo, Lopes (1982) sinaliza que as condições de vida das camadas
populares não se referem apenas à renda, mas as formas aparentemente
assemelhadas às condições físicas e morais, situação de trabalho, questão da
habitação, questão operária, nível de cultura, escolaridade, questão social, saúde,
alimentação etc.
Verifica-se assim, que as condições de vida são, numa avaliação mais geral, produto
de evolução das forças produtivas de uma determinada sociedade, na qual o avanço
dessas forças é impulsionado peia organização e pelo fortalecimento da sociedade civil.
Todavia, antes de analisarmos as condições de vida dos sujeitos da pesquisa, faz-
se relevante fazer uma breve explanação sobre o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) que é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um
indicador das qualidades de vida das populações.
3.2.1- Índice de Desenvolvimento Humano – IDH: uma breve análise e exposição
O IDH é um indicador das Nações Unidas (ONU) que mensura o estágio de
desenvolvimento de países ou região de uma forma bem mais ampla do que a simples
mediação da riqueza ou produção. Seria, na verdade um indicador mais próximo da
qualidade de vida das populações (PNUD, 2003).
A noção de desenvolvimento humano é sempre relativa às condições sociais em que
as pessoas vivem, à sua classe social, ao padrão de consumo da sociedade, e muitos
outros fatores. Isso dificulta qualquer tentativa de estabelecer um limite mínimo que
seja, válido e igual para todos os lugares, em todos os países. Apesar disso desde
1990, a ONU vem divulgando um relatório que permite realizar algumas comparações
entre os diversos países e mesmo entre regiões e lugares do planeta (LOPES, 2000).
Em, 1990, conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD, 2003), foi criado para o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um número
que reflete as condições de três variáveis básicas para uma qualidade de vida digna: a
expectativa de vida ao nascer, a escolaridade e o produto interno bruto per capta.
Expectativa de vida ao nascer: se a população apresenta uma expectativa
de vida elevada, isto indica que as condições de saneamento básico,
alimentação, assistência médico-hospitalar e moradia o boas, além de
haver um acesso a um ambiente saudável. Escolaridade: quanto maior o
índice de escolarização da população, melhor o nível de desenvolvimento,
exercício da cidadania, produtividade do trabalho etc. Produto Interno
Bruto (PIB) per capta: É a soma de tudo o que foi produzida pela
economia de um país no período de um ano. O PIB de um país dividido
por sua população corresponde a renda per capta, que é o valor que
caberia, em média a cada pessoa, (idem).
Conforme as projeções e análises do IDH, essas três variáveis são expressas em
uma escala que varia de 0,0 a 1,0: quanto mais baixo o índice, pior são as condições de
vida, quanto mais próximo de 1,0, mais elevado é a qualidade de vida da população em
geral. Nessa classificação os países são divididos em três categorias: Baixo
desenvolvimento humano: IDH menor que 0,500; dio desenvolvimento humano: IDH
entre 0,500 e 0,799; Alto desenvolvimento humano: IDH de 0,800 ou maior (PNUD,
2003).
Lopes (2000) destaca que nem sempre um país, ou mesmo uma cidade, que tenha
um IDH elevado, todos os seus cidadãos, desfrutam de boas condições de vida.
De acordo com o Relatório do PNUD, referente ao ano de 2003, o Brasil ocupou o
74° lugar entre os países analisados. Em 2003, o PN UD registrou o Brasil na 65°
posição, sendo a Educação o item que mais contribuiu para a melhora do desempenho
no Brasil no IDH, pois houve um crescimento no acesso à educão, porém essa
variante leva em conta a proporção de crianças de 7 a 14 anos matriculadas no ensino
fundamental, porém não considera a permanência delas no âmbito escolar ou a
qualidade do ensino que elas estão recebendo.
Esse mesmo relatório aponta que o pior desempenho do Brasil é no índice que
mede a saúde de sua população. Conforme o índice de pobreza humana
aproximadamente 26 milhões da população brasileira não têm acesso às condições
mínimas de saúde, educação e serviços básicos.
A situação brasileira mais grave é a concentração de renda. Essa desigualdade de
renda coloca o Brasil como um dos piores países da América Latina. Isso porque os
20% mais pobres ficam com apenas 2,5% da renda, enquanto os 20% mais ricos detêm
63,4% da renda.
O IDH no Brasil também pode ser analisado, em nível de municípios e regiões. As
diferenças entre Estados e regiões brasileiras são muito nítidas. Vejamos na tabela a
seguir a posição do Estado do Amazonas:
Tabela 13: Índice de Desenvolvimento Humano dos Estados Brasileiros
Posição Estados Brasileiros IDH
Distrito Federal 0,844
Santa Catarina 0,822
São Paulo 0,82
Rio Grande do Sul 0,814
Rio de Janeiro 0,807
Paraná 0,787
Mato Grosso do Sul 0,778
Goiás 0,776
Mato Grosso 0,773
10º Minas Gerais 0,773
11º Espírito Santo 0,765
12º Amapá 0,753
13º Roraima 0,746
14º Rondônia 0,735
15º Pará 0,723
16º AMAZONAS 0,713
17º Tocantins 0,71
18º Pernambuco 0,705
19º Rio Grande do Norte 0,705
20º Ceará 0,7
21º Acre 0,697
22º Bahia 0,688
23º Sergipe 0,682
24º Paraíba 0,661
25º Pia 0,656
26º Alagoas 0,649
27º Maranhão 0,636
Fonte: PNUD, IDH, 2003, Atlas do Desenvolvimento Humano.
Elaboração: Pesquisadora.
Observa-se que o primeiro lugar ficou com o Distrito Federal (0,844), em seguida
ocupando o segundo lugar vem Santa Catarina (0,822) e São Paulo (0,820) com índice
tecnicamente alto. O Amazonas ocupa a 16° posição c om o IDH de 0,713,
caracterizado como índice médio.
Vejamos na tabela 07 o Índice de Desenvolvimento Humano (2003) de alguns
municípios do Estado do Amazonas:
Tabela 14: Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios de Manaus
Município UF Índice de
Longevidade
(IDHM-L)
Índíce de
educação
(IDHM-E)
Índíce de
renda
(IDHM-R)
IDHMunicipal
(IDH-M)
Manaus AM 0,711 0,909 0,702 0,774
P. Figueiredo
AM 0,718 0,858 0,647 0,741
Itacoatiara AM 0,741 0,825 0,568 0,711
Tabatinga
AM 0,718 0,780 0,600 0,699
Urucará
AM 0,705 0,800 0,589 0,698
Parintins
AM 0,705 0,855 0,527 0,696
Iranduba
AM 0,754 0,766 0,563 0,694
Itapiranga
AM 0,714 0,867 0,500 0,693
Maués
AM 0,721 0,812 0,535 0,689
Humaitá
AM 0,699 0,745 0,591 0,678
Apuí
AM 0,666 0,778 0,585 0,677
Rio Preto da
Eva
AM 0,718 0,758 0,554 0,677
Silves
AM 0,681 0,856 0,489 0,675
São Gabriel
da Cachoeira
AM 0,727 0,740 0,552 0,673
Urucurituba
AM 0,693 0,828 0,469 0,663
Manaquiri
AM 0,670 0,761 0,557 0,663
Manacapuru
AM 0,684 0,761 0,543 0,663
Tefé
AM 0,669 0,750 0,568 0,662
Autazes
AM 0,693 0,770 0,519 0,661
S. Sebastião
do Uatumã
AM 0,661 0,828 0,489 0,659
Careiro da
Várzea
AM 0,715 0,746 0,513 0,658
Novo Airão
AM 0,666 0,771 0,530 0,656
Nhamundá
AM 0,681 0,806 0,480 0,656
Fonte: PNUD, IDH, 2003, Atlas do Desenvolvimento Humano dos municípios de Manaus.
Elaboração: Pesquisadora.
Observa-se que a média desses municípios está entre 0,600 e 0,700 no IDH, ou
seja, são considerados de médio desenvolvimento humano, sinalizando destaque para
Manaus, Presidente Figueiredo e Itacoatira que possuem melhor IDH, face aos demais
municípios do Estado do Amazonas.
Após analisarmos o IDH dos Estados brasileiros, do Amazonas e de alguns de seus
municípios, entre eles Manaus, observa-se que a Educação, a Saúde, a Renda, as
condições de Saneamento Básico, a Moradia e Alimentação são importantes
indicadores mensurados pelo IDH para analisar a qualidade de vida das populações.
Assim, torna-se relevante analisar as condições de vida dos idosos moradores na Zona
Sul de Manaus, a partir da educação, habitação, renda e ainda do trabalho exercido por
eles.
3.2.2 A questão da Educação:
"A educação é direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho"
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, art. 205).
No que se refere ao nível de escolaridade dos entrevistados a tabela 08 aponta que
tanto os homens, quanto às mulheres possuem baixa escolaridade, totalizando assim
69,5% dos entrevistados, sendo que 46% dos homens disseram saber ler e escrever,
assim como 40% das mulheres. 26% do sexo masculino não são alfabetizados, contra
20% do sexo feminino.
Cabe ressaltar que o IBGE (2000), considera como alfabetizada a pessoa capaz de
ler e escrever um bilhete simples. A pessoa que aprendeu a ler e escrever, mas
esqueceu, e a que apenas assina o próprio nome é considerada por este Censo,
analfabeta.
Tabela 15: Escolaridade
Quantidade % Quantidade % Total Geral
Homem Mulher
H + M
Não alfabetizado 08 26 01 20 (09) 25
Alfabetizado 14 45 02 40 (16) 44,5
1º grau 05 16 01 20 (06) 16,5
2º grau 04 13 01 20 (05) 14
Total 31 100 05 100 (36) 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
No que concerne ao Grau, foi verificado, nessa amostra, que ambos os sexos não
chegaram a cursar nível superior, embora alguns verbalizassem o desejo de ainda
chegar a uma Universidade. Dessa forma, verificou-se nos sujeitos, uma condição de
baixa escolaridade, o que com certeza reflete na sua condição de vida e de trabalho.
Ou seja, no aspecto educação, percebe-se que apenas 30,5 dos idosos possuem
um bom nível de instrução, dado o contexto histórico de sua vida. Sendo importante
registrar que o nível de escolaridade do sexo masculino é maior nessa amostra, do que
o do sexo feminino.
Ao referendar sobre essa questão relacionada ao gênero, pesquisas apontam que
proporcionalmente, os homens são mais alfabetizados do que as mulheres, devido
principalmente ao contexto social da época em que os mesmos se encontravam, onde
normalmente era reservado às mulheres o papel de serem donas de casa, ficando as
mesmas alheias à vida produtiva social. (BERZINS, 2003).
Todavia, não se pode deixar de destacar a relevância do nível de escolaridade dos
entrevistados, sendo analisado posteriormente como isso influiu nas suas condições de
vida e de trabalho.
Vejamos algumas falas:
Não tive estudo, sou de família pobre, tive que trabalhar desde cedo,
mas agradeço a Deus pela força de ainda continuar trabalhando e
ganhando meu dinheirinho. Acho que se tivesse estudado, eu estaria
trabalhando num local melhor e de carteira assinada (S, 73 anos,
vendedor).
Por causa do pouco estudo eu desenvolvo essa atividade. ((M, 61
anos, serviço gerais).
Fiz o colegial no IEA (Instituto de Educação do Amazonas) e agradeço
a minha saudosa mãe por isso, pois meu pai não queria que eu
estudasse. Sempre vivi do meu trabalho, principalmente depois que fiquei
viúva. (A, 60 anos, professora).
De acordo com os entrevistados, a questão da educação contribui bastante para
sua inserção no mercado de trabalho. Sob essa ótica, a escolaridade é vista como um
fator para conseguir um bom cargo no meio produtivo, representando uma tendência
para uma melhor condição de vida.
Verifica-se, na atual conjuntura, que as pessoas que se encontram excluídas da
educação formal geralmente têm dificuldades para inserir-se no mercado de trabalho,
ou quando conseguem são em precárias condições. Assim, constituem um extenso
grupo social que o tem acesso a aspectos básicos da vida da sociedade. Todavia,
observa-se que as crianças de famílias menos abastadas ingressam no sistema
educativo, mas a possibilidade de completá-lo muitas vezes está condicionado a sua
situação sócio-econômica (IBGE, 2000).
3.2.3- A questão da Habitação:
É relevante na produção da moradia sinalizar a importância do papel do Estado, que
tem no atendimento ou não da demanda um instrumento político importante, usando-o
como estratégia para assegurar seu controle sobre o espaço e como garantia de
reprodução ampliada do capital. Nesse sentido, a habitação representa a dimensão do
poder, e o seu planejamento implica a tentativa de estabelecer uma vida cotidiana
programada e manipulada e uma espacialidade hierarquizada, determinando o modo
como e por quem o espaço será ocupado. (OLIVEIRA, 2003).
Assim, faz-se necessário expor sobre o domicílio, o qual, conforme o IBGE (2000), é
o local estruturalmente separado e independente que se destina a servir de habitação a
uma ou mais pessoas, ou que esteja sendo utilizado como tal. Quanto à espécie de
domicílio, este pode ser classificado como domicílio particular, ou seja, quando o
relacionamento entre seus ocupantes é ditado por laços de parentescos. Os domicílios,
de acordo com o IBGE (2000, p.47) são caracterizados em:
Permanente, quando construído para servir exclusivamente à
habitação a uma ou mais pessoas. O domicílio particular
permanente classifica-se corno: Casa, quando localizada em uma
edificação de um ou mais pavimentos, desde que ocupado
integralmente por um único domicílio com acesso direto a um
logradouro (arruamento, vila, avenida, etc) legalizado ou não.
Apartamento, quando localizado em um edifício de um ou mais
andares, com mais de um domicílio, servido por espaços comuns
(hall de entrada, escadas, corredores, etc). Cômodo, quando
composto por um ou mais aposentos localizado em uma casa de
cômodos, cortiço, etc. Improvisado, quando localizado em unidade
não-residencial (loja, fábrica, etc.) que o tem dependência
destinada exclusivamente à moradia, mas que é ocupado por
morador, por exemplo, prédios, em construção, vagões de trem,
carroças, tendas barracas, grutas, podem ser considerados como
domicílios particulares improvisados.
Tabela 16: Condição de habitação
Tipo de residência Quantidade %
Casa 27 75
Apartamento 05 14
Quarto (cômodo) 04 11
Total 36 100
Tipo de Permanência Quantidade %
Próprio 25 70
Alugado 05 14
Emprestado 05 14
Cedido 01 2
Total 36 100
Tipo de Construção Quantidade %
Alvenaria 26 72
Madeira 05 14
Mista (alvenaria + madeira) 05 14
Total 36 100
Tipo de Terreno Quantidade %
Plano 27 75
Acidentado 07 19,5
Alagadiço 02 5,5
Total 36 100
Nº de Cômodos Quantidade %
01 a 02 05 14
03 a 04 11 30,5
05 a 06 15 41,5
Acima de 06 05 14
Total 36 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Diante da definição dos conceitos é interessante observar na tabela 09 as condições
de habitação dos entrevistados:
Pôde-se observar, que a maioria dos entrevistados (70%) possuem casa própria,
sendo que a 72% residem em casa de alvenarias, em local plano (75%), variando de 03
a 06 cômodos (72%), possuindo, boa infra-estrutura, tendo acesso ao saneamento
básico, apesar de ainda ser precário, conforme notamos no momento da pesquisa.
Deve-se levar em consideração que metade dos sujeitos da pesquisa, que relataram
possuir casa própria, disseram ter ganhado ou ocupado o local onde residem na época
do desenvolvimento urbano da cidade de Manaus, os quais saíram do interior e outras
cidades brasileiras em busca de emprego e melhores condições de vida. A outra
metade, revelou ter comprado por preço módico, logo que chegou na cidade, junto com
seus familiares, buscando também o mesmo fim.
Assim, verifica-se que a análise de indicadores das condições habitacionais e de
infra-estrutura prima por fornecer informações que contribuíram sobremaneira para o
maior conhecimento do nível de condições de vida da população idosa, haja vista ser
de grande importância a questão do acesso aos serviços essenciais, como o
saneamento básico, demonstrado nesse estudo como satisfatório, apesar de está longe
a condição ideal para essa população, a qual muitas vezes é invadida, em sua
privacidade, aceitando agregados no seu domicílio ou submetendo-se ao mesmo a
partir da sua idade, a qual lhe traz algumas limitações.
3.2.4- A questão da Renda:
Dados do último Censo (2000), indicam que de 1991 a 2000, os rendimentos dos
idosos brasileiros cresceu 63%, passando de R$ 403,00 para R$ 657,00, sendo que no
corte por gênero, os homens ganham, em média, mais do que as mulheres: R$ 752,00
contra R$ 500,00.
Essa tendência repete-se na desagregação por áreas urbanas e rurais, com
destaque para essas últimas que apresentaram um crescimento no rendimento médio
dos idosos de quase 77%.
A crise econômica globalizada vem afetando a renda principalmente da população
dos países em desenvolvimento. Observa-se que o desemprego, a crescente
precarização das relações de trabalho e o aumento do setor informal vem deteriorando
a renda familiar (PASTORE, 2003).
Desse modo, perguntamos aos entrevistados qual o valor correspondente à
realização do seu atual trabalho, já que a idade também influi na questão da diminuição
da renda, principalmente, quando essa população, encontra-se com baixa escolaridade.
Veja na tabela 10, a seguir:
Tabela 17: Valor do Trabalho atual
Quantidade % %
Homem Mulher
1 salário mínimo 19 61,3 03 60
2 sal. Mínimos 07 22,6 02 40
3 sal. Mínimos 04 12,9 - -
Acima de 3 s.m. 01 3,2 - -
Total 31 100 05 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Assim, foi revelado pelos entrevistados que houve uma expressiva redução no valor
monetário do trabalho depois dos sessenta anos, revelando o preconceito encontrado
pelos mesmos, por serem idosos, e o mercado de trabalho sinalizar grandes
desvantagens para os mesmos, inclusive sobre a questão da renda e dos direitos
sociais.
Antes eu ganhava mais, pois fazia hora extra, agora preciso
trabalhar muito para tirar um salário e às vezes não dá. (R, 65
anos, vendedor).
Dessa forma, os salários apontados por eles variam de um a três salários mínimos.
Porém, isso não os desestimulou a retornar ao mercado de trabalho, mesmo estando
alguns na informalidade (sem direitos trabalhistas). Ademais, encontramos idosos que
disseram ganhar mais agora que antes, sendo uma minoria, e dizendo-se ainda
satisfeito com o seu trabalho, o qual além do dinheiro lhe dá prazer.
Fui demitido antes de me aposentar, e com a minha indenização
abri esse comércio. Trabalhei muito até construir isso tudo que
você tá vendo (18 anos depois). Agora ganho mais que antes e
não tenho aporrinhação
23
de chefe, eu sou o chefe. Os vizinhos
todos me conhecem e me admiram aqui (...). Consegui até me
aposentar com as meninas (Assistentes Sociais) lá do Centro – Ele
se refere ao CAIMI. (M.C., 72 anos, comerciante).
Quanto à relação de gênero da pesquisa, observou-se que o sexo masculino obteve
vantagem em relação ao sexo feminino, pois o valor do trabalho realizado pelos
homens apresentou ser superior aos rendimentos das mulheres. Ratificando assim, o
que Camarano (2000), aponta como uma tendência brasileira, a qual vem aos poucos
mudando, com a maior inserção da mulher no mercado de trabalho e adquirindo
condições educacionais superior aos dos homens, além de possuir maior expectativa
de vida do que eles, como anteriormente explicitado, neste estudo.
Todavia, observa-se que as mulheres se adaptam melhor a sua condição de idosa
do que o homem, o qual ainda é visto como o chefe da família, e como tal não se
intimida com a idade, o que demonstra um aspecto muito positivo.
Ainda quanto à renda individual dos idosos, nesse estudo verifica-se que 50% não
possuem aposentadoria, nem BPC e a outra metade possui 25% cada. Verificando que
estes últimos se encontram numa condição de vida melhor, por possuírem um renda
fixa, ou seja, independente do seu trabalho, eles possuem um rendimento a mais,
23
Grifo nosso.
apesar de não poderem receber o BPC, no entanto por falta de fiscalização da
Previdência Social e INSS eles acabam infringindo as leis. Cabe ressaltar que a maioria
deles conseguiu esses benefícios através do CAIMI.
A respeito da situação econômica e familiar dos entrevistados, observa-se através
da tabela 11, a seguir, que 47,2% disse viver com até três salários mínimos, 38,9% com
até 6 salários e apenas 13,9% possuíam uma renda familiar igual ou acima de sete
salários mínimos.
Tabela 18: Renda familiar
Salário Mínimo Quantidade %
1 a 3 s. m. 17 47,2
4 a 6 s. m. 14 38,9
7 ou mais 05 13,9
Total 36 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Esses dados indicam que os entrevistados, de modo geral, não se encontram em
uma situação econômica considerada ruim, o que deve ser reflexo, principalmente, do
grau de escolaridade de seus familiares, verificando existir muitos filhos e netos na
faculdade, apesar de ser a renda dos idosos a principal fonte econômica nesses
domicílios, tanto a aposentadoria, como o valor de seu trabalho, contribuindo para uma
melhor condição de vida de suas famílias. Valendo ressaltar que a composição familiar
dos entrevistados tinham entre 01 (mínimo) a 14 (máximo) membros.
Nota-se nesse estudo que muitos dos entrevistados possuem ou buscaram uma
atividade remunerada, mesmo estando ou não aposentado e recebendo BPC, como
forma de complementar a renda de sua família, buscando sim melhores condições de
vida para si e para eles.
Referente a participação dos idosos na renda familiar, a tabela 12 aponta que 61,1%
têm participação total, 36,1% parcial e apenas 2,8% disse não ter participação alguma
na renda da família, sendo a maioria do sexo masculino, o qual tem seu papel definido
no chefe da casa ou do lar, culturalmente constituído.
Tabela 19: Participação na renda familiar
Quantidade % %
Homem Mulher
Participação total 20 64,5 02 40
Participação parcial 11 35,5 02 40
Não participa - - 01 20
Total 31 100 05 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Diante dessa realidade, tornou-se relevante saber se a renda familiar mensal dos
sujeitos da pesquisa é suficiente para manter todos na casa.
Desse modo, 55% afirmaram que sim, tendo o seu trabalho atual grande importância
nessa renda. É importante sinalizar que em várias casas foram encontrados membros
da família dos entrevistados que estavam desempregados, havendo assim uma certa
prioridade no sentido de suprir as necessidades básicas, como a alimentação.
Nesse sentido, percebe-se que dentre os entrevistados 97,2% contribui com a renda
familiar seja através da aposentadoria, BPC, e principalmente da renda de seu trabalho,
reforçando o que pesquisas têm apontado “nas famílias brasileiras nas quais existem
idosos, estão em melhores condições econômicas do que os demais membros famílias”
(CAMARANO apud BERZINS, 2001, p.30). O fato dessas pessoas serem aposentadas
influencia muito para a melhora da condição familiar, e isso duplica quando os mesmos
além de aposentados ainda realizam uma outra atividade com fins lucrativo, como é o
caso dos sujeitos desta pesquisa.
Outro fator que merece destaque nessa amostra é que os homens revelaram
participar muito mais que as mulheres na renda familiar, sendo que 100% disseram
contribuir parcialmente ou totalmente. as mulheres, somente 80% relataram
contribuir. Sendo que ambas as contribuições estão relacionadas tanto com a renda de
suas aposentadorias, BPC, quanto de seus trabalhos.
3.3 Situação de trabalho dos idosos moradores da Zona Sul de Manaus
O mercado de trabalho brasileiro vem passando por mudanças significativas desde a
década de 80, mas foi na década de 90 que tais mudanças tornaram-se evidentes, com
os sinais de desestruturação do mercado de trabalho. Pois na década de 90 a
flexibilização do trabalho no Brasil se ampliou com a abertura do mercado imposta pelo
governo neoliberal de Collor de Melo que expôs as indústrias brasileiras,
especificamente o Parque Industrial da Zona Franca de Manaus, à competitividade do
mercado internacional (ALMEIDA, 2003).
Até a década de 80, as indústrias da Zona Franca de Manaus absorveram inúmeros
trabalhadores em suas unidades produtivas. A pesar da chamada "década perdida" a
Zona Franca continuou crescendo e absorvendo mão-de-obra. Contudo, nos anos 90
observa-se um decréscimo nas indústrias da ZFM. Em 1990, o número de
trabalhadores empregados totaliza cerca de 76.798 e, em dezembro de 2000, contava-
se com 44.519 postos de trabalho, isto é, quase 32.279 trabalhadores foram excluídos
do processo produtivo nas indústrias (SHERER, 2005).
Nesse cenário de desemprego, emergiu um tipo de trabalhador polivalente,
multiqualifiçado, terceirizado etc, sendo visível a precarização do trabalho com a
exploração do trabalhador, além da insegurança no emprego e do aumento do exército
industrial de reserva (ANTUNES, 2005).
De acordo com Castel (1998) o amadurecimento da revolução das tecnologias da
informação na década de 90 transformou o processo de trabalho, haja vista que este se
situa no cerne da estrutura social. Assim, a nova tecnologia da informação está
redefinindo não só os processos de trabalho, mas também os trabalhadores, o emprego
e a estrutura ocupacional.
Diante dessa assertiva, afirma-se que os avanços da tecnologia da informação e da
comunicação e as novas formas e técnicas organizacionais, em um contexto capitalista
global, colocam em questão a centralidade do trabalho.
Desta forma, torna-se relevante saber a situação de trabalho dos idosos residentes
na Zona Sul de Manaus, face às transformações no processo de trabalho, já que alguns
desses vivenciaram uma condição de trabalhador na época dessas crises e
reestruturações e ainda continuam vivenciando, apesar de idosos e alguns
aposentados ou beneficiários sociais. Assim, pergunta-se de que forma ou condição
eles se encontram?
A pesquisa realizada na zona sul de Manaus apontou que dos 360 idosos
atendidos com assiduidade, no CAIMI, 12% estão trabalhando (Relatório de Serviço
Social do CAIMI, 2007). No entanto, apenas 10% fazem parte desta pesquisa,
totalizando 36 entrevistados.
Dentro do aspecto trabalho, a tabela 13 identifica que a maioria dos idosos começou
a trabalhar cedo, antes dos 15 anos, representado 67% dos homens e 60% das
mulheres.
Tabela 20: Idade de entrada no mercado de trabalho
Quantidade % Quantidade % Total Geral
Homem Mulher
H + M
- de 15 anos 21 67% 03 60% (24) 66,5%
16 a 20 anos 10 33% 02 40% (12) 33,5%
+ de 20 anos - - - - -
Total 31 100% 05 (05)100 (36) 100%
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Verifica-se que os homens começaram a trabalhar mais cedo do que as mulheres,
observando que não foi levado em conta neste estudo, os trabalhos domésticos
realizados na própria residência, e sim as atividades exercidas por eles em uma época
que geravam algum tipo de renda, como trabalhar no roçado, ser babá ou empregada
doméstica, professor(a) entre outros.
Vejamos no quadro a seguir as atividades exercidas por eles:
QUADRO 02: Trabalho exercido pelos entrevistados.
Antes dos 60 anos Qtd. %
- Cambista;
- Carpinteiro;
- Cozinheira;
- Comerciante;
- Costureira;
- Doceira;
- Escrivão;
- Feirante;
01
01
01
07
01
01
01
03
2,8%
2,8%
2,8%
19,4%
2,8%
2,8%
2,8%
8,3%
- Instrutor Auxiliar.
- Mecânico;
- Mestre de Obras;
- Pedreiro;
- Professor(a);
- Serviços Gerais;
- Vendedor ambulante;
- Vigia;
- Motorista de ônibus;
- Guarda Municipal.
01
02
05
02
04
02
01
01
01
01
2,8%
5,5%
14%
5,5%
12%
5,5%
2,8%
2,8%
2,8%
2,8%
TOTAL 36 100%
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Antes da análise dos dados expostos no quadro anterior, faz-se importante destacar
que apenas 25% dos entrevistados são aposentados pelo INSS (por tempo de serviço);
25% recebem BPC, o restante só possui a renda de seu trabalho atual, como
anteriormente exposto e analisado.
Dos 36 entrevistados, 27 (75%) nunca parou de trabalhar, sendo que 09 (25%)
retornou ao meio produtivo mesmo depois de aposentado ou recebendo BPC. Do total,
apenas 09 (25%) trabalham de carteira assinada, o restante está na informalidade.
Verificamos que alguns idosos estão no mercado informal para satisfazer suas
necessidades básicas, outros estão para aumentar a renda familiar, porém todos, na
verdade, estão buscando a sobrevivência, que os mesmos têm um papel importante
na renda da família e o fator escolaridade exerce grande influência nas suas condições
atuais de trabalho, implicando diretamente nas suas condições de vida.
Cabe ressaltar que no momento da pesquisa, verificamos que 75% não exerce mais
o mesmo trabalho que exerceu durante a maior parte da vida, o que permite identificar
a ocorrência de uma considerável mudança nas relações de trabalho pós-sessenta
anos, influenciado tamm pela aposentadoria e ainda pelo recebimento de BPC, pós-
sessenta e cinco anos.
Esses dados corroboram com a pesquisa realizada por Pastore, em 2002, o qual
sinaliza que a maioria dos idosos quando retornam ao meio produtivo, dificilmente,
voltam para a mesma profissão, salvo os que continuam no mercado de trabalho.
O fato é que sejam quais forem as estratégias de sobrevivência utilizadas pelos
idosos, verifica-se que os mesmos e, também suas famílias, têm suas condições de
vida precarizadas. Desse modo, os trabalhadores que se encontram no emprego formal
são considerados privilegiados, por terem acesso aos direitos sociais garantidos no
regime da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT (CATTANI, 1996).
3.3.1 A visão dos entrevistados sobre o trabalho realizado depois dos sessenta
anos.
Perguntado aos entrevistados se eles gostavam do trabalho anterior aos sessenta
anos de idade, a maioria respondeu objetivamente que sim, apenas 25% disseram que
não. Quando direcionado a mesma pergunta para o trabalho atual, identificou-se que o
nível de descontentamento aumentou, pois 36% responderam que não. Veja algumas
falas:
Não. Eu não gostava da roça, fazia por necessidade. Eu gosto
mesmo é de cozinhar. (B, 63 anos, doceira).
Sim. Eu gosto de lecionar. Eu vivo do meu trabalho e amo o que
faço. (A, 60 anos, professora).
Acerca do trabalho exercido antes e depois dos sessenta anos, pôde-se observar de
maneira geral, que a maioria dos idosos em questão se encontravam satisfeitos por
estarem trabalhando seja qual for à função, pois muitos se mostraram disposto para o
trabalho. Destacando que 60% das mulheres gostam mais do trabalho que realizam no
momento, do que os homens, os quais representaram 45%, sendo que nem todos
exercem atividades diferentes do que faziam antes dos sessenta anos.
Torres (2002), em relação ao trabalho aponta que no mundo moderno, o trabalho
não é mais tão congruente explicando de maneira geral que os valores sobre o mesmo
foram e estão se perdendo ao longo dos anos. Um exemplo claro disso é a profissão de
alfaiate, a qual quase não se houve mais falar e que outrora representava sinônimo de
prestígio na sociedade. Mas essa é apenas uma de tantas que foram, estando à
frente daquelas que ainda irão ser esquecidas pela próxima geração.
Quando perguntado se o trabalho depois dos sessenta anos tem o mesmo
significado do anterior aos sessenta, identificou-se uma proximidade nas respostas
obtidas, sendo que 62,5% dos entrevistados responderam que o, conforme algumas
falas:
Não. Antigamente eu tinha mais saúde e eu trabalhava para
sustentar a minha família. Agora eu costumo somar na renda daqui
de casa e ajudo no que posso. (J.J., 66 anos, feirante).
Não. Eu acho que não, porque o trabalho de antes, quando eu era
mais novo , porque eu não me acho velho não, velho é o mundo
(...). O trabalho antes era bom, mas agora é perigoso (A, 65 anos,
vigia).
Sim. Trabalho é trabalho em qualquer idade. Eu continuo fazendo
a mesma coisa de antes. (L., 61 anos, escrivão).
Refletindo as falas dos entrevistados, verifica-se que o fato deles estarem
trabalhando e recebendo uma renda, transmite uma certa segurança no trabalho, posto
que 62,5% disseram trabalhar muito mais por prazer, por satisfação pessoal do que por
necessidade econômica, não que esta não influencie. Sendo esta uma opinião tanto do
sexo masculino, quanto feminino. Pois, ao escolherem o trabalho, os mesmos buscam
aquele que mais se aproxima com o que vai lhe fazer sentir bem, estando ao seu
alcance.
Reportando-se a Beauvoir (1990) e Rodrigues (2000), sobre a questão exposta,
ambas analisam que quando o trabalho é escolhido livremente, tendo uma realização
pessoal, renunciá-lo significa um rompimento muito doloroso. ao contrário, quando
caracterizado como uma obrigação, um dever, deixá-lo para trás significa um alívio,
uma libertação.
Contudo, e compartilhando do mesmo pensamento das duas autoras supracitadas, o
trabalho muitas vezes se torna contraditório e ambivalente, pois ao mesmo tempo ele é
visto como estressante, fatigante é, também, vislumbrado com interesse, principalmente
porque funciona como integração dos indivíduos nesta sociedade capitalista, onde “só
vale quem produz”.
3.3.2 Visão dos entrevistados acerca do trabalho
Visando refletir sobre o trabalho na vida dos entrevistados foi perguntado aos
mesmos qual o significado do trabalho para eles. Veja no Quadro 03 o que mais se
repetiu:
QUADRO 03: O trabalho segundo os depoentes
Visão dos idosos %
- Realização pessoal (10);
-Significa tudo na vida, significa viver, ser útil
(8);
- Realização econômica (6);
- Sustento (4);
27, 9
22,3
16,8
11
- Necessário para a sobrevivência (4);
- Uma forma de contribuição para a sociedade
(2);
- Honra, vida (2).
11
5,5
5,5
Total 36 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
Assim apontam alguns dos entrevistados:
(...) o trabalho é a minha realização pessoal e financeira. Logo que
me aposentei, voltei a trabalhar, pois estava deixando minha
mente muito parada e além de ser útil, ainda ganho um trocado né.
(E, 67 anos, ex-bancário e atual instrutor auxiliar).
O trabalho para mim significa muita coisa, além de desenvolver a
minha mente, eu estou dando a minha contribuição enquanto
cidadão brasileiro (E. B., 62 anos, professor).
Se eu não trabalhasse eu não sei o seria de mim (...). A pessoa
sem trabalho não é ninguém. Então pra mim é uma honra, eu me
sinto útil, significa vida depois da minha aposentadoria (D, 69
anos, cambista).
Eu não sei direito, mas eu acho que significa tanta coisa, viver,
sustentação, necessidade, sobrevivência. Muita coisa mesmo. (F,
66 anos, Guarda Municipal).
A partir dos depoimentos dos entrevistados pôde-se analisar que para a metade dos
idosos significa realização pessoal. Outros apontam “tudo na vida”, “viver”, é também
uma realização econômica. E em menos quantidade sustento, sobrevivência, etc. Há os
que apontam “contribuição para a sociedade”, honra, “vida”. Enfim, todos dão uma
valoração ao trabalho.
Essa valoração do trabalho é repercutida em todas as esferas da sociedade. Nas
empresas, por exemplo, existem vários recursos e normas que estimulam o operário a
realizar melhor o seu trabalho, como prêmios de melhor setor, participação nos lucros
da empresa entre outros. (TORRES, 2002).
Desse modo, verifica-se que essa definição de trabalho corresponde ao significado
que cada um dá a atividade de estar inserido no mercado objetivamente.
De acordo com os entrevistados quase 30% referiu-se ao trabalho como uma
realização pessoal, estando, contudo, atrelada ao fator econômico.
Assim, faz-se interessante registrar que o trabalho, segundo os homens
entrevistados representa muito mais uma satisfação econômica do que pessoal. Tendo
em vista que a grande maioria contribui com a renda familiar.
Dentre as mulheres, observou-se o contrário, sendo que o trabalho representa muito
mais uma satisfação pessoal, estando relacionado principalmente a sua realização
profissional e pessoal.
3.3.3 Permanência ou retorno do idoso ao mercado de trabalho: revelando
impasses e perspectivas.
O quadro 04 revela os principais motivos que fizeram com que os entrevistados
voltassem ou permanecessem no mercado de trabalho depois dos sessenta anos,
estando os mesmos aposentados ou não.
QUADRO 04: Fatores que motivaram os entrevistados a retornar ou permanecer
no mercado de trabalho.
Motivos da permanência ou retorno %
- Complementar a renda familiar (10);
- Busca por melhores condições de vida (7);
- Aumentar a sua renda (6);
- Se sentir capaz para continuar trabalhando
(lúcido etc) (4);
- Ser o único provedor do lar (4);
- Passar muito tempo em casa e só (1);
- Preencher o vazio ficado depois da
aposentadoria (1);
- Querer ser útil novamente (1);
- Buscar um relacionamento social (1);
- Residir sozinho (1).
27,9%
19,4%
16,7%
11%
11%
2,8%
2,8%
2,8%
2,8%
2,8%
Total 36 100
Fonte: Pesquisa de Campo, agosto-outubro de 2007.
Elaboração: Pesquisadora.
De acordo com os entrevistados, foram vários os fatores que os motivaram a
retornar ou permanecer no mercado de trabalho. Contudo, e conforme o quadro
anterior, pôde-se dividir, através da fala dos depoentes, em dois aspectos principais: os
fatores econômicos, relacionados à sobrevivência tanto do entrevistado, quanto de seus
familiares e o fator social, relacionado principalmente, com o fato de sentirem-se
excluídos do meio produtivo, da sociedade e também da família, além de não estarem
preparados para a aposentadoria, tanto psicologicamente, quanto de forma contributiva
com a previdência. Cabendo destaque, também, a busca incessante por melhores
condições de vida para si e para sua família, segundo algumas falas:
Me realizo trabalhando, isso é o mais importante para mim. O
dinheiro é conseqüência do meu trabalho e isso é tudo para mim.
(M. C., 72 anos, comerciante).
A minha aposentadoria é pouco demais, e eu preciso ajudar a
minha gente (filhos, netos etc). (M, 61 anos, Serviços Gerais).
Quando estou trabalhando posso dar uma melhor vida para o meu
povo (filhos netos etc) e para mim (S, 73 anos, vendedor).
Verifica-se que o retorno ou a permanência no trabalho caracteriza para os
entrevistados, uma nova etapa de vida, a qual passa a ser dedicado, em parte, em prol
da família, do seu sustento.
Há aqueles que denotam uma forma de retribuir o que receberam, passarem adiante
os seus conhecimentos ou mesmo exercerem a cidadania.
Assim, como aqueles que precisam e necessitam trabalhar por questões
econômicas, a fim de contribuir com a sua família, muitas vezes sendo estes idosos os
únicos provedores do lar.
Além do mais, no caso dos aposentados, na maioria o valor da aposentadoria é um
problema para os mesmo, sendo normalmente menor que o salário em que estavam
acostumados a receber. Essa redução faz com que haja uma mudança no seu padrão
de vida social e econômico, impelindo-o a voltar ao meio produtivo, como forma de
manter o status ora perdido (BEAUVOIR, 1990; RODRIGUES, 2000; NER, 2002). Quiçá
quem ainda não possui essa renda.
Mas apesar do fator econômico ser expressivo, não se pode deixar de registrar que
a maioria ao indicar este fator, também revela a problemática da sua continuidade no
trabalho. Sendo que a escolha por um determinado tipo de trabalho nem sempre
constitui em um ato espontâneo ou pela vontade de contribuir para uma atividade nova
ou mesmo na antiga. Porém, faz-se importante para eles mostrarem estar apto e
capazes de estarem trabalhando e contribuindo também com a família. E ainda
trabalhar para a sua sobrevivência e a dos seus familiares. (NERI, 2002).
Outro aspecto a ser comentado é o fato de 14% dos entrevistados revelar que mora
com os filhos, o que para a maioria é desconfortável, principalmente se os mesmos
forem casados, pois perdem a posição de dono da casa, passando a não ter muitas
vezes opinião (BEAUVOIR, 1990; NERI, 2002), conforme um dos depoimentos:
Minha filha me vê como uma criança. Não deixa eu fazer nada em
casa e nem quer que eu trabalhe. Pensa que sabe mais do que eu.
Eu sei que ela quer me proteger, mas eu é que devia fazer isso
com ela. Não me sinto o mesmo, é por isso que virei cambista, ela
não gosta, não entende, mas não tenho outra opção. Eu vou fazer
o quê, não quero mais voltar para o trabalho anterior, mas quero
continuar trabalhando, fazendo amigos, eu preciso, sabe, não
pelo dinheiro, mas por mim mesmo. Não sei se você entende, você
é muito nova... (D, 69 anos, cambista).
Conforme observado no depoimento anterior, mesmo na estrutura familiar, o idoso é
na maioria das vezes impossibilitado de realizar de forma plena sua capacidade
produtiva, sendo aos poucos substituído da situação de comando, por outro integrante
do grupo familiar.
Nesse aspecto, Torres (2002) aponta que a valorização social sentida por eles
quando retornam ao meio produtivo é vista positiva, quando os mesmos se dizem bem
produzindo. Satisfeitos por continuar na ativa, mesmo que sendo para sustentar a si
próprio ou a outrem economicamente ou socialmente falando.
Outrossim, esses entrevistados revelaram ser composto por pessoas que têm
valores sedimentados no trabalho, sendo que cerca de 66,5% trabalha desde muito
cedo, o que traduz de certa forma os motivos para a sua volta ao meio produtivo.
Como é que a gente pode viver sem trabalhar. Não existe. Tudo na
vida da gente tem o trabalho. Você desde criança que começa a
estudar já tem deveres para cumprir e isso não deixa de ser um
trabalho. (A, 60 anos, professora).
Sobre o processo de aposentadoria Beauvoir (1990, p. 324) aponta:
Ser brutalmente precipitado da categoria dos indivíduos ativos na
dos inativos e classificados como velhos, suportar uma diminuição
consternadora de recursos e de nível de vida é, na imensa maioria
dos casos, um drama que acarreta graves conseqüências
psicológicas e morais.
Assim, o trabalho realizado pelos entrevistados tem um significado de dar sentido a
sua própria existência, mantendo-se útil e contribuindo para uma melhor condição de
vida.
Para os aposentados, de certa forma sentem-se valorizado depois da ruptura social
expressada pela aposentadoria. Preservando-se nos espaços públicos e privados para
que assim possam dar prosseguimento ao seu processo de desenvolvimento e
aperfeiçoamento enquanto seres humanos.
Infelizmente, a família e a própria sociedade como um todo, não está preparada para
conviver com os velhos, ou pessoas idosas. Passando os mesmos na maioria das
vezes serem vistos como “coitados”, discriminados, desmoralizados entre outros, pelo
simples fato de envelhecer e talvez, por não continuar na ativa, o qual lhe dava um
certo status, dentro e fora de casa. (BEAUVOIR, 1990).
Dessa forma, o retorno ou a permanência desses idosos no mercado de trabalho diz
respeito principalmente aos dois fatores mencionados no começo desta análise: o
social e o econômico. Embora esses motivos tenham representado diferenças entre os
sexos, já que para os entrevistados do sexo masculino o fator econômico é muito
relevante na hora da decisão da volta ou da continuidade no mercado.
Percebe-se ainda que o trabalho se faz necessário à medida que os mesmos
passam a ser os principais responsáveis por seu sustento e também de sua família,
assim como para as mulheres. Pois o que está em primeiro plano para eles é a
possibilidade de aumentar a renda familiar, com o salário de um novo emprego que
nem sempre a renda da família satisfaz as suas necessidades.
Porém, apesar do fator econômico ser revelado, para as mulheres o motivo mais
destacado para o seu retorno ao mercado de trabalho, diz respeito à satisfação social
de formar amigos, de ser útil consigo mesma, com os outros e principalmente com sua
família.
O fato é que a longevidade é uma realidade no país e a aposentadoria um processo
pelo qual as pessoas asseguradas pela previdência social naturalmente irão passar.
Assim pergunta-se o que fazer depois dela? Pior, e para aqueles que não são
garantidos a aposentadoria, o que fazer? Como serão suas condições de vidas, que
observamos nesse estudo que os mesmos continuam ou voltaram a trabalhar buscando
entre outras coisas, esse fim.
Para aqueles, com padrão de vida elevado, existem muitas opções, como viajar,
dedicar-se aos estudos, aos netos entre outros. Mas e para aqueles menos abastados
da população o que fazer? Já que a problemática do idoso, conforme discorrido por
todo este trabalho, atinge principalmente os menos providos de recursos.
O certo é que a problemática do idoso no mercado de trabalho, principalmente do
aposentado é complexa e de difícil solução. Pois ao ser alijado do mercado de trabalho,
pela aposentadoria ou desemprego, o mesmo ao ser reabsorvido se encontra em uma
situação menos vantajosa e mais precária do que a anterior. Mas mesmo assim, esses
idosos continuam enfrentando muitas dificuldades, obtendo vários impasses para se
manter no meio produtivo, tanto por necessidade econômica, quanto por necessidade
de social, no entanto a maior perspectiva desse segmento é a busca constante da
preservação de sua autonomia e independência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração desta pesquisa promoveu resultados significantes para o
enriquecimento da visão sobre as condições de vida e trabalho de idosos moradores da
zona sul de Manaus, principalmente por se tratar de uma pesquisa exploratória, na qual
tivemos certa dificuldade em organizar dados específicos quanto à situação do idoso
que trabalha na cidade de Manaus. Pom, tal dificuldade foi sendo superada à medida
que a postura enquanto pesquisador nos motivava a não desistir no meio do caminho.
Assim, tivemos a oportunidade de conhecer de perto a realidade em que os idosos
estão inseridos, suas condições de vida e sua participação dentro do processo
produtivo e familiar, produzindo serviços que atendem às necessidades sociais,
legitimando a sua ação dentro desse mercado e, buscando, desta maneira, a melhoria
de sua condição de velho e trabalhador, contribuindo ainda para a melhor condição de
vida também de sua família.
A importância do trabalho do idoso na melhora de sua condição de vida, manifestou-
se de duas maneiras principais, uma ligada ao aspecto econômico e a outra ao aspecto
social. Porém, foi observado que ambos os aspectos os impulsionam a vivenciar uma
condição melhor de vida, sendo alguns deles chefes de famílias, lutando por um espaço
no meio produtivo e buscando melhores condições para a educação e ascensão de
seus entes queridos.
Embora tenham ocorrido algumas diferenças entre as respostas dos sexos
masculino e feminino, e ainda de suas condições sociais, é verificado que essa relação
extrapola os aspectos da sexualidade, cabendo a sociedade, como um todo, resgatar o
verdadeiro valor do segmento idoso, melhorando a sua condição de vida enquanto o
responsável pela construção da história da nossa nação, face à nova configuração
etária que o país e o mundo está passando.
Nesse sentido, as condições de vida e trabalho desses idosos ainda estão longe de
serem as ideais, pois ainda existem muitos impasses políticos que não vêem nesses
cidadãos, a sua cidadania, deixando–os, muitas vezes a margem, sem fazer valer as
legislações existentes para esse segmento. Contudo, essa população almeja e possui
perspectivas quanto aos futuros velhos que a sociedade terá, e para isso buscam
constantemente a inserção de seus familiares no meio educacional, orientando-os a
buscar sempre melhores condições de vida e trabalho.
Dessa forma, verifica-se que as perspectivas que eles têm são para o usufruto de
seus familiares. Todavia, a partir do nosso contato com os mesmos, percebemos que o
mais importante para esses idosos ao voltarem ou continuarem trabalhando é buscar
não melhores condições de vida para eles e sim para seus familiares, os quais
muitas vezes se acomodam e usufruem da renda desses idosos, deixando de buscar
melhores condições de vida para eles.
Não obstante, as perspectivas desses idosos, estão ainda direcionadas para a
melhora de seus familiares, para que os mesmos não precisem trabalhar, mesmo
depois de velhos e aposentados.
Contudo, não se pode deixar de mencionar que o trabalho exercido por esse
segmento, apesar de informais ou braçais, também traz uma questão de “status” para
os mesmos, os quais se orgulham, e muitas vezes não se vêem como idosos ou
alguém que envelheceu por continuarem trabalhando e chefiando a sua família.
Assim, cabe a sociedade a tarefa de repensar a função do trabalho como fonte de
prazer, subsistência e exercício de cidadania sem restrições raciais, cronológicas e
ideológicas, o qual pode ser sim um fator para melhoria das condições de vida da
população, desde que aliada ao processo educacional igualitário para todos, sem
qualquer discriminação.
Contemporaneamente, tem-se enfatizado a formação dos jovens que é de suma
importância para o desenvolvimento do país, mas não se pode perder de vista o futuro
que, a cada dia, faz-se presente com o envelhecimento da população, pensar a questão
do idoso não se restringe apenas pensar sobre saúde, requer uma visão mais ampliada
sobre a problemática da velhice e envelhecimento, assim, torna-se imperioso pensar
sobre o processo produtivo e como profissionais, não podemos pensar apenas na
grande massa de pessoas idosas que são afastadas do trabalho por motivos de
aposentadoria, de doença, invalidez ou desemprego, necessita-se pensar na grande
massa de idosos globalizados que são excluídos pelo processo de desenvolvimento a
partir de uma idade e não pela incapacidade produtiva.
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PAPALÉO NETTO, Matheus. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão
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PASTORE, José. Flexibilização dos Mercados de Trabalho e Contratação Coletiva.
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_______________. Mercado aproveita para explorar idoso. Publicado em O Estado de
São Paulo, 27/04/2002.
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PEIXOTO, Clarice E. Envelhecimento e imagem: as fronteiras entre Paris e Rio de
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PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio / Amazonas - Brasil, 2001.
PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio / Amazonas - Brasil, 2002.
PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000.
POTYARA, A. P. Pereira. A Questão Social e as Transformações das Políticas
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APÊNDICE
Apêndice 01 - Formulário de Entrevista;
Apêndice 02
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.).
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – ICHL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SOCIEDADE E CULTURA NA AMAZÔNIA
Formulário de entrevista da pesquisa: CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO: um estudo
sobre os idosos moradores da zona sul de Manaus.
MESTRANDA: Érika Renata dos Santos Almeida
ORIENTADORA: Dra. Yoshiko Sassaki
Entrevista n.º_____ Data:___________
I) Identificação:
01) Nome: ___________________________________________________________________
02) Idade: ____________________________________________________________________
03) sexo: ( ) feminino ( ) masculino
04) Cidade e País onde nasceu: __________________________________________________
05) Estado civil: _______________________________________________________________
06) Qual é o seu grau de instrução? _______________________________________________
07) Tem filhos? Quantos? _______________________________________________________
08) Alguns filhos moram com você ou você mora com os filhos? _________________________
II) Origem:
Manaus ( )
Interior do Estado ( )
Outro Estado ( )
01) Quanto tempo reside em Manaus?______________________________________________
02) Por que veio para Manaus? ___________________________________________________
III) Condições de habitação (domicílio):
01) Você mora em:
Casa ( ) Apartamento ( ) Quarto ( ) Instituição ( ) Outros ( ) ____________________
02) Onde você mora é: Alugado ( ) Emprestado ( ) Próprio ( ) Cedido ( ) Outros ( )
____________________________________________________________________________
03) Tipo de construção: Alvenaria ( ) Madeira ( ) Mista ( ) Palafita ( ) Outros ( ) ____
04) Tipo de Terreno: Alagadiço ( ) Plano ( ) Acidentado ( ) Outros ( ) _______________
05) Número de cômodo: ________________________________________________________
06) Quantas pessoas moram com você ou com quantas pessoas você mora? ______________
IV) Condições sócio-econômica (Renda) e familiar:
01) Com quem você reside? Quantas pessoas? ______________________________________
02) Você é aposentado ou recebe BPC? ( ) sim ( ) não. Qual o tipo: ________________
03) Qual o valor?_______________________________________________________________
04) Por que você se aposentou? __________________________________________________
05) Que tipo de trabalho realizou até se aposentar (Profissão e cargo): ____________________
06) Qual a profissão ou atividade que exerce atualmente? ______________________________
07) Qual o valor dessa ocupação: _________________________________________________
08) Você gostava do que fazia antes de aposentar-se? E hoje você gosta do que faz? _______
09) Sua carteira de trabalho é assinada? ( ) sim ( )não
10) Recebe ajuda externa? Sim ( ) Não ( )
11) Em caso positivo. De quem?
Familiares ( ) Amigos ( ) Igreja ( ) Outros ( )________________________________
12) Qual o valor da sua renda mensal (aposentadoria/ BPC (se tiver) + o valor do atual
trabalho)? ____________________________________________________________________
13) Você teve filhos? ( ) sim ( ) não . Quantos? _________________________________
14) Quantas pessoas trabalham na sua casa? ______________________________________
15) Qual o valor da renda mensal de sua família? ____________________________________
17) Como é o seu relacionamento familiar? ( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) ruim.
18) Você depende economicamente de sua família? sim ( ) não ( ) Por quê?_________
19) Qual é a sua participação na renda familiar? _____________________________________
20) A sua renda e de sua família é suficiente para manter todos na casa? ( ) sim ( ) não.
III) Condições de trabalho:
01) Quanto tempo faz que você trabalha? Em que idade começou a trabalhar?
02) O que significa o trabalhar depois de sessenta anos?
03) Como você se vê no trabalho ou trabalhando, depois dos sessenta anos?
04) Por que você retornou ao meio produtivo ou permaneceu trabalhando (mesmo depois de ter
se aposentado ou beneficiário social)? Quais são os pontos positivos e negativos quais os
impasses e perspectivas?
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)
Eu,......................................................................................................................................, tendo
sido convidado(a) a participar como voluntário(a) do pesquisa intitulada CONDIÇÕES DE VIDA
E TRABALHO: um estudo sobre os moradores da zona sul de Manaus, recebi da pesquisadora
Erika Renata dos Santos Almeida, do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na
Amazônia PPGSCA, do Instituto de Ciências Humanas e Letras ICHL da Universidade
Federal do Amazonas - UFAM, responsável por sua execução, as seguintes informações que
me fizeram entender sem dificuldades e sem dúvidas os seguintes aspectos:
Que minha participação será voluntária e gratuita.
Que em qualquer momento da pesquisa poderei retirar-me, sem sofrer nenhum
constrangimento ou penalidade.
Que será garantindo o meu anonimato e a privacidade das informações, mesmo que os
resultados da pesquisa (favoráveis ou não) se tornem públicos.
Que o estudo se destina a analisar as condições de vida e trabalho de idosos moradores da
Zona Sul de Manaus.
Que esse estudo começa em março de 2005 e terminará em dezembro de 2007.
Que o estudo será feito da seguinte maneira: 1) pesquisa bibliográfica e documental sobre o
tema; 2) aplicação de formulário com trabalhadores idosos que residem na zona sul de Manaus;
3) análise das informações levantadas.
Que eu participarei da seguinte etapa:
o Entrevista com a pesquisadora Érika Renata dos Santos Almeida, com a
aplicação de formulário de entrevista com questões abertas e fechadas.
Que os incômodos que poderei sentir com a minha participação são os seguintes:
o Dispor de tempo para a entrevista e ter dificuldade em responder alguma
pergunta.
Que os possíveis riscos à minha saúde física e mental são: inexistentes.
Que deverei contar com a seguinte assistência:
o Esclarecimento de cada pergunta que tiver dificuldade de entender, sendo
responsável por ela: a pesquisadora Érika Renata dos Santos Almeida e a
orientadora Profa. Dra. Yoshiko Sassaki, do Programa de Pós-graduação
Sociedade e Cultura na Amazônia do ICHL da Universidade Federal do
Amazonas.
Que os benefícios que deverei esperar com a minha participação, mesmo que não
diretamente são:
o Contribuir com o aprofundamento da temática relacionada às condições de vida
de idosos que continuam vivenciando um papel de trabalhador na cidade de
Manaus, desvelando os seus impasses e perspectivas em relação a sua
condição. Cabe ressaltar que sempre que desejar, serão fornecidos
esclarecimentos sobre cada uma das etapas do estudo.
Manaus, _____/ _____/ _____.
Consentimento Pós-informação
Eu, ____________________________________________, fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por
isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que eu não vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser. Estou recebendo uma cópia deste documento, assinada, que vou guardar.
Assinatura do(a) participante: ___________________________________ Data: ___/ ____/ ___.
ou
(Impressão do dedo polegar, caso não saiba assinar).
Assinatura da Pesquisadora Responsável: ________________________ Data: ___/ ____/ ___.
PARTICIPANTE VOLUNTÁRIO(A):
Endereço:_______________________________________________________________________________________________________
Complemento/Ponto de Referência: __________________________________________________________________________________
Bairro: ______________________________________________ Telefone: ___________________________________________________
Cidade: _____________________________________________ CEP: _______________________________________________________
RESPONSÁVEL PELA
PESQUISA:
Instituição: Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Endereço: Av. General Rodrigo Otávio, 3000.
Bairro: Coroado Telefone: 3647 4000 / 3647 4444 Cidade: Manaus - Am
ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a su
a participação no estudo, dirija
-
se ao:
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas.
End.: Rua Teresina – Faculdade de Enfermagem - Bairro Adrianópolis, Manaus-AM.
ANEXOS
MAPAS: Bairros da Cidade de Manaus - Amazonas - Brasil
ZONA SUL
1- Centro
2- Aparecida
3- Pres. Vargas
4- Praça 14 de
Janeiro
5- Cachoeirinha
19- Raiz
20- São Francisco
21- Petrópolis
22- Japiim
24- Educandos
25- Santa Luzia
26- Morro da
Liberdade
27- Betânia
28- Col. Oliveira
Machado
29- São Lázaro
30- Crespo
31- Vila Buriti
ZONA CENTRO SUL
37- Flores
38- Parque 10
39-Aleixo
40- Adrianópolis
41- N. Senhora das
Graças
42- São Geraldo
43- Chapada
ZONA OESTE
6- São Raimundo
7- Glória
8- Santo Antônio
9- Vila da Prata
10- Compensa
11- São Jorge
12- Santo
Agostinho
13- Nova
Esperança
14- Lírio do Vale
50- Ponta Negra
51- Tarumã
ZONA CENTRO
OESTE
36- D. Pedro I
15- Planalto
16- Alvorada
17- Redenção
18- Bairro da Paz
ZONA LESTE
23- Coroado
32- Distrito Industrial
33- Mauazinho
34- Col. Antônio
Aleixo
35- Puraquequara
52- Armando Mendes
53- Zumbi dos
Palmares
54- São José
Operário
55- Tancredo Neves
56- Jorge Teixeira
ZONA NORTE
44- Col. Santo
Antônio
45- Novo Israel
46- Col Terra Nova
47- Santa Etelvina
48- Monte das
Oliveiras
49- Cidade Nova
Azul Real: Zona Leste
Amarelo: Zona Norte
Vermelho: Zona Sul
Laranjado: Zona Centro-Sul
Verde: Zona Centro-Oeste
Azul Claro: Zona Oeste
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