Download PDF
ads:
ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO: UM ESTUDO NA INDÚSTRIA DE
MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS NO BRASIL
Bernardo Hauch Ribeiro de Castro
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto COPPEAD de Administração
Mestrado em Administração
Orientador: Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.
Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Setembro de 2004
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Estratégias de Inovação: Um Estudo na Indústria de
Máquinas e Implementos Agrícolas no Brasil
Bernardo Hauch Ribeiro de Castro
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de
Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Prof. _____________________________________ - Orientador
Cesar Gonçalves Neto, Ph.D. – COPPEAD/UFRJ
Prof. _____________________________________
Ronaldo Soares de Andrade, Ph.D. – COPPE/UFRJ
Prof
a
. ____________________________________
Cristiane Machado Quental, D.Sc. – FIOCRUZ
Rio de Janeiro
2004
ads:
i
Ficha Catalográfica
CASTRO, Bernardo Hauch Ribeiro de
Estratégias de Inovação: Um Estudo na Indústria de
Máquinas e Implementos Agrícolas no Brasil / Bernardo Hauch
Ribeiro de Castro. – Rio de Janeiro, 2004.
125 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD de
Administração, 2004.
Orientador: Cesar Gonçalves Neto
1. Gestão da inovação. 2. Máquinas e implementos
agrícolas. 3. Administração - Teses. I. Neto, Cesar Gonçalves
(Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto
COPPEAD de Administração. III. Título
ii
Agradecimentos
Aos meus pais, pela motivação, pela oportunidade de ter uma boa formação, pela
orientação em todos os momentos e por me mostrarem o valor do trabalho e da
educação.
Ao meu irmão, pelo constante apoio.
Ao meu orientador, Cesar Gonçalves Neto, pelas sugestões, pela orientação, pela
atenção e pela confiança no meu trabalho.
Aos professores Ronaldo Andrade e Cristiane Quental, por aceitarem compor a
banca de defesa desta dissertação.
À Finep, que me permitiu freqüentar o curso, acreditando no valor da capacitação
profissional.
Aos meus colegas Ricardo Balthazar e Fabrício Soares, por me apoiarem
permitindo que eu pudesse dispor do tempo necessário ao curso, e aos demais
colegas de Finep que muito me ajudaram, criticando o questionário e estando
sempre abertos à discussão.
Ao Victor Raposeiro, por dispor de seu tempo e trabalho na programação da
versão on-line do questionário.
Aos meus colegas de COPPEAD, pela amizade e companheirismo durante o
curso.
Aos funcionários da COPPEAD, pela paciência e pelo apoio durante todo o curso
e durante a realização deste trabalho.
Aos profissionais das diversas empresas que se dispuseram a responder a esta
pesquisa, tornando possível este trabalho.
À sociedade brasileira, por sustentar, com o pagamento de impostos, instituições
de ensino públicas de excelência, como é a COPPEAD e a própria UFRJ.
Enfim, a todos que me ajudaram, direta ou indiretamente, a realizar o sonho de
concluir um Mestrado em Administração.
Muito obrigado.
iii
Resumo
CASTRO, Bernardo Hauch Ribeiro de. Estratégias de inovação: um estudo na
indústria de máquinas e implementos agrícolas no Brasil. Orientador: Cesar
Gonçalves Neto. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2004. Dissertação (Mestrado
em Administração)
O objetivo deste estudo exploratório foi identificar até que ponto as estratégias
empresariais no setor de máquinas e implementos agrícolas estariam focadas na
inovação tecnológica. Além disso, tamm foi objetivo explorar as estratégias de
inovação tecnológica adotadas neste setor, baseadas nos tipos de estratégias
listadas por Christopher Freeman no livro ‘The Economics of Industrial Innovation’.
Embora estudo sobre a competitividade da indústria brasileira indicasse que, no
início da década de 90, a indústria de máquinas e implementos agrícolas ainda era
considerada defasada tecnologicamente, havia alguns indícios empíricos de que a
situação havia se revertido. Os resultados da pesquisa mostraram que as
empresas do setor de fato se reorganizaram de forma a desenvolver atividades de
P&D e a possuir uma estratégia pró-ativa de inovação. O setor de máquinas e
implementos agrícolas passou aparentemente por um movimento contrário ao de
vários outros setores classificados como de bens de capital, em que o processo de
abertura comercial favoreceu a importação, substituindo a produção local e os
esforços internos de engenharia. O setor passou a ter uma ênfase maior no
desenvolvimento de novos produtos, puxado principalmente pelas inovações no
seu principal mercado consumidor, a agricultura.
iv
Abstract
CASTRO, Bernardo Hauch Ribeiro de. Estratégias de inovação: um estudo na
indústria de máquinas e implementos agrícolas no Brasil. Orientador: Cesar
Gonçalves Neto. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2004. Dissertação (Mestrado
em Administração)
This exploratory study was structured to identify where, within the agricultural
machine and equipment industry, the corporate strategies have focused on
technological innovation. Once the existence of the strategy was identified, it was
also an objective to classify them according to Christopher Freeman’s framework
proposed in his book ‘The Economics of Industrial Innovation’. Although the initial
hypotheses show that, in the early 90’s, the agricultural machine and equipment
industry in Brazil was technologically delayed, there are some empiric signs that
this situation has changed. The results of this survey show that the firms in this
industry have already been re-organized. Now, they do develop many R&D
(Research and Development) activities and present an innovation strategy. Even
though some authors say the capital goods industry in Brazil was impacted by free
trade policies, which reduced local production, shifted imports and substituted
internal engineering efforts by foreign ones, the agricultural machine and
equipment industry followed another way through. Nowadays, there is a greater
emphasis on new products development, pulled primarily by market demand
composed of agribusinessmen.
v
Lista de Siglas
ABIMAQ – Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos
ANFAVEA – Associão Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores
ANPEI – Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das
Empresas Inovadoras
C&T – Ciência e tecnologia
CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
CNI – Confederação Nacional da Indústria
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
OECD – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
P&D – Pesquisa e desenvolvimento
P&D&E – Pesquisa, desenvolvimento e engenharia não-rotineira
PIB – Produto Interno Bruto
PINTEC – Pesquisa Industrial: Inovação Tecnológica, do IBGE
vi
Lista de Figuras
Figura 1: Roteiro de determinação de estratégias Pág. 27
Figura 2: Estratégias Genéricas de Porter Pág. 28
Figura 3: A Cadeia do Agronegócio Pág. 36
Figura 4: PIB da Agricultura e da Pecuária – Variação % Acumulada Pág. 38
Figura 5: Cadeia de Valor do Arranjo Industrial de Máquinas e
Implementos Agrícolas
Pág. 44
Figura 6: Dendrograma Pág. 81
Figura 7: Produção Brasileira de Máquinas Agrícolas Automotrizes Pág. 100
Figura 8: Vendas Internas de Máquinas Agrícolas Automotrizes Pág. 100
Figura 9: Exportações de Máquinas Agrícolas Automotrizes Pág. 101
Figura 10: Relação entre as Exportações e as Vendas Internas de
Máquinas Agrícolas Automotrizes
Pág. 101
Figura 11: Gráfico de declive (scree plot) Pág. 105
Figura 12: Histograma das Respostas (Perguntas 1 a 12) Pág. 106
Figura 13: Histograma das Respostas (Perguntas 13 a 24) Pág. 107
Figura 14: Histograma das Respostas (Perguntas 25 a 31) Pág. 108
Figura 15: Tela inicial, para acesso ao questionário Pág. 109
Figura 16: Questionário (parte 1/5) Pág. 110
Figura 17: Questionário (parte 2/5) Pág. 111
Figura 18: Questionário (parte 3/5) Pág. 112
Figura 19: Questionário (parte 4/5) Pág. 113
Figura 20: Questionário (parte 5/5) Pág. 113
vii
Lista de Tabelas
Tabela 1: Grau de incerteza associada aos diversos tipos de inovação Pág. 24
Tabela 2: Estratégias da firma Pág. 31
Tabela 3: Percentual de empresas que classificaram como alta a
importância de determinadas atividades inovativas
Pág. 49
Tabela 4: Distribuição das perguntas da terceira parte do questionário
de acordo com a função que se desejava medir
Pág. 64
Tabela 5: Taxa de resposta aos questionários enviados Pág. 65
Tabela 6: Número de funcionários das empresas respondentes Pág. 66
Tabela 7: Distribuição das empresas respondentes por UF Pág. 66
Tabela 8: Idade das empresas respondentes Pág. 67
Tabela 9: Origem do capital declarado pela empresa Pág. 67
Tabela 10: Faixas de faturamento das empresas da pesquisa Pág. 67
Tabela 11: Função da pessoa responsável pela resposta à pesquisa Pág. 68
Tabela 12: Percentual do faturamento originário de produtos lançados a
partir de 2001
Pág. 69
Tabela 13: Engenheiros trabalhando no desenvolvimento de produtos Pág. 69
Tabela 14: Infra-estrutura para desenvolvimento de produtos Pág. 69
Tabela 15: Principal fonte de idéias citada para o desenvolvimento de
um novo produto
Pág. 70
Tabela 16: Quantidade de feiras, congressos e exposições que as
empresas participaram em 2003
Pág. 70
Tabela 17: Parcerias com universidades ou instituições de pesquisa
das empresas respondentes
Pág. 71
Tabela 18: Patentes registradas por empresa respondente Pág. 71
Tabela 19: Desempenho de atividades de P&D Pág. 72
Tabela 20: Distribuição Regional das Empresas: Comparativo Pág. 73
Tabela 21: Escala de Likert Utilizada no Questionário Pág. 74
Tabela 22: Matriz Fatorial Rotacionada Pág. 77
Tabela 23: Respostas relativas às funções em cada fator Pág. 79
viii
Tabela 24: Resumo dos Fatores Encontrados Pág. 79
Tabela 25: Clusters Pág. 81
Tabela 26: Freqüência de Respostas na Escala de Likert Pág. 102
Tabela 27: Estatística Descritiva Pág. 103
Tabela 28: Matriz de Correlação Pág. 103
Tabela 29: Matrizes Anti-Imagem Pág. 104
Tabela 30: Autovalores, Percentual de Variância e Percentual de
Variância Acumulado
Pág. 104
ix
Sumário
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA 1
1.2. PERGUNTA DA PESQUISA 1
1.3. OBJETIVO 2
1.4. JUSTIFICATIVA 2
1.5. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 3
1.6. RELEVÂNCIA DO ESTUDO 4
1.7. ESTRUTURA DO TRABALHO 5
1.8. DEFINIÇÃO DE TERMOS 6
1.8.1. Tecnologia 6
1.8.2. P&D – Pesquisa e Desenvolvimento 7
1.8.3. Inovação 9
2. P&D E A ESTRATÉGIA DA FIRMA 12
2.1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO PARA A EMPRESA 12
2.1.1. Vantagens do Investimento em P&D para a Empresa 12
2.1.2. Aprendizagem e Capacitação Tecnológica como Produtos do Investimento
em P&D 15
2.1.3. Riscos e Incertezas do Processo Inovativo 21
2.2. A ESTRATÉGIA CORPORATIVA 25
2.3. ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO 30
2.3.1. As Funções Técnicas e Científicas Relacionadas à P&D 33
3. O AGRONEGÓCIO E A INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS
AGRÍCOLAS 36
3.1. BREVE HISTÓRICO DA AGROPECUÁRIA E DA MECANIZÃO AGRÍCOLA NO BRASIL
E NO
MUNDO 39
3.2. A I
NDÚSTRIA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS 42
3.3. CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS
AGRÍCOLAS 45
4. METODOLOGIA 51
4.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA 51
4.2. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 53
4.3. A E
SCOLHA DO SETOR A PESQUISAR 54
4.4. C
OLETA DE DADOS 55
4.4.1. Instrumento 55
4.4.2. Validade e Confiabilidade 56
4.5. ANÁLISE DOS DADOS 57
4.6. ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO 58
x
5.
RESULTADOS 65
5.1. CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO E TAXA DE RESPOSTA 65
5.2. ANÁLISE DESCRITIVA 65
5.2.1. Caracterização da Amostra 65
5.2.2. Caracterização da Capacidade Inovadora das Empresas Pesquisadas 68
5.2.3. Síntese da Análise Descritiva 72
5.3. ANÁLISE FATORIAL 74
5.3.1. Considerações Iniciais 74
5.3.2. Interpretação dos Fatores 77
5.4. ANÁLISE DE CLUSTER 80
5.5. CONCLUSÃO SOBRE AS PREMISSAS DA PESQUISA 85
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 87
6.1. CONCLUSÕES 87
6.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO 89
6.3. SUGESTÕES PARA PRÓXIMOS ESTUDOS 89
7. REFERÊNCIAS 91
8. ANEXOS 100
8.1. ANEXO I: DADOS SOBRE O SEGMENTO DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTOMOTRIZES
100
8.2. ANEXO II: TABELAS E GRÁFICOS PARA ANÁLISE ESTATÍSTICA 102
8.3. ANEXO III: HISTOGRAMAS DAS RESPOSTAS ÀS QUESTÕES 1 A 31 106
8.4. ANEXO IV: QUESTIONÁRIO 109
1
1. Introdução
1.1. Tema e Problema da Pesquisa
A inovação é apontada como um dos caminhos mais importantes para a
manutenção da competitividade das empresas. Dentro do agronegócio, setor que
mais cresce no Brasil nos últimos anos, e sobre o qual boa parte da economia
brasileira se sustenta, a inovação tecnológica, mesmo sendo caracterizada como
uma atividade de alto risco, tem ganhado destaque. Prova disso são as inúmeras
feiras e exposições agropecuárias noticiadas na grande imprensa e que mostram
ao público as últimas novidades do setor.
A indústria de máquinas e implementos para a agropecuária concentra boa
parte das inovações tecnológicas do setor e o crescimento do agronegócio
brasileiro é a mola propulsora deste segmento cada vez mais competitivo.
Investigar a orientação estratégica relacionada à inovação tecnológica
nesse segmento é o tema desta dissertação. Como se posicionam as empresas,
como é a influência dos lançamentos internacionais no mercado brasileiro e qual o
incentivo para o lançamento constante de novas máquinas e implementos são
algumas das questões que se pretende explorar neste estudo.
1.2. Pergunta da Pesquisa
A pergunta da dissertação pode então ser expressa como: até que ponto as
estratégias empresariais no setor de máquinas e implementos agrícolas estão
focadas na inovação tecnológica?
2
Complementarmente à pergunta principal estão duas questões: se há uma
estratégia de inovação nas empresas; e quais as estratégias de inovação
tecnológica adotadas nesse setor.
1.3. Objetivo
O objetivo do presente estudo é identificar até que ponto as estratégias
empresariais no setor de máquinas e implementos agrícolas estão focadas na
inovação tecnológica. Além disso, tamm é objetivo explorar as estratégias de
inovação tecnológica adotadas neste setor, baseadas nos tipos de estratégias
listados por Freeman (1997, p.267).
1.4. Justificativa
A inovação é um processo-chave na criação de produtos, processos e
serviços. A inovação cria um diferencial para as empresas, que as permite
crescer, aumentar tanto sua produtividade quanto a qualidade de seus produtos.
A agropecuária é um dos setores que mais cresce no Brasil. O PIB da
agropecuária cresceu 6,5% em 2003 (CNA/CEPEA-USP, 2003, p.1), enquanto a
economia como um todo teve retração de 0,2% (IBGE, 2004B). Diversos setores
ligados à cadeia produtiva da agropecuária tamm crescem, já que fornecem
insumos, como fertilizantes, defensivos, rações, medicamentos veterinários, ou
mesmo máquinas e implementos agrícolas.
A agropecuária é um setor com características únicas, por ser condicionado
por atributos locais, como tipo de solo, de vegetação, de relevo, de clima, de
culturas e outros, que tornam alguns desenvolvimentos únicos para determinadas
regiões. Por exemplo, uma colheitadeira para determinado grão pode funcionar
muito bem em terrenos e tipo de cultura brasileiros, mas ser economicamente
inviável se aplicada a colheitas de outro país. Portanto, cria-se um ambiente
3
favorável ao crescimento e ao desenvolvimento de empresas instaladas no Brasil
e que criem soluções para as tais condições ambientais.
Nesse movimento, a competição surge e, com ela, vem a preocupação das
empresas com a atualização tecnológica e com a própria inovação, que possui um
papel importante como diferencial no mercado.
No entanto, um estudo sobre a competitividade da indústria brasileira
(COUTINHO & FERRAZ, 1994, p.359) apontava que o setor de máquinas e
implementos agrícolas brasileiro teria pouca tecnologia difundida, com grandes
defasagens em relação ao exterior. Uma aparente contradição que se constituiu
numa das motivações do presente estudo.
Com os vários recordes obtidos pelo agronegócio em 2003 e nos anos
anteriores (MAPA, 2004), espera-se que a inovação tecnológica tenha passado a
fazer parte da estratégia das empresas instaladas no Brasil. Portanto, após dez
anos da publicação do estudo sobre a competitividade da indústria brasileira,
espera-se que o cenário tenha se transformado e a tecnologia e, principalmente, o
desenvolvimento de novos produtos tenha passado a fazer parte do dia-a-dia das
empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas brasileiro.
1.5. Delimitação do Estudo
O presente estudo foi desenvolvido para o caso brasileiro, sendo a
aplicação dos resultados em outros países sujeita a uma análise de viabilidade
das premissas utilizadas.
Além disso, o estudo não tem o intuito de enumerar todas as estratégias
possíveis, nem de criar ícones, já que a estratégia é algo muito particular às
empresas, ao tipo de administração e a vários outros fatores. É pressuposto da
4
pesquisa que a classificação de estratégias de inovação proposta por Freeman
(1997, p.267) é aplicável tamm ao setor de máquinas e implementos agrícolas.
Tratando-se, ainda, de um estudo exploratório em um segmento de forte
expansão, é natural que, com o passar dos anos, alguns dos resultados aqui
obtidos não mais correspondam à realidade.
Embora a inovação seja um conceito amplo, que será apresentado a seguir,
no desenvolver da pesquisa, com o objetivo de poder contar com uma amostra
maior, que inclua empresas menores, e de simplificar o questionário, o foco da
inovação estará no desenvolvimento de novos produtos. Isto significa dizer que
inovações em processos de fabricação ou organizacionais não farão parte do
escopo desta pesquisa.
1.6. Relevância do Estudo
A inovação tecnológica é elemento-chave na competitividade de empresas
em setores de alta competição. Identificar estratégias de inovação, mesmo que
voltadas para o mercado interno, pode ajudar a compreender melhor a estrutura e
as relações dentro do setor de máquinas e implementos agrícolas. Além disso,
como este setor atua de forma horizontal, na mecanização de vários segmentos
ligados à agropecuária, a presença de estratégias de inovação pode contribuir
para sustentar a vantagem competitiva do agronegócio brasileiro.
Os resultados da pesquisa também podem servir de base para a
formulação de políticas públicas de fomento e incentivo à inovação tecnológica no
setor de máquinas e implementos agrícolas e nos segmentos de sua cadeia.
5
1.7. Estrutura do Trabalho
O presente trabalho está dividido em seis capítulos. O primeiro trata da
parte introdutória, apresentando tanto aspectos relativos ao tema, ao objetivo, às
justificativas e às delimitações, quanto a definição de termos largamente utilizados
ao longo desta pesquisa e que não são de uso corrente.
O segundo capítulo define e relaciona pesquisa e desenvolvimento e a
estratégia empresarial. Essas definições são de fundamental importância, pois
servirão de contexto para a base conceitual da pesquisa, nos trabalhos de
Freeman (1997).
O terceiro capítulo versa sobre o setor escolhido para a pesquisa. Como há
uma íntima relação entre a indústria de máquinas e implementos agrícolas e o
próprio setor agropecuário, já que ele constitui um setor tecnologicamente
dominado por inovações originadas justamente nas indústrias de insumos e de
equipamentos (CASTRO & FONSECA, 1991, p.48), são introduzidos alguns
aspectos relativos ao agronegócio e especificamente à indústria de máquinas e
implementos, chamando a atenção para características tecnológicas do setor.
O quarto capítulo é relativo à metodologia utilizada na pesquisa e o quinto
capítulo, cerne da dissertação, mostra os resultados obtidos com a pesquisa e as
análises estatísticas realizadas.
O sexto capítulo traz a conclusão da pesquisa, incluindo-se algumas
sugestões para estudos futuros.
Ao fim deste relatório, em anexo, estão disponíveis dados sobre o setor,
dados de apoio à análise e o questionário utilizado para a pesquisa.
6
1.8. Definição de Termos
Como alguns dos termos a serem utilizados não são de definição única
pelos diversos autores da área de administração, optou-se por apresentar uma
pequena revisão bibliográfica conceituando-os de forma que o entendimento do
tema abordado seja facilitado ao longo deste trabalho.
De todos os termos comuns à Administração da Inovação Tecnológica,
talvez os mais importantes para o presente estudo sejam: tecnologia, P&D e
inovação.
1.8.1. Tecnologia
Almeida (1986, p.1) lembra, ao conceituar tecnologia, que na vio do leigo,
ela “é máquina, é invenção, é realização fantástica: aviões supersônicos, energia
atômica, viagens interplanetárias, televisão, telefone, vacinas, máquinas”.
Segundo Rocha (1996, p.12-14), a tecnologia é o resultado de uma soma
ciência e técnica, incorporando-se tanto a aplicação prática ou a aproprião
econômica, quanto a sistemática do conhecimento científico. “É mais que um
conjunto de produtos, processos e máquinas”, ”há também informações que
organizam o saber fazer – uma aprendizagem que extrapola os bens e os meios
utilizados para produzi-los”.
Portanto, ao afirmar que “tecnologia é televisão, telefone”, apenas utiliza-se
a tecnologia como metáfora da tecnologia embutida nos bens produzidos com
auxílio dela.
Almeida (1986, p.2-3), dentre as diversas conceituações que cita, escolhe a
definição de tecnologia como a de conjunto de conhecimentos empregados na
produção de bens.
7
Sáenz (2002, p.47) propõe a definição de tecnologia segundo dois pontos
de vista diferentes: como um conjunto de conhecimentos ou como uma atividade.
O primeiro é uma extensão do conceito apresentado por Almeida (1986) logo
acima: “tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos e empíricos, de
habilidades, experiências e organização requeridos para produzir, distribuir,
comercializar e utilizar bens e serviços. Inclui tanto conhecimentos teóricos como
práticos, meios físicos, ‘know-how’, métodos e procedimentos produtivos,
gerenciais e organizacionais, entre outros”. A segunda, mais próxima da linha de
raciocínio de Rocha (1996), afirma que tecnologia é “a busca de aplicações para
conhecimentos já existentes”. É esta a definição que utilizaremos para o presente
trabalho.
1.8.2. P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
A expressão P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) é utilizada para dar nome
às atividades de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa ou de uma nação,
ou ainda para dar nome ao sistema de entidades e pessoas voltadas a essa
atividade (ALMEIDA, 1986, p.24).
Para a OECD (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico), no seu Manual Frascati (OECD, 2002, p.30), conceitua P&D como
algo que compreende o trabalho criativo de forma sistemática com o objetivo de
elevar o estoque de conhecimento, inclusive conhecimento sobre o homem, a
cultura e a sociedade, e o uso desse estoque de conhecimento no
desenvolvimento de novas aplicações. Uma diretiva mais imediata vem da própria
definição da sigla P&D, que a OECD chama de “pesquisa e desenvolvimento
experimental”, claramente ligando a pesquisa ao desenvolvimento de um protótipo
ou às fases de teste, antes da aplicação comercial.
8
A OECD, ainda em seu Manual Frascati, afirma que o termo P&D cobre três
atividades: pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental. A
pesquisa básica seria o trabalho experimental ou teórico para adquirir um novo
conhecimento, sem qualquer aplicação particular ou uso em vista. A pesquisa
aplicada diferencia-se da pesquisa básica quanto ao fato de haver um objetivo
prático para o conhecimento a ser desenvolvido. O desenvolvimento experimental
trata da própria tradução do conhecimento em novos (ou substancialmente
melhores) materiais, produtos, dispositivos, processos, sistemas ou serviços.
Almeida (1986, p.25), por fim, registra a sutileza da diferença entre P&D e
C&T (Ciência e Tecnologia), sendo a primeira composta por atividades, enquanto
a segunda trata de um estoque de conhecimento existente. Em outras palavras,
P&D utiliza conhecimentos gerados por C&T. Dificilmente ouvir-se-á falar em um
departamento de C&T em uma empresa. Muito mais provável é se encontrar um
departamento de P&D. Isso porque, mesmo produzindo C&T, a sua atividade é de
pesquisa e desenvolvimento.
Há um outro termo, P&D&E, ou P&D amplo, que convém conceituar.
Segundo a definição adotada pela ANPEI e utilizada no relatório “Indicadores de
Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo – 2001” (FAPESP, 2001), P&D&E,
que significa Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia Não Rotineira, “inclui todas
as atividades de P&D em sentido estrito, acrescido das atividades técnico-
científicas correlacionadas à P&D, que são os Serviços Tecnológicos, bem como
as Aquisições de Tecnologia e as atividades de Engenharia Não Rotineira”. Sendo
que, pelo termo ‘Engenharia Não Rotineira’ entende-se “as atividades de
engenharia diretamente relacionadas ao processo de inovação”, como o design; o
projeto de confecção e mudanças de ferramental; o estabelecimento de novos
métodos e padrões de trabalho; e os rearranjos de planta requeridos.
Para o presente estudo, a definição de P&D compreende mais atividades
que as citadas anteriormente. É baseada numa versão ainda mais abrangente
9
utilizada por Freeman (1997, p.267), que entende como atividades relacionadas à
P&D: pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental,
engenharia de projeto, controle de qualidade da produção, serviços técnicos,
registro de patentes, informações técnicas e científicas, educação e treinamento e
previsões de longo prazo e planejamento de produto.
1.8.3. Inovação
A OECD utiliza um termo mais detalhado, inovação tecnológica de produto
e processo, abreviado por ‘Inovação TPP’ (Technological Product and Process
Innovation), que ajuda a delimitar bem a que inovação a definição se refere. Em
seu Manual de Oslo (OECD, 1997, p.31), ela afirma que o termo compreende
produtos e processos tecnologicamente novos lançados no mercado ou utilizados
no processo de produção e as melhorias tecnologicamente significativas em
produtos e processos. É salientado ainda que as inovações TPP envolvem uma
série de atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e
comerciais.
Sobre a definição acima, um ponto de dúvida que poderia surgir seria: o
que é um produto ou processo tecnologicamente novo? Novo para quem?
A própria OECD responde à questão afirmando que o escopo da definição é
a empresa, ou seja, a inovação não precisa ser algo tecnologicamente novo para
o mundo, nem para o país. De fato, Piganiol (apud ALMEIDA, 1986, p.7) cita como
característica da inovação “a implantação de qualquer tecnologia, nova ou não,
em geral, mas nova no local”. Uma definição que vai ao encontro da proposta pela
OECD.
No entanto, não é clara a relão entre inovação e tecnologia. Alguns
autores lembram que a inovação não é uma atividade pontual, mas um processo e
se preocupam em definir o termo “processo de inovação”, enquanto outros autores
10
simplesmente se abstêm da definição do termo composto. Almeida (1986, p.14),
por exemplo, resume que “o processo de ligação da tecnologia com o mercado
tem sido tratado sob diversas denominações e ângulos, sendo a mais comum,
ainda, a expressão processo de inovação”. Além disso, afirma que “esse processo
tem três grandes fases: invenção, processo de inovação propriamente dita e
difusão”.
A inovação pode, de fato, não ser tecnologicamente nova. Ela pode utilizar
conceitos e tecnologias já bastante maduros. Isso ocorre porque no
desenvolvimento de uma nova tecnologia, normalmente não há como identificar
todas as suas oportunidades de mercado. É comum se utilizar uma tecnologia já
amplamente dominada para lançar um produto diferenciado, para atender a um
nicho ainda não atendido pela empresa.
Sáenz (2002, p.69-70) apresenta duas definições para inovação
tecnológica. A primeira sendo “a primeira utilização – incluindo a comercialização
nos casos em que se aplica – de produtos, processos, sistemas ou serviços,
novos ou melhorados”, ou ainda, “o processo pelo qual as empresas dominam e
implementam o desenho e a produção de bens e serviços que são novos para
elas, independentemente de serem novos para seus competidores, nacionais ou
estrangeiros”. Evidentemente definições que carregam certa diferença. Enquanto
a primeira trata do ato de inovar, pontualmente, a segunda se centra no processo,
chamando a atenção para o problema do local da inovação.
Como Rocha (1996, p.45-46) observa, “o conceito de inovação é
econômico, pois se refere à apropriação comercial de invenções ou à introdução
de aperfeiçoamentos nos bens e serviços utilizados pela sociedade”. A inovação
se relaciona com o mercado e com a oferta e a demanda de bens e serviços, ou
seja, com questões não apenas de ordem técnico-científica.
11
Este ponto, segundo o mesmo autor (ROCHA, 1996, p.45), ainda ajuda a
diferenciar a ‘inovação’ da ‘invenção’ (ou descoberta). A invenção não embute
qualquer significado econômico, sendo somente a produção de algo idito pelo
homem. Em outras palavras, uma invenção só se torna inovação quando ela é
colocada no mercado e acaba sendo adotada por outras pessoas.
Para fins desta pesquisa, considerou-se inovação tanto a introdução de
alguma melhoria em um produto dentro de uma empresa, o que se classificaria
como inovação incremental (LASTRES & CASSIOLATO, 2003, p.15-17), quanto a
introdução de produtos completamente novos.
12
2. P&D e a Estratégia da Firma
Segundo Wilkinson (1987), o propósito da P&D é contribuir positivamente
para a competitividade da empresa, seja por meio de uma estratégia ofensiva ou
defensiva, através do apoio aos objetivos das unidades que ela serve. Em outras
palavras, o uso de P&D é definido por ocaso da formatação da estratégia.
Sendo assim, o presente capítulo tem por objetivo detalhar melhor a ligação
entre P&D e a estratégia da empresa, seja indicando onde as atividades de P&D
passam a influir diretamente na estratégia corporativa da empresa, seja
apresentando estratégias específicas para lidar com essas atividades e suas
influências na política de inovação e de desenvolvimento de novos produtos nas
empresas.
Além disso, discutir-se-á a importância das atividades de P&D para a
empresa e suas vantagens.
2.1. A Importância da Inovação para a Empresa
2.1.1. Vantagens do Investimento em P&D para a Empresa
Será a pesquisa importante para a empresa? Rosenberg (1990) constata
que muitas empresas fazem pesquisa básica, inclusive com recursos próprios.
Freeman (1997, p.268) indica que as empresas que consideram a pesquisa básica
importante são normalmente empresas com estratégia ofensiva.
Talvez, de forma mais adequada, a pergunta correta seria: será a pesquisa
importante para qualquer empresa? Como se viu anteriormente, com as diferentes
estratégias tecnológicas das empresas, C&T é de fato importante, em maior ou
13
menor grau, para qualquer empresa, havendo, inclusive, empresas que se
empenham em realizar pesquisa básica, tarefa originalmente delegada às
universidades.
Rosenberg (1990) sintetiza que, apesar do elevado grau de incerteza que
ronda os projetos de pesquisa básica, as empresas, em geral, não investem em
pesquisa baseadas nos retornos financeiros calculados pelo valor presente ou em
alguma análise de custo-benefício, mas por força de alguns “incentivos”.
São eles, segundo Rosenberg (1990):
- Vantagens de first-mover, ou seja, a empresa pode mais rapidamente
extrair benefícios comerciais de uma nova descoberta;
- Necessidade de desenvolver capacidade em pesquisa básica – já que dela
às vezes depende o desenvolvimento da pesquisa aplicada; é primordial
para o sucesso de alguns negócios, especialmente dos de alta tecnologia;
ou ajuda a monitorar a pesquisa feita em outros lugares;
- O papel do Estado, especificamente citando a grande demanda do setor de
defesa americano.
Freeman (1997, p.202) tamm observa vantagens competitivas na
pesquisa básica dentro da empresa, como pioneirismo, garantia de contato direto
com os resultados, com a ciência e com a geração de conhecimento e flexibilidade
e facilidade de acesso a novas tecnologias.
O fato é que, em setores de tecnologia de ponta, parece ser fundamental
estar o mais próximo possível das novas tecnologias e das inovações na área e
até em áreas aparentemente pouco relacionadas.
No entanto, mesmo considerando os argumentos a favor da pesquisa
básica apresentados, parece razoável afirmar que, na maior parte dos casos, a
pesquisa básica não parte da empresa, mas de centros especializados, como
14
universidades e institutos de pesquisa. A pesquisa básica ainda tem resultados
muito incertos para as empresas.
Segundo a Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e
Engenharia de Empresas Inovadoras – ANPEI, do total das despesas em P&D por
tipo de atividade, em 2000, de 247 empresas que responderam à pesquisa,
54,98% se referia ao desenvolvimento experimental, 34,38% à pesquisa aplicada
e apenas 10,64% se referia à pesquisa básica (ANPEI, 2001).
Manfield (1991, p.2) estudou a transformação do resultado de um projeto de
pesquisa acadêmica em uma inovação tecnológica. Apesar da dificuldade em
identificar e medir a ligação entre uma pesquisa acadêmica e uma inovação
industrial, os dados do autor sugerem que cerca de 10% dos novos produtos e
processos comercializados durante o período de 1975 a 1985, nos Estados
Unidos, nas indústrias de processamento de informações, de equipamento
elétrico, química, de instrumentos, farmacêutica, metalúrgica e de petróleo, não
teriam sido desenvolvidos (ou seriam com atraso substancial) sem pesquisa
acadêmica recente.
C&T e inovação são importantes, pois criam alterações técnicas que podem
mudar consideravelmente a indústria. Em outras palavras, põem em risco a
sobrevivência e a lucratividade das empresas ditando, portanto, seu
comportamento. Freeman (1997, p.266) é categórico ao afirmar: “não inovar é
morrer”. Mais que isso, Nonaka (2001, p.27) afirma que “numa economia onde a
única certeza é a incerteza, apenas o conhecimento é fonte segura de vantagem
competitiva”.
Para a indústria de máquinas e implementos agrícolas é natural que os
investimentos em pesquisa básica e aplicada sejam reduzidos. Isto porque, como
afirmam Castro e Fonseca (1991, p.60), o padrão de desenvolvimento tecnológico
nesta indústria possui caráter não-radical e cumulativo, ou seja, é dominado por
15
inovações incrementais. Há uma tendência à padronização, mesmo porque há
economias de escala nas plantas e nas empresas.
No entanto, Castro e Fonseca (1991, p.63-64) ainda afirmam que o
processo de concorrência nesse setor se baseia na diferenciação dos produtos. A
necessidade de adaptação dos equipamentos a condições específicas de uso
orienta a introdução de melhorias e a solução de problemas não-rotineiros. A
empresa aprende e se capacita, o que se torna tamm um resultado do
investimento em P&D.
2.1.2. Aprendizagem e Capacitação Tecnológica como Produtos
do Investimento em P&D
A aprendizagem e a capacitação tecnológica são definidas aqui como um
tipo de produto do investimento em P&D, ou seja, uma outra vantagem desse tipo
de investimento. Além da inovação lançada no mercado, que é o objetivo principal
do investimento, como resultado secundário está a absorção de conhecimento
pela empresa. Esse conhecimento absorvido, traduzido em uma aprendizagem
tecnológica, pode permitir que a empresa, no futuro, lide com problemas de maior
complexidade. Portanto, para fins deste estudo, são definidos os termos e o
ambiente em que se inserem a aprendizagem e a capacitação tecnológica.
A empresa não tem como se privar de acompanhar as inovações na sua
indústria justamente porque ciência e tecnologia crescem independentemente da
empresa e são aspectos importantes do ambiente das empresas. Na indústria de
máquinas e implementos agrícolas, em que grande parte das inovações é externa
a ela, falhando na introdução de novos produtos ou processos, as empresas
podem sentir o mercado ser tomado pela concorrência. Este ponto mostra a
importância do acesso a informações tecnológicas, independentemente da
estratégia adotada pela empresa.
16
Carayannis e Alexander (2002, p.630) afirmam que a aprendizagem
tecnológica, em cada um dos níveis operacional, tático ou estratégico, tem efeito
sobre a performance da empresa. Os autores justificam a afirmação justamente
considerando os efeitos na performance em caso de ausência de algum nível de
aprendizagem, como se observa a seguir:
Empresas que são incapazes de aprender, o que eles chamam de “ausência
de aprendizagem operacional”, “são eliminadas rapidamente da competição,
pois são incapazes de desenvolver novas habilidades para se adaptar ao
ambiente e manter a paridade de performance com outras empresas”.
Empresas que são “incapazes de aprender como aprender (ausência de
aprendizagem tática) são capazes de competir no curto prazo, mas no médio
prazo são incapazes de adotar novas estratégias de aprendizagem que as
possibilitariam fazer saltos descontínuos na performance. Entretanto, essas
firmas são incapazes de manter a mesma taxa de melhoria na performance
que empresas que tenham aprendizagem tática”.
Empresas que são “incapazes de aprender a aprender-como-aprender
(ausência de aprendizagem estratégica) são capazes de competir no médio
prazo, mas no longo prazo são eliminadas porque elas não podem manter uma
taxa consistente de melhoria nos processos de aprendizado, e portanto não
podem controlar o timing e a escala dos saltos quânticos na performance”.
Neste caso, os autores definem a aprendizagem tecnológica como
processos de transformação organizacional onde ela própria ou seus indivíduos e
grupos internalizam experiências técnicas e administrativas para melhorar o
processo de decisão e a gerência da incerteza e da complexidade (CARAYANNIS
apud CARAYANNIS & ALEXANDER, 2002, p.629).
17
Tanto para cenários de mudanças tecnológicas incrementais quanto
radicais, a aprendizagem tecnológica é a forma de ajustar a empresa ao novo
cenário. Uma das conclusões da pesquisa de Carayannis e Alexander (2002,
p.639) é justamente a existência da relação das atividades de aprendizagem
tecnológica com a performance da empresa, embora essa relação não seja
particularmente forte.
Segundo Pavitt (1989 apud SANTANA et al., 2003, p.155), este
aprendizado tecnológico, conhecido como o processo de fortalecimento e
incremento do conhecimento, das qualificações e experiências, das estruturas
institucionais e da interação na firma, entre firmas e fora da firma, gera como
resultado a capacitação tecnológica da empresa.
Mais ou menos na mesma linha, segue Rocha (1996, p.97), definindo
capacitação científica e tecnológica como “a ampliação do potencial de
desenvolvimento, absorção, difusão e introdução de inovações tecnológicas”,
conceito relacionado com “a aprendizagem e com a capacidade de apropriação
socioeconômica de conhecimentos técnico-científicos”.
Enfim, uma empresa capacitada tecnologicamente pode lidar com
inovações tecnológicas mais profundamente que empresas defasadas
tecnologicamente. Entretanto, as empresas lutam por permanecerem lucrativas,
não necessariamente enxergando a capacitação tecnológica como caminho para
isso. Um ambiente propício à capacitação tecnológica das empresas necessita, na
verdade, de outras condições que podem extrapolar a esfera da organização.
Zouain (2001, p.51) afirma que “a capacitação tecnológica repousa sobre
quatro pilares: a capacidade inovadora da empresa; as condições gerais
econômicas, políticas, administrativas e jurídicas que são decisivas para que
existam incentivos para o desenvolvimento dessa capacitação; o apoio direto dado
por instituições públicas orientadas para a tecnologia, organizações intermediárias
18
e determinadas classes de empresas de serviços; e o apoio indireto, sobre todo o
sistema educativo”.
Em síntese, há fatores internos, como a capacidade inovadora da empresa,
e externos, que seriam os demais citados por Zouain. Autores que estudam os
condicionantes da competitividade das empresas tratam a capacitação tecnológica
com um foco um pouco diferente.
A capacitação tecnológica é colocada por Coutinho e Ferraz (1994, p.18)
como um dos fatores internos à empresa que determinam a competitividade em
uma indústria. Nesse caso, competitividade é definida como “a capacidade da
empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam
conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado”.
Haguenauer (1989, p.13-14), a partir de uma ampla revisão bibliográfica
sobre os conceitos de competitividade e avaliando cada componente e os
paradoxos apontados pelos diversos autores, a define como “a capacidade de
uma indústria (ou empresa) produzir mercadorias com padrões de qualidade
específicos, requeridos por mercados determinados, utilizando recursos em níveis
iguais ou inferiores aos que prevalecem em indústrias semelhantes no resto do
mundo, durante um certo período de tempo”.
É interessante observar que Haguenauer cita “padrões de qualidade
específicos, requeridos por mercados determinados”. Desta afirmação pode-se
tirar dois conceitos importantes: que qualidade é um atributo importante de
competitividade; e que qualidade é uma característica subjetiva e que, logo,
depende das características de cada mercado.
Em outro trecho, Haguenauer cita “utilizando recursos em níveis iguais ou
inferiores aos que prevalecem em indústrias semelhantes no resto do mundo”. A
autora enfatiza que o nível de utilização de recursos é uma medida mais
19
adequada que preço ou custo e que depende de fatores com menores variações
no curto prazo, mais estruturais, citados como sendo: a eficiência produtiva; e a
capacitação tecnológica e os equipamentos.
A eficiência produtiva se refere ao uso de técnicas mais eficientes (em
relação ao padrão internacional) e à organização interna da produção na empresa,
claramente fatores internos à empresa. Já a capacitação tecnológica se refere a
aspectos mais amplos do setor em que atuam ou da economia como um todo, já
que diz respeito à situação das plantas industriais. Neste caso, são aspectos
como: o padrão de concorrência, a interdependência setorial, o ambiente sócio-
político-ecômico, os sistemas educacionais, a existência de políticas industriais
etc.
Ser competitiva, o que implica, conforme as definições, a estar capacitada
tecnologicamente, é condição necessária, mas não suficiente para o sucesso de
uma empresa.
Segundo Freeman (1997, p.203), entre os fatores de sucesso de empresas
inovadoras no século XX estariam, conforme as hipóteses do projeto SAPPHO:
- Forte P&D interno à empresa;
- Acompanhamento de pesquisas básicas ou relações fortes com os que
conduzem tais pesquisas;
- Uso de patentes como proteção e como mecanismo de barganha com
concorrentes;
- Porte grande o suficiente para financiar um gasto pesado em P&D durante
longos períodos;
- Tempo total desde o pedido até a entrega relativamente curto;
- Disposição para tomar altos riscos;
- Identificação precoce e imaginativa de mercados potenciais;
- Atenção cuidadosa ao mercado potencial e esforços substanciais para
envolver, educar e ajudar os usuários;
20
- Empreendedorismo forte o suficiente para coordenar efetivamente P&D,
produção e marketing;
- Boa comunicação com o mundo científico externo e com os consumidores.
Ao analisar pares de um sucesso e um fracasso em inovação tecnológica
em dois setores da indústria (instrumentos científicos e química), o autor chega a
três tipos de resultados.
O primeiro tipo relacionava-se a fatores comuns a quase todas as tentativas
de inovar, tenham obtido sucesso ou não. Os resultados incluíram: as formas de
organização da área de P&D, avaliação de projetos e plano de remuneração;
prioridade para registro e posse de patentes; organização das equipes de P&D; e
qualificação acadêmica dos pesquisadores. Todas estas não se destacaram como
fatores que influenciassem o sucesso ou o fracasso de uma inovação.
No segundo, referente a diferenças observadas entre os pares e cujo
estudo não os relacionava com o sucesso (ou o fracasso) de uma inovação, estão
o tamanho da empresa, o tamanho da área de P&D e o número de pesquisadores;
a busca por inovações fora do ‘core business’ da empresa (entendendo-se core
business como derivado do conceito de ‘core competence’, ou o aprendizado
coletivo de uma organização, especialmente em como coordenar as diversas
habilidades de produção e integrar múltiplos eixos tecnológicos (PRAHALAD &
HAMEL, 1990, p.82)); taxa de crescimento da empresa e do seu setor; e tempo
total de desenvolvimento, desde de o pedido até a entrega.
No terceiro tipo, referente às diferenças entre os pares que estavam
relacionadas ao sucesso em inovação, poucas medidas se diferenciaram
claramente, sendo a maior parte relacionada ao marketing e outras relacionadas à
capacidade de comunicação e empreendedorismo do líder.
21
Observa-se, portanto, que há um indício que o comprometimento com P&D
é um fator mais crítico que a própria estrutura voltada para esse fim. Não importa,
portanto, se a pesquisa está disseminada e espalhada pela empresa, contanto
que ela seja coordenada.
Embora os setores analisados no projeto SAPPHO fossem caracterizados
como mais intensivos em P&D, muitas das conclusões podem ser expandidas
para o setor de bens de capital, já que tratam de orientações gerais, não
exatamente específicas ao setor trabalhado.
A capacitação tecnológica, portanto, obtida com investimentos em P&D,
torna-se um elemento fundamental para a competitividade da empresa. Empresas
defasadas tecnologicamente, como foi caracterizada a indústria de máquinas e
implementos agrícolas no início dos anos 90 (COUTINHO & FERRAZ, 1994,
p.359), teriam dificuldades, inclusive, em reconhecer a importância do
investimento em P&D. À medida que algumas empresas do setor apresentassem
estratégias mais fortemente ligadas à inovação tecnológica, provavelmente elas
seriam seguidas pelas demais empresas.
2.1.3. Riscos e Incertezas do Processo Inovativo
Apesar das vantagens do investimento em P&D apresentadas, nem sempre
as empresas se guiam por elas. O investimento ainda é cheio de riscos e
incertezas que dificultam a mensuração dos resultados. O objetivo deste item é
justamente definir os riscos e incertezas do processo inovativo, como subsídio
para entender o porquê de algumas empresas apresentarem comportamento
divergente das demais, inclusive adotando estratégias diferentes.
Utterback & Suárez (1993, p.1) colocam a inovação como intimamente
relacionada à competição e à estrutura da indústria. O lançamento de uma
inovação no mercado tende a estimular uma resposta dos concorrentes. Ao
22
aparecerem diversos designs, um tende a ser o dominante, escolhido pela maior
parte do mercado. Com a concentração, algumas empresas saem da competição
até que se atinja um ponto de equilíbrio, restando algumas empresas dividindo o
mercado. O fato de investir em um design próprio que não venha a ser o
dominante, reduz o mercado e constitui um dos riscos do processo inovativo.
Kline e Rosenberg (1986, apud FREITAS, 1996, p.9) apontaram que o
“sucesso da inovação requer um projeto que equilibre os requisitos de um novo
produto e de seu processo de fabricação, as necessidades do mercado, e a
necessidade de manter uma organização que continue a apoiar efetivamente
todas essas atividades”. Em outras palavras, há fatores incontroláveis pela
empresa, que constituem riscos, e que ditarão o sucesso de uma inovação.
Freitas (1996, p.10-11) enumera algumas das incertezas que cercam o
processo de inovação, lembrando que quanto mais inovador for o lançamento,
mais incertos serão seus resultados.
Incerteza resultante da concorrência.
Embora o lançamento pioneiro de um novo produto possa dar uma vantagem
inicial à empresa inovadora, os concorrentes tendem a responder o mais rápido
possível. Às vezes não é possível prever o tipo de resposta, já que decisões
desse tipo são mantidas sob sigilo por razões estratégicas. O mercado é um
fator que ajuda a mensurar o impacto da resposta da concorrência: um
mercado muito amplo pode ajudar a manter por mais tempo um desempenho
ótimo da empresa inovadora.
Incerteza resultante do processo de produção.
Este tipo de incerteza decorre normalmente da “transformação” de uma
invenção em uma inovação. A produção e mesmo testes de mercado em cima
23
de um protótipo podem mostrar resultados promissores, no entanto, a produção
em escala pode trazer problemas não avaliados inicialmente. A produção em
escala pode evidenciar um baixo rendimento, custo muito alto frente ao preço
sugerido, confiabilidade baixa do processo de produção, entre outras razões.
Incerteza resultante do mercado.
Essa incerteza é relacionada à aceitação pelo mercado da inovação. É
razoável admitir que é muito mais crítica para inovações de produtos que para
inovações de processo, mesmo porque nem sempre uma alteração no
processo é percebida pelo consumidor final. Fica claro, ainda, que essa
incerteza pode ser minorizada com atividades de marketing, seja pré-
lançamento, como pesquisas de mercado, seja pós-lançamento, com
propagandas e outros. Como lembra Freitas (1996, p.8), o sucesso de uma
inovação não depende apenas de atributos como performance e preço, mas
tamm do momento escolhido para a introdução do produto no mercado.
Incerteza resultante de erros de gestão.
Essa incerteza percorre horizontalmente e potencializa todos os riscos do
projeto. Erros de gestão em todas as esferas, como operacional, financeira,
estratégica, de marketing etc., podem comprometer o sucesso de uma
inovação.
Como é possível observar, Freitas cita apenas os riscos diretos que as
empresas incorrem ao iniciar um processo inovativo. Há incertezas em outros
âmbitos, mais indiretos, como o cenário político, econômico, social e legal do país,
que podem afetar positiva ou negativamente o lançamento de inovações. Como
exemplo, medidas de governo que visem a retrair o consumo da população
certamente aumentam ainda mais a incerteza resultante do mercado.
24
Da mesma forma, programas de incentivo à capacitação gerencial têm o
intuito de reduzir a incerteza resultante de erros de gestão. Além disso, esforços
direcionados à informação tecnológica podem evitar que as empresas se
empenhem na criação de produtos ou processos já previamente patenteados, por
exemplo, reduzindo assim riscos de propriedade.
Freeman (1997, p. 243-244) acrescenta que o risco inerente à inovação
técnica tem suas especificidades. Os riscos que se está sujeito no cotidiano são
mensuráveis, já que podem ser calculados pela teoria da probabilidade estatística,
sendo, portanto, seguráveis. Os riscos tecnológicos, que Freeman classifica em
diferentes graus (Tabela 1), não são normalmente assumidos por seguradoras ou
bancos. Por esta razão é que existem instituições financeiras, muitas vezes
subsidiadas pelo Estado, especialmente criadas para apoiar a atividade
tecnológica. Elas funcionam como uma intervenção do Estado na economia,
socializando o risco da inovação, por considerá-la de interesse público (CASTRO,
2002, p.254).
Tabela 1: Grau de incerteza associada aos diversos tipos de inovação
1
“Incerteza verdadeira” Pesquisa fundamental;
Invenção fundamental.
2
Grau Muito Alto de Incerteza Inovações radicais de produtos;
Inovações radicais de processos fora da
empresa.
3
Alto Grau de Incerteza Inovações de produtos importantes;
Inovações radicais de processos dentro da
empresa.
4
Incerteza Moderada Novas gerações de produtos maduros.
5
Baixa Incerteza Inovação licenciada;
Imitação de inovações de produtos;
Modificação de produtos e processos;
Adoção precoce de processos maduros.
25
6
Incerteza Muito Baixa Novo “modelo”;
Diferenciação de produto;
Agenciamento para inovação de produtos
maduros;
Adoção tardia de inovações de processos
maduros e operações franqueadas no próprio
estabelecimento;
Melhorias técnicas menos relevantes.
Fonte: FREEMAN (1997, p. 244).
A decisão em investir em P&D passa a ser uma atividade vista como
desbravadora, ou ainda como uma atividade de cópia de seus concorrentes.
Encontrar empresas com perfis divergentes em relação à escolha da estratégia de
inovação é, em parte, motivado pelos riscos e incertezas apresentados neste item.
2.2. A Estratégia Corporativa
A estratégia é definida no Dicionário Michaelis como a “arte de usar os meios
disponíveis ou as condições que se apresentam para atingir determinados
objetivos”.
Porter (1996, p.61-62) lembra que temos que diferenciar a eficiência
operacional da estratégia. Enquanto a eficiência operacional reside em realizar
atividades similares, a essência da estratégia está em escolher realizar atividades
de forma diferente ou em realizar atividades diferentes das que fazem seus rivais.
“A estratégia competitiva trata sobre ser diferente”.
Embora aparentemente esta definição exclua a imitação, inclusive
textualmente (PORTER, 1996, p.63), em nosso caso, assim como afirma Freeman
(1997, p.276), a imitação foi tratada como um tipo de estratégia. Afinal, mesmo
26
produtos iguais, quando produzidos por empresas diferentes, têm embutido um
componente de aprendizado. O simples fato de o produto ser novo para a
empresa já é considerado uma inovação (OECD, 1997, p.8), além do que, o
processo de fabricação tende a ter peculiaridades dependendo da empresa, seja
por conta de sua estrutura organizacional, seja pelos recursos disponíveis.
Segundo Bethlem (2002, p.29), o estabelecimento de uma estratégia parte
de três conjuntos de questões que definirão: a vio da situação atual da empresa;
previsões sobre as condições que a empresa encontrará no futuro; e as
prioridades e os desafios a responder.
A visão atual da empresa compreende a resposta a questões como: “o que
a empresa é?”, “o que a empresa faz?”, “como a empresa está?” e “onde a
empresa está?”. As previsões compreendem a resposta a questões como: “o que
vem por aí?” e “como vai afetar a empresa?”. As prioridades e os desafios a
responder compreendem a resposta a questões como: “o que a empresa será?”,
“o que a empresa fará?”, “como e onde a empresa estará?”.
A estratégia é justamente o caminho que a empresa percorrerá para atingir
seus objetivos se tornando a empresa idealizada pela resposta às prioridades
definidas.
A figura 1 descreve o roteiro de determinação de estratégias apresentado
acima.
A determinação de uma estratégia depende do que se quer de uma
organização. Bethlem (2002) coloca como objetivos genéricos de uma
organização: o lucro, o crescimento, a sobrevivência e o prestígio. Embora se
encontrem contra-exemplos, as empresas, a princípio, procuram atingir estes
objetivos. Dessa forma, em geral, as estratégias traçadas buscam atingir os
objetivos genéricos.
27
Segundo Porter (1989), a decisão da estratégia a seguir parte da escolha
de que vantagem competitiva a empresa vai perseguir: o menor custo ou a
diferenciação. Ao mesmo tempo, a empresa tamm deve escolher em que
escopo pretende trabalhar.
Figura 1: Roteiro de determinação de estratégias
Fonte: Bethlem (2002, p.29)
Há basicamente quatro dimensões do escopo a considerar: escopo de
segmento, “as variedades de produtos produzidos e de compradores atendidos”;
escopo vertical, “até que ponto as atividades são executadas internamente ao
invés de por empresas independentes”; escopo geográfico, “a variedade de
regiões. Países ou grupo de países em que uma empresa compete com uma
estratégia coordenada”; e escopo da indústria, “a variedade de indústrias afins em
que a empresa compete com uma estratégia coordenada”. (PORTER, 1989)
O que a empresa é?
O que a empresa faz?
Como a empresa está?
Onde a empresa está?
Previsões
O que vem por aí?
Como vai afetar a empresa?
Desafios a responder
Prioridades
Decisões
estratégicas
Desejos e
aspirações da
estrutura do
poder
Desejos e
aspirações
do pessoal
Visão da situação
Atual da empresa
28
Ao cruzar os tipos de vantagem competitiva com o escopo competitivo –
entendido como a gama de segmentos de mercado desejados – ele chega a três
estratégias genéricas: liderança em custo, diferenciação e nicho (Figura 2).
VANTAGEM COMPETITIVA
Baixo Custo Diferenciação
Amplo
1. Liderança em custo
2. Diferenciação
ESCOPO
COMPETITIVO
Estreito
3A. Enfoque no custo
3B. Enfoque na
diferenciação
Figura 2: Estratégias Genéricas de Porter
Fonte: PORTER (1989, p.10)
A liderança no custo pressupõe uma empresa com escopo amplo e que
atenda a muitos segmentos industriais. Embora as fontes da vantagem
competitiva neste tipo de estratégia variem, normalmente as empresas se focam
em economias de escala, no uso de tecnologia patenteada, no acesso preferencial
a matérias-primas, em fatores institucionais como regulamentação governamental
da atividade, em integração vertical e em muitas outras fontes. (PORTER, 1989)
Já a diferenciação é a busca da empresa em ser única em sua indústria, de
acordo com o ponto de vista de seus consumidores. Normalmente as empresas
escolhem atributos em que se diferenciarão, muitas vezes focados nos produtos
que vendem, embora não se restringindo a tal, podendo atingir o sistema de
distribuição, o marketing ou diversos outros fatores. (PORTER, 1989)
29
A estratégia genérica de nicho se difere das outras duas por ter um escopo
competitivo estreito. A empresa escolhe um segmento a atender e ignora os
outros, adaptando sua estratégia para o nicho escolhido. De acordo com o
segmento escolhido, a estratégia de nicho pode ter um enfoque no custo ou em
diferenciação. Normalmente esta estratégia visa melhor atender determinados
segmentos que as empresas rivais atendam com escopo bem mais amplo, ou
seja, criando vantagem pelo atendimento mais “personalizado”. (PORTER, 1989)
É bom lembrar que tais estratégias genéricas são referenciais teóricos,
sendo que a realidade comporta estratégias de meio-termo e mais de uma
estratégia. Normalmente a primeira leva a empresa a um desempenho abaixo da
média, pressupondo que seus rivais adotem com ênfase alguma das estratégias
genéricas. Já a segunda é arriscada, pois pode levar a empresa a ficar no meio-
termo.
Porter (1989) aponta três situações em que a empresa pode conseguir
simultaneamente liderança em custo e em diferenciação: quando seus
concorrentes estão no meio-termo; quando o custo é intensamente afetado pela
parcela de mercado da empresa ou pela existência de inter-relações importantes
que a empresa pode explorar exclusivamente; ou quando a empresa é pioneira
em uma importante inovação. As duas últimas podem ser entendidas como uma
situação de monopólio ou “quase-monopólio”.
O que se pode concluir é que a estratégia corporativa engloba definições de
estratégias conforme as diferentes dimensões da empresa. Em outras palavras, a
estratégia corporativa deve conter uma postura da empresa em relação à
estratégia tecnológica e à estratégia de inovação.
De fato, Pegels e Thirumurthy (1996, p.249), em um estudo relacionando os
gastos em P&D com algumas medidas de tecnologia nas empresas e, em
30
seguida, dessas medidas na performance da empresa, confirmam que a
performance da empresa sofre contribuição da acumulação de conhecimento
resultante dos esforços em pesquisa e desenvolvimento e que há uma relação
entre o uso estratégico da tecnologia e o desempenho estratégico da empresa.
No fim, “a interação entre a tecnologia e a estratégia pode ser interpretada
via subconjuntos das competências mercadológicas, por meio das quais as
empresas tentam desenvolver vantagens competitivas sobre seus concorrentes.
Isso pode ser alcançado via tecnologia, diretamente, ou por diferentes maneiras
pelas quais a tecnologia pode alavancar ou promover outras competências”.
(TORQUATO & SILVA, 2000, p.74)
2.3. Estratégias de Inovação
Conforme afirma Freeman (1997), a introdução de um novo produto ou
processo pode tornar outros obsoletos. Portanto as empresas que quiserem
sobreviver e crescer devem ser capazes de adaptar sua estratégia tecnológica a
esse tipo de competição. No entanto, não necessariamente a empresa precisa
fazer pesquisa ou inovar por si própria. Há outras estratégias para isso.
Pegels e Thirumurthy (1996, p.246) consideram a estratégia tecnológica
como os meios que a empresa usa para traduzir os esforços em pesquisa e
desenvolvimento em avanços nas suas respectivas tecnologias de produto e
processo.
Freeman (1997, p.267) enumera seis tipos de estratégia ponderando a
importância de diversas funções científicas e técnicas a serem desempenhadas
dentro da empresa. São elas: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente,
tradicional ou oportunista.
31
Ele observa ainda que a escolha da estratégia a seguir pode depender dos
recursos da empresa, de sua história, de suas atitudes gerenciais e da sua sorte.
A tabela 2 relaciona o peso de cada função de P&D com a estratégia escolhida.
Tabela 2: Estratégias da firma
Estratégias da firma
Funções Técnicas e Científicas
Realizadas dentro da Firma
Ofensiva
Defensiva
Imitativa
Dependente
Tradicional
Oportunista
Pesquisa Básica 4 2 1 1 1 1
Pesquisa Aplicada 5 3 2 1 1 1
Desenvolvimento Experimental 5 5 3 2 1 1
Engenharia de Projeto 5 5 4 3 1 1
Controle de Qualidade de Engenharia de Produção 4 4 5 5 5 1
Serviços Técnicos 5 4 3 2 1 2
Patentes 5 4 2 1 1 1
Informação Técnica e Científica 4 5 5 3 1 5
Educação e Treinamento 5 4 3 3 1 1
Previsão de Longo Prazo e Planejamento da
Produção
5 4 3 2 1 5
A escala de 1 a 5 indica fraco (ou inexistente) a muito forte. Fonte: FREEMAN, 1997,
p.267.
A estratégia ofensiva visa a liderança técnica do mercado e se baseia em
pontos fundamentais, como:
- Relacionamento mais próximo do mundo de C&T, sendo que caso não
desenvolvam pesquisa básica, pelo menos tenham contato com quem a
faz;
32
- Independência da área de P&D na firma, sendo que esta desempenha um
papel-chave;
- Rapidez na exploração de novas oportunidades;
- Combinação dos fatores anteriores.
A estratégia defensiva tem como características uma grande preocupação
com pesquisa, às vezes até tão intensa quanto a de empresas com estratégias
ofensivas. A diferença básica está no tempo e na natureza das inovações.
Empresas que adotam essa estratégia mostram certa aversão ao risco de ser a
primeira a inovar e primam por aprender com os erros iniciais dos concorrentes.
Freqüentemente aproveitam janelas de oportunidade na aplicação de algum
conhecimento lançado pelo concorrente. É uma estratégia bastante observada em
mercados oligopolizados.
A estratégia imitativa se diferencia da defensiva por buscar copiar a
inovação, ter uma licença de uso ou reproduzi-la, ou seja, é se baseia em seguir
os líderes. São estratégias utilizadas por empresas que possuem vantagens
competitivas frente às empresas inovadoras, que podem variar deste de um
mercado cativo até vantagens de custo. Observa-se em mercados maduros e em
países em desenvolvimento, sendo importante um foco em treinamento e serviços
técnicos, ou joint-ventures ou acordos de colaboração com empresas
estrangeiras.
A estratégia dependente é entendida como uma estratégia de um
departamento em uma grande empresa. As empresas normalmente assumem um
papel de subordinação em relação a firmas mais fortes e só modifica produtos sob
solicitação do cliente, o qual, por muitas vezes, é a própria firma mais forte. É o
caso de empresas de fabricação de componentes de algum produto.
A estratégia tradicional é adotada em mercados com baixa concorrência e
sem demanda identificada por inovações nos produtos. Empresas que adotam
33
essa estratégia tem pouca capacidade técnica ou científica para iniciar projetos de
longo alcance e dificuldade de responder a mudanças tecnológicas.
A estratégia oportunista é uma estratégia de nicho, ou seja, de empresas
que agem em oportunidades identificadas no mercado e que não exijam grande
capacidade de pesquisa ou de projeto.
Freeman (1997) ainda cita Penrose (1959) ao afirmar que a estratégia
escolhida depende tanto do ambiente no qual a empresa se insere quanto de seus
recursos e suas habilidades (teoria da firma baseada em recursos). A estratégia
pode possibilitar a geração de conhecimento e, ao mesmo tempo, ela só é definida
com base nos conhecimentos que a empresa já tem.
Embora a estratégia dependa do papel que a empresa deseja realizar frente
à prospecção tecnológica nem sempre é claro aos empresários que as funções
relacionadas à P&D merecem atenção. As empresas nem sempre possuem um
foco tecnológico e estar em um mercado maduro, como o de bens de capital pode
causar uma sensação de estabilidade.
Um bom sinal de que o empresariado brasileiro vê importância em ter uma
estratégia de inovação é que 83,1% dentre 531 empresas do setor industrial
brasileiro entrevistadas em uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria
afirmaram possuir tal estratégia (CNI & FINEP, 2002, p.44).
2.3.1. As Funções Técnicas e Científicas Relacionadas à P&D
As funções técnicas e científicas relacionadas à P&D são variáveis muito
importantes para que se possa relacionar as estratégias de inovação das
empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil com as
estratégias de inovação de Freeman (1997, p.267).
34
Embora Freeman não defina explicitamente cada uma das funções
utilizadas, como forma de esclarecer o público da amostra desta pesquisa, as
funções foram definidas levando-se em conta, principalmente, diversos exemplos
e indicativos apresentados ao longo do trabalho do autor e a utilização de termos
de conhecimento comum. Assim, elas foram definidas conforme se segue:
- Pesquisa básica e aplicada: atividades de estudo e pesquisa em disciplinas
científicas ou com o apoio direto delas;
- Desenvolvimento experimental: atividades de desenvolvimento de
protótipos e testes dos mesmos antes da produção para fins comerciais;
- Engenharia de projeto: atividades de especificação, desenho e
detalhamento para projeto de um novo produto;
- Controle de qualidade da produção: atividades de controle de qualidade
desempenhadas ao longo da linha de produção, como controle da matéria-
prima, intermediários e do produto final;
- Serviços técnicos: assistência técnica fornecida pós-venda, incluindo a
disponibilidade de manuais ao usuário;
- Registro de patentes: registro e pedidos de patentes no INPI ou em
organismos internacionais análogos;
- Informações técnicas e científicas: busca de informações atuais em revistas
e artigos técnicos e científicos, assim como a participação em feiras,
congressos e eventos técnicos;
- Educação e treinamento: atividades de educação e treinamento
incentivadas pela empresa para capacitação de seus funcionários; e
35
- Previsões de longo prazo e planejamento de produto: existência de material
a empresa indicando que caminho ela deseja seguir nos próximos anos,
dentre cenários traçados, e quais linhas de produtos receberão
investimentos para lançamento futuro.
Sendo assim, o presente estudo utilizará as definições das funções
relacionadas à P&D e das estratégias genéricas de inovação de Freeman (1997,
p.265-285) para tentar caracterizar as estratégias da indústria de máquinas e
implementos agrícolas. Além disso, as informações anteriores, a respeito das
vantagens do investimento em inovação para a empresa, bem como seus riscos e
incertezas, servirão de subsídio para as conclusões finais.
36
3. O Agronegócio e a Indústria de Máquinas e
Implementos Agrícolas
Neste trabalho, por agronegócio entende-se todo e qualquer negócio
relacionado à cadeia produtiva agropecuária, desde a fabricação de insumos,
passando pela produção nas fazendas e por sua transformação, até o consumo
(GASQUES et al., 2004, p.8). O conceito pode ser entendido como uma tradução
do termo “agribusiness” (DAVIS & GOLDBERG, 1957 apud MCT, 2002, p.5),
justamente a soma das operações de produção, distribuição de suprimentos,
armazenamento, processamento e distribuição dos produtos.
É importante notar que há uma certa confusão entre os termos
agropecuária e agronegócio. O termo agronegócio é mais abrangente que
agropecuária, que comporta apenas o setor primário, ou seja, apenas as
atividades de produção.
Resumidamente, a cadeia do agronegócio está representada na figura 3.
Figura 3: A Cadeia do Agronegócio
Fonte: Adaptado de Guilhoto (2003) apud Gasques et al. (2004, p.9)
No primeiro elo está o setor de insumos, que compreende as indústrias de
fertilizantes, defensivos, produtos veterinários, máquinas e implementos, entre
outros. No segundo elo está a produção agropecuária propriamente dita, realizada
Insumos
Agropecuários
Agro-
pecuária
(produção)
Indústria Distribuição
Consumidor
Insumos
Agropecuários
Agro-
pecuária
(produção)
Indústria Distribuição
Consumidor
37
tanto pelo pequeno produtor rural quanto pelas cooperativas agropecuárias e
pelos grandes produtores. No terceiro elo está todo o complexo agroindustrial, que
compreende as indústrias de transformão, basicamente processadoras. No
quarto elo, o último antes de chegar aos consumidores, está a distribuição,
compreendendo principalmente os atacadistas e os varejistas.
Desta forma é possível estabelecer uma cadeia do agronegócio da
agricultura e outra cadeia do agronegócio da pecuária, sendo que cada uma
comportaria as atividades de produção, fabricação de insumos, industrialização e
distribuição inerentes a cada um dos complexos.
Grande responsável pelos superávits comerciais, o agronegócio registrou
um crescimento de 6,54% em seu PIB (Produto Interno Bruto) de 2003, em
relação a 2002, atingindo R$ 508,3 bilhões. Observando-se apenas a
agropecuária, seu PIB atingiu R$ 158,2 bilhões, ou seja, foi responsável por cerca
de 31% de todo o PIB do agronegócio (CNA/CEPEA-USP, 2003, p.1-2).
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC), apresentados em pesquisa do IPEA (GASQUES et al., 2004,
p.10), a balança comercial do agronegócio registrou, em 2002, superávit de US$
20,3 bilhões, enquanto que os demais setores da economia registraram déficit de
US$ 7,2 bilhões. Embora em diferentes escalas, as posições relativas se
mantiveram durante os seis anos apontados na pesquisa.
Além disso, o Brasil detém posição de destaque na comercialização de
diversos produtos agropecuários, como, por exemplo, a soja. Produto agrícola de
maior destaque nos últimos anos, a soja brasileira, em forma de grãos, farelo e
óleo bruto, representou 36,68% do comércio mundial em 2003. Produtos como
café, suco de laranja, carne bovina, fumo, papel e celulose, açúcar e algodão
tamm são responsáveis diretos pelos bons números da balança comercial
brasileira. (GASQUES et al., 2004, p.12)
38
Dados positivos tamm são colhidos quanto a questões de emprego e
renda. Principal motor da economia das pequenas e médias cidades do Brasil, o
agronegócio é responsável direto, segundo dados do IBGE apontados em
pesquisa do IPEA (GASQUES et al., 2004, p.11), por 17,4 milhões de empregos,
ou seja, 24,2% da população economicamente ativa.
Observando-se a figura 4, pode-se perceber que o setor de insumos foi um
dos que mais cresceu no Brasil em 2003. É nele que se insere o setor de
máquinas e implementos, que é foco deste trabalho.
Figura 4: PIB da Agricultura e da Pecuária – Variação % Acumulada
Fonte: CNA/CEPEA-USP (2003, p.5)
8,1
6,23
-1,01
2,21
3,91
15,16
15,96
3,59
4,86
7,65
12,49
11,85
2,87
4,04
6,54
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
I
n
s
u
m
o
s
Variação do PIB em 2003 (%)
Pecuária Agricultura Agropecuária
39
3.1. Breve Histórico da Agropecuária e da Mecanização
Agrícola no Brasil e no Mundo
A agropecuária é uma das atividades mais antigas do mundo. Seu
surgimento remete à pré-história. Estima-se que os primeiros cultivares datem de
12.000 A.C.. A agricultura permitiu, por exemplo, o aparecimento das primeiras
aldeias, já que o perfil do ser humano, à época, se alterava de mero colhedor
nômade para um camponês, que podia fixar residência próximo a suas
plantações.
A utilização de arados e animais para plantio também é muito antiga. No
entanto, a verdadeira revolução veio, como conseqüência da Revolução Industrial,
com a mecanização da agricultura.
Em meados do século XIX, começaram a ser usados tratores a vapor para
tarefas de arrasto. Com a introdução do motor com combustão interna, já no início
do século XX surgia o primeiro trator com este tipo de motor, movido a querosene.
Empresas como a International Harvester, por exemplo, têm sua trajetória
intimamente ligada ao desenvolvimento de tecnológico de soluções para o campo.
A segadeira mecânica, um símbolo da mecanização da agricultura americana,
lançada em meados de 1830, assim como outras várias soluções, garantiam uma
produtividade muito maior aos agricultores, conferindo-lhes uma vantagem
competitiva em relação aos agricultores que não a adotavam. (GROSS, 1997,
p.31-46)
Gross (1997, p.43) narra ainda que a manutenção da posição de liderança
pela empresa no mercado, por várias décadas, só foi possível com um
investimento em novas tecnologias, principalmente pela aquisição de invenções
de novos produtos. Gross cita que William Hutchinson, em 1870, escreveu: “a
invenção tornou-se o instrumento, e o inventor, o empregado do industrial”.
40
O primeiro trator agrícola fabricado em série foi lançado em 1913 nos
Estados Unidos, porém a introdução de um trator leve, de uso geral, se deu
apenas em 1923.
Em 1933, as rodas de ferro passaram a ser substituídas por pneus de
borracha, sendo que na década de 60 se consolida o uso do óleo diesel como
combustível e os novos tratores passam a ter uma potência média cada vez maior.
A década de 90 é marcada pela incorporação de dispositivos eletrônicos
para as operações dos tratores, substituindo os acionamentos hidráulicos
introduzidos em 1949. Além disso, são incorporadas melhorias no conforto dos
operadores.
No Brasil, a lavoura cafeeira no início do século XX foi a grande mola
propulsora da mecanização, especialmente após a Primeira Guerra Mundial,
quando houve uma escassez de mão-de-obra no campo e conseqüente aumento
dos salários.
Após a Segundo Guerra Mundial, aumentou a preocupação dos produtores
com a utilização de insumos mais modernos, alavancando a mecanização da
agricultura. As máquinas eram importadas dos EUA e da Europa até a década de
60 e nem sempre eram as mais adequadas para as nossas condições. (BRUM,
2002)
Em 1959, por incentivo do governo federal (Plano Nacional da Indústria de
Tratores Agrícolas), foram fabricados os primeiros tratores nacionais. Ainda nesta
década, seis empresas disputavam o mercado brasileiro: Ford, Massey-Ferguson,
Valmet, Deutz, Fendt e CBT, esta sendo a primeira empresa de capital nacional.
41
No início da década de 70, o mercado concentrou-se em três empresas:
Massey Ferguson, CBT e Valmet. Mas já no final da década de 70, com a volta do
incentivo à indústria de tratores, novas empresas entraram no mercado, como:
Malves, Brasitália, Agrale e Case.
Em 1990, oito empresas dividiam o mercado de tratores agrícolas no Brasil:
Agrale, CBT, Engesa, Ford, Maxion, Muller, Valmet e Yanmar. (DAHAB, 1993,
p.33)
Nos últimos anos, instalou-se no Brasil a John Deere e a CBT encerrou
suas atividades. A Ford e a Fiat formaram o Grupo New Holland, enquanto que a
AGCO adquiriu a Maxion, que era uma associação entre a Massey-Ferguson e o
Iochpe.
O que se observou foi que a globalização abriu o mercado brasileiro,
levando a três grandes movimentos: um primeiro de parcerias ou joint ventures,
principalmente entre uma empresa local buscando tecnologia e uma empresa de
fora buscando mercado; um outro movimento de aquisições de empresas locais
por grupos internacionais visando ter uma presença mais forte no mercado
brasileiro; e um terceiro de extinção de empresas menores que não se
associaram, como foi o caso da CBT, da Engesa e da Muller, entre outras.
(BRUM, 2002)
Segundo Brum (2002), efeitos desses movimentos foram: a concentração
de mercado, a consolidação do Brasil como exportador de equipamentos agrícolas
e o incremento e o desenvolvimento do nível tecnológico da operação agrícola no
Brasil.
A configuração em 2003, segundo a ANFAVEA, era a seguinte: AGCO do
Brasil (39% do mercado de tratores de roda e colheitadeiras), Agrale (2% do
mercado), Case – CNH Latin América (2% do mercado), John Deere Brasil (17%
42
do mercado), New Holland – CNH Latin América (24% do mercado) e Valtra do
Brasil (17% do mercado). Na prática, cinco empresas.
3.2. A Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas
O desenvolvimento do setor de máquinas e implementos agrícolas possui
grande correlação com o desempenho da agropecuária, justamente por ser esse
seu mercado consumidor. O crescimento das vendas e a necessidade de aumento
da capacidade produtiva na agropecuária abrem oportunidades para as vendas de
máquinas e implementos agrícolas.
Simplificadamente, este setor é formado por três segmentos de mercado: o
segmento de tratores de roda, o de colheitadeiras e o de implementos de tração
mecânica.
No segmento de tratores de roda incluem-se os motocultivadores ou
cultivadores motorizados e pequenas máquinas de baixa potência que podem ser
utilizadas como fonte de tração. Normalmente são usados em pequenas
propriedades. O segmento de colheitadeiras inclui as máquinas utilizadas para
colheita. O segmento de implementos de tração mecânica inclui os equipamentos
acoplados aos tratores e motocultivadores, seja para preparação do solo ou até
para colheita. (BNDES, 1995)
Note-se que, para o presente estudo, agrupou-se tamm alguns outros
equipamentos não classificados anteriormente, desde que para uso agrícola.
Nesta categoria podem ser incluídos os pulverizadores costais, os equipamentos
para irrigação, as motosserras, os fumigadores e as roçadeiras portáteis. No
entanto, como as máquinas e implementos agrícolas constituem a maior parte do
universo e como não existem dados específicos sobre os equipamentos citados,
43
os dados expostos trarão um foco na indústria de máquinas e implementos
agrícolas.
Segundo dados de 2000 da ANFAVEA, apesar da sua posição de destaque
na agropecuária, o Brasil possuía apenas 1,6% da frota mundial de tratores de
roda e só 1,1% da frota mundial de colheitadeiras (ANFAVEA, 2003).
A produção de motocultivadores, tratores de roda e colheitadeiras somava,
em 2002, 48.282, apresentando um crescimento de quase 18% ante o ano de
2001. Da mesma forma, as vendas totais atingiram 49.023, apresentando um
crescimento de quase 23% em relação a 2001, sendo que a participação das
exportações saltou, entre os dois anos, de 17,0% para 18,6% (ANFAVEA, 2003).
O Anexo I apresenta dados de produção e venda do segmento.
É possível observar, ainda, que o Brasil ocupa um lugar de destaque na
América Latina, sendo considerado o grande fornecedor de máquinas agrícolas,
com 80% dos tratores agrícolas comercializados na América do Sul (BRUM,
2002). Além disso, entre 1996 e 2002, as vendas de máquinas agrícolas
cresceram 190,7% (GASQUES et al., 2004, p.32).
O mercado é bastante amplo, atingindo uma receita líquida de vendas de
quase R$ 7 bilhões em 2002, segundo dados do IBGE, entre produtos, serviços
industriais e outros ganhos relacionados à fabricação de tratores e máquinas e
equipamentos para agricultura, avicultura e obtenção de produtos animais. (IBGE,
2004A)
O setor era formado por 741 empresas, ocupando 41.414 trabalhadores em
dezembro de 2002 (IBGE, 2004A). Observe-se que o elevado número de
empresas deve-se ao fato do IBGE considerar, como pertencentes ao setor,
empresas de serviços industriais e indústrias de peças e componentes. O universo
44
trabalhado na presente pesquisa é consideravelmente menor, compreendendo
146 empresas (BRUM, 2002).
As empresas desse setor estão localizadas principalmente no estado de
São Paulo e nos estados da Região Sul. Os motivos apontados para tal
concentração são vários, entre eles: o pioneirismo na agricultura e na
mecanização, a localização estratégica em relação ao Mercosul e os benefícios na
questão logística, como proximidade de importantes portos brasileiros, utilizando
tanto para o escoamento da produção agrícola quanto para o recebimento de
componentes para as indústrias da Região. Há uma tendência de que algumas
indústrias inaugurem suas próximas fábricas na Região Centro-Oeste, atualmente
um mercado em forte expansão.
Figura 5: Cadeia de Valor do Arranjo Industrial de Máquinas e Implementos
Agrícolas
Fonte: NITEC/PPGA/UFRGS, 2000
Matérias-Primas
Atacadistas
Indústria de
Componentes
Fornecedores
Indústria de
Máquinas
Distribuidores
Clientes – agricultor,
cooperativa e
empresas rurais
Matérias-Primas
Atacadistas
Indústria de
Componentes
Fornecedores
Indústria de
Máquinas
Distribuidores
Clientes – agricultor,
cooperativa e
empresas rurais
45
A figura 5 apresenta os elos da cadeia de valor do arranjo industrial de
máquinas e implementos agrícolas, desde os fornecedores de componentes e
peças até a indústria de máquinas e implementos em si e a distribuição até o
verdadeiro usuário da tecnologia, o agricultor.
3.3. Características Tecnológicas da Indústria de
Máquinas e Implementos Agrícolas
Aponta-se que a dinâmica tecnológica do setor de máquinas e implementos
agrícolas depende basicamente de inovações externas à própria indústria. Sendo
considerada uma indústria montadora do complexo metal-mecânico, vários
melhoramentos já vêm embutidos nas peças e componentes adquiridas. As
possibilidades de inovação acabam sendo guiadas principalmente por avanços
ocorridos em pesquisas voltadas para o setor agropecuário, como, por exemplo,
em biotecnologia e em química (DAHAB, 1993, p.1).
Preocupações principalmente com especificidades ecológicas e sociais
podem orientar adaptações e inovações em produtos do setor, sendo
imprescindível uma boa articulação com os fornecedores de suprimentos para o
setor.
Além disso, a introdução de novas técnicas agrícolas tamm altera o perfil
das máquinas fabricadas. A técnica de plantio direto, por exemplo, que elimina as
atividades de preparo do solo, como a aração e a gradagem, reduziu as horas/ano
de uso do trator nas propriedades, restringindo seu uso, em muitas regiões,
somente ao plantio e à pulverização das lavouras. Isso acabou influenciando as
vendas e provocando uma redução significativa da frota nacional na última
década. (BRUM, 2002)
46
Outras tendências, como a agricultura de precisão, estimulam o surgimento
e a incorporação de diversas inovações nas máquinas agrícolas. Ela aborda dois
aspectos: a utilização racional do solo e o foco nos custos. Ela se baseia na
preocupação com a heterogeneidade da área e no tratamento de cada ponto de
acordo com seu potencial de resposta. Com isso, pode-se tomar decisões de
como, quando, onde e quanto aplicar de insumos.
São três etapas fundamentais no processo de aplicação da agricultura de
precisão: mapeamento da produtividade, feito com colheitadeiras equipadas com
sensores; mapeamento dos atributos do solo e das plantas, feito através de
análises do solo em diferentes pontos georrefenciados; e a aplicação localizada
dos insumos, que implica na determinação das quantidades com base nos
mapeamentos e na programação da máquina. (BRUM, 2002)
De forma genérica, três tendências tecnológicas estão presentes no setor: a
incorporação de sistemas eletrônicos de monitoramento e controle das máquinas
e implementos, a concepção de equipamentos menos agressivos ao meio-
ambiente e a busca de novas formas de organização da produção e da
distribuição dos produtos para atender à economia de escala, escopo e
especificidade do ecossistema. (DAHAB, 1993, p.1)
Estudo de 1994 apontava que um dos setores que se encontrava em pior
situação competitiva era justamente o de máquinas e implementos agrícolas. A
baixa difusão de tecnologias mais modernas de produção e a defasagem de
produto em relação ao exterior eram apontadas como vetores desta baixa
competitividade. O estudo ainda apontava que, no caso dos implementos
agrícolas, a situação era mais grave que para as máquinas mais complexas
(COUTINHO & FERRAZ, 1994, p.359).
Tal estudo de Coutinho e Ferraz foi um levantamento sobre a
competitividade de diversos complexos da economia brasileira, incluindo-se o
47
complexo metal-mecânico, do qual a indústria de máquinas e implementos
agrícolas fazia parte. A metodologia adotada consistia na avaliação de fatores de
três ordens: sistêmicos, como a macroeconomia, aspectos político-institucionais e
aspectos regulatórios; estruturais, ligados especificamente ao setor, como
aspectos relativos à concorrência e características do mercado; e internos às
empresas, como a estratégia, a gestão, a capacitação tecnológica e os recursos
humanos. O levantamento foi feito em seis passos principais: identificação dos
fatores determinantes do sucesso competitivo no setor, seleção dos fatores mais
relevantes e agrupamento conforme sua ordem, diagnóstico através da avaliação
de cada fator, análise dos fatores determinantes da competitividade,
hierarquização dos principais obstáculos e oportunidades e proposição de
estratégias e ações para o desenvolvimento competitivo (COUTINHO & FERRAZ,
1994).
O mesmo estudo apontava uma queda no percentual de investimento em
P&D em relação ao faturamento das empresas, que no período de 1987 a 1989
era de 3,22% e, em 1992, caiu para 2,65%.
Dados mais recentes mostram que, embora a taxa ainda seja maior que o
percentual investido por outros setores – a ANPEI, Associação Nacional de
Empresas Inovadoras, aponta que, no ano de 2001, a média da indústria era de
apenas 1,13% e o segmento de máquinas industriais atingia 1,71% (ANPEI, 2001)
– a queda apontada é um retrocesso para o setor.
Embora a PINTEC, Pesquisa Industrial - Inovação Tecnológica 2000 (IBGE,
2002), não possua um recorte específico para a indústria de máquinas e
implementos agrícolas pronto em sua publicação impressa, é possível ter dados
mais detalhados sobre a atividade inovadora do setor através de algumas
aproximações.
48
A PINTEC é uma pesquisa econômica do IBGE que coleta, através de
entrevistas presenciais e por telefone, com questionários pré-definidos, dados que
contribuam para o entendimento do processo de inovação tecnológica na indústria
brasileira.
Dentre os setores pesquisados, a PINTEC apontou que 44% das indústrias
de fabricação de máquinas e equipamentos, que inclui máquinas para quaisquer
fins, inclusive para fins agrícolas, implementaram inovações no período da
pesquisa (1998 a 2000), sendo que 75% destes implementaram inovações de
produto.
Já as indústrias de fabricação e montagem de veículos automotores,
reboques e carrocerias, que incluem os tratores e os implementos agrícolas,
tamm se mostraram inovadoras. 36% das empresas afirmaram ter
implementado alguma inovação no período da pesquisa, sendo que destes 60%
se referiam a inovações de produto (IBGE, 2002).
Outro dado interessante da PINTEC é que o responsável pelo
desenvolvimento de produto nas empresas que implementaram inovações era a
própria empresa em 77% dos casos das indústrias de fabricação de máquinas e
equipamentos e em 75% dos casos das indústrias de fabricação e montagem de
veículos automotores. Isso leva crer que as empresas possuíam infra-estrutura
para o desenvolvimento, já que poucas recorriam a institutos ou a outras
empresas, sejam do mesmo grupo econômico ou não (IBGE, 2002).
A Tabela 3 mostra o percentual de empresas que classificou como alta a
importância de cada uma das atividades inovativas definidas pela PINTEC.
49
Tabela 3: Percentual de empresas que classificaram como alta a importância de
determinadas atividades inovativas
Atividades inovativas
desenvolvidas entre
1998 e 2000
Fabricação de máquinas
e equipamentos
Fabricação e montagem
de veículos
automotores, reboques
e carrocerias
Atividades internas de
P&D
42% 33%
Aquisição externa de P&D 5% 3%
Aquisição de outros
conhecimentos externos
12% 18%
Aquisição de máquinas e
equipamentos
46% 59%
Treinamento 39% 41%
Introdução das inovações
tecnológicas no mercado
18% 15%
Projeto industrial e outras
preparações técnicas
29% 39%
Fonte: IBGE, 2002; elaboração própria.
É possível notar que é dada grande importância a atividades internas à
empresa, sendo que os percentuais são bastante elevados em algumas
atividades, como as atividades internas de P&D, a aquisição de máquinas e
equipamentos e o treinamento. As atividades internas de P&D são, em muitas
vezes contínuas, representando 39% dos casos na fabricação de máquinas e
equipamentos e 44% dos casos na fabricação e montagem de veículos
automotores.
Os números mostrados são bons indicadores de que há uma reversão no
panorama apresentado pela pesquisa de Coutinho e Ferraz em 1994, já que a
50
preocupação com o tema inovação tecnológica é muito mais presente, como se vê
no estudo do IBGE de 2002.
Um dos motivos da escolha do setor foi justamente o impulso ao
desenvolvimento tecnológico requerido pelos atuais padrões de competitividade,
muito diferentes do início da década passada, em que a economia brasileira não
era tão aberta comercialmente e em que novidades em vários campos, como
eletrônica e computação, ainda não estavam presentes no setor.
O que se pôde perceber neste capítulo é que a indústria de máquinas e
implementos agrícolas no Brasil passou por diversas fases ao longo da história,
caracterizando-se normalmente como uma importadora de soluções. Seja levando
em conta a origem das primeiras empresas instaladas no Brasil, de capital
estrangeiro em sua maioria, seja pela dinâmica do setor agropecuário nas
décadas de 70 e 80, subsidiado fortemente pelo Estado, não havia razões para
que as empresas aqui instaladas criassem uma competência no desenvolvimento
tecnológico.
A partir da abertura comercial dos anos 90, com o incremento da
competição e forte crescimento do agronegócio, desta vez menos dependente de
recursos estatais, a indústria de máquinas e implementos agrícolas passou a
contar com um ambiente muito mais propício ao investimento em inovação
tecnológica. A PINTEC e a proliferação de grandes feiras trazem alguns indícios
de que, de fato, o setor se voltou para a inovação. Os resultados da presente
pesquisa tentarão constatar tal premissa.
51
4. Metodologia
4.1. Delineamento da Pesquisa
Como afirma Gil (1987, p.70-71), o delineamento da pesquisa refere-se ao
planejamento dela em sua dimensão mais ampla, ou seja, às respostas aos
problemas mais práticos de verificação.
Para tanto, o elemento mais importante é o procedimento para coleta de
dados, que pode ser através de pesquisa bibliográfica ou documental, ou ainda
levantando dados fornecidos por pessoas, em pesquisa experimental, ex-post-
facto, em levantamento (ou survey) ou em estudo de caso.
Na presente pesquisa, por uma impossibilidade em levantar o estado da
arte das estratégias de inovação em determinado setor através de pesquisa
bibliográfica ou documental, preferiu-se levantar os dados junto às empresas do
setor.
Freitas et al. (2000, p.105) consideram o survey apropriado quando:
- Deseja-se responder a questões do tipo “o quê?”, “por quê?”, “como?” e
“quanto?”, ou seja, quando o foco de interesse é sobre o” o que está
acontecendo” ou “como e por que isso está acontecendo”;
- Não se tem interesse ou não é possível controlar as variáveis dependentes
e independentes;
- O ambiente natural é a melhor situação para estudar o fenômeno de
interesse; e
- O objeto de interesse ocorre no presente ou no passado recente.
52
Segundo Gil (1987, p.76), a característica de um levantamento (ou survey) é
a interrogação direta a pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Neste
caso, deseja-se conhecer o comportamento da empresa e para isso interroga-se
pessoas cujos cargos evidenciem conhecimentos nas áreas da pesquisa.
Gil (1987, p.77-78) aponta como vantagens dos levantamentos:
- Conhecimento direto da realidade, por levantar dados diretamente nas
empresas, livre de interpretações de intermediários;
- Economia e rapidez, podendo-se levantar dados em diferentes regiões do
país com custo reduzido e simultaneamente; e
- Quantificação, o que permite que se trate estatisticamente os dados
colhidos.
As limitações apontadas são:
- Ênfase nos aspectos perceptivos, ou seja, sendo a percepção subjetiva, os
dados colhidos dependerão das pessoas que responderem aos
questionários. Tentou-se reduzir os impactos desta limitação enviando os
questionários a pessoas da mesma área nas diversas empresas,
padronizando as perguntas e impondo mecanismos de checagem das
respostas nos questionários e adequando a linguagem utilizada;
- Pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais. Em
outras palavras, como fenômenos sociais não são adequadamente medidos
por este tipo de levantamento, um enfoque maior foi dado à unidade
empresa, nas suas decisões, sem medir diretamente fatores interpessoais e
institucionais;
- Limitada apreensão do processo de mudança. Como o levantamento
proporciona uma imagem estática do fenômeno estudado, não há como
apontar tendências, a menos que a pesquisa seja replicada no futuro.
53
Assim, de acordo com o objetivo da presente pesquisa e as considerações
dos autores a respeito do método, considerou-se o levantamento (ou survey)
como o mais adequado para este tipo de pesquisa.
4.2. Classificação da Pesquisa
Pinsonnneault & Kraemer (apud FREITAS et al., 2000, p.106) classificam
uma pesquisa survey quanto a seu propósito em:
- Explanatória. Quando se quer testar uma teoria e as relações causais;
- Exploratória. Quando se quer familiarizar-se com o tópico ou identificar os
conceitos iniciais de algum tópico, dar ênfase na determinação de quais
conceitos devem ser medidos e como devem ser medidos, buscar descobrir
novas possibilidades e dimensões da populão de interesse; e
- Descritiva. Quando se quer buscar identificar quase situações, eventos,
atitudes ou opiniões estão manifestos em uma população. Descreve a
distribuição de algum fenômeno na população ou entre os subgrupos da
população ou, ainda, faz uma comparação entre essas distribuições.
Já Sampieri et al. (apud FREITAS et al., 2000, p.106) classificam uma
pesquisa survey quanto ao número de momentos ou pontos no tempo em que os
dados são coletados em:
- Longitudinal. Quando a coleta de dados ocorre ao longo do tempo em
perídos ou pontos especificados; e
- Corte-transversal (cross-sectional). Quando a coleta dos dados ocorre em
um só momento, pretendendo descrever e analisar o estado de uma ou
várias variáveis em um dado momento.
54
De acordo com as classificações apresentadas, pode-se considerar a
presente pesquisa como descritiva, em termos de propósito, e corte-transversal,
em relação ao número de pontos de tempo para o levantamento.
4.3. A Escolha do Setor a Pesquisar
A escolha do setor a pesquisar levou em consideração os seguintes
aspectos:
A disponibilidade de dados sobre o setor, cadastrais e bibliográficos. No
caso dos dados cadastrais, utilizou-se os cadastros de empresas da
ABIMAQ e da AGRISHOW 2004, ambos de domínio público;
Indicativos empíricos de atividade inovadora no setor, principalmente os
destaques freqüentes na mídia (GERDAU, 2003; LEITE, 2001; LEITE, 2003;
VACARI, 2004);
A dinâmica econômica do Brasil, ainda baseada fortemente no agronegócio
e, conseqüentemente, nos seus insumos e nas máquinas e implementos
agrícolas;
A necessidade intrínseca de produtos especificamente desenvolvidos para
o mercado nacional, já que as condições de uso das máquinas e
implementos são específicas para determinadas culturas e seu
desempenho é condicionado por características locais, como relevo, por
exemplo; e
A existência de uma massa crítica, em termos do número de empresas no
Brasil, especialmente de capital nacional, o que para nossa amostra
55
situava-se em pouco menos de 150 empresas, todas instalados em território
nacional e a grande maioria de capital nacional.
4.4. Coleta de Dados
4.4.1. Instrumento
O instrumento escolhido para realizar a coleta de dados desta pesquisa foi
um questionário auto-administrado, composto em sua maioria por perguntas
fechadas.
Para Gil (1987, p.125), as principais vantagens do questionário são:
- Poder atingir grande número de pessoas, mesmo que dispersas numa área
geográfica muito extensa. Neste caso, isto é crítico, visto que a maior parte
das empresas localizava-se nos estados do Rio Grande do Sul e São
Paulo;
- Implicar em menor gasto com pessoal, já que não exige treinamento de
pesquisadores;
- Garantir o anonimato das respostas;
- Permitir que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais
conveniente; e
- Não expor os pesquisados à influência das opiniões e do aspecto pessoal
do entrevistador.
Porém, sobre as limitações, Gil (1987, p.126) aponta:
- A exclusão de pessoas que não saibam ler e escrever;
- O impedimento de auxílio ao informante quando este não entende
corretamente as instruções ou perguntas. Neste caso, a limitação foi
minorada disponibilizando um endereço eletrônico para contato;
56
- O impedimento do conhecimento das circunstâncias em que foi respondido,
o que pode ser importante na avalião da qualidade das respostas;
- A falta de garantia de que a maioria das pessoas o devolvam devidamente
preenchido, o que pode implicar na significativa diminuição da
representatividade da amostra;
- O envolvimento de um número relativamente pequeno de perguntas, já que
questionários muito extensos apresentam alta probabilidade de não serem
respondidos; e
- A possibilidade de proporcionar resultados bastante críticos em relação à
objetividade, já que os itens podem ter significado diferente para cada
sujeito pesquisado.
Este questionário foi disponibilizado na Internet e a forma de acesso foi
comunicada às empresas por correio eletrônico. Este correio dispunha de uma
mensagem padrão, apresentando a pesquisa, demonstrando o caráter de
confidencialidade no tratamento das respostas e solicitando que o correio fosse
encaminhado ao responsável pela atividade de desenvolvimento de novos
produtos da empresa.
As mensagens foram enviadas no início de julho de 2004, sendo
reenviadas, vinte dias depois, às empresas que não haviam respondido o
questionário até aquele momento. Neste caso optou-se por incluir outros
endereços de correio eletrônico como destinatários, ou até mesmo entrar em
contato via a página da empresa na Internet, nos questionários das seções
denominadas normalmente de “Fale conosco”.
4.4.2. Validade e Confiabilidade
A validade e a confiabilidade são requisitos essenciais para uma medição.
Segundo Mattar (apud FREITAS et al., 2000, p.108):
57
- “a validade de uma medição refere-se a quanto o processo de medição está
isento, simultaneamente, de erros amostrais e de erros não amostrais”;
- “a confiabilidade de uma medição refere-se a quanto o processo está isento
apenas dos erros amostrais”.
Erros amostrais ocorrem em virtude do tamanho e do processo de seleção
da amostra, enquanto os erros não amostrais são aqueles que ocorrem durante a
realização da pesquisa e não são classificados como erros amostrais, como, por
exemplo, não-respostas.
Gil (1987, p.137) aponta dois procedimentos como os mais utilizados para
verificar a validade das escalas de medição:
- Opinião de um júri, ou seja, a validade é confirmada a partir da opinião de
um grupo de pessoas tidas como especialistas no campo dentro do qual se
aplica a escala;
- Grupos conhecidos, ou seja, a validade é obtida a partir de opiniões ou
atitudes manifestadas por grupos opostos.
Nesta pesquisa, a validade foi verificada submetendo o questionário à
avaliação de três profissionais com ampla experiência no setor de máquinas e
implementos agrícolas e familiarizados com os conceitos de inovação adotados.
4.5. Análise dos Dados
A análise de dados foi desenvolvida em três partes. Uma de caracterização
da amostra ou análise descritiva, outra de análise fatorial das respostas e uma
terceira com uma análise de clusters.
Para a caracterização da amostra, os dados considerados foram os da
primeira parte do questionário (como será visto no capítulo específico “Elaboração
58
do Questionário”). A apresentação resumiu-se a mostrar a distribuição das
respostas em cada uma das categorias. Para alguns casos, quando a análise
assim pedir, é apresentada a média aritmética das respostas.
Para a análise estatística dos dados, foram consideradas apenas as
respostas da última parte do questionário, com 31 perguntas escalonadas. Neste
caso, após a tabulação eletrônica dos dados, foi adotado um procedimento
estatístico com auxílio de dois aplicativos computacionais para este fim: SPSS
v.12 (Statistical Package for Social Sciences) e VisualStat v.6.
Realizou-se duas análises: uma fatorial, com vistas a verificar a
interdependência das variáveis, e uma de Cluster, para identificar grupos de
empresas com características similares.
A análise fatorial foi escolhida já que se pretendia resumir as variáveis,
associando-se as atividades de P&D previamente definidas, de forma a se ter um
número tratável de fatores que ajudem a caracterizar a amostra e já que o método
de coleta dos dados, em escala intervalar, permitia esse tipo de análise.
a análise de cluster foi escolhida por consistir numa técnica que permitia
a formação de grupos de empresas de acordo com características parecidas. Em
outras palavras, respostas similares indicam que determinada empresa possui
estratégia comum às das demais empresas do grupo.
As análises estão apresentadas no capítulo 5, denominado ‘Resultados’.
4.6. Elaboração do Questionário
A elaboração do questionário utilizou como base as estratégias teóricas de
inovação apresentadas por Freeman (1997, p.267), quais sejam:
59
- Ofensiva;
- Defensiva;
- Imitativa;
- Dependente;
- Tradicional;
- Oportunista.
Nessa obra, o autor correlaciona essas estratégias de inovação com as
funções técnicas e científicas desenvolvidas pela empresa. Essas funções são:
- Pesquisa básica (ou fundamental);
- Pesquisa aplicada;
- Desenvolvimento experimental;
- Engenharia de projeto;
- Controle de qualidade da produção;
- Serviçoscnicos;
- Patentes;
- Informações técnicas e científicas;
- Educação e treinamento; e
- Previsões de longo prazo e planejamento de produto.
O questionário remetido às empresas do setor de máquinas e implementos
agrícolas teve como objetivo avaliar cada uma dessas funções, a fim de se tentar
reproduzir no plano real as estratégias de inovação teóricas de Freeman.
O questionário foi construído em três partes. A primeira refere-se a
perguntas de cunho cadastral e que permitissem a comparação entre empresas,
como o nome da empresa, a função do respondente, o ano de fundação, a
composição do capital, os principais produtos da empresa, questões relativas ao
porte, como o número de funcionários e o faturamento. Além disso, foram
incluídas perguntas com o fim de checar as respostas dadas na terceira parte e
permitir algumas informações estatísticas adicionais. São perguntas objetivas, cuja
60
resposta é normalmente ummero, como quantos engenheiros trabalham na
empresa, de quantos eventos a empresa participou, quantas parcerias firmou com
universidades e instituições de pesquisa, quantas patentes registrou e se a
empresa possui um departamento de P&D.
A segunda parte é constituída de duas perguntas relacionadas. Elas têm
como objetivo medir diretamente a importância relativa das funções técnicas e
científicas desenvolvidas pela empresa de forma a se aproximar de uma medição
direta das estratégias de inovação das empresas.
Em primeiro lugar é perguntado que funções a empresa desempenha. Em
seguida, é pedido que se marque e ordene as três funções mais importantes
desempenhadas pela empresa. O número de três funções a marcar foi
convencionado para simplificar o preenchimento e de acordo com as sugestões
colhidas durante alguns testes básicos no questionário. Abaixo de cada função
tamm foi incluída uma explicação em linguagem que facilitasse o entendimento
pelos respondentes, conforme orienta Gil (1987, p.124-45).
A terceira parte constitui a base para o tratamento estatístico das respostas.
Foram relacionadas trinta e uma perguntas que pudessem avaliar a importância
de cada uma das funções técnicas e científicas da empresa. Para cada uma o
respondente deveria revelar sua opinião, escalonada em cinco níveis, como uma
escala de Likert: discordo fortemente, discordo, sou indiferente, concordo e
concordo fortemente. A escolha deste tipo de escala levou em conta a objetividade
do levantamento, de forma a permitir o tratamento posterior (GIL, 1987, p.142-3).
Na formulação das perguntas, aspectos ressaltados por Freeman (1997,
p.265-285) foram os pontos de partida para a avaliação de cada uma das funções,
sendo que características ressaltadas por outros autores foram tamm incluídas.
O número de perguntas observou como regra o limite convencionado por Gil
(1987, p.129), de cerca de trinta perguntas.
61
Por simplificação e por características do setor a ser avaliado, optou-se por
avaliar conjuntamente as funções “pesquisa básica” e “pesquisa aplicada”. Para
Friar & Horwitch (1986, p.72-73), exemplos de abordagens para desenvolvimento
tecnológico envolvem desenvolver tecnologias através de contratos de pesquisa
externos (pergunta 4) e desenvolver tecnologias no laboratório central de P&D
(perguntas 1 e 2). Freeman (1997, p.271) ainda cita que embora nem todas as
empresas façam pesquisa básica, há outras formas de se entender quem a faz,
seja realizando pesquisa aplicada, com a contratação de consultores ou jovens
pós-graduados (pergunta 5), ou outros meios. E cita ainda a necessidade de bons
cientistas, tecnologistas e técnicos se a firma desejar ter uma estratégia ofensiva
(pergunta 3) (FREEMAN, 1997, p.272).
Porter (1989, p.172) cita que uma das formas de desacelerar a difusão da
tecnologia líder é justamente o desenvolvimento interno de protótipos (perguntas 9
e 25). De fato, Freeman (1997, p.267) classifica como muito importante a função
“desenvolvimento experimental” nas estratégias ofensiva e defensiva. Portanto, a
desaceleração da difusão pode gerar uma vantagem a mais para empresas
inovadoras, que podem usufruir sua liderança por mais tempo.
Para Freeman (1997, p.273), a função “engenharia de projeto” é apontada
como fundamental nas estratégias ofensiva e defensiva. Particularmente na
estratégia defensiva, o autor aponta para o desenvolvimento experimental e o
projeto como funções que trabalham sobre a pressão de desenvolver algo tão
bom, ou melhor, que o lançamento do concorrente.
O projeto é um plano para realizar algo e que pode ser expresso em
plantas, desenhos, croquis ou mesmo textualmente. A existência desses tipos de
documento pode comprovar a preocupação com a função “engenharia de projeto”
(pergunta 10). Da mesma forma, a existência de profissionais qualificados, no
caso em engenharia, pode ser um indicativo dessa preocupação (pergunta 11).
62
A função “controle de qualidade da produção” foi avaliada de forma direta
através de perguntas sobre a existência de tais procedimentos (pergunta 12 e 13)
e sobre a existência de certificações de qualidade (pergunta 14), o que implica na
auditoria de um terceiro para ratificar a existência dessa função.
A função “serviços técnicos” foi avaliada em concordância com exemplos
citados por Freeman (1997, p.272), como a existência de um serviço de
assistência técnica (pergunta 16) e de manuais de utilização (pergunta 17).
A função “patentes” também foi avaliada de forma direta, incluindo-se duas
perguntas: uma relativa à intenção de patentear algum produto (pergunta 18) e
outra relativa à ação efetiva de patenteamento (pergunta 19). Além disso, a
primeira parte do questionário apresenta uma pergunta quantitativa sobre o
número de patentes da empresa.
A função “informações técnicas e científicas” foi medida considerando que
durante a evolução de uma nova tecnologia, as empresas devem considerar
diferentes estratégias de participação no seu desenvolvimento comercial: janela
aberta (identificar e monitorar as tecnologias emergentes) (pergunta 28); criação
de opções (definição de oportunidades para futura participação); estabelecimento
de posição (seleção de tecnologias e mercados de atuação) (HAMILTON, 1986,
p.111-113). Desta forma, a participação em eventos do setor, como exposições,
feiras e congressos, conhecendo as novidades dos concorrentes pode caracterizar
um trabalho de identificação e monitoramento de novas tecnologias (pergunta 22).
Além disso, tais eventos criam uma atmosfera para o aparecimento de
oportunidades, através da interação com o mercado, com outros empresários e
com a comunidade acadêmica (pergunta 20 e 21). Outra fonte importante pode vir
de outros setores (pergunta 31).
63
Freeman (1997, p.272) chama a atenção que a função “educação e
treinamento” do pessoal próprio pode ser traduzida na existência de cursos,
universidades corporativas e pela própria preocupação em ter profissionais
treinados para lidar com P&D (perguntas 23 e 24). Tanto para a produção quanto
para o marketing de um novo produto, a qualificação profissional pode ser um fator
decisivo para a manutenção de uma estratégia ofensiva, por exemplo.
A função “previsões de longo prazo e planejamento de produto” se baseia
na necessidade permanente de previsões para o estabelecimento da estratégia,
como afirma Bethlem (2002, p.167). O autor ainda lembra que certos elementos
futuros, como a demanda por determinado produto, fazem parte da previsão e se
traduzem em atividades de planejamento (pergunta 26). Além disso, a criação de
cenários é uma atividade concreta que ajuda nas previsões utilizadas para traçar a
estratégia da empresa (pergunta 27).
Algumas perguntas foram formuladas com o objetivo de dar indicativos
diretos da estratégia utilizada. Freeman (1997, p.281) afirma que uma das
características da estratégia tradicional é que as empresas não vêem razão para
mudar seus produtos, porque o mercado não demanda mudanças e a
concorrência não o ameaça (pergunta 30). Este tipo de empresa dá muito mais
importância para o controle de qualidade da produção que a outras funções, como
fica claro no quadro apresentado na Tabela 2 (pergunta 29).
A preocupação em lançar, regularmente, produtos novos para o mercado é
um forte indicativo de que a estratégia se aproxima da ofensiva (pergunta 6),
enquanto que copiar, ou apenas se basear em produtos de concorrentes para
desenvolver uma alternativa própria, é uma característica inerente
respectivamente às estratégias imitativa e defensiva (perguntas 7 e 8).
Por último, empresas com estratégia imitativa ou tradicional podem adotar
um preço em patamar muito mais competitivo que outras firmas com estratégias
64
mais inovadoras (pergunta 15). De fato, Freeman (1997, p.277) dá como exemplo
que a escolha da estratégia imitativa normalmente decorre de condições
vantajosas em termos de custos. Normalmente a entrada de uma empresa
inovadora nesse mercado é complicada, pois o nível de preço por si só constitui
uma barreira (PORTER, 1989, p.450). Da mesma forma, a estratégia tradicional
pode implicar em níveis de competição traduzidos na política de preços da
empresa.
Tabela 4: Distribuição das perguntas da terceira parte do questionário de acordo
com a função que se desejava medir
Funções Perguntas
Pesquisa básica e aplicada 1, 2, 3, 4, 5
Desenvolvimento experimental 9, 25
Engenharia de projeto 10, 11
Controle de qualidade da produção 12, 13, 14, 29
Serviçoscnicos
16, 17
Patentes 18, 19
Informações técnicas e científicas 20, 21, 22, 28, 31
Educação e treinamento 23, 24
Previsões de longo prazo e planejamento de produto 26, 27
Demais perguntas, de caráter geral, como indicativo do uso de
determinada estratégia
6, 7, 8, 15, 30
O Anexo IV traz o formato final do questionário respondido pelas empresas,
com as três partes citadas.
65
5. Resultados
5.1. Caracterização do Universo e Taxa de Resposta
Brum (2002) afirma que no Brasil existem 146 fábricas de máquinas e
implementos agrícolas, sendo que 47,9% estão localizadas em São Paulo, 36,5%
estão no Rio Grande do Sul e o restante distribuído pelos Estados do Paraná,
Minas Gerais, Santa Catarina, Ceará, Rio de Janeiro e Alagoas. Além disso, 98%
são empresas de micro, pequeno e médio porte.
De todas as empresas do setor, todas foram contatadas, mas apenas
algumas se dispuseram a responder o questionário. A taxa de resposta está
apresentada na Tabela 5, a seguir:
Tabela 5: Taxa de resposta aos questionários enviados
Quantidade de empresas no setor 146
Empresas respondentes 28
Taxa de resposta 19,2%
5.2. Análise Descritiva
5.2.1. Caracterização da Amostra
Do total das empresas contatadas para a pesquisa, 29 responderam o
questionário enviado, sendo um dos questionários eliminado por problemas no
preenchimento. Observe-se que as respostas às perguntas não eram obrigatórias,
havendo, portanto, a possibilidade de resposta a apenas algumas perguntas.
66
A média de funcionários por empresa foi de 485, sendo que a grande
maioria possuía menos de 500 funcionários. A distribuição é apresentada na
tabela 6.
Tabela 6: Número de funcionários das empresas respondentes (N=28)
Faixa de funcionários Quantidade de empresas
Menos de 50
8 (29%)
Entre 50 e 100 6 (21%)
Entre 101 e 500 8 (29%)
Entre 501 e 1000 2 (7%)
Mais de 1000 4 (14%)
As empresas respondentes estavam localizadas em apenas cinco Estados,
conforme mostra a Tabela 7, a seguir.
Tabela 7: Distribuição das empresas respondentes por UF (N=28)
Unidade da Federação Quantidade de Empresas
São Paulo
16 (57%)
Rio Grande do Sul 9 (32%)
Outros Estados* 3 (12%)
* Obs: Três Estados. Não declarados por questão de preservação do sigilo.
Quanto à idade das empresas respondentes, a grande maioria era
composta por empresas com mais de 10 anos de existência (93%), sendo que
68% possuíam mais de 25 anos. A maioria declarou também que era de capital
100% nacional, sendo que nenhuma declarou possuir capital misto.
67
Tabela 8: Idade das empresas respondentes (N=27)
Faixa de Idade Quantidade de empresas
Menos de 10 anos
2 (7%)
Entre 10 e 25 anos
6 (22%)
Mais de 25 anos 19 (70%)
Tabela 9: Origem do capital declarado pela empresa (N=28)
Origem do capital Quantidade de empresas
Capital 100% nacional
26 (93%)
Capital 100% estrangeiro
2 (7%)
Quanto ao faturamento, as empresas respondentes mostraram a seguinte
distribuição:
Tabela 10: Faixas de faturamento das empresas da pesquisa (N=28)
Faixas de Faturamento Quantidade de empresas
Até R$ 1 milhão
2 (7%)
Entre R$ 1 e 2,5 milhões 1 (4%)
Entre R$ 2,5 e 5 milhões
7 (25%)
Entre R$ 5 e 10 milhões 5 (18%)
Entre R$ 10 e 50 milhões 9 (32%)
Acima de R$ 50 milhões 4 (14%)
Quanto aos principais produtos das empresas respondentes, as respostas
apresentaram grande variedade. Como exemplos de respostas pode-se citar:
tratores, semeadoras, plantadoras, colhedoras, arados, carregadoras,
pulverizadores, equipamentos para irrigação, roçadeiras, segadeiras, microssilos,
forrageiras, classificadores de sementes e implementos para transbordo, além de
diversos outros.
68
As pessoas responsáveis por responder à pesquisa foram, em grande
parte, sócios, membros da alta diretoria das empresas ou gerentes de marketing.
Outras funções tamm foram representadas na amostra. Nota-se, no entanto, a
ausência de profissionais dedicados exclusivamente à P&D como respondentes
da pesquisa. Observe-se tamm que, por “gerente” foi considerado o
responsável direto pelas áreas descritas.
Tabela 11: Função da pessoa responsável pela resposta à pesquisa (N=28)
Função do Respondente Quantidade de Respostas
Alta Direção/Presidência/Sócios 11 (39%)
Gerente de Marketing 9 (32%)
Gerente de Engenharia 3 (11%)
Gerente de Produção 3 (11%)
Outras funções 2 (7%)
5.2.2. Caracterização da Capacidade Inovadora das Empresas
Pesquisadas
Denota-se o esforço no desenvolvimento de novos produtos pelo percentual
do faturamento originário de produtos lançados recentemente. Para esta pesquisa,
considerou-se como novos produtos, produtos lançados há até três anos, ou seja,
a partir de 2001. Observa-se que nenhuma empresa respondeu ter 100% de
faturamento originário de produtos novos, assim como também nenhuma empresa
afirmou não ter nenhum faturamento com produtos novos. A média de faturamento
foi de 36,6%, com uma mediana de 30%.
69
Tabela 12: Percentual do faturamento originário de produtos lançados a partir de
2001 (N=25)
Faixa de Percentual de Faturamento
Correspondente a Novos Produtos
Quantidade de Empresas
Até 25% 11 (44%)
Entre 26% e 50% 9 (36%)
Entre 51% e 75% 2 (8%)
Entre 76% e 100% 3 (12%)
Quase todas as empresas afirmaram ter engenheiros dedicados ao
desenvolvimento de novos produtos (ou aperfeiçoamento dos atuais) e 71% das
empresas afirmaram possuir um departamento exclusivamente voltado para o
desenvolvimento de novos produtos (ou aperfeiçoamento dos atuais).
Tabela 13: Engenheiros trabalhando no desenvolvimento de produtos (N=28)
Quantidade de Engenheiros Quantidade de Empresas
Nenhum 2 (7%)
Apenas 1 8 (29%)
Entre 2 e 5 16 (57%)
Entre 50 e 60 2 (7%)
Tabela 14: Infra-estrutura para desenvolvimento de produtos (N=28)
Possuem um departamento exclusivo para o desenvolvimento de
produtos
20 (71%)
Não possuem um departamento exclusivo para o desenvolvimento
de produtos
8 (29%)
70
Quanto à origem das idéias para o desenvolvimento de novos produtos, as
empresas citaram, em sua maioria, como muito importantes os clientes.
Tabela 15: Principal fonte de idéias citada para o desenvolvimento de um novo
produto (N=28)
Clientes 20
Funcionários 3
Produtos dos Concorrentes 4
Seminários e Congressos 2
*Uma das respostas foi dupla, permitindo um total maior que o número de respondentes.
Embora os seminários e congressos tenham sido apontados apenas por
duas empresas como principal fonte de idéias para o desenvolvimento de
produtos, todas as empresas apresentaram uma preocupação em participar de
feiras, congressos e exposições. Issoera esperado, já que parte da amostra
veio justamente do cadastro da exposição agropecuária AGRISHOW 2004. No
entanto, a quantidade de feiras foi bastante elevada, superando as expectativas.
As empresas participaram, em média, de 8,5 eventos em 2003.
Tabela 16: Quantidade de feiras, congressos e exposições que as empresas
participaram em 2003 (N=28)
Quantidade de Eventos Quantidade de Empresas
Até 3 5 (18%)
Entre 4 e 7 10 (36%)
Entre 8 e 12 7 (25%)
Mais de 13 6 (21%)
71
Boa parte das empresas disse ter firmado parcerias com universidades ou
instituições de pesquisa nos últimos três anos (59%), sendo que boa parte de
quem o fez, firmou mais de um convênio. A média de parcerias foi de quase duas
por empresa.
Tabela 17: Parcerias com universidades ou instituições de pesquisa das
empresas respondentes (N=27)
Quantidade de Parcerias Quantidade de Empresas
Nenhuma 11 (41%)
Uma 6 (22%)
Entre 2 e 5 8 (30%)
Mais de 5 2 (7%)
O registro de patentes tamm pareceu fazer parte da estratégia de
proteção das empresas respondentes. 77% das empresas afirmaram ter alguma
patente registrada.
Tabela 18: Patentes registradas por empresa respondente (N=26)
Quantidade de Patentes Quantidade de Empresas
Nenhuma 6 (23%)
Entre 1 e 10 14 (54%)
Mais de 10 6 (23%)
Além disso, grande parte das empresas respondentes manifestou que
desempenhava diversas das atividades de P&D ilustradas na pesquisa e citadas
por Freeman (1997), sendo que o percentual de empresas foi considerado
bastante elevado para a maior parte das atividades, como é possível observar na
tabela a seguir.
72
Tabela 19: Desempenho de atividades de P&D (N=28)
Atividades de P&D
Quant. de
Empresas
Percentual
do Total
Pesquisa básica e aplicada 2 7%
Desenvolvimento experimental 28 100%
Engenharia de projeto 27 96%
Controle de qualidade da produção 18 64%
Serviços técnicos 27 96%
Registro de patentes 22 79%
Informações técnicas e científicas 21 75%
Educação e treinamento 18 64%
Previsões de longo prazo e planejamento de produto
17 61%
5.2.3. Síntese da Análise Descritiva
De acordo com os resultados obtidos, o grupo das empresas respondentes
se caracteriza por uma heterogeneidade em relação ao porte, prevalecendo
empresas de porte médio. Empresas com faturamento anual entre R$ 5 milhões e
R$ 50 milhões respondem por 50% da amostra, sendo que quanto ao número de
funcionários, há ampla maioria de empresas com menos de 500 funcionários
(79%). Abaixo de R$ 50 milhões de faturamento anual, o que se pode considerar
empresas de micro, pequeno e médio portes, a amostra traz grande similaridade
com o perfil apontado por Brum (2002). Embora os critérios para determinação do
porte não fossem os mesmos, ele apontava que 98% das empresas eram micro,
pequenas e médias, enquanto que, para a presente amostra, 86% fatura menos
de R$ 50 milhões anuais.
A amostra tamm se caracteriza por ser composta por empresas já há
bastante tempo no mercado, 68% possui mais de 25 anos de existência. Além
disso, a quase totalidade é formada por empresas de capital 100% nacional.
73
Quanto à distribuição regional, a amostra apresenta similaridade com o
perfil apontado por Brum (2002). Pode-se observar na Tabela 20, que a
concentração de empresas está nos estados de São Paulo e do Rio Grande do
Sul tanto na amostra quanto no universo de empresas.
Tabela 20: Distribuição Regional das Empresas: Comparativo
Unidades da Federação Universo Amostra
São Paulo 47,9% 57,1%
Rio Grande do Sul 36,5% 32,1%
Demais Estados 15,6% 10,7%
Pode-se perceber ainda que as empresas da amostra, em geral, possuem
menos de cinco engenheiros voltados para o desenvolvimento de produtos (93%
das empresas), embora a grande maioria disponha de um departamento exclusivo
para tal atividade (71% das empresas).
Apesar ainda da preocupação aparente em criar vínculos com
universidades e instituições de pesquisa, já que 59% afirmam ter algum tipo de
parceria, novos produtos ainda constituem um percentual não muito elevado do
faturamento das empresas. 80% responderam ter um faturamento abaixo de 50%
com novos produtos.
Atividades como desenvolvimento experimental, engenharia de projeto e
serviços técnicos são desempenhadas por praticamente todas as empresas, o que
pode sinalizar que essas são atividades importantes para a competitividade das
empresas do setor.
Apesar de não se dispor de dados mais detalhados sobre o universo das
empresas pesquisadas, quanto aos dados disponíveis, a amostra pareceu
representar razoavelmente bem o universo.
74
5.3. Análise Fatorial
5.3.1. Considerações Iniciais
Dada a quantidade de perguntas realizadas para a caracterização da
atividade inovadora das empresas de máquinas e implementos agrícolas, a
análise conjunta de todas as variáveis seria de difícil manipulação. A análise
fatorial tem por objetivo reduzir as variáveis e identificar fatores que determinem
as estratégias de inovação das empresas respondentes.
Como apresentado na Tabela 4, as atividades relacionadas a P&D foram
medidas com diferentes quantidades de perguntas. Tendo em vista que várias
perguntas eram diretamente relacionadas a determinada variável, optou-se por
agregar as respostas em média. O resultado foi uma base de dados com uma
variável por atividade de P&D, o que facilitou a análise fatorial em questão.
A base de dados foi formada pelo posicionamento das empresas frente a 31
afirmações sobre atividades ligadas a P&D da empresa. Utilizou-se uma escala de
Likert de cinco níveis para graduar a concordância (ou discordância) frente às
afirmações. A escala está representada logo a seguir:
Tabela 21: Escala de Likert Utilizada no Questionário
1 2 3 4 5
Discordo
fortemente
Discordo Indiferente Concordo
Concordo
fortemente
Dentre as 28 empresas respondentes, apenas duas deixaram uma
afirmação, cada uma, sem posicionamento marcado. De forma a não perder as
demais informações preenchidas, adotou-se o preenchimento com o valor 3
(indiferente), em ambos os casos muito próximos das médias.
75
Conforme propõe Hair et al. (1998), preliminarmente à análise, deve-se
proceder à verificação da adequação da análise fatorial para obtenção de
resultados consistentes. Para tanto, verificou-se o valor do teste de esfericidade
de Bartlett (Bartlett test of sphericity), que testa se a matriz de correlação,
calculada com as notas atribuídas às 31 perguntas realizadas, é uma matriz
identidade. Em outras palavras, esse teste verifica se cada variável correlaciona-
se consigo própria e não se correlaciona com as demais. Quanto maiores os
valores, favorece-se a rejeição desta hipótese, ou seja, há correlação entre as
variáveis e, portanto, elas são adequadas ao processo de análise fatorial.
Para a presente análise, o valor do teste de esfericidade de Bartlett
apresentou significância de 0,000, o que indica que a análise fatorial é adequada,
já que, segundo Hair et al. (1998), a análise fatorial é adequada quando a
significância é menor que 0,100.
Outro teste aplicável é a medida KMO de adequação da amostra (Kaiser-
Meyer-Olkin measure of sampling adequacy). Esse teste verifica se a correlação
entre cada par de variáveis pode ser explicada pelas demais variáveis incluídas no
estudo. Valores próximos de 1,0 indicam que o método de análise fatorial é
adequado para o tratamento dos dados. Por outro lado, valores menores que 0,5
indicam a inadequação do método. A escala para verificar o grau de ajuste à
análise fatorial segue a seguinte ordem: KMO entre 0,9 a 1,0, muito boa; entre 0,8
e 0,9, boa; entre 0,7 e 0,8, média; entre 0,6 e 0,7, razoável; entre 0,5 e 0,6, má; e
menor que 0,5, inaceitável.
No presente estudo, o KMO obtido foi de 0,557, o que indica que, embora o
valor não seja muito alto, provavelmente devido ao tamanho da amostra, podemos
utilizar a análise fatorial para o tratamento dos dados.
76
Atestada a validade do uso da análise fatorial, o próximo passo é obter os
fatores que expressarão o comportamento de todas as variáveis. Dentre várias
alternativas que podem ser utilizadas, a mais comum é o método de componentes
principais, que tem como preocupação central a determinação do número mínimo
de fatores que respondem pela máxima variância dos dados originais. A seguir,
determina-se os fatores.
Há diversos processos para determinação do número de fatores, dentre os
quais podemos citar: o critério a priori, em que o pesquisador já tem uma idéia a
priori de quantos fatores devem ser extraídos e os especifica previamente, a
determinação com base nos autovalores ou raízes características (eigenvalues)
maiores que a unidade; com base no cálculo do percentual de variância total
acumulada explicada pelos fatores; e pelo gráfico de declive (scree plot). (HAIR et
al., 1998)
De acordo com os autovalores, apresentados na Tabela 29, no Anexo II,
chega-se à conclusão que há três possíveis fatores. Levando em conta a variância
total explicada pelos fatores, que deve ser superior a 60% (MALHOTRA, 2001,
p.508), pode-se analisar, no mínimo, também três fatores, que representam
66,859% da variância acumulada. Já pela análise do gráfico de declive (Figura 11,
no Anexo II), pode-se considerar cinco fatores, já que a análise visual do gráfico
determina que se considere ummero de fatores até que o gráfico apresente
uma forma aproximadamente horizontal.
Para o presente estudo foram adotados três fatores, já que é comum nas
ciências sociais que se utilize fatores responsáveis pela explicação de cerca de
60% da variância total (HAIR et al., 1998, p.104).
Após a definição do número de fatores, é preciso aplicar um processo de
rotação dos fatores, para obter uma estrutura mais simples que facilite a
interpretação dos fatores. O resultado é uma matriz de coeficientes cujos valores
77
absolutos se aproximem o máximo possível de zero ou um. Após essa rotação,
cada fator deverá apresentar correlação relativamente forte com uma ou mais
variáveis e correlação relativamente fraca com as demais (HOFFMANN, 1999).
Tabela 22: Matriz Fatorial Rotacionada
Como condição para incluir ou não determinada carga fatorial em um fator,
considerou-se como significativas cargas fatoriais maiores ou iguais a 0,50. O
resultado é apresentado na Tabela 22.
Concluído o cálculo estatístico, prossegue-se com a interpretação dos
resultados obtidos.
5.3.2. Interpretação dos Fatores
Após a rotação da matriz de fatores, observa-se que cada um dos três
fatores é explicado por algumas das variáveis consideradas.
O Fator 1 é explicado pelas seguintes variáveis: Patentes; Serviços
Técnicos; Informações Técnicas e Científicas; Educação e Treinamento; e
Previsões de Longo Prazo e Planejamento de Produto.
123
Patentes
0,775
Serviços Técnicos
0,769
Informões Técnicas e Cienficas
0,717
Educão e Treinamento
0,634
Previsões de Longo Prazo e Planejamento de
Produto
0,593
Controle de Qualidade da Produção
0,869
Engenharia de Projeto
0,763
Pesquisa Básica e Aplicada
0,755
Desenvolvimento Experimental
0,659
a. A rotação convergiu em 6 iterações.
Fatores
Obs: Método de Extração: Análise dos Componentes Principais.
Método de Rotação: Varimax com Normalizão Kaiser.
78
Denominaremos esse fator de Fator Atualização Orientada pelo
Mercado. Ele responde por 37,1% da variância total. Nota-se que este fator, se
comparado aos demais, traz como característica uma orientação para o mercado
mais clara, haja vista que inclui a assistência técnica e a participação em feiras e
exposições nesse item.
O Fator 2 é explicado pelas variáveis ‘Controle de Qualidade da Produção’
e ‘Engenharia de Projeto’, que denominaremos Fator Produção. Este fator
responde por 16,4% da variância total. Nota-se que este fator traz como
característica uma atenção maior à produção.
O Fator 3, que denominaremos Fator P&D Propriamente Dito, é explicado
pelas variáveis ‘Pesquisa Básica e Aplicada’ e ‘Desenvolvimento Experimental’.
Ele responde por 13,3% da variância total. É fator mais ligado a P&D propriamente
dito. É importante notar que as questões ligadas a esse fator não representam
apenas atividades internas de P&D, mas também as parcerias com universidades
e fatores como a qualificação do pessoal ligado ao desenvolvimento de novos
produtos.
Observando-se os padrões de respostas para cada uma das funções
incluídas nos fatores, é possível identificar forte concordância com o desempenho
das funções. Note-se que para efeito da Tabela 23, agrupou-se as respostas 1
(discordo fortemente) e 2 (discordo) e as respostas 4 (concordo) e 5 (concordo
fortemente), a fim de facilitar a visualização.
É possível observar que a função “Serviços Técnicos” é provavelmente uma
condicionante de competitividade. Ou seja, as empresas devem ter uma
assistência técnica para entrarem no mercado. Na pesquisa, 89,3% das empresas
concordaram com a importância de realizar tais atividades.
79
Tabela 23: Respostas relativas às funções em cada fator
Fator Função Discorda
Indife-
rente
Concorda Média D.P.
Patentes 10,7% 23,2% 66,1% 3,6 0,8
Serviços Técnicos 0,0% 10,7% 89,3% 4,4 0,6
Informações Técnicas e
Científicas
20,0% 27,1% 52,9% 3,4 1,1
Educação e Treinamento 16,1% 39,3% 44,6% 3,3 0,8
Fator 1
Previsões de Longo
Prazo e Planejamento de
Produto
17,9% 30,4% 51,8% 3,4 1,0
Controle de Qualidade da
Produção
22,3% 18,8% 58,9% 3,5 1,1
Fator 2
Engenharia de Projeto 21,4% 8,9% 69,6% 3,8 1,1
Pesquisa Básica e
Aplicada
21,4% 39,3% 39,3% 3,2 0,9
Fator 3
Desenvolvimento
Experimental
12,5% 19,6% 67,9% 3,9 1,1
Resumidamente os fatores que explicam a amostra estão apresentados na
Tabela 24.
Tabela 24: Resumo dos Fatores Encontrados
Fatores % da Variância Total
Fator Atualização Orientada pelo Mercado 37,1%
Fator Produção 16,4%
Fator P&D Propriamente Dito 13,3%
80
Portanto, como já previsto, a amostra não é explicada por atividades ligadas
diretamente à P&D propriamente dito. De fato, 100% das empresas diziam fazer
desenvolvimentos experimentais e apenas 2% diziam ter atividades de pesquisa
básica ou aplicada. São características que mostram uma homogeneidade nos
perfis das empresas, não intensivos em pesquisa, mas intensivos no
desenvolvimento propriamente dito.
É possível inferir ainda que as empresas estão, cada vez mais, se voltando
para o mercado, desenvolvendo sob demanda dos clientes e sob necessidades
específicas.
5.4. Análise de Cluster
A análise de cluster é uma ferramenta exploratória voltada a identificar
grupos (ou clusters) com base nas respostas obtidas. Ou seja, ela ajuda a
organizar os dados observados transformando-os em estruturas com significado.
Um exemplo dessa utilização é o agrupamento dos animais em espécies, que os
biólogos possam indicar diferenças entre animais. Um resultado esperado dessa
análise, neste caso, são “espécies” de empresas observadas.
Para classificar os dados, utilizou-se de um aplicativo computacional de
estatística chamado VisualStat 6.0 Professional, com a função “Cluster Analisys -
Agglomerative Hierarchical Clustering”. O método utilizado foi o de Ward, com a
similaridade medida pela distância ‘chi-quadrática’.
A função utiliza características em comum na base de dados para criar
ligações entre eles, resultando no dendrograma apresentado a seguir, na Figura 6.
81
Figura 6: Dendrograma
A partir do dendrograma, pode-se identificar três clusters básicos formados
pelas empresas designadas na Tabela 25.
Tabela 25: Clusters
Clusters Empresas
1 1, 2, 4, 12, 14, 15, 16, 17, 22, 23, 25
2 6, 11, 19, 26
3 3, 5, 7, 8, 9, 10, 13, 18, 20, 21, 24, 27, 28
27
--------------------------------
×
|
7
-------------------------------------------------
×
|
21
-----------------------------
×
|
|
|
13
------------------------------------------------------------------
×
|
1
8
×
|
|
|
9
-------------
×
|
|
|
24
-----------------------
×
|
|
|
10
----------------------------
×
|
|
|
5
-----------------------------------
×
|
|
|
2
8
-------------------------------------
×
|
|
|
8
----------------
×
|
|
|
|
|
3
---------------------------------------------
×
|
|
|
20
-----------------------------------------------------------------------
×
|
26
------------------
×
|
|
|
19
------------------------
×
|
|
|
11
--------------------------------
×
|
|
|
6
---------------------------------------------------------------------------------------------
×
|
2
5
-------------------
×
|
|
|
14
---------------------
×
|
|
|
22
----------
×
|
|
|
|
|
12
---------------------------
×
|
|
|
16
------------------------------------------------
×
|
|
|
2
3
-------------
×
|
|
|
|
|
2
--------------------
×
|
|
|
|
|
1
----------------------
×
|
|
|
|
|
4
-------------------------
×
|
|
|
|
|
17
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
\
\
---------
×
|
15
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
\
\
----------
82
As empresas do Cluster 1 são empresas maiores, tanto em termos de
funcionário quanto de faturamento. Tais empresas possuem 800 funcionários em
média e 27% delas fatura mais de R$ 50 milhões, sendo que 64% fatura mais de
R$ 10 milhões. Além disso, são empresas há mais tempo estabelecidas, em
média há 33 anos, e que participam proporcionalmente de mais feiras e
exposições que as demais, em média quase 11 por ano.
Outras características do Cluster 1: 91% das empresas diziam buscar
informações técnicas e científicas de modo a estar sempre atualizado, 100%
diziam ter atividades de educação e treinamento para os seus funcionários e 82%
diziam fazer previsões de longo prazo e planejamento de produto.
Resumindo, são empresas com mais tradição, provavelmente com uma
marca já bem estabelecida no mercado, que se concentram provavelmente em
inovações incrementais de suas linhas de produtos e que monitoram as atividades
dos concorrentes e as novidades do setor.
As empresas do Cluster 1 são as que mais se aproximam de uma
estratégia defensiva, conforme caracteriza Freeman (1997, p.272-276).
Já as empresa do Cluster 2 são normalmente pequenas empresas, com
média de 30 funcionários e faturamento inferior a R$ 5 milhões, e mais novas que
as demais, com média de idade de 24 anos, portanto originadas na década de 80,
ao contrário das empresas do Cluster 1, originadas na década de 70.
Além disso, as empresas do Cluster 2 diziam faturar apenas 20% com
novos produtos (lançados a partir de 2001) e diziam não possuir uma infra-
estrutura física exclusiva para o desenvolvimento (ou aperfeiçoamento) de novos
produtos. Três outras características são a ausência de parcerias com
universidades ou instituições de pesquisa em 75% das empresas, a baixa
83
presença de patentes (apenas duas, para o total das empresas) e a ausência de
atividades de previsões de longo prazo e planejamento de produto.
As empresas do Cluster 2 tamm se diferenciam dos demais clusters por
terem concordado com a afirmação de que grande parte do desenvolvimento de
novos produtos na empresa se baseava na melhoria de produtos de seus
concorrentes (pergunta 8, média das respostas de 4,50), enquanto as demais
discordavam (Cluster 1, média de 2,36; e Cluster 3, média de 2,38). É importante
observar que médias acima de 3 indicam uma posição de concordância com a
afirmação, enquanto que respostas abaixo indicam uma discordância frente à
afirmação.
Da mesma forma, as empresas deste cluster tamm se diferenciavam das
empresas dos demais clusters por discordarem da afirmação de que a empresa
traçaria cenários de longo prazo para definir antecipadamente em que linhas de
produtos investir (pergunta 27) (Cluster 2: média de 2,75; Cluster 1: média de
4,09; e Cluster 3: média de 3,46).
Em suma, as empresas do Cluster 2 provavelmente investem muito pouco
em novos produtos e não baseiam sua estratégia neles. Embora o grupo não
apresente todas as características citadas por Freeman (1997, p.276-281), as
estratégias talvez possam ser enquadradas como imitativas, visto que boa parte
dos desenvolvimentos é baseada em melhorias dos produtos concorrentes, como
atestam os dados. Ainda, provavelmente as empresas trabalham em nichos de
mercado, sendo reconhecidas localmente. Essas empresas provavelmente não se
dispõem a correr os riscos e incertezas do investimento em P&D apontados no
item 2.1.3.
As empresas do Cluster 3 compunham uma amostra mais heterogênea
quanto ao tamanho. Embora elas tivessem em média 360 funcionários, havia tanto
84
pequenas quanto grandes empresas. 30% das empresas possuíam faturamento
inferior a R$ 5 milhões e 38% tinham faturamento anual maior que R$ 10 milhões.
Um fato interessante é que boa parte do faturamento delas, em média 45%,
era representado por novos produtos, lançados há menos de três anos. As
empresas também possuíam muitas patentes registradas e 85% diziam possuir
uma infra-estrutura exclusiva para o desenvolvimento de novos produtos. Além
disso, as duas únicas empresas que declararam fazer atividades de pesquisa
básica ou aplicada faziam parte desse grupo.
As empresas do Cluster 3 apresentaram ainda uma posição de
concordância (média de respostas de 3,85) frente à afirmação de que parcerias
com instituições de pesquisa ou universidades seriam fundamentais para o
desenvolvimento de novos produtos (pergunta 4), enquanto as empresas dos
demais clusters apresentaram médias menores, inclusive apresentando posições
de discordância, como é o caso das empresas do Cluster 2 (média de respostas
de 2,75). Além disso, as empresas do Cluster 3 eram as únicas que apresentavam
uma posição de discordância, embora pequena, frente à afirmação de que o ponto
de partida para o desenvolvimento de um novo produto seria um produto próprio já
lançado (pergunta 7). Enquanto o Cluster 3 tinha média de respostas de 2,92, o
Cluster 1 obteve 3,09 e o Cluster 2, 3,50.
Resumindo, as empresas do Cluster 3 são empresas muito mais focadas no
desenvolvimento de novos produtos, utilizando várias ferramentas para atingir tal
objetivo. Dadas as características do setor de máquinas e implementos agrícolas e
a posição relativas das empresas deste cluster, pode-se classificar as estratégias
como ofensivas, nos termos de Freeman (1997, p.268-272).
85
5.5. Conclusão sobre as Premissas da Pesquisa
No caso desta pesquisa, a premissa principal foi pautada em um estudo de
1994, com dados extraídos entre agosto de 1992 e dezembro de 1993
(COUTINHO & FERRAZ, 1994, p.359), que afirmava que a indústria de máquinas
e implementos agrícolas tinha pouca tecnologia difundida e era muito defasado em
relação ao exterior.
No entanto, a mera observação dos fatos, em especial das transformações
econômicas que o Brasil passou nessa última década e do agronegócio como
setor de destaque, traz dúvidas sobre se a situação tecnológica do setor continua
como Coutinho e Ferraz citaram.
Portanto, da premissa apontada podemos inferir duas suposições sobre as
características do setor:
- As empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas, em sua
maioria, não estão orientadas para a inovação e não desenvolvem
atividades ligadas a P&D.
- No caso das empresas possuírem uma estratégia de inovação, elas serão
preponderantemente dependentes de tecnologias adotadas no exterior,
portanto apresentando estratégias classificadas como “dependente”,
“imitativa” ou “tradicional”, conforme a terminologia proposta por Freeman
(1997, p.276-284).
Os resultados da análise descritiva (caracterização da amostra) já trazem
evidências de que as empresas possuem funções de P&D desenvolvidas na
empresa e, portanto, se orientam de forma mais pró-ativa em relação à estratégia
de inovação, o que contraria as suposições inferidas por Coutinho e Ferraz (1994,
p.359).
86
Além disso, algumas afirmações foram feitas com o propósito de mostrar
diretamente a presença de estratégias de inovação.
A pergunta 15 trazia a seguinte afirmação: “Ter um preço mais baixo que o
dos concorrentes é mais importante que ter produtos diferenciados dos deles”,
numa clara orientação distante da inovação, que se baseia justamente na
diferenciação. As respostas a esta pergunta foram, em geral, baixas,
representando uma discordância frente à afirmação. A média atingida foi de 2,07,
com desvio-padrão de 0,90, calculadas com base nas opiniões colhidas com a
escala de Likert (Tabela 21).
Da mesma forma, a pergunta 30 dizia: “Novos produtos não são prioridade
na minha empresa, pois preferimos investir em produtos já consagrados pelo
mercado”, tamm indicando uma orientação não voltada para a inovação. A
média atingida neste caso foi de 2,14, com desvio-padrão de 0,85. Valores em
geral baixos tamm indicando uma posição de discordância.
A mera execução de várias atividades de P&D com uma posição de
importância dentro da empresa já é suficiente para negar a primeira premissa, já
que a literatura traça uma correspondência entre o desempenho das atividades e
a existência de uma estratégia de inovação (FREEMAN, 1997, p.267).
A análise de cluster chegou a três clusters básicos onde as estratégias
foram classificadas como defensiva, imitativa e ofensiva. A distribuição percentual
das empresas pelas estratégias deixa claro o posicionamento geral de se ter uma
orientação pró-ativa em relação à inovação: defensivas, 39% das empresas;
imitativa, 14% das empresas; e ofensiva, 46% das empresas. Portanto, a grande
maioria possuía estratégias ofensivas ou defensivas, ditas mais intensivas em
P&D, o que contraria a expectativa gerada pelas premissas apontadas por
Coutinho e Ferraz (1994, p.359).
87
6. Considerações Finais
6.1. Conclusões
O objetivo do presente estudo foi identificar até que ponto as estratégias
empresariais no setor de máquinas e implementos agrícolas estariam focadas na
inovação tecnológica. Além disso, tamm foi objetivo explorar as estratégias de
inovação tecnológica adotadas neste setor, baseadas nos tipos de estratégias
listadas por Freeman (1997, p.267).
As hipóteses iniciais partiram de uma suposição de que a indústria de
máquinas e implementos agrícolas era defasada tecnologicamente, conforme
apontado por Coutinho e Ferraz (1994, p.359).
No entanto, havia fortes indícios empíricos (GERDAU, 2003; LEITE, 2001;
LEITE, 2003; VACARI, 2004) de que a situação havia se revertido. A presente
pesquisa veio confirmar algumas dessas suposições.
De fato, as empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas
dependem de algumas inovações externas a ele, assim como o setor
automobilístico. As novidades normalmente referem-se a um novo design e à
adoção das novidades. No entanto, há também o desenvolvimento baseado na
construção de modelos específicos para determinadas culturas ou condições de
uso.
Os resultados da pesquisa mostraram que as empresas do setor se
reorganizaram de forma a desenvolver atividades de P&D e possuir uma
estratégia pró-ativa de inovação.
88
A análise dividiu a amostra em três grandes grupos, onde 46% possuíam
uma estratégia de inovação que poderia ser classificada como ofensiva, 39%
possuíam uma estratégia que poderia ser classificada como defensiva e, em
menor parte, apenas 14% possuíam uma estratégia que poderia ser classificada
como imitativa.
É necessário observar que a noção de uma estratégia de inovação ofensiva
evidentemente possui características específicas ao setor, ou seja, empresas de
biotecnologia ou de microchips possuem, por natureza, uma necessidade muito
maior em investimentos em P&D, inclusive com grandes laboratórios próprios, que
evidentemente não seria encontrado na mesma proporção no setor pesquisado.
No entanto, dados colhidos na pesquisa, como a quantidade de parcerias
com universidades e instituições de pesquisa, a existência de departamentos
específicos para o desenvolvimento de novos produtos, a quantidade de patentes
registradas e as evidências de um forte direcionamento para atividades de
inovação, são fatos suficientes para constatar que o perfil das empresas do setor
mudou.
No caso de máquinas mais pesadas o Brasil ainda tem certa predominância
de empresas multinacionais, mas em implementos e máquinas mais leves, a
predominância é de empresas nacionais, com desenvolvimento próprio e noção de
que é necessário ter uma estratégia de inovação. Aliás, mesmo nas empresas
multinacionais pesquisadas, muito do desenvolvimento era feito no Brasil, por
características que às vezes inviabiliza a mera importação de bens deste setor.
Fato interessante é que o setor de máquinas e implementos agrícolas, ao
contrário de vários outros setores classificados como de bens de capital, em que o
processo de abertura comercial favoreceu a importação substituindo a produção
local e os esforços internos de engenharia (KATZ, 2001), passou, aparentemente,
por um movimento inverso. O setor passou a ter uma ênfase maior no
89
desenvolvimento de novos produtos, puxado principalmente pelas inovações e
pelas demanda do seu principal mercado consumidor, a agricultura.
6.2. Limitações do Estudo
É importante destacar que a utilização de questionários disponibilizados via
Internet não permite um acompanhamento das respostas e nem uma uniformidade
no entendimento das perguntas. Como cita Gil (1987, p.77-78), sendo a percepção
do questionário subjetiva, os dados colhidos dependem das pessoas que os
responderem. Não há como garantir que o entendimento das perguntas
representou exatamente a intenção do pesquisador.
Além disso, uma segunda limitação refere-se ao fato de não se poder
afirmar com absoluta certeza que as respostas obtidas sobre a amostra
representem perfeitamente o comportamento do universo das empresas. Embora
algumas características gerais da amostra coincidam com as do universo
estudado, a generalização das conclusões pode, ainda assim, gerar resultados
que divirjam da realidade.
Como cita Gil (1987, p.77-78), este tipo de estudo leva ainda a uma limitada
apreensão do processo de mudança. Como o levantamento proporciona uma
imagem estática do fenômeno estudado, não há como apontar tendências, a
menos que a pesquisa seja replicada no futuro.
6.3. Sugestões para Próximos Estudos
Verificada a existência de estratégias de inovação no setor de máquinas e
implementos agrícolas, um próximo passo para o estudo poderia ser o
90
detalhamento da ação de desenvolvimento de novos produtos através de estudos
de casos.
Além disso, algumas das funções de P&D podem ser detalhadas em
estudos posteriores. As próprias parcerias com universidades, presentes em boa
parte das empresas da amostra, poderiam ser esmiuçadas para que se tivesse
idéia do tipo de desenvolvimento conjunto que se pratica nessa área.
Os resultados da pesquisa também podem servir de base para o estudo de
políticas públicas de fomento e incentivo às atividades relacionadas à inovação
tecnológica no setor de máquinas e implementos agrícolas e em outros setores da
cadeia, como o de peças e componentes.
91
7. Referências
ABIMAQ. DATAMAQ: Banco de Dados de Máquinas e Equipamentos.
Disponível em: http://www.abimaq.org.br
. Acesso em 15/06/2004.
ALMEIDA, H. S. Um estudo do vínculo tecnológico entre pesquisa e
desenvolvimento, fabricação e consumo. In: MARCOVITCH, Jacques (coord.)
et.al. Política e gestão em ciência e tecnologia: estudos multidisciplinares.
São Paulo: Pioneira: O Núcleo, 1986.
ANFAVEA. Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira – 2003.
Disponível em http://www.anfavea.com.br
Acesso em 20/04/2004.
ANPEI. Resultado da Base de Dados Anpei 2001 (Ano base 2000).
Disponível em http://www.anpei.org.br. Acessado em 15/set/2003.
BETHLEM, A. S. Estratégia empresarial: conceitos, processo e
administração estratégica. 4.ed. São Paulo, Atlas, 2002.
BNDES. Máquinas e implementos agrícolas. Informe Setorial n.2, 1995.
Disponível em: http://www.bndes.gov.br
Acesso em 15/03/2004.
BROOKS, H. The relationship between science and technology. Research
Policy v.23, p.477-486, 1994.
BRUM, Argemiro Luís. O mercado de máquinas e implementos agrícolas:
momento atual e tendências. Estudos do SLP Máquinas e Implementos
Agcolas. Porto Alegre: [2002?]. Disponível em
http://www.cgimaq.unijui.tche.br/estudos. Acesso em 30/09/2004.
92
CAMPANÁRIO, Milton de Abreu. Tecnologia, Inovação e Sociedade.
Trabalho apresentado no seminário VI Módulo de la Cátedra CTS+I Colombia,
chamado “Innovación Tecnológica, Economia y Sociedad”. OEI, set.2002.
Disponível em http://www.campus-oei.org/salactsi/milton.htm
Acessado em
09/out/2003.
CARAYANNIS, E. G.; ALEXANDER, J. Is technological learning a firm core
competence, when, how and why? A longitudinal, multi-industry study of firm
technological learning and market performance. Technovation v.22, n.10,
p.625-643, Oct.2002.
CASTRO, Ana Célia; FONSECA, Maria da Graça Derenkowski. Inovações e
concorrência em máquinas agrícolas e sementes: observações para uma nova
agenda de pesquisas. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.8,
n.1/3, p.48-67, 1991.
CASTRO, Antonio Barros de. A rica fauna da política industrial e a sua nova
fronteira. Revista Brasileira de Inovação, v.1, n.2, p.253-274, 2002.
CNA/CEPEA-USP. PIB do Agronegócio. Janeiro a Dezembro de 2003.
Disponível em: http://www.cepea.esalq.usp.br/pib/2003/jan_dez.pdf Acesso
em 15/03/2004.
CNI; FINEP. A indústria e a questão tecnológica. Brasília: CNI, FINEP,
2002.
CONCEIÇÃO, O.A.C. A centralidade do conceito de inovação tecnológica no
processo de mudança estrutural. Ensaios FEE, v.21, n.2, p.58-76, 2000.
93
COUTINHO, Luciano G.; FERRAZ, João Carlos (coordenação geral). Estudo
da competitividade da indústria brasileira. 2.ed. Campinas, SP: Papirus;
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1994.
DAHAB, Sonia. Competitividade da Indústria de Máquinas Agrícolas – Nota
Técnica Setorial do Complexo Metal-Mecânico. In: Estudo da
competitividade da indústria brasileira / coordenação geral Luciano G.
Coutinho e João Carlos Ferraz. Campinas, SP: Papirus, 1993.
Dicionário Michaelis Trilíngue. São Paulo: Klick Editora, 2001.
FAPESP. Indicadores de ciência, tecnologia e inovação – 2001. Anexos
metodológicos, p.A-25 e A-26. Disponível em
http://www2.fapesp.br/indct/index.htm
. Acessado em 24/set/2003.
FOWLER Jr., F. J. Survey research methods. 2.ed. Newbury Park, CA: Sage
Publications, 1993.
FREEMAN, C. et al. Success and failure in industrial innovation. In: ________.
The economics of industrial innovation. MIT Press, 1997, cap.8.
________. Innovation and the strategy of the firm. In: ________. The
economics of industrial innovation. MIT Press, 1997, cap.11.
FREITAS, H. et al. O método de pesquisa survey. Revista de Administração,
v.35, n.3, p.105-12, jul-set.2000.
FREITAS, João Bosco. A dimensão técnico-científica da inovação. Brasília:
SEBRAE, 1996.
94
FRIAR, J.; HORWITCH, M. The emergence of technology strategy: a new
dimension of strategic management. In: Horwitch, M. (Eds.). Technology in
the modern corporation: a strategic perspective. New York: Pergamon
Press, 1986, p.50-85.
GASQUES, J. G. et al. Desempenho e crescimento do agronegócio no Brasil.
Texto para Discussão n.1009. Brasília: IPEA, 2004.
GERDAU. Categoria Destaque atinge recorde histórico de inscrições. Sala de
Imprensa/GERDAU, 02/jul/2003. Disponível em
http://www.gerdau.com.br/port/saladeimprensa/index.asp?textobusca=&anobu
sca=&menu=&intOrderBy=1&intPage=15 Acesso em 15/08/2004.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo:
Atlas, 1987
GROSS, D. Forbes: as maiores histórias do mundo dos negócios. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
HAGUENAUER, Lia. Competitividade: conceitos e medidas: uma resenha da
bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro. Texto para Discussão
n.211. Instituto de Economia Industrial/UFRJ, ago.1989.
HAIR, J.F. et al. Factor Analysis. In: ________. Multivariate data analysis.
5.ed. New Jersey: Prentice Hall, 1998, cap.3, p.87-138.
HOFFMANN, R. Componentes principais e análise fatorial. Série Didática,
n.90. Piracicaba; Esalq/USP, 1999.
95
HAMILTON, W.F. Corporate strategies for managing emerging technologies.
In: ________. Technology in the modern corporation. New York: Pergamon
Press, 1986, p.103-118.
IBGE. Pesquisa Industrial: Inovação Tecnológica 2000 (PINTEC). Rio de
Janeiro: IBGE, 2002.
________. Pesquisa Industrial 2002: Empresa, v.21, n.1. Rio de Janeiro:
IBGE, 2004A.
________. Variação do PIB em 2003 foi de –0,2%. Contas Nacionais
Trimestrais – Indicadores de Volume. IBGE, 2004B. Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noti
cia=109&id_pagina=1 Acesso em 15/08/2004.
KATZ, Jorge. Structural reforms and technological behaviour: the resources
and nature of technological change in Latin América in the 1990s. Research
Policy v.30, n.1, p.1-19, 2001.
KLINE, Steven; ROSENBERG, Nathan. An overview of innovation. In:
LANDAU, Ralph; ROSENBERG, Nathan (eds.). The positive sum strategy:
harnessing technology for economic growth. Washington D.C.: National
Academy Press, 1986. p.275-305.
LASTRES, Helena M.M.; CASSIOLATO, José E. Glossário de arranjo e
sistemas produtivos e inovativos locais. Rede de Pesquisa em Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais – IE/UFRJ, Set.2003.
LEITE, Luiz Carlos Delben. Agrishow demonstra competência. Palavra do
Presidente - ABIMAQ, 01/jun/2001. Disponível em
http://www.abimaq.org.br/presidente_show.asp?id=3 Acesso em 15/08/2004.
96
________. O futuro da agricultura em 10 anos de Agrishow. Jornal Informaq,
n.53, p.2, abr.2003.
MANFIELD, E. Academic research and industrial innovation. Research Policy
v.20, p.1-12, 1991.
MALHOTRA, N. K. Análise fatorial. In: ________. Pesquisa em Marketing.
Porto Alegre: Bookman, 2001. cap.19, p.503-523.
MAPA. Recorde nas exportações do agronegócio em julho. Últimas Notícias,
09/ago/2004. Disponível em http://www.agricultura.gov.br/
Acesso em
15/08/2004.
MCT. Diretrizes Estratégicas do Fundo Setorial de Agronegócio – CT-
Agronegócio. Brasília: CGEE, 2002.
NARIN, F. & OLIVASTRO, D. Status report: linkage between technology and
science. Research Policy v.21, p.237-249, 1992.
NITEC / PPGA / UFRGS – FAURGS. Identificação e análise de
informações sobre os Sistemas Locais de Produção do RS: Relatório para
o arranjo industrial de máquinas e implementos agrícolas. Porto Alegre: 2000.
Disponível em:
http://www.cgimaq.unijui.tche.br/estudos/relatorio/RelatorioCGIMAQ.pdf.
Acesso em: 02/08/2004.
NONAKA, Ikujiro. A empresa criadora de conhecimento. In: Harvard
Business Review, Gestão do Conhecimento. Rio de Janeiro: Editora
Campus, 2001, p.27-49.
97
OECD. Frascati Manual 2002: Proposed standard practice for surveys on
research and experimental development. OECD, 2002. Disponível em
http://www1.oecd.org/publications/e-book/9202081E.PDF
Acessado em
10/set/2003.
________. The measurement of scientific and technological activities
proposed guidelines for collecting and interpreting technological
innovation data: Oslo Manual. OECD, 1997. Disponível em
http://www1.oecd.org/publications/e-book/9297031E.pdf
Acessado em
10/set/2003.
PEGELS, C. Carl; THIRUMURTHY, M. V. The impact of technology on firm
performance. IEEE Transactions on Engineering Management, v.43, n.2,
p.246-249. Aug.1996.
PORTER, M. E. Vantagem competitiva: Criando e sustentando um
desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
________. What is strategy? Harvard Business Review, v.74, n.6, p.61-78,
nov-dez.1996.
PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The core competence of the corporation.
Harvard Business Review, v.68, n.3, p.79-91, May-Jun.1990.
ROCHA, Ivan. Ciência, tecnologia e inovação: conceitos básicos. Brasília:
SEBRAE, 1996.
________. Plataforma: conceito e operação. ABIPTI, out.2000. Disponível em
http://www.abipti.org.br/plataforma2/pla_ivanrocha.htm Acesso em
13/out/2003.
98
ROSENBERG, Nathan. Why do firms do basic research (with their own
money)? Research Policy v.19, p.165-174, 1990.
ROTHWELL, R. Factors for success in industrial innovations. From
Project SAPPHO – A Comparative Study of Success and Failure in Industrial
Innovation. Brighton, Sussex: SPRU, 1972.
SÁENZ, T. W.; GARCIA CAPOTE, E. Ciência, inovação e gestão
tecnológica. Brasília: CNI/IEL/SENAI, ABIPTI, 2002.
SANTANA, L. M.; HASENCLEVER, L.; MELLO, J. M. C. Capacitação
tecnológica e competitividade na petroquímica brasileiras nos anos 1990: o
caso de Camaçari-BA. Revista Brasileira de Inovação, v.2, n.1, p.147-177,
2003.
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences. Base 10.0 User’s Guide.
Chicago: SPSS, 1999.
TORQUATO, Paulo Rubens Gomes; SILVA, Georges Pellerin. Tecnologia e
estratégia: uma abordagem analítica e prática. Revista de Administração,
São Paulo v.35, n.1, p.72-85, jan-mar.2000.
UTTERBACK, J.M.; SUÁREZ, F.F. Innovation, competition, and industry
structure. Research Policy v.22, p.1-21, 1993.
VACARI, Fernanda. Empresas oferecem mais economia para o produtor.
Jornal Hoje Online, 10/fev/2004. Disponível em
http://www.jhoje.com.br/100204/local.asp
Acesso em 15/08/2004.
VERGARA, S. C. Projetos e relarios de pesquisa em administração. São
Paulo: Atlas, 1997.
99
WILKINSON, A. Corporate Strategy as a Source of Ideas. R&D Management,
v.17, n.1, jan.1987.
ZOUAIN, Deborah Moraes. Gestão de instituições de pesquisa. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2001.
100
8. Anexos
8.1. Anexo I: Dados sobre o segmento de máquinas
agrícolas automotrizes
Figura 7: Produção Brasileira de Máquinas Agrícolas Automotrizes
Figura 8: Vendas Internas de Máquinas Agrícolas Automotrizes
Fonte: ANFAVEA (2003)
Produção Brasileira de Máquinas Agrícolas Automotrizes
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cultivadores Motorizados Tratores de Rodas Colheitadeiras Total
Vendas Internas de Máquinas Agrícolas Automotrizes
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
50.000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cultivadores Motorizados Tratores de Rodas Colheitadeiras Total
101
Figura 9: Exportações de Máquinas Agrícolas Automotrizes
Fonte: ANFAVEA (2003)
Figura 10: Relação entre as Exportações e as Vendas Internas de
Máquinas Agrícolas Automotrizes
Fonte: ANFAVEA (2003)
Exportações de Máquinas Agrícolas Automotrizes
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cultivadores Motorizados Tratores de Rodas Colheitadeiras Total
Relação entre as Exportações e as Vendas Totais
7,5%
17,1%
23,7%
13,2%
18,6%
29,5%
35,3%
17,0%
12,7%
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
40,0%
1.993 1.994 1.995 1.996 1.997 1.998 1.999 2.000 2.001 2.002 2.003
102
8.2. Anexo II: Tabelas e Gráficos para Análise Estatística
Tabela 26: Freqüência das Respostas na Escala de Likert
Perguntas 1 2 3 4 5 Média Desvio Padrão
1
0 8 10 9 1 3,11 0,88
2
0610102 3,29 0,90
3
3 4 8 11 2 3,18 1,12
4
0311113 3,50 0,84
5
1 5 16 3 3 3,07 0,94
6
2 2 7 11 6 3,61 1,13
7
2 5 12 7 2 3,07 1,02
8
3 12 7 3 3 2,68 1,16
9
0001216 4,57 0,50
10
1 6 0 8 13 3,93 1,30
11
0 5 5 14 4 3,61 0,96
12
3 8 1 13 3 3,18 1,28
13
0 0 1 18 9 4,29 0,53
14
1011133 3,61 0,83
15
7 15 3 3 0 2,07 0,90
16
0 0 0 9 19 4,68 0,48
17
0 0 6 13 9 4,11 0,74
18
1 3 7 17 0 3,43 0,84
19
0 2 6 15 5 3,82 0,82
20
1 4 7 12 4 3,50 1,04
21
3 3 7 12 3 3,32 1,16
22
0051310 4,18 0,72
23
0 7 15 6 0 2,96 0,69
24
0 2 7 17 2 3,68 0,72
25
1 6 11 6 4 3,21 1,07
26
2 4 9 12 1 3,21 0,99
27
1 3 8 10 6 3,61 1,07
28
1 5 9 12 1 3,25 0,93
29
0 13 8 7 0 2,79 0,83
30
6 14 6 2 0 2,14 0,85
31
4 7 10 7 0 2,71 1,01
Frequências
103
Tabela 27: Estatística Descritiva
Média Desvio-Padrão N
Pesquisa Básica e Aplicada
3,2429 0,54530 28
Desenvolvimento Experimental
3,7321 0,58503 28
Engenharia de Projeto
3,7321 0,98585 28
Controle de Qualidade da Produção
3,4821 0,46432 28
Serviços Técnicos
4,4107 0,43148 28
Patentes
3,5893 0,56197 28
Informações Técnicas e Científicas
3,4071 0,57730 28
Educação e Treinamento
3,3214 0,54796 28
Previsões de Longo Prazo e Planejamento de
Produto
3,4107 0,95310 28
Tabela 28: Matriz de Correlação
Pesquisa
Básica e
Aplicada
Desenvolvimen
to Experimental
Engenharia de
Projeto
Controle de
Qualidade da
Produção
Serviços
Técnicos Patentes
Informaç ões
Técnicas e
Científicas
Educação e
Treinamento
Previsões de
Longo Prazo e
Planejamento
de Produto
Pesquisa Básica e
Aplicada
1,000 0,095 -0,260 0,141 0,111 -0,037 -0,152 -0,147 -0,434
Desenvolvimento
Experimental
0,095 1,000 0,032 0,132 0,269 0,047 -0,213 -0,039 -0,094
Engenharia de Projeto
-0,260 0,032 1,000 0,531 0,312 0,346 0,466 0,611 0,594
Controle de Qualidade
da Prodão
0,141 0,132 0,531 1,000 0,093 0,084 -0,066 0,234 0,151
Serviços Técnicos
0,111 0,269 0,312 0,093 1,000 0,416 0,345 0,478 0,453
Patentes
-0,037 0,047 0,346 0,084 0,416 1,000 0,466 0,475 0,378
Informações Técnicas
e Científicas
-0,152 -0,213 0,466 -0,066 0,345 0,466 1,000 0,297 0,378
Educação e
Treinamento
-0,147 -0,039 0,611 0,234 0,478 0,475 0,297 1,000 0,536
Previsões de Longo
Prazo e Planejamento
de Produto
-0,434 -0,094 0,594 0,151 0,453 0,378 0,378 0,536 1,000
Pesquisa Básica e
Aplicada
0,315 0,090 0,238 0,286 0,426 0,221 0,228 0,010
Desenvolvimento
Experimental
0,315 0,437 0,252 0,084 0,406 0,138 0,422 0,317
Engenharia de Projeto
0,090 0,437 0,002 0,053 0,036 0,006 0,000 0,000
Controle de Qualidade
da Prodão
0,238 0,252 0,002 0,318 0,335 0,370 0,115 0,221
Serviços Técnicos
0,286 0,084 0,053 0,318 0,014 0,036 0,005 0,008
Patentes
0,426 0,406 0,036 0,335 0,014 0,006 0,005 0,024
Informações Técnicas
e Científicas
0,221 0,138 0,006 0,370 0,036 0,006 0,062 0,024
Educação e
Treinamento
0,228 0,422 0,000 0,115 0,005 0,005 0,062 0,002
Previsões de Longo
Prazo e Planejamento
de Produto
0,010 0,317 0,000 0,221 0,008 0,024 0,024 0,002
Correlação
Sig. (1-
tailed)
104
Tabela 29: Matrizes Anti-Imagem
Tabela 30: Autovalores, Percentual de Variância e Percentual de Variância
Acumulada
Autovalores mero de Fatores
Componentes
Total
% da
Variância
%
Acumulado Total
% da
Variância
%
Acumulado
1
3,343 37,142 37,142 3,343 37,142 37,142
2
1,475 16,385 53,527 1,475 16,385 53,527
3
1,200 13,332 66,859 1,200 13,332 66,859
4
0,974 10,824 77,683
5
0,646 7,181 84,865
6
0,564 6,271 91,136
7
0,409 4,540 95,676
8
0,254 2,819 98,495
9
0,135 1,505 100,000
Método de Extração: Análise de Componentes Principais.
Pesquisasica
e Aplicada
Desenvolvi-
mento
Experimental
Engenharia de
Projeto
Controle de
Qualidade da
Produção
Servos
cnicos Patentes
Informações
Técnicas e
Científicas
Educação e
Treinamento
Previsões de
Longo Prazo e
Planejamento de
Produto
Pesquisasica e
Aplicada
0,614 0,074 0,063 -0,164 -0,189 -0,041 -0,001 0,004 0,219
Desenvolvimento
Experimental
0,074 0,697 -0,104 0,020 -0,257 -0,108 0,214 0,140 0,141
Engenharia de
Projeto
0,063 -0,104 0,251 -0,226 0,065 0,059 -0,183 -0,153 -0,101
Controle de
Qualidade da
Produção
-0,164 0,020 -0,226 0,499 -0,003 -0,046 0,189 0,070 0,023
Serviços Técnicos
-0,189 -0,257 0,065 -0,003 0,458 -0,010 -0,137 -0,151 -0,185
Patentes
-0,041 -0,108 0,059 -0,046 -0,010 0,610 -0,199 -0,166 -0,066
Inform ões
Técnicas e
Científicas
-0,001 0,214 -0,183 0,189 -0,137 -0,199 0,452 0,132 0,049
Educação e
Treinamento
0,004 0,140 -0,153 0,070 -0,151 -0,166 0,132 0,434 -0,012
Previsões de Longo
Prazo e
Planejamento de
Produto
0,219 0,141 -0,101 0,023 -0,185 -0,066 0,049 -0,012 0,396
Pesquisasica e
Aplicada
0,429 0,114 0,160 -0,297 -0,357 -0,068 -0,002 0,008 0,445
Desenvolvimento
Experimental
0,114 0,210 -0,248 0,034 -0,455 -0,166 0,381 0,254 0,269
Engenharia de
Projeto
0,160 -0,248 0,564 -0,639 0,193 0,151 -0,543 -0,465 -0,320
Controle de
Qualidade da
Produção
-0,297 0,034 -0,639 0,377 -0,007 -0,083 0,398 0,151 0,052
Serviços Técnicos
-0,357 -0,455 0,193 -0,007 0,544 -0,018 -0,302 -0,338 -0,435
Patentes
-0,068 -0,166 0,151 -0,083 -0,018 0,730 -0,380 -0,323 -0,135
Inform ões
Técnicas e
Científicas
-0,002 0,381 -0,543 0,398 -0,302 -0,380 0,478 0,299 0,115
Educação e
Treinamento
0,008 0,254 -0,465 0,151 -0,338 -0,323 0,299 0,677 -0,028
Previsões de Longo
Prazo e
Planejamento de
Produto
0,445 0,269 -0,320 0,052 -0,435 -0,135 0,115 -0,028 0,694
a. Measures of Sampling Adequacy (MSA)
Covariância Anti-
Imagem
Correlação Anti-
Imagem
105
Figura 11: Gráfico de declive (scree plot)
106
8.3. Anexo III: Histogramas das Respostas às Questões 1
a 31
Figura 12: Histograma das Respostas (Perguntas 1 a 12)
Pergunta 1
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 2
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 3
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 4
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 5
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 6
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 7
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 8
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 9
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 10
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 11
0
5
10
15
12345
Pergunta 12
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
107
Figura 13: Histograma das Respostas (Perguntas 13 a 24)
Pergunta 13
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 14
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 15
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 16
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 17
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 18
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 19
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 20
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 21
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 22
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 23
0
5
10
15
20
12345
Pergunta 24
0
5
10
15
20
12345
108
Figura 14: Histograma das Respostas (Perguntas 25 a 31)
Pergunta 25
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 26
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 27
0
2
4
6
8
10
12
12345
Pergunta 28
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 29
0
2
4
6
8
10
12
14
12345
Pergunta 30
0
5
10
15
12345
Pergunta 31
0
2
4
6
8
10
12
12345
109
8.4. Anexo IV: Questionário
Figura 15: Tela inicial, para acesso ao questionário
110
Figura 16: Questionário (parte 1/5)
111
Figura 17: Questionário (parte 2/5)
112
Figura 18: Questionário (parte 3/5)
113
Figura 19: Questionário (parte 4/5)
Figura 20: Questionário (parte 5/5)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo