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LENILMA VERA NUNES MACHADO
A POSIÇÃO COMPETITIVA DO BRASIL NO MERCADO
INTERNACIONAL DE CARNE BOVINA: uma aplicação
do método Constant-Market-Share, 1995-2003
BELÉM
2005
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LENILMA VERA NUNES MACHADO
A POSIÇÃO COMPETITIVA DO BRASIL NO MERCADO
INTERNACIONAL DE CARNE BOVINA: uma aplicação
do método Constant-Market-Share, 1995-2003
Dissertação apresentada como parte das
exigências para obtenção do título de
Mestre em Economia pela Universidade da
Amazônia.
Orientador: Prof. Dr. Mário Miguel Amin Garcia Herreros
BELÉM
2005
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M149p Machado, Lenilma Vera Nunes
A posição competitiva do Brasil no mercado
internacional de carne bovina: uma aplicação do
método Constant-Market-Share, 1995-2003 / Lenilma
Vera Nunes. - Belém: UNAMA, 2005.
Dissertação (Mestrado) – Universidade da
Amazônia.
1. Carne bovina - Brasil. 2. Constant-Market-
Share. 3. Exportações de carne bovina. 4. Exportações
– Brasil. I. Título.
CDD: 3381762
LENILMA VERA NUNES MACHADO
A POSIÇÃO COMPETITIVA DO BRASIL NO MERCADO
INTERNACIONAL DE CARNE BOVINA: uma aplicação
do método Constant-Market-Share, 1995-2003
Dissertação apresentada como parte das
exigências para obtenção do título de
Mestre em Economia pela Universidade da
Amazônia.
___________________________________
Antônio Cordeiro Santana, D. Sc.
Professor da UFRA
____________________________________
Fátima Marília Andrade de Carvalho, D. Sc.
Professora da UFV
____________________________________
Mário Miguel Amin Garcia Herreros, Ph. D
Orientador – Professor da UNAMA
Julgada em: ___________________
Nota: ________________________
Aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus pela força para superar as dificuldades na
trajetória do curso de mestrado.
Aos meus pais, Raimundo e Edna, por proporcionar o meu acesso à educação e,
também, pelos seus ensinamentos que me acompanharão por toda a vida. A minha irmã Leda.
Ao meu orientador, Mário Amin, que com seus conhecimentos, experiência,
dedicação e incentivo ajudou a tornar este trabalho uma realidade.
Ao Banco da Amazônia S.A. pelo apoio institucional que foi imprescindível para
que eu cursasse o mestrado.
A colega da Biblioteca do Banco, Oderle Araújo, que gentilmente me auxiliou na
normalização deste trabalho.
A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a consecução
deste trabalho.
RESUMO
Analisa a posição competitiva do Brasil no mercado internacional de carne bovina no período
de 1995 a 2003. Mostra que o incremento significativo das exportações tornou o país o maior
exportador do produto, de forma que se procura identificar os fatores que contribuíram para
esse crescimento. A pesquisa tem como objetivo analisar o comportamento das exportações
brasileiras de carne. A teoria dos ganhos do comércio internacional serviu de suporte teórico à
pesquisa. Os procedimentos metodológicos envolveram a aplicação do modelo Constant-
Market-Share para decompor as fontes de crescimento das exportações nos efeitos
crescimento do comércio mundial, composição da pauta, destino das exportações e
competitividade. O efeito composição da pauta não pôde ser estimado, uma vez que o modelo
foi aplicado apenas a um produto. Os resultados mostram que os efeitos estruturais e
competitividade impulsionaram as exportações brasileiras. Conclui que o Brasil aumentou a
sua parcela de participação no mercado mundial graças às ótimas condições de
competitividade, que lhe permitiram expandir suas vendas e conquistar novos mercados.
Palavras-chave: Carne bovina - Brasil, Exportações, Constant-Market-Share.
ABSTRACT
This study analyzes the Brazilian’s competitive position in the international bovine meat
market during the period of 1995 to 2003. The results show that the significant increase in the
exports made the country the world’s largest exporter and identifies, as well, the factors that
contributed to this growth. The research concentrated in analyzing the behavior of Brazilian
exports of bovine meat. The international trade theory was used as a basis for the research.
The methodological procedures involved the application of the Constant-Market-Share (CMS)
model in order to decompose the sources of growth of the exports in the following effects:
growth of the world market, commodity composition, market distribution and
competitiveness. The commodity composition effect was not estimated given the fact the
model was applied, just to a single product. The results show that competitiveness and the
structural effects have stimulated the Brazilian exports. It was observed that Brazil has
increased its market-share in the international meat market due to the excellent conditions of
its competitiveness, which has permitted to expand its sales and gain new markets.
Keywords: Beef - Brazil, Exports, Constant-Market-Share.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Equilíbrio no mercado externo 22
Gráfico 2: Intensidade dos fatores, preço dos fatores e preço dos produtos 24
Gráfico 3: Dotação dos fatores e o teorema de Rybzcynski 26
Gráfico 4: Variação percentual da produção mundial de carne bovina 41
Gráfico 5: Crescimento média anual da produção de carne bovina por país 42
Gráfico 6: Rebanhos mundiais de gado bovino 44
Gráfico 7: Exportações mundiais de carne bovina em milhões de dólares 48
Gráfico 8: Principais destinos das exportações de carne bovina fresca ou refrigerada 49
Gráfico 9: Principais destinos das exportações brasileiras de carne bovina congelada 50
Gráfico 10: Principais destinos das exportações brasileiras de carne bovina industrializada 51
Gráfico 11: Exportações brasileiras de carne bovina 52
Gráfico 12: Importações mundiais de carne bovina em dólares 57
Gráfico 13: Preços das exportações mundiais de carne bovina 60
LISTA DE SIGLAS
ANUALPEC Anuário da Pecuária Brasileira
BSE Encefalopatia Espongiforme Bovina
CMS Constant-Market-Share
CNA Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
DIPOA Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal
FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
FOB Free on Board
GATT Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio
MERCOSUL Mercado do Cone Sul
NAFTA Acordo de Livre Comércio da América do Norte
OIE Organização Mundial de Saúde Animal
PIB Produto Interno Bruto
SISBOV Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e
Bufalina
USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA 14
1.2 OBJETIVOS 15
1.2.1 Geral 15
1.2.2 Específicos 16
1.3 HIPÓTESE 16
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 16
2 REFERENCIAL TEÓRICO 17
2.1 OS GANHOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 17
2.1.1 A Teoria Clássica 17
2.1.2 A Teoria Neoclássica 20
2.1.3 A Nova Economia Internacional 27
2.2 COMPETITIVIDADE NO COMÉRCIO INTERNACIONAL 31
2.3 REVISÃO DA LITERATURA 35
3 O MERCADO INTERNACIONAL DE CARNE BOVINA 40
3.1 PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA 40
3.2 EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE CARNE BOVINA 46
3.3 IMPORTAÇÕES MUNDIAIS DE CARNE BOVINA 55
3.4 CONSUMO MUNDIAL DE CARNE BOVINA 58
3.5 PREÇOS INTERNACIONAIS DA CARNE BOVINA 60
4 METODOLOGIA 62
4.1 FONTE DOS DADOS 62
4.2 O MODELO CONSTANT-MARKET-SHARE (CMS) 62
4.2.1 Modelo matemático 64
4.2.2 Escolha dos padrões de análise 71
4.2.2.1 Mercado de destino 71
4.2.2.2 Mercadoria 71
4.2.2.3 Período de análise 71
5 DECOMPOSIÇÃO DAS FONTE DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES 73
5.1 BRASIL 73
5.1.1 Market Share 73
5.1.2 Períodos II e III em relação ao Período I 75
5.1.3 Período III em relação ao Período II 75
5.1.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade 76
5.2 ARGENTINA 79
5.2.1 Market Share 79
5.2.2 Períodos II e III em relação ao Período I 79
5.2.3 Período III em relação ao Período II 81
5.2.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade 81
5.3 AUSTRÁLIA 83
5.3.1 Market Share 83
5.3.2 Períodos II e III em relação ao Período I 85
5.3.3 Período III em relação ao Período II 85
5.3.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade 86
5.4 ESTADOS UNIDOS 88
5.4.1 Market Share 88
5.4.2 Períodos II e III em relação ao Período I 88
5.4.3 Período III em relação ao Período II 90
5.4.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade 90
5.5 SÍNTESE DOS RESULTADOS 92
6 CONCLUSÃO 96
REFERÊNCIAS 98
APÊNDICE 102
ANEXOS 107
12
1 INTRODUÇÃO
O mercado internacional de carne bovina passou por mudanças ao longo da última
década. No que diz respeito à oferta, o Brasil aumentou sua participação no mercado, o que
contribuiu para que o país se tornasse o maior exportador do produto em 2004. As
exportações brasileiras de carne bovina tiveram um aumento significativo, de cerca de 280
mil toneladas em 1995 para o total de 1,6 milhão de toneladas em 2004, gerando receita da
ordem de US$ 2,4 bilhões, conforme dados do Anuário da Pecuária Brasileira (Anualpec).
Esse incremento contribuiu para elevar a participação relativa do Brasil no mercado mundial,
que passou de 4 % em 1995 para 25% em 2004.
Em relação à demanda, nos últimos anos ocorreu também uma mudança do
padrão de consumo no mercado mundial, com tendência à substituição da carne bovina por
carnes alternativas, relativamente mais baratas, em alguns países. Essa mudança foi
influenciada em parte pela preocupação com a segurança alimentar do consumidor europeu
devido aos problemas sanitários ocorridos em vários países da Europa, assim como pelo
crescimento da consciência ecológica. Apesar da redução do consumo de carne bovina em
alguns países, a demanda mundial vem se mantendo relativamente estável devido ao
crescimento da população e da renda nos países em desenvolvimento.
As exportações brasileiras apresentaram um crescimento significativo atribuído a
uma conjugação de fatores internos e externos. Os fatores externos relacionam-se à política
comercial externa e às enfermidades que afetaram o rebanho em outros países exportadores,
tais como Argentina e União Européia. Os fatores internos referem-se à sanidade do rebanho,
melhoramento genético, aumento da produtividade na pecuária de corte e modernização dos
frigoríficos. O desempenho das exportações brasileiras também foi favorecido pelo menor
custo relativo de produção associado à disponibilidade de terras a preços baixos e de
pastagens, o que garante ao Brasil preços mais competitivos no mercado internacional.
13
A pesquisa emprega a teoria dos ganhos do comércio internacional para identificar
os fatores responsáveis pelos ganhos do Brasil no mercado mundial com as exportações de
carne bovina. Estes podem ser atribuídos às vantagens absolutas, às vantagens comparativas
ou às economias de escala, de acordo com as distintas abordagens dessa teoria. O conceito de
competitividade nacional também é empregado para verificar se o país possui vantagens
competitivas que lhe permitam manter a posição de liderança no mercado mundial.
A teoria tradicional do comércio internacional atribui os ganhos às vantagens
comparativas baseadas na dotação de fatores e sob esse ponto de vista se poderia afirmar que
os ganhos do Brasil no comércio internacional de carne seriam resultantes das vantagens
comparativas em termos de custos de produção em relação aos seus concorrentes.
Para a nova teoria do comércio internacional os ganhos seriam resultantes das
economias de escala, que possibilitam maior produção a preços mais baixos. A pecuária de
corte, após as profundas transformações na década passada, conseguiu alcançar escala e
produtividade para responder ao aumento da demanda externa e, ao mesmo tempo, o
crescimento das exportações de carne exigiu que os frigoríficos se modernizassem, tendo em
vista os rígidos padrões internacionais de controle de qualidade.
As economias de escala e o conceito de competitividade nacional, que engloba a
produtividade, a diferenciação de produtos e as inovações tecnológicas, explicam por que
alguns países conseguem se manter competitivos e outros não. Assim, o ganho seria resultante
de vantagens competitivas e não de vantagens comparativas, uma vez que estas não são
suficientes para explicar o padrão do comércio internacional.
O modelo de comércio internacional Constant-Market-Share (CMS) permite
analisar o comportamento das exportações por meio da desagregação dos fatores que
influenciaram o seu desempenho. No Brasil, vários estudos aplicaram este método para
avaliar a performance das exportações de produtos agrícolas e manufaturados. Neste trabalho,
14
aplica-se o modelo CMS para determinar os fatores responsáveis pelo crescimento das
exportações brasileiras de carne bovina.
1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA
A pecuária nacional, atualmente, é uma das maiores e mais rentáveis atividades do
agronegócio brasileiro. Esta atividade participou com R$ 65,22 bilhões do Produto Interno
Bruto (PIB) em 2004, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA). Além disso, o Brasil possui o maior rebanho do mundo, em termos comerciais, com
cerca de 171,3 milhões de cabeças em 2004, segundo dados do Anualpec.
As exportações brasileiras de carne bovina cresceram ininterruptamente a partir de
1997, dando um grande salto em 1999 devido, principalmente, à abertura de novos mercados
para a carne in natura. Este fato está relacionado ao controle da febre aftosa, que se constitui
num fator fundamental para que o país possa vender carne in natura para o mercado externo,
bem como ao baixo risco de ocorrência da doença da vaca louca no país. Além da conquista
de novos mercados consumidores, como Chile, China, Egito e Rússia, o Brasil elevou suas
exportações para os países onde já detinha liderança ou onde o volume negociado era menor.
Adicionalmente, as exportações brasileiras de carne industrializada tiveram um crescimento
menos acentuado, limitado pelas quotas de importação dos Estados Unidos e União Européia,
principais compradores do produto.
O cenário favorável às exportações brasileiras de carne bovina levou à adoção de
medidas com vistas a aumentar sua participação no mercado mundial. Um exemplo é a
implementação do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e
Bufalina (SISBOV), que se constitui num conjunto de ações, medidas e procedimentos
adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da
pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes da exploração dessa atividade.
15
Outro fator de incentivo às exportações de carne bovina são as ações de marketing
e promoção do produto, com destaque para o lançamento do selo Brazilian Beef. Tal ação
busca uma forma de identificação e reconhecimento pelo consumidor estrangeiro do produto
brasileiro associado as suas características: gado alimentado a pasto, segurança alimentar e
sanidade. Desta forma, visa promover a comercialização do boi verde ou boi de capim em
países com demanda potencial pelo produto.
É evidente que o aumento das exportações resultam em ganhos, os quais por si só,
não determinam que um país seja competitivo em dado setor. Assim, é necessário analisar os
fatores que influenciaram o desempenho das exportações para verificar se o país tem sido
competitivo no mercado mundial. Daí a importância deste estudo, que procura analisar a
posição competitiva do Brasil no mercado internacional de carne bovina por meio da
aplicação do modelo CMS.
Procura-se identificar, neste trabalho, se os ganhos no comércio internacional
obtidos pelo Brasil com as exportações de carne bovina são decorrentes apenas de vantagens
comparativas ou se o país possui vantagens competitivas sustentáveis para manter a sua
posição no mercado mundial. Nesse sentido, pretende-se, responder à seguinte questão: quais
os fatores que contribuíram para o aumento da participação das exportações brasileiras de
carne bovina no mercado internacional com ganhos de competitividade?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
O objetivo geral deste trabalho é analisar o comportamento das exportações
brasileiras de carne bovina e identificar os fatores determinantes por meio da aplicação do
método CMS, entre 1995 e 2003.
16
1.2.2 Específicos
Os objetivos específicos são:
Analisar a dinâmica comportamental do mercado internacional de carne
bovina;
Identificar os principais competidores do mercado internacional de carne;
Identificar os elementos estruturais e competitivos do setor de carne bovina;
Identificar as principais fontes de crescimento da exportação de carne.
1.3 HIPÓTESE
Para responder ao problema proposto neste trabalho admite-se a hipótese de que,
se o Brasil conseguiu aumentar a sua parcela de participação no mercado internacional, no
período definido para análise, então o país obteve ganhos de competitividade que lhe
permitiram expandir suas exportações.
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
O capítulo 2 expõe a teoria dos ganhos do comércio internacional, que embasa o
estudo realizado sobre o desempenho do Brasil no mercado mundial de carne bovina. No
terceiro capítulo, discorre-se sobre o mercado internacional de carne e apresenta suas
características, bem como as perspectivas e os entraves para o crescimento das exportações
brasileiras desse produto. O quarto capítulo trata da metodologia e descreve o método CMS,
que permite decompor as fontes de crescimento das exportações. O quinto capítulo apresenta
e discute os resultados obtidos com a aplicação do modelo CMS.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 OS GANHOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
O comércio internacional traz ganhos para os países que trocam bens entre si, com
efeitos positivos sobre o bem-estar. Esses ganhos são resultantes da especialização
internacional, que pode ser baseada nas vantagens absolutas, vantagens comparativas, nas
economias de escala ou vantagens competitivas, dependendo do padrão de comércio vigente.
Os ganhos do comércio internacional aumentam o bem-estar nacional, uma vez
que os indivíduos podem consumir maior quantidade de bens a preços mais baixos, desde que
não existam barreiras comerciais. O comércio internacional contribui para elevar a oferta de
produtos diferenciados, aumentando a satisfação dos indivíduos que consomem bens
importados.
Os ganhos do comércio são explicados e determinados de diferentes formas pelas
teorias do comércio internacional, quais sejam: a clássica, a neoclássica e a denominada nova
economia internacional, apresentadas a seguir.
2.1.1 A Teoria Clássica
A teoria clássica do comércio internacional explica os ganhos por meio da teoria
das vantagens absolutas e da teoria das vantagens comparativas. A teoria das vantagens
absolutas de Adam Smith (1983) mostra como duas nações ganham com o comércio
especializando-se na produção da mercadoria de sua vantagem absoluta. Segundo essa teoria,
a nação deve exportar a mercadoria que produz com mais eficiência, ou seja, aquela cuja
quantidade de trabalho gasta na produção for menor. Por outro lado, a nação deve importar a
mercadoria que produz com menos eficiência, ou seja, aquela cuja quantidade de trabalho
18
gasta na produção for maior. Desta forma, a nação pode exportar parte de sua produção e
comprar as mercadorias de que necessita. A especialização leva à maximização da utilização
dos recursos nas duas nações, elevando a produção de mercadorias e, conseqüentemente, o
bem-estar dos indivíduos.
Como exemplo, supõem-se duas nações, Local e Estrangeira, denominadas de A e
B, respectivamente, que produzem, cada uma, carne e tecido. A nação A produz 6 quilos de
carne e 4 metros de tecido, enquanto a nação B produz 1 quilo de carne e 5 metros de tecido.
Note-se que uma hora de trabalho produz 6 quilos de carne na nação A, mas produz apenas
um quilo no país B. Neste caso, a nação A é mais eficiente, ou seja, possui maior vantagem
absoluta sobre a nação B na produção de carne. Por outro lado, uma hora de trabalho produz 5
metros de tecido na nação B, mas somente 4 metros na nação B. Neste caso, a nação B é mais
eficiente, ou seja, possui uma vantagem absoluta maior sobre a nação A na produção de
tecido. O comércio levaria à especialização da nação A na produção de carne e da nação B na
produção de tecido. Desta forma, a nação A trocaria parte da produção de carne por tecido da
nação B, que, por sua vez, trocaria parte da produção de tecido pela produção de carne da
nação A.
Se a nação A trocasse 6 quilos de carne (6CA) por 6 metros de tecido (6TE) da
nação B, o país A ganharia 2TE, que equivalem à economia de 1/2 homem-hora ou 30
minutos de tempo de trabalho. Da mesma maneira, os 6CA que a nação B receberia do país A
equivalem a 6 homens-hora de tempo de trabalho para produção na nação B. Esses 6 homens-
hora poderiam produzir 30TE (6 homens horas vezes 5 metros de tecido) na nação B, que, se
trocasse 6TE por 6CA com a nação A, ganharia 24TE ou economizaria quase 5 homens-hora.
Com o comércio, ambas as nações ganham, uma vez que, ao liberar recursos produtivos para
produzir a mercadoria em que possui vantagem absoluta, aumentam a produção de
mercadorias.
19
A teoria de David Ricardo (1982) mostra que o comércio mundial é baseado nas
vantagens comparativas e não nas vantagens absolutas. Segundo essa teoria, o país deve
produzir e exportar a mercadoria de sua vantagem comparativa e importar a mercadoria de
sua desvantagem comparativa.
A lei das vantagens comparativas pressupõe que o comércio entre duas nações é
vantajoso, desde que haja diferenças internacionais nos custos relativos de produção. As
diferenças de preços das mercadorias refletem as diferenças na estrutura de custos relativos de
produção (KENEN, 1998). Duas nações ganham com o comércio especializando-se na
produção e exportação da mercadoria com menor custo relativo, importando aquele bem em
que apresenta maior custo relativo.
A teoria das vantagens comparativas pode ser demonstrada usando o exemplo
anterior. A nação A produz 6 quilos de carne e 4 metros de tecido, enquanto a nação B produz
1 quilo de carne e 2 metros de tecido. A nação A seria indiferente ao comércio se recebesse
apenas 4TE da nação B em troca de 6CA, pois a nação A pode produzir os 4TE
domesticamente, utilizando os recursos com a entrega de 6CA. Da mesma forma, a nação B
seria indiferente se tivesse de entregar 2TE para cada 1CA recebido da nação A e por isso não
comerciaria se tivesse de entregar mais de 2TE por 1CA.
Ambas as nações poderia ganhar se a nação A pudesse trocar 6CA por 6TE com a
nação B. A nação A ganharia 2TE, pois apenas poderia trocar 6CA por 4TE internamente. A
nação B também ganharia, pois os 6CA que recebessem da nação A demandariam 6 homens-
hora para serem produzidos na nação B. A nação B poderia utilizar esses 6 homens-hora para
produzir 12TE e entregar apenas 6TE pelos 6CA ou economizaria 3 horas de tempo de
trabalho. O comércio é mutuamente benéfico se estiver situado no intervalo entre 4TE e
12TE, representando o ganho total com o comércio disponível para ser dividido entre as duas
nações pela comercialização de 6CA. Assim, quando os 6CA são trocados pelos 6TE, a nação
20
A ganha 2TE e a nação B 6TE, totalizando 8TE. O ganho de ambas as nações pode variar de
acordo com o volume comercializado. Por exemplo, se a nação A trocasse 6CA por 8TE com
a nação B, ambas ganhariam 4TE, totalizando 8TE. Se a nação A trocasse 6CA por 10TE com
a nação B, a nação A ganha 6TE e a nação B 2TE, totalizando 8TE.
A teoria das vantagens comparativas tem como premissas: a) existência de duas
nações e de duas mercadorias; b) livre comércio; c) existência de apenas um fator de
produção, ou seja, o trabalho; d) livre mobilidade de mão-de-obra em cada nação, mas
inexistente entre nações; e) emprego de tecnologias diferentes; f) rendimentos constantes de
escala; g) balança comercial equilibrada e custo de transporte igual a zero.
2.1.2 A Teoria Neoclássica
Outra forma de explicar os ganhos do comércio é por meio da teoria neoclássica
ou teoria pura do comércio internacional. Essa teoria é um aperfeiçoamento da teoria das
vantagens comparativas de Ricardo. Os ganhos do comércio internacional são explicados por
meio de quatro teoremas fundamentais, quais sejam: teorema de Heckscher-Ohlin, teorema da
equalização de fatores, teorema de Stolper-Samuelson e teorema de Rybczynski.
Os princípios básicos da teoria pura do comércio internacional foram formulados
por Eli Hecksher e Bertin Ohlin, dois economistas suecos (GONÇALVES et al., 1998).
Inspirado em Hecksher, Ohlin desenvolveu um modelo para estudo da economia internacional
e inter-regional conhecido como teorema de Heckscher-Ohlin (H-O).
A premissa básica desse teorema é que as regiões possuem diferentes dotações de
fatores de produção, mas tecnologia e preferências similares. Nesse modelo, há mobilidade
perfeita de fatores no interior das regiões, mas imperfeita ou inexistente entre elas.
No âmbito do comércio internacional, o teorema de H-O supõe duas nações que
produzem as mesmas mercadorias, empregando dois fatores de produção, capital e trabalho
21
(modelo 2 x 2 x 2). Essas nações possuem dotações de fatores de produção distintas e
empregam tecnologia idêntica, com retornos constantes de escala. As duas nações apresentam
padrões de preferências similares e homotéticos. Existe concorrência perfeita tanto no
mercado de bens como no de fatores em ambas as nações, bem como há livre mobilidade de
fatores em cada nação, mas não existe mobilidade internacional de fatores. O modelo também
supõe que não há reversibilidade na intensidade de uso de fatores para o mesmo produto
mundialmente. Finalmente, requer balança comercial equilibrada e inexistência de obstáculos
ao comércio, tais como custo de transporte e tarifas.
O teorema H-O trata sobre o padrão do comércio e de suas preferências e,
segundo Salvatore (2000), pode ser enunciado da seguinte forma: a nação se especializará na
produção e exportação da mercadoria que utiliza de forma intensiva o fator relativamente
abundante e barato e importará a mercadoria cuja produção utilize intensivamente o fator
relativamente escasso e caro.
Para entender o funcionamento do teorema de H-O utiliza-se como exemplo o
comércio entre duas nações que produzem carne e tecido. O Gráfico 1 mostra o equilíbrio de
autarquia E
a
e o equilíbrio no mercado mundial El
c
. Em autarquia, o equilíbrio se dá no ponto
de tangência da curva de indiferença da comunidade U
a
e da curva de possibilidade de
produção, dados os preços relativos das mercadorias. O consumo de carne e tecido é
respectivamente C
c
e C
t
.
22
Produção e consumo
de tecido
P*
C
t’
El
c
Ul
c
C
t
E
a
U
a
Q P
Produção
C
c
Q
c
e consumo
Q
t
de carne
Gráfico 1: Equilíbrio no mercado externo
Fonte: Gonçalves et al. (1998, p.22).
A diferença nos preços relativos entre nações antes do comércio provoca as trocas
internacionais. Tais trocas fazem a nação aumentar a produção das mercadorias nas quais
possui vantagem comparativa e diminuir a produção das mercadorias nas quais possui
desvantagem comparativa (SIRC, 1975).
Na economia aberta o preço de equilíbrio não é mais determinado pela oferta e
demanda doméstica. Os preços relativos das mercadorias se ajustam para equalizar a oferta e a
demanda no mercado externo. Os preços relativos da economia mundial P* diferem dos
preços relativos de autarquia P. A linha de preços relativos P* corresponde à linha de
orçamento. A produção doméstica ocorre no ponto Q. O consumo doméstico é dado por El
c
,
ponto em que a curva de indiferença da comunidade Ul
c
tangencia a linha P*.
A economia produz Q
c
de carne e Q
t
de tecido, consumindo C
c
e C
t
desses bens. A
economia exporta Q
c
-C
c
de carne e importa tecido. Com a abertura do comércio, o consumo
de carne não se altera, mas o de tecido se eleva de C
t
para C
t’
. O ganho da abertura ao
comércio exterior corresponde à área C
t
’.El
c
.C
t
.E
a
, significando um aumento do bem-estar dos
23
consumidores da nação, pois se passou da curva de indiferença da comunidade de U
a
para a
curva de indiferença da comunidade Ul
c
.
Os efeitos do comércio internacional sobre os preços relativos dos fatores são
explicados pelo teorema da equalização dos preços dos fatores, também conhecido como
teorema de Heckscher-Ohlin-Samuelson (H-O-S). Esse
teorema pode ser enunciado da
seguinte forma: “o comércio internacional trará a equalização dos rendimentos relativos e
absolutos dos fatores homogêneos entre as nações” (SALVATORE, 2000, p. 73). Esses
fatores homogêneos constituem-se na mão-de-obra, que apresenta o mesmo nível de
treinamento, habilidade e produtividade, e no capital, que apresenta a mesma produtividade e
taxa de risco. O comércio internacional tende a equalizar os rendimentos do trabalho e do
capital, ou seja, tende a igualar o salário real w e a taxa de juros r entre as nações
comerciantes.
O teorema H-O-S é demonstrado pelo Gráfico 2, na qual as curvas CC e TT
representam os pontos em que a combinação de salário real w e do custo do capital r leva a
um retorno igual a zero, respectivamente, nos setores produtores de carne e tecido. Um ponto
qualquer na curva CC representa uma combinação de salário real e custo do capital que
permite que uma unidade de carne seja vendida pelo seu preço de mercado, com taxa de
retorno igual a zero, o que também ocorre com um ponto qualquer na curva TT.
Os salários reais e o custo do capital não podem ser diferentes em dois setores da
mesma economia, de modo que as coordenadas do ponto A indicam o único ponto compatível
com o equilíbrio do mercado, no qual a taxa de lucro dos dois setores é igual a zero.
24
w R
T’
T
C D S
B A
F G C
T’
T
E
o r
Gráfico 2: Intensidade dos fatores, preço dos fatores e preço dos produtos
Fonte: Gonçalves et al (1998, p.24).
Se o equilíbrio representado no ponto A for condizente com a dotação de fatores
da economia, o seu preço será determinado exclusivamente pela posição das curvas CC e TT.
O teorema da equalização dos preços dos fatores dispõe que a tecnologia e o preço das
mercadorias é igual internacionalmente, bem como a remuneração dos fatores de produção.
Os pontos B e D, no Gráfico 2, representam, respectivamente, o lugar em que a
relação capital-trabalho na produção de carne e tecido é igual à dotação dos fatores da
produção da economia. O espaço geométrico ROS mostra que os preços dos fatores são
localmente independentes de suas respectivas dotações e que a economia produz os dois bens.
A diferença nos preços relativos dos fatores e dos preços relativos das
mercadorias leva o comércio a se expandir. A expansão reduz a diferença nos preços relativos
dos fatores em ambas as nações. O comércio expandirá até que o preço relativo das
mercadorias seja equalizado.
Cabe destacar que o comércio internacional atua como um substituto da
mobilidade internacional de fatores de produção por meio dos seus efeitos sobre o preço dos
fatores. Esses efeitos podem ser descritos da seguinte forma. Na nação Local, que produz a
mercadoria intensiva em mão-de-obra, w se eleva, enquanto se torna inferior na nação
25
Estrangeira. Da mesma forma, o comércio internacional faz com que r caia na nação Local e
se eleve na nação Estrangeira. O comércio fará com que seja reduzida a diferença entre w e r
existentes nas duas nações com economia fechada.
O teorema de Stolper-Samuelson (S-S) trata da relação dos preços dos fatores com
os preços das mercadorias transacionadas. Por exemplo, se há um aumento do preço da
mercadoria mão-de-obra-intensivo, o salário real aumenta na nação com abundância de
trabalho e reduz na nação com abundância de capital. Do mesmo modo, se há um aumento do
preço da mercadoria capital-intensivo, o retorno real do capital aumenta na nação com
abundância de capital e reduz na nação com abundância de trabalho.
O teorema S-S mostra como uma mudança no preço relativo das mercadorias C e
T, ou seja, as mercadorias produzidas e comercializadas internacionalmente no modelo
Heckscher-Ohlin, leva a uma alteração mais que proporcional nos preços de ambos os fatores.
Esse teorema pode ser utilizado para lidar com os efeitos de uma tarifa sobre o preço de um
produto importado (GONÇALVES et al., 1998; KENEN, 1998).
Para demonstrar esse teorema também se recorre ao Gráfico 2. Supondo que
ocorra uma elevação do preço do tecido haverá um deslocamento da curva TT para T’T’, o
que alterará o ponto de equilíbrio do preço relativo dos fatores de A para F. Esse
deslocamento induz um aumento da taxa de retorno do capital e uma redução no salário real.
O teorema de Rybczynski mostra que o aumento da oferta de um fator de
produção eleva a produção da mercadoria que utiliza esse fator com mais intensidade,
enquanto reduz a produção da outra mercadoria (KENEN, 1998). Esse teorema discute as
variações das quantidades dos fatores sobre as mercadorias produzidas (GONÇALVES et al.,
1998). O Gráfico 3 mostra como o crescimento da oferta de um fator de produção provoca um
aumento mais do que proporcional da quantidade da mercadoria que usa de forma intensa o
fator cuja oferta expandiu (efeito de ampliação).
26
Tecido
L’
L
K E
1
Q
t
Q
t’
E
2
Q
c
Q
c’
L L’ K Carne
Gráfico 3: Dotação dos fatores e o teorema de Rybzcynski
Fonte: Gonçalves et al (1998, p.28).
As linhas KK e LL representam a combinação das mercadorias, tecido e carne,
compatíveis com o pleno emprego de uma dada dotação de fatores de produção capital e
trabalho, respectivamente. Esses pontos são representados por linhas retas, uma vez que os
preços das mercadorias são mantidos constantes, já que o preço dos fatores de produção e a
razão capital-trabalho da economia também são constantes. Assim, pode-se ignorar a
substituição dos fatores e analisar o efeito do crescimento de suas ofertas. As linhas KK e LL
possuem inclinação negativa, que é explicada pelo fato de que para uma determinada dotação
de fatores o crescimento do produto e da demanda de um fator deve ser compensado pela
redução do produto e da demanda de um outro fator.
E
1
é o ponto de equilíbrio onde ambos os fatores estão em pleno emprego. Por
exemplo, um aumento na oferta de trabalho desloca LL para a direita, L’L’, de forma que o
novo equilíbrio é E
2
. Como resultado, há um aumento na produção de carne de Q
c
para Q
c’
e
redução na produção de tecido de Q
t
para Q
t’
. Com a alteração da oferta de um dos fatores,
crescerá relativamente mais o produto que usa intensivamente o fator cujo crescimento da
oferta for mais dinâmico. No exemplo dado, o setor mais dinâmico é o que utiliza trabalho.
27
2.1.3 A Nova Economia Internacional
Os pressupostos da teoria neoclássica tornaram-se insuficientes para explicar os
padrões do comércio internacional na presença de economias de escala, haja vista serem
pouco realistas para uma indústria. A existência de economias de escala torna os quatro
teoremas da economia neoclássica indeterminados, reduzindo, portanto, o poder explicativo
desses modelos (GONÇALVES et al., 1998).
As economias de escala requerem novas teorias para explicar a parcela do
comércio internacional não analisada pela teoria Heckscher-Ohlin. Uma dessas teorias é a
denominada Nova Economia Internacional, cujos precursores são Helpman e Krugman
(1999). A nova teoria refuta as hipóteses da concorrência perfeita e dos retornos constantes de
escala, assumindo como premissas básicas as economias de escala, a concorrência imperfeita
e o comércio intra-indústria.
Os retornos crescentes ou economias de escala se referem ao caso em que a
produção cresce proporcionalmente mais do que o acréscimo de insumos ou fatores de
produção. Eles podem ocorrer em função de uma escala mais elevada de operação, o que
torna possível maior divisão do trabalho e especialização na produção. Além disso, uma
escala mais elevada de operação pode permitir que se introduzam máquinas mais
especializadas e produtivas do que em uma escala inferior de operação.
Inicialmente é necessário distinguir economias de escala internas e externas. As
economias de escala internas ocorrem quando o custo por unidade depende do tamanho da
firma individual, ou seja, os custos médios reduzem à medida que a produção da firma se
expande. As economias de escala externas ocorrem quando o custo por unidade depende do
tamanho da indústria, ou seja, os custos médios de cada firma reduzem à medida que a
produção da indústria se expande.
28
As economias de escala internas levam à eliminação da concorrência perfeita, o
que faz necessário aqui recorrer ao conceito de concorrência imperfeita. Na concorrência
perfeita o mercado é constituído por um grande número de compradores e vendedores, de
modo que as firmas não podem influenciar os preços. Assim, as firmas ajustam as quantidades
vendidas ao preço dado no mercado. Na concorrência imperfeita, as firmas podem influenciar
os preços dos seus produtos, reduzindo-os para aumentar suas vendas. Em tal circunstância,
cada firma considera-se uma formadora de preço. O conceito de concorrência imperfeita se
aplica tanto às indústrias nas quais existem poucos e grandes produtores como às indústrias
nas quais o produto de cada produtor é reconhecido pelo consumidor como intensamente
diferenciado dos produtos dos concorrentes.
No modelo de concorrência imperfeita do comércio internacional, supõe-se que as
economias de escala que aumentam o comércio entre países ocorram no nível da firma
individual. Entretanto, nem todas as economias estão associadas a esse nível. Há economias
que ocorrem no nível da indústria, isto é, as economias externas. Os efeitos das economias
internas sobre o comércio internacional diferem dos efeitos das economias externas. Na
análise dos efeitos dos rendimentos crescentes de escala sobre o comércio mundial será dada
ênfase às economias externas.
As economias de escala proporcionam às indústrias de um país vantagens em
termos de custos que lhe permitem exportar. Tanto a variedade de bens como a escala de
produção nas indústrias em que existem economias de escala são restringidas pelo tamanho do
mercado. Os países podem livrar-se dessas restrições ao comercializar entre si, o que significa
o aumento do tamanho do mercado através do comércio internacional. Cada país pode
especializar-se na produção de uma menor variedade de bens e comprar de outros os bens que
ele não produz. Assim, contribui para um aumento simultâneo da variedade de bens
disponíveis a seus consumidores.
29
O comércio com retornos crescentes de escala pode ser vantajoso para os países
que empregam tecnologias diferentes, possuem dotação de fatores semelhantes e preferências
não similares. Helpman e Krugman (1999) afirmam que grande parte do comércio mundial
ocorre entre países com essas características. Para a nova teoria, o comércio baseia-se nas
economias de escala, que permitem às indústrias do país se especializarem na produção dos
bens em que possuam vantagens em termos de custos.
O comércio baseado nas vantagens comparativas é denominado de comércio
interindústria e envolve países com diferentes intensidades dos fatores de produção. Um
exemplo desse tipo de comércio é a troca de manufaturas e alimentos entre dois países, Local
e Estrangeiro, em que a indústria do primeiro é intensiva em capital e a indústria do segundo é
intensiva em trabalho. Por outro lado, o comércio baseado nas economias de escala é
denominado de comércio intra-indústrias e reflete o padrão de trocas entre países
desenvolvidos. Esses países possuem dotação de fatores semelhantes ou relação capital-
trabalho muito similar e, nesse caso, os países Local e Estrangeiro comercializam bens
manufaturados diferenciados.
A Nova Economia Internacional também busca explicar o papel das empresas
multinacionais no comércio internacional, visto que foi constatado que uma fração
significativa do comércio mundial faz-se entre subsidiárias dessas empresas. As trocas entre
as subsidiárias de multinacionais são essencialmente comércio intra-indústria. A teoria
neoclássica não considera as empresas multinacionais nem o comércio intra-indústrias, uma
vez que na sua concepção são as nações e somente elas que trocam (RAINELLI, 1998). A
troca entre filiais de multinacionais instaladas em diferentes países, apesar de freqüente, não
tinha explicação na antiga teoria.
Segundo Krugman e Obstfeld (2001), o comércio intra-indústrias produz ganhos
extras no comércio internacional, maior do que os ganhos das vantagens comparativas. Esses
30
ganhos resultam de duas características do comércio intra-indústrias: a) a similaridade da
oferta de fatores relativos entre países, que reduz o comércio interindústria; b) as economias
de escala e a diferenciação dos produtos são importantes à medida que ganhos de escala
maiores e mais opções são mais significantes. Tais condições tornariam pequenos os efeitos
da distribuição de renda do comércio, de modo que existiriam ganhos extras substanciais do
comércio intra-indústrias. O comércio intra-indústria em um país pode simultaneamente
reduzir a quantidade de produtos fabricados e aumentar a variedade de bens para serem
consumidos domesticamente. Ao aumentar a variedade de bens, o país pode produzir cada
bem em maior escala e com menores custos.
As economias de escala levam à indeterminação dos padrões de comércio, de
forma que não é possível determinar em qual produto a economia se especializará nem definir
quais empresas conseguirão economias de escala. Todavia, as especializações resultantes de
economias de escala externas são estáveis, ainda que as vantagens comparativas mudem
(RAINELLI, 1998.).
Os efeitos do comércio com economias de escala diferem daqueles com vantagens
comparativas de fatores. No comércio com vantagens comparativas, o bem-estar resultante da
especialização internacional traz ganhos para os consumidores dos dois países, uma vez que a
abertura do comércio permite consumir maiores quantidades de bens a preços mais baixos. No
comércio com economias de escala, os efeitos são ambíguos, uma vez que não há garantia de
que o país produzirá um bem sujeito a essas economias. Além disso, o comércio intra-
indústria baseado nessas economias poderia deixar um país em pior situação do que na
ausência de comércio.
31
2.2 COMPETITIVIDADE NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Para Porter (1989), as teorias do comércio internacional, em geral, possuem
explicações conflitantes para definir competitividade. A competitividade tem sido vista como
um fenômeno macroeconômico, dependente de taxas de câmbio, taxas de juros e déficits
governamentais; ou como uma função da dotação de fatores; ou fortemente influenciada por
políticas governamentais; ou, ainda, explicada por diferenças de práticas administrativas.
Assim como para os teóricos da Nova Economia Internacional, para Porter (1989),
as vantagens comparativas de fatores de produção fornecem uma explicação incompleta para
os padrões de comércio. As vantagens comparativas de custos de fatores continuam
importantes em indústrias que dependem de recursos naturais ou onde a mão-de-obra
especializada ou semi-especializada é parte predominante do custo total, ou em que a
tecnologia não é sofisticada, mas não se aplicam em muitas indústrias que utilizam tecnologia
complexa. Então, surge a necessidade de construir um novo paradigma que explique o sucesso
de indústrias e segmentos de indústrias que envolvem tecnologia sofisticada e recursos
humanos especializados, situados em poucas nações (PORTER, 1989).
A inovação tecnológica, a dotação de fatores comparáveis e a globalização
contribuíram para enfraquecer as vantagens comparativas (PORTER, 1989). Em primeiro
lugar, a tecnologia permite que as indústrias compensem os fatores escassos por meio de
novos produtos e processos. Certos fatores de produção que no passado eram preponderantes
foram neutralizados ou tiveram sua importância reduzida pela tecnologia. Em segundo lugar,
grande parte do comércio mundial ocorre entre nações desenvolvidas, com dotações de fatores
semelhantes. Além disso, muitas nações desenvolvidas também dispõem de dotações
comparáveis de fatores, tais como mão-de-obra qualificada para atuar em várias indústrias e
infra-estrutura básica. E, terceiro, as indústrias competem com estratégias globais, envolvendo
32
vendas mundiais e buscam materiais, componentes, maquinaria, matérias-primas e serviços
por todo o mundo.
Para Porter (1989), a produtividade é a principal responsável pela competitividade
de uma nação. Em nível internacional a competição ocorre entre indústrias ou segmentos de
indústrias que atingiram níveis mais elevados de produtividade. O crescimento contínuo da
produtividade permite elevar salários e obter preços elevados no mercado internacional. Por
meio do comércio internacional o país pode então aumentar os níveis de produtividade:
O comércio internacional permite ao país aumentar a sua produtividade, eliminando
a necessidade de produzir todos os bens e serviços dentro do próprio país. Com isso,
a nação pode especializar-se nas indústrias e segmentos nos quais suas empresas são
relativamente mais produtivas e importar os produtos e serviços em relação aos
quais suas empresas são menos produtivas do que as rivais estrangeiras, aumentando
dessa forma a produtividade média da economia (PORTER, 1989, p. 7).
As multinacionais desempenham um papel importante no comércio internacional.
Por meio da criação de subsidiárias estrangeiras pelas empresas de um país, a produtividade
nacional, também, pode ser aumentada. Porém, para que isso ocorra, deve haver a
transferência de atividades menos produtivas para outros países ou a realização, no exterior,
de atividades selecionadas que sirvam de apoio à maior penetração nos mercados externos.
Assim, a criação de multinacionais conduz à internacionalização da competição.
As multinacionais competem internacionalmente através das exportações e do
investimento internacional. Tais fatores podem proporcionar grandes aperfeiçoamentos na
produtividade nacional, mas ao mesmo tempo ameaçá-la quando as indústrias mais
competitivas perdem posição para rivais estrangeiras.
A exposição à competição internacional cria para cada indústria um padrão de
produtividade absoluto, necessário para enfrentar rivais estrangeiros. Mesmo que uma
indústria seja relativamente mais produtiva do que outras indústrias da economia nacional,
não será capaz de exportar se não for competitiva com as rivais estrangeiras (PORTER,
1989).
33
O processo de exportação das indústrias mais produtivas, por meio do
investimento externo, significa perdas nas posições de mercado em alguns segmentos e
indústrias, necessárias ao progresso da economia do país. Com efeito, o “êxito na exportação
das indústrias com vantagens competitivas elevará os custos da mão-de-obra, insumos e
capital no país, tornando não-competitivas outras indústrias” (PORTER, 1989, p. 8).
Para Porter (1989), a meta desejável para um país é desenvolver a capacidade de
exportar muitos artigos fabricados com alta produtividade, o que permite importar muitos
artigos que envolvem menor produtividade. O aumento das exportações de empresas que
possuem altos índices de produtividade leva a uma participação nacional crescente nas
exportações mundiais, ligadas aos padrões de vida. Desta forma, a prosperidade econômica
traduz-se em maior produtividade nacional que, por sua vez, reflete-se em renda nacional
elevada e, conseqüentemente, num melhor padrão de vida.
Tanto as vantagens absolutas como as vantagens comparativas são importantes
para um país, entretanto, não se pode atribuir exclusivamente às vantagens comparativas em
termos de custos de fatores o sucesso da indústria. As vantagens de fatores tornam-se, com
freqüência, extremamente passageiras. A vantagem competitiva que repousa sobre custos de
fatores é vulnerável. As indústrias que têm vantagem competitiva dependente de custos de
fatores possuem, com freqüência, estruturas que apenas garantem baixos rendimentos médios
sobre os investimentos. Essas indústrias costumam ter muitos competidores e situam-se,
geralmente, em países em desenvolvimento e suas exportações tendem a estar ligadas a custos
de fatores e a competir nos preços.
Para alcançar sucesso, as firmas precisam ter uma vantagem competitiva
relacionada a menores custos ou produtos diferenciados que obtêm preços elevados, bem
como manter a vantagem conquistada por meio de uma vantagem competitiva mais
sofisticada.
34
A construção do novo paradigma requer outras explicações para o comércio. Uma
delas consiste nas economias de escala e na diferenciação de produtos. As economias de
escala e outras imperfeições do mercado explicariam o comércio mundial.
Outra explicação diz respeito a uma visão mais recente da teoria ricardiana, as
chamadas teorias da “disparidade tecnológica”, baseada na tecnologia. Porter (1989) também
se reporta à teoria do ciclo do produto, que busca no mercado interno do país a justificativa do
sucesso comercial. Outra linha tenta explicar o aparecimento da empresa multinacional ou
companhia com operações em mais de um país. As multinacionais competem
internacionalmente exportando e investindo no exterior. Estudos indicam que parcela
significativa do comércio mundial faz-se entre subsidiárias de multinacionais.
Porter (1989) afirma que para a formulação da nova teoria devem ser consideradas
as seguintes premissas:
a) as empresas podem escolher estratégias que diferem;
b) os competidores internacionais bem-sucedidos competem usando estratégias
nas quais o comércio e o investimento no exterior são integrados;
c) a competição é dinâmica e evolui.
Adicionalmente, os novos enfoques na teoria da economia internacional devem
refletir uma concepção abrangente de competição, que inclua mercados segmentados,
produtos diferenciados, diferenças de tecnologia e economias de escala. Desta forma, a
melhoria e a inovação em métodos e tecnologia tornam-se um elemento central. Finalmente,
deve explicar o papel de um país no processo de inovação.
Apesar da contribuição de Porter à teoria do comércio internacional no que se
refere à formulação de políticas nacionais de competitividade, ainda é difícil explicar porque
fatores e condições locais teriam tanta importância num mercado globalizado (NAKANO,
35
1994). Em contexto de globalização, as empresas multinacionais têm as atividades de
produção, vendas, e mesmo pesquisa e desenvolvimento localizadas em vários países.
Yoffie apud Nakano (1994) argumentou que as complexidades do comércio e
investimento mundial só podem ser explicadas pela interligação de um conjunto de fatores:
vantagens comparativas do país, estrutura da indústria, atributos organizacionais e estratégias
das empresas, políticas governamentais e inércia empresarial ou inércia da história. Assim, o
padrão de comércio é determinado pela maior ou menor interação desses fatores.
2.3 REVISÃO DA LITERATURA
Os ganhos do comércio exterior podem ser explicados por meio da aplicação de
vários modelos. Para avaliar os ganhos do Brasil no comércio internacional de carne bovina
utiliza-se, neste trabalho, o modelo CMS, que permite identificar os fatores que influenciaram
o crescimento das exportações. Por meio deste método é possível verificar se um país é
competitivo, uma vez que pressupõe que a competitividade se expressa na participação no
mercado mundial (market share) do montante das exportações.
O método CMS tem sido aplicado na análise das exportações tanto de produtos
agrícolas como de produtos manufaturados. A seguir faz-se uma revisão de diversos trabalhos
que utilizaram este método.
Rigaux (1971) aplicou o método do market share para análise das exportações de
trigo do Canadá nos períodos de 1963-1964 a 1967-1968. Os resultados mostram que houve
declínio nas exportações do país em decorrência da participação negativa do efeito
distribuição (75%) e dos efeitos competição e tamanho do mercado (25%).
Em estudo realizado por Sprott (1972) foi verificado que os ganhos obtidos pelas
exportações de trigo da Austrália, nos períodos de 1950-1951 e 1969-1970, foram atribuídos a
36
dois fatores: aumento na parcela mundial de mercado e melhoria na competitividade do país
em alguns mercados individuais.
No estudo de Aguiar et al. (1979) sobre o mercado externo do café nos períodos
de 1960-62 a 1970-72 foi verificado, através do método da parcela de mercado, que cresceram
as exportações brasileiras de café nos períodos analisados. Porém, os resultados mostram que
houve declínio na participação relativa do Brasil no mercado mundial, significando perdas
potenciais em termos de exportação. Essas perdas potenciais foram atribuídas, em sua quase
totalidade, ao efeito competição altamente negativo. O efeito distribuição indicou que o país
concentrou seus esforços de exportação em mercados com baixo ou nenhum crescimento nas
importações do café brasileiro.
Carvalho, Nogueira e Pinto (1980) analisaram o comportamento das exportações
do algodão em pluma brasileiro nos períodos de 1969/1970 a 1975/1976. O estudo
demonstrou que a parcela de mercado do país decresceu sensivelmente, tendo sido apontado o
efeito competição como o principal responsável pela queda das exportações. Os resultados
mostram, ainda, que os efeitos tamanho de mercado e distribuição positivos não foram
suficientes para compensar a contribuição negativa do efeito competição.
Amin (1985) aplicou o Market Share Analisys para analisar o comportamento das
exportações de cacau em amêndoas no período de 1962 a 1981 dos cinco maiores
exportadores: Gana, Nigéria, Costa do Marfim, Camarões e Brasil. O efeito tamanho de
mercado indicou que as exportações foram influenciadas pelas condições da demanda. A
participação negativa desse efeito em alguns períodos do estudo para os países analisados
demonstrou que a expansão da oferta de cacau não foi acompanhada por um aumento
proporcional ou maior na procura. O efeito competição mostrou a falta de capacidade
competitiva de alguns países como Gana, Nigéria e Camarões, enquanto Costa do Marfim e
Brasil apresentaram alta capacidade competitiva. Finalmente, a participação negativa do
37
efeito distribuição para alguns países mostrou que as exportações se concentraram em
mercados com pouco ou nenhum crescimento nas importações de cacau.
Carvalho et al. (1991) também analisaram a participação das exportações
brasileiras no mercado internacional do cacau em amêndoas para os períodos de 1960-1972 a
1973-1988. A análise entre os dois períodos indicou a ocorrência de efeito tamanho do
mercado e competição positivos e de efeito distribuição negativo. O efeito competição
apresentou magnitude absoluta maior do que os outros efeitos, sendo constituído por um
composto dos efeitos de outras variáveis, como preço, qualidade, crédito, etc. O efeito
tamanho de mercado indicou que o Brasil aproveitou o crescimento das importações mundiais
de cacau em amêndoa. O efeito distribuição negativo indicou que o Brasil não conseguiu
manter suas parcelas de mercado.
Carvalho (1995) analisou o comportamento das exportações agroindustriais
brasileiras na década de 1970 ao início dos anos 1990. O estudo mostrou que os efeitos
tamanho do mercado e competitividade foram importantes para o desempenho das
exportações agroindustriais brasileiras. A contribuição desses efeitos em todos os períodos
analisados se deu em sentidos opostos, ou seja, quando o crescimento do comércio mundial
foi o principal fator explicativo do crescimento das exportações, o efeito competitividade
atuou em sentido contrário e vice-versa.
Burnquist (1999) usou o CMS para estudar o desempenho das exportações
brasileiras de açúcar nos períodos de 1991-1994 a 1995-1997. A análise demonstrou que
houve um aumento da participação brasileira no mercado mundial, que passou de 9% para
17% entre o primeiro e o segundo períodos. O efeito tamanho de mercado indicou que cerca
de 17,3% da expansão das exportações brasileiras de açúcar são explicados pelo aumento no
mercado mundial. O efeito composição (-37,9%) sugere que o país concentrou suas
exportações em mercados relativamente estagnados. A análise revelou que o efeito
38
competitividade (120,6%) pode estar superestimado, visto que é computado como um efeito
residual, portanto, seria uma compensação relativa do efeito composição negativo.
No estudo de Chen e Duan (1999) foi aplicado o CMS a fim de analisar o
comportamento das exportações agroindustriais canadenses para a Ásia no período de 1980-
97. O estudo mostrou que o incremento nas exportações canadenses foi resultado do rápido
crescimento das importações agroindustriais da Ásia no período analisado. As exportações
canadenses se revelaram muito competitivas em relação aos seus principais competidores no
mercado asiático.
Sereia et al. (2002) verificaram o comportamento das exportações paranaenses e a
competitividade do complexo agroindustrial nos períodos de 1989/1992 a 1993/1996. O
estudo mostrou que no primeiro período 1/3 do crescimento nas exportações é atribuído ao
efeito tamanho de mercado e 2/3 ao efeito competitividade. A análise do segundo período
indicou que o efeito tamanho do mercado inibiu o crescimento das exportações, enquanto os
outros efeitos foram capazes de compensá-las e alavancá-las. O efeito competitividade foi a
principal fonte de crescimento das exportações paranaenses, contribuindo para a
diversificação dos produtos comercializados.
Almeida (2003) usou o CMS para analisar o comportamento das exportações da
soja em grão dos três principais exportadores: Brasil, Estados Unidos e Argentina. A análise
para os períodos de 1989-1994 e 1995-2000 mostrou que o efeito tamanho de mercado
indicou um crescimento do mercado mundial de soja em grão favorável às exportações dos
três países analisados. O efeito distribuição negativo (-19,96%) para o Brasil pode ser
atribuído à alta concentração das exportações brasileiras de soja em grão para a União
Européia em relação aos demais mercados importadores. Para os Estados Unidos, esse efeito
foi positivo, provavelmente pela expansão das exportações de soja em grão para os países do
Leste Asiático e demais países, que apresentaram médias de crescimento das importações
39
maiores do que as médias mundiais. No caso da Argentina, o efeito distribuição foi
moderadamente negativo. O efeito competitividade indicou que o Brasil ampliou sua
participação no mercado mundial devido ao incremento de produtividade da soja brasileira.
Os Estados Unidos e a Argentina não conseguiram manter sua parcela de mercado,
possivelmente, pelo aumento de produtividade dos seus concorrentes diretos.
40
3 O MERCADO INTERNACIONAL DE CARNE BOVINA
O mercado mundial de carne bovina é caracterizado, em grande parte, por
diferenças na base de recursos dos países, preferência dos consumidores e barreiras ao
comércio. O seu crescimento depende da liberalização de barreiras protecionistas, erradicação
das enfermidades que afetam o rebanho, desenvolvimento econômico e crescimento da
população mundial (DYCK; NELSON, 2003).
Este mercado é um dos mais afetados por barreiras sanitárias. De acordo com
Galli et al. (2005) a ocorrência de diversos casos de doenças em rebanhos tem agido como
verdadeiros choques sobre o mercado mundial de carne bovina. A mudança no status sanitário
nos principais exportadores redefiniu posições no mercado internacional com realocação do
market share entre países.
Com o objetivo de analisar o comportamento do mercado internacional de carne
bovina são considerados, neste capítulo, os aspectos relacionados às exportações,
importações, produção, consumo e preços, no período de 1990 a 2004, os quais são
importantes para a compreensão da dinâmica deste mercado.
3.1 PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA
A produção mundial de carne bovina no ano de 2004 foi em torno de 59 milhões
de toneladas, conforme estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA) e está concentrada em cinco grandes centros - Estados Unidos, União Européia,
Brasil, China e Argentina – que participam com cerca de 70% da oferta global. Os Estados
Unidos são o maior produtor mundial, enquanto o Brasil e a China ocupam, respectivamente,
a segunda e a terceira posição.
41
Na década de 90, a pecuária mundial foi influenciada por mudanças na estrutura
produtiva e nas políticas agrícolas e, também, pela ocorrência de enfermidades no rebanho.
As inovações tecnológicas e a reestruturação produtiva contribuíram para o crescimento da
produção de carne bovina nos países em desenvolvimento.
1
O Gráfico 4 mostra a evolução da
oferta global no período 1990-2004. A queda da produção mundial de carne nos anos iniciais
da série pode ser atribuída às transformações na pecuária em vários países. O aumento do
abate de matrizes em muitos dos principais países produtores em função dos preços altos no
mercado internacional e dos problemas climáticos elevou a oferta nos outros anos. A
ocorrência de doenças no rebanho como a Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE, na sigla
em inglês), conhecida como “mal da vaca louca”, em países europeus nos anos de 1996 e
2001 também contribuiu para reduzir o volume de carne bovina produzida no mundo.
-10,00
-5,00
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
%
Gráfico 4 – Variação percentual da produção mundial de carne bovina.
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004); cálculos da autora.
O Gráfico 5 apresenta as taxas médias de crescimento anual da produção de carne
bovina dos principais produtores no período 1990-2004. A China apresentou um aumento
significativo de 12,7% ao ano no volume de carne produzido, impulsionado pelo crescimento
da demanda interna em função da elevação da renda e da rápida urbanização.
2
A produção do
Brasil cresceu em média 3,4% ao ano no referido período. O aumento da oferta tem
possibilitado abastecer o mercado doméstico, reduzindo a dependência das importações para
1
INTERGOVERNMENTAL GROUP ON MEAT AND DAIRY PRODUCTS. Medium term projects for
meat and dairy products to 2010. Disponível em:<http.www.fao.org>. Acesso em: maio 2004.
2
WORLD beef & cattle trade: evolving e expanding. Economic Research Service, Agricultural Outlook, Dec.
1997. Disponível em: <www.usda.gov.br>. Acesso em: maio 2004.
42
complementar o abastecimento interno, bem como gerar excedentes exportáveis. Esse
crescimento se deve a fatores
3
como investimentos em novas tecnologias da genética,
sanidade, manejo, gerenciamento e nutrição.
-10,00
-5,00
0,00
5,00
10,00
15,00
Argentina Austrália Brasil Canadá China Estados
Unidos
xico Rússia Uno
Européia
Uruguai Outros
Países
Total
%
Gráfico 5: Crescimento médio anual da produção de carne bovina por país.
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004); cálculos da autora.
A produção de carne bovina nos Estados Unidos e na Austrália cresceu em média
0,5% e 1,4% ao ano, respectivamente. O crescimento poderia ter sido maior não fosse o
declínio do rebanho desses países em função das condições climáticas desfavoráveis à
atividade pecuária e da liquidação de matrizes, que contribuíram para reduzir o estoque de
bovinos. Na Argentina, a produção cresceu em média 1% ao ano e pode ter sido estimulada
após a declaração como área livre de aftosa. Em 2004, o volume produzido aumentou
excepcionalmente devido à elevação do abate de matrizes em virtude da seca.
Na Rússia, o volume de carne produzido caiu em média 6,9% ao ano no período
1990-2004. A reestruturação econômica reduziu a produção ao longo dos anos 90. Além
disso, a elevação da taxa de abate para atender ao aumento da demanda doméstica vem
prejudicando a recomposição do estoque de bovinos. Com relação à União Européia, a
reforma na Política Comum Agrícola na década de 90 e a ocorrência de BSE contribuíram
para diminuir a produção de carne.
3
SABELLA, J. Boi verde ‘made in Brasil’. Agroanalysis, Rio de Janeiro, v. 24, n. 11, p. 28-29, nov. 2004.
43
Para Peetz (2002), dentre os fatores que têm contribuído para o desempenho da
produção mundial de carne bovina pode-se citar os econômicos e demográficos, os sociais e
aqueles relacionados ao marketing do produto. Os fatores econômicos e demográficos, como
o crescimento da população, a renda per capita e os preços relativos entre a carne bovina e as
carnes substitutas, afetam tanto a demanda individual quanto a demanda da indústria. Os
fatores sociais estão relacionados à reputação da qualidade da carne e às questões sanitárias
do produto e processo de produção. O último conjunto de fatores engloba as condições de
marketing e distribuição no varejo e nas cadeias de alimentação.
Dyck e Nelson (2003) afirmam que o uso eficiente de recursos por animal na
produção e no processamento pode explicar, em parte, o comércio mundial de carne. Regiões
exportadoras como a Oceania (Austrália e Nova Zelândia) e a América do Sul (Brasil e
Argentina) utilizam os recursos naturais abundantes na produção e exportação de carne.
Estados Unidos, Canadá e Rússia possuem terras boas para pastagem e uma grande produção
de grãos. A União Européia, por outro lado, não possui grandes áreas de pastagens, mas
produz grãos em abundância.
O tipo de alimentação do rebanho é um fator importante para a produção de carne.
Conforme Santana (2002), a oferta de carne pode ser classificada em dois grandes grupos, de
acordo com a forma de alimentação do rebanho bovino: a carne originária de animais
alimentados com ração produzida a partir de grãos e a originária de animais alimentados à
base de pasto em sistemas de crias extensivos (pastagens nativas e cultivadas). A produção de
carne à base de grãos é verificada nos Estados Unidos e União Européia e a produção à base
de pastagens ocorre no Brasil, Argentina e Austrália.
Segundo Santana (2002), os animais criados sob regime de confinamento são
alimentados à base de ração e sua carne apresenta maior percentual de gordura entremeada,
muito empregada na indústria de sanduíches. Os animais alimentados à base de pastagens
44
apresentam uma carne com menos gordura entremeada em função do exercício que fazem à
procura de alimento, o que torna a carne mais sadia e de sabor forte e característico.
O Gráfico 6 mostra a evolução do rebanho bovino da Argentina, Austrália, Brasil,
China e Estados Unidos no período de 1990 a 2004. O Brasil possui o maior rebanho do
planeta, em termos comerciais, com cerca de 171 milhões de cabeças em 2004. O crescimento
do efetivo de bovinos de 1996 a 2003 foi sustentado por um ciclo de alta na pecuária em
virtude da retenção de bezerros durante esses sete anos e da explosão das exportações.
4
Todavia, o rebanho reduziu em 6 milhões de cabeças em 2004 devido ao aumento do abate de
matrizes em função da desvalorização do preço dos bezerros, que diminuiu a rentabilidade da
cria frente a outras atividades.
5
0
40.000
80.000
120.000
160.000
200.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano
de Cabeças (Mil)
Brasil
Estados Unidos
Argentina
Austrália
China
Gráfico 6: Rebanhos mundiais de gado bovino.
Fonte: Anuário da Pecuária Brasileira (2000, 2005).
A seca enfrentada pela Austrália e pelos Estados Unidos a partir de 2002
contribuiu para a redução de seus rebanhos. Nos Estados Unidos, a seca atingiu praticamente
toda a metade oeste do país e afetou cerca de 40% do rebanho de vacas de corte
(MUSTEFAGA, 2003). Na Argentina, as políticas agrícolas priorizaram o setor de cereais e
oleaginosas, de forma que não houve aumento do efetivo de bovinos.
4
NEHMI FILHO, V. C. Para onde caminha a pecuária brasileira. Anualpec, São Paulo, p. 14-23, 2005.
5
Ibid.
45
“O cenário é favorável ao Brasil, porque seus principais concorrentes não têm
como elevar sua produção, seja por causa do sistema de produção, dependente de
suplementação alimentar, ou por falta de espaço físico para expansão de sua área de
pastagens” (FERRAZ; LOPES, 2003, p. 42).
A pecuária de corte é uma atividade de destaque na economia nacional, que gera
cerca de 360 mil empregos diretos e um milhão ao longo da cadeia produtiva. Está presente
em 75% das unidades agrícolas brasileiras. A produção em média se estende por três anos,
sendo, portanto, fundamental na formação do patrimônio das empresas agrícolas. Além disso,
é um componente essencial do fluxo de caixa das propriedades, criando a liquidez para
viabilizar outras atividades (ZEN, 2005).
Os fatores tradicionais como disponibilidade de terras a preços baixos
6
e de
pastagens para alimentação do gado
7
permitiram expandir o rebanho para atender à demanda
mundial crescente pelo produto brasileiro. Porém, mais importante que estes fatores foram os
investimentos em tecnologia que permitiram melhorar os índices da pecuária de corte,
conforme mostra o Quadro 1.
Quadro 1 – Evolução dos índices da pecuária de corte do Brasil
Índices 1994 2004 Variações %
Natalidade % 50 60 20
Mortalidade até a desmama % 10 8 -20
Idade da primeira cria – anos 5 4 -20
Abates – anos 5 3,5 -30
Lotação – UA/ha 0,5 0,7 40
Desfrute % 16,5 21 27
Fonte: Scot Consultoria apud Torres Júnior et al. (2005, p.41).
6
De acordo com Gasques e Bastos (2005) o preço das terras brasileiras corresponde a 29% do preço médio nos
Estados Unidos.
No Brasil, o preço médio do hectare em terras de pastagens em 2003 foi de US$ 567, enquanto
nos Estados Unidos foi de US$ 1,495. Os preços das terras de lavoura e de pastagens no Brasil subiram cerca de
53% em dólares no período 1999 a 2003, enquanto nos Estados Unidos subiram 18%.
7
Segundo Sabella (2004), 97,5% da produção de bovinos no Brasil é feita a pasto, de forma que o boi produzido
é o de capim ou boi verde.
46
A pecuária de corte sofreu profundas transformações com o Plano Real, uma vez
que a estabilização da moeda possibilitou aos criadores medir melhor seus custos reais e sua
margem de lucro (LOPES, 2004). Isso permitiu aprimorar o planejamento do abate para
manter a oferta contínua de carne no mercado, reduzindo os efeitos da sazonalidade. A
expansão do rebanho e os ganhos de produtividade e de eficiência têm permitido que os
frigoríficos atendam ao aumento de pedidos dos países importadores, colaborando, dessa
forma, para a expansão das exportações de carne bovina. O crescimento das vendas de carne
para o exterior exigiu que os frigoríficos se modernizassem, tendo em vista os rígidos padrões
internacionais de controle de qualidade.
3.2 EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE CARNE BOVINA
As exportações mundiais de carne bovina cresceram em média 1% no período
1990-2004 e evoluíram de 5,6 milhões de toneladas em 1990 para 6,6 milhões de toneladas
em 2004, de acordo com estimativas do USDA. O volume exportado pelos principais países
exportadores cresceu a taxas mais elevadas do que a taxa de crescimento médio mundial,
exceto a União Européia e os Estados Unidos os quais apresentaram taxas negativas de -
10,56% e -5,42% ao ano, respectivamente, no referido período.
Destacaram-se, em 1990, como maiores exportadores, Austrália, Estados Unidos,
Argentina, Nova Zelândia e União Européia. No final da década de 90 e início da década
atual, observou-se uma mudança nesse mercado, quando se teve a redefinição de posições
entre os países exportadores. O Brasil, que até 1997 ocupava a 6ª posição, atrás da Argentina,
tornou-se o terceiro maior exportador mundial em 2001, após os Estados Unidos e Austrália, e
47
assumiu a liderança no mercado internacional em 2004
8
. Em 2001, a Argentina apresentou o
nível mais baixo de suas exportações como conseqüência da existência de casos da febre
aftosa, que contribuiu para redução do volume exportado em cerca de 50%.
A Tabela 1 mostra o volume de carne bovina exportado no período 1990-2004. As
exportações do Brasil cresceram em média 14,35% ao ano neste período. No subperíodo
1990-1994 foram exportadas 1,7 milhões de toneladas com receita de US$ 2,5 milhões. No
subperíodo 2000-2004, o país exportou 4,9 milhões de toneladas com receita de US$ 6,8
milhões. A previsão do USDA é que o país exporte 1,9 milhão de toneladas em 2005.
Tabela 1 – Exportações mundiais de carne bovina em milhares de toneladas e
taxa geométrica média de crescimento anual - 1990-2004
País / Região 1990-1994 1995-1999 2000-2004 TC
Argentina 1.789 2.151 1.877 2,26
Austrália 5.644 5.857 6.762 1,95
Brasil 1.714 1.454 4.924 14,35
Canadá 828 1.864 2.650 12,31
Estados Unidos 2.905 4.725 4.610 -5,42
Nova Zelândia 2.127 2.518 2.710 3,81
União Européia 2.448 5.166 2.491 -10,56
Uruguai 668 999 1.360 5,38
Outros 9.844 4.304 5.979 -8,32
Total 27.967 29.038 33.363
1,10
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004).
As exportações dos Estados Unidos apresentaram uma taxa de crescimento
negativa em virtude da descoberta de um caso da doença da vaca louca em dezembro de 2003,
que caíram em torno de um milhão de toneladas em 2004. A previsão do USDA para 2005 é
que sejam exportadas 290 mil toneladas em 2005, volume 75% inferior ao que foi exportado
em 2003. As vendas da União Européia decresceram em virtude da redução do rebanho
bovino e da ocorrência de BSE, de modo que apresentou uma taxa negativa de crescimento de
-10,56% ao ano.
8
Embora tenha sido amplamente noticiado que o Brasil tornou-se o maior exportador de carne bovina em termos
de volume em 2003, as informações do USDA mostram que o país foi o segundo, o que demonstra uma
divergência nas fontes de dados absolutos.
48
Com relação aos demais exportadores, a previsão para 2005 é que a Austrália
eleve suas exportações para 1,4 milhão de toneladas, a Argentina para 700 mil toneladas, o
Canadá para 625 mil e o Uruguai para 440 mil toneladas. A estimativa para a Nova Zelândia é
de queda nas exportações em função do aumento do abate de matrizes em 2004 para atender a
elevação da demanda externa devido ao embargo à carne americana.
O Gráfico 7 mostra o valor das exportações mundiais de carne bovina. Os Estados
Unidos se destacaram como principal exportador em termos de valor com receita de US$ 2,3
bilhões em 1994 e US$ 3,2 bilhões em 2003, contudo a queda abrupta de suas vendas em
2004 devido ao problema da vaca louca trouxe perdas para o país. A Austrália é o segundo em
valor das exportações, que renderam US$ 2,2 bilhões de dólares em 1994 e US$ 2,4 bilhões
em 2003. Em 2004, as exportações geraram receita em torno de US$ 3,5 bilhões para o país.
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Ano
US$
Argentina Austlia Brasil Canadá
Estados Unidos Nova Zendia União Européia
Gráfico 7 – Exportações mundiais de carne bovina em milhões de dólares.
Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (1990-2003).
Nota: os dados estão disponíveis até 2003.
As vendas de carne bovina geraram para o Brasil receita da ordem de US$ 578
milhões em 1994, US$ 1,5 bilhão em 2003 e US$ 2,4 bilhões em 2004. O país vem
conseguindo aumentar a receita de exportações em função do grande aumento do volume
exportado, no entanto os preços do produto brasileiro são inferiores aos praticados pelos
Estados Unidos e pela Austrália devido ao problema da aftosa no país. No caso da União
49
Européia, observa-se que o valor das exportações acompanhou a queda do volume exportado
devido aos fatores apontados anteriormente.
O enorme crescimento das exportações de carne bovina in natura (fresca,
refrigerada e congelada) contribuiu para que o Brasil assumisse a liderança no mercado
internacional de carne. Esse crescimento se deve à conquista de novos mercados
consumidores e ao aumento do volume exportado para os países com os quais o Brasil já
comercializava.
As exportações brasileiras de carne bovina fresca ou refrigerada têm como
principais destinos Alemanha, Chile, Espanha, Filipinas, Holanda e Reino Unido. No Gráfico
8, observa-se que a participação desses países no volume exportado em 2000 foi a seguinte:
Chile (38%), Holanda (15%), Reino Unido (9%), Alemanha (9%) e a Espanha (7%). Juntos
esses países compraram 88% da carne fresca ou refrigerada comercializada pelo Brasil no
mercado internacional, enquanto os demais países demandaram 22% do volume exportado.
2000
15%
38%
22%
7%
9%
9%
Holanda
Chile
Outros
Espanha
A
lemanha
Reino
Unido
2004
5%
19%
2%
6%
9%
47%
12%
Chile
Holanda
Reino
Unido
A
lemanha
Filipinas
Espanha
Outros
Gráfico 8: Principais destinos das exportações de carne bovina fresca ou refrigerada.
Fonte: Anuário da Pecuária Brasileira (2003); Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (2004).
Em 2004, a participação do Chile aumentou para 47% nas vendas brasileiras de
carne bovina fresca ou refrigerada. A ocorrência de casos da febre aftosa na Argentina, em
2001, levou o país a perder significativa parcela no mercado mundial. A garantia de sanidade
do rebanho contribuiu para que o Brasil ampliasse as exportações de carne in natura para o
50
Chile, país tradicionalmente atendido pela Argentina. Também foram conquistadas parcelas
de mercado do Paraguai e do Uruguai, de modo que 80% da carne importada pelo Chile, em
2004, era de origem brasileira, de acordo com as informações das Nações Unidas.
As Filipinas participaram com 19% no volume exportado, de forma que o país foi
o segundo maior mercado de destino da carne bovina fresca em 2004. Ao concentrar suas
exportações nos três maiores mercados – Estados Unidos, Coréia do Sul e Japão – a Austrália
reduziu as vendas para mercados secundários, o que abriu uma oportunidade de negócios para
o Brasil. A participação da Holanda no volume total exportado caiu para 12%, da Alemanha
para 6% e da Espanha para 2%, apesar do Brasil ter ampliado suas vendas de carne bovina
para estes países. Por outro lado, a participação do Reino Unido permaneceu em 9%.
Os principais destinos das exportações brasileiras de carne congelada são Arábia
Saudita, Egito, Itália, Israel, Reino Unido e Rússia. O Gráfico 9 mostra a participação relativa
desses mercados nas vendas de carne do Brasil. Em 2000, observa-se que a Itália foi o maior
importador da carne bovina congelada, demandando 14% do volume comercializado, seguida
pelo Reino Unido (10%), Israel (9%), Egito (2%) e Arábia Saudita (2%). Juntos os principais
importadores demandaram 37% das exportações brasileiras de carne bovina congelada,
enquanto a demanda dos demais países correspondeu a 63%.
2000
14%
2%
2%
63%
10%
9%
Outros
Itália
Israel
Reino
Unido
A
rábia SauditaEgit o
2004
3%
3%
5%
5%
48%
15%
21%
Rússia
Outros
Egito
A
rábia
Saudita
Itália
Israel
Reino
Unido
Gráfico 9: Principais destinos das exportações brasileiras de carne bovina congelada.
Fonte: Anuário da Pecuária Brasileira (2003); Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (2004).
51
Não há registro de exportações para a Rússia em 2000, uma vez que o Brasil só
passou a vender carne bovina para este país a partir de 2001, tendo conquistado um mercado
tradicionalmente atendido pela União Européia. Em 2004, a participação deste país no volume
exportado foi de 21%, constituindo-se no principal importador do produto in natura. O Brasil
também conquistou os mercados do Irã, típico importador da União Européia, e da Argélia,
que passou a ser suprido pela carne brasileira a partir de 2003.
O Brasil ampliou de modo significativo suas exportações para o Egito, mercado
suprido pela Argentina, que teve uma participação de 15%. O país, também, expandiu suas
vendas para a Arábia Saudita, Itália, Israel e Reino Unido embora a participação relativa no
total das exportações brasileiras de alguns desses países tenha caído. Os demais países
importadores tiveram a sua participação reduzida para 48%.
As exportações de carne bovina industrializada têm como principais destinos os
Estados Unidos e o Reino Unido. O Gráfico 10 mostra uma concentração das exportações
para esses países, que juntos participaram em 85% do volume exportado pelo Brasil em 2000
com receita de US$ 171,8 milhões. Em 2004, o percentual de participação dos Estados Unidos
e do Reino Unido caiu para 67% do volume exportado, embora o Brasil tenha elevado suas
vendas para esses países, tendo gerado receita de US$ 240,4 milhões. Os demais países
tiveram sua participação ampliada para 33%.
2000
48%
37%
15%
Reino
Unido
Estados
Unidos
Outros
2004
35%
32%
33%
Estados
Unidos
Outros
Reino
Unido
Gráfico 10: Principais destinos das exportações brasileiras de carne bovina industrializada.
Fonte: Anuário da Pecuária Brasileira (2003, 2005).
52
O tipo de carne industrializada exportada pelo Brasil é o corned beef (carne
enlatada), típico de exportação, não havendo mercado interno para este produto.
9
Os Estados
Unidos importam carne de animais alimentados a pasto para produção de hambúrgueres na
sua grande cadeia de fast food.
O Gráfico 11 mostra o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina.
Até 1999 a carne industrializada representava o maior peso nas vendas, sendo que a carne in
natura passou a predominar a partir de 2001. As exportações de carne in natura duplicaram
em 2001 em relação a 2000 e apresentaram um incremento de 17% em 2002, 44% em 2003 e
49% em 2004. O enorme crescimento das exportações de carne in natura foi favorecido,
dentre outros fatores, pelos baixos preços do produto no mercado internacional e pela garantia
de sanidade do rebanho brasileiro.
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
1.800.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano
Toneladas
Total Carne in natura Carne industrializada
Gráfico 11: Exportações brasileiras de carne bovina em equivalente-carcaça.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (1990-1992); Anuário da Pecuária Brasileira (1998-
2005).
O mercado mundial de carne está dividido em zonas livres de aftosa e zonas não-
livres. Segundo Dyck e Nelson (2003), esta distinção define o comércio mundial em carne
fresca, refrigerada ou congelada. A zona livre de aftosa é liderada pelos Estados Unidos,
9
MIRANDA, S. H. G. de; MOTTA, M. A. S. B. Exportação de carne bovina brasileira: evolução por tipo e
destino. Disponível em:<http://www.cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: jan. 2005.
53
Canadá, Austrália e Nova Zelândia, sendo que muito do comércio de carne não processada
acontece entre esses países. A ocorrência da febre aftosa limita as oportunidades de negócios
para as regiões consideradas como zonas não-livres, pois muitos países não compram carne in
natura dessas regiões, que é o caso dos Estados Unidos, do Japão e da Coréia do Sul.
No Brasil, os esforços empreendidos pelo governo no combate à febre aftosa, por
meio de uma ampla campanha de vacinação na década de 1990, foi fundamental para que o
país fosse considerado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como área livre de
aftosa com vacinação nos circuitos pecuários sul, leste e centro-oeste. Desta forma, o país
pôde ampliar suas oportunidades de vendas de carne bovina in natura para os mercados
consumidores estrangeiros. Estima-se que mais de 166 milhões de cabeças de bovinos estejam
situadas nas zonas livres de febre aftosa no país.
A desvalorização cambial de 1999 contribuiu para induzir o aumento das
exportações brasileiras de carne bovina ao reduzir o preço do produto em dólares e torná-lo
mais competitivo no mercado internacional.
10
Cabe destacar que a desvalorização da taxa de
câmbio não atuou de forma isolada para impulsionar as vendas, há outros fatores a serem
considerados como as doenças dos rebanhos de outros países exportadores, o crescimento da
demanda mundial e os avanços tecnológicos na pecuária de corte nacional.
O cenário favorável às exportações brasileiras de carne bovina tem feito o país
adotar medidas com vistas a aumentar sua participação no mercado mundial, como a
implementação do sistema de rastreabilidade. Esse sistema é uma ferramenta que permite
controlar produção, reprodução, nutrição, pastagens, sanidade e potencial genético do
rebanho, além de possibilitar avaliar com maior eficiência o ganho de peso, fertilidade,
acabamento de carcaça e desfrute.
10
O estudo de Margarido (2001) mostra que a desvalorização do câmbio de 1999 não trouxe um crescimento
acelerado das exportações como era esperado. O autor alerta que a questão cambial não deve ser vista
isoladamente, mas que seja analisada a conjuntura internacional, isto é, verificar se os principais países
demandantes de commodities estão num ciclo de crescimento econômico.
54
Como meio de estimular as exportações brasileiras de carne bovina foram criadas
ações de marketing e promoção nos mercados de destino. Dentre essas ações destaca-se o
lançamento do selo Brazilian Beef, com o qual se espera que o consumidor estrangeiro
identifique e reconheça a carne brasileira pelas suas qualidades: gado alimentado a pasto,
segurança alimentar e sanidade.
O comércio internacional de carne é limitado por barreiras sanitárias e
protecionistas (tarifas, quotas, subsídios aos produtores e políticas de suporte aos preços
domésticos). Os Estados Unidos possuem uma cota global de importação para a carne bovina
em torno de 700 mil toneladas, distribuída da seguinte forma: Austrália e Nova Zelândia têm
cotas de aproximadamente 380 e 210 mil toneladas, respectivamente; Uruguai e Argentina
têm cotas de 20 mil toneladas e os outros países têm cotas de 65 mil toneladas. O mercado
europeu também estabeleceu uma cota de importação denominada de Hilton, que envolve
cortes selecionados com altos preços e, em geral, uma tonelada dessas carnes equivale a
várias toneladas das partes de qualidade inferior. A cota da Argentina é de 28 mil toneladas
enquanto a do Brasil é de 5 mil toneladas. A União Européia determina também outra cota
para carnes transformadas (cota GATT), cujo volume varia conforme as necessidades dos
países que compõem a União Européia. Com relação ao mercado asiático, principalmente no
Japão, as restrições são as rigorosas barreiras sanitárias aliadas às tarifas de importação.
11
11
ESTUDO... (2000).
55
3.3 IMPORTAÇÕES MUNDIAIS DE CARNE BOVINA
Os Estados Unidos são o maior importador de carne bovina, seguido pelo Japão,
Rússia, Coréia do Sul, Canadá e México. Alguns desses países são grandes produtores e
exportadores de carne; outros não são auto-suficientes para atender à demanda interna.
Segundo Dyck e Nelson (2003), os países do Leste Asiático são grandes importadores de
carne, uma vez que a densidade demográfica e a limitação de terras disponíveis para
agricultura, devido a fatores geográficos, tornam o custo de produção de alimentos
relativamente mais elevado.
A Tabela 2 mostra as importações mundiais de carne bovina em toneladas.
Observa-se que os Estados Unidos são o maior importador, tendo comprado 5,4 milhões de
toneladas no período 1990-1994; 5,5 milhões de toneladas no período 1995-1999 e 7,3 de
milhões de toneladas no período 2000-2004. As importações do Japão, segundo maior
importador, foram 3,2 milhões de toneladas no período 1990-1994; 4 milhões de toneladas no
período 1995-1999 e 4,2 milhões de toneladas no período 2000-2004. As importações da
Rússia, terceiro maior importador, foram 3,5 milhões de toneladas no período 1990-1994; 4,8
milhões de toneladas no período 1995-1999 e 3,2 milhões de toneladas no período 2000-2004.
Tabela 2 – Importações mundiais de carne bovina em toneladas (1000) – 1990-2004
País/Região 1990-1994 1995-1999 2000-2004
Canadá 1.165 1.203 1.256
Coréia do Sul 773 1.043 1.662
Estados Unidos 5.431 5.459 7.302
Japão 3.214 4.805 4.208
México 613 1.031 1.992
Rússia 3.572 4.089 3.232
União Européia 1.031 2.147 2.491
Outros 5.630 4.379 5.371
Total 21.429 24.156 27.514
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004).
O Japão e a Coréia importam carne, principalmente, dos Estados Unidos e da
Austrália. As indústrias do Canadá e dos Estados Unidos importam carne da Austrália para
56
processamento. A União Européia
12
é um grande importador, e significativa parcela das
importações de carne ocorre entre os países pertencentes a esse bloco. Este é o caso, também,
dos países integrantes do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e do
Mercado do Cone Sul (Mercosul). Os acordos entre países, ao mesmo tempo em que
contribuem para a criação de um espaço multinacional com normas comuns, aumentam o
tamanho do mercado.
No Japão, a ocorrência de diversos casos de vacas infectadas por BSE em 2001
reduziu em 60% o consumo de carne (LEUCK; HALEY; HARVEY, 2004). Isto refletiu até
mesmo nas importações de carne originária dos Estados Unidos, apesar de este país
permanecer livre da doença até dezembro de 2003. As importações do Japão se recuperaram
em meados de 2002, mas foram suspensas em 2004 após o anúncio de um caso de BSE no
final de 2003 nos Estados Unidos. De acordo com Mustefaga (2004), a previsão para 2004 era
de que o Japão reduzisse suas importações para 520 mil toneladas e a Coréia do Sul para 200
mil toneladas em função do embargo à carne americana.
Os dados preliminares do USDA mostram que as importações dos Estados Unidos
subiram 22% em 2004.
13
Com o estoque de bovinos em níveis baixos o país aumentou as
compras de carne do Canadá e Uruguai para atender à demanda doméstica robusta. Na Rússia,
a redução do rebanho, após anos de liquidação, também levou ao aumento das importações. A
perspectiva de decréscimo da produção de carne na União Européia sinaliza para o
incremento das importações, especialmente dos países do Mercosul.
14
O crescimento das importações mundiais nos próximos anos poderá ser
restringido pela capacidade de expansão da oferta dos principais exportadores em função da
12
De acordo com Leuck, Haley e Harvey (2004), a União Européia não é um grande mercado para a carne
americana, devido à proibição da carne produzida com hormônios naquela região, uma prática comum nos
Estados Unidos, e, também, porque o sistema de taxas variáveis reduz a competitividade das importações de
carne adicionando uma taxa substancial aos preços.
13
WORLD beef overview. Disponível em: <http://www.fas.usda.gov>. Acesso em: maio 2005.
14
Ibid.
57
existência de áreas disponíveis para criação do rebanho, de fatores climáticos e da ocorrência
de enfermidades.
O Gráfico 12 mostra o valor das importações mundiais de carne bovina. Os
Estados Unidos também são o maior importador em termos de valor, sendo que suas compras
de carne alcançaram US$ 2,7 bilhões em 2003. O Japão é o segundo importador em valor com
compras da ordem de US$ 2 bilhões nesse ano. A União Européia é um importador líquido de
carne, tendo importado em torno US$ 7 bilhões em 2003.
0
2.000.000
4.000.000
6.000.000
8.000.000
10.000.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Ano
US$
Coréia do Sul Estados Unidos Japão xico Rússia União Européia
Gráfico 12: Importação mundial de carne bovina em dólares.
Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (1990-2003).
Nota: os dados estão disponíveis até 2003.
Os países desenvolvidos importam, principalmente, carne industrializada e carnes
de cortes nobres (filé mignon, contrafilé, picanha, maminha, etc.), enquanto os países em
desenvolvimento, por serem mais sensíveis aos preços do produto, importam mais a carne in
natura. Cabe destacar que o Brasil é importador eventual de carne bovina, sendo a demanda
interna atendida em quase sua totalidade pela produção doméstica. O país complementa o
abastecimento interno importando carne da Argentina e do Uruguai - países integrantes do
Mercosul.
58
3.4 CONSUMO MUNDIAL DE CARNE BOVINA
O consumo mundial de carne bovina evoluiu de 49 milhões de toneladas em 1990
para 57,5 milhões em 2004, representando um incremento de 17% e tem se mantido
relativamente estável nos últimos anos, apesar do declínio da demanda dos países europeus
devido aos escândalos envolvendo o uso de hormônios de crescimento e antibióticos, maus-
tratos no transporte e abate de bovinos, crise da vaca louca e contaminação das rações por
dioxina. A relativa estabilidade do comportamento do consumo mundial pode ser atribuída ao
contínuo aumento da demanda dos países em crescimento, o que compensa o declínio da
procura dos países desenvolvidos.
A Tabela 3, em anexo, apresenta os maiores mercados consumidores de carne
bovina no mundo, com destaque para os Estados Unidos, cujo consumo total foi de 12,6
milhões de toneladas no ano de 2004. Destacam-se, também, o Brasil, China, Argentina,
Rússia e México, todos com consumo acima de 2 milhões de toneladas/ano. Outro mercado
importante é o da União Européia, que consumiu 8,3 milhões de toneladas/ano. Juntos os
maiores consumidores responderam por 77% da demanda mundial de carne bovina em 2004
contra 59% em 1990.
Os dados da apresentados na Tabela 3, em anexo, demonstram que há, em termos
mundiais, cinco grandes mercados consumidores a serem explorados pela carne brasileira.
Além do mercado interno, são relevantes o americano, o Mercado Comum Europeu, a China e
a Rússia. A China constitui-se num mercado de grande potencial, tendo em vista suas
elevadas taxas de crescimento econômico e o crescimento de sua população. Com relação aos
demais mercados, a maior penetração da carne brasileira, ainda, é limitada por barreiras
sanitárias e tarifas de importação.
Peetz (2002) afirma que o crescimento no consumo de carne bovina tem sido
inexpressivo na América do Norte, Oceania, Austrália e Nova Zelândia, devido a mudanças
59
nos hábitos alimentares da população e às tendências de substituição do consumo de carnes
vermelhas por proteínas animais alternativas mais baratas, carnes suínas e de aves. Ainda
segundo a autora, há na América Latina uma tendência à redução no consumo, na Argentina e
Uruguai, em função dos altos preços relativos da carne bovina, do pequeno crescimento do
poder aquisitivo da população e da preocupação com a segurança alimentar.
A tendência é que o consumo mundial de carne bovina permaneça forte, porém
seu crescimento pode ser limitado pelo déficit no abastecimento nos mercados consumidores
do Japão, Coréia do Sul e outros mercados da Ásia, devido ao embargo da carne americana
nesses países.
A Tabela 4, em anexo, mostra que o consumo per capita mundial de carne bovina
vem apresentando um relativo decréscimo. O consumo per capita da Argentina e do Uruguai
é bastante elevado em relação aos demais países. Os Estados Unidos é o terceiro maior
consumidor, enquanto o Brasil e a Austrália ocupam praticamente a mesma posição.
O aumento no consumo per capita do Brasil nos anos de 1995 e 1996
provavelmente foi um reflexo da elevação do poder aquisitivo da população proporcionado
pelo Plano Real. Passada a euforia, voltou ao nível anterior ao Plano. O consumo per capita
em 2004 foi de 38 Kg e a previsão do Anualpec para 2005 é que seja 35 Kg.
60
3.5 PREÇOS INTERNACIONAIS DA CARNE BOVINA
Os preços mundiais da carne bovina foram obtidos por meio da relação entre o
valor das exportações e a quantidade exportada, tendo por base os dados da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Os preços médios, expressos em
valor Free on Board (FOB), são apresentados no Gráfico 13. Observa-se que há uma
tendência ao declínio dos preços americanos. Em 1990, a tonelada exportada pelos Estados
Unidos custava US$ 3,674, sendo de US$ 2,903 em 2003. Os preços das exportações da
Austrália e da Nova Zelândia também apresentam tendência declinante, sendo que a tonelada
em ambos foi inferior a US$ 2,000. Os preços das exportações canadenses apresentaram uma
tendência à alta a partir de 1996, atingindo um nível de US$ 2,655 a tonelada.
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
3,000
3,500
4,000
1
9
9
0
1
9
9
1
1
9
9
2
1
9
9
3
1
9
9
4
1
9
9
5
1
9
9
6
1
9
9
7
1
9
9
8
1
9
9
9
2
0
0
0
2
0
0
1
2
0
0
2
2
0
0
3
Ano
US$/T
Argentina
Austrália
Brasil
Canadá
Estados Unidos
Nova Zelândia
Uruguai
Gráfico 13: Preços das exportações mundiais de carne bovina.
Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations; cálculos da autora.
Os países totalmente livres de febre aftosa e sem vacinação, como Austrália,
Estados Unidos e Canadá, obtém preços mais elevados no mercado internacional devido à
preferência dos grandes importadores por carne desses países. No caso do Brasil, esta
limitação contribui para que o preço pago pela carne bovina seja menor do que o alcançado
por países isentos de aftosa e sem vacinação.
61
Em 1998, o preço das exportações argentinas, eventualmente, esteve acima dos
praticados no mercado mundial, sendo US$ 2,781 a tonelada, porém voltou a cair já no ano
seguinte, atingindo o seu nível mais baixo em 2002, US$ 1,601. O preço das exportações
uruguaias foi de US$ 1,496 a tonelada em 2003, bem inferior aos US$ 2,089 de 1995. No caso
do Brasil, nota-se que, desde 1999, o preço da carne da bovina vinha caindo, contudo o país
conseguiu manter o crescimento das exportações do produto.
Observa-se, a partir de 2003, uma tendência à alta dos preços da carne no mercado
internacional. Esse aumento está sendo influenciando pela redução do rebanho em alguns
países, elevação dos custos com alimentação do gado e incremento na taxa de abate em
resposta a uma demanda mundial robusta. A diminuição do suprimento de carne nos grandes
mercados da Ásia, principalmente devido à proibição da entrada da carne norte-americana,
tem contribuído para a subida de preços. Em 2004, o aumento dos preços internacionais
poderia ter sido maior não fosse o grande abate de matrizes no Brasil, Argentina e Uruguai,
que permitiu atender o crescimento das importações mundiais (NEHMI FILHO, 2005).
62
4 METODOLOGIA
4.1 FONTE DOS DADOS
O estudo situa-se na área do comércio internacional e para atender ao objetivo de
analisar o comportamento das exportações de carne bovina do Brasil diante dos seus
principais concorrentes no mercado internacional foram coletados dados sobre as exportações
e importações mundiais de carne dos anos de 1995 a 2003. Os dados coletados são referentes
à carne bovina in natura - que corresponde a cerca de 90% do total das exportações mundiais
do produto - devido à dificuldade de se obter informações sobre a carne industrializada por
mercado de destino.
As informações para a construção da matriz de Exportação e Importação foram
obtidas no banco de dados COMTRADE das Nações Unidas. Para compor essa matriz foram
selecionados os maiores importadores de carne bovina in natura, quais sejam: Canadá, Coréia
do Sul, França, Holanda, Japão, México, Reino Unido, Rússia e outros, representando os
demais importadores.
4.2 O MODELO CONSTANT-MARKET-SHARE (CMS)
O modelo CMS permite a determinação dos fatores que influenciaram o
desempenho das exportações de um país ao longo dos anos. Esse tipo de análise foi aplicado
inicialmente por Tyszynski, citado por Leamer e Stern (1970), para estudar as mudanças no
market share de países exportadores de bens manufaturados entre 1899-1950.
O método CMS atribui o crescimento favorável ou desfavorável do setor
exportador à estrutura das exportações do país e à sua competitividade, e tem como principal
vantagem permitir a análise por componentes e pelo comportamento do produto no mercado
de destino. Apesar de o método ter um caráter retrospectivo, é possível utilizá-lo para fazer
63
inferências sobre o direcionamento do setor exportador para mercados mais favoráveis, sob a
pressuposição de continuidade das tendências observadas nos mercados (CARVALHO,
1997).
De acordo com Leamer e Stern (1970), o modelo CMS sugere que, mantida
constante a parcela de participação do país no comércio mundial, a diferença entre o
crescimento das exportações e sua efetiva performance é atribuída ao efeito competitividade.
As razões apontadas por Leamer e Stern (1970) para que o crescimento das
exportações de um dado país não acompanhe a média mundial são as seguintes:
a) concentração das exportações em mercadorias cuja demanda cresça mais
lentamente do que a média dos produtos;
b) exportações destinadas principalmente a regiões estagnadas;
c) o país é incapaz ou não deseja competir efetivamente com outros ofertantes.
Leamer e Stern (1970) partiram do princípio de que a demanda de um país
importador é determinada pela relação de preços entre dois países exportadores e
competidores no mercado internacional, representada por:
(1)
q
q
2
1
2
1
=
p
p
f
A equação (1) consiste na própria relação básica da elasticidade de substituição,
onde q
1
e q
2
são as quantidades vendidas pelos ofertantes e p
1
e p
2
, seus respectivos preços.
Multiplicando-se a equação acima por p
1
/p
2
, tem-se:
(2)
p
p
x
p
p
2
1
2
1
22
11
= f
qp
qp
Rearranjando os termos:
64
()
=
+=
+=
+
2
1
1
1
2
211
1
11
22
2211
11
(3) 1
1
p
p
p
g
p
p/pfp
qp
qp
qpqp
q
A equação (3) indica que o market share do país permanece constante a menos
que a relação de preços (p
1
/p
2
) mude, representando o princípio do Constant-Market-Share
para um determinado período de tempo (STALDER, 1997). Caso o país não mantenha sua
parcela no mercado mundial, o termo poderá ser negativo e indicará que os preços estão
subindo mais rapidamente para o país em questão em relação aos seus competidores.
4.2.1 Modelo matemático
Leamer e Stern (1970) e Richardson (1971) formularam o modelo matemático que
permite decompor a taxa de crescimento das exportações em quatro efeitos: crescimento do
comércio internacional, composição da pauta de exportações, destino das exportações e
competitividade. A desagregação matemática do crescimento das exportações nesses efeitos é
feita a seguir.
A forma mais simples do modelo CMS define que a parcela de mercado de um
dado país é função de sua competitividade relativa:
()
(4) 0c f' cf
C
q
Q
S
>= )(
onde
S = a parcela de mercado do país em questão;
q, Q = quantidades exportadas totais do país em questão e do mundo,
respectivamente;
65
c, C = competitividade do país em questão e do mundo, respectivamente.
Rearranjando os termos e diferenciando em relação ao tempo, infere-se:
dt
dS
Q
dt
dQ
S
dt
d
+
+= SQQSq
+
dt
C
c
d
'fQQSq
(5)
C
c
f QQSq
+
'
A expressão (5) indica que o crescimento das exportações do país (
) é explicado
por um efeito do crescimento das exportações mundiais (
) e por um efeito
competitividade (
). O primeiro representa o crescimento nas exportações, desde que
mantida constante a parcela do mercado, e o segundo representa o crescimento adicional
atribuído às mudanças na competitividade relativa.
q
QS
QS
A forma mais complexa do modelo CMS considera que a estrutura das
exportações do país pode estar afetando o comportamento das exportações, ainda que não
ocorram mudanças na competitividade relativa. O país pode estar concentrando suas
exportações em mercadorias cuja demanda está crescendo mais rapidamente ou destinando-as
a regiões de crescimento mais dinâmico.
Assim, a identidade (5) ficaria:
(6) 0 f
i
>
=
ij
ij
ij
j
ij
ij
ij
f',
C
c
Q
q
S
onde:
66
i = produto;
j = mercado de destino.
O crescimento total das exportações passa a ser dado pela identidade:
(7)
ij
ij
ij
ij
ij
ij
SQQSq
∑∑
+
∑∑
que expandindo, torna-se:
(8) Q
ij
ij
i
i
i
ij
ij
iji
i
i
SQSQSQSQSSQq
∑∑
+
∑∑
+
+
(a) (b) (c) (d)
A identidade (8) mostra que o crescimento das exportações é decomposto no
crescimento das exportações mundiais, favorável ou desfavorável, associadas à estrutura das
mercadorias ou mercados e às mudanças na competitividade relativa. Os termos (a), (b), (c) e
(d) representam, respectivamente, o efeito crescimento do mercado, o efeito mercadoria, o
efeito mercado e o efeito competitividade. Esses efeitos são discutidos no modelo
especificado a seguir.
Ao se aplicar esta metodologia a uma base empírica, é necessário pensar em
mudanças discretas no tempo, e não mais em termos de variações infinitesimais, possíveis
quando se opera com funções contínuas.
A formulação específica do modelo CMS considera como variável básica o valor
das exportações. Primeiro, consideram-se exportações não-diferenciadas por mercadorias e
regiões, de modo que se tem a seguinte identidade:
()
(
)
9 rVVVrVVV ....'....'..
+
(a) (b)
em que:
V.. = valor total das exportações do país A no período 1;
V’.. = valor total das exportações do país A no período 2;
67
r = aumento percentual das exportações mundiais do período 1 para o período 2.
A identidade (9) mostra que a variação das exportações do país A de um período a
outro está associada ao crescimento das exportações mundiais (a) e a um efeito residual
atribuído à competitividade (b). Esta expressão equivale à (5).
Considerando que as exportações são compostas por um conjunto diverso de
mercadorias, tem-se para a i-ésima mercadoria uma expressão análoga à (9).
()
(
)
10 VirViVVrVV iiiiii ..''
+
em que:
V
i
. = valor das exportações da mercadoria i do país A no período 1;
V’
i
. = valor das exportações da mercadoria i do país A no período 2;
r
i
= incremento das exportações mundiais da mercadoria i do período 1 para o
período 2.
A expressão (10) pode ser agrupada em:
(
)
.Vir.Vi'VVr..V'..V
i
iii
i
i
+
(11) .)Vr.V.'V(.V)rr(..)rV(
iii
i
ii
i
i
+
+
(a) (b) (c)
A equação (10) indica que o crescimento das exportações é atribuído: (a) ao
crescimento geral das exportações mundiais; (b) à composição de bens das exportações do
país A no período 1; e (c) ao efeito residual resultante da diferença entre a variação efetiva e a
variação esperada nas exportações de cada grupo de bens.
Ao se considerar a diferenciação das exportações por destino e por tipo de
mercadoria, chega-se ao modelo CMS para um tipo particular de mercadoria e uma região
particular de destino, especificado abaixo:
(12) )
V
r
V'V
(
V
r
VV'
ij
ij
ijijij
ij
ijij
+
em que
68
V
ij
= valor das exportações da mercadoria i, do país A para o país j, período 1;
V’
ij
= valor das exportações da mercadoria i, do país A para o país j, período 2;
r
ij
= incremento percentual das exportações mundiais da mercadoria i para o país j,
do período 1 para o período 2.
Agrupando a equação acima, tem-se:
)VrV'V(VrV'..V
ijijij
ij
ijij
ij
ij
+
∑∑
(13) )VrV'V(V)rr(.V)rr(..rV
ijijij
ij
ijij
iij
iijii
+
+
+
(a) (b) (c) (d)
A identidade acima permite decompor a taxa de crescimento das exportações do
país A em quatro efeitos:
(a) efeito crescimento do comércio mundial: incremento observado se as exportações do
país A tiverem crescido à mesma taxa do comércio mundial;
(b) efeito composição da pauta: mudanças na estrutura da pauta com concentração em
mercadorias com crescimento de demanda mais ou menos acelerado;
(c) efeito destino das exportações: mudanças decorrentes das exportações de mercadorias
para mercados de crescimento mais ou menos dinâmicos; e
(d) efeito competitividade: calculado como um efeito residual resultante da diferença entre o
crescimento das exportações e o crescimento efetivo das exportações.
O efeito crescimento do comércio mundial (a) não requer maiores explicações,
porém os efeitos composição da pauta (b) e destino das exportações (c) necessitam de uma
interpretação adicional. O efeito composição da pauta (b) indica que se as exportações
mundiais do produto i aumentarem mais que a média mundial para todas as mercadorias
exportadas, (r
i
– r) é positiva. O resultado positivo tornará forte esse efeito se V
i
. for
relativamente grande. Da mesma forma, o efeito composição da pauta será positivo se as
exportações do país A estiverem concentradas em mercados com crescimento acelerado. Por
69
outro lado, esse efeito será negativo se as exportações do país A estiverem concentradas em
mercados com baixo crescimento.
O efeito destino das exportações (c) tem interpretação análoga ao efeito
composição da pauta e será positivo se o país A tiver concentrado suas exportações em
mercados que experimentaram maior dinamismo e negativo se concentrado em regiões mais
estagnadas.
O efeito competitividade quando negativo indicará o fracasso do país em manter a
sua parcela no mercado mundial. Desta forma, se a demanda por exportações for descrita pela
relação da equação 1, o efeito competitividade estará associado a um aumento nos preços
relativos, p
1
/p
2
. Entretanto, além dos preços relativos, esse efeito também recebe influência de
um conjunto de fatores que podem afetar a atratividade relativa das exportações de um dado
país.
Dentre esses fatores destacam-se “mudanças tecnológicas, medidas de apoio ao
setor exportador, melhoria nas condições de financiamento, melhoria na eficiência de
marketing, existência de taxas diferenciadas de inflação entre os países, entre outros”
(CARVALHO, 2004, p. 226).
O método aqui discutido incorpora os determinantes pelo lado da demanda,
embora o efeito competitividade resulte da interação entre demanda e oferta. Leamer e Stern
(1970) afirmam que a análise de séries temporais de demanda dificilmente permite identificar
a influência da demanda e da oferta. Existem alguns fatores que podem influenciar o preço de
oferta das exportações de um país vis-à-vis seus competidores no mercado mundial. Dentre
esses fatores os autores destacam: as taxas de inflação monetária; as taxas de crescimento dos
fatores e a resposta da oferta doméstica e da exportação a esses fatores; incremento nas taxas
de produtividade; e características dos mercados de destino.
70
Rigaux (1971) criticou o modelo CMS quanto à desconsideração dos fatores da
oferta nas inter-relações mundiais de comércio, entretanto, da mesma forma que Leamer e
Stern (1970), ressaltou que o efeito competitividade, por incorporar os preços, reflete a
interação das condições de demanda e oferta.
Cabe destacar que existem ressalvas ao modelo CMS. A primeira, referente à
definição de market share em termos de valor exportado, implica que um efeito competitivo,
tanto positivo quanto negativo, pode ser consistente com a queda dos preços relativos,
dependendo do valor absoluto da elasticidade de substituição. Com base nessa definição, um
efeito competitivo positivo consistente com a queda de preços relativos requer a
pressuposição adicional de que a elasticidade de substituição seja maior que um em valor
absoluto (CARVALHO, 1995). No entanto, esta limitação não se aplica a este trabalho, uma
vez que se utilizou quantidade ao invés do valor na decomposição das fontes de crescimento
das exportações.
A segunda ressalva diz respeito à possibilidade de ocorrerem distorções quanto à
interpretação do termo competitividade (LEAMER e STERN, 1970). Além dos preços
relativos, há outros fatores que influenciam o efeito competitividade, conforme já
mencionado.
O conceito de competitividade aqui adotado é análogo ao utilizado por Carvalho
(1995), ou seja, considera-se que o desempenho está diretamente relacionado à atuação do
país exportador no mercado internacional, sem indicar os fatores responsáveis pelo resultado.
71
4.2.2 Escolha dos padrões de análise
Para aplicação do modelo CMS é necessário definir alguns padrões que servirão de
base para a análise do desempenho e da estrutura das exportações do Brasil.
4.2.2.1 Mercado de destino
Considera-se como mercado de destino o mercado internacional, com destaque
para aqueles onde as exportações mundiais de carne bovina in natura vêm se concentrando,
quais sejam: Canadá, Coréia do Sul, Rússia, França, Holanda, Japão, México, Reino Unido e
outros, representando os demais importadores.
4.2.2.2 Mercadoria
A mercadoria selecionada para análise constitui outro ponto importante na
operacionalização do método CMS. Neste trabalho, foi selecionada a carne bovina fresca,
resfriada ou congelada, ou seja, a carne in natura.
A aplicação do método CMS a um único produto torna o efeito composição da
pauta nulo, de modo que o termo da equação relativo a este efeito foi eliminado.
4.2.2.3 Período de análise
A aplicação do modelo CMS é realizada entre pontos discretos no tempo, por isso
há necessidade de se fixarem períodos de análise. Para Carvalho (1995), a divisão em
períodos mais curtos permite identificar, com mais precisão, as mudanças que ocorreram na
estrutura das exportações, entre o início e o fim do período de estudo.
72
São considerados três subperíodos, cada um correspondendo a média de três anos
como forma de minimizar um efeito de um ano até o pico, selecionados de forma a
representar alguns momentos importantes para a economia brasileira nos anos 90 e 2000.
Assim, tem-se:
a) 1995/96/97: primeiro período, representando a fase de estabilização da economia
brasileira e seus impactos sobre o setor exportador;
b) 1998/99/00: segundo período, referente à etapa de alavancagem das exportações
brasileiras de carne bovina;
c) 2001/02/03: terceiro período, relativo aos anos mais recentes de consolidação das
exportações brasileiras de carne bovina.
73
5 DECOMPOSIÇÃO DAS FONTE DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES
O modelo CMS foi aplicado aos maiores exportadores mundiais no intuito de
comparar o desempenho do Brasil com o de seus principais competidores no mercado
internacional de carne bovina. Os principais concorrentes identificados durante a pesquisa são
a Argentina, a Austrália e os Estados Unidos.
A aplicação do modelo CMS permite analisar a decomposição e a contribuição
das fontes de crescimento das exportações de carne bovina in natura, nos três períodos
considerados. Os resultados da decomposição nos efeitos crescimento do comércio mundial,
destino das exportações e competitividade são apresentados nos quadros 2 a 6.
5.1 BRASIL
5.1.1 Market Share
Ao se analisar o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina,
observa-se que as mudanças ocorridas ao longo dos anos na definição de prioridades
econômicas começaram a ter seus efeitos na capacidade do país em manter um desempenho
competitivo na comercialização de carne bovina em relação aos demais países produtores. O
volume das exportações teve um aumento significativo passando de 136 mil toneladas no
período 1995-1997 para 1,4 milhão de toneladas no período 2001-2003.
No Quadro 1, observa-se que as exportações brasileiras cresceram 206,64% (284
mil toneladas) no período II e 938,54% (1,3 milhão de toneladas) no período III em relação ao
período base 1995-1997. Quando se compara o volume das exportações no período III em
relação ao período-base 1998-2000, o aumento é menor, 237,58% (998 mil toneladas).
Quadro 2 - Componentes da Análise da Parcela de Mercado das Exportações de Carne Bovina do Brasil, 1995-2003.
Período I Período II Período III Período II Período III
1995-1997 1998-2000 2001-2003 1998-2000 2001-2003
Exportações Mundiais (ton.) 14.818.843 16.009.842 17.006.503 16.009.842 17.006.503
Exportações do Brasil (ton.) 136.603 420.246 1.418.675 420.246 1.418.675
Parcela de Mercado do Brasil (%) 0,92 2,62 8,34 2,62 8,34
Exportações potenciais do Brasil nos
Períodos II, III segundo a parcela global do
período-base 147.291 156.460 445.570
Exportações potenciais do Brasil
nos Períodos II, III segundo a
parcela de cada mercado no período-base 148.955 173.071 476.917
Componentes
Efeito Total 283.644 100,00% 1.282.073 100,00% 998.429 100,00%
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 10.979 3,87% 20.166 1,57% 26.162 2,62%
Efeito Destino das Exportações 1.374 0,48% 16.303 1,27% 30.537 3,06%
Efeito Competitividade 271.291 95,65% 1.245.604 97,16% 941.730 94,32%
Fonte: Tabela A-1 do apêndice deste trabalho.
74
75
5.1.2 Períodos II e III em relação ao Período I
Nos períodos II e III todos os efeitos apresentaram sinais positivos. Os resultados
apresentados no Quadro 1 mostram que o aumento da parcela total de mercado em cada um
desses períodos esteve associado à elevada participação positiva do efeito competitividade.
No período II, esse efeito participou com 95,65% na produção de um efeito total de 283 mil
toneladas. Por outro lado, a participação dos efeitos estruturais de crescimento do comércio
mundial e destino das exportações foi bastante discreta em relação ao efeito competitividade.
O efeito crescimento do comércio participou com 3,87%, enquanto o efeito destino das
exportações não apresentou importância com relação ao crescimento das exportações.
Quanto ao período III-2001-2003, observa-se que o efeito competitividade foi
maior do que no período anterior, com uma participação de 97,16%. O efeito destino das
exportações, que no período II foi de apenas 0,48%, subiu para 1,27% no período III. A
participação do efeito crescimento do comércio mundial caiu para 1,57%. Cabe destacar que
embora a contribuição desse efeito tenha sido relativamente menor, as exportações brasileiras
continuaram crescendo acima das taxas de crescimento das exportações mundiais.
5.1.3 Período III em relação ao Período II
Ao se analisar o período III-2001-2003 em relação ao período II-1998-2000,
observa-se que, em função da ótima posição competitiva do Brasil no mercado internacional,
as exportações de carne bovina continuaram apresentando um crescimento extraordinário. O
efeito competitividade, embora tenha sido menor em termos percentuais (94,32%) e em
termos absolutos, manteve-se como principal responsável pelo crescimento global das
exportações. Os efeitos crescimento do comércio mundial e destino das exportações tiveram
um pequeno aumento de sua participação relativa para 2,62% e 3,06%, respectivamente. Esse
76
pequeno aumento poderia sinalizar potencial conquista de novos mercados ou ampliação de
vendas para mercados com os quais já comercializava.
5.1.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade
Quando se analisa o desempenho das exportações de carne bovina do Brasil, não
se pode deixar de destacar o significativo aumento ocorrido tanto na parcela de mercado
quanto no nível geral das exportações. O estímulo dado às exportações de carne bovina teve
como resultado o aumento da parcela de mercado de 0,92% no período 1995-1997 para 8,34%
no período 2001-2003, percentual que colocou o país entre os três maiores exportadores do
produto.
O crescimento das exportações brasileiras foi obtido mais em virtude das ótimas
condições competitivas alcançadas no mercado internacional do que em função da
participação dos efeitos estruturais de crescimento do comércio mundial e destino das
exportações, haja vista que esses efeitos tiveram percentuais reduzidos na composição do
efeito total.
O resultado do efeito crescimento do mercado mundial mostra, de uma maneira
bem clara, a inter-relação existente entre o comportamento da parcela total de mercado do
país e a situação conjuntural do mercado internacional de carne bovina. O Brasil soube
aproveitar o crescimento do mercado mundial e aumentar suas vendas para novos mercados
como Chile, Egito, Filipinas e Rússia, bem como para aqueles mercados com os quais já
comercializava. Em 2003, a quantidade de compradores do produto brasileiro era de 106
países e em 2004 esse número se elevou para 143 (ROSA et al., 2005).
O efeito destino das exportações, mais importante ainda que o anterior, mostra
que o Brasil, à exceção do período II em relação ao período-base 1995-1997, concentrou seus
77
esforços de exportação de carne bovina naqueles mercados que apresentavam maior
dinamismo da demanda ou cresciam acima da média mundial.
Observa-se nos três períodos analisados que o efeito competitividade foi o
principal fator responsável pelo crescimento das exportações brasileiras. A posição do Brasil
melhorou em relação aos demais países exportadores, ao conseguir manter as mesmas
parcelas relativas ou compensar alguma redução em determinados mercados com um aumento
em outros.
O excelente desempenho das exportações revela que o Brasil conseguiu gerar boas
oportunidades de negócios no mercado externo. Apesar de o método CMS não permitir que se
determinem os fatores que produziram os ganhos de competitividade é possível fazer algumas
inferências. A posição competitiva do Brasil no mercado internacional pode ser atribuída a
fatores como melhoria da qualidade da carne, aumento da produtividade da pecuária de corte
e investimentos em novas tecnologias da genética, sanidade, manejo, gerenciamento e
nutrição.
Desta forma, o Brasil obteve ganhos de competitividade porque vem conseguindo
se beneficiar das vantagens comparativas que possui para produzir e exportar um produto com
custo relativo de produção menor diante dos demais produtores mundiais e, além disso,
ofertar cortes de melhor qualidade e um produto diferenciado no mercado internacional, uma
vez que a carne bovina produzida aqui é baseada em pasto e, por isso, possui sabor
característico que vem conquistado os consumidores estrangeiros.
O controle da febre aftosa ainda é uma condição indispensável para que o Brasil
exporte carne in natura. A existência no país de áreas consideradas como não-livres de aftosa
tem causado alguns transtornos à comercialização do produto brasileiro no exterior. Os dois
focos da doença ocorridos em 2004, um no Amazonas e outro no Pará, são um exemplo bem
claro disso. A Rússia, maior importador do produto brasileiro, quando tomou conhecimento
78
desses casos impôs um embargo às exportações brasileiras de carne bovina in natura.
Recentemente, o Serviço Nacional de Supervisão Sanitária e Fitossanitária da Rússia
oficializou a retirada do embargo, entretanto a carne produzida nos Estados do Pará,
Amazonas, Acre, Rondônia, Tocantins, Maranhão e Roraima não poderá ser exportada para o
mercado russo (RÚSSIA oficializa..., 2005), uma vez que esses estados ainda não receberam a
certificação internacional de livre de aftosa, com vacinação, concedida pela OIE.
Foi divulgado recentemente que a União Européia, a partir do dia primeiro de
janeiro de 2006, criará mais uma barreira sanitária para evitar a entrada de todo tipo de
produto de origem animal, vindo de qualquer parte do mundo, em que tenham sido utilizados
antibióticos promotores de crescimento na sua dieta (UNIÃO Européia..., 2005). Tal medida
teria sido influenciada pela pressão do consumidor europeu por produtos mais saudáveis,
livres de antibióticos.
O mercado europeu é um dos grandes consumidores da carne bovina brasileira,
portanto, a capacidade dos produtores nacionais em se adequar a mais esta exigência pode
determinar se o país continua exportando ou não produtos de origem animal para a União
Européia. Observa-se que o mercado de produtos orgânicos vem crescendo nos últimos anos
graças à maior preocupação do consumidor com a segurança alimentar, e o Brasil tem
condições de explorar esse nicho de mercado, sendo que, no caso específico do boi, depende
da conscientização dos produtores em substituir o antibiótico químico pelo promotor natural
de crescimento.
A auditoria em frigoríficos do Brasil, realizada por uma missão de veterinários do
USDA em abril de 2005, apontou falhas técnicas e no sistema de inspeção e fiscalização
federais, que levaram o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – Dipoa,
do Ministério da Agricultura, a suspender temporariamente as exportações de carne bovina
industrializada para os Estados Unidos (ROCHA, 2005). A suspensão de certificados
79
sanitários atingiu os vinte e oito estabelecimentos habilitados a exportar para o mercado
americano. Sete frigoríficos já haviam sido autorizados a retomar as exportações para os
Estados Unidos até o mês de agosto. Caso houvesse um embargo dos Estados Unidos à carne
industrializada do Brasil pelo menos 139,60 mil toneladas de equivalente carcaça ou 700 mil
cabeças de bovinos teriam de ser absorvidas pelo mercado interno (TORRES JÚNIOR et al.,
2005). Este episódio demonstra a pressão dos compradores sobre os produtores de carne, que
precisam se adequar às exigências do mercado internacional para se manter em um mercado
com concorrência acirrada.
5.2 ARGENTINA
5.2.1 Market Share
A Argentina apresentou um efeito total negativo em cada um dos períodos
analisados. Isso significa que alguns dos componentes do método CMS que servem para
verificar o comportamento das exportações tiveram, em decorrência de possíveis distorções
existentes nas políticas de exportação e fluxos de comercialização da carne bovina in natura,
uma participação predominantemente negativa.
5.2.2 Períodos II e III em relação ao Período I
Ao se analisar os resultados apresentados nos períodos II-1998-2000 e III-2001-
2003 em relação ao período-base 1995-1997, observa-se, no Quadro 1, que as exportações
reduziram-se em cada um dos períodos. Os efeitos destino das exportações e de
competitividade negativos foram os principais responsáveis pelo desempenho desfavorável da
Argentina no mercado internacional.
Quadro 3 - Componente da Análise da Parcela de Mercado das Exportações de Carne Bovina da Argentina, 1995-2003.
Período I Período II Período III Período II Período III
1995-1997 1998-2000 2001-2003 1998-2000 2001-2003
Exportações Mundiais (ton.) 14.818.843 16.009.842 17.006.503 16.009.842 17.006.503
Exportações da Argentina (ton.) 634.446 439.900 386.481 439.900 386.481
Parcela de Mercado da Argentina (%) 4,28 2,75 2,27 2,75 2,27
685.221 727.878 467.679
Exportações potenciais da Argentina nos
Períodos II, III segundo a parcela global do
período-base
647.844 682.496 465.722
Exportações potenciais da Argentina nos
Períodos II, III segundo a parcela de cada
mercado no período-base
Componentes
Efeito Total -194.546. 100,00% -247.941 100,00% -53.394 100,00%
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 50.991 26,21% 93.661 37,78% 27.385 51,26%
Efeito Destino das Exportações -37.594 -19,32% -45.612 -18,40% -1.563 -2,93%
Efeito Competitividade -207.943 -106,89% -295.990 -119,38% -79.216 -148,36%
Fonte: Tabela A-2 do apêndice deste trabalho.
80
81
No período II-1998-2000, as participações negativas do efeito destino das
exportações, de 19,32%, e do efeito competitividade, de 106,89%, reduziram as exportações
totais em 245 mil toneladas. O efeito crescimento do comércio mundial, por outro lado, foi
positivo, com participação de 26,21%, entretanto, não foi forte o suficiente para dominar a
influência negativa dos outros efeitos.
Observa-se que no período III-2001-2003 os efeitos competitividade e destino das
exportações apresentaram, também, uma participação negativa de 119,38% e 18,4%,
respectivamente. O efeito crescimento do comércio mundial positivo contribui com 37,78%
para reduzir a influência negativa desses efeitos, ou seja, o decréscimo das exportações teria
sido maior na ausência desse efeito.
5.2.3 Período III em relação ao Período II
Quando se analisa o desempenho das exportações argentinas no período III-2001-
2003, observa-se que o comportamento dos efeitos permaneceu inalterado com a mudança de
base para 1998-2000. O efeito crescimento do mercado mundial contribuiu de maneira
positiva e com maior intensidade do que em relação ao período-base 1995-1997, com uma
participação de 51,26%. Contudo, esse efeito foi insuficiente para impedir que as
contribuições negativas do efeito destino das exportações de 2,93% e do efeito
competitividade de 148,36% tivessem uma influência muito forte na queda de cinqüenta e três
mil toneladas na exportação.
5.2.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade
Ao se analisar o comportamento das exportações, observa-se uma deterioração,
associada à elevada participação negativa dos efeitos competitividade e destino das
82
exportações. O desempenho desfavorável desses efeitos contribuiu para a redução do market
share da Argentina no mercado internacional de 4,28% no período 1995-1997 para 2,27% no
período 2001-2003.
A constante participação negativa do efeito destino das exportações indica que a
Argentina concentrou suas exportações em mercados menos dinâmicos, em vez de destinar
suas vendas para países com crescimento nas importações acima da média mundial, o que
contribuiu significativamente para prejudicar o desempenho das suas exportações.
O efeito competitividade negativo em todos os períodos analisados mostra que a
Argentina foi pouco competitiva no mercado internacional. Esse comportamento
provavelmente é resultado de alguns dos seguintes fatores ou ainda da combinação destes.
Primeiro, a parcela relativa da Argentina em determinados mercados deve ter diminuído
drasticamente a ponto de prejudicar o desempenho global das exportações. Outro fator que
deve ter influenciado a competitividade da Argentina está relacionado à falta de uma política
de comercialização visando compensar a queda na quantidade ou percentual das exportações
em alguns centros, com aumentos proporcionalmente maiores em outros mercados.
Embora o método CMS não permita identificar quais fatores determinaram a
posição pouco competitiva da Argentina, é possível fazer algumas inferências. O
comportamento do efeito competitividade pode ter sido influenciado pela ocorrência de casos
de febre aftosa no país, de modo que os importadores tradicionalmente atendidos pelo país
suspenderam a compra do produto argentino, significando uma redução na participação
relativa nos principais mercados. Além disso, a crise econômica sofrida pela Argentina nos
últimos anos também pode ter refletido no desempenho das exportações.
O resultado positivo do efeito crescimento do mercado mundial em todos os
períodos analisados indica que, mesmo a Argentina mostrando um decréscimo em suas
exportações globais, soube aproveitar a expansão do mercado em todos os períodos
83
analisados. No entanto, esse efeito não foi forte o suficiente para reduzir as influências
negativas dos outros efeitos, que contribuíram para a formação de um resultado total negativo.
Há perspectivas de reversão dessa situação e apresentação de melhores
indicadores uma vez que as exportações da Argentina apresentaram sinais de recuperação em
2004, quando o país exportou 478 mil toneladas de carne bovina para 84 países. A previsão
do USDA para 2005 é de que as vendas alcancem 700 mil toneladas. A Argentina voltou a
comercializar carne fresca, refrigerada e congelada com os parceiros tradicionais,
principalmente a União Européia, contudo o status da febre aftosa no país continua impedindo
as exportações do produto in natura para os Estados Unidos. Devido à recuperação das suas
exportações, a Argentina passou a ocupar a posição de terceiro maior exportador do mundo
(EXPORTAÇÕES de carne..., 2005), o que pode indicar uma melhora nos fluxos de
comercialização do país ao direcionar suas vendas para novos mercados e compensar a
redução em outros, como Canadá e México, além dos Estados Unidos, que deixaram de
comprar carne bovina fresca da Argentina devido ao problema da febre aftosa.
5.3 AUSTRÁLIA
5.3.1 Market Share
Os períodos II-1998-2000 e III-2001-2003 foram caracterizados por uma
expansão do volume das exportações de carne bovina in natura da Austrália, o que resultou
em aumento da participação do país no mercado internacional.
No Quadro 3, observa-se que as exportações cresceram 6,23% (371 mil toneladas)
no período II e 13,61% (407 mil toneladas) no período III em relação ao período-base 1995-
1997. Quando se compara o período III com o período-base 1998-2000, a taxa de crescimento
das exportações cai significativamente para 1,32% (36 mil toneladas).
Quadro 4 - Componentes da Análise da Parcela de Mercado das Exportações de Carne Bovina da Austrália, 1995-2003
Período I Período II Período III Período II Período III
1995-1997 1998-2000 2001-2003 1998-2000 2001-2003
Exportações Mundiais (ton.) 14.818.843 16.009.842 17.006.503 16.009.842 17.006.503
Exportações da Austrália (ton.) 2.386.490 2.757.317 2.793.672 2.757.317 2.793.672
Parcela de Mercado da Austrália (%) 16,10 17,22 16,43 17,22 16,43
2.577.585 2.738.047 2.928.520
Exportações potenciais da Austrália nos
períodos II, III segundo a parcela global do
período-base
2.480.955 2.514.571 2.815.733
Exportações potenciais da Austrália nos
períodos II, III segundo a parcela de cada
mercado no período-base
Componentes
Efeito Total 370.828 100,00% 407.182 100,00% 36.355 100,00%
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 191.804 51,72% 352.310 86,52% 171.651 472,16%
Efeito Destino das Exportações -97.338 -26,25% -224.229 -55,07% -113.235 -311,47%
Efeito Competitividade 276.362 74,53% 279.101 68,54% -22.061 -60,68%
Fonte: Tabela A-3 do apêndice deste trabalho.
84
85
5.3.2 Períodos II e III em relação ao Período I
O crescimento das exportações de carne bovina da Austrália no período II-1998-
2000 apresentou um resultado bastante favorável. No Quadro 2, observa-se que o efeito total
de 370 mil toneladas foi decorrente da contribuição do efeito competitividade de 74,53% e do
efeito crescimento do comércio mundial de 51,72%. Esses efeitos foram fortes o suficiente
para superar a participação negativa de 26,25% do efeito destino das exportações, que pode
ter sido influenciado pelo fato de que alguns países importadores da carne bovina australiana
intensificaram suas importações mais no mercado externo que no mercado australiano.
No período III-2001-2003, as exportações australianas aumentaram em 407 mil
toneladas em relação ao período-base 1995-1997. Tal resultado foi favorecido pelo efeito
crescimento do comércio mundial de 86,52% e pelo efeito competitividade de 68,53%. O
efeito destino das exportações teve uma participação negativa relativamente maior do que no
período anterior, significando uma redução no efeito total de 55,07%.
5.3.3 Período III em relação ao Período II
Quando se analisa o comportamento das exportações de carne bovina no período
III-2001-2003 em relação ao novo período-base 1998-2000, observa-se uma mudança no
comportamento do efeito competitividade, que passou a apresentar sinal negativo. Outra
mudança observada foi a grande variação na participação percentual dos efeitos estruturais de
crescimento do comércio mundial e destino das exportações, que foram cerca de cinco vezes
mais altos que os percentuais do período III em relação ao período-base 1995-1997.
No Quadro 3, observa-se que o efeito destino das exportações continuou
apresentando sinal negativo, com uma participação de 311,47%. Por outro lado, a
contribuição do efeito crescimento do comércio mundial foi de 472,16%, tendo sido alta o
86
suficiente para dominar a participação negativa dos outros efeitos e gerar um efeito total
positivo.
Um aumento maior nas exportações de carne bovina poderia ter sido realizado
pela Austrália, no período 2001-2003, se os ganhos obtidos por meio da alta participação
positiva de 172 mil toneladas do efeito crescimento do mercado mundial não tivessem sido
prejudicados pela forte influência dos efeitos destino das exportações e competitividade, que
reduziram o efeito total a 36 mil toneladas.
5.3.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade
Ao se analisar o desempenho das exportações australianas, verifica-se que a
parcela de mercado do país aumentou de 16,10% no período 1995-1997 para 17,22% no
período 1998-2000, mas caiu para 16,43% no período 2001-2003.
O aumento das exportações australianas nos períodos II e III em relação ao
período I foi obtido em função do efeito crescimento do mercado mundial e do efeito
competitividade. O comportamento do efeito crescimento do mercado mundial da Austrália
segue, em linhas gerais, o modo como o mercado mundial de carne bovina se comporta. Em
outras palavras, o país conseguiu aumentar suas vendas quando as exportações mundiais
cresciam.
O resultado positivo do efeito competitividade nos períodos II e III, quando
comparados ao período I, mostra que a Austrália conseguiu manter as mesmas parcelas
relativas ou compensar alguma redução em determinados mercados com um aumento em
outros. Entretanto, observa-se que no período III em relação ao período II esse efeito foi
negativo, indicando que a Austrália perdeu posição para outros competidores no mercado
internacional.
87
A influência negativa do efeito destino das exportações no Quadro 4 indica que as
exportações se concentraram em mercados que indicavam pouco ou quase nenhum
crescimento nas importações de carne em vez de se destinarem àqueles mercados que
apresentavam sinais de um maior crescimento nas importações ou estavam acima da média
mundial. Esse comportamento atingiu seu nível mais crítico no terceiro período, 2001-2003,
em relação ao período base 1998-2000, quando o efeito destino das exportações participou
negativamente com 311% do efeito total. As causas da participação negativa desse efeito
estão relacionadas com problemas de ordem estrutural.
A pouca competitividade da Austrália no período III-2001-2003 em relação ao
período II-1998-2000 possivelmente está relacionada à queda de suas parcelas relativas nos
principais mercados importadores. De acordo com os dados apresentados na Tabela A3, do
apêndice, a Austrália reduziu sua participação nos mercados da Rússia, Holanda, Itália, Reino
Unido e Coréia do Sul. A redução mais significativa foi em relação à sua participação nas
importações da Coréia do Sul que no período II era de 39,66%, caindo para 26,30% no
período III. Os Estados Unidos, por outro lado, aumentaram a sua participação nesse mercado
de 60,96% no período II para 66,77% no período III, conforme os dados da Tabela A4,
apresentada no apêndice.
Com a descoberta de um caso de BSE nos Estados Unidos, abriu-se uma
oportunidade de a Austrália aumentar suas exportações para a Coréia do Sul e para o Japão
em substituição à carne americana. Há, também, a perspectiva de a Austrália ampliar suas
vendas para os Estados Unidos, que apresentam uma oferta de carne apertada devido ao baixo
ciclo da pecuária bovina. No primeiro trimestre de 2005 o país já havia exportado 199 mil
toneladas, representando um aumento de 5% nas vendas para o mesmo trimestre em relação a
2004 (EXPORTAÇÕES da Austrália..., 2005). Cerca de 93% das exportações australianas no
período destinaram-se aos Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul.
88
5.4 ESTADOS UNIDOS
5.4.1 Market Share
A parcela de mercado dos Estados Unidos elevou-se de 2,26% no período 1995-
1997 para 14,33% no período 2001-2003. No Quadro 4, observa-se que os Estados Unidos
exportaram 1,8 milhão de toneladas no período I-1995-1997. Nos períodos II-1998-2000 e III-
2001-2003 o volume das exportações aumentou para 2,3 milhões e 2,4 milhões de toneladas.
O aumento mais expressivo das exportações ocorreu no período III em relação ao período I,
quando o incremento foi de 576 mil toneladas.
5.4.2 Períodos II e III em relação ao Período I
Analisando-se os resultados apresentados no Quadro 4, observa-se que, nos
períodos II-1998-2000 e III-2001-2003 em relação ao período-base 1995-1997, os efeitos
crescimento do mercado mundial e destino das exportações foram os principais responsáveis
pelo crescimento das exportações.
No período II, os sinais dos efeitos foram todos positivos, contribuindo para o
aumento das exportações totais. O efeito crescimento do comércio mundial contribuiu com
29,68% e o efeito destino das exportações com 65,46%. O efeito competitividade foi pouco
expressivo em relação aos outros efeitos, com uma participação de apenas 4,86%.
Quadro 5 - Componentes da Análise da Parcela de Mercado das Exportações de Carne Bovina dos Estados Unidos, 1995-2003.
Período I Período II Período III Período II Período III
1995-1997 1998-2000 2001-2003 1998-2000 2001-2003
Exportações Mundiais (ton.) 14.818.843 16.009.842 17.006.503 16.009.842 17.006.503
Exportações dos Estados Unidos (ton.) 1.860.914 2.364.827 2.436.840 2.364.827 2.436.840
Parcela de Mercado dos Estados Unidos (%) 12,26 14,77 14,33 14,77 14,33
1.962.807 2.084.997 2.437.032
Exportações potenciais dos Estados Unidos
nos Períodos II, III segundo a parcela global
do período-base
2.340.318 2.604.112 2.622.042
Exportações potenciais dos Estados Unidos
nos Períodos II, III segundo a parcela de
cada mercado no período-base
Componentes
Efeito Total 503.912 100,00% 575.926 100,00% 72.013 100,00%
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 149.563 29,68% 274.721 47,70% 147.217 204,43%
Efeito Destino das Exportações 329.841 65,46% 468.477 81,34% 109.998 152,75%
Efeito Competitividade 24.509 4,86% -167.272 -29,04% -185.202 -257,18%
Fonte: Tabela A-4 do apêndice deste trabalho.
89
90
No período III, observa-se que os efeitos destino das exportações e crescimento do
comércio mundial continuaram comandando o crescimento das exportações americanas.
Neste período, a participação desses efeitos foi maior do que a do período II, tanto em termos
percentuais como em termos absolutos. A participação do efeito crescimento do comércio
mundial foi de 47,70% e do efeito destino das exportações de 81,34%. O efeito
competitividade negativo de 29,04% foi pouco expressivo em relação aos outros efeitos, de
modo que foi dominado ou compensado por eles.
5.4.3 Período III em relação ao Período II
Quando se analisa o período III-2001-2003 em relação ao período 1998-2000,
observa-se que a mudança de base produziu, como no caso da Austrália, uma grande variação
percentual dos efeitos. Embora o período-base de análise tenha sido alterado para um período
mais recente, o efeito competitividade permaneceu negativo, atingindo o nível de participação
de 257,18%, tendo sido influenciado pela queda na participação relativa das exportações
americanas nos principais mercados importadores, como Canadá, México e Japão. Os efeitos
crescimento do comércio mundial e destino das exportações foram positivos contribuindo
com 204,43% e 152,75%, respectivamente. O aumento nesses efeitos foi suficiente para
reduzir a um nível de 185 mil toneladas os decréscimos ocasionados pelo efeito
competitividade.
5.4.4 Análise dos componentes estruturais e de competitividade
A aplicação do método CMS permitiu identificar as fontes de crescimento das
exportações dos Estados Unidos. O aumento das exportações foi obtido mais em função dos
91
efeitos estruturais de crescimento do comércio mundial e de destino das exportações do que
em função das condições de competitividade no mercado internacional.
A alta participação do efeito de crescimento do mercado mundial e do efeito
destino das exportações nos três períodos analisados indica que os Estados Unidos foram bem
sucedidos em suas políticas de comercialização e que possuem mecanismos alternativos que
permitem redirecionar os fluxos de comercialização para aqueles mercados que apresentavam
uma demanda em expansão ou acima da média mundial, oferecendo, assim, melhores
oportunidades de aumento no volume das vendas, com perspectivas de elevar a receita do
país.
O comportamento do efeito competitividade, pouco expressivo no período II-
1998-2000 em relação à base 1995-1997, mostrou-se bastante negativo no período III-2001-
2003, independente do período-base utilizado. A influência negativa desse efeito indica que
os Estados Unidos não conseguiram compensar a redução de parcelas relativas em certos
mercados com o aumento em outros mercados importadores. As perdas de parcelas relativas
mais significativas das exportações americanas ocorreram nos mercados do Canadá, México e
Japão, conforme observado na Tabela A4 do apêndice. A participação dos Estados Unidos nas
importações canadenses passou de 52,44% no período I para 31,81% no período III. Com
relação ao mercado mexicano essa participação foi de 66,83% no período I caindo para
52,16% no período III. No mercado japonês, a participação americana passou de 52,27% no
período II para 50,63% no período III.
A decomposição das fontes de crescimento das exportações dos Estados Unidos
revelou que o país foi menos competitivo que a Austrália e o Brasil no mercado mundial de
carne bovina. Apesar de o comportamento dos efeitos estruturais indicar o êxito das políticas
americanas de comercialização, os Estados Unidos poderão apresentar perda de
competitividade devido ao registro de um caso de BSE no Estado de Washington em
92
dezembro de 2003. Em 2004, 53 países deixaram de importar a carne bovina americana e
estima-se que o setor de pecuária tenha perdido entre US$ 3,2 bilhões e US$ 4,7 bilhões
(EUA perderam..., 2005). As exportações caíram 82% nesse ano, conforme dados
preliminares do USDA. O Japão, a Coréia do Sul e outros grandes importadores restringiram
as importações de carne logo após o anúncio do caso de BSE nos Estados Unidos. Canadá e
México também restringiram as importações de carne dos Estados Unidos em 2004, mas
relaxaram o embargo no mesmo ano, excluindo apenas a carne de animais abatidos acima de
30 meses de idade (LEUCK; HALEY; HARVEY, 2004).
5.5 SÍNTESE DOS RESULTADOS
Os resultados da decomposição das fontes de crescimento das exportações de
carne bovina in natura da Argentina, Austrália, Estados Unidos e Brasil, apresentados no
Quadro 6, mostram que nem todos esses países conseguiram manter a sua posição competitiva
no mercado internacional.
Observa-se que o desempenho desfavorável das exportações de carne da
Argentina, nos três períodos analisados, está associado aos efeitos competitividade e destino
das exportações negativos, que contribuíram para redução da parcela total. Todavia, a
participação positiva do efeito crescimento do mercado mundial colaborou para diminuir as
perdas geradas pelos outros efeitos. A redução do market share demonstra que a Argentina
perdeu fatias de mercado para os seus concorrentes e que, portanto, foi menos competitiva no
mercado mundial.
Quadro 6 – Fontes de Crescimento das Exportações da Argentina, Austrália, Estados Unidos e Brasil, 1995-2003.
Período II - 1998-2000 Período III - 2001-2003 Período III - 2001-2003
Fontes de Crescimento
Período I - 1995-1997 Período I - 1995-1997 Período II - 1998-2000
ARGENTINA
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 26,21% 37,78% 51,26%
Efeito Destino das Exportações -19,32% -18,40% -2,93%
Efeito Competitividade -106,89% -119,38% -148,36%
AUSTRÁLIA
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 51,72% 86,52% 472,16%
Efeito Destino das Exportações -26,25% -55,07% -311,47%
Efeito Competitividade 74,53% 68,54% -60,68%
ESTADOS UNIDOS
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 29,68% 47,70% 204,43%
Efeito Destino das Exportações 65,46% 81,34% 152,75%
Efeito Competitividade 4,86% -29,04% -257,18%
BRASIL
Efeito Crescimento do Comércio Mundial 3,87% 1,57% 2,62%
Efeito Destino das Exportações 0,48% 1,27% 3,06%
Efeito Competitividade 95,65% 97,16% 94,32%
Fonte: Quadros 2 a 5.
94
No caso da Austrália, observou-se que o efeito crescimento do comércio mundial
contribuiu para impulsionar as exportações, porém o efeito destino das exportações colaborou
para reduzi-las. A participação negativa deste efeito indica que o país concentrou suas
exportações em mercados com pouco dinamismo da demanda. O efeito competitividade
positivo nos períodos II e III em relação ao período I-1995-1997 contribuiu para aumentar as
exportações totais, mas o resultado negativo no período III em relação ao período-base 1998-
2000 demonstra que a Austrália não conseguiu compensar a redução das parcelas em dados
mercados com aumento em outros.
O desempenho favorável das exportações dos Estados Unidos está associado à
participação positiva dos efeitos estruturais de crescimento do comércio mundial e destino das
exportações, o que indica que o país foi agressivo em suas políticas de comercialização. O
comportamento do efeito competitividade mostra que os Estados Unidos foram competitivos
apenas no período II-1998-2000 em relação ao período I-1995-1997.
Os resultados mostram que o Brasil conseguiu manter a sua posição competitiva
no mercado internacional. O efeito competitividade foi o principal responsável pelo aumento
das exportações de carne bovina. Os efeitos estruturais de crescimento do mercado mundial e
destino das exportações contribuíram em menor porcentagem para o incremento observado.
As ótimas condições de competitividade impulsionaram o crescimento das vendas, de maneira
que o país conseguiu elevar o seu market share.
A competitividade das exportações brasileiras de carne bovina in natura pode
estar relacionada a um conjunto de fatores. Os investimentos em tecnologia permitiram
melhorar os índices da pecuária de corte, o que contribuiu para o aumento do rebanho e da
produção de carne a fim de atender a demanda externa crescente pelo produto brasileiro. O
reconhecimento pela OIE de áreas livres de aftosa com vacinação no país foi um fator
fundamental para o crescimento das exportações, uma vez que a ocorrência de doenças no
95
rebanho dos principais exportadores levou os países importadores a procurar novos
fornecedores. Assim, o Brasil ampliou suas vendas para a Europa e conquistou mercados no
Oriente Médio. A desvalorização cambial contribuiu para impulsionar as exportações ao
tornar os preços da carne bovina mais competitivos no mercado internacional. As ações de
marketing e promoção do produto no mercado externo também podem ter estimulado a
expansão das vendas.
96
6 CONCLUSÃO
A aplicação do modelo de comércio internacional CMS revela que o Brasil
conseguiu manter a sua posição competitiva no mercado internacional diante dos seus
principais concorrentes, o que confirma a hipótese formulada neste trabalho. A
competitividade do país impulsionou as exportações de carne bovina in natura por meio da
conquista de novos mercados consumidores.
Embora o método CMS não permita determinar os fatores responsáveis pelos
resultados, pode-se apontar algumas causas possíveis do desempenho favorável das
exportações brasileiras de carne bovina. A garantia de sanidade do rebanho, a melhoria dos
índices da pecuária de corte, os avanços na genética e as estratégias para promoção do
produto brasileiro no mercado externo converteram-se em vantagens que permitiram ao país
ser mais competitivo no mercado internacional e, conseqüentemente, expandir suas
exportações.
O cenário favorável às exportações brasileiras em função de problemas sanitários
ocorridos em outros países também contribuiu para que aumentasse o número de compradores
de carne bovina do Brasil. Com o controle da febre aftosa, vários países abriram seus
mercados para o produto brasileiro. Outro ponto importante se relaciona à capacidade de
expansão do rebanho bovino para atender à demanda externa. Como foi visto neste trabalho,
enquanto o número de cabeças de gado no Brasil vem aumentando, nos demais países
produtores vem diminuindo. Desta forma, o Brasil tem condições de expandir a produção de
carne para atender à demanda externa, enquanto muitos produtores mundiais enfrentam
dificuldades para aumentar a produção.
Observou-se no estudo que o Brasil tem sido bem-sucedido nas suas políticas de
exportação ao ampliar o número de parceiros comerciais, contudo a carne bovina brasileira in
natura ainda não conseguiu penetrar nos grandes mercados consumidores dos Estados
97
Unidos, Japão e Coréia do Sul, que são tradicionalmente atendidos por outros países. Isto se
deve ao fato de que estes mercados preferem comprar carne proveniente de áreas totalmente
livres de aftosa e sem vacinação. Neste contexto, verifica-se que cresce a importância das
barreiras sanitárias como instrumento de restrição ao comércio.
Os principais concorrentes do Brasil no mercado internacional foram menos
competitivos em determinados períodos. As exportações da Austrália cresceram tanto em
função do crescimento das exportações mundiais como em função da competitividade, à
exceção do último período, 2001-2003, quando o resultado foi desfavorável para este efeito.
A retomada das exportações de carne bovina pelos Estados Unidos nos próximos anos pode
afetar a rentabilidade da Austrália, que aumentou as vendas para os principais mercados
consumidores em virtude do embargo à carne americana.
Nos Estados Unidos, o crescimento das exportações esteve associado
principalmente ao comportamento positivo dos efeitos estruturais, entretanto, a queda abrupta
das exportações em 2004 pode afetar o desempenho do país. Quanto à Argentina, a
deterioração das suas exportações resultou na perda de posição competitiva no mercado
internacional, porém a recuperação das vendas em 2004 sinaliza para a melhoria dos
indicadores.
No caso do Brasil, a perspectiva para os próximos anos é de expansão das
exportações brasileiras de carne bovina tanto em termos de volume como em termos de valor.
A consolidação do crescimento das exportações depende de o país conseguir manter as
vantagens conquistadas para sustentar a sua posição competitiva e explorar novas
oportunidades de negócios, como a produção de boi orgânico, ou seja, sem uso de hormônios
de crescimento e antibióticos ou uso de ingredientes geneticamente modificados na fabricação
das rações.
98
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102
APÊNDICE
Tabela A1 - Exportações de carne bovina e parcelas de mercado do Brasil nos principais países consumidores - 1995-2003
Período 1995-1997 1998-2000 2001-2003 98-02 / 95-97 01-03 / 95-97 01-03 / 98-02
País
Total Brasil % Total Brasil % Total Brasil % 3x4 5-10 3x7 8-12 6x7 8-14
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Canadá 516356 0 0,00 524912 0 0,00 616719 50 0,01 0 0 0 50 0 50
Coréia do Sul 497649 0 0,00 507447 0 0,00 822326 325 0,04 0 0 0 325 0 325
França
900950 959 0,11 837780 4424 0,53 665308 7415 1,11 892 3532 708 6707 3513 3902
Holanda 358491 35716 9,96 416706 74591 17,90 607214 100614 16,57 41514 33075 60496 40118 108692 -8078
Itália 1006816 29612 2,94 1200978 55125 4,59 1028718 82700 8,04 35323 19803 30256 52443 47219 35481
Japão 1925690 0 0,00 2063095 0 0,00 1737762 0 0,00 0 0 0 0 0 0
México 288727 0 0,00 877725 0 0,00 1199874 0 0,00 0 0 0 0 0 0
Reino Unido 400996 12728 3,17 411023 36138 8,79 683710 80313 11,75 13046 23092 21702 58611 60113 20200
Rússia 1067006 0 0,00 1233377 0 0,00 1471945 124710 8,47 0 0 0 124710 0 124710
Outros 7856162 57587 0,73 7936798 249944 3,15 8172925 1022549 12,51 58178 191765 59909 962639 257380 765169
Total 14818843 136603 0,92 16009842 420246 2,62 17006503 1418675 8,34 148955 271291 173071 1245604 476917 941758
Fonte: elaborado pela autora com dados das Nações Unidas.
103
Tabela A2 - Exportações de carne bovina e parcelas de mercado da Argentina nos principais países consumidores - 1995-2003
Período 1995-1997 1998-2000 2001-2003 98-02 / 95-97 01-03 / 95-97 01-03 / 98-02
País
Total Argentina % Total Argentina % Total Argentina % 3x4 5-10 3x7 8-12 6x7 8-14
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Canadá 516356 0 0,00 524912 37517 7,15 616719 4965 0,81 0 37517 0 4965 44079 -39114
Coréia do Sul 497649 108 0,02 507447 0 0,00 822326 0 0,00 110 -110 179 -179 0 0
França
900950 13344 1,48 837780 7918 0,95 665308 5309 0,80 12408 -4490 9854 -4545 6288 -979
Holanda 358491 14208 3,96 416706 14857 3,57 607214 17589 2,90 16516 -1659 24066 -6477 21649 -4060
Itália 1006816 22975 2,28 1200978 11161 0,93 1028718 9065 0,88 27405 -16244 23474 -14409 9560 -495
Japão 1925690 0 0,00 2063095 0 0,00 1737762 0 0,00 0 0 0 0 0 0
México 288727 0 0,00 877725 0 0,00 1199874 0 0,00 0 0 0 0 0 0
Reino Unido 400996 21963 5,48 411023 5700 1,39 683710 32346 4,73 22512 -16811 37447 -5101 9482 22864
Rússia 1067006 8765 0,82 1233377 6872 0,56 1471945 23980 1,63 10131 -3259 12091 11889 8201 15778
Outros 7856162 553084 7,04 7936798 355875 4,48
8172925
293228 3,70 558761 -202886 557769 -264542 355243 -62016
Total 14818843 634446 4,28 16009842 439900 2,75 17006503 386481 2,27 647844 -207943 664880 -278399 454502 -68021
Fonte: elaborado pela autora com dados das Nações Unidas.
104
Tabela A3 - Exportações de carne bovina e parcelas de mercado da Austrália nos principais países consumidores - 1995-2003
Período 1995-1997 1998-2000 2001-2003 98-02 / 95-97 01-03 / 95-97 01-03 / 98-02
País
Total Austrália % Total Austrália % Total Austrália % 3x4 5-10 3x7 8-12 6x7 8-14
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Canadá 516356 98790 19,13 524912 124765 23,77 616719 161277 26,15 100427 24338 117991 43285 146586 14690
Coréia do Sul 497649 189234 38,03 507447 201259 39,66 822326 216264 26,30 192960 8299 312695 -96430 326144 -109879
França
900950 150 0,02 837780 103 0,01 665308 167 0,03 139 -36 110 57 82 85
Holanda 358491 5749 1,60 416706 3117 0,75 607214 162 0,03 6683 -3566 9738 -9576 4542 -4380
Itália 1006816 940 0,09 1200978 240 0,02 1028718 0 0,00 1122 -882 961 -961 205 -205
Japão 1925690 970252 50,38 2063095 996856 48,32 1737762 838858 48,27 1039483 -42627 875565 -36708 839660 -802
México 288727 1909 0,66 877725 15153 1,73 1199874 17822 1,49 5804 9349 7934 9888 20715 -2893
Reino Unido 400996 27121 6,76 411023 24531 5,97 683710 16206 2,37 27799 -3268 46242 -30036 40806 -24600
Rússia 1067006 20478 1,92 1233377 26316 2,13 1471945 14329 0,97 23671 2645 28249 -13920 31406 -17077
Outros 7856162 1071867 13,64 7936798 1364977 17,20 8172925 1528587 18,70 1082868 282108 1115085 413502 1405586 123001
Total 14818843 2386490 16,10 16009842 2757317 17,22 17006503 2793672 16,43 2480955 276362 2514571 279101 2815733 -22061
Fonte: elaborado pela autora com dados das Nações Unidas.
105
Tabela A4 - Exportações de carne bovina e parcelas de mercado dos Estados Unidos nos principais países consumidores - 1995-2003
Período 1995-1997 1998-2000 2001-2003 98-02 / 95-97 01-03 / 95-97 01-03 / 98-02
País
Total EUA % Total EUA % Total EUA % 3x4 5-10 3x7 8-12 6x7 8-14
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Canadá 516356 270788 52,44 524912 226845 43,22 616719 196188 31,81 275275 -48430 323421 -127233 266520 -7033
Coréia do Sul 497649 251039 50,44 507447 309358 60,96 822326 549056 66,77 255981 53377 414822 134234 501320 47736
França
900950 292 0,03 837780 560 0,07 665308 401 0,06 272 288 216 185 445 -44
Holanda
358491
4861 2,09 416706 4665 1,12 607214 787 0,13 8726 -4061 12715 -11928 6798 -6011
Itália 1006816 176 0,02 1200978 889 0,07 1028718 407 0,04 210 679 180 227 761 -354
Japão 1925690 1006578 52,27 2063095 1109018 53,76 1737762 879776 50,63 1078401 30618 908346 -28569 934136 -54359
México 288727 192946 66,83 877725 4938278 56,26 1199874 625907 52,16 586551 -92723 801831 -175924 675076 -49169
Reino Unido 400996 3029 0,76 411023 4103 1,00 683710 0 0,00 3105 999 5165 -5165 6826 -6826
Rússia 1067006 15927 1,49 1233377 50025 4,06 1471945 11567 0,79 18411 31614 21972 -10405 59701 -48134
Outros 7856162 115277 1,47 7936798 165534 2,09 8172925 172750 2,11 116460 49074 119925 52825 170459 2291
Total 14818843 1860914 12,56 16009842 2364827 14,77 17006503 2436840 14,33 2343393 21434 2608593 -171753 2622042 -185202
Fonte: elaborado pela autora com dados das Nações Unidas.
106
107
ANEXOS
108
Tabela 1 – Produção mundial de carne bovina em toneladas métricas (1000) – 1990-2004
País/Região 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Argentina 2.650 2.650 2.520 2.550 2.600 2.600 2.580 2.975 2.600 2.840 2.880 2.640 2.700 2.800 3.080
Austrália 1.718 1.735 1.838 1.806 1.829 1.717 1.736 1.942 1.989 1.956 1.988 2.049 2.089 2.073 2.100
Brasil 5.008 5.481 5.725 5.650 5.730 6.080 6.150 6.050 6.140 6.270 6.520 6.895 7.240 7.385 7.975
Canadá 924 867 898 860 903 928 998 1.075 1.150 1.238 1.246 1.250 1.294 1.190 1.460
China 1.256 1.535 1.803 2.337 3.270 4.154 3.557 4.409 4.799 5.054 5.328 5.488 5.846 6.305 6.683
Estados Unidos 10.464 10.534 10.613 10.584 11.194 11.585 11.749 11.714 11.804 12.124 12.298 11.983 12.427 12.039 11.261
México 1.790 1.580 1.660 1.710 1.810 1.850 1.800 1.795 1.800 1.900 1.900 1.925 1.930 1.950 2.150
Rússia 4.329 3.989 3.632 3.300 3.240 2.734 2.570 2.326 2.090 1.900 1.840 1.760 1.740 1.670 1.590
União Européia - - - 8.240 7.846 7.964 7.950 7.889 7.624 7.569 7.462 6.896 7.456 7.300 7.336
Uruguai 349 315 365 309 368 344 410 468 454 425 440 317 425 450 540
Outros Países 22.877 22.414 21.116 10.480 9.331 8.582 8.082 8.594 9.326 15.816 15.674 14.196 15.322 13.943 14.071
Total 51.365 51.100 50.170 47.826 48.121 48.538 47.582 49.237 49.776 58.058 58.338 56.587 59.158 57.866 58.987
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004).
Tabela 2 – Variação acumulada da produção mundial de carne bovina – 1990-2004
109
País/Região 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Argentina - 0,000 -4,906 -3,774 3,175 1,961 -0,769 14,423 0,775 -4,538 10,769 -7,042 -6,250 6,061 14,074
Austrália - 0,990 6,985 4,092 -0,490 -4,928 -5,085 13,104 14,574 0,721 -0,050 4,755 5,080 1,171 0,527
Brasil - 9,445 14,317 3,083 0,087 7,611 7,330 -0,493 -0,163 3,636 6,189 9,968 11,043 7,107 10,152
Canadá - -6,169 -2,814 -0,807 0,557 7,907 10,520 15,841 15,230 15,163 8,348 0,969 3,852 -4,800 12,828
China - 22,213 43,551 52,248 81,364 77,749 8,777 6,139 34,917 14,629 11,023 8,587 9,722 14,887 14,317
Estados Unidos - 0,669 1,424 0,475 5,474 9,458 4,958 1,114 0,468 3,500 4,185 -1,163 1,049 0,467 -9,383
México - -11,732 -7,263 8,228 9,036 8,187 -0,552 -2,973 0,000 5,850 5,556 1,316 1,579 1,299 11,399
Rússia - -7,854 -16,101 -17,272 -10,793 -17,152 -20,679 -14,923 -18,677 -18,315 -11,962 -7,368 -5,435 -5,114 -8,621
União Européia - - - - - -3,350 1,326 -0,942 -4,101 -4,056 -2,125 -8,892 -0,080 5,858 -1,609
Uruguai - -9,742 4,585 -1,905 0,822 11,327 11,413 36,047 10,732 -9,188 -3,084 -25,412 -3,409 41,956 27,059
Outros Países - -2,024 -7,698 -53,244 -55,811 -18,111 -13,385 0,140 15,392 84,035 68,068 -10,243 -2,246 -1,782 -8,165
Total - -0,516 -2,326 -6,407 -4,084 1,489 -1,120 1,440 4,611 17,915 17,201 -2,534 1,406 2,260 -0,289
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004); cálculos da autora.
Tabela 3 - Consumo mundial de carne bovina em toneladas métricas (mil) – 1990-2004
110
País 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Estados Unidos 11.048 11.076 11.146 11.019 11.528 11.726 11.903 11.767 12.052 12.325 12.503 12.351 12.738 12.339 12.667
União Européia - - - 6.574 7.579 7.356 6.883 7.047 7.372 7.435 7.329 6.824 7.507 7.640 8.271
China 1.101 1.313 1.729 2.184 3.036 4.051 3.458 4.314 4.713 5.004 5.284 5.434 5.818 6.274 6.627
Brasil 5.014 5.249 5.392 5.297 5.502 5.993 6.147 5.978 5.945 5.863 6.102 6.191 6.437 6.273 6.400
Argentina 2.220 2.280 2.232 2.292 2.225 2.064 2.095 2.535 2.332 2.501 2.543 2.514 2.362 2.426 2.468
Rússia 4.905 5.060 4.165 3.863 3.791 3.402 3.464 3.486 2.845 2.734 2.309 2.404 2.395 2.315 2.315
México 1.845 1.696 1.789 1.843 1.974 1.904 1.898 1.992 2.101 2.250 2.309 2.341 2.409 2.308 2.419
Japão 1.073 1.142 1.190 1.302 1.451 1.513 1.428 1.452 1.478 1.475 1.534 1.371 1.285 1.324 1150
Canadá 1.002 973 960 909 931 934 909 937 952 995 992 969 989 1.065 1.020
Austrália 651 654 646 634 697 639 705 755 713 722 645 653 696 786 755
Outros Países 20.334 20.344 19.371 9.594 8.573 7.980 7.403 7.984 7.867 16.345 15.835 14.674 15.393 14.307 13.460
TOTAL 49.193 49.787 48.620 45.511 47.287 47.562 46.293 48.247 48.370 57.649 57.385 55.726 58.029 57.057 57.552
Fonte: United States Department of Agriculture (1990-2004).
111
Tabela 4 – Consumo per capita de carne bovina (kg)– 1990-2004
País
1990 1991 1992 1993
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
2001 2002 2003 2004
Argentina
69,0
70,1 67,3 67,8
63,8 58,5 58,6 70,0 63,6 67,5 67,8
66,3 61,6 60,2 60,4
Austrália
38,1
37,7 36,9 35,8
37,4 35,3 38,4 40,7 37,9 38,1 34,4
34,2 35,3 36,3 38,0
Brasil
36,1 38,0 39,4 37,2
38,0 42,6 42,4 39,0 38,2 36,6 35,7
35,7 35,8 36,3 38,0
Canadá
37,6 35,0 33,5 32,9
31,8 31,5 30,3 30,9 31,0 32,1 31,7
30,6 31,1 32,5 31,0
China 1,0 1,1 1,5 1,9 2,5 3,4 2,8 3,5 3,8 4,0 4,2 4,3 4,6 4,7 6,1
Estados Unidos
44,2 43,8 43,6 42,7
43,8 44,0 44,1 43,1 43,7 44,1 43,9
43,0 44,3 42,8 42,9
Japão
8,7 9,2 9,6 10,4
26,7 26,6 27,2 25,1 25,8 26,5 26,8
24,8 23,0 10,7 8,8
México
27,7 19,5 20,2 20,0
26,6 26,5 26,5 24,7 25,0 25,5 27,0
25,1 23,3 23,5 23,0
Rússia
36,6 34,2 27,7 25,6
25,6 23,0 23,4 23,7 19,4 18,7 18,5
16,5 16,3 16,5 15,7
Uruguai
57,4 63,4 76,8 64,3
74,2 60,6 67,3 66,6 72,2 71,3 61,2
51,2 49,6 49,8 49,4
Fonte: Anuário da Pecuária Brasileira (1999, 2000, 2003, 2004, 2005)
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