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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra
(PE) no contexto da geopaisagem.
Marília Perazzo Valadares do Amaral
Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Ribeiro Pessôa
Recife, 2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra
(PE) no contexto da geopaisagem.
Marília Perazzo Valadares do Amaral
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Arqueologia da Universidade Fede-
ral de Pernambuco, como parte dos requisitos para
obtenção do grau de mestre.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Ribeiro Pessôa
Recife, 2007
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Amaral, Marília Perazzo Valadares do
Os sítios de registros rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no
contexto da geopaisagem. – Recife: O Autor, 2007.
168 folhas: il., fig., tab., fotos, mapas.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.
CFCH. Arqueologia. Recife, 2007.
Inclui: bibliográficas.
1. Arqueologia – Sítios Arqueológicos. 2. Paisagem. 3. Pinturas
Rupestres. 4. Pernambuco – Buíque – Catimbau – Pedra – Venturosa.
I. Título.
902.2 CDU (2. ed.) UFPE
930.1 CDD (22. ed.) BCFCH2007/85
À minha pequenina Luna
AGRADECIMENTOS
Ao Prfº Dr. Ricardo Pessôa, grande entusiasta do nosso trabalho, pela ori-
entação tanto do ponto de vista teórico como na prática. Obrigada pela ajuda no
tratamento das imagens e pelo tempo gasto na elaboração de mapas e figuras
essenciais para conclusão desse trabalho.
À Profª Drª Anne-Marie Pessis, sempre atenciosa e paciente, pelas discus-
sões no âmbito teórico e metodológico da pesquisa. Obrigada também pela orien-
tação dada durante cinco anos, iniciada no PIBIC permanecendo até o mestrado,
o que deu base do ponto de vista conceitual para minha formação acadêmica.
Aos colegas do mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em
Arqueologia, em especial a Marcelinha, Carlos Rios, Antônio Moura, Ana Valéria,
Gleyce, Fabíola, Rosiane, Valdeci, Viviane e Adriene companheiros nos momen-
tos de dificuldades e incentivadores dessa pesquisa.
Aos colegas Ana Carolina (Carolzinha) e Artur companheiros nas visitas de
Campo à Venturosa e Pedra.
Às amigas Solange e Mirian pelo amor e cuidado dedicados à minha Luna,
com certeza sem vocês não teria sido possível desenvolver e concluir essa dis-
sertação.
À minha irmã Carol, exemplo de determinação e coragem, pelos momentos
de reflexão indispensáveis na composição da pesquisa.
Ao meu marido Alexandre, grande incentivador do meu trabalho.
Aos meus pais, pelo apoio financeiro e psicológico imprescindíveis no de-
correr dessa pesquisa.
RESUMO
AMARAL, Marília Perazzo Valadares do. Os Sítios de Registros Rupestres em
Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem. Recife:
PPARQ/UFPE, 2007, 168 p. (Dissertação de Mestrado).
O presente trabalho propõe estudar os sítios com pinturas rupestres nos domínios
geoambientais dos municípios de Venturosa, Pedra e Catimbau (Distrito do muni-
cípio de Buíque) - PE, observando possíveis padrões de escolha desses no cená-
rio geopaisagístico das regiões. Estabelecendo uma inter-relação entre os ele-
mentos naturais da paisagem (no sentido físico e biótico) com o antrópico através
dos diferentes sítios com pinturas rupestres, procurou-se determinar quais com-
ponentes seriam mais relevantes para observar tais relações e suas possíveis
recorrências no âmbito paisagístico das regiões.
A ausência de estudos relacionando a tipologia e localização dos sítios à paisa-
gem natural, nos municípios pesquisados, foi determinante para desenvolver pes-
quisas acerca deste tema. A relação entre a paisagem dos espaços estudados,
tendo em vista as transformações ocorridas ao longo do tempo, com os sítios ar-
queológicos permite ao pesquisador compreender a dinâmica da adaptação do
homem ao meio e da escolha dos sítios podendo estar relacionada aos aspectos
da paisagem.
As análises dos sítios de pinturas rupestres no contexto da geopaisagem foram
principiadas com a delimitação de cinco variáveis de estudo necessárias, nesse
trabalho, para observar as relações existentes entre sítios arqueológicos e paisa-
gem natural das áreas. As análises da geologia e geomorfologia permitiram ob-
servar o contexto da paisagem dos sítios, observando suas características locais
e do entorno. A variável altimétrica, relacionada com as formas de relevo e o cli-
ma, permite observar como os sítios se apresentam nas diferentes cotas e as
possíveis influências nas estruturas naturais dos sítios e morfologia das pinturas.
A distribuição espacial e análise dos registros rupestres foram preponderantes
para a obtenção dos resultados das pesquisas, uma vez que permitiram observar
como os sítios de pinturas rupestres estão distribuídos na paisagem e as similitu-
des observadas na escolha dos locais dos sítios nas áreas de Venturosa e Pedra
contrastando com as observadas em Catimbau em função, principalmente, das
particularidades da geopaisagem das regiões.
Palavras – Chave: Sítios Arqueológicos – geopaisagem – Pinturas Rupestres
ABSTRACT
AMARAL, Marília Perazzo Valadares do. Rock Art Sites in Buíque, Venturosa
and Pedra (Pernambuco State) within geographical Settings. Recife:
PPARQ/UFPE, 2007, 168 p. (Máster Degree Dissertation).
The present work considers to study the cave painting sites of the geo-
environments dominium of Venturosa, Pedra and Catimbau (Municipal district of
Buíque) - PE, observing their possible standards of choice in the landscape scene
of the regions. Establishing an interrelation it enters the natural elements of the
landscape (in the physical and biotic senses) with the antrópico through the differ-
ent sites with cave paintings, it was intended to determine which components
would be more relevant in the observation of such relations and its possible recur-
rences in the landscape scope of the regions.
The absence of studies relating the typology and localization of the sites to the
natural landscape, in the searched cities, was determinative to develop researches
on this subject. The relation between the landscape of the studied spaces, consid-
ering transformations occurred during time, and the archaeological sites allows the
researcher to understand the dynamics of the adaptation of man to environment
and the choice for the sites, being possibly related to the aspects of the landscape.
The analyses of the cave painting sites in the context of the landscape began with
the delimitation of five necessary variables of study, in this work, to observe the
existing relations between archaeological sites and natural landscape of the areas.
The analyses of geology and geomorphology allowed to observe the context of the
landscape of the sites, observing its local characteristics and the surrounding’s.
The altimetric variable, related to the relief forms and the climate, allows the ob-
servation of the behavior of the sites in the different quotas and the possible influ-
ences on the natural structures of the sites and morphology of paintings. The
space distribution and analysis of the cave registers were preponderant for the
attainment of the research results, once they allowed to observe how the cave
painting sites are distributed in the landscape and the similarities observed in the
choice for the places of the sites in the areas of Venturosa and Pedra contrasting
with the ones observed in Catimbau regarding, mainly, the particularitities of the
landscape of the regions.
Key- Words: Archaeological Sites - Landscape - Rock Painting
SUMÁRIO
ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES........................................................................... 08
Índice de Figuras.......................................................................................
Índice de Fotos...........................................................................................
Índice de Tabelas.......................................................................................
08
19
11
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
CAPÍTULO I...................................................................................................... 15
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Problematização e Metodologia
1.1 Fundamentação Teórica......................................................................
1.2 Problematização...................................................................................
1.3 Hipótese de Trabalho – Metodologia de Abordagem........................
15
19
20
CAPÍTULO II..................................................................................................... 26
ANTECEDENTES DAS PESQUISAS
2.1 Histórico das Pesquisas realizadas em Venturosa, Pedra e Buíque.26
CAPÍTULO III.................................................................................................... 32
ASPECTOS DA GEOPAISAGEM DO AGRESTE
3.1 O Contexto Fisiográfico e os Agrestes Pernambucanos.................
3.2 Feições Geológicas do Agreste..........................................................
3.3 Feições Geomorfológicas do Agreste................................................
3.4 Aspectos Fisiográficos da Área de Estudo........................................
3.5 Considerações acerca do Paleoambiente das Áreas Pesquisadas.
32
33
34
35
42
CAPÍTULO IV................................................................................................... 47
OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO CONTEXTO DA PAISAGEM
4.1 Aspectos da Geopaisagem e os Sítios Arqueológicos.....................
4.2 Análise Espacial dos Sítios Arqueológicos.......................................
4.3 Os Sítios arqueológicos de Venturosa, Pedra e Buíque...................
47
56
69
4.3.1 Os Sítios Arqueológicos do Município de Venturosa..........
4.3.2 Os Sítios Arqueológicos do Município de Pedra..................
4.3.3 Os Sítios Arqueológicos de Catimbau...................................
69
96
106
4.4 Conservação e Preservação dos Sítios Arqueológicos................... 159
CAPÍTULO V.................................................................................................... 161
SÍNTESE DO CONHECIMENTO
5.1 Conclusões........................................................................................... 161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 163
ANEXO............................................................................................................. 168
ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES
Índice de Figuras
Figura 1 - Vias de acesso aos municípios envolvidos nesse estudo...................... 12
Figura 2 - Localização da área de estudo na Região Fisiográfica do Agreste de
Pernambuco........................................................................................... 32
Figura 3 - Perfil esquemático geomorfológico explicativo da formação dos bre-
jos de altitude.......................................................................................... 41
Figura 4 - Ilustração da orografia e hidrografia orientadas segundo nordeste-
sudoeste. Região leste de Venturosa..................................................... 49
Figura 5 - Distribuição Espacial dos Sítios de Registros Rupestres nos municí-
pios de Buíque, Pedra e Venturosa - Estado de Pernambu-
co............................................................................................................ 168
Figura 6 - Esquema explicativo da formação de abrigos em matacões para as
regiões de Pedra e Venturosa................................................................ 51
Figura 7 - Indicação de perfil morfológico. Região leste de Venturosa................... 59
Figura 8 - Perfil morfológico e posição dos sítios. Região leste de Venturosa....... 60
Figura 9 - Modelamento 3D. Orientação NE. Região leste de Venturosa.............. 61
Figura 10 - Modelamento 3D. Orientação SW. Região leste de Venturosa.............. 62
Figura 11 - Indicação de perfil morfológico. Região norte de Catimbau................... 64
Figura 12 - Perfil morfológico N-S. Região norte de Catimbau................................. 65
Figura 13
- Perfil morfológico WNW-ESE. Região norte de Catimbau..................... 66
Figura 14
- Modelamento 3D. Orientação NE. Região norte de Catimbau............... 67
Figura 15
- Modelamento 3D. Orientação SW. Região norte de Catimbau.............. 68
Índice de Fotos
Foto 1 - Representação de um grafismo não reconhecível, Sítio Pedra do
Chapéu. Venturosa............................................................................... 27
Foto 2 - Vista panorâmica do relevo em serras, colinas e baixadas. Venturo-
sa.......................................................................................................... 37
Foto 3 - Vista panorâmica do relevo em serras contrastando com área plana
e rebaixada. Venturosa......................................................................... 38
Foto 4 - Vista do Serrote do Barbado com morfologia em "Pão-de-Açúcar".... 38
Foto 5 - Vista panorâmica do vale do Catimbau mostrando diferentes formas
de relevo............................................................................................... 39
Foto 6 - Vista parcial do cânion de Catimbau.................................................... 40
Foto 7 - Cânion do Catimbau e formas em escarpa e "morros testemunhos"... 40
Foto 8 - Exemplar do arbusto icó mostrando bagas comestíveis...................... 42
Foto 9 - Núcleos de babaçu no sopé da Serra de Jerusalém. Catimbau.......... 45
Foto 10 - Esfoliação esferoidal e sistemas de fendas em matacão. Abrigo do
sítio Peri-Peri I. Venturosa.................................................................... 51
Foto 11 - Ilustrações da degradação de grafismos rupestres. Catimbau............ 52
Foto 12 - Fonte d'água na encosta sudeste da Serra do Buco. Venturosa......... 53
Foto 13
- Relações entre fendas e estratificação na formação de estruturas ca-
vernícolas. Sítio Homem sem Cabeça. Catimbau................................ 54
Foto 14
- "Morro testemunho" e painel em forma de concha. Sítio Concha I.
Catimbau.............................................................................................. 55
Foto 15
- Ilustração da formação de estruturas cavernícola em escala centimé-
trica. Sítio Dedo de Deus I. Catimbau.................................................. 55
Foto 16
- Fonte d'água no sopé da Serra de Jerusalém. Catimbau.................... 56
Foto 17
- Vista panorâmica do Sítio Peri-Peri I. Venturosa................................. 69
Foto 18
- Ilustração do abrigo do Sítio Peri-Peri I................................................ 70
Foto 19
- Visão de painel liso e lateral ao abrigo de Peri-Peri I........................... 72
Foto 20
- Representação de uma fileira de emas. Sítio Peri-Peri I...................... 73
Foto 21
- Abrigo sob rocha. Sítio Peri-Peri II. Venturosa..................................... 74
Foto 22 - Representações de zoomorfos. Sítio Peri-Peri II.................................. 75
Foto 23
- Panorâmica do Sítio do Barbado. Venturosa....................................... 77
Foto 24
- Vista parcial do Serrote do Barbado..................................................... 78
Foto 25
- Abrigo sob rocha. Sítio do Barbado...................................................... 79
Foto 26
- Sobreposição de grafismos. Sítio do Barbado..................................... 80
Foto 27 - Panorâmica do Serrote da Pedra Furada. Venturosa.......................... 81
Foto 28 - Representação zoomórfica. Sítio Pedra Furada................................... 82
Foto 29 - Grafismos sobrepostos por pixações. Sítio Pedra Furada................... 83
Foto 30 - Detalhe de antropomorfo e zoomorfo. Sítio Pedra Furada................... 84
Foto 31 - Antropomorfo. Provável mulher grávida. Sítio Pedra Furada............... 85
Foto 32 - Panorâmica dos Sítios Pedra da Buquinha I e II. Venturosa................ 86
Foto 33 - Panorâmica do abrigo sob rocha. Sítio Pedra da Buquinha I............... 88
Foto 34 - Pinturas rupestres. Tradição Agreste. Sítio Pedra da Buquinha I........ 89
Foto 35 - Panorâmica do Sítio Pedra do Chapéu. Venturosa.............................. 91
Foto 36 - Antropomorfo associado a linhas verticais. Sítio Pedra do Chapéu..... 92
Foto 37 - Adereços. Tradição Nordeste. Região do Seridó-RN........................... 94
Foto 38 - Marcas de mãos e um provável adereço. Sítio Pedra do Chapéu....... 94
Foto 39
- O Sítio Pedra Redonda na paisagem. Pedra....................................... 96
Foto 40
- Matacão com pinturas. Sítio Pedra Redonda....................................... 97
Foto 41 - Antropomorfo típico da Tradição Agreste. Sítio Pedra Redonda.......... 99
Foto 42
- Paisagem de Matacões. Sítio Poço da Figura. Pedra.......................... 100
Foto 43
- Antropomorfo com indicação feminina. Sítio Poço da Figura............... 101
Foto 44
- Vista de paisagem do Sítio Pedra do Caboclo. Pedra.......................... 102
Foto 45
- Paisagem do Sítio Prata. Pedra........................................................... 103
Foto 46 - Vista de matacões do Sítio Prata......................................................... 104
Foto 47
- Conjunto de grafismos em matacão. Sítio Prata.................................. 105
Foto 48
- Vista de paisagem do Sítio Homem sem Cabeça. Catimbau............... 106
Foto 49 - Pinturas rupestres. Tradição Nordeste. Sítio Homem sem Cabeça..... 107
Foto 50
- Vista sudoeste do Sítio Homem sem Cabeça...................................... 109
Foto 51
- Antropomorfo, figuras não reconhecíveis. Sítio Homem sem Cabeça. 110
Foto 52
- Conjunto de antropomorfos. Sítio Homem sem Cabeça...................... 111
Foto 53
- Vista parcial do Sítio Serrinha. Catimbau............................................. 112
Foto 54 - Grafismo parcialmente destruído por intemperismo. Sítio Serri-
nha........................................................................................................
114
Foto 55 - Antropomorfos enfileirados. Sítio Serrinha........................................... 115
Foto 56 - Representação circular atacada por cupins. Sítio Serrinha.................. 116
Foto 57 - Zoomorfo de contorno fechado. Sítio Serrinha..................................... 117
Foto 58 - Panorâmica da localização do Sítio do Veado. Catimbau.................... 118
Foto 59 - Abrigo sob rocha do Sítio do Veado..................................................... 119
Foto 60 - Detalhe de pinturas rupestres. Sítio do Veado..................................... 120
Foto 61 - Representação de zoomorfo (veado). Sítio do Veado.......................... 121
Foto 62 - Cena de caça ao veado. Sítio Toca do Estevo III. Serra da Capivara-
PI..........................................................................................................
121
Foto 63 - Zoomorfo sobreposto por grafismos da Tradição Agreste. Sítio do
Veado...................................................................................................
122
Foto 64 - Representação de círculos concêntricos. Sítio do Veado.................... 123
Foto 65 - Conjunto de grafismos. Sítio do Veado................................................ 124
Foto 66 - Fileira de antropomorfos. Sítio Toca da Subida da Serrinha I. Serra
da Capivara-PI......................................................................................
126
Foto 67 - Fileira de antropomorfos. Sítio do Veado............................................. 126
Foto 68 - Vista panorâmica do Sítio Caiana. Catimbau....................................... 127
Foto 69
- Abrigo sob rocha. Sítio Caiana............................................................. 128
Foto 70
- Grafismos puros de contorno aberto. Sítio Caiana............................... 129
Foto 71 - Marca de mão. Sítio Caiana................................................................. 130
Foto 72
- Marcas de mão e círculos concêntricos. Sítio Caiana.......................... 130
Foto 73
- Zoomorfo de contorno fechado. Sítio Caiana....................................... 131
Foto 74
- Afloramento expondo o Sítio Pedra da Concha I. Catimbau................ 132
Foto 75
- Grafismos. Tradições Nordeste e Agreste. Sítio Pedra da Concha I... 133
Foto 76
- Antropomorfos enfileirados. Sítio Pedra da Concha I........................... 134
Foto 77
- Antropomorfos um sobre o outro. Sítio Pedra da Concha I.................. 135
Foto 78
- Antropomorfos um sobre o outro. Sítio Toca do Baixão das Mulheres
I. Serra da Capivara-PI.........................................................................
135
Foto 79 - Antropomorfos em cena de sexo. Sítio Pedra da Concha I.................. 136
Foto 80
- "Piroga" com antropomorfos no entorno. Sobreposição de grafismos
da Tradição Agreste. Sítio Pedra da Concha I.....................................
137
Foto 81
- Grafismo emblemático. Subtradição Seridó. Sítio Furna do Messias.
Seridó-RN.............................................................................................
137
Foto 82
- Panorâmica do Sítio Pedra da Concha II. Catimbau............................ 139
Foto 83
- Círculos concêntricos e marca de mão. Sítio Pedra da Concha II....... 140
Foto 84 - Vista geral do Sítio Pititi. Catimbau...................................................... 141
Foto 85 - Grafismos puros sobrepostos por gravura. Sítio Pititi.......................... 142
Foto 86 - Topo do abrigo sob rocha. Sítio Casa de Farinha. Catimbau............... 143
Foto 87 - Abrigo sob rocha. Sítio Casa de Farinha.............................................. 144
Foto 88 - Antropomorfo e fitomorfos. Sítio Casa de Farinha............................... 145
Foto 89 - Antropomorfo e fitomorfo em detalhe. Sítio Casa de Farinha.............. 146
Foto 90 - Fitomorfo em maior detalhe. Sítio Casa de Farinha............................. 146
Foto 91 - Grafismo puro. Sítio Casa de Farinha.................................................. 147
Foto 92 - Abrigo sob rocha. Sítio Toca do João. Catimbau................................. 148
Foto 93 - Detalhe do interior do abrigo. Sítio Toca do João................................ 149
Foto 94 - Abrigo sob rocha. Sítio Alcobaça. Catimbau........................................ 151
Foto 95 - Grafismos retangulares. Sítio Alcobaça............................................... 152
Foto 96 - Panorâmica do abrigo sob rocha. Sítio Dedo de Deus I. Catimbau..... 153
Foto 97 - Vista lateral do Sítio Dedo de Deus I.................................................... 154
Foto 98 - Antropomorfo representado por perna longas. Antropomorfo estático
tridátilo. Sítio Dedo de Deus I...............................................................
155
Foto 99 - Antropomorfo de contorno fechado. Sítio Dedo de Deus II.................. 157
Foto 100
- Antropomorfo tridátilo. Sítio Dedo de Deus II....................................... 158
Foto 101 - Pedreira em atividade. Pedra............................................................... 159
Foto 102
- Pixações sobre pinturas rupestres. Sítio Pedra Furada. Venturosa..... 160
Índice de Tabela
Tabela 1 - Relação dos sítios arqueológicos estudados.................................. 58
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
12
INTRODUÇÃO
As áreas abordadas no presente trabalho compreendem os municípios de
Pedra, Venturosa e Buíque (Figuras 1, 2). Esses municípios estão localizados na
Meso-região do Agreste Pernambucano, mais precisamente na Micro-região de
Arcoverde, no Vale do Rio Ipanema.
Figura 1 - Vias de acesso aos municípios envolvidos nesse estudo. Fonte: Mapa Rodoviário de
Pernambuco, 2001. Disponível em www.municípios.pe.gov.br
. Acessado em Janeiro de 2007. Mo-
dificado do original. Escala e coordenadas ausentes no original.
Com base nos questionamentos (Cap.I, seção 1.2) acerca dos sítios ar-
queológicos inseridos na paisagem natural, e da própria utilização dos mesmos
pelos povos que estiveram no agreste pernambucano há pelo menos 2.000 anos
A.P., foram investigados 25 sítios com pinturas rupestres (Tabela 1; Figura 5). Os
sítios Furtuoso II e Serra Branca, ambos situados em Catimbau, foram apenas
mapeados a partir de fontes secundárias, mas não investigados no campo em
decorrência de fatores naturais (fortes chuvas nas campanhas de campo, impe-
dindo acesso e companhia de um guia de campo).
Por domínio de município, os 25 sítios estão assim distribuídos:
CFN
CFN
AL
SE
PI
BA
PB
Barr. de
It ap ar ic a
Barr. de
Paulo Afon so
CF N
a
n
s
n
o
r
d
e
s
t
i
n
a
T
r
361
104
101
110
316
232
116
316
232
122
316
423
424
423
408
428
407
235
116
316
110
Porto de Recife
Porto de Suape
Recife
Se rr a
Ouricuri
Jardim
Bel o
Cabrobó
Gar an hu ns
Pal mares
Cabo
Car ua ru
Suape
Talha da
Araripina
Sertâ n i a
I
n
a
j
á
Ibi mirim
Lajedo
Caet ano
São
Gravatá
Petrolina
Ar co ver d e
Itamaracá
Afrânio
Triu nfo
Afo gados
da Ingazeira
Itaíba
Tupanatinga
Tacaratu
Buíque
Ág u a s
Belas
Pesq uei ra
Caet és
Bo m
Co ns el h o
Iati
Limoei ro
Portos Marítimos
Termina is Hidroviá r io s I n t e r io r e s
Barrage ns
Eclu sas em Construção ou Planeja
d
Eclu sas em Operação
Trechos Navegáveis
Trechos Nave gáveis nas cheias
Trechos d e Navegação I ne xpressí
ve
Rodovias Federais Duplicadas
Rodovias Federais em Duplicação
Rodovias Federais Pavimentadas
Rodovias Federais em Pavimentaçã
o
Rodovias Federais Implant adas
Rodovias Federais em Leito Natura
l
Rodovias Federais Planejadas
Rodovia s Est aduais Paviment adas
Rodovia s Est aduais / Pavimentação
Rodovia s Est aduais Duplicadas
Rodovia s Est aduais Implantadas
Rodovia s Est aduais em Leito Natur
a
Rodovia s Est aduais Planejada s
Aerop ort o Int ernaciona l
Aeroporto Doméstico
Nome das Ferrovias
Ferrovias em Tráfego
Ferrovias Planejadas
Vent urosa
Pe d r a
Oceano Atlântico
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
13
- 14 sítios no distrito de Catimbau;
- 07 sítios no município de Venturosa;
- 04 sítios no município de Pedra.
O conteúdo da dissertação baseia-se nos estudos desenvolvidos em cam-
po nos aspectos da geopaisagem, dos sítios conhecidos e os descobertos duran-
te as campanhas de Junho e Novembro de 2006 – como são os casos dos sítios
Toca do Chapéu (Venturosa) e Toca do João e Sítio do Veado (ambos em Catim-
bau) – e a partir de análises de fontes secundárias.
A ausência de investigações relacionando a tipologia e localização dos sí-
tios à paisagem natural, nos municípios pesquisados, é determinante para desen-
volver pesquisas acerca do tema inicialmente proposto. A relação entre a paisa-
gem dos espaços estudados, tendo em vista as transformações ocorridas ao lon-
go do tempo, com os sítios arqueológicos permite ao pesquisador compreender a
dinâmica da adaptação do homem ao meio e da escolha dos sítios podendo estar
relacionada aos aspectos da paisagem.
Um outro tópico importante para relevância do estudo, é a destruição inten-
siva dos sítios arqueológicos, resultado da extração de blocos graníticos existen-
tes em vários locais dos municípios de Venturosa e Pedra, bem como a prática de
pixações. É necessária a intervenção dos órgãos de conservação do patrimônio
para conter a depredação que está sendo cada vez mais intensa, cujo objetivo
comercial é priorizado em detrimento do patrimônio cultural e natural, e os atos de
vandalismo.
O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos, a saber:
No Capítulo I, de cunho teórico-metodológico, estão explicitadas as linhas
teóricas seguidas, a conceituação de alguns termos utilizados, bem como a deli-
mitação da problemática abordada, das hipóteses levantadas e da metodologia
empregada na análise dos sítios arqueológicos de pintura rupestre conjugados
aos aspectos da paisagem natural das áreas pesquisadas.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
14
O Capítulo II refere-se ao histórico das pesquisas arqueológicas realizadas
no Agreste Pernambucano, mais especificamente nos municípios de Venturosa,
Pedra e Buíque.
O Capítulo III aborda aspectos da paisagem natural do Agreste Pernambu-
cano enfatizando, sobretudo, as feições de interesse direto ao tema abordado.
Disserta-se sobre a identidade do agreste pernambucano e suas principais fei-
ções geológicas e geomorfológicas. De modo mais detalhado, são apresentados
os aspectos da paisagem física e biótica nos espaços de ocorrências dos sítios
arqueológicos de pinturas rupestres, inseridos em áreas dos municípios de Pedra,
Venturosa e Buíque (especificamente, a região de Catimbau).
No Capítulo IV, procede-se a uma análise e interpretação entre a geopai-
sagem e os sítios arqueológicos, buscando expor a lógica de apropriação do meio
natural pelos grupos humanos que habitavam a região. O capítulo se completa
com uma descrição dos sítios, destacando-se a localização, a distribuição no es-
paço, suas características físicas, análise dos grafismos e uma abordagem a res-
peito da conservação e preservação.
O capítulo V refere-se à síntese do conhecimento construído.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
15
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Problematização e Metodologia
1.1 Fundamentação Teórica
A arqueologia necessita do auxílio de diversas ciências para construir uma
base de dados e informações que facilite o entendimento da investigação arqueo-
lógica, pois os múltiplos campos do conhecimento possibilitam ao pesquisador
obter uma visão multifacetada do objeto. Nosso universo conceitual está calcado
em três áreas distintas do conhecimento científico (Arqueologia, Geociências e
Antropologia), que interagem de forma direta quando se analisa o binômio ho-
mem-meio.
Os conceitos são representações de um ser pelo pensamento por meio de
suas características gerais, sendo, portanto definidos como unidades de pensa-
mento
1
. A necessidade de definir os conceitos torna-se importante para não abrir
espaços de ambigüidade, principalmente quando se trabalha com universos epis-
temológicos distintos como é o caso da Arqueologia.
Os conceitos e as metodologias de uso nas geociências e antropologia
subsidiam as investigações arqueológicas. O resultado dessa interação possibilita
compreender a configuração da geopaisagem, desde os períodos de ocupação e
a inserção do homem meio natural. Neste sentido, cabe complementar que boa
parte dos conhecimentos das geociências subsidiam o entendimento das estraté-
gias de sobrevivência do homem, uma vez que se tornam compreensíveis como
os processos antrópicos respondem aos elementos da paisagem (física e biótica).
O conceito de paisagem, ou geopaisagem, como aqui estabelecido, abran-
ge aspectos naturais dos sistemas físico e biótico como a morfologia do relevo,
topografia, litologia, estrutura geológica, hidrografia, clima e cobertura vegetal.
Está, portanto, se considerando a paisagem natural com o homem efetivamente
dependente desta. Neste último sentido, é dizer, de outro modo, o ambiente como
1
BUNGE, Mário. La Investigación Cientifica: Su estrategia e su filosofia. Barcelona: Editorial
Ariel. 1973. P. 64.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
16
agente que limita o cumprimento das necessidades, conduzindo o homem a se
adaptar as diferentes situações.
Tomando o conceito de paisagem usado por Bigarella
2
, pode-se entender
que as mudanças sucessivas e variadas do ponto de vista climático, que ocorre-
ram nos vários domínios fisiográficos (cerrado, caatinga, campo, florestas), refle-
tem a composição da paisagem atual que constitui o resultado das transforma-
ções ocorridas. Levando em consideração as particularidades de cada domínio e
os diferentes impactos que a variável climática pode provocar, trabalhou-se o do-
mínio fisiográfico da caatinga observando sua evolução nos últimos 8.000 anos
3
.
Desta forma, compreender o cenário natural permite ao pesquisador en-
tender qual a estrutura a que os homens que habitaram os espaços pesquisados
estavam submetidos e como poderiam se adequar a esta estrutura
4
.
Observar a relação meio-ambiente – cultura é necessária para a compre-
ensão da adaptação
5
do homem ao ecossistema, já que a “cultura é compreendi-
da como um significado extra-somático da adaptação humana”
6
. A partir dessa
análise, podem-se observar as estratégias adaptativas relacionadas ao nicho eco-
lógico
7
. Tais estratégias de adaptação são extremamente culturais, pois operam
em resposta as limitações do meio ambiente que determinam o alcance potencial
dos comportamentos em relação ao cenário ambiental
8
.
2
Paisagem no sentido da natureza, como elemento natural que envolve processos geológico-
biológicos na sua formação. VER: BIGARELLA et al. Consideração a respeito das mudanças
paleoambientais na distribuição de algumas espécies vegetais e animais no Brasil. Anais da
Academia Brasileira de Ciências, 1975. P. 427.
3
A referência temporal de 8.000 anos A.P. é feita devido aos poucos estudos relacionados ao
paleoclima e paleo-ambiente realizados em Pernambuco. Obtivemos apenas informações referen-
tes a esse período pelos estudos de RIBEIRO, Adauto de Souza. Dinâmica paleoambiental da
vegetação e clima durante o quaternário tardio em domínios da mata atlântica, brejo do
semi-árido e cerrado nordestino utilizando isótopos do carbono da matéria orgânica do
solo e planta. Tese de Doutorado apresentada ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura da
Universidade de São Paulo. São Paulo. 2002.
4
BUTZER, Karl. Arqueología – Una ecología del hombre: Método e Teoría para un enfoque
contextual. Barcelona: Ediciones Ballaterra. 1984. P.29.
5
Butzer trabalha com os conceitos de adaptação e adaptabilidade estando o primeiro relacionado
com as estratégias de sobrevivência e o segundo com a capacidade de ajuste de um sistema cul-
tural a um determinado meio. BUTZER, K. Op. Cit. P. 10.
6
BINFORD, Lewis R. An Archaeological Perspective. New York: Seminar Press. 1968, P. 22.
7
“El nicho incluye explícitamente el espacio físico ocupado por el organismo, su rol funcional en la
comunidad y la forma en que se ve constreñido por otras especies y factores abióticos”. BUTZER,
K. Op. Cit. P. 14.
8
Ibidem. P. 271.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
17
A função adaptativa é controlada pelas idéias e pelos símbolos próprios de
cada grupo humano em seu tempo e seu espaço. Os processos de adaptação
das sociedades humanas ao meio ambiente dependem, pois, dos seus conheci-
mentos doxológicos
9
e teleonômicos
10
e de como estas se comportam no meio.
Os sítios ou conjunto de sítios arqueológicos fazem parte do ecossistema
humano, uma vez que as comunidades do passado desenvolveram uma relação
espacial, temporal, social e econômica com o meio ambiente a que estavam a-
daptados
11
. Dessa forma, os sítios arqueológicos são percebidos como um con-
junto de indícios vestigiais e espaciais que permitem, a partir de pesquisas inten-
sivas e sistemáticas na área, reconstituírem o modo de vida dos grupos que neles
habitaram, sendo entendidos, pois, como o registro tangível de um lugar de ativi-
dade humana do passado. Assim, aliar os conhecimentos do ecossistema huma-
no às evidências arqueológicas de cunho material e simbólica permitirá abrir
perspectivas verdadeiramente ecológicas de compreensão das sociedades inseri-
das em um contexto macro ambiental.
Um aspecto importante observado é o cuidado necessário ao fazer correla-
ções e análises entre espaço e cultura. A análise do espaço aliada à cultura mate-
rial muitas vezes é feita de forma generalizada, não permitindo observar as especi-
ficidades de cada grupo. Esta pode levar o pesquisador a estabelecer modelos
previsionais de ocupação aliando os vestígios às características espaciais, resul-
tando em conclusões ambíguas e incorretas. Ademais, os modelos gerais não
conseguem alcançar a complexidade do real, deixando de lado suas característi-
cas particulares, minimizando-o a uma mera convenção adotada por teóricos.
Além das análises ambientais e espaciais dos sítios, os registros gráficos e
os artefatos dos grupos humanos são fontes de dados importantes para a com-
preensão das sociedades do passado, pois constituem parte da cultura material e
do universo simbólico dos grupos humanos. Constituem, em sua essência, siste-
9
Conhecimentos pragmáticos, relacionados ao conhecimento do cotidiano, não possuindo emba-
samento científico.
10
Termo científico utilizado para identificar os componentes necessários à sobrevivência.
11
BUTZER, Karl. Arqueología – Una ecología del hombre: Método e Teoría para un enfoque
contextual. Barcelona: Ediciones Ballaterra. 1984. P. 6.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
18
mas de comunicação social
12
, possuindo a função de marcadores de memória
para os povos de tradição oral.
Assim, quando partimos para estudar a cultura material dos povos, mesmo
correlacionando-a com o contexto macro ambiental, devemos ter em vista que as
características observadas no sistema simbólico de cada sociedade possuem su-
as especificidades e que a história de cada uma delas afeta diretamente a sua
estrutura sócio-cultural. Dessa forma, observamos a cultura como resultado de
um processo histórico, tentando explicar os artefatos e as estruturas dos grupos
como símbolos do pensamento dos homens do passado.
Os registros gráficos possuem um duplo valor arqueológico
13
. A dimensão
material constituída pelas figuras em suas singularidades e que fornece informa-
ções sobre os recursos técnicos utilizados para atingir um produto gráfico; e a
dimensão imaterial da cultura exprimida através da pintura como suporte de con-
teúdos tais como a temática escolhida e retratada, as quais estão imbuídas de
múltiplos significados que se perderam no tempo devido ao desconhecimento dos
códigos.
Por este motivo, muitas vezes, ao se tentar buscar o significado dos códi-
gos de determinados elementos, é possível cair no erro de confundir as interpre-
tações dos grupos humanos pré-históricos com os das sociedades históricas ou
pré-históricas posteriores. A forma de se olhar o passado é vista com os olhos do
presente, com suas perspectivas, conceitos e paradigmas.
As pinturas rupestres são analisadas apenas do ponto de vista da materia-
lidade, sem adentrar-se no campo das interpretações e conjecturas. O componen-
te material, por se tratar de agentes da narrativa que persistem independentemen-
te da maneira como participam do processo narrativo, nos possibilita analisar as
técnicas, temáticas e a cenografia das pinturas a partir de uma abordagem arque-
12
PESSIS, A. M. Imagens da Pré-História. Parque Nacional Serra da Capivara. FUMDHAM-
PETROBRÁS. São Paulo; A&A Comunicação. 2003. P. 69/70.
13
PESSIS, A. M. Op. Cit. P. 55.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
19
ológica
14
, observando-as como elementos da cultura material dos povos que vive-
ram na região há pelo menos 2.000 anos A.P.
A Arqueologia ocupa-se da recuperação, descrição e estudo sistemático da
cultura material das sociedades aliada ao contexto em que foram encontrados tais
vestígios. Uma teoria consistente e um método adequado para a análise e estudo
do objeto de pesquisa delimitado é de essencial importância para que não seja
ilusório o conhecimento do passado humano. As análises espaciais dos sítios ar-
queológicos aliadas às análises ambientais e gráficas permitirão observar as pos-
síveis correlações do ponto de vista da paisagem e da cultura material entre os
sítios localizados na área de estudo.
1.2 Problematização
Tendo em consideração as relações entre cultura e ambiente expostas an-
teriormente, o estudo foi direcionado pela variável ambiental do contexto arqueo-
lógico, com o objetivo de melhor compreender os aspectos da paisagem que par-
ticiparam na escolha dos locais utilizados pelas comunidades humanas para o
estabelecimento dos sítios arqueológicos e realizar a prática gráfica.
A problemática levantada baseia-se no questionamento sobre a existência
de um padrão de escolha dos sítios de pintura rupestre, para, assim, entender se
os grupos que estiveram na região ocuparam espaços naturais semelhantes ou
não.
Dentro deste aspecto, tem-se que estabelecer uma relação entre os ele-
mentos naturais da paisagem (no sentido físico e biótico) com o antrópico através
dos diferentes sítios com pinturas rupestres. Neste procedimento, procura-se de-
terminar quais os componentes mais relevantes da análise serão marcadores no
estabelecimento de padrão ou padrões. A relação meio-cultura foi analisada do
ponto de vista da operacionalidade dos dados geoambientais (entendendo-se da
geopaisagem) e arqueológicos. Observar se há um padrão de escolha da geopai-
sagem dos sítios de pintura rupestre nas três áreas de estudo, permite compre-
14
VER: PESSIS, A.M. Registros Rupestres. Perfil Gráfico e Grupo Social. In: Revista CLIO,
Série Arqueológica N
o
9. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco. 1993. P. 10-14.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
20
ender as escolhas da localização dos sítios, de suporte para pintar e se a distribu-
ição espacial destes acompanha ou não padrões de escolhas. A necessidade de
se estabelecer um padrão, caso haja, é observar as possíveis escolhas dos gru-
pos que ali estiveram em função da disponibilidade do ambiente, observando as
localidades favoráveis para a constituição de sítios.
Trabalhar com o conceito de padrão remete a adotar medidas de compara-
ção para uniformizar a avaliação de um conjunto de elementos. Um padrão se
estabelece a partir de diversos componentes comparados entre si a partir da ob-
servação de recorrências e disparidades.
Assim, a pesquisa foi direcionada observando a variável ecológica, com o
objetivo de perceber as reações adaptativas dos grupos humanos em função da
disponibilidade espacial e de recursos necessários para sobrevivência. Foram
delimitadas as seguintes variáveis para estudar possíveis padrões de escolha dos
sítios de pintura rupestre:
- a geomorfologia;
- a geologia;
- a distribuição espacial dos sítios;
- a cobertura vegetacional;
- os registros gráficos pintados.
1.3 Hipótese de Trabalho – Metodologia de Abordagem
A necessidade de atrelar a metodologia à hipótese proposta, orientou a
pesquisa a considerar a variável ambiental como fio condutor dos estudos. Desta
forma, a investigação começou por identificar as unidades geológicas e geomorfo-
lógicas onde existem sítios rupestres estabelecidos.
Aspectos Geológicos e Geomorfológicos
Esses aspectos dizem respeito a geopaisagem no sentido mais amplo, ou
seja, feições morfológicas, hidrografia, fontes de água, estrutura geológica e lito-
logia, que podem ser parâmetros aplicados caso a caso. Esses aspectos foram
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
21
estudados para o contexto da paisagem dos sítios arqueológicos, observando
suas características locais e do entorno, uma vez que o sítio arqueológico é o lo-
cus natural, é a fração (física) de uma paisagem que em épocas remotas era pró-
prio do ecossistema humano. No entanto, vale ressaltar que a variável cronológi-
ca é um aspecto de extrema importância para análise, pois situa o objeto de pes-
quisa temporalmente no espaço já delimitado. Quando essa variável é desconhe-
cida, ou existem poucas pesquisas sobre esse tema, há uma dificuldade de con-
textualizar o objeto no espaço e no tempo.
Além disso, a formação e destruição dos sítios estão baseadas na cultura
dos povos e na relação de identidade existente entre os grupos humanos e o am-
biente, refletindo-se tanto no sítio (visto como unidade micro ambiental) como na
paisagem do entorno
15
. Assim, o âmbito paisagístico, segundo Butzer, pode ser
dividido e analisado em três contextos
16
:
1 - O Micro-ambiente do sítio, definido a partir dos elementos meio-am-
bientais locais que influenciaram na escolha do local do sítio. Podemos incluir
nesta análise micro do sítio os elementos geológicos que determinam a escolha
do local e do suporte rochoso para a realização da prática gráfica.
2 - O Meso-ambiente do sítio, ou seja, a análise do entorno do sítio a partir
de uma perspectiva geomorfológica. Analisar o entorno topográfico, localização
do sítio, hidrografia, altitude e outros acidentes geográficos, permitem definir o
contexto ambiental adjacente ao sítio.
3 - O Macro-ambiente do sítio diz respeito ao meio-ambiente regional que
permite compreender de forma ampla as diferenças e similitudes da distribuição
dos sítios na região pesquisada, além de perceber as diferenças ambientais das
áreas em estudo e suas limitações.
15
BUTZER, Karl. Arqueología – Una ecología del hombre: Método e Teoría para un enfoque
contextual. Barcelona: Ediciones Ballaterra. 1984. P. 35.
16
BUTZER, Karl. Op. Cit. P. 36.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
22
Distribuição Espacial
A distribuição espacial dos sítios trata-se de uma cartografia temática ba-
seada na análise espacial dos sítios. Considera-se também, nesta abordagem, a
altimetria.
A variável altimétrica está relacionada intrinsecamente com as formas de
relevo – estas com a litologia e estrutura geológica – e o clima. Os locais com co-
tas altimétricas mais altas permitem uma maior umidade e pluviosidade, se com-
portando como áreas de refúgios ecológicos durante períodos de seca. Essa vari-
ável foi ponderada no sentido de como os sítios se comportam nas diferentes co-
tas e se as diferenças influenciam na tipologia dos sítios com registros gráficos
nas regiões estudadas.
O conjunto de elementos dessa análise também interessa por contribuir no
sentido de identificar a lógica da distribuição e, conseqüentemente, a lógica do
estabelecimento dos sítios nas diferentes áreas estudadas. A questão do território
ocupado, ou seja, das áreas onde foram estabelecidos os sítios pelos grupos, im-
plica na existência de uma rota freqüente desses grupos em função dos recursos
naturais disponíveis nas áreas. Pesquisas realizadas nas áreas de Venturosa e
Pedra, nas décadas de 70 e 80, revelaram que os grupos que ocuparam essa
região eram caçadores-coletores que se deslocavam e exploravam o território em
função da existência de recursos naturais.
Observar se há um padrão na distribuição espacial dos sítios, torna-se ne-
cessário entender a lógica dessa distribuição no contexto macro das regiões es-
tudadas. No entanto, vale ressaltar que o fato de identificar o padrão de distribui-
ção não significa que poderá explicar o tipo do processo que levou a essa distri-
buição, mas ajuda na interpretação do processo espacial que produz a distribui-
ção
17
.
17
HODDER, I.; ORTON, C. Análisis Espacial em Arqueología. Barcelona: Editora Crítica. 1990.
P. 42.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
23
Cobertura Vegetacional
A cobertura florística tem seu habitat, entre outros aspectos componentes,
relacionados às condições climáticas, de relevo e do substrato de suporte, como
litologia e solo. Adicionalmente, o sistema faunístico depende desses fatores e
das relações inter e intra-espécies. Os grupos humanos de caçadores-coletores
estavam, assim, intimamente ligados a esses dois sistemas bióticos.
Os Registros Gráficos Pintados
Partindo-se do princípio de que cultura – meio ambiente relaciona-se com
os nichos ecológicos e que mudanças ocorridas nos sítios estão baseadas na cul-
tura e na relação entre grupos humanos e o meio ambiente
18
, observou-se a vari-
ável ambiental dentro de um contexto arqueológico que possibilitasse compreen-
der quais aspectos do meio natural nortearam a escolha do local dos sítios de
pintura rupestre.
Do ponto de vista cultural, o estudo dos grafismos é preponderante na
compreensão da Tradição Agreste e sua dispersão nas áreas agrestinas, pois
atua de forma a pesquisar a diversidade dos grafismos nas áreas estudadas e as
características dos sítios de pintura dessa Tradição. Aliando-as aos vestígios da
cultura material, existentes nas áreas arqueológicas estudadas, as análises da
técnica de elaboração, temática e apresentação social permitem segregar carac-
terísticas gráficas dos grupos que ocuparam a Microrregião de Arcoverde há, pelo
menos, 2.000 anos A.P.
Os grafismos rupestres da Tradição Agreste, distribuídos em sítios dos
municípios de Venturosa e Pedra possuem, à primeira vista, morfologias recorren-
tes
19
. Em Catimbau, a presença de grafismos da Tradição Nordeste e da Tradição
Agreste faz com que essa região possua características gráficas divergentes, po-
dendo possuir cronologias mais recuadas nesses sítios. A presença de pinturas
de diferentes padrões de realização técnica, temática e cenográfica comprova a
18
HODDER, I.; ORTON, C. Análisis Espacial em Arqueología. Barcelona: Editora Crítica. 1990.
P. 35.
19
Faz-se necessária a análise detalhada desses grafismos para poder afirmar se esses possuem
padrões gráficos semelhantes ou não.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
24
reutilização do suporte por um ou mais grupos que se estabeleceram ou passa-
ram pelas regiões.
Um questionamento levantado é sobre a localização dos sítios rupestres na
paisagem, observando como se comportam os sítios que contêm grafismos ape-
nas da Tradição Nordeste, apenas da Tradição Agreste e/ou as duas concomitan-
temente. Essa análise pode levar a perceber um padrão de escolha dos grupos
do ponto de vista da paisagem dos sítios de registros gráficos nas áreas estuda-
das, pois permite compreender diferenças e similitudes nos ambientes escolhidos
para realização da prática gráfica das diferentes Tradições.
Deve-se ressaltar que todas as análises foram feitas em função do número
de sítios conhecidos nas áreas de Pedra, Venturosa e Catimbau e que a presença
de outros sítios, que venham a ser descobertos, pode expandir o conhecimento
da distribuição dos sítios no contexto paisagístico regional.
Do ponto de vista da natureza do espaço, observa-se que em Venturosa e
Pedra há características recorrentes da geopaisagem, possuindo um conjunto
integrado e repetido de elementos de ordem física e biótica e um corpus gráfico
caracterizado como da Tradição Agreste. Por outro lado, na região de Catimbau,
os elementos da paisagem mostram fisionomias diferenciadas daquelas observa-
das em Venturosa e Pedra, sobretudo no que respeita a componente física.
No que se refere aos grafismos rupestres, considerados na escala do mi-
cro-ambiente, enfatiza-se a técnica, a temática e a apresentação gráfica.
A técnica, relacionada à análise do suporte material (painel), além da aná-
lise da morfologia dos grafismos no que se refere às formas, traços e pigmentos.
A temática é uma dimensão do fenômeno gráfico que permite reconhecer,
através da observação dos elementos essenciais de construção e a proporção em
que eles aparecem, a identidade dos componentes. É importante salientar que a
evolução das análises baseou-se apenas na materialidade dos grafismos salien-
tadas nas pinturas, observando a partir dessa perspectiva, qual temática está as-
sociada a cada estrutura material e gestual dos componentes do painel.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
25
A apresentação gráfica é analisada através do agenciamento dos compo-
nentes de uma ação, observando os gestos, ritmos e posturas. A apresentação
gráfica dos grafismos foi estudada observando a variável Espaço e Tempo. O Es-
paço é analisado a partir do agenciamento dos grafismos no espaço pictural. A
existência de sobreposições e superposições das pinturas é presente nos sítios
estudados e revela o resultado de uma escolha cultural, o que demonstra a reutili-
zação do sítio em momentos distintos possivelmente por grupos também distintos.
O tempo é representado a partir dos componentes movimento e profundidade,
onde o primeiro se refere aos gestos, ritmos e posturas dos grafismos delineados
nas cenas narrativas da Tradição Nordeste, e o segundo relacionado à idéia de
profundidade de cena, onde mais de um plano horizontal ou vertical, é utilizado
para o seu desenvolvimento.
De todo esse complexo apresentado, onde os componentes podem
ter relações de interdependência ou de subordinação, o tema desta disser-
tação baseou-se na proposição de que as diferenças nas paisagens natu-
rais, nos dois domínios (Venturosa e Pedra versus Catimbau), foram deter-
minantes na apropriação dos espaços pelos grupos humanos que habita-
vam essas áreas.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
26
CAPÍTULO II
ANTECEDENTES DAS PESQUISAS
2.1 Histórico das Pesquisas realizadas em Venturosa, Pedra e Buíque.
As pesquisas arqueológicas realizadas na área do Agreste Pernambucano
foram desenvolvidas, na década de 70, pelo Núcleo de Estudos Arqueológicos –
NEA da UFPE. Várias prospecções arqueológicas foram realizadas
20
em sítios
situados nos municípios de Brejo da Madre de Deus, Taquaritinga do Norte, Ala-
goinha, Venturosa, Pedra, Paranatama, Brejinho, São Bento do Una e Passira,
em Pernambuco; e nos municípios de Cacimba de Areias e São João do Tigre, na
Paraíba. A finalidade dessas prospecções foi localizar sítios de pintura rupestre
que apresentavam características recorrentes, classificados então de Tradição
Agreste
21
, observando a dispersão dessa Tradição
22
pelo Agreste de Pernambuco
e por outros estados, tais como Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.
O termo Agreste se deu devido à localização desses sítios em regiões de
várzea, no sopé das elevações ou nas suas encostas na região do Agreste de
Pernambuco e Paraíba. A Tradição Agreste foi caracterizada por grafismos de
grandes dimensões geralmente maiores do que os da Tradição Nordeste
23
sejam
20
Ver: AGUIAR, Alice. A Tradição Agreste: Análise de 20 sítios de arte rupestre em Pernam-
buco. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de História da Universidade Fede-
ral de Pernambuco – Área de Concentração em Pré-História. Recife, 1986. P. 52-53.
21
“(...) a Tradição Agreste se caracteriza pela predominância de grafismos reconhecíveis, particu-
larmente da classe das figuras humanas, sendo raros os animais. Nunca aparecem representa-
ções de objetos, nem de figuras fitomorfas. Os grafismos representando ações são raros e repre-
sentam unicamente caçadas. Ao contrário da Tradição Nordeste, as figuras são representadas
paradas: não há nem movimento, nem dinamismo. Os grafismos puros, muito mais abundantes
que na Tradição Nordeste, apresentam uma morfologia bem diferente e diversificada”. GUIDON,
Niède. Tradições Rupestres da Área Arqueológica de São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil. In:
Revista CLIO. Série Arqueológica Nº 5. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco.
1989. P. 8.
22
“Para definir a classe mais geral, designada Tradição, foram considerados os tipos de figuras
presentes, as proporções relativas que existem entre os diferentes tipos e as relações que se es-
tabelecem entre os grafismos que compõem um painel”. A formulação dos tipos é o resultado de
uma síntese de vários parâmetros escolhidos entre as características oferecidas pelo conjunto de
todas as manifestações gráficas existentes na área arqueológica. IN: PESSIS. A.M.; GUIDON,
Niéde. Registros Rupestres e caracterização das etnias pré-históricas. IN: VIDAL, Lux (Org.). Gra-
fismos Indígenas: Estudo de Antropologia Estética. São Paulo: Studio Nobel Editora, FAPESP.
1992. P. 21.
23
“Esta Tradição, segundo os dados até agora confirmados, tem uma antiguidade de 12.000 anos
A.P. Fazem parte delas figuras reconhecíveis por qualquer observador, dispostas sobre a parede
rochosa, representando ações e acontecimentos. São figuras reconhecíveis de caráter antropo-
mórfico e de outras espécies animais. Existem também representações de plantas e de objetos,
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
27
eles reconhecíveis
24
ou puros
25
(Foto 1). As pinturas possuem um caráter estáti-
co, sendo raros os grafismos que indicam movimento, e quando estes são encon-
trados, representam cenas isoladas com poucos indivíduos ou animais. Geral-
mente esses grafismos aparecem isolados e sem formar cenas.
Foto 1 -
Representação de um grafismo não reconhecível. Sítio do Chapéu, Venturosa – PE.
Fonte: Marília Perazzo.
As figuras antropomórficas aparecem representadas, em muitos casos, me-
dindo mais de um metro de altura e de forma estática, assemelhando-se a repre-
sentação de uma figura totêmica (foto 41). A presença de grafismos puros, os
quais não apresentam traços essenciais que permitam seu reconhecimento, é
mas são minoritárias no conjunto. Pela sua complexidade, diversidade e pela maneira como as
figuras se relacionam, as pinturas desta Tradição são uma fonte de informações extremamente
rica que permite a reconstituição de aspectos das vidas das comunidades humanas em épocas
pré-históricas” PESSIS, A.M. Imagens da Pré-História. Parque Nacional Serra da Capivara.
FUMDHAM-PETROBRÁS. São Paulo; A&A Comunicação. 2003.P.83.
24
“Grafismos que possuem traços de constituição indispensável para a identificação da represen-
tação rupestre” PESSIS, A.M. Métodos de Interpretação da Arte rupestre: Análises preliminares
por níveis. IN: Revista CLIO. Revista do Curso de Mestrado em História da Universidade Federal
de Pernambuco N
o
6. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco. 1984. P. 102.
25
“Representações rupestres que não permitem o reconhecimento (...) Este conjunto inclui os
grafismos que geralmente são denominados na literatura sobre arte rupestre, como figuras geo-
métricas ou sinais”.IN: PESSIS, A.M. 1984, Op. Cit. P.100.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
28
marcante na Tradição podendo estar representados próximos a grafismos recon-
hecíveis não necessariamente estando associados a eles.
Com relação aos zoomorfos, dificilmente é reconhecida sua identidade de-
signando-os de forma generalizada sem maiores detalhes como “aves” ou “qua-
drúpedes”. Animais como peixes, lagartos e quelônios são identificáveis, podendo
aparecer com poucos detalhes e de forma esquemática
26
.
As representações de marcas de mão em positivo, e às vezes de pés, dis-
tribuídas em diversos lugares do painel, principalmente em sua parte superior,
são características marcantes dessa Tradição
27
. Muitas vezes são encontradas
pinturas cujas palmas das mãos aparecem desenhadas com listras ou com for-
mas elípticas .
Uma subtradição
28
da Tradição Agreste foi definida como Cariris Velhos
29
.
Esta possui basicamente as mesmas características da Tradição Agreste, pois foi
a partir da análise dos sítios típicos da subtradição Cariris Velhos que a Tradição
Agreste foi caracterizada em Pernambuco e Paraíba
30
.
Dos municípios percorridos na região Agreste de Pernambuco pela equipe
do Núcleo de Estudos Arqueológicos - NEA na década de 70
31
, o que possuía
uma maior concentração de sítios de pintura rupestre de Tradição Agreste foi o
município de Venturosa. Em conseqüência disto, ainda na década de 70, foi feita
nesta localidade uma investigação arqueológica para observar as potencialidades
26
AGUIAR, Alice. A Tradição Agreste: estudo sobre a arte rupestre em Pernambuco. IN: Revista
CLIO – Revista do Curso de mestrado em História da Universidade Federal de Pernambuco Nº 8.
Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco. 1986. P. 13.
27
MARTÍN, Gabriela. Pré-História do Nordeste do Brasil. Recife: Editora Universitária da Uni-
versidade Federal de Pernambuco. 1999. Pp. 277.
28
“(...) No interior das tradições foram distinguidas subtradições, que são classes segregadas se-
gundo a localização regional dos grafismos de uma tradição”. IN: PESSIS. A.M.;GUIDON, Niéde.
Registros Rupestres e caracterização das etnias pré-históricas. IN: VIDAL, Lux (Org.). Grafismos
Indígenas: Estudo de Antropologia Estética. São Paulo: Studio Nobel Editora, FAPESP. 1992.
P. 21.
29
“A denominação “Cariris Velhos” foi dada à sub-tradição que caracterizava os sítios rupestres da
Tradição Agreste que se estendem numa ampla área ao sul da Paraíba e ao nordeste de Pernam-
buco, na região onde um arco de serras denominado dos Cariris Velhos marca a divisa entre os
dois estados, tomando como epicentro a Microrregião de Arcoverde”. MARTÍN, Gabriela. As pin-
turas rupestres do sítio Alcobaça, Buíque - PE, no contexto da Tradição Agreste. IN: Revista
CLIO Arqueológica Nº 18. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco. 2005. P. 32.
43
MARTÍN. Gabriela. Op. Cit. P.30.
31
A pesquisadora Alice Aguiar não incluiu Buíque em sua pesquisa, desta forma a diversidade de
sítios existentes nesta região não foi documentada e estudada durante suas pesquisas.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
29
de pesquisa da área em estudo. O sítio Peri-Peri I foi escolhido para ser escavado
em virtude da presença de numerosos vestígios de material lítico e material ósseo
de superfície. Realizou-se uma sondagem de 2,00 por 2,50 metros sendo en-
contradas duas fogueiras
32
com material lítico associado, cujas matérias primas
existentes eram basicamente quartzo em maior quantidade, sílex, granito e are-
nito. Os artefatos encontrados no primeiro nível apresentavam marcas de fogo, no
segundo nível foi encontrado, junto à fogueira, um lápis de ocre com marcas de
uso e no terceiro nível um raspador de arenito com marcas de fogo.
33
As con-
clusões obtidas através da observação dos sítios na paisagem, da análise da in-
dústria lítica (basicamente de lascas em quartzo) aliada às estruturas das fo-
gueiras encontradas na sondagem indicam que os grupos que habitavam o sítio
eram caçadores que se fixavam por curtos espaços de tempo no sítio. Os pig-
mentos encontrados em materiais líticos e o lápis de ocre encontrado associado à
fogueira do nível dois, permitiram inferir que os pigmentos utilizados para realizar
a prática gráfica em Peri-Peri eram preparados no próprio sítio pelos caçadores
que ali viviam. Além de que a presença de água nas proximidades do sítio permi-
tia que os grupos vivessem temporariamente no local dos sítios
34
.
Outras pesquisas foram desenvolvidas no final da década de 80 e início da
década de 90 na região de Venturosa. Dois sítios da Tradição Agreste foram es-
cavados nesse período, os sítios Pedra do Tubarão e Cemitério do Caboclo
35
,
distantes, um do outro, aproximadamente 200 metros. O sítio Pedra do Tubarão
foi caracterizado por LUFT (1990) como espaço de habitação dos grupos que ali
estiveram, onde foram encontrados materiais ósseos, cerâmicos – em pequena
quantidade -, líticos, além de estruturas de fogueiras. Um artefato de hematita,
semelhante ao do sítio Peri-Peri I – que proporcionou datações relativas para as
pinturas da Tradição Agreste da região - foi encontrado no mesmo nível de uma
32
As duas fogueiras foram datadas com cronologias de 1760+-90 AP a primeira e 2030+-50 AP a
segunda.
33
MARTIN, Gabriela; AGUIAR, Alice; ROCHA, Jacionira. O Sítio Arqueológico Peri-Peri em Per-
nambuco. IN: Revista de Arqueologia – Publicação do Museu Paraense Emílio Goeldi. Rio de
Janeiro: Edições Achiamé Ltda, V. 1, N.1 Julho/Dezembro. 1983. P. 36.
34
MARTIN, Gabriela; AGUIAR, Alice; ROCHA, Jacionira. Op. Cit. P. 38.
35
Para LUFT, os dois sítios estão relacionados entre si, onde o primeiro refere-se ao espaço de doméstico, de
habitação do grupo e, o segundo, o cemitério desse grupo que habitou a Pedra do Tubarão. LUFT, Vlademir
José. A Pedra do Tubarão: Um Sítio da Tradição Agreste em Pernambuco. Dissertação de
Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Historia – Área de Concentração em
Pré-História da Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 1990. P. 41-43.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
30
fogueira da qual se coletou carvão para datações posteriores, das quais não obti-
vemos dados. O Cemitério do Caboclo tem, como característica principal, a pre-
sença de enterramentos secundários, onde se observou a desordem total e de-
sarticulação dos ossos, além da prática de queimá-los. Dessa forma, não foi pos-
sível mensurar a quantidade de indivíduos enterrados no local. As conclusões as
quais o pesquisador chegou são semelhantes às de AGUIAR (1986), onde afirma
serem os grupos humanos da Tradição Agreste caçadores-coletores (devido aos
artefatos líticos conhecidos e às datações obtidas na área) e não agricultores ce-
ramistas, devido ao reduzido número de fragmentos de cerâmica e de pedra poli-
da nos sítios pesquisados. Outro ponto abordado pelo pesquisador é a escolha
dos locais para elaboração da prática gráfica, os quais não eram, em geral, locais
de habitação, mas poderiam ter servido de acampamento temporário para os gru-
pos, como é o caso de Peri-Peri I, Pedra da Buquinha, entre outros. Dessa forma,
LUFT (1990) e AGUIAR (1986) partilham as mesmas idéias acerca das caracte-
rísticas dos sítios da Tradição Agreste nas áreas pesquisadas.
Paralelamente aos estudos realizados no Agreste Pernambucano, os traba-
lhos de Ruth Trindade de Almeida na Paraíba, na região geográfica denominada
“Cariris da Paraíba”, revelaram a existência de dezenas de sítios de pintura e gra-
vura rupestre
36
. Os sítios de pintura rupestres existentes nessa região possuem
características semelhantes aos encontrados em Pernambuco no que diz respeito
à localização, a escolha dos suportes e a morfologia das pinturas, estando inseri-
dos na Tradição Agreste. O trabalho da pesquisadora foi bastante elucidativo para
a compreensão da dispersão da Tradição Agreste pelo nordeste do Brasil, uma
vez que fez várias prospecções no estado da Paraíba, catalogando os diversos
sítios encontrados nas regiões onde havia apenas notícias da existência deles.
Devido às dificuldades de acesso, distância entre os sítios e aos custos da pes-
quisa, a pesquisadora fez em média apenas uma visita a cada sítio, o que não
permitiu fazer análises minuciosas acerca dos registros rupestres encontrados,
estando sua pesquisa baseada na descrição e no registro de 49 sítios dos quais
34 são de pintura, 13 de gravuras e 2 possuindo as duas manifestações gráficas.
36
ALMEIDA, Ruth Trindade de. A Arte Rupestre nos Cariris Velhos. Notas preliminares. Cam-
pina Grande: 1975.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
31
Outra área de grande potencial arqueológico é a região do Vale do Catim-
bau. Pesquisas arqueológicas foram iniciadas na década de 70 pelo pesquisador
Marcos Albuquerque e intensificadas na década de 90 pela equipe do NEA da
Universidade Federal de Pernambuco. Nessa área, várias prospecções foram rea-
lizadas para reconhecimento e catalogação de sítios arqueológicos até então
desconhecidos. No sítio arqueológico Alcobaça, as escavações arqueológicas,
coordenadas pela pesquisadora Ana L. do Nascimento, possibilitaram o estudo
das estruturas arqueológicas tais como sepultamentos, material cerâmico e lítico
e as pinturas rupestres. Nessas escavações observou-se uma diversidade de ma-
terial existente in loco, e a análise das estruturas arqueológicas possibilitaram de-
terminar três momentos distintos de ocupação do sítio, onde o primeiro possui
cronologias que variam de 4.851±30 a 1118±24 anos A.P, o segundo 2.466±26
anos A.P. a 1.561±25 anos A.P. e o terceiro de 4.697± anos A.P. a 888±25 anos
A.P.
37
No Agreste Pernambucano, exceto na região de Buíque, as pesquisas ar-
queológicas não tiveram continuidade. O levantamento e as análises preliminares
feitas nas décadas de 70 e 80 pelos pesquisadores da UFPE forneceram base
para posteriores estudos mais detalhados dos painéis rupestres classificados de
Tradição Agreste, além do estudo do entorno dos sítios, localização e distribuição
espacial.
37
OLIVEIRA, Ana Lúcia do Nascimento. O Sítio Arqueológico Alcobaça, Buíque, Pernambuco.
Estudos das estruturas arqueológicas. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História - Área de Concentração em Pré-História da Universidade Federal de Per-
nambuco. Recife: 2001. P.41.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
32
CAPÍTULO III
ASPECTOS DA GEOPAISAGEM DO AGRESTE
3.1 O Contexto Fisiográfico e os Agrestes Pernambucanos
O termo Agreste designa a zona fisiográfica do nordeste brasileiro que se
estende numa faixa paralela à periferia úmida oriental chamada de Zona da Mata,
e no interior margeada pelo sertão (Figura 2). Em Pernambuco, o Agreste com-
preende as terras das microrregiões do Agreste Setentrional, do Vale do Ipojuca e
do Agreste Meridional, incluindo, devido às características fundamentais do ponto
de vista das variações climáticas e pedológicas, a microrregião de Arcoverde
38
,
onde estão inseridas as áreas abordadas nessa dissertação.
Figura 2 - Localização da área de estudo na Região Fisiográfica do Agreste de Pernambuco. Fon-
te: Disponível em www.municipios.pe.gov.br
. Acessado em Janeiro de 2007. Modificado do origi-
nal. Original sem escala referida.
38
“Em sua delimitação tradicional de antiga zona fisiográfica, o Agreste de Pernambuco compre-
ende (...) em seus característicos fundamentais a microrregião de Arcoverde, sem dúvida muito
mais agrestina do que sertaneja". MELO, Mário Lacerda de. Os Agrestes: Estudo dos Espaços
Nordestinos do Sistema Gado-Policultura de Uso de Recursos. Recife: Série Estudos Regio-
nais n
o
19. SUDENE Coord. Planej. Regional. 1980. P. 173.
Ng
Identificação de municípios.
Os símbolos não indicam as sedes municipais.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
33
Por ser uma região de transição, possui características climáticas de natu-
rezas intermediárias entre o tropical úmido da faixa oriental Atlântica e o semi-
árido dos espaços sertanejos. As variáveis climáticas, bem como as formas de
relevo condicionam as feições da paisagem regionais no que se refere aos qua-
dros edáficos, hidrográficos e ecológicos, constituindo diversas subáreas com tra-
ços peculiares dentro da macro-área qualificada de Agreste
39
. O termo Agreste
está indicado no plural no subtítulo justamente para evidenciar as várias subáreas
existentes no espaço do Agreste, devido, sobretudo, as diferentes características
morfoclimáticas.
3.2 Feições Geológicas do Agreste
O Agreste Pernambucano está representado, em quase sua totalidade, por
terrenos geológicos Pré-cambrianos pertencentes à Província Estrutural da Bor-
borema. Neste éon, dominam litotipos ígneos, essencialmente graníticos, e com-
plexos metamórficos de protólitos magmáticos e sedimentares
40
.
Os municípios de Venturosa e Pedra estão inseridos nesses terrenos Pré-
Cambrianos e compreendem rochas metassedimentares, migmatitos, ortognáis-
ses e corpos graníticos pouco deformados.
Ao lado dos terrenos Pré-cambrianos, destaca-se uma cobertura Sedimen-
tar Fanerozóica representada pela Bacia do Jatobá. Essa unidade geológica é um
prolongamento norte do sistema de Bacias Recôncavo-Tucano-Jatobá, estando
situada na região centro-sul de Pernambuco, entre o rio São Francisco e o muni-
cípio de Arcoverde
41
.
São os sedimentos da Bacia do Jatobá que afloram amplamente na área
de Catimbau e nos quais predominam arenitos conglomeráticos a finos, siltitos e
39
MELO, Mário Lacerda de. Os Agrestes: Estudo dos Espaços Nordestinos do Sistema Ga-
do-Policultura de Uso de Recursos. Recife: Série Estudos Regionais n
o
19. SUDENE Coord.
Planej. Regional. 1980. P. 174.
40
COSTA, Ivan Peixoto et al. Bacia do Jatobá. 2005. IN:
http://www.phoenix.org.br/phoenix53_Maio03.htm
. Acessado em 02-07-2005.
41
LINS, Rachel Caldas. As Áreas de Exceção do Agreste de Pernambuco. Recife: Série Estu-
dos Regionais n
o
20. SUDENE Coord.Planej.Regional. 1989. P. 38-39.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
34
folhelhos creditados a Formação Tacaratu de idade Siluro-Devoniana
42
.
3.3 Feições Geomorfológicas do Agreste
O relevo agrestino tem sido modelado por processos geológicos estabele-
cidos principalmente a partir do Cenozóico. Atividades da dinâmica interna, pro-
duzindo fraturas e falhas, associadas aos agentes da dinâmica externa, respon-
dem pelas morfologias dos terrenos em transformações até o presente. Dessa
forma, o relevo é conseqüência da interação entre fatores endógenos e exógenos,
implicando-se, ai, as litologias, as estruturas geológicas e as condições morfocli-
máticas.
Os relevos residuais, existentes sobre as superfícies pediplanadas, mos-
tram a definição de certas características morfológicas como é o caso das serras
situadas sobre os terrenos graníticos e ortognáissicos
43
.
Durante os períodos de alterações climáticas, o modelado do relevo expe-
rimentou importantes modificações. Dois processos erosivos podem ter aconteci-
do na região Agreste; o processo de degradação lateral e o processo de disseca-
ção linear. O processo de degradação lateral provocou a formação de pedimentos
e pediplanos
44
durante os períodos de clima semi-árido severo. O processo de
dissecação linear provocou feições topográficas indicadoras de oscilações clima-
ticas tendendo para climas úmidos, como é o caso de pediplanos dissecados e
níveis de terraços escalonados
45
.
As feições geomorfológicas do agreste estão localizadas nos compartimen-
tos regionais de relevo dos Tabuleiros Pré-Litorâneos, da Chapada de São José,
das Depressões Sertanejas e do Planalto da Borborema. Os municípios de Pedra
42
ARAI, Mitsuru. Revisão estratigráfica do Cretáceo Inferior das bacias interiores do Nordeste do
Brasil. Geociências, v. 25, n
o
1, p. 7-15, UNESP, 2006.
43
LINS, Rachel Caldas. As Áreas de Exceção do Agreste de Pernambuco. Recife: Série Es-
tudos Regionais n
o
20. SUDENE Coord.Planej.Regional. 1989. P.45.
44
“Planuras formadas pela justaposição de 'glacis’. É uma superfície inclinada formada pela coa-
lescência de pedimentos. Pediplanação é o processo de aplainamento de superfícies extensas
submetidas a clima árido ou semi-árido. Nos pediplanos ou nos pedimentos podem-se encontrar
relevos residuais, isto é, os Inselbergues. Os pediplanos são grandes superfícies de erosão mode-
ladas nos climas áridos quentes e semi-áridos”. IN: GUERRA, Antônio Teixeira. Dicionário Geo-
lógico-Geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE, Conselho Nacional de Geografia 4ª Edição.
1972.P. 293
45
LINS, Rachel Caldas. Op. Cit. P.46.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
35
e Venturosa estão inseridos no conjunto de relevo do Planalto da Borborema. O
município de Buíque insere-se nas proximidades do Planalto da Borborema e na
Chapada de São José, continuação do “Planalto da Bacia Tucano-Jatobá”.
No Agreste podem-se observar dois espaços distintos onde o clima e a
pluviosidade são determinantes para sua classificação: os espaços subúmidos e
os semi-áridos
46
. Os espaços semi-áridos constituem quase todo o conjunto a-
grestino, sendo limitados a oeste pela zona seca sertaneja. Caracteriza-se por
uma abundância de áreas de pediplanos secos agravadores da semi-aridez climá-
tica dos sertões, com altitudes inferiores a 500 metros. O regime pluviométrico
anual é inferior a 800 mm e a hidrografia caracteriza-se por um regime intermiten-
te mais acentuado. Possui solos rasos e pedregosos com uma vegetação predo-
minantemente de caatinga hipoxerófita
47
.
Os espaços subúmidos representam uma minoria nos agrestes, estando
concentrados nas proximidades e rebordo do Planalto da Borborema. Nesses es-
paços há uma maior pluviosidade determinada pelas formas de relevo relacio-
nadas aos componentes altimétricos quando comparados aos espaços semi-ári-
dos. O regime pluviométrico anual é superior a 700 mm, possuindo, esses es-
paços, cotas altimétricas que excedem 500 metros. O quadro natural destas zo-
nas úmidas ou subúmidas é caracterizado por solos profundos, vegetação flores-
tal, hidrografia intermitente. As áreas pesquisadas nesse trabalho encontram-se
localizadas nos domínios das zonas úmidas (Catimbau) e subúmidas (Venturosa
e Pedra) do Agreste Pernambucano.
3.4 Aspectos Fisiográficos da Área de Estudo.
As regiões de Venturosa e Pedra apresentam feições geologicamente se-
melhantes, entretanto, contrastantes com as feições geológicas do domínio de
Catimbau. Os contrastes são fundamentalmente decorrentes da evolução geoló-
gica distinta, implicando, também, em um modelado do relevo diferenciado nos
dois domínios (Venturosa-Pedra e Catimbau).
46
LINS, Rachel Caldas. As Áreas de Exceção do Agreste de Pernambuco. Recife: Série Estu-
dos Regionais n
o
20. SUDENE Coord.Planej.Regional. 1989. P. 20.
47
LINS, Rachel Caldas. Op. Cit. P. 174.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
36
Nas áreas de Venturosa e Pedra, a morfologia do relevo se caracteriza por
amplas áreas planas e rebaixadas topograficamente que se contrapõem com á-
reas de relevo acidentado na forma de colinas e serras de vertentes em geral ín-
gremes (Fotos 2, 3, 4) e altitudes variando de 450 a 900 metros
48
(Figura 5).
Os municípios em discussão são banhados pela rede hidrográfica da Bacia
do Rio Ipanema e são recortados por cursos d'água de pequena vazão. No con-
texto geográfico de Venturosa e Pedra, os principais afluentes do Rio Ipanema
são os rios dos Bois e Cordeiro e os riachos da Luiza, da Veneza e Carrapateira.
Esse sistema de drenagem tem um papel significativo no modelado morfológico
da região, uma vez que nos períodos de maior pluviosidade, concentrada em cur-
tos períodos de tempo ou de forma mais contínua, condicionam os traçados de
relevo observados. Por outro lado, as regiões dominadas por tipos litológicos mais
resistentes, os quais se destacam topograficamente por vertentes com inclinação
mais acentuada, impõem uma maior energia nas nascentes, condicionando, tam-
bém, o modelado do relevo.
O clima é do tipo Tropical Chuvoso com verões secos, classificado na es-
cala de Köopen como A’ e Bsh, onde A’ caracteriza-se por climas quentes com
chuvas de outono-inverno e o Bsh por um clima seco, de estepes de baixas tem-
peraturas e baixas precipitações pluviométricas com chuvas de verão-outono.
A vegetação da unidade geoambiental de Venturosa e Pedra, é formada
por florestas caducifólicas e subcaducifólicas
49
próprias das áreas da região A-
greste. Nessa área em particular, a vegetação predominante é a caatinga hipoxe-
rófita, mais úmida e possui os três estratos de vegetação: herbáceo, arbustivo e
arbóreo. É geralmente densa, com um porte variando de arbustivo a arbóreo-
arbustivo. No entanto, há a presença da caatinga hiperxerófita com pouca densi-
48
BELTRÃO, Breno Augusto et al. Projeto Cadastro de fontes de Abastecimento por Água
Subterrânea do Estado de Pernambuco. Diagnóstico do Município de Venturosa. Recife:
Ministério de Minas e Energia. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM. 2005. P.
03.
49
“As plantas da caatinga têm como característica principal a caducifólia, um compartimento fisio-
lógico que evita as condições desfavoráveis e a perda d’agua.” Essas plantas geralmente são
representadas por espécies das famílias Cactácea e Bromeliacea. RIBEIRO, Adauto de Souza.
Dinâmica paleoambiental da vegetação e clima durante o quaternário tardio em domínios da
mata atlântica, brejo do semi-árido e cerrado nordestino utilizando isótopos do carbono da
matéria orgânica do solo e planta. Tese de Doutorado apresentada ao /Centro de Energia Nu-
clear na Agricultura da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2002. P. 44.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
37
dade, ocorrendo em zonas mais secas. Essa vegetação é de porte mais baixo
que na caatinga hipoxerófita, ocorrendo, dentre outras, leguminosas e cactáceas.
Foto 2 - Vista panorâmica de relevo em serras e colinas contrastando com áreas planas e
topograficamente rebaixadas. Foto tirada a partir do sítio Pedra Furada, Venturosa-PE.
Fonte: Marília Perazzo.
No espaço da região de Catimbau, as formas de relevo se caracterizam por
dois compartimentos. Um primeiro definido por uma seção dominantemente plana
horizontal a pouco ondulada constituindo áreas de baixios. Um segundo compar-
timento desenhando uma morfologia plana elevada e de vertentes medianamente
suaves a escarpadas.
A fisionomia desta paisagem física decorre das variáveis climáticas, ditadas
na história evolutiva do elevo e, ademais, pelas naturezas litológica e estrutural da
Formação Tacaratu. Como parcialmente referido (seção 3.2), a seqüência sedi-
mentar desta formação é composta predominantemente de arenitos conglomerá-
ticos, arenitos grosseiros a finos e freqüentes intercalações sílticas e argilosas.
As variações composicionais dos estratos e a estratificação horizontal, ano-
tas acima, bem como sistemas de fraturamentos e grupos de estratificação cruza-
da, são feições que determinaram diferentes respostas aos agentes de intempe-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
38
Foto 3 - Vista panorâmica de relevo em serras contrastando com área plana e topogra-
ficamente rebaixada. Foto tirada a partir do sítio Pedra Furada, Venturosa-PE. Fonte:
Marília Perazzo.
Foto 4 - Vista do Serrote do Barbado. Encosta íngreme e morfologia em "Pão-de-
Açúcar" (maciço inselberg). Venturosa-PE. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
39
rismo (físico e químico), estruturando, deste modo, formas tabulares, ruiniformes
e cavernícolas em diferentes cotas altimétricas e locais (Fotos 5, 6, 7).
Mesas, morros testemunhos, patamares e o cânion de Catimbau, são ou-
tras formas resultantes das injunções por herança geológica (fraturas, litologia,
estratificação) e por mecanismos morfoclimáticos (Fotos 5, 6).
Foto 5 - Formas tabulares (T), em patamares (P), morro testemunho (MT) e estruturas
cavernícolas no primeiro plano à esquerda, entre as quais se destaca o sítio Caiana
(SC). Catimbau-PE. Fonte: Marília Perazzo.
No domínio dos terrenos sedimentares da região de Catimbau, as cotas al-
timétricas variam de 700 metros a 1.100 metros. O clima é classificado, segundo
Köopen, como A' e Bsh. Nesses espaços altimétricos, dominam condições úmidas
a subúmidas no contexto do Agreste Pernambucano, caracterizando, assim, á-
reas de exceção
50
dentro do quadro do semi-árido nordestino.
50
Segundo Rachel Caldas Lins, as áreas de exceção do Agreste de Pernambuco são caracteriza-
das pelos espaços úmidos e subúmidos que apresentam formas diversificadas de uso que as dife-
renciam das dominantes nos demais subespaços (como é o caso do semi-árido). "São áreas onde
o atributo da excepcionalidade se apresenta não apenas nas feições fisiográficas, mas também
nos quadros econômicos, sociais e demográficos". LINS, Rachel Caldas. As Áreas de Exceção
do Agreste de Pernambuco. Recife. Série Estudos Regionais n
0
20. SUDENE. Coord. Planej.
Regional, 1989. P. 20/21.
T
MT
P
P
SC
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
40
Foto 6 - Vista parcial do cânion. Notar relevo ruiniforme e vertente escarpada. Fonte:
Marília Perazzo.
Foto 7 - Vista panorâmica do cânion. No primeiro plano, estruturas ruiniformes da Ser-
ra Branca. No fundo à esquerda, Serra de Jerusalém de vertente escarpada e topo su-
avemente ondulado. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
41
Nas porções de cotas altimétricas mais elevadas, as precipitações pluvio-
métricas são superiores a 1.200 mm por ano, configurando áreas de brejos de
altitude como, particularmente, é o caso do Vale do Catimbau. Esta é uma situa-
ção interessante, quando se considera toda uma vasta região onde a precipitação
média anual varia entre 240 mm a 900 mm
51
(Figura 3). Os brejos de altitude
compõem verdadeiras "ilhas" ou áreas de refúgios da floresta Atlântica Nordestina
em pleno semi-árido, tornando-se locais atrativos do ponto de vista ecológico.
A exceção dos brejos de altitude, a vegetação apresenta uma fisionomia
predominantemente arbustiva, com poucos elementos arbóreos, sendo caracteri-
zada por Florestas Caducifólicas e Subcaducifólicas. Podem aparecer também,
nas áreas mais úmidas do município, resquícios vegetacionais de Florestas como
as palmeiras ouricuri (Syagrus coronata), carnaúba (Copernicia cerifera) e babaçu
(Attalea speciosa). Além desses componentes vegetacionais, tem-se a destacar a
ocorrência do icó (Capparis yco), arbusto endêmico das caatingas com fruto co-
mestível (baga) e semente rica em proteína (ca. de 315 g.kg
-1
52
; Foto 8), com va-
lor nutritivo superior ao do ouricuri.
Figura 3 - Perfil esquemático geomorfológico explicativo da formação dos brejos de altitude.
Fonte: TABARELLI, Marcelo; SANTOS, André M. de Melo (2004). Adaptado de Mayo & Feve-
reiro (1982).
51
TABARELLI, Marcelo; SANTOS, André M. de Melo. Uma Breve Descrição Sobre a História Na-
tural dos Brejos Nordestinos. IN: Brejos de Altitude em Pernambuco e na Paraíba. História Na-
tural, Ecologia e Conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente – Universidade Federal de
Pernambuco. 2004. P. 18
52
MAYWORM, M.A.S. et al. Seeds of species from the "caatinga": proteins, oils and fatty aci-
ds contents. Revista Brasileira de Botânica, v. 21, 1998 e:
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/?IsisScript=ScieloXML/sci_arttext.xis&def=scielo.def&pid=S0100-84041998000#back#back
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
42
Do mesmo modo que nos municípios de Pedra e Venturosa, todo o espaço
geopolítico de Buíque está inserido na bacia hidrográfica do rio Ipanema. Desta-
cam-se os riachos do Brejo, Salgado, Catimbau, Mulungú, Brejinho e o rio Cordei-
ro. Todos esses cursos d'água possuem regime intermitente e um padrão dendrí-
tico.
Foto 8 - Exemplar do icó (Capparis yco) apresentando significativa quantidade de bagas. Fonte:
Ricardo Pessôa.
3.5 Considerações acerca do Paleoambiente das Áreas Pesquisadas.
A dificuldade de relacionar temporalmente o homem no contexto da geo-
paisagem em períodos antigos, leva a arqueologia a buscar, de forma multidisci-
plinar, respostas nas geociências para compreender a paisagem da época estu-
dada, seja Pleistocênica ou Holocênica.
Através das análises contextuais dos sítios e de datações realizadas (tanto
do ponto de vista da geopaisagem como arqueológico), os pesquisadores têm a
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
43
possibilidade de interpretar seus dados inserindo o homem em um contexto ambi-
ental determinado. No entanto, a falta dessa interação entre as ciências tem difi-
cultado o trabalho arqueológico que, muitas vezes, sem os dados ambientais ne-
cessários, não consegue fazer as interpretações arqueológicas de forma acer-
tada, caindo em contradições ou conclusões ambíguas.
No sudeste do estado do Piauí, mais especificamente na região da Serra
da Capivara, estudos relativos ao paleoambiente Pleistocênico e Holocênico têm
sido desenvolvidos com o intuito de compreender o ambiente onde o homem es-
tava inserido em tempos pretéritos.
No Agreste de Pernambuco não existem ainda, como um todo, investiga-
ções aprofundadas sobre a questão paleoambiental. Em Buíque, algumas pesqui-
sas foram realizadas do ponto de vista vegetacional, o que permitiu a partir dos
dados obtidos das análises das fitofisionomias (observando a datação obtida das
amostras) inferir o clima a que a vegetação estava submetida. No entanto, na re-
gião de Venturosa e Pedra não há pesquisas específicas dessa natureza, o que
dificultou a conclusão do tema aqui abordado. Os dados obtidos acerca dessas
áreas foram levantados a partir de pesquisas arqueológicas realizadas na década
de 80 pela equipe do Núcleo de Estudos Arqueológicos - NEA
53
.
Em que pese os poucos dados de paleoambiente no contexto do agreste
pernambucano, as interpretações acerca das investigações arqueológicas reali-
zadas na área de Venturosa (1986) permitiram afirmar que os grupos humanos
que habitavam as regiões há pelo menos 2.000 anos AP, partilhavam um clima
semi-árido. As condições climáticas provavelmente limitaram o número de in-
divíduos entorno do mesmo habitat devido à dependência direta das limitadas
fontes de água e outros recursos alimentares que margeavam os sítios. Possi-
velmente, devido ao número reduzido de indivíduos, os grupos tinham grande
mobilidade, deslocando-se constantemente a procura de alimentos e água, condi-
ção sine qua non para a sobrevivência
54
.
53
AGUIAR, Alice. A Tradição Agreste: análise de 20 sítios de arte rupestres em Pernambuco.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Historia – Área de
Concentração em Pré-História da Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 1986. P. 52/54.
54
Aguiar, Alice. A Tradição Agreste: Estudo sobre arte rupestre em Pernambuco. IN: Revista
CLIO – Revista do Curso de Mestrado em História da Universidade Federal de Pernambuco Nº 8.
Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco. 1986. P. 57
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
44
As pesquisas realizadas acerca da vegetação do Vale do Catimbau possi-
bilitaram observar uma rica quantidade de espécies da vegetação arbórea e ar-
bustiva
55
. No estrato herbáceo, a presença das cactáceas Opuntia sp (cactus) e
Pilosocereus sp (facheiro) no topo da Serra do Catimbau, caracterizaram a fisio-
nomia vegetacional dessa área alta da Serra. No fundo do vale, nas áreas de re-
levo ondulado e nas vertentes das serras, aparecem núcleos esparsos de palmá-
ceas, principalmente ouricuri e babaçu, e menos presente, a carnaúba (Foto 9).
O babaçu (Attalea speciosa) é uma palmeira que ocorre principalmente na
região de transição entre a Floresta Amazônica e o cerrado do Brasil Central,
sendo estendida até a Bahia. As regiões de ocorrência dessa palmácea caracteri-
zam, pois, zona de ecótono
56
. A presença dessa palmeira nos domínios da caa-
tinga, especialmente na região do Vale do Catimbau, representa testemunhos, em
refúgios ecológicos, de expansão pretérita dessa mata transicional em períodos
de maior umidade que, ao encontrar uma região de clima úmido, estabeleceu-se
no vale da serra.
A origem vegetacional dos brejos está associada às variações climáticas
ocorridas durante o Pleistoceno, as quais influenciaram de forma contundente na
distribuição do revestimento florístico das regiões. Em escalas regionais, focando
a região nordeste, essas mudanças climáticas causaram sucessivas expansões e
retrações da Floresta Atlântica em locais onde a caatinga era dominante
57
. Nos
períodos finais do Pleistoceno houve um retorno das florestas a sua distribuição
original, restando, porém, “ilhas” de Floresta Atlântica e de espécies típicas das
Florestas Cerranas em locais de micro-climas favoráveis, com maior umidade e
precipitação.
Estudos dos isótopos de carbono da matéria orgânica do solo (MOS) e das
plantas da região, aliado a datações de
14
C dos fragmentos de carvão originados
55
RIBEIRO, Adauto de Souza. Dinâmica paleoambiental da vegetação e clima durante o qua-
ternário tardio em domínios da mata atlântica, brejo do semi-árido e cerrado nordestino
utilizando isótopos do carbono da matéria orgânica do solo e planta. Tese de Doutorado
apresentada ao /Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. São
Paulo. 2002. P. 117-120.
56
RIBEIRO, Adauto de Souza. Op. Cit. P. 119-120.
57
TABARELLI, Marcelo; SANTOS, André M. de Melo. Uma Breve Descrição Sobre a História Na-
tural dos Brejos Nordestinos. IN: Brejos de Altitude em Pernambuco e na Paraíba. História Na-
tural, Ecologia e Conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente – Universidade Federal de
Pernambuco. 2004. P. 19.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
45
de paleoincêndios (no fundo do vale os fragmentos foram colhidos a, no máximo,
4 metros de profundidade)
58
, indicaram que há pelo menos 8.000 anos A.P. a ve-
getação da Serra do Catimbau não sofreu modificações significativas, predomi-
nando nesse período as plantas do tipo C
3
59
(floresta)
60
.
Foto 9 - Núcleos de babaçu no sopé da Serra de Jerusalém, próximo ao sítio Toca do João. No
primeiro plano à direita, um exemplar de carnaúba. Fonte: Ricardo Pessôa.
As conclusões a que RIBEIRO (2002) chegou permitiram observar que,
independente de variações climáticas que possam ter ocorrido durante o período
do Holoceno, as fitofisionomias da região não foram modificadas. Paralelamente,
pesquisas realizadas no Vale do Icatu (BA)
61
indicaram, a partir das análises dos
58
O autor não indica a que profundidade o material foi recolhido, citando apenas a profundidade
do solo de algumas áreas da pesquisa. RIBEIRO, Adauto de Souza. Dinâmica paleoambiental
da vegetação e clima durante o quaternário tardio em domínios da mata atlântica, brejo do
semi-árido e cerrado nordestino utilizando isótopos do carbono da matéria orgânica do
solo e planta. Tese de Doutorado apresentada ao /Centro de Energia Nuclear na Agricultura da
Universidade de São Paulo. São Paulo. 2002.
59
C
3
= isótopo de
13
C, presente no tipo vegetacional de florestas; C
4
= Isótopo de
14
C presente nas
vegetações abertas / herbáceas / (gramíneas).
60
RIBEIRO, Adauto de Souza. Op. Cit. P. 117-120; 170-171.
61
OLIVEIRA, Paulo E. de, BARRETO, Alcina Magnólia Franca & SUGUIO, Kenitiro. Late Pleisto-
cene/Holocene climatic and vegetational history of Brazilian caatinga: the fóssil dunes of the middle
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
46
polens da vegetação da área e do vale que o padrão climático e vegetacional (ca-
atinga) observado atualmente na área pesquisada, foi estabelecido após 4.240
anos A.P.
Cabe salientar, que durante o período de 7.000 a 5.000 anos A.P houve um
esquentamento do clima no Nordeste Brasileiro. Esse fenômeno não aconteceu
apenas em escala regional, mas em uma dimensão global. A Idade Hipsitérmica,
também conhecida como Ótimo Climático correspondeu a um esquentamento de
pelo menos 1
0
C a 2
0
C na temperatura média global, no intervalo de 9.000 a 2.500
anos A. P
62
.
Assim, é importante observar a relação Homem – recurso natural quando
se discute o binômio homem – meio, devido as suas necessidades teleonômicas.
Os recursos naturais sempre foram os elementos de sobrevivência dos grupos e a
falta ou mesmo insuficiência deles poderia resultar em conflitos ou até mesmo em
deslocamentos para áreas mais atrativas. Durante os períodos de maior esquen-
tamento, possivelmente, os grupos que viviam no agreste e sertão de Pernambu-
co podem ter necessitado migrar para áreas onde o clima estivesse mais ameno.
Desta forma, possíveis migrações de grupos para áreas mais atrativas do
ponto de vista ecológico em períodos pretéritos, como é o caso dos brejos de alti-
tude e do litoral do estado, devem ser pesquisadas, principalmente na região do
Estado de Pernambuco, onde há uma grande concentração de sítios arqueológi-
cos, sobretudo nas regiões do agreste e sertão do Estado.
São Francisco River. IN: Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. Reprinted from
Palaeogeography, Palaeclimatology, Palaeoecology 152; Elsevier; Department of Geology, The
Australian National University, Camberra; Department of Earth Sciences, Syracuse University,
Syracuse, New York; Institute of General Geology, University of Copenhagen, Copenhagen. 1999.
P. 335.
62
SUGUIO, Kenitiro. Geologia do Quaternário e Mudanças Ambientais: Passado + presente =
futuro. Paulo’s Comunicação e artes gráficas, São Paulo.1999. P.55.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
47
CAPÍTULO IV
OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO CONTEXTO DA PAISAGEM.
4.1 Aspectos da Geopaisagem e os Sítios Arqueológicos
Conforme mencionado (Cap. III), a área de estudo compreende dois com-
partimentos geograficamente separados, os quais constituem, também, duas uni-
dades de geopaisagem distintas que interessam particularmente no estudo ar-
queológico.
Muito embora essas unidades (ou domínios) estejam inseridas na região fi-
siográfica do Agreste Pernambucano, especificamente na microrregião de Arco-
verde, encerram particularidades de geopaisagem decorrentes das feições geoló-
gicas – em primeira ordem como identidade de herança – e geomorfológicas, es-
tas, mediante os mecanismos morfoclimáticos.
De um lado, na região que compreende os municípios de Venturosa e Pe-
dra, o terreno geológico está representado por rochas Pré-cambrianas com pre-
domínio de gnaisses e granitos diversos. As rochas gnáissicas exibem estruturas
que se orientam preferencialmente na direção nordeste-sudoeste. Essas estrutu-
ras planares são medianamente empinadas (da ordem de 40
0
a 50
0
) a subverti-
cais. Os corpos graníticos, de um modo geral, são alongados também segundo a
direção nordeste. Além da gnaissificação, como estrutura planar, as rochas gnáis-
sicas como as graníticas apresentam vários sistemas de fraturas.
Por outro lado, na unidade Catimbau o terreno geológico é formado de ro-
chas sedimentares areníticas as quais se dispõem com estratificação horizontal
predominante (ver Cap. III, seções 3.2 a 3.4). Em decorrência, as organizações
morfoestrutural e morfoescultural são desiguais da unidade Venturosa-Pedra.
Em função das estruturas fortemente marcadas nos terrenos de Venturosa-
Pedra, bem como pelas diferenças de resistibilidade das rochas aos processos de
erosão-intemperismo, os sistemas orográfico e hidrográfico orientam-se, essenci-
almente, segundo a direção nordeste-sudoeste. Deste modo, em grande parte da
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
48
região de Venturosa e Pedra, configura-se um modelado periódico do relevo com
elevações interpondo-se aos baixios onde estão instalados os cursos d’água. Esta
configuração é muito evidente na região leste de Venturosa (Figura 4). As eleva-
ções típicas são Serra do Buco, Serra da Catinga Branca e Serrote do Barbado e
os cursos fluviais principais que se interpõem como os riachos Chã de Souza, das
Cabaceiras, da Luiza e Magé. As elevações, ao modo de serras, podem ser con-
tínuas por quilômetros de extensão – a exemplo da Serra do Buco – ou descontí-
nuas como unidades morfológicas "ilhadas" (Serrote do Barbado, Serrote da Pe-
dra Furada; Foto 4). Na região ao sul de Venturosa bem como em Pedra, onde
também ocorrem sítios de pintura rupestre, este padrão geomorfológico se man-
tém (Figura 5), sendo, portanto, uma feição dominante como referido.
De modo geral, as vertentes não são abruptas, ao modo de escarpas, mas
discretamente íngremes. Nessas vertentes se destacam, com grande regularida-
de em toda a área, matacões
63
fixos ou como elementos deslocados de porções
mais elevadas. Os matacões (Foto 10) são formas comuns na paisagem e rele-
vantes do ponto de vista arqueológico, uma vez que 90% dos sítios arqueológicos
investigados na área estão inseridos nesse tipo de feição morfológica – a exceção
do sítio Pedra Furada. Por outro lado, a importância desses elementos, de ordem
morfo-estrutural-morfoescultural, fica demonstrada pela constatação de que cerca
de 64% dos sítios de pinturas rupestres investigados se constituem de abrigos
sob rochas em matacões
64
(ver a seguir).
Muito embora esses corpos rochosos, fixos ou rolados, predominem nas
vertentes, são também encontrados nos topos das elevações, nas partes inferio-
res das encostas ou ainda em regiões baixas e planas com destaque na paisa-
gem (Fotos 2, 17, 33, 45). Freqüentemente apresentam estruturas cavernícolas,
constituindo abrigos sob rochas, ou superfícies de exposição planas, encurvadas
ou algo onduladas internas as cavidades ou situadas a céu aberto (Foto 47).
63
Resultam de erosão e intemperismo de rochas. Formas com tendência ao arredondamento.
Alguns autores aplicam o termo “matacão” para fragmentos de rochas destacados ou deslocados,
outros consideram a formação sem deslocamento (in situ).
64
Peri-Peri I e II, Sítio do Barbado, Pedra da Buquinha I e II, Pedra do Chapéu e Pedra do Cabo-
clo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
49
Figura 4 - Orografia e hidrografia orientadas na direção nordeste-sudoeste. Região leste
de Venturosa-PE.
9056
9052
9048
9044
KmN
736 Km E
740
744
748
km
0
4
2
Base cartográfica modificada da Folha SC.24-X-B-V - Venturosa, impressão 1986.Escala 1:100.000. Ministério do Interior-
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Divisão de Recursos Naturais-Divisão de Cartografia.
Traçado da direção dominante das elevações
Traçado dos cursos d’água
Sítios arqueológicos de pintura rupestre
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
50
Essas estruturas cavernícolas são decorrentes de processos naturais de
erosão e intemperismo que atuam ao longo das estruturas planares (gnaissifica-
ção
65
, fendas) nas superfícies expostas das rochas, bem como em arestas e vér-
tices de blocos originalmente angulosos.
As fraturas nas rochas representam superfícies de fraquezas de modo que
uma porção da rocha pode desabar por razão do seu peso. Nas condições em
que planos de descontinuidades – como fendas e gnaissificação – apresentam
declividades medianas (da ordem de 20º a 40º), as estruturas de abrigo são mais
possantes e resultam, sobretudo, de tombamentos de blocos do teto por ação da
gravidade em combinação com processos de alteração (intemperismo químico)
ao longo desses planos. Outro aspecto importante, na formação dos abrigos sob
rocha, é a variação térmica que, em associação com as alterações químicas e-
xercidas sobre as rochas, tendem a modelar formas arredondadas (esfoliação
esferoidal) e superfícies de exposição, na maioria das vezes de contextura lisa e
polida. Na figura 6 é demonstrada, esquematicamente e de maneira simplificada,
a formação de estrutura cavernícola mediante tombamento de blocos. Como refe-
rido acima, no processo participam variações térmicas, alterações químicas de
minerais agindo na superfície da rocha, ao longo de fendas e da gnaissificação. O
resultado é a instabilidade de partes do matacão com desmoronamento de blocos
os quais são geralmente observados no piso dos abrigos (Foto 10).
Os processos intempéricos interferem de modo contundente nos painéis
rupestres dos sítios arqueológicos. Existem esfoliações nas rochas dos abrigos,
nos paredões a céu aberto que comprometem diretamente os painéis rupestres,
uma vez que, com a descamação das porções mais externas da rocha, as pintu-
ras que as sobrepõem são parcial ou fortemente destruídas. Esse processo é ge-
neralizado nos três municípios estudados, sendo mais intenso nas rochas da re-
gião de Catimbau. Neste último caso, a natureza das rochas tem papel essencial
para que ocorra a degradação das pinturas por descamação e/ou por dissolução
por águas pluviais (Fotos 11 A, B e C) e eventualmente por ação eólica.
65
Estrutura planar desenvolvida por metamorfismo e deformação de rochas.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
51
Figura 6 - Esquema explicativo do processo de formação de abrigos em matacões a-
través de estruturas planares (fendas e gnaissificação).
Foto 10 - Esfoliação esferoidal e conjunto de fraturas no matacão do sítio de Peri-Peri
I. Notar blocos no piso do abrigo. Venturosa-PE. Fonte: Marília Perazzo.
FRATURA
GNAISSIFICAÇÃO
BLOCO OU MATACÃO
ROCHA GNÁISSICA ROCHA GRANÍTICA
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
52
Em contrapartida ao conjunto dessas estruturas (matacões, gnaissificação,
fendas), que resultaram em abrigos e paredões favoráveis a ocupação pelos gru
pos de caçadores-coletores, há de se mencionar a presença de fontes d'água (bi-
cas ou olhos-d'água) nas proximidades dos sítios (Foto 12). Essas fontes se rela-
cionam ao acúmulo de água nas fendas das rochas e que podem ser perenes ou
não. Entretanto, eventualmente foram encontrados os "cacimbões" ou "caldei-
rões", os quais são tão freqüentes nos terrenos Pré-cambrianos do Nordeste Bra-
sileiro. Pelos tipos litológicos encontrados e as freqüentes fendas nas rochas, cer-
tamente que devem ocorrer em vários locais da região de Venturosa-Pedra.
Complementarmente aos aspectos essencialmente de natureza geológica-
geomorfológica (morfoestrutura e morfoescultura), a cobertura vegetacional mais
exuberante e variada ocupa os espaços de maior umidade retida no terreno por
mais tempo. Esses espaços são principalmente as regiões de vertentes com solo
razoavelmente desenvolvido e os locais de baixadas. Nas encostas de rochas
aflorantes ou nos topos das elevações, a vegetação torna-se mais rarefeita.
Fotos 11 A-B-C - Ilustrações da degradação de grafismos rupestres por dissolução e
descamação em arenitos. Catimbau-PE. Fonte: Marília Perazzo.
A B
C
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
53
Foto 12 - Filete d'água proveniente de fonte em fendas na encosta sudes-
te da Serra do Buco. Sítio Pedra do Chapéu. Observação em março de
2007. Fonte: Ricardo Pessôa.
No domínio Catimbau, por circunstâncias geológicas, com respostas mor-
foesculturais da paisagem de relevo, as posições e distribuições, geometrias, di-
mensões e freqüências de estruturas cavernícolas e outras de importância arque-
ológica, contrastam com o cenário observado no domínio de Venturosa-Pedra.
Por um lado, em toda a seqüência de arenitos aflorantes na região, a estra-
tificação é regionalmente horizontal porém com freqüentes "sets" de estratificação
cruzada. Por outro lado, ocorrem níveis ou horizontes estratigráficos composicio-
nalmente e texturalmente (composição mineralógica, variação granulométrica)
diferenciados os quais têm menor resistência aos agentes de erosão e intempe-
rismo (decomposição química, desagregação). Completa o quadro a presença
comum de fendas oblíquas e empinadas em relação aos estratos.
É neste conjunto de fatores que se desenvolveram as estruturas em abrigo
e paredões côncavos a céu aberto. Tais estruturas se encontram nas encostas
escarpadas em pontos elevados ou ao nível do solo e nas paredes verticais de
"morros testemunhos" (Fotos 5, 13, 14).
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
54
Foto 13 - Relações entre fendas e estratificação como elementos primários na formação de estru-
turas cavernícolas. Indicações das setas: Vermelhas, fendas oblíquas à estratificação; Brancas,
"set" de estratificação cruzada; Amarela, estratificação horizontal dominante. Primeiro plano à
esquerda, sítio Homem sem cabeça; ao fundo, sítio Serrinha. Catimbau-PE. Fonte: Ricardo Pes-
sôa.
Na foto 15, está representado um excelente exemplo da formação de estru-
turas cavernícolas pela concorrência de fatores como estratificação horizontal,
estratificação cruzada e variações de resistência aos agentes de erosão e intem-
perismo. As estruturas estão na escala de dimensões centimétricas, entretanto
pode-se observar que mantêm morfologias similares aquelas de dimensões métri-
cas dos abrigos. A recorrência, em diversas escalas de tamanhos, é um fenôme-
no comum na natureza e explicado por seguir a lei dos fractais.
Em face do relevo e natureza litológica, fontes d'água são esperadas ocor-
rerem nos locais escapados, nas nascentes de riachos e mais preferencialmente
nos níveis topográficos de sopé das elevações como é o caso da fonte registrada
no sítio Toca do João (Foto 16).
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
55
Foto 14 - "Morro testemunho" com paredão cônca-
vo. Sítio Concha I. Catimbau-PE. Fonte: Marília Pe-
razzo.
Foto 15 - Relações entre estratifi-
cação horizontal, cruzada e vari-
ações composicionais na forma-
ção de estruturas cavernícolas de
dimensões centimétricas. Morfo-
logias idênticas, em qualquer es-
cala, podem ser explicadas pela
lei geométrica dos fractais.
Setas: Brancas, morfologias ca-
vernícolas; Vermelha, estratifica-
ção cruzada; Azul, estratificação
horizontal. Sítio Dedo de Deus I.
Catimbau-PE.
Fonte: Ricardo Pessôa.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
56
Foto 16 - Córrego oriundo de descarga d'água de fonte situada no sopé da Serra de
Jerusalém. A estrutura em tijolos destina-se a captação da água por morador da loca-
lidade. Sítio Toca do João. Catimbau-PE. Fonte: Ricardo Pessôa.
4.2 Análise Espacial dos Sítios Arqueológicos
A estruturação da geopaisagem, discutida na seção precedente e sobretu-
do considerando os seus aspectos físicos, se constitui em um suporte importante
para o entendimento da distribuição espacial dos sítios arqueológicos.
A paisagem natural é um sistema amplo e complexo, envolvendo os aspec-
tos de subsistemas físico, biótico (flora e fauna) e, no tema desta dissertação, o
homem dependente desses subsistemas. Neste sentido, a distribuição espacial
dos sítios arqueológicos pode ser lida como a ocupação ou apropriação do espa-
ço como sistema produtor-fornecedor de recursos às necessidades dos grupos
humanos que habitavam a região.
Os elementos do espaço físico e biótico, como abrigos, painéis rochosos,
flora e fauna, estão arranjados em decorrência de fatores geológicos-geomor-
fológicos, constituindo, na totalidade, a geopaisagem.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
57
Com base no número de sítios de pinturas rupestres estudados (Tabela 1,
Figura 5), o modo de ocupação da paisagem demonstra diferenciação nos dois
domínios ou unidades de geopaisagem anteriormente definidos.
Dos 25 sítios pesquisados, cerca de 56% correspondem a abrigos sob ro-
cha, sendo 6 abrigos na região de Venturosa, 1 em Pedra e 7 em Catimbau.
Na região de Venturosa-Pedra, os sítios seguem um posicionamento gros-
seiramente linear de orientação noroeste-sudeste, portanto transversalmente as
direções orográficas e hidrográficas dominantes na região (Figuras 4, 5, 7). Embo-
ra não se possa afirmar, face ao número reduzido de sítios, admite-se que esta
distribuição reflete a maneira na qual se encontra todo um conjunto de recursos
naturais como abrigos sob rocha, outras exposições de rochas para a prática do
grafismo, caça-coleta e fontes d'água. Supõe-se, também, que esta distribuição
dos sítios se relacione aos trajetos para outros locais, sempre a busca dos espa-
ços produtores-fornecedores de recursos.
As figuras 7, 8, 9 e 10 ilustram a correlação entre a distribuição espacial
dos sítios e os elementos da paisagem física. No perfil da figura 8, pode-se notar
que os sítios se posicionam nas encostas das elevações e próximos aos cursos
d'água ou fontes de água. As cotas altimétricas se situam entorno de 650 m a
700m. Nessas cotas, os matacões não apenas são mais abundantes como mais
próximos aos suprimentos de água. As figuras 9 e 10 são representações em 3D
da região de Venturosa destacando as posições de sítios em relação às formas
de relevo.
No domínio Catimbau, é oportuno rever alguns aspectos geológicos perti-
nentes às presenças de estruturas cavernícolas que se caracterizam como abri-
gos sob rocha e exposições de superfícies rochosas identificadas para a prática
de grafismo.
Em decorrência do posicionamento horizontal da estratificação, de toda a
seqüência de arenitos da Formação Tacaratu, as exposições de arenitos ocupam
extensa área e os processos de modelado do relevo esculturaram formas singula-
res, distintas do domínio Venturosa-Pedra.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
58
Tabela 1 – Relação dos Sítios Arqueológicos Estudados
LOCALIDADE – MUNICÍPIO – NOME DO SÍTIO
CATIMBAU - BUIQUE
LOCALIDADE – PROPRIETÁRIO DA TERRA
COORDENADAS
(1)
UTM (m)
(2)
COTAS (m)
01 Homem sem Cabeça Cânion 8
0
31' 30,2" 37
0
14' 41,5'' 693.196 9.057.210 950 a 940
02 Serrinha Cânîon-Serra Branca 8
0
31' 30,6'' 37
0
14' 40,9'' 693.214 9.057.194 950 a 940
03 Sítio do Veado Brejo de São José - Cânion 8
0
32' 01,7'' 37
0
14' 37,2'' 693.345 9.056.276 850
04 Furtuoso II Sítio Lagoa do Mato - José Bezerra (Zé Pequeno) 8
0
32' 31,5'' 37
0
15' 43,5'' 691.291 9.055.332 900 a 850
05 Serra Branca Sítio Arcoverde - Antônio Ramos 8
0
32' 36,2'' 37
0
14' 36,8'' 693.331 9.055.178 900
06 Pedra da Concha I
Sitio Aparecida - Dioclecio 8
0
33' 24,1'' 37
0
14' 54,4'' 692.789 9.053.712 850
07 Pedra da Concha II Sitio Aparecida - Dioclécio 8
0
33' 22,8'' 37
0
14' 46,2'' 693.037 9.053.748 850
08 Sítio Pititi Sítio do Pititi - Manoel Siqueira 8
0
33' 27,8" 37
0
14' 32,3" 693.479 9.053.610 850
09 Toca do João Serra de Jerusalém - Francisco Araújo 8
0
35' 18,3'' 37
0
14' 31,3" 693.476 9.050.198 770
10 Casa de Farinha Sítio do Pititi - Manoel Siqueira 8
0
33' 25,7" 37
0
13' 38,5" 694.483 9.053.652 850
11 Caiana Brejo de S.José 8
0
32' 55,5" 37
0
13' 55,3" 694.597 9.054.580 900
12 Alcobaça Fazenda. Serrote Preto - José Maria dos Santos 8
0
32' 23,8'' 37
0
11' 38,5'' 698.786 9.055.534 750
13 Dedos de Deus I Fz. Serrote Preto - José M. dos Santos 8
0
32' 13,3'' 37
0
11' 31,7'' 698.995 9.055.856 780
14 Dedos de Deus II Fz. Serrote Preto - José M. dos Santos 8
0
32' 13,9" 37
0
11' 30,1" 699.044 9.055.838 780
MUNICÍPIO – NOME DO SÍTIO
PEDRA
LOCALIDADE – PROPRIETÁRIO DA TERRA
COORDENADAS
(1)
UTM (m)
(2)
COTAS (m)
01 Pedra Redonda Fz. Pedra Redonda- João Carlos 8
0
44' 07,3'' 36
0
48' 25,2'' 741.280 9.033.694 550
02 Pedra do Caboclo Fz. Pedra do Caboclo- Levi Vaz 8
0
42' 25,2'' 36
0
53' 00,9'' 732.868 9.036.880 600
03 Poço da Figura Fz. Cachoeirinha- Paulo da Silva 8
0
44' 31,4'' 36
0
49' 12,4'' 739.833 9.032.962 540 a 530
04 Prata
Fz. Prata-Serrote do Bucu - Pedro Galvão 8
0
41' 23,7'' 36
0
51' 46,6'' 735.151 9.038.756 650 a 600
MUNICÍPIO – NOME DO SÍTIO
VENTUROSA
LOCALIDADE – PROPRIETÁRIO DA TERRA
COORDENADAS
(1)
UTM (m)
(2)
COTAS (m)
01 Pedra Furada Fz. Goiabeira-Serrote da Pedra Furada 8
0
34' 22,5" 36
0
49' 34,2" 739.273 9.051.678 700 a 680
02 Peri-Peri I
Fz. Oliveira-Paulo Tenório 8
0
32' 42,8" 36
0
50' 02,5" 738.425 9.054.746 680 a 650
03 Peri-Peri II
Fz. Oliveira-Paulo Tenório 8
0
32' 43,6" 36
0
49' 59,6" 738.513 9.054.722 680 a 650
04 Pedra da Buquinha I Boqueirão- Gedeão Galindo 8
0
35' 54,5'' 36
0
48' 09,5'' 741.848 9.048.836 700 a 650
05 Pedra da Buquinha II Boqueirão - Gedeão Galindo 8
0
35' 53'' 36
0
48' 06,1'' 741.952 9.048.880 700 a 650
06 Pedra do Chapéu ou Pedra do Letreiro Morro do Chapéu 8
0
36' 49,9'' 36
0
46' 33,0'' 744.790 9.047.116 680 a 650
07 Sítio do Barbado Sítio do Barbado - José Zacarias. 8
0
33' 58,1" 36
0
48' 27,0" 741.333 9.052.416 700 a 650
(1)
Datum Córrego Alegre-MG.
(2)
Formato da posição UTM UPS, Datum de Mapa Córrego Alegre-MG.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
59
Figura 7 - Trecho leste da folha Venturosa com indicação do segmento do perfil morfo-
lógico representado na figura 8.
736 kmE
740
744
748
9044
kmN
9048
9052
9056
Base cartográfica modificada da Folha SC.24-X-B-V - Venturosa, impressão 1986.Escala 1:100.000.
Ministério do Interior-Superintenncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Divisão de Recursos
Naturais-Divisão de Cartografia
.
km
04
2
Localização de sítios de pintura rupestre
Segmento e orientação do perfil
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
60
Figura 8 - Representação em perfil da posição de sítios de pintura rupestre em relação aos acidentes fisiográficos. Região leste de Venturosa.
SE
500
600
700
800
900
1000
Rio dos Bois
Serrote do Barbado
Riacho Carrapateira
Serra do Buco
Riacho das Cabaceiras
A
LTITUDE (m)
740000 742000 744000
746000
NW
Riacho
1
2
4
3
5
Perfil morfológico elaborado com base na Folha SC.24-X-B-V - Venturosa,
impressão 1986.Escala 1:100.000. Ministério do Interior-Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Divisão de Recursos Naturais-
Divisão de Cartografia.
1 Sítios Peri-Peri I e II
3
Sítio Pedra Furada
2
Sítio do Barbado
4 Sítios Pedra da Buquinha I e II
5
Sítio Pedra do Chapéu
Fontes de água subterrânea em sistemas fraturados
km
0
1
2
Escala horizontal
COORDENADAS UTM
(metros)
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
61
Figura 9 - Modelamento 3D de parte da região leste de Venturosa. Círculos em azul e vermelho representam os
sítios arqueológicos de pintura rupestre. Observador olhando para nordeste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
62
Figura 10 - Modelamento 3D de parte da região leste de Venturosa. Círculos em azul e vermelho representam os
sítios arqueológicos de pintura rupestre. Observador olhando para sudoeste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
63
Os processos de modelado do relevo definiram posições no relevo, formas
e dimensões das estruturas cavernícolas e superfícies rochosas como, por exem-
plo, nos sítios arqueológicos Concha I e II (Fotos 14, 82). De todos os sítios exa-
minados e constituindo estruturas em abrigo, essas cavidades se encontram em
bordas das encostas íngremes (escarpadas; como no sítio Toca do João), nas
vertentes do cânion ou "em morros testemunhos" (Fotos 5, 13, 14, 58, 82).
No espaço geográfico, onde dominam os sítios arqueológicos estudados,
cerca de 93 % se distribuem aproximadamente no entorno do cânion de Catim-
bau, sendo a exceção o sítio Toca do João. Essa distribuição tem uma conforma-
ção média aproximada de uma curva de concavidade voltada para o cânion (Figu-
ra 11). Identifica-se, também, que 86 % dos sítios estão nas vizinhanças de ria-
chos e apenas dois (sítios do Veado e Caiana) se localizam a cerca de 400 me-
tros a 1 km do riacho mais próximo (Figura 11). Embora esses cursos d'água se-
jam intermitentes, supõe-se da existência de fontes (ou bicas) em suas proximi-
dades ou que o suprimento deste recurso se encontre no sopé da escapa do câ-
nion ou no vale, onde estão os riachos do Brejo e Salgado. No caso do sítio Toca
do João, além de ser um abrigo sob rocha, existe uma fonte como mostrada na
Foto 16. Além desses aspectos, nos vales a flora é mais densa e diversificada
enquanto que nos topos das serras a vegetação de caatinga é, em geral, menos
densa (Fotos 5, 6, 58, 96).
No que diz respeito às cotas altimétricas de posição dos sítios, observa-se
uma diferença da ordem de 200 m, sendo o sítio mais elevado no terreno com
cota aproximada de 940 m e o de cota mais baixa no entorno de 750 m (Tabela 1,
Figuras 12, 13). Essas diferenças na altimetria podem ser atribuídas às variações
de resistibilidade das camadas de arenito, quando da atuação dos processos de
erosão-intemperismo na construção de estruturas cavernícolas e/ou superfícies
de exposição (ao modo de painéis). As figuras 14 e 15 são representações em 3D
da região norte de Catimbau destacando as posições de alguns sítios arqueológi-
cos em relação às formas de relevo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
64
Figura 11 - Trecho norte de Catimbau ilustrando a distribuição de sítios de pin-
tura rupestre e os segmentos dos perfis representados nas figuras 12 e 13.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
65
Figura 12 - Representação em perfil N-S da posição de sítios de pintura rupestre em relação aos acidentes fisiográficos. Região norte de Catim-
bau.
56.000
54.000
52.000
50.00
57.000
55.000
53.000
51.000
700
57.812
750
800
850
900
950
1000
A
LTITUDE (m)
Perfil morfológico elaborado com base na Folha SC.24-X-B-IV - Buique,
impressão 1982.Escala 1:100.000. Ministério do Interior-Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Divisão de Recursos Naturais-
Divisão de Cartografia.
1 Sítios Homem Sem Cabeça e Serrinha
3
Sítio do Veado
2
Sítio Serra Branca
4 tio Pititi
5
Sítio Toca do João
Fonte de água subterrânea em sistema poroso
Escala horizontal
COORDENADAS UTM
(metros)
N
S
1
2
3
4
5
Borda Oeste do Cânion
Riacho
Córrego
Riacho do Brejo
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
66
Figura 13 - Representação em perfil WNW-ESE da posição de sítios de pintura rupestre em relação aos acidentes fisiográficos. Região norte de Ca-
timbau.
692.650
694.000
696.000
698.000 699.84
5
1000
900
800
700
600
WN
W
ESE
Perfil morfológico elaborado com base na Folha SC.24-X-B-IV - Buique,
impressão 1982.Escala 1:100.000. Ministério do Interior-Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Divisão de Recursos Naturais-
Divisão de Cartografia.
1
Sítio do Veado
3
Sítio Dedo de Deus I
2
Sítio Dedo de Deus II
A
LTITUDE (m)
COORDENADAS UTM
(metros)
1
2
3
Riacho do Brejo
Afluentes do Riacho Salgado
4
4
Sítio Alcobaça
Serra do Coqueiro
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
67
Figura 14 - Modelamento 3D da região norte de Catimbau mostrando distribuição dos sítios arqueo-
lógicos de pintura rupestre. Observador olhando para nordeste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
68
Figura 15 - Modelamento 3D da região norte de Catimbau mostrando distribuição dos sítios ar-
queológicos de pintura rupestre. Observador olhando para sudoeste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
69
4.3 Os Sítios Arqueológicos de Venturosa, Pedra e Catimbau
4.3.1 Os Sítios Arqueológicos do Município de Venturosa
O Sítio Peri-Peri I
Foto 17 - O Sítio Peri-Peri I no contexto da paisagem. Matacão localizado a esquerda da foto,
no sopé da elevação (Morro dos Ossos). Fonte: Marília Perazzo.
O sítio Peri-Peri I está localizado na Fazenda Oliveira, situada do lado
esquerdo da PE-217 que liga o município de Alagoinha ao de Venturosa, dis-
tando 6 km do último. Locado a aproximadamente 600 metros da pista, o sítio é
de fácil acesso e está assentado no sopé do Morro dos Ossos.
Nas proximidades do sítio existem caldeirões que acumulam água da
chuva e a conservam mesmo nos períodos de seca. A drenagem próxima da
área é feita pelo rio Dos Bois, que corre na direção Nordeste-Sudoeste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
70
O sítio está situado em um afloramento rochoso granítico porfirítico
66
, de
cor avermelhada, no qual se formou um abrigo sob rocha com dimensões de
aproximadamente seis metros de largura, seis metros de profundidade e treze
metros de altura (observada a parte mais alta). Resultante de intemperismo e
erosão da rocha, o afloramento possui formas com tendências ao arredonda-
mento, conhecido como matacão.
Foto 18 - O abrigo sob rocha do sítio Peri-Peri I. Observam-se fraturas na rocha, podendo ter
ocasionado queda de blocos. Fonte: Marília Perazzo.
A constituição do abrigo se deu, provavelmente, pela ação de um con-
junto de variáveis como descamação, aumento e diminuição de temperatura -
uma vez que há uma oscilação térmica do período diurno para o noturno na
região - combinado com fraturas horizontais existentes na rocha, as quais de-
sencadeiam a queda de blocos. As rochas que compõem as paredes do abrigo
estão em processo de descamação, resultando no desplacamento, e conse-
qüentemente, na destruição das pinturas existentes no abrigo.
66
Granito formado por feldspato potássico, feldspato plagioclásio, quartzo e minerais acessó-
rios.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
71
Todo o afloramento, denominado de Peri-Peri I, está coberto por pinturas
rupestres da Tradição Agreste. Devido à presença dos grafismos na quase to-
talidade do afloramento, para facilitar a análise, o sítio foi dividido em três seto-
res: A área do abrigo (Setor 1), e suas laterais direita (setor 2) e esquerda (se-
tor 3). Vale salientar que essa divisão foi feita com o observador na mira Leste.
Na área do Abrigo existem dois painéis de pinturas onde os grafismos de com-
posição (zoomorfos e antropomorfos) e os grafismos puros aparecem juntos na
composição gráfica, mas sem formar cenas. Há a presença de marcas de mão
em positivo na parte superior dos painéis, além de grafismos não reconhecíveis
como traços isolados e agrupados paralelamente, representações em forma de
círculos e grafismos conhecidos como “armadilhas” - assinalado por AGUIAR
(1986) como típico do estilo Cariris Velhos.
Na direção nordeste do sítio (setor 2), existe um grande paredão medin-
do aproximadamente 25 metros de comprimento contendo pinturas rupestres
em toda sua extensão. Devido à coloração róseo-avermelhada da rocha as pin-
turas acabam se misturando com as manchas formadas em decorrência do
intemperismo químico, o que dificulta para o espectador distinguir as manchas
intrínsecas da rocha aos pigmentos dos grafismos. Além disso, a presença da
pátina decorrente do escorrimento de água ou até mesmo, outros fatores como
oscilação de temperatura e pressão, causa descamações e desplacamentos na
rocha, fato este bastante prejudicial aos painéis de pinturas rupestres locados
nessas áreas onde a rocha apresenta-se mais frágil.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
72
Foto 19 - Superfície lisa e plana da lateral esquerda do Peri-Peri I.
Fonte: Marília Perazzo.
Nesse paredão aparecem conjuntos gráficos isolados compostos por
grafismos puros e grafismos de composição. Em geral, as figuras desse painel
aparecem sucessivamente no decorrer do paredão sem formar cenas comple-
xas, existindo apenas, como é o caso da fileira de emas, composições com
poucos componentes associados que podem ser interpretados como cena. A-
lém das emas, a presença de quelônios e figuras que lembram tartarugas tam-
bém estão representadas no painel. As marcas de mão em positivo aparecem
na parte superior do paredão, recorrente em todos os painéis do sítio.
No setor 3 observou-se apenas um pequeno número de grafismos pu-
ros, como traços e a composição conhecida como “armadilha”. Essa composi-
ção é formada por uma figura de forma retangular ou quadrada preenchida in-
ternamente por linhas paralelas e horizontais que se cruzam. Esse grafismo é
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
73
recorrente em outros sítios da região, como o Sítio do Barbado, o Toca do Cha-
péu e o sítio Pedra da Buquinha I.
Foto 20 - Fileira de emas localizada no plano vertical, a 2, 5 metros de altura. As manchas
brancas sobrepondo as figuras são resultado do escorrimento da água das chuvas ocasio-
nando a formação da pátina. Sítio Peri - Peri I. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
74
O Sítio Peri-Peri II
Foto 21 - Abrigo sob rocha do Sítio Peri-Peri II. Fonte: Marília Perazzo.
O sítio Peri-Peri II situa-se na vertente do Morro dos Ossos, a aproxima-
damente trinta metros do abrigo sob-rocha do Peri-Peri I (Foto 17). É formado
por um matacão granítico porfirítico, com as bordas arredondadas e de cor a-
vermelhada. Comparado ao abrigo sob rocha do Peri-Peri I, o Peri-Peri II, pos-
sui um pequeno abrigo sob rocha com uma altura aproximada de dois metros
(da parte mais alta), oito metros de comprimento e três de largura.
Em Peri-Peri II existe apenas um painel policromático, composto por gra-
fismos de cor vermelha, amarela e branca. No momento da pesquisa de cam-
po, o sítio foi visitado nos períodos da manhã e da tarde para a melhor visuali-
zação dos grafismos, pois a vegetação que margeia o sítio dificulta a incidência
da luz no ambiente. Esse aspecto dificultou a compreensão do universo gráfico,
pois as pinturas em amarelo e branco não apresentavam nitidez suficiente para
a percepção das formas pelo espectador. As fotografias tiradas no local tam-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
75
bém não permitiram uma observação detalhada devido à falta de luz, condição
sine qua non para uma boa fotografia. Assim, apenas os grafismos represen-
tando zoomorfos (um conjunto de dois componentes) puderam ser observados.
Esses grafismos interpretados por AGUIAR (1986) como um veado, possuem
um dinamismo que não é recorrente em outros painéis da Tradição Agreste. O
conjunto gráfico de Peri- Peri I e II, quando relacionado aos zoomorfos possui
um aspecto naturalista incomum aos outros sítios da região (observada a cena
das emas e a representação dos veados de Peri-Peri II).
Foto 22 - Representações de zoomorfos no Sítio Peri-Peri II. Fonte: Marília Perazzo.
Dessa forma, a análise do ponto de vista gráfico do sítio fica prejudicada,
pois não obtivemos uma visão panorâmica do painel, e por conseguinte, não se
pode fazer a análise. Nesse momento, apenas através das pesquisas realiza-
das por AGUIAR (1986), podemos ter referências das pinturas e suas composi-
ções, uma vez que não foi possível voltar ao sítio posteriormente devido ao
prazo do término da presente pesquisa, o que não invalida análises futuras
desse sítio. No entanto, inserimos Peri-Peri II nas nossas análises devido à
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necessidade de interpretar o conjunto de sítios das regiões no contexto da pai-
sagem local e regional, já que quanto mais sítios conhecidos forem abordados -
obtendo dessa forma um universo mais amplo de informações - mais precisas
serão as conclusões do ponto de vista da análise espacial e paisagística.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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O Sítio do Barbado
Foto 23 - Vista panorâmica da paisagem onde o sítio está inserido. O Sítio do Barbado situa-se
no afloramento mais à direita da foto, na encosta da elevação indicado pela seta. Observar
formas arredondadas nos matacões. Fonte: Ricardo Pessôa.
O Sítio do Barbado está localizado na vertente do Serrote do Barbado,
na localidade conhecida também como sítio do Barbado. O Serrote do Barbado
é bastante elevado, de encostas íngremes caracterizado como um inselberg
67
,
onde se observa visivelmente uma superfície de grandes fraturas. Dessa ele-
vação escorre pelas fendas, decorrentes das fraturas, água que se infiltra pelo
terreno arenoso de aluvião e colúvio, formando um pequeno riacho que corre
no sentido oeste. Em alguns locais, como no sopé da elevação, existem fontes
de água perenes.
67
“Denominação usada por Bornhardt para as elevações ilhadas que aparecem em regiões de
clima árido. (...) Os inselbergs são como que resíduos da pediplanação, em climas áridos quen-
tes e semi-áridos, à semelhança dos monadocks, devido à pediplanação, em regiões de clima
úmido.” IN: GUERRA, Antônio Teixeira. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Ja-
neiro: IBGE, Conselho Nacional de Geografia 4ª Edição. 1972. P. 235.
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Foto 24 - Vista parcial do Serrote do Barbado. No sopé há uma fonte
d'água. No primeiro plano, o alagado corresponde a uma barreiro fei-
to por moradores do local e não provém da fonte d´água. Observa-
ção em março de 2007; em período chuvoso. Fonte: Ricardo Pessoa.
O Sítio do Barbado é um afloramento granítico porfirítico, de cor averme-
lhada com bordas arredondadas na forma de matacão, onde o conjunto de fra-
turas horizontais decorrentes de variações de temperatura e pressão desenca-
deou a queda de blocos e consequentemente a formação de estruturas na for-
ma de cavidades ou abrigos. O sítio está coberto por pinturas rupestres da
Tradição Agreste, na cor vermelha e branca, como ocorre em Peri-Peri II. Devi-
do a grande concentração de pinturas e sua distribuição nas diversas faces do
afloramento dividiremos o sítio em três setores, para facilitar a descrição e a
análise. No setor 1, local onde não há abrigo, apenas uma pequena reentrância
da rocha, são poucos os grafismos existentes como marcas de mão em positi-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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vo, na parte superior do painel, além de traços e grafismos não reconhecíveis
distribuídos aleatoriamente no painel.
Na margem direita do sítio, observador olhando em direção sudoeste,
existe dois abrigos, onde o primeiro (setor 2), com pequenas dimensões possui
apenas um painel, pintado somente com na cor vermelha. Localizado a dois
metros de altura, os grafismos observados são marcas de mão em positivo lo-
calizados na parte superior do painel, além de grafismos puros como traços
sinuosos e lineares e gradis (também conhecidos como “armadilhas”). Esses
grafismos estão dispostos de forma aleatória não formando cenas.
Foto 25 - Abrigo sob rocha coberto por pinturas da Tradição Agreste. Sítio do Barbado. Fonte:
Marília Perazzo.
O segundo abrigo (setor 3) possui vários grafismos, pintados nas cores
vermelha e branca. Esses grafismos estão distribuídos no painel sem uma or-
dem aparente, não formando cenas. Observa-se a presença de sobreposições
de grafismos no painel, o que indica momentos diferentes da realização gráfica.
No conjunto gráfico representado abaixo, fica clara a sobreposição dos grafis-
mos lineares de cor branca sobre a figura antropomórfica bicromática. Outro
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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aspecto importante a se observar é a presença majoritária de figuras com um
geometrismo aparente como linhas sinuosas, lineares e curvilíneas, gradis, li-
nhas que se cruzam na horizontal e vertical, as quais foram assinaladas como
grafismos comuns da Tradição Agreste. As marcas de mão em positivo tam-
bém estão presentes nesse abrigo, localizadas nas áreas superior dos painéis,
característica recorrente em todos os sítios da Tradição.
Foto 26 - Indicação de sobreposição de grafismos. Sítio do
Barbado. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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O Sítio Pedra Furada
Foto 27 - Panorâmica da Pedra Furada. Fonte: Marília Perazzo.
O sítio Pedra Furada está situado no cume do Serrote da Pedra Furada,
sendo o único sítio da região localizado no topo de uma elevação. A formação
geológica da Pedra Furada sugere a forma de um arco, que devido às fraturas
existentes acompanhando o formato arqueado da serra, permitiu a queda de
blocos e a formação desse aspecto imponente do relevo. A Pedra Furada, em
seu aspecto físico, é um sítio singular na região, pois até o momento é o único
sítio encontrado na área onde as pinturas rupestres não aparecem em mata-
cões e, por outro lado, a forma imponente do relevo separa duas regiões de
várzea, podendo ser admirada de diversos ângulos, dos vários sítios que cir-
cundam tal elevação.
Em ambos os lados do arco da Pedra Furada existem pinturas rupestres.
Dividimos, para facilitar a análise o sítio em 4 setores, onde há a presença dos
registros gráficos. O setor 1 está localizado a esquerda do arco (observador
olhando para SE), estando o painel composto por grafismos não reconhecí-
veis,composto por pontos, traços e manchas de cor vermelha. Provavelmente
feitos a dedo, quando observados os traços e angulosidade das curvas.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Além dessas manchas vermelhas localizadas a leste do painel, existe
também a presença de uma figura zoomórfica, composta por quatro patas e
uma longa calda, conhecida na região como “o elefante da Pedra Furada”. Es-
se zoomorfo chama muita atenção devido à curvatura que a calda faz, lem-
brando a tromba de um elefante, o que explica o nome dado pela população.
No entanto, as características morfológicas da pintura (as quatro patas, a cau-
da e a cabeça) sugerem a figura de uma onça.
Foto 28 - Representação zoomórfica. Setor 1 do Sítio Pedra Furada. Fonte: Marília Perazzo.
Os setores 2, 3 e 4 estão localizados a direita do arco (observador o-
lhando para SW). No setor 2 existe uma maior riqueza de detalhes das pintu-
ras, aparecendo grafismos puros e de composição, como antropomorfos e zo-
omorfos. As pixações feitas pelos visitantes encobriram todo o painel, não sen-
do possível observar de forma clara os grafismos. As figuras de antropomorfos
e zoomorfos estão perdidas no meio das pixações feitas em toda a rocha. Esse
painel praticamente foi encoberto pelos nomes e datas estampadas em todo o
topo da elevação. Pode-se observar apenas a presença de antropomorfo, zo-
omorfos e grafismos puros sem formar cenas. Pesquisas anteriores nesse sítio
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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indicaram a presença de 26 antropomorfos nesse painel, onde em apenas um
existia a indicação de sexo. No entanto, em função das inscrições sobrepostas
às rupestres, podemos observar, com muita dificuldade, apenas 4.
Foto 29 - Conjunto de pinturas rupestres indicadas pelas setas, sobrepostas por pixações.
Fonte: Marília Perazzo.
Os traços mais delicados e a angulosidade das formas sugerem a elabo-
ração desses grafismos com instrumentos de ponta fina, contrastante ao traça-
do dos grafismos do setor 1 do sítio.
No setor 3, estão representados três grafismos, dois antropomorfos e um
zoomorfo. Uma das figuras antropomorfa está representada a quatro metros do
solo, possuindo um tamanho maior que as outras. Os membros superiores ele-
vados dão uma conotação de movimento à figura, e a forma arredondada do
ventre sugere a representação de uma mulher grávida. O outro antropomorfo,
de menor tamanho, está localizado abaixo da figura maior, e o zoomorfo no
plano esquerdo da imagem.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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No setor 4 do sítio, o painel é composto por um zoomorfo quadrúpede, já
bastante desgastado pela pátina - decorrente do escorrimento de água sobre o
grafismo - além de pixações que também encobrem parcialmente a pintura.
Foto 30 - Em detalhe, antropomorfo e zoomorfo nos planos supe-
rior e inferior respectivamente. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 31 - Figura antropomorfa representando provavelmente uma mu-
lher grávida. Fonte: Marília Perazzo.
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O Sítio Pedra da Buquinha
O sítio Pedra da Buquinha é formado por um matacão granítico com
bordas arredondadas, localizado no sopé da Serra do Buco, na localidade de-
nominada Boqueirão. Coberto por pinturas rupestres da Tradição Agreste, os
grafismos predominantes nesse sítio são os geometrizados, do estilo “Geomé-
trico Elaborado” indicado no Trabalho de AGUIAR (1986), além da existência
de marcas de mãos e zoomorfos e antropomorfos em pequena quantidade. Por
nesse sítio possuir muitas pinturas em todas as faces do matacão, o dividimos
em 5 setores.
Foto 32 - Panorâmica da Pedra da Buquinha na paisagem. Os dois matacões assinalados são
os sítios Pedra da Buquinha I (à direita) e a Buquinha II (à esquerda). Fonte: Marília Perazzo.
No setor 1, na área norte do matacão, foram observados no painel 2 pe-
quenos nichos de pinturas, com formas geometrizadas, linhas paralelas e mar-
cas de mão da parte superior do painel.
No setor 2 foram observados dois painéis rupestres, estabelecidos, nes-
sa pesquisa, como painel A e B. O painel A está localizado a NE do paredão,
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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medindo 3 metros de comprimento por 2,90 de altura. Nesse painel está situa-
do numa área desprotegido, tendo incidência direta de sol e chuva, estando,
dessa forma, as pinturas manchadas podendo ser observado apenas algumas
figuras com formas geometrizadas. Outro fator de desgaste da rocha é o in-
temperismo, causador dos desplacamentos da rocha e do desgaste dos painéis
rupestres. Esse processo foi observado em todos os painéis do sítio. Nesse
painel foi observada a presença de pinturas enterradas, fazendo-se necessário
um estudo mais detalhado do local, uma vez que há possibilidades de desen-
volver escavações em toda área do sítio.
Separando o painel A do B, existe um abrigo formado por um conjunto
de fraturas da rocha e desmoronamento de blocos. O painel B localiza-se na
área leste do sítio e é composto por grafismos geométricos elaborados forman-
do ângulos retos de 90° e com preenchimento interno. Devido ao intemperismo,
a rocha apresenta-se rachada e observa-se desplacamento da rocha, uma vez
que as pinturas foram destacadas do paredão.
O setor 3 está localizado na área sudeste do matacão e é formado por
um abrigo sob rocha com 20 metros de comprimento e 4 de altura. As pinturas
rupestres estão espalhadas por todo o abrigo, existindo, no seu lado esquerdo,
pinturas enterradas. As pinturas existentes nesses painéis são linhas sinuosas
paralelas, círculos concêntricos, grafismos puros, “armadilhas” e mãos em posi-
tivo na parte superior do painel, característica típica da Tradição Agreste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 33 - Setor 3 do sítio. Abrigo sob rocha com pinturas rupestres. Sítio Pedra da Buquinha.
Fonte: Marília Perazzo.
No setor 4, localizado na área oeste do sítio, o painel está localizado em
uma fenda do matacão, e mede aproximadamente 3 metros de largura e 3,5 de
altura. As pinturas encontradas são bem elaboradas, traços bem delineados,
linhas com paralelismo perfeito, antropomorfos, além da presença de um gra-
fismo puro com contorno aberto, diferente de todos encontrados na região. As
pinturas estão distribuídas desde a parte superior do painel até a base da ro-
cha, o que mostra a extrema necessidade de se escavar esse sítio, visto que
no decorrer de todo o matacão as pinturas se encontram na base da rocha e,
como referido anteriormente, enterradas. Nesse local as pinturas estão protegi-
das, pois há uma inclinação vertical da fenda formando uma proteção na parte
superior, onde há possibilidade de se abrigar.
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Foto 34 - Pinturas rupestres da Tradição Agreste. Sítio Pedra da Buquinha. Fonte:
Marília Perazzo.
O setor 5 está localizado na área noroeste do matacão, e é formado por
um painel composto por grafismos puros, com traços bem elaborados. Esse
grafismos formam identificados por AGUIAR (1986) como pinturas do estilo
Geométrico Elaborado. Nesse painel, mesmo de difícil acesso por se localizar
na parte superior do matacão, a aproximadamente 9 metros do solo, existem
pichações sobrepondo as pinturas. Na parte superior do painel, observou-se a
presença de um grafismo com morfologia, identificada por nós, recorrente a um
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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antropomorfo, com apenas a identificação da cabeça e dos membros superio-
res. No entanto, com processo de desgaste da rocha, houve desplacamento e
destruiu parte da pintura.
O matacão com formas arredondadas situado a aproximadamente 70
metros a norte da Pedra da Buquinha, foi denominado por nós como Pedra da
Buquinha II por está localizado bem próximo ao sítio anteriormente citado. De
fácil acesso, apenas coberto por uma vegetação fechada, o matacão forma um
pequeno abrigo sob rocha, localizado na vertente da Serra do Buco, onde se
encontram pinturas rupestres da Tradição Agreste. Os grafismos encontrados
são linhas, dois antropomorfos isolados, sem formar cenas, e dois grafismos
puros.
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O Sítio Pedra do Chapéu ou Pedra do Letreiro
Foto 35 - Sítio Pedra do Chapéu no contexto da paisagem. Fonte: Marília Perazzo.
O sítio Pedra do Chapéu está localizado na vertente da Serra do Buco,
sendo formado por um matacão arredondado composto por granito cinza fino.
De fácil acesso, o sítio está próximo a uma fonte d, que na época de chuva,
forma uma queda de água que deságua no Riacho das Cabeceiras.
No sítio encontramos 3 painéis rupestres da Tradição Agreste, composto
por figuras antropomórficas, zoomórficas, grafismos puros, “armadilhas” e
mãos na parte superior do painel. O painel 1, localizado na entrada do sítio,
possui dimensões de 6 metros de largura e 3,5 de comprimento.
Observa-se a presença de grafismos puros, “armadilhas”, figuras antro-
pomórficas e zoomórficas. Os antropomorfos aparecem elaborados com técni-
cas diferenciadas. O primeiro, os dedos dos pés e mãos estão indicados de
forma discreta estando a figura representada de forma ereta. O segundo antro-
pomorfo observado, os pés e mãos estão representados com dedos avantaja-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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dos, precisamente quatro em cada membro, estando a figura apresentada com
indicação da curvatura dos joelhos e cotovelos. Essa forma de retratar os
membros superiores e inferiores com a indicação de dedos nos antropomorfos
aparece também no sítio Pedra Redonda, no município de Pedra e nos sítios
Casa de Farinha e Alcobaça, no Vale do Catimbau.
Os zoomorfos representados são quelônios e tartarugas, existindo tam-
bém a presença de figuras chamadas por AGUIAR (1986) como formas de sol
(grafismos compostos por linhas que se cruzam em diversas direções). A figura
da “armadilha” (Foto 1) é representada a 2,0 metros do solo e há presença de
marcas de mãos na parte superior do painel, localizadas a 2,5 metros do solo.
Foto 36 - Antropomorfo associado a linhas dispostas verticalmente. Sitio Pedra do Chapéu.
Fonte: Marília Perazzo.
O painel 2 possui apenas um conjunto de grafismos formado por um an-
tropomorfo, onze linhas dispostas verticalmente paralelas entre si, onde cinco
possuem dimensões maiores. Esses grafismos estão associados formando
uma cena, uma vez que o antropomorfo está representado voltado para os tra-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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ços e seus membros superiores, evocando movimento, estão em direção às
linhas de maior dimensão.
No painel três estão representados um conjunto de marcas de mãos, de
tamanhos variados, além de figuras como um provável ornamento. A represen-
tação de ornamentos não é recorrente nos sítios da região, aparecendo apenas
nesse painel. Essas representações existem com maior freqüência em sítios de
Tradição Nordeste na região do Seridó. No Sítio Xiquexique I, Seridó, os orna-
mentos aparecem relacionados diretamente com as figuras antropomorfas que
compõem a cena, as quais seguram explicitamente os adereços, além de apa-
recer uma representação isolada no plano superior da cena (Foto 37). Em Ven-
turosa, a apresentação gráfica da cena difere significamente da observada no
Seridó, visto que os conjuntos gráficos fazem parte de Tradições distintas. As
características gráficas são diferenciadas, quando da observação dos painéis
rupestres das duas regiões, uma vez que no conjunto gráfico do sítio Pedra do
Chapéu, a representação do possível acessório aparece próximo a um conjun-
to de mão em positivo, elemento recorrente da Tradição Agreste, podendo ser
apenas um componente intrusivo nessa composição (Foto 38).
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 37 - Observa-se a presença de adereços na cena da Tradição Nordeste. Seridó -
RN. Fonte: PESSIS, Anne-Marie. Imagens da Pré-História. p.157
Foto 38 - Conjunto de marcas de mãos e a figura de um provável adereço. Fonte: Ma-
rília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Na área onde se encontram as pinturas não há a presença de abrigos,
no entanto, ao lado do painel 3 existe um abrigo sob rocha, com vários blocos
interrompendo o acesso a ele, provavelmente, esses blocos caíram em mo-
mentos diferentes em decorrência da erosão e de fraturas nas horizontal e ver-
tical observadas em campo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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4.3.2 Os Sítios Arqueológicos do Município de Pedra
O Sítio Pedra Redonda
Foto 39 - O sítio Pedra Redonda na paisagem. Observa-se o arredondamen-
to das bordas dos matacões. As setas indicam os matacões onde se encon-
tram as pinturas rupestres.Fonte: Marília Perazzo.
O sítio Pedra Redonda emerge no meio do vale, nas proximidades do
Riacho Seco, na localidade do mesmo nome. É constituído por três grandes
blocos graníticos, nos quais não há presença de abrigos. Os registros rupestres
encontrados nesse sítio pertencem à Tradição Agreste, estando situados ape-
nas no bloco 1 (observado no primeiro plano da foto), e no bloco 3 (observado
no terceiro plano da foto 39).
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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No bloco 1 o painel possui grafismos puros nas cores vermelha e amare-
la. O sítio contém repetidos grafismos com formas arredondadas e alguns tra-
ços e manchas que não permitem reconhecimento. O painel está bastante de-
teriorado, com esfoliações na rocha, rachaduras e, sobretudo, desplacamentos,
uma vez que tem exposição direta aos raios solares e à chuva. Os grafismos
estão bem apagados nesse setor do sítio, de tal modo que fica impossível a
identificação dos traços e das manchas existentes no painel.
Foto 40 - Primeiro matacão pintado do sítio, identificado como bloco 1. Observa-se a deteriora-
ção da rocha no local onde se encontram as pinturas. Fonte: Marília Perazzo.
O bloco 3 possui uma face íngrime medindo aproximadamente 6,5 m de
altura e 10 m de largura. Coberto por grafismos da Tradição Agreste, esse pa-
redão está se deteriorando, sendo observada a presença de diversas fraturas e
desplacamento da rocha. O painel encontrado nessa área do sítio é composto
por grafismos puros, e grafismos reconhecíveis como antropomorfos e zoomor-
fos, os quais não formam cenas. Os grafismos puros são formados por linhas
sinuosas, círculos concêntricos e grafismos que não permitem reconhecimento.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Um antropomorfo de dimensões menores aparece usando um adereço
na cabeça. Os pés e as mãos aparecem representados com três e quatro de-
dos, respectivamente, além de se observar a curvatura dos joelhos bem defini-
da. O antropomorfo central, de maior dimensão, possui aproximadamente um
metro de altura estando representado de forma estática, assemelhando-se à
representação de uma figura totêmica. Esse antropomorfo está representado
com adornos na cabeça, provavelmente um cocar indígena, e no membro su-
perior direito da figura observa-se um adorno arredondado. As representações
de cotovelos estão bem acentuadas na figura, podendo observar também as
mãos com cinco dedos bem definidos. O braço direito da figura aparece de
forma avantajada, desproporcional aos demais membros e a representação
das pernas e pés estão voltadas também para o lado direito, o que pode indicar
uma tentativa de representar a figura de perfil, o que não acontece devido à
representação da cabeça, claramente reproduzida em posição frontal. Ao lado
esquerdo do antropomorfo de maior dimensão, no plano inferior, observa-se
um grafismos cujas características não estão bem definidas, podendo ser ob-
servado como um zoomorfo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 41 - Antropomorfo em posição frontal, representado de forma estática, tí-
pico da Tradição Agreste.Sítio Pedra Redonda Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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O Sítio Poço da Figura
Foto 42 - Os registros gráficos estão localizados no matacão granítico do terceiro plano da
imagem, medindo aproximadamente 5 m de altura por 30 m de comprimento. Fonte: Marília
Perazzo.
Sítio Poço da Figura é formado por um matacão que emerge na planí-
cie, nas proximidades do Riacho Sêco, na localidade conhecida como Fazenda
Cachoeirinha. Possui, margeando os matacões do seu entorno, uma fonte de
água intermitente e não há formação de abrigo no local. Os registros rupestres
encontrados são da Tradição Agreste, e estão expostos às intempéries (raios
solares, ventos, chuva), o que é observado no péssimo estado de conservação
a que esses registros gráficos se encontram. As figuras estão bastante apaga-
das, e em diversos locais do painel restam apenas manchas vermelhas, sinais
das pinturas apagadas pelo tempo.
Duas áreas do matacão de maior extensão foram pintadas, o qual foi di-
vidido em dois painéis. O primeiro possui um antropomorfo de aproximadamen-
te um metro de altura e uma figura não reconhecida, devido à falta de conser-
vação da rocha. O antropomorfo de maior dimensão aparece com os braços
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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abertos, tendo a mão direita bem delineada com a indicação de cinco dedos. O
busto do grafismo é representado de forma arredondada, indicando a presença
de seios, mais abaixo da figura observa-se um contorno de acinturado da figura
e, posteriormente, o alargamento do quadril, o que indica uma figura feminina.
Ao lado dessa figura, observa-se uma de menor dimensão, mas sua morfologia
não permite reconhecimento, fato agravado pelas intempéries a que esses gra-
fismos vêm sendo expostas. O segundo painel possui grafismos puros e a pre-
sença a figura da “armadilha”, tão comum nessa Tradição.
Foto 43 - Antropomorfo com indicação feminina. Observam-se as fraturas na rocha nos planos
horizontais e verticais. Sítio Poço da Figura. Fonte: Marília Perazzo.
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102
O Sítio Pedra do Caboclo
Foto 44 - Matacão rochoso coberto por vegetação arbórea. Fonte: Marília Perazzo.
O sítio Pedra do Caboclo é um matacão de aproximadamente 9 metros
de altura e 13 metros de comprimento, que emerge na planície, nas proximida-
des da Serra do Caboclo.
Apenas um painel foi observado no sítio, onde se observa grafismos pu-
ros elaborados, com traçados circulares concêntricos bem definidos. Duas figu-
ras zoomorfas aparecem com traçados morfológicos bem definidos (as patas
com 3 dedos bem assinalados), sem formar cenas. Nesse sítio o número de
grafismos é reduzido, mas suas características gráficas são recorrentes aos
sítios da Tradição Agreste pesquisados na área.
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O Sítio Prata
Foto 45 - Vista panorâmica do Sítio Prata. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio Prata é formado por um conjunto de matacões graníticos locali-
zados na encosta do Serrote Redondo. Dois matacões arredondados são ob-
servados no topo de um afloramento granítico localizado na encosta desse ser-
rote, nos quais se pode observar a presença de painéis de grafismos rupestres.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 46 - À direita, de menor dimensão, o matacão 1 com pinturas rupestres na sua parte
inferior. À esquerda, matacão 2 com grafismos também localizados no plano inferior. Fonte:
Marília Perazzo.
No matacão 1 (observado no primeiro plano da foto), há um painel com-
posto por grafismos puros, com tendência ao geometrismo, um antropomorfo
representado de forma esquemática e um zoomorfo. Os grafismos puros apa-
recem como linhas sinuosas se cruzando ao modo de “redes”, as “armadilhas”,
círculos concêntricos e grafismos de contorno aberto e fechado com ângulos
retos. O zoomorfo situa-se no plano superior do painel. É caracterizado por
apresentar, de forma bem definida, as patas com três dedos cada, além de um
enorme rabo, configurando-o como um quelônio.
O antropomorfo aparece logo abaixo do zoomorfo. As características
desse antropomorfo são peculiares ao sítio, pois em nenhum outro essa figura
é representada de forma estática, com os membros, superiores e inferiores,
flexionados de forma esquemática. Não há referência de dedos nas mãos e
pés, o que o diferencia dos demais antropomorfos representados da Tradição
Agreste. No matacão 2 há um número menor de grafismos, quando comparado
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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ao matacão 1, aparecendo apenas grafismos com morfologias que não permi-
tem reconhecimento.
Foto 47 - Conjunto de grafismos da matacão 1 do Sítio Prata. Grafismos puros
elaborados, antropomorfo e zoomorfo. Sítio Prata. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
106
4.3.3 Os Sítios Arqueológicos de Catimbau
Sítio Homem sem Cabeça
Foto 48 - Sítio Homem Sem Cabeça localizado no primeiro plano da foto. A indica-
ção da seta mostra o painel 1, exposto completamente às intempéries. Fonte: Marília
Perazzo.
O sítio está localizado na encosta da Serra Branca, numa altitude de 940
metros. Localizado próximo ao topo do cânion, o sítio Homem sem Cabeça é um
afloramento de arenito, de estratificação plana paralela horizontal. O intemperis-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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mo químico imprime na rocha, de modo irregular, uma tonalidade creme escura
amarelada, vermelho amarronzado a um vermelho intenso. Numa superfície re-
cente da rocha, a coloração é creme esbranquiçada. Na área central do aflora-
mento (mira NE) há uma concavidade com dimensões de 8,5 metros de largura,
1,5 metros de altura (na parte mais larga) e 1 metro de profundidade.
Nos dois lados do afloramento existem estruturas com concavidades, no
entanto, nenhuma se dispõe como um abrigo, devido às pequenas dimensões. Os
painéis rupestres apresentam grafismos apenas da Tradição Nordeste, estando
localizados nas duas faces do afloramento (observador olhando para NE e SO).
Esse sítio, até o momento, foi o único, na região de Catimbau, onde se encontram
pinturas rupestres filiadas apenas à Tradição Nordeste.
Foto 49 - Detalhe do Painel 1. Pinturas rupestres da Tradição Nordeste representando ce-
na de guerra. Fonte: Marília Perazzo.
O painel um, situado a NE do sítio, está localizado a 4 metros do solo, me-
dindo 80 cm de largura (na sua face mais ampla) e 50 cm de altura, estando com-
pletamente exposto às intempéries. Na área do painel há desplacamentos na ro-
cha, resultando no desaparecimento de fragmentos de alguns grafismos (Vide
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
108
foto 49). Fraturas na diagonal são observadas podendo ocasionar um desmem-
bramento da rocha resultando na quebra do painel ao meio. No entanto, apesar
de exposto aos agentes intempéricos, algumas figuras apresentam-se bem con-
servadas.
Painel composto apenas por antropomorfos, sem indicação de cabeça,
com dimensões de 2,5 cm até 9 cm, compondo uma cena de guerra. Observam-
se dois grupos representados localizados, em sua maioria, nas extremidades do
painel. Os antropomorfos do grupo da direita estão representados com os braços
erguidos em direção ao grupo rival, apenas um antropomorfo desse conjunto, o
localizado a frente do grupo, aparece representado com os braços abertos, em
posição de enfrentamento. Os componentes desse grupo aparecem de forma
mais agrupada e com um maior número de figuras que o da esquerda, possuindo
os grafismos dimensões menores e o corpo representado de forma mais arredon-
dada.
O grupo da esquerda possui uma quantidade menor de figuras, represen-
tadas com os braços abertos e o corpo comprido e abaulado. Em todos os com-
ponentes desse grupo, com exceção do antropomorfo utilizando um adereço, a
indicação de sexo está presente. Nesse grupo, três antropomorfos se destacam
no conjunto geral do painel, pois dois estão deslocados do restante dos compo-
nentes e outro possui adereços em sua composição. Nesses três componentes
pode-se observar na parte superior do membro inferior, uma maior exuberância
no traçado, o que pode indicar a representação das coxas. Dos grafismos deslo-
cados, o do plano superior está representado com os braços levantados voltados
para o grupo da direita, direção indicada pela representação de sexo na margem
direita da figura, possuindo, pois, dimensões maiores do que os antropomorfos do
grupo rival. O antropomorfo representado segurando uma provável arma é o único
na composição da cena que aparece utilizando um elemento nas mãos, estando
representado na parte central inferior do painel. A expressão de movimento retra-
tada por essa figura indica, de forma contundente, o retrato de uma cena de en-
frentamento entre os grupos. Outro grafismo que se diferencia dos demais da
composição gráfica é o antropomorfo utilizando um adereço nas costas. Esse tipo
de adereço é observado nas representações ritualísticas dos Tupinambás, sendo
utilizado pelos pajés da tribo como forma de diferenciação hierárquica. No entan-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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to, não há como interpretar os grafismos devido ao hermetismo
68
das pinturas ru-
pestres. No plano inferior do painel, três figuras antropomórficas com os braços
abertos aparecem separadas do restante, com dimensões menores das demais
representadas, dando uma conotação de não participação da cena.
Na outra face do afloramento (a SO do sítio) há dois painéis rupestres com
grafismos da Tradição Nordeste. Localizados na área de concavidade da rocha,
as pinturas estão mais protegidas das intempéries do que as do painel 1, entre-
tanto, não possuem um estado de conservação como o observado nesse painel.
Foto 50 - Vista sudoeste do sítio onde estão localizados dois painéis rupestres da Tradi-
ção Nordeste indicado pelas setas. Fonte: Marília Perazzo.
O painel dois localiza-se a esquerda da foto acima indicada, possuindo a
representação de apenas um antropomorfo isolado com figuras lineares paralelas
não passíveis de reconhecimento. O pigmento utilizado na elaboração da figura
68
“O hermetismo é uma das características, nas pinturas rupestres, dos grupos de ação que con-
sideramos emblemáticos, nos quais reconhecemos as figuras, mas a mensagem nelas contidas
está perdida. Esse hermetismo poderia ser necessário para manutenção das hierarquias no interi-
or do grupo, das ideologias e da preservação das identidades.” MARTÍN, Gabriela. Fronteiras Esti-
lísticas e Culturais na Arte Rupestre da Área Arqueológica do Seridó (RN, PB) IN: CLIO Arqueoló-
gica Nº 16 – Vol 1. Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 2003. p. 17.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
110
antropomórfica é vermelho, no entanto, mais claro do que o utilizado na elabora-
ção das figuras representadas paralelamente ao antropomorfo. As esfoliações da
rocha e o desplacamento destruíram parte da pintura, podendo, no entanto, se-
rem observadas características morfológicas, tais como pernas e corpo, que pos-
sibilitam compreender a temática da figura.
Foto 51 - Representação isolada de um antropomorfo e de figuras não reconhecíveis. Fonte:
Marília Perazzo.
O painel três está composto por três antropomorfos com dimensões dife-
renciadas. Á esquerda do painel, o de maior dimensão, possui todas as caracte-
rísticas morfológicas de um antropomorfo bem definidas (cabeça, corpo e mem-
bros). Os braços, erguidos na direção norte, acompanham o movimento dos de-
mais grafismos representados na cena. As duas figuras antropomórficas localiza-
das mais a direita do painel, não possuem representação de cabeça, o que as
diferencia do grafismo de maior dimensão. O antropomorfo mais a direita está
representado em um plano superior ao do grafismo central, indicando uma pers-
pectiva de profundidade, o que denota uma idéia de movimento intrínseca a cena.
Esse movimento impresso na cena é também observado na indicação dos braços
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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dos dois antropomorfos erguidos na mesma direção (direita da imagem) e no
mesmo sentido (diagonal), com um artefato em punho. As esfoliações na rocha
destruíram parte das pinturas, no entanto pode-se observar, apenas no antropo-
morfo mais a direita, um preenchimento maior na parte superior da representação
das pernas, o que pode indicar a presença de coxas.
Foto 52 - Conjunto de figuras antropomórficas do painel três. Fonte: Marília Perazzo.
No painel três observa-se a presença de fraturas no plano horizontal e de
desplacamentos da rocha, ocasionado à desintegração de partes das pinturas
rupestres. Essas fraturas estão presentes em todo o afloramento, o que demons-
tra grande risco para os grafismos.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Sítio Serrinha
Foto 53 - Paredão onde se localizam as pinturas rupestres. Na parte basal obser-
va-se um arenito com coloração mais clara e aspecto menos grosseiro comparado
à área do arenito acinzentado. Fonte: Marília Perazzo.
Localizado a aproximadamente 100 metros do Homem Sem Cabeça sítio
serrinha está situado na vertente da Serra Branca, na sua margem mais alta (Vide
foto 56, sítio localizado no último plano da imagem, onde há uma estrutura de a-
brigo bem delineada pela quedas de blocos). Composto por um paredão de areni-
to grosseiro, com grão em torno de 1 mm até níveis de seixos angulosos com 1
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
113
cm de comprimento na dimensão maior do grão de quartzo, de estratificação hori-
zontal, o sítio possui na sua extremidade direita um grande abrigo com acesso
impossibilitado devido a presença de grandes blocos amontoados decorrentes de
desmoronamentos. Essa queda de blocos se deu, provavelmente, devido as fratu-
ras existentes na rocha, decorrentes dos agentes intempéricos. Dessa forma, a
área visitada do sítio foi apenas a do paredão rochoso.
As pinturas rupestres localizadas no paredão rochoso quase vertical estão
situadas, em sua maioria, na sua parte basal, bem próximas ao solo, onde o are-
nito apresenta-se mais fino, com uma tonalidade creme - amarelada a vermelho -
amarronzada. O desplacamento da rocha, ocasionado pelo intemperismo, destru-
iu parte das pinturas, necessitando, com urgência, a presença de profissionais da
área de conservação de pinturas, para que não se perca todo o acervo gráfico do
sítio. Duas Tradições rupestres foram identificadas no conjunto gráfico do sítio, a
Nordeste e a Agreste.
As pinturas da Tradição Nordeste possuem um maior número de grafismos,
e estão localizadas perto do solo, na área onde o arenito possui coloração mais
clara. Um conjunto gráfico com cinco foi identificado nessa área do sítio. A primei-
ra representação está muito comprometida pelo desplacamento, no entanto, po-
de-se observar a representação de uma figura antropomórfica, pela composição
do corpo e pelo traço, na margem direita superior da figura, indicando os resquí-
cios do braço.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 54 - Grafismo em parte destruído pela ação do desplacamento da rocha. Fonte: Marí-
lia Perazzo.
Um segundo grafismo encontrado é a figura de um antropomorfo isolado,
com a parte inferior completamente destruída. A temática da figura é reconhecida
devida à presença de trações essenciais de reconhecimento que compõe a ima-
gem de um antropomorfo. Nesse caso, sem os membros inferiores, o antropomor-
fo possui representação de tronco, cabeça e membros superiores erguidos. A fi-
gura está representada de perfil, uma vez que o delineamento da cabeça em fun-
ção do pescoço está acompanhando a direção dos braços.
O terceiro conjunto gráfico está composto por três antropomorfos enfileira-
dos, onde dois estão localizados em um plano horizontal inferior à terceira figura,
o que denota uma percepção de profundidade e circularidade da cena. Entre o
primeiro e o segundo antropomorfo, observado da esquerda para a direita, há a
presença de um grafismo linear, a exemplo de um artefato. O segundo antropo-
morfo encontra-se posicionado, em relação ao terceiro, de forma frontal, estando
os grafismos lineares localizados entre os dois antropomorfos. (Foto 55)
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
115
Foto 55 - Representação de antropomorfos enfileirados. Fonte: Marília Perazzo.
Outro conjunto gráfico encontrado está localizado a 15 cm do solo e apare-
ce representado por uma figura zoomorfa associada a um grafismo não reconhe-
cível. Ao lado esquerdo da imagem observam-se pequenos traços de um afigura
provavelmente destruída pelo processo intempérico.
Além do desplacamento e esfoliação da rocha, os cupins são outros agen-
tes passíveis de destruir os painéis rupestres da região. Em um grafismo com
forma circular localizado a direita do quarto conjunto gráfico (Foto 56), os cupins
sobrepõem a parte central da figura, tornando-se parte integrante dessa pintura.
Mais à direita do painel, após as representações gráficas da Tradição Nor-
deste, encontram-se três grafismos com técnicas de elaboração e temáticas com-
pletamente diferentes aos dos grafismos da Tradição Nordeste. O traço das figu-
ras foi elaborado com outros tipos de ferramentas, uma vez que o traço é mais
grosso do o observado na Tradição Nordeste, o detalhamento das figuras é me-
nor e não há interação entre os elementos.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
116
Foto 56 - Representação circular, em parte sobreposta por uma fileira de cupins. Fonte: Marília
Perazzo.
Os grafismos da Tradição Agreste estão nesse sítio, representados por um
grafismo composto por linhas que se cruzam nos planos verticais e horizontais,
também conhecido com “armadilha” – típico dessa Tradição – um grafismo não
reconhecível e um zoomorfo de contorno fechado não preenchido, medindo 40 cm
de comprimento por 20 cm de largura, situado a 1,95 m do solo. As figuras dessa
Tradição não formam cenas, estando, sobretudo, compostas de forma esquemáti-
ca. Essas figuras também foram bastante afetadas pelos agentes do intemperis-
mo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
117
Foto 57 - Representação zoomorfa de contorno fechado. Observa-se o desplacamento
da rocha, agente destruidor de parte da pintura. Fonte: Marília Perazzo.
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118
Sitio do Veado
Foto 58 - Localização do sítio indicada pela seta. Observar o relevo escarpado que compõe o
complexo morfológico do cânion. No topo, as irregularidades do terreno são decorrentes do intem-
perismo e erosão diferenciais. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio do Veado está localizado na escarpa da Serra Branca, localidade
conhecida como Brejo de São José. De difícil acesso, o caminho para chegar ao
sítio é feito pela Trilha do Cânion. O sítio é formado por um abrigo sob rocha, de
arenito fino a muito fino, com estratificação horizontal paralela, onde se encontram
pinturas rupestres da Tradição Nordeste e Agreste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 59 - Estrutura cavernícola em abrigo localizada na meia encosta da es-
carpa da Serra Branca. Sítio do Veado. Fonte: Marília Perazzo.
Três painéis rupestres foram identificados na área do abrigo. O painel um
está composto por três nichos gráficos delineados no plano horizontal. O primeiro
representa a figura de um Veado, com a indicação das patas bem definidas, o
corpo delineado, indicação de cauda, cabeça, orelhas e chifres. O veado, como
conhecido pelos habitantes da região, possui um dinamismo intrínseco à figura,
impondo um movimento ao zoomorfo. As patas dianteiras estão representadas de
forma paralela ao corpo do animal, seguindo o traçado da base do tronco, en-
quanto que as patas traseiras apresentam-se perpendiculares ao tronco. Essa
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
120
diferenciação na representação das patas, um par perpendicular e outro paralelo,
impõem à figura a idéia de movimento.
Foto 60 - Abrigo sob rocha onde se localiza o painel 1. Sítio do Veado. Fonte: Marília Perazzo.
Outro aspecto observado é a representação da cabeça do animal em posi-
ção frontal, o que não acompanha a posição de perfil do restante da imagem, ca-
racterística importante na observação da percepção de movimento da figura. Nos
sítios do Sudeste do Piauí (Serra da Capivara), a representação de zoomorfos,
principalmente de veados é majoritária na Tradição Nordeste e no estilo Serra da
Capivara, possuindo um alto grau de complexidade. São grafismos com elabora-
ção minuciosas, representados com uma dinâmica admirável
69
. As representa-
ções de veados, na Serra da Capivara, podem aparecer de forma isolada ou for-
mando cenas, associadas a antropomorfos e/ou zoomorfos, o que as diferenciam
dos grafismos representado veados do sítio do Veado da área de Catimbau, único
sítio, até o momento, encontrado contendo esse tipo de representação.
69
PESSIS. A.M. Imagens da Pré-História. Parque Nacional Serra da Capivara. FUMDHAM-
PETROBRÁS. São Paulo; A&A Comunicação. 2003. P. 119.
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121
Foto 61 - Representação de um zoomorfo (veado). Observam-se os fraturamen-
tos da rocha sobre o grafismo. Sítio do Veado. Fonte: Marília Perazzo.
Foto 62 - Cena de caça ao veado. Sítio Toca do Estevo III. Fonte: PESSIS. A. M.
Imagens da Pré-História. Parque Nacional Serra da Capivara. p. 134.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 63 - Representação de um zoomorfo sobreposto por grafismos da Tradição Agreste. Sí-
tio do Veado. Fonte: Marília Perazzo.
O segundo nicho é composto por um grafismo da Tradição Nordeste so-
breposto por um conjunto de pinturas da Tradição Agreste. A sobreposição, pro-
cesso de pintar sobre uma pintura pré-existente, foi percebida, nesse sítio, como
uma escolha cultural do grupo, pois não há ausência de espaço para pintar e, so-
bretudo, o conjunto de grafismos agreste encontra-se sobrepondo apenas um gra-
fismo do painel.
Esse aspecto é interessante, pois, a figura do veado pintada à esquerda
desse conjunto gráfico, não sofreu nenhum tipo de sobreposição, estando da
mesma forma como foi pintada originalmente. Na figura, observam-se, pelo me-
nos, duas camadas de pinturas, a primeira, mais antiga, representada por um zo-
omorfo, provavelmente com características semelhantes ao descrito anteriormen-
te, possuindo uma coloração amarronzada, diferente das demais pinturas, todas
elaboradas em tons avermelhados. Esse grafismo possui apenas, devido ao des-
placamento da rocha, as representações das patas dianteira, do corpo e parte do
pescoço. Dessa forma, a morfologia do grafismo é semelhante ao do zoomorfo
descrito anteriormente, não possuindo recorrência apenas na morfologia do pes-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
123
coço, mais alongado que no primeiro. Sobrepostos ao zoomorfo, encontram-se
grafismos puros lineares e pontilhados, encontrados em diversos sítios da Tradi-
ção Agreste.
Um conjunto de círculos concêntricos pintados na parte superior do painel,
sobrepondo parte do zoomorfo, é também representado no terceiro nicho do pai-
nel. O conjunto de círculos desse nicho possui, em sua parte superior, três linhas
que desenhadas tendo início no círculo mais externo, se curvam e voltam para o
mesmo círculo, mas em pontos divergentes.
Foto 64 - Conjunto de círculos concêntricos. Sítio do Veado. Fonte:
Marília Perazzo.
O painel dois localiza-se à direita do um, possuindo três conjuntos gráficos
eqüidistantes. O primeiro, a esquerda do painel, está representado por um conjun-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
124
to de linhas verticais paralelas entre si, comum nos sítios da área de Catimbau. O
segundo, no plano inferior direito, é composto por pontos enfileirados, também
recorrentes nos demais sítios da área, principalmente Casa de farinha, Pititi e Pe-
dra da Concha I.
Foto 65 - Conjunto de grafismos rupestres do painel dois. Na ilustração, são observadas a estra-
tificação horizontal do arenito e cavidades oriundas de intemperismo e erosões diferenciais. Sítio
do Veado. Fonte: Marília Perazzo.
O terceiro conjunto gráfico, muito destruído pelo desplacamento e esfolia-
ção da rocha, é composto por um conjunto de antropomorfos enfileirados no plano
horizontal. Esse tipo de representação gráfica é comum em sítio da Tradição Nor-
deste, na área do Seridó e do Parque Nacional Serra da Capivara - PI (Foto 66).
Os registros gráficos que compõem essa cena estão em processo de destruição,
em função do desplacamento da rocha, mas alguns aspectos podem ser obser-
vados. Todos os antropomorfos, a primeira vista, possuem morfologias recorren-
tes como presença de cabeça arredondada, corpo e membros superiores eleva-
dos para o plano superior. Das figuras que ainda podem ser percebidas, todas
possuem os membros superiores erguidos em direção à outra figura, podendo,
essas, estar em posições frontais, ou uma de costas para outra, seguindo a com-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
125
posição da fila. Outro aspecto observado é a representação de antropomorfos em
planos horizontais diferenciados, o que denota uma idéia de profundidade na rea-
lização da cena. As figuras humanas possuem pequenas dimensões, variando de
1,5 a 2 cm de largura. Na foto 67 observa-se uma fratura, que corta o painel na
diagonal, no plano superior, passando no centro do espaço onde a cena se com-
porta. Esse fraturamento pode ocasionar na queda de bloco, desmembrando a
cena pela metade.
O painel três é composto por um grafismo representando uma mão, locali-
zado no teto do abrigo, à direita do painel dois. As representações de marcas de
mão, localizadas na parte superior dos painéis ou no teto dos abrigos, são carac-
terísticas da Tradição Agreste, sendo observadas em diversos sítios da região
como Caina, Alcobaça, Pedra da Concha I e Pedra da Concha II.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 66 - Fileira de antropomorfo com dimensões miniaturizadas. Sítio Toca da Subida da Serri-
nha I. Parque Nacional Serra da Capivara – PI. Fonte: PESSIS. A. M. Imagens da Pré-História.
Parque Nacional Serra da Capivara. p. 93.
Foto 67 - Detalhe do painel 2. Conjunto de antropomorfos enfileirados. No centro da ce-
na observa-se a presença de um fraturamento. Sítio do Veado. Fonte: Marília Perazzo.
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127
Sítio Caiana
Foto 68 - Vista panorâmica do Sítio Caiana. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio Caiana é um abrigo sob rocha, com dimensões de aproximadamen-
te 29 metros de extensão, 5 m de profundidade e 3,5 m de altura, localizado na
meia encosta da serra Branca, localidade conhecida como Brejo de São José. A
sete metros do sítio existe um caldeirão, que enche em épocas de chuva. Devido
a sua localização no relevo, do sítio pode-se observar toda a área do Brejo e par-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
128
te do vale, o que torna o abrigo bastante seguro do ponto de vista de localização,
uma vez que qualquer visitante que queira chegar ao sítio pode ser visto do abri-
go.
Na foto 68, observam-se dois pacotes sedimentares de natureza distinta,
onde, na sua intersecção, formam-se as estruturas de abrigo. O pacote sedimen-
tar inferior constitui o piso dos abrigos e o superior, devido aos processos de in-
temperismo e erosão, possibilitou a constituição dos abrigos. É provável que em
outros locais, na região de Buíque, estruturas de abrigos estejam condicionadas a
esses aspectos litoestratigráficos com uma imposição subseqüente no modelado
do relevo.
Foto 69 - Abrigo sob rocha - Sítio Caiana. Fonte: Marília Perazzo.
Dos dois abrigos existentes entre pos dois pacotes sedimentares, apenas
no primeiro estão presentes os registros rupestres da Tradição Agreste. Nesse
sítio, todas as pinturas estão localizadas no teto do abrigo, uma característica pe-
culiar do Caiana. Os grafismos rupestres nesse sítio são policromáticos, sendo
observados vários tons de vermelho, além do amarelo e preto. No painel, figuras
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
129
antropomórficas esquemáticas, compostas por tronco, cabeça, pernas e braços
abertos aparecem ao lado de grafismos puros bicromáticos sem formar cenas.
Foto 70 - Representação de grafismos puros de contorno aberto bicromáticos. Sítio Caiana. Fonte:
Marília Perazzo.
As marcas de mãos em positivo aparecem em todo o painel além, da pre-
sença de marcas de mãos com as palmas desenhadas com listras e com círculos
concêntricos. Vários grafismos puros são observados no painel tais como círculos
concêntricos, linhas verticais paralelas e figuras esquemáticas. Na parte central
do painel existe uma composição gráfica diferente de todas as vistas na região.
Uma figura zoomorfa de contorno fechado, preenchida com pontos, composta
apenas pelo desenho do corpo e calda medindo 2,65 m de comprimento por 65
cm de largura. Devido ao desplacamento da rocha, a parte da provável cabeça
está destruída, o que não permite uma identificação completa da figura. Apenas a
parte central desse grafismo está preenchida, (mais precisamente a área do tron-
co), o que indica uma figura inacabada no painel.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
130
Foto 71 - Representação de marca de mão com a palma desenhada com listras. Sítio Caia-
na. Fonte: Marília Perazzo.
Foto 72 - Representação de marcas de mão com a palma desenhada com círculos con-
cêntricos. Sítio Caiana. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
131
Foto 73 - Figura zoomorfa de contorno fechado. Sítio Caiana. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Sítio Pedra da Concha I
Foto 74 - Afloramento onde está localizado o Sítio Pedra da Concha I. Fonte: Marí-
lia Perazzo.
O Sítio Pedra da Concha I está localizado na vertente do vale, na localida-
de conhecida por Sítio Aparecida, nas proximidades do Riacho do Brejo. O sítio
constitui um afloramento isolado in situ que representa um testemunho, já bastan-
te rebaixado topograficamente, da Serra Branca, sendo composto por arenito de
cor variando de cinza – esbranquiçado a branco – acinzentado, bem como níveis
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
133
ferruginosos que dão uma tonalidade avermelhada em função do intemperismo
químico. O sítio não possui um bom estado de conservação caracterizado, sobre-
tudo, pelo desplacamento da rocha – que ocasiona a destruição de algumas figu-
ras do painel – a presença de fraturas nos planos horizontais e verticais, além da
presença de fileiras de cupins sobrepondo algumas pinturas rupestres do painel.
O arenito possui uma estratificação horizontal paralela, percebida, principalmente,
pela variação granulométrica da rocha. No afloramento há uma concavidade, em
forma de cocha, onde o painel de pinturas rupestres está representado. Nesse
painel, podem-se observar grafismos da Tradição Nordeste muitas vezes sobre-
posto por grafismos da Tradição Agreste.
Foto 75 - Painel contendo grafismos da Tradição Nordeste e Agreste, com sobreposições
da segunda sobre a primeira. Fonte: Marília Perazzo.
As pinturas da Tradição Nordeste estão distribuídas por todo o painel,
compondo diversas cenas com apresentações gráficas distintas. Figuras antro-
pomórficas diversas vezes associadas entre si e a presença de um grafismo com
temática não reconhecida, mas encontrada com as mesmas características mor-
fológicas na região do Seridó, são os grafismos da Tradição Nordeste observados
na composição gráfica do sítio.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
134
Foto 76 - Representação de antropomorfos enfileirados. Observam-se cupins enco-
brindo parte do grafismo. Sítio Pedra da Concha I. Fonte: Marília Perazzo.
À esquerda do painel, a primeira cena analisada foi a composta por cinco
antropomorfos enfileirados, com as representações morfológicas dos corpos bem
definidas (membros superiores e inferiores, tronco e cabeça). Os braços erguidos
em direção à figura seguinte denotam a integração entre os elementos da compo-
sição. Apenas um antropomorfo da cena possui um adorno, cujas características
representadas não permitem reconhecimento, entretanto é importante realçar que
esse antropomorfo está representado em um plano horizontal inferior aos demais,
dando uma idéia de movimento a cena. Esse tipo de representação de antropo-
morfos enfileirados contendo indumentária em um dos indivíduos é comum em
sítios de Tradição Nordeste, podendo ser observadas nas áreas do Seridó (Sítio
Casa Santa) e do Parque Nacional Serra da Capivara (Sítio Toca da entrada do
Baixão da Vaca). Duas outras representações de antropomorfos enfileirados fo-
ram observadas no painel, aparecendo às figuras em posições frontais e dispos-
tas lado a lado, no entanto, as esfoliações da rocha destruíram parte das cenas,
restando apenas traços identificatórios necessário para o reconhecimento da te-
mática, o que as diferencia da cena acima observada.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
135
A segunda cena observada está composta por, pelo menos, quatro antro-
pomorfos enfileirados verticalmente, representados em planos horizontais diferen-
ciados em direção ao topo do painel. Essa representação é recorrente em sítios
de pinturas rupestres da Tradição Nordeste no Parque Nacional Serra da Capiva-
ra – PI, onde se podem observar tais elementos associados a figuras fitomorfas e
zoomorfas, como é o caso dos grafismos dos sítios Toca da Entrada do Pajaú e
Toca do Baixão das Mulheres I.
Foto 77 - Figuras antropomorfas representadas de
uma acima da outra em fileira vertical. Sítio Pedra
da Concha I. Fonte: Marília Perazzo.
A terceira cena observada é composta por dois antropomorfos representa-
dos em planos horizontais distintos e proporções diferenciadas. Os grafismos a-
parecem próximos um do outro, o primeiro com os braços erguidos em direção ao
segundo, e o segundo com os braços erguidos em direção leste. A proximidade
dos grafismos, aliada ao posicionamento dos elementos estando às genitálias
bem acentuadas, indicam uma cena de sexo com dois elementos. Esse tipo de
Foto 78 - Conjunto de figuras antropo-
morfas dispostas verticalmente. Sítio
Toca do Baixão das Mulheres I. PARNA
Serra da Capivara. Fonte: PESSIS. A.M.
Imagens da Pré-História. Parque Nacio-
nal Serra da Ca
p
ivara.
p
.59.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
136
representação é comum nos grafismos da Tradição Nordeste da Serra da Capiva-
ra, podendo aparecer na composição da cena dois ou mais elementos.
Foto 79 - Representação de antropomorfos em cena de sexo. Sítio
Pedra da Concha I. Fonte: Marília Perazzo.
Situado abaixo dessa cena, observa-se a representação de um grafismo
não reconhecível, mas identificado em sítios do Seridó (Casa Santa, Toca do
Messias), na Paraíba (Sítio do Letreiro) e em Minas Gerais, conhecido por piro-
gas, devido a sua morfologia recorrente a de pequenas embarcações. Essa de-
nominação foi reconsiderada pela Drª Gabriela Martín
70
, quem inicialmente identi-
ficou o grafismo, e pela Drª Anne-Marie Pessis apoiada em fontes etnográficas
pôs em dúvida a identificação desses grafismos como pirogas, inclinando-se a
identificá-los como redes. Vários cronistas dos séculos XVI e XVII descreveram os
rituais funerários dos grupos indígenas (Tupinambás), mostrando que a prática
funerária de enterrar os mortos em redes era freqüente na época. Os questiona-
mentos levantados pelas pesquisadoras demonstram as dificuldades e o perigo
que se corre ao se tentar interpretar tais registros gráficos. O hermetismo desses
grafismos, não permite uma interpretação, principalmente quando não se dispõe
de elementos identificadores bem definidos.
70
MARTÍN, Gabriela. Fronteiras Estilísticas e Culturais na Arte Rupestre da Área Arqueológica do
Seridó (RN, PB) IN: CLIO Arqueológica Nº 16 – Vol 1. Universidade Federal de Pernambuco, Reci-
fe. 2003. P. 17.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
137
Foto 80 - A direita da foto observa-se a figura da “piroga”, com representações
de antropomorfos no entorno. Observam-se as sobreposições, indicadas pela
seta, de grafismos da Tradição Agreste sobre aos da Nordeste. Sítio Pedra da
Concha I. Fonte: Marília Perazzo.
Foto 81 - Grafismo emblemático da subtradição Seridó. Sítio Furna do Messias.
Seridó – RN. Fonte: MARTÍN, Gabriela. Fronteiras Estilísticas e Culturais na Arte
Rupestre da Área Arqueológica do Seridó (RN, PB) IN: CLIO Arqueológica Nº 16
– Vol 1. Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 2003.
p. 18
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
138
O painel está coberto por pinturas rupestres representando antropomorfos
e figuras não reconhecíveis. No plano inferior da foto 80 observa-se uma fileira de
antropomorfos, já desgastada pelas intempéries, mas representada por antropo-
morfos enfileirados, representados de perfil, em direção a um antropomorfo com
dimensões maiores e uma postura diferenciada da dos demais, com os braços
erguidos para cima, em direção ao topo do painel. A representação em planos
horizontais diferenciados denota uma perspectiva de profundidade e movimento
intrínseco à cena.
As figuras da Tradição Agreste estão espalhadas por todo o painel, sobre-
tudo, sobrepondo os grafismos da Tradição Nordeste. A presença de marcas de
mãos em positivo, na parte superior do painel, além de círculos concêntricos, figu-
ras pontilhadas e grafismo com tendência ao geometrismo são características da
Tradição Agreste, estando presentes em outros sítios da região com característi-
cas gráficas da Tradição Agreste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
139
Sítio Pedra da Concha II
Foto 82 - Vista Leste do Sítio Pedra da Concha II. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio Pedra da Concha II está localizado na vertente do Vale, na locali-
dade conhecida como Sítio Aparecida, a aproximadamente 100 metros do Sítio
Pedra da Concha II. Possuindo uma cavidade em forma de concha, o sítio é um
afloramento composto por arenito fino milimetricamente com bancos de arenito
grosseiro (conglomerático) com seixos angulosos, subangulosos e, menos fre-
qüente, arredondados com fragmentos que chegam a 1 cm (no comprimento mai-
or) Com estratificação paralela e horizontal além de muitas cavidades de dissolu-
ção, formadas pela infiltração de água na rocha. As pinturas rupestres desse sítio
estão localizadas na superfície de coloração amarelo-esbranquiçada e estão filia-
das a Tradição Agreste.
As representações observadas no painel estão dispostas de forma isolada
e sem formar cenas, estando compostas por um conjunto de marcas de mão em
positivo e outro cujas palmas das mãos estão desenhadas com formas elípticas,
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
140
círculos concêntricos, além de três conjuntos de grafismos formados por pontos.
Um grafismo puro com bordas retangulares preenchido internamente com formas
trianguralares, foi observado no plano central inferior do painel, destruído pela
metade devido à ação de um caçador da região. As pinturas rupestres são da
Tradição Agreste, sendo recorrentes em outros sítios da região. Fraturamentos na
horizontal e vertical ameaçam o sítio além da presença de cupins sobrepondo às
pinturas.
Foto 83 - Conjunto de círculos concêntricos e, no plano superior da imagem, uma marca de mão
em positivo. Sítio Pedra da Concha II. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Sítio Pititi
Foto 84 - Sítio Pititi. Fonte: Marília Perazzo.
Localizado na vertente do vale, a aproximadamente 250 metros do Sítio
Pedra da Concha II, está localizado no Morro dois Irmãos, na localidade de mes-
mo nome, Sítio Pititi. É um afloramento isolado de arenito com estratificação hori-
zontal, testemunho da Serra Branca. No morro há uma cavidade com dimensões
de 1,60 metros de altura por 10 metros de comprimento e 1,50 metros de profun-
didade, não formando um abrigo, devido às pequenas dimensões, onde estão
localizados os registros rupestres. Nesse sítio há uma grande concentração de
gravuras rupestres, além de algumas pinturas da Tradição Agreste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
142
O painel de pinturas está bastante erodido, podendo-se observar despla-
camentos da rocha e, conseqüentemente, a destruição de pinturas. O sítio é
composto por uma grande quantidade de gravuras, estando algumas sobrepostas
as pinturas. As pinturas rupestres observadas são linhas paralelas na horizontal,
círculos concêntricos, conjunto de pontos dispostos de forma circular, além de
grafismos compostos por traços na horizontal e vertical que se cruzam formando
ângulos retos. Dos sítios da Tradição Agreste da região de Catimbau, Pititi é um
dos poucos da região, associado ao sítio Casa de farinha e Toca do João, onde
não há representação de marcas de mão no painel, cuja recorrência é caracterís-
tica dessa Tradição.
Foto 85 - Representações de grafismos puros sobrepostos por uma gravura. Sítio
Pititi. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
143
Sítio Casa de Farinha
Foto 86 - Topo do abrigo sob rocha do sítio Casa de Farinha. A seta indica o teto do abrigo. A
esquerda da foto observa-se os paredões avermelhados da Serra de Jerusalém e, no último plano
da foto, o vale. Destaca-se a vegetação densa do Brejo de São José. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio Casa de Farinha localiza-se na Vertente do Vale, nas proximidades
da Serra Branca. O sítio é formado por um abrigo sob rocha com dimensões de
15 metros de comprimento por 5 metros de largura e 3 metros de altura, compos-
to por arenito estratificado horizontalmente com diversas cavidades de dissolução
formadas pela infiltração de água na rocha. Do teto do abrigo pode-se observar o
vale e a Serra de Jerusalém, onde, em épocas de chuva, forma-se uma queda
d’água.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
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Foto 87 - Abrigo sob rocha do Sítio Casa de Farinha. Fonte: Ricardo Pessôa
No sítio, é observado um forno desativado, motivo pelo qual foi dado o no-
me Casa de Farinha ao sítio. Em decorrência do fogo e da fumaça a que o sítio
ficou exposto por um longo tempo, as paredes e o teto do abrigo apresentam uma
grande concentração de fuligem, que, provavelmente, encobriu muitas pinturas.
Ao longo do paredão do abrigo foram observados quatro painéis de pinturas ru-
pestres da Tradição Agreste. O primeiro, a norte do abrigo, é composto por círcu-
los concêntricos, linhas paralelas, além de grafismos, cuja composição, impossibi-
lita o reconhecimento.
O painel 2 localiza-se na parte central do abrigo, sendo composto por três
nichos de pinturas. O primeiro é formado por um conjunto de pontos enfileirados
formando uma figura poligonal com bordas arredondadas, e preenchida interna-
mente por listras ponteadas. Na parte inferior do grafismo a direita encontram-se
dois tridígitos, recorrentes no nicho 2.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
145
No nicho 2 observam-se diversos tridígitos distribuídos, além de linhas pa-
ralelas e pontos enfileirados. Algumas figuras compostas por um tronco e ramifi-
cações nas diversas direções, ao modo de representações de fitomorfos, foram
observadas nessa parte e no nicho 3 do painel.
O nicho 3 do painel está bastante deteriorado, com desplacamento acentu-
ado de rochas. Por esse motivo, algumas pinturas foram parcialmente destruídas.
Nessa parte do painel observa-se uma figura antropomorfa, representada sem
cabeça, com os membros inferiores e superiores abertos e indicação de três de-
dos bem definidos. Esse grafismo aparece em diversos painéis da Tradição A-
greste. Ao lado do antropomorfo aparece uma figura composta por tronco e rami-
ficações dispostas em diversas direções, ao modo de fitomorfos (como foi obser-
vado no nicho 2). A direita dessas figuras aparece uma representação de um pro-
vável fitomorfo isolada, talvez devido à queda de placas da rocha que destruiu as
demais figuras desse nicho.
Foto 88 - A direita figura fitomorfa e, à esquerda, antropomorfo ao lado de um fitomorfo
(observar setas). Nicho 3 do Painel 2. Sítio Casa de Farinha. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
146
Foto 89 - Representação de um antropomorfo e fitomorfo. Detalhe do painel 2. Sítio
Casa de Farinha. Fonte: Marília Perazzo.
Foto 90 - Representação de fitomorfo isolado. Detalhe do painel 2. Sítio Casa de Fari-
nha. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
147
O painel 3 está localizado ao sul do sítio, sendo composto por um polígono
preenchidos internamente por listras nos planos horizontais e verticais, formados
por pontos enfileirados. Sobreposto ao grafismo observa-se uma grande concen-
tração de cupins que se irradia por toda área do painel, além do desplacamento
da rocha que destrói parte do grafismo.
Foto 91 - Grafismo puro coberto por cupins. Sítio Casa de Farinha. Fonte:
Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
148
Sitio Toca do João
Foto 92 - Sítio Toca do João localizado no sopé da Serra de Jerusalém.
Ao fundo, localiza-se o abrigo sob rocha. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio Toca do João está localizado no sopé da Serra de Jerusalém, nas
proximidades de uma fonte de água perene e de núcleos de palmáceas como ba-
baçu, carnaúba e ouricuri. Composto por arenito ferruginoso de cor avermelhada,
cuja tonalidade resulta de processos intempéricos sobre minerais, óxido de ferro
do sedimento, gerando hidróxido de ferro. A tonalidade avermelhada aparece tan-
to na superfície de exposição da rocha, como nos planos de estratificação. Único
sítio de pinturas rupestres, até o momento, encontrado nessa Serra, o Toca do
João possui dois painéis de pinturas, o primeiro localizado a oeste do sítio, em
uma superfície não abrigada, exposta às intempéries, e o segundo na face supe-
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
149
rior externa do abrigo sob rocha, também exposta às intempéries, formado a leste
do sítio.
O painel 1 é formado, a esquerda, por uma figura isolada, destacada pela
coloração branca em contraste com a tonalidade vermelha da rocha, composta
por um tronco abaulado e os membros inferiores e superiores abertos, cuja temá-
tica não pode ser reconhecida, devido aos poucos traços identificatórios represen-
tados. No plano superior do painel observa-se um grafismo retangular de cor ver-
melha, preenchido internamente por linhas paralelas aos lados. Esse grafismo é
comum na Tradição Agreste, sendo recorrente em diversos sítios da região. A
coloração avermelhada dificulta a observação do grafismo devido à coloração
também avermelhada do suporte. A direita do painel observa-se quatro grafismos,
dos quais três apresentam morfologias não reconhecidas – à esquerda, formado
por um traço horizontal composto por diversos traços menores na vertical, abaixo,
conjunto de traços de cor vermelha formando ângulos retos e, à direita, um gra-
fismo completamente preenchido com morfologias não reconhecidas - e um an-
tropomorfo (ao centro). O antropomorfo, de dimensões menores quando compa-
rado aos demais grafismos do painel, de cor branca, se destaca pela representa-
ção dos membros superiores e inferiores abertos, denotando movimento à figura.
Foto 93 - Painel 1 do Sítio Toca do João. As setas indicam localização das
pinturas. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
150
O painel 2 é composto por um grafismo puro, de formato retangular preen-
chido internamente por linhas sinuosas que se cruzam. A direita desse grafismo
há uma mancha avermelhada com morfologias recorrentes a um antropomorfo,
mas, devido ao desgaste da rocha não é possível reconhecer claramente a temá-
tica desse grafismo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
151
Sitio Alcobaça
Foto 94 - Abrigo sob-rocha do Sítio Alcobaça. Setas indicando os
planos de estratificação. Fonte: Marília Perazzo.
O Sítio Alcobaça está localizado no sopé do Morro do Pico, conhecido
também como Morro do dedo. Formado por arenito de estratificação horizontal, o
sítio possui diversas fraturas nos planos horizontais e verticais, motivadoras das
quedas de blocos. Composto por um grande painel de pinturas rupestres policro-
máticas (tons de vermelho, amarelo, branco e preto) da Tradição Agreste, Alco-
baça foi o único sítio da região que sofreu intervenções arqueológicas (escava-
ções)
71
. Além das pinturas, Alcobaça possui um painel composto por gravuras
rupestres.
71
Mais informações acerca das pesquisas no Sítio Alcobaça vide Capítulo II.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
152
As pinturas são compostas por representações de grafismos não reconhe-
cíveis, formados por linhas paralelas, conjunto de pontos enfileirados formando
polígonos, figuras retangulares preenchidas internamente, cujos traços são para-
lelos às linhas principais do grafismo, linhas sinuosas paralelas, círculos concên-
tricos, linhas que se cruzam nas diversas direções e sentidos (“os sóis”), figuras
denominadas de “armadilhas”, comuns nas áreas de Venturosa e Pedra, além de
antropomorfos e zoomorfos.
Os antropomorfos aparecem representados com os braços e pernas aber-
tos e pernas abertas, com a indicação dos três dedos bem definidos. Há uma re-
presentação de um antropomorfo peculiar ao sítio, uma vez que o grafismo apa-
rece de perfil, com os joelhos flexionados para a direita, e ao invés da representa-
ção dos braços aparecem traços com curvas estendidas até o plano horizontal
onde estão representados os pés, composto por três dedos bem definidos. Os
grafismos antropomórficos do painel possuem características típicas da Tradição
Agreste como a morfologia, e, sobretudo, a representação dos membros compos-
tos por três dedos cada.
Foto 95 - Grafismos retangulares preenchidos internamente. Fonte: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
153
Sítio Dedos de Deus I
Foto 96 - Abrigo sob rocha do Sítio Dedos de Deus I no contexto da paisagem. Fonte: Marí-
lia Perazzo.
O Sítio Dedos de Deus está localizado na encosta do Morro do Pico e
constitui um abrigo sob rocha, com dimensões de aproximadamente 20 metros de
comprimento por 1de largura e 20 de altura. Abrigo constituído por arenito de es-
tratificação horizontal, de coloração amarelo-esbranquiçado a amarelo - averme-
lhado, possui fraturas nos planos horizontais e verticais. O sítio possui dois pai-
néis rupestres. No plano superior do painel, pinturas da tradição Nordeste ornam
o sítio, enquanto que no plano inferior observa-se o predomínio de pinturas poli-
cromáticas (preto, amarelo e tons de vermelho variados) da Tradição Agreste.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
154
Foto 97 - Vista Lateral do Sítio Dedos de Deus I. Fonte: Marília Peraz-
zo.
Os grafismos da Tradição Nordeste compõem cenas formadas por antro-
pomorfos, estando esses compostos por tronco, membros superiores e inferiores
e, na cabeça, aparece algum tipo de ornamento não identificado (ao modo de an-
tenas). A primeira cena é representada por quatro antropomorfos enfileirados em
posição frontal, os braços aparecem abertos no plano horizontal. Abaixo da cena
acima descrita, observa-se a presença de traços horizontais paralelos. A esquer-
da dessa cena há uma representação de um antropomorfo isolado, no entanto, o
desplacamento da rocha destruiu parte dessa figura. Grande parte dos grafismos
estão apagados devido ao intemperismo químico da rocha, o que não permite a
identificação de algumas manchas, que provavelmente constituem pinturas.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
155
As pinturas da Tradição Agreste desse sítio são compostas, em sua maio-
ria, por antropomorfos e grafismos não reconhecíveis como linhas sinuosas e um
grafismo retangular preenchido internamente com traços paralelos aos lados da
figura retangular. Os antropomorfos aparecem compostos por tronco, cabeça or-
namentada (ao modo de antenas), além de braços e pernas com indicação de
três dedos bem definidos. O tipo de ornamento na cabeça representado nesse
sítio é peculiar, pois só aparece, com essa morfologia, nesse e no sítio Dedos de
Deus II.
Foto 98 - Em destaque representação de antropomorfo com as pernas compostas
por traços longos, desproporcionais ao corpo. À esquerda, antropomorfo estático
com representação de três dedos bem definidos. Sítio dedos de Deus I. Fonte: Ma-
rília Perazzo.
A representação de antropomorfos com ornamento na cabeça não é recor-
rente nos grafismos da Tradição Agreste, uma vez que a presença de ornamentos
na cabeça é observada em poucos sítios dessa Tradição (Sítio Pedra Redonda –
Pedra). Outra composição gráfica interessante é a representação de um antropo-
morfo isolado, com as pernas representadas com um tamanho desproporcional ao
resto do corpo, composta por linhas compridas e os braços representados em
posições diferenciadas, um erguido em direção ao topo do painel e o outro incli-
nado para baixo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
156
O Sítio Dedos de Deus II está localizado a noroeste do Sítio Dedos de
Deus I, onde há representação de figuras antropomórficas. Esse complexo é iden-
tificado por figuras antropomórficas com ornamento na cabeça (ao modo de ante-
nas) e morfologias encontradas nos sítios Dedos de Deus I e II, diferenciadas das
encontradas nos demais sítios.
Dessa forma três painéis de grafismos foram observados nesse sítio. No
primeiro painel, a norte do sítio, um antropomorfo de contorno fechado, não pre-
enchido internamente, de coloração amarela, está localizado na parte superior
externa do abrigo. Apenas a metade do grafismo está exposta devido ao despla-
camento da rocha, existindo apenas a representação da cabeça e ornamento,
além dos braços com a indicação dos dedos. Esse grafismo possui formas arre-
dondadas diferenciando-se das demais pinturas rupestres da área.
O segundo painel é formado por cinco antropomorfos, sem formar cenas,
dos quais quatro apresenta-se representados sem adorno na cabeça, mas com a
indicação de dedos (três) em cada membro. O quarto grafismo apresenta-se com
tronco arredondado preenchido com listras horizontais paralelas, as pernas aber-
tas e braços paralelos ao plano horizontal com indicação de dedos (três) em cada
membro, além da representação da cabeça adornada.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
157
Foto 99 - Representação de antropomorfo de contorno fechado não preenchido
internamente. Sítio Dedos de Deus II. Fonte: Marília Perazzo.
O terceiro painel é formado por um antropomorfo isolado, localizado a norte
do sítio, com características diferenciadas dos demais antropomorfos do sítio. O
corpo é preenchido internamente por uma elipse, cortada ao meio por uma listra
vertical. A cabeça possui os ornamentos ao modo de antenas, como os demais
grafismos, no entanto, os braços possuem morfologias diferenciadas. O grafismo
está representado paralelo ao plano horizontal, com os três dedos bem definidos.
Esse grafismo pode ser observado como uma variação da Tradição Agreste, visto
que não possui recorrência em nenhum outro sítio dessa Tradição. No Boqueirão
do Riacho São Gonçalo, em Sobradinho, BA, há uma grande concentração de
grafismos puros cujas morfologias são recorrentes ao tronco do antropomorfo a-
cima referido. Em forma de elipse e preenchidos internamente, os grafismos des-
sa região da Bahia não possuem elementos identificatórios que permitam afirmar
sua identidade, no entanto é importante observar as características análogas en-
tre os grafismos para poder observar as características recorrentes nas diferentes
Tradições.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
158
Foto 100 - Representação de antropomorfo. Sítio Dedos de Deus II. Fonte:
Marilia Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
159
4.4 Conservação e Preservação dos Sítios Arqueológicos
Uma dificuldade obtida na análise arqueológica dos sítios, e, sobretudo dos
grafismos, é a falta de conservação e preservação dos sítios arqueológicos nas
três regiões estudadas (com maior ênfase nos municípios de Pedra e Venturosa).
Os aspectos da deterioração das rochas, acentuados pelos processos de intem-
perismo, destroem parcialmente as pinturas rupestres, o que foi observado em
todos os sítios trabalhados. Além disso, a presença de cupins nas rochas e, mui-
tas vezes sobrepostos às pinturas, é uma ameaça permanente ao conjunto gráfi-
co dos sítios arqueológicos.
Portanto, é premente a intervenção de profissionais da área de conserva-
ção e preservação do patrimônio nas áreas aqui estudadas para minimizar as a-
gressões sofridas pelas pinturas rupestres ao longo do tempo.
Além disso, as pedreiras existentes nas áreas de Venturosa e Pedra ame-
açam diretamente os sítios arqueológicos desses municípios. Os sítios Peri-Peri I
e II, os quais possuem informações arqueológicas importantes para conhecer o
contexto da região, estão bem próximos a pedreiras em atividades correndo risco
de serem inteiramente destruídos. Faz-se necessário o registro dos demais sítios
da região e sua preservação em caráter de urgência, posto que ainda não houve
nenhuma denúncia oficial ao IPHAN das destruições ocasionadas pelas pedreiras
em Venturosa e Pedra.
Foto 101 - Pedreira em ação em Junho de 2006. Pedra - PE. Fon-
te: Marília Perazzo.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
160
Outro aspecto observado nas pesquisas de campo nas regiões de Ventu-
rosa e Pedra é a grande quantidade de pixações nos paredões dos sítios arqueo-
lógicos. Um exemplo a ser citado é a crescente depredação que vem gradativa-
mente destruindo os painéis rupestres do sítio Pedra Furada. A grande quantida-
de de pixações nos painéis rupestres e no entorno do sítio demonstra a falta de
identificação dos visitantes e, sobretudo, da população local com o seu patrimônio
natural e cultural. Faz-se necessário, trabalhar com as comunidades locais, com
intuito conscientizá-los acerca dos significados do patrimônio cultural e natural,
além de fomentar uma consciência social da comunidade com vistas para conser-
vação e gestão do patrimônio e seu entorno
72
.
Foto 102 - Pixações sobrepondo pinturas rupestres. Sítio Pedra Furada. Venturosa.
Fonte: Marília Perazzo.
72
Declaração de Xi’an sobre a conservação do entorno do edificado, sítios e áreas do patrimônio
Cultural. Adotada em Xi’an, China a 21 de outubro de 2005. Tradução em Língua Portuguesa:
ICOMOS/BRASIL – Março de 2006. p. 4.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
161
CAPÍTULO V
SÍNTESE DO CONHECIMENTO
5.1 Conclusões
No discurso deste trabalho, a geopaisagem foi conceituada, e considerada
nas diversas fases, nos seus atributos físicos e bióticos. Nos aspectos físicos,
envolvendo um complexo geológico-geomorfológico. Nos bióticos, foi enfatizado o
componente vegetacional, deixando-se de abordar a componente faunística em
face da precariedade de informações nos domínios geográficos considerados.
Desse modo, os dados arregimentados e as informações geradas permiti-
ram definir dois domínios de geopaisagem distintos e pertinentes ao tema desta
dissertação.
As diferenças desses dois domínios são consideradas como fundamentais,
talvez mesmo determinantes, para o modo de apropriação desses espaços de
geopaisagem pelos grupos humanos que habitaram a região. As diferenças são
relevantes porque cada domínio tem, agregado a si, todo um complexo sistema
físico-biótico que funcionou como produtor-fornecedor dos recursos nos locais ou,
melhor, nas áreas de escolha. Dessa forma, não se está a considerar que houve
um único elemento da paisagem como critério de escolha na localização dos sí-
tios pelos grupos humanos. No caso dos painéis com pintura rupestre, sejam os
localizados em superfícies côncavas, planas, ou nas superfícies a céu aberto, não
se determinou elementos decisivos para falar em escolha, mas tão somente as
presenças dessas superfícies julgadas apropriadas para a realização da prática
gráfica.
Nesse contexto, discute-se a utilização do termo padrão de escolha da lo-
calização dos sítios, uma que outros sítios podem ser descobertos possuindo
comportamentos de distribuição espacial e dos registros gráficos diferenciados
aos inseridos neste trabalho. Portanto, falar em tendência de escolha torna-se
mais aconselhável.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
162
Nas áreas da cobertura sedimentar de Catimbau, os alvos prospectivos pa-
ra novos sítios – sobretudo de estruturas em abrigo – são preferencialmente em
"morros testemunhos", no sopé das escarpas, em morfoesculturas de cânion ou
desfiladeiros. Nos topos das serras, espera-se uma menor incidência de estrutu-
ras cavernícolas.
No domínio de Venturosa-Pedra, admite-se que novos sítios devem ser a-
gregados ao acervo através de trabalhos prospectivos de superfície, conduzidos
transversalmente às organizações orográficas e hidrográficas regionais.
Na região interposta aos domínios Venturosa-Pedra e Catimbau, não se
dispõe, até o momento, de informações a cerca da presença de sítios arqueológi-
cos. Esse hiato pode ser explicado pela falta de pesquisas, fazendo-se necessária
a intensificação de estudos na região, o que permitirá observar, de forma mais
específica, o comportamento dos sítios nos dois domínios de paisagem e suas
relações, do ponto de vista macro-ambiental, com as características das demais
regiões.
Os Sítios de Registros Rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra (PE) no contexto da geopaisagem-2007-UFPE-Amaral, M. P. V. do
163
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84041998000#back#back
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ANEXO
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