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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Atividade in vitro, individual ou em combinação, de voriconazol, itraconazol
e terbinafina contra isolados brasileiros de Pythium insidiosum
JULIANA SIQUEIRA ARGENTA
PORTO ALEGRE
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Atividade in vitro, individual ou em combinação, de voriconazol, itraconazol
e terbinafina contra isolados brasileiros de Pythium insidiosum
Autor: JULIANA SIQUEIRA ARGENTA
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Ciências
Veterinárias.
Subárea: Microbiologia.
Especialidade: Micologia.
Orientador: PROF. DR. LAERTE FERREIRO
PORTO ALEGRE
2008
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“Só é útil o conhecimento que nos torna melhores”.
-Sócrates-
Dedico a meus avós:
Abílio (in memorian) e Maria Helena Siqueira
Pela incansável dedicação, amor e incentivo para que eu aqui chegasse.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a:
Meus pais, Nilia e Jânio Argenta, e meu irmão, Miguel Argenta: pelo carinho,
apoio constante e especialmente por serem parte fundamental da minha vida.
Igor Carlotto: pela dedicação, paciência e, sobretudo por ser alguém que torna a
minha vida muito melhor.
Professor Laerte Ferreiro, pela confiança, amizade e oportunidade de
desenvolver este trabalho.
Professor Janio M. Santurio, pela oportunidade, pelos exemplos, por ter me
apresentado à micologia e me fazer acreditar que com esforço e dedicação atingimos
nossos objetivos.
Professor Sydney Hartz Alves, pelos ensinamentos, pela incansável ajuda para a
realização deste trabalho e por ser alguém que admiro muito.
Daniela Pereira, pelo companheirismo, amizade e auxílio indispensáveis.
Marina Copetti, por tudo que me ensinou principalmente o valor da amizade.
Ayrton Cavalheiro, Stela Schwendler, Deise Santurio, Maria Isabel Azevedo,
João Eckhardt Jr, Flávio Silveira, Ricardo Dotto, Régis Zanette, Patrique Pereira,
Vanessa Laviniki, Franciele Bess, Patrícia Pozzati, Liliane Scheid, Érico Loretto, Paulo
Guilherme Lopes. Muito obrigada a cada um dos citados, e aqueles que não citados, que
estão ou passaram pelo LAPEMI, por todo apoio para a conclusão deste trabalho.
Leticia Saccol, Naíme Trevisan, Alexandre da Silva, Andréia Henzel, Marcelo
Weiss, Caroline Zielinski, Luiz Felipe Borges, Gisane Lanes, Osvaldo Jardim, pela
amizade e por todas as palavras de incentivo.
Professores e Funcionários do PPGCV da UFRGS, por possibilitarem e
facilitarem a realização do mestrado.
CNPq, pelo apoio financeiro.
“A glória da amizade não é somente a mão estendida, o sorriso carinhoso ou a
prazerosa companhia. É a inspiração que vem quando você descobre que alguém
acredita e confia em você”.
RESUMO
Pythium insidiosum, classificado no Reino Stramenopila e Classe Oomycetes, é
o agente etiológico da pitiose, uma doença diagnosticada principalmente em eqüinos,
caninos e humanos. As atividades in vitro do voriconazol, itraconazol e terbinafina,
sozinhos ou em combinação, foram estudadas empregando uma metodologia de
macrodiluição baseada na técnica M 38-A (CLSI, 2002) contra 30 isolados clínicos de
Pythium insidiosum, com o objetivo de avaliar novas medidas para tratar infecções
causadas por este agente utilizando quimioterapia. As combinações (terbinafina e
voriconazol; terbinafina e itraconazol) tiveram suas interações avaliadas utilizando a
técnica de checkerboard seguindo o modelo da macrodiluição em caldo. Terbinafina foi
ativa quando testada sozinha, mostrando uma concentração inibitória mínima (CIM) e
concentração fungicida mínima 8,0 mg/L para todos os isolados. Voriconazol e
itraconazol foram inativos contra os isolados testados quando usados sozinhos. A
combinação de voriconazol com terbinafina foi sinérgica contra 17% das amostras e
indiferente em 25 (83%) amostras. O uso concomitante de terbinafina e itraconazol foi
sinérgico contra 17% e indiferente contra 83% das amostras. As interpretações de
ambas as interações foram equivalentes para 26 isolados (87%): vinte e três foram
indiferentes e três mostraram efeito sinérgico. Antagonismo não foi observado. A
terapia combinada é uma alternativa à monoterapia, especialmente para pacientes com
infecções invasivas que são difíceis de tratar. Estes resultados precisam ser
correlacionados com relatos clínicos; e ensaios in vivo, usando modelos animais, podem
preencher a lacuna entre avaliações clínicas e avaliações in vitro das drogas.
Palavras-chave: Pythium insidiosum, voriconazol, itraconazol, terbinafina, teste de
suscetibilidade.
ABSTRACT
Pythium insidiosum is classified in the kingdom Stramenopila, class Oomycetes.
It causes pythiosis, a disease mainly diagnosed in horses, dogs, and humans. In order to
evaluate new approaches to treat infections caused by Pythium insidiosum using
chemotherapy, the in vitro activities of voriconazole, itraconazole and terbinafine,
alone or in combination, against 30 clinical isolates were studied employing a
macrodilution methodology based on the M 38-A technique (CLSI, 2002). The
combinations (terbinafine plus voriconazole and terbinafine plus itraconazole) had
their interactions evaluated using the checkerboard technique following the broth
macrodilution design. Terbinafine was active when used as a single drug, showing
minimal inhibitory concentration (MIC) and minimal fungicidal concentration 8,0
mg/L for all the isolates. Voriconazole and itraconazole were inactive against the
isolates tested when used alone. The combination of voriconazole with terbinafine was
synergic against 17% of the strains and indifferent on 25 (83%) strains. The
concomitant use of terbinafine and itraconazole was synergic against 17% and
indifferent against 83% of the strains. The interpretations of both interactions were
equivalent for 26 isolates (87%): twenty three were indifferent and three showed
synergistic effect. Antagonism was not observed. Combination therapy provides an
alternative to monotherapy, especially for patients with invasive infections that are
difficult to treat. These results need to be correlated with clinical outcomes, and in vivo
assays using experimental animal models could bridge the gap between in vitro and
clinical evaluation of drugs.
Keywords: Pythium insidiosum, voriconazole, itraconazole, terbinafine, susceptibility
test.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Rota de biossíntese do ergosterol. Etapas onde vários agentes antifúngicos
exercem suas atividades inibitórias estão mostradas. TERB, terbinafina; FLU,
fluconazol; ITRA, itraconazol; VOR, voriconazol. (GHANNOUM & RICE,
1999) ................................................................................................................27
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Identificação e origem dos isolados de Pythium insidiosum estudados..........37
Tabela 2: Concentrações Inibitórias Mínimas (CIMs) e Concentrações Fungicidas
Mínimas (CFMs) de Pythium insidiosum (n = 30) a terbinafina. ................38
Tabela 3: Concentrações Inibitórias Mínimas (CIMs) de Pythium insidiosum (n = 30) ao
itraconazol e voriconazol. .............................................................................38
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................10
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...............................................................................13
2.1 Pythium insidiosum e Pitiose ..........................................................................13
2.2 Zoosporogênese...............................................................................................22
2.3 Antifúngicos: itraconazol, voriconazol e terbinafina......................................24
2.4 Combinações antifúngicas e testes de suscetibilidade in vitro .......................27
3 ARTIGO CIENTÍFICO ..........................................................................................33
4 DISCUSSÃO ..........................................................................................................39
5 CONCLUSÕES ......................................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................45
10
1 INTRODUÇÃO
Pythium insidiosum é um organismo aquático cosmopolita classificado no Reino
Stramenopila, Classe Oomycetes (DE COCK et al., 1987). É o agente etiológico da
pitiose em mamíferos, o qual está intimamente relacionado ao contato de animais e
humanos com águas contaminadas onde o agente produz sua forma infectante, o
zoósporo móvel (SANTURIO et al., 2006a).
A pitiose é mais frequentemente diagnosticada em eqüinos, provocando quadro
infeccioso na pele e região subcutânea; em caninos com apresentação gastrintestinal e
cutânea; e em humanos nas formas subcutânea, vascular e ocular (SANTURIO et al.,
2003b). Acomete ainda bovinos (MILLER et al., 1985; SANTURIO et al., 1998;
PÉREZ et al., 2005), felinos (BISSONETE et al., 1991; RAKISH et al., 2005), ovinos
(TABOSA et al., 2004; SANTURIO et al., 2008) e, recentemente, foi descrito em um
camelo (WELLEHAN et al., 2004), um jaguar da América Central (CAMUS et al.,
2004) e um tigre (BUERGELT et al., 2006).
O tratamento da pitiose em animais e humanos é complicado pelas
características do agente, sobretudo sua composição de parede celular (LEAL et al.,
2001b). A maioria das drogas disponíveis atua primariamente inibindo a síntese do
ergosterol, o qual não é o principal esterol na membrana do Pythium insidiosum
(DYKSTRA et al., 1999), o que restringe o número de drogas que podem ser utilizadas
para o tratamento dessa enfermidade. Vários tratamentos têm sido utilizados,
principalmente em eqüinos, incluindo tratamento químico, cirúrgico e imunoterápico,
encontrando sucesso variável (SANTURIO et al., 2003b). A antifungicoterapia tem
utilizado anfotericina B, cetoconazol, miconazol, fluconazol e itraconazol, além dos
compostos iodínicos como iodeto de potássio e sódio (SANTURIO et al., 2003b). No
entanto, os resultados obtidos com as drogas antifúngicas são controvertidos, tanto no
11
tratamento clínico como nos testes de suscetibilidade in vitro.
Dentro dos métodos de referência para testes de suscetibilidade, destaca-se o
documento M 38-A recomendado e padronizado pelo Clinical and Laboratory Standards
Institute (NCCLS, 2002). Este método padrão descreve técnicas de macro e
microdiluição para determinar a Concentração Inibitória Mínima (CIM) de antifúngicos
frente a fungos filamentosos.
Até o presente, nenhuma das terapias antifúngicas propostas para a pitiose
apresentaram resultados satisfatórios. Por outro lado, Shenep et al. (1998)
demonstraram efeito sinérgico da terbinafina associada ao itraconazol no tratamento
clínico da pitiose humana e em ensaios laboratoriais. No entanto, estudos com
voriconazol ainda não foram realizados para Pythium insidiosum. Embora estes
antifúngicos atuem na síntese do ergosterol, o uso dos mesmos nessa pesquisa justifica-
se pelos relatos de cura obtidos com a associação de itraconazol e terbinafina, quando
utilizados no tratamento de pitiose humana e canina.
As associações antifúngicas têm sido pouco estudadas em micologia médica, e
suas atividades contra Pythium insidiosum são quase desconhecidas (SHENEP et al.,
1998). As combinações de drogas de diferentes grupos pode ser uma estratégia de
tratamento útil quando a monoterapia não encontra resultados satisfatórios.
Com base nesta problemática, os objetivos do presente estudo foram:
Verificar a atividade in vitro de voriconazol, itraconazol e terbinafina
contra 30 isolados de Pythium insidiosum de animais, empregando uma
metodologia de macrodiluição baseada na técnica M 38-A (NCCLS,
2002) adaptada.
12
Avaliar as interações in vitro da terbinafina combinada com voriconazol,
e da terbinafina combinada com itraconazol usando a técnica de
checkerboard seguindo o modelo de macrodiluição (NCCLS, 2002).
13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Pythium insidiosum e Pitiose
Pythium insidiosum, agente etiológico da pitiose em mamíferos (PEREIRA et
al., 2007), pertence ao Reino Stramenopila, Classe Oomycetes, Ordem Pythiales,
Família Pythiaceae, Gênero Pythium e espécie P. insidiosum (DE COCK et al., 1987).
Esta classificação foi fundamentada em estudos detalhados sobre a classificação dos
fungos, baseados em sistemática filogenética e análises moleculares, entre outros, que
dividiram os organismos anteriormente classificados como fungos em três reinos:
Fungi, Stramenopila e Protista (ALEXOPOULUS et al., 1996). No entanto, Schurko et
al. (2003) compararam espécies de Pythium insidiosum originárias das Américas, Ásia e
Austrália, através de técnica molecular, evidenciando diferenças entre os isolados de
Pythium insidiosum das três regiões estudadas, o que possibilita uma reclassificação
como sub-espécies ou, talvez, novas espécies.
O gênero Pythium caracteriza-se por: produção de zoósporos biflagelados
durante a reprodução assexuada; reprodução sexuada oogâmica; parede celular
composta de β-glucanas, celulose e hidroxiprolina; talo diplóide; mitocôndria com crista
tubular; características moleculares e bioquímicas peculiares, como uma rota alternativa
para síntese do aminoácido lisina (MOORE-LANDECKER, 1996). Os oomicetos
também diferem dos fungos quanto ao papel do ergosterol na membrana celular, ou
seja, nos primeiros ele não é o principal esteróide (SANTURIO et al., 2006a). De
acordo com Hendrix (1970), espécies do gênero Pythium incorporam esteróides a partir
do meio ao invés de produzi-los. Os esteróides são importantes para produção de
estruturas sexuadas in vitro, mas não são necessários para o crescimento da hifa
vegetativa (GROOTERS, 2003).
14
A pitiose é uma enfermidade piogranulomatosa que atinge eqüinos, provocando
quadro infeccioso na pele e tecido subcutâneo; caninos e felinos com apresentação
gastrintestinal e cutânea; bovinos com doença cutânea; e humanos apresentando quadro
clinico de arterite, queratite e celulite periorbital (SANTURIO et al., 2006a).
Epidemiologicamente a pitiose está intimamente relacionada com o contato dos animais
e humanos com águas contaminadas pelo agente, onde o mesmo produz zoósporos
móveis que se constituem na forma infectante do Pythium insidiosum (MENDOZA et
al., 1996). Em 1983, Miller propôs um ciclo biológico para esse organismo, que se
baseia na colonização de plantas aquáticas, que servem de substrato para o
desenvolvimento e reprodução do organismo, formando os zoosporângios. Os
zoósporos livres na água, movimentam-se até encontrar outra planta ou animal, onde se
encistam e emitem tubo germinativo, dando origem a um novo micélio e completando
seu ciclo. Essas observações sustentaram a teoria de infecção, sugerindo que os cavalos
em contato com águas contaminadas poderiam atrair os zoósporos, os quais
germinariam a partir de uma pequena lesão cutânea (MENDOZA et al., 1993).
A pitiose ocorre em regiões de clima tropical, subtropical e temperado
(MEIRELES et al., 1993; SANTURIO et al., 1998; GROOTERS, 2003), e tem sido
relatada nas Américas, alguns países europeus, sudeste asiático, Oceania e África
(CHAFFIN et al., 1995; FOIL, 1996; MENDOZA et al., 1996; RIVIERRE et al., 2005).
As condições ambientais são determinantes para o desenvolvimento do organismo em
seu ecossistema. Segundo Miller & Campbell (1982), para a produção de zoósporos são
necessárias temperaturas entre 30 e 40ºC e o acúmulo de água em banhados e lagoas. A
pitiose eqüina é uma doença que ocorre em todas as regiões do Brasil, principalmente
no Pantanal, onde há relação direta com o período das chuvas (outubro-março) e
acarreta prejuízos significativos, direta ou indiretamente (LEAL et al., 2001a). Não há
15
predisposição por sexo, idade ou raça e a fonte de infecção são os zoósporos ambientais,
não havendo relatos de transmissão direta entre animais e entre animais e o homem
(MENDOZA et al., 1996). A doença é progressiva, levando o animal ao emagrecimento
e morte na maioria dos casos.
No Brasil, a pitiose foi descrita em eqüinos, bovinos, ovinos, caninos e
humanos, porém a maioria dos casos relatados corresponde a lesões cutâneas em
eqüinos. Pitiose nos eqüinos caracteriza-se pela formação de granulomas eosinofílicos,
com a presença de massas necróticas denominadas de “kunkers” (MENDOZA &
ALFARO, 1986; MEIRELES et al., 1993; SANTURIO et al., 2003a). A doença nos
eqüinos é conhecida por outros nomes como hifomicose, zigomicose, dermatite
granular, “bursattee”, “Florida leeches”, granuloma ficomicótico, “swamp cancer”
(CHAFFIN et al., 1995; FOIL, 1996) e “ferida da moda” (LEAL et al., 2001a). As
lesões cutâneas são as mais freqüentes e atingem principalmente as extremidades distais
dos membros e porção ventral da parede toraco-abdominal, provavelmente devido ao
maior tempo de contato com águas contaminadas com zoósporos (MILLER &
CAMPBELL, 1982; CHAFFIN et al., 1995). Os sinais clínicos caracterizam-se por
lesões ulcerativas granulomatosas, formando grandes massas teciduais (5 a 500 mm),
com bordas irregulares, de aparência tumoral e com hifas recobertas por células
necróticas, que formam massas branco-amareladas semelhantes a corais, chamadas
internacionalmente de “kunkers” (SANTURIO et al., 2006a). Conforme estes autores,
os “kunkers” variam de 2 a 10 mm de diâmetro, tem forma irregular, ramificada, com
aspecto arenoso e penetram no tecido granular, dentro de sinus formados ao longo do
seu trajeto. Os animais apresentam intenso prurido e normalmente mutilam a lesão na
tentativa de aliviar o desconforto (LEAL, 1999).
16
A segunda forma mais freqüente de infecção em eqüinos é a intestinal,
caracterizando-se por massas teciduais localizadas na parede do intestino, levando a
diminuição e obstrução do lúmen (SANTURIO et al., 2003a). A maioria dos casos
descritos relata apenas uma lesão em cada animal, porém podem existir lesões cutâneas
multifocais (MENDOZA & ALFARO, 1986; CHAFFIN et al., 1992). Além disso, pode
ocorrer disseminação para órgãos internos a partir de infecções subcutâneas (REIS et
al., 2003), como nos casos descritos de lesões ósseas (MENDOZA et al., 1988;
ALFARO & MENDOZA, 1990; EATON, 1993). Estes estudos referem-se a eqüinos
com lesões cutâneas crônicas, localizadas nos membros e com grande proliferação do
tecido granulomatoso, onde as lesões ósseas ficaram limitadas aos ossos adjacentes às
lesões cutâneas.
Os caninos são a segunda espécie mais atingida pela pitiose, também nas formas
cutânea e gastrintestinal (SANTURIO et al., 2006a). A forma gastrintestinal é a mais
comum e manifesta-se com distúrbios digestivos como vômito, anorexia crônica, perda
de peso, diarréia (às vezes sanguinolenta) e presença de massas nodulares, quando
submetidos à palpação abdominal (FISCHER et al., 1994; DYKSTRA et al., 1999;
GROOTERS, 2003). Os cães afetados são normalmente oriundos de regiões rurais ou
estiveram, esporadicamente, em locais alagados como açudes e banhados (FOIL et al.,
1984; FISCHER et al., 1994; DYKSTRA et al., 1999). As lesões cutâneas apresentam-
se como dermatites piogranulomatosas ulcerativas, contendo áreas de necrose infiltradas
por neutrófilos e macrófagos e granulomas eosinofílicos (ENGLISH & FROST, 1984;
FOIL et al., 1984; DYKSTRA et al., 1999).
Pitiose em felinos é rara, havendo poucos relatos na literatura. Um deles refere-
se a uma infecção nasal e retrobulbar, sem envolvimento de órgãos internos, cujo
diagnóstico baseou-se em imunohistoquímica, sorologia através de imunodifusão e
17
isolamento do agente (BISSONNETTE et al., 1991). No outro relato foram dois casos
de pitiose gastrintestinal em gatos nos EUA (RAKICH et al., 2005). Recentemente,
foram descritos os primeiros casos de pitiose em mamíferos não domésticos: pitiose
cutânea e gastrintestinal em ursos (GROOTERS, 2003), pitiose pulmonar em um jaguar
da América Central (CAMUS et al., 2004) e um tigre com lesão intestinal por Pythium
insidiosum (BUERGELT et al., 2006).
A pitiose bovina também é pouco freqüente, havendo apenas três relatos na
literatura, onde os autores descreveram lesões cutâneas, geralmente nos membros e
caracterizadas por ulcerações, espessamento da derme e edema na região afetada. O
primeiro na região de Louisiana, EUA (MILLER et al., 1985), o segundo na região do
Pantanal, Brasil (SANTURIO et al., 1998) e o terceiro, recentemente, na Venezuela
(PÉREZ et al., 2005). Os casos observados no Brasil apresentaram cura espontânea das
lesões (SANTURIO et al., 1998). Já em ovinos essa doença é rara, tendo seu primeiro
surto descrito no Brasil (TABOSA et al., 2004), onde os animais afetados apresentaram
feridas com lesões ulcerativas nas patas e também nas regiões pré-escapular e
abdominal. O segundo relato de pitiose em ovinos também foi reportado no Brasil, e foi
o primeiro caso de rinite granulomatosa por Pythium insidiosum descrito nesta espécie
(SANTURIO et al., 2008). A enfermidade ocorreu em quatro ovinos da raça Santa Inês
e foi caracterizada por nodulações e necrose nasal, dificuldade respiratória e epistaxe
intermitente (SANTURIO et al., 2008).
Pitiose humana foi documentada pela primeira vez em 1985 (DE COCK et al.,
1987). Desde então, muitos casos têm sido relatados, com altas taxas de morbidade e
mortalidade (PUPAIBOOL et al., 2006). É comum no sudeste da Ásia, principalmente
na Tailândia, e dois fatores contribuem para a importância da pitiose nesse país: a
prevalência de β-talassemia e presença de grandes áreas alagadas usadas para
18
agricultura (TRISCOTT et al., 1993). As infecções por Pythium insidiosum em
humanos podem apresentar-se de três formas: lesões granulomatosas no tecido
subcutâneo de pacientes talassêmicos; forma sistêmica, caracterizada por
desenvolvimento de arterite crônica, trombose arterial e gangrena, atingindo geralmente
a extremidade dos membros inferiores de pacientes talassêmicos; e queratite, podendo
ou não estar associada à talassemia (IMWIDTHAYA, 1994). No Brasil a pitiose teve
seu primeiro relato em humanos no ano de 2005, na forma cutânea (BOSCO et al.,
2005).
O diagnóstico da pitiose, tradicionalmente, é feito pelos aspectos clínicos,
histopatológicos e pelo isolamento e identificação do agente através de suas
características culturais, morfológicas e reprodutivas. O exame histopatológico é
auxiliar no diagnóstico e necessita de outras provas para confirmação (SANTURIO et
al., 2006b). A identificação precoce da doença, no entanto, torna-se difícil através
desses métodos (SANTURIO et al., 2006a). Atualmente, métodos como
imunohistoquímica e técnicas sorológicas auxiliam e suportam um diagnóstico precoce
e correto (MENDOZA et al., 1996). O sucesso no isolamento de P. insidiosum é alto
quando amostras de biópsias forem armazenadas ou transportadas à temperatura
ambiente, com o acréscimo de antibióticos, entre um e três dias antes de seu
processamento no laboratório (SANTURIO et al., 2006a). O diagnóstico imunológico,
pela técnica de ensaio imunoenzimático indireto (ELISA), possibilita a detecção de
infecções precoces ou ainda subclínicas (MENDOZA et al., 1997). Além de constituir-
se numa poderosa ferramenta para o diagnóstico específico, também pode ser útil no
monitoramento da resposta à terapia (GROOTERS, 2003). Testes de ELISA para
detecção de pitiose em eqüinos, caninos, felinos, humanos e bovinos já foram
desenvolvidos para diagnóstico precoce (GROOTERS et al., 2002a; PÉREZ et al.,
19
2005; SANTURIO et al., 2006b). Existem ainda as técnicas moleculares constituindo
importante ferramenta para o diagnóstico e identificação de Pythium insidiosum,
principalmente através de PCR (reação de polimerase em cadeia) (JAEGER et al., 2002;
GROOTERS & GEE, 2002b; REIS et al., 2003; RIVIERRE et al., 2005; BOSCO et al.,
2005; MENDONZA & NEWTON, 2005).
O tratamento da pitiose é influenciado principalmente pelo tamanho e evolução
clínica da lesão, idade e estado nutricional do animal (MONTEIRO, 1999), tornando
variável o sucesso das diferentes formas de tratamento. De acordo com Miller (1981) e
Rochette et al. (2003), o tradicional tratamento da pitiose eqüina é cirúrgico, sendo o
procedimento mais utilizado. A intervenção cirúrgica é complicada devido às estruturas
anatômicas envolvidas, pois a partir da permanência de fragmentos do agente podem
ocorrer recidivas (MILLER, 1981; CHAFFIN et al., 1995). O tratamento cirúrgico
apresenta bons resultados apenas em lesões pequenas e superficiais, onde seja possível a
retirada de toda área afetada (SANTURIO et al., 2006a).
No tratamento da pitiose eqüina as drogas mais utilizadas até o momento foram
a anfotericina B e os compostos iodínicos, como iodeto de potássio e sódio
(McMULLAN et al., 1977; GONZALES et al., 1979; MEIRELES et al., 1993).
McMullan et al. (1977) obtiveram 50% de eficiência associando remoção cirúrgica e
anfotericina B; 30% apenas com anfotericina B e 20% não responderam aos
tratamentos. Segundo Gonzales et al. (1979), os animais respondem ao iodeto de
potássio associado à cirurgia ou isolado, porém o iodeto de potássio é mais eficiente
quando usado após a extirpação cirúrgica do granuloma. Little & Kabay (1984) e
Chaffin et al. (1992) também relataram o sucesso do tratamento cirúrgico seguido de
iodeto de sódio em potros com pitiose cutânea. Entretanto, Meireles et al. (1993) não
obtiveram sucesso em dois eqüinos tratados com iodeto de potássio endovenoso, até
20
mesmo quando associado à cirurgia. Utilizando outras tentativas de tratamento, Sedrish
et al. (1997), obtiveram sucesso no uso de raio laser vermelho de alumínio, neodímio e
ítrio como terapia suplementar após a remoção cirúrgica de lesões de pitiose eqüina.
Porém, alguns autores afirmam que a ressecção cirúrgica total do granuloma combinada
com imunoterapia especifica para Pythium insidiosum é o tratamento mais indicado para
cura de pitiose clínica em eqüinos (HUBERT & GROOTERS, 2002).
O tratamento da pitiose através da imunoterapia foi inicialmente proposto por
MILLER (1981), que desenvolveu um imunobiológico a partir de culturas do próprio
agente. Neste estudo o índice de eficiência foi de 53%; e 75% quando associado à
cirurgia (MILLER & CAMPBELL, 1982). No decorrer das décadas de oitenta e
noventa vários autores utilizaram a imunoterapia, principalmente em eqüinos, cujos
índices de cura não foram maiores que 70% (MENDOZA et al., 1992) e 83,3%
(MONTEIRO, 1999). Thitithanyanont et al. (1998) descreveram a utilização com
sucesso de um imunoterápico no tratamento de pitiose em um menino talassêmico.
Dykdtra et al. (1999) relataram o fracasso de uma vacina autógena utilizada em um cão
com pitiose cutânea. Recentemente, Mendoza et al. (2003) testaram uma nova
formulação de vacina para Pythium insidiosum em eqüinos e caninos e obteve cura em,
respectivamente, 72% e 33% dos animais. Em contraste aos resultados obtidos em
eqüinos e bovinos, a imunoterapia em felinos e caninos tem sido desapontadora
(MENDOZA & NEWTON, 2005).
Até o presente momento, nenhuma das terapias antifúngicas propostas para a
pitiose canina apresentaram resultados satisfatórios. Entre as drogas testadas destacam-
se a anfotericina, fluconazol, cetoconazol e itraconazol (FOIL et al., 1984; ENGLISH &
FROST, 1984; DYKSTRA et al., 1999; JAEGER et al., 2002; RIVIERRE et al., 2005).
Segundo alguns autores, a cirurgia continua como opção mais segura para o tratamento
21
da pitiose canina (HNILICA, 1998, THOMAS & LEWIS, 1998; GROOTERS, 2003),
embora as recidivas pós-operatórias sejam freqüentes (GROOTERS, 2003). Por esta
razão, Grooters (2003) indica a terapia com itraconazol (10mg/Kg/24 horas) associado a
terbinafina (5-10 mg/Kg/ 24 horas) por dois a três meses após cirurgia. Este mesmo
autor relata que aproximadamente 15% dos cães com pitiose gastrintestinal
responderam ao tratamento com itraconazol ou anfotericina B lipídica. Entretanto,
Dykstra et al. (1999) utilizaram itraconazol (5 mg/kg/60 dias) em um cão não obtendo
melhora. Grooters (2003) também observou melhora ou cura clínica e sorológica em
alguns casos de pitiose cutânea canina e felina, quando os animais administraram
terbinafina associada ao itraconazol. E afirma que, embora o número de animais que
responderam a este protocolo de tratamento tenha sido baixo, a combinação antifúngica
pareceu superior à terapia isolada.
O tratamento da pitiose felina também apresenta resultados variados.
Bissonnette et al. (1991) ao realizarem o tratamento de um felino com pitiose nasal e
retrobulbar com cetoconazol, observaram que houve melhora clínica, porém a lesão
recidivou após o término do tratamento. Já Rakich et al. (2005) encontraram resultados
diferentes ao tratar dois felinos com pitiose gastrintestinal. O animal tratado com a
associação terbinafina/itraconazol, durante dois meses depois da retirada cirúrgica da
lesão, apresentou cura clínica sem recidivas. Porém, morreu subitamente quatro meses
após a cirurgia. O outro felino, que recebeu terapia com itraconazol, também por dois
meses depois da retirada cirúrgica da lesão, demonstrou sorologia negativa, detectada
por meio de um teste de ELISA, realizado cinco meses após tratamento. Este animal
permaneceu em observação por nove meses, não apresentando recidiva da lesão durante
esse período.
De forma similar aos resultados clínicos, os testes de suscetibilidade in vitro
22
com drogas antifúngicas, realizados com Pythium insidiosum, também tem demonstrado
resultados contraditórios. Em um estudo de Sekhon et al. (1992) os poliênicos
anfotericina B, hamycin e seus análogos não apresentaram atividade satisfatória,
enquanto os azólicos fluconazol, cetoconazol e miconazol inibiram os isolados de
Pythium insidiosum testados in vitro, com o miconazol apresentando os melhores
resultados, seguido do cetoconazol. Entretanto, Triscott et al. (1993), relatando pitiose
subcutânea na região periorbital de dois jovens, constataram a boa resposta ao
tratamento com anfotericina B, contrariando os resultados obtidos nos testes de
sensibilidade. Em outro estudo, as drogas anfotericina B, flucitosina, miconazol e
griseofulvina não inibiram o crescimento deste oomiceto, enquanto o itraconazol
apresentou atividade moderada e a terbinafina foi ativa contra o Pythium insidiosum
testado (SHENEP et al., 1998). De acordo com Shenep et al. (1998), a associação de
terbinafina e itraconazol apresentou efeito sinérgico e foi utilizada, com sucesso, no
tratamento de um menino com infecção facial.
A tendência ao tratamento da pitiose atualmente está voltada para os chamados
inibidores de síntese de glucanas, como a caspofungina (KRAJAEJUN et al, 2006).
Acredita-se que esta droga seja eficiente contra este agente devido a grande quantidade
de β-glucana presente na parede celular deste oomiceto (GROOTERS, 2003).
Recentemente, Pereira et al. (2007) avaliaram a suscetibilidade in vitro de 27 isolados
de P. insidiosum frente à caspofungina e ainda relacionaram estes achados com a
resposta da terapia in vivo em coelhos com pitiose experimental. Entretanto, este estudo
sugeriu que Pythium insidiosum é pouco suscetível à caspofungina in vitro e in vivo.
2.2 Zoosporogênese
A zoosporogênese in vitro é uma ferramenta fundamental, tanto para a
23
identificação do Pythium insidiosum, como para a obtenção de zoósporos, em
quantidades suficientes, para desenvolvimento de testes de suscetibilidade in vitro e
para inoculação em animais experimentais (PEREIRA et al., 2008). Para obtenção de
inóculo para testes de suscetibilidade in vitro com Pythium insidiosum e para
reprodução experimental da pitiose em coelhos estima-se que o número ideal de
zoósporos seja em torno de 20.000 zoósporos/mL (SANTURIO et al., 2003; PEREIRA
et al., 2007).
A produção de zoósporos inicia com a formação de zoosporângios, os quais se
desenvolvem a partir de hifas que colonizaram certos tipos de plantas (GROOTERS,
2003). A obtenção de zoosporângios in vitro é realizada através da indução da
zoosporogênese em meio líquido (SHIPTON, 1985; CHAIPRASERT et al., 1990).
Neste contexto foram desenvolvidos protocolos para indução da zoosporogênese em
laboratório (MENDOZA & PRENDAS, 1988), os quais vêm sendo aprimorados e
adaptados (PEREIRA et al., 2008).
O protocolo para indução da zoosporogênese, recentemente notificado, baseia-se
no parasitismo de fragmentos de grama por hifas de Pythium insidiosum em um meio
pobre em nutrientes e, a seguir, na incubação dessas gramas parasitadas em Meio de
Indução rico em sais, e com temperatura e pH adequados (PEREIRA et al., 2008). Este
protocolo mostra que os zoósporos podem ser produzidos a partir do cultivo de P.
insidiosum em fragmentos de grama (Paspalum notatum) sobre Corn Meal Agar
(CMA), após 5 dias de incubação a temperatura de 37
0
C. E, após esse período de
cultivo, os fragmentos de grama parasitados pelo Pythium insidiosum são transferidos
para uma placa de Petri contendo Meio de Indução, composto pela solução A [K
2
HPO
4
,
KH
2
PO
4
, (NH
4
)
2
HPO
4
] e solução B [MgCl
2
6H
2
O, CaCl
2
]. O Meio de Indução é obtido
pela mistura de 0,5 ml da solução A e 0,1 ml da solução B em 1000 ml de água
24
destilada estéril. As placas de Petri contendo o Meio de Indução juntamente com a
grama infectada são incubadas a 37
0
C por 24 horas (PEREIRA et al., 2008). Pereira et
al. (2008) concluíram que após este período de indução, o número máximo de
zoósporos obtidos foram entre 6 e 8 horas de incubação, onde aproximadamente 87%
dos isolados produziram mais de 20.000 zoósporos/mL.
2.3 Antifúngicos: itraconazol, voriconazol e terbinafina
Os derivados triazólicos mais recentes, como itraconazol e voriconazol, devem
suas atividades antifúngicas, pelo menos em parte, à inibição da 14α-esterol desmetilase
dependente do citocromo P-450, responsável pela conversão do lanosterol em ergosterol
(figura 1) (GHANNOUM & RICE, 1999). Por isso, comprometem a biossíntese do
ergosterol na membrana citoplasmática e levam ao acúmulo de esteróis, os quais podem
desagregar o arranjo compacto das cadeias acíclicas dos fosfolipídios, comprometendo
as funções de determinados sistemas enzimáticos ligados a membrana, como ATPase e
as enzimas de transporte de elétrons (GEORGOPAPADAKOU & WALSH, 1996),
inibindo assim, o crescimento dos fungos.
O ergosterol é um componente essencial da membrana plasmática fúngica, onde
regula a permeabilidade da membrana e tem um papel importante na respiração
mitocondrial e fosforilação oxidativa (BOSSCHE et al., 2003). A inibição da síntese de
ergosterol afeta o citocromo c oxidase nas mitocôndrias; e aumenta a síntese de quitina,
resultando em uma distribuição irregular da mesma (BOSSCHE, 1985). Portanto, é
esperado que mudanças nos níveis de ergosterol e nas estruturas de esteróis influenciem
a atividade de várias rotas metabólicas.
O itraconazol é um triazólico que apresenta atividade antifúngica contra espécies
de Candida sp., Malassezia sp., Cryptococcus neoformans, Blastomyces dermatitidis,
25
Histoplasma capsulatum, Coccidiodis immitis e dermatófitos (BOSSCHE et al., 2003).
O itraconazol é administrado por via oral e, após absorção, sofre extenso metabolismo
hepático. Sobre a farmacocinética, estudos mostraram que níveis terapêuticos ativos de
itraconazol em humanos são mantidos por muito mais tempo em alguns tecidos
infectados do que no plasma (BOSSCHE et al., 2003). É altamente lipossolúvel, com
meia vida de 36 horas, sendo excretado na urina (BENNET, 2003).
O voriconazol é o primeiro antifúngico da segunda geração dos triazólicos, de
amplo espectro (RADFORD et al., 1997), e sua atividade inclui a maioria das leveduras
e dos fungos filamentosos (GEORGOPAPADAKOU & WALSH, 1996). É ativo em
ambas as formulações, oral e parenteral, e tem sido usado para avaliar ensaios clínicos
para grande variedade de patógenos fúngicos. Voriconazol tem excelente atividade in
vitro contra Aspergillus spp., e variável atividade contra outros fungos filamentosos
(DIEKEMA et al., 2003; SCHWARTZ et al., 1997). Estudos realizados com patógenos
fúngicos emergentes, como Scedosporium (RADFORD et al., 1997; CUENCA-
ESTRELLA et al., 1999; GOSBELL et al., 2003) e Fusarium (RADFORD et al., 1997;
DIEKEMA et al., 2003), demonstraram a eficácia do voriconazol in vitro e in vivo.
A terbinafina é um antifúngico oral ou tópico usado para tratar dermatófitos e
onicomicose, e tem sido avaliado também em combinações com outros agentes
(VAZQUEZ, 2003). Terbinafina é um composto fungicida ceratinofílico, altamente
lipofílico, pertencente ao grupo das alilaminas (COSTA & GÓRNIAK, 2002). É
altamente efetiva contra dermatófitos in vitro e in vivo (GHANNOUM & RICE, 1999;
DAVIS & BALFOUR, 1995), bem como contra fungos filamentosos, dimórficos e
dematiáceos, e algumas espécies de leveduras (BALFOUR & FAULDS, 1992). Atua
especificamente numa etapa precoce da biossíntese do ergosterol (GHANNOUM et al.,
1999), inibindo a enzima esqualeno-epoxidase (figura 1), resultando em deficiência de
26
esterol na membrana celular fúngica e acúmulo intracelular tóxico de esqualeno
(N’DIAYE et al., 2006), resultando em morte celular. Também é metabolizada no
fígado pelo sistema citocromo P-450 e os metabólitos são excretados na urina
(BENNET, 2003). Esta droga tem sido há muito tempo usado contra dermatófitos, mas
estudos recentes indicaram uma atividade elevada de terbinafina in vitro contra uma
grande variedade de fungos invasivos, tais como espécies de Candida, espécies de
Aspergillus ou Penicillium marneffei (MOORE et al., 2001; RYDER et al., 1998).
27
Figura 1. Rota de biossíntese do ergosterol. Etapas onde vários agentes antifúngicos
exercem suas atividades inibitórias estão mostradas. TERB, terbinafina; FLU,
fluconazol; ITRA, itraconazol; VOR, voriconazol. (GHANNOUM & RICE, 1999)
2.4 Combinações antifúngicas e testes de suscetibilidade in vitro
Voriconazol, itraconazol e outros azólicos, atuam reduzindo a síntese de
ergosterol via inibição do citocromo P450 (GOSBELL et al., 2003). Terbinafina
28
pertence ao grupo das alilaminas e atua especificamente em um estágio precursor de
biossíntese do ergosterol, inibindo a enzima esqualeno-epoxidase (GOSBELL et al.,
2003). Ambas as enzimas estão envolvidas na rota de biossíntese do ergosterol na
membrana celular fúngica (figura 1), então, teoricamente a combinação de terbinafina e
azólicos poderia proporcionar sinergismo contra patógenos fúngicos pelo bloqueio
seqüencial desta rota (KOWALSKY & DIXON, 1991, MELETIADIS et al., 2003).
No estudo de Gosbell et al. (2003), a associação de voriconazol à terbinafina
demonstrou sinergismo in vitro e foi utilizada para tratar uma infecção ortopédica
causada por Scedosporium prolificans. O teste de suscetibilidade revelou CIMs
individuais de 8 mg/L para terbinafina e 1 mg/L para voriconazol. As CIMs de
voriconazol foram reduzidas a 0.03-0.25 mg/L quando terbinafina foi adicionada, e a
adição de voriconazol reduziu a CIM de terbinafina a 2 mg/L (GOSBELL et al., 2003).
Terbinafina associada com azólicos mostrou efeito sinérgico contra espécies de
Candida, espécies de Aspergillus, Pseudallescheria boydii, Scedosporium prolificans e
Scopulariopsis brevicaulis, algumas das quais não responderam a qualquer
medicamento utilizado isoladamente (RYDER, 1999). Outros estudos ainda relatam que
combinações de terbinafina com miconazol, voriconazol ou itraconazol mostraram
sinergismo in vitro contra espécies de Scedosporium prolificans resistentes a diversas
drogas (MELETIADIS et al., 2000; MELETIADIS et al., 2003). Entretanto, a
significância in vivo dessas combinações não foi avaliada em animais. A única
informação disponível provém dos relatos de caso que documentam o sucesso do uso de
itraconazol ou voriconazol combinado com terbinafina em pacientes com infecções
invasivas causadas por Scedosporium prolificans, Pythium insidiosum ou
cromoblastomicose causada por Fonsecaea pedrosoi (HOWDEN et al., 2003; GUPTA
et al., 2002; SHENEP et al., 1998).
29
Tendo em vista a quantidade de agentes antifúngicos sistêmicos disponíveis,
uma opção para o tratamento é a terapêutica combinada. A combinação ideal de drogas
é aquela em que a interação entre elas é sinérgica. No entanto, mesmo na ausência de
sinergismo, pode haver outros possíveis benefícios de combinações terapêuticas. Por
exemplo, a combinação de duas drogas pode aumentar a taxa de homicídio microbiano e
encurtar a duração do tratamento (ZHU et al., 2004). Como também, a combinação de
dois medicamentos diferentes, que exercem seus efeitos através de dois mecanismos
diferentes, poderia evitar o aparecimento de resistência medicamentosa e ampliar o
espectro da atividade da associação. Além disso, com as combinações antifúngicas, que
permitem o uso de doses mais baixas de cada composto, o risco de efeitos tóxicos das
drogas pode ser reduzido (ZHU et al., 2004).
Segundo Johnson (2004), as vantagens dos testes de associações antifúngicas in
vitro são: a facilidade de se avaliar grande número de concentrações; facilidade de
aplicar testes estatísticos; facilidade para variar fatores técnicos; facilidade para testar
múltiplos isolados; facilidade para testar cepas com tipo de resistência definido. E entre
as desvantagens o autor cita que a relevância dos métodos nem sempre é clara, e que
fatores do hospedeiro e a farmacocinética são ignorados (JOHNSON, 2004).
Uma das formas mais conhecidas e mais simples para avaliar efeitos de
combinações in vitro é através da técnica de checkerboard. O termo checkerboard se
refere a um modelo, utilizando tubos ou placas de microtitulação, formado para testar
dois agentes antifúngicos em concentrações várias diluições acima e abaixo da CIM
para o fungo a ser testado (CUENCA-ESTRELLA, 2004). O Índice de Concentração
Inibitória Fracionária (ICIF) é a forma mais comum em micologia médica para relatar
resultados de estudos com o método checkerboard, e é a concentração mais baixa de
cada droga capaz de inibir o crescimento do microrganismo (CUENCA-ESTRELLA,
30
2004). O método checkerboard utiliza o ICIF para demonstrar quantitativamente que
combinações de dois agentes podem apresentar efeitos inibitórios que são maiores
(sinergismo) ou menores (antagonismo) que a soma dos seus efeitos individuais
(ODDS, 2003). As interações são interpretadas como sinérgicas (ICIF 0,5),
indiferentes (0,5 < ICIF 4) ou antagônicas (ICIF > 4) e calculadas de acordo com a
fórmula: ICIF = (CIM A em combinação/CIM A) + (CIM B em combinação/CIM B)
(JOHNSON, 2004).
Conforme Cuenca-Estrella (2004), indiferença sugere que o efeito combinado é
simplesmente o efeito da droga mais ativa quando testada separadamente. Sinergismo é
uma interação positiva entre dois compostos, possuindo como principais mecanismos:
1) inibição de diferentes estágios da mesma via bioquímica; 2) melhor penetração de um
antifúngico como resultado da ação de outro antifúngico na parede celular ou membrana
citoplasmática; 3) interação de transporte; 4) inibição simultânea de diferentes alvos na
célula fúngica; 5) atividade fungicida rápida (JOHNSON, 2004). E o antagonismo, por
outro lado, é uma interação negativa, onde os mecanismos de antagonismo são: 1) ações
de dois antifúngicos no mesmo sítio de ação podem resultar em baixa da habilidade do
outro agente exercer sua atividade no mesmo local, ou num sitio alterado; 2) a adsorção
de um agente na superfície do fungo inibe a ligação de outro agente antifúngico no sítio
de ação; 3) modificação de um alvo após a prévia exposição a outro agente (JOHNSON,
2004).
As indicações para uso dos diferentes antifúngicos devem ser baseadas nos
resultados obtidos com os estudos de suscetibilidade disponíveis, os quais podem
oferecer informações para escolha do tratamento mais adequado (CUENCA-
ESTRELLA & RODRÍGUEZ-TUDELA, 2002). Os padrões do CLSI constituem os
métodos de referência mais difundidos e os que mais se tem utilizado para realizar
31
estudos de correlação com a clínica (CUENCA-ESTRELLA & RODRÍGUEZ-
TUDELA, 2002). O documento M 38-A é um dos métodos de referência do CLSI
(Clinical and Laboratory Standards Institute, formalmente National Committee for
Clinical Laboratory Standards-NCCLS). M 38-A é uma norma global desenvolvida,
mediante processo consensual do CLSI, para testes de diluição em caldo com a
finalidade de determinar a suscetibilidade in vitro de fungos filamentosos à terapia
antifúngica (NCCLS, 2002). Este documento apresenta a seleção de agentes
antifúngicos; preparação de soluções antifúngicas padrão e diluições para a realização
de testes; e os requisitos de controle de qualidade para testes de sensibilidade de fungos
filamentosos que causam infecções fúngicas invasivas (NCCLS, 2002).
Este padrão descreve técnicas de macro e microdiluição, entre cujas principais
características se incluem um método espectrofotométrico para a preparação do inóculo,
RPMI a pH 7,0 como meio de cultivo, utilização de antifúngicos em forma de pó,
leitura visual dos tubos ou placas, cálculo das CIMs por porcentagens de inibição e
recomendações para controlar a qualidade dos resultados (CUENCA-ESTRELLA &
RODRÍGUEZ-TUDELA, 2002). O documento focaliza ainda as condições de teste,
incluindo a preparação e o tamanho do inóculo, o tempo e a temperatura de incubação, a
formulação do meio e os critérios para a determinação da CIM.
Uma das limitações das técnicas recomendadas neste protocolo, M 38-A, é que
as mesmas foram estabelecidas utilizando um número limitado de espécies fúngicas,
portanto se têm dúvidas sobre sua aplicabilidade para outros fungos (GUARRO et al.,
1997). Do mesmo modo, se tem dúvidas sobre a confiabilidade e adequação de se
empregar um método espectrofotométrico para preparação do inóculo (ESPINEL-
INGROFF et al., 1997). Por essa razão, tem sido proposto o emprego de técnicas de
contagem microscópica de conídios, que permitam preparar um inóculo reproduzível
32
(PETRIKKOU et al., 2001; PUJOL et al., 2001). Contudo, recomenda-se sempre para
realização de estudos de suscetibilidade seguir uma metodologia padronizada (NCCLS,
2002), em instituições sanitárias que os façam rotineiramente, utilizando um controle de
qualidade estrito (CUENCA-ESTRELLA & RODRÍGUEZ-TUDELA, 2002).
33
3 ARTIGO CIENTÍFICO
34
35
36
37
TABELAS SUPLEMENTARES DO ARTIGO (NÃO PUBLICADAS)
Tabela 1: Identificação e origem dos isolados de Pythium insidiosum estudados.
Identificação do Isolado
a
Espécie Origem
ATCC 58637 Eqüino Costa Rica
CBS 101555 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 123 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 124 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 125 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 126 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 127 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 128 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 129 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 134 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 135 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 136 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 137 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 138 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 141 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 142 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 143 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 144 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 145 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 147 Eqüino São Paulo Brasil
LAPEMI 148 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 152 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 156 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 167 Canino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 175 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 177 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 178 Eqüino Mato Grosso do Sul Brasil
LAPEMI 179 Ovino Mato Grosso Brasil
LAPEMI 187 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
LAPEMI 198 Eqüino Rio Grande do Sul Brasil
a
ATCC, American Type Culture Collection; CBS, Centraalbureau voor
Schimmelcultures; LAPEMI, Laboratório de Pesquisas Micológicas.
38
Tabela 2: Concentrações Inibitórias Mínimas (CIMs) e Concentrações Fungicidas
Mínimas (CFMs) de Pythium insidiosum (n = 30) a terbinafina.
Número (%) de isolados de Pythium insidiosum sensíveis a
terbinafina na concentração (μg/mL) de:
Parâmetros de
suscetibilidade
0,5
1,0
2,0
4,0
8,0
16
32
64
CIM-0
a
1
(3,3%)
0 11
(36,7%)
16
(53,3%)
2
(6,7%)
0 0 0
CIM-1
b
0 1
(3,3%)
9
(30%)
2
(6,7%)
0 0 0 0
CFM
1
(3,3%)
0 7
(23,3%)
17
(56,7%)
5
(16,7%)
0 0 0
a
Concentração mais baixa da droga para inibição completa do crescimento.
b
Concentração mais baixa da droga para inibição parcial do crescimento (25%).
Tabela 3: Concentrações Inibitórias Mínimas (CIMs) de Pythium insidiosum (n = 30) ao
itraconazol e voriconazol.
Número (%) de isolados de Pythium insidiosum sensíveis ao
itraconazol e voriconazol na concentração (μg/mL) a:
Antifúngicos
0,125
0,25
0,5
1,0
2,0
4,0
8,0
16
32
Itraconazol
0 0 0 0 0 0 0 21 (70%) 9 (30%)
Voriconazol
0 0 0 0 0 0 0 21 (70%) 9 (30%)
39
4 DISCUSSÃO
Pythium insidiosum difere dos fungos verdadeiros principalmente na
composição da parede celular e da membrana plasmática. A membrana plasmática não
contém esteróides, como o ergosterol, que é o componente-alvo de ação da maioria dos
antifúngicos (FOIL, 1996). Devido a essas características nenhum antifúngico
demonstrou eficácia clínica contra este oomiceto (FOIL, 1996), e os estudos in vitro
foram pouco esclarecedores.
Estudos de suscetibilidade in vitro com Pythium insidiosum foram previamente
desenvolvidos por Sekhon et al. (1992) e Shenep et al. (1998), porém estes autores não
descreveram os procedimentos empregados para preparação do inóculo, o tempo e
temperatura de incubação, nem os critérios de leitura. Este trabalho descreve o primeiro
estudo sobre suscetibilidade de isolados brasileiros de Pythium insidiosum a
combinações de agentes antifúngicos, seguindo parâmetros recomendados pelo
protocolo M 38-A (NCCLS, 2002). Esse documento foi padronizado para fungos
filamentosos; no entanto, Pythium insidiosum é um oomiceto. Desta forma, para
realização dos testes, foi necessário padronizar um inóculo, o qual foi obtido por
contagem de zoósporos de Pythium insidiosum. Segundo Pereira et al. (2007), este
procedimento constitui-se na metodologia mais confiável para testes de suscetibilidade
com este oomiceto; uma vez que zoósporos de Pythium insidiosum não produzem
turbidez no meio e, portanto o inóculo não pode ser ajustado por espectrofotometria.
Sekhon et al. (1992) utilizaram suspensões de hifas de P. insidiosum ajustadas
em espectrofotômetro como inóculo. Entretanto, Espinel-Ingroff et al. (1997) citam que,
quando se usa suspensões de hifas como inóculo, há uma discrepância entre as
Concentrações Inibitórias Mínimas (CIMs) em valores de até três vezes maiores quando
as mesmas são comparadas com suspensões de conídios. Contudo, as desvantagens do
40
inóculo usado no presente estudo incluem a dificuldade em obter a quantidade requerida
de zoósporos (PEREIRA et al., 2008), e o fato que zoósporos não são a forma
patológica. No entanto, zoósporos e hifas têm as mesmas organelas e composição de
membrana celular (MOORE-LANDECKER, 1996). Enfatizamos ainda que a utilização
do inóculo na concentração de 2-3x10
3
proporcionou excelente crescimento do Pythium
insidiosum em caldo RPMI. Resultados similares foram obtidos por Pereira et al.
(2007).
Método de análise por microdiluição em caldo está padronizado para bactérias, e
a relação entre CIMs de antibióticos e resposta ao tratamento (interpretação dos pontos
de corte) está bem definida contra estes microrganismos. Entretanto, este não é o caso
para as CIMs de antifúngicos. Pontos de corte interpretados contra fungos têm sido
definidos somente para alguns antifúngicos atuando contra poucas espécies fúngicas. A
padronização desse método e a definição de pontos de corte estão sujeitas a um número
de dificuldades, tais como a pobre reprodutibilidade inter e intra-laboratório e a
dependência dos resultados sobre pH, tipo de inóculo, condições de crescimento ou
meio e tempo de incubação (GIL-LAMAIGNERE & MILLER, 2004).
Neste estudo, o ponto de corte para itraconazol e voriconazol foi estabelecido de
acordo com NCCLS (2002), entretanto para terbinafina foram empregados dois critérios
de avaliação (inibição de 100% e de 75%). Gómez-López et al. (2003) adotaram o
critério de inibição total do crescimento ao testar terbinafina contra espécies de
zigomicetos, assim como Gil-Lamaignere & Miller (2004) utilizaram o mesmo critério
de leitura ao testar a mesma droga frente Candida albicans, C. dubliniensis e C. kefyr.
Entretanto, Garg et al. (2006) definiram o ponto final em 80% de inibição para
terbinafina frente a espécies de Candida. A ausência de dados de padronização para
41
testes in vitro com oomicetos e a inexistência de CIMs definidas para esta droga
justificam os diferentes critérios de leitura para terbinafina adotados neste estudo.
O primeiro estudo de suscetibilidade in vitro com Pythium insidiosum foi
descrito por Sekhon et al. (1992), que testaram alguns antifúngicos individualmente e
mostraram que os oito isolados de P. insidiosum testados foram mais suscetíveis ao
miconazol, cetoconazol e fluconazol do que ao itraconazol, anfotericina B e 5-
fluorocitosina. Shenep et al. (1998) utilizaram a técnica de macrodiluição em caldo
RPMI para testar a suscetibilidade de um isolado humano de P. insidiosum frente a
agentes antifúngicos in vitro, e mostraram a cura farmacológica de um paciente usando
terbinafina associada ao itraconazol.
Sekhon et al. (1992) testaram itraconazol e encontraram a CIM entre 25 e 50
mg/L, enquanto Shenep et al. (1998) obtiveram uma CIM de 0,125 mg/L para o mesmo
antifúngico. Entretanto, neste estudo, as CIMs variaram de 16 a >32 mg/L para
itraconazol e voriconazol. Provavelmente estas variações de CIMs devem-se às
diferentes metodologias usadas por esses autores. No sinergismo das combinações das
drogas utilizadas neste estudo observou-se que a adição de terbinafina reduziu as CIMs
de voriconazol a 0,25 mg/L e as de itraconazol a 0,5 mg/L, na maior parte dos ensaios.
Da mesma forma, a adição dos triazóis reduziu a CIM de terbinafina de 4,0 mg/L para
1,0 ou 2,0 mg/L, na maioria dos isolados avaliados. Quando Shenep et al. (1998)
associaram terbinafina a itraconazol a CIM de itraconazol foi reduzida para 0,015 mg/L;
e demonstraram que a terbinafina na forma individual foi ativa com a CIM igual a 0,5
mg/L, e quando foi associada ao itraconazol a CIM da mesma foi de 0,008 mg/L.
Os dados sobre tratamentos clínicos para pitiose com drogas antifúngicas bem
como os obtidos com testes de suscetibilidade in vitro são controversos. No presente
estudo foram testados trinta isolados de P. insidiosum, obtidos de casos clínicos de
42
animais, utilizando a técnica de checkerboard (CUENCA-ESTRELLA, 2004).
Observou-se que as associações itraconazol e terbinafina e voriconazol e terbinafina
atuaram sinergicamente contra cinco isolados, evidenciando que ambas as combinações
testadas exibiram um efeito sinérgico em 17% dos trinta isolados estudados. Já em 83%
não houve interação. Enfatiza-se que três dos isolados indicaram sinergismo em ambas
as combinações testadas, o que pode estar relacionado à variabilidade ou inconstância
bioquímica entre amostras de Pythium (KRAJAEJUN et al., 2006; McMEEKIN &
MENDOZA, 2000). Embora, contrariamente, Schurko et al. (2003) não tenham
demonstrado variabilidade genotípica entre isolados americanos de Pythium insidiosum.
Triazólicos e terbinafina bloqueiam diferentes etapas da mesma rota de
biossíntese de ergosterol nas células fúngicas (MELETIADIS et al., 2000). Desta forma,
quando combinados, um dos antifúngicos deve aumentar a permeabilidade celular para
o outro, o que suporta uma ação sinérgica. Como estes antifúngicos atuam
primariamente inibindo a síntese de ergosterol (KOWALSKY & DIXON, 1991),
ausente na membrana citoplasmática do Pythium insidiosum (FOIL, 1996),
possivelmente outros mecanismos estão envolvidos na inibição ou morte do Pythium
insidiosum. Isto poderia explicar os relatos de cura e suscetibilidade in vitro de alguns
isolados. De acordo com Dykstra et al. (1999), Pythium não é um fungo verdadeiro e
não utiliza ergosterol como o principal esterol nas membranas celulares. Não é surpresa
que agentes antifúngicos que interferem na síntese de ergosterol não sejam efetivos
contra oomicetos. Krajaejun et al. (2006) ao estudarem 102 casos de pitiose em
humanos registrados na Tailândia relataram o sucesso no tratamento de um menino com
pitiose cutânea utilizando iodeto de potássio combinado com itraconazol e terbinafina
após debridamento cirúrgico. Estes autores ainda mencionam a caspofungina, entre
outras drogas que inibem a síntese de glucanas, como uma alternativa para o tratamento
43
de pitiose. No entanto, recentemente, caspofungina foi testada contra isolados
brasileiros de Pythium insidiosum, evidenciando baixa suscetibilidade in vitro e in vivo
(PEREIRA et al., 2007).
Os valores das CIMs das combinações das drogas testadas neste estudo estão
dentro dos limites séricos. Segundo Kovarik et al. (1995), a concentração máxima
encontrada de terbinafina foi de aproximadamente 1,7 mg/L, após administração oral de
500 mg. Similarmente, Bossche et al. (2003) encontraram concentrações séricas entre
1,7 e 2,0 mg/L após uso da mesma dosagem. Embora, Shenep et al. (1998) tenham
encontrado concentrações de 1,0 a 2,1 mg/L de itraconazol no soro de um paciente após
uso de 8 mg/kg/dia; níveis séricos acima de 3 mg/L já foram encontrados com esta
droga (PATTERSON et al., 1996). Martinez (2006) obteve a concentração sérica de 4,0
a 6,0 mg/L de voriconazol em um paciente humano após administração de 400 mg/dia
da droga. Portanto, as CIMs obtidas nas combinações sinérgicas (variação de 0,25 a 4
mg/L) podem ser consideradas terapêuticas, uma vez que estas concentrações já foram
encontradas em soro humano. Estes achados também podem justificar a atividade da
terbinafina, onde 90% dos isolados testados mostraram CIM igual a 4 mg/L, o que é
muito próximo as concentrações séricas encontradas por Bossche et al. (2003).
O sinergismo in vitro da terbinafina e voriconazol ou itraconazol pode ser
considerado efetivo para o tratamento desta enfermidade. Entretanto é preciso seguir
este estudo in vivo, e se possível comparar com novos relatos de uso clínico destas
interações medicamentosas, em animais e/ou humanos atingidos pela pitiose, para
elucidar o potencial destas drogas combinadas. Este estudo foi o primeiro passo a frente
nas combinações de diferentes drogas antifúngicas, e deverá servir para investigações
futuras deste oomiceto com outras drogas, combinadas ou não, seguindo este protocolo.
44
5 CONCLUSÕES
1- Zoósporos de Pythium insidiosum devem ser utilizados para confecção de um
inóculo padrão, permitindo que todos os ensaios tenham um inóculo contendo a
mesma quantidade de zoósporos.
2- Testes in vitro com Pythium insidiosum devem seguir o protocolo M 38-A
(NCCLS, 2002) desde que se utilize um inóculo padronizado.
3- Terbinafina foi a droga mais efetiva, com CIM-0 e CFM variando de 0,5 a 8
mg/L; e com 90% dos isolados apresentando CIM-0 = 4 mg/L.
4- Voriconazol e itraconazol não mostraram eficácia e as atividades fungicidas
destas drogas foram > 16 mg/L.
5- Ambas as combinações, terbinafina + voriconazol e terbinafina + itraconazol,
apresentaram efeito sinérgico em 17% e indiferença em 83% dos isolados.
6- As interpretações de ambas as interações foram equivalentes para 87% dos
isolados.
7- Antagonismo nas interações nunca foi observado.
8- CIMs obtidas nas combinações sinérgicas (0,25 a 4 mg/L) podem ser
consideradas terapêuticas.
45
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