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COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES:
O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Administração, Instituto COPPEAD de
Administração, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Mestre em Administração
Orientador:
Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.
Rio de Janeiro
2008
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ii
COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES:
O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE
Wilson Brasil Casado Neto
Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Instituto
COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre
em Administração M.Sc.
Aprovada por:
Presidente da Banca
Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D. Orientador
(COPPEAD/UFRJ)
Prof. Kleber Fossati Figueiredo, Ph.D.
(COPPEAD/UFRJ)
Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D.
(Universidade Federal Fluminense UFF)
Rio de Janeiro
2008
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À Renata e Daniel
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor César Gonçalves a assistência, a orientação e,
principalmente, a paciência no desenvolvimento deste trabalho.
Aos professores do COPPEAD, mestres que transmitiram não só
conhecimento, mas também valores de vida.
Aos funcionários do COPPEAD, pela ajuda imensurável e amizade, um
obrigado especial a Cida, Simone, Lucianita e Sidney.
A meus amigos de turma, pessoas das quais nunca esquecerei e com quem
mais aprendi nesses últimos dois anos. Um obrigado especial a Bruno
Fonseca, Renata Lobo, Guilherme Quental, Carolina Burnier, Ana Carolina
Pinto, Fábio Vieira, Romulo Pereira e Luiza Curi.
A Sebastião (em memória), Nice (em memória), Wilson (em memória), Geralda,
Adauto, Carlota, Alexandra, Arthur (em memória), Clara, Paulo, Lucy, Ely,
Ângela e Paula - minha família, minha referência e meus verdadeiros ídolos.
Um agradecimento especial à Renata, minha querida mulher, pelo apoio e
amor em todos os momentos desse desafio, e ao Daniel, meu adorável filho,
fonte de toda a minha inspiração.
v
RESUMO
CASADO, Wilson Brasil. COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES:
O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE. Orientador: Cesar Gonçalves
Neto. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação. (Mestrado em
Administração).
Em um cenário no qual se destaca a inovação tecnológica não só como instrumento
político de desenvolvimento econômico para as nações, mas também como
instrumento estratégico para as empresas, o pequeno número de pesquisadores
trabalhando nas empresas e o baixo grau de interação entre universidades e
empresas em nosso país para o desenvolvimento de inovações tecnológicas
sugerem uma grande contradição uma vez que estas seriam algumas das principais
formas de promoção do desenvolvimento de inovações tecnológicas. Mostrou-se
muito interessante a possibilidade de ampliar este conhecimento a partir do estudo
do caso da Companhia Vale do Rio Doce (VALE), maior empresa privada de nosso
país, evidenciando tipos de cooperação que ocorrem entre a empresa e algumas
universidades.
Assim, através do estudo de caso do programa Convênios com Universidades da
VALE, a pesquisa apresenta um quadro de referência sobre a cooperação entre
universidades e empresas, dando ênfase aos principais motivadores e às principais
barreiras ao processo de cooperação tecnológica entre universidades e empresas.
Para tal utilizamos a metodologia sugerida por Gonçalves Neto (1986), não só a
partir do ponto de vista dos empregados da VALE envolvidos nestes projetos, mas
também a partir do ponto de vista dos professores e pesquisadores das
universidades envolvidos nos casos estudados.
vi
Lista de Figuras:
Figura 01: Evolução dos relacionamentos entre universidades e empresas 27
Figura 02: Modelo do processo de cooperação U-E 47
Figura 03: Ciclo de vida de um projeto de Cooperação U-E 105
Figura 04: O estágio de iniciação do processo de cooperação U-E 106
Figura 05: O estágio de aprovação do processo de cooperação U-E 108
Figura 06: O estágio de execução do processo de cooperação U-E 109
vii
Lista de Quadros:
Quadro 01: Resumo da Revisão Bibliográfica 52
Quadro 02: Categorias para Análise dos Casos Estudados 53
Quadro 03: Tipos de Cooperação U-E 54
Quadro 04: Principais Motivadores da Empresa para a Cooperação 54
Quadro 05: Principais Motivadores da Universidade para Cooperação 55
Quadro 06: Maiores Barreiras para a Cooperação 56
viii
Lista de Tabelas:
Tabela 01: Resultados: Contexto do Projeto Assuntos 79
Tabela 02: Resultados: Contexto do Projeto Origem das Idéias de Projetos 80
Tabela 03: Resultados: Natureza Graus de Risco e Importâncias 81
Tabela 04: Resultados: Natureza Tipos de Cooperação 82
Tabela 05: Resultados: Urgência 82
Tabela 06: Resultados: Principais Motivadores para a Empresa 83
Tabela 07: Resultados: Principais Motivadores para as Universidades 83
Tabela 08: Resultados: Principais Barreiras para a Empresa 84
Tabela 09: Resultados: Principais Barreiras para as Universidades 84
Tabela 10: Resultados: Categorias da Revisão de Literatura 85
ix
Sumário
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11
1.1 O Tema da Pesquisa ...................................................................................................... 11
1.2 Definição do Problema .................................................................................................. 14
1.3 Objetivos do Estudo ...................................................................................................... 16
1.4 Delimitação do Estudo .................................................................................................. 16
1.5 Relevância do Estudo.................................................................................................... 18
2 COOPERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESAS ................................ 19
2.1 Alianças Estratégicas .................................................................................................... 21
2.2 A Cultura Acadêmica ..................................................................................................... 22
2.3 A Importância das Alianças entre Empresas e Universidades ...................................... 31
2.4 Processos de Cooperação Universidade-Empresa ....................................................... 45
2.5 Resumo da Revisão Bibliográfica.................................................................................. 52
3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 57
3.1 Tipo de Pesquisa ........................................................................................................... 57
3.2 Universo, Amostra e Seleção de Sujeitos...................................................................... 60
3.3 Coleta de dados............................................................................................................. 62
3.4 Metodologia para Análise de Resultados ...................................................................... 64
3.5 Limitações do Método ................................................................................................... 65
4 A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE ..................................................................... 69
4.1 O Setor da Mineração no Brasil ..................................................................................... 69
4.2 A Empresa Estudada ..................................................................................................... 70
4.3 Os Casos Estudados ..................................................................................................... 74
5 RESULTADOS .............................................................................................................. 79
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................. 86
6.1 Análise de Resultados Utilizando o Modelo de Cooperação ......................................... 92
x
7 DESENVOLVIMENTO DO QUADRO DE REFERÊNCIA ................................... 104
7.1 Estágio de Iniciação .................................................................................................... 106
7.2 Estágio de Aprovação ................................................................................................. 107
7.3 Estágio de Execução ................................................................................................... 109
7.4 Estágio de Avaliação ................................................................................................... 110
8 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 111
9 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ..................................................... 113
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 115
11 ANEXOS ...................................................................................................................... 125
11.1 Anexo I: Roteiro de Pesquisa ...................................................................................... 125
11.2 Anexo II: Resumo dos Casos Estudados .................................................................... 136
11
1 Introdução
1.1 O Tema da Pesquisa
A inovação tecnológica é condição essencial para o desenvolvimento de
produtos ou processos capazes de disputar o mercado global. O Brasil possui um
número significativo de cientistas e engenheiros de alto nível realizando atividades
de pesquisa científica e tecnológica. No entanto, conforme citou Rezende
1
em
encontro da FIESP, a maioria dos pesquisadores (cerca de 73%) está nas
universidades e centros de pesquisa e apenas 11% nas empresas privadas, reflexo
das políticas industrial e de ciência e tecnologia que, de 1950 até 2000, foram
desenvolvidas paralelamente, ou seja, foram construídas sem conexão.
Combinar inovação tecnológica com crescimento econômico e inclusão social
é o principal desafio dos BRICS
2
. Segundo dados da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1992 a 2005 o crescimento
médio do PIB brasileiro não passou de modestos 2%, em comparação a 9,7% da
China, 6,5% da Índia, 3,8% da Rússia e 3% da África do Sul. Uma diferença
importante entre esses quatro países e o Brasil é a presença de uma política de
Estado para transformar conhecimento em riqueza, uma estratégia que implica
1
Sérgio Rezende foi palestrante do Encontro do Conselho Superior de Tecnologia e Competitividade
da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). São Paulo, 2005.
http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/29652.html.
2
BRICS: Termo criado pelo banco de investimentos Goldman Sachs para designar Brasil, Rússia,
Índia e China, considerados os principais países emergentes do mundo. Pelas contas do Goldman
Sachs, até 2050, a soma do Produto Interno Bruto (PIB) dos BRICS será superior à receita do G-6
(EUA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Japão e Itália), bloco que, atualmente, reúne as maiores
economias do globo.
12
integrar pesquisadores, empresários e governo num único circuito (Laplane, 2007).
Segundo Laplane, China e Índia têm programas de desenvolvimento de longo prazo,
mandando milhares de bolsistas para os EUA e Europa que, ao retornar, são
colocados no setor produtivo para desenvolver tecnologia; já a Rússia, pelas
recentes e intensas transformações políticas, vive mais no curto prazo; o Brasil, por
sua vez, vive no curtíssimo prazo. Antes de pensar em inovação, as empresas
brasileiras pensam em sobrevivência e o diálogo entre o nosso sistema de ciência e
tecnologia e o sistema produtivo seria então insuficiente.
Apesar deste cenário desanimador, há alguns grupos de pesquisa nas
principais universidades de nosso país que estão sendo muito importantes para
apoiar a capacitação da indústria, tanto no desenvolvimento de produtos e
processos quanto na formação de recursos humanos capacitados em tecnologias
específicas. A participação desses grupos de pesquisas é viabilizada em alguns
casos através de chamadas públicas, como tem sido feito nos setores de petróleo e
de energia (PITCE, 2004). O enquadramento legal de práticas já realizadas se deu
pela promulgação da Lei da Inovação
3
em dezembro de 2004, tais práticas
fomentavam estímulos à inovação no setor produtivo e promoção de maiores
investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) por parte das empresas,
estimulando a participação de pesquisadores universitários em projetos de interesse
das empresas. Segundo a nova lei, agora formalmente, os centros de P&D
vinculados ao governo poderiam também exercer a função de articulação,
acompanhamento e avaliação de projetos de pesquisa de grupos universitários,
financiados com recursos específicos de programas para o setor.
3
Lei da Inovação: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm.
13
A fim de transformar esta realidade, alguns programas estão sendo
implementados no Brasil. Dentre os programas de apoio à inovação nas empresas,
coordenados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), estão o Programa
Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI), o
Projeto Inovar, que contempla a Incubadora de Fundos INOVAR, o Fundo Brasil
Venture, o Portal Capital de Risco Brasil, a Rede INOVAR de Prospecção e
Desenvolvimento de Negócios e o desenvolvimento de programas de capacitação e
treinamento de agentes de capital de risco. Conforme também citado por Rezende
no encontro da FIESP, além destes, há ainda diversos outros programas para
estimular a criação de fundos de capital de risco e oferta de crédito para empresas
inovadoras, a criação de incentivos para contratação de mestres e doutores, assim
como a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento de bons
relacionamentos entre governos, empresas e universidades; e, ainda, a promoção
do aumento da interação universidade-empresa (PITCE, 2004).
Algumas empresas brasileiras, como a Petrobrás, a Companhia Siderúrgica
Tubarão e a Companhia Vale do Rio Doce, estão enfrentando com sucesso os
desafios de competir em um mercado globalizado e, para algumas delas, o
estabelecimento de convênios com universidades é ferramenta importante da
estratégia de diferenciação de seus produtos e processos. As pesquisas
desenvolvidas pelas parcerias entre empresas e universidades têm sido uma dos
principais fontes de inovações colocadas em prática (Noveli e Segatto, 2006), mas o
número de tais parcerias parece ainda pequeno quando comparado aos demais
mecanismos das empresas para fomento de inovações.
14
1.2 Definição do Problema
Em um cenário no qual se destaca a inovação tecnológica não só como
instrumento político de desenvolvimento econômico para as nações, mas também
como instrumento estratégico para as empresas, o pequeno número de
pesquisadores trabalhando nas empresas e o baixo grau de interação entre
universidades e empresas para o desenvolvimento de inovações tecnológicas
sugerem uma grande contradição uma vez que estas seriam algumas das principais
formas de promoção do desenvolvimento de inovações tecnológicas.
Torna-se então relevante procurarmos entender melhor o processo de
desenvolvimento das inovações tecnológicas nas empresas e, especificamente,
como se dá o relacionamento entre empresa e universidade no que se refere a este
processo (Gonçalves Neto, 1986). É importante observar que há uma lacuna de
trabalhos que discutam as relações de grandes empresas brasileiras com as
universidades, principalmente devido à dificuldade de acesso às informações tanto
na empresa quanto nas universidades.
Assim sendo, mostrou-se particularmente interessante a possibilidade de
ampliar este conhecimento a partir do estudo dos casos de projetos de cooperação
da Companhia Vale do Rio Doce (VALE) com universidades, evidenciando os tipos
de ligação que ocorrem no relacionamento desta empresa com universidades, assim
como os motivadores e as barreiras deste relacionamento. A VALE destaca-se no
cenário nacional e internacional, tendo sido protagonista da maior aquisição já feita
15
por uma empresa privada da América Latina, quando comprou a empresa
canadense Inco por US$ 17,7 bilhões. Este destaque é corroborado por vários
indicadores econômicos e sociais e, devido a este destaque, acreditamos que os
casos estudados nesta empresa têm maior chance de serem utilizados como
referências por outras empresas contribuindo com maior sucesso em projetos de
inovação tecnológica em nosso país. As atividades profissionais desenvolvidas pelo
autor desta pesquisa na empresa estudada também motivaram e facilitaram a
realização da pesquisa.
Sendo assim, o tema de pesquisa desta dissertação de mestrado é o
processo de cooperação tecnológica entre universidades e empresas (cooperação
U-E). O problema de pesquisa foi determinado a partir da caracterização do
processo de inovação e das interações que podem ocorrer no processo de
cooperação entre universidades e empresas, especificando os possíveis
motivadores e barreiras do processo.
O problema de pesquisa proposto é traduzido então através das seguintes
questões:
a) Como ocorre o processo de cooperação tecnológica entre a empresa VALE
e as universidades?
b) Quais os principais motivadores e as principais barreiras da cooperação
tecnológica entre a VALE e as universidades, segundo os principais
envolvidos?
16
1.3 Objetivos do Estudo
1.3.1 Objetivo Final
O objetivo final deste estudo é desenvolver um quadro de referência sobre a
cooperação entre universidades e empresas. Este quadro de referência poderá
ser bastante valioso, não só para a própria empresa estudada, a VALE, mas
também para outras empresas e para as universidades interessadas ou envolvidas
em projetos similares.
Para atingir tal objetivo final, iremos: identificar dez casos de cooperação
tecnológica entre a Companhia Vale do Rio Doce e as universidades através de seu
programa corporativo chamado “Convênios com Universidades”; e analisá-los
utilizando como referência inicial o modelo para o processo de cooperação
universidade-empresa de Gonçalves Neto (1986).
1.4 Delimitação do Estudo
O estudo foi realizado em uma única empresa, a Companhia Vale do Rio
Doce, e a população do estudo proposto é constituída de uma carteira de projetos
de cooperação tecnológica do programa corporativo chamado “Convênios com
17
Universidades”. Este programa conta atualmente com quarenta e três projetos em
sua carteira.
Para a seleção da amostra não probabilística pesquisada foram selecionados
dez projetos utilizando-se os seguintes critérios:
i) Estarem entre os maiores convênios em valor financeiro;
ii) Serem projetos recentes (ainda em andamento, ou finalizado a partir do
ano de 2005);
iii) Possuírem temas distintos;
iv) Haver no máximo três projetos de uma mesma universidade;
v) Haver pelo menos dois projetos da Região Norte ou Nordeste do país,
onde se concentram algumas operações da empresa;
vi) Haver meios viáveis (entrevista presencial ou por telefone) de contatar
pelo menos um dos principais envolvidos no projeto (ou o envolvido da
empresa, ou o da universidade, ou ambos).
As universidades envolvidas nesta pesquisa foram: a UFPA (Universidade
Federal do Pará), a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a UFOP
(Universidade Federal de Ouro Preto), a USP (Universidade de São Paulo) e a
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
18
1.5 Relevância do Estudo
A inovação tecnológica é condição essencial para o desenvolvimento de
produtos ou processos capazes de disputar o mercado global, conforme dissemos
no início desta pesquisa. Este estudo apresenta casos onde é possível verificar a
participação de cientistas e engenheiros de alto nível em atividades de pesquisa
científica e tecnológica aplicadas. O desenvolvimento destas atividades contribui,
conforme veremos, no desempenho das operações da empresa e em seu resultado
econômico mostrando que, além de ser possível, os convênios entre empresa e
universidades garantem retornos positivos para os envolvidos neste processo.
Além disso, considerando principalmente o destaque da VALE no cenário
nacional e internacional, os casos estudados, que evidenciam os tipos de ligação
que ocorrem no relacionamento da empresa com as universidades, parecem ter
maior chance de serem utilizados como referência em outros estudos e em projetos
de cooperação de mesma natureza. Esta contribuição pode representar maiores
investimentos em P&D por parte das empresas maiores oportunidades de
desenvolvimento dos centros de pesquisas aplicadas das universidades e, em
última instância, no desenvolvimento de nosso país.
19
2 Cooperação entre Universidades e Empresas
Esta pesquisa tem como foco as parcerias de cooperação tecnológica entre
uma grande corporação, a Companhia Vale do Rio Doce (VALE), e algumas
universidades brasileiras. Estas parcerias se dão de diferentes formas, mas esta
pesquisa tem foco naquelas que se dão através do programa corporativo que se
chama “Convênios com Universidades”.
A cooperação entre universidades e empresas foi examinada sob a ótica das
unidades de relacionamento universitárias por Gonçalves Neto (1986 e 1988),
quando foram discutidas as condições que permitiram a criação de tais unidades,
assim como suas estruturas organizacionais e níveis de atuação no Reino Unido,
isto é, no cenário europeu, em contra-ponto com o cenário americano. Através de
uma série de entrevistas com diretores dessas unidades, obteve-se uma descrição
detalhada de seus objetivos, estrutura, atividades e controle sobre a cooperação,
assim como, uma idéia inicial das principais razões para o sucesso ou fracasso das
colaborações.
Empresas e universidades procuram desenvolver este tipo de relacionamento a
fim de alcançar benefícios mútuos (Henderson et al., 2006) e é isso que
pretendemos investigar nesta pesquisa. No entanto, muitas vezes tem sido
observado que o resultado das parcerias resulta em desilusões para os profissionais
das empresas devido às diferenças próprias da abordagem dos acadêmicos frente
às consultorias tradicionais com as quais eles estão acostumados (Fassin, 2000); do
20
mesmo modo, os profissionais das universidades algumas vezes ficam frustrados,
pois o distanciamento entre as oportunidades empresariais treinamento e
consultoria e seus trabalhos acadêmicos faz com que suas expectativas quanto a
pesquisas não sejam atendidas (Van Dierdonck e Debackere, 1988).
Este capítulo tem por objetivo fazer uma visita a algumas pesquisas relevantes
para a discussão deste assunto:
Iniciamos esta revisão pelo assunto alianças estratégicas; afinal, diante de
tantos avanços tecnológicos, já não é possível pensar em desenvolver todo o
conhecimento necessário para a manutenção da competitividade das empresas de
forma isolada, principalmente se levarmos em consideração a dispersão causada
por um mundo cada vez mais globalizado. Estabelecer alianças é fundamental em
um cenário como este, e elas se tornam especialmente relevantes quando
estabelecidas entre a empresa e as universidades, principal berço do conhecimento
necessário para o fomento de inovações.
Em seguida, por entender que as universidades têm características próprias
que influenciarão nestas parcerias, discutimos a cultura acadêmica, assim como
uma breve visão histórica das revoluções acadêmicas recentes, e, em particular,
como estas revoluções se deram nas universidades brasileiras.
Discutiremos então a importância das alianças entre empresas e
universidades para este processo de criação de conhecimento e fomento de
inovações tecnológicas. A fim de entender como se dá o processo de cooperação
21
tecnológica entre estas instituições, vemos o que são os convênios de cooperação
universidade-empresa. Ainda a fim de entender este processo, verificamos os
tipos de cooperação entre universidades e empresas presentes nas pesquisas.
Finalmente, discutimos os principais motivadores para a cooperação universidade-
empresa e as maiores barreiras encontradas nestes processos de cooperação.
2.1 Alianças Estratégicas
“A maior mudança na cultura corporativa, e no modo
como os negócios são conduzidos, deve ser o
acelerado crescimento dos relacionamentos baseados
não em propriedade, mas em parceria” (Drucker, 1996).
Em tempos de economia global, as alianças estão se tornando mais e mais
relevantes. O número de alianças estratégicas quase dobrou nos últimos dez anos e
espera-se que este número cresça ainda mais no futuro (Booz Allen and Hamilton,
1997). As pesquisas americanas mostram números de mais de vinte mil alianças no
mundo dos negócios em apenas dois anos e um crescimento das alianças nos
Estados Unidos de 25% ao ano desde 1997 (Farris, 1999). Uma pesquisa publicada
no Electronic Business mostrou que 80% das empresas da indústria de eletrônicos
desenvolvem alianças estratégicas e a maioria delas está negociando extensões aos
seus acordos (Vyas et al., 1995).
O potencial das alianças estratégicas é enorme e, se implementadas
corretamente, alguns autores defendem que elas podem melhorar agressivamente
22
os resultados operacionais das empresas e sua competitividade (Elmuti et al., 2005).
As empresas estão formando alianças para obter ou desenvolver tecnologia, para
ganhar acesso a mercados específicos, para reduzir riscos políticos e financeiros e
para alcançar ou assegurar vantagens competitivas (Wheelen e Hungar, 2000).
Empresas e universidades americanas têm formado alianças estratégicas com
a intenção de realizar programas de pesquisas cujos resultados possam resolver
problemas práticos do mundo de negócios (Wheelen e Hunger, 2004). Cada vez
mais encontramos um maior número de cientistas das universidades públicas ou
privadas envolvidos em acordos comerciais com empresas. Estes relacionamentos
têm oferecido benefícios para ambas as partes envolvidas e são encorajadas por
diversas políticas públicas (Ervin et al., 2002).
2.2 A Cultura Acadêmica
Quando falamos sobre a cultura acadêmica, o que queremos realmente discutir
é o papel da universidade na sociedade moderna e, em particular, na sua relação
com a sociedade e com as “coisas práticas” do mundo corporativo. Surge então uma
questão subjetiva associada a esta problemática cultural, que se refere ao papel
“científico” da universidade, a partir do qual a ciência encontra seu fim em si mesma,
deixando de lado a questão prática. Como isto é um paradigma da cultura
acadêmica, a discussão sobre esta questão é sempre evitada (Brown, 1985;
Etzkowitz, 1989; McMillan et al., 2000). De acordo com este paradigma, o único
propósito da pesquisa acadêmica é a criação de conhecimento, independente de
23
qualquer aplicação prática (Ndonzuau et al., 2002). Segundo estes autores este
paradigma reconhece apenas duas maneiras de fazer a difusão do conhecimento:
i) Publicações (livros, artigos, conferências, etc.): que contribuem com o
processo coletivo e cumulativo de produção de conhecimento;
ii) Educação: que oferece aos estudantes a oportunidade de aprender as
mais recentes descobertas científicas.
De acordo ainda com esta concepção, a pesquisa acadêmica é claramente um
bem público (Callon, 1994). Este paradigma tem contribuído para um sistema de
valores no qual a academia se opõe à utilização da pesquisa acadêmica para as
aplicações desejadas com as parcerias estratégicas entre universidades e
empresas. Será importante levarmos esta questão em consideração quando mais à
frente discutirmos os tipos de interação entre empresas e universidades e tentarmos
entender se um determinado relacionamento com a empresa é uma parceria da
universidade como instituição ou de seus pesquisadores em iniciativas quase que
independentes (Ndonzuau et al., 2002). Precisamos ressaltar que a cultura
acadêmica é sim uma das razões para o distanciamento entre empresas e
universidades, conforme discutido pelos autores acima, mas também que existem
outras razões, como os diferentes sistemas de recompensas na empresa e na
universidade e diferentes horizontes de tempo para alcance dos resultados
(Gonçalves Neto, 1986).
24
2.2.1 As Revoluções Acadêmicas
“A primeira revolução acadêmica aconteceu no final do
século XIX e início do século XX, quando a pesquisa
acadêmica tornou-se uma função legítima da
universidade. Embora o termo ‘universidade’ tenha sido
utilizado desde o período medieval em referência às
instituições que cuidavam da preservação e
transmissão do conhecimento, a universidade moderna
pode ser descrita pelo modelo de Humboldtian que
enfatiza a interconexão entre ensino e pesquisa, a
universidade e o Estado” (Etzkowitz, 2004).
Segundo o autor, a universidade que tinha por fim ensino e pesquisa emergiu
da junção destas atividades que antes eram executadas por faculdades e
sociedades científicas respectivamente, e separadamente em uma única
instituição nos principais países europeus e Estados Unidos.
As universidades americanas foram afetadas de uma maneira muito particular
pela primeira revolução pois, como havia escassez de fundos para pesquisa, o
próprio corpo docente das escolas se viu diante da necessidade de usar a
criatividade para angariar os fundos necessários para os seus trabalhos e, devido a
isso, os professores ganharam autonomia. O novo desafio para as universidades era
responder à queda da oferta de recursos, e para isso precisariam se tornar seletivas
e redefinir seus objetivos estratégicos. Daí a necessidade de reestruturação da
25
universidade para o novo ambiente, com a criação de estruturas organizacionais
adequadas ao fortalecimento da atuação em redes e à comercialização dos
resultados de sua pesquisa além do aumento da oferta de treinamento (Webster,
1994). O desempenho individual dos professores criou uma nova forma de
organização nas universidades que premiavam e estabeleciam poder àqueles que
mais fundos conseguiam levantar. As atividades de busca por suporte para pesquisa
determinavam a evolução da carreira dos acadêmicos, responsáveis pela obtenção
dos fundos para este fim, e resultaram no aparecimento da figura do empreendedor
acadêmico, papel fundamental naquilo que viria a ser a segunda revolução
acadêmica (Etzkowitz, 2004). Tais dificuldades para conseguir levantar fundos
ocorriam claramente também nas universidades européias (Gonçalves Neto, 1986).
Inicialmente, as pesquisas básicas realizadas pelas universidades tinham
pouca possibilidade de aplicação nas empresas (algumas exceções eram
encontradas na agricultura; vide Etzkowitz, 2004) e alguns autores defendiam que o
sistema acadêmico não seria modificado em suas características e funções básicas;
haveria apenas uma acomodação (Peters, 1987). Mas, conforme evidências
apresentadas na pesquisa de Gonçalves Neto (1986), mudanças significativas já
estavam acontecendo nas universidades européias ainda nestes anos 80.
Segundo Etzkowitz, ao longo do século XX este modelo foi sendo
transformado, de modo que o desenvolvimento de pesquisas aplicadas em diversas
áreas tornou-se uma conseqüência natural de causas internas e externas:
necessidade de produção de conhecimento com resultados práticos que fossem
capazes de financiar as pesquisas básicas, e demanda externa por maior utilidade
26
nas pesquisas financiadas com recursos públicos. A partir do desenvolvimento de
pesquisas aplicadas, relacionamentos entre universidades e empresas foram sendo
estabelecidos. Nas últimas décadas do século XX as oportunidades para o
empreendedorismo científico se multiplicaram.
A transferência de conhecimento através das publicações e das atividades de
ensino foi sendo superada por mecanismos formais que não só empacotaram
soluções de tecnologia aplicada, mas também desenvolveram seu potencial
comercial. Entre estes mecanismos são citados: o estabelecimento de novos
arranjos institucionais complexos e multilaterais como as instituições criadas
entre universidade, indústria e governo; as políticas de Ciência e Tecnologia (C&T);
e as novas ementas acadêmicas que incluem disciplinas que tratam do assunto
(Anprotec, 2006). Ainda segundo este estudo, nos últimos anos surgiram diversas
oportunidades, não só para o estabelecimento de parcerias estratégicas entre
universidades e empresas, mas também para investidores interessados no fomento
de inovações tecnológicas.
As pesquisas de Etzkowitz apresentam um modelo de evolução das
oportunidades de relacionamento entre universidades e o mundo empresarial que
começa com as interações entre grupos de pesquisas e as empresas, passa por um
escritório para prestação de serviços pelas universidades às empresas, evoluindo
para a utilização de um escritório para administrar diretos autorais, chegando às
incubadoras de negócios, ambos responsáveis por grande parte dos spin-offs
acadêmicos
4
das universidades hoje em dia.
4
Spin-off acadêmico: É uma empresa criada para explorar uma propriedade intelectual gerada a
partir de uma pesquisa desenvolvida em uma instituição acadêmica. Algumas características
27
Os conceitos deste modelo de evolução já haviam sido discutidos por
Gonçalves Neto (1986 e 1988) em suas pesquisas e foi desenvolvido por outros
autores nos anos seguintes. Etzkowitz (2004) apresentou o modelo a seguir (figura
1).
Figura 01: Evolução dos relacionamentos entre universidades e empresas
Fonte: Etzkowitz (2004)
O acesso direto a grupos de pesquisas permite desde a participação de
estudantes em pesquisas aplicadas nas empresas até trabalhos empreendedores de
pesquisadores da academia, podendo ainda viabilizar a contratação destes
estudantes e pesquisadores pela própria empresa. O estágio seguinte é a criação de
um escritório para prestação de serviços, que assume a responsabilidade por
organizar as interações entre departamentos de pesquisa e empresas interessadas
nas pesquisas, possibilitando contratos de consultoria e pesquisa. Todo este esforço
resulta no empacotamento de soluções de tecnologia e, conseqüentemente, torna-
se necessário a criação de regras para transferência deste conhecimento. Surge
importantes são: empresas que se originam em Universidades; empresas que irão explorar inovações
tecnológicas, patentes e, também, o conhecimento acumulado por indivíduos durante atividades
acadêmicas; empresas que são independentes das Universidades-mãe e que têm fins lucrativos;
empresas fundadas por pelo menos um membro da Universidade (professor, estudante ou
funcionário) (Araújo et al., 2005).
28
então um escritório de transferência de tecnologia dedicado a identificar, patentear,
ofertar ao mercado e licenciar a propriedade intelectual destas soluções. Finalmente,
conhecimento e tecnologia dão origem a uma nova empresa que é criada a partir da
universidade por um empreendedor; a criação de empresas a partir de pesquisas
acadêmicas foi uma atividade informal durante anos até que, por conta da oferta de
capital de risco para o fomento destas empresas, as universidades criaram
incubadoras de negócios para dar suporte e estrutura a estes novos
empreendimentos. As incubadoras, que surgiram no início da década de 80, estão
presentes atualmente em quase todas as principais universidades do mundo, e
estão cada vez presentes, com casos de sucesso, em países em desenvolvimento
como Brasil, Coréia do Sul, Índia e China (Etzkowitz, 2002). Segundo pesquisa da
Anprotec (2006), os números apontam um crescimento rápido do número de
incubadoras no Brasil: em 1995 tínhamos 27 incubadoras; em 2000, 135 (sendo 62
na região sudeste, 50 na região sul e 23 nas demais regiões); e em junho de 2006
tínhamos 359 (127 na região sudeste, os mesmos 127 na região sul e 105 nas
demais regiões).
A exemplificação do modelo apresentado acima está no surgimento, nos anos
80, de um novo paradigma científico que diminuiu a distância entre inovação e
aplicação tecnológica; o papel das universidades líderes foi fundamental, pois elas
apresentaram ótimos resultados na busca de novas formas organizacionais para
aproximar universidades e empresas; a necessidade de interdisciplinaridade para as
soluções dos problemas das empresas e indústrias levou à intensificação das
interações entre diversos atores e à estruturação de redes (Callon, 1992;
Leydesdorff e Etzkowitz, 1997).
29
Hoje em dia, o uso de alta tecnologia em áreas como biologia e bioquímica
passaram a ser o centro das atenções das pesquisas aplicadas. No entanto, áreas
de pesquisa tradicionais como engenharia e geologia áreas intimamente ligadas
aos negócios da empresa estudada mantiveram seus vínculos históricos com as
empresas em seu setor (Etzkowitz e Peters, 1991).
Com o conteúdo aportado pelas pesquisas citadas, podemos dizer que a
segunda revolução acadêmica está relacionada à incorporação do desenvolvimento
econômico e social, regional ou nacional, aos objetivos fins das universidades. No
entanto, é importante lembrar que as revoluções citadas a primeira e a segunda
não afetaram as universidades de modo homogêneo e tampouco são
universalmente aceitas (Nelson e Rosenberg, 1993; Leydesdorff e Etzkowitz, 1997).
2.2.2 As Revoluções Acadêmicas nas Universidades Brasileiras
Embora discutir as revoluções acadêmicas faça todo sentido quando falamos
de países europeus e Estados Unidos, entre outros, é necessário observar algumas
especificidades das universidades da América Latina, onde há diversos casos em
que sequer há pesquisa, há apenas ensino (Brisolla et al., 1997). A maior
contribuição destas revoluções para as instituições latino-americanas está na
formação de recursos humanos, principalmente com a participação de empresas
estatais que atuam nos setores tecnologicamente mais avançados e com melhor
dotação de recursos financeiros e humanos (Vessuri, 1994).
30
O modelo brasileiro do empreendedorismo acadêmico pode ser visto como uma
síntese dos modelos europeu e americano. O empreendedor acadêmico surge aqui
a partir de uma estratégia de sobrevivência diante dos cortes nos fundos de
pesquisa no início dos anos 80. Apenas em meados da década de 90 as pesquisas
científicas passaram a fazer parte da missão das universidades brasileiras e os
esforços para a mudança de cultura necessária diante do novo desafio foram
grandes. O modelo de incubadoras de negócios foi importado dos Estados Unidos,
mas foi significativamente adaptado para endereçar problemas sociais e econômicos
(Etzkowitz, 2004). Durante aqueles estudos de Etzkowitz (2004), onde se via
negócios de alta tecnologia no modelo americano, no Brasil se via o fomento de
negócios de prestação de serviços com baixo uso de tecnologias modernas.
Em estudos posteriores, Etzkowitz, Mello e Almeida (2005) mostraram que,
apesar do fomento de negócios de prestação de serviços com baixo uso de
tecnologias modernas, associações de governo, universidades e indústria
combinaram estes objetivos de baixo uso de tecnologias com um modelo de
incubadoras de alta tecnologia em um formato misto. Seus estudos mostraram que
este movimento de incubadoras tecnológicas foi aplicado também a ONG
5
, grupos
culturais e artísticos, combinando alta tecnologia às necessidades de combate à
pobreza. Como era de se esperar, ainda segundo estes autores, as universidades
lideraram estas incubadoras de alta tecnologia.
5
ONG: Organizações Não Governamentais (ou também chamadas de organizações não
governamentais sem fins lucrativos), também conhecidas pelo acrônimo ONG, são associações do
terceiro sector, da sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos,
que desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a opinião pública e o
apoio da população para melhorar determinados aspectos da sociedade (IPEA, 2004).
31
Os estudos de Maculan et al. (2002) apresentam uma pesquisa com 103
empresas de base tecnológica (EBTs) que passaram pelo processo de incubação e
se graduaram. Estas empresas se criaram e estruturaram em torno de novas idéias
de produtos e serviços, com base em conhecimentos específicos sobre uma
determinada tecnologia, de modo que elas introduziram inovações na estrutura
industrial e conseguiram dar valor econômico a conhecimentos científicos adquiridos
na fase de estudo, lembrando que a maior fonte de geração de novos
conhecimentos foram as atividades de pesquisa. As atividades inovadoras das EBTs
são bons exemplos do empreendedorismo acadêmico no Brasil.
Deve-se ressaltar que estas revoluções acadêmicas, embora norteiem nossa
pesquisa rumo aos benefícios das interações entre universidades e empresas,
geram também alguns conflitos relevantes como os citados nas pesquisas de
Gonçalves Neto (1986) e Brisolla et al. (1997): a compatibilização das tarefas dos
pesquisadores relacionadas às interações com as empresas uma vez que continuam
suas atividades na universidade como professores; a participação acionária da
universidade nas novas empresas da incubadora criando possíveis conflitos de
interesse; o redirecionamento dos cursos de pós-graduação para atender aos
interesses de empresas; a promoção do acesso de empresas estrangeiras aos
resultados de pesquisa, em prejuízo das empresas locais.
2.3 A Importância das Alianças entre Empresas e Universidades
O papel das alianças estratégicas é fundamental no processo de inovação para
as empresas. No entanto, este processo de inovação é bastante complexo e reside
32
não só no desenvolvimento de novos produtos, ou no redesenho de processos
produtivos, mas também na criação de novos arranjos entre as esferas institucionais
que propiciem as condições para a inovação (Etzkowitz, 2003).
Sistemas de inovação são baseados em uma economia que privilegia a
inovação e o empreendedorismo (Intarakamnerd et al., 2002). Os sistemas nacionais
de inovação são sistemas de arranjos entre instituições as agências
governamentais, as universidades e as empresas públicas e privadas (grandes ou
pequenas) com o objetivo de fomentar a produção de Ciência e Tecnologia dentro
das fronteiras nacionais. Tais arranjos podem ser técnicos, comerciais, legais,
sociais e financeiros, tantos quanto necessários, para promover o desenvolvimento,
a proteção, o financiamento e a regulamentação sobre Ciência e Tecnologia (Niosi
et al., 1996). O foco de nossa pesquisa está nos arranjos entre empresas e
universidades conforme sugerido nos estudos de Gonçalves Neto (1986).
As novas tecnologias, cada vez mais complexas, tornam extremamente difícil
para qualquer empresa possuir as competências e os recursos necessários para
garantir o sucesso no desenvolvimento de tecnologia e comercialização de seus
produtos e serviços (Hamel e Prahalad, 1994; Woo, 2003). Conseqüentemente,
algumas empresas perceberam que as universidades podem ser os parceiros ideais
para viabilizar estes recursos e competências. É possível observar casos na
indústria onde se verifica alta correlação entre as pesquisas básicas e a criação de
novos processos e produtos (Mansfield, 1991). Há também uma forte evidência da
enorme sinergia encontrada entre a expertise acadêmica e as aplicações industriais
na área de biotecnologia (Pisano, 1990).
33
A segunda revolução acadêmica sugere a criação de alianças estratégicas
entre universidades e empresas de modo que seja possível estabelecer parcerias
para viabilizar os recursos e as competências necessárias para o desenvolvimento
das empresas. Se fosse possível sintetizar as revoluções acadêmicas discutidas
anteriormente, poderíamos dizer que os principais fins das universidades modernas
poderiam ser classificados com uma tríade: pesquisa, ensino e serviço (Santoro,
2000). O papel das universidades em pesquisas e no ensino foi discutido pelos
autores citados. Por outro lado, citamos Santoro porque queremos agora dar ênfase
ao serviço, vértice de sua tríade, que em nosso entendimento resume o novo
paradigma da segunda revolução acadêmica, e que está relacionado aos interesses
das empresas na utilização dos resultados das pesquisas aplicadas para resolver ou
superar os problemas e desafios que atualmente preocupam as empresas e que
impactam diretamente as receitas dos negócios e o bem-estar de todos os
envolvidos com as empresas (Lee, 1998).
As alianças entre empresas e universidades, além de viabilizar os recursos e as
competências necessárias para o desenvolvimento dos negócios nas empresas
através do novo paradigma derivado da universidade passar a ter o serviço à
indústria também como fim, fazem parte fundamental dos arranjos necessários para
a sustentação dos sistemas de inovação.
A literatura sobre sistemas de inovação apresenta o sistema de educação como
uma importante origem de conhecimento relevante para atividades inovadoras
(Edquist, 1997; Adeoti, 2002). A universidade é um importante elemento do sistema
34
de educação e é tomado como o agente responsável por gerar o conhecimento
científico básico e aplicado que se torna de domínio público. A indústria é não
apenas gerador de conhecimento aplicado, mas também o principal cliente do
conhecimento científico aplicado gerado em universidade ou outras instituições de
pesquisa. Enquanto as parcerias de P&D entre empresas são muito comuns em
países desenvolvidos, o foco das atividades de P&D em países em desenvolvimento
está nas universidades; de fato, as pesquisas de Adeoti (2002 e 2005) sugerem que
parcerias de P&D entre empresas e universidades são cruciais especialmente
nestes países. Parcerias de P&D para a indústria em países em desenvolvimento
dependem de alianças estratégicas entre empresas e universidades em projetos de
pesquisas específicos relevantes para a indústria. Tais alianças são determinadas
pelas restrições existentes nestes países e seu desenvolvimento será
significativamente afetado por elas (Adeoti, 2005).
Ainda segundo este autor, as deficiências de alianças entre empresas e
universidades são uma restrição facilmente identificável nos países em
desenvolvimento, e isso faz com que invenções relevantes para a indústria não
sejam de fato utilizadas. Além disso, com poucas alianças deste tipo, as pesquisas
ficam restritas ao financiamento público e, conseqüentemente, sofrem com as
limitações de recursos para P&D. Temos também a questão das empresas
multinacionais presentes nestes países, cujas subsidiárias importam tecnologia de
suas matrizes utilizando as inovações em produtos e processos desenvolvidas por
(Lall, 1997). Desta maneira, entendendo a importância das alianças entre empresas
e universidades, é fundamental entender que nestes países os sistemas de inovação
dependem de políticas de incentivo que ajudem as empresas locais e as
35
universidades a encontrarem interesses comuns em P&D com retornos atrativos
para ambas as instituições. O conjunto de restrições que dificultam estas alianças
em países em desenvolvimento inclui ainda, além das deficiências de alianças
apropriadas entre empresas e universidades, a infra-estrutura pobre, a falta de
fundos para investimento em pesquisa e as deficiências de capital humano (Adeoti,
2005).
2.3.1 Tipos de Cooperação Universidade-Empresa
Os convênios de cooperação tecnológica entre universidades e empresas
(cooperação U-E) destacam-se como uma das principais formas de contribuição
para os sistemas de inovação. Os diferentes tipos de cooperação têm sido
discutidos bastante na academia.
Em sua pesquisa, Noveli e Segatto (2006) enfatizam que os convênios de
cooperação tecnológica entre universidades e empresas são caracterizados como
um modelo de arranjo interinstitucional entre organizações que têm natureza
fundamentalmente distinta. Esse arranjo pode ter finalidades variadas desde
interações tênues, como no oferecimento de estágios profissionalizantes, até
vínculos extensos e intensos, como nos grandes programas de pesquisa cooperativa
e formatos bastante diversos (Plonski, 1994). No entanto, há a percepção de uma
maior aproximação entre os objetivos e posicionamentos distintos de empresa e
universidade, atenuando os reflexos das naturezas distintas dessas organizações
Etzkowitz (1998).
36
Ainda, a percepção da universidade enquanto agente de desenvolvimento
econômico regional se apresenta com obviedade dentro de um contexto no qual o
conhecimento tem se tornado um “ativo” cada vez mais importante, dada que essa
instituição é reconhecidamente uma fonte de geração de novos conhecimentos
(Noveli e Segatto, 2006). Canalizar fluxos de conhecimento em novas fontes de
inovação tecnológica tem se tornado uma tarefa acadêmica, mudando a estrutura e
função da universidade. A realização dos benefícios desta potencial fonte ocorre por
meio das inovações organizacionais tais como escritórios de transferência de
tecnologia, instalações de incubadora e centros de pesquisa com participação
industrial. A mudança na ênfase da concentração na produção e disseminação de
conhecimento para a transferência de tecnologia e a formação de empresas coloca
a universidade em um novo alinhamento com o setor produtivo (Etzkowitz e
Leydesdorff, 1997).
Observa-se atualmente o encurtamento dos ciclos de desenvolvimento de
produtos que demonstra que o processo de inovação caminha cada vez mais “a
passos largos”. Neste contexto, empresas, que muitas vezes não têm conseguido
apenas com recursos internos acompanhar a evolução tecnológica, têm sentido a
necessidade de desenvolverem cooperação com a universidade (Santoro, 2000).
A percepção desses novos fatores fez com que alguns dos autores que
trabalham a temática dos convênios de cooperação tecnológica entre universidades
e empresas re-visitassem seus próprios conceitos. Tal esclarecimento permitiu
imergir o estudo da cooperação entre universidades e empresas não só dentro de
modelos tradicionais de cooperação no qual se fazem necessárias instituições de
37
intermediação, encarregadas de alinhavar objetivos distintos de universidades e
empresas, mas também, trabalhar em novas dimensões: do pesquisador
empreendedor que busca não somente a extensão do conhecimento, mas também,
a capitalização do mesmo, e ainda, lançar um olhar sob a perspectiva da
universidade enquanto agente de desenvolvimento econômico regional (Etzkowitz,
1998). Segundo Etzkowitz, dentro deste contexto, percebe-se desde empresas
informais a empresas formais, passando por spin-offs, empresas tradicionais com
P&D internalizado até às empresas tradicionais que agora buscam externalizar seu
P&D e se relacionarem com a universidade. E, do lado da universidade, vislumbram-
se ambas as possibilidades, tanto do pesquisador não empreendedor, bem como, do
pesquisador que busca a capitalização do conhecimento.
Segundo Cherubini (2006), predominantemente, a cooperação entre
universidades e empresas em todo o mundo se inicia através de conferências e
publicações ou através da prestação de consultoria por parte dos professores
universitários às empresas. Segundo o autor, as relações entre indivíduos requerem
bem menos esforço do que as relações entre instituições, além de no geral serem
mais estáveis (Cherubini, 2006). Além disso, as conferências e publicações são
formas mais baratas de se ter acesso ao conhecimento acadêmico.
A cooperação universidade-empresa pode se dar por meio de diferentes
mecanismos, dependendo principalmente de seus motivadores e dos recursos
disponíveis para tal. A seguir apresentamos os principais tipos de cooperação
encontrados na literatura:
38
2.3.1.1 Conferências e publicações
Troca de informações entre profissionais da academia ou da indústria que se
dá sem o estabelecimento de relações formais entre as instituições, e que acontece
através de apresentações em congressos profissionais, congressos técnicos,
congressos acadêmicos e através de publicações científicas e de negócios (Lee e
Win, 2004).
2.3.1.2 Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Prestação de serviços técnicos, aconselhamento e troca de informações
realizados por uma ou mais partes departamentos, institutos, centros de pesquisa,
entre outros das universidades. Geralmente há contratos, de curto prazo e
específicos, para formalizar a relação entre as instituições. Docentes e
pesquisadores podem ser contratados para prestar consultorias durante o tempo em
que é permitido que eles trabalhem em atividades externas (OECD, 1999).
2.3.1.3 Programa de Intercâmbio
Transferência de pessoas a fim de levar experiências e informações tanto da
indústria para a universidade quando da universidade para a indústria (Lee e Win,
2004). Segundo estes autores, para o uso adequado deste mecanismo, as
instituições devem aprovar as pessoas e os objetivos específicos do programa, a fim
de evitar os conflitos de interesses principalmente entre as pessoas.
39
2.3.1.4 Joint venture
6
de P&D
Contrato de pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre um centro de pesquisa da
universidade e uma empresa, ou grupo de empresas, no qual os custos associados
ao contrato são compartilhados conforme especificação. As duas partes envolvidas
podem trabalhar em conjunto desde o estágio de P&D até a comercialização. Deve
haver benefícios mútuos para empresas e universidades e os direitos associados ao
contrato devem estar comercialmente protegidos por um período de tempo. E deve
haver um balanceamento entre pesquisas de alto risco e longo prazo e pesquisas de
curto prazo que possam produzir resultados rapidamente (Moses, 1985).
2.3.1.5 Acordo de cooperação em P&D
Acordo entre os centros de pesquisa de uma ou mais universidades e uma ou
mais empresas no qual a universidade oferece pessoas, apoio administrativo ou
outros recursos, reembolsáveis ou não; a indústria oferece fundos, pessoas,
serviços, apoio administrativo, equipamentos e outros recursos a fim de conduzir
pesquisas específicas ou esforços de desenvolvimento consistentes com a missão
dos centros de pesquisa (Lee e Win, 2004).
2.3.1.6 Licenciamento
Transferência de direitos de propriedade intelectual da universidade para
terceiros que permite seu uso, exclusivo ou não, que é preferido pelas pequenas
6
Joint venture: consórcio ou entidade formada por duas ou mais partes para desenvolver uma
atividade econômica. Ambas as partes concordam em investir em conjunto, e compartilhar receitas,
despesas e o controle do empreendimento (Wikipedia, 2007).
40
empresas. Aquele que pretende adquirir estes direitos deve apresentar seu plano
para comercialização da invenção (Lee e Win, 2004).
2.3.1.7 Contrato de pesquisa
Contrato de cooperação entre um centro de pesquisa da universidade e uma
empresa a ser executado pelo centro de pesquisa. As empresas oferecem os fundos
necessários para a pesquisa e a universidade oferece seus melhores cérebros.
Contratos que costumam durar de alguns meses a alguns anos (NEDC, 1989).
Através deste contratos de pesquisa, as empresas visam utilizar o potencial único
dos centros de pesquisa em benefícios comerciais. Este é o tipo de cooperação
predominante nos casos estudados de cooperação entre a VALE e as
universidades.
2.3.1.8 Parques tecnológicos e incubadoras
Instalações em áreas específicas, normalmente próximas à universidade, onde
se instalam empresas de alta tecnologia que colaboram entre si e que recebem
assistência oficial durante seus primeiros estágios de desenvolvimento (Quintas et
al., 1992). Os principais fundos de financiamento destes mecanismos vêm de
empresas comerciais e os pesquisadores e empreendedores são oriundos tanto das
universidades quanto da indústria. É o tipo de mecanismo adotado especialmente
pelas empresas de alta de tecnologia.
41
2.3.1.9 Treinamento
Transferência de tecnologia e conhecimento através de treinamentos práticos
onde os estudantes são expostos a metodologias de trabalho requeridas pelas
indústrias. As competências das equipes em campos específicos de conhecimento
são desenvolvidas com treinamentos mais avançados. Treinamentos especiais
também são úteis para preparar os potenciais gestores das empresas em assuntos
de administração e negócios e os empregados em novas tecnologias (Gander,
1987). Muitos centros de pesquisas de universidades possuem programas de
treinamento para disseminar os resultados das pesquisas. É também uma maneira
de reduzir o risco dos centros de pesquisa que, às vezes, acompanha o
licenciamento e projetos de pesquisa.
42
2.3.2 Principais Motivadores para Cooperação U-E
As vantagens do processo de transferência de conhecimento nas cooperações
universidade-empresa caminham em ambos os sentidos, tanto da empresa para a
universidade, quanto da universidade para a empresa (Sanchez e Tejedor, 1995). As
pesquisas de Gonçalves Neto (1986) e Cherubini (2006) apresentam alguns dos
motivadores mais presentes na literatura para a cooperação universidade-empresa.
Segundo o trabalho destes autores os motivadores para as empresas seriam:
i) Acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados
(recrutamento), inclusive com treinamentos práticos ajustados às
necessidades da indústria;
ii) Acesso a uma grande variedade de treinamentos de pós-graduação,
onde os profissionais em treinamento já trazem experiência de
mercado, e onde a própria empresa ajuda a desenhar os cursos;
iii) Acesso à infra-estrutura da universidade e à expertise
7
de seu staff
8
;
iv) Acesso à pesquisa, consultoria, base de conhecimento da universidade;
v) Melhor imagem pública da empresa junto à comunidade, fazendo com
que mais estudantes talentosos serão atraídos para a sua indústria;
vi) Obtenção de conhecimento técnico;
vii) Obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis anteriormente ou
por outros meios;
7
Expertise: trata-se daquelas características, competências e conhecimentos de uma pessoa ou de
um sistema, que distingue os experientes (ou experts) dos novatos ou aqueles com menos
experiência (Wikipedia, 2007).
8
Staff: usado para se referir a um grupo de pessoas, como, por exemplo, empregados ou voluntários,
de uma mesma organização (Wikipedia, 2007).
43
viii) Acesso às fronteiras da ciência;
ix) Acesso às pesquisas científicas com viés preditivo;
x) Terceirização de atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D);
xi) Melhoria da qualidade de seus produtos ou serviços;
xii) Carência de recursos para execução de projetos;
xiii) Cortes de custos;
xiv) Acesso a novos mercados;
xv) Melhoria de eficiência operacional.
Para as universidades estas vantagens seriam:
i) Oportunidade de acesso às necessidades do Mercado;
ii) Oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da
comercialização de serviços (consultoria) e produtos com a tecnologia
desenvolvida no projeto;
iii) Oportunidade de oferecer experiências práticas aos seus estudantes na
indústria de modo que o aprendizado em sala de aula possa estar
relacionado a casos reais de empresas;
iv) Oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(novas idéias para dissertações de mestrado e teses de doutorado);
v) Acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso;
vi) Exposição ao ambiente de negócios;
vii) Melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias;
viii) Criação de valor social;
ix) Desenvolvimento de novos produtos e criação de spin-offs;
x) Acesso a recursos financeiros;
44
xi) Lançamento de patentes;
xii) Curiosidade científica.
2.3.3 Maiores Barreiras para Cooperação U-E
Segundo os estudos de Cherubini (2006), o aparentemente óbvio
relacionamento entre empresa e universidades, na prática, apresenta muitas
dificuldades ainda não superadas. As principais barreiras encontradas nas
pesquisas são:
i) Diferenças de objetivo principal;
ii) Diferenças de finalidade ou foco;
iii) Diferenças estruturais;
iv) Diferenças culturais;
v) Diferenças na natureza da investigação;
vi) Burocracia da empresa;
vii) Burocracia da universidade;
viii) Baixo grau de interdisciplinaridade;
ix) Pequeno tamanho de alguns laboratórios;
x) Inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos; e
xi) Diferenças em uma perspectiva cultural.
45
2.4 Processos de Cooperação Universidade-Empresa
Vimos anteriormente os principais tipos de cooperação encontrados na
literatura, assim como os principais motivadores para esta cooperação, verificando
que a cooperação universidade-empresa pode se dar por meio de diferentes
mecanismos. Torna-se relevante também, verificar como de fato se dá o processo
de cooperação, abordagem encontrada nas pesquisas de alguns autores.
As pesquisas de Ostrom et al. (1995) e Thompson et al. (2003) discutem os
benefícios, desafios e responsabilidades dos três parceiros de cooperação
universidade, comunidade e governo e os três estágios do processo de
cooperação entre eles iniciação, deliberação e implantação. Esta pesquisa foi
aplicada em um cenário do mundo real, onde as parcerias aconteciam para fomentar
ou suportar programas de desenvolvimento social em comunidades carentes dos
Estados Unidos.
Algumas pesquisas também descrevem processos de cooperação
universidade-empresa. Entre estas, a pesquisa de Gonçalves Neto (1986) descreve
o processo de cooperação entre universidades e empresas britânicas. O autor
propôs um modelo para este processo de cooperação, e por se tratar de um
processo muito semelhante, o modelo proposto pelo autor parece ser adequado
para utilizarmos na análise do programa “Convênios com Universidades” da VALE.
46
2.4.1 Modelo Conceitual para o Processo de Cooperação U-E
A pesquisa de Gonçalves Neto (1986) apresenta um modelo simples para o
processo de cooperação universidade-empresa. Segundo o modelo sugerido, as
idéias que se tornam projetos de cooperação podem ter origem tanto nas
universidades quanto nas empresas; tais idéias são avaliadas pelas empresas não
só sob a ótica comercial, mas também científica. Se as idéias têm valor comercial e
são cientificamente relevantes ou interessantes, então estas idéias deverão ser
consideradas pela empresa, isto é, as idéias se transformam em necessidades para
a empresa.
De acordo com o modelo proposto, a empresa então verifica se é possível
atender a estas necessidades com os seus recursos internos (não só pessoas, mas
também equipamentos e instalações), e verifica também quais as prioridades
atribuídas às novas necessidades. Dependendo destes dois fatores recursos
internos e prioridades serão tomadas as decisões de iniciar ou não projetos de
cooperação com universidades.
Para completar o processo sugerido pelo modelo, se a decisão for por iniciar
um projeto, então as idéias originais, assim como os fatores envolvidos na decisão
pela cooperação, são examinadas com maior detalhe; se a decisão final pela
cooperação universidade-empresa for positiva, então a empresa buscará os
recursos acadêmicos adequados àquele projeto e discutirá a forma de cooperação e
os termos do acordo.
47
Gonçalves Neto (1986) desenvolveu este modelo para representar o processo
de decisão que leva à cooperação entre universidades e empresas. O modelo é
apresentado em forma de diagrama na figura 2, e será descrito com maiores
detalhes a seguir. O autor desta pesquisa espera que, a exemplo do que fez
Gonçalves Neto (1986), este modelo seja de considerável ajuda na análise dos dez
casos de cooperação entre a VALE e diferentes universidades.
Figura 02: Modelo do processo de cooperação U-E
Fonte: Gonçalves Neto (1986)
48
2.4.1.1 Origem das Idéias
Como mencionado anteriormente, as idéias de projetos de cooperação podem
ser originadas tanto nas empresas quanto nas universidades. Estas idéias que vêm
das empresas podem vir, ocasionalmente, de áreas operacionais da empresa, mas
na maioria das vezes, elas surgem do desdobramento de uma pesquisa que se
iniciou internamente (Gonçalves Neto, 1986). Ainda segundo este autor, as idéias
que nascem nas universidades são, geralmente, a continuação de algum projeto
acadêmico que o próprio acadêmico tem interesse em vê-lo se transformar numa
aplicação prática, e, em alguns casos, idéias nascem de visitas às empresas.
2.4.1.2 Análise Inicial
A primeira análise feita pela empresa (ou seu departamento de P&D) trata do
entendimento da viabilidade técnica ou científica da idéia, assim como a verificação
de seu valor comercial. Esta análise normalmente envolve uma equipe técnica e
uma equipe de gestão, e não é necessariamente um exercício exaustivo, o objetivo
é analisar a idéia frente a outras iniciativas e programas de pesquisa da empresa
(Gonçalves Neto, 1986).
2.4.1.3 Análise de Recursos
Se a idéia tem valor comercial e tem significância técnica, o próximo passo é
verificar se há recursos internos (pessoas e infra-estrutura) que possam ser
utilizados para implementar a idéia. O papel desta análise na decisão por cooperar
não é tão simples quanto pode parecer (Gonçalves Neto, 1986). Segundo o autor,
49
embora possa haver recursos disponíveis, eles podem ser necessários como
recursos para outras iniciativas que tenham maior prioridade, isto é, a análise dos
recursos internos não é uma questão apenas de existência, mas também de
disponibilidade.
Além disso, a ausência de recursos também não é por si só um indicador de
que a cooperação com universidades é a melhor alternativa: sem um mínimo de
expertise interno, a empresa não será capaz de absorver qualquer conhecimento,
tampouco passar para a universidade as informações do negócio necessárias para a
execução do projeto (Gonçalves Neto, 1986).
2.4.1.4 Prioridade
Uma vez que, do ponto de vista de recursos, a cooperação parece ser a melhor
alternativa, é necessário confrontar estas idéias com outras que já existam ou com
iniciativas dos departamentos de P&D (Gonçalves Neto, 1986). Segundo o autor,
prioridade tem mais a ver com o valor comercial da idéia, mas não apenas, pois
deve-se considerar também o alinhamento com outros interesses como os objetivos
estratégicos da empresa.
Para Gonçalves Neto (1986), as empresas preferem projetos de cooperação
com universidades quando a prioridade do projeto é baixa. Além disso, segundo o
autor, esta decisão leva também em consideração o risco científico do projeto uma
vez que as universidades estão mais preparadas para lidar com idéias que tratem de
fronteiras do conhecimento, e, ainda, o interesse acadêmico no projeto uma vez que
50
a empresa acredita que a comunidade acadêmica é mais entusiasmada com
projetos que promovam oportunidades como a publicação de artigos e a oferta de
estudos de casos para o ensino.
2.4.1.5 Motivadores para Cooperação
O terceiro conjunto de fatores importantes para a cooperação são os
motivadores para a cooperação, que são aqueles fatores que não estão
relacionados à cooperação universidade-empresa especificamente, mas que afetam
a decisão pela cooperação, isto é, são fatores que fazem da cooperação
universidade-empresa uma “boa coisa a ser feita” (Gonçalves Neto, 1986). Na seção
2.3.2 foram apresentados os principais motivadores na empresa para cooperação
universidade-empresa encontrados na literatura.
2.4.1.6 Recursos Acadêmicos
Quando as idéias surgem nas universidades, é possível esperar que os
acadêmicos certos para executar aquele projeto já sejam conhecidos. Mas quando a
idéia surge na empresa, Gonçalves Neto (1986) ainda sugere em seu modelo que
ainda há mais uma etapa importante antes de se decidir pela cooperação: encontrar
os recursos acadêmicos adequados para aquele projeto. Esta procura, segundo o
autor, é normalmente feita através da própria rede de relacionamento dos
profissionais da empresa, mas, em alguns casos, recorre-se aos escritórios que as
próprias universidades costumam ter com o propósito de tratar as parcerias de
cooperação com empresas. Aliás, é importante ressaltar que Gonçalves Neto (1986)
51
destaca, em sua pesquisa, os escritórios das universidades que funcionam como
intermediários na cooperação entre as universidades e as empresas.
2.4.1.7 Participação Acadêmica
A participação acadêmica no processo de decisão pelo projeto de cooperação
até este ponto é muito pequena, só então os acadêmicos são perguntados sobre o
interesse pela oportunidade de cooperação (Gonçalves Neto, 1986). Esta análise
por parte dos acadêmicos, segundo o autor, se resume a análise dos benefícios que
a cooperação pode trazer para a universidade. Na seção 2.3.2 foram apresentados
os principais motivadores nas universidades para cooperação universidade-empresa
encontrados na literatura.
2.4.1.8 Projeto de Cooperação Universidade-Empresa
Finalmente, segundo o modelo sugerido por Gonçalves Neto (1986), o estágio
de decisão pode ser visto como um processo bem estruturado, e todos os aspectos
acima parecem contribuir com a decisão. No entanto, circunstâncias particulares
fazem com que, às vezes, algum destes fatores tenha muito maior influência na
decisão que os demais, alterando inclusive a seqüência de decisões do processo.
52
2.5 Resumo da Revisão Bibliográfica
O processo de análise dos resultados da pesquisa vide metodologia mais
adiante inclui o entendimento do significado de cada entrevista, apontando pontos
que chamaram a atenção e, por fim, atribuindo a cada categoria levantada na
revisão bibliográfica os dados encontrados nas entrevistas. Por isso, apresentamos
no quadro abaixo um resumo da revisão bibliográfica para posterior referência na
análise dos resultados vide quadro 1.
Quadro 01: Resumo da Revisão Bibliográfica
Categorias Autores
Alianças Estratégicas
Drucker (1996)
Elmuti et al. (2005)
Wheelen e Hunger (2004)
As Revoluções Acadêmicas e a
Universidade Brasileira
Gonçalves Neto (1986)
Etzkowitz (1998)
Etzkowitz (2004)
Etzkowitz, Mello e Almeida (2005)
Noveli e Segatto (2006)
Os Tipos de Cooperação entre
Universidades e Empresas
Edquist (1997)
Adeoti (2002 e 2005)
Lall (1997)
Sanchez e Tejedor (1995)
Cherubini (2006)
Lee e Win (2004)
Os Principais Motivadores para
Cooperação
Gonçalves Neto (1986)
Sanchez e Tejedor (1995)
Cherubini (2006)
As Maiores Barreiras para Cooperação Cherubini (2006)
Modelo Conceitual para o Processo
de Cooperação U-E
Gonçalves Neto (1986)
53
A descrição dos casos de cooperação da pesquisa de Gonçalves Neto (1986)
se dá conforme um novo conjunto de categorias de análise dos resultados,
inspiradas no modelo sugerido pelo autor apresentado na seção 2.4.1. Os casos
estudados do programa “Convênios com Universidades” são descritos com a mesma
estruturação; estas novas categorias estão apresentadas a seguir no quadro 2.
Quadro 02: Categorias para Análise dos Casos Estudados
Categorias Observações
Contexto do projeto
Qual o assunto do projeto e quais as áreas (da
empresa e da universidade) envolvidas
Qual a idéia que originou o projeto e de onde
surgiu esta idéia
Como é o contrato de cooperação
Natureza do projeto
Como foram realizadas a análise inicial e a
análise de recursos
Qual o grau de risco (complexidade do projeto e
significância do investimento) do projeto para a
empresa e para as universidades
Qual a importância do projeto para a empresa e
para as universidades
Qual o tipo de cooperação U-E
Urgência do projeto
Qual a prioridade do projeto para a empresa e
para as universidades
Motivadores para cooperação
Quais os motivadores para a cooperação para a
empresa e para as universidades
Equipe do projeto
Quais as características das equipes (e demais
recursos, se for o caso) do projeto pela empresa
e pelas universidades
As principais características de cada categoria apresentada no quadro 2 estão
descritas na coluna observações. Os quadros seguintes contêm os valores
encontrados na literatura para algumas das categorias apresentadas nos quadros
acima e são adaptações dos quadros apresentados pelos diversos autores
54
envolvidos na revisão de literatura. Estes valores contribuem com a análise dos
resultados da pesquisa uma vez que os dados encontrados nas entrevistas serão
confrontados com a literatura.
Quadro 03: Tipos de Cooperação U-E
Tipos de cooperação
Conferências e publicações
Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Programa de Intercâmbio
Joint venture de P&D
Acordo de cooperação em P&D
Licenciamento
Contrato de pesquisa
Parques tecnológicos e incubadoras
Treinamento
Quadro 04: Principais Motivadores da Empresa para a Cooperação
Motivadores
Acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados, inclusive
com treinamentos práticos ajustados às necessidades da indústria
Acesso a uma grande variedade de treinamentos de pós-graduação,
onde os profissionais em treinamento já trazem experiência de
mercado, e onde a própria empresa ajuda a desenhar os cursos
Acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu
staff
Acesso à pesquisa, consultoria e dados da base de conhecimento da
universidade
Melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela
atua, fazendo com que mais estudantes talentosos serão atraídos
para a sua indústria
Obtenção de conhecimento técnico
Obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis anteriormente ou
por outros meios
55
Motivadores
Acesso às fronteiras da ciência
Acesso às pesquisas científicas com viés preditivo
Terceirização de atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)
Melhoria da qualidade
Carência de recursos para execução de projetos
Cortes de custos
Acesso a novos mercados
Melhoria de eficiência operacional
Quadro 05: Principais Motivadores da Universidade para Cooperação
Motivadores
Oportunidade de acesso às necessidades do Mercado
Oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da
comercialização de serviços (consultoria) e produtos com a tecnologia
desenvolvida no projeto
Oportunidade de oferecer experiências práticas aos seus estudantes
na indústria de modo que o aprendizado em sala de aula possa estar
relacionado a casos reais de empresas
Oferecer acesso da indústria tanto à ciência básica quanto a
pesquisas aplicadas
Acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso
Exposição ao ambiente de negócios
Melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias
Criação de valor social
Desenvolvimento de novos produtos e criação de spin-offs
Acesso a recursos financeiros
Lançamento de patentes
Curiosidade científica
56
Quadro 06: Maiores Barreiras para a Cooperação
Barreiras
Diferenças de objetivo principal
Diferenças de finalidade ou foco
Diferenças estruturais
Diferenças culturais
Diferenças na natureza da investigação
Burocracia da empresa
Burocracia da universidade
Baixo grau de interdisciplinaridade
Pequeno tamanho de alguns laboratórios
Inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos
Diferenças em uma perspectiva cultural
O resumo da revisão bibliográfica e os quadros apresentados, assim como o
modelo de referência apresentado, foram utilizados como referencial para
construção dos roteiros de entrevistas apresentados no Anexo I itens A e B.
57
3 Metodologia
O estudo se baseou na metodologia de estudo de casos múltiplos, de natureza
exploratória e qualitativa, e teve como instrumento de coleta de dados, roteiros de
entrevista semi-estruturados e dados documentais. Utilizou-se análise de conteúdo
dos dados obtidos nas entrevistas, bem como análise documental dos dados
secundários e desenvolveu-se a síntese de cruzamento dos casos. A pesquisa de
campo foi realizada com empregados da Companhia Vale do Rio Doce (VALE) e
pesquisadores das universidades envolvidas nos casos estudados UFPA
(Universidade Federal do Pará), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), USP (Universidade de São Paulo) e
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e compreendeu a seleção de dez
convênios da empresa com universidades cujos resumos estão apresentados no
Anexo II da pesquisa.
3.1 Tipo de Pesquisa
O método escolhido para conduzir o presente trabalho foi o da pesquisa
qualitativa. A pesquisa qualitativa é, de acordo com Goodyear (2000):
i) uma tentativa de capturar o sentido que reside internamente e que
estrutura o que dizemos sobre o que fazemos;
ii) uma exploração, uma elaboração e uma sistematização do significado
de um fenômeno identificado;
58
iii) uma representação que clarifica o significado de uma questão ou
problema delimitado.
Creswell (2003) explica a abordagem qualitativa como emergente,
interpretativa, interativa e normalmente realizada através de observações ou
entrevistas com questões abertas, no local de trabalho ou residência do
entrevistado.
Apesar da diversidade de abordagens, encontram-se alguns pontos comuns
entre as pesquisas qualitativas normalmente realizadas (Goodyear, 2000):
i) o uso de pequenas amostragens, não sendo incomum amostras
inferiores a 20 entrevistados;
ii) as amostragens não probabilísticas, sendo o resultado desprovido de
confiabilidade de estatística;
iii) as entrevistas não direcionadas, sendo a discussão de grupo e a
entrevista em profundidade os seus métodos fundamentais de coleta de
dados;
iv) o pesquisador participante, uma tendência abertamente reconhecida na
pesquisa qualitativa, na qual os pesquisadores são parte dos dados;
v) os dados acessíveis, já que o uso de linguagem cotidiana torna as
pesquisas qualitativas mais acessíveis aos não-pesquisadores do que
as pesquisas quantitativas.
59
Mas para a classificação do tipo de pesquisa a ser realizada, também será
utilizada a taxionomia de Vergara (2006), que a classifica quanto aos fins e quanto
aos meios. Quanto a seus fins, este estudo pode ser entendido como:
i) uma pesquisa exploratória: na medida em que será realizada em uma
área em que ainda não há grande conhecimento acumulado e
sistematizado. Sendo assim, este trabalho não apresenta hipóteses,
sendo as conclusões esperadas para o final da pesquisa;
ii) uma pesquisa descritiva: uma vez que expõe características de uma
determinada empresa e seus empregados, sem necessariamente tentar
explicar os seus fenômenos.
Quanto aos meios investigativos, o presente trabalho pode ser entendido como:
i) um estudo de caso: circunscrito a uma única empresa que será
estudada em profundidade e detalhamento;
ii) uma pesquisa de campo: já que será realizado no ambiente da
empresa e universidades, onde serão realizadas as entrevistas com
objetivo de compreensão da cultura, práticas e valores organizacionais;
iii) uma pesquisa bibliográfica: já que faz uso na fundamentação teórica
e na descrição da empresa de materiais publicados em livros,
dissertações, teses, revistas, jornais e Internet.
60
3.2 Universo, Amostra e Seleção de Sujeitos
A definição do universo de pesquisa determina o conjunto de elementos
(empresas ou projetos ou pessoas, por exemplo) que possuem características que
serão objeto de estudo (Vergara, 2006). O estudo foi realizado em uma única
empresa: a Companhia Vale do Rio Doce (VALE) empresa brasileira com
presença global, segunda maior mineradora diversificada do mundo (DNPM, 2007),
com sede no Rio de Janeiro e com operações nas mais diversas localidades do
Brasil e do mundo, embora predominantemente nos estados de Minas Gerais e
Pará; e o universo do estudo proposto é constituída da carteira de projetos de
cooperação tecnológica do programa corporativo chamado “Convênios com
Universidades”. Este programa conta atualmente com quarenta e três projetos em
sua carteira.
A empresa foi escolhida tendo em vista:
i) o acesso do autor da pesquisa aos diretores da empresa;
ii) o acesso do pesquisador aos envolvidos nos convênios com
universidades;
iii) o reconhecimento público da contribuição econômica e social do
trabalho que é realizado pela companhia. A empresa acumula diversos
prêmios de desempenho corporativo e relacionamento com a
comunidade.
61
Quanto à amostra, trata-se de uma parte deste universo, escolhida de acordo
com algum critério de representatividade (Vergara, 2006). A amostra pesquisada é
de dez projetos de cooperação tecnológica escolhidos dentre o universo de 43
projetos. Para a seleção da amostra foram utilizados os seguintes critérios:
i) Estarem entre os maiores convênios em valor financeiro;
ii) Serem projetos recentes (ainda em andamento, ou finalizado a partir do
ano de 2005);
iii) Possuírem temas distintos;
iv) Haver no máximo três projetos de uma mesma universidade;
v) Haver pelo menos dois projetos da Região Norte ou Nordeste do país,
onde se concentram algumas operações da empresa;
vi) Haver meios viáveis (entrevista presencial ou por telefone) de contatar
pelo menos um dos principais envolvidos no projeto (ou o envolvido da
empresa, ou o da universidade, ou ambos).
Diante do critério de diversidade regional escolhido acima, as universidades
envolvidas com os projetos da amostra foram UFPA, UFRJ, UFOP, USP e UFMG.
No que tange a seleção de sujeitos para o processo de pesquisa, algumas
escolhas foram feitas pelo pesquisador (delimitando os diferentes atores envolvidos
nos convênios selecionados, de forma a aproveitar ao máximo seus conhecimentos)
e outras foram sugeridas pelo coordenador do programa. Para cada um dos dez
projetos selecionados para amostra foram escolhidos: um envolvido no projeto pela
empresa, sendo este o ponto focal do projeto na empresa; e um envolvido no
projeto pela universidade, normalmente o principal pesquisador ou líder da
62
equipe de pesquisa do projeto. Diante da oportunidade e da relevância foram
entrevistados também: o coordenador do programa “Convênios com Universidades”;
e o executivo responsável pelo programa.
Foram realizadas vinte e duas entrevistas, pessoalmente ou por telefone,
envolvendo visitas aos escritórios de Belo Horizonte e São Luís da VALE, e aos
campi das universidades envolvidas.
3.3 Coleta de dados
Para este trabalho, cuja primeira etapa foi de investigação documental, foram
pesquisados o website corporativo, as matérias publicadas pela mídia (jornais e
revistas) e os press-releases divulgados à imprensa nos últimos cinco anos.
Posteriormente conduziu-se uma pesquisa de campo, caracterizada por uma
abordagem qualitativa. Foram realizadas, pessoalmente ou por telefone, no próprio
local de trabalho dos entrevistados, vinte e duas entrevistas, que seguiram pautas
semi-estruturadas de forma a capturar aspectos que surgissem naturalmente e a
reduzir a interferência do pesquisador no levantamento das questões relevantes da
perspectiva dos próprios entrevistados.
As entrevistas foram individuais, ocorreram nos meses de março, abril e maio
de 2007, e tiveram duração aproximada de sessenta minutos. As entrevistas não
foram gravadas, pois esta foi uma condição imposta pela empresa para autorizar as
entrevistas com os seus empregados. Os registros das entrevistas foram realizados
por meio de anotações feitas pelo entrevistador. Os nomes dos entrevistados foram
63
omitidos (nos resumos dos casos são apresentadas apenas algumas iniciais dos
entrevistados para orientação e referência do autor da pesquisa) e a
confidencialidade assegurada ao início de cada conversa. Nestas entrevistas,
procurou-se adotar um estilo clínico e não-diretivo (Goodyear, 2000), na medida em
que o entrevistador tentou minimizar sua presença e impacto sobre o respondente.
Nesta abordagem, as regras básicas propostas por Goodyear (2000) foram
seguidas: não foram feitas perguntas que sugerissem respostas; não foram feitas
perguntas ambíguas; não foram atribuídos acertos ou erros às respostas; não foi
emitida opinião por parte do entrevistador.
3.3.1 Roteiros de Entrevista
Conforme já mencionado, os dados foram coletados através de entrevistas
individuais. Para a realização das entrevistas, foram utilizados dois roteiros semi-
estruturados (Anexo I itens A e B) em forma de questionários, elaborados para dar
suporte ao entrevistador e de modo a cobrir os pontos relacionados ao referencial
teórico e às perguntas da pesquisa.
Ambos os roteiros apresentam as questões necessárias ao mapeamento dos
tipos de interação entre a empresa pesquisada e as universidades envolvidas além
dos principais motivadores e maiores barreiras de acordo com os conceitos
levantados na revisão bibliográfica. As diferenças entre os itens A e B surgiram da
necessidade de adaptar o questionário quando o entrevistado era um empregado ou
prestador de serviços da VALE ou um professor, pesquisador ou aluno de uma das
universidades envolvidas.
64
3.4 Metodologia para Análise de Resultados
As premissas propostas por Creswell (2000) em seu trabalho de metodologia
da pesquisa são referências para este estudo de caso. Segundo o autor, o
pesquisador deve: manter sempre o senso do todo, lendo todas as anotações feitas
durante as entrevistas cuidadosamente; entender o significado de cada entrevista,
apontando pontos que chamaram a atenção; e, por fim, atribuir a cada categoria
levantada na revisão bibliográfica os dados encontrados nas entrevistas.
A documentação e a análise do conteúdo dos dez projetos que compuseram os
estudos de caso da pesquisa foram realizadas seguindo a metodologia desenvolvida
por Gonçalves Neto (1986) e apresentada na revisão de literatura desta pesquisa.
As categorias para análise adicionadas à pesquisa segundo esta metodologia
incluem: contexto do projeto, natureza do projeto, urgência do projeto, motivadores
para cooperação, e equipe do projeto.
Importante mencionar que, não houve uma etapa quantitativa em nossa análise
e, conseqüentemente, nenhum tratamento estatístico para ser feito com os dados
levantados. Apresentamos, entretanto, tabelas com o conteúdo das entrevistas
realizadas, resultado do uso da metodologia descrita acima.
65
3.5 Limitações do Método
Todo método de pesquisa possui vantagens e desvantagens, pontos fortes e
fracos. Portanto, a metodologia qualitativa utilizada apresenta fragilidades em
algumas etapas, mas também justificativas para seu uso, características que
precisam ser levantadas e, na medida do possível, contornadas pelo pesquisador.
Para Creswell (2003), as entrevistas em profundidade apresentam vantagens
os participantes podem fornecer informações históricas sobre o tema investigado e o
pesquisador pode conduzir a entrevista, controlando o levantamento das
informações mas também apresentam algumas desvantagens:
i) As informações podem ser filtradas através da visão do entrevistador;
ii) A presença do entrevistador pode gerar viés às respostas;
iii) As pessoas não são igualmente articuladas e perceptivas, sendo a
performance em entrevistas distinta a cada entrevistado.
Para Blake e Mouton (1982), Bass (1990) e Aaker, Kumar e Day (1998), apud
Hilal (2002), tratam-se de limitações da pesquisa qualitativa:
i) As entrevistas semi-estruturadas requerem habilidade por parte do
entrevistador para estabelecer empatia e credibilidade com o
entrevistado;
ii) As entrevistas estruturadas podem apresentar problemas quanto ao
registro das informações fornecidas pelos respondentes,
66
especificamente no caso em que as entrevistas não podem ser
gravadas;
iii) Quanto às pesquisas qualitativas em geral, os resultados de pequenas
amostras podem não ser representativos da população como um todo;
iv) Tipicamente, as pesquisas qualitativas contêm uma considerável dose
de ambigüidade nos seus resultados, permitindo interpretações
subjetivas por parte do pesquisador;
v) Por não existir um sistema de comunicação validado consensualmente,
os resultados da análise podem ser desvirtuados pelas próprias
concepções do pesquisador;
vi) O pesquisador acaba por ter de utilizar-se de sua intuição e experiência
para trazer à tona informações e dimensões vitais;
vii) As atitudes do entrevistador durante a entrevista podem influenciar os
resultados.
Mas torna-se necessário, fazer algumas outras ressalvas e considerações em
relação a este estudo de forma genérica:
i) Quanto maior o envolvimento e participação maior é a oportunidade de
enriquecimento do estudo. Em decorrência de uma limitação de tempo,
e dada à complexidade da tarefa de mapeamento, este estudo não se
propõe a esgotar a análise dos convênios com universidades da
empresa pesquisada, que está permanentemente em evolução;
ii) Este estudo pode ser replicado, mas há uma dificuldade de
generalização, já que não podermos afirmar que os resultados desta
67
pesquisa valem para outras organizações (ou mesmo para esta
organização em um outro momento histórico) já que se trata de um
estudo de caso, com foco em uma única empresa, em um dado período
de tempo;
iii) A escolha da amostra e dos sujeitos, mesmo que considerando
pessoas de diferentes níveis hierárquicos, tempo de empresa, formação
e área de atuação, pode não representar o todo, ou seja, a amostra não
tem confiabilidade estatística e, portanto os resultados deste trabalho
não podem ser estendidos;
iv) Não existe um sistema (ou framework) para o tema pesquisado que
agrupe os diversos aspectos e conceitos enfatizados nas diversas
perspectivas em pesquisa organizacional. Desta forma, o pesquisador
precisa escolher um único arcabouço teórico que melhor se aplique ao
seu trabalho ou fazer uso dos diversos inputs para construção de sua
própria abordagem;
v) O pesquisador precisa estar permanentemente cuidadoso, já que a sua
interpretação tem forte influência sobre os resultados do trabalho, assim
como sua percepção sobre cada entrevista e as conseqüentes
categorias selecionadas. O pesquisador precisa manter-se aberto a
todas as informações que apareçam, procurando não deixar que o seu
próprio sistema de referência direcione os resultados de sua pesquisa;
vi) Além disso, as conclusões não podem ser diretamente aplicadas a
outras empresas.
68
Por fim, consideradas as limitações do método, a utilização da metodologia
qualitativa neste trabalho tem sua justificativa fundamentada em Newsted et al.
(1988, apud Hilal, 2002):
i) Facilidade de aplicação;
ii) Simplicidade para codificar e obter resultados;
iii) Possibilidade de generalização das respostas a outros membros da
população estudada;
iv) Maior facilidade de comparação de respostas e tendências.
Sendo assim, podemos dizer que apesar das limitações e ressalvas inerentes
ao estudo, o método capturou a realidade da empresa, de acordo com o objetivo
inicial.
69
4 A Companhia Vale do Rio Doce
4.1 O Setor da Mineração no Brasil
A Mineração foi reconhecida pelo governo federal como um dos três pilares
de sustentação do desenvolvimento do País, com objetivos estratégicos bem
definidos, sempre norteados pelas dimensões democráticas, econômica, social,
ambiental e do desenvolvimento regional integrado e sustentável, particularmente
com relação à diminuição da vulnerabilidade externa da nossa economia conforme
publicado pela DIDEM (2007).
Segundo este informe, os indicadores de desempenho do Programa
Mineração e Desenvolvimento Sustentável, apontam resultados excepcionais da
Indústria Extrativa Mineral, haja vista que os índices apurados pelo IBGE
alcançaram uma variação positiva da ordem de 9,78% (2005) e 5,95% em 2006,
bem superiores ao PIB nacional que ficaram na casa de 2,94% (2005) e 3,7% em
2006. O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado pelo Governo
Federal no início de 2007 prevê investimentos públicos e privados da ordem de R$
503,9 bilhões, até 2010, sobretudo na melhoria e aumento da eficiência logística (R$
58,3 bi), social e urbana (R$ 173,8 bi) e energética (R$ 274,8 bi) que certamente
ensejará uma nova onda de oportunidades de investimentos em mineração no
Brasil. Assim é previsto que parte expressiva desses investimentos em infra-
estrutura (rodovias, ferrovias, portos) e saneamento básico, tenha como maior
beneficiária a Indústria de Construção Civil.
70
Ainda segundo esta publicação, é nesse ambiente de retomada do
crescimento sustentável do Brasil, que se discute a definição dos objetivos setoriais,
visando a construção do novo Plano Plurianual de Investimentos, voltados para
geologia e mineração. Este setor, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, tem
se esforçado na avaliação do desempenho da política mineral e na identificação de
demandas do setor produtivo e da sociedade, buscando hierarquizar prioridades e
projetá-las na definição de Programas Setoriais e Ações executivas. Desta forma, o
DNPM deverá manter as Ações relacionadas às atribuições cartoriais da Autarquia,
e ainda promover uma inovação com a definição de outras ações voltadas ao
fomento, ao extensionismo mineral para o pequeno produtor e à inserção do Setor
Mineral no modelo de desenvolvimento econômico vigente no País.
A sobrevivência dos empreendimentos de mineração, no desafiador cenário
da competitividade global na atualidade, exige dos tomadores de decisões a
definição de objetivos, no exercício de planejamento estratégico, em permanente
atenção aos grandes movimentos de mercado. Saber aproveitar as oportunidades
de negócios, em particular no atual momento de boom da Economia Mineral
Mundial, é uma tarefa da maior relevância, seja para os gestores públicos, seja para
os executivos da iniciativa privada.
4.2 A Empresa Estudada
A Companhia Vale do Rio Doce (VALE) destaca-se no cenário nacional e
internacional, tendo sido protagonista da maior aquisição já feita por uma empresa
privada da América Latina, quando comprou a empresa canadense Inco por US$
71
17,7 bilhões, conforme citado anteriormente, e de acordo com relatório do
Departamento de Relações com Investidores divulgado para o Mercado. Os
relatórios divulgados pelo Departamento de Relações com Investidores informam
que a VALE ocupa a posição de maior empresa privada do País em valor de
mercado, ultrapassando o valor de US$ 100 bilhões em 1
o
de agosto de 2007,
ficando atrás, no cenário nacional, da Petrobrás, empresa de economia mista
(pública e privada).
Além disso, a empresa passou a ocupar a posição de segunda maior
empresa de mineração do mundo, atrás apenas da empresa anglo-australiana BHP
Billiton, após a aquisição da empresa canadense Inco, segundo o guia de
investimento da DNPM (2007).
A fim de alcançar estes resultados de destaque a empresa põe em prática
alguns processos de gestão, com destaque para a Gestão da Inovação. Em edição
recente do Jornal Vale, ferramenta de comunicação interna e externa da empresa,
foi publicados uma matéria com o tema Gestão da Inovação.
“A Gestão da Inovação na VALE é tratada com
prioridade e as iniciativas apresentadas a seguir
mostram qual é o Valor das Inovações para a empresa:
por trás de novidades tecnológicas, estudos,
criatividade e proteção ao capital intelectual. De que
forma a tecnologia é utilizado para alavancar novo
projeto mineral? A resposta está no trabalho elaborado
72
pela área de Desenvolvimento e Tecnologia que realiza
parcerias com centros de pesquisa e universidades,
identifica tendências e oportunidades tecnológicas no
mercado global, busca a proteção de suas invenções
por meio do registro de patentes, além de promover a
capacitação contínua da equipe em parceria com a
Valer”.
A empresa possui grandes parcerias em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),
possuindo um departamento cuja missão está diretamente associada a isso, o
Departamento de Desenvolvimento de Projetos Minerais. Estas parcerias,
apresentadas no Plano Diretor de Tecnologia (PDTec) da tecnologia, são
estabelecidas com grandes centros de pesquisa e importantes universidades.
Para garantir a difusão do conhecimento são realizados grandes
investimentos em capacitação treinamentos técnicos, participação em seminários,
cursos de pós-graduação de curto e longo prazos, etc. e em programas de Gestão
do Conhecimento através da universidade corporativa, a Valer.
“As Instituições Parceiras são fundamentais neste
processo, são firmados convênios com instituições de
pesquisa e universidades... destaques do evento
ficaram por conta da troca de idéias entre os
coordenadores dos Departamentos de Engenharia de
Minas, Metalurgia e Química da UFMG e a equipe
73
técnica da VALE, que resultaram na identificação de
possíveis projetos de pesquisa tecnológica de longo
prazo. ‘Esperamos estimular pesquisas de mestrado e
doutorado relativas à Tecnologia Mineral que
representem desafios para as próximas gerações’,
afirma Maria Cristina”.
O valor das inovações aparece de maneira clara na visão da empresa: “Ser a
maior empresa de mineração do mundo e superar os padrões consagrados de
excelência em pesquisa, desenvolvimento, implantação de projetos e operação
de seus negócios”.
Além das parcerias realizadas pelos departamentos de P&D da empresa, foi
criado o programa “Convênios com Universidades”, através do qual qualquer idéia
de um empregado pode ser fomentada através de convênios já estabelecidos com
as principais universidades do país. A coordenação deste programa é
responsabilidade do Departamento de Acompanhamento e Gestão de Ferrosos e
pode ser utilizado por todas as áreas de negócios da empresa. Para alcançar os
objetivos desta pesquisa foi realizada a identificação e a análise de dez projetos
deste programa.
74
4.3 Os Casos Estudados
Apresentamos a seguir um resumo de todos os dez projetos deste programa
que serviram como casos para esta pesquisa. Os detalhamentos de cada um dos
casos são apresentados no Anexo II deste trabalho.
Caso 1: Avaliação da Integridade Estrutural de Pontes e Viadutos (UFPA)
Diante do aumento da demanda por transporte ferroviário para suportar as
operações da empresa na região norte do país, um dos desafios das equipes de
engenharia é dimensionar os custos das obras de expansão de infra-estrutura de
ferrovias. O projeto trata da realização da avaliação estrutural das quarenta e cinco
pontes e oito viadutos ferroviários da Estrada de Ferro Carajás e do
desenvolvimento de uma metodologia de avaliação de pontes e viadutos.
Caso 2: Modelagem Numérica e Inversão de Dados Tensoriais (UFRJ)
A atividade de exploração geofísica normalmente demanda alguma incerteza e
grandes investimentos. Novas técnicas e ferramentas podem significar um fator
decisivo na identificação de alvos de pesquisa, reduzindo riscos sem adicionar altos
custos, e aumentando a eficiência de programas de sondagem exploratória. O
projeto trata da proposição de novas técnicas e ferramentas computacionais para
programas de sondagem exploratórios.
75
Caso 3: Modelamento Geológico Estrutural de Depósito Ferrífero (UFOP)
Os estudos de Geologia, de Geotecnia e de Planejamento de Lavra de Curto Prazo
e de Longo Prazo são subsidiados pelo modelamento geológico de depósitos de
minério de ferro. O projeto trata do modelamento geológico estrutural dos depósitos
ferríferos de Brucutu e Dois Irmãos e da elaboração de um banco de dados
contendo as coordenadas geográficas das estações, as medidas de contatos
geológicos e os elementos estruturais relevantes para o condicionamento da
geometria destes depósitos.
Caso 4: Estudo de Lastro de Ferrovia com Escória (UFOP)
Nas operações ferroviárias as sinalizações para o uso adequado de desvios e para
evitar desastres são feitas através de circuitos elétricos instalados nas vias. Uma das
causas de falhas neste sistema de sinalização é a condução elétrica pela escória
que serve de lastro nas ferrovias, principalmente quando chove, causando a
emissão de falsos alertas. O projeto trata da determinação quantitativa e qualitativa
da composição química da escória, realização de ensaios de laboratório e de
campo, e verificação e monitoramento de seu comportamento e desempenho.
76
Caso 5: Estudo de Processo Biológico para Redução de Sulfato (UFOP)
A remoção de sulfato é um problema real para as empresas que necessitam
adequarem seus efluentes aos padrões ambientais vigentes. Os métodos
tradicionais de remoção de sulfato apresentam sérios problemas: a utilização de
metais pesados contaminantes e poluentes. O projeto de pesquisa visa dar
continuidade aos estudos realizados em reatores anaeróbios utilizando as bactérias
redutoras de sulfato (BRS), alternativa mais promissora para tratamento de efluentes
industriais e de soluções sintéticas.
Caso 6: Estudo de Modelação de Complexo Portuário (USP)
O desenvolvimento da região Norte como pólo exportador passa pela necessidade
de expansão dos portos locais. Destacam-se nesse cenário os terminais marítimos
maranhenses responsáveis por parte significativa dos embarques na região. O
projeto trata dos estudos de modelagem necessários para o planejamento da
ampliação do Terminal Marítimo da Ponta da Madeira, em São Luís, e também para
os estudos de viabilidade para construção de novos portos.
77
Caso 7: Desenvolvimento de Simulador Ferroviário (USP)
A formação de mão-de-obra especializada é um dos pontos-chave para o
desenvolvimento da infra-estrutura logística para suportar a expansão dos negócios
do país. Uma destas demandas por especialização envolve os maquinistas que
operam as estradas de ferro da empresa. O projeto trata do desenvolvimento e
implantação de um sistema computacional de simulação de realidade virtual para a
operação de trens ferroviários e treinamento de maquinistas.
Caso 8: Desenvolvimento de Tecnologia Georadar (UFMG)
O transporte de carga por linha férrea causa uma rápida deterioração da superfície
da via ocasionando um aumento nos custos para a conservação da linha devido à
queda de produtividade da operação ferroviária e à probabilidade de interrupção dos
serviços. O projeto trata da aplicação da técnica geofísica Georadar na
caracterização das qualidades e da composição dos lastros ao longo da Estrada de
Ferro VitóriaMinas a fim de melhorar o planejamento das manutenção necessárias
para melhorar o desempenho dessas operações.
78
Caso 9: Desenvolvimento de Estudos de Análise Ergonômica (UFMG)
A construção de uma nova forma de análise de riscos e de uma prática
prevencionista mais eficaz para lidar com os acidentes normais pode se dar
recorrendo à metodologia de análise ergonômica do trabalho, propondo uma
abordagem produtiva da segurança: manter a segurança ao invés de controlar os
riscos. O projeto trata da identificação das causas das falhas operacionais e
proposição de medidas preventivas na execução das tarefas operacionais em pátios
de manobra e carregamento de composições ferroviárias na VALE.
Caso 10: Diagnóstico de Emissão de Dióxido de Carbono (UFMG)
Atualmente há um aumento de consciência da necessidade da proteção do meio
ambiente, onde o ser humano é o seu mais importante componente. Toda a indústria
mineral tem que analisar detalhadamente os problemas relativos à saúde de um
modo mais amplo, devendo ter em mente que o processo de beneficiamento mineral
é seguro para a saúde, somente quando ele é bem controlado. O projeto trata da
análise técnica da emissão das usinas de beneficiamento de minério de ferro no
complexo de mineração da VALE no município de Itabira.
79
5 Resultados
O conteúdo das entrevistas com os envolvidos nos dez projetos do programa
“Convênios com Universidades” estudados está apresentado adiante no Anexo II
deste documento. Este capítulo apresenta tabelas-resumo com parte relevante deste
conteúdo. Nestas tabelas, este conteúdo é apresentado de acordo com as
categorias levantadas na revisão bibliográfica e apresentadas anteriormente. Tendo
como foco o objetivo da pesquisa, começamos a apresentação destes dados pelas
categorias do quadro 2 as que surgiram a partir do modelo sugerido por Gonçalves
Neto (1986) e só depois apresentamos os dados das categorias do quadro 1
revisão bibliográfica inicial.
Apresentamos um resumo do contexto do projeto através de duas tabelas: a
tabela 1 contém, para cada um dos casos, o assunto do projeto e os departamentos
das universidades envolvidos no projeto.
Tabela 01: Resultados: Contexto do Projeto Assuntos
Caso 1 Avaliação de Estruturas Engenharia Civil
Caso 2 Modelagem Numérica Geologia
Caso 3 Modelagem Geológico Geologia
Caso 4 Estudo de Materiais para Indústria Engenharia Civil
Caso 5 Estudo de Processo Biológico Engenharia Química
Caso 6 Modelagem de Portos Engenharia Naval e Oceânica
Caso 7 Simulador Ferroviário Engenharia de Computação
Caso 8 Desenvolvimento de Tecnologia Geologia
Caso 9 Análise Ergonômica Engenharia de Produção
Caso 10 Análise Ambiental Engenharia de Meio Ambiente
Casos DepartamentoAssunto
80
A tabela 2 contém, para cada um dos casos, onde se deu a origem das idéias
que resultaram em projetos. O conteúdo das tabelas 1 e 2 nos ajudam a entender o
contexto dos projetos.
Tabela 02: Resultados: Contexto do Projeto Origem das Idéias de Projeto
Em todos os casos estudados, havia contratos guarda-chuva de cooperação
entre a VALE e cada uma das universidades, aliás, a empresa possui contratos
como estes, não só com as universidades envolvidas nos casos estudados, mas
também com outras universidades do país. Para cada projeto de cooperação é
criado um aditivo ao contrato guarda-chuva, para tratar do escopo específico
daquela iniciativa. As pessoas-jurídicas acadêmicas envolvidas nos contratos são
fundações que foram criadas, entre outros motivos, para desburocratizar as relações
institucionais das universidades (todas as universidades envolvidas nos casos
estudados são instituições públicas federais).
Caso 1
Aplicação da metodologia de Avaliação de Estruturas já
conhecida
Pesquisador da universidade apresentou projeto
Caso 2
Proposição de novas técnicas e ferramentas
computacionais para programas de sondagem
exploratórios
Sugestão de empregado da empresa para
desenvolvimento de sua pesquisa de mestrado
Caso 3
Aplicação da metodologia de Modelamento Geológico já
conhecida
Repetição de um trabalho recorrente que teve origem
em uma iniciativa da empresa para treinar estudantes e
recrutá-los posteriormente
Caso 4
Buscar ajuda na universidade para pesquisa de novos
materiais para uma aplicação específica
Empregado da empresa teve a iniciativa
Caso 5
Buscar ajuda na universidade para pesquisa de novos
processos biológicos para uma aplicação específica
Empregado da empresa teve a iniciativa
Caso 6
Utilizar notoriedade reconhecida da universidade em
Modelagem
Empregado da empresa teve a iniciativa
Caso 7
Utilizar notoriedade reconhecida da universidade em
Simulação
Empregado da empresa teve a iniciativa
Caso 8
Utilizar notoriedade reconhecida da universidade em
Desenvolvimento de Tecnologia
Empregado da empresa teve a iniciativa
Caso 9
Aplicação da metodologia de Análise Ergonômica já
conhecida
Pesquisador da universidade apresentou projeto
Caso 10
Utilização do laboratório da universidade para Análise
Ambiental
Empregado da empresa teve a iniciativa
Casos Idéia Origem
81
As informações sobre a natureza do projeto mostram como foram realizadas a
análise inicial e a análise de recursos dos projetos estudados. Em todos os casos, a
área da empresa que está interessada no projeto é responsável por fazer um estudo
de viabilidade econômica que deve conter, não só o resultado financeiro esperado
para o projeto, mas também o valor técnico-científico da idéia, deixando claro, ainda,
que recursos internos e externos são necessários para a execução do projeto. A
coordenação do programa “Convênio com Universidades” é responsável por validar
este estudo.
As informações de natureza incluem também o grau de risco de cada projeto,
sua importância tanto para a empresa quanto para as universidades e quais os
tipos de cooperação U-E encontrados. A tabela 3 apresenta as informações de grau
de risco e importância dos projetos.
Tabela 03: Resultados: Natureza Graus de Risco e Importâncias
A tabela 4 apresenta os tipos de cooperação encontrados.
Empresa Universidade Empresa Universidade
Caso 1 Média Alta
Caso 2 Risco Baixo Risco Médio Baixa Alta
Caso 3 Média Alta
Caso 4 Risco Baixo Risco Alto Alta Alta
Caso 5 Risco Baixo Risco Alto Alta Alta
Caso 6 Baixa Alta
Caso 7 Risco Alto Risco Médio Média Alta
Caso 8 Baixa Alta
Caso 9 Média Alta
Caso 10 Baixa Alta
Casos
Importância
Risco Baixo
Risco Baixo
Risco Médio
Risco Baixo
Risco Baixo
Risco
Risco Baixo
82
Tabela 04: Resultados: Natureza Tipos de Cooperação
A tabela 5, apresentada a seguir, mostra as informações de urgência do
projeto componente da prioridade do projeto sob os dois diferentes pontos de
vista: o da empresa e o da universidade, evidenciando suas principais diferenças.
Tabela 05: Resultados: Urgência
Caso 1
Contrato de pesquisa
Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Caso 2
Contrato de pesquisa
Programa de intercâmbio
Conferências e publicações (dissertação de mestrado)
Caso 3
Contrato de pesquisa
Programa de intercâmbio
Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Caso 4
Contrato de pesquisa
Conferências e publicações (dissertação de mestrado)
Caso 5
Contrato de pesquisa
Conferências e publicações (tese de doutorado)
Caso 6
Contrato de pesquisa
Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Caso 7
Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Treinamento
Caso 8 Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Caso 9
Contrato de pesquisa
Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Caso 10 Prestação de serviços técnicos e de consultoria
Casos Tipos
Empresa Universidade
Caso 1
Média
Baixa
Caso 2
Baixa
Baixa
Caso 3
Baixa
Baixa
Caso 4 Alta Alta
Caso 5 Média Média
Caso 6 Baixa Baixa
Caso 7
Alta
Baixa
Caso 8
Baixa
Baixa
Caso 9 Baixa Baixa
Caso 10 Baixa Baixa
Casos
Urgência
83
Os motivadores para cooperação são foco de atenção especial neste estudo,
e as tabelas com os resultados dos motivadores citados pelos entrevistados estão
apresentadas a seguir. Os motivadores são apresentados na tabela 6 principais
motivadores para a empresa e na tabela 7 principais motivadores para a
universidade.
Tabela 06: Resultados: Principais Motivadores para a Empresa
Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986), Cherubini (2006) e Sanchez e Tejedor (1995)
Tabela 07: Resultados: Principais Motivadores para as Universidades
Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986), Cherubini (2006) e Sanchez e Tejedor (1995)
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Acesso estudantes
x
Acesso treinamentos
Acesso infra-estrutura/expertise
x x x
Acesso base de conhecimento
x x x x x x x x
Imagem pública da empresa
x x x x
Conhecimento técnico
x x x x x
Tecnologias não disponíveis
x x x x
Fronteiras da ciência
x x x
Pesquisas preditivas
x x
Terceirização de P&D
Melhoria da qualidade
x x x
Carência de recursos
x x x
Cortes de custos
Acesso a novos mercados
Eficiência operacional
x x x x
Outros
Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Acesso necessidades mercado
x x x x x x
Novas fontes de receitas
x x x x x
Experiências práticas estudantes
x x x x
Oferecer acesso à ciência básica
x x x x x x x x
Acesso a mercados protegidos
Exposição ao mercado
x x x x
Competências de implementação
x x x x x
Criação de valor social
x x
Criação de spin-offs
Acesso recursos financeiros
x x x x x x x x x x
Lançamento de patentes
x x
Outros
Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD
84
De mesmo modo, são também as barreiras para cooperação, foco de atenção
especial neste estudo, e as tabelas com os resultados das barreiras citadas pelos
entrevistados estão apresentadas a seguir. As barreiras são apresentadas na tabela
8 principais barreiras para a empresa e na tabela 9 principais barreiras para as
universidades.
Tabela 08: Resultados: Principais Barreiras para a Empresa
Fonte: adaptado de Cherubini (2006)
Tabela 09: Resultados: Principais Barreiras para as Universidades
Fonte: adaptado de Cherubini (2006)
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Diferenças de objetivo
Diferenças de finalidade
Diferenças estruturais
Diferenças culturais
x
Diferenças na natureza
Burocracia da empresa
x x x x x x x x
Burocracia da universidade
x
Pouca interdisciplinaridade
Laboratórios pequenos
Gestão inadequada dos acordos
Perspectiva cultural
x x x x x x x x
Outros
x
Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Diferenças de objetivo
Diferenças de finalidade
x x x x
Diferenças estruturais
Diferenças culturais
x x x x x x
Diferenças na natureza
Burocracia da empresa
x x x x x x x x x x
Burocracia da universidade
Pouca interdisciplinaridade
Laboratórios pequenos
Gestão inadequada dos acordos
x
Perspectiva cultural
Outros
Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD
85
Em relação às equipes do projeto, todos os entrevistados são profissionais de
nível superior com pelo menos um curso de pós-graduação. Alguns projetos
contaram com a participação de alunos de graduação e alguns técnicos para
execução de trabalhos de campo, mas estas pessoas tinham pouca interação com
os empregados da VALE. Todos os projetos contavam com um ponto focal bem
definido e praticamente todo contato entre as instituições se dava através deles.
Além da apresentação dos resultados deste capítulo seguindo o modelo
sugerido por Gonçalves Neto (1986), apresentamos abaixo um resumo dos dados
encontrados nas entrevistas e atribuídos a cada categoria levantada na revisão
bibliográfica conforme proposta de Creswell (2000). A tabela 10 apresenta alguns
pontos sobre as categorias apresentadas no quadro 1 da revisão bibliográfica.
Tabela 10: Resultados: Categorias da Revisão de Literatura
Alianças Estratégicas
“Nossos melhores empregados vêm das universidades”
“Podemos desenvolver o relacionamento com as comunidades dos locais onde atuamos”
As Revoluções Acadêmicas e a
Universidade Brasileira
“Uma pesquisa acadêmica como esta não tem mesmo uma aplicação prática direta"
Fonte de recursos para financiamento das atividades acadêmicas
Os Tipos de Cooperação entre
Universidades e Empresas
Importância das alianças entre empresas e universidades
Prestação de consultoria por parte dos professores universitários às empresas
As Principais Motivações para
Cooperação
11 entre 15 das motivações encontradas na literatura foram citadas pela empresa
9 entre 11 das motivações encontradas na literatura foram citadas pela universidade
As Maiores Barreiras para
Cooperação
7 entre 11 das barreiras encontradas na literatura não foram citadas pela empresa
1 barreiras não encontrada na literatura foi citada pela empresa
7 entre 11 das barreiras encontradas na literatura foram citadas pela universidade
Categorias Resultados
86
6 Análise dos Resultados
O levantamento de informações dos dez casos estudados se deu através de
documentos que foram disponibilizados e de entrevistas com os envolvidos nos
projetos do programa “Convênios com Universidades” da VALE. Os resultados deste
levantamento foram apresentados no capítulo anterior e representam um resumo
das informações relevantes sobre os casos apresentadas adiante no Anexo II deste
documento. Iniciaremos este capítulo apresentando as análises dos dados
encontrados nas entrevistas e atribuindo-os a cada categoria levantada na revisão
bibliográfica conforme sugerido por Creswell (2000). O item 6.1 deste capítulo
apresenta a análise seguindo o modelo de cooperação sugerido por Gonçalves Neto
(1986), incluindo a análise dos motivadores e das barreiras para cooperação
universidade-empresa, um dos focos deste estudo.
Além das informações sobre os casos, foram realizadas duas entrevistas que
enriqueceram este capítulo de análise: uma com o coordenador do programa,
profissional sênior de carreira técnica da VALE; e outras com seu chefe direto, um
executivo do corpo gerencial da empresa.
Segundo o executivo da empresa, o presidente da VALE entende as parcerias
com universidades como alianças estratégicas. “O programa Convênios com
Universidades foi criado para facilitar o relacionamento com universidades, que
segundo nosso presidente, Roger Agnelli, são fundamentais em nossa estratégia de
crescimento, não só porque é de lá que vêm nossos melhores empregados, mas
87
também porque através delas podemos desenvolver o relacionamento com as
comunidades dos locais onde atuamos”, disse o executivo. O coordenador do
programa transmitiu a mesma mensagem com outras palavras, estando de acordo
com os estudos de Drucker (1996) que citam o acelerado crescimento dos
relacionamentos baseados em parceria. No entanto, apenas um outro entrevistado,
um professor da Universidade de São Paulo (USP), citou o relacionamento entre as
instituições como uma parceria estratégica, mas, diferente dos executivos, ele não
mencionou estudantes nem relações com a comunidade, mas sim que a importância
estratégica desta relação está no desenvolvimento do conhecimento científico
aplicado à realidade das empresas, com palavras que claramente nos levam a
pensar na gestão da inovação tecnológica.
Alguns autores citam o potencial das alianças estratégicas em melhorar
agressivamente os resultados operacionais das empresas (Elmuti et al., 2005) e
também a formação de alianças estratégicas com a intenção de realizar programas
de pesquisas cujos resultados possam resolver problemas práticos do mundo de
negócios (Wheelen e Hunger, 2004). Em nossa pesquisa vimos projetos que visam a
melhoria dos resultados operacionais (quatro entre dez entrevistados citaram isso
como motivadores) e também a resolução de problemas práticos do mundo
empresarial (seis entre dez entrevistados citaram isso como motivadores). No
entanto, apenas um entrevistado citou o convênio entre a VALE e as universidades
como estratégico para alcançar estes objetivos.
A cultura acadêmica, que implica em características próprias das
universidades, tem influência direta nos resultados da pesquisa, como diziam alguns
88
autores de nossa revisão bibliográfica. Um professor da Universidade Federal de
Ouro Preto (UFOP) disse claramente que a tese de doutorado teria um fim em si
mesma e, quando estávamos conversando sobre as barreiras encontradas,
comentou: “ainda não consegui fazê-la entender (a engenheira da VALE) que uma
pesquisa acadêmica como esta não tem mesmo uma aplicação prática direta”.
As evoluções das oportunidades de relacionamento entre universidades e o
mundo empresarial, que surgiram das revoluções acadêmicas, conforme
pesquisas de Etzkowitz (2004), entre outros, puderam ser claramente observadas
em nosso estudo: todas as universidades envolvidas no estudo possuem grupos de
pesquisas, prestam serviços de consultoria, de alguma maneira administram seus
direitos autorais e possuem incubadoras de negócios. No entanto, conversando
especificamente sobre os projetos dos dez casos estudados, apenas dois
professores da UFOP (dois casos entre dez) citaram o interesse no lançamento de
patentes a partir dos resultados dos projetos, e nenhum dos entrevistados falou
sobre a possibilidade de criação de uma empresa (spin-off) para comercializar
serviços ou produtos criados. Ainda relacionado às revoluções acadêmicas, dois
entre dez entrevistados destacaram a criação de valor social como um dos
motivadores do projeto uma vez que estes projetos impactam diretamente o
desenvolvimento da infra-estrutura de transportes do país, de acordo com a
percepção da universidade como agente de desenvolvimento econômico regional
dos estudos de Noveli e Segatto (2006) e Etzkowitz (1998).
Todos os entrevistados pelas universidades, sem qualquer exceção, citaram o
acesso a recursos financeiros como motivador para o projeto com a VALE: em três
89
de dez entrevistas, antes de serem provocados pelo entrevistador, este havia sido o
único motivador citado. Nos estudos de Etzkowitz, Mello e Almeida (2005) vimos
que, apesar do fomento de negócios de prestação de serviços com baixo uso de
tecnologias modernas, as instituições interessadas combinaram isso com um modelo
de incubadoras de alta tecnologia em um formato misto: três entre dez casos,
embora não por meio de incubadoras, envolviam fronteiras da ciência e quatro entre
dez envolviam tecnologias não disponíveis por outros meios, segundo os
entrevistados, em universidades brasileiras, sugerindo que alguns dos projetos
envolviam pesquisas sofisticadas. Entretanto, os demais casos sugerem que,
conforme os estudos de Velho (1995), algumas interações ainda vêm sendo
demandadas para atividades de adaptação de tecnologias importadas para as
condições locais, acesso a recursos humanos especializados e consultorias,
conforme pôde ser observado nos projetos analisados que envolviam a USP:
fomento de negócios que envolvem tecnologias conhecidas, que são mais
estruturados, que envolvem investimentos maiores, e que já haviam sido
desenvolvidos em outras empresas.
Em nossa pesquisa, quando quatro entre dez entrevistados citaram que o
acesso a tecnologias não disponíveis por outros meios era fator de motivação para o
programa “Convênios com Universidades”, ficou claro o reconhecimento da
importância das alianças entre empresas e universidades para a execução dos
projetos da empresa. Isso sugere que estavam certos em suas pesquisas Hamel e
Prahalad (1994) e Woo (2003), que disseram que é extremamente difícil para
qualquer empresa possuir as competências e os recursos necessários para garantir
o sucesso no desenvolvimento de tecnologia e comercialização de seus produtos e
90
serviços. Além disso, três entre dez entrevistados apontaram o acesso ao expertise
da universidade, e também três entre dez entrevistados apontaram a carência de
recursos internos, como motivadores para os convênios, percebendo que as
universidades podem ser os parceiros ideais para viabilizar estes recursos e
competências.
Embora, curiosamente, nenhum dos entrevistados da VALE citou o acesso a
treinamentos como motivador para a cooperação com universidades, cinco entre dez
destes entrevistados apontou como motivador o desenvolvimento interno de
conhecimento técnico em acordo com os estudos de Edquist (1997) e Adeoti (2002)
que disseram que o sistema de educação é uma importante origem de
conhecimento relevante para atividades inovadoras. Nossas análises também estão
em acordo com os estudos de Adeoti (2005) que diziam que a universidade é um
importante elemento do sistema de educação e é tomado como o agente
responsável por gerar o conhecimento científico básico e aplicado que se torna de
domínio público, e isso pôde ser visto quando cinco entre dez entrevistados citaram
a oferta de ciência básica e pesquisas aplicadas como motivador para o
desenvolvimento dos projetos.
O potencial máximo das alianças entre a VALE e as universidades está muito
longe de ser alcançado. O programa Convênios com Universidades possui
atualmente quarenta e três projetos em andamento; e o programa Seis Sigma
atualmente possui cerca de trezentos projetos em andamento. Esta comparação
aponta claramente uma deficiência no programa Convênios com Universidades, pois
sugere que há muitas outras oportunidades de projetos além dos que existem
91
atualmente. E, por isso mesmo, permite a afirmação do início deste parágrafo, que
está de acordo com os estudos de Lall (1997) que cita este pouco aproveitamento
das oportunidades de cooperação.
Os convênios entre empresa e universidade na VALE se dão através do
programa corporativo “Convênios com Universidades”. Segundo o coordenador
deste programa, todo e qualquer projeto se inicia com um contato direto entre a
VALE e a universidade, ou entre a universidade e a VALE, sem qualquer
intermediário, apontando para as duas primeiras maneiras de iniciar o
relacionamento entre empresa e universidades apresentados nos estudos de
Sanchez e Tejedor (1995) e Gonçalves Neto (1986).
É predominante, entre os tipos de cooperação entre universidades e
empresas em todo o mundo, a prestação de consultoria por parte dos professores
universitários às empresas, segundo estudos de Cherubini (2006), e nosso estudo
mostrou que sete dos dez casos estudados são relacionados a serviços de
consultoria. Entretanto, as relações se dão através de um contrato de cooperação
entre as instituições, não entre indivíduos, o que é também notado por também sete
entre dez casos estarem associados a contratos de pesquisa; embora as relações
entre indivíduos requeiram bem menos esforço, os contratos do programa
Convênios com Universidades possuem características contratos guarda-chuva
que desburocratizam a contratação de novos projetos. Segundo o coordenador do
programa, é possível que existam relacionamentos entre a empresa e universidades
por meio de relações entre indivíduos, pois ainda não foi implementado qualquer
mecanismo que coíba esta prática, no entanto, ele garante, que a contratação direta
92
de um professor ou pesquisador não requer menos esforço que fazê-lo através do
programa.
Dentre os nove mecanismos de transferência de tecnologia por meio da
cooperação entre universidades e empresas encontrados nos estudos de Lee e Win
(2004), atualmente são utilizados, segundo os entrevistados, os seguintes não
necessariamente através do programa Convênios com Universidades: conferências
e publicações; prestação de serviços técnicos e de consultoria; programa de
Intercâmbio; contrato de pesquisa; e treinamento.
6.1 Análise de Resultados Utilizando o Modelo de Cooperação
As entrevistas com as pessoas envolvidas com o projeto, pela empresa ou pela
universidade, nos sugerem que há um padrão na maneira como os projetos de
cooperação são iniciados: profissionais da empresa resolvem procurar as
universidades para ajudá-los a superar um desafio, em geral porque a notoriedade
da universidade é reconhecida ou porque não há outros recursos disponíveis; ou,
professores e pesquisadores, através de iniciativas pessoais, apresentam para as
empresas seus projetos de pesquisa. Parece haver um padrão também na maneira
como estas idéias são aprovadas para se tornar ou não um projeto de cooperação
universidade-empresa; e, ainda, parece haver um padrão no modo como os projetos
são executados. Entretanto, não percebemos qualquer padrão no modo como eles
são avaliados. No processo de cooperação com universidades da VALE, através do
programa “Convênios com Universidades”, o gestor do programa coordena um ciclo
de vida de projeto maior que aquele sugerido por Gonçalves Neto (1986) em seu
93
modelo. Os estágios do ciclo de vida dos projetos de cooperação U-E do programa
são: iniciação, aprovação, execução e avaliação.
Utilizando-se do modelo de cooperação sugerido por Gonçalves Neto (1986)
apresentamos os resultados das entrevistas no capítulo 5, e a partir das informações
contidas lá sobre o contexto dos projetos, a natureza do projeto, a urgência do
projeto, e a equipe do projeto, chegamos finalmente à discussão sobre os
motivadores para cooperação e as barreiras encontradas, objeto principal de
nossa pesquisa.
A partir do contexto dos projetos pudemos observar que a maioria das idéias
de projetos partiu dos empregados da VALE, sugerindo que o trabalho da
coordenação do programa está funcionando melhor para dentro da empresa que
para as universidades. Observamos também que os assuntos tratados em todos os
projetos estão relacionados aos desafios reais e atuais da empresa, e todos os
projetos foram desenvolvidos pelas escolas de Engenharia ou pelos departamentos
de Geologia das universidades. Várias oportunidades de cooperação com os demais
departamentos das universidades devem estar deixando de serem aproveitadas
como, por exemplo, departamentos de administração (escolas de negócios)
poderiam estar contribuindo com os modelos de gestão corporativos da empresa.
Ainda a partir destes contextos, verificamos que sempre que uma idéia nasce
em uma área de negócio da empresa, a própria área identifica a necessidade da
empresa associada àquela idéia; os casos nos quais a idéia veio do professor ou
pesquisador, este apresentou a idéia para a coordenação do programa, e esta
94
coordenação identificou a área de negócios da empresa que se interessaria pela
idéia; a área de negócio da empresa é que apresenta a proposta de projeto com seu
estudo de viabilidade e a justificativa para a necessidade de utilização de recursos
de universidades no projeto. Assim pudemos verificar como se deu o que chamamos
de estágio de iniciação da cooperação no programa estudado.
Os resultados sobre a natureza do projeto mostram que, independente do tipo
de cooperação escolhido, há mais projetos viáveis na empresa do que recursos
disponíveis para implementá-los. Desse modo, independente de haver uma análise
de viabilidade bastante completa, o que importa de fato para a tomada de decisão
por iniciar a cooperação é o conteúdo econômico do estudo. O fator recursos
internos funciona apenas como uma informação extra para o gestor do programa. O
grau de risco do projeto também não parece ter relevância no processo de decisão,
pois os entrevistados não falam sobre o assunto.
Para os entrevistados das universidades, todos os projetos são de importância
alta, explicitando uma motivação tão grande pelos projetos que sugere que eles
realmente escolheram o projeto que gostariam de participar. Como a busca por
recursos acadêmicos é realizada, em geral, por meio de redes de relacionamento
pessoais, a chance de ser encontrar o interesse do acadêmico é muito grande.
Quanto à urgência do projeto, há um cenário muito claro de que os
acadêmicos não têm a preocupação do tempo como fator crítico, visto que a
urgência de oito em dez projetos é baixa enquanto, para a empresa, seis em dez
são de baixa urgência.
95
Ainda a partir da contribuição dos entrevistados quanto à natureza e urgência,
vimos que a etapa de análise do projeto é menos criteriosa, ou menos sofisticada,
que o processo apresentado no modelo de Gonçalves Neto (1986). No programa
estudado os entrevistados citaram os seguintes critérios de análise das propostas de
projetos: validação técnica e econômica; validação das justificativas para
cooperação com universidades; se aprovada a proposta da área, priorização dos
projetos, e solicitação de proposta com detalhamento técnico e condições
comerciais; se aprovada a proposta da universidade, apresentação de evidências
dos recursos necessários para o projeto, e elaboração do contrato para início do
projeto. Assim pudemos verificar como se deu o que chamamos de estágio de
aprovação da cooperação no programa estudado, que difere em pontos
significativos do modelo proposto.
Os principais motivadores para o desenvolvimento dos projetos dos casos
estudados foram mapeados utilizando como referência as compilações
apresentadas nos estudos de Gonçalves Neto (1986), Cherubini (2006) e Sanchez e
Tejedor (1995). Os resultados dos motivadores foram apresentados anteriormente e
são analisados a seguir.
Os motivadores mais citados pelos entrevistados, sob o ponto de vista da
empresa, apresentados na tabela 6, foram o “acesso à pesquisa, consultoria e
dados da base de conhecimento da universidade” (oito entre dez), e a “obtenção de
conhecimento técnico” (cinco entre dez) visando à capacitação dos engenheiros e
pesquisadores internos. Isto sugere a percepção sobre a importância das parcerias
96
com universidades, como citado anteriormente. Contribui com esta percepção o
motivador “obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis anteriormente ou por
outros meios”, citado por quatro entre dez entrevistados; e também “carência de
recursos para execução de projetos”, citado por quatro entre dez entrevistados,
referindo-se a recursos humanos.
Também citado por quatro entre dez entrevistados, temos os motivadores
“melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua” e “melhoria
de eficiência operacional”, ambos associados aos valores da VALE e aos objetivos
estratégicos do programa Convênios com Universidades. Curiosamente, os
motivadores “acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados” e “acesso
a uma grande variedade de treinamentos”, também associados a estes objetivos,
foram citados uma e nenhuma vez, respectivamente.
Os motivadores ”acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de
seu staff”, “acesso às fronteiras da ciência” e “melhoria da qualidade”, citados por
três entre dez entrevistados, e ainda “acesso às pesquisas científicas com viés
preditivo”, citado por dois entre dez entrevistados, sugerem a associação ao uso de
tecnologias mais sofisticadas.
Três motivadores “terceirização de atividades de P&D”, “cortes de custos” e
“acesso a novos mercados” não foram citados uma vez sequer. Sugerem que: as
atividades de P&D as empresa não estão associadas ao programa Convênios com
Universidades; e a empresa não busca projetos através dos convênios orientada a
corte de custos.
97
E há ainda alguns aspectos que não podem deixar de ser considerados neste
processo de decisão por projetos de cooperação universidade-empresa como o
interesse de profissionais das empresas em suas próprias pesquisas acadêmicas, e
também os interesses dos pesquisadores em obter recursos com serviços de
consultoria ou em desenvolver projetos que lhes permitam publicar artigos ou
alavancar pesquisas futuras, como verificamos nas entrevistas.
A tabela 7 apresenta os principais motivadores pelo ponto de vista da
universidade. O motivador “acesso a recursos financeiros” foi citado por todos os
entrevistados, sugerindo claramente que para as universidades os convênios são
uma importante ferramenta de financiamento de suas atividades. Contribuem
também com esta sugestão os motivadores “oportunidade de acesso às
necessidades do Mercado”, com citação de seis entre dez entrevistados,
“oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da
comercialização de serviços e produtos” e “melhorias nas competências de
implementação de novas tecnologias”, com citação de cinco entre dez entrevistados,
e ainda “exposição ao ambiente de negócios” com citação de quatro entrevistados.
No entanto, apesar de entender os convênios como oportunidades de
financiamento, nossa pesquisa sugere que estas iniciativas empreendedoras
envolvem tecnologias já conhecidas ou menos sofisticadas, corroborada com
apenas duas citações para o motivador “lançamento de patentes” e nenhuma
citação sequer para o motivador “desenvolvimento de novos produtos e criação de
spin-offs”.
98
O segundo motivador mais citado, com oito entre dez entrevistados, foi
“oferecer acesso da indústria tanto à ciência básica quanto a pesquisas aplicadas”,
sugerindo a força de uma das funções mais antigas e tradicionais das universidades,
a difusão do conhecimento. Também uma das funções mais antigas, o ensino, pôde
ser corroborado com o motivador “oportunidade de oferecer experiências práticas
aos seus estudantes na indústria” recebendo quatro citações. Por outro lado, a
pesquisa sugere que funções mais modernas não são tão claramente reconhecidas
como o motivador “criação de valor social” que foi citado por apenas dois
entrevistados.
Já o motivador “acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso” não foi
citado sequer uma vez, neste caso sugerindo apenas que a indústria na qual a VALE
está inserida não tem características de proteção ou difícil acesso.
Todos os entrevistados das equipes dos projetos são profissionais de nível
superior com pelo menos um curso de pós-graduação, de modo que as diferenças
de conhecimento entre eles não eram significantes para o projeto. Alguns membros
das equipes são alunos de graduação e técnicos, mas estas pessoas tinham pouca
ou nenhuma interação com os empregados da VALE. Todos os projetos contam com
um ponto focal bem definido e reconhecido em cada instituição e a maioria do
contato entre as instituições se dava através deles.
Após a análise acima sobre o contexto dos projetos, a natureza dos
projetos, a urgência dos projetos, e a equipe dos projetos, e também a
99
discussão sobre os motivadores para cooperação, vamos iniciar a discussão sobre
as principais barreiras encontradas. O modelo de cooperação sugerido por
Gonçalves Neto (1986), entretanto, não inclui esta categoria de análise. Para isso
então, recorremos à revisão de literatura sobre o assunto.
Assim como os principais motivadores, as principais barreiras encontradas na
execução dos projetos de cooperação entre a VALE e as universidades foram
mapeadas utilizando como referência as compilações apresentadas nos estudos de
Cherubini (2006). As primeiras duas entrevistas revelaram um problema que se
repetiria em quase todas as demais: os entrevistados não falavam sobre barreiras,
só citavam as coisas positivas do convênio. Uma explicação razoável estava no fato
de que eles não conheciam o entrevistador e não se sentiam confortáveis em falar
mal de relações com as quais eles continuavam envolvidos. Os entrevistados se
manifestaram apenas quando lhes foi apresentada a lista de possíveis barreiras
vide roteiros de entrevista no anexo I conforme levantado no referencial teórico.
Do ponto de vista da empresa, conforme apresentado na tabela 8, oito entre
dez entrevistados citaram a barreira “diferenças em uma perspectiva cultural”
referindo-se recorrentemente ao fato de que os acadêmicos não eram sensíveis às
suas necessidades de tempo de resposta, de urgência. Também tivemos oito
citações de “burocracia da empresa”, sugerindo que, apesar de o coordenador do
programa citá-lo como uma ferramenta para evitar a burocracia, ou a ferramenta não
está sendo eficiente com relação a isto ou isso não foi percebido pelos usuários do
programa.
100
Ainda tivemos uma citação da barreira “diferenças culturais”, associada a
problemas de comunicação entre os envolvidos; e uma citação de “burocracia da
universidade”, em um caso onde o contrato do convênio demorou a ser assinado por
falta de um representante da universidade na ausência de outro.
Ainda tivemos uma citação da barreira “diferenças culturais”, associada a
problemas de comunicação entre os envolvidos; e uma citação de “burocracia da
universidade”, em um caso onde o contrato do convênio demorou a ser assinado por
falta de um representante da universidade na ausência de outro.
Houve uma citação que não foi enquadrada nas barreiras citadas por Cherubini
(2006): um dos entrevistados queixou-se da qualidade dos produtos gerados pela
universidade, chegando a dizer “é por isso que não costumo contratar serviços com
as universidades, eles são muito bons de teoria, mas os produtos finais sempre
deixam a desejar”. Outras barreiras não foram citadas uma vez sequer: “diferenças
de objetivo principal“; “diferenças de finalidade ou foco“; “diferenças estruturais“;
“diferenças na natureza da investigação“; “baixo grau de interdisciplinaridade“;
“pequeno tamanho de alguns laboratórios“; e “inadequada habilidade das empresas
em gerenciar os acordos“.
A tabela 9 apresenta as barreiras do ponto de vista dos entrevistados das
universidades, que foram unânimes em citar como barreira a “burocracia da
empresa”, referindo-se não à parte contratual, mas à execução do projeto,
reclamando principalmente dos procedimentos necessários para entrar nas
101
instalações da empresa. Em um caso o pagamento do acordo não foi realizado por
problemas administrativos.
Seis entre dez entrevistados citaram “diferenças culturais” referindo-se a
problemas de dificuldades de comunicação e dificuldades de relacionamento
interpessoal. Houve um caso, um dos mais complexos do ponto de vista tecnológico,
com problemas mais sérios, no qual os envolvidos da empresa e da universidade
não se falavam mais e a equipe do projeto teve de ser trocada. Neste caso foi citada
a barreira “inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos”. Tivemos
ainda quatro entre dez entrevistados citando “diferenças de finalidade” referindo-se a
falta de compromisso dos envolvidos com o projeto na empresa, dizendo que eles
preteriam os compromissos com o processo por outros compromissos na empresa.
As demais barreiras não tiveram uma citação sequer: “diferenças de objetivo
principal“; “diferenças estruturais“; “diferenças na natureza da investigação“; “baixo
grau de interdisciplinaridade“; “pequeno tamanho de alguns laboratórios“; “diferenças
em uma perspectiva cultural“; e, por último, “burocracia na universidade”, que sugere
que os envolvidos das universidades estão satisfeitos com seus procedimentos para
estabelecer acordos ou parcerias com instituições privadas.
Além das categorias de análise levantadas na revisão bibliográfica, e baseados
no fato de que o escopo de gestão da coordenação do programa “Convênios com
Universidades” está além do modelo de cooperação utilizado como referência,
analisamos também as informações de outras duas categorias de análise: a
execução do projeto e os resultados do projeto.
102
As informações de execução do projeto levantadas nas entrevistas mostraram
que todos os projetos tinham o escopo e o plano inicial bem definido e em acordo, o
que parece ter sido razão para minimizar as barreiras. Os encontros regulares entre
as equipes dos projetos eram previstos em todos os planos, mas não foi observado
o costume de cumprir a realização destes encontros, isso não parece ter sido,
porém, causa de problemas significativos para os projetos.
Segundo os entrevistados, os contratos de cooperação tecnológica eram
apenas o ponto de partida para a execução do projeto, quando então os
coordenadores do projeto eram indicados por parte da empresa e por parte da
universidade e estes mesmos faziam a mobilização dos recursos necessários para
o projeto, além do estabelecimento da rotina de execução e acompanhamento do
projeto. Assim pudemos verificar como se deu o que chamamos de estágio de
execução da cooperação no programa estudado, estágio presente em todos os
casos analisados, mas que não foi apresentado no conteúdo do modelo proposto
por Gonçalves Neto (1986).
A duração dos projetos foi bem variada, havendo projetos de três meses a dois
anos de duração, e ainda as pesquisas de doutorado que tinham duração ainda
maior. Dentre os dez casos apenas dois tiveram problemas significativos de
cumprimento do que foi planejado conforme apresentado a seguir.
Os resultados do projeto, segundo os entrevistados, atenderam às
expectativas dos envolvidos nos projeto, sugerindo que seus objetivos foram
103
alcançados apesar das barreiras encontradas, isto é, aqueles projetos que ainda
estão em andamento ou ainda não apresentaram resultados ou os resultados
parciais estão adequados; aqueles projetos que já foram concluídos foram dados
como projetos de sucesso, até mesmo com o que se propunha a patentear o produto
tem o processo de patente em andamento conforme planejado. Dois casos
particulares mereceram uma atenção diferenciada: o caso 4, o único que apresentou
problemas sérios de andamento por problemas de entendimento entre as equipes,
mas que ainda assim mantém os envolvidos empolgados com os resultados
parciais; e o caso 7 que tem problemas sérios de cronograma, mas cujos envolvidos
não estão dando relevância ao problema. Sugerindo que a importância do projeto
perdeu importância.
Embora, como citado anteriormente, nem todos os projetos tivessem resultados
já apresentados, entrevistados de todos os projetos citaram um processo de
avaliação do projeto que deve ocorrer sempre doze meses após o enceramento do
projeto e tem o objetivo de verificar se os resultados alcançados foram aderentes
aos estudos de viabilidade realizados. Os empregados envolvidos no projeto são
avaliados com indicadores de desempenho associados a estes projetos. Assim
pudemos verificar como se deu o que chamamos de estágio de avaliação da
cooperação no programa estudado, estágio que está ou estará presente em todos
os casos analisados, segundo os entrevistados, mas que não foi apresentado no
conteúdo do modelo proposto por Gonçalves Neto (1986).
104
7 Desenvolvimento do Quadro de Referência
O processo de cooperação entre a VALE e as universidades através do
programa “Convênios com Universidades” pôde ser analisado nesta pesquisa com
referência no modelo sugerido por Gonçalves Neto (1986). Mas pudemos perceber
que o escopo de gestão deste programa não é todo contemplado pelo modelo da
literatura conforme apontamos ao longo da análise de resultados, deixando claro
que os estágios do processo de cooperação observado são diferentes daqueles
sugeridos pelo modelo de referência.
Por isso, concluímos que é necessário fazer uma adaptação deste modelo para
que o que foi aprendido com esta pesquisa possa ser utilizado, não só pela própria
VALE, mas também por outras empresas e pelas universidades envolvidas em
programas semelhantes. Assim, criamos um quadro de referência sobre a
cooperação entre universidades e empresas a partir da adaptação do modelo
utilizado na pesquisa.
Consideramos, para desenvolver o quadro de referências, que o modelo de
iniciação da cooperação proposto por Gonçalves Neto (1986), seria desdobrado em
dois estágios: o estágio de iniciação; e o estágio de aprovação. Podemos dizer que
o primeiro estágio tem por principal objetivo endereçar todos os motivadores para o
projeto de cooperação; e o estágio seguinte, permite a identificação de vários fatores
que indicam o surgimento de barreiras ao projeto. A estes estágios, que já são
contemplados no modelo da literatura, adicionamos outros dois: estágio de
105
execução, que é acompanhado na VALE pela coordenação do programa, e que
permite o aprendizado para mitigar barreiras nos projetos de cooperação; e estágio
de avaliação, que contribui com o entendimento completo do processo de
cooperação, e é utilizado para medir o desempenho do empregados envolvidos no
projeto. A figura 3 é o diagrama que representa o quadro de referência proposto, e
em seguida explicamos o novo modelo.
Figura 03: Ciclo de vida de um projeto de Cooperação U-E
Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986)
106
O processo de cooperação U-E através do programa “Convênios com
Universidades” da VALE pode ser representado pelo diagrama acima. Este, a
exemplo do modelo da literatura, é um modelo bem simples, mas que pode ser
utilizado por outras empresas e universidades interessadas em processos de
cooperação universidade-empresa.
7.1 Estágio de Iniciação
Figura 04: O estágio de iniciação do processo de cooperação U-E
Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986)
Idéias que podem se tornar projetos de cooperação universidade-empresa
(cooperação U-E) podem ter origem na empresa ou na universidade; estas idéias
são analisadas pela empresa sob aspectos comerciais e também científicos. Idéias
com valor comercial e científico devem ser considerados pela empresa e passam a
fazer parte das necessidades da empresa.
107
Conforme representado na figura 4, quando uma idéia nasce em uma área de
negócio da empresa, a própria área deve identificar se há alguma necessidade da
empresa associada àquela idéia; quando a idéia vem de alguma universidade, o
professor ou pesquisador deve apresentar a idéia para a coordenação do programa
“Convênios com Universidades”; a coordenação do programa deve identificar as
áreas de negócios da empresa que podem se interessar pela idéia, e encaminhá-la
para estas áreas; novamente a área deve identificar se há alguma necessidade da
empresa associada a esta idéia; havendo a necessidade, a área de negócio deve
apresentar uma proposta de projeto com seu estudo de viabilidade e a justificativa
para a necessidade de utilização de recursos de universidades no projeto. Este
estágio de iniciação está representado na figura 4.
7.2 Estágio de Aprovação
Todas as propostas de projetos de cooperação U-E apresentadas pelas áreas
de negócios devem ser analisadas pela coordenação do programa “Convênios com
Universidades”. Estas análises devem seguir os seguintes critérios: validação
técnica e econômica dos estudos de viabilidade feitos pelas áreas de negócios; e
validação das justificativas para utilização de recursos das universidades. A
coordenação do programa tem apoio de outras áreas da empresa avaliação de
investimentos, desenvolvimento de processos minerais, etc. para fazer estas
análises. Se a proposta da área de negócio for aprovada, a coordenação do
programa deve priorizar a urgência do projeto não é utilizada para analisar se o
projeto deve ou não ser objeto de cooperação U-E os projetos e solicitar proposta
108
com detalhamento técnico e condições comerciais para as universidades. Se a
proposta da universidade for aprovada e a área de negócio envolvida apresentar
evidências de que possui os recursos necessários provisão orçamentária,
pessoas, etc. para o projeto, a coordenação do programa deve providenciar o
contrato para início do projeto de cooperação entre a VALE e a universidade,
completando o estágio de aprovação representado no modelo da figura 5.
Figura 05: O estágio de aprovação do processo de cooperação U-E
Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986)
109
7.3 Estágio de Execução
Os contratos de cooperação tecnológica são o ponto de partida para a
execução do projeto. Deve ser definido no contrato o coordenador do projeto por
parte da empresa e o coordenador por parte da universidade, e, tão logo o contrato
esteja assinado, os coordenadores devem mobilizar os recursos necessários para o
projeto e estabelecer a rotina de execução e acompanhamento do projeto. O projeto
se encerra com a entrega de todos os produtos definidos em contrato. A figura 6
representa o estágio de execução do processo de cooperação.
Figura 06: O estágio de execução do processo de cooperação U-E
Fonte: adaptação de Gonçalves Neto (1986)
110
7.4 Estágio de Avaliação
O estágio final do processo de cooperação U-E no programa “Convênio com
Universidades” é o de avaliação. Esta avaliação acontece doze meses após o
enceramento do projeto e tem o objetivo de verificar se os resultados alcançados
estão conforme os estudos de viabilidade realizados, permitindo a avaliação dos
empregados envolvidos no projeto. Este estágio permite também um maior
conhecimento sobre o processo de cooperação como um todo.
111
8 Conclusão
Os dois projetos que apresentaram problemas de execução são exatamente
os dois que são classificados pela empresa como urgente. É possível concluir que
os projetos urgentes para a empresa parecem não serem idéias para a cooperação
com universidades, cujo senso de urgência é culturalmente diferente. O novo
modelo proposto não prevê este tipo de avaliação, a urgência continua sendo
apenas um critério para priorização dos projetos, mas não para interferir na decisão
de executá-lo por cooperação ou não.
Em um cenário no qual se destaca a inovação tecnológica como instrumento
estratégico para as empresas, verificamos de fato que, embora não tenha sido
informado pela empresa o número de pesquisadores em seu quadro de
empregados, pudemos verificar que o potencial dos seus programas de cooperação
tecnológica com universidades está muito aquém da capacidade, confirmando a
sugestão de uma grande contradição. Este déficit está não só na quantidade de
projetos, mas também na qualidade dos mesmos, uma vez que, entre os casos
estudados, são poucos os que tratam de fato do desenvolvimento de inovações
tecnológicas.
112
É importante ressaltar que a pesquisa foi aplicada somente em uma empresa,
a VALE, que se encontra atualmente diante de um contexto muito favorável, pois as
margens praticadas para seus produtos são altas e isso faz com que os recursos
financeiros da empresa não represente um real gargalo para seus investimentos.
Ficou claro que o Programa Convênio com Universidades poderia ser utilizado de
maneira mais intensa, a oferta de recursos, embora a pesquisa não tivesse qualquer
pretensão de investigar esta questão, leva à utilização de outros meios para
resolução de problemas e fomento de inovações.
113
9 Sugestões para Futuras Pesquisas
Como o principal objetivo desta pesquisa está na sugestão de um novo
modelo para a cooperação universidade-empresa, o quadro de referência, a
principal sugestão é a aplicação ou a experimentação deste modelo em outras
empresas a fim de entendê-lo em um universo maior.
Um dos maiores desafios para o autor desta pesquisa foi não perder o foco
nos objetivos definidos inicialmente. A descoberta de novos assuntos muito
interessantes, não só a partir da revisão bibliográfica sobre Gestão da Inovação, que
é tão abrangente, mas também a partir da exploração das práticas de uma empresa
que possui cerca de 40 mil empregados próprios, recorrentemente convidava o autor
a visitar questões fora dos objetivos da pesquisa.
As relações investigadas nos estudos de caso desta pesquisa envolviam duas
instituições: a Empresa e a Universidade. Uma sugestão para futuras pesquisas é
trazer para este cenário de relações o Governo, e explorar com isso um conjunto de
interações mais complexo, onde mais interesses devem ser considerados.
Os estudos de caso desta pesquisa foram todos associados a projetos do
programa Convênios com Universidades. Como sugestão para estudos de caso que
também explorem a Gestão da Inovação, temos as outras iniciativas da VALE, com
destaque para o desenvolvimento do Plano Diretor de Tecnologia (PDTec), o
Monitoramento Tecnológico, e a Proteção de Patentes.
114
Outra sugestão é um estudo de caso que acompanhe o desenvolvimento de
projetos de cooperação ao longo do tempo, para explorar melhor e com mais
profundidade os relacionamentos entre os atores envolvidos. É possível ainda
explorar os resultados dos projetos, e entender como projetos bem desenvolvidos e
com resultados bons são utilizados para melhorias em outras oportunidades na
empresa, que significa entender se disciplinas de Gestão do Conhecimento são
utilizadas para alavancar os resultados do programa.
De um modo mais amplo, uma conseqüência natural deste trabalho é abrir as
portas da Companhia Vale do Rio Doce a estudos avançados em administração,
fomentando diversas pesquisas sobre os assuntos relacionados às práticas de
gestão implementadas na Companhia Vale do Rio Doce, a fim de enriquecer os
conhecimentos das áreas de pesquisa relacionadas.
115
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acesso: 10 de maio de 2007.
125
11 Anexos
11.1 Anexo I: Roteiro de Pesquisa
Antes do contato inicial do entrevistador por telefone, foi enviado uma mensagem
introdutória para cada um dos entrevistados. A mensagem foi a seguinte:
MENSAGEM AOS ENTREVISTADOS
Estamos realizando um pesquisa sobre cooperação tecnológica entre empresas e
universidades. Estamos interessados especificamente nos projetos desenvolvidos entre a
Companhia Vale do Rio Doce e algumas universidades através do programa corporativo
“Convênios com Universidades”.
A pesquisa faz parte de um projeto de dissertação de mestrado cujo problema de
pesquisa proposto pode ser traduzido através das seguintes questões:
(a) “Como ocorre o processo de cooperação tecnológica entre a empresa VALE e
as universidades?” como se dá de fato o relacionamento entre a empresa e as
universidades;
(b) “Quais as principais vantagens e desvantagens da cooperação tecnológica
entre a VALE e as universidades para os principais envolvidos?” principais vantagens e
principais desvantagens desta cooperação para a empresa, para as universidades e para a
sociedade.
126
Além disso, a Companhia Vale do Rio Doce está interessada em entender como
melhorar sua estratégia de parcerias com universidades e identificar oportunidades de
melhorias para o programa “Convênios com Universidades”.
Contamos com sua colaboração para o sucesso desta pesquisa.
Após o envio desta mensagem o entrevistador entrou em contato com cada um dos
entrevistados a fim de organizar uma agenda de entrevistas. As entrevistas, realizadas
pessoalmente ou por telefone, foram conduzidas baseadas nos roteiros apresentados a
seguir. Apesar de os roteiros estarem em forma de questionário, eles não foram
apresentados aos entrevistados, apenas o entrevistador os utilizou como referência.
11.1.1 Item A: Empregados da Empresa VALE
Roteiro para os envolvidos no projeto pela VALE
1) Qual é o seu nome?
2) Em que área da empresa você atua?
Operações de Ferrosos Operações de Não-Ferrosos
Operações de Logística Operações de Participações
Planejamento e Gestão Pesquisa & Desenvolvimento / Tecnologia
Finanças Serviços Compartilhados, TI ou RH
Outros
3) Você participa ou participou em qual projeto do programa “Convênios com
Universidades”? Citar o nome da universidade envolvida no projeto.
127
4) Além da participação no programa “Convênios com Universidades”, a
empresa e você têm ou tinham algum envolvimento com esta ou outras
universidades? Se sim, citar qual o envolvimento.
Relações pessoais informais (rede de relacionamento entre profissionais, etc.)
Relações pessoais formais (aluno de graduação, aluno de pós-graduação,
professor, pesquisador, consultor, etc.)
Outros convênios entre a empresa e universidades diferentes do programa
“Convênios com Universidades”
Contratos de prestação de serviços específicos entre a empresa e universidades
Convênios ou contratos de prestação de serviços específicos entre a empresa e
outras instituições que fazem as interações com universidades
Outros
5) Você participa ou já participou de outros projetos de “Convênios com
Universidades”? Se sim, citar o número de projetos e as universidades
envolvidas.
6) Para o projeto citado na questão 3, como, onde e quando surgiu a demanda que
motivou a criação de um projeto no programa “Convênios com Universidades”?
7) Como se deu o processo de aprovação deste projeto?
8) Quais são ou eram os objetivos deste projeto? O projeto é de pesquisa básica
ou aplicada? Há ou havia algum produto ou entrega definido?
128
9) Qual é ou era o escopo deste projeto? Qual o conteúdo da pesquisa?
10) Porquê este projeto é ou era importante para a empresa?
11) Qual é ou era a complexidade tecnológica do projeto e o grau de inovação
associado à pesquisa? Há ou havia algum risco associado ao projeto?
12) Qual é ou era a urgência deste projeto?
13) Qual a importância de envolver uma universidade para colaborar com este
projeto?
14) Em vez de uma universidade, o colaborador deste projeto poderia ser outra
instituição (uma outra empresa, um centro de pesquisa não acadêmico, um
profissional autônomo, etc.)?
15) Seria possível executar este projeto apenas com recursos internos da empresa?
16) Quem são ou eram os envolvidos da empresa neste projeto? Citar seus cargos
(analista, engenheiro, gerente, etc.) e as áreas em que atuam caso sejam
diferentes da sua.
17) Quem são os envolvidos da universidade neste projeto? Citar suas funções
(aluno, pesquisador, professor, etc.) e seus títulos acadêmicos, se for o caso.
129
18) Como acontecem ou aconteciam as interações entre as equipes da empresa e
da universidade? Citar os meios de contatos e a freqüência dos contatos e,
ainda, a qualidade destas interações.
19) Quais as principais dificuldades encontradas nas interações entre as equipes
da empresa e da universidade durante este projeto?
Dificuldades de comunicação
Dificuldades de relacionamento interpessoal
Falta de compromisso dos envolvidos na universidade com o projeto
Falta de qualidade nos produtos do projeto
Outros
20) Quais os resultados alcançados até agora com o projeto? Os objetivos estão
sendo alcançados?
21) Para você ou sua área na empresa, quais são os principais motivadores para
a cooperação tecnológica com universidades?
Acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados
Acesso a uma grande variedade de treinamentos de pós-graduação
Acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu staff
Acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade
Melhor imagem pública da empresa junto à comunidade
Obtenção de conhecimento técnico
Obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios
Acesso às fronteiras da ciência
Acesso às pesquisas científicas com viés preditivo
130
Terceirização de atividades de P&D
Melhoria da qualidade
Carência de recursos
Cortes de custos
Acesso a novos mercados
Melhoria de eficiência operacional
Outros
22) Para você ou sua área na empresa, quais são as principais barreiras à
cooperação tecnológica com universidades?
Diferenças de objetivo principal
Diferenças de finalidade ou foco
Diferenças estruturais
Diferenças culturais
Diferenças na natureza da investigação
Burocracia da empresa
Burocracia da universidade
O baixo grau de interdisciplinaridade
O pequeno tamanho de alguns laboratórios
A inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos
Diferenças em uma perspectiva cultural
Outros
131
11.1.2 Item B: Pesquisadores das Universidades Envolvidas
Roteiro para os envolvidos no projeto pela universidade
1) Qual é o seu nome?
2) Em que universidade você atua? Citar o departamento da universidade.
3) Quais atividades acadêmicas seu departamento desenvolve?
Atividades de pesquisa científica em ciência básica
Atividades de pesquisa científica em pesquisas aplicadas
Comercialização dos resultados de suas pesquisas
Lançamento e administração de patentes
Difusão de conhecimento através de publicações
Difusão de conhecimento através de educação e ensino
Prestação de serviços de consultoria
Administração de incubadoras de tecnologia e de negócios
Participação financeira em empresas
Ensino de empreendedorismo para seus alunos
Outros
4) Você participa ou participou em qual projeto do programa “Convênios com
Universidades” da Companhia Vale do Rio Doce?
132
5) Além da participação no programa “Convênios com Universidades”, a
universidade ou o seu departamento têm ou tinham algum envolvimento com a
VALE? Se sim, citar qual o envolvimento.
Relações pessoais informais (rede de relacionamento entre profissionais, etc.)
Relações pessoais formais (contratos não institucionais direto com a empresa
como professor, pesquisador, consultor, etc.)
Outros convênios entre a universidade e a VALE diferentes deste programa
(programas de treinamento, cursos de graduação, cursos de especialização, cursos
de pós-graduação, etc.)
Contratos de prestação de serviços específicos entre a universidade e a VALE
Convênios ou contratos de prestação de serviços específicos entre a
universidade e outras instituições que fazem as interações com empresas
Outros
6) Você participa ou já participou de outros projetos do programa “Convênios
com Universidades” da VALE? Se sim, citar o número de projetos.
7) Para o projeto citado na questão 3, como, onde e quando surgiu a demanda
que motivou a criação de um projeto no programa “Convênios com
Universidades”?
8) Como se deu o processo de aprovação deste projeto?
9) Quais são ou eram os objetivos deste projeto? O projeto é de pesquisa básica
ou aplicada? Há ou havia algum produto ou entrega definido?
10) Qual é ou era o escopo deste projeto? Qual o conteúdo da pesquisa?
133
11) Porquê este projeto é ou era importante para a universidade?
12) A negociação do projeto envolveu bolsas de estudos para os estudantes da
universidade? Se sim, que tipos de bolsas?
13) Qual é ou era a complexidade tecnológica do projeto e o grau de inovação
associado à pesquisa? Há ou havia algum risco associado ao projeto?
14) Qual é ou era a urgência deste projeto?
15) Qual a importância de desenvolver um projeto em cooperação com uma
empresa?
16) A universidade poderia ter desenvolvido em este projeto com a cooperação
de uma outra instituição (uma instituição governamental, uma outra
universidade, um profissional autônomo, etc.)?
17) Seria possível executar este projeto apenas com recursos internos da
universidade?
18) Quem são os envolvidos da universidade neste projeto? Citar suas funções
(aluno, pesquisador, professor, etc.), seus departamentos, caso sejam
diferentes do seu, e seus títulos acadêmicos, se for o caso.
134
19) Quem são ou eram os envolvidos da empresa neste projeto? Citar seus
cargos (analista, engenheiro, gerente, etc.) e as áreas em que atuam.
20) Como acontecem ou aconteciam as interações entre as equipes da
universidade e da empresa? Citar os meios de contatos e a freqüência dos
contatos e, ainda, a qualidade destas interações.
21) Quais as principais dificuldades encontradas nas interações entre as equipes
da universidade e da empresa durante este projeto?
Dificuldades de comunicação
Dificuldades de relacionamento interpessoal
Falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto
Outros
22) Quais os resultados alcançados até agora com o projeto? Os objetivos estão
sendo alcançados?
23) Para você ou seu departamento na universidade, quais são os principais
motivadores para a cooperação tecnológica com empresas?
Oportunidade de acesso às necessidades do mercado
Desenvolvimento de atividades fontes de receitas (serviços e produtos)
Oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes
Oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
Acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso
Exposição ao ambiente de negócios
Melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias
Criação de valor social
135
Criação de spin-offs
Acesso a recursos financeiros
Lançamento de patentes
Outros
24) Para você ou sua área na empresa, quais são as principais barreiras à
cooperação tecnológica com universidades?
Diferenças de objetivo principal
Diferenças de finalidade ou foco
Diferenças estruturais
Diferenças culturais
Diferenças na natureza da investigação
Burocracia da empresa
Burocracia da universidade
O baixo grau de interdisciplinaridade
O pequeno tamanho de alguns laboratórios
A inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos
Diferenças em uma perspectiva cultural
Outros
136
11.2 Anexo II: Resumo dos Casos Estudados
11.2.1 Caso 1: Avaliação da Integridade Estrutural de Pontes e
Viadutos
CONTEXTO DO PROJETO
Diante do aumento da demanda por transporte ferroviário para suportar as
operações da empresa na região norte do país, um dos desafios das equipes de
engenharia é dimensionar os custos das obras de expansão de infra-estrutura de
ferrovias. O projeto "Avaliação da Integridade Estrutural de Pontes e Viadutos
Ferroviários ao Longo da Estrada de Ferro Carajás" trata da realização da avaliação
estrutural das quarenta e cinco pontes e oito viadutos ferroviários da Estrada de
Ferro Carajás e do desenvolvimento de uma metodologia de avaliação de pontes e
viadutos.
O projeto envolveu a gerência de engenharia de manutenção de transportes da
Diretoria Executiva de Logística da VALE e o Núcleo de Instrumentação e
Computação Aplicado à Engenharia NiCAE da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Este é um dos três projetos ativos sob o convênio guarda-chuva de
cooperação tecnológica entre a VALE e a UFPA através da Fundação de Amparo e
Desenvolvimento da Pesquisa FADESP.
137
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. aumentar a eficiência do processo de avaliação dos projetos de
engenharia ferroviária, oferecendo aos tomadores de decisão
informações mais confiáveis; e
b. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através
dos convênios com universidades locais;
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Mecânica
Computacional e Análise Experimental de Estruturas;
b. contribuir para o desenvolvimento do parque industrial da região
amazônica, atendendo a demanda por serviços especializados de
grandes empresas localizadas nesta região;
c. aprimorar a qualidade de ensino em Engenharia em nível de
graduação e pós-graduação, através de acesso a recursos para
reaparelhamento de laboratórios e do aprimoramento técnico e
profissional para os membros participantes, principalmente os alunos.
NATUREZA
138
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como
de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos no
projeto e, do ponto de vista de tecnologia, não apresenta complexidade significativa.
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Segundo o entrevistado da universidade, o projeto tem urgência baixa, pois
ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado para outro momento sem impacto
significativo nos planos da universidade. No entanto, ele tem importância alta
considerando os motivadores do projeto e, em especial, a relevância que existe em
ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte financeiro correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência média, pois,
apesar de não representar riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais, ele pode significar resultados econômicos relevantes em novos projetos
de expansão da malha ferroviária. Ele possui importância média porque está
associado aos objetivos estratégicos de redução de custos de modo sustentável.
EQUIPE DO PROJETO
O engenheiro A.A.A. é o coordenador técnico pela VALE e é o único
empregado da empresa envolvido diretamente no projeto. A coordenadora técnica
139
do projeto por parte da UFPA é a professora R.A.C.S., doutora em Engenharia Civil
e especialista em dinâmica das estruturas, e a equipe técnica principal responsável
pela execução dos trabalhos conta ainda com os seguintes participantes: o professor
D.R.C.O., doutor em Engenharia Civil e especialista em estruturas de concreto; o
professor L.A.C.M.V., doutor em Engenharia Civil e especialista em análise
experimental de estruturas; o professor R.M.S., doutor em Engenharia Civil,
especialista em engenharia de estruturas e em mecânica computacional; o
engenheiro S.D.R.A., mestre em Engenharia Civil na área de dinâmica das
estruturas; o professor A.N.M., doutor em Engenharia Civil e especialista em fadiga
de estruturas e ligações; o professor J.P.R.N., mestre em Engenharia Civil e
especialista em estruturas metálicas e em projeto de grandes estruturas; o professor
R.J.F.M.C., doutor em Engenharia Civil e especialista em estruturas de concreto
armado; o professor S.J.R.J., doutor em Engenharia Civil e especialista em
otimização de estruturas de concreto armado; o professor J.A.A.J., doutor em
Engenharia Civil e especialista em fundações e mecânica dos solos; o professor
G.J.A., doutor em Engenharia Civil e especialista em geotecnia. Há uma equipe de
campo dedicada aos trabalhos de inspeção, instrumentação e monitoração das
estruturas, formada por dois destes professores, um engenheiro civil especialista em
estruturas, dois alunos de mestrado e iniciação científica vinculados ao NiCAE, dois
técnicos de nível médio, e operários para serviços auxiliares.
Foram entrevistados o engenheiro A.A.A., coordenador técnico do projeto pela
VALE, e a professora R.A.C.S., coordenadora técnica do projeto por parte da UFPA.
A entrevista com o engenheiro da empresa se deu no escritório da empresa em Belo
Horizonte e, com a professora, se deu por telefone.
140
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pessoal interno);
b. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios
(empresas de consultoria ou prestação de serviços, conhecimento
interno da empresa, etc.);
c. melhoria da qualidade (o processo de avaliação atual assume
premissas conhecidamente inadequadas); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado
(desenvolvimento de atividades alinhadas às necessidades do
mercado);
b. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes;
c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
d. exposição ao ambiente de negócios (criação de uma metodologia que
possa vir a ser utilizada por outras empresas); e
e. acesso a recursos financeiros (obtenção de recursos para pesquisas e
melhorias na infra-estrutura da universidade).
141
EXECUÇÃO DO PROJETO
As etapas do projeto são: Análise Preliminar, Análise do Material Construtivo,
Análise Numérica, Monitoramento Estrutural, Calibração do Modelo Numérico,
Análise da Resistência à Fadiga da Estrutura, e Avaliação e Re-Adequação do
Projeto Estrutural Original. O projeto possui um escopo bem definido, com entregas
parciais ao final de cada uma das etapas acima.
O projeto, planejado para durar 6 meses, iniciou em fevereiro de 2007 e está
com previsão de encerramento para o final do mês de setembro de 2007, com
apenas um pequeno atraso em relação ao plano inicial. O engenheiro da empresa
encontra-se uma vez a cada duas semanas para uma reunião de acompanhamento
do projeto com a equipe da universidade a coordenadora e o líder da equipe de
campo no escritório da empresa em Carajás, no Pará. Eventualmente, este
encontro é realizado no campus da universidade em Belém.
RESULTADOS DO PROJETO
Ambas as partes estão entusiasmadas com o projeto. As etapas que já foram
concluídas são: Análise Preliminar, Análise do Material Construtivo, Análise
Numérica, Monitoramento Estrutural, e Calibração do Modelo Numérico. Os
resultados destas etapas foram apresentados em encontro com os patrocinadores
142
do projeto e, segundo o coordenador do projeto, eles estão satisfeitos com os
resultados apresentados. As etapas restantes Análise da Resistência à Fadiga da
Estrutura, e Avaliação e Re-Adequação do Projeto Estrutural Original serão, no
entanto, as que realmente importam no que diz respeito à quantificação do retorno
do projeto e, portanto, estão sendo esperadas com maior ansiedade.
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados não falaram espontaneamente sobre quaisquer barreiras para
a realização do projeto. A partir da utilização do roteiro de entrevista ambos
entrevistados citaram o que eles puderam entender como barreiras:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. diferenças em uma perspectiva cultural (decisões técnicas da equipe
de projeto não focadas em resultado); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. burocracia da empresa (dificuldades de acesso a instalações).
É relevante citar, como pode ser observado nas descrições a seguir, que este
caso foi o único que aconteceu de acordo com o cronograma, com ambas as partes
cumprindo suas tarefas sem atrasos significativos. Por isso mesmo acredito que não
falaram espontaneamente sobre barreiras.
143
11.2.2 Caso 2: Modelagem Numérica e Inversão de Dados
Tensoriais
CONTEXTO DO PROJETO
A atividade de exploração geofísica normalmente demanda alguma incerteza e
grandes investimentos. Novas técnicas e ferramentas podem significar um fator
decisivo na identificação de alvos de pesquisa, reduzindo riscos sem adicionar altos
custos, e aumentando a eficiência de programas de sondagem exploratória. O
projeto “Modelagem numérica e inversão de dados tensoriais de aerogradiometria
gravimétrica no Quadrilátero Ferrífero Minas Gerais e Carajás Pará” trata da
proposição de novas técnicas e ferramentas computacionais para programas de
sondagem exploratórios.
O projeto envolveu a pesquisa de um empregado do Departamento de
Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos da VALE e o Departamento de
Geologia IGEO/CCMN da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Havia
um convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a VALE e a UFRJ,
através da Fundação Universitária José Bonifácio, que foi o instrumento utilizado
para o financiamento da pesquisa.
144
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. capacitar seu empregado, oferecendo acesso a técnicas e ferramentas
modernas não disponíveis na empresa; e
b. motivar seu empregado, investindo em sua formação com cursos de
longa duração e de titulação avançada.
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Geologia;
b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de
risco médio porque o assunto envolve tecnologias ainda não dominadas, e foi
considerado de risco baixo pela empresa porque envolve um investimento baixo e
não está associado a nenhuma meta estratégica ou gargalo operacional.
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como programa de intercâmbio, pois o empregado da empresa ficou
afastado de suas atividades profissionais e dedicado exclusivamente à pesquisa
145
durante o projeto, e conferências e publicações, uma vez que o trabalho da
dissertação de mestrado do autor está disponível.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como no caso anterior, segundo o entrevistado da universidade, o
projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado
para outro momento sem impacto significativo nos planos da universidade. No
entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do projeto e, em
especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte
financeiro correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele
não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a
nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.
EQUIPE DO PROJETO
O projeto foi desenvolvido pelo geólogo e pesquisador M.A.B., empregado da
VALE licenciado para cursar o mestrado na UFRJ; o projeto em questão foi sua
pesquisa para obtenção do título de mestre. A pesquisa foi orientada pelos
professores S.C.J. e D.H. do Departamento de Geologia da UFRJ. A Coordenação
Técnica do projeto era constituída pelo professor S.C.J., da UFRJ, e por N.B.,
também geólogo e superior imediato do autor da pesquisa na VALE.
146
Foram entrevistados o geólogo M.A.B., autor da pesquisa e empregado da
VALE, e o professor S.C.J. do Departamento de Geologia da UFRJ, orientador da
pesquisa. A entrevista com o geólogo da empresa se deu no escritório da empresa
em Belo Horizonte e, com o professor, se deu por telefone.
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):
a. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pesquisador
interno);
b. acesso às fronteiras da ciência (descoberta de novas técnicas e
metodologias para pesquisa geológica);
c. melhoria da qualidade (maior eficiência, através de novas técnicas, nos
processos de pesquisa geológica); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
b. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias
(utilização das técnicas e metodologias pesquisadas na VALE); e
c. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para
os alunos de pós-graduação).
147
EXECUÇÃO DO PROJETO
As etapas da pesquisa foram: obtenção de créditos em disciplinas de mestrado;
treinamento e aprendizado em programação Matlab e Fortran; implementação de
algoritmos para modelagem direta de dados do tensor de gradiometria gravimétrica
aérea; geração de modelos sintéticos análogos às estruturas estimadas do
Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais; proposição de técnicas de inversão dos
dados do tensor de gradiometria gravimétrica e regularização via Condição de
Picard, Curva-L e Tikhonov; aplicação a dados reais adquiridos e cedidos pela
VALE, utilizando levantamentos aéreos do tipo 3D-FTG; elaboração de artigos
técnico-científicos para publicação em revistas especializadas; redação e defesa
pública da dissertação de mestrado.
Atualmente o pesquisador está trabalhando nas duas últimas etapas, com
artigos inscritos como candidatos nas principais publicações da área e sua defesa
de dissertação de mestrado planejada para setembro de 2007. O trabalho total está
previsto para durar vinte meses e ficou dentro da diferença discutida como aceitável
durante o planejamento inicial do projeto que previa uma duração total de dezoito
meses.
148
RESULTADOS DO PROJETO
O trabalho de pesquisa têm sido elogiado, segundo o professor orientador,
pelos demais pesquisadores que tiveram acesso a ele. Segundo o professor, os
resultados desta pesquisa de mestrado são comparáveis às teses de doutorado
desenvolvidas no departamento.
O autor do trabalho está muito feliz com os resultados e as oportunidades de
publicação que estão surgindo, mas recusou o convite de continuar o estudo em
nível de doutorado porque espera ter oportunidades de aplicar a experiência
desenvolvida na academia dentro da empresa VALE.
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o
andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a
conclusão do projeto. Foram eles:
i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio e sua
liberação da empresa para cursar o mestrado foi longo demais);
b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões
sobre o viés da pesquisa, os orientadores buscavam as fronteiras da
ciência e o autor uma aplicação prática para o trabalho); e
149
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto (ao
longo do projeto o autor da pesquisa se envolveu com outras
atividades da empresa não relacionadas ao projeto);
b. burocracia da empresa (as mesmas dificuldades apontadas pelo autor
da pesquisa).
150
11.2.3 Caso 3: Modelamento Geológico Estrutural de Depósito
Ferrífero
CONTEXTO DO PROJETO
Os estudos de Geologia, de Geotecnia e de Planejamento de Lavra de Curto
Prazo e de Longo Prazo são subsidiados pelo modelamento geológico de depósitos
de minério de ferro. O projeto “Modelamento Geológico Estrutural do Depósito
Ferrífero de Brucutu e Dois Irmãos” trata do modelamento geológico estrutural dos
depósitos ferríferos de Brucutu e Dois Irmãos e da elaboração de um banco de
dados contendo as coordenadas geográficas das estações, as medidas de contatos
geológicos e os elementos estruturais relevantes para o condicionamento da
geometria destes depósitos.
O trabalho foi solicitado por geólogos do Departamento de Ferrosos Sudeste da
VALE ao Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal
de Ouro Preto (UFOP). O convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a
VALE e a UFOP, através da Fundação Gorceix, fundação de apoio à Universidade
Federal de Ouro Preto, é o mais utilizado no Programa de Convênios com
Universidades da empresa. A Escola de Minas da UFOP é a que tem mais tradição
no país na formação de Engenheiros de Minas e a VALE conta com vários ex-alunos
desta escola em seu quadro de empregados.
É comum surgirem demandas como esta: este é um trabalho de apoio às
atividades profissionais da empresa, através de um projeto de iniciação científica,
151
que envolve a participação de um aluno de graduação que conhecerá na práticas
atividades diretamente relacionadas aos seus estudos.
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. desenvolver a imagem da empresa diante da comunidade científica;
b. desenvolver o relacionamento com a UFOP, universidade que
tradicionalmente forma empregados da empresa; e
c. conhecer estudantes que possam vir a integrar seu quadro de
empregados;
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. enriquecer a formação de seus alunos de graduação;
b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como
de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos no
projeto e não apresenta complexidade tecnológica significativa.
152
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como programa de intercâmbio, pois houve dedicação integral de
estudantes da universidade ao projeto em período de férias escolares, e também
como prestação de serviços técnicos e de consultoria.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como nos casos anteriores, segundo o entrevistado da universidade, o
projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado
para outro momento sem impacto significativo nos planos da universidade. No
entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do projeto e, em
especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte
financeiro correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele
não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais. Ele possui importância média porque, apesar de não estar associado a
nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional, está relacionado com a
formação de alunos que historicamente são selecionados para o quadro de
empregados da empresa.
EQUIPE DO PROJETO
A equipe executora do projeto inclui o geólogo e professor I.E., o aluno de
graduação bolsista G.Q., um geólogo da VALE e um ajudante de campo para
153
auxiliar o levantamento geológico e coleta de amostras para análises geoquímicas.
Para constituir a Coordenação Técnica do projeto, fica indicado o professor I.E. por
parte da UFOP, e o geólogo J.C.V.C. por parte da empresa.
Foram entrevistados o geólogo J.I.R., de uma das equipes de planejamento de
lavra de longo prazo da VALE e solicitante do trabalho, e o professor I.E., geólogo,
com larga experiência em mapeamento geológico, análise estrutural e análise
tectônica do Departamento de Geologia da UFOP. A entrevista com o geólogo da
empresa se deu no escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor, se
deu por telefone.
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):
a. acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados (os alunos,
além do curso de alto nível, passam a conhecer as operações da
empresa);
b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da
universidade (conhecimentos e técnicas conhecidas disponibilizadas
para a empresa);
c. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade
(principalmente, neste caso, à comunidade científica);
154
d. carência de recursos (principalmente de mão-de-obra técnica
qualificada); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes; e
b. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de iniciação
científica para os alunos de graduação).
EXECUÇÃO DO PROJETO
As etapas da pesquisa foram: levantamento e revisão bibliográfica sobre a
geologia da região de Brucutu e Dois Irmãos; mapeamento geológico-estrutural;
confecção de mapas e seções geológicas; confecção do relatório final do
mapeamento.
O trabalho durou seis meses e foi desenvolvido pelo aluno na própria
universidade. O aluno, quando ia a campo, visitava apenas as áreas pesquisadas,
não indo aos escritórios da empresa. As interações se davam por telefone ou correio
eletrônico.
RESULTADOS DO PROJETO
Este projeto foi completado com sucesso e atualmente o aluno de graduação
possui outra bolsa de iniciação científica para desenvolvimento de projeto em outra
área de conhecimento. A continuidade da iniciativa por si só expressa o seu
sucesso.
155
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados não citaram barreiras quando lhes foi perguntado, mas
quando apresentados os itens do roteiro de entrevista, ambos citaram os seguintes:
i) Do ponto de vista do coordenador do projeto pela empresa:
a. burocracia da universidade (o tempo para aprovação do convênio e
disponibilização da equipe foi longo demais); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto (os
profissionais da empresa diversas vezes não estavam disponíveis
quando solicitados); e
b. burocracia da empresa (os recursos necessários ao projeto que
deveriam ser disponibilizados pela empresa atrasaram muito).
156
11.2.4 Caso 4: Estudo de Lastro de Ferrovia com Escória
CONTEXTO DO PROJETO
Nas operações ferroviárias as sinalizações para o uso adequado de desvios e
para evitar desastres são feitas através de circuitos elétricos instalados nas vias.
Uma das causas de falhas neste sistema de sinalização é a condução elétrica pela
escória que serve de lastro nas ferrovias, principalmente quando chove, causando a
emissão de falsos alertas. O projeto “Estudo de Lastro de Ferrovia com Escória de
Aciaria” trata da determinação quantitativa e qualitativa da composição química da
escória, realização de ensaios de laboratório e de campo em situ nas condições de
uso, verificação e monitoramento de seu comportamento e desempenho, e
determinação da condutividade elétrica em função da composição química da
escória, assim como na presença de outros contaminantes na via.
O projeto envolveu a pesquisa de um aluno de mestrado do Departamento de
Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
e a Gerência de Segurança da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFMV) da VALE. O
instrumento utilizado para o financiar a pesquisa foi o convênio guarda-chuva de
cooperação tecnológica entre a VALE e a UFOP já citado no caso anterior.
157
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios para
solucionar um problema grave de segurança e produtividade na
empresa; e
b. melhorar a produtividade da empresa através de uma maior capacidade
de transporte ferroviário (redução de paralisação do trafego ferroviário,
e eliminação das restrições de velocidade devido a manutenção de
linha decorrente da escória).
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de
Engenharia Civil;
b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de
risco alto porque o assunto envolve fronteiras do conhecimento e é
tecnologicamente complexo, e, pela empresa, foi considerado de risco baixo
porque, apesar da complexidade, envolve um investimento baixo.
158
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como conferências e publicações, uma vez que o trabalho da
dissertação de mestrado do autor foi publicado e é base de conhecimento para
novos projetos da empresa.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como nos casos anteriores, segundo o entrevistado da universidade, o
projeto tem urgência alta, pois, embora ele possa ser postergado para outro
momento, isso causaria um impacto relevante no caráter inovador da iniciativa, há
inclusive a expectativa de lançamento de patentes dos produtos deste projeto. E tem
importância alta também considerando os motivadores do projeto e, em especial, a
relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte financeiro
correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência alta, pois ele está
associado a riscos de passivos operacionais associados à segurança dos
empregados, e econômicos devido aos custos maiores na operação. Ele possui
importância alta porque está associado aos objetivos estratégicos de redução de
custos e aos gargalos operacionais de produtividade da ferrovia.
EQUIPE DO PROJETO
O projeto está sendo desenvolvido por G.M., autor da pesquisa de mestrado e
bolsista do projeto, e G.F., professor coordenador do projeto e orientador da
159
pesquisa. Para constituir a Coordenação Técnica pela UFOP, foi indicado o
professor G.F., e pela VALE, o engenheiro P.L.S.
Foram entrevistados o professor G.F., doutor em Engenharia Civil e orientador
da dissertação de mestrado da pesquisa em questão, e o Engenheiro de Segurança
P.L.S., empregado da VALE. A entrevista com o geólogo da empresa se deu no
escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor, foi uma entrevista no
campus da UFOP, em conjunto com o professor V.A.L., envolvido no caso 5 que
está apresentado adiante.
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu
staff (foram utilizados laboratórios da universidade para análises
específicas que não poderiam ser realizadas internamente);
b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da
universidade (conhecimento específicos não disponíveis internamente);
c. acesso às fronteiras da ciência (descoberta de novas composições
para escória);
d. melhoria de eficiência operacional; e
ii) Do ponto de vista da universidade:
160
a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado (necessidade
real de uma grande empresa);
b. desenvolvimento de atividades fontes de receitas (prestar serviços a
outras empresas através de novas tecnologias pesquisadas para
produção dos materiais utilizados como lastro na infra-estrutura de
transportes);
c. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes;
d. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
e. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias;
f. criação de valor social (desenvolvimento de infra-estrutura de
transporte);
g. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para
os alunos de pós-graduação);
h. lançamento de patentes.
A entrevista no campus da universidade foi realizada com os envolvidos em
dois projetos diferentes, o resultado acima é a contribuição dos dois entrevistados,
não foi possível diferenciar suas respostas associando-as com os diferentes
projetos.
EXECUÇÃO DO PROJETO
As etapas da pesquisa foram: assinatura do convênio que estabelece as
obrigações entre as partes; planejamento e revisão bibliográfica a fim de especificar
161
os equipamentos que serão utilizados nas instrumentações de campo e nos testes
de laboratório; monitoramento por meio de visitas mensais aos desvios situados ao
longo da EFVM na cidade de Coronel Fabriciano; tratamento do banco de dados;
ensaios de laboratório na UFOP; ensaios de campo; análises; emissão de relatório
técnico para VALE.
O projeto está atrasado em mais de seis meses. Os encontros periódicos
planejados para fazer o acompanhamento do projeto raramente acontecem. A
previsão de entrega do relatório técnico é dezembro de 2007.
RESULTADOS DO PROJETO
Apesar de problemas significativos de cronograma, os testes de laboratório
apresentaram resultados importantes quanto a novas composições para a escória.
Não foi possível avaliar resultados parciais, mas as expectativas de ambas as partes
são muito altas.
BARREIRAS ENCONTRADAS
Ao longo do projeto houve sérios problemas de relacionamento entre os
envolvidos no projeto. Como eram necessários deslocamentos para os trabalhos de
campo os pesquisadores enfrentaram vários problemas administrativos. Houve
necessidade de interferência de executivos para que o projeto continuasse e
atualmente os ânimos parecem estar controlados.
162
Os problemas citados estão representados nas seguintes barreiras:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. dificuldades de relacionamento interpessoal (discussões de projetos
foram levadas para o lado pessoal);
b. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio e sua
liberação da empresa para cursar o mestrado foi longo demais);
c. diferenças em uma perspectiva cultural (o envolvido pela empresa é
bastante exigente e muito focado em resultado);
d. falta de qualidade nos produtos do projeto (não aceitação de alguns
produtos do projeto); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto
(queixas de ausência do “cliente”, informações essenciais não
passadas em tempo adequado);
b. dificuldades de relacionamento interpessoal (discussões de projetos
foram levadas para o lado pessoal);
c. burocracia da empresa (dificuldade de acesso às instalações da
empresa, reservas de hotéis não realizadas, roteiros de viagem com
informações erradas); e
d. A inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos
(queixas de não cumprimentos das tarefas negociadas no acordo com
responsabilidade da empresa).
163
11.2.5 Caso 5: Estudo de Processo Biológico para Redução de
Sulfato
CONTEXTO DO PROJETO
A remoção de sulfato é um problema real para as empresas que necessitam
adequar seus efluentes aos padrões determinados pela resolução CONAMA nº 20
de 1986. Os métodos tradicionais de remoção de sulfato apresentam sérios
problemas: a utilização de metais pesados contaminantes e poluentes. A alternativa
mais promissora e que já vem sendo aplicada industrialmente envolve o uso de
bactérias redutoras de sulfato (BRS). O projeto de pesquisa “Processo
Biotecnológico para Redução de Sulfato” visa dar continuidade aos estudos
realizados em reatores anaeróbios utilizando as BRS para tratamento de efluentes
industriais e de soluções sintéticas.
O projeto envolveu a pesquisa de um aluno de doutorado do Departamento de
Engenharia Química da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP) e o Departamento de Pesquisa Mineral da VALE. O convênio de
cooperação citado nos dois casos anteriores foi o instrumento utilizado para o
financiamento da pesquisa.
164
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios para
solucionar um problema grave de segurança e produtividade na
empresa; e
b. estar aderente às políticas da empresa de crescimento sustentável e
de responsabilidade sócio-ambiental;
c. melhorar os processo de tratamento de efluentes da empresa, não só
para atender às normas ambientais, evitando passivos ambientais; e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Química
e Engenharia Química; e
b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de
risco alto porque o assunto envolve fronteiras do conhecimento e é
tecnologicamente complexo, e foi considerado de risco baixo pela empresa porque,
apesar da complexidade, envolve um investimento baixo.
165
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como conferências e publicações, uma vez que o trabalho da tese de
doutorado do autor será publicado e é base de conhecimento para novos projetos da
empresa.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Segundo o entrevistado da universidade, o projeto tem urgência média, pois,
embora seja possível postergá-lo para outro momento sem impacto significativo nos
planos da universidade, ele está associado a oportunidades de lançamento de
patentes. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do
projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na
VALE e o aporte financeiro correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência média, pois
apesar de estar associado a riscos de passivos ambientais, a solução atual respeita
os limites toleráveis e permitidos pela legislação específica. Possui, porém,
importância alta porque está associado aos objetivos estratégicos de crescimento
social e ambientalmente sustentável.
EQUIPE DO PROJETO
O projeto está sendo desenvolvido por S.N.M., autora da pesquisa de
doutorado e bolsista do projeto, e V.A.L., professor coordenador do projeto e
166
orientador da pesquisa. Para constituir a Coordenação Técnica pela UFOP foi
indicado o professor V.A.L. e a pesquisadora G.S.P.P. pela VALE.
Foram entrevistados o professor V.A.L., doutor em Engenharia Química e
orientador da tese de doutorado da pesquisa em questão, e a engenheira G.S.P.P.,
doutora em Engenharia Química e pesquisadora da VALE. A entrevista com a
engenheira da empresa se deu no escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o
professor, conforme citado anteriormente, foi uma entrevista no campus da UFOP,
em conjunto com o professor G.F., doutor em Engenharia Civil e orientador da
dissertação de mestrado da pesquisa do caso anterior.
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu
staff (foram utilizados laboratórios da universidade para análises
específicas que não poderiam ser realizadas internamente);
b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da
universidade (conhecimento específicos não disponíveis internamente);
c. acesso às fronteiras da ciência (descoberta de novos processos de
redução de sulfato); e
167
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado (necessidade
real de uma grande empresa);
b. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes;
c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
d. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias;
e. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para
os alunos de pós-graduação);
f. lançamento de patentes.
A entrevista no campus da universidade foi realizada com os envolvidos em
dois projetos diferentes, o resultado acima é a contribuição dos dois entrevistados,
não foi possível diferenciar suas respostas associando-as com os diferentes
projetos.
EXECUÇÃO DO PROJETO
As etapas da pesquisa foram: obtenção de créditos para titulação de doutorado;
revisão bibliográfica; coleta de amostras de BRS; isolamento e caracterização
bacteriana; ensaios em batelada; ensaios em contínuo; redação de artigos; redação
da tese.
A pesquisa de doutorado está no fim de seu segundo ano, de um total previsto
de quatro. Atualmente a pesquisadora está escrevendo artigos com os primeiros
168
resultados das análises. A previsão de defesa da tese de doutorado é dezembro de
2009.
RESULTADOS DO PROJETO
Nenhum resultado foi apresentado para a VALE até o momento. Mas o
andamento do projeto está conforme o plano inicial. As expectativas de ambas as
partes são muito altas.
BARREIRAS ENCONTRADAS
Poucas foram as barreiras relatadas pelos envolvidos neste projeto. Mas é
relevante lembrar que a entrevista com o professor foi em conjunto com o de outro
projeto que teve muitos problemas, de modo que ele parece ter sido contaminado
pelo outro. As barreiras citadas foram:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo
demais e houve um problema de atraso no pagamento da bolsa de
doutorado por problemas administrativos);
b. diferenças em uma perspectiva cultural (o foco dos pesquisadores não está
em resultados); e
169
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto (queixas de
ausência do “cliente”);
b. burocracia da empresa (dificuldade de acesso às instalações da empresa,
pagamentos da bolsa de doutorado não efetuados).
170
11.2.6 Caso 6: Estudo de Modelação de Complexo Portuário
CONTEXTO DO PROJETO
O desenvolvimento da região Norte como pólo exportador passa pela
necessidade de expansão dos portos locais. Destacam-se nesse cenário os
terminais marítimos maranhenses, operados que VALE, responsáveis por parte
significativa dos embarques, não somente dos produtos da empresa, mas também
carga geral, principalmente agrícola, produzidos na região. O projeto “Modelagem
Numérica Hidrodinâmica e Sedimentológica do Complexo Portuário do Maranhão”
trata dos estudos de modelagem necessários para o planejamento da ampliação do
Terminal Marítimo da Ponta da Madeira, em São Luís, e também para os estudos de
viabilidade para construção de novos portos.
O projeto envolveu o estudo e o uso de técnicas avançadas de modelagem por
dois pesquisadores do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e a Gerência de Portos do
Departamento de Projetos de Engenharia da VALE. O projeto foi criado através do
convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a VALE e a USP, através
da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP).
171
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. desenvolver a imagem da empresa diante da comunidade científica;
b. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios; e
c. melhorar a produtividade da empresa através de práticas de
modelagem e simulação.
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de
Engenharia e Computação;
b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de
risco médio porque o assunto envolve tecnologias ainda não dominadas, e também
foi considerado pela empresa de risco médio porque, além da complexidade,
envolve um investimento relevante.
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.
172
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da
universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou
ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da
universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do
projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na
VALE e o aporte financeiro correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele
não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a
nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.
EQUIPE
A equipe do projeto era composta por dois especialistas: um professor com
doutorado e especialista em Hidráulica Marítima, coordenador do projeto; e outro
professor com doutorado e especialista em Hidráulica Marítima e Modelagem
Numérica em Hidráulica.
Foram entrevistados o engenheiro C.F., especialista em Portos da VALE, e o
professor P.A., doutor em Engenharia Naval, e coordenador técnico do projeto pela
USP. A entrevista com o engenheiro da empresa se deu em um escritório da
empresa no Rio de Janeiro e, com o professor, se deu por telefone.
173
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade;
b. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pessoal interno);
c. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios
(empresas de consultoria ou prestação de serviços, conhecimento interno
da empresa, etc.);
d. melhoria da qualidade (os estudos de viabilidade dos portos atualmente não
contempla simulações sofisticadas); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado (desenvolvimento de
atividades alinhadas às necessidades do mercado);
b. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
c. exposição ao ambiente de negócios (utilização de uma metodologia que
possa vir a ser utilizada por outras empresas);
d. criação de valor social (apoio a projetos de desenvolvimento de infra-
estrutura de transportes que permite o desenvolvimento de toda uma região
do país); e
e. acesso a recursos financeiros (obtenção de recursos para pesquisas e
melhorias na infra-estrutura da universidade).
174
EXECUÇÃO DO PROJETO
O escopo do projeto inclui o desenvolvimento de três fases: Modelagem
numérica do píer IV, V, VI e VII, e obras fixas associadas; Modelagem numérica de
Bacabeiras; Estudo da evolução hidrossedimentológica e morfológica da zona
portuária e de seu entorno. As etapas do projeto são: Levantamento de dados;
Sistematização dos dados barimétricos; Caracterização do clima; Calibração fina do
modelo; Execução de modelagem numérica; e Emissão de Relatórios.
O projeto, planejado para durar doze meses, foi concluído com sucesso em
catorze meses, no início de 2007, com apenas um pequeno atraso em relação ao
plano inicial. Ao longo do projeto os envolvidos pouco se encontraram, apesar de
terem planejado encontros periódicos, mas isso não afetou significativamente o
andamento do projeto devido ã pouca interdependência das atividades do projeto.
RESULTADOS DO PROJETO
Apesar de um pequeno atraso em relação ao plano inicial, todos os produtos do
projeto foram entregues com a qualidade esperada, fazendo com o projeto
alcançasse o sucesso desejado.
175
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o
andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a
conclusão do projeto. Foram eles:
i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do projeto dentro do
convênio foi longo demais); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;
b. burocracia da empresa (o projeto já estava informalmente aprovado, mas o
tempo para a aprovação formal do projeto foi longo demais).
176
11.2.7 Caso 7: Desenvolvimento de Simulador Ferroviário
CONTEXTO DO PROJETO
A formação de mão-de-obra especializada é um dos pontos-chave para o
desenvolvimento da infra-estrutura logística para suportar a expansão dos negócios
do país. Uma destas demandas por especialização envolve os maquinistas que
operam as estradas de ferro da empresa. O projeto “Pesquisa e Desenvolvimento de
Simulador de Realidade Virtual para a Operação de Trens Ferroviários e
Treinamento de Maquinistas” trata do desenvolvimento e implantação de um sistema
computacional de simulação de realidade virtual para a operação de trens
ferroviários e treinamento de maquinistas que inclui a dinâmica longitudinal e
transversal do trem, os sistemas de tração, os sistemas de freio do trem e a via
férrea com sinalização e controle.
O projeto envolveu a área de engenharia e implantação de projetos da Diretoria
Executiva de Logística da VALE e a Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (USP). Este projeto também foi criado através do convênio guarda-chuva de
cooperação tecnológica entre a VALE e a USP citado no caso anterior.
177
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. desenvolver a imagem da empresa diante da comunidade científica;
b. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios; e
c. melhorar a produtividade da empresa através de práticas de
modelagem e simulação.
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de
Engenharia e Computação;
b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de
risco médio porque o assunto envolve tecnologias ainda não dominadas, ainda que
conhecidas e com projeto similar já desenvolvido, e foi considerado pela empresa de
risco alto porque, além da complexidade, envolve um investimento significativo.
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria e também
como treinamento.
178
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da
universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou
ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da
universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do
projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na
VALE e o enorme aporte financeiro ao projeto.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência alta, pois ele está
associado a riscos de passivos sócio-econômicos através do atendimento à
comunidade local e formação de mão-de-obra qualificada. Ele possui importância
média porque está associado a objetivo de desenvolvimento da comunidade local.
EQUIPE
Foram entrevistados o Engenheiro F.M.O. e o Prof. R.S.B., pontos focais do
projeto na VALE e na USP, respectivamente. A entrevista com o engenheiro da
empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor,
se deu por telefone.
179
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):
a. acesso à base de conhecimento da universidade;
b. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pesquisador interno);
c. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios;
d. acesso às pesquisas científicas com viés preditivo (utilização de
simuladores para antecipação de problemas);
e. melhoria da eficiência operacional (maior eficiência, através da simulação,
na operação da ferrovia); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. acesso às necessidades do mercado;
b. desenvolvimento de atividades fontes de receitas;
c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
d. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias
(utilização das técnicas e metodologias pesquisadas na VALE); e
e. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para os
alunos de pós-graduação).
180
EXECUÇÃO DO PROJETO
As etapas do projeto são: Levantamento detalhado de requisitos;
Desenvolvimento da simulação; Arquitetura do projeto e software. O sistema está
sendo desenvolvido a partir do conhecimento da equipe de modelos e sistemas, e
de informações fornecidas pela VALE e seus fornecedores, e, ainda, eventuais
ensaios.
O projeto, planejado para durar vinte e quatro meses, está com seu
cronograma atrasado em seis meses devido à dificuldade de refinamento de escopo
na fase de levantamento detalhado. Apesar disso os envolvidos não expressaram
insatisfações mesmo quando provocados pelo entrevistador.
RESULTADOS DO PROJETO
Até o momento das entrevistas o projeto não havia apresentado qualquer
resultado, estava bem atrasado, e apesar disso nenhum dos envolvidos demonstrou
preocupação.
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o
andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a
conclusão do projeto. Foram eles:
181
i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do projeto dentro do
convênio foi longo demais);
b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o
viés da pesquisa, o simulador precisou de muitos ajustes para representar a
realidade de fato ao invés de um excelente modelo teórico); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;
b. burocracia da empresa (o tempo para a aprovação formal do projeto foi
longo demais).
182
11.2.8 Caso 8: Desenvolvimento de Tecnologia Georadar
CONTEXTO DO PROJETO
Atualmente na área de transporte de carga tem-se que a manutenção da linha
de tráfego é um dos aspectos cruciais tanto para garantir a continuidade do fluxo de
materiais quanto para a economia de recursos em sua recuperação. No caso de
transporte por linha férrea, ocorre uma rápida deterioração da superfície em função
de vários fatores, ocasiona um aumento nos custos para a conservação da linha
devido à queda de produtividade da operação ferroviária e à probabilidade de
interrupção dos serviços. O projeto “Desenvolvimento de Tecnologia Georadar para
Verificação in situ da Integridade das Subestruturas de Linhas Férreas da VALE”
trata da aplicação da técnica geofísica Georadar na caracterização das qualidades e
da composição dos lastros ao longo da Estrada de Ferro VitóriaMinas a fim de
melhorar o planejamento das manutenções necessárias para melhorar o
desempenho dessas operações.
O projeto envolveu a área de engenharia e implantação de projetos da Diretoria
Executiva de Logística da VALE e o Instituto de Geociências, do Departamento de
Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O projeto foi criado
através do convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a VALE e a
UFMG, através da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP).
183
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. aumentar a eficiência do processo de avaliação dos projetos de engenharia
ferroviária, oferecendo aos tomadores de decisão melhores valores para
indicadores como, por exemplo, disponibilidade física da via; e
b. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através dos
convênios com universidades locais; e
c. capacitar pessoal interno em tecnologias não dominadas e de conhecimento
não disponível.
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver projetos de cooperação com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas;
b. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Engenharia e
Computação; e
c. desenvolver capacitação em implantação da Tecnologia Georadar.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como
de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos no
projeto, apesar da complexidade tecnológica, e não implica em investimentos
relevantes.
184
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da
universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou
ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da
universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do
projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na
VALE e o aporte financeiro ao projeto.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele
não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a
nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.
EQUIPE
Foram entrevistados o Engenheiro A.V. e o Prof. Dr. P.R.A.A., pontos focais do
projeto na VALE e na UFMG, respectivamente. A entrevista com o engenheiro da
empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor,
se deu por telefone.
185
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):
a. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade
(conhecimentos e técnicas conhecidas disponibilizadas para a empresa);
b. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade (principalmente,
neste caso, à comunidade científica);
c. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de engenheiros e
pesquisadores internos);
d. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios;
e. acesso às pesquisas científicas com viés preditivo (antecipação de
manutenções preventivas a partir da verificação da estrutura das linhas
férreas);
f. carência de recursos (principalmente de mão-de-obra técnica qualificada); e
g. melhoria da eficiência operacional (evitar a indisponibilidade da ferrovia
devido a descarrilamentos); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. acesso às necessidades do mercado;
b. desenvolvimento de atividades fontes de receitas;
c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
d. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias
(utilização das técnicas e metodologias pesquisadas na VALE); e
e. acesso a recursos financeiros.
186
EXECUÇÃO DO PROJETO
A execução do projeto se deu quatro fases: fase 1 conhecer o equipamento
GSSI e observar se o mesmo possui viabilidade técnica de utilização para aquisição
dos dados; fase 2 execução dos levantamentos Georadar ao longo dos pontos e
linhas escolhidos; fase 3 teste completo da linha EFVM; fase 4 treinamento da
equipe (aquisição, processamento e interpretação).
O projeto está na fase final de execução a de capacitação da equipe da
empresa com pequeno atraso de um mês dentro do período planejado de doze
meses.
RESULTADOS DO PROJETO
Apesar de um pequeno atraso em relação ao plano inicial, os produtos do
projeto definição de padrões de estruturação da área onde ocorreu o
escorregamento, e implantação de uma rotina do Georadar na manutenção da
EFVM foram entregues com a qualidade esperada, fazendo com o projeto
alcançasse o sucesso desejado.
187
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o
andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a
conclusão do projeto. Foram eles:
i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo
demais);
b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o
viés da pesquisa); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;
b. burocracia da empresa.
188
11.2.9 Caso 9: Desenvolvimento de Estudos de Análise Ergonômica
CONTEXTO DO PROJETO
A maioria das abordagens da segurança, das mais convencionais às mais
críticas, dedica atenção exclusivamente à análise dos acidentes. Parece ser natural
que a prevenção de acidentes deva partir da compreensão dos próprios acidentes
mas, para isso, é necessário que ocorram acidentes para que se aprenda como
evitá-los. A construção de uma nova forma de análise de riscos e de uma prática
prevencionista mais eficaz para lidar com os acidentes normais pode se dar
recorrendo à metodologia de análise ergonômica do trabalho, propondo uma
abordagem produtiva da segurança: manter a segurança ao invés de controlar os
riscos. O projeto “Análise Ergonômica de Falhas Funcionais em Tarefas
Operacionais Ferroviárias” trata da identificação das causas das falhas operacionais
e proposição de medidas preventivas na execução das tarefas operacionais em
pátios de manobra e carregamento de composições ferroviárias na VALE. Para
desenvolver este projeto, foram realizados estudos de caso a fim de identificar os
diversos mecanismos de regulação dos trabalhadores, em situações onde os riscos
são reconhecidos.
O projeto envolveu as áreas de operações das vias permanentes da Diretoria
Executiva de Logística da VALE e o Departamento de Engenharia de Produção, da
Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Este
projeto foi estabelecido através do convênio guarda-chuva de cooperação
tecnológica entre a VALE e a UFMG citado no caso anterior.
189
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. identificar as causas das falhas funcionais que podem levar a acidentes com
perdas humanas, materiais ou de produção durante a realização de tarefas
operacionais ferroviárias;
b. propor medidas para a prevenção das falhas identificadas, através da
transformação das condições materiais, organizacionais de realização das
tarefas e dos comportamentos dos operadores; e
c. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através dos
convênios com universidades locais.
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver projetos de COOPERAÇÃO com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas;
b. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Engenharia e
Ergonomia; e
c. desenvolver capacitação em implantação de projetos.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como
de risco baixo porque o ele trata de estudos em assunto que é de domínio dos
190
pesquisadores envolvidos e, do ponto de vista de tecnologia, não apresenta
complexidade significativa.
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como nos casos anteriores, segundo o entrevistado da universidade, o
projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado
para outro momento sem impacto significativo nos planos da universidade. No
entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do projeto e, em
especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte
financeiro correspondente.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele
não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais. Ele possui importância média porque está associado ao objetivo
estratégico de acidentes zero.
EQUIPE DO PROJETO
A equipe do projeto conta com o Engenheiro J.M.B., ponto focal do projeto na
VALE. As análises serão desenvolvidas pelo Prof. F.P.A.L. (Engenheiro de Produção
e Doutor em ergonomia) e, eventualmente, com participação de especialistas da
191
UFMG vinculados ao Laboratório de Ergonomia, cuja formação seja adequada ao
escopo deste trabalho.
Foram entrevistados o Engenheiro J.M.B. e o Prof. Dr. F.P.A.L., pontos focais
do projeto na VALE e na UFMG, respectivamente. A entrevista com o engenheiro da
empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor,
se deu por telefone.
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu staff;
b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade
(conhecimento específicos não disponíveis internamente);
c. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua;
d. melhoria de eficiência operacional; e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolvimento de atividades fontes de receitas;
b. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas
(publicação do aprendizado com o projeto);
c. exposição ao ambiente de negócios;
d. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para os
alunos de pós-graduação).
192
EXECUÇÃO DO PROJETO
A execução do projeto de análise ergonômica contempla 3 etapas: Pré-
diagnóstico com a avaliação das situações de trabalho que podem levar a falhas
funcionais; Realização de um estudo piloto em duas situações típicas, a fim de
identificar as causas específicas das falhas funcionais; Acompanhamento da
implementação das recomendações.
O pré-diagnóstico foi realizado durante dois meses, com a entrega à empresa
de um relatório parcial. Atualmente está acontecendo a realização dos estudos piloto
que está planejado para ocorrer durante dois meses, quando então será feita uma
reunião com os responsáveis e pessoal técnico da empresa que ficará encarregado
da implementação das recomendações. O acompanhamento e a avaliação dos
resultados se dará através de visitas e reuniões periódicas mensais.
RESULTADOS DO PROJETO
O andamento do projeto está ocorrendo dentro do planejado e o relatório
parcial do projeto entregue ao final da fase de pré-diagnóstico foi muito elogiado pelo
coordenador do projeto pela empresa.
193
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o
andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a
conclusão do projeto. Foram eles:
i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo
demais);
b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o
viés da pesquisa); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;
b. burocracia da empresa.
194
11.2.10 Caso 10: Diagnóstico de Emissão de Dióxido de Carbono
CONTEXTO DO PROJETO
Atualmente há um aumento de consciência da necessidade da proteção do
meio ambiente, onde o ser humano é o seu mais importante componente. Toda a
indústria mineral tem que analisar detalhadamente os problemas relativos à saúde
de um modo mais amplo, tanto do lado do trabalhador quanto das comunidades ao
redor das suas operações, devendo ter em mente que o processo de beneficiamento
mineral é seguro para a saúde, somente quando ele é bem controlado. A análise das
emissões é o primeiro passo para a execução dos planos de ações necessários para
se atingir o controle ambiental das operações. O projeto “Diagnóstico de Emissão de
Dióxido de Carbono na VALE” trata da análise técnica da emissão das usinas de
beneficiamento de minério de ferro no complexo de mineração da VALE no
município de Itabira.
O projeto envolveu a gerência de meio-ambiente do Departamento de
Operações de Ferrosos Sudeste da VALE e o Departamento de Engenharia de Meio
Ambiente, da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Este projeto também foi estabelecido através do convênio guarda-chuva de
cooperação tecnológica entre a VALE e a UFMG citado nos dois casos anteriores.
195
OBJETIVOS
Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os
seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. identificar os níveis de impacto de suas operações no meio-ambiente a fim
de executar planos de ação que visem o desenvolvimento sustentável;
b. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através dos
convênios com universidades locais.
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. desenvolver projetos de COOPERAÇÃO com a VALE, empresa que
tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas;
b. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Meio
Ambiente; e
c. desenvolver capacitação em implantação de projetos.
NATUREZA
Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como
de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos e, do
ponto de vista de tecnologia, não apresenta complexidade significativa.
Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser
classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.
196
URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA
Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da
universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou
ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da
universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do
projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na
VALE e o aporte financeiro ao projeto.
Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele
não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou
ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a
nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.
EQUIPE DO PROJETO
Foram entrevistados o professor G.A.C.F., doutor em Engenharia Ambiental, da
UFMG, e a engenheira C.V.D., especialista em energia. A entrevista com o
engenheiro da empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e,
com o professor, se deu por telefone.
197
MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO
Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar
os seguintes:
i) Do ponto de vista da empresa:
a. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade
(conhecimento específicos não disponíveis internamente);
b. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua;
c. carência de recursos para execução de projetos; e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da
comercialização de serviços;
b. exposição ao ambiente de negócios;
c. acesso a recursos financeiros.
EXECUÇÃO DO PROJETO
A execução do projeto de diagnóstico ocorreu em três meses conforme
planejado e dentro dos prazos acordados inicialmente. Durante este período os
coordenadores do projeto se encontraram apenas duas vezes: no início do projeto e
na entrega do diagnóstico.
198
RESULTADOS DO PROJETO
Todos os produtos do projeto foram entregues sem qualquer atraso e com a
qualidade esperada, fazendo com o projeto alcançasse o sucesso desejado.
BARREIRAS ENCONTRADAS
Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o
andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a
conclusão do projeto. Foram eles:
i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:
a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo
demais);
b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o
viés da pesquisa); e
ii) Do ponto de vista da universidade:
a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;
burocracia da empresa.
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