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Odebrecht: a caminho da longevidade saudável?
Ricardo Marques de Almeida Dantas
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Instituto COPPEAD de Administração
Mestrado em Administração
ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D.
Rio de Janeiro – Brasil
2007
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Odebrecht: a caminho da longevidade saudável?
Ricardo Marques de Almeida Dantas
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de
Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.).
Aprovada por:
___________________________________________ - Orientadora
Profª. Denise Lima Fleck, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ)
___________________________________________
Prof. Agrícola de Sousa Bethlem, D.Sc. (COPPEAD, UFRJ)
___________________________________________
Prof. José Vitor Bomtempo Martins, D.Sc. (EQ, UFRJ)
Rio de Janeiro – Brasil
2007
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FICHA CATALOGRÁFICA
Dantas, Ricardo Marques de Almeida.
Odebrecht: a caminho da longevidade saudável? / Ricardo Marques
de Almeida Dantas. – Rio de Janeiro, 2007.
xi, 285f. f.: il
Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade Federal
do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2007.
Orientadora: Denise Lima Fleck
1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento da Firma. 3. Indústria de
Construção. – Teses. 4. Indústria Química e Petroquímica. – Teses.I. Fleck,
Denise Lima (Orientadora). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Instituto COPPEAD de Administração. III. Odebrecht: a caminho da
longevidade saudável?.
iv
AGRADECIMENTOS
Na semana em que iniciei minha jornada de estudos no Instituto Coppead,
nasceu minha tão querida sobrinha Paola. Começou ali uma longa caminhada, repleta
de sacrifícios e momentos críticos. Por outro lado, uma jornada intensa que
proporcionou grande aprendizado. O aproveitamento sobre o ensino aplicado foi tal
que não parece que apenas dois anos se passaram e sim vários anos.
Durante o período acadêmico, minha vida social também foi repleta de
momentos marcantes. Meus sobrinhos Paola, Bruno e Alice nasceram. Entes queridos
nos deixaram. Sinto saudade de vocês todos, vovô João, minha quase vovó Hely, meu
querido vovô Zezé. Que Deus os tenha. Durante esse período também, iniciei uma
nova etapa da minha vida. Para alguns passei a morar junto, para outros um período
de experiência. Para mim, casei.
Portanto, gostaria de agradecer imensamente a todos que de alguma forma
contribuíram para essa grande experiência de vida. Primeiramente, a minha agora
esposa Suzana, sem ela não teria realizado essa extensa pesquisa sobre a
Odebrecht. Foi ela quem me sugeriu pesquisar sobre essa empresa e disponibilizou os
primeiros materiais de leitura. Agradeço à Suzana também, pelo estímulo, conselhos,
paciência, longas conversas sobre os ensinamentos absorvidos em sala de aula e
durante a pesquisa de dissertação e pela convivência durante esses 2 anos de estudo.
À Minha mãe, ao meu pai e aos meus irmãos que também foram essências
nesse processo. Minha mãe, sempre interessada nas minhas descobertas e com seus
almoços e jantares. Meu pai, dando o apoio psicológico e necessário para enfrentar o
período. Meus irmãos, com a presença de espírito constante. Não posso deixar de
agradecer aos novos membros da minha família, os compadres Izabel e Daniel, meu
sogro Seu Lúcio e minha cunhada Lucinha. E é claro, aos dindos “por tabela” pelos
fins de semana em Itaipava.
Um especial agradecimento à professora Denise Fleck. Essa dedicada
professora é um exemplo de profissionalismo. Como professora, agradeço aos
ensinamentos nas aulas de “Fundamentos do Pensamento Estratégico”, “Crescimento
de Empresas” e “Estratégia e Mudança Organizacional”. A partir de suas aulas aprendi
a ter uma visão mais crítica sobre diferentes pontos de vista. Como orientadora,
agradeço sua enorme paciência e criatividade para fazer com que essa dissertação se
tornasse realidade. Muito obrigado! Agradeço também aos professores Agrícola
v
Bethlem e José Vitor Martins por aceitarem participar da minha banca para aprovação
da minha dissertação. Em especial também ao professor José Vitor pelas conversas
sobre o setor petroquímico e pela indicação do Pedro Wongtschowski e do Antônio
Bragança para realizar entrevistas.
Agradeço a todos os demais professores que contribuíram com o meu
aprendizado dentro do Coppead. Agradeço também a toda equipe de apoio, que sem
a qual não seria possível fazer o Instituto funcionar. À Dilze, sempre organizada com
os seus pacotes de cópias dos professores. Ao pessoal da Secretaria: Cida, Simone e
Lucianita. Ao pessoal da Biblioteca, que me ensinaram a buscar material sobre os
temas que desejei encontrar. E a todos os demais dessa grande família Coppead.
Agradeço a todos os profissionais da Odebrecht que contribuíram para a
realização da pesquisa. Aos entrevistados: José Raimundo, Sérgio Foguel, Climério
Brito, Guilherme Abreu e Antônio Bragança. Ao Departamento de Relações com o
Investidor da Construtora Norberto Odebrecht que possibilitou o início da pesquisa e
patrocinou minha ida ao Núcleo de Memória da Odebrecht em Salvador. Um especial
agradecimento à Isabel Ferreira, Fernanda Câmera e João Nogueira. Ao pessoal de
Salvador que me recepcionou muito bem: José Raimundo, Fátima, Ulla, Fábia e os
profissionais da reprografia. À Sandra Marani que possibilitou a minha entrevista com
o Sr. Guilherme Abreu. Ao Sr. Álvaro Novis, pela atenção. E ao João Novis, pela ajuda
quando foi necessária.
Não poderia deixar de agradecer aos participantes de outras entrevistas que
realizei. Ao Robert Blocker e ao Antônio Assad, pelo ponto de vista de quem não
trabalha mais na Odebrecht. Ao Lúcio Otávio, pela visão sobre o setor de construção
pesada. E ao Pedro Wongtschowski, pela visão sobre a indústria petroquímica.
E por fim, a todos os colegas da TURMA 2005 do Coppead. Um especial ao
grande amigo de longa data Vinícius, que me acompanha desde a época de São
Bento. Ao Fábio, parceiro nessa grande jornada de aprendizado na Área de Estratégia
e amigo na troca de informações e idéias durante nossa pesquisa sobre crescimento
de empresas. Aos camaradas Luis Mauro e Eduardo Rodrigues. Aos parceiros das
matérias da Denise Fleck: Beto, André, Gustavo, Denise Rodrigues e Milena. Aos
companheiros de viagem da Barra ao Coppead e por terem muitas vezes agüentado o
meu humor devido ao cansaço dos estudos: novamente Gustavo, Bernardo, Vinícius
Gomide, Cândida, Sabrina e Luiza. Obrigado a todos vocês, foi uma experiência única.
vi
RESUMO
Dantas, Ricardo Marques de Almeida. Odebrecht: a caminho da longevidade
saudável?, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007.
Dissertação (Mestrado em Administração)
A Odebrecht foi fundada por Norberto Odebrecht em 1945 em resposta à
situação crítica pela qual passava a empresa de construção de seu pai. Em pouco
tempo, a Odebrecht ganhou grande notoriedade no Nordeste do Brasil, mas até a
década de 1960, a empresa teve basicamente presença nessa região. Quando
começou a expandir sua atuação durante a década de 1970, com obras de maior
complexidade, deparou-se com barreiras em um ambiente liderado por grandes
construtoras. A partir dessa década, a Odebrecht trilhou um caminho de expansões e
depois de pouco mais de 2 décadas tornou-se líder do setor de construção pesada, no
que tange à receita. Entretanto, atualmente a Odebrecht obtém aproximadamente 25%
de sua receita, do negócio de construção pesada, sendo os outros 75%, do negócio de
petroquímica. Durante um processo de aquisição e integração de empresas
petroquímicas a partir da segunda metade da década de 1990, a Odebrecht formou a
Braskem, maior empresa petroquímica do Brasil em receita.
O presente estudo teve como objetivo entender como a Odebrecht passou da
condição de desafiante (Chandler, 1990) no negócio de construção e petroquímica
para dominante e em que medida a empresa desenvolveu capacitações de forma
consistente que explicam o seu sucesso. Diante desse desafio, o estudo utilizou como
conceitual teórico os arquétipos do sucesso e do fracasso organizacional (Fleck,
2005a e 2006).
Ao longo do período estudado (1945 a 2005), a Odebrecht desenvolveu
importantes capacitações para responder positivamente aos desafios do crescimento.
Ao mesmo tempo, a Odebrecht criou mecanismos para infundir valores na empresa
(Selznick, 1957) tais como a Tecnologia Empresarial Odebrecht, a TEO. Esses
mecanismos foram importantes para desenvolver capacitações (Fleck, 2006) de forma
consistente ao longo de sua trajetória. Com relação aos desafios do crescimento
contínuo, a Odebrecht consistentemente criou valor e desenvolveu mecanismos para
capturar valor, com destaque para sua habilidade em promover constantes ganhos de
produtividade. Na medida em que a diversidade da empresa aumentou, desenvolveu
importantes mecanismos que contribuem para a preservação da integridade da
empresa.
vii
ABSTRACT
Dantas, Ricardo Marques de Almeida. Odebrecht: a caminho da longevidade
saudável?, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007.
Dissertação (Mestrado em Administração)
Norberto Odebrecht founded Odebrecht in 1945 after a critical moment his
father’s company faced. In a while, Odebrecht became very important in the northeast
of Brazil, but until the decade of 1970, the firm had presence basically in that region.
When Odebrecht started to expand its activities to the rest of Brazil in the decade of
1970, along with more complex constructions, they faced barriers in an environment
leaded by big heavy civil construction companies. From that decade on, Odebrecht
traced a path of expansions and after a bit more than two decades it reached the
leadership of heavy civil construction business in terms of revenue. Nevertheless,
approximately only 25% of Odebrecht’s revenue come from heavy civil construction
business nowadays, and the other 75% come from its petrochemical business. During
a process of acquisitions and integration of petrochemical firms from the second half of
1990 decade, Odebrecht established Braskem, biggest petrochemical company in
Brazil in terms of revenue.
This current study had as goal understand how Odebrecht moved from a
challenging position (Chandler, 1990) in the heavy civil construction and petrochemical
businesses to a position of dominance and in what terms the firm developed consistent
capabilities to explain its success. Given this challenge, this study used the theory of
the archetypes of organization success and failure (Fleck, 2005a and 2006).
During the period studied (1945 until 2005), Odebrecht developed important
capabilities to positively answer to growth challenges. In the meanwhile, Odebrecht
raised mechanisms to infuse values to the firm (Selznick, 1957) such as Tecnologia
Empresarial Odebrecht, TEO. These mechanisms were important to consistently
develop capabilities (Fleck, 2006) along its trajectory.
Related to continuing growth challenges, Odebrecht consistently created value
and developed mechanisms to capture value, highlighting its ability to promote
continuous gain of productivity. Along with greater diversity challenges, Odebrecht
developed important mechanisms that contribute to preserve its integrity.
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 4.1 – Consumo de álcool pelas empresas alcoolquímicas ............................................ 67
Gráfico 5.1 – Indicador de Tamanho de Empresas de Construção.......................................... 115
Gráfico 5.2 – Indicador de Tamanho da Odebrecht e da CNO................................................. 121
Gráfico 5.3 – Indicador de Desempenho da Odebrecht e da CNO .......................................... 123
Gráfico 8.1 – Indicador de Tamanho do Brasil.......................................................................... 196
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Estrutura geral do motor de crescimento contínuo................................................. 12
Figura 2.2 – Estrutura geral do motor de co-evolução de Todo e Partes................................... 13
Figura 2.3 – Tipos de abordagem na integração de aquisições................................................. 19
Figura 2.4 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-Perpetuação
............................................................................................................................................ 21
Figura 3.1 – Tela Inicial da Ferramenta de Coleta de Dados ..................................................... 32
Figura 3.2 – Tela de Análise de Fatos Tratados......................................................................... 39
Figura 3.3 – Modelo de Dados da Ferramenta ........................................................................... 39
Figura 3.4 – Tela de Consulta à análise de Fatos Tratados ....................................................... 40
Figura 4.1 – Produção Petroquímica e Relações Interindustriais............................................... 62
Figura 4.2 – Estrutura acionária da árvore de empresas que controlavam a Copene ............. 107
Figura 5.1 – Motor do Crescimento Contínuo: Diversificação Relacionada. ............................ 132
Figura 5.2 – Motor do Crescimento Contínuo: Horizontal......................................................... 134
Figura 8.1 – Produção Petroquímica e Relações Interindustriais............................................. 221
Figura 8.2 – Empresas Integradas à Construção Civil.............................................................. 239
Figura 8.3 – Organização Odebrecht - Organograma da Administração Superior................... 240
Figura 8.4 – Organização Odebrecht - Diagrama de Empresas............................................... 241
Figura 8.5 – Negócios e Empresas da Organização Odebrecht .............................................. 242
Figura 8.6 – Macroestrutura Organizacional............................................................................. 243
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Os Cinco Desafios Organizacionais......................................................................... 9
Tabela 3.1 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa........................... 23
Tabela 3.2 – Tipos de Perguntas Utilizados na Pesquisa. ......................................................... 24
Tabela 3.3 – Bibliotecas Consultadas......................................................................................... 26
Tabela 3.4 – Outras Informações Financeiras............................................................................ 27
Tabela 3.5 – Entrevistas Realizadas........................................................................................... 29
Tabela 3.6 – Componentes e Campos da Ferramenta de Coleta de Dados.............................. 31
Tabela 3.7 – Lista de Valores do Campo Tema.......................................................................... 33
Tabela 3.8 – Lista de Dimensões para Análise........................................................................... 33
Tabela 3.9 – Lista de Capacitações para Análise....................................................................... 40
Tabela 4.1 – Distribuição Percentual dos Investimentos em Rodovias...................................... 44
Tabela 4.2 – Distribuição Percentual dos Investimentos Públicos em Transportes................... 44
Tabela 4.3 – Companhias Estaduais de Energia Elétrica........................................................... 45
Tabela 4.4 – Recursos Orçados para Investimento, Segundo Planos. ...................................... 47
Tabela 4.5 – CESP: Relação das Entidades Responsáveis pela Construção de Hidroelétricas.
............................................................................................................................................ 50
Tabela 4.6 – Atividades Principais das Empresas Brasileiras de Construção. .......................... 51
Tabela 4.7 – Ano do Primeiro Contrato no Exterior. ................................................................... 53
Tabela 4.8 – Perfil de Consumo de Energia no Brasil ................................................................ 58
Tabela 4.9 – Perfil de Oferta de Energia no Brasil...................................................................... 59
Tabela 4.10 – Faturamento Líquido da Indústria Química Mundial - 2005................................. 61
ix
Tabela 4.11 – Participação de Grupos Nacionais nas Centrais de Matérias-Primas. ................ 73
Tabela 4.12 – Participação dos Grupos na Capacidade Instalada de Produção. ...................... 75
Tabela 4.13 – Segmentos de atuação da CNO. ......................................................................... 81
Tabela 4.14 – Aquisições de empresas de construção durante a década de 1980................... 89
Tabela 4.15 – Comemoração de tempo de serviço na Odebrecht. ............................................ 90
Tabela 4.16 – Diversificação de negócios. ................................................................................. 93
Tabela 4.17 – Áreas de Negócios da Organização Odebrecht. ................................................. 98
Tabela 5.1 – Características dos investimentos necessários................................................... 114
Tabela 5.2 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Empreendedorismo. 118
Tabela 5.3 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Navegação no
Ambiente........................................................................................................................... 136
Tabela 5.4 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Gestão da Diversidade.
.......................................................................................................................................... 146
Tabela 5.5 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Gestão de RH. ........ 153
Tabela 5.6 – Cargos concomitantes dos executivos da OSA................................................... 157
Tabela 5.7 – Evidências das respostas aos desafios da Gestão da Complexidade. ............... 164
Tabela 6.1 – Evidências para o desenvolvimento de capacitações. ........................................ 170
Tabela 6.2 – Características dos Setores de Construção Pesada e Petroquímica.................. 171
Tabela 8.1 – Presidentes do Brasil. .......................................................................................... 192
Tabela 8.2 - Valores do PIB a Partir de 1946 ........................................................................... 193
Tabela 8.3 - Relações de Conversão entre o Real e as Moedas do Brasil .............................. 194
Tabela 8.4 – Valores da Receita Líquida de Empresas de Construção Pesada desde 1970.. 194
Tabela 8.5 – Características dos Segmentos de Empresas da Construção Civil. ................... 215
Tabela 8.6 – Expansão das Estradas de Ferro das Primeiras Linhas em 1854 à 1929........... 217
Tabela 8.7 – Potência Elétrica Instalada no Brasil.................................................................... 218
Tabela 8.8 – Características dos tipos de tecnologia na Indústria Petroquímica ..................... 221
Tabela 8.9 – Classificação dos produtos químicos................................................................... 222
Tabela 8.10 – Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). ............................. 224
Tabela 8.11 – Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM)....................................................... 225
Tabela 8.12 – Desenvolvimento de alguns processos químicos.............................................. 228
Tabela 8.13 – Faturamento Líquido da Indústria Química Mundial - 2005............................... 231
Tabela 8.14 – Lista de Reconhecimentos................................................................................. 261
Tabela 8.15 – Participação em Eventos ................................................................................... 274
Tabela 8.16 – Cargos de Influência .......................................................................................... 277
Tabela 8.17 – Evolução da Carreira de uma Amostra de Executivos ...................................... 279
x
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1
1.1. Objetivos do Estudo............................................................................................................ 3
1.2. Organização do Estudo....................................................................................................... 4
2. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................................... 5
2.1. Arquétipos do Sucesso e do Fracasso Organizacional ................................................... 7
2.2. Empreendedorismo .......................................................................................................... 9
2.2.1. Diversificação ....................................................................................................... 13
2.3. Navegando no Ambiente................................................................................................ 14
2.4. Gestão da Diversidade................................................................................................... 17
2.4.1. Integração de Empresas em Processos de Fusão e Aquisição........................... 18
2.5. Formação de Recursos Gerenciais................................................................................ 19
2.6. Gestão da Complexidade............................................................................................... 20
2.7. Relações entre Requisitos para a Auto-Perpetuação.................................................... 20
3. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 22
3.1. Definição do Site e do Tema .......................................................................................... 22
3.2. Estratégia de Pesquisa .................................................................................................. 23
3.3. Organização das Atividades........................................................................................... 24
3.4. Coleta de Dados............................................................................................................. 25
3.4.1. Arquivos Históricos............................................................................................... 25
3.4.2. Entrevistas............................................................................................................ 28
3.4.3. Banco de Dados ................................................................................................... 30
3.5. Análise dos Dados ......................................................................................................... 33
3.5.1. Indicadores de crescimento e financeiros ............................................................ 41
4. Os Setores e as Empresas ...................................................................................................... 43
4.1. A História da Indústria de Construção Pesada no Brasil ............................................... 43
4.1.1. O Início do Setor de Construção Pesada no Brasil.............................................. 43
4.1.2. O Plano de Metas................................................................................................. 46
4.1.3. A Diversificação.................................................................................................... 51
4.1.4. A Transformação das Grandes Construtoras....................................................... 56
4.2. Indústria Química ........................................................................................................... 60
4.2.1. História da Indústria no Brasil............................................................................... 63
4.3. História da Odebrecht .................................................................................................... 75
4.3.1. A Fundação da Odebrecht ................................................................................... 75
4.3.2. O Início das Grandes Obras................................................................................. 79
4.3.3. A Fase de Diversificação...................................................................................... 85
4.3.4. A Reestruturação.................................................................................................. 97
4.3.5. O Negócio de Petroquímica ............................................................................... 101
5. Resultado da Análise ............................................................................................................. 113
5.1. Desafios do Empreendedorismo.................................................................................. 117
5.2. Desafios da Navegação no Ambiente.......................................................................... 136
5.3. Desafios da Gestão da Diversidade............................................................................. 145
5.4. Desafios da Gestão de RH........................................................................................... 153
5.5. Desafios da Gestão da Complexidade......................................................................... 164
6. Conclusões............................................................................................................................. 169
6.1. Contribuições do Estudo .............................................................................................. 174
6.2. Sugestões para Futuras Pesquisas ............................................................................. 175
xi
7. REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 177
8. ANEXOS ................................................................................................................................ 192
8.1. Presidentes do Brasil ................................................................................................... 192
8.2. Séries Históricas .......................................................................................................... 193
8.2.1. Valores do PIB.................................................................................................... 193
8.2.2. Valores da Receita Líquida de Empresas de Construção ................................. 194
8.3. Trajetória da Economia ................................................................................................ 195
8.3.1. O Fim do Milagre ................................................................................................ 196
8.3.2. O Plano Cruzado ................................................................................................ 206
8.3.3. Novas Abordagens ............................................................................................. 208
8.3.4. Um Novo Ciclo de Crescimento ......................................................................... 210
8.4. Construção Civil ........................................................................................................... 215
8.4.1. Segmentação do Setor de Construção Civil ...................................................... 215
8.4.2. A História da Indústria de Construção Pesada no Brasil ................................... 216
8.4.3. O período do Café e os Anos 30........................................................................ 216
8.5. Indústria Química ......................................................................................................... 220
8.5.1. Características da Indústria Petroquímica ......................................................... 220
8.5.2. História da Indústria no Mundo........................................................................... 225
8.5.3. Fase Inicial da Indústria Química no Brasil ........................................................ 232
8.6. História da Odebrecht .................................................................................................. 234
8.6.1. Emil Odebrecht................................................................................................... 234
8.6.2. Emílio Odebrecht................................................................................................ 234
8.7. Evolução da Estrutura Organizacional da Odebrecht.................................................. 239
8.8. Fundações e Aquisições .............................................................................................. 244
8.8.1. Fundação Emílio Odebrecht............................................................................... 244
8.8.2. História da CBPO ............................................................................................... 246
8.8.3. História da Tenenge ........................................................................................... 249
8.8.4. História da BPC .................................................................................................. 251
8.8.5. Star ..................................................................................................................... 253
8.8.6. Pedreiras Valéria e Inorcal ................................................................................. 254
8.8.7. Prontoferro, Diferro e Metalúrgica Ramos.......................................................... 255
8.8.8. OPL..................................................................................................................... 256
8.8.9. CPC .................................................................................................................... 259
8.8.10. Salgema.............................................................................................................. 260
8.9. Navegando no Ambiente.............................................................................................. 261
8.10. Recursos Humanos...................................................................................................... 278
1
1. INTRODUÇÃO
No período que compreende a década de 1850 até a década de 1930, o Brasil
começou a se desenvolver em importantes áreas da infra-estrutura. Esse
desenvolvimento foi primeiramente estimulado pelo surto da economia cafeeira no
sudeste do país que necessitou de infra-estrutura de transporte desse produto do
interior para o litoral. Como a Inglaterra e suas empresas de construção de ferrovias
estavam influenciando o mundo naquele momento com seus produtos e serviços, o
Brasil acabou adotando esse moderno meio de transporte da época.
Entretanto, outras ilhas de desenvolvimento econômico aconteceram no Brasil,
como o comércio canavieiro no Nordeste e o comércio do cacau na Bahia. Esse
comércio cresceu no país de uma forma geral, estimulou a construção da infra-
estrutura básica do país. Primeiro com a construção das estradas de ferro no sudeste
e depois com a construção de portos e edifícios que possibilitassem o comércio que se
desenvolveu no país desde o final do século XIX até 1930.
Com o desenvolvimento do transporte ferroviário e de portos, outras indústrias
começaram a nascer decorrentes da existência dessa infra-estrutura básica. Da
mesma forma, a população rural começou a se mover para as principais cidades. Com
isso, a demanda de energia elétrica no país começou a crescer, o que levou à
necessidade de construção de barragens e usinas hidroelétricas. Portanto, todo esse
período foi importante porque criou a demanda necessária para o desenvolvimento do
setor de construção pesada.
A necessidade de capacitação tecnológica foi grande para realizar as obras
necessárias do período e, como não existiam empresas nacionais capacitadas,
atuaram na indústria basicamente construtoras estrangeiras. Entretanto, esse cenário
começou a mudar a partir do período pós-guerra quando o Governo brasileiro passou
a investir no transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário. As estradas
rodoviárias desse período foram construídas na maior parte das vezes sem
pavimentação, portanto a capacitação tecnológica, outrora necessária, não foi tão
exigida. Além disso, o Governo brasileiro também começou a lançar uma série de
medidas intervencionistas, como a Lei Joppert de 1945. Esse cenário propiciou, então,
o surgimento de diversas pequenas empreiteiras.
Entretanto, esse ambiente a partir de 1945 sofreu grandes mudanças, muito
através de medidas intervencionistas do país. A Lei Joppert de 1945 foi um marco
para o início do desenvolvimento de grandes empresas de construção pesada no país.
2
“... a natureza do mercado que se abre para a construção pesada é inteiramente
outra, relativamente aos períodos anteriores: trata-se de demanda pública por
grandes obras, onde a auto-construção ou a construção por intermédio de empresas
estrangeiras vai cedendo lugar a grandes empreiteiras nacionais ...” (Jobim et al,
1983)
O período de 1956 a 1961, durante o governo de Juscelino Kubitschek também
foi significativo para a construção pesada. Houve investimentos para a construção de
rodovias, barragens e a construção de Brasília.
"aí nasceram e cresceram e se tornaram grandes realmente todas as empresas que
temos hoje e mais outras que depois disto capotaram. Mas todas as grandes de hoje
eram grandes nesse momento. Agora, eu quero deixar claro o seguinte: teve
empresas que hoje são grandes e que nessa época nem existiam. Por exemplo, a
Norberto Odebrecht é uma empresa muito grande, mas na época de Brasília, eu nem
sei o que fazia. Mas é exceção" (Entrevista com anônimo em Jobim et al, 1983,
p.106).
O período em questão foi um marco para a indústria de construção pesada no
Brasil. Foi um momento em que o Estado forneceu, através de seus diversos
instrumentos de ação na economia, condições favoráveis para o surgimento das
grandes construtoras brasileiras. Segundo Bethlem (1999), algumas dessas empresas
de construção pesada durante muito tempo estiveram entre as 10 maiores empresas
do Brasil.
A Odebrecht não trilhou esse caminho. Hoje a maior construtora do Brasil em
faturamento, a Odebrecht surgiu de uma grave crise e, nas suas primeiras décadas de
existência, atuou regionalmente no Nordeste. No início da década de 1940, com
aproximadamente 21 anos e ainda no terceiro ano do curso de engenharia da Escola
Politécnica de Salvador, Norberto Odebrecht assumiu o negócio de seu pai em
condições críticas. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve escassez de material
de construção no Brasil, elevando consideravelmente seus preços. Como a empresa
do pai de Norberto já fora contratada com preços de projeto fixos, seus custos
aumentaram a ponto de inviabilizar o negócio.
Norberto Odebrecht foi obrigado a desativar a empresa do pai e, em 1945, iniciou
a Odebrecht a partir dos recursos existentes na antiga empresa. Segundo Norberto,
“recebi de meu pai o mais importante ativo que uma empresa pode ter: pessoas
educadas para servir(Odebrecht, 2004f, p. 2). Talvez por isso, muitos consideram a
Odebrecht uma continuação da antiga empresa do pai de Norberto Odebrecht.
Para conseguir quitar as dívidas da empresa de seu pai e honrar o nome de sua
família, Norberto promoveu os hoje chamados “3 pactos”: político, social e econômico.
O pacto político com o Banco da Bahia visou captar obras para poder pagar as dívidas
da Odebrecht & Cia. e honrar o nome da família; o pacto econômico para garantir
3
obras com melhor qualidade e menores prazos; e o pacto social que estabeleceu a
participação dos mestres-de-obra nos lucros das obras. Em poucos anos, todas as
dívidas foram quitadas e a nova empresa passou a ser reconhecida na Bahia.
Décadas mais tarde, o então Grupo Odebrecht, líder no setor de construção
civil, passou a atuar na indústria petroquímica. Novamente, a empresa, que não
participara do momento de estabelecimento e crescimento dessa indústria, logrou a
posição de líder do setor no Brasil ao formar a Braskem a partir das empresas
Copene, OPP, Trikem, Proppet, Polialden e Nitrocarbono.
1.1. Objetivos do Estudo
Atualmente no Brasil, a Odebrecht é líder nos dois principais negócios onde ela
atua: construção civil e petroquímica. Mas como foi descrito, a empresa não iniciou
sua trajetória liderando esses setores. Sua posição de dominância nesses negócios
somente aconteceu anos depois de sua entrada.
Segundo Chandler (1990), as empresas “first movers” rapidamente dominam os
setores onde elas atuam e continuam a fazê-lo durante décadas. As “first movers” são
aquelas que investem primeiro em:
Marketing e distribuição no nível nacional e internacional;
Capacidade produtiva;
E recrutam pessoas para integrar os níveis de baixa, média e alta gerência.
A lógica de gerenciamento empresarial de Chandler (1990) refere-se
basicamente a empresas industriais. Entretanto, ao realizar um paralelo com
empresas de serviço, é possível constatar que a Odebrecht não foi first mover” no
negócio de Construção Civil. E ao iniciar sua atuação em petroquímica,
aparentemente também não foi “first mover” nessa indústria. Portanto, a princípio, a
Odebrecht assumiu nesses dois negócios uma condição de empresa desafiante
(Chandler, 1990).
Diante dessa conjuntura, essa dissertação então tem como objetivo investigar:
“Em que medida a Odebrecht desenvolveu capacitações de forma
consistente ao longo de sua trajetória que a fazem propensa à longevidade
saudável?”
4
“Como as respostas aos desafios do crescimento da Odebrecht ao longo
de sua trajetória podem explicar sua transição de empresa desafiante para
dominante nos dois principais negócios onde ela atua?”
1.2. Organização do Estudo
A presente dissertação está organizada em seis capítulos. O presente capítulo
apresenta a introdução ao estudo, seu objetivo e sua estrutura. A segunda parte
apresenta o arcabouço teórico no qual o estudo será fundamentado. O conceitual
teórico tem como base os arquétipos do sucesso e do fracasso organizacional (Fleck,
2005a e 2006). Os estudos de Fleck (2003, 2005a, 2005b, 2006), Penrose (1980),
Chandler (1962, 1977, 1990 e 1992), Selznick (1957) e Oliver (1991 e 1992)
contribuem para detalhar o conceito de arquétipos, organizando-se de forma a
descrever os cinco desafios do crescimento.
O terceiro capítulo descreve a metodologia utilizada para realizar o estudo,
apresentando a estratégia de pesquisa, a organização das atividades, a coleta de
dados e a análise de dados.
O quarto capítulo foi dividido em quatro partes. A primeira relata os principais
eventos e processos relevantes para o estudo que ocorreram no ambiente econômico
brasileiro. A segunda e a terceira parte relatam a história e as principais características
dos setores de construção pesada e petroquímica, respectivamente. E por fim, a
quarta parte apresenta um resumo da história da Odebrecht.
No quinto capítulo é realizada a análise à luz do arcabouço teórico descrito no
segundo capítulo e do objetivo do estudo apresentado no primeiro capítulo. E então no
sexto capítulo é realizado o fechamento do trabalho com a conclusão, apresentando
também a contribuição dessa dissertação, limitações do estudo e sugestões para
futuras pesquisas.
Por fim, o anexo relata a história da Odebrecht em maiores detalhes.
5
2. REVISÃO DE LITERATURA
Afinal, o que é o sucesso? Seria o cumprimento de objetivos impostos pela
empresa? Mas então, quais deveriam ser os objetivos a serem perseguidos?
Segundo Barnard (1938), o estabelecimento de objetivos é um processo
contínuo na empresa, sem o qual ela não existiria, ou melhor, se desintegraria.
Portanto, caso a empresa não alcance seu objetivo ou o alcance e seja incapaz de
determinar algum outro, ela está predestinada ao fracasso.
Para Bethlem (1998), os objetivos que proporcionam sucesso à empresa são:
lucro, crescimento, sobrevivência e prestígio. Por outro lado, segundo Doyle (1994),
várias partes interessadas lutam por maximizar seus objetivos dentro da empresa.
Esses objetivos, por sua vez, estão relacionados a uma série de medidas de
desempenho. Porém, os interesses representados por essas partes são conflitantes
entre si e, portanto, se uma empresa procura maximizar um interesse específico,
provavelmente irá influenciar negativamente outra parte interessada, deteriorando o
desempenho do indicador que a representa. Esse jogo de maximizar interesses
apresenta sérios riscos de fracasso para a empresa, porque desequilibra a harmonia
entre as partes interessadas. Segundo Doyle, é necessário existir uma zona de
tolerância onde a empresa possa obter poder de manobra entre as partes
interessadas, possibilitando a elaboração de objetivos no longo prazo.
Com o tempo, os acionistas passaram a ter grande influência como uma das
partes interessadas da empresa (Ghoshal, 2005). Nesse contexto, o método de
avaliação de desempenho através do EVA é muito adotado nas empresas porque se
propõe a ser um método simples e fácil de identificar desempenhos ruins e bons,
metrificando a criação ou destruição de valor para os acionistas da empresa (Bhalla,
2004).
Porém, existem outras partes interessadas do sistema empresarial que se
beneficiam de uma boa administração da empresa (Ghoshal, 2005). A lucratividade,
por exemplo, não é um benefício apenas para os donos das empresas, mas também
para os seus gestores que ao reterem lucro propiciam o seu crescimento e
conseqüentemente ganham poder, maiores salários, bônus etc (Penrose, 1980).
Alguns objetivos são considerados comuns a todos. Sloan (1990), presidente da
General Motors durante o período de 1923 até 1946, declarou que crescer é essencial
para a saúde da empresa e parar de crescer é sufocar. A inércia rouba o espírito de
aventura e de inovação das empresas (Sloan, 1990). Portanto, crescimento é o maior
desafio, segundo Larry Bossidy, presidente da AlliedSignal em 1995 (Tully, 1995).
6
Uma forma tradicional de medir o crescimento é considerar o aumento no
número de funcionários da empresa (Starbuck, 1965). Fleck (2005a) considerou como
medida de tamanho relativo, entretanto, a variação de tamanho obtida a partir da
participação do faturamento da empresa no PIB do seu país de origem.
Segundo Penrose (1980), o crescimento pode ser considerado como uma maior
utilização dos serviços intrínsecos nos recursos produtivos (físicos ou humanos)
disponíveis na firma. Esse crescimento pode ser alcançado seja pela aquisição de
novos recursos ou pela descoberta de novos serviços referentes a recursos
existentes. Essa última alternativa parte da premissa de que todos os recursos da
firma são subutilizados porque são explorados segundo as características específicas
ao seu negócio e ao seu grau de experiência e maturidade. Para Penrose, a existência
de recursos subutilizados na empresa é um estímulo à descoberta de novos meios de
explorá-los.
Entretanto, segundo Fleck (2005a), o crescimento não constitui um indicador de
sucesso confiável, pois existem empresas que crescem e depois morrem. É possível
até que empresas que estão crescendo estejam ao mesmo tempo dando os primeiros
passos para o declínio (Weitzel e Jonsson, 1989). Em linha com esse paradigma, Sull
(1999) também se questionou sobre os motivos pelos quais empresas de sucesso
fracassam. O sucesso no longo prazo, ou seja, a longevidade, significa a persistência
e alto desempenho, alcançadas a partir do crescimento rentável e da preservação da
integridade (Fleck, 2005a).
Por outro lado, não poderíamos descrever o crescimento sem considerar sua
contra-partida, o declínio. Assim como seu oposto, o declínio possui diversos
conceitos. A revisão da literatura realizada por Weitzel e Jonsson (1989), constatou
que o declínio fora citado fundamentalmente como: uma redução de algum indicador
de tamanho da organização, como força de trabalho, participação de mercado, ativos
etc; um estágio no ciclo de vida da organização; estagnação interna ou ineficiência;
fracasso em reconhecer sinais internos ou externos de alerta sobre mudanças
necessárias para manutenção de competitividade; fracasso em realizar adaptação ou
mudança para enquadrar-se às demandas do ambiente externo.
Para Weitzel e Jonsson (1989), organizações entram em uma etapa de declínio
quando elas fracassam em antecipar, reconhecer, evitar, neutralizar ou adaptar-se às
pressões internas e externas que ameaçam a sobrevivência delas no longo prazo.
Segundo esses autores, o declínio é um processo que compreende cinco etapas -
cegueira, inércia, ações falhas, crise e dissolução - que sinalizam e demandam
7
esforços de maneiras distintas. O fracasso de uma organização é, portanto, o último
estágio desse processo, a dissolução.
Em contra partida, o fracasso visto sob uma ótica social sugere que nem todas
as organizações procuram ser eficientes e efetivas. Segundo Meyer e Zucker (1989),
na medida em que existem interesses diferentes dessas premissas, uma organização
está ameaçada de entrar num estado de permanente fracasso. Esse estado de inércia
é real quando existe a necessidade de realizar mudanças para sobreviver e elas não
acontecem devido às pressões de partes interessadas prejudicadas. Em parte, isso
explica porque algumas empresas têm desempenhos medíocres por tanto tempo, e
outras têm um bom desempenho.
Sull (1999) sugeriu que essa falta de habilidade em conduzir mudanças de forma
apropriada é resultado da inércia da empresa, desenvolvida a partir do sucesso que
elas alcançaram em um momento anterior. As razões dessa inércia podem ser
explicadas por (Sull, 1999):
O desejo pelo sucesso é substituído por uma devoção ao status quo;
A orientação estratégica da empresa pode cegá-la às transformações que ocorrem
no ambiente externo e interno;
Quando uma empresa obtém sucesso, seus processos ganham vida própria e se
transformam no objetivo final e não no meio para alcançá-lo;
O relacionamento com as partes interessadas da empresa pode criar laços fortes a
partir de seu sucesso, porém podem limitar suas ações de mudança;
Empresas de sucesso costumam transformar valores em dogmas, criando regras
rígidas e regulamentações que dificultam mudanças.
Apesar das diferentes definições para fracasso, a deteriorização da adaptação
da empresa ao seu ambiente e a redução de recursos dentro da empresa são
consenso entre os que estudam o fracasso das empresas (Mellahi e Wilkinson, 2004).
2.1. Arquétipos do Sucesso e do Fracasso Organizacional
Esse estudo irá adotar a definição de Fleck (2005a) para o sucesso e para o
fracasso. O sucesso significa a longevidade alcançada a partir do crescimento rentável
e da preservação da integridade no longo prazo. Entretanto, o sucesso contém os
ingredientes para o fracasso que, por sua vez, está em linha com a definição para a
etapa de dissolução do modelo de declínio apresentado por Weitzel e Jonsson (1989).
8
Fleck (2006) propôs os arquétipos do sucesso e fracasso como uma forma de
identificar a propensão das empresas à auto-perpetuação ou à autodestruição,
estados opostos de um continuum cujas duas extremidades são consideradas casos
ideais. Na prática, as organizações situam-se entre essas duas extremidades.
Dependendo das respostas da empresa aos imperativos de renovação e de
integração, ela se torna propensa à autodestruição ou à auto-perpetuação, conforme
apresentado na tabela 2.1. Como diferentes respostas para um determinado desafio
coexistem ao mesmo tempo, nenhuma organização real se posiciona nos pólos do
continuum.
Caso a empresa demonstre um padrão de resposta a esses desafios
organizacionais, ela desenvolve comportamentos que podem ser institucionalizados
(Selznick, 1957). Ao questionar se capacitações dinâmicas (Teece, Pisano e Shuen,
1997) podem ser institucionalizadas, Fleck (2005b) sugeriu que ao fazê-lo, o sucesso
no longo prazo é potencializado. As capacitações dinâmicas, acrescidas das
capacitações de preservação de recursos e de moldagem do ambiente sugeridas por
Fleck (2005b), estão em linha com os desafios da auto-perpetuação propostos por
Fleck (2005a). Portanto, quanto mais a organização desenvolve capacitações e as
utiliza, mais próxima ela estará de seu sucesso no longo prazo. E ao mesmo tempo,
estará mais propensa a persistentemente manter posições de dominância nas
indústrias onde atua.
Segundo o modelo de arquétipos, os desafios organizacionais estão divididos em
dois processos concomitantes: o crescimento contínuo que está relacionado ao
crescimento como forma de transformar oportunidades em expansão e renovação; e
existência continuada que esrelacionada à habilidade da organização em preservar
sua integridade.
9
Tabela 2.1 – Os Cinco Desafios Organizacionais.
Categoria do
desafio
Descrição do desafio
Pólo de respostas aos desafios
Auto-destruição Auto-perpetuação
Empreendedorismo Promoção de contínuo
empreendedorismo a partir
da disposição da empresa
de realizar expansões com
mecanismos de reforço e
criação de valor sem expô-
la a riscos desnecessários.
Baixo
(baixos níveis de ambição,
versatilidade, imaginação, visão,
capacidade de levantar recursos
financeiros, e realização de
expansões nulas ou defensivas)
Alto
(altos níveis de ambição,
versatilidade, imaginação, visão,
capacidade de levantar recursos
financeiros, e realização de
expansões produtivas ou híbridas)
Navegação no
ambiente
Tratar com múltiplas partes
interessadas para
assegurar captura de valor
e legitimidade.
Passivo
(Monitoramento ruim, mal uso de
estratégias de navegação)
Ativo
(Monitoramento regular, uso
correto de estratégias de
navegação)
Gestão da
diversidade
Manter integridade da
firma diante de aumento
de conflitos e rivalidades
Fragmentação
(Fracasso no estabelecimento de
relacionamentos de integração e
de capacitações em coordenação)
Integração
(Estabelecimento bem sucedido
de relacionamentos de integração
e de capacitações em
coordenação)
Formação de
recursos gerenciais
Fornecer à firma com
recursos humanos
qualificados de forma
estável
Tarde
(Ações no momento que existe
necessidade ou depois dela)
Planejado
(Ações planejadas com
antecedência)
Gestão da
complexidade
Gerenciar problemas
complexos e solucioná-los
diante de aumento de
complexidade
Ad-hoc
(Baixa capacitação para solução
de problemas, utilizando rápida
análise e sem aprendizado)
Sistemático
(Capacitação para solução de
problemas, promovendo busca
correta por soluções e
aprendizado)
Fonte: Fleck (2006)
2.2. Empreendedorismo
Segundo Fleck (2006), o desafio empreendedor consiste na busca pela
promoção do crescimento contínuo ao invés de um crescimento momentâneo. Para
tanto, é necessário promover expansões que estabeleçam mecanismos de reforço,
10
permitindo o a continuidade do crescimento. Fleck destacou a importância dos
serviços empresariais (Penrose, 1980) e da motivação para crescer (Chandler, 1977)
como importantes ingredientes nesse processo.
Segundo Penrose (1980), para crescer a firma necessita dispor essencialmente
de serviços empreendedores e gerenciais. Empreender é definido como a
predisposição de correr riscos com o objetivo de crescer, utilizando os recursos
disponíveis da empresa. Os serviços de empreendedorismo não são resultantes
apenas das características dos indivíduos, mas também são moldadas e
condicionadas pela própria empresa. Essas características são (Penrose, 1980):
a) Versatilidade: está correlacionado com visão e imaginação. Capacidade de
investigar caminhos para a expansão onde não é óbvio para a maioria das
pessoas. Capacidade de investigar novos serviços provenientes de recursos
produtivos já existentes;
b) Habilidade em levantar recursos financeiros: empresas recém-criadas,
pequenas ou desconhecidas não possuem a mesma capacidade de captar
recursos financeiros comparado a empresas grandes, bem estabelecidas e
conhecidas no mercado. Entretanto a habilidade de captar recursos financeiros
depende da capacidade do empreendedor em gerar confiança no financiador;
c) Ambição: esse é o motor que impulsiona o empreendedor. Essa característica
separa os deres que estão satisfeitos com níveis de lucratividade vigentes dos
que estão sempre buscando formas de expandi-la. Na busca por “fazer dinheiro”,
existem dois tipos de ambição empresarial. A primeira está relacionada apenas á
busca pela rentabilidade e pelo crescimento de empresas. A segunda dá origem
aos chamados “empire-buider” que estão interessados mais no aumento de
atuação da empresa através de aquisições e eliminação de competidores com
ganhos de rentabilidade passageiros.
d) Bom julgamento diante do risco e da incerteza. Envolve mais do que uma
combinação de imaginação, bom senso, autoconfiança e outras qualidades. Está
relacionado com a capacidade da empresa em reunir informações e organizar-se
para avaliar os riscos e incertezas envolvidas no crescimento da empresa e,
então, buscar meios de evitá-los.
Não menos importantes, os serviços gerenciais são necessários para promover a
coordenação dos recursos, planejamento de atividades e execução no dia-a-dia da
firma. De acordo com Penrose (1980), não é possível encontrar pessoal no mercado
11
que possua experiência e possa oferecer esses serviços gerenciais adequados para
uma firma específica. Pelo contrário, os serviços desse tipo são resultados do
aprendizado empresarial e do aumento de experiência dentro de uma mesma firma.
Portanto, se os serviços empreendedores são necessários para promover um
crescimento rentável, os serviços gerenciais da empresa coordenam o uso de seus
recursos de forma rentável diante do aumento da complexidade que a expansão
provoca.
Na visão de Chandler (1977), o crescimento pode ser produtivo ou defensivo
quando tem o objetivo de promover mudança ou controlá-la, respectivamente.
Normalmente, expansões produtivas geram maior rentabilidade e contribuem mais
para o crescimento contínuo do que as defensivas. As expansões produtivas
produzem os mecanismos de reforço necessários para essa continuidade do
crescimento. Da mesma forma, essas expansões podem: gerar economias de escala,
escopo ou tempo; aumentar a produtividade da empresa; reduzir os custos unitários
de produtos ou serviços; e aumentar a quantidade de recursos subutilizados, ou a
folga de recursos (Penrose, 1980).
Em linha com o conceito de expansão produtiva de Chandler (1977), Fleck
(2003) sugeriu que o crescimento é um processo resultante de cadeias de relações de
necessidade. Dessa forma, Fleck propôs o motor de crescimento contínuo, processo
constituído pelos estágios de desequilíbrio, de expansão e de reforço. O desequilíbrio
pressupõe a busca pela melhor utilização de recursos existentes na empresa
(Chandle, 1977) que resulta em expansão e então gera algum tipo de mudança que
pode intensificar o desequilíbrio. Fleck apresentou quatro instâncias de motor: inercial,
crescimento quantitativo das mesmas coisas; inovação, crescimento através de novos
produtos; horizontal, crescimento pela aquisição de empresas concorrentes; e
diversificação relacionada, crescimento orgânico. A figura 2.1 apresenta a estrutura
desse mecanismo de crescimento.
12
Figura 2.1 – Estrutura geral do motor de crescimento contínuo
Desequilíbrio Expansão
Mecanismo de Reforço
+
+
Desequilíbrio Expansão
Mecanismo de Reforço
+
+
Fonte: Fleck (2003)
Por outro lado, a expansão defensiva de Chandler busca assegurar a
continuidade do negócio existente (Fleck, 2006). Incluem-se como expansões
defensivas: integração vertical; aquisições horizontais; expansões que visam prevenir
escassez de fontes de suprimento; expansões que visam prevenir escassez de canais
de escoamento; expansões que dificultam entrada de novos entrantes; etc.
Fleck (2005a) propôs outros dois modos alternativos. A expansão híbrida reúne
as características de uma expansão produtiva e defensiva. Essa é uma expansão que
ao mesmo tempo gera mecanismos de reforço para o crescimento contínuo e defende
os negócios existentes da empresa. Por fim, a expansão nula não gera nem
mecanismos de reforço e nem assegura os negócios existentes. Esse tipo de
expansão refere-se ao crescimento de “empire-building” através de aquisições não
relacionadas (Penrose, 1980).
Como pré-requisito para o crescimento das firmas, Fleck (2003) sugeriu o motor
de co-evolução como mecanismo de crescimento no vel de indústria. A noção que
originou o conceito desse motor está alinhada com o relato histórico de Chandler
(1977) com relação ao crescimento das empresas da indústria de transporte
ferroviário. A partir da coordenação entre as inúmeras empresas desse setor, foi
possível alcançar uma padronização na indústria, possibilitando criar uma plataforma
única onde fosse possível viajar por diversos lugares utilizando a malha ferroviária
dessas diversas empresas. Essa plataforma padronizada permitiu o crescimento da
indústria e de todos os seus participantes. Porém, com a padronização, surgiu a
competição, que exerceu grande influência no crescimento da indústria e no seu
aprimoramento tecnológico. A figura 2.2 apresenta a noção da dinâmica do motor de
concomitância.
13
Figura 2.2 – Estrutura geral do motor de co-evolução de Todo e Partes.
Voluntária
ou Compulsória
+
+
Oferta de Produtos
e/ou Serviços
Recursos
escassos
Tecnologia, Produtos
e/ou Processos
Viabilizado
COOPERAÇÃO HOMOGEINIZAÇÃO COMPETIÇÃO
PADRONIZAÇÃO CRESCIMENTO
CN
CN
Obs.: CN = condição necessária
PARTES
TODO
Voluntária
ou Compulsória
+
+
Oferta de Produtos
e/ou Serviços
Recursos
escassos
Tecnologia, Produtos
e/ou Processos
Viabilizado
COOPERAÇÃO HOMOGEINIZAÇÃO COMPETIÇÃO
PADRONIZAÇÃO CRESCIMENTO
CN
CN
Obs.: CN = condição necessária
PARTES
TODO
Fonte: Fleck (2003)
2.2.1. Diversificação
A diversificação pode ter origem em um processo de expansão interno ou
externo (Penrose, 1980). A expansão externa normalmente é um processo mais rápido
que expandir internamente (Penrose, 1980) e pode ser realizada a partir de aquisições
ou joint-ventures (Haspeslagh e Jemison, 1991). Segundo Penrose, a expansão
interna, ou orgânica, requer serviços gerenciais de planejamento, coordenação e
execução, enquanto que a aquisição de outras empresas requer serviços cuja principal
tônica tende para as habilidades financeiras, de barganha e estratégicas. As firmas
optam por realizar fusões e aquisições para buscar benefícios como: adquirir fábrica,
instalações e equipamentos estabelecidos; penetração no mercado, “good-will” e
relacionamento com fornecedores, e muitas vezes incorporar pessoal experiente e
qualificado.
O desejo de entrar em novos mercados, ou desenvolver ou adquirir novos
produtos é motivado principalmente pela necessidade de explorar as capacitações
existentes na empresa (Haspeslagh e Jemison, 1991), ou até para diminuir riscos do
negócio (Penrose, 1980). A expansão é relacionada quando existem benefícios de
sinergia, como compartilhamento de conhecimento, ou de recursos tangíveis, maior
poder de compra etc (Goold e Campbell, 1998). A sinergia entre as unidades de
negócios da empresa é proporcionada por “links” desenvolvidos por elas mesmas,
sem interferência da liderança corporativa e de forma dinâmica (Eisenhardt e Galunic,
2000).
Segundo Penrose (1980), a diversificação necessita de grande esforço e gera
muita incerteza quanto ao sucesso da empreitada. Apesar disso, esse processo pode
gerar economias importantes para a empresa. Por outro lado, a empresa
14
especializada em vários produtos é tão vulnerável quanto as que são especializadas
em apenas um produto. Para que as firmas mantenham suas posições em cada
mercado onde elas participam, elas devem investir e inovar em cada um deles.
Ainda resta a dúvida se a diversificação traz para as empresas alguma vantagem
competitiva (Grant, 2000). Durante seus processos de diversificação, as empresas
destruíram mais valor do que criaram (Porter, 1987). Muitas diversificações mal
realizadas talvez tivessem sido evitadas caso as empresas tivessem aplicado três
testes: teste de atratividade, custo de entrada e sinergia (Porter, 1987).
Na visão de Porter (1987), existem quatro estratégias de diversificação que
variam de acordo com o grau de sinergia entre os produtos diversificados e os
existentes e, consequentemente, o grau de orientação para o longo prazo. Essas são:
gestão de portfolio, reestruturação, transferência de habilidades e compartilhamento
de atividades. Segundo o autor, estratégias de portfólios possuem uma orientação no
curto prazo porque não oferecem sinergias, enquanto que compartilhar atividades
oferece mais sinergias e uma orientação no longo prazo.
2.3. Navegando no Ambiente
Segundo Fleck (2006), o desafio da navegação no ambiente consiste na
capacidade da empresa em atuar em um ambiente de constantes mudanças e manter
um equilíbrio na interface com as diversas partes interessadas. Ao navegar de forma
bem sucedida no ambiente, a organização aumenta suas chances de assegurar
captura de valor e legitimidade. Entretanto, o grau de sucesso na navegação depende
diretamente da habilidade que a empresa possui em monitorar as pressões que o
ambiente exerce e empregar as estratégias de respostas a processos
institucionalizados (Oliver, 1991). Caso a organização falhe em monitor
adequadamente as pressões do ambiente ou empregue as estratégias de navegação
de forma incorreta, a sua sobrevivência no logo prazo pode ser ameaçada, porque
(Fleck, 2006):
Oportunidades de captura de valor são perdidas;
A habilidade da firma em promover ou reagir a mudanças diminui;
A legitimidade da organização pode ser ameaçada.
Segundo Oliver (1991), a empresa pode ter duas abordagens diante das
pressões que o ambiente exerce na empresa: ativa e/ou passiva. Ambas as
abordagens são importantes na medida em que existe uma resposta a estímulos
15
externos e uma intenção de controlar e gerenciar os recursos importantes para a
empresa. A diferença entre essas duas abordagens constitui no grau de escolha, de
consciência e interesse que a empresa possui para superar obstáculos que se
apresentam no ambiente.
As estratégias de navegação no ambiente de Oliver (1991) também variam
segundo a abordagem passiva ou ativa da empresa diante das pressões do ambiente.
Essas estratégias são de aceitação, de negociação, de evitar, de desafio e de
moldagem. As estratégias de navegação no ambiente e suas respectivas táticas serão
descritas a seguir, em ordem da abordagem mais passiva para mais ativa.
a) Estratégia de aceitação: aceitação de normas e pressões institucionalizadas no
ambiente. As táticas utilizadas para essa estratégia podem ser:
Hábito: aderência inconsciente a regras ou valores institucionalizados;
Imitação: imitação de modelos institucionalizados;
Conformidade: obediência consciente ou incorporação de valores, normas
ou requerimentos institucionalizados. Uma organização pode se conformar com
pressões externas porque a aprovação de constituintes externos pode aumentar
sua legitimidade ou aumentar estabilidade.
b) Estratégia de negociação: organizações normalmente confrontam situações de
conflito a partir de inconsistências entre expectativas institucionalizadas e
objetivos organizacionais relacionados à eficiência e à autonomia. As táticas são:
Balancear partes interessadas: acomodação da demanda de múltiplas
partes interessadas como resposta a expectativas ou pressões
institucionalizadas;
Táticas de pacificação: a organização mantém um mínimo de resistência a
pressões institucionalizadas, entretanto se empenha em apaziguar a fonte da
resistência a mudanças. Por exemplo, uma organização que sofre pressão para
descontinuar a produção de um produto que é perigoso. Pode ser até que
continue a produzi-lo, mas alocará considerável quantidade de recursos para
redesenhá-lo e então garantir sua segurança;
Barganha: uma forma mais ativa de negociação do que tática de pacificação.
Nessa estratégia, a organização negocia com constituintes externos concessões
para realizar suas demandas ou expectativas. Por exemplo, a empresa pode
16
negociar com o Governo a redução da freqüência ou escopo de sua adesão a
uma nova lei instituída pelo governo.
c) Estratégia de evitar: tentativa da organização em evitar a necessidade de
conformidade a pressões institucionalizadas. As táticas são:
Táticas de ocultação: disfarça a não conformidade a pressões externas,
aparentando aceitá-las. Por exemplo, pode elaborar planos e procedimentos
como resposta a requerimentos externos, mas não tem intenção de implementá-
los;
Prevenção: tentativa de reduzir a frequência com a qual a organização é
inspecionada, examinada ou avaliada, ou de afastar suas atividades técnicas do
contato externo. Por exemplo, Powell (1988 apud Oliver, 1991) mostrou um
exemplo de uma editora de livros acadêmicos que conseguiu prevenir a
intervenção de demandas externas, pois seus departamentos de produção e
editorial estavam longe do contato dos autores dos livros;
Fuga: sair do domínio onde a pressão é exercida ou alterar
significativamente seus objetivos, atividades ou domínios para evitar a
necessidade de conformidade. Por exemplo, se uma empresa possui uma
produção cujas avaliações e inspeções de órgãos governamentais a consideram
poluente, ela pode mudar seus objetivos e processos de forma a não necessitar
mais dessa produção, ou até mesmo mudar-se para um local onde as leis são
menos rigorosas.
d) Estratégia de desafio: essa é uma forma mais ativa de resistir a processos
institucionais. As táticas de desafio rejeitam normas e expectativas externas. São
mais fáceis de ocorrer quando o custo de rejeição é percebido como baixo. As
táticas são:
Ignorar: essa é uma tática utilizada quando a imposição de regras
institucionalizadas é considerada baixa, ou quando objetivos internos divergem
drasticamente dessas regras;
Recusar: desafio a pressões externas. Por exemplo, o surgimento de
escolas que utilizam métodos de ensino que se diferenciam dos modelos
tradicionais de ensino ou do que se pensa ser métodos efetivos de ensino. As
organizações podem também considerar a tática de recusar mais adequada
como uma forma de expressar suas convicções e integridade;
17
Atacar: diferencia-se de desafiar pela intensidade e agressividade que a
organização se distancia das expectativas e pressões externas.
e) Estratégia de moldagem: moldagem é a forma mais ativa de resposta a
pressões externas, pois tem a intenção de mudar ou exercer poder sobre a fonte
das pressões externas. As táticas são:
Cooptar: persuadir constituintes externos a juntar-se ao conselho de
diretores da empresa. A intenção é neutralizar pressões opostas e melhorar
legitimidade;
Influenciar: influenciar a percepção pública sobre a indústria onde a
empresa atua ou fazer lobby com órgãos reguladores para mudar regras
institucionalizadas;
Controlar: esforço para estabelecer poder e dominância sobre constituintes
externos que aplicam pressão na organização. É a forma mais agressiva de
resposta a pressões institucionalizadas, pois a intenção da organização é
dominar.
2.4. Gestão da Diversidade
De acordo com Fleck (2006), na medida em que a firma cresce, a organização
aumenta sua diversidade no que tange a mercado, produtos, tecnologias e recursos
humanos. O desafio da gestão de diversidade pressupõe a capacidade da firma em
manter sua integridade mesmo após esses processos de diversificação, sendo capaz
de zelar por sua unidade organizacional.
O crescimento também provoca heterogeneidade entre os membros,
departamentos e unidades de negócio (Fleck, 2006). Essa heterogeneidade faz surgir
conflitos e rivalidade entre suas partes. Segundo Selznick (1957), a rivalidade
organizacional talvez seja o problema que exige maior atenção no que tange a
integridade da empresa. A busca por segurança e realizações se reflete na busca por
destaque na empresa e pode gerar ilhas de poder para o atendimento de objetivos
individuais ou de grupos. Inclusive, tais objetivos podem ser muitas vezes conflitantes
entre eles (Cyert e March, 1963). Faz-se então necessário o desenvolvimento de
mecanismos que estimulem a cooperação na empresa (Barnard, 1938)
Ghoshal e Mintzberg (1994) relataram as vantagens da diversidade, o conflito
entre autonomia e sinergia ou até mesmo as diferenças entre modelos centralizadores
ou descentralizadores. A autonomia traz a liberdade de ações, mas no final, a
18
empresa se torna uma coleção de partes. Por outro lado, a busca por sinergia resgata
uma série de benefícios para a corporação, mas ao gerar procedimentos padrões
durante essa busca, pode contribuir para o aumento exagerado da burocracia.
Entretanto, o gerenciamento bem sucedido da diversidade distingue elementos
organizacionais heterogêneos de homogêneos (Stickland , 1998 apud Fleck, 2006).
Ou seja, é necessária a promoção de compartilhamento de recursos para aspectos
homogêneos e o intercâmbio de recursos para aspectos heterogêneos. A diferença
entre essas duas formas de relacionamento é (Fleck, 2006):
a) Compartilhamento: ao utilizar-se de procedimentos padronizados para o
compartilhamento de recursos entre elementos organizacionais homogêneos, a
empresa favorece a promoção de economias de escala, escopo e velocidade. Os
recursos são:
Itens tangíveis: produtos, instalações, empregados e serviços comuns;
Itens intangíveis: reputação organizacional, mitos organizacionais,
percepções compartilhadas de ameaças à existência organizacional.
b) Intercâmbio: intercâmbio e combinação de produtos, instalação, empregados e
serviços, e processos organizacionais. Requer complexa interação entre
elementos organizacionais.
Entretanto, a construção desses relacionamentos de compartilhamento e
intercambio de recursos entre elementos organizacionais exige o desenvolvimento de
capacitações em coordenação (Fleck, 2006). Essas capacitações requerem a
implementação de mecanismos de coordenação como: construção de
relacionamentos, forças tarefas, comitês permanentes, gerentes de integração e
departamentos de integração. Segundo Fleck (2006), a implementação bem sucedida
desses mecanismos não diminuem a heterogeneidade. Pelo contrário, usufrui dos
pontos positivos dela e ao mesmo tempo favorecem a integração organizacional. Caso
falhe em promover capacitações em coordenação, a organização perde a
oportunidade de usufruir das vantagens de compartilhar e intercambiar recursos entre
seus elementos e aumenta o risco de fragmentação ao aumentar a autonomia.
2.4.1. Integração de Empresas em Processos de Fusão e Aquisição
A integração de empresas, quando existe um processo de fusão ou aquisição, é
um tema importante e deve ser considerado. Durante esse processo de integração, a
empresa adquirente sofre do paradoxo da transferência de capacitações, cuja
19
premissa é de que para elas serem absorvidas é necessário quebrar barreiras na
empresa adquirida para conhecê-las e disseminá-las (Haspeslagh e Jemison, 1991).
Por outro lado, se existe a necessidade de preservá-las, é necessário proporcionar
autonomia para a empresa adquirida (Haspeslagh e Jemison, 1991). As abordagens
variam segundo o grau da necessidade de fornecer autonomia à empresa adquirida e
de formar interdependências entre adquirente e adquirida (Haspeslagh e Jemison,
1991). Os tipos de abordagem estão representados na figura 2.3.
Figura 2.3 – Tipos de abordagem na integração de aquisições
AbsorverGuardar
SimbiosePreservação
AbsorverGuardar
SimbiosePreservação
Necessidade de
interdependência
Necessidade de
autonomia
organizacional
Alta
Baixa
Baixa Alta
Fonte: Haspeslagh e Jemison (1991)
A integração deve ser considerada como um processo, cujo início pode ser
anterior à aquisição, e não como mais uma etapa da aquisição ou fusão (Ashkenas,
DeMonaco e Francis, 1998). O caso da GE Capital é um exemplo de empresa que
desenvolveu um modelo de integração para aplicá-lo nas aquisições que fossem
realizadas (Ashkenas, DeMonaco e Francis, 1998). Esse modelo reza pela
importância de um estágio de pré-aquisição, que reside na necessidade de determinar
a viabilidade do negócio pretendido, sob todos os aspectos, e de acompanhar a
integração depois da aquisição consumada (Ashkenas, DeMonaco e Francis, 1998). A
GE Capital deixou de realizar a aquisição de uma empresa ao perceber a
incompatibilidade de culturas com a empresa alvo (Ashkenas, DeMonaco e Francis,
1998).
2.5. Formação de Recursos Gerenciais
Segundo Chandler (1992), para que as empresas estejam preparadas para o
longo prazo, é necessário que seus gestores também estejam orientados para esse
horizonte de tempo dentro da organização. Essa condição é alcançada quando as
empresas promovem meios para estimular carreiras duradouras de seus funcionários,
20
caso contrário, as ações tomadas na empresa podem incorporar uma orientação no
curto prazo. A continuidade dos administradores na empresa permite o
desenvolvimento de relações interpessoais e o surgimento de iniciativas de longo
prazo (Fleck, 2005a).
Portanto, de acordo com Fleck (2006), o desafio de formação de recursos
gerenciais está relacionado ao permanente e estável abastecimento da empresa com
recursos humanos qualificados. Para isso, a empresa deve antecipar necessidades,
formação, retenção, desenvolvimento e renovação de seus recursos humanos. Dessa
forma, a organização cria condições necessárias para a sua existência continuada. Se
a empresa recruta e forma recursos humanos segundo necessidades imediatas, é
possível que ela esteja colocando em risco sua existência continuada.
2.6. Gestão da Complexidade
Na medida em que a empresa cresce, mais complexa ela se torna e os
problemas com os quais ela interage ganham dimensões mais complexas. Segundo
Fleck (2006), o desafio da complexidade está relacionado ao gerenciamento de
problemas complexos que consideram uma grande quantidade de variáveis
interdependentes. O gerenciamento bem sucedido desses problemas requer um
contínuo desenvolvimento de procedimentos sistemáticos para armazenamento de
informações, análise, tomada de decisão e implementação desses procedimentos. Ao
promover soluções sistemáticas para seus problemas, a empresa desenvolve
continuamente sua capacidade de avaliar sues problemas em um processo de auto-
aprendizado. Por outro lado, caso a empresa tenha o hábito de solucionar seus
problemas na medida em que surgem, ela perde oportunidade de aprender com esse
processo e põe em risco a continuidade da empresa ao ficar mais vulnerável a novos
problemas que porventura surjam.
Segundo o modelo de desafios do crescimento de Fleck (2006), as respostas ao
desafio da complexidade afetam a qualidade das respostas a todos os outros desafios
do crescimento.
2.7. Relações entre Requisitos para a Auto-Perpetuação
A figura 2.4 apresenta as relações que existem entre os requisitos para o
sucesso no longo prazo. A tabela 2.2 resume a descrição dessas relações.
21
Figura 2.4 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-Perpetuação
Fonte: Fleck (2006)
22
3. METODOLOGIA
3.1. Definição do Site e do Tema
A Odebrecht S.A.. creditou-se para ser objeto de estudo porque tem sessenta
anos de história, é uma das maiores empresas do país, tem aparente facilidade de
acesso a informações e de realização de entrevistas. Entretanto, antes de
definitivamente seguir com essa opção, foi necessário verificar a real disponibilidade
de informação sobre os setores em que essa empresa atuava e sobre a própria
empresa, sempre sob uma perspectiva histórica.
As primeiras tentativas de busca por informações, indicaram uma aparente
escassez de informações sobre o setor de construção civil. Além de ser um setor
muito vasto e complexo, o material encontrado no começo sobre o tema não cobria as
duas últimas décadas de pesquisa. No setor de Química e Petroquímica, a busca se
mostrou mais promissora, indicando uma aparente abundância de informação sobre a
história do setor. Por último, a Odebrecht se mostrou uma grande fonte de
informações aberta ao público, desde detalhes da história sobre o seu fundador até as
mais recentes movimentações no mercado. O jornal interno da Odebrecht, disponível
desde 1973, significou uma importante fonte de informação para a pesquisa. E por fim,
a existência do Núcleo de Memória Odebrecht foi definitiva para a decisão de
continuidade da pesquisa. Portanto, o risco de não conseguir estudar a Odebrecht por
falta de informação passou a ser reduzido.
Além dessas fontes, fez-se necessário acessar fontes complementares para
atestar a qualidade e a precisão das informações discutidas e trabalhadas nesse
estudo (Yin, 1989). Mais especificamente sobre a Odebrecht, a possibilidade de
acessar documentos históricos, jornais internos, livros comemorativos, dissertações de
mestrado etc., e de realizar entrevistas com membros da empresa, representou uma
oportunidade única para o estudo de caso, o que reafirmou a sua viabilidade.
Durante as primeiras incursões à história da Odebrecht, alguns temas
interessantes despertaram a curiosidade do autor: mudança organizacional como
forma de viabilizar o crescimento sustentável; a diversificação durante a trajetória de
crescimento da Odebrecht; as camadas de valores organizacionais e sua importância
para o crescimento e para mudança organizacional; etc. A decisão sobre a escolha do
tema foi sendo realizada durante o exercício de exploração da história da empresa.
23
As perguntas então que mais frequentemente foram lembradas durante o estudo
e que norteou a pesquisa foram:
“Em que medida a Odebrecht desenvolveu capacitações de forma
consistente ao longo de sua trajetória que a fazem propensa à longevidade
saudável?”
“Como as respostas aos desafios do crescimento da Odebrecht ao longo
de sua trajetória podem explicar sua transição de empresa desafiante para
dominante nos dois principais negócios onde ela atua?”
3.2. Estratégia de Pesquisa
Segundo Yin (1989), existem 3 condições que determinam o tipo de estratégia a
ser escolhida para uma pesquisa: 1) O tipo de pergunta; 2) O grau de controle que o
pesquisador possui sobre os eventos; e 3) A necessidade de utilizar eventos históricos
em contraposição a eventos contemporâneos. A tabela 3.1 apresenta o perfil de cada
estratégia segundo essas condições.
Tabela 3.1 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa.
Estratégia
Forma da Pergunta de
Pesquisa
Controle sobre eventos
comportamentais ?
Foco em eventos
contemporâneos ?
Experimental Como, porquê Sim Sim
Amostral Quem, o que, onde, quanto
Não Sim
Análise de Arquivos Quem, o que, onde, quanto
Não Sim/Não
Histórica Como, porquê Não Não
Estudo de Caso Como, porquê Não Sim
Fonte: Yin (1989).
Devido ao seu caráter descritivo, exploratório e explanatório, a pesquisa
necessitou utilizar os tipos de pergunta conforme exemplifica a tabela 3.2. Além disso,
a pesquisa não necessitou controle sobre eventos comportamentais, tendo utilizado
eventos históricos. A partir destas características, a pesquisa se enquadra em uma
mescla das estratégias de análise de arquivo, histórica e de estudo de caso.
24
Tabela 3.2 – Tipos de Perguntas Utilizados na Pesquisa.
Perguta Necessidade Exemplos de Perguntas
Quem
Identificação do sujeito do
evento
Quem foi promovido a conselheiro da
administração?
Qual
Importante para identificar a
evidência
Quais foram os benefícios da aquisição da CBPO?
Onde
Necessário para situar os
eventos no espaço
Onde aconteceram as primeiras expansões da
Odebrecht?
Quanto
Identificar a intensidade e
duração de eventos
Quanto tempo durou determinado processo?
Como
Entender os mecanismos
(Bunge, 1999) que explicam
os eventos
Como a Odebrecht realizou a integração entre
empresas?
Por quê
Entender as razões para a
ocorrência de eventos
Por quê a Odebrecht entrou no negócio da
petroquímica?
3.3. Organização das Atividades
Inicialmente, a pesquisa se organizou em torno de três grandes tarefas: coleta de
dados sobre os setores de construção civil, química e petroquímica e sobre a
Odebrecht S.A., incluindo a Construtora Norberto Odebrecht e a Braskem; leitura do
material coletado; e uma descrição da evolução histórica desses três assuntos. A
execução dessas atividades não necessariamente seguiu uma ordem sequencial. Por
vários momentos, elas foram sendo realizadas concomitantemente.
A princípio, essa estratégia aparentou ter a possibilidade de gerar re-trabalho no
futuro, por não contar com uma massa de informações coletadas suficientes para
gerar algum produto. Porém, a concomitância da coleta de informação com a leitura e
a composição da dissertação, mostrou-se extremamente válida, pois possibilitou uma
série de questionamentos. Essas questões, por sua vez, forneceram pistas que
auxiliaram na realização de uma melhor coleta de informações.
As informações coletadas inicialmente sobre a empresa também foram
importantes para a organização da atividade de entrevistas. Na medida em que uma
melhor compreensão sobre as lacunas de informação foi sendo consolidada, a
formação de um roteiro de perguntas e até mesmo a distribuição de temas para cada
entrevistado, segundo sua história na empresa e sua condição atual, foi desenvolvida
mais facilmente.
25
Esperava-se que, com o avanço dessas atividades, o estudo estaria pronto para
o início da atividade de análise dos dados coletados. Mais uma vez, a estratégia inicial
se mostrou produtiva, porque com alguns questionamentos já sendo realizados e
refletidos, a análise dos dados foi realizada com uma maior agilidade. Mais uma vez,
essa atividade não foi executada de forma isolada. Da mesma forma, as tarefas
iniciais não foram abandonadas, pelo contrário, acompanharam o estudo até o final.
3.4. Coleta de Dados
A coleta de dados constitui-se uma etapa importante da pesquisa, pois contribui
para a definição do caminho da pesquisa (Hill, 1993). Toda análise realizada
posteriormente é fundamentada nos dados coletados. Negligenciar a importância
dessa etapa é aumentar os riscos de fracasso da pesquisa (Yin, 1989). Portanto, Yin
propôs 3 princípios gerais para essa etapa: 1) Utilizar múltiplos tipos de fontes de
evidência; 2) Criar um banco de dados de estudo; 3) Manter uma linha histórica de
evidências.
Sob a perspectiva de Snow & Thomas (1994), a coleta de dados assumiu a
condição de uma pesquisa de campo ao utilizar o multi método de estudo, que
combina os métodos de entrevista e de análise de arquivos. Em um paralelo a Yin
(1989), esses dois métodos correspondem a dois dos 6 tipos de fonte de evidência
abordados por ele. Apesar do multi método ajudar a dar mais consistência ao estudo
realizado, Snow & Thomas observaram as seguintes dificuldades:
O multi método pode fazer com que o pesquisador perca o controle ou
objetividade do estudo. Quanto mais informações e perspectivas sobre uma série de
evidências, maior o grau de complexidade do estudo;
Métodos qualitativos estão sujeitos a problemas de viés e credibilidade;
As entrevistas estão sujeitas à opinião, às perspectivas e à memória dos
entrevistados.
A disponibilidade de informações históricas é um outro fator complicador.
Aparentemente, o país não tem o hábito de guardar informações sobre sua história.
Determinadas bibliotecas se desfizeram de parte de suas coleções por apresentar falta
de espaço de armazenamento. Por outro lado, a Biblioteca Nacional e o Arquivo
Nacional demonstram preocupação com a preservação de documentos históricos.
3.4.1. Arquivos Históricos
26
Dentre as bibliotecas visitadas, destacam-se como importantes fontes de
informação à pesquisa as que estão apresentadas na tabela 3.3.
Tabela 3.3 – Bibliotecas Consultadas.
Fontes de Informação Material Acessado Observação
Biblioteca do Coppead
Revistas com estudo de caso;
Coleção da Revista Exame;
Coleção da Revista Gazeta
Mercantil e sua versão Balanço
Anual;
Essa biblioteca foi importante por
possuir material básico de sobre
economia das últimas 4 e 5 décadas e
principalmente pelo fácil acesso.
Biblioteca do BNDES
Material diverso sobre a
Odebrecht, o setor de
construção civil e o setor de
química e petroquímica.
Biblioteca onde se encontram
disponíveis análises setoriais.
Contribuiu também com documentos
sobre a Odebrecht.
Biblioteca do Centro de
Tecnologia da UFRJ
Material com perspectiva
histórica sobre os setores de
construção civil e química e
petroquímica.
Detém uma grande quantidade de
livros sobre construção civil, química e
petroquímica.
Biblioteca do Centro de
Ciências Jurídicas e
Econômicas da UFRJ
Material com perspectiva
histórica sobre a conjuntura
industrial dos setores de
construção civil e química e
petroquímica.
Grande variedade de material relativo
à análise econômica de setores.
Núcleo de Memória
Odebrecht
Livro da Tecnologia Empresaria
Odebrecht; Jornal interno da
Empresa; e Relatórios anuais.
Principal fonte de informações sobre a
história da empresa. Como sugerido
por Hill (1993), o período no Núcleo
de Memória foi utilizado para detectar
os principais artigos da coleção da
revista interna e então fotocopiá-los. A
leitura mais detalhada foi realizada
posteriormente.
O presente estudo também necessitou de informações financeiras sobre a
Odebrecht e sobre o PIB do Brasil para o cálculo de indicadores de crescimento. A
forma de coleta de informações do PIB e o método utilizado para apresentá-lo estão
descritos em Grigorovski (2004). A série histórica do PIB foi coletada dos trabalhos de
27
Grigorovski (2004) a partir do ano 1957 até 2003, Rodrigues (2005) do ano de 2004 e
diretamente do site do IBGE para o ano de 2005. Os valores do PIB estão
apresentados no Anexo 6.1.1.
Em um primeiro momento, as fontes de informações financeiras disponíveis
sobre a Odebrecht S.A., Construtora Norberto Odebrecht e Braskem, foram:
Arquivo Nacional: disponível para os anos de 1982 até 1992;
Comissão de Valores Mobiliários (CVM): disponível para os anos de 1993 até
2001;
Página eletrônica da Odebrecht na internet: disponível para os anos de 2002 até
2004.
No Arquivo Nacional, parte das informações está em microfilme. Na ocasião das
visitas ao Arquivo Nacional, as cópias dos documentos de interesse deveriam ser
submetidas por pedido e demorariam cerca de 1 mês. Por causa do longo tempo de
espera para receber as fotocópias, foi permitido tirar fotos dos documentos de
interesse. Entretanto, a coleta pelo Arquivo Nacional se mostrou um pouco difícil.
Como a visita ao Núcleo de Memória da Odebrecht estava marcada, a coleta
dessas informações no Arquivo Nacional foi suspendida. E de fato, as informações de
faturamento líquido e lucro líquido foram encontrados nos relatórios anuais disponíveis
no Núcleo e foram suficientes para montar uma série histórica a partir da década de
1970. Outras informações financeiras foram coletadas. Essas informações e suas
fontes estão listadas na tabela 3.4.
Tabela 3.4 – Outras Informações Financeiras.
Informação Fonte Observação
Série histórica do PIB do Brasil e
do PIB do mundo sob o método de
paridade de poder de compra
(PPC).
Site do FMI Disponível desde 1980.
28
Informação Fonte Observação
Série histórica de faturamento
líquido e lucro líquido dos maiores
grupos empresariais e das
maiores empresas de construção
civil do país.
Diversos números da
revista Balanço
Anual, Gazeta
Mercantil.
Disponível desde 1976.
Série histórica da dívida bruta do
país.
Site do Banco
Central.
Dívida bruta registrada e não
registrada, tanto pública como
privada.
Disponível desde 1971.
Série histórica da exportação e da
importação de bens no Brasil.
Site do Banco
Central do Brasil.
Disponível desde 1947.
Série histórica da inflação.
Site do Banco
Central do Brasil.
Disponível desde 1950.
3.4.2. Entrevistas
No início da pesquisa, houve um esforço para encontrar funcionários ou ex-
funcionários do grupo Odebrecht S.A. que pudessem estar disponíveis para serem
entrevistados. Comunidades do tipo “Coppead Net” foram investigadas, amigos e ex-
colegas de trabalhos foram contatados para ajudar nessa força-tarefa. No total, foram
identificados 21 contatos em potencial e, que dentre esses, 4 retornaram um primeiro
contato através de correio eletrônico. Nesse primeiro contato, o intuito foi explicar o
estudo que estava sendo realizado e solicitar algum encontro em um futuro breve para
realizar entrevista.
Durante a etapa de escrita da história da Odebrecht, foram realizadas 4
entrevistas. Duas entrevistas foram realizadas durante a visita ao Núcleo de Memória
da Odebrecht. Outras duas foram realizadas posteriormente. Na etapa de análise,
foram realizadas novas entrevistas. No total foram 9 entrevistas. O perfil de cada
entrevista e entrevistado está apresentado na tabela 3.5.
29
Tabela 3.5 – Entrevistas Realizadas.
Data da
Entrevista
Entrevistado
Cargo no momento da
entrevista
Objetivos da Entrevista
Janeiro
2006
José Raimundo
Lima
Responsável pelo Núcleo
de Memória da Odebrecht
Detectar características da empresa não
relatadas na análise de arquivo.
Janeiro
2006
Sérgio Foguel
Conselheiro da
Administração da Odebrecht
Detectar características da empresa não
relatadas na análise de arquivo.
Março
2006
Lúcio Otávio
Diretor Financeiro da
Andrade Gutierrez
Dar mais consistência às evidências
encontradas sobre o mercado de
construção pesada.
Julho 2006 Climério Brito
Gerente de Recursos
Humanos da Braskem
Detectar características da empresa não
relatadas na análise de arquivo;
Entender como aconteceu e como vem
ocorrendo a integração de empresas que
formaram a Braskem.
Dezembro
2006
Roberto Blocker
Ex-integrante do
departamento de
contabilidade da
Construtora Norberto
Odebrecht
Capturar informações sob o ponto de vista
de um ex-integrante da Odebrecht.
Dezembro
2006
Antônio Assad
Engenheiro e ex-integrante
da OPL
Capturar informações sob o ponto de vista
de um ex-integrante da Odebrecht.
Janeiro
2007
Antônio
Bragança
Executivo da Área de
Inovação da Braskem
Capturar informações sobre a TEO;
Preencher algumas lacunas decorrentes
do processo de análise do estudo.
Janeiro
2007
Guilherme Abreu
Executivo da Área de
Organização e Pessoas da
Odebrecht
Capturar informações sobre a TEO;
Preencher algumas lacunas decorrentes
do processo de análise do estudo.
Fevereiro
2007
Pedro
Wongtschowski
Autor do livro “Indústria
Química. Riscos e
Oportunidades” e presidente
do Grupo Ultra
Dar mais consistência às evidências
encontradas sobre o mercado de
petroquímica.
30
As perguntas das entrevistas não tiveram uma estruturação rígida. Na primeira
entrevista, perguntas sobre os desafios do crescimento foram realizadas de forma
direta, como por exemplo: “você percebeu momentos críticos na empresa” ou
“Algumas pessoas defendem que os problemas de uma Organização, sejam eles de
qualquer natureza, eles devem passar por uma criteriosa análise para que a solução
seja atingida. Outras empresas, por sua vez, acham que nesse ritmo dinâmico e
frenético que a gente vive hoje, a gente não tem tempo para esse tipo de análise e as
soluções vêm de acordo com o problema. Apagando um incêndio de cada vez. Como
você vê essa questão da Odebrecht?”.
Entretanto, o resultado da entrevista não foi como esperado. Então, na segunda
entrevista, o entrevistador formulou perguntas associadas aos desafios, mas com as
quais o entrevistado se sentisse mais confortável em falar. A única pergunta que foi
repetida em todas as entrevistas foi, com suas variações: “O senhor poderia contar um
pouco da sua história, como o senhor iniciou na empresa, como o senhor evoluiu
dentro da empresa?”.
3.4.3. Banco de Dados
Assim como foi proposto por Yin (1989) e realizado por Jabour (2006) e
Rodrigues (2005), foi necessário estruturar um banco de dados que organizasse as
informações coletadas durante a pesquisa. A princípio, essa tarefa foi realizada de
forma semelhante a Jabour e Rodrigues. Foi organizada uma planilha Excel.
Entretanto, o pesquisador preferiu elaborar um banco de dados utilizando o software
Access da Microsoft onde pudesse entrar os dados através de formulários. Dessa
forma a informação ficou mais organizada e abriu a possibilidade de realizar análises
mais detalhadas. Além é claro de disponibilizar um repositório único de dados para
futuras pesquisas e até mesmo de pesquisas realizadas anteriormente.
Embasada na estrutura de armazenamento de informação apresentada por Fleck
(2004), a ferramenta de coleta de dados contou com as tabelas e seus respectivos
campos conforme apresentado na tabela 3.6.
31
Tabela 3.6 – Componentes e Campos da Ferramenta de Coleta de Dados.
Componente Descrição Campos
Fato
Tem como objetivo armazenar a
descrição dos fatos coletados tal
qual foi descrito na sua fonte de
origem.
Armazena os fatos a partir de
uma classificação geral para
facilitar a organização dos
dados.
Nível de Análise; Objeto de Análise; Tema; Fato;
Mês início; Mês fim; Ano início; Ano fim; Origem;
Utilizado; Comentário; Referência; Página inicial; e
Página fim.
Fato tratado
Tem como objetivo possibilitar a
manipulação da informação
armazenada, seja subdividindo a
informações em outras partes ou
preparando-a para que seja
incorporada na dissertação.
Possui os mesmos campos que
a tabela FATO e armazena a
relação com a informação
primeiramente armazenada
nessa tabela.
Idem
Referência
Armazena as referências das
informações coletadas.
Referência; Número; Página início; Página fim;
Editora; Ano publicação; Mês publicação; Dia
publicação; e Volume.
Objeto de análise Armazena os objetos de análise
Nível análise; Objeto análise; Tipo objeto; Descrição;
Endereço; Cidade; Estado; País; Comentário; Data
fundação; e Data finalização.
Lista de valores
Armazena os valores que são
visualizados nos campos que
possuem listas para que seja
escolhido um valor.
Nível análise; Processo; Desafio; Grupo; Sub-grupo;
Dimensão; e Comentário.
32
Componente Descrição Campos
Consulta análise do
fato tratado
Tem como objetivo listar todos
os fatos tratados já com a
análise realizada. A partir desse
componente é possível
organizar a informação para
facilitar o desenvolvimento do
trabalho escrito.
Ano início; Ano fim; Origem; Utilizado; Fato;
Comentário; Tema; Objeto de Análise; Nível de
Análise; Processo; Desafio; Grupo; Sub-Grupo;
Dimensão; Comentário do Fato; Criação; e Status.
A tela inicial de entrada de dados está representada pela figura 3.1.
Figura 3.1 – Tela Inicial da Ferramenta de Coleta de Dados
Para organizar os fatos armazenados no componente “Fato”, foi elaborada uma
lista de valores, representada pelo campo Tema”, de forma a permitir a classificação
dos fatos cadastrados. Essa lista é dependente do vel de análise do objeto sobre o
qual o fato corresponde. Os níveis de análise e os seus valores correspondentes para
classificação estão listados na tabela 3.7.
33
Tabela 3.7 – Lista de Valores do Campo Tema.
Nível de Análise Valores de Tema
Indivíduo Formação; Realizações; Responsabilidades; Personalidade.
Organização
Recursos Humanos; Expansão; Mercado; Operação;
Administração; Origens; Definição do negócio; Tecnologia;
Finanças; Comunicação; Produtos; Inovação; Relacionamento
entre empresas; Valores; Matéria-prima.
Indústria
Relacionamento entre empresas; Tecnologia; Matéria-Prima;
Recursos Humanos; Mercado; Formação; Recursos Financeiros;
Demanda; Intervenção Pública; Mercado Externo.
País Infra-Estrutura; Social; Política; Economia; Financiamento.
Estado Idem
Cidade Idem
Região Idem
A partir dos fatos cadastrados no componente “Fato”, a ferramenta permite que o
pesquisador realize um tratamento desses fatos e armazene suas alterações no
componente “Fato Tratado”. Esse procedimento é necessário para preservar a
integridade da informação armazenada no componente “Fato”.
3.5. Análise dos Dados
A análise dessa pesquisa seguiu a estratégia generalista de apoiar-se em
proposições teóricas (Yin, 1989). A partir do referencial teórico de Fleck (2006) acerca
dos desafios do crescimento, foi elaborada uma matriz de dimensões (Miles &
Huberman, 1984 apud Yin, 1989) para facilitar o processo de análise da pesquisa. A
tabela 3.8 apresenta essas dimensões.
Tabela 3.8 – Lista de Dimensões para Análise.
Processo Desafio
Grupo de
Dimensões
Sub-grupo de
dimensões
Dimensão
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Predisposição da firma
de crescer
-
Predisposição a
correr riscos
34
Processo Desafio
Grupo de
Dimensões
Sub-grupo de
dimensões
Dimensão
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Predisposição da firma
de crescer
-
Busca por meios de
minimizar riscos
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Predisposição da firma
de crescer
-
Busca pelo
crescimento contínuo
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Serviços de
empreendedorismo
-
Visão e Imaginação
(Versatility)
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Serviços de
empreendedorismo
-
Julgamento
empresarial
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Serviços de
empreendedorismo
-
Capacidade de
encontrar
financiamento
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Serviços de
empreendedorismo
- Ambição
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Serviços de
empreendedorismo
-
Promoção de
expansão com
mecanismos de
reforço
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Produtiva - Economia de escala
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Produtiva - Economia de escopo
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Produtiva -
Economia de
velocidade
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Produtiva -
Aumento de
produtividade
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Produtiva -
Diminuição de custos
unitários
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Produtiva - Produção de folga
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Defensiva - Integração vertical
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Defensiva - Aquisição horizontal
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Defensiva -
Prevenir escassez de
fontes de suprimento
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Defensiva -
Prevenir escassez de
canais de
escoamento
35
Processo Desafio
Grupo de
Dimensões
Sub-grupo de
dimensões
Dimensão
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Defensiva -
Dificultar entrada de
novos entrantes
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Híbrida -
Obs: Combinação da
expansão produtiva e
defensiva
Crescimento
Contínuo
Desafio
empreendedor
Expansão Nula -
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Leitura constante do
ambiente
-
Leitura constante do
ambiente
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Moldagem de ambiente
Estratégia de
moldagem
Cooptar
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Moldagem de ambiente
Estratégia de
moldagem
Influenciar
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Moldagem de ambiente
Estratégia de
moldagem
Controlar
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Moldagem de ambiente
Estratégia de
desafio
Ignorar
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Moldagem de ambiente
Estratégia de
desafio
Desafiar
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Moldagem de ambiente
Estratégia de
desafio
Atacar
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Neutralizar pressões
Estratégia de
evitar
Táticas de ocultação
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Neutralizar pressões
Estratégia de
evitar
Prevenção
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Neutralizar pressões
Estratégia de
evitar
Fuga
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Ajustamento
Estratégia de
negociação
Balancear partes
interessadas
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Ajustamento
Estratégia de
negociação
Táticas de
pacificação
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Ajustamento
Estratégia de
negociação
Barganha
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Ajustamento
Estratégia de
aceitação
Hábito
Crescimento
Contínuo
Navegação no
ambiente
Ajustamento
Estratégia de
aceitação
Imitação
36
Processo Desafio
Grupo de
Dimensões
Sub-grupo de
dimensões
Dimensão
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Compartilhando
Recursos
Produtos e serviços
comuns
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Compartilhando
Recursos
Instalações comuns
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Compartilhando
Recursos
Pessoal Comum
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Compartilhando
Recursos
Mitos
organizacionais
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Compartilhando
Recursos
Reputação
organizacional
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Compartilhando
Recursos
Percepção de
ameaças
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Intercambio e
combinação de
Recursos
Produtos e serviços
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Intercambio e
combinação de
Recursos
Instalações
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Intercambio e
combinação de
Recursos
Pessoal
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Intercambio e
combinação de
Recursos
Processos
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Intercambio e
combinação de
Recursos
Reputação
organizacional
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Intercambio e
combinação de
Recursos
Percepção de
ameaças
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Capacitações em
coordenação
Relacionamentos
(liaison positions)
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Capacitações em
coordenação
Força tarefa
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Capacitações em
coordenação
Comitê permanente
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Capacitações em
coordenação
Gestores de
integração
37
Processo Desafio
Grupo de
Dimensões
Sub-grupo de
dimensões
Dimensão
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Integração
Capacitações em
coordenação
Departamentos de
integração
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Aumento de
autonomia
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Separação entre o
topo e a base
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Responsabilidade de
expansão da unidade
de negócio
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Responsabilidade de
diversificação da
unidade de negócio
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Expansão sem
coordenadação
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Conflitos
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Rivalidades
Existência
continuada
Gestão da
Diversidade
Fragmentação
Má capacitação
em coordenação
Desorganização
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
-
Antecipar
necessidades
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
- Formar recursos
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
- Reter recursos
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
-
Desenvolver
recursos
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
- Renovar recursos
38
Processo Desafio
Grupo de
Dimensões
Sub-grupo de
dimensões
Dimensão
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
-
Procedimentos de
avaliação
Existência
continuada
Suprimento de
recursos
gerenciais
Suprir continuamente
com recursos
gerenciais
- Sucessão gerencial
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Desenvolvimento de
procedimentos
sistemáticos
-
Recolhimento de
informação
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Desenvolvimento de
procedimentos
sistemáticos
-
Análise (Inclui
desenvolvimento de
critérios de análise)
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Desenvolvimento de
procedimentos
sistemáticos
- Tomada de decisão
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Desenvolvimento de
procedimentos
sistemáticos
- Implementação
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Desenvolvimento de
procedimentos
sistemáticos
-
Detecção de
situações complexas
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Resolução sistemática
de problemas
- Busca de soluções
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Resolução sistemática
de problemas
-
Promover
aprendizado
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Resolução de
problemas ad-hoc
-
Rápida busca por
soluções
Existência
continuada
Gestão de
complexidade
Resolução de
problemas ad-hoc
- Inibir aprendizado
A partir do componente “Fato Tratado” da ferramenta de análise foi possível
realizar as classificações propostas na tabela 3.8. A figura 3.2 representa a tela onde
esse processo foi realizado na ferramenta. Todo fato tratado que não tenha se
enquadrado em uma dessas dimensões, mas que pelo julgamento do pesquisador
mereceu atenção especial, recebeu uma classificação de Dado relevante”. No
comentário dessas classificações, foram colocadas informações relevantes à análise
da pesquisa.
39
Figura 3.2 – Tela de Análise de Fatos Tratados
O modelo de dados da ferramenta está representado pela figura 3.3.
Figura 3.3 – Modelo de Dados da Ferramenta
De um total de 2.660 fatos brutos, 1.277 receberam tratamento para análise.
Desse total tratado, 983 receberam uma ou mais classificações segundo a lógica da
classificação proposta acima.
Essa informação fica armazenada no componente “Consulta análise do fato
tratado” conforme apresentado na figura 3.4. A partir dessa tela é possível consultar,
filtrar e ordenar a informação segundo as dimensões propostas na tabela 3.8.
40
Figura 3.4 – Tela de Consulta à análise de Fatos Tratados
Essa estrutura de dados possibilitou a análise longitudinal das capacitações
(Fleck, 2006) da organização. Para cada desafio do crescimento foram consultadas
evidências em ordem cronológica. A partir dessas evidências, buscou-se identificar os
principais processos e evidências que ocorreram durante a trajetória da Odebrecht.
Por último, a partir dos principais processos e evidências, verificou-se se a Odebrecht
desenvolveu de forma consistente as capacitações listadas na tabela 3.9.
Tabela 3.9 – Lista de Capacitações para Análise.
Desafio Capacitação
Ambição
Versatilidade
Recursos Financeiros
Julgamento
Empreendedorismo
Expansão Produtiva
Legitimidade
Navegação no ambiente
Captura de Valor
Gestão da diversidade Coordenação em construção de relações de integração
41
Desafio Capacitação
Antecipação de necessidade
Formação
Retenção
Gestão de RH
Renovação
Gestão da complexidade Gestão da complexidade
O capítulo 5 (“Resultado da Análise”) tratou cada desafio do crescimento de
forma separada. Primeiramente, para cada desafio foram listados em uma tabela os
principais processos e evidências, classificados segundo a tabela 3.9 e ordenados por
data. A partir de então, houve a descrição mais detalhada de cada capacitação listada
na tabela 3.9. segundo os processos e evidências apresentados também nessa tabela.
3.5.1. Indicadores de crescimento e financeiros
Avaliar quantitativamente o crescimento saudável das empresas ainda é um
grande desafio. Entretanto, alguns indicadores podem dar indícios sobre o tamanho da
empresa. O indicador de tamanho proposto por Fleck (2004) é calculado da seguinte
forma:
Tamanho
ano i
= (Receita Bruta
ano i
÷ PIB Brasil
ano i
) X 100
Entretanto, por restrições à coleta de uma rie histórica completa para a receita
Bruta da Odebrecht S.A. e da Construtora Norberto Odebrecht, foram utilizadas suas
receitas líquidas. A receita líquida oferece a vantagem de minimizar os efeitos da
diferença de impostos entre regiões do país e diferentes indústrias. Então, o cálculo do
indicador de tamanho utilizado nessa pesquisa foi:
Tamanho
ano i
= (Receita Líquida
ano i
÷ PIB Brasil
ano i
) X 100
Outro indicador utilizado foi o de desempenho:
Desempenho
ano i
= (Lucro Líquido
ano i
÷ PIB Brasil
ano i
) X 100
Para os anos das séries históricas que apresentaram maior discrepância com
relação aos outros anos, seu valor foi ignorado. No gráfico, esses anos ignorados não
possuem valor algum. O mesmo tratamento receberam os anos que não tiveram
42
dados coletados. Ao invés de extrapolar uma linha de tendência para preencher as
lacunas da série, os anos sem dados foram deixados em branco nos gráficos.
Com base no indicador de tamanho de empresas, foi elaborado o indicador de
tamanho de país. Os dados coletados são referentes ao PIB do Brasil e do Mundo,
segundo o método de paridade de poder de compra (PPC). Esse método deve ser
utilizado para minimizar os efeitos das variações cambiais entre países. O cálculo
desse indicador foi:
Tamanho País
ano i
= (PIB Brasil (PPC)
ano i
÷ PIB Mundo (PPC)
ano i
) X 100
Também foram utilizados para auxiliar na análise os seguinte indicadores:
Trajetória Dívida Bruta
ano i
= (Dívida Bruta
ano i
÷ PIB Brasil
ano i
) X 100
Trajetória Exportação de Bens
ano i
=
(Exportações de Bens
ano i
÷ PIB Brasil
ano i
) X 100
Trajetória Importação de Bens
ano i
=
(Importação de Bens
ano i
÷ PIB Brasil
ano i
) X 100
43
4. Os Setores e as Empresas
4.1. A História da Indústria de Construção Pesada no Brasil
O desenvolvimento da indústria de construção pesada no país está intimamente
relacionado com o progresso econômico e social do Brasil. As ferrovias brasileiras, os
portos, a malha rodoviária, que se transformou no principal modal de transporte, e as
grandes barragens e usinas geradoras de energia fazem parte da história de nosso
país. Entender a evolução desses setores da infraestrutura brasileira significa entender
a origem das grandes empresas de construção civil assim como de muitas outras
indústrias, que somente puderam existir a partir do progresso empreendido no país ao
longo do século XX.
4.1.1. O Início do Setor de Construção Pesada no Brasil
O período entre 1945 e 1955 demarcou principalmente o surgimento do setor
rodoviário como principal meio de transporte no país e da preparação dos requisitos
essenciais para que o Estado comandasse a construção no setor de energia elétrica
na segunda metade da década de 1950. A natureza do mercado desses dois setores
abriu uma perspectiva inteiramente nova ao setor de construções pesadas, marcando
a passagem da dominância das empreiteiras estrangeiras para o surgimento de
grandes construtoras nacionais.
O período começou com a Lei de Joppert de 1945 que foi promulgada com a
intenção de promover uma estruturação administrativa e financeira no transporte
rodoviário e que, durante longos anos, amparou a expansão desse setor. As
mudanças que ocorreram tiveram o propósito fundamental de criar órgãos de
regulamentação e controle, e práticas que visaram o financiamento de obras através
de fundos, como o Fundo Rodoviário Nacional (FRN).
A participação estadual através dos Departamentos de Estrada e Rodagem
(DER), conforme apresentado na tabela 4.1, foi primordial para o avanço do transporte
rodoviário. Mesmo porque, o Governo, representado pelo DNER, era obrigado a
delegar obras federais aos estados, repassando uma grande parcela de seus recursos
financeiros aos DERs.
44
Tabela 4.1 – Distribuição Percentual dos Investimentos em Rodovias.
ESPECIFICAÇÃO 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960
FEDERAL - DNER 29,7 27,4 30,6 37,2 38,2 33,5 30,6 32,2 36,4 39,7 35,6 35,6 46,5 48,8 49,2
ESTADUAL - DERs 70,3 64,8 60,8 55,9 54,9 59,7 63,1 61,2 57,6 55,0 59,4 57,7 48,1 45,5 45,1
MUNICIPAL - 7,8 8,6 6,9 6,9 6,8 6,3 6,6 6,0 5,3 5,0 6,7 5,4 5,7 5,7
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Consultec (1962, apud Jobim et al, 1983, pág. 37)
A tabela 4.2 apresenta a importância que se atribuiu aos investimentos em
rodovias na época, em detrimento dos demais investimentos em transportes. Pode-se
reparar também nessa tabela a decrescente participação do transporte ferroviário nos
investimentos do país.
Tabela 4.2 – Distribuição Percentual dos Investimentos Públicos em Transportes.
ESPECIFICAÇÃO 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959
Transporte Rodoviário 76,8 77,9 78,6 70,8 65,6 75,3 76,4 66,8 76,8 63,8 70,9 75,4 73,1 77,4
Transporte Ferroviário 21,8 21,1 20,5 27,7 28,8 17,4 16,3 24,3 18,2 24,4 19,6 18,7 21,5 16,3
Transporte Aquático - - - - 2,6 4,7 4,7 5,1 2,6 8,0 6,1 3,2 2,8 4,0
Transporte Aéreo 1,4 1,0 0,9 1,5 3,0 2,6 2,6 3,8 2,3 3,8 3,5 2,8 2,6 2,3
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Ministério dos Transportes (1970, apud Jobim et al, 1983, pág. 41).
O “boom” rodoviário, conforme alguns denominaram esse fenômeno nos
transportes, foi fundamental para o surgimento das grandes empresas de construção
no país, pois as características desse mercado facilitaram o desenvolvimento de
pequenas empreiteiras. Não existiam barreiras tecnológicas à entrada, pois
basicamente, em um primeiro momento, as estradas não eram pavimentadas. As
obras eram realizadas em trechos, o que permitia a participação de pequenas e
médias empresas na construção. Por outro lado, a construção de vias pavimentadas
foi significativa, o que corroborou para o crescimento tecnológico de muitas empresas
brasileiras. A construção da Rodovia Presidente Dutra (Rio-São Paulo) é um exemplo
de obra que proporcionou este cenário de desenvolvimento.
45
“A obra da Presidente Dutra, além de ter formado estas empresas (Rabello, Andrade
Gutierrez etc.) tem um outro mérito grande. Do ponto de vista tecnológico introduziu
métodos modernos. Em contato com os EUA, foram trazidos professores americanos
para trabalhar em pavimentação. Nesta época ainda não havia pavimentação no
Brasil. Começou-se a mexer com os solos compactados, asfaltos etc.” (Jobim et al,
1983, p. 43)
Porém, vale ressaltar que, apesar do crescimento de construtoras privadas, o
Estado ainda era o grande construtor daquele período. Enquanto o DNER dispunha de
grandes maquinários importados, os empreiteiros privados participavam das obras
com carroças puxadas a burro.
Por outro lado, os Estados da União também tiveram grande participação na
construção de rodovias, proporcionando o surgimento de diversas empresas locais de
construção. O programa rodoviário do Governo Juscelino Kubitschek (JK) em Minas
Gerais (1951 1955) foi um exemplo da capacidade dos governos estaduais em
organizar obras e conseguir seu financiamento. Com um ambiente favorável,
propiciado pelo controle nos juros, e uma geração de lucros constante, as construtoras
se prepararam adequadamente, por coincidência, para o plano de metas que
influenciou profundamente o progresso do país a partir da segunda metade da década
de 1950.
No setor de energia elétrica, o período do pós-guerra representou uma escassez
na oferta de energia. O movimento espontâneo dos Estados em busca de soluções
para essa escassez significou a criação de diversas empresas para atuar efetivamente
no setor e a criação de fundos fiscais para o financiamento das iniciativas. A tabela 4.3
apresenta uma relação das empresas criadas nessa época.
Tabela 4.3 – Companhias Estaduais de Energia Elétrica.
EMPRESA ESTADO DATA DE CRIAÇÃO
CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica RS 1943
CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais MG 1952
USELPA - Usinas Elétricas do Parapanema SP 1953
CHERP - Companhia Hidroelétrica do Rio Pardo SP 1955
COPEL - Companhia Paranaense de Energia Elétrica PR 1953
CELG - Centrais Elétricas de Goiás GO 1956
CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina SC 1956
CEMAT - Centrais Elétricas Matogrossense MG 1958
CEMAR - Centrais Elétricas do Maranhão MA 1959
46
EMPRESA ESTADO DATA DE CRIAÇÃO
COELBA - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia BA 1960
CELUSA - Centrais Elétricas de Urubupungá SP 1961
CELF - Centrais Elétricas Fluminenses RJ 1963
Fonte: Almeida (1980) e Lima e Leme (1981).
Somente quando o Presidente Getúlio Vargas encaminhou o Plano Federal de
Eletrificação ao Congresso Nacional entre maio de 1953 e abril de 1954, o Governo
Federal passou a mostrar iniciativas para desenvolver o setor de energia elétrica do
país. A principal tônica desse plano foi a criação do órgão “holding” Eletrobrás que
pudesse acompanhar a expansão da capacidade de aproximadamente 3 milhões de
Kw (situação de 1955) para aproximadamente 8 milhões de Kw em 1965. Para
cumprir essa meta, supôs-se necessária a construção de hidrelétricas como principal
fonte de geração de energia.
4.1.2. O Plano de Metas
O Plano de Metas foi “um ambicioso conjunto de objetivos setoriais (...) que
constitui a mais sólida decisão consciente em prol da industrialização na história
econômica do país.” (Lessa, 1981, p.27). Esse Plano foi lançado durante a
administração de JK, que foi marcada por profundos avanços na infra-estrutura e
culminou na transição para o capitalismo industrial do país. Entre os setores
prioritários para o investimento público nesse período, que se estendeu desde 1956
até 1961, os de transporte rodoviário e de energia foram os mais contemplados,
conforme a tabela 4.4 apresenta.
47
Tabela 4.4 – Recursos Orçados para Investimento, Segundo Planos.
Setores
Plano
Especial
(1939-1943)
Plano de Obras
e Equipamentos
(1945 - 1947)
Salte
(1948)
Plano de
Metas
(1956 - 1961)
Transporte 46,8 43,3 77,1 41,2
Ferrovias 35,4 28,7 59,5 19,9
Rodovias 3,7 11,2 10,5 15,7
Outros 7,7 3,4 7,1 5,6
Energia 6,8 1,8 13,2 41,1
Petróleo 6,3 1,2 6,2 25,9
Eletricidade 0,5 0,6 6,8 14,0
Outros - - 0,2 1,2
Indústria 19,6 - - 11,4
Siderurgia 15,7 - - 8,9
Outros 3,9 - - 2,5
Demais Setores 26,8 54,9 9,7 6,3
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Costa (1971, p. 421).
Enquanto os setores ferroviários e portuários se mantiveram estagnados, a
construção de rodovias absorveu a grande massa de investimento em transporte
nesse período. O mercado de construção pesada ganhou um estímulo nesse setor
que o alçou a uma outra dimensão, através de obras tanto em nível federal como
estadual. O contexto econômico que se verificou nessa época foi necessário para o
estabelecimento e crescimento de muitas empreiteiras no país.
Esse período traduziu-se em uma tendência à passagem da construção para a
iniciativa privada e, simultaneamente, em uma política deliberada de fortalecimento de
empresas selecionadas como construtoras. Há indícios de que algumas empreiteiras
brasileiras conseguiram se solidificar e avançar especialmente com o programa
rodoviário de JK. Algumas informações retiradas de entrevistas com empresários do
setor de construção e técnicos de governo da área de transporte (Jobim et al, 1983)
são fundamentais para entender o contexto que se aplicava naquela época.
"A Andrade Gutierrez começou a crescer em 1954/55, mas se desenvolveu de fato e
se tornou uma empresa importante a nível nacional a partir de 1957/58, com a
construção da São Paulo—Curitiba, obra da qual também participaram a Construtora
Rabello, a CBPO e outras. Neste momento a A. Gutierrez ainda era uma empresa de
pequeno porte. Mas a obra São Paulo-Curitiba era uma obra muito boa, era mesmo a
menina dos olhos de Juscelino e se ganhava muito dinheiro. Evidentemente, o custo
operacional de uma Andrade Gutierrez naquela época era muito baixo. Para se ter
uma idéia, o irmão do Roberto Andrade, o Gabriel, era um engenheiro que morava
na obra. O pessoal dormia no meio do mato e o Gutierrez morava também. O
Roberto Andrade ia para fazer medições e classificações. Conseguiram tirar
daquela obra um resultado que nenhum dos outros conseguiu tirar. Para os outros foi
48
ótimo, para eles foi multiplicado por três". (Entrevista com anônimo em Jobim et al,
1983, p. 87)
Além das práticas formais promulgadas pelo plano de metas, existiram as
práticas não escritas, como a “indexação” que colaborou decisivamente para a
capitalização das construtoras.
"Ao construir a São Paulo - Curitiba peguei a aceleração inflacionária. Os contratos
para esta estrada eram muito grandes e assinados por um prazo de cinco anos.
Eram também cinco empreiteiros e nós fizemos 40 milhões de metros cúbicos de
terraplenagem, toda a pavimentação e mais de cem pontes e viadutos. Os contratos
feitos com estes empreiteiros eram de cinco anos e sem cláusulas de reajustamento.
Os preços eram, portanto, os de 1957 e os empreiteiros tinham que trabalhar por
estes preços por cinco anos. Então eu vou explicar como é que eu tinha que fazer.
Era necessário concluir a obra e eu estava entendendo que com preços de 1957
ninguém podia trabalhar em 1960. entrou o ‘jeitinho brasileiro’. Inventou-se na
época o que se chamou de classificação econômica que é o seguinte: os preços da
terraplenagem são de três naturezas, isto é, você tem um preço para movimentar
solos (primeira categoria), um preço para movimentar material mais duro que exige
equipamentos especiais (segunda categoria) e um preço para remoção de rochas
(terceira categoria) . É claro que o preço unitário para cada uma destas categorias
varia. O da primeira é 10, o da segunda é algo na ordem de 25 e o da terceira é 50.
Então o engenheiro chega no corte, mede e calcula os metros cúbicos de
construção. entra o fiscal do DNER que vai classificar, vai dizer qual é a
porcentagem da primeira, segunda ou terceira. Isto evidentemente é de certa
maneira aleatório, dependendo do julgamento pessoal do fiscal. Quando se tem
como pano de fundo a questão da inflação, o que acontecia é que se forçava a
classificação para o lado das categorias mais remuneradas”. (Entrevista com
anônimo em Jobim et al, 1983, p. 87-88)
Nesse período, a capacidade operacional se tornou um requisito fundamental
para a participação nas grandes obras. JK introduziu a seleção de empreiteiras e o
oligopólio nas construções como uma forma de assegurar o cumprimento dos prazos
curtos e rígidos que se impôs nessa época. O empreiteiro que não possuísse
equipamentos, condições financeiras ou técnicas não estava apto a participar das
grandes obras do Governo. O depoimento de um ex-diretor do DNER ilustra essas
condições que se apresentavam na época.
"Por que eu quando assumi a direção do DNER fiz o seguinte: eu estabeleci uma
meta de construção, digamos, eram 10 mil quilômetros de estradas. Isso dava uma
pavimentação de uns 6 mil quilômetros. Tinha respaldo financeiro do Congresso.
Agora, esse plano era muito grande. Era um plano que necessitava, para a sua
execução, do concurso de 90% da força de trabalho das empresas de construção do
Brasil. E eu não podia deixar que as licitações fossem licitações de guerra, licitações
de briga. Porque eu ia terminar contratando para determinado trecho por um preço
que o próprio empreiteiro ia verificar depois inexequível, eu não ia ter continuidade
da obra. Assim, eu não iria ter a obra que eu precisava no prazo estabelecido. Então
eu intervim no processo. Eu fazia o seguinte: esse plano implicava na implantação e
pavimentação de umas 15 rodovias federais, espalhadas pelo Brasil afora. Em cada
rodovia dessas eu fiz uma concorrência pública, para um determinado trecho grande.
49
E exigi, para participar dessa concorrência determinados atestados, altos. De modo
que para esses quinze lotes grandes, eu teria no Brasil, que atendessem a estes
atestados, apenas uns 10 empreiteiros. Assim, eu chamei esses 10 empreiteiros
para uma reunião e disse: ‘Peguem lápis e papel, seu fulano vai pegar o trecho tal,
seu fulano o outro...’ e determinei o preço a ser pago em cada um vendo a tabela,
com descontos etc. E fiz as concorrências onde os empreiteiros, naturalmente,
seguiram minhas instruções. Uma vez feitas essas concorrências, eu consegui com
o Presidente da República um decreto que me permitia contratar, sem concorrência,
o resto da estrada, pelo preço que eu obtive na concorrência pública.” (Entrevista
com ex-diretor do DNER em Jobim et al, 1983, p. 89-90)
Outro exemplo declarado sobre empresas que se favoreceram com as
construções nesse período é colocado por um entrevistado.
"A Rabello era ligadíssima ao Juscelino. Construiu Brasília, construiu São Paulo -
Curitiba, construiu Belo Horizonte - Brasília, construiu Belo Horizonte - São Paulo.
Construiu o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto etc. Era amiga do Juscelino.
Sua queda começou com o Jânio Quadros, se completando com a Revolução de
1964.” (Entrevista com anônimo em Jobim et al, 1983, p. 90)
No campo da energia elétrica, observou-se ampla evolução do setor. Conforme
já havia sido observado no período anterior, existia uma grande necessidade de
construir usinas hidroelétricas para suprir a demanda crescente por energia no país.
Outro ponto importante foram as iniciativas dos Estados, tanto no nível federal como
estadual, que vinham por vez a alterar a estrutura de financiamento desse setor. Cerca
de 50% da nova capacidade gerada foi patrocinada por empresas federais.
Um exemplo desse novo contexto de colaboração entre níveis de governança é o
de Furnas que, em 1957, foi construída com o compromisso de prover energia para
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Participaram como fornecedoras de capital
para a sua constituição as seguintes empresas: BNDE (25,5%), CEMIG (25%), DAEE
de São Paulo (19,5%), LIGHT de São Paulo (25,3%) e Cia. Paulista de Força e Luz
(4,7%).
Muito embora a participação no nível federal tenha se mostrado mais ativa nesse
período, ela se limitou bastante ao papel de fornecedora de financiamento através do
BNDE. A responsabilidade pela gestão das obras continuou, sem grandes mudanças
ao período anterior, sob a gestão dos Estados da União. A Eletrobrás, que aparecia
como um projeto desde o governo Vargas, ainda não possuía grande influência no
cenário e nem existiu desejo naquela ocasião por parte do Governo Federal para que
tivesse.
50
Assim como as empreiteiras mineiras conseguiram avançar no setor de
construção a partir das obras de rodovias, o setor de energia possibilitou o surgimento
de grandes empresas paulistas, como a Camargo Corrêa. A lista de algumas das
obras realizadas no setor especificamente pelo Governo de São Paulo, representado
pela CESP, está apresentada na tabela 4.5.
Tabela 4.5 – CESP: Relação das Entidades Responsáveis pela Construção de Hidroelétricas.
Início Fim Rio
Capacidade
Instalada
Projetista Montagem Construção
L. N. Garcez
(Salto Grande)
1951 1960 Paranapanema 70 Servix Servix Servix
A. S. OLIVEIRA
(Limoeiro)
1953 1966 Pardo 32 IPT CHERP
Moreno e
Cam. Corrêa
EUCLIDES DA.
CUNHA
1954 1965 Pardo 108
Milton
Vargas
CHERP Cam. Corrêa
A. LAYDNER
(jurumirim)
1956 1962 Paranapanema 98 Servix Servix Servix
BARRA
BONITA
1957 1964 Tietê 141
Techint /
Tenco
CHERP Tenco
A.S. LIMA
(Bariri)
1959 1969 Tietê 143
Edson
(Milano)
CHERP
Cam. Corrêa
Tenco
CACONDE
(Graminha)
1959 1966 Pardo 80 Geotécnica CHERP Cam. Corrêa
IBITINGA 1963 1969 Tietê 131 Brasconsult CHERP Tenco
JUPIÁ 1962 1974 Paraná 1.411 Themag Tenenge Cam. Corrêa
XAVANTES 1960 1971 Paranapanema 414 Servix Sermec CBPO
JAGUARI 1963 1973 Jaguari 27 Hidroservice Tenenge Cam. Corrêa
PROMISSÃO 1966 1977 Tietê 264 Brasconsult Servix Cetenco
ILHA
SOLTEIRA
1965 1978 Paraná 3.230 Themag Tenenge Cam. Corrêa
CAPIVARA 1971 1978 Paranapanema 640 Engevix Tenenge CBPO
PARAIBUNA 1964 1978 Paraibuna 85 Hidroservice Tenenge Cam. Corrêa
PARAITINGA 1968 1978 Paraitinqa - Hidroservice Tenenge Cam. Corrêa
ÁGUA
VERMELHA
1973 1980 Grande 1.380
Promom /
Themag
Montreal Cam. Corrêa
Fonte: Almeida (1980).
51
4.1.3. A Diversificação
No início dos anos de 1970, as empresas privadas brasileiras já possuíam
capacidade técnica para executar com autonomia as grandes obras da engenharia nos
setores de energia elétrica, transporte rodoviário naval e ferroviário, saneamento
básico etc. Essa capacitão foi desenvolvida após quatro décadas (1930 até 1960)
de experiência na indústria de construção civil, quando o país testemunhou o
surgimento de grandes empresas desse setor.
Nos últimos anos da década de 1960, entretanto, as grandes empresas de
construção começaram a ampliar suas atividades com exportação de serviços e com a
entrada em novos negócios. Porém, existem algumas divergências com relação aos
motivos que levaram essas empresas a buscarem a diversificação. A tabela 4.6
apresenta as principais atividades das empresas de construção nessa época.
Tabela 4.6 – Atividades Principais das Empresas Brasileiras de Construção.
EMPRESAS ATIVIDADES PRINCIPAIS
Camargo Corrêa
Construção pesada; agropecuária; têxtil, finanças; engenharia; transportes,
cimento, concreto, mineração.
Andrade Gutierrez Agropecuária; construção; exploração e pesquisa; mineração.
C.R. Almeida
Hotelaria; cerâmica; agropecuária; importação; exportação; minério; química;
construção civil; transporte aéreo; madeira.
Mendes Jr.
Construção pesada; comércio exterior; siderurgia; mecânica; reflorestamento;
montagens.
Cetenco Engenharia; agropecuária; pedreira.
Odebrecht
Engenharia pesada; imobiliária; fundações; petroquímica; mineração;
plataformas metálicas para perfuração de petróleo; agrícola seringalista.
Ferreira Guedes Construção civil; mineração, fundações
SERVIX Engenharia civil; mecânica e elétrica; agropecuária.
Queiroz Galvão
Construção civil; agropecuária; mineração; perfuração de poços de petróleo e
gás.
Alcindo Vieira Mineração; metalúrgica; imobiliária; engenharia.
ECISA
Construção civil; agropecuária, imobiliária, engenharia; equipamentos
eletrônicos.
Guarantã
Construção civil; hotelaria; agropecuária; indústria e comércio de artefatos
metálicos; química.
Fonte: Balanço Anual (1980).
52
A desaceleração do progresso brasileiro foi considerada como um dos principais
fatores que explica o processo de diversificação das empresas de construção.
Qualquer corte nas verbas do governo significou o cancelamento ou o adiamento de
muitas obras.
A partir de 1976, a taxa de crescimento dos investimentos totais apresentou uma
queda significativa no país. Porém, uma análise mais detalhada desse índice revelou
que apenas os investimentos privados sofreram desaceleração, enquanto que no setor
público, inexistiu nessa época qualquer tendência recessiva de investimentos tão
marcantes. De fato, o que manteve os investimentos no setor público foram os
realizados no Setor Produtivo Estatal (SPE), representado basicamente pelo setor de
energia elétrica. Os investimentos em áreas geridas por empresas como a Eletrobrás
(incluindo Itaipú), Petrobrás, Siderbrás e Nuclebrás asseguraram uma demanda
contínua de capital para o setor de construção pesada de 1973 até 1978. Por exemplo,
dos 12,7 bilhões de dólares orçados para a construção de Itaipú, metade foi
programada às firmas de construção civil. A Petrobrás também gerou um grande
número de obras auxiliares, pois normalmente para que seus negócios fossem
viabilizados, era necessário criar uma infra-estrutura para apoiá-los. Como no caso
quando criou o terminal marítimo em Aracaju e instalou sua sede da região lá. Foram
necessárias obras como a duplicação da rodovia SE-002.
Da mesma forma, observou-se retração no setor de transportes, a outra grande
fonte de demandas da construção pesada, apenas a partir de 1976. Portanto, pelo
menos para as empreiteiras que tinham participação nas obras do setor elétrico, a
crise desse período não exerceu influência. Portanto, essa crise pode ser pensada
como razão para a diversificação das empresas somente a partir de 1976. Como se
pode perceber, conforme apresentado na tabela 4.7, as empresas de construção
começaram seus movimentos internacionais muitas vezes antes dessa data.
53
Tabela 4.7 – Ano do Primeiro Contrato no Exterior.
EMPRESA Ano do 1º Contrato no Exterior Ano Estimado da Decisão em Atuar no Exterior
Affonseca 1974 1971
Camargo Corrêa 1975 1967
CBPO 1973 1967
CONCIC 1976 -
ECISA Final dos anos 60 Final dos anos 60
ESUSA 1978 1975
Mendes Jr. 1969 Final dos anos 60
Rabello Final dos anos 60 Final dos anos 60
STER 1975 -
Norberto Odebrecht 1979 -
Fonte: Jobim et al (1983, p. 147).
Pensar na crise que afetou o país nos anos de 1970 como a única razão que
levou as empresas a buscarem o mercado exterior é admitir que o mercado de
construção pesada atravessou essa crise desde o final da década de 1960. Muito pelo
contrário, essa fase, conhecida como a “década de ouro”, foi muito importante para a
engenharia do Brasil, conforme observou um ex-diretor superintendente da Andrade
Gutierrez.
"No decorrer dos anos setenta, nossa engenharia desenvolveu-se a tal ponto que
hoje tem condições de realizar qualquer tipo de obra que o país necessite. Em
termos quantitativos, o desenvolvimento também foi bastante significativo, uma vez
que a demanda da construção anual aumentou em termos reais de 2 a 5 vezes entre
1960 e 1979, tendo sido, toda ela, atendida pelas empresas nacionais" (Entrevista
com Eduardo Borges de Andrade em Revista Construção Pesada, 1980, p. 42)
As atividades de construção pesada não diminuíram o seu passo durante a
década de 1970. Por outro lado, no final dessa década, o atraso dos pagamentos às
construtoras foi uma realidade com a qual as empresas desse setor conviveram. Por
exemplo, o DNER e a Rede Ferroviária Federal, juntos, acumularam atrasos
superiores a cinco bilhões de cruzeiros naquela ocasião. Esse problema dos atrasos,
que chegou a ser de dois meses a dois anos, foi um grande estimulo para que muitas
empresas optassem pela busca da diversificação, seja ela através de novos negócios
ou de uma maior atuação no exterior.
Entretanto, a opção por entrar em novos negócios não foi considerada uma
solução de curto prazo. "A diversificação seria uma alternativa de longo prazo para
diluir os riscos de operar num único negócio, sujeito a amplas variações sazonais e
cíclicas. A curto prazo não é solução, que implica novos investimentos, geralmente
com recursos de terceiros, prejudicando ainda mais a liquidez. De qualquer sorte, a
54
diversificação deve considerar a sinergia que o novo negócio tenha com a atual
carteira de negócios da organização, integração vertical e horizontal" (Balanço Anual,
1978, p. 229), afirmou Norberto Odebrecht, diretor-presidente da Construtora Norberto
Odebrecht. Ou como comentou Primo Lattes, empresário da Construtora Guarantã,
"Temos redes de hotéis, fazendas e outros tipos de atividades que só resolveriam
problemas imediatos, em termos financeiros. Por esse meio não se podem resolver ou
amenizar os problemas da construção civil." (Balanço Anual, 1978, p. 229)
Com relação à internacionalização das construtoras, mesmo que a crise do
mercado interno pudesse ter exercido influência no movimento das empresas à
exportação de seus serviços, essa razão isolada não poderia explicar em sua
totalidade o fenômeno. Uma outra condição favorável foi que, nessa mesma época, a
exportação de serviços de engenharia ganhou importância no cenário mundial.
Exportadores tradicionais como França e Inglaterra aumentaram seus volumes de
contratos ao mesmo tempo em que novos competidores como a Coréia do Sul e Índia
entraram em cena.
Nesse ambiente competitivo, a engenharia brasileira foi considerada por alguns
como uma fonte de tecnologia intermediária. Esse caráter que foi conferido às
empresas do país traduziu-se como um conhecimento que não se igualava ao dos
países desenvolvidos, porém foi suficiente para realizar grandes obras em países,
sobretudo, em desenvolvimento, cujas condições ambientais (mão-de-obra, economia
etc) se igualavam às do Brasil.
Por outro lado, outra corrente de pensamento considerou o fato das empresas
nacionais terem realizado obras complexas como Itaipu, a Transamazônica etc.
Portanto, para esse grupo, a tecnologia intermediária não passaria de um mito.
Para qualquer uma dessas hipóteses, o mercado exterior possível para a
engenharia nacional seguiu um determinado padrão. Primeiro, os países requisitantes
não tinham um setor de engenharia desenvolvido, caso contrário, não buscariam
empresas externas para prestar esse serviço. E a política externa brasileira também
se apresentou como um fator importante para a participação das empresas nacionais
nesses países, pois a maioria das obras realizadas esteve sob a responsabilidade do
Estado.
Dentro dessa perspectiva, o mercado de construção no exterior dividiu-se em
dois grandes segmentos: os que tinham recursos financeiros próprios para realizarem
55
as obras de engenharia e os que não tinham. A abordagem empregada em cada
segmento seguia padrões diferentes.
No segmento de países cuja carência de recursos financeiros foi predominante, a
presença de agências de financiamento internacional, como o Bird (Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), foi fundamental para a
realização de muitas obras. Porém, essas agências impulsionaram basicamente a
exportação de serviços de seus países patrocinadores, em sua maioria países
desenvolvidos.
Uma vez que as empresas de construção do Brasil não possuíam capacidade
própria de gerar recursos para financiar as obras internacionais, as agências nacionais
de financiamento exerceram papel importante na viabilização da exportação de
serviços de engenharia. No Brasil, a principal agência de financiamento foi a Carteira
de Comércio Exterior (CACEX) do Banco do Brasil.
Com relação ao segmento de países que detinham condições próprias de
financiamento, verificou-se uma demanda grande entre os países produtores de
petróleo por serviços de engenharia civil. Porém, em uma análise mais detalhada
sobre os fatores que influenciaram a dinâmica de contratação de serviços nesse
segmento, o aprofundamento das relações político-econômicas do Brasil com outros
países a partir de 1964 mostrou-se como um elemento determinante para as
empresas de construção do país. Algumas das aproximações importantes para a
exportação de serviços de engenharia nesse período foram:
Aproximação com a África, principalmente entre os anos desde 1972 até 1977;
Aproximação com os países Árabes com a crise do petróleo e a necessidade de
importá-lo a partir da solidificação do relacionamento com esses países. Esse
relacionamento se intensificou com o Governo Geisel;
O Governo Médici cristalizou o relacionamento com os países da América Latina.
Os governos seguintes deram continuidade a essa política externa.
Das obras mais importantes, destacou-se o contrato da Mendes Júnior no valor
de US$ 2 bilhões para a construção de uma ferrovia no Iraque. Os serviços foram
pagos em petróleo para o governo brasileiro que, por sua vez, repassou para a
empresa em moeda nacional. Outro bom contrato foi o de US$ 1,2 bilhão assinado
entre um consórcio formado pela empresas Camargo Corrêa e Cetenco (juntas
56
respondiam a 61% do projeto), e empresas venezuelanas, para a ampliação da usina
hidrelétrica de Guri, na Venezuela.
4.1.4. A Transformação das Grandes Construtoras
Na virada da década de 1970, as empreiteiras, de todos os tamanhos, sofreram
maiores dificuldades com a não sequência de obras públicas iniciadas em governos
anteriores. O pólo petroquímico do Sul, a Companhia Siderúrgica Nacional, e obras da
CHESF foram exemplos de obras que tiveram restrições orçamentárias públicas.
Estima-se que nessa época a capacidade ociosa das empreiteiras esteve em
aproximadamente 30%. A falta de trabalho levou a uma maior disputa nas
concorrências públicas. Da mesma forma, algumas empresas aceitaram lucros
reduzidos ou até mesmo prejuízos em trabalhos que pudessem mantê-las
funcionando. Consequentemente, essa situação as levou a um maior endividamento.
O tamanho de uma empresa de construção pesada foi uma variável importante.
Nesse clube quase fechado, as empreiteiras disputaram participação em obras
públicas de infra-estrutura auxiliadas pela poderosa influência que possuíam nos
níveis mais altos da administração pública. Após o processo de diversificação que
iniciaram, essas poucas empreiteiras com o tempo se transformaram em grandes
conglomerados. A Camargo Corrêa, por exemplo, passou a investir em equipamentos
elétricos; a Andrade Gutierrez, em exploração de titânio; e a Mendes Júnior, em
siderurgia. Outras empresas, por sua vez, começaram a exportar seus serviços,
participando de consórcios em diversos países, como na Venezuela, Iraque,
Mauritânia, na Argélia e até mesmo na China.
Em 1981, as empresas de construção pesada apresentaram um bom
desempenho. Esse fato foi possível por causa dos grandes projetos que foram
resguardados, em detrimento de obras de menor porte. Mas o país seguiu ainda por
muito tempo realizando cortes nos gastos públicos, o que impactou seguidamente a
construção pesada, por depender excessivamente das políticas de desenvolvimento
do governo. Em 1983, com as obras civis já concluídas, a montagem dos
equipamentos da hidrelétrica de Itaipu foi paralisada por falta de verba. Da mesma
forma, as obras da Ferrovia do Aço e da Petrobrás na bacia de Campos. Esta última
foi uma das únicas que manteve uma grande quantidade de obras e o pagamento em
dia. A Tenenge, que empregou cerca de 4 mil pessoas na construção de plataformas
57
em Paranaguá, com a paralisação das obras da Petrobrás reduziu drasticamente seu
quadro de colaboradores.
Da mesma forma, o problema dos atrasos de pagamento continuou. O governo
chegou a dever 200 bilhões de cruzeiros para firmas de construção civil. Por exemplo,
A Servix Engenharia entrou em concordata nessa época alegando dificuldades
financeiras devido a esses atrasos. Além disso, nenhuma obra foi realizada, nessa
ocasião, em condições normais de tempo. Por causa dessa retração, as atividades de
construção pesada começaram a se concentrar nas grandes empreiteiras. A
dificuldade financeira do setor preferencialmente atingiu as pequenas empresas que,
ao término de obras, ficavam mais vulneráveis às decisões de gastos do governo.
Em 1988, o ambiente esteve indefinido até que algumas atribuições que eram do
governo no nível federal passassem para os estados e municípios. Foi uma fase de
adaptação. Da mesma forma, houve muita incerteza com o plano cruzado também.
No começo da década de 1990, os bons resultados apresentados nos últimos
anos da década anterior foram interrompidos. "O governo federal, nosso maior cliente,
está com sua capacidade de investimentos esgotada e essa situação não tende a
melhorar a curto prazo" (Balanço Anual, 1989, p. 242), comentou Eduardo Andrade,
diretor-superintendente da Andrade Gutierrez. Juntamente com a volta ao declínio do
setor, vieram as grandes demissões. No ano de 1990, 50 mil postos de trabalho foram
eliminados no setor de construção civil. O problema do desemprego começou a se
apresentar com mais força. Apenas no Estado de São Paulo, entre 1990 e 1992, foram
dispensados cerca de 300 mil trabalhadores. "Na crise ninguém investe e o setor de
construção civil sofre demais porque depende sempre dos investimentos dos outros:
da indústria, do governo e de pessoa sica" (Balanço Anual, 1992, p. 300), afirmou
Eduardo Capobianco, então presidente da Sinduscon-SP.
Muitas empresas de construção pesada buscaram no mercado externo uma
forma de fugir dos maus resultados no mercado interno. Segundo Eduardo Andrade,
"algumas empresas estão conseguindo compensar parte da retração do mercado
doméstico com contratos no exterior. No entanto, esse mercado é muito competitivo e
os resultados só devem ser esperados a longo prazo." (Balanço Anual, 1992, p. 301)
A partir do começo da década de 1980, o crescimento da produção de energia
ficou abaixo do crescimento da sua demanda. Em média, o consumo cresceu 3.500
Mw/ano, enquanto a oferta de energia nova cresceu apenas 2.000 Mw/ano. Com o
Plano Real, essa situação somente piorou, pois, como o poder de compra ficou maior,
58
o consumo de energia aumentou ainda mais. Somente na década de 1990, o consumo
aumentou em 49%.
Os investimentos realizados na época não foram suficientes para normalizar a
situação. Em 1995, 23 usinas estavam com suas obras paralisadas por falta de
recursos. 33 concessões não tinham nem projeto para construção de usinas. Devido
ao déficit das empresas do setor, o Tesouro Federal desembolsou US$ 26 bilhões de
dólares para cobri-lo.
Nesse contexto, o Governo desregulamentou o setor e dividiu as empresas
existentes em geradoras, transmissoras e distribuidoras. O modelo concebido permitiu
a competição entre empresas, de forma que as distribuidoras pudessem gerar apenas
até 30% da energia de seu mercado. As geradoras foram vendidas a empresas
privadas; a distribuição e transmissão também foram vendidas à iniciativa privada na
forma de concessão; e a transmissão do sistema interligado ficou sob
responsabilidade do Estado. Entre 1995 e 2000, empresas privadas adquiriram cerca
de 70% da distribuição de energia e 30% da geração. Das 23 obras paralisadas, 21
recomeçaram com pelo menos um terço dos recursos necessários provenientes de
fontes privadas. Nesse mesmo período, foram leiloadas a construção e operação de
mais usinas e de cerca de 6 mil km de linhas de transmissão.
Em 1997, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi estabelecida com o
encargo de regular e fiscalizar todas as empresas do setor. A partir de contratos de
concessões, a Aneel estabeleceu direitos e deveres para os beneficiados. Foram
incluídas também entre suas atribuições, estudos sobre as necessidades e o potencial
de geração. Entretanto, o modelo concebido para o setor deixou de funcionar com a
desvalorização do dólar em 1999. Como grande parte da energia comprada vinha de
Itaipú e era cotada em dólar, os distribuidores não puderam repassar às suas tarifas o
aumento de custos devido à variação cambial. Em 2000, as tabelas 4.8 e 4.9
apresentam, respectivamente, o perfil de consumo e de oferta de energia no Brasil.
Tabela 4.8 – Perfil de Consumo de Energia no Brasil
Segmento
Consumo em milhões
de Mw
Participação no total de
consumo de energia do Brasil
Industrial 131,2 42,87%
Residencial 83,6 27,3%
Comercial 47,5 15,52%
59
Rural 12,4 4,04%
Poderes Públicos 8,79 2,87%
Iluminação Pública 10,2 3,35%
Serviços Públicos 10,4 3,42%
Consumo Próprio 1,9 0,62%
Fonte: Odebrecht (2001e, p. 5)
Tabela 4.9 – Perfil de Oferta de Energia no Brasil
Origem da Oferta
Participação no total
de oferta de energia
do Brasil
Hidráulica 76,84%
Termelétrica 12,33%
Importações 8,34%
Nuclear 1,5%
Outros 0,97%
Eólica 0,02%
Fonte: Odebrecht (2001e, p. 5)
Desde 2000, o setor de construção pesada começou a viver uma nova situação
de relacionamento entre empresas. Os demandantes de serviços passaram a não
querer administrar diversos fornecedores para uma mesma obra, começaram a querer
pacotes de serviços fechados. As empresas de construção civil iniciaram a formação
de consórcios e parcerias até antes de entrarem em concorrências. “Descobrimos que,
juntos, ganhamos vantagens na negociação e distribuímos os riscos” (Odebrecht,
2004b, p.27), observou José Luiz Alquéres, Presidente da Alstom do Brasil, uma
empresa de origem francesa que produz trens e sistemas de automação, além de
geradores, turbinas e subestações elétricas.
Com relação ao financiamento de obras no exterior, em 2001, as empresas
nacionais contavam principalmente com o suporte do Programa de Financiamento às
Exportações (Proex). O Programa obtinha seus recursos do Orçamento Geral da
União. Entretanto, com a desvalorização do Real, a verba destinada ao Proex foi
diminuída. Outra fonte de recursos nessa linha foi o Fundo de Garantias às
Exportações, mas em 2001 teve sua capacidade esgotada.
60
4.2. Indústria Química
O desenvolvimento e sucesso da indústria química moderna baseiam-se no
relacionamento entre as atividades de desenvolver novos produtos e materiais através
de ensaios de laboratório e a sua aplicação na produção em escala industrial. A
primeira tarefa está no campo da química e a segunda no da engenharia química.
De forma resumida, a indústria química mundial surgiu de duas fontes distintas:
Indústria química alemã, desenvolvida através da química derivada do carvão;
Indústria química norte-americana, desenvolvida por engenheiros químicos a
partir da química derivada do petróleo.
Entre as duas grandes guerras, as necessidades crescentes da indústria
automobilística, que começou a produzir seus produtos em massa, estimularam a
expansão da produção de diversos produtos petroquímicos. Desde o etileno-glicol,
utilizado como anti-congelante nos radiadores, até os éteres glicólicos, componentes
das tintas aplicadas no revestimento externo dos veículos.
Mas as possibilidades para o surgimento de produtos petroquímicos eram muito
amplas. Sua utilidade não era restrita à indústria automobilística e sim estendia-se a
muitas outras. O potencial para substituir produtos tradicionais já existentes também
foi grande. O aço, o ferro, a madeira, a borracha, o algodão, a seda, a lã, o vidro, a
cortiça, a resina, o cimento e o fertilizante natural foram substituídos, em muitos casos,
com vantagens de custo, beleza, durabilidade, flexibilidade e resistência. Várias
oportunidades de novos mercados surgiram, o que significou forte busca por novos
processos e produtos inovadores.
Entre 1950 e 1975, a produção mundial dos principais produtos petroquímicos
cresceu de “3 milhões de toneladas para 64 milhões de toneladas” (Guerra, 1994, p.
46). Devido à importância da indústria química no desenvolvimento industrial geral,
muitas nações emergentes procuraram desenvolvê-la com o triplo intuito de: criar um
parque industrial gerador de empregos; transformar localmente matérias-primas em
produtos de maior valor agregado para exportá-los; e diminuir importações de
produtos para fabricá-los em seu país, melhorando seus saldos comerciais.
A elevada participação dos custos fixos nos custos totais fez surgir os grandes
pólos petroquímicos a partir da década de 1970. Na Europa Ocidental, por exemplo, a
61
capacidade média de produção de etileno passou de 15 mil toneladas, em 1950, para
aproximadamente 400 mil toneladas anuais em 1970.
Na década de 1980, observou-se o fenômeno de concentração da indústria
química nos diversos países. Porém, no período seguinte, verificou-se um movimento
de especialização. Empresas como ICI, Monsanto, Rhône-Poulenc, Hoechst, Dow
Chemical etc., apresentaram uma forte tendência a se concentrar em seus negócios
tidos como estratégicos durante a década de 1990. Após esse período de
reestruturação, as grandes empresas químicas aceleraram seus processos de
internacionalizão que ocorreu paralelamente ao movimento de descentralização da
produção.
A escolha da matéria-prima utilizada para a produção dos produtos
petroquímicos também foi importante. Em 1982, enquanto 70% da produção de etileno
nos EUA teve como matéria-prima o gás natural, a Europa e Japão utilizaram nafta em
84% e 95%, respectivamente, na produção do mesmo produto. Nos EUA, é provável
que a opção por gás natural estivesse relacionada às suas abundantes reservas dessa
matéria-prima e à grande demanda por nafta para a produção de gasolina necessária
para abastecer a crescente frota de automóveis americana. Por outro lado, no Japão e
na Europa, as reservas de gás natural eram menores, assim como o consumo de
gasolina.
Em 1995, foram notórios os avanços alcançados pela China (5º maior produtor
mundial), Coréia (9° maior produtor mundial) e Brasil (10º maior produtor mundial),
bem como por algumas empresas individuais como a Sabic da Arábia Saudita,
classificada em 20º lugar na lista das 50 maiores empresas químicas do mundo de
1997, a Formosa Plastics de Taiwan, em 42º lugar na mesma lista e a Reliance, da
índia em 49º lugar. A posição atual dos países em ordem de faturamento líquido está
apresentada na tabela 4.10.
Tabela 4.10 – Faturamento Líquido da Indústria Química Mundial - 2005.
Posição País
Faturamento (em
bilhões de US)
1 Estados Unidos 558
2 Japão 270
3 China 223
4 Alemanha 190
5 França 120
6 Coréia 98
7 Reino Unido 97
8 Itália 95
62
Posição País
Faturamento (em
bilhões de US)
9 Brasil 70
10 Índia 68
11 Espanha 54
12 Bélgica 49
13 Irlanda 43
Fonte: Abiquim (2007b).
A questão ambiental ganhou maior importância na indústria química
principalmente a partir da década de 1970. Japão, Inglaterra e Japão tiveram uma
postura de colaboração com seus respectivos governos sobre a questão ambiental.
Por outro lado, os EUA mantiveram as partes interessadas em lados antagônicos,
provavelmente porque as leis ambientais foram elaboradas sem a participação das
empresas. De forma geral, o rigor das normas ambientais elaboradas tiveram um certo
impacto nas empresas. Na Alemanha, por exemplo, devido à grande rigidez das
normas, muitas empresas tiveram seus desempenhos prejudicados.
A indústria petroquímica está estruturada conforme representação esquemática
da figura 4.1. Os produtos dessa indústria dividem-se em básicos (primeira geração),
intermediários (segunda geração) e finais (segunda geração).
Figura 4.1 – Produção Petroquímica e Relações Interindustriais
Fonte: Guerra (1994)
De forma geral, a indústria química possui as seguintes características:
Tecnologia - assume vital importância, pois além de ser capital-intensiva, ela
também é tecnológico-intensiva;
63
Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento - exerce um papel fundamental
no crescimento das empresas químicas. As empresas de commodities gastam de 3 a
5% das vendas, as de especialidades químicas entre 6 e 8% e as indústrias
farmacêuticas entre 7 e 10% (Wongtschowski, 1999, p. 53);
Matéria-prima - assume o maior peso nos custos variável e total;
Mão-de-obra - bastante qualificada e bem remunerada se comparada com
outras indústrias. Tem elevada relação capital/trabalho;
Custo de transporte - proporcional às distâncias que o produto percorre.
Quanto mais básico for o produto, menor é o seu valor agregado. Por esse motivo, as
fábricas das empresas de petroquímica de segunda geração estão localizadas
próximas às de petroquímica básica e estas estão próximas às refinarias de petróleo.
4.2.1. História da Indústria no Brasil
A partir de 1964, uma série de medidas foi tomada para acelerar o
desenvolvimento da petroquímica brasileira. Para complementar o papel do CNP, foi
criado ainda nesse ano, o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI). Sua função
foi de estabelecer critérios para a concessão de estímulos para o desenvolvimento
industrial no país. Entretanto, como o horizonte de atuação do CDI foi bastante amplo,
foi estabelecido o Grupo Executivo da Indústria Química (GEIQUIM) cuja supervisão
de sua atuação ficou a cargo do Conselho. O GEIQUIM desempenhou um importante
papel para o crescimento do parque petroquímico do país, fornecendo os seguintes
estímulos para a implantação de projetos nessa indústria (Governo do Estado da
Bahia, 1980, p. 28):
Facilidades para importação de equipamentos, destinados a projetos que
contassem com financiamento interno;
Redução de até 50% (posteriormente isenção total, no caso de não similaridade
com bens nacionais) do imposto de importação;
Isenção do depósito compulsório na aquisição de divisas para cobrir a
importação de equipamentos e matérias-primas;
Redução eventual da alíquota incidente sobre matérias-primas;
Aumento eventual da alíquota incidente sobre a importação do produto a ser
fabricado, quando indispensável à rápida expansão da indústria nacional;
64
Redução do imposto de renda, pela aplicação de taxas de depreciação
acelerada;
Financiamento, aval ou garantia por estabelecimentos oficiais de crédito, quando
o projeto fosse considerado de interesse para o desenvolvimento nacional.
Além desses estímulos, o empresário que fosse investir no setor petroquímico
teria a sua disposição estatísticas dos produtos importados, assim poderia avaliar a
melhor oportunidade para implantar uma unidade de produção no país.
Em 1964, o Governo Federal deu outro importante passo para o
desenvolvimento da indústria petroquímica do país. A Petroquisa Petrobrás Química
S.A. foi criada e então marcou a presença do Estado definitivamente no setor. Por lei,
a Petrobrás estava impedida de participar em empreendimentos com participação
menor que 51% do capital votante. A Petroquisa foi importante porque possibilitou a
associação da Petrobrás a grupos nacionais e estrangeiros, viabilizando vários
projetos e assim controlando-os no nível de execução, segundo as regras lançadas
pelo CDI. A partir desse marco, a Petroquisa começou a empreender diversos
negócios. Sua atuação foi fundamental para o desenvolvimento dos pólos
petroquímicos de São Paulo (1972), do Nordeste (1978) e do Sul (1982).
O ambiente econômico também foi importante para impulsionar o crescimento da
indústria petroquímica. Naquela época, o “milagre” econômico estava acontecendo.
Não menos importante, a indústria automobilística esteve em grande expansão. Dessa
forma, o mercado consumidor de produtos petroquímicos foi ampliado, garantindo
demanda suficiente para viabilizar economicamente as grandes escalas de produção.
A partir dessas condições, o capital estrangeiro foi atraído para participar em diversos
empreendimentos.
O pólo de São Paulo nasceu da iniciativa privada nacional que reuniu o grupo
Soares Sampaio (proprietário da refinaria União de São Paulo) e a recém-criada
Petroquisa. Com o decorrer das atividades no Pólo Petroquímico de São Paulo e o
desenvolvimento industrial do Brasil, a necessidade de aumento da oferta de produtos
químicos ficou aparente. Então, após um estudo encomendado pelo Conselho de
Desenvolvimento do Recôncavo, recomendou-se a instalação de um segundo pólo
petroquímico na Bahia (Camaçari), oficializado pelo Presidente da República, o
General Emílio Médici, em 1970. A Petroquisa criou a Companhia Petroquímica do
Nordeste (Copene) para liderar a implementação desse pólo em 1972. O Pólo da
65
Bahia confirmou o sistema dos "terços" ou "tripartite", já adotado pela Petroquisa com
êxito no Pólo Petroquímico de São Paulo.
De forma geral, o modelo “tripartite” foi importante para o desenvolvimento do
setor. Ele representou a prática de obter o capital total das empresas que fossem
instaladas no pólo a partir de três origens: um terço da iniciativa privada nacional,
outro terço com a empresa estatal nacional Petroquisa e o último terço com uma
empresa privada estrangeira. Esse modelo teve como objetivo prover recursos
técnicos, financeiros e gerenciais à indústria petroquímica, sem riscos de
desnacionalização e sem riscos da estatização. Cada parte interessada nesses
projetos teve uma importante motivação para aceitar tal modelo. O sócio nacional, por
exemplo, recebeu o apoio tecnológico e gerencial, representados pelo sócio
estrangeiro.
Parte dos recursos financeiros obtidos para implantar fábricas no Pólo da Bahia
veio da Sudene. A atuação desse órgão foi muito importante para o desenvolvimento
do Nordeste e também da petroquímica na Bahia. Outra fonte de recursos foi a do
Banco do Nordeste (BNB), que abriu uma linha de crédito específica denominada
“Programa de Incentivos à Indústria de Base do Nordeste”.
Depois do segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, o processo de
substituição das matérias-primas importadas se intensificou. Mas para isso a produção
deveria ser estimulada. E de fato existiram planos para a construção de mais um Pólo
Petroquímico no Sul, com uma estimativa de investimento de US$ 2 bilhões. Mas a
conjuntura econômica da ocasião influenciou negativamente o andamento desse
projeto. A data oficial para que o pólo petroquímico do sul começasse a funcionar foi o
ano de 1981. Entretanto, não seria bom começar a produzir a matéria-prima antes de
estarem prontas as indústrias que iriam utilizá-la. Da mesma forma, as empresas
envolvidas consideraram os investimentos nesse setor um risco elevado devido ao
tempo de maturação dos negócios a serem instalados. A inauguração desse Pólo
somente veio acontecer em 1982. "Os investimentos neste setor são para longo prazo.
Estamos planejando agora nossas atividades para a próxima década. Por isso, um ou
dois anos difíceis não são tão importantes" (Balanço Anual, 1978, p. 151), comentou o
porta-voz de uma das multinacionais do setor.
A intenção inicial no Pólo Petroquímico do Sul foi de evitar a presença do capital
estatal na formação das empresas. Contudo, o ainda recente estabelecimento do Pólo
de Camaçari não permitiu que os Grupos Nacionais investissem o necessário para
66
tomar controle sobre o Pólo do Sul. Novamente, mesmo que dessa vez mais flexível, o
modelo “tripartite” foi adotado. A estrutura acionária no Pólo do Sul resultou em uma
maior participação da Petroquisa nas unidades centrais e em uma participação
minoritária nas fábricas de segunda e terceira geração. A aceitação do sócio
estrangeiro também esteve mais condicionada à absorção de sua tecnologia pelos
demais sócios.
Não houve uma proibição legal ao ingresso de Multinacionais no país através de
projetos autônomos. Entretanto, houve uma preferência para que o modelo dos
“terços” fosse praticado. Essa preferência foi posta em prática através da aprovação
de projetos pelo CDI, concedendo isenções e incentivos fiscais. Mas para o sócio
estrangeiro, houve interesse em participar nesses empreendimentos, pois sua
participação significou a garantia de atuar em um mercado protegido e com grandes
expectativas de crescimento.
A implantação do pólo petroquímico da Bahia provou que o Estado teve de fato
controle sobre “a definição dos investidores, a localização da unidade industrial, o
fornecimento de matérias-primas (nafta, gás natural e gasóleo) - produzidas com
exclusividade pela PETROBRAS -, o controle das centrais petroquímicas, bem como
as condições de entrada na indústria.”(Guerra, 1994, p. 88)
Entretanto, o modelo “tripartite” acarretou outras conseqüências também. Alguns
grupos empresariais nacionais, como por exemplo a Odebrecht, Mariani e Econômico,
entraram no capital de empresas petroquímicas sem qualquer experiência na indústria.
Na medida em que essas empresas perceberam o potencial dos lucros desses
empreendimentos, começaram a adotar políticas expansionistas agressivas.
Em 1980, a participação da Petroquisa caiu de 54% para 48% na estrutura
acionária da Copene. Com essa mudança, a Petroquisa deixou de ser o grande sócio
individual da Copene, dividindo o poder de decisão com a Nordeste Química S.A.
(Norquisa). Esta empresa foi criada a partir da transferência das ações de dezessete
empresas participantes no capital votante da Copene, detendo, portanto, 47% do
controle acionário da central de matérias-primas.
Segundo José de Neto, então presidente da CONEPAR, que naquela época
foi holding do Grupo Econômico na área petroquímica, "há duas máximas. A primeira é
a de que, quem está dentro da petroquímica tende a se juntar. A outra é de quem está
fica, quem não está não entra" (Guerra, 1994, p.80). Essa declaração confirma o
interesse dos grupos empresariais nacionais em permanecer no negócio petroquímico.
67
Entretanto, a alta inflação do final da década de 1970 começou a recair sobre a
indústria, forçando uma política de controle sobre os preços e sobre as importações. O
setor também começou a sofrer com as sucessivas altas dos preços das matérias-
primas derivadas do petróleo. Esse quadro resultou em uma redução no lucro das
empresas. Mas a conjuntura econômica exerceu influência nos custos de forma geral,
e de certa forma comprometeu o programa de substituição dos importados, segundo
Michel Hatveld (Balanço Anual, 1980, p. 156), diretor da Associação Brasileira de
Química (Abiquim).
Enquanto isso a produção de etanol em 1977 superou a meta estabelecida pelo
Próalcool, estimulada pela baixa cotação do açúcar. Com a crise do petróleo, a
alcoolquímica passou a ser uma alternativa para a química como uma forma de reduzir
a dependência brasileira àquela matéria-prima. Essa química derivada do álcool etílico
precedeu a petroquímica em 40 anos no Brasil. Com o intuito de fomentar essa fonte
alternativa, foi criado em 1975 o programa Nacional do Álcool (Proálcool). E por
bastante tempo o álcool produzido foi subsidiado pelo governo brasileiro, assim como
os produtos químicos derivados dessa matéria-prima. Porém, embora a produção de
álcool tenha sido estimulada, conforme gráfico 4.1 apresenta, seu consumo na
alcoolquímica não cresceu ao longo do tempo. Além disso, era visível a necessidade
de desenvolver tecnologias agrícolas e industriais para permitir a criação de uma
indústria competitiva internacionalmente.
Gráfico 4.1 – Consumo de álcool pelas empresas alcoolquímicas
Fonte: Abiquim, Química e Derivados, Única, Empresas Consumidoras
Em 1979, o mercado brasileiro de matérias-primas continuou sendo atendido em
parte por importações. Entretanto, o processo de substituição ganhou mais força na
68
medida em que o Pólo de Camaçari começou a funcionar plenamente, principalmente
a partir do segundo semestre de 1977. Por outro lado, com esse pólo petroquímico, a
capacidade ociosa aumentou, abrindo espaço para exportações no setor. Se
comparado com 1973, quando o setor químico exportava valores insignificantes, os
10% a 20% do que foi produzido destinado a exportações nesse ano demonstram um
grande avanço. Aliado a esse fator, os preços dos produtos brasileiros chegaram a ser
15% mais baratos do que os normalmente praticados nos mercados europeus.
Na época, quando a demanda interna não foi o suficiente para consumir o
volume ofertado, a melhor opção foi a exportação. A disputa no mercado interno
através de preços não foi uma boa alternativa. O monopólio estatal no fornecimento de
matéria-prima para produção de produtos petroquímicos básicos, o monopólio das
centrais no fornecimento de produtos petroquímicos básicos e a diversidade no
controle acionário das empresas de segunda e terceira geração representaram a
razão de se seguir um caminho para a exportação, sem disputas de preços
internamente.
Por outro lado, os preços internacionais garantiam apenas uma pequena
margem sobre os custos variáveis, insuficientes para cobrir os custos fixos da
indústria. Portanto, as empresas petroquímicas, através de sua associação, ABIQUIM,
articularam uma estratégia em conjunto com a CACEX, Petrobrás e CIP para viabilizar
as exportações e ao mesmo tempo garantir rentabilidade. A CACEX garantiu recursos
na ordem de US$ 500 milhões a vigorar entre 1981 e 1982, podendo ser renovados. A
Petrobrás, através da Interbrás, responsabilizou-se pela compra dos excedentes da
produção das empresas petroquímicas associadas à Petroquisa e sua venda no
mercado internacional. Como a concorrência no mercado externo era forte, a venda
era efetuada por um preço abaixo do de compra, caracterizando um repasse de
recursos financeiros pela Petrobrás.
“Essa estratégia de administração de preços e vendas que, ao combinar subsídios e
incentivos fiscais contribuiu para tornar, no período 1980-1985, os preços dos
produtos petroquímicos brasileiros inferiores aos praticados nos mercados da
Europa, Japão e EUA, fomentou a espetacular disparada das exportações desses
produtos.” (Guerra, 1994, p. 77)
Em 1981, as exportações contribuíram bastante para aumentos de 53% em
vendas líquidas no setor. Apesar da retração da demanda no mercado interno, as
exportações se tornaram um bom canal de vendas.
Outros incentivos também foram dados à indústria petroquímica. A partir de
1983, foi concedido um “subsídio” no preço da nafta e do gás natural. Entre 1982 e
69
1984, a CIP liberou o preço dos produtos petroquímicos, permitindo às empresas
maior liberdade na formulação de seus preços. O CIP voltou a controlar os preços
petroquímicos somente em 1985 diante da política de controle inflacionário daquele
ano.
Em 1982, quando o mercado externo começou a apresentar estagnação, as
empresas nacionais, que já viviam em um mercado interno em recessão, tiveram
resultados ruins. Esse quadro se traduziu em menos investimentos no setor.
Novamente, a Petroquisa concedeu mais incentivos à indústria. Ao baixar os
preços dos produtos petroquímicos básicos, as empresas de segunda e terceira
geração puderam aumentar suas margens. Porém, esse incentivo somente foi dado
para fins de exportação. O incentivo, que vigorou entre 1984 e 1986, proporcionou
créditos na ordem de US$ 50 milhões.
Em 1984, o setor químico alcançou seu primeiro superávit na balaa comercial.
E o governo continuou a planejar mais projetos de substituição de importados. A área
de química fina foi a próxima a ter as atenções para a expansão. Para atender às
necessidades de abastecimentos para uma possível produção na química fina,
cogitou-se a construção de um quarto pólo petroquímico.
Da mesma forma, foram necessários investimentos para expandir a capacidade
produtiva de todo o setor químico. Se o país retomasse novamente o ritmo de
expansão econômica, o atual excedente exportado seria consumido internamente e a
construção de uma presença internacional estaria ameaçada. A meta da época foi
manter uma margem de 20 a 25% da produção destinada à exportação.
Também data dessa época, a maior participação de grandes grupos privados,
como a Norquisa, a Norberto Odebrecht e o Banco Econômico, no negócio de química
e petroquímica.
O programa VIPE estimulou a exportação de produtos finais petroquímicos,
como os termoplásticos. Esse incentivo ofereceu subsídios patrocinados pelas
Centrais de matérias-primas de até 30% de desconto no preço dos produtos.
Enquanto isso, muitas reclamações eram feitas com relação ao controle de
preços da época. Porém, com a estabilização da moeda no período do cruzado,
percebeu-se que uma condição econômica favorável foi suficiente para trazer bons
resultados à indústria.
70
A partir de 1986, os preços internacionais de produtos petroquímicos atraíram o
aumento da exportação. Somado a esse quadro, em 1988, um acidente em uma
planta da Shell contribuiu para que a oferta de algumas matérias-primas caísse e os
preços aumentassem ainda mais. Mas a demanda internacional foi estimulada em
grande parte pela China.
Em 1989, entretanto, o Plano Verão, que novamente congelou preços, aqueceu
a demanda interna, enquanto a demanda externa mostrou uma tendência de queda
com a saída da China das importações. Dessa forma o mercado interno favoreceu a
manutenção da plena capacidade produtiva das empresas do setor químico, mesmo
que os preços internos não tivessem as cotações internacionais.
O ano de 1990 significou um marco de mudanças para o setor. Além da maior
abertura comercial e o fim da CIP, a nafta teve o seu subsídio cortado e o modelo
tripartite foi abolido. Esse último fato deixou aberta a participação de tradicionais
grupos nacionais na petroquímica. Com esse novo quadro, a indústria nacional passou
a competir diretamente com empresas internacionais. Em um primeiro momento, o
desempenho dessas empresas caiu. Até mesmo as centrais petroquímicas não
conseguiram escapar de prejuízo no ano de 1991. "As regras do jogo são outras e
quem não se adequar bem a elas poderá ou perder muito dinheiro ou perder fatia do
mercado" (Balanço Anual, 1990, p. 302), comentou Carlos Mariani Bittencourt, então
Presidente da Associação Brasileira da Indústria Química.
Novamente, a expectativa de maior concorrência no mercado doméstico
acelerou a busca por novos mercados internacionais para não ocorrer o problema de
capacidade ociosa. A idéia então passou a ser obter melhores margens no mercado
interno a partir de um volume de produção proporcionado também pelo mercado
externo. Os produtores de segunda geração do setor químico trataram de obter
participações depois das privatizações das centrais de materiais para ganharem maior
competitividade ao participar de toda a cadeia petroquímica. Mas o objetivo também
foi de afastar competidores internacionais e consequentemente evitar uma posição
desfavorável no mercado interno. Entretanto, a questão do financiamento continuou
séria.
Durante o governo Collor, a indústria química se viu afetada por uma recessão
interna, abertura às importações e simultaneamente a uma redução dos preços
internacionais. Esse ambiente resultou em uma pressão nos preços internos dos
produtos químicos e, portanto, afetou a rentabilidade das empresas. As empresas
71
petroquímicas tomaram algumas ações para conter uma possível derrocada: redução
de custos a partir da diminuição dos postos de trabalho; aumento das exportações;
paralisação de linhas de produção não-competitivas; e fusões entre empresas.
O fato foi que o modelo “tripartite”, importante para a instalação do parque
industrial do Brasil, gerou alguns problemas estruturais no setor petroquímico. Primeiro
porque as empresas instaladas eram monoprodutoras, ou seja, fabricavam apenas um
produto. A carência de recursos técnicos e a preferência por empreendedores
regionais resultaram em uma grande fragmentação, enfraquecendo o processo de
decisão empresarial na indústria. Ao mesmo tempo, a monoprodução significou um
aumento do risco de obsolescência não do processo produtivo, mas também do
produto comercializado pelas empresas.
Estratégias de expansão também ficaram prejudicadas. Devido à diversidade de
sócios participantes no negócio, as decisões importantes para o crescimento das
empresas podiam ser vetadas por representarem ameaças a interesses de outras
empresas onde os mesmo sócios detinham participação. Como cada parte interessada
possuía poder de veto sobre os demais, essa situação aconteceu regularmente. Os
sócios estrangeiros, por exemplo, não queriam que mercados abastecidos por suas
matrizes sofressem concorrência. Tal complexidade de interesses determinou grande
imobilidade para a indústria nacional.
Até 1990, a indústria química brasileira esteve protegida por mecanismos
aplicados pelo Governo brasileiro. Entretanto, a abertura comercial rompeu a barreira
protetora das empresas brasileiras. Além disso, os competidores internacionais
estavam em processo de adaptação às regras impostas pelo comportamento cíclico
do mercado.
“Integradas, diversificadas e globalizadas” (Oliveira, 1994, p. 64), as maiores
empresas estrangeiras ganharam flexibilidade para acompanhar a dinâmica do
mercado internacional petroquímico. As características das maiores empresas
petroquímicas estrangeiras eram:
Investimento na capacidade produtiva das plantas para obter ganhos de escala.
Ao aumentar a escala de produção, a empresa ganha com a redução do investimento
unitário necessário para a fábrica;
72
A atuação dessas empresas se dá no plano mundial. A internacionalização
permite um constante investimento em pesquisa e desenvolvimento, além de
minimizar os riscos das flutuações dos mercados internacionais;
Integração para frente e para trás, fortalecendo barreiras à entrada de novos
competidores, diminuindo custos e aumentando lucros. Através de joint ventures,
associações de mercado ou acordos de parceria, empresas próximas à fonte de
petróleo como Shell, Exxon e Arco realizaram expansões down-stream na cadeia
petroquímica. Empresas próximas à produção de químicos e petroquímicos finais
realizaram expansões upstream;
Diversificação da produção de produtos petroquímicos. Essa é uma forma de
aumentar o tamanho da empresa, aumentar a capacidade de investir em P&D e
diminuir os riscos inerentes à monoprodução;
Investimento constante em P&D.
Se comparadas às empresas estrangeiras, as empresas petroquímicas
brasileiras não eram competitivas. A começar pela diferença de tamanho entre essas
empresas. Em 1992, o faturamento da Copene, maior petroquímica brasileira, não
correspondia nem a 1 % da Exxon. A diferença de escala entre essas empresas era
grande.
Da mesma forma, não existia integração vertical na indústria petroquímica
brasileira, salvo poucas empresas que produziam produtos intermediários e finais. A
estrutura era composta pela Petrobrás, como fornecedora de nafta; das centrais de
matéria-prima, fabricando produtos de primeira geração; e das empresas produtoras
de segunda geração.
Outra característica da indústria brasileira foi a monoprodução. A petroquímica
brasileira foi basicamente concebida para suprir o mercado interno durante o processo
de substituição de importações desenvolvido no país nos anos 70. Portanto, as
empresas brasileiras eram muito pouco diversificadas.
Com relação à internacionalização, nenhuma empresa brasileira possuía,
naquela época, uma fábrica no exterior.
A conjunção dessas características conferia à indústria brasileira pouca
competitividade. Isso refletia também na política de investimento em pesquisa e
desenvolvimento das empresas brasileiras. Em 1989, as maiores empresas
estrangeiras investiram entre 4% e 6% de seus faturamentos líquidos. No Brasil, foram
73
investidos com essa finalidade US$ 51 milhões, um valor muito abaixo dos US$ 6,9
bilhões investidos por empresas européias.
A partir do Plano Nacional de Desestatização iniciado em 1990 com o Governo
de Fernando Collor, os grupos nacionais começaram a aumentar suas participações
nas empresas onde a Petroquisa tinha participação. A Odebrecht foi uma das
empresas que investiu bastante, como na formação da OPP e da Trikem a partir das
empresas adquiridas Salgema, CPC, Poliolefinas e PPH.
Entretanto, apesar do processo de concentração acionária das empresas
petroquímicas em grupos nacionais, a complexidade estrutural da indústria continuava
alta no final da década de 1990. A tabela 4.11 apresenta alguns exemplos dessa
complexidade para as centrais de matéria-prima.
Tabela 4.11 – Participação de Grupos Nacionais nas Centrais de Matérias-Primas.
Grupos / Empresas Copene Copesul
Petroquímica
União
Norquisa 58,34
Fundos (Petros, Previ, Sistel, Fachesf,
Previcaixa, Serpros e Prevhab)
17,93
Petroquisa 15,40 15 17,48
Outros 8,33
Ipiranga 25,52
Odebrecht 27,44
Econômico 3,90
Outros 28,14
Unipar 37,02
Union Carbide 13
Polibrasil (Grupo Suzano e Montell) 6,76
Oxiteno (Grupo Ultra) 1,95
Unigel (Grupo Schlesinger) 1,30
Empregados PQU 9,51
74
Grupos / Empresas Copene Copesul
Petroquímica
União
Outros 12,98
Fonte: Montenegro e Monteiro Filha (1997).
Após um estudo sobre a estrutura da indústria petroquímica, Pelai (2006)
concluiu que a sua complexidade diminuiu ao longo do período entre 1994 e 2002.
Essa hipótese é verificada após a constatação de que o número de firmas e a relação
entre elas foram reduzidas.
Um evento que contribuiu para essa simplificação da estrutura petroquímica no
Brasil foi o leilão das ações do Banco Econômico que decidiu o controle da maior
petroquímica do Brasil. Em 2002, a Odebrecht assumiu o controle da Copene em
parceria com o Grupo Mariani. Após essa aquisição, a Odebrecht formou a Braskem a
partir das empresas Copene, OPP, Trikem, Proppet, Polialden e Nitrocarbono
A fundação da Braskem foi um passo no sentido de formar uma empresa mais
competitiva no ambiente internacional, aproximando-se das características já
apresentadas pelas maiores empresas petroquímicas estrangeiras. A Braskem nasceu
com a produção de produtos variados e integrou a produção de produtos de primeira e
segunda geração. Entretanto, ainda faltavam ações no sentido de aumentar mais
ainda o tamanho da empresa, aumentando sua escala de produção, apesar da
formação da Braskem ter gerado um desequilíbrio entre os portes das empresas no
nível nacional, conforme apresentado na tabela 4.12. Na mesma linha, faltavam
também à Brakem: estabelecer plantas no exterior, diminuindo o risco das flutuações
de demanda no local de produção; e aumentar o investimento em pesquisa e
desenvolvimento, que ainda era pequeno se comparado às outras empresas
estrangeiras.
75
Tabela 4.12 – Participação dos Grupos na Capacidade Instalada de Produção.
Fonte: Gomes et al (2005).
Além disso, excluindo o caso Braskem, que deu os primeiros passos para se
tornar mais competitiva em um cenário internacional, a indústria petroquímica seguiu
durante a década de 2000 com as mesmas características da década de 1990. A
maior parte das empresas ainda continuou sendo monoprodutora; não estabeleceu
plantas produtivas no exterior; e continuou com pequeno investimento em pesquisa e
desenvolvimento se comparado às empresas estrangeiras.
A integração entre empresas foi uma solução comentada para proporcionar
maior competitividade à indústria brasileira, entretanto, a estrutura da indústria, apesar
de mais simplificada, ainda continuou complexa. As centrais de matérias-primas
Copesul e Petroquímica União, por exemplo, até 2004 tinham uma estrutura acionária
dividida entre empresas como Unipar, Polibrasil, Petroquisa, Braskem e Ipiranga.
4.3. História da Odebrecht
4.3.1. A Fundação da Odebrecht
Aos 15 anos, Norberto começou a ser incentivado a conviver com os mestres-de-
obra que lhe deram as primeiras lições sobre construção. Aprendeu de início a ser
pedreiro e, em vez de mesada, passou a receber salário. Depois foi serralheiro,
armador, chefe de almoxarifado, responsável pelo transporte. Ensinaram-lhe como
cortar ferro, a dobrá-lo e usá-lo na construção de armaduras para colunas, vigas e
lajes; a revestir paredes com argamassa, a entalhar madeira, operar uma forja. E
76
enquanto aprendia as diversas tarefas da construção, Norberto experimentava as
primeiras vivências na prática de administração e gerência.
Aos 18 anos de idade, Norberto entrou na Escola Politécnica de Salvador. No
terceiro ano de curso, a empresa de seu pai entrou na fase de dificuldades, o que o
levou a assumi-la com passivos e ativos. Segundo Norberto, os mestres treinados pelo
pai foram o maior patrimônio deixado para ele. Além do “seu próprio exemplo”
(Odebrecht, 1977d, p.5).
A princípio, seu objetivo foi honrar os contratos e dar continuidade aos negócios.
E a única forma de pagar suas dívidas era fazendo o que ele sabia fazer. Para isso, os
banqueiros, seus credores, deveriam ajudá-lo a encontrar obras para que ele pudesse
levantar o capital necessário para cumprir seu objetivo principal naquele momento. Por
razões jurídicas, a Emílio Odebrecht & Cia. teve de ser descontinuada e, em 1944,
Norberto Odebrecht abriu sua firma individual. Entretanto, historicamente, a empresa
fundada por Norberto Odebrecht é considerada “a continuação de Emílio Odebrecht
que iniciou suas primeiras construções em concreto na cidade de Recife durante a
terceira década do século (Odebrecht, 1965, p. 7).
Após uma enfermidade que o deixou de cama por 47 dias, Norberto percebeu
que a empresa não deveria depender somente dele. Então, em 1945, chamou os
jovens estudantes Francisco Valladares e Otto Schaeppi da Escola Politécnica da
Bahia para ajudá-lo a estruturar a empresa que surgia naquele momento, a
Construtora Norberto Odebrecht Ltda (CNO). No fim da década de 1940, a empresa já
era uma das mais importantes da Bahia.
O problema da dívida da empresa do pai foi solucionado ao serem realizados
três pactos: um pacto político com o Banco da Bahia que ajudou a captar clientes; um
pacto econômico que garantiu aos clientes obras de qualidade, com menores prazos e
custos; e um pacto social, que viria para promover a união entre empresários e
trabalhadores. Em termos práticos, parte dos lucros obtidos com as obras era
distribuída aos que participavam da obra e parte era destinada para o pagamento das
dívidas contraídas na época da Emílio Odebrecht & Cia. Com os pactos estabelecidos,
a nova empresa conseguiu liquidar todas as dívidas já no ano de 1948.
No campo técnico da construção, a empresa também inovou na forma como
realizava suas construções. Era comum na época levantar toda a estrutura de
concreto do edifício primeiro e então realizar cada etapa seguinte, como fazer as
paredes, reboco etc., consecutivamente. Esse esquema mudou para a realização de
77
todas as tarefas concomitantemente, se possível. "Depois era descer fechando as
portas", lembra Mestre Bonifácio, um dos remanescentes da equipe de Emílio. O
edifício Belo Horizonte, construído para a imobiliária Correa Ribeiro, é o marco
principal dessa nova etapa, pois foi construído em nove meses, quando o prazo
normal da época eram 3 anos. “Havia na gente o orgulho de dizer essa obra fui eu
quem fiz e terminei em tantos meses" (Odebrecht, 1985c, p.25).
Os processos da empresa naquela época, desde os relacionados à construção
até os de seleção de pessoal, eram compilados num livro de capa escura, apelidado
de “capa preta” (Odebrecht, 1985c, p.25), por Norberto Odebrecht e com a ajuda de
Walter Caymmi Gomes. O livro foi necessário para propagar o conhecimento na
empresa e conhecê-lo de forma adequada para poder crescer na empresa. A idéia foi
que, com esse conhecimento, os empregados experientes pudessem desenvolver as
pessoas mais novas, sem experiência. O treinamento dessas pessoas era
complementado com o aprendizado em serviço, ao observar, por exemplo, o pedreiro
e sendo estimulado a aprender. Dessa forma, era considerado melhor desenvolver um
novo funcionário que trazer um profissional já experiente do mercado.
Além do desenvolvimento de funcionários, as obras em si faziam parte do
aprendizado da empresa. Obras como a Barragem de Correntina e outras que foram
realizadas sob condições difíceis, contribuíram muito para o desenvolvimento da base
de conhecimento da empresa.
Por outro lado, houve por um certo tempo um problema com causas trabalhistas.
Incomodado com as sucessivas derrotas diante da justiça, Norberto Odebrecht
contratou o recém-formado advogado Walter Caymmi para cuidar dessas questões.
Após melhorar alguns processos de administração de pessoal, o problema foi
resolvido. A partir desse episódio, a CNO passou a ter mais atenção aos conceitos
administrativos.
Entretanto, apesar dos recentes cuidados com as leis trabalhistas, Norberto
Odebrecht sempre se preocupou com o bem-estar de seus empregados. Uma
preocupação principal foi com o salário pago em dia, nunca atrasado. A CNO passou
por algumas dificuldades para providenciar o pagamento de seus empregados todos
os finais de semana.
Muito embora o mercado para construção se mostrasse promissor naquela
época, a empresa de Norberto enfrentou alguns problemas, como a falta de capital
para adquirir os equipamentos de construção desenvolvidos durante a guerra e a
78
intensa competição imposta pelas empresas estrangeiras. A empresa não possuía
equipamentos para elevação de grandes pesos. A improvisação foi grande, "a gente ia
inventando ferramentas de trabalho e movia aquelas peças de mais de cem toneladas
com simples macacos hidráulicos” (Odebrecht, 1985c, p. 27).
Novamente, encontrou-se uma solução que até hoje faz parte da filosofia das
empresas Odebrecht. A idéia era identificar, integrar e desenvolver jovens com talento
para o empreendedorismo. Assim, os mestres-de-obra passaram a ser responsáveis
pela formação desses futuros líderes. Além das novas atribuições que lhes foram
designadas, os mestres foram uma espécie de gestores das obras. Deles dependia o
esquema de descentralização que ocorreu nos canteiros de obra. Como o prazo era
um fator crítico, muitas vezes os mestres-de-obra solicitavam materiais de construção
mais caros para agilizar a obra. Essa era uma independência que atraía muitas
pessoas. Não era comum na indústria que procedimentos de compras, admissão etc.
fossem geridos por esses funcionários.
Entretanto, apesar da independência estimulada nos canteiros de obra, Norberto
Odebrecht supervisionou e estimulou pessoalmente a produtividade de seus
funcionários.
Durante a primeira metade da década de 1950, Norberto visualizou o potencial
de investimento na região de Ituberá, rica em recursos naturais e cercada de densa
mata tropical. Assim, em 1952, foi fundada a S.A. Ituberá Comércio e Indústria (Saici)
para explorar a geração de energia e o manejo florestal de Ituberá. Nesse
emprendimento, Norberto conseguiu atrair grupos como a Firestone e a Matarazzo,
que seriam responsáveis pela plantação de seringueiras (pneus) e dendezeiros
(óleos), respectivamente. Em pouco tempo, a empresa instalou uma hidrelétrica, uma
serraria e uma autoclave para transformar a madeira extraída em folhas de
compensado imunizadas.
Apesar da grande movimentação de dinheiro, os negócios da Saici foram mal.
Norberto refletiu que medida que os negócios da Saici multiplicavam-se com
crescente rapidez", escreveu ele mais tarde, "mais rápido aumentava a minha
ignorância acerca deles, impedindo-me, na prática, de liderar quem quer que fosse". A
desativação da Saici transpareceu uma das maiores crises na história das empresas
Odebrecht. Por outro lado, Salvador se transformou na virada da década de 1940 em
um grande demandante de obras. A Odebrecht realizou a construção de hidrelétricas,
viadutos, edifícios etc.
79
No campo da construção, a CNO desenvolveu seu esquema de delegação de
responsabilidades com os mestres-de-obra, que absorveram as tarefas de pedidos,
compras, admissão de pessoal etc. Desta forma, a delegação de responsabilidades e
a descentralização das decisões proporcionaram uma maior capacidade à empresa de
assumir um maior número de obras que a concorrência.
Nessa época, a CNO estimulou a produtividade de seus empregados por meio
de recompensa financeira e divisão dos resultados em cada obra. E Jovens
trabalhadores como Benedito Luz, Henrique Browne Ribeiro, Nilo Simões Pedreira,
Piero Marianetti, Roberto Campos e Walter Caymmi tiveram a colaboração do pessoal
mais experiente para desenvolver seus aprendizados na empresa. Inclusive, Emílio
Odebrecht, que voltara à empresa como calculista, ajudou na formação desses
talentos.
Em 1960 a CNO começou a operar em Alagoas e no ano seguinte em
Pernambuco.
4.3.2. O Início das Grandes Obras
Em 1950, a CNO construiu sua primeira hidrelétrica. A usina de Correntina era
pequena, mas possibilitou a construção de um conhecimento que levou a empresa a
ser uma das principais construtoras nessa área. Entretanto, foi a partir da atuação do
Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Sudene e Petrobrás no nordeste do Brasil que
surgiram muitas oportunidades de obras naquela época. A opção da CNO de se
concentrar nessa região contrariou a posição da maioria das empresas que se
concentraram no "boom" de Brasília na época.
"Perdemos aquela oportunidade porque, principalmente, não acreditávamos que
estivesse ali o nosso futuro. Depois, estávamos saindo de uma das várias crises que
a inexperiência ou a falta de humildade nos levou. Além disso, eu vivia isolado no
Nordeste, estava às voltas com algumas obras para nós muito importantes, como o
Teatro Castro Alves, a barragem do rio Joanes e a Refinaria Landulfo Alves.
Também sabia que, com o pessoal do Sul distraído com o eldorado que foi Brasília,
nós da Odebrecht ficávamos sós para fazer bons negócios na região e para
consolidar aquele passo importante da nossa expansão" (Norberto Odebrecht em
Odebrecht, 1985c, p.29)
Em 1954, a CNO conquistou como cliente, a recém-criada Petrobrás (1953).
Desde então, essa ligação gerou muitas obras: instalações de apoio, estações de
tratamento de água, plataformas marítimas, pontes, canais, barragens, armazéns,
casas de força, dragagens, laboratórios, residências, clubes, oficinas e rodovias, entre
80
outras. Muitos desses projetos contribuíram para o avanço técnico da CNO por
representarem desafios para a engenharia civil da empresa.
O início do relacionamento com a Petrobrás aconteceu quando a CNO participou
da construção do oleoduto Catu-Candeias. A capacidade técnica demonstrada na
conclusão dessa obra a capacitou para realizar outras mais complexas, em especial
na extração de petróleo no mar. A construção do edifício-sede da Petrobrás no Rio de
Janeiro em 1969 significou para CNO um símbolo da parceria conquistada com aquela
que seria a maior empresa do Brasil anos depois. A obra foi erguida em 36 meses,
tempo considerado curto para a época.
Com a criação da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste),
o Nordeste passou a viver um período de expansão e progresso. Sediada em Recife,
onde a CNO abrira filial em 1962, essa organização passou a coordenar um grande
número de obras nas regiões Nordeste e Norte. Durante o período de ouro da Sudene,
a CNO aproveitou as várias oportunidades de construção que surgiram a partir dessa
organização no Norte e Nordeste.
Em 1955, a CNO passou a ter a forma jurídica de sociedade anônima e passou a
se chamar Construtora Norberto Odebrecht S.A. A mudança teve como objetivo
possibilitar a participação dos integrantes da empresa no seu capital social.
No ano de 1959, a CNO patrocinou sua primeira obra no campo da cultura, o
livro Homenagem à Bahia Antiga. Em 1965, Norberto Odebrecht criou a Fundação
Odebrecht que teve como principal objetivo, naquele momento, fornecer benefícios
que a Previdência Social não cobria satisfatoriamente, ou simplesmente não possuía.
Com o decorrer dos anos, esse objetivo se modificou. Os benefícios passaram a ser
oferecidos diretamente pelas empresas do Grupo, e a Fundação passou a apoiar
projetos sociais e culturais, concentrando-se na educação de adolescentes.
Na década de 1960, a CNO havia se capacitado na construção de obras de
maior porte e principalmente na competência de gestão de obras de logística mais
complexa, com grande contingente de pessoas e grandes volumes de materiais. Com
mais de 500 obras em seu histórico, a CNO era uma das principais construtoras do
Nordeste. Porém, a empresa tinha pouca presença no sul e sudeste do país. Essa
situação mudou quando, a partir da década de 1970, o Brasil começou a viver a
necessidade de realizar obras de engenharia especial: metrôs, usinas nucleares,
grandes aeroportos, pontes com grandes vãos etc. Essa demanda exigia menos
tecnologia de construção e mais capacidade de gerenciar grandes projetos de
81
engenharia, dominar equipamentos e tecnologias de ponta e garantir prazos
estratégicos. A tabela 4.13 apresenta as principais características, segundo a CNO,
para esse novo segmento de atuação e para outros.
Tabela 4.13 – Segmentos de atuação da CNO.
Tipo Itens Básicos Correntes Grande Porte Tecnologia Especial
Projeto
Geralmente Bom Geralmente Bem indicado
Indicativo. Executado "Pari-passu"
com os serviços. Complexo
Tecnologia
Dominada Dominada Inusitada no país
Prazo Curto sem desafios Longo requer atenção Estratégico comanda as decisões
Finanças
Facilmente alocáveis Difícil alocação
Alocação impossível a nível
unilateral da empresa
Equipamentos
Usualmente baIxo
investimento
Usualmente grande
investimento
Especiais. Complexos.
Investimentos específicos
Processo
Decisório
Conhecido normal
Conhecido requer
experiência específica
Requer ad-hocracia. Sobe a nível
de topo
Fonte: Odebrecht (1976b, p.2)
No final da década de 1960, a Odebrecht fundou 11 empresas para dar auxílio à
atividade de construção civil. Entre essas empresas estavam a Prontoferro, Diferro,
Cimentopronto e a Fengel. Eram empresas de fundações, de mineração e
fornecimento de agregados, de construção metálica, de suprimento de materiais
básicos, de transporte e bombeamento de concreto pré-misturado, de melhoramentos
urbanos e rurais, de produtos pré-moldados, de "filer" e brita calcária.
Essas empresas foram fundadas não somente para dar apoio à atividade de
construção civil, mas também para atender à demanda reprimida no Nordeste por
esses tipos de serviços. Além disso, foi decidido fundar tais empresas para “que elas
próprias conhecessem a livre concorrência, o atendimento a outros clientes e assim
formassem a mentalidade empresarial indispensável ao nosso desenvolvimento”
(Odebrecht, 1970, p. 11)
Nesse contexto, a CNO ganhou a concorrência para a construção do campus
universitário da UERJ, que ocorreu entre 1970 e 1976, e a construção do Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro, entre 1971 e 1976. Nessas obras, a empresa teve que
coordenar o trabalho de muitos empreiteiros e sub-empreiteiros.
Tão logo começou a construção do Aeroporto do Rio de Janeiro, abriu-se a
licitação para a construção da primeira usina nuclear brasileira. Nessa obra foram
exigidas, em seu edital publicado na década de 1970, as seguintes características:
flexibilidade para adaptar-se a novas circunstâncias, com reconhecida experiência em
obras industriais; acervo de serviços diversificados, e que não tivesse trabalhado
exclusivamente com grande volume de concreto ou de movimento de terra;
82
profissional capaz de absorver tecnologia estrangeira e de integrar-se às diversas
consultorias e projetistas, fornecedores de equipamentos e montadoras. Juntamente
com a empresa americana J. A. Jones Construction Company, de tradição em
construções nucleares, a CNO apresentou a proposta comercialmente mais adequada.
Dessa forma, aos poucos a CNO penetrou no sudeste do país para tornar-se
uma empresa nacional. No seu avanço para o sul do país, a CNO teve a oportunidade
de, em 1973, construir a ponte Colombo Salles, que ligava a ilha de Florianópolis ao
continente. Nessa obra, a Construtora utilizou sua experiência em fundações de
concreto protendido, tornando-a mais simples e economicamente mais viável.
Ao mesmo tempo em que a CNO se expandiu para o resto do país, o nível de
complexidade da administração de suas obras também aumentou. Com relação à
parte financeira das obras, “os compromissos atingiam tal ordem de grandeza que
qualquer atraso nos recebimentos previstos acarretava um grande problema”
(Odebrecht, 1985c, p.32). Antes de tal expansão, somente “o uso do nome Norberto
Odebrecht era suficiente para solucionar o problema” (Odebrecht, 1985c, p.32).
Naqueles últimos cinco anos até 1974, a empresa considerou seu crescimento o
maior até então. O desafio foi de tal ordem que alguns executivos mais antigos foram
contra a expansão para obras de engenharia especial. Essa discordância levou grande
parte dos executivos mais jovens a deslocarem suas bases de atuação para o sul.
Emílio Alves Odebrecht liderou esse grupo que contou com Luiz Villar, Renato Baiardi,
Cesar Castro, Pedro Novis, Ruy Ferreira da Silva e Caio Barros. Alguns deles fizeram
parte de um grupo de 11 estudantes egressos do curso de engenharia da Escola
Politécnica da Universidade Federal da Bahia e que ingressaram na CNO em 1968. A
idéia da contratação desses jovens foi de Norberto. O intuito foi formar um grupo de
confiança para auxiliar seu filho, Emílio Alves Odebrecht, na liderança da empresa no
futuro.
Segundo Emílio A. Odebrecht, as grandes obras da Odebrecht em algum
momento deram prejuízos. “O que estava acontecendo era que a filosofia Odebrecht
não estava sendo aplicada” (Odebrecht, 1985c, p. 32). Como o crescimento foi grande,
muitos recursos foram contratados. Recursos que não se desenvolveram na filosofia
da empresa e que não souberam colocá-la na prática. Emílio procurou seu pai para
mostrá-lo da necessidade de disseminar a filosofia Odebrecht no sudeste e que ele
era a pessoa mais adequada para fazê-lo.
83
Foi nessa época que a Superintendência Sul foi criada, obtendo autonomia
administrativa e gerencial. A empresa estava organizada em divisões de aeroportos,
de emissários, de obras de arte etc. E na medida em que os projetos cresciam de
tamanho e de importância, mais autonomia eles recebiam.
O crescimento e a reestruturação da organização promoveram duas crises na
empresa durante o período entre 1972 e 1974, segundo Norberto Odebrecht. A
primeira crise adveio de dificuldades financeiras. Victor Gradin foi contratado para
encontrar soluções na área financeira. A segunda crise foi de ordem de comunicação
entre as gerações de executivos da empresa. Ao deslocar o grupo liderado por Emílio
Alves Odebrecht para o sul, Norberto exerceu a função de elo de comunicação entre
as duas gerações e assim procurou eliminar o efeito da descentralização que ocorreu.
Além desses problemas, juntaram-se outras preocupações ao cenário da
indústria. Apesar da crescente demanda por obras de tecnologia especial, a CNO se
preocupou também com a escassez de mão-de-obra especializada, a impossibilidade
de reajustar preços, a descapitalização das empresas do setor como resultado de
licitações com preços baixos e custos altos etc.
Nesse momento, foi reconhecida a necessidade de desenvolvimento da forma de
gestão da empresa. O “espírito Odebrecht, verdadeiro ‘esprit de corps’ do nosso
pessoal” (Odebrecht, 1974e, p.2) foi o elemento que até aquele momento levara a
empresa ao crescimento. Foi necessário prepará-la melhor para os desafios que se
apresentaram no ambiente interno e externo. Uma das ações nesse sentido foi firmar
contrato com a Consultoria de Ciência Social Aplicada (Concisa). Essa consultoria
avaliou forças e fraquezas e aplicou seminários entre os gerentes. Da mesma forma, a
empresa proporcionou seminários, leituras e conferências aos seus executivos,
colocando-os em contato com idéias de Peter Druker, John Humble, Frederick
Herzberg etc.
Até então, o universo de atuação fora principalmente no nível de empresas
privadas e governos estaduais. Com a entrada no segmento de obras especiais, a
CNO necessitou fortalecer um relacionamento com o Governo Federal. Por exemplo,
por achar que as normas de mercado com relação às obras especiais estavam
ultrapassadas, a CNO sugeriu a criação de um órgão que envolvesse funcionários do
governo e empresários do setor. A partir dessa iniciativa nasceu a Comissão Nacional
da Indústria da Construção, composta por um representante do Ministério do
Planejamento, um das Minas e Energia, um da Indústria e Comércio, um do Ministério
84
dos Transportes, um do Sindicato Nacional das Empresas Construtoras de Portos,
Aeroportos e Grandes Estruturas e outro representando os sindicatos da Construção
Civil, totalizando seis integrantes.
Norberto Odebrecht também demonstrou toda a sua preocupação com as regras
estabelecidas para as licitações. Uma empresa que estivesse realizando uma obra,
por exemplo, não poderia participar de uma nova licitação para continuar a construção
para poder dar oportunidade a outras empresas. Segundo Norberto, essa regra de
licitação prejudicava o desenvolvimento do conhecimento sobre tecnologias
desenvolvidas nas obras especiais por causa da troca de construtoras envolvidas. Em
Angra, por exemplo, a CNO foi proibida de concorrer à licitação da terceira usina
nuclear, pois já participara das duas primeiras.
O conhecimento foi de certo uma das grandes preocupações na CNO. Assim
como os meios de comunicá-lo aos demais integrantes da empresa. Em 1973 foi
lançado o novo boletim da CNO com os objetivos de desenvolver essa comunicação
entre os diversos setores da empresa e de gerar uma imagem homogênea da
Odebrecht. A princípio, esse meio de comunicação foi reservado para os seguintes
conteúdos:
Bases filosóficas da Odebrecht, para que todos conheçam seu estilo de criar,
desenvolver e gerir negócios e equipes;
Assuntos vinculados à imagem que a empresa deve criar junto aos seus
colaboradores, de modo a, aos poucos, transmitir o espírito Odebrecht às suas novas
equipes;
Informações sobre equipamentos novos surgidos no mercado, novas técnicas,
bibliografia relativa a novos livros sobre técnica e administração etc;
Índices de produtividade, metas alcançadas, soluções técnicas encontradas,
artigos sobre desenvolvimento de determinado projeto e dados sobre pessoal;
Transmissão de conhecimentos das áreas técnica e administrativa.
Anos depois, em 1980, a CNO lançou um Boletim Técnico com o objetivo de
comunicar as soluções técnicas desenvolvidas em cada obra. O importante foi
distribuir a todos na empresa o conhecimento adquirido pelos profissionais da
empresa.
85
Em 1976, a CNO foi considerada a maior empresa da Bahia pela Federação das
Indústrias do Estado da Bahia. No ano seguinte, formou-se o Conselho de
Administração da CNO integrado por Norberto Odebrecht, como presidente, Geraldo
Dannemann e Roberto Campos. Nessa época, a Organização foi reestruturada
segundo a figura 7.2 do Anexo 7.4. As empresas da Organização foram dispostas em
sua estrutura conforme apresentado na figura 7.3 do Anexo 7.4. Essa nova estrutura
organizacional teve como objetivo “1 - administração de cada um dos negócios,
considerados individualmente; e 2 - administração da carteira de negócios, entendida
como administração das relações entre os negócios existentes e desenvolvimento de
novos negócios.”(Odebrecht, 1978a, p.4)
Os empresários liderados por Emílio A. Odebrecht retornaram a Salvador em
1977. A volta desse grupo deu início ao processo de implementação da Tecnologia
Empresaria Odebrecht e seu Sistema de Comunicação.
Em 1978, com o objetivo de integrar os profissionais que trabalharam pelas
diversas obras no país naquele momento, a CNO estabeleceu um Comitê com
representantes dos setores nuclear, siderúrgico, aeroportuário, grandes estruturas,
barragens, portos, obras de terra e obras correntes. A integração deveria também
facilitar a propagação do conhecimento técnico adquirido nas obras da empresa
Em 1979, os atrasos no pagamento de obras realizadas para empresas públicas
foram constantes. Essa situação levou a CNO a aumentar suas dívidas. As despesas
financeiras que foram Cr$ 255.699.000,00 em 1978, passaram a ser de
Cr$1.136.951.000,00 em 1979. Dois anos depois, ainda sofrendo do mesmo problema,
a empresa decidiu emitir 100 mil debêntures não conversíveis em ações no valor total
de Cr$ 1 bilhão. Meses depois lançou mais 25 mil debêntures, cada uma no valor
nominal de Cr$ 123.939,00. Essas iniciativas foram uma alternativa à limitação de
aumento de empréstimos daquele momento.
4.3.3. A Fase de Diversificação
“Nessa sociedade, os acomodados serão massacrados pelas novas idéias, novos
métodos e máquinas e pela agressividade da nova geração. A única forma de
sobreviver é enfrentar a conjuntura interferindo nos acontecimentos, de forma que
eles se desenvolvam à nossa conveniência. (...) São as obras de tecnologia
complexa que nos dão a liderança e essa posição de destaque que, no fundo, é só o
que nos interessa. Precisamos ser diferentes - se como varredor de rua, o melhor ou
um dos melhores. Como construtores civis, da mesma forma. Uma organização
sadia tem que buscar "Know-how" para poder ocupar essa posição". (Palavras de
Norberto quando eleito homem de Construção 1974 pela revista "O Empreiteiro",
Odebrecht, 1975b, p.5)
86
Nesse momento, a CNO era conhecida em todo o país. Foi então que a
empresa decidiu entrar no setor petroquímico, com a construção em 1973 da Central
Termoelétrica da Copene. Porém, foi somente com a construção do pólo petroquímico
de Camaçari que a Odebrecht entrou como grande interessada nas atividades desse
setor. As obras foram realizadas pela CNO em consórcio com a Ishikawajima e a
Marubeni.
Em 1979, a CNO adquiriu um terço do capital votante da CPC Companhia
Petroquímica de Camaçari a convite da Petroquisa. A possibilidade de obter
financiamentos e o fato da CPC estar quase concluída e estar perto de iniciar suas
operações, significando um retorno do investimento mais rápido, foram os fatores que
levaram a CNO a realizar essa aquisição. Na verdade, a Odebrecht ganhou convite
para participar desse empreendimento após desistência da Camargo Corrêa. Como foi
comum a muitas empresas petroquímicas na época de realizar gestão compartilhada
sob o modelo tripartite, a CNO formou a gestão juntamente com a Petroquisa e a
Mitsubishi. Pouco tempo depois, com as ações transferidas para a Odebrecht S.A.,
a empresa adquiriu mais ações preferenciais totalizando 20% de todas as ações da
CPC. Foi o início da Odebrecht na Indústria Petroquímica.
A Odebrecht avançou ainda mais durante a década de 1980. Seguindo uma
orientação para investir em projetos importantes para o mercado nacional e
internacional, e para estimular uma evolução tecnológica, a Odebrecht logo estendeu
seus domínios sobre os pólos petroquímicos de São Paulo e Rio Grande do Sul, e o
pólo cloroquímico de Alagoas. Nessa época o mercado brasileiro estava sendo
abastecido por produtos importados.
A política de investimento nesse setor verificada durante a década de 1980 foi
executada pela Odebrecht Química S.A. e por sua subsidiária integral Empresas
Petroquímicas do Brasil (EPB). Em 1984, em troca de participação minoritária no
capital votante da Petroquímica Bahia S.A., a OSA cedeu parte minoritária das ações
votantes da EPB para a Cia. de Seguros da Bahia. Durante a década de 1980, a
Odebrecht investiu no setor petroquímico, comprando participações nas seguintes
empresas: em 1983, Salgema Indústrias Químicas S.A., produtora de cloro-soda; em
1985, a Companhia Industrial de Polipropileno (PPH), produtora de polipropileno; e em
1985 também, a Poliolefinas, produtora dos polietilenos de alta e baixa densidade e do
polietileno linear. A Odebrecht também adquiriu a holding de empresas do setor União
de Indústrias Petroquímicas S.A. (Unipar). Com esses investimentos, a Odebrecht
87
passou a ter participação relevante no mercado de polietileno de baixa densidade
(PEBD) e o polipropileno, além do cloreto de polivilina (PVC).
Ao mesmo tempo em que os investimentos em construção pesada começaram a
reduzir seu compasso, o governo brasileiro decidiu investir de forma decisiva na
prospecção e exploração interna de petróleo. Essa iniciativa visou diminuir a
dependência do Brasil ao combustível externo.
Nesse sentido, a CNO começou a prestar serviços para a Petrobrás de
prospecção sísmica e investigação geotérmica dos campos de Garoupa e Pargo, no
litoral do Estado do Rio de Janeiro. Em 1976, visando ampliar sua atuação nesse
setor, a empresa adquiriu 23,5% das ações de H. Dantas - Serviços Marítimos S/A em
sociedade com a Happag Lloyd, empresa da Alemanha Ocidental, Empresa de
Navegação Aliança e H. Dantas - Com. Navegação e Indústria.
Em janeiro de 1979 foi criada a Odebrecht Perfurações Ltda. (OLP) para
perfuração de poços em terra e mar. Com sua primeira concorrência vencida, a OLP
adquiriu, em Cingapura, a plataforma Norbe I para a perfuração na plataforma
continental. Ao mesmo tempo em que o perfil do segmento de perfuração de petróleo
offshore se alterava e as empresas privadas se tornavam mais numerosas, a Norbe I
foi se transformando em uma escola para a construção do conhecimento técnico no
setor. Não tardou muito para que surgissem a Norbe II, III, IV e V, e novos
conhecimentos importantes nesse setor. No fim da década de 1980, a OPL já possuía
a maior frota privada para perfuração de petróleo com 8 plataformas.
Ao mesmo tempo, a CNO ganhou experiência técnica no campo da construção
offshore. A partir da Prontoferro, empresa incorporada à CNO em 1979, a OSA
constituiu uma unidade de negócios voltada à construção de jaquetas, decks,
helipontos e estruturas metálicas de grande porte.
Em 1977, a CNO deu mais um passo para a sua diversificação e fundou a
Odebrecht - Harrison Engenharia de Minas Ltda junto com a Patrick Harrison & Co. Ltd
do Canadá. O primeiro contrato dessa nova empresa foi com a Caraíba Metais para
construir um sistema de poços com 700 metros de profundidade e rampas para a
exploração das jazidas de cobre em Jaguarari-Bahia.
A estratégia pretendida pela empresa na época era composta por 3 vertentes: o
fortalecimento da área de engenharia e construção com a absorção de grandes
empresas brasileiras do setor; diversificação através de novos investimentos no ramo
88
químico/petroquímico e a consolidação na área de perfuração de petróleo; e,
principalmente, o desenvolvimento da prestação de serviços no exterior.
"sabíamos que o crescimento brasileiro dos anos 70 não se repetiria na década de
80. Estudávamos 3 hipóteses: diversificar, ir para o exterior ou fortalecer nossa
qualificação em engenharia no Brasil. Em vez de uma, optamos pelas 3 'avenidas'. A
avenida da diversificação nos conduziu aos negócios de perfuração de petróleo e
química e petroquímica. A avenida da internacionalização nos levou a realizar as
primeiras obras no Peru e no Chile. Por último, incorporamos a CBPO - Companhia
Brasileira de Projetos e Obras, fortalecendo nossa capacitação em engenharia no
Brasil." (Victor Gradin em entrevista para Odebrecht, 2004f, p. 39)
Simultaneamente às operações em novos setores, a CNO também buscou a
expansão internacional das atividades de construção civil. Em 1976, fundou a
Construtora Odebrecht Internacional S/A em Assunção, Paraguai. Ao mesmo tempo
prospectou em alguns países da África Ocidental, do Oriente Médio e América Latina.
De fato, a CNO deu seus primeiros passos internacionais a partir da construção
de hidrelétricas no Peru e no Chile. Na década de 1980, também foi construída a
hidrelétrica de Capanga em Angola. Essa obra surgiu a partir de um esforço de
negociação de 4 anos entre o governo local, o soviético e o brasileiro. Durante a
construção foram empregados centenas de brasileiros e mais de 3 mil angolanos.
Enfim, em 1985, as obras internacionais representavam 30% de todos os contratos
em carteira da CNO.
A CNO teve uma preocupação em desenvolver equipes locais. Por exemplo, no
Peru, dos 876 que trabalharam na hidrelétrica de Charcani V, apenas 22 eram
brasileiros. E na obra do túnel de desvio do Rio Maule no Chile, 12 brasileiros
trabalharam entre 899 no total.
Para apoiar o crescimento da CNO, a empresa começou a adotar medidas para
se organizar melhor. Uma dessas medidas foi o desenvolvimento de um sistema de
informação que pudesse realizar um planejamento do crescimento com o
estabelecimento de previsões e cenários. Em 1981, a CNO promoveu um seminário
sobre aspectos jurídico-econômicos do contrato de construção para seus funcionários
para estimular o debate sobre a realidade da economia nacional naquele momento.
Com a presença de diretores, responsáveis por áreas negociais, gerentes de projetos
e de contrato, o objetivo do evento foi avaliar características da inflação, potencial de
investimentos, aspectos legais das licitações etc.
Em 1981, a Odebrecht Participações e Investimentos S.A. (Opisa) passou a
chamar-se Odebrecht S.A. (OSA), assumindo sua condição de holding, abrindo capital
89
e transformando integrantes em acionistas. Com essa mudança, a OSA passou a
assumir controle direto de todas as empresas não relacionadas à construção. Ficou
também responsável pela estratégia de investimento em negócios, nas empresas e
nos recursos humanos de alto nível. A parte operacional continuou a cargo dos
diretores das empresas controladas.
No que tange ao fortalecimento da área de engenharia e construção, a tabela
4.14 apresenta as características das principais aquisições da Odebrecht durante a
década de 1980.
Tabela 4.14 – Aquisições de empresas de construção durante a década de 1980.
Características CBPO Tenenge BPC
Ano de Aquisição
1983 1986 1988
Ano de Fundação
1931 1955 1953
Descrição
Empresas de construção do
país com um histórico de obras
vultuosas realizadas em meio
século de existência no Sul do
país.
Técnica Nacional de Engenharia
S.A. Uma das maiores empresas
do país no segmento de
montagem industrial, tendo
participado em cerca de 40% de
todo o complexo siderúrgico
estatal e da instalação de um
terço do parque hidrelétrico do
Brasil.
Empresa portuguesa de
construção
Fundador
Oscar Americano. Engenheiro
que introduziu novas técnicas e
novos métodos administrativos,
investiu na formação de
pessoas e na importação de
equipamentos.
Antonio Maurício da Rocha
fundou a empresa em 1955,
desenvolvendo tecnologia
brasileira de montagem.
José Bento Pedroso
Posição no
Mercado
Na data de sua aquisição era a
sexta maior construtora do país
em faturamento.
- -
Faturamento
aproximado na
época de aquisição
US$ 220 milhões - 10 milhões de Euros
Obras Importantes
Usinas: Xavantes, Capivara,
Nova Avanhadava, Rosana,
Foz do Areia e principalmente
Itaipú.
Rodovias: Imigrantes,
Trabalhadores e Castelo
Branco, e parte da Ferrovia do
Aço e dos metrôs do Rio de
Janeiro e de São Paulo.
Outras: Aeroporto Internacional
do Rio de Janeiro (Em parceria
com a CNO).
Usinas: Itaipú, Ilha Solteira,
Capivara, Paulo Afonso IV etc.
Plataformas: Namorado I e II,
Cherne I etc.
Pólos Petroquímicos: Camaçari,
São Paulo e Rio Grande do Sul.
Outras: Refinaria Duque de
Caxias.
Depois de incorporada a
Odebrecht:
Rodovia: auto-estrada Nacional
1, Via Infante Dom Henrique.
Outras: Mêtro de Lisboa e Ponte
Vasco da Gama.
90
Características CBPO Tenenge BPC
Sinergia
Herança de equipes técnicas e
administrativas.
Postura empresarial de grande
flexibilidade.
Depois que foi adquirida passou
a atuar também em obras de
tecnologia especial.
Outras Informações
Emílio ainda passou cerca de
um ano e meio em São Paulo
como vice-presidente executivo
da CBPO
Fonte: Odebrecht (2004f).
Com a intenção de apresentar a história da Odebrecht e então representar um
estímulo para o futuro, a OSA fundou o Núcleo da Memória Odebrecht em 1984. O
projeto, liderado por Renato Martins, partiu da necessidade de existir um espaço onde
pudessem ser contempladas as conquistas, os acertos e os desafios do passado.
Quando o processo de sucessão da primeira à segunda geração tomou forma,
em 1985, Emílio Odebrecht assumiu o cargo de Diretor-Presidente da CNO. Nesse
momento a empresa considerou sua estrutura pronta para a administração da terceira
geração de executivos com “a tecnologia empresarial implantada, compreendendo: 1 -
Responsável por Resultados a nível de holding com sua Organização Dinâmica; 2 -
Centros de Resultados definidos (Negócios e suas Unidades); 3 - Sistema de
Comunicação criado e implantado entre os diversos veis (holding, Negócios e
Unidades).” (Odebrecht, 1986a, p.44). Nessa época, aproximadamente 60 pessoas
comemoraram 25 anos de serviço ou mais para a Odebrecht, conforme tabela 4.15.
Tabela 4.15 – Comemoração de tempo de serviço na Odebrecht.
Tempo de Serviço 25 26 27 28 29 30 31 32 33 35 36 37 38 40
Qtde de empregados 16 1 6 6 1 3 6 4 1 6 2 2 1 4
Fonte: Odebrecht (1985c, p.13)
Em 1989, começou a ser desenvolvido o SAD Sistema de Apoio à Decisão.
Com a complexidade gerada a partir do crescimento nos negócios de construção, o
sistema foi concebido como uma ferramenta de obtenção de informações, auxiliando
principalmente os gerentes de contratos de obras.
91
Em maio de 1991, Norberto Odebrecht transferiu o cargo de Diretor-Presidente
da Odebrecht S.A. para seu filho Emílio Odebrecht. Sete anos mais tarde, em 1998,
Norberto Odebrecht deixou definitivamente os negócios, transferindo o cargo da
presidência do Conselho de Administração da Odebrecht S.A. para seu filho Emílio.
“Desde meus 47, 48 anos venho preparando minha sucessão(Odebrecht, 1998c, p.
0). “Fazer substitutos, com vistas a sucessões e a consequentes promoções, é parte
do processo natural e necessário de renovação e transferência de um espírito, que
deve viver dinamicamente, fazendo acontecer a marca das empresas e,
consequentemente, da Organização Odebrecht.” (Odebrecht, 1998c, p. 28)
Quando Emílio assumiu o cargo de Diretor-Presidente e logo depois o de
Presidente do Conselho, a Odebrecht entrou em uma nova etapa de liderança que
viera se consolidando desde a década de 1970 com a formação de uma nova geração
de empresários. Nessa nova etapa, a Odebrecht viu sua presença no mercado
internacional expandir. Em 1993, a Odebrecht realizou negócios em 19 países:
Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cingapura, Colômbia,
Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Inglaterra, México, Paraguai, Peru, Portugal,
Uruguai e Venezuela. Em 1995, atuou também na Malásia e em outros países do
Sudeste Asiático.
Voltada cada vez mais para o mercado externo, em 1991, a Odebrecht logrou
sua entrada nos EUA ao vencer a concorrência para ampliação do Metrover, metrô
elevado que serve à área central de Miami, na Flórida. Logo depois, sua atuação se
estendeu para a Califórnia com a construção de um trecho de estrada e da barragem
de Seven Oaks. Por essa última obra, a Odebrecht recebeu o prêmio patrocinado pelo
Exército norte-americano de Construtora do Ano de 1999 nos EUA, como
reconhecimento da qualidade da construção da barragem. Também ainda por essa
mesma obra, a California Occupation Safety e a Health Administration, importante
agência do setor, reconheceram o importante índice de segurança obtido.
Nesse mesmo período, a Odebrecht intensificou sua presença na América Latina
com obras no Peru, Venezuela (começou a operar em 1992), Equador, Colômbia,
Bolívia, Argentina (CBPO), Chile e México (começou a operar em 1992 através da
CBPO). Em 1993, a CBPO conseguiu pela primeira vez obter um contrato em regime
de concessão para a construção da autopista de acesso oeste a Buenos Aires.
Enquanto isso, a OPL trabalhava em associação com duas empresas
americanas e uma norueguesa para a perfuração de três poços em águas profundas
na costa do Brasil, com lâminas d’água entre 600m e 1.000 m.
92
Em 1990, a Tenenge ganhou novamente o Prêmio Petrobrás da Qualidade na
Classe Serviços que ganhara quatro anos antes. Em 1991, com a intenção de
fortalecer sua posição no setor de petróleo e gás, a Tenenge incorporou a SLP
Engineering Ltd., empresa inglesa com um efetivo 1.500 empregados especializada
em serviços de engenharia para esse setor. Entre seus clientes estavam a British
Petroleum, a Amerada Hess e a Agip. Naquela época, o Mar do Norte era o principal
centro mundial de construção, montagem e serviço offshore para produção de petróleo
e gás. A entrada no mercado inglês ocorreu a partir da experiência consolidada pela
Tenenge no Brasil, em Portugal, onde fez os diques das plataformas Cabo e Pacassa,
e no Chile, onde montou jaquetas para plataformas de petróleo, fábricas de papel e
celulose e linhas de transmissão.
Ainda em 1990, a CNO ganhou seu primeiro contrato em concorrência
internacional para a construção de uma plataforma auto-elevatória da Petrobrás na
Bacia de Campos (RJ). Em março de 1994, a Brasoil, subsidiária internacional da
Petrobrás, inaugurou a plataforma semi-submersível Petrobrás 18, para a produção
em águas profundas. A sua construção foi realizada pela CNO em parceria com a
Fels-Far East Shipbuilding e possibilitou o aumento de 15% da produção brasileira de
petróleo. Essa parceria significou um momento importante para a sua carreira
internacional porque representou o início do intercâmbio de competências com
empresas estrangeiras, potencializando novas oportunidades no nível global.
Fora do eixo das Américas, a Odebrecht passou a atuar na China em 1993
quando a CBPO abriu uma filial em Pequim. E também passou a atuar na Alemanha,
inicialmente na parte oriental, a partir da criação da Odebrecht Bau. Em 1996, a
CBPO, em parceria com a Asea Brown Boveri (ABB), venceu a concorrência para a
construção da hidrelétrica de Bakun na Malásia, Sudeste Asiático. Ainda nesse ano, a
Odebrecht concluiu a barragem de Letsibogo em Botsuana na África.
Em março de 1998, a BPC inaugurou a ponte Vasco da Gama, obra que
representou o marco da atuação da Odebrecht na Europa. Nessa ocasião, a BCP se
uniu a outras empresas portuguesas e européias para formar o consórcio Lusoponte
responsável por essa construção.
No ano seguinte, a Odebrecht experimentou operar com um contrato de aliança
no projeto de ampliação e construção de novas unidades produtivas da Copesul. Esse
tipo de contrato foi bem sucedido e gerou economias no preço final das obras e um
prazo menor. No contrato de aliança, o preço da obra é pré-estabelecido. Como a
93
gestão da obra é compartilhada, caso o custo final da obra seja maior do que o que foi
acordado, é cobrada uma multa, caso seja menor, é pago um bônus. Esse tipo de
contrato segue a linha EPC.
Durante sua trajetória de crescimento, a Odebrecht iniciou e adquiriu diversos
negócios diferentes ou auxiliares ao seu negócio principal de construção, conforme
apresentado na tabela 4.16.
Tabela 4.16 – Diversificação de negócios.
Período de
Operação
Empresa
Modo de
expansão
Objetivos Observações
1951 a
1955*
Saici Interno
Voltada para o projeto Ituberá.
explorar a geração de energia
e o manejo florestal de Ituberá
1950 a ?
Sociedade Industrial
de Máquinas Ltda.
(Simla)
Interno
Recuperar e realizar
manutenção de máquinas e
equipamentos
Nasceu da experiência de
Norberto Odebrecht, ainda
quando jovem, nas oficinas do
pai.
1952 a ?
Construtora de
Estradas Ltda.
(Contral)
Interno Pavimentação rodoviária.
? Navebal Interno Navegação
? Stencia Interno
Tratar de instalações
hidráulicas e elétricas
?
Companhia de
Melhoramentos da
Bahia (Comeba)
Interno Empreendimentos imobiliários.
? Reunidas Star Interno
Dedicava-se à construção de
rodovias.
Anteriormente denominada por
Construtora e Pavimentadora
Star Ltda. Deu origem a duas
subsidiárias: Pedreiras Valéria
e Pré-moldados Star.
1963 a ? Agrícola Seringalista Interno
Aplicar recursos derivados dos
incentivos fiscais das leis da
Sudene.
1965 a ? Agrícola Contendas Interno
Plantações de seringueiras,
cacau, cravo e dendê, no
Município de Ituberá, Estado
da Bahia.
94
Período de
Operação
Empresa
Modo de
expansão
Objetivos Observações
1963 a 1975 Silical Interno
A Silical tinha como objetivo
fabricar blocos de silício e cal
com tecnologia alemã que
proporcionava melhor
qualidade e menores custos.
1966 a 1980 Inorcal Interno
Empresa de mineração que
fabrica e comercializa
corretivos de solo e filler
calcário para pavimentação
asfáltica.
Foi incorporada à Pedreiras
Valéria
1968 a 1976 Cimentopronto Interno
Auxílio nas obras com serviços
de concretagem. Especializou-
se também em transporte de
cimento, “filler” e cal a granel
em Salvador e no Recôncavo
Baiano.
Foi incorporada à Pedreiras
Valéria
1969 a 1980 Prontoferro Interno
Centraliza a atividade de
dobragem de aço para as
obras.
Incorporada à CNO
1968 a 1973 Diferro Interno
Centralizar as compras de aço
nas usinas para dar
uniformidade de
especificações, reduzir custos
e formação de estoques para
garantir o suprimento dessa
matéria-prima durante toda a
obra.
Incorporada à Prontoferro.
1969 a 1980 Fengel Interno
Execução de fundações e
obras especializadas de
subsolos.
Incorporada à CNO
Essas empresas foram
fundadas para auxiliar as
atividades de construção civil.
95
Período de
Operação
Empresa
Modo de
expansão
Objetivos Observações
1973 a 1980
Indústria de Pré-
moldados Star
Interno
Projetos, cálculos, fabricação e
comercialização de produtos
pré-moldados de qualquer tipo.
Incorporada à CNO
1973 a 1987 Pedreiras Valéria Interno
Extração e beneficiamento de
britas para todos os tipos de
construção, usinagem de
asfalto e solo brita.
1971 a ? Sinart Interno
Essa empresa foi formada pela
CNOSA e a Imobiliária Correa
Ribeiro para viabilizar a
construção da Estação
Rodoviária de Salvador e sua
exploração por 20 anos.
1975 a 1992
Empreendimentos
Patrimoniais
Interno
Consolidar e desenvolver a
experiência de
desenvolvimento urbano,
obtido no loteamento "Caminho
Árvores".
Recentemente o negócio de
incorporação voltou na
Odebrecht.
1975 Metalúrgica Ramos Aquisição
Melhorar, qualitativa e
quantitativamente, a oferta
regional de produtos e serviços
métalo-mecânicos, no
momento insuficiente na Bahia.
1978 a 2005 FEO Seguros Interno
Coordenação das atividades
de seguro, para tornar mais
rápido e eficaz o
relacionamento com as
companhias seguradoras e
órgãos externos envolvidos
nas contratações.
1979 a
1992*
Odebrecht-Harrison
Fundada
em parceria
Empresa de mineração
1979 a
1999*
OPL Interno
Empresa fundada para realizar
serviços de perfuração de
poços de petróleo para a
Petrobrás.
96
Período de
Operação
Empresa
Modo de
expansão
Objetivos Observações
1988 a
1995*
CNW Equipamentos
Ltda. e empresa
auxiliar, STL
Sistema de
Transportes Ltda.
Aquisição
Atuar na área de tecnologia de
ponta de Eletrônica e
automação
Adquirir experiência no
desenvolvimento de sistemas e
equipamentos de controle de
tráfego para ferrovia e
metrovias.
Acreditou-se que a Odebrecht
deveria ter um negócio no setor
de informática.
(Pertenciam ao conglomerado
Bozano – Simonsen)
1988-1992
Odebrecht
Mineração e
Metalurgia Ltda.
Interno
Administração de
investimentos nos setores de
metalurgia, pentóxido de
vanádio e ouro.
1983 a
1997*
CBPO Aquisição Construção pesada Foi incorporada à CNO.
1985 a
1996*
Tenenge Aquisição Montagem Industrial Foi incorporada à CNO.
1988 a 2005
Bento Pedroso
Construção
Aquisição
Empresa portuguesa de
construção pesada
1995 Stela Telecom
Fundada
em parceria
Participar das licitações para a
Banda B de Telefonia
1997 Itasa
Fundada
em parceria
Fornecimento de energia para
empresas petroquímicas da
empresa.
1998 a
1999*
Veracel Celulose
S.A.
Fundada
em parceria
Produção de papel e celulose
Cultivo de floresta de eucaliptos
no sul da Bahia.
1998 a ?
Odebrecht Serviços
de Infra-estrutura
Ltda. (OSI)
Interno
Atuar no segmento de rodovias
e coordenar as iniciativas em
concessões.
97
Período de
Operação
Empresa
Modo de
expansão
Objetivos Observações
1998 a ?
Companhia de
Concessões
Rodoviárias - CCR
Fundada
em parceria
Administrar e operar rodovias.
Empresa formada com outras
empreiteiras.
Administrou e operou a
Presidente Dutra (RJ-SP) , o
Sistema Anhangüera-
Bandeirantes (SP) e a Ponte
Rio-Niterói.
* Data aproximada
Fonte: Odebrecht Informa – diversos números
4.3.4. A Reestruturação
A partir da segunda metade da década de 1990, a Odebrecht iniciou uma série
de transformações no Grupo. Na área de Engenharia e Construção, começou um
processo de integração operacional entre a Construtora Norberto Odebrecht, a CBPO
e a Tenenge, sob a liderança da primeira.
Os negócios de Eletrônica e Automação foram vendidos e as atividades na
Alemanha e em países da África, com exceção de Angola, foram abandonadas.
Após essa reestruturação, a Odebrecht se concentrou nos negócios de
Engenharia e Construção, e Química e Petroquímica. Manteve participações na área
de Infra-estrutura e Serviços Públicos, onde participou de concessões de serviços
públicos no Brasil e em Portugal em associação com outras empresas. E também
continuou a integrar a Veracel Celulose S.A. e manteve participações nos setores de
Turismo e de Óleo e Gás. Em 1996, para controlar sua participação na gestão
compartilhada com outros grupos, a Odebrecht abriu uma área de negócios específica
para cuidar dessas participações. A OSA esteve, então, estruturada conforme
apresentado na tabela 4.17.
98
Tabela 4.17 – Áreas de Negócios da Organização Odebrecht.
Engenharia Química Participações
CNO/TNE CBPO OPP Trikem Concessionárias de
Obras Públicas
Stelar Telecom Veracruz Florestal
Resp:Renato
Baiardi
Resp: Pedro
Novis
Álvaro Cunha José de Freitas
Mascarenhas
Pedro Novis Luiz Almeida Luiz Villar
Brasil
América
Latina
EUA
África
Austral
Petróleo e
Gás
Europa
Ocidental
(Portugal e
Alemanha)
Leste
Europeu
Norte da
África
Ásia
(Bakun)
São Paulo
Resinas e
especialidades
poliolefínicas
Fábricas no Rio
Grande do Sul,
São Paulo e
Bahia e
participação na
central Copesul
Especialidades
e resinas de
PVC, integrado
com soda-cloro
Fábricas em
Alagoas, Bahia
e São Paulo e
participação na
central Copene
Transportes
BR-040 (Juiz de
Fora – Rio)
Acesso Oeste a
Buenos Aires
Terceira Ponte
sobre o Tejo
(Lisboa)
Saneamento
Básico
Limeira, SP
Energia
Hidrelétrica de
Itá, SC/RS
Negócios em
desenvolvimento
no setor de
telecomunicações
Negócio em
desenvolvimento
no setor de
celulose
Fonte: Odebrecht (1996b, p.11)
Porém, seguindo o processo de reestruturação que, segundo a Odebrecht, deu
partida a um novo ciclo de crescimento, as participações na Veracel e nas áreas de
Turismo e de Óleo e Gás no Brasil foram abandonadas. Na área de Engenharia e
Construção, a empresa teve como orientação focar nos países onde fosse possível
obter uma atuação destacada. Em Química e Petroquímica, a empresa continuou a
focar no segmento de resinas termoplásticas. Nesse setor, a Odebrecht teve uma forte
orientação para estruturar suas empresas, formando uma grande empresa nacional. E
no setor de Infra-estrutura e Serviços Públicos, manteve a orientação de atuar no
segmento de concessões rodoviárias.
Como parte das comemorações dos 50 anos de sua fundação, a OSA reuniu 77
empregados com menos experiência, chamados pela empresa de jovens parceiros, e
30 empregados mais experientes. Esse evento teve como objetivo promover
aprendizado e discussão acerca de temas como o Programa de Ação. As pessoas
escolhidas para o evento vieram da CNO, CBPO, Tenenge, OPP, Poliolefinas, EPB,
Veracruz Florestal, OTL, Odebrecht S.A., FEO-ACS, Fundação Odebrecht.
Em 1997, a Tenenge foi incorporada à CNO. O objetivo foi formar uma empresa
melhor preparada para os contratos EPC que contemplam serviços de engenharia,
suprimento de equipamentos, construção e montagem. Naquele momento, os
demandantes de obras começaram a exigir contratos onde o fornecedor oferecesse
99
maior integração dos serviços envolvidos. Segundo Renato Baiardi, Líder Empresarial
da CNO naquela época, "A integração é uma consequência das transformações do
mercado, em escala mundial, e que são mais intensas em países como o Brasil, que
passam por um processo de abertura de suas economias". (Odebrecht, 1997b, p.19)
A marca Odebrecht também começou a ser pensada com mais profundidade.
Segundo Norberto Odebrecht, “desde as origens da Odebrecht, praticamos uma
marca. Fizemos isso durante décadas, sem nos darmos conta de que ela existia. (...) A
marca, quando fielmente protegida e corretamente praticada, de acordo com os
Princípios, Conceitos e Critérios da TEO, torna-se significante para o Cliente, para os
acionistas e para os que os servem.” (Odebrecht, 1998, n.87, p.28)
Em 1999, foi estabelecido um Fórum de Engenharia com o objetivo de promover
integração dos conhecimentos da CNO e difundi-los. As comunidades virtuais foram
um dos meios criados para possibilitar esse intercambio.
Em 2000, segundo a revista norte-americana ENR (Engineering News Records),
a Construtora Norberto Odebrecht foi a empresa líder na construção internacional de
usinas hidrelétricas. Nesse setor, a Odebrecht continuou crescendo ganhando
contratos em Angola, Estados Unidos, Portugal, e em países da América Latina.
Em 2001, a OSA recomprou as ações em poder dos acionistas minoritários e
cancelou o registro de companhia aberta junto à Comissão de Valores Imobiliários
(CVM). No total foram 37 bilhões de ações, entre ordinárias e preferenciais, com um
custo total de R$196,4 milhões e equivalente à 30% do capital da holding.
Nesse mesmo ano, Emílio Odebrecht se despediu do cargo de Diretor-
Presidente, transferindo-o para Pedro Novis, e concentrou-se no cargo de Presidente
do Conselho da Odebrecht S.A. Pedro Novis iniciou sua carreira na Odebrecht como
estagiário em 1968, passando pelos cargos de Diretor da CNO e principal executivo da
CBPO por 16 anos.
Segundo Emílio, na ocasião de sua despedida da presidência da Odebrecht, "em
2001, concluímos desafios que viabilizaram a renovação e sucessão de toda uma
geração e a implantação de um novo Sistema de Governança na Odebrecht. Criamos
as condições fundamentais para continuarmos a enfrentar as exigências das
circunstâncias internas e externas no caminho do crescimento qualificado." Marcelo
Odebrecht, filho de Emílio, assumiu a liderança da CNO, onde ingressou em 1992, e
José Carlos Grubisish, contratado do mercado, sucedeu Álvaro Cunha na liderança do
100
negócio Química e Petroquímica. Nesse mesmo processo, Rubens Ricupero e Pedro
Mariani foram nomeados conselheiros da OSA, os primeiros a não terem feito carreira
na organização.
O negócio de perfuração e exploração de petróleo foi desfeito juntamente com as
mudanças que ocorreram nessa época. Esse negócio de exploração fora desenvolvido
para diminuir os riscos com fornecimento de nafta, principal matéria-prima da indústria
petroquímica. Entretanto, depois de concluído o processo de formação da Braskem, o
negócio deixou de ser importante por causa da parceria construída com a Petrobrás.
Para marcar esse momento de renovação da liderança do Grupo e de suas
empresas, a OSA promoveu novamente um encontro em 2002 de jovens parceiros
como houvera realizado em 1995 para a comemoração dos 50 anos da empresa e em
2000. No mesmo ano de 2002, a CNO promoveu o 3° Encontro de Engenharia quando
foi estabelecida a terceira comunidade para integração de conhecimentos. A
comunidade de equipamentos juntou-se então às comunidades de Barragens e Usinas
e EPC e Gerenciamento.
Em 2003, a OSA teve o seu milésimo integrante a completar 25 anos de tempo
de serviço no grupo. Dois anos depois, a OSA completou 1.350 pessoas com esse
mesmo tempo de serviço. E em 2006, dois peruanos também completaram 25 anos de
serviços prestados à OSA.
Em 2004, a Odebrecht era considerada a maior exportadora de serviços do
país. Além disso, com sua presença em obras no exterior, a empresa proporcionou
oportunidades de negócios para muitas empresas. Em 2001, cerca de 1.600
empresas, entre pequenas e médias, exportaram para cerca de 30 países onde a
Odebrecht atuava. Botas, uniformes de proteção e outros materiais são necessários
para os que trabalham no exterior. Como é uma exportação financiada pelo governo, o
nível de inadimplência é irrisório.
Com o intuito de difundir a TEO na empresa, a CNO criou o Programa de
Desenvolvimento de Empresários (PDE) em 2005. Como o PDE proporciona o
encontro entre representantes das 3 gerações da empresa, a transmissão da TEO
para os mais jovens é facilitada através dessa convivência. "Passei a ouvir mais meus
liderados, meus líderes e a me relacionar melhor com o Cliente (...) o PDE me ajudou
a aplicar a TEO de forma automática nessa prática do dia-a-dia”, garantiu Mauro
Hueb, Diretor de Contrato da CNO. Hoje, Mauro reúne sua equipe uma vez por mês
para debater a TEO.
101
A TEO também foi base para a elaboração das características e das
competências que deveriam ser desenvolvidas na OSA, CNO e Braskem. O objetivo
foi criar um referencial para a identificação, recrutamento e avaliação de integrantes
dessas empresas. As características e as competências requeridas são (Odebrecht,
2006b, p. 22):
Características: espírito de servir; ambição de propósitos; criatividade e
inovação; objetividade e determinação; maturidade e confiabilidade; espírito positivo e
construtivo; mobilidade e adaptabilidade.
Competências: descentralização através da delegação planejada; parceria;
capacidade de empresariar; liderança; educação pelo trabalho; capacidade de
conceituar e agir; capacitação específica; satisfação do cliente; excelência de
resultados.
4.3.5. O Negócio de Petroquímica
Motivada pelo potencial que a CPC apresentou logo após adquiri-la, a OSA
alocou pessoal experiente do grupo para cuidar do desenvolvimento de uma nova área
de negócios. Em 1983 foi fundada a EPB Empresas Petroquímicas do Brasil com o
papel fundamental de desenvolver, planejar e viabilizar o negócio de química. Com
esse objetivo, a EPB adquiriu 23% do capital votante da Salgema Indústrias Químicas
S.A. e indiretamente passou a ter participações na Copene e 23% do capital votante
da Petroquímica Bahia S.A. Foram também acionistas da Salgema naquela ocasião a
Copene, Petroquímica do Nordeste, Norquisa e a Petroquisa.
Em 1987, a EPB seguiu seu objetivo em expandir seus investimentos no setor
petroquímico. Adquiriu 28% do capital da Poliolefinas, empresa que produziu naquele
ano 43% da quantidade total de polietilenos de baixa densidade (PEBD) no Brasil;
18,7% do capital votante da Unipar, empresa que detinha participações em outras
várias empresas do setor petroquímico, entre elas a Petroquímica União; 20% do
capital da PPH, produtora de polipropileno, considerado naquela época um
termoplástico moderno.
Em 1987, foi criada a Odebrecht Química S.A. (OQ) que passou a cuidar dos
interesses da Odebrecht no setor petroquímico.
Em 1993, a OQ adquiriu o controle da Poliolefinas, comprando 31,5% das ões
dessa empresa. Essa iniciativa marcou a entrada da OSA como gestora no setor
petroquímico. Com o Plano de desestatização, a Odebrecht adquiriu, em associação
102
com a Ipiranga, o controle acionário da Copesul, a central de matérias-primas do Pólo
de Triunfo (RS). Nessa ocasião, a Odebrecht aumentou sua participação na PPH
Companhia Industrial de Polipropileno e Poliolefinas S.A., que então passaram a
operar integradas e, em 1995, deram origem à OPP Petroquímica S.A. A letra O” do
nome da empresa remete à Odebrecht e as duas letras “P” remetem às empresas
adquiridas PPH e Poliolefinas e aos produtos fabricados por essas empresas,
polipropileno e o polietileno, respectivamente.
Em 1996, ainda sob a onda da privatização, a Odebrecht assumiu o controle da
Salgema e da CPC que, juntamente com a CQR, também passaram a operar de forma
integrada e, em 1996, deram origem à Trikem S.A. A nova empresa integrou o
processo de produção de PVC, com as unidades da Salgema oferecendo EDC como
insumo para a fabricação de PVC nas unidades da CPC. Com a união, a Trikem
passou a ser líder na América Latina para o negócio de cloro-soda e PVC, a partir do
cloro. Segundo José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de
Administração da Veracruz, e presidente da Federação das Indústrias do Estado da
Bahia, “a criação da Trikem refletiu a tendência mundial de formação de empresas
com maiores escalas de produção e integração via matérias-primas.” (Odebrecht,
1998b, p.15), “integrar passou a ter hoje para o segmento químico o mesmo
significado de sobreviver” (Odebrecht, 1997a, p.3).
Nesse ano de 1996, o Negócio de Química correspondeu a 50% do faturamento
da Odebrecht. Segundo um estudo do BNDES, a OSA deteve 47% da petroquímica
nacional naquela ocasião, sendo considerada a maior empresa do setor.
Em 1997, uma nova fábrica da OPP foi inaugurada em Itabiba, a 80 Km de São
Paulo. A nova unidade necessitou de investimentos de US$ 24 milhões e elevou a
capacidade de produção de compostos de polipropileno em 18 mil t/ano. Esse foi o
primeiro empreendimento do setor petroquímico no Brasil a ser construído pelo
contrato do tipo EPC (Engineering, Procurement and Construction) e em regime de
aliança com a Tenenge. Essa aliança visou a construção de conhecimento para sua
utilização em futuros projetos com a participação de empresas da Odebrecht.
A região de Itabiba foi escolhida por sua proximidade com as montadoras de
veículos e indústria de autopeças. Naquele momento, 70% dos compostos de
polipropileno da OPP foram destinados a essa indústria. Entretanto, a proximidade não
era suficiente para conquistar o mercado automobilístico, onde as multinacionais
produtoras da resina em questão já detinham conhecimento sobre produto e mercado.
103
Foi necessário um fortalecimento do relacionamento com o setor automobilístico para
ganhar esse mercado.
Por exemplo, o relacionamento entre OPP e Fiat começou quando a OPP
detectou uma oportunidade para desenvolver o pára-choque de polipropileno do
modelo Pálio da Fiat. Nessa ocasião, uma equipe da OPP desenvolveu o produto
juntamente com equipe da Fiat no laboratório dessa empresa na Itália. A OPP enviou
cerca de 20 toneladas de polipropileno para a Itália para desenvolver produtos. Após a
especificação do produto, a empresa Plascar foi contratada para produzir a auto-peça.
A venda de polipropileno para a fabricação de componentes para a Fiat cresceu de
400 toneladas mensais em 1993 para 1.500 toneladas mensais em 1997.
Na época, os carros da Ford, como o Ford Ka e o Fiesta, utilizaram 20 tipos de
compostos de polipropileno da OPP. Esse produto foi empregado em 90% das peças
e componentes desses carros, como pára-choques, caixas de ar, revestimentos
internos e painéis. As oportunidades de aumentar o volume destinado para a
fabricação de componentes para as montadoras foram grandes. Como no caso de
uma nova resina produzida pela OPP que substituiu um composto importado. As
vendas mensais de polipropileno ultrapassavam as 500 toneladas.
Na Volkswagen, os produtos da OPP foram utilizados basicamente em painéis e
pára-choques do Gol e da Parati. Enquanto que na General Motors, foram utilizados
nos pára-choques do Corsa. Os volumes mensais vendidos naquela época para a
Volkswagen e para a General Motors foram aproximadamente 380 e 200 toneladas,
respectivamente.
Aos poucos, as empresas também perceberam a necessidade de desenvolver
seus mercados através de novos produtos que pudessem substituir materiais
tradicionais existentes. A Trikem, por exemplo, estabeleceu parceria com a Tubos e
Conexões Tigre e a CNO para que a Tigre fabricasse fôrmas para concreto com
chapas de PVC gido e a CNO as introduzisse nos canteiros de obra. Nas obras do
Terminal de Carga Aérea do AIRJ, o custo do material foi reduzido em 37% com o uso
do novo material.
A OPP colocou em funcionamento, em parceria com a Semeraro - empresa
brasileira fabricante de máquinas para sopro, injeção e extrusão de resinas plásticas,
um caminhão itinerante equipado com injetora alimentada por 600 kg de polipropileno.
A iniciativa teve como premissa demonstrar o funcionamento de uma microindústria de
escovas para cabelo e outros produtos a base de polipropileno e que com um
104
investimento de R$ 70 mil reais, mais capital de giro, seria possível instalar um
negócio rentável. O caminhão circulou por várias cidades do Brasil.
Enquanto isso a recém-formada Trikem captou recursos para se reestruturar
suas finanças abaladas com a aquisição do controle acionário da CPC e da Salgema e
com a integração dessas duas empresas. No total foram captados US$ 250 milhões a
partir do lançamento de eurobonds no mercado americano com prazo de pagamento
em 10 anos. A Trikem trocou dívidas de curto prazo por dívidas de longo prazo.
Também foi grande a preocupação com relação à comunicação com os
acionistas das empresas que deram origem à Trikem. Foram agendadas reuniões com
vários deles, enviadas correspondências a investidores pessoa física, liberados
comunicados na imprensa e disponibilizada um meio de comunicação para duvidas
sobre o processo de integração. O resultado final significou a aceitação de 96% dos
minoritários da Salgema para a subscrição de debêntures conversíveis em ações da
Trikem.
Com relação ao mercado da Trikem, naquele momento, seus produtos de PVC
eram empregados nas indústrias: 5% em Embalagens; 9% em Calçados; 20% em
Laminados; 57% em Habitação e Saneamento; 9% em Outros. Os produtos de soda
cáustica eram aplicados nas indústrias: 3% em Siderurgia, Metalurgia e Mineração;
5% na indústria Têxtil; 3% em Vidros; 12% em Sabão e Detergentes; 17% em
Celulose e Papel; 27% em Alumínio; 19% em Química e Petroquímica; 14% em
Outros. Desses produtos de soda cáustica 49% eram destinados à Ásia; 19% aos
EUA; 17% à América Latina; 8% à Europa; 5% à África; 2% ao Oriente Médio.
Por fim, a integração de pessoas e valores entre as empresas que deram origem
à Trikem foi um desafio à parte. Segundo Guilherme de Abreu (Odebrecht, 1997a,
p.5), responsável naquela ocasião por Planejamento e Organização da Trikem, seria
preciso que essas pessoas assimilassem e praticasse a cultura da TEO. Guilherme
Abreu considerou que a empresa se encontrava em um “estágio inicial avançado,
caracterizado pela exposição e assimilação da TEO" (Abreu, 2007).
Em 1998, a OPP e a Trikem lançaram o Sistema de Gerenciamento Integrado
(SGI). Esse sistema teve o propósito de integrar os setores de Qualidade, Meio
Ambiente, Saúde e Segurança das empresas, simplificando ações que envolvessem
essas áreas e gerando assim melhores resultados.
105
Ainda em 1998, a OPP inaugurou sua terceira fábrica de polipropileno e
aumentou sua capacidade produtiva para aproximadamente 220 mil toneladas/ano.
Essa unidade localizada no Pólo de Triunfo foi construída em regime de aliança com a
Tecnimont e a Tenenge. Em 1999, a OPP inaugurou outra fábrica para produzir
polietileno (Odebrecht, 1999b, p. 18 a 19).
Apesar dos esforços da indústria petroquímica brasileira, sua capacidade
produtiva ainda era pequena se comparada aos números globais do setor. Enquanto a
indústria nacional produzia na época 3 milhões de toneladas por ano, um grande
parque industrial no exterior produzia de 5 a 10 milhões de toneladas de resina por
ano. O caminho para a formação de novas parcerias e aplicações de novas resinas
se confirmou diante desses dados, como nos seguintes exemplos (Odebrecht, 1999c,
p.24 a 26):
Parceria com a empresa mineira Itatiaia Móveis, que produz armários de aço
para cozinha, na substituição do metal pelo polipropileno injetado na parte interna das
gavetas;
Garrafões de 20 litros descartáveis, que dispensam espaço para estocagem e
são recicláveis para a produção de itens que não entram em contato com alimentos e
fármacos;
Mantas de geotêxtil de polipropileno da OPP proteger a tubulação de gás no
trecho de valas em terreno rochoso do gasoduto Brasil-Bolívia;
Parceria com a Profil Indústria e Comércio de Fios para a produção de filamentos
têxteis de polipropileno com a aplicação em tecido para colchões, sofás e outros
móveis;
Tubos de polipropileno desenvolvido pela OPP para sistemas de circulação de
água quente em prédios residenciais e de água gelada em sistemas de refrigeração
para a construção civil;
Nova embalagem de 25kg e 50 kg para cimento desenvolvida a partir de um
polipropileno especial produzido pela OPP.
Para tanto, o desenvolvimento tecnológico da OPP e da Trikem, realizado
fundamentalmente por seus centros de tecnologia, recebeu atenção especial.
Importantes cientistas químicos do país e dos EUA mantiveram relações com essas
empresas. Foram mantidos convênios de cooperação, treinamento e troca de
informações com importantes universidade no Brasil, como a USP, Unicamp, UFRJ
106
etc, e no Brasil, como as de Wisconsin, Colorado e Iowa (Odebrecht, 1998b, p.21). Em
7 anos de atuação, o Centro de Triunfo da OPP, por exemplo, desenvolveu 14 novas
resinas termoplásticas e modificou alguns processos produtivos na empresa.
De igual importância para o desenvolvimento do mercado de resinas, o Centro
Técnico de Serviços (CTS) recebeu aportes em 2000 de R$ 1,5 milhão para ampliação
e modernização do centro. Instalado pela CPC em 1988 junto aos clientes , o centro
inicialmente teve como função desenvolver novos segmentos para a utilização de
PVC. Com o tempo, sua função expandiu para também oferecer a clientes ou
potenciais clientes treinamentos sobre obtenção e aplicação de PVC que variavam de
2 horas a 15 dias. Para a formação de seus profissionais, o CTS firmou parcerias com
universidades, dentre as quais a Universidade Federal de São Carlos, e escolas
técnicas.
Em 2001, o consórcio formado pelos grupos Odebrecht S.A. e Mariani adquiriu
em leilão ações do banco Econômico S.A. Empreendimentos (Esae), passando a
controlar a Copene através de um esquema complexo. Para viabilizar a operação,
foram necessárias articulações jurídico-societárias entre diferentes empresas e
instituições, promover a satisfação das partes interessadas no jogo político e levantar
financiamento de US$ 500 milhões no mercado internacional privado.
A Copene era a maior central petroquímica do Brasil e décima do mundo,
produzindo metade da quantidade de matérias-primas básicas do país. Até aquele
momento, os principais acionistas da Copene foram: Petroquisa com 15,4%; Norquisa
com 58,41%; Previ com 5,82%; Petros com 5,72%; e Outros com 14,65%. Conforme a
figura 4.2, ao comprar o controle da Esae, o consórcio Odebrecht e Mariani passaram
a controlar a Norquisa que, por sua vez, tinha 58,41% das ações da Copene com
direito a voto e, portanto, detinha o seu controle. Por obrigação legal, o consórcio foi
obrigado a comprar ativos do Grupo Protocolo e a transferir suas ações da Proppet à
Conepar.
107
Figura 4.2 – Estrutura acionária da árvore de empresas que controlavam a Copene
Fonte: Odebrecht (2001d, p.15).
As ações para que a Copene fosse adquirida não se resumem a apenas ao dia
do leilão. O resultado desse dia começou a ser traçado quando a Odebrecht adquiriu
seis anos antes o direito de comprar cotas da empresa Intercapital, pertencente à
American Express. A Intercapital possuía 38,16% das ações com direito a voto e
31,92% das ações total da Conepar. Portanto, o direito de compra das ações da
Intercapital deu preferência à Odebrecht na compra dos ativos da Conepar. Quando
então o Governo Federal anunciou em 1997 sua decisão de vender ações dessa
empresa, a Odebrecht exerceu sua preferência e, em 2000, adquiriu as ações que
estavam à venda.
Entretanto, no final de 2000, o Banco Central do Brasil, responsável pela
liquidação do Banco Econômico, colocou em leilão os ativos do Esae. Para possibilitar
a formação de uma empresa petroquímica forte, ss grupos Odebrecht e Mariani se
comprometeram a vender seus ativos de outras empresas do Pólo da Bahia
juntamente com suas ações na Norquisa. O leilão programado para a aquisição das
ações do Esae teria como maior beneficiado o grupo Ultra. O BNDES entendeu que
este grupo seria o indicado para receber seus recursos.
Na primeira tentativa o grupo Ultra ofereceu um preço abaixo do lance mínimo.
Na segunda tentativa, o grupo não compareceu alegando que o preço, já reduzido em
20%, ainda estava alto. Dessa forma, a OSA mudou sua intenção de vendedora de
ativos para interessada em comprar as ações da Esae. A OSA então procurou o grupo
Mariani, pois este possuía bons relacionamentos no Governo para formar um
consórcio de peso. A iniciativa logo causou surpresa no mercado, afetando a posição
do grupo concorrente que então reafirmou seu interesse. Entretanto, no início de 2001,
108
o consórcio Odebrecht e Mariani havia preparado proposta, juntando técnicos do
BNDES e Banco Central, analistas do mercado, sócios minoritários etc. para melhores
explicações sobre suas intenções. Dessa forma, o Banco Central decidiu leiloar ações
apenas do Esae. No dia 25 de julho de 2001 o consórcio Odebrecht e Mariani
conseguiu arrematar as ações do Esae sem lance concorrente.
Depois de adquirir as ações do Esae, o consórcio Odebrecht e Mariani assumiu
indiretamente o controle acionário da Copene. A intenção principal do consórcio foi de
formar uma grande empresa integrando produtos da primeira e da segunda geração. A
Braskem foi o resultado dessa integração de 6 empresas que juntas somavam 7.600
trabalhadores, entre empregados e contratados. As empresas integradas inicialmente
foram:
Copene, central de matérias-primas do Pólo da Bahia – Primeira Geração;
OPP e Trikem, empresas da Odebrecht líderes em termoplásticos e cloro-soda
da América do Sul – Segunda Geração;
Proppet, empresa de produção de PET, controlada pelos grupos Odebrecht e
Mariani – Segunda Geração;
Polialden, empresa controlada pela Conepar e adquirida no leilão do Esae.
Produz polietileno de ultra-alto peso molecular (Utec) com tecnologia 100% nacional
Segunda Geração;
Nitrocarbono, empresa do grupo Mariani produtora de caprolactama, cicloexano,
sulfato de amônio e cicloexanona – Segunda Geração.
Antes da formação da Braskem de fato, os ativos dos grupos Odebrecht e
Mariani foram integrados à Copene para evitar qualquer conflito de interesse. Cada
ativo foi objeto de avaliação independente por bancos de investimento de primeira
linha. No dia 3 de outubro de 2001, os integrantes da Proppet receberam um crachá
provisório, marcando o início da integração de fato entre as empresas citadas acima.
O processo de integração foi considerado uma etapa importante na formação da
Braskem. O primeiro objetivo foi proporcionar transparência ao processo, informando e
eliminando dúvidas. Nesse sentido, foi criada uma comissão formada por
representantes das empresas envolvidas no processo. Uma das primeiras ações da
comissão foi criar um canal para que as pessoas pudessem comunicar suas dúvidas.
Foram estabelecidas contas de correio eletrônico e urnas com essa finalidade e as
respostas foram publicadas no boletim específico “Vamos Viver Essa União”. O
109
boletim foi criado com o intuito de prover uma comunicação comum para os envolvidos
no processo de integração. O segundo objetivo durante a integração foi passar o
sentimento às pessoas de que elas iriam integrar uma empresa mais competitiva.
A integração das empresas trouxe sinergia à Braskem. Um dos exemplos é o
propeno produzido na Copene que, com a integração, deixaria de ser sub-aproveitado
por causa da tecnologia disponível na OPP. A preocupação com cadeia de produção
também passou a ser mais clara.
Também foram promovidos eventos como o I Seminário Braskem de Práticas de
Qualidade, Segurança, Saúde e Meio Ambiente. O objetivo desse seminário foi
apresentar as melhores práticas das empresas que originaram a Braskem.
Já considerando a receita da Copene de R$ 3,4 bilhões, o faturamento da
Braskem começou com R$ 7,4 bilhões. No mercado de polietilenos, a Braskem passou
a deter 30%; a Politeno 12%; a Ipiranga 18%; a Dow 28%; outros 12%. Com relação
ao polipropileno, a Braskem deteve 36% do mercado; a Polibrasil (Suzano) 41%; a
Ipiranga 17%; outros 6%. No mercado de PVC a Braskem passou a deter 51%
enquanto a Solvay 49%.
No dia 16 de agosto de 2002 nasceu a Braskem oficialmente por decisão da
Assembléia Geral dos acionistas da antiga Copene. Juntamente com essa decisão,
vieram as ações que promoveram a integração dos sistemas operacionais e gerenciais
das empresas que formaram a Braskem. Entre os projetos desenvolvidos, os mais
importantes e que começaram a operar a partir de 2003 foram:
O Sistema Integrado de Gestão Braskem (SIGB) integrou processos das áreas
comercial, suprimentos, finanças e recursos humanos. Esse sistema substitui diversos
sistemas do legado das empresas que formaram a Braskem, unificando e
padronizando suas práticas;
Gestão de Carreiras e Competências;
Sistema Braskem de Acompanhamento de Performance (SBAP) foi desenvolvido
para acompanhar o desempenho da empresa. O sistema comporta aproximadamente
500 indicadores de informações gerenciais.
Para dar suporte aos sistemas desenvolvidos, foi implantado um centro de
processamento de dados em Camaçari. Resultado de um investimento de R$ 10
milhões, o centro ficou responsável por 95% dos sistemas críticos da Braskem.
110
Enquanto isso, a Braskem continuou a se expandir. Em 2002, adquiriu da Basell,
na época maior produtora mundial de polipropileno, o negócio de UHMW-PE (Ultra
High Molecular Weight Polyethylene), polietileno de peso molecular ultra-alto - Utec.
Após a aquisição a Braskem passou a ser a segunda maior produtora mundial dessa
especialidade. 90% desse produto eram exportados para os EUA e para a Europa. No
Brasil, seu mercado foi estimulado com parcerias como a realizada entre a Braskem e
a Poly Hi Brasil. Essa parceira visou implantar a utilização do utec nas indústrias de
siderurgia, de mineração, de construção pesada, de transporte de grãos a granel etc.
O desenvolvimento dos mercados de seus clientes também apareceu como uma
estratégia tão importante como desenvolver seus próprios mercados. A Braskem
serviu como avalista na negociação de empresas de médio e pequeno porte com
importadores, garantindo prazo de entrega e especificações combinadas; prestou
assistência a seus clientes para que alcançassem os padrões de qualidade exigidos
internacionalmente através de seu Centro de Tecnologia e Inovação; etc.
A empresa gaúcha Fitesa, por exemplo, passou a exportar tecido de
polipropileno para produção de máscaras médicas com a ajuda da Braskem, que
desenvolveu uma resina especial para esse caso. A Plásticos Jurema também
conseguiu desenvolver o seu negócio a partir de acordo com a Braskem. Seu
faturamento dobrou e a qualidade de seus produtos aumentou. A partir dessas
parcerias, a Braskem pode prospectar clientes no exterior para seus clientes. Ao
desenvolver mercado para eles, a Braskem consegue assegurar fornecimento de seus
produtos para a indústria de transformação.
Ao mesmo tempo em que tecnologias foram adquiridas, novas tecnologias foram
desenvolvidas no centro de pesquisa da Braskem. Após a formação da Braskem, as
iniciativas de pesquisa e desenvolvimento foram concentradas no Centro de Triunfo.
Ao todo foram formados 11 laboratórios de diferentes especialidades, ocupando um
espaço de 3 mil metros quadrados. Com o intuito de desenvolver novos produtos, em
2003, foi criado o Grupo de Estudos da Ciência de Polímeros. O objetivo do grupo é
manter o pessoal de elite do centro sempre atualizado com os conhecimentos da
química.
Ainda em 2003, a Braskem expandiu sua unidade fabril de polpropileno do Pólo
de Triunfo. A produção que se elevou em 100 mil toneladas por ano, totalizou então
uma capacidade de 650 mil toneladas anuais. O caminho da expansão da unidade foi
tomado em detrimento à construção de uma nova fábrica. Segundo Luiz Mendonça,
111
então Líder Corporativo da Unidade de Poliolefinas da Braskem, o custo de uma nova
fábrica com capacidade de produção anual de 300 toneladas do produto em questão
foi de US$ 215 milhões, enquanto que o custo da expansão da unidade existente
custou US$ 7 milhões.
Na medida em que as necessidades de investimentos cresceram, a Braskem
decidiu formular um procedimento de priorização de recursos. O modelo, desenvolvido
pela consultoria Monitor, teve como premissa direcionar os recursos para os projetos
de maior retorno. Mais tarde, desenvolveu um sistema para gerenciar risco. Mas a
gestão de risco nascera da necessidade de gerir as dívidas geradas com os
investimentos na área de petroquímica, principalmente depois da aquisição do Esae.
Com relação às sinergias alcançadas até aquele momento, mais especificamente
meados de 2003, segundo edição da Odebrecht Informa, já acumulavam cerca de R$
240 milhões em economia anual. O valor total estimado foi de R$ 330 milhões anuais
até o fim do processo de integração. Há de se considerar que a Braskem foi fundada a
partir de diferentes empresas que tinham estruturas administrativas próprias. Portanto,
a integração resultou em sobreposição de funções o que deu espaço para redução da
estrutura administrativa herdada das empresas integradas.
Em 2004, a Braskem realizou uma oferta global de ações no valor inicial de US$
300 milhões. O interesse demonstrado pelo público refletiu nas propostas de compra
que superou seis vezes o valor de oferta. A procura foi tão grande que os bancos
responsáveis pela captação lançaram mão da reserva técnica e fecharam a operação
em US$ 422 milhões, sem descontos para quem estivesse comprando. Dois terços do
volume total de ações foram vendidos no exterior e o restante no Brasil. José Olympio,
responsável por Investment Bank do Credit Suisse Investment Banking, “nunca havia
participado de uma emissão tão bem-sucedida em termos de volume, preço, qualidade
do book e com performance tão boa das ações de uma empresa ao longo de todo o
processo” (Odebrecht, 2004e, p. 19).
Em 2005, a Braskem recebeu no Centro de Inovação e Tecnologia de Triunfo
equipamentos para preparação e avaliação de materiais nanocompósitos. Essa área
de conhecimento começou a ser desenvolvida em 2003 a partir de uma parceria
firmada com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e obteve sua primeira
patente de nanocompósito em julho de 2005, 130ª da empresa. O investimento
estimado na época para o lançamento do primeiro nanocompósito de polipropileno foi
de US$ 3 milhões.
112
Não menos importantes foram as plantas pilotos no processo de lançamento de
novos produtos e também de novos processos. A primeira planta piloto surgiu ainda na
época da PPH para produção de polipropileno em 1988, como exigência do BNDES
para a liberação de financiamento. Firmando acordo com a Basell, a PPH optou por
empregar a tecnologia Spheripol para a construção de sua planta piloto. Em 2005, a
Braskem possuía 7 plantas piloto, sendo 6 de polímeros e 1 de catalisadores.
Normalmente as resinas da Braskem passam pelas plantas piloto antes de entrarem
em processos de produção normal.
Em 3 anos de existência, alguns investimentos realizados pela Braskem foram:
Investiu R$ 30 milhões para construir uma incubadora de fabricantes de
equipamentos para suportar a fabricação de copos plásticos de polipropileno na região
de criciúma (SC) em parceria com a Zanatta, quando a maior parte dos copos
fabricados era de poliestireno;
Apoiou o Centro Petroquímico de Pesquisa e Desenvolvimento (Cepped) em
Canoas (RS) para transformação de resinas e de polímeros;
Manteve convênio com a Universidade Federal da Bahia para pesquisar formas
de reduzir poluição e de reaproveitamento da água durante o processo produtivo;
Patrocinou um prêmio anual de inovação no nível de pós-graduação; etc.
Ainda com a intenção de capturar sinergias, a Braskem lançou o programa
Braskem +. O programa se concentrou na integração das 6 empresas e das 13
unidades fabris através de melhores modelos de produção.
Em 2006, com o barril de petróleo perto dos US$ 70, a Braskem passou a ser
procurada para desenvolver biopolímeros produzidos a partir do etanol da cana-de-
açúcar. Como essa tecnologia havia sido utilizada no passado da Braskem, a empresa
passou a identificar outros clientes que tivessem interesse nesse produto e que então
pudesse viabilizar a sua produção em termos de escala e custos.
113
5. Resultado da Análise
Esse estudo trabalhou com a hipótese inicial de que a Odebrecht começou sua
atuação nos negócios de construção pesada e petroquímica como uma empresa
desafiante (Chandler, 1990) e posteriormente a Odebrecht alcançou a condição de
empresa dominante em ambos os negócios. Foi o objetivo, então, dessa dissertação,
investigar:
“Em que medida a Odebrecht desenvolveu capacitações de forma
consistente ao longo de sua trajetória que a fazem propensa à longevidade
saudável?”
“Como as respostas aos desafios do crescimento da Odebrecht ao longo
de sua trajetória podem explicar sua transição de empresa desafiante para
dominante nos dois principais negócios onde ela atua?”
Segundo Chandler (1990), as empresas pioneiras de uma indústria não são
necessariamente as “first movers”. As empresas pioneiras são empresas que primeiro
começaram a atuar em uma indústria. As empresas “first movers” são aquelas que
primeiro fizeram os investimentos necessários em:
Marketing e distribuição no nível nacional e internacional;
Capacidade produtiva;
Recrutamento de pessoas para integrar os níveis de baixa, média e alta
gerência.
As empresas “first movers”, conforme Chandler (1990), rapidamente dominaram
as indústrias onde atuavam e as continuaram dominando por décadas. Salvo algumas
exceções onde empresas desafiantes conseguiram dominar mercado. Entretanto, as
vantagens de ser “first mover” são várias:
Enquanto empresas desafiantes constroem fábricas de tamanho similar às
fabricas das empresas dominantes, estas já estão aperfeiçoando seus processos
produtivos;
Enquanto empresas desafiantes estão desenvolvendo estruturas de vendas e
distribuição nos níveis nacional e internacional, as empresas dominantes já estão
melhorando seus produtos ou desenvolvendo novos produtos segundo as
características de seus clientes;
114
Enquanto empresas desafiantes estão desenvolvendo estrutura gerencial nos
níveis de baixa, média e alta gerência, as empresas dominantes desenvolveram
grande aprendizado dentro dessa estrutura.
A lógica dos investimentos necessários (Chandler, 1990) está relacionada a
empresas industriais. Entretanto, é possível fazer uma aproximação do que seriam os
investimentos necessários no setor de construção pesada. A tabela 5.1. apresenta as
principais características dos investimentos necessários nos setores de construção
pesada e petroquímica.
Tabela 5.1 – Características dos investimentos necessários.
Investimentos necessários Construção pesada Petroquímica
Distribuição e marketing
nacional e internacional
Relacionamento com clientes nacionais e
internacionais
Rede de distribuição nacional e
internacional e construção de plantas
industriais em países estrangeiros
Capacidade produtiva
Base de conhecimento tecnológico para
realizar construções.
Tamanho para ganhos de economia de
escala e escopo
Níveis gerenciais
Formação de níveis gerenciais para
gestão de contratos, gestão de pessoas,
construção de relacionamento com cliente
e direcionamento da empresa.
Formação de níveis gerenciais para
gestão de plantas industriais, gestão de
pessoas, vendas e direcionamento da
empresa.
No setor de construção pesada, não foram coletadas evidências suficientes para
afirmar que a Odebrecht foi uma empresa desafiante, pois não foram coletadas
evidências suficientes para afirmar que existiu uma “first mover” antes da Odebrecht
assumir a liderança na década de 1990.
Na época de Juscelino Kubitschek como presidente do Brasil, a Odebrecht era
ainda uma empresa com atuação regional em obras de médio porte. Enquanto isso,
suas rivais Andrade Gutierrez e Camargo Correa já participavam de grandes obras de
infra-estrutura no país. Em 1976, por exemplo, a Andrade Gutierrez tinha
aproximadamente um pouco mais do que o dobro do tamanho da Odebrecht em
faturamento líquido, no negócio de construção. E a Camargo Corrêa era
aproximadamente quase três vezes maior também em faturamento líquido. O gráfico
5.1 apresenta a evolução do tamanho (participação do faturamento líquido no PIB do
Brasil) da Odebrecht e suas rivais no negócio de construção.
115
Gráfico 5.1 – Indicador de Tamanho de Empresas de Construção
-0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Camargo Corrêa
Andrade Gutierrez
Norberto Odebrecht
Constr. Queiroz
Galvão
Fonte: Quem é Quem... (1970 a 1972); Os Melhores e os Maiores (1973 a 1975); e Gazeta Mercantil
Edições do Balanço Anual;
Considerando apenas os aspectos de tamanho da empresa e capacidade de
gestão de grandes obras no nível nacional e internacional, existem evidências para
sugerir que a Odebrecht realizou investimento em capacidade produtiva tardiamente.
Com relação ao desenvolvimento de níveis gerenciais, não existem evidências
suficientes para concluir se as empresas como a Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez
realizaram tal investimento antes da Odebrecht.
No vel de distribuição nacional, existem evidências que indicam que empresas
de construção pesada como a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez tenham
desenvolvido relacionamento com clientes, principalmente com o governo federal,
antes da Odebrecht. Entretanto, com relação à distribuição no nível internacional, a
Odebrecht começou a realizar esse investimento necessário a partir do final da década
de 1970, na mesma época em que as maiores empresas de construção pesada
iniciaram seus processos de internacionalização.
Atualmente, a Odebrecht é líder em exportação de serviços de construção
pesada no Brasil. Parte de sua liderança entre as empresas de construção pesada do
Brasil se deve ao processo de internacionalização, pois a maior parte de seu
faturamento tem origem no exterior. Portanto, apesar de não existirem evidências
conclusivas, é possível sugerir que a Odebrecht realizou parte dos investimentos
116
necessários tardiamente. Entretanto, o investimento em distribuição e marketing no
nível internacional, que se mostrou mais importante após a década de 1980 quando os
investimentos em infra-estrutura no país diminuíram, foi realizado por grande parte das
empresas do setor simultaneamente, incluindo a Odebrecht. Ao que tudo indica, a
Odebrecht alcançou um melhor posicionamento internacional, inclusive fixando-se nos
Estados Unidos onde nenhuma outra empresa brasileira conseguiu fixar-se.
Na indústria petroquímica brasileira, existem evidências de que não houve
empresa first mover”. A abertura comercial realizada no Governo de Fernando Collor
na década de 1990 deixou à mostra empresas brasileiras fragilizadas e pouco
competitivas no nível internacional. O modelo tripartite e o protecionismo brasileiro
contribuíram para a formação de uma indústria petroquímica com empresas com as
seguintes características: pouco integradas verticalmente; monoprodutoras; pequenas
e, portanto, sem ganhos de escala de produção; sem atuação internacional relevante e
sem plantas instaladas em solo estrangeiro; e investimentos em pesquisa e
desenvolvimento baixos se comparados às maiores empresas estrangeiras.
Em linha com a lógica de gerenciamento empresarial de Chandler (1990), as
maiores empresas petroquímicas estrangeiras como Basf e DuPont investiam na
hierarquia gerencial e no marketing e na distribuição no nível nacional e internacional
anos para fazer uso das vantagens competitivas que a economia de escala
proporciona. No Brasil, não existem evidências para sugerir que empresas
petroquímicas realizaram os 3 investimentos necessários (Chandler, 1990). Pelo
contrário, as empresas brasileiras tinham baixa capacidade produtiva e, portanto,
menores ganhos de escala se comparadas às empresas estrangeiras.
Por outro lado, a partir do Plano de Desestatização Nacional, a complexidade
estrutural da indústria petroquímica brasileira começou a diminuir, num processo de
aquisição de participações da Petroquisa na indústria. Foi justamente nesse momento
que a Odebrecht começou sua trajetória na indústria petroquímica de forma mais ativa,
ao tornar-se responsável em 1993 pela gestão da PPH e a Poliolefinas. Em pouco
mais de 10 anos, através da formação da Braskem em 2003, a Odebrecht se tornou a
maior empresa dessa indústria no Brasil. Inclusive, atualmente o negócio petroquímico
corresponde à 75% do faturamento bruto da empresa. Durante essa trajetória a
Odebrecht iniciou um processo de integração de empresas que resultou em ganhos de
produtividade.
Apesar do investimento em corpo gerencial para comandar essa integração entre
empresas que deram origem à Braskem, a Odebrecht ainda é pequena se comparada
117
às empresas estrangeiras. É necessário investir mais no aumento da capacidade
produtiva para obter ganhos de escala e maior presença internacional, estabelecendo
plantas industriais em solo estrangeiro. Portanto, sugere-se que a Odebrecht iniciou
um processo de realização dos 3 investimentos necessários (Chandler, 1990). Caso
seja bem sucedida nesse processo, a Odebrecht está propensa a se tornar “first
mover” na indústria brasileira.
Mas qual é a explicação para o sucesso da Odebrecht durante essas 6 décadas
de atuação? Um dos objetivos desse estudo foi o de coletar evidências para
determinar em que medida a Odebrecht desenvolveu capacitações para responder
aos desafios do crescimento. De acordo com Fleck (2006), quanto mais capacitações
uma empresa desenvolve e utiliza para responder positivamente aos desafios do
crescimento, maiores são as chances dela alcançar posições de dominância nos
negócios onde atua.
Portanto, a institucionalização (Selznick, 1957) de capacitações na Odebrecht
explicaria não somente como a empresa alcançou posição de liderança nos negócios
onde atua, mas também sugere que a Odebrecht tem desenvolvido uma propensão à
auto-perpetuação.
A seguir serão relatadas as capacitações identificadas a partir das evidências
coletadas sobre a Odebrecht e sua correlação com os desafios do crescimento
propostos por Fleck (2006).
5.1. Desafios do Empreendedorismo
Serviços empreededores (Penrose, 1980) e motivações produtivas (Chandler,
1977) são condições necessárias para a promoção do crescimento contínuo. Existem
evidências que ao longo de sua trajetória de crescimento, a Odebrecht desenvolveu
capacitações em quase todas as dimensões de empreendedorismo. A tabela 5.2
apresenta as principais evidências do desenvolvimento dessas capacitações.
118
Tabela 5.2 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Empreendedorismo.
Período Processo Comentários
Ambição
Versatilidade
Recursos
Financeiros
Julgamento
Expansão
Produtiva
Expansão Nula
1945
Fundação da
CNO
Honrar nome da família e quitar
dívidas através dos 3 pactos.
+ +
1951
Fundação da
Saici
Evidências apontam para a
criação de valor a partir da
exploração da região de Ituberá e
parceria com grandes empresas.
+ + + - +
1963 a
1975
Fundação de
empresas
auxiliares de
construção
pesada
Fundação da Prontoferro, Diferro,
Fengel, Cimentopronto, Silical,
Inorcal, Star e Pedreiras Valéria.
Estímulo ao empreendedorismo.
+ + +
1963
Fundação da
Agrícola
Seringalista
Objetivo de aplicar recursos
derivados dos incentivos fiscais
das leis da Sudene, sendo o
primeiro projeto agrícola
aprovado por esse órgão de
desenvolvimento. Possui
plantações de seringueiras, cacau
e cravo, além de pecuária de cria.
+ +
1965
Fundação da
Agrícola
Contendas
Plantações de seringueiras,
cacau, cravo e dendê, tendo sido
essa empresa pioneira na região
no desenvolvimento de
heveocultura, com processos
racionais e seleção de clones de
alta produção.
+ +
1968 a
1975
Participação em
projetos de
tecnologia
especial
Obras de tecnologia especial no
sudeste do país com Usina
Nuclear de Angra e Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro.
+ + + +
1975 a
2006
Construção de
estruturas
marítimas
Construção de estruturas
marítimas, como plataformas de
produção de petróleo, através da
Prontoferro.
+ + +
119
Período Processo Comentários
Ambição
Versatilidade
Recursos
Financeiros
Julgamento
Expansão
Produtiva
Expansão Nula
1977
Fundação da
Sinart
Construção e exploração do
terminal rodoviário de Salvador.
+ +
1979
Fundação da
Odebrecht-
Harrison
Empresa de mineração em
parceria com a Patrick Harrison &
Co. Ltd do Canadá.
+ + +
1979 a
1990
Fundação da OPL
e aquisição de
plataformas
Empresa de serviço de
perfuração. Em pouco tempo
detinha a maior frota privada de
plataformas do Brasil.
+ + + - +
1983 a
1985
Consolidação
negócio de
construção
Aquisição da CBPO para ter uma
atuação mais nacional e da
Tenenge para prover serviços de
engenharia mais completos.
+ + + +
1983 a
2002
Formação de
empresa
petroquímica
Iniciou com a aquisição de
participações em empresas que
foram adquiridas um década
depois. Culminou com a formação
da Braskem em conjunto com o
Grupo Mariani.
+ + + + - / +
1988
Aquisição da
CMW e STL
Empresas do setor de
informática. Acreditou-se ser um
setor de grandes oportunidades.
+ +
1979 a
2006
Expansão
internacional
Expansão a países na América
do Sul, Oriente Médio, África,
Europa e América do Norte,
incluindo Estados Unidos e
Alemanha.
+ + + + +
1995 a
2000
A fundação das
empresas Stela
Telecom, OSI,
Veracel, CCR e
Itasa
Expansões oportunistas.
+ +
A seguir, cada capacitação empreendedora desenvolvida pela Odebrecht será
descrita com maiores detalhes.
120
a) Ambição
Segundo a TEO (Odebrecht, 2006d), o empresário nunca se satisfaz com os
resultados obtidos. “A coragem de agir que caracteriza o espírito do empresário” o
conduz a uma constante pesquisa para melhorar o que existe. “O reinvestimento
permanente, realizado de modo equilibrado e com segurança, gera novas
oportunidades de trabalho, melhores e maiores riquezas na comunidade, bem como a
criação de empresas mais fortes e dinâmicas.” (Odebrecht, 2006d). Em linha com a
TEO, Antônio Bragança, líder na área de tecnologia da Braskem, declarou que a
Odebrecht tem como característica reinvestir os lucros, “ela tem uma postura de
expansão” (Bragança, 2007). Da mesma forma, Climério Brito (Brito, 2006), gerente de
RH da Braskem e ex-Copene, notou na época da aquisição da Copene que a
Odebrecht possuía coragem, ambição e arrojo necessários para executar o processo
de criação da Braskem.
De acordo com a TEO e testemunhos como os relatados acima, a Odebrecht
possui ambição como uma de suas características. O tipo de ambição que Penrose
(1980) classificou como a busca por rentabilidade e crescimento da empresa. De fato,
existem evidências ao longo da trajetória da Odebrecht que sugerem a forte presença
da ambição a partir da década de 1960. O gráfico 5.2 corrobora essa hipótese. A
empresa deixou uma participação de 0,14% do faturamento líquido no PIB do Brasil
em 1975, para ter uma participação de quase 1% no PIB do Brasil em 2005. Ou seja,
um crescimento de quase 7 vezes seu tamanho a partir de 1975. Se compararmos
com o indicador de tamanho da CNO, pode-se perceber que a Odebrecht cresceu de
tamanho a partir de outros negócios além de construção, como perfuração, mineração
etc. Em 2005, o negócio de construção correspondeu a aproximadamente 30% do
faturamento líquido da Odebrecht.
121
Gráfico 5.2 – Indicador de Tamanho da Odebrecht e da CNO
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
197
3
1974
1975
1976
1
97
7
1
97
8
197
9
198
0
1981
1982
1
98
3
1
98
4
1
98
5
198
6
1987
1988
1
98
9
1
99
0
1
99
1
199
2
1993
1994
1995
1
99
6
1
99
7
199
8
199
9
2000
2001
2
00
2
2
00
3
2
00
4
OSA
CNO
Fonte: Relatórios Anuais da Odebrecht
O gráfico, entretanto, apenas sugere em números a ambição da Odebrecht por
crescimento. A primeira evidência da insatisfação por resultados vigentes e que marca
o início da busca da Odebrecht por crescimento foi a fundação da Saici. Apesar dessa
expansão, segundo Norberto Odebrecht, ter sido fracassada, a Odebrecht seguiu
buscando seu caminho para o crescimento. Como uma das lições decorrentes desse
episódio, Norberto declarou que “é preciso aprender a distinguir claramente
crescimento de inchamento. Quando o crescimento dos meios (burocracia,
organograma, equipamentos, instalações) não leva a um conseqüente crescimento
dos resultados, a organização está em perigo.” (Costa, 2004, p. 280).
A partir da década de 1960, a empresa iniciou então dois processos de
crescimento. O primeiro foi a fundação de empresas auxiliares para a construção
pesada: Prontoferro, Diferro, Fengel, Cimentopronto, Silical, Inorcal, Star e Pedreiras
Valéria. Essas eram empresas que se especializaram a princípio em dobragem de
aço, transporte de concreto, centralização de pedido de aço, moagem de calcário etc.
Foram empresas que
“Poderíamos tê-las mantido sob a forma de "Departamentos" da própria Construtora,
mas isto certamente impediria o processo de livre ão e concorrência de seus
executivos, além de não nos trazer o que tanto necessitávamos: organizações
coligadas mas não condicionadas operacionalmente; era necessário que elas
próprias conhecessem a livre concorrência, o atendimento a outros clientes e assim
formassem a mentalidade empresarial indispensável ao nosso desenvolvimento.”
(Odebrecht, 1970, p. 11)
122
O outro processo foi a entrada, dentro do próprio negócio de construção pesada,
no segmento de obras de tecnologia especial. Segundo Norberto Odebrecht, a entrada
em tal segmento significava uma oportunidade de expandir suas operações para o
resto do país e, então, participar de obras de maior importância no nível nacional. “Nos
últimos anos da década de 60 as condições do mercado regional não eram
suficientemente favoráveis para comportar a taxa de crescimento que a Construtora
desejava manter.“ (Odebrecht, 1978a, p. 4).
A partir de então, passou a ser evidente a busca acentuada da Odebrecht pelo
crescimento. No final da década de 1970, foi explícita essa intenção no primeiro
planejamento estratégico formal da empresa. Foram estabelecidas formalmente três
frentes de crescimento: consolidação do negócio de construção pesada, diversificação
de negócios e atuação internacional. Nas décadas seguintes, as ações tomadas pela
Odebrecht estiveram em consonância com o que fora planejado. A aquisição da CBPO
e da Tenenge, como forma de consolidar o negócio de construção pesada; a
diversificação para negócios de perfuração com a OPL, mineração com a Odebrecht-
Harrison, petroquímica que culminou com a formação da Braskem; e a
internacionalizão, um processo que levou a Odebrecht a países como EUA e
Alemanha.
As evidências de expansões realizadas pela Odebrecht indicam uma preferência
pela abordagem de crescimento e aumento de rentabilidade no longo prazo. Mesmo
na indústria petroquímica sua intenção foi de promoção de crescimento. Os altos
investimentos realizados na OPP e na Trikem durante a década de 1990 sugerem a
realização de planos de longo prazo no setor. No gráfico 5.3, os indicadores negativos
da Odebrecht nessa década são possivelmente resultantes desses investimentos.
Portanto, existem poucas evidências de que a Odebrecht buscou ganhos de
rentabilidade passageiros. Talvez a fundação da Agrícola Seringalista e Agrícola
Contendas se enquadre nessa categoria, mas por falta de maiores informações não foi
possível determinar a motivação para a entrada da Odebrecht em tais negócios.
123
Gráfico 5.3 – Indicador de Desempenho da Odebrecht e da CNO
-0,06
-0,04
-0,02
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
0,14
1973
1974
1
9
7
5
1976
1977
1
9
7
8
1979
1980
1
9
81
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2
0
0
4
2005
OSA
CNO
Fonte: Relatórios Anuais da Odebrecht
Baseado nessas evidências coletadas, é possível afirmar que a ambição é uma
capacitação que a Odebrecht desenvolveu de forma consistente ao longo de sua
trajetória.
b) Versatilidade
Versatilidade está relacionada diretamente com visão e imaginação (Penrose,
1980). Essas capacitações são evidenciadas quando a empresa demonstra
capacidade de promover novos caminhos para o crescimento e empregar novos
serviços a recursos já existentes. Em linha com esses conceitos, a TEO (Odebrecht,
2006d) coloca que “o homem dotado do verdadeiro espírito empresarial está sempre
insatisfeito com os resultados recém-obtidos, o que o estimula a pesquisar,
continuamente, novas maneiras de colocar sua criatividade a serviço da melhoria dos
resultados”. A criatividade, por sua vez, é condição necessária para que a empresa
seja bem sucedida no processo de busca por novas formas de servir melhor ao
cliente, reinvestindo os resultados obtidos.
Segundo Norberto Odebrecht, a característica de servir ao cliente e satisfazê-lo
foi estabelecida a partir do episódio da Saici. Entretanto, existem evidências da
124
manifestação dessa característica antes, quando foram estabelecidos os 3 pactos.
Nesse momento foram designadas novas funções aos mestres-de-obra, permitindo
que estes assumissem maior autonomia de decisão nas obras. Igualmente importante
foi a introdução de novas técnicas de construção que promoveram maior
produtividade. Essas duas inovações, por sua vez, permitiram que a Odebrecht
realizasse mais obras em menos tempo, entregando aos seus clientes, então, o
benefício de obras com prazos menores. Portanto, a simples consciência sobre a
necessidade de servir ao cliente demonstra a importância do aprendizado resultante
do ocorrido com a Saici.
A Odebrecht buscou novamente a expansão de forma mais intensa a partir da
segunda metade da década de 1960. Novos serviços e produtos foram criados a partir
das fundações de empresas auxiliares de construção. Dessas empresas surgiram os
negócios de mineração e construção de plataformas. Ao mesmo tempo, a Odebrecht
também manteve relacionamentos de longo prazo com seus clientes, como o Governo
da Bahia, Petrobrás e Sudene. Desses relacionamentos surgiram no final da década
de 1970, com a Petrobrás por exemplo, os negócios de perfuração de poços de
petróleo e construção de plataformas, esse último já citado. Outro cliente com o qual a
Odebrecht mantém vínculos há muitos anos é Angola. Há quase 20 anos, a Odebrecht
começou sua atuação no país com a construção da hidrelétrica de Luanda, e no
decorrer dos anos foi convidada a entrar até em negócio de exploração de
diamantes (Abreu, 2007).
Essas últimas evidências sugerem a infusão na empresa do valor de servir
melhor aos clientes. Entretanto, a entrada nos negócios de perfuração e de construção
de plataformas também sugere que a atividade de construção foi um meio de
prospecção de novos negócios. Segundo Guilherme Abreu, “a construtora é uma fonte
geradora de oportunidades”, pois “a construção tem uma diversidade de assuntos”
(Abreu, 2007). A Sinart, por exemplo, foi uma empresa fundada em 1979 para
construir e operar a rodoviária de Salvador. Quase duas décadas depois, a Odebrecht,
juntamente com outras empresas, fundou a CCR para operar concessões de rodovias
e também ter a oportunidade de construí-las.
Além das iniciativas de diversificação citadas, a Odebrecht passou a atuar no
nível nacional em construção quando começou a participar de obras de tecnologia
especial, como a Usina Nuclear de Angra e o Aeroporto do Rio de Janeiro. De acordo
com relatos, a região do Nordeste não oferecia condições para que a empresa
crescesse nesse negócio. Para Norberto Odebrecht, participar dessas obras significou
125
alcançar a liderança no segmento e desenvolver a base tecnológica da empresa. “São
as obras de tecnologia complexa que nos dão a liderança e essa posição de destaque
que, no fundo, é o que nos interessa.” (Palavras de Norberto quando eleito homem
de Construção 1974 pela revista "O Empreiteiro", Odebrecht, 1975b, p.5).
Até a década de 1970, a Odebrecht realizou basicamente um crescimento
orgânico (Penrose, 1980). Ao mesmo tempo em que foram iniciados novos caminhos
para o crescimento, novos serviços a recursos existentes foram empregados.
Apesar de tal processo já estar ocorrendo, no final dessa década, a Odebrecht
explicitou em seu planejamento estratégico os três caminhos para o crescimento que
ela já estava trilhando: diversificação de produtos, intensificação de sua atuação
nacional e internacionalização. Provavelmente, esse planejamento estratégico teve
como objetivo intensificar suas iniciativas para um crescimento mais acelerado.
De fato, a partir da década de 1980, a Odebrecht optou por seguir um caminho
de crescimento através de aquisições. Nesse período, a Odebrecht cresceu de forma
mais acentuada, conforme apresentado na figura 5.3. Primeiro veio a compra da
CBPO. Essa aquisição lhe deu acesso a um seleto grupo de empresas com
experiência nas grandes obras que aconteceram no país até aquele momento, como
por exemplo, grandes estradas e hidrelétricas. Os títulos da CBPO foram, portanto,
importantes para que a Odebrecht aumentasse seu escopo de atuação para obras de
maior complexidade e maiores retornos, consolidando sua posição no setor de
construção pesada.
A aquisição da CBPO significou a aquisição de novos recursos, e uma
oportunidade da Odebrecht empregar novos serviços a esses recursos. Até aquele
momento, a CBPO foi uma empresa de poucas obras. Ao incutir os valores de
delegação e autonomia nessa empresa, a produtividade da empresa cresceu,
aumentando o número de obras realizadas ao mesmo tempo.
Com a aquisição da Tenenge, novamente a Odebrecht teve a oportunidade de
servir melhor aos seus clientes. Com essa aquisição, a Odebrecht pôde oferecer
serviços mais completos de engenharia, como quando participou na construção da
Usina de Carajás e a Tenenge ficou responsável por 75% da montagem.
Outro caminho para o crescimento seguido pela Odebrecht foi a
Internacionalização. A partir de 1975, a Odebrecht começara a buscar contratos na
África e Oriente Médio e no final dessa década fechou dois contratos, no Peru e no
Chile. Em 1988, a Odebrecht adquiriu a BPC. De fato, a expansão internacional foi um
caminho traçado pela maioria das construtoras durante a década de 1980. O governo
126
através do seu relacionamento com outros países e do oferecimento de fontes de
recursos financeiros, também foi condição necessária à essa expansão internacional
dessas empresas. A princípio não se pode dar crédito à OSA além de ter conseguido
sua quota de participação nos projetos de construção pesada no exterior. Inclusive, na
época da aquisição BPC, a Andrade Gutierrez também efetuou uma aquisição de uma
construtora em Portugal.
Entretanto, a forma como a Odebrecht conduziu esse processo de
internacionalizão merece mais atenção. A BPC, por exemplo, passava por um
momento crítico ao ser comprada, quando então passou a realizar sua gestão
segundo os valores da OSA. Os salários e dívidas foram todos saldados e funcionários
experientes que saíram anteriormente por causa da difícil situação pela qual a BPC
passara, retornaram. Em apenas dois anos, a carteira de contratos da BPC cresceu de
U$ 20 milhões em 1988 para U$ 150 milhões em 1990. A Odebrecht também começou
a operar nos EUA na década de 1990 ao iniciar obras no aeroporto internacional de
Miami e no metrô suspenso dessa mesma cidade. Talvez a Odebrecht seja a única
construtora nacional a manter atividades regulares nesse país. Hoje,
aproximadamente 75% do faturamento do negócio de construção vêm de fora do
Brasil.
Outro caminho para o crescimento que surgiu a partir das atividades de
construção foi o da petroquímica. Com o início de sua participação na CPC, a
Odebrecht iniciou um processo que levou cerca de 15 anos para começar a se
solidificar. Durante esse tempo, a Odebrecht aprendeu sobre a indústria. Talvez tenha
sido um período importante, visto que a Odebrecht não participara do momento de
crescimento dessa indústria.
A indústria petroquímica nasceu a partir de um modelo tripartite, que a princípio
ajudou a desenvolver os vários projetos de pólos petroquímicos no país. Entretanto, foi
um modelo que deixou a indústria muito fragmentada, com empresas fabricantes de
um produto, pequenas e sem economias de escala e, principalmente, sem
competitividade internacional. Por muito tempo, essa indústria sobreviveu devido ao
protecionismo do Estado. Entretanto, essa situação estava mudando.
Na década de 1990, a Odebrecht adquiriu totalmente as empresas nas quais ela
já possuía participação acionária. Depois promoveu processo de integração entre
essas empresas, melhorando a produtividade através da sinergia entre elas. Anos
depois, com a formação da Braskem, a Odebrecht mais uma vez promoveu a busca
de produtividade ao integrar empresas de diferentes origens.
127
Portanto, existem evidências que, ao longo de sua trajetória, a Odebrecht buscou
continuamente novos caminhos para o crescimento. Oportunidades de negócios como
a construção de plataformas, perfuração de poços de petróleo e entrada na
petroquímica surgiram e a empresa desenvolveu um hábito de entrar em tais
negócios. Ao mesmo tempo, existem evidências também que a Odebrecht empregou
novos serviços a recursos existentes quando a empresa buscou principalmente
aumentar a produtividade nas empresas adquiridas. Inclusive, segundo Guilherme
Abreu (Abreu, 2007), a Odebrecht tem maior interesse em negócios onde a empresa
possa contribuir para a melhoria da produtividade. Concluindo, existem evidências
suficientes que indiquem a Odebrecht como uma empresa versátil.
c) Recursos Financeiros
A capacidade de captação de recursos financeiros não é a mesma em empresas
de tamanhos diferentes. Empresas menores têm dificuldades maiores em obter
financiamentos para investimentos (Penrose, 1980). No entanto, a Norberto Odebrecht
foi hábil quando obteve financiamento necessário para prolongar as atividades da
empresa de seu pai ao promover os três pactos. O pacto que foi realizado com os
banqueiros naquela época significou a oportunidade de continuar a construir e ao
mesmo tempo pagar as dívidas contraídas pela empresa de seu pai.
A fundação da Saici também demonstrou capacidade de financiamento. Mesmo
sem ser uma firme de expressão nacional, a Odebrecht envolveu parceiros como a
Firestone e o Grupo Matarazzo para viabilizar as operações da Saici. Até mesmo
hidrelétrica foi construída nesse empreendimento.
No começo da década de 1970, a Odebrecht fundou empresas auxiliares ao
negócio de engenharia e começou a realizar obras de tecnologia especial. Essa foi
uma época difícil quando as obras sofreram atrasos em . pagamentos. Justamente
quando a empresa começou a trabalhar com projetos de construção mais complexos
com necessidades de financiamento maiores. Para organizar a questão financeira, a
CNO contratou um experiente recurso humano que ficou responsável pelas finanças
da empresa. Logo depois, a CNO conseguiu financiamentos e lançou debêntures no
mercado para captar recursos financeiros.
Essa captação também foi importante para financiar a compra da primeira
plataforma de perfuração Norbe I da OPL. Segundo relatos, essa plataforma
corresponde à metade do capital da Odebrecht na época. Nessa mesma época, a
empresa realizou outro grande investimento que foi a compra da CBPO.
128
A partir da metade da década de 1990, a Odebrecht novamente começou a
realizar grandes investimentos. Dessa vez o objetivo foi consolidar sua posição no
setor petroquímico que, até então, limitara-se a participações em empresas da
indústria. A Odebrecht captou recursos no mercado para promover integração e
crescimento nas empresas adquiridas. Ao mesmo tempo, desfez-se de sua
participação em empresas como a Veracel, CCR etc. O custo financeiro de suas
dívidas eram muito altos. Conforme gráfico 5.3, os lucros da Odebrecht foram
negativos devido à esse custo.
Entretanto, mesmo com o alto nível de endividamento que possuía, a
Odebrecht entrou no leilão da Copene. Nesse episódio, a Odebrecht mostrou
habilidade ao envolver o Grupo Mariani em um processo político e complexo de
aquisição da Copene. Também investidora nessa indústria, com o seu ingresso, o
Grupo Mariani trouxe maior credibilidade para garantir financiamento na compra da
Copene. Até mesmo o porte da Braskem favoreceu melhores captações financeiras no
mercado. Segundo Antônio Bragança, “a Odebrecht aumentou a vida, mas também
tinha os ativos maiores. E aí conseguiu a credibilidade do mercado e da própria
Petroquisa de vender o projeto da Braskem como uma empresa grande de porte
internacional e que pudesse competir”. (Bragança, 2007)
A partir de então, a então Braskem realizou uma série de captações
financeiras, como quando aumentou seu capital de forma bem sucedida em 2004,
para estabelecer um perfil de dívida mais saudável. Isso rendeu ao então CFO da
Braskem, Paul Altit, um reconhecimento atribuído pela revista Latin America como um
dos CFO mais lembrados da América Latina.
Portanto, existem evidências suficientes de que a Odebrecht desenvolveu a
capacitação em captar recursos financeiros ao longo de sua trajetória. Seja quando foi
preciso captar recursos no mercado financeiro. Seja quando foi preciso vender ativos
menos prioritários. Seja até mesmo quando foi preciso formar parcerias em
determinadas operações, como no caso da Mariani. A Odebrecht utilizou-se de
ferramentas disponíveis para permitir seu crescimento.
Com relação à formação de parcerias, a TEO (Odebrecht, 2006d) relata que “a
cooperação com outras empresas pode revelar-se decisiva, diante do propósito de
assegurar a satisfação dos clientes”. As evidências relatadas aqui demonstraram que
as parcerias foram não importantes para essa satisfação, mas também para
viabilizar financeiramente determinados negócios.
129
A TEO (Odebrecht, 2006d) também relata a importância de desenvolver a
imagem da empresa, como forma de obter “recursos livres, no caixa, prontos para
serem reinvestidos pela Organização”. Apesar dessa característica estar explicitada
como uma forma de impulsionar as vendas da empresa, ela está em linha com a
noção de gerar confiança no mercado, incluindo os investidores.
d) Julgamento
Julgamento como um serviço empreendedor tem a ver com a habilidade de a
empresa avaliar os riscos e incertezas envolvidos no crescimento da empresa e,
então, buscar meios de evitá-los (Penrose, 1980). Existem evidências de que a
Odebrecht começou a explicitar a necessidade de desenvolver essa capacitação a
partir do episódio da Saici. Para Norberto Odebrecht, uma das lições decorrentes foi
que “a proximidade do entusiasmo, que permite e propicia a ação corajosa, sem o
distanciamento que permite a ação isenta do todo, acaba resultando no que os
estrategistas chamam de fuga para a frente, ou seja, no envolvimento cada vez maior
em um curso de ação sem desfecho claramente definido.” (Costa, 2004).
Entretanto, não existiram claras evidências com relação ao tratamento dos riscos
inerentes ao crescimento até o final da década de 1970. Por exemplo, durante o
crescimento acelerado proporcionado pelas obras de tecnologia especial no sudeste
do Brasil, a Odebrecht teve dificuldades financeiras porque não tinha experiência em
gestão de projetos com graus de complexidade maiores. Quando atuava somente
regionalmente no Nordeste, o nome Norberto Odebrecht era suficiente para solucionar
os problemas de ordem financeira. Entretanto, com o aumento de complexidade e de
endividamento dos projetos de obras especiais, qualquer atraso nos recebimentos
acarretava grandes problemas financeiros. Segundo Emílio A. Odebrecht, os
problemas “que ocorriam em Angra, no aeroporto, todas essas obras dando prejuízo e
entendia perfeitamente que o que estava acontecendo era que a filosofia Odebrecht
não estava sendo aplicada” (Odebrecht, 1985c, p. 32). Portanto, os problemas
financeiros apresentados nessas obras evidenciam exposição ao risco sem
mecanismos para evitá-los. Apesar disso, houve a preocupação de entender os
problemas que ocorreram e contorná-los.
Anos depois, a compra da plataforma Norber 1 foi novamente uma forte
evidência de exposição ao risco. A compra dessa plataforma foi baseada em
premissas que não se confirmaram, além de representar um investimento de metade
do capital da empresa na época e um dos maiores financiamentos realizados por uma
130
empresa privada no exterior. A conseqüência disso foi que a empresa operou durante
3 anos com resultados negativos. Segundo Sylvio Tude, Líder da OPL na época,
“desde o segundo semestre de 1979 até o início de 1981, nós enfrentamos o grande
desafio de assegurar a sobrevivência da empresa, o que representou um esforço para
Odebrecht." (Odebrecht, 1985c, p. 42).
A Odebrecht começou a atuar diferente com a compra da CBPO. Dessa vez a
empresa agiu de tal forma que talvez tenha minimizado os riscos de aquisição da
CBPO. As duas empresas participaram juntas na obra do Aeroporto Internacional do
Rio de Janeiro. Depois foi comprada uma participação, quando então o próprio Emílio
A. Odebrecht mudou-se para São Paulo para aprender sobre a empresa. Então,
finalmente a Odebrecht adquiriu o direito de gestão da CBPO.
Na petroquímica, o processo se assemelhou na medida em que a Odebrecht
promoveu um período de aprendizado sobre a indústria e sobre as empresas que
foram adquiridas. Até mesmo indicou membros da Odebrecht para participar do
conselho de administração de empresas nas quais possuía participação. Foi um
processo que levou aproximadamente 15 anos. Entretanto, quando a Odebrecht
iniciou seu processo de aquisição de petroquímicas na metade da década de 1990, a
empresa contraiu grande dívida. Segundo Antônio Bragança, o lucro “era devorado
pelo custo financeiro” (Bragança, 2007). O risco financeiro provavelmente foi grande.
Mas difícil de avaliar o grau desse risco e o quanto ele ameaçou a existência
continuada da Odebrecht. Por outro lado, ainda segundo Antônio Bragança, houve
muitos boatos dentro da OPP de que a empresa ia quebrar, era só questão de tempo.
Portanto, existem evidências de que a Odebrecht não desenvolveu de forma
consistente a capacitação de julgamento para minimizar riscos ao longo de sua
trajetória.
e) Expansões Produtivas com Mecanismos de Reforço
Existem evidências de que a Odebrecht buscou continuamente a melhor
utilização de seus recursos a partir de sua capacitação de versatilidade (Penrose,
1980). Essa busca em diversas ocasiões gerou o desequilíbrio (Fleck, 2003) suficiente
para provocar expansões produtivas (Chandler, 1977). A busca pela produtividade foi
herdada da época de Emílio Odebrecht. Um episódio que ilustra bem a característica
nessa época foi sobre a proposta para a construção da ponte Buarque de Macedo em
Recife. A empresa de Emílio propôs um preço bem abaixo das concorrentes, pois ele
131
considerara em seu projeto a existência da antiga ponte que seria demolida como
suporte.
O primeiro episódio que demonstra a continuidade por essa busca pela melhor
utilização de recursos na Odebrecht foi a diminuição do tempo de construção de
edifícios e o aumento do número de obras com a implementação dos pactos. Usando-
se de versatilidade, a Odebrecht empregou novos serviços aos mestres-de-obra.
Segundo a TEO (Odebrecht, 2006d), a produtividade é uma condição necessária para
promover a sobrevivência dentro da lógica Sobreviver, Crescer e Perpetuar. Conforme
foi descrito anteriormente, o empresário da Odebrecht deve buscar sempre a
produtividade. Entretanto, resultados excepcionais, obtidos graças à força das
circunstâncias, são insatisfatórios”. Considera-se produtividade a partir dos resultados
obtidos na linha operacional. Portanto, pelo menos segundo a TEO (Odebrecht,
2006d), a produtividade traduz-se em resultados obtidos continuamente a partir do
desempenho da própria empresa. Essa noção está em linha com o conceito de
mecanismos de reforço, na medida em que a produtividade simboliza um benefício
contínuo e não uma oportunidade passageira.
As primeiras expansões com motivações produtivas foram as que deram origem
às empresas Prontoferro, Diferro, Fengel, Cimentopronto, Silical, Inorcal, Star e
Pedreiras Valéria. Embora elas tenham sido realizadas com o intuito de assegurar a
estabilidade do suprimento de matéria-prima necessária às obras, essas expansões
também tiveram o objetivo de proporcionar maior produtividade para a produção
desses materiais e, portanto, reduzir o custo final da obra, o que é característico de
expansões produtivas. Entretanto, mais do que garantir produtividade, “era necessário
que elas próprias conhecessem a livre concorrência, o atendimento a outros clientes e
assim formassem a mentalidade empresarial indispensável ao nosso
desenvolvimento” (Odebrecht, 1970, p. 11).
Sob a ótica dos motores de Fleck (2003), a fundação das empresas de
fornecimento de matérias-primas foram do tipo diversificação relacionada, conforme
apresentado na figura 5.1. Iniciou com a necessidade de organizar melhor as
atividades de fornecimento e a existência de recursos subutilizados. O desequilíbrio
operacional levou às expansões citadas, gerando mecanismos de reforço ao
crescimento contínuo. Ao fundar novas empresas, a Odebrecht gerou folga de
recursos humanos e produtivos para atender à demanda de novos mercados, além de
promover a formação de novos empresários.
132
A Cimentopronto, por exemplo, poucos anos depois construiu novas usinas e
dosadoras para atender à demanda de concreto que cresceu durante a instalação do
pólo petroquímico de Camaçari. A Prontoferro, além de haver adquirido a Metalúrgica
Ramos para diminuir os custos do aço, também deu origem ao negócio de construção
de plataformas. Essas novas expansões demonstraram a continuidade do motor do
crescimento contínuo.
Figura 5.1 – Motor do Crescimento Contínuo: Diversificação Relacionada.
Outro exemplo foi quando a Odebrecht passou a prospectar petróleo. Com a
criação da Petrobrás, a Odebrecht passou a realizar serviços, no início da década
de 1970, de prospecção sísmica e investigação geotérmica dos campos de Garoupa e
Pargo, no litoral do Estado do Rio de Janeiro. Nessa expansão produtiva, pôde-se
verificar uma segunda instância do motor do crescimento do tipo diversificação
relacionada (Fleck, 2003), conforme apresentado na figura 5.1. A partir de um
desequilíbrio resultante de recursos subutilizados na Odebrecht e de demanda
insatisfeita por serviços relacionados à engenharia, mais específicos à extração de
petróleo. Então houve a criação desses serviços, gerando a expansão. E como
mecanismo de reforço, aumentou a folga desses serviços na medida em que mais
recursos humanos da empresa ganharam experiência nisso. Anos mais tarde, a
fundação da OPL demonstrou a continuidade dessa segunda instância do motor do
crescimento.
No próprio setor de construção pesada, existiu fortemente uma orientação para a
participação em obras que promovessem o aumento da base de conhecimento da
empresa. Dessa forma, a Odebrecht estaria capacitada a participar de outras obras de
igual importância técnica. As obras especiais realizadas no final da década de 1960 e
início de 1970 foram um exemplo disso. Além de significarem o avanço para o sudeste
do Brasil, a iniciativa teve como objetivo gerar ganho de conhecimento. Segundo
Norberto Odebrecht, "são as obras de tecnologia complexa que nos dão a liderança e
essa posição de destaque” (Odebrecht, 1975b, p.5).
133
A aquisição da CBPO foi uma nova iniciativa para aumentar a base de
conhecimento e títulos da Odebrecht em obras pesadas. Segundo Roberto Campos,
integrante da OSA, a aquisição da CBPO “foi fundamental para que passássemos a
ser vistos, nacionalmente, como uma grande construtora de centrais elétricas”
(Odebrecht, 2001e, p. 35). Essa aquisição de fato projetou o escopo de atuação da
OSA a nível nacional.
Em contra partida, a Odebrecht contribuiu para o desenvolvimento da gestão de
projetos da CBPO, aumentando sua produtividade ao aumentar o número de obras
realizadas pela empresa. Além disso, segundo Getúlio Giacóia, responsável pela
CBPO no Brasil em 1995, afirmou que “a delegação planejada possibilitou o
desenvolvimento da empresa, nesses 15 anos, porque gerou oportunidade de
desenvolvimento para as pessoas” (Odebrecht, 1995b, p.27).
Com a aquisição da Tenenge, outra expansão produtiva, a OSA pôde oferecer
serviços mais completos de engenharia, como quando participou na construção da
Usina de Carajás e a Tenenge ficou responsável por 75% da montagem. Além disso, a
Odebrecht também pôde aprofundar seu relacionamento com a Petrobrás e oferecer
montagem de equipamentos nas suas plataformas.
A Bento Pedroso também foi uma expansão produtiva. Através dessa aquisição,
a Odebrecht abriu oportunidades para participar de obras em Portugal e na África.
Portanto, essa aquisição foi um grande reforço para a expansão internacional da OSA.
Além disso, a integração com a Odebrecht fez a BPC ser mais eficiente e crescer.
As expansões da CBPO, Tenenge e BPC formaram o motor de crescimento
horizontal (Fleck, 2003), conforme demonstrado na figura 5.2. O desequilíbrio foi
formado por alguma vantagem competitiva da Odebrecht que resultou então na
aquisição dessas empresas. No caso da CBPO, a Odebrecht tinha o dobro do seu
tamanho em faturamento líquido na época da aquisição. Além disso, a gestão da
CBPO estava enfraquecida porque seu fundador falecera. Com a integração entre as
duas empresas, a base de conhecimento e de títulos da Odebrecht aumentou. Da
mesma forma, aumento a disponibilidade e uso de vantagens competitivas nas duas
empresas.
134
Figura 5.2 – Motor do Crescimento Contínuo: Horizontal.
Outro caminho de expansão foi na indústria petroquímica. Após um período de
14 anos desde sua primeira incursão no setor petroquímico na participação do modelo
tripartite da CPC, a Odebrecht consolidou-se no setor ao adquirir o controle acionário e
de gestão das empresas PPH, Poliolefinas, Salgema e CPC. Apesar de serem
negócios não relacionados com a construção, essas expansões tiveram motivações
produtivas. Desde o início de sua participação nesse setor, a Odebrecht demonstrou
intenção em torná-las mais competitivas. A PPH e a Poliolefinas, que eram duas
empresas fabricantes de produtos da mesma geração e complementares, deram
origem à OPP. E a CPC e a Salgema deram origem à Trikem, integrando a cadeia de
produção de PVC. Essa integração entre empresas tornou-as mais produtivas. O
esforço de venda muitas vezes foi realizado em conjunto. E outro fator igualmente
importante foi o investimento integrado em tecnologia de inovação de processo e de
produto. Inclusive, a inovação passou a ser um fator fundamental para a
competitividade e crescimento dessas empresas.
Por último a Odebrecht adquiriu a Copene e teve oportunidade de integrar a
cadeia produtiva entre a primeira e a segunda gerações de produtos petroquímicos.
Os ganhos com a sinergia foram estimados em R$ 330 milhões anuais. Essa
integração entre empresas criou também uma empresa mais forte, com oportunidade
de criar economias de escala, e principalmente, com todas as vantagens que o
tamanho (Penrose, 1980) proporciona. A partir de então, a empresa tornou-se mais
competitiva internacionalmente e também “registrou-se aumento, no conjunto das
empresas integradas, da receita bruta, das exportações, do lucro e da produtividade.”
(Odebrecht, 2004e, p. 12-13)
Novamente o motor de crescimento horizontal (Fleck, 2003) surgiu como uma
nova instância, conforme representado na figura 5.3. O desequilíbrio aconteceu a
partir de alguma vantagem competitiva da Odebrecht. Segundo Pedro Wongtschowski,
135
nessa época o valor das empresas petroquímicas caiu drasticamente por causa da
abertura comercial promovida por Collor. Dessa forma, a Odebrecht realizou a
aquisição da PPH, Poliolefinas, Salgema e CPC, formando as empresas OPP e
Trikem. Dessa forma, a OSA aumentou sua base de conhecimento no setor
petroquímico e adquiriu mais vantagens competitivas.
Com uma base mais sólida no setor, a OSA vislumbrou novamente grande
potencial de sinergias com a compra da Copene e com a formação de uma empresa
integrada e grande. Inicialmente, os ativos da Copene seriam comprados pelo Grupo
Ultra, que nos dois leilões dessa empresa ofereceu preços consecutivamente mais
baixos que a oferta mínima. O Grupo Ultra acreditou ser caro o preço pela Copene nas
duas ocasiões. Mas a OSA acreditou no negócio, mesmo com o alto nível de
endividamento que possuía. Realizou nova expansão e recuperou sinergias
estimadas em R$ 330 milhões anuais. E além disso, resolveu seu problema de dívida.
f) Expansões Nulas
Durante sua trajetória, a Odebrecht fez diversas expansões não relacionadas ao
seu negócio. Apesar de serem genuinamente nulas, existem evidências de que essas
expansões tiveram objetivo de buscar novos meios de crescimento. “A desativação da
Saici gerou uma das maiores crises da história da Odebrecht, mas deixou o germe da
diversificação e a lição de como agir no futuro” (Odebrecht, 2004f). Décadas depois
foram adquiridas a CMW e STL. Segundo Sérgio Foguel, o futuro estaria na área de
informática. Anos depois foram vieram Stela Telecom, OSI, Veracel, CCR e Itasa. Mas
a empresa saiu desses negócios. Segundo ainda Sérgio Foguel (Foguel, 2006), a
Odebrecht não tinha condições de se tornar um competidor relevante nesses
negócios. Até mesmo porque foram necessários ativos desses negócios para financiar
a incursão da Odebrecht no setor petroquímico.
Aliás, a Petroquímica iniciou como um negócio não relacionado. E a história da
Odebrecht nesse setor fornece evidências para sugerir que as expansões nulas da
Odebrecht foram uma forma de investigar novos caminhos para o crescimento.
136
5.2. Desafios da Navegação no Ambiente
Segundo Fleck (2006), o grau de sucesso da navegação no ambiente depende
da habilidade que a empresa possui em monitorar as pressões que o ambiente exerce
e em empregar as estratégias de respostas a processos institucionalizados (Oliver,
1991). Caso essa habilidade não exista ou seja deficiente, a empresa põe em risco
sua legitimidade, pode perder importantes oportunidades de captura de valor e
também pode perder habilidade de reagir a mudanças (Fleck, 2006).
Ao longo de sua trajetória, a Odebrecht alternou estratégias de navegação mais
ativas, como de desafio e moldagem, com estratégias mais passivas, como de
aceitação e negociação. A utilização dessas estratégias está apresentada na tabela
5.3.
Tabela 5.3 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Navegação no
Ambiente.
Período Processo Comentários
Aceitação
Negociação
Evitar
Desafio
Moldagem
1945 Fundação da CNO
Continuidade do negócio de
construção a partir da negociação
com partes interessadas na
realização dos pactos
+
1945 a
2005
Parcerias para
realização de
projetos de
engenharia
Realização de consórcios, parcerias
com empresas detentoras de
conhecimento em outras áreas da
engenharia etc.
+
1951 Fundação da Saici
Evidências apontam para a falta de
captura de valor a partir da
exploração da região de Ituberá e
parceria com grandes empresas.
1953 a
2005
Prestação de
serviços à
Petrobrás
Continuidade na prestação de
serviços à Petrobrás; prestação de
novos serviços; abertura de novos
negócios, tendo a Petrobrás como
cliente.
+
137
Período Processo Comentários
Aceitação
Negociação
Evitar
Desafio
Moldagem
1959 a
1968
Prestação de
serviços à Sudene
Participou de diversas obras
financiadas pela Sudene, durante o
período em que esse órgão atuou no
Nordeste do Brasil.
+
1962
Fundação Emílio
Odebrecht
Iniciou sua atuação como forma de
propiciar benefícios aos integrantes
da Odebrecht. Mas logo passou a
apoiar projetos sociais e culturais.
+
1968 a
2005
Reconhecimentos
e eventos
Recebeu diversos tipos de
reconhecimentos; e participou de
concursos e de eventos.
+
1971 a
2000
Parcerias para
estimular demanda
por obras.
Realizou parcerias em negócios com
a Sinart, Águas de Limeira, CCR,
Hidrelétrica de Itu etc.
+
1971 a
2005
Ocupação em
cargos públicos
Integrantes da Odebrecht fizeram
parte de órgãos públicos ao longo de
sua trajetória.
+
1974
Alteração de
normas da ABNT
para produção de
tubos Star
Pedido para alterar normas da ABNT
para produção de tubos Star com
especificações diferentes.
+
1979 a
2005
Internacionalização
Processo de internacionalização que
levou a Odebrecht ter presença nos
EUA, América Latina, África, Europa
etc.
+
1980
Fundação da
Odebrecht -
Harrison
Parceria com empresa canadense
para negócio de mineração no Brasil.
+
1980 a
2005
Promoção de
prêmios
Promoveu diversos concursos em
engenharia e petroquímica dentro de
universidades, para seus próprios
integrantes e outros.
+
138
Período Processo Comentários
Aceitação
Negociação
Evitar
Desafio
Moldagem
1983
Aquisição da
CBPO
A CBPO significou a aquisição de
títulos que possibilitaram a Odebrecht
atuar em obras de maior
complexidade.
+
1985
Aquisição da
Tenenge
A Tenenge significou a oferta de
serviços de engenharia mais
completos.
1985 a
2005
Atuação na Angola
Iniciou com a construção da
Hidrelétrica de Capanda e hoje
participa do estabelecimento de
diversos negócios nesse país.
+
1987 OPL vai ao Congo
Após o enfraquecimento da demanda
no Brasil por serviços de perfuração,
a OPL vai a outras regiões do mundo
atrás de demanda.
+
1995
Fundação da
Veracel Celulose
Empresa fundada em parceria com a
Stora Kopparbergs
+
1995 a
2005
Estímulo à
demanda de
termoplásticos
Formulou o Programa Universidade
PVC; lançou o Manual Trikem; Criou
a fábrica itinerante; realizou uma
série de seminários técnicos sobre
utilização de plástico; lançou livro
sobre tecnologia do PVC; e realizou
diversas parcerias com empresas de
terceira geração para desenvolver
novos produtos.
+
1997
Voltou a atuar no
mercado de
Incorporação
Imobiliária
Depois de um período longe mercado
imobiliário, em um período de crise
desse setor, a Odebrecht retornou.
+
139
Período Processo Comentários
Aceitação
Negociação
Evitar
Desafio
Moldagem
1995 a
2002
Aquisição de
Petroquímicas
Depois da abertura comercial da
petroquímica no Brasil, a
desvalorização de empresas
nacionais e a venda da participação
da Petroquisa em empresas, a
Odebrecht adquiriu algumas
petroquímicas nas quais já possuía
participação.
+
Conforme mencionado, a habilidade de utilizar corretamente as estratégias de
navegação assegura manutenção da legitimidade da empresa e captura de valor. O
uso dessas estratégias por parte da Odebrecht para desenvolver essas duas
capacitações estão descritas nos dois itens a seguir.
a) Legitimidade
Entre as décadas de 1950 e 1970, existem evidências suficientes para sugerir
que o Governo brasileiro aplicou instrumentos que transformaram o setor de
construção pesada em um ambiente piedoso. Nesse período, grandes obras foram
iniciadas, incentivos foram consentidos etc. Existem evidências também de que houve
a prática de indicação de construtoras para a realização de obras.
É provável que essa prática tenha sido institucionalizada no setor de construção.
Embora nada tenha sido comprovado, os escândalos envolvendo as empreiteiras
durante o Governo de Fernando Collor sugerem a continuidade da prática de exercer
influência sobre membros de órgãos públicos para indicação a obras.
De qualquer forma, a primeira evidência de que a Odebrecht se preocupou com
o desenvolvimento ou manutenção de sua legitimidade foi a própria fundação da
empresa. Norberto Odebrecht realizou os “pactos” (estratégia de negociação) com a
intenção de honrar as dívidas da empresa do pai que levava o nome da família. Anos
depois, ocorreu nova evidência da preocupação da Odebrecht com sua imagem a
partir do patrocínio do livro sobre a Bahia antiga em 1959. Depois da criação da
Fundação Emílio Odebrecht em 1962, a empresa passou a atuar de forma mais
ordenada em programas sociais e culturais (estratégia de moldagem).
140
A partir da década de 1960, a Odebrecht começou a divulgar os títulos e os
reconhecimentos conquistados no seu meio de comunicação interno (estratégia de
aceitação). Em 1968, Norberto Odebrecht foi condecorado como personalidade de
administração pela Universidade Federal da Bahia. Anos mais tarde, ele foi
condecorado novamente como o “Homem de Construção” pela revista O Empreiteiro.
Também foram concedidos reconhecimentos às empresas dos negócios de
engenharia, petroquímica e outros. A tabela 7.5 do anexo apresenta uma lista mais
detalhada dos reconhecimentos concedidos à Odebrecht ou aos seus integrantes.
Outra iniciativa bastante costumeira foi a participação em eventos (estratégia de
aceitação), como o “VIII Simpósio Brasileiro de Mineração e o “IV Congresso
Nacional de Irrigação e Drenagem”. A tabela 7.6 do anexo apresenta uma lista mais
detalhada dos eventos dos quais a Odebrecht participou.
Não menos importante para construir sua imagem no ambiente, a Odebrecht
teve a iniciativa de organizar concursos (estratégia de moldagem), como o “Prêmio
Fundação Emílio Odebrecht” que concedeu Cr$ 1 milhão ao primeiro colocado entre
pessoas, grupos ou instituições externas à empresa. A primeira de uma série de
concursos teve como objetivo gerar idéias para solucionar problemas de produtividade
do trabalhador brasileiro durante a década de 1980. É provável que o hábito de
organizar esses concursos tenha nascido em 1980 com o Prêmio Odebrecht de
Engenharia”, que teve como objetivo difundir o conhecimento dos profissionais da área
de engenharia da Odebrecht.
Além de construir a imagem da empresa entre seus funcionários e no ambiente,
esses concursos foram também uma iniciativa de captura de valor. Propagação de
conhecimento, inovação de técnicas, detecção de talentos em universidades etc. Os
concursos proporcionaram benefícios à Odebrecht não no negócio de construção,
mas também no de petroquímica. A tabela 6.5 apresenta uma lista mais detalhada dos
concursos promovidos pela Odebrecht.
Entretanto, apesar dos esforços em construir sua imagem no ambiente, a
Odebrecht se viu envolvida nos escândalos sobre empreiteiras durante o Governo
Fernando Collor. Inclusive, membros da Odebrecht foram interrogados durante CPI
para explicar esse suposto envolvimento. “Tivemos que formular uma política de
comunicação para o grupo no meio do ‘tiroteio’” (Polidoro, 1999). Esse relato evidencia
que a legitimidade de práticas da Odebrecht perante a sociedade foi questionada
nessa época.
141
Novas orientações foram adicionadas à TEO no que diz respeito à construção de
imagem. Mais especificamente relacionada à comunidade. Conversamos com
pessoas, fizemos reuniões, distribuímos questionários foram centenas de encontros
em quase um ano de trabalho para que se definisse qual era a imagem que a
Odebrecht queria ter junto à comunidade ou como a Organização queria ser
reconhecida.” (Polidoro, 1999). Segundo Márcio Polidoro, essa nova política de
comunicação pode ter sido acertada, pois, em 1998, a Odebrecht foi listada como uma
das melhores empresas para se trabalhar segunda as revistas Exame e Carta Capital.
Por outro lado, no negócio de petroquímica, a Odebrecht deu passo importante
para desenvolver sua legitimidade. Com a compra da Copene, a Odebrecht integrou
empresas e formou a Braskem (estratégia de desafio). Transformou-se então em
líder de petroquímica no Brasil com uma empresa maior e com melhores
possibilidades de promover economias de escala e sinergia. E além de tudo, ganhou
competitividade no nível nacional e internacional.
Portanto, com relação à legitimidade, existem evidências que indicam que a
Odebrecht se esforçou para detectar oportunidades de promover sua legitimidade no
ambiente. As estratégias utilizadas pela Odebrecht no sentido de construir sua
legitimidade foram de moldagem para influenciar e atrair, por exemplo, possíveis
candidatos a integrantes da empresa. Da mesma forma, utilizou-se de estratégias de
aceitação, como as práticas de títulos e participação em eventos, muito comuns ao
setor de construção pesada. E também se utilizou de estratégias de desafio com a sua
incursão no setor petroquímico. Portanto, combinou estratégias mais passivas com
mais ativas na sua navegação no ambiente.
Ainda assim, não é possível determinar se as práticas de indicação de obras do
setor de construção pesada, se ainda existirem, possam ameaçar a legitimidade da
Odebrecht novamente como aconteceu no início da década de 1990. Portanto, não
existem evidências suficientes para sugerir que a Odebrecht tenha desenvolvido
habilidade em monitorar o ambiente em busca de oportunidades de garantir sua
legitimidade no longo prazo. Igualmente, não existem evidências de que as estratégias
utilizadas pela Odebrecht para assegurar sua legitimidade foram as mais acertadas.
b) Captura de Valor
O episódio de fundação da Odebrecht, com a realização dos 3 pactos
(estratégia de negociação), foi a primeira importante evidência de navegação da
Odebrecht no ambiente. As ações tomadas nessa época asseguraram a sobrevivência
142
do negócio do pai de Norberto Odebrecht. A inovação realizada para possibilitar
construções em prazos menores foi importante para possibilitar a realização de mais
obras. Mas a desenvolvimento do relacionamento com o Banco da Bahia e as novas
responsabilidades designadas aos mestres-de-obra foram essenciais para conquistar
novas obras e realizá-las com qualidade. Esse evento foi uma forte evidência de
captura de valor. A empresa saiu de uma situação séria de dívidas para 3 anos depois
quitá-las todas.
Entretanto, poucos anos depois, o evento da fundação da Saici foi uma evidência
de destruição de valor. A Odebrecht perdeu muito dinheiro porque não soube capturar
valor daquele negócio. Apesar disso, a empresa soube abandonar o negócio e
aprendeu lições importantes sobre o ocorrido.
O período que sucedeu a essa crise foi o das grandes obras no período do
Governo de Juscelino Kubitschek. Durante essa fase, algumas construtoras se
tornaram grandes empresas. A Odebrecht não participou dessas obras e concentrou
sua atuação na região nordeste do Brasil. Durante o período do milagre econômico”,
a Odebrecht participou de diversas obras promovidas pela Sudene e prestou
continuamente serviços para a Petrobrás (estratégias de negociação). A empresa
desenvolveu um relacionamento com essas instituições, principalmente com a
Petrobrás, que abriram portas para novos negócios, como por exemplo, novos
serviços de construção de plataforma e perfuração de poços de petróleo. Portanto, a
forma como a Odebrecht se relacionou com alguns de seus clientes sugerem
habilidade de capturar valor.
Na década de 1970, a Odebrecht expandiu sua atuação para o sudeste do Brasil
para realizar obras de maior complexidade, tanto no nível tecnológico como o de
gestão (estratégias de negociação). Esse período foi uma evidência importante para
sugerir que a Odebrecht de fato capturou valor com essas obras. Primeiramente,
aumentou sua base de conhecimento. Com a tecnologia desenvolvida na Usina
Nuclear de Angra do Reis, por exemplo, foi possível participar da construção da Usina
de Enriquecimento de Urânio para a Nuclebrás Enriquecimento Isotrópico S.A. - Nuclei
- no município de Resende, Estado do Rio de Janeiro. Da mesma forma, as obras de
tecnologia especial proporcionaram uma oportunidade de a Odebrecht desenvolver um
relacionamento com o Governo Federal. E por último, a Odebrecht teve uma
oportunidade de desenvolver seus mecanismos de gestão, apesar de não tê-los
desenvolvido a priori, o que acarretou crise interna entre membros da empresa e crise
financeira pela falta de habilidade em gerir projetos mais complexos. Apesar disso, a
143
Odebrecht se organizou melhor, contratou profissionais experientes, como Victor
Gradin e Sérgio Foguel, e começou a externalizar e difundir valores que hoje são
conhecidos como TEO.
Em 1983, a Odebrecht adquiriu a CBPO (estratégia de aceitação) com o
objetivo de adquirir títulos necessários para realizar obras de maior complexidade.
Segundo Sérgio Foguel,
“Existia um conjunto dessas grandes de infra-estrutura que tinham poucas grandes
obras. E a Odebrecht tinha uma infinidade de obras pequenas e médias. Essa
capacidade de delegar, descentralizar, articular, de gerir descentralizadamente,
possibilitou essa multiplicidade de atuações em Estados e Regiões de pequenas e
médias obras. Mas faltava a tecnologia, a experiência, o currículo etc, do outro lado.”
(Foguel, 2006)
A CBPO era uma empresa com crescimento decadente e participara de grandes
obras de engenharia na época de Juscelino Kubitschek. De fato, a partir da aquisição
da CBPO, a Odebrecht passou a ter um escopo de atuação maior, construindo
hidrelétricas e rodovias de maior porte.
“Nós tínhamos aquele problema de não sermos reconhecidos como grande empresa.
Que não participávamos do clube dos barrageiros. A compra da CBPO foi importante
para ser reconhecido como uma grande empresa e ter atuação no sul do país, e
também sair para o exterior” (Raimundo, 2006)
Além dos benefícios de ampliar a atuação da Odebrecht, a CBPO também foi
favorecida com a sua aquisição. Após a aquisição, a Odebrecht implementou na
CBPO os valores de delegação planejada e outros. A parti de então, a CBPO passou a
ter capacidade de gerir mais projetos ao mesmo tempo.
Na mesma linha de oportunidade de captura de valor, foram adquiridas a
Tenenge e a BPC. Esta última fez parte também do plano de internacionalização do
negócio de construção da Odebrecht. Naquela época, a BPC estava em situação difícil
de mercado, com dívidas e insatisfação entre seus funcionários. Entretanto, após a
aquisição, a carteira de contratos da BPC pulou de US$ 20 milhões em 1988 para US$
150 milhões em 1990 (Odebrecht, 1991a, p. 30). Além disso, antigos funcionários
retornaram à empresa por causa da nova fase que a BPC atravessava.
A formação de parcerias para realização de obras (estratégia de negociação) é
uma outra característica que sugere habilidade em buscar oportunidades de captura
de valor. A parceria na realização de obras é uma prática comum no setor de
construção pesada. Em um primeiro momento, uma empresa era responsável pelas
obras civis, outra pela montagem etc. Com o tempo, as empreiteiras foram adquirindo
montadoras, mas começaram a formar consórcios para realizar obras. Segundo Lúcio
144
Otávio, diretor financeiro da Andrade Gutierrez, realizar essas parcerias são
importantes porque possibilitam a entrada em mais obras, minimizando riscos.
Outra oportunidade com relação à captura de valor foi quando a Odebrecht
realizou parcerias para assegurar a demanda de obras (estratégia de negociação). A
Sinart foi um caso em que a Odebrecht juntou-se a outra empresa para construir o
Terminal Rodoviário de Salvador e então operá-lo. Outro exemplo desse tipo foi a
criação da CCR em conjunto com outras empreiteiras. A CCR entrou no negócio de
concessão de estradas, e para isso foi necessária a construção de novas estradas.
Depois de formá-las e atuar por algum tempo nelas, a Odebrecht acabava
abandonando as parcerias.
Na indústria petroquímica, existem também evidências de que a Odebrecht foi
hábil em capturar valor. Durante a década de 1990, a Odebrecht comprou mais ões
das empresas petroquímicas das quais possuía participação minoritária (estratégia
de desafio). Dessa forma, passou a controlar a CPC, Salgema, Petroquímica Bahia,
PPH e outras. A partir de então, a Odebrecht passou a buscar claramente sinergia
entre essas empresas. A partir de algumas delas, formou a OPP e a Trikem, que
também tiveram em várias ocasiões ações em conjunto na área de vendas e pesquisa.
Apesar de todos os esforços na busca de produtividade, sinergias e
desenvolvimento do mercado de termoplásticos, a Odebrecht obteve resultados
negativos na segunda metade da década de 1990. A razão dos resultados negativos
estava no alto endividamento que a Odebrecht contraiu para se estabelecer na
indústria petroquímica.
Entretanto, a compra da Copene (estratégia de desafio) em 2002 alterou todo o
cenário negativo no qual a Odebrecht se encontrava. Am de ter resolvido seus
problemas com as dívidas, a Braskem elevou sua receita líquida de aproximadamente
R$ 7 bilhões em 2002 para R$ 11 bilhões em 2005. Durante esse período promoveu
ações para recuperar sinergias na ordem de R$ 330 milhões. Até 2003, a Odebrecht
registrou recuperação de R$ 240 milhões em sinergias (OI, 2003d, p. 60).
A Odebrecht também realizou uma série de ações para estimular a demanda por
termoplásticos, lembrando suas ações no negócio de construção (estratégia de
moldagem), sendo que nesse caso foi mais ativa ao promover iniciativas para
influenciar as empresas de terceira geração petroquímica. Essas ações incluíram: a
instalação da “Universidade PVC”, como uma forma de propagar as vantagens do
PVC entre os alunos de graduação de arquitetura e engenharia; lançamento do
manual Trikem, que também teve como objetivo propagar a informação sobre os
145
produtos de PVC; criou a fábrica itinerante, como uma tentativa de estimular a criação
de negócios na indústria de terceira geração de petroquímicos; realizou parcerias com
clientes para o desenvolvimento de novos produtos de terceira geração; etc.
Uma evidência de captura de valor importante foi o caso do desenvolvimento de
copos de requeijão para a empresa Zanata. A Odebrecht trabalhou em parceria com a
Zanatta para fabricar novos copos de polipropileno de melhor qualidade em
comparação aos de poliestireno. Outro exemplo foi o desenvolvimento de copos de
requeijão de polipropileno que em pouco tempo ocupou 70% do mercado que era
dominado por copos de vidro.
Portanto, não pelo fato de ter conseguido liderança nos negócios de
construção pesada e petroquímica, mas também por todas essas evidências, é
possível sugerir que a Odebrecht desenvolveu sua capacidade de capturar valor de
forma consistente ao longo de sua trajetória. Igualmente, utilizou-se de estratégias
tanto ativas como passivas para assegurar captura de valor.
5.3. Desafios da Gestão da Diversidade
Ao longo da trajetória de crescimento da Odebrecht, existem evidências
suficientes para afirmar que a diversidade da organização aumentou. Desde o começo
a empresa organizou-se de forma descentralizada. Na época de sua fundação, mais
autonomia foi concedida aos mestres-de-obra para que um maior número de obras
fosse realizado. No que a TEO veio a chamar posteriormente de delegação de
responsabilidades, os mestres-de-obra assumiram as tarefas de pedidos, compras,
admissão de pessoal etc.
Além disso, a construção pesada possui uma característica específica ao setor
que é a realização de obras em lugares remotos. Antigamente, quando os meios de
comunicação eram mais precários, a equipe alocada para trabalhar na obra ficava
muitas vezes isolada.
A partir da década de 1960, na medida em que obras maiores foram
conquistadas, mais autonomia era concedida para sua execução. Com a realização de
obras especiais no sudeste, a Odebrecht criou a Superintendência Sul, localizada no
Rio de Janeiro. Manteve descentralizados procedimentos e sistemas administrativos.
Por exemplo, a Fundação Emílio Odebrecht lançou unidade descentralizada na obra
do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro para cuidar das necessidades
específicas de assistência ao trabalhador daquele local. Assim como no Aeroporto, a
146
Fundação lançou unidades descentralizadas em mais outras 14 localidades até o ano
de 1978.
Outro exemplo de decisões realizadas decorrentes dessa característica de
descentralização foram as fundações de empresas auxiliares de construção durante a
década de 1970. A Odebrecht fundou diversas empresas e “poderíamos tê-las mantido
sob a forma de ‘Departamentos’ da própria Construtora, mas isto certamente impediria
o processo de livre ação e concorrência de seus executivos” (Odebrecht, 1970, p. 11).
Anos depois, a Odebrecht adquiriu outras empresas, como a CBPO, Tenenge e
BPC, optando por mantê-las independentes mesmo fazendo parte do setor de
construção civil. O mesmo aconteceu com outros negócios adquiridos e fundados ao
longo da trajetória de crescimento. Na OPL segundo Antônio Assad, por exemplo, “a
gente era um pouco isolado do grupo” (Assad, 2006).
A partir da década de 1990, a Odebrecht seguiu fazendo aquisições focadas na
indústria de petroquímica. Ao todo, a Odebrecht adquiriu mais de 5 empresas, com
valores e origens diferentes. Incluindo a compra da Copene que, segundo Climério
Brito, “foi a empresa mais impactada e a que também reagiu mais. Até teoricamente
isso é esperado. Era a maior, uma cultura muito forte onde as pessoas se sentiam
muito as donas do negócio” (Brito, 2006).
Somada à característica de descentralizão que a Odebrecht mantém desde o
seu início, os desafios da gestão dessa diversidade tornaram-se ainda mais
complexos. A tabela 5.4 apresenta as principais evidências de integração e
fragmentação apresentadas ao longo da trajetória da Odebrecht.
Tabela 5.4 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Gestão da Diversidade.
Período Processo Comentários
Integração
Fragmentação
1945 a
2005
Cultivo a formação de mitos
Emílio Odebrecht, Norberto Odebrecht e os
mestres-de-obra são alguns mitos cultivados
pela Odebrecht.
+
1945 a
2005
Desenvolvimento de talentos
Formação de talentos. Transmissão de valores.
Substituto Planejado.
+
1945 a Mecanismos padronizados de
Plano de ação e programa de ação.
+
147
Período Processo Comentários
Integração
Fragmentação
2005 metas e avaliação
1945 O capa preta
Externalização e difusão dos métodos
construtivos de Norberto Odebrecht e
procedimentos de gestão.
+
1963 a
2005
Formação de líderes
empresariais e talentos.
Formação de líderes já acostumados com os
valores da Odebrecht. O crescimento da
Odebrecht permitiu a formação desses líderes.
+
1968 a
1975
Participação em projetos de
tecnologia especial
Aumentou a complexidade das obras
realizadas da Odebrecht provocando prejuízos.
-
1965 a
2005
Fundação Emílio Odebrecht
Nasceu como uma forma de prover benefícios
a todos os funcionários. Entretanto hoje é uma
organização voltada para trabalhos sociais.
+
1969
TEO - Externalização dos
valores da Odebrecht
Iniciou-se com “Do que necessitamos?” até o
lançamento de “Sobreviver, Crescer e
Perpetuar”. Um processo de externalização e
difusão dos valores existentes na Odebrecht e
atualização dos valores desejados.
+
1973 a
2005
Odebrecht Informa
Não só foi criada a Odebrecht Informa, mas
foram criados o Boletim Técnico e a Revista do
Núcleo.
+
1978 a
?
Comitê no Departamento de
Engenharia e Equipamento foi
constituído
Integração dos recursos humanos, a
divulgação de know-how em trabalhos
executados interna e externamente, discussão
de problemas específicos de cada obra.
+
1980 a
1983
Integração da CBPO Alocação de recursos da Odebrecht na CBPO.
+
1980 a
2005
Organização de Prêmios
Prêmio Odebrecht de Engenharia: Concurso
realizado entre os profissionais da Odebrecht
visando a difusão do conhecimento e das
práticas de engenharia.
Prêmio Destaque
Prêmio Jovens Parceiros OPP/Trikem: Prêmio
que estimula a inovação e foi aberto a todos os
+
148
Período Processo Comentários
Integração
Fragmentação
estagiários e trainnees da OPP e Trikem com
no máximo três anos de empresa.
1981 Criação da Odebrecht S.A.
+
1984 Criação do Núcleo de Memória
Ponto de encontro e de comunicação, visando
a integração entre membros da Organização e
entre essa e a Comunidade.
+
1985 a
1995
Criação da EPB e da Odebrecht
Química
Organização dos esforços no setor
petroquímico.
+
1994 Atuação integrada
CNO, CBPO, Tenenge, CMW e
Poliolefinas/PPH, e mais a coligada CPC se
uniram para definir iniciativas conjuntas na
área de Suprimentos e Patrimônio, com o
objetivo de garantir qualidade, melhor logística
no fornecimento e vantagens comerciais
diferenciadas.
+
1995 a
2005
Organização de encontros
Freqüente encontro entre membros da
empresa. Encontros para jovens integrantes.
PDE. Reuniões anuais, como a de 2004 para
identificar os caminhos para a preservação da
TEO e seus diferenciais que impactam no
relacionamento com as pessoas.
+
1999 a
2002
Criação de fóruns Fórum
Permanente de Engenharia
Criado para facilitar a integração de
conhecimento e a difusão de informações.
+
2002 a
2005
Programas para captura de
sinergia na Braskem
Busca de sinergias estimadas no valor de R$
330 milhões. Programa Braskem+. Esforços
para integrar sistemas de gestão das empresas
que deram origem à Braskem. Fórmula
Braskem.
+
2002 a
2005
Sub grupos na Braskem
Pesquisas de clima organizacional indicaram
existência de grupos heterogêneos
provenientes das empresas adquiridas
-
149
Diante de uma realidade de grande heterogeneidade, muito em função também
de sua característica de descentralização, a Odebrecht aplicou mecanismos de
integração durante sua trajetória de crescimento. Talvez um dos primeiros tenha sido a
questão do mito. Os personagens e figuras importantes que fazem parte da história da
Odebrecht sempre foram desenvolvidos desde o início da Odebrecht. Norberto
Odebrecht sempre declarou, por exemplo, que herdara de seu pai os ativos mais
importantes: os mestres-de-obra, educados e confiáveis. A figura do mestre-de-obra
acabou tendo sua maior representatividade no mestre Bonifácio. Integrante “ilustre” da
Odebrecht, sua vida dentro da empresa sempre foi noticiada nos meios de
comunicação da empresa. Tão importante quanto, ou até mais, o mito do Doutor
Emílio Odebrecht, pai de Norberto Odebrecht, foi construída em torno do símbolo da
produtividade, da capacidade técnica, do trabalho e da educação.
Entretanto, talvez o mito mais importante, e que agora afastado da administração
da Odebrecht ganhou mais importância ainda, é Norberto Odebrecht. Segundo José
Raimundo, Norberto Odebrecht é uma figura não importante para a empresa, mas
na Bahia também. “Na Bahia ele é um popstar” (Raimundo, 2006). Para a Odebrecht,
sua figura está associada não ao fato dele ter o fundador da empresa, mas o
grande idealizador da TEO e o grande educador de seus valores. Esses mitos, além
de instrumentos de integração, auxiliaram na difusão dessas características
consideradas tão importantes para a empresa.
Outro instrumento integrador que foi desenvolvido desde o início foi a prática de
padronização de procedimentos. Devido à natureza desagregadora da construção civil
e à característica descentralizadora da Odebrecht, comentadas, a Odebrecht
desenvolveu procedimentos padronizados para induzir práticas desejadas entre seus
integrantes. Nesse grupo encontra-se o “Capa Preta”. Um livro organizado por
Norberto Odebrecht, com a ajuda de Walter Caymmi Gomes, para determinar
procedimento que iam desde a seleção de pessoal até o modo de operar de
equipamento. "Aquele livro disciplinava tudo e era preciso conhecê-lo muito bem para
poder vir a ocupar determinados cargos de chefia na firma”, lembrou Lourival Batista,
que começou como auxiliar de escritório e chegou a chefe do Departamento de
Pessoal.
Outros procedimentos padronizados desenvolvidos pela Odebrecht foram o
plano de ação e o programa de ação. Não existem evidências claras que indiquem ao
o início desses mecanismos de determinação de metas e avaliação. O fato é que
esses instrumentos são utilizados pela empresa inteira, são necessários para
150
possibilitar o pagamento da participação nos lucros da empresa e ainda auxiliar na
manutenção de características importantes à empresa, como: delegação planejada,
treinamento de substituto, desenvolvimento de imagem organizacional, pacto de
resultados etc. Inclusive, sempre foi utilizado para aproximar empresas adquiridas aos
valores da Odebrecht, como a CBPO e todas as empresas petroquímicas adquiridas.
Na primeira metade da década de 1970, a Odebrecht passou por grande
crescimento que trouxe diversos desafios à empresa com relação à sua integridade.
Segundo Emílio A. Odebrecht, as grandes obras da empresa no sudeste não
contabilizaram lucro porque foram executadas por pessoas que não estavam
acostumadas aos valores da empresa. Igualmente relevante foi a questão do
financiamento das obras, que passaram a exigir mecanismos mais elaborados. Um
período que provocou momentos de crise, segundo a própria empresa, a ponto de
parte dos profissionais mais experientes da empresa na ocasião não terem
concordado com o seu crescimento.
Todos esses fatores exerceram uma força de fragmentação. Tanto que parte dos
jovens executivos, liderados por Emílio A. Odebrecht, mudou-se para o Rio de Janeiro
fundando a superintendência do sudeste. Se por um lado essa iniciativa potencializou
a força de fragmentação, por outro, exerceu força aglutinadora. O grupo liderado por
Emílio A. Odebrecht teve como objetivo exercer a gestão dos negócios no sudeste
segundo os valores da empresa.
De toda forma, coincidência ou não, Norberto Odebrecht lançou na mesma
época livros que externalizaram (Nonaka e Takeuchi, 1997) os valores da Odebrecht.
“Do que necessitamos?” de 1968 e “Pontos de Referência” de 1970 foram livros que
ofereceram uma alternativa para a transmissão dos valores da empresa em um
momento de crescimento e aumento de diversidade como o que ocorreu no período.
Anos mais tarde a empresa lançou o livro “Sobreviver, Crescer e Perpetuar”, que se
tornou a base escrita da TEO. Aliás, durante entrevistas realizadas com membros e
ex-membros, a palavra TEO foi bastante mencionada.
Talvez mais importante do que ser uma forma de externalizar os valores da
Odebrecht, existem evidências para sugerir que a TEO proporcionou uma base de
comunicação única para a empresa. Segundo José Raimundo, “nós temos uma coisa
em comum que é a TEO. A TEO está nos Emirados Árabes como está aqui em
Salvador. Então nossa linguagem é uma só.” (Raimundo, 2006).
Mas a leitura dos livros da TEO, obrigatória em algumas camadas, não foram as
únicas formas de propagação dos valores da TEO. A revista Odebrecht Informa,
151
publicada nos idiomas português, inglês e espanhol, e “que é um belo instrumento de
comunicação” (Raimundo, 2006), também possui esse papel de difusor. Entretanto,
talvez o melhor instrumento propagador desses valores, e diversas evidências
sugerem isso, seja a relação entre líder e liderado, conforme a própria TEO prega
através de seu conceito de educação pelo trabalho.
Em entrevista com dois ex-integrantes da Odebrecht, o vocabulário específico da
TEO surgiu em diversas ocasiões. Inclusive, foram contadas histórias de comum
conhecimento dos integrantes da Odebrecht, que normalmente são utilizadas na TEO
ou na revista Odebrecht Informa com o objetivo de exemplificar um determinado
conceito. Importante mencionar, que nenhum desses dois integrante leu os livros da
Odebrecht durante o tempo que trabalharam na empresa. Um entrevistado trabalhou
na CNO e o outro na OPL. Alguns desses conceitos e histórias abordados foram:
O conceito de Sobreviver, Crescer e Perpetuar;
A história sobre como iniciou a remuneração variável na Odebrecht;
A história sobre os dias em que Norberto Odebrecht esteve enfermo no início da
trajetória da Odebrecht;
O conceito da relação entre líder e liderado;
A história sobre os pactos realizados na época de fundação da Odebrecht;
Etc.
Mas para que essa transmissão de valores entre membros da empresa pudesse
ser realizada, foi fundamental a existência de recursos humanos experientes e
treinados e, fundamentalmente, acostumados com os valores da Odebrecht. Na
medida em que a Odebrecht cresceu, a gestão dessa passagem de conhecimentos
entre membros da empresa se tornou mais complexa. Talvez esse tenha sido um dos
problemas identificados por Emílio A. Odebrecht e que determinou sua transferência
ao Rio de Janeiro para cuidar das obras especiais que não estavam sendo lucrativas.
De qualquer forma, a Odebrecht continuou crescendo e novas formas de
intercâmbio entre membros experientes e não experientes na empresa foram sendo
desenvolvidas. Alguns exemplos de iniciativas nessa linha foram: Encontro de Jovens
Parceiros de diversos países e empresas da Odebrecht; Programa Jovem Construtor;
e Programa de Desenvolvimento de Empresários, instituído a partir de 2004.
Outro forte instrumento desenvolvido pela empresa foi a promoção de concursos
internos. Existem evidências que apontam para a preocupação da Odebrecht em
152
aumentar sua base de conhecimento. Com obras em lugares remotos, o intercâmbio
de conhecimento entre integrantes provavelmente foi um elemento complicador. Para
suprir essa necessidade, a Odebrecht utilizou-se da Odebrecht Informa para difundir
as soluções técnicas de obras importantes. Logo depois, criou um encarte específico
chamado Boletim Técnico. Nessa linha de intercâmbio de conhecimentos, a Odebrecht
ainda criou fóruns, fundou comitês e promoveu diversos concursos de idéias
inovadoras em engenharia.
Atuando ativamente na petroquímica desde a década de 1990, a Odebrecht
utilizou-se de muitos desses instrumentos. Além dos que envolveram a empresa
inteira, houve os específicos ao negócio de petroquímica por se tratar de um processo
de integração de diversas empresas para a formação da Braskem. Entretanto, muito
antes dessa participação ativa, a Odebrecht já tinha fundado as empresas EPB e
Odebrecht Química para integrar os esforços e investimentos nessa indústria.
Quando começou a atuar ativamente, promoveu processo de integração entre as
empresas adquiridas até culminar com a formação da Braskem em 2002. A partir de
então foram desenvolvidos fortemente programas de captura de sinergia, estimados
na casa de R$ 330 milhões, como o Braskem +. Diversos esforços foram realizados
também para integrar os diversos sistemas diferentes de gestão.
Ainda assim, segundo Climério Brito, ainda é possível detectar a existência de
grupos com percepções diferentes dentro da Braskem.
“O que a gente fez foi fazer uma análise de algumas questões ligadas à cultura, e a
evolução dessas questões nas diferentes empresas que vieram a compor a Braskem
ao longo do tempo. Então a gente observa que no pressuposto teórico que a
resistência maior vai estar onde você tinha uma empresa mais forte, com uma cultura
mais forte, ela acontece. Então o gerenciamento do clima organizacional na unidade
de insumos básicos, que é a antiga Copene, é ainda hoje o mais difícil, o mais
complexo.” (Brito, 2006)
De qualquer forma, a integração que resultou na Braskem ainda é um movimento
recente. Ainda não existem evidências concretas para afirmar que os instrumentos de
coordenação de elemento homogêneos estão sendo bem sucedidos.
Apesar do aumento da heterogeneidade, segundo Fleck (2006), o importante é
entender qual foi a abordagem da Odebrecht diante dos desafios que essa diversidade
promoveu. E ao longo de sua trajetória, existem evidências para afirmar que a
Odebrecht aplicou diversos mecanismos integradores, apesar de sua natureza
descentralizadora. Portanto, a partir dessas evidências é possível afirmar que a
Odebrecht tem desenvolvido capacitações de coordenação para integrar suas partes.
153
5.4. Desafios da Gestão de RH
Os desafios da gestão de RH têm a ver com o abastecimento de recursos
humanos experientes e qualificados (Fleck, 2006). Experiente porque realizou carreira
de longo prazo na empresa. Nessa linha, um trabalho de retenção bem sucedido
colabora para que isso aconteça. Da mesma forma, se oportunidades de crescimento
são oferecidas ao profissional, as chance de retenção aumentam. E oportunidades de
crescimento, por sua vez, são oferecidas aos profissionais quando a empresa cresce.
Por outro lado, uma empresa aumenta seu plantel de recursos qualificados quando
realiza um recrutamento bem sucedido e, ao mesmo tempo, oferece oportunidades de
desenvolvimento e treinamento.
Esse processo de desenvolvimento de recursos humanos experientes e
qualificados não acontece rapidamente. É um processo que leva tempo para
acontecer. Portanto, a empresa deve antecipar sua necessidade com relação ao
abastecimento de recursos para que evite o problema de ter que contratar
profissionais sem experiência nas práticas da empresa e de baixa qualificação.
Existem evidências que sugerem a ocorrência desses dois cenários na
Odebrecht. Por um lado, situações onde a empresa necessitou de recursos
qualificados e não possuía. Por outro lado, situações onde a Odebrecht buscou
desenvolver seus recursos segundo os valores da empresa. A tabela 5.5 apresenta as
principais evidências que indicam tais situações.
Tabela 5.5 – Capacitações demonstradas nos Principais Processos de Gestão de RH.
Período Processo Comentários
antecipar
necessidades
formação
Retenção
renovação
1945 a
2005
Crescimento
O crescimento possibilitou o surgimento de
oportunidades.
+ +
1945 a
2005
Participação nos resultados
+
1969 a
2005
Substituto programado
+ +
154
Período Processo Comentários
antecipar
necessidades
formação
Retenção
renovação
1945 a
1950
Descentralização
+
1947 a
2005
Contratação de engenheiros
ainda em formação
+ +
1950 a
1969
Pagamentos em dia
Relatos dizem que a Odebrecht nunca
deixou de pagar em dia. Enquanto que na
Bahia, o atraso nos pagamentos era coisa
comum
+
1962 Atuação da FEO
Melhorou a assistência fornecida aos
empregados. Lançou unidades
descentralizadas para cuidar de interesses
específicos de certas localidades.
Desempenhou um papel de educação.
+ +
1969 a
1974
Obras especiais
Fase em que houve alguns problemas de
rentabilidade
-
1970 a
1980
Diversificação
Fundação de empresas. Aquisição de
empresas. Estímulo ao
empreendedorismo.
+ +
1974
Contratação de recursos com
experiência acadêmica
+
1974 Contrato com Concisa
+
1975 Seminários e conferências
+
1976 a
2005
Programas de treinamento
Programa de treinamento de gerentes;
Programa de Obras Sociais – CNO;
Programa Jovem Parceiro; Qualificação de
profissionais através de parcerias – OPP;
Programa de Educação Continuada –
OPP; Programa de Pessoas e
Organização – Braskem; Programa de
Desenvolvimento Empresarial (PDE);
Programa Jovem Construtor; Rotas do
Conhecimento - BPC / CNO.
+
155
Período Processo Comentários
antecipar
necessidades
formação
Retenção
renovação
1985 a
2005
Sucessão presidencial
Sucessão nos negócios de construção e
petroquímica, da Odebrecht S.A. e do
Conselho de Administração da Odebrecht
S.A.
+
1994 a
2005
Concursos externos
Prêmio Emílio Odebrecht – CNO; Prêmio
Odebrecht de Engenharia; Curso superior
de tecnologia química – OPP/Trikem;
+ +
2002 a
2005
Formação da Braskem
Foram contratados diversos profissionais
do mercado com experiência internacional.
-
a) Antecipação de Necessidade
Em discurso de comemoração aos 25 anos da Odebrecht, Norberto Odebrecht
deu o tom do que significa antecipar necessidades em relação a recursos humanos.
“Devemos ter reserva de tudo: de recursos e de homens, para que muitos outros 25
anos possam ser atingidos.” (Odebrecht, 1970, p. 7). Anos mais tarde, quando
transferiu a presidência do Conselho de Administração da Odebrecht S.A. a seu filho,
Emílio A. Odebrecht, Norberto novamente comentou que “fazer substitutos, com vistas
a sucessões e a consequentes promoções, é parte do processo natural e necessário
de renovação e transferência de um espírito, que deve viver dinamicamente, fazendo
acontecer a marca das empresas e, consequentemente, da Organização Odebrecht.”
(Odebrecht, 1998c, p. 28).
Existem evidências para sugerir, que a característica de formar substitutos seja o
mecanismo de antecipação mais importante desenvolvido pela empresa durante sua
trajetória. No livro “Do que necessitamos?” de 1969, constando do capítulo reservado
à “nova mentalidade da firma”, o conceito de substituto foi: “A vaga de aspirantes
(praticantes), na idade jovem, credenciando-os posteriormente a postos de direção,
liderança, deve ser considerada uma necessidade natural na Empresa, pois temos de
formar substitutos e assistentes.” Essa talvez seja a primeira evidência da
preocupação da Odebrecht com a formação de substitutos como uma forma de
antecipar necessidades futuras. Com o tempo, a formação de substitutos tornou-se
156
uma prática comum. Inclusive, a indicação de um substituto no programa de ação
tornou-se obrigatória.
Algumas declarações verificadas durante entrevistas realizadas para essa
pesquisa:
“Prepare seu substituto. Se você não preparar ele, você não sobe (...) Eu no plano de
ação tinha que identificar um substituto. Assad, procura alguém pra você treinar e
ocupar o seu lugar.” (Assad, 2006)
“No PA a gente coloca ali o sucessor (...) No meu caso, por exemplo, agora que
estou indo para a Venezuela, pode ser mais de um. (...) Normalmente é um
sucessor. Um liderado e não necessariamente o liderado dele, pode ser uma pessoa
de fora também, de outra área, mas que de certa forma se encaixe no perfil desejado
(...) é discutido com o líder da pessoa que vai ser sucedida. Nem sempre é
comunicado imediatamente para o cara, pois tem uma observação para ver se o cara
tem o perfil. Mas dentro desse plano de crescimento existe um ponto que ele vai
saber que ele vai suceder àquele outro. Vai ter que desenvolver tais e tais
competências. Uma coisa bem transparente.” (Bragança, 2007)
“Ele não pode ser der se ele não faz o seu substituto. E para ele fazer o seu
substituto ele tem que estar formando o seu substituto dentro da TEO. Para isso ele
vai ser avaliado no seu plano de ação. Aliás, por isso ele vai ser avaliado no seu
plano de ação.” (Raimundo, 2006)
“Tudo isso era muito simbolizado com o dr. Norberto, mas desde sempre com a idéia
de que um dia ele estaria saindo, de que é preciso formar sucessores.” (Foguel,
2006)
Todos esses relatos sugerem a necessidade da Odebrecht de formar recursos
humanos para promover sucessões e para possibilitar seu crescimento. Entretanto,
apesar dos indícios de desenvolvimento dessa característica, o início da década de
1970 representou algumas dificuldades com relação à falta de recursos humanos.
Sobre os prejuízos contabilizados com as obras de tecnologia especial que ocorreram
no Sudeste, Emílio A. Odebrecht comentou que
“via os problemas que ocorriam em Angra, no aeroporto, todas essa obras dando
prejuízo e entendia perfeitamente que o que estava acontecendo era que a filosofia
Odebrecht não estava sendo aplicada. E não estava porque nós tivemos de absorver
muitos recursos humanos estranhos à nossa linha de atuação, gente de muito valor,
mas que não sabiam levar nossa filosofia à prática." (Odebrecht, 1985,n. 37, p. 32)
Após esse período, reconhecido como maior até aquele momento, a empresa
reconheceu a necessidade de possuir recursos humanos preparados. Nessa época
realizou contratações como as de Victor Gradin e Sérgio Foguel com a intenção de
desenvolver um corpo gerencial com experiência para os desafios futuros.
“Eu estou em uma missão de transformar essa construtora em um grande grupo
empresarial. Tenho uma pessoa muito forte em finanças, para me ajudar, tenho uma
157
pessoa muito forte em assuntos administrativos, jurídicos etc., mas eu preciso de
uma pessoa da área de desenvolvimento da organização, de estratégia, da
organização. Eu gostaria que você fizesse parte desse grupo, você ser a pessoa.”
(Norberto Odebrecht apud Foguel, 2006)
Mais concentrado no final da década de 1970, a Odebrecht fundou algumas
empresas auxiliares de engenharia. Esse processo, além de ter sido realizado com
intenção de gerar produtividade para essas atividades, proporcionou o
desenvolvimento de líderes, empresários. Segundo Norberto Odebrecht,
“Poderíamos tê-las mantido sob a forma de "Departamentos" da própria Construtora,
mas isto certamente impediria o processo de livre ação e concorrência de seus
executivos, além de não nos trazer o que tanto necessitávamos: organizações
coligadas mas não condicionadas operacionalmente; era necessário que elas
próprias conhecessem a livre concorrência, o atendimento a outros clientes e assim
formassem a mentalidade empresarial indispensável ao nosso desenvolvimento.”
(Odebrecht, 1970, p. 11)
Esse treinamento para o empresariado e a reserva de recursos mencionados por
Norberto Odebrecht podem ser evidenciados a partir da tabela 5.6. Nessa tabela estão
listados alguns exemplos de executivos de alto escalão que em determinado momento
da trajetória da Odebrecht ocuparam cargos importantes para suas formações. Ao
mesmo tempo, a tabela também sugere que ao ocupar mais de um cargo
concomitantemente, o desenvolvimento desses recursos foram importantes para
formar um plantel de recursos treinados e qualificados.
Tabela 5.6 – Cargos concomitantes dos executivos da OSA
Ano Executivo Cargos
1970 Emilton Rosa
Presidente da FEO quando foi nomeado Diretor das empresas
Agrícolas.
1970 Emílio A. Odebrecht
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de diretor da Fengel, da
Cimentopronto e da Agrícola Contendas.
1979 Laert Rabello
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de Diretor da Fengel e da
CNO.
1979 Humberto Lemos Lopes
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de Diretor da OPL e da
CNO Internacional.
1979 Marc E. Altit
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de Conselheiro da
Administração da CPC e de diretor da CNO Internacional.
1979 Nilo Simões Pedreira
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de Presidente do
Conselho da Administração da CPC e de diretor da CNO.
1983 Nilo Simões Pedreira
Enquanto vice-presidente da OSA, ocupou também cargos de
conselheiro de administração da Copene e presidente da
EPB.
1985 Victor Gradin
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de vice-presidente da
OSA, responsável pelo negócio da OPL e da FEO-Seguros.
158
Ano Executivo Cargos
1985 Emílio A. Odebrecht
Ocupou ao mesmo tempo os cargos de diretor-presidente da
CNO e vice-presidente da OSA.
1985 Eliseu Resende
Foi membro ao mesmo tempo dos conselhos de administração
da Copene, Petroquímica Bahia e CPC.
1986 Eliseu Resende
Foi ao mesmo tempo presidente do conselho de administração
da EPB e diretor da OSA.
1986 Victor Gradin
Foi ao mesmo tempo líder do negócio de química e diretor-
presidente da EPB.
1988 Sérgio Foguel
Foi ao mesmo tempo diretor da OSA e líder do negócio de
informática.
1996 Luiz Almeida
Foi ao mesmo tempo membro do conselho de administração
da OSA e líder da Stelar.
1997 Pedro Novis
Foi ao mesmo tempo membro do conselho de administração
da OSA e líder do negócio da concessões de obras públicas e
da região Europa, Ásia e África.
1997 Renato Baiardi
Foi ao mesmo tempo líder do negócio de Petróleo e Gás e do
negócio de Engenharia e Construção.
1997 José de Freitas Mascarenhas
Foi ao mesmo tempo líder da Trikem e presidente do conselho
de administração da Veracel.
Fonte: Odebrecht Informa (Vários números)
Portanto, até a década de 1990, não existiram evidências claras de que a
Odebrecht tenha tido problemas com a falta de recursos experientes e qualificados. No
entanto, com sua incursão na petroquímica, a Odebrecht trouxe recursos humanos do
mercado para ocupar cargos-chave, como Eliseu Resende que fizera carreira no setor
público anteriormente.
Com a fundação da Braskem, a contratação no mercado de trabalho de
profissionais com experiência fundamentalmente internacional se intensificou. O ponto
alto foi com a nomeação para presidente da Braskem um alto executivo da Rhodia da
França, José Carlos Grubisich. Esse processo se assemelhou ao realizado pela
Odebrecht na década de 1970 quando foram contratados Victor Gradin e Sérgio
Foguel. De qualquer forma, sugere ao mesmo tempo falta de recursos qualificados na
Odebrecht e preocupação em formar camada gerencial para enfrentar os desafios no
negócio de petroquímica.
De toda forma, a característica de indicação e treinamento de substitutos foi
implantada na Braskem. Segundo Antônio Bragança, a Braskem ainda não possui
todos os sucessores identificados, entretanto “a tendência é que em um ano, um ano e
meio, todo mundo terá substituto. É uma coisa em que esse trabalhando muito nos
últimos anos. Reforçar essa questão do plano de sucessão.” (Bragança, 2007).
159
b) Formação
Existe um grande número de evidências para afirmar que a capacitação em
formação de recursos humanos está sendo desenvolvida pela Odebrecht desde sua
formação. Até mesmo antes disso. Existem diversos depoimentos que relatam a
vocação de Emílio Odebrecht, pai de Norberto, como educador. Nesse caso, a
preocupação de Emílio foi focada na formação de mestres-de-obra. Segundo José
Bonifácio, que trabalhou com ele antes da formação da Odebrecht, “dava educação à
gente, ensinava a gente a trabalhar, a ser sério, a tomar conta dos seus assuntos"
(Odebrecht, 1977d, p. 8). Mesmo tempos depois, com a Odebrecht fundada,
Emílio voltou a trabalhar na empresa do filho como calculista e auxiliou na formação
de jovens engenheiros que depois se tornaram grandes executivos da empresa, como
Benedito Luz, Nilo Simões Pedreira, Piero Marianetti, Roberto Campos e Walter
Caymmi.
Naqueles primeiros anos, a formação dos mestres-de-obra foi valorizado a ponto
de existir preferência por contratar jovens inexperientes e treiná-los ao invés de
contratar gente experiente do mercado. Segundo Lourival Batista, “era mais fácil
preparar um funcionário novo do que pegar lá fora um profissional experiente e
transformá-lo num colaborador da Odebrecht.” (Odebrecht, 1985c, p. 25).
No livro “Do que necessitamos?”, Norberto citou que Tamm o melhor precisa
treinar constantemente. Seja líder ou liderado.” (Odebrecht, 1993a). No livro
Sobreviver, Crescer e Perpetuar, o líder possui a “responsabilidade indelegável de
criar condições propícias ao autodesenvolvimento de seus liderados”. No entanto, foi
com o livro Educação pelo Trabalho de 1991 que a necessidade de formação dos
integrantes da empresa ganhou máxima exposição em livro publicado pela Odebrecht.
De toda forma, até a década de 1970, a educação no trabalho estava
relacionada fundamentalmente ao desenvolvimento de novos mestres-de-obra ou
engenheiros. A partir dos problemas que ocorreram com as obras especiais no
começo da década de 1970, surgiu a importância do desenvolvimento do
conhecimento em gestão. Já naquela época, os principais líderes da Odebrecht
participaram de treinamentos realizados pela Consultoria de Ciência Social Aplicada.
Segundo Sérgio Foguel, foram realizados
“seminários com o topo da Odebrecht com o que tinha de moderno de administração
no mundo. Era administração cognitiva, Peter Druker, coisas do gênero. E esses
caras me contrataram para fazer boa parte desses seminários. E eu fiquei
encantado, em primeiro lugar porque sentava ali Norberto e toda a equipe, com papel
160
e lápis na mão, participando, discutindo e fazendo o trabalho em grupo, e
construindo, escrevendo casos, enviando e tal” (Foguel, 2006)
Desse momento em diante, a Odebrecht desenvolveu muitas formas de
promover formação de seus integrantes. Foram seminários e conferências. Também
existiram programas de treinamentos como: o Programa de Obras Sociais, O
Programa Jovem Parceiro e o Programa de Treinamento de Gerentes são alguns
exemplos. O Programa de Obras Sociais, por exemplo, consiste na seleção de
engenheiros recém-formados para assumir a liderança de projetos sociais na Bahia
sob a coordenação de Norberto Odebrecht. Dessa forma, além desses profissionais
terem contato direto com o fundador da empresa, são formados na liderança de
projetos.
Existem evidências de que o crescimento da Odebrecht proporcionou diversas
oportunidades de desenvolvimento. A tabela 5.5 apresentou algumas informações que
sugerem o crescimento profissional de determinados integrantes. A mesmo a
diversificação do final da década de 1970 colaborou para o desenvolvimento de
recursos como empresários. E por fim, a própria característica de formação de
substitutos, juntamente com a educação pelo trabalho, estimulou o desenvolvimento
dos integrantes da Odebrecht.
c) Retenção
Em dezembro de 2005, a Odebrecht comemorou a marca de milésimo
trecentésimo quinquagésimo integrante a completar 25 anos de trabalho na empresa
em 60 anos de trajetória. Em agosto de 2003, a Odebrecht comemorou a marca do
milésimo a completar esse tempo de serviço. Portanto, analisando os números
somente, em pouco mais de 2 anos, a Odebrecht comemorou com 350 integrantes os
seus 25 anos de serviço. Isso sem contar com as comemorações de integrantes com
45 anos de serviço.
Entretanto, não foi possível identificar como foi realizado esse cálculo, visto que
várias empresas foram adquiridas ao longo desses anos. Tampouco foi possível saber
se esse mero é significativo ou não, segundo parâmetros de tamanho, setor etc.
Entretanto, o simples fato de existir o acompanhamento desse número sugere
preocupação com esse indicador. Ou seja, essa evidência dá indícios de que a
Odebrecht possui interesse em desenvolver carreiras de longo prazo.
É importante deixar registrado que o setor de construção pesada possui uma
grande rotatividade nos níveis mais baixos de operários. Entretanto, existem
161
evidências de que mesmo nesses níveis, a Odebrecht tentou combater esse desafio. A
primeira evidência foi com a própria fundação da Odebrecht. Com a empresa do pai
em sérias dificuldades, Norberto conseguiu reter todos os mestres-de-obra, ou sua
maioria, para seguir trabalhando na Odebrecht.
Nos primeiros anos de trabalho, a Odebrecht implantou alguns mecanismos de
retenção de seu pessoal. Um dos primeiros mecanismos foi o de remuneração variável
de acordo com a rentabilidade das obras. Aliás essa característica se perpetuou na
empresa. Outro grande mecanismo foi o de descentralização. Normalmente, pedidos,
admissão de pessoal etc., eram realizados pelo escritório. No entanto, na Odebrecht,
essas funções passaram a ser realizadas pelos mestres-de-obra. Além desse
procedimento tornar a operação mais ágil e prevenir a falta de materiais, segundo o
Mestre Bonifácio, "a gente se sentia prestigiado, não era? Aí a gente dizia com a gente
mesmo: 'Aqui é que me dão valor, aqui é que é o lugar de se trabalhar.'" (Odebrecht,
1985c, p. 24). E a última evidência daquela época foi com relação à pontualidade do
pagamento aos empregados.
"Num tempo em que essas tais leis do trabalhador ainda eram uma novidade que
ninguém levava muito a sério, Dr. Norberto nunca deixou que um empregado seu
voltasse para casa no final de semana sem o salário no bolso. Isso era tão raro na
Bahia que, me lembro bem, minha mãe tinha o maior orgulho de dizer pras comadres
dela: 'Quando meu filho sai pra trabalhar posso botar a panela no fogo que a comida
chega. E ter a certeza era motivo pra muita gente boa procurar trabalho na
Construtora." (Mestre Bonifácio em Odebrecht, 1985c, p. 26)
Com o tempo, a Odebrecht seguiu tentando encontrar meios para diminuir a
rotatividade de operários. Em 1962, criou a Fundação Emílio Odebrecht que teve
como objetivo inicial prover benefícios aos integrantes da empresa. No final da década
de 1970, a Fundação já havia lançado unidades descentralizadas da FEO para
atender objetivos específicos e prevenir que as distâncias prejudiquem a ação da
Fundação junto aos trabalhadores alocados em locais afastados. A primeira unidade
foi lançada na obra do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Em 1978 existiam
aproximadamente 20 unidades.
“As consequências desta assistência global oferecida em cada um dos canteiros das
grandes obras da Odebrecht são compensadoras, pois resultam em redução do
absenteísmo, da rotatividade da mão-de-obra e dos acidentes de trabalho. Com isso,
a Empresa vem obtendo aumento da produtividade e melhoria da qualidade do
trabalho.” (Odebrecht, 1978c, p. 10)
No início da década de 1980, a Odebrecht estabeleceu o Prêmio Fundação
Emílio Odebrecht, patrocinou estudos e promoveu debates. Essas ões tiveram o
objetivo de encontrar meios de aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro,
162
mais especificamente no setor de construção civil. Os resultados dessas iniciativas
foram entregues ao CNPq para possíveis desdobramentos.
Mas não existiram apenas ações para níveis mais baixos da empresa. Um dado
muito importante que sugere a retenção de profissionais nos níveis gerenciais é de
que quase a totalidade dos integrantes do Conselho de Administração da Odebrecht
iniciou sua carreira como estagiário na empresa. A tabela 6.6 do anexo apresenta
vários exemplos de profissionais da Odebrecht e suas trajetórias na empresa.
Segundo José Raimundo, quando ele entrou na Odebrecht em 1977, “nós tínhamos
três empregos para disputar na Bahia. A Odebrecht, a Petrobrás e o Banco do Brasil.”
(Raimundo, 2006).
Outro grande desafio foi com relação à retenção dos profissionais das empresas
adquiridas. Para isso, talvez para muitos os valores da Odebrecht tenha sido um fator
de retenção para aqueles que se identificavam com tais valores. Segundo Romildo
Santos, integrante da CBPO na época da aquisição, "a prática da TEO abriu
oportunidades de crescimento, e era isso que as pessoas desejavam (...) eu notei que
havia muita identidade entre nós, embora ele atuasse com mais poder de decisão,
devido ao modelo descentralizado" (Odebrecht, 1995b, p. 27).
Na Bento Pedroso, por exemplo, ao adquiri-la, a Odebrecht promoveu uma rie
de ações para sanar os sérios problemas com os quais a BPC convivia.
Provavelmente esses problemas diminuíram porque “vários antigos colaboradores se
animaram a retornar à empresa, contribuindo assim para sanar um dos piores efeitos
colaterais da crise, que era a descapitalização da empresa em termos humanos”
(Odebrecht, 2004a. p. 33).
Para Climério Brito, ex-Copene,
“me chamava muito atenção o modelo de liderança. Porque na antiga Copene a
gente tinha um modelo de liderança muito mais hierarquizado, com mais níveis, com
mais linhas divisórias entre um nível e outro, mais autoritário. Pesquisas de clima da
época relatam isso. Você tinha muitos líderes que geravam nas pessoas muito mais
medo do que admiração. Também era uma organização mais lenta do ponto de vista
de evolução, de crescimento e desenvolvimento das pessoas. Era uma coisa que me
chamava a atenção. Eu com 35 anos me lembro que conversava com os executivos
da antiga Copene “Quero decidir mais”. E aí eles me falavam “mas você vai fazer 36
anos, você é muito novo, calma, as coisas vão chegar lá, para chegar em uma
posição de gerência tem que ter mais idade, mais maturidade”. E na Odebrecht a
gente via diferente. Via muitos jovens assumindo a liderança, muito arrojo, muita
coragem nas ações, desenvolvimento de pessoas. Não falo tanto em
desenvolvimento de pessoas, porque todas essas empresas que viraram Braskem
tinham programas de desenvolvimento, em sala de aula, em universidade. Todos
programas muito fortes, muito sólidos. Mas a decisão de colocar a prova, vai lá,
assuma isso aqui, esse negócio é seu, vai em frente. Isso fazia muita diferença.”
(Brito, 2006)
163
Por outro lado,
Algumas pessoas saíram. No começo eram algumas pessoas, em torno de 500
pessoas, mais em função da própria sinergia do negócio porque você gera muita
superposição de funções. (Brito, 2006)
E como o próprio Climério colocou, ainda existem algumas evidências de
existência de sub-grupos na Braskem, mais focado entre integrantes da ex-Copene.
No entanto, por todas essas evidências mencionadas, é possível afirmar que a
Odebrecht desenvolveu capacitação em reter pessoal. Talvez esteja enfrentando
desafios com a sua incursão na petroquímica. Entretanto, só poderá ser constatada se
essa capacitação em retenção tornou-se efetiva para o negócio de petroquímica no
futuro.
d) Renovação
A empresa costuma chamar cada camada de sua hierarquia de geração. A
primeira geração está representada pela alta gerência, a segunda geração, pela média
gerência e a terceira, pela baixa gerência. Cada geração tem como objetivo identificar,
formar e integrar novos talentos para a sua respectiva geração. Ou seja, o processo
de sucessão planejada comentado anteriormente é o mecanismo pelo qual esse
processo acontece. Talvez essa seja a evidência mais forte da existência de
capacitação em renovação dos recursos humanos da Odebrecht.
Outras evidências concentram-se mais no plano de sucessão presidencial. Na
década de 1960, Norberto Odebrecht recrutou contemporâneos de seu filho, Emílio A.
Odebrecht, para criar uma equipe de confiança para o futuro líder da Odebrecht.
Segundo Norberto Odebrecht, "Desde meus 47, 48 anos venho preparando minha
sucessão" (Odebrecht, 1998c, p. 0). Em 1985, Emílio A. Odebrecht assumiu a
presidência da Construtora Norberto Odebrecht no lugar de seu pai. Em 1991, Emílio
sucedeu à Norberto na presidência do Grupo Odebrecht. No negócio de construção,
Renato Baiardi, antigo membro da corporação, sucedeu à Emílio A. Odebrecht. E
finalmente em 1998, Norberto Odebrecht se aposentou de sua carreira na Odebrecht
cedendo seu lugar na presidência do Conselho de Administração à Emílio A.
Odebrecht. Portanto, foi uma série de sucessões realizadas passo a passo.
A partir de 2001, uma nova rodada de sucessão de cargos de presidência foi
iniciada. Pedro Novis sucedeu à Emílio A. Odebrecht na presidência da Odebrecht e
Marcelo Odebrecht, filho de Emílio A. Odebrecht e neto de Norberto Odebrecht,
sucedeu à Renato Baiardi na presidência da CNO. Em todas essas sucessões, todos
os novos líderes entraram jovens e desenvolveram carreira na empresa. Com exceção
164
do que o correu na Braskem. O novo líder da empresa formada em 2002 foi contratado
do mercado.
Segundo Emílio, na ocasião de sua despedida da presidência da Odebrecht, "Em
2001, concluímos desafios que viabilizaram a renovação e sucessão de toda uma
geração e a implantação de um novo Sistema de Governança na Odebrecht. Criamos
as condições fundamentais para continuarmos a enfrentar as exigências das
circunstâncias internas e externas no caminho do crescimento qualificado". Portanto, a
princípio, essas evidências sugerem que houve planejamento no processo de
sucessão.
Sobre a renovação em níveis de hierarquia mais baixos, existem evidências que
indicam a preferência por buscar profissionais recém-formados ou ainda na faculdade.
Alguns concursos realizados pela Odebrecht tiveram como objetivo, além de outros,
fazer esse recrutamento nas universidades. Entretanto, as evidências dessas práticas
são poucas e mais recentes. Dentre esses concursos realizados estão o Prêmio
Nacional OPP/Abeq de Pós-Graduação de 1998 e o Prêmio Odebrecht de Engenharia.
5.5. Desafios da Gestão da Complexidade
Segundo Fleck (2006), as respostas aos desafios da gestão da complexidade
influenciam as respostas aos outros desafios do crescimento em termos de qualidade.
Nesse sentido, a gestão da complexidade se aproxima do sucesso quanto mais a
empresa possui capacitação em avaliar problemas e desenvolver-se em um processo
de auto-aprendizado. A partir dessa capacitação, a empresa desenvolve mecanismos
sistemáticos para tratar dos desafios complexos que surgem com o crescimento. A
Tabela 5.7 apresenta as principais respostas aos desafios da gestão da complexidade
durante a trajetória da Odebrecht.
Tabela 5.7 – Evidências das respostas aos desafios da Gestão da Complexidade.
Período Processo Comentários
1945
Externalização de
procedimentos, valores e
formas de conduta.
“O capa preta”; “De que necessitamos?”, “Pontos de Referência”;
“Sobreviver, Crescer e Perpetuar”, e subseqüentes edições;
“Educação pelo Trabalho”; e “Odebrecht Informa”.
165
Período Processo Comentários
1945 a
2005
Respostas aos desafios do
empreendedorismo
Reinvestimento de resultados, servir ao cliente; construção como
forma de investigar novos caminhos de expansão; busca do
crescimento; produtividade.
1945 a
2005
Respostas aos desafios da
navegação no ambiente
Monitoramento do ambiente; construção de legitimidade, captura de
valor, capacidade de realizar mudanças.
1945 a
2005
Respostas aos desafios da
gestão da diversidade
Mitos; padronização de procedimentos; desenvolvimento de
mecanismos integradores; Programas de sinergia.
1945 a
2005
Respostas aos desafios da
gestão de RH
Habilidade em antecipar necessidades; formação de talentos;
retenção e renovação de profissionais qualificados.
? a
2005
Desenvolvimento de formas
de intercâmbio de
conhecimentos técnicos em
engenharia
Odebrecht Informa, Boletim Técnico, Concursos e Prêmios, e
Comitês.
Na Odebrecht, a TEO talvez seja a maior evidência de que a empresa buscou
desenvolver mecanismos para tratar de forma sistemática os complexos desafios do
crescimento no âmbito da gestão. Entretanto nem sempre existiu a TEO como um
nome para representar os valores da Odebrecht. Esse nome surgiu na década de
1980. Entretanto, o hábito de externalizar valores, as práticas e procedimentos da
empresa não surgiram nessa época, são anterior a isso.
A primeira evidência desse hábito foi a existência do “Capa Preta”, importante
livro utilizado como referencial para métodos construtivos, procedimentos de compras,
recrutamento de pessoal e práticas de conduta. As evidências constam que o livro foi
utilizado durante a primeira década após a fundação da Odebrecht.
Em 1968, surgiu o livro “Do que necessitamos?”. Naquela época, a Odebrecht
começara a buscar uma expansão geográfica. Devido às obras financiadas pela
Sudene, a empresa já tinha uma posição definida no Nordeste. Mas a visível escassez
dessas obras levou a Odebrecht a buscar no sudeste, através das obras especiais, o
caminho do crescimento. Entretanto essas obras aumentaram a complexidade de sua
gestão.
166
Foi nesse ambiente que esse livro foi lançado. De acordo com Norberto, a
justificativa para a realização daquele trabalho foi:
“A impossibilidade de transmitir pessoalmente a cada um dos auxiliares, dos que
estão na cúpula aos mais modestos, os conceitos que entendemos imanentes ao
espírito dos responsáveis por uma empresa, notadamente se o seu objetivo é a
construção civil, conduziu-nos a elaborar este trabalho, em resposta ‘a indagação:
‘Do que necessitamos?’
E o fizemos apenas com o propósito de nos apresentar nas extas linhas, nas
precisas definições de um comportamento, fixando uma regra de convivência
empresarial, do que pretenciosamente para emitir idéias ou conceitos para oo campo
largo das locubrações filosóficas, que não teriam realmente sentido.” (Odebrecht,
1993a, p. 9)
Anos mais tarde, Norberto refletiu sobre esse primeiro trabalho.
“Movido apenas pela intuição, senti a necessidade de colocar em letra de fôrma uma
série de idéias, pensamentos e experiências, de discuti-los com meus mais próximos
companheiros de trabalho e de fazê-los chegar a todos, de modo a criar uma
disciplina mental e uma ação prática voltadas para o sucesso.” (Odebrecht, 1993a, p.
8)
Na década de 1970, a Odebrecht lançou mais um livro: Pontos de Referência.
Esse livro veio com mais informações. Em 1991, Norberto Odebrecht (Odebrecht,
1993h) afirmou que “Pontos de Referência foi nosso guia de ação durante toda a
década de 1970, na qual perseguimos com sucesso a palavra de ordem nele lançada;
qual seja construir a grande empresa nacional.”. Esse livro tinha o objetivo de:
“transmitir conceitos perspectivas modelos de comportamento administrativo (..)
encontrar o meio do diálogo que nos unirá para o cumprimento da tarefa de implantar
a Grande Empresa, com Grandes Executivos e Grandes Empreendimentos, dos
quais resultarão lucro, satisfação, motivação pessoal para todos e contribuição para
o contexto maior.” (...) Conscientes de que, para alcançarmos esses objetivos, é
preciso aproximar de uma referência a mentalidade de todos.” (Odebrecht, 1993h, p.
17-19)
Afirmou-se no livro que a Odebrecht estava diante de uma oportunidade grande
de crescimento. Mas que para esse crescimento fosse possível, seria necessário
integrar equipes, tecnologia e firmas. “Precisamos treinar para conseguir uma
consciência e uma mentalidade.” (Odebrecht, 1993h, p. 21).
Uma década depois surgiu então o livro “Sobreviver, Crescer e Perpetuar”. Esse
livro “sistematizou o que se decidiu chamar Tecnologia Empresarial Odebrecht, além
de contribuir para sistematizar o hábito, praticado desde as origens da Organização,
de trabalhar com base em Planos e Programas de Ação”. (Odebrecht, 2006d, p. 16-
17). O livro abordou os seguintes temas: empreendedorismo, comunicação, sinergia,
criatividade, parceria, produtividade, educação pelo trabalho, descentralização,
delegação planejada, tarefa empresarial etc.
167
Por último, na década de 1990 foi lançado o livro “Educação pelo Trabalho”,
como forma de valorizar a importância da transmissão da TEO entre as gerações de
empresários da Odebrecht.
Todos esses valores abordados nos livros mencionados foram comunicados
através do tempo de diversas formas. As formas mais institucionalizadas, além dos
livros em si, foram:
Revista Odebrecht Informa: poderoso meio de comunicação. Ao longo do tempo foi
sendo publicado em outros idiomas;
Mitos: Emílio Odebrecht que transmite noções de produtividade e educação pelo
trabalho. Mestre Bonifácio, símbolo dos mestres-de-obra, do trabalho em si e da
carreira longeva na empresa, visto que entrara em 1929 na empresa de Emílio
Odebrecht e até a década de 1990 ainda trabalhou ativamente na Odebrecht. Os
mestres-de-obra, símbolo do trabalho e da noção de que a descentralizão foi um
caminho acertado. E por fim Norberto Odebrecht, o fundador da Odebrecht,
pensador, disposição para a reflexão e que concebeu a TEO;
Educação pelo trabalho: a prática de eleger sucessores planejados e de que seria
necessário desenvolvê-los dentro dos valores da Odebrecht.
E de fato, os valores mencionados nos livros, existem suficientes evidências de
que muitos deles estão bastante enraizados na cultura Odebrecht. Quando abordamos
anteriormente os desafios do empreendedorismo, navegação no ambiente, gestão da
diversidade e gestão de RH, muitos deles surgiram como mecanismos importantes no
desenvolvimento de competências para o sucesso no longo prazo.
Portanto, por todas essas evidências, é possível afirma que a Odebrecht de fato
tem desenvolvido um mecanismo sistematizado para tratar a complexidade do
crescimento. Mas não foi apenas no nível de gestão. No nível técnico também
existiram diversas iniciativas que corroboram para a existência de capacitação em
desenvolver procedimentos sistemáticos.
Como abordado, as obras da Odebrecht eram muitas vezes realizadas em
sítios remotos. Existem evidências claras de que a Odebrecht buscou integrar os
conhecimentos desenvolvidos nessas obras, com o objetivo de aumentar a base de
conhecimento da empresa e credenciá-la para a realização de mais obras. Alguns
desses instrumentos foram: Odebrecht Informa, Boletim Técnico, Concursos e
Prêmios, e Comitês.
168
Portanto, existem evidências que sugerem o desenvolvimento da capacitação na
gestão da complexidade. A dúvida que resta é se essa capacitação se confirma no
negócio de Petroquímica. De toda forma, existe um grande esforço para implementar
mecanismos que façam introduzir os valores da Odebrecht na Petroquímica, como:
plano de ação, programa de ação, integração com empresários da terceira geração da
Odebrecht etc.
169
6. Conclusões
O presente estudo inicialmente tomou por base que a Odebrecht não foi “first
mover” nos negócios de construção pesada e petroquímica. Com relação ao negócio
de construção pesada, não existem evidências conclusivas para indicar uma empresa
“first mover” nesse setor. As evidências sugerem que a Odebrecht realizou parte dos
investimentos necessários tardiamente, entretanto o investimento em distribuição
internacional foi realizado simultaneamente com outras importantes empresas do setor
de construção pesada.
No negócio de petroquímica, não existem evidências para sugerir a existência de
uma empresa “first mover” na indústria brasileira, embora a Braskem esteja no
processo de realizar os investimentos propostos por Chandler (1990). Portanto, a
pesquisa teve como objetivo esclarecer:
Primeiro - “Em que medida a Odebrecht desenvolveu capacitações de
forma consistente ao longo de sua trajetória que a fazem propensa à
longevidade saudável?
Segundo - “Como as respostas aos desafios do crescimento da Odebrecht
ao longo de sua trajetória podem explicar sua transição de empresa desafiante
para dominante nos dois principais negócios onde ela atua?”
Para responder as duas perguntas, o instrumental utilizado foi o dos arquétipos
do sucesso e do fracasso (Fleck, 2006).
Com relação à primeira pergunta, buscou-se entender em que medida a
Odebrecht desenvolveu capacitações de forma consistente que explicam o sucesso
alcançado pela firma. Sob a perspectiva dos arquétipos do sucesso e fracasso de
Fleck (2006), foram descritas ao longo do trabalho evidências que sugerem que o
sucesso da Odebrecht foi obtido através das capacitações desenvolvidas, conforme
apresentado na tabela 6.1.
170
Tabela 6.1 – Evidências para o desenvolvimento de capacitações.
Desafio Capacitação Consistente: Sim / Não
Ambição Sim
Versatilidade Sim
Recursos Financeiros Sim
Julgamento Não
Empreendedorismo
Expansão Produtiva Sim
Legitimidade Não
Navegação no ambiente
Captura de Valor Sim
Gestão da diversidade
Coordenação em construção de relações
de integração
Sim
Antecipação de necessidade Sim
Formação Sim
Retenção Sim
Gestão de RH
Renovação Sim
Gestão da complexidade Gestão da complexidade Sim
Ao longo do período estudado, além de desenvolver essas capacitações, a
Odebrecht buscou aprimorá-las através dos processos de aprendizado pelos quais a
empresa passou. E mais importante, existem evidências de que a Odebrecht foi bem
sucedida em seu processo de infusão de valores (Selznick, 1957), colaborando para
que tais capacitações se tornassem persistentes ao longo de sua trajetória. Segundo
Fleck (2006), as empresas que desenvolvem de forma consistente esse conjunto de
capacitações estão propensas à auto-perpetuação. Nesse caso, a Odebrecht
desenvolveu a maior parte dessas capacitações de forma consistente ao longo de sua
trajetória. Portanto, a Odebrecht tem desenvolvido forte propensão à auto-
perpetuação.
Com relação à segunda pergunta, buscou-se entender como as capacitações
desenvolvidas de forma consistente pela Odebrecht explicam a posição de dominância
alcançada nas indústrias de atuação. Segundo Chandler (1990), empresas
dominantes são empresas líderes de mercado que realizaram os 3 investimentos
171
necessários: distribuição nos níveis nacional e internacional, capacidade produtiva e
hierarquia gerencial.
No caso da construção pesada, não foi possível determinar qual empresa
realizou primeiramente os investimentos necessários. Entretanto, o estudo concluiu
que a Odebrecht, apesar de ter realizado alguns desses investimentos necessários
tardiamente, realizou todos os investimentos e alcançou posição de dominância.
Com relação ao setor de petroquímica, as evidências sugerem que ainda não
existe uma empresa “first mover”, portanto não é possível considerar a Odebrecht
como empresa dominante.
De toda a forma, os caminhos trilhados para obter posição de liderança na
construção pesada e na petroquímica foram diferentes. A começar pela diferença
entre esses dois setores da economia. A tabela 6.2 reúne as principais diferenças
entre os setores.
Tabela 6.2 – Características dos Setores de Construção Pesada e Petroquímica.
Características Construção Pesada Petroquímica
Natureza do negócio Serviços Indústria
Exemplos de produtos
Construção de obras de infra-
estrutura como portos, pontes,
hidrelétricas, estradas etc.
Eteno, metanol, resinas
termoplásticas, elastômeros etc.
Tecnologia
O desenvolvimento da base de
conhecimento tecnológico das
maiores empresas já foi
desenvolvido, estando capacitadas
para realizar grande parte das obras
de construção pesada necessária.
Tecnológico-intensiva para
desenvolvimento de novos produtos
e processos. Mais oportunidades de
inovação se comparado ao setor de
construção pesada.
Investimento -
Pesquisa e desenvolvimento e
aumento de capacidade produtiva.
Mão-de-obra
Intensiva em mão-de-obra, alta
rotatividade e baixa produtividade.
Bastante qualificada e bem
remunerada. Tem elevada relação
capital/trabalho.
Produção
Por projetos. As obras são realizadas
em localidades distintas, desde
lugares remotos como dentro das
grandes cidades.
Contínua. Importância em ganhos de
escala de produção concentrada em
poucas plantas industriais e grandes.
Logística
As equipes devem se deslocar até o
local de realização da obra.
Custo de transporte proporcional às
distâncias que o produto percorre.
Quanto mais básico for o produto
menor é o seu valor agregado.
Gestão
Gestão de um grande número de
recursos humanos e atividades
mediante as premissas de um projeto
de construção.
Dimensionar a capacidade produtiva
das plantas industriais de forma a
ganhar em escala.
Necessidade de capital
Financiar as obras. Muitas vezes é
necessário oferecer opções de
financiamento também ao
contratante.
Capital-intensiva.
Normas ambientais -
A indústria segue padrões rígidos de
normas ambientais.
172
No negócio de construção pesada, a Odebrecht promoveu principalmente 3
processos que a colocaram como líder de mercado no Brasil: capacitação tecnológica,
capacitação em gestão e desenvolvimento de relacionamento com cliente. A
capacitação tecnológica foi importante porque ao expandir sua base de conhecimento
tecnológica, a Odebrecht habilitou-se para realizar obras de grande porte com os mais
variados graus de complexidade. A expansão da base tecnológica da Odebrecht
aconteceu de duas formas: aquisição de empresas concorrentes, como a CBPO e a
Tenenge; e aceitando riscos de obras de grande desafio, como a Usina Nuclear de
Angra dos Reis.
A capacitação em gestão foi importante, porque na medida em que os projetos
ganhavam em complexidade, os desafios para gerenciar as obras aumentavam. Tais
desafios implicavam fundamentalmente em: gerenciar um grande contingente de
pessoas; gerenciar uma ampla variedade de atividades; coordenar diversos parceiros
terceirizados responsáveis por partes da obra; e planejar financeiramente o projeto de
modo a garantir a sua rentabilidade.
A capacitação tecnológica e a de gestão foram condições necessárias para a
Odebrecht expandir tanto no nível nacional como no nível internacional. Por fim, o
desenvolvimento de relacionamento com seus clientes foi o fator que alavancou a
captura de valor (Fleck, 2006). Ao observar a trajetória da Odebrecht, existem
evidências de que ela realizou várias obras para um mesmo cliente ao longo do
tempo. São exemplos de cliente: Governo Federal do Brasil; Governo de Angola;
Aeroporto de Miami, onde conquistou 15 contratos (Odebrecht, 2006a, p. 20). O
caso do Governo de Angola ilustra bem a importância dessa característica. A
Odebrecht esteve naquele país para construir uma usina hidrelétrica na década de
1980 e nunca mais saiu de lá. Após a sua guerra civil, as oportunidades para
reconstruir aquele país são freqüentes.
No negócio de petroquímica, a explicação mais básica é a de que a Odebrecht
promoveu um processo de aquisição de empresas que culminou com a compra da
Copene em 2002, maior empresa petroquímica naquela ocasião. Portanto, ao formar a
Braskem a partir das empresas adquiridas a Braskem automaticamente se
transformou na maior empresa do Brasil em faturamento.
Entretanto, a atuação da Odebrecht na petroquímica não se resumiu a
aquisições e soma das partes adquiridas. A Odebrecht vem promovendo um processo
de investimentos necessários na indústria para se tornar “first mover” (Chandler, 1990)
173
no Brasil. Com a Braskem, a Odebrecht formou uma empresa que: fabrica produtos de
primeira e segunda geração, portanto mais integrada e produzindo uma maior
diversidade de produtos; ganhou escala administrativa, produtiva e de pesquisa e
desenvolvimento; e eliminou boa parte da complexidade, pelo menos para si, de ter
que realizar decisões empresariais em conjunto com outras sócias. Entretanto, a
busca constante por produtividade, característico da Odebrecht, foi importante para
recuperar sinergias e proporcionar maior eficiência das empresas adquiridas,
capturando valor e aumentando a rentabilidade de suas operações.
Além do processo acima mencionado, a Odebrecht levou para a petroquímica
sua experiência em desenvolvimento de relacionamentos com clientes. Essa
característica mostrou-se importante na medida em que gerou oportunidades de
desenvolvimento de novos produtos ou aplicações para a indústria de transformação.
Dessa forma, a Odebrecht aumenta também a demanda por seus produtos. O caso
que melhor ilustra essa característica na petroquímica é o caso dos copos
descartáveis de polipropileno da Zanatta.
Os caminhos trilhados nesses dois setores, construção pesada e petroquímica
aparentemente diferem entre si. Entretanto, a partir da análise em profundidade
realizada sobre as capacitações dinâmicas (Fleck, 2006) no capítulo 5 desse trabalho,
é possível sugerir que a Odebrecht tem apresentado traços semelhantes tanto na sua
trajetória em construção pesada como na petroquímica.
As capacitações desenvolvidas em empreendedorismo e navegação no
ambiente foram condições necessárias para que a empresa promovesse um processo
de crescimento contínuo (Chandler, 1977). Esse crescimento contínuo, segundo Fleck
(2006), fornece condições necessárias para a renovação da firma. Conforme já
mencionado, a Odebrecht apresentou nos setores analisados os seguintes processos
de renovação: produtividade, desenvolvimento de relacionamento com clientes e
desenvolvimento da base de conhecimento da firma.
Nesses processos, a Odebrecht consistentemente gerou folgas importantes. A
produtividade gerou folga de recursos financeiros e folga de capacidade produtiva. A
relação com clientes gerou folga de carteira de clientes. E a base tecnológica gerou
folgas de novas utilizações para recursos produtivos existentes.
Por outro lado, o crescimento trouxe desafios para a integridade da empresa.
Dentre os mecanismos desenvolvidos pela Odebrecht para garantir essa integridade,
talvez o mais importante tenha sido o de formação e retenção de recursos humanos
experientes e treinados. Esse processo de fato gerou folga de recursos da alta
174
gerência. Essa folga possibilitou que recursos humanos assumissem
responsabilidades na gestão de novos negócios, na transmissão de valores e
treinamento de recursos humanos mais jovens.
Apesar da propensão à auto-perpetuação, a falta de desenvolvimento de duas
capacitações de forma consistente pode ameaçar o sucesso da empresa no longo
prazo. Essas capacitações são a de julgamento empresarial e desenvolvimento de
legitimidade. Conforme foi abordado no capítulo do desafio do empreendedorismo, em
algumas ocasiões, a Odebrecht não apresentou a capacitação em julgamento para
minimizar os riscos do seu crescimento. Durante a incursão da Odebrecht na
petroquímica na década de 1990, por exemplo, seus negócios nesse setor estavam
bastante endividados, gerando rumores de que estavam a ponto de “quebrar”.
Com relação à legitimidade, existem evidências que sugerem a existência de
credibilidade da Odebrecht como provedora de serviços e produtos. Entretanto, com
relação à imagem da empresa perante a sociedade onde ela atua, talvez a Odebrecht
não a tenha desenvolvido de forma consistente. A Odebrecht passou por um período
difícil por causa de irregularidades ocorridas durante o Governo de Fernando Collor e
que acarretaram o impeachment do presidente. Na época os escândalos com relação
às obras públicas resultaram no envolvimento da Odebrecht e até em participação de
Emílio A. Odebrecht na CPI que apurou o problema.
6.1. Contribuições do Estudo
Segundo Bethlem (1996), não existem no Brasil setores dedicados à história das
empresas ou de negócios, assim como existe nos EUA. Portanto, esse trabalho
contribui para a formação de um acervo de trabalhos históricos realizados sobre
empresas no Brasil, como um trabalho de pesquisa sobre a história dos 60 anos da
Odebrecht e sobre os setores de construção pesada e petroquímica do Brasil.
Ainda conforme Bethlem (1999), o Brasil é carente de modelos tricos que
possam ser aplicados à realidade brasileira. Dessa forma, o presente trabalho também
contribui para validar o referencial teórico desenvolvido por Fleck (2006) para
avaliação de empresas brasileiras.
Para a Odebrecht, espera-se que o estudo contribua para promover um debate
sobre o grau de conhecimento que a empresa possui sobre os seus valores e o seu
caráter. Tal conhecimento é relevante para processos de mudanças.
175
6.2. Sugestões para Futuras Pesquisas
Durante todo o estudo, uma série de desafios para estabelecer um correto
julgamento sobre o desenvolvimento de capacitações da empresa foi detectada. A
falta de uma metodologia que permitisse empregar indicadores quantitativos para a
avaliação da Odebrecht sob a ótica dos arquétipos de Fleck (2006) foi o maior desafio
notado pelo autor. Outros trabalhos que utilizaram o ferramental oferecido por Fleck,
como Rodrigues (2005) e Jabour (2006) buscaram avaliar a intensidade das respostas
aos desafios do crescimento atribuindo nota para as respostas e depois somando o
resultado.
Entretanto, na opinião do autor, essa é uma metodologia válida, mas que ainda
está dando seus primeiros passos. Primeiro, porque as evidências são consideradas
de forma isolada, sem a preocupação de determinar a recorrência de determinadas
respostas aos desafios do crescimento, própria do caráter das empresas. Depois
porque essa metodologia ainda não se traduz em uma forma simples e menos
subjetiva de indicar a propensão das empresas ao sucesso ou fracasso.
Uma sugestão de futuras pesquisas seria estudar formas menos subjetivas e
simples de avaliar a propensão das empresas ao sucesso ou ao fracasso. Na opinião
do autor, o desenvolvimento de uma metodologia para determinação de indicadores
quantitativos deveria ser o caminho mais adequado. Uma tentativa que já se posiciona
nesse sentido é o indicador de tamanho e desempenho das empresas que mede a
participação do faturamento e do lucro, respectivamente, no PIB do país de origem da
empresa analisada.
Outro desafio importante foi a avaliação do ambiente. O autor deu alguns passos
iniciais para a revisão de um referencial teórico mais apropriado para o estudo que
considerasse as dimensões de análise do ambiente de forma ampla. Entretanto, a
tarefa se mostrou mais difícil do que parecia e o autor acabou não utilizando o
conhecimento construído até então. De toda forma, um instrumental para avaliação do
ambiente parece ser de grande utilidade para estudos sobre crescimento de
empresas.
Outro desafio que o autor notou foi a falta de sistematizão da metodologia a
ser aplicada nos estudos sobre crescimento de empresa. O autor deu alguns passos
iniciais para desenvolver uma ferramenta de coleta de dados e auxílio na análise.
Entretanto, a ferramenta ainda é muito simples, sendo necessárias a sua maior
utilização por mais pesquisadores e contribuições para melhorias que promovessem o
desenvolvimento de tal ferramenta.
176
Sobre a Odebrecht, a Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO) é um tema que
merece um estudo mais aprofundado. Algumas das perguntas que ficaram sem
respostas durante a pesquisa e que podem ser avaliadas em uma nova pesquisa são:
O que é a TEO? É um livro? É um conjunto de valores institucionalizados,
externalizados em um livro? São os ideais de Norberto Odebrecht externalizados em
um livro?
Quais foram os mecanismos utilizados para a infusão bem sucedida do termo
TEO na Odebrecht?
A TEO pode ser utilizada como um instrumento de infusão de valores?
Outro desafio importante durante o estudo foi a falta de estudos sobre o setor de
construção pesada do Brasil a partir da década de 1990. Portanto, uma sugestão de
nova pesquisa seria um estudo histórico em profundidade sobre o setor de construção
pesada.
Por fim, uma última sugestão de pesquisa é o estudo sobre outros grupos
empresariais que iniciaram no negócio de construção pesada e petroquímica.
Exemplos: Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Grupo Ultra etc.
Seria interessante avaliar a trajetória desses grupos em comparação com a trajetória
da Odebrecht.
177
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8. ANEXOS
8.1. Presidentes do Brasil
Tabela 8.1 – Presidentes do Brasil.
Ordem de
Presidentes
Presidente Início do Governo Fim do Governo
1 Deodoro da Fonseca 15.11.1889 25.02.1891
2 Deodoro da Fonseca 25.02.1891 23.11.1891
3 Floriano Peixoto 23.11.1891 15.11.1894
4 Prudente de Moraes 15.11.1894 15.11.1898
5 Campos Salles 15.11.1898 15.11.1902
6 Rodrigues Alves 15.11.1902 15.11.1906
7 Affonso Penna 15.11.1906 14.06.1909
8 Nilo Peçanha 14.06.1909 15.11.1910
9 Hermes Fonseca 15.11.1910 15.11.1914
10 Wenceslau Braz 15.11.1914 15.11.1918
11 Rodrigues Alves - -
12 Delfim Moreira 15.11.1918 28.07.1919
13 Epitácio Pessoa 28.07.1919 15.11.1922
14 Arthur Bernardes 15.11.1922 15.11.1926
15 Washington Luís 15.11.1926 24.10.1930
16 Júlio Prestes - -
17 Menna Barreto 24.10.1930 03.11.1930
18 Isaías de Noronha 24.10.1930 03.11.1930
19 Augusto Fragoso 24.10.1930 03.11.1930
20 Getúlio Vargas 03.11.1930 20.07.1934
21 Getúlio Vargas 20.07.1934 10.11.1937
22 Getúlio Vargas 10.11.1937 29.10.1945
23 José Linhares 29.10.1945 31.01.1946
24 Gaspar Dutra 31.01.1946 31.01.1951
25 Getúlio Vargas 31.01.1951 24.08.1954
26 Café Filho 24.08.1954 08.11.1955
27 Carlos Luz 08.11.1955 11.11.1955
28 Nereu de O. Ramos 11.11.1955 31.01.1956
29 Juscelino Kubitschek 31.01.1956 31.01.1961
30 Jânio Quadros 31.01.1961 25.08.1961
31 Paschoal R. Mazzilli 25.08.1961 08.09.1961
32 João Goulart 08.09.1961 24.01.1963
33 João Goulart 24.01.1963 01.04.1964
34 Paschoal R. Mazzilli 02.04.1964 15.04.1964
35 Castello Branco 15.04.1964 15.03.1967
36 Costa e Silva 15.03.1967 30.10.1969
37 Aurélio Lyra 31.08.1969 30.10.1969
38 Augusto Radamaker 31.08.1969 30.10.1969
39 Márcio Melo 31.08.1969 30.10.1969
40 Emílio G. Médici 30.10.1969 15.03.1974
41 Ernesto Geisel 15.03.1974 15.03.1979
42 João B. Figueiredo 15.03.1979 15.03.1985
193
Ordem de
Presidentes
Presidente Início do Governo Fim do Governo
43 Tancredo Neves - -
44 José Sarney 15.03.1985 15.03.1990
45 Fernando Collor 15.03.1990 02.10.1992
46 Itamar Franco 02.10.1992 01.01.1995
47 Fernando H. Cardoso 01.01.1995 01.01.1999
48 Fernando H. Cardoso 01.01.1999 01.01.2003
49 Luiz Inácio Lula da Silva 01.01.2003 01.01.2007
50 Luiz Inácio Lula da Silva 01.01.2007
Fonte: Presidência da República ... (2007).
8.2. Séries Históricas
8.2.1. Valores do PIB
Tabela 8.2 - Valores do PIB a Partir de 1946
Ano Moeda
PIB
Ano Moeda
PIB
1946 Cr$ 160.014.250.000
1976 Cr$ 1.633.963.079.798
1947 Cr$ 178.500.000.000
1977 Cr$ 2.492.977.884.176
1948 Cr$ 207.400.000.000
1978 Cr$ 3.617.245.645.792
1949 Cr$ 241.900.000.000
1979 Cr$ 5.961.236.013.013
1950 Cr$ 281.500.000.000
1980 Cr$ 12.507.806.000.000
1951 Cr$ 348.800.000.000
1981 Cr$ 24.015.788.000.000
1952 Cr$ 410.200.000.000
1982 Cr$ 48.680.718.000.000
1953 Cr$ 489.500.000.000
1983 Cr$ 109.386.334.000.000
1954 Cr$ 671.200.000.000
1984 Cr$ 347.886.015.000.000
1955 Cr$ 814.700.000.000
1985 Cr$ 1.307.718.616.000.000
1956 Cr$ 1.028.900.000.000
1986 Cz$ 3.502.630.801.000
1957 Cr$ 1.249.500.000.000
1987 Cz$ 11.103.965.772.000
1958 Cr$ 1.555.000.000.000
1988 NCz$ 80.782.983.199
1959 Cr$ 2.320.000.000.000
1989 NCz$ 1.170.387.103.582
1960 Cr$ 3.182.000.000.000
1990 Cr$ 31.759.185.000.000
1961 Cr$ 4.652.725.000.000
1991 Cr$ 165.786.498.000.000
1962 Cr$ 7.452.000.000.000
1992 Cr$ 1.762.636.611.000.000
1963 Cr$ 13.375.725.000.000
1993 CR$ 38.767.064.000.000
1964 Cr$ 26.214.000.000.000
1994 R$ 349.204.679.000
1965 Cr$ 42.662.000.000.000
1995 R$ 646.191.517.000
1966 Cr$ 62.789.000.000.000
1996 R$ 778.886.727.000
1967 NCr$ 82.783.000.000
1997 R$ 870.743.034.000
1968 NCr$ 115.171.000.000
1998 R$ 914.187.877.000
1969 NCr$ 151.400.000.000
1999 R$ 963.868.538.000
1970 Cr$ 194.315.303.824
2000 R$ 1.086.699.881.000
1971 Cr$ 258.296.115.417
2001 R$ 1.198.736.000.000
1972 Cr$ 346.580.797.177
2002 R$ 1.346.028.000.000
1973 Cr$ 511.834.251.175
2003 R$ 1.514.924.000.000
1974 Cr$ 745.136.153.841
2004 R$ 1.766.621.000.000
1975 Cr$ 1.049.517.572.083
2005
R$ 1.937.598.000.000
Fonte: Grigorovski (2004) período de 1946 – 2003, Jabour (2006) ano de 2004, Vieira (2006) ano de 2005
194
Tabela 8.3 - Relações de Conversão entre o Real e as Moedas do Brasil
Ano Moedas Relação de Conversão
1942 a 1966
Real e Cruzeiro I 2.750.000.000.000.000
1967 a 1969
Real e Cruzeiro Novo 2.750.000.000.000
1967 a 1985
Real e Cruzeiro II 2.750.000.000.000
1986 a 1987
Real e Cruzado 2.750.000.000
1988 a 1989
Real e Cruzado Novo 2.750.000
1990 a 1992
Real e Cruzeiro III 2.750.000
1993 Real e Cruzeiro Real 2.750
1994 a 2003
Real e Real 1
Fonte: Banco Central do Brasil (2004 apud Grigorovski, 2004)
8.2.2. Valores da Receita Líquida de Empresas de Construção
Tabela 8.4 – Valores da Receita Líquida de Empresas de Construção Pesada desde 1970
Ano Fonte Tipo Unidade
Camargo
Corrêa
Andrade
Gutierrez
Norberto
Odebrecht
Constr.
Queiroz
Galvão
1970
Quem é
quem
Vendas
Líquidas
Mil Cr$ 92.274
1971
Quem é
quem
Vendas
Líquidas
Mil Cr$ 899.753 116.651 62.063 101.893
1972
Quem é
quem
Faturamento Mil Cr$ 914.347 243.587 91.317 141.965
1973
Exame
Vendas
líquidas
Mil Cr$ 1.022.510 611.017 648.802 223.000
1974
Exame
Vendas
líquidas
Mil Cr$ 1.742.210 960.631 761.830 329.909
1975
Exame
Vendas
líquidas
Mil Cr$ 2.019.378 1.570.240 1.317.197 493.534
1976
Balanço
anual
Vendas
líquidas
Milhões Cr$ 3.136 2.545 1.466 650
1977
Balanço
anual
Vendas
líquidas
Milhões Cr$ 5.679 4.736 3.197 1.236
1978
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 8.377 9.467 5.839 2.759
1979
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 11.816 14.561 12.753 3.710
1980
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 33.192 31.217 17.110 9.040
1981
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 105.620 76.032 46.676 16.357
1982
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 216.694 176.240 117.621 40.590
1983
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 366.369 367.163 241.516 63.354
1984
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 1.369.319 1.128.156 965.786 267.854
1985
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões Cr$ 4.184.713 4.568.733 3.304.235
1986
Balanço
anual
Receita
líquida
Mil Cz$ 4.864.610 8.572.520 7.001.229 2.765.877
1987
Balanço
anual
Receita
líquida
Mil Cz$ 22.925.905 49.651.458 38.568.497 10.969.119
1988
Balanço
anual
Receita
líquida
Mil NC$ 278.820 689.000 553.406 74.871
1989
Balanço
anual
Receita
líquida
Mil NC$ 5.284.952 10.916.725 9.076.795 860.134
1990
Balanço
anual
Receita
líquida
Milhões CR$ 1.098.592 801.209 1.636.869 618.826
1991
Balanço
anual
receita
líquida
Milhões CR$ 487.183 1.207.356 574.857 55.585
195
Ano Fonte Tipo Unidade
Camargo
Corrêa
Andrade
Gutierrez
Norberto
Odebrecht
Constr.
Queiroz
Galvão
1992
Balanço
Anual
Rec. Oper.
Líquida
Milhões CR$ 8.293.939 16.722.419 6.353.586 994.700
1993
Balanço
Anual
Rec. Oper.
Líquida
Milhões CR$ 214.638 451.454 149.497 22.471
1994
Balanço
Anual
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 802.717 1.798.882 405.347 298.756
1995
Balanço
Anual
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 511.198 963.601 523.502 253.161
1996
Balanço
Anual
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 688.222 731.824 685.140 398.731
1997
Balanço
Anual
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 604.567 785.443 997.309 475.306
1998
Balanço
Anual
receita
líquida
Mil R$ 1.049.715 902.616 1.323.591 496.275
1999
Site Gazeta
Mercantil
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 750.712 495.085 1.252.738 503.851
2000
Balanço
Anual
receita
líquida
Mil R$ 1.098.592 801.209 1.636.869 618.826
2001
Balanço
Anual
receita
líquida
Mil R$ 1.205.187 911.581 1.888.344 833.817
2002
Site Gazeta
Mercantil
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 1.168.794 797.417 2.570.310 955.214
2003
Balanço
Anual
receita
líquida
Mil R$ 1.020.460 695.589 2.567.895 822.638
2004
Balanço
Anual
receita
líquida
Mil R$ 1.074.754 848.513 3.232.396 971.014
2005
Site Gazeta
Mercantil
Rec. Oper.
Líquida
Mil R$ 1.037.370 953.240 3.816.557 1.135.829
8.3. Trajetória da Economia
Entre 1967 a 1973, o Brasil assumiu uma trajetória de crescimento que
proporcionou o nascimento de diversas indústrias no país. A diversificação de ofertas
de bens de consumo acelerou a consolidação do setor de bens de capital através da
crescente demanda que se verificou no país.
O avanço da economia nesse período conhecido como “milagre econômico” foi
permitido por causa da ampla margem de capacidade ociosa da economia; salários
reprimidos, favorecendo a margem de lucro das empresas; incentivo ao consumo de
bens duráveis, através do aumento do endividamento pessoal; política de elevados
gastos públicos; repressão de qualquer crítica ou oposição à política adotada pelo
governo; abertura do país para o exterior e incentivo à diversificação e exportações;
economia internacional favorável, com taxas de crescimento de até 17% no período;
reforma tributária em andamento, que permitiu uma maior arrecadação; e convivência
com a inflação.
A curva de crescimento do país apresentada no gráfico 8.1 demonstra a trajetória
que o Brasil seguiu nesses últimos quase trinta anos. O indicador deste gráfico é
196
calculado a partir da porcentagem da participação do PIB brasileiro, segundo o método
de paridade de poder de compra (PPC), no PIB do Mundo, segundo o mesmo método.
Gráfico 8.1 – Indicador de Tamanho do Brasil
Brasil
2,5
2,7
2,9
3,1
3,3
3,5
3,7
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: IMF (2005)
8.3.1. O Fim do Milagre
Com o nascimento de indústrias e mercados no país, fez-se necessária a
implementação de mecanismos de controle, como a Lei das Sociedades Anônimas, e
outros instrumentos que permitissem uma convivência entre empresas sob uma
estrutura competitiva de mercado. Entretanto, com a crise de especulação de 1972, o
governo, com Mário Henrique Simonsen no Ministério da Fazenda, aumentou seu
controle sobre o mercado. Foi promovida uma sedimentação de poderes e rituais ao
COmitê Interministerial de Preços (CIP), uma política alfandegária e uma rigorosa
manipulação da moeda.
Em 1973, com a decisão de aumentar o preço do barril depetróleo, a OPEP
gerou um impacto histórico na economia do mundo, contribuindo para agravar o
estado de recessão em que muitos países se encontravam. Juntamente com esse
problema, vários países também enfrentaram sérios problemas de inflação alta e alto
desemprego. Foi notória a falta de preparo de muitas administrações governamentais
197
ao conduzir políticas econômicas para sanar os graves problemas que surgiram na
época.
“Quando os reajustes de preços do petróleo provocam desequilíbrios nos balanços
de pagamentos de países ricos, muitos países pobres beiram a insolvência. Quando
os preços dos alimentos básicos se elevam, certos administradores de países ricos
desgastam-se perante os consumidores, mas as populações de alguns países
pobres chegam ao desespero. Não há administrador que resista a situações de
insolvência nacional ou de crises no abastecimento público.” (Mário Garnero,
presidente das empresas do grupo Brasilinvest e da Confederação Nacional de
Indústrias (CNI), em artigo da revista Balanço Anual, 1982, p. 20)
Nessa época do “milagre” brasileiro, o mercado passou uma sensação agradável
de crescimento e resultados fáceis. Juntamente com o término desse período, as altas
taxas de crescimento econômico desapareceram da mesma forma que a economia
mundial também diminuiu seu ritmo. No entanto, o crescimento moderado passou a
ser visto como sinônimo, embora não imediatamente, de menores lucros para os
empresários, de aumento da capacidade ociosa das indústrias e de dificuldade para
pequenas e médias empresas por causa de sua fragilidade financeira. Apesar do país
ter vivido um ambiente de crescimento similar no passado, as chamadas classes
produtoras se tornaram mais articuladas e mais conscientes da influência que tinham
na economia. As reivindicações salariais, por exemplo, surgiram com uma força difícil
de imaginar em 1977. Os sindicatos ficaram mais ativos e o debate político emergiu.
O país começou a conviver com altas taxas de inflação, custos financeiros
excessivos e um rigoroso controle de preços na maioria das atividades econômicas.
Entretanto, o crescimento econômico se mostrou relativamente rápido. A fragilidade da
iniciativa privada e sua reduzida capacidade de competir com empresas estrangeiras
foi aparente. Esta última característica foi notória também para as empresas estatais.
Sem capital e endividada, a empresa privada nacional levou desvantagem e viveu
para pagar juros. Segundo Antônio Ermírio de Moraes, diretor-superintendente da
Votorantim na época, a empresa privada nacional "é o fiel do desenvolvimento
brasileiro. É necessário reduzir o seu perigoso grau de endividamento. Enquanto os
produtos industriais têm preços controlados pelo CIP, o custo do dinheiro sobe
livremente: os que exploram a indústria do dinheiro cobram quanto querem e não
correm nenhum risco, já que as garantias solicitadas atingem pelo menos duas vezes
o total do empréstimo previsto. Não é possível suportar o atual custo do dinheiro."
(Balanço Anual, 1978, p. 14)
No final da década de 1970, o crescimento econômico que havia sido retomado
acarretou um aumento das importações, tanto de combustível como de matéria-prima
industrial e de equipamentos. Da mesma forma, toda vez que a OPEP anunciava
198
aumento do preço do petróleo, a questão da dependência energética do país foi
trazida à tona. Para contornar a situação, foram lançadas medidas para elevar os
preços dos derivados de petróleo para conter seu consumo. Porém, essa medida
estimulou a inflação, pois a gasolina, também um dos derivados do petróleo, tinha um
grande peso na composição total de preços do país. Então, o ritmo de expansão foi
reduzido, pois onerou muito a balança comercial da época.
Em um cenário econômico que se mostrou cada vez mais perigoso para um
crescimento saudável, a política antiinflacionária começou a ruir. Paralelamente, as
taxas de expansão e o nível de emprego se deterioraram, enquanto a dívida continuou
crescendo. Diante dessa situação, os investimentos no país começaram a apresentar
queda. Em 1977, o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI) aprovou projetos no
valor de um terço do valor aprovado no ano anterior. O BNDE aprovou, nesse mesmo
ano, projetos com valor total de 35% menor que no ano anterior.
Segundo o economista Antônio Carlos Lemgruber, então chefe do Centro de
Estudos Monetários e de Economia da Fundação Getúlio Vargas, "o crescimento
econômico do Ps, a médio prazo, naturalmente é alto devido a fatores como o
crescimento demográfico, inovações tecnológicas, articulações com o exterior. Querer
aumentá-lo pressupõe medidas que podem agravar ainda mais o principal problema
do País no momento: a inflação. Esta foi que gerou a crise política de 1964. A ela
também se pode atribuir os atuais conflitos trabalhistas, cujos desdobramentos são
imprevisíveis". (Balanço Anual, 1979, p. 20). Por outro lado, uma política
contencionista gera problemas colaterais, como a recessão, que influenciam o
desempenho de muitas indústrias, como a de construção pesada, bens de capital etc.
De qualquer forma, acreditou-se que o país dificilmente viraria a década com o
problema da inflação minimizado. E foi o que aconteceu, juntamente com o problema
da dívida externa.
O sistema financeiro também nunca se recuperou dos traumas do "milagre”
brasileiro. Naquela época, os negócios aparentemente foram bem, o crédito externo foi
fácil e o governo garantiu cobertura total às instituições financeiras. Quando algum
estabelecimento se mostrou impossibilitado de dar continuidade aos negócios, o
Banco Central executou discretamente uma espécie de intervenção branca. O
interventor procurava, então, vender o estabelecimento para um grupo mais forte,
muitas vezes incentivado pelo governo, que tinha o interesse em diminuir o número de
instituições para facilitar seu controle. As fusões foram baseadas em empréstimos
contraídos no exterior o que gerou um crescente endividamento de muitas instituições
199
privadas. Nessas circunstâncias, foi quase inevitável que grupos com uma carreira de
rápido crescimento e endividamento enfrentassem problemas de liquidez em algum
momento.
Nessa conjuntura, o governo começou a concentrar seus esforços na resolução
dos problemas que acarretaram uma elevação nos níveis de inflação, importações de
petróleo e dívida externa brasileira. Existiram indicações de que as dificuldades
acumuladas nas contas de inflação e do balanço de pagamentos só iriam ceder depois
de algum tempo. Durante a década de 1970, o Brasil aumentou as exportações em
cerca de 8 vezes enquanto que a dívida cresceu quase 20 vezes, a um ponto que a
dívida líquida tornou-se 2,5 vezes maior que o valor das exportações, quando o normal
deveria ser no máximo até 2 vezes.
De todas as formas, a hipótese de que o dinheiro pego emprestado serviu
apenas para rolar as dívidas do país foi um tanto imprecisa. Muitos investimentos
foram realizados em hidroelétricas, como Itaipu (PR) e Tucuruí (PA); em produção de
aço, com a Açominas (MG) e Tubarão (ES); em produção de alumínio, com a fábrica
de Trobetas (PA); etc.
As exportações puxaram o crescimento naquela época. O aumento verificado em
1981 de 20% nas exportações brasileiras significou um crescimento de 1,8% bruto do
produto interno brasileiro. Entretanto, a manutenção desse estado, juntamente com o
acerto nos salários, foi realizada através de inflação. Isso em uma economia que
testemunhou uma grande redução de investimentos: de 22% do PIB em 1978, para
apenas 5% em 1981.
Durante esse período, as empresas nacionais também cresceram muito, apesar
de significar um crescimento modesto quando comparado ao das empresas públicas.
Alguns empresários optaram pela diversificação, motivados pelas novas oportunidades
que se apresentaram em uma economia em transformação.
Nessa época, os grupos privados nacionais absorveram muitas empresas de
capital estrangeiro. Esse fenômeno se explica pelo fato dos grupos estrangeiros não
conseguirem tornar as empresas rentáveis. Existiram também transferências de
controle por motivos políticos, como no setor de telecomunicações onde o governo
obrigou as duas principais empresas a se nacionalizarem, que o Governo era o
principal cliente. Por outro lado, a política restritiva de créditos e a liberalização dos
salários das faixas mais baixas acarretaram um aumento nos custos das empresas.
Sem contar que grande parte da produção nacional dependia de uma série de
subsídios indiretos.
200
Com relação ao problema das dívidas das empresas, a bolsa de valores
empenhou-se na época, em convencer os empresários a abrir o capital de suas
empresas com o argumento de que esse recurso financeiro era mais barato. Com a
restrição de crédito no mercado interno e o risco de endividar-se no exterior diante de
uma possível maxidesvalorização da moeda, o mercado acionário realmente se
mostrou uma boa opção para os empresários. De qualquer forma, os grandes grupos
privados nacionais se endividaram menos e garantiram maior liquidez que as
empresas estatais. Essa cautela vem do fato de que eles não tinham a quem recorrer
em caso de dificuldades.
A política do governo no combate à inflação, que se traduziu em taxas livres de
juros e contenção de créditos, significou certo risco para as empresas na época.
Entretanto, algumas delas possuíam algumas características que as protegiam de
certa forma. Na construção civil, por exemplo, grande parte da mão-de-obra podia ser
dispensada sem maiores problemas. Por outro lado, empresas que possuíam
equipamentos caros correram algum risco naquela conjuntura econômica.
Igualmente preocupante foi o fato de que 5 anos a região metropolitana de
São Paulo não via um investimento de vulto. Era de se esperar que, com essa falta de
crescimento, o desemprego surgisse, por exemplo. No entanto, o resto do país
começou a receber mais investimentos, que outrora eram canalizados para São Paulo.
E não foram todos os setores que tiveram dificuldades. Segundo José Ermírio de
Moraes Filho, "a indústria de cimento foi uma das que menos sofreram até agora.
déficit habitacional no Brasil, é preciso construir casas populares. E as barragens das
hidrelétricas também terão de ser levantadas. Tudo isso consumirá muito cimento."
(Balanço Anual, 1981, p. 19). Paralelamente, os assalariados continuaram a se
organizar em sindicatos para exigir melhores condições de vida. Com o tempo os
operários industriais recuperaram o poder aquisitivo de seus salários com uma série
de negociações possibilitadas por seguidas greves.
Apesar de todas as intempéries da economia e da política na época, o governo
investiu no crescimento das exportações do país, estimulando assim a
internacionalizão da economia brasileira, e na criação de uma indústria de bens de
capital e produtos intermediários, fortalecendo os pontos considerados fracos da
cadeia produtiva da época. Nenhuma empresa que entrou com competência nessas
atividades perdeu dinheiro. A indústria como um todo ganhou uma série de subsídios
do governo para estimular a produção. Da mesma forma, as importações de aço,
alumínio, fosfato, matérias-primas petroquímicas e máquinas começaram a diminuir
201
vertiginosamente depois que as fábricas, cujas construções foram iniciadas na década
de 1970, começaram a produzir. Apesar desse avanço, as companhias do país
dependentes prioritariamente do aço e da energia elétrica ainda apresentavam sinal
de fraqueza.
Em 1981, alguns grupos demonstraram bons resultados, principalmente os
grupos financeiros. Os bons resultados desse setor foram proporcionados pelas altas
taxas de juros praticadas no mercado naquela época. Por outro lado, os grupos que
tiveram mais dificuldades foram os dependentes de atividades industriais. A alta de
juros, a queda na demanda, o fraco desempenho nas exportações e a política de
cortes das importações, que objetivou aliviar a balança comercial, foram elementos
que contribuíram fortemente para o desempenho ruim apresentado por essas
empresas.
Até aquele momento, o Brasil acumulara uma divida de 80 bilhões de dólares, o
equivalente a mais de um quarto de seu Produto Interno Bruto. Acreditava-se que para
pagá-la, o país teria que gerar excedentes em suas contas externas, com um superávit
na balança comercial capaz de conseguir saldo suficiente para quitar a vida. O
problema é que as transações de conta correntes eram as mais deficitárias do mundo.
Julgava-se, então, que a maneira mais rápida para reverter essa situação seria tornar
o país auto-suficiente em petróleo. A mais difícil seria um reajuste profundo na
economia, obtido através de uma longa recessão.
Enquanto isso, o país nada conseguiu além de rolar suas dívidas, através de
mais dívidas. A situação esteve de certa forma sob controle, até que certos fatos que
ocorreram no mundo começaram a tirar a confiança do investidor. A mudança de
regime do Irã em 1978, quando este era um dos países mais estáveis e confiáveis do
terceiro mundo; a falta de pagamento dos compromissos da Polônia, outro país
confiável; a guerra das Malvinas, lançando dúvidas sobre os interesses de países
latino-americanos; e a falta de pagamento dos compromissos do México, a maior
dívida do mundo, próxima da brasileira. Os credores passaram então a ser mais
prudentes.
Diante de um quadro tão desfavorável, a dúvida que se instalou na ocasião foi a
de como os credores puderam emprestar tanto a tomadores com solvência tão
duvidosa. Até aquele momento, a única forma dos países financiarem seus déficits era
através de empréstimos do FMI ou de países credores, que o faziam, mas segundo
medidas econômicas restritivas. Entretanto, um novo mercado surgiu com regras um
pouco diferentes. Os eurodólares eram dólares resultantes do déficit do balanço de
202
pagamentos dos EUA, dos investimentos de empresas norte-americanas e dos gastos
militares. Eram recursos depositados a prazo em bancos na Europa e emprestados
sem qualquer fiscalização de órgão regulador ou autoridade monetária.
Essa nova fonte de financiamento possibilitou a países como o Brasil financiar
seus programas de crescimento. Por que aumentar desemprego, aumentar impostos e
restringir importações quando todos os déficits das contas econômicas poderiam ser
financiados? Por outro lado, essa nova fonte proporcionou uma grande liquidez ao
mercado. No começo da década de 1970, circularam no euromercado
aproximadamente 100 bilhões de dólares. Esse número cresceu para 600 bilhões
aproximadamente em 1977 e, no início da década de 1980, para 1,5 trilhão de dólares.
A verdade é que o Brasil aproveitou bastante essa situação. Segundo o Banco
Central, o volume de empréstimos chegou a 583 milhões de dólares em 1968; em
1971, 2 bilhões; em 1974, 6 bilhões; e em 1981, 45 bilhões de dólares. A facilidade de
obtenção desses recursos foi o principal motivo para a entrada de dólares no país,
mais do que sua necessidade. Entretanto, se os recursos tivessem sido utilizados para
produzir bens ou serviços, a dívida seria justificável. Porém, empréstimos de 300
milhões para pagar os salários do funcionalismo blico não foi o melhor exemplo de
aplicabilidade de recursos financeiros. Dessa forma, os juros pagos começaram a se
tornar um pesadelo na economia. De uma situação onde se pagou 168 milhões de
dólares em 1968, o país passou a pagar 9,2 bilhões em 1981, superando a
amortização do principal, que foi de 7,7 bilhões de dólares. Tal situação de dívida
deixou o país exposto a mudanças na economia mundial.
Por outro lado, a liquidez alcançada com o mercado de eurodólares proporcionou
condições para que o petróleo alcançasse os altos preços da época. A primeira crise
do petróleo serviu como um alerta para que o país diminuísse seu ritmo de
crescimento do PIB. Entretanto, o Brasil continuou importando e aumentando seus
gastos públicos como se estivesse alheio aos acontecimentos no mundo. A segunda
crise do petróleo serviu como uma nova advertência, porém o país continuou a crescer
enquanto o resto do mundo já se retraíra. Em dezembro de 1979, o país tomou uma
série de medidas contraditórias. O governo desvalorizou a moeda em 30% em relação
ao dólar para tornar as exportações mais competitivas e a balança comercial
superavitária. Porém, ao adotar uma política salarial expansionista, o governo
estimulou a inflação quando deveria estar tomando medidas para contê-la.
Com os banqueiros inquietos, o Brasil tomou o caminho da recessão ao adotar
um programa econômico negociado com o FMI. Porém as recomendações do FMI não
203
provaram ser tão eficazes, pois o país continuou com os meios de pagamento fora do
controle, inflação alta e o déficit no orçamento maior do que antes do acordo com o
FMI.
Apesar da grave situação da vida brasileira, o governo acreditou possuir
instrumentos de controle inflacionário. A política salarial foi considerada uma delas.
Porém, dados do IBGE não indicaram esse fator como uma variável que tivesse tanta
influência na inflação. De toda forma, os trabalhadores foram os que menos tinham
poder de barganha naquela época, o que tornou fácil a ação do governo com relação a
essa política salarial. Essa situação se originou desde a época de Getúlio Vargas
quando este acabou com os sindicatos independentes.
A partir dessa crença, talvez infundada, a principal vítima no combate à inflação
foram os salários. E depois vieram os investimentos, que foram mais fáceis de cortar
do que despesas correntes. O consumo de cimento, por exemplo, foi um bom
indicador de queda dos investimentos no país, porque essa matéria-prima possuía um
peso relevante no indicador da Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF). Os
desembolsos do BNDE também apontaram queda. Os projetos aprovados pela
Sudene caíram 56% e os do CDI também ficaram abaixo de níveis de anos anteriores.
O país chegou em 1983 em um nível crítico de recessão que atravessava há 3
anos. A indústria de cimento, considerada um termômetro das atividades econômicas,
enfrentou dificuldades devido à desaceleração da realização de obras públicas e da
retração do setor de construção civil.
Para muitos, a única saída foi a exportação, pois o mercado interno não foi
suficiente para a sobrevivência das empresas. Entre os setores que mais se
destacaram nesta opção foi o de papel e celulose. O setor petroquímico também teve
metas ambiciosas para a exportação. As exportações procedentes do pólo de
Camaçari registraram um aumento de 24% no primeiro semestre do ano de 1982 em
relação ao mesmo período anterior. O estimulo à exportação aconteceu desde
meados da década de 1960, quando o governo desejou dar início a um processo de
substituição dos importados. Em 1974, o choque do petróleo fez reafirmar essa
necessidade.
No meio desse quadro pessimista, existiu uma crença de que, quando o novo
presidente assumisse em janeiro de 1985, o país teria uma liderança capaz de retomar
o ritmo histórico de crescimento econômico do país, frente a uma estagnação
decorrente de uma crise mundial. A expectativa foi de que, no médio prazo, o sistema
204
financeiro iria sofrer as modificações necessárias para oferecer uma base econômica
mais competitiva ao país.
Entretanto, a esfera de poder continuou com os mesmo problemas. Foram vários
os sinais de desgaste da classe que comandou o país. O edifício tributário erguido na
gestão do Marechal Castello Branco foi retocado tantas vezes que perdeu a seriedade.
O sistema foi perdendo credibilidade na medida em que foram criadas exceções.
“Na expressão mais simples, nossa crise política é resultado de uma abertura
demasiado lenta. cerca de 10 anos, no começo de 1973, quando a candidatura
do general Ernesto Geisel ainda balançava aos rumores de continuísmo soprados
pelos ajudantes do general Emílio Médici, um seleto grupo de amigos do então futuro
presidente tentava construir um plano político de longo prazo para vestir o Brasil com
a casaca da democracia. Falava-se em liberdade de imprensa, em controle das
Forças Armadas, em anistia e até numa longínqua eleição direta para presidente,
desenhada, na época, para 1990.” (Balanço Anual, 1983, p. 34)
Os partidos políticos eram ainda instituições relativamente novas e ainda não
tinham se firmado no cenário político. Os dois principais partidos naquela ocasião, o
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e o Partido Democrático Social
(PDS), abrigaram uma grande variedade de políticos com opiniões e interesses dos
mais diversos. Eram organizações ainda jovens e confusas. De qualquer forma, a
década de 1980 foi decisiva para a passagem de poder para as mãos de civis.
Essa característica política também foi notada pelas medidas tomadas. O
governo estruturou a economia de tal forma, que o país conviveu simultaneamente
com três moedas diferentes no dia-a-dia. A classe alta, realizava parte de suas
transações com dólares; a classe média conviveu com a ORTN, que se ajustava a
10% abaixo da inflação; e a classe baixa, que conviveu com o INPC, cerca de 30%
abaixo da inflação. Ninguém viveu do cruzeiro porque a moeda não tinha peso.
A economia viveu um cenário pouco confortável. Tinha a maior dívida do mundo,
o maior déficit em contas correntes, um dos maiores déficits orçamentários e uma
inflação elevada. Recessão e desemprego somaram-se aos efeitos da crise que
marcou presença no país durante esses anos. Uma crise motivada pelo simples hábito
de gastar mais do que devia e rolar suas dívidas com mais dívidas.
A forma com que o Brasil abordou a crise, porém, pode ter sido errada porque
gerou muitas incertezas com relação ao tratamento que o país daria às suas dívidas.
O México, por exemplo, entrou em moratória, mas foi decisivo e claro com relação ao
tratamento que deu às suas dívidas e os prazos estabelecidos para normalizar a sua
situação. O Brasil, por outro lado, estabeleceu acordos e não cumpriu. Na verdade o
país se encontrava em uma moratória, pois havia comunicado que não pagaria as
205
amortizações dos empréstimos de médio e longo prazo que vencessem em 1983,
estimadas em aproximadamente 4,7 bilhões de dólares.
O presidente que assumiu em 1978 teve como encargo reverter essa situação
séria de dívida que o país vivia. Entretanto, suas medidas tiveram um efeito inverso, e
o país se afundou em processo de depressão e a inflação alta que deixou o país com
pouco poder de manobra para sair dessa crise. A dívida externa de 100 bilhões e uma
divida interna equivalente, uma inflação de 200% ao ano, um quadro de desemprego
sério, declínio de investimentos, setor público inchado, sistema habitacional e
previdência perto da falência e um déficit no orçamento público de aproximadamente
18% do PIB na ocasião são algumas das características que o novo presidente, fosse
ele Tancredo ou Maluf, teria que gerenciar. A redução no déficit público levaria a uma
redução nos subsídios e provavelmente nos gastos correntes. Assim como baixar a
inflação levaria aos mesmos problemas.
De fato foram impostas medidas restritivas na economia, mas principalmente ao
setor privado. Enquanto muitas pessoas perderam seus empregos nas empresas
privadas, o setor público continuou um ritmo de expansão em seu quadro de
funcionários. O funcionalismo, os juros e os subsídios tiveram um grande peso nos
gastos públicos. Existiu também o controle de preços realizado pelo CIP, mas que, em
contrapartida, afetou a rentabilidade das empresas. Esse problema inibiu
investimentos de forma geral e a renovação de equipamentos nas empresas, afetando
a qualidade da produção nacional. "As empresas estão no limite máximo de cooperar
no combate à inflação com o congelamento de preços”, comentou o empresário
Antônio Ermírio de Moraes (Balanço Anual, 1985, p. 16)
A área de exportações, canal promissor de escoamento da produção nacional,
ainda não mostrava sinais de maturação. Laerte Setúbal Filho, presidente da
Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB), deixou clara a sua impressão sobre o
tema. "Exportar para onde? Se para a Europa não temos preço, no Oriente Médio a
concorrência com os produtos europeus nos é desfavorável; a África quer fazer
negócios tipo 'barber' (troca de mercadorias por mercadorias ou escambo), e o nosso
governo não aceita; a América Latina reclama do Brasil; e, nos Estados Unidos, cai a
demanda. Para quem vender?” (Balanço Anual, 1985, p. 19)
O problema do desemprego também foi grave nessa época, apesar das
estatísticas oficiais apontarem para o contrário. Por falta de interesse nos dados reais,
o governo não considerou o problema sério. Aliás, o país adquiriu uma capacidade de
ocultar seus problemas e o fez continuamente nesse período. Outro exemplo foi sobre
206
a questão da dívida. Enquanto o Brasil seguiu transparente com relação às suas
dívidas de longo e médio prazo, as referentes ao curto prazo não recebiam o mesmo
tratamento. A posição perigosa nessa linha de crédito se agravou na medida em que a
captação de empréstimos no longo prazo sofreu queda. O déficit público recebeu o
mesmo tratamento. O governo ignorou os cálculos que indicassem um problema sério
do déficit e, portanto, prolongou a confortável situação do setor público. Com intenções
eleitoreiras, o governo aumentou ainda mais o quadro do funcionalismo público,
enquanto o setor privado sofreu sérios problemas com demissões.
Por outro lado, as constantes crises serviram como um aprendizado para as
empresas. Uma queda no endividamento dos grandes grupos, por exemplo,
demonstrou a capacidade que elas tinham de evitar as altas taxas de juros praticadas
no mercado. A prática de negociar melhores condições de prazo com fornecedores
também contribuiu para essa situação. E ainda, as empresas procuraram obter um
controle maior nos estoques, racionalizar mais o imobilizado, instalações e
equipamentos de produção, assim como obter mais financiamento através do
lançamento de ações. Ou seja, um grande esforço para diminuir custos e baratear
seus produtos. Muitas empresas, para driblar a crise, foram em busca do mercado
internacional. Outras optaram pela diversificação ou decidiram fazer investimentos
com maturação demorada. Na época, a preferência foi pela compra de propriedades
agrícolas em regiões ainda pouco exploradas, onde o preço era baixo e a qualidade
das terras era boa.
8.3.2. O Plano Cruzado
O plano cruzado foi instituído em 28 de fevereiro de 1986. Uma onda de
consumismo se espalhou nos primeiros meses do plano cruzado. Somente nos
primeiros 5 meses do ano a produção industrial aumentou 11% com relação ao
mesmo período do ano anterior. Parte das causas que explicam o aumento da
demanda podem ser creditadas ao congelamento de preços que vigorou no país. A
procura foi tão grande que muitos produtos começaram a ser vendidos com ágio. Uma
situação que preocupou tanto que começaram a defender o fim do congelamento.
Muitos boicotaram o plano, como os pecuaristas de gado de corte que se
recusaram a vender seus produtos ao preço de tabela. Entretanto, o descongelamento
foi uma hipótese que a princípio não foi pensada porque vários projetos e obras
começaram a sair do papel. Como esses investimentos demoram a ser
207
implementados, uma inflação foi um risco que o governo não estava disposto a correr
com a liberação de preços.
O aumento da demanda interna somado ao bom desempenho nas exportações,
impulsionado pelo bom momento que as economias dos países desenvolvidos
viveram, possibilitou uma melhora expressiva na receita das empresas. O setor
financeiro que se beneficiou bastante com a crise do país, também continuou a
apresentar bons resultados.
Em 1987, houve queda do consumo no país na medida em que o Plano Cruzado
mostrou sinais de ineficiência e o Plano Bresser ainda não tinha sido definido.
Novamente, com uma crise econômica iminente, o governo foi pressionado a
encontrar soluções para o déficit público. Entretanto, diminuir os gastos públicos
necessariamente acarretaria diminuição da atividade econômica no país. De qualquer
forma, o governo realizou um acordo com o FMI cuja proposta foi de aumentar a carga
tributária e a receita das empresas públicas para diminuir o déficit das contas públicas
do Brasil. A elevação dos preços praticados pelas estatais, decorrente desse acordo,
causou polêmica. O governo foi capaz de elevar preços estimulando a inflação, mas
não foi capaz de cortar custos. Muito menos foi comentado o contínuo aumento dos
gastos públicos com encargos da dívida.
Uma seca que se estendeu desde o final do inverno até o início da primavera
trouxe grandes prejuízos à agricultura do país e, consequentemente, exerceu uma
grande pressão para o aumento da inflação em 1987. O Plano Bresser conteve
temporariamente a alta da inflação, que atingiu 365% nesse ano, através do
congelamento de preços e salários. Mais uma vez esse método foi colocado em
prática.
O problema do corte nos gastos do governo, decorrentes do déficit público,
trouxe também maior cautela nos investimentos do setor privado. A falta de infra-
estrutura do país inibiu qualquer intenção de ampliação dos negócios. Esse quadro
também influenciou as exportações do país. Segundo o empresário Abílio dos Santos
Diniz (Balanço Anual, 1988, p. 12), o Brasil fechou suas portas para o comércio
internacional em um momento em que outros países, mais desenvolvidos, criaram
relacionamentos entre pses.
Os empresários mais importantes da época clamavam por maior participação na
recuperação do País e menor presença do Estado nos negócios. Ângelo Calmon de
Sá, do Grupo Econômico, por exemplo, comentou que "setores da economia
tradicionalmente beneficiados com os incentivos e subsídios concedidos pelo governo
208
- entre eles agricultura e indústria - também são responsáveis porque se favoreceram
desse processo inflacionário" (Balanço Anual, 1989, p. 14). Entretanto, Mário Amato,
então presidente da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo, alertou "a
indústria pode até pagar mais impostos (...) o que queremos é uma melhor aplicação
dos recursos arrecadados".
8.3.3. Novas Abordagens
A inflação ainda perdurou por bastante tempo, sempre atrapalhando o caminho
do crescimento do país. Entretanto, o país começou a promover mudanças internas:
modificou a política de preços e algumas indústrias onde empresas formavam cartel;
iniciou uma abertura com o comércio internacional; começou a promover uma política
salarial de livre negociação. Pela primeira vez, o governo demonstrou querer combater
a inflação com recessão, deixando de lado as seguidas indexações que
acompanharam essa história. A idéia foi restringir o fluxo de moeda, revigorar a
política fiscal e controlar os gastos do governo. Sem criar demandas na economia e
sem moeda pra gastar, a recessão bateu na porta da economia brasileira como uma
tentativa para conter a inflação. Mas naquela altura, o nível de sofisticação da
economia, acostumada com inflação alta, mostrou-se um forte impeditivo.
Apesar das mudanças, algumas correntes de pensamento acreditavam que a
inflação no Brasil somente diminuiria se fossem realizadas as reformas estruturais.
Acabar com a ineficiência do conflito distributivo, do atraso tecnológico, da miséria e
da situação financeira do Estado. De qualquer forma, as empresas estatais
continuaram a promover cortes nos seus gastos para reduzir seus custos. Porém,
essas ações foram estimuladas em troca de maior disponibilidade de recursos para
investimentos. O que não evitou os grandes prejuízos das estatais naquela época,
principalmente as de energia elétrica, esgoto e gás e companhias telefônicas, que se
encontravam bastante endividadas.
Do lado da iniciativa privada, um fenômeno que havia surgido a partir da política
de juros altos para conter a inflação durante o governo de Sarney ganhou maior
notoriedade. Muitas empresas, que não estavam endividadas, tiveram ganhos
financeiros elevados. Entretanto, a realizão das atividades operacionais em paralelo
com as atividades financeiras foi interrompida em 15 de março de 1990. O governo
confiscou por um ano e meio 80% das aplicações de curtíssimo prazo, abriu as
importações, aumentou os impostos, cortou as folhas de pagamento e os
209
investimentos das estatais e manteve uma política de câmbio irreal, que voltou a
níveis condizentes com os custos industriais a partir de setembro daquele ano.
Em 1991, foi lançado o Plano Collor II cuja abordagem foi desindexar a economia
e acabar com os distúrbios produzidos pelas operações overnight. Com esse novo
plano, o país acumulou seu sexto choque econômico em seis anos, todos
acompanhados de reformas monetárias; um confisco dos ativos financeiros;
desvalorizações reais da dívida interna; duas moratórias da dívida interna; seis
Ministros da Fazenda; e sete Presidentes do Banco Central. O programa de mais
longa duração, o Plano Cruzado, durou apenas nove meses.
O déficit do setor público continuou a ser um dos principais inimigos da economia
brasileira e uma das principais causas da inflação. Apesar do Plano Collor I, o mais
ousado, ter conseguido superávit nas contas públicas, sua influência não atingiu os
níveis estruturais do problema brasileiro. Com a volta do déficit em 1991, o governo
ficou com restrições de financiamento por ter perdido crédito público. Entretanto, após
modificações na equipe econômica do governo, o novo negociador da dívida externa,
Pedro Malan, conseguiu mudar as condições da dívida externa, possibilitando a
obtenção de novos recursos para o país.
De qualquer forma, a economia perdeu sua liquidez, juntamente com a queda
generalizada dos lucros das empresas e dos prejuízos que deixaram de ser exclusivos
das empresas estatais. Os resultados ruins de 1990 e 1991 foram também
conseqüência do controle de preços, da taxa cambial e os altos custos das tarifas de
energia, salários e preço de matéria-prima. Sobre a falta de crédito, Antonio Ermírio de
Moraes comentou que "as empresas precisam ganhar muito para poder investir, pois
não financiamento de longo prazo.” (Balanço Anual, 1991, p. 37). Como
conseqüência desse momento ruim, as empresas tiveram que reduzir seus quadros de
funcionários, fechar unidade de produção, alienar imóveis e promover reorganização
societária.
O ano de 1992 foi marcado por recessão com crescimento apenas nas áreas de
agricultura e exportações. No campo externo, o país obteve um desempenho melhor.
As reservas cambiais cresceram e a balança comercial registrou superávit da ordem
de 14,7 bilhões de dólares. Entretanto, a questão sobre a capacidade de atender uma
demanda interna no caso de aquecimento continuou em pauta. A falta de
investimentos no passado foi preocupante, pois as empresas se ajustaram a um
cenário de demandas baixas. De qualquer forma, membros de alguns setores
afirmaram que o mercado externo era um integrante vital. Por exemplo, "o setor de
210
Papel e Celulose não pode ignorar o mercado internacional (...) todos os nossos
planos de investimentos são feitos pensando nas exportações" (Balanço Anual, 1992,
p. 18), afirmou Horácio Cherkassky, então líder na Klabin.
Enquanto isso, a inflação continuou a se apresentar fortemente, e o governo a
tentar contê-la através das taxas de juros. Várias empresas buscaram na justiça,
liminares para não pagar determinados impostos, o que resultou em uma queda no
arrecadamento tributário de 10% no ano de 1991, quando o esperado era um aumento
depois das reformas de emergência de dezembro.
Novamente, o processo de recessão e a diminuição das alíquotas de importação
obrigaram as empresas a promover reestruturações internas em busca de maior
qualidade e produtividade. Enxugamento, redução do quadro de funcionários e
terceirização foram medidas abordadas nesse sentido. Igualmente foi necessário
reduzir os ativos, captar recursos financeiros mais baratos e, inevitavelmente, reduzir
os planos de investimentos. Até porque, a sequência de anos ruins deixou as
empresas descapitalizadas.
O problema no investimento foi onde buscar o dinheiro. Com as seguidas crises
econômicas, o governo também perdeu sua capacidade de financiar. O mercado
financeiro interno também não teve condições de oferecer linhas de crédito no longo
prazo para projetos de longa maturação. A alternativa viável foi buscar financiamentos
no mercado financeiro internacional.
O País, acostumado às seguidas crises econômicas, viveu nessa época também
uma séria crise política que resultou no impeachment do então Presidente da
República, Fernando Collor de Mello.
8.3.4. Um Novo Ciclo de Crescimento
Em meio a crises políticas e econômicas, o governo tentou costurar as pré-
condições para acabar com a inflação através da desindexação da economia. Quando
assumiu o ministério da fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC) comentou que o
problema do país era interno. O país perdeu sua capacidade de gerir sua moeda e,
através do Programa de Ação Imediata (PAI), o governo pretendeu realizar um corte
nos gastos desnecessários do setor público como condição necessária para iniciar
outras reformas na economia. Renegociou o pagamento da dívida pública; criou
controles para conter os gastos estaduais, como, por exemplo, ao aplicar a Lei do
Colarinho Branco; preparou projeto dando mais poder ao Banco Central de intervir em
agentes financeiros; consolidou contas do Tesouro Nacional e do Banco Central.
211
A Secretaria da Receita Federal também começou a agir contra a sonegação de
impostos e as privatizações retomaram seu rumo, principalmente nas áreas de
siderurgia e petroquímica. Certamente, a sequência de privatizações no país
dependeu de grande vontade política. Quanto à origem do capital, o leilão da Usiminas
ressuscitou velhas questões sobre a participação do capital estrangeiro nas
privatizações. Entretanto, a venda das estatais fortaleceu ainda mais alguns grupos
com forte presença nacional, como a Odebrecht, que adquiriu participações em várias
empresas de química e petroquímica.
O aquecimento da economia brasileira contribuiu para um aumento das
importações de bens de capital, máquinas industriais e matérias-primas, entre outros.
Essa situação se acentuou no segundo semestre de 1992 quando houve mais uma
redução tarifária de importação. Por outro lado, as exportações foram uma grande
saída para as dificuldades financeiras das empresas do setor de Papel e Celulose, por
exemplo. Algumas pequenas empresas também encontram nesse caminho
oportunidades que antes foram de exclusividade das grandes empresas.
Em 1994, o então ex-Ministro da Fazenda, FHC, foi eleito Presidente da
República. No seu discurso de vitória declarou que suas prioridades seriam uma
política externa agressiva; um processo de privatização mais extenso; reformas na
máquina do governo através de revisão constitucional; e maior atenção às áreas
sociais, incluindo saúde e educação.
"Nas nossas propostas de governo temos claramente a necessidade de retomar a
construção civil, a irrigação, a reforma agrária, porque esses instrumentos não dizem
respeito diretamente à taxa de crescimento, mas dizem respeito à taxa de bem-estar
da população mais pobre (...) Tem que ser uma privatização que renda alguma coisa
e, também, não podemos fazer como alguns outros países fizeram, que pegaram o
dinheiro da privatização e pagaram salários, porque aí o equilíbrio orçamentário feito
dessa maneira não é bom." (Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República
eleito em Balanço Anual, 1994, p. 9 e 10)
A premissa básica para que o país conseguisse adotar novas medidas de
crescimento passou a ser a consolidão da estabilização, com inflação baixa.
O processo de privatização não foi aceito rapidamente. Houve muita confusão
envolvendo os leilões. Começou na década de 1980 com a privatização de 38
empresas que haviam sido assumidas pelo Estado por estarem com problemas
financeiros. Em 1990, com o Programa Nacional de Desestatização, quinze empresas
foram vendidas com um valor total de US$ 4,7 bilhões. Outras 18 foram privatizadas
na época de Itamar Franco, rendendo US$ 5,8 bilhões, em sua maioria de siderurgia e
petroquímica.
212
com o novo Governo, em 1995, começaram a circular no Congresso projetos
de reforma fiscal ligados às reformas administrativas e da Previdência Social. Duas
questões rias para possibilitar um ajuste fiscal estrutural. Principalmente a questão
da folha de pagamentos do setor público, que somente crescera nos últimos anos.
Com as privatizações que estavam ocorrendo ou programadas, o governo esperava
arrecadar fundos para reduzir seus passivos e então diminuir os encargos da dívida.
No entanto, apesar dos fracassos acumulados pelos Planos que antecederam ao
Real, eles foram importantes, pois contribuíram para estabelecer alguma condição
necessária para a estabilização econômica. O Cruzado, em 1986; Bresser, em 1989;
Verão, 1989; e Collor, em 1990. A conjuntura do país naquela ocasião foi diferente e,
em parte, todos os Planos contribuíram para isso. A economia ficou mais aberta, a
dívida externa foi negociada, as reservas cambiais aumentaram acima de US$ 40
bilhões. Da mesma forma, o setor privado se capitalizou e passou a existir maior
produtividade e competitividade. "O desenvolvimento brasileiro será favorecido pela
estabilização interna, pela retomada da economia mundial e pela existência de
recursos ávidos por investimentos com rentabilidade elevada, que um país em
crescimento pode oferecer" (Balanço Anual, 1995, p. 18), comentou Emílio Odebrecht,
então Presidente da Odebrecht S.A.
A inflação passou e uma série de problemas que habitaram diversos setores da
economia foi descoberta. A agricultura sofreu com um cenário de preços baixos e juros
altos; alguns segmentos do sistema financeiro começaram a se complicar, mais ainda
com a quebra do Banco Econômico; o comércio sofreu com uma grande queda nas
vendas; e por fim o desemprego começou a aumentar.
Para evitar uma crise com o aumento da demanda, o governo abriu as portas
para a importação para evitar um aumento de preços. Logo depois, em fevereiro de
1995, passou a controlar a demanda apertando o crédito e endurecendo as regras do
recolhimento compulsório dos bancos junto ao Banco Central. Como as importações
começaram a crescer, e as exportações, pelo contrário, entraram em queda, o
governo tentou modificar o regime de câmbio para um sistema de bandas de maneira
confusa. Dessa forma, o saldo da balança comercial apresentou insistentemente
resultados negativos.
Com a crise do México, aconteceu fuga de capital. No período que se seguiu à
crise, a preocupação maior do governo foi proteger as reservas cambiais e conter
qualquer surto inflacionário, mesmo que tivesse impostos impeditivos ao consumo e
ao desenvolvimento. Entretanto, a partir de maio de 1995, o capital retornou e o país
213
acumulou reservas cambiais de US$ 46 bilhões aproximadamente. Mas o aumento da
entrada de capitais teve seu preço, pois para absorver a moeda estrangeira que
entrou, o governo teve que disponibilizar moeda nacional, seja através de novas
emissões ou de lançamento de vida pública. Somente entre os meses de julho e
agosto a dívida cresceu 16 bilhões de reais.
Passado um momento inicial de grande consumo no país e em um cenário de
moeda estável, o país começou a sofrer com juros elevados, retração da demanda e
da produção e pesada restrição de liquidez. Outro sério problema foi a inadimplência
setorial e que deixou as instituições financeiras mais rigorosas. O problema nasceu
porque os preços de produtos continuaram no mesmo patamar, e até muitas vezes
decresceu e, por outro lado, as taxas aplicadas ao financiamento cresceram.
Apesar de tantas mudanças no cenário econômico, o déficit público continuou
mostrando presença. A abordagem ao problema, como de costume, passou por ajuste
em preços e tarifas, novos impostos e aumento dos antigos. No entanto, a recessão
passou a ser a palavra mais comentada no país.
Naquela conjuntura, o mau desempenho da atividade exportadora foi afetado por
diversos fatores: rigidez da política cambial, nas altas taxas de juro, na escassez de
créditos, nos elevados impostos e encargos, nos custos de fretes, transportes,
embarques, seguros etc. As reservas cambiais se mantiveram altas, no entanto, por
causa da entrada de capitais financeiros e produtivos. E também por causa das
privatizações.
Em 1996, o Governo lançou o seu projeto de 42 metas com intenção de retomar
o desenvolvimento da infra-estrutura do país, que anos fora deixada ao ostracismo
por falta de investimentos. De forma geral, as obras mais importantes incluíram quatro
grandes hidrovias, o gasoduto Brasil-Bolívia, obras de recuperação de seis rodovias e
modernização de três grandes portos. Porém existiram preocupações nas seguintes
áreas: hidrelétricas, rodovias, hidrovias, portos, aeroportos, energia, comunicação,
correios, saúde, saneamento, educação, justiça. O projeto teve apenas a missão de
resolver alguns problemas críticos na infraestrutura do país, que acumulara um déficit
anual em infraestrutura de US$ 20 bilhões, e oferecer condições para o crescimento e
a competitividade da produção nacional. Dos 54 bilhões de reais orçados para cumprir
as metas do projeto, 10 bilhões foram recursos fiscais garantidos no orçamento do
biênio 1997-98. O restante dependeu exclusivamente de organismos internacionais e
investidores privados, como o International Finance Corporation (IFC), braço financeiro
do Banco Mundial.
214
De forma geral, os projetos que passaram pela iniciativa privada foram mais
fáceis de garantir financiamento com boas condições, como foi o caso de saneamento,
estradas com pedágios e ferrovias. Os projetos com retorno duvidoso e de longo prazo
tiveram maior dificuldade de financiamento, como o caso das usinas hidrelétricas.
Entretanto, com as privatizações que ocorreram e estavam para acontecer, parte
dessa responsabilidade de realizar os projetos passou para a iniciativa privada.
Mas o país continuou a apresentar problemas sérios na sua economia. O risco
de uma crise cambial, estimulada pelo mau desempenho das contas externas do país,
começou a se fazer mais presente. Ainda mais com a crise cambial do Leste Asiático.
A conta fiscal apresentou melhoras em 1996, no entanto não foi o suficiente para
acalmar os investidores em 1997. O déficit público que o país acumulou em 1995 foi
de 7,05% do PIB.
Para sanar este problema de déficit, o governo começou a aumentar a carga
tributária no país para arrecadar mais recursos financeiros. Há 50 anos a carga
tributária correspondia a 15% do PIB; em 1958, subiu para 18,7%; nas três décadas
seguintes se estabilizou em 20%; e no ano de 1998 chegou aos 30%, segundo alguns
especialistas sérios da área, embora a receita federal alegasse 27,95%.
Porém, parte do problema das contas públicas veio da esfera estadual. Foram
concedidos muitos aumentos quando os novos governadores assumiram seus cargos.
Somente a partir de negociações do governo federal com o estadual que as contas
dos estados começaram a se tornar menos problemáticas. Privatizações foram
realizadas, programas de demissão voluntária e acordos de refinanciamento fizeram
parte das negociações. O resultado foi percebido com a diminuição do déficit dos
estados e município de 0,72% do PIB em outubro de 1996 para 0,07% em julho de
1997.
Em 1997, o Programa Nacional de Desestatização (PND) ganhou maior
velocidade e fechou com um saldo de US$ 25,5 bilhões aproximadamente. Nesse
período foram privatizadas a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD); distribuidoras
estaduais de energia; bancos; ferrovias; etc.
215
8.4. Construção Civil
8.4.1. Segmentação do Setor de Construção Civil
O setor de construção civil é muito amplo. Existem diversas empresas que atuam
sob o rótulo de empreiteiras e construtoras. Tendo em vista a dimensão que o
mercado de construção pode assumir, esse trabalho irá assumir a seguinte
classificação: edificação, construção pesada, montagem industrial e serviços especiais
e auxiliares (Chaves, 1985). A tabela 8.5 apresenta as principais características
desses segmentos.
Tabela 8.5 – Características dos Segmentos de Empresas da Construção Civil.
Dimensões Edificações Construção Pesada Montagem Industrial
Serviços Especiais
e Auxiliares
Principais
Atividades
Construção de edifícios
residenciais, comerciais,
de serviços e
institucionais, edificações
modulares horizontais,
edificações industriais.
a construção de infraestrutura viária,
urbana e industrial (terraplenagens,
drenagens, pavimentação e outros
serviços e obras ligados à construção
de rodovias; infra-estrutura ferroviária,
aeroportos, vias urbanas etc) ;
construção de obras estruturais e de
arte (pontes, elevados, contenção de
encostas etc) ; construção de obras
de saneamento (captação, adução,
preservação, tratamento e
distribuição de água, redes de
esgotos, canalizações diversas);
construção de barragens
hidrelétricas, dutos, túneis, super-
estrutura ferroviária, sistemas de
metrôs e obras de tecnologia especial
(fundações especiais, perfuração de
poços de gás e petróleo etc)
a montagem de estruturas
mecânicas, elétricas,
eletromecânicas e
hidromecânicas para a
instalação de indústrias,
montagem de sistemas de
geração, transmissão e de
distribuição de energia
elétrica; montagem de
sistemas de
telecomunicação; montagem
de estruturas metálicas para
finalidades diversas;
montagem de sistemas de
exploração de recursos
naturais e especialmente de
refinarias de petróleo e obras
sub-aquáticas.
As empresas desse
segmento desempenham
atividades
complementares às dos
outros segmentos. Essas
atividades podem variar
desde uma natureza
altamente técnica até as
mais simples.
Organização do
segmento
Heterogeneidade e o
grande número de
unidades produtivas.
Menor heterogeneidade das unidades
produtivas. Por outro lado, estão
presentes nesse segmento as
grandes empresas e também as de
pequeno porte.
Pequeno número de
empresas com alta
concentração de mercado.
Não detalhado
Especialização
As empresas tendem a se
especializar pelo porte de
obra.
Não existe um grau de especialização
técnica. Em geral, as obras de grande
porte estão reservadas às grandes
empresas.
As obras de maior
complexidade tecnológica
estão reservadas às grandes
empresas.
Não detalhado
Atuação em
Outros
Subsetores
Não é típico desse
segmento.
As grandes e médias empresas são
diversificadas.
Diversificação de grandes
empresas.
Não detalhado
Demanda Típica
Mercado privado de
pessoas físicas ou
empresas financiadas na
maior parte das vezes
pelo Estado, através do
Sistema Financeiro da
Habitação.
A demanda desse segmento é
basicamente pública, pois inclui toda
a necessidade de obras de
infraestrutura do país.
Os clientes típicos são
empresas industriais estatais
e privadas.
Não detalhado
Formas de
Contrato e
Comercialização
Interna
Obras contratadas ou por
iniciativa própria.
Obras contratadas. Obras contratadas. Não detalhado
216
Fonte: Chaves (1985)
8.4.2. A História da Indústria de Construção Pesada no Brasil
O desenvolvimento da indústria de construção pesada no país está intimamente
relacionado com o progresso econômico e social do Brasil. As ferrovias brasileiras, os
portos, a malha rodoviária, que se transformou no principal modal de transporte, e as
grandes barragens e usinas geradoras de energia fazem parte da história de nosso
país. Entender a evolução desses setores da infraestrutura brasileira significa entender
a origem das grandes empresas de construção civil assim como de muitas outras
indústrias, que somente puderam existir a partir do progresso empreendido no país ao
longo do século XX.
Igualmente importante, o processo de internacionalização das empresas do setor
de construção deve ser incluído nessa análise. Esse processo reflete não somente o
grau de maturidade tecnológica das empresas atuantes nessa indústria, mas também
a capacidade do país desenvolver uma política internacional e gerar recursos
financeiros importantes para a realização de obras em outros países. Essa última
questão foi fundamental para a internacionalização das empresas, pois proporcionou a
possibilidade de competição com grupos internacionais de construção com origem nos
países mais desenvolvidos, onde a oferta de capital era mais ampla.
8.4.3. O período do Café e os Anos 30
Paralelamente ao desenvolvimento da indústria de café, vários componentes da
infraestrutura de nosso país foram necessários para possibilitar a movimentação da
produção cafeeira que surgiu.
Segundo Castro (1979), a construção das estradas de ferro foi realizada
basicamente em dois grandes períodos: de 1852 até 1880 e de 1906 até 1913. O
primeiro período se inseriu no momento das grandes construções de ferrovias
lideradas pela Inglaterra em todo o mundo. E o segundo período, que viria a
complementar a expansão já realizada, manifestou-se sob o comando de grandes
empresas estrangeiras - a Great Western of Brazil, no Nordeste, a Leopoldina Railway
na Região Central, a Brazil Railway Co., no Sul do país.
Muito embora existissem outras razões para a existência de ferrovias, a indústria
do café foi a principal responsável pelo seu desenvolvimento, o que pode ser conferido
pela grande concentração da malha ferroviária na região do café que incluiu o Espírito
217
Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A expansão da extensão da malha
ferroviária está representada na tabela 8.6.
Tabela 8.6 – Expansão das Estradas de Ferro das Primeiras Linhas em 1854 à 1929.
ANO REGIÃO CAFEEIRA Km BRASIL Km
1854 14,5
14,5
1859 77,9
109,4
1864 163,2
411,3
1869 450,4
713,1
1874 1.053,1
1.357,3
1879 2.395,9
2.895,7
1884 3.830,1
6.324,6
1889 5.590,3
9.076,1
1894 7.676,6
12.474,3
1899 8.713,9
13.980,6
1904 10.212,0
16.023,9
1906 11.281,3
17.340,4
1910 -
21.466,6
1915 -
26.646,6
1920 -
28.556,2
1925 -
32.000,3
1929 18.326,1
32.000,3
Fonte: Silva (1976, p. 58)
A responsabilidade pela execução da construção das vias férreas podia ficar a
cargo tanto das próprias companhias proprietárias como podia ser transferida para as
empreiteiras que surgiram naquela época (Cechin, 1978 apud Jobim et al, 1983, pág.
7). Segundo Cechin, as primeiras empresas de construção do país contrataram
companhias empreiteiras britânicas para execução integral das obras, que, por sua
vez, contrataram outras companhias norte-americanas ou até mesmo brasileiras para
a realização de atividades mais simples. A partir da década de 1870, conforme o
conhecimento técnico era transferido para brasileiros, as construções nas ferrovias
foram sendo realizadas por empreiteiros brasileiros. Essa transição foi também
estimulada porque o custo de obra das empresas brasileiras era menor que o das
empresas internacionais.
Conforme Castro (1979), a indústria do café também estimulou o
desenvolvimento de outro segmento do setor de transportes. Juntamente com a
construção de conexões entre as estradas de ferro, o melhoramento dos portos
existentes e a construção de novos eram necessários devido à crescente importância
do comércio de cabotagem. Entretanto, em um primeiro momento, os portos
218
brasileiros foram construídos e/ou administrados por empresas estrangeiras
interessadas em controlar o comércio inter-regional ou internacional do país.
A expansão do transporte ferroviário e portuário no Brasil acelerou o
desenvolvimento industrial brasileiro e sua conseqüente urbanização. Esse
desenvolvimento resultou em uma maior necessidade de energia elétrica para
movimentar o progresso que se apresentava naquela ocasião. Portanto, a expansão
da produção energética conferiu grande importância ao mercado de construção de
barragens, necessárias para a instalação de usinas hidroelétricas. A julgar a
relevância desse setor, em 1907, menos de 5% da energia utilizada pelas indústrias
do país era elétrica, participação essa que subiu para quase 50% em 1920. O
crescimento da potência instalada pode ser verificado na tabela 8.7.
Tabela 8.7 – Potência Elétrica Instalada no Brasil.
ANO POTÊNCIA (C.V.)
1890 10.350
1900 17.441
1905 60.778
1910 203.901
1925 475.652
Fonte: Silva (1976, p. 99)
A propriedade das hidrelétricas construídas durante esse período foi
basicamente de grupos privados de capital estrangeiro. As obras, que seguiram o
mesmo padrão das que ocorreram com a ferroviária, foram efetuadas
predominantemente pelas empresas concessionárias e, em menor grau, por
empreitada de origem em sua maioria estrangeira.
A participação do estado até aquele momento se restringiu a garantir a
estabilidade dos juros em um nível que possibilitasse a importação de material para a
construção ferroviária e a construção, através do DNOCS, de diversas barragens
contra a seca no nordeste. Segundo matéria publicada no Estado de São Paulo (1978,
apud Jobim et al, 1983, pág. 11), as empresas nacionais também não demonstraram
qualquer amadurecimento tecnológico e financeiro naquele período. Elas eram
pequenas, desprovidas de estrutura administrativa, carentes de tecnologia própria,
com reduzidos equipamentos etc. Devido a essa fraqueza, a parcela mais rentável e
dinâmica do setor foi dominada por empresas estrangeiras ou de serviços públicos,
como a Light, que executavam suas próprias obras ou através de empresas
construtoras, como Hugo Cooper ou a Christiani & Nielsen. Essa predominância de
219
empresas estrangeiras na execução de obras de infraestrutura caracterizou esse
período.
O período que começou a partir de 1930 testemunhou uma transformação
importante na estrutura de transporte do Brasil, assim como o surgimento do Estado
como grande interventor na economia nacional, numa tentativa de assegurar o
controle de diversos setores da infraestrutura. Durante esse período, o Poder Central
instituiu o Código de Águas em 1934 e a criação do conselho Nacional de Águas e
Energia Elétrica em 1939, no setor de energia elétrica; na política de transportes, o
Plano Nacional de Viação em 1934; no transporte rodoviário, a criação do
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) em 1934; no transporte
ferroviário, a criação do Departamento Nacional de Estradas de Ferro (DNEF) em
1941; na área portuária, a criação do Departamento Nacional de Portos e Navegação
(DNPN) em 1934; e no saneamento, a criação do Departamento Nacional de Obras de
Saneamento (DNOS) em 1934.
A estagnação da produção agrícola verificada a partir de 1930 e a eclosão da
segunda guerra mundial, que acarretou dificuldades na importação de equipamentos e
combustível, colaboraram para a decadência do transporte ferroviário no país. Em
contra partida, a rede rodoviária começou a experimentar um crescente interesse pela
sua expansão, principalmente de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
No campo da energia elétrica, a crise de 1929 e a segunda guerra mundial
contribuíram para a retração da atividade industrial, que, por conseguinte, resultou em
uma menor demanda por energia. Entretanto, a regulamentação de um Código de
Águas marcou o início de uma participação mais ativa do Estado nesse setor, que era
marcado principalmente pela presença de empresas estrangeiras de construção.
Muito embora tenha sido observada no período de 1930 a 1945 uma retração da
maioria dos setores de infra-estrutura do país, as obras públicas de saneamento e
transporte urbano constituíram uma fonte importante de demanda de construção.
Porém, não existiu nenhuma evidência naquele período do surgimento de grandes
construtoras nacionais no Brasil.
220
8.5. Indústria Química
As origens da química são quase tão antigas quanto a existência da
humanidade. Os homens da idade da pedra provavelmente não permaneciam
indiferentes quando um pedaço de madeira se transformava ao ser consumido pelo
fogo. As transformações no aspecto, cheiro e gosto de um pedaço de carne que se
deteriorava. Simples observações como essas de alguma forma conduziram a outras
aquisições de conhecimento mais significativas sobre o tema.
O manuseio do cobre e do bronze abriu caminho para o ferro e o aço. A
metalurgia dos metais assumiu um papel muito importante na civilização primitiva e
proporcionou uma riqueza de informações químicas já naquela época. Os egípcios,
por exemplo, foram capazes de obter metais de diferentes minérios. Inclusive,
segundo alguns especialistas, a origem da palavra química advém de uma palavra
antiga, Khemeia, que pode estar relacionada ao nome que os egípcios davam ao seu
próprio país, Kham. Por outro lado, outros especialistas creditam à palavra grega
chyma, a origem da química por significar “fundir” ou “moldar metal”.
Da mesma forma, o curtimento de couros, a fiação, a obtenção dos primeiros
remédios extraídos de plantas, produção de produtos para a limpeza etc., são todas
atividades que antecederam a indústria química como conhecemos atualmente.
O desenvolvimento e sucesso da indústria química moderna baseiam-se no
relacionamento entre as atividades de desenvolver novos produtos e materiais através
de ensaios de laboratório e a sua aplicação na produção em escala industrial. A
primeira tarefa está no campo da química e a segunda no da engenharia química.
De forma resumida, a indústria química mundial surgiu de duas fontes distintas:
Indústria química alemã, desenvolvida através da química derivada do carvão;
Indústria química norte-americana, desenvolvida por engenheiros químicos a
partir da química derivada do petróleo.
8.5.1. Características da Indústria Petroquímica
A indústria petroquímica está estruturada segundo apresentado na figura 8.1. Os
produtos dessa indústria dividem-se em básicos (primeira geração), intermediários
(segunda geração) e finais (segunda geração).
221
Figura 8.1 – Produção Petroquímica e Relações Interindustriais
Fonte: Guerra (1994)
A tecnologia empregada na indústria química assume vital importância, pois além
de ser capital-intensiva, ela também é tecnológico-intensiva. As mudanças ocorridas
nas características tecnológicas das indústrias foram responsáveis pelo surgimento
e desaparecimento de várias empresas. Segundo Suarez (1986 apud Guerra, 1993), a
tecnologia na indústria petroquímica pode ser classificada segundo a tabela 8.8. A
tecnologia central dos pólos petroquímicos do Brasil foi importada.
Tabela 8.8 – Características dos tipos de tecnologia na Indústria Petroquímica
Tecnologia Segmento de Empresas Sub-área Descrição
Engenharia de
Processo
Especificação das operações químicas e físicas
presentes na produção petroquímica.
Responsável pelas atividades de pesquisa e
desenvolvimento de processos e novos produtos,
testados, geralmente, em plantas piloto ou semi-
industriais.
Tecnologia
Central
Grandes empresas químicas e
petroquímicas internacionais,
licenciadoras do processo e da
engenharia básica e prestadoras
de assistência técnica, quando o
controle de licenciamento assim
explicita.
Engenharia
Básica
Adequação das normas traçadas pela engenharia do
processo às condições do projeto da planta, na escala
planejada para o mercado.
Realiza especificação dos equipamentos, materiais,
instrumentação e controle.
Responsável pela definição da demanda petroquímica
por bens de capital.
Engenharia de
Detalhe
Tecnologia
Periférica
Detalhamento e montagem do
projeto básico. Normalmente
executada por empresas de
engenharia prestadora de serviço.
Engenharia de
Montagem
Tecnologia
Operacional
Engenharia de
Planta
Inicia a operação do processo e normalmente está sob
a responsabilidade da empresa que realizou a
222
Tecnologia Segmento de Empresas Sub-área Descrição
engenharia de processo.
Engenharia de
Produto
Engenharia de
Aplicação
Obtenção de novos produtos e/ou modificações físicas
ou químicas nos já existentes.
Fonte: Guerra (1993)
Uma outra classificação empregada para produtos e amplamente adotada é a
que define grupo de produtos químicos. Essa classificação e suas características
estão apresentadas na tabela 8.9.
Tabela 8.9 – Classificação dos produtos químicos.
Características Commodities Pseudocommodities
Produtos de química
fina
Especialidades químicas
Definição
Produzidos com
especificações
padronizadas para uma
gama variada de usos.
Produtos diferenciados.
Produzidos para um
ou mais usos finais,
segundo padrões
geralmente aceitos,
como “U.S.
Pharmacopeia” ou
“Food Chemical
Codex” dos EUA ou
seus equivalentes em
outros países.
Geralmente não são
patenteados.
Projetados para finalidade
específica do cliente.
Matéria-prima Cativa. Cativa. - Comprada de terceiros.
Vendas
Vendas concentradas
em um pequeno número
de clientes e realizadas
a partir de
especificações do
produto. A venda é
realizada através de
especificações de
composição.
Poucos clientes, mas
grandes consumidores. A
venda é realizada através
de especificações de
desempenho.
Pequeno número de
clientes em volumes
pequenos. A venda é
realizada através de
especificações de
composição.
Grande número de clientes
que compram em pequenas
quantidades. A venda é
realizada através de
especificações de
desempenho.
Uso final
Empregados na
elaboração de outros
produtos.
Empregados na elaboração
de outros produtos.
Podem ser
empregados na
elaboração de outros
produtos ou vendidos
ao consumidor final.
Podem ser empregados na
elaboração de outros
produtos ou vendidos ao
consumidor final.
Produção
Produção em larga
escala em unidades de
operação contínua.
Produção em larga escala
em unidades de operação
contínua.
Produção em pequena
escala com finalidades
específicas. Produção
em unidades de
multipropósito.
Pro
dução em pequena escala
com finalidades específicas.
Produção em unidades de
multipropósito.
Conhecimento de
processo
É possível adquirir de
outras fontes, como
empresas licenciadoras,
consultorias, outros
fabricantes etc.
É possível adquirir de
outras fontes, como
empresas licenciadoras,
consultorias, outros
fabricantes etc.
É possível adquirir de
outras fontes, como
empresas
licenciadoras,
consultorias, outros
fabricantes etc.
Deve ser desenvolvido pela
própria empresa.
Necessidade de
capital
Capital-intensivo. Capital-intensivo.
Não necessitam de
grandes
investimentos.
Não necessitam de grandes
investimentos.
223
Características Commodities Pseudocommodities
Produtos de química
fina
Especialidades químicas
Exemplos de
produtos
Amônia, ácido sulfúrico,
eteno, metanol e gases
industriais.
Resinas termoplásticas,
fibras artificiais e
elastômeros.
Ácido acetil-salicílico,
sacarina,
aromatizantes e
fármacos.
Compostos funcionais
multipropósito: Absorventes
de raio ultravioleta, corantes,
enzimas, espessantes etc.
Compostos prontos para uso
final: Aditivos para impressão,
aditivos para papel,
especialidades para
cosméticos, pesticidas
formulados, produtos
químicos para limpeza
industrial e institucional etc.
Vendas nos EUA
em 1973 (em
bilhões de US$)
19 14 3 10
Vendas nos EUA
em 1996 (em
bilhões de US$)
60 50 20 80
Fonte: Wongtschowski (1999).
Investimento em pesquisa e desenvolvimento também exerce um papel
fundamental no crescimento das empresas químicas. As empresas de commodities
gastam de 3 a 5% das vendas, as de especialidades químicas entre 6 e 8% e as
indústrias farmacêuticas entre 7 e 10% (Wongtschowski, 1999, p. 53). A grandeza
desses investimentos é representada pelos valores absolutos gastos por países.
Somente os EUA investiram em 1997 cerca de 19 bilhões de dólares, a Europa
Ocidental 23 bilhões de dólares e o Japão cerca de 11 bilhões de dólares em 1996.
A matéria-prima assume o maior peso nos custos variável e total. Em 1988, no
Brasil e nos EUA, a matéria-prima representou 88% e 93%, respectivamente, do custo
variável, e 60% e 78%, respectivamente, do custo total. A menor participação da
matéria-prima brasileira nos custos foi devido ao “subsídio” da nafta promovido na
indústria petroquímica.
O custo da mão-de-obra não tem um grande peso no custo total na indústria
petroquímica. Entretanto, ela é bastante qualificada e bem remunerada se comparada
com outras indústrias. Como o processo produtivo envolve elevadas pressões e
temperaturas e resulta em produtos corrosivos e tóxicos, a operação industrial requer
um sistema fechado de produção, ou seja, um sistema sem intervenção direta do
homem sobre o material ao longo do processo (Guerra, 1994). Somado a isso, as
rígidas especificações do produto e as condições críticas de produção, exigem uma
operação automatizada. Essas características do sistema de produção petroquímica
conferem à indústria uma elevada relação capital/trabalho.
224
O custo de transporte de matéria-prima na indústria é proporcional às distâncias
que ela percorre. Quanto mais básico for o produto menor é o seu valor agregado. Por
esse motivo, as empresas de petroquímica básica, de segunda e de terceira geração
ficam perto entre si, além de estarem todas perto de uma refinaria de petróleo.
Para o conjunto da indústria de transformação, duas famílias de classificação são
utilizadas. Uma baseada em atividades e que foi estabelecida para permitir a coleta,
disseminação e análise de estatística econômica. A tabela 8.10 apresenta a
classificação por atividades utilizada no Brasil. E a outra, baseada nos produtos, cuja
utilização está no âmbito tributário e aduaneiro. A tabela 8.11 apresenta a
classificação por produtos utilizada no Brasil.
Tabela 8.10 – Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
Divisão Grupo Classe Companhia
24 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS
24.1 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS
24.11-2 Fabricação de cloro e álcalis
24.12-0 Fabricação de intermediários para fertilizantes
24.13-9 Fabricação de fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos
24.14-7 Fabricação de gases industriais
24.19-8 Fabricação de outros produtos inorgânicos
24.2 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS
24.21-0 Fabricação de produtos petroquímicos básicos
24.22-8 Fabricação de intermediários para resinas e fibras
24.29-5 Fabricação de outros produtos químicos orgânicos
24.3 FABRICAÇÃO DE RESINAS E ELASTÔMEROS
24.31-7 Fabricação de resinas termoplásticas
24.32-5 Fabricação de resinas termofixas
24.33-3 Fabricação de elastômeros
24.4
FABRICAÇÃO DE FIBRAS, FIOS, CABOS E FILAMENTOS CONTÍNUOS
ARTIFICIAIS E SINTÉTICOS
24.41-4 Fabricação de fibras, fios, cabos e filamentos contínuos artificiais
24.42-2 Fabricação de fibras, fios, cabos e filamentos contínuos sintéticos
24.5 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS
24.51-1 Fabricação de produtos farmoquímicos
24.52-0 Fabricação de medicamentos para uso humano
24.53-8 Fabricação de medicamentos para uso veterinário
24.54-6 Fabricação de materiais para usos médicos, hospitalares e odontológicos
24.6 FABRICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
24.61-9 Fabricação de inseticidas
24.62-7 Fabricação de fungicidas
24.63-5 Fabricação de herbicidas
24.69-4 Fabricação de outros defensivos agrícolas
24.7
FABRICAÇÃO DE SABÕES, DETERGENTES, PRODUTOS DE LIMPEZA E
ARTIGOS DE PERFUMARIA
24.71-6 Fabricação de sabões, sabonetes e detergentes sintéticos
225
Divisão Grupo Classe Companhia
24.72-4 Fabricação de produtos de limpeza e polimento
24.73-2 Fabricação de artigos de perfumaria e cosméticos
24.8
FABRICAÇÃO DE TINTAS, VERNIZES, ESMALTES, LACAS E PRODUTOS
AFINS
24.81-3 Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes e lacas
24.82-1 Fabricação de tintas de impressão
24.83-0 Fabricação de impermeabilizantes, solventes e produtos afins
24.9 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS E PREPARADOS QUÍMICOS DIVERSOS
24.91-0 Fabricação de adesivos e selantes
24.92-9 Fabricação de explosivos
24.93-7 Fabricação de catalisadores
24.94-5 Fabricação de aditivos de uso industrial
24.95-3
Fabricação de chapas, filmes, papéis e outros materiais e produtos químicos
para fotografia
24.96-1 Fabricação de discos e fitas virgens
24.99-6
Fabricação de outros produtos químicos não especificados ou não
classificados
Fonte: Abiquim (2007a).
Tabela 8.11 – Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).
Capítulo Descrição
15 (Parcial)
Lanolina; outras gorduras e óleos de animais e de vegetais e respectivas frações
modificados quimicamente; misturas ou preparações não alimentícias, de gorduras ou
de óleos animais ou vegetais não especificadas nem compreendidas em outras
posições; glicerol em bruto; águas e lixívias
27 (Parcial)
Óleos e outros produtos provenientes da destilação dos alcatrões de hulha; produtos
análogos em que os constituintes aromáticos predominem, em peso, relativamente
aos constituintes não aromáticos; breu; coque de breu; misturas de alquilidenos;
óleos minerais brancos; vaselina; parafina; ceras de petróleo e produtos semelhantes
28 Produtos químicos inorgânicos
29 Produtos químicos orgânicos
30 Produtos farmacêuticos
31 Adubos ou fertilizantes
32
Extratos tanantes e tintoriais; taninos e seus derivados; pigmentos e outras matérias
corantes; tintas e vernizes; mástiques; tintas de escrever
33
Óleos essenciais e resinóides; misturas de preparações à base de substâncias
odoríferas; produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações
cosméticas
34 (Parcial)
Sabões; agentes orgânicos de superfície, preparações para lavagem, preparações
lubrificantes, ceras artificiais, ceras preparadas, produtos de conservação e limpeza,
massas ou pastas para modelar, ceras e composições para dentistas
35
Matérias albuminóides; produtos à base de amidos ou de féculas modificados; colas;
enzimas
36 (Parcial) Pólvoras e explosivos
37 (Parcial) Produtos para fotografia e cinematografia (exceto os impressionados)
38 Produtos diversos das indústrias químicas
39 (Parcial) Plásticos (em formas primárias)
40 (Parcial)
Borracha sintética e borracha artificial, em formas primárias; borracha misturada, não
vulcanizada, em formas primárias
54 (Parcial) Fios de filamentos sintéticos e artificiais
55 (Parcial) Cabos de filamentos sintéticos e artificiais; fibras sintéticas e artificiais
Fonte: Abiquim (2007a).
8.5.2. História da Indústria no Mundo
226
Na metade do século XIX, a Inglaterra era o maior centro da indústria química no
mundo, muito em função da necessidade de produtos químicos que alimentavam a
revolução industrial. No início desse período, as empresas alemãs Hoechst (fundada
em 1863), Bayer (1863), Basf (1865) e Agfa (1867) eram todas destinadas à produção
de corantes e limitaram-se a reproduzir o que era feito nas indústrias francesas e
inglesas. Com o decorrer dos anos, devido a uma série de fatores, a indústria alemã
assumiu primeiro a liderança no campo dos corantes e depois na química geral.
Posição esta que sustentou até o fim da segunda guerra mundial.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento pode ser considerado uma das
características fundamentais para explicar o avanço da química alemã. Os lucros
obtidos com os novos produtos permitiram o reinvestimento em nova pesquisa e assim
gerou-se um ciclo virtuoso. O ensino na Alemanha também foi apontado como outra
característica desse país que permitiu seu sucesso nesse vel específico e também
de uma forma mais ampla. O país produziu técnicos e engenheiros de qualidade que
suplantavam as necessidades de desenvolvimento econômico do país, além de outros
fatores estruturais importantes.
Nessa época, grandes avanços ocorreram na indústria química da Alemanha. A
passagem da química de corantes para a química farmacêutica, produtos para
fotografia, aditivos para a indústria de borracha e até polímeros representaram um
caminho natural diante do notório desenvolvimento da capacidade técnica daquele
país. Em 1913, no que talvez tenha sido uma das maiores conquistas na química e
engenharia química, a síntese direta da amônia significou o primeiro processo químico
moderno a utilizar gases em altas temperaturas (500 ºC) e pressões (200 atm), e a
primeira planta especializada a ser genuinamente de capital-intensivo. No período que
intercala as duas grandes guerras, o avanço na química deveu-se a um grande
esforço de pesquisa e desenvolvimento, voltado para a pesquisa aplicada. Esse
período presenciou o nascimento da ciência dos polímeros e os seus primeiros passos
na indústria.
Nos Estados Unidos, ao reconhecer a engenharia química como uma disciplina
separada da química em 1912, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) deu um
grande passo para o desenvolvimento da indústria química desse país. Não tardou
muito para que outras universidades seguissem essa nova estrutura de ensino. Outra
contribuição importante do MIT foi a coordenação da transição do processamento em
227
batelada para o contínuo, que permitiu os Estados Unidos desenvolver a indústria de
petróleo e petroquímica.
Em 1925, por iniciativa de Carl Bosch, foram reunidas na Alemanha as sete
maiores empresas da indústria química, entre elas a Bayer, a Basf e a Hoechst. Essa
sociedade recebeu o nome de "Interessengemeinschaft Farbenindustrie
Aktiengesellschaft" ou "IG Farben", como ficou conhecida. Para concorrer com essa
recém-criada sociedade, a ICI (Imperial Chemical Industries) foi constituída em 1926 a
partir das quatro maiores empresas químicas da Inglaterra. Essa empresa foi
responsável pela descoberta de importante processo para a produção de metanol. Nos
EUA, influenciada pelo seu grande desenvolvimento econômico nesse período, a
indústria química cresceu de forma decisiva nesse país. As contribuições mais
significativas ocorreram nas empresas DuPont, Union Caribe, Dow Chemical e Exxon.
Em 1939, a Dow Chemical construiu a primeira fábrica petroquímica na Região
da Costa do Golfo, onde instalou equipamentos a céu aberto, sem tubulações de
processo enterrado, utilizando o mínimo de instalações possível. Essas modificações
geraram economias de um terço à metade do que era necessário para instalar fábricas
no clima frio do norte do país.
Com um Know-how proveniente de acordos com a IG Farben, a Exxon foi capaz
de desenvolver processos específicos para a indústria química. Alguns estudiosos da
história da química apontam para a unidade de produção de álcool isopropílico
localizada em Bayway, como a primeira fábrica verdadeiramente petroquímica do
mundo.
Um outro fator muito importante que ajudou a difundir conhecimentos existentes
na indústria dos EUA como um todo e a descobrir novos foi o surgimento de muitas
empresas de consultoria durante a segunda guerra mundial.
Com o fim do fornecimento de borracha da Malásia para o resto do mundo,
depois da invasão do Japão naquele país em 1942, a Rubber Reserve Company
começou um programa de desenvolvimento de borracha sintética a partir de
informações de patentes alemãs sobre processos de produção. Em 1940, enquanto os
EUA produziam uma tonelada de borracha sintética por dia a Alemanha produzia 20
mil toneladas por ano. Porém, esse número subiu para 668 mil toneladas em 1944 nos
EUA.
228
A indústria química também foi fundamental para o desenvolvimento de fibras
têxteis artificiais e sintéticas. Esse setor da indústria assistiu a diversas trocas de
informação entre empresas, como as realizadas pela DuPont e Aceto (IG Farben) ou
ICI e DuPont. O fim da guerra também proporcionou a revelação de diversos
processos químicos da Alemanha para o resto mundo, não somente para essa área,
mas como na química em geral.
Entre as duas grandes guerras, as necessidades crescentes da indústria
automobilística, que começou a produzir seus produtos em massa, estimularam a
expansão da produção de diversos produtos petroquímicos. Desde o etileno-glicol,
utilizado como anti-congelante nos radiadores, até os éteres glicólicos, componentes
das tintas aplicadas no revestimento externo dos veículos.
Mas as possibilidades para o surgimento de produtos petroquímicos eram muito
amplas. Sua utilidade não era restrita à indústria automobilística e sim estendia-se a
muitas outras. O potencial para substituir produtos tradicionais já existentes também
foi grande. O aço, o ferro, a madeira, a borracha, o algodão, a seda, a lã, o vidro, a
cortiça, a resina, o cimento e o fertilizante natural foram substituídos, em muitos casos,
com vantagens de custo, beleza, durabilidade, flexibilidade e resistência. Várias
oportunidades de novos mercados surgiram, o que significou forte busca por novos
processos e produtos inovadores. A tabela 8.12 apresenta alguns processos químicos
mais significativos desenvolvidos entre 1950 e 1985.
Tabela 8.12 – Desenvolvimento de alguns processos químicos.
Ano
aproximado
Produto Processo desenvolvido Companhia
1950 +
Polietileno de alta
densidade
Produção de polietileno em baixas
pressões e temperaturas
Max Planck Institut
(Karl Ziegler)
1950 +
Fenol (e acetona
como subproduto)
Oxidação a ar do cumeno
Distillers Co., British
Petroleum, Hercules
1953 Dimetiltereftalato Oxidação a ar em quatro estágios Imhausen, Hercules
1953 + Amônia
Alta pressão, a partir de gás de
síntese (grandes unidades)
Pullman/Kellogg
1955 Anidrido maléico
Oxidação do benzeno com alto
rendimento
Halcon
1957 Polietileno irradiado Plásticos com memória Raychem
1957 + Tolueno diisocianato Uretanas e espumas
Bayer, Houdry,
Wyandotte
1958
Polietileno de alta
densidade;
polipropileno
Novos catalisadores
Montecatini (Natta)
Phillips, Avisun,
Amoco
1958
Alfa olefinas e álcoois
lineares
Novos catalisadores Gulf, Ethyl, Conoco
1958 + Ácido tereftálico Oxidação a ar do p-xileno Halcon, Amoco
229
Ano
aproximado
Produto Processo desenvolvido Companhia
purificado
1959 Acetaldeído Oxidação do eteno em fase vapor Hoechst/Wacker
1960-70 Oxoálcoois Melhoras nos catalisadores
Exxon, ICI, Shell,
Union Carbide
1960-70 Ácido acético Oxidação de parafinas Celanese
1960-70 Policarbonatos Plásticos de engenharia GE, Bayer
1964
Óleo KA
(ciclohexanol-
ciclohexanona) para
nylon
Oxidação do ciclohexano, sistema
bórico
Halcon
1965 Acrilonitrila Amoxidação do propeno Sohio
1965
Hexametilenodiamina
para nylon
Eletrohidrodimerização da acrilonitrila Monsanto
1965 + Cloreto de vinila Oxicloração do eteno
Goodrich, Monsanto,
PPG, Stauffer
1967 + Acetato de vinila
Reação de eteno com ácido acético e
oxigênio em fase vapor
Bayer, Celanese,
Hoechst, USI
1968 Ácido acético
Reação de metanol e monóxido de
carbono a alta pressão
Basf, DuPont
1969 Anidrido itálico
Oxidação do o-xileno com alto
rendimento
Basf
1969 Acrilatos Oxidação do propeno
BR Celanese, Sohio,
Rohm & Haas, Union
Carbide
1969 Polietileno tereftalato Garrafas plásticas DuPont
1969 +
Óxido de propeno,
propilenoglicol, álcool
tércio-butílico
Epoxidação com hidroperóxido Arco/Halcon
1970 p-xileno
Recuperação por adsorção
UOP
1970 Metanol
Reação de monóxido de carbono e
hidrogênio a baixa pressão
ICI
1970 Anilina Fenol e amônia Halcon, Mitsui
1970 + Óxido de eteno Melhoras nos catalisadores
Halcon, Shell, Union
Carbide
1970 +
Óxido de polifenileno
e polímeros Noryl
Plásticos de engenharia GE
1972
Hexametilenodiamina
para nylon
Butadieno e ácido cianídrico DuPont
1972
Estireno e óxido de
propeno
Epoxidação com hidroperóxido Arco/Halcon
1973 Ácido acético
Metanol e monóxido de carbono a
baixa pressão
Monsanto
1974 Kevlar Fibra de alta tensão DuPont.Akzo
1974 Polipropileno Fase vapor Basf
1974 + Anidrido maléico A partir do butano
Amoco, Halcon,
Monsanto, Showa
Denko
1977
Polietileno linear de
baixa densidade
Baixa pressão
Union Carbide, outra
empresas mais tarde
1980 Anidrido acético
Monóxido de carbono a partir de
carvão e metanol
Halcon, Eastman
230
Ano
aproximado
Produto Processo desenvolvido Companhia
1981 + Metacrilatos A partir de isobutano ou isobuteno
Mitsubishi, Halcon/
Arco, outras cias.
japonesas
1985 Polipropileno
Catalisadores e técnicas de processo
melhoradas (por exemplo, Catalloy)
Montedison/Himont,
Shell, outros
Fonte: Landau (1991 apud Wongtschowski, 1999, p. 26-27)
Entre 1950 e 1975, a produção mundial dos principais produtos petroquímicos
cresceu de “3 milhões de toneladas para 64 milhões de toneladas” (Guerra, 1994, p.
46). Devido à importância da indústria química no desenvolvimento industrial geral,
muitas nações emergentes procuraram desenvolvê-la com o triplo intuito de: criar um
parque industrial gerador de empregos; transformar localmente matérias-primas em
produtos de maior valor agregado para exportá-los; e diminuir importações de
produtos para fabricá-los em seu país, melhorando seus saldos comerciais.
A elevada participação dos custos fixos nos custos totais fez surgir os grandes
pólos petroquímicos a partir da década de 1970. Na Europa Ocidental, por exemplo, a
capacidade média de produção de etileno passou de 15 mil toneladas, em 1950, para
aproximadamente 400 mil toneladas anuais em 1970.
Na década de 1980, observou-se o fenômeno de concentração da indústria
química nos diversos países. Porém, no período seguinte, verificou-se um movimento
de especialização. Empresas como ICI, Monsanto, Rhône-Poulenc, Hoechst, Dow
Chemical etc., apresentaram uma forte tendência a concentrar em seus negócios tidos
como estratégicos durante a década de 1990. Após esse período de reestruturação,
as grandes empresas químicas aceleraram seus processos de internacionalização que
ocorreu paralelamente ao movimento de descentralização da produção.
A escolha da matéria-prima utilizada para a produção dos produtos
petroquímicos também foi importante. Em 1982, enquanto 70% da produção de etileno
nos EUA teve como matéria-prima o gás natural, a Europa e Japão utilizaram nafta em
84% e 95%, respectivamente, na produção do mesmo produto. Nos EUA, é provável
que a opção por gás natural estivesse relacionada às suas abundantes reservas dessa
matéria-prima e à grande demanda por nafta para a produção de gasolina necessária
para abastecer a crescente frota de automóveis americana. Por outro lado, no Japão e
na Europa, as reservas de gás natural eram menores, assim como o consumo de
gasolina.
231
De forma geral, o comércio químico mundial cresceu a taxas superiores à
produção química mundial. E historicamente, os países da união européia foram ao
mesmo tempo os grandes exportadores e importadores de produtos químicos no
mundo. Entre 1985 e 1997, a indústria química cresceu mais na Europa do que nos
EUA em relação à indústria como um todo. Também nesse período, o aumento de
produtividade foi notório nos EUA e na Europa Ocidental, cerca de 45 % e 59,5%,
respectivamente.
Em 1995, foram notórios os avanços alcançados pela China (5º maior produtor
mundial), Coréia (9° maior produtor mundial) e Brasil (10º maior produtor mundial),
bem como por algumas empresas individuais como a Sabic da Arábia Saudita,
classificada em 20º lugar na lista das 50 maiores empresas químicas do mundo de
1997, a Formosa Plastics de Taiwan, em 42º lugar na mesma lista e a Reliance, da
índia em 49º lugar. A posição atual dos países em ordem de faturamento líquido está
apresentada na tabela 8.13.
Tabela 8.13 – Faturamento Líquido da Indústria Química Mundial - 2005.
Posição País
Faturamento (em
bilhões de US)
1 Estados Unidos 558
2 Japão 270
3 China 223
4 Alemanha 190
5 França 120
6 Coréia 98
7 Reino Unido 97
8 Itália 95
9 Brasil 70
10 Índia 68
11 Espanha 54
12 Bélgica 49
13 Irlanda 43
Fonte: Abiquim (2007b).
A questão ambiental ganhou maior importância na indústria química
principalmente a partir da década de 1970. Porém, essa questão é muito mais antiga,
datando da época em que se utilizava o processo Leblanc (1790) de produção de
barrilha que, por produzir mau cheiro, obrigava seus produtores a instalar suas
fábricas longe de centros urbanos. Com o desenvolvimento das indústrias químicas e
o desaparecimento das distâncias entre as fábricas e os centros urbanos, a questão
ambiental começou a ganhar mais importância. Uma série de desastres ambientais
232
relatados nas mídias desde 1960 envolvendo a população humana foi decisiva para
reforçar essa questão ambiental.
A partir de 1950, os países começaram a criar de forma moderada uma série de
normas de combate à poluição do ar, da água e do solo. Porém, a interação
empresas-governo na questão ambiental teve contornos distintos em alguns países.
Japão, Inglaterra e Japão tiveram uma postura de colaboração com seus respectivos
governos. Por outro lado, os EUA mantiveram as partes interessadas em lados
antagônicos, provavelmente porque as leis ambientais foram elaboradas sem a
participação das empresas.
De forma geral, o rigor das normas ambientais elaboradas tiveram um certo
impacto nas empresas. Na Alemanha, por exemplo, devido à grande rigidez das
normas, muitas empresas tiveram seus desempenhos prejudicados.
8.5.3. Fase Inicial da Indústria Química no Brasil
A fabricação de açúcar foi a primeira experiência industrial brasileira que, em
1520, instalou o seu primeiro engenho no país. Tempos depois, entre 1808 e 1844,
foram fundadas no país 5 fábricas de pólvora, 30 fábricas de sabões e velas e 10
fábricas de produtos químicos diversos. Quando da proclamação da república, em
1889, o Brasil possuía fabricação de produtos químicos nas indústrias de
fermentação, produtos químicos inorgânicos de síntese e produtos químicos
orgânicos.
Durante o período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a ainda novata
química brasileira sofreu com a escassez de matérias-primas, quase todas
importadas. O governo brasileiro estabeleceu, então, incentivos para quem instalasse
empresas de fabricação de soda cáustica em grande escala a fim de atender às
necessidades de determinadas indústrias. No intervalo entre as duas grandes guerras,
houve um crescimento contínuo da indústria química brasileira que possibilitou a
substituição de parte desses produtos importados.
A implantação da indústria petroquímica no Brasil começou de fato com a
fundação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Esse órgão, criado em 1938, foi o
responsável pelo controle da exploração petrolífera do país naquela época.
No início da década de 1950, foi instalada a Refinaria Presidente Bernardes
(RPBC) em Cubatão, São Paulo. A partir de então, o gás residual, correntes
233
aromáticas e óleo residual, algumas das matérias-primas para a produção de
petroquímicos, começaram a ser produzidos. Essa disponibilidade de matéria-prima
possibilitou o surgimento da indústria petroquímica no Estado de São Paulo. Em 1953,
a Petrobrás foi criada e logo inaugurou uma unidade de amônia e fertilizantes em
Cubatão FAFER que começou a produzir, em 1957, amônia, ácido nítrico, nitrato
de amônia e nitrocálcio. O fornecimento desses produtos viabilizou o surgimento de
novas empresas em torno da refinaria.
Em 1958, a RPBC começou a produzir eteno, atraindo a instalação de fábricas
de produção de estireno da Companhia Brasileira de Estireno e de polietileno de baixa
densidade da Union Carbide. Em 1960, começou a fornecer propeno à Rhodia para a
produção de álcool isopropílico e acetona. A Refinaria passou então a se caracterizar
como um pólo de atração de empreendimento no setor químico.
Entretanto, naquela época, a Petrobrás ainda teve dificuldades de fornecimento
de derivados do petróleo. Algumas empresas decidiram adotar outras matérias-primas.
A Eletrocloro, por exemplo, utilizou geradores de carbureto de cálcio para processar o
acetileno e obter cloreto de vinila. A Eletroteno desidratou álcool para obter eteno
necessário para a produção de polietileno de alta densidade. O álcool começou a ser
bastante utilizado como matéria-prima básica alternativa à nafta.
Em 1962, entrou em funcionamento a Refinaria de Duque de Caxias, no Rio de
Janeiro. Sua operação viabilizou a implantação da unidade de borracha sintética da
Petrobrás – a FABOR, utilizando ainda estireno e butadieno importados. Entretanto, no
ano seguinte, com o estireno sendo produzido pela CBE e o butadieno pela Petrobrás,
esses produtos pararam de ser importados.
Ainda em 1963, com a ampliação da Refinaria Landulpho Alves de Mataripe,
Bahia, o Conjunto Petroquímico da Bahia (COPEB) - foi implantado com unidades de
produção de amônia e uréia. Com a unidade já existente de produção de negro fumo
da Companhia de Carbonos Coloidais (CCC), a região de Mataripe despontou como
mais um potencial pólo de empreendimentos petroquímicos.
234
8.6. História da Odebrecht
8.6.1. Emil Odebrecht
Em 1856, chegou a Blumenau o jovem Emil Odebrecht que, com 21 anos,
deixara sua terra natal em busca de desafios e oportunidades. Esse cidadão da
Pomerânia (região até recentemente dividida entre a extinta República Democrática
Alemã e a Polônia), situada no Reino da Prússia, era um desses imigrantes que
haviam deixado uma sociedade em crise após frustradas tentativas de estabelecer
uma unidade nacional. Com formação religiosa de origem luterana, esses imigrantes
creditavam ao trabalho o principal sentido de suas vidas, como um dever permanente.
Portanto, o resultado desse trabalho constituía uma riqueza justa e digna.
Em 1858, Emil se naturalizou brasileiro e voltou à Prússia para então se formar
engenheiro pela Universidade de Greisfswald. Ao retornar para Santa Catarina, Emil
Odebrecht trabalhou com o Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau para consolidar a
colônia de Blumenau. Emil, juntamente com outro imigrante, Hans Breithaup,
formaram uma dupla que prestou serviços de topografia e agrimensura, fundamentais
para dar ao imigrante acesso à terra. Nessa colônia, jamais se desenvolveu o trabalho
escravo. Pelo contrário, praticava-se uma economia voltada para o mercado interno.
Durante os 11 anos seguintes a partir de 1859, Blumenau viu sua população
crescer de 1 mil para 6 mil habitantes. Nessa época, recém-casado com a alemã Berta
Brichels, Emil participou do batalhão voluntário de imigrantes alemães no primeiro ano
da guerra do Paraguai (1865). E partir de 1867, Emil trabalhou na exploração do Alto
Itajaí, cuidando da abertura de um caminho entre Blumenau e o planalto de Lajes e
Curitiba.
Após aposentar-se com o cargo de engenheiro-chefe do Distrito de Santa
Catarina na Repartição dos Telégrafos, Emil Odebrecht faleceu em 6 de janeiro de
1912, aos 76 anos.
8.6.2. Emílio Odebrecht
Emílio Odebrecht, primogênito de Edmundo, que igualmente foi primogênito de
Emil, foi influenciado pela tradição familiar na engenharia, seja através do pai,
engenheiro de máquinas de navios, do avô ou do tio Adolfo, engenheiro civil formado
pela Politécnica do Rio de Janeiro). Dessa forma, em 1914, aos 20 anos, Emílio se
235
mudou para o Rio de Janeiro e logo começou a trabalhar com seu primo, Emílio
Baumgart, na Companhia Construtora em Cimento Armado de propriedade de
Lambert Riedlinger. Esse alemão, que chegara ao Brasil em 1911, trouxe consigo a
técnica de construção do concreto armado.
O Rio de Janeiro daquela época viveu uma fase de muitas construções e
crescimento. Lúcio Costa lembrava que "há soluções capazes de atender à insistência
apaixonada dos arquitetos de espírito moderno, empolgados pelas possibilidades
plásticas inerentes à nova técnica de concreto armado, cuja beleza formal imatura
ainda escapa à percepção da grande maioria dos engenheiros".
Emílio Baumgart, considerado o pai do concreto armado no Brasil, juntamente
com a empresa em que trabalhava, ajudaram a difundir essa técnica. Economia de
tempo e custos, durabilidade e resultados estéticos favoráveis se incluíam nas
características da técnica que Emílio Baumgart apresentava. Tais características
foram fundamentais para que ele ganhasse credibilidade durante a década de 1910.
No Nordeste, o surto das "edificações produtivas", a partir do comércio
importador e exportador, provocou a ampliação de portos, construção de armazéns,
silos, moinhos e várias construções de infra-estrutura. Nesse contexto, Riedlinger
mandou para Recife em 1917, o jovem Emílio Odebrecht para executar a obra da
ponte Maurício de Nassau, cujos cálculos haviam sido realizados por seu primo
Baumgart. Essa ponte, com 180 metros de comprimento, foi uma importante obra para
a engenharia estrutural brasileira àquela época e representou para Baumgart a
confirmação de seu talento como calculista.
Naquela época, Recife começou a se modernizar para atender às necessidades
do crescimento da economia canavieira em Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Foi
quando, aos 24 anos, Emílio se casou com Hertha Hinsch, e, em 1918, foi transferido
para a filial de Recife, onde Isaac Godim, de tradicional família pernambucana, fora
recém-nomeado seu responsável.
Não demorou muito e Godim e Emílio se uniram para criar a Isaac Godim &
Odebrecht. Essa empresa foi a primeira firma de construção no Nordeste a dominar a
técnica de cimento armado. Apesar de existir a necessidade de construção de
barragens, canais, reservatórios e pontes, a empresa teve um começo duro por causa
da intensa competição na época. As primeiras obras conquistadas foram modestas:
moendas, chaminés de usinas, pequenas pontes etc. Porém, logo vieram as obras
maiores, como a ponte Buarque de Macedo, Afogados etc.
236
Com a queda do comércio canavieiro, a Isaac Godim & Odebrecht despediu-se
do cenário da construção desfazendo a sociedade formada anos antes. Logo após,
Emílio constituiu, juntamente com Gustavo Adolpho e Benedito Ximenes, a empresa
Emílio Odebrecht & Cia. Essa empresa realizou obras durante o governo de Sérgio
Loreto em Recife como o Palácio da Justiça. Logo depois, os associados originais
saíram da empresa dando lugar aos engenheiros civis José de Morais e Armando
Campelo.
Em 1925, atraído pelo surto de cacau na Bahia, Emílio mudou-se para Salvador
com a esposa e os filhos Norberto, Gerda e Erika. Juntamente com a família, Emílio
levou sua equipe de operários qualificados para a construção em concreto armado.
Naquela época, algumas construtoras já haviam se instalado em Salvador, onde a
Emílio Odebrecht & Cia. instalara uma filial nessa cidade. Entretanto, o crescimento
do número e do tamanho das obras na Região determinou a transferência da sede da
firma.
Ao chegar em Salvador, Emilio encontrou uma região marcada pela elite
remanescente dos senhores de engenho e cujas tradições e valores se distanciavam
daqueles que vigoravam no lar dos Odebrecht. Nele, os membros da família eram
responsáveis por tarefas domésticas e era comum conversarem entre si em alemão.
Não menos importante na formação de seus filhos, foi a presença do pastor alemão
Otto Arnold, que se encarregou de lecionar o ensino fundamental até uma
determinada idade. Foi nesse ambiente que, diferentemente do usual para a região da
Bahia, Norberto cresceu, principalmente influenciado pelos mesmos valores luteranos
que permaneceram pelas gerações Odebrecht no Brasil.
A Emílio Odebrecht & Cia. viveu naquele momento o período que fora chamado
de "era da fermentação edificatória" na Bahia, durante a segunda metade da década
de 1920. Esse período trouxe consigo diversas oportunidades de construção de
pontes, edifícios importantes etc. Nas outras regiões do Nordeste onde a firma tinha
presença, como em Pernambuco, também continuaram a surgir obras importantes
para a empresa.
Mesmo com a iminência de uma nova crise econômica, a Emílio Odebrecht &
Cia. continuou a ganhar contratos na virada da década de 1920. Entre 1933 e 1936, a
firma intensificou sua presença no interior do Estado da Bahia, com obras
principalmente relacionadas com o fumo e o cacau. Na capital, construiu a fábrica de
chocolates Behring, os cinemas Aliança e Santo Antônio etc.
237
Na construção do edifício da Secretaria de Segurança Pública, para o governo
do Estado da Bahia, a Emílio Odebrecht & Cia. contou com a participação do jovem
Norberto. Naquela ocasião ele ficou responsável pela construção das esquadrias e
então pôde colocar em prática o que aprendera nas oficinas do pai. E de igual
importância, pôde estar em contato com sua forma de trabalho.
Emílio foi considerado por muitos uma pessoa sempre preocupada com a parte
operacional da obra e a eliminação do supérfluo. Suas soluções sempre visaram a
economia e a produtividade. Segundo Otto Manoel Schaeppi, integrante da CNO
tempos depois, o que mais caracteriza a obra do velho mestre, é a antecipação de
técnicas e soluções em relação à engenharia do seu tempo” (Odebrecht, 1977d, p.6).
Como no projeto para a Ponte Buarque de Macedo em 1926, quando todos os
concorrentes ofereceram preços bem mais altos que o de Emílio. O menor preço só foi
possível porque Emílio considerou a antiga ponte, que ainda permanecia no local,
como suporte a ser utilizado na obra. Como nenhum concorrente fez a mesma
consideração, a diferença de preços foi grande.
Sylvio Geiger, também integrante da CNO tempos depois, recordou o exemplo
de como Emílio utilizou concreto nas sapatas das fundações. “As mais profundas de
maior superfície e menor carga de trabalho, não necessitavam de um traço tão rico
como as superiores em que se apoiavam os pilares.” (Odebrecht, 1977d, p. 6). Como
a mão-de-obra era muito barata e o material de construção bastante caro, a economia
alcançada era considerável. O entulho resultante da obra, que normalmente era
considerado desperdício, era aproveitado para o aterro nos enrocamentos dos cais
que foram construídos.
Emílio também foi considerado pioneiro. Introduziu a laje mista nas obras,
misturando o tijolo nacional e o concreto. Com essa modificação, conseguiu diminuir o
peso morto da obra e baixar o seu custo final. Não menos importante foi o prazo das
obras. Segundo José Franco, mestre-de-obra, se o prazo de construção de uma laje
fosse 15 dias, “Com ele comandando a gente conseguiu construir em 12 dias, depois
em 10 dias e até em 7 dias e meio. Foi uma verdadeira revolução. Obra que era para
ser entregue em 180 dias a gente terminava em 150” (Odebrecht, 1977d, p. 7).
Outra preocupação constante de Emílio foi com o desenvolvimento profissional
de seus empregados. Pessoalmente orientou os engenheiros mais jovens, mestres-
de-obra ou até os que ainda eram universitários. Segundo vários testemunhos, o
relacionamento de Emílio com seus empregados pareceu ser próximo. Foi a feijoadas
238
de operários; levou barril de chope para almoço de operários; uma vez fez os cálculos
de um prédio que um empregado estava construindo com amigos para poder morar e
ainda lhe deu de presente dinheiro para terminar a obra quando lhe faltou; etc.
Com o início da Segunda Guerra, os preços dos materiais de construção
importados aumentaram, alcançando níveis proibitivos. E naquela época, até cimento
e vergalhões tinham que ser importados. Como o preço dos contratos assumidos eram
fechados, muitas empresas da época foram pressionadas por seus credores a
fecharem as portas ou operarem com muito prejuízo. A Emílio Odebrecht & Cia.
encontrou o mesmo problema e retirou-se dos negócios.
Em 1962, faleceu Emílio Odebrecht, engenheiro técnico em cálculos formado
pela Escola Livre de Engenharia do Rio de Janeiro e nascido em Blumenau em 1894.
239
8.7. Evolução da Estrutura Organizacional da Odebrecht
Figura 8.2 – Empresas Integradas à Construção Civil
Fonte: Odebrecht (1970, p.13).
240
Figura 8.3 – Organização Odebrecht - Organograma da Administração Superior
Fonte: Odebrecht (1978a, p.4).
241
Figura 8.4 – Organização Odebrecht - Diagrama de Empresas
Fonte: Odebrecht (1978a, p.5).
242
Figura 8.5 – Negócios e Empresas da Organização Odebrecht
Fonte: Odebrecht (1979c, p.14).
243
Figura 8.6 – Macroestrutura Organizacional
Fonte: Odebrecht (1997e, p.17).
244
8.8. Fundações e Aquisições
8.8.1. Fundação Emílio Odebrecht
A Fundação Emílio Odebrecht (FEO) foi fundada em 1965. Após o falecimento
de um funcionário da CNO, a empresa viu a necessidade de instituir determinadas
medidas assistenciais aos integrantes das empresas do grupo, com extensão às suas
famílias. Esse foi o motivo que levou à criação da FEO, que então passou a fornecer
benefícios que não eram cobertos pela Previdência Social, ou simplesmente os cobria
insatisfatoriamente. Logo a FEO passou a apoiar projetos sociais e culturais também,
focado principalmente na educação do adolescente.
Em 1970, a FEO forneceu os seguintes benefícios aos integrantes das empresas
da CNO e seus familiares (Odebrecht, 1970, p.6): cursos diversos; assistência médica,
hospitalar, farmacêutica e Odontológica; empréstimo para a educação de filhos ou
aquisição de casa própria; auxílios financeiros diversos: doença, natalidade, post-
mortem, aposentadoria. Além dos benefícios listados, a FEO iniciou campanha de
alfabetização dos seus empregados.
A partir de 1977, a FEO passou a atuar nos níveis setorial e global. No vel
setorial, unidades descentralizadas foram criadas para dar atendimento às
necessidades específicas de algumas obras, tendo como objetivo fortalecer a ação da
Fundação junto aos trabalhadores localizados em locais distantes. Normalmente, o
próprio gerente administrativo-financeiro da obra era encarregado de representar a
FEO no local, cabendo a ele apresentar relatórios e análises da assistência efetuada
aos funcionários. A obra da Usina Nuclear de Angra foi um exemplo de atuação
descentralizada que providenciou casas para os trabalhadores, educação para seus
filhos, assistência médica para a família etc. No vel global, a preocupação foi
determinar necessidades comuns a todos os empregados e famílias, incluindo a
necessidade de casa própria.
Em 1978, a FEO contabilizou 15 unidades descentralizadas, apenas um ano
após iniciar essa nova atuação com 4 unidades somente. Essa ação diferenciada
resultou na redução do absenteísmo, da rotatividade da mão-de-obra e dos acidentes
de trabalho. Por conseguinte, a produtividade e a qualidade do trabalho aumentaram
nos canteiros de obra.
A partir de 1980, entretanto, mudou seu foco de atuação para promover ações de
interesse público na comunidade, buscando meios para solucionar os problemas
sociais do país. Dessa forma, a FEO começou a oferecer prêmios, conceder bolsas de
245
pesquisa e patrocínio de trabalhos e organizar debates, visando primordialmente o
setor de construção civil. Em 1982, estabeleceu o Prêmio Fundação Emílio Odebrecht
de Cr$ 1 milhão e Cr$ 500 mil ao melhor e o segundo melhor trabalho,
respectivamente, sobre os meios de solucionar os problemas do trabalhador brasileiro.
O primeiro de uma série de prêmios foi sobre a produtividade do trabalhador brasileiro
e foi aberto a pessoas, grupos ou instituições. Os trabalhos entregues na primeira
edição foram sobre: desenvolvimento sico e mental do trabalhador; alimentação no
Brasil; os transportes na vida do trabalhador; a questão do planejamento familiar;
educação do trabalhador e de sua família; o que pensa e deseja o trabalhador nas
suas relações com a empresa; produtividade do setor de construção; panorama dos
conflitos nas relações de trabalho no Brasil.
Os temas propostos nos anos seguintes foram: A Saúde na Vida e na
Produtividade do Brasileiro (1983); Educação e produtividade (1984); Trabalho, saúde
e educação - uma proposta para a formação dos jovens (1985), promovido com o
apoio dos jornais O Estado de S. Paulo, A Tarde e Jornal do Brasil; Produtividade do
homem rural nordestino, na agropecuária do Nordeste (1986); Organização das
Forças no Meio Rural Nordestino para a Produção (1987), também com o apoio dos
jornais A Tarde, Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo; etc. Por esse meio então, a
Odebrecht "cumpre a função social da Empresa, estando ausentes dessa iniciativa
interesses econômicos e atendendo à determinação da Lei das Sociedades Anônimas,
no sentido de que a empresa deve visar, de um lado, o lucro e, de outro, sua missão
para com a sociedade" (Josaphat Marinho, então vice-presidente do Conselho de
Curadores da FEO, em Odebrecht, 1983b, p. 32). Nessa época, seus programas
foram custeados com rendimentos das ações da Odebrecht S.A. Quando necessário,
a FEO recebeu doações para cobrir custos de projetos que demandaram mais
recursos.
Além dos concursos realizados, foram também promovidas mesas-redondas.
Parte desses debates foi realizada pelos jornais A Tarde e Jornal do Brasil. Os
resultados de todas essas iniciativas foram traduzidos em melhores informações e até
propostas de desenvolvimento nas áreas de alimentação, desenvolvimento físico e
mental do trabalhador, planejamento familiar, educação, transportes para o
trabalhador etc. Tais resultados foram repassados ao CNPq para melhor investigação
e divulgação a instituições interessadas.
No campo cultural, a Organização constituiu um Conselho Editorial para cuidar
da parte de publicação de livros. Cada primeira edição dos livros de interesse da
246
Organização foi patrocinada por uma de suas empresas e, por conseguinte,
transferindo os direitos autorais para a FEO. Coube à Fundação viabilizar com outras
entidades a publicação comercial de outras edições.
Em 1988, o Prêmio sofreu uma reestruturação e então passou a focar em temas
relacionados ao jovem. O tema daquele ano foi “A Educação do Adolescente”. Nessa
mudança, a FEO também repensou sua forma de atuação. Segundo a empresa, o
Estado não foi capaz de colocar em prática as sugestões apresentadas. Então, a
própria FEO se incumbiu de desenvolver práticas de intervenção social na
comunidade. Com essa nova abordagem, a FEO recebeu o Prêmio ECO da Câmara
Americana de Comércio de o Paulo em 1996 pelo programa realizado junto com a
Unicef para mobilizar a sociedade em busca de um melhor ensino básico; e recebeu o
Criança e Paz - Betinho 1998 concedido pela Unicef pelos esforços despendidos na
promoção dos direitos da criança e do adolescente.
Em 1999, a FEO redefiniu seu papel novamente e passou a focar no
desenvolvimento do adolescente do nordeste, especificamente em regiões com baixos
índices de desenvolvimento econômico. A partir desse momento a FEO passou a
integrar a Aliança com o Adolescente pelo Desenvolvimento Sustentável no Nordeste
Brasileiro, juntamente com o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Kellogg e o BNDES.
A partir de 2004, a FEO , em parceria com o Governo do Estado da Bahia,
passou a realizar uma série de ações que integram o Programa de Desenvolvimento
Regional Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia (PDRIS). Com maior
investimento em infra-estrutura e mais recursos financeiros, o Governo da Bahia
permitiu um maior alcance do programa que naquele momento já contemplava 11
cidades da região do Baixo Sul.
A partir de 2005, o Wal-Mart, após integrar o PDRIS, começou a comercializar os
produtos fabricados pela Cooperativa de Marisqueiros, Pescadores e Aqüicultores do
Baixo Sul (Coopemar) através de sua rede de supermercados Wal-Mart.
8.8.2. História da CBPO
Em 1931, Oscar Americano fundou em São Paulo a Construtora Oscar
Americano, empresa que prestou, no princípio, serviços de terraplanagem e
pavimentação. No início, foram também construídos pontilhões, agências bancárias,
sanatórios, escolas, pequenas estradas e residências.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Oscar Americano foi aos Estados Unidos
para comprar equipamentos de terraplanagem utilizados durante a guerra. No Brasil,
247
começaram a ser construídas as grandes rodovias e ferrovias. Com a característica de
sempre desenvolver novas técnicas construtivas e seus recursos humanos, a
Construtora passou cada vez mais a participar de empreendimentos mais complexos e
importantes no cenário nacional.
Em 1949, a Construtora Oscar Americano mudou sua razão social para a
Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO). Nos anos seguintes, seu escopo
de atuação ampliou para a construção de rodovias, barragens, usinas hidrelétricas,
aeroportos, metrôs, pontes e viadutos.
A CBPO foi uma das primeiras empresas de capital nacional a construir usina
hidrelétrica no Brasil. Em 1960, a CBPO foi contratada pela Morrison Knudsen para
realizar parte da barragem de Três Marias, em Minas Gerais. No ano seguinte, a
CBPO assumiu responsabilidade integral para construir a hidrelétrica de Xavantes.
Em 1980, a CBPO era uma empresa financeiramente consolidada com cerca de
11 mil funcionários permanentes e com um imobilizado de 2,5 mil equipamentos. Entre
as obras realizadas, constavam: Usina Hidrelétrica de Capivara com 640 Mw de
capacidade localizada no rio Paranapanema, na divida de São Paulo com Paraná;
trecho na rodovia dos imigrantes; Barragem de Yguazú e a Central Hidrelétrica de
Acaray, no Paraguai; viadutos, pontes, obras-de-arte correntes e especiais, e ainda
serviços de implantação, de pavimentação e complementares para o anel rodoviário
do Estado de São Paulo (Cebolão); as obras civis do lote 8 da Linha Prioritária do
Metrô do Rio de Janeiro; etc.
Naquela época, a CBPO também esteve construindo a Usina Hidrelétrica de
Itaipu. Com 16.660 Mw de potência, essa usina foi uma das maiores obras já
realizadas no Brasil.
Em 1980, a CBPO foi adquirida parcialmente pela Odebrecht S.A. (OSA). Três
anos mais tarde, a OSA adquiriu mais uma parte das ações da CBPO, tomando assim
a responsabilidade por sua gestão.
Com a morte de Oscar Americano, a empresa necessitou de liderança para dar
continuidade aos seus negócios. Formou-se, então, um trio administrativo com a
presença de Mário Pimenta Camargo, Oscar Americano Neto e Aluízio Rebello de
Araújo, de forma que haveria um rodízio na presidência da empresa. A CBPO foi
adquirida justamente durante a vez de Aluízio Rebello.
A união foi interessante para ambos os lados. Além de serem empresas
preocupadas com o desenvolvimento de pessoas, as duas se complementavam em
seus mercados de atuação. Com a diminuição das grandes obras, a aproximação foi
248
também interessante, pois a CNO detinha o conhecimento de gestão de grandes
volumes de obras de médio porte. De 1983 a 1985, a CBPO passou de 8 a 22
contratos realizados ao mesmo tempo, demonstrando certa internalização dos
conceitos da Odebrecht de descentralização e formação do gerente-empresário. Por
outro lado, a Odebrecht agregou capacitação na construção de grandes hidrelétricas e
uma porta de entrada para o Sul.
O faturamento da CBPO saiu de US$ 200 milhões na época para US$ 900
milhões em 1995. Mas a parte financeira não foi a única que sofreu modificações. Em
1984 foi introduzida a função de gerente de contratos, conforme o valor da Odebrecht
de delegação planejada, que conferia maior autonomia à gestão dos contratos.
Segundo Márcio Batista, integrante da CBPO de antes da aquisição, "havia entre
alguns engenheiros da empresa um pleito por mais liberdade de ação nos canteiros,
ao qual a adoção do modelo descentralizado veio atender" (Odebrecht, 1995, n.72, p.
26). A transição para um modelo descentralizado das obras significou uma grande
mudança para uma empresa acostumada com uma centralização rígida da época de
Oscar Americano.
A delegação promoveu o desenvolvimento de pessoas e, por conseguinte, o
desenvolvimento da CBPO. Ainda quando as duas empresas trabalharam juntas na
obra do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, Romildo Santos, então integrante
da CBPO, recordou de suas conversas com Renato Baiardi, então gerente de contrato
da CNO. Segundo Romildo, "Conversávamos bastante, e eu notei que havia muita
identidade entre nós, embora ele atuasse com mais poder de decisão, devido ao
modelo descentralizado" (Odebrecht, 1995, n.72, p. 27).
Em 1983, Pedro Novis assumiu a condição de Líder Empresarial da CBPO,
juntamente com Aluízio Rabello, presidente da empresa desde 1979. Em 1985, o
Conselho de Administração da CBPO foi constituído por: Oscar Americano Neto
(presidente); Norberto Odebrecht (vice-presidente); Aluízio Rebello de Araújo; Mário
Pimenta Camargo; Victor Grandin e Emílio Alves Odebrecht.
A partir de 1987, a CBPO retomou sua atuação internacional com a construção
do Túnel de Peuenche no Chile; em 1990 iniciou obras na Argentina para construir a
Hidrelétrica de Pichi Picún Leufú; dois anos depois iniciou obras no México, no
Uruguai e em Portugal; em 1993 na China, ao abrir uma filial nesse país; e na
Alemanha através da filial Odebrecht Bau A.G., constituída em 1994. A Alemanha foi
escolhida para aproveitar as oportunidades de construção no leste europeu, carentes
de infra-estrutura.
249
Para garantir uma melhor gestão das várias obras que aconteceram nessa
época, a CBPO desenvolveu o Programa de Planejamento e Acompanhamento de
Obras. Dentre os benefícios do sistema, estavam: replanejamento imediato de todas
as atividades em função de novos fatos ocorridos; acompanhamento visual da obra
através de gráficos nas formas de rede lógica, diagrama lógico em escala de tempo,
cronograma de barras, histogramas, curvas de desempenho, projeções; facilidade no
acompanhamento; análise antecipada de alternativas e metodologia executiva;
interação entre os setores da obra; etc.
Em 1989, em conjunto com a Putzmeister do Brasil, empresa especializada em
produção de máquinas para concreto, a CBPO desenvolveu um braço eletromecânico
que aumentou a produtividade em 400% em relação ao método convencional de
projeção de concreto em túneis. Nesse mesmo ano, na linha de desenvolvimento
tecnológico, a CBPO firmou convênio de cooperação com a Escola Politécnica da
USP. O intercâmbio previu o desenvolvimento de métodos construtivos e pesquisas de
novos materiais de construção civil nas áreas de transporte, túneis, pontes, viadutos e
pavimentação.
8.8.3. História da Tenenge
A Tenenge iniciou sua atuação em 1955 com um projeto de montagem da
Estação Experimental de Xisto, no Vale do Paraíba. Naquela época, não havia
empresas nacionais capacitadas para executar obras industriais nas áreas de
siderurgia, energia e petróleo. Nesse contexto, realizou a ampliação da hidrelétrica
Salto de Avanhandava, no rio Tietê, e das centrais termoelétricas Jupiá e
Votuporanga, no vale da Ribeira. Com esses passos, a Tenenge iniciou sua trajetória
de crescimento para se tornar quase 3 décadas depois responsável pela instalação de
mais de um terço da produção hidrelétrica do Brasil. Segundo Márcio Faria, diretor-
superintendente de obras industriais da Odebrecht em 2001, "Estivemos presentes em
praticamente todos os principais projetos de geração de energia elétrica do país,
iniciados na década de 60" (Odebrecht, 2001e, p. 36)
No início da década de 1960, a Tenenge entrou para o setor siderúrgico ao
participar das obras de implantação da Usiminas. Na segunda metade dessa década,
expandiu seu escopo de atuação e construiu a Refinaria de Paulínia.
Na década seguinte, em pleno “milagre” da economia, a Tenenge participou de
grande volume de obras. Naquele momento, seu parque de equipamentos foi um dos
maiores da América do Sul. Na segunda metade da década de 1970, iniciou a
250
montagem de grandes hidrelétricas como Tucuruí, na Amazônia, e Itaipu, na fronteira
Brasil e Paraguai.
A expansão internacional aconteceu nessa época. A primeira obra da Tenenge
no exterior foi no Paraguai com a montagem da Hidrelétrica de Acaray II. Em 1976, a
Tenenge-Chile foi fundada para atender à crescente demanda daquele país. Duas
décadas depois, a empresa chegou a ser uma das três maiores montadoras do Chile.
Aproveitando o mercado crescente que se abriu no setor de petróleo, a Tenenge
desenvolveu tecnologia na construção de plataformas ao construir a Namorada II e
Cherne I, na bacia de Campos.
Em 1985, a Odebrecht adquiriu a Tenenge e então ficou responsável por sua
gestão. Essa união deu condições à Odebrecht de oferecer pacotes de serviços mais
completos, com obras industriais e civis. Nos anos seguintes, a empresa intensificou
sua participação na indústria petroquímica e de papel e celulose.
Em 1990, a Tenenge ganhou o Prêmio Petrobrás da Qualidade na Classe
Serviços, o mesmo que a CNO ganhara 4 anos antes. Em 1998, novamente a
Tenenge recebeu esse prêmio, porém na categoria de serviços de instalação e
montagem eletromecânica
Ainda em 1990, após ter tido experiência em Portugal e Chile em montagem de
equipamentos para plataformas, a Tenenge passou a atuar na Inglaterra com a
aquisição da SLP Engineering Ltd. Naquele momento, a experiência da SLP era em
módulos, enquanto a da Tenenge era em jaquetas. Inicialmente a intenção era
começar uma parceria com a SLP, mas como a controladora decidiu vender a
empresa, a Tenenge logo se interessou. Essa empresa tinha grande presença no Mar
do Norte, importante centro de construção, montagem e serviço offshore para
produção de petróleo e gás. Em 4 anos de nova gestão, a SLP saltou de um
faturamento de 40 milhões de libras para 110 milhões.
Com a nova controladora, os instrumentos de gestão da Odebrecht foram
introduzidos na SLP. Segundo Geoff Race, então gerente de canteiro, “com o PA,
cada liderado sabe o que o seu líder está fazendo, porque o diálogo é incessante no
verdadeiro trabalho em equipe. As pessoas passam a conhecer melhor o seu
potencial". (Odebrecht, 1994d, p. 7)
Em 1995, a Tenenge formou consórcio com a Ultratec e conquistou o contrato
para conversão de plataforma semi-submersível em um sistema flutuante para
produção de petróleo e gás no Campo Marlim, Bacia de Campos. Essa plataforma
produzida para a Brasoil, empresa internacional da Petrobrás, foi nomeada como
251
Petrobrás-XXVI, com capacidade de produzir 100 mil barris/dia de petróleo. Na
mesma linha, a Tenenge começou a conversão, em 1996, da plataforma de perfuração
Penrod 71 em uma unidade flutuante em parceria com a Far East Levingston
Shipbuilding (Fels) para a Petrobrás.
Em 1996, a Tenenge participou da fase final de montagem da Usina Nuclear
Angra II. E nesse mesmo ano, a empresa foi incorporada à CNO.
8.8.4. História da BPC
Em 1941, o então agricultor José Bento Pedroso comprou um trator agrícola para
ajudar no cultivo de suas terras em Trajouce, região metropolitana de Lisboa. Logo
José Bento percebeu que a máquina permanecia ociosa entre as colheitas. Foi então
que a trocou por uma mais versátil e que pudesse ser utilizada para outros fins nos
períodos de entressafra. O novo trator foi alugado para serviços de terraplanagem e
abertura de canais de irrigação a princípio.
A atividade auxiliar se mostrou bastante lucrativa e logo a família comprou outros
tratores e aos poucos a atividade de agricultura foi deixada de lado. Então em 1953, a
José Bento Pedroso & Filhos foi fundada. Dez anos depois a firma ainda dispunha de
apenas meia dúzia de máquinas e poucos serviços de terraplanagem e escavação.
Em 1963, mesmo ano da morte de José Bento, foi contratado o engenheiro Alberto
Augusto Gameiro Lima e a empresa mudou seu foco de atuação, abandonando o
aluguel de máquinas para realizar obras por conta própria.
Durante a década de 1960 e 1970, a José Bento Pedroso & Filhos realizou obras
de médio e grande porte, como a Barragem de Morgavel em Sines, sul de Portugal;
ampliação da Siderurgia Nacional, em Seixal; construiu estradas, pontes, viadutos,
túneis etc; em 1966 participou da construção da Ponte Antônio de Oliveira Salazar,
uma das obras mais importantes da época; etc.
Em 1973, os irmãos Manuel Pedroso e José Luis, filhos mais velhos de José
Bento, terminaram a sociedade. Então, Manuel convidou João Manuel Pires Ferreira
Rodrigues, seu genro, para trabalhar com ele na empresa, cuidando da área
comercial.
Desde o final da década de 1970 e durante a década de 1980, a José Bento
Pedroso & Filhos enfrentou grandes dificuldades. Foram momentos de falta de
recebimento de salários, falta de capital para investimentos, poucos contratos, falta de
equipamentos.
Em 1988, a Odebrecht adquiriu a José Bento Pedroso & Filhos. Logo a empresa
passou a se chamar Bento Pedroso Construções S.A. (BPC) e César Castro, então
252
diretor da CNO, assumiu a sua liderança empresarial. Com César vieram 9 brasileiros.
Os pagamentos de seus integrantes foram postos em dia, inclusive com atualização
de salários; as dívidas foram renegociadas com novas linhas de crédito; a
administração da empresa foi reestruturada, com sistemas de informação e
padronização de procedimentos.
Nos quinze anos seguintes, a BPC saiu de um faturamento de 10 milhões de
euros para, em 2003, faturar 170 milhões de euros. Visto que a Odebrecht investiu na
empresa ao longo desse período mais de US$ 100 milhões. Além disso, seu escopo
de atuação passou a contemplar também obras em concreto e até de montagem
industrial. E também passou a ter menos contratos, entretanto de maior porte.
Aos poucos, a BPC foi assimilando a forma de ser da Odebrecht. Por exemplo,
em 1991, o Programa Jovens Parceiros foi estabelecido. Segundo Paulo Rocha, então
com 16 anos de Odebrecht e 1 ano de BPC, o Programa “é a garantia de identificação,
formação e integração das futuras gerações de deres” e a “a contínua interação com
a engenharia acadêmica” (Odebrecht, 2004a, p. 39).
Em 1995, a BPC, após sugestão da própria empresa, começou a construir a
Ponte Vasco da Gama, a segunda passagem sobre o Rio Tejo, e uma das obras mais
importantes da história da BPC. Não só a concluiu quase 3 anos depois como
participou de sua operação, através de concessionária. Essa obra foi realizada a partir
de um contrato de concessão do tipo BOT (Build, Operate and Transfer), onde o
concessionário é responsável obter o financiamento, construir, operar e manter. Sua
remuneração veio da exploração dos serviços, que aconteceu por meio dos pedágios.
Entretanto, a BPC vendeu sua parte nesse negócio em 2002.
Os destaques da BPC ao longo da década de 1990 foram: 402 km de estradas e
auto-estradas, com 10 viadutos e 440 obras-de-arte; 4 pontes rodoviárias, com 2.550
m de extensão total; dois túneis rodoviários, totalizando 570 m de extensão; 3.650 m
de linhas subterrâneas e cinco estações para o Metrô de Lisboa (em consórcio); Ponte
Vasco da Gama sobre o Rio Tejo, com 18 km de extensão (em consórcio); Mercado
Abastecedor da Região de Lisboa, com 120 mil m2 de área construída (em consórcio);
projeto e construção da Estação de Tratamento de Água do Lever, na região do
Grande Porto (em consórcio); Barragem Alqueva, no Alentejo, em arco de dupla
curvatura, com 96 m de altura; Estação do Oriente para a Expo 98, estação multimodal
de passageiros, com 158.700 m2 de área construída (em consórcio); projeto e
construção de 3 aterros sanitários e 4 estações.
253
Em 2003, o Programa de Desenvolvimento de Empresários (PDE) foi
implementado. Esse Programa teve como objetivo passar os conceitos da TEO para
os integrantes da BPC.
Em 2005, o Programa Rotas do Conhecimento foi implementado. Esse
programa, composto pelas etapas de aprendizado, aperfeiçoamento, domínio e
retransmissão, teve a participação de 75 integrantes da BPC. Segundo Carlos
Armando Paschoal, então Diretor-Superintendente da BPC, o Rotas do Conhecimento
“foi desenvolvido em Portugal para sanar alguns de nossos problemas específicos,
mas pode ser implantado em qualquer ambiente que siga os princípios da TEO (..)Seu
objetivo é a melhor qualificação da Organização Odebrecht e isso passa
obrigatoriamente pela melhor qualificação das pessoas. (Odebrecht, 2005d, p. 32)
Em 2006, a BPC implementou o Sistema de Gestão Integrada de Qualidade,
Segurança e Saúde no Trabalho, Meio Ambiente e Responsabilidade Social -
SGI/QSAR. O Sistema foi certificado pelo Bureau Veritas Quality International (BVQI).
8.8.5. Star
Em 1953, foi fundada a Construtora e Pavimentadora Star Ltda. Após algum
tempo, essa empresa mudou de nome para Indústrias Reunidas Star S.A. Dessa
empresa surgiram, então, a Pedreiras Valéria e a Indústria de Pré-Moldados Star Ltda.
A Indústria de Pré-Moldados Star Ltda (Star) foi fundada em 1973. Começou
produzindo tubos de concreto pré-moldado do tipo macho-fêmea para obras de
drenagem em rodovias. Entretanto, logo dedicou-se fundamentalmente a projetos,
fabricação e comercialização dos seguintes produtos pré-moldados: tubos de
concreto; lages para bueiro; acequias aplicadas em obras de irrigação superficial;
bloco Nofine, elemento de vedação estrutural; calha para drenagem superficial; dutos
telefônicos; sapatas para fundações; meio-fio; morões para cerca; placas para pisos;
peças especiais - vigas, pilares etc.
Naquela ocasião a Star foi a única a fabricar tubos de concreto a partir de
agregados de calcário, aumentando a durabilidade do produto de 3 a 5 vezes. Quando
tentou introduzir novos tubos de 26 polegadas a partir da técnica EB-6, utilizada nos
EUA, teve que entrar com um pedido de revisão das normas da ABNT para permitir
sua negociação. Na mesma época foi membro da American Concrete Pipe
Association.
254
Em 1976, a Star introduziu a fabricação de novos dormentes de concreto para
substituir os de madeira. Nesse ano, a empresa aumentou sua produção de mil para
10 mil toneladas por mês em concreto pré-moldados. Sua atuação no Nordeste foi
bastante intensificada.
Após ter consolidado em uma única fábrica seus 4 centros de produção no
nordeste, a Star inaugurou em 1978 a sua nova fábrica para atender às necessidades
da Companhia de Águas e Esgotos de Brasília (Caesb). Introduziu, após acordo com a
empresa australiana Rocla Concret Pipes Ltd., a fabricação de tubos de alta pressão.
Esse produto, ainda inédito no Brasil, teve o potencial de substituir os tradicionais
tubos de ferro e aço.
Nesse mesmo ano, a Star ganhou concorrência para construir o Interceptor
Oceânico Leste de Fortaleza que teve a finalidade de transportar esgoto.
Logo depois a Star foi incorporada à CNO.
8.8.6. Pedreiras Valéria e Inorcal
Em 1962, a Indústrias Reunidas Star S.A. adquiriu a Pedreiras Valeria. Após a
sua aquisição, quando ainda era uma fábrica à beira da Br-324, a empresa evoluiu
sempre com grande preocupação na produtividade e qualidade de seus produtos.
Em 1973, já como uma firma independente, a Pedreiras Valéria alcançou a
posição de segunda mineradora do Estado da Bahia, produzindo pedra britada em
todas as faixas granolométricas. Nessa época, seu objetivo principal foi a extração e
beneficiamento de britas para todos os tipos de construção, usinagem de asfalto e solo
brita, abastecendo o mercado de construção civil da Grande Salvador.
Em 1975, após ampliação de sua fábrica, a Pedreiras Valéria entrou no mercado
dos produtos de areias artificiais grossa e fina que, ao serem utilizadas, diminuem o
consumo de cimento. Seu mercado foi ainda mais ampliado com a aquisição da
Cimentopronto ainda nesse ano.
Em 1976, a Pedreiras Valéria não obteve resultados positivos e então acelerou o
processo de incorporação da Cimentopronto, promovendo ações para obter
economias de escala e administrativa.
Em 1980, a Pedreiras Valéria incorporou a Indústria Nordeste de Calcário S.A.
(Inorcal). Fundada em 1966, a Inorcal começou fabricando e comercializando calcário
moído para a agricultura e para asfalto. A empresa encontrou certa dificuldade nos
255
primeiros anos, pois quase não se utilizava calcário agrícola no nordeste. Entretanto
logo introduziu: “filler” (calcário moído) utilizado para a fabricação de cerâmicas, tintas,
papel etc.; corretivo (calcário com alto teor de magnésio-dolomito moído) utilizado na
agricultura para corrigir acidez do solo e em perfuração de petróleo, para corrigir
fissuras do terreno; e talco (talco moído) utilizado na fabricação de tintas, inseticidas,
borracha etc. Em 1976, a Inorcal começou a trabalhar com os minerais barita,
feldspato e almenta, além de estudar a introdução de outros minerais.
Em 1985, a Pedreiras Valéria iniciou extração de agregados do rio Paraguaçu
para atender à demanda de Salvador. Essa iniciativa foi importante para a
preservação das areias das dunas da lagoa do Abaeté. Além disso, como a areia do
rio Paraguaçu era transportada via marítima, o custo final da areia era mais barato.
Como reconhecimento pelo programa, a Câmara de Vereadores da Cidade de
Salvador entregou uma moção de congratulações.
Após parceria com a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), a
Pedreiras Valéria viabilizou estudo sobre o aproveitamento de reservas de vanádio
calculadas em 40 mil toneladas em Maracás, Estado da Bahia. O vanádio é utilizado
na fabricação de ligas especiais de aço e ferro, ligas com base em titânio, metalurgia
não-ferrosa e indústria química. Frequentemente combinado com o cromo, níquel,
molibdênio e manganês em ferro-liga para aços especiais. Naquela época, o vanádio
era importado da Finlândia e África do Sul sob a forma de pentóxido de vanádio.
Ao longo de sua trajetória, a Pedreiras Valéria atuou em jazida de terceiros,
colaborando para as obras do Porto de São Roque da Petrobrás, na Bahia; complexo
de Timbopeba da Companhia Vale do Rio Doce, em Minas Gerais; do porto de Suape
do Governo do Estado, em Pernambuco; o abastecimento de pedra bitolada para
lastro ferroviário da Rede Ferroviária Federal em diversos Estados; e a mina de cobre
de Jaguarari, na Bahia para a Caraíba Metais. Talvez o auge da atuação da Pedreiras
Valéria tenha sido na década de 1970 durante a implantação do Centro Industrial de
Aratu e do Pólo Petroquímico de Camaçari.
8.8.7. Prontoferro, Diferro e Metalúrgica Ramos
No final da década de 1960, a Prontoferro e a Diferro foram fundadas com a
intenção de descentralizar alguns tipos de serviço que eram realizados, retirando sua
responsabilidade do controle gerencial da obra. A Prontoferro foi uma empresa criada
para centralizar as atividades de dobragem de o para as obras e a Diferro teve
256
como objetivo realizar as compras de aço nas usinas para dar uniformidade nas
especificações, reduzir custos e garantir suprimento de matéria-prima durante toda a
obra.
Em 1973, a Prontoferro inaugurou uma nova linha de estruturas metálicas em
ferro redondo, garantindo melhor utilização. No mesmo ano, a Diferro passou a
distribuir produtos da Eternit em todo o Brasil.
Em 1974, com o intuito de ganhar maior produtividade, a Prontoferro introduziu
novos sistemas de produção, eliminando também mão-de-obra no processo. Nessa
época, o mercado principal da empresa foi o Pólo Petroquímico da Bahia e o centro
industrial de Aratu.
Ainda em 1974, a Diferro foi incorporada à Prontoferro, transferindo suas
instalações para um único local. No ano seguinte adquiriu a Metalúrgica Ramos para
melhorar a oferta regional de produtos e serviços métalo-mecânicos. Como esses
produtos eram adquiridos apenas no sul, a aquisição promoveu melhores preços,
prazo e assistência na região.
Em 1976, a Prontoferro já participava do mercado de estruturas marítimas e
hidroportuárias, exploração de petróleo, pontes e viadutos. No ano seguinte, construiu
a Plataforma de produção de petróleo Guaricema 06 (PGA-06) para a Petrobrás.
Depois construiu a Queimador Ubarana 03 (QUB-03).
No final da década de 1970 enfrentou dificuldades financeiras e foi incorporada à
CNO.
8.8.8. OPL
A Odebrecht Perfurações Ltda foi criada em 1979. Naquela época, 11
plataformas auto-elevatórias de perfuração para pesquisa de petróleo operavam na
costa brasileira, sendo oito operadas por empresas estrangeiras e o restante pela
própria Petrobrás. Havia apenas 9 anos que a Petrobrás realizava serviços de
perfuração. Com os anos, tanto o número de plataformas como a proporção de
plataformas operadas por empresas brasileiras foram gradativamente aumentando.
Em 1985, já eram 18 plataformas, sendo duas operadas por empresas estrangeiras, 6
pela Petrobrás e 8 por empresas brasileiras.
A Odebrecht já realizara trabalhos de sondagem para a exploração petrolífera,
quando em 1979 assinou contrato com a Petrobrás para serviços de perfuração na
costa do nordeste brasileiro. A Odebrecht ganhou concorrência realizada entre as 6
257
maiores construtoras civis do país para prospecção com validade para 5 anos. Foi a
primeira vez que uma empresa brasileira prestou serviços dessa natureza, fazendo
parte da intenção da Petrobrás transferir esse tipo de conhecimento para firmas
privadas nacionais.
Nesse mesmo ano, a Odebrecht adquiriu em Cingapura uma plataforma de
perfuração de poços, a Norbe I. Essa plataforma começou a ser operada no campo de
Guaricema na costa de Aracajú, Sergipe, como uma etapa de treinamento. A equipe
utilizada foi mista, com um mínimo de técnicos estrangeiros. Entretanto, para a função
de Superintendente de Perfuração, uma das funções mais importantes da equipe, foi
empregado um estrangeiro pela dificuldade de encontrar um profissional qualificado no
Brasil.
Ao mesmo tempo em que a Norbe I foi uma grande aquisição, fez com que a
empresa suportasse um grande risco financeiro. A plataforma foi adquirida por US$
28,5 milhões, o que representou na época metade do capital da empresa. Além disso,
a proposta da concorrência não cobria os custos de trazer a plataforma de Cingapura
ao Brasil, nem tampouco os 6 meses necessários para transportá-la. Segundo Sylvio
Tude, responsável pela Prontoferro na ocasião, a OPL operou nos seus primeiros
anos com resultados negativos por causa de suas dívidas. "Desde o segundo
semestre de 1979 até o início de 1981, nós enfrentamos o grande desafio de
assegurar a sobrevivência da empresa, o que representou um esforço para
Odebrecht." (Sylvio Tude em Odebrecht, 1985c, p. 42)
Como a confiança no progresso do setor foi grande, não tardou para a Odebrecht
adquirir a Norbe II, III, IV e V. Mas a Odebrecht teve a vantagem de obter
conhecimentos na utilização e operação de equipamentos especializados em
fundações profundas através da CNO. Essa experiência ajudou, por exemplo, no
desenvolvimento da técnica de pré-furo, pioneira no Brasil. De fato, a perfuração de
petróleo possuía algumas semelhanças com a construção. Outro fator que também
contribuiu à evolução da OPL no setor foi o relacionamento que a Odebrecht mantinha
com a Petrobrás desde a construção da refinaria de Mataripe na Bahia.
Em 1982, a OPL novamente ganhou concorrência para prospecção juntamente
com a Montreal, com que já participara da primeira vez. Em 1985, a OPL venceu
concorrência aberta para realizão de furo de 4,5 mil metros de profundidade na
Bacia do Paraná. Foi levada em consideração a experiência da CNO em fundações
profundas e da OPL na técnica de pré-furo.
258
Em 1985, a OPL tinha à disposição da Petrobrás os serviços da Piatã e da
Itapoã. Duas plataformas projetadas na Holanda, construídas nos estaleiros da
Ishikawajima do Brasil S.A. em 1972 e totalmente reformadas e adaptadas nos
Estaleiros Verolme, em Angra dos Reis. A Piatã foi nomeada na Petrobrás como PT-
02 (Plataforma Tender) e a Itapoã como PT-03. A duas plataformas foram
originalmente utilizadas para a construção da Ponte Rio-Niterói para executar
fundações com equipamentos de perfuração.
Desde 1984 perfurando juntamente com a Foramer S.A. 21 poços de petróleo
para a Petrobrás, a OPL passou a operar também com plataformas semi-
submersíveis. Esses equipamentos dispensam pernas de sustentação em locais onde
a profundidade supera 100 metros. A partir de um consórcio com a empresa francesa
Foramer, a OPL trouxe ao Brasil a plataforma semi-submersível Astérie. Dessa forma
entrou para um segmento onde somente empresas estrangeiras atuavam.
Analisando a retrospectiva do setor de petróleo no Brasil, é notório perceber o
esforço da Petrobrás em desenvolver a tecnologia específica de prospecção e
extração de petróleo no país. Por sua vez, a OPL, segundo Victor Gradin, responsável
pelo negócio de perfuração da Odebrecht, percebeu que “perfuração é mais um
negócio cujo êxito depende de gente, de indivíduos, de pessoas. O equipamento é
realmente muito caro, mas os riscos de operá-lo são brutais e podem ser
dominados se tivermos equipes altamente qualificadas." (Odebrecht, 1985c, p. 42).
Para capacitar equipes nos trabalhos de perfuração, a OPL instalou no Rio de Janeiro
um simulador de perfuração em tamanho natural.
Ao mesmo tempo em que a empresa trabalhou para firmar sua posição no país,
o mercado internacional começou a ser um caminho cada vez mais pensado. No final
da década de 1990, a OPL tinha a maior frota privada do Brasil de perfuração e
exploração de petróleo no segmento de lâminas d’água de até 90 metros.
Entretanto, os investimentos no setor foram reduzidos e foi descoberto petróleo
em águas cada vez mais profundas. Nesse contexto, a OPL começou a partir de 1987
a buscar mercados no exterior. Após a criação da Forabrecht, empresa originada da
associação da Odebrecht com a Foramer, a OPL conseguiu contrato para realizar 7
furos no Congo em 1988. Logo depois, a Norbe I e V foram levadas à Índia para
prestar serviços à Oil and Natural Gás Comission ONGC, através da Jagson
Odebrecht Índia Ltd JOIL. A JOIL resultou de uma união da OPL com a empresa
259
indiana Jagson Internacional. Da mesma forma, em 1989, começou a operar na costa
do Gabão com a plataforma semi-submersível Astérie.
8.8.9. CPC
A Companhia Petroquímica de Camaçari (CPC) foi criada em 1979 com o
objetivo principal de fabricar cloreto de polivilina (PVC). Iniciou suas operações com
duas fábricas, uma para produção de cloreto de vinila (MVC) e a outra para fabricar
PVC, ambas com capacidades de produção de 150 mil t/ano de MVC e de PVC,
respectivamente. O objetivo foi abastecer o mercado interno e exportar os seus
excedentes para países como América Central, África, Ásia, Oceania, além de países
da América do Sul. A partir de então, não foi mais necessário importar esse polímero.
A tecnologia empregada para a produção foi a da americana B.F. Goodrich,
grande produtora mundial de MVC naquela ocasião. Na seção chamada de
oxicloração, o etileno, o ácido clorídrico e o ar são processados, resultando no
Dicloretano (EDC). Esse produto somado ao EDC comprado da Salgema em Alagoas
é craqueado, produzindo então o MVC. Dessa forma, o MVC é transportado para a
fábrica vizinha para produção, finalmente, do PVC. A tecnologia empregada para
produzir o PVC na época foi o de polimerização em suspensão da japonesa Mitsubishi
Chemical.
Naquele momento, o PVC representava 30% a 40% das resinas termoplásticas
em uso no mundo. Como sua implantação se deu no Pólo Petroquímico de Camaçari,
que nasceu na mesma época, seu suprimento de matéria-prima estaria garantido pela
central de matérias-primas, Copene.
Em 1980, a CPC criou a Rionil Compostos Vinílicos juntamente com o grupo
francês Dorlyl. Seus produtos seriam utilizados para a fabricação de embalagens. Um
ano depois, após aprovação do CDI, a CPC iniciou obras para expandir sua
capacidade produtiva para 180 mil t/ano de PVC e igual quantidade de MVC. Dessa
forma, a empresa passou a representar 50% da capacidade produtiva do Brasil.
Entretanto, a baixa demanda no mercado interno resultou na expansão da
exportação do PVC. Mesmo assim, o preço do produto exportado também sofreu com
as dificuldades no mercado internacional.
Em 1985, a CPC adquiriu a Plastivil, empresa do grupo Matarazzo, que então
tornou-se a base de atuação da CPC em São Paulo. E em 1989, a CPC inaugurou
uma nova fábrica de PVC em Alagoas com capacidade produtiva de 180 mil t/ano de
MVC e 100 mil t/ano de PVC. O investimento dessa unidade produtiva foi de US$ 237
milhões, sendo 50% do total proveniente de recursos próprios. O projeto que também
260
foi aprovado pelo CDI, teve como pontos positivos a integração com o complexo
petroquímico de Alagoas e a disponibilidade de matéria-prima produzida pela
Salgema.
Ainda em 1985, a associação entre a CPC e a Sansuy Participações,
Representações e Serviços Ltda., de origem japonesa, teve como objetivo garantir o
escoamento da produção de PVC da CPC e de suprimento de matéria-prima para a
produção de laminados da Sansuy S.A. Indústrias de Plásticos. Nessa associação, a
CPC passou a deter 20% do capital votante da Sansuy Ltda, e vice-versa.
Na linha de desenvolvimento de produtos e processos, em 1985, a CPC
inaugurou a primeira planta piloto da América Latina, com equipamentos e
instrumentos nacionais. Com o suporte técnico da Mitsubishi Chemical Co., a unidade
teve um investimento de US$ 1 milhão. A planta piloto teve como objetivo a pesquisa
da cinética da polimerização, desenvolvimento de novas resinas, aperfeiçoamento dos
técnicos brasileiros e maior eficácia na assistência técnica aos clientes. Em 1988, CPC
inaugurou o Centro Técnico de Serviços (CTC) em São Paulo. Essa unidade teve
como objetivo principal fortalecer as relações com os clientes da empresa através do
desenvolvimento de produtos que atendessem suas necessidades. O desenvolvimento
de produtos pôde ser traduzido em novos processos, novas fórmulas ou até mesmo
novos produtos. E em 1996, a CPC realizou um convênio com o Instituto de Pesquisa
e Tecnologia (IPT) de São Paulo para o desenvolvimento de tecnologias de produção.
8.8.10. Salgema
A Salgema Indústrias Químicas S.A. foi fundada em 1977 a partir de capital
100% nacional privado. A localização em Alagoas teve como motivadora proximidade
a uma extensa jazida de sal-gema. Naquela ocasião foi a maior fabricante de
cloro/soda da América Latina e a maior do mundo de eteno derivado do álcool da
cana-de-açúcar. Sua capacidade produtiva foi de 240 mil t/ano de cloro, 200 mil t/ano
de soda, 300 mil t/ano de dicloretano (EDC), 95 mil t/ano de eteno e 25 mil t/ano de
hipoclorito de sódio.
261
8.9. Navegando no Ambiente
Tabela 8.14 – Lista de Reconhecimentos
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1968 Individual Desempenho
Personalidade de
Administração
Escola de Administração da
UFBA.
Norberto Odebrecht
1973 Empresa Desempenho Diploma João de Barro Revista "Dirigente Construtor" CNO
por ter sido classificada como uma das maiores empresas no setor de
construção civil (1973);
1974 Individual Desempenho
Homem de Construção do
Ano
Revista "O Empreiteiro" Norberto Odebrecht
1974 Empresa Social
Certificado de Participação
Comunitária
Mobral CNO
O presidente do Mobral, Sr. Mário Henrique Simonsen, conferiu à CNO o
Certificado pela atuação de apoio financeiro ao movimento de alfabetização.
1975 Individual Internacional Condecoração
Rotary Foundation of Rotary
International
Norberto Odebrecht Pela assistência e relações de amizade entre os povos do mundo.
1976 Individual Desempenho
Medalha do "Mérito
Industrial Luiz Tarquinio"
Conselho de Representantes
da FIEB
Norberto Odebrecht
Medalha criada em 1973 para premiar pessoas que tenham colaborado para o
desenvolvimento industrial da Bahia.
1976 Individual Outros
Paraninfo da Turma de
Engenheiros de 1976
Escola Politécnica da
Universidade Federal da Bahia
Norberto Odebrecht
1976 Individual Desempenho
Mérito Industrial Luiz
Tarquínio
Federação das Indústrias do
Estado da Bahia
Norberto Odebrecht
1977 Individual Desempenho Terceiro líder mais votado
Balanço Anual - Editora
Jornalística Gazeta Mercantil
Norberto Odebrecht
1978 Individual Outros Prevencionista do Ano
Associação Brasileira para
Prevenção de Acidentes
Norberto Odebrecht
262
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1978 Individual Desempenho
Líder Empresarial -78 -
Região Nordeste
Balanço Anual - Editora
Jornalística Gazeta Mercantil
Norberto Odebrecht
1978 Individual Outros
Comendador pela ordem do
Mérito da Bahia
O Governador do Estado da
Bahia
Norberto Odebrecht
1978 Individual Outros
Comendador da ordem do
Mérito da Aeronáutico
Presidente da República
Federativa do Brasil
Norberto Odebrecht
1978 Individual Outros Prêmio Gonzaga Duque
Associação Brasileira de
Críticos de Arte (ABCA)
Escritor e historiador de arte
Clarival do Prado
Valladares
Pelo livro Lula Cardoso Ayres patrocinado pela CNO S.A.
1980 Empresa Desempenho
Diploma de melhor
desempenho do ano no
setor de construção pesada
Revista Exame CNO
1981 Empresa Operação
Prêmios ABCEM 80 e
Machado da Costa
Associação Brasileira de
Construtores de Estruturas
Metálicas - ABCEM
CNO
Prêmio pelas obras do Hangar da Varig e da Ponte sobre o Canal de Bertioga.
O prêmio ABCEM foi instituído em 1976 com o objetivo de distinguir as
melhores obras e trabalhos em estruturas metálicas, visando estimular a
criatividade, o aprimoramento tecnológico e o desenvolvimento de novas
alternativas do emprego desse material em obras de construção civil. Este é o
primeiro ano que se concede o prêmio Machado da Costa, para pontes
metálicas.
1981 Individual Outros
Prêmio Pesquisa de 1981,
no setor de Artes Visuais
Associação Paulista de
Críticos de Arte
Escritor e historiador de arte
Clarival do Prado
Valladares
Pelo livro Aspectos da Arte Religiosa no Brasil - Bahia, Pernambuco, Paraíba
editao pela CNO S.A.
1982 Individual Desempenho
Medalha Thomé de Souza
(a mais alta comenda de
Salvador)
Câmara Municipal de Salvador
Emílio Odebrecht,
representado por seu filho,
engenheiro Norberto
Odebrecht
concedida "post mortem" ao pioneiro das construções de concreto armado no
Nordeste
263
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1982 Empresa RH
Empresa de Recursos
Humanos
Agape - Associação
Guanabarina de Administração
de Pessoal
CNO
Norberto Odebrecht, em uma carta ao Presidente da Agape, associação que
congrega os profissionais que atuam no campo de recursos humanos no Rio de
Janeiro, disse: "Um dos valores fundamentais da nossa Organização é que o
Homem é a base essencial da sobrevivência, crescimento e perpetuidade dos
nossos destinos hoje e amanhã."
1983 Individual Operação
Prêmio Antônio Alves de
Souza pelo 1 lugar no III
Concurso de Criatividade
na Engenharia
Revista O Empreiteiro
Engenheiro Daltro Barros
Silva
Trabalho "A execução das treliças de fachada da Torre Rio-Sul"
1985 Empresa Operação Moção de congratulações
Câmara de Vereadores da
Cidade de Salvador
Pedreiras Valéria
Concedido pelo programa de extração das areias do Rio Paraguaçu e
preservação das dunas da lagoa do Abaeté.
1985 Individual Social
Medalha do Mérito na
Assistência ao Estudante
Fundação de Assistência ao
Estudante (antigo Ministério da
Educação e Cultura)
Norberto Odebrecht Esforços, realizações e dedicação no campo da educação
1985 Individual Desempenho
Homem de Construção do
Ano - 1985
Revista O Empreiteiro Emílio Alves Odebrecht
1986 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás da
Qualidade na Classe
Serviços
Petrobrás CNO Pelas obras da Plataforma de Carapeba 1, em Aratu (BA).
1989 Empresa Internacional
Prêmio Cacex, categoria
exportação de serviços
Cacex CNO Por suas atividades de engenharia e construção em diversos países.
1990 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás da
Qualidade na Classe
Serviços
Petrobrás Tenenge
1991 Individual Desempenho
Homem de Construção do
Ano - 1991
Revista O Empreiteiro Emílio Alves Odebrecht
O título foi resultado da atuação das empresas de construção da Odebrecht em
1991, com destaque para a entrada no mercado dos Estados Unidos.
264
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1991 Empresa Internacional
Reconhecimento pelo
importante índice de
segurança
California Occupation Safety e
a Health Administration
CNO Construção da barragem de Seven Oaks
1992 Empresa Internacional
40 lugar na lista das
maiores "International
Contractors" de engenharia
do mundo
Engineering News Records
(ENR)
CNO
1992 Empresa Internacional
80 lugar na lista das
maiores "International
Contractors" de engenharia
do mundo
Engineering News Records
(ENR)
Tenenge
1992 Empresa Internacional
168 lugar na lista das
maiores "International
Contractors" de engenharia
do mundo
Engineering News Records
(ENR)
CBPO
1993 Individual Internacional
Título de Líder Global para
o Amanhã
World Economic Forum
Cesar Souza, responsável
por Desenvolvimento de
Negócios Internacionais da
CNO
A honraria foi concedida a 200 pessoas, em todo o mundo, nascidas a partir do
dia 1 de janeiro de 1950 e que se destacaram em suas áreas de atuação.
Entre os escolhidos está Rigoberta Menchu, Prêmio Nobel da Paz em 1992. Os
outros brasileiros foram os empresários Antonio Ermírio de Moraes Filho, do
Grupo Votorantin; Ricardo Semler, da Semco; Benjamin Steimbruch, do Grupo
Vicunha; Plínio Villares Musetti, do Grupo Villares, e o economista Eduardo
Modiano, Assessor Especial da Prefeitura do Rio de Janeiro.
1993 Empresa Desempenho
Prêmio Revista Ferroviária
1993
Revista Ferroviária CNO
O Prêmio Revista Ferroviária objetiva homenagear as personalidades e
organizações que tenham se destacado por sua atuação em favor do
desenvolvimento do transporte metroferroviário no Brasil.
1994 Individual Desempenho
Um dos principais líderes
empresarias do país
Balanço Anual - Editora
Jornalística Gazeta Mercantil
Emílio Alves Odebrecht
Ele foi apontado como um dos empresários de atuação mais destacada, em
nível nacional, em 1993.
265
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1994 Governo Internacional Prêmio Dubai ONU Governo de Angola
Pelo Projeto Luanda Sul, empreendimento habitacional em Angola, que está
realizado pela Odebrecht e que se destina a atenuar o grave déficit de moradia
na capital angolana.
1995 Empresa Desempenho
Prêmio Melhor
Desempenho
Fiat OPP
Homenagem da Fiat instituída em 1987 a seus parceiros, depois de avaliar
aspectos como qualidade, competitividade e inovação
1996 Empresa Desempenho
Prêmio Melhor
Desempenho
Fiat OPP
Homenagem da Fiat instituída em 1987 a seus parceiros, depois de avaliar
aspectos como qualidade, competitividade e inovação
1996 Empresa Social
Prêmio Eco na categoria
Educação
Câmara Americana de
Comércio de São Paulo
FEO
programa de mobilização da sociedade em prol da melhoria do ensino básico
no país, colocado em prática por meio da campanha Só a Escola Corrige o
Brasil e do Prêmio Fundação Odebrecht 1995 - O Adolescente por uma Escola
Melhor, ambos realizados em parceria com o Unicef
1996 Empresa Desempenho
Maior Investidor Industrial
do Brasil
Balanço Anual - Editora
Jornalística Gazeta Mercantil
OPP
1997 Empresa Operação ISSO 14001
OPP (todas as suas
unidades industriais e em
sua sede administrativa)
Atendeu a uma série de exigências internacionais de proteção ambiental. Para
tanto, criou o Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA), instrumento de
apoio a cada um dos integrantes da empresa na manutenção de uma postura
proativa em relação ao meio ambiente. O alto nível de conscientização das
equipes foi, dessa aneira, decisivo para a conquista.
1998 Empresa Operação ISSO 14001
Trikem (unidades Alagoas e
São Paulo)
Após serem realizados cursos, treinamentos e auditorias. As unidades
cumpriram todas as etapas da certificação e, em dezembro de 1998, entraram
para o grupo das 100 empresas brasileiras certificadas pela ISSO 14001.
1998 Empresa Social
Prêmio Criança e Paz -
Betinho 1998
Fundo das Nações Unidas
para a Infância e a
Adolescência - Unicef
FEO atuação em defesa e na promoção dos direitos da criança e do adolescente
266
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1998 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás da
Qualidade na categoria
Serviços
Petrobrás CNO
1998 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás da
Qualidade na categoria
Serviços de Instalação e
Montagem Eletromecânica
Petrobrás Tenenge
1998 Empresa RH
Listada como uma das
melhores empresas para se
trabalhar
Revista Exame OSA
Foi a única, dentre as que atuam na área de Engenharia, a figurar no grupo.
Um dos pricipais atrativos da Odebrecht apontado no guia é o Programa de
Ação, por meio do qual o integrante "sabe exatmaente as metas que deve
cumprir".
Também mereceram destaque na pblicação o fato de a Odebrecht ter sido a
organização empresarial que mais admitiu trainees e a que mais enviou
integrantes para atuar em outros países, entre julho de 1997 e julho de 1998.
A Odebrecht, a Ipiranga e o Bradesco foram as únicas três organizações
empresariais que apareceram simultaneamente na relação das 500 maiores
empresas da revista Exame, na pesquisa realizada pela InterScience para a
revista Carta Capital sobre as empresas mais admiradas do país, e no guia As
melhores Empresas para Você Trabalhar.
267
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
1998 Empresa RH
Listada como uma das
melhores empresas para se
trabalhar
Revista Carta Capital OSA
Em pesquisa realizada pela empresa InterScience para a Revista Carta Capital
com 1.061 empresários e executivos brasileiros, a Odebrecht foi apontada como
uma das 40 empresas mais admiradas no país. O nome Odebrecht destacou-se
ainda como o segundo melhor nos aspectos de ambiente de trabalho e
oportunidades de desenvolvimento profissional. A pesquisa foi publicada na
edição da primeira quinzena de agosto de Carta Capital.
A escolha demonstra também a correção de uma estratégia voltada à
qualificação da imagem pública da Odebrecht, iniciada a partir de 1991.
1998 Empresa Operação ISO 14001 CNO
Pela aplicação do sistema de Gestão Ambiental na obra de ampliação da
Companhia Petroquímica do Sul - Copesul. A CNO foi a primeira empresa
brasileira de engenharia e construção a alcancar a ISO 14001, também
conhecida como a "ISO do meio ambiente".
1998 Empresa Internacional
Prêmio Empreendimento
Rodoviário do Ano
Associação Argentina de
Rodovias - ACC
Grupo Concessionário del
Oeste - GCO
(OSI - CBPO)
Pela construção da Autopista del Oeste em Buenos AIres.
A OSI administra a participação nas concessionárias e a CBPO foi uma das que
realizou a obra.
1998-
2005
Empresa Desempenho
Maior empresa no setor de
engenharia e construção
Revista O Empreiteiro CNO
1999 Empresa Internacional
Prêmio de Construtora do
Ano de 1999
U.S. Army Corps of Engineers CNO Construção da barragem de Seven Oaks
1999 Individual Desempenho
Prêmio Personalidade do
Ano
Conselho da Câmara de
Comércio Brasileira na Grã-
Bretanha
Emílio Alves Odebrecht
Devido à contribuição para o fortalecimento dos laços entre o Brasil e a Grã-
Bretanha. O Conselho da Câmara de Comércio Brasileira na Grã-Bretanha
instituiu a premiação em conjunto com a Embaixada do Brasil, em dezembro de
1997, durante visita do Presidente Fernando Henrique Cardoso ao Reino Unido.
2000 Empresa Operação
Prêmio Anual da
Construção 2000
Câmara de Construção do
Estado de Zulia
CNO
Pela instalação submersa de tubulações de grande diâmetro no Lago
Maracaibo, na Venezuela.
268
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
2000 Empresa Internacional
Líder na construção
internacional de usinas
hidrelétricas
Engineering News Records
(ENR)
CNO
2000 Empresa Operação
Troféu Petrobras de SMS -
Segurança, Meio Ambiente
e Saúde
Petrobrás OSA Pelos serviços prestados para a Petrobras na Bacia de Campos (RJ)
2001 Empresa Internacional
Melhor empresa do setor de
construção em Portugal
Edição portuguesa da revista
Exame
BPC
2001 Empresa Internacional
Uma das 10 melhores
empresas para trabalhar em
Portugal
Edição portuguesa da revista
Exame
BPC
2001 Empresa Internacional
Prêmio The World’s Best
Companies 2001, setor
engenharia e construção
Revista Global Finance CNO
2001 Empresa Internacional
Prêmio The World’s Best
Companies 2001, setor
química
Revista Global Finance Copene
2001 Empresa Operação
Prêmio Finep, categoria
Inovação Tecnológica /
Nacional
Finep - Financiadora de
Estudos e Projetos
OPP
O case Tecnologia de condensadores de refluxo, da Unidade de PVC em
Camaçari (BA), superou os 195 concorrentes da 5ª edição do prêmio, idealizado
para reconhecer as inovações mais relevantes no aprimoramento tecnológico
das indústrias brasileiras.
2001 Empresa Operação
Segundo lugar no Prêmio
Nacional de Conservação e
Uso Racional de Energia
Confederação Nacional da
Indústria - CNI
Marco Aurélio Cabral,
Engenheiro de Produção, e
Edivaldo Monte de Almeida
Filho, Engenheiro de
Processo, da Regional
Alagoas
Pelo trabalho Redução do Consumo de Energia na Produção Cloro/Soda Célula
TK-41, que propõe a modificação do interior das células eletrolíticas utilizadas
para produzir cloro-soda.
2001 Empresa Operação
Prêmio CNI de Incentivo à
Qualidade e Produtividade
Confederação Nacional da
Indústria - CNI
Carlos Apolinário de Souza,
Operador Pleno da Unidade
de PVC - Alagoas
Pelo trabalho Redução de Ruídos na Quebra do Vácuo dos Reatares de
Polimerização
269
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
2001 Individual Operação
Segundo lugar no Prêmio
Nacional de Conservação e
Uso Racional de Energia
Confederação Nacional da
Indústria - CNI
Marco Aurélio Cabral,
Engenheiro de Produção, e
Edivaldo Monte de Almeida
Filho, Engenheiro de
Processo, da Regional
Alagoas
Eles apresentaram o trabalho Redução do Consumo de Energia na Produção
Cloro/Soda Célula TK-41, que propõe a modificação do interior das células
eletrolíticas utilizadas para produzir cloro-soda.
2002 Empresa Internacional
Primeira empresa no
mundo nos segmentos de
Hidrelétricas e de
Aquedutos
Guia Global da Construção da
revista norte-americana ENR –
Engineering News-Record
CNO
2002 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás de
Segurança, Meio Ambiente
e Saúde Ocupaciona,
categoria construção
industrial
Petrobrás CNO
Devido às obras na Refinaria Presidente Vargas (Repar), no Paraná, em
consórcio com a Ultratec e a Inepar
2002 Empresa Internacional
Homenagem à atuação no
comércio entre o Brasil e a
Venezuela
Câmara Venezuelana
Brasileira de Comércio e
Indústria
CNO Esteve entre as 10 maiores exportadoras privadas brasileiras para a Venezuela.
2002 Empresa Operação
Prêmio Ademi-BA,
categorias Empresa do Ano
e Lançamento Imobiliário do
Ano
Associação dos Dirigentes de
Empresas do Mercado
Imobiliário da Bahia
Odebrecht
Empreendimentos
Imobiliários
Pelo prédio residencial Morada dos Cardeais.
2003 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás de
Segurança, Meio Ambiente
e Saúde Ocupaciona,
categoria construção
industrial
Petrobrás CNO
Devido às obras na Refinaria Presidente Vargas (Repar), no Paraná, em
consórcio com a Ultratec e a Inepar.
Até o ano 2002, o vencedor não poderia concorrer no ano seguinte. O
desempenho do consórcio em 2002 levou a Petrobrás a alterar o regulamento
do prêmio. “O consórcio agregou muito ao empreendimento nos aspectos de
saúde, segurança e meio ambiente. Fez disso um diferencial”, afirma o
engenheiro José Paulo Assis, da Petrobras, Gerente de Implementação de
Empreendimentos para a Repar.
270
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
2003 Empresa Mkt
31º Prêmio Destaque no
Marketing 2003, categoria
Terceiro Setor
Associação Brasileira de
Marketing e Negócios –
ABM&N
FEO
reconhecimento às campanhas de marketing bem-sucedidas e às ações sociais
desenvolvidas por empresas privadas de todo o país
2003 Empresa Internacional
Primeira empresa no
mundo nos segmentos de
Hidrelétricas
Guia Global da Construção da
revista norte-americana ENR –
Engineering News-Record
CNO
2004 Empresa RH
Melhor empresa na área de
Gestão de Recursos
Humanos
Revista IstoÉ Dinheiro CNO
2004 Empresa Desempenho
Empresa do Ano em
Comunicação Empresarial
Associação Brasileira de
Comunicação Empresarial
(Aberje)
OSA
2004 Individual Desempenho
Personalidade do Ano em
Comunicação Empresarial
Associação Brasileira de
Comunicação Empresarial
(Aberje)
Márcio Polidoro,
Responsável por
Comunicação Empresarial
na Odebrecht S.A.
2004 Empresa Outros
Primeiro lugar na categoria
Publicação Especial
Associação Brasileira de
Comunicação Empresarial
(Aberje)
OSA Pela publicação do Livro dos Livros da Real Biblioteca.
2004 Empresa Operação
Prêmio Abiquim de
Tecnologia
Associação Brasileira da
Indústria Química
Braskem
Concedido às empresas mais inovadoras do setor, o prêmio foi conseguido pela
excelência na fabricação do Utec
2004 Individual Internacional
Terceiro CFO (Chief
Financial Officer) mais
lembrado da América Latina
e o primeiro do Brasil
Revista LatinFinance Paul Altit, Braskem
Pesquisa realizada com administradores de fundos, analistas, executivos de
instituições financeiras e de grandes empresas.
2004 Empresa Internacional
Melhor empresa latino-
americana do ano,
categoria “tomadora
corporativa de recursos no
mercado financeiro”
Revista Euromoney Braskem
271
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
2004-
2005
Empresa Desempenho
Empresa de Construção
Pesada mais admirada no
Brasil
Revista CartaCapital CNO
2004-
2005
Empresa Desempenho
Empresa de Construção
Pesada mais admirada no
Brasil
Jornal de economia DCI CNO
2005 Empresa Internacional
Segunda empresa no
mundo nos segmentos de
Hidrelétricas e de Pontes
Guia Global da Construção da
revista norte-americana ENR –
Engineering News-Record
CNO
A Global Construction Sourcebook (Guia Global da Construção), da revista
norte-americana ENR – Engineering News-Record, editora McGraw-Hill, foi
considerada a principal publicação do setor de engenharia e construção no
mundo
2005 Individual Internacional
Homenagem pela
contribuição para o
relacionamento Brasil-
Alemanha
Câmara de Comércio e
Indústria Brasil-Alemanha
Norberto Odebrecht
Criado em 1995 pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, o
Prêmio Personalidade Brasil-Alemanha homenageia pessoas que, com suas
realizações, contribuem para o fortalecimento das relações de parceria entre
esses dois países.
O alemão Jürgen Harnisch, da Thyssenkrupp também foi homenageado.
2005 Individual Internacional
Empresário destaque nas
relações entre Portugal e o
Estado da Bahia
Câmara Portuguesa do
Comércio na Bahia
Emílio Alves Odebrecht
Pela atuação da Organização Odebrecht em Portugal, através da subsidiária
Bento Pedroso Construções – BPC
2005 Empresa Social
Troféu Betinho de
Cidadania
Ação da Cidadania contra a
Fome, a Miséria e pela Vida –
Comitê Salvador
FEO Foi premiada juntamente com outras 4 instituições
2005 Empresa Outros
Ordem do Rio Branco, com
o Grau de Comendador
Governo e Exército brasileiros
Roberto Dias, Responsável
por Relações Institucionais
da CNO
272
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
2005 Individual Internacional Medalha do Pacificador Exército Brasileiro
Genésio Lemos Couto,
Responsável por
Planejamento e
Administração da
Odebrecht na Angola
A condecoração é conferida a militares ou civis que tenham prestado serviços
relevantes ao Exército Brasileiro, elevado o prestígio da instituição ou
contribuído para o estreitamento das relações entre o Exército e outras nações.
2005 Empresa Desempenho
Prêmio Construtora
Parceira da Indústria
Editora Pini CNO Pela atuação na área de Empreendimentos Imobiliários.
2005 Empresa Operação
Prêmio Petrobrás de
Qualidade, Segurança,
Meio Ambiente e Saúde,
categoria Construção de
Unidades Marítimas
Petrobrás CNO
Pelas obras da Plataforma de Rebombeio Autônoma (PRA-1), que está sendo
feita em consórcio com a Ultratec em São Roque do Paraguaçu (BA).
2005 Empresa Mkt
Prêmio Destaque no
Marketing 2005
Associação Brasileira de
Marketing & Negócios – ABMN
OSA
A empresa concorreu com o case “Odebrecht 60 Anos – Uma história a serviço
do futuro”, conjunto de ações da campanha desenvolvida, no segundo semestre
de 2004, para celebrar os 60 anos da Organização. Da criação da marca e sua
aplicação em diversas peças de circulação interna e externa à publicidade em
jornais, revistas e televisão, as ações tiveram como objetivo compartilhar e
fortalecer os vínculos entre os integrantes, clientes, fornecedores, parceiros,
autoridades e comunidades.
2005 Individual Desempenho
Prêmio USP de
Comunicação Corporativa
2005, categoria Trajetória
Profissional
Escola de Comunicação e
Artes (ECA) da Universidade
de São Paulo
Márcio Polidoro,
Responsável por
Comunicação Empresarial
na Odebrecht S.A.
Márcio concorreu com nove finalistas de diversas companhias, indicados por um
colégio eleitoral formado por profissionais da área e professores da USP.
2005 Empresa Operação
Prêmio Finep de Inovação
Tecnológica 2005 –
Categoria Processo
Finep - Financiadora de
Estudos e Projetos
Braskem
273
Ano Nível de
Reconhecimento
Tipo de
Reconhecimento
Reconhecimento Promotora Homenageado Comentário
2005 Empresa Operação
Prêmio Abiquim de
Tecnologia
Abiquim Braskem
Divido a uma resina, um equipamento e um modelo de negócio que deram
maior produtividade à Descartáveis Zanatta. A empresa produz 140 mil copos
de polipropileno por hora, enquanto a produção, em geral, não ultrapassa a 100
mil. Já há outros interessados no knowhow. Os primeiros da fila são argentinos.
Fonte: Odebrecht Informa (Vários números)
274
Tabela 8.15 – Participação em Eventos
Ano Evento Localidade Empresa Participação
1978
VIII Simpósio Brasileiro de
Mineração
Belo Horizonte,
MG
Odebrecht-
Harrison
Engenharia de
Minas Ltda
O trabalho "Abertura Inicial da Mina de Cobre Caraíba"
objetivou mostrar a técnica de abertura de poços verticais, cujo
know-how essendo empregado pela primeira vez no Brasil,
no poço principal da Mina Caraíba, que terá, quando concluído,
6,5 metros de diâmetro e 670 metros de profundidade.
1978
IV Congresso Nacional de Irrigação
e Drenagem
CNO
A Odebrecht destaca a mensagem que, entre as medidas já
adotadas pela empresa para prestar serviços nessa área de
atividade, foi feita a aquisição de conjunto de máquinas para
regularização e concretagem de canais, além do recrutamento
de engenheiros especializados no problema, tendo ainda vários
técnicos na Europa, familiarizando-se com as mais novas
conquistas da engenharia de irrigação.
1980
Conferência sobre utilização de
Reatores Nucleares de Pequena e
Média Potência na América Latina
Montevidéu,
Uruguai
CNO
A transferência e a absorção de tecnologia na construção das
obras civis de usinas nucleares
1981
V Encontro Nacional de Construção
OSA
Norberto Odebrecht afirmou ainda que às empresas de
construção cabe fomentar o crescimento econômico nacional,
através de uma contribuição positiva na busca do mercado
externo, produzindo divisas, ocupando mão-de-obra disponível
e abrindo espaço interno para as empresas de menor porte, nas
obras convencionais ou de menor exigência estrutural de
produção.
275
Ano Evento Localidade Empresa Participação
1981
Seminário sobre Aspectos Jurídico-
Econômicos do Contrato de
Construção
Salvador, na CNO CNO
Avaliar a conjuntura econômica nacional, principalmente nos
aspectos inflacionário e potencial de investimentos, avaliar a
posição doutrinária e legal das licitações, da correção
monetária, do reajustamento de preços, da revisão dos
contratos e reavaliar a posição do "estado empresário".
Presença de diretores, responsáveis por áreas negociais e
funcionais, gerentes de projeto e de contrato da CNO e de
alguns economistas, juristas e administradores de grande
expressão no país.
1982
3 Congresso Latino Americano de
Perfuração
CNO e OPL
1982
II Conferência Internacional sobre
Transferência de Tecnologia
Nuclear
Buenos Aires CNO
Com ênfase na Transferência de Tecnologia Nuclear, foram
abordado assuntos relativos a projeto, licenciamento, fabricação
de equipamentos, construção e montagem.
1982
I Seminário sobre Seguro
Internacional
Rio de Janeiro FEO-Seguros
Identificar, interpretar e adquirir conhecimentos básicos sobre
seguros no Exterior foi o objetivo do , realizado no Rio de
Janeiro, em dezembro passado, sob o patrocínio da FEO
Administradora de Seguros Ltda.
1985
1 Congresso Internacional CNO
A CNO apresentou um trabalho técnico intitulado The laterite
utilization in Samuel Dam (O usos de laterita na Barragem de
Samuel), de autoria dos Engenheiros Caude Dormoy e Heitor
Azevedo, ambos da obra da Hidrelétrica de Samuel.
1985
1 Encontro Anual da Diretoria do
Núcleo Regional da Bahia
Bahia CNO
A CNO apresentou um trabalho técnico sobre o tema "A
fabricação de dormentes monobloco em concreto protendido
Thosti BBRV", os quais foram utilizados nas obras do Metrô do
Recife.
276
Ano Evento Localidade Empresa Participação
1985
IV Congresso Paulista de
Administração de Recursos
Humanos
o Paulo
Norberto
Odebrecht
A visão empresarial da Administração de Recursos Humanos
foi o tema da palestra proferida pelo Empresário Norberto
Odebrecht em congresso promovido pela Associação Paulista
de Recursos Humanos, com o apoio dos Jornais O GLOBO e O
Estado de S. Paulo, e na qual ele ofereceu à consideração a
sua experiência de 45 anos de atividade empresarial,
pesquisando, identificando e formando empresários para
integrá-los na organização que comanda. Assinalou que essa "é
a tarefa essencial e permanete do líder, pois o homem apto e
adequado é o primeiro fator de êxito de qualquer empresa".
1998
IX Assembléia Plenária do Ceal -
Conselho de Empresários da
América Latina
Uruguai
OSA
Emílio Alves
Odebrecht
A Globalização na América Latina foi o tema da palestra de
Emílio Alves Odebrecht, que fez uma análise crítica da
globalização, das responsabiliadades do Estado e do risco de
desnacionalização do sistema produtivo dos países latino-
americanos.
2005
Reunião Anual do Banco
Interamericano de
Desenvolvimento (BID)
Marcelo
Odebrecht,
Líder
Empresarial da
CNO
2005
3ª Conferência Internacional da
BAWB Brasil – Business as an
Agent of World Benefit
FEO
apresentação sobre o DIS Baixo Sul – Programa de
Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da
Bahia como um caso de sucesso
2006
IV Fórum Mundial da Água México CNO
Tratou de uma questão ambiental prioritária na agenda mundial:
o uso correto dos recursos hídricos para garantir a todos o
acesso à água pura.
Em seu estande, a Odebrecht mostrou algumas de suas obras
realizadas no mundo, com destaque para os projetos de
saneamento, irrigação e energia, e ações de gestão ambiental,
área que na Odebrecht é de responsabilidade da subsidiária
Lumina Engenharia Ambiental.
277
Tabela 8.16 – Cargos de Influência
Ano Instituição Cargo Integrante Descrição
1974
American Concrete Pipe
Association
Membro
Indústria de Pré-Moldados Star
Ltda
1974 Banco do Brasil Presidente ex-integrante Ângelo de Sá
Entrou na empresa em 1956 e tornou-se
o novo presidente do Banco do Brasil.
1975
Comitê Brasileiro de
Grandes Barragens -
CBGB
Sócio Mantenedor CNO
1980
Comissão Técnica de
Qualidade das Estruturas
Civis, do Comitê Brasileiro
de Energia Nuclear -
COBREN
Presidente
Roberto Hokama, responsável
pela Divisão de Garantia de
Qualidade da Odebrecht na
Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto, em Angra dos Reis
1981
Instituto Brasileiro de
Concreto - Ibracon, nos
Estados da Bahia e de
Sergipe
Direção da Seção
Regional
O eng. José Nilton Dantas Maciel
O Ibracon tem como objetivo divulgar e
estudar os temas relacionados ao
Projeto, Execução, Tecnologia e Ensino
do Concreto.
José Nilson ingressou na Odebrecht em
1979.
1989
Fieb - Federação das
Indústrias do Estado da
Bahia
Vice-Presidente
José Mascarenhas, Diretor da
Odebrecht Química
1989
Câmara Brasileira da
Indústria da Construção
(CBIC)
Vice-Presidente
Fernando Lisboa,Líder
Empresarial da Tenenge
1990
International Association of
Drilling Contractors
Diretor
Sylvio Tude, Líder Empresarial da
OPL
A IADC reúne empresários da área de
perfuração para petróleo do mundo
inteiro.
278
Ano Instituição Cargo Integrante Descrição
1990
International Association of
Drilling Contractors
Diretor Zwi Skornicki, Diretor da OPL
A IADC reúne empresários da área de
perfuração para petróleo do mundo
inteiro.
1992
Fieb - Federação das
Indústrias do Estado da
Bahia
Presidente
José Mascarenhas, Diretor da
Odebrecht Química
1992
Abiquim - Associação
Brasileira da Indústria
Química e de Produtos
Derivados
Diretor
José Mascarenhas, Diretor da
Odebrecht Química
1992
Abiquim - Associação
Brasileira da Indústria
Química e de Produtos
Derivados
Diretor
Álvaro Cunha, Diretor da
Odebrecht Química
1994
Cônsul Honorário do
Equador em Salvador
Piero Marianetti
1998
Conselho de Administração
do Instituto Brasileiro da
Qualidade e Produtividade
(IBQP)
Presidente
Sérgio Foguel, Responsável por
Planejamento e Desenvolvimento
na Odebrecht S.A.
1998
Comitê de Energia da
Câmara Brasil-Estados
Unidos
Vice-Presidente Engenheiro Roberto Benjamin
2005
Conex, Conselho
Consultivo do Setor Privado
Conselheiro
Marcelo Odebrecht, Líder
Empresarial da CNO
O Conex é conselho consultivo do
Camex, Câmara de Comércio Exterior,
formado por 20 representantes do setor
privado.
Fonte: Odebrecht Informa (Vários números)
8.10. Recursos Humanos
279
Tabela 8.17 – Evolução da Carreira de uma Amostra de Executivos
Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
CNO
Diretor-
Presidente
O X
CNO
Presidente
Conselho de
Administração
O
OSA
Presidente
Conselho de
Administração
O
OSA
Diretor-
Presidente
O X
Negócio
Empreendimentos
Responsável O
Norberto
Odebrecht
1945
Agricultura Líder O
CNO
Conselho de
Administração
O X
Geraldo
Dannemann
OSA
Conselho de
Administração
O
CNO Diretor O
CNO
Conselho de
Administração
O
OSA Diretor O
Roberto
Campos
1950
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
Hamilton
Prisco
Paraiso
OSA
Conselho de
Administração
O
CNO
Conselho de
Administração
O
OSA Diretor O
Josaphat
Marinho
OSA
Conselheiro
Consultivo
O X
Star Presidente O X
CNO Diretor O X
CNO Vice-Presidente O
CNO
Conselho de
Administração
O
Nilo Simões
Pedreira
Em 1952, associa-
se à Odebrecht
para fundar a
Construtora de
Estradas
Ltda.(Contral).
No final da década
de 1970, Nilo
OSA Vice-Presidente O
280
Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
OSA
Conselho de
Administração
O X
CPC
Presidente
Conselho de
Administração
O X
Copene
Conselho de
Administração
O
contribuiu
decisivamente para
a entrada da
Odebrecht em dois
novos campos de
atuação:
perfuração para
petróleo e química.
EPB Presidente O X
Fengel Diretor O
Cimentopronto Diretor O
Agrícola
Contendas
Vice-Presidente O
CNO
Conselho de
Administração
O
OSA Vice-Presidente O X
OSA
Diretor-
Presidente
O
OSA
Conselho de
Administração
O
CNO Vice-Presidente O X
CNO
Diretor-
Presidente
O
Emílio A.
Odebrecht
OSA
Presidente
Conselho de
Administração
O
CNO Vice-Presidente O X
OSA Vice-Presidente O X
OSA
Conselho de
Administração
O
Luiz Almeida
Stelar Líder O
CNO Vice-Presidente O X
OSA Vice-Presidente O
CNO
Conselho de
Administração
O
Negócio OPL Responsável O X
Negócio FEO-
Seguros
Responsável O
Química Líder O
Victor Gradin
EPB
Diretor-
Presidente
O
281
Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
OSA
Conselho de
Administração
O
CNO Diretor O
Benedito Luz 1950
OSA
Conselheiro
Consultivo
João Sá CNO Diretor O
CNO Diretor O
Mineração Líder O
Veracruz Líder O
Luiz Villar
OSA
Conselho de
Administração
O
CNO Diretor O
CNO
Conselho de
Administração
O
Piero
Marianetti
1950
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
CNO Diretor O
CBPO Líder O
Concessionárias
de Obras Públicas
Líder O
Geografia:
Europa, Ásia e
África
Líder O
OSA
Conselho de
Administração
O
Pedro Novis 1968
OSA
Diretor-
Presidente
O
Renato
Martins
CNO Diretor O
CNO Diretor O X
OSA Diretor O
Informática Líder O
Sérgio
Foguel
OSA
Conselho de
Administração
O
Alberto
Maionchi
CNO Diretor O
Adhemar
Caio Barros
CNO Diretor O
César Castro
CNO Diretor O
282
Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
BPC Líder O
Fengel Diretor O
CNO Diretor O
Laert Rabello
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
Murilo
Martins
CNO Diretor O
CNO Diretor O
CNO Líder O
Petróleo e Gás Líder O
OSA
Conselho de
Administração
O
Renato
Baiardi
Negócio
Engenharia e
Construção
Líder O X
Ruy Ferreira CNO Diretor O
Humberto A.
Magalhães
Fengel Diretor O
José Antônio
Andrade
Fengel Diretor O
CNO Internacional Diretor O
Humberto
Lemos Lopes
OPL Diretor O
CNO Internacional Diretor O
Marc E. Altit
CPC
Conselho de
Administração
O
CNO Diretor O
Rubem J.
Pinto
CNO Internacional Diretor O
Geraldo C.
Gomes
Odebrecht-
Harrison
Diretor O
Robert
Laakso
Odebrecht-
Harrison
Diretor O
Lauro
Maschietto
OPL Diretor O
Frank
Semper
OPL Diretor O
Paulo
Queiroz
Mineração Responsável O
Asdrúbal
Brandão F.
Empreendimentos
Odebrecht
Diretor O
283
Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
CNO Diretor O
FEO-Corretora Diretor O X
OSA Diretor O
Walter
Caymmi
Gomes
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
Alfeu
Pedreira
Sinart Diretor O
FEO Presidente O
Emilton Rosa
A ficha número 1
de registro de
integrantes da
Construtora
Norberto
Odebrecht
Emilton iniciou sua
carreira como
apontador de
obras, na
construção do
Edifício Cruz, em
Salvador. A partir
de 1946, passou a
ser secretário
particular de
Norberto
Odebrecht, cargo
que ocupou até
1961.
Empresas
Agrícolas
Diretor O
EPB Presidente O
Copene
Conselho de
Administração
O
Petroquímica
Bahia
Conselho de
Administração
O
CPC
Conselho de
Administração
O
EPB
Presidente
Conselho de
Administração
O
Eliseu
Resende
Eliseu presidiu a
Samarco
Mineração S.A. e
ocupou cargos
públicos entre os
quais o de Ministro
de Estado dos
Transportes.
OSA Diretor O
Maurício
Botelho
CMW Presidente O
Fernando
Lisboa
Tenenge Líder O
Fernando
Lisboa
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
284
Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
Mário P.
Camargo
OSA
Conselheiro
Consultivo
O X
Oscar
Americano
Neto
Proveniente da
CBPO
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
Aluizio
Rebello de
Araujo
Proveniente da
CBPO
CBPO Presidente O
CNO Diretor O
Alípio Lima
OSA
Conselheiro
Consultivo
O
Sylvio Tude OSA
Conselheiro
Consultivo
O
EPB Diretor O
Poliolefinas
Presidente
Conselho de
Administração
O
Álvaro Cunha
OPP Líder O
Odebrecht
Química
Diretor O
Trikem Líder O
José de
Freitas
Mascarenhas
Veracel
Presidemte
Conselho de
Administração
O
Gilberto Sá OSA
Conselho de
Administração
O
Rubens
Ricupero
O Embaixador
Rubens Ricupero
deixou
recentemente a
direção da Unctad
– Conferência das
Nações Unidas
sobre Comércio e
Desenvolvimento,
órgão da ONU
dedicado a
promover o
desenvolvimento
dos países pobres,
por meio do
comércio e de
investimentos. Ele
acrescenta à
Odebrecht vivência
OSA
Conselho de
Administração
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Integrante Comentário
Ano
Início
Empresa Cargo
1945
1953
1957
1965
1970
1974
1977
1979
1980
1981
1983
1985
1986
1987
1988
1989
1991
1992
1996
1997
1998
2001
2002
2005
e relacionamento
dentro e fora do
país,
indispensáveis
para a expansão
internacional dos
negócios da
Organização.
Pedro
Mariani
Pedro Mariani, por
sua vez, agrega
experiência
pessoal nos
setores financeiro e
industrial. É o
principal executivo
do Banco BBM.
OSA
Conselho de
Administração
O – Início X - Término
Fonte: Odebrecht Informa (Vários números)
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