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No Kyrie observa-se como indicativo para uma interpretação a realização das diferentes
ambiências em que se subdividem as três partes que o compõem: sua primeira sessão, através da
proximidade com o cantochão gregoriano, revestido de certa brasilidade, o que permite uma
liberdade quanto ao andamento e a realização da graduação de intensidade a partir dos
movimentos ascendente e descendente da melodia; já a segunda sessão se restringe às indicações
metronômicas e suas alterações identificadas pelo compositor, tendo como foco principal da
interpretação o direcionamento melódico das quatro vozes no desenvolvimento do contraponto; a
terceira sessão possui maior desenvolvimento dos temas apresentados anteriormente, mas ainda
se caracteriza pela exploração da nova ambiência (a realização da polifonia com diferentes
indicações de graduação de intensidade e a valorização do tema variante executado pelas vozes
graves). Até então, nota-se como principal característica interpretativa da obra a criação de
ambiências, cujo direcionamento construtivo é pulsante e está presente nas três partes em que se
divide o Kyrie.
O Sanctus contrasta com o Kyrie a partir de uma melodia que expressa o conteúdo
semântico do texto: reflete mais uma adoração, o reconhecimento da grandiosidade divina. A
primeira parte do Sanctus, como visto anteriormente nos capítulos 1 e 2, possui motivos musicais
derivados do segundo tema apresentado no Kyrie, trabalhado a partir de variação, e possui ponto
culminante na segunda sessão. Portanto, a interpretação da primeira sessão desta parte da missa
ainda reflete a busca pela criação de ambiências no direcionamento melódico para a apresentação
das diferentes texturas. Já a segunda sessão, por apresentar maior caracterização brasileira, e sua
estrutura se aproximar da melodia acompanhada, a interpretação pede a realização melódica da
voz feminina com maior ênfase em relação às demais vozes. Observa-se que o compositor, dado
o seu conhecimento do instrumento coral e de técnica de canto, utilizou região de mais brilho
para o soprano, mantendo as vozes masculinas e o contralto em regiões médias. Como Osvaldo
Lacerda é bastante minucioso quanto às indicações de caráter, alterações de andamentos,
graduações de intensidade e articulações, estes deverão ser respeitados.
Novo contraste se dá a partir da melodia intimista apresentada no Benedictus, que se
aproxima do caráter da primeira parte da obra, ainda que o texto litúrgico não represente uma
súplica. A proximidade se dá através da utilização do modo menor e da criação de diferentes
ambiências a partir da exploração de texturas. O caráter tímbrico de cada voz está presente em
toda a obra na forma de solos de naipe, mas em particular na apresentação temática desta parte da