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INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE VINHO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO DE ITINERÁRIOS DOMÉSTICOS
CHRISTIANA PINTO COELHO OROFINO SOUTO
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Administração, Instituto
COPPEAD de Administração, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Administração
Orientadora: Profª. Letícia Moreira Casotti, D.Sc.
Rio de Janeiro
Maio de 2007
ads:
ii
iii
Souto, Christiana Pinto Coelho Orofino Souto
Comportamento do Consumidor de Vinho: Um Estudo
Exploratório de Itinerários Domésticos /
Christiana Pinto Coelho
Orofino Souto – Rio de Janeiro, 2007.
xiii, 136 f.; il
Dissertação (Mestrado em Administração)
Universidade
Federal do Rio de Janeiro
UFRJ, Instituto COPPEAD de
Administração, 2007.
Orientadora: Letícia Moreira Casotti
1. Marketing. 2. Comportamento do Consumidor
. 3.
Método dos Itinerários. 4. Vinhos. I. Casotti, Letícia Moreira
. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de
Administração. III. Título
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iv
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE VINHO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO DE ITINERÁRIOS DOMÉSTICOS
Christiana Pinto Coelho Orofino Souto
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de s-Graduação e Pesquisa
em Administração COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Profª. _______________________________ Orientadora
Letícia Moreira Casotti, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
Prof. _______________________________
Victor Manoel Cunha de Almeida, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
Prof. _______________________________
José Luis Felício dos Santos de Carvalho, D.Sc. (FACC, UFRJ)
Rio de Janeiro, RJ
2007
v
Para Angela e Carlos Alberto
vi
AGRADECIMENTOS
À minha querida família, especialmente aos meus pais, Carlos Alberto e Angela, ao
meu irmão Carlos, à minha avó Carmen e ao meu tio Gustavo, por todo amor, apoio,
carinho e incentivo que sempre me deram ao longo da vida. Não teria conseguido
sem vocês.
À professora Letícia Casotti, pela dedicada orientação e pelas valiosas contribuições
para a melhoria do meu trabalho.
Ao professor Vitor Almeida, pelo exemplo intelectual e por tornar suas aulas de
Marketing tão fascinantes.
Aos consumidores de vinhos entrevistados, que generosamente dedicaram seu
tempo para realização desta pesquisa.
Às queridas funcionárias da Secretaria Acadêmica Cida, Simone e Lucianita, pelo
carinho e pela paciência dedicados aos alunos do mestrado.
A todos os professores e funcionários do COPPEAD que garantem a excelência
dessa escola em todos os parâmetros possíveis.
À turma 2005, colegas de turma e amigos para vida.
Ao meu Thiago, sem o qual nada disso teria sequer começado.
vii
RESUMO
Souto, Christiana Pinto Coelho Orofino Souto. Comportamento do consumidor de
vinho: um estudo exploratório de itinerários domésticos. Orientadora: Letícia
Moreira Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007. Dissertação. (Mestrado em
Administração).
Este estudo de natureza exploratória tem por objetivo identificar práticas do
consumo doméstico de vinho através de situações do cotidiano das famílias. Além
disso, pretende-se conhecer as principais variáveis que influenciam as diferentes
situações de consumo no universo doméstico. O interesse foi entender as principais
características do consumo de vinho doméstico, levando em consideração a
existência de dois perfis distintos de consumidores: leigos, indivíduos que apreciam
vinho, mas nunca o estudaram em profundidade; e conhecedores, aqueles que
estenderam seu interesse pela bebida através da participação em cursos específicos
ou estudaram por conta própria.
Para realização do presente estudo, foi utilizada a metodologia desenvolvida pelo
antropólogo francês Dominique Desjeux, denominada Método dos Itinerários. O
método dos itinerários é um todo qualitativo indutivo, que propõe o
acompanhamento do produto estudado ao longo de sete etapas, nas quais o produto
tem contato com o consumidor: a decisão de compra, o transporte ao local de
compra, a compra propriamente dita, a estocagem, a preparação para o consumo, o
consumo e o descarte.
viii
ABSTRACT
Souto, Christiana Pinto Coelho Orofino Souto. Comportamento do consumidor de
vinho: um estudo exploratório de itinerários domésticos. Orientadora: Letícia
Moreira Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007. Dissertação. (Mestrado em
Administração).
This exploratory study aims to identify domestic practices of wine consumers through
analysis of their regular daily activities, as well as to reveal the major variables that
influence different consumption situations in the domestic environment. The purpose
was to understand major characteristics of wine domestic consumer behavior,
considering the existence of two distinct consumer profile: the “leigos”, who drink
wine but did not ever study the subject; and the “experts”, those consumers that have
taken wine courses or have studied the subject by themselves.
This research employed the Itineraries Method, develop by French anthropologue
Dominique Desjeux. This is a qualitative method, which suggests following the
studied product through seven steps, in which the product has contact with the
consumer: buying decision, transportation to/from buying place, the buying act,
stocking, preparation for consumption, consumption and discard.
ix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
- Figuras
Figura 1 – Exemplos de estoques não frios ..............................................................94
Figura 2 – Exemplos de estoques frios .....................................................................94
Figura 3 – Exemplos de estoques públicos...............................................................95
Figura 4 – Exemplos de estoques privados ..............................................................96
Figura 5 – Estoque organizado por tipo de vinho......................................................98
Figura 6 – Estoque organizado por importância do vinho .........................................98
Figura 7 – Exemplos de “altares do vinho”..............................................................100
Figura 8 – Exemplos de objetos usados na preparação para consumo de vinho ...100
Figura 9 – Objetos exclusivos de consumidores conhecedores..............................101
Figura 10 – Exemplos de refrigeração para quem possui adega climatizada.........102
Figura 11 – Combinação clássica para o vinho: queijos .........................................108
Figura 12 – Destino da garrafa de vinho aberta......................................................109
Figura 13 – Exemplos de rolha decorativa, de lembrança e funcional....................110
- Tabelas
Tabela 1 – Perfil da amostra e classificação por grupo.............................................37
Tabela 2 – Resumo da Análise ...............................................................................113
Tabela 3 – Lista de Bebidas....................................................................................127
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABS – Associação Brasileira de Sommeliers
IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho
OIV – Organização Internacional de Vinhas e Vinhos
UVIBRA – União Brasileira de Vitivinicultura
xi
SUMÁRIO
ORIENTADORA: PROFª. LETÍCIA MOREIRA CASOTTI, D.SC. ...........................................I
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1
1.1 OBJETIVOS .....................................................................................................1
1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA ..................................................................................1
1.3 ESTRUTURA DO ESTUDO..................................................................................2
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................4
2.1 O VINHO NO MUNDO: HISTÓRIA E MERCADO......................................................4
2.1.1 Vinho no Brasil.......................................................................................8
2.2 A SITUAÇÃO DE CONSUMO ............................................................................10
2.2.1 A Situação de Consumo – O estudo de Belk (1974)............................13
2.2.2 A Situação de Consumo de Vinho – O estudo de Pettigrew (2003).....14
2.3 AS VARIÁVEIS SITUACIONAIS E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ...............16
2.3.1 Risco Percebido na situação de consumo...........................................17
2.3.2 Envolvimento com o Produto e a Situação de Consumo.....................21
2.3.3 Familiaridade e a Situação de Consumo .............................................24
2.3.4 Efeito “País de Origem” .......................................................................26
2.4 ENVOLVIMENTO, SITUAÇÃO E CONSUMO DE VINHO – O ESTUDO DE QUESTER E
SMART (1998).........................................................................................................30
3 METODOLOGIA................................................................................................35
3.1 TIPO DA PESQUISA.........................................................................................35
3.2 PERGUNTA DA PESQUISA...............................................................................35
3.3 SELEÇÃO DOS ENTREVISTADOS......................................................................36
3.4 ESCOLHA DA METODOLOGIA..........................................................................37
3.5 MÉTODOS DOS ITINERÁRIOS: ETAPAS E APLICAÇÃO.........................................39
xii
3.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO................................................................................42
4 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS ...................................................................44
4.1 LILIANE ........................................................................................................45
4.2 BERNARDO ...................................................................................................48
4.3 EDSON .........................................................................................................52
4.4 CLÁUDIO ......................................................................................................55
4.5 ELAINE .........................................................................................................59
4.6 ESTELA ........................................................................................................62
4.7 RONALDO .....................................................................................................66
4.8 CLARA .........................................................................................................71
4.9 PATRÍCIA ......................................................................................................75
4.10 ANTÔNIO ......................................................................................................79
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS.........................................................................84
5.1 DECISÃO DE COMPRA....................................................................................84
5.2 COMPRA.......................................................................................................87
5.3 TRANSPORTE................................................................................................92
5.4 ESTOQUE......................................................................................................93
5.5 PREPARAÇÃO PARA CONSUMO: OBJETOS EM TORNO DO VINHO .....................100
5.6 CONSUMO E SUAS PRINCIPAIS SITUAÇÕES .....................................................104
5.6.1 Vinho: outras bebidas e comidas.......................................................107
5.7 DESCARTE..................................................................................................108
5.8 MARCA E PAÍS DE ORIGEM...........................................................................110
6 CONCLUSÃO..................................................................................................113
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................113
xiii
6.2 SUGESTÃO DE ESTUDOS FUTUROS...............................................................117
6.3 PROPOSIÇÕES FINAIS ..................................................................................119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................120
ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA..............................................................125
1 INTRODUÇÃO
1.1 Objetivos
O objetivo principal do presente trabalho é identificar práticas do consumo doméstico
de vinho através de situações do cotidiano das famílias. Como objetivos
secundários, o estudo pretende conhecer regras sociais, espaços domésticos, rituais
e práticas que organizam a mobilização do vinho como objeto dentro do cotidiano
das famílias. Além disso, pretende-se conhecer as principais variáveis que
influenciam as diferentes situações de consumo no universo doméstico.
1.2 Justificativa do Tema
O recente crescimento do mercado de vinho no Brasil parece ter impulsionado a
pesquisa acadêmica do setor especialmente no Rio Grande do Sul, pólo da indústria
de vinhos no Brasil, dado o crescente número de artigos, dissertações e teses
publicadas nos últimos anos (LOVATEL, 2002; SOUZA e KLIEMANN NETO, 2002;
FREIRE e ALMEIDA, 2002; GUSMÃO, 2004; RODRIGUEZ et al, 2005;
FENSTERSEIFER e WILK, 2005; ALIEVI e FENSTERSEIFER, 2005; ROTH e
ALBERICI, 2005; GARCEZ, 2005). Tais pesquisas estudaram temas como
estratégia, canais de distribuição, cadeia produtiva, preferência do consumidor,
relação de cooperação de empresas produtoras, internacionalização de empresas,
grau de competitividade da indústria, cadeia de suprimentos, consumo em
ambientes públicos, dentre outros. No entanto, não foi encontrado em publicações
nacionais qualquer estudo sobre o comportamento do consumidor em seu ambiente
doméstico.
O estudo do consumo do vinho em ambiente doméstico pretende contribuir na
construção de um conhecimento de uma situação de consumo que está fora do
alcance de observação de produtores, importadores, varejistas e sommeliers, mas
cujas características são importantes para sua atividade comercial.
Mas, o que é o estudo do comportamento do consumidor? É o estudo do processo
de decisão de compra de produtos e serviços dos indivíduos para satisfazer
2
necessidades e desejos, que pode ser dividido em três etapas: pré-compra (procura
e seleção); compra; pós-compra (uso, avaliação e descarte) (SOLOMON, 2002, p.
24).
Geralmente, o consumidor é definido como uma pessoa que identifica uma
necessidade ou desejo, adquire um produto ou serviço com intuito de satisfazê-lo e
então usufrui o produto durante as etapas do processo de consumo. Entretanto, não
raro, diferentes pessoas estão envolvidas em cada etapa do processo de consumo
(SOLOMON, 2002, p. 24). É bastante comum que o comprador e o usuário não
sejam a mesma pessoa, ou ainda, que exista um influenciador que interfere na
decisão de consumo do comprador. O estudo do comportamento do consumidor
analisa tais personagens do processo de consumo, identificando seus papéis e
ações durante o processo.
Schiffman e Kanuk (2000, p. 5) descrevem o comportamento do consumidor da
seguinte forma: “este estudo engloba o que compram, por que compram, quando
compram, onde compram, com que freqüência compram e com que freqüência usam
o que compram”. Esta definição enfatiza o produto ou serviço propriamente dito, mas
não a situação de consumo.
1.3 Estrutura do Estudo
Essa dissertação se divide em seis capítulos. O capítulo a seguir procura apresentar
um referencial teórico, que inclui um resumo sobre história do vinho no mundo e em
especial no Brasil, uma breve introdução do comportamento do consumo, a
definição de situação de consumo e de algumas variáveis situacionais, (risco
percebido, envolvimento com o produto e familiaridade), a influência do efeito “país
de origem”, apresentação de alguns estudos já realizados sobre os temas descritos.
No terceiro capítulo, é apresentada a metodologia do trabalho, detalhando suas
diversas questões. No quarto capítulo, as entrevistas realizadas para esta pesquisa
são descritas de forma resumida. O quinto capítulo apresenta a análise dos
resultados, considerando as relações entre os achados da pesquisa e os picos
levantados na revisão de literatura.
3
Finalmente, o sexto capítulo traz algumas reflexões suscitadas por esse estudo e
sugestões para pesquisas futuras a respeito do tema. Ao final podem ser
encontrados as referências bibliográficas e o questionário utilizado nas entrevistas
em anexo.
4
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A revisão da literatura está estruturada dentro de tópicos considerados importantes
para o entendimento do comportamento do consumidor de vinho em situações
domésticas. Inicialmente, é apresentado um resumo sobre a história do vinho no
mundo e em particular no Brasil. Em seguida, é introduzida a definição de situação
de consumo e é apresentada sua influência na decisão de compra de produtos e
serviços. O trabalho segue com a apresentação das principais variáveis que
influenciam a situação de consumo e o comportamento de consumo doméstico de
vinho, como risco percebido, envolvimento com o produto, familiaridade e perícia,
entre outras. Alguns estudos sobre a influência da situação de consumo, combinada
ou não com outras variáveis, são apresentados.
O capítulo termina com uma revisão sobre a influência do país de origem do produto
no consumo, uma vez que a tradição de alguns países produtores de vinho pode ser
um fator determinante de escolha do produto para o consumo doméstico.
2.1 O Vinho no Mundo: história e mercado
Não existe unanimidade quanto à origem do vinho. Entre as diversas literaturas
sobre o assunto, o livro Larousse do Vinho (2004) oferece uma versão detalhada da
história do vinho e seu papel na sociedade moderna.
Alguns historiadores acreditam que, em razão das características próprias da uva
(alta concentração de açúcares e sumo abundante), o vinho pode ter sido criado
como que por acidente na Idade da Pedra, por algum indivíduo distraído que teria
esquecido suas uvas numa tigela de madeira ou num pote de argila. A parte este
provável surgimento acidental do vinho, os primeiros indícios de vinhas cultivadas
pelo homem datam de mais de sete mil anos, e foram localizados na região do
Cáucaso, onde hoje ficam Turquia, Armênia e Geórgia. Apesar desta origem incerta
e possivelmente pré-histórica, um momento crucial na trajetória desta bebida foram
as descobertas de Louis Pasteur (segunda metade do século XIX), publicadas em
seu livro "Études sur le vin" (Estudos sobre o vinho) de 1866. Foram estas pesquisas
5
sobre microorganismos e fermentação que possibilitaram o desenvolvimento da
enologia moderna.
Muito antes das descobertas de Pasteur, entretanto, o vinho vinha desempenhando
importantes papéis nas mais diversas civilizações, como a grega e a romana da
Antiguidade, nas quais o seu uso se dava, sobretudo, em cerimônias religiosas e
rituais. O papel do vinho era tão fundamental que, em ambas as civilizações existiam
deuses do vinho: Dionísio, grego, e Baco, seu equivalente romano. O simbolismo e
diversos significados relacionados ao consumo de vinho foram intensificados com o
avanço do cristianismo, para o qual o vinho era tão importante em seus ritos quanto
o próprio sacerdote. E foi justamente tal papel protagonista em práticas religiosas
que possibilitou a sobrevivência do vinho após a derrocada do Império Romano, pois
a Igreja tratou de defender a vinicultura diante dos bárbaros que invadiam a Europa.
A conseqüência disto foi que, findo este período turbulento, era em torno dos
mosteiros e das catedrais que se concentravam os vinhedos. Os monges trataram
de aperfeiçoar a cultura do vinho, estudando o solo, selecionando as melhores
plantas e experimentando podas e cercados para os vinhedos. Desta evolução de
técnica e do prolongado período de relativa paz na Europa, adveio a expansão da
área cultivada e o afloramento de importantes rotas comerciais, como as que
levavam o produto para Londres e para os portos da Hansa (norte da Alemanha
atual). Para o homem da Idade Média, o vinho era, antes de um prazer ou um luxo,
uma necessidade. A água oferecida pelas vilas era impura, e o vinho cumpria um
papel de anti-séptico, sendo um elemento da medicina rudimentar da época. Desde
então, o consumo de vinho na Europa só fez prosperar.
No final do século XVII, com o surgimento de uma classe social, a burguesia, na
França e Inglaterra, houve uma mudança na demanda de vinho no mercado
europeu. Este novo “segmento de mercado" esperava que o vinho proporcionasse
uma experiência estética, e estava disposto a pagar mais por isso. É a essa geração
que se atribui a origem dos grandes vinhos que conhecemos hoje. Até este
momento, todo vinho era consumido no mesmo ano de sua colheita, mas esta nova
demanda inaugura a era dos vinhos envelhecidos e de superior qualidade.
6
Se os séculos XVII e XVIII observaram a sofisticação e diferenciação no consumo de
vinho, o século XIX assistiu o terror das pragas, principalmente a filoxera que, nos
anos 1860, dizimou praticamente todas as videiras da Europa. Apenas depois de 40
anos de devastação resolveu-se o problema, através de enxerto das vinhas em
cepas americanas, que foram imunizadas. Com o passar dos séculos, os europeus
introduziram técnicas de cultivo de vinho em suas colônias nas Américas, África do
Sul e Austrália.
A partir do século XX, a elaboração dos vinhos tomou novos rumos com o
desenvolvimento tecnológico na viticultura e da enologia, propiciando conquistas tais
como o cruzamento genético de diferentes cepas de uvas e o desenvolvimento de
cepas de leveduras selecionadas geneticamente, a colheita mecanizada, a
fermentação "a frio" na elaboração dos vinhos brancos, entre outras técnicas.
Recentemente, cada vez mais consumidores aderem aos prazeres do vinho. O
interesse pela bebida parece crescente, evidenciado pelo lançamento de dezenas
de livros especializados (Larousse do Vinho, Curiosidades Sobre o Mundo dos
Vinhos, A Cozinha e seus Vinhos - Receitas Rápidas, Vinho & Guerra Os
Franceses, os Nazistas e a Batalha Pelo Maior Tesouro da França), filmes
(Sideways Entre umas e outras, Um Bom Ano), programas de televisão (Menu
Confiança, no canal GNT), e documentários sobre o assunto (Mondovino),
surgimento de cursos sobre vinhos para leigos (cursos na Associação Brasileira de
Sommeliers, por exemplo), formação de confrarias entre amigos, aumento do
turismo em regiões de vinícolas, ampliação da zona produtora, com países como
Brasil, África do Sul e Nova Zelândia despontando no mercado mundial.
Em 2004, a produção mundial de vinhas atingiu o patamar de 10 milhões de
hectares plantados em todo mundo, segundo dados da Organização Internacional
de Vinhas e Vinhos (OIV) (OIV, 2007). O mesmo relatório indica que, em 2004, o
consumo mundial de vinho foi igual a 234 milhões de hectolitros. A Europa recebeu
o primeiro lugar, sendo o continente com maior consumo anual de vinho,
respondendo por 68% do mercado global de 2004 (161 milhões de hectolitros).
Apesar do consumo europeu geral se manter estável entre 2003 e 2004, observa-se
crescimento notável do consumo principalmente nos antigos membros da ex-União
7
Soviética. A América respondeu por 47,8 milhões de hectolitros, volume menor que
no ano anterior, afetado principalmente pela redução do consumo na Argentina. Em
terceiro lugar, o continente asiático foi responsável pelo consumo de 16,9 milhões de
hectolitros de vinho, com destaque para China, pólo de crescimento do consumo
mundial. África e Oceania consumiram 6,1 e 5,2 milhões de hectolitros,
respectivamente.
No que diz respeito ao consumo médio de vinhos por pessoa, o relatório da OIV
indica que, em 2004, os países tradicionalmente produtores de vinho, como França
(54,8 litros por habitante em 2004) e Itália (49,3 litros por habitante), apresentaram
os maiores volumes de consumo per capita. Entretanto, certos países
tradicionalmente produtores e consumidores de vinho, mas também de outras
bebidas alcoólicas, apresentaram consumos per capita estáveis, como é o caso da
Alemanha, Áustria, Suíça, Hungria e Croácia. Entre os novos países produtores de
vinho, são observadas mudanças lentas no comportamento do consumidor, exceto
pela Nova Zelândia onde o consumo individual cresce rapidamente a cada ano e
atingiu o patamar de 19,7 litros por habitante. China e Brasil ainda mantiveram
baixos níveis de consumo, respectivamente 1 e 1,8 litros por habitante. O consumo
per capita nos Estados Unidos, Canadá e Austrália foi 8,2, 11,4 e 20 litros por
habitante, respectivamente, todos em alta em relação ao ano anterior, enquanto que
na África do Sul a queda no consumo individual não afeta a tendência de
estabilização observada em 2004, no patamar de 7,8 litros por habitante (OIV,
2007).
Nos últimos anos, um acirrado debate foi estabelecido na indústria do vinho acerca
da padronização dos vinhos e sua produção em larga escala como ameaça aos
pequenos produtores de países como França, Itália e Argentina. Este é o tema do
documentário Mondovino (2004), do diretor Jonathan Nossiter, que apresenta
caminhos do vinho e a globalização dos sabores, confrontando as histórias de
grandes vinicultores, como a família Mondavi, o maior produtor de vinho da
Califórnia, e também de pequenos como a família De Montilli, que luta para manter
suas terras e as características de seu vinho. O documentário aborda também o
papel dos consultores de vinho, que “ensinam” vinícolas a produzir vinhos de
qualidade garantida, porém com suposta perda de originalidade do vinho. A
8
presença dos consultores de vinho na indústria do vinho ganhou importância com a
proliferação de premiações dadas por enólogos conceituados, que podem garantir
ao produtor de vinho o sucesso de vendas num mercado cada dia mais competitivo.
Não existe consenso a respeito da globalização dos sabores ou do excesso de
prêmios e selos de qualidade dados aos vinhos mais conceituados, porém a
realidade parece mostrar que ainda o mundo está descobrindo o vinho e o número
de adeptos aumenta a cada dia.
2.1.1 Vinho no Brasil
As primeiras videiras do Brasil foram trazidas pela expedição colonizadora de Martim
Afonso de Souza, em 1532 (LOVATEL, 2002). Brás Cubas, fundador da cidade de
Santos, é, reconhecidamente, o primeiro a cultivar a vinha em nossas terras.
Segundo informações do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), por muito tempo, a
atividade vitivinícola brasileira ficou restrita a pequenas áreas, em diversos pontos
do território nacional, sendo o vinho aqui elaborado destinado ao consumo familiar e
ao comércio eventual e restrito. Tal situação pode ser atribuída a medidas
protecionistas de Portugal: para evitar uma eventual concorrência à bebida feita na
metrópole, a corte chegou a proibir o cultivo de uva no Brasil, por alvará de 5 de
janeiro de 1789, de D. Maria I (IBRAVIN, 2007).
No século XIX, as guerras de unificação da Itália provocaram a vinda maciça de
imigrantes italianos para o Brasil. Herdeiros de uma longa tradição vitivinícola, eles
logo confeririam grande importância econômica à atividade e alavancaram
finalmente a vitivinicultura brasileira, principalmente no Rio Grande do Sul.
A instalação de empresas multinacionais de bebidas a partir da década de 60
impulsionou a qualidade da produção brasileira no Rio Grande do Sul. Estas
companhias instalaram, em larga escala, sistemas de cultivo de videiras
diferenciados e moderna tecnologia na vinificação.
Na década de 1970, foram introduzidas pelas vinícolas, as primeiras variedades
nobres de uva (vitis vinifera), que tiveram grande difusão a 1980, quando surgiu
9
mais fortemente no mercado brasileiro o vinho fino (BEHRENS et al, 1999).
Pequenos viticultores começam a investir na qualificação de sua produção própria
de vinhos, encaminham seus filhos para cursos de enologia, de onde os jovens
retornam aptos para assumir a direção técnica do estabelecimento da família e para
elaborar produtos de qualidade (IBRAVIN, 2007).
A década de 90 trouxe mais dinamismo ao setor. A abertura do mercado realizada
pelo presidente Fernando Collor permitiu a entrada de vinhos importados a preços
mais acessíveis aos consumidores, aumentando consideravelmente a concorrência
com produtos nacionais. O segmento de vinhos finos, foco do presente trabalho, foi
um dos mais afetados pelo aumento da importação. Os produtos importados, que
em 1993 ocupavam 19,4% do mercado brasileiro de vinhos finos, em 2002
passaram a ocupar 48,7% do mesmo, ao mesmo tempo em que a comercialização
do vinho fino nacional apresentou uma queda no volume absoluto comercializado de
50% no mesmo período (ZANUS et al, 2003).
O aumento da competitividade do setor impulsionou a indústria nacional de vinhos a
intensificar o volume de investimentos em pesquisa e novas tecnologias
empregadas na vinificação, buscando retomar a importância do vinho brasileiro no
mercado nacional. A vitivinicultura brasileira evoluiu de maneira extraordinária nas
duas últimas décadas e o Brasil produz hoje vinhos de boa qualidade.
Em 2006, a comercialização de vinhos finos nacionais foi igual a 69 milhões de litros,
o que representa um aumento de aproximadamente 9% em relação ao ano 2000,
segundo relatório da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra). Do total
comercializado, 67,3% dos produtos eram importados, e apenas 32,7% são de
origem nacional. Em 2000, o Brasil ainda era líder no mercado dos vinhos finos, com
participação de 53,8% (UVIBRA, 2007).
Entre os vinhos importados, Chile e Argentina lideram o ranking e representam
sozinhos, 58,5% do total de vinhos finos importados consumidos em 2006. Itália,
Portugal e França também apresentam participação significativa na preferência dos
brasileiros. Outros países presentes no relatório são Uruguai, Espanha, Alemanha,
África do Sul e Estados Unidos (UVIBRA, 2007).
10
Buscando combater a competição estrangeira, a indústria vitivinícola brasileira
ampliou horizontes. Novas zonas produtoras surgiram como opção para expansão
da atividade vitivinícola, como Vale do São Francisco (divisa dos estados da Bahia e
Pernambuco) e Vale do Rio do Peixe (Santa Catarina). Estas regiões completam o
mapa vitivinicultor brasileiro ao lado das Serras Gaúcha, Campanha e do Sudeste,
todas localizadas no estado do Rio Grande do Sul, principal produtor nacional.
Apesar da melhora reconhecida da qualidade dos vinhos finos nacionais, existem
ainda dois problemas cruciais que dificultam um maior desenvolvimento da
vitivinicultura brasileira. Em primeiro lugar, o baixo nível de consumo per capita do
brasileiro, inferior a 2 litros per capita por ano, resultante da falta de tradição vinícola
e do baixo poder aquisitivo da população. Em segundo lugar, o preço do vinho
nacional, que é relativamente caro, em conseqüência da alta taxação de impostos e
de encargos sociais, e não tem conseguido enfrentar os baixos preços de muitos
importados (ENCICLOPÉDIA DO VINHO, 2007).
2.2 A Situação de Consumo
Muitos autores identificaram variações no comportamento de indivíduos motivadas
por diferenças na situação de consumo (BELK, 1974; HORNIK, 1982; CHOW et al,
1990; LAI, 1991; QUESTER e SMART, 1998), indicando que a decisão de comprar
ou não um produto é bastante influenciada pelas condições externas do ambiente
que cerca o consumidor em um dado momento, ou seja, as diferentes situações que
envolvem o consumo.
Solomon (2002, p. 234) define situação de consumo como fatores que vão além das
características da pessoa e do produto que influenciam a compra e/ou uso de
produtos e serviços. O autor segmenta os efeitos situacionais em dois grupos:
efeitos comportamentais (como entreter os amigos) ou perceptivos (como estar
deprimido).
Belk (1975) chama atenção para a distinção entre características do indivíduo e da
situação. Personalidade, intelecto, sexo, raça, são características estáveis no tempo
e no espaço e devem ser sempre atribuídas ao indivíduo. Entretanto, se a
11
característica for transitória, esta deve ser atribuída à situação, por não
permanentemente relacionada ao indivíduo.
Por sua vez, Schiffman e Kanuk (2000, p. 168) afirmam que todo o universo de
comportamento do consumidor (constância na compra, recomendações do produto,
crenças, avaliações e intenções de compra) está relacionado a atitudes, que por sua
vez são influenciadas pela situação. Os autores definem situação como:
“Eventos e circunstâncias que, em um determinado momento,
influenciam a relação entre uma atitude e o comportamento.
Uma situação específica pode levar os consumidores a se
comportar de modo aparentemente incoerente com suas
atitudes.” (SCHIFFMAN E KANUK, 2000, p.168)
Ferrell et al (2000, p.51) consideram que a situação compõe o ambiente de consumo
na medida em que afeta a questão “quando” do modelo 5-W de análise do
consumidor: who (quem), what (o que), where (onde), why (por que) e when
(quando). Os autores definem a questão “quando como “quaisquer influências
situacionais que podem influenciar a variação da atividade de compra no tempo, (...),
como sazonalidade e eventos promocionais”.
Kotler (2000, p. 204) identifica situação como um dos fatores que podem interferir
entre a intenção e a decisão de compra. Além da atitude de terceiros, o autor
acredita que fatores situacionais imprevistos podem surgir e mudar a intenção de
compra do indivíduo. Segundo ele, tal influência indica que as preferências pessoais
e as intenções de compra não são indicadores inteiramente confiáveis do
comportamento de compra.
O reconhecimento da importância da situação surgiu na década de 1970, dada as
limitações das características do consumidor em explicar as variações em seu
comportamento de compra (BELK, 1974). Belk foi um dos primeiros estudiosos do
assunto a examinar como uma situação específica pode influenciar o
comportamento de consumo de um indivíduo.
12
Uma curta definição para situação é “um ponto no tempo e no espaço”. Para a
pesquisa do comportamento do consumidor, esta definição não é suficiente. Belk
define situação como, alguma coisa fora das tendências e características básicas do
indivíduo e além das características do objetivo de estímulo, ou seja:
“Todos os fatores particulares a um dado momento e local, não
relacionados à personalidade, desejos e habilidades do
consumidor, nem aos atributos do produto ou serviço, e que
possui efeito sistemático no comportamento final do indivíduo”
(BELK, 1974)
Belk (1974) afirma que qualquer investigação sobre comportamento do consumidor
que ignore os efeitos situacionais provavelmente fornecerá resultados não confiáveis
a menos que as características do comprador ou as alternativas de escolhas sejam
tão intensas a ponto de influenciarem o comprador em qualquer situação.
A definição de situação utilizada por Belk (1974) em seu estudo carrega um
problema de imprecisão: o que são “todos os fatores particulares a um dado
momento e local”?
Hornik (1982) chama atenção para o fato de existirem inúmeras possibilidades de
classificação de uma situação, dependendo basicamente do propósito e da
imaginação do classificador. Pode-se incluir elementos óbvios como temperatura,
hora do dia, outras pessoas presentes, odores, entre outros, ou elementos não
observáveis como humor, planejamentos e propósitos do indivíduo.
Uma das classificações de situação é apresentada pelo próprio Belk (1975).
Complementando sua versão inicial de situação, neste outro estudo, Belk propõe
cinco grupos de características situacionais que representam fatores gerais
alinhados com a definição de situação apresentada anteriormente.
O primeiro, ambiente físico, é composto por localização geográfica e institucional,
decoração, som, aromas, iluminação, meteorologia e configuração visual dos
materiais em torno do objeto-estímulo. O segundo, o ambiente social, é o grupo que
aprofunda a descrição da situação, como outras pessoas presentes ao evento, suas
13
características e papéis sociais, e interações interpessoais. O terceiro, o as
perspectivas temporais da situação de consumo, que podem ser precisamente
especificadas, como horário do evento ou estação do ano. O tempo pode também
ser especificado em relação a algum evento passado ou futuro do participante da
situação. Por exemplo, tempo desde a última compra, dia do pagamento mensal ou
restrições em função de compromissos passados. O quarto grupo é composto pelas
definições de tarefas, ou seja, o propósito da compra, os papéis entre comprador e
consumidor de um determinado objeto. A compra de um eletrodoméstico como
presente de casamento é diferente da compra para uso próprio. Finalmente, o quinto
grupo é caracterizado pelos estados antecedentes, incluindo características
momentâneas como temperamento (ansiedade, satisfação, excitação) ou condições
momentâneas (dinheiro “vivo”, cansaço, doença). Estes estados são antecedentes à
situação e não conseqüência desta.
Todos os fatores apresentados por Belk (1975) são válidos apenas se provocarem
efeito demonstrável e sistemático no comportamento de consumo, o que pode ser
comprovado empiricamente. É preciso, portanto, testar a influência destes fatores na
situação de compra do indivíduo, como ilustram os estudos a seguir.
2.2.1 A Situação de Consumo – O estudo de Belk (1974)
Com o objetivo de identificar a intenção de compra de um determinado produto dada
uma situação específica, Belk utilizou a abordagem de comportamento diferencial
tendo uma situação específica como estímulo. Aos respondentes foram
apresentadas breves descrições de situações cotidianas seguidas de uma lista de
produtos. Para cada produto, o respondente deveria assinalar qual sua intenção de
compra daquele produto para situação correspondente, marcando uma posição na
escala Likert de cinco pontos cujos extremos eram “Extremamente provável” e
“Extremamente improvável”. As alternativas de produtos eram idênticas para cada
situação descrita. As alternativas de produtos incluíam snacks e produtos à base de
carne.
Os resultados desta pesquisa confirmaram que, em ambos os casos (snacks e
produtos à base de carne), a situação exerce papel determinante nas preferências
14
dos consumidores, explicando quase a metade da variância das relações entre
produtos e situações. Através da realização de análise fatorial dos dados da
pesquisa, Belk identificou ainda que a influência da situação varia de acordo com os
atributos do produto e das características pessoais do indivíduo, o que confirma que
o efeito da situação sobre a compra é relevante, porém não suficiente para explicar
completamente o comportamento do consumidor.
Apesar dos profissionais de marketing não terem o controle absoluto sobre todas as
situações de compra de seus produtos, as implicações do estudo de Belk sugerem
inúmeros benefícios para as empresas, se estas souberem utilizar seus resultados
eficientemente, como por exemplo: identificar quais tipos de produtos e
consumidores são mais suscetíveis aos efeitos da situação, segmentar a base de
clientes por situação, sugerir situações de consumo através da propaganda
enquanto o material de pontos de venda pode ajudar a criar o ambiente apropriado
ao consumo.
2.2.2 A Situação de Consumo de Vinho – O estudo de Pettigrew (2003)
O estudo de Pettigrew teve por objetivo identificar a relação entre situações de
consumo e o consumo de vinho na Austrália, motivado pelo crescimento do
consumo do produto no país.
Neste estudo, foram realizadas 82 entrevistas, numa amostra composta por crianças
(16%), adolescentes (35%) e adultos (49%), homens (51%) e mulheres (49%),
residentes nos estados de New South Wales, Victoria e Western Austrália. As
entrevistas foram realizadas em diferentes ambientes (em casa, escola, asilos ou
pubs).
Os entrevistados eram questionados sobre vinho e sua importância no estilo de vida
australiano. Sendo a pergunta inicial bastante ampla, Pettigrew pode identificar
questões consideradas mais relevantes no processo de consumo de vinho.
Um dos temas dominantes que surgiram nas entrevistas foi a importância do
contexto físico (situação) na decisão de consumir vinho em detrimento de outras
bebidas sendo este o foco dessa dissertação.
15
Pettigrew identificou que as decisões de quando e onde consumir vinho podem
depender muito mais da situação, ou do contexto de consumo, do que de
preferências individuais. O vinho é considerado uma bebida formal, por isso é
percebido como ideal em situações de jantar à mesa ou ocasiões especiais. A
cerveja, por sua vez, é considerada a bebida do dia-a-dia e ideal para ocasiões
informais. No entanto, apesar da cerveja ser a escolha mais óbvia para ocasiões
informais, especialmente entre homens, o vinho começa a ganhar espaço e não é
visto com estranheza nestes eventos.
De acordo com a pesquisa, o vinho é consumido preferencialmente como
acompanhamento de uma refeição, dado o aspecto complementar entre o vinho e
comidas.
Enquanto a cerveja é percebida como um demarcador entre trabalho e folga e por
isso considerada em ocasiões de relaxamento, o vinho requer maior esforço e
preocupação com o ambiente, padrões de roupas e da escolha da companhia,
normalmente requisitada em ocasiões mais formais.
Isso sugere que o vinho ainda não ocupou o espaço da cerveja nas situações
informais na cultura australiana. A maior prova é a presença da cerveja na situação
que melhor retrata o lazer e relaxamento na Austrália: o churrasco. A cerveja ainda é
a bebida oficial dos churrascos australianos.
Os entrevistados consideram que o vinho combina melhor com determinados pratos
quando consumidos em situações específicas. Por exemplo, o vinho combina com
um filé de carne em um restaurante, mas não com churrasco em casa. Apesar da
comida ser a mesma (carne), o caráter mais informal do churrasco parece impedir a
entrada do vinho como bebida ideal.
Outro aspecto revelado pela pesquisa é a classificação de situações ideais para
consumo de vinho de acordo com o gênero. O consumo de vinho em bares é mais
associado às mulheres do que aos homens. Espera-se que homens consumam mais
cerveja em bares. Segundo os entrevistados, quanto mais formal o evento, maior a
probabilidade do consumo de homens e mulheres convergir para a mesma bebida.
16
Os resultados mostram que convenções sociais sobre formas apropriadas de
consumo de bebidas alcoólicas em diferentes contextos estão bastante enraizadas
na cultura australiana e parecem não estar abertas a questionamentos.
Um dos entrevistados mencionou de forma clara que seu padrão de consumo de
vinho varia quando está em casa, na casa de amigos, em pubs ou clubes.
Os dados da pesquisa indicam que a região de residência influencia as percepções
de contextos apropriados ou não para o consumo de vinho. Tais variações têm
relevância social, pois indicam a tendência de variação no comportamento dos
consumidores de acordo com o ambiente no qual o consumo ocorre em busca de
equilíbrio e harmonia entre os amigos presentes, sempre buscando ser “normais”.
Finalmente, a pesquisa de Pittigrew buscou identificar a percepção de crianças e
adolescentes sobre o consumo de bebidas entre adultos. Este grupo descreveu um
padrão uniforme de comportamento, sem muitas variações de acordo com contextos
específicos. Segundo as crianças e adolescentes, mulheres preferem vinho
enquanto homens preferem cerveja. Entre os adultos, foi identificado que as
mulheres bebem outras bebidas além do vinho, a depender de gastos pessoais e do
ambiente de consumo.
2.3 As Variáveis situacionais e o comportamento do consumidor
Após o surgimento de novos estudos sobre a influência da situação no
comportamento do consumidor, Hornik (1982) identifica três abordagens distintas de
pesquisa nesta área: (i) abordagem “personologista” (personologist approach,
baseada na pessoa), (ii) abordagem situacionista (the situationist approach, baseada
na situação), e (iii) abordagem interativa. Os “personologistas” vêem o indivíduo e
suas características internas como o mais importante fator antecedente do
comportamento de consumo, enquanto que os situacionistas atribuem tal
importância à situação. A abordagem interativa defende que diferenças individuais e
fatores situacionais individualmente não explicam o comportamento dos indivíduos
em sua totalidade. Na verdade, a maior parte do comportamento do consumidor
pode ser explicada pela interação da pessoa em uma situação (HORNIK, 1982).
17
Várias parecem ser as variáveis que influenciam a situação e o conseqüente
comportamento do consumidor. Sheth et al (2001, p. 493) afirmam que o processo
decisório de compra de um cliente depende de vários fatores, situacionais ou não,
como risco percebido, envolvimento com o produto, familiaridade e perícia, pressões
do tempo, natureza funcional versus natureza expressiva, e sobrecarga de
informações. Em seguida, são analisadas as principais variáveis situacionais que
parecem ter influência sobre o consumo doméstico de vinho: risco percebido,
envolvimento com o produto e familiaridade. O efeito “país de origem” também é
analisado, visto que no caso específico do vinho esta característica parece assumir
grande importância na escolha do produto.
2.3.1 Risco Percebido na situação de consumo
O primeiro fator é o risco percebido na compra, definido como o grau de perda no
caso de escolha errada” (SHETH et al, 2001, p. 493). Bauer (1960 apud MITCHELL
e GREATOREX, 1988) afirma que as pessoas não analisam o risco em sua
totalidade, mas apenas a parcela que percebem, o chamado “risco percebido”.
A literatura apresenta sete categorias de risco, de acordo com critérios objetivos e
subjetivos (SHETH et al, 2001, p. 495; SCHIFFMAN e KANUK, 2000, p. 130):
a) risco físico é o risco para si próprio ou para outros causado pelo produto ou
serviço, podendo comprometer a saúde, vigor físico ou vitalidade do
comprador;
b) risco funcional consiste na probabilidade do produto ou serviço ter
desempenho ruim ou aquém do esperado;
c) risco social afeta a auto-estima ou autoconfiança do comprador no caso de
não aprovação da escolha do produto ou serviço, por parte de membros de
grupos de referência ou outras pessoas importantes no convívio social do
indivíduo, resultando em constrangimento social;
d) risco psicológico afeta o ego do comprador, pode gerar culpa ou frustrações
dada a possibilidade do produto ou serviço não refletir a personalidade da
pessoa ou seu status;
18
e) risco financeiro consiste no receio de pagar caro demais pelo produto ou
serviço, ou seja, o produto não vale seu custo. Está presente principalmente
em situações de compra de produtos mais caros ou por pessoas de renda
mais baixa;
f) risco de obsolescência, ou risco do produto ou serviço se tornar obsoleto
frente às alternativas mais modernas;
g) risco de tempo é o risco de que o tempo gasto na procura de um produto ou
serviço possa ser um desperdício se o produto não funcionar como esperado.
Muitas vezes, o risco percebido atinge atores diferentes do processo de compra. O
risco financeiro atinge principalmente o pagante enquanto que os demais tipos de
risco atingem aos usuários (SHETH et al, 2001, p. 495).
A percepção de risco pelo consumidor varia, dependendo da pessoa, da cultura, do
produto e da situação. O risco percebido pode ser afetado pela situação de compra,
como por exemplo, situações de compra através de canais distintos, como varejista
tradicional, catálogos, Internet, vendedores porta-a-porta (SCHIFFMAN e KANUK,
2000, p.131).
Os consumidores lidam de maneiras distintas com o risco. As principais estratégias
para redução do risco de uma compra são: (i) buscar informações sobre o produto;
(ii) ser fiel à marca; (iii) confiar na imagem de marcas conhecidas; (iv) confiar na
imagem da loja; (v) comprar modelos mais caros (preço como indicador de
qualidade); (vi) buscar garantias (SCHIFFMAN e KANUK, 2000, p. 131).
O estudo descrito a seguir descreve o risco percebido no consumo de vinho.
2.3.1.1 O ESTUDO DE MITCHELL E GREATOREX (1988)
Mitchell e Greatorex analisaram o impacto do risco percebido no mercado de vinho
britânico, considerando que toda situação sempre apresenta dois aspectos de risco:
a incerteza da probabilidade de erro e a incerteza da gravidade das conseqüências
após um erro.
Em seu estudo, Mitchell e Greatorex focaram em quatro tipos de risco percebido:
19
a) risco financeiro, que considera o preço da garrafa de vinho em comparação
ao restante da compra;
b) risco funcional, que, no caso de vinho, representa o paladar do vinho e a
assertividade entre produto e ocasião de consumo;
c) risco físico, referente principalmente à qualidade do vinho, seus componentes
e possíveis efeitos desagradáveis (por exemplo, ressaca);
d) risco social, que envolve a escolha do vinho “certo” para o grupo referência
que irá consumi-lo.
Os autores argumentam que, apesar do vinho ser considerado, no Reino Unido, um
produto de massa, é possível que existam segmentos nos quais pelo menos um dos
tipos de risco descritos acima interfere na decisão de compra do consumidor. Por
esta razão, os autores dividiram a amostra em dois grupos formados por indivíduos
pertencentes a classes sócio-econômicas distintas (ABC1 e C2DE) e buscaram
validar a hipótese que “o grupo ABC1 deve perceber menor risco, porque os critérios
de avaliação listados anteriormente se aplicam menos sobre ele do que sobre o
grupo C2DE” (MITCHELL e GREATOREX, 1988, p. 7). O segundo objetivo deste
estudo era caracterizar os riscos percebidos no mercado de vinhos e verificar se tais
riscos variam em função do local de compra do produto. Para este estudo, os
estabelecimentos de venda foram classificados de acordo com a situação de
consumo do produto. O primeiro grupo, denominado on-licence era composto por
restaurantes, bares, pubs, locais onde o vinho é comprado e consumido; o segundo
grupo, denominado off-licence, incluía supermercados, lojas especializadas, locais
de vendas do produto para consumo posterior.
Uma amostra de 400 moradores da cidade de Manchester (200 de cada um dos
grupos sócio-econômicos) recebeu questionário da pesquisa. Deste total, foram
obtidas 147 respostas válidas. O questionário apresentava diferentes situações de
consumo, em estabelecimento on e off-licence, e o respondente deveria indicar o
nível de risco percebido para cada situação em uma escala de 1-5. Em paralelo,
foram conduzidos dez grupos de discussão, cinco para cada grupo sócio-econômico.
Os riscos percebidos apresentados aos respondentes foram:
20
A. Paladar do vinho
B. Se o vinho complementa a refeição
C. Riscos associados a beber e dirigir
D. Ressaca
E. O vinho é o melhor uso do dinheiro?
F. O vinho está supervalorizado (overpriced)?
G. A compra terá aprovação de amigos e família?
H. O vinho será consumido por pessoas que você respeita ou admira?
I. Você se sente bem comprando o vinho?
Os resultados dos questionários indicaram que os indivíduos pertencentes ao grupo
C2DE, em geral, percebem maior risco que os indivíduos do grupo ABC1, em ambas
as situações apresentadas (restaurante e supermercado). Os três riscos
classificados como mais importantes foram, nesta ordem: paladar do vinho, se o
vinho complementa a refeição e aprovação da família e de amigos.
O retorno do questionário também indicou algumas diferenças em função da
situação apresentada: ambos os grupos consideraram que o “melhor uso do
dinheiro” é mais importante na compra em restaurantes do que em supermercados;
o grupo ABC1 também considerou que os riscos “beber e dirigir” e “aprovação
social” são mais relevantes no consumo em restaurantes do que em supermercados.
Os grupos de discussão com indivíduos do grupo ABC1 confirmaram os resultados
obtidos através da análise dos questionários referentes à importância dos riscos
percebidos, classificando-os na seguinte ordem: riscos funcionais, sociais,
financeiros e físicos. O principal risco percebido foi o paladar do vinho, muito a frente
dos demais apresentados. Quanto às diferentes situações de consumo, as principais
discrepâncias entre elas foram: vinho supervalorizado nos restaurantes e maior
variedade de produtos do supermercado.
Nos grupos de discussão com indivíduos C2DE, além da confirmação dos resultados
dos questionários, outras questões surgiram. Os participantes do sexo masculino
revelaram sua insatisfação com a imagem feminina associada ao consumo de vinho,
e a importância da marca do vinho marcas de vinho em língua estrangeira eram
21
mais dificilmente pronunciadas e lembradas pelos participantes, apresentando risco
social mais elevado para integrantes do grupo C2DE.
Dentro das implicações em marketing apresentadas pelos autores, cabe destacar a
importância do paladar para os consumidores e sua característica mais importante: o
paladar do vinho varia ano após ano, em função da safra do vinho, das condições de
armazenamento, do tipo de garrafa, etc. Essa constatação traz um dilema aos
produtores: produzir vinhos “padronizados”, considerados por especialistas como
“impuros”, garantindo a segurança do paladar conhecido aos consumidores, porém
sob ameaça de críticas quanto à qualidade do produto, ou permanecer com a
produção original sem oferta de garantias ao mercado. Os autores destacam que a
escolha de postura dos produtores na verdade reflete uma decisão em relação a que
tipo de risco deverá ser reduzido: o risco funcional, associado ao paladar, ou o risco
social, associado à insegurança de consumidores do grupo ABC1 em consumir
vinhos classificados como “impuros”.
2.3.2 Envolvimento com o Produto e a Situação de Consumo
Enquanto o risco percebido pode reduzir a intenção de compra de um consumidor,
será que o envolvimento com o produto pode aumentar tal intenção? O envolvimento
com o produto é definido por Solomon (2002, p. 101):
“Envolvimento é a relevância do objeto percebida por uma
pessoa com base em suas necessidades, valores e interesses
inerentes. (...) O objeto (...) se refere a um produto (ou marca),
um anúncio ou uma situação de compra.” (SOLOMON, 2002, p.
101).
As pessoas compram e consomem produtos e serviços, mas não se envolvem com
todos eles da mesma forma (SHETH et al, 2001, p. 495). Produtos rotineiros ou de
pouca importância apresentam baixo envolvimento, enquanto produtos consumidos
com plena consciência e comprados com cuidados apresentam alto envolvimento.
22
Alguns autores fazem distinções entre tipos diferentes de envolvimento. Laurent e
Kapferer (1985) apresentam duas classificações: envolvimento com a situação e
envolvimento duradouro.
O primeiro é definido como grau de preocupação e cuidado presente exclusivamente
em uma situação particular, que pode ser o momento da compra. Este tipo de
envolvimento é observado principalmente na compra de itens caros, apesar de não
existir correspondência direta entre preço e envolvimento. O envolvimento no
momento da compra é acentuado quando o indivíduo percebe algum tipo de risco na
situação, seja risco financeiro, social ou funcional.
O envolvimento duradouro ocorre quando o envolvimento com o produto vai além do
momento da compra, atingindo o uso do produto ou serviço. O envolvimento
duradouro reflete uma preocupação geral e permanente com uma classe de produto
(LAURENT e KAPFERER, 1985).
Se existe alto envolvimento com o produto, provavelmente haverá alto envolvimento
na compra. Porém, o contrário o é verdadeiro. É possível existir baixo
envolvimento com o produto, porém um alto envolvimento no processo de compra. A
compra de eletrodomésticos é um exemplo de alto envolvimento na compra e baixo
envolvimento com o produto ou serviço (SHETH et al, 2001, p. 496).
O envolvimento duradouro leva o consumidor a desenvolver uma perícia em relação
à categoria do produto ou serviço, a buscar informações constantemente, a se
interessar mais pelo produto ou serviço, a melhorá-lo e atualizá-lo (SHETH et al,
2001, p. 497).
Solomon (2002, p. 101) afirma que o envolvimento pode ser visto como a motivação
para processar a informação sobre um determinado produto. À medida que o
envolvimento com o produto aumenta, o consumidor dedica mais atenção às
informações sobre o produto.
Além do envolvimento com o produto e com a situação, Solomon (2002, p. 103)
apresenta ainda o conceito de envolvimento publicitário, que se refere ao interesse
do consumidor em processar as informações das mensagens publicitárias. Os meios
23
de comunicação apresentam níveis de envolvimento diferentes proporcional ao
esforço e controle exigidos dos consumidores para captar suas mensagens. A
televisão é considerada um meio de baixo envolvimento, pois exige um
telespectador passivo que não exerce qualquer controle sobre o conteúdo.
Laurent e Kapferer (1985) desenvolveram uma escala de medição dos antecedentes
do envolvimento com o produto, que o envolvimento não pode ser medido
diretamente por ser um constructo hipotético. Através de pesquisa sobre
envolvimento, os autores selecionaram cinco antecedentes de envolvimento:
a) a importância percebida do produto, seu significado pessoal;
b) a importância percebida de conseqüências negativas decorrentes de uma
compra;
c) a probabilidade percebida de fazer uma má compra;
d) o valor simbólico atribuído pelo consumidor ao produto, sua compra ou seu
consumo;
e) o valor hedônico do produto, seu interesse emocional, sua habilidade de
prover prazer e afeto.
Para encontrar o perfil de envolvimento de um consumidor, Laurent e Kapferer
(1985) optaram por manter e medir os cinco antecedentes de envolvimento em seu
estudo ao invés de combinar todos em um único índice.
Laurent e Kapferer (1985) testaram este modelo em uma pesquisa com donas de
casas, que avaliaram 14 categorias de produtos segundo cada um dos antecedentes
citados anteriormente. Os resultados do estudo comprovam que o envolvimento de
um consumidor com uma categoria de produto precisa ser avaliado em todas as
cinco dimensões, pois assim é possível compreender a natureza e o grau de
envolvimento do cliente com o produto. Por exemplo, um eletrodoméstico, como
aspirador de pó, foi classificado como uma compra arriscada, por ser um bem
durável, porém não oferece prazer (valor hedônico) ou valor simbólico. Por outro
lado, o chocolate oferece alto valor de prazer, porém não é visto como uma compra
arriscada. O estudo de Chow et al (1990), no entanto, estuda não apenas o
envolvimento do consumidor com o produto, mas o envolvimento com a situação:
24
situational sources of personal relevance (SSPR), ou fontes situacionais de
relevância pessoal, que significa a relação entre a importância dada por uma pessoa
a uma situação específica (envolvimento com a situação) e o efeito desta em seu
comportamento.
Os autores buscaram validar o efeito da situação (SSPR) na escolha da marca de
perfume por mulheres. Às respondentes, foram apresentadas dez situações
diferentes para as quais elas deveriam escolher uma marca de perfume. As
situações foram previamente ordenadas por grau de relevância em um painel de
julgamento realizado com três estudantes, considerado uma boa amostra do grupo
estudado. As situações foram então dividas em três grupos de acordo com seu nível
de SSPR (baixo, moderado e alto).
A hipótese dos autores afirma que a situação afeta a escolha da marca de um
produto na medida em que a situação é percebida pelo indivíduo como
pessoalmente relevante, levando à determinação de metas como manutenção ou
reforço da imagem pessoal da pessoa (CHOW et al, 1990).
Os resultados suportaram as hipóteses dos autores: a escolha de marcas de
perfume mais sofisticadas se intensificou na medida em que o nível de SSPR da
situação aumentava. Isso indica, como esperado, que a relevância pessoal
percebida na situação afeta a decisão de escolha da marca de um consumidor.
2.3.3 Familiaridade e a Situação de Consumo
Os clientes obtêm familiaridade com um produto ou serviço através de diversas
maneiras, incluindo a experiência anterior ou busca de informações (SHETH et al,
2001, p. 497). A relação entre familiaridade através de experiência anterior ou busca
de informações é inversamente proporcional: quanto maior a experiência do
consumidor com o produto, menor a necessidade de buscar informações sobre ele.
Existe uma diferença entre familiaridade com o produto e conhecimento do produto
(também denominado perícia). Enquanto que a familiaridade se refere ao histórico
de compra, a experiência prévia de consumo e informações obtidas sobre o
25
produto, a perícia se refere ao entendimento dos atributos de um produto, e ao
conhecimento sobre alternativas a estes atributos (SHETH et al, 2001, p. 498).
A perícia de um cliente surge quando ele parte em busca de informações sobre um
produto, seja por estar insatisfeito com sua experiência anterior ou por buscar
produtos novos. A maneira como a busca por informações será conduzida revela a
perícia do cliente em relação ao produto (SHETH et al, 2001, p. 498). O estudo de
Lai (1991) analisa como o conhecimento prévio (familiaridade) sobre o produto
combinado a fatores situacionais pode influir na decisão de compra dos
consumidores.
Lai (1991) define três tipos de situações relevantes para marketing: situação de
comunicação, situação de compra e situação de consumo, definida como situação
de uso antecipada pelo consumidor. Quantidade de marcas analisadas,
profundidade da pesquisa, o tipo de informação procurada, limites de preço e fontes
de informação são algumas características que variam em função da situação de
uso antecipada.
Cada situação provoca necessidades distintas que serão supridas por diferentes
produtos. Esta afirmativa sugere que a decisão de compra de um determinado
produto pode ser melhor explicada pelas necessidades criadas por uma situação de
consumo do que por características pessoas do indivíduo (LAI, 1991). O autor afirma
que a intenção de compra de um consumidor varia em função do grau de
associação, estabelecida pelo próprio consumidor, entre as características do
produto e a situação de consumo (LAI, 1991).
Em seu estudo, Lai (1991) analisa o processo de avaliação de um novo produto,
uma inovação, no qual o consumidor procura integrar seu conhecimento prévio em
relação à categoria do produto, às novas informações fornecidas pela inovação e às
necessidades de uma situação particular. Primeiramente, o artigo examina as
diferentes intenções de compra para novos produtos em situações diferentes. Em
seguida, são analisados os efeitos da informação do produto e necessidades da
situação em circunstâncias mais específicas.
26
Para isso, Lai (1991) desenvolve um modelo que busca explicar a intenção de
adoção de uma inovação a partir de dois estímulos: as necessidades percebidas de
uma dada situação e as informações de novos produtos (inovações). Tais estímulos
agem sobre o consumidor que reage aos estímulos e decide adotar ou não a
inovação.
Os resultados da pesquisa confirmaram que a intenção de comprar ou não o novo
produto varia de acordo com a situação. A influência potencial da situação na
adoção de um novo produto depende da atitude geral do consumidor em relação ao
produto. Por outro lado, a interação de informações de diferentes produtos sugere
que fornecer muitos dados sobre o produto pode comprometer a intenção de sua
adoção na medida em que se torna mais complexo compatibilizar os atributos do
produto e as necessidades da situação. O autor sugere que a descrição de situação
definida por Belk (1974), com cinco grupos de características, pode ser teórica e
específica demais para ser usada em experimentos reais, sendo a melhor opção
usar situações genéricas (LAI, 1991).
2.3.4 Efeito “País de Origem”
A imagem de alguns países, quando associada a seus produtos nativos, passou a
ser referência para os mercados como um indicador de qualidade, como por
exemplo, design italiano, café colombiano ou carro japonês (KOTLER et al, 2006, p.
73).
Com o crescimento do comércio internacional de vinhos, o “país de origem” se
tornou um atributo considerado na escolha dos consumidores em todo mundo.
Na literatura, este fenômeno é denominado “efeito país de origem” e não possui uma
única definição entre os autores que estudam o fenômeno.
Solomon (2002, p. 223) afirma que o país de origem de um produto é, em alguns
casos, uma importante informação no processo de tomada de decisão. Segundo o
autor, alguns produtos são fortemente associados a países específicos. O vinho é
um exemplo desta associação, na medida em que os consumidores associam, na
maioria das vezes, o produto ao país produtor.
27
Solomon (2002, p. 223) considera a origem do país como um atributo que se
combina com outros para influenciar as avaliações do consumidor e afirma que a
importância dada a este atributo varia em função das demais informações
disponíveis sobre o produto.
Segundo Wang e Lamb (1983 apud AL-SULAITI e BAKER, 1998), o efeito país de
origem é “uma barreira intangível de entrada em novos mercados na forma de viés
negativo do consumidor em relação a produtos importados”. Outros autores
(JOHANSSON et al, 1985; OZSOMER e CAVUSGIL, 1991 apud AL-SULAITI e
BAKER, 1998) definem país de origem do produto como aquele onde se localiza a
matriz da empresa que comercializa o produto ou marca, enquanto que outros
estudiosos o consideram o local onde o produto é manufaturado (BILKEY e NES,
1982; CATTIN et al., 1982; HAN e TERSPSTRA, 1988; WHITE, 1979).
Definir precisamente o que significa “país de origem” se tornou uma atividade
complexa com o advento da globalização, quando os produtos passaram a ser
concebidos em um país, fabricados em um outro e, finalmente, montados em um
terceiro. Para o presente estudo, é importante analisarmos o impacto do país de
origem no comportamento de compra dos consumidores.
Com o objetivo de compreender as relações comerciais entre países do Mercado
Comum da América Central
1
, Schooler (1965) realizou um experimento com
estudantes na Guatemala, buscando identificar se características atribuídas por
consumidores locais a produtos estrangeiros influenciam suas compras.
Schooler (1965) acredita que antecedentes culturais entre os países, como antigas
rivalidades, inveja entre nações, receios mútuos, que impediram tentativas
passadas de unificação da região, gerem vieses na avaliação de produtos e, por
esta razão, espera-se que avaliações de um mesmo produto variem de acordo com
seu país de origem.
1
Mercado Comum da América Central é formado pelos países Guatemala, Costa Rica, El Salvador,
Nicarágua e Honduras.
28
Schooler (1965) também buscou identificar a origem dos vieses, esperando
confirmar que atitudes em relação a um setor específico e experiências de viagem
são os fatores chave na criação dos preconceitos.
Uma amostra de 200 estudantes guatemalenses foi divida em 4 grupos. Cada grupo
recebeu uma amostra de um suco proveniente de um país do bloco estudado (por
exemplo, o primeiro grupo recebeu produtos da Guatemala, outro da Costa Rica,
etc). Honduras e Nicarágua foram excluídos da amostra. O México, apesar de não
fazer parte do bloco comercial, foi incluído por ser um país culturalmente semelhante
exercendo a função de controle. Os produtos eram idênticos exceto pelo rótulo
identificando o país de origem. Como os grupos eram homogêneos, qualquer
variação na avaliação dos produtos sinaliza o efeito país de origem (SCHOOLER,
1965).
Os resultados demonstraram que a imagem do país de origem do produto gera um
viés, positivo ou negativo, em sua avaliação uma vez que produtos idênticos
receberam avaliações distintas dos participantes da pesquisa. Os produtos com
rótulo mexicano foram melhor avaliados pelos participantes guatemalenses que os
produtos com rótulos dos demais países do Mercado Comum da América Central.
Schooler (1965) concluiu que o país de origem de um produto pode afetar a opinião
dos indivíduos sobre o produto e que, no caso da Guatemala, o preconceito entre os
países exerce uma barreira informal ao aumento de relações entre os países
membros do bloco comercial.
Outro efeito relacionado ao país de origem do produto é o estereótipo. Reierson
(1967 apud AL-SULAITI e BAKER, 1998) comprovou a influência de estereótipos
através de uma pesquisa com 155 estudantes americanos, que forneceram sua
opinião sobre produtos mecânicos, alimentícios e de vestuário oriundos de países
como: Estados Unidos, Alemanha, Japão, Itália, França, Canadá, Reino Unido,
Suécia, Bélgica e Dinamarca. O autor identificou que, “se o preconceito com um
determinado país o for muito intenso, a atitude do consumidor pode ser muito
mais favorável ao produto com pequenos esforços de comunicação e promoção”
(REIERSON, 1967 apud AL-SULAITI e BAKER, 1998).
29
A influência do estereótipo de um país varia entre diferentes culturas na medida em
que a imagem que um povo tem de uma outra nação não é igual em todo o globo.
Nagashima (1970) buscou medir a imagem de produtos “made in X” (fabricados em
X) entre diferentes culturas, entrevistando empresários japoneses e americanos. O
autor descreve a imagem de produtos “made in” como a fotografia, a reputação, o
estereótipo que empresários e consumidores atribuem a produtos de um país
específico.
Em seu estudo, foram usados os seguintes países como referência: Estados Unidos,
Japão, Inglaterra, França e Alemanha. Os respondentes deveriam indicar o grau de
confiabilidade de cada um dos países em uma escala de sete pontos, listar o
primeiro produto que lhe vem à cabeça ao pensar em cada país, indicar qual seria o
país escolhido se preço, qualidade e estilo de um produto fossem equivalentes, e
indicar qual o país que produz produtos de maior valor.
Os resultados confirmaram que o estereótipo dos países varia entre consumidores
americanos e japoneses. Além disso, foi identificado que a imagem do rótulo “made
in” varia em função da familiaridade do indivíduo com o produto e da disponibilidade
do mesmo no mercado local, assim como é influenciada pelo estereótipo que cada
país possui. Nagashima (1970) concluiu que alguns produtos representativos de um
país contribuem na construção da imagem “made in” daquele país. Produtos como
Coca Cola, Chevrolet, Ford e IBM formam a imagem “made in USA” (fabricado nos
Estados Unidos) entre consumidores japoneses, assim como produtos como Sony,
Nikon, Toyota e Honda ajudam a formar a imagem “made in Japan” (fabricado no
Japão) entre consumidores americanos (NAGASHIMA, 1970). O autor identificou
ainda que o preconceito de consumidores americanos com produtos japoneses foi
reduzido como resultado de experiências satisfatórias com produtos japoneses
(NAGASHIMA, 1970).
Finalmente, Johansson et al (1985) verificaram não apenas o efeito do país de
origem, mas também a importância deste atributo no processo de avaliação do
consumidor. Segundo os autores, estudos que investigam apenas o atributo país de
origem como variável proxy são limitados, pois não consideram a influência de
30
outros fatores no processo decisório do consumidor. Familiaridade e experiências
anteriores com a categoria de produto são alguns exemplos de fatores que podem
influenciar a importância do país de origem nas avaliações (JOHANSSON et al,
1985).
Estudantes universitários, americanos e japoneses, responderam ao questionário
sobre dez modelos de carros, oriundos de três países diferentes (Estados Unidos,
Japão e Alemanha), com perguntas sobre treze atributos do produto, entre eles
preço, segurança e conforto.
Os resultados mostraram que o efeito do país de origem é relativamente menor
quando uma avaliação se baseia em múltiplos atributos e é, na verdade, menos
significativo do que os autores acreditavam. Tal conclusão suporta a hipótese de que
país de origem pode ser considerado uma variável substituta para avaliação de um
produto quando os respondentes possuem conhecimento limitado em relação ao
produto (JOHANSSON et al, 1985).
O estudo de Quester e Smart (1998) apresenta a região produtora do vinho como
um dos atributos relevantes na decisão de compra de uma garrafa de vinho. Apesar
de sua pesquisa estar limitada às regiões produtoras de vinho australianas, com o
avanço da globalização, as barreiras de obtenção de produtos de países
estrangeiros parecem não ser mais um empecilho. No Brasil, por exemplo, é
possível encontrar vinhos de diferentes origens, tais como argentinos, chilenos,
franceses, italianos, australianos, americanos e sul-africanos.
2.4 Envolvimento, Situação e Consumo de Vinho O estudo de Quester
e Smart (1998)
O estudo de Quester e Smart (1998), dentre os estudos encontrados na literatura,
pode ser considerado o mais focado no comportamento do consumidor de vinho e
por isso merece destaque nesta pesquisa bibliográfica. O estudo de Quester e Smart
(1998) agrega a análise dos efeitos situacionais e de outras variáveis no
entendimento do comportamento do consumidor de vinho. Neste trabalho, foi
31
investigada a influência combinada do envolvimento do indivíduo com o produto e da
situação de consumo sobre o uso dos atributos do produto pelos consumidores.
Os autores acreditam que o efeito combinado do envolvimento do indivíduo e da
situação de consumo explica de forma mais eficiente o comportamento do
consumidor do que fatores pessoais e situacionais isolados.
Os autores definiram situação como situação de uso antecipada, seguindo a
classificação de Lai (1991), uma vez que as demais categorias (situação de
comunicação e de compra) já foram bastante abordadas em estudos anteriores.
Dada a falta de consenso na literatura sobre a importância relativa da situação e dos
fatores pessoais no comportamento do consumidor, os autores estudaram a
interatividade entre os dois fatores como principal causa de diferenças no
comportamento de indivíduos, partindo da expectativa que indivíduos reagem de
forma diferente em uma dada situação. Com base nestas premissas, foi
desenvolvida uma abordagem alternativa denominada “interação pessoa-situação”.
A escolha de vinho tinto para tal experimento se mostrou apropriada que, em
estudos anteriores, foi provado ser possível dividir a amostra de respondentes em
grupos com envolvimento similar. Além disso, o vinho tinto tem inúmeros atributos,
tangíveis e intangíveis, que facilitam a observação da importância relativa de
atributos do produto no comportamento de compra. Finalmente, o consumo de vinho
está presente em ocasiões diversas, permitindo a elaboração de diferentes cenários
para testar a influência da situação.
Estudos anteriores sobre vinhos identificaram que atributos do produto influenciam
de forma considerável o comportamento de compra dos indivíduos. Em seu estudo,
Lockshin e Rodhus (1993) mostram que a percepção de qualidade do consumidor
de vinho varia em função de características intrínsecas e extrínsecas, a depender do
grau de conhecimento sobre vinho que os consumidores acreditam ter. Os autores
afirmam que pessoas que não se julgam experts e/ou sentem que existe risco na
decisão de compra de vinhos tendem a usar características extrínsecas disponíveis
para avaliar a qualidade do produto, tais como preço, recomendação de amigos,
embalagem e marca. Mesmo em situações onde o consumidor leigo pode
32
experimentar o vinho, o preço foi a variável determinante da avaliação de qualidade
do produto. Experts, por sua vez, se baseiam mais nas características intrínsecas
(paladar do vinho, método de produção, teor alcoólico e estilo do vinho encorpado,
suave, etc.) do que no preço em sua avaliação de qualidade.
Na ausência de outros elementos, o preço possui papel importante no processo
decisório. A influência do preço na decisão de compra varia de acordo com a
percepção da relação preço/qualidade. Se o indivíduo percebe esta relação como
alta, então preço passa a funcionar como um indicador de qualidade (MITCHELL e
GREATOREX, 1989).
A lista de atributos relevantes para escolha do vinho foi obtida a partir de entrevistas
com especialistas em vinhos, gerentes de seis lojas de varejo e vinte clientes
consumidores de vinho. A todos foi perguntado quais os principais atributos que
influenciam a compra de uma garrafa de vinho. Após analisar a relevância de cada
item e a estabilidade das respostas através nos diferentes cenários, os autores
chegaram à relação final de atributos a serem considerados no estudo: preço, região
do vinho, variedade da uva e estilo do vinho. Além de testar efeito interativo entre
atributos e situação de consumo, o estudo buscou identificar se de fato preço é o
atributo de maior importância na compra de vinhos e validar se a importância dos
demais atributos (região do vinho, variedade da uva e estilo do vinho) variam de
acordo com o envolvimento do indivíduo com o produto.
Os autores optaram por descartar pesquisas atitudinais, em razão da possível
geração de resultados não confiáveis em função de falta de capacidade dos
entrevistados em avaliar a verdadeira importância de um atributo em uma situação
hipotética e também da indisposição dos mesmos em revelar sua verdadeira
opinião. A metodologia de análise utilizada foi análise conjunta (conjoint analysis),
previamente validada em outros estudos e considerada pelos autores a ferramenta
quantitativa mais adequada para pesquisa de importância de atributos.
As descrições das situações foram elaboradas por especialistas em vinho e gerentes
varejistas de forma a retratar situações com diferentes níveis de percepção de risco
na compra. Apenas situações de compra para consumo doméstico foram
33
consideradas, evitando discrepâncias relacionadas à margem de lucro do
restaurante ou cobranças de “rolha”.
A primeira situação apresentada foi a compra de uma garrafa de vinho para
consumo durante a semana, sozinho ou com a família, durante um jantar. Foi
enfatizado que esta seria a situação mais comum de compra de vinho. A segunda
situação foi a compra de uma garrafa de vinho para um jantar na casa de um amigo,
sábado à noite, onde mais 5 ou 6 amigos íntimos estariam presentes. A partilha do
vinho com amigos foi enfatizada. A terceira situação foi a compra de uma garrafa de
vinho como presente pelos 50 anos de vida de um empregado ou de um amigo
altamente respeitado. Esta situação foi criada para refletir a maior percepção de
risco associada à compra do vinho.
A amostra foi segmentada em dois grupos em função do nível de envolvimento com
o produto. O grupo com consumidores altamente envolvidos (AE) era composto por
respondentes com nível de envolvimento entre 60% e 100%, enquanto que os
consumidores pouco envolvidos (PE) apresentaram níveis de 0% a 40% de
envolvimento.
A importância de cada um dos atributos foi analisada em duas etapas:
primeiramente, foi observado o comportamento de toda a amostra; em seguida, a
análise foi replicada para cada grupo de consumidores, observando as variações de
comportamento, por situação e por nível de envolvimento com o produto.
O estudo de Quester e Smart concluiu que, para o mercado de vinho, o
envolvimento do indivíduo com o produto e a situação de consumo afetam
consideravelmente seu comportamento de compra, através da influência na
importância relativa dos atributos de escolha do produto. Tal conclusão sugere aos
gerentes e produtores de vinho que segmentem seus mercados não apenas por
grau de envolvimento, mas também considerando a situação para a qual o produto
está sendo comprado. Esta segmentação pode significar uma redução do mercado
alvo das empresas, limitando sua atuação a nichos específicos, porém
possivelmente mais lucrativos que o mercado total. Os autores sugerem ainda que
as empresas ajustem a ênfase dada aos atributos do produto de acordo com a
34
situação de consumo, compreendendo que a importância dos atributos do produto
varia de acordo com o risco percebido da situação.
Finalmente, o artigo reforça a necessidade de considerar a interação envolvimento-
situação nas pesquisas de mercado, a fim de evitar conclusões equivocadas
tomadas a partir de interpretações incorretas dos dados da pesquisa.
35
3 METODOLOGIA
Este capítulo descreve a metodologia utilizada neste trabalho. São apresentadas as
razões que motivaram a escolha do tipo de pesquisa e a descrição do método
utilizado. A pergunta da pesquisa e a seleção dos entrevistados também são itens
desta parte. Por fim, são levantadas algumas limitações do método escolhido.
3.1 Tipo da pesquisa
Este é um estudo exploratório que utiliza-se de metodologia qualitativa na coleta de
suas informações. Segundo Vergara (2003, p. 47), o estudo exploratório é adequado
quando há pouco conhecimento acumulado e sedimentado na área de estudo. Este
é justamente o caso da influência da situação no consumo doméstico de vinho no
contexto brasileiro. A maior parte dos trabalhos nacionais encontrados sobre vinhos
aborda questões operacionais (SOUZA e NETO, 2002; GUSMÃO, 2004;
RODRIGUEZ et al, 2005), estratégicas (LOVATEL, 2002; ROTH e ALBERICI, 2005;
ALIEVI e FENSTERSEIFER, 2005; FENSTERSEIFER e WILK, 2005) ou
comportamento do consumidor em situações outras que não a doméstica (FREIRE e
ALMEIDA, 2002; GARCEZ, 2005).
O método dos itinerários (Desjeux, 2000) foi empregado para coleta das
informações. Este método consiste em entrevistas em profundidade no local (a casa)
com base em roteiro pré-elaborado (Anexo 1), além de observação e fotografia. A
descrição desta metodologia será apresentada a seguir.
3.2 Pergunta da Pesquisa
Buscou-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Quais são as principais
práticas do consumo de vinho no cotidiano doméstico de famílias cariocas de classe
alta?
36
3.3 Seleção dos Entrevistados
A seleção dos entrevistados foi feita a partir da identificação de indivíduos que tem
por hábito consumir vinho em situações domésticas, mais precisamente, aqueles
que compram vinho para consumi-lo em sua residência e com uma freqüência de
pelo menos uma vez por semana. Não foram considerados dentro da seleção
indivíduos que consomem vinho apenas em situações externas, como restaurantes,
festas, casamentos, etc.
A seleção foi definida pelo critério de acessibilidade e a amostra foi composta por 10
consumidores, com faixa etária entre 33 anos e 62 anos, todos com nível de
instrução terceiro grau completo e moradores da cidade do Rio de Janeiro.
Os entrevistados podem ser divididos em dois grupos denominados “leigos” e
“conhecedores”. O grupo “leigo” é composto por indivíduos que apreciam o vinho,
compram com freqüência, consomem em suas residências, porém nunca
participaram de um curso sobre vinhos. Cabe observar que participações em
degustações de vinhos ou viagens a vinícolas, onde possivelmente os consumidores
obtiveram conhecimento adicional sobre vinhos, sua produção e regras de consumo,
não caracterizam os consumidores como “conhecedores”. Por sua vez, o grupo
“conhecedores” é composto por indivíduos que obtiveram algum conhecimento
específico sobre vinhos, seja através de cursos específicos ou conhecimento
adquirido através de estudo individual. Além disso, vale observar que cada
entrevistado relatou não apenas sua prática, mas também a prática de consumo de
vinho da família.
O quadro abaixo apresenta o perfil da amostra por idade, estado civil e profissão. O
quadro também indica a qual dos dois grupos (leigos e conhecedores) cada
entrevistado pertence. Todos os nomes apresentados na tabela abaixo o fictícios,
preservando o anonimato dos entrevistados.
37
Tabela 1 – Perfil da amostra e classificação por grupo
Nome Idade Estado Civil Filhos (Idade) Profissão Grupo
1 Liliane 52 Casada 2 (27, 24) Psicóloga Leigo
2 Bernardo 62 Casado 2 (27, 22) Consultor Leigo
3 Edson 61 Casado 2 (26, 24) Engenheiro e Professor Conhecedor
4 Cláudio 54 Casado 3 (30, 27, 25) Engenheiro Leigo
5 Elaine 53 Casada Não Jornalista Leigo
6 Estela 33 Solteira Não Esp. Comércio Exterior Conhecedor
7 Ronaldo 33 Casado Não Engenheiro Conhecedor
8 Clara 55 Casada 2 (27, 23) Jornalista/Livreira Conhecedor
9 Patrícia 29 Casada Não Economista Leiga
10 Antônio 32 Casado Não Funcionário Público Leigo
Entre os conhecedores, Clara e Ronaldo fizeram os cursos de vinhos básico e
avançado da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), no Rio de Janeiro, além
de cursos sobre vinhos de regiões específicas. Ambos também participaram de
grupos de degustação formados por outros alunos da ABS. Edson e Estela foram
considerados autodidatas. Mesmo não tendo participado de nenhum curso,
apresentaram conhecimento específico do tema adquirido em viagens e leitura
especializado no assunto.
3.4 Escolha da Metodologia
Dado o objetivo da presente pesquisa, compreender o comportamento de
consumidores de vinho em situações domésticas, o método dos itinerários se
mostrou bastante atrativo visto que é baseado na coleta de dados na residência dos
entrevistados, incluindo registro fotográfico e acompanhamento do itinerário do
produto.
A metodologia foi desenvolvida pelo antropólogo Dominique Desjeux (DESJEUX,
2000, CAMPOS, 2004, CAMPOS et al, 2006), denominada Método dos Itinerários.
Este método foi desenvolvido a partir de pesquisas empíricas realizadas por Desjeux
em diversos países, culturalmente bastante distintos como França, China, Congo e
Madagascar.
Campos et al (2006), em seu estudo sobre as contribuições da sociologia para o
marketing, apresentam uma definição do método dos itinerários de Desjeux:
38
“O método dos itinerários é uma abordagem do ritual de
consumo que intenciona colocar em foco o sistema de ações
encadeadas que antecedem e sucedem o momento em que o
produto ou serviço é consumido. Ele entende a tomada de
decisão do consumidor não como uma decisão arbitrariamente
individual a um dado momento, mas como um processo
coletivo no tempo” (CAMPOS et al, 2006).
Esta metodologia se inspira nos itinerários técnicos utilizados em pesquisa de
campo na área de agronomia, onde são descritas, através de um fluxo, as diversas
tarefas a serem realizadas em um dado período de tempo. O princípio que norteia
esta prática está em acumular observações qualitativas dentro de um mesmo quadro
comparativo dos itinerários. O objetivo da investigação é evidenciar a diversidade de
ocorrências dentro da estrutura do itinerário (CAMPOS et al, 2006).
O método dos itinerários é um método qualitativo indutivo, que propõe o
acompanhamento do objeto estudado ao longo de sete etapas, nas quais o produto
tem contato com o consumidor: a decisão de compra, o transporte ao local de
compra, a compra propriamente dita, a estocagem, a preparação para o consumo, o
consumo e o descarte. As etapas do processo serão detalhadas posteriormente.
Tal metodologia, denominada por seu criador também como etnomarketing ou
antropologia do consumo, possui técnicas de coleta de informações adaptadas à
observação das práticas in loco, eliminando a discrepância entre discurso e prática
dos entrevistados, e permitindo dessa forma uma coleta de dados mais detalhados e
reais.
O método dos itinerários permite a associação das técnicas tradicionais bastante
utilizadas de pesquisas qualitativas, como entrevistas em profundidade realizadas no
local onde as práticas acontecem, assim como métodos menos usuais, como
estímulo fotográfico ou registro fotográfico, no caso, registro do itinerário do produto.
Dessa forma, é possível registrar inconvenientes materiais e sociais que afetam as
práticas de consumo, assim como identificar estruturas que as organizam com mais
39
independência em relação às intenções, cálculos ou sentimentos dos entrevistados
(DESJEUX, 2001).
O método dos itinerários permite, através de seu aspecto qualitativo, observar de
perto as práticas, em ambiente doméstico onde se realizam as interações entre
indivíduos, demonstrações de força e conflitos. Permite ainda, através das etapas do
itinerário, o contato com o produto de forma mais ampla, evitando uma leitura restrita
ao momento de consumo. Além disso, estando as práticas focadas no produto, as
entrevistas tendem a ser menos revestidas de representações, discursos e
explicações não é o indivíduo que está sendo analisado, mas o objeto (CAMPOS,
2004).
Finalmente, o método dos itinerários possibilita a identificação de códigos implícitos,
que limitam a maioria das práticas domésticas e organizam o comportamento dos
consumidores em função de práticas permitidas, obrigatórias e proibidas, seja em
relação a seu uso na sociedade ou a sua organização no universo doméstico. Parte
destes códigos antecede às intenções dos indivíduos, outra parte resulta do
processo de construção social que depende dos indivíduos. As estruturas do
cotidiano são formadas a partir da produção de decisões sucessivas dos indivíduos
e de suas conseqüências (DESJEUX, 2001).
Na próxima seção, serão detalhados os procedimentos que compõem o todo dos
itinerários, explicando cada uma de suas etapas.
3.5 Métodos dos Itinerários: etapas e aplicação
Após dez anos de pesquisa, tendo realizado pesquisas na França e em outros
países, Desjeux (2000) estabeleceu o itinerário em sete etapas principais:
Primeira Etapa Residência: as interações entre os membros da família, em casa,
como processo dinâmico e rotineiro da construção da decisão de compra
(elaboração da lista, chantagem, pressão, rotina) (DESJEUX,1991 apud DESJEUX,
2001).
40
Segunda Etapa Deslocamento ao local de compra: o meio de transporte utilizado
pelas pessoas (carro, bicicleta, ônibus ou a pé), e das compras realizadas (sacolas,
porta-malas), determina a quantidade e a freqüência das compras em função da
cultura, de gerações e das identidades sociais.
Terceira Etapa A Compra: É a etapa mais conhecida entre os estudos de
marketing, quando analisam o comportamento do consumidor de forma linear. É o
momento em que o consumidor se depara com o produto exposto em sua área de
venda, uma gôndola, uma vitrine, um balcão.
Quarta Etapa Estoque: Da geladeira ao armário, passando pelo congelador e
despensas. Todos esses meios representam e materializam a segurança e a ordem
alimentícia no universo doméstico. É analisando o local de estocagem que se
compreende melhor como o consumo alimentar é fundado sob o sistema de objetos
materiais, cuja organização condiciona o comportamento de compra. Eles formam
uma cadeia, sendo a mais conhecida a “cadeia fria”, mas esta não é a única. Nesta
etapa, observam-se também as regras envolvidas, as pessoas responsáveis, a
proximidade com outros objetos e a acessibilidade por outros membros do domicílio.
Quinta Etapa Preparação para consumo. Etapa imediatamente anterior ao
consumo do bem. Trata-se de tornar o bem apto a ser consumido. Pode ser a
refrigeração do produto ou outros procedimentos que façam a intermediação do bem
em seu estado de estoque ou compra para o bem em seu estado de consumo
(CAMPOS et al, 2006).
Sexta Etapa Consumo propriamente dito e as maneiras à mesa: processo mais
estudado em antropologia e história atualmente, e que é a mais sensível às
diferenças culturais.
Sétima Etapa O resto e o descarte. Etapa em que se descartam os restos
provenientes do consumo do objeto, sendo embalagens ou restos do objeto em si.
Investigam-se os procedimentos para descarte, os responsáveis no domicílio, os
recursos utilizados para tanto (CAMPOS et al, 2006). Estudo em plena expansão em
função da preocupação recente com o meio-ambiente.
41
Na realidade, cada etapa demanda estudos ad hoc em campo e, através do acúmulo
de informações, é possível compreender o consumo como um “sistema de
aprovisionamento” (FINE e LEOPOLD, 1993 apud DESJEUX, 2001), como uma
cadeia material de objetos, uma rie de etapas, algumas rotineiras, outras
conflituosas, e outras, fonte de convívio, ou seja, o itinerário se torna um processo
social (DESJEUX, 2001). Este estudo compreendeu a análise das sete etapas
descritas pelo método dos itinerários.
Além da aplicação do todo dos itinerários, os entrevistados foram convidados a
descrever brevemente a história de vida, através de perguntas dirigidas sobre
infância e adolescência, hábitos de consumo dos pais e mudanças provocadas em
períodos transitórios, como casamento, mudanças de cidade ou crescimento
profissional. Essa etapa teve como principal objetivo o aquecimento para entrevista,
mas também permitiu construir um quadro contextual de suas vidas (origem,
estrutura familiar, profissão, horários da família, formação) e de suas rotinas
alimentares, suas refeições e as bebidas presentes em cada etapa do ciclo de vida.
A coleta de dados foi realizada através de entrevistas em profundidade, com
questionário semi-estruturado (Anexo I), permitindo a inclusão de temas não
previstos inicialmente. O questionário utilizado foi adaptado a partir de versões
usadas em estudos anteriores nos quais o Método dos Itinerários foi empregado:
análise do consumo de refrigerantes por Campos (2004), e análise do
comportamento feminino relacionado à beleza por Campos et al (2006).
Cada entrevista teve uma duração aproximada de noventa minutos cada. As
conversas foram gravadas e transcritas. Todas as entrevistas foram realizadas nas
residências dos entrevistados, permitindo o registro fotográfico dos locais que
compõem o itinerário do produto.
As principais dificuldades para realização das entrevistas foram agendamento com
os participantes e iniciação do processo de entrevista. A primeira se deu
principalmente pela duração exigida para a entrevista, limitando as alternativas de
horários para finais de semana ou durante a semana após horário comercial. A
dificuldade de iniciar o processo de entrevista aconteceu apenas em alguns casos e
42
foi causada pela dispersão do entrevistado devido às freqüentes interrupções feitas
por familiares ou domésticas (por exemplo, para atender ao telefone).
3.6 Limitações do Estudo
Este estudo, por sua natureza exploratória e pelo método utilizado de entrevistas em
profundidade, tem suas análises e conclusões limitadas ao grupo de entrevistados,
não permitindo generalizações. Segundo Vergara (2003, p. 63), o método de
entrevistas “está limitando pela seleção dos atores para as entrevistas”, tendo em
vista a impossibilidade de serem entrevistados todos os consumidores de vinho da
cidade do Rio de Janeiro. Considerando que foi utilizado o critério de acessibilidade
para escolha dos entrevistados, é possível que os selecionados não tenham sido os
mais representativos do universo estudado.
O estudo ficará restrito ao comportamento do consumidor, não da indústria do vinho.
As estratégias e dinâmicas dos demais integrantes do mercado, como produtores,
distribuidores e importadores, restaurantes e bares, críticos e sommeliers, e outros
que influenciam direta ou indiretamente o comportamento de compra dos
consumidores, não serão analisados no presente estudo.
Outra limitação diz respeito à abrangência da pesquisa em termos de situação de
consumo. O presente estudo procura compreender o comportamento do consumidor
de vinho tendo como base a experiência de consumo doméstico. Outras situações
fora do contexto doméstico não foram exploradas, como consumo em restaurantes,
festas, viagens ou eventos sociais.
O fato dos entrevistados terem conhecimento do tema do estudo (consumo de vinho
em situações domésticas) pode ser considerado uma limitação na medida em que
suas respostas podem ser enviesadas. Possivelmente se o escopo do estudo
incluísse outras bebidas, os entrevistados poderiam se sentir mais à vontade para
expor sua opinião acerca de uma delas.
43
Como todo estudo, as análises que serão aqui apresentadas estão influenciadas
pela visão da pesquisadora e da revisão de literatura que se misturam com as
informações levantadas na pesquisa e a sua interpretação.
44
4 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, serão apresentados os resultados das entrevistas, de forma
individualizada, a partir dos relatos das práticas relacionadas ao consumo doméstico
de vinho, seguindo a ordem apresentada abaixo dos principais itens selecionados:
a) Práticas diárias relacionadas a bebidas
O objetivo desta categoria é contextualizar o consumo de vinho dentro do consumo
diário da família, identificando situações nas quais o vinho aparece (jantares do
cotidiano, festas, reuniões com amigos, presente, etc).
Os “atores” que aparecem em cada situação também são revelados, assim como o
envolvimento de cada um com o produto.
b) História da vida
Esta é uma etapa breve cujo objetivo é identificar a fonte do envolvimento do
entrevistado com o produto, como sua história com vinhos. Neste momento, são
apresentadas questões sobre sua família de origem, hábitos de consumo de bebidas
de seus pais durante sua infância e adolescência e influência de outras pessoas,
como marido/esposa ou amigos, no consumo de vinho.
c) Itinerário do Vinho
A terceira e última etapa da entrevista consiste na aplicação do método de itinerários
propriamente dito, quando os entrevistados são questionados sobre as práticas
relacionadas ao vinho que compõem as sete etapas do itinerário do produto (decisão
de compra, compra, transporte, estoque, preparação para consumo, consumo e
descarte), além de responder questões sobre marcas preferenciais, influência do
país de origem na escolha do vinho e intenções de recompra do produto.
d) Peculiaridades
Ao final da descrição de cada entrevista, serão apresentados os aspectos que
despertaram a atenção por não se enquadrarem no comportamento esperado do
45
entrevistado, ou seja, peculiaridades descobertas durante os relatos sobre o
itinerário do produto. Por exemplo: por que existe um vinho aberto no armário e
outro na geladeira?
Numa segunda etapa, as entrevistas foram analisadas em conjunto, com o intuito de
possibilitar uma visão geral do grupo. Neste momento, buscou-se identificar práticas
comuns entre os indivíduos que permitissem a divisão da amostra em segmentos
com comportamento e atitudes semelhantes em relação ao vinho.
4.1 Liliane
Perfil: Mulher, 52 anos, casada, psicóloga, leiga. Mora com marido (56 anos), filho
(27 anos) e filha (24 anos).
a) Práticas diárias relacionadas a bebidas
Em um dia típico, Liliane bebe café preto com leite no café da manhã, sucos e
refrigerantes no almoço. No jantar, às vezes, cerveja ou vinho, e licor após a
refeição. Tipo de bebida é determinado por preferências pessoais, tipo de comida,
companhia, evento (comemoração ou não). Vinho pelo menos uma vez por semana
para ocasiões mais intimistas, cerveja para ocasiões de descontração, o champagne
e o uísque para comemorações, sendo este último considerado mais formal.
b) História da vida
O consumo de bebidas alcoólicas começou após casamento, e seu marido foi o
principal influenciador. o consumo de vinho começou na idade adulta.
Inicialmente, preferia bebidas mais adocicadas, gosto que não mantém. Gostava
de vinho branco, mudou à medida que amadurecia e hoje prefere vinhos tintos. Mas
vinho branco ainda “tem o seu lugar”. A curiosidade de conhecer e de experimentar
novos vinhos serviu de estímulo para mudança de paladar.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
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O que motiva a compra? O estoque está acabando ou ocasiões especiais. Não
costuma ficar sem vinho em casa, reconhece a necessidade de reserva. O que
influencia a decisão? Vontade de experimentar novos vinhos, recordação favorável
de uma marca específica e indicações de amigos são fatores que influenciam a
decisão de compra.
Compra
Considera a compra como o início da preparação para consumo, pois foi
escolhido o tipo de comida com o marido.
Compras são feitas nos supermercados Zona Sul, dada sua variedade e formas de
conservação, e Carrefour, dada à boa variedade de vinhos franceses. Compras de
vinho são sempre mensais e acompanhadas da compra de queijo ou algum tipo de
azeitona mais incrementada. Aceita pagar mais caro no caso de ocasião
especialíssima, como comemoração. Quem compra? Normalmente, ela e o marido.
Transporte
Carro, sem cuidados especiais, apenas procura evitar a quebra das garrafas. Às
vezes, faz compras a pé, quando a quantidade comprada é reduzida.
Estoque
No armário da cozinha, junto com os demais produtos alimentícios. Evita a
exposição ao sol, garante uma temperatura razoável e inclina as garrafas para
manter a rolha molhada. Observou-se vinhos abertos na geladeira. Vinhos que
serão consumidos em breve o retirados da despensa, passam para local de maior
visibilidade, em cima do balcão da cozinha.
Preparação para Consumo
Escolha do vinho por ocasião: vinhos conhecidos para acompanhar refeições, vinhos
que serão experimentados para “bate-papo”, em uma reunião mais íntima.
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Preparação varia com o acompanhamento e com a estação do ano. No verão,
resfria na geladeira. No inverno, vinho em temperatura ambiente.
Marido é o responsável pela preparação, às vezes o filho. Sem rituais ou regras,
apenas escolha das taças adequadas e combinação do vinho com
acompanhamentos. Destaque para saca-rolha, comprado na Itália, “um abridor todo
escolhido”.
Consumo
Com quem? Normalmente com a família e amigos íntimos. Onde? Sempre na sala
de estar. Freqüência? Duas a três vezes por semana.
Quando? Durante as refeições, principalmente no jantar, ou em ocasiões de
descontração, de bate-papo. Existe sazonalidade: no verão, depende do tipo de
comida; no inverno bebe-se mais, entre duas e três vezes por semana.
Por que? Vinho proporciona integração entre as pessoas, além de acompanhar a
comida ou servir para comemorar algum evento.
Marcas e Efeito País
Prefere o vinho francês, gosta dos portugueses e não compra argentinos nem
nacionais. Chilenos e italianos também são comprados frequentemente. Gosto varia
à medida que conhece novos vinhos.
Marcas não variam conforme a situação: vinhos para festas são os mesmos que dos
jantares comuns. Diferenciação apenas pelo tipo de bebida (champagne, uísque ou
vinho) e não por marcas.
Descarte
Apenas quando o produto foi integralmente consumido. Coleta seletiva de lixo,
garrafas separadas do restante do lixo da casa. Rolhas guardadas como lembrança
em situações especiais, dentro do bar ou no armário da cozinha.
d) Peculiaridades
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Apesar de Liliane ter mencionado que mantém os vinhos deitados no armário, todas
as garrafas estavam em dentro do armário. Quando questionada, Liliane não
soube responder, ficando inclusive um pouco constrangida. Ela alegou falta de
espaço, dado que o armário onde os vinhos se encontravam estava cheio e colocá-
los deitados ocuparia um espaço necessário para o estoque de outros produtos,
principalmente refrigerantes. Liliane afirmou ainda que este não é um problema real,
pois provavelmente o espaço seria liberado em pouco tempo, sem comprometer
dessa forma a qualidade do vinho.
4.2 Bernardo
Perfil: Homem, 62 anos, casado, consultor, leigo. Mora com esposa (53 anos) e filha
mais velha (28 anos). Filho mais novo (23 anos) mora em outra cidade, mas visita a
família em alguns finais de semana.
a) Práticas diárias relacionadas a bebidas
Durante a semana, refeições na cozinha, com esposa e filha, preparadas pela
empregada. Nos finais de semana, refeições são feitas na sala de jantar ou varanda,
com presença da família completa (esposa, filhos, sogra, cunhado, namorados dos
filhos), em geral são mais demoradas. Os pratos são preparados pela esposa.
Vinho sempre é consumido nos finais de semana, especialmente no almoço de
domingo com a família reunida. Bernardo não toma qualquer bebida alcoólica que
não seja vinho durante uma refeição. E fora da refeição? Cerveja e uísque, cujo
consumo está diminuindo.
b) História da vida
Avós italianos, vinho sempre presente nas refeições de final de semana. Pai também
gostava de cerveja e mãe bebia pouco vinho, sempre com a família nos finais de
semana. Vinho servido às crianças era misturado com água e açúcar, por orientação
do avô, parte da cultura italiana de educar descendentes a apreciar o vinho com
moderação.
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Pequena influência dos hábitos de sua família no seu consumo. Interesse por vinho
começou com a busca por substitutos para o uísque e a cerveja de final de semana.
O casamento foi um forte influenciador, pois a esposa não bebe nenhuma bebida
alcoólica, só vinho.
Não existem bebidas proibidas no seu cotidiano. Café é evitado após o jantar por
“roubar o sono”. Obrigatoriedades só no café da manhã: café e leite achocolatado.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Sempre que a adega, cuja capacidade é de 21 garrafas, está com mais da metade
do espaço vazio. Independente do estoque, também aproveita oportunidades de
compra de vinhos apreciados e em promoção. Para receber convidados, decide a
compra junto com o menu a ser servido no evento. Tanto Bernardo como a esposa
tomam a iniciativa de comprar vinho. Recebe dicas do cunhado, que acompanha
promoções e indicações de revistas especializadas.
Compra
Compras são feitas em supermercados (Zona Sul, pois possui boa reserva e é o
local onde faz compras para casa) ou casas especializadas (Casa do Porto, quando
está próximo). Sempre está acompanhado da esposa, mas é o principal decisor da
seleção dos vinhos.
Escolhe garrafas de 750 ml, nunca meias garrafas ou caixas (estas reduzem a
variedade do produto). Mesmo em festas, quando o consumo de vinho é maior,
Bernardo mantém a escolha da embalagem de 750 ml.
Compras são quinzenais, nunca com intervalo de mais de um mês. Somente em
caso de promoção, compra com maior freqüência, mesmo sem haver necessidade
de reposição de estoque. Vinhos são sempre comprados com alguns tipos de queijo,
assim como outros petiscos (como frios e azeitonas) e às vezes pizzas. Cerveja
nunca é comprada junto com vinho, pois se sabe que não serão consumidos
simultaneamente.
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Transporte
Carro, com cuidado para que não haja choque entre as garrafas (para isso, intercala
as garrafas com outros tipos de compra para proteção). Às vezes, as coloca no chão
do carro, para evitar que recebam raios de sol. O transporte dura no máximo trinta
minutos.
Estoque
Sua adega, com capacidade para 2 dúzias de garrafas, fica no hall de entrada do
apartamento, onde nunca bate sol e tem temperatura amena. Este é o espaço para
vinhos e espumantes. Não existe controle de temperatura. É raro ter vinhos abertos,
que sempre são mantidos na geladeira.
Tomou conhecimento das regras através de leitura ou visita a vinícolas. As regras
que seguem o: (i) não expor o vinho ao sol ou a temperaturas elevadas; (ii)
garrafa sempre deitada, para manter contato da rolha com o vinho; (iii) não refrigerar
demais os tintos e de menos os brancos. Apesar de conhecer as regras, não
mantém rigor na armazenagem dos vinhos.
Preparação para Consumo
Quem? Escolha do vinho feita por Bernardo, assim como a preparação, exceto se o
vinho foi presente ou foi sugerido por algum convidado. Como? Escolha considera o
tempo de estoque, o tipo de comida e as preferências pessoais dos participantes da
refeição.
Como? Vinho é sempre refrigerado, depois a rolha é retirada meia hora antes do
consumo, para “respirar”. Se houver pessoas que gostem de retirar a rolha, ele cede
esta etapa. O brinde é o único ritual antes do consumo, e sempre é feito.
Taças específicas são usadas para cada tipo de vinho, mas não dispõe dos tipos
mais adequados. Objetos (saca-rolhas, taças e demais utensílios) são escolhidos
pela esposa, que gosta de design por ser arquiteta.
Consumo
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Vinho é a bebida preferida de Bernardo. Quando bebe? Em especial no almoço de
domingo. O consumo é feito principalmente no final de semana, no jantar de sábado
e no almoço de domingo. É raro ser consumido durante a semana, mas é possível.
Acompanha sempre as refeições enquanto o uísque ou o espumante são servidos
como aperitivo. Cerveja é consumida em churrascos ou almoços ao ar livre. Vinho
não é consumido com outra bebida, às vezes com água. Quase todas as comidas
combinam com vinho, porém nunca bebe com feijoadas; em churrascos,
experimentou e gostou.
O consumo de vinho não é proibido em nenhuma situação, mas é evitado quando
existe necessidade de dirigir após o consumo. O vinho simboliza comemoração para
Bernardo, sempre associado a momentos de alegria, por isso nunca bebe quando
está triste.
Marcas e Efeito País
Preferência pelos vinhos tintos franceses (Bordeaux). Considera a França o país do
vinho. Gosta também dos espanhóis (Rioja). Os italianos são apreciados devido à
sua origem italiana. Chile é considerado um país com tradição pelo bom paladar.
Argentina possui bons vinhos, especialmente os Malbec. Mudou opinião sobre
vinhos nacionais após visita às vinícolas da região sul. Não gosta dos vinhos
californianos. O selo de qualidade é visto como garantia de um bom produto. Marcas
compradas para finais de semana ou festas são as mesmas.
Descarte
Garrafas vazias são descartadas pelo próprio Bernardo e são colocadas à
disposição dos empregados do condomínio, que as vendem como lixo seletivo.
Garrafas são lavadas antes de serem descartadas, evitando proliferação de insetos.
Vinhos parcialmente consumidos são guardados na geladeira para consumo
posterior. Se for quase meia garrafa, o jantar do dia seguinte é substituído por um
lanche com acompanhamentos para o vinho.
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Todas as rolhas são guardadas em sua coleção, e colocadas em um recipiente
decorativo na sala de estar. Um novo vaso de vidro é usado, pois este recipiente
está completo.
Rótulos de garrafas de ocasiões especiais são guardados, principalmente em
viagem, como lembrança do local visitado.
d) Peculiaridades
O padrão de estoque das garrafas mostra que, quando uma garrafa era retirada do
local de estoque, nenhuma das garrafas ali presente substituía este local, que
existiam vários “buracos” na adega. Este comportamento no estoque mostra que
Bernardo não ordena os vinhos na adega por data de compra, o que contradiz seu
depoimento de consumir o vinho em função do tempo deste na adega.
Considerando a quantidade de vinhos mantidos na adega, é pouco provável que
Bernardo se lembre quando cada garrafa foi comprada.
Outra peculiaridade observada foi a importância de se manter os vinhos, taças,
utensílios e a coleção de rolhas no ambiente público da casa, a sala de estar. Todos
os itens usados na preparação e no consumo ficam na sala.
4.3 Edson
Perfil: Homem, 61 anos, casado, PhD em engenharia, atualmente professor
universitário, conhecedor. Mora com esposa (58 anos), com duas filhas (26 e 24
anos). A empregada da família também mora no apartamento.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
No café da manhã, só bebe café. No almoço ou no jantar, bebe água, suco ou vinho,
dependendo do dia. Antes do jantar, prefere uísque. Vinho é consumido pelo menos
uma vez por semana e é visto como uma bebida festiva.
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Vinho em casa é muito ligado ao clima: se está frio, vinho é escolhido, seja durante a
semana ou nos finais de semana. Também bebe em ocasiões especiais, às vezes
em almoço com amigos de trabalho.
b) História da vida
Pais bebiam pouco, às vezes cerveja. Mãe às vezes bebia vinho. Bebidas alcoólicas
proibidas quando era criança, enquanto mate, leite e suco de laranja eram
obrigatórios.
Consumo de bebidas não influenciado pelos pais, mas por outras pessoas, como
rapazes mais velhos tomando cerveja no bar. Começou com cerveja, depois passou
para cachaça selecionada. Vinho e uísque somente quando adulto porque eram
muito caros para juventude.
Casamento mudou hábitos de consumo e coincidiu com situação econômica mais
confortável, permitindo que uísque e vinho estivessem mais presentes. Consumo de
vinho solidificou na França, onde fez doutorado. Nesta época, era recém casado.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? Tempo esfria, não tem vinho em casa ou quando vai receber convidados.
Neste caso, escolhe os vinhos em função da preferência de cada um. Considera
viagens ao exterior como oportunidades para comprar vinhos.
Compra
Quem? Edson é o responsável pela compra. Onde? Em supermercados (Zona Sul)
e em revendedores de bebidas. Não encomenda nunca. Seleciona os locais de
compra por variedade e preço.
Compras são mensais. Galões de cinco litros nunca são escolhidos porque não são
de boa qualidade. Compra caixas somente para distribuir com amigos, aproveitar
boa oportunidade (vinho bom, preço especial) ou em caso de festa. Nunca compra
54
em grandes quantidades por medo do vinho estragar (normalmente, sempre quatro
garrafas). Queijos são os principais acompanhamentos da compra de vinhos.
Transporte
Sempre usa o carro, com cuidado para não quebrar as garrafas. Transporte dura em
média trinta minutos e não constitui inconveniente na compra.
Estoque
Na cozinha, em cima do armário, ficam as garrafas. Local foi escolhido por não ser
quente, não bater sol e ter espaço para deitar as garrafas. Vinhos abertos ficam na
geladeira. Vinho sai do estoque para geladeira, para resfriar antes do consumo.
Preparação para Consumo
Refrigerar um pouco o vinho, mas não muito, para o ficar quente demais nem
gelado demais. Se eventualmente o vinho ficou muito gelado, tira-se um pouco antes
para esquentá-lo, porque gelado demais perde o sabor. Edson decide qual vinho
será aberto segundo sua vontade de provar um vinho específico e a adequação
deste vinho com a refeição. Também prepara o vinho sozinho para consumo,
sempre com pouca antecedência. Além de taças específicas, Edson usa porta-copo
para impedir que gotas de vinho manchem a toalha da mesa.
Consumo
A bebida preferida é uísque, que bebe como aperitivo antes do jantar. E o vinho?
Consumido normalmente no jantar, para acompanhar a refeição, por ser mais leve
que a cerveja e mais fraco que uísque ou cachaça. Em dias frios, pode-se beber
vinhos diariamente. Não bebe vinho com feijoada. Em momentos especiais, se
permite comprar bebidas mais caras que o costume, em ocasiões entre a família ou
em festas com amigos.
Marcas e Efeito País
55
Prefere vinhos da Borgonha na França, considera os vinhos franceses os melhores
do mundo, mas são muito caros no Brasil. Consome também argentinos e chilenos,
considerados como a melhor relação custo-benefício do mercado. Considera alguns
vinhos brasileiros da Serra Gaúcha bons. Consome também vinhos portugueses.
Não tem boa relação com os vinhos italianos porque acredita que no Brasil
encontra vinhos que decepcionam, porque em geral são muito caros, porém de
baixa qualidade. A região do vinho e o selo de qualidade dão predicado ao vinho,
funcionando como uma espécie de garantia.
Descarte
As garrafas são descartadas separadamente, após lavagem para evitar mau cheiro
e insetos. O descarte é feito quando o vinho é inteiramente consumido, caso
contrário a garrafa é colocada na geladeira. Rolhas e tulos também são
descartados. De vez em quando, guarda uma rolha para servir de reserva caso o
vinho deva ser guardado na geladeira, mas sua rolha foi destruída.
d) Peculiaridades
Possui inúmeros objetos para preparação do vinho, além do abridor, apesar do vinho
não ocupar destaque entre as demais bebidas que consome. O vinho é estocado em
local de difícil acesso (alto do armário), mesmo afirmando que, em determinadas
épocas do ano, o consumo é diário. Por que o facilitar então o acesso? Vinho
usado para culinária fica guardado na despensa, separado dos vinhos para
consumo, e não é sobra de vinhos abertos.
4.4 Cláudio
Perfil: Homem, 54 anos, casado, engenheiro aposentado, atualmente consultor,
leigo. Mora com esposa e com duas filhas (27 e 25 anos). Filho mais velho (30) o
mora com os pais, mas freqüenta bastante a casa durante toda semana.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
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Bebe café com leite, no café da manhã; suco, refrigerante ou água nas demais
refeições. Não consome bebidas alcoólicas no dia-a-dia. Vinho é consumido apenas
nos finais de semana, quando a família está reunida, ou em ocasiões especiais,
como aniversários e comemorações. Em festas para muitas pessoas, prefere servir
uísque.
b) História da vida
Pai não era de beber, mas quando bebia, era vinho. Mãe gostava de vinho, mas não
bebia muito. Em casa tinha muito pouca bebida. Vinho em algumas ocasiões
especiais. Quando criança, vinho era a bebida típica do Natal, comprava-se tonel de
vinho e se preparava para festa: engarrafando os vinhos, tirando do tonel, botando
na garrafa, botando rolha. Ritual estimulou o consumo de vinho. Durante a
adolescência, não bebia muito vinho. Depois da formatura, voltou a ter contato com
pessoas que apreciavam vinho e voltou a beber com amigos. Depois, decido a uma
viagem para Espanha, aumentou o consumo de vinho, passou a ter contato com
vinhos de qualidade e ter maior prazer em degustar a bebida.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? Compra por oportunidade, sem planejamento, ou quando acaba estoque
em casa. Compra também quando organiza festas e o estoque de vinhos em casa
não combina com o evento. Pode comprar sem estar precisando e os guarda para
“eventualidades”.
Compra
Quem? Quando? Ele mesmo compra, em supermercados (Zona Sul) ou casas
especializadas (Lidador e Casa do Porto). O filho às vezes compra no Castelo do
Vinho e traz para o pai. Escolhe os locais de compra por facilidade, proximidade de
casa ou do local onde está. Costuma ir a pé se está perto de casa, usa carro se
grande deslocamento. Compra uma ou duas vezes por mês. Sempre garrafas.
comprou caixas para ter preço mais baixo, mas nunca meia garrafa ou garrafão de
57
cinco litros. Compra queijos junto com os vinhos. O filho ajuda na seleção dos
vinhos.
Transporte
Normalmente vai às compras a e traz vinhos na mão. O peso é um
inconveniente, mas sempre arruma um jeito de comprar. Gasta de dez a quinze
minutos porque compra perto de sua casa.
Estoque
Vinhos são guardados em um armário na cozinha, “que é provisório”. Pretende fazer
outro armário ao lado da geladeira, para guardar vinhos e outras bebidas. Hoje,
outras bebidas ficam em armário na sala. Foram observados vinhos abertos na
geladeira. Sua única preocupação é sempre manter vinhos deitados, para não deixar
ressecar a rolha, não entrar oxigênio e consequentemente oxidar e “avinagrar” o
vinho. Não os mantém no sol. Não os mantém do lado do fogão. Não mantém o
vinho na temperatura ideal porque precisaria comprar adega climatizada, o que é
muito caro (“ainda não cheguei neste estágio”).
Preparação para Consumo
Refrigera os vinhos brancos e também os tintos. Às vezes, abre o vinho com uma
hora de antecedência para oxigená-lo, mas não percebe grande diferença por isso
normalmente abre um pouco antes. Escolhe o vinho a ser aberto, às vezes com
ajuda do filho. Em festas e comemorações, a preparação começa mais cedo.
O ritual normal é abrir o vinho, sentir o aroma dele, beber um pouco para ver se não
“avinagrou”. Filho cheira muito para sentir o aroma.
Tem taças específicas para vinhos diferentes (tinto ou branco). Não possui objetos
mais sofisticados, como adega climatizada e rolha sob pressão para garrafas
abertas, mas gostaria de tê-los.
Consumo
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Sua bebida preferida é vinho, que é consumido normalmente nos finais de semana
com esposa. Prefere beber no jantar porque depois dorme com mais tranqüilidade,
“vinho sono”. Evita tomá-lo se depois vai dirigir ou viajar. Também evita misturar
vinho e cerveja. Acredita que as refeições ficam mais gostosas com vinho. Seus
acompanhamentos preferidos são, além das refeições, queijos, pastas e snacks.
Marcas e Efeito País
Prefere os vinhos italianos, seguidos dos espanhóis (viajou muito a trabalho para
Espanha). Gosta dos vinhos franceses, Bordeaux e Côte du Rhône. Passou a tomar
argentinos recentemente, e começou a experimentar os chilenos por modismo. Os
vinhos nacionais “não são tão gostosos quanto os outros”, mas “melhoraram
bastante”.
Não tem uma marca preferida e não consegue gravar todas as informações dos
vinhos que gosta: vinícola, safra, uva, etc. A marca não varia por situação, apenas
se certifica que o vinho combina com a comida.
Descarte
Não guarda nem a garrafa nem a rolha. Os vinhos consumidos pela metade vão
para geladeira. Mantém uma ou duas rolhas independentes para fechar vinhos
quando a rolha original estraga e descarta as demais. Não coleciona nem rolhas
nem rótulos. Filho tem o hábito de guardar as rolhas dos vinhos que bebe, por isso
às vezes leva a rolha para sua casa.
d) Peculiaridades
Apesar de afirmar que seu hábito influenciou o consumo do filho, percebe-se que, na
verdade, os hábitos do filho parecem influenciar consideravelmente os seus. Afirma
que os vinhos vão para geladeira apenas horas antes do consumo, que
normalmente ocorre nos finais de semana, mas foram encontradas duas garrafas na
geladeira em uma quarta feira, possíveis sobras do final de semana anterior.
59
4.5 Elaine
Perfil: Mulher, 53 anos, casada, jornalista, leiga. Mora com marido (49 anos). Não
tem filhos e possui casa de campo onde passa quase todos finais de semana.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
Alimentação é orientada por nutricionista, mais regrada durante a semana, mais
permissões nos finais de semana. Em dia comum, bebe café, água mineral, e
alterna refrigerante light com mate diet. Evita vinho porque causa sonolência. E
ocasiões especiais? Champagne, vinhos e licor, que não precisam ser datas
tradicionais, como Natal, mas simples reuniões com amigos e parentes ou um fim de
semana normal.
b) História da vida
Lembra que os pais bebiam licores. Pai bebia vinho e sempre tomava uísque com
guaraná, mãe tomava mais cerveja e apreciava champagne e vinho ocasionalmente.
Tem um parente que começou a fabricar um determinado tipo de vinho nacional e
ele levava as garrafas para sua casa. Era um vinho licoroso, chamado Lágrima
Christi.
Consumo de bebidas alcoólicas foi influenciado pela profissão (“jornalista bebe
muito”) e pela família de origem libanesa, que aprecia sempre sentar em volta de
uma mesa com “uma boa comida e uma boa bebida”. Vinho era um presente comum
dado por sua e a médicos e enfermeiros que trabalhavam com seu pai, que era
médico.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? Sempre que adega está vazia ou “pobre” (sem vinhos muito bons) ou em
oportunidade como promoções. Mas também toma decisão no local de compra.
Compra
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Como? Junto com as compras para casa, às vezes por indicação, e sempre em
viagem. Qual? Compra três tipos de vinho: de mesa para cozinhar (vinho às vezes
mais barato, nacional ou em promoção), vinho para ter para dar de presente,
especialmente no final de ano, e vinho para degustação para família.
Onde? Em supermercados (Zona Sul, onde busca marcas razoáveis a preços bons),
sempre está acompanhada do marido, ou em casas especializadas (Lidador).
encomendou com distribuidores, dividindo as caixas com amigos, e também quando
viaja, em aeroportos (onde busca grandes marcas, indicadas ou de preferência
pessoal). Compras são feitas mensalmente.
Escolha da embalagem varia de acordo com situação: caixa para grandes festas, em
distribuidores; para ocasiões mais simples, garrafas; e meia garrafa para consumo
apenas do casal. Vinhos sem selos de importação ou lacre não são comprados.
Prefere marcas tradicionais, não segue moda. Compra sempre outras bebidas, água
ou destilados, se está no aeroporto; e queijos e pães também, além de compras do
cotidiano.
Gosta de comprar vinhos porque lembra celebrações.
Transporte
Compras a ou de carro. Gasta em média de trinta minutos. Usa muito serviço de
entregador. Em caso de festas, vai até distribuidora perto de casa e encomenda
caixas. Sempre pede para colocar uma etiqueta de “frágil”.
Estoque
Mantém pequeno bar na casa do Rio de Janeiro (vinhos observados em pé) e lugar
mais apropriado na casa da serra (foi relatado que vinhos são guardados deitados).
Quando compra grandes quantidades, o bar não comporta, e os vinhos ficam
deitados em outro armário em um dos quartos. Vinhos são guardados com outras
bebidas, inclusive o vinho para cozinhar. Os vinhos abertos também ficam no bar,
não na geladeira. Não mantém vinhos em estoque por muito tempo, tem
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preocupação com qualidade do vinho em local sem climatização adequada. Na
serra, no inverno, coloca desumificador próximo às garrafas para evitar mofo.
Preparação para Consumo
Qual? Ao abrir um vinho, relata ter cuidado com a rolha, o que considera um ritual
com certa “elegância”, assim como cuidado para evitar desperdício (não derramar a
bebida). Também separa copos e guardanapos adequados, além de permitir que as
pessoas com mais conhecimento da bebida provem antes de servir. A refrigeração
depende do vinho (brancos ou tintos), da estação do ano e dos acompanhantes
(conhecedores ou leigos).
Papéis entre homens e mulheres são bem definidos. Homens decidem qual vinho
abrir, abrem as garrafas e servem o grupo. as mulheres escolhem as marcas.
“Mulheres não tomam a dianteira”.
Consumo
Quando? Maior nos finais de semana. Preferencialmente no jantar, com ambiente
caloroso e íntimo que o próprio vinho traz. Bebe menos em suas festas (quer
organizar e estar no centro da organização). Bebe mais se é na casa de outros.
Evita beber no cotidiano de trabalho, pois sonolência e pode te trazer uma calma
excessiva no dia de trabalho.
O objetivo é complementar a refeição, degustar um sabor diferenciado. O vinho
depende da comida e sempre é acompanhado de água. Quando o vinho não
agradou, ela o passa para cozinha.
Marcas e Efeito País
Gosta de conhecer vinhos, primeiro do “meu país”. Admiradora de vinhos nacionais
desde que irmão foi à Vinícola Aurora no Rio Grande do Sul. Gosta dos vinhos
franceses e portugueses, exceto vinhos verdes. Os italianos e chilenos “são muito
secos”. Não conhece muito os vinhos californianos. Não gosta muito de argentinos.
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Sua marca preferida é Monte do Pintor (português). Escolhe marcas por situação:
em festas busca marcas mais nobres, vinhos melhores, para receber bem e agradar
todos os paladares.
Descarte
Maioria das garrafas é descartada. Às vezes, transforma em porta velas se trouxer
lembrança especial, e guarda na casa da serra. Mais jovem, transformava garrafas
de vinho em jarros de flores, cortando o vidro. Garrafas descartadas são colocadas
em caixas ou sacos plásticos com bilhetes alertando para cuidado com vidro.
Garrafas pela metade podem ser consumidas posteriormente, mas não são mais
oferecidas a nenhum convidado.
Algumas rolhas são guardadas (recordação ou enfeite), mas maioria é descartada.
Já guardou rótulos, mas não mais.
d) Peculiaridades
Os melhores vinhos ficam na casa de serra, não no apartamento do Rio. Considera
clima da serra mais apropriado por isso seus esforços de armazenagem e escolha
dos vinhos são sempre para casa de serra.
Vinhos de festa se tornam vinhos para cozinhar com o tempo, e ficam armazenados
no mesmo local das demais bebidas alcoólicas. Pouco espaço destinado a bebidas
no apartamento do Rio.
4.6 Estela
Perfil: Mulher, 33 anos, solteira (mas noiva), especialista em comércio exterior,
conhecedora. Possui duas casas: um apart-hotel no Rio de Janeiro, onde mora o
noivo, e um apartamento em Vitória, onde mora. Finais de semana são alternados
entre Rio de Janeiro e Vitória.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
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Bebe café com leite pela manhã e vinho no almoço e no jantar, geralmente
acompanhado com água com gás. Não associa bebidas a datas especiais, “todo dia
é um dia especial”. Bebe champagne sempre que tem vontade. Não guarda os
vinhos bons para ocasiões especiais. Não existe diferença no consumo de bebidas
durante a semana e nos finais de semana, muda apenas a companhia do noivo.
b) História da vida
Pai gostava de vinho, uísque e cerveja. Forte lembrança da sangria, vinda da
descendência espanhola, que sua mãe aprendeu a fazer com sua avó. Não acredita
que consumo dos pais tenha influenciado o seu.
Hoje consome bebidas que não podia pagar quando era mais jovem. O noivado
também influenciou seu consumo (aumentou a freqüência). Seu noivo gosta muito
de uísque, mas Estela detesta, por isso “abre a garrafa de vinho antes que ele
comece a beber uísque”.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? Sempre que está no supermercado ou o estoque está baixo. Vinho para
presente é “uma única garrafa de vinho melhor”. Para festas, decide pela preferência
dos amigos.
Compra
Estela ou o noivo também compram direto com importadoras, têm amigos no ramo.
Quando vinhos acabam antes do pedido chegar, compra em delis ou
supermercados. Casas especializadas (Casa do Porto, Mercador) para as
compras realmente especiais.
Compra no mínimo doze garrafas por vez, seja em caixas ou garrafas avulsas.
comprou meia garrafa quando queria “incentivar o vinho no lugar do uísque” para o
noivo, ou quando estava sozinha. Agora, com mais conhecimento, para
acondicionar sobras sem perder o sabor por isso não compra mais meia garrafa.
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Diferentes situações demandam diferentes quantidades, mas sempre prefere as
caixas.
Sempre compra água com gás junto com o vinho (de marca, Pellegrino ou Perrier),
diferentes tipos de queijos ou tábuas de frios, encomendadas em delis (em caso de
festas). A opinião do noivo é considerada na compra para ser “democraticamente
correta”.
Transporte
Sempre vai de carro, e gasta pouco tempo porque procura ir sempre perto de casa.
Reconhece os riscos do transporte (não estar exposto à mudança de temperatura,
não balançar muito, risco de avinagrar). Cuida apenas das garrafas para não
quebrarem no transporte. deixou de comprar quantidade desejada por causa do
transporte.
Estoque
Múltiplos locais em toda a casa no Rio de Janeiro, todos improvisados, mas
cumprem os requisitos: garrafas na horizontal, sem sol ou longe de fontes de calor
(fogão). A intenção é “ter uma adega climatizada”. Os vinhos abertos ficam no
balcão da cozinha.
Preparação para Consumo
Em dias muito quentes, resfria vinho no balde de gelo, nunca na geladeira. Vinho é
escolhido por quem está com mais vontade de bebê-lo. A preparação dura em
média dez minutos. O noivo abre o vinho, Estela arruma as taças, comidas e local
de consumo. Quando tem tempo, limpa taças com álcool e decanta o vinho. Acredita
que preparativos preparam psicologicamente para degustação dos vinhos.
Usa taças universais, pois não tem espaço para guardar as taças de cada tipo de
vinho. Possui outros objetos, como utensílio para não pingar vinho na mesa,
termômetro para checar resfriamento do vinho. Mas não são muito usados por falta
de tempo e acha necessário aprimorar seu conhecimento de como usá-los.
65
Consumo
Bebe vinho todos os dias, em todas as situações. É sua bebida preferida. Aprecia
mais no jantar porque pode beber sem restrições de sono após consumo. No
almoço, bebe só uma taça para evitar sonolência.
Vinho sempre é acompanhado de água com gás. Não restrições de comida,
inclusive em churrascos.
Marcas e Efeito País
Gosta dos vinhos chilenos porque são encorpados e por causa da uva carmenère,
típica do país. Vinhos nacionais alteram entre excelente e vinhos populares. Não
gosta do vinho italiano, acha fraco e aguado. Gosta dos franceses, mas consome
pouco (muitos brancos, não gosta). Descobriu os vinhos argentinos, malbec, tem
consumido muito. Visitou algumas vinícolas na Califórnia e gostou de seus vinhos.
Marcas não são selecionadas de acordo com situação. Existem marcas proibidas
como Château Duvalier e Caliterra.
Descarte
Não guarda nem garrafas nem rolhas. Separa as garrafas do lixo comum por ser de
vidro. guardou rolhas, mas não mais. Garrafas consumidas pela metade são
guardadas com rolhas especiais, que têm uma vedação correta para não perder o
vinho.
d) Peculiaridades
Possui uma bolsa especial para levar até três garrafas de vinho e abridor. Usa
normalmente para garantir seu vinho em eventos que sabe que não terá vinho,
inclusive para churrascos.
Compra todo tipo de objetos associados a vinho, objetos profissionais e objetos
apenas decorativos, como rolhas com enfeites. Não usa mais da metade dos objetos
66
que compra, alguns nem sabe como usar. Compra à medida que passou a gostar
mais de vinhos.
Apesar de se preocupar com qualidade dos vinhos que bebe, mantém vinhos de pior
qualidade que ganhou em cestas de Natal. Os vinhos disputam o espaço do armário
com o uísque do noivo, assim como com demais bebidas alcoólicas. Muitos vinhos
brancos na geladeira, mesmo tendo afirmado que todo vinho é refrigerado apenas
com balde de gelo.
4.7 Ronaldo
Perfil: Homem, 33 anos, casado, engenheiro, conhecedor. Mora com a esposa (33
anos), grávida do primeiro filho. Fez o curso básico e avançado da ABS (Associação
Brasileira de Sommeliers), integrante de grupos de degustação e participa de
discussões sobre vinhos, com menor freqüência desde a gravidez de sua esposa.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
Bebe café com leite pela manhã. Muito suco em casa devido à gravidez da esposa.
Antes da gravidez, bebiam vinho juntos, agora bebe sozinho, por isso a freqüência
caiu. Bebe refrigerante ou mate no almoço, nunca suco, e café depois da refeição.
Evita bebidas com cafeína em casa, também por causa da gravidez da esposa.
Refeições durante a semana são mais simples, menos elaboradas tanto na escolha
das bebidas como na preparação da comida.
b) História da vida
Pai bebia cerveja e uísque, mãe (francesa) bebia vinho e champanhe, cerveja
também, mas menos. Mãe sempre bebeu vinho com mais freqüência, por isso teve
mais contato e despertou interesse pela bebida. Pai estimulou a experimentação do
vinho.
Consumo de vinho foi também influenciado por amigo que fez curso na ABS, atraído
por história e informações sobre vinho.
67
Quando jovem, vinho apenas em ocasiões especiais, hoje bebe com maior
freqüência. Vinho passou para o dia-a-dia recentemente. Casamento permitiu o
consumo cotidiano de vinho, pois sozinho era mais difícil. Hoje, segue as restrições
da gravidez junto com esposa.
três anos, fez o curso de vinhos da ABS. Gastronomia também lhe agrada,
passou a se interessar mais pelo vinho devido à combinação com a gastronomia.
Ele percebeu um resultado na melhoria da qualidade do que comia e bebia. Após
curso, entrou para grupo de degustação quinzenal, onde ficou por um ano e meio.
Centro de interesse é gastronomia, o vinho é complementar.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? Não tem nenhum vinho em casa. Não mantém um estoque grande, mas se
está zerado ou próximo de zerar, desperta a necessidade de compra. Quando
decide fazer um almoço em casa, pensa em um tipo de comida e escolhe o vinho
apropriado.
Escolhe o vinho como presente quando é uma pessoa que aprecia vinho, mas que
não têm tanto costume de beber, ou quando o tem muita referência, pessoa mais
distante e normalmente mais velha.
Normalmente, voltando do trabalho para casa, passa por várias opções de lojas de
vinho no caminho, e compra mesmo que não beba no mesmo dia. Ocasionalmente
no final de semana, quando decide fazer um almoço diferente, pensa no vinho e sai
para comprar.
Compra
Raramente sua esposa compra, Ronaldo é o responsável. Compra normalmente em
Botafogo, na Cobal do Humaitá, onde tem várias lojas, incluindo uma mais
especializada, com vinhos mais caros, de melhor qualidade, e outras boas também,
onde compra com mais freqüência. Outra loja freqüentada é Alipão, mais distante de
sua casa. Outros lugares são: supermercados (desconfia da maneira como
68
armazenam o vinho); Lidador, com menor freqüência; nas reuniões trimestrais da
ABS, com fornecedores que entregam em casa. É muito raro comprar direto de
importadora. Escolhe os lugares em função da carta de vinho (variedade), preço
(para compra de vinho “padrão”), risco devido à conservação do vinho na loja
(exposição ao sol), pessoas conhecedoras que trabalham na loja e que dão boas
sugestões (hoje menos importante, pois já conhece bastante).
Compra a cada duas semanas, antes da gravidez da esposa comprava toda
semana. Normalmente, prefere garrafas (para finais de semana e situações
especiais) ou meia garrafa (para durante a semana). Raramente compra caixa (às
vezes para festas), e sempre o faz através de uma importadora. Não compra
garrafas de formatos estranhos, pois desconfia da qualidade. Gosta de ter variedade
em casa para comparar os vinhos.
Transporte
Faz compras a pé, sempre próximo de casa, é muito difícil ir de carro. Não se ao
trabalho de sair de carro, prefere aproveitar uma oportunidade na rua para comprar
os vinhos. Gasta em média de cinco a dez minutos. Não considera ter
inconvenientes porque compra em pouca quantidade, mas limita as compras devido
ao peso das garrafas.
Estoque
No armário da cozinha, guarda tudo sobre vinho: decanter
2
, objetos, livros e mala de
transporte. Os vinhos ficam em “colméia” logo abaixo do armário. Sempre mantém
um vinho de cada tipo no estoque (espumante, tintos, brancos, sobremesa).
Espumantes, vinhos abertos e vinhos prestes a serem consumidos ficam na
geladeira. Existe preocupação com exposição ao sol. Meias garrafas sempre são
guardadas diretamente na geladeira. Nada quente ou de cheiro forte junto. Alguns
vinhos ainda não estão prontos para consumo.
2
Frasco, de vidro fino ou cristal, com a base bem larga, semelhante a uma licoreira. Serve
simultaneamente para as funções de decantação e respiração do vinho.
69
Preparação para Consumo
Resfria os vinhos cerca de duas horas antes do consumo. Usa decanter apenas
para os vinhos melhores, durante quinze a vinte minutos antes, na sala onde todos
possam ver, e neste momento explica o que é o decanter. Usa dispositivo para não
pingar o vinho na hora de servir e faz a degustação antes de servir, sempre. O vinho
é escolhido de acordo com a comida. Pede opinião de amigos conhecedores na
hora de servir, e oferece opções. Usa taças ISO, de bordas finas, que o usadas
em concurso e são válidas para qualquer tipo de vinho. Possui maleta para o
transporte das garrafas.
Consumo
Sempre em refeições, a não ser espumante que pode ser servido em
comemorações. Água acompanha o vinho. Prefere beber durante o jantar, por ser
mais fresco. Em geral, bebe uma vez por semana.
Em reuniões de amigos que apreciam o vinho, serve vinhos “mais interessantes”. Se
forem convidados que gostam muito, procura ter mais de um vinho: um espumante
de entrada, um vinho principal e um vinho de sobremesa.
Evita beber quando está cansado, com dor de cabeça ou sozinho. Vinho não
combina com feijoada, sopa ou comida muito temperada.
Marcas e Efeito País
Gosta dos argentinos, chilenos e portugueses, dada à boa relação custo/benefício.
Bons franceses e italianos vendidos no Brasil são caros. Considera os franceses os
melhores, mas são caros. Reconhece o risco financeiro desta compra (para gastar
muito com uma garrafa, com indicação). Os vinhos chilenos e argentinos são
ideais para o cotidiano: bons e baratos. Os vinhos italianos são considerados
arriscadíssimos, pois são muito caros e nem sempre de bons. Considera os vinhos
nacionais caros para a qualidade que oferecem. os americanos são razoáveis,
porém mais caros que a média.
70
Reconhece as vinícolas que produzem bons vinhos, mas não é fiel a uma marca,
gosta de experimentar. Desconfia de premiações que encarecem vinhos não tão
bons. Existem marcas rejeitadas: Liebfraumilch (garrafa azul), vinhos muito baratos
(preço entre R$ 10 e R$12)
Descarte
Joga fora as garrafas (coleta seletiva no prédio), mas guarda as rolhas dos bons
vinhos. Para garrafas parcialmente consumidas, usa vacu-vin
3
, para retirar ar da
garrafa antes de guardá-la na geladeira. Se não consome em no máximo cinco dias,
usa vinho para cozinhar.
d) Peculiaridades
Muitos espaços vazios onde poderiam ser armazenados mais vinhos, apenas cinco
espaços ocupados. Local de armazenagem do vinho é recente.
Existe hierarquia na organização dos vinhos no local de estoque. Uma entre cinco
posições recebe sol pela manhã. Nesta, fica sempre um vinho de pior qualidade. Na
geladeira, mantém estoque permanente de espumante, além do vinho que será
consumido no mesmo dia. (falta alguma coisa)
As rolhas ficam na sala, mas possui um “armário do vinho” na cozinha. Porém, saca-
rolhas não ficam no armário do vinho, mas na gaveta porque “esse é o lugar dele”.
Tem objetos que nunca são utilizados porque são feios, mas mesmo assim os
guarda no armário do vinho.
3
Vacu-vin, em francês, ou bomba a vácuo, em português, trata-se de uma pequena bomba que
possui um êmbolo (semelhante ao de uma seringa de injeção) e permite a retirada do ar da garrafa
por sucção e criando vácuo. Este dispositivo permite que o vinho seja conservado na porta da
geladeira ou em local bem fresco, por muito tempo.
71
4.8 Clara
Perfil: Mulher, 55 anos, casada, livreira/jornalista, conhecedora. Mora com marido
(57 anos), filho (28 anos) e filha (23 anos). Fez o curso básico da ABS e outros
específicos (vinhos por região), é integrante de um grupo de degustação mensal.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
No café da manhã, bebe café puro, preto sem açúcar. Bebe muita água ao longo do
dia. Às vezes, bebe vinho no almoço (uma taça), ou então água. Antes do jantar, às
vezes bebe espumante, mas se está sozinha, prefere um copo de uísque (“é a
bebida de jornalista, a mais solitária das bebidas”). No jantar, sempre serve vinho se
mais de uma pessoa. Após o jantar, não tem bebido café e prefere o vinho de
sobremesa ao licor. Cerveja bebe somente na praia, jamais nas refeições. Gosta de
degustar cachaças, sempre antes da refeição, mas bebe pouco por ser muito forte.
Em geral, gosta de bebidas alcoólicas (caipirinhas, dry martini, pisco).
Escolhe as bebidas em função dos gostos pessoais dos amigos. “Durante a semana,
refeição é necessidade; final de semana é prazer”, tem mais tempo, degusta vários
tipos de vinho na refeição.
b) História da vida
Os avós italianos tomavam vinho. Quando as crianças choravam muito, colocavam
um pouco de vinho no bico da mamadeira, para acalmá-los. Sempre se bebeu muito
em sua casa. O avô trabalhava com exportação, então tinha sempre muita bebida
em casa. Não se lembra de cerveja em sua juventude. Refrigerantes (guaraná
champanhe) eram servidos somente em festas infantis, nunca nas refeições. Os
sucos eram obrigatórios, para saúde. Nas ocasiões especiais, serviam vinho.
Na adolescência, preferia as bebidas doces com leite condensado “para moças”.
Preferia gim tônica e espumante. Tem trauma do vinho branco, é da geração
Liebfraumich, “o alemão que vinha do Marrocos”. Hoje demanda qualidade das
bebidas, o que não fazia quando era jovem.
72
Seu ambiente de trabalho influenciou consumo de bebidas: não tinha o costume de
beber muito, mas seus colegas jornalistas bebiam muito uísque. O casamento
também influenciou: companhia do marido estimula a beber. Seu marido fez curso
da ABS, o que mudou os hábitos da casa. Depois, Clara e a filha também fizeram o
mesmo curso.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? O vinho branco e espumante compra quando percebe que estoque está
baixo. o vinho tinto é comprado por oportunidade, que tem muito mais opção
de tinto do que branco ou espumante. No ambiente do curso de vinho, conheceu
alguns fornecedores que ligam para informar a chegada de novos produtos. Sempre
que possível, aproveita a oportunidade de comprar caixas para dividir com um
grupo.
Em caso de festa, a escolha depende dos convidados. Se for para “a turma do
vinho”, normalmente não se preocupa porque os amigos trazem o próprio vinho. Por
princípio, o dono da casa apenas o espumante. Se for para outras pessoas, não
investe em vinhos espetaculares, porque as pessoas não vão sentir a diferença,
então escolhe pelo preço. O planejamento de compra depende menos da
necessidade de compra e mais de lançamentos de novos vinhos no mercado, da
possibilidade de aproveitar compras conjuntas com amigos, ou de promoção de
distribuidores.
Compra
Compra sempre que vai ao mercado. Gosta do Zona Sul porque tem especialista na
loja com quem pode trocar idéias. Também freqüenta lojas especializadas, como
Alipão e Casa do Porto (esta em função da proximidade do local de trabalho).
Clara e o marido são os principais compradores de vinho da casa, mas seus filhos
também compram esporadicamente (sempre quando fazem viagens ao exterior).
73
Busca lojas com especialistas que apresentem as novidades e troquem informações
sobre os produtos (“porque para o que você conhece, (...) você não precisa de
ninguém para me dizer se é bom”), e lojas onde é permitida a degustação antes da
compra, “porque (...) o lugar que você pode provar o vinho que você vai comprar,
um diferencial. É quando você ganha confiança”.
As compras o semanais, mas podem ser feitas por impulso, quando existe uma
oportunidade. Geralmente Clara compra caixas e divide o conteúdo com amigos.
Não compra nunca meia garrafa, “ainda é muito complicado você comprar aquela
garrafinha pequena. O custo/benefício dela é absurdo, não vale a pena”. A
comunicação visual da embalagem influencia suas decisões: “às vezes é complicado
porque tem um negócio de muita cor, muito dourado. Tem vinhos ótimos, mas eu
tenho uma rejeição inicial clara”.
Transporte
Preferencialmente manda entregar em domicílio (“é a forma mais cômoda”) para não
se preocupar com os cuidados necessários no transporte das garrafas. Se o for
possível, pede uma caixa para as garrafas, para facilitar o transporte.
Estoque
Os vinhos são armazenados em adega climatizada e em estante da cozinha. Apesar
da climatização da adega, buscou-se o local mais frio e úmido da casa para sua
localização. Os vinhos tintos ficam em cima, os brancos embaixo, e os vinhos
considerados “poderosos” escondidos atrás das demais garrafas, para evitar que
sejam abertos por acidente. Na geladeira, ficam apenas vinhos abertos.
Preparação para Consumo
Resfria os vinhos no balde de gelo antes do consumo. Usa decanter para os vinhos
“poderosos” ou quando recebe amigos. Acredita que os amigos gostam de ver os
rótulos, por isso não usa decanter com freqüência.
A escolha das taças é importante e varia de acordo com a situação (as taças
“poderosas” apenas para grupo do vinho, nunca são usadas em festas). Lava as
74
taças com detergente neutro e não seca jamais com pano de prato, apenas coloca
de cabeça para baixo até secar (“porque vinho com fiapo ninguém merece”).
O vinho é escolhido de acordo com a comida. Seu marido é responsável pelos
“serviços do vinho”. Gosta de mostrar a garrafa aos convidados antes de servir,
como garçom de restaurante, e contar a história do vinho (“antropologia do vinho”).
Possui vários tipos de abridores e taças diferentes por tipo de vinho. Reconhece que
a preparação do vinho requer um investimento alto.
Consumo
Preferencialmente bebe em refeições, mas evita servir em festas (“ficar servindo
vinho branco para cinqüenta pessoas é complicado”). Sempre tomou vinho,
principalmente com comida italiana, mas após o curso passou a curtir o prazer da
descoberta de novos vinhos.
O consumo é diário. É imprescindível para acompanhar carnes “gordurosas”
(cordeiro, cabrito, churrasco), pois ajuda a equilibrar a refeição. Evita o consumo se
está triste. Acha que vinho não combina com salada verde, comida japonesa e
ceviche chileno.
Marcas e Efeito País
Tem mais confiança no vinho francês, mas considera inacessível no Brasil (os bons
vinhos são caros demais). Alguns chilenos e argentinos são muito bons, mas estão
muito parecidos, com pouca diferença entre eles, é difícil encontrar algo especial.
Aprecia os italianos e californianos, mas reconhece que os “bons” não são vendidos
no Brasil ou são muito caros. Vinhos nacionais melhoraram muito, mas os
melhores ainda não são vendidos nos supermercados do Rio de Janeiro.
A classificação da qualidade por país acabou. Existe agora universalização do vinho,
que se tornou uniforme (principalmente para os vinhos chileno, argentino e
americano): “Você toma e não reconhece mais. Todos eles estão num padrão”.
Descarte
75
Lava as garrafas antes de jogá-las fora. Guarda os rótulos dos vinhos que mais
gosta, usa-os inclusive para decoração. Prefere guardar o rótulo e não a rolha (“tem
mais informação sobre o vinho”). Em situações especiais, pede aos amigos que
escrevam na rolha. Para as garrafas parcialmente consumidas, usa vacu-vin, para
retirar o ar da garrafa antes de guardá-la na geladeira. Se não gostou do vinho, usa
para cozinhar.
d) Peculiaridades
Leva suas taças consigo, pois acredita que muitos restaurantes não tenham taças
adequadas. Tenta organizar a adega por categoria de vinho (brancos e tintos), mas
também possui regra para esconder os vinhos “poderosos” (ficam deitados atrás dos
“normais”), que não podem ser consumidos por engano. Deixa os preços nas
garrafas, como forma de identificar o tipo de vinho.
Se o vinho foi um presente, então deve ser tomado com a pessoa que presenteou.
Pesquisa informações sobre vinhos em livros, Internet e revistas. Possui muitos
livros e lê todos. Mas acredita que apostilas do curso ABS são muito mais funcionais
que livros, que são muito repetitivos. Vinho é um tema forte na decoração da casa.
Vinhos escolhidos para cozinhar não são ruins, procura usar resto de vinhos
consumidos: aprendizado do curso. Mantém um saco de gelo no freezer
especialmente para gelar o vinho no balde.
4.9 Patrícia
Perfil: Mulher, 29 anos, casada, economista, leiga. Mora com marido (33 anos), não
tem filhos. Marido já fez curso de vinho e ela faz cursos de gastronomia.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
Bebe mate ou chá pela manhã, raramente café. Também prefere mate ou água nas
demais refeições. Evita os refrigerantes e não gosta de cerveja. Vinho e espumante
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bebe em ocasiões especiais. Em situações informais, bebe caipirinha ou Sminorff
Ice, pois vinho dá sonolência: “não é a bebida para esse tipo de social”.
b) História da vida
Seus pais bebiam muita água tônica. Pai é argentino e gosta muito de vinho.
Sempre serviam vinho e espumante em ocasiões especiais. Não gostavam de
cerveja, só vinho, o que afetou suas preferências por bebidas alcoólicas.
Seu interesse por vinho começou na adolescência, como opção alternativa à
cerveja. O consumo aumentou por influência do marido, que fez curso na ABS, e
incentivou a procura por viagens para regiões vinícolas.
Recentemente, fez alguns cursos de gastronomia, o que lhe despertou interesse em
entender como harmonizar comida com vinho.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quem? Normalmente, a iniciativa parte do marido. Quando? Se “problemas no
estoque”. Necessidade de compra é despertada quando planeja uma refeição
diferente (por exemplo, quando recebe visitas), com vinho no cardápio, ou quando
percebe que possui somente vinhos “especiais” (mais caros trazidos de viagens ao
exterior, guardados para ocasiões especiais).
Normalmente, voltando do trabalho para casa, passa por várias opções de lojas no
caminho, compra mesmo que não seja para beber no mesmo dia. Ocasionalmente
no final de semana, quando decide fazer um almoço diferente, pensa no vinho e sai
para comprar.
Compra
Compra normalmente no supermercado Zona Sul ou no Lidador (loja especializada).
Escolhe estes lugares em função da oferta dos produtos de melhor qualidade.
77
Compras são mensais, mas não junto com compras do s. Normalmente, escolhe
garrafa de 750 ml, jamais meia garrafa (acha pouca quantidade para consumo do
casal) e raramente caixa (“só aconteceu em viagem”), porque gosta de variar.
Transporte
Compras são feitas a no supermercado de bairro, próximo de casa, ou de carro,
em supermercados maiores ou shopping. Caso perceba que o volume das compras
possa dificultar o transporte, solicita o serviço de entrega.
Estoque
Possui uma adega climatizada, que foi escolhida por organizar melhor as garrafas e
manter a temperatura adequada. Adega é usada para guardar inclusive garrafas de
outras bebidas, como uísque e vodca. Garrafas abertas também são guardadas na
adega, que possui local especial (inclinada para evitar derramamento da bebida).
Preparação para Consumo
Não resfria os vinhos por acreditar que temperatura da adega é ideal para consumo
de vinhos tintos. Os vinhos brancos são resfriados no congelador por cerca de meia
hora antes do consumo. Não usa decanter, apenas removedor de lacre além do
saca-rolha. O vinho é escolhido de acordo com a ocasião: existe distinção entre dia-
a-dia (vinhos jovens) e comemorações (melhores safras, vinhos mais caros). Não
possui taças por tipo de vinho (diferente apenas a do espumante).
Seu marido sempre abre as garrafas, pois “tem mais prática”. Também é o
responsável pela compra de qualquer objeto relacionado (saca-rolha, balde, etc).
Consumo
É evitado quando está de dieta. Normalmente serve vinho para acompanhar ocasião
especial ou uma refeição diferente (novos pratos).
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Água sempre acompanha o vinho. Prefere beber durante o jantar, por ser momento
de descanso. Bebe normalmente uma vez por semana. Gosta de beber sozinha com
o marido e também servir quando recebe amigos em casa.
Para ela, vinho não combina com churrasco (com carne sim, mas não com o
conceito de churrasco), arroz e feijão, e nem pode ser consumido junto com
refrigerante.
Marcas e Efeito País
Gosta dos argentinos e dos chilenos dada à boa relação custo/benefício. Os
franceses são sinônimos de qualidade, “top de linha”; conhece pouco os italianos,
por isso não os compra. Nunca compra vinhos nacionais. o acredita que os
vinhos americanos são de qualidade, além de serem caros.
Gosta de comprar de vinícolas que conhece, principalmente argentinas (fez viagem
recente à região vinícola de Mendonza). Conhecer a vinícola é mais importante que
selo de qualidade. Tem marcas específicas para consumo do dia-a-dia (Santa Julia),
assim como marcas rejeitadas (como o nacional Almadém).
Descarte
Joga fora as garrafas, mas guarda as rolhas de todos os vinhos para fins decorativos
(tem um baú na sala de estar). Patrícia é quem joga fora as garrafas.
d) Peculiaridades
Contradição em termos de preferência: “sou mais de vodca”, mas afirma que bebida
preferida é o vinho.
Adega é usada para guardar inclusive garrafas de outras bebidas alcoólicas, como
uísque e vodca, mas nunca para sucos ou água.
Mantém hierarquia na organização da adega: vinhos melhores em cima, vinhos de
consumo diário em baixo. Taças não são tão organizadas: são dois armários
separados. Deseja juntar tudo, mas diz não ter espaço suficiente.
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4.10 Antônio
Perfil: Homem, 32 anos, casado, funcionário público, leigo. Mora com esposa (28
anos), não tem filhos. Ambos estão licenciados do trabalho, ele faz mestrado, ela
doutorado. Já visitou vinícolas na França, onde fez degustação com a esposa.
a) Práticas diárias e cotidianas relacionadas a bebidas
Bebe leite achocolatado pela manhã, muito refrigerante durante almoço e sucos no
lanche da tarde e jantar. Após o jantar, às vezes bebe vinho do Porto. Normalmente
bebe vinho nas noites de final de semana (sexta e sábado), em eventos
comemorativos ou em momentos de relaxamento, enquanto a cerveja é mais
consumida em alguns eventos específicos (como quando assiste a jogos de futebol).
Todas as refeições, exceto café da manhã, o feitas na sala onde tem televisão.
Nos finais de semana, as refeições o mais elaboradas, procura-se fazer pratos
diferentes, mas sempre na sala de televisão.
b) História da vida
Seus pais não bebiam bebidas alcoólicas, mas muita água e sucos nas refeições.
Refrigerantes eram permitidos apenas nos finais de semana ou em festas.
O casamento mudou seu consumo de vinho, pois antes não tinha o hábito. Começou
ainda na fase de namoro, em jantares fora de casa, quando gostava de provar
vinhos. Hoje gosta de beber vinho, inclusive em casa e com maior freqüência.
c) Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
Quando? “Compro por oportunidade, não por necessidade”. Sempre que vai às
compras, observa oferta de vinhos: se houver um vinho bom com preço bom,
compra. Sempre compra muito em viagens. É raro ficar sem vinho em casa, mas, se
acontecer, repõe estoque.
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Sempre que recebe amigos em casa, oferece vinho por isso se preocupa em
verificar o estoque antes do evento para se certificar que garrafas suficientes
para os convidados.
Escolhe vinho como presente para amigos próximos que vão dar uma festa em casa
ou que convidam para jantar.
Compra
Normalmente, compra em supermercados (Zona Sul) ou lojas especializadas
(Lidador). Os lugares são escolhidos por hábito, mas pode freqüentar outros por
questões de comodidade ou se souber de promoções.
As compras o feitas por Antônio e sua esposa, mensalmente. Normalmente,
prefere garrafas, e raramente compra caixa (somente se for para dividir com outras
pessoas). Falta de variedade da caixa é um empecilho: gosta de experimentar
diferentes sabores. Porém, quando é permitido montar uma caixa com diferentes
vinhos, compra (isso aconteceu em uma vinícola durante uma viagem). Nunca
compra meia garrafa, pois acha que é pouca quantidade para o casal.
Vinhos para presente nunca são comprados em supermercados, por falta de
embalagem adequada. Não compra vinhos especiais para diferentes ocasiões, são
os mesmos vinhos do dia-a-dia.
Gosta de pedir dicas para os vendedores das lojas especializadas, onde costuma
comprar vinhos desconhecidos. Depois de conhecê-los, passa a comprá-los no
supermercado. Não compra vinhos que não tenham especificação do fabricante,
safra e região no rótulo.
Transporte
Compras são feitas sempre de carro. Gasta em média quinze minutos. Cuida para
evitar batida entre os vinhos e as demais compras: às vezes os coloca no banco do
carro. Existe inconveniente maior quando compra em viagem, devido ao peso das
garrafas. reduziu a quantidade de vinhos comprados devido ao transtorno do
transporte.
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Estoque
Mantém sempre vinhos em casa que ficam no armário do quarto de televisão. Os
vinhos ficam em (exceto algumas garrafas deitadas, mais antigas que as
demais), junto às demais bebidas destiladas. Não gosta do lugar e sonha com uma
adega climatizada. O local foi escolhido por ser o mais adequado da casa: não pega
sol, tem temperatura mais amena, mas também por motivos de decoração e
proximidade ao local de consumo. Os vinhos abertos ficam na geladeira, mas é raro
tê-los.
Preparação para Consumo
Resfria os vinhos na geladeira trinta minutos antes do consumo. O vinho é escolhido
de acordo com a comida. A esposa é consultada, mas é Antônio quem decide.
Vontade de experimentar novos vinhos e evitar repetir o mesmo tipo de uva ou o
mesmo vinho seguidamente são outros fatores que influenciam a escolha do vinho a
ser consumido. Em ocasiões especiais, busca-se um vinho também especial (em
geral, mais caro).
Antônio divide com a esposa as atividades de preparação, mas é sempre o
responsável pela abertura da garrafa. Possui taças específicas para vinhos distintos,
além de taças diversas para consumo do casal e consumo em eventos.
Consumo
Quando? Normalmente bebe no jantar dos finais de semana, eventualmente durante
a semana. Sempre está acompanhado da esposa. Bebe em média uma vez por
semana. Água acompanha o vinho às vezes, mas nem sempre.
Vinho não combina com feijoada, comida japonesa, churrasco e biscoitos salgados.
Prefere beber em refeições ou mesmo em lanches (torradas com pastas, frios e
queijos).
Em eventos especiais (aniversário de casamento ou namoro), Antônio prefere vinhos
mais caros, considerados melhores. Para cozinhar, escolhe vinhos baratos ou sobra
de um vinho que não agradou.
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Marcas e Efeito País
Preferência pelos vinhos franceses, argentinos e chilenos. Os franceses são
considerados caros demais, enquanto que os chilenos e argentinos são os mais
consumidos, pois apresentam boa relação custo/benefício. Recebe indicações de
conhecidos sobre os vinhos argentinos antes da compra. Bebe vinho italiano em
restaurantes italianos, para acompanhar pratos típicos (massas). Acha que há pouca
oferta de bons vinhos nacionais. Afirma que já provou, mas quase não compra.
Descarte
Joga fora as garrafas, mas às vezes guarda as rolhas dos vinhos especiais, aqueles
que devem ser lembrados. Guarda as rolhas também para uso futuro, mas ainda
sabe que utilidade: “Um dia eu farei alguma coisas com elas”. Garrafas parcialmente
consumidas vão para geladeira. O vinho aberto deve ser consumido em curto
espaço de tempo.
d) Peculiaridades
Afirma que mantém as garrafas na posição ditada por especialistas (deitada), mas
na verdade apenas as garrafas mais antigas ficam nesta posição. Garrafas que
serão consumidas em a dois meses ficam em pé, em posição decorativa, o que
revela uma hierarquia entre os vinhos: vinhos deitados são melhores, para ocasiões
especiais, demandam mais cuidados; vinhos em pé são para consumo do dia-a-dia.
Local de consumo (sala de televisão) é também o local de preparação, porém todos
os utensílios ficam na cozinha. Possui um balde de gelo que é usado apenas para
decoração, pois os vinhos são resfriados na geladeira.
Possui vários utensílios para preparação do vinho (termômetro, dispositivo para não
pingar vinho ao servir, entre outros), mas não usa no cotidiano, apenas quando
recebe convidados. Reconhece que os utensílios são bonitos, mas não os considera
práticos para uso diário.
Os vinhos trazidos da França nunca foram consumidos, teme estarem estragados
depois de tanto tempo armazenados fora de uma adega climatizada. Espera por
83
uma “ocasião especial”, mas nunca considerou nenhuma comemoração à altura dos
vinhos.
Orgulha-se de não ser um “consumidor xiita de vinho”, comum desde que o vinho
“virou moda”. Considera-se consumidor ponderado de vinho, vinho nunca é centro
das atenções, é apenas um elemento a mais nas refeições, por isso não faz
degustação de vinhos em restaurantes.
84
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste capítulo, se apresentada a análise das práticas do itinerário do vinho
relatadas pelos entrevistados, sempre que possível ligando alguns achados à
revisão literária. O capítulo está dividido em oito itens: decisão de compra, compra,
transporte, estoque, preparação para consumo, consumo, descarte e marca e país
de origem.
Parece interessante observar as diferentes associações positivas que este estudo
exploratório identificou nos diferentes relatos sobre o itinerário do vinho. O consumo
de vinho lembra o quê? São “comemorações” e “festas”, “gastronomia” e
“degustação”, “momentos agradáveis”, “viagens”, “celebrações de boas notícias”,
“ocasiões especiais”, “fuga da rotina”, “tradição” e “história”, “religião”, “aprovação
social”, “presente”, “intimidade”, “exclusividade” e “glamour”.
Associações negativas? Foram poucas as que apareceram nos relatos: “o vinho
sono” por isso “não combina com trabalho” ou com “a rotina”. De certo, situações
que parecem ser um contraponto às comemorações, festas e celebrações. Nesse
ambiente especial, apenas uma das entrevistadas lembrou que “vinho engorda”, o
que não necessariamente é uma percepção dela. Cabe observar que no meio de
tantas associações positivas e até glamourosas, ficam mais difíceis os relatos sobre
aspectos negativos, como o calórico.
5.1 Decisão de Compra
Quando os entrevistados decidem comprar vinho? Algumas entrevistas sugerem que
uma motivação importante para compra é o estoque abaixo do nível aceitável. Qual
seria o nível aceitável? O limite aceitável varia entre os relatos. Alguns não aceitam
ficar sem vinho em casa e o consideram “necessário”. Por que? Clara declara que o
conhecimento levou à dependência e Bernardo, um leigo, declara que em caso de
celebração ou ocasião especial não pode ficar sem ele.
“Uma vez que a gente começou com essa brincadeira [o
curso], nunca a geladeira ficou vazia” (Clara, 55, conhecedora).
85
“É um pouco desconfortante passar pela minha pequena adega
e ver que eu não tenho nenhuma alternativa de vinho (...).
Surge uma ocasião, surge uma oportunidade, uma noticia boa,
agradável, a gente quer celebrar e o tendo o vinho, nem
sempre a gente vai sair para comprar, porque quebra todo o
momento. Então não fico sem vinho em casa” (Bernardo, 62,
leigo).
Outros, embora declarem aceitar “ficar sem vinho no estoque”, sugerem em seus
depoimentos que a falta de vinho pode incomodar e sempre motiva uma nova
compra.
A decisão de compra também aparece das oportunidades, como promoções,
lançamento de novos vinhos e viagens ao exterior (seja para compra em países
produtores ou na loja Duty Free dos aeroportos). Por não ser um produto altamente
perecível, o vinho é um produto que permite que seus consumidores comprem
garrafas mesmo sem saber quando irão consumi-las. Entre os dez entrevistados,
sete relataram decisões de “compra por impulso” no local de venda.
A curiosidade de experimentação de novos vinhos foi espontaneamente declarada
em todos os relatos. As promoções de vendas parecem viabilizar a compra de
vinhos desconhecidos, na medida em que reduzem o risco financeiro da compra,
caracterizado pelo receio de pagar caro por um produto que não conhecem e que
podem não gostar (SHETH et al, 2001, p. 495).
O estudo de Quester e Smart (1998) suportou a hipótese de que preço é o atributo
de maior importância para os consumidores de vinho, independente da situação,
sugerindo que preço é de fato um indicador de qualidade, tanto para consumidores
leigos e como conhecedores. Esta afirmação ajuda a compreender o efeito das
promoções no comportamento de compra dos entrevistados, tanto nos
conhecedores como nos leigos.
Mesmo concordando com a importância do preço na decisão de compra de vinhos,
este estudo exploratório sugere que sua importância pode sofrer modificações a
partir de outras variáveis. O grau de conhecimento sobre vinhos dos convidados e a
86
combinação do vinho com a comida ou a ocasião, por exemplo, foram aspectos
lembrados também para motivar a compra, como mostram os relatos abaixo:
“Eu tenho alguns amigos que apreciam vinho. Se os amigos
que vêm aqui em casa são pessoas que apreciam, eu procuro
vinhos mais interessantes.” (Ronaldo, 33, conhecedor)
“Quando é uma festa para pessoas que não são da turma do
vinho, muda um pouco a compra porque não vale a pena vo
investir num espumante espetacular, porque as pessoas não
vão sentir a diferença.” (Clara, 55, conhecedora)
“Eventualmente, a não ser quando a gente vai preparar alguma
coisa para alguém, eu passo aqui, olho os vinhos. Se não me
interessei pelos vinhos que eu tenho ou não condizem com o
que a gente acha que deve ser (...), então eu saio
especialmente para comprar vinho.” (Cláudio, 54, leigo)
“E para festas, para ocasiões assim que a gente está
recebendo amigos em casa, geralmente a gente sabe as
preferências. Eu, como falei, não gosto muito de vinho branco,
mas eu tenho pessoas que gostam de vinho branco. Então,
esses vinhos que não entrariam na lista normal, passam a
entrar, dependendo dos convidados” (Estela, 33, conhecedora)
Viagens ao exterior, embora possam apresentar também vantagens promocionais,
oferecem a possibilidade de uma maior variedade dos produtos e de consumo de
grandes marcas.
“O momento da viagem é o momento que eu mais gasto. Por
quê? É o momento que a gente consegue aproveitar a ocasião
e comprar as grandes marcas.” (Elaine, 53, leiga)
E quanto à decisão de compras de vinhos para presente? Segundo a lembrança de
alguns entrevistados, o vinho pode se tornar uma boa opção de presente para
87
pessoas que apreciam vinho ou até para pessoas distantes assumindo assim
características de impessoalidade. A decisão de presentear alguém com uma
garrafa de vinho parece estar ligada ao envolvimento de quem presenteia ou de
quem é presenteado com o produto (SOLOMON, 2002, p. 103). Pessoas com
envolvimento muito baixo em relação ao vinho oferecem o risco de não apreciar o
presente, assim como pessoas com altíssimo envolvimento podem não achar
novidade na garrafa de vinho recebida. Os depoimentos abaixo descrevem
situações de compra do vinho como “presente” para pessoas com alto envolvimento
com o produto (conhecedores):
“Eu tenho amigos que gostam de vinhos, então m muitos
vinhos. Então para ele ganhar um vinho qualquer... É mais um
vinho”. (Ronaldo, 33, conhecedor)
“(...) depois que as pessoas sabem que você gosta de vinho,
começam a te dar vinhos.” (Clara, 55, conhecedora)
Alguns outros aspectos interessantes quanto ao ato de “presentear” com o vinho
devem ser comentados: a menção de que o vinho é uma boa escolha de presente
para pessoas não íntimas; a concepção de que o vinho para presente deve ser
“melhor” do que aquele consumido no cotidiano; e a escolha do local de compra do
vinho para presente muitas vezes é associada à possibilidade deste ser embalado
para presente no local de compra, descartando os supermercados como alternativa.
5.2 Compra
Onde os entrevistados compram vinho? Além de supermercados, casas
especializadas (Casa do Porto, Alipão) e importadoras de bebidas (Lidador) foram
citadas como locais de compras freqüentes de vinho. A loja Duty Free localizada nos
principais aeroportos internacionais também foi lembrada.
O supermercado parece ser a alternativa principal para comprar vinhos. Entre as
diferentes cadeias de supermercado, a rede Zona Sul foi indicada por vários
entrevistados como a melhor alternativa, dada sua “variedade”, “conveniência”
(possibilidade de entrega em domicílio) e “proximidade de casa”. Um dos
88
entrevistados, no entanto, apresenta uma desvantagem na escolha deste tipo de
estabelecimento:
“É mais raro eu comprar em supermercado, porque eu fico
muito desconfiado da maneira como eles mantêm o vinho.”
(Ronaldo, 33, conhecedor)
A desconfiança quanto aos cuidados tomados para a conservação dos vinhos nos
supermercados parecem afetar principalmente o que Mitchell e Greatorex (1988)
chamam de risco funcional do produto. rios relatos mostraram preocupação com
garrafas de vinho expostas ao sol e calor.
Vendedores como influenciadores da compra da bebida? A presença de vendedores
com conhecimentos sobre vinhos e gastronomia no local de vendas foi lembrada
tanto por consumidores conhecedores como por leigos. Depoimentos de
consumidores leigos sobre a ajuda dos vendedores no momento da compra
sugerem a busca por segurança como relata Antônio (32, leigo):
“Entre comprar um vinho às cegas, que eu não tenha a mínima
idéia, e comprar um indicado pelo vendedor, que assumo que
tem algum conhecimento sobre vinho, (...) Eu confio mais
nisso.”
consumidores conhecedores parecem apreciar a presença de outro conhecedor
na loja por ser uma oportunidade para serem apresentados a vinhos diferentes,
como descreve Ronaldo:
“Tem a questão também que no início era muito importante,
hoje em dia é um pouco menos, mas é o conhecimento das
pessoas da loja, que podem indicar um vinho. O Alipão [loja
especializada] tem pessoas, tem o gerente. Tem pessoas que
conhecem, que muitas vezes te o sugestão (...) muitas
vezes te direciona um vinho diferente”. (Ronaldo, 33,
conhecedor)
89
Logo, a busca de outra opinião pode reduzir o risco percebido da compra de vinho,
pois sua decisão está subsidiada por pessoas com maior conhecimento (reduz risco
funcional), muitas vezes integrantes do mesmo grupo social (risco social) e
possivelmente informadas sobre promoções e melhores locais de compra (risco
financeiro) (SHETH et al, 2001, p. 495).
O estudo de Mitchell e Greatorex (1998) comprovou que a aprovação de amigos e
familiares é o terceiro maior risco percebido por consumidores de vinho. Onde estão
os amigos na hora da compra? Os amigos foram lembrados como “sócios” quando
uma caixa maior é comprada. Importadoras de bebidas oferecem tipicamente venda
de vinho em caixas, o que apresenta vantagens financeiras (menor preço unitário),
porém implica em restrição de variedade (compra de 12 garrafas iguais), o que foi
lembrado nos relatos quando vinhos foram associados também à busca por
variedade e novidades e ao ritual de experimentação.
“(Compraria uma caixa para você?) o, para não ter
sempre vinhos iguais. (...) A gente prefere ficar
experimentando. Experimentar outros tipos de vinho.” (Antônio,
32, leigo)
“Dificilmente eu compro vinho em caixa. Tive umas
experiências de encomendar diretamente do Sul, mas a
relação custo/benefício não foi muito mais favorável do que
comprar aqui por unidades e poder ter mais variedades de
vinho em casa, não ficar preso a doze garrafas (...) do mesmo
o vinho, para tomar o mesmo vinho por muito tempo.”
(Bernardo, 62, leigo)
“Comprar doze garrafas de vinhos eu não vou fazer, a não ser
que seja para distribuir com amigos.” (Edson, 61, conhecedor)
Qual a embalagem de vinho preferida dos entrevistados? A embalagem tradicional
individual de 750 ml parece ser a mais comprada por todos. No entanto, algumas
variáveis, tais como situação de consumo e local de compra, podem influenciar tal
escolha. Se for necessária maior quantidade, opta-se por caixas, o que diminui às
90
vezes o valor unitário. a meia garrafa apresenta custo por litro maior do que a
garrafa tradicional, o que parece desestimular a compra. Alguns entrevistados, que
afirmaram comprar com freqüência esta embalagem, dizem estar conscientes da
desvantagem financeira, mas ainda assim a compram, pois o consumo em casa
parece não ser suficiente para suportar o volume de uma garrafa de 750 ml.
Depoimentos de conhecedores sugerem, no entanto, que o aumento do
conhecimento sobre vinhos pode eliminar a vantagem oferecida pela meia garrafa
(quantidade ideal para situações de baixo consumo evitando a perda do produto não
consumido), pois passam a conhecer técnicas de acondicionamento do vinho em
garrafas abertas.
Que papel cumprem os rótulos na compra de uma garrafa de vinho? A elaboração
dos rótulos das garrafas foi mencionada por dois entrevistados, ambos
conhecedores. Seus discursos insinuam a importância e valorização da tradição
associada ao produto consequentemente algum preconceito e conflitos associados a
possíveis inovações. O relato de Clara sugere o seu conflito entre tradição do vinho
e a sedução da novidade da aparência visual.
“Me influencia o rótulo. o vou dizer que não porque eu acho
que nos portugueses às vezes é complicado porque tem um
negócio de muita cor, muito dourado. Tem vinhos ótimos, mas
eu tenho uma rejeição inicial clara. E acho que a tendência, em
geral, é contratar mais designers. (...) Uma garrafa bonita, acho
que te seduz. (...) Agora se você conhece, você vai comprar
um feiosinho dourado e tal. Com uma porção de selinhos e
tudo. Mas que é mais legal você comprar uma coisa que tenha
um atrativo visual, com certeza.” (Clara, 55, conhecedora)
“Eu o gosto de nenhuma garrafa com formato muito
estranho. Normalmente são coisas que eles querem se valer
pela garrafa e o pelo conteúdo. Então isso eu desconfio,
mesmo que eu não conheça e eu gosto muito de experimentar
vinho novo, (...) garrafas com formatos estranhos, eu
normalmente não gosto, evito.” (Ronaldo, 33, conhecedor)
91
A existência de selos de indicação de procedência parece ser uma estratégia
eficiente para mitigar o receio de consumidores na compra de produtos
desconhecidos, principalmente em um mercado globalizado no qual o acesso a
produtos é cada vez mais fácil e a diferenciação entre eles cada vez menor. Para
vinhos, os selos mais reconhecidos são os chamados de “denominação de origem”,
versão sofisticada das certificações que determina não apenas a região de 100% da
matéria-prima como também as características e a qualidade de produção (Larousse
do Vinho, 2004).
Além das certificações de origem, os vinhos podem receber premiações a partir da
pontuação recebida em concursos renomados. Com o avanço da globalização, a
utilização de pontuações de alguns degustadores e publicações famosas
mundialmente, como The Wine Advocate de Robert Parker
4
, se tornou prática
comum entre comerciantes e importadores, surgindo assim uma referência de uso
mundial em todos os catálogos de vinho do mundo.
Antônio (32, leigo) parece se preocupar com informações fornecidas pelo produtor
no rótulo, dando a entender que usa tais informações para avaliar e classificar os
vinhos antes de comprá-los.
“A gente procura ver se tem aquele selo de origem. (...) E eu
acho que isso ajuda a escolher entre os vinhos desconhecidos.
(...) A gente não compra vinhos, mesmos os importados, de
classificação mais geral. Tipo Bordeaux comum, tipo um Côte
de Rhône comum assim. Sem o nome do fabricante. Sem a
área.”
Com que freqüência os entrevistados compram vinho? Seis afirmam comprar
mensalmente, dois a cada quinze dias e dois toda semana. Esse comportamento
4
Robert M. Parker Jr., enólogo americano, é um dos mais importantes críticos de vinho do mundo,
considerado por muitos o “papa dos vinhos”. Criou sua própria escala de avaliação de vinhos (50 a
100) e publica suas críticas na revista The Wine Advocate, atualmente referência mundial.
92
confirma o consumo intenso que cada um dos entrevistados mantém em relação ao
vinho.
Quais produtos concorrem com o vinho? Nenhum dos entrevistados declarou
comprar substitutos ao vinho caso não encontrem o produto (categoria) no
estabelecimento de compra. O depoimento de Bernardo exemplifica situações em
que o vinho pode não ter concorrentes:
“Não encontrar vinho algum, eu não me lembro de ter
acontecido, mas se acontecer e eu quiser tomar vinho, eu não
vou substituir por outra bebida porque o vinho é uma coisa
muito exclusiva.” (Bernardo, 62, leigo)
No entanto, alguns falaram de sua “paixão” ou “prazer” também por outras bebidas,
como vodka, uísque e champagne.
E quais produtos acompanham as compras de vinho? Associações entre queijos e
vinhos aparecem em todos os discursos, mas esse estudo não foi “às compras” para
avaliar se realmente isso acontece na prática.
Alguns relatos, no entanto, sugerem que o consumo de vinhos ou de “queijos e
vinhos” pode estar associado a etapas do ciclo de vida das famílias. Três
entrevistados disseram que atualmente compram vinhos porque têm maior poder
aquisitivo, e relatam que quando jovens compravam bebidas alcoólicas mais
acessíveis, como cerveja ou cachaça. Estes depoimentos sugerem que a
maturidade e a situação financeira podem influenciar o comportamento dos
consumidores de bebidas alcoólicas, incluindo o vinho. Na juventude, busca-se
quantidade (comprar o ximo de bebidas possível), enquanto que na vida adulta,
busca-se mais qualidade (comprar bebidas mais refinadas, de melhor qualidade,
mesmo que em menos quantidade).
5.3 Transporte
Em geral, como os vinhos são transportados para casa? De carro quando a compra
é realizada em locais distantes da moradia ou quando o volume total comprado é
93
significativo; ou a quando existem várias opções de estabelecimentos adequados
para compra de vinho próximo às residências dos entrevistados.
No entanto, alguns entrevistados declararam que comprar a pode ser
inconveniente, dado o peso dos vinhos, o que pode, inclusive, limitar a quantidade
de garrafas compradas. O uso do entregador da loja foi sugerido por alguns
entrevistados como solução para tal problema.
O transporte do vinho em viagens foi mencionado por dois entrevistados como um
empecilho, dada as complicações de peso das garrafas.
A preocupação com o risco de quebra das garrafas durante o transporte também
apareceu nos relatos junto com alguns métodos de prevenção como: intercalar
garrafas com demais compras, solicitar embalagem especial ao empacotador da loja
(possível apenas em casas especializadas) ou usar maletas próprias para transporte
de garrafas de vinho. Os cuidados com exposição ao sol e calor também foram
lembrados como possíveis riscos no transporte do vinho.
5.4 Estoque
Onde os entrevistados armazenam em casa suas garrafas de vinho? Alguns apenas
guardam em armários enquanto outros possuem adega climatizada (chamados
“estoque não frio”), outros guardam diretamente na geladeira (chamado “estoque
frio”).
Os motivos de escolha do estoque frio ou não parecem ser o tipo de vinho e a data
de consumo. Em geral, os entrevistados afirmaram resfriar os vinhos na geladeira
um pouco antes do consumo, porém alguns relataram manter brancos e espumantes
direto no estoque frio, como forma de garantir que as garrafas estarão na
temperatura adequada no momento do consumo.
Garrafas abertas em geral são colocadas no estoque frio, como forma de conservar
o vinho e preservar seu sabor até que haja nova oportunidade de consumo.
94
Figura 1 – Exemplos de estoques não frios
No sentido horário, começando no alto à esquerda: Ronaldo, Estela, Patrícia (adega
climatizada), Bernardo, Elaine, Cláudio, Edson (meio).
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
Figura 2 – Exemplos de estoques frios
No sentido horário, começando no alto à esquerda: Cláudio (1), Estela, Patrícia, Cláudio (2),
Edson (garrafa aberta), Ronaldo.
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
95
Para auxiliar a análise, os entrevistados foram divididos em dois grupos, de acordo
com a localização do estoque: chamou-se espaço público (ex.: sala) aqueles que
possuem o produto estocado em ambiente de fácil exibição, e chamou-se espaço
privado (ex.: cozinha) o grupo que coloca o produto em local mais reservado.
Algumas semelhanças também são encontradas entre os membros de cada grupo.
Espaços que foram denominados “públicos” parecem usar a exposição de garrafas
de vinho ou outras bebidas alcoólicas, assim como objetos relacionados, como uma
forma de expressão de seu gosto por bebidas.
Figura 3 – Exemplos de estoques públicos
No sentido horário, começando no alto à esquerda: Antônio (sala de televisão), Bernardo
(sala de estar), Clara (sala de estar).
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
nos “privados”, as evidências de consumo de bebidas alcoólicas, incluindo vinho,
estão em armários fechados, fora da vista de visitantes, o que pode sugerir que
possuem características mais intimistas, reservado à família e amigos próximos, ou
simplesmente a falta de um espaço público adequado para estoque de vinho.
96
Figura 4 – Exemplos de estoques privados
No sentido horário, começando no alto à esquerda: Edson (cozinha), Ronaldo (cozinha),
Patrícia (despensa).
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
A quantidade de garrafas em estoque também pode ser vista como fator de
diferenciação entre os dois grupos: maior número no espaço “público” do que entre
no “privado”. Uma possível explicação é a necessidade de maior quantidade de
garrafas de vinho, assim como de outras bebidas alcoólicas, para uso decorativo do
ambiente. Nos espaços “públicos”, existe exibição de vinhos que não foram
comprados, são brindes ou presentes e que nem sempre têm por finalidade o
consumo. Tais vinhos podem até não agradar o entrevistado em termos de paladar,
porém parecem ser mantidos para compor o ambiente da sala.
Entretanto, observa-se que a decoração ou exibicionismo parece não sobrepor a
preocupação do grupo do espaço blico com a conservação do vinho. Por esta
razão, algumas garrafas ficam guardadas dentro de adegas climatizadas ou
armários fechados, evitando exposição ao sol e luminosidade excessiva. Quando
isso acontece, o apreço pelo vinho parece ser demonstrado através das taças e
outros objetos relacionados, como abridor, quadros, rolhas decorativas ou outras
garrafas de bebidas alcoólicas.
97
“Eu tenho uma pequena adega (...) foi desenhada
especialmente para isso, em um local de sombra, que em
hipótese alguma recebe sol e que tem uma temperatura
normalmente amena dentro da minha casa. (...). As rolhas, eu
coleciono, (...) tenho um reservatório específico. Um vidro
grande, uma urna grande de vidro, que serve de decoração.
Complementa a decoração dos móveis da sala.” (Bernardo, 62,
leigo)
Entre os entrevistados diferenciados pelo espaço “privado”, foram percebidos
diferentes tipos de preocupação com as condições de conservação dos vinhos:
“exposição ao sol”, “proximidade de eletrodomésticos, principalmente fogão (calor),”
“compartilhamento do local com outros produtos”, e “falta de espaço para manter as
garrafas na horizontal”.
Estela (33, conhecedora) e Ronaldo (33, conhecedor) relatam que mantêm dois
tipos de estoque: estoque frio, na geladeira, e estoque não-frio, no armário da
cozinha. Vinhos espumantes (Ronaldo) e brancos (Estela) são mantidos
permanentemente no estoque frio por ambos. Demais vinhos são mantidos no
armário. Estela divide suas garrafas do estoque o-frio em vários armários na sala,
mas explica que esta arrumação é provisória, dada à falta de espaço disponível em
seu apartamento.
Existe alguma regra para arrumação do estoque? Alguns parecem seguir critérios de
arrumação: categoria do vinho ou hierarquia dos vinhos ou por ordem de compra
para evitar o envelhecimento do vinho fora das condições adequadas, seguindo a
filosofia FIFO (first in first out), como exemplificado nos testemunhos abaixo.
Ronaldo (33, conhecedor) declara organizar seus vinhos por categoria: vinho de
sobremesa, vinhos brancos e vinhos tintos. Toma especial cuidado em colocar o
vinho de pior qualidade na extremidade do armário, único ponto que recebe um
pouco de sol pela manhã. Vinhos de alta qualidade nunca ocupam este espaço.
Estela (33, conhecedora), por sua vez, organiza seu estoque por marcas e tipos de
98
vinhos. Dado que seu estoque é dividido em diversos armários na sala, ela procura
concentrar vinhos semelhantes (ex. tintos da mesma vinícola) no mesmo local.
Figura 5 – Estoque organizado por tipo de vinho
Fonte: Fotos tiradas na residência de Estela
Clara organiza sua adega em função da importância atribuída ao vinho, dando a
entender que existe o risco de um vinho “poderoso” ser consumido indevidamente:
“O estoque sou eu quem organiza mais, e eu escondo os
ótimos, para ninguém pegar desavisado. Que é esse o meu
grande medo. o esses que a gente trouxe de viagem. São
vinhos poderosos. (...) Cada tinto em cima, branco embaixo.
Muito embaixo ainda. (...) Os mais poderosos mais escondidos,
de mais difícil acesso do que os do dia-a-dia. (...) Os da frente
sempre podem pegar. Os detrás, os deitados é que não pode.”
(Clara, 55, conhecedora)
Figura 6 – Estoque organizado por importância do vinho
Fonte: Fotos tiradas na residência de Clara
99
Patrícia (29, leiga) também organiza seu estoque de acordo com a qualidade dos
vinhos: “os melhores em cima e depois (...) os de consumo diário para baixo”.
Cláudio (54, leigo), que não organiza seu estoque de vinho, explica que gostaria de
fazê-lo, mas não tem espaço físico para isso.
Dois entrevistados (um conhecedor e um leigo) possuem adega climatizada, que
mantém temperatura e umidade em condições ideais para armazenagem do vinho.
Os demais entrevistados, quando questionados sobre a adega como objeto de
desejo, curiosamente não manifestaram este desejo. Ronaldo, um deles, explica
seus motivos financeiros e práticos:
“Primeiro porque eu não vejo tanta diferença. (...) Depois
porque também eu não estou disposto a fazer investimento. Eu
não quero, pelo menos por enquanto, ter uma adega
climatizada. (...) Eu convivo muito bem com a maneira como eu
estoco, a maneira como refrigero, para mim isso não é um
problema.” (Ronaldo, 33, conhecedor)
Segundo a definição de Laurent e Kapferer (1985), consumidores que têm
envolvimento duradouro com vinho refletem essa preocupação geral e permanente
com o produto, e evidenciado pela “construção do altar” do vinho em suas
residências. Teria sido isso encontrado na visita às residências?
Entre os entrevistados, quatro apresentaram locais de estoque semelhantes a
“altares do vinho”: além de guardar garrafas, possuem livros sobre vinho, objetos
especiais, como decanter, saca-rolhas especiais, termômetro, vacu-vin, malas para
transporte, etc, o que sugere um alto envolvimento com o produto.
100
Figura 7 – Exemplos de “altares do vinho”
No sentido horário, começando no alto à esquerda: Ronaldo, Clara e Estela.
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
5.5 Preparação para Consumo: Objetos em torno do vinho
Que tipo de objetos fazem parte da preparação e do consumo do vinho? Alguns
objetos que acompanham o consumo foram lembrados nos depoimentos: são taças,
saca-rolhas, adegas climatizadas, baldes de gelo, decanter, suporte para garrafa,
termômetro, vacu-vin, dispositivo anti-gotas de vinho, rolhas decoradas, maletas
especiais para transporte de garrafas de vinho e até guardanapos.
Figura 8 – Exemplos de objetos usados na preparação para consumo de vinho
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
101
A seleção de taças para consumo do vinho parece variada de acordo com os
testemunhos dos entrevistados. O que é uma taça adequada para vinhos ou para os
diferentes tipos de vinhos? Eles declararam usar “taças de vinho”, as mais diversas,
desde taças sofisticadas de cristal Baccarat (em comemorações) até as mais
simples (no cotidiano), mas “com borda fina”. Apenas dois entrevistados
(conhecedores) mencionaram o uso de taças universais, usadas em degustação e
concursos de vinho, indicadas para qualquer tipo de vinho. Portanto, conhecedores
parecem ter maior preocupação com as taças que leigos, que mostraram-se
interessados mais com a aparência das taças do que com sua adequação ao tipo de
vinho servido.
Conhecedores, como poderia ser esperado, possuem utensílios mais sofisticados
como dispositivos para evitar pingar o vinho, maletas de transporte do vinho,
termômetro, suporte para garrafa, vacu-vin, decanter. Estela (33, conhecedora)
possui ainda objetos como rolhas decoradas para vinhos abertos, “para dar uma
aparência mais bonita”. Ronaldo (33, conhecedor) declara ainda guardar fichas de
degustações que participou assim como livros sobre vinhos e gastronomia.
Figura 9 – Objetos exclusivos de consumidores conhecedores
À esquerda, fichas de degustação de Ronaldo e, à direita, rolhas decorativas de Estela.
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
Uma das surpresas foi a menção do guardanapo como um dos objetos usados na
preparação para consumo de vinho, por duas entrevistadas. Ambas disseram que
usam guardanapos “melhores” quando preparam o ambiente para o consumo do
vinho, mesmo em situações onde esteja presente somente a família. Isso mostra
que, apesar do vinho estar cada mais presente no cotidiano da família, sua
102
conotação de glamour e ocasião especial ainda não se perdeu. Estela descreve bem
esta atmosfera:
“O vinho é uma bebida altamente glamourosa. Então acho que
esses preparativos para degustações de vinho (...) preparam
você psicologicamente para degustar os vinhos. (...) Acho que
até o gosto deve ficar diferente.” (Estela, 33, conhecedora)
Como preparar o vinho para o consumo? Resfriar o vinho antes do consumo parece
ser uma concordância entre os entrevistados. O balde de gelo é o utensílio preferido
por Estela e Clara para gelar os vinhos alguns minutos antes do consumo, em
detrimento da geladeira que parece ser usada preferencialmente. O uso do balde,
mais elaborado que simplesmente colocar o vinho na geladeira, sugere que as
entrevistadas valorizam tanto a preparação do vinho para o consumo a ponto de
estarem dispostas a perder mais tempo nesta etapa. Estela (33, conhecedora)
lembra ainda que usa um termômetro na garrafa para verificar a temperatura e não
deixar resfriar demais o vinho.
Manter vinhos em adega climatizada parece não substituir o ritual de “resfriá-lo” a
a temperatura adequada. Patrícia (29, leiga) não resfria os vinhos tintos por acreditar
que a temperatura da adega é ideal para seu consumo, mas resfria vinhos brancos
por trinta minutos antes do consumo. Clara declara sempre resfriar os vinhos de sua
adega, sejam tintos ou brancos, mesmo mantendo-os a temperatura controlada da
adega.
Figura 10 – Exemplos de refrigeração para quem possui adega climatizada
À esquerda, geladeira de Patrícia, e, à direita, estoque de gelo no freezer de Clara.
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
103
Abrir o vinho com antecedência de alguns minutos antes do consumo ou colocá-lo
em um decanter foram outras práticas lembradas. Embora Clara (55, conhecedora)
declare que acaba não usando no “dia-a-dia”, Ronaldo (33, conhecedor) não
esconde que o objeto permite certo exibicionismo quando recebe convidados, pois
“gosta de explicar a sua utilidade”.
Existem papéis definidos na preparação do vinho? Pode-se perceber através das
entrevistas uma divisão declarada, porém não imposta, de papéis entre homens e
mulheres. Todas as entrevistas sugerem que os homens são responsáveis pela
abertura do vinho, enquanto as mulheres podem se encarregar da preparação da
comida ou de outras tarefas da preparação do consumo de vinho, como separação
das taças. Esta divisão de tarefas foi mencionada por todos os entrevistados, como
ilustram alguns depoimentos:
“Ele abre o vinho. Daí eu arrumo as taças, arrumo o que vai
ser consumido junto, se tiver algum queijo (...). Geralmente é
assim” (Estela, 33, conhecedora)
“Menu preparado normalmente pela minha esposa, às vezes
ajudada pela minha sogra. (...) Eu costumo me encarregar de
tudo. De buscar o vinho no local onde ele está, de colocar para
resfriar e de fazer a abertura da garrafa para servir.” (Bernardo,
62, leigo)
“Ele gosta do chamado serviço pro vinho. Adora botar gelo no
balde, botar vinho no balde. Abrir. É o que faz de melhor. Então
a gente deixa para ele.” (Clara, 55, conhecedora)
Apesar de não ser mencionada como uma regra, a divisão entre homens e mulheres
se torna um ritual na família. Liliane (52, leiga), por exemplo, afirma que quando o
marido não prepara o vinho, seu filho exerce esta função, não ela.
Outras práticas mencionadas foram cheirar o vinho, sentir seu aroma, provar o vinho
antes de servir a todos, contar a história do vinho para os presentes e brindar antes
de consumir (em situações comemorativas ou não).
104
5.6 Consumo e suas principais situações
Quando beber vinho? O consumo do vinho parece ser influenciado pela situação.
Usando os cinco fatores de Belk (1975) que determinam o que é uma situação,
pode-se traçar um paralelo entre teoria e práticas declaradas pelos entrevistados.
Primeiro fator é o ambiente físico, que inclui localização geográfica, decoração,
temperatura, iluminação, etc. Alguns lembram que o consumo do vinho é
influenciado pela estação do ano, e pela temperatura do dia maior consumo
durante inverno e em dias mais frios. A temperatura parece influenciar também a
refeição na qual o vinho será consumido: tipicamente jantar, em dias mais quentes,
possivelmente no almoço em dias mais frios. Foi também lembrado que a
preparação para consumo também pode variar em função da temperatura, pois em
dias frios a necessidade de resfriar a garrafa é menor.
Segundo fator, o ambiente social. A principal diferença mencionada foi o consumo
durante a semana e final de semana. Alguns declararam que preferem beber vinho
nos finais de semana junto com a família reunida. Depoimentos parecem indicar
existir um maior controle no consumo de vinho entre segunda e sexta feira, em
função das obrigações profissionais da semana de trabalho, pois o vinho parece não
combinar com trabalho, pois “dá sono”.
Liliane (52, leiga) e Eliane (53, leiga) lembram de “convidados” quando falam de
vinho. O convívio social sugere preocupações diferentes no consumo do vinho como
exemplificado no relato abaixo:
“Ao dar uma festa eu procuro marcas mais nobres e vinhos
melhores para poder receber bem e agradar todos os
paladares.” (Elaine, 53, leiga)
O terceiro fator apontado por Belk (1975) é a perspectiva temporal. Quando
perguntados sobre a preferência do momento, o consumo à noite foi destacado, pois
vinho “dá sono”. Desta forma, o consumo no almoço seria desfavorecido, pois a
sonolência poderia prejudicar o rendimento no trabalho ou na rotina do dia.
105
O propósito da compra, quarto fator de Belk (1975), pode ser identificado no caso do
comportamento na compra de vinho para consumo próprio, para convidados ou para
presentear. O risco social (Mitchell e Greatorex, 1988) foi lembrado na compra de
vinho como presente, ou seja, a dificuldade da “escolha do vinho certo para pessoa
certa”, como ilustram os depoimentos abaixo:
“Geralmente como presente a gente escolhe o vinho, uma
única garrafa de vinho melhor. Isso é lei. Acho que é altamente
corriqueiro, todo mundo faz essa escolha.” (Estela, 33,
conhecedora)
“Quando eu acho que um vinho é interessante, que a pessoa
que vou presentear vai valorizar aquele vinho, eu compro duas,
três garrafas no máximo e a presenteio.” (Bernardo, 62, leigo)
“Esse aqui é um 92, francês que eu ganhei de presente. (...) É
o francês que eu não compraria, mas que eu ganhei de
presente.” (Clara, 55, conhecedora)
O vinho como presente parece não afetar apenas o comportamento de compra, mas
também a preparação para o consumo.
“A não ser que (...) alguém nos tenha presenteado o vinho
específico para aquela ocasião, eu escolho o tipo de vinho”
(Bernardo, 62, leigo)
Os estados antecedentes, quinto fator de Belk (1975), foram também citados pelos
entrevistados. Ronaldo (33, conhecedor) diz que não bebe vinho “quando está com
dor de cabeça ou muito cansado”. Bernardo (62, leigo) e Clara (55, conhecedora),
por sua vez, não tomam vinho quando “estão tristes”, pois vinho para eles “simboliza
alegria”.
Percebe-se, portanto, que diferentes situações remetem a diferentes reações dos
consumidores em relação ao consumo de vinho. Estas variações podem ser
106
explicadas também pelas diferentes associações e simbolismo entre bebidas e
ocasiões, como festas, jantares formais, comemorações, etc.
Casamento e noivado também surgiram nos relatos como fator influenciador do
consumo de vinho para ambos os gêneros. Para as mulheres, o casamento parece
ter influenciado a freqüência de seu consumo (casadas bebem mais do que quando
solteiras), enquanto que para os homens o casamento significou mudança de
hábitos, uma vez que o vinho ocupou espaço de outras bebidas, como cerveja ou
uísque. É interessante notar como as preferências das mulheres por bebidas podem
influenciar, naturalmente ou de forma intencional, o consumo dos homens.
“(Você lembra de outras pessoas que influenciaram o seu
gosto por bebidas?) Provavelmente a relação com a minha
esposa, que não gostava de nenhum tipo de bebida alcoólica,
mas admitindo tomar vinho e suportando vinho, isso me
condicionou um pouco a eleger o vinho como bebida de
acompanhamento de refeições especiais, para que ela
pudesse participar também.” (Bernardo, 62, leigo)
“Ele adora uísque. Só que eu tenho horror a uísque. E do
cheiro do uísque. Então (...) quando eu vejo que ele vai buscar
o uísque, eu corro na frente, pego a garrafa de vinho. Eu
acho que foi nisso que influenciou (...). E acaba que se ele
estava com vontade de tomar um uísque, eu fiz ele trocar pelo
vinho, eu tomo uma taça junto.” (Estela, 33, conhecedora)
“Eu não conseguia beber vinho nunca. E criei o hábito pouco
antes do casamento, mas namorando minha esposa.
Cerveja em casa também nunca comprava para beber. E agora
às vezes compro.” (Antônio, 32, leigo)
“Casamento aumentou o consumo de vinho. Porque meu
marido era muito ligado em vinho e a gente curte junto. A
viagem do ano passado, quando fiz a degustação, isso é uma
107
coisa de nós dois, então aumentou o consumo e o investimento
na história do vinho.” (Patrícia, 29, leiga)
5.6.1 Vinho: outras bebidas e comidas
Todos os entrevistados consideram que o champagne é a melhor opção para
comemorações, embora o vinho também seja consumido em dias de festas. Acredito
que a escolha entre vinhos e champagne varie em função da grandeza da
comemoração: quanto mais especial, maior a probabilidade de ser escolhido o
champagne em detrimento do vinho. Inclusive o preço do champagne (superior ao
do vinho) impede que este seja consumido com a mesma freqüência que o vinho, o
que o torna ainda mais especial.
“O vinho é uma coisa assim mais intimista, de uma
degustação... (...) O uísque é uma coisa mais comemorativa,
mas também com certa formalidade. E o champanhe é mesmo
quando é uma grande comemoração” (Liliane, 52, leiga)
Entrevistados também colocam situações especiais em seus depoimentos. Aboliram
antigas tradições de beber e servir champagnes e vinhos apenas em situações
especiais. O depoimento abaixo ilustra bem esse novo estilo de vida:
“Há algum tempo, eu sei que estou ficando velha, eu deixei
de fazer essas histórias de ter datas especiais. Para mim todo
dia é um dia especial. Então se me a vontade de abrir um
champanhe, eu vou abrir o champanhe. Todos os dias. Se a
gente tem um vinho bom, eu não fico guardando para tomar em
ocasião especial porque acho que uma ocasião especial é
aquela que eu estou com vontade de tomar aquele vinho. (...)
Não ligo muito a bebida a um momento especial. Quer dizer,
um momento especial de festa. (...) O mesmo vinho que eu
tomo no almoço é o vinho eu sirvo numa festa. Então não
tenho muito essa diferenciação” (Estela, 33, conhecedora)
108
Como resultado desta nova filosofia, Estela consome vinho todos os dias e não tem
nenhuma restrição entre almoços e jantares, muda apenas a quantidade consumida.
Vinho combina com o que? Queijos, pastas, carnes em geral.
Figura 11 – Combinação clássica para o vinho: queijos
Fonte: Fotos tiradas na residência de Clara
Os depoimentos apontaram divergência em relação a um prato tipicamente
brasileiro: churrasco. Muitos concordaram que o vinho cai muito bem com carnes,
mas não com churrasco. Patrícia (29, leiga) explicou que o “conceito de churrasco”
não combina, sugerindo que a divergência não é gastronômica, mas social. Outros
cardápios foram classificados como impróprios para consumo de vinho: a tradicional
feijoada, comida japonesa, comidas muito temperadas, salada verde e sopa. Água
foi apontada como complemento imprescindível, enquanto refrigerante foi abolido
por alguns entrevistados. Apesar das diferentes opiniões, todos concordam que o
vinho complementa as refeições e por isso deve ser escolhido sempre em função do
tipo de comida que será servido.
5.7 Descarte
Quando perguntados sobre o descarte da garrafa de vinho, os entrevistados
lembraram do descarte em dois momentos distintos: a sobra de parte do vinho na
garrafa e finalmente a garrafa vazia.
109
Para primeira situação, os entrevistados relataram que guardam na geladeira, com
ou sem dispositivos para retirar o ar interno e melhorar sua conservação, guardam
na adega climatizada, ou ainda declararam que ficam abertas fora da geladeira.
Figura 12 – Destino da garrafa de vinho aberta
Esquerda, Edson. Direita, Estela.
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
Alguns lembram que, caso o vinho guardado aberto não seja consumido em poucos
dias, ele se torna ingrediente para culinária. Outros lembram que um vinho a pode
ser guardado para consumo posterior, mas esta restrito ao consumo doméstico e
não será servido para um convidado, sugerindo ser essa uma regra de etiqueta em
relação ao vinho.
Se o consumo de vinho está associado a conhecimento e sofisticação, quando
perguntados sobre o descarte das garrafas, os entrevistados mostraram também
cuidados diferenciados, pois separam as garrafas do lixo comum e chegam a lavá-la
antes de jogar fora, “para evitar mau cheiro e insetos”.
Mas o consumo do vinho parece não terminar no descarte da garrafa, pois os
entrevistados relataram que guardam rolhas de vinhos consumidos por diversas
razões. Identificou-se a “rolha sentimental”, lembranças de ocasiões especiais ou
recordação de bons vinhos tomados, “rolha funcional”, guardadas esporadicamente
para fechar vinhos abertos, e “rolha decorativa”, guardadas, por exemplo, em vasos
de vidro na sala.
110
Figura 13 – Exemplos de rolha decorativa, de lembrança e funcional
Coluna à esquerda, rolhas decorativas de Bernardo (alto) e Clara (embaixo). Coluna central,
lembranças de Bernardo (alto) e Ronaldo (embaixo). Coluna à direita, rolhas funcionais de
Edson (alto) e Cláudio (embaixo).
Fonte: Fotos tiradas nas residências dos entrevistados
Além da rolha, guardam rótulos de vinhos que gostaram como forma de guardar
suas informações (marca, vinícola, safra, uva) para recompra.
5.8 Marca e País de Origem
Segundo Solomon (2002, p. 223), alguns produtos o fortemente associados a
países específicos e esta informação se torna um importante atributo no processo de
compra. O vinho é um exemplo desta associação, na medida em que os
consumidores associam, na maioria das vezes, o produto ao país produtor. A
importância e influência do país de origem do vinho são evidentes nos discursos dos
entrevistados.
“Quem não gosta de um vinho francês?” “Vinhos franceses são excelentes, os
melhores do mundo”. Consumidores leigos afirmaram sem hesitação que compram e
adoram vinhos franceses, o que pode indicar que não sejam capazes de perceber
111
possíveis problemas de qualidade ou ainda que a escolha ou preferência tenham
sido influenciadas pela força da imagem de seu país.
Qual a influência do país de origem de um vinho no consumo dos entrevistados?
Algumas características do efeito país de origem puderam ser observadas no
discurso dos entrevistados que sugerem o vinho francês como sinônimo de
qualidade. Seriam eles os melhores do mundo? Inicialmente podia-se supor uma
baixa percepção de risco financeiro dos vinhos franceses, no entanto consumidores
conhecedores (Edson, Ronaldo e Clara) alertaram para possíveis armadilhas de
importação. Seus depoimentos sugerem que uma supervalorização de vinhos
franceses e italianos que podem ser de baixa qualidade, o que poderia estar
associado à falta de capacidade dos consumidores em geral de reconhecer a
qualidade de um bom vinho, como retratam os depoimentos abaixo:
“No Brasil não se consegue por um preço justo comprar vinhos
franceses bons. Todos os vinhos franceses que m pro
supermercado, mesmo aqueles que estejam muito caros, são
vinhos medíocres. E eu acho inclusive que é um problema
sério.” (Edson, 61, conhecedor)
“Então o vinho francês é um vinho bom, desde que você tenha
informação e esteja disposto a gastar mais de sessenta reais.
Senão (...) esquece.” (Ronaldo, 33, conhecedor)
“Todos franceses bons são muito caros, e nem sempre são o
bons que justifiquem.” (Clara, 55, conhecedora)
A compra de vinhos franceses e italianos é classificada por Ronaldo como
“arriscadíssima”, com elevado risco financeiro (SHETH et al, 2001, p. 495;
SCHIFFMAN e KANUK, 2000, p. 130), pois existe a probabilidade de pagar caro por
um vinho cuja qualidade não corresponde à expectativa:
“Vinhos franceses e italianos, normalmente eu não compro
porque pelo dinheiro que eu estou disposto a pagar vai ser um
vinho de qualidade ruim. Então não vou comprar. (...) É muito
112
comum eu comprar vinhos argentinos, chilenos e portugueses.
Porque têm uma boa relação custo/benefício.” (Ronaldo, 33,
conhecedor)
Quanto ao vinho nacional, fica a impressão de que ele reflete a percepção que se
tem do país de origem, isto é, “é ruim”, mas “está melhorando”. Algumas marcas
nacionais (Almadén e Château Duvalier) foram lembradas como proibitivas,
enquanto que o sinal de que “o vinho nacional está melhorando” parece estar nas
marcas elogiadas como Casas Valduga e Don Laurindo.
Vinhos chilenos e argentinos possuem associação positiva com “excelente
custo/benefício”. Observa-se ainda que antecedentes culturais entre Brasil e
Argentina podem afetar a avaliação de vinhos argentinos por brasileiros, o que
parece semelhante aos achados da pesquisa de Schooler (1965) que comprovou o
preconceito de consumidores guatemalenses em relação a produtos oriundos de
países vizinhos, também alvo de antigas rivalidades. Liliane (52, leiga), por exemplo,
não compra vinhos argentinos, afirma que são “recriminados” em sua casa (dito
mediante risos).
113
6 CONCLUSÃO
O presente capítulo revê os aspectos mais importantes desse trabalho, trazendo
algumas considerações finais e sugestões de estudos futuros.
6.1 Considerações Finais
Este estudo teve por objetivo explorar as principais práticas do consumo de vinho no
cotidiano doméstico de famílias cariocas de classe alta. Através de uma pesquisa
qualitativa, buscou-se investigar regras sociais, espaços domésticos, rituais e
práticas que organizam o caminho do vinho como objeto de consumo dentro do
cotidiano das famílias. Além disso, pretendeu-se conhecer as principais variáveis
que influenciam diferentes situações de consumo no universo doméstico.
Embora as informações levantadas tenham sido relacionadas a outros estudos
correlatos realizados por outros autores, o estudo se propôs a levantar detalhes e
características assim como construir proposições que podem ser usadas em outras
pesquisas sobre o consumo de vinho. A tabela abaixo resume os principais achados
que são discutidos a seguir:
Tabela 2 – Resumo da Análise
Etapa Principais Achados
Decisão de
Compra
Principal estímulo para compra: estoque baixo.
Principais motivadores: busca por variedade, promoções de venda, viagens ao
exterior e encontro com amigos.
Compra
Canal de venda mais usado: supermercado.
Canal de venda para presentes: lojas especializadas.
Redução de riscos: busca de informações com vendedores, outros clientes ou no
rótulo do vinho.
Transporte
Pode ser um problema.
Pode afetar a quantidade comprada.
Uso de diferentes formas para evitar quebra de garrafas.
Estoque
Uso de regras para arrumação do estoque: tipo de vinho, data de compra, preço e
qualidade do vinho.
Dois grupos foram diferenciados: “espaços públicos”, aqueles que exibem garrafas
e objetos relacionados a vinhos nos ambientes públicos da casa (ex.: sala);
“espaços privados”, não expõem claramente seu prazer por vinho na decoração da
casa.
Preparação de
Consumo
Resfriar o vinho: um consenso.
Objetos presentes na preparação: taças, saca-rolhas, balde de gelo, vacu-vin,
decanter, guardanapos, entre outros.
Diferenciação de uso dos objetos, mais ou menos utilizados.
114
Consumo
Influências: estação do ano e temperatura do dia.
Situação de consumo: convivência com grupo social (família, amigos), festas e
celebrações.
Mais presente no cotidiano e menos restrito a eventos “especiais”.
Descarte
Nem sempre completo. Guardam a rolha e/ou o rótulo do vinho para se lembrar do
produto ou da situação em que foi consumido.
Garrafa consumida parcialmente guardada para consumo futuro ou uso na
culinária.
Marca e País
de Origem
Estereótipo do vinho nacional: “é ruim, mas está melhorando”.
Estereótipo do vinho francês: “ser o melhor do mundo”. Reconhecido, porém com
ressalvas ao sistema de importação brasileiro.
Estereótipo do vinho argentino/chileno: “melhor custo/benefício”.
A frase “depende da situação”, que parte do senso comum das pessoas, significa
que, normalmente, existe divergência entre o comportamento esperado de um
indivíduo e seu comportamento real em função da situação. Isto significa que as
decisões de consumo que as pessoas tomam previamente em relação a um produto
ou serviço podem ser alteradas no momento de sua compra. Apesar do
reconhecimento do efeito da situação no comportamento das pessoas, este assunto
parece ganhar pouco destaque tanto entre as empresas quanto na academia.
A variação do comportamento humano em função da situação parece ser
especialmente importante quando se estuda o comportamento de compra
relacionado ao vinho. O vinho é um produto que pode ser comprado para ser
consumido em situações variadas, formais e informais, como por exemplo: em casa,
com a família; em festas com amigos próximos; em eventos com conhecidos ou com
colegas de trabalho; como um presente para alguém próximo ou apenas um
conhecido.
Observou-se neste estudo que os entrevistados alternam seu comportamento de
consumo de vinho em função da situação. Os depoimentos indicaram que as
variações no comportamento podem acontecer por diferentes razões, tais como:
quem são as pessoas que estarão compartilhando o momento de consumo de vinho,
as motivações para o encontro social em que a bebida será consumida e as
características do evento.
De fato, a escolha do vinho parece variar em função das estações do ano, do horário
do dia, do conhecimento sobre vinhos das pessoas envolvidas, do tipo de comida
que será servido, dentre outras razões apontadas nos diferentes relatos. Essas
variações afetam os esforços empreendidos no ato de compra do vinho, como, por
115
exemplo, quanto se pretende gastar na compra de garrafas de vinho ou quais
esforços de deslocamento serão efetuados. Informações como essas podem ser
usadas pela indústria ou pelo varejo em diferentes estratégias de marketing para o
produto.
Entre as variáveis mencionadas pelos entrevistados, o consumo do vinho em
ocasiões festivas merece destaque. O vinho é a bebida associada a momentos
“especiais”, assim como champagne, ou seja, o vinho está no “cotidiano” das
comemorações. Todos os entrevistados lembraram também de suas preocupações
práticas relativas ao produto nas festas: que tipo de vinho servir? Quantos comprar?
Caixas de meia dúzia? Quanto gastar? Qual o grau de envolvimento dos convidados
com a bebida? Existe algum grande conhecedor do produto no grupo?
Alguns entrevistados, apesar de lembrarem do vinho como uma bebida especial
para festejar, o caracterizaram como “intimista”, o que remete ao consumo restrito a
familiares ou amigos mais próximos. Afinal, as pessoas podem celebrar seus
momentos especiais de diferentes maneiras. Alguns entrevistados declararam que
preferem comemorar em grandes grupos, enquanto outros declararam reservar tais
eventos a um grupo restrito.
O presente estudo buscou também entender rituais existentes no consumo de vinho.
Parece haver um consenso sobre a necessidade de resfriar a garrafa, mas alguns
entrevistados relataram práticas peculiares de preparação para o consumo de vinho
como estudar a história do vinho para compartilhar com convidados ou escolher
guardanapos melhores para arrumação do ambiente, exemplos de que o consumo
de vinho é cercado de detalhes e significados.
A partir dos depoimentos, percebe-se que o prazer com vinho começa muito antes
da abertura da garrafa. Fazer cursos de enologia, ler revistas especializadas,
escolher o estabelecimento de compra (genérico ou especializado), trocar
informações com comerciantes ou outros clientes, selecionar o vinho e seus
acompanhamentos, são atividades que sugerem um imenso prazer aos
consumidores e que, muitas vezes, estão deslocadas no tempo em relação ao
momento do consumo.
116
A extensa lista de utensílios mencionados pelos entrevistados é outro indício de
como as pessoas se envolvem nesta preparação. Durante a entrevista, muitos
apresentaram apetrechos que confessaram nunca terem usado (alguns não sabem
sequer como usá-los). Isso não impediu que, em outro momento da entrevista, os
mesmos objetos tenham sido apontados como elementos presentes no ritual de
preparação do vinho para consumo.
Cabe destacar que os depoimentos sugerem uma divisão de tarefas entre homens e
mulheres na preparação para o consumo de vinho: os homens em geral são
responsáveis pela abertura da garrafa, enquanto as mulheres se encarregam da
preparação da comida que irá acompanhar. Abrir o vinho é coisa de homem? Os
sofisticados utensílios para facilitar a prática não parecem motivar as mulheres a
tentar abrir a garrafa. Mesmo as entrevistadas conhecedoras declararam não abrir a
sua bebida preferida.
O vinho também aparece como elemento social de integração e comunicação de
valores. Esse estudo do consumo doméstico permitiu identificar dois perfis de
consumidores: o grupo de “espaços públicos”, aqueles que gostam de exibir seu
gosto por vinho e por isso expõe garrafas, utensílios e elementos decorativos nos
ambientes públicos da casa (sala, varanda, hall de entrada); e o grupo de “espaços
privados”, aqueles mais reservados, que apreciam vinhos, mas não se preocupam
em comunicar este prazer, e por isso mantém seus estoques de vinhos nos
ambientes privados da casa (cozinha, despensa, armários fechados). A inclusão do
vinho na decoração da casa pode ser entendida como uma maneira do indivíduo
comunicar aspectos de sua personalidade através de seus hábitos de consumo.
Requinte, sofisticação, exclusividade, são algumas das características do vinho que
os entrevistados do grupo de “espaços públicos” parecem buscar para si mesmos.
Em relação aos países de origem do vinho, alguns entrevistados parecem modificar
o efeito de um dos principais estereótipos dentro da indústria do vinho: “vinho
francês é o melhor do mundo”. Na verdade, os conhecedores relataram limitações
para a venda do produto no mercado brasileiro que os entrevistados leigos parecem
desconhecer. Eles admitem a excelência dos vinhos franceses, mas entendem que
os que chegam ao mercado brasileiro são, em geral, de qualidade inferior ou são
117
precificados de forma não adequada, pois os preços estão bem acima do valor real
do produto no mercado internacional. os entrevistados leigos parecem confiar no
estereótipo francês quando relatam a escolha e compra de seus vinhos.
Quanto aos vinhos nacionais, o estereótipo de vinho de baixa qualidade parece se
confirmar. “Vinho nacional não é bom”. Apesar do reconhecimento da evolução da
indústria brasileira, os entrevistados declararam que os vinhos ainda são inferiores
aos concorrentes estrangeiros, especialmente chilenos e argentinos, identificados
como produtos com excelente custo/benefício.
A pesquisa do cotidiano do vinho revela, no entanto, que eles não são mais restritos
às festas e celebrações. O consumidor parece buscar esse prazer seguindo menos
regras sociais que limitem o consumo de vinho. Mesmo tendo sido entrevistadas
pessoas de classes mais altas, a entrada dessa bebida no cotidiano deve receber
uma atenção cuidadosa daqueles que a produzem ou vendem.
Sem definir padrões de comportamento, os relatos dos entrevistados sugerem
detalhes nas atitudes dos consumidores de vinho que podem indicar mudanças
interessantes no seu comportamento futuro.
6.2 Sugestão de Estudos Futuros
O consumo de vinho no Brasil vem crescendo de forma desproporcional aos
esforços de pesquisa que o tema merece. A presente seção apresenta algumas
sugestões de estudos futuros, que possam contribuir para o desenvolvimento de um
diagnóstico completo das mudanças no comportamento dos consumidores
brasileiros em função de tal crescimento.
Numa próxima pesquisa, poderia ser interessante entrevistar famílias de outras
cidades do Brasil, além do Rio de Janeiro, com intuito de identificar características
regionais que podem ser relevantes para a indústria do vinho. Em cidades ou
regiões com alto índice de descendentes de imigrantes europeus, ou cidades com
climas mais quentes ou mais frios, a realização desta pesquisa poderia obter
resultados bastante distintos, abrindo caminho para uma segmentação
comportamental e geográfica dos consumidores de vinho. Em um país com
118
dimensões continentais como o Brasil, com elevada diversidade cultural, espera-se
encontrar igualmente diversidade comportamental.
A aplicação desta pesquisa para diferentes classes, como classe AA ou B, pode ser
interessante, analisando se as situações de consumo doméstico de vinho entre
classes são idênticas ou não, ou ainda se as associações feitas pelos consumidores
com vinho são as mesmas encontradas nesta pesquisa com a classe A. Para
classes mais baixas (C e D), talvez a escolha do vinho como objeto de estudo possa
ser prematura, mas é possível que em alguns anos este cenário seja alterado dado
o forte crescimento do mercado nacional de vinhos.
Um estudo exploratório com foco em gastronomia poderia obter resultados
complementares aos encontrados nesta pesquisa, uma vez que as associações
entre vinho e gastronomia surgiram de forma espontânea nos depoimentos dos
entrevistados.
Finalmente, cabe destacar as vantagens de se utilizar o Método dos Itinerários como
metodologia para o presente estudo. A seqüência de etapas propostas pelo método
permite um contato mais amplo com o produto analisado, evitando uma leitura
restrita ao momento mais visível do processo (o consumo), e inserindo-o em um
sistema mais abrangente, o que garante um entendimento mais aprofundado do
comportamento do consumidor.
Além disso, este método permite que os entrevistados demonstrem em suas
residências como o produto é armazenado, preparado para o consumo, consumido e
descartado, o que pode ser feito através de reconstituições de suas práticas
cotidianas. Estas reconstituições são de grande utilidade para o pesquisador que
pode confrontar imediatamente discurso e prática, identificando e esclarecendo
eventuais inconsistências encontradas.
No futuro, seria interessante ver estudos sobre outros produtos e serviços utilizando
o Método dos Itinerários. A disseminação deste método contribuiria para a inovação
das pesquisas qualitativas sobre comportamento do consumidor, trazendo a
possibilidade de análise do mesmo por uma nova dimensão, o que parece trazer
benefícios tanto para academia como para indústria de bens e serviços.
119
6.3 Proposições Finais
A presente seção apresenta algumas proposições finais, derivadas das análises
realizadas por este estudo exploratório sobre o comportamento do consumidor de
vinho em situações do cotidiano doméstico, que podem ser confirmadas ou melhor
exploradas em estudos futuros.
1. Preço não é o único atributo relevante para compra de vinho.
2. Rótulo da garrafa de vinho é símbolo da tradição do produto, atributo
valorizado pelos consumidores.
3. Supermercados agregam pouco ou nenhum valor à compra de vinho em
algumas situações específicas, como compras para presente (não oferecem
embalagem especial) ou quando clientes desejam maiores informações sobre
o produto (em geral, não têm vendedores especializados).
4. Quanto maior o envolvimento do consumidor com o vinho, maior o grau de
sofisticação das atividades consideradas “triviais” para outros produtos
(estoque, descarte).
5. O consumo do vinho começa antes da abertura da garrafa.
120
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125
ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Introdução
Sou estudante do Instituto COPPEAD de Administração da UFRJ. Esta pesquisa faz
parte da minha dissertação de mestrado sobre o comportamento do consumidor de
vinho em situações de consumo doméstico. Gostaria de questioná-lo a respeito de
vários assuntos relacionados a hábitos cotidianos de consumo de bebidas. Gostaria
também de tirar algumas fotos, se for possível, sobre o que iremos conversar nesta
entrevista, como por exemplo, sua cozinha e sua sala de jantar. Todo conteúdo
desta entrevista é confidencial, sua identidade não será revelada em nenhum
momento.
Autorização para gravação
Para facilitar nosso trabalho, s gravamos as entrevistas. Assim não perdemos
detalhes importantes da nossa conversa. Essa gravação é para uso interno da
pesquisa, o(a) Sr(a) não será identificado em nenhum momento. Ok?
CONTEXTO DE VIDA E AQUECIMENTO
Perfil do Entrevistado e de sua Residência
1. Idade
2. Estado civil
3. Formação
4. Profissão
5. Com quem vive em casa (nome, sexo, profissão e idade)?
6. Sempre foi assim?
7. Você tem filhos? Idade, sexo e profissão.
126
8. Eles moram com você (se não foi dito anteriormente)?
9. Se não, já moraram antes? Quando houve a mudança?
10. Descreva de forma breve a rotina de sua casa (horário das pessoas na casa)
Dia Típico
Eu gostaria que você pensasse em um dia normal. Um dia típico da sua rotina.
11. Nesse dia, quantas refeições você faz?
12. Em qual horário realiza cada refeição?
13. Onde (cômodos, interior, exterior da casa)?
14. Quem está presente nestas refeições?
15. O que compõem cada uma destas refeições (tipo de alimento)?
16. Quem escolhe este menu? Quem prepara?
17. Todos os presentes comem a mesma coisa?
18. Você coloca a mesa? Quem põe a mesa? Qual é a organização da mesa?
19. Como são servidos os pratos? (na panela, em cada prato, em vasilhas...)
20. E as bebidas? Existem bebidas específicas para cada prato específico?
21. Você faz alguma outra atividade enquanto faz as refeições (TV, música,
conversa)
22. Descreva a refeição (início, preces, ambiente, lavar as mãos...)
23. Em que momento você sai da mesa? Como a refeição termina?
Agora vamos falar especificamente de bebidas.
127
24. Em um dia comum, o que você bebe normalmente? (em cada uma das
refeições)
Além das bebidas citadas, tenho aqui uma lista mais detalhada e gostaria que você
me dissesse se mais alguma faz parte do seu dia típico.
Tabela 3 – Lista de Bebidas
Bebidas
Não alcoólicos Alcoólicos
Café Cerveja
Água Mineral Vinho
Água com gás Champagne
Mate Uísque
Chá Vodca
Refrigerantes
(normal e light/diet)
Drinks
(caipirinha, martini, batidas)
Sucos de Fruta
(natural, caixa, poupa)
Rum
Leite Tequila
Cachaça
Gim
Licor
25. Existem bebidas que se bebe com freqüência, mas não diariamente. Quais
seriam as bebidas você consome uma vez por semana? Algo mais? A cada 15 dias?
Algo mais? E a cada mês? Algo mais? (Apresentar lista de bebidas igual à tabela
acima)
26. Que associações você faz entre bebidas e ocasiões especiais? (fim de
semana, comemorações, datas festivas como Natal, Ano Novo, viagens de férias ou
trabalho)
História da Vida
128
27. Você se lembra das bebidas que seus pais costumavam beber em casa,
quando você era criança ou adolescente? Quais eram?
28. Quando você era criança ou adolescente, existiam bebidas proibidas para
você? Em quais refeições? E bebidas obrigatórias? Por quê?
29. Você acha que o consumo de bebidas de seus pais influenciou o seu? De que
forma?
30. Você lembra de outras pessoas que influenciaram o seu gosto por bebidas?
31. Quais são as principais diferenças ou semelhanças de seus hábitos de beber
quando era mais jovem em relação aos seus hábitos atuais?
32. O namoro ou casamento mudou alguma coisa no seu consumo de bebidas?
Caso ainda não tenha surgido na narrativa, pedir que conte a sua “história de
consumo de vinho”.
33. Mais alguma coisa?
AS PRÁTICAS: CONSTRUÇÃO DOS HÁBITOS DE CONSUMO
Refeições e Vinho
Agora vamos falar um pouco o consumo de vinho nas refeições.
34. Você poderia me contar um pouco sobre cada uma das refeições, ressaltando
as diferenças entre refeições durante a semana e finais de semana.
Se por caso não surgir alguma das refeições abaixo, perguntar: Café da manhã;
Lanche (manhã e tarde); Almoço; Jantar; Ceia.
Para cada refeição, perguntar:
35. Quais são as bebidas proibidas? Para quem? Por quê?
36. Quais são as bebidas permitidas? Para quem? Por quê?
129
37. Quais são as bebidas obrigatórias? Para quem? Por quê?
38. Quem determina tais regras?
Agora, vamos detalhar toda a trajetória do vinho que será consumido em sua casa,
desde o momento em que é decidido que haverá compra até o descarte do produto.
Itinerário do Vinho
Decisão de Compra
39. Descreva o momento onde você decide que é preciso comprar vinho (explorar
esta questão para diferentes ocasiões: consumo em casa com família, consumo em
casa com convidados, vinho como presente)
40. Quem na sua família pede para comprar vinho? Como é feita a decisão de
compra do vinho? (quando, motivos, antecedência)
41. Como vocês percebem que é preciso comprar vinho?
42. Conte-me em detalhes como você e sua família decidiram comprar vinho na
última vez?
Compra
43. Quando você comprou vinho pela última vez? Pode me contar como foi?
44. Quem costuma comprar vinho em sua casa?
45. Onde essa pessoa costuma ir? Existem outros lugares possíveis para
compras? Quais?
46. Quais os critérios de escolha destes lugares?
47. Como essa pessoa costuma ir às compras? (transporte)
48. Com que freqüência você costuma comprar vinhos?
130
49. Em que tipo de embalagem o vinho é comprado (pacote, unidade)? E que
embalagens nunca são compradas? Por quê?
50. Qual é a razão para escolha de tais embalagens?
51. Você compra a mesma embalagem para todas as ocasiões? Como que
funciona esta escolha?
52. O que normalmente você compra junto com vinho (outras bebidas, comidas,
objetos)?
53. O que você nunca compra quando compra vinhos?
54. Você pode ficar em falta de vinho em casa ou não? Por quê?
55. No momento da compra, alguém costuma ajudá-lo (a) a escolher qual vinho
comprar? Quem? Por que sua opinião é importante?
56. Você gosta de comprar bebidas? E vinho, você gosta de comprá-lo?
57. Se você chega ao local de compra e não encontra vinho (ou não tem o vinho
específico que você gostaria de comprar), você compra algum outro produto em seu
lugar? Se sim, qual? Se não, por quê? Como você gerencia isso?
Transporte
58. Como é feito o transporte das suas compras até sua casa?
59. Quanto tempo você gasta com este transporte?
60. Qual o meio de transporte mais freqüente que é utilizado para levar estas
compras para casa?
61. Quais cuidados são tomados durante o transporte? Por quê?
62. Existe algum inconveniente no transporte das garrafas de vinho até sua casa?
Se sim, quais? Por quê?
131
63. Você deixou de comprar o produto pois o transporte era um empecilho?
Quando?
64. Se você tem qualquer dificuldade no transporte do vinho, você o substitui por
algum outro produto? Se sim, qual? Se não, por quê?
Estoque
65. Onde ficam guardados os vinhos da sua última compra? (tirar fotos)
66. Quem os colocou neste lugar?
67. Você pode considerar este seu local de estoque de vinho?
68. Por que foi escolhido este lugar e não qualquer outro?
69. Quando você arrumou as garrafas neste local?
70. Você coloca todas as embalagens no mesmo lugar?
71. E as demais bebidas, onde você as guarda?
72. Existe algum produto que não pode (ou deve ser evitado) ser guardados junto
com vinhos?
73. Em que local ficam os vinhos abertos e em qual ficam os vinhos em estoque?
E onde ficam os vinhos que serão consumidos em breve (mesmo dia, dia seguinte)?
74. Em que momento você passa uma garrafa do estoque para o lugar do produto
em uso?
75. Posso ver o produto? (tirar fotos e observar a safra do vinho)
76. Você se preocupa com o envelhecimento do vinho? Por quê?
77. Isso coloca algum problema de armazenagem para você? Existe algum
procedimento ou cuidado a ser tomada em função do envelhecimento do vinho?
132
78. Especialistas defendem uma série de regras e cuidados na armazenagem do
vinho. Você conhece estas regras?
79. Se sim, quais? Como tomou conhecimento delas? Quais são as regras que
você segue? Por quê? Quais são as regras que você não segue? Por quê?
80. (Caso haja produtos não relacionados com o universo do vinho, próximo das
garrafas) para que servem estes produtos (se não for óbvio)? Por que eles estão /
ficam aqui?
Preparação Para Consumo
81. Quais são as bebidas que demandam uma preparação para o consumo
(refrigeração, mistura com outros ingredientes, mudança de embalagem)? (tirar?)
82. E como isso funciona para o vinho, você faz alguma preparação para
consumo (temperatura adequada, por exemplo)? O que você faz normalmente?
83. Como é feita a escolha de qual vinho será aberto? Quem decide? Quais as
regras de escolha?
84. Com quanta antecedência começa a preparação do consumo do vinho?
85. Quem participa desta preparação? Qual a função de cada uma das pessoas?
86. Esta preparação é sempre a mesma?
87. Existe qualquer variação entre os dias da semana, final de semana e
ocasiões especiais, como festas?
88. Existem regras ou rituais a serem seguidos? Quais? Por que são
importantes?
89. Existem copos específicos para o consumo do vinho?
133
90. Existem outros objetos específicos para esta preparação (abridor, balde gelo,
tampa)? Como são escolhidos estes objetos? Quem os escolhe? Eles variam em
função do tipo de vinho?
91. No caso do consumo durante uma refeição, quem prepara o quê? Como
acontece a organização da preparação para refeição e para as bebidas?
Origem
92. Várias regiões e países são reconhecidos pela sua produção de vinho. Você
tem alguma preferência por vinhos de um país/região específico? Qual (is)? Por
quê?
93. Eu vou apresentar alguns países produtores de vinho e eu quero que você me
diga sua opinião a respeito de cada um deles:
Vinho nacional
Vinho francês
Vinho chileno
Vinho italiano
Vinho argentino
Vinho americano
Marca do Vinho
94. Você tem preferência por alguma marca específica de vinho? Quais? Por
quê?
95. Qual a importância dos selos de qualidade na escolha da marca?
96. Existem marcas específicas para situações específicas? Exemplo: festas,
jantares especiais ou jantar do dia a dia.
97. Existem marcas rejeitadas? Por quê?
Consumo
98. Quais são os hábitos de bebida da sua família (quem bebe o quê)?
134
99. Em que situação cada bebida citada é mais consumida?
100. Em quais situações cada pessoa bebe vinho? Descreva detalhadamente cada
uma das situações de consumo de vinho.
101. Na sua família, quem é o maior consumidor de vinho? Quem consome mais,
bebe também quais outras bebidas? Por quê? Em que ocasiões?
102. Na sua família, quem menos bebe vinho? Quem consome menos, bebe
também quais outras bebidas? Por quê? Em que ocasiões?
103. Qual é a sua bebida preferida?
104. Existem momentos em que você se permite beber algo que não beberia
normalmente? Se sim, quando? Descreva-os.
105. Qual é a sua refeição preferida para o consumo do vinho? Por quê?
106. Existe alguma ocasião na qual o consumo de vinho é proibido? O que é então
consumido nesta situação? Por quê?
107. Existe alguma ocasião na qual o consumo de vinho é evitado? O que é então
consumido nesta situação? Por quê?
108. Quais são os motivos de consumo de vinho na refeição? (repetir para cada
uma das refeições citadas)
109. Você bebe vinho normalmente em casa ou na rua (restaurantes, bares,
festas)?
110. Com qual freqüência você bebe vinho?
111. Qual é a finalidade do consumo de vinho para você?
112. O consumo do vinho é combinado com algum outro produto (comidas e
bebidas)? Quais? Por quê?
135
113. O consumo do vinho é proibido com algum outro produto (comidas e
bebidas)? Quais? Por quê?
Descarte
Garrafa
114. O que você faz com a garrafa de vinho vazia? Sempre foi assim? Quem na
sua família faz isso?
115. Você joga fora as garrafas vazias? Onde? Onde você as guarda antes de
jogá-las fora?
116. Você guarda garrafa vazia de alguma bebida? Para que? Onde as guarda?
117. E as garrafas de vinho?
118. Você ainda tem garrafas vazias? (foto)
119. O que você faz com uma garrafa pela metade? Se você a guarda, onde você
as arruma? Em quanto tempo você espera consumi-la integralmente? Em que
ocasiões?
120. Quem normalmente descarta a garrafa de vinho vazia?
121. Você algum tratamento diferenciado no descarte da garrafa, por ser de
vidro?
Rolha
122. O que você faz com a rolha da garrafa? Sempre foi assim? Quem na sua
família faz isso?
123. Você joga fora as rolhas?
124. Você guarda a rolha das garrafas de vinho que consome? Para que?
125. Você ainda tem rolhas? (foto)
136
Rótulo
126. O que você faz com o rótulo da garrafa? Sempre foi assim? Quem na sua
família faz isso?
127. Você separa o rótulo da garrafa? Quando? Por que motivo?
128. Você guarda os rótulos das garrafas de vinho que consome? Para que?
129. Você ainda tem rótulos? (foto)
Recompra
130. Você costuma comprar vinhos repetidos? Quando? Por que ou por que não?
131. Quais são as características do produto que estimulam a recompra e quais
aquelas que impedem?