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DESAFIOS DA LONGEVIDADE SAUDÁVEL: UM
ESTUDO DE CASO NA SÃO PAULO ALPARGATAS S.A.
Alexandre Farias Chaves
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
Instituto COPPEAD de Administração
Mestrado em Administração
ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D.
Rio de Janeiro Brasil
2006
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ii
DESAFIOS DA LONGEVIDADE SAUDÁVEL: UM
ESTUDO DE CASO NA SÃO PAULO ALPARGATAS S.A.
Alexandre Farias Chaves
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de
Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.).
Aprovada por:
_______________________________ - Orientadora
Profª. Denise Lima FLECK, Ph.D.
_______________________________
Prof. Donaldo de Souza Dias, D. Sc.
_______________________________
Prof. Adriano Proença, D. Sc.
Rio de Janeiro Brasil
2006
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Chaves, Alexandre Farias.
Desafios da Longevidade Saudável: um estudo de caso na São
Paulo Alpargatas S.A./ Alexandre Farias Chaves. Rio de Janeiro, 2006.
xix, 388 f.: 141 il.
Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade Federal
do Rio de Janeiro UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2006.
Orientadora: Denise Lima Fleck
1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento da Firma. 3. Indústria
Têxtil e Calçadista. Teses. I. Fleck, Denise Lima (Orientadora). II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de
Administração. III. Desafios da Longevidade Saudável: um estudo de caso
na São Paulo Alpargatas S.A.
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, José
Chaves e Miraci, à minha esposa Luciana e
aos meus filhos Guilherme e Gustavo. Deles
brota todo o estímulo para buscar novos
desafios e deles emana toda a força para
vencê-los.
v
AGRADECIMENTOS
A conclusão deste trabalho representa o final de uma dura caminhada de mais
de dois anos e a realização de um sonho pessoal. Muitas pessoas contribuíram
enormemente para que ele se concretizasse, as quais, devo a minha imensa gratidão.
Agradecimentos, em especial, vão para:
§ Francisco Teixeira Junior, amigo que tanto me incentivou a entrar de
cabeça nessa empreitada que foi o Mestrado do Coppead.
§ Meus pais, sogros, e às minhas tias Juraci e Conceição, que apoiaram
moral e financeiramente minha decisão de dedicar dois anos de minha vida
apenas ao estudo.
§ Minha cunhada Giovanna por ter abdicado de seu conforto familiar para me
acolher por 14 meses no seio de seu lar.
§ Minha irmã Germana, meu cunhado Ericil, meu tio Zezinho e família, meu
tio Jurandi e família, e minha prima Julienne e família por terem me ajudado
a vencer as dificuldades surgidas nos 29 meses de Rio de Janeiro.
§ Os colegas de Estratégia, Eduardo Rodrigues e Luis Mauro, pela amizade,
cumplicidade e companheirismo compartilhado durante essa jornada.
§ O amigo Paulo Grigorovski pela paciência e tempo despendido em nossas
conversas sobre os rumos iniciais do trabalho.
§ Márcio Utsch, presidente da São Paulo Alpargatas, por ter se colocado à
disposição para colaborar com nosso trabalho.
§ Rui La Laina Porto, pela calorosa recepção e tão rica entrevista concedida.
§ Cássia Navarro, da São Paulo Alpargatas, pela presteza e intermediação
do contato junto à empresa Sinopse.
§ Cecília e Milton, da Sinopse, pela disposição em ajudar a coletar e reunir as
informações mais remotas sobre a São Paulo Alpargatas.
§ Os funcionários da Biblioteca Nacional, da Biblioteca da UFPI, da Biblioteca
do Banco do Nordeste, da CVM e do Arquivo Nacional, pela paciência e
vi
presteza com que muito me ajudaram a levantar informações históricas
sobre o setor têxtil, calçadista e sobre a São Paulo Alpargatas.
§ A Ketiane, das Casas Rios, o David das Lojas Paralelas, o Jorge das Lojas
Pizare e o Marcos das lojas Toc Toc Sports, pelas entrevistas concedidas,
que tão úteis foram para mostrar o lado dos varejistas que comercializam
os produtos da São Paulo Alpargatas.
§ Os meus amigos Marcílio, Marcos e Maurício pela amizade, força e
companheirismo de sempre.
§ A professora e amiga Denise Lima Fleck, que muito me impressionou com
o seu profissionalismo e dedicação, tendo propiciado a mim, muito
conhecimento, aprendizado acadêmico e experiência de vida. Tenho muito
orgulho de ter sido seu orientando.
A todos aqueles que apesar de não terem ajudado praticamente,
demonstraram interesse em contribuir para a realização deste trabalho, registro
também o meu muito obrigado.
vii
RESUMO
Chaves, Alexandre Farias. Desafios da Longevidade Saudável: um estudo de caso
na São Paulo Alpargatas S.A. Orientadora: Denise Lima FLECK. Rio de Janeiro :
UFRJ/COPPEAD, 2006. Dissertação (Mestrado em Administração).
Essa dissertação apresenta um estudo longitudinal sobre as 10 décadas de
existência da São Paulo Alpargatas, a mais tradicional empresa do ramo têxtil e
calçadista brasileiro, que nasceu em 1907, como uma subsidiária da Fábrica Argentina
de Alpargatas, e se nacionalizou em 1948. Hoje, controlada pelo Grupo Camargo
Corrêa, a São Paulo Alpargatas é uma empresa que enfatiza a construção de marcas
de alto valor agregado tanto no mercado interno como no exterior. Ao contrário do
interesse industrial que pautou o crescimento da companhia ao longo das primeiras 8
cadas de sua existência, as fábricas da Alpargatas são vistas, hoje, pela alta
administração, apenas como diferencial competitivo.
Os objetivos deste trabalho foram: (1) analisar quais as características mais
consistentes e marcantes da empresa, que poderiam explicar tanto o crescimento da
companhia, como a superação das fases de dificuldade surgidas nesses 98 anos; (2) e
analisar em que medida a São Paulo Alpargatas desenvolveu propensão à
autoperpetuação à luz do framework de Traços Organizacionais de FLECK (2003a;
2005). Concluiu-se que a sistematização dos provisionamentos financeiros para
investimentos e para eventualidades, e a sistematização das políticas de valorização,
desenvolvimento, manutenção e integração dos recursos humanos, foram as duas
características básicas de sustentação da empresa nesses quase cem anos. Tais
características se mostraram de extrema relevância para o desenvolvimento da
propensão à autoperpetuação da companhia, a despeito de aspectos circunstanciais
terem promovido variações no grau de tal propensão entre os diferentes períodos de
existência da empresa (FLECK, 2003a; FLECK, 2005).
ABSTRACT
Chaves, Alexandre Farias. Desafios da Longevidade Saudável: um estudo de caso
na São Paulo Alpargatas S.A. Orientadora: Denise Lima FLECK. Rio de Janeiro :
UFRJ/COPPEAD, 2006. Dissertação (Mestrado em Administração).
This dissertation involves a 10 decades study about São Paulo Alpargatas
history, the most traditional company in the Brazilian textile and shoes industry.
Founded in 1907 as a subsidiary of Fábrica Argentina de Alpargatas, the company had
the majority of its voting shares bought by Brazilians investors in 1948. Nowadays,
being controlled by Camargo Corrêa Group, São Paulo Alpargatas is a company
focused in brand development, with a great interest in internationalization. Instead of its
traditional ability to deal with scale production that droved the company growth along
the first 8 decades of its life, São Paulo Alpargatas plants are seen, nowadays, only as
a competitive advantage sources.
This work pursued two main objectives: (1) to analyze what were the most
consistent and important company’s characteristics that could explain both its growth
trajectory and its crises overcome capacity showed during these 98 years as well; and
(2) to analyse how much São Paulo Alpargatas had developed a self-perpetuation
propensity in accordance with the Organizational Trace framework of FLECK (2003a;
2005). The work concludes that the systematic behavior of save funds to future
investments and uncertains, and the systematic politics of development, maintenance
and integration of human resources were the two main characteristics that supported
company’s operation during almost a century of existence. Both characteristics had
been of huge importance for the development of company’s self-perpetuation capacity
propensity, although some circumstantial aspects had promoted different levels of such
propensity along the company’s existence (FLECK, 2003a; FLECK, 2005).
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Crescimento e Desempenho Relativo da SPASA....................................... 3
Figura 2.1 Sistemismo de BUNGE (1996; 1999).......................................................... 8
Figura 2.2 Esquema de Funcionamento do Motor de Crescimento Contínuo........... 14
Figura 2.3 Esquema do Motor de Co-Evolução.......................................................... 15
Figura 2.4 Mecanismo da Existência Continuada ......................................................16
Figura 2.5 Framework de Longevidade Saudável...................................................... 17
Figura 4.1 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA................................ 49
Figura 4.2 Solidez Econômica da SPASA.................................................................. 50
Figura 4.3 Liquidez da SPASA.................................................................................... 50
Figura 4.4 Eficiência Administrativa da SPASA.......................................................... 51
Figura 4.5 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA durante os Primeiros
Passos .................................................................................................................... 53
Figura 4.6 Solidez Econômica da SPASA durante os Primeiros Passos .................. 53
Figura 4.7 Liquidez da SPASA durante os Primeiros Passos.................................... 54
Figura 4.8 Eficiência Administrativa da SPASA durante os Primeiros Passos.......... 69
Figura 4.9 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA na fase de
Desenvolvimento .................................................................................................... 84
Figura 4.10 Solidez Econômica da SPASA na fase de Desenvolvimento................. 85
Figura 4.11 Liquidez da SPASA na fase de Desenvolvimento .................................. 85
Figura 4.12 Eficiência Administrativa da SPASA na fase de Desenvolvimento ......111
Figura 4.13 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA durante a Crise.. 128
Figura 4.14 Solidez Econômica da SPASA durante a Crise.................................... 128
Figura 4.15 Liquidez da SPASA durante a Crise...................................................... 129
Figura 4.16 Eficiência Administrativa da SPASA durante a Crise............................ 147
Figura 4.17 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA no Recomeço.... 161
Figura 4.18 Solidez Econômica da SPASA no Recomeço....................................... 161
Figura 4.19 Liquidez da SPASA no Recomeço........................................................ 162
Figura 4.20 Eficiência Administrativa da SPASA na fase de Recomeço................. 172
Figura 7.1.1 Segmentação do Setor Têxtil ............................................................... 219
Figura 7.1.2 Segmentação das Fibras Têxteis ......................................................... 221
Figura 7.1.3 Consumo Mundial de Fibras Têxteis .................................................... 222
Figura 7.1.4 Consumo Industrial por Tipo de Fibra no Brasil................................... 223
Figura 7.1.5 Evolução do Consumo Industrial de Fibras no Brasil .......................... 223
x
Figura 7.1.6 Produção e Consumo Industrial de Algodão no Brasil: 1920-2004..... 225
Figura 7.1.7 Consumo de Fibras Artificiais no Brasil................................................ 228
Figura 7.1.8 Consumo de Fibras Sintéticas no Brasil .............................................. 228
Figura 7.1.9 Nível de Emprego no Segmento de Fiação por Tipo de Atividade...... 231
Figura 7.1.10 Produção Nacional de Fios segundo a Natureza da Fibras .............. 232
Figura 7.1.11 - Número de Fiações por Região Geográfica........................................ 233
Figura 7.1.12 - Nível de Emprego no Segmento de Fiação por Região Geográfica.. 233
Figura 7.1.13 Número de Fiações Integradas e Exclusivas..................................... 234
Figura 7.1.14 Idade Média Maquinário de Fiação .................................................... 235
Figura 7.1.15 Processo de Tecelagem..................................................................... 236
Figura 7.1.16 Número de Tecelagem por Região Geográfica ................................. 238
Figura 7.1.17 Nível de Emprego no Segmento de Tecelagem por Região Geográfica
.............................................................................................................................. 239
Figura 7.1.18 Nível de Emprego no Segmento de Tecelagem por Tipo de Atividade
.............................................................................................................................. 239
Figura 7.1.19 Produção de Tecidos segundo a Natureza das Fibras...................... 240
Figura 7.1.20 Idade Média do Maquinário de Tecelagem ........................................ 241
Figura 7.1.21 Nível de Emprego no Sub-Segmento de Malharia por Região
Geográfica ............................................................................................................ 242
Figura 7.1.22 Número de Malharias por Região Geográfica.................................... 242
Figura 7.1.23 Nível de Emprego no Segmento de Malharia por Região Geográfica
.............................................................................................................................. 243
Figura 7.1.24 Idade média do Maquinário de Malharia ............................................ 244
Figura 7.1.25 Produção de Malhas segundo a Natureza das Fibras....................... 245
Figura 7.1.26 Número de Beneficiadores Integradas e Exclusivos ......................... 246
Figura 7.1.27 Número de Beneficiadores por Região Geográfica........................... 247
Figura 7.1.28 Nível de Emprego no Segmetno de Beneficiamento por Região
Geográfica ............................................................................................................ 247
Figura 7.1.29 Nível de emprego de beneficiadores por tipo de atividade................ 248
Figura 7.1.30 - Produção do Segmento de Acabamento por Tipo de Sub-Segmento249
Figura 7.1.31 Número de Confecções por Atividade................................................ 250
Figura 7.1.32 Número de Confecções Integradas e Exclusivas .............................. 251
Figura 7.1.33 Número de Confecções por Região Geográfica................................ 252
Figura 7.1.34 Número de Empresas pelo Porte....................................................... 253
Figura 7.1.35 Participação dos Canais de Distribuição............................................ 254
xi
Figura 7.1.36 Idade Média do Maquinário do Segmento de Confecções................ 255
Figura 7.2.1 Consumo Mundial de Materiais para Solado .......................................262
Figura 7.3.1 Visão da História da São Paulo Alpargatas .........................................264
Figura 7.3.2 Registro Contábil do Capital Social Inicial da São Paulo Alpargatas .. 267
Figura 7.3.3 Evolução da Composição do Patrimônio Líquido ................................ 283
Figura 7.3.4 Evolução das Exportações da SPASA................................................. 292
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Descrição das Dimensões dos Traços Organizacionais de FLECK (2003a,
2005)....................................................................................................................... 18
Tabela 3.1 Segmentação da História da São Paulo Alpargatas ................................ 33
Tabela 3.2 Detalhamento da forma como foram obtidos os principais dados utilizados
no cálculo dos indicadores quantitativos................................................................ 36
Tabela 3.3 Representatividade do Lucro Líquido Computado................................... 37
Tabela 3.4 Conversão de Moedas do Último Século ................................................. 38
Tabela 3.5 Indicadores Contábeis e Financeiros Utilizados na Análise Quantitativa 40
Tabela 3.6 Indicadores Contábeis e Financeiros Utilizados na Análise Quantitativa
ordenados pelas Dimensões dos Traços Organizacionais de FLECk (2003a;
2005)....................................................................................................................... 42
Tabela 3.7 Planilha de Análise Qualitativa .................................................................43
Tabela 3.8 Constructos e domínios utilizados para a avaliação da propensão da
SPASA à Autoperpetuação .................................................................................... 44
Tabela 3.9 Qualificadores em Nível de Indivíduo, Microambiente e Macroambiente 44
Tabela 3.10 Pontuação da Análise da São Paulo Alpargatas.................................... 45
Tabela 4.1 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” nos Primeiros Passos da SPASA....................................... 60
Tabela 4.2 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Empreendedorismo”
nos Primeiros Passos da SPASA........................................................................... 62
Tabela 4.3 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” nos Primeiros Passos da SPASA........................................................ 65
Tabela 4.4 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Atitude para
a Mudança” nos Primeiros Passos da SPASA...................................................... 67
Tabela 4.5 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” nos Primeiros Passos da SPASA......................................................... 68
Tabela 4.6 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Diversidade” nos Primeiros Passos da SPASA..................................................... 71
Tabela 4.7 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da Diversidade”
nos Primeiros Passos da SPASA........................................................................... 72
Tabela 4.8 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Complexidade” nos Primeiros Passos da SPASA................................................. 76
Tabela 4.9 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” nos Primeiros Passos da SPASA................................................. 77
Tabela 4.10 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” nos Primeiros Passos da SPASA......................................... 79
Tabela 4.11 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Folga” nos
Primeiros Passos da SPASA ................................................................................. 81
Tabela 4.12 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” nos Primeiros
Passos da SPASA.................................................................................................. 81
Tabela 4.13 Posicionamento dos Primeiros Passos por Desafio............................... 82
Tabela 4.14 Posicionamento dos Primeiros Passos por Grupo de Desafio .............. 82
Tabela 4.15 Posicionamento Geral dos Primeiros Passos ........................................ 82
Tabela 4.16 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” durante o Desenvolvimento da SPASA.............................. 91
Tabela 4.17 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Empreendedorismo”
durante o Desenvolvimento da SPASA................................................................. 94
Tabela 4.18 Ações de Expansão fabril na fase de Desenvolvimento da SPASA...... 95
Tabela 4.19 Ações de lançamento de produtos e marcas na fase de
Desenvolvimento da SPASA.................................................................................. 96
Tabela 4.20 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” durante o Desenvolvimento da SPASA............................................. 101
Tabela 4.21 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” durante o Desenvolvimento da SPASA.............................................. 110
Tabela 4.22 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Diversidade” durante o Desenvolvimento da SPASA.......................................... 114
Tabela 4.23 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” durante o Desenvolvimento da SPASA.......................................... 114
Tabela 4.24 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Complexidade” durante o Desenvolvimento da SPASA...................................... 120
Tabela 4.25 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” durante o Desenvolvimento da SPASA...................................... 121
Tabela 4.26 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” durante o Desenvolvimento da SPASA.............................. 123
Tabela 4.27 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Folga”
durante o Desenvolvimento da SPASA............................................................... 124
xiv
Tabela 4.28 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” durante o
Desenvolvimento da SPASA................................................................................ 125
Tabela 4.29 Posicionamento do Desenvolvimento por Desafio............................... 126
Tabela 4.30 Posicionamento do Desenvolvimento por Grupo de Desafio ..............126
Tabela 4.31 Posicionamento Geral do Desenvolvimento......................................... 126
Tabela 4.32 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” durante a Crise da SPASA ............................................... 134
Tabela 4.33 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Empreendedorismo”
durante a Crise da SPASA................................................................................... 137
Tabela 4.34 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” durante a Crise da SPASA................................................................ 140
Tabela 4.35 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” durante a Crise da SPASA.................................................................. 146
Tabela 4.36 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Diversidade” durante a Crise da SPASA ............................................................. 148
Tabela 4.37 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” durante a Crise da SPASA ............................................................. 149
Tabela 4.38 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Complexidade” durante a Crise da SPASA......................................................... 151
Tabela 4.39 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” durante a Crise da SPASA......................................................... 153
Tabela 4.40 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” durante a Crise da SPASA................................................. 155
Tabela 4.41 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Folga”
durante a Crise da SPASA................................................................................... 156
Tabela 4.42 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” durante a Crise
da SPASA............................................................................................................. 157
Tabela 4.43 Posicionamento na fase de Crise por Desafio ..................................... 158
Tabela 4.44 Posicionamento na fase de Crise por Grupo de Desafio..................... 158
Tabela 4.45 Posicionamento Geral na fase de Crise............................................... 158
Tabela 4.46 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” para o Recomeço da SPASA............................................ 165
Tabela 4.47 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Empreendedorismo”
para o Recomeço da SPASA............................................................................... 166
xv
Tabela 4.48 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” para o Recomeço da SPASA............................................................. 168
Tabela 4.49 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” para o Recomeço da SPASA.............................................................. 172
Tabela 4.50 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Diversidade” para o Recomeço da SPASA ......................................................... 178
Tabela 4.51 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” para o Recomeço da SPASA ......................................................... 179
Tabela 4.52 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Gestão da
Complexidade” para o Recomeço da SPASA ..................................................... 185
Tabela 4.53 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” para o Recomeço da SPASA ..................................................... 188
Tabela 4.54 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” para o Recomeço da SPASA............................................. 190
Tabela 4.55 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão “Folga” para
o Recomeço da SPASA ....................................................................................... 191
Tabela 4.56 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” para o
Recomeço da SPASA .......................................................................................... 192
Tabela 4.57 Posicionamento na fase de Recomeço por Desafio............................ 193
Tabela 4.58 Posicionamento na fase de Recomeço por Grupo de Desafio............ 193
Tabela 4.59 Posicionamento Geral na fase de Recomeço...................................... 193
Tabela 5.1 Síntese do Posicionamento da SPASA no continuum AD-AP............... 201
Tabela 7.2.1 - Materiais Utilizados na Confecção de Solados.................................... 260
Tabela 7.3.1 Atuais Fábricas da São Paulo Alpargatas ........................................... 263
Tabela 7.3.2 Composição Acionária da São Paulo Alpargatas em 1987 ................ 294
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A.S.A.I.C. Alpargatas Sociedad Anónima Industrial y Comercial
AVA Avaliação do Valor de Atividade
B2B Business to Business
BDMG Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
BESA Borracha Esponjosa S.A. Indústria e Comércio
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAB Comitê Permanente de Acompanhamento da Qualidade do Algodão Brasileiro
CDI Conselho de Desenvolvimento Industrial
CIP Conselho Interministerial de Preços
CVM Comissão de Valores Mobiliários
FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
GE General Electric
ICI Imperial Chemical Industries
IFC International Finance Corporation
IPC Índice de Preços de Consumo
MBA Master in Business Administration
MEN Modernas Empresas de Negócios
PIB Produto Interno Bruto
SPASA São Paulo Alpargatas S.A
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
TI Tecnologia da Informação
UFPI Universidade Federal do Piauí
xvii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1
1.1 Contextualização do Trabalho ...................................................................... 1
1.2 Organização do Trabalho.............................................................................. 4
2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 5
2.1 Teoria em Ciências Sociais........................................................................... 6
2.2 Teoria da Firma e de seu Crescimento......................................................... 8
2.3 A perspectiva de Traços Organizacionais de FLECK (2003a; 2005) ........ 13
3. METODOLOGIA....................................................................................................... 23
3.1 Natureza da Pesquisa................................................................................. 23
3.2 Evolução do Trabalho ................................................................................. 25
3.3 Coleta dos Dados Brutos ............................................................................ 27
3.4 Análise dos Dados....................................................................................... 32
3.4.1 Avaliação da Evolução dos Indicadores Quantitativos.................... 33
3.4.1.1 Estruturação dos Dados....................................................... 33
3.4.1.2 Estruturação dos Indicadores............................................... 38
3.4.2 Análise Qualitativa............................................................................ 43
3.5 Posição no Continuum: Autodestruição-Autoperpetuação......................... 45
3.5.1 Posicionamento por Desafio ............................................................ 45
3.5.2 Posicionamento por Grupo de Desafio ............................................ 46
3.5.3 Posicionamento por Fase................................................................. 46
4. RESULTADO DA ANÁLISE .................................................................................... 48
4.1 Os Primeiros Passos (1907-1940).............................................................. 52
4.1.1 Empreendedorismo.......................................................................... 52
4.1.2 Motivação para Expansão................................................................ 62
4.1.3 Atitude para a Mudança ................................................................... 66
4.1.4 Gestão da Diversidade ..................................................................... 68
4.1.5 Gestão da Complexidade................................................................. 72
4.1.6 Formação da Estrutura Gerencial.................................................... 78
4.1.7 Folga ................................................................................................. 80
4.1.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-Autoperpetuação.. 82
4.2 O Desenvolvimento (1941-1988) ................................................................ 83
4.2.1 Empreendedorismo.......................................................................... 84
4.2.2 Motivação para Expansão................................................................ 94
4.2.3 Atitude para a Mudança ................................................................. 102
4.2.4 Gestão da Diversidade ................................................................... 110
4.2.5 Gestão da Complexidade............................................................... 114
4.2.6 Formação da Estrutura Gerencial.................................................. 121
4.2.7 Folga ............................................................................................... 123
4.2.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-Autoperpetuação 126
4.3 A Crise (1989-1996) .................................................................................. 127
4.3.1 Empreendedorismo........................................................................ 127
4.3.2 Motivação para Expansão.............................................................. 137
4.3.3 Atitude para a Mudança ................................................................. 140
4.3.4 Gestão da Diversidade ................................................................... 146
4.3.5 Gestão da Complexidade............................................................... 149
4.3.6 Formação da Estrutura Gerencial.................................................. 153
xviii
4.3.7 Folga ............................................................................................... 155
4.3.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-Autoperpetuação 158
4.4 O Recomeço (1997-2004)......................................................................... 159
4.4.1 Empreendedorismo........................................................................ 160
4.4.2 Motivação para Expansão.............................................................. 166
4.4.3 Gestão da Diversidade ................................................................... 172
4.4.4 Gestão da Complexidade............................................................... 179
4.4.5 Formação da Estrutura Gerencial.................................................. 188
4.4.6 Folga ............................................................................................... 190
4.4.7 Posicionamento no Continuum Autodestruição-Autoperpetuação 193
5. CONCLUSÕES...................................................................................................... 194
5.1 Conclusões gerais do estudo.................................................................... 196
5.2 Limitações do Estudo................................................................................ 201
5.3 Sugestões para pesquisas futuras............................................................ 204
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 206
7. ANEXOS................................................................................................................. 218
7.1 ANEXO 1 Segmentação do Setor Têxtil................................................ 218
7.2 ANEXO 2 Aspectos Produtivos do Setor de Calçados .........................256
7.3 ANEXO 3 História da São Paulo Alpargatas S.A.................................. 263
7.4 ANEXO 4 Cotação do Dólar entre 1942 e 2004.................................... 315
7.5 ANEXO 5 Valores do PIB entre 1907 e 2004........................................ 316
7.6 ANEXO 6 Dados do Ativo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004 ...... 317
7.7 ANEXO 7 Dados do Passivo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004 . 321
7.8 ANEXO 8 Dados das Demonstrações de Resultado da SPASA de 1909 a
2004........................................................................................................... 325
7.9 ANEXO 9 Número de Ações e Dividendos Distribuídos de 1909 a 2004
................................................................................................................... 329
7.10ANEXO 10 Investimentos e Exportações da SPASA............................ 330
7.11ANEXO 11 Evolução do Consumo Industrial de Fibras e Filamentos no
Brasil (1000 tons) ...................................................................................... 331
7.12ANEXO 12 Evolução da Produção Industrial de Fibras e Filamentos no
Brasil (1000 tons) ...................................................................................... 333
7.13ANEXO 13 Número de Fiações por Região, Exclusivas e Integradas . 336
7.14ANEXO 14 Número de Empregados em Fiação por Região e Função 337
7.15ANEXO 15 Produção de Fiação por Natureza das Fibras (em toneladas)
................................................................................................................... 338
7.16ANEXO 16 Idade do Parque Industrial de Fiação (em anos) ............... 339
7.17ANEXO 17 Número de Tecelagens por Região, Exclusivas e Integradas
................................................................................................................... 341
7.18ANEXO 18 Número de Empregados em Tecelagens por Região e
Função (Nº Empregos).............................................................................. 342
7.19ANEXO 19 Produção de Tecidos segundo a Natureza das Fibras (em
toneladas).................................................................................................. 343
7.20ANEXO 20 Idade do Parque Industrial de Tecelagem (em anos .........344
7.21ANEXO 21 Número de Malharias por Região, Exclusivas e Integradas
................................................................................................................... 346
7.22ANEXO 22 Produção de Malharias por Tipo das Fibra (em toneladas)347
7.23ANEXO 23 Número de Empregos por Região e Tipo de Atividade...... 348
7.24ANEXO 24 Idade do Parque Industrial de Malharia (em anos) ............ 349
xix
7.25ANEXO 25 Número de Beneficiadores por Região Exclusivas e
Integradas.................................................................................................. 350
7.26ANEXO 26 Beneficiamento de Fiação por Natureza da Fibra (em
toneladas).................................................................................................. 351
7.27ANEXO 27 Beneficiamento de Fiação por Processo Produtivo (em
toneladas).................................................................................................. 352
7.28ANEXO 28 Beneficiamento de Tecidos Planos por Natureza da Fibra (em
toneladas).................................................................................................. 353
7.29ANEXO 29 Beneficiamento de Tecidos Planos por Processo Produtivo
(em toneladas)........................................................................................... 354
7.30ANEXO 30 Beneficiamento de Malhas por Natureza da Fibra (em
toneladas).................................................................................................. 355
7.31ANEXO 31 Beneficiamento de Malhas por Processo Produtivo (em
toneladas).................................................................................................. 356
7.32ANEXO 32 Número de Confecções por Região, Tipo de Artigo,
Exclusivas e Integradas ............................................................................ 357
7.33ANEXO 33 Número de Confecções, Número de Empregos e Produção
por Porte das Empresas............................................................................ 358
7.34ANEXO 34 Número de Emprego em Confecções por Região Geográfica
e Tipo de Artigo......................................................................................... 359
7.35ANEXO 35 Produção por Tipo de Artigo Confeccionado (em toneladas)
................................................................................................................... 360
7.36ANEXO 36 Idade do Parque Industria de Confecções (em anos)........ 361
7.37ANEXO 37 Participação dos Canais de Distribuição de Confecções (em
milhares de peças).................................................................................... 362
7.38ANEXO 38 Tipos de Teares para Tecidos Planos ................................ 363
7.39ANEXO 39 Tipos de Teares para Malharia ........................................... 364
7.40ANEXO 40 Produção Brasileira de Calçados (Milhões de Pares)........ 365
7.41ANEXO 41 Consumo, Exportação e Importação Brasileira de Calçados
(Milhões de Pares) .................................................................................... 366
7.42ANEXO 42 Número de Empresas e de Empregos Gerados pela Indústria
de Calçados............................................................................................... 367
7.43ANEXO 43 Destino das Exportações Brasileiras (%) ........................... 368
7.44ANEXO 44 Valor das Importações Brasileiras de Equipamentos
Industriais .................................................................................................. 369
7.45ANEXO 45 Patente das Havaiana ......................................................... 370
7.46ANEXO 46 Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A
................................................................................................................... 374
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do Trabalho
A longevidade empresarial saudável é um tema que vem sendo bastante
trabalhado dentro da área de Estratégia, no Instituto Coppead de Administração da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faz parte de uma linha de pesquisa
iniciada com a tese de Doutorado da Professora Denise Lima FLECK (FLECK,
2001), e que tem recebido desde então, inúmeras contribuições da própria
Docente, bem como de diversos alunos da instituição.
A relevância de se estudar o assunto vem da necessidade de entendimento da
dinâmica empresarial, que muitas vezes tanto alavanca, quanto vitima as
empresas. Nesse processo estão envolvidas empresas jovens e tradicionais,
grandes e pequenas, que apresentam tanto trajetórias estáveis quanto grandes
oscilações nos resultados, que são mais ou menos suscetíveis às mudanças
conjunturais, empresas familiares e profissionalizadas, empresas abertas e
fechadas, empresas que atuam local e globalmente, enfim, todos os tipos de
empresa que atuam num mercado de livre concorrência. Assim, explicar sucessos
e fracassos empresariais e prescrever condições necessárias para que as
empresas tenham uma longevidade saudável é uma grande contribuição ao
desenvolvimento da ciência administrativa.
FLECK (2003a) procura definir essas condições inspirada principalmente nas
obras de PENROSE (1959), CHANDLER (1962, 1977, 1990) e SELZNICK (1957),
sistematizando suas idéias através da identificação e da análise multinível dos
mecanismos de promoção da longevidade empresarial saudável (BUNGE, 1996;
1999). Segundo a autora, esses mecanismos estão relacionados às variáveis
internas das empresas. Assim, as trajetórias das empresas são, em última
instância, frutos de suas respostas aos estímulos externos através de sua gestão.
Esse trabalho tem como objetivo analisar à luz do framework de FLECK
(2003a; 2005), a trajetória de crescimento da São Paulo Alpargatas, uma das
grandes representantes do processo de industrialização do Brasil no segmento de
2
bens de consumo. A empresa foi fundada em 1907 como parte de um processo de
expansão geográfica de sua homônima argentina, que veio a ser sua matriz até
1948, para aproveitar a demanda potencial por alpargatas Roda e Encerados, que
a economia cafeeira brasileira da época proporcionava.
Durante os primeiros 33 anos de sua existência, a São Paulo Alpargatas
cresceu em meio a contratempos, tais como: a I Guerra Mundial (1914-1918); o
surto de Gripe Espanhola (1918); os períodos de instabilidade do mercado (1919 e
1923); a Revolução Tenentista (1924); e a crise econômica que teve início em
1926, ápice em 1930, e desfecho favorável à companhia apenas em 1940.
Entre 1941 e 1989, sob o comando de Alfred Norris e Keith Bush, a São Paulo
Alpargatas viveu seu período de maior crescimento, tendo atingido um Lucro Bruto
(Valor Adicionado Interno) de 0,2% do PIB Brasileiro (Valor Adicionado da
Economia), e um número de 34.500 funcionários, distribuídos em 28 fábricas e em
12 andares de um edifício comercial localizado no Itaim Bibi, em São Paulo. Em
1990, a abertura da economia brasileira surpreendeu a empresa e deu origem a
outra grave crise, que ganhou força em 1994 com o plano real e com a quebra do
contrato com a Nike, maior licenciada da companhia à época. A crise acabou se
prolongando até 1998, quando sob intervenção de um dos acionistas majoritários,
a Camargo Corrêa, os prejuízos foram contidos de vez.
A trajetória de crescimento e de desempenho econômico da São Paulo
Alpargatas em relação ao PIB pode ser observada na Figura 1.1 a seguir.
3
Evolução do Crescimento e do Desempenho Econômico Relativo
-0,0600%
-0,0300%
0,0000%
0,0300%
0,0600%
0,0900%
0,1200%
0,1500%
0,1800%
0,2100%
1909
1914
1919
1924
1929
1934
1939
1944
1949
1954
1959
1964
1969
1974
1979
1984
1989
1994
1999
2004
Lucro Bruto como % do PIB
Lucro Líquido como % do PIB
Fonte: Vide Anexos 5 e 8
Figura 1.1 Crescimento e Desempenho Relativo da SPASA
Hoje, a São Paulo Alpargatas é uma empresa, aparentemente, bem
estruturada organizacionalmente, que trabalha a valorização de suas marcas, e
que semeia, em função de sua estrutura de caixa, de seu modelo de gestão
baseado em resultado e do seu reconhecido trabalho de internacionalização de
marcas, uma expectativa de sucesso de longo prazo tanto entre seus acionistas
como entre seu corpo de funcionárias, a “família alpargateira”, como a própria
empresa costuma chamar.
Nesse contexto, cabe-nos tentar responder, com base em nossa análise:
1) Quais elementos estratégicos básicos foram responsáveis pelo
crescimento da São Paulo Alpargatas e pela sua capacidade de
resistência e recuperação a crises?
2) Em que medida a São Paulo Alpargatas tem desenvolvido propensão à
autoperpetuação, segundo o conceito de FLECK (2003a, 2005,)?
4
1.2 Organização do Trabalho
O presente trabalho está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo tem
apresentado uma breve introdução sobre o que versa o trabalho, a relevância do
estudo, o objetivo que se almeja com o mesmo, e a sua disposição e organização.
O segundo capítulo aborda a revisão da literatura e tem como objetivo inteirar o
leitor a respeito dos conceitos e idéias sobre Crescimento da Firma e Longevidade
Empresarial Saudável. O terceiro capítulo expõe o método de produção do
trabalho, destacando a natureza do mesmo, a evolução do trabalho, a forma como
os dados foram coletados e tratados, e os instrumentos utilizados para a análise
dos mesmos. O quarto capítulo apresenta o resultado da análise da trajetória de
crescimento da São Paulo Alpargatas segundo o framework de traços
organizacionais de FLECK (2003a, 2005). Por fim, o quinto capitulo traz as
conclusões da pesquisa, suas dificuldades e limitações, e as sugestões para
pesquisas futuras.
5
2. REVISÃO DE LITERATURA
Estudar a razão do sucesso e do fracasso de empresas tem sido o objeto de
estudo de muitos trabalhos em ciências sociais. Vários autores se dedicaram a
analisar a razão pela qual algumas empresas conseguem resultados expressivos
de crescimento. Apesar da contribuição indiscutível de cada um deles, a maioria
utilizou escopos de análise suficientemente restritos para definir uma teoria geral
de crescimento e longevidade empresarial saudável. Simon (1996), por exemplo,
se dedicou a analisar por que algumas empresas alemãs, aparentemente
desconhecidas, apresentavam crescimento muito superior àquelas mais
vangloriadas da mídia. Meyers (1997), por sua vez, define como sua unidade de
análise as empresas atuantes no vale do Silício e tenta explicar seus crescimentos
através da Inovação. Collins e Porras (1994) analisam a diferença de trajetórias
entre as empresas líderes de seus setores e as que figuram em segundo lugar, o
que não implica dizer que as últimas sejam empresas estagnadas ou fadadas ao
fracasso no longo prazo. Collins (2001) se propõe a analisar os fatores pelos quais,
empresas com um histórico de resultados de pouca relevância, de repente
passaram a obter resultados pelo menos 3 vezes acima da média de mercado,
superando algumas das melhores empresas do mundo.
Dentro da literatura de Estratégia Empresarial, muitos outros autores tentaram
ao longo de décadas definir modelos estratégicos que garantissem o sucesso das
empresas. Apesar do reconhecimento de muitos desses modelos, como é o caso
das 5 forças de PORTER (1980), da Cadeia de Valor de PORTER (1986), e da
perspectiva sobre Competências Essenciais de HAMEL e PRAHALAD (1994),
quase todos se limitaram a apresentar análises isoladas e estáticas, estando,
portanto, longe de servirem como uma teoria genérica que suporte a longevidade
empresarial saudável. Poucos foram os autores interessados em elaborar uma
teoria capaz de generalizar as condições necessárias para que as empresas
obtivessem não só crescimento no longo prazo, mas também mantivessem a
integridade de suas estruturas enquanto crescem.
Nessa seção da dissertação far-se-á uma revisão da literatura sobre teorias em
ciências sociais, particularmente em administração estratégica, utilizando como
guia as obras de BUNGE (1996; 1999), e SNOW; THOMAS (1994). Em seguida
6
apresentar-se-á o estado da arte sobre a Teoria da Firma e de seu Crescimento
(COASE, 1993, CHANDLER, 1977; 1990; PENROSE, 1959; STABUCK, 1965) e o
framework de Traços Organizacionais proposto por FLECK (2003a; 2005), que
sintetiza em múltiplos níveis, o mecanismo de propensão das firmas à
autoperpetuação ou à autodestruição.
2.1. Teoria em Ciências Sociais
A idéia de tentar elaborar teorias complexas em ciências sociais tem sido muito
contestada por críticos, a exemplo de LANGLEY (1999), que duvidam que a
quantidade, a complexidade, a não-linearidade e o grau de subjetividade das
variáveis envolvidas nesse processo, tornem possível generalizar leis de escopo
amplo o suficiente para formar um arcabouço teórico representativo. BUNGE
(1996) pensa diferente, apesar de admitir que encontrar explicações unicausais
para a maioria dos fatos sociais é impraticável. Ele defende a sistematização dos
dados, das idéias e das hipóteses acerca dos fenômenos que pretendemos
entender e acredita que a construção de uma teoria pode ser um processo lento,
pautado em indução, porém plenamente viável. O autor enumera as vantagens de
se buscar explicações através de teorias ao invés de se recorrer somente a
modelos isolados, que supostamente espelhem a realidade, mas que não
apresentam nenhum mecanismo suficientemente forte de sustentação: (1) As
teorias são responsáveis por consolidar um grande número de hipóteses soltas
previamente apresentadas; (2) Viabilizam a prova ou a dedução de certas
hipóteses em função da fortaleza de outras hipóteses; (3) Facilitam o surgimento
de novas hipóteses não sentenciadas anteriormente; (4) Facilitam a análise crítica
dos componentes da teoria através do suporte mútuo desses componentes; (5)
Possibilita o fortalecimento da própria teoria na medida em que a confirmação de
uma componente pode reforçar indiretamente os demais; e (6) Cada
contraexemplo de um componente da teoria coloca dúvida sobre os demais.”
(BUNGE, 1996, Cap. 2, Pág. 115)
SNOW; THOMAS (1994) argumentam que o objetivo maior de uma teoria é
explicar algum fenômeno ou sistema. Segundo eles, a construção de uma teoria
passa pela identificação dos construtos relevantes, pelo desenvolvimento de
hipóteses sobre o relacionamento desses construtos, para chegar, enfim, nas
7
explicações para esses relacionamentos (SNOW; THOMAS, 1994; apud
Eisenhardt, 1989; YIN, 1984). Em outras palavras, tanto os processos descritivos
como os explicativos e prescritivos, não só contribuem para a construção e para o
teste de teorias, como representam estágios evolucionários no seu processo de
desenvolvimento. Assim, antes de explicar qualquer coisa é necessário conhecer
muito bem suas propriedades e comportamentos, bem como antes de prescrever
qualquer posicionamento frente a qualquer sistema, fenômeno ou evento, é
necessário conhecer seus mecanismos de funcionamento. Nesse contexto, a
grande contribuição do processo descritivo estaria na identificação dos blocos
básicos de construção das proposições e hipóteses das teorias, isto é, seus
construtos e variáveis.
SNOW; THOMAS (1994) classificam em duas dimensões as contribuições de
pesquisas para o desenvolvimento de teorias em administração estratégica. Na
primeira, essas contribuições são definidas segundo o estágio do desenvolvimento
da teoria, ou seja, podem contribuir para a construção de teoria, ou para o teste e
validação de teoria. Na segunda dimensão, as contribuições podem ser
classificadas conforme seus propósitos para com a teoria. Assim, as pesquisas
podem contribuir para descrever, explicar e prescrever. Dentro dessas duas
dimensões, os autores lamentam o desbalanceamento dos estudos. Segundo eles,
os pesquisadores de administração estratégica têm buscado cada vez mais
desenvolver trabalhos restritos em escopo, de pequena amplitude longitudinal e de
natureza quantitativa, pautados na manipulação de bases de dados secundárias, e
que representam, em última instância, uma contribuição para o teste de teorias
explicativas restritas. Poucos esforços têm sido empreendidos no intuito de
construir novas teorias, bem como de validar o escopo de validade dos
pressupostos teóricos já apresentados.
Ainda com relação à importância das teorias, BUNGE (1996) afirma que a
descrição é o mínimo que se pode esperar de um estudo científico. Descrições são
necessárias, porém insuficientes, já que temos ânsia de saber o “porquê” das
coisas, não somente “o que”, “quando” e “onde”. O autor prega que tudo o que
envolve o ser social carece de explicação e as teorias são o meio mais consistente
e realista de obter tais explicações. Para BUNGE (1996), explicar um fato é expor
seus mecanismos de suporte. BUNGE (1999) ressalta que esses mecanismos
8
devem ser analisados em vários níveis através de processos de Macro-
Reducionismo ou Holismo (“top-down”), e processos de Micro-Reducionismo ou
Individualismo (“bottom-up”). Nos processos de Macro-Reducionismo parte-se de
um nível superior, onde está posicionado o sistema como um todo, e procura-se
entender as relações nos níveis inferiores, representados pelos elementos de base
desse sistema. Nos processos de Micro-Reducionismo parte-se de um nível
inferior, onde estão posicionados os elementos de base do sistema, e procura-se
desenhar como as relações entre esses elementos básicos formam o sistema
como um todo. BUNGE (1996) defende que as mais adequadas explicações
resultam da combinação dos dois processos, o que o autor chamou de Sistemismo
(Vide Figura 16).
Figura 2.1 Sistemismo de BUNGE (1996; 1999)
2.2. Teoria da Firma e de seu Crescimento
O capitalismo surgiu pautado nos fundamentos que governam as teorias
econômicas tradicionais. Mesmo antes do papel moeda, a troca de mercadoria
(escambo) já refletia a eficiência dos mecanismos de preços. Existia uma
hierarquia de valor e liquidez que determinava a equivalência dos produtos
comercializados. Contudo, os produtos da época eram de natureza simples e
primária. Não havia, aparentemente, economia de custo que justificasse a
produção desses produtos no lugar de sua aquisição. Com o aumento progressivo
da diversidade e da complexidade dos produtos, um outro mecanismo econômico
pôs em questão a eficiência dos mecanismos de preços: a possibilidade de
coordenação da produção. Neste contexto nasceram as firmas, com o objetivo de
Nível
Macro
Fonte: Bunge (1996,
1999)
Nível
Micro
Nível
Micro
Nível
Macro
Micro
-
Reducionismo
ou Individualismo
Macro
-
Reducionismo
ou Holismo
Sistematismo
9
tornar o processo produtivo mais barato que a soma do valor de aquisição de cada
parte deste processo no mercado. Segundo COASE (1993), as firmas nasceram a
partir do princípio básico de que existem custos em utilizar os mecanismos de
mercado. Esses custos passaram a ser identificados e tratados de forma a se
reverterem em maiores lucros para as empresas através de integração vertical,
tendo o grau de integração variado de indústria para indústria. CHANDLER (1992)
mostra através da história que esses níveis de integração também variam com o
tempo. PFEFFER; SALANCIK (1978) ressaltam que a internalização de operações
pode, além de melhorar as margens de lucro das empresas, diminuir a
dependência da empresa por recursos externos.
Segundo COASE (1993), um dos principais fatores de custo embutido nos
preços de mercado seria o custo de contratos de curto-prazo. Esses contratos não
só requerem trabalhos administrativos repetitivos, como também não permitem, em
função das incertezas, que os fornecedores utilizem alavancagem operacional
como medida de redução dos custos de produção das mercadorias e serviços.
Outra fonte de custo tão importante quanto os custos de contrato, consiste na
participação do governo, na forma de impostos, incidentes nas transações
comerciais realizadas no mercado. Com a integração das operações, esses custos
se revertem na forma de economia de produção e potencial aumento de lucro.
Uma vez justificado o papel das firmas, entrou em questão uma outra
discussão nos meios acadêmicos: até que ponto as firmas seriam passíveis de
crescimento sustentável? Em princípio, pelo que já foi exposto, quanto mais
transações comerciais fossem internalizadas, maiores ficariam as empresas e,
portanto, esse processo deveria se suceder indefinidamente. COASE (1993), no
entanto, argumenta que isso não é necessariamente verdade. Quanto maiores
ficam as empresas, maiores são os custos de administrar a complexidade
operacional e menor é a produtividade dos fatores de produção. A relação entre os
custos marginais e os retornos marginais de uma nova operação deve ser o fator
de definição de sua atratividade à integração ao portfólio de negócios da empresa.
FLECK (2003a) acredita que o crescimento mal administrado da complexidade
operacional implica não só em lucros decrescentes, como pode colocar a
sobrevivência das empresas em questão. Para crescer, as empresa precisariam,
10
então, desenvolver capacitações dinâmicas relacionadas à gestão sistemática da
complexidade operacional.
Nesse contexto, STARBUCK (1965) sugere, em sua abordagem sobre os
mecanismos de adaptação ao crescimento, que quase todas as empresas
costumam se especializar em alguma área de atuação e que a pouca mobilidade
de seus recursos resulta num fator limitante de seu crescimento. CHANDLER
(1990, pág. 18) observou que as empresas com maior potencial de replicação ou
redirecionamento de recursos entre suas unidades foram aquelas que mais
experimentaram e se adaptaram a novas tecnologias e à abertura de novos
mercados. STARBUCK (1965) considera, porém, que o tempo necessário para
uma empresa absover uma nova tecnologia ou adentrar em um novo mercado é
inversamente proporcional ao seu tamanho. Dentro dessa perspectiva dos autores
supracitados, é importante destacar que: se por um lado, quanto maiores as
empresas, maiores os recursos financeiros para comprar e disseminar novas
tecnologias, por outro lado, quanto maiores elas são, maiores os níveis de
institucionalização, que podem aumentar consideravelmente a resistência a
mudanças (SELZNICK, 1957). Conflitos entre estratégias, e a própria identidade da
empresa podem restringir as iniciativas. Neste ponto, a participação de membros
líderes e das coalizões tem o papel fundamental de viabilizar as mudanças ou de
barrá-las. A resiliência está associada à mudança nas estruturas sociais e de
tarefas, que por sua vez permitem que novos objetivos sejam aceitos e
perseguidos (SELZNICK, 1957; MEYER; ZUCKER, 1989).
Apesar de defender os ganhos de escala como fonte de viabilização do
crescimento e de vantagem competitiva, CHANDLER (1992) reforça, através de
sua análise histórica, a assertiva de COASE (1993), de que as empresas não
podem crescer, integrando operações de mercado, indefinidamente. Segundo ele,
as indústrias americanas se expandiram tanto após o pós-guerra, inclusive através
de diversificações não-relacionadas, que em determinado ponto tiveram que rever
suas estratégias equivocadas, e racionalizar seus tamanhos e operações. Esse foi
um movimento em direção contrária às tendências do mercado, na época em
expansão, ocasionado pelo fato dos custos operacionais marginais estarem
excedendo os retornos marginais. CHANDLER (1992) conclui sua observação do
fenômeno ponderando que a crença do crescimento indefinido baseado na
11
redução dos custos e da expansão das operações, confrontada com um mercado
saturado e com a crença de que administrar não necessitava conhecimento das
atividades do negócio, levaram os executivos do pós-guerra a negligenciar as
competências essenciais de suas empresas, as quais, mais tarde, se mostraram
não passíveis de serem replicadas às novas operações. Segundo o autor, as
frustradas iniciativas de diversificação não-relacionada das empresas americanas,
culminaram num processo de compra e venda de empresas nos mercados de
capitais que resultou na fragmentação do controle das companhias, com uma
participação expressiva de instituições financeiras. Esse fenômeno e alguns
“drivers” de crescimento resultantes dele deram início à utilização de estratégias de
curto-prazo que priorizaram a valorização imediata das empresas em detrimento à
sua sustentação no longo-prazo.
STARBUCK (1965) dedica parte de seu trabalho para comentar, também,
sobre os “drivers” de crescimento. O autor destaca que o crescimento das firmas
nunca é um processo automático. Pode ser uma maneira de viabilizar objetivos, ou
pode ser um efeito colateral da tentativa de atingir tais objetivos, porém, sempre há
um “driver” motivacional por trás. O autor define dez motivos pelos quais as
empresas buscam o crescimento. Desses dez principais motivadores, três são
relacionados ao interesse individual de membros da organização (aventura e risco;
prestígio, poder e segurança no trabalho; sistema de remuneração dos
executivos); outros três relacionados aos problemas de gerenciamento das
organizações (auto-realização organizacional; estabilidade; sobrevivência); os
outros quatro, são pautados nos propósitos organizacionais e na eficiência
operacional (aumento dos lucros; redução dos custos; aumento das receitas; poder
de monopólio).
Dentre os motivadores apresentados, alguns são comumente utilizados como
medida de crescimento, entre eles, o aumento das receitas e do lucro líquido. O
aumento das receitas parece ser o fator mais adequado de medição por apresentar
um grande poder multiplicador, capaz de manter o equilíbrio entre todos os
“stakehoders”, enquanto o aumento do lucro beneficiaria apenas àqueles internos
à empresa (DOYLE, 1994). Além disso, na medida em que as empresas possuem
uma demanda crescente pelos seus produtos, o lucro se torna função de quão
menores são os custos, que por sua vez é um fator dependente da administração
12
interna da empresa. Portanto, o lucro é uma variável dependente, que sinaliza
obviamente a capacidade de gestão da companhia, mas que não representa
diretamente uma medida de seu crescimento.
PENROSE (1959), em sua teoria sobre o crescimento da firma, não fala de
“drivers”, e sim de condições necessárias para o crescimento. A autora afirma que
o crescimento das empresas está intimamente relacionado com a disponibilidade
de recursos e define a firma como um conjunto de recursos produtivos,
classificados em físicos (máquinas, equipamentos, matéria-prima e outros) e
humanos (pessoas e conhecimento em diversas áreas de especialização), cujo
direcionamento é dado por decisões administrativas, e cujo valor potencial
produtivo serve de medida dimensional de seu tamanho. PENROSE (1959)
compartilha da visão de STARBUCK (1965) de que o crescimento não é um
processo automático e coloca a (1) ambição dos executivos, (2) a geração e o
reinvestimento de recursos financeiros e (3) a antecipação às necessidades de
recursos gerenciais, como condições necessárias para o crescimento empresarial
contínuo. As duas primeiras condições, somada à indivisibilidade de recursos
formam um círculo virtuoso de crescimento, na medida em que: (1) se assume a
premissa de que os executivos são insaciáveis do ponto de vista financeiro, e se
atrela sua remuneração ao crescimento das empresas; (2) a geração e o
reinvestimento dos recursos financeiros permitem a criação de uma expectativa
crescente por remuneração nos executivos e a ampliação da base de recursos
necessários para viabilizar o crescimento; (3) a indivisibilidade dos recursos faz
com que a sua medida raramente corresponda exatamente à necessidade
demandada, gerando sobras, que por questões de racionalização tendem a ser
aproveitadas em novos ciclos de crescimento. No caso dos recursos gerenciais,
PENROSE (1959) sugere que, se necessário, as empresas busquem uma folga
adicional àquela propiciada meramente pela indivisibilidade de recursos. O objetivo
dessa sobra é propiciar aos executivos o tempo necessário à prospecção de novas
oportunidades de crescimento. Segundo a autora, as empresas devem trabalhar
continuamente na detecção e preparação antecipada de talentos, já que a maioria
dos executivos atua em times e precisam, portanto, de tempo para alcançar
condições plenas de desempenho nas empresas.
13
2.3. A perspectiva de Traços Organizacionais de FLECK (2003a; 2005)
Com base em reflexões, principalmente sobre PENROSE (1959), SELZNICK
(1957) e CHANDLER (1977; 1990), FLECK (2003a) sugere que a Longevidade
Empresarial Saudável é função do Crescimento Contínuo e da Manutenção da
Integridade das empresas. Segundo a autora, o Crescimento Contínuo permite que
as aspirações de todos os grupos de interesse sejam satisfeitas, ao passo que
promove a renovação da empresa e o afastamento do processo de estagnação. Já
a Manutenção da Integridade Empresarial, contribui para a unidade organizacional
e para a persistência de valores, que evitam que as empresas se envolvam em
situações arriscadas de oportunismo e de aventura (SELZNICK, 1957).
Desdobrando a análise da perspectiva de Crescimento Contínuo, FLECK
(2003b) procura identificar quais mecanismos integrados, genéricos e atemporais
de crescimento podem ser observados nas empresas. A autora sistematiza suas
idéias na proposição de dois motores de crescimento: Motor de Crescimento
Contínuo e Motor de Co-Evolução. O Motor de Crescimento Contínuo se baseia
nas idéias de PENROSE (1959) sobre a indivisibilidade, folga e reinvestimento de
recursos, e na noção apresentada por CHANDLER (1977; 1990) sobre ganhos de
escopo e sobre a possibilidade de redução da subutilização de recursos através de
sua replicação para outras operações empresariais. Em sua concepção, o Motor
de Crescimento Contínuo se utiliza dos mais diversos elementos de folga, sejam
de ordem gerencial ou econômico-financeira, que retro-alimentam o crescimento
da empresa à medida que novas iniciativas de crescimento são tomadas visando
fazer uso da folga disponível. Cada uma dessas iniciativas acaba por produzir
novas folgas, constituindo um círculo virtuoso de crescimento. Segundo essa
lógica, a folga seria condição necessária para o crescimento empresarial. O Motor
de Crescimento Contínuo pode lidar com variáveis internas e externas às
empresas e, portanto, atuar em nível corporativo e de ambiente. A figura 2.2 a
seguir ilustra o mecanismo de funcionamento do Motor de Crescimento Contínuo.
14
Figura 2.2 Esquema de Funcionamento do Motor de Crescimento Contínuo
FLECK (2003b) cita alguns exemplos de motores de crescimento continuo, tais
como: (1) Inercial, cujo desequilíbrio é representado pelo excesso de demanda dos
produtos já disponibilizados pela empresa, a expansão é representada pela
iniciativa da empresa em atender a demanda reprimida e o mecanismo de reforço
é representado pela maior exposição dos produtos aos consumidores o que
geraria novo estágio de demanda reprimida; (2) Horizontal, cujo desequilíbrio é
representado pelo excesso de competência da empresa em determinada área de
modo que justifique sua expansão naquele segmento, a expansão é representada
pela aquisição de empresas rivais que possuam recursos valiosos, raros e difíceis
de imitar, conforme sugerido por BARNEY (1991), e o mecanismo de reforço é
representado pela utilização de tais recursos para aumentar o pool de
competências distintivas da empresa; e (3) Diversificação Relacionada, cujo
desequilíbrio é representado por recursos subutilizados e passíveis de serem
replicados para outras áreas, a expansão é representada pela diversificação
relacionada que agrega além dos recursos subutilizados, novos recursos,
aumentando a diversidade dos mesmos, e o mecanismo de reforço que cria
através desse novo pool de recursos novas subutilizações.
O Motor de Co-Evolução também lida tanto com variáveis internas às
empresas, como com variáveis em nível da indústria, sendo, portanto, fruto de uma
análise desses dois níveis (BUNGE, 1996; 1999). Foi formulado a partir de um
processo de indução com base no relato de CHANDLER (1977) sobre a formação
das Modernas Empresas de Negócios (MEN), que coloca como condição
necessária ao crescimento das indústrias a padronização dos elementos básicos
Desequilíbrio
(Excedentes)
Fonte: Adaptado de Fleck (2003b)
Mecanismo de Reforço
(Novos Excedentes)
Expansão
(Utilização Excedentes)
+
+
15
dos produtos e serviços ofertados. A partir da padronização desses elementos, a
demanda da indústria como um todo tende a crescer, o que, por um lado, favorece
o crescimento das firmas, mas por outro, aumenta a homogeneização de seus
produtos e, portanto, eleva o acirramento da competição, principalmente baseada
em preço. No relato de CHANDLER (1977), é possível perceber que o motor de
co-evolução entra em ação na medida em que as ferrovias americanas decidiram
padronizar suas operações, seus trilhos, seus mecanismos de comunicação em
prol da extensão do serviço e da diminuição do tempo de transporte. Essa
padronização levou ao crescimento da ferrovia como um todo, já que a eficiência
do transporte superou de longe a navegação fluvial e o transporte a cavalo. Por
outro lado, as companhias ficaram homogêneas demais e as vantagens
competitivas se reduziram ao preço. Como resultado, observou-se a tentativa de
formação de um cartel, que caracterizou claramente uma postura de crescimento
defensivo. A figura 2.3 a seguir ilustra o mecanismo de funcionamento do Motor de
Co-Evolução.
Figura 2.3 Esquema do Motor de Co-Evolução
No que diz respeito à Manutenção da Integridade, FLECK (2003b) sintetiza as
idéias de CHANDLER (1977) num Mecanismo de Existência Continuada que
reflete a relação entre os indivíduos e as Modernas Empresas de Negócios (MEN).
Segundo CHANDLER (1977), na medida em que as empresas familiares foram
crescendo a ponto de seus membros não conseguirem administrá-las sozinhos,
teve início o papel dos gerentes assalariados e, por conseguinte, a formação de
estruturas hierarquizadas de poder nas empresas. Como os laços empregatícios
passaram a ser puramente profissionais, os executivos procuraram desenvolver
Esforços
Cooperativos
Fonte: Fleck (2003b)
Padronização
da Indústria
Homogeneização
das Firmas
+
+
Cr
escimento
da Indústria
Acirramento da
Competição
CN
CN
Nível da
Indústria
Nível da
Firma
16
como medida de contingenciamento para a vulnerabilidade empregatícia, laços de
confiança e de compromisso com as empresas no longo prazo. Assim, a
longevidade empregatícia passou a estar associada à longevidade empresarial.
Em suas tarefas básicas, os administradores eram responsáveis pela coordenação
da hierarquia organizacional e pela utilização otimizada dos recursos. A figura 2.4
a seguir ilustra o Mecanismo de Existência Continuada proposto por FLECK
(2003b).
Figura 2.4 Mecanismo da Existência Continuada
Como forma de integrar todos esses conceitos e análises parciais de motores
de crescimento e mecanismos de existência continuada, FLECK (2003a) propôs
um framework composto de sete Traços Organizacionais, mais tarde redefinidos
em seis, por FLECK (2005), cujo valor qualitativo conjunto pode, segundo a autora,
ajudar a sinalizar se uma empresa caminha para a longevidade saudável
(autoperpetuação) ou não (autodestruição) (Vide Figura 2.5).
Compromisso de longo
prazo com a firma
Fonte: Adaptado de Fleck (2003b)
Gestão Orientada para o
longo prazo
Carreira Vitalícia na
Firma
+
CN
Processo de Existência Continuada
Propensão à Existência
Continuada da Firma
CN
CN
Nível da
Firma
Nível do
Indivíduo
CN
17
Figura 2.5 Framework de Longevidade Saudável
A perspectiva de Traços Organizacionais proposta por FLECK (2003a) aborda
tanto as questões de Crescimento Contínuo, como de Manutenção da Integridade
organizacional e tem uma característica não só explicativa como de certa forma
prescritiva. A idéia é que com base em comportamentos recorrentes
institucionalizados, ou seja, que se confundem com a identidade da empresa e que
não se modificam com facilidade, se justifique a trajetória das empresas e se
projete o seu futuro num continuum entre autoperpetuação (noção levantada por
CHANDLER (1977) e trabalhada por FLECK (2003a)) e autodestruição (noção
levantada por FLECK (2003a)). FLECK (2003a) lista três traços organizacionais
envolvidos com o Crescimento Contínuo (Orientação aos Negócios) e quatro
relacionados à Manutenção da Integridade da organização (Orientação Interna),
posteriormente redefinidos em três por FLECK (2005). Além desses traços, o
conceito de folga proposto por PENROSE (1959) aparece no framework como
condição necessária ao Crescimento Contínuo e à Manutenção da Integridade
Organizacional, figurando como mecanismo de reforço. A Tabela 2.1 descreve os
Traços Organizacionais propostos por FLECK (2003a), acompanhado de suas
escalas de valor no continuum autoperpetuação-autodestruição.
Empreendedorismo
Motivação para
Expansão
Folga
Atitude para a
Mudança
Manutenção
da Integridade
Crescimento
Contínuo
Longevidade
Saudável
Adaptado de Fleck (2003a; 2005)
+
+
+
+
Gestão da
Diversidade
Gestão da
Complexidade
Formação da
Estrutura Gerencial
18
Categoria do traço Desafio Autodestruição Autoperpetuação
Crescimento Contínuo
Empreendedorismo Fomento de iniciativas
empreendedoras no seio
da empresa. Está ligado
a comportamentos de
ambição, versatilidade,
julgamento, minimização
do risco existencial e
facilidade de captar
recursos,
Satisfatório
(Subotimiza metas
ou assume riscos
exagerados)
Audacioso
(Maximiza metas e
retornos com níveis de
risco compatível)
Motivação para
Expansão
Fundamentação do
Movimento de
Expansão. Define o
driver de expansão
Nulo, Defensivo
(Expansão para
defesa ou
desconexa)
Produtivo, Híbrido
(Aumento da
Produtividade, com ou
sem simultânea
defesa)
Gestão da Mudança Identificação e atuação
sobre fontes de
mudança benéficas ou
prejudiciais aos negócios
da empresa
Adapta ao ambiente
(Busca a posteriori
de ajuste às
mudanças no
ambiente)
Molda o ambiente
(Análise demorada e
custosa em
antecipação a
possíveis mudanças;
promoção de
mudanças benéficas à
empresa)
Manutenção da Integridade
Gestão da Diversidade À medida que a empresa
cresce, aumenta o grau
de diversidade. O
desafio da gestão da
diversidade consiste em
obter o melhor da
diversidade,
minimizando seus
impactos negativos.
Fragmentação
(Autonomia das
partes, criação de
feudos)
Integração
(Fomento de sinergias,
participação integrada)
Gestão da
Complexidade
À medida que a empresa
cresce, aumenta a
complexidade das
questões envolvidas.
Facilitar e maximizar o
retorno das resoluções
de problemas constitui o
desafio da gestão da
complexidade.
Casuístico
(Busca imediata e
aleatória de
soluções)
Sistemático
(Busca minuciosa e
articulada de
soluções)
Formação da Estrutura
Gerencial
À medida que a empresa
cresce aumenta a
demanda por talentos
gerenciais. Formá-los
com antecedência,
dentro do seio
empresarial constitui o
desafio da Formação da
Estrutura Gerencial.
“Just-in-Time”
(Recrutamento
rápido no mercado
no momento
necessário)
Antecipado
(Investimento em
tempo e dinheiro na
formação interna de
gestores)
Fonte: Adaptado de FLECK (2003a; 2005)
Tabela 2.1 - Descrição das Dimensões dos Traços Organizacionais de FLECK
(2003a, 2005)
Dentre os traços orientados para o Crescimento Contínuo, FLECK (2003a)
destacou o Empreendedorismo, a Motivação para Expansão e a Gestão da
19
Mudança. O Empreendedorismo pode ser analisado como um mecanismo de
interação entre o nível de indivíduo e o nível de firma. Indivíduos podem ser
empreendedores natos, e na medida em que se tornam personagens vitais das
histórias empresariais, oferecem à organização um perfil empreendedor bastante
relevante. No entanto, se essas características empreendedoras estiverem
presentes somente no espírito das pessoas, existe o risco da organização perder
esse traço quando as mesmas se forem. É preciso, então, que as empresas
desenvolvam um traço de fomento à cultura empreendedora, valorizando e
potencializando as habilidades natas de seu quadro funcional e eventualmente
afastando aqueles que porventura não sejam passíveis de serem desenvolvidos.
O Empreendedorismo está ligado, portanto, à institucionalização na
organização, de comportamentos de ambição, versatilidade e julgamento,
concomitantes ao desenvolvimento da capacidade de levantar novos créditos e de
mitigação dos riscos existenciais. FLECK (2003a; 2005) classifica os tipos de
empreendedorismo em: (1) Audacioso, aquele que conjuga altos níveis de
ambição, versatilidade, julgamento, capacidade de levantar fundos e
comprometimento de longo prazo dos funcionários, sem no entanto oferecer
maiores riscos existenciais à companhia; e (2) Satisfatório, aquele que restringe a
capacidade de expansão da empresa, ou promove a sua expansão sob riscos
exagerados.
A Motivação para a Expansão consiste em analisar quais os ímpetos para o
crescimento empresarial. Ao analisar o modo como as empresas reagem a esse
desafio, procura-se identificar as motivações para os investimentos e o quanto
esses investimentos fomentam novos investimentos, promovendo uma
retroalimentação do crescimento. FLECK (2003a) destaca quatro tipos de
motivação para expansão, que segundo a autora apresentam escalas diferentes de
intensidade na capacidade de estimular o crescimento contínuo. São eles: (1)
produtiva, aquela que objetiva ganhos de produtividade através de economias de
escala, de escopo ou de velocidade, e, portanto, ativam o círculo virtuoso do
crescimento contínuo à medida que novos recursos são adicionados. Favorecem,
portanto, o desenvolvimento da propensão à autoperpetuação empresarial; (2)
defensivo, aquele que busca a defesa do negócio de rivais existentes ou
potenciais, ou garantir o fornecimento de insumos, ou ainda reduzir o grau de
20
competição da indústria. Geralmente propiciam crescimento de instância única e
favorecem o desenvolvimento da propensão à autodestruição da companhia; (3)
híbrida, aquela que visa ao mesmo tempo ativar o crescimento contínuo e elevar
barreiras de defesa aos negócios das empresas. Apresenta, portanto, tanto
características produtivas quanto defensivas. São as mais desejáveis ao
desenvolvimento da propensão à autoperpetuação; e (4) nula, aquela que não
apresenta nem característica produtiva, nem defensiva. As expansões de
motivação nula são expansões quase que aleatórias, ou seja, geralmente
oportunistas, e que geralmente resultam na formação de conglomerados. Segundo
FLECK (2003a), essa é a motivação com menor capacidade de ajudar no
desenvolvimento de uma propensão à autoperpetuação empresarial.
A Gestão da Mudança consiste na identificação e atuação sobre as fontes de
mudança que podem promover benefícios ou prejuízos aos negócios da empresa.
FLECK (2003a) propõe que as iniciativas no sentido de manipular o ambiente em
prol da empresa contribuem para a autoperpetuação da empresa, enquanto as
iniciativas de adaptação ao ambiente fornecem oportunidades limitadas de
aprendizagem e alimentam a propensão à autodestruição. OLIVER (1991) detalha
um pouco mais as formas pelas quais uma empresa pode adaptar-se às
mudanças. A autora distingue os conceitos de adaptação ativa e adaptação
passiva ao ambiente. Na adaptação ativa, as empresa tomam decisões
deliberadas e controladas em função de mudanças ambientais. Possuem, portanto,
escolha da direção a seguir. Na adaptação passiva, as empresas são forçadas
pelo ambiente a assumirem uma posição única, muitas vezes prejudicial, diante
das mudanças.
Com relação aos traços orientados para a Manutenção da Integridade da
Empresa, FLECK (2003a) destaca a Gestão da Diversidade, Gestão da
Complexidade, Gestão de Prioridades e a Formação e Gestão da Estrutura
Gerencial. Posteriormente, a autora passou a considerar a Gestão de Prioridades
como parte da Gestão da Complexidade e reduziu os quatro Traços
Organizacionais voltados para a Manutenção da Integridade, para apenas três
(FLECK, 2005).
21
A Gestão da Diversidade consiste na tentativa de eliminar as diferenças
existentes entre as partes e tentar tirar proveito das virtudes, com a finalidade de
obter sinergias e economias de escopo. Em outras palavras, significa manter a
integridade e coesão das estruturas produtivas da empresa em meio ao processo
de crescimento, possibilitando fazer cada vez mais com cada vez menos. Em
verdade, o processo de crescimento traz consigo uma pluralidade crescente de
recursos, de muitas naturezas (pessoal, produtos, mercados, tecnologias),
elevando assim o grau de heterogeneidade ao qual as instituições se submetem. A
gestão da diversidade procura adequar o grau ótimo de heterogeneidade e
explorar o seu melhor em prol da companhia. Sem uma gestão eficaz da
diversidade, a heterogeneidade pode crescer desordenadamente, e os grupos
homogêneos existentes dentro do grupo heterogêneo maior, tendem a se reunir,
dando origem a feudos, o que dificulta a unidade da organização e prejudica o
processo de interação entre as partes. Nesse contexto, a Gestão da Diversidade
se faz cada vez mais necessária. FLECK (2003a; 2005) sugere que uma gestão da
diversidade que busque a integração das partes favorece a propensão à
autoperpetuação da companhia, enquanto que uma gestão da diversidade
negligente aos problemas da heterogeneidade, tende a provocar fragmentação nas
estruturas e pode ajudar no desenvolvimento da propensão à autodestruição da
companhia.
A Gestão da Complexidade trata de quão sistemáticas são as resoluções de
problemas, valorizando-se aí o processo de aprendizado. Em verdade, à medida
que as empresas crescem, a complexidade administrativa cresce
exponencialmente, e as resoluções sistemáticas de problemas, pautadas na coleta
e análise de dados, no planejamento antecipado e na formação de contingências
passam a ser de fundamental utilidade. FLECK (2003a) acredita que a resolução
casuística de problemas não identifica as suas verdadeiras causas, que em muitos
casos pode ter origem comum. Somando isso à possibilidade de recursividade dos
eventos, o consumo de recursos para a resolução casuística de problemas pode
afetar a produtividade e consequentemente a competitividade das empresas,
favorecendo a propensão à autodestruição.
O desafio relacionado à Formação da Estrutura Gerencial está ligado à
capacidade de a empresa se antecipar à necessidade futura de recursos
22
gerenciais humanos, tendo tempo hábil para selecioná-los, treiná-los e
experimentá-los em campo, antes que venham a assumir maiores
responsabilidade pela empresa. Agindo dessa forma, a empresa pode minimizar os
riscos advindos de estratégias isoladas de curto-prazo, elaboradas por executivos
aventureiros ou sem o devido comprometimento com a instituição. FLECK (2003a)
compartilha da idéia de PENROSE (1959) de que os recursos gerenciais devem
ser treinados em casa e com antecedência, para que possam se entrosar com as
equipes da empresa e responder à altura das exigências requeridas no tempo
certo. Segundo a autora, aquisições de recursos gerenciais no mercado de forma
“just-in-time” favorecem a propensão à autodestruição.
Exposto o framework de Traços Organizacionais, passar-se-á à seção de
Método que destaca como foi conduzida sua aplicação na São Paulo Alpargatas,
com objetivo de responder aos questionamentos dessa dissertação.
23
3. METODOLOGIA
3.1 Natureza da Pesquisa
Essa dissertação consiste de uma pesquisa exploratória e histórica, que visa
identificar, através da análise das respostas da São Paulo Alpargatas aos desafios
do crescimento, quais foram os principais fatores determinantes de sua
longevidade, e em que medida esses fatores sinalizam para a propensão à
autoperpetuação da companhia.
Para a condução do trabalho foram feitas pesquisas de campo que utilizaram
entrevistas e análise de documentos históricos para a coleta de dados, os quais
foram estruturados de forma a compor um estudo de caso. A inspiração para a
utilização do método veio da obra de SNOW; THOMAS (1994) e YIN (1989).
Segundo SNOW; THOMAS (1994), a pesquisa de campo é a forma mais realista e
incontrolável de análise, e para os fins deste trabalho, a única metodologia viável.
Quanto às técnicas para coleta de dados, os autores destacam que os mais
sofisticados estudos devem ser conduzidos segundo uma abordagem de múltiplas
técnicas, a exemplo de entrevistas, questionários, observação ou participação
direta, e análise de documentos históricos.
“A melhor maneira de realizar pesquisas de campo em administração
estratégica é através de técnicas múltiplas. Apesar de dificultar a
convergência de conceitos e conclusões, a possibilidade de analisar as
situações e os fenômenos de vários ângulos garante que uma vez obtidas,
essas conclusões tendem a se aproximar bem mais da verdadeira
realidade.”
SNOW; THOMAS (1994)
YIN (1989) corrobora com a visão de SNOW; THOMAS (1994) quanto às
vantagens da pluralidade de métodos e técnicas e apresenta a técnica de estudo
de caso como outro método viável para se explicar fenômenos e,
conseqüentemente, para ajudar a construir teorias. Para ele, um estudo de caso
bem projetado e bem analisado fornece subsídios suficientes para se descrever e
explicar o fenômeno em estudo. O autor critica a crença de que as estratégias de
pesquisa devam ser hierarquizadas e contesta o padrão de utilização dos estudos
24
de casos apenas para as fases exploratórias de uma investigação, bem como a
utilização dos questionários, surveys e estudos históricos apenas para a fase de
descrição de fenômenos, assim como a utilização apenas de experimentos para a
fase de explicação e detecção de relações causais. Segundo o autor, há muito
tempo, a busca pelas relações de causa e efeito ou por outras relações que
resultem em explicações para fenômenos tem sido o foco de historiadores da área
de historiografia. Além disso, muitos estudos de caso têm ultrapassado sua
preconcebida missão de serem instrumentos de condução de um estudo
exploratório, para assumir trabalhos de descrição e explicação de situações,
fenômenos e sistemas.
Para a elaboração de um bom projeto de estudo de caso, YIN (1989) defende
que é preciso contemplar além das questões do estudo, suas proposições, as
unidades de análise, a lógica de ligação entre os dados e as proposições, o critério
para interpretação dos resultados e o arcabouço teórico sobre o qual o estudo de
caso deve ser conduzido.
Muitos dos requisitos elencados por YIN (1989) estão autocontidos no
framework de FLECK (2003a, 2005). Dentre as proposições, por exemplo, pode-se
destacar: “Apresentar comportamentos sistemáticos que impliquem num
crescimento contínuo com a preservação simultânea da integridade organizacional
é condição necessária para o desenvolvimento da propensão à autoperpetuação
empresarial”. Quanto às unidades de análise, o framework foca basicamente a
firma. Em nossa abordagem sobre a São Paulo Alpargatas, no entanto,
estendemos a análise aos níveis de Indivíduos, de Microambiente e de
Macroambiente para efeitos de contextualização. A lógica de ligação entre os
dados e as proposições também é autocontida no framework de FLECK (2003a,
2005), na própria conceituação de seus construtos. Por exemplo: “O
Empreendedorismo Audacioso consiste em Iniciativas de Maximização dos Lucros
com Riscos Compatíveis”. Os critérios utilizados para a análise dos dados
quantitativos foram dispostos na Tabela 3.5 desta seção, enquanto o critério para a
interpretação dos dados qualitativos foi, de certa forma, subjetivo, dependente da
interpretação do investigador. Por fim, o arcabouço teórico também está
autocontido no framework de FLECK (2003a, 2005), por sua própria contribuição e
pelo espelhamento das idéias de PENROSE (1959) e de CHANDLER (1977).
25
Na execução do estudo de caso, especialmente na preparação para a coleta
de dados, YIN (1989) destaca alguns procedimentos como salutares, entre eles, a
verificação da suficiência das habilidades do investigador, o treinamento dos
investigadores para casos bastante específicos, a elaboração de um protocolo de
enquadramento das informações coletadas, e a execução de um caso Piloto.
Para a condução deste caso sobre a São Paulo Alpargatas, o investigador foi
preparado antecipadamente através de um caso piloto similar sobre a participação
da GE na indústria de lâmpadas, que envolveu a utilização de um protocolo e a
codificação de dados levantados em documentos históricos a esse respeito.
Para a análise do estudo de caso, YIN (1989) destaca a importância de uma
estratégia geral de condução do caso, que pode ser baseada num arcabouço
teórico ou na elaboração de um modelo descritivo do caso. No primeiro caso, os
pressupostos teóricos servem de guia para a coleta e análise das evidências, isto
é, os fatos serão confrontados com a teoria durante a coleta e a análise dos
mesmos. No segundo caso, o modelo descritivo serve como uma estrutura de
divisão de trabalho, onde as partes do mesmo representam aspectos do caso a
serem trabalhados. YIN (1989) defende que sem uma estratégia geral de análise, a
análise de um estudo de caso será desempenhada com dificuldade pela maioria
dos analistas. Uma forma de reduzir essa dificuldade seria “brincar” com os dados
para ver se eles fazem algum sentido quando analisados sob dimensões
diferentes. Contudo, se essa manipulação de dados for conduzida por analistas
inexperientes, as conclusões do estudo de caso podem ser postas em questão.
Neste trabalho, a análise foi conduzida estritamente com base no framework de
FLECK (2003a; 2005), que representa em última instância, um arcabouço teórico
guia. Não obstante, várias manipulações de dados foram necessárias para a
identificação das evidências dos traços organizacionais da São Paulo Alpargatas.
3.2 Evolução do Trabalho
Antes de iniciar a pesquisa, participou-se de um longo processo de estudo
sobre o estado da arte de crescimento empresarial. Esse processo contribuiu entre
26
outras coisas para o amadurecimento das idéias, para o entendimento dos
construtos e para o aprimoramento das competências matemáticas e contábeis
que se fizeram necessárias para a análise dos dados coletados. Findo esse
processo de preparação, passou a se pensar na abordagem dessa dissertação.
Pensou-se em capturar uma das dimensões do framework de Traços
Organizacionais de FLECK (2003a) e aplicar a várias empresas, objetivando
mostrar a importância daquela dimensão em específico, dentro da perspectiva de
longevidade empresarial saudável. Contudo em função da limitação de tempo
disponível para a condução dessa pesquisa (ter-se-ia que levantar informações de
várias empresas ao invés de uma ou duas), acabou-se decidindo por continuar a
adotar a empresa como unidade de análise principal.
A escolha da empresa resultou de um processo emergente. Era preciso
encontrar alguma empresa que tivesse pelo menos 40 anos de vida, que fosse de
capital aberto e onde se tivesse algum contato que pudesse facilitar o
levantamento das informações, bem como viabilizar eventuais entrevistas.
Inicialmente, por força dessas três condições, tentou-se trabalhar a Vicunha Têxtil
S.A. Isso nos levou, indiretamente, a trabalhar com a indústria têxtil, e os dados
secundários do segmento passaram, também, a ser coletados.
Durante algum tempo, foi levantada a possibilidade de realizar um estudo de
caso de uma empresa ou um estudo comparativo. A idéia do estudo comparativo
predominava em relação ao estudo de caso, porque a partir da comparação
poderiam ser ilustradas situações onde determinados elementos indicadores de
longevidade saudável estivessem mais presentes em uma organização e não em
outra, e as conseqüências que essa presença teria causado. Selecionou-se então
uma empresa que pudesse ser comparável à Vicunha Têxtil. Essa seleção foi feita
a partir das informações coletadas da indústria, observando-se qual empresa
dispunha de maior quantidade de informações secundárias relevantes, e que
fosse, operacionalmente, a mais parecida possível com a primeira. Como
resultado, foram selecionadas Hering e São Paulo Alpargatas. Em função de
preferência pessoal do autor, decidiu-se pela escolha da última.
Após meses de estudo e levantamento de informações secundárias sobre as
duas empresas, ficou patente que o estudo poderia chegar a uma conclusão
27
discutível caso abordasse a Vicunha Têxtil. A complexidade da estrutura societária
da empresa era muito grande e a falta de transparência e acesso aos dados
primários da companhia poderiam comprometer os resultados. Decidiu-se então
redirecionar o foco do trabalho para um estudo de caso sobre a São Paulo
Alpargatas. Tinha-se a expectativa de que a São Paulo Alpargatas, por ser uma
das poucas empresas brasileiras que vinha se relacionando bastante com o
mercado de ações desde sua fundação, possuísse um trabalho sistemático de
documentação de sua história, e que a coleta de informações primárias pudesse
ser facilitada. De fato, muitas informações estavam disponíveis na companhia, e
apesar de muitas tentativas e contratempos, conseguiu-se uma entrevista com o
Diretor de Comunicação e Mídia, e obteve-se acesso a quase todos os relatórios
anuais da empresa.
Com base nos dados coletados, prosseguiu-se com a estruturação e análise
dos mesmos. O processo foi desdobrado em duas fases: (1) avaliação da evolução
dos indicadores quantitativos e (2) análise qualitativa. Para a avaliação da
evolução dos indicadores quantitativos foram levantados e estruturados os
números da empresa. Em seguida, indicadores longitudinais foram elaborados,
plotados e analisados à luz das dimensões da propensão à longevidade saudável
(FLECK, 2003a; 2005). Para a análise qualitativa, foram classificadas as
informações factuais e perceptivas relacionadas à empresa, de acordo com o
framework de FLECK (2003a, 2005). A análise final e a conclusão do trabalho
foram baseadas na sobreposição das fases anteriormente desdobradas.
3.3 Coleta dos Dados Brutos
A coleta dos dados se iniciou em Novembro de 2004, com visitas à CVM (Rua
Sete de Setembro, 111 Centro, 2º Andar Setor de Protocolo, Fone: 21-3233-
8390), ao Arquivo Nacional (Rua Azeredo Coutinho 77 Centro, 2º Andar Setor
de Pesquisa, Fone: 21-3806-6137) e à Biblioteca do BNDES (Av. República do
Chile 100 Centro, 2º Andar, Fone: 21-2172-7214 aberta às 2
a
s e 4
a
s das 14:30
às 17:30 e às 3º’s e 5º’s das 10:00 às 12:00) em busca de informações financeiras
da Vicunha Têxtil S.A.. Foram solicitadas cópias de todos os relatórios anuais
disponíveis (Arquivo Nacional: de 1983 a 1991; CVM: de 1992 a 1995). Descobriu-
se nessa ocasião que a Vicunha havia passado por uma série de reestruturações
28
societárias e que, o que hoje é abrigado sob uma única empresa operacional,
havia sido composto no passado por várias, poucas das quais de capital aberto,
agrupadas sob uma holding chamada Textília, que teve seu capital aberto somente
em 1998.
Temendo encontrar uma complexidade que inviabilizasse o estudo da Vicunha,
no mês de Dezembro de 2004 foram levantadas todas as informações constantes
na revista Exame de 1970 a 2004, não só sobre a empresa, mas também sobre a
Hering, Alpargatas, Coteminas, Nova América, Santista e demais empresas
têxteis. O objetivo era resguardar a pesquisa no caso de uma eventual mudança
de companhia-alvo. Se a complexidade da Vicunha não se confirmasse, poderia
ser feito um estudo da própria empresa ou um estudo comparativo. Em se
confirmando a sua complexidade, a empresa-alvo do estudo poderia ser
substituída. Após esse levantamento, foram excluídas da pesquisa em função da
indisponibilidade de informações secundárias as empresas Coteminas, Nova
América e Santista. A Hering e a São Paulo Alpargatas tinham bastante material
publicado e a decisão pela segunda foi baseada tanto na semelhança do perfil
operacional da empresa em relação à Vicunha, como em interesse pessoal.
Em Janeiro de 2005, visitou-se novamente a CVM e o Arquivo Nacional em
busca das informações financeiras da São Paulo Alpargatas.
No mês de Fevereiro de 2005, foram visitadas as bibliotecas da UFPI
Universidade Federal do Piauí, em Teresina e do Banco do Nordeste, em
Fortaleza. Na UFPI, foram coletados alguns artigos sobre a São Paulo Alpargatas
na revista Bolsa, publicação da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. No Banco do
Nordeste, coletou-se dados sobre a indústria têxtil, sobre a Vicunha e sobre a
constituição da Alpargatas-Santista. Ainda no mesmo mês, foi tentado um contato
com o departamento de relações com investidores da São Paulo Alpargatas,
através do Gerente de Relações com Investidores, Sr. José Sálvio Ferreira
Moraes, cuja referência foi obtida junto às demonstrações financeiras da
companhia publicadas na CVM. O contato foi frustrado. O Sr. José Sálvio Ferreira
Moraes agradeceu o interesse, mas lamentou não poder ajudar, pelo menos no
momento, em função da agenda de publicações da companhia. Segundo ele, o
29
início do ano era sempre muito corrido para a área e não havia disponibilidade de
recursos pessoais para providenciar as informações solicitadas.
Paralelamente, foram feitos contatos com ex-colegas de graduação e pós-
graduação, funcionários da Vicunha Têxtil. Aqueles de mais baixo escalão se
recusaram a conceder qualquer informação alegando ser norma da empresa a
manutenção do sigilo. Segundo eles, qualquer divulgação precisava ser autorizada
pelo Diretor da Área envolvida, pessoa geralmente inacessível. Foi feito, então, um
contato direto com outro ex-colega de pós-graduação, Wellington Ratz, Gerente
Geral de TI da empresa. O contato foi feito por e-mail e, inicialmente, nenhuma
resposta foi obtida. Insistindo na demanda, conseguiu-se um feedback de que as
informações solicitadas não eram fáceis de serem reunidas em função da
precariedade dos sistemas de informação e da fragmentação societária do grupo.
Este fato foi decisivo para o afastamento da Vicunha Têxtil do estudo. O feedback
confirmava a suspeita de que a complexidade da empresa era grande, e que sem
a cooperação da companhia para a coleta e análise das informações, seria
impossível conduzir um trabalho com o mínimo de qualidade.
Em Março de 2005 foi realizada uma busca sobre informações da São Paulo
Alpargatas nas edições do período de 1971 a 1989 da Revista Bolsa, na Biblioteca
do Coppead. Além disso, foi iniciada uma busca pelas informações mais antigas da
empresa na Biblioteca Nacional (Avenida Rio Branco 219 Cinelândia, Setor de
Jornais, Fone: 21-2262-8255). Lá foram encontrados alguns impressos e os
relatórios anuais da companhia do período de 1967 a 1992. Foram encontrados,
também, microfilmados, os relatórios anuais de 1944 a 1967, publicados no jornal
Estado de São Paulo. Os dados foram coletados in-loco, e nenhuma cópia foi
extraída do material em função do alto custo. A xerox em papel A4 tinha um custo
de R$ 2,00 e a xerox em papel A3, R$ 4,00. Foi fundamental para a pesquisa
nessas bases microfilmadas a identificação do mês de publicação das
demonstrações financeiras da companhia. Mesmo assim, a dinâmica de ter que
percorrer todos as edições do jornal de Março e Abril de cada ano em busca do dia
exato da publicação, consumiu um tempo significativo. Para dificultar ainda mais a
coleta dos dados, a Biblioteca Nacional passou por uma greve de adesão total,
durante os meses de Abril, Maio e Junho de 2005. Foi tentado como forma
alternativa de continuar o trabalho de coleta, um contato direto, por telefone, com o
30
Jornal O Estado de São Paulo (11-3856-2122). O setor de arquivos da instituição
se posicionou, limitando o acesso a informações antigas ao ano de 1960. Além
disso, o custo de aquisição do material se mostrou proibitivo, R$ 32,00 por matéria,
que no caso, representava uma única demonstração financeira da companhia.
Ainda em meados de Março de 2005, começaram, paralelamente aos trabalhos
de coleta de dados secundários, os trabalhos de viabilização de entrevistas. Nosso
objetivo inicial era conseguir entrevistar alguém que tivesse conhecimento
relevante da história da empresa, sem restrição de nível hierárquico. Após o
resultado frustrado da primeira tentativa de contato com a São Paulo Alpargatas,
em Fevereiro de 2005, estava claro que o primeiro passo para conseguir
informações primárias era descobrir alguém que tivesse algum contato dentro da
companhia ou tentar levantar informações de ex-funcionários ou ex-dirigentes da
empresa. Duas frentes foram abertas. Na primeira estava a tentativa de entrevistar
o Sr. Fernando de Barros Rodrigues Tigre, então presidente da Kaiser e principal
executivo responsável pela fase de Reestruturação da São Paulo Alpargatas,
tendo presidido a companhia do período de 1997 a 2003. Para tal iniciativa, foi
contatado o Sr. Amauri Pereira, gerente geral da fábrica da Kaiser em Pacatuba
CE, ex-colega de MBA e amigo do autor. Na segunda frente de ação, foi utilizado o
contato do Sr. Marcelo Cavalheiro, entrevistado pelo colega Eduardo Medeiros
Rodrigues, durante a execução de um trabalho de pesquisa semelhante a este,
utilizando a Mesbla como empresa-alvo. O Sr. Marcelo Cavalheiro havia
trabalhado na Mesbla com o Sr. Márcio Utsch, presidente da São Paulo Alpargatas
a partir de Agosto de 2003. Nas duas frentes de ação, os contatos foram feitos por
e-mail.
O resultado da segunda frente de ação foi mais tempestivo. Embora o Sr.
Márcio Utsch tivesse se mostrado solícito, havia feito a ressalva de que, em função
da falta de tempo e da atribulação de suas atividades, talvez o evento demorasse a
ser realizado. A entrevista foi marcada inicialmente para o dia 25 de Abril de 2005,
tendo sido prorrogada para o dia 11 de Maio de 2005 em função de uma reunião
com o Conselho de Administração marcada de véspera, no dia 20 de Abril do
mesmo ano. Na primeira frente de ação, houveram dois contratempos que
acabaram dificultando a entrevista com o Sr. Fernando Tigre. O primeiro é que em
função das mudanças que estavam ocorrendo na Kaiser, o Sr. Amauri Pereira foi
31
transferido para Araraquara SP no final do mês de Março de 2005. O segundo é
que, uma vez restabelecido o contato com ele, o Sr. Fernando Tigre havia viajado
em missão com a diretoria da empresa aos EUA. Aguardou-se, sem retorno, um
novo contato do Sr. Amauri Pereira. Soube-se depois, por fontes públicas, que a
Kaiser estava envolvida num processo de transferência de seu controle acionário e
deduziu-se que o Sr. Fernando Tigre estivesse muito demandado por esse
processo. Por isso, resolveu-se interromper as investidas nessa frente de atuação.
No dia 11 de Maio de 2005 entrevistou-se, então, o Diretor de Comunicação e
Mídia da São Paulo Alpargatas, Sr. Rui La Laina Porto. O Sr. Rui Porto estava na
companhia há 20 anos, e era sem dúvida, uma das pessoas mais indicadas a
contribuir com o presente trabalho. Durante a entrevista, descobriu-se que havia
um trabalho de comemoração dos 100 anos da companhia em andamento. O
trabalho envolvia entre outras coisas a edição de um livro comemorativo. A
responsabilidade pela execução estava nas mãos da Sinopse, empresa
especializada na montagem de Centros de Memórias Empresariais, sediada
também em São Paulo. Na São Paulo Alpargatas, a Srta. Cássia Navarro havia
sido designada para interagir com a contratada durante a evolução do trabalho.
Tanto ela quanto o Sr. Rui Porto se dispuseram a ajudar no levantamento de
dados para essa dissertação.
De volta ao Rio de Janeiro, foi estabelecido um contato com a Sinopse, na
pessoa do Milton, que se prontificou a remeter, via e-mail, os relatórios anuais
anteriores a 1967. No entanto, a baixa tempestividade das remessas começou a
comprometer a evolução deste trabalho e outra viagem a São Paulo foi agendada,
para o mês de Agosto de 2005, com objetivo de tirar cópia de todos os relatórios
anuais disponíveis, desde a fundação da companhia. O objetivo foi atingido com
êxito, tendo ficado de fora apenas os relatórios de 1909 e 1929, por não mais
existirem.
De 22 de Maio de 2005 a 03 de Junho de 2005 foram conduzidas 4 entrevistas
com clientes da São Paulo Alpargatas no mercado local de Teresina-Piauí. O
objetivo era confrontar a visão da alta administração da companhia com a de
alguns de seus clientes, buscando resposta para questionamentos ligados à: (1)
presteza de atendimento; (2) suporte ao lojista; (3) promoção de produtos; (4)
32
qualidade dos produtos; (5) atendimento pós-venda; (6) flexibilidade e
transparência nas negociação; (7) logística de entrega; entre outros. As entrevistas
foram de grande importância para reforçar alguns pontos destacados pela alta
administração, bem como para levantar problemas até então não identificados,
como por exemplo, o de suprimento das Havaianas.
3.4 Análise dos Dados
A análise dessa dissertação foi pautada no framework de Traços
Organizacionais de FLECK (2003a; 2005), que visa apresentar, em última
instância, sinalizações para a autoperpetuação ou para a autodestruição da
empresa. Dados quantitativos e qualitativos foram coletados de múltiplas formas, a
partir de fontes primárias e secundárias, tais como, entrevistas, relatórios anuais
da sociedade, livros, revistas, jornais, artigos e a Internet (SNOW; THOMAS,
1994). Os dados quantitativos foram organizados em planilhas, a partir das quais
foram calculados indicadores, cujos comportamentos foram utilizados na análise.
Os dados qualitativos por sua vez, foram organizados em uma planilha de eventos
históricos (Vide Tabela 3.6), sobre a qual foi feita uma codificação com base em
construtos e domínios de análise da propensão à longevidade saudável (Vide
Tabela 3.7 e 3.8). A análise foi segmentada em períodos da história da São Paulo
Alpargatas que marcaram épocas de instabilidade e de prosperidade, conforme
ilustra a Tabela 3.1:
33
Fase
Período
Principais Características
Os Primeiros Passos 1907-1940 Período de formação da companhia. Nessa fase são explicitadas
as condições de constituição da companhia, bem como as
principais dificuldades enfrentadas até a sua completa
estabilização.
O Desenvolvimento 1941-1989 Período de consolidação da companhia enquanto colosso
industrial. Nesse período, a companhia elevou seu número de
fábricas de 2 para 28, e o seu Lucro Bruto (Valor Produtivo
Adicionado) passou de 0,0146% do PIB para 0,2%, ou seja,
crescimento de quase 1.370%.
A Crise 1990-1996 Período em que o posicionamento estratégico (alta escala de
produção e diversificação) da empresa enfrentou as maiores
dificuldades frente à abertura comercial e à paridade cambial. A
empresa acabou mergulhada numa crise gravíssima.
O Recomeço 1997-2004 Período em que, sob a intervenção da Camargo Corrêa, a
companhia conseguiu estancar o derramamento de recursos e
retomou a trajetória de estabilização e crescimento, dessa vez,
com base num posicionamento estratégico voltado para produtos
de elevado valor agregado, desenvolvimento de marcas e
internacionalização.
Tabela 3.1 Segmentação da História da São Paulo Alpargatas
3.4.1 Avaliação da Evolução dos Indicadores Quantitativos
3.4.1.1 Estruturação dos Dados
O primeiro passo para a avaliação da evolução dos indicadores quantitativos foi
calculá-los. Para isso foram coletados dados nos relatórios da administração e nas
demonstrações financeiras da companhia, do período de 1909 a 2004. Alguns
desses dados tiveram seus nomes e suas seções de disposição alteradas nos
relatórios anuais ao longo do tempo, e por isso precisaram ser identificados e
mapeados para os termos atualmente utilizados. Outros, simplesmente não foram
informados nos relatórios anuais e tiveram que ser calculados. A Tabela 3.2 a
seguir detalha a forma como foram estruturados os principais dados utilizados na
composição dos indicadores quantitativos avaliados neste trabalho.
34
Dado
Estruturado
Período Documento e Seção Dado Bruto
1925-1926 Relatório Anual de 1926 Relatório
Expresso no texto na sub-
seção “Negócios”
1927
Relatório Anual do Respectivo Ano
Relatório
Expresso no texto na sub-
seção “Negócios”
1931-1935
Relatório Anual do Respectivo Ano
Relatório
Expresso no texto na sub-
seção “Movimento”
1936-1937
Relatório Anual do Respectivo Ano
Relatório
Expresso no texto na sub-
seção “Vendas” na forma de %
de aumento sobre as vendas
do ano anterior
1938
Relatório Anual do Respectivo Ano
Relatório
Expresso no texto na sub-
seção “Vendas” na forma de
“atingiu o total do ano anterior”
1964-1971
Relatório Anual do Respectivo Ano
Relatório da Diretoria
Expresso no texto na sub-
seção “Resultados do Ano”
1972-1975
Relatório Anual do Respectivo Ano
Demonstração de Contas e
Perdas
Vendas Líquidas
Receitas
1976-2004
Relatório Anual do Respectivo Ano
Demonstração de Resultado
Vendas Líquidas
1909
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas
“Saldo de Sapatos e Chinelos”
1912-1930
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas
“Saldo de Mercadorias”
1931-1961
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas
“Saldo de Contas de
Fabricação” ou a combinação
(soma) de: “Saldo de Contas
de Fabricação Tecidos” e
“Saldo de Contas de
Fabricação Calçados”
1962-1970
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas
“Resultado das Operações
Sociais”
Lucro Bruto
1972-2004
Relatório Anual Demonstração de
Resultado
“Lucro Bruto”
Lucro Líquido
1912 Computado a partir de outros dados
“Lucro Bruto” “Despesas
Gerais, Administrativas e de
Vendas” “Depreciação e
Amortização” “Resultado
Financeiro” “Provisão IR”
35
Dado
Estruturado
Período Documento e Seção Dado Bruto
1913-1915
Relatório Anual de 1915 Relatório
Escrito
Especificado no Texto
1916 Relatório Anual Relatório Escrito Especificado no Texto
1917-1919
Relatório Anual de 1919
Comparação dos Lucros dos 3
últimos anos
“Lucro Durante o Ano”
1920-1924 Computado a partir de outros dados
“Lucro Bruto” “Despesas
Gerais, Administrativas e de
Vendas” “Depreciação e
Amortização” “Resultado
Financeiro” “Provisão IR”
1925-1927 Relatório Anual Relatório Escrito Especificado no Texto
1928-1930 Computado a partir de outros dados
“Lucro Bruto” “Despesas
Gerais, Administrativas e de
Vendas” “Depreciação e
Amortização” “Resultado
Financeiro” “Provisão IR”
1931-1933 Relatório Anual Relatório Escrito Especificado no Texto
1934-1939
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas
“Lucro Líquido”
1940-1950
Relatório Anual Balanço
Patrimonial
“Lucro deste Exercício”
1951-1959 Relatório Anual Relatório Escrito Especificado no Texto
1960-1975
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas
“Lucro do Exercício” ou “Lucro
Líquido do Exercício”
1976-2004
Relatório Anual Demonstração de
Resultado do Exercício
“Lucro Líquido do Exercício”
Despesas
Gerais,
Administrativas
e com Vendas
1909-2004
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas ou
Demonstração de Resultado
Combinação (soma) dos
seguintes termos: “Despesas
Gerais”, “Despesas com
(Administração) ou
(Administrativas)”, “Despesas
com Vendas”, “Serviços
Sociais”, “Despesas com
Propagandas”.
Depreciação e
Amortização
1909-1931 Relatório Anual Balanço
5% sobre o valor dos
“Maquinismos”, conforme lei
contábil da época.
36
Dado
Estruturado
Período Documento e Seção Dado Bruto
1932-2004
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas ou
Demonstração de Resultado
“Depreciação” ou
“Amortização” ou
“Depreciação e Amortização”
ou a combinação (soma) dos
termos.
Resultado
Financeiro
1909-2004
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas ou
Demonstração de Resultado
“Juros” ou “Descontos” ou
“Juros e Descontos” ou
“Descontos e Comissões” ou
“Juros Pagos” ou “Juros sobre
Debêntures” ou “Saldo de
Juros” ou “Despesa Financeira”
ou “Receita Financeira” ou
combinação (soma/subtração)
dos termos.
Reservas
Financeiras
1909-2004
Relatório Anual Demonstração da
Conta de Lucros e Perdas ou
Demonstração de Resultado
“Saldo da Conta de Lucros e
Perdas” + “(Fundo) Reserva de
Capital” + “(Fundo) Reserva
para Imprevistos” + “(Fundo)
(Reserva) Especial” + “(Fundo)
(Reserva) de Depreciação” +
Outras Reservas
1930-1940 Relatório Anual Balanço Geral “Emissão de Debêntures”
1957-1971 Relatório Anual Balanço Geral “Obrigações a Pagar”
Dívida de
Longo Prazo
1972-2004 Relatório Anual Balanço Geral
“Empréstimos a pagar” ou
“Títulos a Pagar” ou
“Empréstimos e Títulos a
Pagar” ou “Financiamentos”
Tabela 3.2 Detalhamento da forma como foram obtidos os principais dados
utilizados no cálculo dos indicadores quantitativos
Na Tabela 3.2 acima é possível perceber que o Lucro Líquido para os anos de
1912, 1920 a 1924, e 1928 a 1930 foi calculado através da equação I a seguir:
(I) Lucro Líquido = Lucro Bruto Despesas Administrativas, com Vendas e Gerais
Depreciação e Amortização Resultado Financeiro Provisão de IR.
A equação representa uma aproximação do cálculo normatizado pela CVM
para a apuração do lucro líquido, adaptada às informações disponíveis na época.
Para ter uma noção do grau de representatividade das informações computadas,
37
procedeu-se com o mesmo cálculo para vários outros anos do mesmo período,
para os quais o Lucro Líquido foi informado nos relatórios. O resultado pode ser
observado na Tabela 3.3.
Ano
Valor do Lucro
Líquido Informado
Valor do Lucro
Líquido Calculado
% Variação
1913 137.155
143.420
4,57%
1914 135.419
158.518
17,06%
1915 371.613
353.261
-4,94%
1916 400.952
397.801
-0,79%
1917 659.124
676.323
2,61%
1918 1.273.348
1.152.529
-9,49%
1919 699.456
698.149
-0,19%
1925 2.373.390
2.246.249
-5,36%
1926 236.736
233.775
-1,25%
Tabela 3.3 Representatividade do Lucro Líquido Computado
Pela grande amplitude longitudinal do nosso estudo e pelo pequeno número de
anos para os quais as informações de Lucro Líquido tiveram que ser calculadas,
achou-se que o grau de acuracidade apresentado na Tabela 3.3 não contaminaria
a série de valores e, por isso, decidiu-se pela sua utilização junto aos demais
dados informados.
Além dos mapeamentos e cálculos expostos na Tabela 3.2, houveram oito
conversões de moeda durante o último século, que tiveram que ser aplicadas ao
PIB, disponibilizado pelo IPEADATA (http://www.ipeadata.gov.br) em Real (R$),
para se chegar ao seu valor em moeda corrente da época, compatível com os
dados levantados da companhia. A Tabela 3.4 ilustra como foram feitas essas
conversões de valores:
38
Conversão Ano de Conversão Forma de Conversão
Réis ($) para Cruzeiro
(Cr$)
1942
1 Cruzeiro = 1 Réis
(1 Conto de Réis (1:000$000) =
1.000.000 de Réis)
Cruzeiro (Cr$) para
Cruzeiro Novo (NCr$)
1967
1 Cruzeiro Novo = 1.000
Cruzeiros
Cruzeiro Novo (NCr$)
para Cruzeiro (Cr$)
1970 1 Cruzeiro = 1 Cruzeiro Novo
Cruzeiro (Cr$) para
Cruzado (Cz$)
1986 1 Cruzado = 1.000 Cruzeiros
Cruzado (Cz$) para
Cruzado Novo (NCz$)
1988
1 Cruzado Novo = 1.000
Cruzados
Cruzado Novo (NCr$)
para Cruzeiro (Cr$)
1990 1 Cruzeiro = 1 Cruzado Novo
Cruzeiro (Cr$) para
Cruzeiro Real (CR$)
1993
1 Cruzeiro Real = 1.000
Cruzeiros
Cruzeiro Real (CR$)
para Real (R$)
1994 1 Real = 2.750 Cruzeiros
Fonte: GRIGOROVSKI (2004)
Tabela 3.4 Conversão de Moedas do Último Século
A íntegra dos dados coletados e estruturados utilizados neste trabalho pode ser
observada nos Anexos de 5 a 10.
3.4.1.2 Estruturação dos Indicadores
Uma vez coletados e estruturados os dados, passou-se à elaboração dos
indicadores em si. A Tabela 3.5 apresenta todos eles, agrupados em classes e
acompanhados do propósito de sua utilização e da importância para a análise dos
Traços Organizacionais de FLECK (2003a; 2005).
39
Classe Indicador Composição Objetivo Métrico Critérios de Avaliação
(1)
Crescimento
Relativo
“Receitas”
sobre o “PIB”
Evolução do
crescimento da
empresa em relação
ao da economia
(2) Valor
Adicionado
Relativo (Proxy
para o
Crescimento)
“Lucro Bruto”
sobre o “PIB”
Evolução do valor
adicionado pela
empresa em relação
ao valor adicionado
pela economia.
Crescimento e Desempenho Econômico
(3)
Lucratividade
Relativa
“Lucro Líquido”
sobre o “PIB”
Evolução do
desempenho
econômico da
empresa em relação
ao comportamento
da economia.
Trajetória dos Indicadores
Crescente Sugere que a empresa cresceu
numa proporção maior que a economia para
a dimensão de cada indicador
Decrescente Sugere que a empresa
cresceu numa proporção menor que a
economia para a dimensão de cada
indicador.
------------------------------------------------------------
Área entre as curvas (1) e (2)
Quanto menor, mais eficiente é o processo
de compra e de fabricação, desde que a
curva (1) seja crescente e a natureza
essencial das atividades permaneça
inalterada ao longo do tempo.
------------------------------------------------------------
Área entre as curvas (2) e (3)
Quanto menor, mais eficiente é a estrutura
administrativo-financeira-fiscal da
companhia, já que a diferença entre as duas
linhas vem basicamente dos custos gerais,
administrativos e de vendas, do resultado
financeiro e de impostos.
------------------------------------------------------------
Área entre as curvas (1) e (3)
Quanto menor, maior a rentabilidade da
empresa. Se a trajetória do indicador (1) for
crescente, maior também a crescimento.
(4) Reservas
Disponíveis
“Total de
Reservas”
sobre “Ativo”
Mensurar a
capacidade de
realizar novos
investimentos, tendo
como base os
investimentos já
feitos, utilizando
para isso apenas
capital próprio.
Solidez Econômica
(5) Nível de
Endividamento
“Dívida de
Longo Prazo”
sobre “Ativo”
Mensurar quanto
dos investimentos
feitos estão
financiados por
capital de terceiros.
Trajetória dos Indicadores
Crescente O indicador (4) sugere que a
empresa está aumentando sua capacidade
de realizar novos investimentos com capital
próprio. O indicador (5) sugere que a
empresa está utilizando mais capital de
terceiros para financiar seu crescimento.
Decrescente O indicador (4) sugere que a
empresa está diminuindo sua capacidade de
realizar novos investimentos com capital
próprio. O indicador (5) sugere que a
empresa está reduzindo a utilização de
capital de terceiros para financiar o seu
crescimento.
------------------------------------------------------------
Estável Sugere um bom planejamento da
formação de reservas e da política de
endividamento.
Instável Sugere a falta de planejamento e
controle da formação de reservas e da
política de endividamento.
------------------------------------------------------------
Área entre as curvas (4) e (5)
(a) (4) Superior a (5) Quanto maior a área
entre as curvas dos indicadores, maior a
capacidade de a empresa honrar as dívidas
e investir em novos ativos, seja com capital
próprio, ou mesmo com capital de terceiros.
(b) (5) Superior a (4) Quanto menor a área
entre as curvas, maior a capacidade de a
empresa honrar as dívidas e investir em
novos ativos, seja com capital próprio, ou
mesmo com capital de terceiros.
40
Classe Indicador Composição Objetivo Métrico Critérios de Avaliação
Eficiência
(6) Custeio
Administrativo
“Despesas
Gerais,
Administrativas
, de Vendas e
Sociais” sobre
o “Lucro Bruto”.
Mensurar a
representatividade
do custo da
estrutura
administrativa em
relação ao valor
adicionado pela
empresa.
Trajetória do Indicador
Crescente Sugere que a eficiência da
estrutura administrativa está se reduzindo
progressivamente desde que a natureza
essencial das atividades permaneça
inalterada ao longo do tempo.
Decrescente Sugere que a eficiência da
estrutura administrativa está melhorando
progressivamente desde que a natureza
essencial das atividades permaneça
inalterada ao longo do tempo.
------------------------------------------------------------
Estável Sugere que a estrutura
administrativa não sofre grandes
reestruturações.
Instável Sugere que a estrutura
administrativa sofre significativas
modificações periodicamente.
(7) Liquidez
Corrente
“Ativo
Circulante”
sobre “Passivo
Circulante”
Analisar quanto
existe de capital de
curto prazo para
cobrir as obrigações
de curto prazo.
Liquidez
(8) Liquidez
Seca
“Ativo
Circulante”
“Estoques”
sobre “Passivo
Circulante”
Analisar quanto
existe de capital
líquido de curto
prazo para cobrir as
obrigações de curto
prazo.
Trajetória dos Indicadores
Crescente Sugere a melhoria da estrutura
de caixa e conseqüente a diminuição do
risco de insolvência da empresa no curto
prazo.
Decrescente Sugere um déficit de caixa,
eventualmente ocasionado por uma
dificuldade da empresa de captar
empréstimos de longo prazo.
------------------------------------------------------------
Níveis Aceitáveis Liquidez seca acima de
1 indica uma situação bastante confortável,
assumindo-se uma análise de crédito
criteriosa.
------------------------------------------------------------
Área entre as curvas (7) e (8)
Quanto menor, menores os níveis de
estoque.
Tabela 3.5 Indicadores Contábeis e Financeiros Utilizados na Análise Quantitativa
A Tabela 3.6 apresenta os mesmos indicadores da tabela 3.5, ordenados pelas
dimensões de análise do framework de Traços Organizacionais de FLECK (2003a;
2005).
Desafio
Indicadores
Associados
Dimensão do
Desafio
Implicação para a Análise dos Traços
Organizacionais de FLECK (2003a,
2005)
Depende
Informação
Qualitativa
(1) Crescimento
Relativo
(3) Lucratividade
Relativa
Rentabilidade dos
Empreendimentos
A trajetória crescente da curva do
indicador (1) combinada com a redução
progressiva da área entre as curvas dos
indicadores (1) e (3) sugere uma
aproximação do pólo de
empreendedorismo audacioso.
Sim
Empreendedorismo
(4) Reservas
Disponíveis
(5) Nível de
Endividamento
Risco Existencial
de Longo Prazo
Trajetórias crescentes
1
da área entre as
curvas dos indicadores (4) e (5)
contribuem para o empreendedorismo
audacioso. De forma contrária, trajetórias
decrescentes sugerem uma aproximação
do pólo de empreendedorismo
satisfatório.
Sim
1
Nos casos em que a curva do indicador (4) apresenta nível superior à curva do indicador (5).
Nos demais casos, a área deve ter uma trajetória de decrescimento.
41
(7) Liquidez
Corrente
(8) Liquidez
Seca
Risco Existencial
de Curto Prazo
Trajetórias crescentes dos indicadores
contribuem para o empreendedorismo
audacioso. De forma contrária, trajetórias
decrescentes sugere uma aproximação do
pólo de empreendedorismo satisfatório.
Sim
Motivação para Expansão
(1) Crescimento
Relativo
(2) Valor
Adicionado
Relativo
Tipo de Motivação
para Expansão
Quando a curva do indicador (1) for
crescente e a redução progressiva da
área entre as curvas dos indicadores (1) e
(2) for fruto de decisão deliberada de
expansão, tem-se indício de uma
integração vertical que sugere uma
expansão de motivação defensiva. Em se
verificando também interesses produtivos
na integração vertical, como a obtenção
de economias de escala, escopo ou de
velocidade, bem como a ativação de um
motor crescimento de retroalimentação,
então, essa expansão tem motivação
híbrida.
Sim
Atitude para a
Mudança
(1) Crescimento
Relativo
(3) Lucratividade
Relativa
Moldagem ou
Adaptação ao
Ambiente
Quando a curva do indicador (1) for
crescente, a redução progressiva da área
entre as curvas dos indicadores (1) e (3)
pode sugerir que a empresa impõe ao
mercado níveis progressivos de
competitividade, ou que o mercado requer
da empresa essa adaptação. Quando a
curva do indicador (1) for decrescente,
qualquer conclusão fica comprometida.
Sim
(2) Valor
Adicionado
Relativo
(3) Lucratividade
Relativa
Gestão da
Diversidade da
Estrutura
Administrativo-
Financeira-Fiscal
A redução progressiva da área entre as
curvas dos indicadores (2) e (3) sugere
uma tendência de integração na gestão
da diversidade.
Sim
Gestão da Diversidade
(6) Custeio
Administrativo
Gestão da
Diversidade da
Estrutura
Administrativa
A redução progressiva do indicador (6)
sugere uma gestão da diversidade
tendente à integração, desde que a
natureza essencial das atividades
permaneça inalterada ao longo do tempo.
De forma contrária, o aumento
progressivo ou a manutenção do mesmo
indicador sugere uma gestão da
diversidade voltada à fragmentação desde
que a natureza essencial das atividades
permaneça inalterada ao longo do tempo.
Sim
(1) Crescimento
Relativo
(2) Valor
Adicionado
Relativo
Gestão da
Complexidade do
Processo de
Compras e de
Manufatura
A redução progressiva da área entre as
curvas dos indicadores (1) e (2)
concomitante a um crescimento ou uma
constância da curva do indicador (1)
sugere uma resolução sistemática dos
problemas relacionados à aquisição de
matérias-primas e de redução dos custos
de fabricação, desde que a natureza
essencial das atividades permaneça
inalterada ao longo do tempo. Nada é
possível concluir quando a área entre os
indicadores for crescente.
Não.
(2) Valor
Adicionado
Relativo
(3) Lucratividade
Relativa
Gestão da
Complexidade
Administrativo-
Financeira-Fiscal
A redução progressiva da área entre as
curvas dos indicadores (2) e (3) sugere a
resolução sistemática dos problemas
administrativos-financeiros-fiscais.
Sim
Gestão da Complexidade
(4) Reservas
Disponíveis
(5) Nível de
Endividamento
Gestão da
Complexidade da
Política de
Investimentos e de
Financiamentos
Trajetórias estáveis dos indicadores (4) e
(5) sugerem um bom planejamento do
financiamento e dos investimentos da
companhia. De forma contrária, trajetórias
tumultuadas implicam que a empresa lida
com a captação e a aplicação de recursos
de forma casuística.
Sim
42
(7) Liquidez
Corrente
(8) Liquidez
Seca
Gestão da
Complexidade dos
Estoques
Uma redução progressiva ou a
manutenção alinhada com padrões
históricos, da área entre as curvas dos
indicadores (7) e (8), sugere uma gestão
sistemática de estoques. De forma
contrária, o crescimento progressivo e a
volatilidade sugerem uma gestão dos
estoques casuística.
Não
(7) Liquidez
Corrente
(8) Liquidez
Seca
Gestão da
Complexidade do
Caixa
Trajetórias crescentes, ou relativamente
constantes em níveis confortáveis
(liquidez corrente >= 1,5 e liquidez seca
>= 1), de liquidez, sugerem uma gestão
sistemática de caixa. De forma contrária,
trajetórias decrescentes ou voláteis
sugerem uma gestão de caixa casuística.
Não
(2) Valor
Adicionado
Relativo
(3) Lucratividade
Relativa
Folga na Estrutura
Administrativo-
Financeira-Fiscal
O aumento progressivo da área entre as
curvas dos indicadores (2) e (3)
concomitante a uma curva decrescente ou
constante do indicador (2) sugere a
formação de folga administrativa, ou a
formação de folga fiscal, ou a diminuição
de folga financeira (resultado financeiro
piorado), ou ambos. De forma contrária, a
diminuição progressiva da área entre as
curvas dos indicadores (2) e (3)
concomitante a uma curva decrescente ou
constante do indicador (2) sugere a
diminuição da folga administrativa, ou a
diminuição da folga fiscal, ou o aumento
da folga financeira (resultado financeiro
melhorado), ou ambos.
Sim
(4) Reservas
Disponíveis
(5) Nível de
Endividamento
Folga Financeira
de Longo Prazo
O aumento progressivo da área entre as
curvas dos indicadores (4) e (5)
aumentam o nível de folga financeira
disponível para financiar o crescimento da
empresa. De forma contrária, trajetórias
decrescentes diminuem o nível de folga
financeira utilizável no processo de
crescimento.
Não
(6) Custeio
Administrativo
Folga da Estrutura
Administrativa
Grandes oscilações no indicador (6),
concomitantes com períodos de
aquecimento seguido de retração da
demanda, sugerem a ausência de folga,
importante ao crescimento. Por outro lado,
trajetórias mais estáveis sugerem a
manutenção de alguma folga utilizável no
processo de crescimento futuro.
Sim
Folga
(7) Liquidez
Corrente
(8) Liquidez
Seca
Folga Financeira
de Curto Prazo
Trajetórias crescentes de liquidez
aumentam a folga financeira de curto
prazo, importante para o crescimento. De
forma contrária, trajetórias decrescentes
reduzem a folga financeira de curto prazo.
Não
Tabela 3.6 Indicadores Contábeis e Financeiros Utilizados na Análise Quantitativa
ordenados pelas Dimensões dos Traços Organizacionais de FLECk (2003a; 2005)
43
3.4.2 Análise Qualitativa
Para a operacionalização da análise qualitativa, utilizou-se uma adaptação do
protocolo de FLECK (2004), composto de uma planilha contendo os atributos
apresentados na Tabela 3.6. Cada trecho relevante de documento analisado teve
pelo menos uma entrada na planilha.
Atributo Descrição
Seq. Preenchido com números ordinais crescentes e seqüenciados.
Documento Preenchido com a referência descritiva do documento analisado.
Parágrafo
Cada documento, antes de ser analisado teve seus parágrafos enumerados. O
parágrafo do documento de onde o trecho destacado foi extraído foi
preenchido neste campo. Se o trecho tiver se estendido para mais de um
parágrafo, o parágrafo referente ao início do trecho foi imputado.
Nível de Análise
Foram quatro os níveis de análise utilizados para enquadrar os trechos
analisados: (1) Indivíduo quando os trechos de texto selecionados se
relacionaram a pessoas de destaque na história da São Paulo Alpargatas; (2)
Firma quando os trechos de texto selecionados se relacionam a
características de firmas envolvidas direta ou indiretamente com a história da
São Paulo Alpargatas; (3) Domínio quando os trechos de texto selecionados
se relacionaram a microambientes. Por exemplo: indústria, comunidade,
associação; (4) Ambiente quando os trechos de texto selecionados se
relacionaram a macroambientes. Por exemplo: Países, Blocos Econômicos e
Mundo.
Sujeito/Objeto
Nome do sujeito ou objeto relacionado ao trecho de texto selecionado para
análise. Aqui foram imputados nomes de pessoas, empresas, indústrias,
segmentos de uma indústria, grupos de interesses, países, regiões, blocos
econômicos e outros.
Ini. Período Início do período de ocorrência dos fatos, eventos e comentários.
Fim Período Final do período de ocorrência dos fatos, eventos e comentários.
Código
Classificação do trecho de texto selecionado segundo o entendimento do
autor, e com base em um dicionário de dimensões, qualificadores e métricas
que serviram para avaliação da propensão da São Paulo Alpargatas à
autoperpetuação (FLECK, 2003a; 2005).
Evidência
Trechos de textos extraídos dos documentos, que fornecem subsídio para a
codificação feita.
Comentário Texto livre utilizado para comentários do autor.
Tabela 3.7 Planilha de Análise Qualitativa
A codificação (coluna Código) foi feita em conformidade com o nível de
enquadramento dos trechos analisados (Indivíduo, Firma, Microambiente e
Macroambiente) e com as dimensões (construtos) e valores (domínios) definidos
para cada um desses níveis com base em FLECK (2003a, 2005) e OLIVER(1991)
(Vide Tabela 3.7 e 3.8). Nos níveis de Indivíduo, Microambiente e Macroambiente
foram eleitos qualificadores, cujo objetivo não é apontar um deslocamento da São
Paulo Alpargatas dentro do continuum de propensão à autodestruição-
autoperpetuação, mas sim, ajudar na contextualização dos fatos para facilitar a
definição destes deslocamentos.
44
Domínios de Análise
Escala de Valores
Nível Dimensão
(Construtos)
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Autoperpetuação
Empreendedorismo
Satisfatório ou
Insuficiente
Audacioso
Motivação para
Expansão
Nula ou Defensiva Produtiva ou Híbrida
Atitude para a Mudança Aceita Molda ou Adapta
Gerenciamento da
Diversidade
Fragmentada Integrada
Gerenciamento da
Complexidade
Casuística Sistemática
Provisionamento de
Recursos Gerenciais
Tardia ou Sob-
Demanda
Antecipada
Firma
Folga Depende do Contexto Depende do Contexto
Tabela 3.8 Construtos e domínios utilizados para a avaliação da
propensão da SPASA à Autoperpetuação
Nível Dimensão do Qualificador Qualificador
Comprometimento de Longo Prazo
Julgamento
Versatilidade
Ambição
Serviços Empreendedores
Capacidade de Levantar Fundos
Capacidade de Gestão
Liderança Interna
Indivíduo
Serviços de Gerenciamento
Coordenação Externa
Favorável
Inovação
Desfavorável
Alta
Legitimidade da Empresa
Baixa
Comportamento da Concorrência
Atratividade
Dinâmica das Matérias-Primas
Cooperativos
Competitivos Relacionamentos Coletivos
Coordenados
Favorável
Microambiente
(Indústria)
Padronização
Desfavorável
Favorável
Econômico
Desfavorável
Favorável
Legal
Desfavorável
Favorável
Político
Desfavorável
Favorável
Social
Desfavorável
Favorável
Macroambiente
(País, Mundo)
Tecnológico ou Infra-
Estrutural
Desfavorável
Tabela 3.9 Qualificadores em Nível de Indivíduo, Microambiente e
Macroambiente
45
3.4.3 Posição no Continuum: Autodestruição-Autoperpetuação
A análise dessa dissertação foi pautada em um conjunto de dados quantitativos
e/ou qualitativos relacionados, prioritariamente em nível de firma, a partir dos quais
foram sugeridos “deslocamentos” da empresa em relação aos pólos do continuum
de propensão à autodestruição, ou à autoperpetuação. Para cada unidade de
análise, isto é, para cada sugestão de “deslocamento”, foram atribuídos pontos
(Vide Tabela 3.10), que foram agrupados por Desafio, por Grupo de Desafio
(crescimento contínuo, manutenção da integridade organizacional e folga), e de
forma geral, para cada Fase da história da companhia.
Forma de Enquadramento Pontuação
Cor
Sugere Propensão à Autodestruição -1 AD
Neutro 0 N
Sugere Propensão à Autoperpetuação +1 AP
Tabela 3.10 Pontuação da Análise da São Paulo Alpargatas
3.4.3.1 Posicionamento por Desafio
O posicionamento da empresa por Desafio, em cada Fase, se deu da
seguinte forma:
1. Para cada fase e cada desafio, foi computado o número total de
eventos analisados. Esse número foi utilizado na definição do domínio
de variação do posicionamento da empresa no continuum
autodestruição-autoperpetuação. Por exemplo: A partir da análise de
100 eventos relacionados ao desafio do empreendedorismo na fase de
Desenvolvimento da empresa, o posicionamento da empresa em
relação a esse desafio, nesta fase, poderia variar de -100 pontos
(extremo do continuum referente ao pólo de propensão à
autodestruição) a +100 pontos (extremo do continuum referente ao pólo
de propensão à autoperpetuação).
2. Para cada fase, a posição inicial da empresa, para cada desafio, foi de
neutralidade.
3. Para cada evento que sugeriu o desenvolvimento da propensão à
autodestruição foi subtraído 1 à posição da empresa.
46
4. Para cada evento que sugeriu o desenvolvimento da propensão à
autoperpetuação foi somado 1 à posição da empresa.
5. O posicionamento final da empresa em relação a cada desafio, em uma
determinada fase, foi resultado da soma de todos os pontos atribuídos
àquele desafio, durante a análise da mesma fase.
3.4.3.2 Posicionamento por Grupo de Desafio
O posicionamento da empresa no continuum de propensão à
Autodestruição, ou à Autoperpetuação, por Grupo de Desafio, se deu de
forma semelhante ao realizado para cada desafio separadamente. O domínio
de posicionamento foi definido com base no número total de eventos
analisados do Grupo de Desafio, e o posicionamento foi obtido através da
soma das pontuações atribuídas a cada evento analisado. As composições dos
Grupos de Desafios foram estruturadas da seguinte forma:
1. Crescimento Contínuo
§ Empreendedorismo;
§ Motivação para Expansão;
§ Atitude para a Mudança.
2. Manutenção da Integridade Organizacional
§ Gestão da Diversidade;
§ Gestão da Complexidade;
§ Formação da Estrutura Gerencial.
3. Folga
§ Não apresenta desafios componentes.
3.4.3.3 Posicionamento por Fase
O posicionamento da empresa no continuum de propensão à
Autodestruição, ou à Autoperpetuação, por Fase, se deu de forma semelhante
ao realizado para cada Grupo de Desafio. O domínio de posicionamento foi
definido com base no número total de eventos analisados na Fase, e o
47
posicionamento foi obtido através da soma das pontuações atribuídas a cada
evento analisado durante o período.
48
4. RESULTADO DA ANÁLISE
Nesta seção serão apresentados aspectos da vida da São Paulo Alpargatas
que representaram padrões de ações e comportamentos (modos de respostas) da
empresa em relação aos desafios do crescimento. A abordagem será segmentada
em fases, conforme disposto no capítulo de metodologia. Antes, porém, de iniciar a
abordagem de cada uma das fases da história da companhia, cabe expor
sumariamente o comportamento geral da companhia e de seus indicadores
quantitativos (Figuras 4.1 a 4.4). A história completa da empresa encontra-se
disposta no Anexo 3.
A São Paulo Alpargatas foi fundada em 1907 por um grupo de anglo-escoceses
que haviam se estabelecido na América do Sul, mais especificamente na
Argentina, em 1883. O objetivo do grupo era introduzir no Brasil, um conjunto de
artefatos de ampla aceitação na Inglaterra e na Argentina, de natureza básica,
alinhados à economia agroindustrial que o Brasil vivia na época, produzidos em
larga escala, e comercializados a preços acessíveis.
Pautada neste posicionamento estratégico de grandes volumes, a empresa
evoluiu durante 8 décadas, construindo e adquirindo fábricas, aumentando os
níveis de produção e diversificando suas linhas de produtos, até que no início da
década de 90, uma grave crise culminou no redirecionamento do foco de atuação
da empresa para os segmentos de mercado de maior valor agregado e ligados à
moda. A companhia prioriza hoje a valorização de suas marcas, tanto no mercado
interno como no exterior. Conta apenas com 8 das 28 fábricas existentes no final
da década de 80, e seu faturamento em relação ao PIB está no mesmo nível
daqueles apresentados ao final da década de 30, quando a empresa também se
recuperava de uma grave crise financeira. A Figura 4.1 ilustra a evolução do
Crescimento e do Desempenho Econômico Relativo da empresa ao longo de sua
história.
49
Evolução do Crescimento Relativo, do Valor Adicionado Relativo e da Lucratividade Relativa
-0,06%
-0,03%
0,00%
0,03%
0,06%
0,09%
0,12%
0,15%
0,18%
0,21%
0,24%
0,27%
0,30%
0,33%
0,36%
0,39%
0,42%
1909 1914 1919 1924 1929 1934 1939 1944 1949 1954 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004
% PIB
Receitas / PIB
Lucro Bruto / PIB
Lucro Líquido / PIB
Fonte: Vide Anexos 5 e 8
Figura 4.1 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA
Ao contrário da crise dos anos 30, que parece ter sido ocasionada pelo colapso
financeiro mundial desencadeado com a quebra da Bolsa de Valores de Nova
York, a análise da crise dos anos 90 sugere a existência de deficiências internas. A
pouca sinergia que a multiplicação dos negócios e o espalhamento geográfico das
unidades propiciaram à empresa, teria sido a principal delas. Os custos se
elevaram de forma desproporcional às receitas e o ponto de equilíbrio foi ficando
mais difícil de ser atingido em meio à corrosão progressiva das margens de lucro,
provocada pelas pressões inflacionárias, pelas políticas de congelamentos de
preços do governo e pela concorrência desleal do mercado informal e ilegal. A
empresa vendia cada vez mais e lucrava cada vez menos. O reflexo desse
problema pode ser observado na figura 4.1 (área entre as curvas de Receita e
Lucro Líquido)
Se o fato de a principal causa da crise dos anos 90 ter sido de natureza interna
sugere implicitamente uma falha na gestão do crescimento da empresa (não foi
dada a devida atenção à manutenção da integridade organizacional), ao serem
analisadas as figuras 4.2 e 4.3, percebe-se que a sistemática gestão econômico-
financeira (manutenção de confortáveis níveis de reservas e liquidez
50
concomitantes a níveis mínimos de dívida) foi uma das principais razões para que
a empresa suportasse tanto os 10 anos de crise financeira dos anos 30, como os 7
anos de agonia mercadológica dos anos 90.
Evolução das Reservas Disponíveis e do Nível de Endividamento
-30,00%
-20,00%
-10,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
1909 1914 1919 1924 1929 1934 1939 1944 1949 1954 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004
% Ativo
Dívidas Longo Prazo / Ativo Reservas / Ativo
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.2 Solidez Econômica da SPASA
Evolução da Liquidez Corrente e da Liquidez Seca
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
1909 1914 1919 1924 1929 1934 1939 1944 1949 1954 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004
Ativo Circulante / Passivo Circulante (Ativo Circulante - Estoques) / Passivo Circulante
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.3 Liquidez da SPASA
51
Parte desses vultosos recursos poupados sistematicamente para financiar o
crescimento da companhia, foram gastos com reestruturações nas duas ocasiões.
Na crise dos anos 90, esses recursos foram canalizados para a desativação de
fábricas, demissão de funcionários, contratação de consultorias, entre outras
ações. A Figura 4.4 destaca a elevação das despesas administrativas a partir do
início da década de 90.
Evolução do Custeio da Estrutura Administrativa
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
1909 1914 1919 1924 1929 1934 1939 1944 1949 1954 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004
% Lucro Bruto
Desp. Vendas, Adm. e Soc. / Lucro Bruto
Fonte: Vide Anexo 8
Figura 4.4 Eficiência Administrativa da SPASA
Dentro do exposto, podemos adiantar que de maneira geral, a São Paulo
Alpargatas apresentou respostas aos desafios do crescimento que sugerem o
desenvolvimento de uma propensão à autoperpetuação ao longo de todas as fases
de sua história. Não obstante isso, alguns aspectos da gestão da diversidade e da
complexidade do crescimento, que implicam na manutenção da integridade
organizacional, não foram bem geridos pela empresa, principalmente durante o
período de estrondosa multiplicação industrial e durante a sua primeira tentativa de
renovação, entre os anos de 1989 e 1996.
52
4.1 Os Primeiros Passos (1907-1940)
É importante ressaltar que, a despeito de a São Paulo Alpargatas ter sido
fundada em 1907, suas origens remontam a 1883, quando os irmãos Norman e
Robert Fraser, herdeiros da Douglas Fraser & Sons, resolveram expandir seus
negócios e adentrar o continente sul-americano a partir da Argentina, expandindo
posteriormente para o Uruguai e para o Brasil. Dessa forma, algumas informações
anteriores à fundação da companhia, principalmente aquelas ligadas aos seus
fundadores, foram de grande importância para a condução da análise.
4.1.1 Empreendedorismo
A análise da evolução das classes de indicadores quantitativos de
“Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.5), de “Solidez Econômica”
(Figura 4.6) e de “Liquidez” (Figura 4.7) foram de grande auxílio para a
compreensão da dinâmica de expansão e rentabilidade da São Paulo Alpargatas,
bem como do seu nível de exposição a riscos existenciais. A primeira classe de
indicadores serviu para identificar os resultados de crescimento de vendas e do
respectivo lucro, que refletem, em última instância, características das ações de
empreendedorismo da empresa quanto à ambição, versatilidade e julgamento. Os
dois últimos indicadores foram importantes na avaliação dos riscos existenciais e
da capacidade de levantar capital, já que relacionam os níveis de reservas ao nível
de endividamento de longo prazo (risco existencial de longo prazo e capacidade de
levantar empréstimos de longo prazo) e apresentam uma visão sobre a gestão de
caixa da companhia (risco existencial de curto prazo e capacidade de levantar
empréstimos de curto prazo), respectivamente.
53
Evolução do Crescimento Relativo, do Valor Adicionado Relativo e da Lucratividade Relativa
-0,010%
0,000%
0,010%
0,020%
0,030%
0,040%
0,050%
0,060%
0,070%
0,080%
1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 1931 1933 1935 1937 1939
% PIB
Receitas / PIB Lucro Bruto / PIB Lucro Líquido / PIB
Grande Depressão: Crise Financeira
1930-1940
I Guerra
Mundial
1914-1918
Reestrutur. Industrial
1934-1940
Crise
Mercado
1925-1928
Instabilidade
1919-1923
Revolução
Constitucionalista
Revolução
Tenentista
Gripe Espanhola
Movimentos
Grevistas
Fonte: Vide Anexos 5 e 8
Figura 4.5 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA durante os
Primeiros Passos
Evolução das Reservas Disponíveis e do Nível de Endividamento
-30,00%
-20,00%
-10,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 1931 1933 1935 1937 1939
% Ativo
Reservas / Ativo Dívidas Longo Prazo / Ativo
Grande Depressão: Crise Financeira -
1930-1940
I Guerra
Mundial
1914-1918
Reestrutur. Industrial
1934-1940
Crise
Mercado
1925-1928
Instabilidade
1919-1923
Revolução
Constitucionalista
Revolução
Tenentista
Gripe Espanhola
Movimentos
Grevistas
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.6 Solidez Econômica da SPASA durante os Primeiros Passos
54
Evolução da Liquidez Corrente e da Liquidez Seca
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 1931 1933 1935 1937 1939
Ativo Circulante / Passivo Circulante (Ativo Circulante - Estoques) / Passivo Circulante
Grande Depressão: Crise Financeira
1930-1940
I Guerra
Mundial
1914-1918
Reestrutur. Industrial
1934-1940
Crise
Mercado
1925-1928
Instabilidade
1919-1923
Revolução
Constitucionalista
Revolução
Tenentista
Gripe Espanhola
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.7 Liquidez da SPASA durante os Primeiros Passos
Ambição, Versatilidade e Julgamento
A história da São Paulo Alpargatas mostrou muitos indícios da existência de
ambição, versatilidade e julgamento no comportamento da companhia durante os
Primeiros Passos. Já a partir de 1870, antes mesmo da fundação da companhia,
um de seus fundadores, Norman Fraser, usou de sua versatilidade e de sua
capacidade de julgamento para conceber, projetar e patentear um equipamento
para automatizar a trança de fibras, passível de ser estendido à fabricação de
pavios de vela, solados de alpargatas e outras utilidades. Essa foi a forma que o
herdeiro da Douglas Fraser & Sons visualizou para retomar as atividades da
companhia que vinham muito decadentes após o advento do motor a vapor.
Em 1883, após dois anos de trabalho na divulgação e aperfeiçoamento do
novo equipamento na Europa, os irmãos Norman e Robert demonstraram uma
marcante ambição ao decidirem explorar o mercado sul-americano. Ambos
imigraram para a Argentina, estimulados pelo intenso fluxo de capital e cultural da
Inglaterra para o referido país durante toda a década de 1880.
55
De 1885 a 1907, após a estabilização de suas atividades na Argentina, os
acionistas majoritários da Fábrica Argentina de Alpargatas expandiram suas
atividades para o Uruguai, diversificaram suas linhas de produtos e expandiram
novamente para o Brasil, demonstrando novamente características de ambição.
Ambição foi, também, uma característica identificada na diretoria da São Paulo
Alpargatas entre os anos de 1912 e 1914. Os executivos abriram mão de suas
bonificações para investir na formação de reservas e em anúncios, o que elevou
consideravelmente os níveis de negócios da empresa no período (Vide Figura 4.5).
Em 1915, com uma demanda muito elevada, foi a vez de utilizar a versatilidade e o
julgamento para expandir a fábrica e os dois depósitos com os recursos do fundo
de depreciação. Em 1916, em meio às restrições de importação da I Guerra, a
diretoria repetiu as atitudes de versatilidade e julgamento e expandiu novamente
os depósitos para acomodar o maior volume de matérias-primas possível.
No final da década de 10, em meio à queda acentuada registrada nos níveis de
demanda (Vide Figura 4.5), a diretoria da São Paulo Alpargatas manteve sua
característica de ambição e bom julgamento. Apostou na melhoria do mercado e
se preparou para a concorrência que viria no pós-guerra, instalando uma seção de
tinturaria com o que havia de mais moderno; introduzindo uma seção para o
acabamento e impermeabilização de lonas; e ampliando a seção de fiação de
algodão. Além desses investimentos produtivos, adquiriu um terreno à Rua do
Carmo para a construção de armazéns e escritórios, que foram concluídos no ano
de 1920. Os frutos dessas ações foram colhidos em 1922 e 1923 quando a
empresa registrou os maiores níveis de atividade desde sua fundação (Vide Figura
4.5).
Durante a crise que assolou a indústria e o comércio brasileiro entre 1925 e
1929, quando a São Paulo Alpargatas ficou impossibilitada de repassar aos seus
produtos tradicionais, as altas de suas matérias-primas, a diretoria decidiu, numa
demonstração de versatilidade e julgamento, reduzir a manufatura dos produtos
tradicionais para não elevar os estoques, e investir na diversificação para tecidos
leves como forma de compensar os baixos lucros auferidos nos primeiros. Nesse
contexto, em 1926, a empresa decidiu vender os maquinários da seção de
alpargatas para a A.S.A.I.C e investir o dinheiro numa fiação de algodão.
56
Em 1932, a São Paulo Alpargatas direcionou sua ambição e sua versatilidade
para se transformar em indústria de guerra (Revolução Constitucionalista) e
usufruir da demanda proporcionada pelas forças armadas. Esse mercado foi
essencial para a recuperação da empresa durante o período da Grande
Depressão.
Comprometimento de Longo Prazo
Durante os primeiros anos de vida da São Paulo Alpargatas, a companhia não
apresentou muito bons resultados. Como forma de melhorar a capacidade de
investimentos da companhia, os diretores lançaram mão de seu comprometimento
de longo prazo e renunciaram às bonificações a que tinham direito entre os anos
de 1912 e 1914.
Em 1917, foi a vez dos funcionários demonstrarem um comprometimento de
longo prazo para com a São Paulo Alpargatas, ao decidirem não aderir aos
movimentos grevistas. Obviamente, esse apoio da base de funcionários não veio
ao acaso. A diretoria vinha desde a fundação da companhia fomentando a relação
de confiança mútua entre a empresa e seu corpo de colaboradores. No ano em
questão, a empresa se adiantou aos reclames grevistas e concedeu um aumento
considerado justo pela diretoria, frente à erosão do poder de compra dos salários.
Mas talvez a maior demonstração de comprometimento de longo prazo
evidente nos Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas foi a participação de
Robert Martin Fraser. Ele iniciou na companhia em 1934 e permaneceu até 1974,
tendo sido um dos principais responsáveis pela sua transformação nesse período.
Capacidade de Levantar Fundos
Uma vez na Argentina, os irmãos Fraser fizeram uso de sua capacidade de
levantar fundos e estabeleceram, em 1883, em sociedade com Juan Echegaray e
a companhia Ashworth & Company, a Echegaray & Fraser, cujo nome veio a ser
modificado para Sociedad Anónima Fábrica Argentina de Alpargatas, em 1885.
57
No Brasil, os acionistas demonstraram novamente essa capacidade de levantar
fundos, ao compor aproximadamente 50% do capital de 800 contos de réis
utilizado na fundação da São Paulo Alpargatas, através da captação de 41
investidores pessoas físicas, quase todos de origem britânica. A São Paulo
Alpargatas já nasceu, portanto, com o capital bastante pulverizado.
A partir de 1915, ano em que a São Paulo Alpargatas conseguiu cobrir o saldo
da conta contábil de lucros e perdas (Vide Figura 4.6), tanto sua capacidade de
realizar investimentos com capital próprio, como com capital de terceiros,
cresceram consideravelmente. Em 1916, em função da dificuldade de adquirir
matérias-primas por ocasião da I Guerra Mundial, a São Paulo Alpargatas fez uso
de sua capacidade de financiamento, e emitiu letras que foram utilizadas para
adquirir estoques extraordinários.
Entre o segundo semestre de 1918 e o primeiro semestre de 1919, a São
Paulo Alpargatas experimentou uma queda considerável nos níveis de atividade.
Para minimizar os riscos financeiros de um eventual prolongamento da recessão, a
diretoria da empresa resolveu reforçar sua capacidade de levantar fundos,
adquirindo e depositando junto aos banqueiros da companhia em Londres,
200.000 Letras do Empréstimo de Guerra Inglês, que deram conta de toda a
Reserva Especial de 400 contos.
Essa política de fortalecer a sua credibilidade foi muito importante para que a
empresa pudesse superar a crise dos anos 30. Os impactos da quebra de Edward
Ashworth & Co., em 1930, foram para a São Paulo Alpargatas, extremamente
danosos. A São Paulo Alpargatas só conseguiu continuar operando por causa do
apoio dos bancos, do mercado e da sociedade em geral.
Busca pela Minimização dos Riscos Existenciais
Mesmo antes da fundação da São Paulo Alpargatas, a sistemática de esperar
a estabilização de cada nova subsidiária para partir para a próxima, evidenciou
uma forma de minimização do risco existencial do negócio, promovida pelos
precursores da empresa, em meio aos processos de expansão.
58
Outro fator de minimização dos riscos existenciais inerentes à São Paulo
Alpargatas, foi a adoção de uma gestão profissionalizada desde a fundação da
companhia. Essa característica da empresa reduziu drasticamente os problemas
advindos de uma eventual má gestão. A pulverização inicial do capital da
companhia teve importância fundamental na sua adoção.
Com relação ao papel da folga financeira na redução dos riscos existenciais, a
avaliação dos indicadores de “Solidez Econômica” (Vide Figura 4.6) e de “Liquidez”
(Vide Figura 4.7), mostraram que os confortáveis níveis de reservas mantidos a
partir de 1915, somados a uma política de geração de caixa e de baixo
endividamento da companhia, reduziram consideravelmente o risco existencial
ligado à ocorrência de imprevistos e a empreendimentos como expansões de
fábricas, lançamento de produtos, reestruturações organizacionais, contratação de
dívidas, entre outros.
Associado à política de reforçar cada vez mais a situação econômico-financeira
da companhia, a diretoria buscou evitar sistematicamente a ocorrência de
emergências que necessitassem a utilização das reservas. Nesse contexto, sua
capacidade de julgamento foi muito importante para minimizar o risco de eventuais
interrupções na produção durante os períodos de alta demanda evidenciados entre
1916 e 1918. O impacto de tal acontecimento parecia catastrófico, estando a
companhia com os depósitos cheios. Uma das medidas tomadas pela diretoria foi
a instalação de aparelhos para a extinção automática de incêndios, denominados
"Sprinklers”. Em 1925, se evidenciou outra atitude no sentido de salvaguardar as
operações da empresa. Em meio ao racionamento de energia ocasionado pela
falta de chuvas, a diretoria decidiu instalar uma força elétrica própria. Tais
equipamentos possibilitaram à companhia trabalhar 2 a 3 vezes por semana sem
depender da São Paulo Tramway Light & Power Company.
Mas foi no início da década de 30, que a situação econômico-financeira da
companhia se fez extremamente importante para evitar a sua falência. Em 1930,
com a crise financeira desencadeada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova
York, Edward Ashworth & Co., agente exclusivo de vendas e financeiro da
companhia, foi à falência, levando consigo uma grande parte dos recebíveis da
São Paulo Alpargatas. Além disso, a estrutura de vendas da companhia foi
59
totalmente desmontada. Embora a análise desses fatos mostre que a São Paulo
Alpargatas pecou na avaliação dos riscos envolvidos com a terceirização completa
de sua estrutura de vendas, ela também ressalta a dimensão de sua estrutura de
sustentação contra infortúnios.
Síntese sobre o Desafio do Empreendedorismo
A coletânea dos eventos e processos analisados sugere que as respostas da
São Paulo Alpargatas aos desafios do empreendedorismo durante os Primeiros
Passos foram dotadas de ambição, versatilidade e julgamento, associadas a uma
busca pela minimização dos riscos e a uma capacidade de levantar novos fundos.
Entre os eventos que comprovam a ambição, a versatilidade e o julgamento cabe
destacar a migração dos irmãos Fraser para a Argentina e suas expansões para o
Uruguai e para o Brasil; a renúncia à bonificação a que tinham direito os diretores
entre 1912 e 1914; a adaptação da empresa à produção de novos artefatos,
quando no final da década de 20 seus produtos tradicionais se tornaram inviáveis
economicamente; e a transformação da Alpargatas em indústria de guerra em
1918 e 1932, que por sinal, serviu também para a minimização do risco existencial
num período de incertezas. Outros eventos que sugerem a minimização dos riscos
existenciais foram a política conservadora dos níveis de reservas, e a instalação de
mecanismos de proteção contra incêndios durante a segunda metade da década
de 10. Quanto à capacidade de levantar fundos, esta ficou demonstrada na própria
circunstância da fundação da companhia, bem como durante as ampliações
empreendidas e durante a crise da década de 30.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão
“Empreendedorismo” durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas,
segue disposta na Tabela 4.1.
60
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Empreendedorismo
Em meio aos contínuos investimentos em expansão, modernização e
em lançamento de novos produtos (ambição, criatividade e
versatilidade) ocorridos durante toda a fase “Os Primeiros Passos”, a
manutenção de confortáveis níveis de reservas (Figura 4.6) foram de
extrema importância para minimizar o risco existencial da companhia,
principalmente durante a década de 30, quando a mesma encontrava-
se endividada. Tal entrosamento entre as áreas produtivas e de
finanças sugere a adoção de diretrizes de empreendedorismo
audacioso por parte da São Paulo Alpargatas.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.1 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” nos Primeiros Passos da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Empreendedorismo”, obtidas durante os Primeiros Passos da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.2.
Análise dos Traços Organizacionais Empreendedorismo
Período Evento 1
1883
A Fundação da Fábrica Argentina de Alpargatas foi resultado da ambição, versatilidade e
julgamento de seus fundadores.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1870-1881 Microambiente Indústria têxtil
O advento do motor a vapor inviabilizou
a fabricação de velas para navegação,
negócio principal herdado por Robert e
Norma de seu pai Douglas Fraser.
Inovação Desfavorável
aos Fundadores
1870-1881 Indivíduo
Robert Fraser
e Norman
Fraser
Com o advento do motor a vapor,
resolveram integrar para trás e adentrar
a indústria de bens de capital.
Boa Versatilidade
1870-1881 Indivíduo
Robert Fraser
e Norman
Fraser
Visualizaram uma oportunidade de
negócio na automação do processo de
trança de fibras, passível de ser
estendido à fabricação de pavios de
vela, solados de alpargatas e outras
utilidades.
Bom Julgamento
1881-1907 Microambiente
Indústria de
Bens de
Capital
As máquinas de trançar da Doulgas &
Fraser viraram padrão na fabricação de
alpargatas.
Padronização
Favorável
1880-1890 Macroambiente
Inglaterra e
Argentina
Fluxo intenso de capital da Inglaterra
para a Argentina.
Econômico-Cultural
Favorável
1883 Indivíduo
Robert Fraser
e Norman
Fraser
Migraram para a Argentina em busca
de comercializar suas máquinas de
trançar.
Ambição Salutar
1883 Indivíduo
Robert Fraser
e Norman
Fraser
Associaram-se na Argentina a Juan
Echegaray e Ashworth & Co. para a
formação da Fábrica Argentina de
Alpargatas.
Boa Versatilidade
AP
61
1885 Indivíduo
Robert
Fraser,
Norman
Fraser, Juan
Echegaray e
Ashworth &
Company
Os irmãos Norman e Robert Fraser
fundaram na Argentina, juntos com
Juan Echegaray e Ashworth &
Company, a Fábrica Argentina de
Alpargatas para maximizar o lucro das
alpargatas através da fabricação em
escala.
Ambição Salutar e Boa
Capacidade de
Levantar Fundos
Período Evento 2
1907
Expansão para o Brasil e Fundação da São Paulo Alpargatas foi resultado da ambição, versatilidade
e julgamento de seus fundadores.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1900-1907 Microambiente Indústria têxtil
A indústria têxtil brasileira estava em
desenvolvimento. Muito dos recursos
obtidos com a lavoura do café estavam
sendo redirecionados para a compra de
equipamentos têxteis.
Boa Atratividade da
Indústria
1881-1907 Microambiente
Indústria de
Bens de
Capital
As máquinas de trançar da Doulgas &
Fraser viraram padrão na fabricação de
alpargatas.
Padronização
Favorável
1900-1907 Macroambiente Brasil
Havia mão-de-obra abundante,
elevadas tarifas alfandegárias de
importação, câmbio desvalorizado,
energia a baixos custos, e ferrovias na
região para aumentar o mercado e
escoar a produção.
Econômico-Infra-
Estrutural Favorável
1907 Indivíduo
Robert Fraser
e Norman
Fraser
No Brasil, o grupo Ashworth & Co.
aportou 18,75% do capital inicial, e o
resto foi diluído entre os 41 investidores
pessoas físicas, quase todos de origem
britânica.
Boa Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 3
1907-1930
A terceirização das tarefas comerciais, de forma exclusiva, a Edward Ashworth & Co. expôs a São
Paulo Alpargatas a uma situação de grande dependência, em uma das atividades mais vitais do
negócio (Alto Risco).
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1907-1930 Microambiente
Edward
Ashworth e
SPASA
São Paulo Alpargatas e Edward
Ashworth & Co. agiam em cooperação
em segmentos diferentes da cadeia
produtiva. A primeira voltada para
produção e a segunda para a
comercialização.
Relação
Cooperativa Perigosa
1930 Microambiente
Edward
Ashworth e
SPASA
Com o colapso financeiro de 1930, o
agente de vendas da São Paulo
Alpargatas quebrou e a empresa
perdeu os recebíveis e teve toda sua
estrutura de vendas desmontada.
Relação Cooperativa
Perigosa
AD
Período Evento 4
1907-1940
A adoção da gestão profissionalizada, quase toda estrangeira, refletiu uma preocupação com a
qualidade da gestão e perspectivas de maximização do lucro aos menores riscos possíveis.
AP
Período Evento 5
1912-1927
A formação de fundos de reserva permitiu investimentos direcionados ao crescimento e a
diminuição dos riscos de insolvência.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1912-1917 Indivíduos Diretoria
Renunciaram bonificação no início das
operações em função do baixo
desempenho da companhia.
Ambição Salutar e
Comprometimento de
Longo Prazo
1911 Indivíduos Diretoria
Venderam parte dos ativos ociosos
destinados à fabricação de alpargatas
Roda para melhorar os recursos para
futuros investimentos
Boa Versatilidade
AP
Período Evento 6
1913
A abertura do capital reduziu o risco de desabastecimento de capital e elevou as obrigações da
companhia para com a maximização do lucro.
AP
Período Evento 7
62
1916
A ampliação dos depósitos, a elevação dos estoques de segurança e a instalação de “Sprinklers”
foram medidas de redução do risco de uma interrupção da produção, que afetaria drasticamente os
lucros.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1915 Macroambiente Mundo
Crescimento da demanda interna por
causa do fechamento do mercado
externo durante a I Guerra Mundial.
Político-Econômico
Favorável
1915 Indivíduos Diretoria
Decidiu utilizar parte dos recursos do
fundo de depreciação para expandir a
fábrica e os dois depósitos em função
da elevada demanda.
Bom Julgamento e
Versatilidade
1916-1929 Microambiente
Indústria
Têxtil
As matérias-primas passaram por uma
fase de encarecimento progressivo.
Econômico
Desfavorável
1916 Macroambiente Mundo
Dificuldade em importar maquinários e
comprar matérias-primas no exterior
por causa da I Guerra Mundial
Político-Econômico
Desavorável
1916 Indivíduos Diretoria
Emitiu letras para a aquisição de
estoque de segurança.
Boa Capacidade de
Levantar Fundos
1924 Microambiente
Indústria
Têxtil
Explosão dos preços do algodão
Econômico
Desfavorável
AP
Período Evento 8
1925 A implantação de força própria reduziu os riscos de interrupção das atividades.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1925-1928 Macroambiente Brasil
A estiagem provocou um racionamento
de energia elétrica
Infra-Estrutural
Desfavorável
AP
Período Evento 9
1926
A redução da produção e posterior descontinuação da produção de Roda visou eliminar os riscos de
prejuízo e melhorar a rentabilidade e a produtividade do ativo.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1925-1928 Macroambiente Brasil Crise na Indústria e no Comércio
Econômico
Desfavorável
AP
Período Evento 10
1930
A elaboração de um plano de recuperação viável para a empresa por ocasião do colapso financeiro
de 1929 demonstrou a capacidade empreendedora da Diretoria.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1930 Indivíduo Diretoria
Conseguiu o crédito suficiente para
retomar as atividades da companhia
após a quebra de Edward Ashworth &
Co, em 1930.
Bom Julgamento, Boa
Versatilidade e Boa
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.2 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão
“Empreendedorismo” nos Primeiros Passos da SPASA
4.1.2 Motivação para Expansão
Motivações Produtivas
Muitas das motivações de expansão da São Paulo Alpargatas durante os
Primeiros Passos tiveram um caráter produtivo. A instalação, em 1919, num
período de desaquecimento do mercado, de uma seção de tinturaria com o que
havia de mais moderno; a introdução de uma seção para o acabamento e
63
impermeabilização de lonas; a ampliação da seção de fiação de algodão; além da
compra de um terreno à Rua do Carmo para a construção de armazéns e
escritórios sugerem motivações produtivas para a expansão da São Paulo
Alpargatas. Foi a partir dessas ações que novos artefatos puderam ser colocados
no mercado, o que gerou um aumento na demanda pelos produtos da empresa e
levou-a a aumentar ainda mais os níveis de produção anos mais tarde (Motor de
Crescimento Contínuo de Expansão, FLECK(2003a)).
De 1912 a 1914 a empresa investiu bastante em anúncios, como tentativa de
ampliar a base de consumo de seus produtos e consolidar suas marcas (motivação
produtiva). No período da I Guerra, esses investimentos não foram tão necessários
em função do aquecimento da demanda e da diminuição da concorrência dos
produtos importados. Com a reabertura dos mercados em 1919, a empresa voltou
a promover mais fortemente seus produtos. Em 1922, iniciou suas atividades de
promoção ligadas a eventos, participando da Grande Exposição do Centenário. A
participação da companhia no evento se configurou, assim como os investimentos
em anúncios, como motivações produtivas para a expansão, já que tinham a
mesma finalidade dos investimentos feitos no início da década de 10, isto é,
aumentar a base de consumo e consolidar suas marcas.
Em 1920, novamente a companhia decidiu investir em tempos incertos e
resolveu construir uma nova fábrica com 6.000 m
2
. Os maquinismos da nova
fábrica foram pedidos da Inglaterra em 1920, e o edifício, situado em frente ao da
primeira fábrica, foi iniciado em março de 1921, e concluído no final de janeiro de
1922, tendo as operações da nova fábrica iniciado no mesmo ano, logo após o
recebimento dos maquinários previamente encomendados. Paralelamente à
expansão da capacidade instalada, a empresa lançou um novo produto em 1921, o
calçado Pelota, com o intuito de melhorar sua participação de mercado. Essas
ações de expansão da companhia aparentam uma motivação produtiva, na medida
em que objetivaram ganhos de escala e escopo, num momento em que o ambiente
não era propício à realização de tais investimentos, ou seja, os investimentos não
foram frutos de nenhuma expansão inercial.
Após o lançamento, em 1921, do calçado com solado de borracha, a São
Paulo Alpargatas expandiu a produção do mesmo até 1923, quando o produto
64
passou a apresentar uma demanda considerável. Esse movimento se configurou
como uma motivação produtiva para a expansão, visto que o aumento da
produção promoveu ganhos de escala e ajudou a difundir o tipo de calçado no
mercado.
Em 1924, mesmo com o grande aumento dos preços das matérias-primas, o
plano de investimentos da companhia foi mantido e a diretoria resolveu levar
avante o projeto de instalação de uma nova fábrica de tecidos, para poder fabricar
um tecido mais leve do que os tipos para os quais estava aparelhada a fábrica de
lonas. Para esse fim, foi aproveitado o terreno comprado em 1923 e
encomendados, na Inglaterra, os maquinários e materiais necessários à nova
fábrica. Essas ações de expansão da companhia sugerem uma motivação
produtiva (economias de escala e escopo), em meio a um ambiente desfavorável à
realização de tais investimentos.
Durante o período de crise na indústria e no comércio brasileiro, registrado
entre os anos de 1925 e 1929, a São Paulo Alpargatas continuou investindo
produtivamente. Inicialmente, no aumento da escala de produção dos artefatos
tradicionais e mais tarde, quando o aumento nos preços das matérias-primas
tornou as margens de lucro desses produtos proibitivas, a empresa focou na
diversificação da linha de produtos.
Síntese sobre as Motivações para Expansão
As motivações para a expansão identificadas durante os Primeiros Passos da
São Paulo Alpargatas, foram de natureza produtiva. Entre elas pode-se citar: as
ampliações, expansões produtivas; os lançamentos de novos produtos; e os
investimentos feitos na promoção dos produtos até os anos 30, com exceção dos
anos de guerra.
65
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Motivação para Expansão” durante os Primeiros Passos da
São Paulo Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Motivação para Expansão”, obtidas durante os Primeiros Passos da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.3.
Análise dos Traços Organizacionais Motivação para Expansão
Período Evento 1
1907-1940
A estratégia de vender mais a preços cada vez mais baixos combinada com a sistemática formação
de reservas e com os investimentos constantes em modernização e ampliação da produção
sugerem uma motivação produtiva para a expansão.
AP
Período Evento 2
1919
Em meio a momentos de incertezas na indústria, a instalação de uma tinturaria e de uma seção
para o acabamento e impermeabilização de lonas, além da ampliação da seção de fiação de
algodão e da compra do terreno à Rua do Carmo para futuras ampliações, sugerem uma motivação
produtiva para expansão.
AP
Período Evento 3
1920
A construção de uma nova fábrica em época de instabilidade da demanda sugere uma motivação
produtiva de expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1921-1924
Macroambiente Brasil
Observaram-se períodos de expansão e
retração da economia.
Econômico
Desfavorável
AP
Período Evento 4
1912-1914;
1922
As despesas com anúncios no início das operações e a exposição dos produtos na “Grande
Exposição do Centenário” foram tentativas de alavancar vendas e sugerem a ativação do motor de
crescimento contínuo de expansão. Aparentam, portanto, uma motivação produtiva para expansão.
AP
Período Evento 5
1923
A produção em larga escala de calçados com sola de borracha sugere uma motivação produtiva
para a expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1923 Microambiente
Indústria de
Calçados
O calçado com solado de borracha
ganhou mercado e a demanda pelo
artefato aumentou consideravelmente.
Inovação Favorável
AP
Período Evento 6
1924
O início da construção de uma nova fabrica para a produção de tecidos leves figura como uma
motivação produtiva de expansão, principalmente por que a São Paulo Alpargatas não atuava
fortemente nesse segmento de mercado até então.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.3 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” nos Primeiros Passos da SPASA
66
4.1.3 Atitude para a Mudança
Atitudes tendentes à Moldar o Ambiente
Quando a São Paulo Alpargatas foi fundada, em 1907, seus produtos eram, de
certa forma, novos no Brasil. Não existia a cultura de utilizá-los, excetuando-se os
imigrantes europeus que aqui viviam. Nesse contexto, a empresa passou por
muitas dificuldades nos primeiros anos de operação, tendo inclusive que reduzir a
capacidade instalada para a fabricação de alpargatas em 1911. Não obstante, com
sistemáticos investimentos em anúncios e com a ajuda de seu agente de vendas
Edward Ashworth & Co., a companhia conseguiu criar uma demanda razoável
pelos seus produtos até o ano de 1915. O efeito do crescimento da demanda pode
ser observado na trajetória crescente do lucro bruto em relação ao PIB (Figura 4.5)
entre os anos de 1912 e 1915.
Outra forma mais genérica que a São Paulo Alpargatas encontrou de moldar o
ambiente foi impor elevações progressivas da escala de produção, dos níveis de
qualidade, dos níveis de inovação, e dos investimentos em propaganda. Tais
ações passaram a ser imperativas aos concorrentes, sob pena de perderem a
competitividade e a participação de mercado na indústria.
Atitudes tendentes a Adaptar-se ao Ambiente
Quando o aumento progressivo das matérias-primas tornou proibitiva a
comercialização dos produtos tradicionais da São Paulo Alpargatas no final da
década de 20, a companhia reduziu seus níveis de produção para evitar o acúmulo
de estoques e redirecionou seus investimentos para uma diversificação da linha de
produtos, como forma de recuperar a rentabilidade. Ou seja, redefiniu seu mix de
produtos para melhorar os resultados. Essa atitude evidenciou uma forma de
adaptação pró-ativa ao ambiente hostil da época.
A partir de 1930, quando a São Paulo Alpargatas teve que se endividar para
sobreviver à crise financeira desencadeada pela quebra da Bolsa de Valores de
Nova York em 1929, suas práticas de gestão tiveram que ser adaptadas. No lugar
de investimentos constantes em aumento da produção, foram focados os
67
aumentos da produtividade. A companhia se desfez de propriedades e
praticamente eliminou a distribuição de dividendos. Também teve que investir
muito em reorganização e na reestruturação de todas as seções da fábrica. Não
obstante, a adaptação da empresa foi conduzida de forma controlada, deliberada e
com vistas a criar um ambiente mais viável à sua sobrevivência. Como resultado, a
empresa adentrou a década de 40 livre de dívidas e reestruturada.
Síntese sobre as Atitudes para as Mudanças
Durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas observou-se uma
tendência da empresa de controlar o ambiente e adaptar-se ativamente a ele, sem
prejuízo para suas operações. Entre as iniciativas de moldagem do ambiente cabe
destaque à introdução dos produtos da companhia no mercado brasileiro, que até
então não os demandava, e à política da empresa de aumentar continuamente a
produção e a produtividade, fato que determinou as condições mínimas de
concorrência para o mercado da época. Entre as ações de adaptação cabe
destaque ao redirecionamento da linha de produção para produtos de melhor
margem durante a década de 20, e para a racionalização nos anos 30, que
colocou a empresa novamente na rota de crescimento.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Atitude
para a Mudança” durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.4.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Atitude para a Mudança
Com a retomada das atividades a partir de 1930 (Figura 4.5), o custeio da
estrutura administrativo-financeira (Área entre as curvas do Valor Adicionado
(2) e do Lucro Líquido (3)) continuou a crescer em função dos pagamentos
dos juros e principal da dívida contraída em 1930, que seguiu sendo
amortizada até 1940 (Figura 4.6). O prazo inicial de resgate da dívida era de
15 anos. A antecipação dos desembolsos sugere uma atitude pró-ativa de
controle dos passivos, que implicou na redução do pagamento de juros,
devolveu mais rapidamente a autonomia à empresa, aumentou sua
capacidade de realizar novos investimentos e atenuou o seu risco
existencial, que era maior durante a década de 30.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.4 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Atitude para a Mudança” nos Primeiros Passos da SPASA
68
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Atitude para a Mudança”, obtidas durante os Primeiros Passos da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.5.
Análise dos Traços Organizacionais Atitude para Mudança
Período Evento 1
1881-1907
O fato das máquinas de trançar da Doulgas & Fraser terem virado padrão para a fabricação de
alpargatas, sugere uma moldagem do ambiente pelos fundadores da São Paulo Alpargatas.
AP
Período Evento 2
1912-1914
As despesas com anúncios no início das operações sugerem uma tentativa de moldar o ambiente e
criar aceitação aos produtos ofertados.
AP
Período Evento 3
1907-1940
O aumento da escala de produção, da qualidade e das inovações procurou determinar um novo
padrão de competitividade na indústria.
AP
Período Evento 4
1916-1929
Com o encarecimento das matérias-primas, a São Paulo Alpargatas tentou reagir aumentando seus
lotes de compras. Dessa forma a empresa atenuava dois problemas: o de suprimento e o de custo,
já que compras maiores davam-lhe maior poder de barganha. No final da década de 20 quando os
custos das matérias-primas se tornaram proibitivos, a empresa redefiniu pró-ativamente seu mix de
produtos.
AP
Período Evento 5
1921
O lançamento do calçado Pelota e a posterior elevação de sua demanda sugerem ações de
moldagem (em caso de pioneirismo) ou adaptação ao ambiente.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1923 Microambiente
Indústria de
Calçados
O calçado com solado de borracha
ganhou mercado e a demanda pelo
artefato aumentou consideravelmente.
Padronização
Favorável
AP
Período Evento 6
1932 A empresa se adapta à indústria de guerra para tirar proveito do momento de instabilidade política.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1932 Macroambiente Brasil Revolução Constitucionalista
Político-Econômico
Desfavorável
AP
Período Evento 7
1930-1940
Durante a Grande Depressão, a empresa passou a priorizar produtividade à produção, como forma
de acelerar o pagamento de seus passivos. Para isso, conduziu reestruturações organizacionais.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.5 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” nos Primeiros Passos da SPASA
4.1.4 Gestão da Diversidade
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Crescimento e
Desempenho Econômico” (Figura 4.5) e de “Eficiência Administrativa” (Figura 4.8)
foi de grande auxílio para a compreensão do nível de integração das estruturas
produtivas e administrativas da companhia. O primeiro ajudou na identificação da
69
evolução dos custos operacionais totais da companhia, enquanto o segundo
indicador ajudou a identificar em que medida as alterações nestes custos
operacionais foram oriundos de despesas gerais, com vendas e administrativas.
Evolução do Custeio da Estrutura Administrativa
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 1931 1933 1935 1937 1939
% Lucro Bruto
Desp. Vendas, Adm. e Soc. / Lucro Bruto
Grande Depressão: Crise Financeira
1930-1940
I Guerra
Mundial
1914-1918
Reestrutur. Industrial
1934-1940
Crise
Mercado
1925-1928
Instabilidade
1919-1923
Revolução
Constitucionalista
Revolução
Tenentista
Gripe Espanhola
Movimentos
Grevistas
Fonte: Vide Anexo 8
Figura 4.8 Eficiência Administrativa da SPASA durante os Primeiros Passos
Gestão da Diversidade tendente à Integração
Algumas ações da São Paulo Alpargatas sugerem uma gestão da diversidade
tendente à integração durante os Primeiros Passos. Em 1911, numa atitude de
racionalizar os recursos produtivos e adequá-los à demanda, a empresa decidiu se
desfazer de parte dos maquinismos de fabricação de alpargatas, repassando-os
para a "Fábrica Uruguaya de Alpargatas”. A venda dos maquinismos viabilizou o
redirecionamento de um capital pouco produtivo, além de ter reduzido os custos
fixos inerentes à ociosidade dos equipamentos. Da mesma forma, os maquinismos
que restaram da venda de 1911 foram alienados em 1926, quando a São Paulo
Alpargatas interrompeu a produção de alpargatas Roda em função da sua
inviabilidade econômica. O custo das matérias-primas era crescente e a demanda
pelo artefato pequena. Também neste caso, a companhia buscou aumentar a
coesão de sua estrutura produtiva (Vide Figura 4.8).
70
Durante a década de 30, a São Paulo Alpargatas passou por várias
reestruturações organizacionais e industriais que buscaram deixar a empresa mais
produtiva e coesa para enfrentar os grandes compromissos de dívida contratados
em 1930, bem como para enfrentar o futuro que viria após a quitação das
obrigações. Nesse sentido, podemos citar a reestruturação da estrutura de vendas
em 1931, que passou a contar com vários agentes de vendas locais. Pode-se citar
também, o trabalho iniciado por Robert Martin Fraser, no sentido de racionalizar os
ativos permanentes da companhia. E ainda, a reestruturação promovida por G. S.
Whyte a partir de 1936. As despesas geradas por essas reestruturações foram
responsáveis pelo aumento do custeio administrativo relativo na década (Figura
4.8) e co-responsáveis pela baixa rentabilidade da companhia (Vide Figura 4.5).
Do lado dos recursos humanos, a iniciativa de promover reajustes salariais
com base na perda do poder aquisitivo, a política de gratificação e distribuição de
bônus e a formação do São Paulo Alpargatas Futebol Clube, permitiram criar uma
forte integração empresa-funcionário e funcionário-funcionário.
Síntese sobre a Gestão da Diversidade
As evidências encontradas durante os Primeiros Passos da vida da São Paulo
Alpargatas, tais como, as diversas reestruturações promovidas, as vendas de
ativos com o objetivo de melhorar a produtividade, e a preocupação com o
desenvolvimento e a satisfação dos funcionários, sugerem que a empresa
apresentou uma gestão da diversidade tendente à integração.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Diversidade” durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.6.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Gestão da Diversidade
Com base na Figura 4.8, percebe-se um crescimento progressivo do
custeio administrativo relativo, entre os anos de 1909 e 1940 (saiu de
menos de 10% do valor adicionado para mais 50%). Com base apenas
na trajetória do indicador poder-se-ia sugerir que houve uma gestão da
diversidade tendente à fragmentação. Não obstante, informações
N
71
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
qualitativas tornaram possível sugerir que o aumento do custo
administrativo até os anos 30 foi ocasionado pela manutenção da
estrutura administrativa (formação de folga), já que houve redução dos
níveis de atividade em 1920, 1921 e de 1925 a 1929. Durante a
década de 30, o encarecimento do custeio administrativo sofreu
contribuição das despesas com reestruturações. Assim, não é possível
sugerir nada sobre a gestão da diversidade da São Paulo Alpargatas
com base nessas informações.
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.6 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Diversidade” nos Primeiros Passos da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Diversidade”, obtidas durante os Primeiros Passos da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.7.
Análise dos Traços Organizacionais Gestão da Diversidade
Período Evento 1
1911;1926
A venda dos maquinismos de fabricação de alpargatas sugere uma tentativa de tornar coesa a
capacidade produtiva (melhorar custos produtivos e integrar a diversidade).
AP
Período Evento 2
1931-1940
As reestruturações organizacionais e industriais que buscaram deixar a empresa mais produtiva e
coesa para enfrentar os grandes compromissos de dívida contratados em 1930, bem como para
enfrentar o futuro que viria após a quitação das obrigações, demonstra uma atuação da empresa no
sentido de melhorar a integração dos recursos produtivos disponíveis.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1930-1940
Macroambiente
Mundo e
Brasil
Grande Depressão. Crise financeira
mundial que se iniciou com a quebra da
Bolsa de Valores de Nova York.
Econômico-Social
Desfavorável
1934 Indivíduo Don Roberto
Dispôs-se a ficar no Brasil e melhorar a
estrutura industrial da companhia.
Comprometimento de
Longo Prazo e
Capacidade de
Gestão
AP
Período Evento 3
1917-1940
A iniciativa de promover reajustes salariais com base na perda do poder aquisitivo, a política de
gratificação e distribuição de bônus e a formação do São Paulo Alpargatas Futebol Clube,
permitiram criar uma forte integração empresa-funcionário e funcionário-funcionário.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1917 Indivíduo Funcionários
Furaram o movimento grevista em apoio
à empresa.
Comprometimento de
Longo Prazo
1918 Firma
São Paulo
Alpargatas
Deu todo apoio aos funcionários durante
o surto de gripe espanhola
Fortalecimento da
Relação Empregado-
Empregador
1924 Macroambiente Brasil Revolução Tenentista Político Desfavorável
1924 Firma
São Paulo
Alpargatas
Revolução Tenentista. A companhia
pagou meio salário a todos os
funcionários, além de uma gratificação
de Rs. 13:000$000 àqueles que
permaneceram na fábrica durante o
conflito.
Fortalecimento da
Relação Empregado-
Empregador
AP
72
1932 Macroambiente Brasil Revolução Constitucionalista Político Desfavorável
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.7 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” nos Primeiros Passos da SPASA
4.1.5 Gestão da Complexidade
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Solidez Econômica”
(Figura 4.6) e de “Liquidez” (Figura 4.7), foi de grande auxílio para a compreensão
das ações sistemáticas tomadas pela companhia. O primeiro ajudou na
identificação de indícios de uma gestão sistemática ou casuística da formação de
reservas, da política de investimentos e de endividamento. O segundo indicador
ajudou a detectar sinais de uma gestão sistemática ou casuística da estrutura de
caixa e dos estoques.
Gestão Sistemática
O primeiro sinal de gestão sistemática dos potenciais problemas advindos do
crescimento puderam ser verificados logo na fundação da São Paulo Alpargatas,
quando os acionistas escolheram um terreno próximo à Estrada de Ferro Ingleza e
providenciaram um desvio para receber e embarcar mercadorias. A decisão estava
alinhada à visão de crescimento da companhia, que visualizava as dificuldades e
os custos de embarcar um grande volume de mercadorias a partir da estação mais
próxima. A facilidade de carregar e descarregar vagões dentro da companhia
economizaria muito em frete e em mão-de-obra, e agilizaria o processo de
recebimento de matérias-primas e a expedição de produtos acabados.
Também na fundação, foi trabalhada a problemática da gestão da companhia.
Era do interesse dos acionistas majoritários terem a empresa profissionalizada,
livre de intrigas, interesses e eventuais contratempos particulares dos acionistas. A
pulverização do capital também foi um dos motivos para a profissionalização. Era
preciso prestar contas a 41 acionistas pessoas físicas, bem como à A.S.A.I.C, à
Douglas & Fraser e à Edward Ashworth & Co. De qualquer forma, a São Paulo
Alpargatas já nasceu com muitos dos riscos advindos de problemas de gestão
atenuados.
73
A partir de 1912, a São Paulo Alpargatas passou a contribuir sistematicamente
para a formação de reservas, tendo inclusive a diretoria aberto mão de suas
bonificações entre 1912 e 1914 em prol da aceleração do crescimento inicial das
mesmas. Os níveis de reservas se mantiveram em patamares confortáveis até
mesmo durante a década de 30, quando a empresa estava endividada. Esse
comportamento das reservas sugere que a São Paulo Alpargatas procurou adotar
uma sistemática de poupar o máximo de recursos possível, como forma de
minimizar os riscos existenciais à empresa e financiar a maior parte possível de
seus investimentos com capital próprio (Figura 4.6). A Figura 4.6 também nos
ajudou a identificar a manutenção de níveis nulos de dívida até 1930 e níveis
decrescentes entre 1930 e 1940, o que sinaliza para uma gestão sistemática do
endividamento, com tendência a zero. Adicionalmente, pôde-se observar na Figura
4.6 uma queda suave dos níveis de reservas no período de 1919 a 1928, sinal de
que a empresa consumiu mais reservas do que formou, o que pode ser explicado
pela combinação de uma gestão sistemática da política de investimentos (atividade
de consumo de reservas), com o desaquecimento dos níveis de atividades e o
conseqüente baixo lucro registrado no mesmo período (atividade de formação de
reservas).
Se a trajetória dos níveis de reservas ajudou a mapear a situação econômico-
financeira de longo prazo da empresa, os indicadores de liquidez ajudaram a
mapear a gestão de caixa. Com base na observação da Figura 4.7, foi possível
identificar, a partir de 1917, um comportamento sistemático de manutenção do
índice de liquidez seca em níveis quase sempre acima de “1”. Esse nível garantiu
que a São Paulo Alpargatas tivesse, somando as disponibilidades e as contas a
receber, recursos suficientes para honrar todas as suas obrigações de curto prazo.
Não se fazia necessário, portanto, realizar nenhum faturamento para cobrir as
obrigações. Adicionalmente, a Figura 4.7 sugere através da redução da área
existente entre as curva dos indicadores de liquidez corrente e liquidez seca, uma
gestão sistemática dos estoques da São Paulo Alpargatas entre os anos de 1919 e
1928, época de instabilidade com tendência decrescente dos níveis de atividade.
Com relação às fontes de financiamento, cabe destaque à atitude da São
Paulo Alpargatas de iniciar a negociação de suas ações na Bolsa de Valores de
74
São Paulo, em 1913. Além de minimizar problemas com a captação de recursos, a
atitude contribuiu para reforçar a lisura, a transparência e a sistematização da
gestão administrativa da companhia, cujas ações tiveram que, a partir de então,
ser compartilhadas com toda a sociedade e os mercados de capitais.
A gestão dos potenciais problemas ligados a pessoas apresentou sinais de
condução competente desde o início da companhia. Em 1916, a companhia iniciou
o pagamento de gratificações aos funcionários. Em 1917, atendeu da melhor forma
possível aos reclames por equiparações dos salários aos níveis de inflação. Em
1918, mesmo com as atividades paralisadas, manteve o pagamento de todos os
funcionários. Em 1924, em meio à paralização ocasionada pela Revolução
Tenentista, a companhia pagou meio salário a todos os funcionários, além de uma
gratificação de Rs. 13:000$000 àqueles que permaneceram na fábrica durante o
conflito, e uma gratificação do valor do salário ao final do ano (espécie de 13º). Em
contrapartida, os funcionários não aderiram aos movimentos grevistas de 1917, e
deram total apoio à companhia em muitas outras ocasiões, como na própria
Revolução Tenentista, e em meio às mudanças promovidas durante as
reestruturações da década de 30. Em verdade, os funcionários foram grandes
aliados da São Paulo Alpargatas. Para se ter uma idéia do grau de familiaridade, a
companhia chegou a ter um time oficial de futebol, o São Paulo Alpargatas Futebol
Clube, formado só por funcionários, que disputou e venceu o campeonato paulista
da 1º Divisão em 1933.
Gestão Casuística
Dois únicos problemas chamaram a atenção como sendo de resolução
casuística durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas. O primeiro foi
relacionado ao suprimento das matérias-primas. Apesar de a companhia ter
ensaiado uma forma sistemática de resolução do problema a partir de 1916
(aumentar os depósitos e manter elevado os estoques de segurança), a partir de
1924, o aumento dos preços das matérias-primas se acentuou tanto que a
empresa ora teve que comercializar seus produtos a valores de base inferiores aos
de compra (o preço do algodão atingiu 130$000 a arroba num momento em que os
produtos da companhia estavam sendo comercializados na base de 100$000 a
75
arroba), ora teve que diminuir a fabricação dos produtos de margens mais
apertadas e dar início a fabricação de produtos de melhores margens.
O segundo problema diz respeito à concentração das atividades comerciais
nas mãos de Edward Ashworth & Co. Apesar da aparente solidez do parceiro
comercial e de sua falência ter ocorrido em função de uma inesperada crise
econômica de gravidade sem precedentes, a adoção de um sistema de vendas
terceirizado e concentrado foi conceitualmente muito arriscado. O que fica
aparente na análise é que a São Paulo Alpargatas focou tanto em produção até a
década de 30, que colocou uma das mais importantes tarefas de qualquer negócio,
a tarefa comercial, em segundo plano.
Síntese sobre a Gestão da Complexidade
A maioria dos problemas advindos do crescimento foram sistematicamente
trabalhados pela São Paulo Alpargatas durante os Primeiros Passos. Dois
problemas, no entanto, foram bastante sérios e provocaram graves repercussões
na companhia, quais sejam, a resolução casuística dos problemas com o
suprimento de matérias-primas e a concentração das atividades comerciais nas
mãos de Edward Ashworth & Co. Não obstante, pela forma como os problemas
foram tratados (o primeiro através da diversificação da linha de produtos, e o
segundo através da descentralização dos agentes de vendas), sugere-se que os
mesmos tenham sido contornados da melhor forma possível. No mais, a São Paulo
Alpargatas parece ter apresentado todas as evidências de uma gestão sistemática
dos problemas relacionados ao crescimento.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Complexidade” durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.8.
76
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
A redução da área entre as curvas de liquidez corrente e liquidez seca
(Figura 4.7) no período de 1919 a 1928 indica a adoção de uma
política de ajuste dos estoques à realidade dos baixos níveis de
atividade. Tal comportamento sugere uma gestão sistemática dos
problemas do crescimento.
AP
A queda suave dos níveis de reservas (Figura 4.6) no período de 1919
a 1928 sugere que a empresa estava consumindo mais reservas do
que formando, o que pode ser explicado pela combinação de uma
gestão sistemática da política de investimentos (atividade de consumo
de reservas), com o desaquecimento dos níveis de atividades e o
conseqüente baixo lucro registrado no mesmo período (atividade de
formação de reservas). Em outras palavras, mesmo vendendo menos,
a empresa parece ter prosseguido com sua política de investimentos.
AP
A manutenção do indicador de liquidez seca em níveis quase sempre
acima de “1” a partir de 1917, sugere uma gestão sistemática da
estrutura de caixa (Figura 4.7).
AP
A manutenção de níveis nulos de dívida até 1930 (Figura 4.6) e de
níveis decrescentes estáveis entre 1930 e 1940 sugerem uma gestão
sistemática da política de endividamento, que no caso da São Paulo
Alpargatas significava endividar-se o mínimo possível.
AP
Gestão da Complexidade
A manutenção de confortáveis níveis de reserva (Figura 4.6), mesmo
durante a década da grande depressão sugere uma política
sistemática de salvaguardar a solvência de longo prazo da companhia
e de viabilizar o maior volume de investimentos com capital próprio.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.8 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Complexidade” nos Primeiros Passos da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Complexidade”, obtidas durante os Primeiros Passos da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.9.
Análise dos Traços Organizacionais
Período Evento 1
1907
A escolha de um terreno próximo à Estrada de Ferro Ingleza para a fundação da São Paulo
Alpargatas, a partir de onde foi feito um desvio para carga e descarga dentro da companhia, sugere
uma preocupação em resolver sistematicamente problemas futuros ligados ao acesso a transportes
e ao crescimento.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1900-1907
Macroambiente Brasil
Havia mão-de-obra abundante, elevadas
tarifas alfandegárias de importação,
câmbio desvalorizado, energia a baixos
custos, e ferrovias na região para
aumentar o mercado e escoar a
produção.
Infra-Estrutural
Favorável
AP
Período Evento 2
1907-1940
A São Paulo Alpargatas sempre foi uma empresa de gestão profissionalizada, o que sugere uma
forma sistemática de resolver problemas de direção e sucessão.
AP
Período Evento 3
1912-1914
Os investimentos com anúncios sugerem uma forma sistemática de tentar moldar o ambiente e criar
aceitação aos produtos ofertados.
AP
77
Período Evento 4
1912-1930
A criação e a manutenção de fundos de reserva sugerem uma gestão sistemática do crescimento
de longo prazo da companhia.
AP
Período Evento 5
1913
A abertura do capital da companhia sugere uma forma sistematizada de captar novos recursos e de
impelir a direção a ser mais cuidadosa em seu processo de gestão.
AP
Período Evento 6
1916
A instalação de “Sprinklers” foi uma das formas sistemáticas de combater eventuais incêndios e
evitar interrupções das atividades produtivas.
AP
Período Evento 7
1916-1929
A elevação dos estoques de segurança em meio à escassez de matéria-prima constituiu uma forma
casuística de resolver o problema de abastecimento. Uma solução sistemática seria combinar a
solução adotada com a busca por alternativas de suprimento, quem sabe até integrando para trás,
ou então buscando insumos substitutos.
AD
Período Evento 8
1917
A política de negociar com os funcionários boas condições de trabalho para ambas as partes sugere
uma resolução sistemática de problemas trabalhistas.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1917-1940
Indivíduo Diretoria
Estabeleceu relação de confiança mútua
com os funcionários. Sistematizou os
reajustes e as gratificações, concedeu
benefícios
Boa Liderança Interna
AP
Período Evento 9
1917
A contratação de auditores externos (Snrs. Mc Auliffe, Davis, Bell & Cia, contadores peritos de
Londres, Rio e São Paulo) sinaliza para a adoção de uma forma sistemática de certificação das
contas da empresa e da transparência da gestão.
AP
Período Evento 10
1924
Os baixos lucros registrados em função do aumento inesperado do preço do algodão sugerem um
gerenciamento casuístico da problemática de elevação dos preços das matérias-primas.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1916-1929
Microambiente
Indústria
Têxtil
As matérias-primas passaram por uma
fase de encarecimento progressivo.
Margens de Lucro
Decrescentes e Risco
de Desabastecimento
1924 Microambiente
Indústria
Têxtil
Explosão do preço do algodão.
Margens de Lucro
Decrescentes e Risco
de Desabastecimento
AD
Período Evento 11
1925
A implantação de força própria reduziu os riscos de interrupção das atividades. Tal medida se
mostrou sistemática por que viabilizou à empresa funcionar parcialmente com recursos da
concessionária de energia elétrica e resolveu definitivamente os problemas de força da empresa na
época.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1925 Macroambiente Brasil Racionamento de Energia Elétrica
Infra-Estrutural
Desfavorável
AP
Período Evento 12
1925
A formação de fundos de reserva para cobrir a depreciação dos geradores de energia aponta para
uma forma sistemática de lidar com eventuais desabastecimentos de energia.
AP
Período Evento 13
1930
Os danos causados à São Paulo Alpargatas pela quebra do agente exclusivo de vendas e financeiro
Edward Ashworth & Co. sugere uma gestão casuística da problemática de administrar sua força de
vendas.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.9 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” nos Primeiros Passos da SPASA
78
4.1.6 Formação da Estrutura Gerencial
Antecipada (Right-in-Time)
A primeira estrutura gerencial da São Paulo Alpargatas foi montada na véspera
de sua fundação. Foram encontradas evidências de que dois feitores teriam sido
encaminhados para treinamento na fábrica da Argentina, como forma de
absorverem mais rapidamente as qualificações necessárias para o desempenho
de suas atividades na São Paulo Alpargatas. Adicionalmente, em 1934, a
assunção de Robert Martin Fraser ao cargo de coordenador técnico, também foi
considerada uma incorporação antecipada, na medida em que o executivo já
atuava na fábrica da Argentina, que funcionava à época, como matriz da brasileira.
Embora não se tenha encontrado evidências cabais de que os altos executivos
da estrutura inicial tenham sido preparados previamente, o fato de a empresa ter
sido fundada como uma subsidiária de sua homônima Argentina, que por sua vez
já tinha outra subsidiária no Uruguai, aliado ao fato de ter-se verificado vários
traços sistemáticos de gestão na companhia desde sua fundação, torna viável a
hipótese de que o presidente, George Herbert Craig, o secretário, Edmund Whright
e o diretor, Kenneth Fraser, tenham sido preparados previamente, na Argentina ou
no Uruguai, para assumirem seus cargos.
Sob Demanda (Just-in-Time)
Não foram encontradas evidências de que tenha havido o preenchimento de
cargos gerenciais sob demanda na São Paulo Alpargatas durante os Primeiros
Passos. Não obstante, é importante ressaltar que muitos dos executivos que
dirigiram a empresa durante a década de 30 eram representantes de seus
credores, em especial, dos bancos londrinos. Dessa forma, pode sim, ter havido o
preenchimento, nesse período, de posições gerenciais, sob demanda (just-in-time).
79
Síntese sobre a Formação da Estrutura Gerencial
A análise da formação da estrutura gerencial durante os Primeiros Passos da
São Paulo Alpargatas encontrou evidências da preparação de feitores para o início
das operações no Brasil e da alocação de um consultor que já atuava na matriz da
empresa na Argentina. Não foram encontrados indícios de preenchimento de
cargos gerenciais sob-demanda.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não houveram constatações a partir dos indicadores quantitativos a respeito da
dimensão “Formação da Estrutura Gerencial” durante os Primeiros Passos da São
Paulo Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Formação da Estrutura Gerencial”, obtidas durante os Primeiros Passos da São
Paulo Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.10
Análise dos Traços Organizacionais
Período Evento 1
1907 Envio de 2 feitores à fábrica Argentina de Alpargatas para treinamento. AP
Período Evento 2
1934
Integração de Robert Martin Fraser ao corpo de executivos da empresa. Robert vinha da Fábrica
Argentina de Alpargatas e era filho de um de seus fundadores.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1934-1940
Indivíduo Don Roberto
Don Roberto ajudou a direção a
reestruturar a companhia.
Boa Capacidade de
Gestão do Negócio
AP
Período Evento 3
1930
A contratação emergencial de agentes de vendas locais após a quebra do agente exclusivo de
vendas e financeiro Edward Ashworth & Co. sugere uma resolução tardia da problemática de formar
alternativas de vendas terceirizadas ou mesmo próprias.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.10 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” nos Primeiros Passos da SPASA
80
4.1.7 Folga
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Crescimento e
Desempenho Econômico” (Figura 4.5), “Solidez Econômica” (Figura 4.6) e de
“Liquidez” (Figura 4.7), foi de grande auxílio para a identificação de folgas nas
estruturas administrativo-financeiras da companhia. A partir do primeiro indicador
foi possível mensurar o custo administrativo-financeiro relativo (área entre as
curvas do Valor Adicionado (2) e do Lucro Líquido (3)). O segundo e o terceiro
indicadores foram úteis para analisar o peso do pagamento de juros e do custo
administrativo propriamente dito nesse custo administrativo-financeiro relativo total.
O período de instabilidade ocorrido entre 1919 e 1928 revelou uma aumento do
custo administrativo-financeiro relativo. Observando os indicadores de “Solidez
Econômica” e de “Liquidez”, é possível observar que a saúde financeira da
companhia permaneceu bem no referido período, não havendo indícios de que o
aumento de despesas financeiras pudesse ter acarretado aumento nos custos
relativos. Dessa forma, concluiu-se que as acentuadas quedas da demanda entre
1925 e 1929 não implicaram numa redução proporcional da estrutura
administrativa da São Paulo Alpargatas. A empresa manteve, portanto, folga
administrativa para períodos futuros de crescimento, o que justifica o aumento do
seu custo administrativo-financeiro relativo.
Foi possível observar também a presença de folga na estratégia da companhia
de expandir a produção para além da demanda; na relação de confiança mútua
entre a empresa e o seu corpo de funcionários; e nos seus sistemáticos
provisionamento de recursos financeiros.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Folga”
durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas, segue disposta na Tabela
4.11.
81
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Folga
Com base na Figura 4.5 é possível perceber que houve um período de
instabilidade entre 1919 e 1928, acompanhado de um aumento
progressivo no custo administrativo-financeiro relativo (área entre as
curvas do Valor Adicionado (2) e do Lucro Líquido (3)). Essa queda da
eficiência administrativo-financeira foi causada pela manutenção da
estrutura administrativa, (já que os níveis de dívida eram nulos e os
níveis de reservas confortáveis (Figura 4.6), assim como os índices de
liquidez (Figura 4.7)) mesmo em meio à drástica queda dos níveis de
atividade registrados entre 1925 e 1929, o que sugere que a São Paulo
Alpargatas manteve a mínima folga necessária para períodos
posteriores de crescimento.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.11 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Folga” nos Primeiros Passos da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Folga”, obtidas durante os Primeiros Passos da São Paulo Alpargatas, segue
estruturada na Tabela 4.12.
Análise dos Traços Organizacionais Folga
Período Evento 1
1915
O aumento da capacidade de produção gerou uma folga produtiva que possibilitou à São Paulo
Alpargatas atender ao crescimento da indústria nos anos seguintes.
AP
Período Evento 2
1917
A presteza em ajustar os salários dos funcionários em meio ao surto inflacionário sugere a formação
de folga na forma de confiança mútua entre os colaboradores e a empresa.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1917 Macroambiente Brasil Inflação e Movimentos Grevistas
Econômico-Social
Desfavorável
AP
Período Evento 3
1919
Em meio a momentos de incertezas na indústria, a instalação de uma tinturaria e de uma seção
para o acabamento e impermeabilização de lonas, além da ampliação da seção de fiação de
algodão e da compra do terreno à Rua do Carmo para futuras ampliações, sugerem a formação de
folga na forma de capacidade disponível de produção e possibilidade de expansão futura da linha
de produtos.
AP
Período Evento 4
1920
A construção de uma nova fábrica em época de retração da demanda sugere a formação de uma
folga produtiva para utilização futura.
AP
Período Evento 5
1924
O pagamento de meio salário e das gratificações no período de paralização das atividades por
conta da Revolução Tenentista aponta para a formação de folga na forma de legitimidade da
empresa para com seus colaboradores.
AP
Período Evento 6
1912-1929
A política de formação de reservas e manutenção da liquidez sugerem a presença folga financeira. AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.12 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” nos
Primeiros Passos da SPASA
82
4.1.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-
Autoperpetuação
As tabelas 4.13, 4.14, 4.15 apresentam o posicionamento da São Paulo
Alpargatas no continuum de propensão à autodestruição-autoperpetuação para a
fase dos Primeiros Passos .
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Empreendedorismo 10 1 0 9 81,81
Motivação para Expansão 6 0 0 6 100,00
Atitude para a Mudança 8 0 0 7 100,00
Gestão da Diversidade 3 0 1 3 75,00
Gestão da Complexidade 15 3 0 12 66,66
Formação da Estrutura
Gerencial
2 1 0 1 33,33
Tabela 4.13 Posicionamento dos Primeiros Passos por Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Crescimento Contínuo 24 1 0 22 91,66
Manutenção da Integridade
Organizacional
20 4 1 16 64,00
Folga 7 0 0 7 100,00
Tabela 4.14 Posicionamento dos Primeiros Passos por Grupo de Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Fase “Os Primeiros Passos” 51 5 1 46 80,70
Tabela 4.15 Posicionamento Geral dos Primeiros Passos
AD
AP
83
4.2 O Desenvolvimento (1941-1988)
A fase de Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas teve início em 1941, após
a reestruturação e reorganização da companhia feita durante a década de 30, e a
quitação da dívida contraída por ocasião da crise financeira mundial
desencadeada em 1929, que levou seu agente de vendas e financeiro, Edward
Ashworth & Company, à falência. Esse período de desenvolvimento foi marcado
pela expansão contínua da produção; pelo aumento do número de fábricas, tanto
através da construção própria, como de aquisições; pelo espalhamento geográfico
de unidades fabris no Brasil; pelo aumento expressivo do número de produtos
comercializados (diversificação relacionada); pela consolidação de marcas que
fizeram história na empresa; pela forte atuação no segmento de confecções; e por
um posicionamento forte relacionado à exportação de commodities.
Apesar do desenvolvimento da companhia, o ambiente nem sempre foi
propício ao seu crescimento. Os anos 40 foram marcados, em nível mundial, pelas
dificuldades surgidas com a II Guerra Mundial e pelo início do período
desenvolvimentista do pós-guerra. No Brasil, observou-se na primeira metade da
década um aumento geral de preços, principalmente de insumos importados, em
função da guerra. A segunda metade da década foi caracterizada por uma política
de restrição ao crédito associada a instabilidades cambiais que dificultaram as
exportações e acirraram a concorrência interna com os produtos importados. Nos
anos 50, perdurou a instabilidade econômica, a redução dos créditos e evidenciou-
se um aumento no nível de desemprego. Os anos 60 foram de combate à inflação,
de recessão no mercado interno, e de incentivos à exportação. Os anos 70 foram
marcados mundialmente pela crise do petróleo, porém no Brasil se viu o maior
derramamento de recursos, investidos na sua maioria em obras de infra-estrutura,
o que caracterizou o período como o do “Milagre Econômico”. Por fim, os anos 80
foram para o Brasil, de estagnação e retrocesso. Marcada pela recessão e pela
hiperinflação, a década ficou conhecida entre os brasileiros como a “Década
Perdida”.
84
4.2.1 Empreendedorismo
A análise da evolução das classes de indicadores quantitativos de
“Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.9), da “Solidez Econômica”
(Figura 4.10) e de “Liquidez” (Figura 4.11) foram de grande auxílio para a
compreensão da dinâmica de expansão da São Paulo Alpargatas, bem como para
a compreensão do seu nível de exposição a riscos existenciais. O primeiro
indicador ajudou a analisar longitudinalmente os resultados das ações de
empreendedorismo da empresa e a julgá-las quanto à sua audácia. Os dois
últimos indicadores foram importantes na avaliação dos riscos existenciais e da
capacidade de levantar novos créditos, já que relacionam os níveis de reservas ao
nível de endividamento de longo prazo (risco existencial de longo prazo e
capacidade de levantar empréstimos de longo prazo) e apresentam uma visão
sobre a gestão de caixa da companhia (risco existencial de curto prazo e
capacidade de levantar empréstimos de curto prazo), respectivamente.
Evolução do Crescimento Relativo, do Valor Adicionado Relativo e da Lucratividade Relativa
-0,060%
-0,030%
0,000%
0,030%
0,060%
0,090%
0,120%
0,150%
0,180%
0,210%
0,240%
0,270%
0,300%
0,330%
0,360%
0,390%
0,420%
1941 1944 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986
% PIB
Receitas / PIB
Lucro Bruto / PIB
Lucro Líquido / PIB
1965-1978
"Milagre Econômico"
Incentivos Produtivos
Derramamento de Recursos
1981-1989
"A década
perdida"
Recessão e
Hiperinflação
1939-
1945
II Guerra
Aumento
Geral de
Preços
1946-1950
Restrição
ao Crédito
e Flutuação
Cambial
1950-1960
Instabilidade Econômica
Aumento do
Desemprego
1960-1968
Recessão,
Combate à
Inflação e
Incentivos à
Exportação
Lanc. Brim
Coringa:1946
Início Colchas
(Chenil): 1967
Topper:1976
Rainha
:
indigo blue
US Top:1972
Jeaneration
: 1983
Nike; Arrow: 1986
Início Exportações:
1964
Lanc. Havaianas:
Início
Confecções (Far-
West): 1954
Nacionalização
do Capital:1948
Top Plus:
Fonte: Vide Anexos 5 e 8
Figura 4.9 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA na fase de
Desenvolvimento
85
Evolução das Reservas Disponíveis e do Nível de Endividamento
-30,00%
-20,00%
-10,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
1941 1944 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986
% Ativo
Reservas / Ativo Dívidas Longo Prazo / Ativo
1965-1978
"Milagre Econômico"
Incentivos Produtivos
Derramamento de Recursos
1981-1989
"A década
perdida"
Recessão e
Hiperinflação
1939-
1945
II Guerra
Aumento
Geral de
Preços
1946-1950
Restrição
ao Crédito
e Flutuação
Cambial
1950-1960
Instabilidade Econômica
Aumento do
Desemprego
1960-1968
Recessão,
Combate à
Inflação e
Incentivos à
Exportação
Lanc. Brim
Coringa:1946
Início Colchas
(Chenil): 1967
Topper:1976
Rainha:1979
indigo blue
US Top:1972
Jeaneration:
1983
Nike; Arrow: 1986
Início Exportações:
1964
Havaianas:
1962
Início Confecções
(Far-West): 1954
Nacionalização
do Capital:1948
Top Plus:
1984
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.10 Solidez Econômica da SPASA na fase de Desenvolvimento
Evolução da Liquidez Corrente e da Liquidez Seca
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
1941 1944 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986
Ativo Circulante / Passivo Circulante (Ativo Circulante - Estoques) / Passivo Circulante
1965-1978
"Milagre Econômico"
Incentivos Produtivos
Derramamento de Recursos
1981-1989
"A década
perdida"
Recessão e
Hiperinflação
1939-
1945
II Guerra
Inflação
1946-1950
Restrição ao
Crédito e
Flutuação
Cambial
1950-1960
Instabilidade Econômica
Aumento do Desemprego
1960-1968
Recessão,
Combate à
Inflação e
Incentivos à
Exportação
Lanc. Brim
Coringa:1946
Início Colchas
(Chenil): 1967
Topper:1976
Rainha:
1979
indigo blue
US Top:1972
Jeaneration:
1983
Nike; Arrow: 1986
Início Exportações:
1964
Havaianas: 1962
Início Confecções
(Far-West): 1954
Nacionalização do
Capital:1948
Top Plus:
1984
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.11 Liquidez da SPASA na fase de Desenvolvimento
86
Ambição, Versatilidade, Julgamento
A ambição, a versatilidade e o julgamento se fizeram presentes logo no
começo da fase de Desenvolvimento. Em 1942, a empresa procurou compensar o
efeito negativo na demanda provocado pela II Guerra Mundial, com o fornecimento
de material para as forças armadas. A empresa já tinha experiência anterior no
fornecimento para o exército (Revolução Constitucionalista de 1932), o que
facilitou a conciliação da oportunidade de curto prazo com os interesses de longo
prazo da empresa (SPASA, 1982a). Os maiores ganhos foram de escopo e vieram
do direcionamento da folga disponível de recursos para a fabricação dos artefatos
militares. Ganhos de escala, no entanto, foram de menor intensidade, visto que as
demandas das forças armadas eram, em essência, muito específicas, difíceis de
serem ampliadas para o público em geral.
Em 1953, a São Paulo Alpargatas demonstrou ambição e versatilidade ao
apoiar o início das operações da Cia Agrícola Fibrasil, com o objetivo de produzir o
fórmio tenax, fibra alternativa à juta, cujo preço havia se elevado demasiadamente
no mercado externo em função de sua escassez. Em 1956, a companhia realizou
um investimento de Cr$ 8.570.127 na companhia e passou a ser a sua maior
acionista. No ano seguinte, ao constatar que o resultado das operações da
empresa não estava sendo satisfatório, a direção da São Paulo Alpargatas tomou
medidas de economia a fim de evitar maiores prejuízos. Estabeleceu uma reserva
de Cr$ 5.000.000 para a baixa desse empreendimento, o equivalente ao prejuízo
acumulado que a controlada apresentava.
Em 1954, a ambição se mostrou na forma de integração vertical para frente.
Foram lançadas as primeiras etiquetas de confecção fabricadas pela São Paulo
Alpargatas, com destaque para as calças Far-West. O objetivo era aumentar os
lucros trabalhando num segmento com maior possibilidade de diferenciação; e
estabilizar a demanda pelos produtos dos elos à montante da cadeia produtiva.
Como desdobramento desse empreendimento, surgiram na década de 60 as
calças Rodeio e Coringa, o macacão Mecânico, as calças Topeka, a US Top na
década de 70, Jeaneration e Top Plus na década de 80, além de muitas outras
marcas que fizeram história na empresa (SPASA, 1982b; SPASA, 1990).
87
A ambição, a versatilidade e o julgamento também se fizeram presentes nos
investimentos em campanhas publicitárias de promoção dos produtos da
companhia, que muito ajudaram na legitimação e fortalecimento de suas marcas, e
posicionou a empresa como uma das maiores anunciantes do país na década de
70 e 80. Além do marketing corpo-a-corpo utilizado pelos vendedores desde a
década de 40, que era feito através de chamadas nos alto-falantes dos furgões, da
exibição de músicas e filmes e da fixação de cartazes das alpargatas Roda, dos
encerados Locomotiva e do brim Coringa nos estabelecimentos clientes, a
companhia passou a utilizar os mecanismos de transmissão radiofônica e
televisiva, tão logo se tornaram disponíveis. Era a Alpargatas e Melhoral. Também
marcaram a história da companhia, o patrocínio a programas como “Roda de
Violeiros” e “Rodeio Coringa”. O primeiro era dirigido ao público interiorano e
transmitido pela Rádio Bandeirantes de São Paulo em 82 estações e 512 cidades.
O segundo, do mesmo gênero era transmitido de Porto Alegre para toda a região
Sul. A partir dos anos 50 foram criadas várias campanhas, muitas delas buscando
cumprir um papel social. Foi assim, por exemplo, na campanha “Criança Calçada,
Criança Sadia”, do início dos anos 60, onde as crianças da rede Escolar estadual
de todo o País foram estimuladas a escrever sobre o tema, concorrendo a uma
viagem à nova capital federal, Brasília, e a uma visita à São Paulo Alpargatas.
Adicionalmente, a empresa tornou-se uma aliada de professores e alunos ao
enviar regularmente às Escolas, discos com hinos patrióticos, pôsteres sobre a
Bandeira Nacional, material sobre educação de trânsito, guias de aulas de
educação física, manuais de introdução ao basquete e um livrinho “Vamos treinar
em circuito”, iniciativa de conscientização, desde a infância, da necessidade de
andar calçado. A campanha era encenada por Juca Veloz, um garoto alegre a
caminho da Escola, e teve uma grande repercussão nacional. Na televisão, a
Alpargatas patrocinou o programa da TV Record, ”Turma dos Sete”, e o programa
“Pra Ver a Banda Passar”, encenado por Chico Buarque de Holanda. Mas o
grande sucesso ocorreu no final dos anos 60, quando a São Paulo Alpargatas
passou a apoiar, com exclusividade, o programa “Família Trapo”, também da TV
Record. A “Família Trapo” ajudou a divulgar as marca da companhia, (Topeka,
Conga, Bamba, Havaianas, Madrigal) que a essa época já faziam parte do
cotidiano dos brasileiros. A São Paulo Alpargatas procurou, também, manter uma
relação muito próxima com o mundo dos esportes, através de patrocínios a atletas,
clubes e eventos como a copa de 1958 e 1982 (BOLSA, 08/10/1979; BOLSA,
88
12/04/1982, SPASA, 1987a). Todas essas iniciativas comerciais, associadas a
uma política de expansão e modernização fabril possibilitaram à empresa elevar
sua participação de mercado e lograr os significativos aumentos nos níveis de
vendas. Não obstante, os vultosos e permanentes investimentos que se fizeram
necessários para manter todos os empreendimentos em paralelo foram achatando
progressivamente as margens de lucro, impactando na rentabilidade da empresa
(Vide Figura 4.9).
O programa de desenvolvimento das exportações também deu indícios de
ambição, versatilidade e julgamento. Por um lado, propiciou ganhos de escala com
a adesão de novos mercados. Por outro, diminuiu a influência do mercado interno
no risco existencial da companhia. Em 1962, tiveram início as exportações de
encerados para a Venezuela e América Central, e de lonas e lonetas para os
Estados Unidos, mas ainda de uma forma muito tímida. Em 1964, as vendas da
companhia atingiram a casa dos U$ 500.000, tendo como principais destinos,
países altamente industrializados como os Estados Unidos e o Canadá. Em 1965,
esses destinos foram ampliados para 12 países da América do Norte, América
Latina e Continente Africano e o total das vendas somou U$ 1.000.000. Os
esforços de exportação foram sistematicamente continuados até a primeira metade
da década de 90, quando as vendas externas acabaram sendo suspensas em
função da crise por que passou a companhia. Durante esse período, mesmo em
momentos de euforia no mercado interno, como foi a época do Plano Cruzado, em
1986, a São Paulo Alpargatas manteve sua política de expansão das atividades no
exterior. Tanto que, no mesmo ano, foi consolidado o escritório da representação
em Frankfurt, na Alemanha, que, junto com o de Miami, ajudou a exportar 73,2
milhões de dólares, 32% a mais que em 1985 (BOLSA, 07/06/1982, pág. 28,
EXAME, 08/07/1987)
No mercado interno, a partir de 1965, vislumbrando uma estabilização política
do país e observando a retomada do crescimento, a empresa resolveu, numa
demonstração de ambição, versatilidade e julgamento, dar novo impulso aos seus
programas de modernização, expansão, aperfeiçoamento da produção, e
diversificação, que aguardavam época propícia para serem executados. Tais
programas geraram ações sistemáticas que perduraram até o final da década de
80, com destaque para: o lançamento das colchas Madrigal em 1967; a
89
implantação da fábrica de Jaboatão dos Guararapes em 1968; o lançamento
pioneiro do índigo blue e da confecção Us Top em 1972; a aquisição da Sucar S.A
em 1973, onde a empresa passou a produzir mais tarde suas camisas; o
lançamento dos calçados Topper e a inauguração da fábrica de São Leopoldo em
1976; a aquisição da Guardian S.A Ind. e Comércio de Equipamentos Esportivos
em 1977; a aquisição e modernização da Rainha em 1979; a aquisição da Têxtil
Gabriel Calfat e da Malharia Azouri em 1981; a aquisição da marca Jeaneration em
1983; a aquisição da Amapoly Indústria e Comércio Ltda., em Manaus e da BESA -
Borracha Esponjosa S.A. Indústria e Comércio, em Campina Grande, em 1985; e o
lançamento do tênis Nike e das camisas Arrow em 1986, entre outras.
Comprometimento de Longo Prazo
Durante o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, o motor de existência
continuada foi reforçado. Foram distribuídos muitos benefícios e o ritmo de
crescimento da companhia sugeria que houvesse espaço potencial para o
crescimento pessoal de todos os colaboradores que integravam a empresa. De
fato, evidenciou-se o desenvolvimento de carreiras de longo prazo por executivos
como Keith Bush, David Reeves, Martim Affonso dos Anjos, Alberto Bacchiocchi,
Renato Pasqualini, entre outros. Esses personagens, por sua vez, se empenharam
no crescimento contínuo da empresa como forma de manter a ascensão deles e
dos que ainda estariam por vir.
Capacidade de Levantar Fundos
Durante a década de 50, a São Paulo Alpargatas se utilizou de aportes de
capital para financiar parte de seus investimentos. O capital da sociedade foi
progressivamente elevado até 1960, quando atingiu Cr$ 1.100.000.000.
Para a expansão dos anos 70 e 80, os recursos utilizados vieram como de
costume, do reinvestimento dos lucros, do aporte de capital dos acionistas
majoritários, e da captação de recursos em Bolsa de Valores. Adicionalmente,
foram obtidos empréstimos junto à Sudene e Sudam, e no exterior. Alguns fatores
facilitaram a captação de tais recursos, entre eles, a expedição, em 25/04/1966, do
certificado de Sociedade de Capital Aberto emitido pelo Banco Central; e a elevada
90
liquidez dos papéis da empresa, que continuaram com um excepcional índice de
negociabilidade (7.497.540 transações em 1966, 49.000.000 em 1974,
440.000.000 em 1980 e 1.785.700.000 em 1987), apesar da acentuada retração
nas transações em Bolsas de Valores. A elevada credibilidade internacional, as
sólidas bases técnico-econômicas e a importância da São Paulo Alpargatas para o
desenvolvimento do Brasil, viabilizaram, também, em 1966, a captação de um
financiamento de U$ 3.000.000,00, a ser pago em prestações semestrais de U$
100.000,00 com juros de 8,5% ao ano e carência de 2 anos. Os recursos foram
garantidos pela ADELA Investment Company S.A., de Luxemburgo, uma
sociedade internacional da qual participavam as maiores firmas e bancos
europeus, americanos e japoneses. Em 1972, novos recursos puderam ser
aportados à companhia via compra de ações, desta vez advindos dos Fundos
Fiscais 157.
Busca pela Minimização dos Riscos Existenciais
De forma geral, os empreendimentos da São Paulo Alpargatas durante a fase
de Desenvolvimento foram de baixo risco em função dos níveis de reservas e de
endividamento da companhia no período (Vide Figura 4.10). No curto prazo, os
níveis liquidez também foram confortáveis, tendo a liquidez corrente variado entre
1,5 e 2,5 e a liquidez seca entre 1,0 e 1,5 (Vide Figura 4.11).
Em 1943, a São Paulo Alpargatas contornou a escassez e o encarecimento
das matérias-primas através da elevação dos lotes de compra e dos estoques de
segurança. Essa medida resultou na diminuição do risco de desabastecimento e
conseqüente interrupção das operações, que poderia, dependendo da extensão,
causar um risco existencial (SPASA, 1943).
Da mesma forma, em 1953 foram providenciadas instalações Diesel-Elétricas
de geração de energia elétrica, que passaram a suprir plenamente, a partir de
1954, as deficiências de fornecimento da Concessionária, eliminando o risco de
interrupção das operações (SPASA, 1954)
A partir da década de 80, a iniciativa da São Paulo Alpargatas de desenvolver
marcas para atuação em diversos extratos sociais teve o intuito de proteger a
91
empresa contra as cíclicas flutuações no perfil do consumo, o que de certa forma,
representou uma forma de minimizar o risco existencial. Em 1987, a empresa já
operava com dezenas de marcas que contemplavam desde as faixas de menor
poder aquisitivo (como as populares sandálias Havaianas) até o topo do mercado
(caso das camisas Arrow e os tênis Nike), passando pelos segmentos
intermediários (jeans Top Plus e os calçados Daytona) (EXAME, 08/07/1987).
Síntese sobre o Desafio do Empreendedorismo
O conjunto de indícios analisados apontam para a ocorrência de ações de
empreendedorismo audacioso durante a fase de Desenvolvimento da São Paulo
Alpargatas. As ações tomadas foram quase todas direcionadas para a ampliação
da participação de mercado da companhia, para a maximização dos lucros e para
a diminuição dos riscos operacionais.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão
“Empreendedorismo” durante o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.16.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Empreendedorismo
A empresa apresentou níveis confortáveis de assunção de risco e
grande possibilidades de captação de recursos próprios ou de
terceiros (Figura 4.10, Figura 4.11). No entanto, o crescimento das
receitas descolado do lucro líquido demonstrou que os investimentos
realizados não visaram ou não conseguiram melhorar a rentabilidade
do negócio (Figura 4.9), o que sugere indícios de ações de
empreendedorismo satisfatório.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.16 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” durante o Desenvolvimento da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Empreendedorismo”, obtidas durante o Desenvolvimento da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.17.
92
Análise dos Traços Organizacionais Empreendedorismo
Período Evento 1
1940-1988
Os investimentos na promoção dos produtos e das marcas através de propagandas, patrocínios e
campanhas sociais, como forma de contornar os contratempos microeconômicos e
macroeconômicos do período, sugerem um empreendedorismo audacioso.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1946-1950 Macroambiente Brasil
Política de restrição ao crédito
associada a instabilidades cambiais
que dificultaram as exportações e
acirraram a concorrência interna com
os produtos importados.
Econômico
Desfavorável
1940-1945 Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
1943 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Escassez e encarecimento das
matérias-primas.
Dinâmica das
Matérias-Primas
(Dificuldade de
Suprimento)
1948 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Modernização dos parques têxteis
através da intensificação das
importações de máquinas têxteis.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
1950-1960 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
A concorrência das fibras químicas, que
cresciam no mercado Brasileiro
acompanhando a tendência mundial foi
apontada como uma das grandes
responsáveis pela queda da
participação do setor têxtil na indústria
de transformação.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
1950-1960 Macroambiente Brasil
Instabilidade econômica, redução dos
créditos e aumento no nível de
desemprego.
Econômico
Desfavorável
1940-1960 Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1958-1965 Macroambiente Brasil
Combate à inflação, recessão no
mercado interno, e incentivos à
exportação.
Econômico
Desfavorável
1966 Indivíduo Diretoria
Contratação de um empréstimo de U$
3.000.000 junto à ADELA, de
Luxemburgo.
Capacidade de
Levantar Fundos
1970-1980 Macroambiente Brasil
Milagre Econômico. O governo exerceu
seu poder econômico e ativou um
círculo virtuoso de crescimento. Época
de grandes obras de infra-estrutura e
de aumento da dívida externa do país.
Econômico Favorável
1972-1977 Macroambiente Mundo Crise do Petróleo
Econômico
Desfavorável
1972 Indivíduo Diretoria
Investimento dos Fundos Fiscais 157
na ações da empresa.
Capacidade de
Levantar Fundos
1983 Microambiente Brasil
Crise do Bicudo. Encarecimento do
preço do algodão entre 400% e 500%.
Dinâmica das
Matérias-Primas
(Dificuldade de
Suprimento)
AP
Período Evento 2
1942-1945
A empresa procurou compensar o efeito negativo na demanda e o encarecimento das matérias-
primas provocado pela II Guerra Mundial, com o fornecimento de material para as forças armadas.
Isso representou a abertura de um novo mercado e a diminuição dos riscos existenciais.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1945 Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
1943 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Escassez e encarecimento das
matérias-primas.
Econômico
Desfavorável
AP
Período Evento 3
1952
O arrendamento e reativação da ex-Fiação Santa Cecília com o objetivo de obter independência no
segmento de fiação de algodão sugere uma ação de empreendedorismo audacioso na medida em
que possibilitou a independência da São Paulo Alpargatas no segmento de fiação.
AP
93
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1948 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Modernização dos parques têxteis
através da intensificação das
importações de máquinas têxteis.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
1940-1960 Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1950-1960 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
A concorrência das fibras químicas, que
cresciam no mercado Brasileiro
acompanhando a tendência mundial foi
apontada como uma das grandes
responsáveis pela queda da
participação do setor têxtil na indústria
de transformação.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
1950-1960 Macroambiente Brasil
Instabilidade econômica, redução dos
créditos e aumento no nível de
desemprego.
Econômico
Desfavorável
Período Evento 4
1953
O início das operações da Cia Agrícola Fibrasil, com o objetivo de produzir o fórmio tenax, fibra
alternativa à juta, cujo preço havia se elevado demasiadamente no mercado externo em função de
sua escassez, sugere uma atitude empreendedora audaciosa na medida em que busca reduzir os
riscos operacionais e ao mesmo tempo melhorar os lucros.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1945 Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
1943 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Escassez e encarecimento das
matérias-primas.
Dinâmica das
Matérias-Primas
(Dificuldade de
Suprimento)
1948 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Modernização dos parques têxteis
através da intensificação das
importações de máquinas têxteis.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
AP
Período Evento 5
1954-1988
Foram lançadas as primeiras etiquetas de confecção fabricadas pela São Paulo Alpargatas em
1954, com destaque para as calças Far-West. O objetivo era aumentar os lucros trabalhando num
segmento com maior possibilidade de diferenciação e estabilizar a demanda aos elos à montante da
cadeia produtiva. Muitas outras etiquetas foram lançadas durante o período de Desenvolvimento da
companhia.
1940-1945 Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
1943 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Escassez e encarecimento das
matérias-primas.
Pressão nas Margens
de Lucro
1948 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Modernização dos parques têxteis
através da intensificação das
importações de máquinas têxteis.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
AP
Período Evento 6
1962-1968
O programa de desenvolvimento das exportações também deu indícios de ambição, versatilidade e
julgamento. Por um lado, propiciou ganhos de escala com a adesão de novos mercados. Por outro,
diminuiu a influência do mercado interno no risco existencial da companhia.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1958-1965 Macroambiente Brasil
Combate à inflação, recessão no
mercado interno, e incentivos à
exportação.
Econômico
Desavorável
AP
Período Evento 7
1980-1988
A iniciativa da São Paulo Alpargatas de desenvolver marcas para atuação em diversos extratos
sociais teve o intuito de proteger a empresa contra as cíclicas flutuações no perfil do consumo.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1965-1988 Indivíduo Diretoria
Expansão das fábricas, aquisição de
empresas e lançamento de uma
infinidade de novos produtos e
modelos.
Ambição Salutar, Bom
Julgamento e
Versatilidade
1980-1992 Macroambiente Brasil
Recessão, Hiperinflação, congelamento
de preços frustrados. Conhecida como
a “Década Perdida”.
Econômico
Desfavorável
AP
94
1985-1988 Macroambiente Brasil
Retomada da democracia.
Promulgação da constituição de 1988.
Político Favorável
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.17 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão
“Empreendedorismo” durante o Desenvolvimento da SPASA
4.2.2 Motivação para Expansão
Motivações Produtivas
As principais motivações produtivas ligadas à expansão fabril e ao lançamento
de novos produtos e marcas da São Paulo Alpargatas durante a fase de
Desenvolvimento podem ser verificadas na Tabela 4.18 e Tabela 4.19,
respectivamente.
Período Motivação Produtiva para Expansão Fabril
1944
Foi lançado um novo calçado feminino, protegido pela marca
"RODA", que acabou recebendo boa aceitação por parte dos
distribuidores e do público em geral (SPASA, 1944)
1944-1945 A companhia
realizou a compra de certificados de equipamentos
durante o período para garantir sua prioridade de importação tão
logo a situação da II Guerra permitisse (SPASA, 1945).
1945-1949 Construção de um novo prédio de 7 andares para a fábrica (SPASA
,
1945-1949).
1951-1953
Construção de mais um edifício para expansão da produção
(SPASA, 1950).
1958
Foi adquirida uma área de terreno de aproximadamente 500.000 m2,
situada em São José dos Campos, com frente para a Via Dutra,
onde seria instalada uma no
va fábrica de calçados de borracha, para
atender à excepcional procura desta linha de produtos. Boa parte do
maquinário da nova fábrica foi adquirido no exterior (SPASA, 1958).
1959-1960
Construção da fábrica de calçados de borracha, situada em São
José dos Campos (SPASA, 1959).
1961
Expansão da fábrica de São José dos Campos. Foram iniciadas a
fabricação dos calçados Passo Doublé, das Botas Sete Léguas e do
calçado esportivo Bamba, e aumentada a fabricação dos calçados
Sete Vidas, Conga e Conquistador (SPASA, 1961).
1962
A fábrica de calçados de borracha em São José dos Campos foi
ampliada para atender à crescente procura de seus produtos
tradicionais, e das recém lançadas Havaianas (SPASA, 1962).
1964-1965 A companhia expandiu ainda mais a sua rede de
vendedores e
procurou atrair o consumidor nacional com a introdução de novos
artigos dentro de sua linha de produtos (SPASA, 1964).
1965
Dando prosseguimento ao plano de expansão de suas vendas no
exterior, a São Paulo Alpargatas conseguiu colocar suas
me
rcadorias, em 1965, em 12 países da América do Norte, América
Latina e Continente Africano (SPASA, 1965).
1968
Foi implantada, como parte da política de expansão para o Nordeste,
95
a fábrica de Jaboatão dos Guararapes
PE, para a produção de
Havaianas, tên
is Conga e calçados de plástico. A razão social da
fábrica passou a ser Alpargatas Nordeste S.A. (SPASA, 1990).
1972
Foram investidos Cr$ 22.000.000, com destaque para a aquisição de
um imóvel de 30.000 m2 de área construída, localizado nas
imediações da fábrica de São Paulo, para onde se transferiu
mais
tarde, a fiação para colchas de chenil, a fiação e a tecelagem de
lonas e a seção de confecção de encerados (SPASA, 1972).
1973
Tiveram início as atividades da fábrica 8: fiação, tecelagem e
tinturaria, no bairro da Mooca, em São Paulo.
1973
A companhia assumiu o controle da confecção Sucar S.A., indústria
de calças e camisas, instalada em Natal, RN. Para a nova
subsidiária foi elaborado um projeto de ampliação, o qual foi
aprovado e financiado pela SUDENE (SPASA, 1982b).
1974
A unidade de Natal foi reorganizada e ampliada com a aquisição de
terrenos adicionais. As máquinas, contudo, embora encomendadas
em 1974, só foram instaladas no segundo semestre de 1975
(SPASA, 1974).
1975 Conclusão da unidade de P
ouso Alegre, com área de 20.000 m2
para a produção de calçados, cujo financiamento foi feito pelo
BDMG. Início das obras da fábrica de têxteis de algodão e poliéster
em Tatuí, aprovada pelo CDI (SPASA, 1975).
1976 A companhia prosseguiu com o aumento da p
rodução das
confecções de brim, índigo blue US Top. Foi inaugurada a fábrica de
São Leopoldo, e investidos Cr$ 159.565.000 na Divisão Têxtil, a
maior parte dos quais na nova fábrica de Tatuí (SPASA, 1976).
1978 Iniciada a expansão das fábricas de Natal e
de Tatuí. Na fábrica de
São Paulo, foram instalados novos teares Sulzer, como também
linhas adicionais de filatórios a turbina Platt-
Saco Lowell. Além disso,
visando o balanceamento da produção, foram introduzidas outras
máquinas em substituição a modelos antigos (SPASA, 1978).
1980
Os projetos de investimentos em expansão produtiva se
concentraram na construção de uma nova planta em Veranópolis; na
duplicação da capacidade de produção da fábrica da Rainha em
Mogi-Mirim; na compra da firma Calçados Brasileiros Ltda.
, em Novo
Hamburgo, cuja planta passou a produzir a linha de calçados US
Top; e na ampliação das fábricas de São José dos Campos e de
Jaboatão, esta última o projeto foi submetido à apreciação da
Sudene (SPASA, 1980).
1981 Aquisição da Têxtil Ga
briel Calfat e da malharia Azouri (SPASA,
1981.)
1985
Foram adquiridas nas regiões norte e nordeste mais duas
subsidiárias: Amapoly Indústria e Comércio Ltda., em Manaus-
AM e
BESA -
Borracha Esponjosa S.A. Indústria e Comércio, em Campina
Grande - PB. No
mercado externo, a companhia manteve o
empenho em expandir suas vendas, e logrou um aumento de 10%
na representatividade das exportações no faturamento total da
companhia, em apenas 12 meses. (SPASA, 1985).
1986 Construída uma nova fábrica de calçados esportivos em Santa Rita
PB e uma nova unidade de produção de jeans em Aracaju SE
Tabela 4.18 Ações de Expansão fabril na fase de Desenvolvimento da SPASA
96
Período Motivação Produtiva para Expansão Produtos e Marcas
1946 Lançamento do Brim Coringa
1954 Lançamento das Calças Far-West
1955 Lançamento do calçado Sete-Vidas, e das lonas Sempre-Viva
1961 Lançamento dos calçados Bamba, Passo Doublé e Sete Léguas
1961 Lançamento das Calças Coringa e Rodeio
1962 Lançamento das Havaianas
1963 Lançamento do Macacão Mecânico
1965 Lançamento das Calças Topeka
1967 Lançamento das Colchas Madrigal
1972 Lançamento das confecções US Top
1976 Lançamento da marca Topper
1979 Aquisição da marca Rainha
1983 Aquisição da marca Jeaneration
1984 Lançamento da marca Top Plus
1986 Licenciamento das marcas Nike e Arrow
Tabela 4.19 Ações de lançamento de produtos e marcas na fase de
Desenvolvimento da SPASA
Motivações Híbridas
Em 1977, a São Paulo Alpargatas adquiriu o controle acionário da Guardian
S.A. Ind. e Com. de Equipamentos Esportivos, de Veranópolis, RS, fábrica de
bolas esportivas que vinha mantendo contrato de fornecimento desses artigos com
a São Paulo Alpargatas. A intenção era internalizar a operação para melhor
promover a linha Topper, com abrangência para bolas, bolsas, agasalhos e
raquetes de tênis (SPASA, 1976). O lado produtivo da expansão esteve presente
na própria aquisição dos recursos produtivos da Guardian, que uma vez na São
Paulo Alpargatas, tenderam a ser racionalizados através do seu aproveitamento
em novas atividades, ativando, assim, o motor de crescimento contínuo. O lado
defensivo consistiu no aumento do controle sobre as operações das atividades
anteriormente terceirizadas.
A compra da Rainha teve como motivações produtivas a absorção de sua
tecnologia, que era própria e de extremo valor para a concepção de novos
produtos diferenciados; a absorção da força de sua marca; e a expansão da
capacidade produtiva de tênis esportivos. Como motivação defensiva se
envidencia a redução da concorrência, já que a empresa detinha 50% do mercado
em que atuava (BOLSA, 08/10/1979, pág. 42).
97
Durante a década de 80, a São Paulo Alpargatas esteve muito focada em
aumentar suas vendas para o exterior. Em 1983, foi criada a Spasa Trading S.A.,
com o objetivo de reforçar a atuação da empresa nesse mercado. Essa iniciativa
de expandir os horizontes externos tanto privilegiava a empresa do ponto de vista
produtivo, quanto servia de proteção natural para as instabilidades do mercado
interno, daí o seu caráter híbrido.
Motivações Defensivas
Identificou-se dois indícios de motivação para expansão de caráter puramente
defensivo: (1) a compra do restante do capital da A.S.A.I.C. na São Paulo
Alpargatas, em 1982. Segundo András Vásárhelyi, então diretor financeiro da São
Paulo Alpargatas, o principal motivo que levou a empresa Argentina a se desfazer
de suas ações da companhia brasileira, foi financeiro. “A A.S.A.I.C. não estava
bem e precisava de dinheiro. As ações da São Paulo Alpargatas era o ativo de
maior liquidez.” Temerosa de que outros investidores estrangeiros pudessem
comprar as ações ou que ocorresse um take-over-bid, mediante manobra do
mercado de capitais argentino, a São Paulo Alpargatas manifestou seu desejo de
compra, e fez uso de seu direito de preferência (BOLSA, 04/1988); e (2) o
investimento de U$ 1.000.000 na Buffalo Color Corp., para garantir o suprimento
de anilinas utilizadas na fabricação do índigo blue, até então fornecidas pela ICI,
da Inglaterra, e Basf, da Alemanha.
Síntese sobre as Motivações para Expansão
Constataram-se vários indícios de motivações produtivas e híbridas para a
expansão durante a fase de Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, em
detrimento de apenas uma evidência de motivação defensiva. Entre as primeiras
cabe destaque às expansões enumeradas nas tabelas 4.18 e 4.19 e a aquisição
da Guardian e da Rainha. A evidência de motivação defensiva diz respeito à
compra das ações da companhia, de propriedade da A.S.A.I.C., como forma de
minimizar a possibilidade de um take-over.
98
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Motivação para Expansão” durante o Desenvolvimento da
São Paulo Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Motivação para Expansão”, obtidas durante o Desenvolvimento da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.20.
Análise dos Traços Organizacionais Motivação para Expansão
Período Evento 1
1944
Foi lançado um novo calçado feminino, protegido pela marca "RODA", que acabou recebendo boa
aceitação por parte dos distribuidores e do público em geral. Esse lançamento
AP
Período Evento 2
1946
Lançamento e Padronização do brim Coringa viabilizou ganhos de escala e sugere uma motivação
produtiva para expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1946 Microambiente
Indústria de
Confecções
Modificação da Padronização da largura
dos tecidos de 0,70m para 1,0m, a partir
do lançamento do Brim Coringa.
Ganhos de Escala
AP
Período Evento 3
1944-1945
A companhia realizou a compra de certificados de equipamentos durante o período para garantir
sua prioridade de importação tão logo a situação da II Guerra permitisse. O objetivo era melhorar
pró-ativamente a produtividade e obter ganhos de escala, minimizando os contratempos do
ambiente externo.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1945
Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
1946-1950
Macroambiente Brasil
Política de restrição ao crédito
associada a instabilidades cambiais que
dificultaram as exportações e acirraram
a concorrência interna com os produtos
importados.
Econômico
Desfavorável
1948 Microambiente
Indústria
Têxtil
Modernização dos parques têxteis
através da intensificação das
importações de máquinas têxteis.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
AP
Período Evento 4
1945-1949
Construção de um novo prédio de 7 andares para a fábrica.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 5
1951-1953
Construção de mais um edifício para expansão da produção.
Detalhamento da Análise
AP
99
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
Período Evento 6
1954 Lançamento das Calças Far-West AP
Período Evento 7
1955 Lançamento do calçado Sete-Vidas, e das lonas Sempre-Viva AP
Período Evento 8
1958
Foi adquirida uma área de terreno de aproximadamente 500.000 m2, situada em São José dos
Campos, com frente para a Via Dutra para a instalação de uma nova fábrica de calçados de
borracha.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 9
1959-1960
Construção da fábrica de calçados de borracha de São José dos Campos.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 10
1961 Lançamento dos calçados Bamba, Passo Doublé e Sete Léguas, e das Calças Coringa e Rodeio. AP
Período Evento 11
1961
Expansão da fábrica de São José dos Campos para o início da fabricação dos calçados Passo
Doublé, das Botas Sete Léguas e do calçado esportivo Bamba, e para o aumento do volume de
fabricação dos calçados Sete Vidas, Conga e Conquistador.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 12
1962 Lançamento das Havaianas, primeira sandália japonesa produzida em larga escala. AP
Período Evento 13
1962
A fábrica de calçados de borracha em São José dos Campos foi ampliada para atender à crescente
procura de seus produtos tradicionais, e das recém lançadas Havaianas.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 14
1963 Lançamento do Macacão Mecânico. AP
Período Evento 15
1964-1965
A companhia expandiu ainda mais a sua rede de vendedores e procurou atrair o consumidor
nacional com a introdução de novos artigos dentro de sua linha de produtos.
AP
Período Evento 16
1965 Lançamento das Calças Topeka. AP
Período Evento 17
1965
Dando prosseguimento ao plano de expansão de suas vendas ao exterior, a São Paulo Alpargatas
conseguiu colocar suas mercadorias em 12 países da América do Norte, América Latina e
Continente Africano.
AP
Período Evento 18
1967 Lançamento das Colchas Madrigal. AP
100
Período Evento 19
1968
Foi implantada, como parte da política de expansão para o Nordeste, a fábrica de Jaboatão dos
Guararapes PE, para a produção de Havaianas, tênis Conga e calçados de plástico.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1966 Indivíduo Diretoria
Contratação de empréstimos, entre eles
um de U$ 3.000.000 junto à ADELA, de
Luxemburgo.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-1960
Indivíduo Diretoria
Novos e significativos aportes de capital
pelos acionistas.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 20
1972 O lançamento das confecções US Top sugere uma motivação produtiva para expansão. AP
Período Evento 21
1973-1975
O investimento de U$ 1.000.000 na Buffalo Color Corp., para garantir o suprimento de anilinas
utilizadas na fabricação do índigo blue, até então fornecidas pela ICI, da Inglaterra, e Basf, da
Alemanha, sugere uma motivação defensiva para expansão.
AD
Período Evento 22
1973
O início das atividades da fábrica 8: fiação, tecelagem e tinturaria, no bairro da Mooca, em São
Paulo sugere uma motivação produtiva para expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1966 Indivíduo Diretoria
Contratação de empréstimos, entre eles
um de U$ 3.000.000 junto à ADELA, de
Luxemburgo.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 23
1973
A companhia assumiu o controle da confecção Sucar S.A., indústria de calças e camisas, instalada
em Natal, RN. Para a nova subsidiária foi elaborado um projeto de ampliação, o qual foi aprovado e
financiado pela SUDENE.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1973 Indivíduo Diretoria
Captação de empréstimo junto à
SUDENE.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 24
1974 A unidade de Natal foi reorganizada e ampliada com a aquisição de terrenos adicionais.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1973 Indivíduo Diretoria
Captação de empréstimo junto à
SUDENE.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 25
1975
A c onclusão da unidade de Pouso Alegre, com área de 20.000 m2 para a produção de calçados
sugere uma motivação produtiva para expansão.
AP
Período Evento 26
1976 Lançamento da marca Topper sugere uma motivação produtiva para expansão. AP
Período Evento 27
1976
A companhia prosseguiu com o aumento da produção das confecções de brim, índigo blue US Top.
Foi inaugurada a fábrica de São Leopoldo, e investidos Cr$ 159.565.000 na Divisão Têxtil, a maior
parte dos quais na nova fábrica de Tatuí.
AP
Período Evento 28
1977
A São Paulo Alpargatas adquiriu o controle acionário da Guardian S.A. Ind. e Com. de
Equipamentos Esportivos, de Veranópolis, RS, fábrica de bolas esportivas que vinha mantendo
contrato de fornecimento desses artigos com a São Paulo Alpargatas. Esse movimento sugere uma
motivação híbrida para expansão na medida que a empresa internalizou uma operação
anteriormente de mercado.
AP
Período Evento 29
101
1978
Iniciada a expansão das fábricas de Natal e de Tatuí. Na fábrica de São Paulo, foram instalados
novos teares Sulzer, como também linhas adicionais de filatórios a turbina Platt-Saco Lowell. Além
disso, visando o balanceamento da produção, foram introduzidas outras máquinas em substituição a
modelos antigos (SPASA, 1978).
AP
Período Evento 30
1980
Os projetos de investimentos em expansão produtiva se concentraram na construção de uma nova
planta em Veranópolis; na duplicação da capacidade de produção da fábrica da Rainha em Mogi-
Mirim; na compra da firma Calçados Brasileiros Ltda., em Novo Hamburgo, cuja planta passou a
produzir a linha de calçados US Top; e na ampliação das fábricas de São José dos Campos e de
Jaboatão, esta última o projeto foi submetido à apreciação da Sudene (SPASA, 1980).
AP
Período Evento 31
1979
A aquisição da Rainha com o objetivo de concentrar o mercado de tênis esportivo e de absorver a
tecnologia da empresa sugere uma motivação híbrida para expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1979 Indivíduo Diretoria Emissão de ações.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 32
1981
A aquisição da Têxtil Gabriel Calfat e da malharia Azouri com o objetivo de expandir as operações
da companhia no Nordeste sugere uma motivação produtiva para expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1981 Indivíduo Diretoria
Captação de empréstimo junto à
SUDENE.
Capacidade de
Levantar Fundos
1940-2004
Indivíduo Diretoria
Reinvestimento das Reservas Formadas
a partir dos Lucros da Companhia.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 33
1983 A aquisição da marca Jeaneration sugere uma motivação produtiva para expansão. AP
Período Evento 34
1983
Com o foco no aumento das vendas para o exterior, foi criada a Spasa Trading S.A., com o objetivo
de reforçar a atuação da empresa nesse mercado. Essa iniciativa tanto privilegiava a empresa do
ponto de vista produtivo, quanto servia de proteção natural para as instabilidades do mercado
interno, o que sugere uma motivação híbrida para expansão.
AP
Período Evento 35
1982
A compra das ações da ASAIC na São Paulo Alpargatas sugere uma motivação defensiva de evitar
um take-over.
AD
Período Evento 36
1984 O lançamento da marca Top Plus sugere uma motivação produtiva para expansão. AP
Período Evento 37
1985
A aquisição nas regiões norte e nordeste de mais duas subsidiárias: Amapoly Indústria e Comércio
Ltda., em Manaus-AM e BESA - Borracha Esponjosa S.A. Indústria e Comércio, em Campina
Grande PB sugere uma motivação produtiva para expansão.
AP
Período Evento 38
1985
A manutenção do empenho em expandir suas vendas no mercado externo, logrando um aumento
de 10% na representatividade das exportações no faturamento total da companhia, em apenas 12
meses, sugere uma motivação produtiva para expansão.
AP
Período Evento 39
1986
A c onstrução de uma nova fábrica de calçados esportivos em Santa Rita PB e uma nova unidade
de produção de jeans em Aracaju SE sugere uma motivação produtiva para expansão.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.20 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” durante o Desenvolvimento da SPASA
102
4.2.3 Atitude para a Mudança
Atitudes tendentes à Moldar o Ambiente
Entre as atitudes da São Paulo Alpargatas durante a fase de Desenvolvimento
que podem ser classificadas como moldagem do ambiente está o lançamento de
forma pioneira, em 1946, do primeiro brim sanforizado, ou seja, pré-encolhido de
todo o Brasil, o brim Coringa. Seu slogan era “Brim Coringa, por mais que molhe,
jamais encolhe”. Apesar das vantagens da sanforização, o produto enfrentou
algumas dificuldades de aceitação principalmente pela sua dimensão de 1,0 metro
de largura, ao invés do padrão de 0,70 metro de então. A São Paulo Alpargatas
precisou criar moldes e treinar seus vendedores para demonstrar e argumentar
junto a donas-de-casa, costureiras e alfaiates as vantagens do novo tamanho. A
partir de então, quase todos os tecidos passaram a ser produzidos com largura de
1,0 metro.
Outro indício de moldagem do ambiente foi a produção pioneira no Brasil do
tecido índigo blue. O esforço para produzir o tecido índigo teve início em 1970 e
representou um diferencial estratégico sem precedentes. O processo de tingimento
era mantido em segredo pelos seus detentores e não existiam fornecedores de
equipamentos. O Departamento de Engenharia da São Paulo Alpargatas
desenvolveu o projeto, fez construir os equipamentos e em dois anos conseguiu
colocar no mercado o primeiro índigo blue brasileiro. Os produtos foram apoiados
por campanhas publicitárias que destacavam a empresa como a única produtora
do tecido no Brasil.
Outras atitudes de moldagem do ambiente também se fizeram presentes
durante a fase de Desenvolvimento, entre elas: (1) a massificação do mercado de
sandálias japonesas, quando a São Paulo Alpargatas iniciou a fabricação em
escala das sandálias Havainas em 1962; (2) o lançamento pioneiro dos tênis
básicos Conga, Bamba e Kichute, a partir dos anos 50, que deu à companhia a
liderança no segmento de calçados populares; (3) a consolidação do Conga para o
uso diário e Escolar, principalmente na prática de Educação Física, em 1973; e (4)
o desenvolvimento da marca Nike no Brasil a partir de 1986, época em que os
103
tênis americanos tinham quase nenhum mercado no Brasil, mas um potencial de
crescimento enorme.
Atitudes tendentes a Adaptar-se ao Ambiente
Em 1942, em meio à II Guerra Mundial, época de escassez de alimentos e
combustíveis, e de inquietações sociais, a São Paulo Alpargatas começou a sentir
dificuldades para adquirir máquinas, peças de reposição e diversos insumos
necessários às operações, além de sofrer com a elevação dos preços em geral.
Para contornar esses problemas, a empresa passou a comprar em grandes
quantidades. De um lado, barganhava melhores preços e condições de compra.
De outro, se abastecia com estoques de segurança.
Com relação à importação de máquinas, a companhia passou a adquirir, a
partir de 1944, certificados de equipamentos que lhe davam prioridade de
importação tão logo fosse possível. Com o final da II Guerra, em 1945, os
certificados passaram a ser utilizados sendo a empresa uma das primeiras a ter
seu parque modernizado. Em 1946, novos investimentos foram feitos em teares
automáticos e no aperfeiçoamento dos processos de trabalho com vistas à
expansão e otimização da produção. Em 1965, alinhado ao mesmo objetivo, a
companhia introduziu inovações em sua organização, muitas delas resultantes de
observações feitas por seus representantes em visitas aos mais avançados
centros industriais no exterior. Tais inovações melhoraram sobremaneira a
eficiência dos vários departamentos, contrabalançando em parte os aumentos de
custos da época (SPASA, 1965).
Em 1946, em função das dificuldades de cobertura do sistema de distribuição,
a São Paulo Alpargatas montou de forma pioneira, uma força de vendas própria,
capaz de cobrir todos os pontos de venda espalhados pelas regiões e distritos
brasileiros, do atacadista ao pequeno varejista, com pronta entrega, efetuando a
venda, entrega, recebimento e divulgação dos produtos. Os vendedores eram
vistos como figura mitológica nos lugares mais longínquos. Levavam novidades da
Capital, as intrigas políticas, as fofocas e utilizavam o bate-papo como base de
formação de relacionamentos duradouros. Enquanto uns percorriam os grandes
centros como São Paulo e Rio de Janeiro, outros percorriam os interiores,
104
visitando fazendas, praças e campos de futebol, utilizando jipes equipados com
pás e enxadas, tirantes e pneus sobressalentes, instrumentos utilizados para
vencer a ausência de estradas da época. A descentralização operacional e
administrativa proporcionada pela nova estrutura de vendas colocou a companhia
em condições diferenciadas no mercado. Até então, as indústrias têxteis e de
calçados trabalhavam de forma centralizada, utilizando atacadistas como meio de
escoamento da produção das fábricas. Além de tornar a São Paulo Alpargatas
auto-suficiente na distribuição de seus produtos e aproximar a empresa dos
usuários finais, a mudança na força de vendas propiciou uma redução do risco de
crédito na medida em que as vendas se tornaram mais pulverizadas. (BOLSA,
12/04/1982, SPASA, 1987a).
Para superar a restrição do crédito por parte dos estabelecimentos bancários e
os altíssimos encargos cobrados entre 1946 e 1947, a iniciativa da São Paulo
Alpargatas foi de, novamente, produzir mais para reduzir os custos e repassar aos
consumidores as economias de escala. Nesse ponto, os investimentos feitos em
1946 em modernização de maquinário, nos melhoramentos nos métodos de
trabalho, e nos ajustes no sistema de vendas, que passou a contar com
representantes e vendedores em todo o vasto território nacional, foram de suma
importância para a manutenção dos níveis de atividade da companhia.
O ano de 1948 foi marcado pelo aumento da concorrência no mercado
doméstico. A situação cambial dificultou as exportações e facilitou a entrada de
produtos importados. O volume de importação de máquinas têxteis cresceu
acentuadamente, e em pouco tempo o parque têxtil nacional foi reequipado. A São
Paulo Alpargatas, contudo, que já vinha investindo desde 1945 em melhoria de
processos, modernização, expansão da produção e da força de vendas, e em
publicidade, pôde enfrentar bem o acirramento da concorrência e teve suas vendas
crescentes durante 1949 e 1950.
Em 1952, em função do crescimento da demanda e da dificuldade de
importação de maquinários, a companhia arrendou a então desativada Fiação
Santa Cecília, voltando a mesma a operar em 1953, fornecendo independência à
São Paulo Alpargatas no suprimento de fios.
105
A situação da segunda metade da década de 50 foi de manutenção da
restrição dos créditos e dos elevados encargos sociais. Mesmo dando passos
importantes há mais de uma década no sentido de modernizar os equipamentos e
melhorar os processos produtivos, a São Paulo Alpargatas tomou novas
providências para garantir que a melhoria contínua de sua produtividade e a
organização da sua rotina de trabalho pudesse viabilizar novamente a superação
dos entraves ao crescimento. Em 1956, contratou os serviços de renomadas
consultorias especializadas no ramo e ampliou as zonas atendidas por seus
vendedores em vários estados. As medidas geraram nos anos seguintes um
resultado superior ao dos anteriores, apesar da crise reinante na indústria têxtil.
Tanto que, em meio às crescentes taxas de desemprego a empresa pôde manter
todos os funcionários trabalhando normalmente.
Para a indústria têxtil, o balanço da década de 50 foi bastante ruim. A
participação do setor na geração de renda da indústria de transformação, que era
de 20,1% em 1949, caiu para 12,0% em 1959. Os grandes empresários culpavam
a concorrência das fibras químicas, que cresciam no mercado brasileiro
acompanhando a tendência mundial, e a falta de alinhamento entre o crescimento
demográfico e o consumo de artigos têxteis (EXAME (set. 1971)). A São Paulo
Alpargatas, por sua vez, passou um tanto que imune a toda essa turbulência.
Continuava a produzir ininterruptamente, investindo na construção da fábrica de
São José dos Campos, aprimorando os processos produtivos, e trabalhando a
imagem de seus produtos através de anúncios publicitários e patrocínios.
Novamente, o objetivo era criar na população a percepção de que seus produtos
eram de necessidade básica, e torná-los comercializáveis, mesmo em momentos
de contenção de gastos da população, através da redução dos custos de
produção.
A década de 60 foi marcada por um ambiente macroeconômico difícil e incerto.
A inflação foi a principal vilã. As medidas de contenção adotadas, contudo,
vitimaram muitas empresas despreparadas para lidar com a forte retração nos
níveis de negócio. A própria São Paulo Alpargatas teve a demanda de alguns de
seus produtos sensivelmente reduzida. Tal redução, porém, foi contrabalançada
pelo aumento substancial da produção e vendas dos produtos lançados no início
da década, que foram bem recebidos pelo público consumidor. Outra forma de
106
contornar a queda da demanda interna, foi iniciar os esforços de exportação, que
se iniciaram em 1964 e foram sistematicamente continuados até a primeira metade
da década de 90, quando as vendas externas acabaram sendo suspensas em
função da crise por que passou a companhia.
Em 1972, a São Paulo Alpargatas lançou de forma pioneira o tecido índigo blue
no Brasil. Apesar da vantagem estratégica de deter a tecnologia de manufatura do
tecido no país, a companhia enfrentou dificuldades no suprimento das matérias
primas utilizadas em seu processo de produção. De 1972 a 1975, o primeiro
choque do petróleo dificultou a importação de anilinas da ICI, da Inglaterra e da
Basf, da Alemanha. Para contornar o problema, a São Paulo Alpargatas conseguiu
uma parceria com um grupo americano, Buffalo Color Corp., que estava
interessado em se desfazer do negócio. Investiu 1 milhão de dólares na compra de
ações preferenciais da companhia (SPASA, 1987a).
Em 1979, com o objetivo de adquirir tecnologia, melhorar os métodos de
produção e concentrar o mercado brasileiro de artigos esportivos Premium em
suas mãos, a companhia adquiriu a Rainha.
A década de 80, apesar da crise macroeconômica e do disparo da inflação, foi,
também, uma década de crescimento para a São Paulo Alpargatas. Para contornar
as crises da década, a empresa tomou medidas administrativas que buscaram a
redução de custos e despesas fixas, o aumento da produtividade, a elevação da
capacidade de processamento de dados, a concentração dos investimentos nas
áreas de negócios que apresentavam melhores condições de mercado, e a
agilização no desenvolvimento de novos produtos (SPASA, 1982, SPASA, 1985).
As campanhas promocionais também foram reforçadas, dentro da forma tradicional
de investimento da companhia, entre elas: campanhas publicitárias de produtos,
patrocínios e uniformização (EXAME, 1984a).
Aceitar o Ambiente
Em 1953, a São Paulo Alpargatas passou por uma dificuldade no atendimento
dos pedidos, fruto de um racionamento de energia elétrica. A empresa havia feito
investimentos em força própria em 1925, mas as instalações não haviam sido
107
renovadas e nem acompanhado o crescimento da demanda de eletricidade da
companhia. Com o intuito de remediar o problema, foram instalados dois conjuntos
Diesel-Elétrico com a capacidade de 2500 Kva, e no primeiro semestre de 1954, a
instalação foi duplicada.
Entre outras ações de aceitação das imposições do ambiente pode-se
destacar: (1) O comprometimento da produtividade da Divisão Têxtil, em 1985,
quando as tendências da moda exigiram da empresa um nível de flexibilidade no
sistema produtivo que inviabilizou o regime de plena utilização; (2) O
encarecimento dos custos de produção durante os longos períodos de inflação,
quando os constantes reajustes das matérias-primas e o rígido controle de preços
dos produtos acabados resultaram num considerável achatamento das margens da
companhia, a despeito da política de elevação dos lotes de compra, dos estoques
de segurança e dos ganhos de escala advindos da elevação da capacidade de
produção.
Síntese sobre as Atitudes para as Mudanças
Durante a fase de Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, várias foram as
atitudes assumidas pela empresa diante da mudança. A maioria dos eventos,
contudo, apontam para situações onde o controle das transformações esteve nas
mãos da companhia, através da promoção das mudanças ou da adaptação
deliberada e planejada às mesmas. Poucas foram as situações em que a empresa
teve que aceitar passivamente os acontecimentos, entre elas, o comprometimento
parcial da produção em função da crise energética de 1953, e o encarecimento
das matérias primas durante os surtos de inflação da década de 80.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Motivação para Expansão” durante o Desenvolvimento da
São Paulo Alpargatas.
108
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Atitude para a Mudança”, obtidas durante o Desenvolvimento da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.21.
Análise dos Traços Organizacionais Atitude para Mudança
Período Evento 1
1946 Lançamento pioneiro do Brim sanforizado com 1,0 m de largura.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1946 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Confecções
O brim Coringa promoveu a modificação
da Padronização da largura dos tecidos
de 0,70m para 1,0m, a partir do
lançamento do Brim Coringa.
Padronização
Favorável
AP
Período Evento 2
1972
O lançamento pioneiro no Brasil do índigo blue, processo tecnológico detido pela São Paulo
Alpargatas, possibilitou à empresa moldar o ambiente de produção nacional do tecido.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1970-1972
Firma
São Paulo
Alpargatas
O esforço para produzir o tecido índigo
blue teve início em 1970 e representou
um diferencial estratégico sem
precedentes. O processo de tingimento
era mantido em segredo pelos seus
detentores e não existiam fornecedores
de equipamentos. O Departamento de
Engenharia da São Paulo Alpargatas
desenvolveu o projeto, fez construir os
equipamentos e em dois anos conseguiu
colocar no mercado o primeiro índigo
blue brasileiro.
Moldagem do
Ambiente
AP
Período Evento 3
1973
A empresa conseguiu consolidar o Conga para o uso diário e Escolar, principalmente na prática de
Educação Física (moldagem do ambiente).
AP
Período Evento 4
1986-1988
O desenvolvimento da marca Nike no Brasil levantou a demanda por tênis esportivos de alta
tecnologia (moldagem do ambiente).
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1986-1994
Firma
São Paulo
Alpargatas
“O licenciamento da Nike foi muito bom
para nós, sem dúvida nenhuma, uma
operação onde a gente adquiriu... não
só foi uma operação rentável, lucrativa,
como adquirimos também muita
tecnologia, muito conhecimento com
isso. E foi excelente para eles também.
Eu acho que eles reconhecem isso.
Antes disso, eles tiveram uma
experiência trágica, com uma indústria...
com a Martiniano..., e tiveram uma
experiência excelente com a gente. A
gente lançou a marca no Brasil.
Profissionalizou. Importou alguma coisa,
e o que fez aqui sob essa orientação
deles, foi perfeito, foi tudo aprovado.
Moldagem do
Ambiente
AP
Período Evento 5
1942-1945
Para contingenciar os problemas de desabastecimento, a empresa passou a comprar em maiores
quantidades. De um lado, barganhava melhores preços e condições de compra. De outro, mantinha
estoques de segurança.
AP
109
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1943 Microambiente
Indústria
Têxtil
Escassez e encarecimento das
matérias-primas.
Dinâmica das
Matérias-Primas
(Dificuldade de
Suprimento)
1940-1945
Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
Período Evento 6
1944-1945
A companhia passou a adquirir certificados de equipamentos que lhe davam prioridade de
importação tão logo as condições da II Guerra permitissem. Em 1945, a empresa uma das primeiras
a ter seu parque modernizado. Com isso, conseguiu melhorar seu nível de produtividade e atenuar
os percalços do ambiente.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1945
Macroambiente Brasil
Aumento geral de preços,
principalmente de insumos importados.
Econômico
Desfavorável
1946-1950
Macroambiente Brasil
Política de restrição ao crédito
associada a instabilidades cambiais que
dificultaram as exportações e acirraram
a concorrência interna com os produtos
importados.
Econômico
Desfavorável
1948 Microambiente
Indústria
Têxtil
Modernização dos parques têxteis
através da intensificação das
importações de máquinas têxteis.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
AP
Período Evento 7
1946
Em função das dificuldades de cobertura do sistema de distribuição, a São Paulo Alpargatas montou
de forma pioneira, uma força de vendas própria, capaz de cobrir todos os pontos de venda
espalhados pelas regiões e distritos brasileiros, do atacadista ao pequeno varejista, com pronta
entrega, efetuando a venda, entrega, recebimento e divulgação dos produtos.
AP
Período Evento 8
1946-1947
Para superar a restrição do crédito por parte dos estabelecimentos bancários e os altíssimos
encargos cobrados no período, a São Paulo Alpargatas passou a produzir mais para reduzir os
custos e repassar aos consumidores as economias de escala.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1946-1950
Macroambiente Brasil
Política de restrição ao crédito
associada a instabilidades cambiais que
dificultaram as exportações e acirraram
a concorrência interna com os produtos
importados.
Econômico
Desfavorável
AP
Período Evento 9
1952-1953
Em função do crescimento da demanda e da dificuldade de importação de maquinários, a
companhia arrendou a então desativada Fiação Santa Cecília, voltando a mesma a operar em 1953,
fornecendo independência à São Paulo Alpargatas no suprimento de fios.
AP
Período Evento 10
1956
A São Paulo Alpargatas contratou os serviços de renomadas consultorias especializadas na
melhoria de produtividade e ampliou as zonas atendidas por seus vendedores em vários estados.
As medidas geraram nos anos seguintes um resultado superior ao dos anteriores, apesar da crise
reinante na indústria têxtil.
AP
Período Evento 11
1960-1965
A queda da demanda de alguns dos produtos da São Paulo Alpargatas foi sensivelmente reduzida
em função das medidas de contenção da inflação. Para contrabalançar tal redução, a empresa
aumentou substancialmente a produção e a venda dos produtos lançados no início da década, que
foram bem recebidos pelo público consumidor. Outra forma de contingenciar a queda da demanda
interna, foi iniciar os esforços de exportação.
AP
Período Evento 12
1972-1975
A empresa contornou a dificuldade de importação de anilinas durante o primeiro choque do petróleo
através de um investimento de U$ 1 milhão em um grupo americano, Buffalo Color Corp.
AP
Período Evento 13
1979
A aquisição da Rainha teve como objetivo adquirir tecnologia, melhorar os métodos de produção e
concentrar o mercado brasileiro de artigos esportivos Premium nas mãos da São Paulo Alpargatas.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1979 Indivíduo Diretoria Emissão de ações.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 14
110
1980-1988
Para contornar os problemas da década de 80, a empresa tomou medidas administrativas que
buscaram a redução de custos e despesas fixas, o aumento da produtividade, a elevação da
capacidade de processamento de dados, a concentração dos investimentos nas áreas de negócios
que apresentavam melhores condições de mercado, e a agilização no desenvolvimento de novos
produtos.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1983 Microambiente
Indústria
Têxtil
Encarecimento do algodão de 400% a
500%
Dinâmica das
Matérias-Primas
(Dificuldade de
Suprimento)
1980-1992
Macroambiente Brasil
Recessão, Hiperinflação, congelamento
de preços frustrados. Conhecida como a
“Década Perdida”.
Econômico-Social
Desfavorável
AP
Período Evento 15
1953
A São Paulo Alpargatas passou por uma dificuldade no atendimento dos pedidos, fruto de um
racionamento de energia elétrica. A empresa havia feito investimentos em força própria em 1925,
mas as instalações não haviam sido renovadas e nem acompanhado o crescimento da demanda de
eletricidade da companhia.
AD
Período Evento 16
1985
A empresa passou por um comprometimento da produtividade da Divisão Têxtil, quando as
tendências da moda exigiram da empresa um nível de flexibilidade no sistema produtivo que
inviabilizou o regime de plena utilização.
AD
Período Evento 17
1980-1988
O achatamento das margens durante os longos períodos de inflação em função dos constantes
reajustes das matérias-primas e do rígido controle de preços dos produtos acabados.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1983 Microambiente
Indústria
Têxtil
Encarecimento do algodão de 400% a
500%
Dinâmica das
Matérias-Primas
(Dificuldade de
Suprimento)
1980-1992
Macroambiente Brasil
Recessão, Hiperinflação, congelamento
de preços frustrados. Conhecida como a
“Década Perdida”.
Econômico-Social
Desfavorável
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.21 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” durante o Desenvolvimento da SPASA
4.2.4 Gestão da Diversidade
A análise da evolução das classes de indicadores quantitativos de
“Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.9) e de “Eficiência
Administrativa” (Figura 4.12) foi de grande auxílio para a compreensão do nível de
integração das estruturas produtivas e administrativas da companhia. O primeiro
ajudou na identificação da evolução dos custos operacionais totais da companhia,
enquanto o segundo indicador ajudou a identificar em que medida as alterações
nestes custos operacionais foram oriundos de despesas gerais, com vendas e
administrativas.
111
Evolução do Custeio da Estrutura Administrativa
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
1941 1944 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986
% Lucro Bruto
Desp. Vendas, Adm. e Soc. / Lucro Bruto
1965-1978
"Milagre Econômico"
Incentivos Produtivos
Derramamento de Recursos
1981-1989
"A década
perdida"
Recessão e
Hiperinflação
1939-
1945
II Guerra
Aumento
Geral de
Preços
1946-1950
Restrição
ao Crédito
e Flutuação
Cambial
1950-1960
Instabilidade Econômica
Aumento do
Desemprego
1960-1968
Recessão,
Combate à
Inflação e
Incentivos à
Exportação
Lanc. Brim
Coringa:1946
Início Colchas
(Chenil): 1967
Topper:1976
Rainha:1979indigo blue
US Top:1972
Jeaneration:
1983
Nike; Arrow: 1986
Início Exportações:
1964
Havaianas:
1962
Início Confecções
(Far-West): 1954
Nacionalização
do Capital:1948
Top Plus:
1984
Fonte: Vide Anexo 8
Figura 4.12 Eficiência Administrativa da SPASA na fase de Desenvolvimento
Gestão da Diversidade tendente à Integração
Entre os eventos que sugerem uma busca pela integração da diversidade,
pode-se destacar a realização, em 1947 e em 1948, de convenções de
vendedores da companhia, que contou com a participação, como convidados, de
representantes da A.S.A.I.C. e da Fábrica Uruguaya de Alpargatas (SPASA, 1947-
1948).
No mesmo ano, 1947, em meio à restrição dos créditos bancários, a
companhia antecipou, ainda em fevereiro, o pagamento dos domingos e feriados
de todos os funcionários, que em contrapartida, retribuíram, segundo a direção da
empresa, com uma melhoria significativa da assiduidade e do desempenho no
trabalho. Na verdade, a dedicação dos colaboradores para com a companhia e o
recíproco reconhecimento da diretoria, expresso em palavras contidas em quase
todos os relatórios anuais, e em ações através da concessão de benefícios e de
programas de treinamento, foi outro fato que mereceu destaque como indício de
integração da diversidade. Por conta dessa sólida relação, a companhia passou
ilesa, por exemplo, aos movimentos grevistas de 1945 e 1953 (SPASA, 1945;
SPASA, 1953).
112
A estrutura administrativa de forma geral parece ter-se mantido íntegra durante
a fase de Desenvolvimento. A análise da Figura 4.12 sugere que mesmo o
estrondoso crescimento da companhia não afetou o seu nível de eficiência, cujo
custeio se manteve flutuando entre 30% e 40% do Lucro Bruto na maior parte do
tempo. Pode-se associar esses níveis de eficiência aos resultados das
reestruturações organizacionais promovidas durante as décadas de 70 e 80 (a
primeira ocorreu em 1972, a segunda em 1980, e a terceira foi conduzida em
1988). O objetivo expresso das mudanças era melhorar a dinâmica de atendimento
aos clientes, o alinhamento entre as vendas e a produção, e melhorar o fluxo de
informações e a comunicação dentro das equipes.
Um outro indício de busca pelo melhor da heterogeneidade, neste caso de
investidores, foi expresso por Davi Moreira, um funcionário da São Paulo
Alpargatas envolvido na colocação de 284,8 milhões de novas ações no final de
1982 (BOLSA, 01/11/1982, pág. 38).
“A empresa deseja a presença dos institucionais, mas quer
também a convivência dos mais variados horizontes de tempo nas
expectativas de investidores. Isso quer dizer que nós não desejamos
ter a presença dominante de nenhum tipo específico de investidor,
mas, sim, possuir desde o especulador, até aquele investidor
permanente da companhia, porque, na medida em que se tem a
convivência dos mais variados tipos de aplicadores, das mais variadas
escalas de preferência em relação ao tempo do investimento, se
viabiliza um padrão de liquidez mais adequado para as ações da
companhia.”
Davi Moreira
Funcionário da São Paulo Alpargatas em 1982
Fonte: BOLSA (01/11/1982)
Gestão da Diversidade tendente à Fragmentação
Um evento que apontou para uma tendência à fragmentação da diversidade da
companhia foi a manutenção, em separado, da estrutura administrativa da Rainha,
desde sua aquisição, em 1979, até o ano de 1982, quando foi constituída a Penta
Artigos Esportivos S.A., resultado da fusão da primeira com a Guardian S.A e
113
Alpargatas Confecções Sul. A formação da Penta, em 1982, concentrou todas as
atividades operacionais ligadas a artigos esportivos. No entanto, a empresa
continuou autônoma em termos legais, contábeis e operacionais em relação à São
Paulo Alpargatas. Só era integrada em nível financeiro e administrativo, incluindo
planejamento estratégico, recursos humanos, e compra de materiais (EXAME,
1984a, pág. 183).
Síntese sobre a Gestão da Diversidade
Constatou-se a existência de indícios que apontam prioritariamente para uma
tendência de integração da diversidade da companhia durante a fase de
Desenvolvimento. A evolução do custeio administrativo (Figura 4.12) e da relação
entre o Lucro Bruto e as Receitas foram aparentemente mantidas sob controle,
apesar de o fraco desempenho econômico (lucro líquido) observado suscitar algum
tipo de fragmentação (Figura 4.9).
Em verdade, relatos qualitativos, de fontes secundárias, tais como edições da
Revista Exame, dão conta de que o crescimento da empresa foi tornando-a
“feudalizada”, dando espaço a uma burocracia excessiva e a uma dificuldade de
comunicação. Adicionalmente, se for levado em questão que a fase de
Desenvolvimento resultou numa fase de Crise cuja resolução veio através de um
enxugamento das operações, tem-se reforçada a hipótese de que, mesmo
cuidando da integração da diversidade em algumas dimensões, a forma e/ou o
ritmo de crescimento da empresa, principalmente durante os anos 70 e 80,
causaram fragmentações em outras dimensões vitais à empresa.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Diversidade” durante o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.22.
114
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Gestão da Diversidade
A manutenção da eficiência administrativa (Figura 4.12) entre 30% e
40% do Lucro Bruto sugere uma gestão da diversidade tendente à
integração.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à A utodestruição N Neutro
Tabela 4.22 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Diversidade” durante o Desenvolvimento da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Diversidade”, obtidas durante o Desenvolvimento da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.23.
Análise dos Traços Organizacionais Gestão da Diversidade
Período Evento 1
1947-1948
A realização de convenções de vendedores que incluíram representantes da ASAIC como
convidados demonstra uma tentativa de integrar e compartilhar as experiências das forças de
vendas.
AP
Período Evento 2
1941-1988
O fortalecimento do relacionamento empregador-empregado (mecanismo de existência continuada)
sugere a promoção da integração da diversidade
AP
Período Evento 3
1972-1988
Reestruturações organizacionais em 1972, 1980 e 1988 que procuraram manter a estrutura
administrativa íntegra sugerem ações de promoção da integração da diversidade.
AP
Período Evento 4
1982
A busca pelo equilíbrio entre os diversos tipos de investidores promoveu um bom índice de liquidez
às ações da companhia, o que viabilizou a atratividade do papel e a captação de recursos no
mercado mobiliário (integração da diversidade fornecendo subsídio à captação de recursos).
AP
Período Evento 5
1979-1984
A autonomia legal, contábil e operacional de subsidiárias ligadas às atividades principais da
empresa, como a Rainha e a Penta, sugerem uma fragmentação da diversidade. As empresas eram
ligadas somente em nível financeiro e administrativo, incluindo planejamento estratégico, recursos
humanos, e compra de materiais.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.23 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” durante o Desenvolvimento da SPASA
4.2.5 Gestão da Complexidade
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Solidez Econômica”
(Figura 4.10) e de “Liquidez” (Figura 4.11) foi de grande auxílio para a identificação
das ações, sistemáticas ou casuísticas, executadas pela companhia. O primeiro
115
ajudou na identificação de indícios de uma gestão sistemática ou casuística da
formação de reservas, de investimentos e de endividamento. O segundo indicador
ajudou a detectar sinais de uma gestão sistemática ou casuística da estrutura de
caixa e dos estoques.
Gestão Sistemática
A gestão sistemática de problemas se evidenciou em várias dimensões durante
o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas. Uma delas, foi na gestão da política
de investimentos e de financiamento, e na gestão do caixa. A partir de 1939, a
empresa retomou a política de formação de reservas, que oscilou entre 40% e 60%
do ativo durante a década de 40 e entre os anos de 1975 e 1985. Nos demais
períodos, os níveis de reserva muito se assemelharam aos patamares registrados
entre a segunda metade da década de 10 e a primeira metade da década de 30,
isto é, entre 20% e 30% do ativo. (Vide Figura 4.10). Quanto à liquidez, seus níveis
oscilaram durante a década de 40, e apresentaram trajetória estável, de leve
crescimento, a partir de 1977. Não obstante, em nenhum momento se evidenciou
um nível de liquidez seca abaixo de “1” (Vide Figura 4.11).
Nas iniciativas sociais, além de provisionamentos financeiros sistemáticos
destinados a esse fim, a companhia implantou, em 1941, o Programa de Serviços
Sociais, que envolveu a criação, no mesmo ano, de um restaurante, uma
cooperativa e um ambulatório médico. Em 1943, o programa foi estendido com a
incorporação da gratificação natalina para todos os funcionários e a instalação de
uma clínica dentária. Em 1946, nova extensão propiciou a instalação de um
armazém de cosméticos e uma farmácia para a venda a preços reduzidos. Durante
a década de 70, a companhia disponibilizou assistência médica e odontológica
(interna e externa), biblioteca, armazém de abastecimento, e um programas de
treinamento e desenvolvimento. Em 1976, foram aplicados Cr$ 10.000.000,00 em
serviços sociais, e em 1977, Cr$ 14.000.000,00. Os provisionamentos para outras
obras dessa natureza também continuaram a ser sistematicamente realizados.
(SPASA, 1941-1950; SPASA, 1976-1977).
Com relação ao lançamento de novos produtos, tiveram destaque: (1)
Lançamento do brim Coringa em 1946; (2) calças “Far-West” em 1954; (3)
116
calçados “Sete-Vidas“ em 1955; (4) Bamba, Passo Doublé, Sete-Léguas,
Havaianas, Calças Coringa, Rodeio, Topeka, Macacão Mecânico e Colchas
Madrigal durante a década de 60; (5) índigo blue, confecções US Top, artigos
esportivos Topper, Conga Allcolor na década de 70; (6) artigos Nike, camisas
Arrow, confecções Jeaneration e Top Plus durante a década de 80.
Na parte de expansão da produção, os investimentos da década de 40 foram
concentrados na implantação de uma fábrica de 7 andares localizada junto à
fábrica da Mooca, cuja construção teve início em 1945 e foi concluída em 1949. Na
década de 50, a produção foi expandida com a conclusão de uma nova unidade
em 1953 e com o início da operação da fábrica de São José dos Campos, ainda
em 1960 (SPASA, 1945; SPASA, 1950). Durante as décadas de 70 e 80, a São
Paulo Alpargatas continuou a expandir sistematicamente. Fez investimentos no Rio
Grande do Sul e na Região Norte e Nordeste, fechando a primeira década com 18
fábricas e a segunda com 28.
Com relação à sistemática de distribuição, mereceu destaque a constituição, a
partir de 1946, de uma força de vendas própria, capaz de cobrir todos os pontos de
venda espalhados pelas regiões e distritos brasileiros, do atacadista ao pequeno
varejista, com pronta entrega, efetuando a venda, entrega, recebimento e
divulgação dos produtos. Enquanto uns percorriam os grandes centros como São
Paulo e Rio de Janeiro, outros percorriam os interiores, visitando fazendas, praças
e campos de futebol, utilizando jipes equipados com pás e enxadas, tirantes e
pneus sobressalentes, instrumentos utilizados para vencer a ausência de estradas
da época. Além de tornar a São Paulo Alpargatas auto-suficiente na distribuição de
seus produtos e aproximar a empresa dos usuários finais, a adoção da força de
vendas própria propiciou uma redução do risco de crédito. Durante as décadas
seguintes o sistema continuou sendo ampliado com a contratação de mais
vendedores. (SPASA, 1951-1960; BOLSA, 12/04/1982, pág. 31, SPASA, 1987a).
As exportações também foram intensificadas progressivamente a partir da
década de 60. Em 1970, representavam U$ 1.158.384. Em 1980, atingiram U$
29.492.946. As evidências da sistematização do programa de exportações da
companhia podem ser verificadas no comentário de Ivo Miranda Reis, em 1986,
então diretor de relações com o mercado (BOLSA, 01/12/1986, pág. 31).
117
“Não há a menor intenção de se desviar a produção para o
mercado interno. Nosso programa de exportação é contínuo e
independe da demanda interna. A meta para este ano é exportar U$ 70
milhões e será cumprida.”
Ivo Miranda Reis
Diretor de Relações com o Mercado da São Paulo Alpargatas em 1986
Fonte: Bolsa (01/12/1986)
De fato, mesmo em momentos de euforia no mercado interno, como foi o Plano
Cruzado, em 1986, a São Paulo Alpargatas manteve seus esforços de expansão
das atividades no exterior. Tanto que, no mesmo ano, foi consolidado um escritório
de representação em Frankfurt, na Alemanha, que, junto com o de Miami, ajudou a
exportar 73,2 milhões de dólares, 32% a mais que em 1985 (BOLSA, 07/06/1982,
pág. 28, EXAME, 08/07/1987)
Além dos eventos supracitados, outros comportamentos da companhia
mereceram destaque como uma forma sistemática de resolução de problemas,
entre eles: (1) A preocupação com a manutenção de estações de tratamento de
água e filtros nas plantas passíveis de ocorrer poluição; (2) A renovação
sistemática de apólices de seguro, havendo inclusive cobertura contra lucros
cessantes; (3) A preocupação em desenvolver tecnologia nacional (índigo blue e
aquisição da Rainha); (4) A manutenção da forma tradicional de captação de
recursos, via financiamentos externos, geração própria de caixa, mercado
acionário e empréstimos bancários; (5) A política sistemática de compra de
algodão, matéria-prima de maior peso nos custos da companhia, que envolveu a
aquisição de equipamentos modernos e computadorizados para o controle, com
maior rapidez e eficiência, das características de qualidade do algodão adquirido
pela companhia. Além disso, a empresa manteve-se ativa na colaboração junto ao
CAB (Comitê Permanente de Acompanhamento da Qualidade do Algodão
Brasileiro) até 1988, cujo objetivo era melhorar a qualidade dessa matéria-prima;
(6) A preocupação em melhorar o serviço prestado aos clientes, seja flexibilizando
as linhas de produção, seja no atendimento de pós-venda. Essa preocupação
parece ter se perpetuado até os dias atuais, como mostra o relato de Ketiane,
sócia proprietária das Casas Rios, que já trabalha com os produtos Alpargatas há
mais de 20 anos.
118
"Quando tem algum lote com problema, aí eles já avisam logo e,
nesse caso, a fábrica entra em contato direto com a loja. Mas isso
aconteceu somente uma vez, por conta, me parece, de uma cola nova
que eles tinham usado e que estava dando defeito em todo lugar.
Então, eles já entraram em contato para que qualquer reclamação
fosse prontamente indenizada ou o produto fosse trocado, que eles se
responsabilizariam. Mas a gente não tem problemas com a Alpargatas
nesse sentido. Existem fábricas que você vê que o problema é
realmente um defeito de fabricação, a gente troca o sapato, e para eles
nos indenizarem é uma novela. Acabam não indenizando. Ficam
botando banca, dizem que não é defeito de fabricação e etc."
Ketiane
Sócia-proprietária das Casas Rios
Fonte: Entrevista conduzida em 22/05/2005
Gestão Casuística
Dos eventos que apontam para uma gestão casuística da complexidade,
destacaram-se: (1) Parte do prejuízo verificado nos primeiros seis meses de 1983
deveu-se em parte à falta de proteção cambial da empresa. Embora extremamente
capitalizada e com endividamento de apenas 0,4%, a São Paulo Alpargatas tinha
dívida em dólar, vinculada à importação de equipamento. Com a
maxidesvalorização da moeda nacional, o impacto negativo no balanço da
companhia tornou-se inevitável (BOLSA, 13/08/1984, pág. 40); (2) Até 1983, a
empresa se deixou surpreender pela evolução do índice inflacionário e suas
vendas perderam valor no prazo de 60 dias entre o faturamento e o recebimento. A
partir de 1984, os preços de vendas passaram a incluir uma expectativa mais real
de inflação (BOLSA, 13/08/1984, pág. 40); (3) Em 1986, a empresa teve uma
queda de produtividade na Divisão Têxtil, a despeito de ter operado a plena
capacidade, em função da escassez de matérias-primas, principalmente químicas,
e do déficit no fornecimento de energia elétrica. Tais medidas poderiam ter sido
contingenciadas, caso tivesse havido um trabalho sistemático de programação da
produção (SPASA, 1986, pág. 12); (4) Por fim, o controle do ritmo de expansão, foi
feita de forma casuística durante a década de 70 e 80. A evidência está na
evolução crescente do faturamento concomitante a uma redução do lucro líquido
no período (Vide Figura 4.9).
119
Síntese sobre a Gestão da Complexidade
Constataram-se ações sistemáticas de crescimento ligadas à expansão e
modernização da produção, distribuição, lançamento de novos produtos e
manutenção da solidez econômico-financeira. Alguns indícios pontuais de gestão
casuística da complexidade também foram identificados. O mais importante deles
diz respeito à deficiência no acompanhamento e na correção das razões que
levaram a empresa a elevar o seu faturamento de forma descolada do lucro
líquido.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Complexidade” durante o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.24.
120
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
A trajetória sem fortes volatilidades dos níveis de reservas e dos níveis
de dívidas (Figura 4.10) sugerem uma gestão sistemática da política
de investimentos e de financiamento.
AP
O estável crescimento dos índices de liquidez corrente e seca sugerem
uma gestão sistemática da estrutura de caixa (Figura 4.11).
AP Gestão da Complexidade
A manutenção alinhada a padrões históricos, da área entre a curva do
indicador de liquidez corrente e a curva do indicador de liquidez seca,
sugere uma gestão sistemática dos estoques
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.24 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Complexidade” durante o Desenvolvimento da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Complexidade”, obtidas durante o Desenvolvimento da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.25.
Análise dos Traços Organizacionais
Período Evento 1
1941-1988
Gestão sistemática da política de investimentos, financiamento e de caixa
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1940-1988
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
Investimentos em promoção dos
produtos e das marcas através de
propagandas, patrocínios e campanhas
sociais.
Boa Capacidade de
Gestão / Gestão
Sistemática
AP
Período Evento 2
1941-1988
Investimentos em benefícios sociais e em treinamento para os funcionários.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1941-1988
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
Reativação do mecanismo de existência
continuada. Verificou-se um crescimento
da empresa e o encarreiramento dos
funcionários.
Comprometimento de
Longo Prazo / Gestão
Sistemática de RH
AP
Período Evento 3
1946-1988
Lançamento recorrente de novas linhas de produtos, novos modelos e diversificação das atividades.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1954-1988
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
Integração vertical para frente. A
companhia passou a atuar no segmento
de confecções.
Ambição Salutar e
Boa Versatilidade /
Gestão Sistemática
1965-1988
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
Aquisição de empresas e lançamento de
uma infinidade de novos produtos e
modelos.
Ambição Salutar e
Boa Versatilidade /
Gestão Sistemática
AP
Período Evento 4
1941-1988
Expansão contínua da produção através da constituição, aquisição e modernização das fábricas e
dos métodos de trabalho.
AP
Período Evento 5
1962-1988
Política de expansão contínua das exportações, estabelecendo inclusive escritórios no exterior. AP
Período Evento 6
121
1981-1988
Preocupação com a manutenção de estações de tratamento de água e filtros nas plantas passíveis
de ocorrer poluição.
AP
Período Evento 7
1981-1988
A renovação sistemática de apólices de seguro, havendo inclusive cobertura contra lucros
cessantes.
AP
Período Evento 8
1972-1979
A preocupação em desenvolver sistematicamente tecnologia nacional (brim Coringa, índigo blue e
calçados esportivos Rainha).
AP
Período Evento 9
-1988
A política sistemática de compra de algodão, matéria-prima de maior peso nos custos da
companhia, que envolveu a aquisição de equipamentos modernos e computadorizados para poder
controlar, com maior rapidez e eficiência, as características de qualidade do algodão adquirido pela
companhia. Além disso, a empresa manteve-se ativa na colaboração junto ao CAB até 1988, cujo
objetivo era melhorar a qualidade dessa matéria-prima.
AP
Período Evento 10
-1988
A preocupação em melhorar o serviço prestado aos clientes, seja flexibilizando as linhas de
produção, seja no atendimento de pós-venda.
AP
Período Evento 11
1983
Parte do prejuízo verificado nos primeiros seis meses do ano deveu-se em parte à falta de proteção
cambial da empresa.
AD
Período Evento 12
1983
A empresa se deixou surpreender pela evolução do índice inflacionário e suas vendas perderam
valor no prazo de 60 dias entre o faturamento e o recebimento.
AD
Período Evento 13
1986
A empresa teve uma queda de produtividade na Divisão Têxtil, a despeito de ter operado a plena
capacidade, em função da escassez de matérias-primas, principalmente químicas, e do déficit no
fornecimento de energia elétrica.
AD
Período Evento 14
1970-1988
Fragmentação da diversidade e crescimento sem lucratividade durante a década de 70 e 80. AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à A utodestruição N Neutro
Tabela 4.25 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” durante o Desenvolvimento da SPASA
4.2.6 Formação da Estrutura Gerencial
Antecipada (Right-in-Time)
Entre os eventos que apontaram para uma formação da estrutura gerencial de
forma antecipara estão: (1) A assunção de Keith Bush à Presidência Executiva, em
1964, após 18 anos dedicados à empresa brasileira. O argentino iniciou sua
carreira na A.S.A.I.C., e em 1946 veio para o Brasil, enviado por Robert Fraser
(Don Alberto), para assumir o cardo de subgerente. (2) A assunção de David
Reeves à Diretoria de Operações, em 1977, após 17 anos de serviços prestados à
companhia, nos cargos de Gerente da Fábrica de São José dos Campos, Gerente
da Divisão de Calçados, Gerente da Divisão de Manufaturados Têxteis. O mesmo
David Reeves assumiu a presidência executiva da companhia em 1980, quando a
presidência do conselho de administração foi ocupada por membro distinto àquele
122
ocupante da presidência executiva da companhia; (3) A assunção de Martim
Affonso dos Anjos ao cargo de Diretor, em 1978, após 15 anos de serviços
prestados à companhia; (4) A assunção de Alberto Bacchiocchi ao cargo de
Diretor, em 1983, após 21 anos de serviços prestados à companhia, e ao cargo de
Diretor Superintendente em 1988; (5) A assunção de Ivo Miranda Reis ao cargo de
Diretor, em 1983, após 6 anos de serviços prestados à companhia, e ao cargo de
Diretor Superintendente em 1988; (6) A assunção de Pérsio Dalle Piagge ao cargo
de Diretor Superintendente, em 1988, após 6 anos de serviços prestados à
companhia; e por fim, (7) a assunção de Odilon E. A. Souza, Renato Pasqualini,
Konrad Robert Keller, Abel Pascual López, Andráz Gyorgy Vásárhelyi e Mário
Norberto Barros Gomes, todos funcionários de carreira, ao corpo de Diretores da
companhia (SPASA, 1982b; PORTO, 2005).
Sob Demanda (Just-in-Time)
Entre os eventos que apontaram para uma formação da estrutura gerencial
sob-demanda, estão: (1) A contratação de Roberto D’Utra Vaz para o cargo de
Gerente da Divisão Financeira e Administrativa, em 1977; e (3) A contratação de
Milton Correa Henrique, ex-diretor financeiro da Gillete, em 1985, e sua assunção
à diretoria em 1986.
Síntese sobre a Formação da Estrutura Gerencial
Foram constatados vários indícios de uma postura sistemática de antecipação
às necessidades gerenciais, a despeito de a São Paulo Alpargatas ter recorrido,
em algumas circunstâncias pontuais, ao recrutamento de executivos no mercado,
como no caso da contratação de Roberto D’utra Vaz e Milton Correa Henrique.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não houveram constatações a partir dos indicadores quantitativos a respeito da
dimensão “Formação da Estrutura Gerencial” durante os Primeiros Passos da São
Paulo Alpargatas.
123
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Formação da Estrutura Gerencial”, obtidas durante o Desenvolvimento da São
Paulo Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.26.
Análise dos Traços Organizacionais Formação da Estrutura Gerencial
Período Evento 1
1964
Assunção de Keith Bush à presidência executiva após 18 anos de serviços prestados à empresa,
tendo atuado na fábrica da Argentina, e ingressado na fábrica brasileira como subgerente.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1964-1988
Indivíduo Keith Bush
Responsável pela fase de maior
crescimento da São Paulo Alpargatas.
Boa Capacidade de
Gestão
AP
Período Evento 2
1977
Assunção de David Reeves à presidência executiva após 17 anos de serviços prestados à São
Paulo Alpargatas.
AP
Período Evento 3
1978
Assunção de Martim Afonso dos Anjos ao corpo de Diretores após 15 anos de serviços prestados à
São Paulo Alpargatas.
AP
Período Evento 4
1983
Assunção de Alberto Bacchiocchi ao cargo de Diretor após 21 anos de serviços prestados à
empresa.
AP
Período Evento 5
1983 Assunção de Ivo Miranda Reis após 26 anos de serviços prestados à empresa. AP
Período Evento 6
1988
Assunção de Alberto Bacchiocchi ao cargo de Diretor Superintendente após 26 anos de serviços
prestados à empresa.
AP
Período Evento 7
1988
Assunção de Pérsio Dalle Piagge ao cargo de Diretor Superintendente após 6 anos de serviços
prestados à empresa.
AP
Período Evento 8
1977 Contratação de Roberto D’utra Vaz para o cargo de Gerente da Divisão Financeira e Administrativa. AD
Período Evento 9
1985 Contratação de Milton Correa Henrique e sua assunção ao corpo de Diretores no ano seguinte. AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.26 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” durante o Desenvolvimento da SPASA
4.2.7 Folga
Foi possível observar uma preocupação com a folga financeira necessária para
reforçar o crescimento da companhia (Vide Figura 4.10 e 4.11). Além disso, foram
constatadas, também, folga nas seguintes formas: (1) expansão da capacidade de
produção para além da demanda; (2) fortalecimento das marcas da empresa; (3)
licenciamento exclusivo de marcas de terceiros (Nike e Arrow); (4) diversificação
124
das atividades; (5) conquista de novos mercados, incluindo o exterior; (6)
desenvolvimento e absorção de tecnologia (índigo blue e calçados esportivos
Rainha); (7) estabelecimento de uma relação de confiança mútua entre a empresa
e o corpo de funcionários; entre outros.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Folga”
durante o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, segue disposta na Tabela
4.27.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
A elevação progressiva dos índices de liquidez apontam para a
manutenção e formação adicional de folga financeira de curto prazo
(Figura 4.12)
AP
A trajetória relativamente estável do custeio da estrutura administrativa
indica que a estrutura administrativa não sofreu ajustes bruscos em
função das volatilidades do ambiente o que sugere a manutenção da
folga em períodos de recessão.
AP
Folga
Entre 1941 e 1945, e 1963 e 1983, os níveis de reservas cresceram
progressivamente, o que aponta para a formação de folga financeira
disponível para financiar o crescimento da empresa.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.27 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Folga” durante o Desenvolvimento da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Folga”, obtidas durante o Desenvolvimento da São Paulo Alpargatas, segue
estruturada na Tabela 4.28.
Análise dos Traços Organizacionais Folga
Período Evento 1
1941-1988
A expansão progressiva da capacidade de produção, das linhas de produtos, dos mercados,
incluindo o exterior, e das atividades da São Paulo Alpargatas, sugerem a formação de folga na
forma de caminhos abertos para expansões futuras e na forma de recursos para a defesa da
empresa contra agravos do ambiente.
AP
Período Evento 2
1941-1988
As ações de assistência e promoção de benefícios sociais aos funcionários, as gratificação e a
política de treinamento e capacitação sugerem a formação de folga na forma de confiança mútua na
relação empregador-empregado.
AP
Período Evento 3
125
1946
A formação de uma força de vendas própria cobrindo todo o território brasileiro sugere a formação
de folga na forma de consolidação da companhia, de suas marcas, e de seus produtos; e na forma
de recursos com eventual possibilidade de melhor aproveitamento (vendedores). Adicionalmente,
uma força de vendas própria gera folga na forma de proteção contra perdas.
AP
Período Evento 4
1946-1988
As inovações e a detenção de tecnologias como: a do Brim sanforizado, a do índigo blue, a da
produção de calçados esportivos de alta tecnologia, sugerem a formação de folga na forma de
controle do ambiente e utilização deste para ampliações futuras e captura de valor.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.28 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” durante
o Desenvolvimento da SPASA
126
4.2.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-
Autoperpetuação
As tabelas 4.29, 4.30, 4.31 apresentam o posicionamento da São Paulo
Alpargatas no continuum de propensão à autodestruição-autoperpetuação para a
fase de Desenvolvimento.
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Empreendedorismo 7 1 0 6 75,00
Motivação para Expansão 37 2 0 35 89,74
Atitude para a Mudança 14 3 0 11 64,70
Gestão da Diversidade 5 1 0 4 66,66
Gestão da Complexidade 13 4 0 9 52,94
Formação da Estrutura
Gerencial
7 2 0 5 55,55
Tabela 4.29 Posicionamento do Desenvolvimento por Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Crescimento Contínuo 58 6 0 52 81,25
Manutenção da Integridade
Organizacional
25 7 0 18 56,25
Folga 7 0 0 7 100,00
Tabela 4.30 Posicionamento do Desenvolvimento por Grupo de Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Fase “O Desenvolvimento” 90 13 0 77 74,75
Tabela 4.31 Posicionamento Geral do Desenvolvimento
AD
AP
127
4.3 A Crise (1989-1996)
A fase de Crise da São Paulo Alpargatas teve início em 1989, quando ficou
patente a necessidade de mudança no posicionamento estratégico da companhia.
A empresa começou a se deparar com dificuldades em manter a política de
crescimento industrial contínuo e o foco em produção. A diversificação havia
tornado muito alto o volume de recursos financeiros necessários para operar a
companhia, o que a expunha de forma mais acentuada às externalidades.
Adicionalmente, a concorrência desleal, principalmente no segmento de
confecções, estava cada vez mais acirrada, achatando consideravelmente as
margens dos produtos.
Foi nesse contexto que Diego Jorge Bush iniciou um processo de mudança na
companhia, que tinha como objetivo tirar o foco da companhia da produção e
redirecioná-lo para o mercado e para o cliente, tornando a empresa mais enxuta,
flexível, e dando prioridade aos investimentos essenciais ao seu negócio principal.
Tudo o que não fosse essencial deveria ser terceirizado. Apesar da riqueza
conceitual das mudanças, Diego Bush não conseguiu executar o plano de
transformação da companhia, em parte por causa das dificuldades advindas do
Plano Collor e do Plano Real, e em parte por falhas na condução do processo de
mudança interna das estruturas organizacionais.
4.3.1 Empreendedorismo
Assim como nas seções anteriores, a análise da evolução dos indicadores
quantitativos de “Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.13), da
“Solidez Econômica” (Figura 4.14) e de “Liquidez” (Figura 4.15) foi de grande
auxílio para a compreensão da dinâmica de expansão da São Paulo Alpargatas,
bem como do seu nível de exposição a riscos existenciais. O primeiro indicador
ajudou a analisar longitudinalmente os resultados das ações de
empreendedorismo da empresa e julgá-las quanto à presença de ambição,
versatilidade e julgamento. Os dois últimos indicadores foram importantes na
avaliação dos riscos existenciais e da capacidade de levantar novos créditos, já
que relacionam os níveis de reservas ao nível de endividamento de longo prazo
128
(risco existencial de longo prazo e capacidade de levantar empréstimos de longo
prazo) e apresentam uma visão sobre a gestão de caixa da companhia (risco
existencial de curto prazo e capacidade de levantar empréstimos de curto prazo),
respectivamente.
Evolução do Crescimento Relativo, do Valor Adicionado Relativo e da Lucratividade Relativa
-0,060%
-0,030%
0,000%
0,030%
0,060%
0,090%
0,120%
0,150%
0,180%
0,210%
0,240%
0,270%
0,300%
0,330%
0,360%
0,390%
0,420%
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
% PIB
Receitas / PIB Lucro Bruto / PIB Lucro Líquido / PIB
Plano Real: 1994Recordes Inflacionários
Terceirização de Atividades Secundárias
Integração Vertical para Frente
Perda Contrato Nike
Constituição Alpargatas-Santista
Criação da Divisão de Neg. Imob.
Lic.Mizuno
Lic. Timberland
Plano Collor
Fonte: Vide Anexos 5 e 8
Figura 4.13 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA durante a
Crise
Evolução das Reservas Disponíveis e do Nível de Endividamento
-30,00%
-20,00%
-10,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
% Ativo
Reservas / Ativo
Dívidas Longo Prazo / Ativo
Plano Real: 1994Recordes Inflacionários
Terceirização de Atividades Secundárias
Integração Vertical para Frente
Perda Contrato Nike
Constituição Alpargatas-Santista
Criação da Divisão de Neg. Imob.
Lic.Mizuno
Lic. Timberland
Plano Collor
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.14 Solidez Econômica da SPASA durante a Crise
129
Evolução da Liquidez Corrente e da Liquidez Seca
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
Ativo Circulante / Passivo Circulante (Ativo Circulante - Estoques) / Passivo Circulante
Plano Real: 1994Recordes Inflacionários
Terceirização de Atividades Secundárias
Integração Vertical para Frente
Perda Contrato Nike
Constituição Alpargatas-Santista
Criação da Divisão de Neg. Imob.
Lic.Mizuno
Lic. Timberland
Plano Collor
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.15 Liquidez da SPASA durante a Crise
Ambição, Versatilidade, Julgamento
Independentemente do nível de sistematização, muitas das ações imbuídas de
ambição, versatilidade e julgamento tomadas pela São Paulo Alpargatas durante a
fase de Crise foram de significativa relevância, tendo causado impactos notáveis
no comportamento das vendas (Vide Figura 4.13).
Como primeiro exemplo, pode-se destacar as ações de integração vertical para
frente, adotadas pela companhia no início dos anos 90, que resultaram na
montagem de 54 "shop-in-shops" (áreas de vendas exclusivas) em expressivas
organizações de rede de varejo e na inauguração de 14 lojas exclusivas
Jeaneration e 1 loja exclusiva Stravanganza através do sistema de franquia. As
iniciativas tinham como objetivo diferenciar as marcas da companhia e elevar as
margens de retorno e, portanto, representaram características de ambição e
versatilidade. Quanto ao julgamento, apesar das lojas supracitadas terem sido
vítimas de desinvestimentos no ápice da crise dos anos 90, o que pode sugerir
uma inadequação à iniciativa da companhia, a São Paulo Alpargatas manteve a
integração vertical para frente no setor de calçados e artigos esportivos, com a
130
implantação de lojas exclusivas Timberland e de lojas de descontos Meggastore.
Tal fato ressalta a necessidade estratégica de ter algum controle sobre os pontos
de distribuição quando se trabalha com marcas. No caso específico das
confecções, os resultados ruins (Vide Figura 4.13 período de 1990 a 1993) podem
ter sido função da própria dinâmica do segmento à época, que apresentava uma
concorrência desleal, informal e ilegal, extremamente punitiva, como mostra o
depoimento de Rui Porto.
“O Brasil, na época em que nós fomos mais confecção, era uma economia
fechada. Então, as confecções brasileiras não tinham a competição das coisas
de fora, o que nos punia também, por que aí nós lutávamos com confecções
brasileiras de fundo de quintal. Só pra te dar um último dado: US Top era
marca líder em vendas, e líder em “share of mind”, “share of voice”, em
qualquer pesquisa que você fizesse. A US Top era líder com 3%. Depois, o
segundo lugar, embaixo, vinha com 1,5%. Depois uma marca com 1% e etc.,
aí vinha “Outros” lá em baixo com 58%. Quase 60% eram outras marcas, e
numa relação de 25. E aí estava Staroup, estava Lee, estava Fórum, essas
marcas relacionadas, estava M. Officer, e depois, “Outros”, 58%. Então esse
era o mercado.”
“Você e eu, estou dando um exemplo um pouco... se a gente sair daqui e
resolver comprar uma casinha na Liberdade, onde ficam todos os
confeccionistas aqui de São Paulo, Coreanos e etc.; ou no Rio de Janeiro, na
rua da alfândega, junto com nossas mulheres, a gente consegue fazer uma
confecçãozinha. No primeiro mês vai muito bem, a gente contrata costureira e
etc., e em seis meses a gente está com uma confecção redonda. Se a gente
não quiser, não paga imposto, não paga nem funcionário, enfim, mão de obra
quase que semi-escrava, aqui em São Paulo! Existe isso no Rio de Janeiro
também.”
Rui La Laina Porto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevisa conduzida em 11/05/2005
Outro indício de ambição e versatilidade foi a intensificação dos investimentos
feitos no segmento de calçados infantis. Em 1990, em meio à atratividade das
margens do segmento, a companhia adquiriu equipamentos de produção que lhe
permitiram aumentar a oferta de modelos específicos para o público infantil
(SPASA, 1990). Em 1993, alinhado ao mesmo direcionamento estratégico, a São
Paulo Alpargatas incorporou a Âncora, fabricante dos tênis Bublegummers,
demonstrando mais uma evidência de ambição, versatilidade e julgamento.
131
Uma terceira iniciativa imbuída de ambição e versatilidade consistiu na
aquisição da Winston, em 1989, e na inauguração, no início de 1990, de sua
fábrica e de seus escritórios na Espanha. A Winston detinha os direitos de marcas
de confecções e calçados em diversos países da Europa, e a São Paulo
Alpargatas queria aproveitar a unificação do mercado europeu a partir de 1992,
para ampliar sua base de consumo e consequentemente suas margens de retorno
(EXAME, 1991, pág. 151). O julgamento da empresa, no entanto, foi equivocado, e
o objetivo do investimento não se concretizou. Em 1994, o Plano Real tornou os
preços dos produtos da companhia proibitivos no mercado externo. Associado a
isso, o agravamento da crise da empresa levou-a a concentrar seus esforços na
tentativa de racionalizar e reestruturar o negócio.
A quarta evidência de ambição e versatilidade consistiu na iniciativa de vender,
a partir de junho de 1991, calças US Top de porta em porta, utilizando a Avon
como canal de distribuição. Para a empresa, foi uma oportunidade de testar a
aceitação da marca num público-alvo ligeiramente mais elitizado a um custo
aparentemente desprezível. Reforçando a iniciativa, em agosto do mesmo ano, a
empresa colocou no ar uma campanha de U$ 2 milhões, destinada a ressaltar a
qualidade de seus produtos comparativamente aos de grifes, destacando, contudo,
o custo três vezes menor. (EXAME, 24/07/1991, pág. 73).
Uma quinta evidência de ambição, versatilidade e julgamento da São Paulo
Alpargatas esteve presente na iniciativa de desenvolver novos mercados para a
utilização de lonas. A empresa passou a ofertar, a partir de 1994, produtos
diferenciados como coberturas sintéticas de múltiplo uso e lonas translúcidas para
utilização no mercado publicitário (SPASA, 1994).
Outra evidência de ambição esteve presente na constituição da subsidiária
ALBRÁS S.A., na Argentina, em 1994, para viabilizar o fortalecimento da presença
da empresa no Mercosul. A ALBRÁS adquiriu participação total na CONASUR
S.A., uma empresa argentina detentora, à época, de licença das marcas
Converse/All-Star para Argentina e Uruguai (SPASA, 1997).
132
Por fim, outras evidências de ambição, versatilidade e julgamento puderam
ainda ser verificadas, tais como: (1) o licenciamento da marca Timberland para o
Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia, em 1995; e (2) o
licenciamento da marca Mizuno em 1996. Ambas as marcas eram desconhecidas
no Brasil, o que deu à São Paulo Alpargatas um grande potencial de desenvolvê-
las.
Comprometimento de Longo Prazo
Durante a crise dos anos 90, o relacionamento entre a São Paulo Alpargatas e
seus funcionários foi bastante abalado. Se por um lado, a empresa não suportava
mais o contingente de 34.500 funcionários, com os benefícios institucionais
atribuídos a eles, por outro lado, a forma como foram conduzidos os cortes feriram
de morte o mecanismo de existência continuada (Vide Figura 2.4), que se tornara
um valor da companhia desde a sua fundação. Enquanto dezenas de milhares de
pessoas perderam seus empregos, as que foram poupadas presenciaram a
continuação dos privilégios e da segregação da alta administração, que se tornou
cada vez mais isolada das atividades operacionais da companhia. Esses
acontecimentos propiciaram uma desmotivação generalizada dos funcionários num
momento crítico para a companhia. Personagens importantes chegaram a pedir
demissão, como foi o caso de Rui Porto, que depois acabou retornando à
empresa.
Capacidade de Levantar Fundos
De forma geral, a situação econômico-financeira de longo prazo da São Paulo
Alpargatas piorou bastante entre 1989 e 1996. As reservas chegaram a ser, em
algumas situações, insuficientes para cobrir as dívidas contratadas (Vide Figura
4.14). Nesse contexto, a utilização de capital próprio para a realização de novos
investimentos ficou bastante limitada e arriscada. A captação de novos
empréstimos de longo prazo (ainda viáveis em função de o capital social ter
permanecido livre para honrar novos compromissos com terceiros) ou o aporte de
novo capital por parte dos acionistas se configurou necessário para viabilizar a
tentativa de reestruturação da empresa.
133
De fato, os grandes investimentos do período devem ter sido bancados na sua
maioria por capital próprio ou dos acionistas, visto que o nível de endividamento
não cresceu (Figura 4.14). Em 1994, no auge da sua crise, a São Paulo Alpargatas
conseguiu a aprovação de recursos para incorporar 45% do capital votante da
Santista Têxtil, o que levou à fundação da Alpargatas-Santista Têxtil, que veio a
ser a solução para os problemas da Divisão de Confecções da companhia.
Busca pela Minimização dos Riscos Existenciais
Os riscos existenciais evidenciados durante a fase de Crise foram mais
elevados do que nas outras fases da história da companhia, dado o nível
desconfortável da relação entre as reservas e as dívidas de longo prazo, e o
grande número de investimentos simultâneos e desconexos (Vide Figura 4.14). A
única situação que confortava era a dos indicadores de liquidez. Mesmo assim, a
liquidez corrente apresentou uma queda progressiva e oscilou entre 2,5 e 1,5. A
liquidez seca apresentou um crescimento entre 1990 e 1991, quando chegou a
próximo de 1,5, e recuou novamente a patamares próximos de 1 em 1996 (Vide
Figura 4.15).
No caso específico da integração vertical para frente, os riscos envolvidos na
abertura das lojas não pareciam ser relevantes visto que não haviam barreiras de
saída aparente. Os estoques podiam ser liquidados, as luvas dos pontos poderiam
ser repassadas e os custos envolvidos na administração poderiam ser cortados no
curto-prazo. As maiores perdas envolveriam os recursos usados na configuração
das lojas, quando de propriedade da companhia. Quando de propriedade dos
franqueadores, as perdas provavelmente se resumiriam à quebra da confiança
depositada pelos parceiros na companhia.
Já os investimentos feitos na Espanha apresentaram como maior risco a falta
de conhecimento e experiência para operar no mercado europeu. Não obstante
isso, a contratação de executivos espanhóis como primeira medida tomada pela
empresa após a aquisição da Winston em 1989, atenuou de certa forma esse risco
(EXAME, 1991, pág. 151).
134
Síntese sobre os Traços de Empreendedorismo
Apesar de a São Paulo Alpargatas ter apresentado vários indícios de ambição
e versatilidade, e de não ter esgotado sua capacidade de financiamento, a
empresa comprometeu a estabilidade do relacionamento de longo prazo com seus
funcionários, e tomou níveis de riscos existenciais mais elevados. A empresa só
não foi exposta a um risco existencial mais significativo, por que a sua situação
econômico-financeira ainda era relativamente sólida e por que o capital votante
estava concentrado nas mãos da Camargo Corrêa, o que a protegeu contra a
ocorrência de um take-over.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão
“Empreendedorismo” durante a Crise da São Paulo Alpargatas, segue disposta na
Tabela 4.32.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Empreendedorismo
Com relação à administração do risco existencial, a Figura 4.14
evidencia que a São Paulo Alpargatas passou por níveis bastante
desconfortáveis de reservas durante a fase de Crise, abaixo até mesmo
dos níveis de dívida em alguns anos. Esse comportamento sugere um
aumento da dificuldade de fazer novos investimentos com recursos
próprios e de captar novos recursos de terceiros, o que eleva o risco
existencial da companhia. Sendo a gestão da redução do risco
existencial fator determinante para ações de empreendedorismo
audacioso, sugere-se que o modo de resposta da empresa foi tendente
a satisfatório durante a fase de Crise.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.32 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” durante a Crise da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Empreendedorismo”, obtidas durante a Crise da São Paulo Alpargatas, segue
estruturada na Tabela 4.33.
135
Análise dos Traços Organizacionais Empreendedorismo
Período Evento 1
1989
A aquisição da Winston, na Espanha, teve a finalidade de viabilizar a comercialização dos produtos
da São Paulo Alpargatas sob marcas próprias na Europa, e assim atenuar os problemas
macroeconômicos vividos pelo Brasil na época e as margens apertadas dos produtos exportados
como commodities. Os riscos envolvidos na aquisição da Winston, isoladamente, não pareciam ser
relevantes, mas o risco conjunto deste e de outros investimentos, tais como a compra da Terra e da
Norcalsa, tornou o empreendimento apenas satisfatório.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1989 Macroambiente Brasil
A defasagem cambial brasileira, que
ultrapassou 55%, tornou caro os
produtos brasileiros no mercado
externo, dificultando as exportações de
commodities.
Econômico
Desfavorável
1989 Macroambiente Brasil
Plano Verão e Congelamento de
Preços (CIP), principalmente dos
produtos acabados. Dificultou a vida da
empresas no mercado interno.
Econômico
Desfavorável
1989 Indivíduo Diretoria
Investimentos no segmento de
calçados finos de couro. Aquisição da
Terra.
Ambição Salutar e
Julgamento
Questionável
1989 Indivíduo Diretoria
Investimentos na elevação da produção
de calçados esportivos. Aquisição da
Norcalsa.
Ambição Salutar
AD
Período Evento 2
1989
A compra da Terra teve como motivação uma tentativa de adentrar segmentos de maior valor
agregado, como o de calçados finos de couro. A São Paulo Alpargatas não tinha tradição na
fabricação de calçados de couro. Além disso, o risco conjunto deste e de outros investimentos, tais
como a aquisição da Norcalsa e da Winston, tornou o empreendimento apenas satisfatório.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1989 Macroambiente Brasil
O ano foi de grande demanda no
mercado interno. A ameaça de
hiperinflação impulsionou a população
a consumir mais como forma de
garantir o seu poder de compra.
Econômico Favorável
1989 Macroambiente Brasil
Plano Verão e Congelamento de
Preços (CIP), principalmente dos
produtos acabados. Dificultou a vida da
empresas no mercado interno.
Econômico
Desfavorável
1989 Indivíduo Diretoria
Aquisição da Winston, na Espanha,
com o objetivo de consolidar as marcas
da empresa recém adquirida, no
mercado comum europeu.
Ambição Salutar e Boa
Versatilidade
1989 Indivíduo Diretoria
Investimentos na elevação da produção
de calçados esportivos. Aquisição da
Norcalsa
Ambição Salutar
AD
Período Evento 3
1989
A compra da Norcalsa permitiu a elevação da produção de calçados esportivos. Como a São Paulo
Alpargatas já operava no segmento, assumiu-se esse empreendimento como de pouco risco, a
despeito de ir de encontro com a política de desmobilização, terceirização e racionalização da
produção. Analisando os acontecimentos dos anos seguinte, percebe-se que a São Paulo
Alpargatas teve visão e antecipou investimentos que seriam necessários após a abertura da
economia.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1990 Macroambiente Brasil
Plano Collor I, inflação, confisco da
popança e abertura às importações.
Econômico-Social
Desfavorável
1990 Macroambiente Brasil
Plano Collor II, inflação e congelamento
ineficaz de preços.
Econômico-Social
Desfavorável
1990 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
A abertura às importações provocou um
acirramento da concorrência formal e
informal, principalmente nos produtos
de baixo valor agregado.
Acirramento da
Competição
AP
136
1990 Microambiente
Indústria de
Calçados
Invasão dos tênis importados de alta
tecnologia.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
Período Evento 4
1990
Integração Vertical para Frente com a Abertura de Lojas exclusivas Jeaneration e Stravaganza. O
objetivo do projeto era trabalhar o valor das marcas da empresa e melhorar as margens de lucro.
Foi um projeto que consumiu muito recurso e muita dedicação. Os riscos envolvidos, isoladamente,
não pareciam ser relevantes, dada a inexistência de barreiras de saída. Adicionalmente, o negócio
de lojas poderia ativar o motor de crescimento contínuo de expansão. Porém, o risco conjunto deste
e de outros investimentos tornou esse empreendimento apenas satisfatório.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1990 Macroambiente Brasil
Plano Collor I, inflação, confisco da
popança e abertura às importações.
Econômico
Desfavorável
1990 Macroambiente Brasil
Plano Collor II, inflação e congelamento
ineficaz de preços.
Econômico
Desfavorável
1990 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
A abertura às importações provocou um
acirramento da concorrência formal e
informal, principalmente nos produtos
de baixo valor agregado.
Acirramento da
Competição
1989-1993 Indivíduo Diretoria
Investimentos no segmento de
calçados infantis e aquisição da Terra,
Norcalsa, Winston e Âncora, entre
outras.
Ambição Salutar e
Julgamento
Questionável
AD
Período Evento 5
1990-1993
Investimentos em calçados infantis e a compra da Âncora. Novo nicho identificado pela São Paulo
Alpargatas como promissor. Os riscos envolvidos na expansão fabril e na aquisição da Âncora,
isoladamente, não pareciam ser relevantes, mas o risco conjunto deste e de outros investimentos
tornou o empreendimento apenas satisfatório.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1990 Macroambiente Brasil
Plano Collor I, inflação, confisco da
popança e abertura às importações.
Econômico
Desfavorável
1990 Macroambiente Brasil
Plano Collor II, inflação e congelamento
ineficaz de preços.
Econômico
Desfavorável
1990 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
A abertura às importações provocou um
acirramento da concorrência formal e
informal, principalmente nos produtos
de baixo valor agregado.
Acirramento da
Competição
1989-1990 Indivíduo Diretoria
Investimentos na aquisição da Terra,
Norcalsa, Winston, e Montagem de 54
"shop-in-shops e lojas exclusivas
Jeaneration e Stravanganza.
Ambição Salutar e
Julgamento
Questionável
AD
Período Evento 6
1994
A constituição da Albrás e a compra da Conasul objetivaram fortalecer a atuação da empresa no
Mercosul. A Conasul era detentora da licença da Converse/All Star para a Argentina e Uruguai. A
operação pareceu arriscada em função do momento de crise que a companhia vivia.
AD
Período Evento 7
1994
A aquisição de 45% do capital da Santista representou uma saída para a problemática da área têxtil
e de confecções índigo blue da São Paulo Alpargatas, que há muito agonizavam. O fato de ter sido
realizada a compra de parte da Santista, e não a venda de parte São Paulo Alpargatas sugere uma
atitude de extrema ambição, versatilidade e julgamento.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1994 Firma
São Paulo
Alpargatas
Em 1994, no auge da crise financeira
do setor de confecções, a São Paulo
Alpargatas conseguiu levantar junto a
seu maior acionista, o grupo Camargo
Corrêa, recursos para assumir 45% do
capital votante da Santista Têxtil.
Boa Capacidade de
Levantar Fundos
1994 Firma
São Paulo
Alpargatas
Apesar da situação econômico-
financeira degenerativa, a empresa
ainda estava com todo o Capital Social
livre de cobertura de dívidas e com
bons índices de liquidez, o que a
habilitava a tomar empréstimos de
longo e curto prazo, caso necessitasse.
Boa Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 8
137
1991
O experimento de vender calças de porta em porta junto com os produtos da Avon foi um sinal de
grande versatilidade e criatividade da empresa, a um baixo risco individual e coletivo.
AP
Período Evento 9
1993
A agregação do serviço de pronta-entrega aos atacadistas de São Paulo revelou uma versatilidade
e criatividade para lidar com a concorrência dos importados, sem envolver a empresa em situações
arriscadas.
AP
Período Evento 10
1994
O lançamento de coberturas sintéticas de múltiplo uso e lonas translúcidas para utilização no
mercado publicitário representou uma boa iniciativa empreendedora.
AP
Período Evento 11
1995
O licenciamento da marca Timberland foi marcado por uma capacidade de ambição e julgamento de
que era possível e provável o crescimento da marca no Brasil.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1995 Indivíduo Diretoria
Visualização de um potencial de
crescimento do conceito Outdoor no
Brasil.
Bom Julgamento
1995-2004 Indivíduo Diretoria
A Marca vêm crescendo a uma média
de 50% ao ano.
Bom Julgamento
AP
Período Evento 12
1996
O licenciamento da Mizuno, assim como da Timberland, foi marcado por uma capacidade de
ambição e julgamento que revelou ser possível utilizar o apelo da marca à tecnologia de
amortecimento de impacto para desenvolvê-la no Brasil.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1996 Indivíduo Diretoria
Visualização da Mizuno como potencial
substituto à Nike.
Bom Julgamento
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.33 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão
“Empreendedorismo” durante a Crise da SPASA
4.3.2 Motivação para Expansão
Motivações Produtivas
Durante a fase de Crise, a São Paulo Alpargatas continuou a apresentar
motivações produtivas para a expansão. A aquisição da Calçados Terra S.A., em
1989, foi uma expansão que permitiu à companhia realizar economias de escopo
(ativação do motor de crescimento contínuo de diversificação) e lhe habilitou a
ativar posteriormente, através da expansão das atividades em calçados de couro,
o motor de crescimento contínuo de expansão.
Da mesma forma, a aquisição da Winston S.A., na Espanha, também em 1989,
via a controlada Expasa Anstalt, possibilitou à São Paulo Alpargatas aumentar sua
demanda e usufruir de economias de escala, comercializando lá os artefatos
produzidos aqui (motor de crescimento contínuo de expansão). Com o tempo e o
138
alinhamento da produção às demandas européias, a companhia estaria habilitada
também a se utilizar de economias de escopo, adaptando a folga dos recursos
produtivos às novas demandas, e a desenvolver e expor continuamente as marcas
da Winston (motor de crescimento contínuo de expansão). Dessa forma, a
aquisição da Winston tanto no primeiro momento, quanto no momento
subseqüente, se configurou como uma motivação produtiva de expansão.
A aquisição da Norcalsa (Nordeste Calçados S.A.) via BESA, em 1989,
também propiciou o aumento da capacidade produtiva de calçados esportivos, o
ganho de escala e escopo (sinergias), e a ativação do motor de crescimento
contínuo de expansão (SPASA, 1989). A expansão teve, portanto, uma motivação
produtiva.
Os investimentos na expansão da produção de calçados infantis e a compra da
Âncora, em 1993, apresentaram uma motivação produtiva para a expansão. Tanto
os primeiros investimentos feitos no segmento como a compra da Âncora,
possibilitaram à empresa auferir economias de escala e escopo. No primeiro caso,
as economias de escala vieram do aumento da produção enquanto as economias
de escopo, do intercâmbio de recursos já existentes utilizados em outras seções.
No segundo caso, a Âncora trouxe consigo mais estruturas produtivas e diversos
recursos e conhecimentos que possibilitaram a obtenção de sinergias com a
estrutura da São Paulo Alpargatas.
Por fim, o projeto de desenvolvimento das Marcas Timberland e Mizuno
também representaram uma motivação produtiva de expansão. As marcas eram
praticamente desconhecidas no Brasil e muito bem conceituadas em outras partes
do mundo. A possibilidade de obter economias de escala com a difusão do
conceito Outdoor, bem como a possibilidade de extensão da linha de produtos das
duas marcas permitiu à empresa ativar o motor de crescimento contínuo de
expansão e de diversificação.
Motivação Híbrida
A aquisição de 45% do capital da Santista Têxtil representou uma motivação
híbrida para a expansão. Como fator produtivo, a transação permitiu à São Paulo
139
Alpargatas intercambiar recursos e competências com a Santista Têxtil e usufruir
de sua rede de distribuição por toda a América do Sul (economias de escopo).
Adicionalmente, o negócio permitiu elevar a escala de produção, reduzir custos e
melhorar a competitividade (economias de escala). Como fator defensivo, a
aquisição do capital da Santista e o conseqüente fortalecimento da São Paulo
Alpargatas no segmento têxtil e de confecções possibilitaram a diminuição do risco
de os acionistas decidirem cindir a Divisão e negoc-la no mercado, vendendo a
concorrentes como a Vicunha, que já havia inclusive demonstrado interesse. Além
disso, a compra da Santista reduziu a concorrência na indústria têxtil, tendo a São
Paulo Alpargatas se apropriado da fatia de mercado da mesma.
Síntese sobre as Motivações para Expansão
Durante o período de Crise, a São Paulo Alpargatas manteve a recorrência de
expandir por motivações produtivas e híbridas. Entre as primeiras pode-se
destacar a aquisição da Terra, da Winston e da Norcalsa, além dos investimentos
no segmento de calçados infantis. Entre as motivações híbridas cabe destaque a
aquisição de parte de 45% do capital da Santista Têxtil.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Motivação para Expansão” durante a Crise da São Paulo
Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Motivação para Expansão”, obtidas durante a Crise da São Paulo Alpargatas,
segue estruturada na Tabela 4.34.
140
Análise dos Traços Organizacionais Motivação para Expansão
Período Evento 1
1989
A aquisição da Calçados Terra S.A., em 1989, foi uma expansão que permitiu à companhia realizar
economias de escopo (ativação do motor de crescimento contínuo de diversificação) e lhe habilitou
a ativar posteriormente, através da expansão das atividades em calçados de couro, o motor de
crescimento contínuo de expansão.
AP
Período Evento 2
1989
A aquisição da Winston S.A., na Espanha, em 1989, possibilitou à São Paulo Alpargatas aumentar
sua demanda e usufruir de economias de escala, comercializando lá os artefatos produzidos aqui
(motor de crescimento contínuo de expansão). Com o tempo e o alinhamento da produção às
demandas européias, a companhia estaria habilitada também a se utilizar de economias de escopo,
adaptando a folga dos recursos produtivos às novas demandas, e a desenvolver e expor
continuamente as marcas da Winston (motor de crescimento contínuo de expansão).
AP
Período Evento 3
1989
A aquisição da Norcalsa (Nordeste Calçados S.A.), em 1989, também propiciou: o aumento da
capacidade produtiva de calçados esportivos, o ganho de escala e escopo (sinergias), e a ativação
do motor de crescimento contínuo de expansão.
AP
Período Evento 4
1990-1993
Os investimentos na expansão da produção de calçados infantis e a compra da Âncora, em 1993,
possibilitaram à empresa auferir economias de escala e escopo e se configurou, portanto, como
uma motivação produtiva para expansão.
AP
Período Evento 5
1994
A aquisição de 45% do capital da Santista Têxtil representou uma evidência de motivação híbrida
para a expansão. A transação permitiu à São Paulo Alpargatas intercambiar recursos e
competências com a Santista Têxtil e usufruir de sua rede de distribuição por toda a América do Sul
(economias de escopo). Adicionalmente, o negócio permitiu elevar a escala de produção, reduzir
custos e melhorar a competitividade (economias de escala). A concentração da indústria sugere o
lado defensico da motivação híbrida.
AP
Período Evento 6
1995-1996
O Início do desenvolvimento das marcas Timberland e Mizuno tiveram natureza produtiva. A
exposição da marca e o potencial de criar novos produtos permitiram ativar o motor de crescimento
contínuo de expansão (escala) e de diversificação (escopo).
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.34 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” durante a Crise da SPASA
4.3.3 Atitude para a Mudança
Atitudes tendentes a Moldar o Ambiente
O trabalho de desenvolvimento das marcas Timberland e Mizuno iniciado
durante a fase de crise e continuado durante a fase de Recomeço, resultou na
elevação da demanda por calçados esportivos (tênis) com tecnologia de
amortecimento de impacto (Mizuno), e na elevação da demanda por artefatos
ligados ao conceito Outdoor (Timberland). A consolidação desse mercado teve
participação expressiva da São Paulo Alpargatas.
141
Atitudes tendentes a adaptar-se ao Ambiente
Ainda em 1990, buscando fugir dos extratos sociais mais afetados pela
situação econômica e pelo aumento da concorrência de produtos informais, ilegais
e importados, a empresa deu continuidade à sua política de trabalhar a
diferenciação de seus produtos, realizando investimentos em distribuição e na
melhoria da qualidade dos produtos. Montou 54 "shop-in-shops" (áreas de vendas
exclusivas) em expressivas organizações de rede de varejo, e inaugurou de 14
lojas exclusivas Jeaneration e 1 loja exclusiva Stravanganza através do sistema de
franquia. Em 1991, lançou as camisas Ralph Lauren e um ano depois, as
americanas Van Hensen (EXAME, 08/01/1992).
Não obstante isso, os resultados do início da década não foram animadores.
Mergulhada em prejuízos que chegaram a quase 124 milhões de dólares entre
1991 e 1993, mais que todo o lucro colhido entre 1987 e 1990, a São Paulo
Alpargatas procurou uma saída para suas dificuldade no mercado. Em 1994,
adquiriu 45% do capital da Santista Têxtil, do grupo Bunge Born, acompanhada
pelo Bradesco que arrematou outros 10%. Na formação da Alpargatas-Santista
Têxtil, a Divisão Têxtil da Alpargatas foi desmembrada. O segmento de índigo e
brins ficou concentrado na nova companhia enquanto as confecções “activewear”
(Fido Dido, Sea Club e Slice), bem como as coberturas, permaneceram na São
Paulo Alpargatas. As vantagens básicas da associação foram: o aumento na
escala de produção com redução de custos, permitindo um aumento da
competitividade; e o melhor atendimento dos mercados internos e externos pela
utilização das sinergias contidas na nova estrutura (SPASA, 1994).
Em 1993, a redução dos impostos de importação e o acirramento da
concorrência local no segmento de artigos esportivos e de lazer, impeliram a
companhia a tomar várias medidas para manutenção da liderança de sua linha de
calçados, entre elas: a formulação de um programa de renovação de modelos para
a Nike, aliado à abertura de novos canais de distribuição; e o aprimoramento do
padrão visual e tecnológico dos produtos Topper e Rainha.
Quanto à decadência com que as Havaianas adentraram a década de 90, com
uma perda significativa de mercado para a Raider, a reação da São Paulo
142
Alpargatas visou promover um reposicionamento mercadológico, iniciado em 1994.
A verba de publicidade cresceu. Craques do futebol, atores e modelos, passaram a
protagonizar situações divertidas em comerciais de TV e anúncios de revistas.
Displays foram espalhados nos caixas das lojas e as embalagens remodeladas, a
fim de estimular as compras por impulso. Atacadistas foram convocados para
massificar a distribuição em 150.000 pontos-de-venda por todo o Brasil. Uma
equipe de designers foi despachada para a Europa; pesquisas foram feitas para
selecionar as cores que melhor combinavam com os trajes de banho; e as
coleções passaram a ser renovadas a cada ano. A idéia era agregar valores como
juventude, moda, relaxamento e sofisticação.
Por fim, as mudanças relacionadas às modernas estruturas fabris e ao próprio
redirecionamento estratégico da São Paulo Alpargatas, levaram a companhia a
reaproveitar os terrenos e fábricas ociosos para outras finalidades. Em 1994, foi
inaugurando no terreno de 34.000 metros quadrados da antiga fábrica de São José
dos Campos, o Shopping Vale Desconto. No terreno em anexo, de 217 mil metros
quadrados foi desenvolvido um empreendimento de loteamento, e construídos 120
apartamentos (SPASA, 1993; SPASA, 1994).
Atitudes tendentes a Aceitar o Ambiente
Embora a direção da companhia estivesse certa da necessidade de promover
um redirecionamento estratégico para focar o mercado e o cliente no lugar do
produto, as ações da companhia nesse sentido foram relaxadas em função do
comportamento favorável (alta demanda) dos mercados em que a empresa
participava no âmbito doméstico em 1989 (SPASA, 1989). A empresa acabou
fazendo vultosos investimentos em ativos permanentes direcionados para a
continuação do programa de modernização do parque têxtil, para o aumento da
capacidade produtiva de calçados e para a aquisição das empresas Norcalsa,
Winston e Terra.
Em 1994, a São Paulo Alpargatas observou, sem nada poder fazer, a queda de
25% do seu faturamento, em função da não renovação do contrato com a Nike.
Antes de rescindir o contrato, a São Paulo Alpargatas esteve 35 vezes na sede da
Nike, tentando negociar condições de continuidade, mas as condições impostas
143
pela marca Americana foram de encontro à missão da companhia, como destaca
Rui Porto (PORTO, 11/05/2005).
“A gente lançou a marca no Brasil. Profissionalizou. Importou
alguma coisa, e o que fez aqui sob essa orientação deles, foi
perfeito, foi tudo aprovado. Marketeamos a marca e etc. A
operação eu diria, foi um casamento que deu muito certo. Quando
o contrato venceu, eles, na verdade, não quiseram continuar, ou
queriam de uma maneira que não nos interessava. Sendo
majoritários e etc. A Alpargatas não vai entrar numa associação
para não ser dona dela, para não ser majoritária. Queriam que a
gente fabricasse para eles e a gente não teria o controle da coisa.
Isso é uma coisa que... eu estou te explicando rapidamente. É uma
coisa que foi desenrolada num ano de negociações. Na época, eu
me lembro, o gerente da marca, o Alex Pinedo, foi 35 vezes aos
Estados Unidos. E fica em Beaverton, que é um subúrbio Portland.
Um vôo complicado. Você tem que ir até Los Angeles. De Los
Angeles ir pra Portland em outro vôo e de Portland tem que ir de
carro, parece que é pertinho, mas... Foi 35 vezes num ano. Dá
uma média de 3 vezes por mês. É bastante. Então, não se fez o
contrato por que o casamento... nós queríamos continuar sim, da
mesma maneira, e eles talvez quisessem continuar de outra. E não
quiseram. Romperam o contrato com a gente e sofreram muito, por
que foram fabricar por aí... A Nike depois que saiu da gente
passou um tempo de vacas muito, muito, muito más. Agora de uns
anos pra cá se acertaram de novo, numa operação com outros
fabricantes e etc., mas o sofrimento foi muito grande. E pra nós,
perdemos uma grande marca!”
Rui La Laina Porto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevista conduzida em 11/05/2005
Informações perceptivas também evidenciaram comportamentos de
conformismo para com o ambiente. O discurso passivo e melancólico do
presidente Diego Jorge Bush, constante no relatório anual de 1990, nos deu
indícios disso.
144
"Precisamos aceitar o fato de que 1991 apresentará muitos
desafios, desafios estes que a Administração sente-se confiante
em poder enfrentar, graças aos pontos fortes de nossa companhia:
uma linha de produtos diversificada; uma preocupação sempre
presente com a qualidade e competitividade fabril; uma sólida
posição financeira; e, acima de tudo, um espírito de equipe que é a
chave de nosso sucesso para atravessar este estágio de transição
na vida brasileira. Esperamos, no entanto, que este estágio seja de
curta duração."
Diego Jorge Bush
Presidente do Conselho de Administração da São Paulo Alpargatas de 1989 a 1996
Fonte: SPASA (1990)
Olhando os Relatórios Anuais da companhia do período compreendido pela
fase de Crise, foram identificados outros indícios de que a companhia procurou
reagir ativamente às mudanças do mercado no início da década de 1990. Não
obstante, uma análise dos resultados logrados dessas ações, nos levou a
constatar que a tentativa de adaptação ativa da companhia acabou se
transformado numa aceitação da situação, na medida em que a companhia não
conseguiu tirar proveito das mudanças promovidas.
1. Em 1991, a companhia procurou se adaptar rapidamente à abertura das
importações, priorizando a utilização de matérias-primas e processos a
partir de então disponíveis, em busca do aperfeiçoamento da qualidade e
aumento da variedade dos produtos das diversas marcas. Não obstante, a
falta de contratação de um hedge cambial fez com que a empresa tivesse
que assistir passivamente ao prejuízo registrado em 1991, gerado em parte
por causa da maxidesvalorização da moeda.
2. A Superintendência de Confecções procurou, em 1993, redimensionar
estruturalmente a operação e concentrar esforços em um menor número de
marcas. O objetivo era recuperar a rentabilidade, atuando em nichos de
mercado competitivos. A estratégia não deu certo e a solução do problema
da área só foi definitivamente resolvido em 1994, com a constituição da
Alpargatas-Santista Têxtil.
145
Síntese sobre as Atitudes para as Mudanças
As respostas da São Paulo Alpargatas às mudanças do ambiente foram,
durante a fase de Crise, mais tendenciosas à adaptação ativa e ao aceite passivo
das imposições do ambiente do que à moldagem do mesmo. Na primeira categoria
de atitudes podem ser citadas a abertura de lojas de confecções pelo sistema de
franquia, a renovação das linhas de calçados esportivos, a renovação da marca
Havaianas e o início do processo de desmobilização que coincidiu com a
desativação de algumas fábricas. Na segunda categoria cabe destaque para o
continuísmo estratégico da empresa em função do comportamento da economia
durante o ano de 1989, a perda do contrato da Nike em 1994, o prejuízo
ocasionado pela falta de proteção cambial no início dos anos 90 e o processo de
resolução da crise da divisão têxtil que resultou na formação da Alpargatas-
Santista Têxtil S/A.. Na terceira categoria cabe destaque ao licenciamento das
marcas Timberland e Mizuno.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Atitude para a Mudança” durante a Crise da São Paulo
Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Atitude para a Mudança”, obtidas durante a Crise da São Paulo Alpargatas, segue
estruturada na Tabela 4.35.
Análise dos Traços Organizacionais Atitude para Mudança
Período Evento 1
1993
A redução dos impostos de importação e o acirramento da concorrência local no segmento de
artigos esportivos e de lazer, impeliram a companhia à formulação de um programa de renovação
de modelos para a Nike, aliado à abertura de novos canais de distribuição; e ao aprimoramento do
padrão visual e tecnológico dos produtos Topper e Rainha. Tais medidas sugerem uma adaptação
pró-ativa às mudanças do ambiente.
AP
Período Evento 2
146
1995-1996
Com a quebra do contrato com a Nike em 1994, a São Paulo Alpargatas partiu em busca de novos
licenciados. Incorporou em 1995 os calçados outdoor Timberland e em 1996, os artigos da marca
japonesa Mizuno.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1994 Firma
São Paulo
Alpargatas
Concentração de receitas na marca Nike
sem hedge para eventuais quebras de
contrato
Adaptação Reativa
AD
Período Evento 3
1994-
O reposicionamento estratégico das Havaianas teve início quando as margens de vendas da
sandália estavam tão baixas, que mesmo com um grande volume de vendas, o produto estava
destruindo valor. Além disso, a São Paulo Alpargatas perdera muito mercado para os concorrentes,
principalmente para a Raider da Grendene.
AD
Período Evento 4
1994-1996
Reaproveitamento dos ativos imobilizados ociosos (terrenos e fábricas) em outras atividades. A
empresa criou uma Divisão de Imóveis, construiu apartamentos e Shopping Centers para se
desfazer de suas propriedades ao melhor preço possível.
AP
Período Evento 5
1990-1996
Foram promovidas mudanças nas marcas Jeaneration e Arrow, visando o realinhamento e
adequação dos canais de distribuição em função do perfil do mercado. As mudanças promovidas
nas marcas Jeaneration e Arrow tiveram eficácia questionável na medida em que as lojas exclusivas
da Jeaneration foram fechadas no processo de reestruturação e a marca Arrow teve seu contrato
desfeito.
AD
Período Evento 6
1993-1994
A Superintendência de Confecções procurou, em 1993, redimensionar estruturalmente a operação e
concentrar esforços em um menor número de marcas. O objetivo era recuperar a rentabilidade,
atuando em nichos de mercado competitivos. A estratégia não deu certo e a solução do problema
da área só foi definitivamente resolvido em 1994, com a constituição da Alpargatas-Santista Têxtil.
AD
Período Evento 7
1990-1991
Em 1991, a companhia procurou se adaptar rapidamente à abertura das importações, priorizando a
utilização de matérias-primas e processos a partir de então disponíveis, para o aperfeiçoamento da
qualidade e aumento da variedade dos produtos das diversas marcas. Não obstante, a falta de
contratação de um hedge cambial fez com que a empresa tivesse que assistir passivamente ao
prejuízo registrado em 1991, gerado em parte por causa da maxidesvalorização da moeda.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.35 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” durante a Crise da SPASA
4.3.4 Gestão da Diversidade
A análise da evolução das classes de indicadores quantitativos de
“Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.13) e de “Eficiência
Administrativa” (Figura 4.16) foi de grande auxílio para a compreensão do nível de
integração das estruturas produtivas e administrativas da companhia. O primeiro
ajudou na identificação da evolução dos custos operacionais totais da companhia,
enquanto o segundo indicador ajudou a identificar em que medida as alterações
nestes custos operacionais foram oriundos de despesas gerais, com vendas e
administrativas.
147
Evolução do Custeio da Estrutura Administrativa
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
% Lucro Bruto
Desp. Vendas, Adm. e Soc. / Lucro Bruto
Plano Real: 1994
Recordes Inflacionários
Terceirização de Atividades Secundárias
Integração Vertical para Frente
Perda Contrato Nike
Constituição Alpargatas-Santista
Criação da Divisão de Neg. Imob.
Lic.Mizuno
Lic. Timberland
Plano Collor
Fonte: Vide Anexo 8
Figura 4.16 Eficiência Administrativa da SPASA durante a Crise
Gestão da Diversidade tendente à Fragmentação
O ambiente de demissões em massa que se evidenciou durante a fase de
Crise já seria suficiente para sugerir, pelo próprio impacto psicológico das medidas,
uma tendência à fragmentação na gestão da diversidade dos recursos humanos.
Quando consideradas as incongruências da pseudo-reestruturação, relacionadas à
penalização do nível operacional em detrimento da alta direção (falta de equidade),
essa sugestão parece ganhar força.
A análise da Figura 4.16 apresenta indícios de uma forte redução dos níveis de
eficiência da estrutura administrativa no período da Crise (aumento do custeio
administrativo) que pode ter sido fruto da formação de folga ou de fragmentação.
Como não havia nenhuma intenção da diretoria de manter níveis de folga em meio
à retração da demanda e ao processo de reestruturação, o aumento relativo do
custeio administrativo também sugere a existência de uma fragmentação da
estrutura administrativa relacionada a recursos humanos.
Quanto aos recursos de outra natureza, o fato de a gestão da companhia ter
tomado ações em diversas direções em meio a cada mudança de curto prazo do
1
48
ambiente (ora investindo em melhoria de produtividade, expansão da produção e
na abertura de lojas de varejo, ora terceirizando atividades desativando fábricas e
demitindo funcionários) passou a exigir um esforço de coordenação e liderança
muito grande, para manter a organização alinhada a todas essas mudanças
bruscas. A oscilação dos níveis de receitas, do lucro bruto (valor adicionado) e do
lucro líquido (Vide Figura 4.13), sugerem que essa coordenação, aparentemente,
não se evidenciou de forma adequada, provocando uma fragmentação da
diversidade.
Síntese sobre a Gestão da Diversidade
A gestão da diversidade da São Paulo Alpargatas durante a fase de Crise
parece ter sido tendente à fragmentação. A forma como o processo de mudança
foi conduzido, incluindo aí a falta de equidade entre as medidas punitivas aplicadas
ao chão de fábrica e a manutenção das regalias da alta administração, bem como
a aparente falta de direcionamento estratégico presente nas decisões conflituosas
desta última, sugerem uma aproximação da empresa do pólo de propensão à
autodestruição no continuum autodestruição-autoperpetuação.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Diversidade” durante a Crise da São Paulo Alpargatas, segue disposta na
Tabela 4.36.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Gestão da Diversidade
Observando a Figura 4.16, pode-se perceber uma redução dos níveis
de eficiência (saiu de uma média de 25% do Lucro Bruto em 1989 e
passou a flutuar entre 80% e 110% do Lucro Bruto). Essa redução da
eficiência pode ser explicada pela ineficácia dos cortes promovidos pela
direção. Mesmo cortando dezenas de milhares de empregos, a relação
entre as despesas administrativas e o valor adicionado resultante da
interrupção de várias atividades piorou. Como o quadro geral não
sugere que fosse interesse da direção manter folga da estrutura
administrativa, a única suposição que surge é que os cortes podem ter
provocado uma fragmentação na estrutura remanescente.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.36 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Diversidade” durante a Crise da SPASA
149
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Diversidade”, obtidas durante a Crise da São Paulo Alpargatas, segue
estruturada na Tabela 4.37.
Análise dos Traços Organizacionais Gestão da Diversidade
Período Evento 1
1990-1996
A ruptura do mecanismo de existência continuada que acompanhava a empresa desde sua
fundação, acompanhada da falta de eqüidade nos critérios de corte de despesas, provocou uma
fragmentação dos recursos humanos.
AD
Período Evento 2
1990-1996
As várias mudanças bruscas de direção, ora investindo em melhoria de produtividade, expansão da
produção e na abertura de lojas de varejo, ora terceirizando atividades desativando fábricas e
demitindo funcionários promoveram um desalinhamento dos demais recursos internos.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.37 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” durante a Crise da SPASA
4.3.5 Gestão da Complexidade
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Solidez Econômica”
(Figura 4.14) e de “Liquidez” (Figura 4.15) foi de grande auxílio para a
compreensão da dinâmica de gestão da complexidade da companhia. O primeiro
ajudou na identificação de uma gestão sistemática ou casuística da formação de
reservas, de investimentos e de endividamento. O segundo indicador ajudou a
detectar uma gestão sistemática ou casuística da estrutura de caixa e dos
estoques.
Gestão Sistemática
A São Paulo Alpargatas apresentou durante a fase de Crise algumas
evidências de sistematização da resolução dos problemas de crescimento, entre
elas: (1) A política de priorização da geração de caixa em momentos incertos, que
foi por sinal, fator determinante para a superação das crises vividas em toda a
história da companhia (Vide Figura 4.15); (2) A adoção deliberada da terceirização
como medida de manutenção dos níveis de produção à medida que fábricas iam
150
sendo desativadas e funcionários demitidos; (3) O programa de desmobilização,
que apesar de ter tirado um pouco o foco da empresa, proporcionou à mesma uma
valorização das propriedades que não lhes eram mais úteis. Dentre as iniciativas
estão a realização de leilões, de loteamentos para a construção habitacional, tendo
a empresa atuado junto aos órgãos municipais para liberar a área para tal
finalidade, e a construção do Shopping Vale Desconto no local da fábrica de São
José dos Campos; (4) A criação das lojas Meggastore com a finalidade estratégica
de absorver os produtos menos valorizados e descontinuados, e impedir queimas
de estoques massivos, rebaixando a percepção de valor das marcas; (5) O
processo de aprendizado desencadeado com a perda do contrato da Nike.
Segundo Rui Porto, o episódio da Nike é visto hoje na companhia como um “mal
que veio para o bem”. Sinônimo de aprendizado em negociações internacionais e
de intercâmbio tecnológico e cultural.
Gestão Casuística
Entre as evidências de uma gestão casuística da complexidade, pode-se
destacar: (1) A falta de contratação de um hedge cambial para proteger a empresa
das flutuações da moeda. Tal fato impactou consideravelmente as condições de
compra de matérias-primas e produtos acabados importados, e corroborou para o
prejuízo registrado em 1991; (2) A falta de foco e direção na condução das
mudanças, que ora buscavam a aquisição de empresas (Norcalsa, Winston, Terra,
Âncora e Santista) ora a terceirização; ora a expansão da produção de produtos de
baixo valor agregado, ora a busca por nichos e pela diferenciação dos produtos
(Terra, Ralph Lauren e Van Hensen); ora focavam as confecções (Jeaneration,
Stravanganza e Arrow), ora os calçados (Nike, Mizuno, Timberland,
Bublegummers, Havaianas); levou a empresa a uma situação de difícil
administração (“Stuck in the Middle”); (3) A gestão precária dos riscos envolvidos
com a marca Nike, que inviabilizou o desenvolvimento de contingências, como a
consolidação de uma marca substituta, para o caso de rescisão do contrato; (4) A
criação de uma divisão para o gerenciamento das propriedades imobiliárias, que
apesar da importância econômico-financeira, não tinha nenhuma relação
operacional com a atividade fim da empresa, e, portanto, poderia ter tido o seu
trabalho terceirizado; (5) As várias tentativas mal sucedidas de contornar o
problema da baixa rentabilidade dos negócios têxteis e de confecções
151
evidenciaram uma forma casuística de resolver o problema; (6) A gestão casuística
dos níveis de reservas, que apresentou significativa flutuação durante o período
(Vide Figura 4.14).
Síntese sobre a Gestão da Complexidade
Constatou-se que a São Paulo Alpargatas apresentou evidências tanto de uma
gestão sistemática (a política de gestão do caixa, a adoção da terceirização para
atividades secundárias, o programa de desmobilização, a criação das lojas de
desconto Meggastore) como casuística (a falta de proteção cambial, a falta de foco
na condução das mudanças da empresa, a gestão precária dos riscos que
envolviam a marca Nike, as tentativas e erros evidenciadas na resolução dos
problemas da divisão têxtil) da complexidade durante a fase de Crise. Não
obstante, com exceção da gestão sistemática da estrutura de caixa, que trouxe
benefícios imensuráveis, os impactos negativos da gestão casuística parecem ter
sidos bem mais severos que os impactos positivos da gestão sistemática.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
As principais implicações dos indicadores quantitativos para a dimensão
“Gestão da Complexidade” durante a Crise da São Paulo Alpargatas, seguem
dispostas na Tabela 4.38.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Com base na volatilidade apresentada pelos níveis de reservas da São
Paulo Alpargatas na fase de Crise (Figura 4.14) poder-se-ia especular
sobre uma eventual gestão casuística da política de investimentos
(investimentos despropositados no momento errado). Não obstante,
sem o comportamento total dos níveis de dívida não podemos afastar a
possibilidade de as reservas terem sido utilizadas para a redução dos
níveis de dívidas. Neste caso, tendo o nível de dívidas flutuado com o
nível de reservas, poder-se-ia sugerir uma gestão sistemática da
política de investimentos e de financiamentos.
N
A Figura 4.15 sugere a partir da área levemente decrescente entre o
índice de liquidez corrente e seca que a São Paulo Alpargatas realizou
uma gestão sistemática dos estoques, alinhada à situação do mercado,
durante a fase de Crise.
AP
Gestão da Complexidade
A manutenção do indicador de liquidez seca em níveis quase sempre
acima de “1” durante a fase de Crise sugere uma gestão sistemática da
estrutura de caixa (Figura 4.15).
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.38 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Complexidade” durante a Crise da SPASA
152
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
Gestão da Complexidade”, obtidas durante a Crise da São Paulo Alpargatas,
segue estruturada na Tabela 4.39.
Análise dos Traços Organizacionais
Período Evento 1
1991-1996
Adoção de uma política sistemática de preservação da estrutura de caixa. AP
Período Evento 2
1990-1992
Adoção da terceirização como medida de manutenção dos níveis de produção à medida que
fábricas iam sendo desativadas e funcionários demitidos.
AP
Período Evento 3
1994-1996
O programa de desmobilização, que apesar de ter tirado um pouco o foco da empresa,
proporcionou à mesma uma valorização das propriedades que não lhes eram mais úteis. Foram
feitos leilões, constituídos loteamentos para a construção habitacional, tendo a empresa atuado
junto aos órgãos municipais para liberar a área para tal finalidade, e construído o Shopping Vale
Desconto no local da fábrica de São José dos Campos.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1994-1996
Indivíduo Diretoria
Interagiu com os órgãos municipais para
viabilizar o loteamento de terrenos da
companhia e a construção de
apartamentos em áreas primariamente
industriais.
Boa Coordenação
Externa
AP
Período Evento 4
1994
Criação das lojas Meggastore como instrumento estratégico de preservação do valor das marcas
trabalhadas pela companhia.
AP
Período Evento 5
1991
Falta de contratação de um hedge cambial para proteger a empresa das flutuações da moeda
quando a mesma estava a importar matéria-prima e produtos acabados.
AD
Período Evento 6
1991
A aposta equivocada no reaquecimento da demanda para o segundo semestre de 1991 elevou
consideravelmente os estoques e a necessidade de capital de giro da empresa, contribuindo para o
prejuízo registrado no período.
AD
Período Evento 7
1989-1994
Não foram tomadas providências para amenizar o impacto de uma eventual rescisão do contrato
com a Nike, mesmo a empresa tendo 25% de sua receita ligada à marca.
AD
Período Evento 8
1989-1996
A forma confusa, desfocada e descontrolada com que as mudanças estratégicas foram promovidas
pela Diretoria, foi uma evidência de gestão casuística da complexidade.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1989-1996
Indivíduo
Diego Jorge
Bush e
Diretoria
O mercado financeiro foi persuadido a
acreditar que a transformação
promovida por Diego Bush teria
sucesso.
Boa Coordenação
Externa
1989-1996
Indivíduo
Diego Jorge
Bush e
Diretoria
A empresa ora buscava a aquisição de
empresas (Norcalsa, Winston, Terra,
Âncora e Santista) ora a terceirização;
ora a expansão da produção de
produtos de baixo valor agregado, ora a
busca por nichos e pela diferenciação
dos produtos (Terra, Ralph Lauren e
Van Hensen); ora focavam as
confecções (Jeaneration, Stravanganza
e Arrow), ora os calçados (Nike, Mizuno,
Timberland, Bublegummers, Havaianas)
Capacidade de
Gestão Ruim
AD
153
Período Evento 9
1994
A criação de uma Divisão Organizacional para gerenciar negócios imobiliários pareceu uma ação
totalmente desconexa da política de terceirizar tudo o que não fosse essencial às atividades da
empresa.
AD
Período Evento 10
1989-1994
As várias tentativas de resgatar a rentabilidade dos negócios têxteis e de confecções evidenciaram
uma falta de planejamento e uma forma de combater o problema casuisticamente.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1989-1994
Indivíduo Diretoria Reestruturação inócua.
Dificuldade de
Julgamento e Falta de
Versatilidade
1992 Indivíduo Diretoria
Tentativa de cisão e venda da divisão
têxtil à Vicunha.
Dificuldade de
Julgamento e Falta de
Versatilidade
1992-1993
Indivíduo Diretoria
Tentativa frustrada de fusão com a
Alpargatas Argentina.
Dificuldade de
Julgamento e Falta de
Versatilidade
1994 Indivíduo Diretoria Compra da Santista Têxtil
Bom Julgamento
Versatilidade
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.39 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” durante a Crise da SPASA
4.3.6 Formação da Estrutura Gerencial
Sob Demanda (Just-in-Time)
Três eventos básicos nos deram orientações em direções semelhantes no que
diz respeito à falta de antecedência com que as necessidade gerenciais foram
planejadas durante a fase de Crise da São Paulo Alpargatas. O primeiro foi a
contratação de executivos espanhóis logo após a aquisição da Winston, em 1989.
Sem desmerecer a capacidade de tais executivos, nem tão pouco a necessidade
de utilizá-los para vencer as diferenças entre fazer negócios no Brasil e na Europa,
a empresa poderia, se era de seu interesse entrar no mercado europeu, ter
capacitado pessoas, como fez com Ivo Miranda Reis, para mais cedo ou mais
tarde, expatriá-los. Neste ponto, sugere-se que o preenchimento dos cargos
gerenciais na subsidiária Winston tenha sido “sob demanda” ou “just-in-time”.
Outro evento diz respeito ao processo de consolidação das Diretorias
Financeira e de Controladoria, em 1992, que levou à contratação externa do
Diretor responsável pela unidade resultante. Novamente, sem desmerecer a
competência de Francisco Morales Céspede, que continua atuando na companhia
154
até hoje, é questionável a idéia de que não houvesse alguém interno capaz de
conduzir a nova agenda, ou pelo menos de ser treinado antecipadamente para tal.
O terceiro e último evento diz respeito à assunção de Diego Jorge Bush ao
comando da companhia. Embora Diego tivesse uma passagem por instituições
renomadas e uma formação acadêmica compatível com o cargo que exerceria, o
executivo tinha pouco tempo de relacionamento com os negócios da São Paulo
Alpargatas, com sua cultura e com seus diversos stakeholders.
Síntese sobre a Formação da Estrutura Gerencial
Com base nas informações disponíveis, constatou-se que a captação e a
alocação dos recursos gerenciais foram feitos sob-demanda (“just-in-time”) durante
a fase de Crise da São Paulo Alpargatas. O preenchimento dos postos executivos
da Winston, a contratação de Francisco Morales Céspede e a forma como Diego
Jorge Bush ascendeu à presidência da empresa sugerem essa constatação.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Formação da Estrutura Gerencial” durante a Crise da São
Paulo Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Formação da Estrutura Gerencial”, obtidas durante a Crise da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.40.
Análise dos Traços Or ganizacionais
Período Evento 1
1989
A assunção de Diego Bush à Presidência do Conselho de Administração foi considerada sob-
demanda, uma vez que seu pai, Keith Bush, havia proposto se aposentar e não havia, segundo
fontes secundárias, ninguém com perfil para substituí-lo. Diego foi posto como membro do conselho
apenas 1 ano antes de assumir a sua Presidência.
AD
Período Evento 2
1990
Contratação de executivos espanhóis no mercado para assumir as operações da Winston, na
Espanha, logo após a aquisição da companhia
AD
155
Período Evento 3
1992
Contratação de Francisco de Morales Céspede para dirigir a nova unidade compostas das diretorias
financeira e de controladoria.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.40 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” durante a Crise da SPASA
4.3.7 Folga
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Solidez Econômica”
(Figura 4.14) e de “Liquidez” (Figura 4.15), foi de grande auxílio para a análise dos
níveis de folga financeira da companhia durante a fase de Crise. A partir do
primeiro indicador foi possível observar uma redução progressiva dos níveis de
reservas da companhia, evidenciando a diminuição de sua folga financeira de
longo prazo. O segundo indicador demonstrou uma situação confortável de
liquidez (folga financeira de curto-prazo) durante a fase de Crise da companhia.
Foi possível observar também a formação de folga através das ações de
expansão da produção da companhia, em momentos em que a demanda se
encontrava estagnada ou decrescente. O aumento da folga financeira também foi
buscado quando a companhia resolveu se desfazer de imóveis não mais
adequados à operacionalização de sua estratégia. Por outro lado, a venda de tais
imóveis destruiu uma folga potencialmente recuperável em momentos futuros de
expansão territorial.
A maior evidência de destruição de folga foi, no entanto, a quebra do contrato
psicológico existente entre a direção da empresa e o corpo de funcionários.
Considerados desde a fundação da companhia como um dos pilares de seu
sucesso, os funcionários se depararam no início dos anos 90 com uma
reestruturação aparentemente inócua e que marcou profundamente a empresa. É
bem verdade que a São Paulo Alpargatas não podia continuar sendo a empresa
paternalista e hierarquizada que fora em seus tempos mais remotos, afinal, a
competitividade dos anos 90 não permitia mais esse tipo de postura empresarial. O
problema é que os cortes atingiram prioritariamente o nível operacional da
organização e a hierarquia continuou a distanciar o chão de fábrica do alto escalão
156
da companhia. Dessa forma, a direção teve dificuldades de envolver os
funcionários no processo de mudança da companhia e acabou perdendo a
legitimidade para prosseguir com as mudanças.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
As principais implicações dos indicadores quantitativos para a dimensão
“Folga” durante a Crise da São Paulo Alpargatas, seguem dispostas na Tabela
4.41.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Como pode ser observado na Figura 4.14, a folga financeira de longo
prazo da São Paulo Alpargatas foi sensivelmente reduzida durante a
fase de Crise, chegando a patamares preocupantes.
AD
Folga
A Figura 4.15 reflete a manutenção da folga financeira de curto-prazo,
visto que o indicador de liquidez seca se manteve em níveis mínimos
iguais a “1”
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.41 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Folga” durante a Crise da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Folga”, obtidas durante a Crise da São Paulo Alpargatas, segue estruturada na
Tabela 4.42.
157
Análise dos Traços Organizacionais Folga
Período Evento 1
1990-1993
O aumento da capacidade produtiva de tênis infantis e de calçados esportivos promoveu a formação
de folga disponível para aumentos subseqüentes da demanda.
AP
Período Evento 2
1990-1996
A falta de equidade nas ações da reestruturação promovida pela direção da São Paulo Alpargatas
resultou na descontinuação do mecanismo de existência continuada, o que reduziu
significativamente a folga existente entre a empresa e o corpo de funcionários.
AD
Período Evento 3
1991
A preparação da empresa para a retomada dos níveis de atividade no segundo semestre
representou a formação de folga disponível para crescimentos futuros.
AP
Período Evento 4
1990-1994
A desmobilização e a terceirização contribuíram para o aumento da folga financeira da companhia. AP
Período Evento 5
1990-1994
A desmobilização e a terceirização contribuíram para a redução de folga territorial potencialmente
utilizável em fases futuras de expansão e crescimento.
AD
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.42 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” durante
a Crise da SPASA
158
4.3.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-
Autoperpetuação
As tabelas 4.43, 4.44, 4.45 apresentam o posicionamento da São Paulo
Alpargatas no continuum de propensão à autodestruição-autoperpetuação para a
fase de Crise.
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Empreendedorismo 7 6 0 1 7,69
Motivação para Expansão 6 0 0 6 100,00
Atitude para a Mudança 2 5 0 -3 -42,85
Gestão da Diversidade 0 3 0 -3 -100,00
Gestão da Complexidade 6 6 1 0 0,00
Formação da Estrutura
Gerencial
0 3 0 -3 -100,00
Tabela 4.43 Posicionamento na fase de Crise por Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Crescimento Contínuo 15 11 0 4 15,38
Manutenção da Integridade
Organizacional
6 12 1 -6 -31,57
Folga 4 3 0 1 14,28
Tabela 4.44 Posicionamento na fase de Crise por Grupo de Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Fase “A Crise” 25 26 0 -1 -1,96
Tabela 4.45 Posicionamento Geral na fase de Crise
AD
AP
159
4.4 O Recomeço (1997-2004)
A fase de Recomeço teve início em 1997, quando a crise vivida durante a
primeira metade da década de 90 suscitou a necessidade de uma quebra no
paradigma administrativo da São Paulo Alpargatas. Era grande o número de
produtos inadequados e tímidas as providências destinadas a modificar o perfil
desses produtos e suas marcas. Os contratos de licenciamento necessitavam ser
revistos. Os custos industriais eram elevados, limitando a capacidade da empresa
de competir no mercado onde a concorrência aparecia em crescente evolução. A
empresa precisava de um choque na sua gestão para viabilizar definitivamente sua
transição de empresa fabril e integrada para empresa focada nos clientes e no
mercado. Foi nesse contexto que os acionistas majoritários, Camargo Corrêa e
Bradesco, resolveram promover uma intervenção na companhia, e nomearam para
sua presidência executiva, Fernando Tigre, e para a presidência do conselho de
administração, Alcides Tápias.
Ao assumir o comando da companhia, Fernando Tigre mexeu,
progressivamente, em praticamente tudo. Das linhas de produção ao
posicionamento das marcas, da estratégia de atuação internacional à política de
recursos humanos. A idéia era tornar a companhia mais enxuta, dinâmica,
motivada e responsável, livre das amarras da hierarquia e das despesas com
supérfulos. Inicialmente, foi elaborado um plano de reestruturação, que envolvia as
seguintes ações: (1) Contratação da consultoria McKinsey para um estudo visando
definir providências de redução de custos e aprimorar o gerenciamento de clientes;
(2) Contratação da The Muller Sports Group para apoiar o reposicionamento
estratégico das marcas, buscando uma visão mais orientada ao mercado e ao
consumidor no desenvolvimento das novas coleções; (3) Simplificação da estrutura
da área operacional, eliminando-se pelo menos um nível organizacional e
agilizando-se o processo decisório; (4) Criação de “unidades de negócio”,
definindo-se o foco e a responsabilidade dos gestores pelo resultado das principais
marcas e atividades, com a adoção de princípios de “accountability” destinados a
ampliar os efeitos da delegação de poderes; (5) Identificação de atividades que
não mais agregavam valor à empresa ou que estavam fora de seu foco de
atuação, com a criação das provisões necessárias para cobrir baixas de ativos,
despesas com reestruturação e eventuais prejuízos e contingências; (6) Ajuste do
160
capital de giro, principalmente pela redução de estoques, com melhoria do fluxo de
caixa (SPASA, 1997).
Nos desdobramentos desse plano de reestruturação, o foco das operações se
voltou para calçados, artigos esportivos, sandálias, lonas e coberturas, e varejo. As
marcas foram reposicionadas buscando maior valorização. Contratos de
licenciamento com as marcas internacionais Polo Ralph Lauren, Fido Dido e Arrow
foram desfeitos, e Mizuno e Timberland tiveram seus contratos renegociados. A
cadeia de lojas Jeaneration foi fechada. O negócio de varejo passou a se
concentrar nas lojas estratégicas Meggashop e nas lojas Timberland. As
operações da companhia na Argentina e no Chile, que geravam prejuízo mensal
de 350 mil dólares, também foram desativadas. Na sede, cerca de 120
funcionários administrativos foram demitidos e 7 dos 12 andares alugados da sede,
foram devolvidos. O restaurante foi transformado em showroom. O número total de
funcionários foi reduzido de 14,5 mil em 1997 para 10,5 mil em 2001. Para os que
se alinharam à nova filosofia da empresa, foram distribuídas metas, cujo
cumprimento passou a ter impacto no programa de participação de resultados
(EXAME, 23/11/2001).
Como resultado das ações de reestruturação, a empresa voltou a dar lucro em
1998. Em 2003, Fernando Tigre passou a direção da companhia para Márcio
Utsch, cuja principal missão era institucionalizar o novo modelo de gestão da
companhia e retomar o seu crescimento.
4.4.1 Empreendedorismo
Assim como nas seções anteriores, a análise da evolução dos indicadores
quantitativos de “Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.17), da
“Solidez Econômica” (Figura 4.18) e de “Liquidez” (Figura 4.19) foram de grande
auxílio para a compreensão das respostas da São Paulo Alpargatas ao desafio do
empreendedorismo. O primeiro indicador ajudou a analisar longitudinalmente os
resultados das ações de empreendedorismo da empresa. Os dois últimos
indicadores foram importantes para a avaliação da solidez econômico-financeira da
companhia no longo e curto prazo, respectivamente.
161
Evolução do Crescimento Relativo, do Valor Adicionado Relativo e da Lucratividade Relativa
-0,010%
0,000%
0,010%
0,020%
0,030%
0,040%
0,050%
0,060%
0,070%
0,080%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
% PIB
Receitas / PIB Lucro Bruto / PIB Lucro Líquido / PIB
Adesão Nível 1
Governança
Corporativa
BOVESPA
Início
Internacionalização
Havaianas
Adoção Toyota
Production
System
Aquisição do
Restante do Capital
Votante da Santista
Retomada do Crescimento:
Institucionalização das ações
tomadas na Reestruturação
Reestruturação: Revisão de Contratos e Negócios; Foco em Marcas; Foco em
Resultado; Revisão da Política de Pessoal; Corte de Superfulos da Diretoria; Queda da
Hierarquia
Fonte: Vide Anexos 5 e 8
Figura 4.17 Crescimento e Desempenho Econômico da SPASA no Recomeço
Evolução das Reservas Disponíveis e do Nível de Endividamento
-30,00%
-20,00%
-10,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
% Ativo
Reservas / Ativo Dívidas Longo Prazo / Ativo
Adesão Nível 1
Governança
Corporativa
BOVESPA
Início
Internacionalização
Havaianas
Adoção Toyota
Production
System
Aquisição do
Restante do Capital
Votante da Santista
Retomada do Crescimento:
Institucionalização das ações
tomadas na Reestruturação
Reestruturação: Revisão de Contratos e Negócios; Foco em Marcas; Foco em
Resultado; Revisão da Política de Pessoal; Corte de Superfulos da Diretoria; Queda da
Hierarquia
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.18 Solidez Econômica da SPASA no Recomeço
162
Evolução da Liquidez Corrente e da Liquidez Seca
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ativo Circulante / Passivo Circulante (Ativo Circulante - Estoques) / Passivo Circulante
Adesão Nível 1
Governança
Corporativa
BOVESPA
Início
Internacionalização
Havaianas
Adoção Toyota
Production System
Aquisição do
Restante do Capital
Votante da Santista
Retomada do Crescimento:
Institucionalização das ações
tomadas na Reestruturação
Reestruturação: Revisão de Contratos e Negócios; Foco em Marcas; Foco em Resultado;
Revisão da Política de Pessoal; Corte de Superfulos da Diretoria; Queda da Hierarquia
Fonte: Vide Anexos 6 e 7
Figura 4.19 Liquidez da SPASA no Recomeço
Ambição, Versatilidade, Julgamento
O trabalho de internacionalização das Havaianas como produto de luxo
demonstrou indícios de ambição, versatilidade e julgamento por parte da São
Paulo Alpargatas. Ambição pelo interesse de transformar as Havaianas, um
produto tradicionalmente popular, num produto associado à sofisticação.
Versatilidade pela capacidade da empresa de conduzir o reposicionamento
estratégico da marca. E julgamento pelo fato da empresa ter visualizado
corretamente o filão de mercado do produto no exterior.
A aceleração do processo de inovação e de lançamentos de novos produtos,
voltados quase sempre para os interesses dos clientes e do mercado, demonstrou
evidencias de versatilidade, na medida em que pôs à prova a capacidade de
adaptação da São Paulo Alpargatas às tendências da moda.
A compra adicional da Santista Têxtil, em 18 de junho de 2003, com o objetivo
de aumentar ainda mais as exportações da São Paulo Alpargatas levantou indícios
de Ambição, Versatilidade e Julgamento. Em 2002, quase 45% do faturamento da
Santista Têxtil havia sido gerado pelas vendas para o mercado internacional. Com
163
cinco fábricas no Brasil, duas na Argentina e uma no Chile, a empresa havia se
tornado uma das maiores fabricantes de denim do mundo. A São Paulo Alpargatas
e a sua controladora Camargo Corrêa, que também participou da aquisição,
visualizavam várias sinergias entre o jeans da Santista e as Havaianas da São
Paulo Alpargatas, entre elas, a distribuição conjunta em alguns mercados (EXAME,
04/07/2003)
Outra iniciativa voltada para o mercado externo que demonstrou sinais de
ambição, versatilidade e julgamento foi o desenvolvimento de produtos específicos
para os diversos mercados. Para o mercado australiano, por exemplo, foram
disponibilizadas quatro cores exclusivas de sandálias, entre elas verde-militar e
cáqui, e com modelos também inéditos, como o camuflado. Para os franceses, que
possuem o hábito de calçar seus chinelos mesmo no inverno, a companhia criou
uma meia para ser usada exclusivamente com as sandálias. A numeração também
teve que ser adaptada, tendo a empresa passado a produzir o número 46 para
atender à demanda dos consumidores estrangeiros (EXAME, 04/07/2003).
O conjunto dessas ações foram responsáveis pela absorção da perda de
vendas advinda da descontinuidade de vários produtos no processo de
reestruturação da companhia, e pelo leve crescimento observado na curva de
receitas, que saiu de pouco mais de 0,06% do PIB em 1998 para mais de 0,075%
do PIB em 2004 (Vide Figura 4.17)
Comprometimento de Longo Prazo
Durante a fase de Recomeço, foram retomadas as ações de aproximação entre
a administração e os funcionários. Dessa vez, pautados na meritocracia. A
empresa passou a distribuir participação nos lucros mediante o desempenho, e a
investir agressivamente em treinamento e formação fundamental e profissional em
todos os níveis hierárquicos da organização. As demissões continuaram a ocorrer,
porém com maior eqüidade, dada a coerência do processo de reestruturação. Os
que permaneceram, passaram a enxergar em seus próprios desempenhos, a
possibilidade de desenvolverem uma carreira de longo prazo na companhia.
164
Capacidade de Levantar Fundos
A compra do restante do capital ordinário da Santista Têxtil, em 18 de junho de
2003, representou uma das demonstrações da capacidade de levantar recursos
próprios da São Paulo Alpargatas. Com a compra, a São Paulo Alpargatas passou
a deter 50% do capital votante da companhia, e a Camargo Corrêa, controladora
da São Paulo Alpargatas, passou a deter os outros 50% (EXAME, 04/07/2003).
Com relação à captação de recursos de terceiros, o financiamento de longo
prazo, de U$ 30 milhões, junto ao IFC, em 2002, destinado à modernização dos
processos de produção, à expansão da capacidade produtiva e à melhoria das
práticas ambientais da companhia, evidenciou a capacidade da companhia de
continuar a utilizar essas fontes de recursos para promover seu crescimento.
Busca pela Minimização dos Riscos Existenciais
A Figura 4.18 nos ajuda a verificar que a partir de 1999, os riscos existenciais
dos empreendimentos promovidos foram atenuados pelo retorno dos níveis de
reservas acima dos patamares dos níveis de dívida de longo prazo.
Adicionalmente, a Figura 4.19 nos mostra a manutenção do índice de liquidez seca
sempre acima de “1” durante todo a fase de Recomeço, o que sinaliza que a
solidez de curto-prazo também não foi comprometida. Dessa forma, sugere-se que
os riscos existenciais dos empreendimentos realizados durante a fase de
Recomeço tenham sido razoáveis para seus objetivos.
Síntese sobre os Traços de Empreendedorismo
Identificaram-se indícios de ambição, versatilidade, julgamento e uma elevada
capacidade de financiamento da São Paulo Alpargatas durante a fase de
Recomeço. A ambição, versatilidade e julgamento esteve presente no trabalho de
reposicionamento estratégico das Havaianas, na compra do restante do capital da
Santista Têxtil e na capacidade da empresa de se adaptar aos diversos ditames de
moda local e internacional. Adicionalmente, verificou-se a reativação do
mecanismo de existência continuada (retomada da expectativa de longas carreiras
mediante o desenvolvimento da companhia) e a preservação de uma situação
165
econômico-financeira confortável, tendo o índice de liquidez seca permanecido
sempre acima de 1.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão
“Empreendedorismo” durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas, segue
disposta na Tabela 4.46.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Empreendedorismo
A trajetória crescente dos índices de liquidez (Figura 4.19) e dos níveis
de reservas em relação ao nível de endividamento (Figura 4.18)
sugerem a redução dos níveis de risco existencial e a elevação da
capacidade de financiamento da empresa durante a fase de
Recomeço. Informações qualitativas a respeito da ambição,
versatilidade e julgamento nos levam a sugerir que a resposta da
empresa ao desafio do empreendedorismo foi tendente a audacioso.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.46 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Empreendedorismo” para o Recomeço da SPASA
Análise Qualitativa
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Empreendedorismo”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas,
segue estruturada na Tabela 4.47.
Análise dos Traços Organizacionais Empreendedorismo
Período Evento 1
1999-2004 O trabalho de internacionalização das Havaianas como produto de luxo
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004 Indivíduo Diretoria
Adoção de uma gestão voltada para
resultados, meritocracia e integração
organizacional.
Boa Capacidade de
Gestão, Liderança,
Ambição e
Versatilidade
1999-2004 Indivíduo
Ângela Hirata
e Diretoria
Contratação de Ângela Hirata, que já
tinha experiência em trabalho
semelhante na Azaléia.
Boa Capacidade de
Gestão, Liderança,
Ambição e
Versatilidade
2003-2004 Indivíduo
Ângela Hirata
e Diretoria
Sob direção de Ângela, a empresa
passou a desenvolver produtos
específicos para os diversos mercados.
Ambição Salutar e Boa
Versatilidade
1999 Macroambiente Brasil
Fim do câmbio fixo. Desvalorização da
moeda e facilitação das exportações
Econômico Favorável
2001 Macroambiente Mundo
Atentados 11 de Setembro. Elevação
da cotação do dólar
Político-Econômico
Desfavorável
AP
166
2001 Macroambiente Mercosul
Moratória da Argentina. Aumento do
Risco Brasil
Político-Econômico
Desfavorável
2002 Macroambiente Brasil
Eleições Presidenciais. Risco de
descontinuidade da política econômica
de FHC. Alta das taxas de câmbio.
Político-Econômico
Desfavorável
Período Evento 2
1999-2004
A empresa passou por uma aceleração do processo de inovação e de lançamentos de novos
produtos, voltados quase sempre para os interesses dos clientes e do mercado.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004 Indivíduo Diretoria
Adoção de uma gestão voltada para
resultados, meritocracia e integração
organizacional
Boa Capacidade de
Gestão, Liderança,
Ambição e
Versatilidade
1999 Microambiente
Indústria
Têxtil e de
Calçados
Aumento das importações com a
redução das tarifas de importação
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
1999-2004 Microambiente
Indústria
Têxtil
Crescimento do número de pequenas
malharias em função dos baixos
investimentos necessários à sua
implantação.
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
1999-2004 Microambiente
Indústria de
Calçados
Aumento da pirataria
Comportamento da
Concorrência
(Acirramento)
AP
Período Evento 3
2003
A compra da restante do capital votante da Santista Têxtil com o objetivo de aumentar ainda mais
as exportações da São Paulo Alpargatas.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
2003 Indivíduo/Firma Diretoria
Levantamento de capital junto à
controladora Camargo Corrêa
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Período Evento 4
2003 Desenvolvimento de produtos específicos para os diversos mercados: Australiano, Francês e etc.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
2003-2004 Indivíduo
Ângela Hirata
e Diretoria
Sob direção de Ângela, a empresa
passou a desenvolver produtos
específicos para os diversos mercados.
Ambição Salutar e Boa
Versatilidade
AP
Período Evento 5
2002
A captação de U$ 30 milhões junto ao IFC para a modernização dos processos de produção,
expansão da capacidade produtiva e para a melhoria das práticas ambientais da companhia.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
2002 Indivíduo/Firma Diretoria
Empréstimo de U$ 30 Milhões junto ao
IFC.
Capacidade de
Levantar Fundos
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.47 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão
“Empreendedorismo” para o Recomeço da SPASA
4.4.2 Motivação para Expansão
Motivações Produtivas
Dentre as motivações produtivas cabe destacar o esforço despendido, em
2001, para colocar as Havaianas em pontos-de-venda selecionados na Austrália,
na Europa, nos Estados Unidos e na África do Sul. A iniciativa propiciou uma maior
167
exposição da marca além de ter permitido uma expansão da demanda da
empresa. Nesse contexto, visualiza-se ativação do motor de crescimento contínuo
de expansão da produção (a medida que novos recursos são adicionados, a
tentativa de tirar o maior proveito deles acaba gerando expansões adicionais) e da
marca (a medida que a marca a difundida, mais pessoas entram em contato com a
mesma, e mais demanda é evidenciada).
Outra iniciativa de motivação produtiva foi o planejamento, em 1998, de uma
entrada ofensiva no segmento de produtos na faixa que vai até os 6 anos, nicho
etário do mercado com o menor número de competidores à época. Nessa
iniciativa, a São Paulo Alpargatas buscou economias de escala e escopo, bem
como a abertura para novos nichos, produtos e mercados (EXAME, 03/12/1997).
A estratégia de internacionalização da companhia representa uma motivação
produtiva para a expansão na medida em que promove um ganho de escala por
aumentar a demanda pelos produtos. Adicionalmente, a exposição crescente das
marcas promove uma demanda crescente por novos produtos nos mercados
conquistados e em novos mercados.
Motivação Híbrida
A aquisição da Santista Têxtil pode ser caracterizada como uma ação de
motivação híbrida, na medida em que, tanto aumentou a competitividade da
divisão têxtil da São Paulo Alpargatas nos mercados interno e externo (motivação
produtiva), como dificultou a expansão de concorrentes como Vicunha e
Coteminas através de uma concentração do mercado (motivação defensiva).
Síntese sobre as Motivações para Expansão
Verificou-se a ocorrência prioritária de motivações produtivas para a expansão
da companhia durante a fase de Recomeço, incluindo o trabalho de
internacionalização das Havaianas e o fortalecimento da empresa no nicho de
artigos infantis. Não obstante, foi identificado também, um indício de motivação
híbrida, relacionado à compra da Santista Têxtil.
168
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Motivação para Expansão” durante o Recomeço da São
Paulo Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Motivação para Expansão”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.48.
Análise dos Traços Organizacionais Motivação para Expansão
Período Evento 1
1998
Planejamento de uma entrada ofensiva no segmento de produtos na faixa que vai até os 6 anos
sugere uma motivação produtiva para expansão.
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004
Indivíduo Diretoria
Adoção de uma gestão voltada para
resultados, meritocracia e integração
organizacional.
Boa Capacidade de
Gestão, Liderança,
Ambição e
Versatilidade
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
A empresa procurou acelerar o processo
de inovação e de lançamentos de novos
produtos, voltados quase sempre para
os interesses dos clientes e do mercado.
Expansão Produtiva
AP
Período Evento 2
1998
Investimento na expansão da marca Timberland e Mizuno sugere uma motivação produtiva para
expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
2003 Firma
São Paulo
Alpargatas
Crescimento do conceito Outdoor e dos
calçados com alta tecnologia.
Expansão Produtiva
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
A empresa procurou acelerar o processo
de inovação e de lançamentos de novos
produtos, voltados quase sempre para
os interesses dos clientes e do mercado.
Expansão Produtiva
AP
Período Evento 3
2001
O esforço despendido para colocar as Havaianas em pontos-de-venda selecionados na Austrália,
na Europa, nos Estados Unidos e na África do Sul sugere uma motivação produtiva para expansão.
AP
Período Evento 4
2003
A aquisição do restante do capital votante da Santista Têxtil sugere uma motivação híbrida para
expansão.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
2003 Firma
São Paulo
Alpargatas
A compra da Santista Têxtil teve como
objetivo aumentar ainda mais as
exportações da São Paulo Alpargatas
Expansão Produtiva
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.48 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Motivação para
Expansão” para o Recomeço da SPASA
169
4.4.3 Atitude para a Mudança
Atitudes tendentes a Moldar o Ambiente
O desenvolvimento da marca Timberland através da consolidação das lojas, do
trabalho de divulgação em mídia de massa, da criação do site da marca na
Internet, e da remessa dos “Informativos Timberland” por e-mail aos seus
principais clientes formadores de opinião, representou uma forma de moldar o
ambiente na medida em que ajudou a sedimentar o mercado para o conceito
“Outdoor” e a posicionar bem a marca dentro do segmento. De 1996 até 2004, a
taxa anual média de crescimento do faturamento da marca, foi de 57%.
Da mesma forma, a São Paulo Alpargatas ajudou a sedimentar o mercado de
tênis com tecnologia de amortecimento de impacto ao divulgar a Mizuno (líder
mundial). O trabalho incluiu propaganda, a manutenção do Runners Team (um
programa de relacionamento com clubes de atletas amadores e profissionais),
patrocínios, e a instalação, em 2000, em 48 lojas de São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte e Curitiba, de um sistema de testes para identificar o modelo de
melhor adaptação às características do pé de cada cliente.
A mudança na política de exportação das Havaianas, que passou a priorizar
marca e não volume, também sinalizou uma atitude de moldagem do ambiente. Foi
criado um nicho de mercado para as sandálias, que passaram a ser
comercializadas em canais seletivos e a preços elevadíssimos, como mostra o
trecho da entrevista com Rui Porto, Diretor de Comunicação e Mídia
170
"A empresa, a partir de 2000, 2001, resolveu mudar, pois em vez
de exportar commodite, que era o fazíamos quando exportávamos
Havaianas para a América do Sul, onde era um produto para calçar
qualquer pessoa, para proteger o pé simplesmente, a gente passou a
exportar marca. Aí está a grande diferença. E fomos exportando
marcas. Então, fomos pro “high-end”, fomos vender marca em um
canal seletivo."
Rui La Laina Porto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevista conduzida em 11/05/2005
Por fim, na parte de tecnologia, a São Paulo Alpargatas foi pioneira na
utilização da Internet como instrumento de integração com seus clientes. Na
verdade, a negociação B2B Business to Business, corroborou para a aceleração
no atendimento dos pedidos e para a consolidação do foco da empresa no
mercado.
Atitudes tendentes a adaptar-se ao Ambiente
A adoção do AVA (Avaliação do Valor de Atividade) com a conseqüente
extinção de todas as operações que não adicionavam valor à companhia, entre
elas: a cadeia de lojas Jeaneration e Stravaganza; as operações com as marcas
Arrow e Ralph Lauren (esta última, apesar de lucrativa, estava fora do foco de
atuação da empresa); as operações internacionais no Chile e na Argentina; o
restaurante, 7 dos 12 andares alugados no prédio da sede; fábricas e funcionários
alocados em atividades secundárias sugere uma forma de adaptação da empresa
à gravidade de sua crise.
A continuidade do processo de otimização da cadeia de suprimentos com o
objetivo de reduzir gastos com insumos e serviços, reduzir os riscos de
desabastecimento e melhorar a rentabilidade, foi uma adaptação necessária à São
Paulo Alpargatas, fruto de seu processo de downsizing e do aumento da
concorrência que surgiu desde o início da década de 90. As medidas incluíram
também a redefinição e reavaliação de fretes e rotas, buscando, também,
significativa diminuição dos custos de transportes (SPASA, 1998; SPASA, 1999;
SPASA, 2000; EXAME, 24/05/2000; PORTO, 2005).
171
Síntese sobre as Atitudes para as Mudanças
A análise das atitudes para a mudança sugere que a empresa contribuiu
ativamente para a definição do ambiente externo, particularmente, no tocante às
marcas Timberland e Mizuno, bem como no posicionamento da Havaianas no
exterior. Nos casos em que houve adaptação, as razões estiveram relacionadas a
processos contínuos de mudança (otimização da cadeia de suprimentos), e a
correções de tentativas anteriores de moldar o ambiente (fechamento das cadeias
de lojas de confecções).
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não foram obtidas constatações a partir dos indicadores quantitativos a
respeito da dimensão “Atitude para a Mudança” durante o Recomeço da São Paulo
Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Atitude para a Mudança”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas,
segue estruturada na Tabela 4.49.
Análise dos Traços Organizacionais Atitude para Mudança
Período Evento 1
1997
A adoção do AVA (Avaliação do Valor de Atividade), que eliminou todas as atividades que não
agregavam valor à empresa sugere uma adaptação da São Paulo Alpargatas à crise pela qual
passava.
AP
Período Evento 2
1997-2004
O desenvolvimento da marca Timberland ajudou a sedimentar o mercado para o conceito “Outdoor”.
O ambiente foi de certa forma moldado pela São Paulo Alpargatas.
AP
Período Evento 3
1997-2004
O desenvolvimento da marca Mizuno ajudou a sedimentar o mercado de tênis com tecnologia de
amortecimento de impacto. A São Paulo Alpargatas ajudou a moldar o segmento no Brasil.
AP
Período Evento 4
1999-2004
A mudança na política de exportação das Havaianas, passando a priorizar o valor da marca ao
invés de volume foi uma vitória da São Paulo Alpargatas que envolveu conflitos com os
distribuidores estrangeiros.
AP
Período Evento 5
2000
A utilização pioneira da Internet como instrumento de integração com seus clientes (negociação
B2B). Essa inovação tende a proporcionar um nível de produtividade que deverá ser seguida pelos
concorrentes sob pena de perda de competitividade.
AP
Período Evento 6
172
1998-2004
A continuidade do processo de otimização da cadeia de suprimentos com o objetivo de reduzir
gastos com insumos e serviços, reduzir os riscos de desabastecimento e melhorar a rentabilidade.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.49 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Atitude para a
Mudança” para o Recomeço da SPASA
4.4.4 Gestão da Diversidade
A análise da evolução das classes de indicadores quantitativos de
“Crescimento e Desempenho Econômico” (Figura 4.17) e de “Eficiência
Administrativa” (Figura 4.20) foi de grande auxílio para a compreensão do nível de
integração das estruturas produtivas e administrativas da companhia. O primeiro
ajudou na identificação da evolução dos custos operacionais totais da companhia,
enquanto o segundo indicador ajudou a identificar em que medida as alterações
nestes custos operacionais foram oriundos de despesas gerais, com vendas e
administrativas.
Evolução do Custeio da Estrutura Administrativa
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
% Lucro Bruto
Desp. Vendas, Adm. e Soc. / Lucro Bruto
Adesão Nível 1
Governança
Corporativa
BOVESPA
Início
Internacionalização
Havaianas
Adoção Toyota
Production
System
Aquisição do
Restante do Capital
Votante da Santista
Retomada do Crescimento:
Institucionalização das ações
tomadas na Reestruturação
Reestruturação: Revisão de Contratos e Negócios; Foco em Marcas; Foco em
Resultado; Revisão da Política de Pessoal; Corte de Superfulos da Diretoria; Queda da
Hierarquia
Fonte: Vide Anexo 8
Figura 4.20 Eficiência Administrativa da SPASA na fase de Recomeço
173
Gestão da Diversidade tendente à Integração
Algumas das medidas tomadas pela São Paulo Alpargatas durante a fase de
Recomeço sugerem uma gestão da diversidade tendente à integração. Com
relação à área de recursos humanos, cabe destaque aos programas de
desenvolvimento profissional e à política de reconhecimento, que passou a incluir a
participação nos resultados em 1998 e o programa “Destaques” em 1999.
Com relação ao desenvolvimento profissional, foram realizados investimentos
em treinamentos e capacitação profissional, principalmente nas unidades
operacionais, que somaram mais de R$ 5 milhões entre 1997 e 2004.
Adicionalmente, conduziram-se programas educacionais do ensino de primeiro
grau, que permitiram a elevação do nível educacional dos funcionários. Para os
níveis gerenciais, além dos programas individuais de atualização profissional em
entidades externas, o investimento principal foi direcionado para a identificação
das competências individuais. Em 2002, foi inaugurado o Centro de Capacitação e
Desenvolvimento em João Pessoa, para o aprimoramento do conhecimento dos
funcionários das fábricas da região Nordeste, através de treinamentos técnico-
comportamentais. (SPASA, 1999, SPASA, 2000; SPASA, 2001, SPASA, 2002).
Além da promoção do desenvolvimento técnico-comportamental dos
funcionários, outra iniciativa que ajudou na integração da companhia foi a de
promover o envolvimento de todos, em todas as etapas da cadeia produtiva, de
todos os produtos, independentemente do nível de participação direta. Reuniões
de diretoria passaram a envolver os funcionários, e quinzenalmente, contavam
com a participação do Presidente. Além disso, foi criado um canal de comunicação
direta com o Presidente, para que qualquer assunto pudesse ser tratado
oportunamente. A idéia era que todos soubessem exatamente o escopo de
atuação da companhia, seus concorrentes, sua visão de futuro, sua missão, seus
valores, e que pudessem, com base nesse conhecimento, identificar problemas,
propor soluções e vibrar com os resultados positivos da companhia como um todo.
Nesse contexto, a comunicação foi um instrumento de importância inestimável
para a integração das várias divisões, dos vários setores e funcionários. Rui Porto,
Diretor de Comunicação e Mídia, explicita a seguir, a busca da empresa pela
integração e a importância da informação para a obtenção desse objetivo.
174
"A comunicação informal, eu diria que ela é tão ou mais importante
que a comunicação formal. A gente tem também o jornal mural, temos
o jornal mensal, temos Intranet. Sabemos quem quer o jornal, quer a
Intranet. A Intranet não dá para ser utilizada no chão-de-fábrica por
que não tem acesso a computador, então a gente dá muita importância
a esses murais nos refeitórios, nos banheiros, nos vestiários, nas
áreas comuns, onde as pessoas circulam. Quando um filme comercial
estréia em São Paulo, ele vai para todas as fábricas, para as fábricas
verem, mesmo que aquela fábrica não seja fabricante de Topper, por
exemplo, a gente exibe o comercial. Para o chão-de-fábrica se sentir
envolvido com a coisa".
"... e isso é muito importante, a qualidade das pessoas, a
qualidade dos times que se formam, a qualidade da informação,
porque a gente procura sempre na medida do possível informar todo
mundo de tudo que acontece na empresa, desde que possível,
evidentemente. São feitas inúmeras pesquisa internas, pesquisas de
clima que é uma coisa que a gente faz para vê para onde as coisas
estão andando; o que é necessário corrigir; o que é necessário
reforçar; o que é necessário mudar. Tudo isso é discutido com a
diretoria. Temos reuniões semanais de diretoria que no geral são o dia
inteiro, no mínimo de uma tarde muito comprida onde tudo isso é
discutido, é falado, e então os diretores por sua vez reúnem seus
gerentes e a comunicação flui bastante."
"Quando a gente faz eventos muito charmosos em São Paulo
Fashion Week ou no Rio de Janeiro Fashion Week tem atrás ali um
funcionário das Havaianas que a gente faz questão de trazer da fábrica
e que fica fascinado por que ver que aquilo que ele está fazendo é
uma sandália para a Malu Mader, para a Cristiana Oliveira, e a gente
faz questão de levar a Cristiana Oliveira, a Malu Mader e o Fábio
Assunção, ou quem quer que seja, todos os globais, lá dentro para
cumprimentar a pessoa. Infelizmente não dá para fazer isso com todos
os 3.000 funcionários da fábrica de Campina Grande que fabrica
Havaianas, mas na medida do possível... Se a pessoa vai chegar na
fábrica, por exemplo, já diz: “A sandália que eu fiz eu botei no pé da
Malu Mader e tal... da Vera Fisher, da Giovanna Antonelli e etc”. Então,
175
a gente procura, na medida do viável e do possível, criar esse
envolvimento. O sucesso da Havaianas em Paris a gente não
comunica só para os clientes, fornecedores, agências, imprensa. A
gente faz questão de comunicar para a fábrica.”
Rui La Laina Porto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevista conduzida em 11/05/2005
Mudanças na estrutura organizacional também apontaram para uma gestão da
diversidade voltada para a integração. Desde 1997, a estrutura organizacional da
companhia vem sendo gradativamente adaptada. Como resultado, observou-se
uma melhoria significativa na eficiência administrativa, tendo o seu custeio em
relação ao lucro bruto decrescido de 100% em 1997 para pouco mais de 70% em
2004 (Vide Figura 4.20). Em 2004, Rainha, Topper e Mizuno, passaram a ser
administradas pela mesma diretoria. O objetivo foi o aproveitamento das sinergias
na pesquisa e desenvolvimento de produtos, nas políticas comerciais, na aquisição
de suprimentos e na logística de distribuição. A operação fabril e as atividades de
pesquisa e desenvolvimento passaram a ser conduzidas por novos diretores.
Foram criadas as áreas de Inteligência de Negócios e o Comitê de Marketing.
Do lado operacional, alinhado ao processo de otimização do fluxo da cadeia de
suprimentos, que estava dentro das medidas de redução das despesas e
maximização da rentabilidade, foi iniciado em 2001, o processo de redefinição e
reavaliação de fretes e rotas, buscando significativa diminuição dos custos de
transportes através da racionalização dos recursos.
Gestão da Diversidade tendente à Fragmentação
Apesar dos claros esforços de melhorar a integração da empresa, algumas
deficiências foram encontradas, principalmente no processo de integração entre os
departamentos comerciais e de marketing, e o departamento de produção e
logística da marca Havaianas. Entrevistando vários comerciantes locais de
Teresina, entre eles, Casas Rios, Lojas Paralelas, Toc Toc Sports e Pizare, as
queixas foram unânimes: “Eles anunciam, elevam a demanda, e não entregam o
produto”. Em contato com pessoas ligadas à empresa em São Paulo, obteve-se
176
evidências de que o problema não seria regionalizado e que remonta ao início do
processo de reposicionamento da marca. A explicação que colhemos é que a
produção das sandálias tradicionais é priorizada à produção das sandálias de
moda, pelo seu baixo custo de reconfiguração da linha de produção. Como as
sandálias de moda se apresentam numa diversidade muito grande, exigem
paradas constantes para a reconfiguração do maquinário. A produção acaba
saindo em lotes menores. Como resultado, o tempo de utilização da fábrica para a
produção de sandálias de moda é bem menor do que o tempo utilizado para a
fabricação dos produtos ofertados para grandes atacadistas.
Outra evidência de fragmentação da diversidade esteve relacionada com a
consolidação do conceito de unidades de negócios adotado a partir de 1997. Cada
marca foi se tornando cada vez mais segmentada, criando uma espécie de
departamentalização (desta vez processual ao invés de funcional), o que remonta,
de certa forma, aos tempos de forte hierarquização da companhia. Embora faça
sentido para a empresa, em termos de controle e de responsabilização, criar uma
estrutura específica para cada unidade de negócios, nem sempre tem sido
benéfico para o cliente varejista. Tem sido comum os clientes se depararem com a
situação de ter um representante da São Paulo Alpargatas em seus
estabelecimentos e não poderem resolver determinados tipos de problemas por
que não são da alçada da marca ou da unidade de negócios à qual o
representante está vinculado. Quase todos os varejistas também se queixaram do
alto absenteísmo dos representantes.
"Tinha um representante anteriormente que visitava mais. Eu acho
até que quando o representante visita com mais freqüência os clientes,
eles acabam comprando mais por causa das novidades, e para não
deixar faltar mercadoria. E esse representante não. Se eu ligar ele
vem. Se eu não ligar, ele não vem. Muito difícil ele vir sem você ir
atrás. Já com as outras marcas é diferente. O representante vem, traz
as amostras e fica sempre passando para ver do que estamos
precisando. Eu não sei se é por que o representante da Alpargatas fica
responsável pelo Piauí, Ceará e Maranhão!”
Ketiane
Sócia-proprietária das Casas Rios
Fonte: Entrevita conduzida em 22/05/2005
177
"O representante passa a cada 45 dias. Quando o nível de estoque
desce a gente entra em contato e pede geralmente a repetição do
último pedido. O contato é muito mais da gente para com o
representante do que do representante para com a gente."
Jorge
Gerente das lojas Pizare Teresina
Fonte: Entrevista conduzida em 31/06/2005
"Os representantes aparecem geralmente quando tem alguma
novidade. Normalmente somos nós que ligamos para ele. Pedimos
reposição de estoque, negociamos o preço e o prazo de entrega e
damos a autorização para o embarque."
David
Gerente das lojas Paralelas Teresina
Fonte: Entrevista conduzida em 03/06/2005
Vale ressaltar que, conforme colocado anteriormente entre as evidências de
uma gestão da diversidade voltada à integração, a São Paulo Alpargatas tem
constantemente adaptado sua estrutura organizacional com o objetivo de torná-la
a mais adequada possível às suas operações (é o caso da consolidação das
diretorias da Topper, Rainha e Mizuno), buscando inclusive corrigir problemas
como os recém expostos.
Síntese sobre a Gestão da Diversidade
As constatações relacionadas à gestão da diversidade durante a fase de
Recomeço da São Paulo Alpargatas sugerem, na sua maioria, uma tendência à
integração, onde destaca-se o trabalho de melhoria do processo de comunicação
interna, de desenvolvimento dos recursos humanos e de incentivo ao trabalho em
equipe. A esse despeito, foram verificados indícios isolados de fragmentação,
como, por exemplo: (1) a aparente falta de integração entre os agentes de vendas
e o setor de produção da companhia (as demandas de Havaianas não estão sendo
plenamente atendidas); e (2) a aparente falta de integração dos agentes de vendas
entre si, quando do atendimento e da resolução de problemas dos clientes (os
mesmos estiveram bastante limitados em resolver problemas de suas alçadas e
marcas).
178
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Diversidade” durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas, segue disposta na
Tabela 4.50.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Gestão da Diversidade
A redução do custeio administrativo em aproximadamente 20% sugere
uma elevação da eficiência administrativa possivelmente causada pelas
medidas de fomento à integração da diversidade organizacional (Figura
4.20).
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.50 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Diversidade” para o Recomeço da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Diversidade”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas,
segue estruturada na Tabela 4.51.
Análise dos Traços Organizacionais Gestão da Diversidade
Período Evento 1
1998-2004
Implantação de programas de desenvolvimento profissional e de reconhecimento.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1998 Firma
São Paulo
Alpargatas
Início da Distribuição de Lucros
Boa Política de
Reconhecimento
(Política de Integração
da Diversidade)
1999 Firma
São Paulo
Alpargatas
Programa Destaque
Boa Política de
Reconhecimento
(Política de Integração
da Diversidade)
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Foram realizados investimentos em
treinamentos e capacitação profissional
que somaram mais de R$ 5 milhões
entre 1997 e 2004
Atenção ao
Treinamento e
Desenvolvimento
(Política de Integração
da Diversidade)
2002 Firma
São Paulo
Alpargatas
Inaugurado o Centro de Capacitação e
Desenvolvimento em João Pessoa, para
o aprimoramento do conhecimento dos
funcionários das fábricas da região
Nordeste, através de treinamentos
técnico-comportamentais
Atenção ao
Treinamento e
Desenvolvimento
(Política de Integração
da Diversidade)
AP
Período Evento 2
1997-2004
Gestão participativa e difusão da visão holística entre todos os funcionários (Envolvimento de todos
os funcionários em todos os processos da empresa).
AP
179
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Reuniões de diretoria passaram a
envolver os funcionários, e
quinzenalmente, contavam com a
participação do Presidente
Política de Integração
da Diversidade
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Criado um canal de comunicação direta
com o Presidente, para que qualquer
assunto pudesse ser tratado
oportunamente
Política de Integração
da Diversidade
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Promoção de instrumentos de
comunicação formal e informal
Política de Integração
da Diversidade
Período Evento 3
1997-2004
Segmentação entre as áreas comerciais de campo das unidades de negócios, provocando uma
deficiência no atendimento aos clientes.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
2003-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Tem sido comum os clientes se
depararem com a situação de ter um
representante da São Paulo Alpargatas
em seus estabelecimentos e não
poderem resolver determinados tipos de
problemas por que não são da alçada da
marca ou da unidade de negócios à qual
o representante está vinculado.
Fragmentação da
Diversidade
AD
Período Evento 4
1997-2004
Melhoria do processo de comunicação interna e externa para com os stakeholders.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Promoção de instrumentos de
comunicação formal e informal
Política de Integração
da Diversidade
AP
Período Evento 5
1997-2004
Afinamento progressivo da estrutura organizacional.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Observou-se uma melhoria significativa
na eficiência administrativa, tendo o seu
custeio em relação ao lucro bruto
decrescido de 100% em 1997 para
pouco mais de 70% em 2004.
Política de Integração
da Diversidade
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.51 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Diversidade” para o Recomeço da SPASA
4.4.5 Gestão da Complexidade
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Solidez Econômica”
(Figura 4.18) e de “Liquidez” (Figura 4.19) ajudou significativamente para a
identificação das evidências de uma gestão sistemática ou casuística da
complexidade. O primeiro ajudou na identificação do tipo de gestão da formação
de reservas, de investimentos e de endividamento. O segundo indicador ajudou a
detectar o tipo de gestão da estrutura de caixa e dos estoques.
180
Gestão Sistemática
Várias evidências de gestão sistemática da complexidade puderam ser
colhidas na fase de Recomeço, muitas delas inerentes ao próprio plano de
reestruturação, entre elas: (1) a transparência e o realismo com que foi conduzido
o processo; (2) a redefinição das políticas de remuneração e reconhecimento que
passaram a serem baseadas em resultado; (3) o planejamento e a adoção de
políticas de desenvolvimento pessoal. A companhia passou a investir em
diferentes programas de treinamento e desenvolvimento, com o objetivo de ampliar
as habilidades pessoais dos funcionários. Adicionalmente, passou a estimular a
educação formal de seus colaboradores, tanto na conclusão do ensino
fundamental e médio, como na graduação universitária e no estudo de idiomas; (4)
a melhoria da comunicação com os diversos stakeholders, em especial, com o
mercado de capitais e acionistas, com os funcionários, com os consumidores e
com as comunidades. Para atender ao primeiro público, a São Paulo Alpargatas
aderiu, em 2003, ao Nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa, o que
demonstrou um maior interesse da companhia pela transparência de suas ações.
Para atender ao segundo público, a empresa deu continuidade à política de rodízio
de funções entre os diretores; passou a envolver os funcionários em todos os
processos da companhia; e o presidente passou a fazer pronunciamentos
periódicos para informar dos acontecimentos. Adicionalmente, informações
passaram a ser divulgadas na Intranet e em jornais de murais. Para atender ao
terceiro público, a companhia deu prosseguimento à sua estratégia de
comunicação, envolvendo propagandas, patrocínios, inovações e ajustes dos
canais de distribuição. Para atender às comunidades, a São Paulo Alpargatas criou
o Instituto Alpargatas de Responsabilidade Social
2
e o Programa Educacional
Caminhar e Aprender
3
; (5) os investimentos realizados na atualização de sistemas
computacionais, e no desenvolvimento de novas aplicações. Esses investimentos
2
O Instituto Alpargatas de Responsabilidade Social foi criado com a missão de melhorar, por
meio do esporte, a qualidade da educação de crianças e adolescentes de famílias de baixa
renda, nas comunidades onde a São Paulo Alpargatas atua.
3
O Programa Educacional Caminhar e Aprender foi criado com o objetivo de erradicar a
ausência do ensino fundamental dos funcionários das fábricas, usando metodologia que
vincula o aprendizado à realidade do trabalhador.
181
geraram uma melhoria nos níveis de controle e possibilitaram novas formas de
comunicação e atendimento aos consumidores, como as vendas B2B; (6) o
planejamento e a implantação do Toyota Production System, que reduziu os
estoques e o tempo médio de atendimento dos clientes, e elevou a capacidade de
flexibilidade da empresa; (7) o programa de desenvolvimento da marca
Timberland, que desde 1997, cativa novos clientes com a qualidade, o design e o
conceito “Outdoor”. Entre os anos de 2002 e 2003, a comunicação com os
consumidores finais foi melhorada através da criação do site da marca na Internet,
que posteriormente incorporou, também, funcionalidade de venda direta; (8) o foco
sistemático da Direção da companhia na gestão de caixa (Vide Figura 4.19); (9) a
continuidade da política de financiamento, que continuou focada nos baixos juros
ofertados pelo mercado externo, sem contudo, descuidar das proteções contra
variações cambiais; (10) a retomada da formação de reservas, que saiu de -5% do
ativo em 1997 para aproximadamente 25% do ativo em 2004 (Vide Figura 4.18); e
(11) o trabalho sistemático de internacionalização da marca Havaianas, que foi
iniciado em 1999, e cuja firmeza do propósito pode ser evidenciado no trecho da
entrevista com Rui Porto que segue:
"No começo tivemos muitas propostas, mas eles já sabem que não
fazemos para tirar a nossa marca. A Zara espanhola queria muito que
a gente simplesmente fabricasse para eles. Eu falei: “Não, nós
podemos fazer Havaianas by Zara ou Zara by Havaianas, mas tirar o
nome Havaianas, nunca”. Então a gente exportou marca, a gente foi
procurar parceiros locais, a gente entrou firme em assessoria de
imprensa e em eventos, colocando a marca lá em cima junto a móveis,
junto a designers, junto a desfiles de moda, junto a eventos legais quer
na Itália, na França, na Espanha, em Portugal, nos EUA, Austrália,
Japão. Nos apresentamos em eventos assim, sempre no “top” do “top”
do “top”. Temos assessorias de imprensa locais muito boas que
também entenderam a marca e estão trabalhando ativamente para
botar a marca lá em cima."
Rui La Laina Porto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevista conduzida em 11/05/2005
182
Quanto ao trabalho de internacionalização das Havaianas, a primeira medida
da São Paulo Alpargatas foi procurar alguém com a competência necessária para
conduzir o projeto. A consultora Ângela Hirata, que havia aberto o mercado
asiático para a Azaléia entre 1989 e 1997, foi designada para o desafio, tendo sido
contratada como Diretora de Comércio Exterior em 2001. Dentre as medidas
tomadas pela executiva, destacaram-se: (1) Reorganização da rede de
distribuidores com o objetivo de priorizar a marca ao volume. Nesse contexto,
muitos dos antigos distribuidores que não se adaptaram ao novo posicionamento
tiveram que ser afastados; (2) Redefinição das estratégias de comunicação,
evitando a publicidade de massa e apostando em iniciativas alternativas, como o
patrocínio de campeonatos de surfe no Havaí, parcerias com a MTV Francesa,
anúncios em revistas mundiais selecionadas como a Wallpaper, e a participação
em eventos “top” de moda; e (3) Criação de modelos exclusivos para exportação
com políticas de preço diferenciadas.
Com o aumento da exposição e da valorização da marca no exterior, a
pirataria, o contrabando e a falsificação ganharam impulso. Para combater tais
práticas, a São Paulo passou a atuar de maneira sistemática, instituindo além das
medidas jurídicas cabíveis, as seguintes frentes de combate:
"Estamos exportando Havaianas com modelos exclusivos para
exportação, então é impossível comprar aqui no Brasil e contrabandear
pra lá. Então, se você tem um produto que só vende na França e na
Itália, então não tem como comprar aqui e vender lá. Então, não
vendemos pra cá, só vendemos pra lá."
"Adotamos medidas de pricing. Com esse produto mais exclusivo,
só para exportação, eu posso vender mais caro, por que ele tem um
valor agregado maior, e tenho como manter uma imagem da marca, o
que para nós é também uma coisa muito importante. E aí, também
exportamos o que se vende aqui, só que aí a gente está conseguindo
baixar o preço lá fora. Então, é uma precificação que você está
fazendo para combater esse contrabando. Então, na hora que eu baixo
o preço do produto legal, o contrabando ou ele cai fora ou vai ter que
baixar o preço dele, o que talvez não fique interessante."
183
"Fazemos eventos no exterior onde a gente convida a imprensa
formadora de opinião para dizer que essas são as únicas Havaianas."
Rui La LainaPorto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevista conduzida em 11/05/2005
Quanto à política de preços, o depoimento do representante de um dos
varejistas entrevistados demonstra a forma sistemática de trabalho da companhia,
aparentemente extensível às outras fases de sua história.
"É uma empresa que tem realmente uma política de preços. Não é
aquela empresa que tem um preço pra fulano, outro preço pra
beltrano, e quando tem ela já te diz por quanto vendeu, pra quem e por
que. Então, você sabe qual é a política e pode se programar em cima
dela. São muito transparentes."
Marcos
Gerente das Lojas Toc Toc - Teresina
Fonte: Entrevista conduzida em 03/06/2005
Gestão Casuística
Dois eventos chamaram a atenção para uma forma de gestão casuística da
complexidade. O primeiro deles diz respeito à mudança no sistema de colagem
utilizado nos tênis Mizuno, que provocou um descolamento generalizado do
solado, prejudicando fortemente a imagem da marca. Pouco se sabe sobre as
circunstâncias do ocorrido, mas o fato é houve uma falha no controle da qualidade
que expôs a empresa a um risco desnecessário.
“A Mizuno caiu num pecado muito grande quando passaram a usar
uma cola à base de água. Foi um problema de descolagem que
“queimou muito o filme” da Mizuno. “Queimou” que hoje em dia eu não
compro mais Mizuno. Já fazem uns 2 anos do problema e vai fazer 1
ano que eu não tiro mais pedido do Mizuno, por que não vale mais a
pena para a loja. “Não fede nem cheira”. Topper sempre foi tranqüilo. A
Havaianas tem problemas de entrega! Rainha também é muito
tranqüilo. Bom de venda! Não dá problema! Acabamento bom!”
184
David
Gerente das Lojas Paralelas Teresina
Fonte: Entrevista conduzida em 03/06/2005
“Tivemos um problema de colagem há uns 3 anos atrás, que foi
um volume significativo, com a marca Mizuno. Isso foi resolvido e hoje
já se superou”.
Marcos
Gerente das Lojas Toc Toc Teresina
Fonte: Entrevista conduzida em 03/06/2005
O segundo evento diz respeito à falta de entrega das Havaianas e a
conseqüente perda de faturamento. A menos que haja uma decisão deliberada de
provocar tal desabastecimento, o que é irracional no ponto de vista econômico, o
problema sugere uma falta de integração entre o marketing e a produção das
sandálias, o que caracteriza uma estratégia casuística de ida ao mercado.
“Agora, um outro tipo de problema que nós enfrentamos foi com as
Havaianas. As Havaianas tem um outro representante, não é o mesmo
da Rainha. A gente sempre pede e eles nunca mandam o pedido todo.
Eles mandam parte do pedido, e às vezes nem mandam o pedido. O
problema mesmo foi da Havaianas. A gente pediu muito uma vez. Na
feira, a minha mãe foi com minha irmã e passaram um tempão no
stand, perderam um tempo danado escolhendo Havaianas, pedindo
Havaianas e esse pedido nunca chegou.”
Ketiane
Sócia-Proprietária das Casas Rios
Fonte: Entrevista conduzida em 22/05/2005
“Nós começamos um trabalho há uns 5 anos atrás, mas a marca
não era tão forte como é hoje. Havaianas era um nome mais popular.
Hoje Havaianas está uma marca média, quase que elite, com esses
novos modelos de sandálias. Eu não citei como ponto negativo, mas
ultimamente estamos tendo um ponto negativo que é a entrega de
Havaianas Flash, que nós temos comprado e não estamos recebendo.
Mas que também não é um problema só nosso. Eu acho que de um
modo geral o mercado não está recebendo esse produto”
185
Marcos
Gerente das Lojas Toc Toc Teresina
Fonte: Entrevista conduzida em 03/06/2005
Síntese sobre a Gestão da Complexidade
Constatou-se a presença de vários indícios de resolução sistemática de
problemas durante a fase de Recomeço da São Paulo Alpargatas, tais como: (1) a
modificação da política de gestão de pessoas; (2) a adoção de uma administração
voltada para resultados; (3) a melhoria do processo de comunicação com os
diversos stakeholders; (4) a melhoria contínua dos sistemas produtivos; (5) a
manutenção da sistemática de precificação; (6) o planejamento de
internacionalização das marcas da companhia; entre outras. Dois casos, contudo,
tiveram, aparentemente, sua origem e/ou resolução abordados de forma
casuística, a saber: (1) problema de descolamento dos tênis Mizuno; (2) problema
de entrega dos modelos diferenciados de Havaianas.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Gestão
da Complexidade” durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas, segue disposta
na Tabela 4.52.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
Gestão da Complexidade
A trajetória estável (sem volatilidade) dos níveis de reservas e do nível de
endividamento sugere uma política sistemática de investimento e de
financiamento
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.52 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Gestão da Complexidade” para o Recomeço da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Gestão da Complexidade”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas,
segue estruturada na Tabela 4.53.
186
Análise dos Traços Organizacionais
Período Evento 1
1997-2002
Forma de condução do processo de reestruturação demonstrou uma forma sistemática de conduzir
um processo de mudanças.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2002
Indivíduo Diretoria
O processo de reestruturação foi
conduzido com transparência e o
realismo.
Boa Capacidade de
Gestão
AP
Período Evento 2
1997-2004
O planejamento e a adoção de políticas de desenvolvimento pessoal representou uma forma
sistemática de lidar com os recursos humanos, motivando as pessoas, melhorando a produtividade
e diminuindo os conflitos.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
A companhia passou a investir em
diferentes programas de treinamento e
desenvolvimento, com o objetivo de
ampliar as habilidades pessoais dos
funcionários.
Boa Capacidade de
Gestão
1997-2004
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
A companhia passou a estimular a
educação formal de seus colaboradores,
tanto na conclusão do ensino
fundamental e médio, como na
graduação universitária e no estudo de
idiomas.
Boa Capacidade de
Gestão
AP
Período Evento 3
1997-2004
A melhoria da comunicação com os diversos stakeholders, em especial, com o mercado de capitais
e acionistas, com os funcionários, com os consumidores e com as comunidades.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1997-2004
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
A São Paulo Alpargatas aderiu, em
2003, ao Nível 1 de Governança
Corporativa da Bovespa, o que
demonstrou um maior interesse da
companhia pela transparência de suas
ações.
Boa Capacidade de
Gestão
1997-2004
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
A empresa deu continuidade à política
de rodízio de funções entre os diretores;
passou a envolver os funcionários em
todos os processos da companhia; e o
presidente passou a fazer
pronunciamentos periódicos para
informar dos acontecimentos.
Adicionalmente, informações passaram
a ser divulgadas na Intranet e em jornais
de murais.
Boa Capacidade de
Gestão
1997-2004
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
A companhia deu prosseguimento à sua
estratégia de comunicação, envolvendo
propagandas, patrocínios, inovações e
ajustes dos canais de distribuição.
Boa Capacidade de
Gestão
AP
Período Evento 4
1997-2004
Os investimentos realizados na atualização de sistemas computacionais e no desenvolvimento de
novas aplicações geraram uma melhoria nos níveis de controle e possibilitaram a sistematização de
novas formas de comunicação e atendimento aos consumidores.
AP
Período Evento 5
2000
O planejamento e a implantação do Toyota Production System, que reduziu os estoques e o tempo
médio de atendimento aos clientes e elevou a capacidade de flexibilidade da empresa, sugere uma
forma sistemática de unir as atividades comerciais às atividades de produção e resuprimento.
AP
Período Evento 6
1996-2004
O programa de desenvolvimento Timberland, que impulsionou o crescimento da marca a uma taxa
anual média de 57% entre 1996 e 2004, sugere a adoção de uma forma sistemática de
desenvolvimento da marca.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
AP
187
2002-2003
Indivíduo/Firma
Diretoria/São
Paulo
Alpargatas
A comunicação com os consumidores
finais foi melhorada através da criação
do site da marca na Internet, que
posteriormente incorporou, também,
funcionalidade de venda direta.
Boa Capacidade de
Gestão
Período Evento 7
1996-2004
O foco sistemático da Direção da companhia na gestão de caixa sugere uma gestão sistemática dos
recursos financeiros de curto-prazo.
AP
Período Evento 8
1996-2004
A continuidade da política de financiamento, que continuou focada nos baixos juros ofertados pelo
mercado externo, sem, contudo, descuidar das proteções contra variações cambiais, sugere uma
gestão sistemática da política de captação de recursos
AP
Período Evento 9
1999-2004
O trabalho internacionalização da marca Havaianas sugere uma forma sistemática de construção de
marca no exterior, tanto que a São Paulo Alpargatas espera replicar a experiência para outras
marcas suas.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Reorganização da rede de distribuidores
com o objetivo de priorizar a marca ao
volume.
Boa Capacidade de
Gestão, Julgamento e
Versatilidade
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Redefinição das estratégias de
comunicação, evitando a publicidade de
massa e apostando em iniciativas
alternativas.
Boa Capacidade de
Gestão, Julgamento e
Versatilidade
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
Criação de modelos exclusivos para
exportação com políticas de preço
diferenciadas.
Boa Capacidade de
Gestão, Julgamento e
Versatilidade
AP
Período Evento 10
1999-2004
O trabalho de combate à pirataria, contrabando e falsificação das Havaianas sugere uma forma
sistemática de atuação contra o problema.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
A empresa exporta Havaianas com
modelos exclusivos. Então é impossível
comprar no Brasil e contrabandear.
Boa Capacidade de
Gestão, Julgamento e
Versatilidade
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
A empresa adotou medidas de pricing.
Com um produto mais exclusivo, só para
exportação, é possível vender mais
caro.
Boa Capacidade de
Gestão, Julgamento e
Versatilidade
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
A empresa faz eventos no exterior onde
a gente convida a imprensa formadora
de opinião para dizer que essas são as
únicas Havaianas.
Boa Capacidade de
Gestão, Julgamento e
Versatilidade
AP
Período Evento 11
1997-2004
Política sistemática de preços e assistência aos varejistas com relação a produtos defeituosos.
Detalhamento da Análise
Nível de Análise
Sujeito
Ocorrência
Qualificador
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
"É uma empresa que tem realmente
uma política de preços. Não é aquela
empresa que tem um preço pra fulano,
outro preço pra beltrano, e quando tem
ela já te diz por quanto vendeu, pra
quem e por que. Então, você sabe qual
é a política e pode se programar em
cima dela. São muito transparentes."
Boa Capacidade de
Gestão
AP
Período Evento 12
2001-2002
Deficiência pontual do controle da qualidade da marca Mizuno (descolamento generalizado em
determinado(s) lote(s)).
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
“A Mizuno caiu num pecado muito
grande quando passaram a usar uma
cola à base de água. Foi um problema
de descolagem que “queimou muito o
filme” da Mizuno. “Queimou” que hoje
em dia eu não compro mais Mizuno.”
Problemas de Gestão
AD
Período Evento 13
2002-2004
Problemas de entrega dos pedidos de sandálias Havaianas. AD
188
1999-2004
Firma
São Paulo
Alpargatas
“Agora, um outro tipo de problema que
nós enfrentamos foi com as Havaianas.
As Havaianas tem um outro
representante, não é o mesmo da
Rainha. A gente sempre pede e eles
nunca mandam o pedido todo. Eles
mandam parte do pedido, e às vezes
nem mandam o pedido. O problema
mesmo foi da Havaianas. A gente pediu
muito uma vez. Na feira, a minha mãe
foi com minha irmã e passaram um
tempão no stand, perderam um tempo
danado escolhendo Havaianas, pedindo
Havaianas e esse pedido nunca
chegou.”
Problemas de Gestão
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.53 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Gestão da
Complexidade” para o Recomeço da SPASA
4.4.6 Formação da Estrutura Gerencial
Antecipada (Right-in-Time)
A contratação da executiva Ângela Hirata, como Diretora de Comércio Exterior,
em 2001, sugere uma captação antecipada de recursos gerenciais, na medida em
que a executiva iniciara sua relação com a São Paulo Alpargatas em 1999, como
consultora para o mercado externo, após ter atuado na Azaléia de 1989 a 1997.
Entre 1999 e 2001, Ângela pôde demonstrar seu potencial de alavancar as marcas
da São Paulo Alpargatas no mercado externo ao passo que absorveu a cultura da
empresa e se integrou ao seu corpo de diretores.
Em 2003, Fernando Tigre elegeu Márcio Utsch, até então diretor da Unidade
de Negócios Timberland, como seu substituto na Presidência Executiva da São
Paulo Alpargatas, após um processo de dois anos que avaliou vários candidatos
do quadro interno da empresa e do mercado.
Outra iniciativa que ressalta o perfil de antecipação da São Paulo Alpargatas
na busca por recursos gerenciais, foi a criação, em 2002, do programa de
identificação e desenvolvimento de sucessores para posições estratégicas. Tal
programa tem viabilizado a institucionalização na companhia, do processo
sistematizado de sucessão gerencial (SPASA, 2002, pág. 6)
189
Por fim, em entrevista realizada em 11/05/2005, Rui Porto, então diretor de
comunicação e mídia, ressalta outra característica da empresa que corrobora para
a sugestão de que a São Paulo Alpargatas caminha cada vez mais firme para a
antecipação e retenção de seus recursos gerenciais: o baixo turnover da
companhia.
.
"Eu acho que é sim, uma empresa que mantém muito seus
empregados em relação a outras empresas. Agora, mudar é uma
característica um pouco dos novos tempos. É diferente de uma
empresa nos anos 40. Quando você está falando de 40, você ta
falando do século passado, e hoje ela é realmente uma empresa mais
moderna onde o “turnover” é maior e isso é a característica natural dos
tempos. Mesmo assim, eu acho que Alpargatas tem um “turnover”
muito baixo!"
Rui La LainaPorto
Diretor de Comunicação e Mídia da São Paulo Alpargatas em 2005
Fonte: Entrevista conduzida em 11/05/2005
Sob Demanda (Just-in-Time)
As únicas evidências de contratação sob-demanda na fase de Recomeço
foram a do próprio Fernando Tigre, que foi o promotor da reestruturação da
companhia, e a de Pérsio Pardal Medeiros, responsável pela implantação do
Toyota Production System, a partir de 1999.
Síntese sobre a Formação da Estrutura Gerencial
Durante a fase de Recomeço, a maioria dos indícios, tais como a contratação
de Ângela Hirata como Diretoria de Comércio Exterior em 2001, a criação do
programa de identificação e desenvolvimento de sucessores para posições
estratégicas em 2002, e o processo de eleição de Márcio Utsch à presidência da
companhia sugerem que a São Paulo Alpargatas tenha agido de forma
antecipativa à formação e alocação de seus recursos gerenciais. Não obstante, a
190
contratação de dois executivos, Fernando Tigre e Pérsio Pardal Medeiros, ainda
figuraram como exceções à regra.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
Não houveram constatações a partir dos indicadores quantitativos a respeito da
dimensão “Formação da Estrutura Gerencial” durante o Recomeço da São Paulo
Alpargatas.
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Formação da Estrutura Gerencial”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo
Alpargatas, segue estruturada na Tabela 4.54.
Análise dos Traços Organizacionais
Período Evento 1
1997
Contratação, no mercado, de Fernando Tigre como Presidente Executivo. Ele foi colocado no lugar
de Diego Jorge Bush quando a Camargo Corrêa e o Bradesco resolveram intervir no controle da
São Paulo Alpargatas.
AD
Período Evento 2
1999
Contratação, no mercado, de Pérsio Pardal Medeiros para a Implantação do Toyota Production
System. Ele havia se familiarizado com o sistema na Alcoa.
AD
Período Evento 3
2001
Contratação de Ângela Hirata como Diretora de Comércio Exterior após dois anos de prestação de
consultoria em internacionalização. Antes de prestar serviço à São Paulo Alpargatas, Ângela havia
trabalhado de 1989 a 1997 no processo de abertura do mercado asiático para a Azaléia.
AP
Período Evento 4
2002
Implantação do programa de desenvolvimento e identificação de sucessores para posições
estratégicas.
AP
Período Evento 5
2003
Assunção de Márcio Utsch à Presidência Executiva após dois anos de avaliação do sucessor de
Fernando Tigre. Utsch havia dirigido a divisão de negócios Timberland antes de assumir a
presidência.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.54 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Formação da
Estrutura Gerencial” para o Recomeço da SPASA
4.4.7 Folga
A análise da evolução dos indicadores quantitativos de “Solidez Econômica”
(Figura 4.18) e de “Liquidez” (Figura 4.19), foi de grande auxílio para a
191
identificação dos níveis de folga financeira de curto e longo prazo da companhia. A
partir do primeiro indicador foi possível mensurar a relação entre os níveis de
reserva e endividamento que retratam em última instância a condição financeira de
longo prazo da companhia. O segundo indicador serviu para analisar a gestão de
caixa e de estoque da companhia.
Foi possível observar também a formação de folga na forma de marcas
valiosas no mercado interno e no exterior, na forma de mercados conquistados e
na forma de integração organizacional dos recursos humanos, reconquistada com
a adoção de políticas claras e coerentes de reconhecimento e desenvolvimento de
pessoal.
Avaliação Utilizando os Indicadores Quantitativos
A principal implicação dos indicadores quantitativos para a dimensão “Folga”
durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas, segue disposta na Tabela 4.55.
Resposta aos Desafios do Crescimento Identificados pelos Indicadores Quantitativos
A trajetória crescente dos níveis de reservas em relação ao nível de
endividamento (Figura 4.19) sugerem a formação da folga financeira de
longo prazo necessária ao crescimento da empresa
AP
Folga
A trajetória crescente dos índices de liquidez (Figura 4.20) sugerem a
formação da folga financeira de curto prazo necessária ao crescimento
da empresa, e importante para sua capacidade de resistência a
imprevistos.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.55 Implicação dos Indicadores Quantitativos para a Dimensão
“Folga” para o Recomeço da SPASA
Avaliação das Informações Qualitativas
A síntese das constatações da análise qualitativa a respeito da dimensão
“Folga”, obtidas durante o Recomeço da São Paulo Alpargatas, segue estruturada
na Tabela 4.56.
Análise dos Traços Organizacionais Folga
Período Evento 1
1997-2004
A gestão sistemática de caixa promoveu a melhoria dos índices de liquidez, o que evidencia o
aumento da folga financeira de curto-prazo.
AP
192
Período Evento 2
1997-2004
A otimização da cadeia produtiva promoveu a redução de custos e gerou um adicional financeiro
representativo de folga.
AP
Período Evento 3
1997-2004
A integração organizacional promoveu uma redução do esforço de coordenação o que resultou em
folga de recursos humanos e financeiros.
AP
Período Evento 4
1997-2004
A valorização das marcas Havaianas, Timberland, Mizuno e outras, elevou a capacidade da
empresa de fazer novos investimentos nas mesmas marcas bem como em outras. Essa capacidade
elevada está relacionada com folga.
AP
Período Evento 5
1999-2004
A conquista do mercado Francês, Australiano e outros, permitiu que a empresa não ficasse
dependente do mercado Brasileiro, além de ter servido de legitimidade para a entrada em novos
mercados. Essa capacidade de independência e legitimação tem haver com o conceito de folga.
AP
Legenda
AP Sugere Propensão à Autoperpetuação AD Sugere Propensão à Autodestruição N Neutro
Tabela 4.56 Síntese da Análise Qualitativa sobre a dimensão “Folga” para o
Recomeço da SPASA
193
4.4.8 Posicionamento no Continuum Autodestruição-
Autoperpetuação
As tabelas 4.57, 4.58, 4.59 apresentam o posicionamento da São Paulo
Alpargatas no continuum de propensão à autodestruição-autoperpetuação para a
fase de Recomeço.
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Empreendedorismo 6 0 0 6 100,00
Motivação para Expansão 4 0 0 4 100,00
Atitude para a Mudança 6 0 0 6 100,00
Gestão da Diversidade 5 1 0 4 66,66
Gestão da Complexidade 12 2 0 10 71,42
Formação da Estrutura
Gerencial
3 2 0 1 20,00
Tabela 4.57 Posicionamento na fase de Recomeço por Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Crescimento Contínuo 16 0 0 16 100,00
Manutenção da Integridade
Organizacional
20 5 0 15 60,00
Folga 7 0 0 7 100,00
Tabela 4.58 Posicionamento na fase de Recomeço por Grupo de Desafio
Desafio
Propensão à
Autoperpetuação
Propensão à
Autodestruição
Propensão à
Neutralidade
Posição da Empresa
no Continuum AD-AP
Eventos
(A)
Eventos
(B)
Eventos
(C)
Pontos
(A)*1 +
(B)*(-1) +
(C)*0
% Pólo
(A-B /
A+B+C)
Fase “O Recomeço” 43 5 0 38 79,16
Tabela 4.59 Posicionamento Geral na fase de Recomeço
AD
AP
194
5. CONCLUSÕES
A realização deste trabalho sobre os 98 anos da São Paulo Alpargatas exigiu
duas características pessoais, que são na verdade, fundamentais para a condução
de qualquer pesquisa de caráter histórico, principalmente no Brasil: (1) maturidade
para identificar, estruturar e analisar dados significativos com isonomia e
imparcialidade; e (2) esforço e determinação no trabalho de levantamento desses
dados. A maturidade é algo que se adquire através de experiências e reflexões,
podendo se apresentar, portanto, em diversos níveis de intensidade. Para aqueles
que como o autor estão sendo iniciados na vida acadêmico-científica, o papel de
um orientador experiente é de fundamental importância para o direcionamento das
ações do pesquisador em prol do melhor resultado de seu esforço. Por sua vez, a
determinação para buscar informações onde quer que elas estejam é algo que
depende basicamente de dois fatores: (1) inquietações internas e inerentes à
personalidade do pesquisador; e (2) motivação externa para conduzir o trabalho,
geralmente fruto da percepção de importância da contribuição do pesquisador para
a construção de um projeto de pesquisa maior. Neste caso também, fica notória a
importância da atuação do orientador no envolvimento do discente.
Para este estudo de caso, foram identificadas como relevantes informações de
caráter político, econômico, social e tecnológico relacionadas ao país como um
todo, à indústria de calçados, à indústria têxtil e à própria São Paulo Alpargatas. A
estruturação desses dados teve como objetivo: (1) padronizá-los em bases
comparáveis, eliminando principalmente os efeitos das mudanças econômicas
ocorridas no nosso país ao longo do último século; e (2) facilitar e objetivar a
análise. Os dados quantitativos foram estruturados em indicadores que se
propuseram a sugerir (em alguns casos com suficiência, em outros não), através
de relações com os traços organizacionais de FLECK (2003a; 2005), em que
medida a empresa desenvolveu propensão à autoperpetuação ou à
autodestruição. As informações qualitativas foram estruturadas em planilhas e
ordenadas pelo período de ocorrência. Através dessas planilhas, foi possível
observar ligações entre os dados e identificar processos e padrões de ação e
comportamento. Essas informações qualitativas também foram cruzadas com as
195
tendências apontadas pelos indicadores quantitativos a fim de justificar, explicar ou
contrariá-las.
O esforço de levantamento dos dados envolveu pesquisas em várias
instituições do Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Teresina. Cada instituição e
publicação pesquisada dava pistas de onde procurar a próxima informação. Foi
comum retornar à mesma instituição em busca de obras ou publicações diferentes
sobre as quais tomamos conhecimento em um terceiro local. No Rio de Janeiro, o
Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional foram as duas instituições com maior
número de visitas e maior volume de material recuperado. Em São Paulo, os
materiais mais ricos foram disponibilizados na forma de Relatórios Anuais e de
entrevistas pela própria São Paulo Alpargatas. Em Fortaleza, o Banco do Nordeste
disponibilizou a maior quantidade de material sobre a indústria têxtil e sobre a
migração do setor para o Nordeste a partir dos anos 80. E em Teresina, foram
realizadas entrevistas com lojistas clientes da São Paulo Alpargatas.
A motivação do autor para conduzir a coleta de dados foi de natureza interna e
externa. Sua determinação foi de extrema importância para o volume de dados
coletados, mas em determinado momento, a busca exarcebada por mais detalhes
de épocas remotas pareceu virar um fim em si mesma. Neste ponto, a orientadora
teve que intervir e declarar a suficiência do trabalho de levantamento, para que a
estruturação e a análise dos dados pudesse ser realizada em tempo hábil. A
motivação externa veio a partir da percepção da importância do trabalho que
estava sendo feito, e dos resultados que estavam sendo alcançados. Além disso, o
passeio por parte da história do Brasil e de sua industrialização foi extremamente
estimulante e prazeroso.
Este trabalho é, portanto, conseqüência do desenvolvimento da maturidade
acadêmico-científica do autor ao longo do mesmo; da superação das dificuldades
relacionadas ao levantamento dos dados; e da orientação da professora Denise
Fleck. Espera-se que o mesmo seja de grande utilidade para: (1) a São Paulo
Alpargatas, pois traz uma nova perspectiva de análise vinculada à sua história, que
pode favorecer a seu autoconhecimento e a eventuais tomadas de decisões
196
futuras; e (2) para o desenvolvimento do projeto de pesquisa maior ao qual essa
dissertação pertence, qual seja, o desenvolvimento de uma teoria sobre a
longevidade empresarial saudável.
5.1 Conclusões gerais do estudo
A São Paulo Alpargatas foi uma das precursoras do processo de
industrialização do Brasil. Sua instalação em São Paulo objetivou a fabricação
industrial de artefatos até então confeccionados artesanalmente, e a introdução de
novos artigos de utilidade à economia cafeeira da época. Fundada com capital
anglo-escocês e como subsidiária de sua homônima argentina, a São Paulo
Alpargatas já nasceu estruturada para crescer. Dispunha de capital, crédito,
conhecimento do negócio e de uma gestão profissionalizada. Tudo isso, em meio a
um país carente de indústrias que apoiassem o desenvolvimento agrário da época.
Apesar do ambiente favorável a seu desenvolvimento, a companhia levou
mais de 6 anos para introduzir seus produtos no mercado brasileiro, trabalho que
envolveu a atuação corpo-a-corpo de seu agente de vendas, Edward Ashworth &
Co., e o uso de recursos de marketing disponíveis na época. Após 1915, a
empresa cresceu progressivamente superando as atribulações da década de 10 e
20, tais como surtos de gripe, greves, racionamento de energia, conflitos armados
e aumento dos preços das matérias-primas. De 1930 a 1940, teve crescimento
moderado em função do cenário econômico mundial que não era favorável, e do
pagamento de uma grande dívida contraída por ocasião da quebra da Bolsa de
Valores de Nova York. De 1940 até o final da década de 80, a empresa apresentou
seu período de maior crescimento, vindo a acumular mais de 30.000 funcionários e
28 fábricas em 1989. Nos anos 90, enfrentou outro período de nebulosidade,
caracterizado por uma grave crise, e por um reposicionamento estratégico que
resultou em um enxugamento acentuado da estrutura produtiva e na mudança do
foco de atuação para segmentos de maior valor agregado. O início do século XXI
foi marcado pela retomada do crescimento, onde teve papel fundamental o
trabalho de reposicionamento e internacionalização da marca Havaianas.
197
Essa trajetória de sucesso recheada por duas graves crises, uma na década
de 30 e outra na década de 90, despertou o interesse por investigar:
1) Quais elementos estratégicos básicos foram responsáveis pelo
crescimento da São Paulo Alpargatas e pela sua capacidade de
resistência e recuperação a crises?
Desde sua fundação, a São Paulo Alpargatas apresenta sinais de
empreendedorismo audacioso. O próprio propósito inicial da empresa era crescer o
tanto quanto possível, o que deixa patente a ambição embutida na visão de futuro
da companhia na época. A captação de recursos nunca pareceu ter sido um
problema. Primeiro, em função do crédito de seus maiores acionistas. Em segundo
lugar, pela própria política conservadora de gestão financeira da empresa (é
possível observar o comportamento previdente da companhia em seus indicadores
de níveis de reservas e de dívidas, bem como em seus indicadores de liquidez
(Vide Figuras 4.2 e 4.3)). Na verdade, a disponibilidade de recursos parece ter sido
o elemento fundamental para o crescimento da empresa e para a superação das
crises pelas quais a empresa passou. Na crise financeira de 30, por exemplo, que
acabou sendo um prolongamento da recessão que se iniciou no mercado brasileiro
desde 1925, a São Paulo Alpargatas havia modificado suas linhas de produtos e
investido no aumento da produção, apostando na recuperação do mercado. A
empresa precisou interromper os investimentos previamente realizados,
redimensionar sua estrutura produtiva para adequá-la à demanda restrita de um
período de crise, e captar recursos para retomar a operação da companhia. Para
isso, conseguiu levantar junto aos bancos londrinos, vultosos empréstimos que
viriam a ser pagos durante toda a década de 30. Esses empréstimos foram
concedidos em função da solidez econômico-financeira da companhia e da
perspectiva de longo prazo apresentada aos credores, que passaram, por sua vez,
a acompanhar de perto a gestão da empresa. Cabe destacar, que grande parte
das empresas do Brasil e do mundo quebraram neste período. Já a crise dos anos
90 contou com o apoio financeiro dos maiores acionistas da empresa, o Grupo
Camargo Corrêa e o Bradesco.
A motivação prioritariamente produtiva para a expansão também ajudou a
empresa a se consolidar no mercado brasileiro. O interesse em produzir cada vez
198
mais para reduzir os custos e baratear os preços dos produtos definiu um novo
padrão de competição no mercado, onde só aqueles que investissem maciçamente
em tecnologia e métodos de produção sobreviveriam. A São Paulo Alpargatas
seguiu tal padrão de competição até o início da década de 90, quando a
fragmentação de sua estrutura produtiva, a concorrência estrangeira e a redução
progressiva das margens de lucro, levaram a empresa a fechar fábricas, demitir
pessoas e focar em seguimentos de maior valor agregado. Assim, a motivação
produtiva para a expansão também foi um fator importante para o crescimento da
São Paulo Alpargatas.
A partir de 1919, com o lançamento das lonas impermeáveis, a São Paulo
Alpargatas passou a se apoiar em outro pilar para melhorar sua competitividade: a
inovação. Porém, foi a partir de 1940 que a inovação se tornou mais relevantes
para o crescimento da companhia. Em 1946, foi lançado o brim Coringa; em 1954,
as calças Far-West; em 1955, o primeiro sapato com solado de borracha; em 1962,
as Havaianas passaram a ser produzidas em larga escala; e em 1972, foi lançado
o primeiro índigo blue do Brasil. Essas ações de inovação, também demonstraram
uma clara atitude da São Paulo Alpargatas de moldar seu próprio ambiente de
competição, buscando influenciar definitivamente toda a indústria têxtil e calçadista
através da definição de padrões e de lançamentos de produtos. Entretanto, é
importante deixar claro que a estratégia de pluralização de marcas e modelos não
foi benéfica para a empresa durante a crise dos anos 90. Na verdade, a falta de
recursos suficientes para promover todos os produtos e posicioná-los nos seus
devidos segmentos-alvo acabou causando uma grande confusão na cabeça dos
consumidores, e resultando em grandes prejuízos. Portanto, não há indícios de
que a política de inovação e lançamento de produtos tenha favorecido a
capacidade da empresa de superar crises.
O crescimento da São Paulo Alpargatas também foi fruto da integração
vertical da companhia, da integração organizacional de suas estruturas e da
integração social de seus colaboradores. Durante toda sua vida, a São Paulo
Alpargatas se manteve na indústria têxtil e calçadista, adentrando apenas em
segmentos acima ou abaixo da mesma cadeira produtiva. Essa integração vertical
possibilitou à empresa defender mercados, obter economias de escala e
diversificar seus riscos operacionais. Por outro lado, a integração organizacional de
199
suas estruturas possibilitaram a obtenção de sinergias operacionais e o aumento
da autonomia e da flexibilidade organizacional. A integração social, foi de extrema
importância para a formação do sentimento familiar que envolveu todos os
funcionários da companhia, e junto com a integração organizacional, foram fatores
relevantes para a superação das crises da empresa.
A gestão de pessoas da São Paulo Alpargatas acabou se tornando uma das
mais importantes características que explicaram o crescimento da empresa, e,
principalmente, sua capacidade de superação a crises. A gestão profissionalizada
da companhia tem, sem dúvida, papel fundamental na política de recursos
humanos empregada desde a sua fundação. Ao longo dos 98 anos da São Paulo
Alpargatas, somente durante a primeira metade da década de 90 é que essa
característica da empresa ameaçou ser descontinuada, o que levou a empresa a
perder talentos e gente capaz de tirá-la da grave crise em que se encontrava. Com
a intervenção ocorrida em 1997, os valores relacionados aos recursos humanos
foram retomados, ajustados, é claro, aos padrões competitivos vigentes, e, em
grande parte, foi graças a isso que pessoas importantes retornaram à empresa e
puderam contribuir para sua recuperação. Dentre algumas ações voltadas a
pessoas adotadas desde a fundação da companhia, pode-se destacar: as
gratificações anuais, as revisões salariais, as premiações, os benefícios incomuns
como assistência médica e odontológica, armazéns de cosméticos e alimentação,
restaurante, condições de associação esportiva e comunitária, treinamento e
capacitação para acompanhar a evolução tecnológica e metodológica da
companhia, plano de encarreiramento e aposentadoria. Essas ações promoveram
ao longo do tempo um sentimento de família em torno da empresa e a sensação
de estar trabalhando numa empresa moderna e avançada para o seu tempo.
2) Em que medida a São Paulo Alpargatas tem desenvolvido propensão à
autoperpetuação, segundo o conceito de FLECK (2003a, 2005,)?
Segundo FLECK (2003), a propensão à autoperpetuação depende do
Crescimento Contínuo, da Manutenção da Integridade Organizacional e da Folga
necessária para promover o desenvolvimento simultâneo dessas duas dimensões
empresariais. Como foi visto, sugere-se que a São Paulo Alpargatas tenha
perseguido o Crescimento Contínuo desde sua fundação, atuando com doses de
200
empreendedorismo audacioso, motivação prioritariamente produtiva para a
expansão e atitudes pró-ativas em relação às mudanças.
A Manutenção da Integridade Organizacional também parece ter sido
perseguida pela empresa, a despeito do crescimento acelerado apresentado pela
companhia durante as décadas de 60, 70 e 80, ter trazido uma certa fragmentação
para suas estruturas produtivas. Nem mesmo as reestruturações promovidas em
1972, 1980 e 1988, com o intuito de adequar a empresa às necessidades
correntes foram capazes de manter a viabilidade econômica da companhia
enquanto empresa fortemente integrada. O reposicionamento estratégico da
empresa teve início em 1990, logo após o processo de sucessão de Keith Bush,
que aliás, foi sob-demanda e mais pareceu hereditário do que gerencial. Diego
Bush, filho de Keith, foi contratado no mercado e assumiu o comando da
companhia concentrando os papéis de presidente executivo e presidente do
conselho de administração, situação que lhe deu poder suficiente para mudar
aspectos institucionalizados na companhia durante toda sua história. As mudanças
promovidas por Diego, no entanto, foram elaboradas casuísticamente e pecaram
na manutenção da equidade entre os diversos níveis organizacionais, aumentando
por conseqüência a fragmentação das estruturas produtivas, em particular, as
relacionadas a recursos humanos. A empresa passou a operar sucessivamente
com prejuízo até que uma intervenção dos controladores, em 1996, modificou o
estilo de liderança da direção da companhia, que conseguiu enfim, fazer sua
transição para o foco no cliente e para os ditames do mercado.
A Folga se fez presente na vida da empresa em diversas formas, tendo sido
mais relevante na forma de recursos financeiros disponíveis e captáveis no curto e
longo prazo, e na forma de disponibilidade e presteza dos funcionários em ajudar a
empresa a atingir seus objetivos estratégicos.
Conclui-se portanto que, apesar de ter passado por dois períodos de grave
crise, o primeiro durante a década de 30 e o segundo durante a década de 90, a
São Paulo Alpargatas apresentou características que sugerem o desenvolvimento
de sua propensão à autoperpetuação. Apesar disso, aspectos circunstanciais de
cada fase da vida da empresa fizeram com que o grau de propensão à
autoperpetuação variasse em cada período, tendo apresentado, inclusive, valor
201
negativo durante a fase de Crise, o que implica o desenvolvimento de uma
propensão à autodestruição naquele período (Vide Tabela 5.1).
Fase
Posição no Continuum de Propensão à
Autodestruição-Autoperpetuação
Os Primeiros Passos
O Desenvolvimento
A Crise
O Recomeço
Tabela 5.1 Síntese do Posicionamento da SPASA no continuum AD-AP
É impossível afirmar se a São Paulo Alpargatas realmente se autoperpetuará,
afinal o framework de FLECK (2003a; 2005) não se propõem, pelo menos ainda, a
oferecer condições suficientes para que as empresas consigam tal feito. No
entanto, nossa análise mostrou que a companhia dispõe de todos os fundamentos
organizacionais que, sugere-se, sejam condições necessárias para conseguir
desenvolver uma longevidade saudável. Acredita-se, portanto, que a empresa é
candidata a esse futuro.
5.2 Limitações do Estudo
Desenvolver estudos longitudinais consistentes no Brasil parece ser, à primeira
vista, uma missão impossível. Quando o assunto passa a ser o estudo histórico
empresarial, a situação piora. De fato, a falta da cultura de registrar nossa história,
AD
AD
AD
AP
AP
AD
AP
AP
202
a jovialidade das empresas brasileiras, o pequeno número de companhias de
capital aberto, a informalidade trabalhista, empresarial e contábil, a falta de
consolidação das informações em bancos de dados, e principalmente, a falta de
consistência legal e econômica brasileira ao longo do último século, são os
principais entraves enfrentados pelos pesquisadores.
Não obstante, apesar de todos esses entraves afetarem o grau de
profundidade e amplitude das análises tecidas, não as inviabilizam por completo.
Dessa forma, é possível sim, fazer pesquisa histórica no Brasil, e espera-se que as
mesmas, além de atingirem sua finalidade direta, sirvam cada vez mais de
instrumento de conscientização para que no futuro possamos ter minimizados os
entraves de hoje.
Uma das limitações específicas deste trabalho reside no fato de não ter havido
um esforço exaustivo de busca e consolidação de informações históricas
quantitativas sobre o desempenho das indústrias de atuação da São Paulo
Alpargatas, quais sejam, têxtil e de calçados. Foram feitas buscas apenas no
IPEADATA (http://www.ipeadata.gov.br), onde as informações de maior amplitude
longitudinal estão disponíveis do período de 1900 a 1947 para a indústria têxtil, e
de 1911 a 1947 para a indústria de calçados, ambas na forma de índice
comparativo ao ano de 1939. Para comparar a variação de tais índices com o
crescimento da São Paulo Alpargatas seria necessário descontar os números
apresentados nos relatórios anuais da companhia pela inflação anual, para assim
chegar à variação real do crescimento da empresa. Eis aí outro entrave. O índice
de inflação de maior amplitude longitudinal disponível é o IPC da FIPE, que vem
sendo calculado desde janeiro de 1939. Utilizando esse índice de inflação, só
poderíamos comparar a trajetória de crescimento da São Paulo Alpargatas com a
de suas indústrias no período de 1939 a 1947. Dentro da amplitude de nosso
estudo, achou-se que tal comparação contribuiria pouco para a análise como um
todo.
Sem os dados das indústrias têxtil e de calçados, as medidas relativas de
desempenho tiveram que ser comparadas exclusivamente com o comportamento
da economia, que como é sabido, espelha uma média ponderada de todos os
setores. Dessa forma, esse trabalho fica parcialmente impossibilitado de chegar a
203
conclusões sobre o desempenho da São Paulo Alpargatas em relação às suas
indústrias, com base em dados quantitativos.
Outra limitação do trabalho está no fato de terem sido realizadas poucas
entrevistas. O principal fator dificultador foi a escassez de pessoas ligadas à
empresa com tempo disponível para contribuir. A distância da sede da empresa,
que fica em São Paulo, para a base do autor, que fica no Rio de Janeiro e em
Teresina, e a ausência de recursos financeiros suficientes para vários
deslocamentos, também foram fatores limitantes. Porém, apesar dos potenciais
prejuízos que o número reduzido de entrevistas possa ter causado para a melhor
elucidação da realidade empresarial da São Paulo Alpargatas, a entrevista
realizada com o Diretor de Comunicação e Mídia da companhia trouxe muitos
benefícios de extrema valia, como, por exemplo, o esclarecimento de lacunas
surgidas com a leitura das fontes secundárias e a possibilidade de reunir todos os
relatórios anuais da companhia.
Uma terceira limitação deste trabalho diz respeito à possível incoerência que
possa existir nos dados coletados, em função de alguns relatórios apresentarem
apenas informações da controladora, outros apresentarem apenas informações
consolidadas, e outros ainda, ambas (de forma geral, a partir de 1973, a maioria
dos dados coletados estão disponíveis de forma consolidada, com ressalva para
os dados que compuseram os resultados financeiros, as depreciações e
amortizações e as despesas de vendas, gerais e administrativas, que variaram de
relatório anual para relatório anual. Adicionalmente, no relatório do ano de 1978,
não foi publicado nenhum dado consolidado). Na estruturação dos dados,
procurou-se utilizar, sempre que possível, os dados consolidados, por ser esta a
informação mais representativa de todo o grupo de empresas que compõem, ou
que vieram a compor a São Paulo Alpargatas.
A quarta limitação deste trabalho diz respeito à impossibilidade de corrigir as
distorções quantitativas apresentadas nos relatórios anuais, relacionadas às
diferenças entre a correção monetária autorizada pelo governo e os índices reais
de inflação que se fizeram presentes durante a década de 80. Como é de
conhecimento público, os níveis reais de inflação chegaram a mais de 80% ao
mês, percentual que inviabilizava a comparação de dados, mesmo em períodos
204
curtos de tempo. Para diminuir os impactos da corrosão de valores, as empresas
utilizavam os índices de correção monetária para atualizar suas contas para as
épocas de fechamento de suas demonstrações contábeis. Tais índices, no entanto,
costumavam ser bem inferiores à inflação real dos períodos, o que deturpava os
resultados reais auferidos pelas companhias. Dessa forma, não é possível garantir
que as informações quantitativas apresentadas para a São Paulo Alpargatas neste
trabalho, correspondam ao fiel espelhamento de sua realidade.
5.3 Sugestões para pesquisas futuras
Um dos objetivos dessa dissertação foi evidenciar quais elementos
estratégicos foram mais determinantes para o crescimento da São Paulo
Alpargatas e para o desenvolvimento de sua capacidade de resistência e
recuperação a crises. Conforme a análise e conclusão do trabalho, identificou-se
que a sistematização dos provisionamentos financeiros e das políticas de
desenvolvimento e manutenção das pessoas foram os fatores mais importantes
para que em momentos difíceis, a empresa conseguisse retomar o crescimento.
Nesse contexto, novos trabalhos que objetivem verificar o grau de suficiência
desses fatores para a autoperpetuação das empresas podem ser de extrema
importância.
Um segundo objetivo desse trabalho foi tentar identificar em que medida a São
Paulo Alpargatas S.A. desenvolveu uma propensão à autoperpetuação. Conforme
análise e conclusão do trabalho, a perspectiva geral é de que a empresa possui
algumas das principais características necessárias, segundo FLECK(2003a; 2005),
à longevidade saudável, a despeito de a empresa ter demonstrado estar mais ou
menos apta à obtenção desse objetivo em diferentes fases de sua história. Nesse
contexto, novos trabalhos de acompanhamento da evolução da empresa poderiam
ser importantes para confirmar ou retificar essa opinião no futuro.
Outra contribuição deste trabalho diz respeito ao mapeamento e a associação
de alguns indicadores quantitativos aos traços organizacionais de FLECK (2003a;
2005). Sugere-se que a aderência de tais indicadores seja testada em outros
205
estudos de caso, bem como novas associações sejam propostas, visando tornar
cada vez mais objetivo o trabalho de análise de perspectivas de empresas.
Por fim, estudos em outras empresas do mesmo setor de atuação podem
facilitar a comparação entre concorrentes, reforçar as proposições do framework
de FLECK (2003a; 2005), motivar decisões de investimentos financeiros, decisões
de encarreiramento, entre outras.
206
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218
7. ANEXOS
7.1 ANEXO 1 Segmentação do Setor Têxtil
A indústria têxtil é composta basicamente dos segmentos de fiação, tecelagem e
acabamento. Se considerarmos, porém, todo o complexo têxtil, podemos incluir
também como segmentos a produção de fibras naturais, a produção de fibras artificiais
e sintéticas, a manufatura de confecções, o comércio atacadista e varejista e outras
indústrias de aplicação técnica dos manufaturados como a mobiliária e automotiva.
Para muitos desses segmentos, existe um conjunto de atividades desempenhadas que
podem fornecer outro nível de segmentação na medida em que as empresas podem
nelas atuar de forma exclusiva. Como forma de ilustração podemos citar no segmento
de fiação, a produção de fios de algodão e de juta. Nem todas as empresas que
trabalham com a fiação de algodão, precisam necessariamente produzir também fios
de juta, podendo, estes, serem encarados, portanto, como “sub-segmentos” distintos.
Da mesma forma, no segmento de acabamento, nem todas as empresas que fazem
tingimento, também fazem calandragem, e assim sucessivamente.
Cada um desses segmentos pode oferecer um produto acabado ao mercado e
funcionar independentemente dos demais. A falta de integração vertical é uma
característica muito comum no complexo têxtil. Embora os segmentos apresentem
dependência quanto à característica técnica do produto a ser ofertado ao consumidor
final, os mesmos não precisam ser internalizados pelas empresas. É comum a
especialização em um ou dois segmentos, a despeito de muitas das grandes
empresas do setor serem integradas da fiação às confecções, se envolvendo em
alguns casos até mesmo com o comércio atacadista ou varejista, dependendo da
política de gerenciamento de marca (SEBRAE-SP; IPT, 2001).
Percebe-se, portanto, que definir e analisar a segmentação no setor têxtil não é
tarefa fácil. É preciso definir cuidadosamente o escopo de cada um dos segmentos ou
“sub-segmentos”, uma vez que as estratégias, políticas, processos, resultados e
estatísticas podem diferir consideravelmente. Dessa forma, ao lidarmos com o setor
têxtil é extremamente importante especificarmos de quais áreas estamos tratando sob
pena de utilizarmos informações inconsistentes e interpretações equivocadas. Uma
219
síntese abrangente dos segmentos e “sub-segmentos” do setor têxtil pode ser
observada na Figura 7.1.1:
Figura 7.1.1 Segmentação do Setor Têxtil
A seguir abordaremos os principais segmentos destacados acima.
1. Fibras
É possível observar a indústria agropecuária e química como nascedouro de toda a
cadeia produtiva têxtil. O setor lida basicamente com três tipos de fibras, naturais,
artificiais e sintéticas. A indústria agropecuária é responsável pela produção das fibras
Fiação
ÄFios Naturais
ÄFios Industrializados
Tecelagem
Plana
Malharia
Acabamento
ÄTingimento
ÄEstamparia
ÄCalandragem
ÄEngomagem
ÄMercerização
ÄOutros
Confecção
ÄVestuário
ÄConfeccionados
Indústria
Agropecuária
Indústria
Química
Ä
Resina
Outras
Indústrias
ÄMobiliária
ÄAutomotiva
ÄMédica
Ä
Outros
Comércio
ÄVarejista
ÄAtacadista
ÄLojas de
Departamento
ÄLojas
Especializadas
Fonte: Adaptado do IPT
Fibras Naturais
ÄAlgodão
Ä
ÄSeda
ÄLinho
ÄJuta
ÄRami
ÄSisal
Fibras
Artificiais
ÄAcetato
ÄViscose
Fibras
Sintéticas
ÄPoliéster
ÄNáilon
ÄPoliuretano
ÄPoliamida
ÄAcrílico
ÄOutros
Beneficiamento
220
naturais enquanto a indústria química responde através da produção de resinas, pela
viabilidade da manufatura de todas as fibras artificiais e sintéticas.
As fibras naturais podem ser de origem animal, vegetal e mineral. As fibras
químicas (artificiais e sintéticas) podem ser produzidas como monofilamentos,
multifilamentos e fibras cortadas.
As fibras animais são mais bem representadas pela lã e a seda. Já as fibras
vegetais mais conhecidas são o linho, a juta, o sisal, o ramí e o algodão, sendo este
último a fibra mais importante da indústria têxtil brasileira. As fibras artificiais são
aquelas produzidas da celulose extraída da poupa da madeira ou do línter do algodão.
As mais conhecidas são a viscose e o acetato. Já as fibras sintéticas são originárias
da indústria petroquímica, sendo as de maior destaque o poliéster, a poliamida
(náilon), o acrílico, o elastano (lycra) e o polipropileno (ANDRADE; CORRÊA; SILVA,
2001).
Como forma de facilitar o entendimento das diferenças entre as fibras, o quadro da
Figura 7.1.2, a seguir, é apresentado:
221
Figura 7.1.2 Segmentação das Fibras Têxteis
A participação das fibras químicas tem crescido progressivamente. Ano após ano,
o consumo de fibras artificiais e sintéticas tem aumentado, de forma que, atualmente
elas respondem por quase metade do mercado total de fibras têxteis. Esse
crescimento está relacionado principalmente à evolução dos processos de produção
das fibras sintéticas, que trouxeram melhorias na aparência, textura e conforto de seus
manufaturados, tornando-os muito parecidos aos das fibras naturais (OLIVEIRA,
1997).
A evolução do consumo mundial de fibras têxteis de 1940 a 2000 pode ser
observada no gráfico da Figura 7.1.3:
Fibras
Têxteis
Vegetais Sintéticas
Poliéster
Poliamida
Poliacrílico
Elastano
Olefínica
Poliuretano
Naturais Química
Animais Minerais Artificiais
Algodão
Linho
Rami
Jute
Sisal
Caroá
Coco
Seda
Angorá
Lhama
Amianto
Viscose
Acetato
Fonte: ABRAFAS
222
Consumo Mundial de Fibras
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1940 1950 1960 1970 1980 1990 1994 1997 2000
Fonte: Carta Textil
Naturais Artificiais Sintéticas
Figura 7.1.3 Consumo Mundial de Fibras Têxteis
Como é possível perceber, a partir da década de 1970, o consumo de fibras
sintéticas ultrapassou o de fibras artificiais e continuou crescendo até se aproximar
consideravelmente do consumo de fibras naturais em 1994. De fato, além das
melhorias na qualidade, os custos de produção das fibras sintéticas têm decrescido
bastante e ajudado a alavancar a conquista do mercado.
A mesma tendência mundial de crescimento das fibras sintéticas, também tem sido
observada no Brasil, embora o consumo de fibras naturais continue, ainda, maior do
que a média mundial. Essa característica da indústria têxtil brasileira se deve
principalmente às condições climáticas do país, que favorecem tanto ao cultivo do
algodão no cerrado, bem como à preferência dos brasileiros por tecidos mais leves e
ventilados. Contudo, as previsões são de que a concorrência entre as fibras sintéticas
e naturais deverá se acirrar cada vez mais nos próximos anos, à medida que as
inovações nos processos de produção das fibras químicas passem a garantir fibras
cada vez de melhor qualidade e mais baratas (OLIVEIRA, 1997).
223
Consumo Industrial de Fibras no Brasil
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Fonte: ABIT/FEBRALÃ/ABRASEDA/ABRAFAS/AFIPOL
Naturais
Artificiais
Sintéticas
Figura 7.1.4 Consumo Industrial por Tipo de Fibra no Brasil
Evolução Consumo Industrial de Fibras Naturais no Brasil
-
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
600,0
700,0
800,0
900,0
1.000,0
1.100,0
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Fonte: ABIT/FEBRAWOOL/ABRASEDA/ABRAFAS/AFIPOL
1000 tons
Alogodão Linho/Rami Seda (fio) Juta
Figura 7.1.5 Evolução do Consumo Industrial de Fibras no Brasil
224
Como os gráficos das Figuras 7.1.4 e 7.1.5 demonstram que o algodão é de longe
a fibra mais importante da indústria têxtil brasileira. Quase todos os manufaturados
têxteis contêm certa porção dessa fibra.
O Brasil era tradicionalmente não só auto-suficiente, mas também, um importante
exportador de algodão de alta qualidade. Porém, a partir da década de 1980, o perfil
da produção algodoeira Brasileira mudou completamente. A praga do Bicudo quase
extinguiu o algodão de fibra longa. Além disso, a política de abertura da economia
acirrou a concorrência com o algodão subsidiado de muitos países ao redor do mundo.
De 1986 a 1993, as barreiras alfandegárias de importação foram reduzidas
progressivamente de 55% para 0%. A produção Brasileira sofreu também com as
melhores condições de pagamento e os menores juros oferecidos pelo mercado
externo (enquanto em países como a China os prazos de pagamento variavam de 180
a 360 dias, no Brasil, estes prazos não ultrapassavam 10 dias). Pouco a pouco, a
medida que os produtores nacionais foram se deparando com as dificuldades de
concorrer com os produtores internacionais, o Brasil foi ficando dependente da
importação de algodão para complementar suas necessidades (OLIVEIRA, 1997;
www.mre.gov.br, 18/01/2005).
Durante a década de 1990, a situação piorou. De 1992 a 1994, a produção mundial
caiu 15% por causa das irregularidades climáticas e manifestações de insetos sobre
as grandes plantações asiáticas. O preço do algodão subiu assustadoramente no
Mercado internacional e atingiu sua maior cotação dos últimos 14 anos em 1995, US$
1.06 por libra-peso. Nesse período, 60% do consumo de algodão do Brasil vinha de
importação, a maioria da Argentina, Paraguai e Estados Unidos. Em 1996, a produção
brasileira era de 415 mil toneladas comparada a 1 milhão de toneladas em 1985. O
consumo, por sua vez, se manteve crescente desde 1983, se acentuando a partir de
1993 e atingindo 800 mil toneladas em 1996. A área cultivada foi reduzida de 4.1
milhões de hectares em 1981 para 1.3 milhão em 1995. 800 mil trabalhadores diretos
perderam seus empregos de 1985 a 1994. O Nordeste foi a região mais afetada
(OLIVEIRA, 1997; www.mre.gov.br, 18/01/2005).
225
Após a reversão dos preços internacionais durante 1994 e 1995, o governo
Brasileiro adotou algumas medidas protecionistas e de incentivo à cultura do algodão
incluindo o aumento das tarifas de importação em 1% ao ano de 1996 até 2000 para
todos os países fora do Mercosul; a oferta de melhores linhas de crédito de
financiamento; e medidas que forçaram os competidores externos a reduzirem seus
prazos de pagamento. Os resultados dessas ações foram sentidos já em 1997, mas
somente em 2001, a produção brasileira conseguiu superar a demanda interna do
mercado, com destaque para o aumento expressivo das áreas cultivadas na região
Centro-Oeste (A GRANJA, ago. 2004). Mesmo assim, ainda ficamos dependentes da
importação de algodão de fibras longas.
A evolução da produção e do consumo industrial de algodão pode ser observada
no gráfico da Figura 7.1.6:
Produção e Consumo Industrial de Algodão no Brasil 1920-2004
-
200,0
400,0
600,0
800,0
1.000,0
1.200,0
1.400,0
1920 1925 1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Fonte: 1920-1956 - IBGE; 1957-1969 - Conjuntura Econômica e Brasil em Exame; 1970-2001 - ABIT/ABRAFAS;
2002-2004- CONAB
1000 tons
Produção
Consumo
Figura 7.1.6 Produção e Consumo Industrial de Algodão no Brasil: 1920-2004
A juta, o ramí e o linho também tiveram suas produções declinantes. A juta tem
sido continuamente substituída pelo polipropileno. O ramí foi quase erradicado nos
últimos anos em função dos baixos níveis exportação do algodão, uma vez que a fibra
costuma ser utilizado para a produção das sacarias que embalam o algodão
226
exportado. A queda na produção do linho está relacionada à baixa qualidade da fibra
produzida no Brasil.
A lã tem sido substituída pelo poliéster e pelo acrílico, embora a sua produção
tenha apresentado uma trajetória estável no Brasil. As condições climáticas do país,
que apresenta um inverno curto e ameno, têm ajudado a manter os níveis de produção
da fibra. Mais de 60% da produção tem sido exportada para a Alemanha, Itália,
Holanda, Bélgica e Uruguai. A lã brasileira é mais utilizada em produtos de baixo valor
agregado em função de sua baixa qualidade.
A seda também tem apresentado uma trajetória de produção e consumo estável,
porém baixa, por causa do seu alto preço. A seda Brasileira apresenta boa
competitividade no mercado internacional, que tem respondido por 90% do total
produzido.
Em relação às fibras químicas, a arquitetura da indústria Brasileira é muito similar à
do resto do mundo: poucos fornecedores da indústria petroquímica, a maioria
multinacionais. Não há grandes excedentes de produção. Quase tudo produzido é
destinado ao mercado interno. A maior competição vem da China e Coréia que além
de se beneficiarem de eventuais barreiras alfandegárias, costumam, como já
mencionamos, oferecer melhores condições de pagamento, menores juros de
financiamentos e preços subsidiados.
Os padrões de consumo e produção das fibras químicas têm variado de acordo
com o tipo de fibra. Os manufaturados de acetato, assim como no resto do mundo,
têm sido descontinuados em função dos seus poluídos processos de produção. Por
outro lado, o consumo e a produção de acrílico têm se mantido estável. O clima
brasileiro favorece bastante a produção da fibra. A produção de viscose tem excedido
a demanda do mercado interno e o excedente tem sido exportado principalmente para
o Mercosul em função de suas restrições quanto à qualidade, comparadas aos
padrões mundiais.
227
O poliéster e a poliamida (náilon) são as fibras químicas mais importantes e ao
mesmo tempo, as que o Brasil mais tem dependência do mercado externo. Após a
abertura da economia Brasileira, no início da década de 1990, essas fibras ficaram
muito baratas no exterior. À medida que o consumo foi crescendo, o Brasil foi
aumentando sua quota de importação no lugar de balancear as importações à
produção interna. Como resultado, o país alcançou uma dependência de 30% do
mercado externo por volta da metade da década de 1990. Com a consolidação da
importância de tais fibras, a desvalorização cambial, e o controle das importações, os
investimentos retornaram e o país passou a reverter essa situação de dependência.
Dentre os investimentos realizados na década de 1990, podemos destacar: a
constituição da Rhodia-Ster, uma joint-venture entre a Rhodia e a Celbrás formada em
1993, para produzir e comercializar poliéster, tanto para têxteis como para
embalagens Pet; a criação da Fairway Filamentos em 1995, uma associação da
Rhodia com a Hoechst para produzir e comercializar filamentos de náilon e poliéster,
desfeita em 1998, tendo a Hoechst ficado com a fabricação de poliéster e a Rhodia
reunido os negócios de náilon têxtil; a formação, em 1994, da Fibra Du Pont
Sudamérica, resultado de uma joint-venture entre a Du Pont e a Fibra, do Grupo
Vicunha para fabricar filamento têxtil de poliamida, que acabou sendo desfeita em
2004 com a venda da parte da Fibra para a Du Pont; e a inauguração, em 1997, em
Camaçari BA, da Du Pont Polímeros.
Os gráficos das figuras 7.1.7 e 7.1.8 apresentam o consumo de fibras químicas no
Brasil de 1970 a 2001 divididas entre artificiais e sintéticas.
228
Consumo de Fibras Artificiais no Brasil
-
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Fonte: ABIT/FEBRALÃ/ABRASEDA/ABRAFAS/AFIPOL
1000 tons
Viscose
Acetato
Figura 7.1.7 Consumo de Fibras Artificiais no Brasil
Consumo de Fibras Sintéticas no Brasil
-
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Fonte: ABIT/FEBRALÃ/ABRASEDA/ABRAFAS/AFIPOL
1000 tons
Poliamida
Poliéster
Acrílico
Polipropileno
Figura 7.1.8 Consumo de Fibras Sintéticas no Brasil
229
2. Fiação
A fiação consiste na transformação da manta ou pasta em fio, através do
retorcimento e alongamento das fibras. A torção confere ao fio, resistência à tração,
pois faz com que as fibras se apertem uma contra as outras. Uma vez fiados, os fios
vão sendo enrolados em novelos. Estes novelos podem ser transformados em
meadas, caso os fios venham a ser tingidos posteriormente.
Os processos de fiação podem ser bastante diferentes dependendo do tipo da
fibra. A fiação do algodão, por exemplo, pode ser feita por uma peça simples em forma
de pião, denominada fuso, ou através de um equipamento movido a pedal ou à
eletricidade, denominado roca. Já a fiação da juta tem início no amaciador, uma
máquina que suaviza a fibra. A etapa seguinte passa pela cardagem que "penteia" e
desembaraça a fibra, resultando em finos fios. Esses fios são, então, organizados em
grandes rolos por uma máquina denominada passador. Os rolos seguem para as
fiadeiras onde as fibras são torcidas e trançadas dando origem a fios, cordas e cabos
de várias espessuras de acordo com sua utilização.
A capacidade de produção de uma fiação é essencialmente determinada pelos
filatórios, que podem ser classificados em três tipos básicos, diferenciando-se
principalmente em relação à velocidade de produção, aos níveis de automação
alcançados e à qualidade e espessura do fio produzido (GORINI; SIQUEIRA, 1997):
§ Filatórios de anéis: utilizam o princípio tradicional de estiramento do
pavio de algodão conjugado com uma torção no fio. Este sistema é
extremamente versátil, uma vez que pode produzir fios de todas as
espessuras, tendo incorporado avanços técnicos ao longo do tempo.
§ Filatórios de rotores: conhecidos como open-end, são equipamentos
que apresentam maior produtividade que a fiação por anéis em
função da maior velocidade dos fusos e da eliminação de etapas da
fiação tradicional. Sua aplicação, contudo, limita-se à produção de
fios mais grossos, sendo muito utilizados na produção de jeans.
230
§ Filatórios jet-spinner: são os de mais alta produtividade, podendo
ser utilizados também para a produção de fios finos.
As principais vantagens dos filatórios open-end e jet-spinner em relação aos
filatórios de anéis são: alta capacidade de produção, redução do espaço físico das
fábricas, assim como do consumo de energia, e eliminação de estágios de produção.
Não obstante, os filatórios a anel apresentam maior flexibilidade de produção ante os
demais sistemas considerados, o que explica a sua coexistência com esses sistemas
mais produtivos (GORINI; SIQUEIRA, 1997).
A competitividade das fiações é determinada, tradicionalmente, pelo nível de
produtividade dos equipamentos. Durante o período de protecionismo, as fiações
brasileiras praticamente ignoravam essa condição de dependência. Contudo, nos
últimos anos, o segmento vem se tornando cada vez mais intensivo em capital, sendo
destaque dentro da cadeia têxtil.
A maior parte das fiações são integradas com o segmento de tecelagem e
acabamento. A integração produtiva foi estimulada na década de 70, com o intuito de
aumentar a competitividade por meio dos ganhos de escala e define até hoje o perfil
de muitas empresas do setor têxtil como um todo. Outro fator determinante para a
existência de empresas integradas é a garantia do suprimento de matéria-prima nas
especificações necessárias.
O segmento de fiação apresentou durante a última década um aumento expressivo
de produtividade, a despeito dos primeiros anos terem sido muito difíceis para as
fiações brasileiras, que foram pegas despreparadas para a concorrência que surgiu
com a abertura do mercado brasileiro. A prova maior desse aumento de produtividade
é a brusca queda no número de empregos diretos na atividade manufatureira
descolado da respectiva queda brusca na produção de fios, como pode ser observado
nos gráficos das figuras 7.1.9 e 7.1.10:
231
Nível de Emprego Fiação por Tipo de Atividade
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Direta
Indireta
Administrativa
Vendas
Figura 7.1.9 Nível de Emprego no Segmento de Fiação por Tipo de Atividade
As empresas atuantes no segmento de fiação trilharam basicamente dois
caminhos estratégicos após a abertura comercial dos anos 90. Algumas resolveram
aumentar os investimentos e concorrer com os produtos asiáticos em preço. Outros
saíram da fabricação de commodities e passaram a privilegiar a produção de fios com
composição, tipos e variedades diferenciadas. As empresas que procuraram a
diferenciação de seus produtos souberam se adaptar mais rapidamente e, portanto,
sofreram menos com a situação de livre concorrência.
A representatividade das commodities nas linhas de produtos das empresas, caiu
consideravelmente, implicando que a maioria das fiações, procurou, de alguma forma,
elevar o valor agregado de seus produtos. Esse reposicionamento estratégico aliado
aos incentivos fiscais da região Nordeste e à contração das margens de lucro do setor
como um todo, foram os fatores fundamentais para a sustentação do setor e
conseqüentemente para a suave queda na produção de fios no período pós-abertura
(IEL; CNA; SEBRAE, 2000).
232
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
800.000
900.000
1.000.000
1.100.000
1.200.000
1.300.000
1.400.000
1.500.000
T
o
n
e
l
a
d
a
s
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Produção de Fios segundo a Natureza da Fibra
Naturais
Artificiais
Sintéticos
Resíduos
Figura 7.1.10 Produção Nacional de Fios segundo a Natureza da Fibras
Segundo a Figura 7.1.10, os níveis de produção caíram em 1990 e 1991, mas logo
voltaram a crescer em 1992 e 1993. Em 1994, a produção cai novamente, chegando
ao seu mais baixo nível na década em 1997, com a crise da Rússia. A partir de então,
o segmento se recuperou bem, inclusive atravessando com tranqüilidade a crise da
Argentina, que tanto afetou as relações comerciais com o Brasil.
De forma geral, as empresas de fiação reagiram bem à maioria das externalidades,
chegando em 2000 a uma produção maior que a registrada em 1991, apesar do
número de empresas ter caído de 1.123 para apenas 360 no mesmo período.
É possível observar nos gráficos das Figuras 7.1.11 e 7.1.12 que, já a partir de
1991, houve uma queda brusca no número de fiações e no nível de empregos na
região Sudeste. O Nordeste e o Sul só foram afetados mais drasticamente a partir de
1994, quando a estabilização da moeda encareceu os fios brasileiros em relação aos
produtos importados, que acima de tudo contavam com uma tarifa de importação de
apenas 10% à época (AZEVEDO (1998)). Nem mesmo a mão-de-obra barata e os
233
programas de incentivo para o setor têxtil, implantados no Nordeste, evitaram a queda
no número de fiações na região.
Número de Fiações por Região Geográfica
0
100
200
300
400
500
600
700
800
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
C. Oeste
Figura 7.1.11 - Número de Fiações por Região Geográfica
Nível de Emprego Fiação por Região Geográfica
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Figura 7.1.12 - Nível de Emprego no Segmento de Fiação por Região Geográfica
234
Outro fator importante a ser destacado é a queda bem mais acentuada no número
de fiações integradas do que das exclusivas. Se por um lado, o fato das fiações terem
se tornado bastante intensivas em capital tenderia a reduzir o número de fiações
independentes (em função de seu menor poder econômico), por outro lado, os
investimento focados das fiações independentes facilitaram o processo de
diferenciação dos produtos e podem ter sido a razão da sua maior competitividade e
sobrevivência no mercado.
Número de Fiações Integradas e Exclusivas
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Exclusivas
Integradas
Figura 7.1.13 Número de Fiações Integradas e Exclusivas
A idade média do maquinário também foi reduzida durante a década passada de
13,13 para 10,67 anos, com destaque para o período 1996-2001, que em parte ajuda
a justificar a recuperação do setor nesse período.
235
Idade Média Maquinário Fiação
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Anos
Idade Média
Figura 7.1.14 Idade Média Maquinário de Fiação
3. Tecelagem
A tecelagem é o processo de fabricação do tecido propriamente dito. Ele pode se
dividir em tecelagem plana ou malharia. A tecelagem plana consiste no
entrelaçamento da urdidura ou urdume (parte longitudinal dos tecidos) com a trama
(parte transversal do tecido) para a formação do tecido. A preparação da urdidura e a
engomagem são processos desempenhados anteriormente à tecelagem propriamente
dita. Uma vez preparada a urdidura, a mesma é levada para o tear onde então é
inserida a trama, na forma de fio. Na tecelagem plana existem basicamente três tipos
de tecidos: (a) tecidos pesados, compostos pelos índigos e brins, utilizados na
confecção de jeanswear e roupas profissionais, às vezes com misto de poliéster; (b)
tecidos de camisaria, popelines e viscoses; e (c) tecidos para cama, mesa, banho e
decoração (IEL; CNA; SEBRAE, 2000). Já o processo de fabricação do tecido de
malha é relativamente mais simples do que o de tecidos planos, não exigindo os
procedimentos prévios de preparação do fio. Dois processos básicos podem ser
destacados: (1) malharia por trama e (2) malharia por urdume. No primeiro caso, o
tecido é obtido a partir do entrelaçamento de um único fio, podendo desse processo
resultar um tecido aberto ou circular. No segundo caso, o tecido é obtido a partir de um
ou mais conjuntos de fios, colocados lado a lado, à semelhança dos fios de urdimento
236
da tecelagem plana (ANDRADE; CORRÊA; SILVA, 2001). Independente do processo,
as malhas geralmente apresentam maior flexibilidade e elasticidade,
comparativamente aos tecidos planos (GORINI; SIQUEIRA, 1998).
O processo simplificado da tecelagem plana pode ser observado na Figura 7.1.15:
Figura 7.1.15 Processo de Tecelagem
A urdidura é colocada através do pente (d), e seus fios (a) são mantidos com uma
tensão constante. O movimento vertical do pente faz surgir a abertura denominada
cala (e), por onde é passada a trama (b), sucessivamente de um lado para outro,
entrelaçando desta maneira os dois conjuntos de fios formando o tecido (c).
O processo de tecelagem depende substancialmente dos teares utilizados. Os
diversos tipos destes equipamentos variam de acordo com sua finalidade, capacidade
de produção e tecnologia incorporada. Muitos teares passaram a permitir, a partir do
início da década de 1980, a utilização de dispositivos microeletrônicos e sistemas que
centralizam e facilitam o controle das operações de manufatura e proporcionam
melhores níveis de produtividade (GORINI; SIQUEIRA, 1998, EXAME, 02/05/1984).
Uma classificação mais detalhada sobre os tipos de teares é apresentada nos Anexos
38 e 39.
Da mesma forma que o segmento de fiação, a tecelagem plana vem se tornando
cada vez mais intensiva em capital. Os novos maquinários trazem consigo inovações
237
tecnológicas que permitem aumentar não só a produtividade, mas também a qualidade
dos manufaturados. Na medida em que a tecelagem plana segue padrões básicos
bem definidos, a competitividade passa a ser função dos tipos de teares utilizados.
Dessa forma, o segmento de tecelagem plana tende a ser preenchido cada vez mais
por empresas de grande porte operando em larga escala. Na tecelagem por malharia,
porém, os investimentos costumam ser bem mais modestos e o processo produtivo
bem mais simples e rápido.
Durante a década passada, o segmento de tecelagem plana experimentou
transformações profundas. Com a abertura comercial, as empresas se viram
obrigadas a racionalizar despesas e minimizar custos. As grandes empresas
investiram na produção padronizada e no aumento de escala e produtividade
4
. Já as
pequenas empresas, procuraram diferenciar, na medida do possível, seus produtos,
fugindo assim do mercado de commodities, e se posicionando em nichos de mercado.
Mesmo assim, muitas empresas não sobreviveram ao aumento da concorrência e as
mudanças no contexto econômico. É possível observar ao longo da última década
uma queda no número de empresas. Mesmo com a adoção de medidas protecionistas
a partir de 1995, o número de tecelagens só parou de cair quando o real foi
desvalorizado em 1999, e os produtos brasileiros se tornaram competitivos frente aos
importados. Outro fato interessante de se observar é que a despeito da situação de
recuperação do “sub-segmento”, o número de tecelagens planas não cresceu no
período pós-desvalorização. Isso pode ser justificado pela intensidade de capital do
“sub-segmento” que representa uma importante barreira de entrada.
4
Foram feitos investimentos na aquisição de maquinários, instalação e renovação das
unidades fabris, estabelecimento de alianças, compra de concorrentes e implantação de
modernas técnicas de gestão.
238
Número de Tecelagens por Região Geográfica
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste
Figura 7.1.16 Número de Tecelagem por Região Geográfica
Como era de se esperar, os níveis de empregos por região, mostram uma forte
correlação com o número de empresas. A queda no nível de emprego em todas as
esferas funcionais, do chão-de-fábrica à administração está relacionada à redução
absoluta do número de empresas e aos avanços na produtividade e nas operações de
controle dos novos equipamentos.
239
Nível de Emprego Tecelagem por Região Geográfica
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Norte Nordeste Sudeste Sul C.Oeste
Figura 7.1.17 Nível de Emprego no Segmento de Tecelagem por Região
Geográfica
Nível de Emprego Tecelagem por Tipo de Atividade
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Direta Indireta Administrativa Vendas
Figura 7.1.18 Nível de Emprego no Segmento de Tecelagem por Tipo de Atividade
Apesar da redução do número de empresas e do nível de emprego, o
comportamento da produção de tecidos na década passada apresenta ciclos de
crescimento e queda. Até o ano de 1994, o segmento apresentou um crescimento
próximo de 20%, significando que a abertura comercial teve, num primeiro momento,
240
um impacto positivo, principalmente em função da aquisição mais barata de matéria-
prima, sobre os níveis gerais de produção. Contudo, a partir de 1994, o plano de
estabilização da moeda trouxe além de um aumento real da renda da população, uma
forte elevação das taxas de juros internas. Como resultado, a produção caiu 23% ate
1997. A partir de 1997, a produção voltou a crescer impulsionada pelas medidas de
contenção das importações implantadas pelo governo.
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
800.000
900.000
1.000.000
1.100.000
1.200.000
1.300.000
T
o
n
e
l
a
d
a
s
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Produção de Tecidos segundo a Natureza das Fibras
Naturais Artificiais Sintéticas
Figura 7.1.19 Produção de Tecidos segundo a Natureza das Fibras
Como parte de um grande esforço de melhorar a competitividade no mercado
global, as grandes empresas passaram, a partir de 1990, a importar de forma
expressiva teares para tecido. Os valores investidos no período 1990/1992, saltaram
de U$ 39,9 milhões para U$ 76,9 milhões no período 1994/1996 (IEL; CNA; SEBRAE,
2000). Apesar de todo esse esforço, o parque industrial brasileiro ainda apresenta
participação significativa de teares de lançadeira, que são até 80% menos produtivos
do que os teares sem lançadeiras. Nas médias e pequenas empresas, os
investimentos foram reduzidos, e a idade dos equipamentos cresceu
consideravelmente. A idade média ponderada pelo número e tipo de maquinário
utilizado na tecelagem plana começou a ser reduzido a partir de 1997 como é possível
perceber no gráfico da Figura 7.1.20. O detalhamento da evolução da idade média
desses maquinários pode ser observado no Anexo 20.
241
Idade Média Maquinário Tecelagem
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nota: Elaboração do Autor
Anos
Idade Média
Figura 7.1.20 Idade Média do Maquinário de Tecelagem
Já na malharia, em função dos baixos investimentos iniciais e do baixo capital de
giro exigido, tanto a facilidade para a abertura de uma nova empresa é maior, quanto é
mais fácil para as empresas existentes sobreviverem em épocas de crise, daí a
explicação da tenuidade na curva de queda do número de empresas e de empregos
diretos de 1991 a 1997. Outro fator que aponta para uma situação menos penosa do
que no “sub-segmento” de tecelagem plana é a integração das malharias com o
segmento de confecções, que apresentou crescimento constante durante a década de
90. As quedas mais expressivas da região Sudeste estão ligadas à transferência de
muitas empresas para o Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
242
Nível de Emprego Malharia por Tipo de Atividade
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Direta
Indireta
Administrativa
Vendas
Figura 7.1.21 Nível de Emprego no Sub-Segmento de Malharia por Região
Geográfica
Número de Malharias por Região Geográfica
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste
Figura 7.1.22 Número de Malharias por Região Geográfica
Os níveis de emprego por região geográfica no “sub-segmento” de malharia não
apresentam a mesma correlação com o número de empresas que é verificado com a
tecelagem plana. Isso ocorre por que as malharias tem maior facilidade de reduzir a
243
produção e o quadro de funcionários, chegando as pequenas a dependerem muitas
vezes apenas dos próprios donos. Dessa forma, a volatilidade do nível de emprego no
“sub-segmento” de malharia é maior que do número de empresas.
Nível de Emprego Malharia por Região Geográfica
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
C. Oeste
Figura 7.1.23 Nível de Emprego no Segmento de Malharia por Região Geográfica
Assim como na tecelagem plana, as malharias se dividiram na adoção de
estratégias de concorrência por preço e por diferenciação de produtos. As que
investiram em concorrência por preço passaram a importar cada vez mais
maquinários, registrando um aumento de U$ 54,8 milhões no período 1990-1992 para
U$ 109,7 milhões no período 1994-1996. As malharias que procuraram diferenciar
seus produtos investiram no segmento de acabamento e passaram a vender moda no
lugar de roupa, com destaque para artigos esportivos (IEL; CNA; SEBRAE, 2000).
A transferência de muitas malharias para o Nordeste foi encarada como uma
oportunidade de modernizar o parque industrial, e aumentar a exigência de
qualificação da mão-de-obra nas novas contratações (GORINI; SIQUEIRA, 1998).
Como pode ser observado no gráfico da Figura 7.1.24, os anos de 1994 e 1995 foram
os que mais concentraram investimentos em modernização.
244
Idade Média Maquinário Malharia
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nota: Elaboração do Autor
Anos
Idade Média
Figura 7.1.24 Idade média do Maquinário de Malharia
Os níveis de produção das malharias apresentaram um leve crescimento até o ano
de 1994, quando esteve em curso a modernização dos parques industriais. Após
1994, a valorização da moeda tornou os produtos brasileiros mais caros no mercado
externo e muitas malharias não resistiram à concorrência dos produtos asiáticos. Com
o aumento das alíquotas de importação para 70% em 1995 e a instituição das quotas
para a importação de produtos asiáticos em 1996, o segmento de malharias começou
a reagir, novas empresas surgiram nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, o nível de
emprego aumentou e conseqüentemente os níveis de produção, conforme mostra o
gráfico da Figura 7.1.25.
245
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
450.000
500.000
550.000
T
o
n
e
l
a
d
a
s
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Produção de Malhas segundo a Natureza da Fibra
Naturais Artificiais Sintéticas
Figura 7.1.25 Produção de Malhas segundo a Natureza das Fibras
4. Acabamento
O acabamento têxtil é um segmento que concentra uma variedade de processos e,
conseqüentemente, de equipamentos. É nesse segmento onde é feita a maior
agregação de valor e diferenciação dos manufaturados têxteis. Os processos podem
envolver o tingimento de tecidos, lavagens, alvejamentos, mercerização, proteção
contra ácaro, fungos e fogo e outros tratamentos. O acabamento é pensado para
destacar os produtos à percepção dos clientes, promover maior conforto e segurança,
imprimir conceitos de moda e gerar motivadores sensitivos de compra no ser humano.
Grande parte das empresas integradas tem saído do segmento de acabamento.
De 1991 a 2001 o número de beneficadores integrados foi reduzido de 685 para 152
empresas. As empresas integradas parecem não ter interesse nesse tipo de atividade
em função da variedade de processos e equipamentos necessários para adequar cada
tipo de tecido a cada tendência de moda. Por outro lado, o número de beneficiadores
exclusivos se manteve quase constante ao longo da última década, apresentando a
partir de 1998 um leve crescimento. Mesmo dentro do segmento de acabamento,
muitos beneficiadores preferem se especializar em alguns tipos de processos. A
246
evolução no número de empresas integradas e exclusivas no segmento de
acabamento pode ser observada no gráfico da Figura 7.1.26.
Número de Beneficiadores Integradas e Exclusivas
0
100
200
300
400
500
600
700
800
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Exclusivas Integradas
Figura 7.1.26 Número de Beneficiadores Integradas e Exclusivos
A maior redução no número de beneficiadores foi observada na região Sudeste.
Esse comportamento está correlacionado com o fenômeno de redução do número de
empresas nos segmentos cadeia produtiva acima combinado com a redução no
número de empresas integradas no segmento. A maioria das grandes empresas
passou a terceirizar as operações de acabamento.
247
Número de Beneficiadores por Região Geográfica
0
100
200
300
400
500
600
700
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Norte Nordeste Sudeste Sul C.Oeste
Figura 7.1.27 Número de Beneficiadores por Região Geográfica
O comportamento dos níveis de emprego nas diversas regiões do país está
correlacionado com a variação no número de empresas (Vide Figura 7.1.28).
Nível de Emprego Beneficiadores por Região Geográfica
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
50.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
C. Oeste
Figura 7.1.28 Nível de Emprego no Segmento de Beneficiamento por Região
Geográfica
248
Assim como nos outros segmentos, a queda no nível de empregos do chão-de-
fábrica está relacionada à redução no número de empresas e à diminuição da
intensidade de mão-de-obra no segmento, fruto do aumento da produtividade dos
maquinários e da redução no porte das empresas.
Nível de Emprego Beneficiadores por Tipo de Atividade
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empregos
Direta
Indireta
Administrativa
Vendas
Figura 7.1.29 Nível de emprego de beneficiadores por tipo de atividade
A produção do segmento de acabamento para fiação, tecidos planos e malharia
pode ser observada na figura 7.1.30.
249
Produção Segmento de Acabamento por tipo de "Sub-Segmento"
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Toneladas
Fios
Tecidos Planos
Malhas
Figura 7.1.30 - Produção do Segmento de Acabamento por Tipo de Sub-Segmento
Quanto à modernização, o segmento de acabamento conta com a vantagem de ter
os produtores de maquinários Brasileiros com maior independência tecnológica, já que
os principais equipamentos provêm do setor de caldeiraria, onde o Brasil domina a
tecnologia.
5. Confecção
O segmento de confecção pode ser dividido em vários “sub-segmentos” definidos
de acordo com os produtos, a matéria-prima, o processo produtivo empregado, o
padrão de concorrência e as estratégias empresariais. Em função da dificuldade de
analisar conjunturalmente mais de 21 “sub-segmentos” de forma isolada, o segmento
de confecção costuma ser analisado de forma agregada, segundo dois “sub-
segmentos”: artigos de vestuário e confeccionados (IEL; CNA; SEBRAE, 2000). Os
artigos de vestuário são representados pelas classes de roupa íntima, de dormir, de
esporte, praia, de gala, social, de lazer, infantil, de segurança, fardamentos e de
proteção. Os confeccionados são compostos por meias, modeladores, acessórios para
vestuário, artigos de cama, mesa e banho, copa, cozinha e limpeza, artigos para
250
decoração e artigos industriais e para uso técnico. A produção do segmento de
confecção é destinada basicamente ao comércio atacadista, varejista, lojas de
departamentos e lojas especializadas (SEBRAE-SP; IPT, 2001).
Existem algumas diferenças significativas entre o segmento de confecções e o
restante da cadeia têxtil, daí o primeiro ser muitas vezes encarado como uma indústria
em separado. As maiores dessas diferenças são a importância do desenvolvimento da
marca e dos canais de distribuição, o design dos produtos acabados, e a intensidade
de mão-de-obra. O setor atua com certa dependência do setor de acabamento que
responde por muitas das características industriais impostas pela moda.
Dentre as empresas de confecção, as dedicadas aos artigos de vestuário
respondem de longe pelo maior número de estabelecimentos. Quanto à produção,
cabe destacar a grande concentração no “sub-segmento” de artigos técnicos, que
aparecem em segundo lugar em termos de produção, a despeito de figurarem como o
último “sub-segmento” em termos de número de empresas.
Número de Confecções por Atividade
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Vestuário
Meias/Acessórios
Linha Lar
Art. Técnicos
Figura 7.1.31 Número de Confecções por Atividade
O setor de confecções apresenta um número bem maior de empresas exclusivas
do que empresas integradas. Esse comportamento tem haver com a dificuldade de
251
administrar um parque industrial focado em produtividade e ganhos de escala, e ao
mesmo tempo manter o ritmo acelerado e cíclico necessário ao gerenciamento de uma
marca ligada à moda, principalmente quando se procura a diferenciação dos produtos
(NEGÓCIOS EM EXAME, 17/06/1981; NEGÓCIOS EM EXAME, 08/09/1982). Além
disso, na medida em que as empresas com foco em produção adentram o segmento
de confecções, costumam enfrentar a desconfiança de seus antigos clientes, que se
tornam concorrentes (NEGÓCIOS EM EXAME, 16/01/1980). Dessa forma, geralmente
as empresas tipicamente têxteis não costumam adentrar na indústria de confecção.
Por outro lado, com exceção das malharias, as empresas que atuam tradicionalmente
no segmento de confecção não costumam adentrar no segmento de tecelagem e
acabamento, em função da elevada intensidade de capital. A Figura 7.1.32 retrata a
proporção de empresas integradas e exclusivas no segmento de confecções.
Número de Confecções Integradas e Exclusivas
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Exclusivas
Integradas
Figura 7.1.32 Número de Confecções Integradas e Exclusivas
É interessante notar que a despeito da maior quantidade de empresas exclusivas,
o comportamento dos dois tipos de empresa foi, proporcionalmente, muito semelhante
de 1992 a 1999.
A número de confecções na região Sudeste apresentou uma trajetória cíclica.
Diminuiu de 1991 a 1993. Cresceu de 1994 a 1997, a partir de quando voltou a
252
regredir. Esses movimentos estão relacionados às dinâmicas conjunturais da década
de 90. As demais regiões apresentaram um crescimento contínuo ao longo da última
década, com destaque para a região Norte, onde o número de empresas cresceu
300%, indo de 152 empresas para 459. Esse aumento significativo, também registrado
na região Nordeste, está relacionado ao reduzido custo da mão-de-obra e aos baixos
níveis de emprego nessas regiões. Como o segmento de confecções é mais intensivo
em mão-de-obra do que em capital, a transferência para esses centros se mostrou
uma boa estratégia competitiva para as grandes empresas. Por outro lado, para os
desempregados, empreender uma confecção se tornou a saída para conseguir auferir
alguma receita.
Em relação aos níveis de produção, a década de 90 apresentou um crescimento
da ordem de 60%, apesar da concorrência acirrada dos produtos importados,
principalmente na primeira metade da década. Assim como nos outros segmentos da
indústria têxtil, as confecções brasileiras tiveram que racionalizar a produção, diminuir
as margens de lucro e fugir dos produtos commodities.
Número de Confecções por Região Geográfica
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Nº Empresas
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
C.Oeste
Figura 7.1.33 Número de Confecções por Região Geográfica
Outro ponto que merece destaque é o crescimento no número de pequenas e
médias empresas. Esse fato está ligado à baixa intensidade de capital requerida pelo
253
negócio. Para instalar uma confecção é necessário basicamente a matéria-prima
(tecidos e aviamentos) e algumas máquinas de costura, normalmente de baixo custo.
Mais importante que a disponibilidade de capital, qualidade e preço do produto, é a
conquista de canais de distribuição eficientes, que podem depender muito do
relacionamento pessoal do fabricante junto aos lojistas (EXAME, set. 1971, p. 122).
Número de Empresas pelo Porte
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Notas: (1) Pequenas: até 30 funcionários diretos;
(2) Grande: mais de 200 funcionários diretos
Nº Empresas
Pequenas
Médias
Grandes
Figura 7.1.34 Número de Empresas pelo Porte
O mix de marketing exerce um papel importantíssimo para o setor de confecções.
As empresas que buscam maior diferenciação fazem uso de políticas promocionais
com destaque na mídia e em eventos de moda. Procuram se aproximar dos
consumidores e das tribos que ajudam a divulgar os modismos.
A política de preço também é um fator importantíssimo. Se o produto não for
reconhecido pelo mercado como de qualidade superior, ou não tiver uma marca
associada ao conceito de grife, provavelmente não será possível comercializá-lo a um
preço Premium.
Os canais de distribuição representam talvez o mais importante dos 4P’s de
marketing. Podem variar de atacadistas a lojas especializadas, incluindo ainda lojas de
departamento e varejistas independentes. A escolha também depende do
254
posicionamento do produto. As confecções que trabalham fortemente suas marcas
costumam administrar sua própria cadeia de lojas e franqueados. A Figura 7.1.35
mostra a participação dos canais de distribuição no segmento de confecções.
Participação Canais de Distribuição
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
% Participação
Atacado
Loja Departamento
Loja Especializada
Varejo Cad.
Varejo Indep.
Coop. Governo
Industrial
Outros
Figura 7.1.35 Participação dos Canais de Distribuição
É possível observar o aumento da participação do varejo independente, das lojas
especializadas e de outros canais, como catálogos e a Internet. O varejo independente
responde pelos produtos populares. As lojas especializadas pelos produtos
diferenciados e os catálogos e a Internet pelos produtos padronizados em tamanho e
de marcas conhecidas, onde o processo de experimentação não se faz necessário. A
principal queda de participação percebida foi dos atacadistas.
Com relação à modernização de equipamentos, as confecções tiveram seu período
de maior investimento entre 1991 e 1998, saindo de uma idade média de 8,2 anos
para 7,2 anos (Vide Figura 7.1.36). A partir de 1999 a idade média voltou a crescer
com o cessar dos investimentos, principalmente em função da desvalorização cambial.
255
Idade Média Maquinário Confecções
6,60
6,80
7,00
7,20
7,40
7,60
7,80
8,00
8,20
8,40
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Fonte: IEMI
Anos
Idade Média
Figura 7.1.36 Idade Média do Maquinário do Segmento de Confecções
256
7.2 ANEXO 2 Aspectos Produtivos do Setor de Calçados
1. Características dos Produtos
Basicamente, o sapato é constituído de uma parte superior, o cabedal, e de
uma parte inferior, o solado. Todavia, cada parte se subdivide em uma série de
outras, com características e funções bem específicas.
O Cabedal destina-se a cobrir e proteger a parte de cima do pé e divide-se em
gáspea (parte da frente), traseiro e lateral. Normalmente, é constituído de várias
peças e reforços, usados para dar mais firmeza e proteção à parte superior do pé
ou, então, por questão de design. Entre os elementos de reforço estão o
contraforte e a couraça. O contraforte é um reforço colocado entre o cabedal e o
forro, na região do calcanhar, destinado a dar forma a esta parte do calçado e
manter o calcanhar firme dentro do sapato. É um elemento importante no calce e
no conforto. Alguns tipos de calçados, como sapatilhas muito flexíveis ou sapatos
tipo chanel (abertos atrás), não utilizam o contraforte. A couraça é um reforço
colocado no bico do calçado, também entre o cabedal e o forro, destinado a
proteger os dedos e, ao mesmo tempo, dar firmeza e boa apresentação ao bico,
mantendo inalterada, mesmo durante o uso, a sua forma original. É muito
importante em calçados infantis e nos calçados de segurança (nesse caso
específico é feita de aço), para evitar danos aos dedos. Dependendo do modelo do
calçado, o cabedal pode ainda apresentar algumas outras partes, como biqueira
(peça que recobre o bico do sapato, geralmente com função decorativa) e lingüeta
(parte saliente sobre o peito do pé, utilizada em calçados de cadarço, destinada a
proteger o dorso do pé) (ANDRADE; CORRÊA, 2001).
O Solado representa a parte inferior do calçado e que se interpõem entre o pé
e o solo. É constituído de várias peças, entre elas:
1. Palmilha de Montagem: lâmina que tem a função de dar firmeza ao
caminhar e pode ser de aço, madeira, arame ou plástico rígido. É cortada
no mesmo tamanho da planta da fôrma, sobre a qual é montado o cabedal
e à qual é fixada a sola externa. Além de ser um dos elementos mais
257
importantes do calçado, pois se constitui numa estrutura sobre a qual se
alicerçam quase todas as partes que constituem o modelo, é considerada
uma terceira divisão do calçado, pois serve de ligação entre o cabedal e o
solado. A palmilha de montagem é moldada exatamente de acordo com a
fôrma sobre a qual o calçado foi montado;
2. Sola: é a parte externa do solado, ou seja, aquela que está em contato
direto com o solo, e dela dependem, em grande parte, a qualidade e a
desempenho do calçado. O material do qual é fabricada e o seu perfil
(desenho) determinam suas propriedades, durabilidade, flexibilidade,
resistência à umidade, leveza, uniformidade, resistência ao deslizamento,
entre outros fatores;
3. Salto: constitui-se num suporte, fixado à sola na região do calcanhar, e é
destinado a dar equilíbrio ao calçado.
Dependendo do calçado, duas outras peças podem fazer parte do solado: a
entressola, uma camada intermediária colocada entre a palmilha de montagem e a
sola, com função estética e de conforto; e a vira, uma tira estreita de material
solado (couro, borracha natural ou sintéticos) colada ou costurada em torno do
calçado (ANDRADE; CORRÊA, 2001).
Os elementos descritos acima são fundamentalmente as peças que constituem
o calçado. Todavia, dependendo do modelo, outras peças podem ser agregadas.
O tênis, por exemplo, poderá ter ilhoses, forros especiais, dispositivos de
amortecimento de impacto, bolsas infláveis, entre outros.
2. Processo de Produção
O processo de fabricação de um calçado está dividido em etapas, que podem
ser definidas conforme descrito a seguir (ANDRADE; CORRÊA, 2001):
2.1. Modelagem
De acordo com a maioria dos empresários do setor calçadista, a etapa de
modelagem é considerada uma das mais importantes da linha de produção, pois
nessa fase o calçado é concebido e completamente especificado. Todo o material
258
a ser usado na fabricação, o tipo, o gênero, a finalidade e o projeto da fôrma (estilo
e dimensões) são definidos nessa etapa, na qual se utilizam tantos os recursos
informatizados, caso dos sistemas CAD/CAM, como o desenho manual
(ANDRADE; CORRÊA, 2001).
2.2. Corte
O corte da matéria-prima, principalmente o couro, é feito de acordo com as
dimensões definidas na modelagem e pode ser manual (artesanal), com a
utilização de “facas” e moldes de cartolina reforçados nas bordas com filetes de
metal. As empresas de maior porte utilizam uma pequena prensa hidráulica
denominada balancim, que é operada por um funcionário e na qual é afixada, no
cabeçote, uma navalha de fita de aço, que também atende às determinações do
molde. Existem também, em nível internacional, os equipamentos informatizados
para o corte de couro por meio de laser e jato de água. Os processos a laser e a
jato de água apresentam ganhos de produção e melhor aproveitamento do
material, pois o computador envia os comandos para as máquinas, que efetuam os
desenhos sobre o couro ou o laminado sintético. O processo é veloz e com
margem de erro muito baixa. Quando utilizado para cortar o laminado sintético, é
possível empilhar várias camadas do material para corte simultâneo, o que gera
alta produtividade (ANDRADE; CORRÊA, 2001).
2.3. Pesponto
Após o corte, as peças que fazem parte do cabedal são organizadas em lotes e
encaminhadas à seção de pesponto, onde são chanfradas (preparação para
receber a costura), dobradas, picotadas, coladas e em seguida costuradas. Esse
trabalho de preparação, na maior parte das empresas, é realizado manualmente e,
em algumas poucas, feito em máquinas eletrônicas simples. Também é comum a
terceirização dessa etapa de produção, as chamadas “bancas de pesponto” ou
ateliers (ANDRADE; CORRÊA, 2001).
259
2.4. Costura
A costura do cabedal, método mais antigo e largamente usado antes do
aparecimento dos adesivos sintéticos, na década de 60, ainda é empregada em
alguns tipos de calçados, na busca por mais segurança e firmeza. Entre os
métodos que utilizam a costura, estão o blaqueado (para a fabricação de tênis e
mocassins), o goodyear (observado principalmente em calçados de segurança, em
botas militares e em alguns modelos mais pesados) e o ponteado (atualmente
utilizado apenas em alguns calçados de estilo jovem e confortável), cabendo
ressaltar se tratar de um processo misto, pois o cabedal é fixado à palmilha
mediante costura, mas a sola é colada. Esses métodos de produção são mais
complexos e onerosos e, portanto, utilizados normalmente em calçados de maior
valor agregado e preços mais elevados (ANDRADE; CORRÊA, 2001).
2.5. Montagem
Essa etapa é realizada quase que simultaneamente ao corte e à costura. Os
materiais que compõem o solado (salto e sola), bem como a palmilha, são
cortados, lixados, conformados, limpos e colados ou costurados. Tanto na colagem
como na costura podem ser utilizados solados de couro, borracha natural, PVC,
TR, PU e outros. No caso dos métodos de injeção direta ou vulcanização, hoje
largamente empregados, somente podem ser usadas solas feitas de materiais
sintéticos e, no caso da vulcanização, também de borracha natural.
Uma vez completada a operação de fixação da sola ao cabedal, o calçado está
praticamente pronto, devendo passar ainda por pequenas operações,
denominadas por alguns fabricantes de acabamento ou plancheamento, que
consistem em limpeza, retoque de pequenos defeitos e controle de qualidade final
(ANDRADE; CORRÊA, 2001).
260
3. Matérias-Primas
Por muitos anos, os sapatos foram tradicionalmente feitos de couro, com sola
também de couro ou de borracha natural. Com o desenvolvimento da petroquímica
e o surgimento de materiais sintéticos, várias opções se abriram, e os fabricantes
de calçados começaram a utilizar matérias-primas alternativas. Na tabela 7.2.1 são
apresentados os materiais disponíveis entre as décadas de 20 e de 90.
Décadas
1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
Couro Couro Couro Couro Couro Couro Couro Couro
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Não-
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
Borracha
Vulcanizada
PVC PVC PVC PVC PVC
PU PU PU PU
Borracha
Termoplástica
Borracha
Termoplástica
Borracha
Termoplástica
Borracha
Termoplástica
Poliuretano
Termoplástico
Poliuretano
Termoplástico
Poliuretano
Termoplástico
Poliuretano
Termoplástico
EVA EVA EVA EVA
Fonte: ANDRADE; CORRÊA (2001)
Tabela 7.2.1 - Materiais Utilizados na Confecção de Solados
Apesar de trazerem novas possibilidades, tanto em termos de estética quanto
em conforto, os novos materiais também trouxeram problemas como qualquer
outro material desconhecido no mercado, uma vez que, para sua utilização de
forma que não acarretassem problemas à saúde do pé, novos equipamentos
tiveram que ser adquiridos pelos fabricantes, assim como os operadores
necessitaram de novos conhecimentos (ANDRADE; CORRÊA, 2001).
De maneira geral, quem ganhou foi o consumidor, pois a fabricação de
calçados diversificou-se e ganhou novos designs. Atualmente, uma variedade de
materiais de diversas origens é utilizada na fabricação de calçados. A seguir,
apresentam-se alguns desses materiais:
1. Couro: é considerado um material nobre, que pode ser usado praticamente
em todas as partes do calçado, mas normalmente sua utilização é
aconselhável no cabedal, no forro e, em alguns modelos, na sola. Um couro
bovino pode produzir em média 20 pares de calçados e se apresenta nas
261
fases cru, salgado, wet-blue
5
, crust (semi-acabado) e acabado. O couro
traz algumas vantagens sobre os outros materiais, como, por exemplo, alta
capacidade de se amoldar a uma forma, boa resistência ao atrito, maior
vida útil, possibilidade de transpiração e aceitação de quase todos os tipos
de acabamento. É importante ressaltar que a produção de couro até o
estágio wet-blue produz 85% do resíduo ambiental da cadeia produtiva,
enquanto a transformação de couro wet-blue em calçado produz os
restantes 15%;
2. Manufaturados Têxteis: são tecidos naturais, como algodão, lona e brim, e
tecidos sintéticos, como náilon e lycra. São utilizados sobretudo no cabedal
e como forro. Além do preço mais atrativo, os calçados fabricados com
tecidos são mais leves;
3. Laminados Sintéticos: são materiais constituídos normalmente de um
suporte (tecido, malha ou não-tecido) sobre o qual é aplicada uma camada
de material plástico (geralmente PVC ou Poliuretano). São chamados,
erroneamente, de couro sintético. Um dos mais utilizados pela indústria
calçadista brasileira é o chamado “cover line”.
4. Materiais Injetados: o policloreto de vinila (PVC) é um material de fácil
processamento, com custo relativamente baixo e com boas propriedades
de adesão e resistência à abrasão, sendo hoje utilizado até em solados de
tênis e chuteiras. Suas desvantagens são a baixa aderência ao solo e a
tendência a quebrar a baixas temperaturas; o poliuretano (PU) é um
material versátil e disponível sob várias formas e empregado em solas e
entressolas com características de durabilidade, flexibilidade e leveza. Sua
desvantagem está no alto custo dos equipamentos necessários à sua
produção e também na necessidade de cuidados especiais durante a
estocagem e o processamento; o poliestireno é utilizado na produção de
saltos. Tem baixo custo e alta resistência ao impacto; o ABS também é
utilizado especificamente para fabricação de saltos. Apesar de ter uma
ótima resistência ao impacto e à quebra, hoje a sua utilização é
basicamente voltada para saltos muito altos, devido ao seu elevado custo;
5
Logo após o abate, o couro é vendido pelo frigorífico aos curtumes, salgado ou em sangue.
No curtume, é despelado, são removidas graxas e gorduras e então sofre o primeiro banho de
cromo. É a primeira fase, onde ele passa a exibir um tom azulado e seco. Daí o termo wetblue.
262
a borracha termoplástica (TR), utilizada na produção de solas e saltos
baixos, apresenta boa aderência ao solo, mas é pouco resistente às
intempéries e aos produtos químicos, como solventes.
5. Materiais Vulcanizados: a borracha natural possui excelente resistência ao
desgaste, adere bem ao solo, é leve e flexível, o que a torna muito
confortável. Foi o primeiro material a ser usado na fabricação de solas em
substituição ao couro. Todavia, o elevado custo e a pouca resistência a
altas temperaturas inviabilizam sua utilização. Atualmente, ela é usada
principalmente em calçados infantis; a borracha sintética apresenta boa
propriedade de flexão e elasticidade, resistência ao desgaste e ao
rasgamento, adere bem ao solo e seu custo é acessível; o copolímero de
etileno e vinil acetato (EVA) é um dos materiais mais utilizados no Brasil
em diversas partes do calçado, sobretudo no solado, pois é mais leve e
macio para a fabricação de solas, possui boa resistência ao desgaste e
pode ser produzido em diversas cores.
Além dos materiais citados para a fabricação de calçados, têm-se ainda os
metais, os materiais celulósicos e a madeira. No Gráfico da Figura 7.2.1 pode-se
visualizar a participação mundial de cada material utilizado na produção de
calçados em 1999 e a previsão para 2005.
19%
13%
7%
8%
9%
14%
26%
20%
11%
7%
7%
7%
16%
28%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1999 2005
Consumo Mundial de Material para Solado
PVC TPU Resina de Borracha PU Couro EVA Borracha Natural Borracha Termoplástica Borracha Vulcanizada Outros
Fonte: Abicalçados
Figura 7.2.1 Consumo Mundial de Materiais para Solado
263
7.3 ANEXO 3 História da São Paulo Alpargatas S.A
A São Paulo Alpargatas S.A. é uma das mais tradicionais indústrias de bens de
consumo do Brasil. Com 98 anos de idade completos em 2005, a empresa é também,
uma das mais antigas, sendo particularmente conhecida pelas suas marcas,
campanhas publicitárias, patrocínios a atletas e a eventos esportivos em geral, e pela
sua antiga relação com o mercado de capitais.
A São Paulo Alpargatas vem atuando desde sua fundação nos segmentos têxtil e
de calçados. Ao longo de sua vida, a empresa passou por vários processos de
diversificação relacionada, mas sempre manteve o foco nas duas áreas de atuação.
Hoje, a companhia está concentrada na fabricação e na gestão de marcas de um
vasto portfólio de calçados, que vão desde sandálias a tênis com altíssima tecnologia
incorporada, e de lonas, atendendo à indústria de transporte, de decoração e de
comunicação. Os negócios de fiação, tecidos e confecções foram transferidos
progressivamente para sua controlada Santista Têxtil S.A., a partir de 1994.
A São Paulo Alpargatas emprega, hoje, cerca de 11.000 funcionários distribuídos
entre as 8 fábricas que opera ao redor do território brasileiro, totalizando 132.300
metros quadrados de área produtiva construída, segmentada de acordo com a tabela
7.3.1:
Localização Área (m2) Produção
Manaus AM 11.121 Lonas Night and Day e Têxteis Industriais
Natal RN 17.500 Calçados Rainha e Topper
Santa Rita PB 17.193 Calçados Rainha e Topper
Campina Grande PB 41.980 Sandálias
Pouso Alegra MG 11.513 Lonas Locomotiva e Têxteis Industriais
Mogi Mirim SP 22.089 Calçados Conga, Bamba e Sete Léguas
Veranópolis 2.200 Bolas Rainha, Topper e Mizuno
Veranópolis 8.703 Calçados Topper, Mizuno e Timberland
Fonte: SPASA (2003)
Tabela 7.3.1 Atuais Fábricas da São Paulo Alpargatas
264
Como quase toda empresa centenária, a história da São Paulo Alpargatas
apresenta algumas fases marcantes que merecem ser analisadas com cuidado. Em
nossa análise, destacaram-se as seguintes: Os Primeiros Passos, fase que teve início
com os preparativos para a fundação da companhia e se estendeu até 1940, em meio
a um conturbado cenário mundial de guerras, epidemias e crises financeiras; O
Desenvolvimento, fase de estabilidade e crescimento acelerado da companhia
enquanto indústria integrada e de alta escala de produção; A Crise, fase que revelou
grandes dificuldades na manutenção do posicionamento estratégico original da São
Paulo Alpargatas e a sua incapacidade de reação; O Recomeço, uma fase de
reestruturação e retomada do crescimento através de um posicionamento estratégico
pautado em marcas e em moda (Vide Figura 7.3.1).
58
48
8
7
1883 1893 1903 1913 1923 1933 1943 1953 1963 1973 1983 1993 2003
Os Primeiros Passos
O Desenvolvimento
A Crise
O Recomeço
Fases da História da Alpargatas
Figura 7.3.1 Visão da História da São Paulo Alpargatas
A seguir discorreremos sobre cada uma das fases da empresa, destacando os
eventos essenciais que caracterizam cada uma delas.
265
1. Os Primeiros Passos (1883-1940)
A história da São Paulo Alpargatas está associada ao processo de industrialização
e desenvolvimento do mercado de bens de consumo no Brasil. Sua origem remonta a
1883 quando um grupo de imigrantes escoceses e espanhóis constituíram na
Argentina uma sociedade para a fabricação de alpargatas. Conhecidas como “sapato
espanhol”, as alpargatas foram, na realidade, criadas pelos árabes, que as levaram
para a Penísula Ibérica, de onde se espalharam para o sul da França, no século XIII.
Na sua origem eram feitas com solado de fios de crina trançados, tendo sido
substituída posteriormente por uma fibra conhecida por “esparto” ou “alpha”. A
manufatura permaneceu manual até 1881 quando Norman Fraser, herdeiro da firma
escocesa Douglas Fraser & Sons, tradicional fabricante de tecidos de lona, projetou e
patenteou uma máquina de trançar fios para pavio de vela, tendo sido adaptada para
trançar, posteriormente, a juta, utilizada como solado das alpargatas da época.
A Douglas Fraser & Sons havia sido fundada em 1832, na cidade de Arbroath,
Escócia, por Douglas Fraser e seus oito filhos. Durante a década de 1870, quando os
propulsores de navios tornaram-se maciçamente a vapor, as demandas pelas lonas e
velas produzidas pela empresa caíram vertiginosamente, levando-as a sérias
dificuldades. Quando em 1881, Norman Fraser desenvolveu a máquina de trançar, a
empresa enxergou na indústria de bens de capital, a salvação para seus negócios.
Construiu, durante a década de 1890, instalações apropriadas para o fabrico, em
escala, de suas máquinas, e continuou focada no segmento de engenharia até
meados de 1950, apesar de a família Fraser ter diversificado sua atuação para a
própria fabricação do calçado alpargatas.
Ainda no final do século XIX, a América Latina passava por um estrondoso
processo de expansão comercial, acompanhado de uma forte influência cultural dos
mercados com os quais realizava os maiores intercâmbios na época, particularmente,
a Europa. A Argentina era sem dúvida o país mais desenvolvido da época e a maior
colônia de ingleses fora do Império Britânico. Lá já era comum o trabalho de trançado
manual para a fabricação de alpargatas, e os irmãos Robert e Norman Fraser
enxergaram uma boa oportunidade no país para desenvolver as vendas de suas
maquinarias. Desembarcaram em Buenos Aires em 1883 e logo se associaram ao
basco Juan Echegaray, um dos pioneiros na fabricação manual das alpargatas na
266
Argentina, formando a Echegaray & Fraser, que em 1885 passou a se chamar
Sociedad Anónima Fábrica Argentina de Alpargatas. (www.alpargatas.com.ar,
28/02/2005; SPASA, 1987a).
A empresa encontrou solo propício ao crescimento na Argentina. O país atraía no
final do século XIX muitos imigrantes e crescia economicamente de forma acelerada.
Baseada numa estratégia de ganhos de escala que lhes permitia vender produtos
mais baratos que os concorrentes intensivos em mão-de-obra, a empresa conseguiu
crescer rapidamente no mercado e em 1899 já contava com 30% do mercado de
alpargatas, segundo o Boletin Industrial. No mesmo ano, o retorno sobre capital
próprio da empresa atingiu 16% (PINEDA, 2003).
O sucesso do empreendimento na Argentina incentivou a sociedade a expandir
suas atividades geograficamente e a diversificar seu portfólio de produtos. Em 1890,
em sociedade com John Christie, também de Arbroath, foi implantada uma subsidiária
em Montevidéu, a Fábrica Uruguaya de Alpargatas. No início do século XX foi a vez do
Brasil demonstrar seu potencial de crescimento e atrair em 1907 os investimentos para
a fundação da subsidiária Sociedade Anonyma Fábrica Brazileira de Alpargatas e
Calçados. O grupo inglês Edward Ashworth & Co. entrou na sociedade como
incorporador e foi nomeado agente exclusivo, financeiro e de vendas, para o Brasil e
para a Argentina. A reunião de constituição da companhia foi presidida por John F.
Shalders e contou com a presença de Robert Fraser, representando a Douglas Fraser
& Sons Ltd. Nessa ocasião foi eleita a primeira diretoria da empresa, assim disposta:
Presidente, George Herbert Craig; Secretário, Edmund Wright; e Diretor, Kenneth
Fraser. O conselho fiscal era formado por George Henry Ford, Carlos G. S. Shalders e
G. H. Brondie.
O capital inicial aportado na fundação da Sociedade Anonyma Fábrica Brazileira de
Alpargatas e Calçados foi de 800 contos de réis, o equivalente a 800.000.000 de réis
(Vide Figura 7.3.2). Com o dinheiro foi adquirido um terreno de 12.000 metros à rua da
Concórdia, atual Dr. Almeida Lima, na Moóca, região industrial da cidade de São
Paulo, ao custo de 42 contos de réis. Outros 4.391.050 réis foram gastos com as
despesas de registro do imóvel. O terreno situava-se perto da Estrada de Ferro
Ingleza, o que permitiu à companhia providenciar um desvio para receber e embarcar
267
mercadorias. Esse desvio foi feito ao custo de 11.373.600 réis mais a cessão de 1.100
m
2
do terreno da companhia à São Paulo Railway.
Fonte: SPASA (1982a; 1987a)
Figura 7.3.2 Registro Contábil do Capital Social Inicial da São Paulo Alpargatas
A construção da fábrica foi contratada junto ao arquiteto Júlio Michele por 130
contos de réis, tendo sido designado para fiscalização da obra o Sr. George Krug. Em
função das chuvas e da demora no recebimento e montagem dos equipamentos
(encomendados na Europa e nos Estados Unidos e recebidos somente no final de
1907), a fábrica só iniciou suas operações em 1908. A produção era enquadrada à
economia cafeeira da época: algodãozinho, panos, algodão cru, lonas, lonetas e
encerados, botinas, sapatos e sandálias de couro, com destaque para as alpargatas
Roda, carro chefe da companhia. Para financiar o início das operações foi necessário
proceder com um aumento de capital (SPASA, 1987a).
Em 1909, ao descobrir a existência de uma pequena fábrica gaúcha chamada
Fábrica de Alpargatas e Calçados Brasileira, mais tarde Martinez & Iglesias, a
empresa alterou sua razão social para São Paulo Alpargatas Company. Em 1911,
buscando adentrar no segmento de fiação e tecelagem, a empresa convocou seus
acionistas a aumentarem o capital da empresa em 200 contos de réis, elevando o
capital total para 1.000 contos de réis. Ainda em 1911, Douglas Fraser & Sons Ltd.
retirou-se da companhia, transferindo suas ações para Edward Ashworth & Co.
O Brasil do início do século XX parecia um terreno propício para a expansão da
companhia. Muitos eventos ocorridos a partir da segunda metade do século XIX
268
favoreceram a captação de investimentos externos, aplicados na constituição de
fábricas, que ajudaram a definir o processo de industrialização brasileiro.
A disponibilidade dos recursos liberados do tráfico de escravos, a redistribuição de
renda resultado do trabalho assalariado e o aumento expressivo das divisas advindas
das exportações de café favoreciam o crescimento do consumo em geral e, mais
especificamente, de calçados para o trabalho nas lavouras e no comércio de grãos, e
lonas para secagem e transporte das colheitas. Até 1920, a indústria brasileira
também se beneficiava de elevadas tarifas alfandegárias de importação e de um
câmbio desvalorizado, que junto à construção de obras de infra-estrutura como
hidroelétricas e ferrovias, ajudavam a reduzir os custos totais de produção e
reforçavam o processo de urbanização e conseqüente aumento do consumo.
(FERRO, 1988).
O sucesso da São Paulo Alpargatas sofreu influência, também, de fatores culturais.
Assim como no caso de sua co-irmã argentina, o intercâmbio cultural Brasil-Europa na
época de sua fundação era bastante intenso. Os produtos da companhia já vinham
sendo utilizados na Europa e a sua manufatura no Brasil habilitou o grande número de
imigrantes residentes no país a consumi-los sem necessidade de importar. Tal
sucesso levou a empresa a abrir o capital em 24 de abril de 1913. Era preciso levantar
fundos para importar máquinas têxteis e continuar investindo no crescimento da
companhia.
Apesar do sucesso inicial da companhia, o ambiente externo que surgiu a partir de
1914, com a deflagração da I Guerra Mundial, denunciava um longo período de
instabilidade, que exigiria da São Paulo Alpargatas uma grande capacidade de
adaptação, mesmo estando, ainda, numa fase muito precoce de sua existência no
Brasil. Essas adaptações não foram necessariamente ruins, contudo. Pelo menos no
curto-prazo. Muitas ofereceram condições até mais estáveis de demanda e
possibilidades reais de incrementar as vendas, como, por exemplo, a adaptação à
indústria de guerra. Contudo, eram situações contingenciais, insustentáveis no longo
prazo.
A I Guerra Mundial, por um lado, favoreceu em muito a consolidação da indústria
têxtil brasileira. A dificuldade na comercialização internacional de muitos bens de
269
consumo, e o grande número de máquinas têxteis importadas de 1907 a 1913,
possibilitaram às fábricas brasileiras, atender sozinhas, o crescimento da demanda
interna no período do conflito. (FERRO, 1988; MONTEIRO FILHA, 2002). Por outro
lado, a mesma dificuldade de comercialização internacional que dificultou a entrada de
produtos concorrentes aos da São Paulo Alpargatas no Brasil, dificultou também a
aquisição de seus maquinários e de suas matérias-primas. Para se ter uma idéia, as
máquinas encomendadas pela companhia em 1915 para atender ao crescimento da
demanda só começaram a operar em 1917, em função das dificuldades de embarque.
Apesar da renovação constante dos equipamentos, vários outros eventos fizeram
com que a produção da companhia fosse prejudicada. O primeiro deles foi a
convocação de parte de seus funcionários para o serviço militar. Em 1918, um surto de
epidemia de gripe espanhola assolou o Brasil. O quadro de contaminação evoluiu de
um contexto social isolado até se generalizar por toda a sociedade, impactando
fortemente na economia. As indústrias têxteis e de calçados, que ainda hoje são de
mão-de-obra intensiva, enfrentaram sérios problemas de produção. Metade do
operariado da São Paulo Alpargatas adoeceu e a empresa foi obrigada a fechar por
quase um mês. Em julho de 1924, a produção foi novamente prejudicada pela
Revolução Tenentista, e a fábrica foi novamente obrigada a fechar por mais um mês.
Na última etapa do conflito a fábrica acabou na linha de frente. A estação ferroviária da
E. F. do Norte, depois renomeada para Central do Brasil, onde chegavam os trens
procedentes do Rio de Janeiro, foi ocupada pelos rebeldes. As tropas federais
acabaram bloqueando o caminho de acesso, junto à fábrica da São Paulo Alpargatas,
utilizando para isso os fardos de algodão da companhia. Em 1926, foi suspensa a
produção de alpargatas em função do aumento das matérias-primas e da
impossibilidade de repassar o aumento dos custos aos preços dos produtos. (SPASA,
1987a)
Mesmo em meio a esses problemas contingenciais, a Alpargatas começava, em
1919, a dar sinais daquilo que mais tarde se mostraria um comportamento recorrente
da companhia: investir mesmo em tempos difíceis em inovação, em expansão
contínua da produção, e na melhoria da produtividade. Dentro dessa perspectiva, a
empresa adquiriu em um terreno em frente à fábrica, à rua da Concórdia, e contratou
Scott & Urner para a construção de uma nova unidade. Comprou também um terreno
à rua do Carmo, atual Dr. Roberto Simonsen, onde construiu escritórios e depósitos.
270
Em 1920 iniciou o processo de comercialização de tênis, fabricados por encomenda
pela firma Julio G. Germade & Cia., registrando a marca “Tennis” como de sua
propriedade comercial. Em 1921, comprou equipamentos e desenvolveu técnicas de
impermeabilização e acabamento de lonas que representaram importante avanço
tecnológico industrial. Em 1922, uma nova fábrica já estava em operação, com uma
seção para a manufatura de sapatos de borracha, o “Pelota”, que substituiu o produto
anteriormente terceirizado e importado. Neste mesmo ano, a Alpargatas participou da
Grande Exposição Internacional no Rio de Janeiro, comemorativa ao centenário da
Independência do Brasil, com uma mostra completa dos produtos de sua fabricação.
Em 1929, um novo tipo de problema surgiu e novamente prejudicou a produção da
São Paulo Alpargatas. No dia 24 de outubro, a quebra da Bolsa de Valores de Nova
York espalhou pelo mundo uma crise sem precedentes, que trouxe graves problemas
financeiros não só para a empresa, como também para toda a indústria. A São Paulo
Alpargatas foi afetada, particularmente, em dois sentidos. Primeiro, a sensível redução
dos níveis de demanda ocasionou uma rápida corrosão da situação financeira da
empresa. Operando desde a sua fundação num posicionamento estratégico de alta
escala, a redução repentina das receitas jogou os elevados custos fixos da companhia
rapidamente contra o seu caixa. Segundo, a companhia vinha desde 1913 utilizando o
mercado de capitais como uma das formas de levantar fundos e financiar seu
crescimento. Com a quebra da Bolsa de Nova York, a captação de recursos em
Bolsas de Valores se tornou praticamente inviável.
Com a quebra da bolsa americana, os bancos se recusaram a descontar saques
das firmas; a cotação do café caiu de 200 mil réis em agosto de 1929 para 21 mil réis
em janeiro de 1930. Ashworth & Co. acabou quebrando. Os pagamentos foram
suspensos e a sua subsidiária brasileira Edward Ashworth & Co. também acabou indo
à falência. A situação da São Paulo Alpargatas ficou extremamente delicada. As
responsabilidades da empresa atingiram 11.000 contos de réis. A empresa não tinha
recursos financeiros para honrar suas obrigações. Grande parte de seus recursos,
6.000 contos de réis, estava nas mãos de seu agente financeiro Edward Ashworth &
Co., que em função da situação de insolvência, teve que renegociar sua
disponibilização. Edward Ashworth & Co. comprometeu-se a pagar 60% dos débitos
nos dois anos seguintes, o que reduziria o restante dos recebíveis a 3.600 contos.
(SPASA, 1982; SPASA, 1987a).
271
A São Paulo Alpargatas, apesar do grande prejuízo, contava, em função de sua
sistemática de provisionamento financeiro, com uma reserva de 30% do patrimônio
líquido. Além disso, dispunha de um mercado demandante de seus produtos e de uma
estrutura produtiva moderna. Dessa forma, o mercado esperava que a empresa fosse
uma das primeiras a se reestruturar do caos ocorrido. Tal condição propiciou à
companhia obter o apoio dos credores e renegociar suas dívidas. Em reunião no dia
16 de junho de 1930, a companhia elaborou um plano de reestruturação que
contemplava a renovação da Diretoria e o pagamento em dinheiro dos pequenos
créditos e dos créditos especiais. Os demais créditos seriam pagos integralmente,
60% no primeiro ano e os restantes, parte em dinheiro, em dois anos, e parte em
debêntures com juros de 10% ao ano, reembolsáveis em 15 anos. Os bancos,
confiantes da recuperação da empresa, concederam novos créditos no valor de 2.000
contos de réis. O British Bank of South América, maior credor, assumiu como
procurador dos portadores de debêntures. Como resultado do apoio dos credores e do
empenho da própria empresa em sair da crise, as debêntures acabaram sendo
resgatadas cinco anos antes da data de vencimento, em 30 de junho de 1940.
As dificuldades financeiras da Grande Depressão se associaram às ondas de
violência que assolaram o país no início da década de 30, tornando muito difíceis os
anos que antecederam 1932. João Pessoa foi assassinado. Washington Luiz, deposto.
Getúlio Vargas tomou o poder e dissolveu o Congresso Nacional. Todos os
governadores, com exceção do de Minas Gerais foram destituídos. Os salários foram
achatados. Greves, Rebeliões militares e levantes surgiram por toda parte. A São
Paulo Alpargatas conseguiu passar quase que imune a todos esses problemas graças
ao apoio de seus funcionários. De um lado eles se empenhavam no trabalho e lutavam
para preservar a integridade da empresa onde trabalhavam. Do outro, a companhia
oferecia vantagens incomuns à época, como aumentos salariais e bônus periódicos. O
espírito familiar era tão presente que até um time de futebol da companhia (São Paulo
Alpargatas Futebol Clube) foi formado, vindo a disputar e vencer o campeonato
paulista da 1º Divisão em 1933. Subiu para a Divisão Especial ao lado do Corinthians,
Palestra, São Paulo, Ipiranga e outros. Contudo, com a profissionalização do futebol, o
time se desfez, e a maioria dos funcionários acabou optando por continuar em suas
atividades laborais na companhia.
272
Em 1932, o Partido Democrático de São Paulo rompeu com Getúlio Vargas. Cem
mil pessoas participaram de um comício na Praça da Sé, reivindicando uma
Assembléia Constituinte e o restabelecimento da autonomia dos estados. Teve início a
Revolução Constitucionalista que duraria até outubro do mesmo ano. Novamente,
apesar dos momentos difíceis por que passava o país, a São Paulo Alpargatas
conseguiu passar por esse período da melhor forma possível. Enxergou,
oportunamente, a possibilidade de tirar proveito dos conflitos armados da época.
Transformou-se em indústria de guerra, e trabalhou ininterruptamente para fornecer ao
governo fardas, mochilas, barracas, capuzes e perneiras. A estratégia emergente
forneceu alívio temporário, mas também distanciou a companhia de seus negócios
principais e de seus clientes tradicionais. Era preciso voltar a planejar o futuro da
companhia de forma segura e o mais imune possível às externalidades. Como parte
desse projeto de longo prazo, Robert Fraser (Don Alberto), que havia sucedido seu pai
na direção da Fábrica Argentina de Alpargatas, foi convidado por alguns acionistas
insatisfeitos com a ausência de dividendos há 8 anos, e representados pelo British
Bank of South América, a assumir a reorganização da São Paulo Alpargatas e colocá-
la na trilha de crescimento. Don Alberto acabou enviando seu filho Roberto Martin
Fraser (Don Roberto), que estava no Rio de Janeiro, em lua-de-mel, para ajudar nesse
trabalho. Roberto Martin Fraser acabou ficando na São Paulo Alpargatas de 1934 a
1974, inicialmente ocupando o lugar de George Henry Ford (falecido em junho de
1934) na Diretoria, e posteriormente, atuando também, como Vice-Presidente e
Consultor Técnico. Em 1936, por motivos de saúde, o diretor-superintendente Stanley
Herbert Smith se aposentou e Donald McQuillen foi designado por Don Alberto para
assumir o posto de diretor e gerente geral. Com um pouco de fôlego renovado pela
demanda militar e com uma administração em renovação sob o comando da Fábrica
Argentina de Alpargatas, a empresa começou em 1935 a diversificar sua linha de
produtos, passando a produzir sapatos de couro. (SPASA, 1982a)
Em junho 1938, em função das instabilidades da década de 30, que não atingiram
somente o Brasil, mas todo o mundo, o grupo inglês Edward Ashworth & Co., até
então acionista majoritário da São Paulo Alpargatas, se retirou da empresa e repassou
o seu controle acionário para a Fábrica Argentina de Alpargatas, que já comandava
administrativamente a co-irmã brasileira (BOLSA, 12/04/1982). O sucesso do trabalho
de reestruturação conduzido pela equipe de Don Alberto foi evidenciado com o
fortalecimento financeiro que possibilitou à São Paulo Alpargatas se livrar das
273
debêntures na metade de 1940 e iniciar uma nova fase, a de Desenvolvimento
companhia (SPASA, 1982a; SPASA, 1987a).
2. O Desenvolvimento (1941-1988)
No final de 1940 e início de 1941, a Alpargatas passou por outra reestruturação,
que envolveu um aumento de capital, a participação de novos acionistas, a mudança
da razão social para São Paulo Alpargatas S.A. e, novamente, a mudança da
Diretoria.
Alfred Henry Norris passou a presidir a empresa, e Robert Martin Fraser, que até
então vinha atuando como Diretor, passou a atuar como Consultor Técnico. Foram
criados três cargos de suplência na Diretoria. Andrew A. Rohlfing assumiu como Vice-
Presidente e Donald McQuillen como Diretor e Gerente Geral. A formação foi
responsável por parte do crescimento da companhia e de sua consolidação no
mercado, permanecendo inalterada até 1956. A partir desse ano, pequenas alterações
foram feitas, principalmente com o crescimento da participação de Keith Smedberg
Bush, que mais tarde assumiria a presidência da empresa por longos 34 anos
(SPASA, 1982b).
Com a reestruturação organizacional, foi reiniciada a fabricação de alpargatas
Roda, suspensa desde 1926. A nova diretoria instituiu também, a partir de 1941, o
primeiro programa de serviços sociais que envolveu a criação de um restaurante, de
uma cooperativa e de um ambulatório médico dentro da fábrica, além da gratificação
natalina para todos os funcionários. Em 1946 esse programa foi estendido, incluindo a
implantação de um armazém de abastecimento de gêneros de primeira necessidade a
preço de custo e um ambulatório dentário dentro da fábrica.
Em 1942, com o acirramento da II Guerra Mundial, houve escassez de alimentos e
combustíveis. As inquietações sociais e as dificuldades da época retardaram, de certa
forma, a execução das estratégias de crescimento da São Paulo Alpargatas. Por outro
lado, se não foi possível crescer como desejado, a empresa soube, novamente,
aproveitar bem, o forte poder de demanda das forças armadas e passou a lhes
fornecer encerados, alpargatas Roda, tecidos, capuzes e perneiras. Mesmo com essa
demanda cativa, a São Paulo Alpargatas não descuidou do longo prazo e continuou se
274
preparando para retomar as ações de crescimento independente, tão logo fosse
possível. Passou a adotar uma política conservadora de distribuição de dividendos
com vistas a acumular a maior quantidade possível de recursos próprios, para
financiar sua expansão no Pós-Guerra; elaborou um projeto de expansão da maior
fábrica, à rua Almeida Lima, que resultou na decisão de compra do terreno de 13.650
metros quadrados, pertencente à Paladire e Mortari, por 5.000 contos de réis; e
iniciou, em 1945, a construção de uma fábrica modelo, edificada em dois blocos e sete
andares, suportando até o 5º andar os teares e as trançadeiras em pleno
funcionamento. Idealizado por Robert Martin Fraser, a fábrica foi construída por
Alfredo Mathias, tendo o projeto do layout e a implantação da maquinaria sido
supervisionado pelo americano John E. Mitchell, residente na Argentina, onde já
trabalhara na construção de fábricas da Alpargatas Argentina. (SPASA, 1987a).
Todas essas ações de preparação para o crescimento exigiram vultosos recursos
financeiros. Apesar da austeridade financeira e das consideráveis reservas, a
companhia realizou novas chamadas de capital, a partir de 1942, com a finalidade de
suportar o plano de desenvolvimento da companhia, sem comprometer a situação
econômico-financeira da empresa. Era preciso, ainda, diversificar os produtos,
aumentar a produção, estruturar a força de vendas e investir em marketing
(propaganda e canais de distribuição). Para planejar o crescimento fabril foi criada a
gerência industrial sob o comando de James Baines, que veio do Canadá em 1950. O
objetivo era aliviar o trabalho dos gerentes de fábrica, que envolvidos com o dia-a-dia,
não tinham tempo para planejar o crescimento e a organização das plantas. Para
organizar a força de vendas, foi designado, em 1948, Pedro Ingouville, uruguaio
radicado na Argentina, e em 1952, J. S. Buchan veio da Escócia para assumir a área
financeira da companhia. Com a economia brasileira dos anos 50 avançando mais
rapidamente do que a da Argentina, a família Fraser não conseguiu suprir as
necessidades de capital da subsidiária brasileira. Não exercendo seus direitos de
subscrição, a Fábrica Argentina de Alpargatas teve sua representatividade acionária
reduzida a 48% em 1946, e em 1948, a pulverização dos capitais nacionais tornou-se
majoritária. A empresa estava, enfim, nacionalizada. A São Paulo Alpargatas, que até
então agia de forma alinhada à sua matriz argentina, poderia andar com as próprias
pernas. Porém, a presença dos Fraser como acionistas e administradores (Robert
Martin Fraser) e o longo período de ligação entre as duas empresas, foram suficientes
para manter certos traços na São Paulo Alpargatas que permanecem até hoje.
275
Em 1944, a produção da empresa e o portfólio de produtos já havia crescido
consideravelmente. Produziam-se 80.000 pares de alpargatas Roda por dia, além de
lonas, encerados, calçados em geral, percaline, algodãozinho, sacos para colheitas,
sacos para colheita de café “Coronel”, brim econômico, capas e capuzes, perneiras,
macacões de brim, aventais e bolsas quitandinhas. Em 1946, a Alpargatas iniciou um
processo de modernização que envolveu a substituição gradativa dos antigos teares
por teares automáticos, o que permitiu lançar de forma pioneira, o primeiro brim
sanforizado, ou seja, pré-encolhido de todo o Brasil, o brim Coringa. Seu slogan era
“Brim Coringa, por mais que molhe, jamais encolhe”. Apesar das vantagens da
sanforização, o brim Coringa enfrentou algumas dificuldades de aceitação
principalmente pela sua dimensão de 1,0 metro de largura, ao invés do padrão de 0,70
metro de então. A São Paulo Alpargatas precisou criar moldes e treinar seus
vendedores para demonstrar e argumentar junto a donas-de-casa, costureiras e
alfaiates as vantagens do novo tamanho. Foi muito bem sucedida na campanha e a
partir de então quase todos os tecidos passaram a serem produzidos com largura de
1,0 metro.
Mais do que uma inovação de produto, o Brim Coringa foi responsável por uma
série de mudanças na companhia. O produto foi fundamental para o processo de
integração produtiva da companhia, que passou a fabricar, em 1954, do fio de algodão
até as confecções acabadas. Sua demanda contribuiu também para a reestruturação
da força de vendas da São Paulo Alpargatas, que passou a visitar todo o território
brasileiro. Segundo Keith Bush, a Alpargatas foi pioneira quando estruturou uma
organização própria de vendas no Brasil, em 1946. Os vendedores cobriam todos os
pontos de venda espalhados pelas regiões e distritos brasileiros, do atacadista ao
pequeno varejista, com pronta entrega, efetuando a venda, entrega, recebimento e
divulgação dos produtos. Eram vistos como figura mitológica nos lugares mais
longínquos. Levavam novidades da Capital, as intrigas políticas, as fofocas e
utilizavam o bate-papo como base de formação de relacionamentos duradouros.
Enquanto uns percorriam os grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, outros
percorriam os interiores, visitando fazendas, praças e campos de futebol; utilizando
jipes equipados com pás e enxadas, tirantes e pneus sobressalentes, instrumentos
utilizados para vencer a ausência de estradas à época. A descentralização operacional
e administrativa proporcionada pela nova estrutura de vendas colocou a companhia
2
76
em excelentes condições de mercado. Até então, as indústrias têxteis e de calçados
trabalhavam de forma centralizada, utilizando atacadistas como meio de escoamento
da produção das fábricas. Além de tornar a São Paulo Alpargatas auto-suficiente na
distribuição de seus produtos e aproximar a empresa dos usuários finais, a mudança
na força de vendas propiciou uma redução do risco de crédito na medida em que as
vendas e os recebimentos se tornaram mais pulverizadas. (BOLSA, 12/04/1982,
SPASA, 1987a).
O trabalho de divulgação dos vendedores era feito através de chamadas nos alto-
falantes dos furgões, da exibição de músicas e filmes e da fixação de cartazes das
alpargatas Roda, dos encerados Locomotiva e do brim Coringa nos estabelecimentos
clientes. Era raro encontrar um empório que não dispusesse dos produtos da São
Paulo Alpargatas, bem como de seus cartazes. Apoiando o marketing corpo-a-corpo, a
companhia passou a utilizar os mecanismos de transmissão radiofônica e televisiva,
tão logo se tornaram disponíveis. No final dos anos 40, a empresa anunciava, através
de criativos jingles, em todas as estações de Rádio. Era a Alpargatas e Melhoral.
Também marcaram a história da companhia, o patrocínio dos programas Roda de
Violeiros e Rodeio Coringa. O primeiro era dirigido ao público interiorano e transmitido
pela Rádio Bandeirantes de São Paulo em 82 estações e 512 cidades. O segundo, do
mesmo gênero era transmitido de Porto Alegre para toda a região Sul.
Para a elaboração de suas campanhas a São Paulo Alpargatas contratou, ainda no
final da década de 40, a agência J. Walter Thompson, que acabou firmando uma
parceria de mais de 40 anos com a empresa. Foram criadas várias campanhas a partir
dos anos 50, muitas delas buscando cumprir um papel social e obter paralelamente
legitimidade para os produtos e para a empresa. Foi assim, por exemplo, na
campanha “Criança Calçada, Criança Sadia”, do início dos anos 60, onde as crianças
da rede Escolar estadual de todo o País foram estimuladas a escrever sobre o tema,
concorrendo a uma viagem à nova capital federal, Brasília, e a uma visita à São Paulo
Alpargatas. Da mesma forma, a empresa tornou-se uma aliada de professores e
alunos ao enviar regularmente às Escolas, discos com hinos patrióticos, pôsteres
sobre a Bandeira Nacional, material sobre educação de trânsito, guias de aulas de
educação física, manuais de introdução ao basquete e um livrinho “Vamos treinar em
circuito”, iniciativa de conscientização, desde a infância, da necessidade de andar
calçado. A campanha era encenada por Juca Veloz, um garoto alegre a caminho da
277
Escola. A campanha teve uma grande repercussão nacional. A São Paulo Alpargatas
procurava, também, manter uma relação muito próxima com o mundo dos esportes,
através de patrocínios a atletas e eventos. Durante a copa do mundo de 1958, a
companhia patrocinou junto com a Firestone a transmissão da Rádio Bandeirantes.
Na televisão, a Alpargatas esteve presente desde o início. Patrocinou o programa
da TV Record, ”Turma dos Sete”, e o programa “Pra Ver a Banda Passar”, encenado
por Chico Buarque de Holanda. Mas o grande sucesso ocorreu no final dos anos 60,
quando a Alpargatas passou a apoiar, com exclusividade, o programa “Família Trapo”,
também da TV Record. A “Família Trapo” ajudou a divulgar as marca da companhia,
(Topeka, Conga, Bamba, Havaianas, Madrigal) que a essa época já faziam parte do
cotidiano dos brasileiros. A presença da São Paulo Alpargatas na publicidade continua
bastante expressiva até os dias de hoje, tendo a empresa se destacado até o final dos
anos 80 como um dos 10 maiores anunciantes brasileiros. (SPASA, 1987a).
A publicidade parece ter sido, porém, uma das poucas atividades secundárias que
em nenhum momento foi internalizada pela São Paulo Alpargatas. Na produção,
seguia-se a estratégia de integrar verticalmente tanto quanto fosse possível. A idéia
era aumentar cada vez mais a independência de terceiros, minimizar os riscos da falta
de suprimento de matéria-prima e maximizar os retornos. Nesse contexto, a São Paulo
Alpargatas fundou em 1953, a Cia. Agrícola Fibrasil Fazenda Vitória em Pilar do Sul
SP. Tratava-se de uma área de 4.000 alqueires onde havia uma cultura de formio
tenax, fibra originária da Nova Zelândia e dos Açores, já testada satisfatoriamente
como substituta da juta. A juta, até então utilizada no solado das alpargatas Roda,
estava muito difícil de ser adquirida. No sentido oposto, ou seja, de integração vertical
para frente, a Alpargatas adentrou, em 1954, o mercado de confecções, com o
lançamento pioneiro das calças Far West. A produção foi inicialmente terceirizada a
um seleto grupo de confeccionistas aos quais a São Paulo Alpargatas fornecia os
moldes e as características do produto, ficando responsável somente pela promoção
dos mesmos. A parceria deu certo até que disputas de preços dos confeccionistas
começaram a denegrir a marca. Em função disso, a companhia decidiu, em 1961,
internalizar a produção de suas confecções, fato que representou um marco
estratégico para a companhia. Foram lançadas as calças Coringa em 1961 e o
macacão Mecânico em 1963. Mais tarde, as calças Coringa foram renomeadas para
Rodeio em função da confusão causada pelas inúmeras calças fabricadas, no
278
mercado, com o brim Coringa. Ao fortalecer a marca Rodeio, a São Paulo Alpargatas
suspendeu a venda do brim Coringa, passando a fabricá-lo somente para consumo
interno. A internalização da produção dessas marcas foi, também, resultado de uma
estratégia de crescimento, já que a demanda das empresas de confecções do
mercado era insuficiente para promover o crescimento nos segmento de tecidos de
brim.
Em 1965, alinhada aos padrões de calças fabricadas nos Estados Unidos, a
Alpargatas lançou pioneiramente a calça Topeka, de cinco bolsos e a primeira feita
com um brim que não desbotava. Apesar da inovação, o modelo da calça reta e as
cores gelo e mesclada não agradaram como as importadas e logo a Topeka teve que
ser remodelada. Adotou-se as bocas de sino, que, também, logo saíram de moda. A
cor de maior sucesso foi a verde-musgo lixada, que serviu de ensaio para o
lançamento das calças brasileiras de índigo blue, segmento em que a São Paulo
Alpargatas também foi pioneira com o lançamento da calça US Top, em 1972. O
esforço para produzir o tecido índigo teve início em 1970 e representou um diferencial
estratégico sem precedentes. O processo de tingimento era mantido em segredo pelos
seus detentores e não existiam fornecedores de equipamentos. O Departamento de
Engenharia da São Paulo Alpargatas desenvolveu o projeto, fez construir os
equipamentos e em dois anos conseguiu colocar no mercado o primeiro índigo blue
brasileiro. Os produtos foram apoiados por campanhas publicitárias que destacavam a
empresa como a única produtora do tecido no Brasil. Apesar dessa vantagem
estratégica, que durou alguns anos, a companhia enfrentou dificuldades no suprimento
de matérias primas utilizadas no processo de produção do tecido. De 1972 a 1975, o
primeiro choque do petróleo dificultou a importação de anilinas da ICI, da Inglaterra e
da Basf, da Alemanha. Para contornar o problema, a São Paulo Alpargatas conseguiu
uma parceria com um grupo americano, Buffalo Color Corp., que estava interessado
em se desfazer do negócio. Investiu 1 milhão de dólares na compra de ações
preferenciais da companhia (SPASA, 1987a).
.
A linha US Top foi logo diversificada. Foram lançadas camisas, jaquetas,
macacões e diversos tipos de calças. A marca foi, também, muito importante no
processo de consolidação das exportações da companhia, iniciado em 1962, com
remessas de encerados para a Venezuela e América Central, e lonas e lonetas para
os Estados Unidos. Em um audacioso trabalho das equipes de vendas, a São Paulo
279
Alpargatas começou a remeter os produtos US Top para a J. C. Penney & Co., nos
Estados Unidos. O primeiro pedido foi de 960 mil calças enviadas em vôo fretado
direto para os depósitos da cadeia varejistas na Carolina do Sul (SPASA, 1987a).
Paralelo ao desenvolvimento das confecções, a São Paulo Alpargatas também
evoluiu no setor de calçados e lonas, e continuava a diversificar sua linha de produtos.
Em 1955, foi lançado o calçado Sete Vidas, de lona com sola de borracha e potencial
substituto da Roda. O apelo do novo calçado era a durabilidade, que podia chegar a
sete vezes mais que a de uma alpargatas tradicional. Além disso, era mais confortável
e flexível. Apesar das vantagens aparentes, ainda foram vendidos, em 1958, 84.000
pares de Roda. As características do “Sete Vidas” impuseram, no entanto, uma
concorrência desleal para com as alpargatas Roda. O novo modelo do calçado logo
ganhou escala e deu origem a uma série de novos lançamentos, a exemplo do Conga
e do Bamba. Nessa época, final dos anos 50, a São Paulo Alpargatas contava com 3
fábricas, depósitos, oficinas, uma rede de distribuidores que cobria todo o país e
produtos de ampla aceitação, focados, prioritariamente, no público de médio e baixo
poder aquisitivo. A capacidade de produção era, contudo, limitada dentro das
perspectivas de crescimento dos calçados derivados do “Sete Vidas”. Era preciso
implantar uma nova fábrica. O interior do estado passou a ser cogitado como local
adequado em função dos baixos custos de terreno, disponibilidade de mão-de-obra e
incentivos fiscais oferecidos pelos governantes interessados em desenvolver suas
regiões. São José dos Campos acabou sendo o local escolhido pela sua proximidade
de São Paulo e pela sua facilidade de acesso à capital paulista e ao Rio de Janeiro.
Foi adquirido um terreno de 600.000 metros quadrados e em fevereiro de 1959 teve
início a obra de construção da nova fábrica, executada pela construtora Alfredo
Mathias S.A., e supervisionada por Robert Martin Fraser. A conclusão total da obra
ocorreu 2 anos depois, em fevereiro de 1961. Um ano após entrar em operação, a
fábrica já produzia 40.000 pares de calçados por dia e empregava 1.400 operários.
Iniciou suas atividades produzindo o “Sete Vidas” e o Conga. Nos anos posteriores
incorporou a produção do Bamba, Kichute, Passo Doublé, Havaianas, Conquistador,
Boliche, e as botas Sete Léguas e Capataz. As características de funcionalidade das
novas instalações permitiram à São Paulo Alpargatas aprofundar-se no uso da
borracha e do PVC e lhe valeram o prêmio McGraw-Hill de 1962, outorgado às
melhores fábricas da América Latina. (SPASA, 1987a).
280
Ainda em 1955, a Alpargatas passou a utilizar a tecnologia de tingimento de lonas
e lançou a Sempre Viva, destinada a toldos e coberturas residenciais e comerciais. No
segmento de calçados, o início dos anos 60 foi caracterizado pela chegada das
sandálias com solado de borracha, trazidas do Japão, e intituladas de “japonesas”. A
São Paulo Alpargatas pesquisou o potencial de mercado e decidiu lançar em 1962 as
Havaianas. Embora não tivesse sido pioneira nesse tipo de calçado, a companhia
conseguiu posicionar bem seu produto através de campanhas de marketing com o
slogan “Não deformam, não têm cheiro, não soltam as tiras”, que buscavam fixar na
mente dos consumidores dois tipos de sandálias existentes: as legítimas Havaianas e
as fajutas. Mais tarde, em 1983, a São Paulo Alpargatas segmentou o mercado de
“japonesas”, criando a Samoa, sandália de EVA com tiras de pano, mais cara e
direcionada para o lazer da população urbana.
Continuando a busca por novos mercados, a companhia comprou em 1967 a
Chenille do Brasil S.A., e lançou após a modernização da fábrica, as colchas Madrigal
e Velour. Os produtos chegaram a ser comercializados com grande sucesso nas lojas
da Rua Augusta. Com a evolução da moda, a empresa passou a fabricar colchas de
Matelassê, em 1979, mas acabou desistindo do mercado de colchas tempos depois.
Em 1968, novo movimento de expansão produtiva e geográfica, apoiada por
incentivos da SUDENE, motivou a construção de uma nova fábrica de 5.000 metros
quadrados, em Jaboatão dos Guararapes PE, para a produção de Havaianas, tênis
Conga e calçados de plástico. Nascia a Alpargatas Nordeste S.A. ANSA. O
funcionamento da nova fábrica deu suporte ao crescimento vertiginoso das vendas de
Havaianas e à decisão de descontinuar a produção das alpargatas Roda em 1970.
Esta última voltou a ser importada da Fábrica Uruguaya de Alpargatas. Para a
gerência da fábrica de Jaboatão foi designado Martim Affonso dos Anjos, funcionário
de carreira da companhia, até então lotado no Departamento de Engenharia da fábrica
de São José dos Campos. Martim ficou à frente da nova planta até 1973, quando
passou a atuar como gerente de Marketing e posteriormente, como gerente da Divisão
de Calçados, em 1975. Chegou à Direção de Operações em 1978 e à Vice-
Presidência em 1984.
Neste ínterim, assumiu a presidência da empresa, em 10 de janeiro de 1964, o Sr.
Keith Smedberg Bush, que se tornaria o principal responsável pelo crescimento da
281
São Paulo Alpargatas até o final dos anos 80. Bush era funcionário de carreira da
companhia, tendo trabalhado sete anos na Fábrica Argentina de Alpargatas, onde
começou na contadoria, passando para o controle de produção e por todas as seções
de fabricação, a começar pelo armazém e o controle de pequenas linhas
transportadoras de calçados e afins. Foi vendedor, supervisor, e passou três anos na
Fábrica Uruguaya antes de desembarcar no Brasil em 1946, enviando pelo fundador
da empresa, o escocês Robert Fraser. Com ampla visão do negócio, assumiu o cargo
de subgerente, e promoveu mudanças no sentido de anular as deficiências da
empresa brasileira. Foi promovido a Suplente da Diretoria em 1947, a Diretor em 1955,
a Diretor e Gerente Geral em 1957, a Vice-Presidente e Gerente Geral em 1962, e a
Presidente da empresa em 1964, onde ficou por 15 anos, vindo a acumular também o
cargo de Presidente do Conselho de Administração no biênio 1978-1979. De 1980 a
1987, Bush continuou a comandar a São Paulo Alpargatas, porém com a ajuda de
David Reeves e Martim Affonso dos Anjos, que ocuparam o cargo de comando
executivo da empresa de 1980 a 1985, e 1986 a 1987, respectivamente.
A gestão de Bush foi alinhada à de seu antecessor, Alfred Henry Norris, de cujas
decisões Bush já fazia parte desde seu ingresso na empresa brasileira. Havia uma
preocupação constante em promover o perfeito entrosamento entre a fábrica e as
equipes de vendas. Os diretores buscavam interagir com os operários, através de
visitas freqüentes ao chão-de-fábrica e em ocasiões festivas, como nas
comemorações de Natal. O objetivo era criar um ambiente motivador e participativo,
facilitando, também, o fluxo de informações, que permitia à companhia manter-se
antenada das mudanças no ambiente interno e externo. O grande desafio era ampliar
o poder de mercado da São Paulo Alpargatas através da continuidade da política de
diversificação e da intensificação dos investimentos na expansão da capacidade fabril
e na modernização dos equipamentos. Para vencer esses desafios, foi aprovado em
Assembléia Geral Extraordinária, realizada em 18 de abril de 1967, um aumento de
capital de 3 milhões de cruzeiros novos, quase que totalmente subscritos pela Adela
Investment Co., de Luxemburgo, em decorrência de um contrato que previa o
empréstimo de longo prazo de 1 milhão de dólares, recebido em duas etapas: a
metade em 1967 e a outra metade no ano seguinte. Com os recursos levantados, e
com o apoio da SUDENE e da SUDAM, a São Paulo Alpargatas conseguiu executar
projetos de expansão pelo Norte e Nordeste, iniciados com a construção da fábrica de
Jaboatão dos Guararapes, concluída em novembro de 1968, e estendidos nos anos
282
seguintes para o Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Amazonas (BOLSA,
01/12/1986, SPASA, 1987a).
Atuando nas indústrias de confecções, calçados e tecidos por todo o Brasil, a
Alpargatas adentrou a década de 70 como uma empresa fortemente integrada
verticalmente, produzindo do fio ao zíper, artefatos de baixo custo e ao alcance de
qualquer consumidor. Seus resultados eram expressivos, embora houvessem algumas
queixas de acionistas, de certa forma, imediatistas, quanto à baixa distribuição de
dividendos. Entre 1969 e 1973, a empresa apresentou um crescimento do patrimônio
líquido mais do que o dobro do aumento de seu capital social (285,64% contra
128,56%). Apesar de esses números indicarem que a empresa estava gerando
riqueza para os acionistas (o patrimônio líquido aumentou duas vezes mais do que os
aportes de novos recursos), a não integralização das reservas ao capital social
implicava na redução da distribuição de dividendos, política que veio a ser duramente
criticada pela mídia como danosa ao capital dos acionistas. Paralelo a isso, a empresa
vinha convocando recorrentemente os acionistas para subscrição de novo capital. Os
acionistas ficavam num verdadeiro dilema. Por um lado, se não sobrescrevessem
novo capital teriam sua participação acionária diluída. Por outro, as vantagens
financeiras dessas novas subscrições eram questionáveis na medida em que a
remuneração do capital na forma de dividendos era insatisfatória (BOLSA,
25/11/1974).
Embora um tanto impopulares para alguns, as medidas tomadas pela companhia
eram cobertas pelas leis vigentes, que por sua vez, foram, também, duramente
criticadas e taxadas de retrógradas. A direção da empresa explicou, na época, que a
companhia tinha um compromisso com os resultados de longo prazo, e que os altos
índices de liquidez e valorização de suas ações refletiam bem a reação do mercado a
esse propósito. Explicaram, também, que a não incorporação das Reservas ao Capital
Social devia-se à necessidade de utilização desses recursos, bem como dos captados
através de novas subscrições, nos projetos de investimento da companhia. A intenção
era minimizar o endividamento e o conseqüente risco envolvido no processo de
crescimento, e não punir os acionistas. A figura 7.3.3 ilustra a estratificação do capital
social da empresa. Através dela é possível perceber o aumento progressivo da
participação da Reserva de Capital em detrimento da queda de participação do Capital
Social no período que vai de 1971 a 1984.
283
Composição Patrimônio Líquido
-20,00%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004
% Capital Social % Reserva Capital % Reserva Lucros % Lucros Acumulados
Fonte: Vide Anexo 7
Figura 7.3.3 Evolução da Composição do Patrimônio Líquido
E foi realmente da segunda metade dos anos 60 até o início dos anos 80, que o
maior volume de investimentos foi realizado. Em 1966, a São Paulo Alpargatas foi
reconhecida como sociedade de capital aberto nacional pelo Banco Central, e os
fundos fiscais (157) foram habilitados a adquirirem suas ações, nas condições de
prioridade legal, a partir de 1972. O dinheiro captado por esses fundos foi muito
importante para viabilizar vários projetos futuros de expansão da companhia (BOLSA,
12/04/1982).
Em 1973 teve início as atividades da fábrica 8 no bairro da Mooca, em São Paulo,
destinada à fiação, tecelagem e tinturaria. Entre 1975 e 1976 foram implantadas, como
parte das políticas de ampliação da participação nos segmentos de maior nível de
renda, de expansão geográfica, e de aproveitamento dos incentivos governamentais,
uma fábrica para a produção das camisas Glen, mais tarde US Top, em Natal RN,
parte constituinte da Alpargatas Confecções Nordeste S.A. ALCON; e uma fábrica
de calçados em Pouso Alegre MG e outra em São Leopoldo RS, esta última parte
integrante da Alpargatas Calçados Sul S.A. Em 1977, uma fábrica de bolas e calçados
foi implantada em Veranópolis RS com a razão social de Guardian S.A. Indústria e
Comércio de Equipamentos Esportivos. Em 1978 iniciaram as operações da fábrica de
confecções em Sorocaba SP e da fábrica têxtil de Tatuí SP, marcando o início da
fabricação de tecidos mistos, combinando algodão com poliéster. Em 1979, a
284
companhia deu iniciou a fabricação de colchas de Matelassê na fábrica 16, localizada
em Diadema SP (BOLSA, 29/11/1982). Todos esses investimentos em novas
unidades industriais feitas entre 1975 e 1979 foram essenciais para que o forte
crescimento da demanda ocorrido no início da década de 1980 fosse atendido.
Em 1976, contrariando a opinião do mercado de que uma estagnação no segmento
de tênis sofisticado era evidente, a São Paulo Alpargatas lançou no Brasil a linha
Topper de calçados esportivos, bolas, raquetes e agasalhos, representando o marco
inicial da participação da empresa no segmento de tênis e artigos esportivos de alto
valor agregado. A opinião do mercado era de que o tênis tradicional, cuja produção da
São Paulo Alpargatas era de 150.000 pares por dia a um custo entre 20 e 50
cruzeiros, além de ser mais barato, poderia também ser usado para a prática de
esportes, representando, portanto, um produto mais atrelado à compra racional e
menos sujeito às flutuações de modismos. Michel Saad, então diretor da Saad & Cia.
Ltda., fabricante, na época, do tênis Rainha, e atuante no setor há mais de 40 anos,
compartilhava com o fato de que estava tendo início uma fase de maturidade no
segmento. Algumas empresas, que haviam entrado mais recentemente no segmento
atraídas pelo tamanho do mercado consumidor, acabaram sendo forçadas a
redimensionar suas produções. A São Paulo Alpargatas, contudo, apostava na direção
contrária, acreditando que seu posicionamento estratégico pautado no ganho de
escala e na redução dos custos seria suficiente para alavancar suas vendas
(NEGÓCIOS EM EXAME, 14/07/1976). Além disso, os tênis sofisticados
apresentavam um grande potencial de sinergia com o negócio de jeans, no qual a São
Paulo Alpargatas já atuava fortemente, uma vez que os dois segmentos interagiam no
processo de definição dos novos conceitos de moda da época.
Em 1979, dando continuidade à expansão no segmento, a São Paulo Alpargatas
incorporou a Rainha Calçados e Materiais Esportivos Ltda (BOLSA, 29/11/1982). A
compra da Rainha foi estratégica para a companhia e representou a continuação de
um processo de aquisições iniciado em 1967 com a aquisição da Chenile Brasil S.A. e
que se estendeu pelos 15 anos seguintes. Além de incorporar uma marca consolidada,
a operação possibilitou a absorção da tecnologia da empresa, que até então era
adquirida no exterior para a fabricação da linha Topper. Para a compra da Rainha a
São Paulo Alpargatas utilizou capital próprio levantado mediante a emissão de 144
milhões de novas ações ofertadas publicamente pelo Banco Garantia. A Rainha foi
285
mantida administrativamente independente do resto da companhia e seus antigos
donos continuaram como gestores da empresa (BOLSA, 08/10/1979). Em 1980, a São
Paulo Alpargatas anunciou investimentos da ordem de Cr$ 80 milhões, 8,4% do
orçamento total de investimentos do ano, para a ampliação da capacidade produtiva
da Rainha em 40% (BOLSA, 03/11/1980). Uma segunda fase de investimentos na
empresa recém adquirida previa o aumento da capacidade em outros 35%. Em 1982,
a Rainha Calçados e Artigos Esportivos S.A. se fusionou com a Guardian S.A.
Indústria e Comércio de Equipamentos Esportivos e com a Alpargatas Confecções
Sul, na formação da Penta Artigos Esportivos S.A. (EXAME, 1984a).
Ao final da década de 70 e início da década de 80, a São Paulo Alpargatas parecia
uma empresa estável. Havia crescido durante a década a uma taxa de 15% ao ano, o
dobro do crescimento do PIB Brasileiro, pautada em extensas e permanentes
diversificações relacionadas, pesquisas, aperfeiçoamento e adaptação dos produtos,
não apenas às exigências das condições climáticas e da moda, mas também às
necessidades de conforto, informalismo e descontração de consumidores localizados
em várias camadas de poder aquisitivo (BOLSA, 13/07/1981). Contava em 1980 com
18 fábricas ocupando um total de 330.500 metros quadrados de área construída.
Estava muito bem capitalizada e quase todos os investimentos tinham sido feitos com
recursos próprios, política que pretendia ser continuada. Roberto D’Utra Vaz, então
diretor financeiro da companhia, relatava em 1978: “A empresa prosseguirá com a
política de aplicar seus próprios lucros em novos investimentos sem ampliar sua
margem de endividamento. A São Paulo Alpargatas não pensa sequer, pelo menos
agora, em convocar seus acionistas à subscrição de capital.” (BOLSA, 29/05/1978).
A notável expansão fabril fez necessária uma evolução na área administrativa. Em
1971 foi lançado o programa de administração por objetivos e em 1972, a antiga
organização funcional foi substituída pela organização divisional. Nessa primeira fase,
foram criadas as Divisões de Manufaturas Têxteis e Calçados (BOLSA, 12/04/1982).
Com a ampliação do número de plantas, multiplicação das linhas de produtos e de
segmentos de mercado, a estrutura administrativa da empresa teve que ser revista em
1980. Para cada uma das duas divisões foram criadas “unidades estratégicas”, e
outras duas divisões não operacionais foram criadas, a Divisão Têxtil e a Divisão de
Exportação. A Divisão de Manufaturados Têxteis foi subdividida em: Jeans, Camisas,
Colchas e Têxteis Industriais, leia-se, Encerados. A Divisão de Calçados, por sua vez,
286
foi subdividida em: Calçados “Standard” e Artigos Esportivos (BONELLI, 1998;
SPASA, 1983).
No início dos anos 80, os grandes obstáculos ao crescimento da empresa eram:
(1) a situação conjuntural do país e o rígido controle de preços adotado pelo Governo
(CIP), que penalizava os produtos acabados em detrimento das matérias-primas,
achatando as margens de lucro; (2) a diminuição das cotas de importação e o
aumento do controle à entrada de produtos importados nos principais centros
consumidores dos produtos da companhia, como Mercado Comum Europeu, EUA,
Canadá e Áustria; (3) a pressão do mercado externo pela melhoria da qualidade dos
produtos brasileiros e a concorrência por preço exercida por países como Formosa e
Hong Kong (EXAME, 1980).
Para vencer a tais desafios a companhia apostou pela continuidade dos
investimentos. Em 1980, a São Paulo Alpargatas implantou uma fábrica de calçados
em Novo Hamburgo RS e uma nova linha de produção na divisão de manufaturados
têxteis voltadas para a manufatura de encerados plásticos, até então fabricados
apenas pela Sansuy, empresa de capital japonês. A pretensão da empresa era
abocanhar 30% do mercado de encerados plásticos em 1 ano. No segmento de
encerados compostos de fibras naturais, a empresa detinha 50% do mercado à época.
No mesmo ano foi vencedora do prêmio Mauá, promovido pela Bolsa de Valores do
Rio de Janeiro, Associação Comercial do Rio de Janeiro e pelo Jornal do Brasil.
Em 1981, mesmo enfrentando um desaquecimento na demanda que ameaçava
realização das estimativas de crescimento de 10% da companhia (bem abaixo dos
15% registrados nos últimos 10 anos), a São Paulo Alpargatas desembolsou Cr$ 650
milhões na aquisição de 92,3% do capital votante da Têxtil Gabriel Calfat do Nordeste,
indústria de fiação, tecelagem localizada em Aracaju SE, produtora de calças e
jaquetas de denim índigo blue. Na ocasião, a razão social da empresa foi alterada
para Alpargatas Têxtil do Nordeste S.A. No mesmo ano, a companhia adquiriu
também a Malharia Azouri S.A., em São Carlos SP, e mudou sua razão social para
Almacon Malhas e Confecções Ltda. O bom comportamento das ações da empresa foi
fundamental para viabilizar tais projetos de expansão. Durante 1981 as ações da São
Paulo Alpargatas foram a 8º mais transacionada no mercado à vista nas Bolsas de
Valores do País, registrando 5.743 negócios, envolvendo 158.885 mil ações ordinárias
287
e 256.898 mil ações preferenciais que totalizaram Cr$ 3.135.942.000. Chegou a
valorizar no período 111,6%. (SPASA, 1982a; BOLSA, 29/11/1982).
Em 1982, ao completar 75 anos de fundação operando 21 unidades industriais em
6 estados, duas subsidiárias no exterior, em Hamburgo Alemanha e em Toronto
Canadá, empregando mais de 28 mil pessoas e produzindo 80 milhões de metros de
tecidos, 120 milhões de pares de calçados e 30 milhões de peças de roupas, a São
Paulo Alpargatas concluiu o seu longo processo de nacionalização, que havia
começado em 1948. O mercado de capitais teve papel relevante nesse processo. Por
Cz$ 3,7 bilhões, o equivalente a U$ 16,8 milhões, a empresa adquiriu da Alpargatas
S.A.I.C. Sociedade Anônima Industrial Y Comercial da Argentina, a última parcela de
ações detida pela acionista argentina. Foram 284,8 milhões de ações ordinárias e
358,1 mil preferenciais, que representavam 9% do capital total e 16,8% do capital
votante da São Paulo Alpargatas. Segundo András Vásárhelyi, então diretor financeiro
da SPASA, o principal motivo que levou a companhia a adquirir as ações de sua
homônima argentina foi financeiro. A Alpargatas S.A.I.C não estava bem e precisava
de dinheiro, sendo que as ações da empresa brasileira era o ativo mais fácil de
alienar. Temerosa de que outros investidores estrangeiros pudessem comprar as
ações ou que ocorresse um take-over-bid, mediante manobra do mercado de capitais
argentino, a São Paulo Alpargatas manifestou seu desejo de compra, utilizando seu
direito de preferência na compra. (BOLSA, 04/1988).
Nessa época, o foco de atuação da empresa se fortalecera nas áreas de calçados
esportivos (tênis) e confecções (jeans). O segmento de jeans, mesmo na fase adversa
que toda a indústria brasileira atravessava desde 1978, apresentava crescimento
expressivo, tendo faturado Cr$ 1 trilhão com a venda de cerca de 420 milhões de
peças em 1980, um crescimento de 15% num ano de queda da produção industrial
global. Das 180 milhões de calças vendidas no Brasil no mesmo ano, mais de 100
milhões eram jeans. Em 1981, o setor era composto de mais de 500 confecções e 3
mil lojas especializadas em três principais “sub-setores”: matéria-prima, transformação
e comercialização. Havia faturado, segundo a Abrajeans, no mesmo ano, U$ 14
bilhões, aproximadamente 3% do PIB brasileiro, empregando diretamente 400 mil
pessoas e gerando investimentos em propaganda da ordem de Cr$ 3 bilhões. Neste
segmento, a São Paulo Alpargatas era o fabricante que mais se preocupava com a
promoção de seus produtos e com exportação. Dona de uma das cinco maiores
288
contas publicitárias do país, a companhia aplicou em 1981, só para promover a marca
US Top, entre Cr$ 1,6 e Cr$ 2 bilhões. Em exportação de tecido índigo e jeans
acabado as receitas alcançaram U$ 27 milhões, distribuídas pelos mercados dos EUA,
Europa, Alemanha Federal (onde tem uma subsidiária própria), Inglaterra, Holanda,
Itália, além de países do Leste europeu, da Escandinávia e da América Latina. Em
1984, as vendas para a URSS também estavam consolidadas sob a marca Colorado.
Apesar dos esforços e resultados obtidos, as dificuldades na área de exportação
permaneciam grandes. O custo da matéria-prima internamente (o dobro do preço do
tecido no exterior) passou a ser o maior obstáculo e, para contorná-lo, a Abrajeans
defendera junto ao Governo a adoção do "draw-back verde e amarelo", com a
transferência dos incentivos da exportação de manufaturados para o produtor de
matéria-prima, o que permitiria uma redução do preço do índigo de 35 a 40% (BOLSA,
07/06/1982).
Em 1983, o resultado da indústria foi parcialmente comprometido pela alta nos
preços do algodão, que chegou a subir entre 500% e 600%. As receitas da São Paulo
Alpargatas, que aumentaram nominalmente em 133%, tiveram uma redução real de
8,6%. Mesmo assim, apostando numa recuperação do setor e buscando neutralizar as
pressões nos custos através de um mix de produtos para segmentos mais
sofisticados, a São Paulo Alpargatas adquiriu da cadeia de lojas Jeans Store de São
Paulo, no mesmo ano, a marca Jeaneration, etiqueta que passou a ser distribuída para
todo o Brasil a partir de 1984. Adicionalmente, lançou, em 1984, a marca Top Plus,
derivada inicialmente da US Top e apoiada por campanha publicitária original de
bastante sucesso. Este último lançamento foi calcado na percepção da necessidade
de adaptar as modelagens tradicionais à antropometria brasileira que foi levantada
através de extensas pesquisas (SPASA, 1984).
O segmento de tênis esportivos, tal como o de jeans, parecia no início dos anos
80, um regenerador oásis dentro da crise brasileira. Impulsionado pela moda, pela
praticidade, preço e pela propagação da prática de esportes entre uma parcela
considerável da população brasileira, a produção total vinha crescendo entre 12% e
20% ao ano, tendo chegado a 90 milhões de pares em 1981 (o que correspondia a 1/4
da produção brasileira de calçados). (BOLSA, 07/06/1982; NEGÓCIOS EM EXAME,
20/10/1982).
289
Nesse mercado, a São Paulo Alpargatas também era, seguramente, a empresa
que mais fazia investimentos na promoção de seus produtos. Administrava duas
marcas de prestígio (Rainha e Topper), que disputavam a mesma faixa de mercado e
os mesmos canais de distribuição: as lojas especializadas em artigos esportivos. A
marca Rainha desfrutava de uma imagem de qualidade, motivo pelo qual dispunha de
campanhas publicitárias mais tímidas, veiculadas quase exclusivamente através da
mídia impressa. A Topper, por sua vez, exigia esforços em três diferentes níveis: no
desenvolvimento de produtos específicos para cada modalidade esportiva; na
contratação de times de futebol e jogadores para a divulgação da marca; e numa
agressiva campanha publicitária. Baseado nessa estratégia, a São Paulo Alpargatas
contratou em 1979 o jogador Sócrates, para desenvolver e testar sua linha de
chuteiras e atuar em uma das campanhas publicitária da marca, em que o mesmo
dava seu testemunho: “uso, recomendo e assino”. Além dele, participaram de outras
campanhas Oscar, Marquinhos, Thomas Koch, Telê Santana e Ricardo Prado. Em
1982, a São Paulo Alpargatas desembolsou o equivalente a U$ 6 milhões pelo co-
patrocínio da transmissão da Copa do Mundo, sem contar os custos aplicados na
promoção da marca através dos principais clubes de futebol nos diversos Estados e
dos jogadores mais famosos da Seleção Brasileira. O resultado da estratégia foi
significativo. A Topper tornou-se a marca preferida do Corinthians, com quem a São
Paulo Alpargatas assinou um contrato para fornecimento de todo o material utilizado
para treinos e jogos, e de outros dez times de futebol, além da seleção brasileira, onde
a empresa gastou 1 milhão de dólares para vencer a concorrência da CBF, que
decidia a uniformização do time até 1983. A CBF acabou utilizando os uniformes da
Topper tanto na Copa de 1982 como na de 1986. Sem revelar o valor total, Martim
Affonso Costa dos Anjos, então diretor de operações da companhia, chegou a revelar
que a verba destinada à promoção e divulgação era significativa, mas que seu peso
era relativo quando medido em termos de percentagem sobre o faturamento.
O ano de 1984 foi de incertezas. A recessão iniciada no início da década parecia
se prolongar por todo o período. A partir do segundo semestre de 1984, no entanto, a
economia começou a reagir, tendo atingido em 1985 um crescimento de 8%. O
governo, em meio à inflação, dívida externa e níveis de desemprego crescentes,
optara por medidas expansionistas, sem descuidar, porém, do combate à inflação. O
resultado foi uma redução dos índices de desemprego e uma elevação do poder
290
aquisitivo da população, que implicou no esgotamento da capacidade ociosa da
indústria de bens de consumo. As vendas da São Paulo Alpargatas, em 1985,
apresentaram um crescimento real de 25% em relação a 1984, grande parte delas,
associadas à intensificação do programa de renovação e lançamento de novos
produtos. Foram lançados 17 modelos de tênis Topper, 23 de Rainha, 42 de US Top e
Top Plus e 230 novos produtos nas linhas de calçados, vestuário e equipamentos para
ambos os sexos e todas as faixas etárias. Nesse contexto, a “unidade estratégica” de
Jeans sofreu profundas alterações em sua sistemática de trabalho. Através de uma
reformulação do departamento de marketing, a unidade ganhou mais agilidade no
lançamento de novos produtos, e passou a acompanhar bem de perto as tendências
do mercado. Nas fábricas da “unidade estratégica” de Camisas, após a introdução de
modernas técnicas de produção e de planejamento implantadas em 1984, foram
atingidos níveis de qualidade e produtividade inéditos. Conseguiu-se um menor capital
de giro aplicado em estoques, graças a um maior sincronismo entre a compra de
matéria-prima, produção e entregas (SPASA, 1985). Contribuíram também para o
incremento das vendas em 1985, a aquisição, nas regiões Norte e Nordeste, de mais
duas subsidiárias: Amapoly Indústria e Comércio Ltda., em Manaus-AM e BESA -
Borracha Esponjosa S.A. Indústria e Comércio, em Campina Grande-PB. A Amapoly
fazia parte do projeto de ampliação da produção de lonas plásticas, abrangendo as
marcas Lonaleve, Lonil Locomotiva para utilização em cargas a granel e Night & Day,
uma lona translúcida para sinalização e divulgação. (SPASA, 1987a).
Em fevereiro de 1986, o País ingressou na Era Cruzado, como o Plano de
Estabilização da Economia, projeto do governo que visava, em essência, reduzir
drasticamente a recorrente inflação, que já se prenunciava por volta dos 400 a 500%
ao ano. Decretou-se o fim da correção monetária, ao mesmo tempo em que se
introduzia o congelamento dos preços e aluguéis. Dentro da uma atmosfera de
extrema euforia, seguiu-se um surto de crescimento econômico e de redução dos
índices de desemprego. Cerca de 25% da população que vivia à margem do consumo
passaram a participar do mercado, e foram co-responsáveis pelo aumento de 8% do
PIB. Com a expansão acelerada da economia, os investimentos da São Paulo
Alpargatas foram ampliados, totalizando U$ 42,7 milhões, aplicados principalmente na
modernização e ampliação do parque têxtil (introdução de novos teares de alta
produção nas fábricas de Aracaju, "a projétil", e de Tatuí, "a jato de ar") e na
ampliação da capacidade produtiva de calçados, jeans e camisas, que se elevou em
291
15% com a construção de mais três unidades. O crescimento só não foi mais
expressivo devido às dificuldades de abastecimento dos diversos insumos e ao déficit
no fornecimento de energia elétrica, verificados no final do ano. Para algumas
matérias-primas, como couro e corantes, que, é claro, também afetaram a São Paulo
Alpargatas, a empresa conseguiu contornar a situação obtendo mais cotas de
importação. (Bolsa, 01/12/1986).
O aquecimento do mercado interno gerado pelo Plano Cruzado não impediu,
contudo, a companhia de cumprir o programa de exportações, mantendo-se a política
de longo prazo, apesar do aumento de custos internos (em função do desrespeito dos
fabricantes de matérias-primas ao congelamento de preços) e do congelamento da
taxa cambial durante grande parte de 1986, com conseqüente redução de margens.
Ivo Miranda Reis, então Diretor de Relações com o Mercado, relatava na época: “Não
há a menor intenção de se desviar a produção para o mercado interno. Nosso
programa de exportação é contínuo e independe da demanda interna. A meta para
este ano é exportar U$ 70 milhões e será cumprida” (Bolsa, 01/12/1986). A São Paulo
Alpargatas conseguiu graças a seus escritórios de representação em Frankfurt e em
Miami e às renovações do Acordo Multifibras e do Acordo com a Comunidade
Econômica Européia por mais cinco anos, exportar U$ 73,2 milhões em 1986, 32% a
mais que no ano anterior (EXAME, 08/07/1987). A evolução das exportações da São
Paulo Alpargatas pode ser observada na figura 7.3.4 a seguir.
292
Evolução das Exportações
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
1964 1967 1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
% Receita
0
10000000
20000000
30000000
40000000
50000000
60000000
70000000
80000000
90000000
U$
Exportações como % Receitas
Exportações em Dólares (U$)
Fonte: Vide Anexos 8 e 10
Figura 7.3.4 Evolução das Exportações da SPASA
O ano de 1986 marcou também novas iniciativas da São Paulo Alpargatas, no
sentido de conquistar segmentos de maior poder aquisitivo. Foram licenciadas as
marcas Arrow de camisas masculinas, objetivando complementar a linha de produtos
de exportação para os Estados Unidos, e a marca Nike para tênis esportivos, cujo
contrato de licenciamento pertencia desde 1981 à Martiniano Calçados Esportivos
Ltda. A marca Top Plus, lançadora de novidades junto ao público de 15 a 19 anos,
apresentou o jeans no acabamento "snow washed", com um visual desbotado, inédito
no mercado brasileiro. E a Divisão de Calçados investiu em novas tecnologias,
tornando a São Paulo Alpargatas pioneira no Brasil em injeção direta de poliuretano,
PVC expandido e solados tricolores.
Na área de comunicação, os eventos esportivos de 1986 proporcionaram excelente
visibilidade para as marcas Topper e Rainha, por suas condições de patrocinadoras e
marcas oficiais das seleções brasileiras de futebol e vôlei, respectivamente. Na área
de Jeans e Camisas, a popularidade do Fernandinho, o herói tímido dos comerciais
das camisas US Top, continuou a impulsionar as vendas da marca, diferenciando-a de
modo bastante efetivo.
293
O Plano Cruzado, contudo, durou pouco. O relaxamento acerca do controle de
preços das matérias-primas (não só da cadeia têxtil, mas de todos os setores) em
detrimento aos produtos acabados, provocou uma redução significativa das margens
de lucro da indústria, que associado ao aumento do consumo, provocou um
desabastecimento generalizado e a institucionalização de uma cobrança de ágio que
resultou no retorno da inflação. Com a reversão da euforia econômica de 1986, as 28
mil empresas de confecções do país, se transformaram em vítimas do próprio
entusiasmo. Aquelas que aproveitaram o ano para se capitalizar ficaram numa
situação razoável, embora preocupadas com o futuro. As demais, que representavam
80%, endividadas por conta do aumento de capacidade e modernização que
promoveram, tiveram no primeiro semestre de 1987 uma queda de vendas em torno
de 60% e passaram a enfrentar juros da ordem de 30% ao mês. Para cobrir o caixa,
foram obrigadas a se livrar dos estoques, em muitos casos até abaixo dos custos de
produção, e com prazos de recebimento maiores do que os compromissos assumidos.
O segundo semestre de 1987 foi de recuperação, mas mesmo assim, as vendas do
setor encerraram, segundo a Abravest, 20% abaixo dos níveis de 1986, em número de
peças.
A São Paulo Alpargatas, apesar de ter promovido vultosos investimentos em 1986,
não descuidou de sua liquidez, como, aliás, fez durante toda a sua história. O índice
de liquidez corrente se manteve praticamente inalterado entre 1985 e 1986 e saltou de
2,28 para 2,87 entre 1986 e 1987 (Vide Figura 4.11). Com a retomada da inflação a
níveis insuportáveis, a empresa teve sua demanda interna extremamente prejudicada.
Mesmo assim, a Receita Bruta da companhia apresentou um crescimento real de
5,5% entre 1986 e 1987, puxada, principalmente, pelo recorde das vendas para o
mercado externo, que alcançaram a cifra de U$ 77,7 milhões, num ano em que o
mercado externo, uma tradicional válvula de escape nos períodos de crise interna,
mostrou-se pouco atraente para a indústria de confecções. Os investimentos, por sua
vez, foram levemente reduzidos em 1987 em relação a 1986 e a 1985. Totalizaram
aproximadamente U$ 37 milhões, aplicados na expansão da capacidade produtiva de
calçados; na modernização e ampliação da área têxtil, onde foram instalados novos
teares de tecnologia avançada, novos equipamentos de fiação completa com "open-
end", conicaleiras automáticas e modernos equipamentos de tinturaria, acabamento e
fotoespectometria; em novos equipamentos de processamento de dados; e na
implantação da fábrica de calçados em Santa Rita PB.
294
O ano de 1987 foi também de preparação da sucessão de Keith Smedberg Bush,
presidente da São Paulo Alpargatas há 23 anos. Com 73 anos de idade, dos quais
praticamente 50 dedicados à empresa, que sob sua gestão passou de subsidiária de
uma empresa argentina a um colosso independente, o argentino achava que estava
na hora de participar das decisões sobre a empresa sem ter todas as
responsabilidades exigidas por seu cargo. Coube a ele, durante o ano de 1988, uma
cadeira de Conselheiro.
O processo de sucessão de Keith, no entanto, não foi algo trivial de
operacionalizar. Em 1987, a composição do capital da companhia era definida
conforme a tabela 7.3.2 abaixo:
Composição Acionária Participação (%)
Brasmotor 22,50%
Camargo Corrêa 23,00%
Sul América Seguros 7,00%
Itaú 7,80%
Sérgio Pinho Mellão 5,00%
Ações Pulverizadas no Mercado 34,70%
Total 100,00
Fonte: SPASA (1987)
Tabela 7.3.2 Composição Acionária da São Paulo Alpargatas em 1987
Havia, portanto, uma disputa de poder entre o grupo Brasmotor e a Camargo
Corrêa. Keith Smedberg Bush era amigo pessoal do principal acionista do grupo
Brasmotor, Hugo Miguel Etchenique, que também havia participado das decisões da
São Paulo Alpargatas como Diretor entre 1969 e 1977, como Conselheiro entre 1978 e
1982, e como Vice-Presidente de 1983 até então. Bush naturalmente pensava em
Etchenique como seu sucessor. No entanto, a participação crescente da Camargo
Corrêa foi fator impeditivo para a assunção de Etchenique. Sebastião Camargo,
conhecido por todos como “o China” não aceitou a indicação de Etchenique. Para ele,
era necessário alguém que pudesse manter a mesma neutralidade e profissionalismo
de Keith Bush, mantendo a articulação política necessária para tomar decisões que
fossem do interesse de ambas as partes. A Camargo Corrêa já vinha atuando no ramo
295
têxtil desde 1949 quando fundou em Jaú, cidade natal de Sebastião Camargo, a
Companhia Têxtil Jauense. A São Paulo Alpargatas era, portanto, uma empresa
estratégica para o grupo.
Foi cogitada a busca de um executivo no mercado, mas achava-se que não seria
fácil encontrar alguém com conhecimento suficiente do negócio da São Paulo
Alpargatas que pudesse conduzir a empresa. Foi quando o conselho decidiu ceder
uma cadeira de conselheiro a Diego Jorge Bush, filho de Keith. Ele seria, então,
preparado para assumir o lugar do pai, embora houvesse controvérsias a esse
respeito. Diego era formado em Matemática e Física na Inglaterra, com bacharelado
em Administração Industrial na Universidade de Yale e mestrado pela Harvard
Business School. Havia trabalhado no First National Bank of Boston, primeiro em
Boston e depois em São Paulo ocupando o principal cargo de executivo da Boston
Financeira, da Distribuidora e da Leasing. Havia passado também, no começo da
carreira, pela PriceWaterhouse, tanto em Nova York quanto na capital paulista. Como
empresário havia praticado seus conhecimentos basicamente no setor de
administração de bens e construção de imóveis, além de ter acompanhado os passos
do pai desde sua infância pelos parques industriais da São Paulo Alpargatas.
Diego Bush assumiu a direção da companhia num ano em que o Brasil teve a
maior inflação de sua história, acompanhada por uma queda no consumo interno e de
investimentos. Alguns fatores positivos, tais como as boas safras agrícolas e o
excelente desempenho das exportações, permitiram a manutenção dos níveis de
emprego, evitando uma recessão. Mesmo assim, as vendas reais do comércio em
1988 foram 2,5% menores que as do ano anterior e a produção industrial apresentou
taxa negativa de 3,2%. Apesar desse quadro, a São Paulo Alpargatas obteve
significativos crescimentos no volume de vendas e na participação de mercado em
Jeans e Calçados no mercado brasileiro. Já as exportações ficaram aquém das metas
de volume e totalizaram U$ 53,8 milhões, o que fez sua representatividade frente ao
faturamento global da companhia reduzir a 6%. O principal motivo foi a queda da
demanda internacional de tecidos e confecções em denim índigo blue, e o aumento da
oferta local no Mercado Comum Europeu.
Internamente, ao assumir, Diego Bush, modificou a estrutura organizacional da
companhia. Acabou com o cargo de Presidente e Vice-Presidente e transformou as
296
oito “unidades estratégicas de negócios” existentes até então (Jeans, Calçados,
Artigos Esportivos, Camisas, Manufaturados e Têxteis Industriais, Têxtil, Exportação e
Central de Abastecimento Bamba) em quatro (Calçados, Confecções, Têxtil e Novos
Mercados). Para cada nova Divisão foi criada uma Superintendência, todas se
reportando ao Presidente do Conselho de Administração, cargo ocupado por ele. O
objetivo era agilizar, através da descentralização, o crescimento e a modernização da
empresa. Assumiram as Superintendências Alberto Bacchiocchi, Konrad Robert Keller,
Pérsio Dalle Piagge e Ivo de Miranda Reis. Na Diretoria ficaram Abel Pascual López,
Andráz Gyorgy Vásárhelyi e Milton Correa Henrique (SPASA, 1988).
A partir de 1989, a São Paulo Alpargatas passou a intensificar, pelo menos
conceitualmente, o processo de mudança de sua filosofia de crescimento original,
baseada em ganhos de escala industrial e na produção de produtos de baixo valor
agregado. A empresa queria ganhar mercado sem ter que crescer necessariamente
como indústria. Embora já viesse desde meados da década de 70 tentando aumentar
sua participação nos mercados de maior valor agregado, a São Paulo Alpargatas
sempre o fizera de forma integrada, incorporando toda a cadeia produtiva. Esse
posicionamento estratégico lhe conferia pouca mobilidade para se ajustar às
demandas tempestivas da moda ao passo que lhe solicitava grandes volumes de
investimentos em modernização dos parques industriais e promoção das etiquetas. A
idéia era promover o nascimento de novas marcas desacompanhado de investimentos
na produção e pautar as exportações em marca e não em commodities.
Surpreendentemente, o processo de transição da empresa foi conturbado e
resultou numa crise que quase a pôs a companhia à bancarrota, não fosse sua sólida
posição financeira.
297
3. A Crise (1989-1996)
O ano de 1989 marcou o início da mudança de estratégia de operação da São
Paulo Alpargatas. A empresa passou a enxergar dificuldades em manter a política de
crescimento contínuo do parque industrial e o foco em produção. A diversificação
havia tornado muito alto o volume de recursos financeiros necessários para operar a
companhia, o que a expunha de forma mais acentuada às externalidades.
Adicionalmente, a concorrência desleal, principalmente no segmento de confecções,
estava cada vez mais acirrada, achatando consideravelmente as margens dos
produtos.
Não obstante, as ações da companhia no sentido deste redirecionamento
estratégico foram muito tímidas em 1989. Os mercados em que a empresa participava
no âmbito doméstico apresentaram comportamento favorável, com forte demanda,
apesar das taxas inflacionárias recordes. O crescimento real das vendas da empresa
atingiu 24,3% em relação a 1988 (SPASA, 1989). Nesse contexto favorável, a
empresa continuou a fazer vultosos investimentos em ativos permanente, que
totalizaram no ano, o montante equivalente a U$ 45,4 milhões, cifra 62,1% superior ao
valor desembolsado em 1988 (U$ 28 milhões). Esses investimentos foram
direcionados principalmente para a continuação do programa de modernização do
parque têxtil, para o aumento da capacidade produtiva de calçados e para a aquisição
das empresas Norcalsa, Winston
6
e Terra.
O grande volume de investimentos em ativos permanentes era visto pela empresa
como parte do processo de reestruturação, uma vez que visavam a racionalização
operacional e o incremento de produtividade. Não obstante, esses investimentos
fizeram reduzir os recursos destinados às ações de marketing. O setor de confecções
contou, em 1989, com apenas quatro campanhas publicitária, das marcas Arrow,
6
Mais que uma pequena fabricante de jeans, a Winston era uma empresa de boas marcas
registradas na maioria dos países europeus, como França, Bélgica, Holanda, Noruega,
Romênia, Iugoslávia e Itália, além de nações no norte da África e até Cuba. A São Paulo
Alpargatas enxergou com a sua compra a oportunidade de fincar os pés no Mercado Comum
Europeu, cuja eliminação das barreiras alfandegárias, a partir de 1992, abriria um mercado
consumidor de 322 milhões de pessoas com renda per capta de cerca de 11.000 dólares por
ano (EXAME, 13/12/1989)
298
Stravaganza, Jeaneration e Top Plus, prioritárias por serem novas griffes (EXAME,
25/12/1989). As previsões para investimentos em ativos permanentes, eram, em 1990,
ainda superiores aos realizados em 1989, mas a implantação do Plano Econômico de
16/03/1990 fez a empresa repensar a aplicação dos recursos e dar prioridade à gestão
de caixa como forma de melhorar sua liquidez (SPASA, 1989).
Os planos de racionalização da estrutura produtiva da São Paulo Alpargatas
envolveram também ações de desmobilizações de terrenos e instalações. Para isso foi
criada, temporariamente, uma Divisão de Negócios Imobiliários. Em 1994, foi
inaugurando no terreno de 34.000 metros quadrados de uma antiga fábrica da São
Paulo Alpargatas, em São José dos Campos, o Shopping Vale Desconto. No terreno
em anexo, de 217 mil metros quadrados foi desenvolvido um empreendimento de
loteamento e construídos 120 apartamentos (SPASA, 1993; SPASA, 1994).
O desempenho da indústria de confecções fechou o ano de 1990 com resultados
bastante ruins, refletindo a corrosão por que passaram os rendimentos dos brasileiros
após a posse do governo Collor. Em comparação com 1989, as vendas das vinte
maiores empresas do setor retrocederam, em média, 18,7%. Para a São Paulo
Alpargatas, a fase difícil representava o início da descontinuidade da Divisão de
Confecções. As vendas no mercado externo recuaram 63,3% em relação a 1989, fruto
da sobrevalorização da moeda nacional e do plano de redução das exportações de
commodities da companhia. Buscando fugir dos extratos sociais mais afetados pela
situação econômica e pelo aumento da concorrência de produtos informais, ilegais e
importados, a empresa deu continuidade à sua política de trabalhar a diferenciação de
seus produtos, realizando, mesmo com o grande prejuízo escritural da Divisão de
Confecções em 1990, investimentos em distribuição e na melhoria da qualidade dos
produtos. Montou 54 "shop-in-shops" (áreas de vendas exclusivas) em expressivas
organizações de rede de varejo, e inaugurou de 14 lojas exclusivas Jeaneration e 1
loja exclusiva Stravanganza através do sistema de franquia. Paralelo a isso, o
processo de terceirização foi intensificado a partir de 1991. À exceção de matérias-
primas das quais a Alpargatas dependia de forma crucial, como é o caso do jeans,
tudo o que poderia ser comprado de terceiros passou a ser desativado. Das 28
fábricas, 7 foram fechadas, 2 das quais eram da Divisão de Confecções. A estrutura
corporativa foi reduzida e as Divisões Operacionais absorveram as atividades da
Divisão de Novos Negócios e da SPASA Trading S.A. O número de funcionários foi
299
reduzido de cerca de 34.500 em 1989 para 23.400 em 1991 e para 20.500 em 1992.
Novos negócios, como as camisas Ralph Lauren, adquiridas em março de 1991,
passaram a ser implantados desassociados de incremento no parque fabril. O mesmo
caminho foi seguido no lançamento das camisas americanas Van Hensen, que
passaram a ser comercializadas pela companhia a partir de março de 1992 (EXAME,
08/01/1992). Paralelo ao processo de terceirização, a companhia reduziu o número de
itens produzidos em 1992 para menos da metade do que era produzido em 1990. O
objetivo era recuperar a rentabilidade, atuando em nichos de mercado competitivos.
Nenhuma das medidas surtiu muito efeito. Seu prejuízo em 1992 equivaleu a
quase um quarto das receitas, que não passaram de 338,3 milhões de dólares, menos
da metade do faturamento de 1986. No mercado, sua participação em indigo blue se
reduziu para 6%. Mergulhada em prejuízos que chegaram a quase 124 milhões de
dólares entre 1991 e 1993, mais que todo o lucro colhido entre 1987 e 1990, a São
Paulo Alpargatas procurou uma saída para suas dificuldade no mercado. Em 1992,
com a saída do grupo Brasmotor do capital da companhia, e a mesma cogitou vender
as Divisões Têxtil e de Confecções à Vicunha ou à Santista, mas não chegou a abrir
negociação. Procurou se fortalecer através de uma fusão com sua co-irmã Argentina,
que racionalizaria custos e melhor posicionaria a nova companhia no Mercosul. A
operação fracassou por que os Argentinos entenderam que a associação com uma
empresa que dava prejuízo para atuar num mercado incerto como o Brasileiro seria
muito arriscada (EXAME, 31/03/1993). Foi cogitada, também, uma cisão, onde a
Camargo Corrêa, maior acionista da empresa na época, com 31% do capital, ficaria
com a divisão de calçados, da qual vinha 65% do faturamento da companhia.
Em 1994, a Alpargatas acabou adquirindo 45% do capital da Santista Têxtil, do
grupo Bunge Born, acompanhada pelo Bradesco que arrematou outros 10%. Nascia a
Alpargatas-Santista Têxtil S.A., mais tarde, em 2000, novamente renomeada para
Santista Têxtil S.A. Na formação da Alpargatas-Santista Têxtil S.A., a Divisão Têxtil da
Alpargatas foi desmembrada. O segmento de índigo e brins ficou concentrado na nova
companhia enquanto as confecções “activewear” (Fido Dido, Sea Club e Slice), bem
como as coberturas, permaneceram na São Paulo Alpargatas S.A. As vantagens
básicas da associação eram: o aumento na escala de produção com redução de
custos, permitindo um aumento da competitividade; e o melhor atendimento dos
mercados internos e externos pela utilização das sinergias contidas na nova estrutura
300
(SPASA, 1994). Na reestruturação da base produtiva, plantas mais antigas e com
menor escala de produção foram fechadas, linhas de produtos com pequena
expressão no faturamento foram eliminadas, e houve redução do quadro de
trabalhadores e dos níveis hierárquicos. A administração da nova empresa
permaneceu independente, e os seus resultados computados nas demonstrações da
São Paulo Alpargatas via equivalência patrimonial.
Enquanto as atividades têxteis e de confecções em índigo blue procuravam vencer
o baixo desempenho através de uma associação, os resultados das atividades com
calçados, principalmente no segmento de tênis, apresentavam expressiva
rentabilidade sobre vendas no início dos anos 90, deixando clara a forte resistência do
negócio às alterações conjunturais. Um dos segmentos de maior crescimento era o de
tênis infantis, onde a São Paulo Alpargatas passou a investir em equipamentos de
produção para aumentar a oferta de modelos na categoria. Alinhado a esse vislumbre
estratégico, a empresa adquiriu, em maio de 1993, mesmo em meio à crise, por 5
milhões de dólares, a Âncora, fabricante dos tênis infantis Bubblegummers que
pertencia à Bata, do Canadá. No segmento de tênis standard, a companhia seguiu
investindo em aumento de produtividade dos principais produtos. Já no segmento de
artigos esportivos e de lazer, a redução dos impostos de importação e o acirramento
da concorrência local impeliram a companhia a tomar várias medidas para
manutenção da liderança de sua linha de calçados, entre elas: a formulação de um
programa de renovação de modelos para a Nike, aliado à abertura de novos canais de
distribuição; e o aprimoramento do padrão visual e tecnológico dos produtos Topper e
Rainha. Os resultados foram expressivos e a Divisão era quem sustentava as
operações da companhia nos tempos difíceis. Em 1994, porém, em plena crise das
atividades têxteis e de confecções, o contrato da Nike não foi renovado. Na época,
25% do faturamento da companhia estava pautado na marca Americana. De um
faturamento de 644 milhões de dólares e lucro de 59,6 milhões, em 1994, a receita
caiu para 517 milhões de dólares e o lucro baixou para 26,8 milhões, em 1995, vindo a
empresa a registrar novamente prejuízo em 1996. Segundo Rui Porto, Diretor de
Comunicação e Mídia em 2005, a licença da Nike era um excelente negócio para
ambas as partes. Antes de desistir de licenciar a marca, a São Paulo Alpargatas
esteve 33 vezes durante o ano de 1994, na sede da Nike, tentando negociar
condições de continuidade do contrato. Segundo Rui, a Nike estava em processo de
assunção do gerenciamento de sua marca em todo o mundo, terceirizando apenas a
301
fabricação dos seus artigos, posição que não interessava à São Paulo Alpargatas
(PORTO, 11/05/2005). Sem a Nike, a Alpargatas partiu em busca de novos
licenciados, incorporando em 1995 os calçados outdoor Timberland e em 1996, os
artigos da marca japonesa Mizuno. Segundo Rui Porto, o episódio da Nike é visto hoje
na companhia como um “mal que veio para o bem”. Sinônimo de aprendizado em
negociações internacionais e de intercâmbio tecnológico e cultural.
No segmento de sandálias, a Alpargatas comandou no início dos anos 90 um
reforço das políticas de comunicação e lançamento de novos modelos, com destaque
para o trabalho de reposicionamento mercadológico das Havaianas. Lançada em
1962, as Havaianas haviam chegado aos anos 90 com a imagem desbotada. Seu
principal público consumidor, a classe média, a havia trocado por produtos mais
sofisticados. O foco no produto barato havia transformado a sandália em atestado de
pobreza. Foi em 1994, justamente no ano em que marcas mais baratas de sandália,
como a Dupé e a Ipanema começaram a emergir, que a São Paulo Alpargatas decidiu
elevar a percepção de valor das Havaianas. A verba de publicidade cresceu. Craques
do futebol, atores e modelos, passaram a protagonizar situações divertidas em
comerciais de TV e anúncios de revistas. Displays foram espalhados nos caixas das
lojas e as embalagens remodeladas, a fim de estimular as compras por impulso.
Atacadistas foram convocados para massificar a distribuição em 150 000 pontos-de-
venda pelo Brasil afora. Uma equipe de designers foi despachada para a Europa;
pesquisas foram feitas para selecionar as cores que melhor combinavam com os trajes
de banho; e as coleções passaram a ser renovadas a cada ano. A idéia era agregar
valores como juventude, moda, relaxamento e sofisticação, capazes de seduzir outra
vez a classe média, que estava totalmente bandeada para as sandálias de PVC,
lideradas pela marca Raider, da Grendene.
Todo o processo de reestruturação da companhia era visto com bons olhos pelos
especialistas do mercado no início da década de 90. A liquidez era muito boa e as
dívidas não assustavam. Em 1992, para cada cruzeiro de dívida a Alpargatas tinha
2,12 cruzeiros a receber. Os analistas reconheciam que a empresa tinha custos fixos
muito altos e que necessitava de altos volumes de vendas para diluí-los. Em épocas
de instabilidade econômica, tal posicionamento estratégico parecia demasiadamente
arriscado. Dessa forma, tinham consciência de que a empresa perderia em tamanho,
mas apostavam que ganharia em desempenho. O problema é que o processo
302
demorou muito e a retomada do lucro no ano de 1993 durou somente até 1995, ano
seguinte à perda do contrato da Nike, que foi fator fundamental para a empresa voltar
ao prejuízo em 1996. Adicionalmente, a São Paulo Alpargatas, durante o processo de
reestruturação, tomou ações confusas em meio às mudanças que o país atravessava.
Ficou meio perdida. Nunca deixou claro em que lugar do mercado queria se
posicionar.
Em meio a esse processo de descrença, os controladores da companhia, na época
Camargo Corrêa e Bradesco se reuniram e resolveram delegar à Camargo Corrêa a
responsabilidade pela gestão da companhia. Decidiram também que era hora de
trocar a direção da empresa, buscando alguém do mercado que pudesse reestruturá-
la de fato. A opinião do mercado era de que a diretoria parecia inerte e incapaz de
inverter a trajetória descendente da empresa. As melhorias obtidas com a
reestruturação do começo dos anos 90, na gestão do argentino Diego Bush,
presidente do conselho de administração na época, eram consideradas efêmeras.
Relatórios circulavam na praça declarando que a redução de custos que Bush
comandara na linha de produção não atingira o centro administrativo, o que acabara
se tornando um fardo. Ficou patente a gravidade do quadro operacional que se
retratava no início de 1997. Era grande o número de produtos inadequados e tímidas
as providências destinadas a modificar o perfil desses produtos e suas marcas. Os
estoques eram crescentes. Os contratos de licenciamento necessitavam ser revistos.
Os custos industriais eram elevados, limitando a capacidade da empresa de competir
no mercado onde a concorrência aparecia em crescente evolução (SPASA, 1997).
Com a saída de Diego Bush, o Conselho de Administração passou a ser chefiado
por Alcides Tápias. Para a presidência executiva, cargo que foi oficialmente criado em
3 de fevereiro de 1997, foi nomeado o engenheiro Fernando Tigre de Barros
Rodrigues. Tigre tinha experiência em gestão voltada para resultado, tendo atuado
como executivo da GE e da Alcoa e como presidente da Jari Celulose. Iniciava-se o
verdadeiro período de reestruturação da companhia.
303
4. O Recomeço (1997-2004)
Ao assumir o cargo de presidente executivo, Fernando Tigre promoveu um choque
de modernidade gerencial. Mexeu em praticamente tudo. Nas linhas de produção. No
posicionamento das marcas. Na estratégia de atuação internacional. Na política de
recursos humanos. Na comunicação interna. Na estrutura organizacional. E,
principalmente, ajustou a imagem da companhia perante seus acionistas e
funcionários. Uma de suas primeiras providências foi transformar o restaurante,
destinado somente aos executivos de alto escalão, em showroom. Estava claro que a
nova administração estaria focada na simplicidade, na interação das pessoas e,
conseqüentemente, nos resultados. Foram repensados os valores da companhia, que
passaram a ser: ética, respeito às pessoas e responsabilidade com compromisso. O
grande mérito de tais valores não estariam nas palavras em si, mas em sua vivência,
que foi difundida com sucesso por toda a organização.
O plano de reestruturação tivera as seguintes etapas definidas: (1) Contratação da
consultoria McKinsey para elaborar um estudo que visava definir providências de
redução de custos e aprimorar o gerenciamento de clientes; (2) Contratação da The
Muller Sports Group para apoiar o reposicionamento estratégico das marcas,
interferindo no desenvolvimento das novas coleções, que passariam a ser orientadas
ao consumidor e ao mercado; (3) Simplificação da estrutura da área operacional,
eliminando-se pelo menos um nível organizacional, reduzindo custos e buscando
agilidade no processo decisório; (4) Redefinição do conceito de “unidades de negócio”,
atribuindo aos gestores a responsabilidade por todas as atividades da unidade, desde
o projeto dos produtos até os serviços pós-venda e desenvolvimento das marcas; (5)
Identificação de atividades que não mais agregavam valor à empresa ou que estavam
fora de seu foco de atuação, com a criação das provisões necessárias para cobrir
baixas de ativos, despesas com reestruturação e eventuais prejuízos e contingências;
(6) Ajuste do capital de giro, principalmente pela redução de estoques, buscando
melhoria do fluxo de caixa (SPASA, 1997).
A execução do plano tivera bastante sucesso. Na parte de avaliação do valor das
operações para a companhia, a marca internacional Polo Ralph Lauren foi vendida a
uma empresa Argentina, e o contrato de licenciamento com a Arrow foi desfeito. A
marca Fido Dido foi descontinuada. A cadeia de lojas Jeaneration foi fechada, assim
304
como as operações da companhia na Argentina e no Chile, que geravam prejuízo
mensal de 350 mil dólares. Na sede, cerca de 120 funcionários administrativos foram
demitidos e 7 dos 12 andares do prédio, devolvidos aos proprietários do imóvel. O
número total de funcionários foi reduzido de 14,5 mil em 1997 para 10,5 mil em 2001
(PORTO, 11/05/2005; EXAME, 23/11/2001).
Na parte de comunicação interna, a informalidade foi uma arma poderosa para
envolver os funcionários no turnaround. O presidente passou a fazer reuniões
quinzenais com todos os funcionários da sede e não só com os diretores. Criou um
canal direto, por meio de um endereço de e-mail, para os empregados falarem com
ele, e passou diversos fins de semana lendo e respondendo a mensagens
pessoalmente. Acabou descobrindo muitas coisas que desagradavam os funcionários
e as corrigiu. Atendeu desde pedidos para colocar telefones públicos nas fábricas até
mudar as férias de funcionários que estavam com problemas (EXAME, 01/08/2000).
No alto escalão da companhia, passou-se a solicitar, a partir de 2000, que os diretores
trabalhassem juntos com seus laptops ao menos um período do expediente. O objetivo
era estimular a convivência e agilizar os processos de decisão. Adicionalmente, com o
propósito de desenvolver as habilidades multidisciplinares e impedir a formação de
feudos, foi instituída a prática de rodízio entre os diretores (EXAME, 20/03/2000).
O ajuste da imagem da empresa pôde ser evidenciado pelos cortes de gastos
supérfulos; pela nítida motivação com que a chamada “família alpargateira”, de alto a
baixo, passou a participar do processo; e pelo nível de transparência com que o
processo deixou de ser um segredo interno e começou a ser divulgado na grande
mídia, que passou a dedicar crescente atenção às notícias positivas da empresa
(SPASA, 1997).
Na parte de recursos humanos, a empresa adotou a partir de 1997 um programa
voltado para motivação de pessoas e melhoria das ações voltadas à preservação do
meio ambiente, à segurança, à saúde e também às comunidades onde a empresa
atuava. Um dos instrumentos utilizados foram pesquisas de clima organizacional, que
forneceram diretrizes de reorientação das necessidades de desenvolvimento e
aperfeiçoamento individuais. Todos os departamentos ganharam metas. Em 1998, a
companhia implantou o PPR Programa de Participação nos Resultados para todos
os funcionários e o sistema de reconhecimento “Destaques”. Em 2000, o PPR
305
distribuiu 12 milhões de reais aos funcionários como recompensa pelo atingimento das
metas. (EXAME, 23/11/2001). Além disso, foram feitos investimentos em treinamento
e capacitação profissional, principalmente nas unidades operacionais, onde a
tecnologia e a qualidade dos produtos e serviços garantiriam vantagem competitiva.
Conduziram-se, também, programas educacionais de ensino de primeiro grau, que
permitiram elevar o nível educacional dos funcionários. Em 1999, foram 196.000 horas
e R$ 700 mil de investimentos. No mesmo ano, foram gastos R$ 7,1 milhões em
planos de saúde e ações nas áreas de saúde ocupacional, segurança do trabalho e
controle ambiental. Foram investidos, ainda, R$200 mil em programas comunitários
com doações, voluntariado, campanhas de saúde e higiene, ações sociais em
creches, orfanatos e escolas periféricas, e suporte às práticas esportivas com crianças
carentes. Em 2000, R$ 1,5 milhão foi revertido aos programas de gestão de pessoas.
Para os níveis gerenciais, além dos programas individuais de atualização profissional
em entidades externas, os investimentos principais foram direcionados para a
identificação das competências individuais (SPASA, 1999).
Do lado produtivo, a São Paulo Alpargatas enfrentou no início do seu processo de
reestruturação, uma fase de aumento no fluxo de entrada de produtos estrangeiros.
Nesse contexto, era preciso realizar cortes nos custos e melhorar os níveis de
eficiência da produção. Foram iniciados, então, em 1999, investimentos da ordem de
R$ 24,3 milhões, aplicados na modernização das unidades fabris, em tecnologia da
informação e em meio ambiente, melhorando a qualidade dos produtos, aumentando a
produtividade e reduzindo os custos de fabricação. Em 2000, a melhoria da
produtividade ganhou força com a adoção do Toyota Production System na fabricação
de calçados esportivos. O modelo de manufatura enxuta começou a ser introduzido na
companhia em 1999, com a contratação de Pérsio Pardal Medeiros como gerente
industrial. Ele havia se familiarizado com o processo na Alcoa, onde havia trabalhado
durante 14 anos. A introdução da manufatura enxuta proporcionou a desativação das
fábricas de Franca, em 2000 e a de João Pessoa, em 2001. O número de funcionários
da Divisão de Calçados foi reduzido em 1,6 mil nesse ínterim e o tempo médio para
atender aos pedidos dos clientes foi reduzido de dez para oito dias. A idéia era
trabalhar apenas sob encomenda, evitando o encalhe de produtos causado por
previsões erradas de vendas (SPASA, 2000). Nesse contexto, os investimentos em
tecnologia de informação permitiram à empresa utilizar, pioneiramente no setor, a
negociação B2B Business to Business com seus clientes, e corroboraram muito para
306
que a aceleração no atendimento dos pedidos e para a consolidação do foco no
mercado.
Também fez parte do processo de enxugamento da produção, a otimização do
processo de suprimentos, que visava reduzir gastos com insumos e serviços e
maximizar a rentabilidade. Em Logística foi iniciado o processo de redefinição e
reavaliação de fretes e rotas, buscando significativa diminuição dos custos de
transportes.
No âmbito mercadológico, coube à empresa focar a produção de calçados para
nichos de moda e esportes locais, como o futsal; aumentar o número de lançamentos
de produtos; e elevar o valor agregado dos produtos comercializados (SPASA, 1999).
Nesse contexto, as marcas Rainha e Topper foram reposicionadas para o segmento
de maior volume, tendo a Topper assumido a liderança do segmento de futebol de
salão. A introdução de vestuário esportivo na unidade de negócio de Calçados e
Artigos Esportivos, deu, também, maior visibilidade à Rainha, Topper e Mizuno, nos
pontos de venda. A produção, entretanto, passou a ser terceirizada. (SPASA, 1997;
PORTO, 11/05/2005). A marca Timberland cresceu muito no período da
reestruturação e se consolidou, em 2000, como líder no nicho outdoor. Permanece em
ascensão mundial, oferecendo aos consumidores uma linha completa de calçados,
confecções e acessórios que a traduzem numa “Life Style Brand”. A marca Havaianas
teve seu valor agregado elevado com a criação do modelo Fashion para o público
feminino e do modelo Surf para o masculino. Foram lançadas, também, as Havaianas
Clubes, com os logotipos dos 18 principais times de futebol; a “2000”, comemorativa
da chegada do novo milênio; e a nova coleção de cores da linha Top. As Havaianas
Kids também tiveram seu formato renovado. Tudo isso, apoiado com campanhas de
marketing que tentaram ampliar o universo de consumidores. Como resultado, as
Havaianas receberam os prêmios Top of Mind da Folha de São Paulo e Marketing
Best da Fundação Getúlio Vargas (SPASA, 1999; SPASA, 2000; SPASA, 2001).
Além do trabalho desenvolvido para as marcas, a São Paulo Alpargatas também
reforçou o apoio ao crescimento da rede de lojas Meggashop, outlets de fábrica para
venda de produtos de ponta de estoque, que encerrou o ano de 1999 com um total de
17 lojas e um crescimento de 29% no número de clientes atendidos. Em 2001, já eram
307
21 lojas com uma taxa de crescimento de receitas da ordem de 15% ao ano (SPASA,
2000; SPASA, 2001).
As exportações também cresceram muito a partir de 1997, principalmente por que
haviam sido descontinuadas desde o início dos anos 90. Em 2001, já representavam
cerca de 3,2% do faturamento da companhia e o foco prioritário de longo prazo
passara a ser a consolidação de uma marca em detrimento da simples
comercialização de produtos (SPASA, 2001). Com a contratação da executiva paulista
Ângela Tamiko Hirata para o cargo de diretora de comércio exterior, em janeiro de
2001, esse processo de internacionalização ganhou ainda mais fôlego. Filha de
japoneses, Ângela havia estado na companhia dois anos antes como consultora de
mercado externo, posição que passou a ocupar novamente, a partir de 01 de janeiro
de 2005, após ter se aposentado do cargo de Diretora de Comércio Exterior no último
dia do ano anterior (EXAME, 04/07/2003; PORTO, 11/05/2005).
As ações de internacionalização se concentraram, inicialmente, na marca
Havaianas. Para fortalecer a marca no exterior, a empresa lançou mão de duas
competências pessoais de sua executiva responsável: a fluência em quatro idiomas e
a experiência com exportação de calçados de 1989 a 1997, quando foi responsável
por abrir o mercado asiático para a Azaléia. Segundo Fernando Tigre, então
presidente da São Paulo Alpargatas, a estratégia da companhia até a contratação de
Ângela era oportunista. A pessoa que cuidava da área não falava nem mesmo o
inglês.
Em 2002, o volume de pares de Havaianas exportados cresceu 18% em relação a
2001. Quando Ângela assumiu o cargo, a Alpargatas exportava para 15 países, a
maioria deles na América Latina; em 2002, as Havaianas foram usadas por
consumidores de 47 países; em 2003, com uma equipe de 15 pessoas, a São Paulo
Alpargatas fez os seus produtos chegarem a 52 mercados espalhados pelo mundo; e
em 2004 a 69 deles. Entre as estratégias comerciais destacaram-se: a parceria com
importantes redes varejistas estrangeiras de alto padrão na Austrália, na Europa, nos
Estados Unidos e na África do Sul; a negociação de um o acordo com a Brasif,
empresa detentora da concessão dos free shops brasileiros, que permitiu a venda de
Havaianas nas lojas dos aeroportos internacionais de São Paulo e Rio de Janeiro; e a
reorganização da rede de distribuidores para que a marca fosse priorizada em
308
detrimento, muitas vezes, do volume de vendas. Nesse caso, muitos dos antigos
distribuidores que não entenderam o reposicionamento da marca tiveram que ser
afastados e novos parceiros mais afinados com a nova estratégia foram buscados.
A estratégia de publicidade foi cuidadosa. Evitou-se a propaganda de massa e
apostou-se em iniciativas alternativas. No Havaí, a empresa passou a patrocinar um
campeonato de Surf. Na França, estabeleceu parcerias com a MTV local que passou a
lhe garantir exposição a baixo custo. A única mídia mundial passou a ser a revista
Wallpaper, com tiragem de apenas 150.000 exemplares e focada nos formadores de
opinião do mundo todo. Graças a essa bem-sucedida campanha de marketing, o que
o quer dizer cara, as Havaianas tornaram-se um calçado da moda nos Estados
Unidos e na Europa, onde um par chegou a custar o equivalente a 500 reais, tendo
sido matéria espontânea de importantes veículos de comunicação, como, por
exemplo, The Wall Street Journal (SPASA, 2002).
Na parte de gestão, o foco continuou na geração de caixa, na elevação dos níveis
de transparência e do compromisso com os resultados de longo prazo. A empresa
passou, também, a se preocupar mais com o seu processo de sucessão e com a
continuidade da agenda de compromissos.
Para melhorar a gestão do caixa foram tomadas medidas de redução de estoques
e renegociados os prazos de pagamento com os fornecedores. Tais ações
representaram fatores chaves para a melhoria da liquidez financeira da empresa, que
apresentou um saldo de caixa de R$ 120,7 milhões em 2002, R$ 33,0 milhões a mais
que o saldo do final de 2001. Em 2003, esse saldo se elevou para R$ 136,6 milhões e
em 2004 para R$ 183,2 milhões (SPASA, 2001; SPASA, 2002; SPASA, 2003; SPASA,
2004). Contribuiu também para a formação desse caixa o processo de alongamento
das dívidas da empresa. Em 2002, a Alpargatas assinou um contrato de empréstimo
de longo prazo no valor de US$ 30 milhões com o IFC International Finance
Corporation para a modernização dos processos de produção, expansão da
capacidade produtiva, aquisição de equipamentos de ponta para redução de custos de
produção e melhorias nas práticas ambientais da companhia. O objetivo era melhorar
a eficiência operacional da empresa.
309
Além da eficiência operacional e da política de aumento da liquidez, a São Paulo
Alpargatas iniciou também, em 2002, um processo de melhoria contínua da gestão de
longo prazo da companhia, com a criação dos programas de Incentivo de Longo
Prazo, que passou a conceder opções de compra de ações aos dirigentes da
empresa, e do Programa de Identificação e Desenvolvimento de Sucessores para
Posições Estratégicas. Paralelo à implantação desses programas a Alpargatas
avançou nos compromissos de transparência e nas práticas de Governança
Corporativa, que foram, entre outros, fatores decisivos para que os cargos de
presidente do conselho e presidente executivo fossem exercidos por pessoas
diferentes, tendo Márcio Utsch, então diretor de negócios Timberland, sido eleito para
substituir Fernando Tigre na presidência executiva, em 2003. Tigre continuou a ocupar
o cargo de presidente do conselho de administração até o início de 2004, quando saiu
do Grupo Camargo Corrêa para assumir a presidência das Cervejarias Kaiser.
Em 30 de junho de 2003, a empresa aderiu ao Nível 1 da Bolsa de Valores de São
Paulo. Essa iniciativa representou formalmente compromissos com os investidores, no
sentido de: adotar padrões ainda mais transparentes de gestão e comunicação com os
acionistas através da melhoria na qualidade das informações trimestrais, das
demonstrações financeiras consolidadas e das demonstrações de fluxo de caixa. A
empresa se comprometeu ainda a: divulgar os acordos de acionistas, os programas de
recompra de ações e as operações com partes relacionadas; manter pelo menos 25%
das ações em circulação (free floating); publicar um calendário anual de eventos
corporativos; e a realizar ofertas públicas de colocação de ações por meio de
mecanismos que favoreçam a dispersão do capital (SPASA, 2003). Ainda em 2003, o
conselho de administração passou a ser composto por cinco integrantes efetivos e o
mesmo número de suplentes, com mandato de três anos, renovável sucessivamente.
Dois integrantes passaram a ser independentes do acionista controlador. O conselho
fiscal passou a ser composto por cinco membros efetivos e cinco suplentes, eleitos em
assembléia, sendo que dois integrantes passaram a representar os acionistas
minoritários. A diretoria estatutária passou a ser eleita pelo conselho de administração
para um mandato de um ano, com a possibilidade de reeleição. Atualmente é
integrada por um presidente e quatro diretores, que são responsáveis pela execução
das decisões do conselho de administração e pela gestão direta dos negócios da
companhia. Dois comitês passaram a dar suporte e assessoria técnica ao conselho de
administração: Auditoria e Ética. O primeiro, com o objetivo de analisar e propor
310
melhorias aos diversos processos de gestão da companhia, e o segundo, com a
responsabilidade pela observação do cumprimento do Código de Ética adotado pela
Empresa (SPASA, 2003).
Do ponto de vista mercadológico, o setor de calçados apresentou, em 2002, um
crescimento de 5,3% em volume de produção em relação a 2001, totalizando 642
milhões de pares produzidos. Foram exportados 164 milhões de pares de calçados, ou
seja, 25,5% da produção, com um faturamento de US$ 1,44 bilhão. Do total exportado,
70,6% foram destinados aos Estados Unidos e 7% ao Reino Unido. (SPASA, 2002). O
aumento das receitas da São Paulo Alpargatas foi de 11%, fruto do aumento da
participação de produtos de maior valor agregado no mix de vendas e da atualização
dos preços. Foram lançados entre as marcas Rainha, Topper e Mizuno, 110 novos
modelos. A rentabilidade da Rainha foi melhorada através do aumento das vendas de
modelos de maior valor agregado, com ações implementadas nas fábricas, na
comunicação e no relacionamento esportivo da marca. A Topper cresceu em volume
de vendas graças ao destaque dos calçados nos espaços de maior prestígio das
vitrines, ao treinamento de funcionários dos clientes e ao patrocínio de várias equipes
de futebol e campeonatos de futsal. E os resultados de Mizuno foram superiores aos
obtidos em 2001 graças ao crescimento médio de 26% no volume e na receita de
vendas. Em 2002 foram vendidos 2,1 milhões de pares, tendo sido Mizuno Serious
Performance a 1ª marca escolhida nos pontos de venda por esportistas profissionais e
amadores de running. Ações de relacionamento esportivo, comunicação e serviços de
marketing também foram implementadas e contribuíram para valorizar a imagem da
marca.
Em 2002, o crescimento do volume e da receita de vendas dos produtos
Timberland foram, em média, 27% maiores que no ano de 2001. Os resultados
alcançados com os produtos Timberland são devido ao aumento do conhecimento da
marca, ampliação dos canais de distribuição e lançamento de produtos com ótima
aceitação pelo mercado. A comunicação de Timberland foi focada na mídia impressa,
utilizando como veículo as principais revistas do país. Também foram feitos
investimentos nas lojas que revendem os produtos, o que permitiu conquistar espaços
importantes dentro dos pontos de venda formadores de opinião.
311
As lojas Meggashop encerraram 2002 com 25 lojas distribuídas em 16 cidades e 8
estados e uma receita de vendas 16% superior a de 2001, com ticket médio por cliente
6,5% maior. Em 2004, com um total de 27 lojas instaladas em oito estados, o aumento
do ticket médio por cliente em relação a 2003 foi de 12%.
No que diz respeito às ações sociais, pode-se destacar a criação, em 2002, do
Instituto Alpargatas de Responsabilidade Social, com a missão de melhorar, por meio
do esporte, a qualidade da educação de crianças e adolescentes de famílias de baixa
renda, nas comunidades onde a São Paulo Alpargatas atua.
No ano de 2003 o Brasil produziu 665 milhões de pares de calçados, apresentando
um crescimento de 3,6% em relação a 2002. Estimulado pelo aumento de 15,2% nas
exportações, o país apresentou um faturamento de US$1,55 bilhão, contra US$1,44
em 2002. Dos 189 milhões de pares de calçados exportados em 2003, 64,2% tiveram
como destino os Estados Unidos e 6,8% o Reino Unido. A receita bruta de vendas da
São Paulo Alpargatas totalizou no ano R$ 919,6 milhões, crescimento de 12,7% em
relação a 2002. Contribuíram para o aumento das receitas da companhia: o empenho
no desenvolvimento e inovação de produtos; a eficaz estratégia de comunicação e o
uso do marketing como suporte à força das marcas; e o aumento de 37%, em dólares,
das exportações. Foram lançados 175 novos calçados, o que elevou ainda mais o
valor agregado do mix de vendas.
Os destaques da Unidade de Negócio Lonas e Cobertas foram o crescimento das
marcas Locomotiva Lonil e Lonaleve, impulsionadas pelo desempenho do agronegócio
no país e das vendas de lonas para transformação, comercializadas em bobinas para
a fabricação de barracas, tanques de decantação, cortinas, bolsas e mochilas.
No segmento de exportação, a Alpargatas incorporou importantes mercados
consumidores, tais como Alemanha, Holanda, Suíça e a Escandinávia, ao grupo de
países que passaram a ter os seus produtos. As exportações para a Argentina
aumentaram com Havaianas, Mizuno e Timberland. Conga e Samoa passaram a ser
vendidas em Cuba e a Topper continuou sendo uma das marcas de futebol mais
desejadas no Japão, Cingapura, Malásia e Tailândia. Na Austrália, as Havaianas
caíram no gosto dos consumidores e ganharam até apelido. As “havies”, como são
chamadas, passaram a ser vendidas, em média, pelo equivalente a 12 dólares
312
americanos. Renovar o interesse do consumidor estrangeiro na marca é, no entanto, o
grande desafio da companhia. Para isso, a empresa se prepara para lançar uma
segunda marca no exterior, a Sea Club, que será comercializada em grandes cadeias
e em altos volumes (SPASA, 2003).
O objetivo da São Paulo Alpargatas é elevar a participação de suas exportações
para 15% do seu faturamento. Foi nesse contexto que em 18 de junho do mesmo ano,
a São Paulo Alpargatas e a Camargo Corrêa anunciaram a compra do restante do
capital da Santista Têxtil, que estava nas mãos do Bradesco e do grupo Bunge Born.
Em 2002, quase 45% do faturamento da Santista Têxtil havia sido gerado pelas
vendas para o mercado internacional. Com cinco fábricas no Brasil, duas na Argentina
e uma no Chile, a empresa tornou-se uma das maiores fabricantes de denim do
mundo, a partir de 1994, quando se fusionou com a Divisão Têxtil da Alpargatas. A
compra representou para a Camargo Corrêa um passo importante no seu processo de
internacionalização e para a Alpargatas uma oportunidade de obter sinergias no
processo de comercialização com o exterior, como, por exemplo, a distribuição
conjunta de produtos em alguns mercados.
Ainda em 2003, a Alpargatas foi eleita a empresa mais admirada do setor de
calçados e artigos esportivos, em pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa
Interscience, publicada na revista Carta Capital; e recebeu do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o "Prêmio Destaque de Comércio
Exterior 2003", pela contribuição da empresa para o desenvolvimento dessa atividade.
Em 2004, a receita bruta da Alpargatas cresceu 22%, atingindo R$ 1,1 bilhão. O
lucro totalizou R$ 95,6 milhões e as exportações 6% do faturamento. As ações
preferenciais se valorizaram 80% no período, fruto da melhoria no processo de
comunicação com o mercado. Foram comercializados 142 milhões de pares de
calçados e 252 novos modelos foram lançados. Os investimentos somaram R$ 25
milhões, dos quais metade foram aplicados na construção da Central de Distribuição
de Sandálias, em Campina Grande PB, que dispõe de modernos recursos de
movimentação e controle de produtos acabados, destinados a otimizar a gestão do
crescente número de modelos e cores e melhorar a qualidade dos serviços prestados
aos clientes. Para 2005, prevê-se investimentos da ordem de R$ 109 milhões, dando
continuidade aos processos de modernização industrial, gestão da informação,
313
aumento da capacidade produtiva e lançamento de produtos, com destaque para a
criação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento equipado com os mais modernos
processos e equipamentos e que contará com os melhores profissionais da área e
com o apoio de universidades e entidades de pesquisa no Brasil e no Exterior
(SPASA, 2004).
Ainda em 2004, um novo planejamento estratégico para os próximos 5 anos foi
estruturado e o plano de ação está em execução. Nele consta a definição da Visão e
da Missão; a inclusão de 2 novos valores (Inovação e Satisfação dos Consumidores)
aos 3 já existentes (Ética, Respeito às Pessoas e Comprometimento com
Responsabilidade); a ênfase em áreas que sustentarão o crescimento, a saber:
Otimização Industrial (Produção de Baixo Custo; Ganhos de Escala e Produtividade;
Aumento da Capacidade Produtiva; Aspectos Fiscais e Logísticos), Pesquisa e
Desenvolvimento (Inovação e Tecnologia; Competitividade; Tendências de Mercado;
Otimização de Lançamentos; Desenvolvimento de Materiais, Processos e
Equipamentos), Qualidade (Política da Qualidade; Satisfação dos Clientes; Fidelização
às Marcas) e Internacionalização (Expansão da Linha e Produção de Sandálias; Marca
Mundial de Futebol); a modificação da estrutura organizacional, com unidades de
negócio sendo agrupadas de forma a obter as vantagens das sinergias entre os
produtos, com destaque para: a consolidação da gestão das marcas Rainha, Topper e
Mizuno, que buscavam obter sinergias em Pesquisa e Desenvolvimento, Políticas
Comerciais, Logística de Distribuição, Ganhos de Escala e Produtividade; a criação da
Gerência Corporativa da Qualidade, responsável por assegurar que todos os
processos desde o desenvolvimento de materiais até a logística de distribuição
foquem a qualidade; e a criação de duas novas Diretorias dentro da Divisão de Áreas
Corporativas, para abrigar as Operações Industriais e a área de Pesquisa e
Desenvolvimento (SPASA, 2004).
Em síntese, os resultados da Alpargatas têm sido cada vez melhores desde 2001,
fruto da política de contínua inovação nas linhas de produtos, diferenciação e
valorização das marcas, dedicação à qualidade, posicionamento em segmentos de
maior valor agregado, e ao rígido controle de custos e despesas, sem prejuízo à
modernização industrial e à produtividade. Internamente, os investimentos foram
focados no desenvolvimento de novos materiais, de novas tecnologias, no
aperfeiçoamento dos processos industriais e logísticos, em comunicação, em
314
lançamento de produtos e em treinamento de mão–de-obra. O grande desafio da
empresa parece ser o seu fortalecimento no mercado internacional, transformando
gradativamente o sucesso das Havaianas em um sucesso generalizado de todas as
suas marcas (SPASA, 2003; SPASA, 2004)
315
7.4 ANEXO 4 Cotação do Dólar entre 1942 e 2004
Ano Moeda Brasileira
Cotação (US$)
Ano Moeda Brasileira Cotação (US$)
1942
Cr$
19,4301
1991
Cr$
275,0000
1943
Cr$
19,4200
1992
R$
4.675,0000
1944
Cr$
19,3600
1993
R$
90,2000
1945
Cr$
19,2500
1994
R$
0,6435
1946
Cr$
18,9599
1995
R$
0,9160
1947
Cr$
18,3799
1996
R$
1,0044
1948
Cr$
18,3799
1997
R$
1,0779
1949
Cr$
18,3799
1998
R$
1,1603
1950
Cr$
18,3799
1999
R$
1,8150
1951
Cr$
18,3799
2000
R$
1,8287
1952
Cr$
18,3799
2001
R$
2,3514
1953
Cr$
38,4560
2002
R$
2,9207
1954
Cr$
58,2285
2003
R$
3,0775
1955
Cr$
69,7153
2004
R$
2,9251
1956
Cr$
68,4008
1957
Cr$
72,3305
1958
Cr$
124,6905
1959
Cr$
147,9253
1960
Cr$
182,3168
1961
Cr$
262,6305
1962
Cr$
374,9900
1963
Cr$
557,0125
1964
Cr$
1.210,0000
1965
Cr$
1.873,9875
1966
Cr$
2.200,0000
1967
NCr$
2,6500
1968
NCr$
3,3701
1969
NCr$
4,0400
1970
Cr$
4,5601
1971
Cr$
5,2500
1972
Cr$
5,9001
1973
Cr$
6,0899
1974
Cr$
6,7499
1975
Cr$
8,0801
1976
Cr$
10,6101
1977
Cr$
14,0701
1978
Cr$
17,9801
1979
Cr$
26,6800
1980
Cr$
52,6103
1981
Cr$
92,8895
1982
Cr$
179,4705
1983
Cr$
577,3625
1984
Cr$
1.833,4525
1985
Cr$
6.194,9250
1986
Cz$
13,5900
1987
Cz$
39,3305
1988
NCz$
0,2643
1989
NCz$
2,8100
1990
Cr$
67,6693
Fonte: IPEADATA apud (Banco Central do Brasil, Boletim, Seção Balanço de Pagamentos (BCB Boletim/BP))
316
7.5 ANEXO 5 Valores do PIB entre 1907 e 2004
Ano Moeda
PIB Ano Moeda
PIB
1909 $ 4.111.250.000
1957 Cr$ 1.249.500.000.000
1910 $ 4.400.550.000
1958 Cr$ 1.555.000.000.000
1911 $ 4.759.975.000
1959 Cr$ 2.319.600.000.000
1912 $ 5.474.975.000
1960 Cr$ 3.182.200.000.000
1913 $ 4.997.300.000
1961 Cr$ 4.652.700.000.000
1914 $ 5.082.550.000
1962 Cr$ 7.452.200.000.000
1915 $ 5.776.925.000
1963 Cr$ 13.375.800.000.000
1916 $ 7.050.725.000
1964 Cr$ 26.213.600.000.000
1917 $ 8.392.450.000
1965 Cr$ 42.662.000.000.000
1918 $ 8.906.700.000
1966 Cr$ 62.789.000.000.000
1919 $ 10.455.775.000
1967 NCr$ 82.783.000.000
1920 $ 13.993.375.000
1968 NCr$ 115.171.000.000
1921 $ 12.077.450.000
1969 NCr$ 151.400.000.000
1922 $ 14.204.300.000
1970 Cr$ 194.315.303.824
1923 $ 20.069.225.000
1971 Cr$ 258.296.115.417
1924 $ 22.588.500.000
1972 Cr$ 346.580.797.177
1925 $ 26.744.850.000
1973 Cr$ 511.834.251.175
1926 $ 23.043.075.000
1974 Cr$ 745.136.153.841
1927 $ 24.970.000.000
1975 Cr$ 1.049.517.572.083
1928 $ 31.044.750.000
1976 Cr$ 1.633.963.079.798
1929 $ 30.255.500.000
1977 Cr$ 2.492.977.884.176
1930 $ 25.946.800.000
1978 Cr$ 3.617.245.645.792
1931 $ 22.355.575.000
1979 Cr$ 5.961.236.013.013
1932 $ 23.690.150.000
1980 Cr$ 12.507.806.000.000
1933 $ 25.282.400.000
1981 Cr$ 24.015.788.000.000
1934 $ 29.348.000.000
1982 Cr$ 48.680.718.000.000
1935 $ 31.680.000.000
1983 Cr$ 109.386.334.000.000
1936 $ 36.080.000.000
1984 Cr$ 347.886.015.000.000
1937 $ 41.288.500.000
1985 Cr$ 1.307.718.616.000.000
1938 $ 44.525.250.000
1986 Cz$ 3.502.630.801.000
1939 $ 46.552.000.000
1987 Cz$ 11.103.965.772.000
1940 $ 49.175.500.000
1988 NCz$ 80.782.983.199
1941 $ 56.845.250.000
1989 NCz$ 1.170.387.103.582
1942 Cr$ 64.270.250.000
1990 Cr$ 31.759.185.000.000
1943 Cr$ 81.309.250.000
1991 Cr$ 165.786.498.000.000
1944 Cr$ 105.512.000.000
1992 R$ 640.958.767
1945 Cr$ 125.114.000.000
1993 R$ 14.097.114.181
1946 Cr$ 160.014.250.000
1994 R$ 349.204.679.000
1947 Cr$ 178.600.000.000
1995 R$ 646.191.517.000
1948 Cr$ 207.300.000.000
1996 R$ 778.886.727.000
1949 Cr$ 241.800.000.000
1997 R$ 870.743.034.000
1950 Cr$ 281.600.000.000
1998 R$ 914.187.877.000
1951 Cr$ 348.900.000.000
1999 R$ 973.845.966.000
1952 Cr$ 410.300.000.000
2000 R$ 1.101.055.278.000
1953 Cr$ 489.500.000.000
2001 R$ 1.198.736.188.000
1954 Cr$ 671.400.000.000
2002 R$ 1.346.027.553.000
1955 Cr$ 814.700.000.000
2003 R$ 1.556.182.114.000
1956 Cr$ 1.029.000.000.000
2004 R$ 1.626.210.309.130
Fonte: IPEA
317
7.6 ANEXO 6 Dados do Ativo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Ativo Total Ativo Circulante Ativo L. Prazo
Ativo
Permanente Ativo Disponível
Contas a
Receber Estoques
1909
$ 1.226.405
261.793
0
616.085 858
2.475
257.159
1910
$ 1.342.315
302.244
0
659.617 2.740
4.367
284.136
1911
$ 1.626.168
380.276
0
816.606 1.825
7.398
363.186
1912
$ 1.581.478
320.141
0
842.644 629
220
308.132
1913
$ 1.587.327
418.777
0
856.710 1.104
60.083
342.437
1914
$ 1.445.512
352.514
0
884.110 573
46.995
292.505
1915
$ 1.670.160
613.043
0
907.116 761
50.761
553.134
1916
$ 1.890.570
690.653
0
1.049.917 3.817
51.556
622.868
1917
$ 2.832.822
1.273.176
0
1.409.644 731
12.411
1.235.002
1918
$ 5.563.951
2.658.713
0
1.518.001 1.708
1.997.870
1.668.931
1919
$ 5.386.063
3.081.651
0
2.153.060 1.918
1.595.070
1.438.945
1920
$ 6.987.763
3.483.785
0
3.352.627 3.829
1.693.733
1.721.918
1921
$ 9.817.527
4.853.697
0
4.927.480 6.895
2.696.547
2.005.580
1922
$ 13.059.115
5.612.632
0
7.400.132 9.574
2.514.067
2.973.375
1923
$ 15.626.175
6.667.903
0
8.911.921 5.960
2.818.206
3.661.919
1924
$ 21.801.081
9.740.487
0
9.514.242 4.772
5.206.773
4.465.035
1925
$ 26.800.183
11.802.317
0
14.941.514 28.642
8.103.213
3.467.943
1926
$ 23.475.425
8.775.932
0
14.651.791 1.676
6.271.396
2.324.451
1927
$ 27.072.075
11.727.467
0
15.298.256 2.964
7.399.492
4.133.010
1928
$ 29.132.863
13.659.334
0
15.427.176 7.543
9.487.360
3.905.251
1929
$
1930
$ 34.693.261
7.729.717
0
22.410.059 251.407
2.435.315
2.086.988
1931
$ 34.144.206
9.162.758
0
20.940.852 216.547
6.009.860
2.553.458
1932
$ 30.952.781
6.410.225
0
20.902.675 141.576
3.810.841
2.375.828
1933
$ 32.246.061
6.886.726
0
21.279.220 74.201
3.074.777
3.750.969
1934
$ 32.197.043
8.078.346
0
20.456.004 1.521
4.391.618
3.623.813
1935
$ 30.127.421
7.347.804
0
18.411.710 711.498
3.465.522
3.811.819
1936
$ 31.437.869
9.820.124
0
18.526.002 5.032
5.707.719
3.935.429
1937
$ 25.719.831
11.944.543
0
11.719.560 4.245
6.408.249
5.366.762
1938
$ 23.283.274
10.661.333
0
12.192.287 7.474
5.605.260
4.795.816
1939
$ 23.193.757
11.791.909
0
11.354.594 7.783
6.298.282
5.304.176
318
ANEXO 6 (Cont.) Dados do Ativo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Ativo Total Ativo Circulante Ativo L. Prazo
Ativo
Permanente Ativo Disponível
Contas a
Receber Estoques
1940
$ 25.478.998
11.244.329
0
14.147.914 17.160
6.346.581
4.823.699
1941
$ 24.110.188
11.245.293
0
12.726.638 34.393
6.359.440
4.851.460
1942
Cr$ 39.629.447
16.787.364
0
18.377.827 78.074
8.413.901
8.295.388
1943
Cr$ 53.291.473
31.714.910
0
20.830.423 5.622.939
12.994.189
13.097.782
1944
Cr$ 62.084.589
36.246.318
3.207.717
21.761.122 4.353.413
10.763.081
20.426.566
1945
Cr$ 75.513.177
47.633.881
58.199
23.157.686 8.938.564
13.525.831
20.318.872
1946
Cr$ 96.258.941
52.870.933
879.392
39.608.866 11.348.530
21.345.648
18.675.801
1947
Cr$ 146.726.127
84.578.904
2.302.850
56.467.429 31.020.009
23.382.355
30.160.702
1948
Cr$ 157.955.954
82.082.802
2.154.555
70.883.622 19.715.742
27.630.024
34.640.563
1949
Cr$ 170.637.501
84.321.910
1.570.760
81.324.937 10.927.890
38.360.629
34.802.052
1950
Cr$ 201.160.148
108.814.271
983.031
84.867.505 22.673.278
48.613.149
35.059.692
1951
Cr$ 269.114.965
146.966.894
489.019
111.024.725 5.588.472
62.513.356
78.857.345
1952
Cr$ 358.793.606
154.984.948
4.337.815
183.414.718 11.242.391
64.896.079
73.300.240
1953
Cr$ 437.359.102
193.526.466
10.853.607
204.536.565 8.202.975
104.759.599
80.563.891
1954
Cr$ 744.279.391
260.988.304
33.175.129
443.601.770 14.632.444
128.979.860
117.375.999
1955
Cr$ 883.104.121
386.995.929
46.921.287
442.882.916 15.961.529
202.788.706
168.245.694
1956
Cr$ 1.009.618.810
465.166.879
67.498.260
474.084.541 23.482.049
217.411.207
224.273.622
1957
Cr$ 1.119.567.740
549.780.543
71.502.403
486.125.219 51.504.340
265.862.633
232.413.568
1958
Cr$ 1.422.358.880
709.015.435
84.253.172
613.227.606 78.242.835
361.842.013
268.930.587
1959
Cr$ 1.937.605.043
900.650.824
95.423.062
917.761.593 66.287.054
381.679.867
452.683.901
1960
Cr$ 2.778.176.894
1.378.584.770
129.776.977
1.242.441.883 82.222.631
518.369.065
777.993.074
1961
Cr$ 4.298.455.344
2.421.682.241
194.306.655
1.650.590.073 80.158.086
885.864.952
1.455.659.203
1962
Cr$ 6.451.470.200
4.241.764.879
242.368.082
1.889.937.501 159.514.377
1.775.051.512
2.307.198.990
1963
Cr$ 12.623.056.713
8.437.730.486
342.646.704
3.688.871.668 386.723.205
3.020.965.193
4.901.084.188
1964
Cr$ 27.023.997.814
13.972.045.158
1.335.687.345
11.161.011.749 714.632.516
5.199.600.564
8.026.040.051
1965
Cr$ 40.934.593.531
20.401.825.900
1.356.750.935
18.798.919.971 2.196.482.089
6.920.801.949
11.261.714.862
1966
Cr$ 58.950.451.001
33.319.724.788
1.371.940.476
23.867.535.969 4.443.000.304
11.329.981.151
16.130.002.423
1967
NCr$ 86.865.564
48.713.185
3.301.904
34.461.164 3.538.466
23.219.622
21.955.096
1968
NCr$ 122.764.010
71.615.362
6.086.277
44.436.640 5.337.452
33.329.145
31.522.889
1969
NCr$ 174.005.814
97.887.966
12.917.334
62.117.812 6.017.317
53.245.913
36.519.825
1970
Cr$ 240.349.277
142.095.850
14.205.829
81.515.740 4.518.877
78.834.498
58.742.474
319
ANEXO 6 (Cont.) Dados do Ativo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Ativo Total Ativo Circulante Ativo L. Prazo
Ativo
Permanente Ativo Disponível
Contas a
Receber Estoques
1971
Cr$ 320.492.195
184.026.715
17.815.390
110.001.002 3.769.478
93.385.122
91.872.115
1972
Cr$ 400.742.964
237.354.989
3.107.500
156.522.863 2.693.622
118.859.771
101.891.600
1973
Cr$ 632.781.000
406.090.000
0
221.685.000 45.515.000
171.159.907
158.577.000
1974
Cr$ 1.005.495.000
660.840.000
0
335.523.000 12.892.000
327.562.000
320.386.000
1975
Cr$ 1.350.352.000
797.454.000
7.940.000
526.086.000 24.513.000
441.118.000
331.823.000
1976
Cr$ 2.594.051.000
1.748.436.000
11.099.000
808.635.000 64.789.000
946.367.000
737.280.000
1977
Cr$ 4.112.213.000
2.465.067.000
31.503.000
1.615.643.000 67.420.000
1.317.622.000
918.551.000
1978
Cr$ 7.046.906.000
4.393.274.000
183.771.000
2.469.861.000 625.127.000
1.579.258.000
1.443.635.000
1979
Cr$ 11.986.215.000
7.558.880.000
320.525.000
4.106.810.000 1.024.538.000
3.566.214.000
2.485.810.000
1980
Cr$ 24.315.524.000
17.702.957.000
429.490.000
6.183.077.000 1.602.480.000
8.339.723.000
6.846.599.000
1981
Cr$ 52.807.896.000
36.773.908.000
1.214.736.000
14.819.252.000 5.877.715.000
17.572.501.000
11.177.354.000
1982
Cr$ 102.729.941.000
73.079.163.000
1.952.080.000
27.698.698.000 12.082.330.000
36.371.070.000
23.020.423.000
1983
Cr$ 256.755.894.000
176.453.669.000
7.279.345.000
73.022.880.000 32.392.871.000
80.003.612.000
58.204.055.000
1984
Cr$ 904.187.053.000
649.124.205.000
8.268.760.000
246.794.088.000 244.838.785.000
241.573.167.000
137.899.381.000
1985
Cr$ 3.328.675.192.000
2.343.598.415.000
14.044.621.000
971.032.156.000 486.548.846.000
962.153.169.000
724.860.395.000
1986
Cz$ 6.129.620.000
4.098.895.000
55.202.000
1.975.523.000 891.440.000
1.746.913.000
1.253.019.000
1987
Cz$ 27.422.256.000
17.157.914.000
228.976.000
10.035.366.000 2.887.686.000
7.027.040.000
6.078.612.000
1988
NCz$ 260.936.000
166.869.000
1.314.000
92.753.000 38.555.000
73.666.000
48.312.000
1989
NCz$ 4.998.449.000
3.120.739.000
42.705.000
1.835.005.000 192.083.000
1.615.665.000
1.113.425.000
1990
Cr$ 56.741.364.000
36.568.076.000
189.831.000
19.983.457.000 4.410.639.000
17.714.689.000
13.051.684.000
1991
Cr$ 419.517.000.000
184.676.000.000
2.592.000.000
232.249.000.000 9.551.000.000
54.321.000.000
116.922.000.000
1992
R$ 1.543.000
607.000
24.000
912.000
1993
R$ 40.083.000
17.104.000
381.000
22.598.000
1994
R$ 519.631.000
226.248.000
5.121.000
288.262.000 48.081.000
96.422.000
63.509.000
1995
R$ 559.490.000
250.365.000
30.631.000
278.494.000 45.505.000
91.602.000
87.316.000
1996
R$ 599.232.000
273.233.000
39.835.000
286.164.000 54.045.000
91.836.000
103.590.000
1997
R$ 545.034.000
272.136.000
41.263.000
231.635.000 49.447.000
104.193.000
89.111.000
1998
R$ 567.024.000
319.194.000
37.275.000
210.555.000 109.954.000
105.625.000
73.354.000
1999
R$ 606.436.000
338.703.000
45.839.000
221.894.000 109.976.000
119.626.000
77.993.000
2000
R$ 687.792.000
383.590.000
73.538.000
230.664.000 134.366.000
124.363.000
86.274.000
320
ANEXO 6 (Cont.) Dados do Ativo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Ativo Total Ativo Circulante Ativo L. Prazo
Ativo
Permanente Ativo Disponível
Contas a
Receber Estoques
2001
R$ 736.839.000
374.516.000
111.574.000
250.749.000 103.299.000
145.482.000
93.777.000
2002
R$ 893.388.000
510.585.000
115.887.000
266.916.000 162.178.000
188.806.000
101.674.000
2003
R$ 906.446.000
540.355.000
94.608.000
271.483.000 156.154.000
206.293.000
121.252.000
2004
R$ 1.043.083.000
649.451.000
119.257.000
274.375.000 189.646.000
241.936.000
130.786.000
Fonte: 1909-1991; 1994-2004: Relatórios Anuais; 1992-1993: Economática
321
7.7 ANEXO 7 Dados do Passivo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Passivo Total - PL Passivo Circulante Passivo L. Prazo
Patrimônio Líquido
Capital Social Reserva de Capital
Reserva Lucros /
Outras Reservas
Lucros
Acumulados
Dívidas L.
Prazo
1909
$ 624.928
396.404
0 601.477
800.000
0
0
(198.523)
0
1910
$ 772.666
512.314
0 569.649
800.000
0
0
(230.351)
0
1911
$ 905.351
596.167
0 720.817
1.000.000
0
0
(279.183)
0
1912
$ 833.682
535.620
0 747.796
1.000.000
0
15.856
(268.060)
0
1913
$ 705.171
514.526
0 882.156
1.000.000
0
42.798
(160.642)
0
1914
$ 433.293
344.405
0 1.012.219
1.000.000
0
71.106
(58.887)
0
1915
$ 420.936
390.936
0 1.249.224
1.000.000
0
200.140
49.084
0
1916
$ 492.492
462.492
0 1.398.078
1.000.000
0
331.799
66.279
0
1917
$ 1.055.378
1.025.376
0 1.777.444
1.000.000
0
705.700
71.744
0
1918
$ 2.215.496
882.080
0 3.348.455
2.000.000
0
1.304.800
43.655
0
1919
$ 1.742.221
529.442
0 3.643.842
2.000.000
0
1.434.012
209.830
0
1920
$ 2.809.649
1.087.648
0 4.178.114
2.000.000
0
1.811.375
366.739
0
1921
$ 3.512.337
1.885.337
0 6.305.190
4.000.000
0
1.937.065
368.125
0
1922
$ 5.290.202
3.855.201
0 7.768.913
5.000.000
0
2.372.374
396.539
0
1923
$ 7.324.629
4.549.629
0 8.301.546
5.000.000
0
3.000.000
301.546
0
1924
$ 7.897.240
5.355.711
0 13.903.841
10.000.000
0
3.500.000
403.841
0
1925
$ 12.001.007
5.367.159
0 14.799.176
10.000.000
0
4.100.000
699.176
0
1926
$ 9.639.603
4.199.602
0 13.835.822
10.000.000
0
3.328.149
507.673
0
1927
$ 12.707.551
5.777.853
0 14.364.524
10.000.000
0
3.870.315
494.209
0
1928
$ 15.049.076
5.699.350
0 14.083.787
10.000.000
0
3.858.125
225.662
0
1929
$
1930
$ 12.232.242
235.503
11.088.000 22.461.019
14.436.600
0
8.255.538
(231.119)
11.088.000
1931
$ 12.683.374
1.909.372
10.739.000 21.460.832
14.436.600
0
6.998.169
26.063
10.739.000
1932
$ 9.261.096
526.095
8.700.000 21.691.685
14.436.600
0
7.067.921
187.164
8.700.000
1933
$ 10.495.598
2.092.301
8.000.000 21.750.463
14.436.600
0
7.682.159
(368.296)
8.000.000
1934
$ 9.581.976
2.546.975
7.000.000 22.615.067
14.436.600
0
8.178.467
0
7.000.000
1935
$ 8.512.861
1.459.667
7.000.000 21.614.560
14.436.600
0
7.196.153
(18.193)
7.000.000
1936
$ 9.304.287
3.319.287
5.950.000 22.133.582
14.436.600
0
7.689.882
7.100
5.950.000
1937
$ 10.190.742
5.755.741
4.400.000 15.529.089
14.436.600
0
1.080.074
12.415
4.400.000
1938
$ 7.682.628
6.147.627
1.500.000 15.600.646
14.436.600
0
1.113.802
50.244
1.500.000
1939
$ 7.487.557
6.869.556
583.000 15.706.200
14.436.600
0
1.118.661
150.939
583.000
322
ANEXO 7 (Cont.) Dados do Passivo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Passivo Total - PL Passivo Circulante Passivo L. Prazo
Patrimônio Líquido
Capital Social Reserva de Capital
Res.
Lucros/Outras
Lucros
Acumulados
Dívidas L.
Prazo
1940
$ 4.644.554
4.467.937
0 20.834.444
10.000.000
2.339.001
6.596.936
1.898.507
0
1941
$ 5.831.234
5.584.316
0 18.278.954
10.000.000
2.339.001
1.850.521
4.089.432
0
1942
Cr$ 9.522.138
5.850.379
0 30.107.309
15.000.000
5.000.000
1.282.738
8.824.571
0
1943
Cr$ 8.497.870
8.268.758
3.000.000 44.793.603
20.000.000
0
5.897.742
18.895.861
0
1944
Cr$ 8.291.631
7.995.818
0 53.792.958
20.000.000
0
14.989.456
18.803.502
0
1945
Cr$ 13.706.761
9.626.033
0 61.806.416
20.000.000
0
24.649.640
17.156.776
0
1946
Cr$ 17.588.603
16.117.760
0 78.670.338
30.000.000
0
30.991.766
17.678.572
0
1947
Cr$ 20.876.292
19.274.889
0 125.849.835
70.000.000
0
32.377.857
23.471.978
0
1948
Cr$ 21.472.746
19.871.343
0 136.483.208
70.000.000
0
43.862.463
22.620.745
0
1949
Cr$ 23.314.834
21.684.573
0 147.322.667
70.000.000
0
53.738.708
23.583.959
0
1950
Cr$ 33.224.543
30.188.882
0 167.935.605
80.000.000
0
56.392.279
31.543.326
0
1951
Cr$ 62.001.386
57.970.725
0 207.113.579
120.000.000
0
82.794.241
4.319.338
0
1952
Cr$ 83.149.273
45.239.013
6.375.000 275.644.333
200.000.000
0
75.644.333
26.979.599
0
1953
Cr$ 119.031.274
97.290.392
0 318.327.828
200.000.000
0
114.605.393
3.722.435
0
1954
Cr$ 192.861.967
192.731.306
0 551.417.424
400.000.000
0
147.569.313
3.848.111
0
1955
Cr$ 172.175.382
172.125.382
0 710.928.739
500.000.000
0
208.859.382
2.069.357
0
1956
Cr$ 208.794.645
208.754.645
0 800.824.165
550.000.000
0
248.341.246
2.482.918
0
1957
Cr$ 281.562.018
249.563.092
31.958.925 838.005.722
550.000.000
0
285.611.924
2.393.797
31.958.925
1958
Cr$ 337.519.719
300.724.648
36.755.070 1.084.839.161
650.000.000
0
431.677.850
3.161.310
36.755.070
1959
Cr$ 530.235.553
493.407.542
36.778.010
1.407.369.490
730.000.000
0
671.772.579
5.596.910
36.778.010
1960
Cr$ 833.324.066
810.736.364
22.537.702 1.944.852.828
1.100.000.000
0
840.008.545
4.844.283
22.537.702
1961
Cr$ 1.321.550.852
1.311.744.624
9.756.228 2.976.904.492
1.900.000.000
0
1.071.958.632
4.945.860
9.756.228
1962
Cr$ 2.204.945.179
2.198.776.681
6.128.498 4.246.525.021
2.500.000.000
0
1.738.942.651
7.582.370
6.128.498
1963
Cr$ 4.362.562.536
4.359.920.301
2.592.235 8.260.494.177
6.000.000.000
0
2.853.002.180
3.842.717
2.592.235
1964
Cr$ 7.230.424.419
7.182.374.139
13.923.580 19.793.573.395
14.000.000.000
819.811.942
3.086.341.125
2.534.807.028
13.923.580
1965
Cr$ 10.578.952.107
10.484.851.076
59.774.331 30.355.641.424
19.000.000.000
6.767.837.063
4.560.793.865
27.010.496
59.774.331
1966
Cr$ 19.005.397.485
18.941.377.857
29.692.928 39.945.053.516
24.000.000.000
10.434.028.937
5.343.769.580
167.254.999
29.692.928
1967
NCr$ 26.452.466
24.099.831
2.318.256 60.413.098
33.000.000
14.746.397
9.730.224
984.446
1.660.000
1968
NCr$ 39.402.667
35.439.581
3.962.785 83.361.343
45.000.000
17.980.073
15.272.448
1.611.880
3.064.000
1969
NCr$ 49.829.742
43.908.470
5.920.921 124.176.072
80.000.000
26.030.984
17.784.346
360.741
4.253.387
1970
Cr$ 68.026.495
65.707.272
2.319.222 172.322.782
106.000.000
49.148.877
16.833.629
340.274
2.319.222
323
ANEXO 7 (Cont.) Dados do Passivo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Passivo Total - PL Passivo Circulante Passivo L. Prazo
Patrimônio Líquido
Capital Social Reserva de Capital
Res.
Lucros/Outras
Lucros
Acumulados
Dívidas L.
Prazo
1971
Cr$ 107.782.292
106.143.686
1.638.606 212.709.903
132.500.000
49.892.481
29.866.797
450.625
1.638.606
1972
Cr$ 139.137.167
126.384.641
12.752.525 261.605.797
159.000.000
62.566.703
39.104.514
934.579
12.752.525
1973
Cr$ 259.989.000
242.467.000
17.522.000 372.792.000
182.850.000
96.860.000
92.107.000
975.000
17.522.000
1974
Cr$ 379.842.000
344.754.000
35.088.000 625.653.000
252.333.000
167.180.000
95.368.000
110.772.000
35.088.000
1975
Cr$ 399.368.000
334.731.000
64.339.000 950.984.000
328.033.000
267.561.000
177.041.000
178.349.000
64.399.000
1976
Cr$ 894.291.000
727.233.000
166.663.000 1.699.760.000
524.852.640
567.407.000
502.313.000
105.187.000
166.663.000
1977
Cr$ 1.433.005.000
1.204.460.000
226.054.000 2.679.208.000
734.794.000
1.218.532.000
527.657.000
198.225.000
226.054.000
1978
Cr$ 2.032.900.000
1.776.632.000
248.386.000 5.014.006.000
1.175.670.000
2.065.098.000
1.101.729.000
671.509.000
238.973.000
1979
Cr$ 3.490.773.000
2.938.354.000
539.180.000 8.495.442.000
1.912.646.000
3.843.384.000
1.618.649.000
1.120.763.000
245.403.000
1980
Cr$ 8.610.643.000
6.766.193.000
1.817.072.000 15.704.881.000
3.084.680.000
6.078.566.000
2.862.550.000
3.679.085.000
182.381.000
1981
Cr$ 19.312.059.000
17.264.875.000
1.333.936.000 33.495.837.000
5.220.228.000
12.950.873.000
5.870.294.000
9.454.442.000
923.096.000
1982
Cr$ 36.147.226.000
32.675.208.000
3.250.479.000 66.582.715.000
16.377.859.000
26.454.726.000
5.846.721.000
17.903.409.000
3.250.479.000
1983
Cr$ 77.114.179.000
64.181.174.000
12.540.294.000 179.641.715.000
27.461.373.000
83.990.820.000
15.707.733.000
52.481.789.000
12.540.294.000
1984
Cr$ 306.277.858.000
279.792.155.000
25.833.121.000 597.909.195.000
105.678.104.000
356.895.563.000
52.554.083.000
82.781.445.000
25.833.121.000
1985
Cr$ 1.119.638.493.000
1.024.839.751.000
81.716.357.000 2.209.036.699.000
499.770.745.000
1.080.165.590.000
120.219.714.000
508.880.650.000
81.716.357.000
1986
Cz$ 2.026.948.000
1.794.154.000
219.517.000 4.102.672.000
2.700.876.000
200.805.000
231.352.000
969.639.000
219.517.000
1987
Cz$ 8.103.162.000
5.985.402.000
1.942.172.000 19.319.094.000
11.821.333.000
788.109.000
1.155.903.000
5.553.749.000
1.925.443.000
1988
NCz$ 81.603.000
57.923.000
22.754.000 179.333.000
108.290.000
6.582.000
10.987.000
53.474.000
22.106.000
1989
NCz$ 1.998.309.000
1.623.915.000
366.501.000 3.000.140.000
1.713.029.000
276.824.000
191.083.000
819.204.000
323.865.000
1990
Cr$ 22.137.266.000
15.455.515.000
6.580.845.000 34.604.098.000
18.643.639.000
3.639.919.000
1.985.391.000
10.332.149.000
6.241.176.000
1991
Cr$ 111.084.000.000
82.384.000.000
28.129.000.000 308.433.000.000
219.102.000.000
67.266.000.000
21.919.000.000
146.000.000
26.190.000.000
1992
R$ 532.000
322.000
210.000 1.011.000
981.000
1993
R$ 13.032.000
10.502.000
2.531.000 27.051.000
24.744.000
768.248
119.000
1.419.000
1994
R$ 141.072.000
112.303.000
28.769.000 378.559.000
304.618.000
9.417.000
4.440.000
60.053.000
23.071.000
1995
R$ 165.442.000
130.069.000
30.492.000 394.048.000
248.745.000
63.018.000
5.806.000
76.479.000
21.722.000
1996
R$ 231.447.000
188.281.000
39.345.000 367.785.000
304.618.000
6.906.000
5.806.000
50.455.000
35.218.000
1997
R$ 265.245.000
183.909.000
76.258.000 279.789.000
304.618.000
6.415.000
0
(31.244.000)
70.686.000
1998
R$ 267.845.000
189.034.000
77.283.000 299.179.000
273.510.000
4.724.000
20.945.000
0
75.633.000
1999
R$ 256.252.000
187.206.000
68.664.000 350.184.000
273.510.000
3.588.000
73.086.000
0
65.896.000
2000
R$ 286.408.000
199.946.000
86.458.000 401.384.000
273.510.000
3.587.000
124.287.000
0
59.368.000
324
ANEXO 7 (Cont.) Dados do Passivo Patrimonial da SPASA de 1909 a 2004
Ano Moeda
Passivo Total - PL Passivo Circulante Passivo L. Prazo
Patrimônio Líquido
Capital Social Reserva de Capital
Res.
Lucros/Outras
Lucros
Acumulados
Dívidas L.
Prazo
2001
R$ 318.954.000
213.383.000
105.569.000 417.885.000
273.510.000
3.202.000
141.173.000
0
56.444.000
2002
R$ 454.997.000
267.008.000
187.985.000 438.391.000
273.510.000
3.901.000
160.980.000
0
90.475.000
2003
R$ 413.171.000
221.624.000
191.542.000 493.275.000
273.510.000
4.324.000
215.441.000
0
80.072.000
2004
R$ 488.795.000
246.078.000
235.206.000 554.288.000
293.615.000
5.547.000
161.305.000
93.821.000
78.020.000
Fonte: 1909-1991; 1994-2004: Relatórios Anuais; 1992-1993: Economática
325
7.8 ANEXO 8 Dados das Demonstrações de Resultado da SPASA de 1909 a 2004
Ano
Moeda
Rec. Líq.Vendas Lucro Bruto
Desp. Ger.,
Adm., Vendas e
Serv. Sociais
EBITDA = EBIT +
Depreciação e
Amortização
Depreciação e
Amortização
EBIT = EBT +
Resultado
Financeiro
Resultado
Financeiro (Juros
e Descontos)
EBT = LL +
Imposto Renda
Lucro/Prejuízo
Líq.
1909
$ 64.678
37.497
94.400 18.600
75.800 (75.800)
1910
$
1911
$
1912
$ 211.957
17.576
174.949 26.427
148.522 (137.399)
11.123
11.123
1913
$ 346.736
18.519
292.215 26.943
265.272 (157.854)
107.418
107.418
1914
$ 428.080
23.360
347.959 28.308
319.651 (217.894)
101.757
101.757
1915
$ 447.326
23.896
441.782 29.033
412.749 (41.136)
371.613
371.613
1916
$ 505.313
37.668
470.796 31.659
439.137 (38.185)
400.952
400.952
1917
$ 850.311
63.880
769.232 41.951
727.281 (68.157)
659.124
659.124
1918
$ 1.391.027
87.368
1.424.478 44.550
1.379.928 (106.580)
1.273.348
1.273.348
1919
$ 1.034.189
101.264
934.232 64.606
869.626 (170.170)
699.456
699.456
1920
$ 1.726.196
131.141
1.595.055 88.682
1.506.374 (266.069)
1.240.305
1.240.305
1921
$ 1.303.118
167.957
1.135.161 125.690
1.009.471 (278.883)
730.588
730.588
1922
$ 2.807.556
369.025
2.438.531 235.310
2.203.222 (463.072)
1.740.150
1.740.150
1923
$ 3.561.085
348.236
3.212.849 276.621
2.936.228 (669.529)
2.266.699
2.266.699
1924
$ 3.462.942
437.993
3.024.949 290.151
2.734.798 (840.044)
1.894.754
1.837.376
1925
$ 18.592.571
4.364.749
515.430
3.976.460 442.204
3.534.256 (1.041.664)
2.492.592
2.373.390
1926
$ 12.940.161
2.251.257
561.849
1.692.369 414.500
1.277.869 (1.041.133)
236.736
236.736
1927
$ 15.167.391
2.662.532
407.070
2.842.938 442.134
2.400.804 (1.070.805)
1.329.999
1.298.944
1928
$ 1.319.328
428.630
890.698 444.377
446.321 (1.295.550)
(849.229)
(849.229)
1929
$
1930
$ 902.357
466.858
435.499 0
435.499 (671.114)
(235.615)
(235.615)
1931
$ 14.000.000
2.950.837
979.349
1.700.215 0
1.700.215 (1.429.496)
270.719
270.719
1932
$ 16.000.000
4.101.144
1.035.179
2.539.062 881.609
1.657.453 (1.496.353)
161.100
161.100
1933
$ 15.000.000
2.693.619
1.162.784
1.272.353 496.237
776.116 (1.331.576)
(555.460)
(555.460)
1934
$ 20.000.000
4.224.369
1.322.770
2.440.514 627.470
1.813.044 (1.444.748)
368.296
368.296
1935
$ 21.000.000
3.493.966
1.315.845
1.888.793 499.023
1.389.770 (1.407.963)
(18.193)
(18.193)
1936
$ 25.200.000
4.565.376
1.638.911
2.396.268 1.052.637
1.343.631 (1.318.338)
25.293
25.293
1937
$ 29.484.000
5.602.788
2.044.484
2.968.119 1.575.148
1.392.971 (1.387.656)
5.315
5.315
326
ANEXO 8 (Cont.) Dados das Demonstrações de Resultado da SPASA de 1909 a 2004
Ano
Moeda
Rec. Líq.Vendas Lucro Bruto
Desp. Ger.,
Adm., Vendas e
Serv. Sociais
EBITDA = EBIT +
Depreciação e
Amortização
Depreciação e
Amortização
EBIT = EBT +
Resultado
Financeiro
Resultado
Financeiro (Juros
e Descontos)
EBT = LL +
Imposto Renda
Lucro/Prejuízo
Líq.
1938
$ 29.484.000
5.711.904
2.176.079
3.558.312 2.217.569
1.340.743 (1.302.915)
37.828
37.828
1939
$ 6.528.660
2.416.586
2.908.577 1.548.465
1.360.112 (1.259.417)
100.695
100.695
1940
$ 7.184.510
3.737.299
2.946.155 650.607
2.295.548 (314.388)
1.981.160
1.839.545
1941
$ 10.229.634
4.170.987
4.776.846 756.137
4.020.709 (239.399)
3.781.310
3.569.394
1942
Cr$ 20.459.580
6.582.177
12.444.219 1.300.655
11.143.564 (260.981)
10.882.583
10.245.825
1943
Cr$ 32.862.644
9.543.229
20.509.155 2.330.339
18.178.816 44.521
18.223.337
16.698.585
1944
Cr$ 34.547.168
11.305.323
19.801.542 2.770.224
17.031.318 113.687
17.145.005
15.834.284
1945
Cr$ 34.042.087
12.804.924
18.327.856 2.630.386
15.697.470 364.725
16.062.195
14.805.172
1946
Cr$ 49.662.022
16.582.755
27.447.452 3.775.932
23.671.520 560.277
24.231.797
19.604.180
1947
Cr$ 57.679.154
19.892.124
31.123.601 3.102.109
28.021.492 927.141
28.948.633
25.359.705
1948
Cr$ 54.748.738
20.546.470
26.498.123 3.487.887
23.010.236 1.453.780
24.464.016
21.001.358
1949
Cr$ 57.353.538
24.310.686
26.829.930 4.397.940
22.431.990 892.635
23.324.625
20.989.526
1950
Cr$ 83.541.518
31.383.875
42.360.772 5.799.989
36.560.783 762.290
37.323.073
31.562.414
1951
Cr$ 127.959.904
46.224.711
69.709.321 7.334.556
62.374.765 1.266.604
63.641.369
54.374.836
1952
Cr$ 134.228.175
55.206.407
61.611.121 8.653.336
52.957.785 1.432.944
54.390.729
47.613.546
1953
Cr$ 181.695.093
74.835.097
87.627.725 11.833.606
75.794.119 1.137.897
76.932.016
65.161.995
1954
Cr$ 314.074.859
107.021.664
213.928.814 14.723.013
199.205.801 2.536.638
201.742.439
132.725.890
1955
Cr$ 347.985.951
132.377.588
185.309.357 25.915.673
159.393.684 2.637.444
162.031.128
125.801.384
1956
Cr$ 430.655.561
175.814.355
197.226.215 28.760.328
168.465.887 (1.065.613)
167.400.274
129.637.284
1957
Cr$ 489.388.782
209.456.404
213.345.283 32.117.087
181.228.196 1.400.656
182.628.852
145.413.567
1958
Cr$ 673.709.185
254.275.586
318.322.994 34.934.298
283.388.696 4.656.063
288.044.759
221.318.517
1959
Cr$ 976.454.898
348.664.810
479.964.842 48.330.286
431.634.556 (7.131.401)
424.503.155
331.894.575
1960
Cr$ 1.317.713.952
542.906.584
572.278.852 85.776.600
486.502.252 (27.694.316)
458.807.936
364.719.303
1961
Cr$ 2.108.419.993
849.244.295
993.546.218 111.914.820
881.631.398 (24.994.991)
856.636.407
639.001.751
1962
Cr$ 3.487.906.190
1.383.135.405
1.600.762.541 156.089.782
1.444.672.759 (30.594.516)
1.414.078.243
1.039.680.386
1963
Cr$ 6.445.266.815
2.702.719.939
3.009.286.549 256.391.370
2.752.895.179 (29.310.216)
2.723.584.963
1.919.673.814
1964
Cr$ 26.337.150.859
12.480.530.155
5.336.402.843
5.969.790.703 518.806.000
5.450.984.703 (262.942.304)
5.188.042.399
3.137.857.171
1965
Cr$ 38.710.761.932
17.277.067.286
8.330.015.848
6.440.281.235 1.258.514.897
5.181.766.338 (628.133.530)
4.553.632.808
3.489.054.808
1966
Cr$ 62.025.809.511
27.609.131.377
10.905.470.755
12.083.557.059 1.908.288.450
10.175.268.609 (1.566.528.528)
8.608.740.081
6.959.514.298
1967
NCr$ 90.847.754
44.015.493
16.166.435
17.959.348 3.361.847
14.597.501 (1.516.738)
13.080.763
9.109.101
1968
NCr$ 138.647.031
68.670.522
23.086.059
28.750.522 5.977.640
22.772.882 (1.464.226)
21.308.656
15.826.001
327
ANEXO 8 (Cont.) Dados das Demonstrações de Resultado da SPASA de 1909 a 2004
Ano
Moeda
Rec. Líq.Vendas Lucro Bruto
Desp. Ger.,
Adm., Vendas e
Serv. Sociais
EBITDA = EBIT +
Depreciação e
Amortização
Depreciação e
Amortização
EBIT = EBT +
Resultado
Financeiro
Resultado
Financeiro (Juros
e Descontos)
EBT = LL +
Imposto Renda
Lucro/Prejuízo
Líq.
1969
NCr$ 184.826.548
87.867.330
32.781.524
36.382.267 7.904.587
28.477.680
579.760 29.057.440
22.833.507
1970
Cr$ 241.226.167
100.132.610
39.943.211
45.514.457 9.920.235
35.594.222
2.639.692 38.233.914
29.919.032
1971
Cr$ 311.807.911
128.975.697
52.721.053
63.811.724 13.426.905
50.384.819
1.819.991 52.204.810
40.663.341
1972
Cr$ 409.403.808
166.283.932
67.329.841
74.727.073 18.175.867
56.551.206
(3.047.501)
53.503.705
44.754.261
1973
Cr$ 694.632.000
308.450.000
100.637.833
150.007.838 24.308.000
125.699.838
2.679.162 128.379.000
105.654.000
1974
Cr$ 1.150.832.000
521.041.000
143.061.044
255.751.582 21.659.000
234.092.582
7.980.418 242.073.000
201.560.000
1975
Cr$ 1.618.664.000
751.066.000
209.744.932
411.868.551 35.749.000
376.119.551
973.449 377.093.000
320.419.000
1976
Cr$ 2.933.389.000
1.429.896.000
337.104.000
847.140.000 61.407.000
785.733.000
(50.908.000)
734.825.000
595.986.000
1977
Cr$ 4.682.447.000
2.057.781.000
582.886.000
911.107.000 75.570.000
835.537.000
106.051.000 941.588.000
777.361.000
1978
Cr$ 5.757.501.000
2.325.182.000
920.922.000
1.383.102.000 168.661.000
1.214.441.000
(135.406.000)
1.079.035.000
858.563.000
1979
Cr$ 11.100.179.000
4.404.047.000
1.544.023.000
1.718.601.000 308.600.000
1.410.001.000
(128.031.000)
1.281.970.000
876.843.000
1980
Cr$ 28.624.898.000
12.725.694.000
4.040.630.000
7.016.025.000 777.824.000
6.238.201.000
(91.751.000)
6.146.450.000
4.083.161.000
1981
Cr$ 55.601.387.000
25.053.615.000
9.375.756.000
7.978.426.000 1.512.955.000
6.465.471.000
90.735.000 6.556.206.000
4.651.755.000
1982
Cr$ 102.807.066.000
46.642.752.000
17.733.000.000
15.813.241.000 4.006.429.000
11.806.812.000
861.191.000 12.668.003.000
8.632.153.000
1983
Cr$ 256.083.697.000
126.524.455.000
48.463.105.000
24.069.316.000 8.066.384.000
16.002.932.000
1.866.944.000 17.869.876.000
12.748.751.000
1984
Cr$ 800.627.850.000
359.283.134.000
140.479.897.000
27.745.083.000 23.914.804.000
3.830.279.000
66.508.681.000 70.338.960.000
62.090.953.000
1985
Cr$ 3.259.650.176.000
1.626.951.055.000
603.845.413.000
460.249.433.000 93.303.043.000
366.946.390.000
245.770.387.000 612.716.777.000
526.139.484.000
1986
Cz$ 8.040.914.000
3.176.856.000
1.531.084.000
940.945.000 178.002.000
762.943.000
368.000 763.311.000
436.632.000
1987
Cz$ 26.949.658.000
14.660.996.000
5.032.393.000
3.527.136.000 553.301.000
2.973.835.000
(223.161.000)
2.750.674.000
1.736.684.000
1988
NCz$
199.882.000
122.106.000
42.141.000
9.406.000 4.169.000
5.237.000
3.451.000 8.688.000
1.771.000
1989
NCz$
3.506.339.000
2.341.473.000
702.721.000
591.191.000 50.344.000
540.847.000
(186.137.000)
354.710.000
168.381.000
1990
Cr$ 68.045.428.000
37.570.173.000
16.796.037.000
10.584.209.000 1.279.592.000
9.304.617.000
(5.439.566.000)
3.865.051.000
1.955.780.000
1991
Cr$ 450.864.000.000
105.666.000.000
115.016.000.000
12.489.000.000 26.657.000.000
(14.168.000.000)
(26.763.000.000)
(40.931.000.000)
(47.242.000.000)
1992
R$ 2.158.000
365.000
(379.000)
(379.000)
(379.000)
(379.000)
1993
R$ 56.907.000
16.942.000
2.368.000 2.368.000
2.368.000
2.368.000
1994
R$ 634.422.000
231.128.000
176.977.000
57.744.000 57.744.000
1.921.000 59.665.000
59.665.000
1995
R$ 549.070.000
173.351.000
179.848.000
43.732.000 26.482.000
17.250.000
17.003.000 34.253.000
26.898.000
1996
R$ 543.297.000
171.142.000
194.654.000
(152.000)
31.154.000
(31.306.000)
8.771.000 (22.535.000)
(23.407.000)
1997
R$ 557.571.000
181.025.000
182.646.000
(52.716.000)
35.355.000
(88.071.000)
301.000 (87.770.000)
(88.516.000)
1998
R$ 560.860.000
188.467.000
159.811.000
55.108.000 32.303.000
22.805.000
5.838.000 28.643.000
27.905.000
1999
R$ 630.964.000
236.986.000
181.294.000
105.793.000 30.709.000
75.084.000
(23.670.000)
51.414.000
49.737.000
328
ANEXO 8 (Cont.) Dados das Demonstrações de Resultado da SPASA de 1909 a 2004
Ano
Moeda
Rec. Líq.Vendas Lucro Bruto
Desp. Ger.,
Adm., Vendas e
Serv. Sociais
EBITDA = EBIT +
Depreciação e
Amortização
Depreciação e
Amortização
EBIT = EBT +
Resultado
Financeiro
Resultado
Financeiro (Juros
e Descontos)
EBT = LL +
Imposto Renda
Lucro/Prejuízo
Líq.
2000
R$ 742.315.000
265.686.000
208.475.000
85.971.000
30.368.000
55.603.000
9.123.000
64.726.000 66.462.000
2001
R$ 791.001.000
274.973.000
239.213.000
70.773.000
33.613.000
37.160.000
2.126.000
39.286.000 31.565.000
2002
R$ 891.002.000
308.789.000
264.003.000
97.441.000
38.334.000
59.107.000
(6.257.000)
52.850.000 46.110.000
2003
R$ 1.049.402.000
349.661.000
286.922.000
104.996.000
47.303.000
57.693.000
34.261.000
91.954.000 80.256.000
2004
R$ 1.190.886.000
414.390.000
293.856.000
146.840.000
48.436.000
98.404.000
14.600.000
113.004.000 93.821.000
Fonte: 1909-1991; 1994-2004: Relatórios Anuais; 1992-1993: Economática
329
7.9 ANEXO 9 Número de Ações e Dividendos Distribuídos de 1909 a 2004
Ano
Moeda
Dividendos
Qtde. Ações Ano
Moeda
Dividendos Qtde. Ações Ano Moeda
Dividendos Qtde. Ações
1909
$ 0
4.000
1941
$ 1.000.000 50.000
1973
Cr$ 21.942.000
182.850.000
1910
$ 0
4.000
1942
Cr$ 1.500.000 100.000
1974
Cr$ 26.074.400
252.333.000
1911
$ 0
5.000
1943
Cr$ 6.000.000 100.000
1975
Cr$ 45.924.600
328.032.900
1912
$ 0
5.000
1944
Cr$ 6.000.000 100.000
1976
Cr$ 83.976.400
524.852.640
1913
$ 0
5.000
1945
Cr$ 2.000.000 100.000
1977
Cr$ 110.219.054
734.793.696
1914
$ 0
5.000
1946
Cr$ 2.600.000 150.000
1978
Cr$ 199.864.000
1.175.669.914
1915
$ 100.000
5.000
1947
Cr$ 12.100.000 350.000
1979
Cr$ 359.520.000
1.438.079.488
1916
$ 200.000
5.000
1948
Cr$ 9.100.000 350.000
1980
Cr$ 1.288.064.000
1.581.887.381
1917
$ 200.000
5.000
1949
Cr$ 6.600.000 350.000
1981
Cr$ 2.214.642.000
1.581.887.381
1918
$ 450.000
10.000
1950
Cr$ 12.400.000 400.000
1982
Cr$ 3.993.178.000
3.163.774.762
1919
$ 300.000
10.000
1951
Cr$ 20.400.000 600.000
1983
Cr$ 6.709.754.000
6.327.549.500
1920
$ 500.000
10.000
1952
Cr$ 13.400.000 1.000.000
1984
Cr$ 28.473.972.000
9.491.324.000
1921
$ 395.000
20.000
1953
Cr$ 36.200.000 1.000.000
1985
Cr$ 227.791.783.000
14.236.986.429
1922
$ 937.500
25.000
1954
Cr$ 55.000.000 2.000.000
1986
Cz$ 239.893.000
14.236.986.429
1923
$ 1.250.000
25.000
1955
Cr$ 60.000.000 2.500.000
1987
Cz$ 909.744.000
156.606.846
1924
$ 750.000
50.000
1956
Cr$ 66.000.000 2.750.000
1988
NCz$ 4.542.000
156.606.846
1925
$ 500.000
50.000
1957
Cr$ 77.000.000 2.750.000
1989
NCz$ 78.304.000
156.606.846
1926
$ 3.750
50.000
1958
Cr$ 65.000.000 3.250.000
1990
Cr$ 1.382.103.000
1.946.623.096
1927
$ 500.000
50.000
1959
Cr$ 73.000.000 3.650.000
1991
Cr$ 389.325.000
1.946.623.096
1928
$ 0
50.000
1960
Cr$ 132.000.000 5.500.000
1992
R$ 1.946.623.096
1929
$ 1961
Cr$ 190.000.000 9.500.000
1993
R$ 670.296
1.950.251.236
1930
$ 0
72.183
1962
Cr$ 250.000.000 12.500.000
1994
R$ 11.214.000
1.950.251.236
1931
$ 0
72.183
1963
Cr$ 400.000.000 25.000.000
1995
R$ 8.929.000
1.950.251.236
1932
$ 0
72.183
1964
Cr$ 1.040.000.000 65.000.000
1996
R$ 482.000
1.950.251.236
1933
$ 0
72.183
1965
Cr$ 1.140.000.000 19.000.000
1997
R$ 0
1.950.251.236
1934
$ 0
72.183
1966
Cr$ 2.400.000.000 24.000.000
1998
R$ 6.708.000
1.950.251.236
1935
$ 0
72.183
1967
NCr$ 3.450.000 33.000.000
1999
R$ 12.033.000
1.950.251.236
1936
$ 0
72.183
1968
NCr$ 4.651.677 45.000.000
2000
R$ 16.082.000
1.950.251.236
1937
$ 0
72.183
1969
NCr$ 8.000.000 80.000.000
2001
R$ 11.999.000
1.950.251.236
1938
$ 0
72.183
1970
Cr$ 10.600.000 106.000.000
2002
R$ 27.167.000
1.950.251.236
1939
$ 0
72.183
1971
Cr$ 13.250.000 132.500.000
2003
R$ 30.377.000
1.950.251.236
1940
$ 500.000
50.000
1972
Cr$ 15.900.000 159.000.000
2004
R$ 36.105.000
1.950.251.236
Fonte: 1909-1991; 1994-2004: Relatórios Anuais; 1992-1993: Economática.
330
7.10 ANEXO 10 Investimentos e Exportações da SPASA
Ano
Moeda
Investimentos
Exportações
Ano
Moeda
Investimentos
Exportações Ano Moeda
Investimentos Exportações
1912
$ 15.856
1943
Cr$ 8.000.000
1974
Cr$ 109.791.000
$10.563.041
1913
$ 26.942
1944
Cr$ 3.673.000
1975
Cr$ 137.770.000
$11.011.219
1914
$ 28.307
1945
Cr$ 3.290.000
1976
Cr$ 246.951.000
$24.454.230
1915
$ 29.033
1946
Cr$ 20.216.006
1977
Cr$ 397.009.000
$22.424.885
1916
$ 31.659
1947
Cr$ 19.782.991
1978
Cr$ 335.200.000
$24.886.761
1917
$ 83.901
1948
Cr$ 17.757.991
1979
Cr$ 437.000.000
$23.702.501
1918
$ 89.100
1949
Cr$ 13.997.709
1980
Cr$ 787.000.000
$29.492.946
1919
$ 129.211
1950
Cr$ 8.886.323
1981
Cr$ 889.900.000
$27.201.440
1920
$ 177.363
1951
Cr$ 32.091.615
1982
Cr$ 2.550.200.000
$14.833.853
1921
$ 125.689
1952
Cr$ 30.310.213
1983
Cr$ 10.394.000.000
$40.100.000
1922
$ 235.309
1953
Cr$ 32.596.885
1984
Cr$ 33.900.000.000
$56.700.000
1923
$ 327.625
1954
Cr$ 54.656.390
1985
Cr$ 243.300.000.000
$55.400.000
1924
$ 300.000
1955
Cr$ 23.712.534
1986
Cz$ 582.800.000
$73.200.000
1925
$ 303.627
1956
Cr$ 8.376.886
1987
Cz$ 1.705.000.000
$77.700.000
1926
$ 387.388
1957
Cr$ 42.412.010
1988
NCz$ 6.045.000
$53.800.000
1927
$ 442.134
1958
Cr$ 157.618.175
1989
NCz$ 127.571.730
$54.500.000
1928
$ 0
1959
Cr$ 269.457.125
1990
Cr$ 2.375.190.675
$34.500.000
1929
$ 1960
Cr$ 237.272.177
1991
Cr$ 4.922.500.000
$27.400.000
1930
$ 0
1961
Cr$ 218.004.975
1992
R$ $33.300.000
1931
$ 0
1962
Cr$ 390.603.317
1993
R$ $32.600.000
1932
$ 0
1963
Cr$ 303.515.542
1994
R$ $15.100.000
1933
$ 0
1964
Cr$ 581.066.641
$500.000
1995
R$ $0
1934
$ 0
1965
Cr$ 754.350.004
$1.000.000
1996
R$ 74.000.000
$0
1935
$ 0
1966
Cr$ 2.101.440.190
$630.000
1997
R$ $0
1936
$ 0
1967
NCr$ 4.917.143
1998
R$ 62.424.140
$0
1937
$ 0
1968
NCr$ 8.112.083
$671.227
1999
R$ 24.300.000
$3.476.386
1938
$ 431.278
1969
NCr$ 14.025.785
$955.514
2000
R$ 29.700.000
$6.088.875
1939
$ 264.419
1970
Cr$ 17.394.865
$1.158.384
2001
R$ 36.200.000
$10.764.664
1940
$ 92.180
1971
Cr$ 24.663.000
$1.193.363
2002
R$ 25.700.000
$13.727.904
1941
$ 0
1972
Cr$ 14.786.588
$2.661.749
2003
R$ 20.700.000
$13.639.669
1942
$ 2.000.000
1973
Cr$ 61.722.574
$9.585.153
2004
R$ 25.000.000
$24.427.596
Fonte: 1912-1991; 1994-2004: Relatórios Anuais; 1992-1993: Economática
Obs1.: Os valores dos investimentos de 1985 a 1990 foram divulgados em dólar. O resultado apresentado é fruto da conversão para moeda corrente.
Obs2.: Os valores das exportações de 1999 a 2004 foram divulgados em termos de percentual do faturamento. Os dados foram convertidos para dólar.
331
7.11 ANEXO 11 Evolução do Consumo Industrial de Fibras e Filamentos no Brasil (1000 tons)
ANO FIBRAS NATURAIS FIBRAS ARTIFICIAIS FIBRAS SINTÉTICAS TOTAL
Algodão
Linho/Ramí
Seda (Fio) Juta TOTAL Viscose
Acetato
TOTAL
Poliamida
Poliéster Acrílico
Polipropileno TOTAL
1958
244,7
(1) (1) (1) (1) 244,7
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 244,7
1959
252,7
(1) (1) (1) (1) 252,7
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 252,7
1960
260,0
(1) (1) (1) (1) 260,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 260,0
1961
299,0
(1) (1) (1) (1) 299,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 299,0
1962
313,0
(1) (1) (1) (1) 313,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 313,0
1963
306,0
(1) (1) (1) (1) 306,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 306,0
1964
283,0
(1) (1) (1) (1) 283,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 283,0
1965
270,0
(1) (1) (1) (1) 270,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 270,0
1966
274,0
(1) (1) (1) (1) 274,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 274,0
1967
264,0
(1) (1) (1) (1) 264,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 264,0
1968
300,0
(1) (1) (1) (1) 300,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 300,0
1969
280,0
(1) (1) (1) (1) 280,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 280,0
1970
291,3
13,8
23,0 0,10 76,7 404,9 42,0 8,6
50,6
28,7 22,5 8,7
1,6
61,5
517,0
1971
296,1
15,6
24,0 0,10 62,7 398,5 49,2 8,7
57,9
30,9 37,2 10,1
2,7
80,9
537,3
1972
325,0
15,2
25,7 0,10 79,4 445,4 43,8 8,7
52,5
39,1 48,6 14,7
4,0
106,4
604,3
1973
379,3
13,0
21,1 0,10 106,0 519,5 51,3 9,5 6
0,8
46,8 63,8 18,2
13,1
141,9
722,2
1974
397,0
11,0
20,0 0,10 94,8 522,9 52,4 8,9
61,3
57,6 74,4 21,1
14,8
167,9
752,1
1975
420,0
8,9
18,5 0,10 107,7 555,2 42,3 6,6
48,9
60,6 67,6 15,9
20,2
164,3
768,4
1976
467,5
14,5
15,5 0,12 96,1 593,7 47,1 6,6
53,7
68,7 85,3 20,3
23,3
197,6
845,0
1977
452,6
11,1
13,5 0,26 85,3 562,8 43,2 6,3
49,5
75,9 87,2 18,8
33,0
214,9
827,2
1978
510,0
13,7
8,9 0,30 75,0 607,9 41,1 4,3
45,4
74,0 91,9 18,4
40,5
224,8
878,1
1979
552,5
16,6
15,8 0,43 97,5 682,8 45,3 3,3
48,6
82,7 111,1 26,0
(1)
219,8
951,2
1980
572,4
18,4
18,3 0,44 109,7 719,2 44,2 4,6
48,8
90,8 121,1 28,5
(1)
240,4
1.008,4
1981
561,9
16,3
14,1 0,36 94,0 686,7 39,1 3,0
42,1
70,0 89,7 23,4
(1)
183,1
911,9
1982
580,6
17,5
9,1 0,49 85,9 693,6 39,1 2,3
41,4
69,9 100,2 23,1
(1)
193,2
928,2
1983
556,7
13,2
10,0 0,30 62,9 643,1 30,0 1,7
31,7
61,1 89,4 18,9
(1)
169,4
844,2
1984
555,2
14,7
13,3 0,24 78,6 662,0 34,3 1,9
36,2
55,9 90,3 17,5
(1)
163,7
861,9
1985
631,4
14,2
13,6 0,35 88,5 748,1 35,5 2,3
37,8
62,0 107,2 23,5
(1)
192,7
978,6
1986
736,5
13,4
13,2 0,51 88,7 852,3 40,1 2,4
42,5
85,5 126,1 26,5
(1)
238,1
1.132,9
1987
774,7
14,7
19,3 0,53 98,9 908,1 41,0 1,9
42,9
81,0 136,6 27,8
74,3
319,7
1.270,7
1988
838,0
14,2
21,4 0,49 69,0 943,1 39,2 2,9
42,1
70,8 119,2 27,2
7
8,0
295,2
1.280,4
1989
810,0
17,9
12,5 0,48 43,0 883,9 45,4 2,3
47,7
73,6 132,5 30,2
70,7
307,0
1.238,6
1990
730,0
18
,0
16,4 0,33 29,7 794,4 38,4 3,4
41,8
65,6 112,6 20,4
73,0
271,6
1.107,8
1991
718,1
17,4
18,4 0,30 25,3 779,5 41,6 3,6
45,2
69,6 128,5 29,3
87,6
315,0
1.139,7
1992
741,6
13,2
18,4 0,19 30,1 803,5 38,3 2,8
41,1
60,3 135,4 19,9
77,4
293,0
1.137,6
332
ANEXO 11 (Cont.) Evolução do Consumo Industrial de Fibras e Filamentos no Brasil (1000 tons)
ANO FIBRAS NATURAIS FIBRAS ARTIFICIAIS FIBRAS SINTÉTICAS TOTAL
Algodão
Linho/Ramí
Seda (Fio) Juta TOTAL Viscose
Acetato
TOTAL
Poliamida
Poliéster Acrílico
Polipropileno TOTAL
1993
829,5
13,0
19,1 0,25 29,5 891,4 49,5 4,5
54,0
75,6 160,8 25,1
86,3
347,8
1.293,2
1994
836,6
12,5
12,4 0,15 26,9 888,6 51,7 5,3
57,0
78,3 179,4 27,4
104,5
389,6
1.335,2
1995
803,7
8,2
12,1 0,13 19,9 844,0 44,7 7,2
51,9
99,1 186,5 26,5
111,9
424,0
1.319,9
1996
829,1
7,8
10,6 0,11 14,6 862,2 27,2 7,6
34,8
107,3 186,6 26,9
107,1
427,9
1.324,9
1997
798,7
9,8
9,2 0,06 23,0 840,8 30,5 2,9
33,4
101,1 229,6 31,6
109,0
471,3
1.345,5
1998
782,9
4,1
4,4 0,06 15,6 807,1 27,0 2,4 29,
4
94,5 224,1 29,4
110,0
458,0
1.294,5
1999
849,5
2,3
5,7 0,07 13,0 870,6 30,8 1,9
32,7
100,5 277,5 38,6
114,3
530,9
1.434,2
2000
974,5
8,3
2,4 0,11 20,7 1.006,0 30,1 1,5
31,6
101,5 314,6 53,3
122,1
591,5
1.629,1
2001
872,7
6,4
1,6 0,11 19,3 900,1 24,3 1,0
25,3
83,3 304,9 47,7
123,7
559,6
1.484,9
2002
805,0
(1) (1) (1) (1) 805,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 805,0
2003
770,0
(1) (1) (1) (1) 770,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 770,0
2004
880,0
(1) (1) (1) (1) 880,0
(1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 880,0
Fonte: 1958-1960: Conjuntura Econômica (mai. 1970); 1961-1969: BRASIL EM EXAME (set. 1970); 1970-2001: ABIT/FEBRALÃ/ABRASEDA/ABRAFAS/AFIPOL; 2002-
2004:
CONAB
Nota: (1) Informações Indisponíveis
333
7.12 ANEXO 12 Evolução da Produção Industrial de Fibras e Filamentos no Brasil (1000 tons)
ANO FIBRAS NATURAIS FIBRAS ARTIFICIAIS FIBRAS SINTÉTICAS TOTAL
Algodão
(1) Lã (2) Ramí (3) Seda (fio) (4)
Juta (5) TOTAL
Viscose
(b)
Acetato
(a) TOTAL
Poliamida
(b)
Poliéster
(b) Acrílico
Polipropileno
TOTAL
1920 99,7
(c) (c) (c) (c) 99,7
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 99,7
1921 107,8
(c) (c) (c) (c) 107,8 (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 107,8
1922 105,0
(c) (c) (c) (c) 105,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 105,0
1923 108,5
(c) (c) (c) (c) 108,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 108,5
1924 155,1
(c) (c) (c) (c) 155,1
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 155,1
1925 142,3
(c) (c) (c) (c) 142,3
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 142,3
1926 117,9
(c) (c) (c) (c) 117,9
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 117,9
1927 107,6
(c) (c) (c) (c) 107,6
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 107,6
1928 102,8
(c) (c) (c) (c) 102,8
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 102,8
1929 124,8
(c) (c) (c) (c) 124,8
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 124,8
1930 95,5
(c) (c) (c) (c) 95,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 95,5
1931 112,8
(c) (c) (c) (c) 112,8
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 112,8
1932 76,4
(c) (c) (c) (c) 76,4
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 76,4
1933 151,3
(c) (c) (c) (c) 151,3
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 151,3
1934 284,6
(c) (c) (c) (c) 284,6
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 284,6
1935 297,3
(c) (c) (c) (c) 297,3
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 297,3
1936 351,5
(c) (c) (c) (c) 351,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 351,5
1937 405,0
(c) (c) (c) (c) 405,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 405,0
1938 436,6
(c) (c) (c) (c) 436,6
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 436,6
1939 428,5
(c) (c) (c) (c) 428,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 428,5
1940 468,7
(c) (c) (c) (c) 468,7
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 468,7
1941 503,0
(c) (c) (c) (c) 503,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 503,0
1942 377,0
(c) (c) (c) (c) 377,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 377,0
1943 496,3
(c) (c) (c) (c) 496,3
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 496,3
1944 592,4
(c) (c) (c) (c) 592,4
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 592,4
1945 378,5
(c) (c) (c) (c) 378,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 378,5
1946 377,8
(c) (c) (c) (c) 377,8
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 377,8
1947 346,7
(c) (c) (c) (c) 346,7
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 346,7
1948 319,6
(c) (c) (c) (c) 319,6
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 319,6
1949 396,0
(c) (c) (c) (c) 396,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 396,0
1950 393,0
(c) (c) (c) (c) 393,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 393,0
1951 348,8
(c) (c) (c) (c) 348,8
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 348,8
1952 515,4
(c) (c) (c) (c) 515,4
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 515,4
1953 374,9
(c) (c) (c) (c) 374,9
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 374,9
334
ANEXO 12 (Cont.) Evolução da Produção Industrial de Fibras e Filamentos no Brasil (1000 tons)
ANO FIBRAS NATURAIS FIBRAS ARTIFICIAIS FIBRAS SINTÉTICAS TOTAL
Algodão
(1) Lã (2) Ramí (3) Seda (fio) (4)
Juta (5) TOTAL
Viscose
(b)
Acetato
(a) TOTAL
Poliamida
(b)
Poliéster
(b) Acrílico
Polipropileno
TOTAL
1954 395,2
(c) (c) (c) (c) 395,2
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 395,2
1955 428,5
(c) (c) (c) (c) 428,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 428,5
1956 399,6
(c) (c) (c) (c) 399,6
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 399,6
1957 397,0
(c) (c) (c) (c) 397,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 397,0
1958 381,0
(c) (c) (c) (c) 381,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 381,0
1959 350,0
(c) (c) (c) (c) 350,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 350,0
1960 397,0
(c) (c) (c) (c) 397,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 397,0
1961 431,0
(c) (c) (c) (c) 431,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 431,0
1962 550,0
(c) (c) (c) (c) 550,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 550,0
1963 490,0
(c) (c) (c) (c) 490,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 490,0
1964 504,0
(c) (c) (c) (c) 504,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 504,0
1965 450,0
(c) (c) (c) (c) 450,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 450,0
1966 540,0
(c) (c) (c) (c) 540,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 540,0
1967 445,0
(c) (c) (c) (c) 445,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 445,0
1968 617,0
(c) (c) (c) (c) 617,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 617,0
1969 721,0
(c) (c) (c) (c) 721,0
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) 721,0
1970 580,0
31,7
29,5
0,3
71,0
712,5
39,6
8,3
47,9
24,5 16,6
2,9
1,6
45,6
806,0
1971
595,0
31,5
30,0
0,3
59,8
716,6
45,1
8,1
53,2
27,4 20,9
4,1
2,7
55,1
824,9
1972
680,0
33,5
30,0
0,4
75,1
819,0
45,9
8,6
54,5
33,6 33,1
6,5
4,0
77,2
950,7
1973
651,0
34,2
27,5
0,5
91,8
805,0
50,5
8,8
59,3
40,0 53,9
9,2
13,1
116,2
980,5
1974
535,4
34,8
27,0
0,7
66,8
664,7
45,6
8,1
53,7
43,0 61,5
11,1
14,8
130,4
848,8
1975 533,0
29,1
24,0
1,2
92,9
680,2
42,8
6,4
49,2
49,8 63,6
12,2
20,2
145,8
875,2
1976 400,0
30,6
18,5
1,2
99,4
549,7
47,5
6,2
53,7
56,6 83,0
15,2
23,3
178,1
781,5
1977 590,0
30,2
14,0
1,1
92,1
727,4
44,7
5,8
50,5
60,4 83,4
14,0
33,0
190,8
968,7
1978 489,0
28,7
7,2
1,1
77,3
603,3
42,6
3,9
46,5
68,3 93,1
16,4
40,4
218,2
868,0
1979 544,0
30,6
9,0
1,2
80,0
664,8
46,9
3,0
49,9
78,6 112,0
20,8
(c) 211,4
926,1
1980 572,0
32,2
17,3
1,3
77,8
700,6
47,6
3,8
51,4
87,0 119,6
22,5
(c) 229,1
981,1
1981 594,0
32,6
10,3
1,3
97,1
735,3
43,7
2,6
46,3
69,0 110,4
20,2
(c) 199,6
981,2
1982 680,0
30,0
9,7
1,3
59,0
780,0
43,0
2,0
45,0
68,9 105,6
21,8
(c) 196,3
1.021,3
1983 586,0
30,6
9,6
1,4
61,3
688,9
38,8
1,6
40,4
60,5 102,6
20,0
(c) 183,1
912,4
1984 674,0
29,8
9,6
1,5
72,8
787,7
47,4
1,7
49,1
56,4 124,9
21,0
(c) 202,3
1.039,1
1985 968,0
29,1
10,0
1,6
62,3
1.071,0
45,5
1,1
46,6
60,6 119,9
23,5
(c) 204,0
1.321,6
1986 793,0
30,5
7,0
1,6
63,1
895,2
50,4
- 50,4
82,9 129,5
26,8
(c) 239,2
1.184,8
1987 633,0
31,0
15,5
1,6
65,6
746,7
48,0
- 48,0
79,3 140,7
27,5
74,5
322,0
1.116,7
1988 864,0
31,0
18,0
1,8
69,0
983,8
51,5
- 51,5
70,4 139,0
29,8
78,7
317,9
1.353,2
335
ANEXO 12 (Cont.) Evolução da Produção Industrial de Fibras e Filamentos no Brasil (1000 tons)
ANO FIBRAS NATURAIS FIBRAS ARTIFICIAIS FIBRAS SINTÉTICAS TOTAL
Algodão
(1) Lã (2) Ramí (3) Seda (fio) (4)
Juta (5) TOTAL
Viscose
(b)
Acetato
(a) TOTAL
Poliamida
(b)
Poliéster
(b) Acrílico
Polipropileno
TOTAL
1989 709,3
27,2
9,2
1,7
40,0
787,4
55,1
- 55,1
71,7 144,7
29,5
71,9
317,8
1.160,3
1990 665,7
29,1
10,2
1,7
22,0
728,7
54,7
- 54,7
63,3 117,5
26,6
73,4
280,8
1.064,2
1991 716,9
29,3
8,0
2,1
15,0
771,3
52,9
- 52,9
63,1 124,2
31,3
86,1
304,7
1.128,9
1992 667,1
27,7
7,0
2,3
22,7
726,8
54,2
- 54,2
53,1 137,1
28,0
76,6
294,8
1.075,8
1993 420,0
25,6
7,1
2,3
20,8
475,8
56,8
- 56,8
67,5 143,3
23,6
88,4
322,8
855,4
1994 483,1
26,0
4,0
2,5
18,5
534,1
58,6
- 58,6
70,5 146,2
25,8
103,6
346,1
938,8
1995 537,1
25,0
3,5
2,5
10,4
578,5
53,1
- 53,1
73,1 131,4
21,0
109,8
335,3
966,9
1996 410,1
25,0
5,0
2,3
12,0
454,4
34,3
- 34,3
71,9 136,2
19,2
105,7
333,0
821,7
1997 305,8
24,0
3,6
2,1
11,7
347,2
36,5
- 36,5
72,0 153,1
21,0
104,6
350,7
734,4
1998 411,5
14,4
1,9
1,8
10,1
439,7
29,1
- 29,1
74,1 162,7
23,6
106,4
366,8
835,6
1999 520,6
8,7
1,1
1,6
7,5
539,5
34,6
- 34,6
83,1 185,7
28,7
114,0
411,5
985,6
2000 700,3
14,0
1,0
1,4
8,6
725,3
36,4
- 36,4
80,5 228,5
36,0
122,1
467,1
1.228,8
2001 938,8
12,0
1,1
1,5
8,3
961,7
28,5
- 28,5
67,6 216,0
31,1
123,7
438,3
1.428,5
2002 766,2
(c) (c) (c) (c)
766,2
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c)
766,2
2003 847,5
(c) (c) (c) (c)
847,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c)
847,5
2004 1.271,5
(c) (c) (c) (c)
1.271,5
(c) (c) (c) (c) (c) (c) (c) (c)
1.271,5
Fonte: (1) 1920-1956: IBGE; 1957-1969: Conjuntura Econômica (mai. 1970); 1970-2004: CONAB; (2) FEBRALÃ; (3) SEAB/DERAL-
I.B.G.E.; (4) ABRASEDA; (5) CONAB; (6)
ABRAFAS-AFIPOL
Notas.: (a) Exceto para filtros de cigarros; (b) Incluindo filamentos industriais contínuos de alta tenacidade. Exceto elastômero; () Informações indisponíveis
336
7.13 ANEXO 13 Número de Fiações por Região, Exclusivas e Integradas
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste Total Exclusivas Integradas
1991
12
198
747
166
0
1.123
274
849
1992
11
187
632
160
1
991
248
743
1993
12
178
608
156
1
955
253
702
1994
12
180
586
161
2
941
257
684
1995
6
102
475
76
2
661
143
518
1996
6
93
445
71
2
617
143
474
1997
5
88
386
69
2
550
153
397
1998
5
58
322
40
2
427
132
295
1999
5
56
285
41
2
389
126
263
2000
5
62
252
39
2
360
91
269
2001
4
63
250
41
2
360
87
273
Fonte: IEMI
337
7.14 ANEXO 14 Número de Empregados em Fiação por Região e Função
Mão-de -Obra/Ano 1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Norte 3.339
2.511
2.019
1.981
1.664
1.585
1.348
1.252
1.215
998
984
Direta 2.850
2.143
1.712
1.666
1.393
1.328
1.136
1.036
985
784
773
Indireta 385
270
206
196
168
160
138
141
140
131
129
Administrativa 76
69
72
84
73
69
48
46
50
46
45
Vendas 28
29
29
35
30
28
26
29
40
37
37
Nordeste 28.539
25.885
25.005
25.380
23.399
20.142
19.451
13.868
19.874
20.563
20.273
Direta 23.510
21.412
20.788
21.023
19.305
16.619
16.075
11.623
17.130
17.750
17.495
Indireta 3.485
2.976
2.746
2.713
2.557
2.201
2.121
1.389
1.456
1.502
1.480
Administrativa 642
587
573
654
614
528
493
330
448
459
452
Vendas 902
910
898
990
923
794
762
526
840
852
846
Sudeste 157.433
101.058
95.122
97.325
83.969
74.957
63.538
57.064
58.457
60.861
60.010
Direta 131.407
82.404
77.023
78.683
67.560
60.305
50.746
46.003
48.960
50.851
50.121
Indireta 16.804
10.782
10.179
10.157
8.943
7.984
6.871
5.630
4.688
4.839
4.770
Administrativa 4.209
3.427
3.443
3.728
3.277
2.927
2.575
2.400
2.045
2.150
2.119
Vendas 5.013
4.445
4.477
4.757
4.189
3.741
3.346
3.031
2.764
3.021
3.000
Sul 47.753
29.272
24.026
26.778
23.268
20.654
20.389
12.827
9.000
9.125
9.001
Direta 41.296
24.627
19.963
22.259
19.227
17.082
16.907
10.796
6.109
6.110
6.022
Indireta 4.210
2.465
1.877
2.002
1.793
1.583
1.547
886
1.456
1.552
1.530
Administrativa 1.080
1.006
1.010
1.170
1.038
921
872
509
574
584
576
Vendas 1.167
1.174
1.176
1.347
1.210
1.068
1.063
636
861
879
873
C. Oeste 0
85
79
180
197
189
215
235
250
312
308
Direta 0
75
69
161
178
170
185
203
206
248
244
Indireta 0
3
3
7
7
7
10
10
12
19
19
Administrativa 0
2
2
4
4
4
8
7
8
15
15
Vendas 0
5
5
8
8
8
12
15
24
30
30
Total 237.064
158.811
146.251
151.644
132.497
117.527
104.941
85.246
88.796
91.859
90.576
Direta 199.063
130.661
119.555
123.792
107.663
95.504
85.049
69.661
73.390
75.743
74.655
Indireta 24.884
16.496
15.011
15.075
13.468
11.935
10.687
8.056
7.752
8.043
7.928
Administrativa 6.007
5.091
5.100
5.640
5.006
4.449
3.996
3.292
3.125
3.254
3.207
Vendas 7.110
6.563
6.585
7.137
6.360
5.639
5.209
4.237
4.529
4.819
4.786
Fonte: IEMI
338
7.15 ANEXO 15 Produção de Fiação por Natureza das Fibras (em toneladas)
Ano Algodão Juta Linho Ramí Sisal Seda Viscose
Náilon
Acrílico Poliéster Poliprop. Resíduos Outros Total
1989 1.032.000
67.000
26.000
4.000
29.000
62.000
67.000
(c)
149.000
1.436.000
1990 906.000
24.000
3.000
28.000
55.000
69.000
(c)
140.000
1.225.000
1991 890.801
60.332
7.085
10.462
13.050
1.670
5.205
30.203
2.197
27.194
62.973
5.549
8.709
(c)
1.125.431
1992 997.665
55.308
8.680
14.262
13.763
1.091
3.804
26.882
2.149
33.242
72.736
3.782
9.650
(c)
1.243.014
1993 1.030.346
49.746
9.798
13.126
12.745
1.399
5.054
29.183
2.592
36.984
105.343
3.388
8.702
(c)
1.308.407
1994 1.012.005
44.579
10.261
15.697
12.390
1.401
6.011
29.397
2.945
35.792
92.082
1.946
9.209
(c)
1.273.715
1995 849.073
32.501
4.790
13.786
11.470
1.319
5.942
25.273
2.773
32.385
83.067
2.670
6.865
(c)
1.071.914
1996 851.774
38.004
4.066
12.171
10.858
1.104
5.607
13.462
2.179
30.249
82.204
2.514
6.763
(c)
1.060.957
1997 757.174
19.001
5.253
11.715
13.974
991
7.022
20.036
2.537
38.216
93.026
1.541
6.986
(c)
977.472
1998 870.740
17.760
3.295
12.665
8.732
962
6.107
18.715
1.494
31.298
88.132
1.595
7.152
(c)
1.068.648
1999 988.168
10.271
3.809
14.349
9.451
3.486
9.455
21.485
2.203
37.201
92.342
9.029
8.637
(c)
1.209.887
2000 1.194.568
7.231
3.327
7.248
13.556
3.657
11.427
18.976
2.584
48.237
122.725
11.599
9.714
(c)
1.454.849
2001 1.052.227
8.469
3.092
7.552
15.483
4.013
9.531
17.734
3.380
46.867
119.064
13.877
8.821
(c)
1.310.110
Fonte: IEMI
Nota: (c) Informação Indisponível
339
7.16 ANEXO 16 Idade do Parque Industrial de Fiação (em anos)
Máquinas/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Abridor de fardo
Número 2.146
2.238
2.347
2.398
2.395
2.204
1.891
1.830
1.771
1.714
1.732
Idade Média 12,39
12,02
11,56
11,08
11,15
9,12
8,70
9,22
9,70
10,16
11,00
Alimentador
Automático
Número 1.086
1.170
1.267
1.285
1.143
1.017
894
898
903
908
930
Idade Média 5,43
5,85
6,22
6,95
7,09
6,83
7,00
7,68
8,32
8,93
9,67
Amaciadeira
Número 326
378
385
292
261
213
163
167
171
175
177
Idade Média 9,14
8,58
8,94
6,52
6,53
5,22
4,86
5,51
6,13
6,71
7,46
Batedor
Número 1.432
1.508
1.605
1.625
1.647
1.569
1.388
1.311
1.239
1.221
1.237
Idade Média 11,98
11,97
10,80
10,22
9,80
8,50
8,45
8,26
8,10
8,31
9,11
Binadeira
Número 893
919
930
929
918
818
715
631
564
577
585
Idade Média 11,01
11,31
11,77
12,33
13,01
11,45
10,91
8,84
7,54
7,93
8,74
Bobinadeira
Número 9.264
9.527
9.533
9.557
9.428
8.102
6.765
5.985
5.307
5.287
5.363
Idade Média 12,85
13,05
13,50
13,88
14,44
11,67
10,48
10,16
9,91
10,34
11,18
Carda
Número 10.424
10.546
10.551
10.571
10.431
9.466
8.329
7.495
6.778
6.786
6.817
Idade Média 14,78
15,17
15,53
15,83
16,34
13,96
13,10
12,25
11,57
12,04
12,97
Converter
Número 256
244
238
224
209
189
168
163
158
157
157
Idade Média 12,45
12,59
12,46
12,75
12,90
12,24
11,84
12,36
12,85
13,29
13,83
Filatório à Rotor
Número 1.105
1.291
1.556
1.636
1.607
1.687
1.648
1.663
1.678
1.690
1.703
Rotores 175.461
203.186
245.266
255.718
249.637
257.694
252.249
254.374
292.284
294.373
296.533
Idade Média 8,06
7,61
6,98
7,39
7,69
7,91
8,71
9,41
10,09
10,72
11,32
Filatório à Anel
Número 29.168
29.731
30.091
29.269
27.259
26.677
25.186
23.484
21.910
20.236
18.576
Fusos 9.197.133
9.404.589
9.204.508
8.574.327
7.714.509
7.300.335
6.378.498
6.242.903
5.523.233
5.028.816
4.621.254
Idade Média 17,16
17,22
17,50
15,98
15,25
14,23
14,35
14,25
14,17
13,96
13,69
Frotteur
Número 25
27
31
30
24
20
16
16
16
17
18
Idade Média 9,76
10,00
5,24
3,60
3,18
3,45
3,74
4,74
5,74
6,37
6,97
Intersecting
Número 916
849
833
827
800
647
496
481
482
484
Idade Média 16,97
16,71
16,62
16,27
16,31
12,85
10,67
11,36
12,04
12,57
13,42
Laminadeira
Número 485
506
527
600
547
515
446
417
392
393
396
340
Máquinas/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Idade Média 9,34
8,57
7,47
6,22
6,08
5,80
5,95
5,51
5,26
5,94
6,80
Leviathan
Número 12
11
10
8
5
4
3
3
3
4
5
Idade Média 19,84
19,13
10,76
6,69
4,34
4,50
4,33
5,33
6,33
5,63
5,40
Limpador
Número 198
202
202
190
172
165
147
128
111
143
163
Idade Média 9,59
9,01
8,88
8,29
7,87
7,19
7,34
3,74
2,62
2,92
3,50
Maçaroqueira
Número 3.476
3.567
3.568
3.339
3.008
2.932
2.740
2.548
2.370
2.341
2.359
Idade Média 12,22
12,64
13,01
12,66
12,06
11,32
11,51
10,90
10,37
10,84
11,73
Misturador
Número 151
160
205
233
211
205
189
177
166
179
181
Idade Média 11,41
11,74
9,16
8,24
7,65
7,37
7,68
7,05
6,67
6,79
7,49
Passadeira
Número 7.563
7.650
7.602
6.371
5.985
5.438
4.730
4.254
3.829
3.836
3.842
Idade Média 12,99
13,44
13,77
11,47
11,52
9,92
9,51
9,27
9,07
9,85
10,83
Penteadeira
Número 8.391
8.456
8.396
7.933
7.773
7.951
7.839
7.306
6.811
6.809
6.816
Idade Média 13,30
13,62
14,06
13,18
13,79
13,98
14,73
14,36
14,02
14,78
15,76
Reunideira
Número 989
994
995
1.002
852
837
778
718
662
670
678
Idade Média 14,98
14,66
12,95
10,54
9,23
8,75
9,10
8,88
8,72
9,35
10,20
Idade Média
13,13
13,25
13,42
12,70
12,51
11,06
10,77
10,54
10,39
10,44
10,67
Fonte: IEMI
Idade Média: Elaboração do Autor
341
7.17 ANEXO 17 Número de Tecelagens por Região, Exclusivas e
Integradas
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste Total Exclusivas Integradas
1991 9
304
932
193
12
1.450
206
1.244
1992 10
268
874
106
10
1.268
239
1.029
1993 11
247
813
106
9
1.186
247
939
1994 11
219
741
101
10
1.082
223
859
1995 10
199
674
92
9
984
205
779
1996 10
159
584
72
9
834
198
636
1997 8
129
463
70
12
682
188
494
1998 7
103
348
53
10
521
175
346
1999 7
106
262
52
12
439
165
274
2000 8
112
248
52
14
434
170
264
2001 8
110
242
51
14
425
165
260
Fonte: IEMI
342
7.18 ANEXO 18 Número de Empregados em Tecelagens por Região e
Função (Nº Empregos)
Mão de Obra/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Norte 4.577
3.127
2.668
2.497
1.967
1.875
1.405
1.192
1.296
1.445
1.443
Direta 2.263
1727
1.430
1.099
847
799
598
518
670
709
711
Indireta 1.062
598
516
594
446
421
330
276
253
298
295
Administrativa 1.087
653
618
688
528
510
392
326
296
343
341
Vendas 165
149
104
116
146
145
85
72
77
95
96
Nordeste 36.404
32.479
29.204
27.033
20.047
19.171
15.775
13.687
15.937
17.446
17.248
Direta 14.418
15700
13.568
11.642
8.153
7.690
6.023
5.369
7.347
8.135
8.103
Indireta 9.163
6736
6.099
6.062
4.129
3.895
3.129
2.597
2.872
3.099
3.031
Administrativa 9.899
7394
6.635
6.548
4.569
4.412
3.509
3.018
3.060
3.266
3.189
Vendas 2.924
2649
2.902
2.780
3.195
3.174
3.114
2.703
2.658
2.946
2.925
Sudeste 215.132
160.882
139.927
149.971
114.285
109.565
81.972
70.271
58.086
57.184
56.107
Direta 68.792
71354
56.875
63.881
44.834
42.294
32.053
26.481
22.676
22.567
22.258
Indireta 48.979
31821
29.138
30.823
21.118
19.921
15.440
12.060
9.466
9.216
9.003
Administrativa 74.723
40561
35.286
33.759
23.623
22.809
17.844
12.445
9.455
9.036
8.820
Vendas 22.638
17146
18.628
21.508
24.710
24.541
16.635
19.285
16.489
16.365
16.026
Sul 69.151
41.797
36.481
30.939
24.082
23.179
20.743
17.673
18.093
18.801
18.637
Direta 31.011
21434
16.374
10.442
7.325
6.910
5.321
4.564
5.635
5.967
5.933
Indireta 12.879
6487
5.580
5.884
4.027
3.799
2.945
2.498
2.140
2.196
2.166
Administrativa 17.053
8462
8.908
8.990
6.281
6.065
4.786
3.998
3.914
3.938
3.887
Vendas 8.208
5414
5.619
5.623
6.449
6.405
7.691
6.613
6.404
6.700
6.651
C.Oeste 2.637
1.615
1.233
2.620
1.889
1.801
3.265
2.814
3.499
4.312
4.258
Direta 849
750
266
1.408
976
921
856
752
1.074
1.319
1.345
Indireta 603
304
385
492
333
314
312
255
301
360
359
Administrativa 828
385
432
534
369
357
334
285
334
402
396
Vendas 357
176
150
186
211
209
1.763
1.522
1.790
2.231
2.158
Total 327.901
239.900
209.513
213.059
162.270
155.590
123.160
105.637
96.911
99.188
97.693
Direta 117.333
110.965
88.513
88.472
62.136
58.614
44.851
37.684
37.402
38.697
38.350
Indireta 72.686
45.946
41.718
43.855
30.053
28.350
22.156
17.686
15.032
15.169
14.854
Administrativa 103.590
57.455
51.879
50.520
35.371
34.152
26.865
20.072
17.059
16.985
16.633
Vendas 34.292
25.534
27.403
30.212
34.710
34.473
29.288
30.195
27.418
28.337
27.856
Fonte: IEMI
343
7.19 ANEXO 19 Produção de Tecidos segundo a Natureza das Fibras (em toneladas)
Ano Algodão Juta Côco Linho Ramí Sisal Seda Vidro Acetato Viscose Náilon Acrílico Poliéster Polipropileno
Total
1991 555.786
55.843
7.381
6.937
8.849
3.998
1.347
699
256
2.942
22.723
9.899
12.085
65.359
87.436
841.540
1992 648.261
50.041
7.621
8.217
12.946
4.141
865
1.035
284
2.982
17.550
11.401
9.780
66.953
89.766
931.843
1993 671.775
48.287
8.123
9.017
13.272
3.815
1.204
1.116
378
4.365
29.341
16.098
10.072
79.907
87.074
983.844
1994 688.808
43.301
8.405
9.358
14.687
3.851
1.233
1.165
396
4.176
33.453
16.592
9.474
88.318
93.013
1.016.230
1995 566.772
34.837
8.039
4.488
13.220
3.751
1.102
1.008
409
5.483
18.346
12.887
9.691
119.042
84.078
883.153
1996 582.103
35.575
8.174
3.861
11.375
3.654
1.125
1.030
415
7.101
6.560
12.650
9.687
102.062
81.943
867.315
1997 508.130
21.531
8.459
5.233
10.982
10.555
866
1.871
472
2.504
6.143
8.438
13.991
136.689
52.580
788.444
1998 545.795
18.476
9.109
3.236
11.136
5.205
930
1.331
483
2.668
6.598
7.973
12.514
128.986
67.788
822.228
1999 563.004
8.453
9.291
3.116
10.473
4.720
2.762
1.537
502
3.799
6.571
9.578
10.462
119.382
85.877
839.527
2000 726.079
9.682
11.250
3.870
13.109
6.863
3.310
1.918
536
4.806
8.311
12.115
13.234
151.005
124.622
1.090.710
2001 774.196
10.222
10.853
2.999
7.227
15.464
2.679
1.372
698
232
1.471
12.449
19.423
248.986
120.122
1.228.393
Fonte: IEMI
344
7.20 ANEXO 20 Idade do Parque Industrial de Tecelagem (em anos)
Máquinas/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Atadora de
Urdume
Número 999
1.074
1.157
1.252
1.356
1.474
1.592
1.613
1.630
1.714
1.734
Idade Média 13,18
12,21
11,08
9,94
9,01
8,21
7,62
7,72
7,88
8,23
9,06
Bobinadeira
Número 1.623
1.644
1.675
1.711
1.749
1.794
1.840
1.837
1.834
1.835
1.832
Idade Média 13,50
13,34
13,02
12,66
12,33
11,98
11,67
12,10
12,55
13,15
13,87
Engomadeira
Número 1.000
1.036
1.083
1.139
1.199
1.265
1.330
1.395
1.465
1.468
1.462
Idade Média 12,79
11,25
9,75
8,54
7,61
6,81
6,22
6,85
7,43
7,58
7,85
Espuladeira
Número 13.345
12.976
12.508
11.813
11.157
10.486
9.814
9.127
8.531
8.388
6.724
Idade Média 20,13
19,78
19,28
18,64
18,06
17,44
16,95
16,63
16,46
17,10
14,1
Remetedora
Número 395
414
438
466
497
534
570
600
638
644
667
Idade Média 14,09
12,08
10,07
8,62
7,52
6,65
6,04
6,26
6,40
6,88
7,18
Tear Jato de Água
Número 58
66
74
87
103
129
156
218
254
307
365
Idade Média 2,97
3,55
4,11
4,43
4,67
4,61
4,74
4,16
4,44
4,58
4,71
Tear Jato de Ar
Número 1.860
2.709
3.686
4.140
4.651
5.251
5.851
6.172
6.526
6.609
6.880
Idade Média 5,23
4,43
4,11
4,59
5,02
5,37
5,75
6,37
6,94
7,65
8,14
Tear-Lançadeira
Número 138.939
136.078
132.996
129.584
126.260
122.408
118.556
113.430
107.692
101.738
78.527
Idade Média 24,58
25,04
25,45
25,78
26,10
26,28
26,44
26,29
25,94
25,47
19,24
Tear-Manual
Número 727
728
731
737
743
749
755
781
806
834
842
Idade Média 36,36
36,12
35,79
35,05
34,34
33,63
32,97
30,76
28,90
26,99
24,22
Tear-Pinça
345
Máquinas/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Número 18.111
19.337
20.236
21.040
21.877
22.814
23.751
24.715
25.684
25.892
25.435
Idade Média 11,94
12,13
12,33
12,56
12,77
12,92
13,09
13,06
13,03
13,32
13,77
Tear-Projétil
Número 4.246
4.380
4.528
4.678
4.833
5.002
5.172
5.292
5.420
5.583
5.690
Idade Média 11,09
11,72
12,29
12,82
13,33
13,79
14,25
14,80
15,32
15,78
16,11
Urdideira
Número 7.696
8.327
9.013
9.757
10.564
11.382
12.201
12.444
12.748
13.095
13.554
Idade Média 12,97
12,47
12,02
11,62
11,27
10,99
10,80
11,17
11,45
11,69
12,04
Idade Média 21,89
21,95
21,96
21,95
21,92
21,76
21,60
21,32
20,89
20,52
16,33
Fonte: IEMI
Nota:(c) Embora os teares de lançadeiras representem o maior número de máquinas instaladas, o seu uso representa apenas 9% dos tecidos produzidos.
346
7.21 ANEXO 21 Número de Malharias por Região, Exclusivas e Integradas
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste Total Exclusivas Integradas
1991 19
61
2.916
675
14
3.685
1.114
2.571
1992 19
67
2.772
702
16
3.576
1.036
2.540
1993 15
54
2.197
653
15
2.934
617
2.317
1994 26
83
2.492
774
23
3.398
1.056
2.342
1995 25
88
2.042
831
33
3.019
659
2.360
1996 24
82
1.922
829
34
2.891
613
2.278
1997 25
111
1.845
814
35
2.830
647
2.183
1998 31
128
1.896
837
40
2.932
779
2.153
1999 35
150
1.992
871
50
3.098
805
2.293
2000 39
196
2.041
863
56
3.195
915
2.280
2001 38
206
2.064
883
59
3.250
755
2.495
Fonte: IEMI
347
7.22 ANEXO 22 Produção de Malharias por Tipo das Fibra (em toneladas)
Ano Algodão
Outras
Acetato
Viscose
Náilon
Acrílico
Poliéster
Polipropileno
Total
1991 216.714
3.118
1.456
15
13.583
35.225
20.354
17.126
834
308.425
1992 231.500
4.349
1.175
15
11.046
32.147
23.353
20.233
682
324.500
1993 253.434
5.038
535
15
13.209
37.062
25.886
26.165
1.044
362.388
1994 260.070
4.603
531
15
12.960
41.189
25.898
27.965
1.126
374.357
1995 230.049
4.347
383
15
11.330
51.565
24.390
27.617
1.064
350.760
1996 229.594
3.749
324
16
9.804
56.509
22.146
29.341
942
352.425
1997 222.155
3.815
364
18
13.176
50.557
26.644
29.153
818
346.700
1998 262.548
4.415
411
21
16.818
45.388
15.440
37.029
1.025
383.095
1999 284.028
5.402
414
19
17.801
47.819
17.130
40.343
1.021
413.977
2000 347.819
6.915
382
24
20.655
59.317
22.055
46.494
1.341
505.002
2001 342.746
4.448
202
8
5.228
47.574
26.323
59.024
1.639
487.192
Fonte: IEMI
348
7.23 ANEXO 23 Número de Empregos por Região e Tipo de Atividade
Mão-de -
Obra/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Norte 489
407
370
484
344
253
237
306
342
363
349
Direta 356
279
245
262
263
175
162
209
293
309
297
Indireta 26
22
20
22
15
14
15
21
12
13
11
Administrativa 44
48
38
70
24
23
22
29
21
23
21
Vendas 63
58
67
130
42
41
38
47
16
18
20
Nordeste 1.475
1.519
1.365
1.745
1.473
2.683
3.284
4.021
4.554
5.720
5.973
Direta 1.028
1.018
890
1.023
1.116
2.311
2.706
3.369
4.244
5.305
5.531
Indireta 123
132
115
137
87
90
244
312
98
115
125
Administrativa 133
159
130
204
98
101
120
154
83
99
105
Vendas 191
211
230
381
172
181
214
186
129
201
212
Sudeste 81.220
78.164
73.706
80.600
70.424
63.165
50.326
57.791
62.709
66.807
66.123
Direta 61.071
58.142
54.274
56.887
48.642
43.127
35.412
41.129
52.187
55.945
56.126
Indireta 5.697
5.977
5.816
7.237
6.632
5.885
3.195
3.153
2.150
2.225
2.253
Administrativa 5.943
6.122
4.926
5.738
5.481
4.948
4.096
4.757
3.658
3.782
2.833
Vendas 8.509
7.922
8.690
10.738
9.669
9.205
7.623
8.752
4.714
4.855
4.911
Sul 49.525
48.184
45.713
49.584
42.341
41.378
36.159
38.917
43.946
44.921
45.641
Direta 42.088
40.097
36.784
38.106
35.573
34.608
28.896
31.256
39.792
41.245
41.866
Indireta 1.413
1.482
1.439
1.793
1.228
1.241
2.608
2.769
1.312
1.215
1.247
Administrativa 2.477
2.879
2.710
3.373
2.006
1.988
1.673
1.806
1.116
963
989
Vendas 3.547
3.725
4.780
6.312
3.534
3.541
2.982
3.086
1.726
1.498
1.539
C. Oeste 293
326
319
415
391
389
345
818
780
889
934
Direta 188
213
196
229
259
256
232
542
649
721
754
Indireta 35
37
35
39
31
32
21
51
16
22
23
Administrativa 29
32
32
50
34
35
32
76
53
68
72
Vendas 41
44
56
97
67
66
60
149
62
78
85
Total 133.002
128.600
121.473
132.828
114.972
107.869
90.351
101.853
112.331
118.700
119.020
Direta 104.730
99.749
92.389
96.506
85.852
80.477
67.408
76.505
97.165
103.525
104.574
Indireta 7.295
7.650
7.425
9.228
7.993
7.262
6.083
6.306
3.588
3.590
3.659
Administrativa 8.627
9.241
7.836
9.435
7.642
7.096
5.943
6.822
4.931
4.935
4.020
Vendas 12.351
11.960
13.823
17.658
13.484
13.034
10.917
12.220
6.647
6.650
6.767
Fonte: IEMI
349
7.24 ANEXO 24 Idade do Parque Industrial de Malharia (em anos)
Máquinas/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Circular
Número 5.784 5.890 6.043 6.214 6.645 7.207 7.672 7.867 8.058 8.159 8.179
Idade Média 11,57 11,80 12,36 12,71 12,56 12,27 12,17 12,45 12,72 13,28 13,81
Retilínea
Número 35.649 41.111 44.451
37.430 36.808 36.187 36.097 36.159 36.175 36.399 36.431
Idade Média 10,84 9,30 9,03 6,83 5,39 6,29 7,25 8,19 9,14 9,86 10,72
Kettensthul
Número 542 833 1.159 1.153 1.218 1.283 1.280 1.307 1.322 1.353 1.374
Idade Média 3,11 2,72 2,79 3,72 4,18 4,63 5,46 6,11 6,91 7,60 8,24
Raschel
Número 6.917 7.769 10.421
11.259 9.650 8.041 7.974 8.001 7.993 8.031 8.029
Idade Média 5,28 4,11 3,83 4,50 4,09 4,42 5,34 6,24 7,20 8,01 8,58
Malimo
Número 9 10 13 14 17 20 22 25 27 68 73
Idade Média 1,20 1,84 1,78 2,61 3,06 3,53 4,16 3,66 4,36 2,43 3,26
Idade Média 10,05 8,74 8,36 6,95 6,01 6,78 7,63 8,47 9,33 10,04 10,80
Fonte: IEMI
350
7.25 ANEXO 25 Número de Beneficiadores por Região Exclusivas e
Integradas
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul C.Oeste Total Exclusivas Integradas
1991 8
74
575
140
5
802
117
685
1992 7
59
530
105
6
707
107
600
1993 8
58
515
102
6
689
115
574
1994 9
57
513
102
6
687
118
569
1995 7
41
379
76
5
508
109
399
1996 6
36
360
63
5
470
93
377
1997 5
31
286
53
5
380
105
275
1998 4
35
259
52
5
355
91
264
1999 5
35
211
48
6
305
112
193
2000 5
38
200
47
8
298
123
175
2001 5
38
188
39
10
280
128
152
Fonte: IEMI
351
7.26 ANEXO 26 Beneficiamento de Fiação por Natureza da Fibra (em toneladas)
Ano Algodão
Viscose Náilon
Acrílico
Poliéster Polipropileno
Juta Linho Ramí
Sisal
Seda
Vidro Outros
Total
1991
155.320
7.476
430
7.823
11.001
2.377
678
1.308
2.645
35
446
989
3
4.440
194.971
1992
169.007
7.679
537
5.983
15.881
2.505
621
1.931
3.359
40
532
1.082
7
4.701
213.865
1993
173.039
8.151
671
7.102
17.655
2.186
615
2.341
3.693
44
748
1.129
6
3.679
221.059
1994
181.156
8.550
698
7.650
19.618
2.484
365
1.764
3.730
45
802
1.268
8
2.705
230.843
1995
163.826
7.727
631
6.914
17.730
2.245
330
1.416
3.379
41
725
1.146
6
2.444
208.560
1996
181.921
7.291
588
5.970
16.700
2.038
278
1.300
2.572
34
620
972
7
996
221.287
1997
210.880
6.726
603
5.794
14.513
2.021
273
1.480
2.791
34
589
960
5
1.236
247.905
1998
193.665
7.972
767
5.516
12.952
2.363
201
913
3.999
37
792
1.034
5
1.066
231.282
1999
177.256
19.830
981
11.012
23.546
2.707
226
1.281
5.195
72
1.311
2.494
5
1.232
247.148
2000
296.127
13.664
931
7.960
20.422
4.893
178
1.164
2.541
76
1.181
2.038
6
32
351.213
2001
280.446
6.592
1.010
11.650
20.301
5.299
297
583
3.213
123
1.442
3.572
7
0
334.535
Fonte: IEMI
352
7.27 ANEXO 27 Beneficiamento de Fiação por Processo Produtivo (em
toneladas)
Processo 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Alcalinização 436
483
389
402
362
385
438
385
391
572
1.163
Alvejamento 23.010
24.520
20.435
21.416
19.419
21.590
23.783
23.539
23.026
33.703
64.375
Amaciamento 2.664
2.709
2.457
2.481
2.205
1.938
1.627
1.485
2.722
2.597
6.558
Chamuscagem 145
155
138
160
145
124
120
138
406
304
343
Coz. Alcalino 35.383
37.751
31.181
32.569
29.555
33.648
38.062
34.751
32.227
36.997
69.931
Decatização 222
239
200
225
205
174
171
188
447
715
1.354
Engomagem 5.568
5.979
4.974
5.191
4.714
5.244
5.665
5.845
5.655
8.238
15.263
Hidrofixação 398
468
405
434
394
443
368
379
421
613
1.104
Mercerização 9.363
9.998
8.257
8.648
7.850
8.523
9.917
8.268
7.997
11.086
20.954
Purga 5.620
6.329
5.611
6.129
5.534
4.858
3.747
3.898
8.092
11.873
22.237
Termofixação 145
155
138
160
145
126
121
135
402
635
716
Tingimento 24.680
26.601
22.112
23.371
21.628
25.498
25.738
23.492
24.534
37.524
70.931
Vaporização 2.513
3.073
2.652
2.875
2.612
2.903
2.004
2.471
2.663
4.096
7.843
Volumização 1.294
971
925
999
908
820
768
766
1.503
1.082
3.168
Outros 83.529
94.434
121.187
125.782
112.884
115.012
135.377
125.542
136.662
201.177
48.595
Total 194.971
213.865
221.059
230.843
208.560
221.287
247.905
231.282
247.148
351.213
334.535
Fonte: IEMI
353
7.28 ANEXO 28 Beneficiamento de Tecidos Planos por Natureza da Fibra (em toneladas)
Ano Algodão
Acetato Viscose Náilon
Acrílico
Poliéster
Polipropileno Juta
Linho Ramí Sisal Seda Vidro Total
1991
499.692
2.609
20.563
7.767
5.320
57.698
3.789
534
6.170
7.582
323
1.347
423
2
613.819
1992
586.820
2.436
15.242
9.877
4.306
59.207
4.345
482
7.156
11.416
330
865
633
2
703.117
1993
601.811
4.000
26.795
12.545
4.053
71.312
3.876
460
8.036
12.198
310
1.204
641
3
747.244
1994
621.016
3.738
31.036
13.088
4.625
79.733
4.158
408
8.191
13.105
312
1.221
677
3
781.311
1995
513.700
4.008
16.403
10.209
3.709
110.317
3.243
328
3.928
11.271
304
1.091
598
4
679.112
1996
552.936
5.978
4.801
10.261
3.713
94.108
3.262
355
3.509
10.032
329
1.115
743
3
691.145
1997
475.786
2.014
4.407
6.958
7.161
130.419
1.220
229
4.851
8.949
1.008
836
1.344
6
645.188
1998
502.777
2.050
4.793
7.133
3.704
122.567
1.558
277
3.096
9.252
577
841
1.251
7
659.883
1999
522.835
2.988
4.754
8.234
4.269
113.619
1.671
110
2.934
8.656
487
2.572
1.270
6
674.405
2000
691.898
3.969
6.315
10.936
5.685
150.906
2.147
126
3.741
11.156
707
3.230
1.663
7
892.486
2001
737.750
227
664
8.512
7.546
217.249
5.127
104
2.733
4.174
932
2.547
1.093
7
988.665
Fonte: IEMI
354
7.29 ANEXO 29 Beneficiamento de Tecidos Planos por Processo
Produtivo (em toneladas)
Processos 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Alvejamento 385.306
454.373
460.437
477.999
402.883
420.885
378.924
376.688
395.949
540.002
570.139
Amaciamento 112.213
116.120
136.208
146.286
156.904
147.850
176.120
154.593
155.170
175.843
220.791
Anti-esgarçante 2.775
2.670
4.500
4.251
4.046
4.480
2.797
2.721
3.492
4.762
322
Anti-pilling 13.043
26.843
15.643
17.543
23.880
20.522
29.548
29.599
26.380
34.414
49.398
Batanagem 143
214
225
238
206
629
714
775
797
1.087
714
Bordado Químico 36.275
41.738
43.152
44.919
36.909
48.906
37.487
37.821
40.887
54.663
55.225
Calandragem 171.234
220.005
212.885
222.276
194.405
208.732
196.582
202.205
203.764
277.897
300.150
Chamuscagem 248.848
320.694
300.039
313.023
282.732
299.905
286.114
284.519
290.373
396.016
447.666
Coz. Alcalino 459.945
564.854
544.319
565.663
494.412
514.255
487.978
495.193
503.082
596.870
661.546
Decatização 346
508
533
564
488
1.492
1.695
1.327
1.632
2.225
1.462
Desengomagem 298.933
348.606
360.130
375.319
312.861
325.256
294.441
344.459
330.390
450.592
477.788
Encorpamento 114.063
156.001
138.290
145.118
137.793
139.083
140.911
135.010
138.984
189.549
223.111
Dublagem 49.557
55.918
57.346
59.117
48.895
56.478
46.611
52.317
53.176
72.522
77.328
Engomagem 107.129
137.036
128.335
134.489
121.854
130.819
120.750
128.865
128.721
175.552
199.019
Escova/Navalhagem
170.613
202.720
204.698
211.288
183.695
186.653
181.603
183.406
184.854
250.194
275.374
Estampagem 180.890
208.391
213.622
221.670
191.040
201.891
185.728
207.462
204.323
279.984
305.321
Flanelagem 50.508
56.104
57.536
59.313
49.057
55.643
46.476
49.562
51.563
70.322
74.982
Impermebilização 25.956
29.344
31.285
32.309
26.493
27.593
23.516
25.587
26.390
35.990
37.183
Lustro 26.831
58.929
34.120
38.231
53.222
45.148
64.374
60.957
56.032
76.417
110.013
Mercerização 252.154
297.975
299.207
309.324
260.761
273.651
247.072
245.018
258.036
334.144
361.957
Palmerização 28.533
33.173
34.020
35.071
29.007
30.266
26.734
26.360
28.268
38.552
41.107
Purga 77.688
82.787
95.334
100.641
77.959
73.650
63.788
63.739
67.767
92.422
91.569
Sanforização 259.054
303.892
303.320
314.030
266.028
282.206
257.103
275.329
276.183
376.663
406.637
Termofixação 61.186
68.288
77.945
82.940
64.858
59.386
54.174
56.442
58.547
79.847
80.158
Tingimento 267.098
311.714
322.270
336.985
280.351
270.615
263.611
276.483
275.166
375.275
400.333
Transparência 25.710
29.168
29.973
30.919
25.530
27.109
23.698
23.792
25.318
34.529
36.502
Vaporização 163.552
180.176
193.566
207.418
200.112
200.284
208.660
221.954
213.587
291.293
345.753
Total 613.819
703.117
747.244
781.311
679.112
691.145
645.188
659.883
674.405
892.486
988.665
Fonte: IEMI
355
7.30 ANEXO 30 Beneficiamento de Malhas por Natureza da Fibra (em
toneladas)
Ano Algodão Acetato Viscose Náilon Acrílico Poliéster Polipropileno Outros Total
1991 200.242
13
8.052
25.142
13.434
15.300
625
2.711
1.268
266.787
1992 216.051
13
8.033
22.418
16.739
16.269
483
3.962
1.104
285.072
1993 235.832
13
11.196
24.395
17.966
21.615
701
4.546
462
316.726
1994 237.640
13
10.776
29.931
19.422
23.674
882
4.117
463
326.918
1995 218.651
13
9.590
40.151
17.591
22.381
835
3.799
335
313.346
1996 217.767
14
8.853
45.487
13.970
24.943
718
3.013
279
315.044
1997 199.419
15
8.061
37.002
18.890
24.748
608
2.898
307
291.948
1998 244.126
16
10.204
28.855
8.368
32.375
704
3.392
231
328.271
1999 248.326
16
10.831
30.843
11.704
34.575
744
4.251
331
341.621
2000 305.421
21
12.846
42.238
14.955
41.441
1.005
5.570
310
423.807
2001 275.026
6
2.563
31.294
7.654
50.000
926
3.499
103
371.071
Fonte: IEMI
356
7.31 ANEXO 31 Beneficiamento de Malhas por Processo Produtivo (em
toneladas)
Processos 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Alvejamento 180.903
172.382
230.892
232.657
209.633
220.186
195.192
239.429
245.178
303.125
265.698
Amaciamento 104.531
100.074
133.748
135.351
121.799
124.024
117.266
110.215
128.674
136.786
123.574
Anti-pilling 4.310
4.369
5.808
5.999
5.474
6.116
6.233
8.163
8.017
10.244
10.015
Calandragem 51.401
51.533
69.151
69.695
63.065
67.022
60.005
72.545
74.807
95.588
81.683
Carbonização 523
710
1.043
964
916
1.120
2.106
2.124
2.624
3.353
2.681
Coz. Alcalino 130.434
123.816
165.382
167.271
150.139
155.727
139.940
161.146
169.696
206.007
185.721
Decatização 1.901
2.602
3.818
3.529
3.355
2.740
2.388
2.402
3.317
4.239
2.106
Encorpamento 441
484
638
694
658
711
729
1.043
1.043
1.333
1.560
Escova/Navalhagem
2.349
20.944
28.042
28.293
25.428
33.926
31.412
37.087
38.499
49.194
46.020
Estampagem 24.603
23.569
30.567
31.174
27.652
28.290
29.124
40.822
38.041
48.403
69.378
Hidrofilização 614
630
737
813
720
1.796
1.958
2.156
2.070
2.644
2.463
Mercerização 43.863
41.938
56.018
56.647
50.838
53.865
50.806
59.287
61.479
75.268
29.389
Purga 37.095
36.673
47.339
47.833
43.243
46.381
44.547
46.192
50.532
64.569
25.982
Resinagem 2.852
2.581
3.447
3.486
3.128
5.201
5.001
5.900
6.065
7.750
133.012
Silk-Screen 108.433
102.383
136.756
138.293
124.111
107.821
94.886
101.365
111.432
147.713
41.865
Termofixação 9.537
11.195
10.870
12.465
11.531
11.763
12.535
12.021
13.551
17.316
14.717
Tingimento 166.500
162.765
206.650
210.680
193.522
168.115
120.026
145.974
154.780
197.777
170.921
Vaporização 89.008
85.455
113.024
114.458
104.024
19.916
20.188
25.283
23.480
30.003
26.081
Total 266.787
285.072
316.726
326.918
313.346
315.044
291.948
328.271
341.621
423.807
371.071
Fonte: IEMI
357
7.32 ANEXO 32 Número de Confecções por Região, Tipo de Artigo, Exclusivas e Integradas
Ano Norte Nordeste Sudeste
Sul C.Oeste Total Exclusivas
Integradas
Vestuário
Meias e
Acessórios
Linha
Lar
Art.
Técnicos
1991
152
1.269
11.023
2.654
399
15.497
13.400
2.097
13.394
741
1.069
293
1992
161
1.237
9.649
2.416
361
13.824
11.822
2.002
11.451
891
1.139
343
1993
242
1.361
9.486
2.695
578
14.362
12.302
2.060
11.742
1.003
1.236
381
1994
272
1.510
9.920
2.736
439
14.877
12.646
2.231
12.059
1.077
1.335
406
1995
377
2.032
10.635
3.409
613
17.066
14.524
2.542
13.908
1.235
1.498
425
1996
412
2.171
11.250
3.538
665
18.036
15.291
2.745
14.816
1.281
1.522
417
1997
447
2.312
11.856
3.731
668
19.014
16.157
2.857
15.744
1.289
1.552
429
1998
435
2.388
11.757
3.733
696
19.009
16.143
2.866
15.716
1.320
1.542
431
1999
427
2.430
10.072
3.738
711
17.378
14.770
2.608
14.416
1.153
1.401
408
2000
372
2.587
10.882
4.151
805
18.797
16.291
2.506
15.634
1.235
1.501
427
2001
459
2.599
10.192
4.310
878
18.438
16.208
2.230
15.367
1.290
1.325
456
Fonte: IEMI
358
7.33 ANEXO 33 Número de Confecções, Número de Empregos e Produção por Porte das Empresas
Porte/Ano 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Pequenas
Nº de
Fábricas 10.893 9.675 10.528 10.862 13.368 12.266 13.302 13.421 12.317 13.070 12.818
Mão de Obra
direta 76.010 86.373 76.814 79.141 73.675 71.101 70.042 79.814 76.875 89.894 89.752
Produção
(mil peças) 347.070 514.522 509.598 579.727 630.342 618.640 737.515 834.296 966.266 1.159.872 1.114.725
Médias
Nº de
Fábricas 4.160 3.735 3.429 3.590 3.307 5.370 5.273 5.113 4.630 5.174 5.076
Mão de Obra
direta 562.510 655.009 593.006 611.329 562.215 561.133 482.286 428.474 412.691 496.501 476.942
Produção
(mil peças) 1.707.696
2.733.789
2.710.435
3.183.802
3.358.113 3.379.631
3.546.089
3.587.300
4.140.923
4.876.432 4.675.994
Grandes
Nº de
Fábricas
444 414 405 425 391 400 439 476 431 552 544
Mão de Obra
direta 563.796 389.612 366.214 383.465 347.531 328.747 281.238 271.732 261.722 190.677 184.266
Produção
(mil peças) 2.343.131
1.970.968
2.112.614
2.505.104
2.634.452 2.525.748
2.627.519
2.887.312
3.149.388
3.517.833 3.742.986
Total
Nº de
Fábricas
15.497 13.824 14.362 14.877 17.066 18.036 19.014 19.009 17.378 18.797 18.438
Mão de Obra
direta 1.202.316
1.130.994
1.036.034
1.073.935
983.421 960.981 833.566 780.020 751.288 777.072 750.960
Produção
(mil peças)
4.397.897
5.219.279
5.332.647
6.268.633
6.622.907 6.524.019
6.911.123
7.308.908
8.256.577
9.554.137 9.533.705
Fonte: IEMI
359
7.34 ANEXO 34 Número de Emprego em Confecções por Região Geográfica e Tipo de Artigo
Mão de
Obra/Ano
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Norte 1.031
1.238
1.253
1.375
1.374
11.525
12.238
11.320
11.193
11.690
11.674
Vestuário 578
497
431
460
407
10.670
11.468
10.587
10.458
10.973
10.880
Meias e
Acessórios 0
124
144
145
140
8
8
6
6
7
8
Linha Lar 19
60
59
67
76
535
461
444
442
456
521
Art. Técnicos 434
557
619
703
751
312
301
283
287
254
265
Nordeste 87.369
88.288
79.512
82.932
91.641
161.360
158.625
146.683
144.015
149.658
148.532
Vestuário 68.547
66.842
56.270
58.557
63.532
142.605
142.112
131.013
128.845
135.533
133.870
Meias e
Acessórios 796
1.911
2.963
2.976
3.722
4.168
3.594
3.474
3.191
2.974
3.170
Linha Lar 14.769
15.158
15.886
16.801
19.225
11.399
9.842
9.329
9.071
8.605
8.915
Art. Técnicos 3.257
4.377
4.393
4.598
5.162
3.188
3.077
2.867
2.908
2.546
2.577
Sudeste 1.382.222 1.279.066 1.248.296 1.322.880
1.205.867 848.788
805.307
759.546
737.239
751.975
705.829
Vestuário 1.203.693
1.069.430
1.054.497
1.139.148
1.036.566
688.788
644.878
604.600
591.082
618.707
582.482
Meias e
Acessórios 73.624
101.495
94.660
95.249
91.944
67.873
68.241
66.942
61.016
52.987
49.021
Linha Lar 81.615
85.131
78.340
70.442
62.193
71.770
72.905
69.592
66.462
63.925
59.190
Art. Técnicos 23.290
23.010
20.799
18.041
15.164
20.357
19.283
18.412
18.679
16.356
15.136
Sul 201.785
202.623
179.638
140.726
141.952
357.736
273.622
256.433
249.962
256.819
261.552
Vestuário 161.277
161.738
140.469
86.339
86.621
295.646
230.344
214.770
210.540
220.649
224.634
Meias e
Acessórios 4.070
4.012
4.691
6.870
7.669
25.568
17.447
17.067
15.564
13.583
14.503
Linha Lar 30.680
30.429
28.092
38.185
38.317
29.353
20.531
19.394
18.579
17.960
17.660
Art. Técnicos 5.758
6.444
6.386
9.332
9.345
7.169
5.480
5.202
5.279
4.627
4.755
C. Oeste 33.161
26.020
26.099
24.731
27.293
80.369
68.348
63.199
61.739
63.014
64.250
Vestuário 32.317
23.328
22.235
20.326
22.026
64.546
57.252
52.596
51.632
54.066
54.693
Meias e
Acessórios 0
394
647
669
880
6.173
4.270
4.115
3.760
3.351
3.537
360
Linha Lar 122
1.175
1.516
1.554
1.970
8.040
5.579
5.327
5.164
4.547
4.778
Art. Técnicos 722
1.123
1.701
2.182
2.417
1.610
1.247
1.161
1.183
1.050
1.242
Total 1.705.568 1.597.235 1.534.798 1.572.644
1.468.127 1.459.778 1.318.140 1.237.181 1.204.148 1.233.156 1.191.837
Vestuário 1.466.412
1.321.835
1.273.902
1.304.830
1.209.152
1.202.255
1.086.054
1.013.566
992.557
1.039.928
1.006.559
Meias e
Acessórios 78.490
107.936
103.105
105.909
104.355
103.790
93.560
91.604
83.537
72.902
70.239
Linha Lar 127.205
131.953
123.893
127.049
121.781
121.097
109.138
104.086
99.718
95.493
91.064
Art. Técnicos 33.461
35.511
33.898
34.856
32.839
32.636
29.388
27.925
28.336
24.833
23.975
Fonte: IEMI
Nota: (c) Pequenas: até 30 funcionários na produção; (2) Médias: entre 30 e 200 funcionários na produção; (3) Grande: mais de 200 funcionários na produção.
7.35 ANEXO 35 Produção por Tipo de Artigo Confeccionado (em toneladas)
Segmento 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Vestuário 2.203.317
2.770.709
2.712.807
3.329.628 3.407.192
3.272.894
3.546.473
3.763.819
4.203.552 4.999.929
4.786.158
Meias e Acessórios
314.692
398.587
462.228
563.841
592.943
548.975
582.183
576.083
589.780
575.350
566.617
Linha Lar 452.710
497.809
518.531
609.343
642.485
639.730
646.907
708.234
760.596
793.456
738.106
Artigos Técnicos 1.427.178
1.552.174
1.639.081
1.765.821 1.980.287
2.062.420
2.135.560
2.260.772
2.702.649 3.185.402
3.442.824
Total 4.397.897 5.219.279 5.332.647
6.268.633 6.622.907 6.524.019 6.911.123 7.308.908 8.256.577 9.554.137 9.533.705
Fonte: IEMI
361
7.36 ANEXO 36 Idade do Parque Industria de Confecções (em anos)
Máquinas/Ano
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Bordadeira
Número 2.815
2.899
3.022
3.169
3.323
3.477
3.659
3.704
3.689
3.663
3.715
Idade Média 7,44
7,45
7,30
7,17
7,05
6,95
6,81
6,98
7,24
7,66
8,03
Circular p/
Meia
Número 17.175
17.804
18.496
19.283 20.103
20.915
21.755
22.010
21.875
21.675
21.991
Idade Média 11,99
11,18
10,47
9,81
9,26
8,81
8,37
8,21
8,24
8,50
8,71
Corte
Número 30.324
30.488
30.573
31.219 31.879
32.607
32.565
32.730
32.385
31.995
32.314
Idade Média 6,11
6,65
6,86
6,92
6,98
7,02
7,16
7,25
7,46
7,83
8,17
Costura Reta
Número 334.288
336.098
344.090
348.434 352.833
356.879
359.847
361.407
355.842
349.930
353.966
Idade Média 8,73
8,44
8,02
7,70
7,44
7,23
7,03
6,89
6,93
7,18
7,41
Galoneira
Número 8.887
9.685
10.003
10.215 10.431
10.655
10.767
10.947
10.947
10.899
11.090
Idade Média 5,76
5,73
5,90
6,14
6,35
6,53
6,74
6,87
7,13
7,54
7,9
Interloque
Número 12.339
12.723
13.015
13.426 13.850
14.270
14.452
14.752
14.752
14.677
14.974
Idade Média 5,84
6,04
6,12
6,20
6,26
6,32
6,43
6,49
6,68
7,04
7,35
Overloque
Número 241.973
240.209
243.658
254.176 265.148
275.970
280.506
286.191
286.911
286.187
291.693
Idade Média 7,75
7,76
7,62
7,53
7,46
7,41
7,49
7,54
7,73
8,09
8,41
Zig Zag
Número 7.296
7.502
7.594
7.711
7.830
7.942
8.026
8.041
7.906
7.771
7.832
Idade Média 5,96
6,15
6,28
6,35
6,41
6,47
6,48
6,56
6,75
7,11
7,43
Idade Média 8,20
8,07
7,80
7,59
7,43
7,30
7,23
7,19
7,30
7,61
7,89
Fonte: IEMI
362
7.37 ANEXO 37 Participação dos Canais de Distribuição de Confecções (em milhares de peças)
Canais 1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Merc. Interno
4.182.207
4.854.331
4.927.265
5.747.371
6.052.443
5.681.337
6.232.346
6.549.182
7.516.628
8.320.066
8385',811
Atacado 1.123.169
979.031
997.241
1.128.463
1.194.163
703.918
1.061.573
1.013.889
1.128.856
1.030.856
832.241
Loja
Departamento
493.927
452.764
439.068
520.331
535.150
453.371
520.869
480.332
546.607
663.941
666.846
Loja
Especializada
476.360
796.198
837.322
998.855
1.021.906
1.214.102
1.199.539
1.494.553
1.621.038
1.777.998
2.118.224
Varejo Cad. 425.338
491.605
493.345
595.005
612.902
581.201
704.552
620.674
715.058
851.143
775.094
Varejo Indep. 713.184
820.882
815.214
982.429
1.020.642
1.142.517
1.001.829
1.006.133
1.279.352
1.673.165
1.703.187
Coop.
Governo
385.173
485.347
497.932
555.408
611.398
301.679
587.525
495.078
568.935
441.796
470.533
Industrial 347.820
503.313
526.761
585.084
661.852
449.962
688.599
524.036
617.810
658.949
639.925
Outros 217.236
325.191
320.382
381.796
394.430
834.587
467.860
914.487
1.038.972
1.222.218
1.179.761
Merc.
Externo 215.690
364.948
405.382
521.262
570.464
842.682
678.777
759',726
739',949
1.234.071
1.147.894
Fonte: IEMI
363
7.38 ANEXO 38 Tipos de Teares para Tecidos Planos
Teares Descrição/Utilização
Teares manuais São utilizados quase que exclusivamente para
artesanato ou para a produção de novos artigos ou
amostra não colocados na linha de produção.
Teares mecânicos não
automáticos
São teares que não possuem determinados mecanismos
de auxílio para o tecelão, tais como guarda urdume,
parada por falta de trama e troca de espulas ou
lançadeiras.
Teares mecânicos semi-
automáticos
São teares não automáticos que sofrem adaptações de
mecanismos (guarda urdume) que auxiliam o tecelão e
dá melhor qualidade aos tecidos.
Teares automáticos
Teares convencionais São teares em que a alimentação da trama é feita
automaticamente por mecanismos especiais, como o
mecanismo que efetua a troca da espula no interior da
lançadeira quando o fio está preste a terminar e o
mecanismo que efetua a troca da lançadeira quando a
espula do fio está preste a terminar.
Sem lançadeira
o Projétil Também chamado de lançadeira de pinças. É uma
pequena peça que arrasta a trama através da cala.
o Pinças rígidas Nesse tipo de tear, a trama é introduzida na cala por
uma espécie de agulha. Existem teares com uma única
pinça ou com duas.
o Pinças flexíveis Esses teares possuem duas cintas flexíveis de aço, uma
em cada lado da máquina.
o Jato de ar Nesse tipo de tear, a trama do fio recebe um jato de ar e
é jogada através da cala.
o Jato d’água Nesse tipo de tear, a trama do fio recebe um jato d’água
e é jogada através da cala.
o Cala ondulante Neste sistema são inseridas 16 tramas ao mesmo
tempo. Alguns teares chegam a inserir 2000 m de trama
por minuto
Teares Especiais São em sua maioria automáticos, providos de
mecanismos especiais para tecer determinados tipos de
tecidos, tal como os teares de maquineta jacquard, que
fazem tecidos com grandes desenhos, podendo mesmo
reproduzir figuras humanas em sombreado com relevo.
Teares triaxiais Produzem tecidos com estabilidade em todas as
direções: na horizontal e na vertical. Os fios de urdidura
são enrolados em oito pequenos rolos e a trama é
inserida por meio de pinças rígidas.
Teares para felpas Possuem mecanismos especiais, que o permitem serem
alimentados por no mínimo, dois rolos de urdume, um
para o tecido básico e o outro para o tecido de felpa
inteira (toalha) ou felpa cortada (veludo).
Fonte: ANDRADE, CORRÊA, SILVA (2001)
364
7.39 ANEXO 39 Tipos de Teares para Malharia
Tear para malharia por trama
Tipo Descrição/Utilização
Teares Circulares Caracterizam-se por possuírem um grande número de
alimentadores dispostos em círculo, produzindo um
tecido tubular contínuo em alto desempenho. Custam de
U$ 50 mil a U$ 150 mil
De grande diâmetro Voltado para a produção de jérseis ou meia-malhas.
Inclui-se nesse grupo as máquinas monocilíndricas.
Circulares de dupla
face
Voltadas à produção de malhas duplas
Circulares de duplo
cilindro
Voltadas à produção de malhas de “fantasia”.
De pequeno diâmetro Voltadas à produção de meias masculinas e femininas,
lisas, rendadas ou com desenhos na constituição do
tecido.
Teares Retilíneos São equipamentos semelhantes às antigas máquinas
manuais de uso doméstico, todavia muito mais
avançadas tecnologicamente, geralmente automáticas e
capazes de produzir tecidos de alta qualidade. São
utilizadas para a fabricação de golas e punhos de
camisas de malha do tipo pólo e na produção de malhas
pesadas de fio de lã e acrílico.
Tear para Malharia por Urdume
Tipo Descrição/Utilização
Kettensthul São aqueles dedicados à produção de tecidos lisos para
roupas íntimas, tecidos elásticos, forros, veludos para
estofamento e tecidos para toalhas de mesa. Custam de
U$ 160 mil a U$ 280 mil.
Raschel São aqueles voltados para a produção de tecidos lisos e
rendados, simples e sofisticados, destinados à produção
de toalhas de renda, tecidos para lingerie, cortinas,
tecidos elásticos e outros. Custam entre U$ 700 mil a U$
1.300 mil.
Kohler
Malimo
Fonte: AZEVEDO (1998)
365
7.40 ANEXO 40 Produção Brasileira de Calçados (Milhões de Pares)
Ano
Quantidade
Ano
Quantidade
1911
13
1958
-
1912
14
1959
-
1913
15
1960
-
1914
12
1961
-
1915
14
1962
-
1916
17
1963
-
1917
17
1964
-
1918
18
1965
-
1919
17
1966
-
1920
20
1967
-
1921
19
1968
-
1922
21
1969
-
1923
21
1970
-
1924
26
1971
-
1925
26
1972
-
1926
24
1973
-
1927
28
1974
214
1928
30
1975
233
1929
35
1976
281
1930
26
1977
287
1931
26
1978
327
1932
23
1979
361
1933
24
1980
474
1934
26
1981
462
1935
33
1982
476
1936
40
1983
458
1937
43
1984
517
1938
37
1985
538
1939
44
1986
602
1940
45
1987
555
1941
52
1988
544
1942
60
1989
592
1943
80
1990
509
1944
99
1991
468
1945
107
1992
530
1946
110
1993
583
1947
99
1994
541
1948
-
1995
544
1949
-
1996
554
1950
-
1997
544
1951
-
1998
516
1952
-
1999
499
1953
-
2000
580
1954
-
2001
610
1955
-
2002
642
1956
-
2003
665
1957
-
2004
755
Fonte: 1911-1947: IBGE (apud Haddad (1978)); 1974-1979:
ABAEX (apud COSTA (1993)); 1980-1992: Abicalçados (apud
GORINI, CORRÊA (2000)); 1993-2004: Abicalçados.
366
7.41 ANEXO 41 Consumo, Exportação e Importação Brasileira de
Calçados (Milhões de Pares)
Ano
Consumo
Exportação
Importação
1970
- 4
-
1971
- 10
-
1972
- 16
-
1973
- 22
-
1974
186
28
-
1975
205
35
-
1976
249
31
-
1977
262
25
-
1978
288
40
-
1979
319
42
-
1980
404
49
-
1981
584
70
-
1982
581
61
-
1983
536
93
-
1984
426
144
-
1985
469
133
-
1986
553
142
-
1987
528
139
-
1988
486
151
-
1989
415
170
-
1990
359
143
-
1991
- 133
-
1992
- 158
-
1993
327
201
-
1994
379
171
-
1995
415
138
-
1996
491
143
-
1997
427
142
19
1998
414
131
16
1999
369
137
7
2000
429
163
6
2001
445
171
6
2002
483
164
5
2003
481
189
5
2004
552
212
9
Fonte: Consumo: 1974-1990: ABAEX (apud COSTA (1993)); 1993-
2004: Abicalçados; Exportação: MDIC/SECEX; Importação:
Abicalçados.
367
7.42 ANEXO 42 Número de Empresas e de Empregos Gerados pela
Indústria de Calçados
Ano
Empresas
Empregos
1974
- 81.093
1975
- 96.443
1976
- 98.862
1977
- 100.739
1978
- 117.217
1979
- 128.888
1980
- 156.326
1981
- 182.787
1982
- 180.267
1983
- 213.909
1984
- 249.369
1985
- 254.896
1986
- 264.561
1987
- 245.700
1988
- 282.850
1989
- 295.536
1990
- 226.634
1991
- 214.701
1992
- 236.449
1993
- 257.600
1994
- 240.655
1995
- 196.462
1996
- 202.768
1997
5.947
182.595
1998
6.013
184.643
1999
6.253
208.510
2000
6.860
240.392
2001
7.362
248.819
2002
7.562
262.085
2003
7.908
272.093
Fonte: 1974-1989: ABAEX (apud
COSTA (1993)); 1990-1996: Mtb-RAIS
(apud COSTA(2002)); 1997-2003: MTb-
RAIS.
368
7.43 ANEXO 43 Destino das Exportações Brasileiras (%)
Países 1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Estados Unidos 69,9
71,9
74
70,8
67,4
73,4
69
68,8
68,6
69,7
68,3
70,6
64,2
56,6
Reino Unido 7
7,3
5,3
6,3
6,6
6,5
8,2
7,8
8,3
6,5
5,8
7
6,8
7,5
Argentina 0,2
0,8
0,5
1
1,3
2,2
3,7
5,6
6,9
8
8,2
1,1
4,7
5,8
Canadá 4,1
3,3
2,8
2,5
2,4
2,3
3,1
2,2
2
2,2
1,9
2,6
2,3
2,8
Alemanha 5,1
3,9
3,6
4,7
3,7
2,8
2,5
0,9
1,3
0,8
0,5
0,6
0,9
1,2
Bolívia 0,8
0,6
0,7
0,9
1,5
1,7
2,1
2,3
1,5
1,1
1
0,9
0,8
0,9
Paraguai 1
0,8
1,6
1,6
1,8
1,6
1,7
1,7
1,4
1,4
1,2
0,7
0,8
0,9
Países Baixos 2,4
1,9
2,1
1,5
1,3
1,2
1,1
0,7
0,7
0,6
0,5
0,9
1,2
1,1
França 3,7
2,4
1,9
1,2
1,3
0,8
0,8
0,6
0,8
0,5
0,3
0,3
0,4
0,5
Chile 0,1
0,3
0,7
1
1,3
1,4
1,4
1,3
1,2
1,3
1,2
1,4
1,6
1,9
Outros 5,6
6,7
6,8
8,5
11,4
6,3
6,5
8,2
7,3
7,9
11,1
13,9
16,3
20,8
Total 100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
Fonte: 1991-2000: SECEX (apud SANTOS, CORRÊA, ALEXIM, PEIXOTO (2002)); 2001-2004: MDIC/SECEX
369
7.44 ANEXO 44 Valor das Importações Brasileiras de Equipamentos
Industriais
(Em Libras Esterlinas a Valor de 1913)
Ano
Valor
Ano
Valor
1869
108.606
1914
337.491
1870
165.617
1915
375.121
1871
170.859
1916
487.195
1872
214.718
1917
424.971
1873
259.043
1918
794.953
1874
217.079
1919
1.271.030
1875
205.870
1920
1.607.563
1876
186.442
1921
1.453.184
1877
181.735
1922
1.322.218
1878
222.585
1923
1.939.346
1879
179.474
1924
2.609.991
1880
263.003
1925
2.167.597
1881
332.671
1926
2.144.788
1882
365.535
1927
2.281.960
1883
468.000
1928
2.863.740
1884
451.342
1929
1.605.285
1885
456.237
1930
703.717
1886
493.609
1931
777.451
1887
472.212
1932
1.242.563
1888
652.601
1933
1.543.216
1889
631.339
1934
1.929.352
1890
819.011
1935
1.925.418
1891
1.386.755
1936
2.412.365
1892
931.913
1937
2.836.861
1893
942.126
1938
2.428.693
1894
929.548
1939
1.453.184
1895
985.722
1896
872.442
1897
570.439
1898
500.939
1899
636.671
1900
535.963
1901
410.308
1902
509.999
1903
582.390
1904
738.712
1905
891.185
1906
1.136.843
1907
1.591.210
1908
1.457.111
1909
1.476.458
1910
1.733.234
1911
2.222.300
1912
2.693.600
1913
2.857.718
Fonte: IBGE
370
7.45 ANEXO 45 Patente das Havaianas
371
ANEXO 45 (Cont.) Patente das Havaianas
372
ANEXO 45 (Cont.) Patente das Havaianas
373
ANEXO 45 (Cont.) Patente das Havaianas
374
7.46 ANEXO 46 Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A
Sociedade Anonyma Fábrica Brazileira de Alpargatas e Calçados
1907-1908
Presidente George Herbert Craig
Secretário Edmund Wright
Diretor Kenneth Fraser (Herbert Edward Hime)
São Paulo Alpargatas Company
1909-1910
Presidente George Herbert Craig
Diretor Gerente Kenneth Fraser
Diretor A. Brondie
1911-1912
Presidente George Herbert Craig
Diretor Gerente Kenneth Fraser
Diretor Secretário R. G. Latham
1913-1921
Presidente George Herbert Craig
Vice-Presidente George Henry Ford
Diretor Secretário James W. Gray
1922-1924
Presidente George Herbert Craig
Vice-Presidente George Henry Ford
Diretor Secretário James W. Gray
Diretor Gerente Stanley Herbert Smith
1925
Presidente George Herbert Craig
Vice-Presidente George Henry Ford
Diretor Secretário James W. Gray
Diretor Gerente Stanley Herbert Smith
Diretor John F. Shalders
1926-1928
Presidente John F. Shalders
Vice-Presidente George Henry Ford
Diretor Secretário James W. Gray
Diretor Gerente Stanley Herbert Smith
1929-1930 (20/06)
Presidente John F. Shalders
Vice-Presidente George Henry Ford
Diretor Secretário Carlos G. S. Shalders
Diretor Gerente Stanley Herbert Smith
1930-1932
Presidente Artur Charles Richings
Diretor Gerente George Henry Ford
Diretor Gerente Stanley Herbert Smith
375
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1933-1934
Presidente Artur Charles Richings
Diretor Superintendente Stanley Herbert Smith
Diretor Gerente George Henry Ford
1935
Presidente Artur Charles Richings
Diretor Superintendente Stanley Herbert Smith
Diretor Gerente (até 28/06) George Henry Ford
Diretor Gerente (a partir de 03/12) Robert M. Fraser
1936
Presidente Artur Charles Richings
Diretor Reginald Artur Nunn
Diretor Robert M. Fraser
1937-1940
Presidente George A. Shewan
Diretor Reginald Artur Nunn
Diretor Robert M. Fraser
São Paulo Alpargatas S.A.
1941-1944
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Donald McQuillen
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente William Steel
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Diniz Gonçalves Moreira
1945-1946
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Donald McQuillen
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente William Steel
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Alejandro Philip
1947-1950
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Donald McQuillen
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente William Steel
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Keith S. Bush
376
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1951-1952
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Donald McQuillen
Diretor Odilon E. A. Souza
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente William Steel
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Keith S. Bush
1953-1954
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Donald McQuillen
Diretor Odilon E. A. Souza
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Keith S. Bush
Suplente Ruy M. Junqueira
1955-1956
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Donald McQuillen
Diretor Odilon E. A. Souza
Diretor Keith S. Bush
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Ruy M. Junqueira
Suplente Humberto Filippi
1957-1958
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Andrew A. Rohlfing
Diretor e Gerente Geral Keith S. Bush
Diretor Odilon E. A. Souza
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Ruy M. Junqueira
Suplente Humberto Filippi
1959
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Robert M. Fraser
Diretor e Gerente Geral Keith S. Bush
Diretor Odilon E. A. Souza
Diretor F. L. McClure
Suplente Carlos G. S. Shalders
Suplente Ruy M. Junqueira
Suplente Humberto Filippi
377
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1960-1961
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente Robert M. Fraser
Diretor e Gerente Geral Keith S. Bush
Diretor Odilon E. A. Souza
Diretor F. L. McClure
Suplente Ruy M. Junqueira
Suplente Humberto Filippi
Suplente Vicente J. Franchini
1962
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Diretor Robert M. Fraser
Diretor Odilon E. A. Souza
Diretor F. L. McClure
Suplente Ruy M. Junqueira
Suplente Humberto Filippi
Suplente Robert F. Botting
1963
Presidente Alfred H. Norris
Vice-Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Diretor Odilon E. A. Souza
Diretor F. L. McClure
Diretor B. S. A. Westley
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente Ruy M. Junqueira
Suplente Humberto Filippi
Suplente J. S. Buchan
1964-1966
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Odilon E. A. Souza
Diretor F. L. McClure
Diretor B. S. A. Westley
Diretor Sérgio P. Mellão
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente J. S. Buchan
Suplente James Baines
Suplente Pedro Ingouville
378
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1967
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Diretor Odilon E. A. Souza
Diretor F. L. McClure
Diretor B. S. A. Westley
Diretor Paulo R. Magalhães
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente J. S. Buchan
Suplente Jame s Baines
Suplente Pedro Ingouville
1968
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Diretor F. L. McClure
Diretor B. S. A. Westley
Diretor Paulo R. Magalhães
Diretor J. S. Buchan
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente James Baines
Suplente Pedro Ingouville
Suplente P. B. Truman
1969-1972
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Diretor J. S. Buchan
Diretor B. S. A. Westley
Diretor Paulo R. Magalhães
Diretor Hugo M. Etchenique
Diretor James Baines
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente Pedro Ingouville
Suplente P. B. Truman
Suplente David Reeves
1973-1974
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Diretor J. S. Buchan
Diretor B. S. A. Westley
Diretor Paulo R. Magalhães
Diretor Hugo M. Etchenique
Diretor James Baines
Consultor Técnico Robert M. Fraser
Suplente P. B. Truman
Suplente David Reeves
Suplente G. W. Fletcher
379
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1975-1976
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Diretor J. S. Buchan
Diretor Paulo R. Magalhães
Diretor Hugo M. Etchenique
Diretor James Baines
Diretor David Reeves
Suplente P. B. Truman
Suplente G. W. Fletcher
Suplente Maércio A. Resende
1977
Presidente e Gerente Geral Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Diretor Paulo R. Magalhães
Diretor Hugo M. Etchenique
Diretor James Baines
Diretor David Reeves
Diretor Maércio A. Resende
Suplente P. B. Truman
Suplente J. S. Buchan
Suplente Martim Affonso dos Anjos
1978-1979
Conselho de Administração
Presidente Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Hugo M. Etchenique
Conselheiro James Baines
Conselheiro David Reeves
Conselheiro Maércio A. Resende
Conselheiro Paulo D. Villares
Conselheiro Roberto d'Utra Vaz
Diretoria
Presidente Keith S. Bush
Diretor David Reeves
Diretor Martim Affonso dos Anjos
Diretor Roberto d'Utra Vaz
380
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1980
Conselho de Administração
Presidente Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Hugo M. Etchenique
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Conselheiro David Reeves
Conselheiro Maércio A. Resende
Conselheiro Paulo D. Villares
Conselheiro Roberto d'Utra Vaz
Diretoria
Diretor Gerente Geral David Reeves
Diretor Renato Pasqualini
Diretor Martim Affonso dos Anjos
Diretor Roberto d'Utra Vaz
1981-1983
Conselho de Administração
Presidente Keith S. Bush
Vice-Presidente Sérgio P. Mellão
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Hugo M. Etchenique
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Conselheiro David Reeves
Conselheiro Martim Affonso dos Anjos
Conselheiro Paulo D. Villares
Conselheiro Roberto d'Utra Vaz
Diretoria
Diretor Gerente Geral David Reeves
Diretor Renato Pasqualini
Diretor Martim Affonso dos Anjos
Diretor Roberto d'Utra Vaz
381
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1984
Conselho de Administração
Presidente Keith Smedberg Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Sérgio Pinho Melão
Conselheiro David Reeves
Conselheiro Moacyr Servilha Duarte
Conselheiro Mário José Lourenço dos Santos
Conselheiro Martim Affonso Costa dos Anjos
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Presidente David Reeves
Diretor Vice-Presidente Martim Affonso Costa dos Anjos
Diretor Alberto Bacchiocchi
Diretor Ivo de Miranda Reis
Diretor Getulio Reis Arrigo
Diretor Renato Pasqualini
1985
Conselho de Administração
Presidente Keith Smedberg Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Sérgio Pinho Melão
Conselheiro David Reeves
Conselheiro Moacyr Servilha Duarte
Conselheiro Mário José Lourenço dos Santos
Conselheiro Martim Affonso Costa dos Anjos
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Presidente David Reeves
Diretor Vice-Presidente Martim Affonso Costa dos Anjos
Diretor Alberto Bacchiocchi
Diretor Ivo de Miranda Reis
Diretor Aziz Adib Naufal
Diretor Renato Pasqualini
382
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1986-1987
Conselho de Administração
Presidente Keith Smedberg Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Sérgio Pinho Melão
Conselheiro Diego Jorge Bush
Conselheiro Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Martim Affonso Costa dos Anjos
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Presidente Martim Affonso Costa dos Anjos
Diretor Alberto Bacchiocchi
Diretor Konrad Robert Keller
Diretor Renato Pasqualini
Diretor Ivo de Miranda Reis
Diretor Abel Pascual López
Diretor Andráz Gyorgy Vásárhelyi
Diretor Milton Correa Henrique
1988
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Sérgio Pinho Mellão
Conselheiro Keith Smedberg Bush
Conselheiro Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Martim Affonso Costa dos Anjos
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Superintendente Alberto Bacchiocchi
Diretor Superintendente Konrad Robert Keller
Diretor Superintendente Pérsio Dalle Piagge
Diretor Superintendente Ivo de Miranda Reis
Diretor Abel Pascual López
Diretor Andráz Gyorgy Vásárhelyi
Diretor Milton Correa Henrique
383
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1989
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Martim Affonso Costa dos Anjos
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Conselheiro Sérgio Pinho Mellão
Diretoria
Diretor Superintendente Alberto Bacchiocchi
Diretor Superintendente Konrad Robert Keller
Diretor Superintendente Pérsio Dalle Piagge
Diretor Superintendente Ivo de Miranda Reis
Diretor Abel Pascual López
Diretor Andráz Gyorgy Vásárhelyi
Diretor Mário Norberto Barros Gomes
Diretor Milton Correa Henrique
1990
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Martim Affonso Costa dos Anjos
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Superintendente Alberto Bacchiocchi
Diretor Superintendente Konrad Robert Keller
Diretor Superintendente Pérsio Dalle Piagge
Diretor Superintendente Ivo de Miranda Reis
Diretor Abel Pascual López
Diretor Andráz Gyorgy Vásárhelyi
Diretor Mário Norberto Barros Gomes
Diretor Milton Correa Henrique
384
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1991
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Alberto Bacchiocchi
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Superintendente Alberto Bacchiocchi
Diretor Superintendente Konrad Robert Keller
Diretor Superintendente Pérsio Dalle Piagge
Diretor Mario Norberto Barros Gomes
Diretor Francisco S. Morales Cespede
1993
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Hugo Miguel Etchenique
Vice-Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Alberto Bacchiocchi
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Alberto Bacchiocchi
Diretor Mario Norberto Barros Gomes
Diretor Francisco S. Morales Cespede
1994
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Alberto Bacchiocchi
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Paulo Reis de Magalhães
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Paulo Roberto Sinoti
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Alberto Bacchiocchi
Diretor Mario Norberto Barros Gomes
Diretor Francisco S. Morales Cespede
385
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1995
Conselho de Administração
Presidente Diego Jorge Bush
Vice-Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Vice-Presidente Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Alberto Bacchiocchi
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Mário da Silveira Teixeira Junior
Conselheiro Paulo Diederichsen Villares
Conselheiro Paulo Roberto Sinoti
Conselheiro Roberto Teixeira da Costa
Diretoria
Diretor Alberto Bacchiocchi
Diretor Mario Norberto Barros Gomes
Diretor Francisco S. Morales Cespede
1997
Conselho de Administração
Presidente Alcides Lopes Tápias
Conselheiro Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Mário da Silveira Teixeira Junior
Conselheiro Paulo Roberto Sinoti
Conselheiro Suplente Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Suplente Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Suplente Maurício Antônio Quadrado
Conselheiro Suplente Otto Werner Nolte
Diretoria
Presidente Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Diretor Francisco Silvério Morales Cespede
Dir etor Eduardo Pereira Lara
Diretor Paulo Pereira Lalli
1998
Conselho de Administração
Presidente Alcides Lopes Tápias
Conselheiro Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Mário da Silveira Teixeira Junior
Conselheiro Paulo Roberto Sinoti
Conselheiro Suplente Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro Suplente Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Suplente Maurício Antônio Quadrado
Conselheiro Suplente Otto Werner Nolte
Diretoria
Diretor Presidente e Conselheiro Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Diretor e Conselheiro Suplente Francisco Silvério Morales Cespede
Diretor Eduardo Pereira Lara
Diretor Paulo Pereira Lalli
Diretor João Francisco Rached de Oliveira
386
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
1999
Conselho de Administração
Presidente (29/09/1999) Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro (29/09/1999) Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro João Moisés de Oliveira
Conselheiro Paulo Roberto Sinoti
Conselheiro Suplente Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Suplente José Édison Barros Franco
Conselheiro Suplente Inácio Clemente da Silva
Conselheiro Suplente Otto Werner Nolte
Diretoria
Diretor Presidente e Conselheiro Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Diretor e Conselheiro Suplente Francisco Silvério Morales Cespede
Diretor Eduardo Pereira Lara
Diretor Paulo Pereira Lalli
2000
Conselho de Administração
Presidente Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheiro Carlos Pires Oliveira Dias
Conselheiro João Moisés de Oliveira
Conselheiro Paulo Roberto Sinoti
Conselheiro Suplente Fernando de Arruda Botelho
Conselheiro Suplente José Édison Barros Franco
Conselheiro Suplente Inácio Clemente da Silva
Conselheiro Suplente Otto Werner Nolte
Diretoria
Diretor Presidente e Conselheiro Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Diretor e Conselheiro Suplente Francisco Silvério Morales Cespede
Diretor de Recursos Humanos Arnaldo Inocêncio de Mello Franco
Diretor de Negócios Walter Jesus da Silva Filho
Diretor de Negócios Paulo Pereira Lalli
387
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
2001
Conselho de Administração
Presidente Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Conselheiro José Édison Barros Franco
Conselheiro Otto Werner Nolte
Conselheiro Denise Pauli Pavarina de Moura
Conselheiro Mauro Martin Costa
Conselheiro Suplente Francisco Silvério Morales Cespede
Conselheiro Suplente Cassiano Ricardo Scarpelli
Conselheiro Suplente Luis Alberto Figueiredo de Sousa
Conselheiro Suplente Lenin Florentino de Faria
Conselheiro Suplente Edy Luiz Kogut
Diretoria
Diretor Presidente Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Diretor de Adm. Fin. e Rel. Investidores Francisco Silvério Morales Cespede
Diretor de Recursos Humanos Arnaldo Inocêncio de Mello Franco
Diretor de Negócios Walter Jesus da Silva Filho
Diretor de Negócios Paulo Pereira Lalli
2002
Conselho de Administração
Presidente Fernando Tigre de Barros Rodrigues
Conselheiro José Édison Barros Franco
Conselheiro Otto Werner Nolte
Conselheiro Eleazar de Carvalho Filho
Conselheiro Paulo de Tarso Camargo Opice
Conselheiro Suplente Mauro Martin Costa
Conselheiro Suplente Francisco Silvério Morales Cespede
Conselheiro Suplente Cassiano Ricardo Scarpelli
Conselheiro Suplente Luis Alberto Figueiredo de Sousa
Conselheiro Suplente Lenin Florentino de Faria
Conselheiro Suplente Edy Luiz Kogut
Diretoria
Diretor de Recursos Humanos Arnaldo Inocêncio de Mello Franco
Diretor de Negócios Walter Jesus da Silva Filho
Diretor de Negócios Paulo Pereira Lalli
Diretor de Negócios Márcio Luiz Simões Utsch
388
ANEXO 46 (Cont.) Histórico do Corpo Executivo da São Paulo Alpargatas S.A.
2003
Conselho de Administração
Presidente José Édison Barros Franco
Conselheiro Flávia Buarque de Almeida
Conselheiro Otto Werner Nolte
Conselheiro Eleazar de Carvalho Filho
Conselheiro Paulo de Tarso Camargo Opice
Conselheiro Suplente Mauro Martin Costa
Conselheiro Suplente Francisco Silvério Morales Cespede
Conselheiro Suplente Luis Alberto Figueiredo de Sousa
Conselheiro Suplente Lenin Florentino de Faria
Conselheiro Suplente Edy Luiz Kogut
Diretoria
Diretor Presidente Superintendente Márcio Luiz Simões Utsch
Diretor de Relação com Investidores Francisco Silvério Morales Cespede
Diretor de Recursos Humanos Arnaldo Inocêncio de Mello Franco
Diretor de Negócios Calçados Esportivos Walter Jesus da Silva Filho
Diretor de Negócios Sandálias Paulo Pereira Lalli
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