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Esses desafios puderam ser vistos, concretamente, no contexto da
capoeira na análise da roda do Arco do Triunfo, em Florianópolis-SC, durante o
ano de 2003. Essa roda de capoeira foi uma iniciativa de vários agentes, que
buscavam uma abertura e convivência solidária como seus pares. No entanto,
lidar com diferentes perspectivas de atuação produziu, no caso desta roda,
conflitos para os quais, talvez, os agentes não estavam preparados, tendo sido
rompida uma experiência impar de convivência.
Não obstante, se a roda da capoeira tende a demonstrar os conflitos de
forma acirrada, aquela experiência foi fundamental no percurso da organização de
uma associação que, atualmente, congrega capoeiristas de Santa Catarina,
pertencentes a diferentes grupos
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. Tal associação, chamada Confraria
Catarinense de Capoeira
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– esta é uma entidade que congrega capoeiristas,
estudiosos e outros interessados pela capoeira, vem sendo organizada desde
2003, visando a ações coletivas em prol do desenvolvimento da prática da
capoeira no estado de Santa Catarina – exerce, hoje, juntamente com o Núcleo
Mover – Educação Intercultural e Movimentos Sociais, Centro de Ciências da
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Os grupos e associações abarcam, hoje, grande parte dos praticantes de capoeira. A maioria
deles possui nomes, brasões – de maneira semelhante aos símbolos dos times de futebol – porém
ostentando figuras e imagens ligadas à capoeira. Alguns possuem existência jurídica, além de
estatutos e regras bem definidas para a participação dos seus filiados(as). Por vezes, existe um
certo sentido de concorrência e rivalidade entre os grupos, ligado às diferentes filosofias e
entendimentos, que cada um tem sobre a prática da capoeira. Vários deles, hoje, têm
representações em muitos países. A forte presença dos grupos no cenário da capoeira atual traz
inflexões para a pesquisa sobre o tema. Pois, influenciam fortemente a prática da capoeira,
especialmente no que diz respeito ao seu ensino e ao fato de muitos terem e aplicarem na
capoeira – não estou querendo aqui fazer juízo de valor sobre isto – uma visão empresarial. Tal
visão redunda em pagamentos de mensalidades, venda e compra de produtos, como uniformes,
ligados à prática de capoeira, conforme este modelo de grupos. Especialmente, trazem questões
ligadas às suas filosofias, aos métodos de ensino, às regras de organização etc. as quais, talvez,
possam ser analisadas no âmbito da pesquisa acadêmica. Neste trabalho, não trato
especificamente dos grupos de capoeira. Contudo, a análise das musicalidades das rodas de
capoeira tocará em questões que, penso eu, são caras aos grupos de capoeira, como os vários
toques musicais, as várias formas de organização dos instrumentos etc, vistas as diferenças de
práticas musicais intrínsecas a este universo.
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“Logo após a realização do I Congresso Nacional de Capoeira, nos dias 15, 16 e 17 de agosto
de 2003, em São Paulo, os representantes catarinenses, presentes naquele, evento decidiram
formalizar uma comissão que desse prosseguimento às discussões e análises sobre as principais
questões que envolvem a Capoeira na atualidade e desencadeasse um amplo processo de
debates e esclarecimentos dos capoeiras em geral. Esse grupo se auto-organizou como Confraria
Catarinense de Capoeira (TRIPLO-C) e vem trabalhando organicamente para contribuir com o
desenvolvimento da Capoeira no Estado de Santa Catarina e no Brasil. Dele fazem parte
lideranças e participantes de vários grupos de capoeira (...), juntamente com estudiosos e alunos
interessados, bem como, outros participantes eventuais” (Confraria Catarinense de Capoeira,
2005). Ver Corte Real (2004 – disponível em
http://www.ced.ufsc.br/nucleos/mover/publicacoes.php?limit=5&cat=5&action=&text
=, acessado
em 2006): A capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de
educadores(as).