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um avalie e transforme seu conhecimento e sua identidade através de um
conhecimento em mudança constante sobre a identidade de outros”
(RINALDI, 1999, p. 117).
Conforme Dahlberg, Moss e Pence,
Em Reggio Emilia, eles compartilham uma visão
construcionista social baseada em conceitos como construção,
co-construção e reconstrução [...] Heinz von Foerster, a quem
Malaguzzi freqüentemente aludia, declarava que “a
objetividade é uma falsa visão do sujeito de que a observação
pode acontecer sem ele”. Para Malaguzzi, a idéia de que não
podemos descrever nosso mundo sem percebermos e
estarmos conscientes de que o estamos descrevendo foi
alimentada por uma inspiração que ele extraiu de várias
disciplinas. [...] associada à perspectiva construcionista social
de Malaguzzi está a sua consciência do poder e do processo
de representação. (DAHLBERG, 2003, p. 161).
O construtivismo social, bem ao gosto do pós-modernismo, sustenta
que o conhecimento não é acumulado, mas construído; não é universal e sim
contextualizado e localizado; não é objetivo e sim dependente de
perspectivas; não há verdade, nem mesmo realidade, que possa transcender
o contexto social local e a verdade sobre a realidade é literalmente construída
com opções entre interpretações, igualmente justificáveis.
Duarte (2000, 2005) e Arce (2001, 2004) defendem a tese de que o
pós-modernismo, o construtivismo e o neoliberalismo
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estão vinculados a
um mesmo universo ideológico. Chamam a atenção para a infiltração, no
pensamento pedagógico, da epistemologia implícita ao ideário neoliberal,
100
O neoliberalismo nasceu logo depois da 2
a
Guerra Mundial nos países que formavam o
núcleo duro do capitalismo (parte da Europa e América do Norte). Seu texto de origem é O
caminho da servidão, de Friedrich Hayek, escrito em 1944. A sociedade de Mont Pèlerin,
fundada na Suíça em 1947, tinha o propósito de combater o keynesianismo e o solidarismo
reinantes e preparar as bases de um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regra para o
futuro. As idéias neoliberais não encontraram eco, a princípio, pois neste período o
capitalismo avançado entrou numa longa fase de auge sem precedentes (a era de ouro do
capitalismo, segundo Hobsbawm). A partir da crise do petróleo em 1973, quando o mundo
capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão, é que o ideário neoliberal ganhou
força, vindo gradativamente a se tornar hegemônico. Os governos de Thatcher na Inglaterra
e Reagan nos Estados Unidos foram os primeiros a colocar em prática os preceitos do
programa neoliberal seguido rapidamente por outros países. O programa se baseava
sobretudo na contração da emissão monetária, na elevação das taxas de juros, na abolição
do controle sobre o fluxo de capitais, na queda drástica dos impostos sobre os rendimentos
altos, na criação de níveis de desemprego massivos, no corte de gastos sociais, na criação
de leis anti-sindicais e num amplo programa de privatização (ANDERSON, 1995). Essas
medidas com algumas variações foram colocadas em prática pelos governos e o uso de
algumas categorias para defini-las começaram a ser correntes: qualidade total, flexibilidade,
competitividade, eqüidade, eficiência, descentralização, eficácia e produtividade.