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FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE S-GRADUAÇÃO EM LETRAS
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGÜÍSTICA
APLICADA
A INFLUÊNCIA DA TERAPIA DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO NA
COMPREENSÃO EM LEITURA: UMA
ABORDAGEM CONEXIONISTA
Maria Inês Dornelles da Costa-Ferreira
Porto Alegre, outubro de 2007
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2
Maria Inês Dornelles da Costa-Ferreira
A INFLUÊNCIA DA TERAPIA DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO NA
COMPREENSÃO EM LEITURA: UMA
ABORDAGEM CONEXIONISTA
Tese apresentada como requisito parcial para
a obtenção do grau de Doutor em Letras,
pelo Programa de Pós-graduação em Letras
da Faculdade de Letras da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Orientador: Prof. Dr. José Marcelino Poersch
Porto Alegre
2007
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3
4
Dedico este trabalho à minha Família
5
AGRADECIMENTOS
À CAPES, pela bolsa de estudos concedida;
Ao PPGL, na pessoa da Profª Dr. Regina Ritter Lamprecht;
Ao meu orientador, Prof. José Marcelino Poersch, pelo exemplo de jovialidade
e determinação;
Ao Centro Universitário Metodista IPA e ao Instituto Estadual de Educação
Paulo da Gama, pela receptividade à pesquisa;
À Profª Marlene Canarim Danesi, pelo incentivo na conclusão deste trabalho;
Aos meus ex-alunos e colaboradores Aline Mello, Andréia Porto, Camila
Ceron, Carla Hoffmann, Cintia Santos, Fernanda Frosi, Juliana Krob, Karina Souza,
Kátia Cholant, Lisiene Teixeira, Manoela Czuka, Marieta Lora, Régis Souza, Rita
Signor e Simone Elias, e às Fonoaudiólogas: Caroline Bortoluzzi, Daniela Marques e
Taciane Bortoncello, pelo empenho e seriedade na coleta de dados;
À fonoaudióloga Ana Alvarez, pela valiosa contribuição para o trabalho e para
a vida;
À Joselaine Sebem de Castro e à colega Fga. Rosangela Marostega Santos
pelas sugestões e contribuições teóricas;
À Lia Marquardt pela cuidadosa revisão;
À colega e amiga Mauriceia Cassol, pelo apoio;
Aos meus pais, Hélio e Nivalda, pelo incentivo e dedicação de sempre;
Aos Luizes da minha vida: Fernando, pela dedicação e companheirismo, e
Felipe, pelo sorriso e olhar contagiante;
A todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho:
Minha eterna gratidão.
6
RESUMO
Este estudo objetiva a verificação do aumento dos escores de compreensão em
leitura através da terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo em
crianças de 8 a 11 anos que apresentam distúrbio do processamento auditivo. O grupo
experimental foi constituído por 19 participantes que receberam tratamento durante 5
meses. Participaram do grupo de controle 21 participantes que não receberam
tratamento fonoaudiológico. Os testes de processamento auditivo e de compreensão
em leitura foram aplicados em 2 momentos: antes e depois da terapia, para o grupo
experimental, e na primeira e segunda avaliação, para o grupo de controle. Os
escores de compreensão em leitura de ambos os grupos foram tratados
estatisticamente, permitindo a corroboração da hipótese desta pesquisa: a terapia do
processamento auditivo melhora os escores em compreensão leitora do grupo
experimental, principalmente no teste de Múltipla Escolha. O resultado da pesquisa
constitui prova do processamento por distribuição em paralelo, defendido pelo
paradigma conexionista.
Palavras-chave: Perda Auditiva Central; Compreensão em Leitura; Neuropsicologia;
Conexionismo
7
ABSTRACT
This study aims at verifying the increase in reading comprehension scores after
phonoaudiological therapy emphasizing the auditory processing in 8 – 11 year-olds who
present with auditory processing disorder. The experimental group was constituted of 19
subjects who underwent a five-month treatment. Twenty-one subjects participated in the
control group, who did not undergo a phonoaudiological treatment. Tests of auditory
processing and reading comprehension were applied in two different moments: both before
and after therapy in the experimental group, and both at the first and the second evaluation of
the control group. Reading comprehension scores of both groups were statistically treated,
thus allowing for the corroboration of the hypothesis of this research: auditory processing
therapy improves reading comprehension scores of the experimental group, mainly in the
multiple-choice test. The result of this research is an evidence of processing through parallel
distribution as proposed by the connectionism paradigm.
Key Words: Hearing Loss, Central; Comprehension; Neuropsychology; Connectionism.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Ganho do teste lacunado ao comparar os grupos de controle e
experimental .......................................................................................................116
Figura 2 - Ganho do teste de múltipla escolha ao comparar os grupos de controle e
experimental........................................................................................................117
Figura 3 - Ganho da média de ambos os testes ao comparar os grupos de controle e
experimental .......................................................................................................118
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Desempenho dos participantes do grupo experimental nos testes de
compreensão em leitura (pré-terapia e pós-terapia)...............................................111
Tabela 2 - Desempenho dos participantes do grupo de controle nos testes de
compreensão em leitura (1ª e 2ª avaliação)...........................................................112
Tabela 3: Comparação entre os subperfis de alteração do processamento auditivo, na
1ª e 2ª avaliação, no grupo de controle. ...............................................................113
Tabela 4: Comparação entre os subperfis de alteração do processamento auditivo, no
pré e pós tratamento, no grupo experimental.........................................................114
Tabela 5: Comparação entre os testes de compreensão em leitura, na 1ª e 2ª
avaliação, no grupo de controle............................................................................115
Tabela 6: Comparação entre os testes de compreensão em leitura, no pré e pós-
tratamento, no grupo experimental.......................................................................116
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Distribuição dos participantes do grupo experimental de acordo com
idade, série e sexo. ................................................................................................48
Quadro 2 - Distribuição dos participantes do grupo de controle de acordo com idade,
série e sexo............................................................................................................49
Quadro 3 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo
experimental (pré-terapia)....................................................................................107
Quadro 4 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo
experimental (pós-terapia)....................................................................................108
Quadro 5 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo de
controle (1ª avaliação).........................................................................................109
Quadro 6 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo de
controle (2ª avaliação).........................................................................................110
11
LISTA DE SIGLAS
DC Direita Competitiva
DD Dicótico de Dígitos
DD IB OD Dicótico de Dígitos Integração Binaural Orelha Direita
DD IB OE Dicótico de Dígitos Integração Binaural Orelha Esquerda
DD ADD Dicótico de Dígitos Atenção Direcionada à Direita
DD ADE - Dicótico de Dígitos Atenção Direcionada à Esquerda
DNC Direita Não-Competitiva
DPS Duration Pattern Sequence
DPS M Duration Pattern Sequence Murmurando
DPS N - Duration Pattern Sequence Nomeando
EC Esquerda Competitiva
ENC Esquerda Não-Competitiva
F - Feminino
IRF - Índice de Reconhecimento de Fala
LAC Lacunado
LRF - Limiar de Reconhecimento de Fala
M Masculino
ME Múltipla Escolha
PET Tomografia por Emissão de Pósitrons
PDP Processamento Distribuído em Paralelo
12
PPS Pitch Pattern Sequence
PPS M Pitch Pattern Sequence Murmurando
PPS N - Pitch Pattern Sequence Nomeando
SSW - Staggered Spondaic Word
SSW A Staggered Spondaic Word padrão tipo A
SSW DC - Staggered Spondaic Word Direita Competitiva
SSW EC - Staggered Spondaic Word Esquerda Competitiva
TDAH Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
VOT Voice Onset Time
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................
16
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .........................................................................
19
2.1 PROCESSAMENTO AUDITIVO .................................................................................
20
2.2 PARADIGMA CONEXIONISTA ..................................................................................
28
2.3 COMPREENSÃO EM LEITURA .................................................................................
33
3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA .........................................................................
44
4 METODOLOGIA .................................................................................................
45
4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PESQUISA .............................................................
45
4.2
POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM ................................................................................
46
4.2.1
Dados da amostragem ................................................................................................
47
4.3
DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS ..........................................................................
51
4.3.1
Instrumentos utilizados para a seleção da amostragem ...........................................
51
4.3.2
Instrumentos utilizados para a realização da pesquisa .............................................
51
4.4
APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS ..........................................................................
55
4.4.1
Terapia fonoaudiológica ............................................................................................
63
4.4.1.1
Participante 1...............................................................................................................
63
4.4.1.2
Participante 2...............................................................................................................
65
4.4.1.3
Participante 3...............................................................................................................
69
14
4.4.1.4
Participante 4...............................................................................................................
71
4.4.1.5
Participante 5...............................................................................................................
73
4.4.1.6
Participante 6...............................................................................................................
76
4.4.1.7
Participante 7...............................................................................................................
78
4.4.1.8
Participante 8...............................................................................................................
81
4.4.1.9
Participante 9...............................................................................................................
83
4.4.1.10
Participante 10..............................................................................................................
85
4.4.1.11
Participante 11..............................................................................................................
87
4.4.1.12
Participante 12..............................................................................................................
89
4.4.1.13
Participante 13..............................................................................................................
91
4.4.1.14
Participante 14..............................................................................................................
93
4.4.1.15
Participante 15..............................................................................................................
94
4.4.1.16
Participante 16..............................................................................................................
97
4.4.1.17
Participante 17..............................................................................................................
99
4.4.1.18
Participante 18..............................................................................................................
101
4.4.1.19
Participante 19..............................................................................................................
103
4.5
TABULAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA ...............................................................
106
4.6
AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES E RESULTADOS ......................................................
112
5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................................
121
CONCLUSÃO.........................................................................................................
138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................
141
APÊNDICE A -
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO......................................................................................
153
APÊNDICE B TESTE LACUNADO.....................................................
156
APÊNDICE C TESTE DE MÚLTIPLA ESCOLHA.............................
158
ANEXO A - AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA ..........................................
160
ANEXO B - MEDIDAS DE IMITÂNCIA ACÚSTICA ...........................
161
15
ANEXO C TESTE DICÓTICO DE DÍGITOS .....................................
162
ANEXO D TESTE SSW .......................................................................
163
ANEXO E TESTE PPS .........................................................................
164
ANEXO F TESTE DPS ........................................................................
165
16
1 INTRODUÇÃO
O interesse pelo tema da pesquisa surgiu da observação de crianças durante a
terapia fonoaudiológica, ao constatar a co-ocorrência entre o distúrbio do
processamento auditivo e as alterações de fala e aprendizagem respaldada pelos
trabalhos de Roggia (1997); Perissinoto et al. (1997); Guimarães (1999) e Costamilan
(2001). A partir desses estudos e da pesquisa de Costa (2003), que confirmou a
relação entre audição e leitura, foi possível o planejamento da presente pesquisa.
O foco deste estudo é a relação entre processamento auditivo e compreensão
em leitura sob a perspectiva conexionista, com a finalidade de observar a variação
dos escores em compreensão leitora após o tratamento do processamento auditivo.
Espera-se que tal variação (melhora dos escores de compreensão leitora) constitua-se
na prova do conexionismo em função de que ambas as variáveis, processamento
auditivo e leitura, compartilham as mesmas estruturas neuroanatômicas sendo esta a
motivação do estudo.
O processamento auditivo é a capacidade de organizar e compreender os
estímulos sonoros que recebemos (PERISSINITO et al.,1997; SANCHEZ et al.,
2002) e desenvolve-se a partir das experimentações sonoras pelas quais a criança
passa principalmente nos dois primeiros anos de vida devido ao amadurecimento das
estruturas do sistema nervoso central. Assim, o paradigma lingüístico mais adequado
para fundamentar esta pesquisa é o conexionista, que se baseia nos estudos sobre o
sistema nervoso central.
O paradigma conexionista busca explicar os processos cognitivos envolvidos
na aquisição, armazenamento, processamento e recuperação de conhecimentos e
desvendar como ocorre o processamento da informação no cérebro. Dessa forma, a
17
aquisição do conhecimento é o resultado das atividades físico-químicas das sinapses
do cérebro em funcionamento (YOUNG E CONCAR, 1992). Os autores referem que
o neurônio é a unidade básica do processamento da informação.
O objetivo do presente estudo é analisar a relação entre o aumento dos escores
de compreensão em leitura do grupo experimental, após o tratamento do
processamento auditivo de crianças de 8 a 11 anos, comparado a um grupo controle.
Destaca-se como variável independente o processamento auditivo e como variável
dependente a compreensão em leitura.
O tratamento do processamento auditivo representa, para o paradigma
conexionista, o reforço das sinapses do cérebro em funcionamento visando à
aquisição, armazenamento e processamento do conhecimento. Através desse
tratamento, espera-se o aumento dos escores de compreensão em leitura que
representam o resgate da informação.
Os testes para a verificação da compreensão em leitura são administrados
antes e depois do tratamento do processamento auditivo. Caso identifique-se o
aumento dos escores de compreensão em leitura do grupo experimental, a validação
da hipótese do presente estudo poderá ser realizada.
A tese defendida aborda o aumento dos escores de compreensão em leitura,
que representam o resgate à informação, e pode ser explicado, através do paradigma
conexionista, pois o tratamento da variável independente (processamento auditivo)
permite a melhora na compreensão em leitura.
Esta tese encontra-se estruturada em 6 capítulos. O primeiro contém a
justificativa e os aspectos gerais da pesquisa, além de informações sobre a
organização do texto.
O segundo capítulo apresenta os pressupostos teóricos que sustentam os
aspectos abordados neste trabalho, como a relação entre processamento auditivo e
compreensão em leitura vista sob o paradigma conexionista, cujo alicerce encontra-se
na neurociência.
A seguir, o capítulo denominado definição do problema aborda o objetivo, a
hipótese e as variáveis da presente pesquisa.
A metodologia encontra-se no quarto capítulo que apresenta a amostragem
assim como os instrumentos e os procedimentos utilizados na coleta de dados. Os
resultados também são abordados neste capítulo.
18
O quinto capítulo destina-se à discussão ao relacionar os resultados com os
pressupostos teóricos abordados no segundo capítulo. Neste constam, também,
pesquisas atuais que relacionam o processamento auditivo à compreensão em leitura,
assim como estudos semelhantes.
Por fim, o último capítulo destina-se às conclusões e aplicações da presente
pesquisa assim como o levantamento de questões pertinentes a futuras pesquisas.
19
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
O presente capítulo aborda os temas necessários à fundamentação teórica desta
pesquisa, que são: processamento auditivo, compreensão em leitura e paradigma
conexionista. Esses temas justificam-se pelo objetivo a ser atingido, que é a
observação do aumento dos escores de compreensão em leitura, do grupo
experimental, após o tratamento do processamento auditivo.
O primeiro tópico destina-se à abordagem da fisiologia auditiva assim como o
conceito e os subperfis de alteração do processamento auditivo que são necessários à
elaboração do tratamento dos participantes da pesquisa. O estudo da fisiologia
auditiva central é imprescindível ao relacioná-lo com as bases neuro-anatômicas do
aprendizado da leitura. Nesse ponto situa-se a relação entre ambas as variáveis, pois
tanto o processamento auditivo quanto a leitura compartilham estruturas anatômicas.
Ainda nos pressupostos referentes à compreensão em leitura são abordados os
aspectos relacionados à aprendizagem da leitura e à consciência fonológica que
envolve algumas habilidades auditivas. Como o objetivo da presente pesquisa é
correlacionar o aumento dos escores de compreensão em leitura com a terapia do
processamento auditivo, algumas referências sobre problemas de compreensão em
leitura são citadas, na intenção de tecer a relação desse tópico com as alterações
neuro-funcionais.
As variáveis da pesquisa (processamento auditivo e compreensão em leitura)
são estudadas à luz do paradigma conexionista, pois, caso a hipótese da pesquisa seja
corroborada, constitui-se na prova do conexionismo, uma vez que o tratamento das
habilidades auditivas possibilita o aumento dos escores em leitura.
20
2.1 PROCESSAMENTO AUDITIVO
O termo processamento auditivo refere-se à capacidade de organizar e
compreender os estímulos sonoros que recebemos (PERISSINITO et al., 1997;
SANCHEZ et al., 2002) e desenvolve-se a partir das experimentações sonoras pelas
quais a criança passa principalmente nos dois primeiros anos de vida devido ao
amadurecimento das estruturas do sistema nervoso central. Envolve um conjunto de
habilidades necessárias para atender, discriminar, reconhecer, armazenar e
compreender a informação auditiva. Dessa forma, conforme Katz e Wilde (1999),
processamento auditivo é aquilo que se faz com o que se ouve.
Até chegar ao estágio final do processamento da informação, o estímulo
sonoro passa por diversas estruturas que são mencionadas a seguir.
A via auditiva periférica encontra-se pronta ao nascimento (ZEMLIN, 2000) e
engloba a orelha externa, a orelha média e a orelha interna. A orelha externa
compreende o pavilhão auricular e o meato acústico externo limitando-se com a
orelha média através da membrana timpânica que se encontra ligada aos três
ossículos (martelo, bigorna e estribo), músculos, ligamentos e canal faringotimpânico
da orelha média. Juntas, as orelhas, externa e média formam o componente condutivo
responsável pela condução do som do meio externo ao meio interno.
A orelha interna compreende a cóclea e os canais semicirculares. A cóclea
representa o componente sensorial transformando o impulso sonoro em elétrico para
que o componente neural receba, analise e programe uma resposta. Esse, não está
totalmente pronto ao nascimento desenvolvendo-se a partir das experiências sonoras
pelas quais as crianças passam principalmente nos dois primeiros anos de vida, época
em que forma suas primeiras conexões.
A construção das conexões neuroniais ocorre na maior parte do período entre
o nascimento e os 4 anos de idade (NEVILLE e BAVALIER, 1999), sendo que os 2
primeiros anos de vida são cruciais. Nesta faixa etária, o cérebro está mais sensível
aos estímulos do ambiente e forma o maior número de ligações neuroniais possíveis.
Além disso, Crick e Asanuma (1986) referem que há neurônios especializados, ou
seja, alguns neurônios respondem melhor a um grupo de características do estímulo
dado.
21
Outros estudos apontam a existência de um período de alta plasticidade
auditiva até os 6 anos de idade (MANRIQUE et al., 1999; ROBINSON, 1998). Em
suma, aquilo que é importante para a formação no cérebro deve ocorrer na infância
em fuão da reorganização do cérebro e das experiências vividas (HERCULANO-
HOUZEL, 2005). A partir desse pressuposto, torna-se possível descrever a via
auditiva, bem como, a respectiva função de cada estrutura.
De acordo com Lent (2005), os receptores sensoriais da audição não são
neurônios, e sim células primárias que se conectam através de sinapses com
neurônios secundários e estes, com neurônios terciários. Esses circuitos em cadeia
levam a informação trazida do ambiente pelos receptores a níveis mais complexos no
sistema nervoso.
A transdução da informação é realizada pelos receptores (células ciliadas) e
consiste na transformação da energia do ambiente em potenciais bioelétricos através
de uma sinapse com a extremidade dendtica da célula de segunda ordem localizada
no gânglio espiral cujos axônios estão compactados no 8º nervo. As características
mais importantes da transdução são a intensidade e a duração do estímulo. Assim,
quanto mais intenso e duradouro for o estímulo, mais forte e duradouro será o
potencial receptor. Já a codificação neural consiste na transformação do potencial
receptor em potenciais de ação. O potencial de ação é um sinal elétrico muito rápido
que confere ao neurônio a capacidade de transmitir a informação. O intervalo de
tempo entre os potenciais de ação é muito variável, permitindo veicular em código
digital diferentes mensagens. Assim, a informação auditiva é codificada, conduzida
através do nervo auditivo até o núcleo coclear ventral.
Nesse momento, já no tronco cerebral, tem-se o início da via auditiva central
(BELLIS, 2003). Tal separação é apenas didática, pois o processamento auditivo
depende da integridade da via auditiva periférica. Qualquer alteração nesta via, a
longo prazo, pode trazer prejuízo ao processamento da informação. Assim, uma
criança que teve problemas de audição na infância como uma otite, por exemplo,
pode ficar com os neurônios do tronco cerebral mal conectados o que poderá
ocasionar intercorrências na fala (ROGGIA,1997; ZILIOTTO et al., 2002), na
compreensão em leitura (COSTA, 2003) e na aprendizagem (PERISSINOTO et al.,
1997; GUIMARÃES, 1999 e COSTAMILAN, 2001).
22
As células do núcleo coclear também são tonotopicamente organizadas em três
divisões do núcleo coclear (CHERMAK e MUSIEK, 1997). Essa representação
coclear é repetida ao longo das vias auditivas ascendentes (KINGSLEY, 2001).
Algumas fibras projetam-se contralateralmente, mas a maioria ascende no sentido
ipsilateral. Atua na percepção auditiva (localização da fonte sonora e reconhecimento
dos padrões temporais do som). Oferece contribuição importante na análise sensorial
complexa e na diminuição dos sinais de ruído de fundo. A codificação da informação
no núcleo coclear é importante para identificar as formantes, semivogais e
consoantes plosivas (AQUINO E ARAÚJO, 2002; BONALDI, 2004).
Após o núcleo coclear, a próxima estação da via auditiva central é o complexo
olivar superior cuja aferência é proveniente de ambas as orelhas (MUNHOZ et al.,
2000). Essas fibras binaurais sensíveis às informações de tempo, intensidade e
duração estão envolvidas na localização sonora de freqüências altas e baixas através
da comparação das características sonoras entre as duas orelhas. É responsável pela
lateralização, integração binaural (como ambas as orelhas trabalham juntas) e
reconhecimento de estímulos de fala em presença de mensagem competitiva. Sua
lesão altera a localização dos sons à direita e à esquerda. Encontra-se em conexão
com os núcleos motores relacionados com o reflexo de orientação ocular na direção
da fonte sonora.
O complexo olivar superior está relacionado com o desencadeamento do
reflexo estapediano devido a origem de fibras do sistema eferente (BESS e RUMES,
1998). É possível que alterações nestas funções ocorram concomitantes a alterações
do reflexo acústico na freqüência de 4000Hz ou dos reflexos contralaterais
(CARVALLO, 1996).
Do complexo olivar superior as fibras ascendem para o lemnisco lateral, local
onde continua a representação bilateral de estímulo auditivo com relação à
organização tonotópica (BELLIS, 2003). Lesões no lemnisco lateral, conforme
Munhoz et al. (2000), também alteram a localização da fonte sonora. De acordo com
Kingsley (2001), existem poucas informações a cerca da função dessa estrutura.
No colículo inferior, situado no mesencéfalo, realizam-se cruzamentos e
integrações das informações acústicas monoaurais e binaurais importantes para a
localização sonora (à frente, a cima e atrás da cabeça). Parte das informações
recebidas pelos colículos inferiores é projetada para os colículos superiores,
23
formação reticular e cerebelo para a coordenação dos olhos, cabeça e movimentos do
corpo em localização reflexa para a obtenção da direção à fonte sonora. Realizam um
mapeamento da posição sonora e contribuem para a manutenção da atenção ao
estímulo sonoro.
Os neurônios do colículo inferior projetam-se em direção ao corpo geniculado
medial, situado no tálamo, que possui muitos neurônios sensíveis ao estímulo
binaural e às diferenças de intensidade interaural. Parece ser o estágio mais
importante do processamento do estímulo verbal para o córtex.
Se o corpo geniculado medial é uma estrutura que responde pela via auditiva,
o corpo geniculado lateral responde pela via visual. Ambos, situados no tálamo,
configuram o primeiro local em que as vias auditivas e visuais se cruzam. Uma
disfunção nesta conexão pode acarretar intercorrências na leitura.
A conexão entre o corpo geniculado medial e o córtex auditivo constitui-se o
estágio final do processamento da informação.
O córtex auditivo primário é o local da sensação e percepção auditiva e está localizado
no giro de Heschl (MUNHOZ et al., 2000; BELLIS, 2003). Ele retém a organização
tonotópica da cóclea, analisa os sons complexos, inibe respostas inapropriadas e analisa o
estímulo auditivo dentro de um contexto temporal. Está envolvido na atenção seletiva e
orientação espacial do estímulo auditivo durante a localização sonora. Para isso utiliza
diferenças de intensidade de tempo de chegada do som e cada hemisfério possui zonas de
localização de sons do lado oposto (GAZZANIGA, IVRY e MANGUN, 2006). Nesse caso o
processamento encontra-se distribuído, ou seja, ele depende da atividade de várias estruturas
neuroniais (MIDDLEBOOKS, 1999). Também é responsável por comparar as informações
mandadas pelo tronco encefálico de forma crítica. Esse processo entre tronco e córtex chama-
se resolução temporal.
O giro angular é responsável pelo conhecimento dos estímulos lingüísticos. Springer e
Deutsch (1998) comentaram que a maior parte das desordens de leitura e escrita pode estar
relacionada a um dano no giro angular esquerdo ou em regiões adjacentes, pois está situado na
junção dos lobos parietal, temporal e occipital, integrando a informação sensorial auditiva e visual.
Um estímulo acústico, ao entrar pela orelha direita, percorre as estruturas do
tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar superior onde segue seu
caminho contralateralmente chegando ao córtex auditivo primário do hemisfério
esquerdo que é responsável pela informação lexical (associação da palavra com seu
significado), sintaxe, processos fonológicos e produção da fala. Após, essa
24
informação é encaminhada ao córtex auditivo secundário que está envolvido com
outras fuões sensoriais (visuais, táteis, cinestésicas e olfativas) e de associação. É
o local onde o processamento dos sons da fala é realizado.
Em caso de lesões ou disfunções no hemisfério esquerdo, poderá observar-se
rebaixamento nas porcentagens da orelha direita nos testes dicóticos (apresentação de
mensagens diferentes a ambas as orelhas) para o processamento auditivo (MUSIEK,
2004).
Em contrapartida, quando o estímulo acústico entra pela orelha esquerda,
percorre as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar
superior onde segue seu caminho contralateralmente, chegando ao córtex auditivo
primário do hemisfério direito que é responsável pelo reconhecimento de expressões
faciais associadas a emoções, habilidades visuais, manutenção da atenção, síntese,
seqüencialização, matemática e atividades viso-espaciais. Em suma, é responsável
pelo processamento dos processos não-lingüísticos da comunicação. Assim, o
estímulo acústico deve atravessar o corpo caloso com a finalidade de atingir o
processamento linístico. Recentes pesquisas atribuem funções semânticas e
pragmáticas ao hemisfério direito principalmente no aprendizado de novas tarefas
(WALDIE, 2004).
Em caso de lesões ou disfunções no hemisfério direito, poderá observar-se
rebaixamento nas porcentagens da orelha esquerda nos testes dicóticos para o
processamento auditivo.
O corpo caloso conecta a maioria das áreas corticais dos dois hemisférios
cerebrais pelas áreas associativas. De acordo com Bellis, (2003), o esplênio, porção
posterior do corpo caloso, é responsável pela passagem das vias auditivas, fazendo,
também, a conexão com o lobo occipital, sendo outro local em que vias visuais e
auditivas fazem sinapses (GIAGHETI e RICHIERI-COSTA, 1999). Lesões nesta
parte podem afetar as habilidades auditivas necessárias para a consciência
fonológica, ocasionando dificuldades em leitura e escritura.
Cabe ressaltar que essa especialização hemisférica aplica-se a indivíduos
destros devido à teoria da dominância hemisférica que parece ocorrer em função do
tamanho do plano temporal que é mais largo no hemisfério esquerdo, contribuindo
para audição binaural e linguagem (BELLIS, 2003). Lesões no córtex temporal
25
esquerdo resultariam em problemas na recepção da linguagem e lesões na área
temporal direita, em dificuldades no reconhecimento de melodias.
Em pacientes disléxicos pode existir uma simetria dos planos temporais direito
e esquerdo (GALABURDA, 1991).
A formação reticular, ao atuar na regulação das funções sensório-motoras,
influencia o processamento da informação acentuando ou atenuando o estímulo
sensorial. A formação reticular é responsável, também, pela atenção seletiva que é
definida como um mecanismo cerebral cognitivo que possibilita a alguém processar
informações, pensamentos ou ações relevantes enquanto ignora outros estímulos
irrelevantes ou dispersivos (GAZZANIGA, IVRY e MANGUN, 2006).
Cada hemisfério cerebral consiste de 4 lobos. O lobo frontal representa o
planejamento da função motora do corpo e está ligado ao comportamento; o parietal
é relacionado à percepção da sensação somática e integração de estímulos
multimodais da informação. A parte posterior é responsável pela atenção seletiva e
relações viso-espaciais entre os objetos.
O lobo temporal é o local do córtex auditivo primário, das áreas de associação
auditiva e do córtex associativo auditivo lingüístico incluindo a de Wernicke e o
hipocampo responsável pela emoção e memória. Por fim, o lobo occipital contém o
córtex visual primário e secundário.
O sistema eferente controla a transmissão aferente originária na cóclea. Ele
atua na inibição e excitação de algumas informações em estágios anteriores ao córtex
e, de acordo com Bellis (1996), ocorre paralelamente ao sistema aferente. Tem
implicações significantes na detecção e inibição do sinal no ruído de fundo e nas
funções relacionadas à memória (MUNHOZ et al., 2000). Lesões no sistema eferente
ocasionam dificuldade auditiva no ruído devido à disfunção inibitória.
A descrição realizada objetiva explicar o processamento da informação cujo
estímulo originou-se na via auditiva. Cabe ressaltar, que essas mesmas estruturas,
também são responsáveis pelo processamento de outras modalidades sensoriais que
ocorrem em paralelo.
Para avaliar o funcionamento das estruturas responsáveis pelo processamento
auditivo, são realizados testes comportamentais administrados através de audiômetro
de 2 canais em cabina acústica. O resultado desses testes permite classificar o
processamento auditivo como normal ou alterado.
26
Assim, um transtorno de processamento auditivo é a deficiência no
processamento da audão específico da modalidade auditiva (PEREIRA, 2004), mas
pode resultar ou coexistir com dificuldades em outras habilidades também mediadas
pelo sistema nervoso central (BRANCO-BARREIRO, 2004). Também pode ser
referido como distúrbio, disfunção ou desordem do processamento auditivo.
De acordo com a classificação adotada neste trabalho, os subperfis de
transtorno do processamento auditivo são: decodificação, integração, associação,
organização da saída e função não-verbal ou prosódia (BELLIS, 2003). Outros
autores classificam o transtorno do processamento auditivo em: decodificação, perda
gradual de memória, integração ou codificação e organização (KATZ e WILDE,
1999) assim como outros em: decodificação, codificação e organização (PEREIRA e
SCHOCHAT, 1997). Mais tarde, a esta última classificação foi acrescida a gnosia
não-verbal (MACHADO, PEREIRA e AZEVEDO, 2006). Dessa forma, as
características apresentadas pelos autores consultados contribuem para o
estabelecimento de 5 subperfis: decodificação, integração auditiva ou codificação,
associação ou perda gradual de memória, organização da saída e função não-verbal.
Convém ressaltar que os subperfis denominados associação e organização da saída
são considerados secundários ao processamento auditivo por envolver outras
habilidades como atenção e memória (BELLIS, 2003).
Katz e Tillery (1997) e Alvarez, Caetano e Nastas. (1997) afirmam que a
decodificação é o subperfil mais comum e envolve a quebra da mensagem auditiva no
nível fonêmico. A dificuldade em manipular os sons pode ocasionar uma falha na
formação dos conceitos dos sons, resultando em dificuldades nas tarefas de
consciência fonológica e de leitura, problemas articulatórios, substituição de
grafemas além de vocabulário e sintaxe simplificados. Espera-se alteração no teste de
fala no ruído, de escuta dicótica evidenciados pelo rebaixamento dos escores da
orelha direita e de localização sonora, sugerindo disfunção no tronco encefálico ou
no córtex auditivo primário.
De acordo com Alvarez (2001), na categoria de integração, o processo
auditivo prejudicado diz respeito à inabilidade de integrar informações sensoriais
auditivas e associá-las a outras informações sensoriais como a visual. Os testes de
escuta dicótica podem ser alterados para a orelha esquerda assim como a nomeação
de padrões temporais sugerindo comprometimento no corpo caloso.
27
Crianças com alteração na categoria de associação apresentam dificuldades em
reter a informação, acarretando baixa compreensão em leitura e de anedotas,
principalmente se apresentadas em voz passiva. À medida que a demanda lingüística
aumenta, as dificuldades podem tornar-se mais aparentes. (BELLIS, 1996 e
ALVAREZ, 2002). Nesta categoria, os testes alterados seriam os dicóticos para
ambas as orelhas e os de nomeação dos padrões temporais evidenciando alterações de
córtex associativo.
Com relação à categoria de organização da saída, Alvarez et al. (2000)
mencionam que as habilidades dependentes da memória e da representação
fonológica de longo prazo encontram-se rebaixadas. Alguns testes monoaurais de
baixa redundância, dicóticos e de padrões temporais encontram-se alterados com
grande número de inversões na ordem seqüencial sugerindo comprometimento do
sistema eferente.
O déficit no subperfil denominado função não-verbal caracteriza-se pela
dificuldade de identificação e compreensão das características supra-segmentais de
um enunciado (ALVAREZ, 2002). Os resultados dos testes de padrões temporais nas
modalidades de resposta por murmúrio e nomeação seriam alterados sugerindo
disfunção do hemisfério direito. Além disso, os problemas acadêmicos surgiriam
quando as habilidades necessárias à compreensão em leitura e à resolução de
problemas matemáticos passariam a ser exigidas (ALVAREZ, ZAIDAN, BALEN,
GARCIA, 2000).
Neste ponto torne-se necessário revisar a teoria de Lúria sobre os sistemas
funcionais. De acordo com Kagan e Saling (1997), Lúria dividiu o cérebro em três
unidades funcionais. A primeira, unidade I regula o estado de consciência e
corresponde ao tronco cerebral e estruturas do sistema límbico.
A unidade II corresponde aos lobos occipital, temporal e parietal. Capta,
processa e registra as informações cerebrais vindas da audição, visão e sensação
tátil-cinestésica. Esta unidade é dividida em 3 zonas: primária, que recebe e analisa
os sons; secundária, que sintetiza a informação sensorial em fonemas da língua e
terciária, que é responsável pelo entendimento das estruturas gramaticais complexas
e depende de outras modalidades sensoriais.
Já a unidade III corresponde aos lobos frontais responsáveis pela
programação, regulação e verificação da ação. Também é dividida em 3 zonas:
28
terciária, que planeja a ação e verifica sua eficácia; secundária, que determina a
estrutura seqüencial da ação e primária, que são as manifestações físicas da ação.
Apesar dessa divisão, os autores ressaltam que a cognição depende de uma intima
relação entre as 3 unidades (KAGAN e SALING, 1997).
De acordo com a literatura consultada em relação aos subperfis de alteração
do processamento auditivo (PEREIRA e SCHOCHAT, 1997; KATZ e WILDE, 1999;
BELLIS, 2003; MACHADO, PEREIRA e AZEVEDO, 2006), conclui-se que os
mesmos perpassam as 3 unidades funcionais propostas por Lúria. Dessa forma, não
envolvem apenas processamento auditivo e sim processamento da informação.
Nessa reflexão, um transtorno de decodificação pode representar uma
disfunção na unidade I (tronco encefálico) ou na zona primária da unidade II (córtex
auditivo primário). Um transtorno da função não-verbal pode sugerir alteração nas
zonas primária e secundária da unidade II e uma disfunção na zona tercria da
mesma unidade pode ser representativa de um transtorno de integração ou associação
auditiva. Por último, um transtorno de organização da saída pode representar
alterações da unidade III, de Lúria.
Tal proposição teórica foi realizada para mostrar que as habilidades
necessárias ao processamento da informação não envolvem apenas o processamento
auditivo e sim outras habilidades cognitivas como os processos atencionais, memória
e linguagem uma vez que o objetivo do presente estudo é verificar o aumento dos
escores de compreensão em leitura.
Após a identificação dos subperfis de alteração do processamento auditivo, a
terapia fonoaudiológica é programada objetivando o desenvolvimento da função das
estruturas neurofisiológicas correspondentes aos subperfis alterados. Posteriormente,
a bateria de avaliação comportamental do processamento auditivo pode ser repetida
na intenção de observar a melhora dos escores assim como a melhora da
sintomatologia fonoaudiológica (ZILIOTTO et al., 2002).
2.2 PARADIGMA CONEXIONISTA
O paradigma conexionista é o mais adequado para fundamentar os estudos do
processamento auditivo e da compreensão em leitura, tema desta pesquisa. Tal
paradigma foi apresentado à comunidade científica em 1986 a partir das publicações
29
de Rumelhart e McClelland sobre Processamento Distribuído em Paralelo (PDP).
Considera os pressupostos da neurociência para explicar os processos cognitivos
envolvidos na aquisição, armazenamento, processamento e recuperação de
conhecimentos. Tais processos originam-se na conexão entre os neurônios no
cérebro.
Ao contrário de outros paradigmas que se contentam com a entrada e saída de
estímulos ou com o simples fato de imaginar o que acontece nesse processo, o
paradigma conexionista busca desvendar como ocorre o processamento da
informação no cérebro. Assim, o conhecimento não é regido por regras e, sim, obtido
através do convívio com falantes via discurso e/ou introspecção metacognição -
(POERSCH, 2001b).
De acordo com Shanks (1993), o conexionismo revolucionou o pensamento
sobre a relação mente e cérebro na medida em que as pesquisas sobre as redes de
simulação por computador foram realizadas na tentativa de desvendar como o
cérebro processa as informações através das sinapses realizadas pelos neurônios.
Sinapse é o local onde a conexão interneuronial ocorre através de proteínas
(neurotransmissores) sintetizadas na célula e liberadas pelo axônio. Este é a via de
saída da informação processada que promove a interligação neuronial de grande
alcance e complexidade. Os dendritos, por sua vez, atuam como receptores das
informações que vêm de outros axônios.
O cérebro encontra-se dividido em áreas com funções específicas, mas cada
uma delas processa as informações de uma forma muito semelhante. Assim, um
neurônio recebe sinais de entrada de milhares de outros neurônios que podem
influenciar o nível de atividade cerebral a ser transmitida a outros neurônios
(SHANKS, 1993).
Dessa forma, todo o conhecimento é o resultado das alterações na força das
sinapses neuroniais que correspondem à aprendizagem; é a maneira como a
informação é engramada na memória em forma de traços mnemônicos distribuídos e
processados em paralelo nas unidades neuroniais, conectadas entre si, formando
redes. O cérebro é a sede do saber e a mente, seu funcionamento.
De acordo com Poersch (1998), o paradigma conexionista é um modelo de
cognição que se baseia nessas configurações estabelecidas ad hoc nas redes
30
neuroniais através do processamento por distribuição em paralelo. Por distribuição
entende-se que muitos neurônios e suas conexões participam da representação da
informação numa rede e o termo paralelo refere-se à integração das informações
vindas de múltiplas fontes simultaneamente (PLUNKETT, 2000). Para Eysenck e
Keane (1994), o PDP é uma maneira influente para o estudo do aprendizado e da
memória humana.
Poersch (1998) comenta que atividades como reconhecimento de sons,
inferências, leitura, escritura e fala necessitam permanecer ativas por um tempo na
memória de trabalho para que sejam concluídas, o que só seria possível através de
um sistema dinâmico conexionista que age entre as sinapses. As sinapses podem ser
classificadas em excitatórias, quando armazenam reurotransmissores redondos e
grandes, e inibitórias, que são menores que as primeiras (CHRISTIANSEN e
CHATER, 1999; PLUNKETT, 2000). Conforme Crick e Asanuma (1986), os
dendritos recebem milhares de esmulos ao mesmo tempo em que geram a
despolarização da célula levando à liberação de neurotransmissores. Os autores
postulam, também, que há neurônios especializados, ou seja, alguns neurônios
respondem melhor a um grupo de características do estímulo dado. De acordo com
Lent (2005), o resultado da atividade pós-sináptica depende da interação dos
potenciais produzidos por todas as sinapses, denominado, integração sináptica.
Herculano-Houzel (2005) refere que, quanto maior o número de sinapses no
cérebro, maior é o número de possibilidades de processamento da informação pelos
neurônios. O desenvolvimento normal envolve uma primeira etapa de exuberância
sináptica, atingida no ser humano durante os primeiros anos de vida. Esse excesso de
sinapses é considerado matéria-prima para o desenvolvimento das habilidades
cognitivas.
Assim, a construção das conexões neuroniais ocorre na maior parte do peodo
entre o nascimento e os 4 anos de idade, sendo que os 2 primeiros anos de vida são
cruciais. Nesta faixa eria, o cérebro está mais sensível aos estímulos do ambiente e
forma o maior número de ligações neuroniais possíveis. Outros estudos referem um
período sensível para a aquisição da linguagem até os 6 anos de idade (MANRIQUE
et al., 1999; ROBINSON, 1998). Dessa forma, somente a capacidade de aprendizado
da criança é inata, dispensando a noção de um dispositivo especial de aquisição da
linguagem. Nesse paradigma a criança adquire linguagem a partir de diversos fatores
31
probabilísticos determinados através do input (SEIDENBERG e MACDONALD,
1999).
Herculano-Houzel (2005) afirma que a etapa de exuberância sináptica é
seguida por outra denominada eliminação das conexões excedentes em que as
sinapses mais utilizadas são selecionadas e mantidas enquanto outras são eliminadas.
Nesse processo, o aumento do volume da substância branca subcortical corresponde
ao espessamento das fibras nervosas que resulta da sua mielinização (formação de
uma capa de gordura em torno do axônio) servindo como isolante elétrico do axônio
que permite a condução de impulsos mais rápidos propiciando o raciocínio abstrato.
De acordo com Lent (2005), o processo de mielinização marca o estágio final de
maturação ontogenética do sistema nervoso.
Rossa (2002) reforça o pressuposto de que cada cérebro é único e muda
constantemente diante da interpretação e reavaliação de cada experiência. As
sinapses e as comunicações entre áreas especializadas são alteradas a todo o
momento. O cérebro se transforma durante e após a recepção de estímulos.
Ohlweiler (2006) identifica evidências de um modelo de processamento em
paralelo para a função cerebral. As vias tálamo-corticais se dão por vias paralelas
para cada área sensorial. Esses sistemas, em paralelo, juntamente com os sistemas
funcionais hierárquicos formam circuitos em diferentes partes do sistema nervoso
que se conectam formando sistemas distribuídos de grande complexidade funcional
que permitem a consolidação do aprendizado.
No processamento da informação por distribuição em paralelo, o
desenvolvimento das sinapses é promovido pelos estímulos recebidos. Em caso de
estimulação positiva, ou seja, do recebimento de uma informação relativa ao
conteúdo emocional do ouvinte, há reforço das sinapses que promovem maior
velocidade de processamento (CIELO, 1998 e 2001). Caso a informação não revele o
interesse do ouvinte, o estímulo é processado com menor velocidade, não havendo
reforço das sinapses. À medida que a sinapse é reforçada através da leitura de
interesse do ouvinte, por exemplo, este lembrará mais facilmente a informação lida.
Portanto, adquirir conhecimento é estabelecer novas conexões neuroniais através do
reforço de outras (POERSCH, 1998). Dessa forma, o cérebro caracteriza-se pela
32
plasticidade, flexibilidade e rapidez, operando com vários estímulos ao mesmo
tempo.
A neuroplasticidade, de acordo com Riesgo (2006), está intimamente ligada ao
processo de aprendizagem normal. Dessa forma as sinapses modificáveis se
transformam conforme o evento provocador da formação de uma determinada rede
neuronial. O uso faz aumentar o número de conexões enquanto o desuso faz diminuir
a quantidade de botões sinápticos. O autor salienta que a atenção é um pré-requisito
primordial para que haja aprendizado.
Cabe ressaltar que cada ligação entre neurônios não contém significado em si.
Este viria da combinação de inúmeras conexões armazenadas em paralelo em várias
localizações diferentes (EYSENCK E KEANE, 1994).
Conforme Lago e Rodrigues (1994), o conhecimento depende das forças de
conexão e a aprendizagem ocorre como resultado do ajuste dessas forças. As trocas
na estrutura do conhecimento supõem novos padrões de conexão que levam às
modificações de novas conexões. Os autores reforçam que o ambiente de
aprendizagem determina não só o que se aprende, como também o curso evolutivo do
aprendizado.
Young e Concar (1992) enfatizam a importância do modo como as
informações foram armazenadas. Deve-se levar em consideração o contexto de
aprendizagem e seu conteúdo emocional, pois, na medida em que a informação for de
interesse do ouvinte, mais facilmente será armazenada, processada e, através do
reforço das sinapses, será resgatada com maior velocidade.
Dessa forma, verifica-se a necessidade de repetição do estímulo durante o
processo de aprendizagem com a finalidade de reforçar a sinapse. Assim, um
estímulo será processado sempre na mesma rede.
Plunkett (1997) explica que as redes conexionistas podem extrair
representações da estrutura lingüística a partir de dados de input, favorecendo
simulações inteligentes do comportamento humano e da dinâmica de sistemas
essencialmente paralelos.
Acredita-se que as redes neuroniais são compostas de sinapses que codificam
traços mínimos de diferentes informações recebidas que estariam pulverizadas nessas
33
redes. Tais traços mínimos estariam desprovidos de significado. Diante da
necessidade de resgate da informação, todos os traços mínimos são ativados ao
mesmo tempo até o reinstanciamento da informação. Toda vez que esse processo
ocorrer, a informação será reforçada. De acordo com Stefan (2001), um conceito
pode ser ativado ou recuperado por diferentes estímulos externos (visuais, auditivos,
olfativos ou táteis) devido ao processamento de distribuição em paralelo.
Cabe ressaltar que a constituição das redes neuroniais é um argumento a favor
do paradigma conexionista. Num modelo de simulação, inúmeras modalidades de
processamento são conectadas em paralelo (sem significado, se analisadas
isoladamente). Os operadores modificam a resistência da conexão entre os elementos
(SIMON e KAPLAN, 1989). Tal experiência aproxima-se do processamento
realizado pelo cérebro humano e caracteriza-se pelo treinamento de determinadas
respostas para determinados estímulos até que haja generalizações, ou seja, respostas
adequadas para estímulos desconhecidos. Um exemplo disso é a pesquisa de
Rumelhart e McClelland (1986) sobre o aprendizado do passado dos verbos na qual
os autores afirmam que o processo de ensino é semelhante ao feedback que as
crianças recebem dos pais sobre o aprendizado do tempo verbal.
Acredita-se que as redes conexionistas simulam o que ocorre no cérebro
humano, porém não se pode afirmar que são modelos excelentes de conexões
neurológicas capazes de representar sua fisiologia.
Em relação à leitura, variável dependente desta pesquisa, Plaut (1999) também
refere que o paradigma conexionista é baseado em três premissas: representação
distribuída, estrutura gradual de aprendizado e interatividade no processo. Dessa
forma, a teoria conexionista promove o entendimento dos processos seqüenciais em
leitura tanto com leitores proficientes como com leitores não-proficientes.
2.3 COMPREENSÃO EM LEITURA
A leitura possibilita a aquisição de novas informações que, somadas às
antigas, formam um novo conhecimento. Assim, para o paradigma conexionista, ler
significa alterar a força das sinapses (POERSCH, 2001a), pois na medida em que o
conteúdo lido interage com o conhecimento prévio, é melhor engramado, reforçando
as sinapses. Caso o conteúdo não faça parte do conhecimento prévio, novas sinapses
34
são formadas. Dessa forma, o leitor constrói o significado de acordo com o seu
conhecimento prévio engramado no seu cérebro (POERSCH, 2002).
Na mesma concepção, Joseph, Noble e Eden. (2001) utilizaram imagens como
a ressonância magtica e tomografia por emissão de pósitron (PET), contribuindo
para o estudo da aquisição e desenvolvimento da leitura e para o entendimento das
estratégias utilizadas no processo de leitura. Os pesquisadores detectaram o aumento
da circulação sanínea durante a atividade neuronial. Concluíram que as áreas
temporal posterior e parietal foram ativadas e podem estar envolvidas no
processamento fonológico, porém muitas áreas foram ativadas não havendo a
distinção do que cada uma faz. A conclusão desse estudo aponta para o
processamento por distribuição em paralelo defendido pelo paradigma conexionista.
Em outro estudo com técnicas de imagem funcional, Lent (2005) destaca,
durante a leitura, a participação do córtex visual, de regiões visuais de ordem
superior na face lateral do hemisfério esquerdo, de regiões perissilvianas parietais e
temporais (área de Wernicke e os giros angular e supramarginal) e do córtex pré-
frontal inferior esquerdo. O autor refere a necessidade de complementar os estudos
de imagem funcional com a realização de técnicas eletrofisiológicas que apresentam
uma seqüência temporal ao processamento lingüístico. Dessa forma, o córtex
cingulado anterior é a primeira área ativada, seguida pela área de Broca e por último
pela área de Wernicke. Primeiramente ocorre a fixação visual da palavra. Até 100ms
ocorre a ativação da área visual primária. Entre 100 e 200ms acontece a identificação
da forma dos grafemas e das palavras no córtex associativo visual, bem como a
focalização da atenção para o processamento subseqüente (córtex cingulado
anterior). Ao mesmo tempo começa a elaboração do programa motor para a
vocalização da palavra lida (área de Broca). Entre 200 e 300ms ocorreria a
interpretação semântica e fonológica da palavra (área de Wernicke). Logo a seguir os
olhos se movem em uma nova sacada para a palavra seguinte. A interpretação do
sentido das frases aconteceria bem mais tarde entre 600 e 700ms.
Smith (1989) refere que a leitura sempre envolve uma combinação de
informação não-visual (conhecimento prévio) com informação visual. Ela deve ser
rápida reduzindo a dependência da informação visual, pois, quanto mais informação
não-visual um leitor possui, de menos informação visual necessita.
35
Na maior parte dos animais superiores, o sistema visual está organizado de
forma que cada olho projeta normalmente para ambos os hemisférios, assim como o
sistema auditivo. Springer e Deutsch (1998) relataram uma experiência com gatos.
Ao cortar o cruzamento com o nervo óptico (quiasma óptico), é possível delimitar os
locais para onde cada olho envia a informação. As fibras restantes de tal nervo
transmitem informação para o hemisfério situado do mesmo lado, ou seja, uma
impressão visual no olho esquerdo é enviada para o hemisfério esquerdo e para o
direito através do corpo caloso. Já ao seccionar o corpo caloso, só um hemisfério
recebe a informação visual.
Conforme o exposto na secção referente ao processamento auditivo, observa-
se que tanto a informação auditiva como a visual atravessa o corpo caloso
conectando as vias associativas com a finalidade de realizar a transferência inter-
hemisférica. Tal constatação é indicativa de que o cérebro funciona de forma global
apesar da especialização de determinadas áreas.
Os mesmos autores, ao mencionarem outra pesquisa, apontam a vantagem do
campo visual direito, para destros, na leitura de palavras de qualquer língua. A
superioridade do campo visual direito reflete uma especialização do hemisfério
esquerdo nas funções de linguagem e a superioridade do campo visual esquerdo
resulta de uma especialização do hemisfério direito para processar estímulos visuo-
espaciais. O mesmo ocorre com as vias auditivas conforme abordado na sessão que
discorre sobre processamento auditivo.
Outra evidência da especialidade hemisférica no processamento da informação
vem do estudo de outras línguas. Na língua japonesa existem 2 sistemas de escrita
denominados Kana e Kanji. No primeiro, cada símbolo representa o som de uma
sílaba desprovida de significado e no segundo, o significado é obtido através da
combinação de vários caracteres alternativos. Os resultados de estudos com pacientes
afásicos mostraram diferenças no modo como ambos os sistemas de escrita são
processados no cérebro. O Kana exigiria mais processamento fonológico (hemisfério
esquerdo) evidenciando superioridade do campo visual direito ao passo que o Kanji
necessitaria mais do processamento visual (hemisfério direito) com superioridade do
campo visual esquerdo (SPRINGER e DEUTSCH, 1998).
Dadas as condições estruturais, para que o aprendizado da leitura ocorra, a
criança deverá ter, a sua disposição, um material que faça sentido, além da orientação
36
de um leitor experiente, para que possa confirmar as hipóteses formuladas com
relação à leitura (SMITH, 1999).
Sternberg e Gricorenko (2003) afirmam que a proficiência em leitura é a
interação entre dois fatores: a compreensão e a fluência que se desenvolvem na
medida em que o indivíduo passa pelos cinco estágios de desenvolvimento da leitura:
reconhecimento da palavra por pista visual e por pista fonética, reconhecimento
controlado da palavra, reconhecimento automático da palavra e leitura proficiente.
No reconhecimento da palavra por pista visual as crianças utilizam formas
visuais que auxiliam no reconhecimento das palavras como identificação de
logotipos. No estágio seguinte, reconhecimento da palavra por pista fonética as
crianças a partir de 5 anos de idade aprendem as habilidades de consciência
fonológica como rima e aliteração, supressão de fonemas, e leitura de
pseudopalavras. O não-reconhecimento da pista fonética pode resultar em uma
dificuldade de leitura. Posteriormente, na terceira fase, o reconhecimento controlado
da palavra, as crianças de 6 e 7 anos aprendem a ler palavras soltas, pois já dominam
a leitura por pistas fonéticas e ortográficas o que irá favorecer o reconhecimento
automático das palavras com precisão e pouco esfoo consciente. Neste quarto
estágio, o aspecto mais importante é a velocidade de leitura que irá transformar o
indivíduo num leitor competente. Por fim, as crianças são capazes de desenvolver
estratégias metacognitivas que irão auxiliar no entendimento da leitura de
determinados parágrafos ou sentenças.
Assim, a aprendizagem da lecto-escrita ativa o desenvolvimento dos processos
intelectuais complexos, fazendo com que haja mudanças no pensamento da criança.
Dessa forma, quanto mais ela avança em nível de escolaridade, mais elaborado é o
crescimento dendrítico em determinadas áreas do córtex cerebral.
O aprendizado da leitura, para Poersch (2001a), pressupõe a alteração de
ligações sinápticas específicas. Num primeiro momento, verifica-se a construção de
correspondências entre dados gráficos e sua sonorização (recodificação). A seguir,
processa-se a correspondência entre as expressões sonoras e seu respectivo conteúdo
(decodificação). Conforme o autor, é no ato de leitura que o processo de
compreensão inclui a passagem do texto à configuração cerebral, privilegiando o
processamento de distribuição em paralelo de dados engramados na rede neuronial.
37
O processamento da compreensão insere-se na relação pensamento/linguagem,
pois a leitura consiste na transferência de letras, palavras e frases, apresentadas
serialmente, em pensamento, ou seja, conteúdo do texto.
O texto fornece dados que são captados pelos olhos e o nervo ótico conduz
essa percepção ao cérebro, lugar onde o processamento inicia juntamente com outros
dados armazenados anteriormente. Caso encontre conexão, o dado é ativado, há
recordação e reforço da sinapse. Em contrapartida, se não for ativado, tal dado deve
ser integrado a outro dado já armazenado com o objetivo de estabelecer nova
conexão que significa a aprendizagem (POERSCH e ROSSA, 2007). Dessa forma, o
novo conhecimento constitui-se em conhecimento prévio para a continuidade da
leitura. Ao final, obm-se o panorama geral do texto, construído no cérebro do
leitor, pois o conteúdo original não se encontra no material escrito e sim, no cérebro
do escritor (POERSCH, 2002).
O ato de ler é processado de forma serial em que cada etapa constitui a
resposta de inúmeros estímulos que atuam em paralelo. Ao final da leitura, o
conteúdo representa uma fotografia ad hoc das conexões estabelecidas. Na
recordação, o conteúdo que aparece em primeiro lugar é aquele mais fortemente
gravado. Na tentativa de acessar a compreensão, Rossa (2002) afirma que o ensino
escolar deve proporcionar oportunidades de desenvolvimento de raciocínios
superiores como generalizações, abstrações e cálculo. Esses processos complexos
deixam marcas nas redes neuroniais que poderão ser ativadas com maior velocidade
ad hoc.
Na mesma linha, Zimmer (2001) faz uma distinção entre leitores inexperientes
e leitores proficientes. A autora postula que o processamento simultâneo de rios
tipos de informação (fonológica, sintica ou semântica) permite que a criança
construa sentido durante a leitura de um texto. Refere, ainda, que muitos processos
tornam-se automatizados, pois exigem pouco ou nenhum esforço cognitivo
consciente por parte do leitor. Leitores adultos, proficientes, têm um processamento
automático no que se refere ao reconhecimento de palavras. Já leitores iniciantes
precisam automatizar tais processos de modo a desenvolver fluência na leitura.
Assim, é preciso que a recodificação e a decodificação sejam automatizadas a fim de
que a memória de trabalho fique menos sobrecarregada durante o processamento da
leitura e dirija seus recursos para a compreensão do significado.
38
Em relação à memória de trabalho, Baddeley e Hitch (1974) propuseram um
modelo para descrever a memória de curto prazo denominando-o de memória de
trabalho. Tal modelo é composto por 3 componentes (o executivo central, que atua
no controle das informações) e seus 2 sistemas dependentes: a malha fonológica e
base visuo-espacial.
A malha fonológica, por sua vez, pode ser dividida em 2 subsistemas, o
arquivo fonológico e o processo articulatório. O arquivo fonológico atua como se
fosse a orelha interna armazenando os padrões sonoros desconhecidos em sua ordem
temporal enquanto o processo articulatório atua como uma voz interna mantendo o
material lingüístico armazenado.
A base visuo-espacial processa e armazena as informações visuais, espaciais e
o material verbal que será codificado em forma de imagem. Tamm se subdivide:
em componente visual e espacial.
O executivo central recupera dados da memória de longo prazo e
responsabiliza-se pelo processamento e armazenamento de informações. Sua
eficiência depende do número de tarefas que realiza.
Mais tarde o referido modelo foi atualizado com a inclusão de um sistema de
memória episódica temporária que é multimodal e tem relação direta com a memória
de longo prazo. Assim, o executivo central, passa a ser considerado um sistema
puramente atencional (BADDELEY, 2000).
A memória de trabalho, tamm chamada de memória operacional, fornece ao
indivíduo a capacidade de reter informações durante um tempo mínimo necessário
para a realização das operações do dia-a-dia. Ocorre em diferentes regiões do córtex
pré-frontal que sedia o componente executivo central (LENT, 2005).
A melhora da memória de trabalho ocorre na pré-adolescência devido ao
aumento da mielinização do lobo frontal que é responsável pelas habilidades
cognitivas. No lobo temporal o aumento da mielinizão que ocorre com a idade
também melhora a facilidade na leitura. Assim, a limpeza sináptica promove a
otimização funcional do lobo frontal tornando as conexões mais eficientes entre os
neurônios responsáveis pela codificação da informação na memória de trabalho que
se torna mais precisa e eficaz para a leitura (HERCULANO-HOUZEL, 2005).
Zimmer (2001) conclui que leitores iniciantes precisam recodificar as palavras
para conhecê-las. Dessa forma, ocorre a formação de uma sinapse através de dois
39
estímulos, o auditivo e o visual. Tal reforço duplo ocorre para que os padrões
elétricos possam ser recuperados de forma mais eficiente.
Outro estudo indica que a contribuição do hemisfério direito parece ser
importante para leitores inexperientes por facilitar o reconhecimento das seqüências
de letras perceptualmente complexas e desconhecidas. Dessa forma, o hemisfério
direito é tão competente quanto o esquerdo em decisão lexical desde que as palavras
tenham alta imageabilidade ou concretude. Ele é ativado a todo o início de tarefas,
principalmente ao ler uma palavra desconhecida (ALVAREZ et al., 2000). Já para o
processamento de palavras funcionais e verbos ou palavras que exijam
processamento fonético, parece ter pouca capacidade. A autora também concorda que
as áreas terciárias dos lobos occipital, parietal e temporal passam por um período de
maior plasticidade durante a aquisição da leitura e extensa mielinização,
reorganização sináptica e remoção ocorrem nos lobos frontais durante a adolescência
(WALDIE, 2004).
A seguir, são apresentados outros estudos que reforçam a concepção de que o
leitor iniciante precisa recodificar para melhorar o acesso à leitura e assim ser
proficiente em compreensão.
Piérart (1997), Demont (1997) e Grégoire (1997) referem que a leitura é um
processo complexo que requer habilidades cognitivas, principalmente a reflexão
sobre a linguagem. Salientam, também, que o domínio das capacidades léxica e
fonológica é essencial para tornar um leitor competente.
Kato (1999) aponta que o vocabulário visual de um leitor iniciante é limitado,
envolvendo pouco reconhecimento visual instantâneo no processo de leitura. Neste
caso, a leitura consiste de operações de análise e síntese cuja apreensão do
significado é mediada pela recodificação (processo bottom-up). Assim, na fase inicial
do aprendizado da leitura, a criança não tira conclusões apressadas, sendo pouco
fluente. Miguel (2002) concorda com tal pressuposto e postula que o leitor iniciante
precisa recodificar as palavras, para que se transforme em um leitor competente
capaz de aprender com facilidade as idéias gerais do texto, de ser fluente e veloz,
fazendo maiores predições e utilizando mais o conhecimento prévio (GOODMAN,
1991; SMITH, 1999 e KATO, 1999).
40
Para que o leitor iniciante possa chegar a esse estágio, inúmeras pesquisas
(CAPOVILLA e CAPOVILLA, 1998; ASSINK, LAM e KNUIJT, 1998 e
CAPELLINI e CIASCA, 2000) apontam que o trabalho com a consciência fonológica
proporciona o desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a linguagem
(habilidade metalingüística), traduzindo-se num processo de alfabetização mais
eficaz. Dessa forma as tarefas de consciência fonológica e o auxílio da recodificação
(ZIMMER, 2001) parecem ser as estratégias de leitura mais eficazes para o leitor
iniciante, pois proporcionam o desenvolvimento do processamento auditivo
(ASSINK, LAM e KNUIJT, 1998).
Para avaliar a compreensão em leitura, devem ser utilizados instrumentos
adequados à população a quem se destina, sendo estes qualitativos e quantitativos. A
compreensão de um texto pode ser medida pelo comportamento do leitor em relação
a ele refletindo seu conhecimento prévio. Quanto maior a exposição do leitor a um
determinado tipo de texto, maior será sua compreensão. Söhngen (1998) reforça que
o procedimento cloze avalia a habilidade que um leitor tem em repor as palavras
apagadas no texto, enfatizando o papel da preditibilidade em leitura. Já Miguel
(2002) propõe que a avaliação da compreensão em leitura deve ser composta de
textos narrativos e expositivos. A compreensão da narração seria facilitada em
virtude da seqüencialização das idéias, ao passo que a compreensão de textos
expositivos dependeria da relação da informação nova com o conhecimento prévio.
De acordo com Miguel (2002), os problemas de compreensão em leitura
decorrem da lentidão dos processos de reconhecimento das palavras. Dessa forma, o
leitor tenta compensar essa falha com a informação do contexto. O autor distingue
três grupos de indivíduos com problemas de compreensão em leitura. O primeiro
refere-se àqueles que têm problemas de reconhecimento das palavras, porém
compreenderiam o mesmo conteúdo se este fosse apresentado oralmente. O segundo
grupo, além de apresentar problemas no reconhecimento de palavras, não
compreenderia o texto apresentado oralmente (BRAIBANT, 1997) e o terceiro
reconheceria bem as palavras, mas teria dificuldades em compreender a leitura, ou
seja, dificuldade na integração de idéias. Uma das hipóteses para os problemas de
compreensão em leitura é a dificuldade na realização de atividades que requeiram a
memória operativa, impossibilitando a conexão de idéias e a construção da
macroestrutura.
41
Smith (1999) aponta que algum tipo de problema no cérebro pode afetar o seu
funcionamento ocasionando distúrbios de leitura, que se refere à alteração no
desempenho das habilidades de leitura e escrita (CAPELLINI e CIASCA, 2000). Os
trabalhos apresentados a seguir procuram tecer essa relação.
Galaburda (1991) afirma que uma das formas mais comuns de distúrbio de
aprendizagem é a dislexia de evolução. Em suas pesquisas, o autor refere assimetrias
em favor do lado esquerdo no cérebro de pessoas normais. No cérebro de disléxicos
póst-mortem as assimetrias não estão presentes, ou seja, o planum temporal esquerdo
falha no desenvolvimento do lado que dá suporte para a capacidade lingüística. Tal
alteração pode contribuir para desordens cognitivas.
A dislexia fonológica (leitura de não-palavras) geralmente é causada por
disfunções da região frontal e têmporo-parietal enquanto a dislexia de superfície está
associada à disfunção da porção ântero-lateral do lobo temporal. A conversão
grafema-fonema requer ativação têmporo-occipital esquerda também observada
durante a nomeação de objetos (PRICE e MECHELLI, 2005).
Alguns estudos referem que a causa da dislexia pode ser encontrada na alteração
dos cromossomos 2, 3, 6,15 e 18 e que 65% das crianças com dislexia têm um
parente que refere o mesmo transtorno. Leitores disléxicos apresentam disfunção das
áreas têmporo-parietal e têmporo-occipital esquerda. As regiões anterior direita e
esquerda e a região posterior direita podem suprir alguns déficits apresentados, mas a
leitura de palavras não é automatizada (SHAYWITZ e SHAYWITZ, 2005).
Piérart (1997) baseia-se numa definição clássica para conceituar a dislexia e
refere que tal diagnóstico é feito por exclusão. Aponta que a dislexia é uma
dificuldade para aprender a ler, apesar da inteligência normal. Neste conceito, a
criança não deve apresentar distúrbios sensoriais ou neurológicos e não provir de um
meio muito desfavorável. Além dessa descrição, a leitura oral é lenta, há inversões de
letras elabas, confusões auditivas e visuais, letras em espelhamento e erros na
transcodificação grafema-fonema.
Mousty et al (1997) apontam que as dificuldades encontradas pelas crianças
disléxicas nas habilidades metafonológicas poderiam resultar de pequenos déficits
fonológicos. Apresentam também maior limitação na codificação da informação
fonológica em memória de trabalho.
42
Salles e Parente (2006) compararam um grupo de crianças de 2ª série com
dificuldades de leitura e escrita com outro de mesma série sem as referidas
dificuldades. O primeiro grupo também foi comparado com crianças de 1ª série. As
autoras concluíram que o grupo em estudo apresentou um atraso de desenvolvimento
em consciência e memória fonológica e linguagem oral e não um padrão desviante.
Galaburda (1994) mediu as áreas neuronais transversais do núcleo geniculado
medial de 5 disléxicos e 7 não-disléxicos pós-mortem. No grupo de controle não
foram encontradas assimetrias anormais ao passo que no grupo de disléxicos o núcleo
geniculado medial é menor no lado esquerdo havendo mais neurônios pequenos em
indivíduos com distúrbios de leitura que podem apresentar dificuldades com o
processamento e seqüenciação temporal dos sons.
Bakker (1990) descreve a relação entre a aprendizagem da leitura e a função
hemisférica. Inicialmente, as habilidades de leitura são controladas pelo hemisfério
direito ao passo que leitores proficientes têm hemisfério esquerdo dominante.
Também refere que crianças disléxicas apresentam alterações na integração viso-
auditiva.
Convém ressaltar que o diagnóstico das dislexias depende dos instrumentos
utilizados para a avaliação dos distúrbios de leitura e da existência de um modelo
teórico consistente dos processos cognitivos e do desenvolvimento das habilidades
envolvidas na leitura (SALLES, PARENTE e MACHADO, 2004).
O objetivo desta pesquisa não é classificar os participantes dividindo-os em
indivíduos com compreensão em leitura adequada ou inadequada e, sim, observar se
há aumento dos escores em leitura após a terapia do processamento auditivo, porém
os trabalhos que relacionam os problemas de compreensão em leitura às alterações
cerebrais funcionais foram mencionados para fundamentar a hipótese da pesquisa
através do paradigma conexionista.
43
3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Esta pesquisa destina-se à verificação da alteração dos escores em
compreensão em leitura após a realização da terapia de processamento auditivo em
crianças de 8 a 11 anos de idade com diagstico de transtorno do processamento
auditivo.
O tema deste trabalho é estudado sob o paradigma conexionista, em que o
tratamento do processamento auditivo é a variável independente e representa a
formação e/ou o reforço das sinapses do cérebro. Após o tratamento do
processamento auditivo, espera-se o aumento dos escores em compreensão em
leitura, sendo esta a variável dependente e representa o resgate da informação. Esses
participantes constituem o grupo experimental e foram comparados a um grupo
controle que não recebeu tratamento.
Convém ressaltar que a terapia fonoaudiológica para o processamento auditivo
foi realizada excluindo o ensino específico das estratégias de compreensão em
leitura, na intenção de defender o processamento por distribuição em paralelo
proposto pelo paradigma conexionista. Este considera os correlatos orgânicos na
abordagem do processamento da leitura, bem como o que parece explicar de forma
mais adequada esse processo.
Assim, o objetivo do presente estudo é comprovar o aumento dos escores em
compreensão em leitura do grupo experimental, após o tratamento do processamento
auditivo de crianças de 8 a 11. A partir deste torna-se possível construir a seguinte
hipótese: a realização da terapia do processamento auditivo melhora os escores em
44
compreensão em leitura do grupo experimental em comparação com o grupo de
controle.
Tal hipótese é comprovada através da comparação do desempenho, nos testes
de compreensão em leitura dos grupos experimental e controle que é realizada
através de tratamento estatístico.
A confirmação da hipótese permite a comprovação processamento por
distribuição em paralelo proposto pelo paradigma conexionista, pois, ao tratar o
processamento auditivo, é possível formar ou reforçar as sinapses do cérebro em
funcionamento. Conseqüentemente, o aumento dos escores em compreensão em
leitura representa o resgate da informação, constituindo-se na tese a ser defendida.
Acredita-se que este estudo contribui para o avanço das pesquisas relativas ao
paradigma conexionista, ao processamento auditivo e à compreensão em leitura, visto
que na atualidade há estudos independentes. Este, porém, objetiva o estudo das
variáveis de forma globalizada e os seus resultados podem estimular o
desenvolvimento de novas pesquisas na correlação processamento auditivo e
conexionismo.
45
4 METODOLOGIA
Este capítulo destina-se a relatar os procedimentos utilizados para a realização
da presente pesquisa. São abordados os seguintes tópicos: caracterização geral da
pesquisa, população e amostragem, descrição e aplicação dos instrumentos incluindo
a terapia fonoaudiológica realizada nos 19 participantes do grupo experimental, todos
com transtorno do processamento auditivo. Posteriormente a tabulação dos dados e
os resultados são apresentados objetivando a avaliação das hipóteses.
4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PESQUISA
Este estudo se caracteriza por ser uma pesquisa de campo, longitudinal, de
cater diagnóstico e terapêutico, de delineamento semi-experimental que investiga o
aumento dos escores em compreensão em leitura através da terapia fonoaudiológica
com ênfase no processamento auditivo.
O projeto que originou este estudo foi apresentado ao Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário Metodista IPA (CEP-IPA) sendo aprovado em
28/06/2004 sob o número 1092.
46
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM
A amostra constituiu-se de 40 participantes, de 8 a 11 anos de idade, sendo
que 19 compuseram o grupo experimental e 21, o grupo de controle. Quanto ao sexo,
5 meninas e 14 meninos integraram o grupo experimental e 9 meninas e 12 meninos,
o grupo de controle. No total da amostra 14 participantes eram meninas e 26,
meninos. O nível de escolaridade dos mesmos situou-se entre a 2ª e a 5ª série do
ensino fundamental de escola estadual.
O primeiro critério para a seleção dos participantes foi a assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido (Apêndice A), pelos pais ou responsáveis pelas
crianças, autorizando a participação das mesmas.
Para participar da pesquisa, as crianças deveriam apresentar audição periférica
normal e algum tipo de transtorno do processamento auditivo para justificar a
aplicação da terapia fonoaudiológica no grupo experimental. Também deveriam ser
destras, na intenção de uniformizar a interpretação dos testes de processamento
auditivo ao considerar a especialidade hemisférica. Tais aspectos constituem-se nos
critérios de inclusão da pesquisa.
Foram excluídos todos os participantes que não se encaixavam nos critérios de
inclusão, ou seja, aqueles que apresentaram alteração na audiometria ou na curva
timpanométrica evidenciando audição periférica alterada, e os canhotos. Além destes,
também foram excluídos aqueles indivíduos que apresentaram sérias dificuldades de
comunicação como transtornos de linguagem mais severos ou déficit de atenção e
hiperatividade, devidamente diagnosticados, cujos testes de processamento auditivo
foram muito discrepantes se comparados aos demais participantes da amostra.
As crianças que apresentavam desvios fonológicos, problemas de
aprendizagem ou queixa relacionada à atenção em menor grau não foram excluídas
da amostra por se considerar que tais diagnósticos podem co-ocorrer com o distúrbio
do processamento auditivo ou ser conseqüências deste.
O grupo experimental foi constituído pelos indivíduos que procuraram o
Serviço de Audiologia das Clínicas Integradas do Centro Universitário Metodista -
IPA, para avaliação do processamento auditivo. Realizado tal diagnóstico e
constatado o transtorno do processamento auditivo, os mesmos foram encaminhados
47
à terapia específica e convidados a participar da pesquisa caso se encaixassem nos
critérios de inclusão.
Já o grupo de controle foi constituído pelos estudantes de uma escola estadual,
encaminhados pelos professores mediante o conhecimento dos critérios de inclusão.
Os alunos realizaram as avaliações auditivas (audiometria tonal, vocal,
imitanciometria e testes de processamento auditivo), além dos testes de leitura. Os
testes comportamentais referentes ao processamento auditivo também encontravam-
se alterados.
Os objetivos da pesquisa foram devidamente explicados a todos os
participantes e seus responsáveis, principalmente àqueles que integraram o grupo de
controle, pois não receberiam atendimento no período de 5 meses. A hipótese alegada
foi a possível superação do diagnóstico ao considerar a maturação cerebral e a
inexistência de vagas para terapia fonoaudiológica na Instituição onde a avaliação foi
realizada. Assim, os participantes do grupo de controle foram encaminhados à lista
de espera.
4.2.1 Dados da Amostragem
Os dados da amostragem se destinam à caracterização dos participantes da
pesquisa no que se refere às variáveis, idade, série e sexo. A relação entre as
variáveis série e idade é abordada com a finalidade de enumerar os participantes que
apresentam idade adequada à série cursada, assim como fazer um levantamento
daqueles que estão em idade avançada para a série. A variável, sexo é necessária na
medida em que é possível identificar maior ocorrência de um sexo em relação ao
distúrbio de processamento auditivo.
O quadro 1 mostra a distribuição dos 19 participantes do grupo experimental
em relação à idade, série e sexo coletados no momento da primeira avaliação (pré-
terapia), ao passo que o quadro 2 mostra a distribuição das mesmas variáveis dos 21
participantes do grupo de controle, coletados no momento da primeira avaliação.
48
Participante
Idade
Série
Sexo
1
10 5 F
2
8 2 M
3
11 2 M
4
9 4 F
5
9 4
M
6
8 2
M
7
9 3
M
8
8 2
M
9
9 4
M
10
11 4
M
11
11 2 F
12
8 2 M
13
11 5 F
14
10 4
M
15
11 2
M
16
8 3
M
17
8 2 F
18
9 3
M
19
10 2
M
Quadro 1 - Distribuição dos participantes do grupo experimental de acordo com
idade, série e sexo.
49
Participante Idade
Série Sexo
1
9 2 M
2
10 2 F
3
10 4
M
4
9 4
M
5
11 3
F
6
8 2
F
7
8 2
F
8
8 2
M
9
9 2
M
10
10 2 F
11
8 2 M
12
9 2
M
13
11 4
M
14
10 4
M
15
8 2
M
16
9 2 F
17
10 3 M
18
8 2
F
19
11 4
F
20
11 4 M
21
10 4 F
Quadro 2 - Distribuição dos participantes do grupo de controle de acordo com idade,
série e sexo.
Observando os quadros 1 e 2, constata-se que a média de idade dos
participantes pesquisados é de 9 anos e 4 meses sendo a mínima de 8 anos e a
máxima de 11 anos ao se considerar a totalidade dos participantes.
Quanto ao sexo 26 são meninos e 14, meninas ao considerar a totalidade dos
participantes. No grupo de controle 12 são meninos (57% dos participantes) e 9 são
meninas e no grupo experimental 14 são meninos (74% dos participantes) e apenas 5
são meninas. Assim, constata-se que o grupo de controle encontra-se melhor
distribuído no que se refere à variável sexo quando comparado ao grupo
experimental.
Observando os mesmos quadros com relação à idade e à série das crianças em
estudo, verifica-se que há um número maior de crianças em idade avançada na 2ª e 3ª
50
séries. Tal constatação pode ser realizada ao considerar que as crianças, cujo
desempenho escolar é esperado, cursam a 2ª série com 8 anos, a 3ª com 9, a 4ª com
10 e a 5ª com 11.
Das crianças que cursavam a 2ª série e que pertenciam ao grupo experimental,
5 tinham 8 anos na data da 1ª avaliação; 1 tinha 10 anos; 3 tinham 11 anos. No
grupo de controle 6 tinham 8 anos; 4 tinham 9 anos; e 2 tinham 10 anos. Em relação
às crianças com 9 anos, hipotetiza-se que tenham repetido apenas uma vez a 1ª ou a
2ª série ao passo que as crianças com 10 anos poderiam ter repetido 2 vezes a 1ª ou a
2ª série e as com 11 repetido 3 vezes. Considerando o número total de participantes
que cursavam a 2ª série na data da 1ª avaliação (n=21), 11 tinham 8 anos e, portanto,
encontravam-se adequados à série, 4 tinham 9 anos e podiam ser considerados como
repetentes ou cujo ingresso à escola ocorreu um ano depois e por isso, não são
considerados como estudantes em idade avançada para a série. As outras 6 crianças,
3 com 10 anos e 3 com 11 anos podiam ser consideradas estudantes em idade
avançada. Dessas, 4 pertenciam ao grupo experimental e 2, ao grupo de controle.
Com relação aos estudantes da 3ª série que pertenciam ao grupo experimental,
1 tinha 8 anos e 2 tinham 9 anos e dos que pertenciam ao grupo de controle, 1 tinha
10 anos e 1, 11 anos. Seguindo os critérios anteriores, apenas este último tinha idade
avançada para a série e pertence ao grupo de controle.
Dos estudantes que pertenciam ao grupo experimental e que se encontravam
na 4ª série, 3 tinham 9 anos, 1 tinha 10 anos e 1 tinha 11 anos. No grupo de controle,
1 tinha 9 anos, 3 tinham 10 anos e 3 tinham 11anos. Dos 4 participantes com 11 anos,
1 pertencia ao grupo experimental e 3 ao grupo de controle e não são considerados
como estudantes em idade avançada, apenas repetentes.
Apenas 2 estudantes cursavam a 5ª série e tinham, respectivamente, 10 e 11
anos e pertenciam ao grupo experimental. O grupo de controle não tinha nenhum
participante que cursava a 5ª série.
Considerando o número total de participantes em idade avançada para a série,
4 eram do grupo experimental e 3, do grupo de controle.
O detalhamento das variáveis idade e série e a conseqüente preocupação com
os participantes em idade avançada para a série devem-se à inexistência da avaliação
dos aspectos cognitivos ou psicométricos, pois tais recursos não se encontravam
disponíveis na Instituição onde a coleta de dados foi realizada. Dessa forma, em
caso de pequena ou nenhuma evolução dos escores em compreensão em leitura após a
51
terapia do processamento auditivo, os resultados dos participantes em idade avançada
para a série seriam avaliados particularmente, caso contrário comprometeriam os
resultados do presente estudo.
4.3 DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS
4.3.1 Instrumentos utilizados para a seleção da amostragem
Os instrumentos utilizados para avaliar a audição periférica dos participantes
da pesquisa foram: audiometria tonal e vocal, realizada em cabina acústica, (Anexo
A) e medidas de imitância acústica (Anexo B). Ambos permitem a classificação da
audição periférica como normal ou alterada.
Para a audiometria tonal, os limiares considerados normais situam-se entre 0 e
25 dB (DAVIS e SILVERMAN, 1970) e a audiometria vocal deve ser compatível
com esses limiares atras da pesquisa do índice de reconhecimento de fala (IRF) e
do limiar de reconhecimento de fala (LRF) realizados com listas de palavras (RUSSO
e SANTOS, 1994). Para a realização desses exames, foram utilizados os audiômetros
AC30 e AC33 da marca Interacoustics, devidamente calibrados.
Para as medidas de imitância acústica foram selecionados apenas os
participantes que apresentaram curva timpanométrica tipo A acompanhada de
presença ou ausência de reflexos acústicos. Convém ressaltar que a ausência de
reflexos acústicos pode ser indicativa de transtorno do processamento auditivo
(CARVALO, 1996). Utilizaram-se os imitanciômetros AT 22t e AZ7, ambos da
marca Interacoustics, devidamente calibrados.
4.3.2 Instrumentos utilizados para a realização da pesquisa
Ao descartar as possíveis intercorrências na audição periférica, procedeu-se à
avaliação da função auditiva central. Todos os testes foram realizados em cabina
acústica com o audiômetro de 2 canais, modelo AC30 (Interacoustics) acoplado ao
CD player da marca Sony.
52
Tais testes são comercializados em CD (AUDITEC, 1997; PEREIRA e
SCHOCHAT, 1997).
O primeiro teste realizado foi o dicótico de dígitos - DD (Anexo C) elaborado
por Musiek, em 1983, e adaptado para o português por Santos e Pereira em 1996. O
segundo foi o Staggered Spondaic Word SSW (Anexo D) elaborado por Katz, em
1962, e adaptado para o português por Borges, em 1997.
Na seqüência utilizaram-se os testes Pitch Pattern Sequence - PPS (Anexo E)
e Duration Pattern Sequence DPS (Anexo F), (AUDITEC, 1997). Tais testes
foram utilizados na sua versão original, pois são testes não-verbais.
Os testes acima citados foram escolhidos devido aos objetivos da pesquisa em
relação à amostra selecionada e por oferecerem mais elementos para o diagnóstico da
função auditiva central quando comparados aos demais testes, de acordo com a
experiência da pesquisadora em avaliação do processamento auditivo na época da
coleta de dados.
Por fim, os testes lacunado (Apêndice B) e múltipla escolha (Apêndice C)
foram utilizados para a determinação dos escores em compreensão em leitura
(COSTA, 2003), cujos procedimentos de elaboração e aplicação são abordados a
seguir.
Ambos os testes foram elaborados a partir do texto O Reformador da
Natureza, de Monteiro Lobato.
O teste lacunado (Apêndice B) foi realizado a partir de uma adaptação do
procedimento cloze que foi elaborado para a população a ser testada. Para isso, foram
solicitados à escola alunos representativos de bom desempenho escolar para a
elaboração dos testes.
O procedimento cloze convencional, que consiste no apagamento de 1 palavra
a cada 4 no texto com exceção do primeiro e último parágrafo que devem ser
mantidos intactos, foi realizado por 2 alunos. O texto narrativo escolhido, O
reformador da natureza, de Monteiro Lobato, continha 45 lacunas que as crianças
deveriam preencher. Através desse teste, verificou-se muita dificuldade com o
preenchimento das lacunas, mostrando que o texto ou a forma de preenchimento não
eram adequados à população.
53
Outro texto foi escolhido, porém descritivo, com 21 lacunas, extraído da
Revista Ciência Hoje para a criança: No alto das árvores, de autor desconhecido.
Tal texto foi apresentado a 3 crianças e verificou-se que não houve bom desempenho.
Concluiu-se que as variáveis, tipo de texto e número de lacunas não representavam as
dificuldades das crianças. Tais dificuldades encontravam-se na forma de
preenchimento do teste, ou seja, no procedimento cloze convencional.
Constatada a impossibilidade de realização dessa tarefa, solicitou-se às
mesmas 3 crianças que lessem o texto inteiro e respondessem, por escrito, a 12
perguntas do mesmo. Com essa segunda tentativa houve respostas muito simples,
talvez atreladas à elaboração da escrita. Tal modo de verificação foi imediatamente
reformulado por uma testagem de múltipla escolha e aplicado em 1 aluno que obteve
bom desempenho.
Após essa etapa foram oferecidas às crianças várias possibilidades de
testagens para a compreensão em leitura. Elegeu-se o primeiro texto utilizado O
reformador da natureza, de Monteiro Lobato.
Primeiramente, foi dada a preferência ao procedimento cloze, por ser este mais
utilizado para a avaliação da compreensão em leitura. Foram elaboradas adaptações
como: dispor de palavras concretas a serem postas nas lacunas com a finalidade de
completar o texto; dispor de palavra incorreta e outra correta, no próprio texto, de
cores diferentes para completar a lacuna; dispor do texto inteiro dividido em partes
para que a criança as ordenasse após ter ouvido a história previamente; dispor de
uma testagem de múltipla escolha elaborada a partir do texto e, da mesma forma,
dispor de uma testagem com a finalidade de verificar se a informação era verdadeira
ou falsa.
Paralelamente a esse, foram confeccionadas palavras avulsas para completar a
história Patinho feio, com o objetivo de eliminar a variável conhecimento prévio
da história, que, por hipótese, seria de melhor realização para a criança. Na aplicação
constatou-se que a história não era conhecida pelas crianças, portanto foram
aplicadas as testagens referentes ao texto O reformador da natureza, de Monteiro
Lobato.
A atividade de completar lacunas com palavras dispostas em material concreto
foi aplicada em 1 aluno, com bom desempenho escolar, que demorou 30 minutos para
completar 5 lacunas, todas erradas. Tal teste foi imediatamente descartado.
54
O procedimento em que a criança devia preencher a lacuna dispondo da
palavra correta numa cor e da palavra incorreta em outra cor foi aplicado em uma
criança, demonstrando boa aceitabilidade.
A tarefa de dispor do texto inteiro dividido em partes a fim de ser ordenado
após ter escutado a história, foi aplicado em uma criança sendo eficaz para a
população a ser testada, porém não evidencia o exame puramente da compreensão em
leitura: poderia avaliar a compreensão oral.
As atividades de julgamento das afirmações sobre o texto (verdadeiro ou
falso) e de múltipla escolha também foram aplicadas em uma criança, demonstrando
ser uma testagem adequada.
Como instrumento definitivo para a avaliação da compreensão em leitura, foi
selecionado o teste lacunado (Apêndice B), com 37 lacunas, no qual a criança
dispunha de duas alternativas no próprio texto, uma correta e outra incorreta,
dispostas em cores diferentes. Como instrumento complementar optou-se pelo teste
de múltipla escolha (Apêndice C), que consistia na disposição de 3 alternativas em
que a criança deveria fazer a escolha pela forma correta. Tal teste constava de 9
afirmações sobre o texto.
Ambos os instrumentos permaneceram em experimentação até que todas as
adaptações fossem realizadas. Posteriormente os instrumentos foram aplicados em 20
crianças com e sem problemas de compreeno em leitura, sendo confrontados com
os pareceres dos professores mostrando serem medidas eficazes.
Em sua pesquisa, Costa (2003) utilizou ambos os instrumentos para avaliar a
compreensão em leitura, distinguindo os participantes que compreendiam bem
daqueles queo compreendiam. Para isso a média dos testes foi comparada aos
pareceres dos professores e estabeleceu-se que escores iguais ou superiores a 60%
classificavam os participantes com boa compreensão em leitura, ao passo que escores
inferiores identificavam os participantes com problemas de compreensão em leitura.
Atualmente, é de entendimento da pesquisadora que o processo de confecção
de testes com tal objetivo exige um processo de elaboração mais detalhado, porém a
opção por tais instrumentos foi mantida por encontrar-se adequada à amostra.
Para o presente estudo não foi necessário classificar as crianças em indivíduos
com compreensão em leitura adequada ou alterada, pois o objetivo do mesmo era o
55
aumento dos escores em compreensão em leitura atras do tratamento de crianças
com distúrbios do processamento auditivo.
Para a realização da terapia fonoaudiológica específica do processamento
auditivo nos participantes do grupo experimental, foram utilizados vários recursos,
como: o equipamento audiolab II (em teste), gravadores, fitas K-7, CDs, livros de
histórias, figuras, recursos gficos, brinquedos e jogos, utilizados de acordo com os
objetivos terapêuticos para cada criança.
A forma como cada um dos recursos listados acima foi utilizado é detalhada
em sessão posterior juntamente com o relato das sessões terapêuticas de cada um dos
participantes.
4.4 APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS
Para realizar a coleta de dados do grupo de controle, a pesquisadora
selecionou 4 colaboradoras, também fonoaudiólogas, que fizeram o contato com uma
escola estadual e, de acordo com os critérios e objetivos da pesquisa, selecionaram os
participantes da mesma. As colaboradoras explicaram às professoras de 2ª a 5ª séries
as características que os alunos com distúrbios do processamento auditivo poderiam
apresentar. A partir desse conhecimento as professoras selecionaram as crianças que
se encaixavam nesses critérios para fazerem parte da pesquisa.
Os pais ou responsáveis pelos alunos selecionados foram convidados a
comparecer para entrevista com as colaboradoras, que explicaram os objetivos e os
procedimentos da pesquisa. Solicitaram, também, a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Mediante o aceite, os alunos compareceram ao Serviço de Audiologia das
Clínicas Integradas do Centro Universitário Metodista - IPA para a realização das
avaliações audiológicas. Tais avaliações foram realizadas em 2 ou 3 sessões, com a
duração de 1 hora dependendo do desempenho da criança. Ao diagnosticar o
distúrbio do processamento auditivo, tais participantes foram encaminhados à lista de
espera para tratamento no mesmo local. Aqueles que apresentaram algum
impedimento à avaliação audiológica foram encaminhados ao médico
otorrinolaringologista.
56
Posteriormente, os testes de leitura foram realizados na própria escola em 1 ou
2 sessões, também de no máximo 1 hora cada uma dependendo do desempenho da
criança. Após o período de 5 meses, todos os participantes responderam aos mesmos
testes realizados na primeira fase.
O grupo experimental foi constituído pelos indivíduos que procuraram o
Laboratório de Audiologia para avaliação do processamento auditivo. Após a
realização do diagnóstico, os indivíduos que se encaixavam nos critérios da pesquisa
foram convidados a participar da mesma mediante assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis. A avaliação
audiológica também foi realizada em 2 ou 3 encontros, de no máximo 1 hora, de
acordo com o desempenho de cada criança.
Num segundo momento, os testes de leitura foram aplicados por outras 5
fonoaudiólogas colaboradoras, em 1 ou 2 sessões, que também realizaram a terapia
específica sob orientação da pesquisadora.
As avaliações audiológicas, tanto do grupo de controle como do grupo
experimental, foram realizadas pelos alunos do curso de fonoaudiologia do Centro
Universitário Metodista IPA supervisionados pela pesquisadora.
As fonoaudiólogas colaboradoras de ambos os grupos reuniram-se
semanalmente com a pesquisadora com a finalidade de uniformizar a coleta de dados.
Convém ressaltar que o grupo experimental foi o primeiro a ser selecionado e
que a coleta de dados não ocorreu paralelamente. Todo o processo de coleta de dados
durou 1 ano e 4 meses.
Outro ponto a esclarecer é em relação à opção por diferentes locais para a
seleção do grupo experimental e do grupo de controle, o que pode ter influenciado na
análise dos resultados. Assim, por questões éticas, não seria possível recrutar os
participantes do grupo de controle no Laboratório de Audiologia, pois os indivíduos
vieram justamente solicitar avaliação do processamento auditivo por queixas
específicas não sendo ético deixa-los sem atendimento. Por outro lado, também não
seria possível selecionar os sujeitos do grupo experimental na escola onde o grupo de
controle foi selecionado porque não seria ético oferecer tratamento a um grupo e a
outro não. Em função disso optou-se pelos dois locais.
A seguir, os procedimentos realizados durante os testes mencionados são
abordados detalhadamente.
57
Anteriormente à realização da avaliação audiológica, realizou-se a otoscopia
(inspeção do conduto auditivo externo) com a finalidade de verificar a presença de
empecilhos à realização da audiometria, como a presença de cerumen (ocluindo o
conduto) ou corpo estranho. Ao identificar tais empecilhos, realizou-se o
encaminhamento ao médico otorrinolaringologista para a remoção dos mesmos.
Nesses casos, se a audiometria é realizada antes da remoção do cerumen ou corpo
estranho, espera-se rebaixamento do limiar auditivo.
A audiometria tonal limiar foi realizada por via aérea e por via óssea. Atribui-
se a expressão "via aérea" à medida do tom puro realizada com fones, e "via óssea" à
medida de tom puro realizada com vibrador ósseo posicionado na mastóide
localizada atrás do pavilhão auricular.
Para a via aérea, foram testadas as freqüências 250Hz, 500Hz, 1000Hz,
2000Hz, 3000Hz, 4000Hz, 6000Hz e 8000Hz. Para a via óssea, 500Hz, 1000Hz,
2000Hz, 3000Hz e 4000Hz.
Cabe salientar que todos os participantes da pesquisa apresentaram limiares
audiométricos iguais ou inferiores a 25dB (DAVIS e SILVERMAN, 1970). As
crianças que evidenciaram limiares superiores a esse valor foram descartadas da
pesquisa e devidamente encaminhadas para tratamento.
Após a conclusão da audiometria tonal, iniciou-se a pesquisa do índice de
reconhecimento de fala (IRF) e limiar de reconhecimento de fala (LRF). O IRF foi
realizado a partir da média tonal das freqüências 500Hz, 1000Hz e 2000Hz somada a
40dB. Nesse nível foram apresentadas 25 palavras monossílabas (RUSSO e
SANTOS, 1994) a serem repetidas pela criança. A porcentagem de acertos das
palavras foi computada e, caso fosse inferior a 88%, o mesmo teste era realizado com
dissílabos (RUSSO e SANTOS, 1994).
Para o limiar de reconhecimento de fala (LRF), procedeu-se, inicialmente, da
mesma forma que para o IRF, porém a cada palavra trissilábica apresentada foram
rebaixados 10dB até que a criança não repetisse tal palavra. Foram acrescidos 5dB e
apresentadas 4 palavras. O LRF é o nível mínimo, medido em decibel (dB), em que a
criança repete 2 das 4 palavras apresentadas. O IRF e o LRF devem ser compatíveis
com os limiares tonais.
Concluída a audiometria tonal e vocal, procedeu-se à realização das medidas
de imitância acústica, que objetivam a avaliação das condições da orelha média visto
58
que esta não se encontra visível, como a orelha externa, através da otoscopia. Esse
teste independe da resposta do paciente. É solicitado a este que permaneça em
silêncio, evitando movimentos bruscos de cabeça, tosse e deglutição.
Tal exame fornece a curva timpanométrica, que pode ser A, B, C, Ad ou Ar, e
a intensidade em que os reflexos ipsilaterais e contralaterais foram desencadeados.
Como critério de normalidade admitiu-se apenas os participantes que apresentavam
curva timpanométrica tipo A, representativa do adequado funcionamento da orelha
média. Já a ausência dos reflexos acústicos pode ser encontrada em indiduos com
transtorno do processamento auditivo (CARVALO, 1996).
Através da realização da audiometria tonal e vocal e das medidas de imitância
acústica, concluiu-se a avaliação audiológica periférica.
Numa segunda sessão foram administrados os testes de processamento
auditivo cuja interpretação foi baseada em pesquisas nacionais (PEREIRA, SANTOS
e ZILIOTTO, [no prelo]). Assim, não foram realizados estudos de normatização para
a clientela local.
Primeiramente, realizou-se o teste dicótico de dígitos (DD), que consiste de 20
pares de 2 dígitos. Foram apresentados 2 pares de cada vez, 1 par na orelha direita e
outro na orelha esquerda ao mesmo tempo, numa intensidade de 40dB acima do
limiar audiométrico. As crianças repetiram os 4 dígitos que ouviram
independentemente da ordem na etapa denominada integração binaural . Para essa
etapa, cujo objetivo é a avaliação da função inter-hemisférica, o padrão de
normalidade situa-se em 85% de acertos para a orelha direita e 82% para a esquerda
nos participantes com 8 anos de idade; 90% para ambas as orelhas para os
participantes de 9 a 10 anos e 93% para ambas as orelhas a partir de 11 anos de
idade.
Na etapa seguinte, a mesma seqüência de dígitos é repetida mais 2 vezes. Na
primeira, as crianças repetiram somente os dígitos que ouviram na orelha direita e na
segunda aqueles que ouviram na orelha esquerda. Essa etapa é denominada atenção à
direita e à esquerda, respectivamente, e avalia a habilidade de agrupar os
componentes do sinal acústico em figura-fundo. O padrão de normalidade para os
indivíduos de 8 anos é 75% de acertos para atenção à direita e à esquerda; 85% para
9 a 10 anos e 91 % acima de 11 anos.
59
O seguinte teste aplicado foi o Staggered Spondaic Word (SSW), também a 40
dB acima da média do limiar aéreo. O teste consiste de 40 pares de 2 palavras
dissílabas. Foram apresentados 2 pares de cada vez, 1 par na orelha direita e outro na
orelha esquerda, sendo que há sobreposição da segunda palavra da orelha direita
com a primeira da orelha esquerda. A criança repetiu as 4 palavras na ordem em que
as ouviu. Foram computados acertos, omissões, inversões e substituições de palavras.
Esse teste tem como objetivo avaliar a integridade central, mais especificadamente as
habilidades auditivas de memória para sons em seqüência, figura-fundo para sons
verbais e atenção. Cada item do teste é composto das seguintes condições:
- DNC: direitoo-competitivo: a palavra é apresentada na orelha direita
sem mensagem competitiva (corresponde à primeira palavra ouvida).
- DC: direito competitivo: a palavra é apresentada na orelha direita com
competição simultânea da orelha esquerda.
- EC: esquerdo competitivo: a palavra é apresentada na orelha esquerda com
competição simultânea da orelha direita.
- ENC: esquerdo não-competitivo: a palavra é apresentada na orelha
esquerda sem mensagem competitiva (corresponde à quarta palavra ouvida).
Após computados os erros de cada uma das 8 colunas, tem-se o número de
erros nas situações de competição e não-competição. Os números referentes à
primeira e à última coluna, somados, constituem a condição DNC, da mesma maneira
que a soma dos erros da 2
ª
e 7
ª
coluna representam a condição DC. A condição EC é
a soma dos erros da 3
ª
e da 6
ª
coluna assim como a condição ENC representa a soma
dos erros da 4
ª
e da 5
ª
coluna. Cada um dos 4 números que representam as 4
condições é multiplicado por 2,5, obtendo-se a porcentagem de erro para cada
condição. Ressalta-se que esse valor foi transformado em porcentagem de acerto.
Apenas as condições DC e EC foram analisadas na pesquisa por contribuírem
mais com o estabelecimento do diagnóstico. Como padrão de normalidade para a
condição DC, considerou-se um índice igual ou superior a 80% de acertos e para a
condição EC, 75% de acertos para crianças de 8 anos. Para as crianças acima de 9
anos, considerou-se 90% de acertos para ambas as condições.
Num segundo momento os demais testes foram administrados. Para algumas
crianças um intervalo de 30 minutos foi suficiente entre os 2 grupos de testes. Já para
60
outras o referido intervalo foi proporcionado a cada teste e os demais aplicados em
outra sessão com a duração máxima de 1 hora.
Por fim, foram aplicados os testes não-verbais, o Pitch Pattern Sequence -
PPS e o Duration Pattern Sequence - DPS. As crianças escutaram uma seqüência de
3 sons que variavam entre agudo e grave para o PPS e curto e longo para o DPS.
Primeiramente as crianças repetiram as seqüências murmurando e posteriormente
nomeando. Cada seqüência foi composta por 30 itens. A condição murmurando
permite a avaliação do hemisfério direito enquanto a condição nomeando permite a
avaliação do corpo caloso na condução da informação para o hemisfério esquerdo.
Quanto ao padrão de normalidade, em ambos os testes, para a faixa de 8 a 9 anos
espera-se escore igual ou superior a 91%. Para o teste PPS e acima de 10 anos,
espera-se 76% de acertos e para o teste DPS, 83% de acertos.
Os resultados dos testes abordados permitem a caracterização da função
auditiva central como normal ou alterada em um ou mais subperfis: decodificação,
integração, associação, organização da saída ou função não-verbal (BELLIS, 2003).
Dessa forma, o rebaixamento da orelha direita nos testes dicóticos (SSW e/ou DD)
assim como em DD ADD associado à omissão e substituições fomicas no teste
SSW caracterizaram o subperfil de decodificação. Por outro lado, o rebaixamento da
orelha esquerda nos testes dicóticos (SSW e/ou DD) assim como em DD ADE
associado a substituições de palavras e padrão tipo A no teste SSW e rebaixamento
na condição nomeando dos testes PPS e DPS caracterizaram o subperfil de
integração. Já o subperfil de associação é caracterizado pelo rebaixamento bilateral
nos testes dicóticos (SSW e/ou DD) assim como na etapa de atenção direcionada do
teste DD. Os participantes cujo diagnóstico estabelecido foi ode organização da
saída, tiveram um número elevado de inversões no teste SSW, e rebaixamento
generalizado dos testes em que a resposta deve ser dada em ordem (PPS e DPS). Por
fim, no subperfil denominado função não-verbal do tipo 1 o indivíduo apresenta
rebaixamento da condição murmurando dos testes PPS e DPS enquanto que na função
não-verbal do tipo 2, o paciente apresenta apenas rebaixamento da condição
murmurando no teste DPS.
Em relação aos testes de leitura, primeiramente, aplicou-se o teste lacunado
(Apêndice B). As crianças leram o texto e, ao depararem-se com as lacunas,
escolheram uma das palavras que se encontravam dispostas após a lacuna, entre
61
parênteses, uma vermelha e outra azul. Foi dada a informação que uma das palavras
era a correta e que ora tal palavra era vermelha, ora era azul. As crianças optaram
entre escrever e circular a palavra. Caso a opção fosse pela escrita, pontuou-se a
intenção em relação à palavra e não a grafia correta da mesma. Após o término deste
teste, ofertou-se às crianças o mesmo texto na íntegra para leitura (silenciosa ou oral)
de acordo com a preferência da criança. Em seguida aplicou-se o teste de múltipla
escolha (Apêndice C) em que os participantes leram as questões e escolheram apenas
uma alternativa.
Após estabelecer o diagnóstico de distúrbio do processamento auditivo e
concluir a avaliação da compreensão em leitura, a terapia fonoaudiológica foi
programada de acordo com as necessidades de cada um dos 19 participantes. A
seguir, são abordados os princípios gerais da terapia para cada um dos subperfis
alterados e, posteriormente, a descrição completa do tratamento.
Para os participantes cujo distúrbio do processamento auditivo encontrava-se
no subperfil de decodificação, a terapia foi programada com ênfase na orelha direita
(MUSIEK, 2004). Tal ênfase foi oferecida com o aumento do volume através da
utilização de equipamentos de som como rádios e gravadores, audiômetros e até
mesmo posicionando a cabeça do paciente de modo que a orelha direita ficasse
voltada para tarefas de discriminação auditiva. O equipamento Audiolab II (em teste)
também foi utilizado com mensagem competitiva contralateral para exercitar o córtex
auditivo primário (hemisfério esquerdo). Tal equipamento foi projetado para a
realização do treinamento auditivo durante a terapia fonoaudiológica.
A alteração do subperfil de integração é caracterizada pelo rebaixamento das
porcentagens obtidas nos testes para a orelha esquerda. No entanto, para a realização
da terapia, deu-se ênfase a essa orelha ao responder a tarefas de nomeação
objetivando a passagem da informação para as áreas associativas do hemisfério
esquerdo através do corpo caloso (MUSIEK, 2004). Nesse subperfil tamm foram
utilizadas tarefas com outras modalidades sensoriais como visão e tato.
Considerado como um déficit secundário do processamento auditivo, os
participantes cujo distúrbio encontra-se no subperfil de associação necessitam de
uma terapia abrangente que envolva atenção, memória de trabalho e compreensão
62
auditiva de histórias ou expressões. Em caso de tarefa verbal, foi dada ênfase à
orelha direita. Já em tarefas não verbais, a ênfase dada foi à orelha esquerda.
Assim como a associação, a categoria de organização da saída também é
considerada um distúrbio secundário do processamento auditivo. Nesse caso, o
treinamento auditivo realizado foi binaural, utilizando tarefas cuja resposta deve ser
dada em ordem além de seqüências lógicas, receitas, recontagem de histórias e
movimentos articulatórios.
Por fim, diante do subperfil denominado função não-verbal, a terapia
programada consistiu na resolução de tarefas que envolveram a interpretação de
expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de sílaba tônica e dos parâmetros
intensidade, freqüência e duração com ênfase na orelha esquerda, com o objetivo de
trabalhar a ativação do hemisfério direito.
Nesta pesquisa dividiu-se esta categoria em dois subperfis denominados
função não-verbal do tipo 1, quando os testes PPS e DPS encontravam-se alterados, e
função não-verbal do tipo 2, em caso de alteração, apenas, do teste DPS.
A alteração neste subperfil está relacionada aos baixos escores nos testes não-
verbais PPS e DPS aplicados na condição murmurando. Na coleta de dados observou-
se que alguns participantes tinham ambos os testes alterados, ao passo que outros
tinham apenas o teste DPS fora do padrão de normalidade. Tal divisão deve-se ao
fato de que o teste PPS, aplicado na condição murmurando, avalia a atividade do
hemisfério direito para o padrão de freqüência, e o teste DPS, aplicado na mesma
condição, avalia o funcionamento do referido hemisfério para o padrão de duração.
Convém ressaltar que a maioria das crianças tinha um ou mais subperfis
alterados, que foram tratados hierarquicamente ou em conjunto dependendo das
necessidades de cada uma. Várias atividades foram realizadas exceto o ensino das
estratégias de compreensão em leitura.
As sessões de terapia fonoaudiológica foram realizadas uma vez por semana
durante aproximadamente 45 minutos. Conm salientar que algumas atividades
foram propostas aos pais para serem realizadas em casa uma vez por dia, dependendo
do caso em questão.
63
4.4.1 Terapia fonoaudiológica
A seguir, a terapia fonoaudiológica dos participantes que compõem o grupo
experimental é abordada com mais detalhes.
4.4.1.1 Participante 1
O participante número 1 era do sexo feminino, tinha 10 anos de idade e
cursava a 5ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
dificuldades em leitura e escrita com troca de grafemas que se diferenciam pela
sonoridade, principalmente, /d/ -> /t/.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se pela
alteração da função auditiva nos subperfis de integração e função não-verbal do tipo
2, esta conforme divisão já explicada anteriormente.
O subperfil de integração é caracterizado pelo rebaixamento das porcentagens
da orelha esquerda nos testes dicóticos e da alteração da condição nomeando nos
testes não-verbais. Assim a terapia fonoaudiológica foi programada enfatizando a
orelha esquerda através de uma pequena amplificação, pois, quando o estímulo
acústico entra pela orelha esquerda, percorre as estruturas do tronco encefálico
ipsilateralmente até o complexo olivar superior onde segue seu caminho
contralateralmente chegando ao córtex auditivo primário do hemisfério direito que é
responsável pelo processamento dos processos não-lingüísticos da comunicação.
Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo acústico deve atravessar o corpo
caloso com a finalidade de atingir o processamento lingüístico realizado pelo
hemisfério esquerdo.
Inicialmente utilizou-se uma leve amplificação na orelha esquerda através de
gravador com fones e na orelha direita, um volume mais baixo com uma mensagem
competitiva qualquer (rádio, gravação de noticiário, história) oriunda de outro
gravador com fones.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de palavras que representam categorias semânticas. Exemplo:
repetir apenas o alimento: dedo, dono, doce, deve; a síntese de uma notícia ou
história; o ordenamento de uma seqüência lógica (ouvir a história e ordená-la através
64
de fichas previamente escritas); escutar uma história e em seguida escrevê-la e a
resolução de enigmas e charadas. Destaca-se, também, a nomeação de sons não-
verbais no que se refere à intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um som
não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Sendo uma tarefa de
nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo), requer
passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Convém lembrar que uma sessão de terapia fonoaudiológica com ênfase no
processamento auditivo é realizada durante 45 minutos, mas o treinamento auditivo
com equipamentos que propiciam a amplificação (rádio, gravador e audiômetro) é
realizado em apenas 10 minutos.
Nesse subperfil, também, utilizou-se o trabalho com outras modalidades
sensoriais como tato, olfato e visão. Em relação ao tato, o paciente devia nomear os
objetos que lhe foram oferecidos da mão esquerda sem o auxílio da visão. Os
contornos dos objetos são percebidos pelo hemisfério direito, mas como o paciente
deve nomeá-los, tal percepção deve atravessar o corpo caloso e dessa forma o
hemisfério esquerdo auxilia na nomeação. Num estágio posterior o paciente deve
tocar vários objetos e nomear apenas aqueles que começam, terminam, ou contenham
ou não determinado fonema. No caso em questão, os fonemas /d/ e /t/. Em relação ao
olfato o participante nomeia o aroma sem o auxílio da visão com o objetivo de
exercitar a ínsula que atua no olfato e na discriminação auditiva. Com relação à visão
é possível salientar jogos disponíveis no mercado que associam a visão e audição.
Tal participante tamm apresentou alteração no subperfil de função não-
verbal do tipo 2, ou seja, alteração na condição murmurando do teste DPS (padrão de
duração). Nesse caso, a paciente apresenta dificuldade em processamento temporal
na percepção de um som curto ou longo que está de acordo com a dificuldade que
apresenta na distinção de sons surdos e sonoros, pois um som surdo é curto e um som
sonoro é longo. Ao trabalhar a referida diferença, auxilia-se na aquisição da distinção
do traço surdo e sonoro. Foram utilizados vários recursos como apito e piano e, nesse
caso, sem amplificação.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase na
processamento auditivo, a paciente não apresentava mais a queixa original e obteve
bom desempenho escolar. Na reavaliação do processamento auditivo apenas o teste
65
DPS ficou levemente abaixo do padrão de normalidade. Recebeu alta do atendimento
fonoaudiológico.
4.4.1.2 Participante 2
O participante número 2 era do sexo masculino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola e
da família: dificuldade de aprendizagem e substituição de /v/ e /f/ na fala e na
escrita. Na avaliação fonoaudiológica identificaram-se dificuldades com atenção e
memória que foram consideradas na terapia.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de decodificação, integração e função não-
verbal do tipo 1, esta conforme divisão já explicada anteriormente.
O subperfil de decodificação é a categoria de alteração do processamento
auditivo mais comum e envolve a quebra da mensagem auditiva no nível fomico,
resultando em dificuldades nas tarefas de consciência fonológica e de leitura e
caracteriza-se pelo rebaixamento dos escores da orelha direita nos testes dicóticos
sugerindo disfunção no córtex auditivo primário. Sendo assim, a terapia foi
programada com ênfase na orelha direita. Tal ênfase foi oferecida com o aumento do
volume através da utilização do equipamento Audiolab II (em teste) com mensagem
competitiva contralateral, pois um estímulo acústico, ao entrar pela orelha direita,
percorre as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar
superior onde segue seu caminho contralateralmente chegando ao córtex auditivo
primário do hemisfério esquerdo que é responsável pela informação lexical
(associação da palavra com seu significado), sintaxe, processos fonológicos e
produção da fala.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de dissílabos familiares e pouco familiares. A lista de palavras
foi constituída de acordo com as dificuldades do paciente relacionadas aos fonemas
/v/ e /f/. Destaca-se, também, a resolução de charadas ou a identificação de
características objetivando substantivos que contenham a dificuldade do participante.
Exemplo: sou fininha, tenho dentes nas costas e sirvo para cortar pão. Quem eu sou?
Resposta: faca. Conm ressaltar que, após enfatizar a orelha direita, com a evolução
66
do tratamento, deve-se igualar o volume das orelhas e posteriormente, num estágio
final, piorar a orelha direita que recebeu o treinamento auditivo realizado em 10
minutos numa sessão semanal de 45 minutos.
Outras atividades foram realizadas sem a necessidade de treinamento auditivo.
Entre elas é possível destacar: associação dos fonemas em questão ao material
concreto. Por exemplo: o fonema surdo foi associado a um objeto curto e um som
sonoro a um objeto longo com a utilização de língua de sogra, desenho e piano. O
referido participante, tamm, observou uma figura que posteriormente foi retirada
do campo visual e o mesmo relatou o que lembrava. Também mencionou os passos
que fez ou o caminho realizado para chegar ao local da terapia, lembrou os itens de
uma lista, escutou uma seqüência de sons surdos e sonoros e murmurou-os
primeiramente com 2 sons, e após com 3 e 4 sons. Comentou sobre as características
de determinado objeto e desenhou-os. Essas tarefas objetivaram o desenvolvimento
da atenção e da memória, necesrios ao participante em queso.
Após 1 mês de trabalho com o subperfil de decodificação, a terapia
fonoaudiológica foi programada objetivando o subperfil de integração que é
caracterizado pelo rebaixamento das porcentagens da orelha esquerda nos testes
dicóticos e da alteração da condição nomeando nos testes não-verbais. Com a
utilização do equipamento Audiolab II (em teste) enfatizou-se a orelha esquerda
através de uma pequena amplificação, pois, quando o estímulo acústico entra pela
mesma, percorre as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo
olivar superior seguindo seu caminho contralateralmente até córtex auditivo primário
do hemisfério direito que é responsável pelo processamento dos processos não-
lingüísticos da comunicação. Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo
acústico deve atravessar o corpo caloso com a finalidade de atingir o processamento
lingüístico realizado pelo hemisfério esquerdo. Na orelha direita apresentou-se um
volume mais baixo com uma mensagem competitiva qualquer.
Convém ressaltar que o corpo caloso amadurece em torno de 7 anos de idade e
dessa forma, pode-se supor que o participante em questão, com 8 anos no início da
terapia, ainda encontrava-se no final do processo de maturação e a terapia com o
subperfil de integração poderia acelerar tal processo.
67
De acordo com Machado, Pereira e Azevedo (2006), a utilização da
informação contextual foi utilizada no treinamento de compreensão de mensagens e
na nomeação de objetos utilizando pistas táteis.
Em relação ao treinamento da compreensão de mensagens, destaca-se: síntese
de uma história, ordenamento de seqüência lógica, escutar uma história e em seguida
escrevê-la e a resolução de enigmas e charadas. O participante também identificou
palavras que representam categorias semânticas, ou seja, ao ouvir café, feijão, fogão,
vaca, foca, deveria apontar os artigos que são guardados na cozinha. Apesar de, neste
momento, objetivar o trabalho com o subperfil de integração, os aspectos trabalhados
no subperfil de decodificação foram incluídos, pois as palavras em questão possuem
os fonemas /f/ ou /v/. Dessa forma é possível trabalhar a integração de ambos os
conceitos através do modelo atencional ao dar ênfase em uma das orelhas através de
uma pequena amplificação. Na referida atividade, também é possível trabalhar a
memória de curto prazo ou de trabalho, ao reter a seqüência de palavras e julgar
quais objetos são costumeiramente guardados na cozinha.
Nesse subperfil, tamm, utilizou-se o trabalho com as demais modalidades
sensoriais como tato, olfato e visão. Em relação ao olfato, o participante nomeia o
aroma sem o auxílio da visão com o objetivo de exercitar a ínsula que atua no olfato
e na discriminação auditiva. Dessa forma, um determinado aroma foi associado a um
dos fonemas em questão. Com relação à visão as atividades programadas associaram
tal modalidade à audição.
Em relação ao tato, foram oferecidos objetos concretos (miniaturas) que
continham os fonemas /f/ ou /v/ na mão esquerda do referido participante e este, de
olhos fechados, nomeou o objeto. Essa tarefa segue o mesmo princípio da audição
dicótica, ou seja, a percepção tátil (não-verbal) do objeto na mão esquerda, por
exemplo, uma faca, encaminha-se contralateralmente até o hemisfério direito que não
é lingüístico e atravessa o corpo caloso para chegar ao hemisfério esquerdo e assim
nomear. Tal atividade objetiva tanto o trabalho com o subperfil de integração como o
subperfil de decodificação.
Da mesma forma, solicitou-se a nomeação de sons não-verbais no que se
refere à intensidade, freqüência e duração. Assim, um som não-verbal é naturalmente
interpretado pelo hemisfério direito. Uma tarefa de nomeação (dizer se o som é fraco
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ou forte, fino ou grosso, curto ou longo) também requer a passagem pelo corpo
caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
A partir dessas tarefas de nomeação de sons não-verbais, iniciou-se o trabalho
com o subperfil denominado função não-verbal que se caracteriza pela dificuldade de
identificação e compreensão das características supra-segmentais de um enunciado.
Os resultados dos testes de padrões temporais nas modalidades de resposta por
murmúrio e nomeação encontram-se alterados sugerindo disfunção do hemisfério
direito. Dessa forma, a terapia programada consistiu na resolução de tarefas que
envolveram a interpretação de expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de
sílaba tônica e dos parâmetros intensidade, freqüência e duração com ênfase na
orelha esquerda, com o objetivo de trabalhar a ativação do hemisrio direito.
Convém lembrar que nesta pesquisa dividiu-se esta categoria em dois
subperfis denominados função não-verbal do tipo 1, quando os teste PPS e DPS
encontram-se alterados, que é o caso do participante em questão, e função não-verbal
do tipo 2, em caso de alteração, apenas, do teste DPS.
Tal divisão foi realizada porque um grande número dos participantes
apresentou alteração apenas no teste DPS que avalia o padrão de duração responsável
pela distinção de fonemas surdos e sonoros. Na visão da autora, tal alteração não
representa uma disfunção o-verbal e, sim, uma inabilidade do processamento
temporal em discriminar o estímulo sonoro, reter sons complexos e reproduzi-los
numa determinada ordem. Este aspecto pode ser relacionado ao subperfil de
decodificação.
As sessões de terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo
foram realizadas durante 45 minutos, mas o treinamento auditivo com o equipamento
Audiolab II (em teste) foi utilizado por apenas 10 minutos para evitar a sobrecarga
auditiva. Dessa forma, outros jogos e atividades gráficas fizeram parte dos recursos
utilizados mantendo os mesmos objetivos terapêuticos.
A terapia realizada pelo participante 2 caracterizou-se pelo enfoque eclético
alternando o analítico na terapia para o subperfil de decodificação, o sintético para o
subperfil de integração e o pragmático para a função não-verbal (MACHADO,
PEREIRA E AZEVEDO, 2006).
69
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente evoluiu no teste SSW através do aumento da
porcentagem de acertos na orelha esquerda. No teste dicótico de dígitos atingiu o
padrão de normalidade na etapa de integração binaural e aumentou a porcentagem de
acertos para a orelha esquerda na condição de atenção direcionada à esquerda. No
teste PPS e DPS as porcentagens de acertos nas condições murmurando e nomeando
ficaram consideravelmente aumentadas. Apesar desses resultados, manteve-se o
diagnóstico de alteração nos subperfis de decodificação e integração e o subperfil de
função não-verbal do tipo 1 evoluiu para função não-verbal do tipo 2. O paciente
permaneceu em atendimento fonoaudiológico apesar da crescente evolução.
4.4.1.3 Participante 3
O participante número 3 era do sexo masculino, tinha 11 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola e
da família: dificuldade de aprendizagem por ter repetido 2 vezes a 1ª série e no
momento da coleta inicial de dados, cursava a 2ª série pela segunda vez.. Assim
como o participante 2, identificaram-se, na avaliação fonoaudiológica dificuldades
com atenção e memória que foram consideradas na terapia. Neste trabalho, o
participante em questão foi considerado com idade avançada para a série.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de associação e função não-verbal do tipo
2 de acordo com o posicionamento da autora.
O subperfil de associação é caracterizado como um déficit secundário do
processamento auditivo. Dessa forma, o paciente em questão apresentava dificuldade
em reter a informação, acarretando baixa compreensão de leitura e de charadas. Na
primeira avaliação evidenciou rebaixamento bilateral das porcentagens de acertos no
teste SSW nas condições direita competitiva e esquerda competitiva e escores no
padrão de normalidade para o teste PPS na condição murmurando.o conseguiu
realizar os testes dicótico de dígitos e DPS nas condições murmurando e nomeando.
A inabilidade de nomeação dos padrões temporais evidenciou alterações de córtex
associativo.
70
A terapia fonoaudiológica para esse participante foi programada enfatizando
muito as tarefas de atenção e memória de trabalho e constituiu-se numa terapia
abrangente que envolveu a compreensão auditiva de histórias ou expressões. O
treinamento auditivo para o estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa
verbal, e ênfase (pequena amplificação) na orelha direita.
No participante anterior, também foi dada ênfase à orelha direita ao trabalhar
com o subperfil de decodificação. O que diferencia uma intervenção de outra é a
natureza da tarefa, ou seja, para a decodificação o participante 2 realizou tarefas de
discriminação fonêmica e, nesse caso, o participante 3 realizou tarefas de
compreensão. Assim a mensagem verbal entra pela orelha direita em competição com
a esquerda e logo é enviada ao hemisfério esquerdo e, como a tarefa é de
compreensão (verbal), as vias associativas são ativadas.
Para melhorar a atenção, alguns autores sugerem a manutenção do contato
visual, a escolha do melhor horário para a melhora da concentração e o aumento da
redundância do meio ambiente, ou seja, para facilitar a compreensão, algumas pistas
contextuais são fornecidas no início da terapia (SANCHEZ e ALVAREZ, 2000).
Outra atividade realizada para o desenvolvimento da atenção foi apresentada através
do equipamento Audiolab II (em teste) com ênfase na orelha direita em que o
participante mostrou uma ficha azul para a resposta não e uma vermelha para sim
diante de questionamentos como: o cachorro voa? O gato mia? (MACHADO, 2003).
Margall (2002) menciona que a terapia quando envolve atenção deve ser
diversificada variando os ambientes de terapia, apresentando material motivador para
que a criança mantenha o foco de atenção além de reforço positivo. Todas essas
estratégias foram utilizadas.
Para a memória de trabalho, foram utilizadas pistas que auxiliassem na
evocação das palavras e das categorias. Já para o trabalho com as vias associativas
(compreensão), foram propostos resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras,
advinhações, palavras cruzadas, seguimento de regras e compreeno de expressões
como: levar um frango.
O segundo subperfil alterado no participante 3 foi o da função não-verbal do
tipo 2 de acordo com a divisão realizada nesta pesquisa. Nesse caso, a ênfase dada
foi na orelha esquerda em caso de informação não-verbal a partir da resolução de
71
tarefas que envolveram a interpretação de expressões faciais, melodia, ritmo,
identificação de sílaba tônica e dos parâmetros intensidade, freqüência e duração
com ênfase na orelha esquerda, com o objetivo de trabalhar a ativação do hemisfério
direito. A principal atividade realizada foi a reprodução de sons não-verbais que se
diferenciam na duração (curto e longo) seguida das atividades de nomeação para sons
cuja diferença encontra-se tanto na duração como na freqüência.
As sessões de terapia fonoaudiológica também foram realizadas durante 45
minutos e o treinamento auditivo com o equipamento Audiolab II (em teste) foi
utilizado por apenas 10 minutos.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente evoluiu no teste SSW através do aumento da
porcentagem de acertos de ambas as orelhas. No teste dicótico de dígitos, melhorou
em todas as etapas, porém ainda não conseguiu realizar o teste na condição atenção
direcionada à direita. Os escores dos testes PPS e DPS também aumentaram nas
condições murmurando e nomeando, mantendo ainda uma desproporção entre as
condições, ou seja, a condição nomeando permaneceu inferior a murmurando. Apesar
dos excelentes resultados, o tempo de 5 meses de terapia não foi suficiente para a
mudança de diagstico que evoluiu para a alteração nos subperfis de decodificação,
integração e função não-verbal do tipo 2. O paciente permaneceu em atendimento
fonoaudiológico apesar da crescente evolução.
4.4.1.4 Participante 4
O participante número 4 era do sexo feminino, tinha 9 anos de idade e cursava
a 4ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de processamento
auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da família: troca do fonema
/ ſ / -> / l / na fala e da escola: dificuldade na manutenção da atenção em menor grau
que o participante 3. Apesar disso, tinha bom desempenho escolar.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de associação e função não-verbal do tipo
1, também, em menor grau que o participante anterior.
A alteração no subperfil de associação remete à queixa escolar de dificuldades
de atenção constituindo-se num déficit secundário do processamento auditivo. A
paciente apresentava dificuldade de concentração, porém possuía boa compreensão
72
de leitura e de charadas. Na primeira avaliação evidenciou leve rebaixamento
bilateral das porcentagens de acertos no teste SSW nas condições direita competitiva
e esquerda competitiva. O teste dicótico de dígitos encontrava-se nos padrões de
normalidade exceto na etapa de integração binaural para a orelha esquerda que ficou
levemente abaixo do padrão de normalidade. Os testes PPS e DPS encontravam-se
fora dos padrões de normalidade nas condições murmurando e nomeando, porém o
teste DPS estava mais alterado que o PPS, o que remete à queixa de fala.
A terapia fonoaudiológica foi programada buscando aumentar o nível de
concentração da paciente através de atividades que objetivaram o trabalho com a
função não-verbal, visto que seu problema de atenção não influenciou
consideravelmente nos resultados dos testes. Dessa forma, a categoria denominada
função não-verbal caracterizava-se pela dificuldade de identificação e compreensão
das características supra-segmentais de um enunciado sugerindo disfunção do
hemisfério direito. Assim, a terapia fonoaudiológica foi programada através da
resolução de tarefas que envolveram o conhecimento dos aspectos prosódicos da fala
(melodia, ritmo, identificação de sílaba tônica e entonação). Algumas palavras foram
selecionadas para trabalhar a mudança de significado quando muda a sílaba tônica;
por exemplo: [`papa] e [pa´pa]. As listas de palavras foram organizadas a partir de
itens mais familiares para os menos familiares e posteriormente com não-palavras,
encorajando a paciente a construir uma sílaba tônica e um significado para as novas
palavras. Em relação às sentenças, foram solicitadas tarefas que, ao enfatizar
determinada palavra, mudam o sentido da sentença e atividades onde vários
personagens com estados emocionais diferentes falavam a mesma expressão e a
paciente deveria apontar para a referida gravura como, por exemplo: expressão de
surpresa, tristeza, alegria, preocupação e outras.
Em relação ao processamento temporal, a paciente julgou palavras e não-
palavras como sendo iguais ou diferentes em freqüência, sílaba tônica, intensidade e
duração. Esta última repercute diretamente na superação da alteração apresentada na
fala. Todas essas atividades foram realizadas de forma diótica, ou seja, a mesma
mensagem foi direcionada para ambas as orelhas através do equipamento Audiolab II
(em teste). Tais tarefas objetivaram a ativação do hemisfério direito.
73
As sessões de terapia fonoaudiológica também foram realizadas semanalmente
por um período de 45 minutos, ao passo que o treinamento auditivo específico foi
realizado durante 10 minutos para evitar a sobrecarga auditiva.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, a paciente evoluiu consideravelmente. Os escores dos testes
SSW e dicótico de dígitos atingiram os padrões de normalidade exceto na condição
esquerda competitiva do teste SSW e na etapa de integração binaural para a orelha
esquerda. Tais escores, que ainda continuaram alterados ficaram pouco abaixo do
padrão de normalidade, sugerindo diagnóstico de alteração no subperfil de
integração.
Os escores dos testes PPS e DPS também aumentaram nas condições
murmurando e nomeando, atingindo o padrão de normalidade para o teste PPS na
condição murmurando e um escore levemente abaixo da normalidade para o mesmo
teste na condição nomeando. Em relação ao teste DPS apresentou pouca evolução na
condição murmurando e bom desempenho na condição nomeando. Esses resultados
apontam para o diagnóstico de alteração no subperfil denominado função não-verbal
do tipo 2. A paciente permaneceu em atendimento fonoaudiológico por mais alguns
meses e recebeu alta com a superação do processo fonológico que apresentava:
substituição de líquida.
4.4.1.5 Participante 5
O participante número 5 era do sexo masculino, tinha 9 anos de idade e
cursava a 4ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da família e
da escola: dessonorizações na fala e na escrita envolvendo vários fonemas. Não
apresentava problemas significativos de desempenho escolar.
O resultado da avaliação de processamento auditivo caracterizou-se por
alteração nos seguintes subperfis: decodificação, integração e função não-verbal do
tipo 1.
O diagnóstico de alteração no subperfil de decodificação foi atribuído ao
paciente em função do considerável rebaixamento da porcentagem de acertos na
condição direita competitiva do teste SSW, significando o maior aspecto alterado da
avaliação do processamento auditivo. O referido subperfil envolve a quebra da
74
mensagem auditiva no nível fonêmico resultando em dificuldades nas tarefas de
consciência fonológica e de leitura e caracteriza-se pelo rebaixamento dos escores da
orelha direita nos testes dicóticos sugerindo disfunção no córtex auditivo primário.
Sendo assim, a terapia foi programada com ênfase na orelha direita. Tal ênfase foi
oferecida com o aumento do volume através da utilização do equipamento Audiolab
II (em teste) com mensagem competitiva contralateral, pois um estímulo acústico, ao
entrar pela orelha direita, percorre as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente
até o complexo olivar superior onde segue seu caminho contralateralmente, chegando
ao córtex auditivo primário do hemisfério esquerdo que é responsável pela
informação lexical (associação da palavra com seu significado), sintaxe, processos
fonológicos e produção da fala.
Dentre as tarefas propostas no treino auditivo, é possível destacar a repetição
de dissílabos familiares e pouco familiares. A lista de palavras foi constituída de
acordo com as dificuldades do paciente relacionadas aos fonemas que sofreram o
processo de dessonorização.
De acordo com Machado, Pereira e Azevedo (2006), o enfoque analítico foi
utilizado para o treinamento auditivo com sons verbais. Nesse enfoque a fala foi
segmentada em partes menores visando ao trabalho com o processamento temporal.
Dessa forma, as tarefas de consciência fonológica envolveram a identificação, a
contagem, o isolamento, a adão, a subtração e a combinação de fonemas. A
segmentação de pseudopalavras auxilia na dificuldade em lidar com os sons da fala.
Deve-se ressaltar que nessas tarefas o auxílio da escrita foi solicitado uma vez que a
queixa inicial também era de trocas fonêmicas na escrita.
Convém ressaltar que, após enfatizar a orelha direita, com a evolução do
tratamento, igualou-se o volume das orelhas e posteriormente, num estágio final, a
orelha direita foi piorada. O treinamento auditivo foi realizado em 10 minutos, sendo
que a sessão semanal foi realizada em 45 minutos.
Outras atividades foram realizadas sem a necessidade de treinamento auditivo.
Entre elas é possível destacar associação dos fonemas em questão ao material
concreto. Por exemplo: o fonema surdo foi associado a um objeto curto e um som
sonoro a um objeto longo com a utilização de um piano. O referido participante,
também, observou uma figura que posteriormente foi retirada do campo visual e o
75
mesmo relatou o que lembrava. Também relatou os passos que fez ou o caminho
realizado para chegar ao local da terapia, lembrou os itens de uma lista, escutou uma
seqüência de sons surdos e sonoros e murmurou-os primeiramente com 2 sons, e após
com 3 e 4 sons.
Durante os 5 meses em que o referido paciente recebeu atendimento
fonoaudiológico, foram trabalhados apenas os subperfis de decodificação e de função
não-verbal do tipo I. O subperfil de integração não foi trabalhado devido à
emergência em relação à categoria de decodificação. Os escores que sugerem
alteração no subperfil de integração encontravam-se pximos ao padrão de
normalidade. Isso ocorreu para a condição esquerda competitiva do teste SSW e para
a etapa de integração binaural à esquerda no teste dicótico de dígitos. No mesmo
teste identificou-se rebaixamento significativo das etapas de escuta direcionada à
direita e à esquerda assim como na condição nomeando nos testes PPS e DPS. Além
disso, o corpo caloso, responsável pela conexão inter-hemisférica, amadurece em
torno de 7 anos de idade e, dessa forma, pode-se supor que o participante em
questão, com 9 anos de idade apresentasse atraso no processo maturacional, e a
terapia realizada para os subperfis de decodificação e função não-verbal poderia
acelerar tal processo.
Concomitantemente ao subperfil de decodificação, foi realizado o trabalho
com o subperfil denominado função não-verbal que se caracteriza pela dificuldade de
identificação e compreensão das características supra-segmentais de um enunciado.
Os resultados dos testes de padrões temporais nas modalidades de resposta por
murmúrio e nomeação encontravam-se alterados sugerindo disfunção do hemisfério
direito. Dessa forma, a terapia programada consistiu na resolução de tarefas que
envolveram melodia, identificação de sílaba tônica e dos parâmetros intensidade
(forte e fraca), freqüência (alta e baixa), duração (curta e longa), detecção de gap
(intervalo entre sons), identificação de seqüências rítmicas e localização de estímulos
sonoros com ruído competitivo com ênfase na orelha esquerda (pequena
amplificação), com o objetivo de trabalhar a ativação do hemisfério direito.
Convém lembrar que nesta pesquisa dividiu-se esta categoria em dois
subperfis denominados função não-verbal do tipo 1, quando os teste PPS e DPS
encontram-se alterados, que é o caso do participante em questão, e função não-verbal
do tipo 2, em caso de alteração, apenas, do teste DPS.
76
Para o referido participante foram oferecidas atividades para realizar em casa
como ouvir histórias contadas por alguém, leitura em voz alta, continuar cantando
uma música após uma interrupção, obedecer a ordens que aumentam em
complexidade e desenhar uma história em quadrinhos a partir uma história ouvida.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente evoluiu no teste SSW através do considerável
aumento da porcentagem de acertos na orelha direita. No teste dicótico de dígitos
atingiu o padrão de normalidade na etapa de integração binaural para ambas as
orelhas e para a condição de atenção direcionada à direita. Já os escores da condição
denominada atenção direcionada à esquerda permaneceram rebaixados. Nos testes
PPS e DPS as porcentagens de acertos nas condições murmurando e nomeando
ficaram consideravelmente aumentadas, atingindo o padrão de normalidade para a
condição murmurando. Apesar desses resultados, manteve-se o diagnóstico de
alteração no subperfil de integração. O paciente permaneceu em atendimento
fonoaudiológico apesar da crescente evolução.
4.4.1.6 Participante 6
O participante número 6 era do sexo masculino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da família e
da escola: dificuldades de aprendizagem e de atenção.
O resultado da avaliação de processamento auditivo caracterizou-se por
alteração nos seguintes subperfis: associação e função não-verbal do tipo 1.
O diagnóstico de alteração no subperfil associação justifica-se pelo
rebaixamento das condições direita e esquerda competitivas no teste SSW e pela
etapa de integração binaural em ambas as orelhas no teste dicótico de dígitos. Neste,
as etapas de atenção direcionada à direita e à esquerda também se encontravam
rebaixadas. Os testes PPS e DPS estavam rebaixados nas condições murmurando e
nomeando justificando o diagnóstico de função não-verbal do tipo 1.
O subperfil de associação é caracterizado como um déficit secundário do
processamento auditivo. Dessa forma, o paciente em questão apresentava dificuldade
em reter a informação, acarretando baixa compreensão de leitura e de charadas.
77
A terapia fonoaudiológica para esse participante também foi programada
enfatizando muito as tarefas de atenção e constituiu-se numa terapia abrangente que
envolveu a compreensão auditiva de histórias ou expressões. O treinamento auditivo
para o estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa verbal, e ênfase
(pequena amplificação) na orelha direita.
Para melhorar as condições de atenção do paciente, objetivou-se a manutenção
do contato visual, a escolha do melhor horário para a melhora da concentração e o
aumento da redundância do ambiente, ou seja, para facilitar a compreensão, algumas
pistas contextuais são fornecidas no início da terapia (SANCHEZ e ALVAREZ,
2000). Outra atividade realizada para o desenvolvimento da atenção foi apresentada
através do equipamento Audiolab II (em teste) com ênfase na orelha direita em que o
participante mostrou uma ficha azul para a resposta não e uma vermelha para sim
diante de questionamentos como: o cachorro voa? O gato mia? (MACHADO, 2003).
Margall (2002) menciona que a terapia quando envolve atenção deve ser
diversificada, variando os ambientes de terapia, apresentando material motivador
para que a criança mantenha o foco de atenção além de reforço positivo. Todas essas
estratégias foram utilizadas.
Para o trabalho com as vias associativas (compreensão), foram propostos
resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras, advinhações, palavras cruzadas,
seguimento de regras e compreensão de expressões como: bater as botas.
A categoria denominada função não-verbal caracteriza-se pela dificuldade de
identificação e compreensão das características supra-segmentais de um enunciado.
A terapia programada consistiu na resolução de tarefas que envolveram a
interpretação de expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de sílaba tônica e
dos parâmetros intensidade, freqüência e duração com ênfase na orelha esquerda,
com o objetivo de trabalhar a ativação do hemisfério direito.
Dentre as funções do hemisfério direito, podemos citar: detecção e
reconhecimento de faces, expressões associadas a emoções, habilidades viso-
espaciais e manutenção da atenção.
Tanto o murmúrio quanto a nomeação de sons não-verbais foram solicitados
como tarefas no que se refere a intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um
som não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. As tarefas de
78
nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo) requerem
a passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Convém lembrar que nesta pesquisa dividiu-se esta categoria em dois
subperfis denominados função não-verbal do tipo 1, quando os testes PPS e DPS
encontram-se alterados, que é o caso do participante em questão, e função não-verbal
do tipo 2, em caso de alteração, apenas, do teste DPS.
As sessões de terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo
foram realizadas durante 45 minutos, mas o treinamento auditivo com o equipamento
Audiolab II (em teste) foi utilizado por apenas 10 minutos para evitar a sobrecarga
auditiva. Dessa forma, outros jogos e atividades gráficas fizeram parte dos recursos
utilizados mantendo os mesmos objetivos terapêuticos.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente apresentou leve evolução no teste SSW através
do aumento da porcentagem de acertos nas condições direita e esquerda competitiva.
No teste dicótico de dígitos também apresentou pequena evolução para as atapas de
integração binaural e diminuiu a porcentagem de acertos para a etapa de atenção
direcionada à direita. No teste PPS e DPS as porcentagens de acertos nas condições
murmurando e nomeando ficaram levemente aumentadas. Dessa forma, manteve-se o
diagnóstico de alteração nos subperfis de associação e função não-verbal do tipo 1.
Devido à pouca evolução nos testes para a avaliação do processamento auditivo e à
pequena melhora da queixa inicial, o participante em questão permaneceu em
atendimento fonoaudiológico.
4.4.1.7 Participante 7
O participante número 7 era do sexo masculino, tinha 9 anos de idade e
cursava a 3ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
dificuldades de entender histórias e filmes e de compreensão da leitura.
O resultado da avaliação de processamento auditivo caracterizou-se por
alteração nos seguintes subperfis: integração e função não-verbal do tipo 1.
O diagnóstico de alteração no subperfil integração justifica-se pelo
rebaixamento das porcentagens da orelha esquerda nos testes dicóticos e pela
alteração da condição nomeando nos testes não-verbais. Com a utilização do
79
equipamento Audiolab II (em teste), enfatizou-se a orelha esquerda através de uma
pequena amplificação, pois, quando o estímulo acústico entra pela mesma, percorre
as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar superior
seguindo seu caminho contralateralmente até córtex auditivo primário do hemisfério
direito que é responsável pelo processamento dos processos não-lingüísticos da
comunicação. Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo acústico deve
atravessar o corpo caloso com a finalidade de atingir o processamento lingüístico
realizado pelo hemisfério esquerdo. Na orelha direita apresentou-se um volume mais
baixo com uma mensagem competitiva qualquer.
Esse participante recebeu tal diagnóstico devido ao maior rebaixamento da
porcentagem de acertos na condição esquerda competitiva em comparação com a
condição direita competitiva no teste SSW. Nos testes não-verbais (PPS e DPS)
constatou-se o rebaixamento da condição nomeando, que auxilia na obtenção do
referido diagnóstico.
No teste dicótico de dígitos, a etapa de integração binaural para ambas as
orelhas se encontrava rebaixada juntamente com a etapa de atenção à direita e à
esquerda justificando a queixa inicial: dificuldades de compreensão. A condição
murmurando de ambos os testes não verbais (PPS e DPS) também se encontrava
rebaixada justificando, o diagnóstico de alteração da função não-verbal do tipo 1.
A função não-verbal se caracterizava pela dificuldade de identificação e
compreensão das características supra-segmentais de um enunciado. Os resultados
dos testes de padrões temporais nas modalidades de resposta por murmúrio e
nomeação encontravam-se alterados sugerindo disfunção do hemisfério direito.
Dessa forma, a terapia programada consistiu na resolução de tarefas que envolveram
a interpretação de expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de sílaba tônica e
dos parâmetros intensidade, freqüência e duração com ênfase na orelha esquerda,
com o objetivo de trabalhar a ativação do hemisfério direito.
Na presente pesquisa a função não-verbal do tipo 1 caracteriza-se pela
alteração dos escores dos testes PPS e DPS nas condições de murmúrio e nomeação.
As sessões de terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo
foram realizadas durante 45 minutos, mas o treinamento auditivo com o equipamento
Audiolab II (em teste) foi utilizado por apenas 10 minutos, para evitar a sobrecarga
80
auditiva. Dessa forma, outros jogos e atividades gráficas fizeram parte dos recursos
utilizados mantendo os mesmos objetivos terapêuticos.
Em relação ao treinamento da compreensão de mensagens, destaca-se: síntese
de uma história, ordenamento de seqüência lógica, escutar uma história e em seguida
escrevê-la e a resolução de enigmas e charadas. O participante também identificou
palavras que representam categorias semânticas, ou seja, ao ouvir bola, gola, cola e
rola deveria apontar o artigo que faz parte do material escolar. Nessa atividade
utilizou-se o modelo atencional ao dar ênfase a uma das orelhas atras de uma
pequena amplificação e objetivou-se, também, o trabalho com a memória de trabalho,
ao reter a seqüência de palavras e julgar que objeto faz parte do material da escola.
Nesse subperfil, tamm, utilizou-se o trabalho com as demais modalidades
sensoriais como tato e visão. Em relação ao tato, foram oferecidos objetos concretos
(miniaturas) na mão esquerda do referido participante e este, de olhos fechados,
nomeou o objeto. Essa tarefa segue o mesmo princípio da audição dicótica, ou seja, a
percepção tátil (não-verbal) do objeto na mão esquerda, por exemplo, uma faca,
encaminha-se contralateralmente até o hemisfério direito que não é lingüístico e
atravessa o corpo caloso para chegar ao hemisfério esquerdo e assim nomear.
Da mesma forma, solicitou-se a nomeação de sons não-verbais no que se
refere à intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um som não-verbal é
naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Uma tarefa de nomeação (dizer se
o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo) também requer a passagem
pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente apresentou boa evolução no teste SSW através do
aumento da porcentagem de acertos na condição esquerda competitiva. No teste
dicótico de dígitos atingiu o padrão de normalidade para as etapas de integração
binaural e os escores da etapa de atenção direcionada à direita e à esquerda
melhoraram consideravelmente quase atingindo o padrão de normalidade. Nos testes
não-verbais as porcentagens de acertos nas condições murmurando e nomeando
ficaram levemente aumentadas, porém atingiu o padrão de normalidade para o teste
PPS na condição murmurando. Dessa forma, manteve-se o diagnóstico de alteração
no subperfil de integração e o diagnóstico de função não-verbal do tipo 1 evoluiu
81
para o tipo 2. O paciente apresentou excelente evolução na compreensão oral e
leitora, porém permaneceu em atendimento fonoaudiológico até que a queixa inicial
fosse superada.
4.4.1.8 Participante 8
O participante número 8 era do sexo masculino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
dificuldades em leitura e escrita com troca de grafemas.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de integração e de função não-verbal do
tipo 2, por apresentar alteração apenas no teste DPS nas condições murmurando e
nomeando. Convém salientar que a porcentagem de acertos da condição murmurando
encontrava-se próxima ao padrão de normalidade.
Tal participante recebeu o diagnóstico de alteração da função auditiva no
subperfil de integração em função do rebaixamento dos escores das condições
esquerda competitiva do teste SSW e de integração binaural para a orelha esquerda
do teste dicótico de dígitos.
A terapia fonoaudiológica foi programada enfatizando a orelha esquerda (leve
amplificação), pois, quando o estímulo acústico entra pela orelha esquerda percorre
as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar superior
onde segue seu caminho contralateralmente chegando ao córtex auditivo primário do
hemisfério direito que é responsável pelo processamento dos processos não-
lingüísticos da comunicação. Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo
acústico deve atravessar o corpo caloso com a finalidade de atingir o processamento
lingüístico realizado pelo hemisfério esquerdo. Na orelha direita, o referido
participante escutou uma mensagem competitiva qualquer (rádio, gravação de
noticiário, história) num volume mais baixo.
O treinamento auditivo em questão foi realizado com o equipamento Audiolab
II (em teste), durante 10 minutos, inserido numa sessão terapêutica semanal de 45
minutos. Dentre as tarefas resolvidas por tal participante, é possível destacar a
repetição de palavras que representam categorias semânticas. Exemplo: repetir
apenas o artigo que se leva numa viagem: sala, bala e mala; a síntese de uma notícia
82
ou história; o ordenamento de uma seqüência lógica (ouvir a história e ordená-la
através de fichas previamente escritas); escutar uma história e em seguida escrevê-la
e a resolução de enigmas e charadas. Destaca-se também a nomeação de sons não-
verbais no que se refere à intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um som
não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Sendo uma tarefa de
nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo), requer
passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Nesse subperfil, também, utilizou-se o trabalho com outras modalidades
sensoriais como tato, olfato e visão. Em relação ao tato, o paciente devia nomear os
objetos que lhe foram oferecidos da mão esquerda sem o auxílio da visão. Os
contornos dos objetos são percebidos pelo hemisfério direito, mas como o paciente
deve nomeá-los, tal percepção deve atravessar o corpo caloso e dessa forma o
hemisfério esquerdo auxilia na nomeação. Num estágio posterior o paciente devia
tocar vários objetos e nomear apenas aqueles que começam, terminam, ou contenham
ou não determinado fonema. Em relação ao olfato, o participante nomeia o aroma
sem o auxílio da visão com o objetivo de exercitar a ínsula que atua no olfato e na
discriminação auditiva. Com relação à visão é possível salientar diversos jogos
disponíveis no mercado que associam a visão e audição.
As tarefas de nomeação de sons não-verbais realizadas para trabalhar com o
subperfil de integração auxiliam na terapia direcionada à categoria denominada, pela
autora, de função não-verbal do tipo 2. Além dessas foram desenvolvidas atividades
de imitação do padrão não-verbal através do murmúrio para sanar a dificuldade em
processamento temporal na percepção de um som curto ou longo, fraco ou forte.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente evoluiu consideravelmente na condição esquerda
competitiva do teste SSW e na etapa de integração binaural para a orelha esquerda no
teste dicótico de dígitos. Nesse último atingiu o padrão de normalidade na etapa de
integração binaural para a orelha direita e evoluiu consideravelmente na etapa de
escuta direcionada à direita e à esquerda. Todos os escores dos testes não-verbais
atingiram o padrão de normalidade, não havendo necessidade de continuar a terapia
para a função não-verbal, porém permaneceu em atendimento para continuar o
trabalho com o subperfil de integração. Convém ressaltar que o diagnóstico de
alteração nesse subperfil é atribuído apenas aos participantes que têm mais de 7 anos
83
de idade em função do processo maturacional do corpo caloso. Como o paciente em
questão tinha 8 anos de idade, podia, ainda, se encontrar no final desse processo. A
escola relatou melhora das dificuldades de leitura e escrita e das substituições
grafêmicas.
4.4.1.9 Participante 9
O participante número 9 era do sexo masculino, tinha 9 anos de idade e
cursava a 4ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
apresentava considerável troca de grafemas, principalmente envolvendo os que se
diferenciam pela sonoridade, o que implica em dificuldades de escrita e compreensão
em leitura.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de integração e função não-verbal do tipo
2, esta conforme divisão já explicada anteriormente.
O subperfil de integração é caracterizado pelo rebaixamento das porcentagens
da orelha esquerda nos testes dicóticos e da alteração da condição nomeando nos
testes não-verbais. Nesse caso, o paciente apresentou rebaixamento da condição
esquerda competitiva no teste SSW e das etapas de integração binaural e escuta
direcionada, ambas, para a orelha esquerda. Em relação aos testes não-verbais não
havia discrepância entre as condições murmurando e nomeando. Assim a terapia
fonoaudiológica foi programada enfatizando a orelha esquerda através de uma
pequena amplificação apresentada no equipamento Audiolab II (em teste), pois,
quando o estímulo acústico entra pela orelha esquerda percorre as estruturas do
tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar superior onde segue seu
caminho contralateralmente chegando ao córtex auditivo primário do hemisfério
direito que é responsável pelo processamento dos processos não-lingüísticos da
comunicação. Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo acústico deve
atravessar o corpo caloso com a finalidade de atingir o processamento lingüístico
realizado pelo hemisfério esquerdo.
O treinamento auditivo foi realizado durante 10 minutos, inseridos numa
sessão de 45 minutos. Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal
participante, é possível destacar a repetição de palavras que representam categorias
84
semânticas. Exemplo: repetir apenas o nome próprio: carta, Marta, parta; a síntese de
uma notícia ou história; o ordenamento de uma seqüência lógica (ouvir a história e
ordená-la através de fichas previamente escritas); escutar uma história e em seguida
escrevê-la e a resolução de enigmas e charadas. Destaca-se tamm a nomeação de
sons não-verbais no que se refere a intensidade, freqüência e duração. Dessa forma,
um som não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Sendo uma
tarefa de nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo),
requer passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na
nomeação.
Nesse subperfil, também, utilizou-se o trabalho com outras modalidades
sensoriais como tato, olfato e visão. Em relação ao tato, o paciente devia nomear os
objetos que lhe foram oferecidos da mão esquerda sem o auxílio da visão. Os
contornos dos objetos são percebidos pelo hemisfério direito, mas como o paciente
deve nomeá-los, tal percepção deve atravessar o corpo caloso e dessa forma o
hemisfério esquerdo auxilia na nomeação. Num estágio posterior o paciente devia
tocar vários objetos e nomear apenas aqueles que começam, terminam, ou contenham
ou não determinado fonema. Em relação ao olfato, o participante nomeia o aroma
sem o auxílio da visão com o objetivo de exercitar a ínsula que atua no olfato e na
discriminação auditiva. Com relação à visão foram realizadas inúmeras tarefas que
associam a visão e audição.
Tal participante tamm apresentou alteração no subperfil de função não-
verbal do tipo 2, ou seja, alteração na condição murmurando e nomeando do teste
DPS (padrão de duração). Nesse caso, o paciente evidenciou dificuldade em
processamento temporal na percepção de um som curto ou longo, o que está de
acordo com a dificuldade que apresentava na distinção de sons surdos e sonoros, pois
um som surdo é curto e um som sonoro é longo. Ao trabalhar a referida distinção,
auxilia-se na aquisição da distinção do traço surdo e sonoro. Foram utilizados vários
recursos como apitos e pianos e nesse caso, sem amplificação.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente permaneceu com o mesmo diagnóstico: alteração
nos subperfis de integração e função não-verbal do tipo 2. Convém ressaltar que a
condição esquerda competitiva do teste SSW encontrava-se quase no padrão de
normalidade assim como a etapa de integração binaural para a orelha esquerda do
85
teste dicótico de dígitos. Já para a etapa de escuta direcionada à esquerda, do mesmo
teste, atingiu o padrão de normalidade. Em relação ao teste DPS, que avalia o
subperfil de função não-verbal do tipo 2, conforme a classificação deste estudo, o
paciente apresentou pouca evolução nas condições murmurando e nomeando. Apesar
disso, a escola relatou considerável melhora no desempenho escolar do participante
em questão, permanecendo as trocas de grafemas sonoros por surdos que justificaram
a continuidade do tratamento fonoaudiológico. Recebeu alta do referido tratamento
após 2 meses.
4.4.1.10 Participante 10
O participante número 10 era do sexo masculino, tinha 11 anos de idade e
cursava a 4ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola e
da família: dificuldade de atenção e de compreensão oral e leitora que repercutiam no
seu desempenho escolar.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de associação e função não-verbal do tipo
2 de acordo com o posicionamento da autora.
O subperfil de associação é caracterizado como um déficit secundário do
processamento auditivo. Dessa forma, o paciente em questão apresentava dificuldade
em reter a informação, acarretando baixa compreensão de leitura e de charadas. Na
primeira avaliação revelou rebaixamento bilateral das porcentagens de acertos no
teste SSW nas condições direita competitiva e esquerda competitiva e escores no
padrão de normalidade para o teste PPS na condição murmurando. Os escores do
teste dicótico de dígitos também se encontravam rebaixados assim como no teste
DPS nas condições murmurando e nomeando que avaliam o subperfil denominado
função não-verbal do tipo 2.
A terapia fonoaudiológica para esse participante foi programada enfatizando
muito as tarefas de atenção e memória de trabalho e constituiu-se numa terapia
abrangente que envolveu a compreensão auditiva de histórias ou expressões. O
treinamento auditivo para o estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa
verbal, e ênfase (pequena amplificação) na orelha direita.
86
Para melhorar a atenção, alguns princípios foram adotados como: a
manutenção do contato visual, a escolha do melhor horário para a melhora da
concentração e o aumento da redundância do meio ambiente, ou seja, para facilitar a
compreensão, algumas pistas contextuais foram fornecidas no início da terapia. Outra
atividade realizada para o desenvolvimento da atenção foi apresentada através do
equipamento Audiolab II (em teste) com ênfase na orelha direita em que o
participante mostrou uma ficha azul para a resposta não e uma vermelha para sim
diante de questionamentos como: o cachorro voa? O gato mia?
Tanto as atividades como os recursos materiais utilizados em terapia foram
diversificados. Os ambientes terapêuticos também foram variados (troca de sala,
pátio, computador e outros) procurando apresentar material motivador para a
manutenção do foco de atenção além de reforço positivo.
Para o trabalho com as vias associativas (compreensão), foram propostos
resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras, advinhações, palavras cruzadas,
seguimento de regras e compreensão de expressões como: levar um fora e bater as
botas.
Tal participante tamm apresentou alteração no subperfil de função não-
verbal do tipo 2, ou seja, alteração na condição murmurando do teste DPS (padrão de
duração). Nesse caso, o paciente revelou dificuldade em processamento temporal.
As sessões de terapia fonoaudiológica também foram realizadas durante 45
minutos e o treinamento auditivo com o equipamento Audiolab II (em teste) foi
utilizado por apenas 10 minutos.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente atingiu o padrão de normalidade para o teste
SSW através do aumento da porcentagem de acertos de ambas as orelhas. No teste
dicótico de dígitos melhorou em todas as etapas, principalmente na condição de
atenção direcionada à esquerda. Os escores do teste DPS também aumentaram nas
condições murmurando (atingindo o padrão de normalidade) e nomeando que ainda
se manteve aquém do padrão de normalidade, contribuindo para a manutenção do
diagnóstico no subperfil de associação. Já o diagnóstico de alteração no subperfil de
função não-verbal do tipo 2 foi superado. Apesar da excelente melhora nesse
subperfil, o paciente permaneceu em atendimento fonoaudiológico, objetivando o
87
trabalho com o subperfil de associação através do ganho de atenção e das tarefas de
compreensão.
4.4.1.11 Participante 11
O participante número 11 era do sexo feminino, tinha 11 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da família e
da escola: dificuldades de aprendizagem. Ingressou na 1ª série com 8 anos de idade e
repetiu uma vez a mesma. No momento da coleta de dados, encontrava-se repetindo a
2ª série pela segunda vez. Na avaliação fonoaudiológica identificaram-se
dificuldades com atenção e memória que foram consideradas na terapia. Neste
trabalho, o participante em questão foi considerado com idade avançada para a série.
O resultado da avaliação de processamento auditivo caracterizou-se por
alteração nos seguintes subperfis de associação e função não-verbal do tipo 1.
O diagnóstico de alteração no subperfil associação justifica-se pelo
rebaixamento das condições direita e esquerda competitivas no teste SSW e pela
etapa de integração binaural em ambas as orelhas no teste dicótico de dígitos. Neste,
a etapa de atenção direcionada à esquerda também se encontrava rebaixada. Os testes
PPS e DPS revelaram rebaixados nas condições murmurando e nomeando,
justificando o diagnóstico de função não-verbal do tipo 1, sendo que no teste DPS os
escores encontravam-se mais alterados em comparação com o PPS.
O subperfil de associação é caracterizado como um déficit secundário do
processamento auditivo. Dessa forma, o paciente em questão apresentava dificuldade
em reter a informação, acarretando baixa compreensão de leitura e de charadas.
A terapia fonoaudiológica para esse participante também foi programada
enfatizando muito as tarefas de atenção e constituiu-se numa terapia abrangente que
envolveu a compreensão auditiva de histórias ou expressões. O treinamento auditivo
para o estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa verbal, e ênfase
(pequena amplificação durante 10 minutos) na orelha direita.
Para melhorar as condições de atenção do paciente, objetivou-se a manutenção
do contato visual, a escolha do melhor horário para a melhora da concentração e o
aumento da redundância do ambiente, ou seja, para facilitar a compreensão, algumas
88
pistas contextuais foram fornecidas no início da terapia. Outra atividade realizada
para o desenvolvimento da atenção foi apresentada através do equipamento Audiolab
II (em teste) com ênfase na orelha direita em que o participante mostrou uma ficha
azul para a resposta não e uma vermelha para sim diante de questionamentos como: a
faca voa? O cachorro late?
Margall (2002) menciona que a terapia quando envolve atenção deve ser
diversificada variando os ambientes e apresentando material motivador para que a
criança mantenha o foco de atenção além de reforço positivo. Todas essas estratégias
foram utilizadas.
Para o trabalho com as vias associativas (compreensão), foram propostos
resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras, advinhações, palavras cruzadas,
seguimento de regras e compreensão de expressões como: estou de saco cheio.
A categoria denominada função não-verbal se caracteriza pela dificuldade de
identificação e compreensão das características supra-segmentais de um enunciado.
A terapia programada consistiu na resolução de tarefas que envolveram a
interpretação de expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de sílaba tônica e
dos parâmetros de intensidade, freqüência e duração com ênfase na orelha esquerda,
objetivando a ativação do hemisfério direito.
Dentre as funções do hemisfério direito, podemos citar: detecção e
reconhecimento de faces, expressões associadas a emoções, habilidades viso-
espaciais e manutenção da atenção.
Tanto o murmúrio quanto a nomeação de sons não-verbais foram solicitados
como tarefas no que se refere a intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um
som não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. As tarefas de
nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo) requerem
a passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Convém lembrar que nesta pesquisa dividiu-se esta categoria em dois
subperfis denominados função não-verbal do tipo 1, quando os testes PPS e DPS
encontram-se alterados, que é o caso do participante em questão, e função não-verbal
do tipo 2, em caso de alteração, apenas, do teste DPS.
89
As sessões de terapia fonoaudiológica tiveram uma duração média de 45
minutos, envolvendo o treinamento auditivo realizado em aproximadamente 10
minutos para evitar a sobrecarga auditiva.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, a paciente apresentou considerável evolução no teste SSW
através do aumento da porcentagem de acertos nas condições direita e esquerda
competitiva que ficaram próximos do padrão de normalidade. No teste dicótico de
dígitos a etapa de atenção direcionada à esquerda também aumentou
consideravelmente. No teste PPS os escores foram idênticos ao início da terapia e no
DPS as porcentagens de acertos nas condições murmurando e nomeando ficaram
levemente aumentadas. Dessa forma, manteve-se o diagnóstico de alterão nos
subperfis de associação e função não-verbal do tipo 1. Apesar de permanecer com o
mesmo diagstico e continuar o atendimento fonoaudiológico, a paciente em
questão melhorou muito em relação à atenção, à compreensão da linguagem e ao
desempenho escolar, sendo aprovada para a 3ª série.
4.4.1.12 Participante 12
O participante número 12 era do sexo masculino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
dificuldades de compreensão em leitura e troca de alguns grafemas na escrita que se
diferenciam pela sonoridade. Apresentava também histórico de desvio fonológico
(processo de dessonorização), já superado.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de integração e função não-verbal do tipo
2, esta conforme divisão já explicada anteriormente.
O subperfil de integração é caracterizado pelo rebaixamento das porcentagens
da orelha esquerda nos testes dicóticos e da alteração da condição nomeando nos
testes não-verbais. O referido participante recebeu tal diagnóstico devido ao
rebaixamento da condição esquerda competitiva no teste SSW e das etapas de
integração binaural para a orelha esquerda e de escuta direcionada à esquerda no
teste dicótico de dígitos. Apresentou, também, alteração na condição nomeando dos
testes PPS e DPS. Assim a terapia fonoaudiológica foi programada enfatizando a
90
orelha esquerda através de uma pequena amplificação, pois, quando o estímulo
acústico entra pela orelha esquerda, percorre as estruturas do tronco encefálico
ipsilateralmente até o complexo olivar superior onde segue seu caminho
contralateralmente até o córtex auditivo primário do hemisfério direito que é
responsável pelo processamento dos aspectos não-lingüísticos da comunicação. Em
caso de mensagem verbal, o estímulo acústico deve atravessar o corpo caloso com a
finalidade de atingir o processamento lingüístico realizado pelo hemisfério esquerdo.
Inicialmente utilizou-se uma leve amplificação na orelha esquerda através de
gravador com fones e na orelha direita um volume mais baixo com uma mensagem
competitiva qualquer (rádio, gravação de noticiário, história) oriunda de outro
gravador com fones.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de palavras que representam categorias semânticas. Exemplo:
repetir apenas os componentes de uma camisa: gola, calo, manga, cola; a síntese de
uma notícia ou história; o ordenamento de uma seqüência lógica (ouvir a história e
ordená-la através de fichas previamente escritas); escutar uma história e em seguida
escrevê-la e a resolução de enigmas e charadas. Destaca-se tamm a nomeação de
sons não-verbais no que se refere intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um
som não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Dessa forma,
uma tarefa é de nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou
longo), requer passagem do estímulo acústico pelo corpo caloso para que o
hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Cada sessão de terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo
foi realizada durante 45 minutos, mas o treinamento auditivo com equipamentos que
propiciam a amplificação (rádio, gravador e audiômetro) foi realizado em apenas 10
minutos.
Nesse subperfil, também, utilizou-se o trabalho com outras modalidades
sensoriais como tato, olfato e visão. Em relação ao tato, o paciente devia nomear os
objetos que lhe foram oferecidos na mão esquerda sem o auxílio da visão. Os
contornos dos objetos são percebidos pelo hemisfério direito, mas, como o paciente
devia nomeá-los, tal percepção deve atravessar o corpo caloso e dessa forma o
hemisfério esquerdo auxilia na nomeação. Num estágio posterior o paciente deve
91
tocar vários objetos e nomear apenas aqueles que começam, terminam, ou contenham
ou não determinado fonema. No caso em questão, os fonemas /g/ e /k/ foram um dos
pares mínimos trabalhados. Em relação ao olfato o participante nomeou o aroma sem
o auxílio da visão com o objetivo de exercitar a ínsula que atua no olfato e na
discriminação auditiva. Com relação à visão é possível salientar jogos disponíveis no
mercado que associam visão e audição.
Na alteração do subperfil de função não-verbal do tipo 2, o paciente
apresentou dificuldades em processamento temporal na percepção de um som curto
ou longo que está de acordo com a dificuldade que revelou na distinção de sons
surdos e sonoros, pois um som surdo é curto e um som sonoro é longo. Ao trabalhar a
referida distinção, auxilia-se na aquisição da distinção do traço surdo e sonoro.
Foram utilizados vários recursos como apito e piano, estes sem a utilização de
amplificação.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente evoluiu muito na compreensão em leitura e
melhorou consideravelmente sua dificuldade nas substituições fonêmicas obtendo
bom desempenho escolar.
Na reavaliação do processamento auditivo, o paciente apresentou evolução nos
escores da condição esquerda competitiva do teste SSW e da etapa de atenção
direcionada à esquerda do teste dicótico de dígitos, porém ambas ficaram alteradas.
O mesmo ocorreu com os escores do teste DPS. Ambas as condições (murmurando e
nomeando) permaneceram alteradas. O rebaixamento da condição nomeando
juntamente com os escores da orelha esquerda dos testes SSW e dicótico de dígitos
justificava a permanência do diagnóstico de alteração da função auditiva no subperfil
de integração. Já o rebaixamento da condição murmurando estabelecia a continuidade
do diagnóstico de função não-verbal do tipo 2, porém este encontrava-se próximo ao
padrão de normalidade. O referido paciente continuou em atendimento
fonoaudiológico.
4.4.1.13 Participante 13
O participante número 13 era do sexo feminino, tinha 11 anos de idade e
cursava a 5ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
92
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da família:
trocas grafêmicas que interferem na compreensão em leitura.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de associação e função não-verbal do tipo
2.
Na primeira avaliação apresentou leve rebaixamento bilateral das
porcentagens de acertos no teste SSW nas condições direita competitiva e esquerda
competitiva. O teste dicótico de dígitos encontrava-se nos padrões de normalidade
exceto na etapa de escuta direcionada à direita e à esquerda. Já o teste DPS revelava-
se fora dos pades de normalidade nas condições murmurando e nomeando.
As sessões de terapia fonoaudiológica também foram realizadas semanalmente
por um período de 45 minutos, ao passo que o treinamento auditivo específico foi
realizado durante 10 minutos para evitar a sobrecarga auditiva.
O subperfil de associação é caracterizado como um déficit secundário do
processamento auditivo. Dessa forma, a paciente em questão apresentava dificuldade
em reter a informação, acarretando baixa compreensão de leitura e de charadas. A
terapia fonoaudiológica para esse participante foi programada enfatizando muito as
tarefas de atenção e memória de trabalho e constituiu-se numa terapia abrangente que
envolveu a compreensão auditiva de histórias ou expressões. O treinamento auditivo
para o estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa verbal, e ênfase
(pequena amplificação) na orelha direita.
Tal participante tamm apresentou alteração no subperfil de função não-
verbal do tipo 2, ou seja, alteração nas condições murmurando e nomeando do teste
DPS (padrão de duração). Nesse caso, a paciente apresentava dificuldade em
processamento temporal na percepção de um som curto ou longo que está de acordo
com a dificuldade que evidenciava na distinção de sons surdos e sonoros, pois um
som surdo é curto e um som sonoro é longo. Ao trabalhar a referida distinção,
auxilia-se na aquisição da distinção do traço surdo e sonoro. Foram utilizados vários
recursos como apito e piano sem amplificação.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase na
processamento auditivo, a paciente o apresentava mais a queixa original. Na
reavaliação do processamento auditivo todos os testes que se encontravam alterados
93
atingiram o padrão de normalidade exceto o teste DPS que ficou levemente abaixo do
padrão referido para a idade. Recebeu alta do atendimento fonoaudiológico apesar de
manter o diagnóstico de alteração da função auditiva no subperfil de função não-
verbal do tipo 2.
4.4.1.14 Participante 14
O participante número 14 era do sexo masculino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
troca de grafemas que se diferenciam pela sonoridade.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva no subperfil de função não-verbal do tipo 2, esta
conforme divisão já explicada anteriormente. O participante em questão recebeu tal
diagnóstico por apresentar rebaixamento dos escores, apenas da condição
murmurando do teste DPS.
A terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo foi realizada
durante 45 minutos, incluindo o treinamento auditivo nos 10 minutos iniciais com o
equipamento Audiolab II (em teste).
Dessa maneira, o processamento temporal foi trabalhado através da percepção
de sons curtos e longos que estão relacionados com a dificuldade na distinção de
sons surdos e sonoros, pois um som surdo é curto e um som sonoro é longo. Ao
trabalhar a referida distinção, auxilia-se na aquisição do traço sonoro.
Nesse caso, a ênfase foi oferecida na orelha esquerda, pois a informação foi
não-verbal. As tarefas resolvidas pelo paciente envolveram a interpretação de
expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de sílaba tônica e dos parâmetros
intensidade, freqüência e duração com o objetivo de trabalhar a ativação do
hemisfério direito.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente não apresentava mais a queixa original e obteve
bom desempenho escolar. Na reavaliação do processamento auditivo os escores de
todos os testes atingiram o padrão de normalidade. Recebeu alta do atendimento
fonoaudiológico.
94
4.4.1.15 Participante 15
O participante número 15 era do sexo masculino, tinha 11 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola e
da família: dificuldade de aprendizagem e substituição dos fonemas /d/ e /t/ na
escrita. O referido participante cursou a 1ª série por 3 vezes e, no momento da coleta
inicial de dados, cursava a 2ª série pela segunda vez. Neste trabalho, o participante
em questão foi considerado com idade avançada para a série assim como os
participantes 3 e 11.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de decodificação, integração e função não-
verbal do tipo 2.
O participante em questão recebeu tais diagnósticos devido ao rebaixamento
dos escores do teste SSW nas condições direita e esquerda competitiva. A alteração
da condição direita competitiva contribuiu para o diagnóstico do subperfil de
decodificação juntamente com o rebaixamento das etapas de integração binaural para
a orelha direita e escuta direcionada à direita no teste dicótico de dígitos. Já o
rebaixamento da condição esquerda competitiva do teste SSW sugeriu alteração no
subperfil de integração por apresentar maior disfunção se comparada com a condição
direita competitiva. O diagnóstico de alteração do subperfil de função não-verbal do
tipo 2 devia-se ao rebaixamento da condição murmurando do teste DPS.
O primeiro subperfil a ser trabalhado foi o de decodificação que envolve a
quebra da mensagem auditiva no nível fonêmico, resultando em dificuldades nas
tarefas de consciência fonológica e de leitura e caracteriza-se pelo rebaixamento dos
escores da orelha direita nos testes dicóticos, sugerindo disfunção no córtex auditivo
primário. Sendo assim, a terapia foi programada com ênfase na orelha direita. Tal
ênfase foi oferecida com o aumento do volume através da utilização do equipamento
Audiolab II (em teste) com mensagem competitiva contralateral, pois um estímulo
acústico, ao entrar pela orelha direita percorre as estruturas do tronco encefálico
ipsilateralmente até o complexo olivar superior seguindo contralateralmente até o
córtex auditivo primário do hemisfério esquerdo que é responsável pela informação
95
lexical (associação da palavra com seu significado), sintaxe, processos fonológicos e
produção da fala.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de dissílabos familiares e pouco familiares. A lista de palavras
foi constituída de acordo com as dificuldades do paciente relacionadas aos fonemas
/d/ e /t/. Destaca-se, também, a resolução de charadas ou a identificação de
características objetivando substantivos que contenham a dificuldade do participante.
Exemplo: sou fininho, comprido, sirvo para apontar e tenho uma amiga chamada
unha. Quem eu sou? Resposta: dedo. Convém ressaltar que após enfatizar a orelha
direita, com a evolução do tratamento, o volume das orelhas foi igualado e
posteriormente, num estágio final, piorou-se a orelha direita que recebeu o
treinamento auditivo realizado em 10 minutos numa sessão semanal de 45 minutos.
Outras atividades foram realizadas sem a necessidade de treinamento auditivo.
Entre elas é possível destacar a associação dos fonemas trabalhados ao material
concreto. Por exemplo, o fonema surdo foi associado a um objeto curto e o fonema
sonoro a um objeto longo. Dessa forma, com a utilização da língua de sogra um
sopro leve produz pouca movimentação da mesma ao passo que um sopro forte
produz maior movimentação. Em relação ao desenho um traço longo representa o
fonema sonoro e um traço curto, o fonema surdo. O referido participante, também,
observou uma figura que posteriormente foi retirada do campo visual e o mesmo
relatou o que lembrava. Também relatou os passos que fez ou o caminho realizado
para chegar ao local da terapia, lembrou os itens de uma lista, escutou uma seqüência
de sons surdos e sonoros e murmurou-os primeiramente com 2 sons, e após com 3 e 4
sons.
O subperfil de integração foi trabalhado atras de uma pequena amplificação
(ênfase na orelha esquerda), pois, quando o estímulo acústico entra pela orelha
esquerda, percorre as estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo
olivar superior seguindo seu caminho contralateralmente até o córtex auditivo
primário do hemisfério direito, que é responsável pelo processamento dos processos
não-lingüísticos da comunicação. Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo
acústico deve atravessar o corpo caloso com a finalidade de atingir o processamento
lingüístico realizado pelo hemisfério esquerdo.
96
O treinamento auditivo foi realizado com a utilização de uma mensagem
competitiva qualquer (rádio, gravação de noticiário, história), na orelha direita com
volume inferior ao da orelha esquerda.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de palavras que representam categorias semânticas. Exemplo:
repetir apenas o nome do material de construção: telha, teia, tese; a síntese de uma
notícia ou história; o ordenamento de uma seqüência lógica (ouvir a história e
ordená-la através de fichas previamente escritas); escutar uma história e em seguida
escrevê-la e a resolução de enigmas e charadas. Destaca-se tamm a nomeação de
sons não-verbais no que se refere a intensidade, freqüência e duração. Dessa forma,
um som não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Sendo uma
tarefa de nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo)
requer passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na
nomeação.
Por fim, o subperfil de função não-verbal do tipo 2 foi trabalhado para
minimizar as dificuldades em processamento temporal em relação à percepção de um
som curto ou longo que está de acordo com a dificuldade que apresenta na distinção
de sons surdos e sonoros, pois um som surdo é curto e um som sonoro é longo como
mostra a análise espectrográfica (RUSSO e BEHLAU, 1993). Ao trabalhar a referida
distinção, auxilia-se na aquisição da distinção do traço surdo e sonoro.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente melhorou consideravelmente apresentando trocas
assistemáticas do par surdo-sonoro em questão. Na reavaliação do processamento
auditivo, o resultado do testes DPS atingiu o padrão de normalidade superando,
assim, o diagnóstico de alteração da função auditiva central no subperfil de função
não-verbal do tipo 2. Os resultados do teste dicótico de dígitos também se
encontravam no padrão de normalidade exceto para a etapa de escuta direcionada à
direita. Evoluiu, também, no teste SSW, porém a condição direita competitiva
permaneceu rebaixada. Dessa forma, o participante em questão permaneceu em
atendimento fonoaudiológico com o diagnóstico de alteração da função auditiva
apenas no subperfil de decodificação.
97
4.4.1.16 Participante 16
O participante número 16 era do sexo masculino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 3ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido às queixas da família
e da escola: troca de fonemas e grafemas surdos e sonoros na fala e na escrita,
respectivamente. Apresentava também dificuldades de atenção em função do quadro
de respiração oral.
De acordo com Ferla, Silva e Toniolo (2003), os distúrbios de oxigenação do
organismo e as otites recorrentes são considerados fatores de risco para as desordens
do processamento auditivo. Ressaltam, ainda, que os sintomas não se manifestam da
mesma maneira em todos os indivíduos com respiração oral.
Dessa forma, o resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-
se por alteração da função auditiva nos subperfis de associação, relacionado ao
quadro de respiração oral e função não-verbal do tipo 2,
Na avaliação inicial de processamento auditivo, o referido participante
apresentou considerável rebaixamento bilateral das porcentagens de acertos no teste
SSW nas condições direita competitiva e esquerda competitiva. O teste dicótico de
dígitos encontrava-se nos padrões de normalidade na etapa de integração binaural
para a orelha direita e acentuadamente rebaixada para a orelha esquerda. Já as etapas
de escuta direcionada à direita e à esquerda encontravam-se muito rebaixadas. O
teste PPS revelava-se próximo ao pado de normalidade nas condões murmurando
e nomeando, ao passo que o teste DPS evidenciava-se fora dos padrões de
normalidade em ambas as condições, justificando o diagnóstico dos subperfis de
associação e função não-verbal do tipo 2.
A terapia fonoaudiológica para esse participante foi programada enfatizando
muito as tarefas de atenção e constituiu-se numa terapia abrangente que envolveu a
compreensão auditiva de histórias ou expressões. O treinamento auditivo para o
estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa verbal e ênfase (pequena
amplificação) na orelha direita que não durou mais de 10 minutos. Ao todo, a sessão
de terapia fonoaudiológica realizada pelo participante em questão teve a duração de
45 minutos.
98
Para melhorar a atenção, foram realizadas atividades que exigiram a
manutenção do contato visual, a escolha do melhor horário para a melhora da
concentração e o aumento da redundância do meio ambiente, ou seja, para facilitar a
compreensão, algumas pistas contextuais são fornecidas no início da terapia. Ao
envolver a atenção, o ambiente e os recursos terapêuticos devem ser diversificados,
traduzindo-se em motivação para que a criança mantenha o foco de atenção além de
reforço positivo. Para o trabalho com as vias associativas (compreensão) foram
propostos resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras, advinhações, palavras
cruzadas, seguimento de regras e compreensão de expressões como: deixou a bola
picando.
Em relação ao trabalho com o processamento temporal, denominado neste
estudo como função não-verbal do tipo 2, o paciente julgou palavras e não-palavras
como sendo iguais ou diferentes em freqüência, sílaba tônica, intensidade e duração.
Esta última repercute diretamente na superação da alteração apresentada nas trocas
fonêmicas e grafêmicas. Todas essas atividades foram realizadas de forma diótica, ou
seja, a mesma mensagem recebeu uma pequena amplificação para ambas as orelhas
através do equipamento Audiolab II (em teste).
Os inúmeros recursos selecionados para o trabalho da função não-verbal do
tipo 2 (apito, piano, bolinha de isopor e outros) foram utilizados, também, para o
trabalho respiratório.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente apresentou redução do quadro respiratório e
aumento da atenção, melhorando seu desempenho em relação à seleção de fonemas e
grafemas para a fala e a escrita.
Na reavaliação do processamento auditivo, os escores do teste SSW para as
condições direita e esquerda competitiva aumentaram e as porcentagens de acertos no
teste dicótico de dígitos atingiram o padrão de normalidade para a etapa de
integração binaural à esquerda e à direita. Já na etapa de escuta direcionada à direita
e à esquerda do referido teste, as porcentagens de acertos aumentaram um pouco. Os
escores do teste DPS aumentaram, porém permaneceram abaixo do padrão de
normalidade para as condições murmurando e nomeando. O paciente permaneceu
com o diagnóstico anterior: alteração da função auditiva central nos subperfis de
99
associação e função não-verbal do tipo 2 apesar da sua considerável evolução clínica.
Continuou em atendimento fonoaudiológico.
4.4.1.17 Participante 17
O participante número 17 era do sexo feminino, tinha 8 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da família e
da escola: dificuldades de compreensão em leitura devido à troca de grafemas que se
diferenciam pelo traço de sonoridade. Apresentava, também, imprecisão articulatória
do fonema / ſ / em onset complexo.
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de integração e função não-verbal do tipo
2, esta conforme divisão já explicada anteriormente.
O subperfil de integração é caracterizado pelo rebaixamento das porcentagens
da orelha esquerda nos testes dicóticos e da alteração da condição nomeando nos
testes não-verbais. Nesse caso, a paciente apresentou rebaixamento dos escores das
condições direita competitiva e esquerda competitiva no teste SSW, sendo esta mais
alterada que a direita competitiva. O mesmo ocorreu no teste dicótico de dígitos nas
etapas de integração binaural para ambas as orelhas e escuta direcionada à direita e à
esquerda, sendo a orelha esquerda mais acentuada que a direita. Para completar o
quadro, o teste PPS encontrava-se alterado na condição nomeando.
Dessa forma, a terapia fonoaudiológica foi programada enfatizando a orelha
esquerda através de uma pequena amplificação, pois, quando o estímulo acústico
entra pela orelha esquerda, percorre as estruturas do tronco encefálico
ipsilateralmente até o complexo olivar superior seguindo seu caminho
contralateralmente até chegar ao córtex auditivo primário do hemisfério direito, que é
responsável pelo processamento dos processos não-lingüísticos da comunicação.
Assim, em caso de mensagem verbal, o estímulo acústico deve atravessar o corpo
caloso com a finalidade de atingir o processamento lingüístico realizado pelo
hemisfério esquerdo.
Inicialmente utilizou-se uma leve amplificação na orelha esquerda através de
gravador com fones e na orelha direita um volume mais baixo com uma mensagem
100
competitiva qualquer (rádio, gravação de noticiário, história) oriunda de outro
gravador com fones.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de palavras que representam categorias semânticas. Exemplo:
repetir apenas o animal: zebra, praça, braço e sopra; a síntese de uma notícia ou
história; o ordenamento de uma seqüência lógica (ouvir a história e ordená-la através
de fichas previamente escritas); escutar uma história e em seguida escrevê-la e a
resolução de enigmas e charadas. Destaca-se também a nomeação de sons não-
verbais no que se refere a intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um som
não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. Sendo uma tarefa de
nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo), requer
passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Convém lembrar que uma sessão de terapia fonoaudiológica com ênfase no
processamento auditivo é realizada durante 45 minutos e o treinamento auditivo não
ultrapassa 10 minutos.
Nesse subperfil, também, utilizou-se o trabalho com outras modalidades
sensoriais como o tato e a visão. Em relação ao tato, a paciente devia nomear os
objetos que lhe foram oferecidos na mão esquerda sem o auxílio da visão. Os
contornos dos objetos são percebidos pelo hemisfério direito, mas como a paciente
deve nomeá-los, tal percepção deve atravessar o corpo caloso e dessa forma o
hemisfério esquerdo auxilia na nomeação. Num estágio posterior a paciente devia
tocar vários objetos e nomear apenas aqueles que começam, terminam, ou contenham
determinado fonema. No caso em questão foram utilizados os fonemas /z/ e /s/,
dentre outros. Com relação à visão, é possível salientar jogos disponíveis no mercado
que associam visão e audição.
Tal participante tamm apresentou alteração no subperfil de função não-
verbal do tipo 2, ou seja, alteração na condição murmurando do teste DPS (padrão de
duração). Nesse caso, a paciente apresentava dificuldade em processamento temporal
na percepção de um som curto ou longo que está de acordo com a dificuldade que
revelava na distinção de sons surdos e sonoros, pois um som surdo é curto e um som
sonoro é longo como mostra a análise espectrográfica (RUSSO e BEHLAU, 1993).
101
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, a paciente permaneceu em atendimento apesar da crescente
melhora relacionada às substituições grafêmicas, à imprecisão articulatória
relacionada ao fonema / ſ / em onset complexo.
Na reavaliação do processamento auditivo, demonstrou considerável melhora
evidenciada pelo teste SSW para as condições direita e esquerda competitiva, porém
ainda ficaram abaixo do padrão de normalidade. No teste dicótico de dígitos
apresentou alteração apenas para a orelha esquerda nas etapas de integração binaural
e escuta direcionada à esquerda. No teste PPS, a condição nomeando ficou levemente
abaixo do padrão de normalidade enquanto no teste DPS a referida condição foi
superior à condição murmurando que permaneceu alterada. Dessa forma, manteve-se
o diagnóstico de alteração da função auditiva nos subperfis de integração e função
não-verbal do tipo 2.
4.4.1.18 Participante 18
O participante número 18 era do sexo masculino, tinha 9 anos de idade e
cursava a 3ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola:
dificuldades de compreensão da leitura e de atenção.
O resultado da avaliação de processamento auditivo caracterizou-se por
alteração nos seguintes subperfis: associação e função não-verbal do tipo 1.
O diagnóstico de alteração no subperfil associação justifica-se pelo
rebaixamento das condições direita e esquerda competitivas no teste SSW e pela
etapa de integração binaural em ambas as orelhas no teste dicótico de dígitos. Neste,
as etapas de atenção direcionada à direita e à esquerda também se encontravam mais
rebaixadas se comparadas à etapa anterior. Os testes PPS e DPS revelaram-se
rebaixados nas condições murmurando e nomeando justificando o diagnóstico de
função não-verbal do tipo 1.
O subperfil de associação é caracterizado como um déficit secundário do
processamento auditivo. Dessa forma, o paciente em questão apresentava dificuldade
em reter a informação, acarretando baixa compreensão de leitura e de charadas.
102
A terapia fonoaudiológica para esse participante também foi programada
enfatizando muito as tarefas de atenção e constituiu-se numa terapia abrangente que
envolveu a compreensão auditiva de histórias ou expressões. O treinamento auditivo
para o estímulo das vias associativas foi realizado com tarefa verbal, e ênfase
(pequena amplificação) na orelha direita.
Para melhorar as condições de atenção do paciente, objetivou-se a manutenção
do contato visual, a escolha do horário adequado para o atendimento visando à
melhora da concentração e o aumento da redundância do ambiente, ou seja, para
facilitar a compreensão, algumas pistas contextuais são fornecidas no icio da
terapia. Deve-se, também, variar os ambientes terapêuticos e apresentar material
motivador para que a criança mantenha o foco de atenção além de reforço positivo.
Para o trabalho com as vias associativas (compreensão), foram propostos
resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras, advinhações, palavras cruzadas,
seguimento de regras e compreensão de expressões como: andar nas nuvens.
A categoria denominada função não-verbal do tipo 1 caracteriza-se pela
dificuldade de identificação e compreensão das características supra-segmentais de
um enunciado. A terapia programada consistiu na resolução de tarefas que
envolveram a interpretação de expressões faciais, melodia, ritmo, identificação de
sílaba tônica e dos parâmetros intensidade, freqüência e duração com ênfase na
orelha esquerda, com o objetivo de trabalhar a ativação do hemisrio direito.
Dentre as funções do hemisfério direito, podemos citar: detecção e
reconhecimento de faces, expressões associadas a emoções, habilidades viso-
espaciais e manutenção da atenção.
Tanto o murmúrio quanto a nomeação de sons não-verbais foram solicitados
como tarefas no que se refere a intensidade, freqüência e duração. Dessa forma, um
som não-verbal é naturalmente interpretado pelo hemisfério direito. As tarefas de
nomeação (dizer se o som é fraco ou forte, fino ou grosso, curto ou longo) requerem
a passagem pelo corpo caloso para que o hemisfério esquerdo auxilie na nomeação.
Convém lembrar que nesta pesquisa dividiu-se a referida categoria em dois
subperfis denominados função não-verbal 1, quando os teste PPS e DPS encontram-
se alterados, que é o caso do participante em questão, e função não-verbal 2, em caso
de alteração, apenas, do teste DPS.
103
As sessões de terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo
foram realizadas durante 45 minutos, mas o treinamento auditivo com o equipamento
Audiolab II (em teste) foi utilizado por apenas 10 minutos para evitar a sobrecarga
auditiva. Dessa forma, outros jogos e atividades gráficas fizeram parte dos recursos
utilizados mantendo os mesmos objetivos terapêuticos.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente apresentou considerável evolução no teste SSW
através do aumento da porcentagem de acertos nas condições direita e esquerda
competitiva, sendo que a primeira, atingiu o padrão de normalidade. No teste
dicótico de dígitos para a etapa de integração binaural, houve piora de 10% tanto
para a orelha direita quanto para a esquerda ao passo que, na etapa de escuta
direcionada à direita, atingiu o padrão de normalidade e, na etapa de atenção
direcionada à esquerda, quase açcançou o padrão de normalidade. No teste PPS, os
escores das condições murmurando e nomeando atingiram o padrão de normalidade e
no teste DPS, que na primeira avaliação o paciente não conseguiu realizar (0%), os
escores ficaram em torno de (50%) para a condição murmurando e (60%) para a
condição nomeando. Ao atingir o padrão de normalidade no teste PPS, o diagnóstico
de alteração da função auditiva central evoluiu de função não-verbal do tipo 1 para
função não-verbal do tipo 2, e manteve o diagnóstico no subperfil de associação.
Apesar da excelente evolução relatada pela escola, evidenciada pelo aumento da
compreensão em leitura, o paciente permaneceu em atendimento fonoaudiológico.
4.4.1.19 Participante 19
O participante número 19 era do sexo masculino, tinha 10 anos de idade e
cursava a 2ª série na data da primeira avaliação. Solicitou avaliação de
processamento auditivo e atendimento fonoaudiológico devido à queixa da escola e
da família: dificuldade de aprendizagem, substituição dos fonemas /v/ e /f/ na fala e
na escrita que interferiam na compreensão em leitura. O referido participante repetiu
2 vezes a 1ª série e, no momento da coleta inicial de dados, cursava a 2ª série pela
segunda vez. Neste trabalho, o participante em questão foi considerado com idade
avançada para a série assim como os participantes 3, 11 e 15.
104
O resultado da avaliação do processamento auditivo caracterizou-se por
alteração da função auditiva nos subperfis de decodificação, associação e função
não-verbal do tipo 1, esta conforme divisão já explicada nos casos anteriores.
O subperfil de decodificação é o subperfil mais comum e envolve a quebra da
mensagem auditiva no nível fonêmico, resultando em dificuldades nas tarefas de
consciência fonológica e de leitura e caracteriza-se pelo rebaixamento dos escores da
orelha direita nos testes dicóticos sugerindo disfunção no córtex auditivo primário.
Dessa forma, o participante em questão recebeu tal diagnóstico por apresentar
rebaixamento dos escores na orelha direita na etapa de integração binaural no teste
dicótico de dígitos. Sendo assim, a terapia inicialmente foi programada com ênfase
na orelha direita. Tal ênfase foi oferecida com o aumento do volume através da
utilização do equipamento Audiolab II (em teste) com mensagem competitiva
contralateral, pois um estímulo acústico, ao entrar pela orelha direita percorre as
estruturas do tronco encefálico ipsilateralmente até o complexo olivar superior
seguindo contralateralmente até o córtex auditivo primário do hemisfério esquerdo
que é responsável pela informação lexical (associação da palavra com seu
significado), sintaxe, processos fonológicos e produção da fala.
Dentre as tarefas do treino auditivo resolvidas por tal participante, é possível
destacar a repetição de dissílabos familiares e pouco familiares. A lista de palavras
foi construída de acordo com as dificuldades do paciente relacionadas aos fonemas
/v/ e /f/. Destaca-se, também, a resolução de charadas ou a identificação de
características objetivando substantivos que contenham a dificuldade do participante.
Exemplo: sou redondo, por fora sou branco e por dentro amarelo e sirvo de alimento.
Quem eu sou? Resposta: ovo. Convém ressaltar que, após enfatizar a orelha direita,
com a evolução do tratamento, o volume das orelhas foi igualado e posteriormente,
num estágio final, piorado na orelha direita que recebeu o treinamento auditivo
realizado em 10 minutos numa sessão semanal de 45 minutos.
Outras atividades foram realizadas sem a necessidade de treinamento auditivo.
Entre elas é possível destacar: associação dos fonemas em questão ao material
concreto. Por exemplo: o fonema surdo foi associado a um objeto curto e um som
sonoro a um objeto longo com a utilização de língua de sogra, desenho e piano. O
referido participante, tamm, observou uma figura que posteriormente foi retirada
do campo visual e o mesmo relatou o que lembrava. Também relatou os passos que
105
fez ou o caminho realizado para chegar ao local da terapia, lembrou os itens de uma
lista, escutou uma seqüência de sons surdos e sonoros e murmurou-os primeiramente
com 2 sons, e após com 3 e 4 sons.
O referido trabalho, com o subperfil de decodificação, na medida em que
solicitou a relação dos sons surdos e sonoros com o material concreto propiciou o
início do trabalho com o subperfil de função não-verbal do tipo 1.
O participante em questão recebeu tal diagnóstico por apresentar as condições
murmurando e nomeando dos testes PPS e DPS consideravelmente rebaixadas. Dessa
forma, a terapia visa à identificação e compreensão das características supra-
segmentais de um enunciado através da resolução de tarefas que envolveram o
conhecimento dos aspectos prosódicos da fala (melodia, ritmo, identificação de
sílaba tônica e entonação).
As listas de palavras foram organizadas a partir de itens mais familiares para
os menos familiares e posteriormente com não-palavras, encorajando a paciente a
construir uma sílaba tônica e um significado para as novas palavras. Em relação às
sentenças, foram solicitadas tarefas que ao enfatizar determinada palavra, mudam o
sentido da sentença e atividades em que vários personagens com estados emocionais
diferentes falavam a mesma expressão e o paciente deveria apontar para a referida
gravura como, por exemplo: expressão de surpresa, tristeza, alegria, preocupação e
outras.
Em relação ao processamento temporal, o paciente julgou palavras e não-
palavras como sendo iguais ou diferentes em freqüência, sílaba tônica, intensidade e
duração. Todas essas atividades foram realizadas de forma diótica, ou seja, a mesma
mensagem recebeu uma pequena amplificação para ambas as orelhas através do
equipamento Audiolab II (em teste). Tais tarefas objetivaram a ativação do
hemisfério direito.
Por fim, a terapia fonoaudiológica destinou-se ao trabalho com o subperfil de
associação atribuído ao paciente por apresentar leve rebaixamento das condições
direita e esquerda competitiva no teste SSW. Assim, o atendimento fonoaudiológico
foi programado a partir de tarefas que solicitaram a compreensão de histórias ou
expressões, resumos, quebra-cabeças, jogos de palavras, advinhações, palavras
106
cruzadas, seguimento de regras e compreensão de expressões como: meu coração
está saindo pela boca.
O treinamento auditivo para o estímulo das vias associativas foi realizado
com tarefa verbal e ênfase (pequena amplificação) na orelha direita durante 10
minutos inseridos numa sessão terapêutica com a duração de 45 minutos para evitar a
sobrecarga auditiva.
Após o período de 5 meses de tratamento fonoaudiológico com ênfase no
processamento auditivo, o paciente evoluiu consideravelmente. Os escores dos testes
SSW e dicótico de dígitos atingiram os padrões de normalidade para todas as etapas e
condições. Os escores dos testes PPS e DPS também aumentaram nas condições
murmurando e nomeando, porém sem atingir o padrão de normalidade. Apesar da
excelente evolução relatada pela escola, o participante em questão permaneceu com o
diagnóstico de alteração da função auditiva central no subperfil denominado função
não-verbal do tipo 1. O paciente continuou em atendimento fonoaudiológico e foi
aprovado para a série seguinte.
Após a realização da terapia fonoaudiológica nos participantes do grupo
experimental, ao final de 5 meses, os testes para avaliação do processamento auditivo
e da compreensão em leitura foram novamente administrados da mesma forma que o
pré-teste.
4.5 TABULAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA
Esta seção destina-se à explanação dos dados da pesquisa, frutos da aplicação
dos instrumentos.
Realizado o diagnóstico de distúrbio do processamento auditivo, é possível
qualificar as habilidades auditivas específicas e não-específicas em 5 subperfis
(decodificação, integração, associação, organização da saída e função não-verbal). O
quadro 3 expõe a relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo
experimental (pré-terapia).
107
Participante
Subperfis
Série
1
Integração; Função Não-Verbal 2
2
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
3
Associação; Função o-Verbal 2
4
Associação; Função o-Verbal 1
5
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
6
Associação; Função o-Verbal 1
7
Integração; Função Não-Verbal 1
8
Integração; Função Não-Verbal 2
9
Integração; Função Não-Verbal 2
10
Associação; Função o-Verbal 2
11
Associação; Função o-Verbal 1
12
Integração; Função Não-Verbal 2
13
Associação; Função o-Verbal 2
14
Função Não-Verbal 2
15
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 2
16
Associação; Função o-Verbal 2
17
Integração; Função Não-Verbal 2
18
Associação; Função o-Verbal 1
19
Decodificação; Associação; Função o-Verbal 1
Quadro 3 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo
experimental (pré-terapia).
A terapia fonoaudiológica foi programada individualmente conforme os
subperfis de alteração do processamento auditivo listados no quadro 3. Após a
realização da mesma, os testes de processamento auditivo foram aplicados
novamente e os resultados são apresentados no quadro 4.
108
Participante
Subperfis
Série
1
Função Não-Verbal 2
2
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 2
3
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 2
4
Integração; Função Não-Verbal 2
5
Integração
6
Associação; Função o-Verbal 1
7
Integração; Função Não-Verbal 2
8
Integração
9
Integração; Função Não-Verbal 2
10
Associação
11
Associação; Função o-Verbal 1
12
Integração; Função Não-Verbal 2
13
Função Não-Verbal 2
14
Teste Normal
15
Decodificação
16
Associação; Função o-Verbal 2
17
Integração; Função Não-Verbal 2
18
Associação; Função o-Verbal 2
19
Função Não-Verbal 1
Quadro 4 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo
experimental (pós-terapia).
O mesmo procedimento foi realizado para o grupo de controle. Após o
estabelecimento do diagnóstico de distúrbio do processamento auditivo, as
habilidades auditivas foram qualificadas nos 5 subperfis já apresentados. O quadro 5
dispõe a relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo de controle.
109
Participante Subperfis
Série
1
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
2
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
3
Decodificação; Integração; Organização da Saída; Função Não
-
Verbal
1
4
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
5
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
6
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
7
Associação; Organização da Saída; Função Não-Verbal 1
8
Integração; Função Não-Verbal 1
9
Associação; Função Não-Verbal 1
10
Associação; Função Não-Verbal 1
11
Associação; Função Não-Verbal 1
12
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
13
Integração; Função Não-Verbal 1
14
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 2
15
Associação; Função Não-Verbal 1
16
Associação; Função Não-Verbal 1
17
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
18
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
19
Decodificação; Integraç
ão; Organização da Saída; Função Não
-
Verbal
1
20
Decodificação; Integração
21
Associação; Função Não-Verbal 1
Quadro 5 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo de
controle (1ª avaliação).
O grupo em questão não recebeu terapia no período de 5 meses com a
finalidade de comparar o processo de maturação com o grupo que recebeu a terapia.
Após o período citado, os testes de processamento auditivo foram aplicados, seus
resultados são apresentados no quadro 6 sob a denominação 2ª avaliação.
110
Participante Subperfis
1
Decodificação; Integração; Função Não-Verbal 1
2
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 1
3
Função Não-Verbal 2
4
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 2
5
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 1
6
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 1
7
Associação; Organização da Saída; Função Não-Verbal 1
8
Associação; Função Não-Verbal 1
9
Associação; Função Não-Verbal 1
10
Associação; Função Não-Verbal 1
11
Associação; Função Não-Verbal 1
12
Associação; Função Não-Verbal 1
13
Integração; Função Não-Verbal 1
14
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 2
15
Associação; Função Não-Verbal 1
16
Associação; Função Não-Verbal 1
17
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 2
18
Decodificação; Integração; Fuão Não-Verbal 1
19
Associação; Organização da Saída; Função Não-Verbal 1
20
Função Não-Verbal 2
21
Associação; Função Não-Verbal 2
Quadro 6 Relação dos subperfis apresentados pelos participantes do grupo de
controle (2ª avaliação).
Após a apresentação dos dados do processamento auditivo, frutos da aplicação
dos instrumentos da pesquisa são mostrados os dados referentes à compreensão em
leitura de ambos os grupos.
A tabela 1 mostra o desempenho dos participantes do grupo experimental (pré-
terapia e pós-terapia) nos instrumentos para avaliação da compreensão em leitura,
testes lacunado e de múltipla escolha. Considerou-se, também a média de ambos.
111
Tabela 1 - Desempenho dos participantes do grupo experimental nos testes de
compreensão em leitura (pré-terapia e pós-terapia).
Participante
Teste
Lacunado
Pré
Terapia
Teste
Lacunado
Pós
Terapia
Teste
ME
Pré
Terapia
Teste
ME
Pós
Terapia
Média
Pré
Terapia
Média
Pós
Terapia
1
68,4 75,6 66 88,8 67,2 82,2
2
56 48,6 33 66,6 44,5 57,6
3
51,3 64,8 44,4 77,7 47,8 71,2
4 86 86,8 66 100 76 93
5
67,5 91,8 66,6 88,8 67 90,3
6 54 70,2 33,3 55,5 43,6 62,8
7
61,1 62,1 88,8 88,8 74,9 75,4
8
58,3 51,3 22,2 44,4 40,2 47,8
9
69,4 75,6 55,5 66,6 62,4 71,1
10 62,1 51,3 66,6 66,6 64,4 58,9
11
61,1 70,2 44,4 66,6 52,7 68,4
12 62,1 70,2 100 44,4 81,8 57,3
13
83,3 75,6 88,8 100 86 87,8
14
51,3 90,1 44,4 100 47,8 95
15
58,3 67,5 44,4 44,4 51,3 55,9
16 48,6 67,5 55,5 77,7 52 72,6
17
64,8 83,7 44,4 100 54,6 91,8
18 61,1 64,8 66,6 77,7 64,3 71,2
19
61,1 64,8 44,4 77,7 52,7 71,2
Em relação ao grupo de controle, a tabela 2 mostra o desempenho dos
participantes nos 2 instrumentos para avaliação da compreensão em leitura assim
como adia de ambos na 1ª avaliação e na 2ª avaliação que realizada após um
período de 5 meses.
112
Tabela 2 - Desempenho dos participantes do grupo de controle nos testes de
compreensão em leitura (1ª e 2ª avaliação).
Participante
Teste
Lacunado
1ª
Avaliação
Teste
Lacunado
2ª
Avaliação
Teste
ME
1ª
Avaliação
Teste
ME
2ª
Avaliação
Média
1ª
Avaliação
Média
2ª
Avaliação
1
43,2 40,5 44,4 55,5 43,8 48
2
51,3 37,8 55,5 77,7 53,4 57,5
3
86,4 81 55,5 77,7 70,9 79,3
4 72,9 67,5 77,7 66,6 75,3 67
5
62,1 78,3 55,5 66,6 61 72,4
6 59,4 54 55,5 33,3 57,4 43,6
7
51,3 35,1 77,7 11,1 64,5 23,1
8
62,1 35,1 44,4 33,3 53,2 34,2
9
48,6 54 55,5 44,4 52 49,2
10 54 62,1 77,7 100 65,8 81
11
45,9 54 66,6 77,5 52,2 65,7
12 51,3 56,7 55,5 66,6 53,4 61,6
13
64,8 56,7 55,5 55,5 60,1 56,1
14
59,4 83,7 33,3 77,7 46,3 80,7
15
51,3 64,8 44,4 55,5 47,8 60,1
16 24,3 51,3 44,4 77,7 34,3 64,5
17
54 62,1 44,4 33,3 49,2 47,7
18 43,2 43,2 55,5 66,6 49,3 54,9
19
64,8 54 55,5 44,4 60,1 49,2
20
54 62,1 44,4 44,4 49,2 53,2
21
45,9 78,3 77,7 100 61,8 89,1
4.6 AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES E RESULTADOS
De posse de todos os escores, de ambos os grupos, um banco de dados foi
confeccionado para a análise qualitativa e quantitativa dos resultados que permite
avaliar a hipótese da pesquisa em questão.
A análise estatística foi realizada no software Statistical Package for Social
Science (SPSS) versão 10.0 for Windows.
113
Inicialmente foram realizadas as análises das variáveis categóricas (sexo,
idade e série) e estatísticas descritivas.
A comparação entre os grupos foi realizada através dos testes: t de Student
para amostras emparelhadas, que foi utilizado para testar os resultados da
compreensão em leitura na comparação entre a 1ª e 2ª avaliação no grupo de controle
e para a pré e pós-terapia no grupo experimental.
Já os 5 subperfis de alteração do processamento auditivo foram comparados
através do teste de McNemar por serem variáveis qualitativas. Os valores absolutos e
relativos apresentados representam a não-ocorrência do subperfil em questão.
O teste ANOVA foi utilizado para analisar a evolução das variáveis contínuas
entre os grupos de controle e experimental, ao comparar a 1ª avaliação e a 2ª
avaliação de ambos os grupos. O referido teste revela o efeito de interação grupo x
tempo que informa se um dos grupos obteve uma evolução diferente do outro.
Todos os testes foram realizados na forma bi-caudal, admitindo-se como
estatisticamente significativos os valores de P< 0,05.
A tabela 3 apresenta a comparação dos subperfis de alteração do
processamento auditivo, na 1ª e na 2ª avaliação, no grupo de controle, ao passo que a
tabela 4 mostra a mesma comparação, no pré e pós-tratamento, no grupo
experimental. A 2ª avaliação ocorreu 5 meses após a 1ª avaliação. Os valores
absolutos e relativos representam a não-ocorrência do subperfil em questão. Ao
comparar ambas as avaliações, obtém-se o valor de P, na última coluna das tabelas
que representa a mudança da ocorrência dos subperfis. Tal valor foi estabelecido
através do teste McNemar indicado logo abaixo das tabelas.
Tabela 3: Comparação entre os subperfis de alteração do processamento auditivo, na
1ª e 2ª avaliação, no grupo de controle.
Subperfis de alteração do
processamento auditivo
1ª Avaliação 2ª Avaliação Valor P
Decodificação 9 (43%) 13 (62%) 0,125
3
Integração 7 (33%) 12 (57%) 0,063
3
Associação 14 (67%) 11 (52%) 0,250
3
Organização da Saída 18 (86%) 19 (90%) 0,999
3
Função não-verbal do Tipo 1 2 (10%) 6 (29%) 0,125
3
Função não-verbal do Tipo 2 20 (95%) 15 (71%) 0,063
3
n=21,
3
Teste de McNemar
114
Tabela 4: Comparação entre os subperfis de alteração do processamento auditivo, no
pré e pós-tratamento, no grupo experimental.
Subperfis de alteração do
processamento auditivo
Pré-Tratamento Pós-Tratamento Valor P
Decodificação 15 (79%) 16 (84%) 0,999
3
Integração 10 (53%) 10 (53%) 0,999
3
Associação 10 (53%) 14 (74%) 0,125
3
Organização da Saída 19 (100%) 19 (100%) 1,000
3
Função não-verbal do Tipo 1 11 (58%) 16 (84%) 0,063
3
Função não-verbal do Tipo 2 8 (42%) 8 (42%) 0,999
3
n=19,
3
Teste de McNemar
Apesar do objetivo deste estudo ser a observação da variação dos escores em
compreensão em leitura, torna-se necessário abordar os subperfis de alteração do
processamento auditivo na intenção de avaliar a mudança na ocorrência dos mesmos
ao comparar a 1ª e a 2ª avaliação de ambos os grupos.
No caso do grupo experimental, a terapia fonoaudiológica foi programada a
partir da ocorrência do conjunto de subperfis de alteração do processamento auditivo
apresentados por cada participante, e a variação da ocorrência dos mesmos na 2ª
avaliação é indicativa do efeito da terapia, representada pela variação nos escores de
compreensão em leitura como prova do processamento por distribuição em paralelo
defendido pelo paradigma conexionista.
Já para o grupo de controle, a variação da ocorrência dos subperfis de
alteração do processamento auditivo, ao comparar a 1ª com a 2ª avaliação, pode ser
indicativa do processo maturacional de alguns participantes, caso a ocorrência dos
subperfis em questão diminua ou da piora do processamento auditivo caso aumente o
número dos subperfis representativos do diagnóstico de alteração do processamento
auditivo, pois o referido grupo não recebeu terapia fonoaudiológica.
A tabela 5 mostra a comparação entre os escores dos testes lacunado e
múltipla escolha bem como a média de ambos, na 1ª e 2ª avaliação, no grupo de
controle. A tabela 6 traz a comparação das mesmas variáveis, no pré e pós-tratamento
para o grupo experimental. A variação da 1ª para a 2ª avaliação, em ambas as tabelas,
foi avaliada pelo teste t de Student para amostras emparelhadas. Os valores das
115
colunas da 1ª e 2ª avaliação para o grupo de controle e pré e pós-tratamento para o
grupo experimental são, respectivamente, a média dos escores dos participantes da
pesquisa nos referidos testes, seguida do desvio padrão. A última coluna mostra o
valor de P, dado pelo referido teste.
Tabela 5: Comparação entre os testes de compreensão em leitura, na 1ª e 2ª
avaliação, no grupo de controle.
Compreensão em leitura
1ª Avaliação 2ª Avaliação Valor P
Teste Lacunado
55 ± 12 58 ± 14
0,372
1
Teste de Múltipla Escolha
56 ± 13 60 ± 23
0,418
1
Média de ambos os testes
55 ± 10 59 ± 16
0,341
1
n=21,
1
Teste t para amostras emparelhas.
Tabela 6: Comparação entre os testes de compreensão em leitura, no pré e pós-
tratamento, no grupo experimental.
Compreensão em leitura
Pré-Tratamento Pós-Tratamento Valor P
Teste Lacunado
62 ± 10 70 ± 12
0,005
1
Teste de Múltipla Escolha
55 ± 23 75 ± 19
<0,0001
1
Média de ambos os testes
58 ± 15 72 ± 14
<0,0001
1
n=19, média com desvio padrão,
1
Teste t para amostras emparelhas
A última análise realizada destinou-se à avaliação estatística do ganho de cada
teste de compreensão em leitura ao comparar os grupos controle e experimental. Tal
análise foi primeiramente feita através do teste ANOVA que forneceu os valores
médios dos testes lacunado e múltipla escolha e da média de ambos para os grupos
controle e experimental. Posteriormente, a partir desses valores médios, realizou-se o
cálculo do Delta entre a 1ª e a 2ª avaliação de cada grupo. Esse cálculo identifica o
grupo que evoluiu mais.
A figura 1 mostra o crescimento do teste lacunado ao comparar a 1ª avaliação
(denominada pré) com a 2ª avaliação (denominada pós). A linha pontilhada
representa o grupo de controle e a linha contínua representa o grupo experimental.
Na 1ª avaliação o grupo de controle obteve uma média de 54,77% de acertos no teste
116
lacunado ao passo que na segunda avaliação obteve 57,73% de acertos. Através do
cálculo do Delta, observa-se um crescimento de 5,40% de ganho para o grupo de
controle. Já para o grupo experimental, a média de acertos para o teste lacunado na 1ª
avaliação foi de 61,89%, chegando a 70,13% na 2ª avaliação. Nesse caso houve um
crescimento de 13,31%.
40
50
60
70
80
90
Pós
Pré
Controle
Experimental
LAC
Figura 1 - Ganho do teste lacunado ao comparar os grupos de controle e
experimental.
A figura 2 apresenta o crescimento do teste de múltipla escolha ao comparar a
1ª avaliação (denominada pré) com a 2ª avaliação (denominada pós). A linha
pontilhada representa o grupo de controle e a linha contínua representa o grupo
experimental. Na 1ª avaliação o grupo controle obteve uma média de 56,03% de
acertos no teste de múltipla escolha ao passo que na segunda avaliação obteve
60,26% de acertos. Atras do cálculo do Delta observa-se um crescimento de 7,55%
de ganho para o grupo de controle. Para o grupo experimental a média de acertos
para o teste de múltipla escolha na 1ª avaliação foi de 54,84% chegando a 75,38% na
2ª avaliação, o que representa um crescimento de 37,45%.
117
30
40
50
60
70
80
90
100
Pós
Pré
Controle
Experimental
ME
Figura 2 - Ganho do teste de múltipla escolha ao comparar os grupos de controle e
experimental.
A evolução da média dos testes lacunado e de múltipla é apresentada na figura
3 cujo valor representativo da média da 1ª avaliação (denominada pré) é 55,29% e da
2ª avaliação (denominada pós) é 58,96% para o grupo de controle (linha pontilhada)
e seu crescimento é de 6,63%. Já para o grupo experimental (linha contínua) a média
é de 58,41% de acertos na primeira avaliação e 72,19% na segunda avaliação.
Atras do cálculo do Delta, observa-se um crescimento de 23,59% para esse último
grupo.
118
40
50
60
70
80
90
Pós
Pré
Controle
Experimental
Média
Figura 3 - Ganho da média de ambos os testes ao comparar os grupos de controle e
experimental.
As correlações realizadas com as variáveis categóricas: sexo, idade e série não
foram estatisticamente significativas.
Os resultados desta pesquisa permitem corroborar a hipótese inicialmente
proposta, de que a realização da terapia do processamento auditivo melhora os
escores de compreensão em leitura do grupo experimental em comparação com o
grupo de controle.
Quanto aos subperfis de alteração do processamento auditivo abordados nas
tabelas 3, para o grupo de controle, e 4, para o grupo experimental, é possível
observar a variação da ocorrência dos mesmos.
A tabela 3 mostra a diminuição da ocorrência dos subperfis de decodificação,
integração, organização da saída e função não-verbal do tipo 1 e o aumento da
ocorrência para os subperfis de associação e função não-verbal do tipo 2, ao
comparar a 1ª com a 2ª avaliação no grupo de controle. Observa-se, também,
significância limítrofe relacionada aos subperfis de integração e função não-verbal
do tipo 2 cujo valor de P foi de 0,063 para ambas. Isso significa que as variáveis
poderiam ser significativas caso o número de participantes fosse maior. A diminuição
da ocorrência dos subperfis de alteração do processamento auditivo é indicativa do
119
processo cerebral maturacional principalmente no que se refere ao subperfil de
integração. Já o aumento dos subperfis de associação e função não-verbal do tipo 2
pode ser representativo da piora das habilidades auditivas pela falta de estimulação,
já que o referido grupo não recebeu terapia.
Em relação ao grupo experimental, a tabela 4 mostra a diminuição da
ocorrência dos subperfis de decodificação, associação e função não-verbal do tipo 1 e
a manutenção do mesmo nível de ocorrência para os subperfis de integração,
organização da saída e função não-verbal do tipo 2, ao comparar o nível de
ocorrência de cada subperfil no pré e pós-tratamento. Observa-se, também, um nível
de significância limítrofe para o subperfil de função não-verbal do tipo 1, P = 0,063.
Tais resultados são indicativos do efeito da terapia fonoaudiológica realizada cuja
maior melhora foi no subperfil de função não-verbal do tipo 1.
Como já foi referido, o objetivo do presente estudo foi verificar o aumento dos
escores de compreensão em leitura do grupo experimental sobre o grupo de controle,
mas a abordagem em relação à variação da ocorrência dos subperfis de alteração do
processamento auditivo é útil ao ser indicativa da melhora dessas habilidades no
grupo experimental. Esse fato auxilia na corroboração da hipótese do estudo na
medida em que tanto as habilidades auditivas como os escores em compreensão em
leitura melhoram no grupo experimental, comprovando o processamento por
distribuição em paralelo defendido pelo paradigma conexionista.
Em relação aos escores de compreensão em leitura, ao observar a tabela 5, não
foi possível constatar diferença estatisticamente significativa nos testes lacunado e
de múltipla escolha, bem como na média de ambos para o grupo de controle.
Já para o grupo experimental, ao observar a tabela 6, constatou-se diferença
estatisticamente significativa em todos os testes de compreensão em leitura
(lacunado e múltipla escolha), assim como na média de ambos, permitindo a
corroboração da hipótese da presente pesquisa.
Em relação à evolução dos escores nos testes de compreensão em leitura
(lacunado, múltipla escolha e média de ambos), ao comparar a 1ª e a 2ª avaliação dos
grupos controle e experimental, é possível afirmar que este último obteve melhor
evolução como mostram as figuras 1,2 e 3.
No teste lacunado houve um crescimento de 5,40% para o grupo de controle e
13,31% para o grupo experimental. Já no teste de múltipla escolha o grupo de
controle obteve um crescimento de 7,55% enquanto o experimental obteve um
120
crescimento de 37,45%. A média de ambos os testes apresentou um crescimento de
6,63% para o grupo de controle e 23,59% para o grupo experimental. Dessa forma o
teste de múltipla escolha obteve maior ganho seguido da média de ambos os testes e
do teste lacunado.
121
5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O presente capítulo destina-se à relação da análise dos resultados com o
referencial teórico pertinente. Primeiramente são abordados alguns aspectos
relevantes referentes aos dados da amostragem como idade, sexo e série dos
participantes da pesquisa. Posteriormente, a distinção entre os subperfis denominados
função o-verbal do tipo 1 e função não-verbal do tipo 2 é mencionada. Na
seqüência são discutidos os resultados do grupo de controle e sua relação com a
neuromaturação assim como os resultados do grupo experimental e sua relação com a
plasticidade cerebral e o conexionismo. Por fim, os resultados dos testes lacunado e
de múltipla escolha são discutidos separadamente.
Em relação aos dados da amostragem, contidos nos quadros 1 e 2, constata-se
que a média de idade dos participantes pesquisados é de 9 anos e 4 meses cuja
mínima é de 8 anos e a máxima de 11 anos, ao considerar a totalidade dos
participantes. Tais crianças ainda se encontram em processo maturacional do corpo
caloso que ocorre a partir dos 7 anos de idade (BELLIS, 2003) e se estende até em
torno de 10 a 12 anos de idade (LENT, 2005; GAZZANIGA, IVRY e MANGUN,
2006). O corpo caloso é a estrutura responsável pela conexão inter-hemisférica das
áreas associativas. Em caso de imaturidade ou lesão, as habilidades auditivas
necessárias para a consciência fonológica poderão ser prejudicadas ocasionando
dificuldades na leitura (GIAGHETI e RICHIERI-COSTA, 1999; BELLIS, 2003).
Quanto ao sexo, 26 são meninos e 14, meninas. No grupo de controle 12 são
meninos (57% dos participantes) e 9 são meninas e no grupo experimental 14 são
meninos (74% dos participantes) e apenas 5 são meninas. Assim, constata-se que o
grupo de controle encontra-se melhor distribuído no que se refere à variável sexo
122
quando comparado ao grupo experimental. O maior número de meninos deve-se ao
fato de que a participação dos participantes na pesquisa estava condicionada ao
diagnóstico de alteração do processamento auditivo. Tal diagnóstico, assim como as
alterações de fala, linguagem e aprendizagem ocorrem mais em meninos (DOWNS e
ROESER, 1988). Em relação a esse fato, Geschwind e Galaburda (1987) explicam
que, na gestação de meninos, a mãe produz muita quantidade de testosterona e doses
elevadas desse hormônio afetam o crescimento do hemisfério cerebral esquerdo
assim como o sistema imune, sendo essa uma possível explicação para a elevada
ocorrência de meninos com transtornos de processamento auditivo, de fala,
linguagem, leitura e escritura. Os autores também salientam que os indivíduos
canhotos têm mais probabilidade de manifestar alguma inabilidade da língua e da
leitura. Por essa razão todos os participantes deste estudo são destros.
Observando os mesmos quadros (1 e 2) com relação à idade e à série das
crianças em estudo, verifica-se que há 7 crianças em idade avançada para a série. Em
3 dos 4 participantes do grupo experimental houve mudança de diagnóstico no que se
refere aos subperfis do processamento auditivo e, em apenas 1, o diagnóstico
manteve-se o mesmo e nenhum deles apresentou piora nos testes de leitura. Nos 3
indivíduos do grupo de controle, o diagnóstico manteve-se o mesmo e apenas o
participante número 2 piorou na leitura. Diante dos dados apresentados, tais crianças
ainda podem estar em processo maturacional, o que justifica a demora na evolução
terapêutica evidenciada pelos testes de compreensão em leitura e pela repetência
escolar. Dessa forma, algumas crianças requerem um tratamento mais longo para
superar suas dificuldades se comparadas a outras crianças (MUSIEK, 2004).
Convém ressaltar que nesta pesquisa, o foram aplicados testes objetivando a
verificação do nível cognitivo dos participantes em estudo devido à falta de
psicólogos no serviço em que a pesquisa foi realizada. Portanto, a possibilidade de
alteração cognitiva é pequena e igual para ambos os grupos. Acredita-se que esse
fato não tenha influenciado na análise dos resultados.
Ao estabelecer o diagnóstico de distúrbio do processamento auditivo,
constatou-se a necessidade de dividir o subperfil de alteração do processamento
auditivo denominado função não-verbal em 2 tipos como já foi referido na
metodologia. O teste PPS , aplicado na condição murmurando, avalia a atividade do
hemisfério direito para o padrão de freqüência e o teste DPS, aplicado na mesma
condição, avalia o funcionamento do referido hemisfério para o padrão de duração.
123
A distinção entre freqüências é possível, numa primeira instância, devido à
organização tonotópica da cóclea, ou seja, cada região da cóclea é responsável pela
distinção de uma determinada faixa de freqüências. Tal representação coclear é
repetida ao longo das vias auditivas ascendentes (CHERMAK E MUSIEK, 1997;
KINGSLEY, 2001). Já a distinção de duração começa nas estruturas do tronco
cerebral estendendo-se até o córtex, pois tal distinção envolve o aprendizado do
conceito de som longo e som curto. Essa transição da informação entre tronco e
córtex chama-se processamento temporal. Conforme Schochat, Rabelo e Sanfins
(2000), tanto o padrão de freqüência como o padrão de duração melhoram com a
idade sugerindo que o desenvolvimento maturacional do sistema auditivo
proporciona um aperfeiçoamento das habilidades auditivas, porém o padrão de
duração não apresenta representações neurais no córtex auditivo como o padrão de
freqüência. É uma habilidade adquirida com o desenvolvimento que começa em torno
de 4 anos de idade e não se completa aos 16. Dessa forma, Balen (2001) hipotetiza
que o processamento das mudanças rápidas de duração é mais especializado e
mediado pelo hemisfério esquerdo ao passo que a variação em freqüência seria
mediada pelo hemisfério direito. Outra hipótese seria o envolvimento do cerebelo na
identificação do padrão de duração. Por isso é possível concluir que a distinção de
duração é uma atividade que exige mais função cortical ao compará-la com a
distinção de freqüência. Dessa forma, a autora do presente estudo propõe que o
subperfil de alteração do processamento auditivo denominado função não-verbal do
tipo 2, cujo teste alterado é apenas o DPS (padrão de duração), complementa o
diagnóstico do subperfil de decodificação cujo sítio de alteração é o córtex auditivo
primário do hemisfério esquerdo ao passo que o subperfil denominado função não-
verbal do tipo 1 engloba a alteração de ambos os testes PPS e DPS (padrão de
freqüência e de duração) permitindo o diagnóstico das habilidades que são mediadas
pelo hemisfério direito. De acordo com os pressupostos conexionistas, é possível
hipotetizar que um indivíduo com dificuldade em distinguir a duração dos sons
necessita de maior reforço das sinapses relacionadas a esse conceito através da
terapia com ênfase no processamento auditivo.
Inúmeras pesquisas relacionam os distúrbios de leitura e escritura ao déficit no
processamento temporal evidenciado tanto pela alteração do padrão de freqüência
como pela alteração do padrão de duração (MOURA, FENIMAN e LAURIS, 2000;
CAPOVILLA e CAPOVILLA , 2002; FROTA e PEREIRA, 2004; MAGALHÃES,
124
PAOLUCCI e ÁVILA, 2006). Devido a esse fato, a divisão do subperfil,
anteriormente denominado função não-verbal, em 2 outros subperfis, agora
denominados função não-verbal do tipo 1 e função não-verbal do tipo 2 foi relevante
para o planejamento da terapia fonoaudilógica que objetivou o aumento dos escores
em leitura, visando ao reforço das sinapses através de estímulos visuais, auditivos,
olfativos ou táteis que possibilitaram a ativação e a recuperação do referido conceito,
em função do processamento por distribuição em paralelo.
O objetivo desta pesquisa é comprovar o aumento dos escores em
compreensão em leitura do grupo experimental, após o tratamento do processamento
auditivo de crianças de 8 a 11. A partir deste construiu-se a seguinte hipótese: a
realização da terapia do processamento auditivo melhora os escores de compreensão
em leitura do grupo experimental em comparação com o grupo de controle. Tal
hipótese foi comprovada através da comparação do desempenho nos testes de
compreensão em leitura dos grupos experimental e controle que foi realizada através
de tratamento estatístico.
Primeiramente são discutidos os resultados referentes ao grupo de controle no
que se refere à ocorrência dos subperfis do processamento auditivo e aos escores
obtidos nos testes de compreensão em leitura, ao comparar a primeira com a segunda
avaliação e sua relação com a maturação cerebral e com o paradigma conexionista.
Em relação à ocorrência dos subperfis de alteração do processamento auditivo,
ao comparar a 1ª e a 2ª avaliação no grupo de controle (tabela 5), foram observadas
situações de significância limítrofe relacionadas à diminuição da ocorrência do
subperfil integração devido ao processo maturacional de mielinização do corpo
caloso (MUSIEK, 2004) que ocorre a partir dos 7 anos de idade (BELLIS, 2003) até
em torno de 10 a 12 anos de idade (LENT, 2005; GAZZANIGA, IVRY e MANGUN,
2006), exatamente a faixa etária dos participantes do presente estudo. O corpo caloso
é a estrutura responsável pela integração de informações sensoriais auditivas e
conseqüente associação com outras informações sensoriais (ALVAREZ, 2001).
Convém lembrar que o referido subperfil é caracterizado pelo rebaixamento das
porcentagens de acertos da orelha esquerda nos testes dicóticos, pois um estímulo
acústico verbal ao entrar pela orelha esquerda dirige-se ao hemisfério direito e este,
como não é responsável pelo processamento das informações lingüísticas, deve
atravessar o corpo caloso para ser processado pelo hemisfério esquerdo.
125
Já o aumento da ocorrência do subperfil denominado função não-verbal do
tipo 2 pode ser representativo da piora das habilidades auditivas devido à falta de
terapia específica do processamento temporal no que se refere ao padrão de duração
que exerce um papel fundamental na percepção da fala, no aprendizado e na
linguagem, sendo pré-requisito para a aquisição e desenvolvimento da leitura e da
escritura (FROTA e PEREIRA, 2006). Tal subperfil encontra-se intimamente
relacionado à insignificante melhora no subperfil de decodificação.
As situações de significância limítrofe identificadas nos subperfis de
integração e função não-verbal do tipo 2, no grupo de controle, ocorrem quando o
número amostral é pequeno. Tavez, se omero de participantes estudados fosse
maior, tais escores poderiam ser significantes.
Outra forma de registrar o conjunto de subperfis alterados na primeira e na
segunda avaliação pode ser visualizada nos quadros 5 e 6 para o grupo de controle.
Em 13 dos 21 participantes o diagnóstico manteve-se o mesmo. Em 2 casos
observou-se piora dos subperfis de alteração do processamento auditivo. Tais
resultados são esperados, ao considerar que esse grupo não recebeu tratamento. Nos
6 casos restantes houve mudança de diagnóstico representativa de evolução
evidenciando os efeitos da maturação cerebral. Convém ressaltar que os 2
participantes que apresentaram piora não estão dentre aqueles em idade avançada
para a série.
Esse grupo não recebeu terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento
auditivo. Assim, é possível constatar que não houve diferença estatisticamente
significativa para os testes de compreensão em leitura assim como na média de
ambos os testes realizados pelos participantes do grupo de controle (tabela 5). Para o
teste lacunado, a média de acertos foi de 55% na primeira avaliação e 58% na
segunda avaliação (P= 0,372). No teste de múltipla escolha, a média de acertos foi de
56% na primeira avaliação e 60% na segunda avaliação (P= 0,418). Ao considerar a
média de ambos os testes, na primeira avaliação obteve-se o escore de 55% e na
segunda, 59% (P=0,341). Dessa forma, o crescimento não significativo dos escores
de ambos os testes e da média ao comparar a 1ª e a 2ª avaliação representa a
maturação cerebral.
O presente estudo corrobora outras pesquisas transversais que relacionam o
transtorno do processamento auditivo com queixas de dificuldades escolares ou
126
distúrbios de aprendizagem também comparadas a um grupo de controle com a
finalidade de avaliar o processo maturacional.
Dessa forma, Baran e Musiek (2001) observaram que o desempenho nos testes
de processamento auditivo tende a melhorar com a idade atingindo o nível do adulto
em torno dos 10 ou 11 anos de idade, indicando que as maturações cerebral e
comportamental são co-dependentes. Costamilan (2004) comparou a avaliação do
processamento auditivo através do teste SSW de um grupo de crianças com queixas
de problemas de aprendizagem com um grupo sem queixas, avaliados com um
intervalo de 2 anos. A autora concluiu que as condições DC e EC foram
estatisticamente significantes sendo, que a última mostrou-se mais rebaixada devido
à mielinização tardia do corpo caloso. Ambos os grupos melhoraram da mesma forma
ao longo do tempo.
Neves e Schochat (2005) também compararam a avaliação do processamento
auditivo em crianças com e sem queixas de dificuldades escolares, de 8 a 10 anos de
idade, e verificaram a melhora da resposta com o aumento da idade em ambos os
grupos. As crianças do grupo com queixas de dificuldades escolares apresentaram
pior desempenho em todos os testes sugerindo atraso maturacional das habilidades de
processamento auditivo.
Kaminsky (2006) não considerou apenas a queixa de dificuldade de
aprendizagem dos participantes, mas as habilidades de linguagem, consciência
fonológica, memória de trabalho, leitura, escrita e processamento auditivo em um
grupo de crianças com idade entre sete e 10 anos, que apresentaram atraso na
maturação da função auditiva e comparou-as com um grupo de controle composto por
crianças de mesma idade com desenvolvimento normal. Os resultados demonstraram
que houve diferença estatisticamente significante entre o grupo experimental e o
grupo de controle na avaliação de linguagem e da memória de trabalho e nos
resultados do teste SSW, como parte da avaliação do processamento auditivo. A
autora concluiu a presença de relação direta entre as habilidades avaliadas.
O processo maturacional pode ser explicado através dos pressupostos da
neurociência como defende o paradigma conexionista.
A mielinização ocorre em torno de 4 a 10 anos de idade e constitui-se na
formação de uma capa de gordura em torno do axônio que serve como isolante
elétrico, permitindo que a condução de impulsos elétricos seja mais rápida a fim de
127
permitir o raciocínio abstrato (Herculano-Houzel, 2005; Gazzaniga, Ivry e Mangun,
2006).
De acordo com o paradigma conexionista, quanto maior o número de sinapses
no cérebro, maior é o número de possibilidades de processamento da informação
pelos neurônios que permite o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Essa
etapa é seguida por outra denominada eliminação das conexões excedentes em que as
sinapses mais utilizadas são selecionadas e mantidas enquanto outras são eliminadas
(poda) com o objetivo de ajustar a conectividade neuronial que ocorre até 16 e 18
anos.
No lobo temporal, o aumento da mielinização que ocorre na medida em que a
idade avança melhora a facilidade na leitura. A última estrutura a maturar é o lobo
frontal cujo aumento da mielinização ocorre simultaneamente à melhora da memória
de trabalho (HERCULANO-HOUZEL, 2005).
De acordo com Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006), dos 7 aos 11 anos a criança
se torna capaz de algumas formas de pensamento conceitual quantitativo, podendo
realizar operações quantitativas somente com itens concretos, não conseguindo fazer
inferências abstratas. Piaget (2006) chamou esse período de operações concretas,
época em que inicia a escolaridade marcada por uma modificação decisiva no
desenvolvimento mental. Dos 11 anos em diante, no período denominado de
operações formais, o indivíduo pode generalizar e relações matemáticas e manifestar
pensamento hipotético-dedutivo (habilidade de gerar e testar hipóteses sobre o
mundo). A maturação nessa etapa da vida é marcada por desequilíbrios momentâneos
(PIAGET, 2006).
O autor, há muitos anos, identificou o início do período denominado operações
concretas aos 7 anos de idade assim como o período denominado operações formais
aos 11 ou 12 anos. O autor remete tal evolução cognitiva ao desenvolvimento mental.
Atualmente, a neurociência encarregou-se de identificar por que esse
desenvolvimento ocorre. Dessa forma, o icio do período de operações concretas
culmina com o início da maturação do corpo caloso. Já o começo do período
chamado de operações formais culmina com a poda das conexões excedentes, etapa
em que os conceitos recém adquiridoso postos em funcionamento (VIGOTSKI,
2005).
128
De acordo com o paradigma conexionista, essa relação busca desvendar como
ocorre o processamento da informação no cérebro (SHANKS, 1993) comprovando,
assim, que a aquisição do conhecimento não é regida por regras (POERSCH, 2001b).
A seguir são discutidos os resultados referentes ao grupo experimental no que
se refere à ocorrência dos subperfis do processamento auditivo e aos escores obtidos
nos testes de compreensão em leitura ao comparar a avaliação realizada antes do
tratamento fonoaudiológico com ênfase no processamento auditivo com a avaliação
realizada após os 5 meses de terapia e sua relação com a plasticidade cerebral e com
o paradigma conexionista.
Em relação à ocorrência dos subperfis de alteração do processamento auditivo,
ao comparar a 1ª e a 2ª avaliação no grupo experimental (tabela 4), foram observadas
situações de significância limítrofe relacionadas à diminuição da ocorrência do
subperfil denominado função não-verbal do tipo 1.
O aumento dos escores nesse subperfil está relacionado à melhora dos testes
de padrão de freqüência e de duração realizados na condição murmurando, já
abordados anteriormente (ALVAREZ, ZAIDAN, BALEN, GARCIA, 2000). Tais
testes, em conjunto, avaliam a atividade do hemisfério direito responsável pela
identificação e compreensão das características supra-segmentais de um enunciado.
Dessa forma, a terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento auditivo
permitiu uma maior ativação do hemisfério direito sendo um auxílio para leitores
inexperientes (WALDIE, 2004). O aumento dos escores do referido subperfil também
contribuiu para a evolução do processamento temporal, necessário à compreensão em
leitura.
Essa situação de significância limítrofe identificada no subperfil denominado
função não-verbal do tipo 1, no grupo experimental, ocorreu devido ao número
amostral pequeno. Talvez, se o número de participantes estudados fosse maior, tal
escore poderia ser significante.
Outra forma de registrar os efeitos do tratamento do processamento auditivo é
analisar o conjunto de subperfis alterados na primeira e na segunda avaliação do
grupo experimental. Tais dados podem ser visualizados nos quadros 3 e 4.
O grupo experimental é constituído por 19 participantes e mediante a
comparação da primeira com a segunda avaliação é possível identificar que em 13
casos houve mudança do diagnóstico. Tal evolução sugere a melhora dos escores nos
129
testes de processamento auditivo. Já nos 6 participantes restantes, o diagnóstico
manteve-se o mesmo. Considerando que a terapia fonoaudiológica foi realizada em
aproximadamente 5 meses, esses indivíduos necessitariam de mais tempo de terapia
para mostrar a evolução terapêutica desejada (MUSIEK, 2004).
A tabela 6 mostra que há diferença estatisticamente significativa para os testes
de compreensão em leitura assim como na média de ambos os testes realizados pelos
participantes do grupo experimental. Para o teste lacunado, a média de acertos foi de
62% na primeira avaliação e 70% na segunda avaliação (P= 0,005). No teste de
múltipla escolha, a média de acertos foi de 55% na primeira avaliação e 75% na
segunda avaliação (P< 0,0001). Ao considerar a dia de ambos os testes, na
primeira avaliação obteve-se o escore de 58% e na segunda, 72% (P<0,0001). O
crescimento dos escores de ambos os testes e da média ao comparar a primeira e a
segunda avaliação representa o efeito da terapia fonoaudiológica com ênfase no
processamento auditivo que foi possível em função da plasticidade auditiva que
permitiu o reforço das sinapses (POERSCH, 1998).
Na medida em que as pesquisas avançam, a relação entre transtorno do
processamento auditivo com distúrbios de fala, linguagem, leitura, escritura,
aprendizagem, atenção e memória torna-se cada vez mais dependente em função do
compartilhamento das mesmas estruturas no cérebro e do processamento por
distribuição em paralelo (RUMELHART e McCLELLAND, 1986; EYSENCK e
KEANE, 1994). Por isso, a terapia fonoaudiológica com ênfase no processamento
auditivo permite a melhora das outras habilidades.
A seguir, são mencionadas várias pesquisas que comprovam essa relação,
principalmente destacando aquelas em que a terapia fonoaudiológica ou o
treinamento auditivo foi eficaz no tratamento da queixa em questão.
Moncrieff e Musiek (2002) utilizaram o teste dicótico de dígitos para verificar a
assimetria cerebral entre um grupo de crianças normais e um grupo de crianças disléxicas.
Neste último, os resultados ficaram abaixo dos escores das crianças normais. Já Margall
(2002) concluiu que crianças com distúrbio de leitura e escrita apresentam desordem do
processamento auditivo relacionada aos sons verbais.
Putter-Katz et al. (2002) realizaram treinamento auditivo em 20 crianças com
distúrbio do processamento auditivo e observaram significante aumento do
reconhecimento de fala em condições degradadas, ou seja, a mensagem foi alterada
na intenção de diminuir a redundância extrínseca.
130
Moura, Feniman e Lauris (2000) comprovaram que o distúrbio de leitura e
escritura está associado a um déficit no processamento auditivo temporal. Os autores
estudaram 28 crianças na faixa etária de 7 a 10 anos, sendo que 10 apresentavam
distúrbio de leitura e escrita e 18 tinham aproveitamento escolar normal. Da mesma
forma, Capovilla e Capovilla (2002) apontam que déficits no processamento temporal
produziriam dificuldades de discriminação, coordenação e integração no domínio
verbal e não-verbal envolvendo nomeação, repetição, memória de trabalho e memória
de longo prazo.
Frota e Pereira (2004) também observaram a correlação entre processamento
fonológico pobre e inabilidades de processamento temporal evidenciadas pela
ordenação temporal de sons em relação à freqüência e duração. Na mesma linha,
Ziegler (2005) aponta que a deficiência fonológica é a habilidade que mais causa
dislexia em todas as línguas, inclusive na chinesa.
Dessa forma a combinação de avaliações multidisciplinares e testes
específicos para a função auditiva central têm demonstrado sensitividade e
especificidade na identificação das desordens do sistema nervoso auditivo central
tanto nas alterações específicas do processamento auditivo como nos casos em que
esta disfunção coexiste com outros déficits de processamento (MUSIEK, BELLIS E
CHERMAK, 2005) como, por exemplo, o transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade - TDAH (COSTA-FERREIRA e MELLO, 2006).
Hayes et al. (2003) realizaram treinamento auditivo em crianças de 8 a 12
anos de idade com distúrbio de aprendizagem e/ou déficit de atenção por 8 semanas e
compararam com um grupo de controle. O grupo que recebeu o treinamento auditivo
mostrou a eficiência da plasticidade da codificação neural para o córtex no que se
refere aos sons da fala.
Breier et al. (2003) pesquisaram um grupo de crianças com problemas de
compreensão em leitura e identificaram a alteração do processamento temporal
relacionada à percepção do voice onset tome (VOT). Este grupo foi comparado a
outro grupo de crianças que tinham apenas TDAH que demonstraram redução do
desempenho das habilidades auditivas em geral. Um terceiro grupo em que os
problemas de compreensão em leitura coexistiam com TDAH também mostrou
redução do desempenho em habilidades psicoacústicas.
131
De acordo com as pesquisas citadas, Phillips (2002) afirma que as estratégias
de tratamento baseadas no treinamento auditivo podem promover a
neuroplasticidade. A projeção das fibras aferentes do nervo coclear para o núcleo
coclear ocorre em paralelo de modo que a informação é recebida e processada por
vários núcleos independentes ao mesmo tempo. Já o complexo olivar superior recebe
a informação tonotópica do núcleo coclear ventral de ambas as orelhas, importante na
localização sonora no plano horizontal. Deve-se destacar que esse processamento,
além de ocorrer em paralelo, acontece também, de forma hierárquica, pois na medida
em que a informação passa pelas estruturas mais altas do tronco encefálico, vai
ficando mais complexa. Assim, a análise temporal envolve a discriminação de
fonemas que diferem em duração (voice onset time - VOT), percepção do ritmo,
seqüências e julgamentos de ordem temporal e distinção de freqüências. Os autores
também refoam que os problemas de processamento temporal são freqüentemente
diagnosticados em crianças com distúrbios de linguagem. Em trabalho semelhante,
alguns pesquisadores testaram o limiar de detecção entre os estímulos não-verbais
curtos (20ms) ou longos (200ms), confirmando a correlação deste com as habilidades
fonológicas (GRIFFITHS ET AL., 2003).
Kozlowsky et al. (2004) e Russo et al. (2005) mostram a efetividade do
treinamento auditivo nos casos de distúrbios de aprendizagem, oferecendo benefícios
para a plasticidade cortical.
Algumas pesquisas que reforçam a eficácia da terapia fonoaudiológica nos
transtornos do processamento temporal foram expostas. A seguir, são apresentados os
tipos de treinamento auditivo encontrados na literatura e posteriormente, o tipo de
terapia fonoaudiológica utilizada nos participantes do presente estudo é abordado.
É possível concordar com Bellis (2002) ao referir a existência de inúmeras
técnicas de treinamento auditivo e, principalmente, a eficácia da terapia irá depender
do subperfil alterado, do funcionamento e do comportamento do indivíduo em
questão.
Chermak e Musiek (2002) defendem que a combinação do treinamento
auditivo formal e informal garante maior eficácia ao tratamento dos distúrbios de
processamento auditivo. Entende-se como treinamento formal aquele realizado pelo
fonoaudiólogo em ambiente controlado acusticamente e informal, o treinamento
realizado em casa com a supervisão dos familiares.
132
Tallau (2004) reforça que os estudos em processamento auditivo permitiram o
desenvolvimento de estratégias de intervenção baseadas na neuroplasticidade,
objetivando o tratamento dos problemas de linguagem, leitura e escrita. A hipótese
sugerida como causa desses distúrbios é a limitação da velocidade de processamento.
A autora explica que a onda acústica da fala se caracteriza por rápidas
mudanças acústicas de freqüência e de intensidade cuja diferença se dá nos primeiros
40ms. Dessa forma há neurônios que codificam seletivamente as características
temporais dos sons. Assim, crianças com distúrbio de linguagem, de 6 a 9 anos de
idade, necessitam de centenas de milissegundos para desempenhar tarefas acústicas.
Em seu experimento, a diferença acústica entre as sílabas /ba/ e /da/ foi
alongada de 40ms para 80ms, resultando em significativa melhora para a
discriminação da fala. Já o tempo de duração das vogais fixas e constantes, como,
por exemplo, /e/ ao preceder a vogal /I/ que é de 250ms foi reduzido para 40ms,
resultando em significativo decréscimo na discriminação.
Diante desses resultados, Tallau (2004) inova ao propor um programa de
tratamento denominado Fast For Word que combina a fala modificada com
intervenção fonológica explícita de leitura e de linguagem numa série de exercícios
de treinamento. Tal programa de tratamento tem como objetivo desenvolver a
habilidade de perceber com atenção e aumentar a capacidade de memória para
eventos que se sucedem rapidamente. Convém ressaltar que a referida série de
exercícios não envolve a identificação de fonemas e/ou grafemas, porém o custo do
software é muito alto para a realidade brasileira. A autora relata, ainda, pesquisas em
que a utilização do referido programa foi estatisticamente significativa.
No mesmo ano, Musiek (2004) propõe um treinamento auditivo que consiste
em aumentar a intensidade da orelha rebaixada nos testes dicóticos através de
audiômetro de 2 canais ou outros equipamentos. O autor denominou a referida
proposta de tratamento da diferença de intensidade dicótica interaural. Na referida
condição solicita-se ao paciente a repetição de palavras, números e sentenças. Após o
tratamento, ambas as orelhas adquirem bom desempenho. Também reforça que
algumas crianças requerem mais tratamento do que outras.
A terapia utilizada nos participantes deste estudo, de acordo com o que foi
detalhado na metodologia, seguiu a proposta de Musiek (2004) durante
aproximadamente 10 minutos, seguida da administração de jogos ou tarefas que
envolviam a queixa do paciente, excluindo o treinamento específico para a leitura.
133
As tarefas dicóticas com diferenças de volume, ou seja, aumento do volume da
orelha em defasagem permitiu o aprimoramento da atenção seletiva definida como a
capacidade de direcionar a atenção para determinado estímulo auditivo ignorando os
demais. É uma habilidade fundamental a ser desenvolvida para criaas com
distúrbios de leitura e escrita (MARGALL, 2002).
Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006) reforçam que, em escuta dicótica, a atenção
em um ouvido resulta em melhor codificação dos sinais ao ouvido em que se presta
atenção enquanto no outro há perda de alguns sinais. Os autores ainda ressaltam que
a atividade neuronial do núcleo coclear e do nervo auditivo está relacionada à
atenção auditiva. O tálamo, os núcleos da base, o córtex insular, o córtex frontal, o
núcleo do cíngulo anterior, o córtex parietal posterior e o núcleo pulvinar também
estão envolvidos no direcionamento da atenção de acordo com as exigências da
tarefa. Quando a atenção é desviada de um local para o outro, há ativação do córtex
parietal superior. Dessa forma, é possível concluir que a maioria das estruturas
responsáveis pelo processamento da informação auditiva no cérebro também são
responsáveis pela atenção, o que comprova o processamento por distribuição em
paralelo defendido pelo paradigma conexionista.
Outro aspecto que contribuiu para a melhora dos participantes em
compreensão em leitura foi o desenvolvimento da memória de trabalho envolvida no
tratamento do processamento temporal.
A memória de trabalho fornece ao indivíduo a capacidade de reter informações
durante um tempo mínimo enquanto algumas tarefas são realizadas (LENT, 2005). A
melhora da memória de trabalho ocorre a partir de 10 ou 11 anos, início do período
operatório formal de acordo com Piaget (2006), devido ao aumento da mielinização
do lobo frontal, responsável pelas habilidades cognitivas. A limpeza sináptica, que
também ocorre nessa época, promove a otimização funcional do lobo frontal
tornando as conexões mais eficientes entre os neurônios responsáveis pela
codificação da informação na memória de trabalho (HERCULANO-HOUZEL, 2005).
Alguns estudos relacionam o aumento da memória de trabalho a melhora do
desempenho da memória seqüencial verbal, necessária ao processamento temporal
(CORONA ET AL., 2005; FURBETA E FELIPPE, 2005).
Em suma, as diferenças de volume em tarefas dicóticas (MUSIEK, 2004)
permitiram a focalização da atenção durante o treinamento auditivo. Para que o
134
participante respondesse adequadamente, a tarefa proposta necessitou armazenar a
informação acústica na memória de trabalho produzindo modificações na eficiencia
sináptica das áreas associativas (HERCULANO-HOUZEL, 2005) e por isso a
melhora em compreensão em leitura dos participantes deste estudo foi
estatisticamente significativa, pois, para compreender bem a leitura, é necessário que
a memória de trabalho fique menos sobrecarregada durante o processamento da
leitura para que o indivíduo dirija seus recursos para a compreensão do significado
(ZIMMER, 2001).
Os resultados do presente estudo foram possíveis devido à plasticidade
cerebral que é definida como uma alteração das células nervosas influenciadas pelo
ambiente externo. Essa atividade é essencial para o treinamento auditivo em que
novas conexões são formadas. Tais mudanças podem ocorrer lentamente requerendo
muito tempo de treinamento ou pode ocorrer rapidamente e até mesmo
espontaneamente (MUSIEK, 2002; MUSIEK, SHINN e HARE, 2002).
De acordo com os pressupostos conexionistas, a terapia fonoaudiológica foi
organizada de modo a reforçar as sinapses existentes e a fabricar novas conexões
neuroniais que irão influenciar o nível de atividade cerebral a ser transmitida a outros
neurônios (SHANKS, 1993). Dessa forma, o aumento dos escores nos testes de
compreensão em leitura do grupo experimental é o resultado da alteração na força
das sinapses neuroniais, produzida pela terapia do processamento auditivo que foi
realizada, buscando o interesse do ouvinte (estimulação positiva) que promove maior
velocidade de processamento (YOUNG e CONCAR, 1992).
Os testes referentes à compreensão em leitura representam o resgate ad hoc de
sinapses reforçadas no momento da terapia, constituindo a prova do processamento
por distribuição em paralelo. Tal constatação é a confirmação da hipótese da presente
pesquisa.
Convém ressaltar que o tratamento do processamento temporal representa,
para o paradigma conexionista, a alteração da força sináptica com a finalidade de
desenvolver as habilidades necessárias à compreensão em leitura. Estas são
resgatadas ad hoc no momento da realização dos testes de compreensão em leitura,
constituindo-se prova do processamento por distribuição em paralelo.
A seguir os resultados específicos dos escores em compreensão em leitura são
examinados.
135
A avaliação do ganho de cada teste de compreensão em leitura assim como na
média de ambos, ao comparar os grupos de controle e experimental, foi realizada
através do cálculo do Delta que identifica o grupo que evoluiu mais. A figura 1
representa o ganho para o teste lacunado e mostra que para o grupo de controle o
crescimento foi de 5,40 e para o grupo experimental o referido crescimento foi de
13,31%. Ao comparar os escores da 1ª com a 2ª avaliação, o valor de P = 0,372 para
o grupo de controle (tabela 5) e P = 0,005 para o grupo experimental (tabela 6),
sendo, este último significante.
A figura 2 representa o ganho para o teste de múltipla escolha e aponta que o
crescimento do grupo de controle através do cálculo do Delta foi de 7,55% enquanto
o crescimento para o grupo experimental foi de 37,45%. Ao comparar os escores da
1ª com a 2ª avaliação o valor de P = 0,418 para o grupo de controle (tabela 5) e P =
0,0001 para o grupo experimental (tabela 6), sendo, este último, altamente
significante. Já a figura 3 representa o ganho para a média dos testes lacunado e de
múltipla escolha e aponta que o crescimento do grupo de controle através do cálculo
do Delta foi de 6,63% enquanto que o crescimento para o grupo experimental foi de
23,59%. Ao comparar os escores da 1ª com a 2ª avaliação, o valor de P = 0,341 para
o grupo de controle (tabela 5) e P = 0,0001 para o grupo experimental (tabela 6),
sendo este último altamente significante assim como o valor encontrado para o teste
de múltipla escolha.
Diante desses resultados, é possível concluir que a terapia fonoaudiológica
com ênfase no processamento auditivo possibilitou maior crescimento do teste de
múltipla escolha seguido da média de ambos os testes. O teste lacunado foi o que
apresentou menor crescimento.
O teste lacunado foi construído a partir do procedimento cloze. Söhngen
(2002) afirma que o referido procedimento é um aferidor efetivo de diferenças
específicas na compreensão dos leitores que foi validado por diversas pesquisas
dentre elas a de Holmes (1984), ao afirmar que os resultados obtidos em relação ao
procedimento cloze não são afetados pelo grau de ansiedade exibido pelo participante
em situação de testagem. Conm ressaltar que esse aspecto é muito importante ao
tratar-se de uma pesquisa realizada com crianças que necessitaram responder ao teste
duas vezes.
136
O procedimento cloze foi utilizado em inúmeras pesquisas como na de Newby
(1998), que utilizou o referido procedimento na avaliação de pacientes
esquizofrênicos ou como no estudo de Cunha e Santos (2006), utilizado para avaliar
a compreensão em leitura de universitários. Santos (2004) afirma que o teste cloze é
atualmente utilizado para avaliar a influência da posição sintática das palavras na
sentença e como valor de conhecimento pvio na compreensão oral e escrita. Já
Faust e Kravetz (1998) utilizaram o procedimento cloze para avaliar a maneira como
os hemisférios direito e esquerdo processam as diferentes classes lingüísticas.
Já o teste de múltipla escolha foi utilizado por Salles e Parente (2006) para
avaliar a compreensão leitora de crianças de 2ª série.
A questão a ser respondida neste momento é por que o teste de múltipla
escolha teve maior crescimento que o teste lacunado. Para responder a essa pergunta
deve-se recorrer à maneira como ambos os testes foram realizados pelos participantes
da pesquisa.
No teste lacunado participantes da pesquisa deveriam ler o primeiro parágrafo
do texto que se encontrava intacto. A partir do segundo parágrafo, ao se deparar com
uma lacuna e com 2 possibilidades de preenchimento, os mesmos deveriam realizar a
leitura do trecho com 1 palavra e depois com a outra e julgar a forma adequada.
Assim deveriam preencher todas as 37 lacunas. Dessa forma, é exigido da memória
de trabalho o armazenamento de 2 informações acústicas até a decisão da forma
adequada. Se o leitor fosse proficiente, não hesitaria na escolha da forma correta. Já
se o leitor não fosse proficiente, as informações sobrecarregariam a memória de
trabalho e a escolha de uma das palavras poderia ser incorreta.
Já no teste de múltipla escolha, realizado após o teste lacunado, os
participantes deveriam ler o mesmo texto na íntegra e em seguida responder às 9
questões de múltipla escolha. Apesar de ter a possibilidade de recorrer ao texto para
responder às questões, a grande maioria respondeu ao teste sem reler o texto. Dessa
maneira, se o leitor fosse proficiente, acessaria o sentido do texto na íntegra e
responderia adequadamente às questões ao passo que, se o leitor não fosse
proficiente, deveria armazenar uma quantidade maior de itens na memória de
trabalho, ocasionando erros nas respostas.
Diante do exposto, é possível assumir que o teste de múltipla escolha exige
mais da memória de trabalho se comparado ao teste lacunado. Ao comparar as figuras
137
1 e 2, ao considerar a média dos participantes do grupo experimental, observa-se o
escore do teste lacunado, na etapa pré-terapia foi de 62% (figura 1) ao passo que o
escore para o teste de múltipla escolha na mesma etapa foi de 55% (figura 2).
Portanto o desempenho dos participantes no teste de múltipla escolha que, por
hipótese, exigiria mais da memória de trabalho foi inferior ao desempenho no teste
lacunado. Após o período de 5 meses de terapia fonoaudiológica com ênfase no
processamento auditivo, os resultados foram diferentes. Assim, o escore do teste
lacunado, na etapa pós-terapia foi de 70% (figura 1) ao passo que o escore para o
teste de múltipla escolha na mesma etapa foi de 75% (figura 2), ou seja, os resultados
para o teste de múltipla escolha que eram inferiores ao do teste lacunado antes da
terapia, após o período de 5 meses de treinamento auditivo, foram superiores ao do
teste lacunado. Tal fato pode ser explicado a partir da proposta terapêutica de Musiek
(2004), que ofereceu uma diferença de volume na orelha cujos resultados dos testes
dicóticos encontravam-se rebaixados. O aumento do volume proporcionou a melhora
da atenção seletiva para a realização de tarefas auditivas que exigiram maior
eficiência da memória de trabalho. Logo, o teste de múltipla escolha que exigiu mais
memória de trabalho teve maior crescimento após a terapia.
O presente estudo reforça o pressuposto de que o processamento da
informação ocorre de forma hierárquica e paralela. Ao exercitar as habilidades
auditivas, excluindo o ensino das estratégias de leitura, proporcionou-se aos
participantes da pesquisa a melhora da atenção seletiva e o aumento do desempenho
da memória de trabalho, ou seja, as habilidades auditivas, a atenção seletiva e a
memória de trabalho compartilham as mesmas estruturas no cérebro que permitem o
processamento por distribuição em paralelo defendido pelo paradigma conexionista.
Convém ressaltar que os testes de compreensão leitora não medem a compreensão,
são instrumentos preditivos da compreensão que ocorrem no cérebro.
138
CONCLUSÃO
O tema deste estudo foi a relação entre processamento auditivo e compreensão
em leitura sob a perspectiva conexionista, ao observar a variação dos escores em
compreensão em leitura após o tratamento do transtorno do processamento auditivo.
Os aspectos motivadores do estudo foram: observação de crianças durante a
terapia fonoaudiológica; a constatação da comorbidade entre o distúrbio do
processamento auditivo e as alterações de fala e aprendizagem evidenciadas por
inúmeras pesquisas na área e a continuidade do trabalho de Costa (2003), que
confirmou a relação entre o distúrbio do processamento auditivo e os baixos escores
de compreensão em leitura.
A abordagem teórica permitiu a correlação entre os temas que envolvem a
pesquisa: processamento auditivo e compreensão em leitura cuja abordagem foi
sustentada através do paradigma conexionista.
O processamento auditivo desenvolve-se a partir das experimentações sonoras
apresentadas ao indivíduo até aproximadamente 5 ou 6 anos de vida, sendo cruciais
nos dois primeiros anos devido ao amadurecimento das estruturas do sistema nervoso
central. Nesse contexto, o conexionismo é o paradigma lingüístico mais adequado
para fundamentar esta pesquis
a ao embasar-se nos estudos sobre o sistema nervoso
central, buscando explicações sobre os processos cognitivos envolvidos na aquisição,
armazenamento, processamento e recuperação de conhecimentos.
O estudo da fisiologia auditiva central foi imprescindível ao relacionar o
processamento auditivo e bases neuroanatômicas do aprendizado da leitura. Nesse
ponto situa-se a relação entre ambas as variáveis, pois tanto o processamento
auditivo quanto a leitura compartilham estruturas anatômicas.
139
Esta pesquisa destinou-se à investigação do aumento dos escores de
compreensão em leitura após a realização da terapia de processamento auditivo em
crianças de 8 a 11 anos de idade com diagnóstico de distúrbio do processamento
auditivo ao compará-los com os do grupo de controle.
O tratamento do processamento auditivo representa, para o paradigma
conexionista, a formação e/ou o reforço das sinapses do cérebro em funcionamento.
Atras desse tratamento obteve-se o aumento dos escores em compreensão em
leitura que representam o resgate da informação permitindo a comprovação da
hipótese através da comparação do desempenho, nos testes de compreensão em
leitura, dos grupos experimental e de controle. Tal comparação foi realizada atras
da análise estatística.
O crescimento dos escores de compreensão em leitura do grupo de controle
representa a maturação cerebral ao passo que o aumento dos mesmos escores do
grupo experimental representa o efeito da terapia fonoaudiológica com ênfase no
processamento auditivo, sendo o resultado da alteração na força das sinapses
neuroniais promovendo maior velocidade de processamento. Essa velocidade foi
adquirida através da realização de tarefas de escuta dicótica com diferença de volume
(maior volume para a orelha deficitária e menor volume para a outra orelha) que
permitiu a melhora da atenção seletiva. As tarefas auditivas permitiram o
desenvolvimento da memória de trabalho, envolvida no processamento temporal, que
permitiu a melhora da compreensão em leitura.
Ao tecer uma relação estreita entre a melhora do processamento temporal e a
melhora dos escores em compreensão em leitura no grupo experimental, conclui-se
que o tratamento do processamento temporal é indispensável aos problemas de
compreensão em leitura e representa, para o paradigma conexionista, o reforço ou a
formação das sinapses neuroniais.
Após os 5 meses de terapia, observou-se considerável melhor desempenho na
realização do teste de múltipla escolha, provavelmente relacionada à melhora da
memória de trabalho. O referido teste apresentou maior significância, ao comparar o
ganho do grupo experimental em relação ao ganho do grupo controle.
A confirmação da hipótese permitiu a comprovação do processamento por
distribuição em paralelo proposto pelo paradigma conexionista, pois, ao tratar o
140
processamento auditivo, é possível formar ou reforçar as sinapses do cérebro em
funcionamento.
O paradigma conexionista é o mais adequado para fundamentar os estudos do
processamento auditivo e da compreeno em leitura, pois considera os pressupostos
da neurociência para explicar os processos cognitivos envolvidos na aquisição,
armazenamento, processamento e recuperação de conhecimentos. Tais processos
originam-se na conexão entre os neurônios no cérebro.
Ao contrário de outros paradigmas que se contentam com a entrada e saída de
estímulos (paradigma behaviorista) ou com o simples fato de imaginar o que ocorre
nesse processo (paradigma simbólico), o paradigma conexionista busca desvendar
como ocorre o processamento da informação no cérebro.
Acredita-se que este estudo contribuiu para o avanço das pesquisas relativas
ao paradigma conexionista, ao processamento auditivo e à compreensão em leitura,
visto que na atualidade há estudos independentes. Este, porém, objetivou o estudo
das variáveis de forma globalizada.
Esta pesquisa possibilita o entendimento de que a terapia fonoaudiológica com
ênfase no processamento auditivo, realizada com a utilização de tarefas dicóticas, é
fundamental para o aumento dos escores em compreensão em leitura.
141
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(Coletânea). Porto Alegre. v. 36, n. 3, p. 409-415, 2001.
153
154
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da Pesquisa que será implementada: A inflncia da terapia do
processamento auditivo na compreensão em leitura: uma abordagem conexionista.
Pesquisadora: Fonoaudióloga Maria Inês Dornelles da Costa Ferreira
(doutorado)
Fone: (051) 32265425
Professor Orientador: Prof. Dr. José Marcelino Poersch
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA PESQUISA
A pesquisa a ser realizada constituirá uma tese de doutorado do Programa de
Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS). Insere-se na linha de pesquisa: Processos cognitivos da linguagem e
conexionismo.
Este estudo pretende analisar os resultados dos testes de compreensão leitora
antes e depois da terapia do processamento auditivo (grupo experimental) e antes e
depois de 5 meses (grupo de controle). Os participantes do grupo de controle também
serão encaminhados à terapia de processamento auditivo, caso necessário.
Estudos recentes nesta área concluíram que a identificação precoce das
alterações do processamento auditivo permite trabalho preventivo a fim de evitar ou
minimizar problemas na leitura e na aprendizagem das crianças.
PROCEDIMENTOS A SEREM UTILIZADOS
Anteriormente à testagem do processamento auditivo, a criança deverá passar
por outras avaliações básicas como inspeção do conduto auditivo externo e screening
auditivo, a fim de comprovar audição periférica íntegra.
Para avaliar a compreensão em leitura serão aplicados os testes: lacunado e de
múltipla escolha.
Num segundo momento, as crianças serão solicitadas a comparecer a outra instituição
(Clínicas Integradas do Centro Universitário Metodista - IPA) a fim de serem testadas em
relação ao processamento auditivo. Tal local dispõe de equipamentos indispensáveis a esta
testagem, como o audiômetro.
155
Posteriormente, será oferecida a terapia fonoaudiológica em local a ser determinado e,
novamente, aplicadas as testagens.
DESCONFORTOS OU RISCOS ESPERADOS
Não há nenhum desconforto ou risco esperado neste tipo de pesquisa, pois os
testes serão aplicados de forma lúdica de modo a despertar o interesse da criança.
BENEFICIOS ESPERADOS
O desenvolvimento desta pesquisa auxiliará as crianças que apresentarem
alterações nas testagens propostas através do encaminhamento adequado ao
tratamento de suas necessidades. Além disso, a pesquisa contribuirá para os estudos
desenvolvidos nesta área.
O QUE SE SOLICITA AOS RESPONSÁVEIS PELA CRIANÇA
Solicita-se aos pais a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido
e o acompanhamento aos seus filhos no deslocamento até a Clínica Integrada do
Centro Universitário Metodista IPA para a realização dos testes específicos.
Solicita-se, também, a participação efetiva no processo de terapia.
GARANTIAS DE RESPOSTA A QUALQUER PERGUNTA
Torna-se garantido aos pais ou responsáveis pela criança o direito a
informações sobre a pesquisa a qualquer momento.
LIBERDADE DE ABANDONAR A PESQUISA
Garante-se aos pais ou responsáveis pela criança o direito de desligar-se da
pesquisa a qualquer momento.
GARANTIA DE PRIVACIDADE
A identidade das crianças que participarem desta pesquisa será rigorosamente
preservada. Os dados de cada criança serão utilizados apenas para fins de pesquisa.
Cabe salientar que o nome verdadeiro da criança nunca será mencionado e sim
substituído por um número (participante 1,2..).
156
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro que fui informado dos objetivos da pesquisa acima de maneira
clara e detalhada. Recebi informações a respeito da maneira como serão coletados os
dados e tive oportunidade de esclarecer minhas dúvidas. Sei que em qualquer
momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão, se assim
desejar.
A Fga. Maria Inês Dornelles da Costa Ferreira, pesquisadora,
certificou-me de que a identidade do meu filho (a) será preservada, e que terei
liberdade de retirar meu consentimento de participação na pesquisa a qualquer
momento.
Caso surjam novas perguntas sobre este estudo, posso dirigir-me à
pesquisadora a qualquer momento.
Declaro que recebi cópia do presente Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
_____________________________________________
Assinatura do responsável pela criança
_____________________________________________
Nome do responsável pela criança e grau de parentesco
_____________________________________________
Nome da criança a que se refere este TCLE
Fga. Maria Inês D. da C Ferreira Prof. Dr. José M. Poersch
Doutoranda ( Pesquisadora) Orientador da tese de doutorado
CRFa. 6253
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS DA PUCRS - Prédio 8º, 4
o
.
andar, Telefone: 33203676 Porto Alegre, ____/ ____/ 2004.
O presente documento está baseado no item IV das Diretrizes e Normas Regulamentadoras
para a pesquisa em Saúde, do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96).
157
APÊNDICE B
TESTE DE COMPREENSÃO LEITORA (LACUNADO)
O REFORMADOR DA NATUREZA
(Monteiro Lobato)
Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de botar defeito em todas as coisas.
O mundo para ele estava errado e a natureza só fazia tolices.
- Tolices, Américo?
-Pois então?!..__________ (AQUI / ONTEM) neste pomar você tem
__________ (NENHUMA / A) prova disso. está __________ (ELA / AQUELA)
jabuticabeira enorme sustentando frutas __________ (PEQUENINAS /
GRANDINHAS), e mais adiante vejo __________ (MINHA / UMA) colossal
abóbora presa ao __________ (CAULE / TRONCO) duma planta rasteira. o
__________ (ERA / PODIA) lógico que fosse justamente __________ (ALGUM / O)
contrário? Se as coisas __________ (TIVESSEM / ESTIVESSEM) de ser
reorganizadas por __________ (DEUS / MIM), eu trocaria as bolas __________
(ATIRAVA / COLOCAVA) as jabuticabas na aboboreira __________(E / MAS) as
abóboras na jabuticabeira __________ (
SEMPRE / NÃO) acha que tenho razão?
__________ (
E /SE) assim discorrendo, Américo provou __________ (QUE /
ENTÃO) tudo estava errado e __________ (NEM / SÓ) ele era capaz de __________
(DISPOR / APRESENTAR) com inteligência o mundo.
158
__________ (MAS / QUANDO) o melhor concluiu é __________
(
SIM / NÃO) pensar nisso e tirar ___________ (UMA / NENHUMA) soneca à
sombra destas __________ (
PLANTAS / ÁRVORES), não acha?
Américo __________ Pisca-Pisca, pisca-piscando que não __________
(ACABAVA / COMEÇAVA) mais, estirou-se de papo __________ (PARA / EM)
cima à sombra da __________ (
JABUTICABEIRA / ABOBOREIRA).
Dormiu. Dormiu e sonhou. __________ (
ACORDOU / SONHOU) com
o mundo novo, __________ (
INTEIRINHO / TAMBÉM) reformado pelas suas mãos.
__________ (
NA / QUE) beleza!
De repente, porém, __________ (DE / NO) melhor do sonho, plaf!,
__________ (UMA / NENHUMA) jabuticaba cai do galho __________ (MAL /
BEM) em cima do seu ___________ (NARIZ / OLHO). Américo despertou de
um __________ (BEIJO / PULO). Piscou, piscou. Meditou sobre __________ (O /
ALGUM) caso e afinal reconheceu ___________ (QUE / QUANDO) o mundo não
estava __________ (BEM / TÃO) malfeito como ele dizia. __________ (E /
QUANDO) lá se foi para __________ (MESA / CASA) refletindo:
Que espiga!... Pois não é que se o mundo tivesse sido reformado por
mim a primeira vítima teria sido eu mesmo? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela
abóbora por mim posta em lugar da jabuticabeira? Hum!... Deixemo-nos de
reformas. Fique tudo como está que está tudo muito bom.
159
APÊNDICE C
TESTE DE COMPREENSÃO LEITORA (MÚLTIPLA ESCOLHA)
REFORMADOR DA NATUREZA
(Monteiro Lobato)
Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de botar defeito em todas as coisas.
O mundo para ele estava errado e a natureza só fazia tolices.
- Tolices, Américo?
-Pois então?!.. Aqui neste pomar você tem a prova disso. Lá está aquela
jabuticabeira enorme sustentando frutas pequeninas, e mais adiante vejo uma imensa
abóbora presa ao caule duma planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o
contrário? Se as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas
colocava as jabuticabas na aboboreira e as abóboras na jabuticabeira, não acha que
tenho razão?
E assim discorrendo, Américo provou que tudo estava errado e só ele
era capaz de dispor com inteligência o mundo.
Mas o melhor concluiu é não pensar nisso e tirar uma soneca à
sombra destas árvores, não acha?
E Américo Pisca-Pisca, pisca-piscando que não acabava mais, estirou-
se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. Sonhou com o mundo novo, inteirinho
reformado pelas suas mãos. Que beleza!
De repente, porém, no melhor do sonho, plaf!, uma jabuticaba cai do
galho bem em cima do seu nariz. Américo despertou de um pulo. Piscou, piscou.
Meditou sobre o caso e afinal reconheceu que o mundo não estava tão malfeito como
ele dizia. E lá se foi para casa refletindo:
Que espiga!... Pois não é que se o mundo tivesse sido reformado por
mim a primeira vítima teria sido eu mesmo? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela
abóbora por mim posta em lugar da jabuticaba ? Hum!... Deixemo-nos de reformas.
Fique tudo como está, que está tudo muito bom.
ESCOLHA A ALTERNATIVA CORRETA:
160
1. O que Américo pisca-pisca tinha o hábito de fazer?
A) achar que tudo estava sempre bem
B) botar defeito em todas as coisas
C) não dar importância para a natureza
2. Qual era o tamanho das frutas que a jabuticabeira sustentava?
A) grandinhas
B) medianas
C) pequeninas
3. Qual era o tamanho da jabuticabeira?
A) enorme
B) média
C) pequena
4. Qual era o tamanho da abóbora?
A) pequena
B) grande
C) média
5. Onde a abóbora era presa?
A) no galho de uma árvore grande
B) no tronco de uma árvore
C) no caule de uma planta rasteira
6. Quando Américo olhou o tamanho das plantas e dos frutos, o que ele pensou que poderia
ser feito?
A) deixar tudo como estava
B) colocar as jabuticabas na aboboreira e as abóboras na jabuticabeira
C) fazer a abóbora crescer na mesma planta da jabuticabeira
7. O que Américo fez à sombra da jabuticabeira?
A) comeu
B) conversou
C) dormiu
8. O que aconteceu enquanto Américo pisca-pisca dormia?
A) uma abóbora rolou até a jabuticabeira
B) uma jabuticaba esmagou-se no chão
C) caiu uma jabuticaba em seu nariz
9. Qual foi a conclusão de Américo?
A) faria outro tipo de mudança
B) deixaria o mundo como está
C) continuaria mudando as coisas na natureza
161
162
ANEXO B
Imitanciometria
Nome:…………………………… Data:………..... Idade:................DN: .....Imitanciômetro
marca/modelo.....................
TIMPANOMETRIA
2,5ml
2,0ml
1,5ml
1,0ml
0,5ml
-
400 -300 -200 -100 0 +100 +200daPa
COMPLIANCIA
Orelha direita Orelha esquerda
Pressão da OM (daPa) daPa daPa
Complacência dinâmica (+200daPa) ml ml
Complacência estática (pico) ml ml
Volume equivalente de ar da OM ml ml
REFLEXOS ACUSTICOS
Orelha direita Orelha esquerda
Hz limiar contralateral diferencial ipsilateral Hz limiar contralateral diferencial ipsilateral
500 500
1000 1000
2000 2000
4000 4000
_____________________________________ ___________________________________
Estagiário(a) responsável
Supervisora responsável
163
ANEXO C
Nome .....................................................Idade ............................Data ...............................
TESTE DITICO DE DÍGITOS
Integração Binaural Atenção à Direita Atenção à Esquerda
Série
D E D E D E
1 5__4__8__7__ 5__4__8__7__ 5__4__8__7__
2 4__8__9__7__ 4__8__9__7__ 4__8__9__7__
3 5__9__8__4__ 5__9__8__4__ 5__9__8__4__
4 7__4__5__9__ 7__4__5__9__ 7__4__5__9__
5 9__8__7__5__ 9__8__7__5__ 9__8__7__5__
6 5__7__9__5__ 5__7__9__5__ 5__7__9__5__
7 5__8__9__4__ 5__8__9__4__ 5__8__9__4__
8 4__5__8__9__ 4__5__8__9__ 4__5__8__9__
9 4__9__7__8__ 4__9__7__8__ 4__9__7__8__
10 9__5__4__8__ 9__5__4__8__ 9__5__4__8__
11 4__7__8__5__ 4__7__8__5__ 4__7__8__5__
12 8__5__4__7__ 8__5__4__7__ 8__5__4__7__
13 8__9__7__4__ 8__9__7__4__ 8__9__7__4__
14 7__9__5__8__ 7__9__5__8__ 7__9__5__8__
15 9__7__4__5__ 9__7__4__5__ 9__7__4__5__
16 7__8__5__4__ 7__8__5__4__ 7__8__5__4__
17 7__5__9__8__ 7__5__9__8__ 7__5__9__8__
18 8__7__4__9__ 8__7__4__9__ 8__7__4__9__
19 9__4__5__7__ 9__4__5__7__ 9__4__5__7__
20 8__4__7__9__ 8__4__7__9__ 8__4__7__9__
Índices OD ........ x 5= .........%
OE ......... x 5= ........%
OD ........ x 5= .........%
OE ........ x 5= .........%
164
ANEXO D
Nome .....................................................Idade ............................Data ..............................
SSW (Staggered Spondaic Word)
A B C D E F G H
DNC DC EC ENC ERRO ENC EC DC DNC ERRO
01
bota fora pega fogo 02
noite negra sala clara
03
cara vela roupa suja 04
minha nora nossa filha
05
água limpa tarde fresca 06
vaga lume mori bundo
07
joga fora chuta bola 08
cerca viva milho verde
09
ponto morto vento fraco 10
bola grande rosa murcha
11
porta lápis bela jóia 12
ovo mole peixe fresco
13
rapa tudo cara dura 14
caixa alta braço forte
15
malha grossa caldo quente 16
queijo podre figo seco
17
boa pinta muito prosa 18
grande venda outra coisa
19
faixa branca pele preta 20
porta mala uma luva
21
vila rica ama velha 22
lua nova taça cheia
23
gente grande vida boa 24
entre logo bela vista
25
contra bando homem baixo 26
auto móvel não me peça
27
poço raso prato fundo 28
sono calmo pena leve
29
pera dura coco doce 30
folha verde mosca morta
31
padre nosso dia santo 32
meio a meio lindo dia
33
leite branco sopa quente 34
cala frio bate boca
35
quinze dias oito anos 36
sobre tudo nosso nome
37
queda livre copo d`água 38
desde quando hoje cedo
39
lava louça guarda roupa 40
vira volta meia lata
Total de erros
DNC (A+H) DC (B+G) EC (C+F) ENC (D+E)
x 2,5 = x 2,5 = x 2,5 = x 2,5 =
OD (% erros) = OE (% erros) =
Total % de erros =
Efeito de ordem (A+B+E+F) – (C+D+G+H)
Efeito Auditivo (A+B+C+D) – (E+F+G+H)
Inversões
Tipo A
165
ANEXO E
Nome .....................................................Idade ............................Data ..............................
PPS (Pitch Pattern Sequence)
AO (murmurando) AO (nomeado) AO (murmurando) AO (nomeando)
1 FFG GGF 1 FFG FGG
2 FGG GGF 2 FGF GGF
3 GFG FFG 3 GGF FFG
4 GFF GFG 4 FGG GFG
5 GFF GFF 5 GGF GGF
6 GGF FGF 6 FGG FGG
7 GGF FGF 7 GFG FFG
8 FGF FGG 8 FFG FFG
9 FFG FFG 9 FGG GGF
10 GFF GFF 10 GFF FFG
11 FGG GGF 11 FGF GFG
12 GFG FGG 12 GFG GFG
13 FFG FGG 13 GFF FGF
14 FFG GFG 14 FFG GFF
15 FGF FGF 15 FGF GFG
16 GFG GFF 16 GGF GFG
17 GFF GGF 17 FGF FGF
18 GGF FGG 18 GFF FGG
19 FGF FGG 19 GGF GFF
20 GGF GFG 20 FGF FGF
21 FGF FFG 21 GGF FGG
22 GGF FGG 22 FGF GGF
23 FFG GGF 23 GFG FGG
24 FGF GFG 24 FGG GFF
25 FFG GFG 25 FFG FGF
166
26 FGF FGG 26 GFF FFG
27 FGF FGG 27 FGG GFF
28 GFG GFF 28 GFF GGF
29 GFF GFF 29 FFG GFF
30 FFG GFG 30 GFG GFG
167
ANEXO F
Nome .....................................................Idade ............................Data ..............................
DPS (Duration Pattern Sequence) AO Murmurando AO Nomeando
1 CCL LLC
2 CLL LLC
3 LCL CCL
4 LCC LCL
5 LCC LCC
6 LLC CLC
7 LLC CLC
8 CLC CLL
9 CCL CCL
10 LCC LCC
11 CLL LLC
12 LCL CLL
13 CCL CLL
14 CCL LCL
15 CLC CLC
16 LCL LCC
17 LCC LLC
18 LLC CLL
19 CLC CLL
20 LLC LCL
21 CLC CCL
22 LLC CLC
23 CCL LCC
24 CLC LCL
25 CCL LCL
26 CLC CLL
168
27 CLC CLL
28 LCL LCC
29 LCC LCC
30 CCL LCL
169
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