Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SÓCIO
-
ECONÔMICO
CURSO DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
LUIZ FERNANDO BAHIA BITTENCOURT
AS MAIORES FONTES DE PROBLEMAS DE IMPLANTAÇÃO DE
SOLUÇÕES DE TI EM EMPRESAS: UM ESTUDO DE CASO
FLORIANÓPOLIS
200
7
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Luiz Fernando Bahia Bittencourt
AS MAIORES FONTES DE PROBLEMAS DE IMPLANTAÇÃO DE
SOLUÇÕES DE TI EM EMPRESAS: UM ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em
Adminis
tração pela
Univers
idade Federal de Santa
Catarina no Curso de Pós-Graduação em
Administração, área de concentração em Políticas e
Gestão Institucional.
Orientador: Rolf Hermann Erdmann, Dr.
FLORIANÓPOLIS
2007
ads:
Luiz Fernando Bahia Bittencourt
AS MAIORES FONTES DE PROBLEMAS DE IMPLANTAÇÃO DE
SOLUÇÕES DE TI EM EMPRESAS: UM ESTUDO DE CASO
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Grau de Mestre
em Administração na área de concentração em Políticas e Gestão Institucional do
Curso de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa
Catarina e aprovada, em sua forma final, em
22
de
outubro
de 2007
.
_____________________________
Prof. Dr.
Rolf Hermann Erdmann
Coordenador do Curso
Apresentada à Comissão Exa
minadora composta pelos professores:
________________________________
Prof. Dr.
Rolf Hermann Erdmann
Universidade Federal de Santa Catarina
Orientador
__________________________________
Prof. Dr.
Julio da Silva Dias
Universidade do Estado de Santa Cat
arina
Membro
________________________________
Prof. Dr.
Clóvis Montenegro de Lima
Universidade
Federal de Santa Catarina
Membro
Dedico este trabalho aos meus pais, Luiz Magno
Bahia Bittencourt e Cris
tine Arins
Bit
t
encourt
in
memoriam
pela educação voltada
à
indelével
superação e
ao crescimento contínuo.
Agradecimentos
À
Universidade Federal de Santa Catarina
, pelo
estímulo e suporte para realização deste projeto de
pesquisa; em especial ao Prof
.
Rolf
Hermann
Erdmann
, pelo acompanhamento e orientação.
...
Aos colegas da
IONICS
, principalmente
Plínio
Sombrio e Eduardo Althoff
, que forneceram
informações muito úteis para os resultados e
conclusões da presente pesquisa.
...
Aos consultores entrev
istados, pela ajuda e
respostas à entrevista, mesmo a distância
.
...
Aos amigos e minha namorada
Yuri
, os quais deram
todo apoio
, estímulo
e suporte emocional
fundamentais
em mais esta minha busca pelo
crescimento pessoal, profissional e acadêmico
.
...
F
inalmente, a Deus Pai Todo Poderoso, que sempre
nos ilumina e guarda.
“A vida é uma eterna busca pela felicidade e sabedoria”.
(pensamento que norteia meus planos e ações)
RESUMO
BAHIA BITTENCOURT, Luiz Fe
rnando.
AS MAIORES FONTES DE PROBLEMAS
DE IMPLANTAÇÃO DE SOLUÇÕES DE TI EM EMPRESAS: UM ESTUDO DE
CASO
.
Florianópolis, 2007
.
124
f.
Dissertação (Mestrado em Administração)
Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa
Catarina
.
Orientador: Rolf Hermann Erdmann
O presente trabalho mostra um estudo de caso que analisa o processo de
implantação de um sistema ERP em uma empresa de pequeno porte. Na pesquisa
procurou
-se identificar os graus de importância e de satisfação referentes aos
passos seguidos na implantação de um sistema de gestão integrada em uma
organização, chegando-se aos Fatores Críticos de Insucesso (FCIs) deste projeto,
segundo
modelo teórico utilizado. Os FCIs encontrados foram elencados como as
maiores fontes de problemas de implantação de Soluções de TI, sendo eles: falta de
capacitação da equipe de trabalho interna e externa do projeto; planejamento falho
das novas necessidades de gestão de dados e informação; deficiências na
elaboração e acompanhamento de cronograma físico-financeiro; fraca avaliação dos
impactos técnicos e humanos da implantação; falta de planejamento das
necessidades de treinamento, capacitação e motivação da equipe; falhas na
preparação da mudança organizacional; pouco envolvimento dos patrocinadores do
projeto; falta de motivação constante da equipe; pouca documentação e registro das
etapas do processo de mudança; e problemas na gestão geral do projeto. Tomando
os devidos cuidados com estes fatores críticos, os problemas de implantação serão
certamente minimizados, aumentando as chances de sucesso do projeto como um
todo.
Palavras
-chave: implantação de soluções de TI, Tecnologia da Informação, ERP,
gestão de projetos, administração da mudança organizacional.
ABSTRACT
BAHIA BITTENCOURT, Luiz Fernando. THE MAJOR SOURCES OF
DEPLOYMENT
PROBLEMS OF IT SOLUTIONS
IN
COMPANIES: A CASE STUDY
.
Florianópolis, 2007. F.
124.
Dissertation (Master of Business Administration) - Post-
Graduate
in
Administration Program, Federal University of Santa Catarina
.
Advisor: Rolf Hermann Erdmann
The present master thesis shows a study case that examines a ERP system
implantation process in a small size business. This research tries to identify the
importance and satisfaction levels regarding the steps followed in the deployment of
a enterprise resource planning system into an organization, resulting Critical Factors
of Failure of this project, according to the theoretical model used. The Critical Factors
of Failure found were identified as the main causes of dep
loyment
problems of IT
solutions
. Th
ese
are: lack of training of the internal and external project work team;
deficient planning of the new requirements for the management of data and
information;
shortcomings in preparation and tracking schedule of physical and
financial
resources; weak assessment of the technical and human impacts of the
deployment
process; lack of planning of the training needs, team training and
motivation; flaws in the preparation of organizational changes
;
low
involvement of the
proje
ct sponsors; lack of team motivation; lack of documentation and registration of
the stages of the process of change; and problems in the general project
management. Taking the
appropriate
care of these critical factors, the
difficulties
of
the
implementation will certainly be minimized, increasing the chances of success of
the project as a whole.
Keywords: deployment of IT
solutions,
Information Technology, ERP,
project
management, administration of organizational change.
SUMÁRIO
Lista de Figuras
Lista
de
Quadros
1
INTRODUÇÃO
................................................................................................
......
5
1.1
T
EMA E
P
ROBLEMA
P
ESQUISADO
................................
................................
....................
5
1.2
O
BJETIVOS DO
T
RABALHO
................................
................................
..............................
8
1.2.1
Objetivo Geral
................................................................................................
..................
9
1.2.2
Obj
etivos Específicos:
................................................................................................
......
9
1.3
J
USTIFICATIVA E
I
MPORTÂNCIA DO
T
RABALHO
................................
................................
.9
1.4
E
STRUTURA DO
T
RABALHO
................................
................................
...........................
13
2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIC
O-EMPÍRICA
................................
......................
15
2.1
A
SPECTOS
T
ECNOLÓGICOS
................................................................
..........................15
2.1.1
Dados e Informações
................................................................................................
.....
16
2.1.2
Sistema
................................................................................................
..........................
17
2.1.3
Sistemas de Informação
................................................................................................
17
2.1.4
Tecnologia da Informação
................................................................
.............................
21
2.1.5
A Tecnologia da Informação nas Empresas
................................................................
..
24
2.1.6
Os Sistemas ERP
Enterprise Resource Planning
.......................................................
25
2.1.7
Os Sistemas CRM
Customer Relationship Management
................................
............
30
2.2
A
SPECTOS
O
RGANIZACIONAIS
................................................................
......................32
2.2.1
As Relações Sociais a as Organizações
................................................................
........
32
2.2.2
Os Modelos de Gestão nas Organizações
................................................................
.....
35
2.2.3
Os
“modismos” da Administração e as Organizações Modernas
................................
...
37
2.2.4
Administração da Mudança Organizacional
................................................................
...
39
2.2.5
As “leis” que regulam as Relações de Poder nas Organizações
................................
...
46
2.2.6
As Relações de Poder e Administração da Mudança Organizacional
............................
48
2.2.7
Gerenciamento do Projeto
................................................................
.............................
51
2.2.8
Considerações Finais acerca dos Aspectos Organizacionais
................................
........
53
3
PROCEDIMENTOS METODO
LÓGICOS
................................
...........................
54
3.1
A
BORDAGEM DA
P
ESQUISA
................................
................................
...........................
54
3.2
T
IPOS DE
P
ESQUISA
U
TILIZADOS
................................
................................
..................54
3.3
DEFINIÇÃO DAS VARIÁVE
IS DA PESQUISA
................................
................................
.......56
3.4
D
ELIMITAÇÃO DA PESQUI
SA
................................................................
..........................59
3.5
D
ADOS
,
COLETA E TRATAMENTO
................................
................................
...................60
4 ESTUDO DE CASO –
IONICS
................................................................
...........
63
2
4.1
C
ARACTERIZAÇÃO DA
E
MPRESA E
D
IAGNÓSTICO
O
RGANIZ
ACIONAL
...............................
63
4.2
A
NÁLISE DOS
D
ADOS
................................
................................
................................
....82
4.2.1
Fatores Críticos de Sucesso
................................................................
..........................
86
4.2.2
Fatores Críticos de Insucesso
................................................................
........................
89
4.2.3
Divergências entre
IONICS e Provedor do ERP
................................
..........................
100
4.2.4
Resultados obtidos no estudo de caso na IONICS
................................
......................
104
5
CONCLUSÕES E RECOMEN
DAÇÕES FINAIS
................................
..............
106
REFERÊNCIAS
................................................................................................
........
111
APÊNDICE A
MODELO DE
QUESTIONÁRIO DE IMPO
RTÂNCIA
APENDICE B
– MODELO DE QUESTIONÁ
RIO
DE SATISFAÇÃO
AP
ÊNDICE C
QUADRO DE TABULAÇÃO DAS RESPOSTAS DOS
QUESTIONÁRIOS
3
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1
Janela do Cliente
...............................
.............................................. p. 61
Figura 4.1
Distribuição funcional IONICS em 2007
.......................................... p. 64
Figura 4.2
Janela do Cliente baseada na pontuação de cada item da metodologia
PETI (Rezende, 2003) ex
pandida, na visão da IONICS e da Provedora do ERP
p. 84
4
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1
Metodologia para Elaboração do PETI
.......................................... p. 52
Quadro 4.1
Pontuação de cada item da metodologia PETI (Rezende, 2003)
expandid
a, na visão da IONICS e da Provedora do ERP
dados de origem da
“janela do cliente”
........
.
........................................................................................ p.
83
Quadro 4.2
Itens da metodologia PETI (Rezende, 2003) expandida, n
a visão da
IONICS e da Provedora do ERP, que foram considerados FCIs e FCSs a serem
analisados em profundidade
................................................................................ p. 85
Quadro 4.3
Itens da metodologia PETI (Rezende, 2003) exp
andida que, pela
pesquisa, foram elencados como os FCIs e FCSs deste projeto de implantação de
solução de TI
...................................................................................................... p. 105
5
1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é um estudo de caso que analisa o processo de
implantação de um sistema ERP Enterprise Resource Planning
1
em uma
empresa de desenvolvimento de soluções automatizadas para o mercado de postos
de combustíveis localizada em F
lorianópolis
-
SC
.
Os resultados obti
dos
na coleta de
informações junto aos principais envolvidos no referido projeto de implantação, bem
como observaç
ão
direta
dos principais efeitos dessa mudança de paradigma dentro
da empres
a, formaram a base da pesquisa.
Neste primeiro capítulo será apresentada a pesquisa propriamente dita,
bem como sua relevância e especificidades. Inicialmente será
abordado
o tema
associado ao problema pesquisado, bem como a pergunta que melhor o caracteriza
.
Em seguida estar
ão
elencados
o objetivo geral e
os
específicos
da pesquisa, sua
justificativa
estará comentada no terceiro subitem e, para finalizar,
será
apresentada
a estrutura básica do trabalho.
1.1
T
EMA
E
P
ROBLEMA
P
ESQUISADO
O ambiente empresarial, tanto
no
nível mundial como no nacional, vem
passando por profundas mudanças nos últimos anos, mudanças estas que em
grande parte estão diretamente relacionadas com a tão falada Tecnologia da
Informação
- TI. Essa relação engloba desde o surgimento de novas tecnologias ou
novas aplicações para atender às necessidades do novo ambiente, até o
aparecimento de oportunidades empresariais criadas pelas novas tecnologias ou
mesmo novas formas de aplicação.
Na busca de adaptação de processos e estruturas aos novos paradigmas
impostos pela “economia digital”, as empresas consideram certos aspectos para seu
posicionamento estratégico no mercado. São aspectos relacionados a fornecedores,
1
Planejamento dos Recursos Empresariais
6
clientes, imagem corporativa, vantagem competitiva, atualização, informações, entre
outros, todos observados a partir das dimensões de organização, comunicação e
marketing
. Analisados todos estes aspectos, a grande maioria das organizações
acaba optando por utilizar algum tipo de solução em Tecnologia da Informação, seja
ela mais complexa, como um Sistema de Gestão Integrada, ou menos complexa e
sofist
icada, como uma simples planilha eletrônica para o controle do seu estoque.
Para Souza e Saccol (2003) “durante a segunda metade dos anos 90, a
implementação de sistemas ERP foi um dos principais focos de atenção
relacionados à utilização de Tecnologia da Informação (TI) nas empresas”
(p.19)
.
Porém os autores destacam que embora tenham sido
alardeados
inúmeros
benefícios às empresas que os utilizassem, logo se percebeu que a implantação de
sistemas ERP era uma tarefa muito mais complexa do que uma simples i
nstalação
de um novo
software
na empresa.
As dificuldades de se implantar qualquer sistema informatizado não são
pequenas. Muitos projetos milionários
tropeçam
não na qualidade do
software
ou da
automação adquirida, mas nos aspectos humanos que envolvem pr
incipalmente
uma mudança de cultura organizacional. Souza e Saccol (2003) destacam também
que a tarefa de implementação desses sistemas ERP “envolvia um processo de
mudança cultural, de uma visão departamental da organização para uma visão
baseada em proce
ssos”
(p.20)
.
Partindo dessa origem, um
dos intuitos deste projeto é, via
estudo
de caso
e pesquisas de campo, tirar conclusões relevantes acerca desse novo
posicionamento da tecnologia perante o mundo empresarial, e todas as implicações
dessas mudanças de paradigma. Os elementos deste estudo são inicialmente
identificados a partir da revisão de literatura, e seu aprofundamento parte da análise
de dados quantitativos e qualitativos de entrevistas de pessoas-chave de uma
organização que passou recentemente por um processo mal sucedido de
implantação
de Solução de TI.
Iniciando o projeto de pesquisa em questão, define-se a seguir qual o
assunto e o tema estudados para, a partir deles, formular-se a pergunta que melhor
caracteriza o problema proposto. O
assunto
de que o trabalho trata é a
Implantação
de Soluções em Tecnologia da Informação TI, e o tema pesquisado é a busca das
7
maiores fontes de problemas de implantação de Soluções de Tecnologia da
Informação
.
É de conhecimento comum que os recursos tecnológicos, atualmente,
formam a base de apoio à tomada de decisão de grande parte das empresas
competitivas. Os “pacotes” computacionais oferecidos pelo mercado são abundantes
e geralmente bem completos, porém o sistema propriamente dito inclui-se o
modus
ope
randi
daquela organização deve estar focado nas reais demandas de
informatização dos processos de cada área da empresa. Caso contrário, esforço e
recursos financeiros aplicados na informatização de uma sistemática de trabalho
serão, na maioria das vezes,
desperdiçados.
Todo este panorama complexo remete a pesquisas na área de
Implantação de Soluções de Tecnologia da Informação TI. Problemas em projetos
nesta área existem. Os casos são diversos e de notoriedade mundial, a exemplo de
empresas como Petrobrás e Ipiranga, casos estudados pelo pesquisador e que
serão mencionados logo
à frente, bem como
diversas outras grandes empresas que,
no sentido de informatizarem seus modelos de gestão (ou mesmo ao migrarem de
um sistema a outro) passaram por complicações tamanhas que chegaram a ficar
dias sem faturar; p
rejuízos imensuráveis,
decorrentes de especificações incompletas
e projetos de implantação mal concebidos.
Depois de contextualizados o assunto a ser estudado e seu tema
específico, a pergunta de pesquisa que norteará todo o desenvolvimento do projeto
em questão, bem como o escopo que este contempla, pode ser formulada. A
pergunta
que melhor caracteriza o problema de pesquisa é, portanto
:
“Quais as
maiores fontes de problemas de implantação de Soluções de Tecnologia da
Informação em empresas de
pequeno porte
”?
Na busca de respostas possíveis a esta pergunta, o estudo aqui
apresentado mergulha em fatores influenciadores des
s
es projetos de implantação de
Soluções de TI. A metodologia de pesquisa utilizada
,
melhor detalhada no capítulo
3, é
de
confrontar teoria registrada em bibliografia específica, tanto em artigos
técnicos, dissertações e livros, com a prática de implantações realizadas
no
ambiente
empresarial
,
mais especificamente com o estudo de caso de uma
organização que passou pela
experiência
de
implantação de solução de TI.
8
A partir do problema proposto é possível estabelecer hipóteses que
respondam ao questionamento apresentado. Para Lakatos e Marconi (1985),
hipótese constitui uma suposta, provável e provisória resposta a um problema cuja
adequação será verificada através da pesquisa. o fontes para elaborar hipóteses:
observação, comparação com outros estudos, dedução lógica de uma teoria, cultura
geral que a ciência desenvolve, analogias, experiência pessoal, casos
discrepantes
na própria teoria.
Assim sendo, são expostas a seguir as hipóteses de resposta ao
pr
oblema da pesquisa. A hipótese básica que no início da pesquisa, para o
pesquisador, melhor responderia à pergunta de pesquisa, é
:
“A especificação das
necessidades dos usuários e a gestão do projeto de implantação da solução de
Tecnologia da Informação são as principais fontes de problemas na condução
destes projetos, uma vez que equívocos na condução do processo de análise de
sistemas e na implantação podem
se
refletir no fracasso do projeto mesmo antes de
ele estar concluído”.
Duas
hipóteses secundárias também surgem do material lido e das
experiências
vividas
em empresas que passaram por este processo de implantação
de Solução de TI. A primeira delas é:
“Os
fatores humanos envolvidos em uma
implantação de solução de Tecnologia da Informação, como administração da
mudança e relações de poder dentro das organizações, é que são as maiores fontes
de problemas de implantação de Soluções de T
I.
” A segunda é: “Os aspectos
técnicos envolvidos em uma implantação de solução de Tecnologia da Informação,
como funcionalidades de
software
s e configuração de máquinas, é que são as
maiores fontes de problemas de implantação de Soluções de TI.”
A partir da hipótese básica e das secundárias como possíveis respostas
para o problema de pesquisa, define-se abaixo o objetivo geral e os específicos do
trabalho.
1.2
O
BJETIVOS DO
T
RABALHO
Com o intuito de delinear a pesquisa proposta, apresentam-se a seguir os
objeti
vos, o geral e os específicos, do estudo em questão.
9
1.2.1
Objetivo Geral
“Analisar quais as
maiores
fontes de problemas de implantação de
Soluções de Tecnologia da Informação em empresas de
pequeno porte
1.2.2
Objetivos Específicos
:
a)
Identificar os graus de importância e de satisfação referentes aos passos
seguidos
na
implantação de um sistema de gestão integrada (ERP) em uma
organização de
pequeno porte
;
b)
Analisar os Fatores Críticos de Sucesso (
FCSs
) e os Fatores Críticos de
Insucesso (
FCIs
) deste projeto de implantação de solução de Tecnologia da
Informação.
1.3
J
USTIFICATIVA E
I
MPORTÂNCIA DO
T
RABALHO
A Tecnologia da Informação (TI) configura-se a cada dia como elemento
mais relevante e decisivo no mundo dos negócios. O ambiente empresarial tem
passado por profundas mudanças, em parte provocadas pelas novas exigências
estabelecidas pelo mercado globalizado, noutra parte pelas surpreendentes
possibilidades proporcionadas pelas inovações tecnológicas e suas respectivas
soluções para o tratamento das informações – as Soluções em Tecnologia da
Informação. Estão disponíveis pacotes mais ou menos sofisticados, dependendo das
necessidades e da capacidade de investimento da organização, e pouco ou muito
complexos, vinculando neste último caso a aquisição da solução ao minucioso
tr
abalho de consultores especializados em sua implantação. Erdmann (1998)
destaca a importância
de
“que se realize um diagnóstico da situação específica na
empresa e, a partir disto, se conceba um sistema adequado a situação específica”
(p. 127)
.
Tem
-se constatado na prática que nem todas as necessidades das
organizações são facilmente atendidas pelas soluções que se encontram atualmente
no mercado; ao menos não em sua totalidade. Viu-se nessa dificuldade uma
oportunidade de estudo. As soluções em TI disponíveis no mercado vêm
respondendo de maneira adequada à demanda das organizações modernas?
10
No sentido de responder
tal
p
ergunta
este
pesquisador realizou,
durante
seu curso de especialização em Gestão da Tecnologia da Informação na
FAE
Business School
2
, pesquisa fundamentada em estudos de casos de implantação de
soluções em TI em grandes empresas. O intuito principal foi verificar se o problema
do insucesso de alguns projetos de TI est
ava
centrado na falta de boas opções de
soluções no mercado, ou em fatores mais subjetivos e
abstrusos
principalmente
relacionados aos aspectos humanos do desenvolvimento de um projeto, como sua
gerência ou mesmo a administração da mudança organizacional.
Para delimitar o escopo da pesquisa, o estudo esteve focado nas
soluções ERP (
Enterprise
Resource Planning Planejamento dos Recursos
Empresariais), uma vez que se trata de uma solução bastante complexa e sua
implantação envolve a organização como um todo. O caso principal, o qual forneceu
resultados mais expressivos para as conclusões da pesquisa, foi a implantação de
uma solução ERP da J.D.Edwards na Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga,
na
época
a segunda maior distribuidora de combustíveis do país, contando com mais
de 5.600 postos revendedores sob sua bandeira.
A dificu
ldade em avaliar os resultados da implantação de uma Solução em
TI, em particular um Sistema ERP, mostra-se relativamente grande. Análises de
desempenho, confrontando custos diretos e indiretos, lucro, faturamento e outros
indicadores podem não ser a medida ideal para a mensuração do sucesso ou não
de uma implantação. Um ERP não apenas propicia redução de custos, mas
possibilita alguns ganhos que normalmente não são explicitados pelos indicadores
econômicos e financeiros. Vantagens como facilidade de comunicação, agilidade
perante as mudanças de mercado e da concorrência, flexibilidade no atendimento
aos clientes, redução dos custos e prazos de lançamento de produtos
,
dentre outros,
apresentam em sua avaliação elementos essencialmente qualitativos, o que tor
na
ineficaz a simples análise financeira clássica (quantitativa). Muitas vezes não se trata
de implantar para aumentar o lucro ou o faturamento, e sim implantar o sistema para
não sair do mercado.
Para estabelecer critérios de avaliação das informações levantadas nos
estudos de caso foram estabelecidas algumas premissas básicas, as quais se
2
Conceitu
ada escola de Administração de Empresas, Economia e Contabilidade, vinculada ao Colégio Bom Jesus e localizada
no centro de Curitiba
-
PR. O estudo foi realizado de agosto de 2002 a julho de 2003.
11
dividiam
em aspectos relacionados à empresa, à solução utilizada, à implantação e
aos resultados. Foram 25 itens que resumiam como uma empresa um projeto de
implantaç
ão de solução em TI.
Pela análise das respostas aos 25 itens, para o caso específico da
Ipiranga, percebeu
-se que o projeto de implantação da Solução ERP na organização
alcançou sucesso apenas parcial. Apesar de muitos ganhos serem constatados em
diversas
funções da empresa, concluiu-se que não foi boa a aceitação das
mudanças por parte do corpo funcional da organização e os ganhos de agilidade e
flexibilidade não alcançaram os patamares esperados.
No Brasil, as soluções ERP ofertadas no mercado e as empresas de
assessoria e consultoria para sua implementação configuram uma gama de opções
muito grande. Apesar de o grau de desenvolvimento desses prestadores de serviço
no país não atingir o patamar encontrado em nações ditas de primeiro mundo, de
maneira geral
os requisitos desejados pelas organizações que procuram soluções de
planejamento de recursos empresariais são plenamente atendidos. O grau de
adaptação da solução à empresa (ou o grau de “customização”) é que depende
muito do montante que ela está disposta a investir no projeto. Quanto maior a
customização, maior o custo de implantação. No particular do projeto da Ipiranga, a
empresa optou pelo mínimo de customização, adaptando seus processos internos
às configurações da solução escolhida.
Outra conc
lusão
do
estudo desenvolvido, em relação aos aspectos
humanos,
informa que
quanto menor o envolvimento dos colaboradores da empresa,
maior a chance de insucesso do projeto
.
Apesar de a Ipiranga montar uma equipe
preparada e motivada para o gerenciamento do projeto, o baixo envolvimento e
conhecimento do restante da organização acerca do projeto, assim como a falta de
treinamento e capacitação dos usuários para posterior utilização da solução,
resultaram inicialmente em problemas tanto no referente à aceitação das mudanças
pelo corpo de colaboradores quanto à operação do sistema.
O projeto ERP Ipiranga comprovou a hipótese, portanto, de o quanto são
importantes aspectos comportamentais em uma implantação de solução em TI.
Melhorias de produtividade, controle e agilidade foram obtidas, porém às custas de
tensão interna excessiva, do não cumprimento de fases do cronograma planejado e
também de muitos gastos adicionais que não estavam previstos. O mais
12
surpreendente, guardadas as devidas proporções de porte dos projetos, é que a
mesma Ipiranga implantou, de meados de 1999 ao início de 2000, uma solução
CRM (Customer Relationship Management
3
), projeto que reconhecidamente obteve
sucesso pleno, tanto se analisado qualitativa quanto quantitativamente. Os frutos
são colhidos até hoje, com eficiência e eficácia extraordinárias no atendimento dos
clientes da Central Digital Ipiranga. Uma implantação bem projetada e executada,
com envolvimento total da equipe e da organização.
A partir de todo esse estudo realizado em 2003, foi possível chegar-se a
algumas conclusões relevantes. Projetos da envergadura apresentada envolvem
gestão ordenada de muitas variáveis e pessoas, devendo ser realizado, portanto, de
maneira
planejada
e monitorada. A implantação de uma Solução de TI não é um
novo projeto de
software
ou implantação de sistema. É uma nova maneira de
organizar e conduzir o negócio da empresa. É necessário um redesenho dos
processos, freqüentemente alto investimento em
hardware
,
software
e
principalmente em treinamento. Funções em duplicidade e fluxos de informação mal
definidos precisam ser eliminados. O sistema ERP será um espelho da prática
empresarial, portanto as ações e processos organizacionais devem estar alinhados
às suas estratégias. O sucesso e o futuro retorno do projeto dependem de que a
empresa, nas figuras de sua diretoria, de sua gerência e de seus empregados,
entenda essa realidade e aceite promover as mudanças culturais e estruturais
necessárias.
A implantação é bastante complexa e sujeita a turbulência, em razão das
mudanças provocadas na empresa. Todos esses riscos podem ser minimizados com
a seleção adequada do fornecedor do sistema, de um bom projeto e um bom
gerenciamento, principalmente das mudanças da cultura organizacional. O bom
desempenho no uso de um sistema ERP depende, é evidente, da adequação da
solução tecnológica adotada. Mas não é suficiente. está acontecendo
convergência para um
design
dominante entre versões de sistemas ERP, pois as
inovações de uma solução são rapidamente incorporadas nas outras por seus
respectivos fornecedores. Os aspectos comportamentais e de implantação têm
demonstrado maior peso no sucesso de uma implantação que os aspectos
tecnológicos.
3
Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente
13
Pelo estudo realizado foi possível constatar, portanto, que falhas no
processo de implantação podem comprometer substancialmente as possibilidades
de sucesso do projeto, com impactos nos custos e também na credibilidade do novo
sistema. O gerenciamento da implantação deve ser conduzido por pessoas que
entendam a mudança organizacional, de preferência com pessoal interno da própria
organização, ou utilizando a capacitação externa, ou mesmo de consultores
externos, de acordo com a necessidade.
Por fim cabe lembrar que o ERP, assim como qualquer Solução em TI,
melhora a eficiência operacional da empresa. Mas a conquista de novos clientes e
mercados, o desenvolvimento de novos produtos, enfim, o aumento de faturamento
são tarefas da estratégia adotada pela empresa, do conhecimento das necessidades
dos clientes e da habilidade de conduzir a organização, com toda a complexidade
das relações entre clientes internos, externos, fornecedores e parceiros, para o
sucesso no mercado globalizado. Trata
-
se apenas de ferramentas, mas é necessário
saber usá
-
las de maneira adequada.
Como resultado geral do estudo realizado
comprovou
-
se
a hipótese
básica da pesquisa, ou seja, as soluções em TI disponíveis no mercado estão
respondendo de maneira satisfatória à demanda das grande organizações, porém as
metodologias de implantação dessas soluções nas organizações, por se mostrarem
inadequadas, acabam por refletir no insucesso do projeto como um todo.
Após essa pesquisa, que analisou a implantação de um ERP em uma
grande empresa, com faturamento bilionário, ficou a lacuna que motivou a presente
pesquisa, caracterizada pela pergunta mencionada no item anterior: “Quais as
maiores fontes de problemas de implantação de Soluções de Tecnologia da
Informação em empresas de pequeno porte”? É necessário mapear essas fontes de
problemas nas implantações de soluções em TI em empresas de pequeno porte, no
sentido de evitar estes problemas em projetos futuros. está a grande relevância
prática e aplicabilidade do estudo
proposto
a empresas des
s
e porte.
1.4
E
STRUTURA DO
T
RABALHO
O presente trabalho segue a seguinte estrutura básica: inicialmente, no
capítulo um, foram abordados aspectos introdutórios como tema, problema de
14
pesquisa
, objetivos e justificativa do trabalho. Em seguida, na fundamentação
teórico
-empírica do capítulo dois, os dois pilares fundamentais do trabalho s
er
ão
tratados separadamente: aspectos tecnológicos e aspectos organizacionais, ambos
embasando a seqüência do trabalho. O terceiro capítulo
irá
exp
or
a metodologia
utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, mencionando os procedimentos e
instrumentos utilizados para realização do trabalho. O capítulo quatro
trará
os
principais resultados da pesquisa realizada na empresa em estudo e uma discussão
breve sobre cada um desses resultados. São tratadas todas as conclusões do
trabalho realizado, identificando os Fatores Críticos de Sucesso (
FCSs
) e os Fatores
Cr
íticos de Insucesso (
FCIs
) dess
e projeto de implantação de solução de Tecnologia
da Informação. Finalmente, no capítulo cinco, s
er
ão apresentadas as conclusões
finais do estudo, bem como as principais recomendações para possíveis novas
pesquisa nessa linha.
15
2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIC
O-
EMPÍRICA
Descrevem
-se a seguir informações relevantes que servem como
premissas para o estudo realizado. Como se trata de um tema atual, parte do
material reunido é fruto de pesquisas em revistas, jornais e na rede mundial de
computadores, porém todos referenciados adequadamente, assim como os
conceitos obtidos em livros de publicação convencional.
Este embasamento teórico divide-se em dois tópicos principais: aspectos
tecnológicos, sobre os quais são brevemente abordados os temas Dados,
Informação, Sistemas, Sistemas da Informação, Tecnologia da Informação, Internet,
sistemas ERP e CRM; e aspectos organizacionais, onde são mais detalhadamente
tratados temas relacionados com as estruturas sociais nas organizações, modelos
de gestão e seus ditos “modismos”, mudança organizacional e as relações de poder
nas organizações, gerenciamento de projetos, dentre outros.
2.1
A
SPECTOS
T
ECNOLÓGICOS
A Tecnologia da Informação vem se mostrando fator decisivo no mundo
dos negócios algum tempo. O ambiente empresarial, tanto
no
nível mundial
como
no
nacional, tem passado por profundas mudanças nos últimos anos, as quais
têm sido consideradas diretamente relacionadas com a TI. Essa relação engloba
desde
o surgimento de novas tecnologias para atender às necessidades do novo
ambiente, até o aparecimento de oportunidades empresariais criadas pelas novas
tecnologias.
As empresas, atentas à competitividade do mercado, buscam adaptar-
se
às novas tecnologias, direcionando seus interesses a identificação de soluções que
permitam estabelecer e manter vantagem competitiva. Nesta primeira parte do
capítulo 2 serão abordados inicialmente conceitos que
formam
a base teórica do
trabalho, explanando alguns termos-
chave
para o presente estudo, como: dados,
16
informação, sistemas, sistemas de informação e tecnologia da informação. Na
seqüência são exploradas as ligações entre tecnologia da informação e seus usos
nas organizações e no mercado em geral, abordando inclusive a Internet como
ambiente de desenvolvimento de negócios.
2.1.1
Dados e Informações
Segundo Stair (1998), “informação é um conjunto de fatos organizados de tal
forma que adquirem valor adicional além do valor do fato em si.” (p.4). É importante
que se diferenciem os termos “informação” e “dado”, que o primeiro tem caráter
qualitativo enquanto o outro meramente quantitativo. Stair (1998) faz ess
a
comparação ao expor que dados são fatos em sua forma primária. Para o autor os
dados são matérias-primas que compõem a informação. “A informação é criada
definindo
-se e organizando as relações entre os dados” (STAIR, 1998, p.5). O autor
conclui que a informação traz a possibilidade
de
melhor tomada de decisão por parte
de um corpo diretivo em uma organização, dada sua capacidade de ser precisa e
completa.
Assim sendo, mostra-se de grande importância para as organizações a
utilização inteligente dos dados e sua transformação em informações. Esta
transformação é o principal intuito de um sistema de Tecnologia da Informaçã
o
- TI.
Stair (1998) ressalta que sem
tal
capacidade de gerir dados, no intuito de
transformá
-lo em informação utilizável na tomada de decisão, sistema de TI algum
teria finalidade para a organização.
Norton (1996), Stair (1998), Laudon e Laudon (1999) (
apud
REZENDE E
ABREU, 2000) ressaltam que a gestão de dados compreende a guarda dos dados, a
recuperação deles bem como os níveis e controles de acesso sobre os mesmos. A
gestão de dados, segundo Rezende e Abreu (2000), compreende a chamada “chave
dos dados”, que serve como referência de acesso, e a utilização de um sistema de
gerenciadores de banco de dados que permitam melhor precisão no trabalho com
informações.
17
2.1.2
Sistema
Outro conceito relevante ao assunto da pesquisa é o de sistema. “Sistema é
um conjunto de elementos ou componentes que interagem para se atingir objetivos”
(STAIR, 1998, p.6). O autor destaca que os sistemas são compostos por entradas,
processamentos, saídas e
feedback
.
Chiave
nato (2001) foi um dos principais autores
a
trata
r
da Teoria Geral dos
Sistemas, e parte de três premissas básicas: sistemas existem dentro de sistemas,
sistemas são abertos, e as funções de um sistema dependem de sua estrutura. O
autor explica os porquês destas três premissas, frisando que existem dentro de
out
ros sistemas sempre componentes de algo maior, como células de homens,
homens de comunidade, comunidades de cidade, estados ou países e assim por
diante; todos estes sistemas são abertos e inter-relacionados, visto seu intenso
interc
âmbio com o meio em que estão inseridos e suas estruturas totalmente
interdependentes.
2.1.3
Sistemas de Informação
Todo sistema, usando ou não recursos de Tecnologia da Informação, que
“manipula e gera informação pode ser genericamente considerado Sistema de
Informação” (REZENDE e ABREU, 2000, p. 60). É possível se partir, portanto, da
premissa de que qualquer entrada, processamento, saída e consequentemente
feedback
de informação, será por sua vez um Sistema de Informação.
Stair (1998) define Sistema de Informação como sendo “uma série de
elementos ou componentes inter-relacionados que coletam (entrada), manipulam e
armazenam (processo), disseminam (saída) os dados e informações e fornecem um
mecanismo de
feedback
” (p.11).
Rezende e Abreu (2000) destacam que os Sistemas de Informação possuem
objetivos, foco e características. Como objetivos, os autores frisam o fato de serem
auxiliar
es da tomada de decisão; como foco, os Sistemas de Informação buscam
atuar de forma a ter como alvo o negócio da empresa, e são caracterizados po
r:
18
grande volume de dados e informações; complexidade de processamentos; muitos
clientes e/ou usuários envolvidos; contexto abrangente, mutável e dinâmico;
interligação de diversas técnicas e tecnologias; suporte à tomada de decisões
empresariais; auxílio
na qualidade, produtividade e competitividade organizacional.
Oliveira e Stair
(
apud
REZENDE e ABREU, 2000) colocam que:
“O aprendizado em Sistemas de Informação ajuda tanto em termos
pessoais como profissionais. De acordo com seu entendimento,
ajuda também as empresas. Um Sistema de Informação é eficiente
por ter um grande impacto na estratégia corporativa e no sucesso da
empresa. Esse impacto pode beneficiar a empresa, os clientes e/ou
usuários e qualquer indivíduo ou grupo que interagir com os
Sistemas de Informação”. (OLIVEIRA e STAIR
apud
REZENDE e
ABREU, 2000, p. 63).
Stair (1998) argumenta
que
o Sistema de Informação pode vir
ao
encontro d
a
resolução de um problema organizacional, em se considerando fatores-chaves. O
autor coloca que estes fatores são: os objetivos da decisão que estão diretamente
vinculados às metas da empresa; as alternativas aumentadas, frente à vasta
possibilidade de escolhas na hora de uma tomada de decisão; a competição, que
se
encontra
cada vez mais acirrada; a criatividade, levando-se em conta a capacidade
de gerar novas idéias; ações sociais e políticas, que as mesmas têm profundo
impacto na tomada
de decisão
; aspectos in
ternacionais, em se tratando de época
de
mercado
globaliza
do
; tecnologia, em se tratando
com
os avanços aos quais viemos
nos deparando; e, por fim, a pressão do tempo, pois os acontecimentos se dão
rapidamente e os impacto
s d
a demora de uma decisão são imensos.
2.1.3.1
Classificação de Sistemas de Informação
Existe uma gama de sistemas de informações direciona
do
s a cada área da
empresa, bem como para cada necessidade de decisão. Os mais discutidos por
autores pesquisados são a seguir apresentados.
a) Sistemas de informações operacionais
19
Também conhecidos como sistemas de processamento de transações,
são
siste
ma
s para decisões em níveis operacionais. Segundo Stair (1998), “é o sistema
de processamento de transações que o apoio à monitoração e à realização das
negociações de uma organização e gera e armazena dados sobre estas
negociações.” (p.182). Rezende e
Abreu (2000) ainda completam
,
afirmando que
por
eles se “controlam os dados detalhados das operações das funções empresariais
imprescindíveis ao funcionamento harmônico da empresa, auxiliando a tomada de
decisão do corpo técnico das unidades departamentais
” (p.133).
Stair (1998) complementa, mencionando os componentes de um sistema de
informações operacionais, quais sejam: entrada e alimentação de dados;
p
rocessamento e armazenamento; geração de documentos e relatórios.
b) Sistemas de informações gerenci
ais
A finalidade principal de um SIG (Sistema de Informação Gerencial) é ajudar
uma organização a atingir suas metas, fornecendo aos administradores uma visão
das operações regulares da empresa, de modo que as possam “controlar, organizar
e planejar mais eficaz e eficientemente” (STAIR, 1998, p. 208). Stair (1998) ainda
complementa que o SIG é uma ferramenta que fornece o devido
feedback
para a
tomada de decisão empresarial.
Rezende e Abreu (2000) expõem que um SIG “contempla o processamento
de grupos de
dados das operações e transações operacionais, transformando
-
os em
informações agrupadas para gestão”
(p.134). O SIG, de maneira geral, age no intuito
de melhorar o fluxo de informações na organização ape
rfeiçoando sua utilização
.
“Embora o aumento da eficiência global do SIG seja importante,
todos os administradores (incluindo os gerentes de S.I.) devem
considerar que um importante papel do SIG é aperfeiçoar a eficácia
através do fornecimento da informação certa à pessoa certa da
maneira certa e no momen
to certo.” (STAIR, 1998, p. 209).
Rezende e Abreu (2000) destacam que o SIG apresenta as informações de
forma consolidada, tal como percentual, valores totais, acumuladores etc.
c) Sistemas de informações estratégicas
20
Como terceiro patamar de sistemas de informações, um fornecendo subsídio
ao outro, obtém-se os sistemas de informações estratégicas. Sistemas de
informações estratégicas contemplam o “processamento de grupos de dados das
operações e transações gerenciais, transformando-os em informações e
stratégicas”
(REZENDE e ABREU, 2000, p. 135).
Rezende e Abreu (2000) ainda
acrescentam
que os sistemas de informações
estratégicas agem de forma macro, sendo sempre relacionados ao ambiente interno
ou externo à empresa.
Habitualmente trabalham com muitas “informações gráficas, amigáveis e
normalmente
on
-
line
, observando as particularidades de cada empresa e, ainda,
como opção de descer no nível de detalhe da informação” (REZENDE e ABREU,
2000, p.135).
2.1.3.2
Organizações e Sistemas de Informação
Quanto aos conceitos iniciais mencionados acima, é interessante destacar a
ligação que possu
em
com as organizações. Stair (1998) expõe que a organização é
um sistema composto por pessoas, dinheiro, materiais e outros, sendo que a
ela
ainda possui um emaranhado de processos concernentes a cada atividade
executada. O autor faz a ligação direta entre processos organizacionais e Sistemas
de Informações, haja visto que estão “com freqüência tão intimamente entrelaçados
ao processo subjacente de valor adicionado que são considerados mais como parte
do processo em si. Dessa perspectiva, o sistema de informação seria interno ao
processo, e seu papel integral dentro desse, seja fornecendo entrada, auxiliando na
transformação do produto ou saída.” (STAIR, 1998, p.27).
Integrado aos processos internos da empresa, Rezende e Abreu (2000, p.32)
citam os enfoques possíveis dos sistemas nas empresas:
Ferramentas para exercer o funcionamento das empresas e de sua intrincada
abrangência e complexidade;
Instrumentos que possibilitam uma avaliação analítica e, quando necessária,
sintética das empresas;
21
Facilitadores dos processos internos e externos com suas respectivas
intensidades e relações;
Meios para suportar a qualidade, produtividade e inovação tecnológica
organizacional;
Geradores de modelos de informações para auxiliar os processos decisórios
empresariais;
Produtores de informações oportunas e geradoras de conhecimento;
Valores agregados e complementares à modernidade, perenidade,
lucratividade e competitividade empresarial.
Em se tratando de um sistema de informação, para que se obtenha êxito em
tal enfoque mencionado por Rezende e Abreu (2000) algumas adaptações da
organização serão necessárias. Para Bahia Bittencourt (2003), as empresas “devem
examinar e talvez redesenhar por inteiro seu processo de negócio permitindo a
união das práticas e processos existentes com a nova tecnologia.” (p. 16)
2.1.4
Tecnologia da Informação
No cenário da presente pesquisa se faz imprescindível destacar o conceito de
Tecnologia da Informação. Rezende e Abreu (2000) conceituam Tecnologia da
Informação como sendo os “recursos tecnológicos e computacionais para geração e
uso da informação” (p. 76). Cruz (
apud
REZENDE e ABREU, 2000) explana que
Tecnologia da Informação é qualquer sistema capaz de tratar com dados ou
informações que pode estar sendo aplicado ao produto ou até mesmo ao processo.
Rezende e Abreu (2000) ainda comentam o fato de que a Gestão de Tecnologia da
Informação deve ter tecnologia que seja capaz de comportar as necessidades da
organi
zação no que tange a
hardware
, a
software
e aos aplicativos ou Sistemas de
Informação.
Nesta mesma vertente, Bahia Bittencourt
(2003)
destaca que:
“A organização da empresa deve ser combinada com a TI para
refletir todos os componentes da visão estratég
ica (estratégias de
negócios, de organização e tecnologias), bem como o alinhamento
e integração destes, levando em conta fatores ambientais. O uso
da TI permite que as cooperações estabelecidas no ambiente
22
empresarial possam ter uma dimensão global, o que
supera os
limites de tempo e distância entre as organizações parceiras, ou
entre a empresa e o cliente.” (p.10).
Para que seja mais bem compreendido este conceito, a seguir serão tratados
seus componentes com as considerações dos autores pesquisados.
2.1.4.1
Hardware
e dispositivos periféricos
Assim como mencionado anteriormente, o
hardware
é um dos componentes
de um sistema de Tecnologia da Informação. Discorrê-lo se faz necessário ao
entendimento do todo. Stair (1998) coloca que
hardware
é toda a “maquinaria” que
dê assistência a um sistema (entrada, processamento e saída)
.
Pa
ra
NORTON
,
STAIR e LAUDON e LAUDON (
apud
REZENDE e ABREU, 2000)
:
“São conjuntos integrados de dispositivos físicos, posicionados por
mecanismos de processamento que utilizam eletrônica digital,
usados para entrar, processar, armazenar e sair com dados e
informação. A reunião de um subsistema de computador bem
balanceado exige uma compreensão de sua relação com o Sistema
de Informação e a empresa, onde os objetivos dos
computadores
são
complementar a
solução integral.”
(
p.77).
2.1.4.2
Software
s aplicativos e linguagens de programação
O segundo componente de um sistema de Tecnologia da Informação é o
Software
.
Software
consiste em um programa de computador que controla o
trabalho do
hardware
, juntamente com a documentação usada para explicar o
programa ao usuário” (STAIR, 1998, p.78).
Stair (1998) salienta que
Software
de sistemas é o conjunto de programas
destinados a dar apoio ao sistema global do computador coordenando as atividades
do
h
ardware
e de vários programas de computador” (p.76). ainda de se citar o
conceito de linguagens de programação, que são os formadores dos
software
s. Stair
(1998) define linguagens de programação como sendo a simbologia agrupada no
intuito de escrever códigos de programas. Tanto os programas de
software
de
23
sistemas quanto
os
aplicativo
s são escritos em esquemas de códigos chamados
linguagens de programação.
Rezende e Abreu (2000)
definem
os objetivos de uma linguagem de
programação como sendo um desenho de códigos que permitem o fornecimento de
instruções no intuito de que o computador possa executar uma atividade de
processamento e atingir um objetivo. Stair (1998) também trata do assunto,
afirmando que “a função principal de uma linguagem de programação é fornecer
instruções ao sistema de computador para que este possa executar uma atividade
de processamento e atingir um objetivo ou solucionar um problema” (p. 78).
2.1.4.3
Sistemas de telecomunicações
Os sistemas de telecomunicações aparecem como mais um co
mponente
de
um sistema de Tecnologia da Informação. Rezende e Abreu (2000) explicam que as
comunicações podem ser definidas como as transmissões de sinais por um meio
qualquer, de um emissor para um receptor. As telecomunicações referem-se à
transmissão eletrônica de sinais para comunicações, inclusive meios como telefone,
rádio e televisão. As comunicações de dados são um subconjunto especializado de
telecomunicações que se referem a coleta, processamento e distribuição eletrônica
de dados
,
normalmente ent
re os dispositivos de
hardware
de computadores.
Stair (1998) ainda comenta a integração de sistemas auxiliados por sistemas
de telecomunicações. Uma importante função de qualquer sistema de
telecomunicações é a intensificação da integração dos sistemas. “A integração dos
sistemas se refere à conexão e junção de vários subsistemas” (
STAIR, 1998,
p.149).
É importante ainda, em relação a sistemas de telecomunicações, detalhar
as funções de sistemas de redes de comunicações de dados. Como rede pode-
se
entende
r a conexão de vários computadores e periféricos. Rezende e Abreu (2000)
destacam que as redes de computadores é que permitem o compartilhamento de
informações, aplicativos, periféricos, dentre outros. Os autores ainda completam,
frisando que a comunicação de dados nada mais é que a transmissão de dados por
meios eletrônicos entre computadores e seus recursos utilizados.
24
Para completar estes pressupostos
mencionados
por Rezende e Abreu
vale citar Stair (1998), o qual expõe o conceito de
software
de comunica
ção
como
sendo
o elo entre as diversas redes existentes. “O
software
de comunicação fornece
inúmeras funções importantes em uma rede. A maioria dos pacotes de
software
de
comunicações oferece verificação de erro e formatação de mensagens” (
STAIR,
1998,
p.1
56).
2.1.5
A Tecnologia d
a
Informação nas Empresas
A Tecnologia da Informação tem se difundido rapidamente nas empresas
em todo
o
mundo, assumindo um papel cada vez mais estratégico nas organizações
e atingindo praticamente todos os setores das empresas. Vários autores, entre eles
TAPSCOTT (1997) e MARTIN (1998), algum tempo estão enfatizando a
necessidade de adaptação das empresas às novas tecnologias, que precisam estar
preparadas para sobreviver num ambiente onde os paradigmas são continuamente
quebrado
s e a concorrência surge dos mais insuspeitos cantos, em geral com força
inesperada.
Para TAPSCOTT (1997), o conjunto de tecnologias disponíveis produziu
um grande impacto na economia mundial, permitindo que a TI seja cada vez mais
aplicada em todos os ramos da atividade humana. Segundo o autor, sua utilização
tem contribuído para o sucesso e a sobrevivência da maior parte das organizações,
o que determina que todas elas devam considerar novas oportunidades de melhoria
de
bens
ou serviços, identificação de novos mercados, inovações tecnológicas e
melhoria em suas posições competitivas usando TI.
Para Wang (1997)
,
as contribuições da TI para as organizações são vistas
como a melhoria da eficiência por intermédio de processos e
da
qualidade de
serviços, a determinação de limite nas organizações (manipulação de relações com
o ambiente) e a coordenação de relações entre unidades organizacionais. Percebe-
se, portanto, que em 1997 Wang previa a extrema dependência que as empresas
modernas passaram a ter dos
lin
ks
, ou conexões virtuais, entre matriz e filial, para
serem geridas
on
-
line
, em tempo real
.
25
A organização da empresa, entretanto,
deve
sempre
estar
combinada
com a TI para refletir todos os componentes da visão estratégica, bem como o
alinhamento e integração destes, levando em conta fatores ambientais. O uso da TI
permite que as cooperações estabelecidas no ambiente empresarial possam ter
dimensão global, o que supera limites de tempo e distância entre organizações
parceiras, ou entre a empresa e o cliente
.
2.1.6
Os Sistemas ERP
Enterprise Resource Planning
De maneira bem simples, um sistema ERP
(
Enterprise Resource Planning
ou Planejamento dos Recursos Empresariais) pode ser definido como uma
ferramenta estratégica que equipa a empresa com as capacidades de integrar e
sincronizar funções isoladas, em processos otimizados, para se obter vantagem
competitiva em um turbulento ambiente de negócios.
Os sistemas ERP têm origem a partir de uma série de evoluções
tecnológicas e conceitos de gestão. Nos anos 50 e 60 o enfoque era em estoques,
na década de 70 surgiu o MRP (Material Requeriment Planning ou Planejamento
das Necessidades de Materiais), que implementava o planejamento futuro de uso de
matérias primas e das etapas produtivas. Nos anos 80, o MRP evoluiu para
o MRP II
(Manufacturing Resource Planning ou Planejamento dos Recursos de Manufatura)
que incorporou ao anterior
a
s necessidades dos demais recursos de produção, como
mão
-
de
-obra, máquinas e centros de trabalho. A maioria das aplicações era
estanque; era
m
soluções departamentalizadas, que reproduziam o modelo de
gestão das organizações em departamento
s
não integrados.
A pressão competitiva forçou as empresas a uma incessante busca de
redução de custos e aumento da eficiência. Em meados dos anos 90 surgiram os
primeiros sistemas denominados ERPs. A proposta destes sistemas é a gestão da
empresa como um todo, oferecendo informações mais precisas, baseadas em dado
único, sem as redundâncias e inconsistências encontradas nas aplicações
anteriores, que não eram integradas entre si. Uma ordem de compra, por exemplo,
gera informações para a tesouraria, almoxarifado e todas outras áreas afetadas.
Todas as áreas olham o mesmo dado e uma única transação gera todas as
26
informações necessárias simultaneamente. O resultado é uma empresa mais ágil e
competitiva, com reduções de prazos de entrega e estoques.
Os sistemas ERP passaram a ser largamente utilizados a partir da década
de 90. O
bug
do milênio (problema de sistemas que utilizavam data com somente 2
dígitos e não seriam operacionais a partir do ano 2.000) fez com que muitas
empresas, ao invés de fazer a manutenção destes sistemas, optassem pela adoção
de um ERP.
Não existem registros precisos de quando exatamente os sistemas ERP
foram criados e a partir de quando a palavra passou a ser utilizada. Em 1975 a
companhia alemã SAP (
Systemanalys
e und
Programmentwicklung
ou Análise de
Sistemas e Desenvolvimento de Programas) lançou o R/2, precursor de um
software
ERP. Segundo Campos (1998), foi em 1992, com o lançamento do R/3, da
companhia SAP, que os
software
s de gestão tornaram-se uma “coqueluche”. Logo
outros desenvolvedores globais de
software
passaram a oferecer também suas
versões. Em 1994 a novidade da SAP chegou ao Brasil.
Destaque
-se, também, o importante papel no cenário nacional, a partir de
1995, das empresas Microsiga (Siga Advanced) e Datasul (Magnus) no atendimento
dos pequenos e médios negócios, perfazendo mais de três mil implantações até
o
final da década de 90.
Simplificadamente podemos definir um sistema ERP como uma
ferramenta de tecnologia da informação para integrar os processos empresariais.
Como dito anteriormente, a sigla ERP, traduzida literalmente, significa algo como
“Planejamento dos Recursos da Empresa”, o que pode não refletir o que realmente
um sistema ERP se propõe a fazer. Estes sistemas, também chamados no Brasil de
Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, não atuam somente no planejamento.
Seu objetivo é controlar e fornecer suporte a todos os processos operacionais,
produtivos, administrativos e comerciais da empresa. Todas as transações
realizadas pela empresa devem ser registradas, para que as consultas extraídas do
sistema possam refletir ao máximo possível sua realidade operacional.
Os sistemas ERP são compostos por uma base de dados única e por
módulos que suportam diversas atividades das empresas. Os dados utilizados por
um módulo são armazenados na base de dados central para serem manipulados por
27
outros módulos, eliminando redundâncias e inconsistências nas informações. Como
o ERP integra módulos que antes operavam isoladamente, fica mais fácil
parametrizar e alterar dados no sistema.
Mais do que simplesmente um
software
de informações, o ERP necessita
de um redesenho de processos antes de ser implantado. Como esses sistemas têm
po
r objetivo serem espelhos das atividades da empresa, suportando em sua base de
dados todas as
suas
informações operacionais, é necessário que seja feito um
estudo e
posterior
adequação dos processos que serão suportados pelo novo
software
. Processos mal definidos, com duplicidade de funções ou outros problemas
não corrigidos, somente terão
esses
problemas amplificados após a implantação de
um ERP.
A característica modular é um aspecto presente em praticamente todos os
produtos. O cliente pode optar por módulos, de acordo com sua necessidade,
conveniência ou orçamento. Por exemplo, podem ser adquiridos os módulos
Financeiro e RH de uma aplicação, mantendo o planejamento e controle da
produção no formato antigo.
Entre
os benefícios esperados dos ERPs m
erecem
destaque:
disponibilidade de informação certa, na hora certa nos pontos certos;
compartilhamento de bases de dados únicas e não redundantes; eliminação do
esforço gerencial e operacional nas interfaces entre sistemas que não conversam
entre si; processo de planejamento operacional mais transparente, estruturado e
com responsabilidades mais definidas; apoio à empresa na melhoria do
desempenho operacional, obtendo vantagem competitiva em relação à concorrência.
Muitas vezes estes objetivos não são atingidos, em razão de deficiências
de projeto (
hardware
mal dimensionado, redes mal projetadas), deficiências de
parametrização do
software
, redesenho de processos não executados a contento ou
ainda uma implantação mal sucedida, mal planejada e que não leva em
cons
ideração as pessoas envolvidas em cada processo. É importante enfatizar o
principa
l
objetivo esperados
de um ERP: a informação de boa qualidade. Para atingir
este objetivo é necessário analisar o ciclo de obtenção da informação e seu uso
como vantagem comp
etitiva
, levando em consideração
:
28
a) Fatos físicos transformam-se em dados: todos os fatos físicos
necessários ao sistema devem ser “apontados”. Tomemos por exemplo a chegada
de um caminhão com matéria-
prima
como sendo um fato físico. O apontamento é a
ano
tação deste fato no sistema, com todas as operações necessárias (
contagem
física dos materiais, possível digitação das quantidades, tipos, dentre outros dados)
.
O sistema vai se basear no dado e não no fato físico, ou seja, se a atividade de
apontamento for realizada de forma falha o sistema de informações (ERP) vai
considerar dados não condizentes com a realidade, e a atividade de suporte de
decisões será feita sobre bases incorretas. Outra fonte de dados que necessitam ser
apontados no sistema são as previsões, que refletem um
status
futuro de alguns
dados.
b) Dados transformam-se em informações: o processo seguinte é a
transformação da massa de dados, através de cálculos, ordenação, e outros
processamentos,
com objetivo de mudar sua forma, para disponibil
izá
-los ao
tomador de decisões de maneira adequada e útil. Diferentes sistemas de informação
podem chegar a resultados diversos com base nos mesmos dados, uma vez que
seus procedimentos (algoritmos) de transformação dos dados são diferentes. Por
exemplo, dois sistemas de planejamento de produção podem, com base nos
mesmos dados de demanda e estoque, chegar a planos de produção com
cronogramas diferentes, uma vez que os tempos de produção em seus algoritmos
estej
am registrados de forma diversa.
c) Informações transformam-se em decisões: é necessário que o tomador
de decisão saiba o que fazer para transformar a boa informação em boa decisão.
Este tópico envolve dois aspectos: o grau de treinamento do tomador de decisão e o
comprometimento do mesmo em levar em conta a informação disponibilizada pelo
sistema.
d) Decisões transformam-se em vantagem competitiva: para atingir esta
etapa é necessário que a decisão adotada seja melhor que as decisões adotadas
pelos concorrentes. Isto depende das decisões serem tomadas tendo em
perspectiva uma visão estratégica, de competitividade. Como a decisão depende do
encadeamento dos processos descritos anteriormente
, é necessário que todos estes
processos sejam executados de maneira melhor que a concorrência, ou seja, é
preciso
planejar melhor que a concorrência, apontar com mais eficiência, customizar
29
e parametrizar (a transformação de dados em informações) melhor que a
concorrência e,
por fim
,
tomar decisões de forma melhor que a concorrência.
Os aspectos técnicos envolvidos na escolha e implantação de sistemas
de informação têm sido a principal ênfase dentro das empresas e não podem ser
negligenciados. Acontece que as etapas mais críticas ficam por conta dos aspectos
comportamentais. Muitas empresas acabam encarando a implantação de um
sistema ERP simplesmente como um processo de implantar um novo
software
. O
processo de mudança organizacional, que chega a alterar a forma como a empresa
faz seus negócios, é muitas vezes negligenciado, refletindo em custos, atrasos e até
abandon
o do projeto de instalação.
A respeito da informatização das pequenas empresas, as vantagens que
uma pequena empresa pode obter com um sistema informatizado, que funcione
eficiente e eficazmente, são as seguintes: melhoria das informações para a tomada
de
decisão; automatização das tarefas rotineiras; melhori
a
do controle interno das
operações; melhori
a
do atendimento ao cliente; aumento da capacidade de
recon
hecer problemas mais cedo; capacitação do gerente para
testar decisões antes
de colocá-las em prática; melhori
a
do processo produtivo; aumento
de
produtividade
e competitividade.
As pequenas e médias empresas também têm como característica a não
utilização de instrumentos formais para tratar seus problemas. Normalmente o
administrador utiliza a intuição como principal base para a tomada de decisão. Se
por um lado este aspecto pode promover o comprometimento entre colaboradores e
empresa, por outro lado a não utilização de critérios técnicos e de informações
adequadas pode comprometer a qualidade da deci
são.
Normalmente para a implantação de um ERP existe a necessidade de
apoio de uma consultoria especializada. Cuidados na sua escolha dessa empresa
podem significar uma implantação dentro do prazo e orçamento previstos. Na
seleção da consultoria devem-se levar em conta alguns aspectos da equipe que
será alocada ao projeto: capacitação e experiência em relação à solução adequada,
conhecimento do negócio (uma vez que processos terão que ser redefinidos) e
da
metodologia
a ser adotada (seqüência de passos a seguir). Deve ser verificada
ainda o nível de satisfação dos atuais clientes com os trabalhos realizados por esta
empresa
. A recomendação para minimizar os impactos é que a implantação não seja
30
feita de uma vez, e sim gradualmente, pois após a implantação existe um período de
ajustes e correções.
A implantação de um sistema ERP envolve riscos. De acordo com uma
pesquisa divulgada nos Estados Unidos pelo Standish Group, feita com empresas
com faturamento superior a 500 milhões de dólares e que investiram em pr
ojetos
ERP, apenas 10% dos projetos de implementação terminaram no tempo e prazo
estimados, 55% estouraram prazos e orçamento e 35% foram cancelados
(TOURION, 2002). Outro dado importante é o custo de suporte e consultoria.
Estima
-se que para cada dólar gasto com licenças de uso sejam gastos por volta de
mais 3 dólares em serviços profissionais para suporte e consultoria de implantação.
O tempo médio de implantação em uma pequena empresa é da ordem de 8 a 12
meses, a um custo total variando entre US$ 60 mil
a US$ 100 mil. (Dados fornecidos
pela Microsiga
www.microsiga.com.br).
Todas estas estatísticas apontam para um temor muito grande por parte
das organizações no momento de contratarem/implantarem um sistema ERP. Os
riscos envolvidos são muito elevados, o que justifica toda a insegurança. Sendo
assim, um correto e eficaz gerenciamento do projeto de implantação do sistema ERP
é fundamental para o sucesso do processo como um todo.
2.1.7
Os Sistemas CRM
Customer Relationship Management
No festival de siglas que a informática tem proporcionado uma das que
tem tido maior destaque é o CRM (Customer Relationship Management ou
Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente). Mais do que um
software
ou
grupo de
software
s, o CRM é um conjunto de ferramentas com o objetivo de
conhecer melhor o cliente, fazer distinção entre clientes lucrativos e outros nem
tanto, atender às necessidades dos mesmos através de campanhas adequadas,
prover formas de abordagem ade
quada do cliente, entre outros.
Entre as ferramentas de CRM podemos citar: Call Center (registrar os
contatos, pedidos e reclamações dos clientes, bem como assistência pós-
venda),
Data Warehouse (criar um “armazém de dados”, com informações relativas a
os
volumes de compra, valor), Automação da Força de Vendas (disponibilizar para a
31
equipe de vendas informações on line a respeito do cliente, estoques
etc
., bem como
receber os pedidos e processá-los mais rapidamente), entre outras.
Independentemente da nova sigla, muitas empresas já vêm praticando
este conceito vários anos, como por exemplo bancos, operadoras de cartão de
crédito e varejistas de auto serviço, seja através de ferramentas desenvolvidas
internamente ou com as ferramentas citadas anteriormente. Isso pode ser entendido
como
a transformação da “arte de vender” em métodos baseados na informação. O
CRM pode ser considerado ainda uma evolução dos
ombudsman
(ouvidorias)
dos
anos 90; além de ouvir o cliente agora existe uma estrutura de conceitos para melhor
atendê
-
lo, antes que o concorrente o faça.
É importante abordar o conceito CRM neste ponto, pois os principais
produtores de ERP adotaram estratégias para fornecer ferramentas de CRM dentro
de seus sistemas, seja através de parcerias, seja através de aquisição de empresas
fornecedoras de ferramentas CRM. Parece surpreendente que ainda não sejam
oferecida todas as funcionalidades de CRM nos atuais sistemas de ERP, mas
é
importante
lembrar que os fornecedores de ERP se concentraram em tratar os
eventos administrativos e a integração entre eles. Os fornecedores de CRM tratam
das interações dos clientes com a empresa. O cadastro de contatos dos clientes
com a empresa, foco do CRM, é muito mais volumoso que o cadastro de clientes,
foco do ERP, uma vez que cada cliente pode desencadear uma série muito grande
de contatos,
além de conter informações importantes e nem sempre estruturadas.
Não existe necessidade da adoção de um ERP para a utilização de
ferramentas CRM. O fato é que o ERP, na medida em que organiza as informações,
facilita
a adoção de ferramentas CRM. O ERP tem como ponto forte a redução dos
custos operacionais, uma vez que elimina trabalho repetitivo e melhora a eficiência
operacional através do melhor fluxo da informação. O CRM tem por objetivo
aumentar o faturamento da empresa, seja mantendo os clientes atuais, aumentando
seus valores de compra com novos
bens
ou serviços, ou ainda conquistando novos
clientes.
32
2.2
A
SPECTOS
O
RGANIZACIONAIS
Não são apenas os aspectos tecnológicos que influenciam a implantação
de soluções em TI nas empresas. Um aspecto que não pode ser esquecido é o
organizacional, principalmente no que tange a “administração da mudança” que
acontece com a implantação de sistemas de gestão ou de qualquer outra “mudança
planejada”, e também a gerência do projeto, ou seja, como o projeto de implantação
de solução de TI é conduzido dentro das organizações.
O grande problema é que as dificuldades de se implantar qualquer
sistema informatizado não são pequenas. Muitos projetos milionários esbarram não
na qualidade do
software
ou da automação
adquirida
, e sim nos aspectos humanos
que envolvem principalmente uma mudança de cultura organizacional.
São
problemas de gestão do projeto de implantação, de definição de estratégias de
sensibilização do corpo funcional, ou mesmo de administração da mudança. Tudo
isto p
ode vir a ocasionar um prejuízo muitas vezes fatal para a organização.
São apresentados a seguir, portanto, alguns conceitos relevantes que
certamente enriquecem a base teórica da pesquisa, relacionando os aspectos-
chave
sobre Implantação de Soluções de TI. Os temas em destaque são estruturas sociais
nas organizações, modelos de gestão e seus ditos “modismos”, mudança
organizacional e as relações de poder nas organizações, gerenciamento de projetos,
dentre outros.
2.2.1
As Relações Sociais a as Organizações
A expressão “racionalidade instrumental” tem sido utilizada desde o
Iluminismo
como justificativa do homem ocidental para explicar sua organização
social, essencialmente centrada no mercado. “A Nova Ciência das Organizações”,
de Alberto Guerreiro Ramos (1989), procura mostrar uma alternativa para esse
pensamento. Apesar de o assunto da obra não estar diretamente relacionado ao
tema “Implantação de Soluções de Tecnologia da Informação”, tema
central
desta
pesquisa, apresenta conceitos relevantes sobre estruturas sociais e relações
existentes entre pessoas
em
sociedade e, conseqüentemente, dentro das empresas.
33
Sendo assim, pretende-se focar estes aspectos para, ao final deste tópico,
ser
possível elencar conceitos-chave que regulam as relações sociais dentro das
organizações e que, portanto, influenciam projetos de Implantação de Soluções de
TI.
Em sua obra publicada na década de 80, Ramos (1989)
aborda
va
a
temática da ecologia política de um ponto de vista inovador, tanto em relação à
trajetória histórica da ecologia, quanto da ciência política ou das ciências sociais em
geral. Ao longo de sua obra Ramos (1989) faz críticas contundentes às sociedades
industriais nascidas da Revolução Industrial no século XVIII. Ele identifica no
Iluminismo a instituição da razão instrumental, a qual desequilibra a mente humana
no sentido da valorização unilateral do que é útil exclusivamente ao indivíduo.
Fundamenta sua análise das sociedades centradas no mercado, fazendo
um exame da “razão moderna” e sua influência sobre a teoria da organização.
Analisa as diferentes posições de Max
Web
er
, de Karl Mannheim, da Escola de
Frankfurt e de Eric Voegelin, concordando com muitos pontos observados por estes
autores, porém demonstrando insatisfação diante da falta de sistematicidade das
alternativas por eles levantadas. Lança, com isto, um desafio a si mesmo: o de
preparar o caminho para uma “nova ciência das organizações”. Ele vai além do
desmonte crítico e histórico da razão instrumental, vai em busca de construir um
modelo de delimitação de sistemas sociais com base na razão substantiva, ou seja,
em um pensamento que revela percepções inteligentes das inter-relações de
acontecimento
s numa determinada situação. Essa racionalidade constitui, para
Ramos (1989), a base da vida humana ética e
responsável.
A economia é um dos temas mais criticados por Ramos (1989) nesta
obra
. Critica a supervalorização da dimensão econômica e a expansão dos valores
de mercado, defendendo a economia dual e cooperativista. A regulamentação da
economia por uma política ecológica também é muito intensamente abordada por
Capra (1982) em sua obra “O Ponto de Mutação”. Para ambos, as atividades
econômicas devem estar subordinadas a certas diretrizes da ecologia política que
visam o equilíbrio dinâmico entre sociedades humanas e o meio ambiente, o qual
implica um equilíbrio dinâmico no interior das sociedades humanas. Porém, Ramos
(1989) não tem ilusão a respeito de uma sociedade ideal, sem conflitos, e por isso
dedicou
-se à elaboração de cenários ou sistemas sociais, s
endo a economia apenas
34
uma das “facetas operativas do macrocosmo multifacetado” de um sistema social,
como uma organização empresarial, por exemplo.
Valores ecológicos, no sentido da reflexão ética, são um ponto de partida
para a ciência crítica e para a política. Ramos (1989) defende a prioridade da
mudança no sistema de valores como fator de mudança social e histórica. A
integração, a dinamicidade, a criatividade, o equilíbrio e a auto-organização nos
contextos naturais são alguns dos valores defendidos por ele, sugerindo
permanência dos mesmos em nosso paradigma social. A relação entre tecnologia e
recursos naturais é algo muito presente na obra: a utilização parcimoniosa e racional
dos recursos não-renováveis, assim como o emprego imprescindível e intenso de
tecnologias brandas, de baixo impacto ambiental. E talvez esta seja uma das
contribuições mais
premonitória
de Ramos (1989), uma vez que naquela época
previa a urgência do assunto e criticava o tratamento concedido ao “meio ambiente”,
no sentido mais amplo do termo. Uma maior atenção ao contexto naquele momento
poderia ter poupado a sociedade moderna de algumas graves perdas em termos de
ecossistema equilibrado.
Percebe
-se, portanto, que Ramos (1989) faz uma forte crítica às
sociedades industriais, questionando especialmente a forma de racionalidade e os
pressupostos da visão de mundo que lhes são subjacentes. A globalização dos
mercados
resultou
conseqüências contraditórias e complexas, gerando no curto
prazo
uma expansão da histórica desigualdade
socioeconômica entre os hemisférios
Norte e Sul. Também nessa direção a revolução digital tem reorientado as
sociedades industriais, e a interconexão generalizada entre as várias instâncias das
sociedades, dos setores produtivos e do consumo, têm confirmado as análises e
expectativas de Ramos (1989). No que se refere à relação entre ética, ecologia,
psicologia e adequação das tecnologias, a obra aqui destacada mantém-
se
plenamente atual enquanto referencial teórico. Por este motivo foi considerada como
de
fundamental importância para o estudo das relações sociais dentro das
organizações modernas, focando o “humano e social” em detrimento do meramente
“mercadológico”.
É neste ponto que se faz o
link
direto com o tema em estudo:
“Implantação de Soluções de Tecnologia da Informação”. Cada vez mais as
empresas provedores ou mesmo de consultoria no setor de Soluções de TI
35
percebem que, de maneira evidente, as relações sociais dentro das organizações
configuram
-se como ponto fundamental numa implantação de sistema
.
Procedimentos informais (não escritos em lugar algum), hierarquias de poder,
valores individuais do corpo funcional, enfim, fatores humanos em geral acabam por
se mostrar muito mais relacionados ao sucesso do projeto de implantação de
sistema que a corre
ta
especificação da configuração das máquinas necessárias, por
exemplo. o aspectos extremamente mais complexos e subjetivos do que uma
simples configuração de máquina, portanto devem ser analisados com extremo
critério no momento da concepção de um
proje
to n
essa área.
Assim sendo, Ramos (1989) contribui para esta pesquisa mostrando que,
como a revolução digital tem reorientado as sociedades industriais, a relação entre
ética, ecologia, psicologia e adequação das tecnologias é a chave para o sucesso de
pro
jetos de implantação de soluções de TI. Ao entender como funciona a
organização e como os aspectos éticos e psicológicos influenciam este
funcionamento, é possível conceber um projeto que, sem prejudicar estas relações
sociais, passa a melhorar a produtividade e a acrescentar eficiência à estrutura
empresarial no mercado competitivo.
2.2.2
Os Modelos de Gestão nas Organizações
Para Implantar Soluções de TI nas empresas é necessário conhecer o
seu modelo de gestão atual e, mais ainda, propor um modelo de gestão
informatizado que melhore o desempenho da organização como um todo. E a
escassez de recentes obras essencialmente reflexivas e esclarecedoras sobre
modelos de gestão de negócios aponta para uma realidade evidente: são poucas
ou mesmo nenhuma as inovações que surgiram nesta área de estudo depois da
virada do milênio.
Assim sendo, destaca-se a obra de Tachizawa, Cruz Júnior e Rocha
(2003), a qual retrata de maneira organizada e completa a evolução dos conceitos
de
gestão de organizações e ainda propõe um modelo de gestão a ser
implementado no âmbito das organizações dos mais variados mercados.
Constantemente fazendo uso de correlações com o mercado e também de estudos
36
de caso ao final dos capítulos, os autores trazem no livro uma resposta à crítica dos
exec
utivos e empresários sobre a maneira como é ensinada gestão aos
administradores brasileiros. Estes sugerem, em pesquisa mencionada no livro que
“as instituições de ensino deveriam ampliar o conhecimento prático, do dia
-a-
dia, das
organizações empresariais”
(p.23)
.
Os autores iniciam a obra realmente pelo “princípio de tudo”, ou seja,
refletindo sobre a evolução histórica dos modelos de gestão e sobre os diferentes
tipos de negócios. Estes foram os aspectos que os
conduziram
tão bem ao sucesso
no atendimento do objetivo principal da obra: propor um modelo de gestão que leva
em conta os diferentes tipos de organizações agrupadas pelas suas similaridades
o setor econômico ou ramo de negócio
em
que atuam. Tachizawa, Cruz Júnior e
Rocha (2003) conseguiram discorrer sobre a maneira pela qual consagrados
pensadores do
management
pecaram ao falar de modelos de gestão de uma
maneira genérica, uma vez que, apesar de criarem conceitos moderníssimos para
suas épocas (Adam Smith, falando sobre “tarefas elementares” e “produtividade” em
1776, por exemplo), abordaram o assunto como se fossem “receitas de bolo” que se
aplicavam a qualquer tipo de organização ou negócio.
Tachizawa, Cruz Júnior e Rocha (2003) dedicam os primeiros 12 capítulos
do livro para o apontamento dos p
rincipais autores cujos estudos contribuíram para o
pensamento administrativo moderno e também, vários deles, para a organização
econômica e social vigente. Merecem destaque o resumo altamente ilustrativo dos
conceitos defendidos por Taylor, Fayol e por
We
ber (a chamada “escola clássica”)
no capítulo 4, conceitos que se aplicam até hoje muito bem a determinados tipos de
organizações; e também o apanhado, no capítulo 7, dos principais autores que
trataram de uma abordagem política das organizações. Vale lembrar do pressuposto
básico de Pfeffer em sua obra Power in organizations, que as organizações são
objeto de um controle social e de uma série de restrições do ambiente externo,
relativamente aos recursos que são fundamentais para o seu funcionamento. Este
c
onceito
de Pfeffer (1981) remete instantaneamente à impossibilidade de se tentar
aplicar um único modelo de gestão para diferentes tipos de negócios, uma vez que
cada organização se reporta a um “ambiente” particular.
Outra contribuição importante da obra é a introdução de termo
“indicadores de gestão” para o monitoramento da gestão do negócio. Em cada
37
estudo de caso os autores apresentam uma representação esquemática que contém
as decisões estratégicas e operacionais e seus respectivos indicadores de negóc
io e
de qualidade/desempenho, além da cadeia produtiva simplificada de cada empresa
estudada.
De tudo isto, em conjunto com
a
análise do negócio da empresa e a
aplicação do modelo proposto pelos autores, é possível estabelecer estratégias
diferenciadas par
a cada tipo de empresa. Em uma implantação de Solução de TI isto
se mostra fundamental, uma vez que para cada tipo de negócio é indicado um tipo
de Solução de TI e, principalmente, um modelo de gestão.
Por todo
o
exposto, observa-se a importância do estudo e da correta
escolha do modelo de gestão que melhor se aplica a cada tipo de organização.
Muitas vezes os conceitos clássicos, humanísticos ou baseados na teoria das
contingências servirão de preceitos para a concepção de modelos adaptados para
cada situação. Ou mesmo a adoção de modelo
um
pouco mais moderno (como uma
das
imagens
de Morgan abordadas no capítulo 10 a obra discorrida), porém
revisado para responder as condições ambientais da empresa em questão, pode
resultar em sucesso de gestão. Tudo depende da maneira como o gestor irá
conduzir o processo organizacional e
de
como irá aplicar o conhecimento difundido
pelas diversas correntes da administração. A Solução de TI apenas funcionará como
ferramenta para gestão do negócio, uma vez que os modelos de gestão propostos e
utilizados é que irão dizer se o projeto de implantação terá o resultado esperado.
2.2.3
Os “modismos” da Administração e as Organizações Modernas
Atualmente é muito comum se ouvir falar no meio empresarial sobre
mudanças e inovações, assim como em competitividade crescente. Sabe-se que,
com a revolução tecnológica, a velocidade das comunicações e conseqüentemente
das informações, a concorrência entre as empresas tornou-se muita acirrada,
provocando instabilidade e incertezas no ambiente empresarial. Projetos de
implantação de Soluções de TI são geralmente
deste
forma
to
. Mudança, inovação e
estratégias competitivas tornaram-se, portanto, palavras de ordem na disputa
frenética por nichos de mercado. Santana (2003) destaca que o lema passou a s
er
“mudança ou morte”, e que para se inserirem nesse cenário as organizações tiveram
e têm como critérios determinantes a modernização, o investimento em tecnologia e
38
as mudanças na gestão. Como conseqüência essas empresas têm-se mostrado,
portanto, “presa
s fáceis de um arsenal de ferramentas e de profissionais que querem
transmitir o novo, transformar, mudar e inovar rapidamente as organizações” (p.26).
É justamente sobre este ponto que se procura, neste tópico da pesquisa,
confrontar as posições de Micklethwait & Wooldridge, em sua obra “Os Bruxos da
Administração”, com os cuidados que uma empresa deve ter ao contratar os
serviços de uma consultoria especializada em modelos de gestão, principalmente
quando se toca no assunto Tecnologia da Informação TI. Os autores fazem uma
importante
re-leitura dos principais “modismos” do
management
, discernindo o que
pode ser realmente aplicável com bons resultados em uma organização do que não
passa de pura
charlatanice
” de profissionais do setor.
Micklethwait & Wooldridge (1998) destacam em diversos pontos de sua
obra que os chamados “gurus da administração” têm gerado conteúdo sobre
modelos de gestão sem a mínima noção do que poderá resultar em melhorias para
as organizações que os tomarão como base, ou se vão
condu
zir
ao
seu
“falecimento”. A Reengenharia de James Champy e Michael Hammer (
apud
Micklethwait & Wooldridge, 1998, p.5), por exemplo, foi o primeiro grande m
odismo
da década de 90, o qual contribuiu para que milhões de pessoas perdessem seus
empregos e outros milhões passassem a trabalhar de uma forma totalmente
diferente. E um dos pilares fundamentais da Reengenharia era o investimento em
tecnologia, porém sem muito critério onde ela deveria ser aplicada e se seria útil ou
não para os novos processos
pretend
idos
. Micklethwait & Wooldridge (1998)
afirmam, inclusive, que “os computadores não tornavam as pessoas mais produtivas
(...) apesar do grande investimento em tecnologia da informação durante toda a
década de 80, grande parte dos números disponíveis mostrava que as empresas
haviam lucrado pouquíssimo com ela” (p.5).
Para Santana (2003), uma empresa deve procurar, antes de contratar
serviços de consultoria, identificar “qual o seu problema e aonde quer chegar”, deve
“ter
claros seus objetivos” e, o mais importante, deve “manter o poder de decisão” e
o “controle dos resultados” (p.30). Tomando estes cuidados, segundo a autora, as
chances d
e
a empresa ser iludida por uma “receita de bolo” que não serve para o
seu negócio é bem menor.
39
“As organizações e seus gestores precisam estar atentos
a essas epidemias que, no rastro da globalização e da
busca desenfreada de competitividade, institucionalizam
tais
práticas como verdadeiras e universais. Gerir uma
organização é muito mais que mera aquisição de
ferramentas prontas e definitivas, é algo que um
conhecimento profundo e a pluralidade de opções são
capazes de oferecer o instrumental necessário para tal
tarefa.” (
SANTANA, 2003,
p.33).
Assim sendo, percebe-se com clareza que o Fator Crítico de Sucesso de
uma reestruturação organizacional, como a implantação de uma Solução de TI, está
intimamente ligado à correta escolha do modelo de gestão a ser utilizado e de quais
ferramentas
informatizadas ou não
podem vir a auxiliar os processos e a tornar a
empresa mais ef
iciente.
Para Santana (2003), uma minuciosa busca dentro do
quadro funcional da empresa
por
pessoas capacitadas para tocar projetos
independente
mente
de consultorias, ou mesmo apenas a valorização da opinião dos
funcionários durante o processo de consultoria externa, podem refletir
positivamente no resultado do projeto de mudança; seja ela complexa, como a
implantação de um sistema integrado de gestão (ERP), ou simples, como uma
alteração no fluxo das informações de um determinado setor.
2.2.4
Administração d
a Mudança Organizacional
Segundo Ulrich (1998), autor de uma das mais completas obras sobre
gestão de capital humano empresarial, administrar mudança em uma organização é:
a)
Gerir a transformação e a mudança, ou seja, identificar e implementar o
processo.
b)
De
senvolver a capacidade da empresa em aceitar a mudança e capitalizar-
se
com ela.
c)
Assegurar que as sugestões que focalizam a criação de equipes de alto
desempenho, a redução no tempo do ciclo para inovação ou a implementação de
novas tecnologias sejam definidas, desenvolvidas e obtidas de maneira
adequada.
40
d)
A metáfora sugerida pelo autor é a do “agente de mudanças”, pessoas que
ajudam as organizações a identificarem um processo para administrar a
mudança.
Ainda segundo Ulrich (1998), o verbo mudar” tem significados diferentes
de acordo com seu uso. Quando usa
do
em relação às organizações, mudar pode
ser:
1.
Deslocar
-se de uma determinada posição para uma nova posição, onde é
necessário que a organização conheça a posição em que se encontra e,
melhor ainda, conheça a nova posição para a qual pretende se deslocar como
parte da sociedade.
2.
Dispor elementos de outro modo, alterando assim a configuração dos mesmos
elementos dentro de uma organização sem alterar seu papel ou qualidade
intrínseca.
Isso implica o conhecimento de cada elemento estrutural e
funcional, seu valor e potencial, presente e futuro, dentro de um processo de
reorganização.
3.
Substituir uma coisa por outra, dar outra direção. Isso implica que a
organização tome uma nova direção estratégica, com mudança eventual em
sua missão, prioridades programáticas e uso de recursos, incluindo novas
tecnologias.
4.
Modificar, transformar, tornar-se diferente do que era no que tange à própria
cultura da organização ou a sua estrutura. Mudança de valores e prá
ticas
predominantes no processo decisório em diferentes níveis organizacionais.
Quando se fala em mudança, Ulrich (1998) destaca alguns aspectos
devem ser bem entendidos, quais sejam:
a)
mudar é um processo que envolve pessoas, organizações e sistemas sociais
;
b)
mudar requer que se conheça a razão de mudar e as forças desestabilizadoras
do atual “
status quo
”;
c)
mudar exige conhecer o que se quer mudar;
d)
mudar significa que se conheça de onde se está partindo e aonde se quer
chegar;
41
e)
mudar exige organizar e gerenciar
o processo de mudança;
f)
mudar exige de quem tem autoridade a decisão de mudar.
Para facilitar o entendimento do processo de mudança, Ulrich (1998)
destaca as quatro fases da mudança:
1.
Recusa:
apatia, indiferença;
2.
Resistência:
incômodo, raiva, isolamento;
3.
Ex
perimentação:
frustração, muitas idéias novas, muito trabalho, falta de
foco;
4.
Comprometimento
: trabalho em equipe, satisfação, foco e linha de ação
claros.
Ulrich (1998) relaciona ainda o que fazer em cada fase da mudança:
1.
Durante a recusa: forneça informações, divulgue os planos de uma
mudança em breve. Explique o que devem esperar e sugira o que eles
poderão fazer para melhor se adaptar à nova situação. Dê tempo para que
tudo isso possa ser absorvido e esteja disponível para conversar.
2.
Durante a resistênc
ia
: ouça, acolha sentimentos, responda de forma
empática. Jamais refute sentimentos ou pensamentos que são
compartilhados com você.
3.
Durante a experimentação: Concentre-se em prioridades e forneça
qualquer treinamento que se faça necessário. Acompanhe projetos em
fase de implementação. Estabeleça metas de curto prazo, conduza
sessões de tempestade de idéias, assim como de planejamento.
4.
Durante o comprometimento: Estabeleça metas de longo prazo.
Concentre
-
se no trabalho de equipe. Olhe adiante.
Ulrich (1998) salienta ainda as competências necessárias para conduzir a
mudança:
a)
Saber comunicar as mudanças;
b)
Saber lidar com a resistência;
c)
Aumentar o envolvimento da equipe;
42
d)
Exercer uma liderança visionária.
Neste ponto é que o autor introduz a figura do Agente de Mudanças. Para
Ulrich (1998) as ações dos agentes de mudanças incluem a identificação e
estruturação de problemas, construção de relações de confiança, solução de
problemas e criação e execução de planos de ação. Ao gerenciar os processos de
mudanças
eles precisam saber fazer como fazer as coisas acontecerem; agir como
catalisadores e arquitetos de mudanças. Finalmente, estes agentes precisam ajudar
no processo de mudança, definindo um modelo organizacional e patrocinando sua
constante aplicação. Segundo Ulrich (1998)
,
devem lidar com
as seguintes
questões:
a)
Como desaprender o que aprendemos?
b)
Devemos honrar o passado e
prepararmos para o futuro?
c)
Como incentivar a aceitação de riscos necessários à mudança sem comprometer
a organização?
d)
Quais as práticas de gestão devem mudar e quais devem ficar em função de
mudanças?
e)
Como tratar o coração e a mente de cada profissional para se preparar para a
mudança?
f)
Como mudarmos e aprendermos mais rápido?
A área de mudança organizacional, falando agora mais especificamente
sob
re o termo “mudança planejada”, muito utilizado atualmente, vem sendo um
campo bastante vasto para pesquisas em decorrência das transformações a que as
empresas a todo instante se sujeitam. Tem recebido muita atenção, principalmente
dos profissionais que buscam soluções a menor custo pessoal, social e
organizacional. Há uma relação recíproca entre as organizações e seu ambiente: um
afeta o outro à medida que interagem. Observa-se que o ambiente vem sofrendo
modificações constantes e as organizações, como não poderia deixar de ser,
também estão permanentemente adotando mudanças internas para responder a
novos desafios dentro das realidades sociais, econômicas, políticas e tecnológicas.
As organizações são, por sua própria natureza, conservadoras. Stoner
(1985
) afirma que, mesmo sendo o projeto de uma organização apropriado para seu
ambiente em determinado momento, os administradores têm que prever mudanças
43
que exigirão futuros ajustes no projeto da organização. Isto se aplica principalmente
nos tempos atuais, em que a informação está muito mais disponível para ser usada
na atualização e
no
crescimento da empresa.
Ainda segundo Stoner (1985), uma enorme variedade de forças externas,
como os avanços tecnológicos ou os atos da concorrência, pode pressionar as
orga
nizações para mudanças em sua estrutura, seus objetivos e seus métodos de
operação. “As pressões para mudança também podem originar-se de inúmeras
fontes dentro das organizações, particularmente de novas estratégias, tecnologias e
atitudes de comportamento
dos empregados”. (STONER, 1985, p.258).
Stoner (1985) observa que, para lidar com a mudança, dois métodos são
adotados: o primeiro é a reação aos sinais de que as mudanças são necessárias,
através do processo natural de adaptação chamado evolucionário. A segunda forma
é a elaboração de um programa de mudança planejada, com previsão de
investimentos em tempo e outros recursos, para modificar as formas de
funcionamento
das organizações. Greiner (
apud
STONER, 1985) destaca que a
mudança historicamente foi vista mais como evolucionária e não revolucionária,
ressaltando a falta de visão pró-ativa que ced
ia
espaço ao enfoque reativo da
mudança.
Relacionando o que afirma Stoner com as teorias de Ulrich, para se
planejar a mudança é necessário:
a)
Preparação
: antecipa
r os elementos
-
chave da mudança.
b)
Planejamento
: colocar a sua equipe em ação para planejar o trabalho a ser feito.
c)
Estruturas de transição: estabelecer meios especiais de trabalho conjunto e
estruturas organizacionais temporárias.
d)
Implementar o processo de
mudança
: ativando uma proposta flexível e criando
condições para que a equipe estabeleça um ciclo de aprendizagem como parte
integrante do processo.
e)
Recompensar
: reconhecer as pessoas que conseguiram realizar seus trabalhos.
De acordo com o modelo de Caiem
(
apud
STONER, 1985), o processo de
mudança envolve o “descongelamento” do padrão de comportamento e, finalmente,
a “nova cristalização” ou reforço do novo comportamento. Greiner (
apud
STONER,
44
1985) ressalta que, como resultado dessas alterações no ambiente externo, muitas
empresas têm como desafio a mudança para poder
em
sobreviver e/ou prosperar.
A mudança organizacional pode ser encarada
por
diferentes abordagens.
Leavitt (
apud
STONER, 1985)
privilegiou
a abordagem estrutural, e dividiu as
mudanças
em tr
ês grupos. No primeiro grupo, estão as mudanças estruturais criadas
com a aplicação de princípios de projeto organizacional clássico, definindo clara e
cuidadosamente a responsabilidade do trabalho dos membros da organização para
melhorar o desempenho organizacional. A mudança estrutural das organizações
pela descentralização é a segunda abordagem estrutural da mudança. A terceira
abordagem estrutural da mudança visa a melhorar o desempenho organizacional
através da modificação do fluxo de trabalho na organ
ização.
Outra forma de abordagem de mudança é a tecnológica. De acordo com
Stoner (1985), a aplicação sistemática da abordagem tecnológica começou com o
trabalho de Taylor em sua administração científica. Dentro desta abordagem, a
mudança no arranjo de máquinas, por exemplo, pode proporcionar o resultado
esperado pela organização em termos de melhoria no seu desempenho. A
combinação de métodos tecnológico e estrutural (ou técnico-estrutural) de mudança
procura melhorar o desempenho da organização, alterando aspectos tanto da sua
estrutura quanto da tecnologia utilizada.
Tanto o método tecnológico quanto o estrutural procuram melhorar o
desempenho organizacional, modificando a situação de trabalho. As abordagens
voltadas para as pessoas, por outro lado, procuram mudar diretamente o
comportamento dos empregados, concentrando-se em suas qualificações, atitudes,
percepções, expectativas, de forma que eles apresentem um desempenho mais
eficaz. Muitos destes esforços são conhecidos como técnicas de d
esenvolvimento
organizacional, desenvolvimento administrativo, da modificação do comportamento e
da administração por objetivos (STONER, 1985).
É importante destacar também que mudanças bem sucedidas envolvem a
estrutura organizacional, uma combinação de diferentes métodos de mudança e a
inclusão de recompensas extrínsecas. O programa de mudanças precisa ser
orgânico, ou seja, deve ser relacionado com a meta, visto como relevante para as
finalidades individuais bem como para as finalidades organizacionais, e, finalmente,
45
ter um potencial máximo de divulgação em toda a organização para ser melhor
implementado.
Stoner (1985) ressalta que diminuir as forças de restrição é normalmente
uma maneira mais eficaz para se estimular a mudança do que para aumentar as
forças de impulsão. Para ele, a resistência a uma proposta de mudança é um sinal
de que algo errado com a proposta ou de que foram cometidos erros em sua
apresentação. Uma eficiente comunicação, o uso do grupo como veículo de
efetivação da mudança, a concessão do tempo suficiente para o ajustamento, a
participação e
o
apoio da alta administração são características da estratégia
utilizada para tentar contornar possíveis influências negativas dos indicadores de
abertura à mudança.
É evidente que qualquer mudança introduzida em uma organização tende
a gerar transformações tanto em dimensões estruturais quanto processuais,
comportamentais e no desempenho organizacional. A substituição de um indivíduo
no nível mais alto da hierarquia organizacional, por exemplo, deve provocar o início
de uma reação em cadeia na organização. A consolidação sistêmica das
abordagens anteriores
para mudança organizacional é, assim, fundamental, pois, ela
leva em consideração as dimensões da estrutura e processos organizacionais e não
apenas um
único indivíduo ou departamento.
Tanto os processos quanto as estruturas podem ser afetadas pela
implementação da mudança organizacional. Stoner (1985) destaca que o processo
decisório está sujeito a alterações, assim como os canais de comunicação. As
est
ruturas tendem a ser modificadas, determinando um novo ambiente físico, novas
instalações, alterações na distribuição hierárquica, distribuição de autoridade e
poder. A partir de tantas transformações, uma nova configuração de trabalho pode
ser estabelecida. Novo conteúdo da função, remoção da função, criação de cargos,
exigência de maior ou menor qualificação para o desempenho de tarefas, podem
resultar em novo dese
nho da organização do trabalho na empresa.
Reações comportamentais podem surgir diante desse forte elemento e
determinar o fracasso da mudança. Absenteísmo, rotação de mão-
de
-
obra,
insatisfação no cargo, mau desempenho no trabalho, e baixa produtividade são fatos
geralmente atribuídos, em parte, às atitudes negativas dos empregados para com a
mu
dança planejada.
46
As resistências à implementação da mudança são abordadas por vários
aut
ores. Stoner (1985) condensa esse assunto dizendo que existem três fontes
gerais de resistência: incerteza quanto às causas e efeitos da mudança, falta de
disposição para abrir mão de benefícios existentes e a consciência sobre as
fraquezas das mudanças propostas. A pressão para a manutenção do status quo
organizacional é resultante de sistemas de interesses investidos na alocação de
autoridade e responsabilidade interna e na especialização do trabalho. A resistência
à mudança por motivos individuais é identificada pelo autor como medo do
desconhecido ou a necessidade acentuada de segurança.
2.2.5
As “leis” que regulam as Relações de Poder nas Organizações
Conforme salientado, as relações de poder nas empresas se
configuram como um fator de extrema importância para sua gestão e operação.
Assim sendo, quando se fala em implantação de Soluções de TI e,
conseqüentemente, processos de mudança organizacional, onde geralmente as
estruturas de poder são modificadas de maneira sutil ou mesmo drasticamente,
todas as regras vinculadas às inter-relações pessoais, ou ao “jogo do poder”, devem
ser levadas em conta. No presente tópico
pretende
-
se
analisar os principais pontos
relacionados
com mudança organizacional e relações de poder nas empresas,
pontos abordados por Robert Greene em sua obra “As 48 Leis do Poder”, livro que
retrata de maneira bem ilustrativa as 48 leis maiores que, segundo o autor, regem o
poder e a influência deste sob
re as outras pessoas.
Para Greene (2000) poder é na realidade um “jogo”, o qual envolve
inteligência, perspicácia, planejamento e, principalmente, dissimulação, seja no
Japão feudal ou na corte de Luis XIV, na renascença italiana ou na Chicago dos
tempos da fia. Em sua obra o autor menciona, entre outras, a capacidade de
esperar o momento certo para atacar, criar uma aura de mistério para confundir os
inimigos, saber conquistar corações e mentes das pessoas e encobrir todos os atos
em cortinas de fumaça. Para ilustrar tudo o que diz, Greene (2000) recorre a fábulas
e a episódios reais da História, além fazer uso de citações de estrategistas como
Clausewitz e Sun-Tsu, estadistas como Bismarck, sedutores como Casanova,
filósofos como Nietzsche, escritores como Balzac e diplomatas como Maquiavel,
47
este último citado em vários capítulos da obra. O resultado, segundo o próprio autor,
é uma espécie de “manual das artes da dissimulação”, porque a habilidade de
dominar as emoções, diz Greene (2000), é o fundamento básico do poder. O poder
é um jogo social. Para aprender a dominá-lo, você deve desenvolver a capacidade
de e
studar e compreender as pessoas
, prega o autor.
As duas leis que merecem destaque em relação ao assunto mudança
organizacional
em Implantação de Soluções de TI, são as leis 43 conquiste
corações e mentes e 45 pregue a necessidade de mudança, mas não mude
muita coisa ao mesmo tempo. E antes de discorrer sobre elas cabe
lembrar
outro
autor que trata de mudança organizacional, Dave Ulrich (1998), quando define os
“Agente de Mudanças”, profissionais (colaboradores internos ou consultores
externos) que ajudam as organizações a identificarem um processo para administrar
a mudança. Para Ulrich (1998) as ações dos agentes de mudanças incluem a
identifica
ção e estruturação de problemas, construção de relações de confiança,
solução de problemas e criação e execução de planos de ação. Ainda segundo o
mesmo autor, ao gerenciar os processos de mudanças, estes agentes precisam
saber como fazer as coisas acontecerem; agir como catalisadores e arquitetos de
mudanças. Finalmente, estes agentes precisam ajudar no processo de mudança,
definindo um modelo organizacional e patrocinando sua constante aplicação.
Assim sendo, são os Agentes de Mudança os personagens que d
evem
seguir
à
risca, no mínimo, as duas leis de Greene enfatizadas. A lei 43, que se refere
à conquista dos corações e mentes dos demais envolvidos nos processos de
mudança, destaca que a chave da persuasão é amolecer as pessoas, derrubá-
las,
gentilmente.
Seduza-as com uma abordagem dupla: trabalhe suas emoções e jogue
com suas fraquezas intelectuais.” (GREENE, 2000, p.398). O autor se utiliza da
História para reforçar este conceito e cita que “a mente de cada um dos soldados era
um reino que precisava conquistar. Um soldado comprometido, psicologicamente
motivado, lutaria melhor e com mais criatividade do que um boneco.” (GREENE,
2000, p.399). Como “imagem” dessa lei Greene (2000) menciona o Buraco da
Fechadura: espie pelo buraco da fechadura, encontre a chave que abrirá a porta, e
você terá acesso à vontade delas (as pessoas) sem os desagradáveis vestígios de
um arrombamento.” (p.400).
48
Em relação à lei 45 de Greene (2000), que destaca a necessidade de
mudança mas sem mudar muitas coisas ao mesmo tempo, o autor traz uma
passagem que resume de maneira precisa a complexidade de um processo de
mudança organizacional: “A psicologia humana contém muitas dualidades, e uma é
que as pessoas, mesmo compreendendo a necessidade de mudar, sabendo como é
importante que as instituições e indivíduos se renovem de vez em quando, ficam
irritadas e aborrecidas quando isso as afeta pessoalmente. Sabem que a mudança é
necessária, e que a novidade alivia o tédio, mas no íntimo preferem o passado.
Mudar teórica, ou superficialmente, elas querem, mas a mudança que revira os
hábitos e rotinas essenciais é profundamente perturbadora.” (GREENE, 2000, p.422
-
423). O autor aconselha ainda nesse capítulo que as mudanças devem ser
“dissimuladas” no sentido de parecerem menos inovadoras do que são, tudo no
intuito de reduzir o trauma final do processo de mudança. E isto se revela muito
importante em projetos de implantação de Soluções de TI, uma vez que o medo da
inviabilidade da adaptação às novas técnicas informatizadas geralmente desperta
muita resistência nos envolvidos.
Por todo o exposto, percebe-se que as estruturas de poder nas
organizações que se propõem a passar por um processo de mudança são de
extrema importância durante qualquer processo de alteração nas relações de poder
vigente
s. Segundo Nicolau Maquiavel (1469-
1527,
apud
GREENE, 2000)
“Considere
-se que não nada mais difícil, nem de sucesso mais duvidoso, nem
mais arriscado, do que iniciar uma nova ordem das coisas.” (p.422). Cabe ao Agente
de Mudanças, em um projeto de implantação de Solução de Tecnologia da
Informação, saber lidar com toda a complexidade deste processo e obter o sucesso
esperado por toda a organização.
2.2.6
As Relações de Poder e Administração da Mudança Organizacional
Nas últimas décadas tem-se verificado inúmeros casos de organizações
que mudam sua estrutura de valores, crenças, sua visão e missão, enfim,
redirecionam seu caminho no sentido de maximizar o retorno sobre o investimento
dos acionistas, ou de se colocar melhor no mercado ou mesmo apenas para
“sobre
viver” no tormentoso mundo dos negócios. Essas mudanças repentinas, como
49
por exemplo a implantação de uma Solução de TI completa e complexa, muitas
vezes instituídas do dia para
a
noite, acabam por refletir consideravelmente nas
relações de poder vigentes, o que geralmente causa os maiores “traumas” n
os
envolvidos. E citando como exemplo a afirmação de Tachizawa, Cruz Júnior e
Rocha (2003) sobre as organizações que sobreviveram aos anos oitenta, “a
capacidade em lidar com a mudança caracterizou as organizações de sucesso”
(p.154).
Assim sendo, o presente tópico procura confrontar uma obra de George
Orwell com o estudo das relações de poder nas organizações, e também sobre
como administrar a mudança organizacional. Isso tudo
com
base em na obra “A
Revolução d
os Bichos”,
com primeira edição datada
de 1945
,
que traz uma metáfora
sobre como os animais de uma granja (a organização em questão) conseguiram, por
me
io de uma mudança repentina a Revolução tirar o poder da mão de um ser
humano opressor, o antigo pro
prietário do negócio
,
e entregá
-
lo na mão de um porco
tirano, Napoleão, líder notoriamente extremista e que acabou por não fazer o
“melhor uso” do
poder a ele conferido.
Orwell (1997) inicia sua obra explicando as razões que os animais teriam
para tomar o poder, destacando os ideais igualitários do movimento “Todos os
animais são iguais” (
p.14)
e também de fidelidade à causa Animalista “Lutemos
todos por este dia, mesmo que nos custe a vida!” (p.15). Este último trecho faz parte
do hino “Bichos da Inglaterra”, utilizado pela “diretoria” do movimento (no período
que foi conveniente) para reforçar entre os animais da granja a necessidade de
manter o
status
quo
alcançado por meio da Revolução. Porém nesse início da
obra o autor revela um dos aspectos críticos em relação à administração da
mudança nas organizações: o medo do que ocorrerá depois da mudança. A
passagem onde a égua Mimosa questiona Bola-
de
-Neve, o primeiro e mais
moderado porco a assumir a liderança da granja, se continuaria “havendo açúcar
depois da revolução” (p.18) mostra claramente a preocupação da égua com o que
aconteceria depois da mudança iminente.
As organizações que procuram se destacar no mercado atual, em
constante mutação e de uma complexidade cada vez maior de variáveis
interv
enientes, devem procurar desenvolver no seu corpo funcional a capacidade de
absorver e aplicar as mudanças necessárias a cada dia. Lewis (
apud
TACHIZAWA,
50
CRUZ JUNIOR e ROCHA, 2003
)
destaca que uma “mudança bem sucedida supõe
três fases: descongelamento, mu
dança e recongelamento”
(
p.158)
. Porém todo ess
e
processo
deve ocorrer cada vez em um intervalo menor de tempo, pois a tendência
é que as organizações adotem como característica fundamental
a
inovação e a
mudança constante” (TACHIZAWA
,
CRUZ JUNIOR e ROCHA
,
2003; p.161). Na
obra de Orwell (1997) a grande maioria dos bichos tinha uma disposição natural
para
acreditar e aceitar como verdade o que os porcos (principalmente Garganta, o
“agente de mudança” nomeado pelo líder Napoleão) declaravam, mesmo que as
af
irmações fossem contraditórias dia após dia. As peças que questionavam as novas
regras impostas e demoravam a mudar eram duramente repreendidas e, em alguns
casos, sacrificadas em frente aos outros animais; tudo no intuito de manter a ordem
e mostrar a tod
os nas mãos de quem estava o poder.
Vale destacar algumas outras passagens da obra que revelam o enfoque
dado a esta relevante variável de ordem dentro das organizações. Após tomarem o
poder, os bichos da granja sofreram com uma liderança totalmente ditato
ria
l, com os
porcos no poder, por serem a espécie com mais “inteligência” na referida obra.
Saíram da escravidão, na época do “ser humano” Jones, e passaram para uma
ditadura desavergonhada de Napoleão, o porco “mais inteligente”, da espécie de
animal que passou a andar sobre duas patas no trecho final da obra. O autor
inclusive finalizou o livro com a passagem: “já se tornara impossível distinguir quem
era homem e quem era porco” (p.98).
Percebe
-se, por todo
o
exposto, que o autor descreve em sua obra uma
prática comum nas organizações: as peças são substituídas, mesmo na diretoria,
porém a supremacia dos interesses individuais é inabalável. Uma “revolução”, ou
uma mudança organizacional, geralmente tem fins nobres e objetivos positivos. Uma
implantação de Solução de TI geralmente
também
tem objetivos positivos. Porém os
interesses individuais e a luta pelo poder acabam por desvirtuar todo o processo,
resultando, portanto, em um resultado negativo. E isto se repete a cada processo de
mudança, o que exprime o
quão importante é o estudo das relações de poder para a
árdua tarefa de administrar mudança. Orwell (1997) fez a leitura de um tipo de
organização, com alguns poucos “espíritos de porcos” e vários elementos
extremamente ingênuos. Porém cada organização possui sua configuração
51
particular; cabe ao administrador da mudança ter a habilidade de
mapeá
-
la
corretamente e trabalhar sobre este mapa concebido.
2.2.7
Gerenciamento do Projeto
Um aspecto que não pode ser deixado de lado no momento
em
que se
concebe e implanta um projeto em uma empresa é de como o mesmo deve ser
planejado e gerenciado. É fundamental levar em conta todos os fatores envolvidos
nu
ma mudança tão grande em uma empresa. Para tanto, sugere-se aqui a adoção
dos conceitos do PMBook 2000 v1.0 (disponíve
l em ww
w.pmimg.org.br) que destaca
as
9 atividades no gestor do projeto:
a)
Gerência da Integração do Projeto
b)
Gerência do Escopo do Projeto
c)
Gerência do Tempo do Projeto
d)
Gerência do Custo do Projeto
e)
Gerência da Qualidade do Projeto
f)
Gerência dos Recursos Humano
s do Projeto
g)
Gerência das Comunicações do Projeto
h)
Gerência dos Riscos do Projeto
i)
Gerência das Aquisições do Projeto
O gestor deve, portanto, estar atento a esses nove aspectos em todas as
fases do projeto, mas de maneira mais intensa no seu planejamento. Um plano mal
concebido
pode ser o causador do insucesso do projeto como um todo, e muitas
vezes
sem dar
margem para reparos.
Mas como a pesquisa em questão trata de projetos de implantação de
soluções em TI, mostra-se adequada a
adoção
de uma metodologia de elaboração
de projetos tecnológicos. Sendo assim, sugere-
se uma metodologia apresentada por
Rezende (2003) que define um roteiro para a elaboração de um projeto de
Planejamento Estratégico da Tecnologia da Informação PETI. O autor salienta que
as etapas e tarefas relatadas a seguir podem ser adequadas, complementadas ou
52
suprimidas de empresa para empresa e de projeto para projeto, porém servem como
um “norte” para o gestor de um projeto de TI. As etapas são descritas no quadro a
seguir.
Quadro
2.
1
Metodologia para Elaboração do PETI
METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PETI
a. Organizar o projeto;
b. Capacitar a equipe de trabalho;
c. Identificar estratégias e ações empresariais (Business Plan);
d. Identificar informações e conhecimentos empresariais;
e. Id
entificar e avaliar os Sistemas de Informação;
f. Planejar e propor Sistemas de Informação;
g. Avaliar Tecnologia da Informação;
h. Planejar Tecnologia da Informação
software
;
i. Planejar Tecnologia da Informação
hardware
;
j. Planejar Tecnologia da Inf
ormação
sistemas de telecomunicação;
k. Planejar Tecnologia da Informação – gestão de dados e informação;
l. Avaliar infra
-
estrutura paralela;
m. Planejar infra
-
estrutura paralela;
n. Organizar a unidade de Tecnologia da Informação;
o. Avaliar recursos h
umanos;
p. Planejar recursos humanos;
q. Estabelecer prioridades;
r. Avaliar impactos;
s. Elaborar plano econômico
-
financeiro;
t. Elaborar planos de ação;
u. Gestionar, documentar e aprovar o projeto.
Fonte:
Rezende (2003)
Rezende (2003) ainda destaca:
“t
odas as fases devem ser individualmente apresentadas,
avaliadas e aprovadas pelos envolvidos e pela empresa
em sua totalidade. Também devem ser desmembradas
em subfases para elaboração do desenvolvimento do
Planejamento Estratégico de Informações, onde cad
a
subfase deve gerar um ou mais produtos correspondentes
a ela”.
, (p.8
-
9)
Seguidas
com atenção todas essas etapas na implantação de uma
solução em TI, o sucesso do projeto é iminente. Cabe ao provedor da solução e a
contratante pactuarem e organizarem uma equipe multidisciplinar competente e
comprometida com o projeto. Sempre lembrando da importância do patrocinador
(quem financia o projeto, geralmente o Presidente/Diretor da empresa), que deve
53
estar inserido no desenvolvimento do projeto e também durante sua implantação,
utilizando toda a sua força política para facilitar a aceitação da mudança por parte do
corpo de colaboradores.
2.2.8
Considerações Finais acerca dos Aspectos Organizacionais
Por todo o exposto, é possível perceber o quão importante
é
estudar
detalhadamente aspectos relativos a estruturas sociais, modelos de gestão,
“modismos” da administração, mudança organizacional e, principalmente, as
relações de poder nas organizações, para que seja possível discorrer com
propriedade sobre Implantação de Soluções de TI. Foram apresentados acima
diversos conceitos relevantes que foram
recolhidos
em leituras realizadas durante o
desde o segundo semestre de 2004, na disciplina de História do Pensamento
Administrativo, e que certamente enriquecem a base teórica da pesquisa em
andamento. Foram mencionados aspectos-chave sobre Implantação de Soluções de
TI, destacando gerenciamento de projetos, mudança organizacional e as relações de
poder nas organizações.
54
3
PROCEDIMENTOS METODO
LÓGICOS
Segundo Lakatos e Marconi (1985) método é o conjunto de atividades
sistemáticas e racionais que, com maior segurança permite alcançar o objetivo
conhecimentos válidos e verdadeiros – detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista. Assim sendo,
a
pesquisa realizada tem dois pilares fundamentais: dados
teóricos, obtidos via pesquisa bibliográfi
ca
,
e dados práticos, extraídos do estudo de
caso concreto de aplicação deste uma solução de TI em uma empresa. A seguir são
definidos
aspectos metodológicos relativos à pesquisa.
3.1
A
BORD
AGEM DA
P
ESQUISA
Segundo Lakatos e Marconi (1985) pesquisa é um procedimento reflexivo
sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados,
relações ou leis, em qualquer campo de conhecimento. Assim sendo,
foram
utilizados
nesta pesquisa questionários com perguntas fechadas, em um primeiro
momento, e com perguntas abertas, em um segundo momento, onde
foi
possível
detectar nuances específicas de cada entrevista realizada. Po
de
-se caracterizar a
metodologia desta pesquisa como quantitativa em um primeiro momento e
qualitativa em um segundo.
3.2
T
IPOS DE
P
ESQUISA
U
TILIZADOS
Como tipos de pesquisa utilizados,
destacam
-
se
três estratégias. A
primeira delas é a pesquisa exploratória bibliográfica, ou seja, levantamento de
informações teóricas
sobre o tema estudado no sentido de
obter
conteúdo
s
sobre as
Soluções de TI e também sobre Gerência de Projetos e Administração da Mudança.
A segunda estratégia é a pesquisa de campo com utilização de
questionários. Esta estratégia mostra-
se
muito útil no levantamento de
necessidades
das organizações. Foi aplicado, portanto, um questionário completo que levou o
pesquisador a conseguir detectar claramente quais são as dificuldades de cada área
55
da organização pesquisada. Como
se trata
de uma implantação de s
olução de TI em
uma empresa, projeto este que contempla a figura do “cliente”, ou seja, o usuário ou
gerente interno do projeto que está recebendo o “pacote” proposto pelo fornecedor
da solução de TI, a utilização de
questionários
de importância
versus
sat
isfação
se
mostrou
muito útil para chegar a diagnóstico preciso dos principais
FCSs
e
FCIs
deste projeto.
Albrecht e Bradford (1992), criadores desta metodologia de pesquisa,
sugerem que o mesmo questionário seja aplicado duas vezes, uma medindo a
importân
cia de cada tópico apresentado ao “cliente” interno (usuário), e a outra
medindo a satisfação deste em relação ao mesmo tópico. Para análise, confronta-
se
o valor atribuído pelo “cliente” à importância,
com
nível de satisfação reportado por
ele, chegando a uma matriz chamada de “Janela do Cliente”. Na seqüência deste
capítulo será melhor explicada essa metodologia de análise proposta por Albrecht e
Bradford (1992). Mas cabe ressaltar desde logo que os questionários foram
aplicados nos elementos-chave da organização em estudo, e também no consultor
da provedora do ERP que mais participou da implantação. Isso garantiu a visão de
ambas as partes sobre o processo de implantação, enriquecendo a “janela do
cliente”.
Por fim, a terceira estratégia de pesquisa utili
zada
foi a entrevista em
profundidade
aos elementos-chave. P
artiu
-
se
dos
FCSs
e
FCIs
detectados pela
janela do cliente para formulação de entrevistas com perguntas abertas, que
procuravam chegar à percepção d
os
FCSs
e
FCIs
pelos envolvidos na implantação
da solução de TI na empresa em estudo. A partir daí foi possível
traçar
diagnóstico
do ocorrido, analisando a conformidade ou desconformidade entre expectativas e
resultados, e quais os principais motivos para sucesso ou insucesso da implantação.
Para enriquecer a análise, realizou-se também exame dos fatores ocultos em cada
entrevista, que o pesquisador estava inserido na organização durante o período
final da implantação da solução de TI e nos meses subseqüentes, inclusive
participando dos impactos positivos e negativos do projeto de implantação do ERP
escolhido
(solução de TI em questão)
.
56
3.3
D
EFINIÇÃO DAS VARIÁVE
IS DA PESQUISA
A dificuldade de estabelecer variáveis intervenientes e de avaliar os
resultados de uma Implantação de uma Solução de TI mostra-
se
relativamente
grande. Análises de desempenho, confrontando custos diretos e indiretos, lucro,
faturamento e outros indicadores podem não ser medidas ideais para mensuração
do sucesso ou não de uma implantação. Uma Solução de TI não apenas propicia
redução
de custos, mas possibilita alguns ganhos que normalmente não são
explicitados pelos indicadores econômicos e financeiros. Vantagens como facilidade
de comunicação, agilidade perante as mudanças de mercado e da concorrência,
flexibilidade no atendimento aos clientes, redução dos custos e prazos de
lançamento de produtos, dentre outros, apresentam em sua avaliação elementos
essencialmente qualitativos, o que torna a análise financeira clássica (quantitativa)
ineficaz. Muitas vezes não se trata de implantar para aumentar o lucro ou o
faturamento, e sim implantar o sistema para não sair do mercado.
Segundo Lakatos e Marconi (1985
)
uma “variável pode ser considerada
como uma classificação ou medida; uma quantidade que varia; um conceito
operacional que contém ou apresenta valores”. As autoras destacam ainda que
“podem ser quantidades, qualidades, características, magnitudes, traços etc., que se
alteram em cada caso particular e são totalmente abrangentes e mutuamente
exclusivos.”
(p.130)
O instrumento utilizado para a coleta dos dados
foi
um questionário
composto por questões fechadas, que teve como objetivo levantar qual a
importância e o grau de satisfação que o respondente atribui a cada um dos
aspectos apresentados. A definição dos aspectos ou variáveis foi fei
ta com base nos
conceitos citados pelos diversos autores mencionados no Referencial Teórico
,
principalmente
seguindo
a metodologia PETI proposta por Rezende (2003)
,
ampliada para se adequar à análise em questão. Assim, foram formuladas 33
assertivas
, a maioria delas em consonância com a mencionada metodologia PETI
.
Essas assertivas foram colocadas em uma escala ordinal, tipo Likert, composta d
e
cinco categorias de respostas, em termos de grau de importância, da seguinte
forma:
1 para irrelevante, 2 para pouco importante, 3 para importância intermediária,
4 para muito importante e cinco para de fundamental importância. Da mesma forma,
57
para
grau de satisfação, se divide em: 1 para insatisfeito, 2 para pouco satisfeito, 3
para satisfação regular, 4 para satisf
eito e cinco para muito satisfeito.
Os seguintes itens
foram
abordados:
i.
Estruturação, organização e planejamento geral do projeto;
ii.
Capacitação da equipe de trabalho interna (na empresa);
iii.
Capacitação da equipe de trabalho externa (consultores);
iv.
Identificaçã
o das estratégias empresariais vinculadas ao projeto;
v.
Identificação das informações e conhecimentos empresariais
envolvidas no projeto;
vi.
Identificação e avaliação os Sistemas de Informação existentes na
empresa;
vii.
Planejamento e proposição dos novos Sistemas de Informação
necessários;
viii.
Avaliação das Soluções de Tecnologia da Informação existentes
na empresa;
ix.
Planejamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades
de
software
;
x.
Planejamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades
de
hardware
;
xi.
Plane
jamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades
de sistemas de telecomunicação;
xii.
Planejamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades
de infra
-
estrutura física;
xiii.
Planejamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades
de gestão de dad
os e informação;
xiv.
Organização da unidade/departamento de Tecnologia da
Informação;
xv.
Estabelecimento de prioridades de projeto;
xvi.
Elaboração de cronograma físico
-
finaceiro;
58
xvii.
Acompanhamento do cronograma físico
-
fina
n
ceiro;
xviii.
Avaliação dos impactos técnicos da impla
ntação;
xix.
Avaliação dos impactos humanos da implantação;
xx.
Avaliação dos recursos humanos envolvidos no projeto equipe
responsável pelo projeto, usuários e demais pessoas envolvidas;
xxi.
Planejamento de recursos humanos necessidades de
treinamento, capacitação
, motivação
etc
;
xxii.
Preparação da mudança organizacional antecipação dos
elementos
-
chave da mudança;
xxiii.
Planejamento da mudança organizacional participação da
equipe interna e externa para planejar o trabalho a ser feito;
xxiv.
Estruturas de transição estabelecimento de meios especiais de
trabalho conjunto e estruturas organizacionais temporárias;
xxv.
Implementação do processo de mudança organizacional
ativação da proposta flexível de trabalho, que crie condições para
que a equipe estabeleça um ciclo de aprendizagem como parte
integrante do processo;
xxvi.
Fornecimento de informações e divulgação dos planos de
mudança
explicação do que devem esperar os envolvidos no
projeto e sugestões sobre o que eles poderão fazer para melhor
se adaptar à nova situação;
xxvii.
Envolvimento dos “patrocinadores” do projeto participação ativa
da diretoria ou demais elementos que estão patrocinando o
projeto;
xxviii.
Disponibilidade e empatia para conversas e para acatar a
sugestões advindas de usuários ou demais envolvidos no projeto;
xxix.
Estabelecimento de metas claras de curto, dio e longo prazo
planos de ações inequívocos e possíveis de serem seguidos e
cumpridos nos prazos estabelecidos;
59
xxx.
Motivação constante da equipe utilização de estratégias
motivacionais e de integração da equipe envolvida no pr
ojeto;
xxxi.
Estabelecimento de políticas de recompensa reconhecimento
para as pessoas que conseguiram realizar seus trabalhos no
projeto;
xxxii.
Gestão geral do projeto acompanhamento e controle do projeto
como um todo;
xxxiii.
Documentação do projeto registro de todas as etapas do
processo de mudança, principalmente na fase de concepção dos
novos processos organizacionais;
3.4
D
ELIMITAÇÃO DA PESQUI
SA
Como o estudo
esteve
focado
em uma empresa, é pouco relevante
definir
precisamente qual seria a população de empresas necessária para se chegar a uma
amostra probabilística. Da mesma forma, um número mínimo de entrevistados para
representar amostra estatisticamente aceitável. Isso levou o pesquisador a
utilizar
uma amostra aleatória, por conveniência, aplicando os questionários
as
pessoa
s
consideradas
chave
s”
dentro deste projeto de implantação de solução de TI n
a
organização em estudo. Tal procedimento, portanto, leva a uma amostra não-
probabilística e, conseqüentemente, os resultados da pesquisa servirão somente
como indicativos de comportamento, não podendo ser generalizados para
outras
empresas
/entrevistados
. Por isso as inferências extraídas da amostra devem ser
ressalvadas, em função das limitações deste ti
po de abordagem.
Foram escolhidos 10 elementos-chave da organização em estudo, os que
formam
uma mescla dos que mais participaram do processo de implantação com os
principais usuários do sistema (mesmo que não tenham participado de todo
processo de implantação). Além disso, um dos elementos-chave pesquisados,
apesar de não se encontrar mais nem na empresa estudada, nem no Brasil (no
período da pesquisa estava participando de um projeto no Uruguai), forneceu uma
visão muito minuciosa da implantação, por ter sido o elo entre provedor do ERP e
empresa à época da implantação da
Solução de TI na organização estudada.
60
Além desses 10 respondentes da organização em estudo, o consultor da
provedora do ERP que mais participou da implantação
também
respondeu aos
questionários. Como mencionado anteriormente, isso garantiu a visão de ambas as
partes sobre o processo de implantação, enriquecendo a “janela do cliente”. Foi
aventada a possibilidade de um censo entre os consultores que participaram do
projeto na época, porém a empresa provedora do ERP dificultou muito e
sta
aplicação de questionários. Por ser relevante para a pesquisa, consentiu em que o
principal elo entre provedor do ERP e cliente
respondesse
os questionários
.
Motivos
como “falta de tempo” e “viagens a negócios” foram usados como justificativas pelo
provedor do ERP para não disponibilizar mais respondentes, porém o próprio
consultor que acabou respondendo o questionário confidenciou que o problema era
mais político que de planejamento. Tanto que não autorizaram a divulgação do
nome da provedora do ERP na dissertação.
3.5
D
ADOS
,
CO
LETA E TRATAMENTO
Conforme mencionado anteriormente, a coleta dos dados
foi
realizada
aplicando questionários aos elementos-chave das áreas da organização estudada.
Quanto ao tratamento dos dados, com as escalas de importância e satisfação dos
questionários aplicados aos funcionários da empresa pesquisada,
foi
utilizada a
metodologia sugerida por Albrecht e Bradford (1992) chamada “Janela do Cliente”.
Segundo os autores, a Janela do Cliente é composta por duas variáveis, a
Importância e a Satisfação, para as quais se formulam questionários específicos. No
questionário de importância, procura-se identificar o grau de importância para o
entrevistado
de
cada aspecto que se quer observar. No questionário de satisfação,
identifica
-se a satisfação do entrevistado em relação a cada aspecto que se quer
avaliar
. Desta forma, pode-
se
compor
uma matriz de dupla entrada (importância e
satisfação), que permita identificar a situação do atributo questionado em relação à
importância e o desempenho dele percebido pelo entrev
istado.
Segundo Albrecht e Bradford (1992), a matriz permite
ainda
identificar
quatro posicionamentos dos atributos questionados, conforme mostra a figura a
seguir:
61
Figura
3.1
Janela do Cliente
Fonte:
ALBRECHT E BRADFORD, 1992.
· Quadrante A:
O “c
liente”
(entrevistado)
valoriza o serviço e também recebe. É o
desejo de todas as empresas que os clientes identifiquem seus produtos nesse
quadrante.
Para o caso de uma implantação de solução de TI, a provedora do ERP
gostaria que todas as respostas aos atributos avaliados estivessem, da mesma
forma,
localizadas
neste quadrante, o qual representa os
FCSs
de um projeto.
Porém
, isto é um desafio praticamente inatingível, pois por mais que seja seguida
uma metodologia adequada para implantação de solução de TI, alguns
respondentes acabarão por julgar pouco satisfatório um atributo ou outro. Uma
predominância de atributos neste quadrante pode ser considerada um resultado
bem sucedido
.
· Quadrante B:
O cliente” não valoriza mas recebe. O cliente pouca im
portância
ao serviço oferecido, mesmo estando satisfeito com o que recebe. Albrecht e
Bradford (1992) destacam que neste caso, ou a empresa está gastando muitos
recursos (tempo, dinheiro e energia) sem ter retorno, podendo diminuir seus
investimentos
nestes atributos/produtos, ou a empresa pode desenvolver um
trabalho de modo que
aumente
, de alguma forma, a percepção do cliente sobre a
FCS’s
62
importância desses serviços. Se isso ocorrer, o atributo será deslocado do quadrante
B para o quadrante A. Para o projeto em estudo, de implantações de soluções de TI,
o esforço poderia ser alocado para atributos que o “cliente” valoriza mais (quadrante
A), tudo no sentido de “ganhar a confiança” dos envolvidos no projeto.
·
Quadrante C:
O “cliente” não valoriza e também não
recebe. Para os autores, essa
é uma zona rara, pois o cliente não valoriza esse atributo. Entretanto, se o cliente
vier a perceber alguma importância mais tarde, a empresa pode vir a perder
competitividade, pois seu desempenho ficará abaixo da média.
·
Qu
adrante D:
O “cliente” valoriza mas não recebe. Aqui, a empresa deve dedicar
atenção especial, pois é uma zona vulnerável. Albrecht e Bradford (1992)
recomendam que a empresa no caso a fornecedora da solução de TI deve
centrar seus esforços para modificar o nível de satisfação percebido por seus
“clientes”.
Os atributos posicionados neste quadrante são os
FCIs
deste projeto,
claramente identificados pelos entrevistados. Cabe tanto à provedora do ERP,
quanto à empresa contratante, evitar ao máximo que atributos estejam posicionados
neste quadrante ao final do projeto. Todos os atributos localizados neste quadrante
representam insucessos consolidados; portanto a melhor estratégia seria a aplicação
de questionários de importância no início do projeto, tentando identificar os atributos
mais importantes para seus participantes, no sentido de investir tempo de recursos
financeiro para o atingimento da satisfação máxima nesses atributos.
· Zona Cinzenta:
Albrecht e Bradford (1992) nomearam de zona cinzenta quando a
importância do atributo que está sendo avaliado, não é alta nem baixa na opinião do
cliente e quando seu desempenho nele também está na faixa média. Nesse caso, os
serviços que a fornecedora oferece estão na média da concorrência.
Apesar de ser uma metodologia que se aplica muito bem a análise de
problemas de posicionamento de produtos em mercados, Albrecht e Bradford (1992)
salientam que a “Janela do Cliente” pode ser aplicada para os mais variados tipos de
pesquisa, incluindo clima organizacional,
st
atus
de gestão de projetos, satisfação de
uma determinada área da empresa em relação a sua chefia, modelos de gestão,
enfim, tudo que em que se queira medir precisamente os
FCSs
(Quadrante A) e os
FCIs
(Quadrante D) de uma maneira prática e confiável.
63
4
EST
UDO DE CASO
IONICS
Este capítulo se propõe a detalhar como foi realizado o estudo de caso,
bem como mostrar o resultado da análise dos dados obtidos pela pesquisa.
Primeiramente caracteriza-se a empresa estudada, destacando seu mercado de
atuação,
suas
peculiaridades e a estrutura organizacional que foi concebida para
atender ess
e mercado.
Na seqüência apresenta-se a análise dos dados, dividindo os resultados
em Fatores Críticos de Sucesso e de Insucesso, destacando algumas divergências
de opiniões entre empresa que passou pelo processo de implantação de ERP e o
provedor
do
ERP (também respondente dos questionários de pesquisa).
4.1
C
ARACTERIZAÇÃO DA
E
MPRESA
E
D
IAGNÓSTICO
O
RGANIZACIONAL
A empresa que abriu suas portas para realização do estudo chama-
se
ION
ICS
Informática e Automação que, como o próprio nome diz, atua
predominantemente no mercado de informática e automação, porém focada no
mercado de postos
de abastecimento
e distribuidoras de combustíveis.
Criada em 1987 com o objetivo pioneiro de pesquisar, desenvolver e
prover soluções de automação e controle para postos de abastecimento de
combustíveis e similares, a IONICS permanece líder de mercado desde sua criação.
Ao longo desses anos, com pioneirismo e inovação, consolidou a sua liderança no
mercado
nacional e hoje possui uma excelente carteira de aproximadamente 5.
000
clientes pulverizados por todo o Brasil. A IONICS fabrica seus próprios
equipamentos e programas, garantindo assim o fornecimento, a assistência técnica
e a reposição de peças permanen
temente.
As atividades operacionais de vendas, implantações e pós-venda são
exercidas tanto por equipe interna de profissionais, como por rede de
representantes
comerciais e agentes técnicos credenciados, formada por mais de
sessenta
64
empresas que perfazem aproximadamente duzentos profissionais, dedicados aos
clientes e produtos IONICS. A metodologia de trabalho da IONICS está
fundamentada na experiência adquirida ao longo desses mais de vinte anos no trato
de assuntos ligados à área de combustíveis, motivo
pelo qual
a empresa assegura a
execução de trabalhos de alto nível, fundamentados no conhecimento técnico de
uma equipe capacitada para as atividades inerentes a sua atuação.
A estrutura organizacional da empresa atualmente é a seguinte:
Figura
4
.1
Dist
ribuição funcional
IONICS em 2007
Porém
, em 2004, época em que a empresa passou pelo projeto de
implantação, a estrutura era
diferente.
Para melhorar o entendimento do contexto da
empresa à época, apresenta-se a seguir a estrutura organizacional detalh
ada,
inclu
sive contextualizando cada área e traçando um diagnóstico de como a empresa
se encontrava estruturada naquele período
.
Es
sa descrição foi extraída de um estudo realizado pela diretoria da
empresa ainda no final de 2003 e
concluído
no
início de
20
04. Um dos objetivos do
65
estudo era realmente preparar a empresa para implantação de um sistema de
gestão integrado, implantando-o em uma empresa organizada. A maneira como foi
concebido
e estruturado por um dos diretores foi questionada pelos demais
membro
s da organização, razão pela qual não foi totalmente colocado em prática ao
longo de 2004. S
erviu
, porém, como direcionamento na estruturação da empresa,
que estava prestes a passar por uma “revolução” na implementação de um novo
sistema de gestão. Hoje, algumas sugestões do próprio diretor de desenvolvimento
foram acatadas, outras descartadas. Como eram a visão da empresa na época,
serão mencionadas na seqüência.
Durante o transcorrer de 2003 foi realizado tratamento de choque” na
empresa. Todas as ações e decisões importantes e cotidianas f
icaram
totalmente
centralizadas e nada acontecia na empresa sem que a diretoria estivesse
absolutamente a par dos detalhes
. Os gerentes e o pessoal operacional,
passaram a
ser
controlados
diretamente pelo presidente da
empresa, e suas
ativi
dades cobradas
semanalmente. Ist
o trouxe
importantes
resultados, tais como:
Ajudou a melhorar o nível de resposta e serviço da empresa;
Permitiu a definição de projetos que se iniciaram em 2003;
Impediu o avanço da “doença” organizacional que se apoderava da
IONICS, cujos sintomas eram reclamações de todos os lados, críticas a todos e a
tudo, descontrole gerencial, desmotivação do quadro de pessoal e, pior do que tudo,
tendência acentuada de perda de negócios e conseqüente queda d
e vendas.
A partir do quarto trimestre de 2003 a empresa começou a afrouxar o “nó
da gravata” palavras usadas à época. O proprietário da empresa, então
presidente,
assumiu a diretoria comercial, e nomeou um
diretor
de serviços e outro
de desenvolvimento
e comercialização de novas soluções (produtos em concepção)
.
A empresa saiu do modelo centralizado para um modelo de gestão com diretores e
gerentes.
O que se observou ao final de 2003 é que esse “novo” modelo carecia de
melhor estruturação. A transição da
centralização para a gestão por diretorias não foi
planejada e nem implementada adequadamente. Os reflexos foram os seguintes:
O pessoal interno reclama
va
de duplo comando ou múltiplas
subordinações;
O cham
ado nível gerencial não respondeu às expectat
ivas da diretoria;
66
Pessoas eram
cobradas por assuntos não diretamente ligados a elas;
O plano de atividades gerenciais deixou de ser cobr
ado
sistematicamente, o que levou à sensação de que muitos processos internos
estavam
“soltos”;
Pes
soas sem o perfil adequado estavam sendo exigidas em atividades
de controle e gerenciamento;
Como não foi feita uma avaliação formal do planejamento estratégico
de 2003, a diretoria e as gerências não sabiam muito bem onde acertaram e o que
erraram depois de um ano in
teiro de trabalho;
Se o modelo anterior, centralizado, “forçava” a comunicação entre as
pessoas, passou-
se
a ter uma ausência quase completa de comunicação no nível
gerencial e de diretoria. Não se faz
iam
mais reuniões de acompanhamento d
as
atividades e o “informal” foi
ganhando corpo.
A situação não se compara
va
ao que a empresa vivia no p
rimeiro
trimestre de 2003, mas era preocupante. Vale destacar, dentro da situação da
empresa
à
época
, três problemas que precis
av
am ser urgentemente tratados:
1.
Falta
de comunicação;
2.
Ausência de um modelo organizacional que substitu
ísse
adequadamente o que havia até setembro de 2003;
3.
Falta de procedimento gerencial padrão para cobrança de metas e
resultados.
A IONICS tinha para 2004 grandes desafios. Novos produtos, novos
mercados, novos parceiros, a prestação de serviços diretamente aos clientes, dentre
outros
. Cab
ia
à diretoria tratar urgentemente da estruturação organizacional e
funcional da empresa, pois era essencial que
fosse
preparada uma fundação sólida
e
segura para o crescimento que se est
ava
buscando. Sem um modelo consistente,
sem gerências fortes, sem as pessoas certas nos lugares certos, a empresa corria o
risco de sucumbir com o
próprio peso.
A seguir, portanto, são descritas e avaliadas (via índices
)
as funções
presentes
no modelo organizacional da IONICS
vigente
no início de
2004
, levando
em consideração o seguinte:
67
O grau de cobertura (GC) de cada função à época (início de 2004). Ele
indica percentualmente qual o nível de desempenho da função;
O índice de criticidade (IC) da função para atender ao P
lanejamento
Estratégico de 2004. Este índice exprime o quão implorante é a função analisada
dentro do contexto de crescimento da empresa. S
egue a
legenda: alto, médio, baixo;
Sugestões
do
diretor
de desenvolvimento – o principal responsável
pela implantação do ERP na empresa para organização das funções para
atendimento do Planejamento Estratégico de 2004.
1. Área
Administrativa e Financeira
1
.1 Função: Finanças
Processos: Tesouraria, contas a receber e a pagar, contabilidade e ativo
fixo.
GC: 60%
IC: Alto
A diretoria não receb
ia
(pelo menos formalmente) nenhuma informação
gerencial sobre as finanças da empresa e muito menos sobre o resultado contábil e
gerencial. Essa função mostrava carência
da
implantação de um sistema financeiro
integrado, que
visasse
trazer agilidade, confiabilidade e disponibilidade das
informações.
Sem informações não como analisar e agir. Conseqüe
ntemente não
há como gerenciar.
Sugestões
do
diretor
de desenvolvimento
:
1.
O coordenador da área de finanças
deve
ria
estar focado quase que
totalmente nessa função e se dedicar à implantação do sistema financeiro;
2.
Era necessário avaliar o perfil das pessoas ligadas à área financeira.
Eram demandadas pessoas que
tivessem
alguma familiaridade com sistemas de
informação, caso contrário
surgir
iam
resistências e os resultados não ir
iam
aparecer;
3.
Estabelecer um padrão de relatórios gerenciais da área financeira para
análise mensal no encontro d
e
diretoria.
68
1
.2 Função: Recursos
Humanos
Processos: Recrutamento e seleção, desenvolvimento de pessoal, cargos
e salários, controle de pessoal e folha de pagamento.
GC: 20%
IC: Alto
Uma empresa de desenvolvimento de produtos, comercialização e
prestação de serviços é uma empresa essencialmente de mão-
de
-obra. O seu
grande ativo são os seus colaboradores. E, à
época
, a IONICS chegava à conclusão
de
que não geria adequadamente o
seu
pessoal. Não que isso
fosse
uma tarefa
apenas da função RH, pois
é sabido
que o principal responsável pelo ge
renciamento
de pessoal é o gerente ou coordenador de cada área. Mas o problema era que o
s
“gerentes”
da IONICS não estavam preparados para tanto. Era preciso
desenvolver
um nível gerencial e, de alguma forma, eliminar a
miopia
na função de RH. As
ações d
e RH
previstas no PE 2003 não haviam sido
realizadas.
O processo de controle de pessoal era precário. A falta de comunicação
imperava. Não havia um processo de recrutamento e seleção estruturado. Isso era
feito empírica e eventualmente, quase sempre, quando a empresa estava
precisando de uma pessoa para contratação urgente. Esse processo leva
va
a
empresa a cometer erros. Não havia um plano para desenvolvimento das pessoas
na empresa, bem como não h
avia
plano de remuneração variável e o resultado é
que não
havia
como segurar talentos na e
mpresa.
Sugestões
do diretor de desenvolvimento:
1.
Contratar uma pessoa ou terceirizar com uma empresa o atendimento
exclusivo
dos processos de RH;
2.
Estabelecer, a partir das metas do PE 2004 para cada área, um plano
de r
emuneração variável para as pessoas
-
chave da empresa;
3.
Formular e implantar um programa de desenvolvimento de pessoal
para toda a empresa.
69
1
.3 Função: Administração
Processos: Compras, recebimento e expedição, controle de estoques
(P
rodutos
A
cabados
/ M
atérias
-
primas
), segurança, manutenção predial, serviços
gerais e de pessoal.
GC: 60%
IC: Alto
Tirando os problemas da falta de controle de compras e de estoque
(motivados essencialmente pela falta de um sistema informatizado), essa função
estava
relativamente bem atendida.
Existiam
motivos: em 2003 o proprietário da
empresa e o gerente da área de
spenderam
muito
t
empo trata
ndo
desse assunto.
Sugestões
do diretor de desenvolvimento:
1.
Gerente dessa área
deveria
fica
r como responsável direto pela função
e
também pelo projeto de implantação do
ERP na IONICS em sua área
;
1
.4 Função: Controladoria
Processos: Planejamento empresarial, acompanhamento orçamentário,
captação de recursos, avaliação de resultados, assessoria jurídica e sistemas
internos.
Os vários processos foram avaliados separadamente e abaixo está sua
avaliação geral, seguida do detalhamento.
GC: 30%
(no geral)
IC: Alto
(no geral)
Processo
1.4.1
: Planejamento Empresarial
GC: 30%
IC: Alto
A função de planejamento estratégico est
ava
a cargo dos diretores. Os
resultados do PE 2003 não foram avaliados. O PE 2004 então não havia sido
concluído, já que os diretores dedica
va
m boa parte do seu tempo a atividad
es
essencialmente operacionais.
70
Processo
1.4.2
: Acompanhamento orçamentário
GC: 0%
IC: Alto
O acompanhamento orçamentário não
era
passível
de ser realizado em
virtude das limitações do controle financeiro da empresa. Isso só ser
ia
possível
quando o ERP estive
sse
operando e essa prática gerencial fosse assimilada na
empresa.
Processo
1.4.3
: Captação
de
recursos
GC: 30%
IC: Médio
A captação de recursos era um assunto
exclusivo
da Presidência. E o
diretor de desenvolvimento afirmava que iria
precis
ar de mais pessoas se a empresa
quisesse
atender
às
expectativas da área comercial para 2004. A IONICS, ao
diversificar seus produtos e seu mercado de atuação àquela época,
passa
va
a ser
atingida
, como toda empresa de desenvolvimento de soluções tecnológicas, pelo
peso de dois conceitos importantíssimos: de
Time
-
to
-
Market
(tempo certo para o
produto chegar ao mercado)
e
Custo de Oportunidade (valor pago para chegar ao
mercado em tempo oportuno)
.
Era possível desenvolver e liberar produtos no ritmo
em
que a capacidade de investimentos da empresa permitisse. O diretor de
desenvolvimento questionava acerca de
quan
to tempo o mercado estava disposto a
esperar pelos produtos em desenvolvimento. Todo o custo de desenvolvimento
est
ava
sendo coberto pelo capital de giro da empresa e algumas
pequenas
captações em bancos comerciais. Essa era a diretriz básica seguida pelo
presidente
da empresa, responsável pela função à época.
Processo
1.4.4
: Sistemas internos
GC: 20%
IC: Alto
71
A IONICS precisa
va
concluir a implantação da primeira e segunda fases
do seu sistema de informações
(ERP) ainda no início de 2004, para poder partir
para
a fase que culminava com o go live (início das operações via sistema). Após isso,
era indicação do gerente de desenvolvimento fazer acompanhamento e
providenciar
eventuais
ajustes. Sem esse sistema de informações
,
a empresa estava fadada a
continu
ar
míope”
empresarialmente falando, pois informação é vital para a gestão
de uma empresa. àquela época era sabido que esse projeto i
ria
consumir
muito
tempo dos colaboradores das diversas áreas e precisa
va
, sob pena de fracassar, de
total apoio da Pres
idência e Diretoria
s
.
Processo
1.4.5
: Custos e apuração de resultados
GC: 20%
IC: Alto
A empresa carecia de controlar e conhecer a lucratividade das operações
de desenvolvimento e comercialização de produtos. Não sabia quais eram os
seus
custos de desenvolvimento e produção. Os projetos de serviço (que tendiam a
cr
escer em número) eram lucrativos apenas em hipótese. O que era mais rentável?
A operação de
software
ou
hardware
? Qual era o custo dos canais de distribuição?
Todas perguntas que permaneciam na mente dos gestores, pela falta de
informações confiáveis.
Sugestões
do diretor de desenvolvimento (para a função controladoria
como um todo)
:
1.
Era necessária uma pessoa dedicada exclusivamente à
função
Administração
.
2.
Alocar um técnico para apoiar o projeto de implantação do sistema de
informações IONICS (ERP).
72
2
.
Área
Comercial
2.1 Função: Administração comercial
Processos:
planejamento de vendas
,
gerenciamento políticas comerciais
,
a
valiação
de desempenho
dos
canais
,
análise de mercado e concorrê
ncia
,
estatísticas de vendas
,
controle de pedidos e contratos
,
m
anutenção
de
banco de
dados
do setor comercial
,
acompanhamento de vendas e controle de cotas
,
c
ontrole
de orçamento
s
de manutenção de equipamentos
.
GC: 60%
IC: Alto
De forma geral, os process
os
da administração comercial eram
desenvolv
idos “superficialmente”, pois
havia
duas carências básicas na estrutura:
pessoal e sistemas de informação. Enquanto uma das funcionárias se dedica
va
quase que exclusivamente ao controle de pedidos e contratos (quase tudo era
manual), a coordenadora da área t
inha
que tratar dos outros 70% ou 80% dos
processos.
Os processos mais carentes
eram
: avaliação de desempenho dos canais
de venda (e não se trata
va
apenas de saber o quanto vendeu, mas sim de avaliar o
desempe
nho dos canais de vendas sob vários critérios), análise de mercado e
concorrência e manutenção do banco de dados comercia
is
.
À
quela época, a
IONICS
ficou
distante do mercado
algum
tempo e não
tinha
informações precisas sobre os
clientes e nem do
s prin
cipai
s concorrentes. Precisava
urgentemente de uma base de
dados comercia
is
atualizada e confiável. Sem informação não havia muito que fazer
em termos de estratégia.
Como a IONICS iria começar a atuar em novos segmentos de merc
ado,
com novos produtos, sua retaguarda comercial precisa
va
de infra-estrutura mínima
para, de um lado, prover os canais de vendas de informação e, por outro lado,
avaliar como est
ava
sendo a atuação dos mesmos sob critérios estabelecidos pela
diretoria comercial.
Sugestões
do diretor de
desenvolvimento
:
73
1.
Reforçar a área com ao menos mais uma pessoa com e
xperiência
e
q
ualif
icação no manuseio de sistema informacionais
2. Utilização urgente de um Sistema de Informa
ções
2
.2 Função:
Marketing
Processos: Planejamento de
marketing
,
c
entral
de atendimento
,
r
elações
com parceiros e clientes
,
organização de feiras e eventos
,
m
arketing
de produto
,
propaganda e publicidade
,
pesquisa de satisfação
de
clientes e parceiros
,
c
ontrole
do acervo de publicações técnicas e comerciais
,
a
tualização
do
site
do Grupo
IONICS
,
comercialização de anúncios publicitários (
site
)
,
relações públicas (externa
e interna)
.
GC: 40%
IC: Alto
Na função de
marketing
havia
muito a se fazer. Era necessário o
desenvolvimento dos processos de planejamento de
marketing
,
bem com
o
intensificar as relações com parceiros e clientes, e
marketing
de produto. Mais uma
vez, havia apenas uma pessoa para tratar de todos os processos. A empresa tin
ha
muitos produtos importantes a serem lançados em 2004. O processo
de
marketing
de produto n
ão estava
operando.
Era
consenso na diretoria que a IONICS, em 2004,
precisa
va
voltar a marcar presença no mercado, através da participação em eventos
e feiras, anúncios em mídia especializada, promoções especiais, “Road Shows”
,
dentre outros programas
. Tu
do isso precisa
va ser
planejado, orçado e aprovado.
Era
um conjunto grande de atividades para 2004 e sem pessoal suficiente para fazer
tudo isso acontecer.
Sugestões
do diretor de desenvolvimento
:
1.
Estabelecer um plano de ações para o setor de
Marketin
g no PE 2004
e avaliar o desempenho da coordenadora, verificando se ela é ativa, dinâmica e
suficientemente
criativa.
74
2.
Alocar um
trainee
para ajudar nos trabalhos essencialmente
operacionais.
2
.3
Função: Canal Direto
Processos:
Planejamento de vendas
,
g
erenciamento
de
políticas
comerciais
,
prospecção de novos negócios
,
Vendas SAAF (sistema para grandes
frotistas),
vendas SSG Gerencial (sistema para rede de postos)
,
gestão de contas
especiais
,
r
elações com o mercado
.
GC: 70%
IC: Alto
Esse processo foi criado na função comercial no segundo semestre de
2003 e vinha, de maneira geral, apresentando bom desempenho até o início de
2004
.
Os
quatro grandes desafios dessa função
eram
: consolidar a operação do
canal direto e reduzir a dependência da empresa em relação ao canal indireto; a
brir
novos nichos de mercado e conquistar contas de grande significado comercial;
apoiar o lançamento comercial e a consolidação de novos produtos da empresa;
implantar um escritório comercial em São Paulo e desenvolver ações comerc
iais
direcionadas para aquele mercado (ação que o foi levada à frente por decisão da
diretoria
, ainda em 2004
).
Sugestões
do diretor de desenvolvimento:
1.
Ne
ssa função é a que o Diretor Comercial da IONICS deve
ria
estar
especialmente
focado. É
nela
que a IONICS mais precisa da experiência e
conhecimento do seu Presidente.
2.
Organizar
pipeline
(planilha de acompanhamento de grandes
negociações) das contas especiais.
2
.4 Função: Canal Indireto
Processos:
planejamento de vendas
,
gerenciamento políticas co
merciais
,
prospecção de parceiros
,
credenciamento e descredenciamento de parceiros
,
75
c
apacitação
de
parceiros
,
suporte comercial
,
ações comerciais em campo
,
g
erenciamento de contratos de atualização
.
GC: 50%
IC: Alto
Essa função
era,
à época,
da
mais alta importância para IONICS e a
reformulação do canal indireto também era o maior desafio para 2004. Iniciou-se em
2003 a revisão das políticas comerciais para parceiros, incluindo a criação de novos
tipos de parceiro. A classificação dos parceiros de acordo com sua atuação e o
credenciamento de parceiros comerciais (efetiv
os
) em regiões em que a IONICS
tinha fraca presença era vital para crescimento
d
a receita de vendas
.
Sugestões
do diretor de desenvolvimento:
1.
Con
tratar uma pessoa para assumir a coordenaçã
o do
canal indireto da
IONICS;
2.
Era muito importante a permanência da funcionária mais experiente
nessa função, caso ela não
fosse
deslocada para a administração comercial
. Seria
o
a
poio fundamental para o novo responsável, ao menos no início.
3.
Desloca
r a
outra funcionária
para a administração comercial.
2
.5 Função: Venda de Serviços
Processos:
p
-venda e venda de serviços
,
elaboração de propostas e
contratos
,
organização das equipes de projeto
,
acompanhamento comercial dos
projetos
G
C: 20%
IC: Médio
A IONICS começava a focar esforços na venda de serviços. Capacidade
para vender, gerenciar e realizar grandes projetos de implantação não eram ainda
uma realidade na IONICS até aquele momento
.
Nas vendas de grandes projetos
(canal direto) a idéia era
semp
re
de
apresentar ao cliente duas propostas
comerciais: uma de produto e outra de serviço. O prazo e o volume de horas das
76
propostas de implantação precisariam ser aprovados pela área técnica, bem como
os parceiros envolvidos, se fo
sse
o caso.
A empresa passava a enxergar que precisava separar esses dois
negócios,
bens
e serviços, porque
eram
dois negócios diferentes. Serviço faz toda a
diferença, pois somente através de um projeto de implantação bem conduzido é que
a qualidade da solução é comprovada. Projetos de implantação como os que
a
empresa ia desenvolver em 2004 precisa
va
m seguir uma metodologia, definida pela
área técnica
(visão da época)
, mas que precisa
va
ser respeitada pela área comercial
quando da venda dos projetos. Aqui se revelava um grande ponto de tangência
entre as duas áreas.
O gerenciamento comercial significa
va
que a área comercial continua
ria
sendo responsável pela conta após a venda. O fato de a venda ter sido realizada
não implica que a área comercial estava fora e que a partir daquele momento
o
assunto era com a área técnica. A IONICS deve
ria
designar um gerente de projeto
que seria responsável pela definição da equipe, preparação do ambiente,
alinhamento dos objetivos do projeto com o cliente, formação do time de projeto
(envolvend
o usuários do cliente), acompanhamento dos marcos do projeto,
realocação de pessoal, controle de despesas. O gerente de projeto trabalha
ria
em
sintonia com o gerente da conta (área comercial) e, dessa forma, seria construído
um padrão de atendimento adequa
do ao atual grau de exigência do mercado.
Em 2004 isso ainda era planejamento, hoje é fato. A empresa dispõe de
uma equipe de 3 gerentes de projetos, pertencentes à área de Relações com
Mercado (conceito ampliado da antiga “área comercial”) interagindo com todas as
áreas da empresa e garantindo que as soluções sejam implantadas com qualidade.
A idéia inicial foi adaptada, mas em 2007 a empresa chegou finalmente a um modelo
muito eficaz para o atendimento de grandes contas.
Sugestões
do diretor de desenvolv
imento
:
1.
Estabelecer procedimentos adequados para a venda de serviços;
2.
Organizar o relacionamento da área comercial com a técnica quanto a
esse assunto.
77
3
.
Área
Técnica
3
.1 Função: Desenvolvimento de
software
Processos:
planejamento do desenvolvimen
to
,
análise de negócios e
requerimentos
,
especificação funcional
,
modelagem de dados
,
p
rogramação
de
software
aplicativo
,
p
rogramação
de
software
middleware
,
a
lfa
-
teste
,
p
reparação
de
documentação técnica
,
p
reparação
de
material de treinamento
,
p
reparação
de
material
de demonstração
,
p
reparação
de
informativos técnicos
,
b
eta
-
teste
de novos
produtos.
GC: 40%
IC: Alto
A função de desenvolvimento de
software
começou a ser organizada no
ano
de 2003 e começa
va
a apresentar resultados importantes no início de 2004
.
Com uma estrutura funcional
operando
na forma de células, o gestor atribuía a uma
equipe técnica a responsabilidade por todos os processos e atividades inerentes ao
ciclo de produção de um sistema. Dessa forma, para cada produto de
software
a
empres
a tinha, no mínimo, dependendo do tamanho do projeto, um analista
responsável e uma equipe de programadores. As atividades de documentação
eram
também desenvolvidas dentro de cada
célula por pessoa qualificada.
Como a área de desenvolvimento de
software
era de responsabilidade do
diretor que
elaborou o relatório do PE 2004, e que
promoveu
grande parte d
a análise
das áreas e funções organizacionais da IONICS no início de 2004,
este
não teceu
sugestões para sua própria área.
3.2 Função: Suporte técnico
Proce
ssos:
Suporte telefônico e via I
nternet
,
suporte remoto a parceiros e
clientes
,
atualização da base de conhecimento
,
apoio à manutenção de
software
,
p
rogramação
de
software
aplicativo
,
suporte de campo
a
parceiros e clientes
,
a
tendimento
à
rede
de agentes
técnicos
IONICS
,
eventos técnicos
,
b
eta
-teste de
produtos
acabados (revisões e novas versões).
G
C: 60%
78
IC: Alto
A função de suporte técnico foi revista em 2003 e uma nova infra-
estrutura para sua operação foi disponibilizada, inclusive com a contratação d
o
serviço 0800-
net
(
software
para gerenciamento de chamados técnicos)
.
Foi
organizada
a comunicação com parceiros e clientes, centralizando o atendimento
dos vários canais de comunicação da empresa. Assim, todas as ocorrências e
solicitações, bem como as r
espostas
, passaram a ser coordenadas por uma única
equipe.
Todas as ocorrências passaram a ser registradas, o seu fluxo dentro da
empresa controlado, e as respostas parciais e finais registradas no sistema. A
qualquer momento, a gerência ou diretoria deveria poder consultar quaisquer
pendências, seja por tipo de problema, cliente, representante, produto. o
funcionou exatamente assim na época, mas hoje está próximo disso.
Sugestões do diretor de desenvolvimento:
1. O gerenciamento do
processo
de
gerenciame
nto de chamados técnicos
precisa
va
ser aperfeiçoado, principalmente nas seguintes questões: revisão de
procedimentos (integração); capacitação pessoal; acompanhamento do processo;
avaliação gerencial e tomada de ação pró-
ativa.
2. Ampliar o quadro do supor
te
e capacitar as pessoas nos novos
produtos
que a empresa estava lançando em 2004.
3.3
Função: Suporte técnico interno
Processos:
administração de redes, servidores e telefonia, instalação e
atualização de
software
e
hardware
,
s
egurança,
help desk
,
m
anut
enção
do
parque
de equipamentos
.
GC: 70%
IC: Alto
Essa função era em 2004 muito
crítica
em termos da sua importância
para
a operação da IONICS.
Era
extremamente importante que a empresa tivesse infra-
estrutura de
hardware
,
software
,
Internet e telefonia que suportasse as atividades
diárias, tanto as internas como a de representantes e outros parceiros.
79
Foi dado um grande salto de qualidade nessa área, se comparado a
2003, principalmente pelo projeto de implantação do ERP. O que a empresa tinha
em 2004 era
m:
servidore
s estáveis, rede estável, não havia mais contaminação e
perda de arquivos por vírus, os representantes não reclama
va
m mais que a IONICS
dissemina
va
vírus (reclamação constante até 2003), o atendimento telefônico
melhorou, o
site
da empresa melh
orou.
Sugestão do diretor de desenvolvimento:
1.
A gerente de produção da empresa, até
àquela
época, estava
coordenando
tal área. A sugestão era
não mais tê
-
la
envolvida nesse trabalho, tendo
em vista a capacidade técnica do analista de TI da empresa e o importante apoio
operacional do
estagiário
então presente. Sob a coordenação da diretoria
de
desenvolvimento
est
a
função estar
ia
bem atendida,
segundo ele, liberando a gerente
de produção
p
ara se dedicar a outras funções.
3.4
Função: Desenvolvimento de pro
dutos de automação e
e
ngenharia
Processos:
planejamento de desenvolvimento
,
p
rojeto
hardware
,
p
rototipagem
,
Especificação
de
firmware
,
d
esenvolvimento
de
firmware
,
a
lfa
-
teste
,
d
esenvolvimento
de
interfaces com PC
,
p
reparação
de
documentação técnica
,
p
repar
ação
de material treinamento
,
p
reparação
de informativos técnicos
,
c
ontratação
de
serviços
de
terceiros
,
b
eta
-
teste
,
l
iberação para produção
.
GC: 60%
IC: Alto
A área de desenvolvimento de produtos de automação da IONICS
começou a ser revigorada em 2003. Depois da entrada de um novo engenheiro-
chefe
e com a demanda por novos projetos, tornou-se clara a necessidade de
organização dessa função. Em 2004 havia problemas com os atuais produtos de
automação e o processo de desenvolvimento de novos produtos ainda não estava
definido e,
muito menos, consolidado. Havia
muito que melhorar nessa área.
Em
termos de equipe, com exceção de um técnico experiente, o
engenheiro
-
chefe
est
ava
contando com um grupo de
trainees
. A demanda e a carga
de trabalho dos projetos eram g
randes
,
e a equipe inexperiente não tinha
80
capacidade de assumir tarefas mais complexas. P
recisa
va
de muita orientação. Isso
consumi
a um bom tempo do
engenheiro
-chefe na coordenação das atividades,
tirando tempo precioso de Pesquisa e Desenvolvimento.
Em 20
04, era
necessária a definição urgente de uma metodologia simples
e objetiva para desenvolvimento dos produtos de
hardware
. Algumas fases
precisa
va
m ser
melhor
estabelecidas e pontos de controle deve
ria
m existir, p
ara que
responsabilidades pudessem ser atr
ibuídas
e o controle dos projetos ocorrer.
Inexistia
controle formal dos projetos, mesmo porque não havia organização mínima
de fases e atividades a serem desenvolvidas.
Sugestões do diretor de desenvolvimento:
1.
Um dos aspectos de desenvolvimento que pr
ecisa
va
ser rapidamente
organizado
era
o planejamento do projeto,
o
que envolvia especificação
das
características do projeto pela área comercial em conjunto com a área de
engenharia, seguindo as etapas: definição e descritivo do produto; c
aracterísticas
funcionais e técnicas; requisitos de
design
; aspectos críticos para o projeto;
indicação de concorrentes; diferenciais tecnológicos;
público
-a
lvo;
necessidade de
prazos de desenvolvimento; referências para projeto; preço final objetivo.
Essas
informações dev
ia
m ser organizadas na forma de um “caderno de encargos”, e est
e,
depois de aprovado, ser
ia
a fonte principal de referência para as próximas etapas do
projeto.
2.
Depois da criação do caderno de encargos, inicia-se a fase de
engenharia de produto, que se apresenta como uma etapa decisiva do projeto. É
nessa fase que se deve
ria
fazer avaliação das condições técnicas para
desenvolvimento do projeto, englobando: seleção de tecnologias a serem aplicadas;
componentes críticos; avaliação dos principais fornecedores (componentes e
serviços);
tomada de preços dos itens de maior custo; estimativa de prazos dos
fornecedores;
necessidade de importação; estimativa de custos; macro-
cronograma
do projeto. Ao final dessa fase, a área de engenharia de
veria
entregar um
ant
eprojeto
para aprovação técnica e comercial. A partir
da
aprova
ção
o cronograma
do projeto seria
revisado e o desenvolvimento pode
ria
ser iniciado.
3.
Finalmente, assim como na função de
software
, ex
istia
um grande
volume de documentação a ser desenvolvido na área de automação, tanto para os
81
produtos
atuais
”, que peca
va
m pela falta de informações “no papel”, como para os
novos projetos. Para esses, seria previsto no cronograma de desenvolvimento as
horas necessárias para documentação.
Poucas
das sugestões
do diretor de desenvolvimento foram colocadas em
prática até 2007. Apesar de todos
as
considerarem fundamentais para a “saúde”
des
sa importante área da empresa.
3.5
Função: Produção e manutenção de equipamentos
Processos:
programação de produção e compras
,
controle da produção
,
c
ontratação
de
serviços
de
terceiros
,
controle de estoques em poder de terceiros
,
c
ontrole de estoque em processo
,
i
nspeção da qualidade
.
G
C: 50%
IC: Alto
Toda a área de produção e manutenção da empresa era gerenciada
apenas
por um
a
engenheira
de produção e
era
composta, em sua maioria, por
estagiários ou
trainees
. A mão-
de
-obra envolvida no processo produtivo não era de
qualidade, assim sendo toda e qualquer alteração de projeto (que não vinha
documentada da engenharia) precisava de uma análise minuciosa por parte da
gerente de produção, a qual posteriormente passava um bom tempo treinando seus
liderados. Como as mudanças de projetos eram constantes sintoma de produtos
ainda em fase de consolidação a empresa passava por freqüentes problemas de
atraso de cronogramas de entrega de produtos acabados e, conseqüentemente, de
entrega
aos clientes finais.
Outro problema crônico que adivinha da mesma problemática
da
inexperiência da equipe era a falta de qualidade dos produtos. Saiam da fábrica
com defeito, ou mesmo sua fragilidade fazia com que se avariassem no caminho a
o cliente. Assim sendo, a avaliação geral da área produtiva da empresa era muito
ruim, e os resultados eram sentidos nas constantes reclamações de clientes e
rep
resentantes.
Sugestões do diretor de desenvolvimento:
82
1. contratação de mão-
de
-obra especializada para montagem de
componentes eletrônicos
.
2. Terceirização das sub
-
montagens
.
Pelo diagnóstico apresentado, fica evidente a situação problemática, em
te
rmos
gerenciais, que a empresa encontrava naquela época. Problemas de falta de
pessoal qualificado,
desestruturação
organizacional, produtos inacabados, enfim, a
empresa passava por uma verdadeira “turbulência”. Muitos questionaram inclusive
se aquela era realmente a hora de se implantar um novo e complexo sistema de
gestão. Porém, o diretor de desenvolvimento, maior partidário da idéia, não se
permitia nem cogitar a hipótese a abortar o projeto, que vinha no início de 2004
dando sinais de um futuro insucesso
.
Rotinas equivocadas no dia-a-dia, falta de procedimentos documentais
sobre os processos internos, ausência de sistemática única de gestão geral, t
udo
isto anunciava um projeto fadado ao fracasso. A implantação de um ERP, se muito
bem conduzida, poderia ser uma saída. Porém, do jeito que o projeto foi estruturado
(ou melhor, como não foi estruturado) realmente eram muito remotas as chances de
se alcançar esse objetivo de reorganizar a empresa e fazer com que as informações
fluíssem com facilidade entre as áreas. A seguir serão expostas as opiniões dos
pesquisados
sobre este projeto de implantação de ERP em uma empresa em crise
iminente.
4.2
A
NÁLISE DOS
D
ADOS
A análise dos dados obtidos na pesquisa procura responder à pergunta
de pesquisa e, consequentemente, atingir os objetivos específicos do estudo.
Primeiro, buscou-se levantar detalhadamente quais os problemas encontrados na
implementação de um ERP na IONICS,
compara
ndo
a metodologia adotada pela
empresa na implementação de seu sistema de gestão um dos modelos propostos
pelos autores estudados (metodologia PETI expandida), buscando a causa dos
83
problemas.
O resultado desse levantamento está exposto no quadro e gráficos a
seguir.
Quadro 4.1
Pontuação de cada item da metodologia PETI (Rezende, 200
3)
expandida
, na visão da
IONICS e da Provedora do ERP
dados de
origem
da
janela do cliente
IONICS
PROVEDORA
DO
ERP
Questões
Rótulo
média
satisfação
média
importância
S
atisfação
I
mportância
1.
Estruturação, organização e planejamento geral do projeto;
P1
2,40
4,90
3 5
2.
Capacitação da equipe de trabalho interna (na empresa);
P2
2,30
4,60
2 4
3.
Capacitação da equipe de trabalho externa (consultores);
P3
3,00
4,80
2 5
4.
Identificação das estratégias empresariais vinculadas ao projeto;
P4
2,22
4,10
3 4
.
.
.
30.
Motivação constante da equipe –
utilização de estratégias
motivacionais e de integração da equipe envolvida no projeto;
P30
1,90
4,60
1 5
31.
Estabelecimento de políticas de recompensa
reconhecimento para
as pessoas q
ue conseguiram realizar seus trabalhos no projeto;
P31
1,80
3,80
3 3
32.
Gestão geral do projeto
acompanhamento e controle do projeto
como um todo;
P32
1,80
4,90
2 4
33. Documentação
registro de todas as etapas do processo de
mudança, princip. na fa
se de concepção dos novos processos
organizacionais;
P33
1,90
4,60
2 4
Médias gerais >>>
2,36
4,40
2,42
4,27
Com base no quadro acima, resultado dos questionários aplicados tanto
aos
usuários-chave da IONICS quanto
ao
consultor que mais participou da
imp
lantação por parte da provedora do ERP, foi possível traçar a “janela do cliente”
apresentada a seguir.
84
Figura
4.
2
Janela do Cliente baseada na pontuação de cada item da metodologia PETI (Rezende,
200
3
) expandida, na visão da IONICS e da Provedora do E
RP
Conforme detalhado no capítulo três, com base na metodologia de
Albrecht
e Bradford (1992), a “Janela do Cliente” pode ser aplicada para os mais variados
tipos de pesquisa, incluindo clima organizacional,
status
de gestão de projetos,
satisfação de uma determinada área da empresa em relação a sua chefia, modelos
de gestão, enfim,
a
tudo que se queira medir precisamente os
FCSs
(Quadrante A) e
os
FCIs
(Quadrante D) de uma maneira prática e confiável. Na figura 4.2 ficam bem
cl
aros
todos
os fatores críticos, e como foram colhidas opiniões dos “dois lados” que
participaram da implantação IONICS e Provedora do ERP. A pesquisa seguiu se
aprofundando nos itens elencados como
FCSs
e
FCIs
pelos respondentes.
Foram realizadas entrevistas em profundidade com
três
elementos-
chave
do projeto, tudo no sentido de analisar os Fatores Críticos de Sucesso (
FCSs
) e os
Janela do Cliente
P15
P1
P17
P13
P2
P22
P32
P21
P16
P30:P33
P23
P3
P19:P22:P27:P30
P3:P17:P18:P23
P1:P13:P28
3
4
5
1 2 3 4
Satisfação
Importância
IONICS
PROVEDORA ERP
FCS's
FCI's
85
Fatores Críticos de Insucesso (
FCIs
) desse projeto de implantação de solução de
Tecnologia da Informação, segundo objetivo específico da pesquisa. O quadro 4.2
abaixo mostra quais foram os itens analisados, e na seqüência dele são
apresentadas as opiniões dos entrevistados, bem como são analisadas cada uma
delas.
Quadro 4.
2
Itens
da metodologia PETI (Rezende, 200
3
) expandida, n
a visão da IONICS e da
Provedora do ERP
, que foram considerados
FCIs
e
FCSs
a serem analisados
em profundidade
Empresa
Provedor ERP
Questões
FCI
FCS
FCI
FCS
1.
Estruturação, organização e planejamento geral do projeto;
S X X
2.
Capacita
ção da equipe de trabalho interna (na empresa);
X
3.
Capacitação da equipe de trabalho externa (consultores);
D X X
13.
Planejamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades de gestão de
dados e informação;
D X
X
15.
Estab
elecimento de prioridades de projeto;
X
16.
Elaboração de cronograma físico
-
finaceiro;
X
17.
Acompanhamento do cronograma físico
-
finaceiro;
S X X
18.
Avaliação dos impactos técnicos da implantação;
X
19.
Avaliação dos impac
tos humanos da implantação;
X
21.
Planejamento de recursos humanos
necessidades de treinamento,
capacitação,
motivação
etc
;
X
22.
Preparação da mudança organizacional
antecipação dos elementos
-
chave da
mudança;
S X X
23.
Planejame
nto da mudança organizacional
participação da equipe interna e
externa para planejar o trabalho a ser feito;
S X
X
27.
Envolvimento dos “patrocinadores” do projeto
participação ativa da diretoria ou
demais elementos que estão patrocinando o proje
to;
X
28.
Disponibilidade e empatia para conversas e para acatar a sugestões advindas
de usuários ou demais envolvidos no projeto;
X
30.
Motivação constante da equipe
utilização de estratégias motivacionais e de
integração da equipe e
nvolvida no projeto;
S X X
32.
Gestão geral do projeto
acompanhamento e controle do projeto como um todo;
X
33. Documentação
registro de todas as etapas do processo de mudança, princip.
na fase de concepção dos novos processos organizacio
nais;
X
Legenda:
S
- O
piniões
similares
de
entrevistados IONICS e Provedor do ERP
D - O
pinião
divergente
(oposta) entre entrevistados IONICS e Provedor do ERP
A partir do quadro acima foi possível detectar opiniões convergentes, ou
similares, entre entrevistados IONICS e o Provedor do ERP, bem como conflit
antes,
o que neste caso específico
indica
divergência
de impressão por parte do provedor
ou mesmo da IONICS sobre a capacitação da equipe de consultores e planejamento
da Tecnologia da Informaç
ão
. A seguir são analisados
os
FCSs
,
FCIs
e opiniões
conflitantes entre IONICS e provedor do ERP, finalizando
est
a análise com os
comentários sobre os
resultados
obtidos pelo pesquisador no estudo de caso
da
implantação de uma solução de TI
na IONICS.
86
4.2.1
Fat
ores Críticos de Sucesso
O primeiro item dos questionários que merece destaque, por se configurar
como um FCS tanto na opinião dos entrevistados IONICS quanto para o provedor do
ERP, é sobre estruturação, organização e planejamento geral do projeto. Por se
r
considerado um FCS numa implementação de tantos insucessos, foi tema
aborda
do
nas entrevistas em profundidade. Para um dos entrevistados, apesar da média geral
dos respondentes caracterizar que o planejamento do projeto foi bem sucedido,
algumas ressalva
s são convenientes.
A principal delas é que o processo de estruturação, organização e
planejamento geral do projeto, que deveria iniciar-se pela escolha de uma solução
adequada às necessidades do contratante no caso a IONICS e passar pela
especificação detalhada das necessidades, não foi conduzida desta forma. Partiu-
se
diretamente para a implantação de uma solução que nem se sabia com exatidão que
funcionalidades dispunha, muito menos como operava. A arquitetura proposta pelo
ERP escolhido, na opinião deste respondente, não era compatível com o escopo
definido pelo projeto básico concebido pela empresa. Mas como se tratava apenas
de um projeto básico, sem grandes detalhamentos, a empresa optou por dar
continuidade mesmo assim, pois acreditava
poder
“apa
rar as arestas” no decorrer do
projeto.
O entrevistado frisou ainda que as falhas do processo de planejamento
também estavam presentes na “pós-
implantação”
, fundamental em um projeto de
tamanho
porte. A falta de uma equipe de responsáveis pelo sistema
depo
is de
implantado certamente geraria problemas futuros, item
este
não contemplado na
estruturação geral do projeto. As eventuais causas citadas pelo pesquisado por
estas
falhas no processo de planejamento foram a falta de conhecimento de uma
metodologia est
rutura
da
de gerenciamento de projetos de TI por parte de quem
o
conduziu
à época, bem como a intenção do proprietário da empresa de economizar
ao máximo as horas dos consultores externos (disponibilizados pela provedora do
ERP), pois tratava-se de horas relativamente dispendiosas. Para o proprietário da
empresa, a parte de planejamento e especificação de necessidades deveria ser
conduzida pela equipe interna do projeto –
o que acabou por não acontecer.
87
Mas não foram apontadas somente falhas pelos entrevistados. Como o
próprio quadro de respostas do questionário evidencia, no geral a opinião dos
respondentes sobre o processo de estruturação, organização e planejamento geral
do projeto foi positiva. Foi realizado levantamento detalhado de processos
empresariai
s antes de começar a etapa de parametrizações do sistema, passo esse
que estava definido no planejamento desde sua concepção. Além disso, nas áreas
onde a etapa de levantamento de processos foi realizada com a devida atenção e
detalhamento, o módulo do sistema foi implantado com sucesso. Um exemplo disso
foi o módulo comercial do sistema, ahoje utilizado pela empresa e que atende,
com poucas ressalvas, às expectativas dos usuários.
Cabe destacar aqui uma constatação das entrevistas em profundidade:
caso
no processo de estruturação do projeto de implantação fossem colocadas
como pré-requisito algumas horas de consultoria para definir exatamente como
deveria ser conduzida a implantação, provavelmente o resultado final seria outro. Da
mesma forma, customizações para adaptar o
software
à maneira de operar da
empresa também se mostraram necessárias ao longo do processo de implantação, e
como não estavam contempladas no projeto inicial, o patrocinador não permitiu que
fossem contratadas. Tudo para não
ultrapa
ssar o orçamento definido previamente.
Assim sendo, sacrificou-se grande parte do esquema de funcionamento das áreas
para que estes processos se adaptassem ao sistema oferecido; em alguns casos foi
possível, em outros o, aparecendo os “buracos” não contemplados pelo
software
que estava sendo instalado o que exigia processos paralelos, fora do
ERP.
Pelas palavras de um dos entrevistados, no final “o barato saiu caro”
;
mesmo investindo pesado na compra da solução ERP, a IONICS não atingiu o
planejado com a implantação. A estruturação do projeto, apesar de bem completa,
deixo
u de fora previsão de horas de consultoria inicial e de customizações, as quais
não foram aprovadas em um segundo momento. E o resultado é sentido até hoje,
estando apenas o módulo comercial e parte do financeiro operando atualmente no
ERP.
Um
outro sistema, concebido internamente, é que está emitindo
as
notas
fiscais
da
empresa, ou seja, trabalhando em paralelo ao ERP.
Como conclusão final da primeira pergunta de pesquisa analisada,
é
possível afirmar que tanto IONICS quanto Provedor do ERP se preocuparam com o
88
processo de estruturação, organização e planejamento geral do projeto. Tanto que
foi considerado um FCS por ambos na pesquisa quantitativa. Porém, algumas
pequenas falhas nesse planejamento ficaram evidentes na qualitativa, mostrando
inclusive uma compreensão bem clara dos entrevistados da importância do apoio
externo no processo de implantação de uma solução deste nível.
O próximo quesito a ser analisado, destacado como um FCS pelos
pesquisados IONICS, é a cima quinta questão dos questionários, que trata do
estabelecimento de prioridades de projeto. Pelas entrevistas em profundidade
existem algumas divergências internas de opiniões, e o provedor do ERP não
avaliou positivamente este quesito, mostrando que talvez não seja uma realidade
absoluta posicionar este item como um FCS. Além disso, ficou muito próximo da
chamada
“zona cinzenta” da janela do cliente e portanto não deve ser aceita
como
verdade absoluta
o seu posicionament
o no quadrante dos FCS
s.
Para um dos entrevistados não houve na realidade priorização e sim uma
seqüência de fatos que conduziram o processo para um determinado rumo. Ele
destacou que, como a gerente do projeto fazia parte do setor comercial da empresa,
o
módulo comercial do ERP acabou sendo o priorizado, tendo sua implantação
finalizada antes de todos os outros (financeiro, produção, compras e suprimentos).
O responsável
pela
qualidade de produtos na empresa, um dos
entrevistad
os, comenta que se houvesse priorização adequada, talvez o projeto
tomasse outro rumo. Para ele, se o módulo financeiro
fosse
priorizado junto com o
comercial (e talvez compras e suprimentos também) o resultado final poderia ter sido
outro. Um sistema integrado de gestão funcionando com apenas um módulo (o
comercial) não integra nada”, segundo o entrevistado. Apenas configura uma troca
de sistema de uma área, porém com um gasto de recursos financeiros e esforço
muito grandes.
Pelo exposto, apesar de ter sido considerado um FCS pela IONICS, o
fator priorização de atividades do projeto será desconsiderado como tal pelo
pesquisa
dor. Por ficar muito próximo do cruzamento dos eixos na janela do client
e,
na zona cinzenta, e por existirem opiniões divergentes entre entrevistados, torna-
se
imp
reciso elencá
-lo como FCS do projeto.
89
Outro item apontado como FCS, dessa vez pelo provedor do ERP, foi a
questão número vinte e oito do questionário, que destaca a disponibilidade e
empati
a para conversas e para acatar sugestões advindas de usuários ou de
mai
s
envolvidos no projeto. Nas entrevistas em profundidade este item, apesar de não ser
tão
valorizado pelos entrevistados, foi avaliado como positivo, mesmo que “sempre
demorasse qualquer tipo de solicitação de mudança no sistema”. Foram realizados
ajust
es no sistema, sempre solicitados via gestor de TI da empresa, para contemplar
necessidades específicas de operação.
Segundo um dos entrevistados, mesmo sendo premissa do projeto
customização mínima (tanto que não foi prevista em orçamento) o que foi solic
itado
de adaptação simples ao provedor do ERP foi realizado. Dentro do escopo inicial
foram acatadas as sugestões, mas
quando
fora do escopo tudo era passível de
orçamento. Atitude normal de um projeto de implantação de ERP, portanto como
conclusão final e
ste item pode ser considerado realmente um FCS.
4.2.2
Fatores Críticos de Insucesso
A partir de agora são expostos os itens elencados como FCI
s.
Alguns
itens tiveram julgamentos divergentes entre respondentes IONICS e o provedor do
ERP. O segundo item do questionário, por exemplo, merece especial atenção,
justificando análise mais profunda. É a que trata da capacitação da equipe de
trabalho interna (na empresa). Merece destaque por ter sido avaliada como FCI pela
IONICS, a qual admitiu que, mesmo considerando mu
ito importante esta capacitação
interna, não conseguiu chegar a uma equipe preparada o suficiente para conduzir
um processo de implantação de ERP a contento.
Um dos entrevistados, quando questionado sobre esta falta de
capacitação da equipe interna do proj
eto, chegou a questionar: “que equipe interna”?
Ficou claro pelas entrevistas que não foi estruturada uma equipe interna de trabalho,
muito menos foram realizados investimentos em capacitação dessa suposta equipe.
Esta era formada apenas por um analista de suporte, muito aplicado, mas sem
conhecimento das regras de negócio da empresa, e uma coordenadora da área
técnica da empresa, a qual originalmente foi contratada como coordenadora de
90
marketing
e durante o projeto foi re-alocada para uma terceira função, o cargo de
coordenadora de administração comercial. Uma “gerente de projeto” sem o devido
preparo acadêmico e experiência prévia em implantações de sistemas. Apesar de ter
passado por três diferentes áreas da empresa, pelo seu reduzido “tempo de casa”
aind
a não possuía uma visão das necessidades de integração e informatização da
empresa como um todo.
Mas os entrevistados não a julgaram responsável pelo insucesso do
projeto. Muito pelo contrário. Enfatizaram a vontade dela de fazer com que, ao
menos no setor
comercial, que esta acabava de assumir, o sistema fosse implantado
com sucesso. Um dos entrevistados apontou esse aspecto, em particular, como um
dos motivos que até hoje o módulo comercial opera na IONICS mesmo que em
paralelo com outro sistema. Mas o mesmo entrevistado aponta o lado negativo
dessa “parcialidade” no momento da implantação: como nas outras áreas não havia
ninguém que assumisse realmente a responsabilidade pela implantação dos
módulos contratados, e a gerente de projeto focou sua atenção em sua área, o
resultado final foi um ERP que não integrava nada, apenas recebia informações de
pedidos de vendas, emitia notas fiscais e gerava alguns poucos relatórios de
vendas, comissionamento de representantes e contas a receber.
A falta da equipe interna, portanto, claramente configurou-se como um
FCI do projeto. Como esta não foi concebida oficialmente, a figura do replicador
interno de conhecimento também não existiu neste projeto, o que dificulta ainda
mais a difusão do conhecimento sobre o novo
mo
dus operandi
da empresa a partir a
adoção do sistema ERP, bem como de características técnicas desse
software
.
Conforme frisado por um dos entrevistados, como “faltou iniciativa interna” para levar
o projeto até o sucesso, a falta de uma equipe estruturada que compensasse essa
ausência de iniciativa dos demais participantes do processo, ou ao menos os
instigasse a uma mudança de comportamento, acabou por levar o projeto para a
posição de última prioridade de cada envolvido.
Outro fator que foi mencionado pelos entrevistados quando questionados
sobre a c
apacitação da equipe de trabalho interna (na empresa)
, foi a forma como os
treinamentos do provedor do ERP foram estruturados e ministrados aos usuários.
Como não existiam os replicadores internos de conhecime
nto, todos os treinamentos
de usuários foram realizados no escritório do Provedor do ERP, em uma cidade a
91
mais de 150Km da sede da IONICS. Os usuários a serem treinados saiam de
Florianópolis cedo, passavam o dia todo em treinamento e retornavam ao final d
o
dia. Um “reforço” de treinamento, em caso de um treinando ou outro o conseguir
absorver todo o conteúdo proposto em um dia de estudo, acabava sendo inviável
pelo custo. Portanto as dúvidas existiam e acabavam sendo “deixadas pra lá”,
resultando em entrada de dados errada no ERP, problemas de operação,
reclamações por parte dos usuários sobre a complexidade do
software
, dentre
outros problemas de operação.
Nos casos onde o fator “custo” foi passado para segundo plano e a
empresa optou por investir em reforço de treinamento, os usuários, por irem até o
provedor do ERP com pré-disposição negativa sobre o que iam passar naquele
cansativo dia de treinamento, voltavam afirmando que também não havia sido
produtivo o reforço, a metodologia adotada era inadequada, ou simplesmente “o
software
era muito ruim”. Foi o depoimento de um dos entrevistados, que lembrou o
fato de uma das integrantes da área financeira da empresa à época (e que hoje não
faz mais parte do quadro de colaboradores) passou por três treinamentos
consecutivos e mesmo assim não conseguiu aprender a utilizar o
software
.
Claro que se tratando de pessoas “cruas” tanto no que tange processos
organizacionais, muitas delas com seu primeiro emprego sendo a IONICS e não
tendo prática alguma sobre os processos que eram responsáveis por gerenciar
dentro da empresa, as dificuldades inevitavelmente iriam aparecer. Um dos
entrevistados afirmou que o principal problema do projeto como um todo foi que “as
pessoas não conheciam os processos internos da IONICS, incluindo a sua área”.
Portanto, quando se destaca a capacitação da equipe interno do projeto, e se inclui
cada gestor de área ou processo, o desconhecimento dos processos que estavam
sendo informatizados, ou como deveriam funcionar após implantado o ERP, acab
ou
resultando em parametrizações mal concebidas e regras de negócio configuradas de
maneira não otimizada ou a erradas. Neste segundo caso, gerava dados
incorretos dentro do banco de dados do ERP, outro fator que reduziu a credibilidade
do sistema.
Em
resumo, a questão de capacitação da equipe interna foi duramente
criticada pelos entrevistados IONICS, mesmo sendo eles os que mostraram o
desinteresse em relação ao sucesso da implantação. Pelo que se pode observar, o
92
tempo após implantado o sistema (já eram passados quase dois anos e meio do
go
live
do sistema no momento das entrevistas) fez com que cada um refletisse sobre o
que falhou à época da implantação, e o porque deixaram a gerente de projetos
conduzir todo o processo sozinha, sem o auxílio dos demais gestores. A impressão
do pesquisador sobre este FCI elencado entre os principais, é de certo
arrependimento por parte dos participantes da pesquisa, quase que unânime. “Se o
projeto tivesse início hoje, acredito que seria bem diferente” menciona um dos que
se classificou como “ausente” na época da implantação. “Sofremos até hoje por uma
implantação mal sucedida” finaliza.
O item seguinte a ser analisado é o item dezesseis, que trata da
elaboração de cronograma físico-finaceiro. A IONICS elencou como FCI e o
provedor do ERP
também
avaliou muito negativamente este ponto, colocando-
o
abaixo da linha do eixo de satisfação da janela do cliente. No depoimento da maioria
dos entrevistados, esse cronograma não foi sequer traçado, portanto prejudicou
muito o acompanhamento do projeto por parte dos gestores das áreas e mesmo do
proprietário da empresa. Um dos entrevistados afirma ter visto um cronograma
apenas físico, porém muito simplista. De qualquer forma, não foi divulgado a
contento. Assim sendo, este tópico definitivamente pode ser elencado como um FCI,
que é de suma importância para qualquer tipo de projeto, principalmente
deste
porte.
Em decorrência da ausência de um cronograma físico e financeiro, os
respondentes IONICS também elencaram o item dezessete, que tratava do
acompanhamento do cronograma físico-financeiro, como um FCI. Neste ponto,
inclusive o provedor do ERP julgou da mesma forma, uma vez que considera de
suma importância
tal
acompanhamento. Por mais que a IONICS
possuísse
, na mão
de alguns poucos, um cronograma de atividades, não o acompanharam
adequadamente, o que levou a uma falta de organização das etapas da implantação
e, principalmente, não motivou as equipes a buscarem metas pré
-
estabelecidas.
Quanto
à avaliação dos impactos técnicos da implantação, questão
número dezoito, o provedor do ERP o colocou como FCI, sendo que para os
respondentes IONICS foi um item que teve um avaliação muito ruim em termos de
satisfação, porém em importância acabou ficando posicionado exatamente sobre o
eixo
médio. Assim sendo, apesar de não o posicionarem entre os itens mais
93
importantes em um projeto de implantação de solução de TI, os respondentes
IONICS
não ficaram satisfeitos com a avaliação dos impactos técnicos
realizada
neste projeto de implantação de T
I na IONICS.
Uma das entrevistadas
dest
acou o fato de que foi realizada a implantação
seguindo os devidos cuidados cnicos para que o se perdesse informação
alguma, porém além de ser disponibilizado apenas um mês de “paralelo”, esse
paralelo foi “a quente”, ou seja, as informações que estavam sendo inseridas no
ERP ficariam em definitivo na base de dados. Não se pensou que, devido a
problemas no processo de capacitação do pessoal e mesmo com equívocos normais
de quem está começando a operar um novo sistema, os usuários poderiam inserir
dados incorretos dentro do sistema. E
foi o que aconteceu. O resultado foi que
esses
equívocos aconteceram e, após trinta dias de paralelo, a IONICS precisou
desconsiderar tudo que tinha cadastrado no ERP e zerar a base de dados para um
re
-início. Felizmente ainda estava sendo utilizado um sistema em paralelo e
as
informações não foram perdidas. Mas a confiabilidade do sistema e a segurança dos
usuários foi seriamente abalada já no primeiro mês de operação.
Outro ponto criticado por um dos entrevistados foi a definição d
a
arquitetura do sistema que iria atender a IONICS. Destaca que não foi possível gerir
a empresa após a implantação do sistema. E
por qual
motivo? A contradição entre a
arquitetura do ERP escolhido e a q
ue
o patrocinador do projeto, presidente da
empresa, procurava em um sistema de gestão. A forma como foi implantado o ERP,
escolhido por um dos diretores sem analisar se atenderia aos anseios da empresa é
que gerou isso tudo. O
presidente
da empresa precisava de informações que o
sistema não gerava, uma vez que era focado no tratamento de informações
estritamente operacionais (disto a empresa dispunha nos seus outros sistemas
internos de cada área) e não na geração de informações gerenciais.
Além disso, o perfil dos gestores exigia a disponibilização de informações
mais inteligíveis,
sendo
mais um fator
gerador
de
muita
resistência
ao novo sistema;
erro no momento da especificação das necessidades para escolha do sistema, as
quais não foram levadas em conta mesmo conhecidas por todos os envolvidos no
projeto. O
presidente
da empresa não se contentava com o modo como as
informações
estavam
disponibilizadas, sendo resistente ao sistema desde o inicio. E
isso não foi levado em conta. Ele pretendia
informação co
nsolidada e em tempo real,
94
o que poderia encontrar, por exemplo, em um
software
de B
I
(Business Intelligence)
,
possivelmente reunindo as informações dos outros
software
s em uso pela empresa;
a
lternativa muito mais econômica e rápida de
se
implantar que um
complexo sistema
ERP.
Por todo o exposto, nas entrevistas em profundidade e pela análise do
pesquisador, confirmou-se que a avaliação dos impactos técnicos da implantação foi
um dos FCIs do projeto. Caso a empresa tivesse investido mais esforços nessa
etap
a, definindo claramente quais os principais impactos técnicos da implantação de
um ERP em uma empresa na posição em que a IONICS se encontrava em 2004,
talvez tivesse desistido do projeto. Mas a falta dessa avaliação minuciosa pode ter
levado a empresa a gastar muito e chegar a um resultado muito aquém do que
esperava com um novo sistema de gestão interno.
Em relação aos itens deze
nove,
que tratava da avaliação dos
impactos
humanos da implantação, vinte e um, acerca do planejamento de recursos humanos
– necessidades de treinamento, capacitação, motivação
etc
.,
vinte e dois,
sobre
preparação da mudança organizacional antecipação dos elementos-chave da
mudança,
vinte e três, avaliador do
pl
anejamento da mudança organizacional
participação da equipe interna e externa para planejar o trabalho a ser feito
,
e trinta
,
o qual tratava da motivação constante da equipe utilização de estratégias
motivacionais e de integração da equipe envolvida no projeto,
por
todos tratarem da
avaliação
dos aspectos humanos de um projeto de implantação de solução de TI, a
análise será realizada
a seguir e em conjunto
.
Os
cinco
itens foram avaliados como
FCIs
deste projeto. E não foi mera
coincidência, pelo que se pôde constatar nas entrevistas em profundidade. O
fato do
diretor de desenvolvimento da época ter imposto a implantação de um ERP, um
sistema
que nem sequer havia sido avaliado pelos futuros usuários e demais
gestores, configurou-se como um início “torto” de um projeto que traria diversos
problemas para a organização como um todo. Ou seja, em momento algum se
avaliou quais os principais impactos humanos da implantação. É importante etapa e
foi ignorada por completo.
Além disso, quanto ao planejamento de necessidades de treinamento,
capacitação, motivação, dentro outros, novamente ficou evidente nas entrevistas
que foi tópico sequer abordado pelos que conceberam o projeto. Como analisado
95
no tópico mero dois, que tratava de capacitação da equipe interna de trabalho, o
treinamento foi insuficiente e as necessidades ad
icionai
s de capacitação foram
ignorada
s. Além disso, a motivação das equipes para fazer com que o projeto
tivesse êxito estava totalmente comprometida, uma vez que não participaram dessa
decisão. Só ficaram sabendo depois da decisão tomada.
Como mencionado no capítulo dois desta dissertação, para Ulrich (1998),
mudar pode ser dispor elementos de outro modo, alterando configuração deles
de
ntro de uma organização, mas isso implica o conhecimento de cada elemento
estrutural e funcional, seu valor e potencial, presentes e futuros, dentro de um
processo de reorganização. Essa recomendação não foi nem de perto seguida, uma
vez que nem a análise estrutural e funcional foi realizada a contento, muito menos se
pensou em como esses elementos cumpririam seu papel dentro da organização no
futuro próximo, após o sistema ERP implantado.
Quanto à p
repa
ração da mudança organizacional, no que tange a
antecipação
dos elementos-chave da mudança, pelas entrevistas em profundidade
foi possível perceber que em momento algum foi mostrado porque cada um tinha
que trabalhar de uma forma diferente daquele momento pra frente
;
quem estaria na
operação do sistema ERP após implantado não foi conscientizado dos benefícios
que o
software
poderia trazer para o dia-a-dia das áreas e da empresa como u
m
todo. A negligencia aos fatores humanos tornou a implantação muito mais difícil,
uma vez que foram ignoradas as fases do processo de mudança (recusa,
resistência, experimentação e comprometimento), que para Ulrich (1998) podem ser
consideradas
as chaves do sucesso de um projeto que envolve mudança
organizacional. Principalmente as fases de recusa e resistência não foram
trabalhadas da maneira adequada, o que fez com que a experimentação fosse mal
sucedida e o comprometimento nem sequer tenha sido alcançad
o.
Q
uanto
ao
item da mudança organizacional que destaca a
participação da
equipe interna e externa para planejar o trabalho a ser feito, pelas entrevistas foi
unânime a opinião que as equipes interna e externa nem sequer se reuniram para
discutir a implantação daquele projeto. O provedor do ERP, segundo um dos
entrevistados, após
comprovado
o insucesso do projeto,
atribuiu
a “culpa” da falta de
integração entre equipe interna e externa ao fato de não terem sido “compradas”
ma
is horas de consultoria para essa importante etapa do processo de mudança
96
organizacional. Outro entrevistado destaca que em realidade não foi formada uma
equipe interna para executar o trabalho de conscientização do que estava por vir,
outro possível motivo d
e
insucesso do projeto.
Se
gundo um dos entrevistados, a pessoa responsável pela gestão geral
do projeto não tinha carisma
para envolver os participantes
. Conscientizar os demais
sobre a importância e relevância daquela mudança de sistema não teria sido tarefa
que a gerente do projeto considerasse prioritária, e em benefício da implantação do
módulo comercial do ERP para, em tese, resolver os “problemas” do setor que ela
coordenava originalmente
.
Este mesmo entrevistado considerou como falha a
comunicação durante o acompanhamento do projeto, não
se
levando para a “ponta”
as decisões tomadas pelos gestores e consultores; enfim, uma gestão estritamente
técnica,
desconsiderando
as pessoas que participavam do processo.
F
inalmente
, quanto à motivação constante da equipe, com a utilização d
e
estratégias motivacionais e de integração da equipe envolvida no projeto, ficou claro
pelas entrevistas que este item sequer recebeu
atenção
dos gestores do projeto. A
bibliografia destaca que estratégias como premiação por metas alcançadas, ou
mesmo a utilização de palestras motivacionais, apresentam resultados
surpreendentemente positivos em projetos que envolvem mudança organizacional.
Utilizar como prêmio a promoção dos principais envolvidos no projeto, por exemplo,
também poderia ser uma maneira de motivar os usuários. Mas nada disso foi
colocado em prática no projeto do ERP na IONICS.
Concluindo
, ficou claro que o fator humano, principalmente a condução do
processo de mudança organizacional, é que se configurou como um dos principais
problemas encontrados durante a implantação do ERP na IONICS. Os cinco itens
acima
destacados pelos entrevista
dos,
posicionados na janela do cliente como muito
importantes no projeto e com grau de satisfação muito baixo na média da sua
opinião, mostram que uma estratégia de implantação focada nas pessoas que
passariam a utilizar o sistema poderia ter sido uma maneira de compensar falhas de
planejamento e execução do projeto.
Outra questão que merece análise mais aprofundada é a de número vinte
e sete dos questionários, sobre o e
nvolvimento
dos “patrocinadores” do projeto, a
qual inquire se a participação da diretoria ou demais elementos que estão
patrocinando o projeto foi ativa ou não. Os entrevistados mencionaram mais de uma
97
vez ao longo das entrevistas que isso não aconteceu em momento algum, a não ser
pelo diretor de desenvolvimento da época, apoiando a idéia de implantar o ERP,
mas este n
ão
possuía a “caneta” e tampouco participou das decisões referentes ao
projeto. Tudo foi delegado a uma equipe sem poder de decisão de cúpula, sem
experiência
, e
com
a difícil tarefa de fazer dar certo um projeto que não foi por ela
planejado
.
Os erros começaram na escolha da solução, que não foi avaliado o
tamanho da empresa para estar usando um sistema tão complexo quanto aquele. E
o patrocinador, além de se omitir na escolha do sistema, permaneceu omisso
quando o diretor de desenvolvimento colocou o projeto integralmente nas mãos
daquela equipe de gestores de projeto inexperiente. O principal “mentor” do projeto,
segundo um dos entrevistados, nem ao menos se deu ao trabalho de ir até o
provedor do ERP tomar treinamento. Delegou a gestão geral do projeto a uma das
futuras usuárias, a qual inclusive não havia participado das reuniões de negociação
da compra
do ERP. Assim sendo,
as dec
isões importantes tomadas nessas reuniões
lhe eram desconhecidas,
ficando o provedor do ERP como
fonte exclusiva acerca do
conteúdo do negociado nessa compra
.
O patrocinador do projeto resistiu desde o inicio a sua implantação, mas
foi “voto vencido” dentr
o da diretoria. Sempre foi defensor d
a
s informações no “papel
de pão” como ele mesmo afirmava,
preferindo
todos os dados sendo registrados em
papel e consolidados manualmente, sem intervenção das “máquinas”; no máximo
uma calculadora para somar ou uma planilha eletrônica para gerar alguns índices.
Para ele, desta forma quem tem o “controle” é o homem, não a máquina. Com
sistemas complexos, afirma que a informação que é necessária em um determinado
momento nunca é encontrada. E o culpado passa a ser “o siste
ma”.
Ironicamente, como mencionado no início deste capítulo, a IONICS é a
líder nacional no desenvolvimento e comercialização de
software
s de gestão para
postos e distribuidoras de combustíveis. Aqui o ditado “casa de ferreiro, espeto de
pau” se aplica perfeitamente. Algumas expressões usadas pelo presidente da
empresa
, quando fala sobre o projeto de implantação do ERP, são: “muito dinheiro
gasto a toa”, “agora não tenho mais o controle da empresa” e “onde estão os
relatórios gerenciais”? Um dos entrevistados destacou que o presidente deixava, à
época, muito claro a todos os envolvidos no projeto que queria as informações
98
integradas, instantaneamente acessíveis. Não tinha muita preocupação em como
chegariam
a esta meta estipulada por ele. Se as
informações
integradas
seria
m
obtida
s via planilha eletrônica ou manualmente, pouco importava. A
sua
preocupação era com resultado final.
Outro entrevistado comenta
até
que te
ve
a impressão d
e
o proprietário da
empresa
estar
“jogando contra” o projeto à época, que este surgiu de decisão
solitária do diretor de desenvolvimento. Ele, segundo o entrevistado, teria
convencido
o diretor de serviços a defender o projeto com
igual
intensidade. O
presidente da empresa, também diretor comercial à época
,
acatou
a decisão de
maioria, embora pudesse veta-la na qualidade de presidente. Não o fez e a IONICS
acabou, ao final de todo este “jogo de poder”, comprando
um
“sonho” de um ERP
que revolucionaria sua gestão interna, mas se deparou com um verdadeiro
“pesadelo” de descontrole
informacional.
Em resumo, além do patrocinador não atuar apoiando o projeto,
mostrando sua importância para os demais colaboradores da empresa, ainda o
confiou a um gestor alheio a
o
cotidiano
operacional da empresa. Um diretor que
aparentava acreditar que o
software
se implantaria sozinho, e sem traumas no
processo de mudança de cultura organizacional. O resultado, portanto, não poderia
ser outro: mais um importante FCI que levou o projeto ao resultado
negativo
constatado.
Outro ponto que foi destaque entre os respondentes dos questionários
como FCI foi o item número trinta e dois, que questiona sobre da gestão geral do
projeto, contemplando o acompanhamento e controle do projeto como um todo.
Alguns entrevistados criticaram muito o acompanhamento do projeto, afirmando que
planejamento inicial até existiu, mas o controle e acompanhamento ao longo de seu
andamento não foi efetivo. Como resultado houve atraso e descontrole operacional
durante a vigência da implantação.
Toda essa “turbulência” em um momento delicado da empresa, em final
de ano com muito volume de vendas, fez com que o sistema começasse como
uma “pedra” no caminho da maioria dos usuários. Ao invés de ser visto como
uma
ferramenta de apoio, como qualquer sistema informacional se propõe, acabou s
e
configurando como mais um processo “burocrático” no dia-a-dia dos usuários.
Segundo um dos entrevistados,
este
foi
o resultado de um projeto descontrolado de
99
implantação.
Tornou
-se consenso que o
software
era bom, porém a maneira como
foi implantado colo
cou a perder todo o investimento realizado.
Assim sendo, a gestão geral do projeto, quanto ao acompanhamento e
contr
ole do projeto como um todo, foi definido como um dos principais
FCIs
pelos
entrevistados IONICS.
D
estacaram n
as entrevistas em profundidade
n
ão trata
r-
se de
somente
uma
gestão ineficaz do projeto em especifico, e sim em uma falha geral da
empresa e do provedor do ERP em não acompanhar
em
o projeto como deveria
m.
Finalmente, como último item levantado pelos entrevistados IONICS como
FCI, está a questão número trinta e três, que trata da d
ocumentação
ou registro de
todas as etapas do processo de mudança, principalmente na fase de concepção dos
novos processos organizacionais. A
firmar
am
que inicialmente a documentação foi
bem feita, com o processo de caracterização das funções organizacionais
sendo
desenhados em detalhes. Depois de iniciada a implantação do ERP, todo o
processo de documentação foi congelado, não se atualizando os desenhos das
funções organizacionais diante das mudanças em processam
ento.
Um entrevistado
afirmou ter recebido uma espécie de coletânea de processos de sua área que a
partir daquele momento seriam realizados via sistema ERP, mas avaliou como muito
“técnico” o document
o;
mostrava
apenas o passo-a-passo de campos a preencher
,
não o fluxo do
s
processo
s de forma mais ampla e explicativa.
Para outro entrevista
do
, este da área comercial, a documentação pós-
implantação
inexistiu
. Os usuários documentaram parcialmente, por iniciativa
própria,
as revisões de processos e o passo-a-
pa
sso no sistema para cada função
organizacional
, porém sem detalhamentos
.
Sempre que precisavam tirar alguma
dúvida, eram obrigados a recorrer ao gestor de TI alocado no projeto, não a um
documento disponível
.
Enfim, documentação muito falha, e que na opinião dos
respondentes
seria
de suma importância para qualidade do projeto. Assim sendo,
mais um item elencado como FCI deste projeto.
100
4.2.3
Divergências entre IONICS e Provedor do ERP
Quanto à questão número três, que abordou a capacitação da equipe de
trabalh
o externa (consultores), a média de respostas dos respondentes IONICS
apontou este fator como um FCS, e surpreendentemente a Provedora do ERP
pontuou de forma a classificar este quesito como um FCI do projeto. Não foi possível
realizar uma entrevista em profundidade com o Provedor do ERP, no sentido de
investigar o motivo dessa divergência de opinião. A empresa se mostrou resistente
tanto a responder o questionário, quanto a comentários adicionais sobre a
implantação. Na entrevista em profundidade com os elementos
-
chave da IONICS, foi
possível chegar a algumas possíveis causas desse desencontro de informações,
levando à conclusão que os respondentes podem ter interpretado unilateralmente a
questão
ao contrário do Provedor do ERP, que foi muito sincero ao avaliar a
pergunta em seu sentido mais amplo.
O que leva a essa conclusão é a resposta de uma das entrevistadas, que
destacou muito enfaticamente: “que consultores”? A entrevistada destacou que
nunca nem ela, nem nenhum dos que trabalhavam no setor dela, viram os
consultores presentes na empresa. Somente quem interagia com eles eram os
líderes do projeto, os quais não repassavam nem o que foi acordado com os
consultores, nem o cronograma de implantação ou treinamento, e muito menos o
conhecimento sobre o com
plexo
software
que estava sendo implantado na empresa.
Assim sendo, apesar de grande parte dos respondentes terem avaliado
positivamente a capacitação dos consultores externos, por ser esta a impressão que
os líderes do projeto passavam, a equipe de consultoria externa esteve ausente
durante praticamente todo o processo. A maioria dos entrevistados confidenciou que
nem ao menos conheceram ninguém do provedor do ERP. Isto por porque a
diretoria da IONICS optou por “economizar” neste ponto, subestimando a
com
plexidade do projeto e se julgando suficientemente competente para
parametrizações e treinamentos necessários. Por este motivo o Provedor do ERP
pode ter avaliado como um FCI este quesito, uma vez que a equipe de consultores
externos praticamente não parti
cipou do projeto de implantação.
Outro possível motivo, destacado por outro dos entrevistados IONICS,
este participante ativo da equipe interna de implantação, é que a Provedora do ERP
101
mesclou consultores muito experientes, como o que iniciou o projeto de
implantação,
com consultores
trainees
ao longo da implantação. Principalmente os ministrantes
de treinamentos, muitos deles sem didática alguma e, o pior, sem conhecimento
suficiente do produto que estavam apresentando. Assim sendo, a capacitação da
equipe
em média era boa, pela presença marcante dos consultores experientes. Mas
alguns casos específicos de consultores
trainees
colocaram a perder a qualidade da
implantação de determinados módulos, bem como o treinamento de alguns
elementos da organização.
Ou
tro fator levantado pelos entrevistados e que merece destaque é que
apenas os líderes do projeto dentro da IONICS é que entravam em contato com os
consultores. Ninguém além deles. Assim sendo, críticas ao projeto como um todo
eram constantemente “filtradas”, impedindo que as falhas dos próprios líderes
ficassem em evidência. E as críticas construtivas ao ERP e mesmo à metodologia de
implantação acabavam sendo bloqueadas, impedindo o crescimento da equipe
como um todo.
Além disso, a IONICS foi prejudicada com replicadores internos de baixa
eficiência. A maioria que foi até o provedor do ERP tomar treinamento não passou
formalmente nada do que aprendeu às suas equipes; os demais passaram muito
superficialmente. Assim a falta de capacitação para utilização do novo
software
que
se apresentava como ferramenta passou a se configurar como elemento
desmotivador. Além disso, influiu prejudicialmente no andamento do projeto, pois
chegou
-se a abortar a implantação num determinado momento devido a tantos
dados inconsistentes na base de dados. Foi necessário desconsiderar dados de 30
dias de movimentação no novo sistema (ficando-se com os do sistema antigo, que
rodava em paralelo) e instalar uma nova base de dados, vazia. Isso porque o
sistema apresentava relatórios
inconsistentes
“nada batia com nada”, segundo
um dos entrevistados. Problemas de alimentação de dados.
Ainda mais, na visão de um dos entrevistados, quando a implantação do
ERP começou a apresentar sintomas de que seria fatalmente mal sucedida, o
provedo
r do ERP passou a querer “empurrar” produtos adicionais, como BI
(Business Intelligence
),
Interfaces
Web
, enfim, produtos que poderiam agregar
relatórios adicionais aos gestores, porém não poderiam resolver o principal
problema, que era um ERP mal implantado. Todos esses produtos, na visão do
102
mesmo entrevistado, eram “espetaculares”, porém muito mais do que a IONICS
precisava naquele momento, ainda mais por estar a base de dados totalmente
desestruturada. Os relatórios que seriam gerados iriam, da mesma forma,
apresentar inconsistências.
Outra crítica daquele entrevistado sobre a capacitação dos consultores
externos, principalmente aos
trainees
, foi que o t
reinamento
de produto foi focado na
suposição de que “todos os processos são iguais, independentemente
da empresa e
seu segmento de atuação”. Estava claro que isso não era uma realidade para a
IONICS. A empresa tinha
e ainda tem
processos diferentes dos padrões usais de
mercado, a pela especificidade do mercado em que atua. Produtos não
padronizados,
novos produtos sendo criados a todo momento, estratégias
comerciais e de distribuição em constante mutação, enfim, a empresa necessitava,
tanto naquela época quanto hoje, de sistemática de gestão altamente flexível e
customizada
o que não foi abordado no projeto do S.I. IONICS (Sistema Interno
IONICS, nomenclatura interna utilizada). E como todos os treinamentos foram
ministrados na sede do provedor do ERP, nem ao menos foi vistoriada a realidade
da empresa, para adequar a seqüência da implantação ou validar as
parametrizações necessárias.
E para finalizar a questão capacitação dos consultores externos, um
tópico foi destacado por um dos entrevistados: alguns módulos em implantação
ainda não estavam prontos, por exemplo o módulo de produção, o que gerava
muitos atrasos nos cronogramas e dificuldades nos treinamentos sobre estes
módulos. Consultores
trainees
ainda em treinamento, sem conhecimento a fundo do
produto, e módulos inacabados, não poderiam resultar em uma implantação bem
sucedida. Da mesma forma, “vendedor de ERP dando treinamento técnico” também
não é um procedimento usual, segundo o mesmo entrevistado.
Por todo o exposto, o pesquisador concluiu, apesar dos pesquisados
terem dado um voto de confiança a um ou outro consultor experiente, a capacitaç
ão
da equipe de consultores externos se configurou claramente como um FCI neste
projeto, a pelo fato da IONICS ter “cortado” muitas horas de consultoria. O
resultado foi pouca quantidade de intervenção dos consultores, além de baixa
qualidade, com reflexos diretos no andamento do projeto, que passou a ser mais um
problema para empresa, não uma solução.
103
O
segundo
item que merece destaque nesta análise, a décima terceira
questão do questionário aplicado, é sobre o planejamento da Tecnologia da
Informação
novas necessidades de gestão de dados e informação. Este item foi
avaliado como um FCS pela Provedora do ERP, porém como um FCI pela IONICS.
Ou seja, impressões conflitantes como a questão 3, porém agora sendo avaliadas
negativamente pela IONICS e positiv
amente pelo provedor do ERP.
Pela
s entrevistas em profundidade aos elementos-chave do projeto na
IONICS, não existiu planejamento sobre as novas necessidades de gestão de dados
e informação. É generalizada a opinião
de
que as necessidades corriqueiras da
organização não foram atendidas, muito menos novas necessidades foram
levantadas junto às áreas. Uma das entrevistadas afirmou que o diretor de
desenvol
vimento à época, o qual conhecia a empresa provedora do ERP, é quem
impôs aquela solução de TI, sem
seque
r consultar as áreas, muito menos avaliar se
a solução atenderia às necessidades de gestão de dados e informação. E durante o
andamento do projeto, segundo a mesma entrevistada, as áreas foram deixadas de
fora das decisões sobre quais customizações seriam contratadas ou descartadas
,
mostrando novamente o desinteresse em atender às necessidades dos futuros
usuários do sistema, bem como dos gestores das áreas.
Outro entrevistado IONICS afirmou que não concorda que as novas
necessidades de gestão de dados e informação foram bem estruturadas, não
concordando de maneira alguma que este ponto poderia ser elencado como um
FCS do projeto. Afirma que antes da implantação do ERP, os sistemas internos que
a empresa dispunha atendiam, mesmo que sem segurança e sem integração entre
dados, às necessidades de gestão de dados e informação. Depois do projeto
implantado, passou a ser muito difícil extrair qualquer tipo de informação do sistema
ERP, e como os sistemas internos antigos passaram a não serem utilizados, a
empresa
intensificou sua “miopia gerencial”, sendo forçada a “deixar o barco
navegar à deriva”, sem informação alguma.
A equipe do comercial, por exemplo, acabou por se “acostumar” com o
novo sistema, mas não ficou nada satisfeita com sua implantação. Um dos
entre
vistados o caracterizou como um “Titanic”, por ser um bom
software
mas que
não foi customizado e implantado da maneira correta. Além disso, o sistema
104
começou rodando com muita informação errada, não houve uma preocupação com o
planejamento da carga inicial de dados. Depois dessa carga inicial, a IONICS ficou
cerca de um ano tentando iniciar o uso definitivo do sistema, rodando em paralelo
mas sem muita preocupação com o ERP, somente com os sistemas existentes.
Q
uando
decidiu
fazer o efetivo go live (colocar no ar) do ERP, o processo o foi
realiz
ado de maneira estruturada e num bom momento
. Época de grande movimento
de vendas (setembro de 2004), fechamento de ano comercial e com muitas vendas
via representantes em andamento.
Assim sendo, os entrevistados foram convictos em afirmar que o
planejamento das novas necessidades de dados e informação foi um ponto falho do
projeto, sendo elencado como um dos principais
FCIs
. Provavelmente na visão do
provedor do ERP a sua parte foi realizada, passando ao diretor de
desenvolvimento
da IONICS à época as informações que o ERP tratava. Porém internamente esse
conhecimento não foi difundido, o que gerou inúmeras lacunas de operação e
gestão no novo sistema implantado. Portanto, o pesquisador analisa este quesito
com um FC
I do projeto.
4.2.4
Resultados obtidos no estudo de caso na IONICS
Pela análise apresentada neste capítulo, o pesquisador chegou aos
FCSs
e
FCIs
do projeto, os quais são apresentados no quadro 4.3 a seguir.
105
Quadro 4.
3
Itens
da metodologia PETI (Rezende, 200
3
) expandida
que
,
pela pesquisa
, foram
elencados como
os
FCIs
e
FCSs
deste projeto de implantação de solução de TI
Pesquisador
Questões
FCI
FCS
1.
Estruturação, organização e planejamento geral do projeto;
X
2.
Capacitação da equipe de tr
abalho interna (na empresa);
X
3.
Capacitação da equipe de trabalho externa (consultores);
X
13.
Planejamento da Tecnologia da Informação
novas necessidades de gestão de
dados e informação;
X
15.
Estabelecimento de prioridades de projeto;
zona cinzenta
16.
Elaboração de cronograma físico
-
finaceiro;
X
17.
Acompanhamento do cronograma físico
-
finaceiro;
X
18.
Avaliação dos impactos técnicos da implantação;
X
19.
Avaliação dos impactos humanos da implantação;
X
21.
Planejamento
de recursos humanos
necessidades de treinamento, capacitação,
motivação
etc
;
X
22.
Preparação da mudança organizacional
antecipação dos elementos
-
chave da
mudança;
X
23.
Planejamento da mudança organizacional
participação da equipe interna e e
xterna
para planejar o trabalho a ser feito;
X
27.
Envolvimento dos “patrocinadores” do projeto –
participação ativa da diretoria ou
demais elementos que estão patrocinando o projeto;
X
28.
Disponibilidade e empatia para conversas e para acatar a s
ugestões advindas de
usuários ou demais envolvidos no projeto;
X
30.
Motivação constante da equipe
utilização de estratégias motivacionais e de
integração da equipe envolvida no projeto;
X
32.
Gestão geral do projeto
acompanhamento e controle d
o projeto como um todo;
X
33. Documentação
registro de todas as etapas do processo de mudança, princip. na fase
de concepção dos novos processos organizacionais;
X
Pelo quadro acima se atinge o objetivo geral do trabalho, uma vez que o
s
FCIs encontrados foram elencados, portanto, como as maiores fontes de problemas
de implantação de Soluções de TI, sendo eles: falta de capacitação da equipe de
trabalho interna e externa do projeto; planejamento falho das novas necessidades de
gestão de dados e informação; deficiências na elaboração e acompanhamento de
cronograma físico-financeiro; fraca avaliação dos impactos técnicos e humanos da
implantação; falta de planejamento das necessidades de treinamento, capacitação e
motivação da equipe; falhas na preparação da mudança organizacional; pouco
envolvimento dos patrocinadores do projeto; falta de motivação constante da equipe;
pouca documentação e registro das etapas do processo de mudança; e problemas
na gestão geral do projeto.
Tomando os devidos cuidados com estes fatores críticos, os problemas
de implantação serão certamente minimizados, aumentando as chances de sucesso
do projeto como um todo.
106
5
CONCLUSÕES E RECOMEN
DAÇÕES FINAIS
Este trabalho é concluído ao trazer sua contribuição sobre quais as
principais fontes de problemas em implantações de soluções de TI em empresas de
pequeno porte. No estudo de caso realizado na IONICS, organização que
representa muito bem o perfil das empresas
do
porte estudado, foi possível
constatar que os principais problemas de implantação do ERP em questão
partiram
da
falta de capacitação da equipe de trabalho, passando pelas falhas na prepar
ação
da mudança organizacional e
o
pouco envolvimento dos patrocinadores do projeto,
até
problemas na gestão geral do projeto. Diferentemente de conclusões de alguns
autores estudados, os quais analisaram implantações de soluções de TI em grandes
empresas e constataram que a escolha
técnica
da solução é o fator que mais pesa
no sucesso da implantação, pelo estudo apresentado
foi
possível chegar a
conclusão que
,
na IONICS
,
os
fatores humanos
é que fizeram a diferença.
Como mencionado no início deste trabalho, os aspectos técnicos
envolvidos na escolha e implantação de sistemas de informação têm sido a principal
ênfase dentro das empresas. Porém o presente estudo corrobora a visão de autores
como Stoner (1985), Ramos (1989) e Ulrich (1998), os quais depositam maior parte
da responsabilidade sobre o sucesso de um projeto que envolve mudança
organizacional
em
fatores humanos como motivação,
capacitaç
ão e gestão do
projeto, todos aspectos
basicamente
comportamentais. Muitas empresas acabam
encarando a implantação de um sistema ERP simplesmente como um processo de
implantar um novo
software
.
Este estudo confirmou que o processo de mudança
organizacional
, que chega a alterar a forma como a empresa faz seus negócios,
revela
-
se como o principal FCI em projetos do gênero.
A respeito da informatização das pequenas empresas, as vantagens que
estas
podem obter com um sistema
ERP
vão desde a melhoria das infor
ma
ções
para a tomada de decisão, automatização das tarefas rotineiras e melhoria do
controle interno das operações, até
o
aumento da capacidade de recon
hecer
problemas mais cedo,
melhorias
de produtividade e
de
competitividade.
Como
essas empresas têm como característica a não utilização de instrumentos
for
mais para tratar seus problemas, normalmente o administrador utiliza a intuição
como principal base para a tomada de decisão. Se por um lado este aspecto pode
107
promover o comprometimento entre colaboradores e empresa, por outro lado a não
utilização de critérios técnicos e de informações adequadas pode comprometer a
qualidade da decisão.
E na
IONICS tudo isso foi comprovado.
O desafio de implantar uma Solução de TI em uma empresa que não
tinha
claros seus processos e procedimentos internos, e que passa
va
por uma crise
de gestão a IONICS em 2004 aumentou muito a complexidade do projeto. Neste
momento é que o
apoio de uma consultoria especializada
mostrar
-
se
-
ia
fundamental,
assim como
a
escolha da
equipe
in
terna a ser alocada no projeto. Fatores como a
capacitação e experiência em relação à solução de TI, conhecimento do negócio
(uma vez que processos terão que ser redefinidos) e da metodologia a ser adotada
(seqüência de passos a seguir) eram de extrema rel
evância.
Porém nem uma equipe
interna capaz, muito menos uma consultoria especializada, eram fatos à época. Mais
uma vez o fator humano colaborava para uma implantação mal sucedida.
Stoner (1985) ressaltava que diminuir as forças de restrição é
normalme
nte
maneira mais eficaz para se estimular a mudança do que para
aumentar as forças de impulsão. Para ele, a resistência a uma proposta de mudança
é um sinal de que algo errado com a proposta ou de que foram cometidos erros
em sua apresentação. Uma eficiente comunicação, o uso do grupo como veículo de
efetivação da mudança, a concessão do tempo suficiente para o ajustamento,
e
a
participação e o apoio da alta administração são características da estratégia
utilizada para tentar contornar possíveis influências negativas nos indicadores de
abertura à mudança. Na implantação do ERP na IONICS, o apoio da alta
administração foi praticamente nulo; o tempo para o ajustamento foi muito curto; e a
utilização dos “agentes de mudança” foi desconsiderada pelos gestores do projeto.
O resultado foi uma avalanche de reclamações antes, durante e depois da
implantação da solução, além de um ERP que não atingiu seu objetivo integrador.
Somando
-se a tudo isso, pela pesquisa
percebeu
-se que o estudo das
estruturas de poder nas organizações que se propõem a passar por um processo de
mudança
realmente
são de extrema importância durante qualquer processo de
alteração nas relações de poder vigentes. Relembrando a frase Nicolau Maquiavel
(1469
-
1527,
apud
GREENE, 2000) “Considere-
se
que não nada mais difícil, nem
de sucesso mais duvidoso, nem mais arriscado, do que iniciar uma nova ordem das
coisas.” (p.422). Na IONICS não seria diferente. Cabe
ria
a um preparado agente de
108
mudanças saber lidar com toda a complexidade deste processo e obter o sucesso
esperado por toda a organização.
Como mencionado no início do trabalho, quando se tratava das relações
de poder dentro das organizações, uma implantação de Solução de TI geralmente
tem objetivos positivos. Porém os interesses individuais e a luta pelo poder acabam
por desvirtuar todo o processo, resultando, portanto, em um resultado negativo. E
isto se repete a cada processo de mudança, o que exprime o quão importante é o
estudo das relações de poder para a árdua tarefa de administrar mudança. Orwell
(1997) fez a leitura de um tipo de organização, e a mapeou muito bem em “A
Revolução dos Bichos”
. Porém cada organização possui sua configuração particular;
cabe ao administrador da mudança ter a habilidade de mapeá-la corretamente e
trabalhar
sobre este mapa concebido.
Finalmente, quanto à gestão geral do projeto, seguidas com atenção as
etapas na implantação de uma solução
de
TI como a metodologia PETI proposta
por Rezende (2003)
adicionada de alguns itens complementares
, particulares a cada
tipo de organização
o sucesso do projeto é iminente. Cabe ao provedor da solução
e a contratante pactuarem e organizarem uma equipe multidisciplinar competente e
comprometida com o projeto para gerenciá-lo com afinco. Rezende (2003) j
á
destacava a importância de eleger um patrocinador (quem financia o projeto,
geralmente o Presidente/Diretor da empresa), que deve
ria
estar inserido no
desenvolvimento do projeto e também durante sua implantação, utilizando toda a
sua
“força política” para facilitar a aceitação da mudança por parte do corpo de
colaboradores.
Este
FCI não foi priorizado
pela
IONICS, o que contribuiu para o
insucesso do projeto como um todo.
Quanto ao atingimento dos objetivos do trabalho, o primeiro deles era
identificar os graus de importância e de satisfação referentes aos passos seguidos
na implantação de um sistema de gestão integrada (ERP) em uma organização de
pequeno porte. Pelos questionários de importância e satisfação aplicados nos
elementos
-chave d
esta
implantação, tanto dentro da organização em estudo, quanto
no principal envolvido no projeto por parte do provedor do ERP, foi possível chegar
exatamente nos graus de importância e satisfação frente ao projeto, na visão dos
respondentes. Como limitação, cabe
aqui
ressaltar a impossibilidade de aplicar os
questionários aos demais envolvidos no projeto por parte do provedor do ERP;
109
porém a visão do consultor que liderou a implantação foi suficientemente
esclarecedora e contribuiu muito para o enriquecimento das conclusões do estudo.
Anali
sar os Fatores Críticos de Sucesso (FCSs) e os Fatores Críticos de
Insucesso (FCIs) deste projeto de implantação de solução de Tecnologia da
Informação
era o segundo objetivo específico do projeto. Com a utilização da
metodologia proposta por Albrecht e Bradford (1992) chamada Janela do Cliente,
este objetivo foi atingido em sua plenitude, uma vez que se partindo dos graus de
importância e satisfação atribuídos pelos entrevistados a cada
tópico
analisado, foi
possível obter exatamente quais desses atributos eram FCSs e quais eram FCIs do
projeto em questão.
Finalmente, a partir da análise minuciosa dos FCIs elencados
,
bem como
das
entrevistas em profundidade
aplicadas
em três dos respondentes dos
questionários, foi possível atingir o objetivo geral do trabalho, ou seja, analisar quais
as maiores fontes de problemas de implantação de Soluções de Tecnologia da
Informação em empresas de pequeno porte. Com esta contribuição, o pesquisador
espera colaborar para novos estudos e, principalmente, alertar empresas de
pequeno porte sobre os “perigos” das implantações de soluções de TI. Focando
atenções sobre os FCIs elencados, espera-se que as chances de insucesso nesses
projetos sejam reduzidas a zero, ou ao menos minimizadas.
As limitações da pesquisa não podem ser desconsideradas, sendo as
principais delas: o estudo de apenas uma empresa, impedindo o pesquisador de
generalizar os resultados do trabalho; o fato que algumas peças-chave do processo
de implantação do ERP na IONICS já não fazerem mais parte do quadro de
fu
ncionários da empresa, o que impossibilitou de aplicar nelas os questionários e
entrevista
-las em profundidade (com exceção de um dos egressos, que foi localizado
e respondeu ao questionário, mesmo que por correio eletrônico); e a comentada
dificuldade
na coleta de informações junto ao provedor do ERP, o qual disponibilizou
apenas um respondente aos questionários.
Como recomendações para novos estudos, duas merecem destaque: a
aplicação da metodologia presente neste trabalho (incluindo a janela do cliente) a
outras empresas de pequeno porte, no sentido de generalizar ou tornar mais
científico o resultado apresentado; e a aplicação da metodologia em empresas de
segmentos específicos, como do ramo alimentício, prestadoras de serviços, turismo,
110
enfim, tentar obter resultados em outras empresas que não sejam do ramo de
tecnologia
, confrontando o resultado obtido entre elas e procurando
analogias/diferenças. Ambos os estudos seriam relevantes e acrescentariam muito
ao estudo implantações de soluções de TI
nas o
rganizações
.
111
REFERÊNCIAS
ALBERTIN, A. L. Comércio Eletrônico: Benefícios e Aspectos de sua aplicação.
RAE. Vol. 38 nº 1, jan
-
mar. São Paulo: 1998.
ALBRECHT. Karl, BRADFORD, Lawrence. Serviços com Qualidade: a vantagem
competitiva
.
SP: Makron Books, 1992.
BAHIA BITTENCOURT, Luiz Fernando. Análise das Soluções em TI disponíveis
no mercado frente à demanda das organizações.
Curitiba, 2003. 127f. Monografia
de especialização FAE Business School. Programa de Pós-graduação em Gestão
da Tecnologia da Informaç
ão.
CAMPOS, A. Estudo sobre ERPs aponta problemas. Reportagem da revista
Computerworld de 31 de agosto de 1998: pg38
39.
CAPRA, F.
O ponto de mutação.
A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São
Paulo, Cultrix, 1982.
CHIAVENATO, Idalberto. Teoria geral da administração. 6.ed. rev. e atual Rio de
Janeiro: Campus, 2001
-
2v.
ERDMANN, Rolf Hermann. Organização de sistemas de produção. Florianópolis:
Insular, 1998.
GREENE, Robert. As 48 Leis do Poder. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de
Janeiro: Rocco,
2000.
GREENSTEIN, M; FEINMAN, T.M. Eletronic Commerce: Security, Management
and Control
. McGraw
-
Hill, 2000.
HANSON, Ward.
Internet
Marketing
. South
-
Western College Publishing, 2000.
LAKATOS, E. M., MARCONI, M. Fundamentos de metodologia científica. São
Pa
ulo: Atlas, 1985.
MARTIN, C. O Patrimônio Digital: Estratégias para Competir, Sobreviver e
Prosperar em um Mundo interligado pela Internet. São Paulo: Makron Books,
1998.
112
MICKLETHWAIT, J. & WOOLDRIDGE, A. Os bruxos da administração: Como
entender a Babel
dos gurus empresariais.
5ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
ORWELL, George. A revolução dos bichos; tradução Heitor Ferreira. 53ª ed. São
Paulo: Globo, 1997.
PFEFFER, Jeffrey.
Power in organizations.
Marshifield: Pitman, 1981.
PMBook 2000 v1.0
(disponíve
l em
www.pmimg.org.br
). A
cesso em 05/07/2006.
PORTER, M.E.
Vantagem Competitiva
. Rio de Janeiro: Campus,1990.
RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações: Uma reconceituação da
riqueza nas nações.
2ª ed. Rio de Jan
eiro, Fundação Getúlio Vargas, 1989.
REZENDE, Denis A. Notas de aula Planejamento de Tecnologia da
Informação
. 2003.
REZENDE
,
Denis
Alcides; ABREU, Aline França de. Tecnologia da informação
aplicada a sistemas de informação empresariais: o papel estratégico da
informação e dos sistemas de informação nas empresas. São Paulo: Atlas,
2000. 311p
SANTANA, Mercejane Wanderley. O Fetiche da Novidade em Administração:
para Onde Vão os Modismos? Conj. & Planej., Salvador: SEI, n.104, p.26-33, Dez.
2003.
SHAW, M.
J.
Eletronic Commerce: Review of Critical Research Issues.
Information Systems Frontiers. V1. N1, July 1999.
Site
instutucional da Microsiga (
www.microsiga.com.br
). Último acesso em
05/07/06.
SOUZA, Cesar Alexandre; SACCOL, Amarolinda Zanela; Organizadores.
Sistemas
ERP no Brasil: Teoria e Casos
. São Paulo: Atlas, 2003.
STAIR
, Ralph M. Princípios de sistemas de informação: uma abordagem
gerencial
. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1998. 451p
STONER, James Arthur Finch
.
Administração.
2ed. Rio de Janeiro: Prentice-
Hall,
1985.
113
TACHIZAWA, Takeshy; CRUZ JUNIOR, João Benjamin; ROCHA, José Antônio de
Oliveira.
Gestão de Negócios: Visões e Dimensões Empresariais da
Organização.
2ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
TAPSCOTT, D.
Eco
nomia Digital : Promessa e Perigo na Era da Inteligência em
Rede
. São Paulo: Makron Books, 1997.
TOURION, Cezar. Aprendendo com os Erros. Gestão Empresarial Magazine,
Out/2002. Disponível em: www.uol.com.br/idg/gestaoempresarial. Último acesso em
05/07/06.
ULRICH, Dave. Os Campeões de RH Inovando para obter os melhores
resultados
. São Paulo: Futura, 1998.
VASSOS, T.
Marketing Estratégico na Internet
. São Paulo: Makron Books, 1997.
WANG, S. Impact of Information technology on organizations. Human Systems
M
anagement. Saint John, Canadá.
1997.
APÊNDICE A
(Modelo de questionário de importância)
APÊNDICE B
(Modelo de questionário de satisfação)
APÊNDICE C
(Quadro de tabulação das respostas dos questionários)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo