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do cadete”. Por isso, esse GF avalia que teria sido melhor para o desenvolvimento dos cadetes a composição de
frações/pelotões mistos, com cadetes de vários cursos e turmas. Entretanto, ao comentar essa opinião com outros
grupos, os próprios tenentes observam que este procedimento dificilmente seria adotado na AMAN devido às
particularidades da formação dos cadetes e calendários bastante distintos entre os cursos.
Quanto às reações observadas nos colegas e relatadas na questão “c.”, os GF observaram que há
praticamente uma inversão em comparação com as respostas apresentadas em “a.”. A percepção de reações
negativas nos companheiros seria um fato real e constante e não se circunscreveria ao PDAL, mas se estenderia
às demais atividades acadêmicas. Essa contradição, quando examinada, revela fatos curiosos. Segundo os GF,
referindo-se inclusive às próprias experiências, o cadete apresentaria individualmente, segundo sua
autopercepção, verdadeiro interesse pelas atividades do PDAL e estaria bastante motivado. No âmbito coletivo,
porém, o cadete apresenta uma atitude contrária à sua disposição individual real. O motivo principal disso seria a
pressão grupal com suas exigências de conformidade dos indivíduos. O grupo pressionaria, por meio de recursos
variados, seus membros a se comportar dentro de um padrão tácito ali acordado e admitido. Qualquer
comportamento que extrapolasse os limites aceitos pelo grupo seria visto como uma ameaça à sua integridade.
Esse controle coletivo sobre o indivíduo muitas vezes se revestia de características de ações de contracontrole
em relação à instituição e seus agentes socializadores. Assim, não seria raro que alguns cadetes, principalmente
aqueles com certa projeção no grupo e possuidores de capacidades aglutinadoras, seguros do amparo grupal,
apresentassem comportamentos calculadamente desafiadores. Segundo o relato dos GF, nessas condições, ser um
destaque positivo no grupo, atendendo as exigências institucionais de enquadramento, seria um comportamento
que somente seria aceito e reconhecido como um bem pelo grupo se aprovado coletivamente. Do contrário, o
indivíduo que conseguisse algum destaque ou se esforçasse para alcançá-lo a despeito do grupo, sofreria sanções
duras, como censuras e isolamento. Para um dos GF, “essa inversão de valores, conseqüente da pressão do
grupo, era fruto da imaturidade do cadete. Mas tudo isso era só aparência. No fundo, o cadete queria
individualmente acertar”. Seria também uma “fuga da realidade, um retorno à segurança da coletividade e do
anonimato”.
Quanto à questão “d.”, sobre os pontos julgados válidos na estrutura conceitual/teórica do programa, os
GF avaliaram que as respostas apresentadas estariam de acordo com os resultados das precedentes questões “a.”,
“b.” e “c.”, e, para justificar-se, fizeram análises bastante peculiares. Para um dos GF, “b.” reforça “a.” no
sentido de que as mudanças nas opiniões iniciais dos respondentes ocorreram no sentido de afirmar a sensação
de que a experiência no PDAL superou as expectativas iniciais ou ainda as confirmou no que diz respeito
principalmente a INTERESSE, CURIOSIDADE e MOTIVAÇÃO. Por outro lado, as respostas em “c.”
representariam a máscara individual de conformidade às pressões grupais, “e seria isso mesmo: apenas uma
máscara”, (o disfarce público de cada um) sem ser uma verdadeira oposição firmada em convicções sólidas,
contra o programa e/ou contra outros agentes socializadores da instituição, com suas regras e valores. “Eu me
lembro de que eu fazia isso. Hoje vejo o quanto que isso era ridículo”, disse um dos tenentes. Assim, na questão
“d.”, o destaque dado ao emprego do conceito lateral estaria, de alguma forma, ligado ao interesse do cadete pelo
programa. E a possibilidade de se efetuar uma avaliação desse tipo seria a melhor oportunidade de se verificar a
verdadeira motivação dos indivíduos, que seria representada mais por suas ações (36%) do que pela tácita
simulação de indiferença. Ocorre que esse expediente teria conseqüências desagradáveis, pois, na questão “e.”,
que pergunta sobre o que
não teria sido válido
na estrutura conceitual/teórica do programa, a resposta mais
freqüente foi justamente a que expressa que a avaliação horizontal foi mal estruturada. A queixa justifica-se:
cada cadete avaliava seus companheiros com base no comportamento ou desempenho observado. Como esse
comportamento era regulado pelo acordo tácito grupal, os resultados dessa avaliação sofriam deformações e
frustravam expectativas, ou seja, a avaliação seria feita sobre o que efetivamente cada cadete demonstrava em
público e não segundo suas intenções ou desejos íntimos de participação e envolvimento. Na avaliação
horizontal, então, o acordo era quebrado.
Nesse ponto da discussão, as respostas relativas às frustrações das expectativas iniciais ganham um
novo sentido para os GF: o programa teria metas muito ambiciosas e estimularia uma excessiva idealização do
líder, segundo os respondentes do questionário. Para se defender da perspectiva de insucesso, o cadete se
abrigaria no grupo que, por sua vez, ditaria normas e padrões de comportamento. Por ocasião da avaliação
horizontal, porém, cada um avaliava seu companheiro tendo em vista o desempenho dele em termos de
desenvolvimento de habilidades de liderança. Como todos se comportavam mais ou menos uniformemente para
evitar as sanções grupais, não havia outro recurso aos avaliadores do que retratar o que efetivamente viam:
poucos destaques e pouco desenvolvimento geral das habilidades de liderança no período considerado. Colocado
à prova justamente no confronto com a realidade cotidiana da AMAN, o acordo defensivo dos grupos revelou-se
um fracasso.
Adiante, para os GF, as respostas em “f.” não apresentariam novidades dignas de nota: “isso aqui é
assim mesmo”, disse um dos tenentes referindo-se à distribuição decrescente das respostas. “A possibilidade de
desenvolvimento dos atributos da área afetiva é o que há de mais importante para nós... é o que levamos para a
tropa... aprender técnicas é coisa rápida... área afetiva dá mais trabalho... exige aproximação do subordinado...