compra também. A piaçaba que tiram é vendida e com o dinheiro a gente compra o que
querem. Numa certa ocasião foi apreendida uma grande quantidade de piaçaba dentro da
área indígena, que deu para comprar uma boa quantidade de mercadoria (forno,
espingarda, motor). Era comum comprarem espingardas para trocar com mulher, por isso
tem grande valor entre eles.
Existe um padrão de compras a ser feito, o supérfluo é bem limitado. A munição é
comprada em pequena quantidade por não se confiar. Os materiais de consumo evitados
são: sal, açúcar, café, sabão, sabonete, óleo de cabelo. Com relação a produtos de higiene
compramos apenas pasta e escova de dente que também é fornecido por uma ong
(Secóia). O tabaco para brejeira tem que entrar na lista de compras, caso contrário não
vão cortar piaçaba. Já tiveram problema de tuberculose por causa do fumo (brejeira)
porque engolem. As compras são feitas em Manaus e os preços são menores que no
sistema de aviamento. As outras mercadorias compradas são: calção, camisa, sunga de
lycra, faca, terçado, sandália, bacia, lanterna, boné, rede, corte (pano), espelho, tigelas,
escova, pasta, agulha e bombílio. O supérfluo só é comprado pelos mais jovens, como
relógio, rádio-gravador (J. Mineiro, Entrevista / 2006).
O mesmo entrevistado declarou que tem um intérprete que repassa o que os indígenas
querem, bem como o chefe do posto no Padauiri (Husivel Gama) que pesa o produto. O
funcionário da Funai faz as compras e pede a nota fiscal, assim como contribui com barco e
combustível, mas é muito oneroso por causa da burocracia.
O transporte do produto não é de graça porque eles não fazem, apenas tiram produto,
sendo necessário se cobrar um juro de dois ou três reais para compensar o transporte,
defeitos mecânicos nos motores rabetas quando necessário, pagar práticos. Assim se o
tabaco de corda custar vinte e cinco reais eles pagarão vinte oito e fazem os pacotes que
são amarrados com barbantes comprados porque também não querem tirar cipó por
acomodação. Alguns tiram cipó e vendem entre eles. Toda essa arrumação interna é
comunicada a Brasília.Não há patrão, é feito um leilão e quem pagar melhor compra. A
distribuição das coisas é feita pelos chefes. Alguns distribuem de acordo com a hierarquia
familiar por usarem o produto em família. No Alto Padauiri se encontra índio primitivo.
A. Moraes um antigo patrão há 18 anos levou 12 famílias de baniwa e tucano que saíram
de lá por não se enquadrarem nas regras estabelecidas para lá, que se pautam na proibição
da cachaça, festas e outros costumes. Entre os yanomami só trabalham os homens mais
jovens e quando querem. O resto fica na lavoura (J. Mineiro, Entrevista / 2006).
Há muitas críticas com relação ao tamanho dessas terras e às proibições que foram feitas
após a demarcação, pois até os piaçabeiros indígenas de outras etnias não poderiam permanecer
dentro da reserva yanomami. No rio Aracá a FUNAI mantém um posto de fiscalização onde
começa a reserva ficando difícil transgredir a lei de proibição. O representante do referido órgão
em Barcelos confere que a reserva do rio Padauiri é bem mais difícil de fiscalizar, porque é uma
área muito extensa e complicada. Além de não ter recurso financeiro falta o recurso humano.
Uma só pessoa não dá conta de tudo. Esse fato dá brecha para a extração ilegal de
piaçabeiro não-indígenas e de outras etnias indígenas dentro da área. As queixas são
25