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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ARMAS ESTRATÉGICAS:
O IMPACTO DA DIGITALIZAÇÃO SOBRE A GUERRA E A
DISTRIBUIÇÃO DE PODER NO SISTEMA INTERNACIONAL.
FABRÍCIO SCHIAVO AVILA
Orientador:
Prof. Dr. Marco Cepik
Porto Alegre, março de 2008.
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1
Para Bráulio dos Santos Álvarez
(in memoriam)
“Para que empeces, el gusto, pelos sudamericanos.”
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AGRADECIMENTOS
Gostaria agradecer ao meu orientador prof. Dr. Marco Aurélio Chaves Cepik por ter
apostado em minhas capacidades e pela orientação recebida, sendo sempre um exemplo
de trabalho e dignidade. Também agradeço à prof.ª Dr.ª Martha Lucía Olivar Jimenez,
coordenadora do programa de pós-graduação.
Sou profundamente grato ao prof. Me. José Miguel Quedi Martins que cooperou,
decisivamente, para o trabalho. Sua força de vontade é sempre uma fonte contínua de
inspiração no esforço da construção de uma nação brasileira soberana. Agradecimentos
especiais ao amigo Me. Lucas Kerr Oliveira que soube transmitir segurança nos
momentos difíceis; e aos amigos Nilo Piana de Castro e Fernando Dall Onder Sebben,
que dispuseram fontes e ajudaram a elaborar o trabalho.
Aos amigos Leonardo Sosinski, que na hora mais difícil soube estender sua mão
amiga apesar de sua dor, e Knulp de Souza Prudente Villar, pela sua luta pela verdadeira
ciência.
Aos meus ex-colegas da PUCRS e da Sociedade União Espírita Porto-alegrense,
pelo apoio emocional, especialmente, a Luís Antônio Lampert Dornelles.
Aos meus colegas de mestrado, das turmas de 2005 e 2006, principalmente, ao
Gabriel Pessin Adams, Rodrigo Torsiano Martins e Rafael Pons Reis. Agradecimentos
efusivos à Beatriz Accorci, que sempre executou suas tarefas com zelo, talento e êxito.
Agradeço à Taciana Kuplich Voss Monteiro pelo amor, carinho e paciência nessa
jornada. Assim como à Liége Maria Kuplich Voss e Aristóteles Mello pelo apoio recebido.
Agradeço aos familiares Regina Helena Schiavo Rodrigues, Dino Antônio Schiavo
(in memoriam), Eugenes Souza Nunes (in memoriam), Iasodhara Moraes Nunes e,
especialmente, a Antônio Adamy Nunes Avila pelo incentivo contínuo, desde o início da
minha jornada.
Ao meu irmão Fábio Schiavo Avila que mostrou como homens de verdade superam
as piores adversidades.
Ao meu pai JoAdão Nunes Avila (in memoriam), que ensinou com seu exemplo
o senso do dever e o amor pelo Brasil.
Especialmente, à minha mãe, professora Maria de Lourdes Schiavo Avila que
ofereceu-me a oportunidade de também ser professor.
3
RESUMO
O pós-Guerra Fria (1991-2006) apresenta uma mudança significativa no cenário
estratégico: a maior acessibilidade da tecnologia militar e o surgimento de novas armas
capazes de modificar o poder coercitivo dos países como as Armas de Energia Direta
acabam pondo em cheque a idéia de que a primazia nuclear é condição suficiente para
garantir a unipolaridade. Focando-se no atual recrudescimento das tensões entre EUA
com a Rússia especialmente com a proposta estadunidense de implementação do
Escudo Antimíssil no Leste Europeu e com a China, e analisando as relações de poder
entre os três países, procuramos revelar que tipo de competição ocorrerá no Sistema
Internacional nas próximas décadas. A presente dissertação analisa as reais
possibilidades de que a primazia nuclear estadunidense se torne efetiva, uma vez que
para tanto é necessário o desarmamento estratégico das demais potências. Como uma
guerra nuclear entre os três países possui um custo político muito elevado as disputas
tendem a ser decididas na esfera das operações. Para ilustrar essa última afirmação
usamos um cenário contrafactual de guerra nuclear limitada entre Estados Unidos, Rússia
e China, por meio do qual tentamos evidenciar as pré-condições táticas e operacionais
para uma eventual vitória da coalizão sino-russa.
Palavras-chave: Armas Nucleares - Polaridade - Guerra - Armas de Energia Direta
Rússia – China – Estados Unidos
4
ABSTRACT
The evolution of the Post-Cold War (1991-2006) international system shows a significant
amount of change regarding the strategic capabilities of United States, Russia, and China.
The rise of a new class of strategic weapons called Directed Energy Weapons (lasers and
high power microwaves), as well as the great costs associated with the quest for nuclear
primacy, demand closer examination of the current assumption about the links between
nuclear primacy and unipolar distribution of power in the International System. Starting
with the current tensions between US and Russia, we try to reveal in this article what kind
of competition might be observed in the International System over the next decade. The
present work analyzes the real possibilities of the USA achieving an effective nuclear
primacy condition, which requires the complete disarmament of all other powers. Since a
nuclear war between the three countries has a very high political cost, disputes tend to be
settled on the operational sphere. In order to demonstrate this final point, we made
comparative use of two nuclear war scenarios. This works concludes by establishing the
tactical and operational conditions that Russia and China seems to counting with in order
to defeat United States if a shooting war comes.
Key-words: Nuclear Weapons Polarity War Directed Energy Weapons Russia,
China – United States of America
5
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS - p. 06
LISTA DE TABELAS - p.07
GLOSSÁRIO - p. 08
INTRODUÇÃO - p. 09
I – ARMAS ESTRATÉGICAS NO SÉCULO XX - p. 13
I.1 - Antecedentes das armas da Guerra Fria - p. 13
I.2 - A construção das armas da Guerra Fria - p. 19
I.3 - A primazia nuclear no passado - p. 25
I.4 - A militarização do espaço - p. 27
II – A BUSCA PELA PRIMAZIA NUCLEAR NO COMEÇO DO SÉCULO XXI - p. 32
II.1 - Critérios de delimitação dos casos - p. 32
II.2 - O balanço de forças nucleares estratégicas - p. 35
II.3 - Balanço das forças estratégicas norte-americanas - p. 37
II.4 - Balanço das forças estratégicas russas - p. 42
II.5 - Balanço das forças estratégicas chinesas - p. 50
III - AVALIAÇÃO DA PRIMAZIA: SIMULAÇÃO E ANÁLISE CRÍTICA - p. 56
III.1 - Capacidade russa e chinesa de segundo ataque - p. 66
III.2 - Impacto da digitalização na guerra nuclear - p. 79
IV – COMANDO DO ESPAÇO E ARMAS DE ENERGIA DIRETA - p. 88
IV.1 - A Guerra no Espaço e a Digitalização - p. 89
IV. 2 - O advento das armas de energia direta - p. 93
IV.3 - Comparações entre o laser e o HPM - p. 97
IV.4 - Aplicação das DEW na estratégia - p. 100
CONCLUSÃO - p. 102
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - p. 105
6
LISTA DE FIGURAS
Fig.1: Míssil de cruzeiro - p. 18
Fig.2: ICBM - p. 21
Fig. 3: CEP e de silos - p. 22
Fig. 4: SSBN lançando um SLBM - p. 24
Fig. 5: Gráfico da Quantidade de ogivas russas e americanas no período de 1945 a 2005 - p. 26
Fig. 6: XianFeng a “super arma anti-míssil” - p. 28
Fig. 7: Sistema de Alerta ABM Estadunidense - p. 30
Fig. 8: Alcance do radar de Krasnoyarsk - p. 31
Fig. 9: MIRVs - p. 34
Fig. 10: Veículo de reentrada Mk-21 - p. 38
Fig. 11: Comparação de tamanho dos bombardeiros estratégicos - p. 40
Fig. 12: Topol-M - p. 44
Fig. 13: TEL do Topol-M1 - p. 46
Fig. 14: TEL do Scud - p. 46
Fig. 15: comparação dos SSBNs russos e norte-americanos - p. 47
Fig. 16: Míssil DF-5 - p. 51
Fig. 17: TEL do DF-31 - p. 52
Fig. 18: Computador dos Efeitos da Bomba Nuclear - p. 68
Fig. 19: Alvo das simulações - p. 69
Fig. 20: área da pressão de 10psi da explosão da ogiva do DF-5A - p. 70
Fig. 21: Simulação da área da destruição principal do DF-5A - p. 71
Fig. 22: Simulação da área da principal de incêndio causado pelo DF-5A - p. 72
Fig. 23: Simulação do fluxo térmico causado pelo DF-5A - p. 73
Fig. 24: Simulação da expansão da dose de radiação causado pelo DF-5A - p. 75
Fig. 25: Simulação do fluxo térmico causado pelo DF-31 - p. 75
Fig. 26: Simulação de dano da onda de choque da explosão da ogiva do DF-31 - p. 76
Fig. 27: Simulação da área da destruição principal do Topol-M - p. 77
Fig. 28: Simulação da área contaminada por radiação do Topol-M - p. 78
Fig. 29: Trajetória do DF-31A e a defesa ABM estadunidense - p. 80
Fig. 30: Guiagem polar do DF-31A e seu alcance - p. 80
Fig. 31: Simulação da área do incêndio principal - p. 81
Fig. 32: Simulação da área do fluxo térmico - p. 82
Fig. 33: Simulação da expansão da dosagem de radiação - p. 84
Fig. 34: Simulação da área de pressão de 10psi - p. 85
Fig. 35: Comparação da área da pressão de 10psi do DF-31A com o marco zero do WTC - p. 86
Fig. 36: O espectro eletromagnético - p. 97
Fig. 37: Míssil AGM-154 JSOW - p. 98
Fig. 38: funcionamento da HPM no JSOW - p. 99
Fig. 39: aplicações da HPM - p. 100
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Inventário das armas estratégicas dos Estados Unidos p. 41
Tabela 2: inventário das armas estratégicas da Rússia p. 49
Tabela 3: Inventário das armas estratégicas da China p. 54
Tabela 4: Comparação entre laser e HPM p. 98
8
GLOSSÁRIO
ABM: Anti-Ballistic Missile. Míssil anti-balístico.
ACM: Advanced Cruise Missiles
ALCM: Air Launched Cruise Missile. Míssil de cruzeiro lançado do ar.
ASAT: Anti-Satellite Weapon. Arma Anti-Satélite.
CEP: Provável Erro Circular. Designa a capacidade da ogiva em aproximar-se de seu alvo.
CFE: Conventional Forces in Europe. Forças Convencionais na Europa.
CIA: Central Intelligence Agency. Agência Central de Inteligência (Norte-Americana).
DEFCON-3: condição de defesa número três.
DEW: Direct Energy Weapons. Armas de Energia Direta
DF: Vento do Oriente (Dong Feng). Designação dos mísseis chineses.
DSP: Defense Support Program.
FAS: Federation of American Scientists.
GPS: Global Positioning System. Sistema de posicionamento global.
HPM: High Powered Microwaves. Microondas de alta-potência.
ICBM: Inter-Continental Ballistic Missile. Míssil Balístico Intercontinental
INF: Intermediate-Range and Shorter-Range Nuclear Forces. Forças nucleares de alcance curto
ou médio.
IRBM: Intermediate-Range Ballistic Missile. Míssil Balístico de Médio Alcance.
JDAM: Joint Direct Attack Ammunition. Projéteis de Ataque Conjunto Direto
JSTARS: Joint Surveillance and Target Attack Radar System. Sistema Conjunto de Radar de
Observação e Ataque
JTIDS: Joint Tactical Information Distribution System. Sistema de distribuição conjunta de
informações táticas.
LACM: Land Cruise Missile (Acrônimo). Míssil de cruzeiro lançado do solo.
MAD: Mutual Assured Destruction. Destruição Mútua Assegurada.
MIRACL: Mid-Infra-red Advanced Chemical Laser. Laser químico avançado meio-infravermelho.
MIRV: Multiple Independent Re-entry Vehicles. Veículo de reentrada múltipla independente.
NMD: National Missile Defense. Sistema Nacional de Defesa Antimísseis.
NNSA: Energy’s National Nuclear Security Administration
PGM: Precision Guided Ammunition. Munições Guiadas de Precisão.
RMA: Revolution in the Military Affairs. Revolução nos Assuntos militares.
SIPAM: Sistema de Proteção da Amazônia.
SIVAM: Sistema de Vigilância da Amazônia.
SLBM: Submarine-Lauched Ballistic Missile. Míssil balístico lançado de submarino.
SRF: Strategic Rocket Forces. Força de Foguetes Estratégicos (Rússia).
SS: Surface-surface. Superfície-superfície.
SSBN: Strategic Ballistic Missile Submarine, nuclear powered. Acrônimo que designa submarino
com propulsão nuclear equipado com mísseis balísticos.
TEL: transporter-erector-launcher (missile platform). Veículo de transporte e eretor-lançador.
US Navy: United States Navy. Marinha dos Estados Unidos.
USAF: United States Air Force. Força aérea norte-americana.
9
INTRODUÇÃO
Segundo Lieber e Press (2006a e 2006b), a construção de um escudo antimíssil, o
desenvolvimento tecnológico sustentado das capacidades nucleares americanas, a
vulnerabilidade e o tamanho dos arsenais chineses e a obsolescência acelerada das
outrora enormes capacidades russas seriam evidências de que os Estados Unidos
aproximam-se de uma condição de primazia nuclear ainda nesta década.
Por primazia (ou supremacia) nuclear dos Estados Unidos, entenda-se a perda da
capacidade da Rússia e/ou da China de responderem a um ataque nuclear dos Estados
Unidos com outro. Esta capacidade de segundo ataque (second strike capability) tem sido
a fiadora da dissuasão nuclear e da distribuição de poder no sistema internacional
quarenta anos (Aron, 1986, 513). Por dissuasão, entenda-se a ameaça explícita e crível
de que um ataque será respondido com uma retaliação tão pesada que torne o custo de
um primeiro ataque muito maior do que quaisquer benefícios que ele poderia gerar
(Jervis, 1979: 289).
1
Na primeira década após o final da Guerra Fria o tema central em torno da questão
nuclear foi a proliferação horizontal de armas de destruição em massa (Weapons of Mass
Destruction WMD) e seus regimes de controle. Na década atual, os pesquisadores em
Segurança Internacional e Estudos Estratégicos estão diante do desafio de explicar,
descrever e analisar as implicações normativas da possível obtenção da primazia nuclear
por parte dos Estados Unidos.
Assim, um dos principais desafios de nosso tempo é saber se esta primazia pode
realmente vir a ser obtida e analisar as possíveis conseqüências que este fato teria para a
distribuição de poder no sistema internacional (tipo de polaridade) e os padrões de
amizade e inimizade (grau de polarização) que tendem a emergir deste processo. O
artigo, claramente, apontou a falta da capacidade de segundo ataque de russos e
chineses a um ataque preemptivo
2
dos norte-americanos. Os autores fizeram uma
1
Note-se aqui a diferença entre a finalidade positiva de compelir (obrigar pela força) alguém a fazer algo e a
finalidade negativa de dissuadir (pela ameaça de punição violenta) alguém de fazer algo. Ambos os
conceitos adquirem sentido nos termos da teoria clausewitzeana da guerra. Cf. Brodie, 1974.
2
Na língua inglesa, preemptive é um adjetivo relacionado com o substantivo preemption, que pode ser
traduzido por preempção. O dicionário Houaiss da língua portuguesa não registra a palavra
“preemptivo”, mas registra preempção com os seguintes significados: compra antecipada,
precedência na compra ou, em informática, quando sistemas multitarefa alteram a condição de
processamento de uma instrução de um programa para outro. Como preempção e preemption
provêm do vocábulo latino praemptione (‘prae’ – antes e ‘emptione’ – compra), o sentido da
diferença estabelecida no vocabulário inglês entre prevenção e preempção reside em um hiato
10
comparação dos arsenais estratégicos dos EUA com os arsenais sino-russos do pós-
Guerra Fria para a justificação de sua hipótese. O artigo corrobora a concepção de
Samuel Huntington que o mundo estaria interessado pelo estabelecimento da primazia
americana porque seria a fiadora da estabilidade internacional (Huntington, 1993: 68-83).
A hipótese principal (Hp) que orienta a pesquisa, ou seja, a resposta provisória
para a pergunta proposta no início desta seção é a seguinte: a primazia nuclear é uma
condição necessária, porém insuficiente, para garantir a unipolaridade. Mesmo que se
restrinja a caracterização dos recursos de poder que definem uma grande potência ao seu
poderio militar e aos requisitos logísticos de manutenção e exercício desse poderio militar,
desde o advento das armas termonucleares é a capacidade de sobreviver a um primeiro
ataque e retaliar o agressor que tem sido a fiadora da condição de grande potência no
sistema internacional. Neste sentido, a primazia nuclear dependeria da capacidade de
desarmar efetivamente as demais potências nucleares que têm forças estratégicas
baseadas na tríade SLBMs, ICBMs e bombardeiros de longo alcance. Isso pode ser
obtido por via diplomática ou por meio de um ataque avassalador (first disarming atack).
No entanto, mesmo a capacidade material para produzir a primazia nuclear fosse
construída por algum país, ela ainda assim seria insuficiente para a configuração de uma
ordem internacional unipolar por quatro razões fundamentais previstas na teoria
clausewitzeana da guerra.
Em primeiro lugar, pelo que se poderia chamar de multidimensionalidade do
real.
3
A busca da primazia nuclear obedece a finalidades políticas (obter ou manter uma
condição de pólo exclusivo de poder). A subordinação da política à guerra, invertendo-se
o aforismo de Clausewitz, embutiria sempre o risco de um desastre estratégico mesmo
que os combates pudessem ser vencidos.
Em segundo lugar, há o problema da assincronia entre ataque e retaliação com
armas biológicas de destruição em massa. Mesmo supondo algo ainda além da primazia
nuclear, seja tal situação definida como monopólio nuclear ou até mesmo enquanto
exclusividade nuclear, isto seria insuficiente para assegurar a condição de unipolaridade.
Mesmo um país devastado por um ataque termonuclear manteria parte de sua
capacidade científica e de sua população. A qualquer tempo (anos ou décadas), os
sobreviventes poderiam, mesmo sem Estado, desenvolver armas biológicas (vírus ou
temporal significativo. Enquanto a prevenção lida com a antecipação de média e longa duração, a
preempção lida com eventos que são de curto prazo ou iminentes.
3
A multimensionalidade do real é o mesmo conceito da sincronia, utilizada na História.
11
bactérias) para devastar o país agressor. A assincronia temporal entre o ataque e a
defesa é o argumento clausewitzeano por excelência para demonstrar a reentrada da
política nas considerações sobre a limitação do uso da força, independentemente de
quaisquer outras considerações de natureza política, moral ou ideológica.
4
Em terceiro lugar, a insuficiência da primazia nuclear advém daquilo que se chama
de assimetria, ou o ato de tomar partido das próprias fraquezas para debilitar o
adversário. Os chineses denominam isso a arte de o inferior derrotar o superior, ou do
fraco vencer o forte. No que tange à esfera da estratégia, constata-se que é muito
dispendioso possuir um vasto arsenal nuclear estratégico. Como os russos têm uma
larga experiência de gestão e controle de estações espaciais tripuladas e os chineses
poderão ter sua própria estação espacial orbital no horizonte de anos e não de várias
décadas, caso os EUA tomem a iniciativa de militarizar o espaço e tentar obter primazia
nuclear, russos e chineses também poderão tentar fazê-lo, combinando armas anti-
satélites (ASAT), lasers e microondas de alta potência e ogivas termonucleares. A
combinação de alguns vetores termonucleares capazes de sobreviver a um primeiro
ataque e o uso de armas de energia direcionada utilizadas contra a infra-estrutura civil,
industrial e de serviços teria assim um potencial dissuasório tão grande ou inclusive mais
crível politicamente do que a dissuasão exclusivamente nuclear. Em síntese, o cálculo
das capacidades de dissuasão em termos de armas estratégicas precisa levar em conta
também a utilização estratégica das armas de energia direta de grande potência.
Finalmente, é preciso considerar os custos políticos, morais e ideológicos do
exterminismo como elemento de dissuasão estratégica (Thompson, 1985). Conforme
argumenta Ofer Shelah (2006) em relação ao que ocorreu no contexto específico da
invasão israelense no Líbano em 2006, as limitações de ordem moral e os efeitos políticos
da guerra na era da informação se dão simultaneamente sobre a opinião pública e os
próprios soldados. A chave do êxito na guerra contemporânea, estaria, portanto, situada
em se saber o quê não se pode empregar. O uso preventivo ou preemptivo de armas
nucleares para desarmar estrategicamente um Estado implica uma probabilidade muito
alta de extermínio de grandes contingentes populacionais civis. Supõe-se, como hipótese,
que a política do exterminismo, condição da primazia nuclear crível, seria insuportável
4
A atualização do argumento de Clausewitz para a esfera das operações no caso de uma eventual guerra
nuclear dos EUA contra a Rússia e a China foi feita recentemente pelo Brigadeiro-General filipino
Victor N. Corpus, cujo artigo também analisa a extensão do papel das novas armas de energia
direta em uma guerra entre grandes potências. Cf. Corpus (2006).
12
para o sistema político e social dos Estados Unidos. O país desabaria sobre as ruínas de
sua própria vitória.
Esta última razão apresentada para explicitar a hipótese sobre a insuficiência da
primazia nuclear configura, na verdade, uma importante hipótese auxiliar (Ha1). Ela
sugere que mesmo que os Estados Unidos obtivessem o desarmamento estratégico da
China e Rússia, os custos de uma plena utilização da primazia nuclear seriam
politicamente proibitivos. Afinal, para a primazia americana ter efeitos políticos decisivos,
ela precisa converter-se em monopólio, isto é, implicar o desarmamento estratégico
nuclear de russos e chineses. O desarmamento poderia ser obtido de duas maneiras, por
meio de negociações diplomáticas ou por meio de uma guerra preemptiva.
13
I
ARMAS ESTRATÉGICAS NO SÉCULO XX
Este capítulo, trata sobre o desenvolvimento de novas armas como sendo a alta
tecnologia a resposta para a assimetria. Os combates da Segunda Guerra Mundial
ofereceram a oportunidade do desenvolvimento dos novos armamentos.
I.1 - Antecedentes das armas da Guerra Fria.
Como em outras épocas, também no culo XX inovações tecnológicas adquiriram
gradualmente um papel preponderante na estratégia. Embora a aceleração tecnológica
tenha assumido contornos inéditos nas últimas cadas do século, é importante lembrar
dos antecedentes da Guerra Fria para demonstrar o mecanismo por meio do qual
algumas inovações tecnológicas e sistemas de armas acabam se tornando mais decisivos
do que outros, inclusive em alguns casos importantes contrariando as expectativas dos
especialistas e do senso comum.
Durante a II Guerra Mundial a Inglaterra, por exemplo, quando estava sendo
bombardeada diariamente pela Luftwaffe (Força rea da Alemanha Nazista) compensou
sua falta de meios com a construção e aperfeiçoamento dos radares.
5
No fim da guerra,
os alemães tentaram compensar a sua deficiência com o desenvolvimento dos foguetes
V-1 e V-2.
Apesar do primeiro radar ter sido construído em 1904, por C. Hülsmeyer na
Alemanha, foi a Batalha da Inglaterrao seu primeiro emprego efetivo em larga escala.
6
A
grande preocupação da aeronáutica militar, no início da guerra, era com a detecção de
aeronaves inimigas e com a guiagem de seus bombardeiros para seus alvos. Os
problemas dos comandos de bombardeiros, resumiam-se, inicialmente ao controle de
danos de bombardeio. Após uma ataque, a tripulação era entrevistada e técnicos
analisavam tanto a entrevista como fotos aéreas para a avaliação dos estragos causados
5
Radar Radio Detection And Ranging
6
Batalha da Inglaterra foi a batalha aérea entre a Alemanha nazista e a Inglaterra, durante a Segunda
Guerra Mundial. Compreendeu o período entre 10 de julho de 1940 até 31 de outubro do mesmo
ano. Segundo as ordens de Adolf Hitler, as operações alemãs durariam oito dias e seriam a
preparação para a Operação Sea Lion (Leão-Marinho) a invasão anfíbia da Inglaterra. Os ingleses
apostaram em seus radares e aviões e com isso, conseguiram dissuadir Hitler de suas idéias,
destruindo grande parte da Luftwaffe.
14
pelo bombardeiro. Novamente, outra reunião era marcada e a guarnição analisava seu
desempenho. O processo de análise durava várias semanas. A experiência do
bombardeio norte-americano na fábrica de rolamentos de Schweinfurt (Sweetman, 1977:
6) Alemanha foi um padrão estabelecido. Cerca de 229 bombardeiros foram enviados dia
17 de agosto de 1943 com a idéia, baseada em Jomini, que um único golpe diurno em
uma indústria de rolamentos de esfera, minaria o esforço de guerra inimigo, como parte
do plano Eaker.
7
O controle de danos respondia a uma necessidade em tempos de
guerra, que consistia na a avaliação e quantificação dos danos do bombardeio estratégico
nas indústrias alemãs. Principalmente, as indústrias de compressores que ao serem
danificadas prejudicariam os motores de aviões alemães.
No período da Batalha da Inglaterra, os alemães desenvolveram toda uma rede de
guiagem de seus bombardeiros no território europeu (FORD, 1974: 9). Instalaram nas
aeronaves goniômetros, que consistem num dispositivo, utilizado juntamente com
transmissores de rádio ou radar, permitindo que um sinal seja emitido em qualquer
direção, ou que a direção de um sinal que chega ao receptor seja determinada sem o
apoio de uma antena fisicamente giratória.
8
Ao mesmo tempo, espalharam pelo território
europeu radiofaróis, principlamente no litoral norte.
9
Não demorou muito para os ingleses
perceberem a ameaça e começaram o rastreio dos radiofaróis alemães com seus próprios
goniômetros. O plano inicial dos ingleses era destruí-los com bombardeiros, porém, isto
seria muito caro, demorado e de resultados questionáveis. Na solução encontrada,
emergiu o primórdio da guerra eletrônica. Os ingleses, simplesmente, descobrirama a
7
Esse plano foi lançado em abril de 1943, pelo General Eaker, e consistia no bombardeiro de indústrias
aeronáuticas, de rolamentos, petrolíferas e estaleiros navais. Cf.: Sweetman (1977. p. 62).
8
Goniômetro ou dio-compasso equipamento eletrônico que indica a direção de uma estação
transmissora de rádio. Embora antiquado, ainda hoje é usado para auxiliar a navegação aérea. Cf.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PILOTOS DE CAÇA. Glossário. (on-line) http://www.abra-
pc.com.br/glosR.html (02/02/2008)
9
Radiofarol (muitas vezes referido pela sigla NDB, de Non-Directional Beacon) é uma estação transmissora
especializada, instalada numa posição geográfica fixa e precisamente conhecida, que emite sinais
de radiofreqüência com um formato pré-determinado que permite que estações de rádio
embarcados façam a sua identificação e determinem a sua posição relativa face ao ponto
geográfico de emissão. Consiste na emissão de uma emissão de onda longa contendo sinais
radiotelegráficos em Código Morse, codificando grupos de letras que compõem o prefixo designador
de um local ou estação. Os radiofaróis, apesar do aparecimento dos equipamentos de navegação
por satélite, ainda são bastante utilizados face às distorções ou black-outs que ocorrem em
equipamentos que emitem sinais acima da ionosfera. É instalado nas proximidades de aeródromos
e em pontos específicos ao longo de rotas aéreas mais utilizadas. Adicionalmente, os sistemas de
navegação por satélite (GPS e GLONASS) permitam a correção daa amplitude da frequência,
melhorando-a frente a erros, como o relevo, costa marítima e condições atmosféricas adversas. Cf.:
U. S. FAA. Aeronautical Information Manual (on-line)
http://www.faa.gov/airports_airtraffic/air_traffic/publications/atpubs/aim/Chap1/aim0101.html#1-1-2
(19/02/2008)
15
frequência alemã e instalaram radiofaróis no Norte das Ilhas Britânicas, desviando os
bombardeiros alemães das cidades principais.
Todavia, em junho de 1940, o consultor científico de Churchill, Frederick
Lindemann, avisou-o que os alemães tinham criado uma nova forma de orientação
direcional. Inicialmente, os alemães chamaram esse aparalho de Knickebein. Os ingleses
recorrerama todo o tipo de estratagema para a obtenção do segredo militar,.fotos aéreas,
escutas, etc... Somente um interrogatório a um piloto alemão resolveu o problema. Os
alemães tinham desenvolvido um radar de raio duplo (Ford, 1974: 11). Os radares
operavam no litoral Norte da França, emitindo suas frequências. Nos bombardeiros
alemães, existiam receptores desses sinais, os quais os ingleses denominaram
Equipamento X. Durante sua missão de bombardeio, o piloto deveria guiar sua aeronave
até o ponto onde a emissão das ondas dos seus radares cruzassem. Este seria o local de
lançamento das bombas. Os aliados tentaram decifrar e copiar a frequência para desviar
os bombardeiros, do mesmo modo que acontecia com os radiofaróis. Mas, os alemães
começava a operar em frequências muito mais altas que a dos aliados. Os alemães
criaram a unidade Kampfgruppe 100, equipada com esse tipo de artefato, que realizou
seu primeiro ataque a Coventry em 15 de novembro de 1940.
A resposta inglesa para o desenvolvimento do Equipamento X, foi apressadamente
feita pla equipe do Dr. Robert Cockburn que desdobrava-se em pesquisas no centro de
pesquisas de telecomunicações de Swanage. Apesar da dificuldade de projetar
transmissores de onds curtas, foi descoberto depois da guerra que o aparelho alemão era
bem mais simples. A versão inglesa melhorou a alemã, ao incorporar quatro
transmissores (Ford, 1974: 18). Ao receber o aviso do primeiro transmissor, o piloto ficava
cuidando o altímetro e recebia as instruções do navegador. Na transmissão do segundo, o
navegador acionava um ponteiro de um cronógrafo especial.
10
A terceira transmissão era
dada a 5km do alvo, quando era acionado o segundo ponteiro do cronógrafo que parava o
primeiro. Quando os dois ponteiros se cruzavam, um relé elétrico disparava e soltava as
bombas automaticamente.
11
A grande contribuição desse tipo de equipamento era na
obtenção de tripulações de bombardeiros que poderiam realizar ataques com um
10
Cronógrafo designação para os cronômetros mecânicos.
11
Os pilotos brasileiros conhecem esse equipamento como rádio-faixa. Consiste no sistema de navegação
rádio que utilizava sinais sonoros para definir os pontos cardiais para uma estação transmissora. Ao
se aproximar da estação, em uma dessas faixas, o piloto ouvia em seu receptor um apito contínuo.
Se desviasse da "faixa" para um lado ouviria o som da letra "A" em Código Morse. Se desviasse
para o outro lado ouviria o som da letra "N". As estações de terra transmitiam em freqüências
estabelecidas entre 200 e 400 kHz. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PILOTOS DE CAÇA.
Glossário. (on-line) http://www.abra-pc.com.br/glosR.html
(02/02/2008)
16
treinamento básico. Foi criado na RAF (Royal Air Force Força Aérea Britânica) o 80º
Esquadrão para tentar interferir no sistema alemão. Sua missão consistia em emitir as
frequências alemãs para desorientar os bombardeiros nazistas. A capacidade inglesa de
saber onde os raios cruzariam, salvou muitas vidas porque os caças podiam ser enviados
para a interceptação dos bombardeiros.
Além disso, os ingleses descobriram que a utilização de frequências nas ondas
curtas não precisava, necessariamente, da utilização de sinais oriundos de dois radares.
Os ingleses começaram a equipar seus bombardeiros com radiotelêmetros que poderiam
voar até seus alvos seguindo apenas um sinal de radar baseado em terra (Ford, 1974:
21).
12
Os ingleses designaram essa técnica como Sistema Y. Este sistema era
virtualmente imune a interferências, não demorou muito para os alemães descobrirem o
sistema e começaram implementar em seus próprios bombardeiros. A sorte da Inglaterra
foi a invasão da União Soviética pelos nazistas que desviou a maior parte das aeronaves
da Luftwaffe para a frente Leste da Alemanha.
As bombas V-1 e V-2 foram a reposta dos alemães aos aliados nos dois últimos
anos da Segunda Guerra Mundial. Apesar da entrada de serviço dessas armas ocorrer
em 1944, as pesquisas sobre esse tipo de armamento começou em 1929, com testes de
motores a jato (Ford, 1973: 12). Mesmo antes da Primeira Guerra Mundial, o exército
alemão possuía um centro de desenvolvimento de novas armas, chamado de Wa Prüf.
13
O impulso decisivo ocorreu em 1935 quando a Alemanha rompe com o Tratado de
Versalhes. A obtenção de novos materiais e a mobilização dos recursos dos alemães deu
tempo para a obtenção de armamentos que influenciariam toda História, posteriormente.
Com o passar do tempo, foram criadas duas divisões no departamento do exército. Uma
correspondente aos foguetes de combustíveis sólidos e outra para foguetes de
combustível líquido, que foram somados aos departamentos que existiam e
investigavam os equipamentos de comunicações, munições e engenharia. Talvez essas
divisões correspondessem ao debate da natureza dos foguetes se, essencialmente, são
obuses de artilharia que, por acaso, portam cargas de propulsão; ou como outros afirmam
que são aviões não-pilotados de asas menores (Ford, 1973: 14). Desse debate surgiram
duas armas da vingança ou retaliação (Vergeltungswaffe no idioma alemão). O foguete V-
12
Radiotelêmetro tipo primitivo de radar.
13
Wa Prüf abreviatura, em alemão, para Heereswaffenamt Prüfwesen, Departamento de Provas do
Exército. Cf.: FORD, Brian. Armas Secretas Alemãs: plataforma para a morte. Rio de Janeiro:
Editora Renes LTDA, 1973. p. 11.
17
1 obedecia ao primeiro conceito de um avião e o foguete V-2
14
, consistiu no primeiro
míssil balístico de combustível líquido.
A história da V-1 começa em 1920, quando um professor de Munique, Paul
Schmidt, começou a fazer pesquisas na busca de um torpedo aéreo (Ford, 1973: 14). A
Luftwaffe bancou o projeto, porque seus militares achavam que a astronáutica era o seu
trabalho e não podia ficar nas mãos exclusivas do exército (Ford, 1973: 59). A arma V-1
continha um giroscópio Askania para direção na altitude.
15
Desde 1906, nos Estados
Unidos, giroscópios serviam para a guiagem de torpedos.
16
uma pequena hélice na ogiva,
movimentada pelo vôo, acionava um primitivo registro de distância. A uma distência pré-
determinada, o combustível era automaticamente desligado e o motor silenciava. O
aparelho então caía no solo, num mergulho oscilante e daí explodia (Ford, 1973: 68). A
arma obedecia especificações despretenciosas e sua produção era quarenta e seis vezes
mais rápida que uma V-2 e seu custo era em torno de sete ou cinquenta vezes menor
também.
17
Também era imune a interferências eletrônicas inimigas e seu combustível
poderia ser extraído das reservas naturais alemãs de linhita. Porém, seu desempenho foi
menos satisfatório que do foguete V-2.
18
Cerca de um quarto dos foguetes V-1 falharam,
os caças inimigos o interceptavam pos causa de sua baixa velocidade e, muitas vezes,
enredavam-se nos balões de defesa aérea (Ford, 1973: 60).
Essa arma é o início dos mísseis de cruzeiro. Diferentes dos mísseis balísticos é
que sua trajetória segue uma rota paralela ao globo terrestre. Ou seja, esses mísseis o
14
Possuía as dimensões de 13,80m de altura e 1,67m de comprimento. Seu peso, no momento do
lançamento, correspondia a doze toneladas, sendo 3.700kg de combustível e 5.100kg de oxigênio
líquido, consumidos a 123,75kg/segundo. A velocidade do gás de desgarca era de 7.506km/h. Cf.:
Esse tipo de requisição é reflexo da concepção jominiana de guera. Cf.: FORD, Brian. Armas
Secretas Alemãs: plataforma para a morte. Rio de Janeiro: Editora Renes LTDA, 1973. p. 54.
15
Giroscópio é um dispositivo usado para orientação de navios, aviões e espaçonaves, inventado por Léon
Foucault em 1852. O giroscópio consiste de um rotor suspenso por um suporte fomado por dois
círculos articulados, com juntas tipo cardan. Seu funcionamento baseia-se no princípio da inércia. O
eixo em rotação guarda direção fixa em relação ao espaço. O giroscópio veio a substituir a bússola
na navegação marítima. Dessa maneira, o giroscópio serve como referência de direção, mas não de
posição. Ou seja, é possível movimentar um giroscópio normalmente no espaço sem qualquer
trabalho além do necessário para transportar sua massa. Gyroscopes (on-line)
http://www.gyroscopes.org/behaviour.asp (19/02/2008)
16
Os norte-americanos pesquisavam no início do século XX sistemas de guiagem para armamentos. Cf.
LEAVIK, Frank M. Steering Apparatus for Mobile Torpedoes. (on-line)
http://www.pat2pdf.org/patents/pat839161.pdf (04/02/2008)
17
Cada v-1 consumia 280 homens-hora para a sua produção, enquanto cada V-2 girava em torno de
13.000. Seu custo era em torno de 1.500 a 7.500 marcos alemães, enquanto uma V-2 era de
75.000. FORD, Brian. Armas Secretas Alemãs: plataforma para a morte. Rio de Janeiro: Editora
Renes LTDA, 1973. p. 60.
18
A altitude operacional da V-1 era de 330 a 2.100m, com uma velocidade de 640km/h e uma alcance de
288 a 400km. Pesava 2.400kg, sendo 1.000kg de trinitrotoluol e nitrato de amônio como ogiva
explosiva. Seu comprimento era de 5,1m tendo 1,5m de diâmetro. Cf.: FORD, Brian. Armas
Secretas Alemãs: plataforma para a morte. Rio de Janeiro: Editora Renes LTDA, 1973. p. 60.
18
saem da atmosfera terrestre. Esses mísseis podem ser lançados de plataformas
terrestres ou de aeronaves. Os mísseis lançados de aeronaves recebem a designação
americana de ALCMs (Air-Launched Cruise Missile).
Fig.1: Míssil de cruzeiro.
A V-2, no seu comissionamento, foi denominada de A-4. Surge como
desenvolvimento natural do foguete A-3 que não possuía um sistema de guigem
confiável, porém, apresentava-se como um bom foguete (Ford, 1973: 47). O artefato
tentava obedecer as requisições do Alto-comando alemão que pretendia construir a arma
definitiva.
19
Somente no seu terceiro teste, no dia 3 de outubro de 1942, a arma
demonstrou suas capacidades. Vôou a uma altitude de 80km e obteve um alcance de
20km (Ford, 1973: 54). O modelo comissionado teve cerca de cinco mil exemplares
produzidos. Os alemães podiam contar com 4% de garantia que o foguete atingiria seus
alvos. O segredo de sua dirigibilidade estava no servo-sistema cibernético que dirigia as
aletas do fluxo de descarga. As aletas moviam-se de um lado para o outro, desviando
ligeiramente o caminho do impulso do foguete e produzindo efeitos laterais que alteravam
levemente a trajetória. Sua importância era decisiva nos primeiros instantes do
lançamento, quando a velocidade do foguete era lenta demais para dar qualquer utilidade
aerodinâmica para os elevadores das aletas. Também havia controles elevadores nas
aletas da cauda, mas de importância secundária. A partir desse momento, o foguete
19
A arma definitiva é um de requisição que reflete a concepção jominiana de guerra. Cf. BASSFORD,
Christopher. Jomini and Clawsewitz: their interaction (on-line)
http://www.clausewitz.com/CWZHOME/Jomini/JOMINIX.htm#JOMINI
(19/02/2008)
19
poderia atingir sua ogiva de quase uma tonelada com uma precisão maior que o esperado
(Ford, 1973: 54). Apesar de ser uma arma mais cara e de produção mais difícil que a V-1
porque dependia de álcool e oxigênio líquido, sua velocidade de impacto, de quatro vezes
a velocidade do som, garantia uma destruição muito maior que da sua rival, mesmo que
fosse da alta pressão gerada pelo impacto no solo.
Apesar dos sessenta anos do fim da Segunda Guerra Mundial, alguns padrões
foram mantidos. O destaque está na aposta na alta tecnologia como resposta a
assimetria, contrariando o senso de que não se pode investir em alta tecnologia em
momentos onde a derrota pode ser iminente. Todavia, os fatos mostram o contrário. Os
alemães mobilizaram suas forças armadas, juntamente, como seu parque industrial, que
possuía na química sua maior força, para a criação de novas armas que poderiam mudar
o curso da guerra. O mesmo ocorreu com a Inglaterra, que pesquisou e desenvolveu
sistemas de vigilância, controle e guiagem de bombardeiros para defender-se das
agressões alemãs e causar danos ao esforço de guerra inimigo com seus bombardeios
estratégicos precisos contra as indústria da Alemanha.
I.2 - A construção das armas da Guerra Fria
O Comando Aéreo Estratégico da Força Aérea dos Estados Unidos (SAC), foi
criado em 21 de março de 1946. Somente 148 bombardeiros B-29 sobreviveram a
desmobilização do pós-guerra e foram aproveitados.
20
Apesar das medidas austeras de
controle de gastos, o SAC conseguiu reunir 319 bombardeiros em 1947, apostando na
construção e desenvolvimento do bombardeiro B-36.
21
Esse bombardeiro tinha sido
concebido em 1940 e seria produzido caso a Inglaterra sucumbisse. Porém, seu
comissionamento ocorrera no debate sobre o papel do SAC na guerra nuclear. Foi um
bombardeiro que frepresentou o ápice da indústria de compressores. Os compressores
são mecanismos que aumentam a potência dos motores.
22
Durante a Segunda Guerra
20
O bombardeiro B-29 inaugurou a era nuclear ao bombardear Hiroshima. Possuía um alcance de 6.852km
e podia carregar nove toneladas de bombas. PIKE, John. B-29 Superfortress (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/b-36-specs.htm (16/02/2008).
21
O bombardeiro B-36 foi o auge dos bombardeiros de motores à pistão. Possuía um alcance de 18.520km
e podia carregar 38,7 toneladas de bombas, nucleares ou convencionais. PIKE, John. B-36
Peacemaker (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/b-36-specs.htm
(16/02/2008)
22
Os compressores estiveram presentes na era do avião a jato. Em 1942 a General Eletric desenvolveu o
primeiro motor desse tipo. Muito do esforço dos bombardeiros estratégicos aliados era a destruição
das indústrias alemãs que os produziam, para que os protótipos de alta tecnologia o fossem
20
Mundial, os bombardeiros esforçaram-se em destruir a indústria de compressores da
Alemanha. A falta de potência para os bombardeiros alemães foi um dos fatores de sua
derrota. As aeronaves não poderiam levar um grande carga de bombas e combustível, o
que reduzia sua eficácia. A base norte-americana de Walters, no Novo México,
concentrou o pessoal experiente da época da Segunda Guerra Mundial.
A transferência de tecnologia da Alemanha para os Estados Unidos foi chamada de
Operação Lust (Miller, 1993: 17), sendo o caça XP-80, o fruto direto dessa transferência.
O motor a jato foi um dos pontos centrais do desenvolvimento bélico na década de
cinqüenta. Os alemães faziam experiências com bombardeiros a jato desde 1943,
como o Ju-287.
23
Os quatro motores Junkers Jumo 004, produziam uma velocidade
máxima de 680km/h, com um alcance da aeronave era de 1.500km. O fator mais
interessante, foi a utilização de um conjunto de dois trens de pouso dianteiros de um
bombardeiro americano Consolidated B-24 Liberator em uma fuselagem de uma aeronave
alemã Heinkel He-177. Em 1951, a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF),
comissionava seu primeiro bombardeiro a jato, o B-47.
24
Em 1953, o SAC começava a operar o B-53, e na mesma época, uma família
inteira de mísseis balísticos intercontinentais já faziam parte de seu arsenal. LeMay
achava que os mísseis deveriam estar juntos com a força de bombardeiros. Em 1958, o
SAC já era quatro vezes maior do que na época de sua criação. Possuía 258.703
militares e a quantidade de aeronaves pulou de 837 em 1948 para 3.000, dez anos depois
(Cronley, 1986: 71-92). Ou seja, nos primórdios da Guerra Fria, houve um processo de
assimilação da tecnologia de mísseis balísticos dos alemães pelos aliados. Até a
utilização crível desses mísseis, os bombardeiros ainda possuíam um papel
preponderante no balanço nuclear dos Estados Unidos.
A União Soviética, por outro lado, apostou na construção de foguetes como
resposta aos bombardeiros estratégicos estadunidenses. Foi uma resposta assimétrica,
da mesma maneira que a Alemanha respondera à pressão aliada nos anos de 1944 e
1945. Os soviéticos saíram arrasados da Segunda Guerra Mundial (Vizentini, 1990: 14).
Em 1949, a URSS explodia seu primeiro artefato atômico e em 1953, seu primeiro artefato
produzidos em grande quantidade, como o Me-262. PIKE, John GE-1A. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/military/systems/aircraft/systems/ge-i.htm (19/02/2008)
23
O Ju-287 possuía as dimensões de 20.000kg de peso, 20,1m de envergadura e 18,28m de comprimento.
Cf.: FARIAS, Cláudio L. & UHR, Daniel. Lutwaffe, Confidencial: Plataforma para o Moderno
Design Aeronáutico. Rio de Janeiro: Borelli, 2007. p. 35.
24
O bombardeiro B-47 foi um dos primeiros bombardeiros estratégicos a jato. Possuía um alcance de
3.800km e podia carregar 11,25 toneladas de bombas, nucleares ou convencionais. PIKE, John. B-
47 Stratojet (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/b-47-specs.htm
(16/02/2008)
21
nuclear (Gunston, 1984: 68). A prioridade dos soviéticos era a pesquisa e a produção de
uma nova arma que possibilitasse a desmobilização de um milhão e meio de homens
para trabalhar na reconstrução do país (Vizentini, 1990: 24). Os estudos do soviético
Sergey Pavlovich Korolev mostram que os projetos iniciais da URSS eram baseados nos
foguetes alemães.
25
O foguete R-1 mostrava muita semelhança com a arma V-2 dos
alemães. O problema inicial era conseguir potência para que o foguete conseguisse sair
da atmosfera. Apesar do foguete R-1 IM possibilitar a colocação um artefato nuclear para
ser entregue a longa distância. O problema seria solucionado a partir do foguete R-1
IFM onde, da saída do jato inicial, foram acrescentados mais quatro bocais, que davam a
potência necessária para o foguete (Godwin, 1971: 33). Dessa maneira, surgiu o primeiro
foguete intercontinental, o R-7, que seria a plataforma de lançamento dos primeiros
mísseis balísticos soviéticos. Esse mesmo foguete, em 1957, foi o lançador do primeiro
satélite artificial em órbita da Terra, o sputnik. Em agosto de 1957, os soviéticos testavam
o seu primeiro míssil balístico de alcance, realmente, intercontinental, o SS-6.
26
Os ICBMS são os mísseis balísticos de alcance intercontinental.
27
Sua trajetória é
balística, ou seja, eles saem da atmosfera para depois reentrar.
Fig.2: ICBM.
25
Sergey Pavlovich Korolev foi o fundador e primeiro coordenador do Primeiro Escritório de Projetos (OKB-
1) de 1946 a 1966. Além disso foi o projetista do primeiro foguete da URSS e dos primeiros
sistemas espaciais. Cf.: GODWIN, Robert. Rocket and Space Corporation Energia. Ontário:
Apogee Books, 1971. p. 19.
26
O R-7/SS-6/SAPWOOD foi o primeiro míssil balístico de dois estágios, de alcance intercontinental, de
cerca de 14.000km. Possuía uma ogiva de rendimento de 4Mt e um CEP de cerca de 5.000m. Cf.
PIKE, John. R-7 - SS-6 SAPWOOD. (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/world/russia/r-7.htm
(17/02/2008)
27
ICBM Inter-Continental Ballistic Missile. Míssíl Balístico Intercontinental.
22
Geralmente, estão guardados dentro de silos que, também, são a forma mais
eficaz de protegê-los. O silo consiste em enterrar os mísseis no solo, acrescentando um
revestimento de toneladas de concreto. Essa proteção é medida em PSIs (pounds per
square inch) que corresponde a uma pressão de 70g/cm². Justamente, os sistemas de
guiagem possuem uma importância significativa para a destruição dessa defesa. Foi
desenvolvido um conceito chamado erro circular provável (CEP). Ajuda a medir a
distância do impacto da ogiva contra o silo. Por exemplo, um silo de 2.000psi de
resistência (140,61kg/cm²) precisa de um impacto de 18.000kt num raio de 500m para a
sua destruição. E um artefato nuclear de 1.000kt colidindo no raio de 200m o destruiria
igualmente. A guiagem reduziria a potência e aumentaria a quantidade de mísseis e, com
isso, a vulnerabilidade estratégica com o maior número de alvos com possível impacto.
Antes da existência de uma precisão maior, havia a necessidade de muitas ogivas de
grande rendimento atingirem um alvo para garantir sua destruição, mesmo que caíssem a
vários quilômetros de distância. Esse era o conceito do uso contra força dos mísseis,
que por muito tempo guiou as doutrinas dos países
Fig.3: CEP e destruição de silos.
23
Entretanto, os soviéticos o descuidaram do desenvolvimento de seus
bombardeiros estratégicos. No mesmo ano, voava o bombardeiro Mya-50 Bounder.
28
Parece que esse desenvolvimento não era prioridade, teria algum tipo de incentivo caso
falhasse o projeto soviético de mísseis balísticos estratégicos. Dois anos depois, em
dezembro de 1959, quando os mísseis começavam a ser instalados, a União Soviética
criava a sua Força de Foguetes Estratégicos que foram declaradas as forças
preeminentes em caso de guerra, tirando a primazia do exército soviético (Gunston, 1984:
69).
O grande problema era a contenção do aumento das forças estratégicas
estadunidenses que poderia ser contido com mias eficácia pelos mísseis balísticos,
porque o risco da utilização de bombardeiros envolvia custos políticos, sociais e
econômicos. Os trabalhadores soviéticos estavam envolvidos na reconstrução do país e
não poderiam ser mobilizados para serem tripulações de bombardeiros. A convicção da
chegada dessas aeronaves ao território continental dos Estados Unidos para lançar suas
bombas era duvidosa. A defesa aérea dos norte-americanos poderia destruir, de forma
significativa, qualquer formação de ataque.
Originou-se nesse período, uma grande diferença dos americanos para os
soviéticos, e que marcaria a Guerra Fria como um processo, era o uso do tipo de
combustível. Os mísseis estadunidenses possuíam combustível sólido
29
. Este tipo de
combustível possuía muitas vantagens. O míssil não precisava ser preparado para seu
lançamento e sua vida útil estendia-se por muito mais tempo. Os soviéticos, a seu turno,
utilizavam o combustível líquido
30
. A logística era complicada, as ogivas ficavam
estocadas, separadas dos mísseis e do combustível (Lieber e Press: 2006). O efetivo
necessário para a sua manutenção era de noventa homens. Demorava-se 72 horas para
que o míssil pudesse entrar em ação. Depois de abastecidos com combustíveis líquidos,
28
Esse bombardeiro a jato nunca entrou em serviço. Foram feitos três protótipos. Seria supersônico e
carregaria trinta toneladas de bombas. Cf. Vladimir Mikhailovich Myasistchev (on-line)
http://www.aviation.ru/Mya/#50 (16/02/2208)
29
O combustível sólido é a forma mais antiga de uso de foguetes. Ainda hoje a mistura química é colocada
em cilindros que, entrando em combustão, expelem gases em grande rapidez. Por exemplo, a
mistura química que vai nos foguetes dos ônibus espaciais americanos, consiste em 69,93% de
perclorato de amônio, 16% de alumínio em pó, 0,07% de oxidante de ferro em (como
catalisador). O acrilonitrilo ácido acrílico polibutadieno (em 12,04%), segura toda a mistura, que
ainda recebe 1,96% de tratamento de epóxi. Tanto o ácido como o epóxi queimam como um
combustível, adicionando potência. Cf. PIKE, John. Ballistic Missile Basics (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/intro/bm-basics.htm (14/02/2008).
30
O combustível líquido para foguetes consiste, geralmente, em dois líquidos químicos estocados. O
combustível, propriamente, de hidrogênio líquido (-253°C) e um oxidante de oxigênio líquido (-
298°C), queimados juntos pelo motor para a obtenção de empuxo. Cf. PIKE, John. Ballistic Missile
Basics (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/intro/bm-basics.htm
(14/02/2008).
24
os mísseis poderiam durar 24 horas antes de começar a corrosão interna (Lieber e Press,
2006: 56). Essa foi uma das causas do rápido colapso da força estratégica russa. A
desmobilização de pessoal, pelo corte no orçamento militar, deixou que os mísseis
apodrecessem, literalmente, nos seus silos.
Juntando-se aos bombardeiros e mísseis, Estados Unidos e União Soviética
estavam fazendo testes com a possibilidade de lançamento de mísseis estratégicos a
partir de submarinos. No início da cada de cinqüenta, os soviéticos faziam testes
com o foguete R-1 IFM para seu lançamento nesses vasos (Godwin, 1971: 32). Apesar
dos avanços tecnológicos da época, a guiagem desses mísseis ainda era inercial.
31
Contudo, os norte-americanos comissionaram, já em 1960, o míssil Polaris A-1,
construído pela empresa Lockheed, iniciando o conceito do SLBM.
32
Os SLBMs são
mísseis estratégicos lançados do fundo do mar, que estão comissionados em submarinos
de propulsão nuclear (SSBNs). Quando em operação, são escoltados por outros
submarinos que são de propulsão nuclear, porém, não portam mísseis estratégicos,
conhecidos como caçadores, com a função de protegê-los da marinha inimiga.
Fig. 4: SSBN lançando um SLBM.
31
A guiagem inercial é o sistema que guia o projétil utilizando o próprio princípio físico da inércia. ndulos
na ogiva podem agir como acelerômetros que modificam a trajetória a partir da oscilação causada
pela velocidade do bólido. Geralmente, a trajetória dos foguetes era corrigida com o uso de
giroscópios, antes da entrada do sistema GPS. Cf. PIKE, John. Ballistic Missile Basics (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/intro/bm-basics.htm (14/02/2008).
32
O Polaris era um míssil balístico de dois estágios, propulsado por motores-foguetes de combustível sólido
e tinha um alcance de 222,4km. Portava uma única ogiva de 800kt, com um CEP de 926m. Cf.:
GUNSTON, Bill. Foguetes e mísseis da III Guerra Mundial. Rio de Janeiro, Editora Ao Livro
Técnico S.A., 1984. p. 32.
25
O Polaris permaneceu em serviço até 1965. A imagem formada pelos vetores de
entrega de artefatos atômicos, que consistiam no bombardeiro estratégico de longa
distância, no míssil balístico intercontinental e no míssil lançado de submarino, deu
origem ao que, a década de 1960 já apresentava, o que se designou o Tripé nuclear.
I.3 - A primazia nuclear no passado.
A história mostra que o fenômeno da primazia nuclear aconteceu no início da
Guerra Fria. Richard Betts (1986: 3 - 32) descreveu esta situação a partir do debate sobre
a relação entre a qualidade dos arsenais, a quantidade das forças estratégicas e a
primazia nuclear.
No contexto da Guerra Fria, os EUA detiveram o monopólio do armamento nuclear
de 1945 até 1949, quando a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) explodiu
seu primeiro artefato nuclear de fissão. Foi a fase do monopólio para a superioridade. A
próxima fase, de 1950-1959 foi denominada de superioridade para suficiência, visto
que os soviéticos trabalhavam incessantemente para a criação de uma força de
bombardeiros dissuasória crível e pela corrida na obtenção da bomba termonuclear que
conseguiram em agosto de 1953. A última fase denominada foi a da suficiência para a
vulnerabilidade, que começava com a corrida espacial em torno de 1960. No final da
década de cinqüenta, os mesmos foguetes que começavam a levar satélites espaciais
para o espaço, poderiam levar ogivas, no alcance intercontinental, originando os ICBMs.
Como exemplo, foi a realização do primeiro teste de mísseis balísticos, realizado
pela União Soviética, em agosto de 1957, que dois meses depois, o mesmo tipo de
foguete colocaria em órbita o satélite artificial Sputnik, e que seria o primeiro ICBM
soviético, gerando em 1959, a Força de Foguetes Estratégicos Soviéticos. Esse
fenômeno causou, gradativamente, a substituição do debate da quantidade de
bombardeiros estratégicos, para o número necessários de ICBMs para a constituição de
uma força crível de dissuasão.
O gráfico abaixo demonstra o número de ogivas desde os primeiros artefatos
nucleares e chega até os nossos dias. Porém, parece que os números indicam que a
percepção da ameaça americana dos soviéticos era, demasiadamente, fora de uma
26
realidade empírica sustentável. A primeira fase do monopólio para a superioridade exclui
maiores explicações sendo claramente compreendida.
Fig. 5: Gráfico da Quantidade de ogivas russas e americanas no período de 1945 a 2005.
33
A próxima fase da superioridade para a suficiência, que permeia toda a década de
1950, mostrou os problemas de um balanço desfavorável para os soviéticos. Em 1950, os
norte-americanos contavam com 369 ogivas, acabando 1959 com 15.468 artefatos.
Apesar dos números impressionantes, esse crescimento foi de 58,89% ao ano. Os
soviéticos começaram com 235 e acabaram a década com 1.060, um arsenal quinze
vezes menor que o estadunidense. Entretanto, o crescimento anual do número de ogivas
era de 81,34%. Isso mostra alguns paradoxos da última fase em questão, da suficiência
para a vulnerabilidade. O arsenal norte americano continuou a crescer até atingir seu
auge em 1966, sendo. ultrapassado somente em 1978 pelos soviéticos.
A suficiência americana era patente, porém a vulnerabilidade era questionável no
momento. Dois motivos apresentam-se, o primeiro é que a vulnerabilidade da quantidade
ainda era uma tendência. Os soviéticos demorariam mais dezoito anos para construir um
arsenal equivalente. Mas, os soviéticos estiveram inicialmente na frente da corrida
armamentista, ao conceber e comissionar os ICBMs. Parece que os soviéticos seguiram o
33
Fonte: KRISTENSEN, Hans & NORRIS, Robert S. Global Nuclear Stockpiles, 1945-2006. In.: Bulletin of
Atomic Scientists, July/August 2006. (arquivo .pdf) (on-line) http://www.thebulletin.org (1/04/2007).
27
mesmo padrão dos ingleses a alemães na primeira guerra, ao responder à assimetria com
a alta tecnologia.
I.4 - A militarização do espaço
Durante a década de 1960, o mundo assistiu a corrida para o espaço. Entrementes,
os soviéticos lançaram-se na frente em 6 de agosto de 1961, quando foi lançada a nave
Vostok II, com German Titov a bordo (Hobbs, 1986: 25). A importância dessa década
reside no fato das experiências com vôos orbitais tripulados, que culminaram com a
viagem do homem à Lua em 1969. Tacitamente, o que mais preocupava os americanos
era a liderança dos soviéticos nas capacidades dos mísseis pesados. Os veículos de
lançamento espacial eram frequentemente mísseis modificados que, claramente,
poderiam ser utilizados para o despejo de artefatos termonucleares em qualquer lugar no
mundo, o que era agravado pelo fato de que naquela cada ainda não havia um tipo de
defesa eficiente contra eles. O crescimento do número de satélites norte-americanos, que
passaram de 15 em 1960 a 100 em 1967, demonstra o ritmo das pesquisas espaciais.
Nos anos subseqüentes, a média anual de lançamentos de satélites artificiais pelas
superpotências era de cem aparelhos ao ano (Hobbs, 1991:28).
Além disso, havia a preocupação que os soviéticos pudessem desenvolver armas
anti-satélite (ASAT) e com isso, ameaçar a rede espacial de comunicação norte-
americana.
34
O primeiro teste anti-satélite ocorreu realmente em 1959quando os Estados
Unidos lançaram de um bombardeiro B-47 um míssil balístico chamado Bold Orion para
interceptar o satélite científico Explorer VI. Nessa seqüência, os americanos preferiram
mísseis lançados de bases terrestres. A primeira plataforma operacional, de 1964 a 1975,
foi o míssil Nike-Zeus que possuía uma função secundária de interceptação de mísseis
balísticos; seu propósito era a interceptação de satélites.
35
Os soviéticos ainda efetuariam
treze testes com esse tipo de arma na década de setenta e os americanos ainda
possuíam algumas comissionadas mesmo com a assinatura do Tratado do Espaço
Sideral de 1967 que bania esse tipo de sistema.
34
PIKE, John. Anti-Satellite Weapons Overview. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/space/systems/asat-overview.htm
(17/02/2008)
35
O míssil Nike-Zeus era baseado em terra, possuía uma ogiva de rendimento de 400kt e um alcance de
400km. Cf. CLAREMONT INSTITUTE. Safeguard. (on-line)
http://www.missilethreat.com/missiledefensesystems/id.39/system_detail.asp (17/02/2008).
28
Duas versões posteriores do míssil Nike-Zeus, deram origem ao Spartan e ao
Sprint.
36
Operacionalmente, esses mísseis interceptariam mísseis balísticos nucleares
dentro e fora da atmosfera, respectivamente, dando origem ao conceito de míssil anti-
balístico (ABM).
37
Esse conceito talvez seja mais antigo, como mostra o XianFeng a
“super arma anti-míssil”. O super canhão poderia lançar um projétil de 160kg, não-guiado,
propelido por foguete, no intuito de atingir ogivas nucleares.
Fig. 6: XianFeng a “super arma anti-míssil”.
38
O tratado ABM de 1972 limitou os sistemas anti-balísticos. Os Estados Unidos
comissionaram seus sistemas Sprint e Spartan nos silos de mísseis na Dakota do Norte,
enquanto os soviéticos comissionaram o sistema Galosh em torno de Moscou.
39
A URSS
sabia que esses mísseis seriam efetivos para a defesa da capital contra ataques
nucleares da China, França ou Inglaterra, mas ofereceria pouca resistência contra um
36
Os sistemas Spartan e Sprint eram basicamente, o mesmo míssil com uma versão de curto alcance e
outro de longo alcance, repectivamente, para interceptação de mísseis balísticos no meio curso e
outro na fase de reentrada. Cf. CLAREMONT INSTITUTE. Safeguard. (on-line)
http://www.missilethreat.com/missiledefensesystems/id.55/system_detail.asp (17/02/2008).
37
ABM Anti-Ballistic Missile.
38
Chinese Military Forum. (on line) Fonte:
http://www.sinodefence.com/strategic/missile/missiledefence.asp (02/02/2008).
39
O sistema Galosh foi visto pela primeira vez na parada militar soviética de 1964. Era um míssil de três
estágios, combustível sólido, com um alcance de 322km, portando uma ogiva de cerca de 3Mt. Seu
desempenho era comparável ao míssil norte-americano Nike-Zeus. PIKE, John. Galosh (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/world/russia/galosh.htm
(17/02/2008)
29
ataque em massa dos estadunidenses. A capital dos soviéticos tornou-se o local mais
protegido do mundo em relação a ataques com mísseis balísticos.
O monitoramento do espaço aéreo era uma questão central nas preocupações de
defesa de americanos e soviéticos. Desde 1962, os Estados Unidos mantém em
operação o sistema BMEWS.
40
Existem três desses instalados em Thule na Groenlândia,
Clear no Alaska e Fylingdales na Grã-Bretanha. Esse sistema opera dois tipos de radar:
um sistema de pulso-doppler e um radar de rastreamento com uma antena parabólica de
25m de comprimento.
41
O mesmo tratado que limitava os sistemas contra mísseis
balísticos, deixava livre a pesquisa dos meios defensivos. As pesquisas subseqüentes
estiveram no foco da sobrevivência desses grandes radares a ataques convencionais e
nucleares. Dessa maneira, surgia o radar de arranjo fásico. Esses radares possuem as
antenas dispostas em um arranjo de fases que podem, sutilmente, alterar as freqüências
e, com isso, atingir maior precisão no monitoramento dos mísseis balísticos inimigos,
observando-os desde o seu disparo. Além disso, as antenas estão fisicamente dispostas
em placas num grande prédio. Dessa maneira, em caso de ataque, as antenas
sobreviventes cumpririam as funções das destruídas
42
. Os Estados Unidos possuem dois
radares desse tipo, do sistema Pave Paws para o controle respectivo de suas costas
pacífica e atlântica.
43
O radar denominado FPS-115 está disposto em um prédio de
estrutura trapezoidal de 30m de altura que possui duas faces cobertas por 5.400 antenas.
Opera na faixa UHF (300Mhz a 3GHz) e possui tecnologia de semicondutores que
produzem feixes de radar, na cobertura de 85° de elevação e 240º de azimute, com um
alcance de 4.800km. Sua função é a monitoração de SLBMs que podem ser lançados dos
dois oceanos.
40
Cf. HOBBS, David. Guerra no Espaço: a moderna guerra espacial e os sistemas de Defesa
Estratégica das superpotências. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 62.
41
Pulso-doppler Consiste em ujma forma sofisticada de radar que é capaz de detectar alvos em vôo
rasante, mesmo tendo ao fundo objetos, nuvens, que refletem os sinais de eco. Cf.: RICHARDSON,
Doug. Guerra Eletrônica. Vol. I. São Paulo, Nova Cultural: 1986. p. 11.
42
CASTRO, Fábio M. Radares de Varredura Eletrônica (on-line)
http://sistemadearmas.sites.uol.com.br/ge/par1naval.html
(17/02/2008)
43
PIKE, John. Pave Paws (on-line) www.globalsecurity.org/space/systems/pavepaws.htm (17/02/2008)
30
Fig. 7: Cobertura estadunidense de radares estratégicos.
Seu grande alcance e eficácia fez com que surgisse a polêmica do
comissionamento do radar de arranjo fásico soviético em Krasnoyarsk. Segundo os
Estados Unidos, este não estaria na fronteira da União Soviética, nem apontando seu
feixe para fora do país. Este radar estava situado na fronteira com o atual Cazaquistão,
monitorando o Oeste siberiano até a Península de Kamchatka. Estaria, portanto, fora do
Tratado ABM. Este radar era importante porque defendia os silos soviéticos de possíveis
incursões de aeronaves que poderiam vir do Oceano Pacífico. Seu descomissionamento,
nas palavras de Lieber e Press (2006: 51A), criou o “ponto cego” no Pacífico, deixando
vulnerável a futura Rússia a ataques preemptivos estadunidenses.
31
Fig. 8: Alcance do radar de Krasnoyarsk.
32
II
A BUSCA PELA PRIMAZIA NUCLEAR NO COMEÇO DO
SÉCULO XXI
II.1 - Critérios de delimitação dos casos
Além das cinco potências termonucleares, que correspondem aos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU, existem países que, declarada ou
presumidamente, possuem arsenais nucleares. Todavia, não há indicação segura que
qualquer um deles tenha capacidade instalada em termos de armamento de fusão. Este é
o caso da Índia, Paquistão, Israel e, muito discutivelmente, da Coréia do Norte.
Embora esses países possam lançar mão de seus arsenais nucleares caso
decidam fazê-lo, poderiam atingir países vizinhos e, ainda assim, com rendimentos
limitados, que não assegurariam um resultado decisivo em caso de guerra local, muito
menos alterariam decisivamente a distribuição de forças no âmbito global. Em parte isso
decorre dos mesmos fatores políticos limitadores intrínsecos às armas nucleares como
elemento de compellence e não apenas de deterrence. Tais fatores são comuns a todas
as potências nucleares, inclusive EUA, Rússia e China. Entretanto, quando somados com
as limitações derivadas da capacidade de destruição conferida pelo processo de fissão,
que é expresso em milhares de toneladas de TNT (kilotons), do número estimado de
ogivas que esses países possuem e da ausência de vetores (mísseis, aviões,
submarinos) capazes de realizar entregas intercontinentais, são os fatores determinantes
da exclusão de Paquistão, Índia, Israel e Coréia do Norte, além do Reino Unido e da
França do estudo proposto.
O Reino Unido não possui ICBM próprio e retirou o armamento estratégico dos
seus bombardeiros de longo alcance, permanecendo operacionais apenas as ogivas sub-
estratégicas. Também é preciso lembrar que este país tomou uma decisão política de
passar a utilizar armas de fusão e vetores americanos. Seus principais sistemas de armas
estratégicas são SLBMs americanos (Polaris A-3P e Trident-II D-5), de propriedade
inglesa, mas cujo controle final encontra-se nas mãos do Comando Estratégico dos
Estados Unidos (USSTRATCOM). Além disto, existem evidências que a Inglaterra não
possui C
3
I (Comando, Controle, Comunicações e Inteligência) adequado para artefatos
33
estratégicos. Apenas os bombardeiros estão em linha com o Primeiro Ministro e o grau de
controle sobre os Trident é incerto. Portanto, é extremamente discutível, do ponto de vista
político e administrativo, que o Reino Unido possa decidir soberanamente sobre o uso
eventual de suas armas termonucleares. Por isso decidiu-se excluir o Reino Unido deste
estudo.
44
A classe Vanguard de submarinos podem carregar dezesseis mísseis por unidade.
Cada SSBN é protegido por um ou dois submarinos hunter-killer durante os trânsitos de
suas patrulhas de dissuasão que são planejadas para serem coordenadas com as
operações dos SSBNs franceses.
A França, pelo contrário, possui arsenal próprio e meios administrativos sob seu
estrito controle. Todavia, a preparação militar francesa é incompatível com a hipótese de
que as autoridades francesas venham a desencadear uma guerra termonuclear. Afinal, a
França desativou seus vetores ofensivos ao longo da última década. O país retirou de
serviço os mísseis de curto alcance Pluton e Hadès em 1998. Na mesma época a França
também desmantelou seu IRBM (Intermediate-Range Ballistic Missile) S-3D, o qual tinha
alcance de apenas 3.500 km, mas era armado com ogiva estratégica de 1,2 megaton.
Embora a França continue pesquisando e procurando desenvolver mísseis SLBM, foram
cancelados na década passada todos os demais programas missilísticos terra-terra.
Na esfera estratégica foram retiradas do serviço nuclear em 1996 as 18 unidades
existentes do bombardeiro Mirage IV, a espinha dorsal do arsenal estratégico francês
subordinado ao Commandement des Forces Aériennes Stratégiques (CFAS). As
aeronaves permanecem em serviço como vetores de reconhecimento estratégico. A
França foi, juntamente com a Inglaterra, um dos primeiros países nucleares a aderir e
ratificar o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), sendo que a
França foi até agora o único país que desmantelou suas instalações de testes nucleares,
44
Por algum tempo o Reino Unido operou um míssil balístico de alcance intermediário (3.000 a 4.800 km)
também de fabricação americana, mas o Thor, como era chamado esse IRBM, foi retirado de
serviço em 1963. Por sua vez, os Polaris estão sendo retirados de serviço em benefício dos Trident.
Os SLBM Trident são mísseis instalados em submarinos, com alcance máximo de 6.000 km,
dotados de ogivas múltiplas (12) com rendimento na faixa megaton. Por outro lado, os Trident do
Reino Unido têm laços de C3I bem claros com o USSTRATCOM, através da cobertura de comando
da OTAN. Embora o Reino Unido não seja capaz de empreender operações nucleares estratégicas
de modo independente, seu arsenal pode ser considerado auxiliar ao dos EUA para efeito de
cálculo de uma capacidade de segundo ataque. Cf. http://www.globalsecurity.org/wmd/world/uk.
34
parou de produzir material para artefatos nucleares estratégicos (plutônio) e desmantelou
as instalações responsáveis por sua confecção.
45
Restaram à França os vetores air-sol de moyenne portée (ASMP) e air-sol de
longue portée (ASLP), mísseis cruzadores ar-superfície de médio (300 km) e de longo
(1.200km) alcance. Os ASMP e os ASLP são mísseis com ogivas de 300kt no máximo,
sendo transportados pelos aviões Super-Étendard, da aviação naval embarcada, e pelo
Mirage 2000N. Também permanece em serviço o SLBM M-45, com alcance máximo de
6.000 km e armado com seis ogivas MIRV, cada uma com rendimento de 150 kt.
A palavra MIRV significa Multiple Independent Re-entry Vehicles. Consiste em uma
capacidade de alguns mísseis nucleares em portar suas ogivas em múltiplos veículos de
reentrada.
46
O míssil MX Peacekeeper norte-americano oferece-nos um bom exemplo.
Ele carrega dez veículos MK-21 que contém cada um, a ogiva W87. Esses veículos
possuem o formato cônico e estão no último estágio do míssil estratégico. o
independentes porque esse míssil pode atingir dez alvos diferentes, um para cada veículo
de reentrada que porta a ogiva.
Fig. 9: MIRVs.
45
Since 1992, France no longer produces weapon-grade plutonium. At the end of 1997, it closed the
Marcoule reprocessing plant where this plutonium was produced. Since mid-1996, France has
ceased all production of fissile material for nuclear weapons. The Pierrelatte enrichment plant, where
highly enriched weapon-grade uranium was produced, has also been closed. The dismantling of
these plants, decided in February 1996, is underway.Cf.: Global Security. Nuclear Weapons [Fr].
(On-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/world/france/nuke.htm (04/05/2007).
46
Por exemplo, os veículos de entrega norte-americanos, que contém as ogivas, possuem a denominação
Mark (Mk). O Mk 1 foi, justamente a bomba “Little Boy” usada em Hiroshima. Cf.: PIKE, John. (on-
line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/nuke-list.htm
(08/08/2007).
35
Ou seja, embora a França mantenha uma força crível de dissuasion nucléaire,
nenhum país sem armas de rendimento megaton e com limitadíssima capacidade
balística intercontinental ultrapassaria o limiar nuclear contra uma potência que contasse
com capacidade de segundo ataque. O uso mais provável de armas nucleares por parte
da França, excluída a autodefesa, seria contra um país não nuclear. Este é o sentido
prático da nova doutrina anunciada pelo Presidente Chirac em 2006, quando convocou as
forças nucleares francesas para participarem na campanha mundial contra terrorismo. Na
ocasião o presidente salientou que, em caso de atentado com armas de destruição em
massa contra seu país, a França faria uso de armas nucleares como retaliação, alvejando
os países que dão suporte ao terrorismo.
47
É improvável que a França empregue seus mísseis para a defesa dos EUA, caso
estes comecem uma guerra contra Rússia ou China. Neste caso a França provavelmente
se consideraria desobrigada de seus laços atlânticos e seria impelida a seguir o caminho
da conveniência nacional, adotando atitude neutra. Por todos estes motivos a França
também foi excluída do estudo proposto nesta dissertação.
O referente empírico da pesquisa fica limitado, portanto, ao estudo dos arsenais
nucleares estratégicos (ogivas e vetores) das três principais potências nucleares
contemporâneas, a saber, Estados Unidos, ssia e China, no período posterior ao final
da Guerra Fria (1991-2006). Enfocando no ano de 2006 e nas projeções para 2007.
II.2 - O balanço de forças nucleares estratégicas
O balanço de forças nucleares estratégicas é considerado como variável
independente ou causal (Vi) no estudo. A variável independente é a causa da variável
dependente (Vd) que, na dissertação, consiste no tipo de polaridade no sistema
internacional. Os indicadores (unidades) relevantes para que se possa analisar a variação
dos níveis de força no período pós-Guerra Fria são os números de ogivas termonucleares
e os vetores de entrega dos Estados Unidos, Rússia e China entre 2006 e 2007.
47
FRANCE. Speech by Jacques CHIRAC, President of the French Republic, during his visit to The Stategic
Air and Maritime Forces at Landivisiau / L'Ile Longue. Thursday 19 January 2006. (On-line)
Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/wmd/library/news/france/france-060119-
elysee01.htm> Acesso em: 04.mai.2007.
36
O nível de mensuração possível da variável independente corresponde a uma
escala intervalar entre os números absolutos obtidos (freqüência igual entre as
categorias), mas a razão (ratio) também é relevante para a análise, ou seja, quantas
vezes a mais cada categoria variou a partir de uma linha de base a ser definida (digamos
zero, pois este valor é relevante para a análise contra-factual caso os acordos de
desarmamento tivessem avançado ao ponto de gerar o desmantelamento completo das
capacidades estratégicas de um país).
O tipo de polaridade no sistema internacional constitui a variável dependente ou de
efeito (Vd) no trabalho proposto. Sua definição operacional possui divergências na
literatura, sobretudo em relação ao que Pennings, Keman e Kleinnijenhuis (2003: 62-66)
chama de definições intensivas ou extensivas. A intensividade de um termo descreve os
critérios que devem ser observados para que um ente seja considerado ‘membro’ daquela
classe. Definições intensivas são preferíveis a definições extensivas porque as primeiras
permitem decisões mais claras sobre se um novo objeto previamente desconhecido
pertence ao conjunto definido por um ou mais critérios. No caso dos tipos de polaridade, a
literatura diverge se os critérios elencados devem ser observados de maneira combinada
(definição intensiva de tipo conjuntivo) ou se basta a presença de um ou mais critérios
considerados primordiais (definição intensiva de tipo disjuntivo). Como a variável
dependente do trabalho (tipo de polaridade) permite apenas um nível de mensuração
nominal (classificação), o problema dos critérios de classificação é decisivo para que se
possa gerar uma taxonomia exaustiva e mutuamente excludente. Neste sentido, o
principal procedimento de pesquisa em relação à Variável dependente será a análise
crítica da bibliografia teórica sobre polaridade e equilíbrio no sistema internacional.
As fontes de pesquisa para a obtenção dos dados do balanço estão disponíveis em
acervos públicos via Internet em diferentes organizações, principalmente a Federation of
American Scientists (www.fas.org), Stockholm International Peace Research Institute
(www.sipri.org), Bulletin of the Atomic Scientists (www.thebulletin.org), Global Security
(www.globalsecurity.org) e o Center for Defense Information (www.cdi.org). Além dessas
bases de dados públicas, serão utilizados também as bases de dados do Jane’s
Information Group (www.janes.com), a maior empresa de análises e publicações na área
de Estudos Estratégicos e Segurança Internacional do mundo, bem como o International
Institute of Strategic Studies (www.iiss.org), que edita o The Military Balance, o anuário
estratégico mais respeitado na área. As edições do The Military Balance compreendem o
intervalo de 2002 a 2007.
37
II.3 - Balanço das forças estratégicas norte-americanas.
Permanece incontestável a superioridade norte-americana na posse e produção de
artefatos nucleares. O ano de 2007 foi o sexto ano da implementação do Nuclear Posture
Review que mudou a composição do arsenal do país. A lenta redução continua após o
Tratado de Moscou que estabelecia uma proposta de redução ofensiva entre russos e
norte-americanos.
48
A ambição do país está na criação de uma nova geração de
armamentos estratégicos. O país ainda conta com cerca de dez mil ogivas, sendo a
metade (5.236) operacionais.
O Departamento de Energia anunciou o corte de cerca de quatro mil a partir de
2004 na Plantex Plan, Texas. Os planos dos norte-americanos prevêem um novo arsenal
até 2030, o chamado Complex 2030. A Administração Nacional da Segurança da Energia
Nuclear (NNSA) anunciou, em 18 de outubro de 2006, que o objetivo principal desse
complexo é reativar as maiores funções do armamento nuclear como na Guerra Fria. Isto
inclui o desenho, desenvolvimento, manufatura e comissionamento de novos artefatos. Os
testes seriam simulações realizadas no Sítio de Testes de Nevada, para reduzir
incertezas políticas e militares.
A força de quinhentos ICBMs Minuteman III sofrerá mudanças significativas nos
próximos seis anos. Em outubro de 2006 a USAF começou a substituir as ogivas W62
49
(172kt) pelas W87
50
(330kt), mais poderosas, retiradas dos mísseis MX Peacekeeper
51
.
ICBMs. Safety Enhanced foi o nome código da operação de transferência.
Cada Minuteman III poderá carregar duas novas ogivas que também são mais
precisas. A capacidade operacional completa desses mísseis está prevista para 2010. A
estimativa é de duzentas ogivas W87 serão necessárias para complementar as W78 nos
Minuteman III. O Pentágono anunciou o corte de cinqüenta Minuteman III. Provavelmente,
serão os da 341ª Space Wing da Base Aérea de Malstrom, Montana. A USAF começou a
48
Treaty Between the United States of America and the Russian Federation on Strategic Offensive
Reductions. (on line) http://www.state.gov/t/ac/trt/18016.htm#1 (28.maio.2007).
49
O arsenal estimado é de 615 ogivas. Seu rendimento de 170kt é, praticamente a metade da W87 (330kt).
(on line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/w62.htm (08/08/2007).
50
Estima-se que existam 550 ogivas W87 que, originalmente, foram projetadas para o míssil MX
Peacekeeper. O verdadeiro triunfo tecnológico consiste no tamanho reduzido do veículo de
reentrada Mk-21. (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/w87.htm (08/08/2007).
51
Os MX Peacekeeper são ICBMs de última geração. Carregam dez ogivas W87 de 330kt no veículo de
reentrada Mk-21. Estão sendo desmantelados para respeitar o Tratado de Moscou e o START II.
Entretanto, estima-se que ainda restam cerca de cinqüenta no arsenal estratégico americano. (on-
line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/lgm-118.htm (04/08/2007).
38
reduzir seu arsenal para respeitar o Tratado de Moscou. O objetivo é deixar 2.200 ogivas
operacionais em 2012. A USAF possuía um plano antigo de retirar a capacidade MIRV de
alguns ICBMs. O futuro de quatrocentos e cinqüenta mísseis será o carregamento de
quinhentas ogivas com outras três na reserva, mostrando que nem todos os mísseis
perderão a capacidade MIRV. Cerca de quatro testes foram realizados na Base rea de
Vandemberg, Califórnia. O mais importante aconteceu em abril de 2006, onde o míssil
Minuteman III teve seu vôo de alcance estendido para cerca de oito mil de duzentos
quilômetros. O Pentágono afirmou que era um teste de acordo com seus novos planos de
ataque que, provavelmente, o alvo seja o Extremo Oriente.
Fig. 10: Veículo de reentrada Mk-21.
O próximo componente do tripé nuclear, os SSBNs, estão comissionados em duas
frotas de quatorze belonaves, que podem carregar cerca de duas mil ogivas. Muitas
ogivas têm sido removidas dos mísseis Trident sob a alegação de cumprimento de
acordos. A marinha dos EUA optou por reduzir gradualmente o número de ogivas em
seus mísseis Trident. Normalmente, a capacidade MIRV desses mísseis era de oito
ogivas, nos próximos seis anos, serão apenas quatro. Em 2005, foram retirados de
serviço o Trident I C4 da frota do Pacífico e introduzidos os mísseis Trident II D5 que
possuem mais precisão e carregam a ogiva W88, a mais recente conquista norte-
americana.
52
Mas o programa de aperfeiçoamento continua para toda a frota. Ainda
52
A ogiva W88 possui um rendimento de 475kt. Devem existir cerca de quatrocentas ogivas no arsenal
norte-americano. (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/w88.htm (08/08/2007).
39
restam duas conversões, o do Henry Jackson que será completada em 2007 e do
Alabama em 2008. A marinha decidiu basear a sua força na base de Bangor, Washington;
para o atendimento de suas necessidades estratégicas (Rússia, China e Coréia do Norte).
Além de portar a ogiva W88, os Trident II D5 podem levar a ogiva W76-1
53
(100kt) que
possui o aperfeiçoamento AFS (Arming and Fuzing Subsystem)
54
que integra radar,
computador de vôo e diagnósticos em um artefato compacto. Isso permite, pela primeira
vez, maior impacto em um número maior de alvos e reduz as falhas causadas por
acidentes. O novo veículo de reentrada é designado como Mk-4A. Esse veículo contém
placas de cerâmica que revestem externamente sua estrutura, para suportar a reentrada
na atmosfera terrestre. A produção dessa ogiva e desse veículo está sendo esperada pela
marinha para setembro de 2007. A Lockheed Martin continua o desenvolvimento de uma
precisão comparável ao GPS para a ogiva W76-1, apesar da recusa do Congresso norte-
americano na aprovação de fundos para o projeto. Em março de 2006 o submarino
Tenessee lançou um míssil com essa nova tecnologia. Foi significativo porque foi o menor
vôo de um SLBM (2.200km percorridos em somente treze minutos). O Pentágono propôs
a manufatura de noventa e seis novas ogivas para o desenvolvimento do novo míssil,
todavia, não conseguiram recursos no Congresso. Talvez em 2008, a marinha começará
a produção de uma versão modificada do míssil Trident II D5. Projeta-se a construção de
cento e oito mísseis até 2011, sendo o custo inicial de quatro bilhões de dólares.
Equiparão os submarinos da classe Ohio até o seu fim operacional previsto para daqui a
trinta ou quarenta e quatro anos. Em 2029 começará a retirada do serviço e outra classe
será construída.
No último vértice do tripé nuclear encontram-se os bombardeiros estratégicos.
Apesar de, historicamente, serem os primeiros componentes do tripé, foram gradualmente
perdendo sua importância. Cerca de duas mil armas nucleares estão aptas de serem
lançadas por bombardeiros B-2A Spirit e B-52H Stratofortress. Essas aeronaves diferem
dos outros vértices do tripé nuclear (ICBMs e SLBMs) por não estarem sempre em alerta,
porém, podem ser armadas rapidamente. O esforço da USAF foi da modernização da sua
aparelhagem de comunicação para o melhor aproveitamento das aeronaves pelas
autoridades de comando nacional norte-americano. Os Estados Unidos ainda usam
53
A ogiva W76 (100kt) é o padrão do míssil Trident I C4. O arsenal estimado é de 3.200 ogivas. Porém, a
ogiva modificada W76-1 será comissionada nos mísseis Trident II D5. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/w76.htm (08/08/2007).
54
O novo design do armamento esbarra nos altos custos que prejudicam seu uso comercial como o
intercâmbio de peça, a inovação do pacote e a automação do processo de produção. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/w76.htm (08/08/2007).
40
bombas, confiando na capacidade stealth (camuflagem “invisível”) dos seus bombardeiros
B-2 Spirit. Os B-2 e B-52 podem carregar inúmeros artefatos nucleares: a bomba
estratégica B61-7 (360kt), entregue em junho de 2006; a B61-7 “bunker-buster”
55
, a qual
pode penetrar a seis metros antes da detonação (foi entregue em janeiro de 2007) e a
B83
56
, com rendimento variável de um ou dois megatons, projetada para ser lançada de
baixa altitude e alta velocidade contra silos reforçados de ICBMs.
Fig. 11: Comparação de tamanho dos bombardeiros estratégicos.
Projeta-se a vida útil dos B-52 até 2030. São capazes de carregar mísseis de
cruzeiro avançados (ACM) com 3.200km de alcance e mísseis de cruzeiro lançados pelo
ar (ALCMs) com 2,400km de alcance. Ambos os mísseis carregam a ogiva W80-1 de
150kt. Existe a previsão do comissionamento de uma nova ogiva para 2008. Um
programa para a extensão do serviço da ogiva W80 foi suspenso, tendo como resultado, a
retirada de algumas ogivas do serviço ativo.
57
Entretanto, a força aérea continua as
opções de estudo de uma nova geração de mísseis cruzadores nucleares. Estes
incluiriam a possibilidade de uso por qualquer vértice do tripé nuclear, combinando uma
carga alta e um longo alcance para o apoio de missões em escala global. O objetivo é, de
acordo com a documentação da força aérea, o alcance de alvos antes inacessíveis,
55
A bomba B61 é parte de toda uma família de bombas que inclui a B61-7, a B61-11 e a RNEP. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/b61.htm (08/08/2007).
56
A bomba B83 é estratégica, apresentando um rendimento variável que chega até os 1.200kt. Existem
cerca de 620 que equipam o B-52 Stratofortress e o B-2 Spirit. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/wmd/systems/b83.htm (08/08/2007).
57
US Air Force Decides to Retire Advanced Cruise Missile. (on line)
http://www.fas.org/blog/ssp/2007/03/us_air_force_decides_to_retire.php#more. (01/04/2007).
41
protegidos pelas especificidades do terreno como, por exemplo, bases dentro de
montanhas.
INVENTÁRIO DAS ARMAS ESTRATÉGICAS dos EUA (2006-2007)
ICBMs
Designação
Alcance
[km]
Rendimento Ogivas
Rendimento
total
LGM-30G Minuteman III
(Mk-12)¹
9663,74³ 1xW62(170kt)¹ 150¹ 25.500 kt
LGM-30G Minuteman III
(Mk-12)¹
9663,74³ 3xW62(170kt) ¹ 130¹
22.100 kt
LGM-30G Minuteman III
(Mk-12)¹
9663,74³ 3xW78(330kt)¹ 785¹ 259.050 kt
LGM-118A MX
Peacekeeper³
9.661,88³ 10xW87(330kt)³ 550² 181.500 kt
Subtotal estimado
1.615 488.150 kt
SLBMs
Designação
Alcance
[km]
Rendimento Ogivas
Rendimento
total
UGM-133A Trident II D5
(Mk-4)¹
~8.0000¹ 6xW76(100kt) ¹ 272¹, 96² 9.600 kt²
UGM-133A Trident II D5
(Mk-5)¹
~10.000¹ 6xW88(455kt) ¹ 64¹, 240² 29.120 kt¹
Subtotal estimado
133 38.720 kt
BOMBARDEIROS ESTRATÉGICOS
Designação Alcance
[km]
Rendimento
Ogivas
Rendimento
total
B-52H Stratofortress
14.170³ 5xALCM/W80-1(150kt)¹
5xACM/W80-1(150kt)
1.000¹ 150.000kt
B-2A Spirit
9.600³ 16xB61-7(360kt)²,
8xB61-11², 16xB83-
1(1.200kt)¹
555¹ 199.800kt
Subtotal estimado
1.555 349.800kt
Total estimado
3.303 876.670kt
Fontes: (1) KRISTENSEN, Hans e NORRIS, Robert. Nuclear Notebook. (2) IISS. The Military Balance 2007.
(3) PIKE, John. Global Security.
Observações: o lculo do rendimento total das ogivas norte-americanas foi baseado nas menores
estimativas da quantidade de ogivas. O motivo é seu arsenal que ultrapassa a quantidade de todos os
outros países, corroborando para as idéias contidas no artigo de Lieber & Press.
Tabela 1: Inventário das armas estratégicas dos Estados Unidos.
O balanço militar dos estadunidenses mostra que o país continua a se preparar
para enventualidades nucleares na esfera estratégica. O que o balanço mostra é a
crescente preocupação estadunidense na manutenção de sua força existente. Porém, se
existir um desarmamento preemptivo crível, este pode ser feito com armamento
convencional. Os norte-americanos talvez possuam mais de 23.800 JSOW.
58
Sendo
58
O míssil AGM-154 JSOW é fruto de um projeto conjunto da marinha e da força aérea dos Estados Unidos.
Pode ser comissionado em um número muito grande de aeronaves e pode carregar muitos tipos
diferentes de carga para liberação. Possui um alcance máximo de 200km e uma capacidade de
carga de 684kg. O que impressiona é que, a variante C foi comissionada em 2002 e até 2007, foram
42
assim, torna-se difícil saber como seria o planejamento de um ataque estadunidense a
russos e chineses. Mas a possibilidade de uso de armamento convencional reduz
significativamente, o impacto político do ataque preemptivo.
II.4 - Balanço das forças estratégicas russas.
Desde o fim da União Soviética, o país passou por um desmantelamento contínuo
de suas forças armadas. A marinha apresenta o cenário mais comprometido. Sua vasta
força estratégica está inoperante, praticamente. Segundo os autores (Lieber e Press,
2006), a expansão da OTAN para o leste, a denúncia do Tratado ABM e a construção do
escudo nacional antimíssil (NMD) somente seriam viáveis no contexto de uma perda
acentuada de capacidade de dissuasão por parte da Rússia. Essa perda é decorrente da
degradação do arsenal de mísseis balísticos intercontinentais por corrosão, da retirada de
serviço dos submarinos lançadores de mísseis balísticos que poderiam atingir os EUA
mesmo que posicionados em águas russas e da redução drástica da força de
bombardeiros estratégicos portadores de mísseis cruzadores. Por isso, na dissertação, a
Rússia enquadra-se na categoria analítica similar a chinesa. A falta de vetores lançadores
de armas estratégicas, equivale a capacidade russa e chinesa de resposta quantitativa à
primazia nuclear estadunidense.
A Rússia continuou reduzindo seu arsenal nuclear em 2006 ao mesmo tempo em
que está desenvolvendo novos armamentos nucleares. Dos 18,64 bilhões de dólares
destinados para a defesa em 2007; 428,05 milhões são destinados para programas
nucleares militares (2,29%).
59
Estima-se um arsenal de, aproximadamente, 5.650 ogivas
operacionais. O número total talvez seja de quinze mil, onde cerca de nove mil e trezentas
esperam por desmantelamento. As autoridades russas, nos pronunciamentos oficiais,
enfatizam a comparação de seus arsenais com os dos norte-americanos constantemente.
A procura é de uma resposta para a suposição que os EUA estariam atingindo a primazia
nuclear e reivindicam a recuperação do arsenal russo para um futuro próximo.
O Coronel-General Yury N. Baluyevsky, comandante do Estado-Maior geral das
forças armadas, comentou que os russos terão “milhares” de armas em 2010. O
construídas 7.800 unidades. Cf.: PIKE, John. AGM-154 JSOW. (on-line)
http://www.globalsecurity.org/military/systems/munitions/agm-154-specs.htm
(11/02/2008).
59
IISS. The Military Balance 2007. Routledge: London, 2007. p.190. Cotação de r$26,7 (rublos) para
US$1,00 (dólar americano) em 2006. Cf.: IISS. Op. cit. p.195.
43
presidente Vladimir Putin discursou à Assembléia Federal Russa, em maio de 2006
falando que a dissuasão nuclear e o balanço das forças estratégicas continuam centrais
para a política da Rússia. No entanto, o presidente esclareceu o que era, em sua visão, o
balanço das forças estratégicas em um encontro, em novembro, do comando das forças
armadas russas. Não era mais a quantidade que importava, era a qualidade, com o
objetivo de implementação de um comando unificado para assegurar a implementação de
novos programas de armamentos estratégicos. Putin também declarou que a idéia de
manutenção do balanço estratégico consiste na capacidade das forças dissuasivas russas
em destruir qualquer potencial agressor, não importando quanto o armamento inimigo
seja moderno.
60
Novamente, em junho de 2006, Vladmir Putin propôs novos tratadosque
acompanhassem o desenvolvimento de novos arsenais estratégico.
61
Ainda em junho de 2006, o governo russo emitiu um documento reiterando a não-
proliferação e que a maior ameaça a segurança era o uso de armas estratégicas por
terroristas. O coronel-general Nikolai Solovtsov, comandante da Força de Foguetes
Estratégicos (SRF), declarou em dezembro de 2006, que os ICBMs Topol-M começariam
a possuir capacidade MIRV.
62
O programa de defesa norte-americano contra mísseis
balísticos continua contrariando Moscou, principalmente, a disposição americana de
concentrar forças no Leste Europeu. Baluyevsky afirma que a posição dos EUA não é
amistosa. Se o programa norte-americano progredir, a Rússia buscará meios assimétricos
e baratos para a sua defesa.
63
A ssia conta com aproximadamente 1.840 ogivas nucleares em 493 ICBMs de
cinco tipos. Os mísseis russos portadores de armas termonucleares com ogivas múltiplas
(bombas de hidrogênio), os SS-18 e SS-19, por serem de combustível líquido exigiam
uma manutenção diária, que demandava noventa homens por silo, em horário integral,
sob pena de o combustível corroer os tanques e destruir o próprio míssil. Em função do
colapso da URSS, da desorganização administrativa que sobreveio, não foi possível
manter as condições de manutenção.
Por ora, é preciso assumir que se pode considerar plenamente operacional as
duzentas ogivas comissionadas no míssil Topol-M, de combustível lido, com
60
PUTIN, Vladimir. “Closing Address at the Meeting of the Armed Forces’ Command Staff”. (on-line)
www.kremlin.ru/eng/ (16/11/2006).
61
PUTIN, Vladimir. “Speech at Meeting with the Ambassadors and Permanent Representatives of the
Russian Federation.” Dsiponível em: <www.kremlin.ru/eng/>. Acesso em 27.jun.2006.
62
Russia to Re-Equip Its New Mobile ICBMs with Multiple Warheads”. (on-line) http://en.rian.ru/
(15/12/2006)
63
Russia Complains of U.S. Missile Defense Plans,” (on-line) http://www.iht.com/ (13/12/2006).
44
capacidade de atingir todo o território dos EUA. O problema do Topol-M é que se trata de
um míssil que não sai da atmosfera, sendo passível de interceptação por e-bombs
americanas no curso de sua trajetória. Além disto, carrega apenas uma ogiva (não é
MIRV), o que reduz consideravelmente sua capacidade de ataque.
64
Por isso, Lieber e
Press (2006 a e b) consideram que a URSS perdeu a capacidade balística intercontinental
de realizar um segundo ataque frente a uma ofensiva estadunidense. As autores
argumentam que o escudo antimíssil americano teria como função primordial abater os
poucos vetores estratégicos russos remanescentes após um ataque surpresa
desencadeado pelos Estados Unidos (2006b: 22-26).
Fig. 12: Topol-M
A versão baseada em silos do Topol-M começou a entrar em serviço em 1997. No
dia 31 de janeiro de 2006, Putin declarou para a imprensa que o Topol-M é um míssil
totalmente novo, ainda sem paralelo no mundo Esse míssil, talvez, operaria na velocidade
hipersônica. O sistema de defesa anti-mísseis balísticos (ABM) foi feito para interceptar os
antigos ICBMs que possuíam uma trajetória balística. O Topol-M não foi feito em
retaliação contra o sistema ABM na Europa do Leste; é, simplesmente, uma nova
concepção.
65
Ou seja, para burlar o escudo antimíssil americano na Europa, o Topol-M
nada mais é que um grande míssil cruzador. Essa característica resolve dois problemas
práticos. O primeiro foi citado que a trajetória balística suprimida do míssil atrapalha o
sistema de defesa ocidental. Em fevereiro de 2006, Baluyevsky mencionou que a
manobrabilidade do veículo de reentrada possui características especiais, talvez por o
64
As armas que estão sendo desenvolvidas a partir de lasers e microondas de alta potência (HPM: High-
Powered Microwaves) são designadas de e-bombs. São armas que utilizam o espectro
eletromagético para a interferência ou destruição de artefatos eletrônicos. Serão abordadas no
terceiro capítulo da dissertação.
65
Circular Hall, the Kremlin, Moscow. Transcript of the Press Conference for the Russian and Foreign
Media.” (on-line) www .kremlin.ru/eng/ (31/01/2006).
45
ser um míssil balístico.
66
A outra característica resolve um problema de siderurgia. Para
os mísseis balísticos, que saem das camadas mais baixas da atmosfera, a reentrada se
torna o momento mais crítico. O artefato precisa resistir a temperaturas de cerca de
5.000ºC. O processo encarece os custos e o país que possui esse tipo de armamento
precisa, também, ter um parque industrial poderoso.
O Topol-M é uma versão modernizada do míssil RS-12M2 (IISS, 2007: 188). O
exército russo possui cinqüenta Topol-M (SS-25) em cinco regimentos operacionais (IISS,
2007: 195), sendo que o quinto regimento possui cerca de nove mísseis. Estima-se que
foram adicionados dois ou três mísseis ao arsenal total em 2006. A Rússia planeja possui
cerca de setenta mísseis desse tipo (abrigados em silos) até 2015. As autoridades russas
divulgaram novos detalhes da capacidade de manobrabilidade para o veículo de
reentrada do Topol-M. O fato aponta indícios sobre a sua precisão. O advento do Topol-M
fez reduzir o arsenal de mísseis mantidos desde o final da Guerra Fria. Os russos
reagiram desfavoravelmente aos planos norte-americanos de dotar os SLBMs Trident
com ogivas convencionais. Baluyevsky assegurou que o mesmo procedimento pode
acontecer em Topol-Ms.
67
O fato mais significante do ano passado foi o início do comissionamento do míssil
Topol-M1; É uma versão “sobre rodas” do míssil Topol-M (SS-27 para a OTAN) de uma
única ogiva de 550kt. O Topol-M1 começará a substituir o ICBM SS-25 gradualmente. A
SRF anunciou, que o primeiro regimento de Topol-M1 tornou-se operacional no dia 10 de
dezembro de 2006, quando três mísseis foram incorporados ao 54º Regimento de Mísseis
em Teykovo, nordeste de Moscou. Aproximadamente, mais seis serão entregues em
2007, chegando a cinqüenta até 2015. Nas operações, o Topol-M1 muda
permanentemente as rotas de seus movimentos, sendo, supostamente, difíceis de serem
detectados. Novas camuflagens que imitam o meio-ambiente tornam fisicamente
impossível detectar seu o seu veículo eretor-lançador (TEL) até do espaço.
68
66
O militar referia-se a provável caraterística MaRV do míssil. Cf. KISLYAKOV, Andrei. The Missile That
Does Not Care.” (on-line) http://en.rian.ru/ (14/02/2006).
67
Baluevski: Rossiiskie Rakety Budut Preodolevat Luybye PRO” (Baluevski: Russian Missiles Will
Penetrate Any BMD), Strana .ru, May 18, 2006, as cited in Nikolai Sokov, Russia Weighing U.S.
Plan to Put Non-Nuclear Warheads on Long-Range Missiles.” WMD Insights, June 2006, pp. 26–28
(on-line) www.wmdinsights.com (02/02/2007)
68
Russia: Missile Reduction Treaty Will Not Harm Russia’s Nuclear Potential. (on-line)
http://www.interfax.com/ (17/05/2006).
46
Fig. 13: TEL do Topol-M1.
O TEL é um veículo eretor-lançador de mísseis balísticos. Sua função principal era
o transporte de mísseis para lançadores fixos. O desenvolvimento da capacidade de
lançá-los veio da necessidade dos países em possuir vetores terrestres que não fossem
fixos, como os SSBNs. Esse armamento pode garantir uma certa capacidade de
retaliação para a nação que sofresse o primeiro ataque, porque a mobilidade do lançador
pode garantir a sobrevivência do míssil estratégico.
Fig. 14: TEL do Scud.
Dos sessenta e dois submarinos estratégicos da época da Guerra Fria, só restaram
onze. Seis da classe Delta IV e cinco da classe Delta III. O sexto Delta III foi retirado de
serviço no ano passado (2006). Praticamente, todos os SSBNs russos precisavam se
aventurar milhares de quilômetros através do Pacífico ou do Ártico para se aproximarem
47
do território estadunidense e efetuarem seus ataques. Em parte esta avaliação é devida
ao fato dos submarinos russos serem barulhentos, o que facilita sua detecção, mas
também por causa dos novos meios de guerra anti-submarina (ASW), sobretudo os
sonares digitais. Além disto, uma nova classe de submarinos matadores
estadunidenses (Sea Wolf) que não é detectável pelos meios russos atuais (Clancy, 2002,
210ss). Tudo isto faz com que seja muito reduzida a chance de qualquer um dos muitos
submarinos russos conseguirem chegar até sua posição de lançamento sem, antes, ser
neutralizado.
A marinha conta com apenas três submarinos da Classe Borey (Tufão). Eram os
únicos submarinos que poderiam lançar ataques contra os norte-americanos a partir das
águas territoriais russas. Porém, somente um pode disparar o único míssil Bulava (SS-N-
30) existente, o Dmitri Donskoi.
69
Esse submarino fez um teste bem sucedido do míssil
em 25 de outubro de 2006 (IISS, 2007: 188). Em agosto de 2005 foi feito um disparo de
uma posição terrestre e em 12 de dezembro de 2005 realizou seu disparo submerso. O
míssil falhou em três testes anteriores a esse, que revelaram-se desastrosos para a
tentativa de recuperação da marinha russa.
Fig. 15: comparação dos SSBNs russos e norte-americanos.
69
Para o The Military Balance 2007 existe um míssil Bulava. Todavia, é necessário perceber que deve se
tratar de um protótipo de testes e não um míssil comissionado, pronto para combate. (IISS, 2007:
195)
48
O primeiro submarino dessa classe, o Yuri Dolgoruki estará operacional em
2008, praticamente, uma década depois de sua construção. Alexander Nevski, o segundo
da classe, foi lançado ao mar em 2004, nos estaleiros de Severodvinsk. Também,
somente em 2008 está previsto o seu comissionamento. Outro submarino o Vladimir
Monomakh começou a ser construído em 2006 e a sua conclusão está prevista para
2012. O ministro da Defesa Sergei Ivanov anunciou a construção de mais oito submarinos
da classe Borey até 2015. Porém, vai requerer um grande esforço dos estaleiros de
Severodvinsk. Porque a frota de submarinos nucleares (SSBN) portadores de mísseis
balísticos intercontinentais (SLBM) da classe Tufão foi desmantelada durante a
presidência Ieltsin. Das seis unidades ainda existentes, duas estão aguardando
demolição, duas estão em reforma e os únicos dois ativos foram convertidos para o
lançamento de mísseis cruzadores, sendo incapazes, portanto, de cumprir missões
estratégicas.
O 37° Exército reo é o Comando de Aviação de Longa Distância. Possui
dezesseis Tu-160 Blackjak, cada um armado com oito KH-101 ou KH-555.
70
São mísseis
de cruzeiro, sendo o primeiro para alvos em terra e o outro possui a função anti-navio.
Seu rendimento ainda permanece obscuro. Os norte-americanos acreditam que a entrada
de serviço desses mísseis retiraria da frota a função estratégica. Porque além da pouca
quantidade de bombardeiros, a incorporação de mísseis de cruzeiro, acredita-se, trará
ogivas de rendimentos muito baixos (fora da faixa megaton).
A situação dos bombardeiros russos não é muito melhor do que a dos seus mísseis
balísticos. Dos cem Tu-160 previstos no planejamento de forças russo, somente trinta e
nove (39) chegaram a ser construídos, ou seja, menos da metade do mínimo
imprescindível de acordo com Lieber e Press (2006:14b). Quando do fim da ex-URSS,
muitos dos bombardeiros que estavam em território ucraniano foram desmantelados, ao
que consta, por pressão estadunidense. Alguns poucos foram recuperados pela Rússia,
por conta dos pagamentos de gás, mas a maioria estava imprestável, convertendo-se em
sucata ou avião de reconhecimento estratégico. Restaram apenas quatorze (14) com
capacidade estratégica. Como sua base fica no coração da Rússia, sua destruição era
difícil no caso de um ataque surpresa norte-americano. Por isso os Tu-160 eram uma
70
No Ocidente o míssil recebe a designação de AS-15 Kent (220kt). Seu alcance máximo é de 2.500km e o
seu CEP é de 150m. (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/world/russia/as-15.htm (08/08/
2007).
49
arma crível para empreender um contra-ataque retaliatório. Contava, para esta avaliação,
sua extrema mobilidade, seu alcance de 14.000km sem necessidade de reabastecimento,
sua capacidade supersônica e seus mísseis cruzadores com alcance de 3.000km Tudo
isto fazia do Tu-160 a melhor arma do mundo em sua classe (superando inclusive o B-1
Lancer dos Estados Unidos). Sem eles (ou com apenas 14 deles), fica muito reduzida a
capacidade de dissuasão russa.
INVENTÁRIO DAS ARMAS ESTRATÉGICAS RUSSAS (2006-2007)
ICBMs
Tipo Designação Alcance [km] Rendimento Ogivas
Rendimento
total
SS-25¹
Sickle 10.500³ 1x550kt¹ 242¹ 113.100kt
SS-27¹
Topol-M¹ 10.500³ 1x550¹kt 42¹ 23.100kt
SS-27A¹
Topol-M1¹ 10.500³ 1x550¹kt 1.650kt
Subtotal estimado
287 137.850kt
SLBMs
Tipo Designação
Alcance
[km]
Rendimento Ogivas
Rendimento
total
Bulava
Subtotal estimado
BOMBARDEIROS ESTRATÉGICOS
Tipo Designação
Alcance [km]
Rendimento Ogivas
Rendimento
total
Tu-95MS Bear-6¹ 10.550
c/carga
normal³ 6.500
c/carga máx.
6x AS-15
(220kt) ³
192¹ 42.420kt
Tu-95MS Bear-16¹ 10.550
c/carga
normal³
6.500 c/carga
máx.
16x AS-15
(220kt) ³
512¹ 112.640kt
Tu-160¹ Blackjack¹ 10.000
(c/40.000kg)³
12xAS-15
(220kt)³
168¹ 36.920kt
Subtotal estimado
872 191.980kt
Total geral estimado
1.159 329.830kt
Fontes: ¹KRISTENSEN, Hans e NORRIS, Robert. Nuclear Notebook ²IISS. The Military Balance 2007,
³PIKE, John: Global Security.
Observações: o cálculo do rendimento total das ogivas russas foi baseado nas maiores estimativas da
quantidade destas. O motivo é o contraste da resposta russa frente ao artigo de Lieber & Press.
Tabela 2: inventário das armas estratégicas russas.
Apesar do desmantelamento de suas forças armadas, os russos podem reerguê-la,
com relativa rapidez e facilidade, devido a alta do preço do petróleo e do gás no mercado
internacional. Firmando-se como parceira dos alemães na unificação da Europa, fica difícil
deixar de supor que esse dinheiro não seja revertido em reequipamento de suas forças
50
armadas. Assim como a Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial, os russos
investem pesadamente em novas tecnologias para fazer frente à superioridade norte-
americana. O míssil de cruzeiro Topol-M é uma prova disso. Seu desenvolvimento
culmina com as expectativas russas de enfrentar o escudo antimíssil norte-americano
instalado na Europa. Outro fator importante o os desdobramentos da aliança com os
chineses. Essa aliança, no âmbito da OCS (Organização de Cooperação de Shangai),
aumentou a capacidade convencional de operações da ssia. O exercício Missão de
Paz 2007 demonstrou que as tropas chinesas poderiam atuar, em defesa dos russos,
perto do Leste europeu, com o deslocamento de mais de 10.000 km das tropas
chinesas.
71
Porém, ainda é cedo, para os reflexos das operações, repercutirem na esfera
da estratégia.
II.5 - Balanço das forças estratégicas chinesas
O arsenal chinês para 2006 é estimado em centro e trinta ogivas de ICBMs, SLBMs
e nos bombardeiros estratégicos. As fontes foram estudos feitos nos anos anteriores
adicionados com declarações de autoridades chinesas sobre o tamanho das forças
nucleares. O país continua modernizando as suas forças. Ogivas adicionais são
planejadas para alcançar o número de duzentas em um curto prazo de tempo.
Aparentemente, os recentes desenvolvimentos ainda causam divergências entre os
especialistas. Principalmente, sobre as especulações de como será o comportamento
chinês frente ao desenvolvimento do programa norte-americano para a defesa contra
mísseis balísticos.
As forças estratégicas chinesas estão organizadas em vinte brigadas de
lançamento em seis exércitos de mísseis. Essa organização varia pelo tipo de míssil,
teste e a base-alvo. São quarenta e seis ICBMs, sendo uma brigada com seis DF-
31(CSS-9), duas brigadas com vinte DF-4 (CSS-3), quatro brigadas com vinte DF-5A
(CSS-4 Mod 2). Os chineses possuem trinta e três DF-21 (CSS-5) em quatro brigadas e
somente dois DF-3A (CSS-2 Mod 2).
72
71
Cf.: Sinodefence. (on-line) http://sinodefence.blogspot.com
(11/02/2008).
72
O The Military Balance 2007 classifica o DF-21 e o DF-3 como IRBM. Ambos os mísseis, apesar de seu
alcance médio, são importantes porque podem atingir as bases americanas no Oceano Pacífico,
como Guam. Por esta razão estão incluídos na descrição dos ICBMs chineses. (IISS, 2007: 346a)
51
O único míssil com verdadeira capacidade intercontinental é o DF-5. O míssil de
combustível líquido é capaz de atingir todos os pontos do território norte-americano. O
arsenal estratégico chinês contaria com apenas vinte mísseis de combustível líquido
Donfeng-5 (DF-5), provavelmente dotados de uma única ogiva. De todo modo, por razões
políticas e em virtude da natureza dos mísseis de combustível líquido, o DF-5 permanece
com suas partes armazenadas em três locais diferentes (ogiva, combustível e corpo do
míssil). Portanto, seriam necessárias 72 horas para montá-los, abastecê-los e dispará-los.
Para complicar ainda mais a capacidade de dissuasão estratégica chinesa, em função do
seu alcance de doze mil quilômetros, os mísseis chineses ficam concentrados em uma
única região do país (em Liaoning que pertence a Zona Militar Shenyang Nordeste)
Apesar dos duzentos e cinqüenta mil homens, em três grupos de exército (IISS, 2007:
347) para proteção, sua destruição é facilitada, em um ataque preventivo, pela sua
concentração.
Fig. 16: Míssil DF-5.
Um programa para modernizar o DF-5, aumentando seu alcance e carga, tem sido
feito desde a década de oitenta. O Pentágono estima que tenha terminado recentemente,
gerando a versão DF-5A. Contudo, esse programa encontra-se dependente de um
problema político-estratégico que é o desenvolvimento da defesa norte-americana contra
mísseis balísticos. Se os chineses quiserem dotar o míssil DF-5 com capacidade MIRV
para suprimi-la, terão que utilizar cerca de três ogivas leves desenhadas para o DF-31. A
Agência Norte-Americana de Inteligência (CIA) obteve informações de um teste de um
protótipo do DF-5 com ogivas do DF-3 em 2001. Alguns cientistas argumentam que,
realmente, talvez nenhum míssil possua a capacidade MIRV. O país adquiriu a
capacidade técnica para a produção de MIRV a vinte anos atrás. Todavia, permanecem
obscuros os motivos da escolha de não incorporar essa capacidade em seus mísseis.
52
Porém, a possibilidade de comissionamento do míssil DF-31A, em 2008, pode alterar
essa realidade.
Os DF-31, ao contrário dos DF-5, são propelidos com combustível sólido e
possuem seu próprio veículo de transporte e eretor-lançador (TEL) o que os torna móveis
e mais críveis como arma de contra-ataque. Como esses mísseis são propelidos com
combustível sólido, suas condições de manutenção permitem que estejam sempre
prontos para emprego e isto, juntamente com sua movimentação constante, dificultaria
sua destruição mesmo com um ataque de surpresa. Também diferentemente do DF-5, o
DF-31 é dotado do sistema MIRV: veículos múltiplos de reentrada independente,
permitindo que um único míssil atinja simultaneamente três alvos, mesmo que separados
entre si por milhares de quilômetros. As características do DF-31, segundo Wang
(2007:10), tornariam a busca estadunidense pela primazia nuclear uma ilusão perigosa e
qualquer tentativa de desarmar a China seria uma aventura carregada das mais graves
conseqüências.
Fig. 17: TEL do DF-31.
Os chineses possuem seis DF-31(CSS-9) em uma brigada (IISS, 2007: 346A).
São mísseis novos com três estágios e combustível sólido. Possuem um alcance
estimado de oito mil quilômetros e CEP de trezentos a seiscentos metros. O míssil DF-31
(CSS-9) começou a ser desenvolvido em 1985 e seu primeiro teste foi em agosto de 1999
(IISS, 2007: 381). Seu alcance (de oito mil quilômetros) sugere que seus alvos são a
Rússia, a Índia e as bases militares norte-americanas na área do Oceano Pacífico,
substituindo os DF-4. O governo dos EUA ainda aposta na falta da capacidade MIRV do
míssil. Este seria repetidamente deslocado e não seria dotado em um silo.
53
O presidente chinês Hun Jintao discursou no dia do aniversário do Segundo Corpo
de Artilharia do Exército Chinês em 29 de junho de 2006 (IISS, 2007: 333). Esse discurso
apontou o rumo do desenvolvimento aeroespacial chinês ao afirmar que o míssil DF-31A
entraria em serviço entre 2007 e 2010. O Segundo Corpo de Artilharia do Exército Chinês
já possui uma brigada com seis mísseis DF-31(IISS, 2007: 346). Este possuiria um
alcance de quatorze mil quilômetros, seis a mais que a primeira versão, mas uma carga
menor que o DF-5A baseado em silos terrestres.
Entretanto, os chineses ainda continuam encontrando dificuldades enormes para o
desenvolvimento do seu programa SSBN. Possuem um único submarino da classe Xia
construído na base naval de Huldao, lançado em abril de 1981. O submarino carrega
doze mísseis Julang (JL)-1 com uma ogiva cada (de 200-300kt). Seu alcance estimado é
de mil e setecentos quilômetros. O submarino construído opera na Frota Norte e está
baseado em Jianggezhuang. A construção de um único SSBN é tido como um tremendo
fracasso dos chineses pelos ocidentais. Nenhuma nação (ocidental) construiria somente
um de uma classe, porque o programa demanda recursos voluptuosos, às vezes
escassos, para um empreendimento de tal magnitude. Porém, é recomendável que essa
postura seja vista com mais cautela. Estima-se que exista outro submarino construído. O
programa foi cancelado em 1985 depois de um acidente. Entretanto, notícias de 2008
vinculam a possibilidade de comissionamento do novo SLBM Jl-2. Este novo míssil pode
alterar todo o quadro estratégico porque suas especificações são similares ao DF-31.
A China possui um pequeno arsenal de bombas nucleares que podem ser lançadas
de aeronaves. As aeronaves estão organizadas em quatro regimentos nucleares, sendo
um com vinte H-6 (Tu-16) Badger e três com quarenta e seis H-6H carregando os mísseis
de cruzeiro YJ-63.
73
O projeto da aeronave H-6 é mais novo que o do B-52. Entre 1965 e
1976, aeronaves Hong (H)-5, H-6, and Qian (Q)-5 lançaram onze bombas nucleares de
teste no sítio de Lop Nur. Somente em 2007, como fruto da aliança no âmbito da OCS, os
russos enviaram os motores originais para os bombardeiros H-6 Badger. A capacidade
estratégica dessas aeronaves pode aumentar muito. Mas, ao invés de serem empregadas
para um contra-ataque nuclear, o seu emprego sirva para a defesa da China contra as
frotas de porta-aviões estadunidenses.
73
O míssil aparece no inventário chinês no The Military Balance 2007 (p.350A). Porém, fontes afirmam que
desde 2000, os chineses estão desenvolvendo o míssil de cruzeiro Hongniao 3 (a primeira versão
possuía um rendimento de 90kt), com as especificações similares ao Tomahawk norte-americano.
Os mísseis podem ser carregados por bombardeiros H-6, dando um caráter estratégico ao seu
emprego. (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/world/china/lacm.htm (08/08/07).
54
O desenvolvimento de mísseis de cruzeiro, portadores de ogivas estratégicas,
avança rapidamente. O fenômeno é análogo aos mísseis comissionados em
bombardeiros russos e norte-americanos. As mudanças ainda são recentes e dependem
de mais testes e informações para comprovações decorrentes dessa nova tendência. As
dificuldades dos chineses concentram-se na dotação de armamento de combustível
sólido. Mas é questão de tempo para o comissionamento do DF-41 e com isso, dota a
China de uma dissuasão nuclear crível, o que implica ainda mais na possibilidade de um
ataque preemptivo estadunidense para garantir sua primazia nuclear. Daqui a pouco
tempo, não será mais possível fazê-lo porque o custo político de suportar um retaliação
seria insuportável para o sistema norte-americano.
INVENTÁRIO DAS ARMAS ESTRATÉGICAS CHINESAS
ICBMs
Nomenclatura
chinesa
Nomenclatura
ocidental
Alcance
[km]
Rendimento Ogivas
Rendimento
total
DF-5
CSS-4 12.000³,
13.000²,
8.460
5
3.000 –
5.000kt
7
>10³,
24², 20
5
120.000
DF-5A
CSS-4², CSS-
4Mod 2
6
12.000³ 1x4.000-
5.000kt
6
20
6
,20¹,
19-23³
115.000
DF-31
CSS-X-9², CSS-
X-10
6
, CSS-9
7
8,000²,
7.250
5
1x1.000
7
6¹, 8-12³ 12.000
DF-31A
10.500 –
14.000
7
5X90kt,
3X150kt
7
5
7
450
Subtotal estimado
64 247.450
SLBM
JL-1 (~DF-21)
CSS-N-3²,
CSS-N-X-3
6
1.770
5
,
1.700²,
1.000-
1.700
6
1x600kt³,
1x200-300kt
6
14
5
, 24²,
12
6
14.400
Subtotal estimado
24 14.400
BOMBARDEIRO ESTRATÉGICO
Xian Hongza H-6
Tu-16
BADGER²,
B-6
6
11.800²,
3.100
6
?xHN-3 (90kt)² 100~200
7
18.000
Subtotal estimado
200 18.000
Total geral estimado
288 279.850
Fontes: (1) IISS. The Military Balance 2007, (2) PIKE, John: Global Security, (3) Jane’s Sentinel Security
Assesment, (4) CORDESMAN, Anthony e KLEIBER, Martin. Chinese Military Modernization, (5) DoD.
Military Power of PRC, 2006 e, (6) KRISTENSEN, Hans e NORRIS, Robert. Nuclear Notebook. (7)
Sinodefence.
Observações: o cálculo do rendimento total das ogivas chinesas foi baseado nas maiores estimativas da
quantidade destas. O motivo é o contraste da resposta russa frente ao artigo de Lieber & Press.
Tabela 3: Inventário das armas estratégicas chinesas.
55
Finalizando, o desenvolvimento de novos armamentos é um padrão existente na
descrição dos arsenais dos três países acima estudados. Mas, talvez o debate da
substituição de ICBMs por mísseis de cruzeiro seja mais antigo. Em 1987, Thomas
Schelling escreveu um artigo que cogitava a substituição, no arsenal norte-americano, de
ICBMs e SLBMs por mísseis de cruzeiro. Esse texto foi escrito em um contexto de um
mundo bipolar. Todavia, se por um lado os gastos seriam severamente reduzidos, a
proliferação desse armamento tenderia a ficar fora de controle. Ainda propôs que os
acordos sobre os mísseis de cruzeiro delimitassem, somente, os locais de seu
comissionamento e de emprego (alvos). A História mostra que os Estados Unidos
optaram por não trocar seu armamento estratégico por mísseis de cruzeiro porque
estiveram em uma posição mais favorável no contexto do fim e do pós-Guerra Fria.
Ironicamente, foram os russos como sucessores da URSS a fazê-lo porque
estavam em desvantagem. Novamente, tecnologias surgem ou são atualizadas como
resposta a assimetria. Contrariando o senso comum, quem possui a desvantagem, a
compensa com o a alta tecnologia. No contexto atual, a digitalização horizontalizou custos
e tecnologias. Os estadunidenses ainda possuem a primazia em termos quantitativos,
porém, as tecnologias estão acessíveis para muitos. Como por exemplo, o Paquistão. O
país precisava de aeronaves F-16 para fazer ataques nucleares porque o possuía
radares e satélites que possibilitavam a guiagem segura de seus mísseis balísticos. Agora
pode contar com a tecnologia dos mísseis cruzadores para fazer essa entrega e pode
fazer interdição na esfera das operações. Mantendo as devidas escalas entre os países,
no caso paquistanês, essa tecnologia tornou-se estratégica. Essa mesma tecnologia
pode, daqui a alguns anos tornar-se estratégicas para países como o Brasil.
56
III
AVALIAÇÃO DA PRIMAZIA: SIMULAÇÃO E ALISE CRÍTICA
A primazia nuclear garante a unipolaridade? Por polaridade, entenda-se aqui a
distribuição de poder entre as várias unidades que compõe o sistema internacional, ou
seja, nos termos da teoria realista estrutural, trata-se de um atributo da estrutura do
sistema internacional (Waltz, 2000).
A literatura especializada reconhece na história do sistema internacional desde
1648 pelo menos quatro tipos de distribuição de poder entre as grandes potências: a)
bipolaridade, quando duas potências de poderio semelhante concentram mais poder do
que todas as demais; b) multipolaridade equilibrada, quando um sistema é dominado por
três ou mais potências em que o poder é distribuído de maneira semelhante entre elas; c)
multipolaridade desequilibrada, quando o sistema é dominado por três ou mais
grandes potências, uma das quais é um hegêmona regional com potencial para tornar-se
um hegêmona global (Mearsheimer, 2001, 337-347); d) unipolaridade, quando uma única
potência concentra tanto poder que as demais não conseguem formar uma coalizão que a
contrabalanceie (Diniz, 2005, 5-6).
74
Em síntese, a hipótese de trabalho a ser testada no trabalho afirma que a primazia
nuclear é uma condição insuficiente para garantir a unipolaridade. Isto ocorre porque na
esfera das operações a eventual primazia nuclear dos Estados Unidos está servindo para
acelerar o rearmamento convencional e nuclear de russos e chineses. No caso dos
russos, os recursos oriundos do petróleo estão sendo empregados no reaparelhamento
convencional e na digitalização dos sistemas existentes. Os chineses, pelo menos
ostensivamente, gastam muito pouco com arsenal estratégico, porém, estão melhorando
seus arsenais dotando seus mísseis com o combustível sólido e talvez introduzindo a
capacidade MIRV nos mesmos. Ao mesmo tempo, na esfera da estratégia, a militarização
do espaço preconizada pela doutrina militar dos Estados Unidos, com a colocação em
órbita de sistemas artilhados tende, paradoxalmente, a neutralizar a vantagem norte-
americana ao forçar a Rússia e a China a desenvolverem capacidades semelhantes. Por
74
Para uma breve revisão das abordagens conflitantes sobre a relação entre estabilidade (definida pela
ausência de guerra entre as grandes potências), ver Dougherty e Pfaltzgraff (2001:121-135). É
importante ressaltar que para os autores realistas hegemonia significa supremacia, força superior
dissuasória, sem a conotação gramsciana de uma combinação equilibrada de força e consenso
capaz de exercer direção sobre o sistema (Arrighi, 1994).
57
tudo isso a primazia nuclear poderá levar a uma consolidação da multipolaridade ao invés
de ser uma eventual garantidora da unipolaridade porque o desenvolvimento de novas
armas gera outras defesas e, consequentemente, uma nova diplomacia.
A primazia nuclear estadunidense reside no fato importante do desarmamento
estratégico de nações possuidoras de ICBM’s. Se acontecer um ataque, essa condição
passa a ser efetiva. Porém, os teóricos russos e chineses não ficaram passivos e
responderam ao artigo. Atualmente, chineses e russos estão comissionando novos
armamentos (Topol-M1 e DF-31A) que estão forçando, novamente, os americanos a fazer
novas ogivas e mísseis para a sua defesa estratégica.
Do lado russo Ivan Safranchuk respondeu Lieber e Press (Safranchuck, 2006: 90
98). Sua argumentação principal é que o MAD é a estratégia da necessidade. Que o seu
fim seria a primazia nuclear americana. Contudo, essa condição é inaceitável para a
Rússia. A emergência do MAD seria uma conseqüência da teimosia estadunidense em
não apostar na revisão dos tratados e do controle de armamentos estratégico
estabelecidos no período anterior. Principalmente, depois do advento do início de uma
polarização estratégica entre chineses e russeos de uma lado e americanos de outro.
Todavia, porque o fim da Guerra Fria deixou a possibilidade de ressurgimento do MAD,
politicamente (e moralmente) injustificável.
A crítica chinesa foi mais contundente. Bruce Blair e Chen Yali escreveram um
artigo que tinha como título a falácia da primazia nuclear(Blair e Yali, 2006: 51-78). A
primazia nuclear estadunidense, baseada no MAD é refutada em três argumentos
principais. Primeiramente, o MAD nunca existiu como política operacionalizável. A prova
está que o fim da Guerra Fria levou o mundo para uma hegemonia nuclear norte-
americana. Segundo, o debate ocorre quinze anos depois do fim da URSS, quando os
russos começam a modernizar e aumentar, novamente, seu arsenal estratégico; e
terceiro, o declínio nuclear russo não veio de um tipo de uma instabilidade intensa de que
os teóricos tivessem predito. Por que seu arsenal não foi desmantelado dez ou quinze
anos antes quando estava mais vulnerável? A evidência maior é que a segurança nuclear
é mais um fator psicológico que físico. A ameaça conta mais que o número de ogivas.
Rússia e China sabem que podem utilizar poucas ogivas para derrotar os americanos.
Pequenos países também acreditam como a Coréia do Norte. Essa é uma das razões
para os norte-americanos acabarem com qualquer capacidade de produção de
armamento nuclear, por mais insignificante que seja.
58
Paradoxalmente, os americanos possuem um leque ilimitado de opções. Entretanto
sabem que a ameaça de uma retaliação maciça é mais forte que o desarmamento
estratégico efetivo de outras nações. Tanto que os EUA treinam até suas tropas
estratégicas para operações convencionais. Essa capacidade retaliatória agiria como um
guarda-chuva para as tropas. A comunidade acadêmica dos países envolvidos
(especialmente a estadunidense) não está conseguindo pensar essa nova realidade
estratégica. Talvez o maior problema seja analisar o contemporâneo com ferramentas
teóricas obsoletas da Guerra Fria. A URSS não existe mais, assim como o diálogo bipolar.
Além disso, a China merece uma análise especial. Sua sociedade e, consequentemente,
sua política não opera como a Ocidental. Os chineses reforçam sua estratégia nuclear
defensiva em dois aspectos principais. Enfatizam o não usar primeiramente o armamento
nuclear e as operações de segundo ataque. São outras percepções que devem ser
levadas em conta. Chineses e russos ainda resistem como ameaças residuais da Guerra
Fria. Contudo a verdadeira ameaça atual para os EUA são os Estados-párias e as
organizações terroristas que seriam contidos na estratégia de guerra assimétrica, como
faz a França.
A crítica mais feroz veio de Li Bin que comparou os EUA como um “tigre de papel
com dentes brancos” em seu artigo (Bin, 2006: 78 - 90). O foco principal da superioridade
norte americana reside no fato do poder de retaliação nuclear. É um fator importante em
tempos de crise. Mas serve mais aos diplomatas que aos militares. Essa primazia
buscada pelos EUA não é um fator de estabilidade para a política internacional. Nem a
ameaça de desarmamento estratégico faria os chineses recuarem de seus propósitos de
defesa. Para que ocorra o desarmamento nuclear, a dimensão da inteligência deve ser
analisada. Justamente, quais são as capacidades dos americanos de localizar e destruir o
arsenal chinês?
Militarmente, os chineses advertiram que possuem seus mísseis Donfeng-31
(DF-31). Trata-se de um míssil com alcance de apenas 10.000km (11.270km segundo o
Pentágono), mas que seria capaz de viajar através do Pólo Norte e alcançar o território da
América do Norte, atingindo a região dos Grandes Lagos até Washington. Esta trajetória
efetuada através do pólo seria possível graças aos recentes satélites que sustentam os
sistemas de posicionamento e orientação Beidou (Whang, 2007: 52-65).
O mesmo fenômeno pode estar ocorrendo com a introdução dos mísseis
cruzadores no cenário atual da guerra nuclear. Mesmo que esses contenham TELs
rápidos, possam conter características stealth (invisibilidade ao radar) e velocidade
59
hipersônica, sua entrada de serviço o levará, necessariamente, a retirada dos outros
armamentos mais antigos. Novamente, o que o fato histórico ainda pode mostrar-nos é
que os EUA e a URSS estavam saindo da Segunda Guerra Mundial, assim como EUA,
Rússia e China estão vivendo o fim da Guerra Fria. Apesar dos EUA manterem certos
aspectos mais confortáveis em sua corrida armamentista, com um volume muito superior
de recursos ao dos soviéticos, não impediu que a URSS desenvolvesse seu arsenal. O
desenvolvimento do escudo antimíssil norte-americano está favorecendo o advento de
outras armas.
De um lado laser e microondas de alta potência (HPMs) surgem como defesa
contra mísseis balístico, de cruzeiro (hipersônicos ou não) O comissionamento dessas
novas armas pode alterar profundamente a realidade da guerra nuclear e causar, até a
obsolescência do armamento estratégico nuclear. Justamente, esse primeiro capítulo faz
o estudo quantitativo da oscilação do arsenal estratégico e qualitativo descrevendo e
comparando o armamento existente.
Em termos quantitativos, não pode deixar de ser mencionado que os russos
ultrapassaram os americanos em quantidade de ogivas. Essa quantidade numérica era
para compensava a falta de combustível sólido em seus mísseis, além do princípio da
massa, compensar a sua baixa precisão. O declínio acelerado do arsenal russo coincide
claramente com uma mudança de posição estadunidense desde os atentados de 2001 e
o desencadeamento da chamada Guerra Global Contra o Terrorismo. A denúncia do
Tratado ABM e a decisão de construir o escudo nacional antimíssil (NMD) representam
dois momentos de um mesmo processo no qual, pela primeira vez desde 1945, a posição
russa foi ignorada e a diplomacia parece estar desempenhando um papel meramente
atenuador de custos na tentativa de se ganhar tempo enquanto a nova correlação de
forças vai se consolidando.Os Estados Unidos, por exemplo, vai consolidando sua
posição ao desenvolver uma nova geração de armamentos estratégicos aproveitando o
enfraquecimento de seus concorrentes diretos (China e Rússia). Se o enfraquecimento
russo em armas nucleares estratégicas parece estimular a atual postura do governo dos
Estados Unidos em seguir adiante com as baterias antimísseis e radares na Polônia e na
República Tcheca, isso parece representar um reforço paradoxal do papel das armas
nucleares na definição do tipo de polaridade existente no sistema internacional.
Por isso, estudos a respeito da correlação internacional de forças, dos indícios de
mudança na polaridade (distribuição de capacidades) e nos graus de polarização do
sistema (os padrões de amizade e inimizade), ou mesmo da eventual ascensão de uma
60
nova classe de armas estratégicas, têm de ser feitos sistematicamente. Na área de
Segurança Internacional e Estudos Estratégicos é preciso estudar história, mas é preciso
também explicar o presente e prospectar tendências para que os governantes e os
cidadãos possam tomar decisões cruciais para a inserção internacional do país com base
em mais e melhores informações.
Robert Powell descrevia o debate entre distribuição de poder e probabilidade da
guerra em seu artigo (Powell, 1996: 239 - 267). Em sua opinião, o que subsiste é uma
divergência de opiniões entre as escolas. A do Balanço-de-Poder argumenta que a
distribuição do poder deixa o sistema mais estável, ao contrário da escola da
Preponderância-do-Poder. Essa querela deve ser analisada no contexto especial de cada
caso. Nos horizontes infinitos das barganhas entre os Estados na eterna revisão do status
quo. Todavia o autor a verdadeira origem de uma estabilidade sustentável, a
representação do o status quo vigente na distribuição de poder. Um dos fatores do
desequilíbrio entre os EUA, Rússia e China é, exatamente, essa questão. Que introduz a
hipótese de trabalho principal (Hp) é a de que a primazia nuclear é uma condição
insuficiente para a existência da unipolaridade.
Afinal, para a primazia nuclear tornar-se efetiva é necessário o desarmamento
estratégico das demais potências. Esta hipótese principal baseia-se em um conjunto de
hipóteses auxiliares. Em primeiro lugar, o trabalho procura demonstrar que mesmo que os
Estados Unidos obtivessem o desarmamento estratégico da China e Rússia, os custos de
uma plena utilização da primazia nuclear seriam politicamente proibitivos (Ha1). A
segunda hipótese auxiliar diz basicamente que, devido aos constrangimentos políticos
envolvendo o exterminismo, uma guerra nuclear entre os três países seria decidida na
esfera das operações (Ha2). Como os EUA manobrariam em linhas exteriores, enquanto
chineses e russos teriam a vantagem das linhas interiores, as comunicações seriam um
componente vital em qualquer operação ou batalha. Assumindo que as novas armas de
energia direta russas e chinesas poderiam interromper as comunicações estadunidenses,
a terceira hipótese auxiliar (Ha3) sustenta que as armas de energia direta tendem a se
tornar dominantes na esfera da estratégia (“arma-mestre”).
No limite, a capacidade de travar a guerra digital e a esfera das operações é que
decidiriam o tipo de polaridade e o grau de polarização vigente no sistema internacional
contemporâneo. Seria justamente este potencial de horizontalização das capacidades
combatentes trazido pela digitalização e pela difusão da tecnologia das armas de energia
61
direta (DEW) o fator novo que tende a inclinar o resultado final da redistribuição de poder
em curso no sistema internacional em direção à multipolaridade equilibrada.
A atual primazia, caso venha a se revelar efetiva, terá sido fruto da diplomacia mais
ou menos coercitiva. Os americanos conseguiram dos russos o desativamento dos
submarinos da classe Tufão, a suspensão por longos anos da construção de novos
bombardeiros Tupolev (Tu-160) e, por muito pouco, o obtiveram também o
desmantelamento dos SS-18, o principal míssil balístico intercontinental (ICBM) russo
dotado de ogivas múltiplas (MIRV) ainda em serviço.
75
Por meio de negociações e pressões diplomáticas, os Estados Unidos também
conseguiram que a China atrasasse o ritmo de comissionamento do ICBM da classe Dong
Feng DF-31 (dos quais existem entre oito e doze instalados) e obtiveram o adiamento,
sem data, para a construção do DF-41, ambos capazes de atingir o território continental
dos Estados Unidos. Os DF-31/DF-41 deveriam substituir os obsoletos SS-5 que, por
serem de combustível líquido, não são disponíveis para pronto emprego, permanecendo
desmontados em três locais diferentes (ogiva, combustível e foguete) sendo, por isso,
uma arma pouco crível como força de segundo ataque (Cordesman e Kleiber, 2006).
Nos dois casos, tanto negociando com os russos quanto com os chineses, os
Estados Unidos valeram-se das balanças locais de poder. Afinal, para o governo russo o
que realmente interessa é o espaço ex-soviético e, para o governo chinês, a reunificação
com Taiwan. Estas são moedas de troca que, a qualquer tempo, mediante um
desaquecimento da iniciativa de construção da defesa antimíssil, poderiam ser decisivas
para se tentar obter pela barganha diplomática o desarmamento estratégico da Rússia e
da China.
A outra maneira de obter o desarmamento estratégico seria por meio de uma
guerra nuclear preventiva, procurando destruir as armas estratégicas remanescentes nos
arsenais russos e chineses por meio de ataques com munições guiadas de precisão
75
O ICBM russo mais moderno é o Topol-M, de combustível sólido e consideravelmente mais veloz. Mas
este míssil possui uma ogiva e no inventário russo constam apenas 200 mísseis deste tipo. Os
EUA exibem mais de seis mil ogivas comissionadas em seu inventário (Baylis et all, 2007, 256-263).
Embora o The Military Balance seja uma das publicações mais respeitáveis do mundo, também
comete imprecisões e erros. Na edição deste ano, por exemplo, consta que estaria em serviço o
míssil Bulava. Isto não é correto e, dados os recorrentes fracassos, a possibilidade de que ele
nunca venha a ser comissionado. Além disto, a publicação chega a citar dois submarinos da classe
tufão que supostamente estariam comissionados com estas armas (Bulava). Na verdade os dois
submarinos estão comissionados com mísseis cruzadores. Além do mais, não poderiam estar
comissinados com uma arma que não existe. Problemas como este demandam o tipo de estudo
proposto para o primeiro capítulo da dissertação. Cf. IISS (2007) e contrastar com as bases de
dados disponíveis em www.cdi.org
, www.sipri.org, www.fas.org, e www.thebulletin.org.
62
(PGM), combinados com ataques nucleares. O problema neste caso é que haveria então
uma guerra mundial com a utilização simultânea de armas nucleares e forças
convencionais, a qual teria que ser definida na esfera das operações.
A segunda hipótese auxiliar, portanto, diz basicamente que, devido aos
constrangimentos políticos envolvendo o exterminismo e devido à baixa probabilidade de
um desarmamento estratégico russo e chinês obtido por via diplomática, uma guerra entre
os três países seria decidida na esfera das operações.
Sem poder fazer uso total de suas armas nucleares estratégicas, ainda que
provavelmente utilizem armas nucleares de batalha, uma guerra eventual entre as
grandes potências seria decidida na esfera das operações. Serão os exércitos, forças
aéreas, esquadras navais e demais forças armadas que decidirão as guerras futuras. Esta
é uma importante contra-tendência em relação ao pensamento estratégico dominante
tanto após a Segunda Guerra Mundial quanto logo depois do final da Guerra Fria. Após a
Segunda Guerra, considerava-se que as armas nucleares decidiriam tudo. Este
pensamento foi dominante até que eclodiu a Guerra da Coréia. Do mesmo modo, após o
fim da Guerra Fria, tornou-se dominante nos meios estratégicos o pensamento de que as
Forças Armadas seriam empregadas em missões da ONU, de imposição ou de
manutenção de paz. Daí as diretrizes de profissionalização, redução de efetivos e
transformação dos projetos e estruturas de força.
Como os EUA manobrariam em linhas exteriores (em função dos dois oceanos que
os separam da Rússia e da China), enquanto chineses e russos teriam a vantagem das
linhas interiores, as comunicações seriam uma componente vital em qualquer operação
ou batalha (Corpus, 2006).
Linhas interiores dizem respeito ao controle do território sobre o qual se faz a
manobra, o deslocamento de forças, reservas e suprimentos. A Rússia e a China têm o
domínio das linhas interiores pois podem desencadear golpes contra a Europa Leste,
Oriente Médio ou Extremo Oriente a partir do seu próprio território. Como os Estados
Unidos não têm como impor supremacia aérea absoluta diante da capacidade defensiva
convencional da Rússia e da China e da vastidão dos seus respectivos territórios, os EUA
não teriam como impedir que eles utilizassem suas linhas interiores.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos teriam que enfrentar contingências em três
frentes (Europa Leste, Oriente Médio e Extremo Oriente) separadas de seu território por
três oceanos, estendendo suas linhas de comunicações, logística, suprimentos e reservas
por milhares de quilômetros. Isto gera pontos de estrangulamento que permitem aos
63
russos e chineses utilizarem suas capacidades antinavio, anti-satélite e antiaérea,
debilitando as linhas exteriores estadunidenses e, depois, golpearem com intensidade em
terra, na frente onde os EUA estiverem mais fracos.
Para o comando, o controle e os suprimentos de operações em linhas exteriores as
comunicações são um componente vital. Sem dispor de sua vasta rede de satélites, de
redes de computadores e de sistemas de controle de batalha tais como o JTIDS (Joint
Tactical Information Distribution System
76
), o JDAM (Joint Direct Attack Munition
77
) e o
JSTARS (Joint Survellance and Target Attack Radar System), os Estados Unidos não têm
como vencer uma guerra contra duas grandes potências. Em todas as guerras travadas
pelos Estados Unidos desde 1991, estes três sistemas cumpriram papel decisivo no
resultado da batalha e nas operações (Boot, 2003, 38a).
A deterioração das relações russas com os países membros da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e mesmo com a União Européia ao longo de 2007
aponta para a criação de um novo cenário mundial no qual são retomados temores
marcantes da Guerra Fria, sobretudo em relação ao grau de hostilidade entre as grandes
potências e o risco de uma guerra central no sistema internacional.
A crise adquiriu um perfil mais claro desde o discurso proferido pelo presidente
Vladimir Putin para as duas casas do parlamento russo, em abril de 2007. Naquela
ocasião, Putin ameaçou denunciar o Tratado sobre Forças Convencionais na Europa
(CFE Agreement), acordo assinado em novembro de 1991 no contexto de uma rie de
medidas de controle e de redução de armamentos que marcaram o encerramento da
Guerra Fria.
Em novembro de 2007, de fato o presidente russo sancionou uma lei suspendendo
a participação da Rússia no CFE, proibindo a inspeção de representantes da OTAN nas
instalações militares russas e não mais se comprometendo a limitar o número e a
qualidade das forças convencionais russas posicionadas a oeste dos Urais.
A gravidade da decisão russa não pode ser minimizada, sobretudo porque ela é
justificada pelo Kremlin como uma resposta necessária e direta ao anúncio feito por
76
O JTIDS foi o fruto direto do uso do computador como meio embarcado. O JTIDS converteu o que antes
eram meras estações móveis de radar embarcadas em aeronaves de alerta antecipado em
sistemas de comando e controle capazes de orientar a interceptação de aeronaves e mísseis. Cf.
Gunston (1991).
77
O JDAM substitui os onerosos sistemas de guiagem por laser e as tecnologias embarcadas em mísseis e
bombas pela guiagem digital realizada por computador remoto. Desde o JDAM o que importa é a
rede, a capacidade de cobertura do teatro de operações por comunicação digital (teatro sintético de
operações). Conseqüentemente, isso também o torna um alvo prioritário das armas de energia
direta, sobretudo HPM. Cf. MacKENZIE (1990).
64
Washington em janeiro de 2007 de que o governo dos Estados Unidos pretendia instalar
dez baterias de mísseis interceptadores baseados em bunkers e dois radares na Polônia
e na República Tcheca. Tais iniciativas fariam parte do sistema nacional de defesa
antimíssil (NMD), em desenvolvimento por aquele país desde o final da década de 1990.
A iniciativa americana foi considerada pelos russos uma violação dos acordos de
expansão da OTAN para o Leste Europeu, por meio dos quais os Estados Unidos e os
demais países membros se comprometeram a não estacionar permanentemente tropas
ou sistemas de armas e vetores no território dos antigos países membros da Organização
do Tratado de Varsóvia (Simonov, 2007).
Nesse sentido, a ameaça de Putin e as declarações ainda mais duras das
autoridades militares russas o consistentes com os reiterados protestos de Moscou
desde que os Estados Unidos se retiraram do Tratado Antimísseis Balísticos (ABM) no
final de 2001. A expansão da OTAN para o Leste Europeu e o suporte ocidental cada vez
mais explícito aos grupos e partidos adversários do governo russo em países como a
Ucrânia, a Geórgia e a própria Rússia também foram citados por analistas russos e pelo
presidente Putin como indicativos de uma postura mais agressiva dos Estados Unidos em
detrimento da diplomacia (Karavaev, 2007 e Ria Novosti, 2007).
A suspensão russa do CFE traz à tona ainda a possível denúncia do Tratado sobre
Forças Nucleares de Alcance Curto e Intermediário (Intermediate Range Nuclear Forces -
INF), algo que havia sido levantado por analistas russos em 2005, também como
resposta à Defesa Nacional Antimíssil (NMD) desenvolvida pelos americanos (Vedomosti,
2005).
O tratado INF foi assinado em 1987 e entrou em vigor no ano seguinte. Seu alvo
principal eram os mísseis soviéticos SS-22 e seus congêneres (SS-12/SS-23), que
podiam varrer o continente europeu a partir das posições soviéticas na Europa do leste.
Considerada a arma mais mortífera para os europeus devido ao seu grande número e
mobilidade, os SS-22 eram capazes de assestar golpes termonucleares de impacto
equivalente à explosão de meio milhão de toneladas de TNT. Estes mísseis e suas ogivas
eram um dos principais sistemas de armas estratégicas no arsenal soviético e foram
desmantelados em 1988, em cumprimento ao tratado INF. Para uma eventual denúncia
do INF, como prevê seu artigo 15, basta que uma parte notifique à outra com seis meses
de antecedência. E, sem o INF, a Europa poderia voltar a ser um teatro de operações
central no caso de uma guerra termonuclear.
65
A declaração oficial da Secretária de Estado Condoleezza Rice em maio de 2007,
de que os radares e baterias antimísseis no Leste Europeu se justificariam pela ameaça
representada pelo Irã e pela Coréia do Norte, não convenceu o governo russo, criando um
impasse profundo entre os dois países.
A razão mais precisa para a reação russa foi apresentada por Alexandr Jramchijin
(2007), analista da agência de notícias RIA Novosti. O autor afirma que as baterias a
serem instaladas na Polônia de fato não constituiriam uma ameaça grave às forças
nucleares russas. O maior problema seria a estação de radar em território tcheco, pois ela
poderia monitorar o espaço aéreo russo até Moscou. Cedo ou tarde, raciocina Jramchijin,
esta vigilância seria acompanhada dos meios bélicos que permitiriam aos americanos tirar
proveito da nova vantagem informacional. Antecipando esta possibilidade, o analista da
Ria Novosti considera muito provável o desencadeamento de uma nova corrida
armamentista. Se isso acontecer nos termos em que se deu a busca pela paridade
estratégica durante a Guerra Fria, no limite, a Rússia tenderá ao colapso enquanto projeto
estatal, e a obtenção da primazia nuclear pelos Estados Unidos seria alcançada no início
deste século.
Dessa forma, devido aos custos proibitivos de uma nova corrida armamentista
nuclear, a resposta mais provável da Rússia à uma tentativa mais definitiva dos Estados
Unidos em obterem a primazia nuclear seria de tipo assimétrico, empregando meios
nucleares e convencionais, militares e econômicos, para fazer frente à NMD norte-
americana.
Tais meios incluem armas de alta tecnologia, capazes de usar estrategicamente o
espectro eletromagnético, às quais a Rússia só teve acesso depois do colapso do sistema
soviético, quando suas empresas de tecnologia passaram a se integrar ao capitalismo e
se fizeram presentes em pólos de alta densidade tecnológica, como o Vale do Silício na
Califórnia. Na verdade, tanto as forças armadas da Rússia quanto as da China passaram,
recentemente, a empregar tecnologias digitais anteriormente disponíveis apenas para os
Estados Unidos, as quais tiveram um impacto decisivo na vitória americana na Guerra
Fria.
Os sistemas mais importantes que caracterizam essa fronteira digital da tecnologia
bélica são as chamadas armas de energia direcionada ou direta (Directed Energy
Weapons DEW). Esta é uma designação genérica para vários tipos de armas que
utilizam partes do espectro eletromagnético (sobretudo comprimentos de onda na faixa
dos lasers e das microondas) para fins militares diretamente ligados ao uso da força,
66
direcionando energia com potências muito mais altas do que as potências aplicadas em
usos domésticos ou mesmo industriais (Beason, 2005, 21-29).
Os russos incorporaram aos seus arsenais, desde o começo da década,
sistemas de armas de microondas de alta potência (High Power Microwave - HPM), tanto
na esfera tática, com o sistema Ranets-e de alcance até 15 km, quanto na esfera das
operações, com o sistema Rosa-e, o qual tem alcance de até 500 km. Segundo jornalistas
especializados na indústria bélica e fontes da própria empresa exportadora, os novos
sistemas de armas são capazes de destruir circuitos integrados e chips de radares,
mísseis cruzadores ou aeronaves (Rosoboronexport, 2001; Stratmag, 2001).
Dois eventos indicam que estas armas de energia direcionada também tendem a
ter um papel destacado na esfera da estratégia: o teste de uma arma chinesa anti-satélite
(Anti-Satelllite Weapon ASAT) em janeiro de 2007, com claras implicações antimísseis,
e também relatos de que em setembro de 2006 a China havia testado lasers de alta
potência para tentar cegar satélites de vigilância e reconhecimento dos Estados Unidos
(Stokes, 1999).
Portanto, a reação diplomática russa em 2007 dificilmente corresponde apenas ao
que parte da mídia caracterizou como uma manobra de Putin para vencer as eleições
para a Duma e preparar sua sucessão em 2008. Os fundamentos desta reação residem
sim na disputa em torno da possibilidade ou não de que os Estados Unidos obtenham
primazia nuclear e constituam uma distribuição unipolar de capacidades no sistema
internacional ao longo das próximas décadas.
Realmente, parece que a tecnologia precede a polaridade no sistema internacional.
Não pode ser esquecido que, apesar do assombroso arsenal existente, os Estados
Unidos continuam o desenvolvimento de novos armamentos estratégicos, assim como a
Rússia e a China. Apesar das apologias à primazia nuclear estadunidense de Lieber e
Press e da crítica feroz de seus opositores; a conjuntura demonstra que estamos vivendo
uma crise na tecnologia. A digitalização ampliou a capacidade de países como a China,
ao horizontalizar custos e produzir plataformas de armamentos multifuncionais.
III.1 - Capacidade russa e chinesa de segundo ataque
Para que se possa avaliar a capacidade russa e chinesa de segundo ataque, é
necessário simular um ataque nuclear premptivo estadunidense e então calcular as o
cálculo de simulações sobre a resposta sino-russa com seus armamentos existentes. A
67
construção dessa simulação apresenta dois problemas. Do lado empírico, a única
experiência real de uso de bombas nucleares contra cidades aconteceu com as cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasáqui em 1945. A imagem daquela devastação total
causada por bombas de rendimento na faixa de 15kt impressionou a Humanidade.
Contudo, não pode ser esquecido que as construções feitas de madeira e papel
predominavam nessas cidades. Não serviram de anteparo e proteção para seus
moradores e ainda aumentaram o dano com os incêndios. Outro fator que apresenta
controvérsias é o clima de catástrofe que gerou o debate da política de exterminismo nos
anos70, culminando com sua representação no filme “The Day After”.
78
O presente trabalho tenta romper com essa visão catastrófica das armas nucleares.
Sem minimizar seus danos, porém, fazendo as simulações com mais realismo possível.
Para atingi-lo, foi recorrido os parâmetros do programa Science & Global Security (S&GS)
da Universidade de Princeton.
79
Consiste de um livro com doze volumes, compilado e
editado por Glasstone e Dolan para o Departamento de Defesa (DoD) dos Estados
Unidos e o Energy Researcch and Development Administration. Consiste de 644 páginas
que abordam desde os princípios gerais da explosão nuclear até os efeitos biológicos da
utilização de armamento nuclear. Esse mesmo estudo serviu de base para as simulações
de uma hipotética guerra nuclear entre Israel e Irã, no livro de Anthony H. Cordesman de
2007.
80
Princeton ainda recorreu a condensação dos dados em gráficos o qual chamou de
Computador dos Efeitos da Bomba Nuclear.
Basicamente, o seu funcionamento consiste em traçar uma linha reta a partir do
rendimento (yeld), passando pelo centro do círculo. Onde essa linha tocar os gráficos,
indicará o número do parâmetro que o gráfico representa. Para a confecção das
simulações, foi utilizado, inicialmente, o parâmetro dos efeitos de um contra ataque chinês
à cidade estadunidense de Los Angeles com o míssil DF-5 (CSS-4 Mod 2).
81
78
O filme feito em 1984 tornou-se um marco ao simular uma ataque soviético a cidade americana de
Kansas City. Sua importância reside, para a opinião pública em geral, na popularizazão sobre o
debate do exterminismo na Guerra Fria. O filme impresionouo presidente americano do período,
Ronald Reagan, que utilizou o filme como justificativa para a necessidade de militarização do
espaço, com a implementação da Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI).
79
GLASSTONE, Samuel, e DOLAN, Philip. The Effects of Nuclear Weapons. edição. Washington: U.S.
Government Printing Office, 1977. 644p. (on-line)
http://www.princeton.edu/~globsec/publications/effects/effects.shtml (06/06/2007).
80
CORDESMAN, Anthony H. & BURKE, Arleigh. Iran, Israel, and Nuclear War. Washington: CSIS, 2007.
(on-line) http://www.csis/burke
(01/12/2007).
81
PIKE, John. DF-5 (CSS-4 Mod 2). (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/world/china/df-5.htm
(09/11/2007)
68
Fig. 18: Computador dos Efeitos da Bomba Nuclear.
82
Os parâmetros e taxas conseguidos com o estudo de Princeton foram
representados em escala, utilizando as fotos da cidade de Los Angeles disponíveis no
programa gratuito da internet Google Earth.
82
SCIENCE & GLOBAL SECURITY. Nuclear Bomb Effects Computer. (on-line)
http://www.fourmilab.ch/bombcala/instructions.html (06/06/2007)
69
Fig. 19: Alvo das simulações.
Este míssil comissionado em 1971 representa a época em que os chineses
estavam com os parâmetros soviéticos de ICBMs. É um míssil de combustível líquido, de
três estágios, que possui uma ogiva com quatro Megatons de rendimento. Suas
dimensões consistem em 32m de altura por 3,32 de comprimento. Seu peso total é de
183 toneladas, porém, o peso do veículo de reentrada não pode ser maior do que
3.200kg. Seu alcance máximo é estimado de 15.000km e seu CEP é de 500 a 3.500m.
Este míssil foi escolhido porque, dos mísseis chineses comissionados, este seria o único
a atingir o território continental dos Estados Unidos (Kristensen e Norris, 2006: 188). De
acordo com as estimativas, os chineses possuem cerca de vinte desses mísseis.
70
Fig. 20: área da pressão de 10psi da explosão da ogiva do DF-5A.
A figura acima mostra os efeitos da onda de choque de uma explosão da ogiva do
DF-5A. Num raio de 6,2km, seria exercida uma pressão de 10psi, que corresponde a
0,7kg/cm². Essa pressão destrói construções que possuem estruturas sísmicas que são
beneficiamentos que resistem a terremotos. Diferente das cidades japonesas, o concreto
absorveria muito desses efeitos, minimizando as perdas. Essa pressão, causaria o efeito
biológico da surdez permanente nas pessoas que estivessem na área e pudessem
sobreviver.
71
Fig. 21: Simulação da área da destruição principal do DF-5A.
A figura acima mostra que a área da destruição principal, onde ficaria 90% dos
óbitos estaria restrita a um raio de 10km. Esse dado foi obtido seguindo os parâmetros de
utilização de um artefato de 4Mt de rendimento. Para esse rendimento ser considerado
ótimo, a ogiva deve explodir a 3.000m de altura do alvo. A essa distância, consegue-se o
máximo de radiação, onda de choque e expansão do calor. Se a ogiva explode em uma
altitude muito baixa é liberada mais radiação e detritos contaminados no ar e, se explode
a uma altura superior, o incêndio sai beneficiado. Para a cidade de Los Angeles, são
estimadas as baixas diretas de 3 milhões de mortos e 4,8 milhões e feridos, segundo
Kristensen e Norris. Porém, essa cifra deve representar também as mortes indiretas de
uma explosão nuclear. Se for aplicada a densidade demográfica de cerca de
72
4.765,8hab/km²
83
que possui a cidade nas simulações, o impacto direto da explosão,
resultaria numa cifra menor.
Fig. 22: Simulação da área da principal de incêndio causado pelo DF-5A.
A figura acima mostra a área principal do incêndio. A cidade de Los Angeles é
conhecida pelos seus incêndios sazonais que ocorrem, principalmente, no verão. O efeito
da explosão de uma ogiva de DF-5A, notadamente, provocaria um incêndio que
aconteceria em uma área com um raio de cerca de 35km. Seria, simplesmente,
impossível combatê-lo, apesar de todo o conhecimento das equipes de bombeiro da área.
83
Dados de 2006. Cf. The Official Web Site of The City of Los Angeles. (on-line)
http://cityplanning.lacity.org/DRU/Locl/LocPfl.cfm?geo=cp&loc=Arl&yrx=06 (16/02/2008)
73
Esse incêndio, certamente, aumentaria de forma considerável as baixas indiretas
causadas pela explosão nuclear.
Fig. 23: Simulação do fluxo térmico causado pelo DF-5A.
A figura acima mostra a simulação do fluxo rmico liberado na explosão. Essa
medida corresponde a expansão do calor gerado pela explosão nuclear. Para efeitos de
comparação, o Sol libera cerca de meia caloria por centímetro quadrado em um minuto.
Nos primeiros minutos da explosão, cerca de 10cal/cm² (vinte vezes o calor do Sol),
atingiria o raio de 25km da explosão. Bastam 9cal/cm² para que ocorram queimaduras de
segundo grau na pele. A 15 km da explosão, o fluxo rmico medido chega a 25cal/cm².
Quem não estivesse protegido, dificilmente, sobreviveria a esse fluxo.
74
Fig. 24: Simulação da expansão da dose de radiação causado pelo DF-5A.
A figura acima mostra a simulação da expansão da dosagem de radiação. Para
isso, foi considerada a média da velocidade do vento no verão de Los Angeles. Entre os
meses de julho a setembro, a média da velocidade é de 24,1km/h. Uma pessoa pode
suportar uma dose de até 500rads, como demonstraram sobreviventes do acidente de
Goiânia, Brasil, de 1986.
84
Se uma ogiva de DF-5A explodisse na altura da prefeitura da
cidade, demoraria treze horas para uma dose de 10rads percorrer 300km de distância,
atingindo a nuvem excitada de partículas radioativas a largura de 60km. As doses
menores de 200rads são fatais para cerca de menos de 5% da população atingida.
Segundo a expansão da dosagem total de radiação, as doses de 300rads demorariam
cerca de duas horas para percorrerem 50km. Os planos de defesa civil, se forem
concebidos de maneira satisfatória, podem salvar uma grande parcela da população
84
Rad Radiation absobed dose. Equivale a dose absorvida de radiação em 0,01J/kg.
75
atingida. Segundo a fórmula da dose de radiação (dose = 1/r²) a dose de radiação é
inversamente proporcional ao quadrado da distância. Ou seja, o aumento da distância
acarreta na diminuição ao quadrado da dose absorvida. O grande problema da radiação
são as partículas emanadas da explosão que carregam a radiação por longas distâncias.
A figura mostra que uma dose de 10rads demora treze horas para percorrer cerca de
315km. Isso pode contaminar as plantações e a água, atingindo populações ainda mais
distantes. O fenômeno é chamado de chuva negra, onde essas partículas condensam ao
entrar na alta atmosfera, caindo sob a forma de chuva.
Fig. 25: Simulação do fluxo térmico causado pelo DF-31.
O outro míssil chinês que entra na simulação é o DF-31.
85
É um míssil de três
estágios de combustível sólido, que possui 10m de altura e 2m de diâmetro. Sua massa é
de vinte toneladas e do seu veículo de reentrada é de 700kg. Este pode carregar uma
ogiva de rendimento de 350kt a 1Mt ou três de 50 a 100kt. Seu alcance é de 3.000 a
85
PIKE, John. DF-31. (on-line) http://www.globalsecurity.org/wmd/world/china/df-31.htm (09/11/2007)
76
8.000km e, alcançaria o território continental estadunidense com a guiagem pelo pólo.
Seu CEP é de 300 a 500m. Como parâmetro comparativo dos efeitos, foi utilizada,
novamente, a cidade de Los Angeles como alvo da retaliação do ataque preemptivo.
A figura acima mostra a simulação do fluxo rmico liberado na explosão.
Comparando com a simulação do DF-5A, a ogiva de rendimento de 1Mt do DF-31
produziria cerca de 10cal/cm² num o raio de 17km da explosão, em contraste com os
25km do outro míssil. Ou seja, a adoção da China de um míssil de combustível sólido,
com um rendimento menor, tornaria o segundo ataque, também, muito devastador.
Constatando assim, que a capacidade de retaliação chinesa estaria assegurada, mesmo
com a diminuição do rendimento da ogiva.
Fig. 26: Simulação de dano da onda de choque da explosão da ogiva do DF-31.
A figura acima mostra os efeitos da onda de choque de uma explosão da ogiva do
DF-31. Contrariando o senso comum, a pressão exercida por uma ogiva de rendimento de
77
1Mt é maior que a de 4Mt (DF-5A). Num raio de 9,5km, seria exercida uma pressão de
10psi, que corresponde a 0,7kg/cm². Isto acontece porque, geralmente, os mísseis de
rendimento de 1Mt explodem em altitudes menores que os de 4Mt, o que beneficia o
choque, enquanto no outro, é beneficiado o incêndio.
Do lado soviético, os mísseis Topol-M (Veja tabela 2, p. 49), de três estágios e de
combustível sólido, serão a resposta ao ataque preemptivo. Possui 21,9m de altura e um
comprimento de 1,9m. O peso no lançamento é de 47,2 toneladas. Possui uma ogiva de
rendimento de 550kt.
Fig. 27: Simulação da área da destruição principal do Topol-M.
A área da destruição principal, onde ficaria 90% dos óbitos, atinge um raio de 7km
para o míssil Topol-M. Os cálculos foram feitos com base nos parâmetros da explosão de
uma bomba de 1Mt em uma área de densidade demográfica de 250hab/km². Porque os
russos podem explodir mais perto do solo para causar maior impacto. Então, certamente,
explodirão a uma altura de cerca de 1km, onde a ogiva de 550kt pode ter um rendimento
78
similar ao de 1Mt. Porém, a explosão mais perto do solo compromete, seriamente, a
expansão da dosagem de radiação e diminui o alcance dos efeitos do calor. Sabendo que
a densidade do centro da cidade de Los Angeles é de cerca de 4.765,8hab/km² (dados
oficiais do censo de 2006), a estimativa é que a explosão cause um milhão e meio de
mortos.
Fig. 28: Simulação da área contaminada por radiação do Topol-M.
A radiação residual depois de um ano da explosão do míssil Topol-M, atingiria um
raio de cerca de 10km. No raio de 3,8km da explosão, a dose de 100rads causaria o óbito
de 4% da população exposta. No raio de 10km, o óbito seria de 0,4%, ou quatro óbitos
para cada mil pessoas expostas.
As simulações foram estruturadas de forma a apresentar de forma mais clara
possível, os efeitos de uma resposta russa e chinesa a um ataque preemptivo dos norte-
americanos. O Tamanho das figuras teve de permanecer inalterado para não prejudicar a
79
escala das simulações.O grande problema talvez seja o rompimento com a noção de
catastrofismo que existe em torno das armas nucleares. As simulações mostram que o
impacto das armas nucleares, apesar do colapso dos locais atingidos, pode ainda o país
conseguir sobreviver e ser reconstruído. Resta saber o impacto psicológico que minaria o
sistema político e, com isso, afetar diretamente o esforço de guerra.
III.2 - Impacto da digitalização na guerra nuclear
Como a dissertação demonstra, Kristensen e Norris simularam a resposta chinesa
a um ataque preemptivo estadunidense com o míssil DF-5A. Este míssil representa uma
época em que os projetos chineses eram marcados, fortemente, pela influência soviética.
Grandes mísseis de combustível lido que carregavam ogivas de alto rendimento para
compensar seu CEP nos ataques contra força, destruindo os silos dos países inimigos. O
DF-31A , ao contrário, representa uma nova fase, onde os chineses procuram adaptar
suas forças estratégicas aos conceitos norte-americanos.
As simulações abaixo apresentam a comparação das opções de resposta chinesa
ao desarme norte-americano, com a utilização do DF-31A. O comissionamento do míssil
chinês DF-31A de alcance estimado de 11.200 (pelo Pentágono) a 14.000km, pode mudar
a avaliação da primazia de forma significativa.
86
Este míssil possui veículos de reentrada
múltiplos manobráveis.
87
Pode conter cinco ogivas de rendimento de 90kt ou três de
rendimento de 150kt. Com a guiagem pelo pólo, os chineses podem, agora, atacar a
cidade de New York que fica a cerca de 10.693km do sítio de testes de Lop Nor na China.
Como a figura abaixo mostra, o míssil deve sobreviver ao sistema de defesa
estratégico norte-americano. Em média, o alcance dos radares de arranjo fásico
estadunidenses é de 3.500km. O DF-31A, para obter sucesso na resposta ao ataque
preemptivo, necessita do sistema MaRV. A característica da manobrabilidade do veículo
de reentrada consiste, justamente, em driblar as defesas ABM do inimigo.
86
Sinodefence. DF-31A (CSS-9) (on-line) http://www.sinodefence.com/strategic/missile/df31a.asp
(16/02/2008)
87
MaRV Maneuverable Reentry Vehicle
80
Fig. 29: Trajetória do DF-31A e a defesa ABM estadunidense.
Fig. 30: Guiagem polar do DF-31A e seu alcance.
81
Como a figura acima simula, o ataque chinês com o míssil DF-31A pelo pólo,
seria possível com a guiagem do míssil através do sistema de Satélites Beidou. Esse
sistema de satélites forma um sistema similar ao modelo do GPS estadunidense. O
grande avanço que o satélite chinês representa é a sua capacidade de seu software ser
intercambiável com outros sistemas, como o próprio GPS norte-americano e o Galileo
europeu. Apesar das fontes serem classificadas, especula-se que esse tipo de satélite
ofereça um tipo de guiagem especial, baseada na Abertura Sintética de Radar (SAR).
88
Essa tecnologia prevê a aquisição de imagens por meio das ondas emitidas pelo radar.
Esse tipo de imagem em tempo real pode ser transmitida para o míssil para compensar a
diferença do tempo da comunicação da base terrestre, com o satélite e o míssil, o que
dificulta sua guiagem.
Fig. 31: Simulação da área do incêndio principal.
88
SAR Synthetic Aperture Radar.
82
A figura acima mostra a simulação da área do incêndio principal causada pela
detonação de cinco ogivas de DF-31A. A explosão da ogiva de 90kt do DF-31A, causa um
incêndio incontrolável num raio de 5,7km do centro da explosão. A área do dano das
cinco explosões somadas do DF-31A, não chega a 510,09km². A figura acima mostra que
os incêndios o constituiriam o objetivo principal dessa resposta chinesa ao ataque
preemptivo. Comparando com Los Angeles, a ilha de Manhattan não poderia expandir os
efeitos dos incêndios a uma distância muito grande porque a água constitui um obstáculo
natural.
Fig. 32: Simulação da área do fluxo térmico.
A figura acima mostra a simulação da área de expansão do fluxo térmico de
25cal/cm². Esse fluxo causa, invariavelmente, queimaduras de terceiro grau que atingem
as camadas mais profundas da pele, aumentando a quantidade de óbitos indiretos.
Dificilmente, a defesa civil estará em condições de atender a maioria dos atingidos.
Contrariando observações primárias, que levariam em conta somente o rendimento das
83
ogivas, a simulação mostra que as áreas dos fluxos quase o equiparáveis. As
simulações anteriores mostram que uma explosão da ogiva de 4Mt do míssil DF-5A atinge
um raio de 12,5km (Fig. 23), quase equiparando-se com os 8km do ogiva de 90kt do DF-
31A. Isso ocorre porque a altura, em relação ao solo das explosões de artefatos
nucleares, são calculadas para que seus efeito sejam aproveitados ao máximo. Uma
ogiva de DF-5A seria detonada a uma altura de cerca de 3.500m. O efeito do fluxo
térmico atinge uma área menor porque o calor gerado espalha-se em uma área muito
mais ampla. Isso explica os 70km de diâmetro da área do incêndio principal do DF-5A que
cobre uma área de 3.846,5km². Paradoxalmente, as cinco áreas, expostas ao fluxo
térmico de 25cal/cm², somadas das ogivas do DF-31A representam 1.004,8km². A área é
praticamente o dobro dos 490,5km² da área atingida pela explosão do DF-5A. Os dados
oficais da Prefeitura de New York, contidos no censo de 2006, mostram uma densidade
demográfica média de 10.000hab/km². Aplicando esse dado as cinco explosões somadas
das ogivas do DF-31A, cerca de 10 milhões de mortos seriam computados. Contrastando
com os três a quatro milhões de mortos da simulação de Kristensen. Ou seja, esse
parâmetro consegue mostrar que as explosões das ogivas do DF-31A conseguem obter
maior dano que a ogiva do DF-5A. Com isso, a digitalização deixou, outrossim, as armas
com menor peso , mas de rendimento similar.
A figura abaixo mostra a expansão da dosagem de radiação das explosões das
ogivas do míssil DF-31A. Comparativamente, a expansão da dosagem de radiação da
explosão da ogiva do míssil DF-5A, apresenta uma largura maior (Fig. 24). A nuvem de
cinza nuclear, representada pelas partículas ionizadas com a atmosfera, possui uma
largura máxima de 60km do DF-5A em Los Angeles, contrastando com os 6km da
explosão de uma ogiva de DF-31A em New York. Essas partículas ao entrar em contato
com a alta atmosfera, formam colóides com o vapor. Os colóides são formações atômicas
indissociáveis das partículas sólidas com a água. Ao condensarem-se devido a
temperatura a pressão existentes na alta atmosfera, precipitam-se no fenômeno
conhecido como chuva negra. Se for considerada a velocidade média do vento, que no
verão de Los Angeles chega a 24km/h, a nuvem radioativa da explosão de uma ogiva do
DF-31A percorre 70km, aproximadamente em três horas. Contudo, a expansão da
dosagem de radiação de uma explosão da ogiva do DF-31A, é cerca de dez vezes menor
que o rendimento de uma ogiva do DF-5A. Os novos mísseis talvez mostrem o objetivo de
tornarem-se armas para serem usadas contra valor, porém, utilizando-se da mesma
precisão de um ataque contra força, na destruição de alvos específicos. A simulação
abaixo mostra esse conceito.
84
Fig. 33: Simulação da expansão da dosagem de radiação.
A figura abaixo mostra a área sujeita a pressão de 10psi, que corresponde a
700g/cm². Esse tipo de pressão destrói prédios e estruturas que são feitas para resistir a
terremotos. Cada explosão de uma ogiva de 90kt do DF-31A exerce uma pressão de
10psi, em uma área de 9,076km². Em a área do dano da pressão de 10psi da explosão de
uma ogiva de 90kt do DF-31A é 110 vezes maior que a área do desabamento do World
Trade Center. Os danos econômicos de um ataque seriam da mesma proporção? O
colapso financeiro, certamente, iria causar um grave abalo econômico, em escala
mundial.
85
Fig. 34: Simulação da área de pressão de 10psi.
Os cinco impactos somados das ogivas do DF-31A, atingem uma área de 45,
373km², aproximadamente. Contrastando, a explosão do DF-5A atinge 120,7km². Sendo
de uma tecnologia anterior, seu alto rendimento de 4Mt era para compensar sua falta de
precisão para o ataque contra-força, como silos de outros ICBMs. Aqui entra o novo
conceito de emprego das novas armas. O baixo rendimento comparativo e a alta precisão
das ogivas MARVs do DF-31A servem para o ataque a alvos específicos como os centros
financeiros da cidade de New York.
O objetivo dessas simulações é mostrar o impacto da digitalização no armamento
nuclear. O exemplo escolhido foi a China porque desde o início da década, a digitalização
está sendo colocada em prática, justamente, como uma resposta assimétrica a primazia
nuclear estadunidense. Como os exemplos históricos mostrados nesta dissertação, as
países em desvantagem estratégica, procuram uma compensação investindo em alta
tecnologia. Um exemplo é a substituição dos mísseis chineses de tecnologia do estilo
86
soviético, como o DF-5A, pelo DF-31A que contém parâmetros de desempenho e
construção análogos aos mísseis norte-americanos.
Fig. 35: Comparação da área da pressão de 10psi do DF-31A com o marco zero do WTC.
A simulação contida nas figuras faz emergir a dúvida dos motivos da substituição,
pela China de um míssil de uma única ogiva poderosa de 4Mt do DF-5A, por um míssil
com cinco ogivas de rendimento de 90kt. Obviamente, a sobrevivência das ogivas a
defesa antimíssil continental estadunidense é o motivo principal. Uma resposta chinesa a
um desarme preventivo estadunidense torna-se mais crível, com mísseis de combustível
sólido portando cinco ogivas (MaRV) de rendimento de 90kt, do que a utilização dos vinte
mísseis DF-5A comissionados. Além do tamanho tornar o míssil DF-5A vulnerável à
interceptação, sua única ogiva não teria muitas chances na reentrada.
Em síntese, o balanço estratégico nuclear no começo do século XXI está sendo
profundamente alterado pela digitalização dos sistemas de armas, vetores e demais
87
sistemas de comando e controle das grandes potências. Resta saber se os
desenvolvimentos mais recentes, tanto em relação ao comando do espaço quanto em
relação ao desenvolvimento de novos sistemas de armas estratégicas tendem a anular os
efeitos equalizadores da digitalização, ou se a busca pela primazia e a unipolaridade
podem vir a resultar desta nova realidade ainda em construção. Avaliar preliminarmente
estes desdobramentos é a tarefa do próximo capítulo.
88
IV
COMANDO DO ESPAÇO E ARMAS DE ENERGIA DIRETA
Como foi possível demonstrar no capítulo anterior, o balanço estratégico entre as
grandes potências pode ser profundamente alterado pelo processo de digitalização, uma
vez que melhorias nos sistemas de guiagem e na precisão das armas nucleares permitem
que mesmo uma capacidade muito limitada de segundo ataque possa causar danos
catastróficos na economia e no equilíbrio sócio-político de um país que tente obter a
primazia nuclear pela força. Neste capítulo serão desenvolvidos dois temas que tornam
ainda mais concreta a possibilidade de que a própria busca pela primazia nuclear pelos
Estados Unidos acabe resultando na consolidação de uma ordem multipolar equilibrada.
Trata-se justamente do impacto da emergência de uma nova classe de armamentos com
uso estratégico potencial (as armas de energia direta) e a questão do comando do
espaço.
No contexto de uma disputa que se desenvolve desde 2007, o Ministro da
Defesa da Rússia declarou em fevereiro de 2008 que os planos dos Estados Unidos para
derrubar um satélite espião norte-americano no final de sua vida útil permitiriam na
verdade que Washington testasse uma arma anti-satélite (ASAT).
89
Além disto, as críticas russas devem ser consideradas no contexto da recusa de
Washington em discutir a proposta sino-russa para um tratado internacional banindo
armas do espaço, basicamente repetindo a postura adotada em 2005 pelo mesmo
governo dos Estados Unidos e por Israel. A proposta conjunta dos governos da China e
da Rússia foi feita na sessão plenária da Conferência sobre Desarmamento realizada
pelas Nações Unidas em fevereiro de 2008 em Genebra.
90
A razão fundamental para que um tratado banindo armas do espaço seja tão
improvável neste momento histórico é que a transição de poder em curso no sistema
internacional depende em grande medida dos desdobramentos de uma disputa sobre o
comando do espaço e os usos estratégicos das novas armas de energia direta.
89
The satellite is thought to be the National Reconnaissance Office’s classified L-21 Radarsat, which was
successfully inserted into orbit Dec. 14, 2006, but has been persistently unresponsive. The orbit of
the satellite designated USA 193 has decayed ever since, and the satellite is now anticipated
to re-enter the Earth’s atmosphere in the first week of March. Cf. REUTERS (2008/02/16) e
STRATFOR (2008/02/14).
90
O título do esboço sino-russo era o seguinte: Treaty on the Prevention of the Placement of Weapons in
Outer Space, the Threat or Use of Force Against Outer Space Objects.
89
Por comando do espaço, entenda-se aqui o “controle das comunicações espaciais
para propósitos civis, comerciais, militares e de inteligência. (...) Comando do espaço não
significa que o adversário não possa agir, somente, significa que o inimigo não pode
interferir, seriamente, nas ações. Adicionalmente, o Comando do espaço estará
normalmente em disputa.” (Klein, 2004: 67). Nesta acepção corbettiana, o comando do
espaço envolve operações no espaço e atividades, utilizando plataformas espaciais.
Essas ações possuem implicações diretas para o poder nacional, tanto em tempo de paz
como em época de guerra, implicações que incluem elementos diplomáticos, militares,
econômicos, tecnológicos e informacionais. aqui uma grande ênfase na interrelação
entre as operações militares no espaço e outros interesses politicos nacionais. Alguma
incursão no espaço, mesmo uma pequena, pode impactar diretamente o balance de
poder internacional. Ou seja, as operações no espaço são interdependentes das
realizadas nos ambientes aéreos, aquáticos e terrestres. A guerra no espaço é, apenas,
um âmbito das esferas da estratégia e operções em época de guerra. As forças espaciaas
devem operar conjuntamente com as outras forças militares.
91
Portanto, sem esquecer que as operações militares são apenas uma das
dimensões do comando do espaço, ou que as tecnologias envolvidas no processo de
digitalização possuem claramente usos militares e civis que tornam cada vez mais unidas
as dimensões econômicas, militares e políticas no mundo contemporâneo, no restante
deste capítulo serão apresentadas brevemente as características das operações militares
espaciais na era das guerras de quarta geração (seção 3.1), o advento das armas de
energia direta (3.2), as diferenças entre os dois tipos fundamentais de armas de energia
direta (laser e HPM, na seção 3.3) e os usos estratégicos potenciais das armas de
energia direta e seu impacto na distribuição de poder no sistema internacional (seção
3.4).
IV.1 - A Guerra no Espaço e a Digitalização
Durante a Guerra Fria, o espaço sideral tornou-se importante para a esfera da
estratégia. O conceito de dissuasão baseava-se na observação do comissionamento de
armas estratégcas através de sensores baseados em satélites de sistemas de
comunicação e vigilância. Atualmente, a vigilância aérea pode ser feita sem o risco de
implicações na esfera da estratégia na maioria das regiões. UAVs operando em uma alta
91
Sobre a teoria de Julian Corbett, cf. PROENÇA & DINIZ & RAZA (1999).
90
altitude, possuem uma performance similar aos satélites. Essas aeronaves ainda podem
ser utilizadas como retransmissora de dados sem fio, possibilitando uma comunicação
além do horizonte. A digitalização tornou acessível para muitos países a utilização de alta
tecnologia com recursos relativamente baratos. As operações da marinha do Irã é uma
prova disso.
Apesar da digitalização disseminar o uso de tecnologias, o comando do espaço
possui uma característica única a provisão livre, contínua e persistente de uma
cobertura, efetivamente, global. Isto continua a oferecer grande vantagens para a guerra
de tropas expedicionárias, como a luta contra o terrorismo e outros exemplos de
ambientes assimétricos de combate. A noção de controle ativo de uma estratégia global
de contenção ploriferação das armas de destruição em massa (WMD Weapons of
Mass Destruction) teria sido impensável antes da era do comand do espaço.
De uma perspectiva racional, a estratégia das atividades no espaço mudaram
sensivelmente. O valor do comando do espaço é derivado de seu papel de suporte para
os elementos de força militar e política além do alcance natural das suas tarefas
respectivas de defesa e segurança. Porém, suas capacidades devem resultar do uso
coerente de diferentes meios tecnológicos, militares e científicos. O desafio principal
consiste, atualmente, no melhor uso das plataformas espaciais em cada tipo de operação
específica na área de defesa e segurança, apoiando e compartilhando responsabilidades
para a inteligência, alerta e resposta rápida, mesmo em uma eventua campanha contra
outra potência.
92
Os benefícios operacionais oferecidos pelos sistemas de vigilância,
reconhecimento e satélites de inteligência de sinais (SigInt) é limitado e ainda projetado
para as exigências da Guerra Fria. Nos últimos oito anos os Estados Unidos, está
tentando definir e desenvolver os comonentes espaciais de sua arquitetura futura de um
controle integrado totalmente. O objetivo é substituir os sistemas atuais de satélites por
aparelhos mais versáteis que custem menos. Isto implica na volta do princípio da massa
na guerra espacial. Esses mesmos custos implicaram na miniaturização dos aparelhos
para o possível emprego de elementos da guerra espacial no nível tático. A promessa é a
operação integrada da rede espacial com UAVs e outros sistemas táticos. Atualmente, o
planejamento militar estadunidense para as comunicações no espaço, continua nos
grandes artefatos que consomem grandes períodos de testes e construção. Outros
países, como a China, podem atingir uma posição muito mais favorável com o lançamento
92
Cf. IISS (2007). Military Space and Netowork-Centric Operations.
91
de pequenos satélites para a utilização da tecnologia de comunicações em conjunto,
mesmo não possuindo tradição na exploração do espaço. A barreira princpal ainda
consiste na infra-estrutura civil do país que pretende utilizar essa tecnologia. As
requisições, geralmente, consistem na capacidade instalada de redes de comunicações
de alta tecnologia; capacidade de desenvolvimento e produção de componenentes
eletrônicos avançados; profissionais habilitados e formados no país e uma relativa
capacidade de coordenação da interpretação das operações. Se essas decisões são
encontradas em um país, mesmo de recursos modestos, o espaço sideral pode contar
com outros atores.
Entrementes, mesmo com o debate sobre a horizontalização causada pela
digitalização no comando do espaço, o tema ainda não possui a devida dimensão nas
instituições dos países, especialmente, os Estados Unidos. Uma parte da discriminação
vém, da relação do alto investimento, com as possíveis falhas no desenvolvimento de
novas tecnologias. Como exemplo, a falha do segundo vôo de lançamento do satélite de
reconhecimento japonês em 2003, minou o apoio político para empreendimentos desse
tipo. A própria política estadunidense, desde 1993, de comercialização mundial deliberada
de imagens, de alta resolução, de satélites, inibe o investimento de outros países em
montar sua própria rede de vigilância.
Frequentemente, o lançamento de satélite é apenas uma dimensão do comando do
espaço, apesar de ser a parte mais ressaltada. Para um uso realmente operacional do
espaço exterior, o país precisa de uma capacidade de manutenção de satélites no espaço
e de sistemas de comunicações basedos em terra que garamtem sua efetividade.
Em média, a expectativa de vida dos satélites é de quinze anos. A fadiga do
material constitui num dos fatores. Por exemplo, um tipo de satélite que requer uma
substituição frequente é o de baixa órbita que, por sua baixa altitude, precisa manter uma
grande velocidade para não reentrar, desgastando o aparelho de forma irreversível. Outro
fator é a superação da tecnologia que torna o aparelho obsoleto. O impacto dos custos
diretos pode decidir a implementação de uma constelação de satélites de orientação
como o GPS estadunidense e o Glonass russo. Por isso,a os chinese decidiram fazer
uma tipo de sistema de uso compatível com outros já existentes, ao lançar o Beidou.
A posse de satélites é ainda considerada um símbolo de status para muitos países,
o que pode levar a China a outro tipo de posição no cenário internacional. No entanto, no
contexto atual do conceito de operações combinadas em todas as esferas, a importância
deslocou-se do satélite para sistemas que operem como nós interativos da rede de
informações. Por exemplo, certos tipos de comunicações exigem plataformas espaciais
92
para o cumprimento de sua missão. Contudo, agora pouco importa quem possui esse tipo
de tecnologia, porque os próprios americanos beneficiam muitos países com informações
classificadas. Se por um lados os americanos tentam obter financiamentos de seus
projetos, dividindo custos com outros países, nada impede que os mesmos países
possam repassar informações a terceiros em tempos de crise. Dada a enorme assimetria
entre os Estados Unidos e seus aliados, esse tipo de aproximação sempre torna-se
delicada.
Um exemplo é a implementação da constelação de satélites alemães do tipo SAR-
Lupe. Essa plataforma é esperada para dar uma contribuição decisiva para as
capacdades européias de segurança, defesa e cooperação de inteligência. Um dos
grandes problemas constitui na ameaça, percebida pelos americanos, na Alemanha
unificar a Europa com os meios de pagamento, tendo a Rússia como parceira militar,
como mostraram o exercício militar conjunto entre os pára-quedistas dos dois países.
Essa rede de satélites pode habilitar aos europeus conduzir exercícios militares no nível
de divisão. Porém, o monopólio da infraestrutura de comando, controle, comunicações
inteligência (C³I), fica a cargo da OTAN. Os americanos liberam somente uma parte
considerada essencial para a manutenção. Sabendo disso, franceses e italianos estão
apostando em projetos de satélite de vigilância e comunicação que possuem interface
com o sistema alemão. Entretanto, Inglaterra e Holanda anunciaram sua intenção e
participar do programa de melhorias dos satélites americanos da frequência EHF, que
permitem uma comunicação segura. Apesar dos governos europeus adotarem uma
postura tímida em relação do uso militar de plataformas civis, comparativamente, na
Rússia é impossível fazê-lo. Resposta a desastres naturais, missões humanitárias, guarda
costeira e polícia de fronteira precisam de uma estrutura militarizada. O sistema de
posicionamento Galileo pode criar a interface civil e militar, mesmo sendo criado,
inicialmente, para a comercialização dos dados. A razão reside no alto custo das
plataformas que necessitam possuir mais de um uso e no risco político de incentivar a
militarização do espaço. Os Estados Unidos fazem a utilização de plataformas espaciais
para uso civil e militar.
As novas tecnologias suscitam um debate sobre os novos riscos e
vulnerabilidades. No ambiente de uma infra-estrutura interligada que envia dados a todo o
globo terrestre, utilizando satélites como retransmissores, a vulnerabilidade aumenta de
forma significativa. Os norte-americanos estão apreensivos com um ataque preventivo
nas suas plataformas espacias, principalmente, depois do relatório da Comissão
Rumsfeld de janeiro de 2001. O paradoxo é que a possibilidade de um desarme
93
preventivo estadunidense a russos e chineses suscita o mesmo se o espaço for
militarizado.
IV.2 - O advento das armas de energia direta
O advento das armas de energia direta (lasers e microondas de alta potência)
tende a produzir efeitos de alcance estratégico no sistema internacional contemporâneo.
Mais do que uma inovação tecnológica pontual, o surgimento deste novo tipo de arma se
dá em um contexto de três macro-transformações que caracterizam nossa época: a
transição da matriz energética (superação dos combustíveis fósseis), a transição
demográfica (na escala de bilhões) e uma transição tecnológica (digitalização e indústria
do conhecimento). Assim como estas transições produzirão resultados profundos, porém
ainda incertos do ponto de vista ecológico, econômico, político e institucional (vide os
processos de integração regional em curso), as novas armas estratégicas também
tendem a alterar a distribuição de poder no sistema internacional, mesmo que a direção
desta transformação ainda seja controversa.
A razão mais precisa para a reação russa foi apresentada por Alexandr Jramchijin
(2007), analista da agência de notícias RIA Novosti. O autor afirma que as baterias a
serem instaladas na Polônia de fato não constituiriam uma ameaça grave às forças
nucleares russas. O maior problema seria a estação de radar em território tcheco, pois ela
poderia monitorar o espaço aéreo russo até Moscou. Cedo ou tarde, raciocina Jramchijin,
esta vigilância seria acompanhada dos meios bélicos que permitiriam aos americanos tirar
proveito da nova vantagem informacional. Antecipando esta possibilidade, o analista da
Ria Novosti considera muito provável o desencadeamento de uma nova corrida
armamentista. Se isso acontecer nos termos em que se deu a busca pela paridade
estratégica durante a Guerra Fria, no limite, a Rússia tenderá ao colapso enquanto projeto
estatal, e a obtenção da primazia nuclear pelos Estados Unidos seria alcançada no início
deste século.
Dessa forma, devido aos custos proibitivos de uma nova corrida armamentista
nuclear, a resposta mais provável da Rússia à uma tentativa mais definitiva dos Estados
Unidos em obterem a primazia nuclear seria de tipo assimétrico, empregando meios
nucleares e convencionais, militares e econômicos, para fazer frente à NMD norte-
americana.
Tais meios incluem armas de alta tecnologia, capazes de usar estrategicamente o
espectro eletromagnético, às quais a Rússia só teve acesso depois do colapso do sistema
94
soviético, quando suas empresas de tecnologia passaram a se integrar ao capitalismo e
se fizeram presentes em pólos de alta densidade tecnológica, como o Vale do Silício na
Califórnia. Na verdade, tanto as forças armadas da Rússia quanto as da China passaram,
recentemente, a empregar tecnologias digitais anteriormente disponíveis apenas para os
Estados Unidos, as quais tiveram um impacto decisivo na vitória americana na Guerra
Fria.
Os sistemas mais importantes que caracterizam essa fronteira digital da tecnologia
bélica são as chamadas armas de energia direcionada ou direta (Directed Energy
Weapons DEW). Esta é uma designação genérica para vários tipos de armas que
utilizam partes do espectro eletromagnético (sobretudo comprimentos de onda na faixa
dos lasers e das microondas) para fins militares diretamente ligados ao uso da força,
direcionando energia com potências muito mais altas do que as potências aplicadas em
usos domésticos ou mesmo industriais (Beason, 2005, 21-29).
Os russos incorporaram aos seus arsenais, desde o começo da década,
sistemas de armas de microondas de alta potência (High Power Microwave - HPM), tanto
na esfera tática, com o sistema Ranets-e de alcance até 15 km, quanto na esfera das
operações, com o sistema Rosa-e, o qual tem alcance de até 500 km. Segundo jornalistas
especializados na indústria bélica e fontes da própria empresa exportadora, os novos
sistemas de armas são capazes de destruir circuitos integrados e chips de radares,
mísseis cruzadores ou aeronaves (Rosoboronexport, 2001; Stratmag, 2001).
Dois eventos indicam que estas armas de energia direcionada também tendem a
ter um papel destacado na esfera da estratégia: o teste de uma arma chinesa anti-satélite
(Anti-Satelllite Weapon ASAT) em janeiro de 2007, com claras implicações antimísseis,
e também relatos de que em setembro de 2006 a China havia testado lasers de alta
potência para tentar cegar satélites de vigilância e reconhecimento dos Estados Unidos
(Stokes, 1999).
Portanto, a reação diplomática russa em 2007 dificilmente corresponde apenas ao
que parte da mídia caracterizou como uma manobra de Putin para vencer as eleições
para a Duma e preparar sua sucessão em 2008. Os fundamentos desta reação residem
sim na disputa em torno da possibilidade ou não de que os Estados Unidos obtenham
primazia nuclear e constituam uma distribuição unipolar de capacidades no sistema
internacional ao longo das próximas décadas.
A evolução do controle de armas nucleares e os regimes associados a estes
controles pareciam resumir a agenda de pesquisa herdada dos debates sobre dissuasão
95
nuclear nos anos 1990 (Marzo e Almeida, 2006). Um desdobramento importante da
discussão sobre a desejabilidade ou não da proliferação horizontal controlada foi a do
papel dissuasor das armas químicas e biológicas (WMD) em relação aos arsenais
nucleares das grandes potências (Sagan e Waltz, 1995; Lavoy, Sagan e Wirtz, 2000;
Rajain, 2005).
Porém, o desenvolvimento da defesa nacional antimíssil dos Estados Unidos
(National Missile Defense NMD), bem como o desenvolvimento tenso das relações
políticas e militares entre este país, China e Rússia, são eventos ainda recentes que
colocaram na ordem do dia, novamente, a reflexão sobre as condições de possibilidade
da dissuasão. Uma dissuasão baseada em forças nucleares estratégicas
simultaneamente protegidas (hardened) e dispersas (mobile) o suficiente para tornar
crível a ameaça de punição em resposta a uma agressão.
Como na Guerra Fria, no começo do século XXI esta capacidade de resposta
continua sendo possibilitada por uma tríade operacional formada por ICBMs, SLBMs e
bombardeiros estratégicos. Entretanto, a digitalização, a emergências das armas de
energia direta, os sistemas de guiagem, controle, comunicações, tudo isso não poderia
deixar de suscitar perguntas sobre o lugar desta nova classe de armas no contexto
daquilo que alguns chamam de Revolução nos Assuntos Militares (RMA).
A literatura especializada a respeito da chamada Revolução nos Assuntos Militares
(RMA) é imensa e controversa e qualquer que seja o aspecto que se resolva utilizar como
porta de entrada para ela (e.g. tecnologias de comunicação, guerra informacional ou
armas de energia direta) tende a gerar inúmeras outras possibilidades de pesquisa para
além do tópico deste artigo.
Uma utilização mais focada da literatura sobre RMA poderia considerar os
parâmetros das diferentes das forças armadas a respeito do alcance, letalidade,
velocidade e potencial para obtenção de informações sobre alvos das armas
convencionais ao longo da história, aplicando-os para a evolução dos sistemas de armas
da guerra nuclear. Além disso, segundo Baylis et all (2006:107-110), ao invés de uma
nova tecnologia ou arma criar sozinha uma ruptura revolucionária com o passado, o que
parece indicar efetivamente a ruptura é a integração dos novos sistemas de armas em
conceitos de emprego e doutrinas operacionais para as novas armas combinadas. Diante
de ganhos transformacionais (em oposição a ganhos escalares) no alcance, letalidade,
velocidade e informações das novas armas ofensivas introduzidas ao longo dos últimos
96
séculos, as forças armadas que não se adaptaram rapidamente foram punidas no campo
de batalha com severidade crescente.
Quanto mais letais se tornaram as armas e quanto mais capazes se tornaram os
sistemas de aquisição de alvo, mais exigentes se tornaram as contramedidas de
dissuasão e de preparação para uma defesa proficiente em termos de cobertura,
desinformação, armas combinadas e fogo supressivo. Quanto mais rápidos e de maior
alcance se tornaram os sistemas de transporte e vetores de ataque, mais potencialmente
catastrófica se tornou a falha em adotar defesas em profundidade e manutenção de
grandes reservas com níveis relativamente altos de prontidão.
Os teóricos da chamada guerra de quarta geração destacam, de maneira
complementar, o papel cumprido pela comunicação e capacidade informacional em uma
eventual RMA atualmente em curso. Para Szafranski (1995), por exemplo, até o presente
houve três tipos de guerra. As guerras definidas pelas massas humanas (infantaria), as
guerras definidas pelo poder do fogo (artilharia) e as guerras decididas pela mecanização
(blindados, aeronáutica e marinha). A guerra de quarta geração seria a guerra definida
pelo uso do computador e da rede.
Entretanto, aqui a literatura de Revolução nos Assuntos Militares serve a dois
propósitos essenciais: além de apontar o papel das mudanças tecnológicas de base que
estão associadas ao peso crescente do conhecimento e da consciência no ciclo da práxis,
ela também possibilita uma análise crítica rigorosa sobre a maneira como se integram
novos sistemas de armas em projetos de força, doutrinas e tática.
Além de fornecer parâmetros para uma avaliação do potencial de ruptura
tecnológica apresentado pelas armas de energia direta em relação ao desempenho de
outros sistemas de armas convencionais e nucleares, os dois corpos de literatura (Teoria
da Dissuasão e RMA) procuram explicar como um sistema de armas qualquer chega a se
tornar uma arma-mestre. Deve-se levar em consideração que o conceito é utilizado aqui
de maneira diferente da forma que foi utilizado por Fuller (1966:235-239) para defender o
papel do tanque na guerra terrestre, ou por Seversky (1988:270-274) para advogar o
papel do avião como instrumento decisivo de vitória na Segunda Guerra Mundial.
Na verdade, assim como ocorreu com os tanques e aviões, as armas HPM e laser
(DEW) não vão abolir as armas nucleares e seus vetores ou mesmo muitos dos sistemas
de armas convencionais atualmente predominantes. Mas, e esta é a hipótese a ser
testada em pesquisas mais amplas, as DEW tendem a ser armas de dissuasão e
emprego operacional mais crível dos que as armas nucleares, pois permitem um controle
97
maior dos custos humanos da guerra. Como também têm custo econômico e barreiras
tecnológicas de acesso menores do que os arsenais termonucleares, combinadas com
outras capacidades as armas de energia direta podem vir a horizontalizar e a equalizar a
competição militar na esfera da estratégia, estabilizando uma distribuição de poder
multipolar mais equilibrada no sistema internacional.
A primazia nuclear americana, mesmo que viesse a se tornar efetiva, seria
suficiente para sustentar uma distribuição de poder unipolar. O elemento ausente nas
avaliações de autores como Presser e Lieber (2006) é que os novos sistemas de armas
de energia direta, integrados em novos conceitos de emprego e estruturas de força que
incluem alguma capacidade termonuclear de segundo ataque, restabeleceriam a
capacidade dissuasória da Rússia, China e das potências regionais e corresponderiam a
uma distribuição de poder multipolar mais equilibrada (Walling, 2000).
IV.3 - Comparações entre o laser e o HPM.
Basicamente, os raios laser e as microondas de alta potência (HPM), o luzes. A
visibilidade do laser é a diferença principal em relação ao HPM. O espectro
eletromagnético demonstra os diferentes tipos de frequências existentes.
Fig. 36 - o espectro eletromagnético.
93
A mesma luz, quando excitada a fequências acima de 10³ GHz, torna-se laser,
abaixo, HPM. Essas diferenças iniciais refletirão por toda a comparação.
94
93
Fonte: RICHARDSON, Doug. Guerra Eletrônica. Vol. I. São Paulo: Nova Cultural, 1986. p. 21-22
98
Diferença entre HPM e laser
Laser HPM
Velocidade Luz Luz
Trajetória Linha de visão Linha de visão
Alcance Quilômetros Metros
Potência Megawatts Gigawatts
Comprimento de onda Curta Longa
Onda Coerente Incoerente
Uso militar Ponto Área
Alvos Equipamentos Equipamentos eletrônicos
Letalidade Queimadura Choque
Fonte: BEASON, Doug. The E-Bomb. Cambridge: Da Capo Press, 2005. p. 57.
Tabela 4: comparação entre laser e HPM.
Uma das primeiras relações a ser estabelecidas é entre potência e frequência.
Geralmente, quanto maior a frequência necessária para a utilização de um equipamento
eletromagnético, mais potência ele vai requerer. Porém, essa potência, também, possui
relação com o alcance do armamento. A aplicabilidade do laser é a defesa de ponto
contra projéteis de trajetória balística. No entanto, a HPM foi feita na tentativa de
reprodução do pulso nuclear. Nas explosões nucleares, bilhões de watts são liberados
sem controle algum, causando efeitos nos equipamentos eletrônicos. Alguns são
reversíveis, outros não. A HPM possui a característica de liberar, em uma explosão,
Gigawatts
95
de potência em Nanosegundos
96
. Esse pulso vai de 200Mhz
97
a 3Ghz. Um
exemplo de sua aplicabilidade na esfera da tática e das operações, são as bombas MK.
84, de uso geral, lançadas de aviões e também nas JSOW.
Fig. 37 - Míssil AGM-154 JSOW
94
GHz: corresponde a frequência de bilhões de ciclos por segundo.
95
Gigawatts Bilhões de Watts.
96
Nanosegundos Corresponde a um segundo dividido por um bilhão (1x10
-9
s).
97
MegaHertz Milhões de ciclos por segundo.
99
Essas bombas são liberadas de seus aviões voando, geralmente,a uma altitude
máxima de 12,16km, quando podem alcançar até 138,9 km de alcance. Quando chegam
perto do seu alvo, a uma altitude baixa, explodem e liberam muita muita potência em
pouco tempo. Essa reação é inofensiva para os seres humanos, porém, os danos aos
equipamentos eletromaganéticos podem tornar-se irreversíveis.
Fig. 38 - funcionamento da HPM no JSOW
No centro da bomba, existe um gerador de compressão de fluxo. No momento da
detonação, o gerador comprime o fluxo dos componentes químicos existentes em um
tubo, como se a energia de uma pilha fosse liberada em muito pouco tempo. Como a
figura acima mostra, os raios liberados pertencem ao padrão incoerente de luz, ou seja,
sua capacidade de focalizar é muito baixa. Pos isso, não possuem a mesma capacidade
100
do raio laser em interceptar ou atacar alvos com precisão. A saturação de microondas em
uma área específica destrói as redes táticas de comunicação, comando e controle (C³).
Na guerra de quarta geração, onde a rede é um componente chave, a possibilidade da
destruição dos componentes eletrônicos torna, mais uma vez, plausível a elevação das
armas de energia direta como a arma-mestre do futuro.
IV.4 - Aplicação das DEW na estratégia
Carlo Kopp vislumbrava a aplicabilidade das armas de energia direta na esfera
da estratégia, como mostra o diagrama abaixo:
Fig. 39 - aplicações da HPM
101
Na esfera da estratégia, as armas de energia direta possuem um fator paralisante
no esforço de guerra inimigo. Kopp, dividiu em cinco círculos as aplicações das armas de
energia direta na esfera da estratégia.
O primeiro círculo diz respeito a aplicação das armas nas tropas em campanha,
onde o laser tático de batalha (MTHEL) pode interceptar projéteis comuns de artilharia,
influenciando na esfera da tática. E as bombas carregadas de HPM lançadas de aviões
podem destruir as redes de comunicação tática, influenciando na esfera das operações.
O segundo círculo, diz respeito à população, onde as HPMs podem paralisar o
funcionamento dos receptores domésticos de rádio e televisão, assim como inutilizar os
aparelhos celulares. O terceiro círculo mostra que o efeito sobre o transporte do país
atacada pode sofrer um grande impacto, se foram atacados suas centrais de controle. O
quarto círculo refere-se a uma paralisia financeira se for atacada sua rede bancária. O
esforço de guerra fica muito comprometido com a desorganização financeira do país. E o
último círculo é o do comando central, no que se refere a toda a rede C³ no nível nacional.
Ou seja, na esfera estratégica, a utilização das armas de energia direta pode trazer
o colapso para todo o país atacado, como se este tivesse sido alvejado por um ataque
nuclear. Porém a ameaça ou a utilização das novas armas de energia direta apresentam
um custo político infinitamente menor do que a dissuasão baseada em armas nucleares
porque as baixas, tanto de civis como de militares serão, comparativamente,
inexpressivas.
102
CONCLUSÃO
A conclusão do trabalho aponta para dificuldades muito maiores do que as
previstas por Lieber & Press (2006) para a obtenção de primazia por parte dos Estados
Unidos. Além disto, a pesquisa mostra que a própria manutenção da primazia, caso
viesse a ser alcançada, seria insustentável. Mesmo contando com um número maior de
ogivas nucleares, armamento convencional e sistemas de alerta antecipados, os Estados
Unidos devem levar em conta a resposta russa e chinesa, que foi garantida com o
comissionamento de novos mísseis.
Analisando o século XX, a dissertação mostrou que a alta tecnologia foi uma
resposta assimétrica recorrente para as ameaças. Durante a Segunda Guerra mundial, os
ingleses pesquisaram na área das comunicações e guiagem de bombardeiros e os
alemães investiram suas capacidades na pesquisa e desenvolvimento de mísseis
balísticos e de cruzeiro, além dos novos tipos de aviões, aproveitando sua capacidade
instalada de química fina.
Depois da guerra, o armamento nuclear mostrou que o mesmo padrão de resposta
assimétrica continuou. Desta vez, os soviéticos utilizaram toda a sua capacidade instalada
para lançar a sua corrida espacial. Atrás dessa manobra, estava a pesquisa e
desenvolvimento de mísseis balísticos. Os mesmos foguetes que transportariam os
aparelhos para o espaço exterior, transportariam ogivas nucleares para o ataque aos
norte-americanos.
O controle do espaço exterior começou a aumentar no final da década de sessenta
até o colapso da URSS. Os Estados Unidos começaram a diversificação da aplicabilidade
das tecnologias existentes. Surgiram vários tipos de satélites, mísseis anti-satélites,
balísticos e sistemas de alerta.
Contudo, o fim da União Soviética mudou o contexto político internacional sem que
as plataformas de armamentos tivessem sido alteradas radicalmente até o
aprofundamento da digitalização nesta década. Paradoxalmente, o artigo de Lieber e
Press (2006) contribuiu para despertar a preocupação com o armamento nuclear e a
primazia dos Estados Unidos não apenas entre as elites russas e chinesas, mas mesmo
entre a comunidade científica e os cidadãos de todos os países.
À época do fim da Guerra Fria, o debate sobre o exterminismo tomou conta das
redes de notícia. O medo de um catastrofismo era o tema central da mídia. Com o
colapso da União Soviética e série de Tratados de Controle de Armamentos, o
103
armamento nuclear parecia fadado ao olvido da história. Não obstante, os russos
herdaram ogivas e mísseis da URSS, Índia e Paquistão tornaram-se potências nucleares
reconhecidas, os Estados Unidos lançaram a Defesa Nacional Antimísseis (NMD) e novas
tecnologias na Rússia e na China recolocaram o debate sobre as armas estratégicas no
centro da reflexão sobre a distribuição do poder no sistema internacional novamente.
A dissertação mostrou que o impacto da digitalização na esfera da estratégia torna
a multipolaridade irreversível pelo fato de que os novos mísseis, russos e chineses,
garantem uma capacidade dissuasória capaz de impedir os Estados Unidos de
conquistarem a primazia nuclear e mantê-la. As simulações dos cálculos dos novos
impactos nas cidades americanas como New York e Los Angeles mostrou a garantia da
resposta sino-russa a um ataque preemptivo estadunidense.
As primeiras simulações, do ataque a Los Angeles com um míssil DF-5A chinês de
4Mt, são baseadas nos cálculo de Kristensen e Norris (2006). A originalidade desta
dissertação reside em parte na simulação de um ataque chinês com míssil DF-31A, de
cinco ogivas de 90kt, contra a cidade de New York, demonstrando claramente o impacto
da digitalização na esfera nuclear. Apesar do rendimento ser aparentemente muito menor,
a capacidade MIRV do DF-31A e seu alcance podem destruir a cidade de New York e
produzir um colapso financeiro mundial. Outra dimensão das simulações consiste no
rompimento da idéia do catastrofismo prevalente na década de 1980, onde explosões
nucleares estratégicas trariam o fim da civilização.
Além disto, a dissertação também discutiu as novas armas de energia direta e sua
possível aplicação na esfera da tática e da estratégia. As armas baseadas em raios laser
e microondas de alta potência tendem a modificar novamente o fazer a guerra nas
próximas décadas. A horizontalização da capacidade dissuasória proporcionada pela
composição de forças convencionais e armas de energia direta trouxe a perspectiva do
acesso às armas estratégicas por parte de nações que não possuam ou queiram possuir
armas nucleares, químicas e bacteriológicas.
A maioria dos países não possui capacidades instaladas de siderurgia, química e
tecnologia de comunicações para a construções de mísseis balísticos, mesmo tendo
acesso à tecnologia nuclear para uso militar. Um exemplo é a Coréia do Norte, cuja
ameaça de seus mísseis ao Japão jamais foi crível do ponto de vista militar, sendo um
instrumento de pressão diplomática bastante contra-producente.
A utilização de novas tecnologias apresenta tendências de acordo com a
capacidade dos países. Por exemplo, enquanto o Irã pode utilizar as novas armas para se
104
defender de invasões, os Estados Unidos podem comissionar armas de energia direta em
plataformas espaciais, como estações espaciais artilhadas, aproveitando as pesquisas da
tecnologia existente.
Portanto, não se trata de afirmar que o futuro da distribuição de poder no sistema
internacional apresenta um contorno inequívoco e pré-determinado, mas sim de
demonstrar que a multipolaridade neste momento histórico tornou-se irreversível na
medida em que a digitalização diminui seus custos e horizontalizou as capacidades
dissuasórias das três grandes potências analisadas neste trabalho.
105
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