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Na sala de Veranise (21 ciclo), encontrei os alunos fazendo uma atividade de ciências
através do livro didático. Na sala, todos já lêem e escrevem. A maioria já está alfabética e alguns
estão silábico-alfabéticos. Eles copiavam atentamente no caderno os exercícios do livro e
pesquisavam a resposta no próprio livro e com o colega. Usavam o dicionário para buscar o
significado das palavras desconhecidas e para conferir a forma certa de escrever algumas palavras
que tinham dúvidas. A sala, apesar de pequena, comportava bem a quantidade de alunos (18).
Veranise circulava entre as mesas dando explicações ou devolvendo a pergunta para que eles
refletissem sobre a resposta, sendo que dava atenção maior a uma dupla de alunos que não faziam a
atividade de ciências naquele momento. Faziam uma atividade de leitura com um caça-palavras de
frutas. Quando os meninos achavam as palavras solicitadas ela pedia para que as lessem e a
comparassem com a da lista. Um dos meninos lia com muita dificuldade e parecia inibido, o outro
já lia mais facilmente. Depois disso, ela recolheu a atividade e pediu para eles construíssem uma
lista com o nome das frutas que eles mais gostavam. Nesse momento, realizou boas intervenções
com os alunos fazendo-os refletir sobre as letras usadas. De vez em quando os deixava envolvidos
na atividade para atender aos outros da sala. Depois de algum tempo, Veranise me informou que os
dois garotos eram os únicos na sala que não estavam conseguindo acompanhar o ritmo. O primeiro
não freqüentava a escola desde abril. A mãe havia dito que iria transferí-lo para outra escola, mas
não o fez. O outro aluno ela informou desconsolada que era mais um dos casos de crianças mal-
cuidadas e com problemas de ajuste social.
Senti que os alunos, apesar de concentrados, estavam achando cansativo realizar aquela
atividade. Suponho que um dos problemas é que não estava explícito para eles a funcionalidade
daqueles conteúdos tão abstratos para eles: microorganismos (bactérias, fungos, protozoários e
vírus).
Encerrada as aulas, sentamos por 30 minutos para o estudo. Iniciei informando sobre o
objetivo daquela reunião e, pulando a leitura compartilhada, solicitei que Graça descrevesse a
atividade realizada, quais os objetivos, etc. conforme o roteiro da pauta (anexo 1).
A professora situou suas dificuldades no campo do relacionamento com os alunos.
Pontuou que os pais não participam da educação dos filhos, que sua sala está superlotada de alunos,
e que ela raramente consegue despertar o interesse da maioria deles. Também, apontou para a falta
de um trabalho mais atuante da coordenação pedagógica da escola.
Após o desabafo, pedi para que elas refletissem por que as atividades não estavam
despertando muito interesse nos alunos. As mesmas foram situando a falta de planejamento
sistemático e eficiente, e a necessidade de estudar mais. Em relação às atividades, reconheceram
que sentem dificuldade para por em prática a questão dos agrupamentos produtivos, pela própria
rejeição dos alunos (Graça) ou pela insegurança do como fazer, já que na sua sala quase todos são
alfabéticos e apenas alguns silábico-alfabéticos (Veranise). Também, explicaram que para deixar
um assunto atraente para os alunos era necessário manter suas características de objeto sócio-
cultural real, mas isto não estava acontecendo sempre, e reclamaram novamente da questão de
tempo para planejar e estudar.
Fiz uma retomada com elas sobre alguns desses pontos discutidos e sugeri a leitura, em
casa, dos itens 12 e 13 do texto M1U3T10 e do texto M1U4T9. O tempo havia se esgotado, pois já
estava tocando para a entrada do turno intermediário e tivemos de parar por ali. Solicitei que
sugerissem o que deveríamos estudar mais para o próximo encontro, e a resposta foi: gostaríamos
de saber mais sobre agrupamentos e sobre atividades que sejam de interesse para o aluno. Sinto-me
preocupada com a falta de estímulo das professoras, apesar de serem bastante comprometidas, e
também com o que posso fazer para ajudá-las.
Margarete Vale