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O município não dispõe de um sistema de tratamento de esgoto nem de saneamento
básico
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, isto é, todos os dejetos das fábricas, que contêm produtos químicos, como cloro,
tinta e outras substâncias, escoam livremente pelas ruas e vão diretamente para o rio.
Estudos, como os de Faustino (2002), revelam que mais de 100 toneladas de cloro são
jogadas nas ruas todos os meses. Ademais, metais pesados, como o mercúrio já foram
identificados na água do rio, o que pode provocar altos índices de doenças, como o câncer,
tendo em vista que o tratamento dágua do município é precário e não detém esses metais.
Outro fator agravante, nesse contexto, é a utilização da força de trabalho infantil
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na indústria, em Jardim de Piranhas/RN. Essa exploração, muito comum, no município,
compromete o ingresso e a permanência das crianças na escola, facilitando o acesso ao
consumo de drogas. Essa realidade outorgou ao município o status de maior explorador da
mão-de-obra infantil do Estado do Rio Grande do Norte (JORNAL DO CRESS, 1996).
Nos anos de 1990, essa problemática
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foi coibida pela atuação do Ministério do
Trabalho. Em 1998, após inúmeras visitas de fiscalização e orientação, a DRT desenvolveu
um Projeto denominado de Empregador legal, trabalhador cidadão
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. Com relação à
erradicação do trabalho infantil, além das fiscalizações junto às fábricas, por meio da DRT,
o município foi contemplado, em 1998, com o Programa Jardim Esperança, objetivando
atender às crianças que trabalhavam nas fábricas de Jardim de Piranhas. Conforme Campos
(2001, p. 175), esse Programa foi:
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O sistema de tratamento d’água, em Jardim de Piranhas/RN, funciona nas mesmas condições de quando foi
inaugurado, em 1970, isto é, sem quaisquer adaptações para combater os poluentes desses esgotos e dos
dejetos tóxicos da indústria têxtil.
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O trabalho infantil, em Jardim de Piranhas/RN foi tema de uma tese de Doutorado intitulada de a Pobreza
e trabalho infantil no capitalismo, de autoria de Campos (2001).
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Apesar da oferta de emprego e do padrão de vida financeiro relativamente alto, o “progresso” da indústria
têxtil foi acompanhado do aumento de problemas, dos riscos à saúde do conjunto das famílias e dos
trabalhadores, em particular, poluição sonora, poluição do Rio Piranhas, bem como a exploração do trabalho
infantil e as implicações negativas no processo educacional do município, como os altos índices de evasão e
reprovação escolar. Dentre os problemas de saúde, destacam-se os respiratórios. O fato de que as fábricas
funcionam dentro do perímetro urbano, ou seja, vizinhas ou próximas às residências. O pêlo expelido pelo
algodão espalha-se por todas as casas, provocando patologias como alergias, sinusites crônicas, dentre outras.
Os estudos de Faustino (2002) ressaltam que as crianças são as mais afetadas e que “[...] 4,18% das mortes
em Jardim de Piranhas, nos últimos dez anos, teve como causa principal, esse tipo de doença” (FAUSTINO,
2002, p. 07).
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Por meio da DRT/NUCA, várias entidades foram envolvidas nesse processo de conscientização e
regularização do setor têxtil do referido município, sobretudo da exploração do trabalho infantil. Dentre elas,
destacaram-se, a Justiça da Comarca de Jardim de Piranhas, a FUNDAC, o SEBRAE, a FIERN, o SENAI, o
SESI, a UFRN e o UNICEF. A regularização e a organização do setor têxtil tem demonstrado sinais positivos
nos últimos anos, como a formalização de várias indústrias e da situação dos trabalhadores. Quanto às
condições de segurança e saúde, os embates e os desafios continuam.