127
cara, ainda chegava esse outro comprando os produtos que o seringalista não se
interessava. Porque o seringalista aviava o seringueiro para a produção de
borracha. Agora, couros e peles e outros produtos o seringalista não se
interessava. Então, os caras tinham que vender para alguém. O que eles faziam:
vendiam esses couros e peles, vendiam sorva, balata e outras coisas que eles
tiravam paralelamente, para esses camaradas que eram os regatões. Trocavam
por querosene, por leite, por açúcar, sal – esses produtos de primeira
necessidade que o homem tem e que não se encontra em nenhum interior (...).
Ah, eu me queimei! Proibi a entrada do regatão no rio. Porque a primeira vez
que eu encontrei com ele, ele vinha abarrotado de produto. (...) Inclusive com o
barco cheio de quelônios (...) Tudo quanto é bicho ele vinha trazendo (...).
Rapaz, aquilo me deixou numa tristeza, numa agonia. (...) Eu disse, ‘Eu acabo
com essa figura’. (...) Ora, então isso é um Parque ou uma área de exploração?
(...) Então nós proibimos a entrada do regatão. Com a proibição do regatão,
todo o pessoal se melindrou. Então, o que eles fizeram? Tinham que descer o
rio e ir comprar suas necessidades na cidade de Novo Airão, que era o lugar
mais perto que eles tinha pra comprar. E isso gerou, na população um mal estar
para comigo. (Vivaldo Campell de Araújo, 65, Pça 14 de Janeiro, Manaus,
02.08.1999) (idem, p. 402-403).
Assim, Barreto Filho considera a atuação do IBDF – via técnico Vivaldo – sobre as
relações preexistentes na região onde foi estabelecido o PNJ:
Foi com essa determinação, esse sentido de propósito e de responsabilidade,
essa pertinácia, olhando para o Jaú como se ele sempre tivesse sido um Parque
– unidade destacada da paisagem inclusiva – e para as pessoas que lá residiam
como intrusos, invasores e criminosos – invertendo a cronologia dos fatos –,
que Vivaldo administrou o PNJ por sete anos. (...) Não obstante, foi a partir de,
fundamentalmente, de ações repressivas que a existência do Parque chegou ao
conhecimento da maioria das pessoas que lá residiam (ibidem, p. 403).
A partir de 1989, o IBDF, submetido ao Ministério da Agricultura, e o SEMA (Secretaria
do Meio Ambiente), ligado ao Ministério do Interior, fundiram-se para a criação do IBAMA,
atrelado, agora, ao Ministério do Meio Ambiente. Apesar da reforma administrativa, o IBAMA
parece não ter se desvinculado totalmente da postura restritiva/repressora típica do extinto IBDF.
A interpretação dos técnicos da FVA sobre a dinâmica interna do órgão é digna de nota.
O fato do IBAMA resultar da acomodação administrativa de órgãos
governamentais que tiveram origens, trajetórias, formas de atuação e
prerrogativas distintas na gestão da natureza e na modulação do espaço