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Viveu outrora em Gênova um jovem bem-nascido e de boa
fortuna, denominado Cíntio, ao qual, tendo perdido pai e
mãe, restara uma única irmã, dotada de muita beleza e
honrados costumes. Deu-se que o irmão (cujo único desejo
era o de bem desposá-la) fizesse amizade com um certo
Capitão, cujo único desejo era o de ter a citada irmã por
esposa; percebendo isto, o irmão foi ter uma conversa
íntima com a irmã, a qual também mostrou desejo afim ao
do Capitão.
Assim, contraído entre os dois matrimônios de fé e de
palavra, deu-se que o citado Capitão, devido a
importantíssimos negócios, necessitou mudar-se para
Nápoles, não sem antes prometer estar de volta muito em
breve e casar-se com Isabella, pois que este era o nome da
jovem.
No entanto, sua permanência em Nápoles pelo tempo de
três anos, e seu esquecimento da promessa feita, levou o
irmão a tomar a decisão de casar novamente, e com melhor
partido, a irmã. A qual, percebendo o que ele pretendia,
abertamente disse já não querer um marido. Diante da
constante pressão do irmão, planejou deixar a pátria e, em
trajes de criada, levando um criado seu, mudou-se para
Roma, onde ouvira estar o Capitão, que mais uma vez e
com outra mulher, casar-se pretendia. Atuando seu plano,
foi a Roma, com a única intenção de censurar o Capitão
pela falta para com a palavra dada. Uma vez encontrado,
desabafa-se com ele e depois, devido a vários
acontecimentos, torna-se mulher de outra pessoa, com
satisfação do próprio irmão (SCALA, 2003, p. 86).
Vale ressaltar a importância da estrutura de uma peça da
Commedia dell’Arte que era dividida em três atos; rompendo assim,
com a estrutura tradicional da comédia clássica que dividia uma peça
em cinco atos dentro dos cânones aristotélico
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. Pioneira na divisão da
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A peça teatral, segundo o modelo aristotélico, estava dividida nas seguintes partes: prólogo,
episódio, êxodo, canto coral, distinguindo-se neste o párodo e o estásimo, os cantos dos atores e
os comos, peculiares em algumas peças trágicas (ARISTÓTELES, 1997).