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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
A LEITURA NAS CLASSES POPULARES:
UMA INVESTIGAÇÃO NA 5ª SÉRIE
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Tatiana Anflor
Dr. Vera Teixeira de Aguiar
Orientadora
Porto Alegre
2006
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
A LEITURA NAS CLASSES POPULARES:
UMA INVESTIGAÇÃO NA 5ª SÉRIE
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Tatiana Anflor
Dr. Vera Teixeira de Aguiar
Orientadora
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Letras, na área de concentração de Teoria da Literatura
Data da defesa: 05/01/2007
Instituição depositária:
Biblioteca Central Irmão José Otão
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, dezembro de 2006
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Aos meus sobrinhos, Andressa, Aléxia e Patricky, pelo tempo
de convívio roubado, utilizado na execução deste trabalho.
À minha mãe, pelo incentivo
sempre vindo nas horas certas.
À memória de meu pai, em cujo colo descobri o
encantamento de ouvir histórias.
4
Agradeço
aos alunos da turma 52 da Escola Visconde do Rio Grande, pela atenção
durante a entrevista que compõe esse trabalho;
à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior, a CAPES, pela
bolsa concedida, sem a qual esse trabalho não teria sido possível;
à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, pela acolhida; aos profes-
sores do Programa de Pós-Graduação em Letras, que sempre foram além das
expectativas; aos colegas, pela convivência sempre tão enriquecedora;
aos companheiros do CLIC, pelo espírito de parceria; aos funcionários, pelo apoio
necessário ao bom andamento dos trabalhos e, especialmente,
à Mara e à Isabel, por sempre estarem dispostas a ajudar quando necessário;
à minha orientadora, Vera Teixeira de Aguiar, pela ajuda e
dedicação que facilitaram essa caminhada;
às minhas irmãs Nadiejna, pelo incentivo constante, e Marli, pela confiança e
ajuda; à minha dinda, onde estiver, por sempre ter acreditado em mim.
5
Ele é, desde o começo, o bom leitor que continuará
a ser se os adultos que o circundam alimentarem seu entusias-
mo em lugar de pôr à prova sua competência, estimularem
seu desejo de aprender, antes de lhe impor o dever de recitar,
acompanharem seus esforços, sem se contentar de
esperar na virada, consentirem em perder noites, em lugar de
procurar ganhar tempo, fizerem vibrar o presente, sem brandir
a ameaça do futuro, se recusarem a transformar em
obrigação aquilo que era prazer, entretendo esse prazer até que
ele se faça um dever, fundindo esse dever
na gratuidade de toda aprendizagem cultural, e fazendo com
que encontrem eles mesmos o prazer nessa gratuidade.
Daniel Pennac
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RESUMO
Esta dissertação apresenta um estudo constituído de uma parte teórica
e de uma prática que traça o perfil leitor de alunos da 5ª série do Ensino
Fundamental, pertencentes a classes populares. A primeira parte diz respeito
ao referencial teórico, que abrange conhecimentos referentes à sociologia da
leitura, à teoria da literatura e à pedagogia; a segunda é composta por uma
entrevista com alunos de 5ª série e, após, pela análise das respostas obtidas
com base nas teorias utilizadas como pressupostos do estudo. Os resultados
alcançados permitem que constatemos a importância de um empenho no
sentido de proporcionar experiências que levem nossas crianças a escrever
a sua própria história de leitura, transformando o quadro constatado de
pouco convívio das classes populares com as obras literárias.
Palavras-chave: interesses de leitura, leitura e classes sociais, leitura e
escola
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RESUMEN
Este ensayo presenta un estudio diagnóstico compuesto de una parte
teórica y de una practica que traza el perfil lector de alumnos de la 5ª serie
de la Instrucción Fundamental, pertenecientes a las clases populares. La
primera parte es basada en estudios que comprenden la sociología de la
lectura, la teoría de la lectura y la pedagogía; la segunda es compuesta por
una entrevista con alumnos de la 5ª serie y, después, por el análisis de las
respuestas obtenidas con base en las teorías utilizadas como presupuestos
del estudio. Los resultados alcanzados permiten la constactación de la
importancia del empeño en el sentido de proporcionar experiencias que
lleven nuestros niños a escribir su propia historia de lectura, cambinado el
cuadro constatado de poca familiaridad de las clases populares con las obras
de la literatura.
Palabras-llave: interés de lectura, lectura y clases sociales, lectura y escuela
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................10
1 SOBRE A LEITURA.................................................................................................14
1.1 Ato de ler .............................................................................................................14
1.2 Leitura e sociedade..................................................................................................29
1.3 Histórias de leitura ..................................................................................................41
1.4 Interesses de leitura.................................................................................................59
1.5 Escola e leitura literária...........................................................................................64
1.6 Uma experiência de formação leitora nas classes populares ..................................67
2 SOBRE A PESQUISA...............................................................................................72
2.1 Tipo de pesquisa......................................................................................................72
2.2 Universo e corpus ...................................................................................................74
2.3 Instrumento de pesquisa..........................................................................................75
2.4 Processo de pesquisa...............................................................................................76
3 SOBRE OS DADOS LEVANTADOS ......................................................................78
3.1 Histórias de leitura ..................................................................................................79
3.2 Interesses de leitura.................................................................................................83
3.3 Comportamentos de leitor.......................................................................................87
9
4 SOBRE OS LEITORES.............................................................................................91
4.1 Perfil dos leitores.....................................................................................................91
4.2 Imagens de leitura ..................................................................................................103
4.3 Papel da escola .......................................................................................................110
CONCLUSÃO ............................................................................................................117
REFERÊNCIAS...........................................................................................................123
APÊNCIDE: Roteiro da entrevista...............................................................................127
ANEXO: Respostas dos alunos....................................................................................129
10
INTRODUÇÃO
Muito ouvimos sobre a importância do ato de ler, entretanto, ainda são pou-
cas as ações nesse sentido, ficando aquém das necessidades, sobretudo quando os
leitores em questão são indivíduos que pertencem a camadas menos favorecidas da
população. Optamos por um enfoque sociológico para esse trabalho porque acredi-
tamos que a leitura é, entre outras coisas, um ato social que tanto pode ser instru-
mento de opressão, quanto de libertação; de opressão porque, ao ser privado do
contato com o universo da leitura, o ser torna-se vítima da tirania de sua própria
falta de preparo, vivendo em uma sociedade na qual a educação e o acúmulo de
conhecimentos são elementos de superioridade e de demonstração de poder. Entre-
tanto, a leitura pode servir como fator de libertação, se houver um empenho no sen-
tido de aproximar os indivíduos pertencentes às camadas mais baixas da sociedade
dessa cultura, com a qual eles não têm familiaridade.
É importante que deixemos claro que, por falarmos em dominadores e domi-
nados, não pretendemos transformar o debate acerca da leitura em uma discussão
maniqueísta, segundo a qual o mundo se divide somente entre essas duas categori-
as. Embora essas expressões sejam utilizadas no decorrer da dissertação, sabemos
que a situação é bem mais complexa do que isso. Ao optarmos por um
11
determinado enfoque, tivemos de abrir mão de outros. Acreditamos na relevância
de falarmos em termos de dominadores e dominados, não pela clássica visão mar-
xista que divide a sociedade entre capitalistas e proletários, visão essa que, embora
possua o seu valor, o deixa de ser maniqueísta, mas principalmente porque cre-
mos que possa haver dominação em lugares onde menos esperamos. Podemos e-
xemplificar dizendo que alguém que pretenda “tirar vantagem” de alguma situação,
ludibriando outra pessoa, poderá aproveitar-se justamente daquele que tiver menos
“poder” de fazer um juízo crítico da situação, ou seja, de “ler” satisfatoriamente a
realidade, configurando, assim, uma relação entre alguém que domina e alguém que
é dominado.
Após os esclarecimentos iniciais, cabe-nos falar sobre o desenvolvimento do
trabalho propriamente dito. Trata-se de uma pesquisa que pretende desenvolver um
estudo diagnóstico constituído de uma parte teórica e de uma prática. O tema pes-
quisado é a leitura, através de um estudo de campo sobre o perfil de leitores dos
alunos da série, pertencentes a classes populares. Para isso, investigamos a situa-
ção desses jovens quanto às suas histórias e interesses de leitura, bem como dos
comportamentos de leitor. A coleta de dados ocorre por meio de um roteiro de per-
guntas que é aplicado nos alunos através de uma entrevista. Sabemos que a leitura
não pode ser abordada somente pelo ponto de vista social e que o fator econômico
não é o único que determina a sua falta. Entretanto, escolhemos essa abordagem por
entendermos que seria mais próxima da nossa realidade profissional e, portanto, a
12
mais produtiva, já que realizamos, durante algum tempo, trabalho com oficinas lite-
rárias em comunidades carentes.
Nosso trabalho estrutura-se em quatro capítulos, sendo o primeiro, intitulado
“Sobre a leitura”, referente aos pressupostos teóricos que servem de base para a
análise dos dados obtidos. Esse momento inicial subdivide-se em seis partes que
dão uma visão geral da leitura dentro do que interessa à pesquisa. Inicialmente são
abordadas questões relativas ao ato de ler, com o objetivo de refletir sobre essa a-
ção. Em seguida, passamos a uma abordagem social da leitura, que visa situar o
lugar ocupado pelos indivíduos de classes socioeconômicas menos favorecidas nes-
se contexto. Logo após, analisamos a importância das histórias de leitura na forma-
ção do sujeito, utilizando-nos, para isso, de uma tese de doutorado que trata do as-
sunto, bem como de depoimentos de autores e de personagens de obras literárias,
sobre a importância da leitura no desenvolvimento pleno dos indivíduos, tratando,
logo em seguida, da questão dos interesses de leitura. Na seqüência, abordamos a
leitura literária na escola, mostrando um pouco da trajetória da literatura infantil em
nosso País e sua relação com o ensino. Finalmente, apresentamos uma experiência
de inclusão leitora realizada em uma vila de Porto Alegre, com a intenção de mos-
trar que alternativas de saída para resolver a falta de leitura nas classes popula-
res.
O segundo capítulo, “Sobre a pesquisa”, trata de esclarecer acerca da metodo-
logia utilizada no trabalho, mostrando o tipo de pesquisa, o universo e o corpus
analisado, falando sobre o instrumento de pesquisa, assim como de seu processo de
13
execução. Pretendemos, com essas informações, instruir sobre a forma pela qual
são conduzidas as investigações e como utilizamos as questões tratadas até então.
Os dados obtidos são descritos no capítulo terceiro, cujo título é “Sobre os dados
levantados”, sendo organizadas as informações colhidas entre histórias de leitura,
interesses de leitura e comportamentos de leitor. Esses dois momentos intermediá-
rios do relato da pesquisa tratam de descrições que intentam apenas facilitar a com-
preensão da metodologia utilizada e dar a conhecer a voz dos entrevistados.
Finalmente, o quarto capítulo, “Sobre os leitores”, conta de analisar os da-
dos descritos no momento anterior do trabalho, sendo dividido em três partes. Na
primeira traçamos o perfil dos leitores investigados; na segunda, analisamos as i-
magens de leitura das crianças; e, para concluir, abordamos o papel da escola na
formação leitora dos alunos entrevistados. Após tudo isso, concluímos sobre as ve-
rificações feitas ao analisarmos os dados levantados, finalizando, assim, a pesquisa.
O roteiro da entrevista poderá ser consultado no apêndice e, em anexo, encontram-
se as respostas dos alunos. Partiremos, então, para o início do trabalho.
14
1 SOBRE A LEITURA
1.1 Ato de ler
A questão da leitura vem sendo discutida e encarada, ao longo dos séculos, de
diferentes formas. Platão (428-347 a.C.), em seu célebre diálogo Fedro, mostra-nos
uma forma negativa de encarar essa atividade, através de um mito contado por Só-
crates a seu interlocutor, personagem que dá título ao texto:
Bem, ouvi dizer que na região de Náucratis, no Egito, houve um dos
velhos deuses daquele país, um deus a que também é consagrada a ave chamada
íbis. Quanto ao deus, pom, chamava-se Thoth. Foi ele que inventou os números e o
cálculo, a geometria e a astronomia, o jogo de damas e os dados, e também a
escrita. Naquele tempo governava todo o Egito, Tamuz, que residia no sul do
país, na grande cidade que os egípcios chamam Tebas do Egito, e a esse deus
davam o nome de Amon . Thoth foi ter com ele e mostrou-lhe as suas artes,
dizendo que elas deviam ser ensinadas aos egípcios. Mas o outro quis saber a
utilidade de cada uma, e enquanto o inventor explicava, ele censurava ou
elogiava, conforme essas artes lhe pareciam boas ou más. Dizem que Tamuz fez
a Thoth diversas exposições sobre cada arte, condenações ou louvores cuja
menção seria por demais extensa. Quando chegaram à escrita, disse Thoth: “Esta
arte, caro rei, tornará os egípcios mais sábios e lhes fortalecerá a memória;
portanto, com a escrita inventei um grande auxiliar para a memória e a
sabedoria.” Responde Tamuz: “Grande artista Thoth! Não é a mesma coisa
inventar uma arte e julgar da utilidade ou prejuízo que advirá aos que a
exercerem. Tu, como pai da escrita, esperas dela com o teu entusiasmo
precisamente o contrário do que ela pode fazer. Tal coisa tornará os homens
esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando apenas nos livros
escritos, se lembrarão de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e
não em si mesmos. Logo, tu não inventaste um auxiliar para a memória, mas
apenas para a recordão. Transmites aos teus alunos uma aparência de
sabedoria, e não a verdade, pois eles recebem muitas informões sem instrão e
15
se consideram homens de grande saber, embora sejam ignorantes na maior parte
dos assuntos. Em conseqüência, serão desagradáveis companheiros, tornar-se-ão
sábios imaginários ao invés de verdadeiros sábios.” (PLATÃO, 2005, p. 118-119)
Em A república (2002), esse pensador fala da literatura, assim como de todos
os gêneros artísticos, como algo condenável por seu caráter enganador, estando a
três passos da realidade, que a arte copia aquilo que é a imitação do mundo das
idéias. Platão rejeita a arte poética por acreditar que esse tipo de obra leve à destru-
ição da inteligência do indivíduo, pois a poesia não revela as coisas como são, mas,
como num espelho, mostra somente a aparência. Entretanto, a arte, e a literatura por
extensão, são aceitáveis para esse pensador quando possuírem um enfoque educati-
vo, transmitindo valores nobres àqueles que a apreciam.
Arthur Schopenhauer também via o ato de ler com certa desconfiança, o que
ficou demonstrado em sua obra Sobre livros e leitura:
Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo
mental. Trata-se de um caso semelhante ao do aluno que, ao aprender a
escrever, traça com a pena as linhas que o professor fez com o lápis. Portanto, o
trabalho de pensar nos é, em grande parte, negado quando lemos. Daí o alívio
que sentimos quando passamos da ocupação com nossos próprios pensamentos
à leitura. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de
pensamentos alheios. Quando estes, finalmente, se retiram, que resta? Daí se
segue que aquele que muito e quase o dia inteiro, e que nos intervalos se
entretém com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de
pensar por conta própria, como quem sempre anda a cavalo acaba esquecendo
como se anda a pé. Este, no entanto, é o caso de muitos eruditos: leram até ficar
estúpidos (…). (SCHOPENHAUER, 1993, p. 17)
Entretanto, mais adiante no texto, o filósofo apresenta-nos a possibilidade da-
quilo a que ele chamou de “ruminação” como uma forma de leitura mais crítica:
16
(…) e só com ela é que nos apropriamos do que lemos, da mesma forma
que a comida não nos
nutre pelo comer mas pela digestão. Se lemos
continuamente sem pensar depois no que foi lido, a coisa não se enraíza e a
maioria se perde. Em geral
não
acontece com a alimentão do esrito outra
coisa que com a do corpo: nem a qüinquagésima parte do que se come é
assimilado, o resto desaparece pela evaporação, pela respiração ou de outro
modo. (Idem, p. 21)
Pensando em termos mais atuais, podemos traçar um paralelo entre as idéias
desse pensador e as de alguns estudiosos contemporâneos que defendem a leitura
como uma apropriação crítica e apreensão das idéias e não simplesmente como um
aprendizado mecânico ou capitalização de conhecimentos. Ezequiel Theodoro da
Silva (1997), em sua obra Leitura e realidade brasileira, comenta a possibilidade
de a leitura transformar-se em uma atividade alienante, dizendo que “os processos
de leitura, caso desprezem o pensamento e a reflexão, podem constituir-se em me-
canismos de passividade ou voyeurismo dentro de uma sociedade alienada e alie-
nante, regida pela tecnocracia produtivista e consumista.” (p. 20) A leitura, assim
como o trabalho, pode dignificar tanto quanto pode reificar o homem, realizando-o
ou alienando-o. Ela se torna realizadora sempre que contribuir dialeticamente para
o processo de ampliação da visão de mundo do indivíduo, confrontando de forma
crítica suas experiências de vida e alargando suas possibilidades de realização pes-
soal.
Na passagem a seguir, Schopenhauer demonstra uma certa noção da impor-
tância da visão de mundo e das experiências pessoais na leitura, o que foi ampla-
mente defendido por Paulo Freire anos depois, centrando-se, contudo, no texto es-
crito:
17
Acrescente-se a tudo isso que os pensamentos postos no papel nada
mais são que pegadas de um caminhante na areia: vemos o caminho que
percorreu, mas para sabermos o que ele viu nesse caminho, precisamos usar
nossos próprios olhos. (Idem, p. 21)
Em um sentido freireano, a leitura pode ser definida, de modo mais amplo,
como um ato “que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da lin-
guagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura
do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 2005, p. 11). Ambas, a
leitura do mundo e a leitura das palavras, aprimoram-se mutuamente: quanto maior
a capacidade de compreensão do mundo, maior o entendimento dos textos e vice-
versa.
Consideramos de extrema relevância a mudança ocorrida entre as épocas em
que Platão escreveu a sua obra e, posteriormente, Schopenhauer defendeu seu ponto
de vista sobre a leitura em comparação com as idéias sobre esse tema defendidas na
atualidade. Nos dois primeiros momentos fica claro que não abrangência na vi-
são do ato de ler. Para os dois pensadores inicialmente citados, ler significa decodi-
ficar um determinado texto. Ainda que Schopenhauer mencione a necessidade de
utilizarmos “nossos próprios olhos”, sugerindo que, por meio de nossa forma de
ver, entendemos o texto, em nenhum momento refere-se a algo que sugira uma pos-
sível leitura do mundo, como ocorre com Paulo Freire, que defende a idéia de que
lemos tudo a nossa volta, ou seja, lemos o mundo. Embora para Schopenhauer a
visão de mundo ou, em suas palavras, “nossos próprios olhos”, sejam importantes
18
para a leitura que fazemos, essa acontecerá com o uso de textos, enquanto para
Paulo Freire lemos tudo que nos rodeia.
Outra mudança considerável na forma de conceber a leitura refere-se ao fato
de, hoje, ela não ser mais considerada apenas como um ato racional. Em seu livro O
que é leitura, Maria Helena Martins (1982) menciona a importância dos sentidos e
das emoções, ao lado da razão, em nossas relações com os livros. Segundo a autora,
esses aspectos remetem a questões existenciais, conduzindo o sujeito à fantasia, à
reflexão e ao conhecimento de sua própria realidade. Cabe salientar que essa reali-
dade tanto pode ser subjetiva, referindo-se a questões de ordem interior, ou seja,
questões individuais, quanto pode ser objetiva, aludindo a temas de caráter mais
social e, portanto, coletivo. Para o leitor, não importa o funcionamento do ato de ler
com o emaranhado de inter-relações que se estabelecem. Ainda assim, qualquer
leitor atento poderá perceber facilmente três níveis fundamentais de leitura: senso-
rial, emocional e racional. Cada um corresponde a uma forma de avizinhação ao
objeto lido. Entretanto, eles não acontecem separadamente, que a leitura é uma
atividade dinâmica e circunstanciada. Os veis referidos se inter-relacionam de
maneira simultânea, ainda que um ou outro seja privilegiado. Tal vantagem eventu-
al desse ou daquele vel sobre os outros se deve às experiências, às expectativas,
às necessidades e aos interesses do leitor, bem como às condições do contexto geral
em que ele se firma.
Ao relatar a sua formação leitora, em A importância do ato de ler, Paulo Frei-
re demonstra como os sentidos e a emoção antecedem a razão na leitura. Da mesma
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forma que a criança começa a perceber o mundo pelos sentidos, assim também ela
inicia sua percepção sobre o livro. Simultaneamente com a leitura sensorial do
mundo (e dos livros) vamos apreendendo o nosso entorno, também, pelas emoções,
conforme nos mostram as lembranças de Paulo Freire. Nas passagens abaixo po-
demos perceber claramente como sensações e sentimentos se entrelaçam de forma
sincrônica fazendo com que não possamos dizer qual deles é o mais importante no
ato de ler, nesse caso, o mundo:
A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato
deler” o mundo particular em que me moviae a onde não sou traído pela
meria —, me é absolutamente significativa. Neste esforço a que me vou
entregando, re-crio, e re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no
momento em que ainda o lia a palavra. (…)
Daquele contextoo do meu mundo imediato — fazia parte, por outro
lado, o universo da linguagem dos mais velhos, expressando as suas creas, os
seus gostos, os seus receios, os seus valores. Tudo isso ligado a contextos mais
amplos que o do meu mundo imediato e de cuja existência euo podia sequer
suspeitar. (…)
Os meus temores noturnos terminaram por me aguçar, nas manhãs
abertas, a percepção de um sem-número de ruídos que se perdiam na claridade
e na algazarra dos dias e que eram misteriosamente sublinhados no silêncio
fundo das noites.
Na medida, porém, em que me fui tornando íntimo do meu mundo, em
que melhor o percebia e o entendia na “leitura” que dele ia fazendo, os meus
temores iam diminuindo. (FREIRE, p. 12-13-14-15)
No primeiro parágrafo citado podemos constatar a percepção que o menino
tem da leitura que os mais velhos fazem do seu “mundo imediato”, o que contribui
para o alargamento da sua visão desse mesmo mundo. A relação entre os dois ní-
veis, sensorial e emocional, evidencia-se, nos dois últimos parágrafos citados, pelo
fato de, o então menino Paulo associar seus temores infantis com o silêncio som-
brio das noites comparado aos ruídos matinais. Com o passar do tempo e com a
20
experiência de vida adquirida pelo jovem, sua “leitura” da situação se modifica, o
que lhe propicia uma confiança maior em seu mundo e, conseqüentemente, em si
mesmo. Como podemos notar, ambos os níveis, o das emoções e o das sensações,
longe de estabelecerem uma relação de hierarquia, em que um tem maior importân-
cia do que o outro, complementam-se e aparecem simultaneamente na leitura de
mundo do garoto. O entendimento de que o processo pelo qual passamos ao lermos
um livro, por exemplo, é o mesmo percorrido ao estabelecermos as nossas impres-
sões sobre o que nos cerca, isto é, de que lemos os textos da mesma forma pela qual
lemos o mundo, fez com que mudássemos a maneira de enxergar o ato de ler.
Essa mudança no modo de encararmos a leitura, que deixa de ser vista como
algo simplesmente aprendido, vindo de fora de nós, para se tornar parte de nossa
natureza, assim como falar, pensar ou amar, e que leva em consideração a forma
interativa com a qual agimos sobre o mundo e ele sobre nós, é muito importante,
pois somente conseguiremos pensar em estratégias para formar novos leitores se
pudermos compreender como se o processo de formação leitora. Muito mais do
que simplesmente a ilusão de acumular informações sem significados mais profun-
dos, ler é vivenciar, experimentar e, nesse sentido, lemos desde que nascemos, du-
rante todo o decorrer de nossa vida. Se, por um lado, o sujeito interage com o mun-
do que o cerca, por outro, também uma interação entre leitor e objeto de leitura,
que se de tal modo que, da mesma forma que um texto sempre nos acrescenta
algo, nós também sempre “doaremos” um pouco de nós a ele, já que cada indivíduo
21
fará a sua própria leitura, acrescentando a ela um pouco de suas vivências, de seus
medos e de seus anseios.
Essa forma de enxergar o ato de ler é a base de mais uma mudança funda-
mental ocorrida nos últimos anos referente à forma de encararmos a atitude do lei-
tor, que sempre foi visto como um sujeito passivo que somente recebe da leitura,
nada acrescentando a ela. A partir de estudos de teóricos como Hans Robert Jauss e
Wolfgang Iser, o leitor passa a desempenhar a função de protagonista no ato da lei-
tura. Para Iser (1979), a obra de arte literária caracteriza-se por apresentar vazios
que são preenchidos pelo leitor, ou seja, ao escrever uma obra, o autor, com as am-
bigüidades peculiares a esse tipo de trabalho, deixa “espaços em branco” que são
completados de forma significativa pelos leitores.
Tal fato faz com que os textos possam adquirir um sentido diferente para lei-
tores diferentes. Os vazios seriam uma espécie de suspensão da coerência do texto
ou interrupção de suas articulações de seqüência. Dessa forma, a imaginação do
leitor é instigada, fazendo com que ele busque em suas vivências elementos que
possam completar esses espaços significativos, atribuindo um sentido ao texto. As-
sim, Wolfgang Iser nos fala de como interagimos com a obra literária para preen-
cher esses vazios. De acordo com essa idéia, o leitor recria o texto, atribuindo-lhe
sentidos, através de uma leitura única e pessoal, transformando-se em uma espécie
de co-autor da obra.
22
Tudo isso nos leva a concluir que a leitura é um processo de intercâmbio en-
tre leitor e autor intermediado pelo texto. Como o leitor, nesse processo, não é pas-
sivo, mas agente que busca significações, o sentido de um texto não é jamais inter-
rompido, que ele se produz nas situações dialógicas ilimitadas que constituem
suas leituras possíveis. O autor não domina sozinho o processo de recepção de seu
leitor, pois esse reconstrói o texto na sua leitura, atribuindo-lhe a sua significação.
É por isso que se pode falar em leituras possíveis e em leitor que possui uma matu-
ridade construída ao longo da intimidade com muitos e muitos textos, para quem
cada nova leitura desloca e altera o significado de tudo o que ele leu, tornando
mais profunda sua compreensão dos livros e da vida.
Dessa forma, o leitor perde o papel passivo para tornar-se um pouco respon-
sável pelo texto. Tais estudos tentam entender, pois, o efeito da obra sobre o leitor e
a sua reação durante a leitura. Ao preencher os vazios da obra, o leitor atribui-lhe
significados e, ao mesmo tempo, ao recriá-la, produz sentido para a sua existência.
Essas afirmações, certamente, reforçam a idéia, mencionada anteriormente, de que
as emoções do leitor têm grande peso no ato de ler:
a leitura provoca reações
diversas nos indivíduos(…). Mas ela obedece invariavelmente a um mesmo
percurso: o afastamento do cotidiano e o retorno a ele, estando o leitor agora
de posse de uma nova experiência, e o prepara melhor para o enfrentamento
da experiência existencial.” (ZILBERMAN,2002, p.28)
Ainda considerando a busca pelo significado e, portanto, ainda no terreno
emocional, Bruno Bettelheim, em A psicanálise dos contos de fadas (1980), de-
23
monstra a importância das histórias infantis para a formação de uma infância psico-
logicamente saudável, fazendo o mesmo com relação à adolescência no artigo “Os
livros essenciais da nossa vida”. No primeiro, o autor fala da forma pela qual a cri-
ança busca solucionar seus medos e anseios através das aventuras vividas pelas per-
sonagens dos contos de fadas. No segundo, demonstra que alguns livros, lidos du-
rante a adolescência, fase em que formamos uma identidade, têm o poder de influ-
enciar nossa visão do mundo em que vivemos e de nós mesmos, contribuindo para
as nossas realizações futuras, porque os livros que lemos fazem de nós as pessoas
que somos. Para Bettelheim, o grande desafio existencial do ser humano é encon-
trar um significado para a vida:
Se esperamos viver o cada momento, mas ter uma verdadeira
consciência de nossa exisncia, nossa maior necessidade e mais dicil
realizão se encontrar um significado em nossas vidas. É bem sabido que
muitos perderam o desejo de viver, e pararam de tentá-lo, porque tal significado
lhes escapou. Uma compreensão do significado da própria vida o é
subitamente adquirida numa certa idade, nem mesmo quando se alcaa a
maturidade psicológica. Ao contrário, a aquisão de uma compreeno segura
do que o significado da própria vida pode ou deveria ser é o que constitui a
maturidade psicogica. E esta realização é o resultado final de um longo
desenvolvimento: a cada idade buscamos e devemos ser capazes de achar
alguma quantidade módica de significado congruente com o quantonossa
mente e compreensão já se desenvolveram. (
BETTELHEIM, 1980,
p.11)
Refletindo sobre essas novas concepções de leitura, podemos perceber que a
atribuição de um significado aos textos lidos relaciona-se intimamente com o pro-
cesso de formação do leitor. Nos últimos anos, a atenção de profissionais da área da
educação e de teóricos da literatura tem seguido essa direção, resultando em pes-
quisas que têm como intuito entender os fatores que fazem com que alguns indiví-
duos sejam leitores freqüentes enquanto outros não se ocupem dessa atividade. Tais
24
investigações, em vez de centrar-se em interpretações meramente textuais, voltam-
se para o papel do leitor em sua interação com o texto. muitos estudos, alguns
de extrema relevância, que procuram compreender como “nasce” um leitor.
Diana Werkmeister, em sua tese de doutoramento (1993) busca, a partir das
histórias de leitura de cada indivíduo, explicar como ocorre o processo de formação
leitora. Em seu trabalho, a pesquisadora utiliza-se de um corpus composto de en-
trevistas com dez indivíduos que possuem o hábito de ler com freqüência. A autora
verificou que, ao contarem suas histórias de leitores, as pessoas emocionavam-se a
ponto de embargarem a voz e, até mesmo, de chorarem. Joselaine Sebem de Castro
(2004), também em tese de doutoramento, comprovou como os textos de conteúdo
emocional permanecem mais na memória do que os textos de conteúdo neutro, a-
contecendo o mesmo, num determinado texto, com trechos emocionais e trechos
neutros. Werkmeister verificou, ainda, que as experiências de leitura dos entrevis-
tados são muito parecidas entre si: “Variam os livros, mas a relação que as pessoas
desenvolviam com eles se mostrava constante” (1993). Podemos dizer que é através
desses significados encontrados no texto artístico que “escrevemos” a nossa história
de leitores. Portanto, parece-nos evidente que qualquer iniciativa no sentido de
formar leitores deve levar mais em consideração o aspecto emocional e a importân-
cia da busca por um sentido para a vida através dos livros.
variados e importantes estudos sobre a leitura no que se refere a interes-
ses, histórias e perfis de leitores considerando o contexto econômico e social dos
indivíduos. A tese de doutoramento em Educação de Esméria de Lourdes Saveli,
25
Leitura na escola: as representações e práticas de professoras, orientada por Eze-
quiel Theodoro da Silva, da Universidade de Campinas, enfoca as práticas de leitu-
ra desenvolvidas por um grupo de professoras de Educação Infantil e do Ensino
Fundamental de a 4ª série numa escola pública do município de Ponta Grossa,
Paraná. A pesquisa leva em conta o cotidiano da escola com o objetivo de analisar
como a professora compreende e trabalha a leitura, explicando o processo de a-
prendizagem com base nas situações do cotidiano escolar.
Do mesmo orientador e da mesma universidade há, ainda, a tese de Ana Al-
cídia de Araújo Moraes, Histórias de leitura em narrativa de professores: uma al-
ternativa de formação, que se baseia em três eixos temáticos: leitura, formação de
professores e narrativas de formação. O diálogo entre esses três campos temáticos
possibilitou a reunião de argumentos nos quais se apóia uma investigação que bus-
ca, junto a quatro professoras da cidade de Parintins, dar visibilidade às suas histó-
rias de leitura, procurando reconhecer as práticas e representações de leitura que as
fizeram leitoras. Também da Universidade de Campinas, a dissertação de mes-
trado de Ellen Cristina Baptistella Grotta, orientada por Sérgio Antônio da Silva
Leite, na qual, por meio de entrevistas, a autora investiga a história de vida de qua-
tro pessoas, consideradas boas leitoras.
Da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Ângela Rolla, o-
rientada por Vera Teixeira de Aguiar, traça, em sua tese de doutorado, um perfil de
professores leitores, concluindo com uma tipologia desses indivíduos, a partir das
respostas dadas a um roteiro de perguntas. A mesma professora orientou, ainda, a
dissertação As crianças contam as histórias: os horizontes dos leitores de diferentes
26
classes sociais, de Diógenes Buenos Aires de Carvalho, que teve como objetivo,
investigar o horizonte de leitura de crianças de diferentes classes sociais em contex-
to escolar, explicando as normas literárias e sociais que compõem as histórias in-
fantis. Com esse objetivo, foi realizada uma pesquisa de campo em duas escolas de
Terezina para colher dados de 24 narrativas infantis reproduzidas a partir de textos
literários lidos ou conhecidos. Os alunos pesquisados tinham entre 10 e 11 anos.
Adriano Lopes Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande Do Norte,
defendeu, orientado por Marly Amarilha, a dissertação intitulada Tudo era uma vez
no tempo em que sempre será: o contador de história na perspectiva da formação do
leitor. Nesse trabalho, o pesquisador aborda a contribuição do contador de histórias
como um mediador do processo de formação do leitor. Para isso, demonstra proce-
dimentos do ato de contar histórias desde as sociedades ágrafas até os dias atuais,
constatando que, após um declínio nessa ocupação, uma revitalização dessa ati-
vidade em salas de espetáculos e ambientes públicos, proporcionando prazer às
pessoas. A partir daí, o autor investiga as possibilidades de uso dessa estratégia pa-
ra formar leitores em sala de aula.
A dissertação A (de?)formação do leitor, de Ana Regina Gomes, orientada
por Rita de Cássia Pereira dos Santos, da Universidade de Brasília, tem como obje-
tivo geral pesquisar a forma pela qual a escola pública interfere na formação do
leitor nos três anos de Ensino Médio, através da aplicação de um questionário diri-
gido a alunos e professores no intuito de verificar o contexto socioeconômico em
que estão inseridos e, principalmente, a realidade das práticas de leitura dentro e
fora de sala de aula. Dividida em três partes, a pesquisa discute alguns conceitos
27
teóricos, caracteriza a amostra a partir dos questionários e diagnostica o aprendiza-
do de literatura/leitura no ensino médio, constatando o nível de leitura dos estudan-
tes da amostra. Dessa forma, a pesquisa investiga como acontece a (de)formação do
leitor na escola de nível médio do Distrito Federal.
Angeli Rose do Nascimento, autora da pesquisa Lição entre amigas: uma tra-
vessia de leitores (apontamentos sobre experiências de leituras), cujos orientadores
foram Leandro Konder e Maria Luiza Oswald, analisou experiências de leitura de
jovens, alunas do Ensino Médio de uma escola pública situada no Rio de Janeiro,
influenciadas, ou não, pelo ensino da Literatura, mostrando que a representação do
jovem leitor pode apresentar especificidades em relação ao que ela chama de "leitor
ideal". A pesquisa chamada A formação do gosto pela leitura literária e as histó-
rias de leitura de alunos do ensino médio do CEFET-RS, de Catarina Maite Mace-
do Barboza, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que teve
como orientadora Alice Therezinha Campos Moreira, investigou, a partir da reali-
zação de entrevistas com professores e alunos da CEFET-RS, os fatores responsá-
veis pela formação leitora dos jovens dessa instituição. Após as entrevistas, os da-
dos foram analisados à luz da sociologia da leitura e da estética da recepção.
Da Universidade de o Paulo, a pesquisa O professor de e séries do
ensino fundamental como mediador entre o aluno e a leitura: estudo realizado no
município de Porto Velho, de autoria de Gisele de Araújo Gouvêa Estácio, orienta-
da por Maria Regina Maluf. Esse estudo centrou-se no papel do professor como
mediador entre o aluno e a leitura. O corpus constituiu-se de 37 professores de e
4ª séries de oito escolas da rede municipal de ensino de Porto Velho. Através de um
28
questionário, a pesquisadora verificou a formação inicial dos professores, o tempo
de experiência docente, o trabalho no âmbito da leitura em sala de aula, a importân-
cia da utilização de biblioteca no incentivo à leitura e a condição de leitor do pro-
fessor.
Além de pesquisas acadêmicas, podemos encontrar vários livros publicados
sobre o assunto. Ezequiel Theodoro da Silva publicou, entre outros, Leitura e reali-
dade brasileira. Nesse livro o autor analisa criticamente a situação da leitura no
Brasil. Em O ato de ler, do mesmo autor, é feita uma investigação da leitura com
fundamentos psicológicos e filosóficos. A obra Que livro indicar? Interesses do
jovem leitor, de Vera Teixeira de Aguiar, parte de uma pesquisa que investiga, em
oito escolas de Porto Alegre, o interesse de leitura de jovens do ensino fundamen-
tal. Para isso, leva em conta a série, a idade, o sexo e o nível socioeconômico des-
ses alunos.
Todos esses estudos, que situam o indivíduo em uma posição privilegiada no
processo de formação leitora, que levam em conta o seu ponto de vista frente ao
mundo em que vive, bem como suas experiências, temores e anseios, são de extre-
ma importância no sentido de contribuir para essa nova forma de conceber os estu-
dos literários, fazendo com que o foco não permaneça somente no texto, mas que o
receptor também veja reconhecida a sua importância dentro da história, passando
de mero espectador a co-autor da obra.
29
1.2 Leitura e sociedade
Essa transformação na maneira de ver a leitura e o crescente interesse pela
área, ocorridos no decorrer da história, podem contribuir para formar, cada vez
mais, melhores leitores. Há, no entanto, uma questão conjuntural importante. Cri-
anças que pertençam a diferentes classes sociais não terão o mesmo ensejo de con-
tato com a leitura e, portanto, estarão privadas dessa oportunidade de fortalecimen-
to existencial que a literatura proporciona. Sem dúvida, não é interessante para os
dominadores que os pequenos de classes inferiores, que devem ser preparados para
obedecer, tenham acesso a qualquer forma de libertação. Se pensarmos, por exem-
plo, que o conto infantil João e o de feijão pode ser encorajador no sentido de
fazer com que a criança não se intimide frente ao domínio autoritário do adulto, de
estimulá-la a “enfrentar o gigante” sem medo, poderemos ampliar essa idéia e, en-
tão, concluiremos que essa criança, ao se tornar adulto, poderá não se deixar domi-
nar facilmente, pois estará preparada para enfrentar qualquer tipo de autoritarismo.
Não interessa àqueles que mandam que subalternos não se deixem dominar. O que
percebemos, de fato, é que “a presença da ignorância em nosso meio cumpre a ob-
jetivos de dominação de uma classe social sobre as outras” (SILVA, 1997, p. 24).
Tal fato constitui uma injustiça social que precisa ser corrigida ou, ao menos, ate-
nuada.
1
1
Sabemos que as questões que envolvem a formação leitora são complexas e, portanto, vários enfoques
possíveis para que possamos explicá-las. Obviamente, o fator social não explica o problema em sua totalida-
30
Para uma melhor reflexão sobre esse tema, tentaremos definir nossa visão so-
bre o que significa a expressão “classe social”. Para isso, partiremos do princípio de
que “as características que adquirem as diversas sociedades dependem fundamen-
talmente do modo como nelas se produzem os bens materiais” (HARNECKER e
URIBE, 1980), ou seja, da forma de produção. No capitalismo, o processo de pro-
dução dos bens materiais acontece através da exploração dos geradores dos meios
pelos proprietários dos bens materiais, isto é, os operários vendem a sua força de
trabalho aos capitalistas, para sobreviverem. Recebem um salário e, em troca, pro-
porcionam grandes lucros àqueles que detêm o capital.
Dessa forma, é possível estabelecer que “as classes sociais são grupos huma-
nos, um dos quais pode apropriar-se do trabalho do outro por ocupar postos diferen-
tes num regime determinado de economia social” (HARNECKER e URIBE, 1980).
Entendemos como classes populares o grupo humano que tem sido explorado por
uma minoria que detém o poder econômico e, assim, acredita ser “proprietária”
também de bens culturais que m sendo acumulados com o passar dos anos e que,
por representar uma herança deixada por aqueles que nos antecederam, pertencem a
toda a humanidade: “Se os membros das camadas populares não dominam os con-
teúdos culturais, eles não podem fazer valer os seus interesses, porque ficam de-
sarmados contra os dominadores, que se utilizam exatamente desses conteúdos para
legitimar e consolidar a sua dominação” (SAVIANI, 1981, p.30).
de, já que nenhum problema pode ser explicado dessa forma. Nossa opção por uma abordagem social não
significa que desprezemos os demais caminhos possíveis para o enfrentamento do tema, ao contrário, temos
consciência de que é apenas uma abordagem que, embora muito importante, não se sobrepõe às outras.
31
É importante salientar que hoje em dia a relação antagônica entre dominador
e dominado não se faz mais de forma explícita como ocorreu em outros momen-
tos históricos, em que o confronto entre patrão e proletário era evidente, em que o
mundo dividia-se em dois blocos. Karl Marx acreditava que, com o excesso de ex-
ploração dos operários pelos capitalistas, a classe proletária tomaria consciência de
sua situação e promoveria uma revolução. Contrariando os prognósticos de Marx,
os trabalhadores passaram a ter mais acesso aos bens de consumo, deixando de ser
“escravos” da produção para se tornarem reféns da sociedade de consumo.
Com todas essas mudanças ocorridas nos últimos anos, com o aumento da
classe média e de suas necessidades consumistas, a exploração econômica das mas-
sas, tal como era concebida anteriormente, não pode ser percebida, ao menos,
não “a olho nu”. O que acontece é que o existe mais a postura maniqueísta,
segundo a qual uma parte da sociedade encarna a figura do mal, ou opressor, e a
outra parte a do bem, ou oprimido. No entanto, isso não significa que não haja
mais exploração e alienação, apenas que isso se nos apresenta de uma maneira mais
sutil, o que faz com que alguns de nós sintam um certo estranhamento quando ou-
vem falar em dominadores e dominados, como se fosse algo pertencente a um pas-
sado remoto. Como lembram Adorno e Horkheimer (1985), os conflitos existentes
apenas foram acobertados, não havendo oposição porque o homem perdeu sua di-
mensão crítica.
Não é objetivo desta pesquisa um aprofundamento nesse tema, mas conside-
ramos importante que tal contexto seja levado em consideração, porque acredita-
32
mos que indivíduos que integram uma classe econômica desprivilegiada não terão
as mesmas oportunidades de viverem experiências que propiciem o encontro de
significados e, tampouco, que os levem a construir uma história própria de leitura.
A descoberta da leitura requer um ambiente favorável a isso. É imprescindível que
haja livros e indivíduos alfabetizados, crianças interessadas em descobrir o mundo
e adultos com disponibilidade para contar histórias; faz-se necessário, ainda, a atua-
ção de professores comprometidos com a tarefa de formar leitores. Entretanto, sa-
bemos que não é possível comprar livros quando falta comida, nem encontrar tem-
po para aprender a ler ou para contar histórias aos filhos quando é necessário traba-
lhar duramente para garantir o sustento da família.
Cerda (1982), no primeiro capítulo de seu livro Literatura infantil y clases
sociales, faz um levantamento da situação das crianças pobres do Chile e de suas
desvantagens como leitores em relação às crianças que vivem em um ambiente
mais favorecido economicamente. As constatações feitas pelo autor, relacionando a
miséria com a falta de uma formação leitora, servem perfeitamente para o Brasil.
No nosso País, como no Chile, as crianças pertencentes a classes populares são ví-
timas de um sistema que “conspira” para que permaneçam na condição de acomo-
dação intelectual a que estão submetidas e a leitura, definitivamente, não faz parte
da realidade delas. Por outro lado, conforme nos mostra Aguiar (1979), se o ambi-
ente desses jovens é desfavorável à leitura, não o é para a comunicação de massa,
sendo essa última mais atrativa do que a primeira. Como sabemos, esse tipo de en-
33
tretenimento não visa à formação de um sujeito crítico, reduzindo suas perspectivas
e tornando-o um vassalo do sistema, acomodado frente aos desafios de sua vida.
A escola, por sua vez, afasta os leitores, na medida em que favorece a repeti-
ção de dados, deixando de proporcionar desafios aos alunos e não incentivando o
desenvolvimento do pensamento crítico e criativo. Os professores, que deveriam
formar leitores, pertencem a um sistema que não lhes deu subsídios para que se
formassem a si próprios como leitores. Seus estudos, geralmente, o muito volta-
dos para a teoria, não levando muito em conta a realidade educacional. O professor
é estimulado a ler sobre educação, mas não é incentivado a “ler” a realidade esco-
lar, o que dificulta ainda mais o trabalho com a leitura entre os alunos. Por não se-
rem leitores assíduos de obras literárias, os mestres terminam por não incentivarem
a leitura desses textos, pois eles são trabalhados de forma desinteressante ou são
deixados para o final do programa por motivo de falta de tempo.
O processo de formação do leitor na escola está vinculado a um cotidiano no
qual o que existe é um intrincado conjunto de mecanismos que acaba por neutrali-
zar a prática da leitura como geradora de uma experiência de reflexão. Desse con-
junto fazem parte, dentre outros mais, os mecanismos de caráter ideológico, que
difundem uma visão distorcida da língua e da literatura, da aprendizagem e do co-
nhecimento; e os de caráter mercadológico, que fazem da escola um ponto estraté-
gico de marketing e dos leitores em idade escolar consumidores em potencial. Esse
processo, assegurado por uma escola autoritária, conta com o reforço da nossa or-
ganização social no que diz respeito à criação e fortalecimento de condições que
34
levam a uma direção homóloga àquela que o capitalismo impõe às pessoas subme-
tidas a esse esquema de organização social. Além disso, nosso sistema educacional
privilegia aquilo a que Ezequiel Theodoro da Silva (1997, p. 39) chamou de lei-
dura, em detrimento da leitura, o que contribui para que nossos jovens se desinte-
ressem cada vez mais pelos textos.
A falta de contato de crianças pobres com uma cultura literária, que faz parte
da vida dos mais favorecidos desde que nascem, é uma iniqüidade que espera por
retificação. As histórias e poemas a que as classes populares não têm acesso consti-
tuem um patrimônio cultural da humanidade
2
e, como tal, deveriam estar ao alcance
de todos: “Para a solução do problema, é importante que se encontre uma estratégia
que leve a criaa, desde cedo, a ter experiências de contato direto com os livros, que
devem ser manuseados, lidos, escolhidos, comentados (AGUIAR, 1979).
Outro fator que impede o desenvolvimento leitor de nossa sociedade são os
índices excepcionalmente altos de analfabetismo. Segundo estudos realizados pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação
(Inep/MEC), utilizando dados do IBGE, esses índices vêm diminuindo entre pesso-
as com 15 anos ou mais. De acordo com essas informações, o percentual caiu de
19% em 1991 para 12,4% em 2001. O INAF, Indicador de Alfabetismo Funcional,
apresenta dados mais recentes, segundo os quais em 2005 esse índice estaria em
2
Quando falamos em patrimônio cultural da humanidade não pensamos em uma cultura imposta, que não
leve em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos. Ao contrário, acreditamos que, da
mesma forma que os membros pertencentes a todos os estratos da sociedade têm direito de acesso a uma
cultura erudita, também o m de expressarem-se das mais variadas formas, conforme a cultura de cada gru-
po.
35
7%. Entretanto, esse mesmo instituto informa que somente 26% dos brasileiros en-
tre 15 e 64 anos são plenamente alfabetizados, pois do restante da população, 34%
possuem um nível básico e 31% um nível rudimentar
3
, ou seja, mais da metade do
povo brasileiro é analfabeto funcional.
Aliada a esses índices lamentáveis a crença errônea de que leitura não é
algo que deva pertencer ao universo desses cidadãos, que tanto contribuem com seu
trabalho para a manutenção da estrutura social, e que recebem tão pouco em restitu-
ição. Embora essas pessoas não possam ter acesso a textos literários, não podemos
dizer que a leitura, em um sentido mais amplo, como quer Freire, esteja completa-
mente apartada de suas realidades, pois, ao contrário do que diz o senso-comum, as
pessoas não alfabetizadas lêem, já que interpretam o mundo a sua volta, mostrando-
nos que ler é “um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve
componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem
como culturais, econômicos e políticos” (MARTINS, 1982, p.31).
Voltando à idéia de Paulo Freire, de que “a leitura do mundo e a leitura das
palavras, aprimoram-se mutuamente”, é possível perceber um duplo prejuízo na
formação leitora em nosso País, já que, se o indivíduo for analfabeto, estará privado
da possibilidade de aprimorar sua interpretação do mundo através das palavras, ao
mesmo tempo em que as pessoas que freqüentam ou freqüentaram a escola são le-
3
Nível rudimentar: capacidade de localizar informações explícitas em textos muito curtos, como título de
revista, localizar a data de uma campanha de vacinação, ou a idade a partir da qual a vacina pode ser tomada.
Nível básico: capacidade de localizar informações em textos curtos, como uma carta reclamando de algum
defeito de fabricação de um refrigerador.
Fonte: site do INAF – www.ipm.org.br/an_ind.php
36
vadas a lerem os textos de forma descontextualizada, sem nenhuma possibilidade
de estabelecer algum significado, caminho para o analfabetismo funcional. Luzia de
Maria lembra-nos o fato de que muitos professores, ainda hoje, confundem o a-
prendizado de leitura com a simples decodificação do escrito: “corroboram essa
concepção as relações sociais, a divisão do trabalho que enclausura um grande con-
tingente de pessoas em atividades de mera execução. Essas pessoas, afastadas dos
processos decisórios, das tomadas de iniciativa, vão se encolhendo nos estreitos
limites de sua realidade mais próxima, não sentindo qualquer necessidade da leitura
em sua vida diária” (MARIA, 2002, p. 50).
A leitura de obras literárias, dentro desse contexto, torna-se um investimento
supérfluo entre indivíduos pertencentes a classes populares, que eles necessitam
ocupar o seu tempo trabalhando para nutrir, de forma precária, o corpo. Dessa for-
ma, o alimento espiritual, através da apreciação de uma obra de arte, nesse caso
literária, torna-se direito concedido somente a poucos. Isso representa uma perda
cultural muito grande, pois o texto, literário ou não, é o lugar da multiplicidade de
vozes. É o espaço do diálogo e do pensamento reflexivo, que faz com que o indiví-
duo conquiste uma posição de igualdade entre os demais. A experiência literária
favorece o encontro de respostas a questionamentos que dizem respeito ao homem,
ser sensível, pensante, histórico e social
Além disso, a vivência artística e, portanto, literária constitui um elemento
capital para a ampliação de horizontes do ser. Vigotsky (1982) defende a arte como
elemento capaz de promover o crescimento e o desenvolvimento humano, através
37
da criatividade. Segundo esse autor, é um equívoco acreditar que uma fronteira
impenetrável separando a realidade da fantasia, pois a imaginação não se constitui
apenas em um divertimento para o cérebro mas, principalmente, em uma função
vitalmente necessária para um aprimoramento da relação do sujeito consigo próprio
e com o mundo que o cerca. Mosquera (1976) também afirma que a arte pode re-
presentar a possibilidade de uma percepção maior da realidade e de uma ampliação
qualitativa no que se refere aos sentimentos. Ambos os posicionamentos, contrari-
ando a lei-dura da leitura, valorizam o trabalho lúdico no aprendizado.
Nesse sentido é que percebemos a importância de voltarmos a nossa atenção
para o sujeito leitor, levando em consideração as suas experiências de vida. Sabe-
mos que se, por um lado, o problema da falta de contato dos jovens com a leitura
pode ser, ao menos em parte, explicado pelas questões de ordem socioeconômica,
por outro, entendemos que iniciativas de pesquisadores e demais profissionais da
área da literatura m contribuído de forma substancial para a modificação de uma
realidade que está longe de ser a que desejamos para os nossos jovens. Há trabalhos
de pesquisa que visam incluir esses leitores em potencial em um universo do qual
eles o m conhecimento, através de atividades ligadas à leitura que possibilitam
uma descoberta desse ofício como uma experiência de prazer. Acreditamos que
essas iniciativas se constituam na melhor opção para resolver o problema da falta
de leitura entre indivíduos carentes.
38
Entretanto, há um outro local importante pela possibilidade de representar um
agente transformador desse contexto, que é a escola
4
, pois, embora saibamos que
ela simbolize o contato com a “lei-dura da leitura”, conforme analisamos anterior-
mente, também sabemos que é o único ambiente de convivência de alguns jovens
com a literatura, ou seja, é um espaço que necessita ser trabalhado a fim de con-
quistar os possíveis leitores. Para Haddad e Riche (1994), o despertar da criativida-
de de adultos e crianças depende apenas de uma estimulação adequada. Assim, a
socialização, o bom relacionamento da turma e o envolvimento do professor repre-
sentam a porta de entrada do processo de formação leitora, demonstrando que pro-
fessores e alunos podem ser peças-chave nesse trajeto.
Para isso, faz-se necessária uma mudança na forma de trabalhar os textos em
sala de aula, que geralmente são utilizados de forma estática, sem levar em conta a
realidade dos alunos bem como seus gostos e interesses. Bamberger (2001), ao re-
fletir sobre o ato de ler na sala de aula, afirma que leitores iniciantes, independen-
temente da idade, poderão ficar desencorajados se a leitura não fizer parte do seu
ambiente cultural ou não encontrarem ao seu alcance livros afinados com os seus
gostos. Por outro lado, não podemos esquecer de que alguns professores também
não tiveram em sua formação um ambiente propício ao seu aperfeiçoamento como
leitores, o que faz com que a situação se torne ainda mais frágil, pois, como lembra
Luzia de Maria (2002, p. 49), “para acompanhar o processo de formação do aluno-
leitor, é imprescindível que o professor tenha construído ou esteja construindo, para
4
Falaremos mais detidamente sobre a leitura na escola mais adiante, entretanto, não poderíamos deixar de
mencioná-la agora, já que escola e sociedade têm uma relação bastante estreita.
39
si próprio, uma História de leitor”, ou seja, se pretendemos transformar a escola
em aliada na formação leitora do País, precisamos voltar as nossas atenções tam-
bém para os professores, pensando em formas de contribuir para o seu crescimento
como leitores. Por todas essas razões, ressaltamos:
A necessidade de abrirmos aos indivíduos a possibilidade de viver
experiências concretas nas diferentes fases da sua vida nesse sentido, uma
pedagogia crítica da leitura da palavra deveria levar em conta as leituras
preliminares que as pessoas fizeram do real, levar em conta os limites do
mundo concretamente vivido por essas pessoas. E, ao longo de toda a trajeria
escolar, o confinar os estudantes às esferas livrescas do currículo, mas abrir-
lhes perspectivas para um conjunto maior de experiências no território maior
onde a escola se situa. (SILVA, 1997, p. 19)
Partindo dessas reflexões, percebemos quão importante é, para o ensino da
leitura, uma escola que respeite o indivíduo em sua totalidade, que apresente a lei-
tura como uma atividade prazerosa e não como uma obrigação que os jovens devem
cumprir a fim de garantirem uma boa nota. Como bem nos lembra Daniel Pennac
(1993), “o verbo ler o suporta imperativo”. As experiências necessárias para que
os indivíduos “escrevam” as suas histórias de leitores devem passar pelo prazer e
não pela obrigação, pois um ambiente autoritário, seja ele escolar ou não, jamais
despertará o gosto de ler. É importante que se perceba o quanto a nossa visão da
formação leitora na escola ainda está comprometida com conceitos ultrapassados
sobre o que seja o ato de ler.
40
Faz-se necessário, portanto, que se troque a lei-dura da leitura por aquilo a
que Pennac chamou de “direitos imprescritíveis do leitor”
5
, possibilitando experi-
mentar um sentimento de liberdade em relação ao ato de ler, fazendo com que ele
sinta que ler é um direito do qual ele poderá, até mesmo, abrir mão, se esse for o
seu desejo, e ao mesmo tempo envolvendo-o de forma a que ele leia por vontade
própria, isto é dando-lhe o direito de escolha. Eliane Lopes (1995), em seu artigo,
intitulado “Leitura: prazer e saber”, mostra-nos como o ato mecânico de ler, sem
considerar o caráter mais abrangente dessa atividade, tem sido valorizado:
Na escola lia-se em voz alta, tanto para convencer de que se devia ler,
quanto para se ensinar o que se ler. Escolhendo o que deveria ser lido e como
deveria ser lido a escola pretendia desenvolver o gosto pela leitura. Mais que
isso, a escola, e todos os que a circundavam, os inspetores e as legislões,
estabeleciam critérios. O primeiro deles era o de que toda leitura deveria dar
lugar a trabalho e ser, ela mesma, parte de um trabalho. Nada de se confundir
leitura com ociosidade. O segundo, que dizia respeito às qualidades do que se
lia, era o de que um texto seria bom se ele pudesse ser partilhado, se ele
pudesse ser mostrado lido em público. Uma leitura era, assim, uma má leitura
se se a praticava escondido e dela se envergonharia em público; mas tamm
era uma leitura aquela sem controle, que poderia criar enganos no seu
trabalho de interpretação, pois que feita fora das redes de sociabilidades, que
sempre prevêem e fixam um certo sentido e um sentido certo. A leitura em voz
alta eblica, fosse feita na escola, na igreja, na família ou mesmo em reuniões
explicitamente realizadas para esse fim, criava uma pedagogia da compreensão
que pretendia, assim, garantir a justa recepção. Pode-se dizer que a leitura
blica o fazia parte de uma teatralização, mas de uma transmiso
controlada de sentidos. A entonação do leitor, suas acentuões, seus silêncios,
sua emão, falavam pelo texto. (LOPES,
disponível em
<http://www.unicamp.br/iel/memoria/ ensaios. Acesso em 10 jul 2006
)
Se analisarmos mais detidamente indivíduos que tenham, ao longo de suas
vidas, “escrito” uma história de leitores, perceberemos que não se encontram, entre
5
Os dez direitos imprescritíveis do leitor são: de não ler, de pular páginas, de não terminar um livro, de reler,
de ler qualquer coisa, ao bovarismo, de ler em qualquer lugar, de ler uma frase aqui e outra ali, de ler em voz
alta e de calar. In: PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
41
eles relatos nos quais apareçam experiências como as citadas acima, em que os alu-
nos não tenham autonomia para decidirem o que ler, em que o ato de ler não seja
visto como prazer, mas como “trabalho duro”, em que existam leituras das quais
possamos nos envergonhar. O que nessas histórias relatadas são leitores que se
enxergam nas obras que lêem e, por isso, são capazes de encontrar respostas e atri-
buir significado para suas vidas.
1.3 Histórias de leitura
Esses significados vêm sendo construídos no decorrer de toda a vida do sujei-
to leitor, tendo o seu início na infância, quando os adultos contam histórias para os
pequenos. Se assim não é, deveria ser, pois a necessidade que o homem sente de
ouvir e de contar torna-se evidente quando observamos relatos de histórias de leitu-
ra. A relação íntima do leitor com os livros aparece, também, em diários e biografi-
as de autores e em várias personagens da literatura universal. Homero (aprox. séc.
X a.C.), o rapsodo mais ilustre da Grécia Antiga, tornou-se um imortal contando,
ou antes, cantando, as suas poesias épicas. Há, ainda, Sherazade, personagem que
salva a própria vida contando histórias, em As mil e uma noites, àquele que seria
seu algoz se não tivesse se apaixonado pela contadora astuciosa.
Em Decamerão, as personagens elaboram um sistema de contação de histó-
rias em que todos têm a oportunidade de participar, fazendo com que suportem me-
42
lhor a quarentena a que são submetidos para fugirem da peste que assola a Europa.
Em Mulheres que correm com os lobos (1999), Clarissa Estés apresenta-nos uma
versão húngara do conto “O Barba Azul”, na qual uma jovem é seduzida pela
habilidade que o seu futuro marido, apesar de não despertar interesse imediato
naquela que será sua esposa, possui para contar histórias. No Brasil, temos Dona
Benta, a avó carinhosa que encanta os netos e os pequenos (além dos grandes)
leitores abrindo as portas para um mundo de fantasias, Blau Nunes, o contador de
“causos” gauchescos, que nos leva na fantasia para a volta de uma fogueira a ouvir
suas histórias e tomar mate.
Daniel Pennac, através das palavras de Paul Valéry, em discurso em uma
escola de moças, mostra-nos que o prazer de ouvir uma boa história vale mais do que
qualquer utilidade prática que se possa conferir à atividade de um contador de
histórias.
Senhoritas, não é, de modo algum, sob o aspecto do vocaburio e da
sintaxe que a Literatura começa a nos seduzir. Lembrai-vos simplesmente de
como as Letras se introduzem em nossas vidas. Na idade mais tenra, mal
cessam de nos cantar a cantiga que faz o recém-nascido sorrir e adormecer,
abre-se a era dos contos. A criaa os bebe como bebia seu leite. Ela exige a
seência e a repetição das maravilhas; ela é um blico implacável e
excelente. Sabe Deus as horas que perdi em alimentar de gicos e monstros,
piratas e fadas, os pequeninos que gritavam: Mais! a seu pai fatigado.
(PENNAC, 1993, p. 54).
na Antigüidade grega, Aristóteles (384-322 a.C.) chamava a atenção, em
sua Arte poética (1997), para o fato de que ouvir e contar histórias é algo que faz
parte da natureza humana, pois o homem sente necessidade de imitar a realidade. A
relação que temos com a ficção é tão forte que, ao mesmo tempo em que os livros
43
lidos podem nos dar respostas individuais, imprimindo um sentido para nossas vi-
das, podem, também, demonstrar o estágio em que se encontra a humanidade em
um nível mais coletivo, ou social, como demonstra Georg Lukács, defendendo a
idéia de que as obras literárias representam uma espécie de espelho da sociedade à
qual elas pertencem. Ao iniciar o seu trabalho, A teoria do romance, Lukács fala-
nos de um tempo em que não havia filosofia, pois todas as explicações eram encon-
tradas nos mitos. Segundo o autor, tratava-se de um tempo sem dúvidas, portanto,
sem necessidade de respostas. Esse é o contexto em que surge a epopéia, gênero
que reflete plenamente a forma de pensar e de sentir do homem da época.
Assim, o mundo grego é apresentado de forma homogênea e fechada. Em ou-
tras palavras, é perfeito e, portanto, estático, ao contrário do nosso mundo atual
que, cada vez mais vasto e rico, perdeu em totalidade o que ganhou em abrangên-
cia, razão pela qual Lukács afirma a impossibilidade de se produzirem epopéias nos
dias atuais. O homem grego vivia no equilíbrio de uma estrutura fechada, que se
relacionava com o gênero épico, enquanto o homem atual rompe com essa harmo-
nia e o mundo passa a apresentar-se com uma estrutura incoerente. No universo
grego, o homem não conhecia solidão: “Aí não ainda nenhuma interioridade,
pois ainda não nenhum exterior, nenhuma alteridade para a alma. Ao sair em
busca de aventuras e vencê-las, a alma desconhece o real tormento da procura e o
real perigo da descoberta, e jamais põe a si mesma em jogo; ela ainda não sabe que
pode perder-se e nunca imagina que terá de buscar-se. Essa é a era da epopéi-
44
a.”(LUKÁCS, 2000, p.26) O homem atual, em contrapartida, é extremamente soli-
tário, porque não mais integrado em um mundo uno.
A forma romanesca contrapõe-se à epopéia, mostrando uma força amadureci-
da. O romance compõe-se de uma fusão paradoxal de fatores heterogêneos e des-
contínuos, tendo sua coerência alcançada por meio da forma: A mediação entre
literatura e vida se faz pela harmonização dos contrários, a unidade do todo supe-
rando a contradição das partes ou elementos” (BORDINI, 2003, p.34). Enquanto os
outros gêneros literários possuem uma forma acabada, no romance, ela é um pro-
cesso. Se a epopéia mostra o homem em perfeita harmonia com seu universo fe-
chado, o romance indica o rompimento dessa consonância. É a ruptura entre o su-
jeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um
ambiente fragmentado: “A epopéia forma a uma totalidade de vida fechada a
partir de si mesma, o romance busca descobrir e construir, pela forma, a totalidade
oculta da vida” (LUKÁCS, 2000, p.60). Assim, o romance é “la expresión literaria
del rompimiento de la unidad, y al mismo tiempo es um medio que sirve para des-
velar y edificar la totalidad oculta de la vida.”
6
(SEFCHOVICH
, 1979, p.110)
Embora o seja objetivo dessa dissertação teorizar sobre o gênero narrativo,
consideramos importantes essas reflexões no sentido de demonstrar a relação ínti-
ma do homem com a ficção, tanto no âmbito individual quanto no social, o que po-
demos facilmente comprovar, por um lado, através de um trabalho atento com his-
tórias de leitura de diferentes pessoas, por outro, ao estudarmos as relações existen-
6
a expressão literária do rompimento da unidade, e ao mesmo tempo é um meio que serve para desvelar e
edificar a totalidade oculta da vida (tradução nossa).
45
tes entre a literatura de uma época e a História. Na esfera individual, quando o su-
jeito constrói a sua história de leitor está, ao mesmo tempo, permitindo-se, através
de uma consciência mais madura, organizar e “civilizar” os aspectos caóticos de
seu inconsciente. Ao ler ou ouvir uma história, o indivíduo coloca em ordem o seu
caos interior, libertando-se de medos e encorajando-se a experimentar a vida de
forma mais plena. Do ponto de vista social, a literatura apresenta a história de uma
sociedade de um tempo através dos fatos corriqueiros, do cotidiano, que, se não
aconteceram, poderiam ter acontecido, isto é, a literatura mostra o dia-a-dia, para
além dos dados históricos oficiais, o que contribui, também, para uma organização
da sociedade em questão, reproduzindo no âmbito coletivo, tudo o que ocorre indi-
vidualmente.
Outra forma de constatarmos a importância que têm as obras literárias para os
leitores é através da maneira pela qual os indivíduos idealizam os livros. No capítu-
lo IV de sua tese de doutorado, Diana Werkmeister mostra como isso ocorre com
os seus entrevistados: quem acredite que as obras literárias servem como meio
de transformação social, tornando o mundo mais justo; quem as veja como pro-
pulsoras do progresso científico da humanidade; existem aqueles que acreditam que
a literatura pode servir como uma espécie de agente da paz; ou ainda, os que as
vêem como uma conexão do homem com Deus.
O importante é percebermos que, na verdade, cada uma dessas visões repre-
senta aquilo que de mais importante para o leitor, ou seja, o indivíduo projeta-se
no texto lido a partir de suas prioridades existenciais. Nesse caso, haveremos de
46
pensar que, afinal, a leitura poderá se tornar uma fuga. Werkmeister, na tese referi-
da, menciona um aspecto dialético da literatura, afirmando que, por um lado, ela é
escapista, na medida em que afasta o indivíduo do mundo real para viver experiên-
cias imaginárias; por outro, encoraja-o a, em determinado momento, passar a viver
de fato tais experiências. Embora os livros possam desempenhar os mais variados
papéis para os leitores que participaram da pesquisa de Werkmeister, é unânime “o
reconhecimento por parte dos entrevistados de que este impacto ultrapassou a fron-
teira de seu crescimento intelectual e afetou-os internamente”. (WERKMEISTER,
1993, p. 43) Dessa forma, o escapismo do leitor literário não é o mesmo que se per-
cebe, por exemplo, em algumas revistas femininas, que fazem com que as mulheres
mantenham-se acomodadas na posição de “rainhas do lar”.
A leitura como experiência de descoberta de si mesmo parece ser o que im-
pulsiona os leitores que participaram da pesquisa. Essa é a razão apresentada pela
autora para o fato de, em suas preferências literárias, os entrevistados mencionarem
autores que demonstram uma profunda densidade narrativa, como Camus, Kafka e
Dostoievski, pelo fato de eles possuírem o poder de “mobilizar internamente seus
leitores, fazendo-os refletir sobre a vida, enquanto, lendo, vivem outras vidas e des-
cobrem quem são. Dirigem-se ao coração do homem, onde residem sentimentos
essenciais como o amor e o temor à vida, a rejeição, o ódio, a solidariedade ou sua
ausência”.(WERKMEISTER, 1993, p. 44)
Essas experiências, quando vividas na adolescência, fase em que formamos a
identidade, adquirem uma importância fundamental, pois elas têm o poder de influ-
47
enciar a visão que temos do mundo, interferindo, dessa forma, em todo o nosso fu-
turo, através de nossas opiniões, sonhos e anseios, que jamais serão os mesmos.
Muitos são os autores que nos dão provas dessa impressão marcante que a leitura
deixa naqueles que a experimentam desde cedo. São muitas as personagens da lite-
ratura universal que sofreram influência das obras que leram, o que nos parece uma
representação da visão que seus criadores m do ato de ler como algo transforma-
dor. Ema Bovary e Dom Quixote são exemplos de personagens que tiveram uma
percepção de seus ambientes para além do senso comum. Ainda, há inúmeros depo-
imentos de escritores, por meio de diários ou autobiografias, falando sobre a rela-
ção emocional entre leitor e livro. Algumas vezes, os livros estão associados às
lembranças da infância:
Comecei minha vida como hei de acabá-la, sem vida: no meio dos
livros. No escritório de meu avô, havia-os por toda parte; era proibido espa-
los exceto uma vez por ano antes do reinicio das aulas em outubro. Eu ainda
o sabia ler e reverenciava essas pedras erigidas: em ou inclinadas,
apertadas como tijolos nas prateleiras da biblioteca ou nobremente espacejadas
em aléias de menires, eu sentia que a prosperidade de nossa família delas
dependia. Elas se pareciam todas; eu foliava num misculo santrio,
circundado de monumentos atarracados, antigos, que me haviam visto nascer,
que me veriam morrer e cuja permancia me garantia um futuro o calmo
como o passado. Eu os tocava às escondidas para honrar minhas mãos com sua
poeira, mas o sabia bem o que fazer com eles e assistia todos os dias a
cerinias cujo sentido me escapava: meu avô o canhestro,
habitualmente, que minhae lhe abotoava as luvas manejava esses objetos
culturais com destreza de oficiante. Eu o vi milhares de vezes levantar-se com
um ar ausente, contornar a mesa, atravessar o aposento com duas pernadas,
apanhar um volume sem hesitar, sem se dar o tempo de escolher, folheá-lo,
enquanto voltava à poltrona com um movimento combinado do polegar e do
índice, e depois, tão logo sentado, abri-lo com um golpe seco "na página certa",
fazendo-o estalar como um sapato. Às vezes eu me aproximava a fim de
observar aquelas caixas que se fendiam como ostras e descobria a nudez de
seus órgãos interiores, folhas amarelecidas e emboloradas, ligeiramente
intumescidas, cobertas de nulas negras, que bebiam tinta e recendiam a
cogumelo. (SARTRE, 1967, p.27-28)
48
No caso de Sartre, percebemos uma associação de suas experiências no âmbi-
to familiar com os primeiros contatos que teve com os livros, na biblioteca do avô.
Essa tendência de associar os livros com o contexto no qual se inseriam quando da
convivência inicial com eles também foi percebida por Werkmeister em seu traba-
lho. Ela afirma que as leituras que fazemos são associadas às diversas fases de vida
pelas quais passamos e aos diferentes lugares em que vivemos nossas experiências
leitoras: “A leitura nunca é descontextualizada. Quando é importante, o leitor sabe
precisá-la com exatidão. As lembranças de leitura estão associadas ao lugar em que
ela é feita. Os locais não são sempre os mais aprazíveis variam de banheiro de
internato (…), porão (…) a um jardim (…). Ao lembrar de uma obra, o leitor lem-
bra de quem ele era quando a leu”. (WERKMEISTER, 1993, p.48-49), ou seja,
quando o leitor lembra de uma obra, lembra-se junto do momento, local e contexto
em que ela foi lida.
Essas lembranças o ocorrem de uma forma superficial, o que pode ser fa-
cilmente percebido se pensarmos na influição que as experiências recordadas têm
na trajetória futura do sujeito. Bruno Betelheim, no artigo “Os livros essenciais da
nossa vida”, menciona a importância que a vivência literária representou em sua
formação como pessoa. Paulo Freire foi ainda mais longe, associando a origem de
sua formação nas letras com a teoria de alfabetização que desenvolveria mais tarde.
Como alude Werkmeister, “já está presente a idéia de ‘palavras geradoras’ per-
tencentes ao ‘mundo da vida’”. (p.51) Podemos observar pelos depoimentos citados
abaixo, pelos próprios autores, como essa influência ocorreu:
49
Há também outros livros que, em contraste influenciam poderosamente
o nosso desenvolvimento pessoal, que o tornam possível e que o determinam
em grande parte ou totalmente. Na minha vida, isso tendeu a ocorrer
principalmente nos momentos em que eu estava buscando formar uma
identidade. Via de regra, isso se na adolescência, quando os livros podem
de fato influir decisamente moldando a nossa visão de nós mesmos e do
mundo. (BETELHEIM, 1990, p. 26)
Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores,
algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós.(...) Os textos,
as palavras, as letras daquele contexto se encarnavam no canto dosssaros - o
do sarihaçu, o do olha-pro-caminho-que-vem, o do bem-te-vi, o do sabiá; na
daa das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam
tempestades, troes, rempagos; as águas da chuva brincando de geografia:
inventando lagos, ilhas, rios, riachos. (FREIRE, 2005, p12)
Os textos, as palavras, as letras daquele contexto se encarnavam tamm
no assobio do vento, nas nuvens do céu, nas suas cores, nos seus movimentos;
na cor das folhagens, na forma das folhas, no cheiro das flores — das rosas, dos
jasmins -, no corpo das árvores, na casca dos frutos.(...) A decifrão da palavra
fluía naturalmente da leitura daquele mundo particular. o era algo que se
estivesse dando superpostamente a ele. Fui alfabetizado no chão do quintal da
minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e o do
mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu
giz (Idem, p.13).
Corroborando essa idéia de que a leitura deixa suas marcas em quem a prati-
ca, Marcel Proust, que escreveu um elogio ao ato de ler em sua obra Sobre a leitu-
ra, também, no primeiro volume da série Em busca do tempo perdido, intitulado
“No caminho de Swan”, demonstra como essas impressões interferem de forma
contundente na vida do narrador/leitor, de modo que ele não mais percebe, em
certos momentos, a diferença entre o que é a sua vida e o que é a vida narrada na
ficção. Seus atos misturam-se de tal forma com as leituras feitas a ponto de ele
não mais saber quando está lendo de fato ou quando está sonhando que lê. A leitura
é sentida como uma experiência mística, o que pode ser percebido pela menção ao
fenômeno de metempsicose e pela aura onírica que podemos perceber na passagem
abaixo:
50
Durante muito tempo, deitava-me cedo. Às vezes, mal apagada a vela,
meus olhos se fechavamo depressa que eu nem tinha tempo de pensar: "Vou
dormir". E, meia hora depois, a iia de que era tempo de conciliar o sono
me despertava: queria deixar o livro que julgava ainda ter nasos e assoprar a
vela; dormindo, não havia deixado de refletir sobre o que acabara de ler, porém
tais reflees haviam tomado um aspecto um tanto singular; parecia-me que era
de mim mesmo que o livro falava: uma igreja, um quarteto, a rivalidade de
Francisco I e Carlos V. Essa crença sobrevivia por alguns segundos ao meu
despertar; o ofendia a rao, mas pesava como escamas sobre os olhos,
impedindo-os de perceber que a vela o estava acesa. Depois, principiava a
me parecer ininteligível, como, após a metempsicose, as idéias de uma
exisncia anterior; o assunto do livro se desligava de mim, eu ficava livre para
me adaptar ou não a ele; logo recobrava a vista e me surpreendia bastante por
estar rodeado de uma obscuridade, suave e repousante para os olhos, pom
ainda mais talvez para o espírito, ao qual surgia como uma coisa sem causa,
incompreensível, como algo verdadeiramente obscuro. Perguntava-me que
horas poderiam ser; ouvia o silvo dos trens que, mais ou menos afastado, como
um canto dessaro na floresta, assinalando as disncias, me informava sobre
a exteno da campina deserta onde o viajante se apressa em direção à próxima
parada: o caminho que ele segue vai lhe ficar gravado na lembrança pela
excitação de conhecer novos lugares, praticar atos inusitados, pela conversão
recente e as despedidas sob a lâmpada estranha que o seguem ainda no sincio
da noite, e pela dura próxima do regresso. (PROUST, 2003a, p. 9)
Podemos observar que a leitura, conforme se apresenta na passagem acima,
também assume uma dimensão mítica, além de mística, que pode, igualmente, ser
percebida no trabalho de Diana Werkmeister, pois, ao analisar as formas pelas
quais se o encontro de seus entrevistados com os livros, a pesquisadora consta-
tou que isso ocorre de quatro formas distintas, que dependem da natureza de cada
um, bem como de suas visões de mundo, interesses pessoais, e formas de sentirem
a vida.
7
Embora saibamos que, em nenhum momento de seu trabalho, houve a in-
tenção por parte da autora de descobrir algo que ao menos se assemelhe a um mito
de leitor, conseguimos, em nossa leitura, perceber que isso ocorre.
7
Ressaltamos que essas quatro “formas de encontro com os livros” foram observadas entre aqueles entrevis-
tados, especificamente, ou seja, outros leitores poderão enxergar o ato de ler de outras formas, que poderão
ser associadas a outros mitos.
51
A primeira forma de encontro do leitor com os livros, mencionada por Werk-
meister, é apresentada no subcapítulo intitulado “Eu me reconheço na leitura”. De
acordo com a visão de leitura demonstrada, a obra é vista como se fosse um es-
pelho, isto é “um utensílio que reflete a minha face e me mostra aquilo que eu sou.
A literatura faz isso com a vida. Mostra como ela é e por isto pode não ser ‘bom’,
pois nem sempre esta imagem é agradável. Mesmo assim o leitor ‘se apaixona’,
porque reconhece no texto a sua vida e pode assim vê-la de outra forma. A intera-
ção com o texto liberta o leitor daquelas coisas obscuras e escondidas que ele não
via, seja em si mesmo, seja no mundo” (WERKMEISTER, 1993, p. 58).
A autora associa esse processo com a teoria da singularização, dos formalis-
tas russos, segundo a qual a linguagem poética rebela-se contra o uso autômato da
língua, criando formas novas de expressão através de metáforas, neologismos e ou-
tros elementos que causam uma sensação de estranhamento no leitor. O efeito é
parecido com o que acontece na situação mencionada no parágrafo acima, pois ao
mesmo tempo em que ele se enxerga na circunstância vivida pelas personagens da
ficção, ele é levado a fazer isso de uma outra forma que não a usual. Entendemos
que essa postura do leitor frente à obra literária pode ser relacionada com o mito de
Narciso, que esse lida com uma situação em que, tal como o leitor citado, se en-
xerga em um espelho em forma de lago, vivendo essa experiência de estranhamen-
to, ou singularização, frente à própria imagem e apaixonando-se pelo que vê.
No subcapítulo “A leitura me salva”, encontramos a segunda forma de o lei-
tor relacionar-se com as obras literárias. Nesse caso, a leitura funciona como ele-
52
mento de redenção, fazendo com que o leitor saia de seus conflitos “são e salvo”.
Os sofrimentos das personagens servem como uma espécie de “lição” de vida para
o leitor: “A literatura ‘salva’ ao acenar com a ameaça de desequilíbrio e ao devol-
ver ao leitor um mundo reestruturado ao término da obra” (WERKMEISTER,
1993, p.64). Werkmeister chama a atenção para o fato de que, nesse caso, não
uma recepção com base na fruição estética, mas sim uma apropriação e utilização
da obra pelo leitor para fins pessoais. O que nos parece é que os indivíduos que ex-
perimentam a leitura com essa visão “salvadora” influenciam-se, de alguma forma,
pelo mito da redenção, tão conhecido de nossa cultura ocidental por intermédio do
arquétipo cristão. Edward Edinger explica isso dizendo que a vida de cristo descre-
ve, através de imagens simbólicas, os elementos da vida consciente e inconsciente
de um homem que viveu experiências de transformação e, assim, conseguiu alcan-
çar a realização.
A vida de Cristo, entendida em termos psicológicos, representa as
vicissitudes do Si-mesmo em sua encarnação num ego individual, bem como as
vicissitudes do ego no processo de participação nesse drama divino. Em outras
palavras, a vida de Cristo representa o processo de individuação. Esse processo,
quando sobrem a um indivíduo, pode significar salvação ou tragédia.
Quando é parte de uma igreja ou credo religioso, o indivíduo é poupado dos
perigos envolvidos na experncia direta. Mas, uma vez que o esteja
vinculado com um mito religioso, ele se torna candidato à individuação.
(EDINGER, 1995, p. 15)
“Encontro compensação nos livros” é o subcapítulo seguinte. Nele são apre-
sentados leitores que, afastados de seus “locais sagrados”, ou por mudança de cida-
de, ou por encontrarem-se internos em uma instituição educacional, buscam desco-
brir uma recompensa na leitura, ou seja, tentam encontrar uma compensação pelos
sofrimentos vividos em seus exílios. Há, nesse caso, uma sensação de retorno ao
53
paraíso perdido que também é nossa conhecida, se pensarmos em Adão e Eva sen-
do expulsos do Éden. Platão, em seu mito da caverna, nos falava de um senti-
mento de saudade de um paraíso perdido, que segundo a sua teoria representava o
mundo das idéias. Encontramos esse sentimento de degredo, também, em indiví-
duos pertencentes a sociedades matriarcais, nas quais os ritos de adoração à deusa
eram praticados. A terapeuta Nancy Qualls-Corbett, em seu livro A prostituta sa-
grada, mostra-nos, por meio de textos encontrados em suas pesquisas, a tristeza de
uma sacerdotisa banida do templo sagrado:
Tu pediste-me para entrar no claustro santo, o
giparu,
e eu entrei nele, eu, a alta sacerdotisa Enheduana!
Eu carreguei a cesta do ritual e cantei em seu louvor.
Agora encontro-me banida, em meio aos leprosos.
Nem mesmo eu consigo viver contigo.
Sombras penetram a luz do dia,
a luz escurece-se à minha volta,
sombras penetram a luz do dia,
cobrindo o dia com tempestades de areia.
Minha suave boca de mel torna-se repentinamente confusa.
Minha linda face agora é pó.
(QUALLS-CORBETT, 1990, p. 35)
Esse sentimento de exílio, que todos experimentados em algum momento de
nossas vidas, é a base para essa maneira de vivenciar a leitura, na qual o leitor bus-
ca uma recompensa por algo que lhe foi retirado. Percebemos nessa postura frente
ao ato de ler a presença do mito do paraíso perdido. Nesse tipo de conexão li-
vro/leitor há um reconhecimento, por parte do sujeito, de vivências objetivas, isto é,
ao entrar em contato com as situações vividas pelas personagens, o leitor reconhece
54
as próprias vivências, o que lhe propicia uma identificação imediata. Essa leitura
alentadora é quase uma confirmação de que “os bons herdarão a Terra”.
A última forma de encontro com os livros identificada por Werkmeister em
sua pesquisa foi relatada no subcapítulo “A literatura me desafia”. Aqui o leitor se
sente atraído por obras que o choquem, causando, desse modo, um movimento in-
terno que o force a uma transformação. A leitura, nesse caso, é algo que fere, cau-
sando uma “larga chaga”. Entretanto, tal como o fígado de Prometeu, as feridas
reconstituem-se; tal como Prometeu roubou aos deuses o fogo do conhecimento
para entregá-lo aos homens, a leitura dá-nos uma “chave para salas desconhecidas
do nosso próprio castelo” (WERKMEISTER, 1993, p. 73). É o mito do sacrifício
heróico do leitor em troca do conhecimento de si mesmo e do mundo que o cerca.
Ao contrário do caso anterior, aqui as vivências não são reconhecidas em um nível
objetivo, pois tudo acontece mais especificamente no âmbito da interioridade do
leitor.
Como podemos perceber, a leitura proporciona, de uma forma ou de outra, o
encontro do sujeito consigo mesmo e, por isso, é um ato prazeroso. Entretanto, con-
forme menciona Proust (2003b), em seu ensaio Sobre a leitura ela é, também, um
ato solitário. O jovem Marcel, conforme nos conta o texto, preferia abrir mão das
brincadeiras com seus pares em favor de um isolamento propício às leituras. Dessa
forma, o leitor freqüente pode acabar sendo visto como um “sábio ermitão”, o que
nos remete novamente a uma mitificação do ato de ler. Tal isolamento não significa
algo negativo. Paul Ricoeur (2000) afirma ser a solidão um elemento fundamental
55
da constituição dos seres humanos, o que se confirma se pensarmos que as princi-
pais experiências de nossas vidas são atos solitários, como nascimento e morte, por
exemplo. Esse prazer encontrado no isolamento, uma “morte” social momentânea,
talvez possa ser explicado pela teoria de Georges Bataille, segundo a qual, o ero-
tismo e a experiência de morte têm uma relação íntima de correspondência.
Georges Bataille inicia a introdução de sua obra O erotismo afirmando que
uma relação entre esse e a morte. Para explicar o que, em um primeiro momento,
parece contraditório, que o instinto de reprodução remete à vida, o autor utiliza-
se de duas idéias opostas: continuidade e descontinuidade. Ele explica que todos
somos seres descontínuos, na medida em que somos individuais, diferentes e sós.
Essa diferença jamais poderá ser suprimida, apesar de todos os esforços de comuni-
cação. Bataille afirma que “entre um ser e outro um abismo de descontinuidade.
(…)Esse abismo é a morte, e a morte é vertiginosa, fascinante”( BATAILLE, 2004,
p. 22). O autor explica que a reprodução envolve a relação entre dois seres descon-
tínuos que, por se originarem da fusão de outros dois elementos, óvulo e esperma-
tozóide, trazem em si a lembrança da continuidade. Somos descontínuos, morremos
isoladamente, mas trazemos em nós o que Bataille chama de “nostalgia da continu-
idade perdida”, o que poderá ser, com facilidade, associado àquela idéia, anterior-
mente mencionada, de saudade do paraíso perdido.
Todavia, percebemos que, se por um lado o leitor busca a solidão no isola-
mento da leitura, por outro, ele não é tão assim, porque convive com suas histó-
rias e personagens favoritas. Tampouco o autor é só, pois, ao escrever o livro deixa-
56
se acompanhar de leitores imaginários, de seus escritores de preferência e de outros
“companheiros de farra”. Mario Vargas Llosa, por exemplo, em sua obra A orgia
perpétua declara que, em sua fase de depressão, lia repetidas vezes a cena da ago-
nia de Ema Bovary. Ema se matava para que eu vivesse” (VARGAS LLOSA,
1979, p. 15). Vargas Llosa demonstra, na forma com que se refere a Ema Bovary,
ter para com a personagem uma intimidade plena: “(…) trata-se de um segredo en-
tre Ema e eu” (Idem, p.19).
Além da relação de confiança que o leitor tem com as personagens, o próprio
objeto livro, algumas vezes, pode desempenhar o papel de amigo e de confidente:
“os livros davam-me segurança: falavam e nada dissimulavam; na minha ausência
calavam-se. Abria-os e então eles diziam exatamente o que diziam” (BEAUVOIR,
1968, p. 47). Ou ainda, o livro pode ser o mestre que prepara para a vida: “por ve-
zes (…) o livro falava-me mais ou menos confusamente do mundo que me cercava
ou de mim mesma; fazia-me sonhar, então, ou refletir, e amiúde abalava minhas
convicções” (Idem, p. 48).
Ao mesmo tempo em que os livros podem ser companheiros que consolam,
que orientam e que descerram horizontes, também podem aparecer como instru-
mento de perdição, como observamos no caso das personagens Ema Bovary, de
Flaubert, Luiza, de Eça de Queiroz, do eterno sonhador Dom Quixote, criação de
Cervantes, e do não menos fantasioso Policarpo Quaresma, que acreditou poder
transformar o seu mundo com os estudos e tudo o que encontrou foi um final trági-
co. Cremos na possibilidade de isso ocorrer em virtude da culpa que pesa sobre os
57
ombros dos indivíduos em nossa sociedade com relação a tudo o que se refere a
prazer. que o autor mostra em sua obra, ainda que de forma inconsciente, uma
espécie de espelho da sociedade, é natural que aconteçam essas “punições” a perso-
nagens transgressoras, que ousaram fazer o que lhes causava felicidade. Se a leitura
é uma atividade prazerosa, logo não é uma ocupação séria. Seguramente isso não
acontece na esfera da consciência, sendo algo que se reflete nas obras por já ter sido
internalizado e assimilado pelos indivíduos. Assim, a leitura torna-se uma ocupação
que deve objetivar um resultado prático e não, simplesmente, servir ao puro deleite.
Alguns dos entrevistados de Diana Werkmeister contam que seus pais assu-
miam uma postura incentivadora frente à leitura somente em situações nas quais
essa atividade possuísse um caráter moralista, dando ao ato de ler um cunho utilitá-
rio. Esses pais, embora acreditem ser incentivadores na formação leitora de seus
filhos, são, na verdade, controladores. Outros, porém desestimulam a leitura, ale-
gando sua “inutilidade”, encarando-a como um simples pretexto para fugir do tra-
balho, o que está tão bem ilustrado no início de O vermelho e o negro, quando o
jovem Julien Sorel é repreendido e agredido pelo pai por estar lendo em lugar de
concentrar-se no trabalho:
Em vez de vigiar atentamente a ação de todo o mecanismo, Julien lia.
Nada era mais antitico ao velho Sorel; teria talvez perdoado a Julien sua
fgil estatura, pouco adequada para os trabalhos de foa e tão diversa da de
seus irmãos; mas esta mania de leitura lhe era odiosa; ele não sabia ler.
Foi emo que chamou Julien duas ou três vezes.
A ateão com que se entregava a seu livro, bem maior que o barulho da
serraria, o impedia de escutar a tervel voz de seu pai. Enfim, apesar de sua
idade, este saltou lentamente sobre a árvore submetida à ão da serra e d
para a viga transversal que sustinha o teto. Um golpe violento fez voar no
58
regato o livro que Julien segurava; uma segunda pancada também violenta,
dada em sua cabeça, em forma de cacholeta, o fez perder o equilíbrio. Ia cair a
quatro ou cinco metros abaixo, no meio das alavancas da quina em ão,
pom seu pai o reteve com a o esquerda:
Muito bem, preguiçoso! Sempre seus malditos livros enquanto
cuida da serra? Fique com eles à noite, quando vai perder seu tempo na casa do
cura.
Julien, embora aturdido pela força da pancada, e sangrando, aproximou-
se de seu posto oficial, ao lado da serra. Tinha grimas nos olhos, menos por
causa da dor sica do que pela perda do livro que adorava. (STENDHAL,
1995, p. 28-29)
Assim como ocorre com os pais que, algumas vezes, pensam estimular a for-
mação leitora dos filhos e não percebem que atrapalham, é comum, também, que
professores, no intuito de fazerem um “trabalho sério”, que leve os alunos a convi-
verem com a literatura, acabem por desconsiderar o fato de que o hábito da leitura
existe onde prazer. O excesso de cobrança, a preocupação com as notas e a
negação do direito de escolher suas próprias leituras dificultam o acesso dos jovens
aos livros. Cabe, nesse caso, a reflexão feita por Pennac: “que pedagogos éramos,
quando não tínhamos a preocupação da pedagogia!” (1993, p. 21). Lobato, em seu
texto “Recordando”, também reflete sobre o assunto, enquanto relembra suas leitu-
ras de Júlio Verne:
A intelincia entra a funcionar com prazer, eficientemente, quando a
imaginão lhe serve de guia. A bagagem de Júlio Verne, amontoada na
meria, faz nascer o desejo de estudo. Suportamos e compreendemos o
abstraio só quando existe material concreto na memória. Mas pegar de uma
pobre criança e -la a decorar nomes de rios, cidades, golfos, mares, como se
faz hoje, sem intermédio da imaginão, chega a ser criminoso. É, no entanto, o
que se faz!... A arte abrindo caminho à ciência: quando compreenderão os
professores que o segredo de tudo está aqui? (LOBATO, 1959, p 101).
59
Para Marisa Lajolo, será possível a realização de um bom trabalho de for-
mação de leitores nas escolas se os professores tiverem intimidade com as obras
literárias, pois, “se a relação do professor com o texto não tiver um significado, se
ele não for um bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau profes-
sor. E, à semelhança do que ocorre com ele, são igualmente grandes os riscos de
que o texto não apresente significado nenhum para os alunos, mesmo que eles res-
pondam satisfatoriamente a todas as questões propostas” (LAJOLO, 1986a, p.53).
Além disso, é de suma importância pensarmos em termos de interesses de leitura,
pois a preocupação, tanto de pais quanto de professores, em proporcionar aos jo-
vens e às crianças contato com textos que estejam de acordo com as simpatias de
suas faixas-etárias facilita a concepção de uma história de leitores para esses jovens
e para essas crianças.
1.4 Interesses de leitura
A questão dos interesses de leitura contraria muito aquela idéia, anteriormen-
te mencionada, de que o ato de ler deva ser algo com uma finalidade prática, não
levando em conta simplesmente o prazer. A verdade é que nenhum argumento ra-
cional do tipo “aumentar vocabulário”, “adquirir conhecimentos” e tantos outros
fará com que crianças e jovens tornem-se leitores assíduos, pois somos motivados
pela procura da realização, e isso pressupõe e envolve a busca do prazer. Aguiar
60
(1986) afirma que esse prazer deve ser descoberto antes mesmo da idade escolar,
começando em casa, embora as expectativas quanto à formação leitora acabem por
voltar-se para a escola, tornando-a uma das principais responsáveis por aproximar
ou afastar os alunos das obras literárias.
Filipouski defende a idéia de que a escola é o lugar ideal para que o indivíduo
torne-se leitor, pois “embora seja relativamente fácil ensinar uma criança ou mesmo
um adulto a reconhecer letras e palavras, dominando a dinâmica da leitura, é o trei-
no, o desembaraço, a assiduidade e a motivação do leitor que fixarão este hábito e
transformarão o ato de ler numa experiência ao mesmo tempo agradável e conduto-
ra do conhecimento” (FILIPOUSKI, 1986). Por isso a autora acredita na necessida-
de de a escola ocupar-se com o desenvolvimento de estratégias que tornem mais
eficiente o ensino da leitura. Considerando esse espaço tão significativo que a esco-
la ocupa na formação leitora das pessoas, torna-se fundamental que os professores
tomem alguns cuidados ao prepararem suas aulas, como, por exemplo, levar em
conta certos critérios de seleção dos textos a serem utilizados em seus trabalhos
com os alunos.
O interesse de leitura dos jovens está entre os pontos mais relevantes a serem
considerados em uma seleção adequada de textos, que não se formam leitores
sem prazer e esse é possível onde houver estima pelo texto. Segundo pesquisa
desenvolvida por Aguiar (1979), os interesses de leitura têm relação com idade,
sexo e nível socioeconômico. No que se refere à idade, a autora considerou a idéia
de Schliebe-Lippert e A. Beinlich, demonstrada na obra Como incentivar o hábito
61
da leitura, de Richard Bamberger (2005), segundo a qual, há cinco “idades de leitu-
ra”.
Essas idades poderiam ser definidas da seguinte forma: A idade dos livros de
gravuras e dos versos infantis, até os quatro anos, caracteriza-se por ser um
período egocêntrico, em que a criança faz pouca distinção entre o mundo interno
e o externo. Tudo o que experimenta parte do meio em que vive em relação a si
mesma, ou seja, é a idade do pensamento mágico. Nessa fase acontece a separação
entre o ego e o mundo que a cerca. Os livros de gravuras são agradáveis quando
oferecem objetos simples. A criança se interessa mais pelas cenas isoladas e menos
pela ação do enredo. Aprecia os versos infantis em virtude do ritmo, da força plástica
das idéias, do ritmo do jogo com as palavras e seus sons. O seu primeiro interesse
pelo conhecimento da ordem dos fatos é satisfeito pelo mais comum dos livros de
gravuras. Com os primeiros sinais de independência e desafio, “brincadeiras”
independentes com livros de gravuras também são importantes para finalidades
pedagógicas.
Entre os cinco e os oito ou nove anos a criança se encontra na idade do conto
de fadas, que se caracteriza por ser a idade de leitura do realismo mágico. Nessa
fase do seu desenvolvimento a criança é extremamente sensível à fantasia. No
começo desse período gosta principalmente de contos de fadas que representam
uma atmosfera que lhe é familiar. O prazer encontrado no ritmo e nos versos, bem
como o gosto pela poesia, permanecem os mesmos. Dos nove aos doze anos, o in-
divíduo estará na idade das histórias ambientais ou da leitura fatual, que possui como
característica principal a construção de uma fachada prática, realista, ordenada
62
racionalmente, “diante de um pano de fundo mágico-aventuresco pseudo-
realisticamente mascarado” (BANBERGER, 2005, p 34). Por ser uma fase em que a
criança começa a conquistar a sua orientação no mundo concreto, objetivo, iniciam
as perguntas do tipo: “Como?”, “O quê? e “Por quê?”, com cada vez mais
freqüência. A criança capta com curiosidade e paixão as coisas de seu meio, não
aceitando as descrições secas, mas preferindo as histórias que apresentem
acontecimentos intensos. Embora ainda haja algum interesse pelos contos de fadas
e pelas sagas, é notório o surgimento do interesse pelas aventuras.
Posteriormente, entre os doze e quatorze ou quinze anos, o jovem
experimenta a idade da história de aventuras e do realismo aventuroso ou a “fase de
leitura não-psicológica orientada para o sensacionalismo”. No desenvolvimento da
pré-adolescência, o sujeito, paulatinamente, toma consciência da própria
personalidade, afrouxando ou desfazendo os elos que havia. Nessa idade a
tendência de predominarem as demonstrações de agressividade que podem resultar
em formação de gangues. O interesse dos jovens leitores volta-se, principalmente,
para o enredo sensacionalista. No caso das meninas, a criança rebelde surge, muitas
vezes, no que se refere às preferências de leitura, no sentimentalismo barato e na
auto-adulação. Finalmente, nos anos de maturidade ou no desenvolvimento da esfera
estético-literária da leitura, que acontece, aproximadamente, entre os quatorze e os
dezessete anos, há a descoberta do próprio mundo interior e de uma escala de valores.
A forma e o conteúdo passam a ter importância, tanto quanto a trama. O interesse
63
pelo mundo exterior é substituído ou complementado pela participação no mundo
interior e no mundo dos valores.
Com relação ao sexo dos leitores, Aguiar (1979) concluiu que os fatores bio-
lógicos que determinam as diferenças de comportamento entre meninos e meninas
também interferem em suas preferências no que diz respeito à leitura. Os rapazes
têm predileção por textos de viagens, de aventuras e de explorações, enquanto as
moças preferem as histórias sobre amor e vida familiar. Quanto à influência da si-
tuação socioeconômica a pesquisa verificou que entre leitores de classes distintas
mais diferenças do que semelhanças. Os interesses são distintos desde questões
como o assunto tratado no texto e a estrutura da história até os aspectos externos,
como tamanho das folhas, espessura dos livros e tamanho das letras. Tais elementos
não podem ser deixados de lado na hora em que o professor estiver preparando suas
aulas de leitura.
Há, ainda, como demonstra Aguiar (1986), alguns fatores a serem ponderados
na hora de efetuar a seleção de textos utilizados na formação leitora dos jovens,
que a observância ou não desses elementos pode interferir diretamente no prazer ou
no desprazer da leitura. Inicialmente, devemos pensar na finalidade do texto, que
ele pode ser informativo ou recreativo. A autora alerta para o fato de que os livros
destinados aos jovens devem privilegiar o prazer e, portanto, quando se trata de
formação leitora na infância e na adolescência a opção deve ser pelas leituras recre-
ativas, ao menos nas disciplinas que estudam a linguagem, que nas demais
grande quantidade de textos informativos sendo trabalhados. “Seu exercício possi-
64
bilitará ao aluno uma forma habitual de lazer, ao mesmo tempo em que aguçará seu
espírito de análise e crítica como expressão cultural” (AGUIAR, 1986, p.87).
1.5 Escola e leitura literária
Talvez haja certa dificuldade em trabalharmos, no âmbito escolar, com a lei-
tura que visa o prazer porque, dessa forma, os alunos serão levados a perceber a
natureza anárquica que pode encerrar o ato de ler, o que contraria uma das finalida-
des da escola, que é ensinar a ter disciplina. Um aluno que se tornasse crítico, que
fosse capaz de pensar por si próprio, que contestasse, causaria incômodo a alguns
professores, o que é compreensível se pensarmos que esses mestres também foram
criados em uma sociedade que não contribui para desenvolver neles próprios tais
habilidades leitoras. Dessa forma, ao causar desconforto em uma escola que não
sabe como lidar com o aluno leitor, ele transformar-se-ia em algo como um “con-
tra-herói”:
Fião de um indiduo (algum Sr. Teste às avessas) que abolisse nele
as barreiras, as classes, as exclusões, o por sincretismo, mas por simples
remoção desse velho espectro: a contradição lógica; que misturasse todas as
linguagens, ainda que fossem consideradas incompatíveis; que suportasse,
mudo, todas as acusações de ilogismo, de infidelidade; que permanecesse
impassível diante da ironia soctica (levar o outro ao supremo opbrio:
contradizer-se) e o terror legal (quantas provas penais baseadas numa
psicologia da unidade!). Este homem seria a abjão de nossa sociedade: os
tribunais, a escola, o asilo, a conversação, convertê-lo-iam em um estrangeiro:
quem suporta sem nenhuma vergonha a contradição? Ora este contra-herói
existe: é o leitor de texto; no momento em que se entrega a seu prazer. Eno o
velho mitoblico se inverte, a confusão das nguas o é mais uma punição, o
65
sujeito chega à fruão pela coabitação das linguagens, que trabalham lado a
lado: o texto de prazer é Babel feliz. (BARTHES, 2004, p. 7-8)
Uma das prioridades da escola deve ser transformar esse quadro e, para isso,
é necessário que haja uma seleção cuidadosa com relação ao material destinado às
aulas de leitura. Além de escolher entre texto informativo ou recreativo, é funda-
mental pensar na qualidade do material que será utilizado. Por tratar-se de obras
escritas por adultos, para crianças e adolescentes, a literatura infanto-juvenil deve
sofrer ajustamentos no que se refere a: assunto, estrutura da história, estilo, forma e
aspectos externos. Quanto ao assunto, não restrições desde que o tema abordado
sofra as devidas adaptações ao universo e aos interesses do pequeno leitor. O texto
deve ajudar na integração do sujeito à realidade ao mesmo tempo em que o torna
crítico frente às questões relacionadas com o mundo a sua volta:
É necessário que a figura do herói, à qual o leitor se identifica projete a
imagem de uma criaa empreendedora, que age e instiga as demais
personagens àão. Sua trajetória a levará ao amadurecimento, à descoberta de
valores na o à simples aceitão da norma adulta. (AGUIAR, 1986, p. 87)
Com relação à estrutura da história, Aguiar afirma que o modelo dos contos
de fadas é o mais adequado, tendo demonstrado grande aceitação junto ao público
infantil por haver um conflito inicial que é resolvido ao final da história. É impor-
tante salientar a necessidade do final feliz em relatos infantis, pois essa é a forma
pela qual as crianças adquirem a autoconfiança necessária para o enfrentamento
com a vida adulta. Essa é a principal razão pela qual os contos de fadas fazem su-
66
cesso junto a esse público, pois eles são a mais pura expressão dos processos psí-
quicos pelos quais a criança passa:
Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitogico mais
elaborado, atingimos as estruturas sicas da psique humana atras de uma
exposição do material cultural. Mas nos contos de fadas existe um material
cultural consciente muito menos espefico e, conseentemente, eles espelham
mais claramente as estruturas básicas da psique. (…) cada conto de fadas é um
sistema relativamente fechado, composto por um significado psicológico
essencial, expresso numa rie de figuras e eventos simbólicos, sendo
desvenvel através destes. (FRANZ, 1990, p. 9-10)
Quanto ao estilo, o texto deve oferecer uma linguagem adequada ao nível de
compreensão infantil. É necessário que o vocabulário seja acessível à criança sem
ser infantilizado, com a inserção de palavras e expressões cada vez mais comple-
xas, que contribuam para o aumento do universo lingüístico dos leitores. A forma
deve apresentar narrativas dinâmicas e lineares, textos de ação e aventura que si-
gam a cronologia da história. Os aspectos externos também são importantes. É bom
que as capas sejam atraentes e sugestivas, não se danificando facilmente e quanto
menores forem os leitores, maiores devem ser os tipos gráficos. Além disso, devem
ser evitados os livros extensos demais, pois as crianças tendem a rejeitar textos
muito longos. As ilustrações também são de extrema importância, especialmente
entre os leitores menores. cada vez mais empenho na produção de textos infan-
to-juvenis adequados, o que, de certa forma, facilita o trabalho de professores e
mediadores de leitura.
Nesse sentido, as pesquisas na área da leitura contribuem de modo sensível
no auxílio aos pais e mestres preocupados com a formação leitora de seus filhos e
67
alunos, pois proporcionam uma maior compreensão do processo pelo qual passam
os pequenos em cada idade, bem como seus gostos e interesses de leitura. Há, ain-
da, trabalhos de pesquisa envolvendo leitura e ensino, com vistas ao preenchimento
de certas lacunas deixadas pela escola em virtude dos fatores anteriormente anali-
sados. Dessa forma, temos a possibilidade de uma inclusão no mundo da leitura, de
crianças que, de outra maneira, não teriam acesso a textos literários variados e a
experiências enriquecedoras envolvendo o contato com a arte literária. Tais vivên-
cias tornam possível a “escritura” de uma história de leitores e o encontro de signi-
ficados simbólicos existenciais que tornarão as crianças mais preparadas para a vi-
da, levando-as a um equilíbrio emocional e aprimoramento intelectual que, de outra
forma, seria mais difícil.
1.6 Uma experiência de formação leitora nas classes populares
Uma das iniciativas nesse sentido, que podemos citar, é o projeto intitulado
Centro de Literatura Interativa da Comunidade CLIC, concebido e coordenado
pela professora Vera Teixeira de Aguiar, da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul. Esse trabalho, com grande poder integrador, é desenvolvido em
uma sala cedida ao projeto, em um centro de extensão da universidade na Vila Nos-
sa Senhora de Fátima, Região Leste de Porto Alegre. Nessa sala, foi instalado um
espaço de promoção da leitura composto por uma biblioteca de aproximadamente
68
mil livros, além de quatro computadores, impressora, scanner, televisão e videocas-
sete.
O espaço é todo pensado de forma a proporcionar experiências agradáveis e
enriquecedoras às crianças, com mesas e almofadas, além de outros elementos, tais
como reproduções de pintura e materiais diversos para trabalhos artísticos vincula-
dos à leitura, propiciando um ambiente mais repleto de possibilidades. As oficinas
acontecem diariamente, em dois turnos, inversos ao escolar, com duração de
01h30min, atendendo a crianças da comunidade que possuem entre sete e quatorze
anos.
Esse projeto teve início no ano de 1996, a partir de um trabalho de conclusão
de curso da aluna de Psicologia Marília Papaléo Fichtner, formada em Letras,
que foi orientada pela professora Vera Aguiar. Desse trabalho de pesquisa, surgiu a
idéia de um projeto maior, que foi aprovado pela CAPES, Coordenação de Aperfei-
çoamento de Pessoal do Ensino Superior, e que se mantém até hoje, atendendo aos
jovens da comunidade entre os meses de março a dezembro, com a colaboração de
bolsistas em nível de graduação e de pós-graduação, inclusive Mestrado e Doutora-
do, além de alunos voluntários.
Os estudantes são levados diariamente (um ou dois oficineiros) por um mi-
cro-ônibus da PUCRS até o local onde acontecem as oficinas, que são as mais vari-
adas, dentre elas: literatura e contação de histórias, literatura e teatro, literatura e
música, literatura e computador, literatura e biblioteca, e outras mais, dependendo
69
das habilidades do monitor. Na oficina de literatura e biblioteca, é simulada uma
situação em que as crianças vão consultar ou retirar livros, para que aprendam, a-
través de experiência própria, como se movimentar dentro de uma biblioteca e, a-
lém disso, para que conheçam livros com os quais elas dificilmente teriam contato,
como os de arte, por exemplo.
O objetivo maior do trabalho é o livro e, portanto, qualquer uma das oficinas
deve ter como ponto de partida a leitura de obras literárias e, após percorrer o seu
caminho, a elas voltar, fazendo com que as crianças tenham um outro tipo de expe-
riência literária, diferente da que possuem na escola, que é baseada em leituras o-
brigatórias para aquisição de notas. Dessa forma os participantes da oficina têm a
oportunidade de uma vivência com livros de literatura que contribuirá fortemente
para a ampliação de seus horizontes de expectativas, tornando-os mais preparados
para a vida e proporcionando-lhes algo que se poderia chamar de inclusão, de fato,
no mundo das letras. Tal inserção vai além da pura capacidade de decodificar, de
ler mecanicamente, possibilitando uma capacidade de atribuir significados aos tex-
tos lidos.
Além dessas atividades, há os Encontro Culturais, que são reuniões que ocor-
rem uma vez por mês, com a presença de algum convidado da área do livro, da lei-
tura ou outras relacionadas, que vai à vila para uma conversa com as crianças. En-
tretanto, é importante salientar que, para recebê-lo, é feito todo um trabalho de pre-
paração com as crianças, para que elas tenham contato prévio com o material cultu-
ral produzido pelo convidado em questão, para que tenham condições de fazer per-
70
guntas e conversar com o visitante. Essa atividade proporciona-lhes a apropriação
de um objeto cultural que resulta em um comportamento que, até então, não perten-
cia ao seu universo, fazendo com que discorram sobre obras literárias e seus respec-
tivos autores com a intimidade de quem conhece. Através dessas experiências, as
crianças passam a ter contato com uma vivência cultural sobre a qual não tinham
conhecimento, pois não faz parte da comunidade em que vivem.
Outro trabalho importante do CLIC são os cursos de formação de professores,
pois isso faz com que a idéia de inclusão no mundo da literatura se multiplique e
ganhe uma maior abrangência, que proporciona aos professores envolvidos a
possibilidade de experimentar algo que a sociedade espera que eles sejam capazes
de levar aos seus alunos, mas com o qual o costumam ter contato. Dessa forma,
podemos pensar em um início de transformação, também, no âmbito escolar, pois
professores mais preparados serão mais capazes de fazer com que seus alunos, ain-
da que em situações adversas, tenham mais chances de virem a se tornar leitores
assíduos.
Acreditamos que esse tipo de trabalho, através da criação de novas oportuni-
dades de contato com a cultura letrada, propicie a esses indivíduos um aprimora-
mento de si próprios em sua condição humana, pois ao verem o seu pequeno mun-
do ser ampliado, ao entrarem em contato com um novo universo, perceberão que
podem ir além daquilo que lhes é familiar, que podem “ganhar o mundo” e, dessa
forma, serão levados a uma transformação de postura frente à vida que fará com
que não aceitem mais, de maneira passiva, uma situação que lhes seja incômoda,
71
pois saberão que existe uma nova realidade a ser conquistada e objetivos pelos
quais podem lutar.
72
2 SOBRE A PESQUISA
2.1 Tipo de pesquisa
Entendemos que uma metodologia de pesquisa deva pressupor um posicio-
namento crítico das vias percorridas no processo científico, questionando continu-
amente seus limites e possibilidades, servindo como um instrumento a serviço da
pesquisa, no qual toda questão técnica implique uma discussão teórica. Optamos
pelo método qualitativo por acreditarmos que esse seja mais adequado a uma pro-
posta de pesquisa que pretenda levar em conta a interação das subjetividades dos
indivíduos investigados. Essa forma de pesquisa privilegia a análise de micropro-
cessos, estudando ões que tanto podem ser individuais quanto grupais, através de
exame intensivo dos dados obtidos. A heterodoxia, ou seja, a oposição aos padrões,
normas ou dogmas estabelecidos, está entre as suas principais características no
momento da análise. Nesse tipo de estudo é necessário que haja um grande enfoque
na intuição e na imaginação, resultando em um trabalho praticamente artesanal.
É necessário que o objeto de pesquisa seja definido com clareza e precisão,
além de conhecimento acerca da aplicação dos fundamentos e dos princípios do
73
método utilizado. Esse deve valorizar a pesquisa através de determinados procedi-
mentos de obtenção, verificação e sistematização do conhecimento. Conforme nos
mostra Roberto da Matta, é necessário que observemos a “interação complexa entre
o investigador e o sujeito investigado” (MATTA, 1991, p.23), pois ambos compar-
tilham um universo comum de experiências humanas repleto de diferenças que de-
vem ser acolhidas. É inegável a imensa distância que há entre o objeto de pesquisas
sociais, o ser humano, e o objeto de pesquisas da área das ciências naturais, pois o
primeiro caracteriza-se por apresentar pontos de vista particulares e uma forma
própria de interpretar a realidade que não pode ser desconsiderada, o que não ocor-
re com o segundo.
Além disso, não há a possibilidade de ignorarmos a história de vida, os ideais
e os interesses do pesquisador, bem como o ambiente cultural no qual ele está inse-
rido, ou seja, não uma pesquisa absolutamente neutra, e a objetividade do traba-
lho é relativa. Por isso, sabemos que cada pesquisa mostra uma parte da realidade e
jamais poderá ser considerada como verdade absoluta. Este estudo pretende diag-
nosticar a situação de leitores do Ensino Fundamental, pertencentes às classes po-
pulares. Nossos objetivos são investigar o perfil do jovem leitor da série das
classes populares no que se refere às suas histórias e interesses de leitura, além de
apontar elementos que possam servir como ponto de partida para futuras alternati-
vas de progresso na formação leitora de jovens de classes populares. Embora a
perspectiva por nós adotada nesta pesquisa seja a social, sabemos que outros
fatores implicados na questão da formação de leitores, e que o ato de ler pode ser
74
explicado sob diversos pontos de vista. Por isso, não pretendemos esgotar o assun-
to, ao contrário, estamos muito longe disso. Todavia, entendemos que o fator social
esteja entre os mais importantes e entre os que mais devam ser levados em conta no
momento de pensarmos em ensino de leitura.
2.2 Universo e corpus
O universo escolhido para a pesquisa foi o de estudantes que integram as
classes populares. A opção por esse corpus ocorreu pelo fato de que nos é o mais
familiar em virtude de trabalhos anteriores com oficinas de leitura voltadas para
esse público. Preferimos a série porque entendemos que essa é uma fase adequa-
da para uma pesquisa que visa contribuir como um possível ponto de partida para a
elaboração de metodologias de ensino da literatura. Isso pelo fato de que esses alu-
nos não são mais tão pequenos e devem possuir alguma experiência no que se
refere à leitura por terem cursado as séries iniciais do Ensino Fundamental. Por
outro lado, ainda não têm idade nem vivência suficientes para estarem absoluta-
mente formados como leitores, podendo, dessa forma, mostrar possibilidades de
caminhos a serem trilhados para que possamos formar mais leitores, o que seria
mais difícil com alunos mais velhos e mais experientes, que, por certo, possuem
as suas idéias pré-concebidas sobre a leitura.
75
Os vinte e sete alunos entrevistados estudam na turma 52 da Escola Estadual
de Ensino Fundamental Visconde do Rio Grande, localizada no bairro Cavalhada.
Embora o bairro componha-se, na maior parte, por habitantes da classe média, a
escola atende a alunos moradores de duas vilas populares próximas, conhecidas
como Funil e Cai-cai. São, portanto, crianças de baixo poder aquisitivo e, conse-
qüentemente alijadas da cultura letrada e das vantagens sociais da classe média.
Possuem, em sua maioria, entre onze e doze anos, ainda que dois deles sejam mais
velhos, tendo quatorze anos. A escola não possui computadores disponíveis aos
alunos, mas alguns deles contaram que conhecem a internet por meio de uma lan
house que freqüentam eventualmente. As crianças mostraram-se, de início, ariscas
e, após a explicação sobre o procedimento e os objetivos da pesquisa, tornaram-se
mais receptivas.
2.3 Instrumento de pesquisa
A entrevista foi aplicada por meio de um roteiro de dezoito perguntas que se
encontra em anexo. Nesse roteiro encontram-se questões que investigam suas histó-
rias e interesses literários, bem como o comportamento de leitor através do ambien-
te, tanto familiar quanto escolar, em que essas crianças estão inseridas e onde elas
estão recebendo sua formação leitora. No momento da elaboração do instrumento
de pesquisa tivemos a preocupação de obtermos o máximo de informações com o
76
mínimo possível de perguntas para facilitarmos o trabalho, pois dessa forma não
sobrecarregaríamos os alunos no momento da entrevista e, tampouco, ocuparíamos
um tempo excessivamente longo da escola.
Ao final do roteiro encontra-se uma questão que, na verdade, não é uma per-
gunta, mas sim um pedido para que os alunos contem uma história de que se lem-
brem naquele momento e de que gostem muito. Com essa questão pretendemos
inteirar-nos acerca dos conhecimentos prévios dos jovens sobre os textos literários
e descobrir um pouco sobre suas capacidades de organizarem uma narrativa em
início, meio e fim, pois isso ajudaa demonstrar se os alunos tiveram e/ou têm
contato com a literatura, tanto através de histórias ouvidas, quanto lidas.
2.4 Processo de pesquisa
A pesquisa compõe-se de uma parte teórica e outra prática. A primeira consi-
dera a leitura sob o ponto de vista social, com enfoque nas histórias de leitura. A
segunda parte de uma coleta de dados em uma escola pública de Porto Alegre atra-
vés de uma entrevista oral, para diagnosticar a situação da leitura nas classes popu-
lares, mais especificamente, entre uma amostra de alunos da série do Ensino
Fundamental. A técnica de entrevista foi escolhida em vez de um questionário es-
crito por acreditarmos que dessa forma estaríamos mais perto dos entrevistados,
podendo observar suas reações. Foi realizada, em um primeiro momento, uma tes-
77
tagem, em cinco alunos, das perguntas que integram o roteiro de pesquisa. Ao cons-
tatarmos que não havia dificuldades dos estudantes no sentido de compreenderem
bem as questões, partimos para a pesquisa propriamente dita, que foi feita em duas
tardes, com a autorização da vice-diretora.
As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para facilitar a a-
nálise dos dados, que se organizam de acordo com os tipos de respostas fornecidas
pelas crianças. Logo após o preparo dos dados é feita uma análise do corpus, que
resulta no levantamento dos resultados obtidos, que devendo ser interpretados à luz
da teoria exposta na primeira parte da pesquisa. A partir da interpretação dos dados
é feita a conclusão do processo de pesquisa, na qual efetuamos as respostas às ques-
tões norteadoras, atendendo aos objetivos propostos.
78
3 SOBRE OS DADOS LEVANTADOS
Ao efetuarmos as perguntas aos alunos, procuramos tomar o cuidado de não
interferir em seus posicionamentos, pois percebemos que há uma tendência por par-
te das crianças de tentarem descobrir, através dos sinais que damos, qual é a “res-
posta certa”, ou seja, alguns deles tentam responder o que, supõem, o adulto que
está em sua frente quer ouvir e não o que eles pensam de verdade. Por isso, opta-
mos por manter uma posição de neutralidade a fim de evitar uma interferência invo-
luntária nos efeitos obtidos. Dessa forma, em alguns momentos, afirmações tais
como: “não me lembro” ou “não sei” e, nesses casos, optamos por não “forçar” um
resultado. Também procuramos o interferir na maneira escolhida pelos alunos
para contarem a história solicitada na questão 18, pois entendemos que, dessa for-
ma, eles teriam mais liberdade, sentindo-se menos intimidados pela presença de um
adulto que, para eles, poderia estar interessado em avaliar o seu desempenho, o que
sempre pode inibir. O roteiro de perguntas sonda três aspectos que consideramos
importantes na formação leitora dos indivíduos: suas histórias de leitura, seus inte-
resses de leitura e seus comportamentos de leitura, bem como os daqueles que os
cercam, em casa e no ambiente escolar.
79
3.1 Histórias de leitura
Com relação às histórias de leitura foram feitas as seguintes perguntas:
Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te? Por quê?
Os teus pais m o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles
têm o hábito de ler?
Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Quanto ao hábito de ouvir contos infantis em casa quando pequenos, apenas
cinco crianças disseram que ninguém lhes contava histórias, outras quatro, que a-
firmaram vivenciar tal experiência freqüentemente, não foram capazes de dizer
quem era o adulto que lia ou apenas repetia histórias conhecidas para elas. Um dos
alunos mencionou que assistia “histórias” na TV, enquanto outro disse que ouvia
histórias do Bicho-Papão, os demais alunos disseram que não tiveram essa experi-
ência em casa. A figura que aparece como a grande contadora de histórias é a da
80
mãe, entretanto outros integrantes da família, como pai, avós, irmãos e tias que
também surgem, embora com freqüência mais reduzida.
Entre as crianças que afirmaram ouvir histórias quando pequenas, cinco não
conseguiram dizer o nome de seus contos preferidos, alegando não lembrar ou, ain-
da, dando apenas o nome de uma personagem da história, como o Lobo Mau, sem
dizer a que conto se refere. Foi possível perceber que muitas repetições, entre as
histórias citadas, de contos clássicos que se tornaram populares no cinema e/ou nos
gibis, como Branca de Neve, Cinderela, Os três porquinhos, A bela adormecida e
Chapeuzinho Vermelho. Ao perguntarmos aos alunos sobre suas histórias preferi-
das, deparamo-nos novamente com as repetições de histórias anteriormente men-
cionadas. Entretanto, além desses contos de fadas, as crianças aludiram, também, a
O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Outra história citada repetidas
vezes foi Os três porquinhos, sendo que um dos informantes mencionou, no decor-
rer da pesquisa, o fato de esse conto ter sido trabalhado em sala de aula. Algumas
crianças apontaram nomes das personagens Saci Pererê e Mula-sem-Cabeça, reme-
tendo novamente ao Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Com relação à pergunta sobre se ganharam livros de presente, onze crian-
ças afirmaram nunca terem ganhado, em nenhuma ocasião, enquanto outras duas
disseram não recordar ou não saber. Entre os entrevistados que alegaram terem
ganhado tais presentes, cinco não mencionaram se o fato ocorreu em alguma data
especial, três ganharam no Natal e seis no aniversário. As obras eleitas pelos alu-
nos, bem como as razões para tal escolha são as seguintes: Cinderela, porque a his-
81
tória é bonita e a criança disse que gostaria que acontecesse consigo; 102 dálmatas,
porque gostou dos cachorros, e Soldadinho de chumbo, porque “é legal de ler”.
Houve alunos que demonstraram suas preferências sem mencionarem a razão,
apenas citando a obra O Sítio do Pica-Pau Amarelo e o poeta Mário Quintana, ou,
ainda, os que fizeram referência a personagens preferidos, como: Harry Potter, por-
que “é divertido, bacana e legal” e vive muitas aventuras; Megamen, porque é de
ação; Mula-sem-Cabeça, porque é “engraçada e divertida” e Saci Pererê, porque a
personagem gostava de aprontar com todo mundo”. Uma das crianças declarou
preferir a história da princesa, pois é cheia de aventuras, entretanto, não referên-
cia a nenhuma obra em especial e, portanto, não sabemos de que princesa se trata,
enquanto outra afirmou que o livro de que mais gostou foi o de Inglês, pois gosta
muito dessa disciplina.
Quanto aos hábitos de leitura em casa, foi perguntado aos alunos se os pais
costumam comprar livros e se costumam ler com freqüência. Uma criança afirmou
que eles compram, mas não lêem; 15 disseram que os pais não compram, mas lêem;
quatro alunos declararam que os pais não compram livros e tampouco lêem, en-
quanto outros quatro, ao contrário, garantiram que os pais compram e lêem livros.
Outros três alunos forneceram respostas vagas, tais como: “eles têm muito, eles que
me ensinaram”, “às vezes” e jornal, revista, livro”. Houve menção a leituras de
livros espíritas e ao jornal Diário Gaúcho.
82
Na última pergunta relacionada às histórias de leitura dos alunos, foi pedido
que eles citassem o livro de que mais se recordassem e explicassem o porquê. Mais
uma vez houve quem fizesse menção a personagens em vez de obras literárias. Os
livros e personagens lembrados pelos jovens foram: Mula-sem-Cabeça, Harry Pot-
ter, Branca de Neve, Pássaro sem cor, Pequeno Polegar, Um cadáver ouve rádio,
Um dia daqueles, Soldadinho de chumbo, Cinderela, O santinho e O velho e o mar.
As razões apresentadas pelas crianças para suas preferências por determinadas o-
bras ou personagens foram o fato de serem vividas muitas aventuras; porque a mãe
lia quando eram pequenos ou porque ela assustava com o Lobo Mau; porque são
histórias tristes; porque a personagem sofreu, mas conseguiu o que queria; porque a
história falava sobre a vida em uma escola ou, ainda, porque viu o filme no cinema
e gostou, como no caso de Harry Potter. Oito alunos não foram capazes de recordar
nenhuma obra, enquanto outros seis que mencionaram alguma história em especial
não conseguiram explicar a razão da preferência. Treze entrevistados foram capazes
de fornecer a resposta completa.
Não podemos deixar de vincular às histórias desses leitores, os seus interesses
com relação à leitura, pois, é a partir desse conhecimento, que poderemos pensar
em estratégias de inclusão desses alunos no mundo da palavra escrita. Não é possí-
vel a concepção de uma história de leitura se não levarmos em consideração o que
emociona, o que encanta e o que desperta a atenção das crianças. Por essa razão,
um dos itens analisados em nossa pesquisa diz respeito aos interesses de leitura dos
entrevistados e, sobre isso, trataremos a seguir.
83
3.2 Interesses de leitura
No que se refere aos interesses de leitura foram feitas as seguintes perguntas:
Quais são teus divertimentos preferidos?
Que tipo de leitura tu preferes?
Teus professores indicam livros de histórias e livros de poemas para
leres? De quais mais gostas?
Depois da leitura, que atividades o propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre a fantasia?
Por quê?
Se tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Conta uma história de que gostes muito.
Ao serem questionados sobre seus divertimentos preferidos, somente quatro
alunos não mencionaram um ou mais tipos de atividades físicas e apenas duas cri-
anças disseram que têm na leitura seu melhor passatempo. Os tipos de leitura predi-
letos variam, pois alguns dizem preferir aventura, outros terror ou ação e outros,
ainda, suspense. Há, também, os que optam por textos narrativos e os que escolhem
84
os gibis, mas os grandes campeões de preferência são os poemas, sendo citados por
11 alunos dentre os 27 investigados. Quanto às recomendações de leitura dos pro-
fessores, vinte e quatro alunos asseguraram que os mestres indicam livros, enquan-
to outros três disseram que não. Os preferidos, entre os recomendados na escola,
estão os de Mário Quintana.
Sobre as atividades após a leitura, três alunos afirmaram que os professores
não propõem tarefa alguma, enquanto os demais mencionaram os mais variados
tipos de exercícios, tais como perguntas, resumos, trabalhos com biografia, “rascu-
nho do livro”, desenho, caça-palavras e “ver os personagens”. Além disso, foram
citadas muitas atividades físicas e, até mesmo, a própria disciplina de Educação
Física, o que nos faz pensar que talvez essa aula aconteça após a de Língua Portu-
guesa. Quanto às suas atividades preferidas, os alunos citaram com maior freqüên-
cia os questionários, os resumos e asinvenções de histórias”. Não foi mencionado
pelas crianças nenhum tipo de atividade lúdica após a leitura das obras literárias.
Ao pedirmos que os alunos optassem entre livros que tratem de realidade ou
de fantasia, verificamos que as opiniões ficam divididas, com uma pequena vanta-
gem para a realidade, que tem a preferência de 12 crianças, enquanto a fantasia é a
escolha de 10. Entre as razões alegadas pelos que preferem a realidade estão: “por-
que é mais divertido”; porque pode acontecer” ou “porque é o que acontece”; por-
que o sujeito “fica mais pronto para a vida” ou, simplesmente, “porque é melhor”.
As razões dos defensores da fantasia são: porque desperta a imaginação”; “para
viajar na história”, porque “é mais interessante para mim”; “porque lendo parece
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que a gente tá lá”; “para sair da realidade” e, finalmente, “porque é mais divertido”.
Dois alunos disseram que gostam tanto dos textos que tratam de realidade quanto
dos que abordam a fantasia, um porque gosta muito de ler e o outro porque acha as
duas formas de tratar a literatura divertidas. Os três restantes não apreciam nem
realidade, nem fantasia, pois afirmaram não gostar de ler.
Ao responderem sobre o livro que comprariam, os alunos demonstraram mais
uma vez a sua preferência pelo poeta Mário Quintana, pois ele foi o escolhido entre
cinco crianças, empatando somente com os alunos que não sabem que livro com-
prariam, já que esses também foram cinco. O único livro de Quintana que foi citado
foi de pilão. Em segundo lugar estão empatados o autor Monteiro Lobato, sendo
que muitas crianças lembram bastante de suas personagens em vez de recordarem
os títulos de seus livros, e as obras Os três porquinhos e Branca de Neve, que tive-
ram dois “votos” cada. Os demais alunos escolheram obras como: Harry Potter e a
ordem da fênix, Chapeuzinho Vermelho, Soldadinho de chumbo, Um dia daqueles,
A bela e a fera e Aladim. Os autores citados como possíveis de terem seus livros
comprados foram: Shakepeare, Marcos Rei e Erico Verissimo.
Ao final, foi solicitado que os alunos contassem uma história de que gostas-
sem muito. O conto Os três porquinhos foi o mais relatado, tendo sido o escolhido
entre onze crianças, enquanto outras onze alegaram não saber contar ou não lem-
brar de nenhuma história. Um aluno contou O velho e mar, de Ernest Hemingway,
entretanto modificou o final, tornando-o mais feliz. Outro contou a história clássica
Chapeuzinho Vermelho. A personagem Harry Potter foi mencionada, sem referên-
86
cia aos títulos de nenhuma obra, por um aluno que disse ter gostado muito da histó-
ria, mas não sabia contá-la. A obra O gato de botas e a personagem das histórias
em quadrinhos Mônica, criada por Maurício de Souza, foram lembradas por outras
duas crianças que também declararam não saber contar o que leram. Entre os alu-
nos que contaram as histórias solicitadas no roteiro, seis o fizeram de forma com-
pleta, com início meio e fim, enquanto os outros cinco o fizeram de maneira in-
completa, omitindo alguma parte importante da narrativa; dois alunos modificaram
os finais e somente outros dois não foram capazes de imprimir coerência ao que
narraram.
Ao analisarmos os interesses desses leitores, estamos aos poucos entrando na
esfera das suas condutas, tanto no que se refere aos seus próprios comportamentos
quanto aos daqueles que os rodeiam, pois, a partir de seus gostos e anseios literá-
rios, se formará a sua personalidade de leitores. Por isso, ao analisarmos os interes-
ses, chegaremos aos comportamentos e esses nos levarão de volta a formação de
uma história de leitores, formando um todo que, para ser compreendido, deve ser
analisado em suas partes. O comportamento quanto à leitura é a próxima etapa do
trajeto.
87
3.3 Comportamentos de leitor
Quanto aos comportamentos em relação à leitura, tanto das crianças quanto
das pessoas que as rodeiam, foram feitas as seguintes perguntas:
Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Como é a biblioteca de tua escola?
A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Há livros em tua casa? Quais?
Quando perguntados sobre seus hábitos de leitura, dentre os 27 alunos pes-
quisados, somente cinco disseram não possuir o costume de ler com freqüência. Ao
perguntarmos qual teria sido a quantidade de livros lidos no ano anterior, duas cri-
anças afirmaram não se recordar ou não saber a quantidade exata. Observamos, no
entanto, declarações bastante exageradas, pois quase todos os jovens disseram ter
lido em torno de 12, 13, 14,22,25 ou, até mesmo, 50 livros no ano anterior. Quanto
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à participação da escola em sua formação leitora 15 crianças demonstraram não
sentir nenhum empenho dessa instituição no sentido de fazê-los gostar de ler, oito
acreditam que a escola se esforça para torná-los leitores e um aluno demonstrou que
esse comprometimento escolar com a leitura é algo que ele define vagamente como
“mais-ou-menos”. Há, ainda, outros três alunos que disseram não saber responder
se ou não envolvimento por parte da escola na formação leitora dos alunos. En-
tre os que responderam positivamente, foram alegadas razões tais como: “porque
tem bastante livros na biblioteca”, porque é uma escola muito boa” e “porque
compram livros”.
Sobre a freqüência dos alunos à biblioteca escolar, constatamos que 16, ou
seja, mais da metade dos 27 pesquisados, não a freqüentam, enquanto 11 crianças
disseram que a visitam regularmente. Com relação a outras bibliotecas, o mero
dos que não comparecem aumenta ainda mais, pois 23 informantes disseram que
não vão a nenhum tipo de biblioteca fora da escola e somente três responderam que
vão, enquanto um último preferiu um caminho intermediário, dizendo que freqüen-
ta alguma outra biblioteca além da escolar “às vezes”. Ainda com relação à biblio-
teca da escola, ao perguntarmos como é esse local, obtivemos um posicionamento
neutro por parte de 14 crianças, que responderam dizendo que nunca entraram, por-
tanto não fizeram comentários nem positivos e nem negativos, ou, então, responde-
ram que a biblioteca é grande e possui livros, o que não revela se esses alunos pos-
suem uma visão favorável ou não à biblioteca escolar, já que eles apenas limitaram-
se a descrevê-la ou a dizer que jamais a conheceram.
89
Todavia, 11 alunos afirmaram que a biblioteca escolar é boa e apenas duas
crianças responderam de forma negativa, alegando que ela quase não possui livros.
Quanto ao empenho da biblioteca escolar no sentido de promover atividades que
incentivem a leitura, a maioria das respostas foram negativas, pois 19 alunos afir-
maram que a biblioteca da escola jamais promove tais trabalhos lúdicos com a lei-
tura. Seis crianças disseram que sim, que a biblioteca promove essas atividades,
entretanto não foram capazes de explicar de que forma isso ocorre. Houve, ainda,
dois alunos que se mantiveram neutros, preferindo uma resposta evasiva, isto é, um
“não sei”. Perguntamos, finalmente, sobre a existência ou não de livros nas resi-
dências das crianças e obtivemos 20 respostas favoráveis, enquanto apenas sete a-
lunos disseram que não livros em suas casas. Porém, constatamos que a grande
maioria dos jovens que disseram haver livros em casa não foram capazes de res-
ponder quais são os títulos que compõem suas bibliotecas particulares.
Entendemos que com esses dados é possível traçarmos de forma razoável o
perfil dos alunos entrevistados, bem como conhecermos as suas imagens de leitura
e, finalmente compreendermos o papel da escola em sua formação leitora. Para is-
so, faz-se necessário o entendimento de que os três elementos investigados através
do roteiro de entrevista, história de leitores, interesses de leitura e comportamentos
de leitor relacionam-se entre si, estabelecendo uma correspondência mútua. Dessa
forma, uma informação sobre a biblioteca escolar, por exemplo, pode estar relacio-
nada tanto com o perfil de leitor, porque demonstrará o seu comportamento em re-
lação a ela; com a imagem de leitura, pois esse ambiente tem grande importância na
90
visão que temos da leitura; e no papel da escola, já que, na maioria das vezes, nosso
primeiro contato com a instituição biblioteca se faz na escola. Assim sendo, tenta-
remos relacionar todos esses elementos, ao mesmo tempo em que faremos a análise
separadamente.
91
4 SOBRE OS LEITORES
4.1 Perfil dos leitores
Consideramos que, para traçar o perfil de uma determinada pessoa ou de um
grupo, seja necessário que se faça a sua descrição em traços que ressaltam suas ca-
racterísticas básicas, informando de maneira concisa sobre sua vida. O perfil traça-
do nesse estudo diz respeito, obviamente, às características básicas de leitores das
crianças entrevistadas. Para tal, levamos em consideração as informações acima
descritas acerca de suas histórias e interesses leitura, e sobre os comportamentos
relacionados a esse ato, seus e dos que os cercam. Tentamos descobrir o significado
que por detrás de cada informação coletada e descrita, pois assim somos ca-
pazes de compreender a forma pela qual esses indivíduos experienciam a leitura em
suas vidas.
Inicialmente, o que percebemos diz respeito a todas as crianças, de um modo
geral, independente de suas classes sociais, ou seja, a mãe é mencionada como a
contadora de histórias titular, sendo seguida pelos demais membros da família. Tal
fato, em um primeiro momento, parece-nos positivo, pois os alunos demonstram
92
ouvir histórias em casa, o que seria reforçado pelo fato de apenas cinco alunos te-
rem dito que ninguém lhes proporcionava tal experiência. Além disso, ao associa-
rem o gesto de ouvir histórias com a figura da mãe, imprimem afetividade a tal ex-
periência, fazendo com que a leitura seja vista como algo aprazível.
Entretanto, quando observamos atentamente as informações obtidas, perce-
bemos que as crianças entrevistadas parecem não possuir muita familiaridade com a
contação de histórias, pois algumas não conseguem dizer quais eram os adultos que
exerciam essa função e entre as que mencionam mãe ou outros familiares, rias
não são capazes de dizer qual é o seu conto preferido ou confundem nomes de per-
sonagens com títulos de histórias infantis, o que demonstra uma falta de intimidade
com a literatura. Além disso, houve muitas repetições entre as histórias citadas,
sendo que, durante a entrevista, um dos alunos mencionou o fato de que elas teriam
sido trabalhadas em sala de aula e, portanto, tais histórias não teriam sido conheci-
das no âmbito familiar, conforme foi mencionado pelos entrevistados.
Assim, percebemos algo que nos parece muito preocupante, ou seja, essas
crianças conseguem ter a percepção de que alguma atitude que a sociedade da
qual fazem parte espera deles, mas que, no entanto, elas não m e, dessa forma,
“inventam” uma realidade que, lhes parece, será mais agradável aos olhos de quem
os está entrevistando. Todavia, essa consciência por parte desses indivíduos de que
vivem em uma sociedade que valoriza a leitura não parece ser suficiente para que
se tornem, de fato, leitores. Há, nesse caso, um duplo prejuízo psicológico para es-
ses alunos, pois, por um lado, eles se sentem inferiorizados em razão de não serem
93
capazes de corresponder ao que se espera deles, afetando, dessa forma, a sua auto-
estima e, por outro, são privados do encontro com os significados existenciais sim-
bólicos mencionados por Bettelheim (1980), que, segundo esse autor, a leitura é
de fundamental importância nesse sentido, durante a adolescência.
A hipótese de que as crianças não m, de modo geral, convívio doméstico
com a leitura é reforçada em virtude de que, ao serem questionadas sobre o costume
de ganharem livros, a metade das respostas foi negativa e, na outra metade, também
ocorreu o fato de os alunos não conseguirem dar certas explicações, tais como a
ocasião em que ganharam o presente, quem deu e qual o título do livro ganho de
que mais gostaram. Além disso, em outra questão, a grande maioria das crianças
revelou que os pais não costumam comprar livros com freqüência. É certo que pode
haver muitas causas para a mesma situação, no entanto, entendemos que um dos
motivos para que não se comprem mais livros é o financeiro, aliado à falta de hábi-
to de leitura por parte dos pais das crianças, que também foram, e continuam sendo,
vítimas de uma cultura do “não ler” e de todo um conjunto de fatores que os faz
terem de escolher os caminhos mais fáceis, que impliquem menores gastos.
O fato é que, dificilmente, se for necessária uma escolha entre despesas para
sustentar a família e entre a compra de um livro, esse último vencee, portanto,
não se formará o costume da aquisição de livros, a não ser que haja uma mudança
na cultura familiar, o que não será possível se não houver um empenho, por parte
dos profissionais envolvidos com a formação leitora, no sentido de enfrentar a situ-
ação de modo a transformar essa realidade. Isso se faz necessário porque as priva-
94
ções socioeconômicas contribuem para o afastamento entre leitores e livros, com-
prometendo o crescimento emocional, psicológico, intelectual e social daqueles que
estão condenados a viverem isolados no gueto cultural dos o leitores. Sabemos
do valor social da leitura, que faz com que os indivíduos que a praticam, ao mesmo
tempo em que organizam o seu caos interior, contribuem para uma organização
coletiva que colabora de forma decisiva para a “saúde” da sociedade em que vivem.
Outro elemento importante a ser levado em conta é o fato de que houve men-
ção por parte dos alunos a histórias assistidas na televisão, no cinema e a contos
lidos nos gibis, além da referência ao super-herói Megamen, em vez de citarem li-
vros de literatura, o queo temos a intenção de criticar, apenas de demonstrar que
há, por parte dos entrevistados, uma familiaridade maior com histórias que com-
põem a cultura de massa do que com a literatura propriamente dita, o que havia
sido demonstrado por Aguiar (1979), referindo-se ao ambiente escolar. Acredita-
mos que esse seja um ponto delicado, pois, quando um determinado indivíduo é
submetido apenas a esse tipo de cultura, pode haver uma tendência à não formação
de uma postura crítica frente ao mundo, o que seria facilmente alcançado através da
leitura.
No que se refere às preferências dos jovens entrevistados, deparamo-nos com
a questão da prioridade das crianças por atividades físicas, o que pode ser explicado
pelo excesso de energia dos indivíduos durante a fase da pré-adolescência. Obvia-
mente, essa o é uma questão de ordem social. Entretanto, percebemos que esse
fato, associado à falta de um ambiente propício ao desenvolvimento do hábito de
95
ler, pode ser bastante prejudicial, pois os jovens que possuem uma condição eco-
nômica mais favorável têm maiores condições de entrar em contato com os livros,
ainda que possuam uma tendência a preferirem atividades físicas.
Não pretendemos com isso, desconsiderar a importância inegável das ativida-
des físicas, que representam para a saúde do corpo, tanto quanto a leitura para a
saúde psicológica. Apenas entendemos que é importante que, além desse tipo de
lazer, e associado a ele, as crianças tenham contato, também, com a oportunidade
de enriquecimento pessoal que a leitura proporciona, ampliando seu leque de opor-
tunidades. Acreditamos que todas as formas de lazer sejam válidas e nenhuma deva
excluir a outra, entretanto, sabemos que, aqueles que não têm muitas opções, por
limitações econômicas, podem ter na leitura uma porta aberta para o mundo. Além
disso, as pessoas que possuem uma condição econômica melhor podem utilizar-se
de outras formas de ampliação de horizontes a que os menos favorecidos não têm
acesso, como viagens, escolas melhores e professores mais bem preparados.
Ao serem questionados quanto ao livro de que mais se recordam, explicando
as razões, os alunos mencionaram, além dos mesmos contos que vinham sendo re-
petidos, a personagem Harry Potter, um livro do escritor Luís Fernando Veríssimo,
que também, segundo nos informaram os alunos, foi trabalhado em sala de aula, e
O velho e o mar. As razões para as escolhas que fizeram foram bastante significati-
vas, pois revelam muito sobre suas naturezas, o que é de muita importância quando
pensamos em táticas a serem utilizadas na formação de leitores. Dentre as causas
mencionadas está a questão de as personagens viverem muitas aventuras, vindo ao
96
encontro do quadro de interesses de leitura apresentado por Richard Bamberger
(2005), segundo o qual, na idade entre 12 e 14 ou 15 anos, os jovens estariam inte-
ressados em livros de aventura, pois esta seria a “idade da história de aventuras:
realismo aventuroso ou a fase de leitura não-psicológica orientada para o sensacio-
nalismo” (BAMBERGER, 2005, p. 34-35).
Há, ainda, as razões emocionais para justificar a escolha, o que podemos con-
siderar como o sensacionalismo barato, de que fala Bamberger. Tais razões são as
seguintes: a mãe lia quando eram pequenos, são histórias tristes e a personagem
sofre, mas, ao final, consegue alcançar o seu objetivo. Além disso, parece-nos que é
importante para os jovens, assim como vimos acontecer com os adultos, se enxer-
garem na obra lida, já que entre os motivos de escolha alegados está o fato de o tex-
to preferido tratar da vida em uma escola, refletindo a realidade do aluno leitor. A-
creditamos que esses fatores deveriam ser levados em conta ao se escolherem os
materiais a serem utilizados com os alunos em sala de aula. É importante não dei-
xarmos de mencionar que, aproximadamente, a metade dos entrevistados, ou não
foi capaz de dizer qual o livro de que mais se recorda, ou não conseguiu explicar
qual a razão para a sua escolha.
Tal atitude remete-nos de volta àquela questão anteriormente discutida quan-
to à falta de contato freqüente desses jovens com a leitura, pois entendemos que
essa desarticulação quando se trata de falar sobre suas preferências literárias deve-
se a uma vivência leitora de pequenas proporções. Se esses alunos fossem levados a
experimentar as histórias que lêem de uma forma mais emocional talvez se tornas-
97
sem mais interessados quanto às obras lidas, o que pode ser comprovado pelo valor
afetivo atribuído aos textos preferidos, pelos alunos que responderam à questão.
Ainda sobre as preferências dos alunos pesquisados, e harmonizando-se com o gos-
to dos jovens por aventuras, há, também a referência a textos de terror, ação e sus-
pense.
Por outro lado, onze crianças referiram o gosto por poesias, o que pode ser
explicado em virtude de a escola ter trabalhado recentemente com poemas de Mário
Quintana, na ocasião do seu centenário. Foi citado o livro de Pilão, desse autor,
como tendo sido utilizado em atividades escolares. Entretanto, não podemos deixar
de considerar que essas crianças estão em uma fase de intensa aquisição da lingua-
gem, o que colabora no sentido de que elas possam se interessar bastante pela poe-
sia, pois esse gênero é rico em elementos que contribuem para a apropriação da
língua por parte delas. Ao analisar um poema infantil de Olavo Bilac, Aguiar
(2001) demonstra alguns elementos que chamam a atenção da criança na lingua-
gem. Segundo a autora, o ritmo auxilia na memória, fazendo com que o pequeno
leitor retenha determinadas imagens sem necessidade de grande esforço. O uso das
imagens de uma forma simples beneficia a elaboração da ntese dos sentidos e as
estrofes e versos curtos dizem muito sem precisar de muitas palavras, ajudando a
desenvolver a capacidade de síntese das crianças. Dessa forma, há, sem dúvida,
uma imensa contribuição da poesia ao enriquecimento lingüístico das crianças.
Quando levadas a optarem entre realidade e fantasia, não uma definição
por parte das crianças, pois doze delas escolhem a primeira e dez optam pela se-
98
gunda, enquanto as demais disseram que gostam de ambas. Aqui, mais uma vez
encontramos elementos que podem favorecer no momento de pensarmos em formas
de cativar os leitores, pois os motivos alegados pelos alunos, tanto para defenderem
a causa da realidade, quanto a da fantasia, revelam muito sobre suas naturezas, faci-
litando o trabalho de quem se ocupa com o ensino da leitura. Ao analisarmos deti-
damente os motivos que levam os alunos a preferirem uma ou outra perceberemos
que, na verdade, o que essas crianças buscam são o auto-reconhecimento, “porque
pode acontecer”, e o divertimento, porque é mais divertido”, “porque é mais inte-
ressante para mim”.
Com relação a essa oscilação entre realidade e fantasia, podemos explicar
com a teoria de Bamberger (2005), segundo a qual essas crianças estariam passando
por um momento em que há a “construção de uma fachada prática, realista, ordena-
da racionalmente, diante de um pano de fundo mágico-aventuresco pseudo-
realisticamente mascarado” (p. 34). Nessa fase, a criança, que ainda está ligada à
fantasia, sente-se atraída pela realidade porque necessita de algo que lhe possibilite
perceber o mundo, ou seja, o que está fora de si mesma, para que consiga deixar de
ser autocentrada. A questão de ser divertido aparece em ambas as posições.
Quando perguntamos sobre o livro que comprariam, se pudessem, os alunos
mencionam, em sua maioria, o poeta Mário Quintana. Sabemos, conforme foi
referido, que os poemas desse autor foram trabalhados em sala de aula, entretanto,
em virtude de tanta repetição em torno desse nome, pensamos que, possivelmente,
tal escolha também possa estar relacionada com os fatores mencionados acima. En-
99
tretanto, reforçando a idéia de que as escolhas estão baseadas naquilo que é traba-
lhado na escola, aparece em segundo lugar o escritor infantil Monteiro Lobato, que
também foi apresentado às crianças na sala de aula por ocasião de seu centenário.
Essa possibilidade nos traz de volta para a situação em que os alunos têm conta-
to com obras de literatura na escola, o que demonstra a importância dessa institui-
ção e a sua responsabilidade com os alunos.
Os pequenos textos produzidos pelas crianças revelaram que, geralmente, e-
las, ou não conseguem relatar uma história, ou m problemas em contá-la até o
final. Onze alunos, ou seja, quase a metade do corpus pesquisado, alegaram não
lembrar ou não saber efetuar uma narrativa. Dentre os que se aventuraram a contar,
outros onze descreveram a mesma história que, segundo disseram, foi trabalhada na
escola. O que entendemos dessa situação é que esses alunos não m muito contato
com textos literários, pois, ou não são capazes de recordar de nenhum, ou limitam-
se a repetir o que foi ouvido na escola, o que, aliás, seria muito bom, se essa institu-
ição oferecesse um ambiente literário farto. Isso fica demonstrado pelo fato de não
serem abundantes, mas sim repetitivas, as manifestações das crianças nesse sentido.
Um dos alunos que alegou não saber contar mencionou a personagem Harry
Potter sem, no entanto, referir nenhum dos livros da série, o que nos faz pensar que
talvez essa lembrança poderia estar relacionada com o cinema ou com a televisão,
remetendo-nos novamente à questão da cultura de massa, idéia ratificada por outra
criança que aludiu à Mônica, das histórias em quadrinhos. Entre os outros cinco
alunos que restaram, um relatou O velho e o mar, de Hemingway. Embora o aluno
100
tenha modificado o final da história, consideramos essa lembrança algo positivo,
pois demonstra que, de alguma forma, esse jovem teve contato com uma obra lite-
rária fora do âmbito escolar. Entretanto, percebemos que ele é a exceção da regra.
Outro fator que demonstra uma certa falta de contato com os textos literários
é a dificuldade que os jovens que aceitaram o desafio de contar uma história tive-
ram em fazê-lo de forma completa, pois somente seis, dentre os onze, conseguiram
essa façanha, o que o seria tão ruim se pensássemos somente nesses onze alunos,
pois, nesse caso, os seis representariam pouco mais da metade. Esse resultado ainda
não seria o ideal, mas não seria de todo mau. Todavia, o que ocorre é que os seis
alunos pertencem a um corpus de 27, representando uma minoria que possui algum
domínio sobre a estrutura narrativa.
Salientamos a importância de aprender a narrar no sentido de desenvolver a
habilidade de elaborar o próprio pensamento, pois na estrutura de uma narrativa
tudo o que é necessário para organizarmos as nossas idéias. As histórias são com-
postas de início, meio e fim, conferindo uma certa ordenação ao caos interno, além
disso, exigem que haja causas para as conseqüências, o que contribui para o desen-
volvimento da racionalidade e estão situadas em um tempo, bem como, em um es-
paço, levando a criança a uma maior capacidade de situar-se a si mesma em relação
à própria existência. Com a leitura de textos narrativos, a criança vai, aos poucos,
internalizando essas estruturas e, conseqüentemente, organizando a sua maneira de
pensar e de se expressar. Dessa forma, ela adquire um domínio maior da língua ma-
101
terna e, conseqüentemente, sobre si mesma, tornando-se mais preparada para a vi-
da.
A biblioteca escolar é o local onde esse quadro pode ser revertido, porém, pa-
ra que isso ocorra, é necessário que haja estratégias que façam com que o aluno
descubra e se interessasse por esse ambiente. Ao serem perguntados sobre a assidu-
idade à biblioteca da escola, 16 informaram não freqüentar esse ambiente, alguns
disseram, inclusive, que não o conhecem, pois nunca estiveram lá. No que se refere
a outras bibliotecas, fora do círculo escolar, a situação é ainda pior, que 23 crian-
ças responderam que não freqüentam nenhum tipo de biblioteca. Na realidade, tal
resultado não chega a surpreender, pois, se eles não costumam visitar a biblioteca
da escola, que está mais próxima, seria pouco provável que o fizessem em relação à
outra.
Quanto à visão que os entrevistados têm da biblioteca escolar, obviamente
poderíamos esperar algum resultado entre os entrevistados que afirmaram freqüen-
tá-la, e, entre esses, a maioria demonstrou um posicionamento neutro, apenas des-
crevendo esse lugar de forma fria, sem imprimir nenhum tipo de emoção, nem posi-
tiva e nem negativa. Houve os que responderam que não os livros de que preci-
sam para fazer os trabalhos solicitados pelos professores. Esse resultado é, de certa
forma, desalentador para quem busca formar leitores, pois sabemos que a maioria
dos hábitos que se formam durante a infância e a adolescência acompanham as cri-
anças no decorrer de suas vidas, até a idade adulta.
102
A formação leitora do indivíduo acontece através da soma de experiências in-
telectuais e emocionais, e isso deve ser proporcionado na biblioteca da escola, por
meio do contato lúdico e prazeroso com os livros, fazendo com que esse local seja
constantemente buscado pelos estudantes. Embora consideremos o desenvolvimen-
to intelectual como elemento de muita importância, sabemos que todas as nossas
escolhas e tudo o que somos passam pelo fator emocional. Portanto, não existe pos-
sibilidade de formarmos leitores se não houver experiências literárias, vividas pelas
crianças, de que elas possam se recordar com carinho e com saudade em sua fase
adulta.
O que conseguimos inferir de tudo isso é que esses alunos, geralmente, não se
relacionam com a leitura da forma como deveriam. Não possuem um ambiente
propício para isso em casa e, na escola, local onde essa carência poderia ser supri-
da, o trabalho com os textos literários fica a desejar, pois os entrevistados o de-
monstram possuir um conhecimento razoável de obras de literatura, não revelam
ser estimulados a buscarem esse tipo de contato com os livros e não parecem possu-
ir um conhecimento internalizado acerca da estrutura de textos narrativos. Tudo
isso não ocorre, certamente, por falta de interesse de pais e professores, nem dos
demais adultos que cercam essas crianças. Ao contrário, esses são, assim como os
filhos e alunos, vítimas de uma sociedade que não lhes proporciona o ensejo de se
tornarem leitores.
O resultado disso é que os entrevistados, ao se tornarem adultos, o terão a
sua “história de leitores”, o que significa dizer que terão perdido uma oportunidade
103
de atribuir um sentido para suas existências. É possível que não aprendam a exercer
toda a sua capacidade crítica frente às questões da vida, que não foram exercita-
dos nesse sentido quando mais jovens, além de acostumar-se a buscar distração
somente na cultura de massa, o que poderá agravar o problema no sentido de torná-
los ainda mais alheios à realidade. E, ao falarmos em realidade, pensamos em quão
comprometida poderá ficar a competência desses indivíduos de “lerem” o mundo
que os cerca, no sentido conferido por Freire (2005) ao ato da leitura, tornando-os
cativos da própria falta de preparo. Além dessas observações, constatamos que, da
mesma forma que os participantes da pesquisa de Werkmeister têm a sua visão mí-
tica da leitura, os nossos entrevistados também a possuem. Todavia, para os primei-
ros esses mitos são positivos, conforme pudemos observar, enquanto para os se-
gundos eles acontecem de uma forma negativa, o que tentaremos explicar no pró-
ximo subcapítulo.
4.2 Imagens de leitura
Trataremos como imagens de leitura os mitos acerca do ato de ler que com-
põem o imaginário dos alunos pesquisados. Tais mitos, conforme demonstramos
em momento anterior, estão intimamente relacionados com a formação leitora dos
indivíduos e podem ser tanto positivos, quanto negativos. Ao comentarmos o estu-
do de Diana Werkmeister, mencionamos a visão mítica de cada integrante do cor-
104
pus da pesquisa no que se refere à leitura. Nesse caso, especificamente, tais mitos
são positivos porque ajudam os leitores referidos a encontrarem, na literatura, auxi-
liares na busca por significados simbólicos existenciais. No entanto, percebemos
que, em certas situações, esses mitos podem ser negativos, pois, além de não con-
tribuírem com a afirmação de um sentido para a vida, afastam os indivíduos dos
livros, dificultando que se tornem leitores freqüentes. Por meio dos dados levanta-
dos em nossa pesquisa, tentaremos entender como é a visão mítica dos entrevista-
dos sobre a leitura.
Ao considerarmos as respostas dos entrevistados com relação à quantidade de
livros lidos por eles no ano anterior, verificamos imediatamente que as informações
fornecidas são exageradas, pois alguns números variam entre 12 e 50 obras lidas.
Sabemos que dificilmente um indivíduo com a idade dos alunos em questão, ainda
que seja leitor constante, teria o que chamamos de “fôlego” para tanto, até mesmo
por uma questão de maturidade intelectual. Por outro lado, não podemos simples-
mente afirmar que os participantes da pesquisa “mentiram” em suas respostas, pois
seria uma forma muito simplificadora de tratar da questão. Acreditamos que o mo-
tivo dessas plicas é a crença por parte das crianças investigadas de que as pessoas
que lêem são, de alguma forma, superiores e, por isso, mais aceitas pela sociedade.
Não é uma crença de todo incorreta e, tampouco, é um privilégio dessas cri-
anças pensar assim. Existe um certo nexo em ver qualquer coisa de elevado nas
pessoas que em, pela compreensão que o senso-comum tem do preparo maior
desses indivíduos para o mundo. mencionamos em um momento anterior a visão
105
de sábio eremita atribuída àqueles que gastam parte do seu tempo envolvidos com
os livros. O prejudicial, nesse caso, é o fato de que esses alunos, embora acreditem
que a leitura seja algo importante para suas vidas, não tenham nenhuma outra moti-
vação para se tornarem leitores assíduos, pois, conforme dissemos, dificilmente
alguém pensará em se aproximar das obras literárias tendo como único objetivo
aumentar o vocabulário, adquirir conhecimentos, escrever melhor ou alcançar qual-
quer outra meta desse tipo.
Lembrando a afirmação de Daniel Pennac (1993), de que “o verbo ler não su-
porta o imperativo” (p. 13), ressaltamos que tentar convencer as crianças de que
devem ler baseadas nesses argumentos equivale a uma imposição da sociedade, ou
seja, corresponde a um “leia!” antipático e ao qual elas não se sentem aptas a obe-
decer. Essa situação, certamente, interfere de forma negativa em suas auto-estimas,
fazendo com que mintam” de forma exagerada, como vimos, ao serem questiona-
das. Ao contrário dos casos analisados por Werkmeister, em que os mitos de leitor
contribuíam para o crescimento pessoal dos indivíduos, nesse caso, ocorre o inver-
so, pois esse mito de superioridade do indivíduo que lê, ao invés de atrair, afasta as
pessoas que acabam por se achar inaptas para essa atividade. Obviamente, isso afe-
ta a autoconfiança desses alunos que passam a se enxergar como incapazes de algo
que se esperava deles, constituindo, assim, uma imagem mítica negativa sobre si
próprios.
Nesse ponto esbarramos em outro tipo de visão mítica da leitura, que diz res-
peito à questão do prazer em contraponto com a obrigação de ler. vimos que
106
uma tendência em alguns indivíduos de acharem que as coisas que são prazerosas
não são dignas e, portanto, ou a leitura prazer e não deve ser incentivada, ou ela
representa uma atividade virtuosa e deve corresponder a um sacrifício. Não pode-
mos perder de vista a idéia de Georges Bataille (2004), segundo a qual o prazer está
intimamente relacionado à culpa, o que explica o fato de, ao mesmo tempo em que
os alunos informaram números absurdos de leituras que teriam feito no ano anteri-
or, não percebemos, no decorrer da análise de suas respostas, nenhum sinal de que
eles sejam levados a vivenciar qualquer experiência lúdica relacionada à literatura.
Ao contrário, em suas respostas sobre atividades propostas pelos professores após a
leitura não há menção a nenhum tipo de trabalho nesse sentido.
Além disso, ao que tudo indica, a relação desses estudantes com a biblioteca
escolar também não é das melhores, pois não existe nenhum tipo de entusiasmo no
que se refere a esse local e não citação de nenhuma prática prazerosa ocorrida
nesse espaço escolar, que deveria proporcionar e desenvolver o gosto pelas obras
literárias, servindo de mediador entre o aluno e a leitura. Dessa forma, em vez de
termos alunos que acreditam que “a literatura salva”, que o sujeito “se reconhece na
leitura”, que encontramos “compensação nos livros”, ou, ainda, que “a literatura
desafia”, teremos indivíduos que acreditam que a leitura não é algo para si, mas
para outro tipo de pessoas, com as quais eles dificilmente terão contato, pois per-
tencem a um outro mundo, com uma realidade muito diversa.
Esse tipo de imagem sobre a leitura é reforçado por um entorno que reifica o
ato de ler, na medida em que as crianças, além de não possuírem um ambiente leitor
107
em suas casas, freqüentam uma escola que se preocupa mais em atribuir notas pelos
desempenhos de seus alunos do que lhes proporcionar o lugar favorável à leitura
que lhes falta em casa, sem falar no excesso de cultura de massa a que esses estu-
dantes estão sujeitos, iniciando na infância e persistindo durante toda a vida, pois
esse é o rumo mais fácil, não havendo cobranças, que apenas atende aos seus
horizontes de expectativas. O que eles não têm condições de saber, no entanto, é
que o caminho mais difícil é que lhes dará a liberdade, tornando-os mais conscien-
tes de si próprios.
Dessa forma, a escola esquece que os significados simbólicos mencionados
por Bettelheim (1980) devem ser construídos desde a infância, através da valoriza-
ção da relação íntima que entre homem e ficção, para que a literatura possa
constituir para esses alunos um elemento de organização, tanto no âmbito individu-
al quanto no coletivo e, assim, contribuir para que essas crianças adquiram uma
nova imagem a respeito de si próprias, pois o que impulsiona o leitor é a possibili-
dade de usar a leitura como uma experiência de descoberta de si mesmo. Todavia, o
que a pesquisa revela é um trabalho com obras literárias que leva os alunos a en-
xergarem a leitura de um ponto de vista pragmático, que desconsidera completa-
mente o prazer que causa a relação com os livros, o que muito os prejudica, fazendo
com que, no lugar de formarem imagens positivas sobre a experiência literária, pas-
sem a ver essa prática como algo difícil, inútil ou outras coisas do gênero.
Essa situação acarreta grande perda aos estudantes, pois o papel que desem-
penha a imaginação no desenvolvimento e na saúde mental do indivíduo é de con-
108
siderável importância. É através do contato com a fantasia, o que pode ser alcança-
do por meio das obras literárias, que as crianças conseguem trazer à consciência
aspectos de si mesmas que lhes eram desconhecidos, fortalecendo, dessa forma, a
personalidade em desenvolvimento e, portanto, tornando-as mais preparadas para o
futuro, que, com a ajuda das obras literárias, conseguimos exprimir “o que nor-
malmente impedimos de chegar à consciência” (BETTELHEIM, 1980, p. 46). Essa
é a razão do encantamento que exerce a literatura naqueles que tiveram pais ou pro-
fessores capazes de lhes proporcionar essa descoberta.
É necessária uma vivência literária durante a infância porque, dessa forma,
haverá uma influência positiva na visão de mundo das crianças, interferindo em
suas opiniões, sonhos e anseios e, assim, lhes proporcionando um outro tipo de fu-
turo, com mais confiança em si mesmos. Essas são as experiências que proporcio-
nam a idealização dos livros, que observamos nos componentes do corpus de pes-
quisa de Werkmeister, contrariando a visão pragmática e negativa que têm os estu-
dantes pesquisados. O papel da escola, que deveria ser o de subverter essa situação,
infelizmente, tem sido o de mantê-la.
Se os entrevistados de Diana Werkmeister têm um tipo de “encontro com os
livros” que não os torna leitores constantes, mas, inclusive, os ajuda no sentido
de descobrirem uma significação simbólica para suas vidas, indagamos sobre a vi-
são que esses alunos estão tendo sobre os seus próprios encontros com a leitura.
Certamente, se considerarmos os resultados obtidos, através dos relatos sobre suas
casas e sobre a escola, no que se refere aos livros, concluiremos pela forma confu-
109
sa, repetitiva e sem entusiasmo com que falam de suas vivências de leitores, que
não houve, para eles, uma história de leitura, mas sim, uma sucessão de experiên-
cias de alívio cada vez que concluíram um ano letivo e pensaram que os textos uti-
lizados então ficaram para trás.
Talvez seja bastante esclarecedora, para exemplificar a imagem que os entre-
vistados nessa situação têm da leitura, a resposta de uma criança à pergunta que
investigou se os alunos percebem algum tipo de empenho por parte da escola no
sentido fazê-los gostar de ler. O entrevistado respondeu que sim, que a escola se
empenha em torná-los leitores para aumentar o seu vocabulário (aluno 26, res-
posta 11). A visão que percebemos por detrás dessa resposta é a da leitura com
fins pragmáticos, conforme mencionamos. Essa criança cita o aumento de voca-
bulário como se esse fosse o grande objetivo daqueles que lêem, o mencionando
nenhuma situação em que a escola tivesse lhe proporcionado algum tipo de prazer,
pura e simplesmente, por estar lendo algum texto de que gostasse. Portanto, tal ins-
tituição ajuda a criar imagens negativas da leitura, crendo que cumpre o seu papel
de formar leitores.
Filipouski (1986), pensando em sentido contrário a esses fatos, afirma que a
escola é “o lugar ideal para a promoção do hábito de ler nas crianças e jovens, de-
vendo então se preocupar em desenvolver estratégias para o ensino eficaz da leitu-
ra” (p. 108). Esses artifícios para formar leitores devem envolver atividades que
propiciem aos alunos uma mudança na visão que eles possuem do ato de ler, fazen-
do com que, de forma lúdica, encontrem caminhos de amadurecimento e cresci-
110
mento pessoal, além de levá-los à descoberta de um modo próprio de atribuir um
significado para a vida. Para que isso seja possível, é necessário que nos empenhe-
mos em derrubar um outro mito negativo, dessa vez, com relação ao papel da esco-
la na formação leitora, pois, como vimos, esse é o espaço onde a mudança poderá
ocorrer com maior abrangência e, no entanto, não tem oferecido às nossas crianças
mais carentes aquilo a que elas, pequenas cidadãs que são, têm direito.
4.3 Papel da escola
Tal situação já havia sido mencionada por Aguiar (1979) ao referir o quanto o
ambiente escolar é desfavorável à leitura, propiciando, assim, o crescimento do in-
teresse pela cultura de massa e impedindo a formação de sujeitos críticos. Como
vimos em momentos anteriores desse trabalho, ao responderem perguntas que reve-
lem gostos por obras com as quais tenham tido contato, houve alunos que aludiram
a “histórias” assistidas na televisão, não esclarecendo se essas histórias são filmes
ou telenovelas; a personagens de filmes, como Harry Potter; ou de histórias em
quadrinhos, como Mônica.
Na realidade, não é a convivência com esses outros gêneros que prejudica o
desenvolvimento desses alunos, pois afinal eles vivem em um mundo rodeado por
esses elementos, e negá-los seria fugir da realidade. Entretanto, eles devem ter a
oportunidade de ultrapassar essa barreira, indo além dos próprios horizontes de ex-
111
pectativas, o que pode ser realizado através da leitura de obras literárias. Se essas
crianças não possuem um ambiente favorável a isso em seus lares, pensamos que é
papel da escola proporcionar-lhes tal experiência. Todavia, através dos resultados
obtidos, percebemos que a escola afasta, em vez de aproximar o aluno da leitura.
Quando os entrevistados foram questionados sobre obras que teriam ganhado
de presente, percebemos que, embora essa pergunta refira-se a comportamentos que
dizem respeito ao domínio familiar, revelam, também, que a escola não tem conse-
guido cumprir com aquilo que deveria ser o seu papel de formar leitores, pois, den-
tre os alunos que afirmaram já terem sido presenteados com livros e citaram o título
do seu preferido, foi grande o número daqueles que mencionaram obras que tam-
bém foram apontadas como sendo trabalhadas na escola, ou seja, os alunos podem
ter dito que ganharam tais regalos sem ter de fato ganho, reproduzindo a situação
referida no subcapítulo anterior, em que eles percebem o que se espera deles e res-
pondem de modo a serem aceitos; ou, ainda, isso pode indicar que, de fato, eles
ganharam tais presentes, mas, por serem títulos utilizados na escola, é provável que
os pais os tenham comprado aos filhos para cumprir uma “obrigação” e não para
lhes proporcionar prazer. Dessa forma, identificamos a visão de leitura obrigató-
ria”, difundida na esfera escolar, sendo levada para o âmbito familiar.
Assim, podemos constatar o quanto a escola tem sido falha, pois, ao propor
determinadas leituras aos seus alunos, o faz de forma a que eles e suas famílias
sejam capazes de enxergar nessa atividade o dever de ler, não sendo levados à des-
coberta do que realmente significa a leitura de uma obra literária em termos de
112
crescimento emocional e intelectual. Portanto, ratificando o que havíamos referi-
do em capítulo anterior, constatamos que, de fato, a escola contribui para o afasta-
mento dos alunos, na medida em que favorece a repetição dos mesmos compor-
tamentos. Isso acontece, em parte, porque os professores, que hoje estão encarrega-
dos de desenvolver leitores, também não tiveram uma boa formação nesse sentido,
tornando-se mestres que voltam a sua atenção de forma precária para a realidade
dos alunos, trabalhando obras literárias de forma desinteressante. Assim, chegamos
ao que Ezequiel Theodoro da Silva (1997) chamou, muito apropriadamente, de lei-
dura da leitura.
Como foi possível verificar, os professores recomendam leituras a seus a-
lunos, o que foi afirmado por 24 dentre os 27 alunos entrevistados. Entretanto, com
relação às atividades aplicadas após a leitura dos textos indicados, os resultados são
bastante confusos, pois três crianças que dizem não haver nenhum tipo de traba-
lho após a leitura, enquanto os outros afirmam que são propostos os mais variados
tipos de exercícios, tais como: questionários, resumos, estudo de biografia, “rascu-
nho do livro”, desenho, caça-palavras e estudo das personagens. o pretendemos
discutir a relevância ou não de tais atividades; pensamos que elas até m a sua im-
portância, mas não contribuem para formar leitores, pois não levam a nenhum tipo
de transformação, o inquietam o indivíduo e não despertam para o caráter de a-
tribuição de significados simbólicos que possuem as obras literárias.
Outro elemento importante com relação às atividades pós-leitura é o fato de
que algumas crianças mencionaram exercícios físicos. Certamente isso ocorre em
113
virtude de os alunos terem aula de Educação Física após a disciplina de Língua Por-
tuguesa, mas entendemos que isso evidencia uma confusão por parte deles com re-
lação ao que sejam atividades ligadas ao livro e, conseqüentemente, demonstra que
eles não têm familiaridade com uma forma mais lúdica de vivenciar a leitura. No-
tamos que o mais próximo de algo parecido é a atividade com desenho, o que tam-
bém pode ser redutor caso esse tipo de trabalho seja feito de maneira a somente
preencher tempo.
Esse tipo de postura da escola acarreta grande prejuízo na formação dos alu-
nos, pois, conforme vimos em Vigotsky (2003) a vivência artística constitui ele-
mento de capital importância na ampliação de horizontes do ser, o que é corrobora-
do por Mosquera (1976), que afirma a relevância de uma relação saudável entre
realidade e fantasia, que essa última é de vital importância no que se refere à re-
lação do sujeito consigo mesmo e com o mundo que o cerca. Dessa forma, a arte e,
conseqüentemente, a literatura representam a possibilidade de acesso a um nível de
percepção maior da realidade e a uma ampliação na qualidade dos sentimentos.
Por tudo isso, faz-se necessário um trabalho criativo envolvendo a leitura.
Algo que ao encontro dos anseios dos estudantes, que corresponda aos seus inte-
resses e que respeite as suas naturezas. Somente assim a escola percorrerá um ca-
minho inverso ao da lei-dura da leitura, possibilitando que seus alunos descubram
no ato de ler um elemento propício ao encontro consigo mesmos. Assim, eles seri-
am capazes de “escrever” a sua própria história de leitores. Esse é, sem dúvida, o
114
papel que deveria ser desempenhado pela escola, cujo ambiente seria um auxiliar na
formação leitora dos indivíduos.
Contudo, esse lugar favorável parece estar longe, pois, ao indagarmos às cri-
anças sobre a participação da escola em seu desenvolvimento leitor, descobrimos
em suas respostas que essa instituição não tem, de fato, se empenhado em torná-los
amigos dos livros, pois a maioria dos alunos informou, em suas respostas, que não
percebe nenhum esforço nesse sentido. Alguns até acreditam que a escola se inte-
ressa, mas não tornam evidente a forma pela qual isso ocorre, que as razões ale-
gadas para tal variam entre as seguintes: “porque tem bastante livros”, “é uma
escola muito boa”, “porque eles sempre mandam ler algum livro para fazer rascu-
nho” e “porque eles compram os livros para nós ler”.
Isso evidencia o quanto esses alunos estão longe de descobrirem o encanta-
mento que pode proporcionar a leitura de uma obra literária, pois essas afirmações,
acima referidas, que remetem novamente à questão da imagem de leitura dos entre-
vistados, discutida anteriormente, nos leva ao entendimento de que a escola não
está sendo capaz de mostrar a essas crianças o que é literatura, ao menos não em
sua plenitude de gênero artístico. Talvez o empenho exista em um sentido mais
amplo, naquele segundo o qual até mesmo uma bula de remédios pode ser conside-
rada como literatura. Todavia, sabemos que a via libertária da literatura é encontra-
da, pelas pessoas, em obras que lhes façam enxergar para além da linha do horizon-
te.
115
A biblioteca escolar deve ser citada, também, ao falarmos sobre o papel da
escola na formação leitora, pois esse espaço, embora não muito visitado pelos alu-
nos, é, ou ao menos deveria ser, de vital importância em suas trajetórias de leitores,
servindo como um local repleto de atrativos para os livros. No entanto, não é o que
ocorre, pois, embora apenas duas crianças tenham respondido de forma absoluta-
mente negativa à pergunta relativa à qualidade desse ambiente, percebemos nas
demais respostas que não há encanto nenhum nessa parte da escola para os estudan-
tes, pois suas respostas fazem menção a fatores do tipo “muito legal e com livros
bem grossos” ou “é linda tem muitos livros”, como se espessura ou quantidade de
livros tivesse alguma importância em seu trajeto de leitores.
Dentre os alunos que responderam positivamente quanto à biblioteca da esco-
la, nenhum deles referiu-se a alguma experiência prazerosa ali vivida ou a ela rela-
cionada. Isso nos leva a crer que, reproduzindo a postura da escola como um todo, a
biblioteca também não vem conseguindo cumprir o seu papel de iniciar os estudan-
tes no mundo dos livros. Essa situação é lamentável, pois como vimos, as crianças
pesquisadas não possuem em seus lares uma atmosfera leitora, não possuem livros
e tampouco leitores freqüentes em seu meio. Fora da escola eles não terão outra
oportunidade de experimentar a literatura como agente de libertação.
Essas constatações confirmam a urgência de iniciativas que visem à promo-
ção da leitura nas escolas, especialmente nas classes populares, pois os alunos per-
tencentes às camadas mais privilegiadas possuem, como tivemos a oportunidade
de constatar, mais condições de, tanto em seus lares, quanto nas escolas que fre-
116
qüentam, alcançar um crescimento emocional e intelectual satisfatório, bem como
de ampliar seus horizontes de expectativas. Além disso, o universo em que vivem
as crianças que se encontram em uma condição socioeconômica inferior, é bem
mais limitado, favorecendo à alienação e à acomodação, o que pode e deve ser mo-
dificado com o empenho e engajamento dos profissionais responsáveis pela forma-
ção leitora das nossas crianças.
117
CONCLUSÃO
Ao finalizarmos esse trabalho, suporte no qual se apóiam nossas verificações,
buscamos uma forma ordenada de compreensão do trajeto percorrido. A nossa pro-
posta é a de investigar a leitura nas classes populares, utilizando, como corpus de
pesquisa, uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental, tentando levar em conta as
histórias e interesses de leitura dos alunos, os comportamentos de leitor, seus e da-
queles que os cercam. Por tratar-se de pesquisa investigativa, que pretende diagnos-
ticar uma realidade, optamos por uma entrevista, composta por 18 questões que
visam traçar um perfil desses estudantes para, posteriormente, analisar os resultados
obtidos à luz da teoria exposta na primeira parte da pesquisa.
Para tanto, procuramos empregar como base desse estudo teórico uma visão,
o mais abrangente possível, do ato de ler. Após, trabalhamos com um conceito so-
cial da leitura, com a importância que para um indivíduo a construção da sua
própria história de leitor e com uma breve explanação sobre a leitura literária na
escola e a relação dessa com a literatura infantil. Finalizando a primeira parte do
estudo, mostramos uma experiência inclusiva de formação leitora em uma comuni-
dade carente. Após o término dessa abordagem teórica, e após apresentar a pesqui-
sa, bem como de descrever os dados obtidos, chegamos ao momento de interpretá-
118
los com a finalidade de conhecer melhor esse leitor de série, de classes popula-
res.
O que foi possível coligir dos dados colhidos é que os entrevistados não pos-
suem familiaridade com a leitura, iniciando o problema em casa, onde os pais não
têm o hábito de contar histórias aos filhos, continuando na escola, local que deveria
cumprir o papel de formar leitores, mas, no entanto, afasta os alunos dos livros.
Dessa forma, crianças que estão em um momento de formação de hábitos para a
vida inteira experimentam uma vivência literária de pequenas dimensões. O preo-
cupante é a possibilidade de eles se sentirem inferiorizados, que foi evidente a
percepção que m de que uma realidade leitora da qual não fazem parte e de
que existe um comportamento em relação à leitura que é esperado deles e ao qual
não estão em condições de corresponder.
Esses fatores afastam as crianças não da leitura, mas da descoberta de sig-
nificados simbólicos que enriqueceriam suas vidas, bem como de um domínio da
linguagem que os tornaria senhores de si mesmos. A falta de contato desses alunos
com o ato de ler, tanto na esfera doméstica, quanto na escolar, deve-se, certamente,
a um contexto que leva a isso por razões socioeconômicas aliadas a um costume
que desprivilegia a leitura, arrastando os indivíduos ao encontro da cultura de mas-
sa e, portanto, causando-lhes mais um prejuízo a ser somado aos dois acima men-
cionados, que é a falta de uma postura crítica frente à vida. Assim, a situação se
reproduz indefinidamente, pois pais e professores, que também foram formados de
acordo com esse modelo, o reproduzem com seus filhos e alunos, que um dia tam-
119
bém serão pais e professores a espelhar, novamente, o padrão internalizado na in-
fância.
Esse estado de coisas leva os alunos a uma auto-imagem negativa, tanto de si
próprios quanto da escola que, refletindo essa realidade social, não consegue cum-
prir o seu papel de formação leitora e leva os alunos à criação de mitos negativos
quanto ao ato de ler, fazendo com que, em lugar de serem atraídos em direção aos
livros, sejam levados na direção oposta. Tudo isso torna evidente a necessidade de
uma transformação no âmbito escolar, já que esse é o espaço onde, ainda que preca-
riamente, os alunos m algum contato com os textos literários. Tal mudança deve-
ria iniciar pelo fim dessas crenças que afastam da leitura, segundo as quais os alu-
nos a vêem como algo tão difícil e superior que acreditam não ser própria para eles,
ou que ler é algo muito desagradável, que requer extremo sacrifício, ou ainda, que a
leitura não passa de uma forma de garantir nota para “passar de ano”.
É importante que acabemos com a crença, por parte dos alunos, na imperati-
vidade do verbo ler, levando-os a encarar esse ato como algo provido de gratuidade,
que praticamos apenas porque gostamos e não com um caráter pragmático. Para
tanto se faz necessário um comprometimento por parte dos profissionais da área no
sentido de passar a enxergar mais a realidade dos alunos. Tal observação pode ter
início ao considerarmos certos elementos que constituem a natureza dos indivíduos
dessa idade. Constatamos na pesquisa que a grande maioria dos entrevistados men-
cionou o encantamento por atividades físicas e, no que se refere a preferências lite-
rárias, o gosto por livros de aventura e ação.
120
Tal fato nos uma visão dos interesses dessas crianças, entretanto, pode-
mos ir um pouco mais longe e somar a isso o fator emocional, que aparece como
elemento de grande importância para eles, além da grande menção que fazem à po-
esia. Se levarmos em conta essas informações, concluiremos que os poemas talvez
sejam, de fato, textos excelentes para serem trabalhados nessa idade, pois, embora
não envolvam uma atividade física, implicam ação, porque possuem grande dina-
mismo, alcançado por meio do ritmo e da musicalidade, além da extensão curta.
Ainda, podemos considerar a grande carga afetiva que um poema desperta em
quem o lê, vindo ao encontro dos anseios emocionais referidos pelas crianças.
Todavia, ao chegarmos nesse ponto, esbarramos em mais um problema que
diz respeito ao ambiente escolar e familiar desses estudantes, bem como ao com-
portamento leitor daqueles que os rodeiam. Os pais, conforme pudemos verificar,
não possuem o hábito de ler e, portanto, não podem auxiliar os filhos em seu conta-
to com a poesia. Por outro lado, os professores, de acordo com os resultados obti-
dos, não estão preparados para trabalhar com textos que exijam o contato com o
lúdico, como acontece com os poemas. Nesse caso, concluímos que se faz necessá-
ria uma ação semelhante à do Centro de Literatura Interativa da Comunidade, o
CLIC, mencionado no primeiro capítulo deste trabalho, no sentido de incluir esses
adultos no mundo das letras. Essa ão teria o diferencial de ser direcionada para o
público adulto.
Todavia, não acreditamos que se deva pensar em algum tipo de curso que os
prepare para a leitura, mas sim em um trabalho puramente lúdico, como aquele que
121
é feito com as crianças, e que desperte o prazer gratuito de ler, em pais e professo-
res, para que possam, então, contribuir para a formação leitora de seus filhos e alu-
nos. Possivelmente a biblioteca escolar, engajando-se nessa ação, seria o ambiente
ideal para que isso ocorresse, pois, como já havíamos mencionado, apesar das limi-
tações, a escola ainda é o espaço da transformação, que é o único local onde as
crianças têm contato com a literatura. Talvez dessa forma fosse possível o começo
da reversão desse quadro lamentável de não leitura nas classes populares.
Outro fator importante a ser considerado no que diz respeito a estratégias de
formação de leitores é a fase em que se encontram os alunos da série do Ensino
Fundamental, pois eles representam um alvo importante a ser trabalhado porque
estão em uma etapa em que possuem compreensão bastante aguçada do mundo a
sua volta e, ao mesmo tempo, ainda não iniciaram a adolescência, encontrando-se
em um estágio transitório. Por não estarem com os hábitos completamente defini-
dos, por ainda se encontrarem na infância e, por isso, abertas a novidades, essas
crianças, se bem estimuladas, m grande potencial de virem a se tornar leitoras e,
dessa forma, serem multiplicadoras desse gesto em suas comunidades, levando aos
indivíduos das classes populares o contato que lhes falta com os livros.
Para isso, faz-se necessário que a escola torne os alunos o alvo de sua atenção
ao elaborar projetos que visem torná-los familiarizados com os livros. Essa poderá
ser a forma pela qual se tornará realizável a mudança que transformará esses indi-
víduos de não leitores em amantes da literatura, proporcionando-lhes as devidas
condições para que “escrevam” a sua própria história de leitura. Um trabalho rio
122
e bem elaborado na série do Ensino Fundamental, levando em conta o perfil tra-
çado das crianças, seus interesses e peculiaridades, poderá fazer com que, nesse
momento, tão marcante, de transição, os alunos descubram o encantamento que
uma obra literária pode proporcionar, alterando, assim, o perfil que hoje é possível
traçarmos a seu respeito e, em conseqüência, ajudando a modificar a realidade da
leitura em nosso País.
123
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2002
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127
APÊNDICE
Roteiro da entrevista
128
Roteiro da entrevista
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
3. Que tipo de leitura tu preferes?
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que mais
gostavas?
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostaste?Por
quê?
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm o
hábito de ler?
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para leres?
De quais mais gostas?
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores? De
qual mais gostas?
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar dos li-
vros? Por quê?
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra biblioteca?
13. Como é a biblioteca de tua escola?
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura? Quais?
15. Há livros em tua casa? Quais?
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por quê?
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
18. Conta uma história de que gostes muito.
129
ANEXO
Respostas dos alunos
130
RESPOSTAS DO ALUNO Nº 01
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Meu divertimento é jogar bola.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não me lembro, mas eu acho que foi uns 22 livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
De aventura e drama.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, contava minha mãe, das histórias que ela lia.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Mula-sem-cabeça e o Saci Pererê.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim já ganhei, no meu aniversário. O único que ganhei foi o que gostei, da
Mula-sem-cabeça, porque a história é engraçada e divertida.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Não, eles só têm o hábito de ler.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Mula-sem-cabeça, porque na história ela é triste e, que eu me lembro, ela cai
numa aventura.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Não.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Nenhuma.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Biblioteca, porque lá tem bastante livros.
131
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim. Não.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Divertida e quieta.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Nenhum.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Não.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Do Sítio do Picapau amarelo, porque eu adoro as histórias do Monteiro Lo-
bato.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Não sei.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não sei.
132
RESPOSTAS DO ALUNO nº 02
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Os meus divertimentos preferidos são jogar vôlei e bola.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Eu li mais ou menos uns 13 livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Eu prefiro ler gibi.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, a minha mãe lia livros para mim, livros da Mônica.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Da Branca de Neve.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não, eu nunca ganhei.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Não. Às vezes livros de espiritismo.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Eu lembro mais da Branca de Neve. É muito bom e minha mãe lia todos os
dias.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
De Português.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
De responder.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Sim, porque é uma escola muito boa.
133
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não freqüento.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É muito boa.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não, quase nunca.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Tem muitos livros e eu não lembro o nome.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Eu prefiro livros que falem a realidade, porque são mais divertidos.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Seria um gibi.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Eu gosto mais das histórias da Mônica, mas não me lembro de nenhuma.
134
RESPOSTAS DO ALUNO nº 03
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Dançar.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sim, mais ou menos uns 50.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poema.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, eu gostava de Branca de Neve.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, no Natal. A Cinderela, porque é uma história que é bonita e eu gostaria
que acontecia comigo.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim, muito pouco.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Os três porquinhos, porque a minha mãe falava que se eu incomodar o Lobo
Mau ia me pegar.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, gosto mais de livro de estudo.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer perguntas, atividades.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
135
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É legal, tem bastante livro.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Não.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Realidade, porque eu acho que a realidade pode acontecer.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Eu compraria do Erico Veríssimo.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez três porquinhos muito legal. Eles eram irmão e tinha um lobo
que não gostava deles, queria comer eles. Um dia um porquinho fez uma
casa de palha, outro fez de tijolo e o outro de concreto. Um dia o lobo falou
que ia derrubar, mas os porquinhos falavam que não era para derrubar.
136
RESPOSTAS DO ALUNO nº 04
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Televisão, computador.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Mais ou menos. 14.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poesias.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe. Gostava da Cinderela.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Não lembro.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim. No meu aniversário.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Não lembro.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Resumo.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Sim.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim.
137
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Eu não sei.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Monteiro Lobato.
19. Conta uma história de que gostes muito.
Os três porquinhos foram passear e o lobo mau foi atrás deles. Ele derrubou
a casa de palha e a de madeira e não conseguiu derrubar a de material.
138
RESPOSTAS DO ALUNO nº 05
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola, andar de bicicleta.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Três.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Todas.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
A minha mãe lia o livro do Hercules.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Nenhum.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Nenhum.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
De histórias.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Nenhuma.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
139
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Legal.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Todas.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Alguns.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Realidade.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Aladim.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não lembro.
140
RESPOSTAS DO ALUNO nº 06
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
T.V.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Mais ou menos uns 13.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poesias.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe, contos de fadas.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Branca de Neve, Cinderela, etc.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, no Natal.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Pássaro sem cor, O pequeno polegar, porque a professora lia bastante para
nós.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, Mário Quintana e mais autores brasileiros.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Contas, textos, etc. Textos.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Sim, porque tem bastante livros na biblioteca.
141
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Não sei.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim, literaturas.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia, porque desperta a imaginação.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Não sei.
18. Conta uma história de que gostes muito.
O gato de botas, não me lembro muito bem.
142
RESPOSTAS DO ALUNO nº 07
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Skate.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não leio. No máximo 1.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poesias.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Não.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Branca de Neve, Três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Compram jornais e minha mãe não lê.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Poesias românticas brasileiras porque são muito tristes.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Do livro do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer biografia.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
143
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Não sei.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Tem mas não sei quais são.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sobre a realidade porque a gente fica mais pronto para a vida.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Não sei.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez uma mocinha que estava caminhando pela floresta quando viu
o Lobo Mau que perguntou para a menina.
— Onde está indo com essa pressa? E ela respondeu: para a casa da vovó
com esses doces.
144
RESPOSTAS DO ALUNO nº 08
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol e vôlei.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
História em quadrinhos.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Não, eu via a história na T.V.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Não me contavam.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Não.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Um cadáver ouve rádio.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Eles não indicam livros.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
O esporte.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Mais ou menos.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
145
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Não conheço.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim. A bomba de chocolate.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Realidade.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Do Marcos Rei.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não sei.
146
RESPOSTAS DO ALUNO nº 09
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Vinte e cinco.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Histórias.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Meu pai. Os três porquinhos.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Os três porquinhos e Branca de Neve.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
De Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Futebol.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
147
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Tem muitos livros infantis e histórias.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Não.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Não gosto.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
De Mário Quintana.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez três porquinhos. O primeiro comia muito e fez uma casa de pa-
lha. O segundo comia pouco e fez uma casa de madeira. O terceiro não co-
mia nada e sobrou dinheiro para fazer uma casa de material. O Lobo Mau
assoprou a casa e destruiu, assoprou a segunda e destruiu e a terceira casa
assoprou e não destruiu.
148
RESPOSTAS DO ALUNO nº 10
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sim. Não sei.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poema.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Não.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
A bela adormecida e Os três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, de aniversário, 102 Dálmatas. Gostei dos lindos cachorros.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Não.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Não lembro.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Educação Física.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim.
149
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Grande e espaçosa.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
A Bela e a Fera.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não me lembro.
150
RESPOSTAS DO ALUNO nº 11
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola e vôlei. Que seja diversão eu gosto.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Eu leio livros em casa. Não sei quantos.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Vários: poemas, histórias…
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe Almerinda Dalhem. Do Sítio do Pica-pau Amarelo.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Vários, nem sei dizer.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Já ganhei sim. Gostaria de ganhar mais. Gostei mais de Harry Potter porque
é divertido, bacana e legal.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Eles têm muitos, eles que me ensinaram.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Eu me lembro mais do Harry Potter porque eu vi a história no cinema.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Eles ainda não pediram.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Nenhuma.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Muito, mas não sei porquê.
151
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Ela é pequena, com poucos livros e com duas mesas.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Tem vários, mas não lembro do nome.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Os dois, porque eu adoro ler.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Não sei.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Bom, eu gostei do Harry Potter, mas não sei contar.
152
RESPOSTAS DO ALUNO nº 12
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Meu divertimento é jogar bola.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sim, às vezes. Uns três livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
De poemas.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha tia. Das princesas.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Barbie Rapunzel.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, nenhuma da princesa. De princesa, porque a história dela é cheia de a-
ventura.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Têm, eles têm o hábito de ler.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Um dia daqueles, porque é um livro de poemas que tem animais mostrando
cada coisa que acontece.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, dos de poemas.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer rascunho do livro.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Sim, porque eles sempre mandam ler algum livro para fazer rascunho.
153
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não. Ás vezes.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Uma sala com armários cheios de livros.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não, nenhum.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim, de matérias e de contos de fadas e poemas.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Os dois, porque é muito divertido.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Um dia daqueles.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não sei.
154
RESPOSTAS DO ALUNO nº 13
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola e andar de bicicleta.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sim. Sete livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
História de terror e ação.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Eu mais gostava do Lobo Mau.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Sítio do Pica-pau amarelo.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Megamen, porque é de ação.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Não.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Branca de Neve.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Desenhar.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não sei.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
155
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É legal.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não sei, eu sou novo na escola.
15. Há livros em tua casa? Quais?
De escola.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia porque é legal.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Branca de Neve.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não sei contar nenhuma.
156
RESPOSTAS DO ALUNO nº 14
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol e videogame.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não. Não me lembro.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poema.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Meu pai. Peter Pan.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos, Peter Pan.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não ganhei.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim, jornal.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Os três porquinhos é legal.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Os três proquinhos.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Educação física, futebol.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não sei.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
157
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É bem organizada e é grande, tem livros.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Tem Ciências, Matemática, Educação Física, Português, Artes, Ensino Reli-
gioso, História e Inglês.
15. Há livros em tua casa? Quais?
De Português, Biologia, Química, Ciências, Matemática, Inglês, Educação
Física.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Não Sei.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Português.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez três porquinhos que viviam em uma fazenda e um dia resolve-
ram fugir da fazenda e construir suas casas. O menor construiu a de palha, o
do meio a de madeira e o maior a de tijolo. O Lobo Mau assoprou a de palha
e o porquinho correu para o do meio. E o Lobo Mau assoprou e caiu, e os
dois foram para a do maior. E o lobo assoprou, assoprou, assoprou e cansou.
E tentou pela chaminé e como os porquinhos são espertos acenderam a larei-
ra e o Lobo Mau desceu a chaminé e queimou a bunda. E acabou a história.
158
RESPOSTAS DO ALUNO nº 15
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola e andar de bicicleta.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sete livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Histórias de terror e ação.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim. Do Lobo Mau.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Sítio do Pica-pau Amarelo, feito por Monteiro Lobato.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Eu já ganhei de aniversário. Eu gostei do Saci Pererê, ele gosta de aprontar
com todo mundo.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim, “Diário Gaúcho”.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Não me lembro.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim. Eu gosto do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer um resumo da história.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
159
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Eu freqüento a da escola e outras.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É muito legal, tem vários livros e computador.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não sei.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim, Branca de Neve, Gato de Botas.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia, para viajar junto com a história.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Pé de pilão, Mário Quintana.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não me lembro.
160
RESPOSTAS DO ALUNO nº 16
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol, andar de bicicleta, videogame.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sete livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
História, jornal e revista.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe. Não me lembro de qual gostava.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Soldadinho de chumbo.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não me lembro.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Às vezes.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Soldadinho de chumbo, porque é legal.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Educação Física.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim. Não freqüento outra.
161
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Ela tem bastante livro para pesquisar.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim. Não me lembro quais.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sobre realidade.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Não sei.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Os três porquinhos montam uma casa de palha e o lobo desmancha, depois
de madeira e o lobo desmancha e depois de tijolo. que ele tenta e não
desmancha.
162
RESPOSTAS DO ALUNO nº 17
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Ficar sentada conversando.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Eu não leio com freqüência.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poesia.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim. A minha mãe, o meu pai e o meu irmão. Eu não lembro.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Branca de Neve e o Peter Pan.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não ganhei.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Eles têm hábito de ler, mas não compram nada.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Cinderela. Não sei porque.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
De ver os personagens.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não sei.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Só daqui dessa escola.
163
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Eu não sei responder.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Não tem.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sobre fantasia porque é mais interessante para mim.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Monteiro Lobato.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Os três porquinhos. Um construiu de madeira, o outro construiu de palha e o
outro, que é mais inteligente, fez de material. O lobo derrubou a casa de ma-
deira e a de palha, e os dois foram para a casa de material e viveram felizes
para sempre.
164
RESPOSTAS DO ALUNO nº 18
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Ler livros, jogar vôlei e passear.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Nove livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Todas.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minhas irmãs. Chapeuzinho Vermelho.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Cinderela e Branca de Neve.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
O santinho, de Luís Fernando Veríssimo, porque ele fala sobre a vida dele
numa escola.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, principalmente de Mário Quintana, de todos.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Escrever redação, de inventar outra história.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
165
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Só a da escola.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É bem simples, é um pouco pequena, mas tem bastante livros.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim, do Luis Fernando Veríssimo e do Monteiro Lobato.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia, porque eu acho muito interessante.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Do Mário Quintana.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez três porquinhos que vivam numa floresta. Um dia eles decidi-
ram fazer cada um a sua casa. A primeira foi de palha, a segunda foi de ma-
deira e a última foi de tijolo. que na floresta havia um lobo muito mau
que queria comer eles. Daí, ele assoprou a primeira casa e ela desabou, asso-
prou a segunda casa e ela desabou. Quando chegou na última casa, não con-
seguiu derrubar. Ele tentou entrar pela chaminé, que os porquinhos bota-
ram fogo na chaminé e o lobo pulou, daí se queimou todinho. E os três por-
quinhos viveram felizes para sempre.
166
RESPOSTAS DO ALUNO nº 19
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol, vôlei e basquete.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Eu li três livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Histórias, jornal, cruzadinhas, poemas.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Não.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos, O soldadinho de chumbo.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim. Soldadinho de chumbo, porque a história é legal para ler.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Os três porquinhos porque o lobo derruba as casas.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Geografia.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Porque eles compram os livros pra nós ler.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim.
167
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Ela tem bastante livros para pesquisar as coisas dos trabalhos de todas maté-
rias.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sobre a realidade.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
O soldadinho de chumbo.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Os três porquinhos, eles compraram uma casa e quando eles tavam jogando
carta o lobo assoprou, assoprou, assoprou e derrubou a casa. Os porquinhos
compraram outra casa e vem o lobo e derruba outra vez a casa dos porqui-
nhos. E ele comprou outra casa e vem o lobo e assoprou, assoprou e asso-
prou e a casa cai.
168
RESPOSTAS DO ALUNO nº 20
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogo, videogame, ler livro, jogar bola.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Dezoito livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Suspense.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Do Bicho-Papão.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Branca de Neve, Cinderela, Os três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não sei.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Jornal, revista e livro.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Branca de Neve, porque a bruxa deu a maçã “venenada”.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Resumo e caça-palavras.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Só do colégio.
169
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Grande, espaçoso e cheio de livros.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim, muito.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sobre a realidade.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Shakespeare.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez três porquinhos que foram embora para o bosque. O mais novo
fez casa de palha, o do meio fez de madeira e o mais velho fez de tijolo. Os
três moram junto.
170
RESPOSTAS DO ALUNO nº 21
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola e jogar vôlei.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Doze livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Aventura.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe. Aventura do Lobo Mau.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Sítio do Pica-pau amarelo.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Não lembro.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim, Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Não sei.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim.
171
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Tem livros.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não promove.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Não.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Prefiro realidade, é melhor.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Os três porquinhos.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não lembro.
172
RESPOSTAS DO ALUNO nº 22
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol e T.V.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não me lembro.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poemas.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Minha mãe. Os três porquinhos.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos, Puff, Chapeuzinho Vermelho.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, eu tava de aniversário. Do livro de Inglês, porque eu gosto de inglês.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Eu não me lembro de nenhum.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Eu gosto de ciências porque é bem interessante.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Educação Física.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
173
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É bem grande, tem bastante livros.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Tem Ciências, Matemática, Inglês, Português.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Eu prefiro fantasia porque lendo parece que a gente tá lá.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Inglês.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Era uma vez três porquinhos que viviam em uma fazenda. Um dia eles con-
versaram e resolveram fugir antes que comessem eles. Eles fugiram e procu-
raram um lugar para construir suas casas. Cada um ia ter sua casa. Um deles
fez de palha, o outro de concreto e o outro de madeira. Eles levaram um dia
inteiro para construir, até que um dia um lobo tinha um sopro forte e ele foi e
assoprou e derrubou a de palha. o porquinho foi pra de madeira. Ele as-
soprou e derrubou. Os dois foram pra de concreto. O lobo assoprou, asso-
prou e se cansou. E eles viveram felizes para sempre.
174
RESPOSTAS DO ALUNO nº 23
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Futebol.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não sei.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Eu gosto de poeta.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Não.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Eu nunca ganhei.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Não.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Harry Potter.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
De poemas.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Educação Física.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Eu freqüento a biblioteca dos outros.
175
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Eu nunca entrei.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Nenhum.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Tem muitos. Eu não sei.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Eu prefiro os dois porque é bom.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Do Mário Quintana.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Eu não sei.
176
RESPOSTAS DO ALUNO nº 24
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola, andar de sakate, ficar com as meninas.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sete.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
História de terror e ação.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
A minha mãe lia a história do Lobo Mau. A parte que mais gostava era a
parte que ele assoprou e caiu a casa dos porquinhos.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Sítio do pica-pau amarelo.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, de aniversário. Prefiro o Sítio do pica-pau amarelo.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Não lembro.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim. Do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Resumir a história e responder perguntas. A que eu mais gosto é das pergun-
tas.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
177
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim, só a da escola.
13. Como é a biblioteca de tua escola?
É linda, tem muitos livros e um computador.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não promove.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Só de Matemática, Ciências, só.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sim, porque é melhor.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Chapeuzinho Vermelho.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não me lembro de nenhuma.
178
RESPOSTAS DO ALUNO nº 25
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Jogar bola e andar de bicicleta.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sete livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
História de terror e ação.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim. Eu mais gosto do Lobo Mau.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Sítio do pica-pau amarelo.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim. Mário Quintana.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim, ele compra “Diário Gaúcho”.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Não lembro.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim. Pé de pilão.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer um resumo.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim, a do colégio.
179
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Não tem quase livro legal.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim, Pé de pilão, Batalhão das letras.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Sobre fantasia para poder sair da realidade.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
A Branca de Neve e Os três porquinhos.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Não sei contar nenhuma.
180
RESPOSTAS DO ALUNO nº26
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Ver filme
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Não. Não me lembro.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
A de aventura.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe. Quando ela contava histórias engraçadas.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e Pinóquio.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Sim, no Natal. Harry Potter e o enigma do príncipe, porque é de aventura.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim. Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
O velho e mar, porque ele sofreu muito, mas conseguiu o que queria.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer resumos. Gosto do resumo.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Sim, para aumentar o vocabulário.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Não.
181
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Muito legal e com livros bem grossos.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não sei.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Sim. Não me lembro.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Realidade porque é o que acontece.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Harry Potter e a ordem da fênix.
18. Conta uma história de que gostes muito.
O velho e o mar. Ele saiu para pescar e enfrentou vários animais, tomou á-
gua, isso. E cortou as mãos, mas conseguiu pescar um peixe muito gran-
de, que era o seu sonho.
182
RESPOSTAS DO ALUNO nº 27
1. Quais são teus divertimentos preferidos?
Ir para o parque passear.
2. Tu costumas ler com freqüência? Quantos livros leste no ano passado?
Sim, 13 livros.
3. Que tipo de leitura tu preferes?
Poesia.
4. Antes de aprenderes a ler alguém te contava histórias? Quem? Do que
mais gostavas?
Sim, minha mãe e minha vó. Eu gostava da história da Branca de Neve.
5. Quais os contos de fadas e histórias infantis de que te recordas?
Os três porquinhos.
6. Já ganhaste livros de presente? Em que ocasião? De qual mais gostas-
te?Por quê?
Não.
7. Os teus pais têm o hábito de comprar livros, jornais e revistas? Eles têm
o hábito de ler?
Sim.
8. Cita o nome do livro de que mais lembras e conta por quê.
Os três porquinhos e a Branca de Neve.
9. Teus professores indicam livros de história e livros de poemas para le-
res? De quais mais gostas?
Sim. Do Mário Quintana.
10. Depois da leitura, que atividades são propostas pelos teus professores?
De qual mais gostas?
Fazer atividades e formar frases.
11. Tu percebes algum empenho por parte da escola para te fazer gostar
dos livros? Por quê?
Não.
12. Tu freqüentas a biblioteca escolar? Freqüentas alguma outra bibliote-
ca?
Sim e não.
183
13. Como é a biblioteca de tua escola?
Nunca tem livro para fazer os trabalhos.
14. A biblioteca de tua escola promove atividades de incentivo à leitura?
Quais?
Não.
15. Há livros em tua casa? Quais?
Não tenho.
16. Tu preferes um livro que fale sobre a realidade ou sobre fantasia? Por
quê?
Fantasia. É mais divertido.
17. Se tu tivesses que comprar um livro agora, qual seria?
Mário Quintana.
18. Conta uma história de que gostes muito.
Os três porquinhos. Um construiu uma casa de madeira, o outro de palha e o
mais velho de tijolo. E o Lobo Mau foi e assoprou e caiu todas as casas.
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