16
ele – Filippo Marinetti. Apollinaire participa, juntamente com André Billy, René Dalize e André
Salmon do lançamento da revista Les Soirées de Pari
1
, ocasião em que Marie Laurencin rompe
definitivamente com ele. Os poemas “Le Pont Mirabeau”, “Zone” e “Vendémiaire”, fazem alusão
ao fim de seu relacionamento; no ano seguinte, em abril, publica a sua coletânea mais conhecida:
Alcools, na qual os dois primeiros poemas mencionados abrem a obra e o último a finaliza, sendo
também o primeiro poema não pontuado pelo poeta.
No início de 1913, multiplica suas conferências sobre o cubismo e a nova pintura e,
apesar do isolamento literário que sente, continua suas experiências ideogramáticas que dão
início aos seus primeiros caligrammes. Em seguida, o poeta faz uma solicitação, já em 1914, para
alistar-se no exército francês e combater na Primeira Guerra Mundial. Em setembro desse ano ele
conhece Louise de Coligny-Châtillon, conhecida como Lou. Em dezembro, é admitido no 38º
regimento de artilharia de Nîmes.
Apollinaire mostra as influências que obteve a partir de leituras de poetas como Villon,
por exemplo, um autor do século XV que explorava temas que permeariam a produção literária
do poeta do século XX , entre eles o amor, a fugacidade do tempo e a morte, promovendo um
encontro e uma constância com que persiste, principalmente os dois primeiros e “não permite
pensar que eles tenham simplesmente retomado e tratado como lugares comuns poéticos”.
(PASCAL, 1965)
A pobreza e as decepções amorosas talvez tenham contribuído para a melancolia de
Apollinaire. Em 1904, a partida de Annie, em 1910, o fracasso de seu Heresiarque au prix
Goncourt, em 1911, a sua prisão e a baixa receptividade ao lançamento de Le Bestiaire; e em
1912, a ruptura definitiva com Marie Laurencin foram infortúnios que o levaram, pouco a pouco,
senão à convicção, ao menos ao receio permanente de privar-se de amor e de dinheiro.
Apollinaire jamais esperou a opulência, tendo gostos modestos, e a guerra provou que se
adaptava sem reclamar às condições de existência as mais duras. Entretanto os menosprezos que
sofria e que tinha suportado o levaram a lamentar em “La souris”, por exemplo, os dias perdidos:
Belles journées, souris du temps,
Vous rangez peu à peu ma vie.
Dieu ! je vais avoir vingt-huit ans,
Et mal vécus, à mon envie.
2
(APOLLINAIRE, 2006, p. 155).
1
Revista que publicou importantes poemas de Apollinaire como “Zone” e “Le Pont Mirabeau” , por exemplo.
2
Ratos do tempo, os belos dias/ vocês roem, toda essa vida,/ó meu Deus, e tão mal vivida:/vinte e oito anos, ó horas
vadias! (WOENSEL, 2001, p. 129)