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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ELETRICIDADE
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA:
UM ENFOQUE EM
CONSUMIDORES RESIDENCIAIS
Paulo Roberto Mendes da Silva
São Luís - MA, Brasil.
ABRIL/2008
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PAULO ROBERTO MENDES DA SILVA
Conservação de energia elétrica:
um enfoque em
consumidores residenciais
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Eletricidade da Universidade
Federal do Maranhão para obtenção do título de Mestre em
Engenharia Elétrica na área de Sistemas de Energia.
São Luís
2008
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Silva, Paulo Roberto Mendes da
Conservação de energia elétrica: um enfoque em consumidores residen-
ciais / Paulo Roberto Mendes da Silva. São Luís, 2008.
150f.
Impresso por computador (fotocópia).
Orientador: José Eduardo Onoda Pessanha.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Maranhão, Programa
de Pós-Graduação em Engenharia de Eletricidade, 2008.
1. Energia Elétrica – Abastecimento – Brasil 2. Energia elétrica – Consu-
mo residencial – Brasil I. Título
CDU 621.31 (81)
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
UM ENFOQUE EM
CONSUMIDORES RESIDENCIAIS
MESTRADO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA
PAULO ROBERTO MENDES DA SILVA
ORIENTADOR: Prof. Dr. JOSÉ EDUARDO ONODA PESSANHA
Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Eletricidade da
Universidade Federal do Maranhão
Dedico este trabalho às pessoas
que têm deixado marcas na minha vida,
em especial aos meus pais, Fabriciana e Manoel Dias,
à minha esposa Lícia e à minha filha Vanessa.
AGRADECIMENTOS
A Deus, sempre, pela proteção e companhia, mesmo naqueles momentos em que até
duvidava da Sua existência.
Ao professor Dr. José Eduardo Onoda Pessanha, pela orientação, compreensão e
ajuda dispensadas no decorrer deste trabalho.
Ao Pesquisador Engº. Shigeaki Leite Lima, pelo suporte nos ensaios realizados em
laboratório, fundamentais para a conclusão desta Dissertação.
À Lícia e Vanessa, pela paciência e carinho para com este autor, bem como pela
compreensão pelo tempo não compartilhado.
Aos Professores Vicente Leonardo Paucar Casas, Maria da Guia da Silva, Sebastian
Yuri Catunda, Osvaldo Ronald Saavedra Méndez e José Eduardo Onoda Pessanha, pelas
boas horas de convivência e de aprendizado durante a execução dos projetos de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) idealizados e realizados ao longo dos últimos anos.
Ao colega Alcides, pela maneira sempre gentil e prestativa com que trata os alunos
na Coordenação do Programa de Pós-Graduação.
Aos meus bravos resilientes companheiros do curso de pós-graduação: Orlando
Maramaldo, José Carlos, Laércio Castro, Márcio Nazareno e Ana Carla: pelas várias horas
de muita dedicação e superação, divididas irmamente.
Ao Mestre Júlio César Mendes, pelo incentivo.
E a todos aqueles que não tenha mencionado, mas cujas contribuições foram
importantes para o desenvolvimento deste trabalho.
RESUMO
O presente trabalho investiga as formas de conservação de energia elétrica mais
utilizadas, especialmente no Brasil, sem esquecer o aspecto da qualidade da energia
fornecida enfatizando o setor residencial. Dentre as linhas investigadas, destaca-se a
tecnológica, que abrange a aplicação de equipamentos mais eficientes, mas não são
esquecidas as ações humanas, com grande penetração especialmente no setor residencial.
Estudos práticos de qualidade de energia elétrica envolvendo cargas residenciais de
iluminação supostamente eficientes também são apresentados. Esses estudos foram
realizados num protótipo de laboratório capaz de simular fontes de problemas de qualidade
de energia, como afundamentos momentâneos e de longa duração de tensão. Grandezas
elétricas foram monitoradas através de um equipamento analisador de qualidade de energia
elétrica – DRANETZ 4300. Os resultados mostram que o consumidor pode não adquirir um
produto (lâmpada compacta, nesse caso) de acordo com as especificações do fabricante,
estando muito abaixo do prometido.
O objetivo geral foi, portanto, estudar os conceitos de ações voltadas à eficiência
energética e ao combate ao desperdício de energia, vinculando-os à redução de custos
relacionados à energia elétrica e à melhoria contínua no gerenciamento dos custos
observando-se o aspecto da qualidade de energia.
Palavras-chave:
- Conservação de Energia; - Eficiência energética;
- Energia Elétrica; - Consumidor residencial.
ABSTRACT
This work investigates the most used forms of electric energy conservation,
especially in Brazil, without neglecting the power quality aspect, emphasizing residential
loads. Among the investigated issues, the technological is a very important one since it
comprises the application of efficient equipment. However, it is not forgotten the human
actions, with great application in the residential point of view.
Power quality practical studies involving lightning residential loads are also
presented. These studies were carried out with a lab prototype capable of simulating power
quality problems, such as momentary and long-term voltage sags. Electrical parameters
were monitored trough a power quality analyzer equipment - DRANETZ 4300. The results
show that the consumer may not acquire a product (compact efficiency light in this case)
according to the manufacturer specifications, being very far from the label specifications.
The main objective was, therefore, to study the efficiency energy concepts actions
and energy savings, associating them to the cost reduction related to electrical energy and
the continuous improvement in cost management taking into account the power quality
aspect.
Key Words:
- Energy conservation; - Energy efficiency;
- Electrical energy; - Residential consumer.
SUMÁRIO
Lista de Tabelas .................................................................................................................... i
Lista de Figuras ................................................................................................................... ii
Lista de Abreviaturas e Símbolos ..................................................................................... iii
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
1.1. A Energia Elétrica .......................................................................................................... 1
1.2. A Conservação de Energia Elétrica: Um Breve Histórico ............................................. 2
1.3 Conceitos Associados à Energia Elétrica ........................................................................ 6
1.3.1 Energia ........................................................................................................................ 7
1.3.2 Recursos Energéticos .................................................................................................. 7
1.3.3 Potência e Fator de Potência ....................................................................................... 8
1.3.4 Consumo e Demanda de Energia Elétrica .................................................................. 9
1.4 Panorama Atual do Setor Elétrico Brasileiro ................................................................ 11
1.5 Motivação e Estrutura do Trabalho ............................................................................... 19
CAPÍTULO 2 CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
2.1. Generalidades................................................................................................................ 21
2.2 Outras Motivações para Conservar Energia Elétrica .................................................... 22
2.3 Vertente Humana da Conservação de Energia Elétrica ................................................ 25
2.4 Vertente Tecnológica da Conservação de Energia Elétrica .......................................... 27
2.4.1 Desenvolvimento de Equipamentos ........................................................................... 28
2.4.2 Desenvolvimento dos Processos Produtivos .............................................................. 28
2.4.3 Desenvolvimento dos Processos de Manutenção ....................................................... 29
2.4.4 Desenvolvimento da Arquitetura de Edificações ....................................................... 31
2.5 PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica .......................... 32
2.5.1 - PROCEL Educaçâo (PROCEL nas Escolas) ........................................................... 36
2.5.2 – PROCEL EPP (Eficiência Energética nos Prédios Públicos) ................................. 40
2.5.3 - Programa PROCEL EDIFICA ................................................................................. 40
2.5.4 - Gestão Energética Municipal ................................................................................... 41
2.5.5 - PROCEL SANEAR ................................................................................................. 42
2.5.6 – Programa RELUZ ................................................................................................... 44
2.5.7 – O Selo PROCEL ..................................................................................................... 46
2.6 Conservação em Usos Finais ....................................................................................... 55
2.6.1 Indicadores da Qualidade do Uso da Energia Elétrica ................................................55
2.6.2 Diagnóstico Energético .............................................................................................. 59
2.6.3 Conservação – Principais Usos Finais ....................................................................... 66
2.6.3.1 Iluminação ............................................................................................................... 66
2.6.3.2 Condicionamento de Ar e Refrigeração .................................................................. 76
2.6.3.3 Força Motriz ............................................................................................................ 80
CAPÍTULO 3 CONSERVAÇÃO NO SETOR RESIDENCIAL
3.1 Introdução ..................................................................................................................... 82
3.2 Programa de Eficiência Energética para o Brasil – PEE .............................................. 82
3.3 O Consumidor Brasileiro – O Estado do Maranhão ..................................................... 88
3.4 Refrigeração Residencial .............................................................................................. 91
3.5 Aquecimento de Água ................................................................................................... 96
3.6 Condicionamento de Ar .............................................................................................. 100
3.7 Iluminação Residencial ............................................................................................... 106
3.8 Carga Residencial Típica ............................................................................................ 113
CAPÍTULO 4
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E A QUALIDADE DE ENERGIA ............................ 117
4.1 Introdução ................................................................................................................... 117
4.2 Conceitos Fundamentais ............................................................................................. 117
4.2.1 Definições ................................................................................................................ 120
4.3 Simulações Práticas .................................................................................................... 126
4.4 Observações preliminares ........................................................................................... 136
4.5 Comentários Gerais .................................................................................................... 137
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 139
5.1. TRABALHOS FUTUROS.......................................................................................... 140
APÊNDICES
A – Dados das Simulações - Lâmpada Incandescente – Classe 3..................................... 141
B – Dados das Simulações - Lâmpada fluorescente Classe 1............................................ 143
C – Dados das Simulações - Lâmpada fluorescente Classe 2 ........................................... 145
D - Relação de Modelos de Lâmpadas Fluorescentes Compactas .................................... 148
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 149
LISTA DE TABELAS
1.1 – Dados mundiais – Geração de energia elétrica por tipo de fonte ................................. 4
1.2 - Mercado Total de Energia Elétrica no Brasil .............................................................. 12
1.3 – Carga do Sistema Interligado Nacional – Ano-base 2004 ..........................................17
2.1 – Resultados obtidos pelo PROCEL 1986-2005 ........................................................... 33
2.2 – Potencial de conservação de eletricidade - ano 2015 ................................................. 35
2.3 - Resultados obtidos pelo RELUZ no período 2000 a 2006 ......................................... 45
2.4 - Refletâncias típicas ..................................................................................................... 71
2.5 – Comparativo entre lâmpadas OSRAM usadas na IP .................................................. 74
3.1 – Dados comparativos da CEMAR frente ao setor elétrico nacional ............................ 89
3.2 – Comparação do consumo por segmento - CEMAR e setor elétrico nacional............. 89
3.3 – Número de consumidores e consumo por segmento – CEMAR ................................ 89
3.4 – Consumo de refrigerador alimentado com tensões diferentes da nominal ................ 95
3.5 - Níveis de iluminância recomendáveis para interiores............................................... 107
3.6 - Comparação entre lâmpada incandescente e fluorescente compacta disponíveis no
mercado ............................................................................................................................. 108
3.7 – Lâmpadas mistas de potências mais utilizadas ........................................................ 110
3.8 – Dados de embalagem da lâmpada Philips incandescente ........................................ 110
3.9 – Comparativo entre lâmpadas incandescentes............................................................ 111
4.1 – Dados de embalagem das lâmpadas incandescentes Classe 1.................................. 127
4.2 – Dados de embalagem das lâmpadas Classe 2........................................................... 128
4.3 – Dados de embalagem das lâmpadas Classe 3 .......................................................... 128
4.4 – Dados de embalagem das lâmpadas Classe 4 .......................................................... 129
4.5 – Dados das leituras – lâmpadas Classe 1 .......... ........................................................ 133
4.6 – Dados das leituras – lâmpadas Classe 2.................................................................... 134
4.7 – Dados das leituras – lâmpadas Classe 3 ................................................................... 134
4.8 – Dados das leituras – lâmpadas Classe 4.................................................................... 136
LISTA DE FIGURAS
1.1 – Evolução da geração de energia elétrica por tipo de fonte no mundo ......................... 4
1.2 - Consumo setorial de eletricidade no Brasil ................................................................ 13
1.3 - Consumo médio residencial (kWh/mês) ..................................................................... 15
1.4 – Participação das outras classes de consumo ............................................................... 16
1.5 - Estrutura da oferta interna de energia elétrica ............................................................ 17
1.6 – Estrutura de consumo de energia elétrica no Brasil ................................................... 18
2.1 – Potencial de conservação de energia elétrica no Brasil ............................................. 35
2.2 – Selo PROCEL ............................................................................................................ 49
2.3 – Selo PROCEL INMETRO de desempenho ............................................................... 51
2.4 – Etiqueta do PROCEL INMETRO .............................................................................. 52
2.5 – Dados do Catálogo do Selo PROCEL – Ar condicionados ....................................... 54
2.6 – Exemplo de matriz energética por uso final ............................................................... 62
3.1 – Participação das cargas no consumo final residencial brasileiro ............................... 84
3.2 – Posse média de outros eletrodomésticos .................................................................... 87
3.3 – Participação das cargas no consumo final residencial - Nordeste .............................. 87
3.4 – Percentual do quantitativo de consumidores da CEMAR .......................................... 90
3.5 – Participação dos segmentos no consumo total de energia - CEMAR ........................ 90
3.6 - Posse média dos refrigeradores no Brasil e regiões .................................................... 91
3.7 – Composição básica de um refrigerador ...................................................................... 92
3.8 - Tempo médio de utilização do chuveiro elétrico por pessoa ...................................... 98
3.9 - Posse média e uso de lâmpadas nos domicílios brasileiros ...................................... 111
3.10 – Curva de carga diária média no Brasil (do consumidor residencial típico) ........... 113
3.11 – Curva de carga diária média na região Nordeste (consumidor residencial)............ 114
3.12 – Participação dos equipamentos no consumo residencial – Brasil ...........................114
3.13 – Participação dos equipamentos no consumo residencial – Nordeste ......................115
4.1 – Diagrama Unifilar do Modelo Reduzido para Simulação de Qualidade de Energia e
Eficiência Energética de Cargas Residenciais ................................................................. 126
4.2 – Autotransformador e multímetro utilizados em bancada ..........................................131
4.3 – Analisador de qualidade de energia Dranetz-BMI PP 4300 .....................................131
4.4 – Simulações com lâmpadas fluorescentes compactas ............................................... 132
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
ABINEE - Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABILUX - Associação Brasileira da Indústria de Iluminação
ABRADEE - Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
CEB – Companhia Energética de Brasília
CEMAR - Companhia Energética do Maranhão
CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
CICE – Comissão Interna de Conservação de Energia
CGIEE - Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética
ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras S.A.
ELETRONORTE – Centrais Elétricas do Norte S.A.
ELETROS - Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos
EPE – Empresa de Pesquisa Energética
ESCOS - Energy Service Companies
GCOI - Grupo Coordenador para Operação Interligada
GEM - Programa Gestão Energética Municipal
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
IASC - Índices ANEEL de Satisfação do Consumidor
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
IP – Iluminação Pública
OIE - Oferta Interna de Energia
ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico
PIB – Produto Interno Bruto
PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica
RGR – Reserva Global de Reversão
UFMA – Universidade Federal do Maranhão
UNIFEI – Universidade Federal de Itajubá
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1. A ENERGIA ELÉTRICA
No final do século XVIII e início do XIX, o grande desafio para os pesquisadores
era descobrir uma forma de transformar a energia mecânica em algum tipo de energia de
fácil transporte e utilização. Somente no ano de 1831 a possibilidade dessa transformação
ficou comprovada, quando Michael Faraday montou, no Reino Unido, um gerador de
corrente contínua a partir de um disco de cobre, e Joseph Henry obteve, nos Estados
Unidos, corrente alternada ao criar um gerador com ímãs e enrolamentos de fio elétrico
numa armadura de ferro. Apesar de terem sido grandes feitos para o conhecimento da
energia elétrica, somente meio século depois dessas pesquisas é que começaram a ser
desenvolvidos os primeiros geradores com condições de serem empregados em escala [ 1 ].
Ao final da Segunda Grande Guerra Mundial, as nações precisam realizar pesquisas
para resolverem os problemas gerados pelos conflitos recentes e se tornarem auto-
suficientes, bem como para melhorar a qualidade de vida dos seus povos. Por isso, o setor
energético foi visto como aquele que deveria crescer mais rapidamente, pois só com energia
de baixo custo e abundante seria possível fazer com que os outros setores da economia se
desenvolvessem rapidamente. Assim, as nações européias começaram a reestruturar seus
setores energéticos a partir de usinas nucleares e térmicas, que não necessitavam de muito
tempo para construção, bem como devido a questões de ordem hidrográfica e ao baixo
custo do petróleo no cenário pós-guerra, pois havia muita oferta.
Uma vez consolidados os sistemas de geração, transmissão e distribuição de
energia elétrica nos principais países, esses passaram a se preocupar com pesquisas para o
próprio desenvolvimento tecnológico, de forma que houve um grande desenvolvimento de
equipamentos elétricos para todos os setores, inclusive com o início do desenvolvimento da
automação moderna. Estabelecia-se, assim, a dependência, cada vez mais crescente, da
Europa Ocidental, Japão e Estados Unidos a esse tipo de combustível, barato e abundante.
Porém, em outubro de 1973, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo -
OPEP decidiu reduzir progressivamente a produção de barris de petróleo de cerca de 21
milhões de barris/dia para cerca de 16 milhões de barris/dia, o que resultou em um aumento
de quase 600% no preço do barril de petróleo, período que ficou marcado como a Crise do
Petróleo de 1973 [ 2 ].
Essa crise, além de abalar a economia mundial e de ter sido bastante danosa
para alguns países, especialmente os então chamados de “em desenvolvimento”, alertou o
mundo civilizado para os perigos de uma dependência quase exclusiva do petróleo. Isso fez
com que algumas nações começassem a se preocupar com o desenvolvimento e a utilização
de fontes de energia renováveis, bem como com o desperdício de energia, que na época era
grande em qualquer setor, uma vez que as preocupações eram apenas com a produção, pois
o insumo energia não representava custo significativo.
1.2 A CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: UM BREVE HISTÓRICO
No período da crise do petróleo, o governo brasileiro estimulou a substituição do
óleo combustível utilizado pelas indústrias principalmente pela eletricidade e criou o
Programa CONSERVE [ 3 ], em 1981, gerido pelo Ministério da Indústria e Comércio
(MIC). Durante décadas, os recursos naturais e, conseqüentemente, a energia elétrica
gerada a partir de recursos naturais foi considerada como inesgotável. A necessidade de se
ter energia disponível, a possibilidade real de extinção de algumas fontes primárias não-
renováveis e a busca por um desenvolvimento sustentável, fez com que o combate ao
desperdício de energia fosse cada vez mais importante. Assim começou a se formar o
embrião dos conceitos de combate ao desperdício de energia, principalmente nos Estados
Unidos e Canadá [ 1 ].
Nos Estados Unidos o pensamento da época era: “... elaborar estratégias energéticas
que possibilitem que os Estados Unidos alcancem suas metas de proteção ambiental, saúde
pública e segurança nacional, como resultado de economias de energia, com práticas
racionais de economia a preços reduzidos, mantendo a conservação de energia como um
anteparo de proteção para a maioria dos consumidores americanos” [ 4 ] .
Em consonância com essa crescente conscientização, diversos países começaram
então a estruturar agências públicas específicas a fim de implementar programas de
conservação de energia que visassem informar, difundir, conscientizar, pesquisar e
implementar idéias conservacionistas, tendo tido destaque as agências da França
(ADEME), Holanda (NOVEM) e Espanha (IDEA).
O fato é que nas últimas duas décadas o pensamento conservacionistas ganhou força
em todo o mundo, especialmente após a edição do Protocolo de Kyoto (Japão), em 1997,
quando 160 países decidiram que seria necessário limitar as emissões de gases estufa nos
países industrializados e que seria criada a ferramenta “créditos de carbono”. Assim, no
período de 2008 a 2012 a redução nas emissões será em média de 5% Trata-se não só de
uma questão de necessidade de um “desenvolvimento sustentável”, mas também de um
novo paradigma econômico, pois a conservação de energia pode ser um “grande negócio”.
No âmbito da energia elétrica as primeiras ações em nível mundial de combate ao
desperdício foram as de estimular a troca de refrigeradores e condicionadores de ar antigos
por equipamentos mais eficientes, com as vantagens de redução do uso de gases
clorofluorcarbonetos (os atualmente famosos CFCs) e de redução do consumo de energia
elétrica.
Com relação à conservação de energia elétrica, pode-se afirmar que conceitos foram
e estão sendo redefinidos. O que antes era apenas obrigação, responsabilidade ou mero
interesse de algumas concessionárias de energia elétrica, hoje se transformou em uma
imperiosa necessidade. Ou seja, atualmente é proibitiva a utilização perdulária da energia
elétrica.
Os problemas que o estado da Califórnia (EUA) teve com o abastecimento energia
elétrica no ano de 2002 enfatizaram, por outro lado, a necessidade de que sejam observados
os verdadeiros custos dos dispositivos que apresentam alta eficiência energética.
Além disso, o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas
(IPCC), apresentado pela ONU no mês de maio de 2007, não deixa dúvidas sobre a
gravidade dos problemas relacionados ao consumo crescente de energia.
O fato é que houve uma alteração significativa na participação do petróleo como
fonte utilizada na geração de energia elétrica a nível mundial nas últimas três décadas,
caindo de cerca de 25% para 6,7 %, como pode ser observado na tabela e no gráfico abaixo
[ 11 ]:
Tabela 1.1 – Dados mundiais – Geração de energia elétrica por tipo de fonte
FONTES 1973 2004
Petróleo 24,7 % 6,7
Gás 12,1 % 19,6
Nuclear 3,4 % 15,7
Hidráulica 21,0 % 16,1
Carvão Mineral 38,2 % 39,8
Outros 0,6 % 2,1
Energia elétrica Total (TWh) 6.117 17.450
Figura 1.1 – Evolução da geração de energia elétrica por tipo de fonte no mundo
Vale ressaltar neste momento um outro conceito: a intensidade energética de um
produto ou processo, a qual pode ser expressa como a quantidade de energia por unidade de
produto, sendo os indicadores mais utilizados kWh/US$ e kWh/ton. [ 5 ]. A intensidade
energética também pode ser expressa através do uso da energia por dólar de Produto
Interno Bruto para comparação entre nações desenvolvidas e neste quesito, a intensidade
energética no Brasil é o dobro da dos Estados Unidos e quatro vezes maior que a do Japão,
o que nos leva à conclusão de que no Brasil há um dos maiores mercados potenciais do
mundo para Eficiência Energética [ 6 ].
24,7
12 ,1
3,4
21,0
38,2
0,6
6,7
19,6
15 , 7
16 ,1
39,8
2,1
0
10
20
30
40
50
1973 2004
GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
POR FONTE - (%)
Petróleo
Gás
Nuclear
Hidráulica
Carvão Mineral
Outros
6.117 TWh 17.450 TWh
No Brasil, como será visto em detalhes nos tópicos seguintes, o Programa Nacional
de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL, criado em dezembro de 1985, foi
idealizado a partir da observação das experiências de sucesso de outros países, mas
estruturado a partir da realidade nacional a fim de ter uma maior penetração no país. Apesar
da criação do PROCEL em 1985, a preocupação maior com a conservação de energia
elétrica só teve resultados significativos a partir de 2001, após o racionamento de energia
elétrica. Porém, vale ressaltar que, através da Lei 9.427, de 26 de dezembro de 1996, foi
criada a agência reguladora do reestruturado setor elétrico, a Agência Nacional de Energia
Elétrica – ANEEL, autarquia em regime especial vinculada ao Ministério de Minas e
Energia – MME, bem como o Operador Nacional do Sistema - ONS. A missão da citada
Agência é proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se
desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade. O objetivo dessa
reestruturação era o de atrair capital de empresas privadas, como uma alternativa para
atender o crescente aumento na demanda por energia elétrica, que vinha crescendo a taxas
médias em torno de 6% ao ano [ 7 ]. Assim, naquele período, a sociedade brasileira foi
obrigada a fazer diversos tipos de sacrifício, uma vez que o Sistema Elétrico Brasileiro foi
colocado à prova. A causa desse problema ainda hoje é questão de debates acirrados,
principalmente políticos, mas com certeza foi um efeito danoso do modelo de privatização,
desestatização e desregulamentação (a dita modernização) do setor elétrico nacional, bem
como da não observância, por parte do governo federal, das diretrizes das renomadas
entidades e autoridades de planejamento e operação do sistema elétrico nacional, agravada
pelos reduzidos níveis de água nos reservatórios das principais hidrelétricas devido às
previsíveis estiagens, pelo acréscimo de carga sofrido no sistema e pela falta de
investimentos prometidos pelas empresas privadas na parte física estrutural do sistema, na
construção de novas usinas, principalmente térmicas, e em linhas de transmissão. Essa crise
impulsionou os programas de conservação de energia elétrica, a multiplicação de unidades
de co-geração e o desenvolvimento de estudos e de incentivos governamentais para fontes
alternativas de geração de energia elétrica.
De uma forma geral, Conservação de Energia Elétrica é um conceito sócio-
econômico que se resume na não utilização, no momento do consumo analisado, de parcela
da energia elétrica que usualmente seria utilizada para realizar determinado trabalho ou
atividade, mas sem comprometer, em hipótese alguma, a qualidade de vida dos
consumidores e a própria produção de bens e serviços [ 8 ]. De um modo mais particular,
reflete-se na necessidade de retirada do planejamento da expansão do sistema elétrico da
componente referente a qualquer forma de desperdício de energia elétrica, permitindo a
redução dos investimentos nesse setor, sem comprometer o fornecimento de energia
elétrica.
Como será visto posteriormente, para se conseguir conservar energia elétrica é
preciso que sejam trabalhadas duas vertentes, a humana e a tecnológica, assim definidas:
Vertente humana - através de uma gama de informações recebidas, o cidadão é
instigado a mudar hábitos e atitudes, o que poderá levar a uma mudança de
comportamento, que é o mais desejável;
Vertente tecnológica - o desenvolvimento de novos equipamentos e processos,
quando efetivamente implementados, pode resultar em uma significativa
redução do consumo de energia, sem comprometimento da qualidade de vida ou
do produto final.
Já Eficiência Energética é a obtenção de um serviço com baixo dispêndio de energia
[72 ]. É a utilização de processos e equipamentos que visam a um melhor desempenho e a
um menor consumo de eletricidade. É um termo também usualmente empregado para
denotar a geração de energia por unidade de energia fornecida ao sistema. Em outras
palavras, se houver uma redução no consumo de energia em comparação com o
equipamento ou processo em análise, corresponde ao conceito de vertente tecnológica
anteriormente apresentado.
1.3 CONCEITOS ASSOCIADOS À ENERGIA ELÉTRICA
Para uma melhor compreensão dos assuntos abordados neste trabalho, em especial a
racional utilização dos fluxos de energia, faz-se necessária a apresentação de alguns
conceitos básicos e definições.
1.3.1 ENERGIA
No Século IV a.C., Aristóteles definiu energia como uma realidade em movimento [
3 ], mas o conceito mais difundido e encontrado em várias referências bibliográficas, que é
quase senso comum, é que “energia é a medida da capacidade de efetuar trabalho”. Porém,
essa definição não é a mais correta. Uma das mais completas é a que Maxwell estabeleceu
em 1872: “energia é aquilo que permite uma mudança na configuração de um sistema, em
oposição a uma força que resiste a esta mudança” [ 1 ]. Outra forma de se conceituar
energia é a energia incorporada aos bens e serviços, que é o consumo de energia no ciclo de
vida, ou seja, aquela consumida por um sistema desde a sua concepção e construção, até o
seu descarte final.
Sob o ponto de vista de eletricidade, pode-se conceituar energia como a quantidade
de eletricidade utilizada por um aparelho elétrico ao ficar ligado por certo tempo [ 9 ]. No
âmbito na engenharia elétrica a energia é dividida em dois tipos:
Energia Elétrica Ativa (energia ativa): é a energia elétrica que pode ser convertida em
outra forma de energia, expressa em quilowatts hora (kWh) [ 10 ]. É a energia elétrica
despendida para realizar trabalho num período de tempo (P x t);
Energia Elétrica Reativa (energia reativa): é a energia elétrica que circula
permanentemente entre os vários campos elétricos e magnéticos de um sistema de
corrente alternada, sem produzir trabalho [ 10 ]. É uma energia que, apesar de não
realizar trabalho, não pode ser considerada inútil, sendo expressa em quilovolt ampère
reativo hora (kVArh). É utilizada por alguns equipamentos para a manutenção do fluxo
magnético a eles necessários.
1.3.2 RECURSOS ENERGÉTICOS
São os fluxos ou reservas de energia presentes na natureza que podem ser utilizados
para atender as necessidades do ser humano. Podem ser classificados em:
Recursos fósseis: são os estoques finitos de materiais que armazenam energia química
ou atômica presentes na natureza. Ex: petróleo, gás natural, urânio, etc;
Recursos renováveis: são os fluxos naturais que existem como potencial disponível para
as realizações humanas. Ex: energia solar, hidráulica, talassomotriz, geotérmica, etc.
1.3.3 POTÊNCIA E FATOR DE POTÊNCIA
Alguns equipamentos elétricos como motores, transformadores, máquinas de solda,
lâmpadas de descarga, entre outros solicitam para seu perfeito funcionamento (nominal)
dois tipos de potência:
Potência ativa (P): é a potência elétrica (medida em watt) utilizada pelo equipamento
para efetivamente ser convertida em trabalho útil, considerando-se geralmente as perdas
correspondentes. A utilização de fatores multiplicativos (por exemplo, k = 1 x 10
3
=>
1kW = 1 quilowatt) é bastante usual;
Potência reativa (Q): é a potência elétrica (medida em volt-ampère-reativo) requerida
pelo equipamento para abastecer seu campo eletromagnético. Essa parte da potência é
solicitada da rede elétrica pelo equipamento, mas não é transformada em trabalho útil.
Logo, é desejável que os equipamentos absorvam pouca potência reativa da rede à qual
estão ligados. Também é bastante utilizado fator multiplicativo ( M = 1 x 10
6
=>
1MVAr = 1 megavolt-ampère-reativo);
Potência aparente (S): representa a potência (medida em volt-ampère) total requerida da
rede pelo equipamento. Seu cálculo é feito através da soma vetorial das potências ativa
(P) e reativa (Q). Também são utilizadas com freqüência as medidas quilovolt-ampère
(kVA) e MVA.
A Equação abaixo ( 1.1 ) retrata a relação entre essas potências.
22
kVArkWkVA +=
( 1.1 )
Fator de Potência (fp) é a razão entre a potência ativa e a potência aparente
(Equação 1.2), sendo, portanto adimensional. Ou de outra forma é a parcela de potência
ativa (kW) que está sendo utilizada da potência aparente (kVA) de uma instalação. De
acordo com a legislação vigente [ 10 ], se o fator de potência (indutivo ou capacitivo)
resultante de um consumidor for inferior a 0,92 (limite mínimo) a concessionária poderá
cobrar uma taxa chamada de excedente de energia reativa, que alguns chamam de multa por
baixo fator de potência. Valores de fator de potência próximos da unidade (fp = 1) indicam
que a energia elétrica está sendo utilizada de forma mais eficiente, evitando ou reduzindo
perdas, sobrecargas nas instalações (alimentadores e transformadores), desgastes em
dispositivos de proteção e manobra, investimentos em condutores, saturação de
equipamentos, entre outros.
θ
cos==
kVA
kW
fp
( 1.2 )
1.3.4 CONSUMO E DEMANDA DE ENERGIA ELÉTRICA
O consumo de energia ativa de um equipamento ou instalação é a energia elétrica
solicitada da rede e utilizada para transformação, sendo representado, de forma genérica,
pela potência (W) solicitada e gasta em um intervalo de tempo, usualmente uma hora (h).
Portanto, o consumo de energia pode ser determinado a partir da integração numérica da
curva de carga pelo Método Trapezoidal, dado por [ 10 ]:
=
Δ++
=
1
0
60
*
2
))1((
n
i
hiPPi
Cea
( 1.3 )
Onde:
Cea - Consumo de potência ativa (kWh);
n - Número de medições;
Pi - Potência ativa da i-ésima medição (kW);
Δh - Intervalo de tempo entre as medições (em minutos).
A Demanda é a média das potências elétricas ativas ou reativas solicitadas ao
sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade consumidora,
durante um intervalo de tempo especificado [ 10 ], ou seja, é o valor médio da potência
elétrica instantânea solicitada pela instalação. As concessionárias geralmente medem essa
grandeza através de equipamentos integradores, que utilizam intervalos padrões de 15
minutos. É comum serem utilizadas as seguintes definições:
Demanda média (Dméd) - relação entre a quantidade de energia elétrica ativa medida
num certo período de tempo (kWh) e o número de horas desse período (Δt);
Demanda máxima (Dmáx) - maior valor registrado de demanda verificado em um
período de tempo.
O Fator de carga (FC) é o índice obtido através da relação entre a demanda média
(Dméd) e a demanda máxima (Dmáx) registradas num mesmo intervalo de tempo
especificado. Dessa forma, o fator de carga de uma instalação varia de 0 a 1, sendo
expresso por [ 10 ]:
tDmáx
kWh
tDmáx
tDméd
Dmáx
Dméd
FC
Δ
=
Δ
Δ
==
**
*
( 1. 4 )
Como pode ser visto na Equação 1.4, o fator de carga pode também ser obtido pela
divisão do consumo de energia elétrica verificado no intervalo de tempo pela demanda
máxima registrada. O fator de carga é um índice que funciona como um sinalizador da
forma como a energia elétrica vem sendo utilizada pela unidade consumidora ou instalação,
pois, quanto mais próximo de 1, mais otimizado é o uso da energia elétrica. Dessa forma,
para que se obtenha um fator de carga igual a 1, é necessário que a demanda média seja
igual à demanda máxima, ou seja, que toda a potência demandada esteja sendo realmente
consumida. Por outro lado, um FC baixo representa que o consumo de energia elétrica está
se dando em curtos períodos e com demanda alta.
Outras definições importantes relacionadas ao consumo e a demanda de energia
elétrica são:
Matriz Energética: é a matriz composta pelos percentuais, medidos ou estimados, de
todas as cargas existentes em um consumidor ou uma instalação, agrupadas por usos
finais;
Carga Instalada: é a soma das potências nominais de todos os equipamentos instalados
em uma unidade consumidora ou instalação. Indica o valor da potência máxima que
pode ser demandada por esse consumidor ou instalação.
1.4 PANORAMA ATUAL DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO:
Aqui são usados os dados consolidados de carga e de mercado de energia elétrica
verificados durante os anos-base 2004 e 2005 no Brasil, de acordo com os documentos
Balanço Energético Nacional – BEN 2005 e BEN 2006 [ 11 ], este já integralmente
elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE.
Vale ressaltar que o acompanhamento sistemático da evolução do mercado de
energia elétrica [ 20 ] é ferramenta imprescindível para o entendimento da dinâmica que
abrange os estudos de planejamento energético, pois somente dessa forma é possível
elaborar políticas que permitam a otimização dos recursos energéticos nacionais, o que
permite, na outra ponta, melhorar indicadores sociais e promover o desenvolvimento
sustentável. Assim, a partir da edição da Lei n° 10.847, de 15 de março de 2004, e do
Decreto n° 5.184, de 16 de agosto de 2004, esse acompanhamento mensal passou a ser de
responsabilidade da Empresa de Pesquisa Energética - EPE, empresa pública vinculada ao
Ministério de Minas e Energia. Essa empresa tem por finalidade “prestar serviços na área
de estudos e pesquisas destinados a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como
energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas
renováveis e eficiência energética, dentre outras” [ 11 ].
Conforme pode ser observado na tabela 1.2, o mercado total de energia elétrica,
constituído por toda a energia consumida no Brasil pelos consumidores finais nos seus
diversos usos, apresentou um crescimento de 4,2 % em relação a 2004 [ 11 ], atingindo
375,2 TWh, índice quase uma vez maior que o do crescimento da economia em 2005, que
alcançou 2,3% em termos reais. Apesar de ter sido bem superior nesse período,
historicamente o crescimento do mercado de energia elétrica é diretamente dependente da
dinâmica de crescimento da economia. A análise dos indicadores de desempenho da
economia, portanto, é fundamental para o entendimento da evolução do referido mercado.
Tabela 1.2 - Mercado Total de Energia Elétrica no Brasil
2004 2005 Crescimento (%)
Mercado de fornecimento (TWh)
322,0
335,4 4,2
Mercado de autoprodução (TWh) 37,90 39,80 4,9
Mercado Total 359,9 375,2 4,2
PIB (R$ x bilhões) 1.766,60 1.807,23 2,3
Figura 1.2 - Consumo setorial de eletricidade no Brasil
OBS: setor energético: refere-se ao consumo próprio desse setor.
O mercado total de energia elétrica é composto pela soma do mercado de fornecimento
(formado pelo mercado cativo e pelo mercado livre, incluída aí a co-geração) com o
mercado de autoprodução, cujo produtor precisa transportar a sua energia pela rede de
distribuição ou transmissão de energia.
Vale ressaltar que, de acordo com levantamentos preliminares da matriz energética
brasileira [ 12 ] para o ano de 2006, ainda não concluída à época do desenvolvimento do
presente trabalho, a Oferta Interna de Energia – OIE em 2006 cresceu 3,2% em relação ao
ano de 2005, ficando 0,5% abaixo do crescimento da economia no mesmo período, já
considerando a nova metodologia de cálculo do PIB pelo IBGE. A Oferta de Energia
Elétrica do país em 2006 apresentou crescimento em torno 4% em relação a 2005,
atingindo montante de 459,6 TWh, incluídos 41,7 TWh de geração de autoprodutores
(9,1% de participação) e 41,1 TWh de importação líquida (9,0%).
Os dados preliminares indicam que o consumo final de energia elétrica, descontadas
as perdas na distribuição, foi de 389,6 TWh em 2006, o que corresponde a um crescimento
de 3,8% sobre 2005. Em se confirmando esses dados, a classe industrial teve participação
de um pouco maior que 2005, ficando com 46,7% e a residencial manteve-se com cerca de
22,0%.
A seguir são apresentados os comportamentos das principais classes de consumo
referentes ao ano de 2005 [ 11 ]:
46,7%
22,2%
14,3%
0,3%
8,7%
4,2%
3,6%
Industrial
Residencial
Comercial
Transportes
Público
Agropecuário
Setor energético
RESIDENCIAL
O crescimento do consumo de energia elétrica na classe residencial em 2005 foi da
ordem de 5,9%, mantendo a reversão das performances negativas de 2001 e 2002, sendo
reflexo em grande parte da entrada de novos consumidores, principalmente em decorrência
do Programa Luz para Todos.
Assim, as cerca de 48, 9 milhões de unidades residenciais consumiram cerca de 83,2
TWh em 2005, o que representou 22,17% (em 2004 era 24,47%) do mercado total de
fornecimento. Vale ressaltar que, de acordo com a pesquisa de posse de equipamentos
elétricos e hábito de uso [ 13 ] divulgada pela ELETROBRÁS em 2007, a classe residencial
vem tendo um crescimento expressivo em sua participação percentual na matriz elétrica
nacional, de forma que poderá chegar a ter um terço de toda a energia consumida no país já
na próxima década. Essa pesquisa tem grande importância para o setor elétrico, pois
norteará as ações de melhoria da eficiência energética dirigidas para essa classe
consumidora implementadas pela ELETROBRÁS e demais atores envolvidos nesse tema,
tornando-as mais eficazes, bem como embasará as previsões do planejamento energético
brasileiro relativas à redução da taxa de crescimento da demanda e do consumo de energia
elétrica em virtude das medidas de eficientização que forem adotadas ao longo do período
de tempo constante no planejamento.
Em 2005, o consumo médio residencial manteve-se em 141,8 kWh/mês, índice que
vem se mantendo ao redor desse patamar nos últimos anos, embora o consumo residencial
tenha crescido mais de 4.600 GWh no ano de 2005 [ 11 ]. A queda no período de 2001 a
2002 no consumo médio residencial brasileiro deveu-se basicamente à imposição do
racionamento de energia elétrica. Após esse período, o índice tem praticamente se mantido
uniforme, o que pode ser explicado principalmente pela entrada de novas unidades
consumidoras de baixa renda, pela consolidação dos efeitos do racionamento, pelas
políticas de conservação de energia nos hábitos de consumo e pela introdução de novas
tecnologias, notadamente o uso de lâmpadas fluorescentes compactas.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Figura 1.3 - consumo médio residencial (kWh/mês)
INDUSTRIAL
No ano de 2005, o consumo de energia elétrica da classe industrial do mercado de
fornecimento foi o que apresentou a menor performance, com crescimento de 1,9% sobre
2004, totalizando 175,4 TWh, ou seja, bem próximo aos 2,3 % de crescimento da economia
nacional e 2,5% do crescimento da indústria. Em 2005, a participação da classe industrial
representou 46,7% do total consumido, contra 45,5% em 2004.
COMERCIAL
A classe comercial é composta na sua maioria por consumidores que realizam
atividades relativas a comércio varejista e atacadista, mas também abrange instituições
hoteleiras, hospitais, bancos, transportadoras, etc. O consumo de energia elétrica dessa
classe apresentou em 2005 um crescimento ainda maior que o residencial, chegando a 6,8%
e atingindo 53,5 TWh (em 2004, o crescimento foi de 4,5% superior ao total consumido no
ano de 2003). Porém, apesar de sua participação no consumo total ter se mantido na casa do
15,5% nos três anos anteriores a 2005, nesse ano a participação foi de 14,2%.
OUTRAS CLASSES DE CONSUMO
As outras classes de consumo englobam as unidades consumidoras referentes a
poderes públicos, iluminação pública, consumidores rurais, consumo próprio e serviços
públicos, tendo sido responsáveis por 16,8% (63,1 TWh) do mercado de fornecimento
verificado no ano de 2005.
Em 2005, a capacidade instalada das centrais geradoras do Brasil atingiu 93,2 GW,
incluídas aí as centrais de serviço público e as autoprodutoras, bem como o acréscimo de
aproximadamente 3 GW ocorrido nesse ano, devido à entrada em operação de algumas
usinas, em especial as usinas hidrelétricas Aimorés, com 330 MW, e Barra Grande (232
MW), e as novas unidades geradoras da usina de Tucuruí, com mais 750 MW, e da
termelétrica Termo-Rio, com mais 423 MW.
Figura 1.4 – Participação das outras classes de consumo
Com relação à estrutura da oferta interna de energia elétrica (figura 1.5), a
hidroeletricidade representou 76,3% da oferta total.
Em 2005, a energia hidráulica e eletricidade representaram 14,4% da Matriz
Energética Brasileira, resultado próximo ao de 2004.
Poderes
blicos
20,1%
Serviços
blicos
24,3%
Consumo
próprio
2,1%
Rural
31,2%
Iluminação
blica
22,2%
Figura 1.5 - Estrutura da oferta interna de energia elétrica
Centrais hidroelétricas são aquelas com potência superior a 30 MW.
Pequenas centrais hidroelétricas são aquelas com potência igual ou inferior a 30 MW.
A importação inclui a parcela paraguaia de Itaipu.
Com relação à carga do Sistema Interligado Nacional – SIN verificada em 2004
(tabela 1.3), observou-se um crescimento de 4,3% em comparação à de 2003, conforme
levantamento realizado pelo Operador Nacional do Sistema ONS. A carga do SIN é
formada pela energia consumida pelo mercado de fornecimento adicionada às energias
transportadas dos consumidores autoprodutores e às perdas comerciais e técnicas.
Tabela 1.3 – Carga do Sistema Interligado Nacional – Ano-base 2004
Como citado anteriormente, a classe que mais consome no Brasil é a industrial,
seguida pela residencial. Conforme dados de 2004 [ 8 ] , apresentados em resumo na Figura
1.6, em relação à estrutura de consumo de energia elétrica no Brasil, 51% do consumo de
1,70%
12,80%
2,20%
74,50%
8,80%
Importação líquida
Centrais
termoelétricas
Centrais de fonte
nuclear
Centrais
hidroelétricas
PCHs
SIN N Interligad
o
N
E
SE/C
O
S
2004
V
ar (%) 2004
V
ar (%) 2004
V
ar (%) 2004
V
ar (%) 2004
V
ar (%)
Carga Própria (MW médio) 44.316 4,7 3.031 7,5 6.283 4,0 27.702 4,3 7.301 5,9
Sistema Interligado 43.730 4,7 2.973 8,4 6.270 3,8 27.257 4,2 7.321 5,7
- Pequena Gerão 586 7,9 58 -24,7 13 333,33 445 8 70 37,3
Consumo Total SIN (GWh) 324.782 4,8 22.408 8,4 44.859 5,7 201.368 4,4 56.147 4,2
- Consumo Fornecimento 314.077 4,4 22.408 8,4 44.758 5,5 191.589 4,1 55.322 3,2
- Autoprodução Transportada 10.705 17,9 0 - 101 - 9.779 11,1 825 198,9
Perdas (%) 16,6 0,8 15,8 -2,9 18,7 -5,6 17,2 0,5 12,4 15,6
energia nas indústrias é relativo à força-motriz, ficando outros 41% para aquecimento e
processos eletroquímicos. Já a participação de iluminação nessa classe é bem pequena.
Figura 1.6 – Estrutura de consumo de energia elétrica no Brasil
Já na classe comercial e outras classes (figura 1.6), a grande participação no
consumo de energia é devida à iluminação e ao condicionamento ambiental, que, juntos,
correspondem a cerca de 64% do consumo total dessas classes.
A classe residencial, principal foco deste trabalho, comporta-se de forma bastante
diversa das anteriores, sendo que aquecedores e refrigeradores (cargas térmicas) são os
maiores responsáveis pelo consumo, da ordem de 58%. Já a iluminação também é
responsável por cerca de 18% do consumo da classe, sendo também um percentual bastante
significativo. Ou seja, esses percentuais devem ser objeto de estudo mais detalhado quando
Residencial
24,47%
Comercial
e Outros 29,98%
Industrial 45,55%
Condic. Amb. 20%
Iluminação 44%
Outros 18%
Refrigeração 32%
Iluminação 24%
Outros 18%
Aquecimento Água 26%
Força Motriz 51%
Aquecimento 20%
I
luminação 2%
Processos Eletroquímicos 21%
Refrigeração 6%
Ano- base 2004
Refrigeração 17%
o principal objetivo é a conservação de energia elétrica em consumidores residenciais,
como será visto posteriormente.
1.5 MOTIVAÇÃO E ESTRUTURA DO TRABALHO
Os itens anteriores apresentaram conceitos e definições sobre a Energia Elétrica,
enfatizando os aspectos críticos e as necessidades da sua conservação. O tema da
Conservação de Energia é atual e mundialmente preocupante devido, principalmente, às
dificuldades associadas e à escassez de recursos naturais e econômicos para atender a atual
e crescente escala de consumo. A conservação de energia elétrica funciona como uma usina
virtual de produção de energia, pois a energia não desperdiçada pelos consumidores pode
ser aproveitada por outros. Essa é a fonte de produção de energia mais econômica e mais
limpa que existe, pois não agride o meio ambiente. Para a disseminação dessa nova
abordagem é preciso que se atue em dois focos principais: a vertente humana e a
tecnológica, já introduzidas, mas que serão detalhadas Capítulo 2. Assim, pretende-se
mostrar neste trabalho os principais métodos conservação de energia nas duas vertentes e
alguns dos principais fatores que podem reforçar a disseminação e implementação dessa
nova abordagem.
Um outro tema que de certa forma está associado à questão central deste trabalho é
o da qualidade de energia. Devido à sua importância e à sua associação ao tema da
conservação, esse também é abordado aqui, porém em menor escala, enfocando alguns
aspectos práticos desconhecidos pela maioria dos consumidores. Esses aspectos estão
associados aos problemas gerados pelas lâmpadas compactas e ditas eficientes.
Experiências práticas efetuadas em laboratório fazendo uso dessas lâmpadas, e monitoradas
por um equipamento analisador de qualidade de energia, também fazem parte deste
trabalho. Essas cargas de iluminação foram submetidas a condições adversas de operação a
partir de um protótipo de laboratório desenvolvido para reproduzir condições de
afundamento momentâneo e de longa-duração de tensão.
Este trabalho está, portanto, organizado na seguinte forma:
Capítulo 1. INTRODUÇÃO – São apresentados conceitos fundamentais e
definições inerentes a energia elétrica e suas formas de utilização, bem com o atual
perfil do setor elétrico nacional;
Capítulo 2. CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – Neste capítulo
são discutidas outras motivações para a conservação de energia, detalhadas as
vertentes humana e tecnológica e apresentado o Programa Nacional de Conservação
de Energia Elétrica, bem como os principais usos finais da eletricidade;
Capítulo 3. CONSERVAÇÃO NO SETOR RESIDENCIAL – São
apresentados os principais usos finais da energia elétrica no setor residencial e as
cargas residenciais típicas;
Capítulo 4. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E A QUALIDADE DE
ENERGIA - São apresentados conceitos fundamentais e definições inerentes à
qualidade de energia elétrica, as características do protótipo simulador de condições
de afundamentos de tensão e os resultados das simulações acompanhados das
análises dos resultados.
Capítulo 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.
CAPÍTULO 2
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
2.1. GENERALIDADES
Um dos assuntos mais atuais é o "desenvolvimento sustentável", ou seja, manter
bons níveis de desenvolvimento a fim de reduzir a pobreza de parte considerável da
população e propiciar condições mais dignas de vida. Isto envolve um gerenciamento eficaz
dos recursos naturais, realizando a proteção ao meio ambiente local e global, preservando
os sistemas biológicos, fatores necessários para a continuação da própria espécie humana.
Para isso, também é necessário que seja garantida a disponibilidade de recursos naturais em
níveis semelhantes aos atuais para que as gerações futuras também tenham futuro.
Assim, ao se tratar de energia elétrica também se verifica que as fontes de energia
na natureza estão cada vez mais escassas e, como conseqüência, são procuradas cada vez
mais distantes dos centros consumidores e a custos cada vez maiores. Dessa forma, a
tendência mundial é, sem sombra de dúvida, o combate ao desperdício e a conservação de
energia elétrica, pois, ao serem realizados, também estará sendo garantida a manutenção de
parte dos recursos naturais.
Com relação ao Brasil, conforme dados estimados da ELETROBRÁS, no ano de 2003
cerca de 35 TWh foram desperdiçados, ou seja, 11,5% do consumo total de energia elétrica
no Brasil poderia ter sido evitado. Transformando esses dados em cifras, única linguagem
que consegue sensibilizar alguns cidadãos, se considerarmos uma tarifa média da ordem de
R$ 0, 1786 por kWh, em média R$ 6,2 bilhões estão sendo anualmente desperdiçados [ 8 ].
Logo, esses dados confirmam a importância que a conservação de energia elétrica tem para
o nosso país, principalmente levando em conta que grandes investimentos poderiam ser
evitados, empréstimos poderiam não ser solicitados para construção de novas usinas e
linhas de transmissão, impactos ambientais poderiam ser evitados, além do risco real de
novo colapso nos próximos anos ser pelo menos postergado, uma vez que a situação pelo
lado da oferta tende a se agravar, dentre outras razões, pelo aumento do custo marginal de
geração (cerca de 41 US$/MWh no ano 2000 para 58 US$/MWh em 2010) e pelo alto
crescimento da demanda de eletricidade (mesmo já tendo sido de 5.6% a.a. na década de
90, a previsão da média anual continua em 4.6% para o período até 2010). Portanto,
existem muitas dificuldades, sejam técnicas, financeiras ou ambientais, para o aumento da
geração de energia elétrica a fim de garantir nos próximos anos as taxas esperadas de
desenvolvimento do país, e a conservação de energia assume papel importantíssimo nesse
sentido.
2.2 OUTRAS MOTIVAÇÕES PARA CONSERVAR ENERGIA ELÉTRICA
Em cada atividade urbana a energia encontra-se presente e sem sua presença o
mundo civilizado pararia completamente, pelo menos na forma como se apresenta
atualmente. Se a evolução da raça humana começou com a descoberta do fogo, as
sociedades modernas tenderão a evoluir de acordo com a eficiência com que conseguirem
explorar as fontes energéticas existentes, especialmente as renováveis, uma vez que cerca
de 55,2% da energia atualmente consumida no mundo inteiro provém do petróleo e do gás
natural [ 11 ].
Neste contexto, cabe uma reflexão sobre a energia elétrica e o Brasil, o qual precisa
atender uma população de mais de 184 milhões de habitantes, em cerca de 8,5 milhões de
quilômetros quadrados de área total. Para isso, possui hoje capacidade de geração de
energia elétrica instalada de 93,2 GW, oferta interna de energia elétrica de 402,8 TWh e
consumo anual de cerca de 375,2 TWh. O consumo anual de energia elétrica por habitante
é de 2.036 kWh/ano/habitante e sua taxa de crescimento anual de consumo de energia
elétrica vem se mantendo na casa dos 4,2% ao ano [ 11 ].
Como informação adicional, o consumo total de energia elétrica deverá crescer 78%
em apenas 10 anos, ficando no patamar de 668 TWh se as medidas de conservação de
energia elétrica previstas nos planejamentos energéticos nacionais não forem
implementadas e de 593 TWh com a devida conservação, ou seja, uma redução de 11,2%, o
que já demonstra a importância da conservação de energia elétrica.
A partir da estrutura de consumo de energia elétrica do Brasil apresentada
anteriormente e da estimativa de que o setor industrial convive com taxas de desperdício de
energia maiores que 25% (dados do SEBRAE/Programa Energia Brasil), é possível
começar a vislumbrar as oportunidades de as empresas obterem ganhos com redução no
consumo de energia, nos custos em geral, além disso aumentando a qualidade, melhorando
o ambiente de trabalho e a produtividade, sem abrir mão do conforto e da segurança.
Oportunidades relativas à conservação de energia também existem para outras
classes de consumo, como para a classe residencial, onde somente a energia consumida
com iluminação e refrigeração, destacando-se os aparelhos de ar-condicionado,
corresponde aproximadamente a 56% do consumo dessa classe.
Talvez a principal motivação para a conservação de energia elétrica seja a
constatação de que o custo de qualquer ação de conservação é bem menor do que o
associado para a construção de uma nova usina hidrelétrica ou térmica, pois o custo médio
da energia conservada é estimado em 0,024 US$/kWh, bastante inferior ao custo marginal
de expansão do setor elétrico, que situa-se entre 0,047 e 0,100 US$/kWh [ 14 ]. Como
esse tipo de economia pode parecer muito distante da realidade do cidadão comum, pode-se
visualizar outras vantagens da conservação para o consumidor e para a nação:
Redução da demanda de energia no horário de ponta do sistema elétrico;
Minimização de impactos ambientais que seriam causados pela construção de novas
usinas hidrelétricas, térmicas, nucleares, linhas de transmissão e distribuição de
energia, etc;
Economia de recursos pela redução ou postergação de investimentos na expansão do
sistema elétrico (construção de novas usinas, linhas de transmissão, etc);
Redução do consumo de bens nobres como água, gases e outros tipos de combustíveis
utilizados nos processos de produção;
Otimização de investimentos já efetuados no sistema elétrico;
Melhoria das instalações elétricas dos consumidores e conseqüente redução de perdas
técnicas;
Aumento de produtividade, competitividade e do controle do processo de produção
para empresas, pela melhoria da eficiência de processos e equipamentos;
Garantia de melhores condições de atendimento ao mercado consumidor de energia
elétrica;
Criação de uma cadeia de cidadãos comprometidos com o combate a qualquer tipo de
desperdício, como o de alimentos, de água, de matérias primas em geral, etc.
Com relação aos danos ambientais que têm íntima relação com o processo de
desenvolvimento de um país e ao conseqüente aumento no consumo de energia,destacam-
se:
Extinção de grande parte de fauna e flora devido a inundações necessárias para criação
de reservatórios de usinas hidrelétricas;
Perda de terras cultiváveis (desertificação);
Desmatamento;
Emissão de poluentes, principalmente os desprendidos da combustão de combustíveis
fósseis, em especial o gás carbônico (CO
2
);
Poluição de rios, lagos, mares e da atmosfera;
Poluição do solo e de águas subterrâneas;
Contribuição para aumento do efeito estufa pela geração de CO2;
Contribuição para aceleração de mudanças climáticas;
Esgotamento das reservas naturais.
O maior problema ambiental provocado pela utilização de energia é, sem dúvida, o
efeito estufa, que é o aumento da temperatura média do planeta em conseqüência do
crescimento dos níveis de concentração atmosférica de alguns gases, os popularmente
conhecidos como gases estufa: gás carbônico (CO
2
), os CFCs, o metano (CH
4
) e o óxido
nitroso (N
2
O), dentre outros, que conseguem absorver parte da radiação infravermelha que
a terra devolve para o espaço. Segundo HOSKYN [ 36 ], as principais ações que podem ser
realizadas para a redução das emissões de CO
2
são:
Eficiência e conservação de energia;
Substituição de combustíveis;
Utilização de fontes renováveis de energia;
Captura e deposição do CO
2
.
Como visto acima, a eficiência energética e a conservação de energia também
contribui fortemente para a redução de danos ao meio ambiente. Além disso, como já
comentado, a conservação de energia elétrica é uma forma de geração muito eficiente, ou
seja, uma fonte virtual de produção de energia elétrica, não poluente e mais barata que a
construção de novas usinas. Isso quer dizer que a energia conservada, por exemplo, em
motor de grande porte que estava superdimensionado pode ser utilizada para atender uma
nova unidade de saúde ou um pequeno condomínio residencial, sem ser desperdiçada.
Uma das características da conservação de energia elétrica é a de que os
consumidores e usuários continuam usufruindo de todo o conforto, da qualidade dos
serviços e produtos, e dos demais benefícios proporcionados pela energia elétrica. Para
conseguir, então, esses benefícios, os programas de conservação de energia elétrica, como
já citado, devem ser desenvolvidos seguindo duas vertentes. A humana, onde os principais
objetivos são a mudança de hábitos de consumo e atitudes pelos consumidores, o que pode
levar à mudança de comportamentos; a sensibilização de formadores de opinião; e a
qualificação profissional. Já a vertente tecnológica é caracterizada pelo desenvolvimento de
novos processos e equipamentos e pela utilização das novas tecnologias na produção,
operação e manutenção de equipamentos e processos. Desta forma, são obtidos resultados
iguais ou superiores aos anteriormente conseguidos com um consumo menor de energia.
Essa vertente é a grande responsável pela redução de custos, pela produção de mudanças
nos processos produtivos, na disposição de ambientes e na arquitetura das edificações, bem
como nas formas de relação, geralmente unilaterais, entre consumidores e concessionárias,
pois abre-se, inclusive, a perspectiva de cogeração ou de geração própria.
2.3 VERTENTE HUMANA DA CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Como já citado, dois dos principais objetivos dessa vertente são a mudança de
hábitos de consumo e atitudes pelos consumidores e a sensibilização de formadores de
opinião [ 2 ]. Para que isso se concretize, o consumidor-cidadão deve receber e adquirir
informações que o auxiliem a se sensibilizar com esse novo paradigma, o que será o motor
de indução para a mudança de hábitos e atitudes, primeiros passos para a mudança de
comportamento. Nesse sentido, são propostas ações educativas elaboradas de acordo com o
público a ser atingido, a fim de que se tenha uma linguagem própria para cada segmento e
exemplos mais próximos da realidade dos usuários, multiplicando as chances de sucesso.
Como exemplo das ações e técnicas já empregadas no Brasil, destacam-se alguns
programas e materiais desenvolvidos por empresas e diversos órgãos ligados à conservação
de energia [ 8 ]:
Programa PROCEL nas Escolas – o principal exemplo da vertente humana no Brasil,
que será apresentado com bastantes detalhes no tópico a seguir, é a princípio levado a
sensibilizar formadores de opinião, para depois ser disseminado para o verdadeiro
público-alvo;
Implementação de Laboratórios de Eficiência Energética, que, além de permitir a
realização de estudos voltados à vertente tecnológica, são formados os profissionais
que irão atuar nessa área;
Criação de Comissão Interna de Conservação de Energia - CICE em empresas e
instituições públicas e privadas. A CICE é uma comissão que deve ser bastante
heterogênea - formada por representantes de todos os níveis e setores da instituição ou
empresa - para que a chance de sucesso seja bem grande. A CICE tem o papel de
elaborar campanhas educativas, definir metas a serem alcançadas por todos e pelas
instalações, acompanhar as possíveis implantações decorrentes da vertente tecnológica,
controlar e divulgar as informações mais relevantes e os resultados obtidos.
O terceiro principal objetivo dessa vertente é a qualificação de profissionais
integrados ao contexto sócio-econômico para lidar com a vertente tecnológica a fim de tirar
vantagens competitivas de equipamentos tecnologicamente mais eficientes e de novos
processos ou de energeticamente melhorados. Esses profissionais, geralmente são os
responsáveis pelos processos produtivos, possuindo diversos tipos de formação, como
engenharia mecânica, elétrica, de produção, etc.
Assim, a vertente humana tem a missão não só auxiliar na redução do consumo de
energia elétrica, mas a de envolver a própria comunidade na solução desse problema,
devendo fazê-lo de forma que seja perene e que haja replicabilidade.
2.4 VERTENTE TECNOLÓGICA DA CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
A vertente tecnológica [ 2 ] refere-se à aplicação de novas tecnologias a processos e
equipamentos, podendo ser verificada tanto na fabricação, manutenção e operação de
equipamentos, quanto na própria ambientação e arquitetura. É nessa vertente que se
emprega largamente o termo eficiência energética, pois busca-se efetuar as mesmas
atividades (ou semelhantes) e conseguir os mesmos resultados (ou melhores) através da
utilização de uma quantidade menor de energia. Isso geralmente leva à redução dos custos
de uma instalação consumidora, seja pelas mudanças introduzidas no processo produtivo,
pela substituição de equipamentos não tão eficientes, pela melhoria dos processos de
manutenção, ou até mesmo por alterações na arquitetura das edificações.
O surgimento de novas tecnologias, de inovações tecnológicas ou de processos
inovadores não surge de imediato; é o resultado de um processo bastante complexo e
geralmente lento. Isso envolve pesquisas científicas e desenvolvimento tecnológico
realizados por universidades, centros de pesquisas, empresas, com a contribuição de
usuários e profissionais diretamente ligados ao processo produtivo, que sugerem
modificações em alguma parte do processo, propõem alternativas, mudanças
organizacionais, dão idéias, observam detalhes imperceptíveis. Todas essas ações
combinadas aos esforços das equipes de pesquisadores, acarretam melhoria no custo e na
qualidade de produtos/serviços/resultados.
Assim, a difusão dos conhecimentos científicos e a descoberta de novos, junto com
a capacidade de transformação dessas descobertas em processos e produtos novos ou
melhorados, são o resultado da combinação de comunicação, ciência, tecnologia, apreensão
de conhecimento, demanda e a respectiva produção, bem como das diretrizes políticas. A
vertente tecnológica abrange, portanto, a aplicação, desenvolvimento ou aprimoramento:
De equipamentos;
De processos produtivos em geral;
De processo de manutenção;
Da arquitetura e ambientação das edificações.
2.4.1 DESENVOLVIMENTO DE EQUIPAMENTOS
A vertente tecnológica da conservação de energia também é responsável pela
produção de novos equipamentos e processos ou pelo aprimoramento dos já existentes, a
fim de que consigam executar as tarefas a que se propõem com a vantagem de consumir
menos energia. Esse desenvolvimento é fruto de conhecimentos adquiridos com os
equipamentos e processos já existentes e com a aplicação e desenvolvimento de conceitos
geralmente desenvolvidos nos campos da química e da física. São também geralmente
empregados novos materiais na concepção dos equipamentos, bem como dispositivos
eletrônicos, microeletrônicos e de eletrônica de potência. Devido a esses últimos, houve um
grande avanço no controle dos processos produtivos e no controle de acionamento e
velocidade de motores através do uso de inversores de freqüência. Alguns exemplos de
equipamentos desenvolvidos nesse conceito e que vêm sendo largamente utilizados são as
lâmpadas fluorescentes compactas e os aparelhos de ar condicionado tipo split [ 1 ].
No caso de processos, pode-se destacar a facilidade de monitoramento de processos
de produção à distância, através do uso de linhas telefônicas fixas ou móveis, a
programação do acionamento de cargas de forma não simultânea, visando à redução da
demanda instantânea de uma instalação [ 1 ].
2.4.2 DESENVOLVIMENTO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS
Não basta apenas que surjam novos equipamentos ou que esses sejam aprimorados.
È aproveitar adequadamente essas inovações tecnológicas, especialmente nos processos
produtivos. Para isso, começaram a ser formados os profissionais de engenharia de
produção, que têm a função de estudar os processos e encontrar alternativas mais eficientes
energeticamente. Assim é realizada a análise de todo o processo produtivo, desde a entrada
de um insumo até a saída do produto final. A partir de idéias próprias ou de usuários, do
conhecimento organizacional e das técnicas de engenharia de produção, são propostas
ações que acarretam na redução do consumo de energia global e/ou aumento de
produtividade, o que também pode reduzir o consumo de energia por unidade produzida.
Como exemplos dessas ações podem ser citadas a mudança de etapas de montagem, a
substituição de um equipamento ou máquina por outro mais eficiente, a alocação de novos
profissionais, etc, tudo isso visando a obter um melhor desempenho do processo produtivo.
2.4.3 DESENVOLVIMENTO DOS PROCESSOS DE MANUTENÇÃO
A manutenção de equipamentos e demais partes de uma instalação elétrica é, sem
dúvida, um fator importante para a consecução dos resultados esperados. Além disso, a
criação de rotinas adequadas de manutenção pode levar à redução no consumo de energia e
ao aumento na produtividade, pois, dentre outros benefícios, diminui o risco de paralisação
do processo produtivo ocasionado pelo desgaste de contatos elétricos e mecânicos e de
partes móveis dos equipamentos. Também, aumenta a vida útil dos mesmos e evita ou
posterga a aquisição de novos equipamentos.
Atualmente existem medidores das mais variadas grandezas que se destinam à
supervisão do desgaste de peças e equipamentos, os quais fornecem dados que podem ser
comparados aos fornecidos pelos fabricantes, permitindo um monitoramento constante.
Segundo as teorias mais aceitas atualmente, uma rotina de manutenção bem elaborada deve
ser criada observando os seguintes conceitos [ 15 ]:
Manutenção Corretiva - baseada na técnica de gerência reativa, ou seja, após a
falha da máquina ou equipamento é que é realizada a ação de manutenção.
Nesse tipo de manutenção o equipamento ou máquina trabalha até o momento
que ocorre o defeito. Se a manutenção utilizada por determinado consumidor
está totalmente baseada na manutenção corretiva, isso acaba se tornando a
maneira mais cara de gerência de manutenção, pois, apesar da redução inicial de
custos com manutenção, há o aumento de custos devido às horas-extras da
equipe técnica e ao aumento de perdas na produção devido a paradas não
programadas. E para que sejam evitadas paradas prolongadas, é necessário que o
setor de manutenção mantenha grandes estoques de peças sobressalentes,
aumentando os custos finais;
Manutenção Preventiva - é a gerência de manutenção baseada na capacidade de
antecipação aos problemas. Para isso, é necessária a realização de um
planejamento prévio e a execução de ações com antecedência, com a finalidade
de que sejam evitadas as ocorrências de falhas. Assim, as tarefas de manutenção
são realizadas de acordo com os “tempos gastos” ou com as “horas de operação”,
ou seja, os programas de manutenção preventiva assumem que os equipamentos
sofrem desgastes de acordo com uma escala de tempo típica, elaborada conforme
sua classificação e tipo de utilização. O grande argumento utilizado na defesa
desse tipo de manutenção é que a mesma consegue prolongar a vida útil dos
equipamentos como um todo. Porém, apresenta um custo considerável de
reposição, uma vez que pode acontecer a troca de peças ou equipamentos que
poderiam ainda continuar em operação por um período de tempo maior, mas que
tiveram que ser substituídos por o tempo padrão da escala ter sido atingido;
Manutenção Preditiva - manutenção baseada no acompanhamento periódico ou
contínuo do rendimento operacional, da condição mecânica real e de outros
indicadores da condição operativa de equipamentos ou sistemas de processos.
Assim, são criados parâmetros em tempo real, os quais indicam com mais
precisão o intervalo máximo entre reparos, ou seja, em vez de estar baseada nos
dados estatísticos de vida média, a programação das ações de manutenção
preditiva baseia-se no monitoramento direto das condições mecânicas, do
rendimento do sistema e de outros indicadores. Desta forma, é possível
determinar o tempo médio para falha real ou para a perda de rendimento do
equipamento [ 15 ]. A grande vantagem desse tipo de manutenção é que os
custos com paradas de equipamentos e processos, com reposição e com pessoal
são reduzidos. A desvantagem fica por conta do elevado custo inicial dos
equipamentos responsáveis pelo monitoramento dos indicadores;
Manutenção Proativa - ao contrário das demais, tem como objetivos principais
identificar e eliminar as causas da falha de um equipamento, e não simplesmente
consertar o defeito. É, portanto, o resultado da combinação da manutenção
preventiva com a preditiva. Assim, é possível a identificação de problemas
potenciais antes de acontecerem. O maior argumento dos defensores desse tipo
de manutenção é a redução obtida nos custos com manutenção e com paradas de
equipamentos e processos. As principais desvantagens são: custo inicial elevado
dos equipamentos responsáveis pelo monitoramento dos indicadores e o
conhecimento técnico profundo dos equipamentos e da engenharia do produto,
bem como da utilização de ferramentas que permitam a combinação dos dados
das manutenções corretivas, preventivas e preditivas.
2.4.4 DESENVOLVIMENTO DA ARQUITETURA DE EDIFICAÇÕES
Ao longo dos tempos e ainda hoje, as edificações vêm sendo construídas para
garantir a acomodação e proteção de homens e equipamentos para proporcionar os meios
necessários para a produção das diversas atividades humanas e para se integrar
harmoniosamente à paisagem que incorpora. Porém, atualmente um novo conceito se
agrega aos anteriores, qual seja a integração ao ambiente. Quer dizer, o aproveitamento de
todos os recursos naturais disponíveis e possíveis com a finalidade de que seja amenizado
ao máximo o impacto ambiental causado pela própria edificação, o que implica na
necessidade de que seja reduzido o consumo de energia, que, como já citado, é um dos
causadores de impactos ambientais.
Assim, preocupações com a utilização da ventilação e da luz natural, com o uso de
técnicas de arquitetura passiva para melhorar o conforto térmico, etc, já começaram e
passarão, cada vez mais, a ser incorporadas na arquitetura moderna. Além dos benefícios
citados, proporcionam redução no consumo de energia, crescimento dos índices de
produtividade, minimização de problemas de saúde relacionados às condições laborais e
diminuição no número de acidentes de trabalho.
Por outro lado, toda e qualquer reforma que vise à adequação às normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT deve ser executada, mesmo que
acarrete aumento no consumo de energia, pois o conceito de conservação de energia, apesar
de remeter à redução no consumo de energia e à realização de uma atividade com o menor
consumo energia, não implica na perda do conforto e da qualidade de vida que a energia
proporciona. A construção de edificações eficientes já é uma realidade, haja vista já
existirem no Brasil inclusive cursos de pós-graduação sobre esse tipo de arquitetura, os
quais estudam a aplicação e o desenvolvimento de novas tecnologias na área de construção
civil, ambientação e tecnologia dos materiais. Vale ressaltar que, apesar da formação de
profissionais da área de arquitetura eficiente ser da vertente humana, as adequações
realizadas em estruturas físicas de instalações são consideradas dentro da vertente
tecnológica, pois visam a melhorias no ambiente de trabalho.
Nos tópicos a seguir serão apresentadas iniciativas e aspectos que levam à
conservação de energia elétrica nos principais usos finais, mas antes disso vale à pena fazer
um registro de algumas políticas e experiências institucionais de conservação de energia
elétrica realizadas no Brasil, das quais a mais importante e de melhores resultados tem sido
o programa governamental PROCEL.
2.5 PROCEL – PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA
Criado em 1985 com o então nome de Programa Nacional de Combate ao
Desperdício de Energia Elétrica, o PROCEL é um programa vinculado ao Ministério de
Minas e Energia - MME e operacionalizado pela ELETROBRÁS. Sua missão é a de
estimular o uso eficiente e racional de energia elétrica, combatendo o seu desperdício, e
reduzir os impactos ambientais, proporcionando maiores benefícios à sociedade. e a
diminuição dos investimentos setoriais.
Só para ilustrar, de 1985 até o final de 2006 (Tabela 2.1), o PROCEL proporcionou
uma redução de aproximadamente 22 bilhões de quilowatts-hora (22 TWh), o que
corresponde a um ano do consumo de energia elétrica do Estado do Rio Grande do Sul ou o
abastecimento de cerca de 13 milhões de residências nesse mesmo período [ 16 ].
Tabela 2.1 – Resultados obtidos pelo PROCEL 1986-2005
RESULTADOS PROCEL - TOTAL ACUMULADO 1986-2005
Investimentos Totais
Realizados (R$ milhões)
858,25 *
Energia Economizada e
Geração Adicional
(Gwh/ano)
21.753
Usina Equivalente (MW)
5.124
Redução de Carga na
Ponta (MW)
5.839
Investimento Postergado
(R$ bilhões)
14,93
* - Inclui a parcela relativa à RGR e os Recursos do GEF - Fonte: ELETROBRÁS/PROCEL
Avaliação
1986/ 2001 2002 2003 2004 2005
Investimentos Eletrobrás/Procel
(R$ milhões)
231,9 5,95 14,16 27,18 37,17
Investimentos Totais Realizados
(R$ milhões)
582,8 42,3 41 94,15 98
Energia Economizada (GWh/ano)
14.135 1.270 1.817 2.373 2.158
Usina Equivalente (MW) (d)
3.292 305 436 569 518
Redução de Demanda na Ponta
(MW)
3.871 309 453 622 585
Investimentos Postergados (R$
milhões)
7.307 1.339 2.007 2.492 1.786
Fonte: Eletrobrás/Procel Avaliação
Resultados anuais obtidos pelo PROCEL 1986-2005
As ações do PROCEL têm por objetivo a obtenção do mesmo produto ou serviço
com menor consumo de energia elétrica, ou seja, a redução da intensidade energética. Isto
tem sido conseguido e está sendo continuamente perseguido através de investimentos em
informação e educação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, legislação, regulação e
regulamentação, tarifas e incentivos com vistas à redução da intensidade energética. As
principais diretrizes estratégicas do PROCEL são [ 16 ]:
Vincular o combate ao desperdício e uso eficiente e racional da energia elétrica à
qualidade, à produtividade, ao meio ambiente e à educação. É a dimensão sócio-
política;
Propor políticas e formular o Plano Estratégico Decenal e o Plano de Ação Trienal para
o combate ao desperdício e o uso eficiente e racional de energia elétrica no país,
criando as condições necessárias para alcançar as metas estabelecidas. Constitui-se a
dimensão planejamento;
Fomentar mecanismos de financiamento e captação, buscando incrementar e assegurar
o fluxo regular de recursos para as ações do combate ao desperdício e uso eficiente e
racional de energia elétrica. È a dimensão Financiamento e Captação de Recursos;
Estimular e apoiar os agentes envolvidos com pesquisa, desenvolvimento tecnológico e
capacitação de recursos humanos, promovendo sua integração e o repasse dos
resultados obtidos para a sociedade. Corresponde à Capacitação e Desenvolvimento
Tecnológico.
O potencial de conservação de energia do Brasil, estimado pelo PROCEL, é
mostrado na Figura 2.1. Já o potencial de conservação de energia elétrica pelo lado da
demanda para o ano de 2015 estimado pelo PROCEL é mostrado na Tabela 2.2.
Figura 2.1 – Potencial de conservação de energia elétrica no Brasil
Tabela 2.2 – potencial de conservação de eletricidade - ano 2015
CONSUMO (TWh) ECONOMIA
SETOR
Sem
conservação
Com
conservação
Diferença
(TWh)
Percentual
(%)
RESIDENCIAL 179 168 11 6,1
INDUSTRIAL 307 262 45 14,7
COMERCIAL 96 80 16 16,7
OUTROS 86 83 3 3,5
T O T A L 668 593 75 11,2
Assim, se as medidas de conservação forem levadas a efeito, o investimento em
expansão do sistema elétrico será 29,5% menor até 2015, do que se elas não forem
executadas, resultando em uma relação custo/benefício (RCB) do investimento em
conservação versus investimentos evitados de 1:8 para o setor elétrico e de 1:3 para a
sociedade, o que demonstra a grande importância dessas medidas [ 16 ].
10,00%
12,00%
39,00%
17,00%
22,00%
Condicionamento
ambiental
Refrigeração
Força motriz
Iluminação
Processos
eletrotérmicos
Uma das principais conquistas obtidas pelo PROCEL desde a sua criação foi a
aprovação da lei 10.295/2001 [ 17 ], mas conhecida como Lei de Eficiência Energética.
Essa lei está em fase gradativa de implantação e definirá os índices de eficiência mínimos
ou níveis máximos de consumo de energia para determinados equipamentos que utilizam
energia elétrica.
As principais ações do PROCEL estão na área de educação e capacitação, com o
PROCEL nas Escolas; mas também em prédios públicos; na área de saneamento, com o
PROCEL SANEAR; na administração municipal, com o programa Gestão Energética
Municipal – GEM; na iluminação pública, com o RELUZ; com o programa de
etiquetagem/Selo PROCEL e Prêmio PROCEL, como detalhado a seguir.
2.5.1 - PROCEL EDUCAÇÂO (PROCEL NAS ESCOLAS)
O objetivo do PROCEL Educação, até o primeiro semestre de 2007 conhecido como
PROCEL nas Escolas, é capacitar professores da educação básica (educação infantil, ensino
fundamental e médio) das redes de ensino público, privado, do SENAI e do SENAC, para a
conservação de energia, através da utilização da metodologia “A Natureza da Paisagem -
Energia”. Atuam desta forma, os professores como multiplicadores da mudança de hábito
junto aos seus alunos, visando a uma futura mudança de comportamento, contribuindo,
assim, para o exercício pleno da cidadania. A metodologia “A Natureza da Paisagem –
Energia Recurso da Vida” é, na verdade, um programa de educação ambiental, que foi
desenvolvida pelo Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente – CIMA especialmente
para a ELETROBRÁS. Tal como qualquer proposta pedagógica, possui princípios
fundamentais que guiam sua implantação, seu acompanhamento e sua avaliação. Uma vez
que é um programa de educação ambiental, possui os mesmos oito princípios da Educação
Ambiental, definidos na cidade de Tibilisi (Geórgia) no ano de 1977, quais sejam [ 8 ]:
TOTALIDADE - Como o ser humano e a natureza fazem parte de um todo, é
necessário entender o ambiente de forma integrada, através de abordagens
múltiplas.
INTERDISCIPLINARIDADE - Uma vez que o ambiente é uma totalidade, não
adianta, por exemplo, um especialista apresentar isoladamente suas sugestões
para solução de problemas. É preciso que para cada disciplina do currículo sejam
apresentadas por profissionais de várias áreas a maior quantidade de sugestões
possíveis.
TEORIA/PRÁTICA - É necessário pensar a realidade e agir. Assim, através do
acúmulo de informações é possível fazer melhor e se preparar para a vida e um
dos locais mais indicados para que isso aconteça é a escola.
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS IMEDIATOS - Uma vez constatado que é
devido aos seres humanos e suas realizações que a terra vem apresentando
problemas ambientais graves, os envolvidos são levados a se questionar sobre o
que podem fazer dentro desse espaço do cotidiano, já que alguns desses
problemas não são resolvidos a partir da intervenção a nível local.
PROCESSO PERMANENTE - “A natureza do homem é a de aprender sempre”.
MUDANÇA DE HÁBITOS - A partir da constatação dos enormes danos
ambientais e da necessidade de mudança desse quadro, as pessoas são impelidas
a terem um comportamento diferente para que seja garantida uma vida saudável
para a atual geração e para as futuras.
PARTICIPAÇÃO/PARCERIAS - Como a Educação Ambiental aborda assuntos
comuns a toda a humanidade, é necessária a participação da sociedade civil, do
Estado e da iniciativa privada, como forma de conseguir o comprometimento de
todos os agentes envolvidos com o resultado final e a fim de que sejam
garantidos os recursos necessários para consecução dos objetivos.
QUALIDADE DE VIDA - Está relacionada ao bem estar do homem e à sua
satisfação, de forma que precisa ser garantida a cada dia e para sempre.
Essa metodologia vem sendo aplicada com sucesso em várias cidades do Brasil e os
resultados que têm sido alcançados são bastante satisfatórios, reduzindo o consumo a mais
de 6,0 kWh/mês por residência de aluno envolvido no projeto (6,93 kWh/mês segundo a
Companhia Paranaense de Energia - COPEL e 8,77 kWh/mês de acordo com dados das
Centrais Elétricas de Minas Gerais – CEMIG [ 2 ]). Como em 2006, havia mais de 49
milhões de estudantes em todos os níveis da educação básica no País, pode-se perceber que
os resultados tendem a ser bastante expressivos, sem contar que no ensino supletivo, médio
técnico e superior são outros 6 milhões de alunos. No período de 1995 a 2003, os resultados
obtidos pelo PROCEL nas Escolas foram: 12.300 escolas participantes, mais de 96.000
professores capacitados e cerca de 10,5 milhões de alunos sensibilizados.
Como pode ser observado, o programa oferece ao alunado e, por extensão, à sua
família, informações essenciais que permitem otimizar o uso da energia e uma eventual
substituição de equipamentos por outros mais eficientes. Como o consumo residencial está
intimamente ligado à posse e ao uso de eletrodomésticos e como a penetração destes está se
dando cada vez mais nas classes menos favorecidas, a correta sensibilização para o uso e
aquisição adequada dos mesmos torna-se fundamental para que se consiga níveis
interessantes de conservação de energia e, como conseqüência, diminuição no impacto
ambiental.
Apesar de todo o sucesso alcançado, a metodologia utilizada tem passado por
avaliações e foi reformulada através do Programa de Ampliação e Atualização do PROCEL
NAS ESCOLAS - PAPE, o que permitirá ampliar ainda mais sua atuação e eficácia. Para
isso, um novo material didático, lançado em 30 de maio de 2007, foi introduzido nessa
metodologia de sucesso. Esse material, que foi ilustrado por Ziraldo, é composto de sete
livros, um álbum seriado, um jogo educativo, um folder e um programa em vídeo, tem seu
foco também no segmento residencial. De qualquer forma, as etapas de implantação do
PROCEL nas Escolas são: sensibilização adequada, princípios fundamentais, processo de
implantação, processo de acompanhamento e processo de avaliação.
O PROCEL Nas Escolas, para sua perfeita implantação, precisa se articular com
Concessionárias de Energia Elétrica e com Secretarias de Educação, para então envolver
professores de todas ou quase todas as disciplinas aplicadas nas escolas. Assim, após a
articulação com concessionárias, são realizadas reuniões iniciais com as Secretarias de
Educação (estaduais e/ou municipais) e com as superintendências do SENAI, SENAC, etc,
para que haja engajamento das mesmas e para que sejam traçados os cronogramas de
implantação. Depois, são realizados cursos de capacitação para os multiplicadores (técnicos
em educação, professores ou outros profissionais que depois capacitarão os demais
professores), palestras de sensibilização para diretores de escolas e cursos de capacitação
para professores, quando então são demonstradas as formas de se utilizar o material
didático-pedagógico e as fichas de acompanhamento das residências.
Os instrumentos para implementação eficaz do programa compreendem: processo
de acompanhamento, ficha de cadastro da escola, ficha de cadastro da residência, ficha de
acompanhamento da escola e ficha de acompanhamento da residência. Os resultados
informados nas fichas são computados, quantificados e servem para avaliação de quão
efetivo está sendo a implementação do programa. O material didático é distribuído
gratuitamente para as escolas e fica à disposição dos professores e alunos, em quantidade
suficiente para que três turmas de alunos possam trabalhar simultaneamente.
Um dos pontos mais importantes da metodologia é que as ações de combate a
qualquer tipo de desperdício são tratadas como um exercício de cidadania e que, dentro de
cada disciplina (interdisciplinaridade), são trabalhados os conceitos básicos. São
apresentadas sugestões para solução dos problemas por profissionais de diversas áreas,
lembrando-se sempre que em especial a conservação de energia é uma fonte de energia
limpa.
Vale ressaltar que a meta do PROCEL Educação lançada em maio de 2007 é atingir
com a metodologia cerca de 18.000 escolas de todas as regiões do país.
2.5.2 – PROCEL EPP (EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NOS PRÉDIOS PÚBLICOS)
Esse projeto [ 16 ] foi iniciado pelo PROCEL no ano de 1997 com a função de
promover a eficiência energética em prédios públicos federais, estaduais e municipais. Os
objetivos compreendem a implantação de projetos-piloto com potencial de replicação em
larga escala, a implementação de ações de sensibilização, capacitação e divulgação, o
estabelecimento de parcerias com outros setores e a realização de projetos-demonstração.
Apesar de o seu início ter sido bastante modesto, ganhou grande impulso com a edição do
Decreto nº 3.789, de 18/04/2001, durante o racionamento de energia elétrica entre 2001 e
2002, quando a meta era reduzir o consumo em até 20%. Esse Decreto foi revogado várias
vezes e hoje vige o Decreto nº 4.131, de 14/02/2002, que determina que os órgãos da
Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional deverão observar meta de
consumo de energia elétrica correspondente a 82,5% do consumo mensal, tendo por
referência o mesmo mês do ano 2000, a partir de fevereiro de 2002. Isso impulsionou o
Programa e atualmente há mais de 15.000 prédios públicos cadastrados no PROCEL.
2.5.3 - PROGRAMA PROCEL EDIFICA
O Programa PROCEL Edifica [ 16 ] faz a articulação entre diversas entidades das
áreas governamental, econômica, tecnológica e de desenvolvimento para, através de
enfoque multisetorial, promover a conservação e o uso eficiente da energia elétrica em
edificações, reduzindo os desperdícios e impactos sobre o meio ambiente. Os objetivos do
PROCEL Edifica com relação ao desenvolvimento tecnológico são:
Colaborar no desenvolvimento e capacitação de laboratórios de arquitetura
eficiente e de conforto ambiental com eficiência energética, especialmente os
custeados pela ELETROBRÁS. Até meados de 2007, já haviam sido capacitados
13 dos 15 laboratórios que receberam aporte total de mais de 2 milhões de reais
para estudos de sistemas térmicos, eficiência energética e conforto ambiental em
edificações, como por exemplo, os das Universidades Federais de Alagoas, Rio
Grande do Norte, Pelotas, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia;
Promover o intercâmbio entre as instituições da produção científica e didática
sobre os temas de interesse;
Estimular o desenvolvimento de inovações tecnológicas e de novas tecnologias
relativas a projetos e construções;
Fomentar parcerias nas atividades de ensino, pesquisa e extensão entre os
participantes do programa.
A contrapartida dessas instituições será o desenvolvimento de produção científica
que resulte em nível maior de qualidade das edificações, através de aproveitamento de
iluminação e ventilação naturais, acústica e sistemas térmicos.
Neste ano de 2007, a ELETROBRÁS lançou a Rede de Eficiência Energética em
Edificações – RedEEE, cuja implantação atenderá aos anseios do corpo docente e discente
dos centros de pesquisa das faculdades de arquitetura, urbanismo e de engenharia civil e de
outros centros de pesquisa que venham a se alinhar ao plano de ação do Edifica, pois
otimiza intercâmbio de conhecimentos e esforços desenvolvidos para a produção
tecnológica. Através de um portal computacional, denominado de PROCEL Info, será
implantado uma espécie de escritório virtual da RedEEE, o qual permitirá a realização de
conferências on-line, a troca de arquivos, etc, bem como criará fóruns de discussão, tudo
isso em um ambiente de acesso seguro. Outros passos importantes realizados pelo
PROCEL Edifica foram a inclusão nos currículos das instituições de ensino superior do
tema arquitetura sustentável e o financiamento de bolsas de mestrado para pesquisadores
dessa área, o que será essencial como estratégia de disseminação do conceito de
conservação de energia entre estudantes e para a formação dos futuros profissionais dos
citados campos do conhecimento.
2.5.4 - GESTÃO ENERGÉTICA MUNICIPAL
O Programa Gestão Energética Municipal - GEM [ 16 ] é
destinado às
administrações públicas municipais e a seus servidores de nível técnico, a consultores e
especialistas em assuntos relacionados à energia elétrica e a técnicos de concessionárias. O
GEM tem o objetivo principal de fornecer ferramentas e habilidades a gestores e servidores
municipais de nível técnico para que consigam realizar o gerenciamento do uso da energia
elétrica nas municipalidades, controlando seus custos, desempenho e eficiência.
Para facilitar a disseminação e troca de experiências e informações entre
municípios, participantes do GEM ou não, o PROCEL criou a Rede Cidades Eficientes -
RCE, que se organiza nos moldes da rede européia Energie-Cités (Association de
Municipalités Européennes pour la Maîtrise de l'Énergie en Milieu Urbain). A RCE foi
criada em parceria com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM.
2.5.5 - PROCEL SANEAR
O Programa de Eficiência Energética no Saneamento Ambiental – PROCEL
SANEAR tem como principais objetivos:
A realização de ações que levem ao uso eficiente de energia elétrica e de água
em sistemas de saneamento ambiental;
A promoção e incentivo do uso eficiente dos recursos hídricos, como estratégia
de conservação de água para futura geração hidroelétrica;
Diminuir custos para a sociedade pela eficientização das instalações de
saneamento ambiental, facilitando a universalização do acesso a esses bens e
gerando outros benefícios nas áreas de meio ambiente e saúde pública.
Para a consecução desses objetivos, o PROCEL Sanear incentiva em todo o território
nacional a apresentação de projetos de eficiência energética em sistemas de abastecimento
de água ou esgotamento sanitário. Um ponto importantíssimo da concepção desse programa
é a inclusão dos próprios consumidores, com o intuito de permitir uma visão integrada da
utilização de energia elétrica e água, bem como das implicações na saúde e meio ambiente.
Dessa forma, os projetos de eficiência energética, para serem aprovados pelo referido
programa, precisam ter como resultado a redução de demanda no horário de ponta do
sistema elétrico e a diminuição do consumo de energia elétrica, o que pode ser obtido não
só pela substituição de equipamentos existentes por mais outros eficientes, mas também
pela melhoria do processo produtivo.
Alguns critérios básicos de ordem burocrática devem ser seguidos na elaboração dos
projetos a fim de que o financiamento seja concedido, sendo o principal deles o de que é
uma concessionária de energia elétrica que faz a apresentação e a implementação dos
projetos de eficiência energética em sistemas de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário ao Programa e à ELETROBRÁS. São utilizados recursos da Reserva Global de
Reversão – RGR (fundo federal administrado pela própria ELETROBRÁS, sendo
composto por recursos advindos de quotas incidentes sobre os investimentos em instalações
e serviços da concessionária, de acordo com as leis nº 10.438, de 26/04/2002, e nº 5.655, de
20/05/1971). É função dos próprios prestadores de serviços de saneamento que operam na
área de concessão da concessionária a iniciativa de elaborar o anteprojeto de acordo com os
critérios estabelecidos em um manual específico e de procurar a concessionária para
viabilizá-lo. O financiamento é feito ao concessionário, que, além disso, terá que arcar com
uma contrapartida, o que também será solicitado de outros agentes envolvidos, pois a
ELETROBRÁS financia até 75% do valor total do projeto. Os projetos [ 18 ] poderão
contemplar uma ou mais modalidades de projetos de eficiência energética oferecidas pelo
PROCEL SANEAR, quais sejam:
Projetos para otimização de sistemas de bombeamento;
Projetos de modulação de carga que deslocam ou reduzem a demanda do horário
de ponta do sistema elétrico;
Inovações tecnológicas.
A fim de facilitar a difusão de técnicas para a redução de desperdícios e trazer
benefícios econômicos para o setor de saneamento, o PROCEL Sanear está implantando
um laboratório de eficiência energética e hidráulica em saneamento na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o qual, depois de capacitado, transformará essa
instituição em um centro de excelência no uso integrado de água e energia elétrica nesse
setor.
2.5.6 – PROGRAMA RELUZ
O Programa RELUZ, instituído pela ELETROBRÁS com o nome de Programa
Nacional de Iluminação Pública Eficiente, foi criado para melhorar a eficiência dos
serviços públicos de iluminação através do incentivo à execução de projetos que tenham
um potencial significativo de melhoria, uma vez que a iluminação pública no Brasil
corresponde a cerca de 3,4% do consumo total de energia elétrica do país e a 4,5% da
demanda nacional, o que equivale a uma demanda de 2,2 GW e a um consumo de 10,3
TWh/ano.
Sua principal motivação é a redução de demanda no horário de ponta do sistema
elétrico causada pela utilização de tecnologias mais eficientes, o que leva à modernização
das redes existentes e das expansões previstas.
O RELUZ tem como objetivo o desenvolvimento e a utilização de sistemas
eficientes de IP nos espaços públicos urbanos, o que contribui significativamente para o
aumento dos níveis de segurança pública e da qualidade de vida das cidades brasileiras,
especialmente nos aspectos relacionados à proteção da população urbana e à segurança do
tráfego, uma vez que a iluminação pública funciona como um instrumento de cidadania,
pois permite aos cidadãos utilizar democraticamente os espaços públicos mesmo no período
noturno, devido também à diminuição nos índices de criminalidade e ao embelezamento de
monumentos culturais e paisagísticos.
Além disso, como todo programa do PROCEL, há a minimização dos impactos
ambientais decorrentes de melhor uso da energia elétrica de novos empreendimentos e dos
já existentes, o que acaba contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
Como o PROCEL Sanear, o RELUZ segue critérios de ordem burocrática para a
concessão do financiamento, sendo necessária a participação da concessionária de energia
elétrica que faz a apresentação e a implementação dos projetos de eficiência energética e
assume o risco financeiro integralmente junto à ELETROBRÁS.
Cerca de 75% dos recursos utilizados também vêm da Reserva Global de Reversão
– RGR, ficando o restante a cargo da concessionária e prefeituras.
Os tipos de projetos financiados pelo RELUZ são os de melhoria dos sistemas de IP
existentes, as expansões desses sistemas, a iluminação especial ou de destaque, a
iluminação de áreas públicas para prática de esportes e a inovação tecnológica na IP.
Os resultados obtidos pelo RELUZ no período de 2000 a 2006 são apresentados na
tabela abaixo:,
Tabela 2.3 - Resultados obtidos pelo RELUZ no período 2000 a 2006
RESULTADOS DO RELUZ DE 2000 A 2006
Municípios beneficiados 1.140
Nº de pontos de melhoria 1.660.926
Economia de energia (GWh/ano) 628
Redução de demanda (MW) 145
Valor total investido (aprox.) – R$ x mil R$ 271.000,00
Dados até o 1º trimestre de 2006
As metas atuais do RELUZ são tornar eficientes cerca de 5 dos 13 milhões de
pontos de IP existentes no país até o ano de 2010 e instalar um milhão de novos pontos
eficientes de IP, proporcionando uma economia no consumo de energia elétrica de quase 1,
3 TWh/ano e a redução de demanda da ordem de 292 MW.
Alguns aperfeiçoamentos estão sendo introduzidos no RELUZ, especialmente após
a realização do 1º e do 2º Seminários RELUZ [ 19 ], como o descarte de lâmpadas, as
mudança nas condições financeiras, a nova Metodologia de Cálculo da relação
custo/benefício – RCB, bem como a mudança no modelo de contrato, ou seja, o TCU
passou a obrigar a ELETROBRÁS a exigir das concessionárias, que as prefeituras
apresentem consulta prévia aprovada pela Secretaria de Tesouro Nacional na ocasião da
liberação financeira.
A preocupação ambiental mais uma vez foi a motivadora de inovações do
PROCEL, que introduziu nos projetos aprovados o descarte de lâmpadas de vapor de
mercúrio VM, uma vez que as mesmas contêm mercúrio e resíduos tóxicos. Para isso,
houve a confecção de guia e cartilha com orientações para o correto descarte desse tipo de
material.
Outra conquista tem sido a certificação de equipamentos de IP no PBE e no
Programa de Selo do PROCEL (reatores, lâmpadas vapor de sódio – as luminárias estão em
estudo).
Além disso, o RELUZ auxiliou na montagem de Centro piloto de Gestão de IP na
PUC-RS, com o intuito de diminuir as deficiências apresentadas por boa parte das
prefeituras na gestão de seus sistemas de IP).
Outros benefícios obtidos pelo RELUZ dizem respeito à postergação de
investimentos para expansão do sistema elétrico e à disponibilidade de carga para atender
novos consumidores de energia elétrica.
2.5.7 – O SELO PROCEL
Para que sejam apresentadas as informações sobre o Selo PROCEL, seus objetivos e
resultados, é necessário primeiramente discorrer sobre Programas de Etiquetagem e
Padronização de Eficiência Energética, que são elaborados criteriosamente com o intuito de
reduzir o consumo de energia elétrica de equipamentos e acessórios, sem afetar a qualidade
dos benefícios que eles oferecem aos consumidores.
Um dos mais conhecidos programas no mundo é o U.S. ENERGY STAR, que foi
criado em 1992 para avaliar o desempenho energético de computadores, mas hoje já
identifica mais de 40 categorias de produtos manufaturados, dentre os quais televisores,
aquecedores e condicionadores de ar.
Só para exemplificação, um refrigerador novo vendido nos EUA hoje consome, na
média, apenas 25% da energia elétrica que teria sido usada por um refrigerador vendido 30
anos atrás, quando os padrões e etiquetas foram inicialmente introduzidos, mesmo
considerando que os novos aparelhos possuem muito mais recursos e maior capacidade de
refrigeração.
Os benefícios de padrões e etiquetas para produtos não tão comuns ou que não
consumam bastante energia são muito pequenos para justificar os custos de implantação
dos programas.
Os programas de padronização bem elaborados, mesmo que obrigatórios,
conseguem modificar o mercado pela retirada paulatina de produtos ineficientes, o que faz
com que haja um aumento de qualidade dos produtos ofertados aos consumidores, que,
mesmo sem ter sem a escolha de produtos limitada, serão beneficiados pela economia
gerada por esses produtos mais eficientes.
As etiquetas estimulam os consumidores a fazer escolhas mais conscientes e
baseadas em informações consistentes e confiáveis sobre os produtos que adquirem e
passem a gerenciar suas contas de energia.
Os padrões de eficiência energética são procedimentos e regulamentos que
prescrevem o desempenho energético de produtos manufaturados. Às vezes, chegam a
proibir a venda de produtos que sejam menos eficientes que um nível mínimo estabelecido.
O termo padrão comumente abrange dois possíveis significados:
a) Protocolos bem definidos ou procedimentos de testes em laboratórios através dos quais
obtém-se uma estimativa suficientemente precisa do desempenho energético de um produto
ou um posicionamento relativo do seu desempenho quando comparado a outros modelos;
b) Normas ou limites-alvo no desempenho energético, geralmente máximo uso ou mínima
eficiência, baseados em um protocolo de testes especificado.
Segundo a CLASP há três tipos de padrões de eficiência energética:
- Os padrões prescritos (prescritivos) determinam que uma característica particular ou um
dispositivo seja instalado em todo produto novo a ser comercializado no mercado;
- Os padrões de performance de energia mínima ou padrões de performance prescrevem
eficiências mínimas (ou máximos consumos de energia) que os fabricantes devem alcançar
para todo produto a ser comercializado. Especifica, portanto, a performance energética
requerida, mas não a tecnologia ou os detalhes do projeto do produto. A Lei de Eficiência
Energética Brasileira encaixa-se nessa classificação. A Lei de Eficiência Energética, de 17
de outubro de 2001, publicada em pleno racionamento de energia, apenas estabelece a
decisão de estabelecer níveis máximos de consumo específico de energia, ou mínimos de
eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou
comercializados no País. A idéia é retirar somente as unidades menos eficientes do
mercado, de forma que os fabricantes atingidos têm que reprojetar os seus equipamentos.
- Os padrões classe-média estabelecem a eficiência energética média de um produto
manufaturado, permitindo que cada fabricante selecione o nível de eficiência de cada
modelo, desde que a média total de eficiência energética definida seja alcançada. Este tipo
de padronização permite que o produtor faça a adaptação de seus produtos paulatinamente,
mas sem desconsiderar a média estabelecida.
Etiquetas de eficiência energética são etiquetas informativas que são afixadas a
produtos manufaturados para descrever a performance e o desempenho dos mesmos em
relação ao uso de energia, além de outras características técnicas. Elas fornecem aos
consumidores as informações necessárias para que se realizem compras baseadas em
informação.
O Collaborative Labeling and Appliance Standards Program - CLASP [ 20 ]
classifica as etiquetas em 2 tipos:
- As de endosso;
- As comparativas.
As etiquetas de endosso são essencialmente selos de aprovação concedidos de
acordo com um critério específico, geralmente determinado por uma entidade
governamental.
As etiquetas comparativas permitem que o consumidor compare o desempenho
energético entre produtos similares disponíveis no mercado utilizando ou uma escala
contínua ou ao desempenho na categoria. Nessa classificação é que está enquadrada a
Etiqueta Nacional de Conservação de Energia, do PBE.
Os programas de endosso são inerentemente voluntários. Se o programa incluir uma
etiqueta de comparação, o programa pode ser obrigatório ou pode começar como voluntário
e se tornar mandatório posteriormente.
Alguns países utilizam etiquetas de informação, nas quais são apresentados apenas
os dados relativos a consumo de energia.
As etiquetas podem ser utilizadas sozinhas ou serem complementares a um
programa de padronização, mas a efetividade da etiquetagem é bastante dependente de
como elas apresentam a informação para os consumidores, sem contar que devem ser
apoiadas por campanhas de informação.
Vale ressaltar que a CLASP é uma associação de organizações, dentre elas o
International Institute for Energy Conservation - IIEC, com apoio da USAID, e tem o
intuito de ajudar nações a implementar programas de etiquetagem e padronização.
O Selo PROCEL (figura 2.2) é, sem sombra de dúvidas e literalmente, a face mais
visível do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Concedido todos os
anos a partir de 1994 (foi instituído por Decreto Presidencial em 8/12/1993 com o nome de
Selo PROCEL de Economia de Energia), tem a finalidade de estimular a fabricação
nacional, a comercialização e a importação de produtos, equipamentos e eletrodomésticos
mais eficientes no item consumo de energia e com maior competitividade. É, portanto,
também um instrumento promocional que orienta os consumidores brasileiros a adquirirem
equipamentos que apresentam melhores níveis de eficiência energética no ato da compra.
Figura 2.2 – Selo PROCEL
Na sua primeira edição, foram contempladas com o Selo três categorias da linha de
refrigeradores: o de uma porta, o de duas portas ou combinado e o freezer vertical. Hoje são
20 categorias que são avaliadas e agraciadas pelo PROCEL com o Selo, que compreendem
máquinas de lavar roupas, condicionadores de ar, refrigeradores e freezers, sistema solar
(coletores e reservatórios térmicos) de aquecimento de água, motores de indução trifásicos
e equipamentos de iluminação. Mas outros eletrodomésticos e equipamentos como fornos
de microondas, televisores, painéis fotovoltaicos e reatores eletrônicos para lâmpadas estão
sendo considerados para receber o Selo.
Para fazer merecer o selo, os fabricantes e importadores de equipamentos e
eletrodomésticos submetem voluntariamente seus produtos a testes, avaliações e ensaios
nos laboratórios indicados pelo PROCEL. Assim, o fato de saber que os principais produtos
do mercado naquela categoria passam por essas avaliações, faz com que os fabricantes
invistam na melhoria dos índices de eficiência energética dos seus produtos, o que tem
contribuído enormemente para o desenvolvimento tecnológico brasileiro e para a redução
de impactos ambientais.
Somente nos 12 anos seguintes à primeira edição do Selo, ou seja, até 2005, ele
proporcionou uma economia de energia estimada em cerca de 8 TWh, o mesmo que seria
consumido por 5 milhões de residências durante o período de um ano, o que corresponde a
9,61% do consumo do setor residencial brasileiro em 2005 [ 11 ].
Apesar de o desenvolvimento tecnológico dos equipamentos e produtos ser da
vertente tecnológica, a vertente humana também foi contemplada pela criação do Selo
PROCEL, pois refletiu no comportamento de boa parte dos consumidores brasileiros, que
atualmente exigem e utilizam seu direito elementar de acesso a características e
informações técnicas detalhadas sobre os equipamentos e eletrodomésticos colocados à
disposição pelo mercado. Assim, o consumidor ao ir a uma loja sabe que quando o Selo faz
parte de uma embalagem ou aparece colado em um produto, isso é garantia de qualidade e
de eficiência energética.
Para que isso acontecesse foi necessário que se criassem parcerias duradouras, as
quais começaram com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL, no Rio de
Janeiro, e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial -
INMETRO, e atualmente contam com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
IDEC. Ainda, vários laboratórios espalhados pelo Brasil e associações de fabricantes de
equipamentos e importadores, tais como a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica - ABINEE, a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (ABILUX) e a
Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos – ELETROS.
Além disso, o Selo PROCEL, pela experiência adquirida, tem sido importante como
instrumento de apoio para a Lei de Eficiência Energética, que tem como meta a definição
de índices mínimos de eficiência de equipamentos, comentada mais detalhadamente nos
próximos tópicos.
Outra conquista que tem estreita relação com a edição do Selo, foi a capacitação de
22 laboratórios para ensaios de eficiência energética no Brasil, quando foram investidos
pelo PROCEL algo em torno de R$ 15 milhões. Dentre eles, podem ser destacados o
laboratório de iluminação da UFRJ e o de refrigeração e iluminação do CEPEL, referências
para o setor elétrico, o laboratório de sistemas de aquecimento solar (simulador solar)
criado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, que atualmente é o único
existente na América Latina para assuntos dessa área, e o laboratório de bombas centrífugas
da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI.
A partir do Selo PROCEL de Economia de Energia e após a criação do Programa
Brasileiro de Etiquetagem – PBE, que é coordenado pelo INMETRO, foi criado em 1988 o
Selo PROCEL INMETRO de Desempenho (Figura 2.3), que passou a ser concedido
anualmente aos produtos nacionais ou estrangeiros que se submetiam à etiquetagem do
PBE, pois deveriam ter seus níveis mínimos de eficiência e qualidade definidos pelo
PROCEL, o que acabou se tornando importantíssimo para o desenvolvimento de normas
técnicas e para a fiscalização dos produtos. Nessa época, o Selo PROCEL passou a ser
concedido apenas aos equipamentos e produtos que obtivessem conceito “A” (de uma faixa
que varia de A a E) nos ensaios realizados nos laboratórios de referência do Programa
Brasileiro de Etiquetagem – PBE. A Etiqueta que indica os resultados dos ensaios e a
classificação obtida pelo produto é mostrada na Figura 2.4. Em janeiro de 2006, por
deliberação da Comissão de Análise Técnica, o Selo PROCEL de Economia de Energia e o
Selo PROCEL INMETRO de Desempenho foram unificados em um só, permanecendo o
nome do primeiro.
Figura 2.3 – Selo PROCEL INMETRO de desempenho
Figura 2.4 – Etiqueta do PROCEL INMETRO
Segundo a pesquisa de posse e hábitos de uso [ 13 ], na última década 43,3% dos
que adquiriram refrigeradores novos levaram em conta o consumo de energia elétrica
constante da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia do Programa Brasileiro de
Etiquetagem – PBE e apenas 11,0% dos entrevistados declararam que não sabiam da
existência da mesma, o que mostra o grande sucesso dessa iniciativa.
Os equipamentos e produtos que atualmente têm sua qualidade e eficiência
avaliadas minuciosamente nos laboratórios de referência indicados pelo PBE do INMETRO
e que recebem o Selo são:
- Lâmpadas fluorescentes compactas integradas e não integradas;
- Lâmpadas fluorescentes circulares integradas e não integradas;
- Refrigeradores (compactos, de uma porta, combinados ou de duas portas e combinados
frost-free);
- Freezers (horizontais. verticais frost-free e verticais);
- Reatores eletromagnéticos para lâmpadas fluorescentes tubulares;
- Reatores eletromagnéticos para lâmpadas a vapor de sódio;
- Aparelhos de ar condicionado de janela e split system;
- Motor elétrico de indução trifásico da linha padrão e da de alto rendimento;
- Coletores térmicos e reservatórios térmicos para aquecimento solar.
- Máquinas de lavar roupas (automáticas e semi-automáticas).
Esses equipamentos são submetidos a várias experiências a fim de que sejam
levantados todos os dados relativos a seu funcionamento e à verificação de que estão em
consonância com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT,
quando serão certificados ou não.
Além disso, para alguns equipamentos, é exigido o atendimento a outros critérios
além da eficiência energética, como no caso de máquinas de lavar roupa que têm seu
consumo de água e eficiência de lavagem (centrifugação, por exemplo) analisados.
Só para se ter uma idéia do resultado obtido, a partir de 1998, quando o Selo passou
a ser concedido aos produtos classificação A no PBE, a eficiência energética média dos
condicionadores de janela de 7.500 BTU/h (figura 2.5) aumentou 36%, o que representando
uma redução no consumo médio desse aparelho de 48 kWh/mês, caso o aparelho seja
utilizado durante uma hora por dia e o compressor funcione durante 70% desse tempo).
No caso dos refrigeradores de uma porta, nestes últimos doze anos sua eficiência
energética média melhorou 26,5%.
Com relação aos motores elétricos, que chegam a consumir anualmente cerca de
30% da energia elétrica do Brasil, o PROCEL passou a conceder o Selo aos motores de
indução trifásicos tipo padrão e alto rendimento nas potências padronizadas que se situam
na faixa até 250 CV, o que, somente em 2005, resultou em uma economia de quase 116 mil
MWh em relação a 2004, resultados devidos ao incremento nos rendimentos médios dos
motores que receberam a etiqueta e que foram vendidos aos consumidores nesse ano.
Figura 2.5 – Dados do Catálogo do Selo PROCEL – Ar condicionados
O PROCEL recentemente passou a conceder o Selo a máquinas de lavar roupas que
obtiveram os requisitos necessários. Atualmente, os equipamentos que estão sendo
analisados individualmente com vistas à concessão do Selo PROCEL são os fornos de
microondas e os ventiladores de teto, o que aumentará ainda mais a lista de benefícios
trazidos por essa iniciativa de sucesso.
Está claro que para apresentar resultados ainda mais satisfatórios, é preciso que a
sua divulgação seja ampliada. A pesquisa de posse e hábitos de uso [ 13 ], recém divulgada,
atestou que na Região Nordeste ainda há um alto percentual de falta de conhecimento do
Selo, pois somente 32,1% dos entrevistados o conhece, enquanto 66,2% o desconhece. As
Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste também apresentaram bom conhecimento do Selo,
com números que giram em torno de 46%. Por outro lado, a Região Sul é aquela onde os
consumidores têm mais conhecimento do Selo PROCEL: 58%.
2.6. CONSERVAÇÃO EM USOS FINAIS
Antes de estudarmos a conservação nos principais usos finais da energia elétrica,
vale à pena abordar os seguintes tópicos: indicadores da qualidade do uso da energia
elétrica e diagnóstico ou auditoria energética.
2.6.1 INDICADORES DA QUALIDADE DO USO DA ENERGIA ELÉTRICA
Alguns indicadores podem ser utilizados e outros até mesmo criados para
determinar quão eficiente está sendo a utilização da energia elétrica em determinada
instalação. Esses indicadores constituem-se, portanto, em ferramentas importantes para a
realização de diagnósticos ou auditorias energéticas, uma vez que servem para efeito de
comparação com valores típicos obtidos para instalações com características semelhantes,
possibilitam a determinação do potencial de conservação de energia elétrica e acabam
retratando o perfil de consumo da própria instalação. Além disso, facilitam o
acompanhamento da efetividade das ações de uso racional e eficiente de energia elétrica
implementadas, o que também permite fazer acertos de rota durante essas implementações.
Alguns desses principais indicadores são especificados a seguir:
a) Custo Médio da Energia (Ce) ou custo unitário da energia
É a relação entre o valor da fatura de energia elétrica da unidade consumidora ou
instalação e seu consumo mensal.
)_(_
$)_(__
kWhmensalConsumo
RfaturadaValor
Ce = ( 2.1 )
b) Fator de Carga (FC)
Como já explicitado no item 1.3, esse indicador dá uma amostra de como a instalação
consumidora está utilizando a energia elétrica ao longo do tempo e o ideal é que seja
próximo a 1. Assim, para elevar o FC de uma instalação, algumas medidas podem ser
implementadas, como por exemplo o não acionamento de grandes motores
simultaneamente e a programação de utilização dos equipamentos da instalação, dentre
outras.
c)
Consumo Mensal por Morador (Cmor)
É a relação entre o consumo mensal de uma residência, condomínio ou conjunto
habitacional e o número de moradores dessas habitações.
moradoresdenúmero
mêskWhmensalConsumo
Cmor
__
)/_(_
= ( 2.2 )
d) Consumo Mensal por Área Útil (Cau)
Esse indicador é bastante útil para a comparação de instalações que são utilizadas
para o desempenho de atividades semelhantes. É obtido pela relação entre o consumo de
energia elétrica mensal e a área útil da instalação.
Também é propício para a realização de análises de desempenho da arquitetura do
local e se, por exemplo, a iluminação natural está sendo bem utilizada.
)_(_
)/_(_
2
mútilÁrea
mêskWhmensalConsumo
Cau =
( 2.3 )
e) Consumo Mensal por Área Útil e Número de Usuários (Caunu)
É a relação do indicador mostrado anteriormente pelo número de usuários da
instalação consumidora. É também bastante útil para análises de levem em conta a
produtividade/empregados, por exemplo.
usuáriosdenmútilÁrea
mêskWhmensalConsumo
Caunu
__º*)_(_
)/_(_
2
=
( 2.4 )
f) Consumo Mensal com Condicionamento de Ar por Área Climatizada (Ccaac)
É a relação entre o consumo do uso final “condicionamento de ar” e a área
climatizada da instalação consumidora. Demonstra quão eficiente está esse sistema e sua
operação e manutenção.
)(lim_
)/(_____
2
matizadacÁrea
mêskWhardementocondicionacommensalConsumo
Ccaac = ( 2.5 )
g) Potência Instalada de Ar Condicionado por Área Climatizada (Pacac)
É definida como a relação entre a potência ativa total instalada no uso final
“condicionamento de ar” e a área útil analisada. Assim, através de comparações com
valores típicos é possível realizar a estimativa do potencial de conservação nesse uso final.
)_(_
)_(_____
2
mútilÁrea
WdocondicionaareminstaladaativaPotência
Pacac =
( 2.6 )
h) Consumo Mensal de iluminação por Área Iluminada (Ciai)
É a relação entre o consumo do uso final “iluminação”e a área iluminada da
instalação consumidora. Através de comparações com valores-padrão demonstra quão
eficiente está o sistema e o tipo de tecnologia empregada, sua operação e manutenção, bem
como sinaliza quais são os hábitos dos usuários (tempo de operação). Além disso, pode
sinalizar para a melhor utilização da iluminação natural e seccionamento de circuitos.
)_(min_
)/_(min___
2
madailuÁrea
mêskWhaçãoilucommensalConsumo
Ciai =
( 2.7 )
i) Potência Instalada em Iluminação por Área Útil (Piau)
É definida como a relação entre a potência ativa total instalada no uso final
iluminação e a área útil analisada. Assim, através de comparações com valores típicos é
possível realizar a estimativa do potencial de conservação nesse uso final.
)_(_
)_(min____
2
mútilÁrea
WaçãoilueminstaladaativaPotência
Piau = ( 2.8 )
j) Potência Instalada em Iluminação por Número de Interruptores (Pini)
É obtida pela divisão entre a potência ativa instalada no uso final iluminação e a
quantidade de interruptores.
Desta forma, é possível fazer uma análise da forma como o acionamento de
lâmpadas/luminárias está sendo realizado, ou seja, se em ambientes de grandes proporções
há muitos casos em que diversas luminárias são acionadas por um único interruptor, o que é
um fator que gera um percentual significativo de desperdício de energia elétrica.
erruptoresden
WaçãoilueminstaladaativaPotência
Pini
int__º
)_(min____
=
( 2.9 )
j) Porcentagem de Luminárias Defeituosas (Pld)
É a relação entre a quantidade de luminárias defeituosas de uma unidade
consumidora e o número total dessas. É bastante útil para indicar o estado de conservação
do sistema de iluminação e a eficiência das rotinas de manutenção, pois, tipicamente,
valores superiores a 5% sinalizam para falhas no programa de manutenção.
É um indicador importantíssimo para empresas onde os operários estão sujeitos a
acidentes de trabalho.
%100*
min___º
_min__º
áriasludetotaln
sdefeituosaáriasluden
Pld = ( 2.10 )
2.6.2 DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO
O diagnóstico energético é a etapa na qual são levantadas todas as informações
necessárias para elaboração de um quadro que dê uma visão geral e que represente o
comportamento de consumo energético de uma determinada instalação consumidora, o que
permite identificar os usos finais que não estão tendo uma boa eficiência, as oportunidades
de redução de perdas existentes e as possíveis alternativas a serem implementadas. Ou seja,
permite identificar primariamente quais são as possíveis soluções para reduzir o consumo
específico e global de energia elétrica da instalação, para reduzir o desperdício de energia,
bem como de que forma pode ser deslocada a demanda para horários mais propícios e que
tipo de tarifa é o mais adequado àquele consumidor.
Para que o diagnóstico seja realizado de forma eficaz, é necessário inicialmente uma
visita dos técnicos às instalações do consumidor para levantamento de dados e vistoria dos
ambientes, bem como para entrevista dos usuários como forma de detectar como está sendo
utilizada a energia elétrica.
O levantamento de dados constitui-se uma das fases mais importantes para a
perfeita realização do diagnóstico energético e deve ser realizado de forma bastante
criteriosa.
Para esse levantamento devem ser utilizadas inicialmente as faturas de energia
elétrica, pois estas fornecem informações básicas importantes e um histórico sobre como
vem sendo utilizada a energia elétrica pela unidade consumidora. Além disso, desde que o
consumidor não utilize de meios fraudulentos, as faturas constituem-se em fontes de dados
bastante confiáveis, de fácil acessibilidade, e que permitem acompanhar a evolução do uso
da energia ao longo do tempo, em especial ao longo dos últimos 12 meses. Além disso,
com essas informações, é possível estimar os valores futuros de consumo e de demanda de
energia elétrica da unidade consumidora, bem como os valores contratuais e a sazonalidade
da planta.
Para informações adicionais geralmente são feitas medições diretas, quando são
utilizados equipamentos eletrônicos microprocessados, os comumente denominados de
analisadores de energia elétrica, que são capazes de monitorar e gravar em sua memória
várias informações em intervalos de tempo programados. Desta forma, é criado um banco
de dados consistente que relaciona as principais grandezas elétricas das instalações e os
horários em que elas ocorreram. Geralmente essas grandezas compreendem:
- Tensões das fases (Va, Vb, Vc );
- Correntes das fases (Ia, Ib, Ic );
- Potências ativas (Pa, Pb, Pc );
- Potências reativas (Qa, Qb, Qc);
- Consumo de energia por intervalos de 15 minutos.
Assim, através de programas específicos ou planilhas eletrônicas é possível traçar as
curvas de carga diárias e mensais da instalação, bem como outros índices necessários às
avaliações de desempenho. Uma variação de até 5% entre os valores medidos e os
calculados ou estimados pode ser considerada aceitável.
O levantamento de dados pode ser complementado por uma inspeção ou vistoria dos
ambientes de toda a instalação, quando algumas informações adicionais são conseguidas,
principalmente as relacionadas às características físicas do ambiente e aos hábitos de uso da
energia dentro da unidade consumidora, bem como aquelas que não são obtidas nas
medições realizadas pelo analisador, nas plantas e nem pela fatura de energia da
concessionária, como por exemplo:
Área de cada ambiente (m
2
);
Pé direito de cada ambiente (m);
Tipo de atividade realizada nesses espaços;
Número de usuários dos ambientes;
Horário de funcionamento da planta ou instalação;
Cores utilizadas nas paredes, no teto e no piso;
Uso e possibilidade de aproveitamento da iluminação natural;
Qualidade da vedação em ambientes climatizados;
Temperatura dos ambientes;
Tempo médio de utilização dos equipamentos que consomem energia elétrica.
É obvio que nem todos esses dados precisam ser levantados detalhadamente, pois
depende do tipo de diagnóstico a ser realizado e do tipo de utilização da instalação.
Porém, além desses dados, outros precisam realmente ser levantados se não
estiverem disponíveis nas projetos elétricos, tais como:
Equipamentos (em operação e em manutenção) que utilizam energia elétrica em cada um
dos ambientes levantados com os respectivos dados de placa. Quando os dados de placa
não puderem ser obtidos, podem ser feitas medições instantâneas;
Localização e tipos de quadros de distribuição, número e localização de interruptores e
como funcionam os seccionamentos dos circuitos;
Tipo de iluminação utilizada, tecnologia empregada, tipos de lâmpadas, número de
lâmpadas, tipo e quantidade de luminárias por ambiente;
Nível de iluminamento de cada ambiente, conseguidos por medição através de
luxímetros.
Após o levantamento de dados, que se completa com entrevistas com os usuários, é
realizada a análise preliminar dos dados e o tratamento dos mesmos, os quais são
fundamentais para a determinação do potencial de conservação de energia de uma unidade
consumidora.
Essa análise tem também a finalidade de retratar o perfil de consumo desagregado e
total [ 21 ], o que pode ser representado pela matriz energética da unidade e de cada
instalação, a qual agrega os usos finais por tipos de equipamentos com finalidades
semelhantes e seus respectivos consumos totais. A matriz energética pode ser representada
por um gráfico (figura 2.6) em forma de pizza que traz o consumo percentual por uso final.
Nessa fase, pode ser calculada também a demanda média e o fator de carga da
instalação a partir do consumo global e das equações dos tópicos 1.3 e 3.1. Mas é
fundamental que em todas as análises feitas a partir das faturas de energia elétrica sejam
feitas as correções dos valores contidos nas mesmas para um período de leitura padrão de
30 dias.
É possível também determinar a sazonalidade do uso da energia elétrica, a
existência de multas por ultrapassagem de demanda ou por excesso de reativos/baixo fator
de potência a partir das faturas de energia elétrica.
Também há a possibilidade de se estimar quais seriam as tendências de crescimento
do consumo da unidade consumidora se não fossem tomadas as medidas de eficientização.
Tipo de Uso Final Consumo
(kWh)
%
Refrigeração 860 24%
Aquecimento 1.930 54%
Iluminação 613 17%
Outros 202 6%
Figura 2.6 – Exemplo de matriz energética por uso final
Uma das etapas também realizada no diagnóstico energético é a análise tarifária da
unidade consumidora e da melhor tarifa a ser empregada, a qual, apesar de não ser
realmente uma etapa do processo da eficientização energética propriamente dita, abre para
o consumidor a possibilidade de obtenção de parte dos recursos financeiros necessários
para os investimentos futuros em conservação energética, pois, através da análise das
faturas de energia elétrica e dos equipamentos existentes e projetados para entrar em
operação é possível realizar a adequação tarifária e a adequação do processo produtivo,
que, na maioria das vezes, permite reduzir ou até mesmo eliminar multas por baixo fator de
potência ou ultrapassagem de demanda, e reduzir ou acabar com a utilização de eletricidade
no horário de ponta do sistema elétrico, pois nesse período as tarifas são mais caras. Ou
seja, a análise tarifária pode se tornar um “fundo virtual de recursos financeiros” e o
acompanhamento das faturas de energia elétrica um “termômetro de investimentos”.
Matriz energética de uma instalação
Refrigeração
Aquecimento
Iluminação
Outros
Concluídas as etapas anteriores, já é possível se tem um resumo razoavelmente
preciso do comportamento da unidade consumidora e o banco de dados já está
suficientemente consolidado para permitir a determinação dos potenciais de conservação de
energia elétrica, os quais encerram o diagnóstico propriamente dito.
Os modos de se determinar os potenciais de conservação de energia elétrica são
distintos para cada um dos usos finais, de forma que é preciso primeiramente que seja
determinada a matriz energética de cada uso final, como já comentado, só que agora para
cada instalação relevante da unidade consumidora. Assim, devem ser realizadas medições
diretas nessas instalações e comparadas com os dados já levantados da unidade
consumidora, a fim de permitir a desagregação por uso final. Porém, naqueles casos em que
não sejam possíveis as medições diretas por causa de os circuitos de alimentação não serem
independentes, a desagregação do consumo global pode ser realizada através do uso dos
fatores de carga e de demanda dos usos finais através da equação 2.10:
tPinstFDFCCuf
Δ
=
*** ( 2.11 )
Onde:
Cuf é o consumo do uso final (kWh);
FC é fator de carga do uso final;
Fdemanda é o fator de demanda do uso final;
Pinst é a potência instalada dos equipamentos em operação referentes ao uso final (kW);
Δt é intervalo de tempo considerado (h).
É admissível a utilização do fator de carga global da unidade consumidora caso não
seja possível a determinação do fator de carga para o uso final em análise, o que geralmente
se constitui como indicador razoável para determinação do potencial de conservação de
energia elétrica da instalação.
Uma outra opção é utilizar os fatores de carga e de demanda por uso final definidos
em publicações especializadas ou a partir de estudos realizados anteriormente para
instalações semelhantes.
Um dado bastante importante para o convencimento de consumidores industriais de
que é necessário realizar diagnósticos energéticos é que, em média, no setor industrial o
consumo de energia elétrica por uso final pode ser dividido em: iluminação (2%),
refrigeração (6%), aquecimento (20%), força motriz (51%) e processos eletroquímicos
(21%) [ 8 ], o que, em regra, mostra que há um enorme potencial de conservação de energia
nestes dois últimos usos finais.
Já para os consumidores do setor comercial, o melhor argumento é que em geral o
consumo com iluminação corresponde a 44 % do consumo total, sendo este uso final o de
mais fácil obtenção de resultados, a refrigeração 17%, o condicionamento ambiental a 20%
e os outros usos finais correspondem a 17% [ 8 ].
Outro argumento bastante importante é a expectativa de se poder determinar, ao
final do diagnóstico energético, de quanto será o retorno de investimento de um
equipamento com tecnologia mais eficiente que o existente ou o que estava projetado, uma
vez que, ao contrário do senso comum, o custo inicial não é o fator determinante em uma
escolha, pois as despesas de operação, reposição e manutenção devem ser levadas em conta
nesse cálculo.
Desta forma, o método do custo do ciclo de vida [ 22 ]é uma das ferramentas para se
determinar qual das opções disponíveis possui o melhor retorno de investimento quando
considerados o custo inicial e os custos médios/esperados de operação. A equação abaixo
determina o fator de avaliação FA (R$/kW), que deve ser comparado para todas as opções:
ntCFA **=
( 2.12 )
Onde:
FA é o fator de avaliação (R$/kW);
C é o custo médio anual com energia elétrica (R$/kWh);
t é o tempo de operação por ano (h/ano);
n é o tempo de vida (ano).
O custo de energia não é somente o custo por kWh constante da conta de energia
elétrica da concessionária, mas ela deve incluir todos os encargos da energia, ou seja,
penalidades por baixo fator de potência, encargos por demanda, etc.
O custo médio de energia elétrica é determinado levando-se em conta todos os
encargos constantes da fatura de energia enviada pela concessionária, de forma que deve-se
dividir o valor total das faturas em um ano pelo consumo verificado nesse mesmo período,
obtendo-se o resultado em R$/kWh.
Caso se deseje pode ser levado em consideração o valor do dinheiro no tempo e uma
taxa de aumento dos custos com a energia, mas esses dois fatores tendem a se anularem.
Outra forma de se realizar a análise de viabilidade econômica e partir para a tomada
de decisão é elencar todas as alternativas de acordo com seu potencial de retorno
monetário, ou da relação custo-benefício,
A tomada de decisão envolve a escolha de uma ou mais alternativas propostas para
a otimização do consumo de energia elétrica e passa necessariamente pela resposta às
seguintes questões [ 23 ]:
Quanto custa cada alternativa?
Qual a taxa de retorno do investimento?
Qual o período de amortização?
Qual é o ganho com cada alternativa?
2.6.3 CONSERVAÇÃO – PRINCIPAIS USOS FINAIS
2.6.3.1 ILUMINAÇÃO
“Faça-se a luz. E a luz se fez”. A partir daí, o homem conseguiu desenvolver suas
atividades, sempre na presença da luz.
Mas, voltando ao assunto principal, a avaliação do comportamento de uma unidade
consumidora no que diz respeito ao uso da energia elétrica no uso final iluminação é
fundamental para o resultado a ser obtido com as medidas de eficientização em geral, uma
vez que é a iluminação um dos usos finais mais fáceis de se implementar ações de
conservação de energia e de se verificar os resultados, o que serve de estímulo e incentivo
para que todas as outras medidas de eficientização sejam levadas a cabo pelos
consumidores. Além disso, a iluminação é um uso final com grande participação no
consumo global, principalmente nos setores residencial e comercial.
Porém, antes de estudarmos as fontes de luz, é necessário ver algumas definições
básicas, quais sejam:
-
Luz é a energia útil dos sistemas de iluminação;
-
Candela (cd) é a unidade básica do sistema internacional para a luz;
-
Lúmen é definido como o fluxo (potência) luminoso de uma fonte emitindo 1 candela
em todas as direções;
-
Fluxo luminoso é a quantidade total de luz emitida por uma fonte. Sua unidade é
lúmens (lm);
-
Luminância é a intensidade luminosa produzida ou refletida por uma superfície
aparente, medida em cd/m
2
;
-
Intensidade luminosa é a intensidade do fluxo luminoso projetado em uma determinada
direção, expressa em candela (cd) [ 24 ];
-
Índice de Reprodução de Cor (IRC): é a medida de correspondência entre a cor real de
um objeto ou superfície e sua aparência diante de uma fonte de luz. Ou de outra forma,
é a capacidade de uma lâmpada em reproduzir, sem deformações, o aspecto e as cores
do objeto por ela iluminado. Esse valor varia de 1 a 100% e quanto maior índice a
lâmpada possuir, mais fidelidade e precisão a mesma possuirá;
-
Curvas de Isoluminância - Curvas que caracterizam a distribuição luminosa em lux da
iluminância em um determinado ambiente [ 25 ];
-
Iluminância: é o limite da razão do fluxo luminoso recebido pela superfície em torno de
um ponto considerado, para a área da superfície quando esta tende para o zero [ 26 ]. É
o fluxo luminoso que incide sobre uma superfície situada a uma certa distância da fonte.
Ela é a relação entre intensidade luminosa e o quadrado da distância, expressa em lux
(lx);
-
Luminárias: sua principal função é a de distribuir da melhor forma possível o fluxo
luminoso proveniente da(s) lâmpada(s). Porém, fornece também os meios para sua
própria fixação e dos componentes elétricos;
-
Eficiência luminosa: é a relação entre o fluxo luminoso e a potência consumida. Pode
ser expressa em lm/W ou cd/W.
Esses conceitos são necessários, uma vez que a iluminação artificial deve se adequar às
necessidades humanas exatamente no instante em que é realizada a tarefa visual desejada,
de forma que é necessário o uso da quantidade correta da iluminação (nível de
iluminamento), do índice de reprodução de cores IRC e da temperatura da fonte de luz.
Assim, como a presença de luz é fundamental para a realização das atividades
humanas, foram criados vários tipos de fontes artificiais, conforme comentado a seguir.
A fonte de luz artificial mais ineficiente no consumo de energia elétrica é a lâmpada
incandescente [ 22 ], pois a maior parte da energia é convertida em calor, o que acaba sendo
um insulto ao uso nada nobre da energia em tempos de protocolo de Kyoto e de grandes
impactos ambientais.
Além disso, como a vida mediana das lâmpadas incandescentes é a menor de todas
as lâmpadas comercialmente em uso (cerca de 1.000 horas), ela acaba tendo um dos
maiores custos de manutenção. Porém, ainda é bastante utilizada, uma vez que tem o menor
custo inicial (a lâmpada de 60 W custa no mercado local menos de R$ 2,00).
Vale ressaltar que as lâmpadas, além do grupo das incandescentes, também são
classificadas em lâmpadas de arco, as quais se subdividem em baixa pressão (fluorescentes)
e em alta pressão, como comentado a seguir.
As lâmpadas fluorescentes e as fluorescentes compactas são lâmpadas com
eficiência e vida mediana muito maior do que as incandescentes e constituem-se em uma
excelente alternativa para substituição desse tipo de fonte.
Pela facilidade de substituição e instalação, pois não necessita de reatores externos
ou starters, as lâmpadas fluorescentes compactas (LFC) têm tido um crescimento
espetacular no mercado brasileiro nos últimos anos, passando de cerca de 12 milhões de
unidades comercializadas em 2000 para quase 60 milhões somente em 2006.
Só para se ter uma idéia da rapidez do retorno do investimento em aquisição de uma
lâmpada FLC para substituição de uma incandescente, uma lâmpada FLC de 15 W
existente no mercado nacional oferece uma luminosidade equivalente a uma incandescente
de no mínimo 60 W (podendo chegar a 75 W, dependendo do fabricante), ou seja, uma
economia mínima de 75%.
Um outro exemplo desse retorno de investimento pode ser observado pelo fato de
que algumas concessionárias de energia elétrica pelo mundo afora estão promovendo,
através de subsídios, a troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas. O
principal objetivo dessa iniciativa, por incrível que parece, não é de ordem ambiental, mas
sim de ordem financeira, pois o investimento necessário que seria feito por essas empresas
para a ampliação da capacidade de geração de uma usina variaria de 1 a 4 milhões de
dólares por MW instalado, enquanto que para reduzir a demanda em 1 MW através da
substituição de lâmpadas são necessários apenas US$ 500.000,00.
Isso foi comprovado na prática no México, quando foi realizado um investimento de
cerca de US$ 23 milhões nessa iniciativa para a redução de 80 MW, o que gerou economia
de 140 milhões de dólares em investimentos públicos para uma nova usina.
Assim, as lâmpadas incandescentes devem ser usadas unicamente em locais de uso
pouco freqüente, tais como despensas ou depósitos, closets ou aplicações similares.
Porém, vale ressaltar que o fato de se substituir lâmpadas incandescentes por outras
mais eficientes e na mesma quantidade, nem sempre representa a solução mais viável, uma
vez que pode acontecer um aumento excessivo do nível de iluminamento do ambiente, o
que, além de fugir das normas da ABNT, também acarreta desperdício de energia elétrica e
danos à saúde dos olhos.
Já as lâmpadas mistas também são ineficientes, pois possuem rendimento na casa
dos 30 lm/W, mas não necessitam de reator e também o investimento inicial é bastante
reduzido.
As de vapor de mercúrio apresentam rendimento em torno dos 50 lm/W e baixa
reprodução de cores, mas necessitam de reator para funcionar. Ainda vêm sendo bastante
utilizadas principalmente na iluminação pública, uma vez que possui custo inicial inferior
ao da vapor de sódio de alta pressão.
Um outro tipo de lâmpada disponível é a vapor de sódio de baixa pressão, que tem
uma excelente eficiência (em torno de 180 lm/W), mas por ser uma verdadeira fonte de luz
monocromática não apresenta temperatura de cor (baixa reprodução - IRC em torno de 20),
de forma que seu uso se restringe a usos especiais, como iluminação de segurança, quando
são utilizadas com alguns tipos especiais de sistemas com câmeras de vigilância.
Já as lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão (VSAP), que também têm uma
excelente eficiência (rendimento inferior a VSBP, em torno de 100 lm/W), vêm sendo
bastante utilizadas, uma vez que a fonte de luz está no lado amarelo do espectro de cores e
tem IRC em torno de 80. Seu uso tem se intensificado em iluminação pública,
especialmente através do incentivo do Programa RELUZ.
Como exemplo comparativo, uma lâmpada VS 70 W pode perfeitamente ser usada
em substituição a uma lâmpada de vapor de mercúrio 125 W, o que, além de trazer uma
redução de 44 % no consumo, ainda tem uma vida útil 60% maior (vapor de mercúrio:
15.000 horas e vapor de sódio: 24.000 horas – valores médios).
As lâmpadas multivapores metálicos utilizam tecnologia semelhante às anteriores,
mas utilizam metais e gases selecionados em sua fabricação com o intuito de aumentar a
reprodução de cores. Porém, a sua durabilidade ainda é baixa.
As lâmpadas de indução, que não possuem filamentos ou eletrodos e funcionam
pela ionização de gases devido a indução magnética, têm vida mediana de 60.000 h,
apresentam rendimento em torno de 75 lm/W e índice de reprodução de cor na casa de 80.
As lâmpadas VM possuem um eletrodo auxiliar para a partida da mesma, enquanto
que as VS e metálicas necessitam de um ignitor para a partida, o qual produz um pulso
elevado de tensão para ionizar os gases do tubo de descarga.
Com relação à vida útil de uma lâmpada, podemos citar que ela sofre depreciação
luminosa ao longo do tempo que está em operação, perdendo paulatinamente a capacidade
de emissão de luz, de forma que considera-se que uma lâmpada atingiu o seu fim de vida
quando não consegue mais ser acesa ou quando seu fluxo luminoso atinge um valor
mínimo estipulado.
As células fotoelétricas também vêm sendo bastante utilizadas, principalmente na
iluminação pública, para fazer o acionamento e desligamento de lâmpadas durante os
horários de ausência ou presença de luz natural, o que permite um controle razoável da
iluminação artificial e do seu consumo.
Já os sensores de presença e de movimento vêm tendo seu uso aumentado em
prédios residenciais e comerciais, especialmente para uso nos corredores, escadarias,
escritórios e áreas de armazenamento, principalmente por causa da recente redução nos
custos desses dispositivos, antes bastante inacessíveis.
Já para aplicações industriais, têm sido bastante utilizados os controladores lógico-
programáveis (PLCs) para controle de circuitos de iluminação artificial.
Dentre as ações mais simples que podem ser implementadas para aumentar a
conservação de energia elétrica no uso final iluminação, podem ser citadas:
-
Utilização de luminárias e lâmpadas mais eficientes;
-
Aproveitamento da iluminação natural nos ambientes sempre que possível;
-
Adoção de circuitos elétricos independentes e paralelos, permitindo que lâmpadas
próximas às janelas permaneçam desligadas durante o período diurno;
-
Utilização de sensores de presença em halls, escadarias de incêndio, salas com pouca
uso, etc;
-
uso de equipamentos gerenciadores de energia elétrica;
-
Limpeza das luminárias;
-
Emprego de luminárias dimerizáveis ou com fluxo luminoso controlável;
- Utilização de retrofit em luminárias, ou seja, reformar luminárias pelo acréscimo ou
substituição de materiais com melhores refletâncias (ver tabela 2.4), visando à melhoria
do iluminamento e redução do número de luminárias e lâmpadas existentes.
Tabela 2.4 - Refletâncias típicas
Materiais Refletância (%)
Ferro esmaltado a fogo
60 a 80
Aluminio polido
65 a 85
plastico metalizado
75 a 85
aluminio pos anodizado
80 a 86
Espelho de vidro
80 a 90
Alumínio reflectal
93 a 98
Com relação à limpeza de luminárias, pesquisas feitas com luminárias de IP nos
Estados Unidos mostraram que o rendimento das mesmas pode ser bastante comprometido
pela contaminação do meio. Essas pesquisas apontaram que mesmo as luminárias fechadas
são alvo da contaminação, pois, após 4 anos de uso e mesmo após limpeza interna e externa
do conjunto ótico, a perda observada foi 4%.
No caso de luminárias abertas, que não possuem difusor ou vidro, a perda de
rendimento chega a 54% após 6 meses de uso sem limpeza básica, sendo que a limpeza
recupera o rendimento para até 80% do valor original [ 27 ].
Já as luminárias com filtro de carvão ativado permitem a redução no fluxo de
apenas 10% ao longo de 10 anos, desde que as limpezas sejam feitas apenas quando da
substituição das lâmpadas em fim de vida útil.
Voltando à questão do retrofit em iluminação, há dois tipos possíveis de projetos de
revitalização para iluminação [ 25 ]:
a) aqueles em que há o redimensionamento do sistema de iluminação, quando são
aproveitados os espaços existentes, mas é realizada uma revisão parcial ou total do sistema
de iluminação, o que pode levar à redução, remanejamento ou ampliação de pontos e
luminárias;
b) os projetos simples, onde não há o redimensionamento do sistema de iluminação e são
mantidos os layouts do sistema.
O potencial de conservação do uso final iluminação [ 21 ] pode ser calculado a
partir da seguinte equação:
n
PC = 100. [1 – mín { Pi/Patual} ] [%] ( 2.13 )
i=1
( i varia de 1 a n)
Onde:
PC = potencial de conservação devido à mudança de tecnologia (%);
Pi = potência instalada do sistema projetado a partir da tecnologia i (W);
Patual = potência instalada operante (W);
n = número de diferentes tecnologias de iluminação propostas.
Vale ressaltar também que se uma unidade consumidora apresenta um elevado
consumo de energia elétrica no uso final iluminação por área útil e um baixo fator de carga,
é provável que haja um grande potencial de conservação nesse uso final.
Um gráfico que pode ser bastante útil nas análises do uso final iluminação é a
participação do uso das diversas tecnologias no sistema de iluminação em estudo. Para isso,
pode-se desagregar a potência instalada em iluminação por tecnologia utilizada, formando
uma pizza, ou seja, x % da potência instalada corresponde a lâmpadas incandescentes, y% a
lâmpadas mistas, z% a vapor de sódio, etc.
Com relação à iluminação industrial, pode-se afirmar que a maior preocupação na
época do projeto é que seja garantido que especialmente o setor produtivo tenha níveis de
iluminamento condizentes com as atividades realizadas, mesmo nos horários de pouca ou
nenhuma luminosidade natural, pois também representa um item importante no quesito
segurança.
Já para os escritórios as preocupações não são tão grandes, pois possuem
características construtivas bastante semelhantes às comerciais e residenciais, bastando que
sejam usadas as técnicas básicas, porém respeitando-se os valores de iluminância
recomendados pela NBR 5413.
Voltando às áreas de produção, os galpões geralmente são equipados com lâmpadas
de vapor de mercúrio ou de multivapores metálicos, acondicionadas em luminárias que
tendem a melhorar o fluxo luminoso. Porém, como a questão custo inicial é geralmente
levada em consideração no setor industrial, a escolha de lâmpadas e luminárias mais
eficientes nem sempre é posta em prática na hora da execução do projeto.
Porém, um fator que deve ser levado sempre em consideração é a eliminação do
efeito estroboscópico gerado, por exemplo, por lâmpadas fluorescentes acionadas por
reatores eletromagnéticos. Esse efeito pode ser verificado quando as lâmpadas piscam com
uma freqüência próxima ao dobro da freqüência de rede elétrica (120Hz), fazendo com que
os equipamentos girantes que possuam rotação nessa faixa pareçam estar sem movimento,
o que pode ser um fato gerador de acidentes de trabalho.
Principalmente nos galpões é quase sempre possível uma grande utilização de luz
natural, de forma que podem ser instalados basculantes, combogós, telhas translúcidas,
clarabóias, janelas e até mesmo refletores solares, como por exemplo telhado de uma
cobertura para a reflexão da luz natural para um determinado ambiente.
Com relação ao setor comercial, cabe destacar que é o que apresenta os maiores
índices de desperdício de energia por excesso de iluminação, pois a iluminação comercial
tem como objetivos principais o realce de produtos em exposição e da decoração da lojas,
mas muitas vezes os níveis de iluminamento são excessivos, o que compromete a qualidade
da iluminação como um todo.
Com relação à iluminação pública, conforme comentado no item que trata do
Programa RELUZ, o seu consumo anual é da ordem 10,3 TWh, o que corresponde a cerca
de 3,4% do consumo total de energia elétrica do Brasil. Além disso, é responsável por uma
demanda na ponta do sistema elétrico nacional de cerca de 2,2 GW.
Por sua grande importância tanto no que diz respeito à segurança pública e nos
aspectos relacionados ao sistema elétrico, esse tipo de iluminação deveria ter se
desenvolvido mais rapidamente com relação ao quesito eficiência energética, mas só
recentemente é que foram desenvolvidos e colocados no mercado brasileiro os reatores
eletrônicos para lâmpadas de descarga, possibilitando, assim, uma considerável redução nas
perdas por efeito Joule quando comparados aos reatores eletromagnéticos ainda bastante
utilizados. De qualquer forma, essa preocupação tem se traduzido em ações e colocada em
prática, principalmente após a implantação do Programa RELUZ.
Com relação às lâmpadas utilizadas na iluminação pública das cidades brasileiras,
as de vapor de mercúrio reinaram praticamente sozinhas por muito tempo, principalmente
pelo fato de terem sido a opção tecnológica de mais baixo custo às lâmpadas
incandescentes e mistas, além de apresentarem boa reprodução de cores.
Porém, com o desenvolvimento tecnológico por que passaram as lâmpadas de
descarga, que levou ao aumento de vida útil, melhor eficiência e redução de preços, as
lâmpadas de vapor de mercúrio vêm sendo paulatinamente substituídas por lâmpadas de
vapor de sódio de alta pressão e, em alguns casos, por lâmpadas de multivapores metálicos,
principalmente para iluminação de monumentos artísticos e prédios históricos, pois essas
lâmpadas possuem excelente reprodução das cores.
De maneira geral, a lâmpada vapor de sódio de alta pressão (VSAP) é a que mais
vem sendo aplicada na iluminação de locais em que a definição de cores não é uma
exigência, como ruas, avenidas e túneis, pois tem uma excelente eficiência luminosa, se
comparada a lâmpadas de vapor de mercúrio e de multivapores metálicos (tabela 2.5).
Tabela 2.5 – Comparativo entre lâmpadas OSRAM usadas na IP
Lâmpada Potência (W) Lúmens Vida média (h)
Vapor de mercúrio HQL 400 400 22.000 24.000
Vapor de sódio (Vialox NAV-T-
250-4Y)
250 28.000 32.000
Multivapores metálicos (HCI-TM
250)
250 26.000 12.000
Como um exemplo da utilização das lâmpadas VSAP na IP, vejamos o caso em que
uma lâmpada VM de 400 W vem sendo utilizada para iluminação de um determinado
logradouro público. A partir da tabela 2.5 podemos observar que é possível a substituição
do conjunto reator/lâmpada VM 400 W por um conjunto VSAP de 250 W, sem perda da
quantidade de lúmens ou necessidade de troca de luminária. Vale ressaltar que haverá
diminuição na qualidade de reprodução de cor. Apesar disso, esse tipo de substituição vem
sendo incentivada pelo Programa RELUZ, conforme detalhado no próprio manual técnico,
uma vez que permite a redução de pelo menos 37,5% no consumo e na demanda do
conjunto reator/lâmpada.
Em casos em que é necessária uma melhor reprodução de cores, o conjunto
reator/lâmpada VM 400 W pode ser substituído por um conjunto reator/lâmpada de
multivapores metálicos também de 250 W. Nesse caso, haverá a diminuição de cerca de
10% no nível de iluminamento, o que poderá ser compensado, se for realmente necessário,
por uma nova luminária que tenha melhor desempenho.
As luminárias têm, dessa forma, papel fundamental no sistema de iluminação
pública, pois permitem a utilização de lâmpadas com menor potência. Uma opção bem
interessante é, então, a substituição de luminárias de baixo rendimento por luminárias com
melhor tecnologia, que geralmente utilizam materiais com maiores refletâncias, têm
formato que aumentam o espalhamento e diminuem o ofuscamento.
Ultimamente os sistemas de acionamento da IP têm se desenvolvido com maior
rapidez. Porém, apesar de permitirem a utilização de acionamento remoto ou pré-
programado somente dos reatores eletrônicos de interesse, o que leva à redução de
desperdícios de energia elétrica, ainda são alternativas bastante caras.
Um ponto que não pode ser mais desconsiderado, haja vista as preocupações
ambientais, é o descarte de lâmpadas que contêm resíduos tóxicos. De acordo com a NBR
10.004, os produtos que contêm mercúrio (Hg), ao fim de sua vida útil, são considerados
resíduos perigosos, Classe I.
Como já comentado, as lâmpadas de descarga possuem mercúrio, substância tóxica
e nociva ao meio ambiente e ao ser humano. Dessa forma, as lâmpadas VM, VS,
fluorescentes e mistas, ao terem seus invólucros rompidos, liberam para a atmosfera
vapores que se espalham pela natureza, penetrando no organismo dos seres vivos através da
respiração. Por outro lado, o mercúrio, por suas características, também penetra no solo e
acaba contaminando os lençóis freáticos.
Dessa forma, é necessário o correto manejo, armazenamento e transporte das
lâmpadas em final de vida útil, a fim de passarem por um processo de descontaminação
pelas empresas autorizadas.
2.6.3.2 CONDICIONAMENTO DE AR E REFRIGERAÇÃO
Conforme já citado, no uso final condicionamento de ar o potencial de conservação
de energia elétrica no Brasil é da ordem de 10%. Isso se deve principalmente a projetos mal
dimensionados ou mal executados, nos setores industrial e comercial, a equipamentos
obsoletos ou de péssima qualidade, nos setores residenciais e comerciais, bem como à não
realização periódica da manutenção preventiva.
Antes, porém, de aprofundarmos o assunto, vale ressaltar alguns conceitos básicos:
- Carga térmica: quantidade de calor que é absorvida por um ambiente proveniente de
fontes de calor externas (diferencial de temperaturas, ar de ventilação, etc) ou internas
(pessoas, lâmpadas, equipamentos, vapor, ar infiltrado, etc). Pode ser expressa, dentre
outras unidades, em Watts, quilocalorias/hora (kcal/h) e BTU/h.
- Eficiência do condicionador: relação entre o efeito frigorífico (capacidade do
equipamento) e a potência requerida do compressor. Pode ser expressa em kJ/W.h ou
kW/TR.;
- Capacidade do condicionador: quantidade de calor que um aparelho de ar condicionado
deve retirar do ambiente a ser climatizado.
Para se calcular o potencial de conservação do uso final ar condicionado em relação
ao sistema em uso, faz-se a comparação do consumo atual desse uso final com o esperado
ao se utilizar equipamentos de tecnologia mais eficiente. Assim, pode-se utilizar a equação
abaixo:
Δ
= ][
*1000
*
kWh
EERi
tiCi
CE
( 2.14 )
Onde:
Ce é o consumo esperado mensal do uso final ar condicionado com a nova tecnologia - em
[ kWh];
Ci = capacidade do aparelho de ar condicionado i [BTU/h];
Δti = tempo de operação do aparelho de ar condicionado i [h];
EERi = eficiência do aparelho de ar condicionado i [BTU/h/W];
n = número de aparelhos de ar condicionado da instalação.
Essa equação não leva em consideração qualquer diminuição de carga térmica
havida em um ambiente proporcionada pela diminuição da irradiação da carga térmica
irradiada por outros equipamentos elétricos, como lâmpadas, ou por medidas de
eficientização energética. De qualquer forma, o cálculo preciso da carga térmica de um
ambiente não é fácil de ser realizado, pois depende de fatores, como a área útil, pé direito,
orientação solar, quantidade de pessoas, potência média dos aparelhos, materiais do piso e
paredes, móveis, etc.
Mas sempre que se for fazer um projeto de condicionamento de ar as condições para
o recinto devem ser definidas de acordo com a ABNT NBR 6401, principalmente
temperatura e umidade relativa, bem como deve ser feita a estimativa da carga térmica dos
ambientes, levantando as áreas de piso, paredes, divisórias, etc, bem como os elementos
construtivos utilizados na edificação, tais como os tipos de materiais das lajes, das paredes,
dos forros, das divisórias. Devem ser observadas também as fontes internas de dissipação
de calor, quais sejam: as pessoas, lâmpadas, equipamentos, vapor, infiltração de ar e
ventilação, etc.
Os equipamentos a serem especificados no projeto deverão ter capacidade para
atender às cargas térmicas calculadas (BTU/h) e ter uma eficiência mínima (kJ/W.h) a fim
de garantir o melhor consumo de energia elétrica para a edificação.
Os aparelhos de janela, conforme já comentado, vêm tendo seus níveis de eficiência
melhorados principalmente após a implementação do selo PROCEL, e, ainda assim, os
preços dos equipamentos têm se tornado mais acessíveis, de forma que já é possível
encontrarmos equipamentos de 7.000 BTU/h na casa dos R$ 500,00, o que era impensável
há alguns anos. Por outro lado, há uma tendência crescente de os aparelhos de janela serem
substituídos por equipamentos do tipo split, também já objeto de avaliação para concessão
do Selo PROCEL.. Isso tem sido notado fortemente no setor comercial, onde há a
necessidade de maior capacidade de condicionamento e com reduzido ruído audível,
geralmente também se traduzindo em redução no consumo de energia. Nesse setor também
são muito utilizados sistemas de ar condicionado central dos tipos self-contained, roof-top
ou de expansão indireta.
Os equipamentos do tipo split system são compostos por pelo menos duas unidades
interligadas por tubulações por onde o fluido refrigerante circula. A unidade evaporadora é
instalada no próprio ambiente e a unidade condensadora é colocada na área externa a fim de
realizar a troca de calor. Como possui a opção de trabalhar com apenas uma unidade
condensadora e várias evaporadoras, torna-se muito interessante para locais em que o
acesso a áreas externas para instalação de condensadores é difícil. Além disso, tem um bom
rendimento no condicionamento ambiental em comparação aos aparelhos de janela, uma
vez que o ar é condicionado em vários pontos, equalizando as temperaturas mais
rapidamente e com menor consumo. Outras vantagens dizem respeito à facilidade de
manutenção, o baixo nível de ruído, maior faixa de temperatura de operação em cada um
dos evaporadores, que são geralmente controlados por controle remoto.
As centrais compactas do tipo self-contained, como o próprio nome diz, possuem
todos os componentes necessários para realizar o condicionamento ambiental, quais sejam:
filtragem, refrigeração, umidificação, aquecimento, desumidificação e movimentação do ar,
geralmente em dutos espalhados pelos ambientes. Possuem sistemas de comando, controles
e segurança e, por serem compactos, são de fácil instalação e manutenção. Possuem
controles eletrônicos de temperatura na central de condensação, mas esse controle também
pode ser feito através da regulagem de aletas instaladas nos terminais das tubulações de
insuflamento de ar. Esse tipo de equipamento vem perdendo espaço para os split
principalmente por ter menor rendimento e maior consumo de energia elétrica.
Quando um equipamento self-contained é projetado para instalação no teto do
ambiente, ele recebe o nome de roof-top.
Os condicionadores de ar do tipo expansão indireta, muito utilizados em grandes
edifícios e shopping-centers, são compostos basicamente de central de resfriamento do
líquido (água gelada) ou chiller; unidades condicionadoras ou fan-coils, tubulações
hidráulicas, sistemas de água de resfriamento ou condensação, rede de dutos e distribuição
de ar e controles automatizados.
O componente principal desse tipo de condicionador é o chiller, onde estão as
unidades resfriadoras e as bombas de líquido, sendo responsável pelo resfriamento da água
e pelo controle de temperatura, pressão e vazão, o que é um dos motivos pelos quais há
redução no consumo de energia elétrica. Assim, após deixar o chiller, a água passa pelas
unidades climatizadoras (fan-coils), que na verdade são compostas por serpentinas, e os
ventiladores fazem com que o ar a ser resfriado passe pelo lado externo das serpentinas,
fazendo a troca de calor entre eles.
Com relação ao uso final refrigeração, lembramos que o potencial de conservação
de energia elétrica no Brasil é da ordem de 17%.
Esse percentual é maior no setor industrial, onde as câmaras frias são bastante
utilizadas e onde a mão-de-obra deve ser mais especializada, pois, além de ter um custo
maior de projeto, a montagem dos equipamentos é geralmente realizada no próprio local de
operação e não nas fábricas. Outrossim, a refrigeração industrial geralmente apresenta
problemas típicos de operação a baixas temperaturas.
A câmara fria, como o próprio nome diz, é um volume delimitado por paredes, não
necessariamente de tijolos, revestidas por materiais isolantes que impedem ou dificultam a
troca de calor com o meio externo. Esse isolamento térmico pode ser feito nas paredes
internas das câmaras ou mesmo entre as paredes. O sistema de refrigeração tem as mesmas
características utilizadas nas geladeiras e freezers. Para se conseguir um menor desperdício
de energia elétrica, podem ser construídas pequenas câmaras frias junto à porta de acesso,
denominadas de antecâmaras, que têm o objetivo de evitar trocas desnecessárias de calor
com o meio externo. Nessas antecâmaras podem também ser colocados os produtos que
serão armazenados nas câmaras frias, de forma que haverá troca de calor apenas entre esses
ambientes, garantindo também uma melhor qualidade de estocagem de produtos.
Alguns aspectos devem ser levados em consideração quando se deseja conservar
energia elétrica nos sistemas de refrigeração. Primeiramente, devem ser observados se os
níveis de temperatura estão adequados, pois se a temperatura medida em um ambiente com
condicionamento de ar ou em uma câmara frigorífica estiver abaixo da recomendada, o que
é muito mais comum do que parece, haverá um desperdício de energia elétrica fácil de ser
solucionado, bastando para isso apenas o ajuste correto do termostato.
2.6.3.3 FORÇA MOTRIZ
A maior participação no consumo de energia elétrica do setor industrial corresponde
ao uso final força motriz, que detém cerca de 51% do total consumido.
Desse total, cerca de 50% é consumido em motores de indução trifásicos [ 1 ]. Por
isso, já no ano de 1995, dentro do Programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE, o PROCEL,
o CEPEL e o INMETRO, em parceria com fabricantes, começaram a desenvolver
procedimentos para utilização nos ensaios desse tipo de motor afim de obter os índices de
eficiência dos motores disponíveis no mercado nacional, o que resultou na concessão do
Selo PROCEL para alguns dos modelos existentes à época.
Em 2002, também como efeito desse processo de eficientização, foi publicado o
Decreto nº. 4.508/2002 que definiu níveis mínimos de eficiência energética para os motores
trifásicos de indução com rotor gaiola de esquilo a serem comercializados no país.
De lá para cá, o resultado dessa iniciativa tem sido o aumento sistemático dos
rendimentos médios dos motores etiquetados e comercializados. Para isso, o PROCEL vem
classificando esses motores nas categorias padrão e alto rendimento, sendo que o Selo es
presente em equipamentos de todas as potências padronizadas na faixa de 1 a 250 CV.
Esses motores, apesar de serem considerados como intrinsicamente eficientes,
apresentam grande potencial de conservação, uma vez que a aplicação dos mesmos
geralmente é feita de forma ineficiente [ 1 ].
Os motores categorizados como de alto rendimento passam por um processo fabril
diferente do dos motores tipo padrão, pois neles há uma preocupação maior com a redução
das perdas e do conseqüente consumo de energia, de forma que são conseguidas reduções
de até 30% nas perdas. Para isso, são necessárias algumas modificações construtivas, tais
como a utilização de uma quantidade maior de cobre nos enrolamentos do estator,
utilização de chapas magnéticas de melhor qualidade para permitir a redução das perdas no
ferro e da corrente de magnetização, utilização de rolamentos especiais que apresentem
perdas por atrito menores, melhoria do sistema de ventilação e do isolamento térmico do
estator e rotor, etc.
No setor de saneamento, a maior parcela do consumo de energia elétrica es
relacionada aos conjuntos motobomba instalados no sistema de captação, tratamento e
distribuição da água potável, bem como no sistema de estações elevatórias de esgoto.
A maioria dos sistemas de bombeamento existentes nas concessionárias de
saneamento brasileiras foram projetados e construídos, de uma maneira geral, sem que a
preocupação com o consumo e a demanda de energia elétrica fossem uma consideração
fundamental, visto que esse custo era subsidiado, a energia era mais barata e abundante, e
não havia grandes preocupações com as questões ambientais.
Vale, então, ressaltar que o rendimento do conjunto motobomba é a relação entre a
potência hidráulica de saída e a potência elétrica de entrada do motor. Enquanto esta é
função da tensão de alimentação, da corrente e do fator de potência, aquela é função da
vazão e da altura manométrica na bomba.
Assim, rendimentos baixos do conjunto motobomba podem ser atribuídos a várias
causas. Dentre elas podemos destacar: motores sobredimensionados, que acionam cargas
muito inferiores a sua capacidade nominal; motores subdimensionados; rotores mal
dimensionados ou desgastados; e motores que já passaram por pelo menos um processo de
rebobinamento.
É importante acrescentar que, assim como ocorre com outros usos finais, a simples
substituição de motores por outros mais eficientes não é garantia necessariamente de
ganhos significativos de eficiência, pois as condições do próprio sistema podem limitar os
resultados esperados.
Para assegurar a melhoria no rendimento dos processos relacionados ao saneamento,
todas as medidas devem ser bastante estudadas para se tornarem factíveis, técnica e
economicamente. Essas medidas incluem, além da troca de motores por outros de
rendimento superior, substituições de bombas, intervenções para melhoria nas
características das bombas, a implementação de automação para assegurar confiabilidade e
precisão da operação, a utilização de equipamentos para partida de motores, tais como
chaves compensadoras, softstarters, etc.
CAPÍTULO 3
CONSERVAÇÃO NO SETOR RESIDENCIAL
3.1 INTRODUÇÃO
O presente capítulo apresenta conceitos fundamentais associados ao aspecto
da conservação de elétrica enfatizando cargas residenciais. O objetivo é fornecer
informações não apenas técnicas, mas também sobre o que tem sido feito, e está sendo
planejado, no Brasil.
3.2 PROGRAMA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA O BRASIL – PEE
Como já apresentado no item 1.4 deste trabalho, no consumo total de energia
elétrica do Brasil a participação da classe residencial, bem como da comercial, vem
aumentando com alguma significância quando comparadas às demais classes. Isso se deve
principalmente à facilitação dos meios de aquisição de novos eletrodomésticos e
equipamentos eletroeletrônicos [ 13 ] na busca pelo conforto e lazer e ao aumento do tempo
de permanência dos moradores em suas residências, notadamente nas áreas urbanizadas,
onde a questão da falta de segurança é acentuada. Conseqüentemente, há um aumento da
carga residencial instalada e do consumo de energia elétrica devido também à maior
utilização dos equipamentos.
Assim, para exemplificar de que maneira a energia elétrica vem sendo utilizada
pelos consumidores residenciais brasileiros, e por ser a classe residencial considerada
bastante difusa, serão utilizados neste trabalho parte dos resultados, recém divulgados, da
pesquisa de posse de equipamentos elétricos e hábitos de uso realizada pela
ELETROBRÁS/PROCEL, no âmbito do “Programa de Eficiência Energética para o Brasil
– PEE” [ 16 ]. Nesse trabalho foram verificados também fatores como condições sócio-
econômicas e satisfação dos consumidores, qualidade do fornecimento de energia elétrica
pelas concessionárias, comportamento dos consumidores devido ao racionamento de
energia ocorrido entre 2001 e 2002, qualidade da iluminação pública, etc.
A referida pesquisa de campo foi efetuada entre dezembro de 2004 e julho de 2006
e abrangeu 18 estados e 21 concessionárias de energia, representando 92% do mercado.
Para isso, contou com recursos doados pelo Global Environment Facility – GEF repassados
pelo Banco Mundial – BIRD, tendo sido pesquisados 9.874 domicílios, dos quais foram
selecionados 4.310 por meio de tratamento estatístico (Rede Neural Artificial de Kohonen –
SOM: Self Organization Map). O relatório da pesquisa assegura que o erro máximo nos
cálculos de intervalos de confiança de 95% nas estimativas de proporções é de
aproximadamente 1,5%, se o pior caso for levado em consideração.
A pesquisa teve como objetivo principal a quantificação da tipologia da posse de
equipamentos de uso residencial que consomem energia elétrica e obter a declaração da
utilização dos mesmos. Para tal foram utilizados questionários para coleta de informações
em campo, nos quais constavam, além dos quesitos já comentados, a previsão de aquisição
de novos eletrodomésticos nos próximos meses e quais medidas foram adotadas pelos
consumidores durante o já citado período de racionamento.
Uma constatação da pesquisa que será de suma importância nesta dissertação, pois é
utilizada para representar o consumidor residencial típico do Estado do Maranhão, é que
mais de 2/3 das unidades residenciais brasileiras têm um consumo mensal de energia
elétrica inferior a 200 kWh.
O racionamento de energia elétrica ocorrido em 2001 certamente teve efeito na
posse e uso de equipamentos elétricos, pois, segundo a pesquisa, cerca de 86,8% dos
entrevistados declarou ter adotado alguma medida para economizar energia elétrica durante
o racionamento. Além disso, a maioria informou que utiliza da mesma forma que antes do
racionamento, a geladeira e o chuveiro elétrico. Houve significativa redução na utilização
das lâmpadas e no uso de máquinas de lavar roupas após esse racionamento. Cabe ressaltar
o significativo percentual (6,2 %) de lâmpadas substituídas por outras mais eficientes.
Com relação ao fornecimento e qualidade da energia elétrica percebida pelos
consumidores, cerca de 20% das unidades consumidores teve interrupção no fornecimento
nos 15 dias anteriores à pesquisa, mais de 17% reclamaram de queda nos níveis de tensão
observada pela redução nos níveis de iluminação, e 21% reclamaram que houve queima de
2 ou mais lâmpadas nos últimos três meses anteriores à pesquisa. Esses dados,
corroborados pelos “Índices ANEEL de Satisfação do Consumidor – IASC” indicam que a
qualidade do fornecimento de energia elétrica no Brasil ainda deixa a desejar. Foram
consideradas as variações nos níveis nominais de tensão quando das simulações realizadas
em laboratório e apresentadas no Capítulo 4 deste trabalho.
Assim, os percentuais significativos de queima de lâmpadas observadas na citada
pesquisa e os eventos relacionados com as quedas de tensão podem ser indicadores da
necessidade de implementação de medidas corretivas, objetivando a melhoria na qualidade
da eletricidade entregue aos consumidores residenciais.
Outras informações relevantes extraídas da pesquisa mostram que mais da metade
(54,3%) dos domicílios brasileiros possui área construída menor ou igual a 75 m² e uma
média de 3,31 pessoas por domicílio no Brasil (no Nordeste esse número aumenta para
3,54).
A pesquisa constatou que a participação do consumo residencial de energia elétrica
no Brasil, da ordem de 22,2%, já alcança índices semelhantes aos observados nos períodos
que antecederam o racionamento de 2001/2002. Outra informação bastante interessante da
pesquisa é a participação dos eletrodomésticos (por tipo) no consumo residencial do país, o
que pode ser observado na figura 3.1, onde nota-se que o uso final refrigeração, formado
neste caso por geladeiras e freezers, representa mais de um quarto do consumo residencial,
alcançando cerca de 27%.
Figura 3.1 – Participação das cargas no consumo
final residencial brasileiro
Consumo final das cargas residenciais no Brasil
14%
24%
5%
20%
9%
3%
3%
22%
Lâmpadas
Chuveiro
Freezer
Ar condicionado
TV
Som
Ferro
Geladeira
Com relação aos televisores, eles estão presentes em 97,1 % dos domicílios
brasileiros e é o aparelho com a maior posse média entre os eletrodomésticos, da ordem de
1,41 (superior a um televisor por domicílio), sendo que a maior posse está na região Sul,
com 1,63, e menor posse na região Norte, com 1,16. A Região Nordeste apresenta posse
média de 1,30, e o equipamento está presente em 97% dos domicílios nordestinos.
Foi constatado também que mais de 85,3% dos aparelhos de televisão possuem
menos de 10 anos de fabricação, o que pode sinalizar que o baixo percentual de aparelhos
com mais de 10 anos esteja relacionado à vida útil desse tipo de eletrodoméstico. Verificou-
se também que 82,8% dos entrevistados utilizam bastante os televisores, ou seja, mais de 4
vezes por semana.
Um dado bastante importante, que tem relação direta com o consumo mensal de
energia elétrica residencial, é que em 55,5% dos domicílios a função standby dos
televisores é utilizada. O outro eletrodoméstico que também tem um índice razoável de
utilização dessa função é o aparelho de som, com 26,9%. De acordo com pesquisa realizada
nos Estados Unidos [ 28 ], há uma grande variação no consumo desses dispositivos.
Analisando todos os dispositivos de standby instalados em 10 residências da Califórnia
(com uma a cinco pessoas e de classes diferentes), as potências totais por residência
variaram de 14 a 169 W, mas a média de consumo desses aparelhos ficou na ordem de 67
W por residência, o que corresponde a 5% - 26% do consumo anual dessas casas. Vale
ressaltar que o consumo residencial médio brasileiro é bastante diferente, pois a média de
consumo anual dessas 10 casas é da ordem de 6.769 kWh/ano, contra 1.701 kWh/ano das
brasileiras.
O consumo dos dispositivos de standby começaram a se tornar uma preocupação da
comunidade internacional a partir de 1997 na Alemanha e Japão. O fato é que várias
pesquisas demonstraram que esse consumo pode corresponder a mais de 10% do consumo
de eletricidade da classe residencial de uma nação. Segundo ainda a pesquisa, os aparelhos
que apresentaram as maiores perdas foram as televisões, com perdas que variavam de 2,5 a
6,4 W por aparelho.
Mas um dado importante observado foi que os fabricantes são capazes de reduzir as
perdas desses dispositivos sem comprometimento de desempenho, de forma que as perdas
podem cair até 68%, se os dispositivos de standby forem substituídos por outros com
consumo de até 1 W por aparelho.
Como esses dispositivos não podem ser desligados a menos que sejam retirados da
tomada, continuam drenando energia da rede, mesmo sem cumprirem sua função principal.
O fato é que mesmo que esse dispositivo consuma 4 W, um televisor que o contenha
consumirá por mês o equivalente a 3 kWh só com essa função, o que corresponde a cerca
de 3,5% do consumo mensal de um consumidor residencial do Estado do Maranhão.
Voltando à pesquisa de posse e hábito de uso, foram obtidos dados que confirmam a
posse significativa dos seguintes eletrodomésticos: ferro elétrico (0,93), liqüidificador
(0,82), circulador de ar/ventilador portátil (0,78), aparelho de som (0,74) e máquina de
lavar roupa (0,64). Vale ressaltar que o ferro elétrico teve uso declarado de 1 a 3 vezes por
semana por 54,4% dos entrevistados. Apesar de ser um equipamento de alto consumo de
eletricidade, a sua participação no consumo mensal de uma residência brasileira é da ordem
de apenas 3%.
Com relação aos fornos de microondas, 29,9% dos domicílios brasileiros possuem
pelo menos um, número esse que no Nordeste cai para 14,6%. Já com relação aos
ventiladores de teto, 24,5% dos domicílios brasileiros possuem pelo menos um. Na Região
Nordeste 19 em cada 100 domicílios dispõem desse tipo de eletrodoméstico.
A máquina de lavar roupas está presente em 64% dos lares do país e em apenas 35%
dos nordestinos.
Nessa mesma pesquisa, como era de se esperar, pode-se observar que se forem
considerados os consumidores residenciais do Nordeste do Brasil, há uma variação
acentuada na participação do chuveiro elétrico de 24 para 9%, e do ar condicionado de 20
para 27% (Figura 3.3).
Figura 3.2 – Posse média de outros eletrodomésticos
Uma outra constatação de destaque na pesquisa é que, apesar estarem presentes em
23,2% dos lares brasileiros, em 21,81% dos casos os freezers não estão sendo mais usados
para estocar alimentos.
Figura 3.3 – Participação das cargas no consumo
final residencial - Nordeste
0,35
0,32
0,25
0,23
0,14
0,09
0,30
0,47
0,50
0,00
0,15
0,30
0,45
0,60
Rádio elétrico
Vídeo cassete
DVD
Microcomputador
Impressora
Vídeo game
Microondas
Batedeira
Ventilador de
teto
C
onsumo final das cargas residenciais no Nordeste
11%
9%
5%
27%
11%
5%
3%
29%
Lâmpadas
Chuveiro
Freezer
Ar condicionado
TV
Som
Ferro
Geladeira
3.3 O CONSUMIDOR BRASILEIRO – O ESTADO DO MARANHÃO
Para um melhor entendimento de como se comportam as cargas residenciais de um
consumidor típico com consumo mensal de até 200 kWh, assume-se como base uma
unidade consumidora da área de concessão da Companhia Energética do Maranhão –
CEMAR. Mas para isso, primeiramente, é necessário conhecer algumas informações do
mercado consumidor do Estado do Maranhão e da respectiva concessionária de distribuição
[ 29 ].
O Estado do Maranhão possui uma área de cerca de 333.000 km2 , correspondente a
3,91% do território brasileiro, e tem uma população (residente em 1º de abril de 2007), de
6.117.996 habitantes segundo a Contagem da População 2007 [ 30 ] divulgada pelo IBGE
no Diário Oficial da União de 05/10/2007, o que equivalente a 3,3% da população
brasileira.
A CEMAR é a concessionária de distribuição que atende a toda a área citada, sendo
que, segundo a Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (ABRADEE),
ao final de 2005, era a segunda maior distribuidora de energia elétrica do Nordeste em
extensão de área de concessão, com 21,4 % do total, mas somente a quinta em termos de
consumo de energia, com apenas 7,0 %, o que será melhor comentado a seguir.
Essa concessionária possuía ao final de 2006, 1.348.877 [ 29 ] consumidores de
energia elétrica, tendo tido um crescimento no número de consumidores da ordem de 7,5%
em relação ao ano anterior, a maioria dos quais devido ao Programa Luz para Todos
(PLPT) do Governo Federal, que possibilitou a conexão de novos 62.931 clientes
adicionais somente no ano de 2006. Foram investidos mais de R$ 169 milhões, sendo
86,7% financiados a fundo perdido com recursos da CDE e 13,3% com recursos da RGR,
disponibilizados pela ELETROBRÁS. Com isso, já foram adicionados no total mais de
103.000 novos consumidores à rede de distribuição da concessionária através do PLPT.
As Tabelas 3.1 – 3.3 e as Figuras 3.4 e 3.5 mostram comparações entre o sistema
elétrico nacional e a concessionária de distribuição que atende o Estado do Maranhão.
Tabela 3.1 – Dados comparativos da CEMAR frente ao setor elétrico nacional
BRASIL CEMAR
HIDRELÉTRICA 84% da energia produzida é
de origem hidráulica (inclui a
parcela paraguaia de Itaipu)
96% da energia elétrica vem
da UHE Tucuruí (Pará)
Nº DE CONSUMIDORES 56 milhões 1.348.877
LINHAS DE
TRANSMISSÃO
67.000 km 30.485 km de linhas de
distribuição (alta, média e
baixa tensão)
FATURAMENTO ANUAL R$ 32 bilhões R$ 560 milhões
Tabela 3.2 – Comparação do consumo por segmento - CEMAR e setor elétrico nacional
Consumo por segmento BRASIL CEMAR - MARANHÃO
INDUSTRIAL 46,7 % 14,2 %
RESIDENCIAL 22,2 % 43,1 %
COMERCIAL 14,3 % 21,1 %
PÚBLICO/RURAL 12,9 % 9,1 %
OUTROS 3,9 % 12,5 %
Tabela 3.3 – Número de consumidores e consumo por segmento - CEMAR
2005 2006
SEGMENTO
Nº.
consumidores
Consumo
(MWh)
Nº.
consumidores
Consumo
(MWh)
Residencial 1.080.495 1.127.170 1.150.936 1.202.396
Industrial 9.262 441.741 9.566 396.349
Comercial 94.176 552.358 99.249 590.312
Outros 70.466 729.155 89.126 603.702
T O T A L 1.254.399 2.917.424 1.348.877 2.792.759
Figura 3.4 – Percentual do quantitativo de consumidores da CEMAR
Figura 3.5 – Participação dos segmentos no consumo total de energia - CEMAR
1%
7%
7%
85%
Residencial
Industrial
Comercial
Outros
43,1%
14,2%
21,1%
21,6%
Residencial
Industrial
Comercial
Outros
3.4 REFRIGERAÇÃO RESIDENCIAL
Nos domicílios, os equipamentos responsáveis pela refrigeração são as geladeiras e
os freezers. De acordo com a pesquisa de posse e hábito de uso de equipamentos
residenciais [ 13 ], os refrigeradores estão presentes, em média, em todos os domicílios
brasileiros (Figura 3.6). Essa pesquisa indicou que na faixa de consumo de 0 a 200
kWh/mês, apenas 5,2% dos domicílios brasileiros não possuíam refrigerador. Se levarmos
em conta apenas a Região Nordeste, 6,6%, em média, dos domicílios não têm esse
equipamento. Na faixa de 0 a 200 kWh/mês, 91,9% já contam com esse eletrodoméstico.
A pesquisa também comprova que 76,9% dos refrigeradores têm tempo de
funcionamento (idade) inferior a 10 anos e que quase 40% têm até 5 anos de uso, o que
sinaliza que uma boa parte da população já dispõe de equipamentos eletricamente
eficientes. Isso pôde ser comprovado, pois 43,3% dos que adquiriram novas geladeiras
disseram que consideraram o consumo de energia elétrica apresentado na etiqueta do PBE.
Isso tem grande relevância para a conservação de energia, pois nos domicílios que a
possuem, a geladeira é usada permanentemente em 97,3 % dos casos.
Figura 3.6 - Posse média dos refrigeradores no Brasil e regiões
1,00
0,95
0,95
1,02
1,02
1,01
0,80
0,85
0,90
0,95
1,00
1,05
1,10
Brasil
Norte
Nordeste
Centro-
Oeste
Sudeste
Sul
Com relação à posse e uso de freezer, a pesquisa mostrou que 24% das residências
possuem esse equipamento. Na Região Nordeste esse percentual cai para 18%. Outra
informação importante é que quase 90% (88,5%, para ser mais exato) dos freezers possuem
menos de 10 anos de fabricação, o que indica, além de que já possuem certos níveis de
eficiência, que só há uma década o seu uso começou a se popularizar. Porém, também é
digno de nota que em 21,9% das residências que o possuem, o seu uso não é permanente.
Com relação às características, os freezers e geladeiras têm basicamente o mesmo
princípio de funcionamento, diferindo somente na temperatura interior, pois ambos têm o
objetivo de retirar o calor existente no seu interior e fornecer a temperatura adequada para a
conservação e congelamento de bebidas e alimentos.
De maneira geral, o calor existente no interior do freezer ou da geladeira é
absorvido no evaporador por um fluido refrigerante, o qual é levado, por circulação forçada
a partir de um compressor, em uma serpentina que funcionará como um condensador. Essa
serpentina geralmente é instalada na parte externa do ambiente a ser refrigerado para que o
calor presente no fluido seja descarregado no ambiente externo, de forma que o fluido perca
temperatura e retorne às paredes internas do ambiente a ser refrigerado, onde novamente
absorverá calor e recomeçará o processo (Figura 3.7), de forma que continuará a troca de
calor até que a temperatura desejada seja alcançada. O ajuste da temperatura é normalmente
feita a partir de um termostato e o evaporador também é denominado de congelador.
Figura 3.7 – Composição básica de um refrigerador
Como pode ser deduzido, a rapidez com que o equipamento faz a troca de calor com
o meio ambiente é fundamental para a eficiência do processo, pois menos tempo será
necessário para o compressor fazer o fluido refrigerante circular, o que reflete no menor
consumo de energia elétrica. Além disso, o próprio rendimento do compressor e sua
qualidade de fabricação são fundamentais para a redução do consumo de energia.
Desta forma, para se melhorar a eficiência de todo esse processo, não só o sistema
de vedação (principalmente borrachas) que tem que estar em boas condições, como também
o equipamento deve estar instalado em local com boa ventilação, à sombra e distante de
fogões, paredes aquecidas pelo sol e outras fontes de calor. Por ser a geladeira o
eletrodoméstico responsável pelo maior consumo de energia elétrica nas residências
brasileiras, em especial no Nordeste, é que saem as dicas de conservação de energia elétrica
geralmente presentes nos sites das principais concessionárias de energia elétrica [ 31 ]:
-
Verifique as borrachas de vedação das portas (pois como dito, o sistema de vedação é
fundamental na redução do consumo de energia e um aparelho com sistema de vedação
estragado tenderá a permanecer ligado por maior tempo, devido à perda de ar frio,
fazendo que sua temperatura interna demore a alcançar, ou nunca alcance, a
temperatura de desligamento);
-
Instale a geladeira em local bem ventilado, desencostada de paredes ou móveis, fora de
alcance dos raios solares e distante do fogão e máquina de lavar pratos (já explicitado);
-
Não utilize a parte traseira da geladeira para secar panos e roupa. Deixe-a livre e
desimpedida (pois isso dificulta a troca de calor do fluido refrigerante, fazendo o
compressor trabalhar mais);
-
Siga as orientações do fabricante ao instalar, limpar, regular e manter a geladeira;
-
Não abra a geladeira sem necessidade. Crie o hábito de colocar ou retirar alimentos e
bebidas de uma só vez;
-
Não coloque alimentos ainda quentes na geladeira (pois a troca de calor permanecerá
por mais tempo);
-
Não coloque líquidos em recipientes sem tampa na geladeira;
-
Evite forrar as prateleiras para não impedir a circulação interna de ar frio;
- Verifique se a temperatura do congelador e o volume interno são adequados às suas
necessidades e regule o termostato adequadamente em estações frias do ano (consultar o
manual do fabricante);
-
Refrigeradores e freezers, lado a lado ou twins, consomem de 7% a 13% mais do os
modelos duplex ou combinados;
-
Faça o degelo sempre que necessário (pois o gelo é um bom isolante térmico e o seu
acúmulo dificulta a troca de calor, exigindo o funcionamento do sistema de refrigeração
por um período muito maior).
Bastante em função da criação do Selo PROCEL, esses equipamentos tiveram uma
melhoria tecnológica bastante significativa nos últimos 20 anos, tendo sido desenvolvidos
novos materiais isolantes para melhorar o isolamento térmico e a troca de calor entre o
fluido e o meio externo.
Além disso, devido ao Protocolo de Montreal, que passou por revisão em 1990
tendo o Brasil como signatário, houve uma revolução nos sistemas de refrigeração com a
redução e posterior substituição dos clorofluorcarbonetos, os famosos CFCs, que eram
utilizados como fluidos refrigerantes. Como já informado nos tópicos anteriores, os CFCs
trazem danos ao meio ambiente e por isso foram substituídos paulatinamente por outros
fluidos que também têm a característica de fluidos refrigerantes, mas que minimizam o
impacto ambiental.
Um outro ponto de grande relevância, mas que não tem merecido a devida atenção
dos órgãos normatizadores e reguladores, especialmente da ANEEL, são os baixos níveis
de tensão de fornecimento das concessionárias. De acordo com ensaios realizados pela
Comissão de Serviços Públicos Estaduais de São Paulo – CSPE, um fornecimento com
tensão 9,4% menor que a tensão nominal, faz com que o consumo de um refrigerador
residencial com potência média de 170 W operando 9 horas por dia (média) aumente 6,16%
(Tabela 3.4).
Tabela 3.4 – Consumo de um refrigerador alimentado com tensões diferentes da nominal
Tensão no ponto de
entrega (V)
Percentual da queda
de tensão em relação
à nominal (%)
Consumo diário
(kWh)
Consumo em relação
ao com tensão
nominal (%)
127 0 1,53 100
120 5,5 1,58 102,8
115 9,4 1,62 106,16
Segundo essa mesma fonte, em 2000, 83,63% dos consumidores da área da Grande
São Paulo recebiam tensão de entrada da concessionária na faixa de 115 V. Pelas
estatísticas apresentadas pelo estudo, existiam nessa área cerca de 3.412.000 refrigeradores,
que consumiam 2.017,52 GWh por ano. Se todos esses consumidores estivessem sendo
atendidos em tensão nominal de 127 V, o consumo anual baixaria para 1.905,43 GWh, ou
seja, houve um desperdício estimado de 112,09 GWh somente no ano de 2000, o que
corresponde ao consumo anual de cerca de 65.873 domicílios brasileiros, se utilizarmos a
média de consumo residencial de 2005 divulgada pelo BEN 2006.
3.5 AQUECIMENTO DE ÁGUA
O aquecimento de água em um domicílio pode chegar a representar mais de um
quarto do consumo de energia elétrica, a exemplo das residências da Região Centro-Oeste,
onde o aquecimento de água para banho é responsável por 28% do consumo mensal, o que
faz com que esse uso final seja de extrema importância para a análise do comportamento
das cargas residenciais. Assim, precisamos relacionar os sistemas de aquecimento de água
mais utilizados nas residências brasileiras, sendo estes:
• chuveiro elétrico;
• aquecedor elétrico de passagem;
• aquecedor elétrico de acumulação;
• aquecedor a gás de passagem;
• aquecedor a gás de acumulação;
• aquecedor solar de acumulação com backup elétrico.
Quase na totalidade das residências, o principal objetivo do aquecimento de água é
para ser utilizada no banho. A pesquisa de posse e uso [ 13 ] de equipamentos elétricos
residenciais demonstrou que 80,9 % dos domicílios brasileiros aqueciam a água do banho
de alguma forma e 18,2% não aqueciam. Outra informação importante é que a fonte
utilizada para aquecimento de água para banho em 73,5% dos casos era a eletricidade; o gás
correspondia a 5,9% e apenas 0,4% usavam aquecimento solar.
Vale ressaltar que, dos sistemas que usavam energia elétrica como fonte de
aquecimento, o chuveiro elétrico respondeu pela quase totalidade, com a parcela de 99,6%.
Assim, o chuveiro elétrico é encontrado na maioria (73,3%) das residências brasileiras,
sendo o principal responsável pelos 24% do total de energia elétrica consumida nesse setor.
O seu uso é bastante difundido na sociedade principalmente pelo baixo custo do
investimento inicial, pela facilidade de instalação e por quase não precisar de manutenção.
Assim, os dados relativos ao aquecimento de água, principalmente para o banho, são de
extrema importância para as ações direcionadas de eficiência energética, principalmente se
levarmos em conta que na região Sul seu uso atinge praticamente a totalidade das
residências, com 98,6% dos domicílios tendo pelo menos um chuveiro elétrico (a posse
média de chuveiro elétrico no Brasil é de 0,89). Na Região Nordeste, foco principal das
simulações deste trabalho, a posse média do chuveiro elétrico é de 0,4 e o percentual de
domicílios que possuem pelo menos um desses equipamentos é de 30,3%. Porém, com
relação ao consumo, sua participação é de apenas 9% do total.
O chuveiro elétrico é um equipamento que aquece a água por meio de uma
resistência elétrica e geralmente é fabricado com potências que variam de 3.000 W a 8.000
W, o que faz com que o consumo seja bastante alto, mesmo sendo utilizado em espaços de
tempo relativamente curtos. Apesar de permitir algumas regulagens, fornece um nível de
conforto baixo devido à pouca variação de temperatura.
Como possui uma demanda instantânea elevada e é muitas vezes utilizado no
período de ponta do sistema elétrico brasileiro, entre 18:00 h e 21:00 h, o chuveiro elétrico
é responsável por cerca de 45 a 50% da carga domiciliar nas horas de pico de consumo
residencial, entre 18h e 20 horas, o que faz com que o setor elétrico seja obrigado a fazer
elevados investimentos para garantir o suprimento de energia nesse horário. Assim, o
chuveiro elétrico tem sido o alvo principal de programas de incentivo à implementação da
tarifa amarela principalmente nas Regiões Sul e Sudeste.
Um dado importante também obtido a partir da pesquisa de posse e uso [13] é que
22,1% daqueles que dispõem de chuveiro elétrico em suas residências já não o utilizam
tanto quanto faziam no período anterior ao racionamento de 2001, quando tinham que
cumprir uma meta compulsória de redução no consumo de energia elétrica da ordem de
20% na maioria dos casos.
Por ser o chuveiro elétrico o equipamento responsável pela maior demanda no
horário de pico, em especial nas Regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, e também por boa
parte do consumo de energia elétrica nas residências brasileiras é que as principais
concessionárias de energia elétricas divulgam dicas de conservação de energia elétrica, tais
como [ 31 ]:
- Nos dias quentes, utilize o chuveiro com a chave na posição "verão". Na posição
"inverno" o consumo de energia elétrica é 30% maior;
- Banhos mais demorados são mais dispendiosos; o tempo recomendado para o banho é de
8 minutos;
- Procure limpar periodicamente os orifícios de saída de água do chuveiro;
- Evite o seu uso no horário de ponta (entre 18:00 e 21:00 h).
Com relação ao tempo médio de utilização do chuveiro elétrico por pessoa quando
do banho, foram obtidos os seguintes dados, constatando que a maioria das pessoas gasta
até 10 minutos (Figura 3.8).
Obs: Ns/Nr corresponde a não soube e não respondeu, respectivamente.
Figura 3.8 - Tempo médio de utilização do chuveiro elétrico por pessoa
Há uma tendência de crescimento do uso da energia solar como fonte de
aquecimento de água residencial, principalmente nas classes média e alta.. A principal
vantagem, além de que a geração de resíduos é praticamente estrita à fabricação do sistema
e de que é uma fonte energética renovável e limpa, pois a sua utilização não polui a água, ar
ou solo, não oferecendo riscos à saúde das pessoas, é que ela é totalmente gratuita, não
podendo ser taxada, racionada ou controlada de alguma forma por nenhum governo ou país.
Nesse quesito, o Brasil é considerado como o segundo colocado mundialmente quando se
considera a potencialidade de um país no aproveitamento da energia solar, pois possui a
maioria do seu território, em praticamente todas as regiões, localizada na região
considerada como de elevado potencial de energia solar. Vale ressaltar que estudos
científicos comprovaram que a substituição do chuveiro elétrico por um sistema solar de
aquecimento de água garante o retorno do investimento em pouco mais de 2 anos [ 32 ].
48,30%
19,90%
4%
0,90%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
< 10 min 10 a 20
min
> 20 min Ns/Nr
O processo de etiquetagem para coletores solares pelo PBE e PROCEL iniciou-se
em 1996, mas os primeiros modelos etiquetados foram disponibilizados ao público somente
em 1998. Já para os reservatórios térmicos o Selo PROCEL INMETRO de Desempenho
vêm sendo concedido desde 2002, o que vem trazendo melhorias contínuas nas eficiências
dos sistemas solares de aquecimento de água.
Uma opção que vem sendo utilizada principalmente para residências de moradores
considerados como de baixa renda é a instalação de uma caixa d’água, coberta por uma
espécie de tinta preta que favorece a absorção de calor, acoplada a uma tubulação
específica para o chuveiro tradicional, de forma que a água acumulada e aquecida durante o
período matutino e vespertino, possa ser utilizada também durante à noite, evitando, assim,
a utilização do chuveiro elétrico. Essa iniciativa começou através de um projeto constante
do Programa de Eficiência Energética da CEB e vem sendo utilizada em algumas regiões
do Sul e Sudeste.
Outra opção que vem ganhando terreno é o aquecimento solar de baixíssimo custo
(cerca de R$ 300,00), onde garrafas tipo pet são utilizadas como coletores solares e
colocadas nos telhados ou lajes de residências, de forma que a água aquecida circula nos
dutos específico, sendo armazenada em reservatório térmico para posterior utilização.
3.6 CONDICIONAMENTO DE AR
Realizar o condicionamento de ar de um ambiente delimitado é controlar ao mesmo
tempo a temperatura, a umidade, a pureza e a movimentação do ar, mantendo esse controle
independentemente das condições climáticas do meio externo. Nos ambientes residenciais
sua finalidade principal é o controle da temperatura para propiciar conforto aos moradores,
mas pode servir também para garantir um melhor desempenho de outras atividades.
A posse de aparelhos de ar condicionado no Brasil ainda é relativamente pequena,
pois os domicílios que possuem pelo menos um condicionador de ar no correspondem a
apenas 10,5% do total. Na Região Nordeste, apesar das altas temperaturas médias, esse
percentual é de apenas 11,9%. Porém, a posse média é de 0,16 no Brasil e de 0,20 no
Nordeste.
A pesquisa confirmou que a maior posse desse tipo de aparelho acontece nas regiões
Norte e Sul, e a menor posse na região Sudeste, com apenas 0,09, o que indica que esse
equipamento, como esperado, é mais necessário nas regiões mais quentes.
Foi observado também que a grande maioria dos equipamentos (87,0%) possuem
menos de 10 anos de fabricação e 47,2% possuem menos de 5 anos, o que indica que já
possuem níveis de eficiência razoáveis quanto ao consumo de energia elétrica, pois já são
equipados com compressores rotativos.
Também é digno de registro que em 2,8% das residências brasileiras o equipamento
é utilizado medianamente, ou seja, de 1 a 3 vezes por semana, e 5,2% regularmente (1 a 3
vezes por mês) quando ocorre clima ameno. Quando ocorre clima frio, a intensidade no uso
do condicionador de ar cai bastante, pois 81,6% dos entrevistados declararam que não
fazem uso do equipamento nessa condição.
Já quando ocorre clima quente, em 34,3% dos domicílios a utilização do aparelho de
ar condicionado é grande, ou seja, mais que 4 vezes por semana, sendo que 23,1% fazem
uso médio (de 1 a 3 vezes por semana). Ou seja, nessas condições, 57,4% dos domicílios
que têm condicionadores de ar fazem uso grande ou médio dos mesmos.
Nos domicílios brasileiros os condicionadores de ar tipo janela ainda são os mais
utilizados, principalmente pelo seu baixo custo inicial de aquisição e instalação, se
comparado com as unidades tipo split-system que, apesar de ter passado por uma queda de
preços significante nos últimos 2 anos, o seu custo de instalação ainda é alto, o que tem
comprometido as suas vendas. Outra vantagem do aparelho de janela é seu baixo custo de
manutenção, que se restringe basicamente à limpeza periódica do filtro, evaporadores e
condensadores.
Apesar de ser conhecido como um eletrodoméstico que apresenta um alto consumo
de energia elétrica e impacta sobremaneira as faturas emitidas pelas concessionárias, esse
fato é agravado pela aquisição ainda significante de equipamentos ineficientes e que não
têm o Selo PROCEL. Isso ocorre basicamente em função do preço mais acessível dos
modelos ineficientes, mas essa suposta economia acaba se tornando um peso extra para o
próprio consumidor, o qual teria integralmente ressarcido o valor a maior que pagaria por
um aparelho com selo PROCEL já ao final do primeiro ano de uso.
Para se ter idéia da diferença de consumo e de eficiência dos condicionadores de ar
disponíveis no mercado, assume-se como exemplo o aparelho de janela modelo GJ18 220
V, capacidade total de refrigeração de 5,27 kW (18.000 BTU/h), fabricado pela GREE na
China e comercializado no país pela GREE Brasil. Esse equipamento recebeu a
classificação B na etiqueta ENCE do INMETRO/PROCEL.
Por essa etiqueta, que se baseia nos resultados do ciclo normalizado pelo
INMETRO, o cálculo do consumo de energia é feito considerando-se que o aparelho seja
utilizado durante uma hora por dia durante um mês e que o compressor funcione durante
70% desse tempo. Assim, o seu consumo mensal é de 40,3 kWh se for utilizado uma hora
por dia durante um mês.
Para efeito de comparação adota-se os aparelhos tipo janela WHIRLPOOL
CONSUL, modelo CCI18D, capacidade de 18.000 BTU/h, tensão de operação de 220 V, e
LG, modelo WMM181FGA, capacidade de 18.500 BTU/h, tensão de operação de 220 V.
Ambos receberam o Selo PROCEL, mas o primeiro tem um consumo mensal de 37,8 KWh
e o segundo de 38,4 kWh. Ou seja, esses equipamentos consomem 6,2% e 4,7% menos
energia elétrica que o modelo da GREE. Se o equipamento analisado fosse o que tem
classificação E na etiqueta, esses percentuais seriam maiores que 10%.
No caso de a comparação ser feita com aparelhos tipo split-system com Selo
PROCEL, as reduções no consumo seriam ainda maiores, como pode ser observado a
seguir:
- o modelo GSW18 22L, capacidade de 18.000 BTU/h, comercializado pela GREE do
Brasil apresenta um consumo mensal de 35,7 kWh, ou 11,4% menos que o aparelho de
janela classificação B e 5,5% menos que o melhor aparelho de 18.000 BTU/h tipo janela
avaliado pelo PROCEL;
- já o modelo RKP015AH1, que tem capacidade de 18.000 BTU/h e é fabricado pela
HITACHI, apresenta um consumo de 34,5 kWh/mês, ou seja, 14,4% menor que o
condicionador tipo janela com classificação B citado e 8,7% menor que o melhor aparelho
de 18.000 BTU/h tipo janela avaliado pelo PROCEL;
- o modelo KO S18QC fabricado pela KOMECO e que tem capacidade de 18.000 BTU/h,
apresenta um consumo mensal de apenas 31,05 kWh, ou 21,8% menos que o aparelho de
janela classificação B e 16,6% menos que o melhor aparelho de 18.000 BTU/h tipo janela
avaliado pelo PROCEL.
Mesmo que a comparação seja feita entre equipamentos que receberam o Selo
PROCEL, a diferença entre a tecnologia utilizada pode representar uma grande diferença
no consumo. Por exemplo, usando o aparelho de janela Springer Carrier modelo
FCA075RB, com capacidade de 7.500 BTU/h e ganhador do Selo, o seu consumo mensal
corresponde a 15,6 kWh para uma hora diária de uso. Já o condicionador tipo split marca
Hitachi, modelo RKP006AH1, de mesma capacidade, apresentará um consumo mensal de
apenas 13,5 kWh para o mesmo período de operação, ou seja, um consumo 13,4% menor.
Como pode ser observado, a substituição de um aparelho de ar condicionado de
janela antigo por um mais moderno e eficiente ou por um tipo split deve ser considerada
como uma excelente opção, mas sempre deve ser levado em conta o retorno do
investimento, que está diretamente ligado ao número de horas de utilização do aparelho.
Mas em caso de aquisição de um condicionador para um novo ambiente, essa escolha é
menos complicada.
Outra questão que tem um peso bastante grande na conservação de energia elétrica
no âmbito residencial nesse uso final é o dimensionamento do equipamento para o
ambiente desejado, que, quando realizado de forma correta, permite diminuir o desperdício
de energia e utilizá-la da melhor forma possível.
Voltando à questão dos condicionadores de janela, estes passaram por várias
modificações nos últimos anos com o objetivo de torná-los mais eficientes. A principal
delas foi a substituição dos compressores alternativos por rotativos, mas também merece
destaque a mudança de fluidos refrigerantes e o controle de realimentação de ar. Além
disso, foram popularizadas funções antes só disponíveis nos equipamentos de ponta, como
o timer de desligamento automático, que permite a programação do aparelho, evitando que
fique operando desnecessariamente.
Outro ponto que merece destaque e que terá ainda maior influência sobre a
eficiência dos condicionadores de ar é a regulamentação específica elaborada pelo Comitê
Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética - CGIEE que estabeleceu níveis
mínimos de eficiência energética a serem atendidos pelos aparelhos de ar monobloco, de
janela ou de parede, de corpo único e tipo split-system hi-wall de parede, importados ou
fabricados no Brasil, a partir de 2007.
Por ser o aparelho de ar condicionado responsável por cerca de 27% do consumo de
energia elétrica nas residências do Nordeste, as concessionárias de energia elétrica que
prezam pela responsabilidade social divulgam em folhetos e sites, dicas de conservação de
energia elétrica para esse uso final [ 31 ]:
- Manter portas e janelas fechadas ao usar o condicionador de ar (para evitar a
movimentação do/para o exterior do ambiente, o que faria com que a carga térmica
aumentasse, com maior tempo de operação do equipamento);
- Regular o termostato adequadamente mantendo a temperatura desejada no ambiente
(estudos do Programa Energia Brasil chegaram à conclusão que a temperatura de 24ºC é
considerada adequada e confortável pela maioria dos usuários);
- Caso o equipamento não disponha de termostato programável, fazer a instalação do
mesmo (para possibilitar a escolha dos horários de operação do aparelho, evitando o
resfriamento indevido ou excessivo do ambiente);
- Fazer manutenções regulares.
Vale ressaltar que a falta de limpeza no filtro de ar origina o acúmulo de sujeira e
reduz a vazão de ar, de forma que a limpeza periódica desse componente, geralmente em
períodos nunca superiores a 15 dias, evita que haja um acréscimo no consumo de energia
elétrica. Além do filtro, os evaporadores e condensadores também devem ser limpos
periodicamente e terem as saídas de ar desobstruídas (lado interno e externo), evitando que
ocorra perda de eficiência no sistema de refrigeração, pela deficiência gerada para a troca
de calor, que pode chegar a até 70%.
Outras iniciativas importantes que podem reduzir o tempo de operação dos
aparelhos de condicionamento ambiental dizem respeito ao resfriamento residencial e ao
tratamento das cargas térmicas do local, que pode aumentar o nível de conforto e diminuir o
consumo de energia elétrica, pois isso contribui para que o sistema trabalhe por menos
tempo. Dentre as iniciativas, podemos citar as seguintes técnicas [ 31 ]:
- plantação de árvores trepadeiras ou que propiciem sombra ao redor da casa, reduzindo a
quantidade de luz solar absorvida pelas paredes e telhados e a incidente nas janelas;
- instalação de anteparos (toldos, brises, películas, cortinas, etc) nas janelas, diminuem ou
impedem a entrada de calor pela radiação solar. A instalação de toldos, por exemplo, é mais
eficiente que a de películas ou cortinas, pois bloqueiam a luz solar antes mesmo de ela
penetrar nos ambientes. Já os brises, além de impedir a penetração das ondas de calor pela
incidência direta dos raios solares, permite um melhor aproveitamento da luz natural. Hoje
já estão disponíveis brises inteligentes, que permitem a alteração de inclinação de acordo
uma programação prévia ou até mesmo pelo monitoramento ininterrupto da intensidade
luminosa);
- realização de clareamento de telhados (refletem cerca de 70% dos raios solares se
pintados com cores claras);
- aproveitamento da ventilação natural sempre que possível.
Vale ressaltar que, em geral, gasta-se mais energia no processo de condicionamento
de ar do que num sistema de iluminação artificial, de forma que a instalação de anteparos
deve ser considerada uma alternativa viável, mas que deve ser corroborada pela análise de
custo-benefício.
A proteção contra radiação solar também deve ser considerada para os
condicionadores, de forma que todos os que estiverem instalados com os condensadores
voltados para o poente ou para o nascente devem ser protegidos contra a insolação direta,
pois a incidência dos raios solares causa elevação da temperatura de condensação do fluído
frigorígeno circulante do condensador, o que leva à redução no rendimento
e na vida útil do
aparelho.
3.7 ILUMINAÇÃO RESIDENCIAL
Como já comentado no item 2.6.3.1, a luz é um elemento fundamental para a
realização das atividades humanas e não poderia ser diferente em uma residência, onde a
iluminação artificial tem papel fundamental, e, além dessas atribuições, tem a função de
proporcionar maior segurança no período noturno.
Assim, para que se consiga atender aos critérios de iluminamento e de conservação
de energia, é preciso conhecer os produtos disponíveis no mercado, utilizar as técnicas de
iluminação mais adequadas, combinar lâmpadas, reatores e luminárias eficientes,
preservando a qualidade e a quantidade da iluminação, mas não esquecendo da vertente
humana da conservação de energia, que corresponde a uma grande parcela dos resultados
que podem ser alcançados no setor residencial.
A iluminância ou o nível de iluminamento como é mais usual, é uma das variáveis
mais importantes quando da realização de um projeto de um sistema de iluminação, pois
determina o fluxo luminoso que deve incidir sobre a superfície onde será realizada a tarefa
visual pelo usuário, ou seja, é o valor que deve ser garantido ao usuário na altura do seu
plano de trabalho. Esse valor varia de acordo com a idade do usuário e com o tipo de tarefa
visual.
As normas NBR 5413 e NBR 5461, que tratam de iluminância de interiores e
iluminação, apresentam valores de iluminância recomendados para diversas atividades
(iluminâncias por classe de tarefas visuais), como mostra a Tabela 3.5.
Tabela 3.5 - Níveis de iluminância recomendáveis para interiores
Descrição da Atividade/Local Iluminância média
(lux)
Depósito ou despensa 100-150-200
Cozinha 150-200-300
Cozinha (pia, fogão, mesa) 200-300-500
Circulação, corredores e
escadas
75-100-150
Banheiros 100-150-200
Quarto (iluminação geral) 100-150-200
Garagem 100-150-200
Quarto (iluminação localizada) 200-300-500
Residências (outros cômodos) 100-150-200
Sala de leitura 300-500-750
Sala de espera (foyer) 100-150-200
Escritório 500-750-1.000
OBS: A escolha da faixa depende das características da tarefa e do observador
Desta forma, caso os níveis estejam sobredimensionados, haverá desperdício de
energia elétrica por excesso de iluminação, o que pode também acarretar um aumento do
ciclo de trabalho do aparelho de ar condicionado, se esse existir no ambiente analisado, pela
maior dissipação de calor das lâmpadas existentes.
HISTÓRICO
A iluminação artificial em residências era basicamente feita por lâmpadas
incandescentes até a década de 70, quando começaram a ser utilizadas em maior escala as
lâmpadas fluorescentes.
A lâmpada incandescente, além de ser uma das mais antigas fontes luminosas
artificiais e de ser a mais difundida no mundo, apresenta temperatura de cor agradável, na
faixa de 2.700 K, cor amarelada, índice de reprodução de cor de 100% e pode operar em
qualquer posição de funcionamento. Outra vantagem e que deve explicar seu uso ainda
elevado no Brasil, é o seu baixíssimo custo, na faixa de R$ 1,85 (60 Watts). Como
principais desvantagens estão o consumo elevado quando comparado com outras
tecnologias e a pequena vida média, que varia de 750 (127 V) a 1.000 horas (220 V).
As lâmpadas fluorescentes tubulares, além de terem um custo maior, ainda
necessitam de reatores e de luminárias ou suportes específicos para fixação. A alta
eficiência e a longa durabilidade, em torno de 7.500 h (alguns modelos chegam a 18.000
horas), são atrativos para os consumidores. Esse tipo de lâmpada passou por um processo
de evolução significativo nas últimas décadas, pois possuía diâmetro de tubo (cerca de 38
mm) bem maior que os atuais e o revestimento interno era feito por um pó fluorescente
comum, que não oferecia boa eficiência nem reprodução de cores. Atualmente o
revestimento padrão é feito por um pó trifósforo, sendo que os reatores convencionais
eletromagnéticos vêm sendo substituídos por reatores eletrônicos que operam em alta
freqüência e garantem maior durabilidade.
Já as fluorescentes compactas podem ser instaladas diretamente no bocal das
lâmpadas incandescentes, o que se torna bastante atrativo para os consumidores. Além
dessa vantagem, destaca-se uma maior eficiência energética quando comparadas às
incandescentes. Por aquecerem menos que as incandescentes, podem reduzir a carga
térmica dos ambientes e proporcionar maior conforto e sobrecarregar menos os
condicionadores de ar. Atualmente, já fornecem excelente reprodução de cores, com índices
IRC maiores que 80, e podem ser encontradas com temperaturas de cor de 2.700 K
(semelhantes às incandescentes), 3.000, 4.000 e 6.500 K, dentre outras opções. Porém, a
maioria ainda apresenta baixo fator de potência, entre 0,5 e 0,6.
O certo é que a utilização de lâmpadas incandescentes hoje é recomendada
basicamente para ambientes residenciais que não tenham necessidade de iluminação
artificial por longos períodos de tempo, pois podem ser substituídas por lâmpadas
fluorescentes compactas (Tabela 3.6), com grandes vantagens nos aspectos de redução de
consumo de energia elétrica, durabilidade e custo final, conforme demonstrado a seguir.
Tabela 3.6 - Comparação entre lâmpada incandescente e fluorescente
compacta disponíveis no mercado
Tipo de lâmpada Modelo Consumo
(W)
Fluxo
luminoso (lm)
Vida útil (h) Preço médio
(R$) *
Incandescente
OSRAM
Clas A CL
60 W 220 V
60 715 1.000 1,85
Fluorescente
compacta PHILIPS
Essential
220-240V
15 810 8.000 9,45
* Valores médios do mercado de São Luís (MA) – Pesquisa feita em novembro/2007
Para se exemplificar a rapidez do retorno do investimento com a aquisição de uma
lâmpada fluorescente compacta para substituição de uma incandescente, considere o
exemplo abaixo, calculado levando-se em conta a tensão nominal:
- Uma lâmpada fluorescente compacta de 15 W existente no mercado nacional oferece uma
luminosidade equivalente a uma incandescente de no mínimo 60 W (podendo chegar a 75
W, dependendo do fabricante), ou seja, uma redução no consumo de no mínimo 75%;
- A vida útil de uma incandescente de 220 V gira em torno de 1.000 horas (167 dias usando
6h/dia), enquanto encontra-se no mercado lâmpadas FLC que têm vida útil de 5.000 a 8.000
horas (mais de 2 anos). Vale ressaltar que a vida útil de uma lâmpada é considerada com a
mesma operando à tensão nominal e em temperatura ambiente;
- Custo médio (mercado local) de lâmpada FLC de 15 W: R$ 9,50 (marca renomada);
- Tempo de funcionamento diário para o exemplo: 6 horas;
- Custo médio (mercado local) da lâmpada incandescente de 60 W: R$ 1,85;
- Tarifa média residencial: R$ 0,3846/kWh;
- Economia mensal = R$ 3,11;
- Tempo de retorno do investimento = 3,05 meses ou 92 dias.
Como pode ser observado, o tempo de retorno do investimento feito com a
aquisição da lâmpada fluorescente compacta é muito pequeno e se for considerado
consideração que a cada 167 dias o consumidor deve adquirir uma nova lâmpada
incandescente, esse tempo de retorno de investimento será ainda menor.
Mesmo refazendo-se o cálculo considerando a substituição da lâmpada para um
consumidor enquadrado como de baixa renda, que paga tarifas consideravelmente menores,
ainda assim o tempo de retorno é pequeno:
- Tarifa média residencial baixa renda, com os descontos para o consumidor: R$
0,1945/kWh;
- Economia mensal = R$ 1,57;
- Tempo de retorno do investimento = 6,03 meses ou 181 dias.
As Tabelas 3.7 e 3.8 apresentam uma comparação entre a eficiência energética de
alguns modelos de lâmpadas incandescentes e mistas disponíveis no mercado brasileiro e
bastante utilizadas nas residências.
Tabela 3.7 – Lâmpadas mistas de potências mais utilizadas
Lâmpada mista - Empalux
Potência (W) Tensão de
operação (V)
Fluxo luminoso
(lm)
Eficiência
luminosa (lm/W)
IRC (%) Temperatura
de Cor (ºK)
160 220/230 33.000 20 > 60 3.800
250 220/230 51.000 20,4 > 60 3.800
Tabela 3.8 – Dados de embalagem da lâmpada Philips incandescente
Lâmpada Incandescente Philips 40 W – Dados da Embalagem
Modelo A55 Clara Potência 40 W
Etiqueta
PROCEL
E Fabricação Brasil
Luminância 417 lm Eficiência
luminosa
10,4 lm/W
Vida média 1.000 h Tensão de
Operação
220 Volts
Garantia 90 dias Preço no mercado
local
R$ 1,85
Para efeito de comparação da eficiência luminosa de lâmpadas incandescentes,
assume-se os modelos de lâmpadas incandescentes mostrados na Tabela 3.9, onde todas
apresentam 1.000 horas de vida média, garantia de 90 dias, fabricação nacional e tensão de
operação 220 Volts, segundo dados das embalagens:
Tabela 3.9 – Comparativo entre lâmpadas incandescentes
Potência (W) Luminância
(lm)
Eficiência
luminosa
(lm/W)
Etiqueta
PROCEL
(Classificação)
Philips 40 W A55 Clara 40 417 10,4 E
OSRAM Clássica CL 60 60 715 11,9 E
Philips E60 Argenta Soft 100 1.215 12,2 F
A pesquisa [ 13 ] confirma a presença marcante da iluminação no consumo total de
energia elétrica no setor residencial e verificou os seguintes aspectos relativos à posse e uso
das mesmas (Figura 3.9)
:
Figura 3.9 - Posse média e uso de lâmpadas nos domicílios brasileiros
Como pode ser visto na Figura 3.9 a posse média de lâmpadas incandescentes e
fluorescentes é exatamente a mesma nas residências brasileiras. Porém, em média, os
consumidores residenciais possuem quase duas (1,8) lâmpadas fluorescentes que utilizam
habitualmente, ou seja, já utilizam mais as lâmpadas fluorescentes que as incandescentes
devido a sua maior eficiência na relação consumo/iluminação.
A pesquisa classificou por uso eventual as lâmpadas que são utilizadas
esporadicamente, como as que são usadas para iluminar as garagens, e de uso habitual
aquelas que são usadas diariamente, como as que equipam cozinhas ou copas.
4,01
2,43
1,59
4,01
2,2
1,8
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Incand.
posse
média
Incand. uso
eventual
Incand. uso
habitual
Fluor.posse
média
Fluor. uso
eventual
Fluor.uso
habitual
Na Região Nordeste, a posse média de lâmpadas fluorescentes verificada foi de
4,55, contra 3,08 unidades incandescentes, também confirmando um maior uso das
primeiras.
Com relação às fluorescentes, as compactas já são a maioria, com posse de 3,36 (a
posse média é de 2,3 para as de potência maiores que 15 W e de 1,06 para as com potência
até 15 W), enquanto que os demais tipos correspondem à posse de 1,19.
A posse média das incandescentes de 60 W é de 2,23, ou seja, a enorme maioria das
lâmpadas incandescentes utilizadas em domicílios é de 60 W (a posse média dos outros
modelos é de apenas 0,85).
A pesquisa de [ 13 ] também levantou questões relacionadas ao racionamento de
energia elétrica ocorrido no país em 2001 e 2002 e verificou que um significativo
percentual (36%) de domicílios continuou utilizando lâmpadas fluorescentes após esse
período. Outro ponto pesquisado que merece destaque é o baixo percentual de residências
(apenas 7%) onde os moradores retomaram o uso de lâmpadas incandescentes quando da
necessidade de substituição das lâmpadas fluorescentes por haverem chegado ao final de
sua vida útil (queima).
Um componente do sistema de iluminação importante, mas que não recebe a devida
atenção no setor residencial é a luminária, que tem como finalidade principal distribuir
eficientemente a luz sobre o campo de trabalho. Na prática, a escolha de uma luminária
residencial baseia-se geralmente no custo, beleza/design ou funcionalidade, e não na sua
eficiência ou no tipo de atividade a ser desenvolvida pelo usuário.
Experiências e projetos realizados pelo CEPEL, pelo LEENER e pelo SEBRAE-RJ
mostraram que a utilização de materiais reflexivos (papel alumínio, por exemplo) em
luminárias existentes (retrofit), principalmente fluorescentes, consegue aumentar em mais
de 20% o fluxo luminoso emitido, permitindo uma redução no número de pontos de
iluminação artificial.
Outros pontos importantes que vêm sendo relegados na iluminação residencial são a
manutenção e limpeza de lâmpadas e luminárias, o aproveitamento da luz natural e a
utilização de dispositivos de controle de acionamento de lâmpadas (minuterias, sensores de
presença e relés fotoelétricos).
3.8 CARGA RESIDENCIAL TÍPICA
De acordo com [ 13 ], a curva de carga que representa o comportamento da carga
residencial média do consumidor brasileiro é mostrada na Figura 3.10. Em outras palavras,
essa curva, na teoria, representa o consumo de energia elétrica ao longo de um dia típico
(diário) da classe residencial brasileira dividido por todos os consumidores dessa mesma
classe. Assim, esse consumidor hipotético é o representante de toda a referida classe e
possui as frações de todos os eletrodomésticos e equipamentos existentes nos domicílios,
ou seja, é possível expandir esse consumo para o universo de consumidores, sem perder de
vista os hábitos de uso.
Figura 3.10 – Curva de carga diária média no Brasil (do consumidor residencial típico)
Pode-se observar que as demandas da geladeira e do freezer são constantes, visto
que a forma de operação desses equipamentos possibilita esse tipo de modelagem estatística
para o universo dos consumidores. Ao se representar o consumidor residencial da região
Nordeste, foi obtida a curva de carga constante da Figura 3.11. Pode-se observar da
comparação dessas duas figuras que o pico de carga do consumidor da região Nordeste
acontece por volta das 22:00 h em um valor de cerca de 300 Wh/h, enquanto que o do
consumidor residencial médio brasileiro acontece por volta das 19:00 h com um valor 50%
maior.
Figura 3.11 – Curva de carga diária média na região Nordeste (consumidor residencial)
A Figura 3.12 mostra que o chuveiro elétrico, a geladeira, o ar condicionado e as
lâmpadas são os que têm maior contribuição no consumo final de energia elétrica para o
consumidor residencial brasileiro, representando 80% do consumo final. Já para os
consumidores da Região Nordeste (Figura 3.13), as maiores participações são do aparelho
ar condicionado, da geladeira, das lâmpadas e da TV, perfazendo um total de 78% do
consumo mensal. Esses dados, apesar de parecerem diferentes dos apresentados na Figura
1.6, indicam que houve uma redução apenas no percentual do consumo da iluminação pela
substituição de tecnologia, permanecendo a soma do consumo desses equipamentos na casa
dos 80% (antes era de 82%).
Figura 3.12 – Participação dos equipamentos no consumo residencial - Brasil
3
24
5
14
9
3
22
0,4
20
0,1
Ferro
Chuveiro
Freezer
Lâmpadas
TV
Som
Geladeira
Lavad
Ar cond
Figura 3.13 – Participação dos equipamentos no consumo residencial - Nordeste
Voltando aos dados da pesquisa de posse e hábito de uso [ 13 ], podemos verificar
que na Região Nordeste, 75,3% dos domicílios possuem pelo menos 1 lâmpada
fluorescente, 93,4% pelo menos 1 refrigerador e 97% pelo menos 1 TV. Nessa mesma
Região não atingiram o índice de 0,50 de posse os seguintes equipamentos:
- Ar condicionado (0,20);
- freezer (0,18);
- lava-roupas (0,35);
- microondas (0,15);
- ventilador de teto (0,43);
- chuveiro elétrico (0,40).
Assim, considerara-se com bastante aproximação que a carga residencial padrão da
Região Nordeste, para um consumidor com consumo de até 200 kWh/mês (faixa 1 da
pesquisa), é composta de:
- 3 lâmpadas incandescentes, sendo 2 de uso habitual (diário) e 1 de uso eventual
(esporádico), sendo 2 de 60 W (posse de lâmpadas incandescentes: 2,98);
- 3 lâmpadas fluorescentes, sendo 2 LFC com potência superior a 5 W (posse de lâmpadas
fluorescentes: 3,28);
27
3
5
29
11
0,3
5
9
11
0,1
Ar cond
Ferro
Freezer
Geladeira
Lâmpadas
Lava-roupa
Som
Chuveiro
TV
Mi d
- 1 refrigerador (posse: 0,95);
- 1 TV com standby (posse: 1,30);
- 1 ferro elétrico (posse: 0,8);
- 1 liquidificador;
- 1 som;
- 1 ventilador portátil.
Essa carga residencial, para a análise que se pretende fazer, será considerada a carga
típica também de um consumidor residencial maranhense com consumo mensal na faixa de
0 a 200 kWh, pois cerca de 85% dos consumidores dessa concessionária situam-se nessa
faixa de consumo. E boa parte desses, cerca de 83% [ 33 ], estão enquadrados na subclasse
residencial baixa renda, que têm direito a subsídios por serem menos favorecidos
economicamente. Vale ressaltar que 40,5% desses consumidores recebem o auxílio bolsa-
família e 48% enquadram-se nos índices de pobreza, segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento Social [ 33 ] e do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade- IETS.
Pode ser observado na Tabela 3.3 que o consumo médio dos consumidores
residenciais maranhenses é de apenas 87,06 kWh/mês.
CAPÍTULO 4
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E A QUALIDADE DE
ENERGIA
4.1 INTRODUÇÃO
Os capítulos anteriores apresentaram informações sobre eficiência energética, com
ênfase nos programas do Brasil. No entanto, não se deve esquecer de um aspecto de
extrema importância no contexto da eficiência, que é a qualidade de energia. O uso racional
da energia elétrica é um aspecto comum tanto para a eficiência energética quanto para a
qualidade de energia, ou seja, deve-se evitar o desperdício, ou o consumo excessivo, sem
optar por ações que coloquem em risco a operação das cargas.
O presente capítulo aborda justamente o aspecto da qualidade de energia elétrica,
apresentando conceitos fundamentais importantes sobre o tema. É mostrado também,
através de simulações práticas em laboratório, como cargas de iluminação (lâmpadas
fluorescentes compactas) ditas eficientes podem apresentar desempenho bem abaixo do
esperado.
4.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A expressão qualidade de energia só há alguns anos passou a fazer parte do
vocabulário utilizado no setor industrial, pois os equipamentos utilizados nesse setor eram
muito mais simples que os atualmente empregados, além de mais robustos e menos
sensíveis a pequenas variações da tensão de suprimento. Por outro lado, essa expressão
ainda não é totalmente conhecida por grande parte dos consumidores residenciais e dos
outros setores, uma vez que as ocorrências originadas na rede elétrica quase sempre nem
são notadas.
Atualmente, qualidade de energia é um tema que cada vez mais vem se tornando
relevante para os consumidores de energia elétrica, inclusive do Brasil, pelo fato de que o
emprego em maior número de equipamentos sensíveis e de cargas não-lineares tanto nos
setores industrial e comercial, quanto nas residências, tem propiciado a verificação de
ocorrências tais como interrupções no fornecimento, quedas de tensão, interrupções
transitórias, mau funcionamento de equipamentos, etc, o que tem levado a um aumento de
consciência dos consumidores, os quais passaram a exercer seus direitos de exigir
melhorias nos serviços prestados e nos produtos fornecidos pelas concessionárias. Esses
tipos de ocorrências, que afetam o fornecimento de eletricidade, outrora eram considerados
aceitáveis pelas concessionárias e pelos consumidores, mas agora freqüentemente são
classificados como um problema.
A definição de qualidade de energia pode variar de acordo com o ponto de
referência, seja ele a concessionária de energia, o fabricante, o consumidor ou a agência
reguladora. Mas como a regra assegura que o consumidor sempre tem razão e é ele que é o
destinatário final da energia elétrica nos moldes do mercado em questão, a definição que
mais se adequa aos objetivos deste trabalho é: “qualquer problema manifestado na tensão,
corrente ou desvio de freqüência, que resulta em falha ou operação indevida do
equipamento do consumidor” [ 34 ].
Porém, a qualidade da energia elétrica fornecida aos consumidores caracteriza-se
não somente pela sua dependência da concessionária, mas também pelas cargas utilizadas
pelos respectivos consumidores, uma vez que é cada vez mais comum o uso de modernos
equipamentos eletroeletrônicos, o que implica que, se por um lado eles são cada vez mais
sensíveis a problemas de qualidade da energia que vem do sistema elétrico, dependendo
então de um nível alto de qualidade, por outro eles são também mais poluidores ao causar
distúrbios que podem “caminhar” pela rede e atingir outras unidades consumidoras.
Apesar de a expressão usada ser qualidade de energia, de fato poderia ser utilizada
na maioria dos casos o termo qualidade de tensão, uma vez que os sistemas elétricos de
potência somente podem controlar a qualidade da tensão, já que esses sistemas não têm
como controlar as correntes que as diversas cargas solicitam da rede. Assim, de certa
forma, os indicadores e padrões de qualidade de energia são definidos com o intuito de
manter o fornecimento de tensão dentro de limites adequados, basicamente relacionados, no
caso de sistemas em corrente alternada, à freqüência, ao comprimento de onda e à
magnitude da tensão senoidal. Esses limites são chamados de limites globais e
correspondem a valores máximos que podem ser atingidos no sistema elétrico em análise
com a presença da totalidade das fontes de perturbação. No caso brasileiro, o Operador
Nacional do Sistema Elétrico editou os “Procedimentos de Rede”, que definem padrões de
desempenho mínimos a serem observados por todas as novas instalações a serem integradas
à Rede Básica. Mas em última instância a responsabilidade pela manutenção dos limites
globais é do Operador do Sistema, que estabelece as medidas corretivas em conjunto com
os demais agentes. Porém, ainda faltam ser estabelecidos limites globais para os demais
níveis de atendimento, uma vez que o ONS só o fez para as concessionárias e para os
consumidores livres conectados à Rede Básica.
Um dos parâmetros de qualidade de energia que via de regra passa por algum tipo
de controle oficial é a continuidade do serviço, que indica o grau de disponibilidade de
energia elétrica ao consumidor final, sendo, portanto, considerado o parâmetro de maior
relevância. Assim, os indicadores de continuidade possibilitam o controle e
acompanhamento do fornecimento aos diversos consumidores, de forma que é possível o
estabelecimento de metas de melhoria da continuidade a serem alcançadas a partir dos
valores observados ao longo dos intervalos de monitoramento.
No Brasil, o antigo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE e
agora a Agência Nacional de Energia Elétrica já regulamentava alguns parâmetros
relacionados à qualidade de energia elétrica, mas somente no que se refere à tensão de
fornecimento e a interrupções, ficando ainda de fora as questões relacionadas à
conformidade, ou seja, relacionadas à forma de onda de tensão, como por exemplo
distorções harmônicas e flutuações de tensão.
Exemplos dessa regulamentação são as Resoluções ANEEL nº 024/2000 e nº
456/2000. A primeira define os padrões e metas de continuidade para grupos de
consumidores, que são objeto de negociação entre a agência reguladora e as
concessionárias quando das revisões tarifárias. Assim, há o estabelecimento de indicadores
de continuidade individuais, coletivos (para conjuntos de unidades consumidoras) e globais
(para a concessionária).
Os índices de continuidade definidos pela ANEEL são:
A. Coletivos
- DEC: Duração equivalente de interrupção por unidade consumidora
- FEC: Freqüência equivalente de interrupção por unidade consumidora
B. Individuais
- DIC: Duração de interrupção individual por unidade consumidora
- FIC: Freqüência de interrupção individual por unidade consumidora
-DMIC: Duração máxima de interrupção contínua por unidade consumidora
O Operador Nacional também estabeleceu os indicadores DIPC, FIPC, e DMIPC,
que são medidos nos pontos de controle (fronteira entre a Rede Básica e os agentes de
distribuição e os consumidores livres) e que quantificam a perda de tensão e/ou conexão
entre o ponto de controle e a Rede Básica.
Já a Resolução ANEEL 456/2000 trata de conceitos sobre a obrigatoriedade das
concessionárias de distribuição fornecerem um produto de qualidade aos acessantes do
sistema elétrico de distribuição.
O fato é que no Brasil os fenômenos associados à forma de onda de tensão, tais
como flutuação de tensão, distorção harmônica e variações momentâneas de tensão, ainda
necessitam de estabelecimento de indicadores e padrões.
4.2.1 DEFINIÇÕES
De maneira simplificada pode-se afirmar que as principais definições sobre
qualidade de energia mais comumente aceitas são:
a)
Um afundamento, dip de tensão ou sag como é freqüentemente conhecido é um
decréscimo no valor RMS da tensão na faixa de 0,1 a 0,9 p.u. para uma duração maior
que metade de um ciclo principal e menor que 1 minuto. È geralmente causada por
faltas no sistema elétrico, aumento na demanda de carga, energização de grandes blocos
de carga, partida de grandes motores e outros eventos transitórios. Os consumidores
industriais são os grandes prejudicados por esse tipo de distúrbio do sistema,
principalmente por que dispõem de controladores lógicos programáveis, que são mais
sensíveis aos sags. Já as cargas essencialmente domésticas apresentam-se pouco
sensíveis aos afundamentos de tensão de menor duração e de menor intensidade;
b)
Uma elevação de tensão, swell ou sobretensão momentânea é um aumento temporário
no valor RMS de tensão na faixa de 1,1 a 1,8 p.u. para uma duração maior que metade
de um ciclo principal e menor que 1 minuto. È geralmente causada por faltas no
sistema, por de desconexão de grandes cargas e por chaveamento de bancos capacitores.
A duração desse fenômeno depende da natureza da falta, da sua localização no sistema,
da configuração e ajustes da proteção, do tempo de resposta dos reguladores de tensão e
dos transformadores de tap variável, etc. Como conseqüência das elevações de curta
duração em equipamentos, pode-se citar falhas dos componentes, dependendo da
freqüência de ocorrência do distúrbio. Esses fenômenos podem afetar sobremaneira os
consumidores industriais que geralmente dispõem de dispositivos eletrônicos mais
complexos nos seus processos fabris, tais como variadores ajustáveis de velocidade
(ASDs), computadores e controladores eletrônicos, bem como reduzir a vida útil de
transformadores, cabos, barramentos, dispositivos de chaveamento, banco de
capacitores, TPs, TCs e máquinas rotativas. No caso de consumidores residenciais, as
conseqüências são pouco importantes, mesmo para os equipamentos eletrônicos, pois
geralmente possuem boa suportabilidade aos swells de menor duração. Esses
consumidores só são realmente afetados se dispuserem no circuito de entrada de
dispositivos de proteção contra surto tipo clamping, que podem atuar pela elevação de
tensão. O principal efeito no âmbito residencial pode ser observado nos equipamentos
de iluminação, que apresentam aumento da luminosidade;
c)
“Flicker” é uma expressão utilizada para descrever o efeito visual decorrente de
pequenas variações na tensão de alimentação de equipamentos de iluminação,
notadamente as lâmpadas com filamento de tungstênio. Os distúrbios que afetam os
equipamentos de iluminação e que são detectáveis pelo olho humano concentram-se na
faixa de freqüência de 1 a 25 Hertz. Porém, na verdade o flicker é o resultado visual
decorrente do fenômeno eletromagnético da flutuação de tensão, que corresponde a
variações repetitivas, esporádicas ou aleatórias dos valores eficazes de tensão cujas
magnitudes geralmente se encontram na faixa de 0,95 a 1,05 p.u e são decorrentes de
cargas industriais que solicitam valores consideráveis de corrente de carga, com
variações contínuas e rápidas, como por exemplo fornos a arco, partida de grandes
motores e máquinas de solda;
d)
Desequilíbrio de tensão é conceituado como um desvio na magnitude e/ou fase de uma
ou mais fases de uma fonte trifásica, com respeito à magnitude das outras fases e o
ângulo normal de fase de 120 º. Uma outra definição seria o desvio máximo dos valores
médios das tensões ou correntes trifásicas, dividido pela média dos mesmos valores,
expresso em percentagem. Os desequilíbrios de tensão geralmente são originados nos
próprios sistemas de distribuição, uma vez que são compostos por cargas monofásicas
distribuídas indistintamente entre as fases, o que pode gerar no circuito em questão
tensões de seqüência negativa. Além disso, o desequilíbrio de tensão também pode ser
ocasionado por consumidores trifásicos que não possuem uma boa distribuição interna
de carga;
e)
Desvio de freqüência é uma variação na freqüência nominal ou fundamental de
suprimento abaixo ou acima de um valor predeterminado, geralmente +/- 0,1% para
sistemas interconectados. Como a freqüência do sistema de potência tem relação direta
com a velocidade de rotação dos geradores, ela pode sofrer variações com o balanço
dinâmico entre cargas, por faltas e de acordo com as características das cargas;
f)
Um transiente é um desvio momentâneo e indesejado da tensão de suprimento ou da
corrente de carga. Geralmente são classificados em duas categorias: impulsivo e
oscilatório;
g)
Uma interrupção corresponde à total interrupção do fornecimento de energia;
h) Uma interrupção transiente ou de curta duração é caracterizada como uma redução na
tensão de fornecimento ou na corrente de carga para um nível menor que 0,1 p.u. por
um tempo não superior a 1 minuto. As interrupções podem ser causadas por faltas no
sistema, falhas nos equipamentos do sistema ou mal funcionamento na proteção e
controle. No caso de interrupção por falta ocorrida no sistema elétrico de uma
concessionária, a duração da interrupção é função do tempo de operação dos
dispositivos de proteção empregados no próprio sistema elétrico. São classificadas em
interrupções momentâneas, quando a duração é menor que três segundos e em
interrupções temporárias, quando a duração fica na faixa de três segundos a um minuto;
i)
Uma falta, “outage” ou interrupção permanente é definida como uma interrupção que
tem duração maior que 1 minuto;
j)
Harmônicos são distorções periódicas senoidais da tensão de fornecimento ou da
corrente de carga, caracterizadas por componentes de uma onda periódica cuja
freqüência é um múltiplo inteiro da freqüência fundamental de fornecimento.
Geralmente são causadas por cargas não-lineares. São, porém, fenômenos contínuos e
não de curta duração, que persistem apenas por alguns ciclos. As componentes da forma
de onda distorcida podem ser descritas em termos de ordem, magnitude e fase de cada
componente, através de análise de série de Fourier. Para se determinar o conteúdo
harmônico de uma forma de onda, podem ser utilizadas as equações de “Distorção
Harmônica Total”, tanto para sinais de tensão como para correntes. As equações abaixo
apresentam tais definições:
- Distorção harmônica total de tensão ou
()
2
1
2
1
100 %
máx
n
n
n
T
V
DHV
V
- Distorção harmônica total de corrente ou
()
2
1
2
1
100 %
máx
n
n
n
T
I
DHI
I
Onde:
Vn = valor eficaz da tensão de ordem n;
In = valor eficaz da corrente de ordem n;
V
1
= valor eficaz da tensão fundamental;
I
1
= valor eficaz da corrente fundamental;
n = ordem da componente harmônica.
De uma forma geral pode-se afirmar que os harmônicos que causam mais problemas
são os componentes de ordem ímpar. Outra constatação prática é que a magnitude da
corrente harmônica diminui com o aumento da freqüência. Mais uma vez é o setor
industrial o maior afetado por altos níveis de harmônicos, pois podem acontecer falhas em
motores, em acionamentos, em fontes, perda da vida útil de máquinas rotativas, torques
oscilatórios nos motores de corrente alternada, erros nas respostas de equipamentos ou até
mesmo a parada completa da produção. Mas os harmônicos podem causar os seguintes
problemas para as redes de distribuição das concessionárias e para os demais consumidores,
inclusive os residenciais: perda da vida útil de transformadores e de bancos de capacitores,
aumento ou diminuição do consumo de energia elétrica, perda em kWh, aquecimento do
condutor neutro pela circulação de corrente, falha no fornecimento de energia;
interferências no áudio e vídeo, etc.
As cargas elétricas com características não lineares são chamadas de cargas elétricas
especiais e ultimamente têm sido acrescentadas em maior quantidade ao sistema elétrico.
As mais comuns são: os motores de corrente alternada, os transformadores alimentadores,
os fornos a arco e os circuitos com lâmpadas de descarga, que são conectadas diretamente
ao sistema; os motores de corrente contínua controlados por retificadores, os motores de
indução controlados por inversores com comutação forçada, os fornos de indução de alta
freqüência, os motores síncronos, controlados por cicloconversores, que são as cargas
conectadas através de conversores; os fornos de indução controlados por reatores saturados,
as cargas de aquecimento controladas por tiristores, os motores CA que têm suas
velocidades controladas por tensão de estator, os reguladores de tensão a núcleo saturado,
os computadores e os eletrodomésticos com fontes chaveadas;
k) Formas de onda de corrente ou tensão distorcida contendo distorções periódicas de
natureza senoidal que não são múltiplos inteiros da freqüência fundamental de
suprimento do sistema são chamadas interharmônicos. Podem aparecer como
freqüências discretas ou como uma larga faixa espectral. As principais fontes de
interharmônicos são os conversores de freqüência estáticos, os cicloconversores,
motores de indução e os equipamentos a arco.
Com relação à associação da qualidade de energia elétrica com eficiência energética
em consumidores da classe residencial, uma questão vem logo à tona: os efeitos do uso em
grande escala de lâmpadas fluorescentes compactas. No Brasil ainda há uma carência de
maiores resultados de pesquisas acerca dos impactos da utilização dessa tecnologia,
principalmente no que diz respeito à emissão de correntes harmônicas, suportabilidade e
sensibilidade destas às variações de tensão de curta duração [ 35 ]. Assim, além de se
avaliar o comportamento do consumo de lâmpadas fluorescentes compactas disponíveis no
mercado consumidor brasileiro com relação aos níveis de tensão nominais e de outras
faixas e compararmos com os valores apresentados nas respectivas embalagens,
chanceladas pelo Selo PROCEL, as simulações têm o objetivo de detectar o
comportamento desses equipamentos com relação a alguns parâmetros de qualidade de
energia, notadamente a emissão de harmônicos.
4.3 SIMULAÇÕES PRÁTICAS
Para as simulações do comportamento de algumas cargas residenciais típicas frente
a variações nos níveis de tensão operacional foi utilizado o “Modelo Reduzido para
Simulação de Qualidade de Energia e Eficiência Energética de Cargas Residenciais”, cujo
diagrama unifilar está ilustrado na Figura 4.1, sendo projetado e montado com recursos do
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Ciclo 2003/2004 da
ELETRONORTE.
Figura 4.1 – Diagrama Unifilar do Modelo Reduzido para Simulação de Qualidade de
Energia e Eficiência Energética de Cargas Residenciais
Para verificação do comportamento das cargas de iluminação residencial, foram
utilizadas as lâmpadas abaixo relacionadas, que por motivos éticos serão identificadas por
códigos:
- Nove lâmpadas fluorescentes compactas, Classe 1, com as características
constantes das embalagens sendo descritas na Tabela 4.1;
- Nove lâmpadas fluorescentes compactas, Classe 2, com os dados técnicos
apresentados na Tabela 4.2;
- Nove lâmpadas incandescentes, Classe 3, com vida média de 1.000 h, conforme
Tabela 4.3;
- Três lâmpadas fluorescentes compactas, Classe 4, conforme dados listados na
Tabela 4.4.
Tabela 4.1 – Dados de embalagem das lâmpadas – Classe 1
Modelo Day Branca
Potência 15 W
Fator de potência 0,5 Incandescente
equivalente
75 W
Etiqueta
PROCEL
A Selo PROCEL Sim
Luminância 917 lm Eficiência
luminosa
61 lm/W
Vida média 8.000 h Temperatura de
cor
6.400 K
IRC Total 80% Fabricação China
Tensão de
Operação
220 Volts Freqüência da rede 60 Hz
Garantia 1 ano Preço no mercado
local
R$ 9,50
Tabela 4.2 – Dados de embalagem das lâmpadas – Classe 2
Modelo SOL Day Light
Potência 22 W
Fator de potência - Incandescente
equivalente
110 W
Etiqueta
PROCEL
- Selo PROCEL -
Luminância - Eficiência
luminosa
-
Vida média 6.000 h Temperatura de
cor
-
IRC Total - Fabricação China
Tensão de
Operação
220/240 Volts Freqüência da rede 50 Hz
Garantia - Preço no mercado
local
R$ 3,00
Tabela 4.3 – Dados de embalagem das lâmpadas incandescentes – Classe 3
Modelo Clas A CL 40
Potência 40 W
Etiqueta
PROCEL
E Fabricação Brasil
Luminância 415 lm Eficiência
luminosa
10,4 lm/W
Expectativa de
vida média
1.000 h Tensão de
Operação
220 Volts
Garantia 90 dias Preço no mercado
local
R$ 1,85
Tabela 4.4 – Dados de embalagem das lâmpadas – Classe 4
Modelo
Essential
Potência 15 W
Fator de potência 0,6 Incandescente
equivalente
75 W
Etiqueta
PROCEL
A Selo PROCEL Sim
Luminância 810 lm Eficiência
luminosa
58 lm/W
Vida média 8.000 h Temperatura de
cor
6.500 K
IRC Total - Fabricação China
Tensão de
Operação
220-240 Volts Freqüência da rede 50-60 Hz
Garantia 1 ano Preço no mercado
local
R$ 12,45
Vale ressaltar que as lâmpadas Classe 2 encontradas no mercado local e no
comércio informal a um preço cerca de 68% menor que as da Classe 1, são largamente
utilizadas pelos consumidores das classes residenciais de baixa renda, principalmente por
causa do baixo preço inicial. Segundo o importador, são fabricadas para operar em
freqüência de 50 Hz, mas estão sendo comercializadas livremente aqui no Brasil, onde a
freqüência da rede elétrica é de 60 Hz.
Além do modelo reduzido de simulação de qualidade de energia, foram utilizados
para as simulações um autotransformador trifásico (Figura 4.2), com saídas de tensão na
faixa de 0 a 240 V, e um multímetro padrão, bem como um equipamento analisador de
qualidade de energia elétrica (Figura 4.3) e um luxímetro, conforme detalhado a seguir:
- Luxímetro MINIPA MLM 1333: instrumento digital portátil, com LCD de 3 ½ dígitos,
precisão básica de 4% da leitura, mudança de faixa manual, resposta espectral fotóptica
CIE (padrão internacional para a resposta à cor da média dos olhos humanos), sensor
tipo foto-diodo de silício. Realiza medidas de iluminação ambiente em lux nas faixas de
2.000 e 20.000 lux (escala utilizada de 20 klux);
-
Analisador de qualidade de energia elétrica, fabricação Dranetz-BMI, modelo Power
Platform PP 4300: 4 canais diferentes de tensão e corrente (oito no total), mede, analisa
e grava dados de qualidade de energia e harmônicos simultaneamente (análises de
harmônicos até a 50ª harmônica), possui 4 modos de operação: scope, medição,
gravador de eventos e time plot, ponta de prova (TC) utilizada para até 10 Ampères.
Especificações:
a) Medidas de tensão: 100 a 600 Vrms, com precisão de ±1%;
b) Transitórios de tensão: 50 a 1.000 Vpk, com duração mínima de 1 microsegundo e
precisão de ±10%;
c) Medições de corrente: 10 a 200% da corrente total da ponta de prova. Precisão de ±1%;
d) Freqüência: faixa de 35 a 60 Hz, com precisão de ±0.2%;
e) Transitórios de corrente: 10 a 300% da escala do TC, com duração mínima de 1
microsegundo e precisão de ±10%.
Figura 4.2 – Autotransformador e multímetro utilizados em bancada
Figura 4.3 – Analisador de qualidade de energia Dranetz-BMI PP 4300
O objetivo das simulações em laboratório era verificar o comportamento das cargas
residenciais de iluminação adquiridas e comparar com informações das embalagens das
lâmpadas, algumas delas aferidas pelo PROCEL/INMETRO para a tensão nominal. Vale
ressaltar que os potenciais de conservação de energia nesse uso final são geralmente
calculados levando-se em conta apenas as especificações técnicas fornecidas por
fabricantes e as informações constantes das etiquetas ENCE, todas elas baseadas na tensão
nominal de operação.
A partir das medições realizadas com as diversas lâmpadas (Figura 4.4) pelo
equipamento analisador de qualidade de energia e pelo luxímetro, foram feitas as análises
de comportamento dos parâmetros de interesse, especialmente tensão, corrente, potência
ativa (W), fator de potência, potência reativa (Var), harmônicos e iluminância (lux).
Figura 4.4 – Simulações com lâmpadas fluorescentes compactas
O modelo reduzido para simulação de qualidade de energia foi suprido a partir de
duas fontes de energia elétrica, sendo uma o autotransformador regulado, ora para fornecer
220 V, ora 198 V (simulando uma queda de tensão de 10%), e outra a partir da própria rede
de distribuição interna (214-215 V), tendo sido ajustado para comutar automaticamente de
uma fonte para outra. Em todos os testes foram usadas nove lâmpadas, exceto o das
lâmpadas fluorescentes Classe 4, onde usaram-se três lâmpadas.
Lâmpadas fluorescentes compactas – Classe 1 (15 W)
Foram realizadas as simulações com nove lâmpadas fluorescentes compactas de 15
W, sendo três por cada fase, cujos resultados estão ilustrados na Tabela 4.5. Para a tensão
nominal (220 V), observa-se que a demanda média é de 12,66 W, em vez dos 15 W
informados pelo fabricante.
Para tensão de 198 V (10% menor que a nominal), a demanda diminui 11,7%,
ficando em 11,34 W. O fator de potência pouco sofreu alterações, permanecendo sempre
em torno de 0,63.
Para a tensão nominal (220 V), foi observado que a demanda média da lâmpada
dessa marca foi de 12,8 W, em vez dos 15 W informados pelo fabricante, o que trouxe,
inicialmente, algumas dúvidas sobre se o modelo utilizado estava de acordo com o
desejado.
Tabela 4.5 – Dados das leituras – lâmpadas Classe 1
Tensão (Volts) Demanda (W) por
lâmpada
Fator de
potência
Leitura luxímetro para
nove lâmpadas (klux)
220 12,66 0,63 13,72
198 11,34 0,643 11,96
236 13,66 0,61 14,52
Os valores obtidos para tensão nominal divergem dos informados nas respectivas
embalagens das lâmpadas e dos constantes do catálogo do Selo PROCEL, onde consta que
o fator de potência é de 0,5 e a potência da lâmpada é de 15 W (Tabela 4.2).
O fluxo luminoso foi reduzido em 13% (Tabela 4.5) quando ocorreu uma queda de
tensão de apenas 10% (198 V). Por outro lado, se a tensão subir 7,2% (236 V), há uma
elevação de 6% no nível de iluminamento.
Lâmpadas fluorescentes compactas - Classe 2 (22W)
Os resultados obtidos com essas lâmpadas, ilustrados na Tabela 4.6, são ainda mais
preocupantes e surpreendentes. Para a tensão de 220 V, a demanda média é da ordem de
7,44 W, ou seja, 33,8% da potência informada pelo importador. Para uma tensão de
operação de 198 V (10% menor que a nominal), a demanda cai para 6,34 W, inferior 14,8%
que a verificada em tensão nominal. Como está informado na embalagem (Tabela 4.3) que
a tensão de operação está na faixa de 220-240V, aumentou-se em 7,2% a tensão do
autotransformador, para 236 V, mas a demanda não ultrapassou os 7,9 W, ou seja,
aumentou apenas 6,1%, não atingindo 36% da potência nominal informada nas respectivas
embalagens. O fator de potência pouco varia, ficando em 0,61 para a tensão de 236 V e em
0,63 para 198 Volts e para a tensão nominal. Ressalte-se que o fator de potência não consta
das informações técnicas presentes nas embalagens.
Tabela 4.6 – Dados das leituras – lâmpadas Classe 2
Tensão (Volts) Demanda (W) por
lâmpada
Fator de
potência
Leitura luxímetro para
nove lâmpadas (klux)
220 7,44 0,63 3,9
198 6,34 0,63 3,5
236 7,9 0,61 4,38
Observa-se que o nível de iluminamento é muitíssimo baixo (cerca da metade do
verificado com as lâmpadas incandescentes de 40 W) e não condiz, em hipótese nenhuma,
com os dados constantes das respectivas embalagens. Assim, na tensão nominal de
fornecimento foi medido pelo luxímetro o valor de 3,9 klux, valor esse que cai 10% para
uma queda de tensão de também 10%, enquanto que o consumo diminui apenas 8,1%. Para
a tensão de 236 V, houve um incremento de 12% no nível de iluminamento.
Lâmpadas Incandescentes (40 W) – Classe 3
Os resultados aqui obtidos estão ilustrados na Tabela 4.7. Para uma tensão de 220
V, a demanda unitária média é de 41,2 W para fator de potência unitário. Para 198 V (10%
menor que a nominal), a demanda média de uma lâmpada é de 35,76 W, ou seja, houve
uma diminuição no consumo de 13,2%. Quando as lâmpadas foram supridas com 236 V
(107,2% da nominal), a demanda média unitária registrada foi de 46,32 W por unidade,
representando um incremento de 12,4%.
Tabela 4.7 – Dados das leituras – lâmpadas incandescentes - Classe 3
Tensão (Volts) Demanda (W) por
lâmpada
Fator de
potência
Leitura Luxímetro
para nove lâmpadas
(klux)
220 41,2 1,0 7,58
198 35,76 1,0 5,47
236 46,32 1,0 8,47
Com relação ao nível de iluminamento das lâmpadas utilizadas nas simulações e
medido pelo luxímetro, pôde ser observado que as incandescentes de 40 W têm seu fluxo
luminoso reduzido em 28% (Tabela 4.7) quando submetido a uma queda de tensão de
apenas 10% (198 V), mas o consumo cai apenas 13%. Por outro lado, se a tensão for
aumentada em 7,2% (236 V), há uma elevação de 12% no nível de iluminamento e no
consumo.
Como os resultados obtidos com as lâmpadas incandescentes estão bastante
compatíveis com os dados obtidos nas etiquetas ENCE e nas embalagens, o problema
parece estar relacionado com a qualidade das lâmpadas fluorescentes compactas analisadas.
Assim, foram adquiridas três lâmpadas com Selo PROCEL de uma determinada
marca (Tabela 4.4), com um custo unitário 31% superior que as da Classe 1, com o intuito
de se verificar se as diferenças encontradas nas medições eram resultado de erros no
processo de medição ou de baixa qualidade dos produtos comercializados. Os resultados
estão ilustrados na Tabela 4.8, na próxima seção de testes.
Lâmpadas fluorescentes compactas - Classe 4 (15W)
As três lâmpadas Classe 4 de 15 W cada foram instaladas no modelo reduzido de
simulações e, para a tensão nominal de fornecimento da concessionária (220 V), a demanda
foi de 14,71 W e o fator de potência de 0,64. Na tensão de 198 V (90% da nominal de
fornecimento), a demanda média cai 14,6%, chegando a 12,56 W. Vale ressaltar que na
embalagem a tensão de operação da lâmpada está na faixa de 220 a 240 V e o fator de
potência informado é de 0,6 (Tabela 4.4). Por isso, foram refeitas as medições utilizando a
tensão de 236 V, tendo sido obtida a leitura de 15,2 W, o que confirmou que o processo de
simulação estava correto e que as demais lâmpadas fluorescentes compactas apresentam
mesmo baixa qualidade de fabricação.
Tabela 4.8 – Dados das leituras – lâmpadas – Classe 4 (15 W)
Tensão (Volts) Demanda (W) por
lâmpada
Fator de potência Leitura Luxímetro
(klux) 3 lâmpadas
220 14,71 0,64 4,0
198 12,56 0,65 3,75
236 15,2 0,63 4,4
O fluxo luminoso foi reduzido em apenas 6% (Tabela 4.8) quando a tensão de
alimentação foi reduzida em 10% (198 V). Além disso, quando a tensão subiu para 236 V
(107,2% da nominal), houve uma elevação de 10% no nível de iluminamento.
Com relação a essas medições, ressalte-se que apenas três lâmpadas desta classe
conseguem iluminar mais que as nove lâmpadas da Classe 2, o que acaba sendo uma
constatação surpreendente.
4.4 OBSERVAÇÕES PRELIMINARES
A partir dos resultados obtidos em laboratório pôde ser observado que a qualidade
das lâmpadas fluorescentes compactas analisadas está aquém do esperado no que diz
respeito ao consumo, demanda, nível de iluminamento e conseqüentemente eficiência
energética, como demonstrado no próximo item. Com relação à presença de harmônicos a
partir do uso de lâmpadas fluorescentes compactas, os dados analisados nas simulações
corroboram o fato de que esses tipos de lâmpadas são realmente fontes importantes de
harmônicos, uma vez que os níveis de harmônicos no circuito elétrico cresceram após a
introdução desses equipamentos, notadamente a distorção harmônica total de corrente
(DHIt) que atingiu valores superiores a 100%, valores que podem ser considerados como
esperados, uma vez que não havia outros tipos de cargas no circuito de teste. Por outro lado
a distorção harmônica total de tensão (DHVt) esteve sempre na casa de 3,5%, o que pode
ser entendido, numa análise mais simplista, como se o suprimento de energia elétrica não
tivesse severamente afetado pela passagem dos harmônicos de corrente gerados pelas
cargas em questão. Esses valores encontrados para a DHVt estão dentro da faixa
considerada como razoável pelos padrões internacionais (< 5%). Em todo caso, entende-se
que os resultados não são absolutamente conclusivos, o que implicaria na necessidade de
realização de simulações mais complexas e que levassem em consideração a utilização
concomitante de outros tipos de cargas.
4.5 COMENTÁRIOS GERAIS
Os resultados obtidos nas simulações corroboram o fato de as lâmpadas
fluorescentes compactas Classe 1 apresentarem baixa qualidade de fabricação. Assim, é
provável que tenham sido submetidas aos testes dos laboratórios capacitados pelo
INMETRO/PROCEL lâmpadas de um lote especial a fim de serem contempladas com o
Selo PROCEL ou que as adquiridas para as simulações do presente trabalho sejam de um
lote sem testes de qualidade de fabricação.
Já as lâmpadas fluorescentes compactas Classe 2, segundo consta da embalagem,
provavelmente são importadas de forma desconhecida (talvez até ilegalmente), pois não há
referência nem mesmo ao importador brasileiro e não há sítios na internet com os dados do
fabricante nem do importador. Além disso, essas lâmpadas não passaram por avaliação de
nenhum órgão técnico brasileiro, muito menos do INMETRO, razão pela qual supõe-se que
tenham na verdade características técnicas completamente diferentes das apresentadas nas
embalagens. O fato preocupante é que estão sendo livremente comercializadas no mercado
brasileiro, principalmente em lojas que atendem consumidores de um poder aquisitivo
menor, de forma que esses consumidores, na esperança de obterem algum benefício, levam
para casa um dispositivo de baixíssima qualidade, o que, na verdade, trata-se de uma
afronta ao Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990).
A baixa qualidade dos materiais utilizados para fabricação das lâmpadas
fluorescentes compactas e a ausência de normas e padrões mais rígidos no Brasil sobre
qualidade de energia elétrica haviam sido apontados em 2003 como causas determinantes
para a baixa qualidade desse tipo de lâmpada comercializado no país [ 38 ].
Assim, os dados obtidos com as simulações mostram que nem sempre os cálculos
dos potenciais de conservação de energia no uso final iluminação podem ser considerados
precisos se forem levadas em conta apenas as informações técnicas de catálogos de
fabricantes e etiquetas ENCE. É fundamental que sejam realmente conhecidas pelo
profissional encarregado do diagnóstico energético as principais características técnicas de
lâmpadas, reatores e luminárias a fim de que sejam realmente obtidas todas as vantagens
relacionadas à conservação de energia elétrica nesse uso final.
Um outro ponto muito importante e que não pode ser esquecido são os níveis de
tensão encontrados no local de operação do sistema de iluminação, pois, como observado, o
seu desempenho está intimamente associado à qualidade da tensão de fornecimento da
concessionária, especialmente em residências.
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Durante as várias etapas deste trabalho foi possível confirmar a importância das
ações para a conservação de energia elétrica e verificar que a implementação de algumas
dessas medidas pode se tornar um grande “negócio”, ou seja, desde que haja oportunidades
de eficiência energética e que o projeto seja bem executado, o investimento realizado pode
ser retornado em um prazo bem razoável, sem contar os outros benefícios para o meio-
ambiente e para a sociedade.
De maneira geral medidas básicas implementadas em determinados usos finais se
traduzem em grande potencial de conservação de energia elétrica. Assim, foram abordamos
mais detalhadamente os processos de eficiência energética em sistemas de condicionamento
de ar e iluminação, por corresponderem à grande parcela do consumo residencial.
Através de medições adequadas, pode ser realizado um diagnóstico preliminar das
instalações elétricas, o qual permite detectar desperdícios e identificar as possíveis maneiras
de eliminá-los e ainda avaliar o grau de urgência de ações para sanear os problemas
encontrados.
Para operacionalizar a conservação de energia é preciso identificar (quem ou o que
está consumindo energia), quantificar (quanta energia está sendo consumida), modificar e
acompanhar o consumo de energia (com qual eficiência).
Finalmente, a conservação de energia elétrica tem a ver com sensibilização,
mudança de hábitos, capacitação técnica, novas tecnologias e eficientização dos processos,
ou seja, tem íntima relação com as vertentes humana e tecnológica da conservação de
energia.
Uma constatação importante, obtida a partir das simulações práticas realizadas, é
que é preciso uma boa dose de cautela e muita experiência profissional quando da
realização do levantamento dos potenciais de conservação de energia elétrica, pois nem
sempre as informações técnicas encontradas em catálogos de fabricantes, etiquetas ENCE e
até mesmo na concessão do Selo PROCEL são compatíveis com os produtos encontrados
no mercado.
Espera-se que este trabalho possa contribuir com o desenvolvimento de outros
estudos na área de conservação de energia, bem como auxiliar na criação e disseminação de
Comissões Internas de Conservação de Energia - CICEs.
5.1 TRABALHOS FUTUROS
Ao longo da elaboração deste trabalho, várias questões foram sendo levantadas e
algumas delas ficaram sem uma resposta adequada. Ficam então como sugestões gerais
para futuros trabalhos:
1.
Investigar o comportamento de eletrodomésticos frente a distúrbios de tensão;
2.
Estender as análises de eficiência energética e qualidade de energia aos níveis
comerciais e industriais;
3.
Identificar cargas residenciais geradoras de harmônicos ou de outros tipos de
problemas.
APÊNDICE A – Dados das Simulações - Lâmpada Incandescente - Pot. 40 W
Classe 3 - Fase A - 3 lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W) kVA kVAR FP
Energia
(kWh)
58:07,0
216,38
0,120687
40,229
0,12086
0,006477
0,9985
0,006374
58:13,0 216,21 0,120494 40,16467
0,120667
0,006457
0,9985
0,006517
58:17,0 216,37 0,120664 40,22133
0,120837
0,006442
0,9985
0,006659
58:22,0 216,34 0,120625 40,20833
0,120806
0,006486
0,9985
0,006838
58:27,0 216,25 0,120548 40,18267
0,120721
0,006454
0,9985
0,007016
58:33,0 216,19 0,120463 40,15433
0,120636
0,006424
0,9985
0,007195
58:37,0 216,14 0,120463 40,15433
0,120636
0,006448
0,9985
0,007338
58:42,0 216,83 0,121042 40,34733
0,121208
0,00643
0,9985
0,007515
58:48,0 216,89 0,120988 40,32933
0,121162
0,006439
0,9985
0,007695
58:52,0 216,94 0,121019 40,33967
0,121192
0,006483
0,9985
0,007838
58:57,0 223,17 0,126355 42,11833
0,126529
0,006622
0,9985
0,008024
59:03,0 220,85 0,124366 41,45533
0,124536
0,006554
0,9985
0,00821
59:06,0 219,71 0,123386 41,12867
0,123556
0,006554
0,9985
0,008356
59:12,0 219,49 0,123209 41,06967
0,123386
0,006522
0,9985
0,008539
59:17,0 219,61 0,123278 41,09267
0,123447
0,006533
0,9985
0,008722
59:23,0 219,54 0,123286 41,09533
0,123455
0,006501
0,9985
0,008904
59:28,0 219,64 0,123348 41,116
0,123517
0,006536
0,9985
0,00905
59:32,0 219,61 0,123325 41,10833
0,123494
0,006528
0,9985
0,009233
59:38,0 219,65 0,123348 41,116
0,123525
0,006542
0,9985
0,009416
59:48,0 216,38 0,120926 40,30867
0,1211
0,006436
0,9985
0,009738
59:51,0 216,33 0,120864 40,288
0,121038
0,006407
0,9985
0,009881
59:57,0 216,33 0,120818 40,27267
0,120992
0,006436
0,9985
0,01006
00:02,0 216,49 0,121019 40,33967
0,121192
0,006401
0,9985
0,010239
00:08,0 216,4 0,120941 40,31367
0,121115
0,006448
0,9985
0,010418
00:13,0 216,37 0,120826 40,27533
0,120999
0,006442
0,9985
0,010597
00:17,0 216,34 0,120872 40,29067
0,121038
0,006398
0,9985
0,01074
00:23,0 216,3 0,120872 40,29067
0,121038
0,006398
0,9985
0,01092
00:27,0 216,38 0,120926 40,30867
0,1211
0,006457
0,9985
0,011062
00:32,0 216,3 0,120872 40,29067
0,121038
0,006401
0,9985
0,011241
00:37,0 216,31 0,120849 40,283
0,121023
0,006469
0,9985
0,01142
00:47,0 197,33 0,104908 34,96933
0,105075
0,005828
0,9984
0,011704
00:52,0 197,25 0,104893 34,96433
0,105052
0,00584
0,9984
0,011861
00:58,0 198,23 0,105602 35,20067
0,105762
0,005872
0,9984
0,012017
01:02,0 198,25 0,105687 35,229
0,105847
0,005869
0,9984
0,012142
01:08,0 198,19 0,105656 35,21867
0,105817
0,005851
0,9984
0,012299
APÊNDICE A – Dados das Simulações (cont.) - Lâmpada Incandescente 40 W
Classe 3 - Fase A - 3 lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W) kVA kVAR FP
Energia
(kWh)
01:12,0 198,05 0,105525 35,175
0,105685
0,005854
0,9984
0,012455
01:17,0 198,07 0,105579 35,193
0,105739
0,005825
0,9984
0,01258
01:22,0 198,16 0,10561 35,20333
0,105778
0,005905
0,9984
0,012736
01:27,0 198,05 0,105517 35,17233
0,105678
0,00584
0,9984
0,012892
01:32,0 198,22 0,105687 35,229
0,105847
0,005863
0,9984
0,013018
01:37,0 198,08 0,105533 35,17767
0,105693
0,005846
0,9984
0,013174
01:48,0 216,18 0,120841 40,28033
0,121007
0,006407
0,9985
0,013526
01:53,0 216,11 0,120795 40,265
0,120961
0,00643
0,9985
0,013633
01:57,0 216,19 0,12088 40,29333
0,121046
0,006433
0,9985
0,013812
02:02,0 216,12 0,12088 40,29333
0,121046
0,006457
0,9985
0,01392
02:07,0 216,05 0,120756 40,252
0,12093
0,006451
0,9985
0,014099
02:12,0 216,12 0,120818 40,27267
0,120992
0,006448
0,9985
0,014242
02:18,0 215,92 0,120656 40,21867
0,12083
0,006412
0,9985
0,014421
02:22,0 216,25 0,120965 40,32167
0,121138
0,006404
0,9985
0,014564
02:28,0 216,34 0,120988 40,32933
0,121154
0,006418
0,9985
0,014743
02:33,0 216,41 0,121065 40,355
0,121231
0,006404
0,9985
0,014922
APÊNDICE B – Dados das Medições - Lâmpada
fluorescente Potência 15 W - Classe 1 - Fase A - 3
lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W) kVA kVAR FP
Vthd
(%)
Ithd
(%)
Energia
(kWh)
11:54,0 214,45 0,037435 12,47833
0,059388
-
0,046097
-0,6304
3,653 105,148 0,000177
11:58,0 214,63 0,037828 12,60933
0,059666
-
0,046142
-0,6339
3,653 105,148 0,000221
12:04,0 214,84 0,037843 12,61433
0,059967
-
0,046517
-0,6311
3,653 105,148 0,000278
12:09,0 214,8 0,038005 12,66833
0,05992
-
0,046322
-0,6343
3,626 102,779 0,000334
12:14,0 214,77 0,037897 12,63233
0,059944
-
0,046449
-0,6321
3,626 102,779 0,000379
12:19,0 220,3 0,038823 12,941
0,061419
-
0,047594
-0,6321
3,626 102,779 0,000436
12:25,0 220,45 0,038931 12,977
0,061581
-
0,047715
-0,6322
3,535 102,895 0,000493
12:30,0 220,22 0,038761 12,92033
0,060253
-0,04613
-0,6433
3,535 102,895 0,000551
12:34,0 220,11 0,038607 12,869
0,061017
-
0,047255
-0,6327
3,535 102,895 0,000597
12:39,0 220,33 0,038584 12,86133
0,061372
-
0,047727
-0,6287
3,574 104,431 0,000654
12:43,0 220,31 0,038483 12,82767
0,060639
-
0,046862
-0,6346
3,574 104,431 0,000699
12:49,0 220,17 0,038584 12,86133
0,061156
-
0,047453
-0,6309
3,574 104,431 0,000757
12:54,0 220,05 0,038391 12,797
0,060816
-
0,047166
-0,6312
3,56 102,827 0,000813
13:00,0 220,12 0,038337 12,779
0,060569
-
0,046895
-0,6328
3,56 102,827 0,00087
13:04,0 220,13 0,038491 12,83033
0,060646
-
0,046868
-0,6346
3,555 104,138 0,000915
13:09,0 220,16 0,038221 12,74033
0,060291
-
0,046632
-0,6339
3,555 104,138 0,000973
13:15,0 220,19 0,038615 12,87167
0,061009
-
0,047237
-0,6329
3,555 104,138 0,001029
13:24,0 214,71 0,037465 12,48833
0,059195
-
0,045838
-0,6328
3,538 103,482 0,001129
13:29,0 214,56 0,036733 12,24433
0,057789
-
0,044612
-0,6356
3,538 103,482 0,001185
13:34,0 214,67 0,037103 12,36767
0,058816
-
0,045637
-0,6307
3,582 98,301 0,001229
13:39,0 214,82 0,036833 12,27767
0,058693
-
0,045696
-0,6276
3,582 98,301 0,001283
13:44,0 214,84 0,037427 12,47567
0,059218
--0,6318
3,612 104,759 0,001339
0,045897
13:50,0 214,84 0,037149 12,383
0,058723
-
0,045483
-0,6326
3,612 104,759 0,001393
13:54,0 214,82 0,037388 12,46267
0,059025
-
0,045678
-0,6333
3,612 104,759 0,001437
14:00,0 214,84 0,036941 12,31367
0,058739
-
0,045666
-0,6289
3,645 104,206 0,001492
14:05,0 214,78 0,037234 12,41133
0,058893
-
0,045631
-0,6321
3,645 104,206 0,001547
14:09,0 214,63 0,037049 12,34967
0,058924
-
0,045823
-0,6287
3,645 104,206 0,001591
14:14,0 214,66 0,037018 12,33933
0,058345
-
0,045097
-0,6344
3,587 103,981 0,001645
14:19,0 220,33 0,037697 12,56567
0,059681
-
0,046272
-0,6316
3,601 102,916 0,001701
14:24,0 220,28 0,038136 12,712
0,060484
-
0,046945
-0,6305
3,601 102,916 0,001746
15:01,0 219,9 0,038005 12,66833
0,060183
-
0,046658
-0,6315
3,582 105,244 0,000034
15:05,0 220,09 0,037944 12,648
0,06009
-
0,046599
-0,6313
3,582 105,244 0,000079
15:11,0 220,15 0,038113 12,70433
0,060368
-
0,046818
-0,6313
3,587 105,503 0,000134
APÊNDICE B(cont.) - Lâmpada fluorescente Potência 15
W
Classe 1 - Fase A - 3 lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W)
kVA kVAR FP
Vthd
(%)
Ithd
(%)
Energia
(kWh)
15:16,0 220,26 0,038244 12,748
0,060592
-
0,046995
-0,6311
3,579 105,325 0,000191
15:21,0 214,66 0,036895 12,29833
0,058747
-
0,045717
-0,6281
3,579 105,325 0,000245
15:25,0 214,86 0,036995 12,33167
0,058893
-
0,045823
-0,6282
3,59 104,67 0,000289
15:31,0 214,47 0,037142 12,38067
0,059032
-
0,045885
-0,6292
3,59 104,67 0,000344
15:36,0 214,71 0,037111 12,37033
0,059148
-
0,046062
-0,6273
3,579 105,066 0,000399
15:41,0 214,55 0,03701 12,33667
0,058654
-
0,045504
-0,631
3,596 104,643 0,000443
15:56,0 214,77 0,037118 12,37267
0,058492
-
0,045203
-0,6346
3,609 104,322 0,000597
16:01,0 214,3 0,036895 12,29833
0,058052
-
0,044819
-0,6355
3,609 104,322 0,000652
16:06,0 214,8 0,036833 12,27767
0,058615
-
0,045596
-0,6284
3,565 103,476 0,000707
16:11,0 214,84 0,037049 12,34967
0,058901
-
0,045787
-0,629
3,565 103,476 0,000761
16:16,0 214,9 0,03701 12,33667
0,058747
-
0,045619
-0,63
3,565 103,476 0,000805
16:21,0 220,38 0,038183 12,72767
0,06033
-
0,046712
-0,6328
3,637 104,035 0,000861
16:26,0 220,52 0,038214 12,738
0,0607
-
0,047157
-0,6295
3,637 104,035 0,000917
16:31,0 220,61 0,038229 12,743
0,060654
-
0,047086
-0,6302
3,637 104,035 0,000963
16:36,0 220,57 0,038322 12,774
0,060477
-
0,046782
-0,6337
3,822 101,81 0,00102
53:30,0 198,49 0,03408 11,36
0,053264
-
0,040934
-0,6399
3,669 103,687 0,005021
53:35,0 197,82 0,033926 11,30867
0,053009
-
0,040727
-0,64
3,669 103,687 0,005071
53:39,0 197,79 0,033818 11,27267
0,053179
-
0,041046
-0,6359
3,669 103,687 0,005112
53:44,0 197,74 0,033872 11,29067
0,053155
-
0,040966
-0,6372
3,697 102,568 0,005161
53:50,0 197,78 0,033918 11,306
0,052908
-
0,040612
-0,641
3,697 102,568 0,005212
54:25,0 216,12 0,037535 12,51167
0,059658
-
0,046372
-0,6292
3,716 100,718 0,005559
54:29,0 216,16 0,037651 12,55033
0,059372
-
0,045908
-0,6342
3,716 100,718 0,005604
54:35,0 216,1 0,037735 12,57833
0,059542
-
0,046062
-0,6337
3,718 103,216 0,005659
54:39,0 216,19 0,037604 12,53467
0,05965
-
0,046301
-0,6304
3,718 103,216 0,005704
54:45,0 216,21 0,037666 12,55533
0,059403
-
0,045935
-0,634
3,718 103,216 0,00576
54:50,0 215,85 0,037489 12,49633
0,059488
-
0,046192
-0,6301
3,732 104,65 0,005816
APÊNDICE C – Dados das Simulações - Lâmpada
fluorescente Potência 22 W – Classe 2 - Fase A - 3
lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W)
kVA kVAR FP
Vthd
(%)
Ithd
(%)
Energia
(kWh)
36:06,0 224,06 0,023036 7,678667
0,03761
-0,02973
-0,6124
3,697 109,762 0,007537
36:11,0 224,08 0,02299 7,663333
0,037386
-
0,029479
-0,615
3,697 109,762 0,007572
36:16,0 224,09 0,023005 7,668333
0,037509
-
0,029626
-0,6133
3,705 110,39 0,007605
36:20,0 224,23 0,02299 7,663333
0,037478
-
0,029597
-0,6135
3,677 110,677 0,007633
36:26,0 222,72 0,022936 7,645333
0,037254
-
0,029361
-0,6156
3,677 110,677 0,007667
36:31,0 216,1 0,022103 7,367667
0,035764
-
0,028115
-0,618
3,661 110,581 0,007701
36:36,0 215,95 0,022064 7,354667
0,035764
-
0,028147
-0,6169
3,661 110,581 0,007727
36:41,0 215,93 0,021848 7,282667
0,03537
-
0,027817
-0,6177
3,645 110,506 0,007759
36:47,0 215,77 0,022195 7,398333
0,035694
-
0,027955
-0,6218
3,645 110,506 0,007792
36:51,0 215,44 0,022234 7,411333
0,035903
-
0,028195
-0,6191
3,615 108,698 0,007818
36:56,0 215,67 0,022057 7,352333
0,035548
-
0,027876
-0,6205
3,615 108,698 0,007845
37:02,0 215,77 0,022211 7,403667
0,03581
-
0,028094
-0,6202
3,634 108,807 0,007877
37:06,0 215,79 0,022034 7,344667
0,035161
-
0,027406
-0,6266
3,634 108,807 0,007903
37:10,0 215,95 0,02191 7,303333
0,03544
-
0,027855
-0,6182
3,615 108,083 0,007929
37:16,0 215,75 0,022118 7,372667
0,035756
-
0,028097
-0,6184
3,615 108,083 0,007962
37:20,0 215,77 0,022219 7,406333
0,035779
-
0,028053
-0,6208
3,634 108,076 0,007988
37:26,0 215,73 0,022057 7,352333
0,035687
-0,02805
-0,6182
3,637 107,51 0,008021
38:55,0 215,9 0,022034 7,344667
0,035509
-
0,027846
-0,6205
39:01,0 215,95 0,02191 7,303333
0,035463
-
0,027885
-0,6178
3,713 109,489 0,000052
39:06,0 216,21 0,021756 7,252
0,035038
-
0,027471
-0,6208
3,71 108,936 0,000078
39:17,0 216,15 0,021771 7,257
0,03527
-
0,027746
-0,6173
3,702 108,807 0,000142
39:22,0 216,05 0,021848 7,282667
0,035331
-
0,027764
-0,6184
3,729 107,646 0,000174
39:27,0 215,77 0,021995 7,331667
0,035409
-
0,027746
-0,6212
3,683 108,814 0,0002
39:32,0 224,16 0,022805 7,601667
0,03703
-
0,029184
-0,6157
3,683 108,814 0,000233
39:37,0 224,21 0,02299 7,663333
0,0372
-
0,029243
-0,618
3,691 107,824 0,000267
39:41,0 224,09 0,022635 7,545
0,036891
-
0,029139
-0,6134
3,691 107,824 0,000294
39:46,0 224,23 0,022843 7,614333
0,037239
-
0,029411
-0,6134
3,716 110,268 0,000328
APÊNDICE C(Cont.) - Lâmpada fluorescente Potência 22
W
Classe 2 - Fase A - 3 lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W)
kVA kVAR FP
Vthd
(%)
Ithd (%)
Energia
(kWh)
39:51,0 224,24 0,022859 7,619667
0,037123
-
0,029252
-0,6157
3,727 110,418 0,000355
40:02,0 223,64 0,022782 7,594
0,037139
-
0,029328
-0,6134
3,718 109,442 0,000422
40:07,0 223,6 0,022974 7,658
0,037494
-
0,029624
-0,6129
3,642 110,418 0,000457
40:12,0 224,01 0,022774 7,591333
0,036806
-
0,028918
-0,6187
3,642 110,418 0,00049
40:17,0 223,79 0,022959 7,653
0,037486
-
0,029632
-0,6124
3,669 110,793 0,000517
40:22,0 223,84 0,022758 7,586
0,037216
-0,02944
-0,6116
3,669 110,793 0,000551
40:26,0 223,95 0,022728 7,576
0,037092
-
0,029316
-0,6127
3,669 110,793 0,000577
40:37,0 215,51 0,021848 7,282667
0,0351
-
0,027465
-0,6226
3,661 110,575 0,000644
40:41,0 215,62 0,021941 7,313667
0,035756
-
0,028233
-0,6135
3,661 110,575 0,000669
40:47,0 215,73 0,021818 7,272667
0,035355
-
0,027823
-0,6171
3,593 108,841 0,000702
40:52,0 215,74 0,021756 7,252
0,035192
-
0,027666
-0,618
3,593 108,841 0,000734
40:57,0 215,62 0,021771 7,257
0,035154
-
0,027598
-0,6193
3,593 108,841 0,000759
41:02,0 215,12 0,021702 7,234
0,035185
-
0,027696
-0,6168
3,623 109,039 0,000785
41:07,0 215,66 0,021617 7,205667
0,034853
-
0,027335
-0,6202
3,623 109,039 0,000818
41:12,0 215,7 0,021995 7,331667
0,035563
-
0,027944
-0,6185
3,615
108,15
1 0,000844
41:16,0 215,71 0,021717 7,239
0,035262
-
0,027781
-0,6158
3,615
108,15
1 0,00087
41:22,0 215,51 0,021956 7,318667
0,035617
-
0,028041
-0,6165
3,642
108,85
5 0,000895
41:27,0 215,63 0,022018 7,339333
0,03571
-
0,028112
-0,6166
3,642
108,85
5 0,000928
41:31,0 198,89 0,01999 6,663333
0,03215
-
0,025177
-0,6217
3,628
109,05
2 0,000953
41:37,0 199,01 0,020229 6,743
0,03252
-
0,025467
-0,6219
3,628
109,05
2 0,000983
41:42,0 198,9 0,020052 6,684
0,032204
- -0,6227
3,65 106,28 0,001012
0,025195
8
41:47,0 198,9 0,020206 6,735333
0,032381
-
0,025301
-0,624
3,65
106,28
8
0,001042
41:51,0 198,93 0,020052 6,684
0,032034
-
0,024982
-0,626
3,677
105,82
4
0,001066
41:57,0 199 0,020098 6,699333
0,032374
-
0,025381
-0,6207
3,658
106,43
8
0,001089
42:01,0 198,75 0,019967 6,655667
0,03208
-
0,025106
-0,6224
3,658
106,43
8
0,001113
42:06,0 198,82 0,020159 6,719667
0,032296
-0,02523
-0,6241
3,686
106,55
4
0,001137
42:12,0 198,73 0,020082 6,694
0,032366
-
0,025378
-0,6206
3,686
106,55
4
0,001166
APÊNDICE C – (Cont.) - Lâmpada fluorescente Potência
22 W
Classe 2 - Fase A - 3 lâmpadas/fase
Hora
Tensã
o rms
(Volts)
Demand
a por
fase kW
Demand
a de
uma
lâmpad
a (W) kVA kVAR FP
Vthd
(%)
Ithd
(%)
Energia
(kWh)
42:17,0 198,88 0,020244 6,748
0,032489
-
0,025408
-0,6232
3,675 105,264 0,00119
42:22,0 198,99 0,019967 6,655667
0,032235
-0,02531
-0,6193
3,664 106,213 0,001214
42:26,0 198,93 0,020098 6,699333
0,032374
-
0,025378
-0,6208
3,664 106,213 0,001244
42:36,0 215,53 0,022134 7,378
0,036104
-
0,028522
-0,613
3,683 107,455 0,001302
42:41,0 215,68 0,022026 7,342
0,035903
-
0,028351
-0,6135
3,656 110,063 0,001335
42:47,0 215,41 0,022072 7,357333
0,036065
-
0,028528
-0,6118
3,656 110,063 0,001367
42:51,0 215,44 0,022003 7,334333
0,035779
-
0,028215
-0,6149
3,647 109,824 0,001393
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Empresa de Pesquisa Energética – 2006
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www.eletrobras.gov.br/procel
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http://www.clasponline.org – Julho de 2007
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Congresso Brasileiro de Eficiência Energética/ Associação Brasileira de Eficiência
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Fluorescentes Compactas na Rede de Distribuição da Copel – II SPEE – setembro/2004
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e de Suportabilidade a Chaveamento de Lâmpadas Fluorescentes Compactas - II CITENEL
- outubro/2003
APÊNDICE D - RELAÇÃO DE MODELOS DE LÂMPADAS FLUORESCENTES COMPACTAS DISPONÍVEIS NO MERCADO
LOCAL EM FEVEREIRO/2007 - DADOS TÉCNICOS CONSTANTES DAS EMBALAGENS
Fabricante Potência (W) Corresponde a
incandescente
de: (W)
Classificação
na Etiqueta
PROCEL
Selo
PROCEL
Fluxo
Luminoso
(lm)
Eficiência
Luminosa
(lm/W)
FP Vida
mediana
(h)
Garantia
(ano)
Procedência Preço
(R$)
TASCHIBRA
7 30 A Não 300 - 0,5 5.000 - China 8,79
TASCHIBRA
15 60 A Não 700 - 0,5 8.000 - China 7,87
TASCHIBRA
21 80 B Não 1.160 55 0,65 8.000 1 China 8,89
EMPALUX 7 30 - - 363 51 >0,5 8.000 1 China 8,60
EMPALUX 9 40 - - 476 53 >0,5 6.000 1 - 8,81
EMPALUX 9 40 A Sim 480 56 >0,5 8.000 1 China 8,81
EMPALUX 15 70 A Não 870 62 >0,5 8.000 1 China 10,97
EMPALUX 20 80 A Não 1.100 63 >0,5 8.000 1 China 12,48
Luz Leste
11 55 - - - - - - - China 7,87
Luz Leste
15 75 - - - - - - - China 12,72
Philips 9 40 - Não 400 50 - 3.000 - China 13,63
Philips 15 75 A Não 825 55 - 6.000 1 China 11,24
Philips 15 75 A Sim 810 58 0,6 8.000 1 China 12,45
Philips 20 100 A Não 1.100 61 0,6 6.000 1 China 14,98
Philips 20 100 A Não 1.250 63 - 6.000 1 China 15,99
FLC
11 50 A Não 618 56 0,5 8.000 1 China 7,80
FLC
15 75 A Sim 917 61 0,5 8.000 1 China 9,50
FLC
15 80 A Não 978 65 0,5 8.000 1 China 9,31
Avant 9 50 B Não 500 56 0,55 8.000 - China 7,40
Avant 20 80 A Não 1.124 62 0,55 8.000 - China 10,81
Xelux
15 75 B Não - - - 8.000 0,5 R.P.China
Xelux
25 130 B Não - - - 8.000 0,5 R.P.China
OSRAM 11 60 A Não 600 - - 6.000 1 China 10,90
OSRAM 15 75 A Não 800 - - 6.000 1 China 10,78
OSRAM 20 100 B Não 1.100 - - 6.000 1 China 10,95
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