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pode ser qualquer outro que faça essa função- oferece ao sujeito uma enxurrada de
significantes há um segundo momento em que ele escolhe os significantes, que em si nada
significam. Esses primeiros significantes, que nada significam articulam-se em cadeias e
passam a só ter sentido quando articulados a um outro significante. Este processo que
ocorre ainda na alienação implica o sujeito numa escolha necessária de que ele para tornar-
se sujeito precisa abrir mão do corpo de necessidades sendo capturado e capturando-se num
significante. O desejo desse Outro será fundamental nessa constituição, pois a transmissão
dos significantes marcará o lugar desse sujeito.
Há uma discussão importante apresentada por Colette Soler
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, psicanalista francesa,
sobre a alienação nas crianças autistas. A autora sustenta que o autista permaneceria na
“porta de entrada” da alienação, ou seja, que não faria esta operação. Contudo, como dizer
que a alienação não ocorreu com Paulino? Será que podemos dizer que ele não se alienou
no discurso da mãe? Ou de forma contrária, que ele tenha se alienado em demasia.
Petrificou-se num significante oferecido agarrando-se a ele e sustentando a marca desse
único lugar. É como se não tivessem outros significantes para Paulino diferentes do “ele
não entende”, e em cada ato da mãe isto se ratificasse ainda mais. De outro modo, Paulino
também escolhe em cada ato colocado no turno entre muitos uma posição de recusa de sair
desse lugar de não sujeito, que se deixa amorfo, em um canto da sala. É preciso estudar
mais este ponto, aprimorá-lo, mas este caso é muito instigante para pensar esta questão.
Observamos neste caso que a operação de separação não ocorreu, pois este é o
momento em que o sujeito separa-se do Outro. É na falta que ele poderá aparecer, na
hiância de um significante para o outro e não na petrificação a um sentido, que cola o
sujeito a um único lugar, prendendo-o para sempre e o matando, como disse Ribeiro em seu
artigo “o último véu”
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, quando fala do autismo como “um desejo de morte encarnado”,
pois ele faz uma escolha que nem sequer pode desejar.
Ao incluir a presença do pai como alguém que pode falar do filho, pois ela não pode
dizer tudo sobre ele, Sônia parece ter dado um passo fundamental no caso, uma vez que
abre pela primeira vez a possibilidade de que uma falta se apresente para esse menino e que
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SOLER, C. Autismo e Paranóia, in Autismo e esquizofrenia na clínica da esquize, Alberti, S. (org), Rio de
Janeiro, Marca d´Água Livraria e Editora, 1999.
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CARNEIRO RIBEIRO, Maria Anita. “O último véu”, Revista de Psiquiatria e Psicanálise com Crianças e
Adolescentes, v. I, nº 2. 1995b.