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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
ESTRATÉGIAS DE RUA:
manifestações político-sindicais do
Sindicato dos Bancários na Praça Sete
de Belo Horizonte.
F
ABIANO
R
OSA DE
M
AGALHÃES
Belo Horizonte
2008
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ii
FABIANO ROSA DE MAGALHÃES
ESTRATÉGIAS DE RUA:
manifestações político-sindicais do
Sindicato dos Bancários na Praça Sete
de Belo Horizonte.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Ciências Sociais da
da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Ciências Sociais.
Orientadora: Cristina Almeida Cunha Filgueiras
Belo Horizonte
2008
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iii
Fabiano Rosa de Magalhães
Estratégias de rua: manifestações político-sindicais do Sindicato dos Bancários na Praça
Sete de Belo Horizonte.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Ciências Sociais – da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Ciências Sociais.
Belo Horizonte, 10 de março de 2008.
Profa. Doutora Cristina Almeida Cunha Filgueiras
Profa. Doutora Cristina Almeida Cunha FilgueirasProfa. Doutora Cristina Almeida Cunha Filgueiras
Profa. Doutora Cristina Almeida Cunha Filgueiras
_________________________________________________________
Cristina Almeida Cunha Filgueiras (Orientadora) – PUC Minas
Profa. Doutora Magda de Almeida Nev
Profa. Doutora Magda de Almeida NevProfa. Doutora Magda de Almeida Nev
Profa. Doutora Magda de Almeida Neves
eses
es
____________________________________________________________
Profa. Doutora Magda de Almeida Neves – PUC Minas
Profa. Doutora Celina Borges Lemos
Profa. Doutora Celina Borges Lemos Profa. Doutora Celina Borges Lemos
Profa. Doutora Celina Borges Lemos
____________________________________________________________
Profa. Doutora Celina Borges Lemos – UFMG
iv
O trabalho intelectual, preocupado com a interpretação do mundo não produz sua
transformação, mas é um passo importante na desmistificação ou na descoberta do
sentido das representações que permeiam a vida cotidiana no mundo moderno com
seus modelos de felicidade e bem-estar.
(CARLOS; DAMIANI; SEABRA, 1999, p.62)
Onde Estão?
Vejo as ruas vazias de protestos e “bastas” em multidão.
Foi-se o tempo das palavras de ordem vestidas de vermelho,
das bandeiras e jornadas salpicadas do sangue das lutas,
rasgando solenes – braços em punho – o coração da cidade.
Abnegada, a militância fervia utopias ungidas de justiça,
Sem vendas nos olhos e servida a todos no banquete da vida
Vejo as ruas vazias de protestos e “bastas” em profusão.
Procuro em vão na passeata das cinco, os operários do futuro.
Onde estão? Quem os devorou? O canto da sereia ou a mosca azul?
O canto livre sucumbiu ao vil poder?
Vejo palácios repletos das gentes que outrora brandiam recusas,
que ocupavam as ruas e as enchiam de gritos arrancados das entranhas
do salário-de-fome, da panela vazia, da dignidade roubada e do verde-esperança.
Seus delírios de poder, agora, gerenciam interesses alheios. Alhures.
Plantam silêncios perplexos, semeiam a descrença sem incinerar sonhos;
a tempestade que se anuncia promete devassas, mas não aborta esperanças, pois esconde o arco-íris.
Desfraldo as bandeiras que me restam e sei que ainda existem companheiros.
Eu os procuro no burburinho das avenidas e nos formigueiros das gentes.
Conto-os nos dedos, sobreviventes dos tsunamis do poder.
Descubro-os outros, forjados nas têmporas sem peias das labutas da vida, moldando com as próprias os a
dignidade roubada.
E eu os quero multidão....
(GONÇALVES, 2006, p. 119)
v
Aos meus irmãos de sangue e de caminhada,
à Cris
à Mariana
aos meus pais
aprendi com vocês.
vi
AGRADECIMENTOS
Esse trabalho foi feito a muitas mãos. Muitas pessoas fizeram parte diretamente ou
indiretamente da sua realização. Tenho dificuldades de saber por onde começar os
agradecimentos.
Primeiramente, agradeço ao valoroso incentivo da Cris, em todos os momentos. Grato
pela paciência, pela compreensão, pela valiosa contribuição intelectual, pela leitura e
discussão do material (ela foi a minha “cobaia”), pelo afeto necessário e que cai bem, pelo
apoio, por tanta coisa que eu não conseguiria dizer e que poderia ser arranjado num feio,
porém significativo, et cetera.
À Mariana pela motivação, quando estamos juntos minhas horas são doces.
A meus pais e amigos pelo incentivo.
À CAPES pela concessão da bolsa.
Ao Centro de Pesquisas Históricas da PUC-MG, pela disponibilização dos arquivos,
importantíssimos para a concretização desta dissertação.
Ao Sindicato dos Bancários pela disponibilização de documentos valiosos. Ao CRMS,
na pessoa de Marco Aurélio, quem disponibilizou o acesso aos documentos históricos dos
bancários. Também meu agradecimento a Tatiane Norberto, bibliotecária do CRMS, que
acompanhou e sempre solícita, fornecia informações muito relevantes. À Claudete, também
pelas informações valiosas para a pesquisa.
Ao Maurício Fonseca pelas informações sobre pessoas que deveriam ser entrevistadas.
Também devo dizer que muitas das suas sugestões estão incorporadas a este trabalho, ele que
também poderia ter sido entrevistado, mas que, por força de nossa amizade, não foi escolhido;
resolvi escolher pessoas com as quais tive pouco contato, ou que eu não conhecia.
Ao Museu Histórico Abílio Barreto pela disponibilização de material histórico
incorporado na dissertação.
Aos entrevistados: Fernando Neiva, Gilson Mello, Jacó, e Moisés Augusto, Prata,
Solange Ayres e Tiãozinho pela disponibilidade e pela simpatia. Devo dizer que aprendi
muito com essas entrevistas. Primeiramente, porque passei a dominar melhor os recursos do
gravador e perceber as importantes questões que fogem ao roteiro. Em segundo lugar, devido
ao próprio material em si. Confesso mesmo a minha emoção diante de tanta história reunida e
chego a ter inveja dos historiadores. Ainda a Gilson e Moisés, pela disponibilização dos
vídeos e livros e sugestão de materiais importantíssimos para a condução do nosso trabalho.
vii
A Profa. Leila Blass. Tive oportunidade de contatá-la, embora sem conhecê-la
pessoalmente. Suas sugestões muito valiosas também foram incorporadas nesse trabalho.
À Cristina Filgueiras, primeiramente pelo interesse relacionado ao tema, por acreditar
e dar relevância ao assunto; pelo suporte bibliográfico imprescindível para a realização da
pesquisa; pela paciência, e, sobretudo, pela valiosa orientação.
Aos professores do mestrado pelo suporte teórico.
Aos colegas do Mestrado, pela amizade, pelo carinho e pelas discussões
enriquecedoras.
À equipe da Secretaria do Mestrado pela paciência e disponibilidade.
À Profa. Lucília Neves pelo incentivo para conduzir a pesquisa, pelas sugestões de
pesquisa. Suas sugestões foram de uma importância incomparável.
Às Profa. Celina Lemos e Magda Neves pela disponibilidade em participar da Banca
Examinadora.
À Ângela, Secretaria do Mestrado e à Rosiane, bibliotecária PUC-MG, pela paciência
e auxílio com as Normas.
Tatiana e Moacir pelo socorro de última hora.
A Fundação de Ensino de Contagem FUNEC pelo incentivo e disponibilização de
parte da minha jornada de trabalho para a dedicação à pesquisa e dissertação.
viii
RESUMO
Esta dissertação aborda as manifestações que ocorrem no espaço público, tomando-se
como objeto de análise as manifestações político-sindicais promovidas pelo Sindicato dos
Bancários de Belo Horizonte e Região na Praça Sete de Belo Horizonte.
Para a concretização da investigação, foram realizadas consultas em fontes de
imprensa, no Centro de Pesquisas Históricas da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais e no acervo do Sindicato dos Bancários, além de entrevistas com militantes do
movimento sindical bancário com atuações em diferentes momentos, abarcando o período de
1933 a 2007.
Três categorias analíticas são centrais no trabalho: espaço, manifestações e movimento
sindical. No enfoque proposto, os dois últimos elementos foram frequentemente associados
àquele primeiro. No estágio inicial, foram delineadas as definições sobre manifestações, bem
como localizado o debate sobre o tema no terreno das Ciências Sociais. Num segundo
momento, foi abordada a discussão sobre o espaço público, contextualizando-se a história de
Belo Horizonte e a importância estratégica e simbólica da Praça Sete como espaço de
manifestações. Além disso, levantou-se a história do movimento sindical bancário e as
transformações nas formas de manifestação, chegando à intervenção político-cultual, aliando
manifestação, política, cultura e luta pelo direito à cidade.
Palavras-chave: Sociologia das manifestações, manifestações, estratégias de rua,
manifestações sindicais, espaço público, praças públicas, manifestações em praças públicas.
ix
ABSTRACT
This dissertation approaches the manifestations that happen in public spaces – in
question, the syndicals and politics manifestations promoted by the Syndicate of Bankers of
Belo Horizonte and Neighborhoods at Praça Sete in Belo Horizonte downtown, Minas Gerais.
In order to realize this investigation, researches were done at the press of the Centro de
Pesquisas Históricas at Pontificia Universidade Católica de Minas Gerais, and at the Sindicato
dos Bancários beyond interviews with the militants of the syndicate of bankers movement
along of different periods since 1993 to 2007.
In this way, three analytical categories were crucial at this work: space, manifestations
and syndical movement. In this approach, these two last elements were often associated to the
first one.
On one hand, we defined the word manifestations, as well as we located the debate
about the subject at the field of the Social Sciences.
On the other hand, we approached the discussion about the public space
contextualized into the history of Belo Horizonte and the importance of the symbolic strategic
of Praça Sete as a place of manifestations. Besides it, we showed up the history of the
syndical bankers movement and its transformations in the way of manifestations achieving the
political and cultural intervention; joining manifestation, politics, culture and the struggle to
reach the rights in the city.
Key-words: Sociology of manifestations, manifestations, street strategies, syndical
manifestations, public spaces, public squares, and manifestations in public squares.
x
LISTA
DE
FIGURAS
FIGURA 1 Passeata “Grito dos Excluídos”, 1999...................................................................28
FIGURA 2 II Congresso Eucarístico – Comunhão dos Homens – Praça Sete, 1936 ..............64
FIGURA 3 Praça Sete, 1948 ....................................................................................................82
FIGURA 4 Praça Sete – Campanha Aníbal Benévolo, 1943...................................................99
FIGURA 5 Greve dos Operários da Construção Civil, 1979.................................................102
FIGURA 6 Campanha das Diretas Já – Praça Sete, 1984......................................................105
FIGURA 7 Manifestação na Praça Sete, 1989.......................................................................107
FIGURA 8 Lançamento da Campanha Salarial, 1998 ...........................................................130
FIGURA 9 Carnaval Sem AIDS – Sindicato dos Bancários, 1998........................................136
xi
LISTA
DE
TABELAS
TABELA 1 Estoque estimado de Empregos no Setor Financeiro..........................................123
QUADRO 1 Manifestações no espaço público e atividades do SEEB-BH em Belo Horizonte.
Período 1932-2007 .................................................................................................................179
xii
LISTA
DE
ABREVIATURAS
Org. - Organizador
Ed. - Editor
Coord. - Coordenador
Conf. - Confederação
xiii
LISTA
DE
SIGLAS
BANERJ - Banco do Estado do Rio de Janeiro
BB - Banco do Brasil
BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
BEMGE - Banco Estadual de Minas Gerais
BH - Belo Horizonte
BHTRANS - Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEF - Caixa Econômica Federal
CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais
CGT - Confederação Geral dos Trabalhadores
CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas
CONTEC - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito
CONTRAF - Confederação Nacional dos Trabalhadores do Setor Financeiro
CPH - Centro de Pesquisas Históricas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
CREDIREAL - Banco de Crédito Real
CRMS - Centro de Referência e Memória Sindical do Sindicato dos Bancários de Belo
Horizonte
CUT - Central Única dos Trabalhadores
DCE - Diretório Central dos Estudantes
DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos
DOPS - Departamento de Ordem Política e Social da Secretaria de Segurança Pública
DRT - Delegacia Regional do Trabalho
FEB - Força Expedicionária Brasileira
FENABAN - Federação Nacional dos Bancos
FHC - Fernando Henrique Cardoso
IAPB - Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários
IEPHA - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
JOC - Juventude Operária Católica
JSB - Jornal do Sindicato dos Bancários
MST - Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra
OSB - Oposição Sindical Bancária - Central Ùnica dos Trabalhadores
PBH - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
PCB - Partido Comunista Brasileiro
PT - Partido dos Trabalhadores.
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PUC-MG - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
SEEB-BH - Sindicato dos Estabelecimentos Bancários de Belo Horizonte e Região
TFP - Tradição Família e Propriedade
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UMES - União Municipal dos Estudantes Secundaristas
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................15
1.1 Objeto da dissertação.....................................................................................15
1.2 Os caminhos da investigação........................................................................18
1.3 A pesquisa documental e entrevistas...........................................................21
1.4 Uma visão panorâmica e múltiplos focos.....................................................25
2 OS SIGNIFICADOS DAS MANIFESTAÇÕES EM PRAÇA PÚBLICA.................28
2.1 Manifestação em espaço público ..................................................................28
2.2 Direito à manifestação em praça pública......................................................32
2.3 O tema nas Ciências Sociais..........................................................................34
2.4 Manifestações nas Ciências Sociais brasileiras ..........................................40
2.5 O que é manifestar..........................................................................................42
2.6 Manifestação na perspectiva Pierre Favre....................................................45
2.7 As manifestações operárias...........................................................................53
2.7.1 A festa do 1º de Maio....................................................................................53
2.7.2 Manifestações e greves ...............................................................................55
2.7.3 As manifestações do 1º de Maio no Brasil.................................................57
3 O ESPAÇO PÚBLICO DA MANIFESTAÇÃO......................................................60
3.1 Palavra, política e espaço...............................................................................60
3.2 A invenção constante da cidade....................................................................64
3.2.1 Reinvenção do centro da cidade como busca de novas raridades. ........65
3.2.2 Praça dos negócios contra os ócios ..........................................................67
3.2.3 O centro financeiro no centro da cidade....................................................69
3.2.4 Disputas no e sobre o espaço.....................................................................71
3.2.5 Lugar do automóvel – A modernidade pede passagem............................76
3.2.6 Normalização e espacialização das manifestações ..................................78
3.3 A constituição da Praça Sete como lugar de expressão política................82
3.3.1 O centro de Belo Horizonte e os operários................................................82
3.3.2 Eles queriam o centro ..................................................................................84
3.3.3 Praça Sete: espaço de sociabilidade ou de disputas?..............................88
3.3.4 Manifestações no centro: trajetos e simbologias......................................91
3.3.5 Importantes manifestações .........................................................................97
4 O MOVIMENTO SINDICAL BANCÁRIO E A PRAÇA SETE.............................107
4.1 Uma visão panorâmica antes do mergulho ................................................107
4.2 Histórico do Sindicato dos Bancários.........................................................116
4.2.1 Principais greves........................................................................................117
4.2.1.1 Greve de 1946 ...........................................................................................117
4.2.1.2 Greves de 1961/63 ....................................................................................118
4.2.1.3 As Greves de 1979 a 1990 ........................................................................121
4.2.1.4 Movimento sindical e conjuntura neoliberal: 1995-2007 ............................122
4.3 Sindicalismo e política..................................................................................125
4.4 Características das manifestações dos bancários ....................................130
4.4.1 Tempo e espaço do trabalhador bancário................................................130
4.4.2 Manifestações como forma de pressão e modo de expressão..............132
14
4.5 Implicações da atuação no centro...............................................................134
4.6 Duas experiências para a cidade: O Carnaval sem AIDS e o Entreposto
Cultural...................................................................................................................136
4.7 Quando o Sindicato dos Bancários se encontra com a Praça Sete de
Setembro................................................................................................................140
4.7.1 Importância das manifestações para os manifestantes..........................140
4.7.2 Importância das manifestações dos bancários para a cidade de Belo
Horizonte................................................................................................................144
4.8 Novas tecnologias e repercussão sobre as manifestações......................146
5 CONCLUSÕES...................................................................................................151
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................................156
7 APÊNDICES .......................................................................................................170
7.1 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semi-estruturada com ativistas
sindicais.................................................................................................................170
7.2 APÊNDICE B – Manifestações políticas e Sindicais em Belo Horizonte..171
8 ANEXOS.............................................................................................................180
8.1 ANEXO A – Carta do Bispo Dom Serafim ao Sindicato dos Bancários....180
8.2 ANEXO B – Resposta do Sindicato à carta do Bispo.................................182
8.3 ANEXO C – Alvará de circulação de carro de som.....................................185
8.4 ANEXO D – Solicitação de licença para som no chão ...............................186
15
1 INTRODUÇÃO
Não adianta olhar pro céu, com muita e pouca luta. Levanta que você tem muito
protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer. Não adianta olhar
pro chão, virar a cara pra não ver. Se liga que te botaram numa cruz e porque
Jesus sofreu não quer dizer que votenha que sofrer. Até quando vovai ficar
usando rédea? Rindo da própria tragédia? Até quando você vai ficar usando rédea?
(Pobre, rico, ou classe média). A quando você vai levar cascudo mudo? Muda,
muda essa postura. Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo
de fazer censura.
Até quando você vai levando?(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando vo vai levando?
(Porrada!Porrada!)
Até quando vai ser saco de pancada? (O PENSADOR, 2001).
1.1 Objeto da dissertação
Marx, em suas considerações sobre a investigação científica, afirma, em certo
momento, que em toda ciência o difícil é o começo. Esta consideração, a despeito de sua
simplicidade, nos diz muito, sobretudo a quem se envolvido na dura tarefa de transpor os
muros da linguagem cotidiana, principalmente a jornalística, empenhada numa tarefa de
rechaçar ações dos grupos organizados que se dispõem a ir para as ruas, fazer protesto.
Produzir um conhecimento despido de julgamento acerca de alguns assuntos, por vezes,
parece ser uma tarefa ainda mais árdua.
Eis então o ponto de ligação com o nosso objeto de investigação. Desde o momento da
preparação do projeto de pesquisa, o universo que nos chamava a atenção era a multidão,
termo que passamos a considerar, sobretudo a partir de um livro de Rudé (1991) que trata dos
movimentos populares na França e Inglaterra no século XVIII e XIX. Sim, porque a nossa
preocupação era de alguma maneira o fenômeno coletivo, mais precisamente a ação dos
sujeitos agindo coletivamente no espaço público. Contudo, essa formulação nos pareceu
muito fugidia. Não seria muito difícil estabelecer a conceituação sobre multidão; ,no entanto,
a investigação empírica da mesma exigiria um esforço considerável. Por outra via, não nos
interessávamos efetivamente pela multidão em si, qualquer multidão. Passamos então a um
segundo esboço, buscando aproveitar aquele feeling. Não abandonamos a perspectiva, mas
sim refinamos nosso olhar. Sempre às voltas com um tema associado às ações coletivas na
rua, com uma pergunta insistente, qual seja, a de tentar saber por que as pessoas vão para as
ruas, aderindo às multidões em protesto.
Mais um esboço e outro esboço, até que o objeto foi esclarecendo-se
16
consideravelmente. Chegamos por fim àquilo que era palpável. Algo muito mais concreto do
que a multidão, embora, como se pode constatar, a mesma encontra-se inserida no universo de
análise que ora propomos. Chegamos à manifestação.
Doravante, o objeto se apresenta e clama por novos refinamentos. O primeiro
refinamento diz respeito aos esclarecimentos acerca do próprio termo manifestação. Por sua
vez, definidos os termos iniciais, outros refinamentos se tornam necessários. Precisamente,
mais duas questões se apresentam. Em princípio, cabe definir o lugar da manifestação e
depois apresentar os sujeitos manifestantes, ou seja, os sujeitos coletivos e os indivíduos que
compõem esta coletividade. Estes sujeitos coletivos podem ser os movimentos partidários,
sindicais, movimentos sociais e também o próprio poder público, que, conforme veremos,
também organiza as manifestações oficiais no espaço público. Oportuno dizer que cada
segmento coletivo carrega consigo cores político-ideológicas distintas, levando para a rua as
suas visões de mundo. Estudar as manifestações indica, dentre outras possibilidades, a
necessidade de caracterizar o grupo que manifesta e suas visões de mundo.
Dentre os sujeitos coletivos que manifestam em espaço público, analisaremos
empiricamente as ações do movimento sindical bancário, tomando como foco mais preciso as
manifestações em via pública.
São estes os termos sobre o objeto, em linhas mais gerais. A partir desses
refinamentos, poderemos apresentar a organização do trabalho, segmentado em três capítulos.
No primeiro capítulo, situaremos o tema manifestação nas Ciências Sociais.
Adiantamos aqui um problema inicial: não encontramos muitas produções brasileiras que
tratem mais precisamente do tema. Destarte, as manifestações aparecem como problema
pertinente para as Ciências Sociais naquelas oportunidades em que a efervescência política
chega a atingir as estruturas do poder vigente
1
. As manifestações diversas não deixaram de
ocorrer nos grandes centros urbanos, sem merecer, no entanto, um olhar mais aproximado por
parte dos pesquisadores. Serão apresentadas as definições sobre o tema, situando a questão
legal sobre manifestações, ou seja, como têm sido tratadas as manifestações, ou mais
precisamente, o direito de manifestar em praça pública, tomando-se como referência as
constituições brasileiras a partir de 1934. Para conceituação e enfoques teóricos do tema,
nosso subsídio será a contribuição da sociologia francesa, com os trabalhos de Favre (1990) e
1
Alguns exemplos: as manifestações por Reforma de Base (1962-63), as passeatas do Movimento
Estudantil (1968) as greves do ABC (fim da década 1970), a campanha das Diretas (1984), o Impeachment do
Presidente Collor (1992).
17
Offerlé (1990), autores que nos auxiliam a compreender as manifestações como tema de
pesquisa para as Ciências Sociais.
Uma questão substancialmente relevante inscreve-se no cerne de nossa investigação,
precedendo, deste modo, todas as considerações sobre a temática, a saber: qual o lugar das
manifestações no âmbito da democracia? Trata-se de uma questão fundamental no terreno das
Ciências Sociais. Semelhantes questões serão discutidas à luz das interpretações de Fillieule e
Pechu (1993). Para encerrar o capítulo e abrindo o terreno para a discussão das
particularidades do movimento operário, levantaremos aspectos inerentes às manifestações
operárias, encabeçadas ou não pelas organizações sindicais. Tomaremos o dia de Maio
como data festiva, carregada de toda simbologia operária, as bandeiras e cores associadas às
suas aspirações. Nossa elaboração será conduzida a partir dos trabalhos de Mouriaux (1990),
Perrot (1974), Perrot (1992), Perrot (1996) e Tartakowsky (1990).
Na seqüência, e como uma manifestação pede um espaço onde realizar-se, no capítulo
segundo vamos tratar primeiramente da organização sócio-espacial, bem como do
entendimento da política e a relação com o espaço público. Nesse momento, serão muito
oportunas as abordagens de Arendt (1993), Lefebvre (2001b), Lefebvre (2002) e Santos
(2002). Num segundo momento, a abordagem seconduzida para pensar as especificidades
do espaço público de Belo Horizonte, tendo a Praça Sete como lugar privilegiado da análise,
atentando-se para a apresentação dos elementos que fizeram desta um lugar reconhecido pelos
históricos processos de manifestações que nela ocorreram. Para apresentarmos a construção
deste trajeto, nos basearemos nos trabalhos de Faria e Grossi (1982), Lemos (1988), Le Ven
(1987), Le Ven e Neves (1996) e Monte-Mór (1994).
O último capítulo versará sobre a manifestação dos movimentos sindicais. Nosso foco
serão as manifestações do movimento bancário de Belo Horizonte, tomando-se como
referência o Sindicato dos Estabelecimentos Bancários de Belo Horizonte e Região (SEEB-
BH). Para o capítulo reserva-se, num primeiro momento, a descrição da história do Sindicato,
desde a sua fundação até os dias de hoje. Nosso objetivo não é fornecer uma descrição
histórica pormenorizada daquela entidade, mas sim apresentar um roteiro histórico que deverá
cruzar-se com os episódios significativos da cidade de Belo Horizonte e da conjuntura
nacional. Para acompanhar essa trajetória, associando-a com as manifestações na cidade,
realizamos um exaustivo levantamento das manifestações em Belo Horizonte, a partir de 1930
até 2007, e a partir daí elaboramos um quadro, ao qual faremos alusão em diversas partes da
dissertação. Em função do tamanho do quadro, optamos por colocá-lo na parte de Apêndice,
de modo a não comprometer a leitura do texto. Deste modo, sempre que necessário,
18
sugerimos ao leitor que acompanhe aquele quadro, intitulado Apêndice B.
Ainda quanto ao último capítulo, nosso suporte foram os trabalhos de Stralen (1995),
que cobre a história do Sindicato no período de 1932 a 1964, e Nobre (1993), que acompanha
a organização da Oposição Sindical Bancária da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
passando pela vitória nas eleições do Sindicato em 1987, até 1990. Analisaremos também os
documentos levantados ao longo da pesquisa documental nos arquivos daquela entidade, no
Centro de Pesquisas Históricas da PUC e nos artigos da imprensa. A parte central do capítulo
se refere às análises das situações em que o Sindicato ousou manifestar-se na rua, para a qual
utilizamos as entrevistas com que militantes do movimento sindical, representando alguns
segmentos ou mais precisamente, algumas matrizes do discurso político-social que se
apresentam naquela entidade, desde a sua fundação. Necessário dizer que estas entrevistas
também foram incorporadas à discussão dos capítulos precedentes, sendo oportunamente
citadas, sobretudo no capítulo três.
Por fim, antes de entrarmos em outra ordem de assuntos, destacamos que esse texto
está ap585(o)-0.295585( 0.295585( )-6558(z)-6.2659(a)3.74(m)-2.45995(o)-0.295585(s)8.7( 0.29574( )-84)3.74(s)-1.22015(e)-6g.212(o)-0.295585(u)-0.2.2659(n)-0.295585(d)-0.295585(o)-0.295574( )-84 Td[(P)-4.)-2.45995(o)-0.295595585(r)2.74122(ã)3.74(o)-0.295574( )-20.1643(P)-4.33117(U)1.57564(C)-3.39583( )37(M3.74521891.2312(i)-2.16436(n)-0.216436(a)3.74(s)-1.2374( )-200.213(d)-0.295585(e)3.74( )-2047792(n)-0.295585(o)-0.295585(r)2.95585(m)-2.45995(al7593( 39.4466.077 0 Td[(i)-2.16558(z)-6.2659(a)3.74(ç)3.74(ã)3.74(o)-0.295574( )-200.253(()2..1643(P)-4.O3117(U)1.N9556(U)1.57-9.365-24I)1TJ-03(F)596(S)46(Í)2TJ-62.57523.404(ãI)1TJ-03(A557.432-11.2371( )25 39.446.4209 -20.6433117(U03(N557.430-24I)1TJ-09(V3117(U03(E7319(T)0.6R7564(C)-3..1596(S)-14I)1TJ--10D1655(H)1. Td[(A)1.D1655(H)1.09(V3117(U03v33117(U--10D1655(U)1.N956TJÓ.64331149(L)1.D1655(HI3(F)597(P)-41Í)2T6(S--10D1655()1.09(V3117(D2..1643(PA)1.D1655(H)1.09(V85(s)M5(5855-0.-62.57523.40.64331127-0.146571( 0.295585( ))1.09(V85(s)G2..1643(PA)1.D1655(HR03v33117(U--64331127-I3(F)596(S0.295585( ))2.80439(o)-10.30159(o)-)]TJ250.2280]TJ250.2280]TJ250.228.295585(8)-0)1.57319(T).1.2312(.)-0.14657/R12.33333 38.88 TLT*( )]T95581655.-6558(z)-62]T95581655 0.295055 04.296(T)O(t)-2.1655s.295585( ))1.294363(r)29 674-2.16295585( )m3.395817(U-2.45995( )-21.D1655(Hh21.D1655(Ho21.D1655(Hs.295585( ))1.294363(rd21.D1655(Ha29 674-2.)1.294363(r-2.45995( )-21.D1655(Hv)89 686436(295585( )s.2955285(rt2.80561( )-110.213(fg)564(C5(o)-0295585( )ç0295585( )ã5.4209 -20.61.D1655(H)1.3.74(n).14657/R8.33333 1( )-0.1431d( )Tj-H)1. Td[(10.3015(u)-585((o)9.71032( )-180.253(m)-.2.2659(n)-0.295585(d)-0.29-585((o30.1643(d)-0.-585((o2(t)-2.16436(ap 0.295585( )-63.74(n)-0.294974.33117(o)-0.29558n)-0.295585(t)-2294974(a)3.74(s)10.3015(u)-9558n)-3 0 Td[( )-240.288(p)-)2.80439(s)-1.231264(e)-6.2659(c)3.74(e)3.74(.295585(d)-0.29-585(29)-2.45995( )-1.3015(u)-585(2o)-0.295585(r)2.95582(m)-2.45995(a)3.74(n)-0.95585(o)-0.29512(d)-0.295585(e)3.74(s)-1.231(u)-0.2955)3.74( )-100.206(p)-197( )(u)-585(2o).295585( )-0.147792(n)-0.2)3.74(n)-0.295585(0.29512(d)-0.295592(c)-6.265)-1.231(u)-0.2.295585(d)-0.29-585(29)-360.36(o)-240.288(p)26(r)2.80439(a)3.74.295585( )-0.147792(n)-0.29-585(29)-2.45995( )30.1643(d)-0.-585(2 )-200.253((-0.295585(a)3.74244(-0.295585(-0.293142(h)-.-585(2 )0.295597(3)-110.212(t)3.74244( )-110.212(t0.640026())2.80439(,307312146( )250]TJ-250.228(a)3.74(n)-0.295583(m)-2.46056(e)3.74(n)--1.22997(s)-1.22997(a)3.74(n)-0.294974(18736(c)3.7(o)4(a)3.74(s)10.3015(u)-585((o)9.71032( ))-360.36(m)-2.45995(a)3.74(i)-2.-585((o30.1643(d))-2.16436(s)-1.2312(c)3.77(o)30.1643(d))-7.20029(a)3.741228(s)-1.22997(a)3.74(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.29558)-.-585(2 ))1.57564( )-30.1643(p95585(o)-a.29558)-.-585(2 ))-1.2312(t)-2.16436(a585(2o)-0.295585(r)2.95582(m)-2.45995(a)3.74(n)-0.0.288(p)-0.1643(d)(d)-0.295585(e)3.74(s)-1.231(u)-0.2955.2374( )-20.2312(u)15.295585(n2(t)-2.16436(a585(2o)-1.22997( )-110.213(d)-585(2o))3.73756(m)-)-180.253(B)6.61035(a.1643(d)s)-1.2312(s)-1.2312(á)3.74(r)2.80439(i)-2(t)-2.16436(a585(2o)-1.22997( )-36(s)-1.2312(c95585(o)-a.29558(d)-0.295585(e)3.74(n)-0.2955836(a585(2o))2.80439(i)-2(t)-2.16436(a585(2o).295585(8)-0.293142-2.18)-.-585(2 ))-1.2344(m)-2.46239(e))-2.46239( )-60.182(o)-0(a585(2o)-1.2299(q)-0.293142(u)-03.74244(s)u)15.22( )250]TJ-265.597 -20(a)3.74(a.29558je)3.74(n)-0.295580.295585(i)-2.1655 Td[(a)3.74(-0.295585(r)2.80561(i)3.74(s)-1.22997( )-.147792(n)-0.29-3.74(s)0.295585( )-180.254(S)-4.33117(i)-2.16558(n)-0.2955855d)-0.295585(i)-2.16558(c)3.74(a)3.74(t)--2.16558(m)-2.45995(,)-5(à)3.74( )-240.289(d)-v1.22997( )-110.239012(c)3.77(o).147792( )-0.147792(s)-5(t)-2.16558(e)3.74(s)-0.295585(r)2.9558(e)3.74(n)-0.2955885(c)3.74(á)-6.2659(r)2.8043240.289(d)-0.295585(i-1.2312(,)-0.146571( )-110.212-1.2312(,)-0.295585( )-60.1832)3.74244( )q)9.710362966295585(n-1.2312(q)-0.295585(u)-0.295585(i)-2.16436(s312(,)-6(e)3.74( )-70.1879(f)2.804385(t)-2.164(d)-0.295585(e)3.74(m)5(u)-10.3015(e)3.77(l)-2.16558(e)3.74(v)-0.295585(a)3.74(u)-0.295585(l)-2.16436(a)3.74(d)-058(r)2.80561(ê)3.74(s)-1.12 T2( )0.295574( )-84 Td.2659(c)3.74(e)397( )12(a)3.74(r)2.80439(e)3.74(m)-2.45995(o)-0.0.3015(e)-6.2659( )3.74244(l)-2.46239( )(c95585(o)-a.2955312(s)-1.2312(eà-6.2659( )-45994n)-0.293142(s)36296624( )250]TJ-276.523(t)-2.16558(7(s)-1.22997.295585(o)-0.295585(s)8(t)-2.165580.2955885(c)37(o)30.1643(d)(u)-0.295585(a)3.74(ç)3.74(õ)-0.295585(a).2317(i)-2.16485(r)2.80439(e)3.8(r)-7.20020.295585(i)-2.164).2317(i2(a)3.74( )-100.206(d)-6(p)-197( )(u)).2317(i2(t)-2.16436(a)3.74(c)3.7-180.254(S)-4.33117(i)-5(a)3.74(l)-2.16436(h)-0.295585(o)-0.).23171))-7.20029(a)3.74122-0.).23171)37(M3.74521891.2312(i)-v1.22997( )-110.212(d)-0.295585(e)3.74(s)2.80439(t)-2.16436(i.295585(d)-0.295585(a)-6.2659(ç)3.74244)2.80439(o)-10.2312(u)90.295585(n-1.22997( )-180.253(c)3.74(o)-3 0 Td[( )-240.288(p)-0(r)2.80439(e)3.-4.33117(i)-2.16558(n)-039(e)3.-4.33117(i)-2.16558(n)-0.295585(d)-0.295.23171)2.16436(h)-0.295142(n)-0.95.23171)3 0 Td[( )-240.288(p)-)2.80439(s)-1.231264(e)-65(à)3.74( )-240.289(d)--0.293142(a)3.74244(m)-2.46239(e)3.74244(n)-)-2.46239( )-60.182(o)-0().23171))-7.200(u)-0.293142(n)-03.74244(s)u)90.22( )250]TJ-276.523(t)-2.16558(-1.22997( )-100.20(e)3.74(n)--1.2299-0(5.1707s)-1.22997( )-110.213(d)5.1707s)-0.295585(r)2.9558(e)3.747( )-100.2012.1715(ó)-0.3.74(n)-0.29497-1.22997( )(d)5.1707s)110.213(d)5.1707s))-7.20029(a)3.74122-0.5.1707s))-70.1879(f)2.80439(o)g-7.20029(a)3.741222(m)-2.45995(a)3.745n)-0.294974(i)-2.16558(z)-6.2659(a)3.74(ç)3.74(ã)5.17061))-7.20029(a)3.74122-60.182(o)-0(5.17061)6(e)3.74( )-70.1879(f)(d)-0.295585(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.164(ã)5.17061))-7.20029(a)-110.212(d)-15.17061)p)9.710345987.295585(0.29512(d)-0.295515(e)3.74(s)-1.2312(q)-0.295585(u)-0.295585(i)-2.16436(5.17061)e-2.16436(5.17061)5(i)-2.16436(c)3.79(a)3.74(l)-12.1703(g)85(r)2.80439(e)3.74(n)36(5.17061)-1.22997( )-180.253(c).2312( ))-240.288(s)-1.2312(e)(e)3.74(n)-s)-1.2312(s)-1.2312(á)3.74(r)2.80439(i)-2(t)-2.16436(5.17061)p)0 Td[( )-240.288(p)-0e)3.74( -2.45995(i)-2.16436(l)-0.293142(a37(M3.74521891.231(u)-0.293142(n)0.293142(t)-2.16436(.293142(n)-0.293142(s)345987.4( )250]TJ-.147792( )-0.14779.1596(c)3.74(o)-0.2f)2.805(e)-6.265-0.295585(e)3.74(õ)-0.295585(a-0.2955855(e)3.74( )-110.213(e)3.74(n)-0.295585(t)5(e)3.77(l)-2.11873(e)3.74(v)-0.295585(i)-2.16558(s)-1.22997(t)-2.1655.(a-0.295585-1.2312(.)-0.146571( )-0.147593( )]TJ35.4209 -200.294974.33117(o)3.74122-0.)-250.293.74122-0.)-250.290.295585(t)5(e)3.70.29497-1.22997( )(a)3.745n)-0.294974(i)-2.16558(z)-6.2659(a)3.74(ç)3.74(ã))-250.295(àc)-6.265)-1.231(ã))-250.29p-7.20029(a)-110.212(d(d)-0.295515(e)3.74(s)-1.2312(q)-0.295585(u)-0.295585(i)-2.16436(5585(o)-12(a)3.74(r)2.804394(c)-6.2659(a)3.74(p)-12(s)-1.2312(á)3.74(r2(t)-2.16436(a0.295585())2.80585(o)-0.295585( )-240.288(o)-0(a)3.74(u)-0.2955874(r)2.80439(e.206(d)-6(p)-197( )(u))276.523 0 Td[( )-.295585(u.2312(9.559295585(t)]TJ27(u))276.5212.1715(d)-0.294363(a)3.74( )-0.146571(a)3.74(q)-)-2.16558(z)-6.2659(a)3.74(ç)3.74(ã))-250.895(àc)-6.265)-1.231(ã))-250.8-110.212(o)-0.295585(u)--180.253(m)-2.45995(i)-2.1643925-0.2949742(ha)3.74244(-0.295585(ã0.295585(.295585(d)-0.29)3.74(o)-10.301(q)-0.2.293142(h)-10.299(a304.0.22( )250]TJ-.2f)2.805(e)-6.(u)-0.295585(e)3.716558(c)3.74(a)3.722997.295585(o)-(u)).2317(i)-240.289(f)2.80561(o)-0.295586(m)-2.45995(a)3.74(i)-2.).2317(i)-10.3015(r2 T27)-0.295583(m)-2.0.213(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16558(r)2.80561(e)3.74(v)-0.295585(i)-2.3.74(n)-0.294915(r-2.).2317(i(e)3.747( )-100.2074(r)2.8043á(e)3.716558(c)3.7.2955855d)-0.295585(i)-2.36(e)3.74(s)-1..23171)-10.1525( )-240.288(9(a)3.74(l)-12.1703(g))-180.253(s)-1.2312(i)-2.16436(n)-0.295585(d)-0.295.23171)(a)3.74(q)-5(r)-7.20029(a).23168-240.288(p)-)71032(8.633295585(n)]TJ267.392(e)3.74(l)-2.(p)-12(s)-1.23.295585(d)-0.295.23171)85(r)2.80439(e)3.)3.74(c)3.7-180.257( )-.293142(t)-2.162(d)-0.295585(e)3.74(s5(a)3.74( )-40.1702(r)-0.295585(r)2.0.36(o)-240.288(p)30.1643(d))-7.20029(a)59(ç)3.74244(ã)3.74(o)-0.295.23171)D2..1643(Pá)-6.2659(r)2.8043(d)-0.295585(e)3.74(n)-0.2955312(s)-).23171udar-0.293142(a.293142(n)-03.74244(s(8.633247593( )]TJ -20.76 Td[(a)3.74(4(a)3.722997 -20.76 Td[4(a)3.722997.295585(o)-16558(c)3.74(a)3.74(t)--2.16558(m)-2.4460.41)-0.146571( )-70.1879(n)-0.29558294974(a)3.74(s))3.74244(t)-2.1660.41)-7(a)3.74(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.29558)-1.2312(i)-2.10.36(o)-
19
bancária. Mas não deixam de representar significativamente os recortes que vislumbramos no
exercício da nossa investigação. Nossa intenção seria seguir o movimento. Mas como reter
algo do movimento? Quem guardaria a história do mesmo?
Resolvemos entrevistar os bancários não por terem participado de movimentos
grevistas ou manifestações que extravasaram os espaços reservados da porta de banco para se
expressarem nas praças e ruas. Poderíamos ter considerados os bancários independentemente
de sua ligação com o Sindicato. Sem vida, houve pessoas que estiveram presentes em
diversas ocasiões ou em momentos ocasionais. Contudo, ressaltamos que é a construção de
um movimento coletivo, ou mais precisamente, de uma ação coletiva o que nos interessa
investigar. Dificilmente poderíamos encontrar indivíduos que pudessem manifestar livremente
suas opiniões sem o respaldo de uma organização coletiva, em alguns períodos da história.
Alguns relatos de dirigentes sindicais apontam precisamente os riscos de se expor e sofrer
represálias por parte das forças de repressão ou ainda pela possibilidade de demissão. Aponta-
se também a existência de repressão por participar de greves e manifestações. Essas situações
indicam que as pessoas a serem escolhidas deveriam ser aquelas com presença maior no
cotidiano das lutas dos trabalhadores bancários. Tais sujeitos carregam consigo a experiência
histórica, ou seja, trata-se daquilo que também podemos chamar de sujeitos temperados nas
lutas político-sindicais.
Desta maneira, foram escolhidos integrantes do movimento sindical, dentre os quais
alguns com atuação direta, assumindo funções de administrativas como de a direção, ou seja,
aqueles que abraçaram as questões da categoria, vivenciando e ajudando a construir a história
do movimento sindical bancário. Não escolhemos tratar de todas as diretorias ou mesmo
tomar uma categorização, levando-se em consideração uma amostragem histórica de todas as
gestões do Sindicato. Fizemos, pois, uma opção de trabalharmos com a trajetória do Sindicato
dos Bancários, tomando-se suas oportunidades de ação que se expressam no cenário da Praça
Sete.
Passamos por dentro da história do Sindicato para levantarmos a história do
movimento bancário
2
e suas manifestações. Em que pese a relação íntima entre estes dois
pontos, ressalta-se o fato de que eles nem sempre coincidem.
O leque de militantes sindicais escolhido permite que se verifiquem combinações de
2
De acordo com Le Ven (1987) o movimento operário não coincide necessariamente com o movimento
sindical. Eles se relacionam, mas não são a mesma coisa.
20
diferentes concepções políticas, bem como diferentes situações históricas. Assim, tomamos
como referência alguns militantes históricos, tais como Armando Ziller, João Vieira e
Antônio Faria, pessoas que, justamente pela longa trajetória junto ao movimento sindical,
puderam vivenciar períodos diferentes da história nacional, com momentos de abertura
política e outros de autoritarismo. Esses militantes, em seus relatos, realçam muitas
circunstâncias a respeito das manifestações do sindicato ocorridas naqueles períodos.
Como existiu também uma forte relação entre as atividades política e cultural,
sobretudo no final dos anos 80 até meados da década de 90, tomamos como referência,
também, militantes que se encaixam na característica, digamos cultural: Gilson Mello,
assessor do Departamento Cultural do Sindicato, na gestão 1987-1990 e os ex-diretores
Sebastião Rodrigues (Tiãozinho do Banerj) e Solange Ayres (esta atuando como diretora
daquele departamento de 1987-1996). Tais entrevistados realçaram, sobretudo, a importância
da intervenção cultural. Ainda nesse campo, situam-se os atores Jacó do Nascimento e Moisés
Augusto, também da gestão de 1987, ambos atuando nas atividades culturais do Sindicato,
explorando a rua como espaço para realizar suas intervenções culturais. Todos acima
exemplificam uma militância que frisa a importância do casamento entre a política e a cultura.
Além disso, revelam um olhar também voltado para a cidade a partir da intervenção cultural,
ligado ao aspecto da denúncia e da reivindicação, da irreverência e da possibilidade do riso
em praça pública.
3
Um outro grupo de entrevistados é composto por ativistas que se enquadrariam em
uma perspectiva de atuação mais vinculada à ação sindical, ou seja, à matriz discursiva do
novo sindicalismo, que emergiu a partir da década de 1980. José Prata (Prata), Marcelo
D’Agostini e Fernando Neiva podem ser situados nessa matriz. Os sindicalistas Prata e
D’Agostini, ex-presidentes do Sindicato dos Bancários, compunham a organização
denominada Oposição Sindical Bancária (OSB), no final da década de 1970, disputando o
sindicato desde o início dos anos 1980. Em 1987 o grupo chega à direção do Sindicato.
Fernando Neiva, por sua vez, eleito presidente a partir de 1999, corresponderia à visão do
movimento sindical situado num momento de reestruturação do sistema financeiro, que ganha
força sobretudo a partir da segunda metade da década de 1990.
3
Utilizando-se da expressão corporal como meio de denúncia e linguagem política. Incorporando outros
recursos à linguagem sindical que, segundo alguns entrevistados na pesquisa, seria séria e sisuda.
21
1.3 A pesquisa documental e entrevistas
Nossa primeira atividade, a identificação de possíveis entrevistados, teve início ao
vasculharmos material no Centro de Pesquisas Históricas da PUC CPH que havia
realizado um amplo levantamento histórico sobre os 70 anos do SEEB-BH. Ressaltamos,
antes de mais nada, a importância para o nosso trabalho o fato de termos acesso aos arquivos
disponibilizados pelo CPH, sem os quais teríamos que percorrer um caminho muito mais
longo de investigação. O material arquivado contém entrevistas com os seguintes ex-
dirigentes e o atual dirigente do Sindicato dos Bancários: Armando Ziller, Fausto Drummond,
Fernando Neiva, Hermélio Campos, João Vieira e Marcelo D’Agostini, ainda vivos
exceção de Armando Ziller, falecido em 1992).
Além dessas entrevistas, também um resumo das Atas daquela entidade, desde a
sua fundação. Torna-se necessário dizer que as referidas entrevistas foram realizadas com
outras finalidades, não evidenciando imediatamente o objeto de nossa análise, qual seja, as
manifestações político-sindicais. Contudo, para nossos propósitos, foi possível levantar alguns
julgamentos pertinentes e que são significativos para essa dissertação, sobretudo porque
trazem menção sobre circunstâncias significativas do Sindicato nas manifestações de rua e
informam inclusive sobre o estado de ânimo dos ativistas por estas ocasiões.
Percorremos fichas de antigas atas, entrevistas de dirigentes sindicais, jornais e textos
sobre o movimento bancário, que foram essenciais para a montagem da lista de entrevistados.
Deste exercício, alguns nomes se apresentaram como sujeitos expressivos na reconstrução
histórica do movimento e as interpretações sobre as manifestações foram sendo destacadas em
diversas situações: em atas de assembléias, atas de reuniões de diretoria e entrevistas com ex-
dirigentes.
No entanto, tínhamos ali materiais que foram organizados tendo em vista o
levantamento histórico sobre os 70 anos do Sindicato. Buscávamos um recorte dentro desta
história: as situações de greves, as campanhas salariais que necessariamente vieram à rua. Nos
depoimentos, colocamos em evidência tais situações de efervescência do movimento em que
o Sindicato dispôs-se a ir efetivamente às ruas.
Contamos com as referidas entrevistas disponíveis no Centro de Pesquisas
Históricas, outras entrevistas e relatos foram sendo resgatados aqui ou ali, de forma a
organizarmos um corpus de depoimentos a serem analisados.
Isto posto, a explicitação de como chegamos aos nomes escolhidos merece ser
apontada. Os nomes de Armando Ziller, Fernando Neiva e Marcelo D’Agostini constavam
22
nas entrevistas realizadas pelo CPH. Feitas as leituras destas entrevistas, alguns pontos
precisavam ser complementados. Para tanto, seguimos pesquisando entrevistas realizadas com
estes ativistas para outros fins, mas que poderiam conter pistas sobre as manifestações dos
bancários. Encontramos, a partir daí, entrevista com Armando Ziller encomendada pela
Assembléia Legislativa. Encontramos referência também ao ex-diretor Antônio Faria, a partir
da indicação da Professora Lucília Neves, segundo a qual uma entrevista deste ativista se
encontrava no Centro de História Oral da UFMG. Uma pesquisa se faz com informantes. As
peças vão sendo montadas, lentamente, a partir de uma informação aqui e outra ali.
Mas nossa lista de entrevistados ainda estava incompleta. Assim, como um fio puxa
outro, sentimos a necessidade de retomar contato iniciado com o Centro de Referência e
Memória Sindical – CRMS – do Sindicato dos Bancários.
A Pesquisa junto ao CRMS nos possibilitou acesso a fotos, levantamento de textos e
documentação sobre a Campanha do Carnaval sem AIDS, os alvarás para manifestações, os
clippings sobre manifestações do Sindicato nas ruas e as repercussões na mídia. O material
pesquisado nos forneceu pistas para chegar a outras pessoas-chave que poderiam discorrer,
com propriedade, sobre os atos públicos daquela entidade. Averiguamos a existência de uma
lacuna nessa lista de entrevistados. Tínhamos em mãos ainda poucas referências quanto ao
período da Ditadura. A partir das leituras das entrevistas de Armando Ziller e Antônio Faria,
constatamos que esse período foi mesmo marcado pela ausência do Sindicato nas ruas. Não
era um tempo propício a isto. Outra lacuna seria quanto ao período da formação e início da
atuação da Oposição Sindical Bancária, a partir de 1979, momento em que José Prata de
Araújo se apresentava nas assembléias do Sindicato, com postura crítica contundente com
relação à diretoria do Sindicato. Tínhamos a entrevista de Marcelo D’Agostini, um dos
militantes bancários da OSB da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e posteriormente
presidente do Sindicato, na segunda gestão cutista.
A documentação histórica levantada junto ao Sindicato dos Bancários e o Centro de
Pesquisa Histórica foram essenciais para construirmos um quadro das principais
manifestações ocorridas em Belo Horizonte, seja na Praça Sete ou em outros espaços
(Apêndice B). A partir da identificação dos episódios de manifestações, foi possível realizar a
pesquisa dos arquivos da imprensa mineira, na Hemeroteca do Arquivo Público Mineiro.
Completávamos o quadro, podendo-se evidenciar algumas ações do Sindicato dos Bancários,
bem como as repercussões. Algumas situações merecem destaque. São elas:
No período de 1962 a 1964, intensificam-se as atividades grevistas e manifestações na
Praça. A atuação repressora do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) se fazia
23
presente, sobretudo num momento em que a Praça torna-se palco de diversas manifestações
estudantis e sindicais. É apropriado sublinhar que a repressão às manifestações ocorria no
período anterior ao Golpe de 1964. A título de exemplo, é interessante frisar que nesse
momento era comum a autuação (os ativistas se diziam “fichados”) no DOPS para ativistas
24
consideração, passemos às conseqüências e à defesa de uma pesquisa dessa natureza, a partir
de uma discussão metodológica.
Em algum momento do desenvolvimento das Ciências Sociais, análoga aproximação
seria tomada no mínimo com desconfiança por parte da comunidade científica. Seria por
demais arriscado uma imersão junto ao objeto de pesquisa, a ponto de comprometer os
resultados, uma vez que, tomado de uma paixão pelo mesmo, o analista fizesse mais uma
defesa do mundo pesquisado que uma ciência no rigor da expressão. Destarte, o conhecimento
da realidade social deveria ser alcançado por um distanciamento face ao objeto estudado.
Este não é o entendimento de alguns teóricos no campo das Ciências Sociais. A
começar por Max Weber, que, embora postulasse uma atitude de objetividade para se fazer as
análises sociológicas, entendia, no entanto, que os fatores subjetivos não podiam ser
totalmente isolados no âmbito das Ciências Sociais. Para ele, a escolha do objeto de pesquisa
envolveria uma elevada carga de subjetividade. Mas somente a escolha. Daí por diante, o
cientista social deveria buscar uma postura objetiva, ou seja, de neutralidade face ao objeto de
pesquisa.
Também tem sido outra a concepção de Santos (1989) quanto à postura do cientista
social inserido no cenário da pós-modernidade. E, no que diz respeito à ciência atual, ele vai
além daquilo que Weber sustentava, sobretudo porque este ainda estava preso a uma postura
epistemológica da ciência social. Para Santos (1989), hoje encaminhamo-nos para a
necessidade de uma reflexão hermenêutica, que é necessária para transformar a ciência, a
dupla ruptura epistemológica. Análoga reflexão seria mais adequada para transformar a
ciência, de um objeto estranho, que contempla o mundo, para um objeto familiar, que se
aproxima numa relação eu-tu. Contrapõe-se, portanto, a uma reflexão epistemológica que
concebe o objeto numa relação eu-coisa, preconizando a necessidade de um
distanciamento/estranhamento diante do objeto de estudo. É dessa concepção que me valho
para justificar a escolha de um objeto que me é familiar e do qual participei diretamente.
Em síntese, a escolha do objeto de reflexão e o fato de uma anterior vinculação não
implicam numa contaminação da análise. Ademais, ressalta-se o fato de que o meu ponto de
observação, digamos, privilegiado, pode ser inclusive útil para compreensão de determinadas
implicações político-sociais que não seriam facilmente percebidas por um estranho. Contudo,
o fato de ter participado do movimento sindical não é razão suficiente para esclarecer todas as
dinâmicas que se propõem entre as manifestações político-sindicais e a Praça Sete. Algumas
proposições não são respondidas à priori, nem mesmo as relações que aqui se colocam
estavam colocadas num momento anterior. Foi preciso passar por outras situações de
25
conhecimento acadêmico é aqui necessário frisar que os movimentos sociais constituem
também lugares de conhecimento para que algumas questões pudessem ser colocadas. A
rigor, as relações sócio-espaciais só se tornaram objeto de reflexão num momento posterior,
após minha inserção no curso de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG – e no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Ciências Sociais.
Nessa direção, todas as escolhas apresentam sentido quando vivenciamos algumas
situações. Mas viver situações, envolver-se, não indica que as explicações possam, por
isso, ser dadas à priori. Muda-se o tipo de consideração e compreensão a cada momento ou
etapa de formação/entendimento humano. É como se tivéssemos que ajustar nossas lentes
para captarmos melhor o objeto de estudo. Dependendo do lugar em que nos encontramos,
podemos perceber determinadas coisas; passando para outra perspectiva de anál( )-300.324(p)-0.2955300.324(p)-0.293142( )-300.324(p)-6.265346
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26
tornam-se sujeitos políticos a partir destes dois elementos associados. A discussão que
levantamos no último capítulo, a respeito do corporativismo “casa” do bancário tem
relação com essas dimensões.
Para não perdermos de vista os elementos ação e discurso, o mais adequado seria
estarmos atentos, simultaneamente, aos dois focos, com a mesma atenção e empenho. Melhor
seria se as atenções de ambos se orientassem para onde pudéssemos encaminhar. Eis o
necessário: uma convergência de movimento e de espaço. Um ponto e um tempo de encontro.
Uma praça e um movimento de trabalhadores bancários na cidade de Belo Horizonte. Essa
convergência existe? A nossa aposta é que sim. Pensamos que os homens e mulheres de carne
e osso é que darão conteúdo a essa convergência. Homens e mulheres manifestantes. É a
manifestação o que perseguimos como objeto de nossa análise. Desde que a consideremos
como ponto convergente da análise, nossa próxima tarefa será levantar um arsenal teórico que
nos possibilite apresentar sua justificativa. Apresentá-la é que será nosso esforço. Com que
instrumentos poderemos olhar para ela?
Para captar o recorte da análise, juntamente com o seu objeto, oferecemos uma
imagem. Recentemente tendo acessado a nova tecnologia disponibilizada na Internet, o
Google Earth e evidentemente fazendo algum zoom sobre a Praça Sete ocorreu-nos que a
explicação que se propõe poderia ser expressa precisamente através de focos. Pudéssemos
obter focos dos registros históricos e pudéssemos congelá-los em determinado espaço,
teríamos uma aproximação do que vai pelas linhas da nossa explanação.
Diversos focos podem ser realizados: um foco dentro do outro, ou junção de duas
temáticas, quais sejam, as ações do movimento sindical bancário e, dentre estas, as ações de
rua, ou mais precisamente, as manifestações e os acontecimentos culturais, políticos, sociais
27
passando em nossa retina. O que a tecnologia ainda não consegue propor, talvez as palavras
possam. A imaginação ainda não tem limites.
E este foco nos mostra a Praça Sete como um espaço público. Ao utilizarmos
semelhante definição, precisamos esclarecer o conceito, já que existem diversas acepções.
Definir o público e o espaço público, mais precisamente. A noção de espaço público tem sido
utilizada como espaço aberto, em oposição àquele espaço de domínio particular, fechado, o
espaço privado. Nessa acepção, as ruas e praças, os edifícios públicos para passagens de
pedestres e carros, as construções em que o acesso é livre, são consideradas como tais.
Nossa consideração sobre o espaço público segue a direção das Ciências Sociais.
Doravante, tomaremos como espaço público o espaço do encontro coletivo, o espaço da praça
e da rua, lembrando, oportunamente, que nem sempre tais espaços atendem a esta
característica. Em conseqüência, nem todo espaço tido como público na linguagem
corriqueira é público de fato. Isto posto, se ele não permite o encontro da diversidade, ou seja,
quando a cidade é fechada, por dizermos assim, às pessoas; quando o acesso ao espaço é
disciplinado de maneira a eliminar as diferenças possíveis, o dissenso, a oposição; quando a
denominada praça pública ou rua pública não permite senão a circulação dos carros e a
passagem de pedestres, então se perde o sentido da dimensão pública que aqui estamos
considerando. Os espaços fechados, tais como os cafés e shoppings, poderiam ser
considerados como públicos, que, nestes tempos atuais, servem privilegiadamente como
lugares de encontro. Contudo, seguindo-se as pistas de Murillo e Márquez (2005),
constataremos que esses espaços servem somente para o encontro entre os iguais, sendo esses
encontros permitidos, desde que possam ser monitorados e disciplinados. Tais espaços,
conforme a acepção de Arendt (1993), não são espaços que servem para começar algo, e, por
conseguinte, não são espaços públicos de fato.
É no espaço central da cidade a Praça Sete – o lugar onde o Sindicato dos Bancários
de Belo Horizonte expressa a sua dimensão como sujeito histórico da cidade, imprimindo suas
marcas sobre a Praça, levantando questões, reivindicando o direito à nomeação, requerendo
novos sentidos à monumentalidade. É, portanto, na praça pública que essa entidade pode
revelar-se de fato, situando as suas características, os projetos e demandas dos bancários e
também as questões que extrapolam o âmbito das relações entre patrões e empregados.
O nosso esforço, a partir dos próximos capítulos, será o de apresentar os termos para
que esse encontro pudesse se realizar, atentando-nos para o fato de que essa história só poderá
ser contada a partir da atenção ao tripé manifestações, espaço e movimento sindical bancário.
Existe um tempo em que esses elementos se encontram. Daremos atenção a esse encontro.
28
2 OS SIGNIFICADOS DAS MANIFESTAÇÕES EM PRAÇA PÚBLICA
Quando a Bastilha cai, os critérios normais do que é possível sobre a terra são
suspensos, e os homens e mulheres naturalmente dançam nas ruas antecipando a
utopia. (HOBSBAWM, 1981, p.11).
FIGURA 1 Passeata “Grito dos Excluídos”, 1999
Fonte: CRMS/SEEB-BH. Fotógrafa: Stella Klett
2.1 Manifestação em espaço público
As manifestações públicas são ações coletivas associadas aos movimentos sociais,
desde período anterior à formação das primeiras organizações proto-sindicais no início da
Revolução Industrial. Tais manifestações foram objeto de narrações literárias e também
cinematográficas, através de filmes como Daens (1992) e Germinal (1993), apenas para
citarmos alguns exemplos. São ações tipicamente urbanas, ocorrendo preferencialmente em
espaços públicos, algumas delas atingindo o coração da cidade, e, não raro, convergindo para
alguma praça central, escolhida pelo movimento como um espaço propício para as
manifestações, por diversas razões.
Tomando como objeto de análise a constituição do modelo de cidade capitalista,
alguns autores (MUNFORD, 1965; ENGELS, 1986; LEFEBVRE, 2001a) passaram a
observar que a cidade capitalista apresenta peculiaridades face às cidades de outros modos de
produção. Este é precisamente o cenário que outros autores vão tomar como o palco de
realização de manifestações de múltiplas características. Um processo que vai das
29
manifestações contra a taxação do trigo, levando ao aumento do preço do pão (HOBSBAWM,
1970; TOMPSON, 1998), fatos que agregavam setores empobrecidos da população contra as
medidas que interferiam nas condições de vida, passando pelas organizações do movimento
operário, que se configuraram como força política, a partir do século XIX e suas diversas
formas de ocupação do espaço público, até chegar às manifestações dos novos movimentos
sociais que se constituem a partir do final da década de 1950, nos Estados Unidos e Europa,
através dos movimentos negros e feministas. No Brasil, os novos movimentos sociais
entraram em cena no final da década de 1970 e caracterizaram-se pela pluralidade das
demandas, não aquelas relacionadas ao mundo do trabalho. Este esboço, feito assim de um
modo bastante sintético, serve-nos como medida para dizer que as manifestações integram a
história da organização capitalista da cidade.
Nosso intuito de enfocar as manifestações encabeçadas pelos movimentos sociais
merece um maior cuidado, já que estes são muitas vezes associados às orientações políticas de
esquerda. No meio jornalístico, as referências são abundantes. Tais associações são providas
de uma intenção de se atacar os movimentos sociais, colocando-os como arruaceiros,
baderneiros e outras designações carregadas de sentido ideológico.
Necessário dizer que o é somente a esquerda e os movimentos sociais de esquerda
que se manifestam nos espaços públicos. Muito embora em escala menor, os setores
conservadores também ocupam os espaços públicos para fazer manifestações. A título de
exemplo, citamos a Marcha das Mulheres com Deus e pela Liberdade, encabeçada pelos
movimentos conservadores que deram sustentação ao Regime Militar de 1964 (STARLING,
1986). Um outro exemplo destas manifestações pode ser observado na França, onde os grupos
conservadores, encabeçados pelo político de extrema direita, Jean Marie Le Pen, saem às ruas
no de Maio
5
, ou seja, no mesmo dia em que as centrais sindicais francesas saem para as
manifestações do Dia dos Trabalhadores. Contudo, o objetivo visado por parte dos
conservadores franceses não é o de reforçar a simbologia consagrada do de Maio, mas
sim de disputar com aquela e tentar criar uma nova simbologia, reforçando princípios de
hierarquia e outros valores defendidos pelo segmento conservador.
No Brasil, por ocasião do de Maio, observam-se disputas também em torno do
significado do dia. Em momentos mais combativos, a Central Única dos Trabalhadores (CUT)
5
O de Maio foi reapropriado pelos “lepenistas” como dia de Joana D’Arc, conforme Mouriaux
(1990)
30
apresentava uma manifestação alinhada a uma orientação política de esquerda, com discursos
politizados, saindo da esfera puramente sindical. A Força Sindical e Confederação Geral dos
Trabalhadores (CGT) faziam manifestações menos politizadas e tendendo às ações
assistenciais, com distribuição de prêmios. Era um momento de queda de braço entre as
centrais, no sentido de ver quem conduzia mais pessoas às manifestações.
É preciso indicar ainda que o poder público também institui suas manifestações,
representadas pelas festas oficiais e paradas militares. As festas são carregadas de simbologias
do poder. Na Idade Média e no Renascimento, tais festas ocorriam em lugares fechados, não
na rua. Elas buscavam consagrar o poder e olhar para o passado (BAKHTIN, 1987).
Na prática, a festa oficial olhava apenas para trás, para o passado de que se servia
para consagrar a ordem social presente. A festa oficial, às vezes, mesmo contra as
suas intenções, tendia a consagrar a estabilidade, a imutabilidade e a perenidade
das regras que regiam o mundo: hierarquias, valores, normas e tabus religiosos,
políticos e morais correntes. (BAKHTIN, 1987, p.8).
Também eram festas que serviam para distinguir as pessoas, marcar suas posições
hierárquicas e reforçar os valores que regiam o mundo oficial.
Nas festas oficiais, com efeito, as distinções hierárquicas destacavam-se
intencionalmente, cada personagem apresentava-se com as insígnias dos seus
títulos, graus e funções e ocupava o lugar reservado para seu nível. (BAKHTIN,
1987, p.9).
Enfim, uma festa da seriedade e não do riso, que o poder (o mundo oficial) é
necessariamente sisudo e não permite o espaço para rir.
Na cultura clássica, o sério é oficial, autoritário, associa-se à violência, às
interdições, às restrições. sempre nessa seriedade um elemento de medo e de
intimidação. Ele dominava claramente na Idade Média. Pelo contrário, o riso supõe
que o medo foi dominado. O riso o impõe nenhuma interdição, nenhuma
interdição. Jamais o poder, a violência, a autoridade empregaram a linguagem do
riso. (BAKHTIN, 1987, p. 78 grifo do autor).
Trata-se de considerações que são atuais e nos auxiliam a situar as manifestações
encabeçadas pelo poder público, sobretudo porque a festa oficial, a despeito de passar a
ocorrer também na rua, a partir da Modernidade, ainda guarda as características que
inspiravam sua realização na Idade Média e Renascimento.
As paradas militares, embora não sejam particularmente enquadradas como
manifestações, são também exemplos de representação do poder no espaço público, cujo
objetivo mais direto seria a demonstração de força do poderio militar, bem como o reforço de
uma ordem social hierárquica. Com respeito às paradas militares, Da Matta (1990) considera
31
que representam a tomada da rua do povo, representação brutal e autoritária do Estado.
Reforçam a idéia de que o lugar do povo não é como ator que ocupa a praça pública, mas
como simples espectador (DA MATTA, 1990).
Nesse aspecto, Tartakowsky (2004), realizando estudo acerca das manifestações
oficiais conduzidas pelo General De Gaule, observa que, nesse tipo de demonstração, o poder
público mobiliza uma multidão impressionante para legitimar determinadas ações políticas. E
isto se faz nas ruas.
Não é o caso de aprofundarmos este enfoque aqui. Contudo, vale como menção, tendo
em vista a possibilidade de estudo dentro da linha que apresentamos no escopo desse trabalho,
as históricas manifestações de rua promovidas pelos governos populistas de Getúlio Vargas e
João Goulart. Voltaremos a essa discussão em outra oportunidade.
Por ora, vislumbramos diversas possibilidades de manifestações no espaço público.
Diversas associações podem ser realizadas a partir dos pontos acima levantados. Tais
associações indicam a necessidade de fazermos escolhas dentro do que situamos como
manifestação. Se existem diferenças do ponto de vista político, queremos dizer que direita e
esquerda não vão para a rua reivindicar as mesmas coisas, nem da mesma forma. Diferenças
também existem dentro dos próprios movimentos sociais de esquerda, não tão assimétricas
quanto as relações de interesse entre esquerda e direita, mas sim de diferentes concepções,
diferentes demandas sociais, políticas e econômicas e também de simbologias distintas.
Assim, colocamos os problemas de se abordar manifestações tout court.
Há, nessa confluência entre manifestações e o espaço urbano, uma gama de
significações e simbolismos que necessariamente vão sendo construídos e reconstruídos com
o desenvolvimento das organizações sociais, sobretudo quando estas se aproximam de
reivindicações políticas, aliando-as às demandas econômicas de cada segmento, ou então
fazendo da reivindicação política o mote exclusivo. Por isso mesmo, constitui-se uma
importante investigação a configuração dessa apropriação do espaço urbano para fins de
manifestação. Apropriar-se de um espaço público representa, no plano de representação
simbólica dos manifestantes, a possibilidade de se tornar visível e dar visibilidade a uma
determinada causa. Daí que, por vezes, manifestar-se na praça pública pode ser mais
significativo do que a manifestação circunscrita à porta da fábrica ou diante do Parlamento, ou
ainda numa assembléia circunscrita a determinado espaço fechado de uma entidade qualquer.
32
2.2 Direito à manifestação em praça pública
Um breve passeio pelas imagens e palavras que se produzem acerca das manifestações
públicas, sobretudo as definições advindas da mídia, nos remete a considerações negativas das
mesmas. Não raro, a mídia refere-se às ações encabeçadas pelos movimentos sociais como
ações que levam à desordem, arruaças
6
e badernas, enquanto os indivíduos que participam
destas ações são vistos como os baderneiros, desordeiros e arruaceiros, aos quais se associa
também a imagem de pessoas desocupadas, sempre movidas pelo ímpeto de promoverem
distúrbios no ambiente público.
Dupla negação está contida nessa acepção trazida pelos meios de comunicação e
reproduzida no discurso do senso comum. Primeiramente, a rejeição do agir coletivamente,
como se fossem legítimas somente as ações conduzidas pelos indivíduos isoladamente, por
via das ações judiciais, quando o caso assim exigir. O barulho da coletividade incomoda.
Uma segunda negação seria a imagem, por vezes explícita, mas na maioria das vezes
velada, de que as manifestações são sempre de cunho destruidor, beirando à selvageria.
Rejeita-se então o direito à manifestação, fato esse que muitas vezes é percebido quando os
próprios meios de comunicação recusam-se a noticiar situações de manifestações públicas de
movimentos sociais, mesmo quando a expressividade das mesmas salta aos olhos de toda a
cidade ou região.
Não é preciso ir muito longe nesta linha da negação da expressão coletiva. Ela não é
produzida somente pelos meios de comunicação. Está enraizada mesmo na nossa legislação e,
vez por outra, alguma autoridade pública deixa escapar concepções restritivas quanto ao
espaço público, conforme acima se mencionou. Não é difícil fazer uma investigação histórica
acerca dessas concepções em que a manifestação foi tomada como um “caso de polícia”
7
.
Raridade, no entanto, são as situações em que esta ação coletiva foi vista como direito. Uma
análise rápida sobre os textos das constituições brasileiras a partir de 1934 mostra alguns fatos
6
Não deixa de ser significativa a expressão arruaça que, segundo consta nos dicionários, significa
motim de rua. O termo é empregado no sentido de reforçar a idéia da desordem.
7
Tornaram-se célebres as considerações do então candidato ao governo de São Paulo, Washington Luis,
ao afirmar que as manifestações do movimento operário eram problemas que interessavam "mais à ordem
pública do que à ordem social", consideração retomada mais tarde durante sua campanha para a Presidência da
República. Essa opinião deu margem à constatação de que a questão social era considerada mais como "um caso
de polícia”. Tais julgamentos reproduziram-se em diversos períodos, embora de forma não tão explícita nas
palavras, mas que se explicitava nas ações. (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2007).
33
sintomáticos. Vejamos.
A Constituição Federal de 1934 no Capítulo Dos Direitos e Garantias Individuais,
Artigo 113, Inciso 11, não estabelece a possibilida
34
Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ou blicos,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo exigido aviso prévio à
autoridade competente. (BRASIL, 1988).
O que temos de fato é o avanço da legislação no sentido de se retirar quaisquer
impedimentos à manifestação em locais abertos. A novidade maior ainda é quanto à inclusão
das garantias coletivas ao texto.
Ora, tomando-se os próprios termos da Constituição Federal de 1988, em que se
estabelecem as garantias coletivas e ampliação da possibilidade de reunião em locais públicos,
o que as legislações anteriores apontam é muito mais uma interdição do que propriamente
uma liberdade de manifestação pública.
No entanto, a despeito da proibição, mesmo no início do século XX, quando a
interdição vigorava em sua plenitude, as organizações coletivas, geralmente de operários,
furavam o cerco e promoviam greves, que por vezes, avançavam até às ruas
8
, transformando-
se em manifestações. Então é fato que as manifestações em via pública fizeram parte da
história das grandes cidades brasileiras, muito embora essa história seja pouco mencionada.
2.3 O tema nas Ciências Sociais
Fillieule e Pechu (1993) realizam um apanhado sobre estudos em Ciências Sociais que
orientam suas análises sobre as ações coletivas, as quais muitas vezes conduzem a ocupações
do espaço público. Sublinha-se o fato de que as manifestações coletivas nem sempre foram
objeto de interesse para os cientistas sociais, muito embora o incômodo perante tais
acontecimentos fosse, desde período mais remoto da sociedade industrial, um motivo para a
organização de teorias sobre o comportamento coletivo. Tratava-se de proposições que se
situariam muito mais como uma reação, ou seja, como espanto das elites face à emergência
das denominadas “classes perigosas”.
Os autores passam em revista as diversas abordagens sobre as manifestações coletivas
no espaço público. A primeira delas situava-se no terreno das Ciências Sociais e da
Psicologia, buscando entender o comportamento coletivo, investigando-o mais como um
8
Gomes (1988) informa que greves e manifestações ocorreram no Rio de Janeiro no final do século
XIX, intensificando-se em 1916-1917. Em 1903 algumas greves violentas, num contexto político e social que
também levou à Revolta da Vacina em 1904. em 1905 organiza-se a Força Policial do Distrito Federal,
verificando-se, a partir daí sua maior presença e violência na repressão aos movimentos sociais da cidade,
grevistas ou não.” (GOMES, 1988, p.64).
35
desvio do que necessariamente uma ação legítima dos diversos grupos que atuam na
sociedade. As teorias do comportamento coletivo passaram longe dos problemas e dos
dilemas estratégicos que eram colocados pelos movimentos sociais, preocupando-se em
explicar as ações a partir das teorias do contágio, cujos precursores foram Taine, Gabriel
Tarde e Gustave Le Bon.
Posteriormente, a teoria do comportamento coletivo ou do contágio teve continuidade
nas obras de Freud e Blumer. No entendimento destes autores, os indivíduos imersos na
multidão manifestante ficam submetidos à coletividade, são contagiados pela massa, cujas
características seriam a tendência à irracionalidade e à violência, estados mais primitivos da
vida social. Por esta via de interpretação, os movimentos sociais surgiriam sob a forma de
uma erupção colérica, irracional e instantânea, tomando-se mais as condições subjetivas (o
estado de espírito) do que as condições objetivas de uma dada sociedade, que levariam ao
surgimento de demandas específicas de determinados grupos da mesma.
Ao longo do século XX, outros estudos foram gradativamente incorporando tais ações
no bojo das preocupações teóricas das Ciências Sociais. Autores menos preocupados em
explicar os comportamentos coletivos a partir da teoria do contágio buscaram enxergar a
dimensão efetivamente política dos movimentos sociais. Tratava-se da emergência de novos
modelos de explicação, na linha que os autores denominaram “Sociologia das Mobilizações”.
Conseqüentemente, essas explicações deslocaram a análise do “porque” das mobilizações
para o como” da ação coletiva. Confere-se, assim, legitimidade à ação dos movimentos
sociais. Desta forma,
O tema comum que une as diferentes correntes do novo modelo é o tratamento da
atividade dos movimentos sociais como ideologicamente legítima e resultante de
comportamentos voluntários e intencionais. (FILLIEULE; PECHU, 1993, p. 79,
tradução nossa)
9
.
As manifestações somente passaram a ser devidamente abordadas – num sentido
positivo, ou seja, como ação política legítima a partir da década de 1960, quando o
repertório das mobilizações se ampliou para além das questões particulares do movimento
operário. Nesse momento, as ruas se tornaram um lugar para as ações que diziam respeito ao
movimento estudantil, às questões de gênero (participação da mulher na sociedade, direitos
9
« Le thème commum que unit les differents courants du nouveau modèle est le traitement de l’activité
des mouvements souciaux comme idéologiquement gitime et résultant de comportements volontaires et
intentionnels ».
36
dos homossexuais), raça (movimento negro), ecologia, dentre outros.
Não poderíamos deixar de destacar também um elemento intrínseco às mobilizações
coletivas, os atores sociais. Em Ciências Sociais, numa vertente weberiana, esse termo se
remeteria à motivação que os indivíduos apresentam para determinadas ações coletivas. Não é
nosso propósito aprofundarmos esse enfoque. No entanto, é apropriado considerarmos que
essas definições conceituais que desembocam nas linhas teóricas da ação coletiva não
derivam da mesma matriz que orienta a abordagem da sociologia das manifestações. Desta
forma, a título de introdução ao assunto, torna-se necessário dizer que nem toda ação coletiva
desemboca em manifestação. Talvez seja mais próprio dizer que a manifestação seria uma das
possibilidades da ação coletiva. De toda maneira, consideramos apropriados alguns pontos
referentes ao debate sobre a ação coletiva, conforme levantamento de Fillieule e Pechu, já que
podem nos esclarecer sobre elementos que merecem ser levados em conta nos estudos sobre
manifestações.
Fillieule e Pechu (1993) buscam definir a ação coletiva, pensando-se a análise dos
conflitos, situando as diversas perspectivas teóricas sobre o tema. Dentre as formulações,
ressalta-se a importância da abordagem identitária, a qual busca resgatar aspectos ideológicos
e políticos, desconsiderados por uma abordagem mais economicista. Dentre os autores desta
abordagem estariam Touraine, na França; Melucci e Pizzorno, na Itália e Habermas na
Alemanha.
A corrente teórica da Escolha Racional, por sua vez, a mobilização pela linha dos
interesses individuais, partindo da racionalidade do ator para atingir determinados fins. Esta
corrente tem como representante Olson, dentre outros. Citando tal abordagem de forma
passageira, o que convém sublinhar mais precisamente é a consideração de que os indivíduos
decidem seguir determinados movimentos sociais se houver expectativas de satisfação de
seus interesses individuais. Portanto, levariam em consideração os riscos e os benefícios de
se mobilizarem, e ainda mais, retomando as questões do ponto de vista da ação de rua, de
examinar os possíveis custos, os riscos de serem presos, de sofrerem repressão, e a
possibilidade de êxito em suas ações.
Ora, a disposição para a manifestação, conforme veremos a seguir, não se explica
simplesmente pelos ganhos ou custos econômicos que se possa garantir a partir da mesma.
Outros enfoques dão conta de diversos recortes que precisam ser considerados, sendo que a
própria manifestação indica possibilidade de socialização e conflitos, solidariedades e
enfrentamentos, cujos significados extrapolam o viés puramente econômico, dos interesses
individuais. Tais aspectos merecem um olhar mais atento, que outros autores a seguir parecem
37
proporcionar.
É sobretudo no terreno das considerações sobre no tema na Ciência Política que
iremos ponderar algumas formulações que merecem maior atenção, que dizem respeito ao
debate sobre a pertinência ou não das manifestações dentro de uma sociedade democrática.
Nessa linha, duas posturas se apresentam para o debate: a primeira parte do viés da teoria da
democracia representativa, preocupada em descrever as condições para o funcionamento da
democracia moderna (reflexão orientada em dizer como “a vida é”), o que também denomina-
se, conforme Lessa (2002), de Teoria Democrática Descritiva. Essa corrente tem como
expoente, em primeiro momento, Joseph Schumpeter, sendo também representada por Dahl
(1993) e Sartori (1994). A segunda postura teórica seria a da Filosofia Política, que, não se
prendendo às condições dadas para o funcionamento da democracia moderna, apontam
perspectivas no sentido normativo, ou seja, de dizer como a vida deveria ser.
Tomando-se a produção dos autores da Teoria Democrática Descritiva, com mais
destaque para as obras de Dahl e Sartori, constata-se que as formas de protesto blico são
tomadas como ações que não se enquadram dentre os requisitos que conduzem ao sucesso das
democracias modernas. Se a democracia dos antigos comportava o princípio da participação,
o sucesso das democracias modernas, ou democracias de grande escala, decorre,
contraditoriamente, não da existência de movimentos de massa protestando nas ruas, mas sim
da não-participação dos cidadãos, ou seja, da apatia política. Conforme evidencia Dahl
(1993), o arranjo político para as democracias de grande escala implica precisamente numa
série de instituições políticas que mediam as demandas dos eleitores para com seus governos.
A este conjunto de instituições Dahl denomina poliarquia. Ora, o desenvolvimento da
poliarquia depende da observação de uma série de condições
10
, sem as quais a mesma poderia
declinar-se e ceder lugar a regimes autoritários (DAHL, 1993). Diante de tais condições é que
ele com ressalvas as manifestações, uma vez que as mesmas não respeitam as regras
elementares de representação de interesses que são os partidos e outros canais institucionais.
Logo, o maior risco para a democracia moderna decorre do excesso de participação, que
este poderia implodir ou congestionar os canais institucionais de representação dos interesses.
Quanto aos movimentos de massa e os protestos públicos gerados a partir desses movimentos,
os autores daquela corrente temem que possam desencadear possíveis ações extremistas.
10
Conforme Dahl (1993, p. 267), as instituições da poliarquia são: funcionários eleitos; eleições livres e
imparciais; sufrágio inclusivo; direito de ocupar cargos públicos; liberdade de expressão; variedade de fontes de
informação; autonomia associativa.
38
Com respeito a essa discussão, Sartori (1994) critica as formas de protesto público, por
não se enquadrarem dentro dos princípios básicos de uma representação. Dentro de uma
democracia representativa, as demandas ou interesses devem se fazer representar por este ou
aquele segmento. Neste sentido, as manifestações não seriam mecanismos legítimos, que
seriam organizadas pela parte ínfima do povo, ou mais precisamente aqueles que não
conseguiram representatividade nas instâncias legítimas de representação, e, por isso, não
representam interesses substanciais da sociedade.
Também Dahl (1997), ao considerar o sistema de contestação pública, não que este
possa ser necessariamente um equivalente da democratização plena. Em outras palavras, a
relação entre contestação pública e democratização não é proporcional. Preocupado com a
estabilidade do regime poliárquico, ele vê com reservas as manifestações que fogem ao
domínio do sistema competitivo. O risco é que o sistema político seja ameaçado e a forma de
poder autoritário assuma o seu lugar.
11
Ainda dentro de uma compreensão teórica que a manifestação com reservas, não
poderíamos deixar de mencionar a interpretação que aponta as manifestações como sintomas
de crises das instituições políticas. É uma argumentação muito próxima da abordagem
durkheimiana de anomia, sobretudo porque as manifestações como resposta ao
esgarçamento do tecido social, incapaz de integrar parte da sociedade. Num sentido negativo,
portanto, tomam as manifestações como uma forma pré-democrática de ação, problema moral
inclusive, ou da falta de valores democráticos, que não foram devidamente assimilados por
determinados grupos. Nessa acepção, as manifestações de massa são colocadas como ameaça
aos preceitos de uma sociedade republicana
12
.
Fillieule e Pechu, tecendo comentários sobre o predomínio daquela vertente na Ciência
Política, apontam precisamente ali uma das explicações para a ausência de produções teóricas
sobre as manifestações nas Ciências Sociais, como se tais ações o merecessem uma
reflexão nesse campo
13
. Considerando as palavras daqueles autores, o seguinte fragmento
11
Face ao temor do “elitismo democrático” perante aos movimentos de massa, Chauí (1988) citando
Moses Finley, indica que os golpes mais duros contra a estabilidade democrática não vieram dos movimentos
populares, mas sim das oligarquias e poderosas elites políticas.
12
Nessa linha de abordagem, vale a pena a leitura do artigo de Peralva (2006). A autora faz uma análise
dos levantes populares ocorridos na França em 2005, apontando-os como resposta à frágil assimilação dos
imigrantes ao contexto nacional. Esta não-integração seria responsável pela eclosão de violência social nas
manifestações. Assim sendo, a crise da democracia é associada à crise das periferias urbanas.
13
Os estudos sociológicos, de uma maneira geral, passaram a colocar a manifestação como parte do
seu repertório de análise em período bem recente, conforme situa Siméant (1993). Segundo a autora, ou a
39
merece ser apresentado, já que sintético e esclarecedor:
Nessas condições, a ação reivindicativa foi, por muito tempo, considerada como um
meio ilegítimo de expressão, como um curto-circuito dos canais tradicionais da
representação de interesses. Qualquer outro meio de expressão que não fosse o voto
seria o efeito de grupos restritos e não se imporia aos outros sendo dado que ele
não exprime um consenso geral. (FILLIEULE; PECHU, 1993, p. 11, tradução
nossa).
14
Uma outra explicação para a fraca produção sobre o tema é dada pelo fato de que a
teoria pluralista marca-se pelas considerações sobre o Estado de Direito, ou mais
precisamente, dentro das ações que se enquadram no parâmetro da legalidade. As
manifestações, conseqüentemente, foram consideradas durante muito tempo como ações não
reconhecidas pelo Estado de Direito; a manifestação de rua não era e talvez em larga
medida ainda não seja considerada adequadamente quando se discutia as possibilidades de
expressão política dentro de um sistema representativo. Não sendo legais, elas acabavam
merecendo uma posição desprivilegiada no campo das Ciências Sociais.
De outro lado, mais precisamente no terreno da Filosofia Política, estariam os autores
preocupados em apontar o caráter profundamente aberto da democracia para a incorporação
ininterrupta de novos direitos. Nesta acepção, a democracia é identificada muito mais como
ordem de valores, apresentando como única condição permanente o fato de subverter o
estabelecido. Nessa acepção, trabalha-se a política como um campo indeterminado, sempre
aberto a novas incorporações. Lefort (1987) e Arendt (1993), a despeito das diferentes
abordagens, poderiam ser colocados como autores que se filiariam a esse campo de análise.
Lefort (1987) indica que a democracia seria um terreno que não se fecha. Nessa
direção é que o autor indica a essência inovadora da própria noção, ultrapassando as
definições herdadas das teorias liberais, ou do chamado elitismo democrático, que tem
Schumpeter, Dahl e Sartori como alguns dos seus representantes.
Em Arendt é possível apontar também elementos que permitem questionar os
fundamentos da Ciência Política, sobretudo quando a autora relaciona o agir político com a
Sociologia Política se interessava pela ação coletiva ou se interessava pelas motivações individuais, ou seja,
ficavam na análise, ora do ponto de vista macro, ora do ponto de vista micro. Semelhante análise, por sinal, é
compartilhada por Fillieule (1993). Conforme sugerem os autores, tal dicotomia pode ser explicada pela falta de
interesse acerca da questão no terreno da Ciência Política.
14
« Dans ces conditions, l’action revendicative a longtemps éconsiderée comme un moyen illégitime
d’expression, comme un cout-circuit des canaux traditionnels de la represéntation des intérets. Tout autre moyen
d’expressions que le vote est l’effet de groupes restreints et ne saurait s’imposer aux autres étant donné qu’il
n’exprime pas un consensus géneral »
40
imprevisibilidade, fato que explicitamos com suas próprias palavras:
O fato de que o homem é capaz de agir significa que se pode esperar dele o
inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável. [...] Os homens,
embora devam morrer, o nascem para morrer, mas para começar. (ARENDT,
1993, p. 191).
Nessa acepção, é possível também apostar na possibilidade do novo surgir a partir dos
movimentos sociais, que encontram dificuldade em pisar nos terrenos da política
institucionalizada, embora a autora necessariamente não trabalhe com essa opinião. Em
conseqüência, sendo a política um terreno que não comporta simplesmente o previsível ou a
“vida como ela é”, de acordo com a ênfase dada pelos autores da democracia representativa,
então se abre a perspectiva para construir a vida como ela deveria ser”, ou seja, apostar na
possibilidade de construir novas trajetórias. A partir deste entendimento é que iremos
encontrar fortes objeções aos teóricos da teoria da democracia representativa.
No Brasil, os trabalhos de Sader e Chauí, dentre outros, retomam elementos dessa
reflexão na linha da Filosofia Política. Também Favre (1990) faz apontamentos nessa direção.
Esta linha é o que torna possível, sobretudo, uma análise positiva dos movimentos sociais e
mais particularmente das ações dos movimentos de protesto ou movimentos de massa no
campo das Ciências Sociais. Passaremos, a seguir, a levantar elementos dessa produção.
2.4 Manifestações nas Ciências Sociais brasileiras
Constata-se a grande profusão de considerações corriqueiras na mídia e na linguagem
cotidiana a respeito das manifestações públicas, mas o mesmo não ocorre no terreno das
Ciências Sociais brasileiras. Dificilmente encontramos definições para as manifestações
públicas no terreno da Sociologia, embora se possa encontrar relevantes contribuições a
respeito da ação dos movimentos sociais e suas lutas pela cidadania. Destacamos, por
exemplo, os trabalhos de Filgueiras (1992), Maroni (1982), Sader (1988), Sader e Paoli
(1986), estudos expressivos nessa direção. Estas contribuições são relevantes no sentido de
trazerem experiências dos diversos movimentos populares entrando em cena, para utilizarmos
a expressão que título ao livro de Sader (1988), Quando os novos personagens entraram
em cena. Faz-se necessário salientar que a entrada dos movimentos populares em cena, bem
como a retomada das lutas dos trabalhadores no final da década de 1970, depois de um
momento de silenciamento no regime militar, implicou também em formas de ocupação não
prescritas para o espaço urbano, fazendo “[...] a política criar novos lugares para exercitar-se.”
(CHAUÍ, 1988, p.11).
41
Deste modo, as formas de lutas de diferentes setores populares significaram não a
satisfação das demandas específicas, tais como salário, creches, moradia, transporte, dentre
tantas demandas que se colocaram na pauta destes movimentos, mas também a formulação de
uma prática política nova, com criação de direitos, além da vivência, ou seja, do aprendizado
político a partir da experiência coletiva. Os excluídos descobrem-se como sujeitos de
interesses, vontades e direitos. Esta dimensão implica, por sua vez, numa reivindicação do
direito à cidade, isto é, na “[...] criação de novos espaços políticos, uma vez que a experiência
dos movimentos os conduz a novas relações com o espaço público.” (CHAUÍ, 1988, p. 13).
Neste sentido é que, conforme afirma Sader, os novos movimentos sociais, para se afirmarem
como sujeitos, acabam entrando na política, e, por conseguinte, acabam também indo às ruas,
reivindicando com isso o seu reconhecimento público enquanto sujeitos que também fazem
parte da história e também são seus condutores.
Os autores acima mencionados, bem como tantos outros, ressaltam a dimensão do
político, a expressão de um movimento que se deu muitas vezes utilizando-se de recursos não
muito convencionais, como a saída às ruas, as ocupações de edifícios públicos ou as
passeatas. Manifestaram-se, portanto. E, ao fazerem-no, colocaram-se como sujeitos políticos,
que muitas vezes os canais de representação encontravam-se muito reduzidos, a ponto de
não incluírem as demandas levantadas por estes movimentos sociais. Salienta-se ainda que
este boom de movimentos sociais significava também um alargamento do ponto de vista da
democracia brasileira.
Esses exemplos são contribuições da produção sociológica brasileira, os quais nos
possibilitam um levantamento acerca da conformação histórica das manifestações que
ocorreram no Brasil. Os exemplos empíricos são abundantes e eles dão conta de uma
realidade “manifestante”, para usarmos um termo de Favre (1990), sem necessariamente
definirem ou situar mais acuradamente o termo manifestação.
Diante desta lacuna de definição e de uma devida abordagem teórica, algumas
questões se apresentam. Primeiramente, reconhecendo a lacuna, perguntamo-nos: por que o
objeto não tem sido considerado nas Ciências Sociais brasileiras? Faltariam manifestações de
rua ou as existentes seriam insignificantes? Seriam um objeto menor para as Ciências Sociais,
abordagem mais adequada aos historiadores ou até para a psicologia do comportamento
coletivo? As ações encabeçadas pelos movimentos coletivos não representam situações
expressivas de ação social ou mesmo uma ação privilegiadamente política?
É possível encontrarmos respostas a estas questões a partir da rica produção brasileira,
a partir dos levantamentos de manifestações históricas. Nossa investigação da literatura nos
42
forneceu elementos de sobra para situarmos os momentos de maior ou menor manifestação
social em praça pública, que correspondem, via de regra, a circunstâncias de fechamento
político ou de vida democrática estável.
A respeito do cenário belo-horizontino, para se ter uma idéia, existe documentação
sobre diversas oportunidades em que a via pública tornou-se palco de protestos, alguns mais
intensos e violentos, outros mais pacíficos. Nosso intuito é retornar a esse cenário histórico no
capítulo seguinte.
Todavia, antes se faz necessário levantar algumas definições sobre manifestações. É
com estas definições que iremos nos embasar para responder às questões que foram colocadas
acima. A partir daí será também possível situarmos as diferentes manifestações e a simbologia
que perpassa a ação coletiva quando se decide ir para a rua. Nessa direção, se o primeiro
momento implica em responder o que são as manifestações e o seu lugar no seio das Ciências
Sociais, já o segundo momento implica em responder por que se manifestam os indivíduos, ou
ainda, numa questão associada, quais os recursos culturais e políticos uma manifestação
envolve (aqui pensando os trajetos, os símbolos, as palavras de ordem, a irreverência). Em
outras palavras, quais são as funções da manifestação?
2.5 O que é manifestar
Conforme salientamos anteriormente, não foi possível encontrar uma definição
apropriada sobre manifestação na literatura brasileira, algo que nos desse a conceituação mais
precisa. Foi necessário partir de alguns autores franceses para termos em conta a existência de
uma abordagem específica daquilo que alguns autores consideram como uma Sociologia das
Manifestações, ou ainda, nos termos de Fillieule (1993), uma Sociologie de la Protestation.
Foi a partir daí que tomamos contato com um elevado número de trabalhos sociológicos sobre
manifestações de rua, enfocando sua pluralidade, trajetórias, simbologia, dentre outros
aspectos
15
.
A primeira definição mais precisa que encontramos sobre manifestação encontra-se
nos autores Fillieule e Pechu, os quais apresentam a seguinte consideração:
15
Morán (2005, p. 100) destaca que a Sociologia Francesa estudando o fenômeno da manifestação mais
a fundo, faz distinção entre manifestação e manifestação de rua, de modo que aqueles autores utilizam o termo
“manifestation dans la rue” para indicar mais precisamente as manifestações de rua.
43
Nós entendemos por manifestação ’toda ocupação momentânea por diversas
pessoas de um lugar aberto, público ou privado com o objetivo de expor as
reivindicações, de expressar uma solidariedade, ou de celebrar uma comemoração,
e que contenha diretamente ou indiretamente a expressão de opiniões políticas.
(FILLIEULE Apud FILLIEULE; PECHU, 1993, p. 12, tradução nossa).
16
Em conseqüência, constata-se que o termo comporta uma diversidade de acepções.
Precisamente na linha das explicações de “como” agem os movimentos sociais manifestantes,
os autores mencionados dão conta de que estes movimentos, diferentemente dos movimentos
partidários ou ainda dos movimentos vinculados às questões do mundo do trabalho, rejeitam
os sistemas dominantes de representação, que seriam os partidos e governos. A propósito,
preferem outras formas de manifestação política.
Assim, a ação direta, de rua, torna-se o modo privilegiado de expressão e de
reivindicação, pois o alvo é menos um Estado com o qual se recusa a colaborar, e
mais uma opinião a persuadir. (FILLIEULE; PECHU, 1993, p.135, tradução nossa)
17
.
Ressalta-se que os autores estavam retratando o caso europeu, cuja tradição de
manifestações remota ao século XIX. Contudo, pensando no caso brasileiro, não seria
adequado afirmar que estes movimentos rejeitam o Estado simplesmente por uma opção.
Conforme a literatura indica, e também o indicamos anteriormente, alguns setores não
chegaram mesmo a se representarem no plano institucional. E, diante desta questão é que
pensamos que as contribuições de Favre (1990), Mouriaux (1990) e Tartakowsky (1990)
apresentam também outras explicações que ampliam a discussão sobre as manifestações.
Consideremo-las, em seguida. Todavia, antes de avançarmos nesta linha, convém
tangenciar uma questão que ora se apresenta. A partir da citação acima e das considerações
que os autores adicionam em outros momentos, é possível perceber, analisando as estratégias
de ão do Sindicato dos Bancários, no período que vai de 1930 a 1970, que aquela entidade
busca colocar o Estado como possível interlocutor nas negociações da pauta de
reivindicações. Era comum a organização de passeatas até a sede do Governo, na Praça da
Liberdade, para audiências em que se solicitava o apoio do poder público. Muitas vezes a
relação era direta, até porque a ação sindical prevalecente mantinha-se muito atrelada ao
16
« Nous entendons par manifestation ‘toute occupation momentanée par plusieurs personnes d’un lieu
ouvert public ou privé dans le but de faire connaître des revendications, d’exprimer une solidarité, ou de célebrer
une commémoration, et qui comporte directement ou indirectement l’expression d’opinions politiques »
17
«s lors, l’action directe, de rue, devient le mode privilegié d’expression et de revendication
puisque la cible est moins un Etat avec lequel on refuse de collaborer qu’une opinion à convaincre. »
44
modelo corporativo. Por isso, o lugar da manifestação era na porta do banco ou na sede do
sindicato dos banqueiros e até na sede do governo do estado, mas, em menor grau, na rua.
Nas décadas de 1980/90, com a interpenetração das demandas sociais por dentro dos
sindicatos (LE VEN, 1987), ocorre também uma mudança nas manifestações, passando essas
a colocar a necessidade de falar/convencer a população. Nessa lógica, aa relação com a
mídia torna-se mais intensa, salientando-se também o surgimento de departamentos culturais
e o incremento dos departamentos de imprensa, com veiculação de jornais específicos pelos
bancos. Isto está bem delineado nos depoimentos dos entrevistados que reforçam estas
questões
18
.
Quanto à relação destes novos movimentos sociais com a mídia, seguindo as pistas dos
autores que vimos abordando, percebe-se que essa acaba se tornando um dos elementos que
compõem uma manifestação, juntamente com a Polícia
19
e a população. Fillieule e Pechu,
citando as contribuições de Dalton e Kuechler, consideram que os movimentos sociais
Concedem uma grande importância às mídias como meio de mobilizar a opinião. A
mídia permite aos movimentos sociais expandir seu campo de influencia a todo o
público, e as ações não convencionais dos movimentos são freqüentemente
conduzidas em razão de seu impacto midiático. (DALTON; KUECHLER Apud
FILLIEULE; PECHU, 1993, p.135, tradução nossa).
20
Esse leque de relações associadas às manifestações indica a necessidade de expressar
uma opinião. Contudo, dadas as condições históricas dos movimentos sociais brasileiros,
posto que o seu reconhecimento seja fato tardio, que se considerar que se busca uma
interlocução com o Estado e partidos. A propósito, não é outro o entendimento de Sader
(1988), ao indicar que um dos traços dos novos movimentos sociais é a extrema desconfiança
em relação aos sistemas representativos e instituições políticas; mas, a despeito desta
desconfiança, para se afirmarem enquanto sujeito coletivo, acabam entrando na política. Isto
não quer dizer necessariamente uma adesão institucional, mas sim uma luta pelo
reconhecimento, inclusive por parte do Estado.
18
A título de exemplo destacamos assim os depoimentos de Prata, Solange, Tiãozinho, Fernando Neiva
e Moisés Augusto que trazem estas questões. Voltaremos a estas falas em momento oportuno, no Capítulo 4.
19
Fillieule (1997) indica que a Polícia é o único elemento presente em todas as manifestações.
20
« Accordent une grande importance aux médias comme moyen de mobiliser l’opinion. Les médias
permettent aux mouvements sociaux d’étendre leus champ d’influence à tout le public, et les actions non-
conventionnelles des mouvements sont souvent menées en raison de leur impact médiatique. »
45
2.6 Manifestação na perspectiva Pierre Favre
Outra obra que consideramos para definir manifestação é a de Favre (1990). O livro
La Manifestation, organizado por ele, traz contribuições de diversos autores, os quais nos
auxiliarão em diversas oportunidades dessa análise. Para o desenvolvimento deste tópico, nos
embasaremos, sobretudo, no texto introdutório do livro, que nos oferece relevantes
definições.
De acordo com Favre, na França se manifesta cerca de 150 anos. Trata-se de um
fenômeno que ocorre diversas vezes ao dia, ainda hoje, dando conta de que é atual, a despeito
das mudanças sociais e econômicas que vêm ocorrendo nas últimas duas décadas. No seu
processo histórico, as manifestações, por diversas demandas, se apresentaram, a princípio,
misturadas aos motins, sobretudo antes de 1848, quando conflitos violentos chegaram a abalar
profundamente a estrutura do poder naquele país. A partir de 1848, a manifestação vai se
transformando e torna-se um meio de ação específico, distinto de motim. Assim, o autor passa
a definir mais precisamente o que seria a manifestação, trazendo elementos para que
possamos diferenciar as ações coletivas que ocorrem nas ruas. Oportunamente, cabe fazermos
referência às definições antes de prosseguirmos:
Dir-se-á que uma manifestação é um deslocamento coletivo organizado sobre a via
pública com fins de produzir um efeito político pela expressão pacífica de uma
opinião ou de uma reivindicação. Assim caracterizado, a manifestação se distingue
do ajuntamento, que é estático (a manifestação implica um desfile de um ponto a
outro), da procissão que tem fins religiosos, do tumulto no sentido corrente que não
é, ele, organizado, do motim que se utiliza do espaço público urbano como de um
campo de batalha e não como simples lugar de passagem da passeata manifestante.
(FAVRE,1990, p.15, tradução nossa).
21
A esse respeito, o autor insere a primeira diferenciação apropriada para o nosso
trabalho. Trata-se de salientar a diferença entre manifestação e a rebelião urbana, esta que
muitas vezes eclodia e resultava nas escaramuças, levantamento de barricadas e quebradeiras.
A manifestação pode transformar-se em motim, mas não necessariamente. Nesse aspecto, vale
fazer também uma diferenciação quanto a outras formas de ação no espaço urbano. Uma
parada militar não pode ser confundida com manifestação; uma greve também não. Uma
21
“On dira qu’une manifestation est um déplacemente collectif organisé sur la voie publique aux fins de
produire une effet politique par l’expression pacifique d’une opinion ou d’une revendication. Ainsi caractérisée,
la manifesation se distingue du rassemblement, qui est statique (la manifestation, elle, implique un défilé d’un
point à un autre) de la procession qui a des fins religieuses, de l’attroupement au sens courant qui n’est pas, lui,
organisé, de l’émeute qui use de l’espace urbain comme d’un champ de bataille et nom comme simple lieu de
passage du cortège manifestant. »
46
greve, no entanto, pode tornar-se uma manifestação, desde que os grevistas concebam a
importância de dar publicidade às suas demandas.
A partir destas diferenciações, segue o autor o seu intuito de explicitar aspectos
associados às manifestações. Primeiramente, o autor busca discutir os alvos da manifestação,
ou seja, para quem a manifestação se dirige. Um dos alvos seria o Estado. O Estado acaba por
ser um interlocutor, mesmo que indiretamente, que, ao se projetar uma manifestação, os
manifestantes expõem-se ao conflito com o poder público, que pode interditar o acesso ao
espaço público, dependendo da abertura ou não do regime político. Sob tal ponto de vista,
uma manifestação comporta sempre uma possibilidade de desfecho imprevisível, seja pelo
malogro das expectativas dos manifestantes, seja pela possibilidade de um confronto violento.
A violência física está colocada como probabilidade no horizonte da manifestação. Todavia,
esta probabilidade não deve ser atribuída à um pretenso descontrole e comportamento
destrutivo inerente às ações de massa, conforme os autores da teoria do comportamento
coletivo apontam. Para Favre, esta imprevisibilidade coloca-se mais pelo fato de que há
muitos atores presentes numa manifestação, inclusive provocadores, ou agentes da polícia
infiltrados, cujos objetivos podem ser distintos daqueles orientados pelo movimento.
Ainda como alvo das manifestações está o público que assiste. É para este público que
a manifestação existe (o público pode ser também o espectador das mídias). As manifestações
dirigem-se a eles. Os manifestantes falam para eles também. E, nessa orientação, a mídia
também é um importante ator, que, pela possibilidade de divulgar as ações dos movimentos
sociais, seria também um dos alvos preferenciais da manifestação. Uma das necessidades da
manifestação seria obter divulgação favorável na mídia.
O público assistente pode, em situações ocasionais, envolver-se diretamente nos
conflitos, seja quando se sentir prejudicado de alguma maneira pela manifestação, ou quando
os manifestantes forçam a entrada do público na manifestação, levando-a a reboque, ou ainda,
quando uma situação imprevista apresenta-se no curso dos acontecimentos, como por
exemplo uma repressão policial voltada contra todos, inclusive contra o público assistente.
E os lugares das manifestações? Eis outra questão tratada pelo autor como um dos
aspectos importantes para se analisar as manifestações. Contudo, estas referências quanto aos
lugares (espaço público) foram tratadas no referido livro a partir das considerações de Offerlé
(1990). Esta é uma questão que nos importa mais de perto, sobretudo porque o autor confere
um destaque à utilização da rua como espaço de manifestação. Ressaltamos, portanto, o que o
autor considera com respeito aos usos da rua e a relação com a manifestação. Assim, uma rua
apropriada exclusivamente como lugar para a circulação dos automóveis fornece dificuldades
47
para que seja apropriada pelos manifestantes (OFFERLÉ, 1990).
Este autor traz também uma relevante contribuição acerca das escolhas dos lugares
para manifestar que cada movimento faz. Para ele, cada manifestação francesa, seja por
questões organizacionais, seja pelas questões associadas ao aspecto simbólico, conhece a sua
praça. Em outras palavras, cada praça comporta determinado tipo de manifestação. Cita-se o
caso da França, mas pensamos que essa associação poderia ser parâmetro para considerarmos
as manifestações brasileiras. Para citarmos alguns exemplos do Brasil e até mais
particularmente de Belo Horizonte, é notório o fato de a CUT ter realizado, até recentemente,
o seu de Maio na Praça da CEMIG, em Contagem, paralelamente às manifestações da
Força Sindical, que ocorrem em outras praças. Também é relevante o fato de os movimentos
sociais realizarem o “Grito dos Excluídos” no Sete de Setembro, no mesmo momento em que
se realizam as Paradas Militares. Esta manifestação vem ocorrendo nos últimos anos na Praça
da Liberdade ou na Praça Sete, enquanto as paradas militares, tradicionalmente, ocorrem na
Avenida Afonso Pena.
Essa coexistência de duas ações de rua na mesma data, em espaços diferenciados,
merece ser abordada sob o ponto de vista das representações que são levadas às ruas pelos
distintos grupos. Em conseqüência, tomando-se o Sete de Setembro, dia da Independência,
colocam-se no espaço urbano duas concepções distintas; uma que reforça as insígnias do
poder e a concepção disciplinar sobre a própria organização societal, representada pelas
paradas militares, e outra, representada pelo “Grito dos Excluídos”, buscando questionar as
estruturas de poder e dominação, inclusive tomando-se como referência o próprio símbolo do
Sete de Setembro, que expressaria a Independência do Brasil. Denunciando geralmente uma
questão que é o mote de um determinado ano
22
, os manifestantes do “Grito dos Excluídos”
questionam também essa “independência” e toda simbologia nacionalista conservadora
agregada às paradas militares. A manifestação é seguida em multidão não ordenada,
diferentemente das Paradas Militares, que reforçam elementos de hierarquia, com autoridades
no palanque e desfiles ordenados.
Trata-se de uma importante consideração, sobretudo pelo fato de que o espaço público
não é organizado de forma natural. A apropriação do espaço para diversos fins e a própria
disputa sobre os usos do espaço será tratada em capítulo a seguir.
22
Em 2007 o « Grito dos Excluídos » teve como mote o plebiscito para a anulação da privatização da
Vale do Rio Doce, conduzido por entidades de esquerda em todo o território nacional.
48
Quanto aos aspectos simbólicos conduzidos por cada manifestação, ressalta-se que, no
caso francês, os partidários do ultra-conservador Jean Marie Le Pen, na sua reapropriação do
de Maio, portam-se de modo mais ordenado, como um desfile mesmo, em fileiras,
separando-se os indivíduos por regiões, reforçando-se assim a hierarquia e o poder.
Contraponto que é feito com as manifestações do de Maio dos movimentos de esquerda.
Nota-se a profusão de bandeiras de diversas cores representando as diversas e categorias
profissionais, com o predomínio da cor vermelha. Tais exemplo são também adequados para
examinarmos as diferentes composições de manifestantes ou formas de ocupação de rua no
Brasil.
Salientamos ainda uma outra definição, trazida por Morán (2005): a autora destaca que
alguns dos atributos de uma manifestação são seus conteúdos simbólicos e a experiência
cidadã que ela propicia. Ela sugere o termo “prática de cidadania espacializada”, referindo-se
às manifestações ou ao direito às manifestações no espaço público. O termo é tomado de
empréstimo de Charles Tilly, autor que recentemente também vem tratando das manifestações
no espaço público. Segundo a autora, Tilly enumera diversas abordagens associadas às
manifestações, dentre as quais evidenciam-se a dimensão simbólica, os itinerários e controle
do espaço. Fato importante a ser considerado, que, a nosso ver, os indivíduos que fizeram
parte das nossas entrevistas, mostram-se, todos eles, marcados pela experiência de ir para as
ruas e ressaltam o quão prazeroso e significativo é “marchar junto”, o “nós reunidos”
(TARTAKOWSKY; PIGENET, 2003). Para compreendermos os sentidos dessa participação
cidadã, vale a transcrição integral do que a Morán define para manifestação. Vejamos:
Manifestar-se significa essencialmente «sair à rua», ocupar um espaço público que
seja visível para o maior número de pessoas possível, e desfilar por ele. A idéia de
movimento, de deslocamento, é consubstancial à manifestação; e sendo possível
deve fazer-se através do espaço por excelência: a parte central da rua, e não tanto
os passeios. Os lugares concretos onde se desenvolvem as manifestações têm
também uma grande importância. Devem gozar de uma grande visibilidade e, além
disso, estar carregados com um forte conteúdo simbólico. Daí a preferência por
«invadir» certas ruas ou praças do centro histórico, assim como por transportar a
celebração de muitas manifestações desde os locais onde os conflitos são
produzidos até cidades importantes, preferivelmente aquelas nas quais se concentra
o poder político: as capitais dos Estados ou das províncias. [...]. A eleição do lugar
no qual se leva ao cabo é, pois, uma questão muito relevante para os
organizadores, da qual depende em boa medida seu êxito; [...]. Congregar-se,
mostrarem-se juntos, ser protagonistas e participantes «em primeira pessoa» são
dimensões constitutivas da manifestação. Daí que participar em uma delas seja uma
experiência cidadã única com uma evidente função de aprendizagem. A importância
de «fazer-se visível» explica que seja uma das práticas de cidadania preferidas por
49
aqueles grupos que lutam por seu reconhecimento e inclusão dentro da comunidade
de cidadãos. (MORÁN, 2005, p. 100, grifo e tradução nossa)
23
.
Com as esclarecedoras definições sobre os atributos das manifestações, seguimos, por
fim, as considerações de Favre a propósito do lugar das manifestações no sistema
democrático. Conforme nos informa Favre,
A manifestação seria então assim, de essência democrática, ou mais exatamente,
participaria de um poder de expressão primordial dos governados. Nestas
situações, a simples participação de manifestantes é prova da força de suas
convicções. (FAVRE, 1990, p. 49, grifo do autor, tradução nossa).
24
Semelhante entendimento nos ajuda a responder aquelas questões colocadas pelos
teóricos da democracia representativa, no sentido de se apresentar a manifestação como um
elemento estranho à democracia. Auxilia-nos também a avançar no sentido de entender o
funcionamento da manifestação, mais do que relegá-la aos estudos comportamentais,
conforme preocupação das Ciências Sociais, em certo momento histórico. Assim, a
manifestação deve ser inserida como um elemento que compõe o sistema democrático, deve
ser entendida como um recurso legítimo, talvez o último, podendo chegar, por isso, a ser um
caminho desesperado de reivindicação face ao Estado.
Fazendo coro com a interpretação defendida por Favre, Morán frisa também a
importância, ou mais que isso, a localização das manifestações como parte dos sistemas
democráticos. E, não bastasse essa ênfase, ela o situa como um de seus elementos centrais.
Vejamos suas considerações,
23
« Manifestarse significa esencialmente «salir a la calle», ocupar un espacio público que sea visible
para el mayor número de personas posible, y desfilar por él. La idea de movimiento, de desplazamiento, es
consustancial a la manifestación; y a ser posible debe hacerse por el espacio por excelencia: la calzada, y no
tanto las aceras. Los lugares concretos en donde se desarrollan las manifestaciones tienen también una gran
importancia. Deben gozar de una gran visibilidad y, además, estar cargados con un fuerte contenido simbólico.
De ahí la preferencia por «invadir» ciertas calles o plazas del centro histórico, así como por trasladar la
celebración de muchas manifestaciones desde los puntos en donde se producen los conflictos a ciudades
importantes, preferiblemente aquellas en las que se concentra el poder político: las capitales de los Estados o de
las provincias. […]. La elección del lugar en el que se llevaa cabo es, pues, una cuestión muy relevante para
los organizadores, de la que depende en buena medida su éxito; […]. Congregarse, mostrarse juntos, ser
protagonistas y participantes «en primera persona» son dimensiones constitutivas de la manifestación. De ahí
que participar en una de ellas sea una experiencia ciudadana única con una evidente función de aprendizaje. La
importancia de «hacerse visible» explica que sea una de las prácticas de ciudadanía preferidas para aquellos
grupos que luchan por su reconocimiento e inclusión dentro de la comunidad de ciudadanos.”
24
« La manifestation serait donc ainsi d’essence democrátique, ou plus exactement participerait d’un
pouvoir d’expression primordial des governés. Dans ces situations, la seule participation des manifestants est
preuve de la force de leur conviction. »
50
[...] que se admitir que o protesto em geral e a manifestação em particular
constitui um dos elementos centrais da vida dos sistemas democráticos. As
manifestações são, ao mesmo tempo, uma resposta coletiva ante situações de crise,
e uma conseqüência das crises dos canais tradicionais de participação política: sem
esquecer que são praticamente a única forma de alcance dos grupos excluídos pela
comunidade política para expressar suas demandas de reconhecimento, para
‘fazerem-se visíveis’. (MORÁN, 2005, p. 99, tradução nossa).
25
Autores brasileiros realçam este lugar da manifestação no cerne de uma sociedade
democrática, corroborando aquela idéia de uma “cidadania espacializada” citada ainda há
pouco. Lembramos oportunamente o trabalho de Sader (1988), para quem os novos
movimentos sociais, no fim dos anos 70 e década de 80, singularizaram-se, não pelo aspecto
da participação político-institucional, até porque os mesmos canais estavam fechados para os
movimentos populares, mas, sobretudo, pela busca de reafirmação como sujeitos sociais e
políticos autônomos.
No livro acima citado, Chauí (1988) apresenta o lugar das manifestações como função
de aprendizado cidadão, como exercício da cidadania. Nesse rumo, estar em um espaço
público, manifestando-se num espaço até então reservado para o capital compreendendo
aqui os negócios e a circulação de automóveis tem o sentido de uma ação pedagógica,
significativa para a vivência política, enfim, para a tomada de consciência dos indivíduos
como sujeitos históricos e de direitos.
Ainda quanto à relação com o Estado, temos então um argumento que se distancia de
uma formulação de Fillieule e Pechu, levantada anteriormente. Para aqueles autores, as
manifestações encabeçadas pelos movimentos sociais na atualidade orientam-se por um
distanciamento do Estado ou mesmo das questões partidárias. A literatura brasileira aponta
um ponto de vista diferente, que os movimentos sociais
26
brasileiros, precisamente os
denominados Novos Movimentos Sociais, que emergiram na cena política a partir do final da
década de 1970, buscaram se fazer reconhecidos como sujeitos políticos.
A argumentação de Favre (1990) também se distancia daquela orientação apresentada
25
[…] hay que admitir que la protesta en general y la manifestación en particular constituye uno
de los elementos centrales de la vida de los sistemas democráticos. Las manifestaciones son, al tiempo, una
respuesta colectiva ante situaciones de crisis, y una consecuencia de la crisis de los canales tradicionales de la
participación política. Sin olvidar que son prácticamente la única forma al alcance de los grupos excluidos de la
comunidad política para expresar sus demandas de reconocimiento, para «hacerse visibles.».
26
A respeito ver: SADER (1988) SADER; PAOLI (1986), FILGUEIRAS (1992), LE VEN (1987) LE
VEN; NEVES (1996). Nesses autores, embora com enfoques distintos, é possível verificar a relação entre os
movimentos sociais e o Estado, colocadas na busca de ampliação dos canais de participação política. Através de
suas manifestações estes atores sociais buscam o reconhecimento enquanto atores políticos.
51
por Fillieule e Pechu (1993). De acordo com sua interpretação, toda manifestação tem como
alvo o Estado, mesmo que este se apresente de forma fluida e imprecisa. E sempre uma
relação com o Estado quando se manifesta em espaço público, que um dos atores de uma
manifestação seriam as forças da ordem, participantes daquilo que Favre situa como o
“momento manifestante”
27
.
Para ele e aqui recorrendo às formulações de Amitaï Etzioni, de quem retoma alguns
termos e a quem dirige algumas críticas as vias usuais da democracia representativa muitas
vezes não conseguem responder a interesses específicos e novos que surgem na dinâmica de
uma sociedade. O recurso à manifestação teria a finalidade de colocar estas demandas no
plano político. Além de poder permitir a expressão .(m)-2.45995(n)-ed]TJ257.912 0 Td[(.(m)-2.45995(n)-e)315(d]TJ2[(.(m)-2.45)3.74244(o2470.247(t)-2.)-e)315(d]2.295585(i4-p)-0.2955840.24-1.23)-2.16436d69( )]TJ257.912 (s)-1.2312( 4(r)2.80439(e)3.74(t)015(p)-0.(m)-2.45995( )-70.18n )-180.253(e)3.74(s)--1.2312( )-50.1ia436(n)-0.298.08 Tm( )TjETQQq8.( )250]TJ-263.916 -20.64 Td[(p)-0.294974(l)-2.16558(a)3.36(g)9.71276(u)--0.294974(o)-0.20ar
“momenta nt
52
remete à ausência de democracia. A este propósito cita-se Lefebvre, o qual sintetiza esses
aspectos que abordamos até agora:
A passagem na rua, espaço de comunicação,é a uma só vez obrigatória e reprimida.
Em caso de ameaça, a primeira imposição do poder é a interdição à permanência e
à reunião na rua. (LEFEBVRE, 2002, p.31).
Para Lefebvre, a apropriação da cidade como lugar de consumo (consumo dos lugares)
pode ser uma forma de poder implícito que inviabiliza a possibilidade da apropriação da rua
como espaço de manifestação; novas formas de silenciamento, elementos que talvez possam
explicar um esvaziamento das ruas nos últimos tempos. Estabelecendo-se uma conexão entre
o entendimento apresentado por Favre às formulações de Lefebvre, o número de
manifestações na rua pode ser associado a questões internas aos movimentos sociais, donde a
ausência de manifestações poderia indicar uma crise dos mesmos, seja devido a processo de
burocratização, ou ainda devido à diminuição do número de sócios e ativistas empenhados em
determinadas causas. Mas também convém destacar as questões externas, como a própria
organização societal mais ou menos privatizada, as intervenções das relações de poder e
consumo, que afetam a possibilidade da manifestação.
Márcio Pochmann, refletindo sobre a realidade brasileira, aponta a compreensão sobre
um paulatino esvaziamento do espaço público nos últimos anos, trazendo ainda outros
elementos de análise;
O movimento de redemocratização nacional chamava a atenção para o fato de que
o governo da ditadura militar havia privatizado o espaço público. Essa é uma
questão que merece ser destacada. A sociedade brasileira, até o início dos anos
1960, tinha um espaço público que hoje está muito reduzido. Ele foi apropriado
pelo privado. A sociabilidade está sendo construída dentro dele. A começar pelo
Shopping Center, que hoje é onde as pessoas podem caminhar com certa segurança.
Entretanto, na década de 1960 a população tinha a opção do passeio, da praça
pública. As pessoas caminhavam, andavam nas ruas. Nós perdemos essa
característica. Parte dessa distorção é decorrente da ditadura militar, cujo período
foi marcado pela privatização do Estado. (POCHMANN, Márcio, 2007).
Embora não haja nessa passagem uma alusão direta ao número de manifestações no
espaço público, é relevante a constatação acerca do esvaziamento desse espaço, tomado como
um problema associado à sociabilidade e que, em última instância, é um problema para a
constituição de relações democráticas. Não deixa de ser sintomático esse esvaziamento,
sobretudo porque um dos elementos intrínsecos às manifestações é a existência de público.
53
2.7 As manifestações operárias
2.7.1 A festa do 1º de Maio
Feitas as considerações de modo mais geral sobre manifestações, caberá agora, num
plano mais específico, realizar alguns levantamentos sobre as manifestações operárias. Nossa
intenção é, portanto, realçar as singularidades dessas manifestações, buscando identificar as
promessas e simbologias levadas às praças como meio de expressão de um segmento social.
Este levantamento será uma espécie de preâmbulo para que possamos conhecer um pouco,
posteriormente, do movimento sindical. Mas o intuito não é fornecer elementos para analogias
com esta ou aquela categoria de trabalhadores, ou mesmo entre esse ou aquele momento
histórico, ou ainda realizar um levantamento exaustivo sobre as manifestações operárias. A
intenção é menos ambiciosa. Gostaríamos, nesse momento, de entender, a partir da sugestão
de Perrot (1992), que os movimentos operários conduziram, em determinado momento, a
manifestação do Dia dos Trabalhadores como um modo de expressão, termo esse que nos será
valioso em diversas situações de nossa explanação.
A autora sugere que as greves dos trabalhadores apresentavam, até a primeira metade
do século XX, duas características: eram um meio de pressão e um modo de expressão. Com
respeito a essas definições associadas às greves, é apropriado transcrevermos as descrições da
própria Perrot (1996, p.195):
Eu penso que nas sociedades européias do século XIX e da primeira metade do XX
(já que, agora, há uma diferença evidente), a greve era duas coisas: ela era,
simultaneamente, um meio de pressão para obter algo ou para se defender, e um
modo de expressão. Para além da reivindicação ou da defesa propriamente ditas,
ela era a expressão de um grupo mais ou menos comunitário que, seguidamente,
pela greve se tornava mais comunitário (às vezes também era a ocasião de cisões,
de clivagens, de divisões) Definitivamente, não existem duas greves que se pareçam,
mas a greve tinha estas duas funções.
A reflexão trazida a partir destas características é bastante adequada para nossos
intentos, muito embora a autora estivesse se referindo às greves européias situadas em
determinado momento histórico. Não obstante, tomamos como pertinentes as sugestões de
que uma singularidade das manifestações operárias face a outras modalidades de
manifestações. Nossa intenção é nos determos nas simbologias dos movimentos operários que
se manifestaram em via pública. Conduzindo nossa linha de raciocínio, traremos também
algumas contribuições de Mouriaux (1990), Tartakowsky (1990), Tartakowsky e Pigenet
(2003), que serão oportunos para discussão do repertório das manifestações, como modo de
54
expressão, sobretudo. Trata-se de algumas abordagens da sociologia francesa sobre o assunto.
Conseqüentemente, as contribuições merecem ser trazidas para nossa análise, sobretudo
porque lançam pistas para compreender uma interpretação não muito comum no nosso campo
de atuação.
Não trataremos ainda do movimento dos bancários, que será fruto de análise mais
acurada em capítulo específico. Contudo, em momento apropriado, serão introduzidas
algumas linhas sobre o Primeiro de Maio no Brasil.
Por sugestão de Blass (1992), em que a autora refere-se a alguns trabalhos de Perrot,
fomos buscar a origem das manifestações operárias consubstanciadas no de Maio, mais
precisamente a grande festa dos trabalhadores, dia reconhecido e festejado mundialmente.
Perrot, em seu texto acerca das origens do Primeiro de Maio na França em 1890 (PERROT,
1992), buscará compreender historicamente a essência desse primeiro de todos os Primeiros
de Maio. Que visões de mundo estariam ali esboçadas? Que atitudes e símbolos os operários
estariam forjando ou carregando?
A autora lembra que a escolha da data de de maio como “Dia dos Trabalhadores”
relaciona-se aos acontecimentos trágicos de de maio de 1886, ocasião em que diversos
operários morreram num confronto com as forças armadas, em Chicago. Em 1889, um
congresso da Segunda Internacional delibera uma resolução em que se propõe a referida data
para ser um dia lembrado simultaneamente em todos as cidades e países do mundo. Portanto,
buscava-se marcar o dia como uma data universal, e não só de um país, de forma a demonstrar
a força do proletariado em uníssono, para que a classe operária se identificasse enquanto tal,
através da expressão de gestos, palavras e símbolos operários, por todas as partes do planeta.
A definição da data e das características do acontecimento foi antecedida de um
intenso debate, em que diversas correntes do movimento operário internacional apresentavam-
se com suas propostas. Assim, os guesdistas, corrente marxista francesa (de Jules Guesdes), e
os anarquistas indicavam, cada qual, estratégias diferentes, que iam desde a definição de
itinerários, passando pela defesa ou não de realizações de passeatas, até a característica
daquela manifestação, isto é, seria uma greve geral agregada a intimações aos poderes
públicos, como queriam os anarquistas; ou uma movimentação política e menos anti-patronal,
como queriam os guesdistas.
A intenção dos anarquistas era, portanto, a de causar uma forte impressão na opinião
pública, e, por conseguinte, suscitar também um verdadeiro clima de alarme junto às classes
mais abastadas. os guesdistas preferiam reuniões a portas fechadas, utilizando-se da data
para convocar intervenções das autoridades no âmbito das relações de trabalho, ou seja,
55
privilegiavam o encontro com o poder local, opondo-se, por seu turno, a um viés mais festivo
para o de Maio, fato que poderia ofuscar a dimensão política almejada por eles. Nas
palavras de Perrot, pensava-se mais no de Maio como uma forma de pressão do que um
modo de expressão.
Com efeito, o que se constatou na prática foi a conformação de um 1º de Maio festivo,
sem descurar das questões políticas. O movimento operário buscou mesclar antigas tradições
culturais: elementos religiosos como os estandartes, expressões fraternais como “irmãos”,
“camaradas” ou companheiros” e elementos ritualísticos; elementos da tradição camponesas
ou familiares, tais como danças e trajes regionais, e ainda, elementos da esfera política
operária, como cores e bandeiras, predominando ora as cores pretas, representando as
vinculações anarquistas, ora as vermelhas, representando os socialistas. O resultado desse
primeiro Dia do Trabalhador foi uma mistura de prazer e política, uma festa contra a festa dita
nacional, o 14 de Julho, afixada pela burguesia no intuito de ser uma festa de todos os
franceses. Posteriormente a data iria se alinhar mais a uma pedagogia socialista e sindical.
2.7.2 Manifestações e greves
Tartakowsky (1990) sugere que as manifestações podem acompanhar circunstâncias
de greves, antecipando ou seguindo-as. No entanto, as manifestações não são condições sine
qua non de uma greve. Podem se aliar, mas mantêm entre si uma autonomia considerável.
Sendo assim, as manifestações são um dos recursos possíveis utilizados pelos sindicatos,
podendo ser um reforço à greve ou, em alguns casos, um substituto.
As manifestações nunca se reproduzem novamente da mesma forma, mesmo que as
condições históricas se assemelhem. Cada “momento manifestante” deve ser analisado em sua
singularidade. Assim, fatores históricos, a diversidade dos movimentos sociais, tudo isso deve
ser levado em conta. As variáveis sindicais conduzem a variações nas manifestações. Esta
constatação é bastante significativa, sobretudo porque ajuda-nos a entender por que essa ou
aquela categoria profissional consegue impor uma característica mais irreverente às
manifestações, prevalecendo o aspecto lúdico, ou para utilizarmos as palavras de Perrot
(1992), predominando o modo de expressão, e outras categorias, ou também outros contextos
históricos da mesma categoria, necessitam impor uma dinâmica séria e mais aguerrida à
ocupação de rua, isto é, tornando a manifestação uma forma de pressão. É preciso buscar os
componentes histórico-culturais e políticos que subsidiam a inserção dos indivíduos em suas
respectivas categorias profissionais.
56
Mouriaux (1990) é um autor que nos ajuda a pensar em alguns aspectos que marcam
as manifestações sindicais, levando-se em consideração a inserção histórica dos sindicatos no
cenário de uma sociedade capitalista. Realizando análises sobre as manifestações sindicais,
sugere que os sindicatos adaptam um modo de ação antigo às manifestações, fato que, por
sinal, havia sido mencionado quanto às festas do Primeiro de Maio. Assim, os sindicatos
costumam combinar, em suas manifestações de rua, elementos do repertório religioso, com
passeatas que lembram os cortejos e procissões, utilizando-se de estandartes e bandeiras que
remetem aos estandartes de santos, largamente utilizados nas celebrações religiosas
(TARTAKOWSKY; PIGENET, 2003). Combinam ainda elementos do repertório militar e
guerreiro, tendo as marchas como referência: os manifestantes seguem em bloco, numa alusão
às tropas em deslocamento. Também é comum o emprego, no discurso sindical, de elementos
apropriados do repertório gramatical associado às metáforas religiosas, tais como “irmãos” e
“companheiros”, e também termos que remetem às metáforas militares, tais como “ataque”,
“defesa”, “luta” e “militante”.
Tendo realizado essa demarcação, uma consideração também importante é situar os
métodos de manifestação utilizados pelo movimento sindical, visando atingir diferentes
objetivos. Sendo assim, uma manifestação pode primeiramente ser utilizada para conseguir a
simpatia da sociedade para a causa do movimento, atraindo a atenção da imprensa ou
divulgando materiais próprios, por ocasião da manifestação. Em segundo lugar, uma
manifestação pode ser utilizada para difusão de palavras de ordem, ou seja, para tornar
pública a combatividade dos manifestantes e ganhar forças. Em terceiro lugar, ela também
pode ser um método para exercer um constrangimento moral, a partir do bloqueio de vias
públicas, ocupação de edifícios ou inadimplência de tarifas.
Tais métodos podem colocar o sindicato na ilegalidade, dependendo da carga de
recursos utilizados, bem como da não-disposição do governo em reconhecer as manifestações
de rua. Não obstante, essas manifestações poderão garantir a visibilidade almejada, além de
servir como força de pressão diante de cenários desfavoráveis, objetivo também almejado por
alguns movimentos, em situações excepcionais.
Quanto à relação entre greve e manifestações de rua, estas podem servir para reforçar
uma greve já existente. Nesse caso, uma manifestação se junta à paralisação do trabalho.
57
O objetivo visado não é somente de desviar os assalariados de irem aos seus locais
de trabalho ou de fazê-los permanecer em suas casas, mas de favorecer a adição de
múltiplos protestos locais, mesmo minoritárias, de captar a dinâmica manifestante
que nós temos analisado a tripla dimensão de sedução, de impressão e de
constrangimento. (MOURIAUX, 1990, p. 311).
28
Este foi o caso dos bancários de Belo Horizonte em algumas circunstâncias, e também,
como ressalta Blass (1992), o caso do movimento sindical bancário de o Paulo, em 1985:,
as greves de bancários eram acompanhadas invariavelmente por manifestações de rua.
Poderíamos inclusive acrescentar, dadas as particularidades da relação do trabalho bancário
com os centros da cidade, que as greves de bancários, em si, seriam uma espécie de
manifestação de rua.
2.7.3 As manifestações do 1º de Maio no Brasil
Assim é que, conforme mencionamos, o de Maio na França foi originalmente
disputado entre anarquistas e socialistas. Avançando um pouco mais, tal disputa pôde marcar-
se pelo conflito entre esquerda e direita, que esta última também passa a inserir-se no
âmbito das organizações sindicais, disputando as atenções dos trabalhadores.
Tal arena de disputa merece ser considerada para o caso brasileiro. Antunes (1985) e
Gomes (1988) indicam que as primeiras organizações operárias do Brasil se deram no início
do século XX. Num período que vai de 1900 a 1930, diversas manifestações e greves foram
inicialmente conduzidas pelos anarquistas e depois pelos comunistas. em 1906, ocasião da
realização do I Congresso Operário no Rio de Janeiro, tem-se a notícia também de realização
de várias greves, além da manifestação do 1º de Maio. Conforme Gomes (1988), não há como
negar a proeminência dos anarquistas junto ao movimento operário brasileiro, sobretudo no
período que vai de 1906 até 1920. Salienta-se como característica essencial dos anarquistas o
empreendimento de diversas articulações, tendo em vista incidir junto às associações de
trabalhadores e sindicatos um intenso trabalho de propaganda, para difundir suas concepções.
Para isso, os anarquistas não só se ocuparam da realização de greves, mas também de
manifestações públicas de caráter mais amplo, organizando campanhas anticlericais e
antimilitaristas, além dos comícios contra a carestia e contra a lei de expulsão de estrangeiros.
28
« L’objectif vise n’est pas seulement de détourner les salariés d’aller à leur travail ou de rester chez
eux mais de favoriser la sommation des multiples protestations locales, même minoritaires, de capter la
dynamique manifestante dont nous avons analysé la triple dimension de séduction, d’impression et de
contrainte. »
58
Tais manifestações muitas vezes eram associadas ao de Maio, data a qual os anarquistas
buscavam apropriar-se, imprimindo suas orientações.
De 1923 até 1930, ocorre a escalada da vertente comunista, que passa a dar uma nova
conotação para o movimento operário, e, por conseguinte, para o de Maio. A partir de
1923, os comunistas começaram a inserirem-se nos sindicatos, depois da intensa perseguição
política aos militantes anarquistas. Já no final da década de 1920, uma nova concepção
sindical, a cristã reformista (ANTUNES, 1985), também aparece no cenário político-sindical
brasileiro. Com isso, três concepções distintas passaram a disputar as significações do 1º de
Maio: católicos, comunistas e anarquistas. Em relação a essa disputa, vale a pena inserir
algumas linhas apresentadas por Gomes (GOMES, 1988, p.174), em que se refere a um
comício marcado pelos comunistas para se realizar no de Maio de 1929, na Praça Mauá,
pelo motivo da festa de encerramento do congresso de fundação da Confederação Geral do
Trabalho:
O comício foi realmente bastante prestigiado, mas teve que concorrer com dois
outros acontecimentos: a reunião de protesto dos anarquistas na Praça Onze,
organizada pela FORJ
29
e pela União dos Operários da Construção Civil, e a missa
oficiada pelo arcebispo dom Sebastião Leme para os operários. A cidade via nascer
um terceiro espaço para as comemorações do Dia do Trabalho: o espaço da Igreja
Católica.
Posteriormente, já no contexto de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, o
de Maio passa a ser incorporado como uma festa oficial, não por esse governo, mas por
outros que tantas vezes utilizaram-se do Dia do Trabalhador para realização de grandes
comícios. Conforme destaca Gomes (1988), 1938 marca-se como o primeiro ano em que o
Dia do Trabalhador foi comemorado pelo Estado Novo, com Getúlio Vargas discursando,
garantindo ao evento um verdadeiro clima de festividade oficial. Foi nessa ocasião que ele
anunciou a lei que regulamentava o salário mínimo. De 1939 adiante, com exceção de 1944, a
festa foi realizada no campo Vasco da Gama, com contornos ritualísticos, momento em que o
presidente se encontrava com o povo e pronunciava aos trabalhadores.
Posteriormente, ainda como festa oficial, o de Maio foi utilizado, por exemplo, no
Governo João Goulart. Por diversas ocasiões, Jango veio às comemorações do Dia do
Trabalhador para dirigir a palavra aos trabalhadores, no intuito de conquistar-lhes o apoio. Tal
fato repetiu-se de maneira mais intensa ainda por ocasião de uma forte crise em seu governo,
29
Federação Operária do Rio de Janeiro, de orientação anarquista, fundada em 1907.
59
com a iminência do golpe militar.
Como festa oficial, o de Maio perde, por um bom tempo, a sua característica de ser
um instrumento de pressão e modo de expressão operário, passando a representar um recurso
do Estado para cooptação dos trabalhadores. Somente no final da década de 1970 é que essa
simbologia é reavivada, retomando aquelas dimensões ofuscadas durante as manifestações
oficiais (ANTUNES, 1985).
60
3 O ESPAÇO PÚBLICO DA MANIFESTAÇÃO
O povo, reunido em comício na Praça Sete de Setembro [03/04/1930], protesta contra
a orientação seguida, em seus trabalhos, pela junta apuradora do pleito de primeiro
de março. Findo o comício, prosseguiu em passeata pelas ruas principais e, ao passar
pela Rua Espírito Santo, em frente da residência do chefe da concentração
conservadora, foi alvejado por alguns tiros partidos dessa casa. (PENNA, Apud
SANTOS, 2006, p. 56).
3.1 Palavra, política e espaço.
A discussão que se organizará no presente capítulo visa satisfazer ao seguinte
propósito: pensar a manifestação no espaço público a partir de três elementos que suscitam
um leque de informações relevantes para prosseguirmos as discussões no decorrer do capítulo.
São esses elementos palavra, política e espaço.
Se no capítulo anterior realizamos um esforço de definir a manifestação, com os seus
respectivos elementos, agora se faz necessário o entendimento do segundo aspecto: a
manifestação que se faz no espaço público. Este espaço público precisa ser entendido, e não
atingiremos a contento esta tarefa sem entender que tal espaço é mediado por conflitos.
Precisamos compreender a política, o poder público, as relações de poder. Precisamos captar
os discursos que se apresentam no e para o espaço.
Isto posto, nos propomos buscar algumas conceituações sobre o espaço público que
nos propiciem situar as ações dos sujeitos que ocupam a rua com o propósito de manifestar.
Distanciamo-nos da caracterização geográfica do espaço, buscando entender que, enquanto
público, o espaço comporta dimensões de caráter simbólico, expressa-se o poder através da
monumentalidade, sendo, portanto, objeto de disputa por significados pelos diferentes setores
sociais. De resto, acompanhando essa linha de raciocínio, é possível perceber que até os
dilemas de uma nação e/ou cidade e mesmo as relações desiguais e autoritárias da sociedade
capitalista podem ser expressas na Praça.
Assim, quando a sociedade é marcada pelos atravessamentos de um poder autoritário,
a Praça também será marcada por estes. Temos a percepção de que o direito à manifestação
insere-se como um dos requisitos de uma sociedade democrática. A despeito deste requisito,
não deixa de ser sintomático o fato de que, somente a partir da Constituição Federal de 1988 é
que se reconhecem efetivamente os direitos coletivos e também o direito de reunião em locais
públicos. Tardiamente se comparado à legislação francesa, que, em 1935, já concebia o direito
à manifestação pública (TARTAKOWSKY, 2004).
61
Seguindo os propósitos da análise, a primeira medida – a medida de todas as coisas, se
assim quisermos é que as manifestações no espaço público podem ser tomadas como luta
pelo “direito à cidade”. Mas, antes de mais nada, o direito à cidade se apresenta na
possibilidade de falar, atributo elementar da vida social, e, por conseguinte, da vida pública.
Manifestar-se em praça pública é utilizar-se dessa faculdade. Nesse sentido, conforme
palavras de Arendt (1993, p. 12), “Os homens no plural, isto é, os homens que vivem e se
movem e agem neste mundo, podem experimentar o significado das coisas por poderem
falar e ser inteligíveis entre si e consigo mesmos.”
A perspectiva que se aponta a partir dessas considerações nos orienta sobre o
momento de fundação dos sujeitos políticos. A ação de fundar é uma das mais elementares da
vida política. A palavra carrega o sentido mais essencial da vida pública: viver na esfera
pública implica, necessariamente, em ter que se comunicar. Logo, é com a palavra que
nomeamos e com ela que se arranja o discurso. A palavra é inerente, portanto à nossa
condição humana enquanto seres políticos, constituindo-se um atributo da dimensão política.
Discurso esse que não pode se concretizar na “linguagem” científica, cuja simplificação a
símbolos matemáticos impede a expressão ampliada do pensamento e não aceita a diversidade
de significados que outras linguagens podem proporcionar. Ciência e cnica muitas vezes
reproduzem o conhecimento (know-how), mas reduzem o pensamento.
Também a palavra não pode ser expressa pelo indivíduo isolado, no seu espaço
privado. Lá, ele não precisa experimentar o significado das coisas, no sentido lato. É que o
espaço privado não serve para começar algo, ou, em outras palavras, não serve para fundar
um acontecimento histórico. O espaço privado seria o campo de reprodução da vida, um
espaço necessário, mas que não precisa do discurso e, por conseguinte, não é o espaço da
política. Na vida privada, espaço da casa propriamente dito, prevalece a relação despótica,
simbolizando precisamente a esfera particular, que o termo grego, despótes que em latim
corresponde ao termo pater-familias remete ao chefe de família, ao poder patriarcal, cujas
leis são fundamentadas na sua vontade pessoal (CHAUÍ, 2003). Esse espaço privado é
particularmente o lugar em que a reserva, o comedimento e a necessidade perpassam a vida
dos indivíduos. Caso os homens tivessem permanecido na esfera do mundo privado, não
haveria a sociedade, que as regras estabelecidas naquela esfera não possibilitariam novas
conquistas. A novidade o fazer história deve ocorrer na comunicação com outros homens.
Deste modo, quem quer começar algo, precisa expor-se, isto é, sair do anonimato, já que criar
o novo exige publicidade. Quem quer eternizar-se deve sair do conforto da esfera privada.
Para Arendt (1993), os homens que querem começar algo precisam tanto da ação
62
como do discurso. Sem ambos, os homens deixariam de pertencer à humanidade, e, mais
precisamente, não fariam história.
É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano. E esta inserção é como
um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e
singular do nosso aparecimento físico original. [...] Na ação e no discurso, os
homens mostram quem são, revelam ativamente suas identidades pessoais e
singulares, e assim apresentam-se ao mundo humano, enquanto suas identidades
físicas são reveladas, sem qualquer atividade própria, na conformação singular do
corpo e no som singular da voz. (ARENDT, 1993, p. 189 e 192).
É no espaço público tomando essa expressão em sentido mais abrangente, o que em
Ciências Sociais compreende mais do que o espaço puramente físico que os homens podem
fazer circular os mbolos criados coletivamente, tornando-os significativos para os sujeitos
que se comunicam. É lá que eu apareço aos outros.
Trata-se do espaço da aparência, no mais amplo sentido da palavra, ou seja, o
espaço no qual eu apareço aos outros e os outros a mim; onde os homens assumem
uma aparência explícita, ao invés de se contentar em existir meramente como coisas
vivas ou inanimadas. (ARENDT, 1993, p. 211).
Tal entendimento sobre a comunicação nos remete à nomeação dos objetos, ou seja, a
criação de significados para os homens. Diante disto, na cidade, cada monumento representa
uma concepção de mundo daqueles que a idealizaram. Esse atributo do discurso, isto é, da
utilização da palavra tornada pública, nos remete à disputa pelo poder de nomear. Esse poder
de nomear se apresenta no espaço público e não no domínio do privado.
Santos (2002), referindo-se a esse atributo da vida social, indica que os indivíduos
reconhecem a objetividade ao seu redor através dos nomes dados. Assim sendo, “o ato
fundador é dar um nome e, por isso, é a partir do nome que produzimos o pensamento e não o
contrário” (SANTOS, 2002, p.67). O que ele afirma aproxima-se daquilo que Arendt (1993)
indicou como a entrada na esfera do público, e, por conseguinte, a saída do domínio
particular.
Indo ainda mais longe nas considerações sobre a nomeação em cada espaço
determinado, poderemos encontrar um conjunto de ações: o agir técnico, que conduz a
interações requeridas pela técnica; o agir formal, que supõe uma obediência aos formalismos
jurídicos, econômicos e científicos, e, por último, uma agir simbólico, “que não é regulado
por cálculo e compreende formas afetivas, emotivas, rituais, determinadas pelos modelos
gerais de significação e representação.” (SANTOS, 2002, p. 82).
A partir desta modalidade de ação é que podemos situar as marcas, símbolos e sinais
que são significativas das próprias relações que os indivíduos estabelecem nos espaços. Um
63
exercício de identificação desses sinais na Praça Sete poderia ser relevante como forma de
entendermos os discursos que se propõem para aquele e naquele espaço. Esse universo
simbólico é renovado a cada nova transformação social, ou seja, novos universos simbólicos
são trazidos à tona em função dessa nova configuração social. Por conseguinte, nesse mesmo
processo, ocorre uma tentativa de tornar possível o entendimento desses símbolos para os
outros.
Importa identificar para a Praça Sete algumas simbologias que se instalaram ou se
instalam ali. De pronto, percebemos as seguintes:
Monumento ao poder político e econômico: referência ao poder (o obelisco fálico-
bélico); referência à Independência do Brasil; reminiscências de antigos modos de vida
(prédios antigos, vestígios de trilhos dos bondes); a arquitetura moderna; a centralidade; A
circularidade e o culto à tradição e a representação do mundo das finanças.
Símbolo religioso: missas campais: a representação da Belo Horizonte Eucarística feita pelas
Marcha das Mulheres em 1964.
Símbolo da circulação: placas, faixas de pedestres, ruas, carros, pedestres e guardas de
trânsito.
Símbolo do consumo: agências bancárias, vitrines, outdoors, luzes das lojas. O cartão postal, a
praça como ponto turístico e patrimônio histórico.
Símbolo político: luta pelas liberdades políticas, espaço das manifestações, greves, luta por
direitos, espaço de passeatas, cortejos e festa dos movimentos sociais.
Na Praça Sete, podemos identificar sinais de trânsito (placas de orientação, nomes de
ruas, faixas de pedestres). São indicativos de uma ordenação postulada para a rua como
espaço de circulação, ou seja, de passagem.
Também outros sinais indicam a ordenação pelo consumo, tais como os outdoors, as
placas de vendas de mercadorias e também os luminosos das lojas, além das vitrines. Estes
sinais são proeminentes na Praça Sete de hoje e exercem sua força considerável de atração.
Cada uma dessas ordenações poderia ser levantada historicamente também. Seria um
exercício bastante relevante porque ele situaria, por exemplo, um discurso sobre a circulação
sendo erigido e transformado ao longo do século. Isso na Praça Sete. Evidentemente não é
a nossa intenção fazer tal exame exaustivamente, mas vale como uma tentadora proposta de
análise.
64
FIGURA 2 II Congresso Eucarístico – Comunhão dos Homens – Praça Sete, 1936
Fonte: Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto.
3.2 A invenção constante da cidade
um duplo movimento empreendido pelas forças sociais que atuam no cenário da
cidade moderna. Um movimento de sístole e diástole, poderíamos dizer: de um lado,
operando numa intenção de fechamento, ou privatização do espaço urbano, estão as forças
representadas pela organização capitalista da cidade, estas atuando, não em uníssono, mas
desempenhando ações que implicam em fechamento, de alguma natureza. São, portanto,
forças conservadoras, que podem ser representadas por todas as urgências da sociedade de
consumo, pautando o desejo de disciplinar e moralizar as ações dos indivíduos no espaço
público, além da necessidade de fazer da rua um lugar exclusivamente para o trânsito,
liberando-o, ou antes, impedindo que tal destinação sofra qualquer desvio. Também nessa
seara estariam os setores da elite local/nacional e seus discursos sobre a segurança, a
moralidade e ordem social, que denotam aspirações de um mundo cada vez mais privatizado.
Com efeito, esses setores não almejam o fechamento da rua, mas também a sua
apropriação, impregnando-a com seus valores e símbolos do mundo privado, ou, se possível,
fazendo com que a rua seja uma extensão deste.
O outro lado do movimento é o de abertura-diástole, este empreendido pelas forças
empenhadas na conquista de direitos e/ou a luta pelo direito à cidade. Um movimento que
sonha a cidade. Uma frase de Benjamim é significava quanto a essa dimensão: “Cada época
sonha não apenas a próxima, mas ao sonhar, esforça-se em despertar(BENJAMIN, 2006, p.
51). Com essas palavras, o autor indica que o sonho é dimensão elementar da vida. Condição
65
que inspira os homens e mulheres a caminhar, e, por conseguinte, realizarem o sonho de uma
cidade aberta a partir do presente, com todos os seus obstáculos. O despertar coloca a utopia
no terreno da possibilidade. Na cidade, esse entendimento sobre a utopia precisa efetivamente
se colocar como medida da realização de uma cidade melhor. Se fôssemos situar a utopia no
espaço de uma cidade, diríamos que, quando os movimentos sociais expõem seus sonhos na
rua, em certa medida estão conduzindo a própria cidade para um despertar, ou para alargar-se.
Poder-se-ia questionar essa idéia do duplo movimento, que ele aponta para uma
relação de dependência, em que um movimento estaria sempre associado ao outro. Todavia,
as considerações de Lefort (1987) a respeito da democracia nos fazem pensar que tal imagem
é necessariamente positiva, uma vez que indica a possibilidade de novas demandas e novos
sujeitos coletivos em constante busca pela ampliação dos direitos, ou seja, por um
alargamento do espaço público. Essas demandas não se colocariam sem uma devida pressão
frente aos grupos que supostamente não têm interesse no atendimento das mesmas. Desta
forma, a construção do novo passaria, necessariamente, pela rua. Ou seja, é preciso que as
demandas se manifestem na cidade para que um dia se tornem realidade. É relevante frisar,
portanto, que a manifestação é fenômeno essencialmente urbano, em que o centro da cidade
assume importância estratégica e simbólica.
A partir dessa idéia de um duplo movimento, organizaremos alguns tópicos em que a
tônica será situar a construção da cidade dentro dessa imagem sístole-diástole.
3.2.1 Reinvenção do centro da cidade como busca de novas raridades.
Não obstante, nem todo movimento carrega em si a possibilidade de abrir a cidade
para incorporar a dimensão do vivido (plano do vivido), conforme situa Carlos (1996). Com
efeito, conforme apontam Lefebvre (2001a), Lefebvre (2002) e Singer (1982), configura-se na
cidade uma tendência, potencializada pelas forças de acumulação do capital, de realizar um
constante movimento de construção-destruição-reconstrução da cidade, um movimento que
busca a novidade. Nessa orientação, tomando-se uma outra passagem de Benjamim (2006),
nota-se que um gosto visceral invade o homem moderno, qual seja, o gosto pela novidade e
pela raridade. Consequentemente, submetido àquilo que Benjamin considera como a
“fantasmagoria da mercadoria”, tudo que é novo no sistema capitalista – e não basta ser novo,
precisa ser raro de repente torna-se embotado e rapidamente envelhece. As construções
urbanas estão para confirmar a abordagem apontada por ele quando nos informa que as
passagens parisienses, feitas de materiais “novos”, tais como o vidro e o ferro, simbolizam a
66
abertura da cidade à mercadoria. As passagens representam a dialética: são tanto casa quanto
rua, assim como a prostituta que é vendedora e mercadoria numa pessoa. São imagens
empregadas pelo autor para retratar a condição inerente às cidades modernas.
A revitalização urbana, tão em moda quanto sempre esteve a reinvenção da cidade,
seria uma oportunidade de reflexão ao gosto de Benjamin. No tempo contemporâneo, ocorre
um esvaziamento deste espaço público ou a apropriação do mesmo para fins privados. Num
novo e constante processo de revitalização, a cidade vai sendo alargada para não mais
comportar senão as sociabilidades previstas. Neste sentido, alguns problemas podem ser
localizados.
Guattari (1985) utiliza-se da expressão “alisamento do território”, termo que poderia
ser aplicado aos constantes processos de reinvenção da cidade. Sua expressão carrega o
sentido de restrição dos equipamentos coletivos da cidade, uma forma de “desencantar as
relações urbanas”. Os arquitetos e urbanistas precisam vencer os “constrangimentos” à
urbanização capitalista. São constrangimentos, portanto, toda forma de subjetividade e
apropriações coletivas dos equipamentos para a convivência urbana, os bares, várzeas, praças,
ou seja, os lugares do encontro cotidiano. Sader (1988), citando o artigo daquele autor, indica
que os processos de urbanização dos últimos anos desprezaram aqueles que não tinham carros
e não residiam nas áreas nobres das cidades. Também Carlos (1996) se expressa a esse
respeito, informando que, cada vez mais, os espaços de encontro estão sendo destruídos. No
lugar, o poder público “oferece” novos espaços, mas que não contém mais o traço de antes.
Tal “alisamento do território” poderia ser identificado ao longo do século XX em Belo
Horizonte, em diversas situações. Em referência às constantes mudanças da configuração
espacial do centro, e mais precisamente, da Praça Sete, ousamos perguntar que objetivos
políticos/simbólicos se buscavam construir. Assim, a abertura ou o fechamento de ruas à
circulação, a especialização dos espaços, a derrubada dos fícus na década de 1960, a
transferência e toda discussão em torno do obelisco, mais popularmente conhecido como
“Pirulito”, e a mais recente construção de palanque para as manifestações, todas essas
transformações guardam também alguma tentativa de canalização da multidão. É tudo o que
se teme. Empreende-se alguma forma de disciplinamento também da manifestação, que é
obrigada a se espacializar.
67
3.2.2 Praça dos negócios contra os ócios
Na sociedade Greco-romana, a elite tinha como única ocupação realmente dignificante
o gozo do tempo livre, empenhando-se em atividades que alimentassem o corpo e o espírito,
portanto, atividades adequadas aos sábios. O trabalho manual, bem como atividades que
escapassem a essa fruição do ócio, eram considerados negotium (negócio), indicando com
essa palavra aquilo que negava o ócio. Assim, o comércio e o trabalho manual eram
atividades relegadas aos escravos ou não-cidadãos, que não podiam fruir o tempo livre. Tal
prerrogativa era somente dada aos cidadãos livres.
Com o advento da sociedade capitalista, a relação se inverte: o ócio passa a ser
considerado como indigno e o negócio passa a ser uma das molas-mestras da sociedade. Em
conseqüência, vale lembrar que a palavra ganhou ainda outras conotações, dentre as quais
poderíamos enfatizar a idéia de um tempo produtivo, ou um tempo capturado pelo circuito da
dinâmica capitalista de acumulação. O tempo passa a ser considerado, portanto, a partir da
produção e os dias dedicados a ela passam a ser valorizados como “dias úteis”, enquanto
implicitamente, escondendo-se na sutileza das palavras, a idéia de que os dias de folga
(feriados, dias-santos e domingos) não são tão úteis assim.
Pois bem, dentro da gica que vínhamos discutindo, esse predomínio em torno nos
negócios é precisamente um dos elementos homogeneizadores da cidade, para caminharmos
na imagem da sístole. Um movimento que resumiu consideravelmente os significados da
cidade e, particularmente das praças do centro um movimento de alisamento do espaço,
para retomarmos a definição de Guattari (1985). A intenção, nesse tópico, é averiguar como o
centro da cidade de Belo Horizonte foi sendo configurado para a eliminação dos tempos de
ócio, ou, para eliminação dos vários tempos em função de um único tempo, o tempo da
produção. Nessa acepção, enquadra-se de maneira oportuna uma das indicações de Lefebvre
(2001b), para quem os espaços da criatividade, da vida cotidiana, do simbolismo, do lúdico
valores de uso – foram submetidos às lógicas do consumo, da especulação, ou seja, em função
da cidade como comércio ou negócio – valor de troca.
Vejamos como esse processo segue seu curso em Belo Horizonte.
68
69
(eixo funcional industrial). O instigante cruzamento tornou-se, portanto, o palco para a
realização de manifestações de diversas naturezas. Manifestar num espaço que comporta essas
dimensões é também uma maneira de confrontar-se com os símbolos da monumentalidade do
poder econômico e financeiro, além do poder político. Portanto, simbolicamente, as
ocupações da Praça Sete podem ser vistas também como uma disputa com estes poderes pelo
poder de nomear, o que representaria também uma tentativa de recuperação das dimensões
perdidas que o espaço comportava.
3.2.3 O centro financeiro no centro da cidade
A instalação da Cidade Industrial propicia, então, um rearranjo do centro da cidade,
imprimindo uma abertura das ruas e praças centrais para ligar-se ao mundo industrial. No bojo
dessas transformações, uma nova paisagem urbana vai sendo desenhada. Em conseqüência,
essa paisagem do centro se abrirá a novas dinâmicas, a partir do final dos anos 1940,
oportunidade em que o centro comercial transforma-se em pólo financeiro, com a
intensificação das atividades deste setor.
O centro comercial, caracterizado como lugar do intercâmbio, passa a se
estruturar como pólo financeiro. A Praça Sete de Setembro assume papel de
primazia no processo de concentração financeira e de articulação com vários
vetores expandidos da cidade. Torna-se o coração dos negócios, o ponto de
confluência das linhas de trânsito. (LEMOS, 1988, p. 195).
Esta primazia vai se intensificando. Em 1960, este desenho esboça-se na própria
verticalização da área, consubstanciada na construção de edifícios ligados ao sistema
financeiro.
Com a ampliação das atividades financeiras, o centro, em especial o território da
Praça Sete, passa a lo privilegiado dos intercâmbios econômicos. A
movimentação em torno dos bancos cria uma efervescência própria no lugar,
definindo seu cotidiano. O centro bancário principal de Belo Horizonte se
concentrava principalmente na Rua Espírito Santo e na Praça Sete, ‘com os
edifícios suntuosos do Banco da Lavoura e do Banco Mineiro da Produção’.
(SANTAYANNA Apud LEMOS, 1988, p.214).
Com o rearranjo do centro na década de 1960, em que se adensam as atividades de
serviços de circulação, como as atividades financeiras e de representação, o comércio
varejista começa a diminuir naquela área, segundo dados estatísticos de 1968 (LEMOS,
1988). Assim, são notados os primeiros indícios de deterioração da área, determinada pela
“concentração não controlada de atividades e a falta quase total de planejamento urbano e
viário por parte do poder público” (LEMOS, 1988, p. 264). Este é o entendimento da autora.
70
Singer (1982) faz um contraponto com essa visão ao indicar que a deterioração do centro
atende a uma das demandas do capital, na configuração da denominada renda diferencial da
terra, conduzidas a seu termo, não sem a intervenção providencial do Estado. Por esta forma,
o centro é deteriorado em função da produção de novas centralidades. Assim, verifica-se a
explosão de diversos centros em função da expansão imobiliária e comercial.
Conseqüentemente, o processo de substituição do comércio varejista pelo grande comércio
ou, pouco depois, pelo setor financeiro, pode também ser associado ao desenvolvimento de
um novo processo de alisamento”. Dessa forma, analisando precisamente as transformações
vividas no espaço urbano do centro da cidade, nas décadas de 1970/1980, é que se entende a
argumentação de Le Ven (LE VEN, 1987), dando conta de que o capital e o Estado haviam
transformado o espaço urbano em espaço bancário.
Com efeito, a transformação do centro da cidade em centro financeiro iria requerer,
por sua vez, uma transformação espacial apropriada, com a emergência de novos símbolos
associados que passariam a circular pelos espaços do centro. Santos (2002) informa que leis,
portarias do Banco Central e as próprias regras dos bancos públicos produzem novos arranjos
para os espaços do centro da cidade. A cidade passa a girar em torno do horário bancário, que
“[...] modula os ritmos de atividade em outros ramos da vida econômica” (SANTOS, 2002, p.
149).
Retomando a discussão em torno da valorização dos “dias úteis” pode-se acrescentar,
a partir daquelas considerações de Santos (2002), que o sistema financeiro impõe, então, uma
dinâmica ainda mais voraz, sobretudo porque se torna necessário cadenciar os tempos de
abertura e fechamento das agências e porque tempo é dinheiro. As pessoas passam a se
referenciar nos horários bancários, ou seja, precisam acertar os seus relógios com os relógios
dos bancos. Assim sendo, mesmo aqueles que não utilizam os serviços bancários são inseridos
na lógica daquele sistema. É um tempo acelerado, que não combina com o “tempo lento”,
com a “conversa jogada fora”, a “prosa mineira”, o cafezinho com os amigos. Tudo isso é
desperdício de tempo e de dinheiro. Em conseqüência, no lugar das cafeterias, os fast foods
que combinam mais com as dinâmicas dos novos tempos.
Uma nova lógica deve ser levada em conta para a organização espacial e temporal da
cidade. Trata-se da lógica das finanças, a da circulação do dinheiro representado nas suas
mais diversas formas, que é característica intrínseca a esse setor a criação constante de
novos “dinheiros”, tais como moeda, debêntures, ações, warrants, cartões de crédito, etc.
Consoante Santos (2002), tal circulação tem um relevante papel na divisão do trabalho. As
finanças, por conseguinte, passam a funcionar como organizadoras da própria vida da cidade.
71
Nesse contexto, os bancos assumem um papel primordial, ou seja,
[...] num mundo em que os bancos, tornados globais, incorporam e unificam a mais-
valia, a partir de suas mais diversas manifestações, e independentemente do seu
nível. Todos os tipos de lucros e de perdas são processados pelo sistema financeiro.
Cabe-lhe recolher, qualificar e classificar tudo o que é financeiro, segundo sua
própria interpretação da lei do valor e, afinal, através de reinversões, relocalizar o
produto ao seu talante. (SANTOS, 2002, p. 133).
Entender essa correlação entre centro financeiro e centro da cidade é relevante, antes
de iniciarmos algumas discussões sobre as manifestações bancárias. É precisamente nesse
espaço que os bancários realizam suas atividades diárias, circulam e, ao mesmo tempo, é
também o espaço privilegiado para as manifestações bancárias. É importante salientar que as
mobilizações de bancários (greves e manifestações) se apresentam também como um diálogo
com essa dinâmica associada ao sistema financeiro, trazendo, com sua irreverência, o seu
deboche e seu riso, uma cisão com as rotinas desses tempos e espaços homogeneizados em
função do arranjo financeiro. Poderíamos avançar um pouco mais e afirmar que, em algumas
momentos, os manifestantes estariam invertendo as lógicas dos “dias úteis” pelos dias de
folga, em que o tempo livre serve para preparar a dimensão do encontro e da festa no espaço
público. Nesse sentido, é interessante observar que, por ocasião das greves no centro da
cidade, os bancários literalmente tomavam conta da rua, para andar de um lado para o outro,
sem pressa, para cantar, jogar cartas, discutir política e encontrar pessoas.
3.2.4 Disputas no e sobre o espaço
Conforme Lemos (1988), os anos 60 marcam uma nova transformação no espaço
urbano metropolitano de Belo Horizonte. A verticalização do espaço vai se consolidando e,
paralelamente, nota-se uma mudança também na utilização dos espaços urbanos. A retirada
dos fícus, plantados em toda a extensão da Praça Sete e na Avenida Afonso Pena, nas áreas do
centro (FIGURA 3), pode ser tomada como um indicativo dessa nova concepção moderna
sobre o espaço público, em que se apresentam as necessidades, ora do setor financeiro, ora da
circulação de automóveis.
Interesses distintos se apresentavam no debate e podem ser averiguados nas edições
jornalísticas daquele período. Ao realizarmos um levantamento nos arquivos da imprensa,
pudemos situar embates quase diários travados nas colunas de alguns jornais locais,
envolvendo arquitetos, políticos, diversos técnicos do planejamento urbano, além de opiniões
emitidas pelos belo-horizontinos, principalmente os moradores do centro, insatisfeitos com a
72
retirada dos fícus, que emprestavam ao centro da cidade um aspecto bucólico. Uma matéria
reproduzida num jornal da época oferece a oportunidade de situarmos um dos lados dessa
contenda:
Prefeitura deixa cidade sem suas árvores e põe Nordeste no asfalto.
[...] as árvores da Praça Sete também sairão. Segundo um projeto para melhoria do
trânsito ali, a Avenida Amazonas será aberta através da Praça e quatro árvores de
cada lago serão arrancadas, acabando com o “tapete verde” que os que têm salas
nos prédios vizinhos gostam de olhar das janelas. (PREFEITURA..., 1962, p. 1).
No fim, o discurso vencedor foi o do progresso. Impunha-se a necessidade de abrir a
cidade para a modernidade e para o progresso, cantando-se as alvíssaras que este progresso
poderia trazer. Este discurso quase sempre tomava os opositores à nova urbanização como
partidários do atraso e conservadorismo. A este propósito, vale também transcrever algumas
linhas dos jornais da época:
Albertino diz que corta as árvores porque elas atrapalham o Progresso.
A destruição das árvores da Praça Sete foi feita por ordem do Prefeito e obedeceu
segundo o Sr. Albertino Drumond às necessidades do progresso de BH. Ele acha
que a Praça Sete melhorou muito, pois o trânsito está inteiramente desafogado, mas
ainda vai ficar melhor com a construção do novo monumento e a fonte luminosa.
Para o chefe do Departamento de Parques e Jardins as árvores da Praça Sete não
tinham sentido e serviam para atrapalhar o trânsito, que fica dia-a-dia mais
intenso. (ALBERTINO..., 1962, p.10).
A necessidade de uma verticalização era apontada. A Praça Sete era apresentada como
empecilho ao fluxo de veículos, portanto anti-moderna. Os fícus, e depois o Pirulito,
constituíam entraves, escolhos que deveriam ceder lugar a uma nova monumentalidade os
prédios, as luzes e os carros – mais adequada ao espírito desse novo tempo.
Lemos (1988), a propósito dessa mudança paisagística, resgata um significativo debate
ocorrido naquela conjuntura, em torno da degradação ambiental causada pela retirada das
árvores. Citando o depoimento de Afonso Romano de Sant’Anna, constata-se também uma
insatisfação de determinados segmentos da sociedade, em função da paisagem perdida. A
modernidade trouxe o vazio.
Ao processo de expansão e renovação do centro nos anos 60 se integra um
processo de deterioração e também de descentralização. A deterioração vai
acelerar a descentralização, pois tanto os serviços mais sofisticados como os grupos
de alto poder aquisitivo vão procurar espaços menos conurbados para a
implantação dos seus interesses. A degradação do meio ambiente do centro torna-se
mais evidente com a derrubada das árvores da Avenida Afonso Pena em 1963. O
73
prefeito Amintas de Barros tudo fez para que Belo Horizonte perdesse a verde
paisagem dos fícus beniamini da avenida. ‘Foi uma tragédia, uma desolação e o
que ficou foi um vazio. Não havia nem a sensação de modernidade, progresso,
procurada’. A avenida, além de perder aquilo que instituía sua identidade, perdeu
sua principal característica a idéia de proteção que as árvores proporcionavam.
Como eram duas fileiras espessas, o movimento de automóveis era controlado e o
longo percurso de sombra se constituía num prolongamento da ‘casa’ narua’. Era
o livre trânsito para crianças e adultos. No entanto, a devastação da avenida
procurava recuperar o léxico neoclássico da monumentalidade das vias. O sentido
de familiaridade e privacidade propiciado pelas imensas copas de árvores anulava
a imensidão do bulevar inscrito na avenida. Dada a mudança no patamar de
utilização dos espaços, o ‘discurso’ ficaria incompleto com a manutenção do
aspecto bucólico introduzido pelas árvores. (SANT’ANNA Apud LEMOS, 1988, p.
265).
Verificamos acima um embate que se realizava no nível do discurso – disputas sobre o
espaço – fato que emergia nas páginas dos jornais da época. Em conseqüência, também
poderemos situar embates em que o espaço é o próprio palco de enfrentamentos entre grupos
que confrontam opiniões de mundo distintas disputas no espaço. Citaremos, em momento
oportuno, a disputa entre o Sindicato dos Bancários e a Igreja, em função da colocação de um
imenso preservativo, também conhecido como “camisinha”, no Pirulito da Praça Sete. Ainda
outras disputas se dão, entre os movimentos sociais e os poderes constituídos.
Uma situação emblemática foram os embates entre as forças conservadoras e os
movimentos sociais na década de 1960 e 1970, quando o espaço estava cerceado às
manifestações. Muitos relatos dão conta de que alguns episódios foram duramente reprimidos,
com prisões e choques violentos. De fato, ocorria uma intensa queda de braço entre os
manifestantes e forças de repressão policial, como também ocorriam enfrentamentos entre
grupos de esquerda e grupos de direita. O levantamento jornalístico permite situar esses
enfrentamentos. De um lado, os manifestantes, insistindo em ocupar as ruas, e, de outro, o
DOPS, anunciando intensificação dos recursos de repressão.
A partir de 1964, as forças conservadoras (TFP, Marcha das Mulheres e Cruzada do
Rosário) vão ganhando também as ruas, confrontando diretamente com os ativistas de
esquerda. Starling (1986) relata duas dessas situações. A primeira foi em janeiro de 1964:
naquele momento, os setores conservadores ligados à TFP (Tradição, Família e Propriedade)
e ao movimento das Mulheres passaram a atuar diretamente nas ruas, com o objetivo de
confrontar e impedir os eventos promovidos pela esquerda. Um exemplo foi o Congresso dos
Trabalhadores da América Latina (CUTAL), marcado para ocorrer em Belo Horizonte, no
período de 24 a 28 de janeiro de 1964, teve que ser transferido para Brasília, devido às ações
violentas dos grupos da direita.
74
“Nós mulheres prometemos que estaremos fazendo barreiras com nossos filhos e
netos e não sairemos se a polícia não correr com eles (os comunistas) da nossa
eucarística Belo Horizonte.” (STARLING, 1986, p.179).
Esse movimento de ocupação conservadora do espaço público vinha sendo
desenhado desde 1963. Na mesma época, o movimento conservador, encabeçado pela Igreja,
juntamente com setores da elite mineira, empenhavam-se na realização da Cruzada do Rosário
em Família. A Cruzada reuniu cerca de 300 mil cristãos na Praça Raul Soares. Note-se que a
prefeitura municipal preparou toda a infra-estrutura, tendo intensa atividade para preparar o
evento e organizar o trânsito. (300 mil..., 1963, p.1).
Uma outra situação em que os grupos conservadores resolveram tomar as ruas para
confrontarem-se com os grupos de esquerda foi em fevereiro de 1964, quando um grupo
orientado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) “Novos Inconfidentes” –
organização que agregava civis e militares e que foi a base de sustentação para o golpe de 64
– resolveu ocupar as ruas de Belo Horizonte.
Liderados por Roberto Moreira, um grupo de estudantes conservadores instalou,
com o apoio dos “Novos Inconfidentes”, um sistema de alto-falantes em frente à
sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE), localizado em plena Avenida
Afonso Pena, no coração comercial de Belo Horizonte. Instalado o alto-falante
denominado “A Voz da Democracia” – Roberto Moreira e seus companheiros
decidiram passar o tempo denunciando os dirigentes do DCE como “comunistas” e
“totalitários” e avisando a todo momento “que tinha acabado na capital... o seu
monopólio.” (STARLING, 1986, p. 101).
Com a abertura democrática, no final dos anos 1970, essa situação se inverte. A Praça,
que se encontrava fechada às manifestações, paulatinamente vai incorporando em sua
paisagem o colorido das manifestações de vários movimentos sociais. Contudo, nesse cenário,
outros embates vão ocorrer no espaço, marcando as disputas entre movimentos rivais ou entre
manifestantes e o poder público.
Uma dessas situações foi o confronto entre sindicalistas e manifestantes da TFP, na
Praça Sete. Alguns entrevistados lembram que, nos anos 1980, a TFP realizava manifestações
com alguma freqüência na Praça Sete. Gilson Mello relata um enfrentamento entre os
sindicalistas bancários e os manifestantes conservadores. A situação colocava em cena todo o
arsenal simbólico da esquerda, expressando a sua superioridade numérica na rua e também o
sentido mais aberto que a rua passava a comportar com a democratização. Na oportunidade,
fizeram recuar os representantes dos setores conservadores, que, em outro momento haviam
conduzido ao impedimento do congresso da CUTAL, sob a alegação da infiltração comunista.
Uma revanche nas ruas, alguns anos depois.
75
[...] Os bancários tavam fazendo algum trabalho na porta de bancos, circulando
[...]pra mancada da TFP ela resolve fazer uma manifestação esse dia. E começa a
caminhar pela Afonso Pena com as bandeiras deles, com a parafernália deles.
que a TFP desde sempre era a própria representação da Ditadura. E tinha muito
tempo, a Ditadura tinha acabado, e tinha muito tempo que não se via TFP na
rua. Então, os bancários e que mais tava na rua achou de um abuso imenso eles
querer por a cara na rua de novo. E simplesmente eles levaram o maior galope
das lideranças sociais dessa cidade. Eles tiveram que se esconder dentro das loja,
esconder dentro da Rodoviária. A manifestação deles foi dispersada a tapa. E eu
não tenho notícias deles terem voltado em Belo Horizonte mais não. (Informação
verbal).
31
Também são relatados alguns embates entre o poder público e manifestantes. Citemos
alguns casos.
Por ocasião de uma manifestação em defesa das estatais, a Polícia Militar, sob
comando do governo mineiro, resolve levar o veículo que os sindicatos haviam alugado para
realizar o ato público. Tratava-se de um questionamento público sobre as interferências
duvidosas do governo do estado em relação às estatais mineiras. Naquele momento, a
manifestação das estatais colocava-o como interlocutor direto. Os manifestantes resolvem
subir no veículo para impedir que o mesmo fosse rebocado.
No peito e na raça, a Kombi ficou.
“Se levar a Kombi vai ter que levar todo mundo”. Essa foi a resposta dos diretores,
funcionários do nosso Sindicato e outros dirigentes da CUT, quando a polícia de
Newtão tentava rebocar a Kombi que alugamos para transportar aparelhagem de
som até a manifestação das estatais na Praça 7. Primeiro os homens tentaram
impedir que a Kombi chegasse ao quarteirão fechado da Praça 7, onde estava
ocorrendo a manifestação. ENTRAMOS NA PRAÇA 7 ASSIM MESMO, NA LUTA E
NA RAÇA. (NO PEITO..., 1988, caixa alta no original).
Outro enfrentamento dessa natureza foi a greve dos “perueiros” em 2001.
(PERUEIROS..., 2007). A Praça Sete, em Julho de 2001, amanheceu tomada por “perueiros”
que reivindicavam a regulamentação do transporte clandestino. Cerca de 200 peruas foram
estacionadas, pela madrugada, em volta da Praça Sete. Na referida ocasião, a Praça foi
transformada numa “praça de guerra”, com manifestantes ameaçando incendiar carros e
chegando a espalhar combustível nos veículos. A situação chegou a um estado crítico com 68
pessoas presas e 30 feridas. Em função da iminência de um confronto entre policiais e
manifestantes, o centro foi todo isolado, não se permitindo a entrada dos ônibus, pedestres
31
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
76
correndo de um lado para o outro, comerciantes fechando suas portas e uma multidão se
juntando para assistir, de longe, o desenrolar dos acontecimentos.
Também essa situação é significativa de uma disputa em que a Praça Sete foi tomada
como “barricada”. Naquela situação, os usos corriqueiros da Praça Sete foram alterados
radicalmente, de um momento para o outro. Nessas condições excepcionais, algumas pessoas,
não raro, passavam a afirmar que o centro parecia um dia de domingo, dado o tamanho
esvaziamento, dada a alteração da rotina dos dias da semana.
Ainda quanto às disputas que ocorrem na rua, também é interessante notar que, por
vezes, os próprios banqueiros, em conflitos com os bancários, lançam mão dos recursos
utilizados pela manifestação para tentar quebrar a espinha dorsal de uma greve, ou seja,
colocando cartazes nas ruas para fazerem suborno aos bancários: “cartaz fixado na agência
Avenida oferece folga remunerada para quem está trabalhando durante a greve.”
(SUBORNO..., 1990).
Tais disputas, cada qual com sua característica, algumas vezes recorrendo-se à
violência, colocam em evidência questões político-culturais que passariam despercebidas no
movimento rotineiro da grande cidade. A manifestação traz à tona essas questões latentes que,
se dependesse das cadências corriqueiras da vida metropolitana, poderiam não vir à tona.
Importante ressaltar aqui que a manifestação tem também esse aspecto relevante numa
sociedade democrática, quais sejam, faz vir à tona visões sobre a sociedade que por outra
viam poderiam não ser explicitadas.
3.2.5 Lugar do automóvel – A modernidade pede passagem
O debate sobre a retirada dos fícus e do Pirulito poderia ser tomado como uma
discussão despretensiosa, para alguns. No entanto, conforme a argumentação que se insere na
seqüência, aponta-se que a mudança paisagística do centro atendia aos fins de um novo signo
que passava a disputar os espaços do centro, e, por que não dizer, de toda cidade. Tratava-se
da organização espacial tendo em vista as necessidades de circulação do automóvel.
Anteriormente, situávamos a visão dos arquitetos apontando a necessidade de destruir
a Praça Sete e retirar o Pirulito para ceder lugar a novos signos da modernidade. O automóvel
é um desses signos que disputam significados da cidade, conforme formulação de Santos
(2002). Confirmando essa argumentação, o autor cita as considerações de Baudrillard, para
quem o automóvel passa a pleitear espaço na cidade, a ponto de a cidade não mais comportar
outra concepção de circulação que não seja aquela associada ao automóvel.
77
O automóvel é, para Baudrillard, um dos mais importantes signos de nosso tempo e
seu papel na produção do imaginário tem profunda repercussão sobre o conjunto
da vida do homem, incluindo a redefinição da sociedade e do espaço: as cidades
não seriam o que elas são se o automóvel não existisse. Os homens acabam
considerando o automóvel como indispensável e esse dado psicológico tornas-e um
dado da realidade vivida. (SANTOS, 2002, p. 66).
Trata-se de um dado que precisa ser considerado quanto à nomeação ou concorrência
sobre os sentidos que devem ter os espaços urbanos. Nessa direção, discursos dando conta de
que as manifestações no centro da cidade atrapalham o trânsito, ou as pessoas atrapalham o
trânsito, ou ainda, apontamentos no sentido da necessidade de se melhorar o trânsito, tudo isso
deve ser visto como uma concessão ao lugar que esse novo objeto deve ocupar na vida
urbana. Abre-se o tempo do automóvel. É um dado que merece ser investigado, que os
discursos sobre a Praça Sete, sobretudo após da década de 1960, não deixam de lado o
atendimento dos apelos da circulação. Quanto à necessidade dessa modernização da
circulação, conforme pudemos depreender a partir das interpretações dos urbanistas, Lemos
(1988, p. 269) levanta também outras razões que se agregam às já mencionadas:
No fim dos anos 60, o trolebus é trocado por coletivos movidos a óleo diesel, que
estava pouco valorizado na época. O novo sistema de transporte passa a funcionar
de forma precária e não atende á grande demanda da população, distribuída nos
vários núcleos da região metropolitana. A situação deficiente apontava para a
necessidade de um melhor planejamento urbano. As vias do centro estavam ainda
mais congestionadas, o que gerava grandes impasses na hora do rush. O poder
público procura atenuar a situação modificando o sistema de circulação viária,
agora centralizado na Praça Sete em virtude da melhoria do tráfego. A área fica
totalmente descaracterizada com o aumento da circulação e perde o seu tradicional
pirulito.
Não poderíamos deixar de considerar esse elemento numa pesquisa sobre
manifestações. Não como passar ao largo, sobretudo porque protestos de rua interferem no
trânsito, provocando engarrafamentos, gerando descontentamento por parte da população
usuária dos transportes coletivos e veículos particulares. Diante dessa situação, muitos são
aqueles que passam a defender posturas administrativas mais enérgicas e autoritárias perante
os manifestantes que atuam no centro. Esse argumento sugere um embate sobre as funções
que a rua deveria comportar, ou seja, entende-se que a rua não deveria ser utilizada senão para
a finalidade de circulação.
Os manifestantes, por sua vez, argumentam que não há como fazer protesto sem
causar alguma modificação no trânsito. Afirmam ainda que é da própria dinâmica de algumas
manifestações buscar chamar a atenção, e isto se faz exatamente causando incômodo ou
modificando o rotineiro uso das ruas. Esse dilema é perceptível nos depoimentos de alguns
militantes. Destacam-se aí as diferentes concepções que se apresentam para definir as funções
78
dos espaços do centro da cidade. Interesses que dificilmente se articulariam. De um lado, os
interesses dos manifestantes, com suas demandas, por vezes específicas, por vezes mais
universais, que poderiam atender também àqueles que estão nos seus carros e nos ônibus.
Todavia, desde que a organização da cidade passou a atender os anseios do automóvel, como
se o mesmo fosse um ente carregado de desejos e reivindicações próprias, então todo o
planejamento urbano e alguns discursos sobre a cidade passam a representar os anseios desse
novo signo.
3.2.6 Normalização e espacialização das manifestações
É nesse aspecto que os canais de protesto vão sendo questionados. Também não
podemos deixar de mencionar um conjunto de medidas tomadas por parte do poder público,
que incidem sobre as manifestações. Tais medidas podem ter caráter normativo, dispondo
sobre a preservação patrimonial, sobre o meio-ambiente e sobre regras para circulação,
algumas delas definidas no Código de Posturas do município. No âmbito dessas normas,
poderíamos citar alguns exemplos que incidem diretamente sobre os atos públicos: a
proibição de utilização do Pirulito para se fazer discursos; a exigência de pagamento de taxas
e alvarás para a liberação da circulação com som e carros (ANEXO C; ANEXO D) e
solicitação de autorização junto à Policia Militar, quando da realização de grandes
manifestações. Dentre as punições previstas pelo não cumprimento destas medidas, cita-se a
aplicação de multas e obstáculos legais para obtenção de novos alvarás.
Também é importante considerar, nesse conjunto de intervenções do poder público, os
projetos urbanísticos, tais como as mudanças arquitetônicas ou mudanças na circulação do
trânsito envolvendo os espaços em que as manifestações tradicionalmente ocorrem, ou ainda
as tentativas de transferir, via decreto, as manifestações para outros lugares, afastados do
centro. Dependendo das mudanças, elas podem dificultar ou mesmo inviabilizar a realização
de atos públicos.
É precisamente essa idéia que foi apresentada pelo governo paulista, ou seja, a idéia de
espacializar as manifestações num “Protestódromo”.
[...] basta lembrar as proibições do governador do Estado de São Paulo quanto ao
uso das cercanias do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, ou as do Prefeito
Paulo Maluf que levantou a idéia de criação de um ‘protestódromo(1995) que
limitaria as áreas que a população poderia utilizar para suas reivindicações ou
ainda leis aprovadas pela Câmara Municipal de São Paulo que vetam,
terminantemente, a “Avenida Paulista” (principal área de manifestações na
metrópole de São Paulo) para manifestações nos dias de semana, sendo apenas
liberadas (desde que avisadas com antecedência) nos finais de semana. [...]. São
79
exemplos do controle político que se realiza, no espaço, através de dispositivos de
vigilância e de controle policial administrativo e repressivo enquanto estratégias do
poder. (CARLOS, 1996, p. 70)
Esse movimento por parte do poder público em tentar espacializar as manifestações
não é novidade na história da cidade moderna. O cerco de Paris, efetuado pela paradigmática
reforma urbana haussmanniana, foi um dos casos em que imensos espaços vazios foram
criados. Carlos (1996) destaca precisamente essa produção dos espaços vazios como lugares
inóspitos ao pedestre, e, por que não dizer, também às manifestações. Como modelo desse
esvaziamento intencional, ela toma duas praças: uma, a Praça de La Concorde, em Paris; a
outra, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Ambas são significativas por retratarem o
poder da conquista. A primeira delas é fria, cinzenta, lugar apenas de passagem. Não permite
“o parar”, vazia, portanto, de vida ou de possibilidades, mas cheia de carros por todos os
lados. Quanto à Esplanada, ela não é sequer lugar de passagem. A imensidão daquele espaço
apequena as maiores manifestações. O vazio predomina.
O espaço do poder enquanto espaço do vazio é o espaço do interdito/interditado. Os
espaços da monumentalidade se cruzam, é o espaço do poder, e por isso, “do ver”.
(CARLOS, 1996, p. 24).
Assim, a organização espacial revela também as concepções do poder vigente sobre a
sociedade. É que o cotidiano do poder também se expressa na configuração espacial. Destarte,
é possível pensar que governos autoritários utilizam-se, além do esquema policial e
administrativo para impedir as manifestações na cidade, de outros recursos que se apresentam
na própria configuração espacial, controlando o uso de determinados lugares ou estabelecendo
verdadeiros obstáculos materiais que impedem a sua utilização.
Essa tentativa de se espacializar a manifestação pode ser situada na Praça Sete. Com o
processo de revitalização do centro, e mais especificamente, da Praça, uma das mudanças no
espaço foi precisamente a organização de um espaço definido para as manifestações. Com
isso, construiu-se uma espécie de tribuna, um palanque com a justificativa de que ali seria um
espaço ideal para a realização de atos públicos.
Londres, Lisboa, Roterdã serviram de exemplo e inspiração à Prefeitura de Belo
Horizonte para revitalizar a Praça Sete, que vai ganhar um pequeno anfiteatro pra
manifestações [...]. O mais moderno dos espaços será o quarteirão da rua Rio de
Janeiro, entre Afonso Pena e Tamoios, chamado de Xacriabá. Ganhará um
anfiteatro, um largo central e uma tribuna para as manifestações. ‘O anfiteatro será
rebaixado e terá degraus. Serão legítimas instalações para grandes concentrações
de pessoas’ conta satisfeito o engenheiro [Waldir Teixeira]. (NOVO..., 2003, p.
20).
80
Com relação a esse novo traçado espacial da revitalizada Praça Sete, embora o poder
público destaque a sua funcionalidade para a realização das manifestações, alguns
entrevistados apontaram a estratégia como uma tentativa de limitar a realização das mesmas
ou mesmo de canalizar ou de espacializar os atos públicos. Reclamam dessa regulamentação,
indicando que a manifestação não pode ser conduzida externamente, ou seja, pelo poder
público, inaugurando-se o lugar do “proteste aqui!”, uma maneira de domar as
potencialidades criadoras contidas nos movimentos. Quando a manifestação é assim
canalizada, ela perde um pouco de sua essência, conforme apresenta um entrevistado.
[...] ela [a Praça Sete] tinha um layout” que facilitava a aglutinação de pessoas.
Aquele.... né... na época do, né... o plano, aquele “rampião”, aquela rampa enorme,
então o povo ocupava aquele trem tudo ali. Criava aquele “muvucão” ali. E era
bom pros comerciantes e era ruim também ao mesmo tempo, né? Mas o povo, pelo
menos o da lanchonete da esquina, [...], depois lotava o bar deles, ? [...]. Hoje,
com essa mudança de layout”, pro colocar esse plano diferente, ou seja,
ninguém consegue fazer uma atividade assim fizemos mas hoje o tem a
mesma aglutinação de pessoas. O blico fica mais dividido. Que não tem um,
assim, um foco mesmo, só. “aqui que eu vou fazer e o povo vai ficar dessa forma”.
[...] sendo bonito realmente... pra população foi bacana, porque a gente o
pessoal sentado, descansando, lendo jornal, ou seja, ocupando a Praça, uma
praça diferente, né, uma coisa mais moderna, vamos dizer assim. [...] não pode
mais fazer grandes aglutinações mais . [...].Até mesmo aquele Pirulito do jeito
que ele era....né. Hoje tudo cercadinho, então num pode... (Informação verbal,
grifo nosso).
32
Alguns entrevistados criticam também as dificuldades criadas para se realizar
manifestações a partir das exigências de alvarás. De acordo com Fernando Neiva, o Sindicato
encontra dificuldades com as exigências da Prefeitura para se fazer manifestações. Sem o
Alvará para a circulação do carro de som ou para permanência em ato público, a polícia ou os
fiscais da Prefeitura podem notificar.
A Polícia é muito dura, muito truculenta, né, nas nossas manifestações, , nas
nossas greves. o tem moleza para o Sindicato. É...é uma movimentação muito
forte, os banqueiros junto com o Governo Federal, eles não dão moleza, certo? Com
a Prefeitura a gente tendo muitos problemas também porque... a gente não
conseguindo Alvará igual a gente conseguia antigamente, o é, os alvarás pra
colocar som, pra rodar o carro, pra colocar faixas, né?
A gente é muito notificado né, cartazes que às vezes a gente coloca num lugar
indevido. Faixas, por exemplo, a gente não coloca mais na cidade, né, que o Código
de Posturas proibiu. Então eu falo essas dificuldades toda que a gente tendo:
faixas, cartazes, alvarás, né? Então em multa, a gente.... (Informação verbal, grifo
nosso).
33
32
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
33
Entrevista concedida em 03/08/2007 por Fernando Ferraz do Rêgo Neiva.
81
O ator Jacó do Nascimento também menciona essas dificuldades, enfatizando
sobretudo que aqueles grupos que não possuem dinheiro não conseguem fazer intervenções de
rua. Lembra ainda que, como ator de rua, ele necessita daquele espaço para experimentar seus
personagens, já que considera tal espaço como o seu laboratório. Quando a rua é limitada,
então a possibilidade de criação também fica comprometida.
Como é que um grupo hoje colocar o “Olho da Rua” [grupo do qual Jacó faz
parte] – hoje sai pra rua, que respaldo que eu tenho? De quem? Ou seja, a
Prefeitura eu preciso de um Alvará de ocupação. Ou seja, eu preciso pagar uma
taxa, pra fazer isso. Ou seja, se eu quero fazer, sair amanhã o posso. Vou ter
que pensar uma coisa de um s, dois meses de antecedência pra mim conseguir
pagar todas as taxas e fazer essa apresentação na rua. [...] procê ocupar aquela
Praça... Se quer montar um som, quer montar um cenário que seja, um palco
mínimo que seja, precisa de Alvará. E procê conseguir esse Alvará... pro teatro de
rua... como é que se sobrevive...? (Informação verbal, grifo nosso).
34
Gilson Mello também se indigna contra as [atuais] exigências [impostas pelo poder
público] para a realização das manifestações. Ele as considera como heranças de um tempo
autoritário, em que o espaço público era muito reduzido.
Uai!, é o próprio tempo ditatorial, né? A rua é o lugar de excelência da população.
A população não tem que pedir licença pra ocupar a rua. Eu hoje eu sou indignado
com a lei ambiental de Belo Horizonte, porque eu acho o seguinte desde aquela
época eu achava tem que ter a sensibilidade pra ocupar o espaço público
porque ele não é só seu. Então, por exemplo, muitas vezes naquela época cê usava o
artifício de parar o trânsito, por causa da sua campanha salarial, que não sei o que
lá... Era um recurso que cê tinha pra atingir a cidade inteira, saber da luta, e tal.
Mas por outro lado, tava atrapalhando a vida de muita gente sem necessidade.
Então, essa delicadeza do movimento sempre tem que ter. Se você vai ocupar o
espaço público, fazer barulho [...] cê tem que sempre ter essa sensibilidade. Agora a
lei ambiental que foi se construindo em Belo Horizonte é uma lei que impede a
população de usar os espaços públicos. (Informação verbal, grifo nosso).
35
34
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
35
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
82
3.3 A constituição da Praça Sete como lugar de expressão política
FIGURA 3 Praça Sete, 1948
Fonte: Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto.
3.3.1 O centro de Belo Horizonte e os operários
A obra de Lefebvre A Revolução Urbana (2002) nos inspira a pensar sobre a
organização das cidades e, consequentemente, sobre o centro da cidade, cujas características
urbanísticas nos interessam mais de perto. Lefebvre apresenta uma análise sobre a
urbanização parisiense, no século XIX, conduzida pelo Barão de Haussmann. Para ele, tal
projeto urbanístico estaria intrinsecamente associado às necessidades de transformar a cidade
em espaço pronto para a especulação capitalista, bem como de expulsar o proletariado do
centro. Para concretizar tais necessidades, a urbanização realiza a abertura de amplas
avenidas, o fechamento do centro e o cercamento da cidade, criando um verdadeiro cordão
sanitário. Em conseqüência, realiza-se a estratégia burguesa de “[...] expulsão do proletariado
para a periferia, invenção simultânea do subúrbio e do habitat, aburguesamento, como
despovoamento e apodrecimento dos centros” (LEFEBVRE, 2002, p.104).
Ora, tais processos considerados quando da urbanização parisiense podem ser
identificados, em alguma medida, também no projeto de construção de Belo Horizonte. Não
aprofundaremos aqui uma discussão sobre urbanização. Todavia, convém indicar ao menos
83
que a proposição de um cerco também se apresentava desde o planejamento da cidade. Em
Belo Horizonte, a Avenida do Contorno demarcaria os limites desse “cordão de isolamento”:
no espaço interno, encontrar-se-ia a cidade, espaço reservado para a instalação da elite
mineira; fora dele, a zona rural ou a não-cidade. Fundada sob o prisma da exclusão, esses
indícios ainda podem ser constatados na própria representação que os moradores de alguns
bairros têm com relação ao centro da cidade. Ainda hoje é comum que os moradores de
bairros distantes, afirmem estarem “indo à cidade”, quando na verdade estão indo ao centro de
Belo Horizonte. Trata-se de uma percepção intrigante, já que o bairro onde moram parece não
fazer parte da mesma cidade.
A leitura atenta de alguns textos sobre o projeto político-arquitetônico encaminhado
pela comissão responsável pela urbanização de Belo Horizonte nos possibilita inferir a
seguinte informação: Belo Horizonte foi inicialmente pensada como espaço de exclusão. Em
diversas situações, poderíamos pinçar argumentos daqueles planejadores no sentido de isolar
as camadas mais pobres da população, bem como hierarquizar os espaços para a elite e
também para o poder constituído. À maneira dos Bulevares franceses, Belo Horizonte foi
projetada para poucos. Nessa acepção, pode-se levantar, de pronto, um dos dilemas que
precisam acompanhar nossas indagações: desde a fundação de Belo Horizonte, a cidade não
comportava a dimensão significativa do espaço público. Essa leitura nos é propiciada a partir
de alguns autores, tais como Faria e Grossi (1982), Faria (1985), Le Ven (1977), Le Ven e
Neves (1996). Tais leituras nos adiantam um elemento que fará parte, direta ou indiretamente,
de nosso diálogo nesse trabalho: os espaços da cidade já surgiram privatizados.
Essa exclusão social dos trabalhadores dos espaços da cidade é bem descrita também
por Monte-Mór (1994). Contudo, esta exclusão gerou resultados inesperados. Não tardou e
esse cerco foi sendo rompido da periferia para o centro.
Pretendia-se implantar a cidade a partir do centro em direção à periferia [...] mas
foi a população trabalhadora, excluída do espaço central da cidade, do poder, da
cidadania, da ágora’ estendida, que de fato determinou a produção da cidade. E
Belo Horizonte cresceu no sentido oposto, da periferia para o centro, num processo
que se repetiu em inúmeras cidades planejadas no Brasil. (MONTE-MÓR, 1994, p.
15).
Os excluídos tiveram que ocupar os seus espaços de forma conflituosa, pois não lhes
fora concedido o direito à cidade. Diante disso, o poder local, nos primeiros anos da nova
capital, viu-se atordoado com tanta “invasão” (FARIA, 1985). O noticiário daquela época
dava conta das diversas medidas tomadas para se impedir a instalação ou para destruir as
denominadas “cafuas”, que eram as rústicas casas dos caboclos, instaladas no perímetro
84
urbano. Eram moradias pobres que resistiam ao cerco idealizado pelas elites e concretizado
pelos planejadores urbanos (FARIA; GROSSI, 1982, p. 182).
Depois, não podendo conter tamanha demanda por moradias no perímetro urbano,
achou-se por conveniente abrir vilas operárias, para os trabalhadores de boa conduta. Uma
dessas vilas foi instalada nas imediações do bairro hoje conhecido como Barro Preto. Com a
medida, buscava-se cooptar as lideranças operárias que já vinham despontando, além da tentar
resolver paternalisticamente uma questão social que se apresentava latente (LE VEN;
85
no decorrer do processo histórico, os setores populares apropriaram-se de determinados
“pedaços” da cidade
36
, como lugares do encontro, aos quais os indivíduos emprestam uma
identidade, ou seja, espaços de convivência dos trabalhadores. Seguindo essa linha de
raciocínio, pode-se dizer que os espaços de manifestação pública também são produzidos,
sobretudo do ponto de vista de sua significação social, e menos pela concretude geométrica.
De fato, conforme situam diversos autores (GUATTARI, 1985; LEFEBVRE, 2001a;
LEFEBVRE 2001b; SINGER, 1982), a dinâmica da urbanização, no cenário de um modo de
acumulação capitalista, tende a seguir o caminho oposto a esses espaços de convivência,
promovendo, ao invés disso, uma destruição desses espaços em função dos processos de
acumulação.
Mas essa destruição não se sem a devida resistência dos setores populares. Eles
necessariamente buscam o centro, num movimento inverso ao próprio planejamento da
cidade, conforme indica Monte-Mór (1994), numa citação feita anteriormente. Para
entendermos algumas razões desse interesse pelo centro, fomos buscar as explicações a partir
de um texto de Perrot (1992), que auxiliam a compreender essas questões. É essa a história
que Perrot nos conta, ao fazer um levantamento sobre a relação do movimento operário e a
cidade no século XIX, na França. Citando Michel Verret, a autora salienta que os operários no
século XIX davam mais valor à cidade do que à própria moradia, ou seja, uma relação
inversa, ao se considerar os operários de hoje, que estes dariam mais valor às ações que
significassem uma maior privatização do espaço público, em função de um maior conforto do
espaço doméstico. No século XIX,
Os operários reivindicavam menos o direito à moradia do que o direito à cidade,
“espaço para viver”. Eles aceitam as condições habitacionais, principalmente a
densidade populacional, que assombram os observadores externos, filantropos e
higienistas. A campanha contra os cortiços, vigorosa principalmente no último terço
do século XIX, não é de origem operária. (PERROT, 1992, p. 102).
Por conta dessa gica mais pública que privada, os operários apresentavam uma
relação estreita com o espaço urbano, reivindicando seu direito à cidade, ou mais
especificamente, seu direito em permanecer no centro da cidade. Com isso, tornaram-se
freqüentes as manifestações operárias diante dos aumentos dos preços dos aluguéis no centro
de Paris, no século XIX. Essa alta dos aluguéis estava associada às demolições no centro para
a abertura de amplas vias de circulação. Tais medidas, por sua vez, vinham agregadas a
36
Sader faz o emprego do termo « pedaços » numa alusão direta à Magnani (1998).
86
intensos ataques às aglomerações de trabalhadores no centro. Este fato foi apontado por
Lefebvre como uma preparação da cidade para a especulação, livrando-a dos desembaraços
que porventura pudessem torná-la menos atrativa para os negócios. Concomitantemente a esse
processo, constata-se a abertura de espaços vazios, com a finalidade de poder facilitar a carga
repressiva contra os movimentos populares (LEFEBVRE, 2001b). Na pista desse projeto de
esvaziamento do centro, instala-se um processo de suburbanização como medida para afastar
o proletariado do centro cidade.
Contudo, nota-se nesse momento, uma intensa disputa dos trabalhadores pelo direito à
cidade. Eles não queriam sair. Enquanto isso, a burguesia, representada pelo discurso
sanitarista, fazia propaganda dos benefícios do conforto, ou da necessidade de uma
privatização do lar, contrapondo-se às grandes densidades populacionais que eram associadas
à difusão de uma infinidade de doenças infecto-contagiosas, bem como pela decadência moral
dos operários.
Beguin (1991) realiza exatamente uma investigação a propósito desse discurso sobre o
conforto, introduzido na Inglaterra no século XIX, depois da divulgação de duas pesquisas,
realizadas entre 1840 e 1850, sobre os custos do desconforto. Estas pesquisas apontavam os
prejuízos indiretos relacionados às moradias insalubres que deterioravam a saúde. Esses
custos repercutiam na educação, na moral e afetavam a economia, que as doenças
implicavam em ausências no trabalho, custos com os órfãos, viúvas e com doentes. Diante
desses dados, inicia-se uma “política do habitat”, ou a defesa da economia do conforto. A
habitação apresentar-se-ia também como meio de domesticar as relações e os desejos
cultivados pelos os homens no espaço da rua.
Num primeiro momento, os operários não compartilhavam desse discurso do conforto.
Suas lutas visavam impedir que o Estado interferisse nas suas condições de moradia, ou
alterasse o preço do aluguel. No bojo da reforma urbana que implicava em alterações nas
próprias moradias, os operários recusavam-se a emigrar para as periferias, preferindo, ao
invés disso, agruparem-se num mesmo alojamento no centro. Demonstravam horror às vilas
operárias, considerando-as como limitadoras da liberdade, além de não permitirem o encontro
entre as pessoas. Defendiam a sua permanência no centro em função das facilidades
econômicas (facilidade de deslocamento, custo dos transportes), além dos prazeres que a
cidade proporcionava. Reivindicavam uma cidade aberta e mobilizavam-se contra as
fortificações, muralhas ou outras formas de cercamento desta. Queriam “[...] morar no centro,
circular e utilizar livremente o espaço público [...]” (PERROT, 1992, p. 117).
Desta forma, mesmo com a urbanização criando a exclusão dos operários, eles
87
procuraram subverter o cerco, entrando por diversas formas e instalando ali um “cinturão
negro” ou zonas livres. Tais zonas inquietavam e ainda inquietam a burguesia, razão pela qual
o termo é ainda usado para designar um espaço onde tudo é permitido.
O centro comporta, conforme vimos frisando, as características de centralidade do
poder político e financeiro. Além disso, apresenta-se uma outra dimensão que ainda não
mencionamos, qual seja, a noção de espaço aberto. Trata-se de uma dimensão preciosa aos
intentos dessa pesquisa, já que remete à ação dos movimentos manifestantes no espaço
público. É ali o espaço da circulação, tão bem salientado, seja pelos entrevistados ou pelos
autores que abordamos. Mas trata-se de uma circulação distinta daquela relacionada ao
trânsito e pessoas. Conforme Perrot (1992), o centro deve ser entendido como o lugar da
circulação de idéias e o lugar de “estar junto”.
Assim, explica-se a verdadeira paixão que os operários tinham pelo centro, o que
também pode auxiliar-nos no entendimento da relação entre centro e as manifestações. Ozouf
(1988) sugere que esse sentimento seria uma paixão pelo espaço aberto, contrapondo-se ao
modelo negativo da festa aristocrática, realizada nos salões, ou seja, uma festa que divide e
isola. Diante dessa significação, os movimentos operários e populares em geral, quando
cruzam espaços antes cercados e fechados, estão simbolicamente quebrando-os, eliminando as
barreiras que dividem os homens. Assim, recuperando a análise de Perrot (1992), podemos
destacar que o centro não pode ser tomado simplesmente como um lugar de fácil acesso. Ele é
também estratégico e simbólico para os trabalhadores.
Nessas circunstâncias, não admire que todo movimento revolucionário seja uma
reconquista do centro. estão os imóveis e os símbolos do poder. As Tulherias, a
Prefeitura, a Câmara dos Deputados... atraem as multidões em protestos. É o caso
de 1830 e em 1848, e ainda mais em 1871. os communards Jacques Rougerie o
mostrou reivindicam o direito à cidade. Eles reocupam o centro de onde
pretendia-se expulsá-los. (PERROT, 1992, p.121).
E qual o lugar ideal para se realizar essa festa popular?
Ozouf (1988), argumentando especificamente sobre a festa revolucionária, uma
importante pista para entendermos também as manifestações de rua:
O lugar ideal onde instalar a festa revolucionária, é, portanto aquele que tem
panorama, onde todos os movimentos são imediatamente visíveis, onde cada um
88
decifra ao primeiro golpe de vista a intenção dos organizadores. (OZOUF, 1988, p.
211).
37
Sendo assim, a escolha do lugar é importante para os manifestantes. E este lugar é a
praça. Para os movimentos de massa, esse espaço é extremamente importante, e por assim ser,
ele ganha uma marcação simbólica, para usarmos uma expressão da autora, ou mais
precisamente, a manifestação ergue o seu monumento. Não festa sem monumento, pois
o monumento é que eterniza a manifestação. Então, os manifestantes escolhem o centro,
geralmente uma praça circular do centro. A circularidade também contém os seus significados
simbólicos. Conforme Ozouf (1988), as formas circulares conservam uma estreita relação
com a reunião. O espaço circular é o mais perfeito lugar para a ocorrência da festa. Portanto,
para a escolha desta ou daquela praça como lugar da manifestação, além da comodidade de
acesso, leva-se em conta a possibilidade de colocar em evidência a fraternidade e o contato,
sobretudo porque o contato é criador, e, por si, representa um motivo para as pessoas
integrarem-se às manifestações.
Não é sem razão toda essa discussão que ora apresentamos. Perguntamos aos
entrevistados os significados da Praça Sete para eles. Vários situaram a Praça como o
“coração da cidade”. Uma alusão interessante, que se remete ao sentimento. Lugar do
sentimento é o coração, algo vivo, aquilo que pulsa. Outra referência é a Praça como centro,
lugar em que se pode comunicar-se com todos os lugares da cidade. Daí toda a simbologia
representada pelo centro: para quem manifesta, a praça central não é somente um lugar de
passagem, ela é o lugar do encontro cidadão.
3.3.3 Praça Sete: espaço de sociabilidade ou de disputas?
De pronto, partimos da idéia de que a rua e a praça são espaços públicos do conflito,
em que é preciso pronunciar as razões da discórdia para que as decisões sejam tomadas, para
que as reivindicações sejam entendidas.
A praça é um espaço físico e social, poderíamos primeiramente definir. Físico e
carregado da dimensão pública. Para ser pública é preciso situar-se na cidade, num espaço
37
« L’endroit idéal où installer la fête révolutionnaire, c’est donc celui qui fait panorama, où tout les
mouvements sont immédiatement visibles, où chacun déciffre au premier coup d’oil l’intention des
organisateurs. »
89
aberto em que seja possível exercitar o debate e o encontro das pessoas.
Como espaço social, situamo-la como objeto de constante apropriação pelos diversos
90
Estas considerações nos permitem concluir o raciocínio. A Praça Sete, espaço
simbologicamente central, “marco zero” de Belo Horizonte, não foi pensada como espaço
público, conforme nos referimos anteriormente. O sentido de centralidade política não estava,
portanto, inscrito à priori no espaço planejado. Essa acepção ganha significado em
circunstâncias mais recentes. E também nem sempre foi espaço permitido a determinados
segmentos “perigosos”. A nossa aposta é de que mais ou menos permissão ou proibição
para se estar na Praça, dependendo do incômodo político que este ou aquele grupo possa
proporcionar. Assim, nem toda a sociabilidade é aceita na Praça em determinados regimes
políticos.
De tal maneira, se a sociedade é exclusivista do ponto de vista econômico e político,
há que se tomar esse elemento e verificar que a exclusão está inscrita no espaço. Repercute no
espaço.
O momento atual é particularmente propício para considerarmos alguns problemas
quanto à sociabilidade no espaço público, que trazem conseqüências também para as
manifestações coletivas, sobretudo porque dizem respeito à disposição dos indivíduos quanto
à participação na política e também porque situam questões relativas à dimensão do espaço
público hoje.
Murillo e Márquez (2005) enfatizam um dilema atual representado pela proliferação
de espaços fechados: cafés, clubes e galerias, que substituem os espaços públicos. Tal
crescimento representa uma ameaça de esvaziamento dos espaços públicos, ou aversão aos
espaços abertos, ágora fobia, comportamento que indica um problema que se levanta quanto à
organização da sociedade, sobretudo porque os espaços públicos são lugares onde se forma a
cultura cidadã.
Oliveira (1999) também aborda essa tendência cada vez mais atual que está associada,
segundo ele, a uma cultura individualista, ligada à emergência de um tipo de subjetividade
cultivado pela sociedade privatista, neoliberal. O resultado dessa combinação é um profundo
desinteresse por tudo aquilo que é público e uma diminuição do espaço da política. Como
resultado dessa nova cultura, os indivíduos abandonam a militância ou a adesão a causas
coletivas, esvaziando-se o espaço público em detrimento da criação de espaços de segurança
particulares. Em conseqüência, alguns setores da sociedade já não têm a experiência do
público, entendendo toda a possibilidade do encontro com a pluralidade e a diferença.
Outros espaços são criados, simulacros do público, mas que são espaços fechados, que não
permitem senão o encontro entre iguais.
91
3.3.4 Manifestações no centro: trajetos e simbologias
Diante dessas considerações, importa analisar a Praça Sete sob o ponto de vista da rua,
dimensão política e simbólica. A partir de então, conduziremos nossa atenção para as
manifestações que tiveram como palco a Praça Sete. De antemão, algumas questões
pertinentes se apresentam: por que alguns movimentos escolhem certas praças ou ruas para se
manifestar?Quando escolhem? Por que escolhem determinados trajetos e não outros?
Situando-se a Praça Sete dentro do recorte temporal que são os 75 anos do Sindicato
dos Bancários de Belo Horizonte, localizaremos diversas manifestações políticas, sendo a
Campanha das Diretas, em 1984, um dos marcos mais importantes. Mas não só. Em diversas
situações a Praça Sete foi escolhida para ser palco de diferentes manifestações, tornando-se,
em algumas circunstâncias, uma verdadeira “praça de guerra”, por ocasião de enfrentamentos
que ainda encontram-se na memória dos belo-horizontinos. Lembremos, de passagem, a
sempre mencionada Greve dos Operários da Construção Civil, em 1979, a Greve dos
Motoristas em 1963 e o conflito com os “perueiros” em 2001. Assim sendo, a praça deixou de
ser exclusivamente um “Cartão Postal”, ou espaço de passagem, para ser lembrada também
como espaço de formação de piquetes, de greves, de “agitos” diversos, encabeçados pelos
diferentes movimentos sociais.
Nossa proposta inicial é a de que a Praça Sete foi sendo apropriada pelos movimentos
sociais como espaço de manifestação, dimensão que não estava originalmente relacionada
àquele espaço. Dito em outras palavras, o espaço foi paulatinamente tornando-se espaço da
realização das passeatas históricas ao longo do século XX, ou como nos referimos em outra
oportunidade, um espaço da palavra e da ação. Essa configuração precisa ser compreendida a
partir de intensas disputas _no e sobre o espaço. O Sindicato dos Bancários foi um dos atores
que se apresentou para a realização dessa transformação simbólica do espaço público.
Mais particularmente, tomando-se como perspectiva de análise a confluência entre o
movimento sindical bancário e a Praça Sete, constata-se uma interseção de duas histórias que
se cruzam em algum ponto da linha temporal. A história do Sindicato dos Bancários, dentre
tantos outros cruzamentos em sua história, tem a Praça Sete como parte da sua trajetória o
como um dado acidental, isto é, a Praça não aparece ao Sindicato dos Bancários como um
espaço qualquer, uma praça qualquer. Durante a trajetória do Sindicato, a Praça tornou-se
extensão da própria entidade, uma espécie de auditório não-oficial. É essa dimensão que os
sujeitos históricos que fizeram parte daquele sindicato trazem à tona, sobretudo quando
92
afirmam que a Praça Sete era “praça democrática”, conforme sugestão do entrevistado José
Prata.
Muitos fatos podem ser contados como processos que incidiram na história da Praça
Sete enquanto monumento. uma história da rua e essa história se cruza com a história dos
homens e mulheres. Diversos sujeitos sócio-políticos contam a sua história localizando-a a
partir da cidade de Belo Horizonte e da Praça Sete. Por estas e outras razões, diversos
personagens históricos e a população em geral associam aquela Praça às manifestações,
lembrando que ali é um espaço em que a voz repercute para toda a cidade.
É bem representativa essa imagem. É precisamente a partir dessa característica que
Bolle (1986) apresenta considerações sobre o centro da cidade, tomando como referência a
metrópole Berlim. Assim, o centro da cidade é a caixa de ressonância, porque é o encontro de
todas as falas. Ele é a “voz da cidade”,
[...] na medida em que é construído como montagem de virtualmente todas as falas
que circulam na grande praça central: além de matérias de jornal, textos de
publicidade, versos bíblicos e, sobretudo, a fala popular metropolitana ao vivo.
(BOLLE, 1986 p. 131).
Essa acepção é próxima daquela caracterização da Praça Sete como lugar em que a
voz repercute. Acrescentamos-lhes, portanto concordando com Bolle, a noção de polifonia,
espaço de energia verbal, onde todas as linguagens podem ser acionadas, um espaço em que
efetivamente se consubstancia a democracia. Nessa acepção é que a praça do centro pode ser
tomada como indicativo da vida democrática: se democracia na cidade, então é a praça o
lugar para se falar, para se expor. Se não há, a praça é deserto. Nesse momento, distanciando-
nos um tanto do apontamento de Bolle, consideramos que o centro da cidade nem sempre
potencializa essa polifonia. A presença de hippies na praça, a circulação de versos bíblicos e
um palco, em suma, elementos que poderiam sugerir uma polifonia na praça, podem estar ali
como simples alegorias, ou como espetáculo. Tal ênfase mereceria ser apontada, sobretudo
porque uma das alusões mais significativas com relação à Praça Sete, dada por alguns
entrevistados é de que, em algumas situações da história, a Praça teria sido um deserto, onde
não se podia falar, o que expressaria uma noção oposta à idéia de polifonia. Precisamente, a
Praça tinha o sentido de “deserto” quando a repressão política ocorria e onde o poder se
apresentou em sua intensidade massacrante. A associação com o deserto é oportuna para
continuarmos o raciocínio à luz das considerações de Carlos (1996), uma vez que a autora
identifica muito adequadamente essa revelação do poder de repressão na rua, com a produção
93
de um “deserto lunar”, tomando a expressão de Henri Lefebvre. Vejamos as palavras da
autora:
A rua é também o lugar privilegiado da repressão imposta de forma clara ou sub-
reptícia em função das estratégias do Estado. Isto fica claro nas proibições de
reunião de pessoas em áreas públicas praças, ruas, avenidas. (CARLOS, 1996,
96).
Essa idéia de um deserto provocado pelas ações repressivas do poder público foi fato
mencionado com destaque por alguns entrevistados. Os diálogos merecem ser apresentados, já
que dão a dimensão da ocupação do espaço da Praça Sete e as situações de repressão,
anulando-se a dimensão da política da rua.
Primeiramente, Armando Ziller refere-se a um silenciamento de dez anos com a
ditadura de Vargas, e depois disso, num momento de abertura democrática a partir do pós-
guerra, em 1945, lembra a ansiedade para se falar na Praça Sete. Ele considera uma situação
em que os comícios passaram a ser freqüentes na Praça, depois de anos de jejum. Na ocasião,
ensaiava-se o movimento Queremista
38
. Ao ã o fsap5(e)3.74(r)2.80561(e)3.74(f.04 1293142-0.295240(e)3.74((f.04 1293142-0.29 )-260.3(c)3.7424)-2.16925(r)2.80439(45240(e)3.74(.182(s)-õ-30.1643(d)-0.295585(e)35585(i)-2.b56( )-60.1870q((f)2.80585( )5516 463.164805-6.3339(9b)-0.295585(l)-12.1703(i)-2.16436558.50 )-270.306(a)3p436(u)-0.293142(a)l(s)-1.22997(e)3.7-0.29)-0.295585(3142(o)-3142(a)l(s)-1.2299ae)3.74(r)2.8054( )-60.1832(d)-1.295585(s)-1.22997(46571( )-130b.16436(s)-1.28056.295581832(a)3.7426346(ç)3.74244(ã)3..7426346(ç)0.295585( )-12.80561(e)3.74(.45995( )-6585(v)-0.295580439-0.147792( )-120.219(e0.294974(s)-1.22997(a)3-6.2659(r)2.80526346675995(e)3.74(i)-2.1695585(e)3.74(p)-0.29536(e)3.74(j)-2.16436()-2.16558(c)3.74(i)43558(o)-10.3015( )-60.1832(p)-0.3.74244(ã)3..742634643558(o)-10.30174(m)-12.4659(o)-d[(i)-25(e)e)3.74(.463.169.591.2312(s)-1.0439(a)]TJ257.432 0 T1832(a)3.74263464(s)-1.22997(59(o)-d[(i)-22 Tm( )Tj-2(i)-2.164362634643558(o)-10.3015585(i)-2.16558(m)-)-0.í.295585(s)-11.2371(i)-10.3015( )-60.14(n)-0.295585(t)-2.16436(e)3.74(p-12.80561(e)3.74(82(f)fl1278.16 4637(e)-6.2659(r)2.80439( T1832(a)3-60.14(-11.2371( )-60.182(a)-6.2659(ç)3.74(õ)TJ257.803 0-0.146571(s)-11.2371(ee0.295585(e)3.0439(a)]TJ257.371(ee0.295585(e)3.0439(a)]i0 0 1 270 462(i)-2.1643-0.295585(9.591.1.57564(a)3.p436(u)-0.290.182(a)3.74(0.1537(a)3.74( )-0.1485(s)-1.22997( )-3)-1.22997(e.28056.295295585(o)-0.295585(.22997( )-3l)-2.16558(í)-2.16.265(d)-0.293142(a)3.74244( )250]TJ387.9.403 -2[993(s)1(e339(s)]TJ2339(s)]TJ233.5794a)]]39(279453339( )-75.50C)339(981.21993( )-22667(d)-6.33339(s)3.2193339(b)-6.306(f)0.72109(o)-6.3339 )-75.50993(u)-6.3667(e)-2.05734(m)-1.33339 )-75.50n9(a)-6.33537( )-22339 )-75.50P099(r)3.21.667(p)-6.3339(ú)-6.3339(b)-6.3339(l)0.723.743.4452.1(a)-6.3339(s)3.219t39( )-75.5006(l)0.721)3.21993(.)-3. )-75.50993(u)-6.306(f)0.721n9(a)-6.321993( )-208-(o)-6.3339( )-75.50o9(o)-6.3339 )-75.50-11.4 Td[(r)3.2214(e)-2.05734(u)-6.33537(n)-6.33537(i)0.7210l34(m)-1.33339 )-75.500.168(d)5.72163.113.491.2312(s)-1.)]TJ/R33 .16776099(c)-2.057667(r)3.2199(o)-6.333943.4452n93(u)-6.306(f)0.7210.168(d)5.7t39( )-75.5006(l)0.721)3.21993(.)-3. )-75.5021993( )-208( )-220.1993(e)-2.05734(p)-60.168(d)5.7339(r)3.21993 )-75.5021993( )-2o9(o)-6.3339 )-75.50j.3339(r)3.a6(f)0.721n93339(ç)-2.0573(r)3.a6(f)0.721.667(p)-6.)3.21993(.)-3. )-75.5008.112(p)-6.3339(r)3.13.491.Lsu-75.5006(s)3.21993(u)-6.3196lç667(d)-6.33537(96l)0.ic339(b)-6.306(f)0.721667(d)-6.33ou si.di sdcç im
94
desertificação do espaço.
Quando da Ditadura Militar nós tivemos então a desertificação do espaço
público, o esvaziamento das ruas, o silenciamento das vozes do dissenso, da
oposição, da reivindicação... então o Sindicato dos Bancários ele foi fundamental
naquele período obviamente não ele. um conjunto de movimentos sociais e
95
Igreja São Joe seguiu até a Praça Tiradentes, portanto, simbolicamente saindo do Centro e
orientando-se para fora ao menos simbolicamente. Lugar de circulação, a praça
propriamente dita é um espaço perigoso de se chegar, por causa do intenso fluxo de veículos.
É uma Praça marcada pelo vazio e pelo interdito, conforme sugere Carlos (1996). Um espaço
em que a monumentalidade reforça o lugar do poder, constituindo-se, por isso, um lugar para
se ver. Também merece menção a simbologia do mártir Tiradentes, herói nacional de
aceitação por parte dos setores conservadores e nacionalistas. A escolha da Praça Tiradentes
pela Marcha das Mulheres não foi uma escolha aleatória. Não deixa de ser significativo,
portanto, o fato de o movimento conservador de 1964 ter saído de um lugar tido como central
para o lugar do vazio, inóspito a até impróprio para a realização de manifestação. O trajeto em
si poderia ser tomado como uma alusão do poder que ocupa a sociedade, que, recorrendo a
uma sugestão apropriada de Monte-Mór, o centro de Belo Horizonte representaria o poder
político centralizado e também o lugar do poder financeiro (MONTE-MÓR, 1994).
A Praça da Estação também foi palco de outras tantas manifestações da cidade, tais
como a histórica greve dos operários da construção civil, em 1979, e os comícios da Frente
Brasil Popular, em 1989. Ela também guarda suas particularidades, distinguindo-se das outras
praças mencionadas pelo fato de que ali não é tão presente a monumentalidade do poder do
estado, e não é local só de passagem. Ela é, marcadamente, o lugar da chegada à cidade, assim
como são as estações ferroviárias e rodoviárias. São as estações os lugares que primeiramente
acolhem o imigrante, o estranho à cidade. Espaços transitórios. Pertencem à cidade, mas é
também, dentre os espaços, um dos que mais podem ser associados ao “estrangeiro”. É o
lugar que os recém-chegados timidamente tateiam, antes de ousar passos mais confiantes para
dentro da cidade. Podemos defini-la, portanto, como lugar do começo.
Essa particularidade é importante para ser levada em conta, sobretudo porque as
manifestações que ocorreram na Praça da Estação dialogam de alguma forma com essa
simbologia. Assim, poderíamos perceber que os Pedreiros (1979), tendo realizado uma de
suas primeiras manifestações, e demonstração de forças no final dos anos de 1970,
escolheram a sua praça: a praça da chegada, ou também dos começos. O trajeto escolhido é
igualmente significativo: decidiram se encaminhar em direção à Praça Sete, o “coração” da
cidade, portanto uma trajetória espacial significativa, que simbolizava os primeiros passos de
uma nova reivindicação pelo direito à cidade.
Não poderíamos deixar de mencionar também o fato de a primeira greve/manifestação
de Belo Horizonte ter partido exatamente dessa mesma praça, escolhendo o trajeto em direção
ao Palácio da Liberdade. Novamente a imagem de um começo, da busca de um
96
reconhecimento por parte do Estado e da população.
Todas essas praças, em que pese as diferenças quanto às suas formas de ocupação, não
comportam aquela energia verbal citada por Bolle. A Praça Sete comporta. Significativo,
portanto, no conjunto de algumas das grandes manifestações de Belo Horizonte é que a Praça
Sete foi o grande cenário, seja para as manifestações dos grupos ligados à direita ou daqueles
ligados à esquerda. De alguma forma, ela sempre foi parte do trajeto, seja para iniciar a
passeata, seja para terminá-la. Tal constatação talvez nos forneça pistas para entendermos a
construção simbólica da Praça Sete como lócus das manifestações políticas, de cunho
democrático. Acontecimentos históricos, remotos ainda no início do século XX, nos dão
conta de sua importância nessa direção. Muitos exemplos podem ser citados. A começar por
Santos (2006), em que encontramos referências sobre manifestações sociais na Praça Sete
em 1912.
Assim, como em 1912, quando se manifestam grevistas pedindo a redução da
97
3.3.5 Importantes manifestações
A Praça Sete é apresentada na abordagem de Lemos (1988) como um espaço
tradicional de luta política. Pudéssemos contar com uma espécie de slide das manifestações
políticas na Praça, veríamos o entrelaçamento das questões nacionais sendo projetadas nas
configurações locais que cada fato vai adquirindo. Não podendo fazer esta trajetória por meio
das imagens, façamo-la por palavras. Por meio destas, tracemos algumas circunstâncias
significativas representadas na Praça Sete.
Um dos primeiros momentos de ocupação das ruas do centro foi em maio de 1912,
mais precisamente de 06 a 14 de maio de 1912, com a greve dos funcionários públicos da
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, juntamente com outros trabalhadores que foram
aderindo aos protestos. Dentre as reivindicações, a luta pela redução da jornada e aumento
salarial, além dos apelos quanto ao direito à reunião e manifestação pública.
Faria e Grossi (1982) informam que cerca de 2000 trabalhadores aderiram à greve. No
ápice da mobilização, os trabalhadores fizeram passeatas por diversas ruas do centro.
relatamos o trajeto dessa manifestação. É apropriado considerar os relatos daquela autora
quanto à disposição dos trabalhadores e a crescente adesão à greve e às manifestações.
Em grupo, 40 operários subiram a rua agitando e concitando seus companheiros a
aderir à greve. A partir desse momento, novos contingentes operários se
incorporaram. Portando uma bandeira, percorreram várias ruas. “chegaram às
oficinas do Srs. Paiva & Pinto” [cerca] de 200 operários, e em seu interior
conclamaram os companheiros a aderir ao movimento de protesto e reivindicação
(...) [depois] os grevistas deixaram o recinto e ganharam as ruas em passeata
(FARIA; GROSSI, 1982, p. 192).
Convém apontar ainda que, naquela época, os trabalhadores já lançavam mão de
símbolos associados ao movimento operário, uma vez que as influências socialistas e
anarquistas já se faziam presentes junto aos trabalhadores. Le Ven e Neves (1996, p. 79)
informam que os trabalhadores portavam “bandeiras do Brasil, Itália e Portugal, Bélgica e
mais um estandarte branco em sinal de paz e soltando vivas ao operariado e à greve.”.
Esta manifestação dos trabalhadores pelas ruas do centro representou um
acontecimento inusitado na vida da cidade, merecendo uma cobertura cotidiana do Diário de
Minas. Os noticiários publicados naquele jornal relatavam a perplexidade da população diante
dos acontecimentos. Boatos surgidos na ocasião, dando conta de que o pior estaria por vir,
aumentavam ainda mais o alarme de alguns setores da população.
Outra manifestação significativa iria ocorrer nos anos de 1940, por ocasião dos
conflitos da Segunda Guerra Mundial, quando diversos setores da sociedade mineira se
98
organizaram em manifestação de apoio à entrada do Brasil na guerra. O movimento operário
se expressou de diversas formas e uma destas foi a saída às ruas para se posicionarem de
maneira mais clara. O Partido Comunista assumiu proeminência na condução das atividades
em apoio à Força Expedicionária Brasileira (FEB), em 1944, os comitês pró-FEB. Foi nessa
oportunidade que alguns ativistas bancários se apresentaram, mesmo que timidamente num
primeiro momento, mas ganhando proeminência no desenrolar da própria guerra.
A narrativa que Yonne Grossi (1981) faz da organização pró-FEB dos mineiros de
Nova Lima merece ser destacada, que indica a forte adesão de uma cidade inteira – não por
acaso denominada na época de “cidade vermelha” a essas campanhas. Fato que merece ser
mencionado, embora faça parte da história de outro movimento operário e de outra cidade.
Aquelas atividades constituíram-se em oportunidades singulares para que os militantes
comunistas despontassem junto ao movimento operário e também para que novas lideranças
surgissem.
Quando o Brasil se declarou em guerra contra as potências do Eixo, os mineiros
comemoraram em comícios. Muitos se ofereceram como voluntários da FEB e Nova
Lima assistiu a uma celebração de massa operária e popular, no quadro das
aberturas democráticas que prenunciaram a queda da ditadura de 1945. (GROSSI,
1981, p. 139).
Essas manifestações propiciaram um aprendizado que mais tarde mostrou os seus
frutos na inserção dos trabalhadores nas lutas pela democratização e também pela adesão às
suas respectivas entidades de classe e aos partidos políticos. Foram circunstâncias singulares,
portanto, para que as organizações operárias pudessem marcar a sua presença nas
manifestações.
Num período anterior, mas dentro do contexto da guerra, algumas manifestações se
apresentavam em Belo Horizonte. Por ocasião do torpedeamento dos navios brasileiros, em
1942, o centro da cidade foi transformado em lócus de manifestações.
Na área central, as pessoas se aglomeravam, em grande número, junto ao Pirulito
da Praça Sete. Vários oradores populares falavam e pediam a entrada do Brasil na
guerra. Daquele dia em diante, as manifestações não pararam e, juntamente com
elas, vieram os saques e quebra-quebras generalizados na cidade. A chefia de
polícia compôs uma lista de nomes e endereços de pessoas ligadas ao ‘eixo’ e,
acompanhada de manifestantes, ocupou casas e saqueou lojas no centro.
(BICALHO Apud LEMOS, 1988, p. 212).
99
FIGURA 4 Praça Sete – Campanha Aníbal Benévolo, 1943
Fonte: Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto.
Conforme nhamos destacando, a experiência dessas manifestações foi uma
oportunidade extraordinária para os movimentos organizados recrutarem novos ativistas. Isto
ocorreu também no Sindicato dos Bancários, a exoros, de eemooseaaai ama exm orre8(n)-0.294363(d)-0.4(o)-0.29498(n)-0.2943p4(r)2.805(ra0.29498(n)-0.29437( )-510.449(d) )-7734l(a)3.729438(d)-0.295585(a)3.74(d)e.80561(a)3.74( )-60.18485()-0.2931ç.74(t)-2.16557( )-510.449(d)-0.2955-2.16558(o)-0.2955é60.1832(p)-0.295513(d)-0.295595(a)3.74(d)65(a)3.74(d)45(a)3.74(d)71( )-7779249(d) aaaartov rotiztas3 0 Td a3.74(t)Zaaaaiv estostosse roee aaadit
100
O centro se reafirmou como lócus da discussão, da manifestação e da propaganda
política. Havia grande participação popular nos comícios que se realizavam no
centro. Seu espaço, mais uma vez, funcionou como pólo centralizador de pessoas e
atividades, passando a constituir um lugar privilegiado de troca e divulgação de
idéias. A capacidade do centro de transmitir e divulgar imagens e idéias está
diretamente relacionada à capacidade do seu espaço de concentrar atividades e
pessoas. Nesse sentido, consolida-se como lócus ideal para o intercâmbio de idéias,
palco e cenário de conflitos e tensões políticas. (LEMOS, 1988, p.212).
O período de 1945 até 1964 é marcado pela constante presença dos trabalhadores no
espaço urbano. Le Ven e Neves (1996) enfatizam alguns desses momentos:
Em 1954, os mineiros de Nova Lima desceram a Serra do Curral,, numa passeata
de 3000 trabalhadores e caminharam da Assembléia legislativa, na Rua Tamoios,
ao Palácio da Liberdade. Repetiram a mesma manifestação em 1961, dessa vez
passando pela Rodovia Nova Lima-Belo Horizonte. Nesse mesmo ano, os operários
da brica têxtil fizeram também a passeata das “panelas vazias” no centro da
cidade. [...] (LE VEN; NEVES, 1996, p. 88).
O período de 1961 a 1964 foi um dos mais marcantes em termos de manifestações no
centro da cidade. Diversos movimentos sociais, estudantes e sindicatos entraram em cena para
realizarem suas reivindicações.
Respirava-se, enfim, um ar novo e alimentava-se de uma esperança coletiva [...]
trabalhadores e suas organizações manifestavam-se publicamente no centro de Belo
Horizonte. (LE VEN; NEVES, 1996, p. 88).
O levantamento jornalístico nos oferece uma dimensão desses acontecimentos
(ANEXO B). Para citar alguns deles, destacamos a passeata da “panela vazia” em 15/06/1962,
atividade que contou com a presença de diversas entidades sindicais, estudantis e populares.
Na ocasião, os manifestantes saíram do centro e dirigiram-se ao Palácio da Liberdade.
Também podemos mencionar a greve dos estudantes universitários pela representação de 1/3
nos órgãos colegiados. Tal greve foi marcada por intensos embates com a polícia nas ruas do
centro, com prisões, quebra-quebras, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para
impedir que os manifestantes ocupassem o centro.
Esse clima de manifestações por vezes é marcado por fatos pitorescos e até
humorísticos:
Belo Horizonte 1961. Fidel Castro era o grande ídolo estudantil. Marcou-se enorme
comício na cidade dizendo que Fidel, pessoalmente, viria a Belo para falar aos
operários e estudantes. Às 6 horas da tarde, na Praça Sete, surge Teotônio dos
Santos Júnior vestido de Fidel com barba, charuto e tudo. Não disse duas palavras.
A TFP, o DOPS e o sei mais que, botaram todo mundo a correr, quebrando
cartazes e queimando faixas, cantando o hino nacional, enquanto Fidel, sem fôlego,
quase nu, chegava esbaforido ao topo das escadarias do DCE. (SANT’ANNA
Apud LEMOS, 1988, p. 283).
101
A Praça era o espaço de iniciação daqueles que queriam questionar o sistema. O
primeiro ato de ousadia era marcar suas posições políticas no espaço público do protesto. É
assim que Frei Betto, nas suas memórias políticas, também se refere àquele espaço,
reforçando a noção da Praça como lugar das manifestações:
Dirigi-me à Praça Sete e, trepado no ‘Pirulito’ o obelisco símbolo da cidade ,
incitei estudantes do curso noturno a lutar pelo retorno de Jânio Quadros ao poder.
Antes de encerrar o meu discurso, ouvido por um punhado de jovens que me fitavam
como se Brasília fosse uma cidade muito distante de suas preocupações, a Praça
Sete foi cercada pela cavalaria do Exército Companheiros, não vamos permitir
que as botas esmaguem a democracia brasileira gritei por gritar, sem nenhuma
idéia de como um bando de rapazes cansados da labuta diária poderia a caminho
das aulas, pelo menos resistir às bombas de gás lacrimogêneo que estouravam por
todos os lados, dispersando-os. (BETTO, 2002, p. 174).
41
O momento era também marcado pelo acirramento da repressão com as forças do
DOPS que intensificava, paulatinamente, suas estratégias de repressão às manifestações,
efetuando prisões de ativistas, além do impedimento de deslocamento de manifestantes em
passeatas (DOPS..., 1963b). Naquele momento era necessário solicitar licença ao DOPS para
102
dada como certa.
Depois do Golpe Militar, a Praça Sete tornou-se ainda mais interditada, somente vindo
a ocorrer ali algumas manifestações, por vezes esparsas, como a dos estudantes e movimento
sindical, em 1968. Nesse contexto, manifestar na rua já era bem mais arriscado.
Somente no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 é que a Praça começa,
103
Dentre esses acontecimentos, a greve dos Operários da Construção Civil foi um dos
marcos daquela retomada, inserida no bojo das grandes greves de 1979, no mesmo período
em que as famosas greves do ABC Paulista sacudiam o Brasil. Afrontando a lei anti-greve
que imperava no país, em Belo Horizonte os “peões” ousaram ir para as ruas, tomando a
dianteira no processo de mobilizações de trabalhadores no período de abertura política.
Diante de tamanha ousadia, os meios de comunicação anunciaram, alarmados e
escandalizados, as manifestações daqueles trabalhadores:
Eram 9h30m da manhã e, embora a Praça da Estação estivesse cheia de
trabalhadores da construção civil eles estavam fazendo greve reivindicando
melhores salários o ambiente era de calma. A grosso modo, eles somavam 20 mil,
espalhados por toda Praça e ruas adjacentes. Quatro grupos vinham chegando e
fechando as ruas que dão acesso à Praça... impedindo os carros que por ali
passassem...
Os piquetes desceram para a Praça da Estação, onde cerca de 20 mil operários se
espremiam erguendo cartazes.
Os primeiros comerciantes... alarmados com a multidão desceram suas portas e
[um] táxi é totalmente destruído pelos operários... A raiva, então, dominou os
manifestantes na Praça da Estação: viraram um carro duas, três vezes, para um
lado e para o outro, quebrando os vidros, as portas, provocando uma explosão, que
foi seguida de incêndio.
[...] Daí pra frente o que se viu foi uma guerra, de um lado os manifestantes
jogando pedras, laranjas e mexericas nos policiais e, de outro, soldados lançando
bombas e afastando aqueles que se aproximassem com cassetetes.
[...] Dentro de pouco tempo a cidade se transformou. Saques de lojas, incêndios nas
bancas de revista e nos carros. O comércio ficou inteiramente paralisado. (Estado
de Minas, Julho de 1979 [30/07/1979] Apud PREFEITURA DE BELO
HORIZONTE, 1996, p. 108).
Le Ven (1987), referindo-se a essa greve, considera-a como um indicativo da entrada
em cena de atores que até então não haviam se apresentado reivindicando os direitos à cidade.
Essa entrada em cena de categorias que sofreram as conseqüências da
modernização da sociedade (professores e pedreiros) e da espoliação urbana [...],
marca a nova composição da classe trabalhadora do “milagre mineiro”. (LE VEN,
1987, P. 34).
Tratava-se de um novo ator, diferente dos consagrados segmentos que ocupavam as
ruas no pré-64, ou seja, bancários, estudantes e metalúrgicos. Nesse momento, os
trabalhadores encampam uma luta que, além das questões particulares da categoria, levantava
questões políticas, contestando o Estado autoritário e sua política econômica. Denunciava,
portanto, as condições de trabalho nas empresas e as condições de vida do trabalhador na
cidade, com as questões do transporte, moradia, saúde, dentre outras. Daí também a dureza
dos protestos e a emergência de um grito que ecoava pela cidade.
Diante de tamanha ousadia, a reação dos setores conservadores foi imediata.
104
Foi muito significativa a reação da imprensa falada e também escrita, como da
Revista Veja, de 08/12/79, que julga a greve dos pedreiros como a “demonstração
cristalina do que existe de pior em matéria de baderna, truculência e desrespeito à
lei’, enquanto joga a ‘culpado desrespeito em um Governo ‘não mineiro’ e na
Diretoria Sindical.” (LE VEN, 1987, P. 34).
Esse acontecimento deve ser considerado como o grande preâmbulo, o grande
espetáculo de entrada que preparava outros momentos importantes. Consequentemente,
marca-se também pela sua dramaticidade, dadas as dificuldades de ir para as ruas naquele
momento. Depois de então, outros movimentos imprimiram sua marca de maneira indelével
sobre a Praça Sete. Entre estes, não poderíamos deixar de mencionar a Campanha das Diretas
Já, em 1984, e, mais tarde, a campanha do “Fora Collor”.
Concentrando milhares de pessoas na Praça, a Campanha das Diretas representava
mais do que um momento da cidade, marcando-se um acontecimento nacional, um dos poucos
dessa natureza ocorridos no Brasil. Tal manifestação representava o ápice de um conjunto de
manifestações que ocorriam no bojo da abertura política. A greve dos Pedreiros teria sido o
início. Outras também foram significativas, como a luta pela Anistia. Vinte anos depois da
Marcha das Mulheres, essas manifestações que antecedem as Diretas iniciaram-se na Praça
Afonso Arinos, e, num movimento mais ousado, chegaram até à Igreja São José ou a Praça
Rio Branco, mas sem ousar ocupar de imediato a Praça Sete, que a repressão ainda era
intensa. depois é que ganharam definitivamente a Praça. A Campanha das Diretas faz esse
percurso “bairro-centro”, um trajeto inverso empreendido pelos movimentos conservadores.
Na simbologia, estaria a representação da sociedade buscando ocupar o poder. Um
movimento democrático, portanto.
105
FIGURA 6 Campanha das Diretas Já – Praça Sete, 1984
Fonte: Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto.
Gilson Mello refere-se a esses trajetos. A sua percepção ajuda-nos a entender esse
movimento de paulatina retomada da Praça Sete, simbolizando o movimento da
democratização brasileira, representada nos espaços centrais de Belo Horizonte.
[...] a lembrança política primeira que eu tenho da Praça Sete, talvez que eu
lembre, foi o movimento de “Melhoria do Transporte Coletivo”. Eu não lembro se
foi no ano de 80 [...]. E o Exército foi pra rua, como há muitos anos o tinha
ido. E nós chegamos na Praça Sete. Foi um “pau cerrado”. Em seguida, [...]
começa a tentativa de ir definitivamente às ruas. E aí o ponto de escolha é a Afonso
Arinos [...]. Apra criar um paralelo com o Largo do Machado [...], em frente à
Escola de Direito em São Paulo [...]. Aporque era questão de direito que tava
exatamente em questão sendo tratada. [...]. Em seguida, da Afonso Arinos, o passo
seguinte é a escadaria da Igreja São José. O que na verdade foi um recuo. Foi
tamanha a repressão na Afonso Arinos que o movimento vai buscar o apoio da
Igreja. [...] Invadir ali era invadir Dom Serafim tinha que conversar...[...]. A Praça
Sete ela vai ser conquistada definitivamente com o fim da Ditadura. Era quase
que ganhar politicamente... A Praça Sete, em Belo Horizonte, significa ter
derrotado a Ditadura. (Informação verbal grifo nosso)
42
O que ele nos apresenta é precisamente o momento da festa política na Praça. O prazer
de estar na rua, pensando uma nação e um projeto para o mundo, apropriando-se da praça
42
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
106
pública com irreverência, com palavras de ordem, xingamentos, injúrias dirigidas ao governo,
ao sistema e aos setores conservadores. Essa consideração merece ser associada às análises
que Bakthin faz sobre a função da praça pública na Idade Média, ao indicar que, quando o
povo ocupa esse espaço, ele o toma como lugar para rir. Donde também o grotesco tem seu
lugar, elemento muito apropriado pelos bancários, no final da década de 1980. Assim, a rua é
o lugar para rir da polícia, da Igreja e do poder político e econômico.
Por fim, no início dos anos 1990, uma outra grande manifestação pública ocupava
totalmente o trecho que vai do início da Afonso Pena, na Praça da Rodoviária até a Praça
Sete: o “Fora Collor”, movimento que teve o seu ápice com a votação do Impeachment do
Presidente Collor, no dia 29/09/1992. Note-se que essa talvez tenha sido uma das poucas
manifestações ocorridas na Praça Sete desde a década de 1990.
É importante destacar que esse movimento realiza também o fechamento da rua,
tomando-a em outro sentido distinto daquele cotidianamente associado às ruas, ou seja,
transformando a praça dos negócios numa praça dominical, para usarmos uma referência
também utilizada quando da manifestação dos perueiros.
Diversos atores se apresentaram com suas bandeiras e discursos. Os “cara-pintadas”,
com suas simbologias, novamente guerreiras, indicavam que também nessa manifestação
lançava-se mão de um repertório cultural, trazido às ruas. Também nesse episódio
manifestante, diversos movimentos sociais disputaram suas representações nas ruas,
apresentando indiretamente suas concepções sobre a cidade e a Praça Sete.
107
4 O MOVIMENTO SINDICAL BANCÁRIO E A PRAÇA SETE
FIGURA 7 Manifestação na Praça Sete, 1989.
Fonte: CRMS/SEEB-BH. Fotógrafo: não identificado.
4.1 Uma visão panorâmica antes do mergulho
Retomando o recurso dos múltiplos focos indicado na introdução, antes mesmo de
tecermos maiores considerações acerca das entrevistas propriamente ditas, sugere-se agora
nos afastarmos das mesmas olhando-as no seu conjunto, ainda sem aprofundamentos, mais no
sentido de tomarmos a “fundura do poço”, como quem quer reconhecer o terreno, antes de se
aventurar na trilha desconhecida. Também em ciência se faz isso, e convém dizer é assaz
útil para que o pesquisador não se aventure em caminhos que não merecem uma aventura, ou
mergulhar em poços rasos demais.
A imagem panorâmica nos pareceu adequada para nos familiarizarmos com os dados
que foram trazidos pelos entrevistados. A metáfora é adequada, sobretudo porque ela diz algo
sobre nossa construção do conhecimento, como apreendemos algo, como captamos sentido
em entrevistas muitas vezes desconectadas umas das outras. Poderíamos dizer que o roteiro
prévio seria suficiente, mas o que se na prática do campo é que muitos “não-ditos”, os
silêncios (e também algumas repetições) podem ser relevantes e eles não se encontram no
roteiro (MINAYO, 1993).
108
O recurso que ora apontamos também pode ser expresso a partir da imagem do feixe
de luz, apontado por Limoeiro Cardoso. Vejamos:
O conhecimento se faz a custo de muitas tentativas e da incidência de muitos feixes
de luz, multiplicando os pontos de vista diferentes. A incidência de um único feixe de
luz não é suficiente para iluminar um objeto. O resultado dessa experiênciapode
ser incompleto e imperfeito, dependendo da perspectiva em que a luz é irradiada e
da sua intensidade. (LIMOEIRO CARDOSO Apud MINAYO, 1993, p. 89).
Valemo-nos dessa imagem para indicar que as entrevistas mereceriam também olhares
múltiplos, talvez não do pesquisador que as analisa no momento. Na dificuldade de se
analisá-las dessa forma, o critério do olhar panorâmico pelo menos fornece a possibilidade de
um outro ângulo de visão.
Diante das pesquisas realizadas, o primeiro aspecto que pode ser destacado é
precisamente a noção temporal realçada pelos entrevistados. Verifica-se que cada entrevistado
vê e reforça um determinado enfoque sobre o tempo, o seu tempo. Assim, podemos intuir que
aspectos da respectiva conjuntura nacional apresentam-se inscritos nos depoimentos.
Alguns olham para trás. Outros singularizam o presente. A este respeito, Fernando
Neiva, dirigente sindical do período mais recente, relata os dilemas vividos na conjuntura da
globalização, além do refluxo do movimento sindical, em que as ações são mais defensivas do
que ofensivas, ou seja, têm seu foco mais no sentido de garantir as conquistas obtidas ao
longo dos anos do que efetivamente obter conquistas novas. De sua narrativa, nota-se certo
pessimismo, já que os tempos atuais marcam-se pela dificuldade de ação da categoria.
Outros entrevistados buscam reacender a chama da esperança, ou mantém, apesar do
pessimismo marcado pelas agruras do presente, um tom esperançoso, uma necessária utopia
que precisa marcar-se no espaço público. Moisés Augusto e Gilson Mello, ambos da gestão de
1987-1990, mostram essa característica de quem ainda não se resignou. O passado é visto não
como o lugar mítico ideal, mas um lugar que foi formador, sem o qual não seriam sujeitos. O
lugar que marcam como ponto de partida é o tempo da abertura política, a efervescência
democrática e também cultural, cujo fundamento apresenta-se pelo simbolismo da luta pelas
“Diretas” e pela memorial greve dos Trabalhadores da Construção Civil.
Delgado (2006), a propósito da ancoragem dos indivíduos em determinados momentos
históricos, situa a importância de um tempo coletivo, esse tempo que não pertence ao
indivíduo, mas que é vivido pela coletividade. Nas palavras da autora: “no processar da
memória estão presentes as dimensões do tempo individual (vida privada – roteiro biográfico)
e do tempo coletivo (social, nacional, internacional)” (DELGADO, 2006, p. 16). É assim que
109
se verifica a ancoragem dos indivíduos em tempos que lhes foram significativos, tais como a
“Greve de 46”, “as greves da final dos anos 80”, “O Fora Collor”, e outras situações.
Importante também frisar o fato de que a própria memória está inscrita como processo
que se constrói-reconstrói socialmente. Assim, as definições da autora são úteis para
entendermos melhor esse processo.
“Memória e história são processos sociais, são construções dos homens, que têm
como referências as experiências individuais e coletivas inscritas nos quadros da
vida em sociedade. Dessa forma, a memória, como substrato da identidade, refere-se
aos comportamentos e às mentalidades coletivas, na medida em que o relembrar
encontra-se relacionado à inserção histórica de cada indivíduo.” (NEVES Apud
DELGADO, 2006, p. 50).
E finaliza assim o seu raciocínio:
[...] cada pessoa é componente específico de um mosaico maior que é a
coletividade. Portanto, cada depoente fornece informações e versões sobre si
próprio e sobre o mundo no qual vive ou viveu. (DELGADO, 2006, p. 52).
As conjunturas em que os sujeitos históricos são forjados não são as mesmas. Tais
circunstâncias nos levam aos termos de Delgado (2006) no sentido da existência de uma
representação histórica que “educa” os indivíduos. Ou, em outros termos, no sentido de que
somos filhos do nosso tempo social. Nessa gica, é interessante notar as peculiaridades do
tempo inscrito nos depoimentos, sabendo que isto não deve ser uma camisa-de-força, mas um
dado a ser levado em conta. Os indivíduos, vivenciando processos sociais distintos, são
também influenciados de forma diferenciada e dão respostas diferenciadas.
Nessa acepção, ativistas que viveram conjunturas marcadas pela repressão e pelo
quadro de uma democracia instável, isto é, um vai-e-vem entre democracia e ditaduras,
trazem tal experiência nos seus depoimentos. Esses indivíduos demonstram as dificuldades
para a militância em determinados períodos históricos. Armando Ziller e Antônio Faria
vivenciaram este tempo incerto. Em conseqüência, o mesmo tempo não produziu indivíduos
iguais. Mas um traço que se pode notar: estes sujeitos históricos trazem o recorte da
solidariedade bem presente nas palavras. Poderíamos dizer até de um corporativismo que os
mesmos incorporaram na linguagem. Tendo sido, digamos assim, forjados nessa conjuntura e
vivenciando posteriormente outras realidades, os ativistas em questão não deixaram para trás
aquele momento fundador que marcou suas histórias pessoais.
A propósito, lembramos de uma exposição de Le Ven (1996), em que o mesmo
argumentava que nossa “trajetória de vida” não comporta o “ex”. Aquilo que fomos um dia se
inscreve na nossa identidade, ao ponto de não poder mais ser apagado. Não podemos
110
simplesmente nos desvencilhar daquilo que fomos um dia. Destarte, se o indivíduo foi um
militante político, viveu determinada conjuntura, participou de uma greve ou manifestou-se na
rua, tais fatos deverão inscrever-se na sua história de vida, na sua identidade, mesmo que,
anos depois, esse indivíduo não mais veja sentido naquilo que acreditou ou fez no passado.
Toda matéria que passa pelo teste do fogo nunca voltará a ser a mesma.
Não devemos firmar uma proposição do “eterno retorno” ou do tempo circular. E é por
isso que entendemos que o retorno do indivíduo ao passado faz-se em forma de re-elaboração,
e não numa espécie de repetição. Pode-se fazê-lo apontando para o futuro; pode-se confirmar
o presente ou ainda situar, de maneira saudosista, o passado como momento em que as coisas
aconteciam e as pessoas eram felizes, mas esse tempo revisitado nunca se repete nem mesmo
nas lembranças. que, a cada recordação, alguns fatos são esquecidos, enquanto outros são
lembrados.
Os indivíduos entrevistados revelam uma condição militante, em suas múltiplas
dimensões. Ao revelarem suas trajetórias sindicais e políticas, revelam também suas utopias,
ou visões de mundo, mesmo que, em alguns casos, rejeitem enfaticamente a aliança entre
política e o movimento sindical.
Mas não as trajetórias merecem ser consideradas como elementos de análise.
Também os gestos, as palavras e expressões faciais dos entrevistados mereceriam uma
atenção especial por parte do pesquisador. No conjunto da nossa pesquisa não foi possível
atentarmos aos detalhes de uma forma roteirizada. Não tínhamos estabelecido tais
observações como elementos de nossa análise. Contudo, no decorrer da primeira entrevista
realizada, alguns detalhes do denominado campo “falavam” e não podiam ser ignorados.
No depoimento de um dos entrevistados, notamos um constante reforço da unidade
como fato significativo da categoria bancária, como um corpo solidário. Por diversas vezes,
ele fez menção às palavras unidade e irmãos bancários, enfatizando-as na frase.
Nós fizemos unidade com todas as correntes. Aqui nós somos irmãos bancários,
minha doutrina era essa. fora cada um que tivesse seu partido, sua religião, seu
negócio.... mas aqui nós somos irmãos bancários. O inimigo comum, no caso, é o
banqueiro porque ele nos paga mal, não reconhece o nosso esforço, o nosso
trabalho. (Informação verbal).
43
Os depoimentos dos militantes bancários no período anterior a 1964 revelam um
contexto de um sindicalismo fortemente atrelado ao Estado. Não era por menos. Stralen
43
Entrevista concedida em 03/08/2007 por ex-dirigente sindical.
111
(1995) apresenta um contexto de constantes intervenções do governo nas atividades sindicais.
Não bastasse a regulamentação do Estado, as diretorias sindicais eram freqüentemente
destituídas, com a perseguição dos dirigentes mais combativos. Quanto à organização sindical
bancária, o que se infere a partir das entrevistas é que se construía um espírito solidário, em
que a defesa do bancário colocava-se em primazia frente a outras lutas. Era difícil romper
com o modelo sindical corporativo, e a visão sindical privilegiada seria aquela em que o
sindicalismo se afastava das questões políticas, mesmo que os militantes fossem ligados a
alguns partidos políticos. Esse distanciamento foi enfatizado por alguns entrevistados.
as entrevistas de Moisés e Gilson indicam outra ancoragem conjuntural. Tem-se a
impressão de que as demandas sociais, estancadas durante o período da ditadura não só
puderam, mas também precisaram ocorrer nas ruas. A dimensão da política é exacerbada
nessas falas, mas de uma mescla entre a ação cultural e política. Isto também é confirmado
pelas palavras de Marcelo D’Agostini e José Prata, porém a perspectiva da ação política passa
pela intervenção junto à categoria bancária e pela disputa dentro do Sindicato. Conforme
Prata, a decisão de sair para as ruas era ponto que diferenciava o grupo da Oposição Sindical
Bancária do grupo que estava na direção do Sindicato.
José Prata enfatiza essa dimensão com freqüência. Não bastasse a sua condição de
participante nas manifestações, ele informa que teria sido um observador dos atos na Praça
Sete, antes de entrar para o Sindicato. Trabalhando no prédio do antigo Banco do Estado de
Minas Gerais, localizado precisamente naquela Praça, ele pôde observar, do seu local de
trabalho, os acontecimentos.
Eu trabalhava no prédio do Bemge da Praça Sete [...]. Então sempre eu era
observador. [...] quase todo dia tinha, ou quase toda semana, tinha uma caminhada
ou alguma passeata e sempre no meu quinto andar, no prédio, sempre tava
observando ... [...] Era um grande número de pessoas de fato, se manifestando
naquele espaço....[...] simbólico para o caso de BH [...]. (Informação verbal).
44
Não poderíamos deixar de considerar situações das entrevistas que merecem ser
lembradas pelo fato de algumas emoções serem evocadas quando se levantava esse ou aquele
assunto. De Gilson Mello destaca-se a emoção de falar de sua trajetória de militância política
e sindical. Ele lembra com detalhes a sua inserção nas lutas políticas do final dos anos de
1970, com destaque para a militância estudantil e a opção pela proletarização, idéia corrente
no grupo político “A Centelha”, do qual fez parte. A proletarização significava, em síntese, ir
44
Entrevista concedida em 24/08/2007 por José Prata de Araújo.
112
em busca da classe operária e participar dos movimentos sociais. Em função dessa opção,
participou do movimento comunitário do Barreiro, vivenciando diversas lutas. Posteriormente
ele descobre a militância sindical.
o ator de rua Jacó do Nascimento, contratado pelo Sindicato a partir da gestão de
1987, lembra com alegria o reconhecimento e a identificação do povo com o personagem “O
Banqueiro”. Viveu na pele, atuando na rua, uma sensação de gozo ou desforra ao satirizar o
poder do banqueiro. A propósito, o ator lembra uma situação em que a Polícia Militar fora
chamada pelo gerente para impedir uma manifestação dos bancários na porta da agência. Na
ocasião, a equipe de teatro fazia uma encenação ali e, em função disso, os policiais vieram
prender o “Mensageiro do Rei” e o “Banqueiro”. Jacó, atuando como “Mensageiro do Rei”,
não poderia deixar que o “Banqueiro”, seu superior, representado pelo ator Calau, fosse preso.
Sem interromperem a encenação, os atores tentaram incorporar os policiais à cena, o que
acabou por irritá-los, sobretudo porque a população presente divertia-se diante da situação
inusitada. No fim das contas, os bonecos da encenação e o “Bobo da Corte” que
representavam naquele momento a figura do povo trabalhador – acabaram presos. No entanto,
o “Mensageiro do Rei” e também o “Banqueiro” foram poupados.
O “Banqueiro” na época era no chão, fez uma roupa de espuma pra ele ficava
enorme, muito gordo, muito né... cheio de dólares e mais dólares... e ele pirava o
cabeção com aquilo. [...] Então o nosso discurso era claro e ele incomodava, vamos
dizer, a direita, incomodava o povo do poder. E isso incomodou a polícia, porque a
gente não saía do personagem pra discutir com a polícia. A polícia pedia
documento pra gente... [e a gente] continuava....a mesma coisa, sério. o Calau:
“Não, meu senhor! Pois aqui eu sou um banqueiro, cê não pode levar um banqueiro
desse jeito!”, não sei o que.... O policial achou que ele tava desacatando o policial e
começou a querer levar ele. Eu como era o Mensageiro do Rei, [...] eu disse: “Não,
ninguém vai levar o Mensageiro do Rei preso. Não tem um poder que possa levar
um Mensageiro!” E virei as costas e fui embora. E a população ouvindo aquilo
vibrou de enlouquecida. [...]. A coisa virou.... virou uma coisa meio Boal, né [risos].
foi bacana esse teatro todo que foi feito com o poder público, né?E a polícia se
sentiu menor, e simplesmente o que que ela fez: ela pegou...[...] o Bobo da Corte, o
Cavaleiro e colocou dentro da Rádio Patrulha, pegou o cavalo... [...] eles
quebraram o pau do cavalo aí... isso em cima de vaia da população que queria ver
o teatro. (Informação verbal, grifo nosso).
45
Aqui que se lembrar de uma formulação de Da Matta (1990), destacando uma das
expressões recorrentes de nossa cultura: o famoso jargão autoritário “Sabe com quem vo
falando?”. A encenação dos atores colocava concretamente um dos dilemas da sociedade
brasileira, em que só os pobres vão para cadeia.
45
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
113
Tiãozinho do Banerj enfatiza também sua alegria no momento em que Solange Ayres
propõe o nome de Helena Greco
46
para substituir o nome da Praça Sete. Uma exaltação que dá
a significação acertada entre os dois entrevistados, participantes de uma trajetória comum.
Por fim, ressaltam-se as situações em que os entrevistados estão diante do gravador.
Por vezes, o entrevistado pode confidenciar algo se obtiver a certeza de que não estamos
registrando o que não deve ser divulgado. Precisamente, a expressão “tá gravando isso aí?”
remete a algo que pode ser significativo. Às vezes, as informações mais preciosas encontram-
se naquilo que não foi gravado ou não pôde ser gravado, já que guardam certo sigilo. Uma
pista sobre determinado assunto poderia comprometer o sujeito informante.
Passando a outro nível de considerações, indicamos o fato de que os discursos dos
entrevistados podem ser situados como representativos de determinada conjuntura. Nesta
acepção, estamos tomando os entrevistados como verdadeiros sujeitos históricos, que
integraram uma coletividade, ou seja, um sujeito coletivo. Esses sujeitos fizeram história,
muito embora, por vezes, não se percebam como parte da história. Alguns desses sujeitos
estariam ligados às antigas matrizes discursivas do sindicalismo, do comunismo e da Igreja.
Outros estariam ligados à novas matrizes, que subsidiaram a entrada de novos personagens na
cena política, ao final dos anos 1970.
No conjunto das transformações políticas do final da década de 1970, constata-se a
criação de um novo sujeito social e histórico. Sobre esses novos sujeitos que entraram em
cena, Sader (1988) sugere que se tratava um novo sujeito coletivo que se caracterizaria pela
produção de uma nova matriz discursiva, reformulando-se as antigas matrizes que embasavam
os movimentos sociais, antes daquele período. Assim, a antiga matriz discursiva da Igreja,
passa a ser reformulada com a nova matriz da Teologia da Libertação. A matriz discursiva da
esquerda reformula-se com os questionamentos ao marxismo ortodoxo que orientava a visão
dos comunistas. E, por fim, a matriz discursiva do sindicalismo é redefinida com o “novo
sindicalismo”. Assim, as antigas raízes ou centros organizadores dos movimentos sociais, em
crise, são desfeitos e refeitos.
Esse sujeito novo refaz-se de certos traços dos movimentos anteriores, determinado a
“[...] romper com a tradição sócio-política da tutela e da cooptação e, por isso mesmo,
fazendo a política criar novos lugares para exercitar-se.” (CHAUÍ, 1988, p.11). Nessa
46
Dona Helena Greco foi vereadora em Belo Horizonte no período de 1983 a 1992. É reconhecida junto
aos movimentos sociais da cidade principalmente por sua militância no Movimento Feminino pela Anistia em
Minas Gerais e na luta pelos direitos humanos.
114
acepção, esse novo sujeito tenta criar lugares políticos novos, aqui se entendendo a utilização
cotidiana do espaço público, a irreverência, a manifestação artístico- cultural, bem como uma
prática nova, ou seja, uma prática que transcenda a linguagem puramente sindical corporativa,
ou supere a imagem de um sindicato voltado para dentro.
Considerando-se os sujeitos escolhidos para as entrevistas, não é de todo impróprio
partir do fato de que, de alguma forma, estes representam em alguma medida a antiga matriz
discursiva representada pelo sindicalismo, Igreja e Comunismo, e também a nova matriz
discursiva, com o novo sindicalismo, a Teologia da Libertação e a militância de esquerda dos
anos de 1980.
Em relação aos representantes das antigas matrizes, poderíamos dizer que Armando
Ziller representaria a matriz comunista, mais precisamente o campo da orientação marxista-
leninista, do Partido Comunista Brasileiro (PCB); Antônio Faria orientar-se-ia por uma
matriz sindical, bem como pelo discurso da Igreja, iniciando a sua militância política na
Juventude Operária Cristã (JOC).
Na linha dos novos sujeitos sociais, orientados pela nova matriz discursiva, temos as
seguintes representações: José Prata e Marcelo D’Agostini representariam a reformulação da
antiga matriz sindical, em que se produziu o Novo Sindicalismo. Fernando Neiva também
estaria associado a essa nova matriz, com a ressalva de que, a partir da década de 1990, o
sindicalismo precisaria ser considerado em relação a outras categorias analíticas, como a
reestruturação produtiva. Seguindo a categorização, Moisés Augusto apresentaria a matriz da
Teologia da Libertação. Solange, Tiãozinho, Gilson Mello e Jacó estariam associados a um
campo mais amplo, que ultrapassaria o discurso puramente sindical, indo às formulações de
um discurso de esquerda, compreendendo aspirações mais amplas do ponto de vista cultural e
também político, a linha que passou também a nortear os novos movimentos sociais a partir
dos anos 1970. Assim, eles trazem demandas relacionadas às lutas populares, relações de
gênero e raça.
Tal exercício de aproximação em torno das matrizes discursivas não pretende ser
exaustivo, nem esgotar as possibilidades de trânsito que os militantes realizam entre diversos
centros organizadores dos movimentos sociais. O que nos interessa ver é que determinadas
filiações, principalmente aquelas do final da década de 70 parecem ser determinantes para os
indivíduos participarem deste ou daquele movimento social, de caráter mais progressivo.
Assim sendo, muitos indivíduos tomaram contato com as questões políticas e sindicais a partir
de determinadas linguagens, de certos matizes que se apresentavam.
José Prata, por exemplo, recorda-se do contato com um professor do seu curso de
115
graduação, também militante sindical, que lhe sugeriu a necessidade da participação nos
sindicatos. Além disso, ele lembra-se das aulas de filosofia, nas quais tomou contato com o
marxismo, no final dos anos 1970. Seria interessante destacar que esse marxismo vinha
temperado nas questões particulares daquela época, com críticas à ortodoxia dos partidos
comunistas. A fundação do PT, em 1982 insere-se no bojo da incorporação de uma nova
linguagem pela esquerda brasileira, agregando diversas demandas dos novos movimentos
sociais.
Eu passei a estudar na Católica [PUC-MG], Economia [...]e fiz, ali dentro dos
cursos de introdução... Sociologia, Filosofia. Tomei contato com as idéias de Karl
Marx e outros caras de esquerda e foram eles que acabaram mesmo me
empurrando pro sindicalismo também, né. Então, combinando as duas coisas e
acabou que uma coisa influenciou forte a outra. (Informação verbal).
47
Gilson Mello também rememora as circunstâncias da sua politização. Militando nos
movimentos de bairro, teve contato com as questões sindicais, partidárias e dos movimentos
populares.
[...] o meu vínculo político naquele tempo [1978] com determinada corrente política
[A Centelha] apontava muito na idéia da proletarização. [...] Então naquele
momento eu fiz a opção de sair da Universidade pra ir participar dos movimentos
sociais. [...]Embora desde aquele tempo eu estava morando na periferia. Eu o
fui na periferia. Eu morava no Barreiro desde 1972. [...]. A minha primeira grande
participação política foi na fundação do Partido dos Trabalhadores e [...] a
inserção no movimento comunitário da região do Barreiro. [...] E desde então é
destacada uma questão que foi considerada a questão mais grave da região que era
o transporte. E isso resultou na criação do movimento da melhoria do transporte
coletivo da região Industrial. Foi um movimento muito marcante no final da década
de 70. (Informação verbal, grifo nosso).
48
Esse levantamento torna-se importante porque conta de que as matrizes discursivas
circulavam entre os sujeitos e eram difundidas de diversas formas. Assim, esses sujeitos,
militantes de outros movimentos e demandas, tendo se politizado muitas vezes em outras
circunstâncias, irão se encontrar na ação sindical dos bancários.
47
Entrevista concedida em 24/08/2007 por José Prata de Araújo.
48
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
116
4.2 Histórico do Sindicato dos Bancários
As considerações de ordem metodológica antecederam a descrição histórica do
Sindicato que ora apresentaremos por uma legítima razão: como salientamos, a história do
indivíduo traz a história também dos fatos da coletividade, da cidade e do país. Muitos fatos
relativos à história do Sindicato que feito por sujeitos historicamente situados foram,
em alguma medida, mencionados. Partiremos, pois, para o destaque de algumas
particularidades da instituição. Metodologicamente, não deixa de ser um recurso possível, o
de começar pelos sujeitos históricos, isto é, por suas narrativas, para em seguida
complementar a discussão com dados levantados, digamos, externamente.
O Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte foi fundado em 1933, a partir da
Associação dos Bancários, criada em 1932. Portanto, são 75 anos de atuação, uma história
que atravessa diversas situações da economia e da política nacional, o que possibilita a análise
dentro de diversos recortes conjunturais.
Na pesquisa sobre a literatura pertinente ao Sindicato dos Bancários, encontramos
duas produções que abordam diretamente esta entidade. O primeiro trabalho é o de Terezinha
Stralen (1986), que cobre o período da fundação do Sindicato até o golpe de 1964. Trata-se de
um trabalho elementar sobre a história daquela instituição. Foi-nos de extrema importância
para a organização do quadro histórico em que destacamos os “momentos manifestantes” do
Sindicato (ANEXO B). Salienta-se a leitura porque, sempre tendo a conjuntura nacional como
referência, ela também aponta os principais momentos de intervenção do Sindicato nas ruas
da cidade e também as grandes greves do período, bem como os momentos de refluxo, em
que a entidade estava sob intervenção do governo.
O segundo trabalho é a dissertação de Nobre (1993). Esse trabalho cobre a atuação do
Sindicato a partir do surgimento da Oposição Sindical Bancária, em 1979, passando pela
vitória desse grupo ligado à CUT, nas eleições de 1987, até o fim da primeira gestão cutista
no Sindicato, em 1990. Ele não aborda propriamente as lutas do Sindicato nas ruas, as greves,
ou as intervenções culturais que marcaram a primeira gestão da CUT no Sindicato, mas atém-
se à máquina sindical e as relações da militância com a estrutura sindical burocrática. De
maneira esparsa, no entanto, sobretudo a partir de trechos de entrevistas que o autor
apresentou naquele trabalho, conseguimos levantar aspectos sobre a dimensão que nos
interessava mais diretamente, ou seja, as atividades de rua.
117
Passaremos a partir então a considerar alguns momentos significativos da ação do
Sindicato dos Bancários, apreciando aquelas oportunidades em que os bancários ousaram sair
às ruas.
4.2.1 Principais greves
4.2.1.1 Greve de 1946
Em 1946 ocorreu a primeira greve da categoria bancária em Belo Horizonte, dezesseis
anos após a fundação do Sindicato. De fato, algumas lutas importantes vinham sendo
travadas pelo movimento sindical bancário
49
, embora em nenhuma dessas circunstâncias o
Sindicato houvesse ido às ruas. 1946 foi, portanto, o primeiro momento em que o Sindicato
experimenta a sensação de manifestar-se nas ruas do centro de Belo Horizonte.
Com a greve de 1946, os bancários ocuparam as ruas por 19 dias, durante os quais
uma diversidade de atividades tomou a Praça Sete; um repertório bastante diversificado foi
utilizado, como a organização de fundo de greve, com venda de bônus na Praça Sete e
realizações de “passeatas-monstro”, termo bastante comum na linguagem sindical na época.
Na Praça também se instalou um “Placard da Greve”, listando os nomes das entidades que
apoiavam o movimento.
Stralen (1995) informa que, além das mencionadas atividades de rua, os bancários
realizaram uma grande passeata no 15º dia de greve, com a proposição de um juramento
coletivo, referendando a intenção dos manifestantes em resistirem até que suas demandas
fossem atendidas.
Tal greve é memorável para a categoria bancária. Diversos militantes que viveram
aqueles momentos falam daquela greve com grande satisfação. É desta forma que João Vieira
conduz a sua explanação;
Foi uma greve unitária. Foi muito, acredito que foi bem planejada, eu ainda não
tinha aquela vivência, aprendi muito com o Ziller. A luta dele e tudo. Fiquei
conhecendo depois também os líderes do Rio de Janeiro e o Paulo. (VIEIRA,
2003).
49
Entre essas lutas estariam a da jornada de 6 horas e a reivindicação pelo Instituto de Aposentadoria e
Pensão dos Bancários – IAPB. Stralen (1995) informa que os bancários de Belo Horizonte fizeram campanhas de
apoio às reivindicações, mas efetivamente não acompanharam os movimentos grevistas que ocorriam em outros
estados.
118
Armando Ziller lembra as atividades de rua:
Houve muitas [passeatas]. Fizemos um movimento bem organizado, modéstia á
parte, por causa da experiência que colhemos fora. o inventamos nada. Na
verdade aproveitamos duas experiências. A da greve de dois dias, de 1934, e, antes
dela, a da luta pela lei de seis horas, quando foi necessário fazer greve, porque
estávamos tão unidos que os banqueiros resolveram fazer logo a concessão.
(MINAS GERAIS, 2000, p. 167).
4.2.1.2 Greves de 1961/63
Conforme destacamos em outra oportunidade, o início da década de 1960 foi marcante
em termos de mobilizações políticas. Diversos movimentos sociais passaram a fazer
manifestações de rua nesse período. Também os bancários realizaram diversas manifestações,
ocupando as ruas com bastante freqüência. Foi nessa circunstância que algumas greves
vitoriosas e expressivas manifestações de rua foram conduzidas pelos bancários. Um exemplo
foi a greve de 1961. Le Ven e Neves, a propósito desse momento, propõem a seguinte
interpretação:
[...] os bancários, em número de 14000 na época, deflagraram uma greve que
ocupou o centro da cidade, fazendo piquetes, com presença marcante de mulheres
bancárias. Essas mobilizações ocorreram em frente aos bancos líderes do capital
financeiro do Brasil. (LE VEN; NEVES, 1996, p.88).
Ativistas sindicais daquele momento expressam-se vibrantemente sobre as grandes
mobilizações bancárias. O Sindicato era uma referência para todas as mobilizações:
Era bom sindicato. E pelo fato de ser um sindicato que tinha uma sede própria, no
centro da cidade, então o Sindicato dos Bancários era um pouco, até 64, o centro da
movimentação popular porque nós cedíamos também para, para os favelados se
reunirem, não é!? Até coral ensaiava no Sindicato. A gente achava que aquele era
um veículo coletivo que tinha de ser usado. (FARIA, 1999 fita 02, lado B , p. 19).
O fato de ser um sindicato aberto daria, por si, o tom de uma dimensão democrática
impregnando as concepções políticas dos militantes sindicais. Se havia abertura para que
outras entidades utilizassem o espaço do sindicato, é de supor também que essa d sa f
119
bola para isso. O direito de greve; para nós a greve vitoriosa era legal, e a greve
fracassada era ilegal. (FARIA, 1999, fita 02, lado B, p. 22).
Portanto, apesar das restrições, os atos de rua eram teimosamente realizados. Antônio
Faria fala com vibração desses momentos, fazendo questão de ressaltar que as atividades dos
bancários eram verdadeiras festas na rua. Os piquetes terminavam geralmente em passeatas,
espontâneas:
Espontâneo. Porque, quando chegavam... As coisas foram acontecendo, quando
chegava 3, 4 horas da tarde se recolhiam os piquetes numa passeata, em que cada
um botava a cadeira em cima da cabeça e vinha cantando pela cidade, em volta do
Sindicato [...] (FARIA, 1999, fita 03, lado A, p. 3).
Utilizando-se do repertório cultural daquele momento, faziam-se marchinhas para as
atividades da greve:
Michel Le Ven: vocês tinham feito músicas?
[Antônio Faria]: ah, muitas músicas da... que foram se fazendo, nos próprios
piquetes. O... a nossa reivindicação principal era o aumento mínimo de CR$
7000,00. É... e o pessoal fez uma marchinha, para essa... e tinha um programa na
televisão Itacolomi, que vinha Lamartine Babo. Chamava “O Baú do Lamartine”. E
ele cantou, na televisão a marchinha da greve dos bancários. Então um apoio muito
grande. A greve foi muito bonita. Durou 7 dias. E foi amplamente vitoriosa.
(FARIA, 1999, fita 03, lado B, P. 3).
Nessas atividades era comum também a participação da população apoiando o
movimento grevista, e até cantando as marchinhas da greve:
Quando chegava no fim da tarde, o apoio da população, não é!? O pessoal aplaudia
os bancários, no final da passeata, todo mundo contando, não sei o que. (FARIA,
1999, Fita 03, lado A, p. 5).
De certa forma, a greve correspondia a uma expectativa da população. Uma espécie de
revanche diante de toda angústia reprimida por conta da situação política, em que os militares
haviam tentado impedir a posse de João Goulart.
Antônio Faria destaca a importância da participação nas manifestações como processo
de conscientização, da satisfação dos trabalhadores bancários em se descobrirem como
sujeitos, e também do prazer em fazer política naquela época. Tal destaque nos remete àquilo
que Morán (2005) definiu como um aprendizado cidadão e Chauí (1988), juntamente com
Sader (1988), definiram como um a constituição de sujeitos históricos.
Quanto nós vencemos a greve, nos meses seguintes, os bancários diziam assim: “eu
sou um pouco dono do meu destino. Eu sou capaz. Eu existo.”. Então isso aí criava:
“- Bom, então o país também pode ser meu. Então, nós podemos mudar as coisas”,
120
e aí era muito, muito numa linha de que a pobreza e a opressão não era uma coisa
definitiva, que podia se reverter como uma participação política solidária, etc.
(FARIA, 1999, fita 03, lado A, p. 10, grifo na transcrição).
O período também é marcado por uma intensa repressão aos movimentos sociais. O
DOPS já atuava desde o período getulista, agindo para inibir as manifestações, mostrando que
as ruas não estavam franqueadas aos movimentos populares. Com relação aos bancários a
situação não era diferente. Não raro, os manifestantes eram presos e fichados como
comunistas. Naquele período, o então presidente do Sindicato, João Vieira, protagonizou
diversas situações em que a polícia política mostrava suas “sutis” técnicas importadas de
outros países para acabar com qualquer tipo de manifestação. Essas técnicas compreendiam os
equipamentos sofisticados de repressão, tais como os caminhões com jato d’água, bem como
os cursos de treinamento dos soldados para enfrentar situações de rua. A matéria publicada no
Correio de Minas merece ser destacada porque situa bem as dificuldades para os
manifestantes naquela época:
Polícia tem caminhão de CR$ 60 Milhões para acabar com greve.
A Aliança para o Progresso entregou ontem ao Comandante da Polícia Militar,
através do agente do Ponto IV em Minas um caminhão que custou CR$ 60 Milhões.
Tem 39 acessórios e será usado para acabar com os distúrbios grevistas e
manifestações populares. (POLÍCIA..., 1963, p. 8)
Em função desse incremento das técnicas de repressão, o mencionado dirigente
sindical bancário, numa matéria publicada no Correio de Minas, denunciava as técnicas anti-
manifestação adotadas pelo DOPS:
Líder Denuncia DOPS.
Os lideres sindicais de BH ficaram revoltados com os todos introduzidos pelo
DOPS para acabar com manifestações de trabalhadores e estudantes, que agora
não poderão fazer nenhuma manifestação pública, porque o DOPS conta com
técnicos, treinados para acabar com tumultos.
O Sr. João Vieira, presidente do Sindicato dos Bancários de BH, afirmou que a
medida contraria declarações do governador, que sempre afirmou ser sensível às
aspirações do povo, mas contratou um técnico que fez curso nos EUA, para ensinar
os soldados a bater [...]. (LÍDER..., 1963, p. 5)
121
4.2.1.3 As Greves de 1979 a 1990
Durante o longo período em que o sindicato esteve sob a intervenção do governo
ditatorial, ou com direções comprometidas com aquele regime, as manifestações tornaram-se
escassas, ou, quando ocorriam, apresentavam um cunho tímido face àquelas manifestações
ocorridas no período anterior a 1964 (ARAÚJO, 1993). Somente em 1979, no clima da
abertura política, e a partir das intervenções da Oposição Sindical Bancária, é que os
bancários voltaram novamente às ruas.
Em 1979 o movimento grevista durou apenas dois dias, mas foi suficiente para ensaiar
a retomada das lutas sindicais e também para a conquista do Sindicato pelo grupo ligado à
CUT (NOBRE, 1994). A vitória nas eleições ocorreu, de fato, em 1987, mas, ao longo desse
período, a Oposição Sindical Bancária – OSB – já fazia intervenções junto à categoria
bancária, participando de assembléias e distribuindo panfletos nas agências.
Prata informa em sua entrevista essa dura trajetória até chegar ao poder no Sindicato.
Atuando como oposição, os ativistas precisavam tomar cuidado para não serem identificados
e demitidos. A disputa nas assembléias era acirrada. Na pauta, os ativistas ligados à OSB
apresentavam a defesa de realizações d)s lt ltz034.74(l)]TJ261.9-0.295585(a)3.74(s)-1.2313142(d)-61035(R)-3.293142(e)3.74244(s)-1.206-0.293142(d)-1832(o)-0.295585(p)-0.296436(u)-0.295585(n)-0.295585(t)-2.1643.74(s)-1.23açõd o aut.293142(d)-g5585( )-1202659(g)9.71032(a)-cae74244( )-20.1584(e)3.76.2659(s)-1.2312(t)-2.293142(d)-74244(t)-2..71032(a)- sepoviçãs oe d rrh
122
Com efeito, o Sindicato passa, a partir de 1979, a levar cada vez mais em conta as
manifestações de rua como parte do seu repertório de ações. Era comum a realização de
manifestações para iniciar a campanha, com a entrega da pauta de reivindicações.
fazia uma assembléia, aprovava a pauta de reivindicação e na semana seguinte
convocava uma grande manifestação de rua pra sair coletivamente lá, subsidiar
e dar suporte à comissão que ia entregar a pauta pros banqueiros. Eu lembro uma
época, tinha manifestação com dois, três, quatro mil bancários pra ir nessas
manifestações, logo no início da campanha salarial. Era um momento realmente
fantástico [...]. (Informação verbal).
51
As greves eram marcadas por um intenso trabalho de preparação e, não raro, eram
realizados shows e atividades culturais na Praça, tais como a “Passeata Alto Astral” e “Show
Altíssimo Astral”, que foram realizados no período da campanha salarial, em setembro.
Campanha ganha a cidade
Quem o foi perdeu. A passeata Alto Astral, promovida pelo Sindicato e realizada
ontem marcou a cidade. A campanha salarial dos bancários e a população se
encantaram com o som das bandas Axé e Lombinho com Cachaça e se divertiram
com a Rádio Ali-é-Nada. Para quem não foi, um consolo: a campanha não acabou.
Novos agitos, de altíssimo astral, estão vindo por aí para mostrar que nosso
trabalho vale mais. E vale mesmo. (CAMPANHA..., 1995).
4.2.1.4 Movimento sindical e conjuntura neoliberal: 1995-2007
O período compreendido a partir da década de 1990 inaugura um novo cenário na
conjuntura mundial e, por conseguinte, trará repercussões para todo movimento social
organizado. Um novo cenário de abertura da economia ao capital estrangeiro é apresentado, o
que possibilitará a entrada dos bancos internacionais no país. Agrega-se a esse dado a adoção
de uma política econômica austera de combate à inflação. Ainda no plano das políticas
econômicas, uma série de medidas associadas a uma estratégia de encolhimento do Estado
passam a ganhar força, sobretudo a partir de 1994, com o Governo Fernando Henrique
Cardoso. Conseqüentemente, a partir de 1995, inicia-se uma onda de terceirizações e
privatizações dos bancos estatais, e, como agravante, uma intensificação da informatização do
setor. Essas medidas implicaram em um intenso enxugamento e em uma considerável
diminuição da categoria bancária.
51
Entrevista concedida em 24/08/2007 por José Prata de Araújo.
123
Configura-se um cenário difícil. Com a drástica redução da categoria, os anos 1990
(Tabela 1) não irão se marcar pela presença dos bancários nas ruas, ou mesmo realizando
greves. A categoria bancária, agora bastante reduzida, já não é aquela que antes se dispunha a
fazer piquetes e até mesmo a participar ativamente das campanhas salariais.
TABELA 1 (
52
)
TABELA 1 Estoque estimado de Empregos no Setor Financeiro
Bancos Múltiplos, Comerciais, de Investimento, Caixas Econômicas, etc.
Brasil
Ano Estoque
1988 795.625
1989 807.867
1990 788.572
1991 722.177
1992 687.162
1993 676.753
31/12/99 384.932
31/12/00 388.030
31/04/01 389.218
Fonte: Rais e Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Lei 4923/65) – Módulo 1
Elaboração: DIEESE – Linha Bancários (Adaptado pelo autor).
Perante tal crise, o movimento sindical passa de uma fase mais ofensiva, em que se
conquistava direitos, para uma fase mais defensiva, em que a luta fundamental dos sindicatos
de bancários por todo o país passa a ser pela manutenção das conquistas obtidas ao longo dos
últimos 50 anos.
As estratégias de reivindicações também foram sendo alteradas. Diante da
impossibilidade de se fazer greves, devido à baixa adesão da categoria, a partir de 1995 as
entidades sindicais lançaram mão de uma nova estratégia, denominada de “Operação
Kinderovo”, em alusão a um chocolate que guardava uma surpresa. Trata-se de um recurso
utilizado por ocasião das campanhas salariais, no Brasil inteiro, em que os diretores dos
sindicatos decidem previamente a paralisação das agências de um determinado banco,
contando com toda a equipe de diretores e o pessoal de apoio dos sindicatos. A novidade é
52
1- Os valores são estimativas. A base de cálculo é o estoque em 31/12 da Rais 1999.
124
que os bancários, verdadeiros interessados no sucesso da campanha salarial, ficam do outro
lado da rua, somente assistindo à movimentação dos sindicatos.
Paramos!
Paralisações no Nacional iniciam “operação Kinderovo” e esquentam campanha
salarial em todo o país.
O Banco Nacional foi surpreendido na manhã de quinta-feira, 22, com a “operação
Kinderovo” que parou de surpresa várias agências em todo o país. [...]
Sob forte repressão policial [...], o Sindicato dos /bancários de BH paralisou a
agência Carijós de 7h às 11h, impedindo a entrada de cerca de 200 funcionários.
(PARAMOS!, 1994, grifo nosso).
A princípio, os banqueiros ficaram incomodados com tal recurso. Em 1995, a polícia
foi chamada pelos gerentes de bancos para intervir nas paralisações. Contudo, nos anos
seguintes, os próprios banqueiros assimilaram tal estratégia e passaram a desviar os
funcionários para outras agências. No final das contas, a agência ficava fechada, mas todos os
funcionários encontravam-se trabalhando normalmente.
toda uma discussão atualmente em torno desse tipo de recurso. Primeiramente
porque se altera o conceito de greve. A categoria entrega aos sindicatos a tarefa de conduzir a
campanha salarial, sem participar. José Prata tece uma crítica a essa estratégia do movimento
sindical, a qual tem considerado como “sindicalismo profissional”:
[...] ele é um pouco [o “Kinderovo”] a forma de manifestação de um sindicalismo
muito burocratizado [...] Se você perdeu a capacidade de mobilização, passou a
adotar um sindicalismo mais profissional, digamos assim, Para parar de fora pra
dentro das empresas, tá certo? [...] o “Kinderovo” pra mim é insuportável por isso.
Quer dizer, é me jogar uma tonelada nos meus ombros, certo? Resolver uma
coisa que a categoria não tava disposta a resolver [...] (Informação verbal).
53
Este fato tem sido apontado por alguns como uma verdadeira terceirização das greves
e manifestações. Aos sindicatos cabe a tarefa de arregimentar o maior número de pessoas para
realizarem o fechamento das agências. Se ele contrata pessoas para semelhante atividade,
menos mal ainda, pois o que importa é a concretização de uma campanha salarial, com
reajustes. Nesta ação, os bancários concedem um aval para as ações dos sindicatos e eximem-
se de participar das greves e manifestações.
Tal modalidade da terceirização não se aplica somente à greve. Em recente artigo
publicado na imprensa, Martins (2007, p. 5) destaca uma notícia veiculada pela BBC, dando
conta de que algumas organizações estão alugando manifestantes para diversas causas.
53
Entrevista concedida em 24/08/2007 por José Prata de Araújo.
125
A notícia difundida pela BBC e pelos jornais, nesta semana, do surgimento, na
Alemanha, de uma organização que aluga manifestantes para diferentes causas
joga água gelada no devaneio de um protesto social puro e legítimo. Por cerca do
equivalente a R$ 300,00, um manifestante de aluguel pode participar da multidão,
carregar cartazes, gritar palavras de ordem e defender uma causa que não é a sua e
que não o afeta diretamente.
Lamentando aquela situação, Martins percebe um comprometimento do próprio
processo democrático, que os participantes não se propõem a agir como cidadãos, mas sim
como atores, assumindo um papel, fingindo acreditar em causas que o são as suas. São
questões dessa natureza que nos levam, novamente, a fazer uma alusão ao texto de Oliveira
(1999), no qual há referência a um processo de perda de sentido do público. A rigor, a questão
também tem se colocado no âmbito das manifestações, e o aluguel de manifestantes ou a
alteração dos sentidos da greve são sinal visíveis desse processo.
4.3 Sindicalismo e política
Quando as categorias profissionais ocupam o espaço público buscam principalmente o
reconhecimento do seu discurso. Desta forma, é a partir da apropriação do espaço público
aqui entendido na sua acepção mais restrita, ou seja, o espaço da rua que os sujeitos se
tornam sujeitos políticos. Arendt (1993, p. 36) aborda o significado de constituir-se
politicamente, conforme a vida na polis. Referindo-se aos gregos, ela indica que:
O ser político, o viver numa polis, significava que tudo era decidido mediante
palavras e persuasão, e não através da força ou violência. Para os gregos, forçar
alguém mediante violência, ordenar ao invés de persuadir, eram modos pré-
políticos de lidar com as pessoas, típico da vida fora da polis, característicos do lar
e da vida em família, na qual o chefe da casa imperava com poderes incontestes e
despóticos.
A relação de trabalho bancário pode ser avaliada à luz dessas interpretações. Uma
representação recorrente que os bancários trazem à tona em seus depoimentos sobretudo os
antigos militantes é a referência aos bancos como “casas bancárias”. Tal representação
mereceria algumas considerações, primeiramente porque essa alusão, embora tenha sido
superada pelo lugar da instituição bancária, ainda é recorrente. Em conseqüência, semelhantes
associações nos remetem à questão de se saber o que prevalece no interior deste recinto
bancário, tomado como esfera privada. Da Matta (1997), utilizando-se da oposição entre a
“casa” e a “rua”, indica que na casa prevalecem as relações familiares, o domínio do poder
despótico do pai de família; por extensão, no seio da instituição bancária, tomada como
“casa”, é o patrão quem define as próprias regras, numa relação paternalista. O autor,
126
lembrando exatamente o fato de algumas empresas utilizarem o termo “casa” para se
referirem ao local de trabalho, sugere que
[...] se o local de trabalho é uma casa, isso é sinal de que os patrões são pais (as
palavras têm uma mesma raiz) e seus empregados são seus filhos (ou suas
mulheres). (DA MATTA, 1997, p. 54)
Visto assim, a relação patrão-empregado, lembrando uma relação pai-filho, situa-se na
esfera da infra-política, conforme interpretação de Arendt (1993). Essa relação ainda pode ser
observada no mundo do trabalho de hoje, em que resquícios do poder tutelar dificultam a
defesa dos direitos dos indivíduos.
Pode-se ir além e perguntar-se se o Sindicato também não estaria reduzido a uma
esfera privada, da casa, quando se nega a atuar como portador de um discurso político.
Quando o Sindicato privilegia ações puramente econômicas ou sindicais (atendo-se
estritamente às negociações, mandatos sindicais, dissídios coletivos), recusando-se a
discussões políticas (em que pese a dimensão que tais questões possam ser colocadas), podem
reproduzir a fragmentação da dimensão política, privilegiando-se o privado em detrimento do
público. O corporativismo o cuidado exclusivo com as dimensões particulares ou
domésticas de uma categoria foi apontado como um dos problemas do movimento sindical.
Não se trata, evidentemente, de trazer a público as questões puramente sindicais, mas de
incorporar a esse discursos questões do âmbito da cidade, pois, conforme salienta um de
nossos entrevistados, os bancários também vivem na cidade e se alimentam, amam, ou seja,
têm outras questões além das pautas econômicas. A propósito dessa questão, Prata salienta
que o sindicalismo brasileiro deixou de abraçar campanhas nacionais semelhantes àquelas
abraçadas pelo anarco-sindicalismo no início do século XX.
A interpretação levantada por alguns entrevistados é emblemática. Ao se referirem à
categoria, utilizam-se de termos tais como “irmãos bancários” ou “nós éramos unidos”,
elementos tomados da linguagem religiosa, que remetem também à linguagem familiar, e,
nesse sentido, recusam-se a adentrar a esfera propriamente política.
Fizemos a unidade. E tive apoio dos comunistas, dos católicos, independentemente
dos partidos. Todas as tendências. Porque a nossa convicção pedia mesmo à turma,
né? Era unir a classe e lutar pelos nossos direitos, né, independente de tudo. Cada
127
um tivesse o seu partido, a sua convicção política, mas não trouxesse para dentro
do Sindicato. Aqui nós éramos irmãos bancários. (Informação verbal).
54
José Prata discorre a esse respeito em sua entrevista. Ele defende que o Sindicato atue
como agente político, sustentando não a legitimidade, mas também a necessidade dos
sindicatos agirem politicamente. Buscando compreender os motivos da crise do movimento
sindical, ele aponta questões de caráter intrínseco a estas entidades, tais como a
“profissionalização dos sindicatos”, isto é, a substituição da militância e também da
dimensão política – pelo diretor com perfil mais técnico – além da burocratização das
entidades. De acordo com ele, o sindicalismo passa a perder sentido quando se desliga das
questões políticas.
São muitas questões que poderiam explicar aí essa [esvaziamento dos sindicatos]. A
desconexão também entre partido e sindicato, no Brasil eu acho grave também, né,
porque despolitiza muito os sindicatos, né [...] você pega o caso europeu, por
exemplo, goste ou não, os sindicatos são... a presença da Social Democracia nos...
aqui os sindicatos são separados dos partidos, completamente autônomos...
autônomos têm que ser. Independentes em relação aos partidos, não é?O PT, por
exemplo, o maior partido de esquerda não tem uma corrente sindical. Não é. [...]
No caso europeu o sindicato, a central sindical é a corrente do partido social
democrata. A DGB alemã é a corrente da Social Democracia, não é. A PUC inglesa
é a corrente do Partido Trabalhista. Até a AFLCIO americana [American Union
Moviment] é muito próxima do Partido Democrata. Então eu acho também que essa
desconexão (...) tira um pouco a visão estratégica do sindicato também.
(Informação verbal).
55
Gilson Mello é um dos entrevistados que a necessidade de os sindicatos saírem de
suas esferas particulares e voltarem suas atenções para a reivindicação do direito à cidade, ou
seja, que os sindicatos apontem suas armas para alvos situados fora das demandas sindicais.
Sim. Eu acho que o chamado a essa abordagem mais ampla do que o corporativo,
ele fica no ar até hoje. Eu acho que o que ficou daqueles bons tempos é essa
pergunta aos movimentos do que que pode ser mais amplo do que ele próprio. Não
que ele, volto a dizer, ele não tem de deixar de ser o que ele tem que ser. Mas ele
pode ser algo além dele, né.[...]. A cidade é o lugar comum a todas as questões
corporativas, de gênero, de categoria. Então assim, a expressão mais ampla que
pode ser, ter se perdido e que precisa ser retomada é um movimento de amor à
cidade, de paixão pela cidade, de engajamento pela cidade. E o professor João
Antônio [FACE/UFMG] [...] tinha uma frase muito bonita que ele colocava o
seguinte: “A cidade é o lugar do outro”. [...] Quando é capaz de apaixonar-se
pela causa do outro, é o momento onde cê mais se realiza. Porque sem o outro,
não consegue conquistar o que você quer. [...]. Eu não preciso ser favelado [...]pra
ter compaixão, relação de sentimento com o que é vivido de carência ali. Eu tenho
que transformar isso num sentimento meu. Embora isso seja muito difícil. Eu posso
54
Entrevista concedida em 03/08/2007 por ex-dirigente sindical.
55
Entrevista concedida em 24/08/2007 por José Prata de Araújo.
128
não carregar a pele negra, mas eu tenho que tentar sentir ao máximo, sentir o que
que é carregar uma pele negra pra compreender essa questão e assim por diante
(Informação verbal, grifo nosso).
56
A defesa de que o Sindicato passasse a intervir culturalmente e sindicalmente na
cidade, já que a aposta era que as questões sindicais também pudessem ser expressas nas ruas,
não seria uma fuga das questões atinentes à categoria bancária. Tiãozinho lembra que, no
princípio, muitos militantes que apostavam numa linha de ação mais cultural eram acusados
de “carnavalizar a questão política”, como se a linguagem sindical não pudesse comportar
aquela outra dimensão. Gilson é enfático ao dizer que a categoria faz parte da cidade e
defende a necessidade de discutir questões que não estavam colocadas no plano da dimensão
corporativa ou da linguagem sindical, que tinha uma
129
luta pelo direito à cidade ou pelo modo de expressão que se dirige para a cidade. Le Ven
(1987) também faz considerações sobre essa relação entre sindicalismo e política. Para ele, as
relações com a política não são tão problemáticas quanto de fato aparentam ser; a tese
predominante no sindicalismo mineiro é de que não se deve misturar política com
sindicalismo. Este distanciamento só ocorre mesmo em teoria, já que, na prática, muitos
dirigentes são filiados a alguns partidos e suas crenças políticas não são deixadas do lado de
fora do sindicato quando os ativistas vão fazer a defesa de suas propostas.
O debate em torno da relação entre o sindicalismo e a política permite-nos captar a
relação da categoria com a cidade, entendida aqui como o espaço mais amplo, distinto do
espaço da “casa”, para usarmos uma metáfora que remete à defesa corporativista dos
interesses.
Duas dimensões associadas podem ser trazidas à luz dessa polarização entre
sindicalismo e política, as dimensões da utopia e do pragmatismo. A ação sindical pode
oscilar entre um pólo e outro, dependendo da relação que ela tiver com a política. Quando o
sindicato pensa a sua ação apenas como possibilidade de defesa dos interesses imediatos da
categoria, então ele é pragmático-corporativista. Quando o sindicato projeta a sua ação para as
questões da cidade e do país, então ele aproxima-se da utopia, no sentido de uma aspiração,
em que ele pode encontrar outras vozes e somar forças.
A idéia de aspiração é apresentada por Perrot (1992). A aspiração se coloca como
distinta da reivindicação. Vejamos a definição da autora sobre esses termos:
É preciso igualmente distinguir entre “reivindicação” e “aspiração”. O campo
daquela, evidentemente, é muito mais limitado: a experiência mostra que só se
reivindica o acessível, o possível, o negociável. O canal reivindicativo é estreito.
Também é preciso considerar essas falhas do discurso, essas exclamações, esses
suspiros que, em torno de uma conversa ou um texto, dizem o desejo e o sonho. Com
o que sonham os operários? (PERROT, 1992, p.113).
Bem entendidos os termos, quando Gilson Mello diz que o sindicato precisa ser algo
além dele, aponta precisamente a dimensão da aspiração. É o sonho. É a necessidade de ir
além. Por outro lado, quando o discurso sindical apela para a unidade da categoria como a
causa maior e exclusiva do movimento, então ele reivindica. O dilema inerente ao movimento
sindical é que ele não pode somente atuar na dimensão da reivindicação (pragmático-
corporativista) ou na dimensão da aspiração (utopia). Caso ele opte pela ação
exclusivamente corporativista, estará deixando de lado o debate sobre a sociedade à qual se
integra, e que, muitas vezes, afetam a sua própria existência enquanto entidade. Caso opte
pela luta política, deixará de ser efetivamente um sindicato para se tornar um partido político.
130
Não obstante esse dilema, as leituras sobre o Novo Sindicalismo indicam que, quando de seu
surgimento, suas ações foram marcadas pela combinação das duas dimensões, ou seja, as
aspirações e as reivindicações.
4.4 Características das manifestações dos bancários
FIGURA 8 Lançamento da Campanha Salarial, 1998
Fonte: CRMS/SEEB-BH. Fotógrafa: Nívea Dias
4.4.1 Tempo e espaço do trabalhador bancário
O ritmo de trabalho nas agências bancárias é frenético. Controle de chefias, pressão do
cliente e relógio, cada minuto é extremamente valorizado. Quem trabalha em bancos vive a
regulação intensa da máquina e do cliente. Isto quanto ao tempo. Quanto ao espaço,
rotineiramente os caixas, por exemplo, se vêem num cubículo, sendo vigiados pelo olhar
aflito da clientela e das chefias. Poucos espaços urbanos permitem tamanha visibilidade como
nas agências bancárias. O ambiente clean proporciona uma noção de transparência, adequada
aos negócios bancários; quando se vai a uma agência, a impressão que se tem é que nos
encontramos numa ambiente impermeável e acético. Tudo isso tem o seu propósito: a
iluminação intensa facilita a vigilância do olhar do cliente. É o olho do cliente que controla o
131
espaço do bancário na agência. A análise é bem apropriada à interpretação de Foucault
(2002).
Uma outra forma de estreitar a relação de controle sobre o bancário é a noção de
espaço amplo que a arquitetura de uma agência apresenta. Essa organização espacial tem
como finalidade torná-lo impessoal e apequenar os indivíduos num ambiente tão imponente.
Não é a idéia de aconchego o que se tem dentro dos recintos bancários, a despeito desta
imagem ser veiculada nas propagandas dos bancos.
Tudo isso poderia ser tomado como uma contraposição à interpretação de Da Matta
(1997), que a noção de local de trabalho guardaria possibilidade de relações do mundo da
“casa”. Em parte contradiz. O local de trabalho do bancário não tem relação com o espaço da
casa. Todavia essa contradição diz respeito somente ao espaço. Quanto às relações,
ponderamos que aquela interpretação poderia ser retomada, em alguma medida.
O espaço de trabalho o difere, portanto, de um outro espaço que também faz parte
do cotidiano dos bancários que trabalham no centro da cidade: a rua. Nos grandes centros
urbanos, esse espaço foi subordinado à lógica da circulação, serve ao capital e os indivíduos
têm ali uma relação espacial e temporal acelerada. Submetidos à lógica do tempo de trabalho,
os bancários – ou outros trabalhadores – não têm o espaço à sua disposição. Antes o contrário.
Sua trajetória diária, o deslocamento para o trabalho ou do trabalho para casa indica que o
espaço urbano, sobretudo o centro da cidade, tem sentido como um lugar de passagem. O
espaço, nessa dimensão, é frio, sem possibilidades de qualquer subjetivação ou sociabilidade.
Esta só ocorre num tempo especial, o tempo do não-trabalho, nos finais de semana, quando os
indivíduos podem “desperdiçar” o seu tempo.
Assim entendido, também o tempo não é senão o tempo da produção e reprodução da
vida. Cansados de tanta atividade, aqueles que trabalham em atividades tão rotineiras
precisam descansar para, no dia seguinte, retornarem suas labutas. Não há como permitir-se
gastar o tempo na rua, quando o mandamento é que o tempo perdido será cobrado de alguma
forma.
Isto posto, pode-se afirmar que o espaço de trabalho do bancário, assim como o espaço
de circulação, são espaços que não permitem relações de pessoalidade.
Mas um momento em que os indivíduos se encontram no espaço do centro da
cidade e se desvencilham de seus controles hierárquicos, relativizando o seu tempo. Da Matta
(1997) considera que o carnaval seria esse tempo. Blass (1992) considera que a greve, e, por
conseguinte, a manifestação de rua, seriam momentos em que as rotinas são desfeitas e os
manifestantes tomam os tempos da cidade e os espaços em outras dimensões.
132
Nessa apropriação do espaço, pode-se constatar a revelação de uma nova simbologia
para a cidade, em que o riso se faz permitido e os indivíduos se permitem “desperdiçar” o
tempo, jogar cartas, andar descontraídos pelas ruas. De fato constitui-se uma simbologia tão
cara aos movimentos sociais: ao agir publicamente, reinventa-se a cidade, os lugares ganham
novos nomes ou almeja-se algo além do que as rotinas de trabalho poderiam oferecer. Uma
outra dimensão de cidade vai sendo desenhada: a cidade do lúdico, o direito à cidade.
4.4.2 Manifestações como forma de pressão e modo de expressão
Alguns autores nos oferecem elementos para entendermos duas dimensões associadas
às manifestações. Elas podem, assim como as greves, ser entendidas como forma de pressão
ou como modo de expressão. Pensamos que essas dimensões podem ser apropriadas para a
análise das manifestações de uma forma geral. Chegamos a elas a partir de Tartakowsky
(2003) e Perrot (1996). Os ativistas bancários por diversas vezes ressaltam o caráter festivo
das manifestações encabeçadas pelos bancários, em que predominam a irreverência e o riso, o
que, conforme a perspectiva de Perrot (1996), seria a prevalência do movimento como forma
de expressão. As entrevistas de Solange e também Marcelo D’Agostini são apropriadas para
compreendermos questões relacionadas ao movimento bancário no que diz respeito ao modo
de expressão, nas manifestações de rua. Consideramos ainda o enfoque de Tartakowsky e
Pigenet (2003), em que as marchas e cortejos são relacionadas às nossas passeatas. A leitura
nos possibilita fazer uma associação entre espaço público, território, e movimentos sociais. A
autora suscita a idéia de que as marchas têm inspirações militares (paradas, uniformes,
disciplina), religiosas (cantos, tambores, bandeiras à moda dos estandartes de santos) e cívicas
(lembrando a intenção de romper com os limites instituídos, as hierarquias no espaço urbano).
Blass (1992) também acompanha aquela linha analítica de Perrot (1996) e de
Tartakowsky (1990). A greve dos bancários de São Paulo, em 1985, apresenta a característica
de modo de expressão. No momento das greves, os bancários rompem barreiras impostas
pelos bancos, tomam a rua e ali fazem uma festa irreverente. A leitura de Da Matta (1997)
também parece adaptada para apresentar essa discussão. A rua, espaço de disputa, é situada
como um lugar em que, em ocasiões eventuais, perdem-se os limites propriamente
estabelecidos como inerentes àquele espaço. O carnaval, as festas, os desfiles, e, podemos
acrescentar, as manifestações de rua encabeçadas pelos movimentos sociais, as passeatas, as
greves, tudo isso são formas de subverter temporária e simbolicamente a ordem legada às
ruas. Conseqüentemente, podemos concluir que as manifestações encabeçadas pelos
133
movimentos sociais fogem muitas vezes à lógica do permitido. A partir dos depoimentos dos
ativistas entrevistados, pode-se verificar o elemento da irreverência que os autores acima
mencionados indicam.
A propósito deste enfoque, é oportuno lembrar novamente as contribuições de Blass
(1992). A autora verifica que uma das características do citado movimento grevista de São
Paulo, quando este se apossa da rua, é exatamente a festa, a irreverência de pessoas que
normalmente, em seus locais de trabalho, são marcadas pela seriedade, inclusive pela forma
de se vestir, exigência do setor financeiro. A manifestação grevista é como um evento festivo,
não no sentido que os outros atribuem ao movimento, mas sim a partir das próprias
representações que os sujeitos manifestantes atribuem a si mesmos. A partir das
representações que os grevistas faziam de suas manifestações, tomando a greve como um
momento de relaxamento, de encontro com amigos, de
rua, ele verifi ca enfim que e versvectiva festiva i
134
ali o espaço mais intenso da repressão política, em que a praça se transformava num campo de
batalha. Mesmo nessas circunstâncias, existiam alguns lampejos de festa, ou seja, momentos
de irreverência. Já a presença em massa nas ruas traduzia um sentimento novo, fato que marca
para sempre e fica na memória, conforme expressam alguns entrevistados.
Salientamos que a condição da manifestação enquanto modo de expressão não a
coloca numa categoria menos significativa, como se não fosse rigorosamente uma forma de
manifestação política. A maneira como cada movimento se expressa na rua é, decerto, o que
nos permite traçar um esboço das próprias características de um movimento (ou um ator
social). Trata-se de uma informação significativa e que fornece pistas sobre a maneira de agir,
os valores inerentes a cada categoria profissional. Sociologicamente, é possível dizer que cada
grupo social apresenta uma identidade específica, que varia com o tempo. A maneira como
esse grupo expõe-se na rua diz muito de suas características, dos seus valores e dos seus
projetos de mundo.
4.5 Implicações da atuação no centro
Especificamente tratando-se do movimento sindical urbano, é relevante o fato de que o
lócus do trabalho nem sempre ou na maioria das vezes nada tem a ver com o centro da
cidade. Particularmente as atividades do setor industrial, que são distantes do centro da
cidade. Ali os operários se relacionam com o espaço comumente chamado de chão-de-fábrica.
Suas manifestações muitas vezes têm como palco esse espaço (MARONI, 1982). Os
bancários, por sua vez, têm relação direta com o centro da cidade. Logo, a rua comporta
dimensões sociais que não se apresentam no chão-de-fábrica.
O chão-de-fábrica representa o espaço quase privado do mundo do trabalho: ali o
espaço é fechado e dimensionado a partir da perspectiva da produção; as cadências são
reguladas e supervisionadas, que não a possibilidade de se circular aleatoriamente, ou
mesmo utilizar o espaço em outro sentido que não aquele previamente estabelecido pela
lógica inerente à produtividade.
na rua ou na praça central, outras peculiaridades se apresentam Na rua, os
enfrentamentos são de outra ordem: é com o poder público, os motoristas, os pedestres.
Também os interlocutores são outros: a população em geral, o setor imobiliário, os
comerciantes, a mídia, o poder público e em alguns casos, inclusive a Igreja.
Assim sendo, quando algumas manifestações ocorrem no centro da cidade, diversas
vozes se levantam em defesa ou no combate às mesmas. Caso pudéssemos acompanhar as
135
diversas discussões que emergem no calor dos acontecimentos, poderíamos perceber que as
interpretações representam tensionamentos quanto aos usos e funções de determinados
espaços públicos. Nesses termos, podemos destacar as opiniões da mídia repercutindo as
opiniões de diversos setores da sociedade, e as determinações dos poderes constituídos
repercutindo os acontecimentos. O que encontramos são formas de dispor sobre o espaço
público em questão. Saber as ocasiões em que essa opção é colocada ou por que motivos
possui relevância sociológica fundamental.
Mais significativa ainda é a relativa permanência de um determinado movimento no
centro da cidade, o movimento dos bancários. Muitos entrevistados apontam a importância de
estar no centro. Que centro é este? Alguns autores apontados nos capítulos anteriores dão
conta de uma peculiaridade: o centro da cidade tornou-se o centro financeiro (LEMOS, 1988;
LE VEN, 1987). É precisamente ali o lugar em que os bancários precisam circular
cotidianamente. Este fato nos permite afirmar que o espaço de existir dos bancários, o qual
coincide com o centro da cidade/centro financeiro, pode tornar-se um espaço da ação e do
discurso para a categoria e para além dela (ARENDT, 1993), num movimento que almeja, que
aspira e não só reivindica.
Necessariamente, para que a categoria se apresente e apresente suas demandas, é
preciso inventar formas de linguagem que ultrapassem o discurso tradicional o “sindicalez”
tão bem lembrado por alguns dos entrevistados mais próximos à dimensão cultural
apropriando-se de novas gramáticas para além daquela linguagem.
136
4.6 Duas experiências para a cidade: O Carnaval sem AIDS e o Entreposto
Cultural.
FIGURA 9 Carnaval Sem AIDS – Sindicato dos Bancários, 1998.
Fonte: CRMS/SEEB-BH. Fotógrafa: Nívea Dias
Um dos marcos da atuação do Sindicato para a cidade foi a realização da Campanha
do Carnaval sem AIDS. A primeira campanha ocorreu em 1994, tendo como ápice da
atividade a colocação de uma “camisinha” gigante no Pirulito da Praça Sete. Aquela
intervenção foi bastante noticiada pela imprensa na época. Inspirados numa manifestação
francesa de igual natureza, os bancários decidiram fazer o mesmo em Belo Horizonte, além de
promoverem debates no Sindicato e nas agências bancárias, como formas de alertar os
bancários e a população em geral sobre o problema da AIDS.
O Pirulito da Praça Sete recebe, nesta segunda-feira, dia 31 [de janeiro], uma
grande camisinha para passar o Carnaval protegido, como deve ser. A “cerimônia”
para vestir nosso obelisco marca o início da campanha “Carnaval sem Aids”,
promovida pelo Sindicato. Logo depois, começa a caravana de distribuição de
preservativos e folhetos explicativos sobre a prevenção da Aids, em várias agências
bancárias da Capital. (CAMISINHA..., 1994).
Interessa-nos destacar alguns pronunciamentos que vieram à tona a partir daquela
iniciativa, que se apresentam como uma oportunidade de situarmos algumas concepções
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sobre o espaço público e também sobre outros temas que a manifestação colocou em debate.
Dentre esses temas estão questões sobre sexualidade, uso de drogas, casamento e concepções
sobre os monumentos históricos.
Solange Ayres destaca a idéia da Campanha e também os problemas enfrentados junto
a alguns setores da sociedade, incluindo os companheiros de partido (PT) que, conforme ela
acreditava, deveriam ser os primeiros a apoiar. Abaixo, a transcrição da sua declaração, já que
ali se apresentam diversos pontos da polêmica:
Primeiro essa idéia de colocar a camisinha não foi nossa. Foi uma idéia que
tinham colocado a camisinha no monumento em Paris. Então a gente falou assim,
bem, nós temos um monumento aqui na Praça Sete... é um símbolo fálico aqui no
meio dessa cidade. “Ah... também gostaria de por a camisinha nesse pirulito!”. E,
no início, quando a gente falou que ia por a camisinha no pirulito houve resistência
inclusive dentro do PT, dentro dos próprios companheiros que eram as pessoas que
a gente achava que iriam apoiar. E as pessoas diziam “gente, mas que que é isso!?
Nós não vamos denegrir a imagem da cidade!?Isso é... “presta a atenção, nós
estamos incentivando a promiscuidade!”. E nós recebemos uma carta do Bispo,
naquela época, falando que aquilo era um incentivo à prostituição, que era um
absurdo a gente colocar uma camisinha no pirulito, que aquilo estava incentivando
pessoas à promiscuidade, à prostituição. (Informação verbal).
59
O fato foi bastante discutido pelos setores da sociedade, recebendo cobertura em
jornais e noticiários da TV, em que a “camisinha” no Pirulito foi colocada na cena principal.
Diante do acontecimento, o Bispo D. Serafim se pronunciou veementemente contrário,
encaminhando carta ao SEEB-BH em que criticava aquela manifestação (ANEXO A). Nesse
embate entre a Igreja e o Sindicato, colocam-se elementos para entender também a
organização espacial da Praça e da cidade. Ao analisarmos o conteúdo das cartas, podemos
levantar alguns discursos sobre o espaço urbano e sobre a sociedade.
A primeira concepção é quanto ao patrimônio público. Do lado da Igreja, apresenta-se
o argumento de que aquela manifestação seria “[...] inadimissível [sic] agressão contra o
patrimônio cívico e cultural de Belo Horizonte [...]” (ANEXO A). O termo cívico merece ser
destacado, que remeteria a duas dimensões consagradas do monumento, quais sejam, a
representação do poder constituído, para qual o monumento é uma espada, símbolo da força e
conquista – e não um “pirulito” – e também sua representação enquanto valor cultural da elite
mineira, recatada e bem educada, para qual o espaço público deveria ser lugar da sobriedade e
dos bons costumes. Estas dimensões estariam sendo alteradas com a intervenção dos
bancários.
59
Entrevista concedida em 16/03/2007 por Solange Ayres.
138
Em resposta a essa crítica, o Sindicato argumenta, utilizando-se de um parecer
favorável do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), que uma nova
simbologia seria acrescentada ao obelisco, por alguns dias, fato positivo, portanto, que
enriqueceria as relações da população com o monumento. O Sindicato ressaltava a validade
de se incorporar uma nova simbologia, ao passo que a Igreja posicionava-se em favor da
conservação da simbologia cívica associada ao obelisco.
Outra temática que se apresentava naquele debate é a moralidade, tendo como foco a
questão da sexualidade. também se embutem considerações sobre casamento e educação
dos jovens. A Igreja apresenta os seguintes argumentos:
[...] ato de desrespeito aos valores cristãos e familiares [...]. [...] apelos
subliminares ou escancarados à promiscuidade sexual, à infidelidade conjugal, ao
descompromisso com a família e com as pessoas, anularão quaisquer efeitos
positivos que possam possivelmente derivar do propalado uso de preservativos.
(ANEXO A).
Como resposta, o Sindicato afirma que tal intervenção teve como objetivo impactar e
despertar a atenção da população para a prevenção à AIDS, passando às considerações sobre
os costumes. Novamente visões desencontradas de mundo vêem à tona:
Longe de nós incentivar a “degradação dos costumes, a dissolução da família, a
infidelidade conjugal e a precoce corrupção de jovens e adolescentes”.
Acreditamos, contudo, que enquanto vida, esperança. Esperança de que a
família e os jovens brasileiros e de toda a Terra encontrem meios de equacionar
seus desejos e emoções que simultaneamente contribuam para o soerguimento de
barreiras intransponíveis a epidemias arrasadoras como a AIDS. [...] De resto, não
é supérfluo assinalar que nem toda a repressão dos séculos aos costumes foi capaz
de evitar que casamentos se desfizessem, que jovens se corrompessem ou que
doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, se propagassem pelo planeta.
(ANEXO B).
O evento continuou sendo realizado até o ano de 1999. No ano 2000 a colocação do
preservativo gigante no Pirulito foi proibida pelo IEPHA, com o argumento de que aquela
atividade poderia comprometer a conservação do obelisco. O Sindicato continuou com a
campanha na Praça, agregando a ela um bloco carnavalesco, o Bloco do Pirulito, mas sem
utilizar o Pirulito para os eventos.
O Entreposto Cultural foi outra experiência que situamos como um diálogo dos
bancários com a cidade. Ele foi pensado para ser uma atividade em que o movimento sindical
de Belo Horizonte, aliado aos movimentos sociais, pudesse fazer da cidade um verdadeiro
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palco para discussões de toda natureza. Fruto da movimentação política e cultural que já vinha
ocorrendo no Boteco da Sexta
60
, no Sindicato dos Bancários, esse espaço servia de referência
para o encontro da diversidade cultural e política de Belo Horizonte. Debates eram travados,
novas idéias, experimentações. Conforme salienta Gilson, todos os matizes da esquerda se
encontravam no Boteco da Sexta.
[o Boteco da Sexta] virou um encontro cultural e político da categoria, da antiga
Oposição, agora empoderada, e que virou a sede social, vamos dizer assim, de todo
o movimento político de Belo Horizonte. Sexta-feira à noite encontrava a esquerda
toda de Belo Horizonte no Boteco da Sexta. E, ou vindo da categoria, ou questões
que de fora eram trazidas questões como droga, sexualidade, família, arte, lazer,
tudo isso foi sendo trazido à discussão da categoria, além da reposição salarial,
piso mínimo, aquelas questões clássicas, né. (Informação verbal).
61
Marcelo D’Agostini também dá a dimensão desse espaço:
Nós jogamos pesado na questão cultural, o SEEB-BH cedeu espaço para diversos
eventos que na época eram considerados marginais. [e cita punks e mulheres].
(D’AGOSTINI, 2003).
Essa abertura da entidade sindical para questões que iam além das suas questões
sindicais foi a essência para a concretização de uma outra idéia, o Entreposto Cultural. Para
tanto, o Sindicato, em associação com outros sindicatos, levantou uma lona de circo na Praça
da Estação. Ali seriam realizadas desde assembléias dos sindicatos, como também mostras,
debates e oficinas. A intenção era trazer, efetivamente, o movimento sindical para o espaço da
cidade. Esta experiência seria a própria materialização de todas as discussões que ocorriam
no Boteco da Sexta. Representava a politização do movimento sindical:
[O] Entreposto é um movimento sindical bancando politicamente e materialmente
um movimento que tava voltado pra defesa da Cidade e não de uma corporação ou
outra, nem do conjunto das corporações. O Entreposto Cultural vai agregar o
Movimento Negro, a luta dos Direitos Humanos, a luta de todos os artistas, de todas
as áreas. Ele é um movimento amplo. Ele foi o resultado desse sindicalismo, eu
diria politizado. Porque a resposta ao corporativo é o politizado e o politizado é a
memória política do movimento que é secular. (Informação verbal).
62
Jacó e Gilson Mello relatam que a experiência era realmente aberta e inovadora.
Diversas pessoas vinham debater e realizar oficinas naquele espaço. O diretor e dramaturgo
60
Funcionando na sede do Sindicato dos Bancários conforme explica Gilson Mello em seu depoimento,
o “Boteco da Sexta” foi o primeiro experimento cultural e político da diretoria cutista, no seu primeiro mandato.
61
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
62
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
140
Augusto Boal e o conjunto musical baiano Olodum foram algumas das personalidades a
participar da experiência. Esse espaço era aberto, “o povo entrava pra dentro e ficava lá”,
lembra Jacó do Nascimento (Informação verbal).
63
Assim, meninos de rua que viviam nos
entornos da Praça da Estação passaram a freqüentar o espaço. Aquela experiência, no entanto,
sofreu questionamentos por parte do poder público municipal, que considerava aquela
atividade incômoda. Depois de algum tempo de funcionamento, certo dia a lona apareceu toda
rasgada e a experiência teve que ser encerrada.
4.7 Quando o Sindicato dos Bancários se encontra com a Praça Sete de
Setembro
4.7.1 Importância das manifestações para os manifestantes
Diante de um processo de manifestações, os manifestantes tomam contato com
diversas dimensões que contribuem para que os mesmos possam ter uma outra visão de
mundo, isto é, ganhem consciência política. Sader (1988) enfatiza que, quando os indivíduos
encontram-se com o espaço público, um espaço por vezes reservado para outras finalidades e
cerceado aos movimentos sociais, então esses indivíduos descobrem-se como sujeitos da
própria história, termo que passou a ser assumido pelos movimentos sociais, no final da
década de 1970 (SADER, 1988). Assim, essa experiência fica guardada na memória daqueles
que fizeram parte dos acontecimentos.
As manifestações são momentos singulares vivenciados pelos entrevistados. Cada qual
traz uma marca, uma satisfação com relação a um momento de rua. Trata-se de uma
verdadeira experimentação política, com sua intensidade. Blass (1992) refere-se às greves
como uma escola de educação política. Morán (2005) também aponta essa característica para
as manifestações de rua.
É também nas ruas que os indivíduos podem encontrar-se com os dilemas que se
apresentam na vida da cidade e do país. O governo se faz representar ali, seja através da
polícia, pelos regulamentos de trânsito ou ainda pelos alvarás exigidos para a realização de
atos de rua. A presença desses elementos coloca, nua e crua, a relação conflituosa com o
poder. Também se re-elabora uma nova visão sobre o papel da imprensa, antes, talvez, tida
como neutra, mas que, ao não noticiar as grandes manifestações, fazem o jogo dos
63
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
141
banqueiros. É que os manifestantes se dão conta de que nem toda notícia é divulgada e que
também as demandas populares não interessam aos donos da mídia.
Por ocasião de algumas manifestações dos bancários, por vezes essas relações
conflituosas com a imprensa vêm à tona e são retratadas de forma irreverente. Em junho de
1990, por ocasião de uma greve dos funcionários do Banco Real, a imprensa insistia em
mostrar o funcionamento de algumas agências, quando de fato a maioria encontrava-se
fechada. Ao destacar aquelas, sem fazer referência às outras, o noticiário transmitia uma idéia
deturpada de que a greve não estava forte. Para mostrarem insatisfação com relação à
cobertura parcial da imprensa, alguns sindicalistas compareceram à porta da emissora de TV
com melancias na cabeça, para verem se dessa forma seriam filmados: “Fomos para a porta da
Globo de melancia na cabeça... E agora Marinho, vai noticiar nossa greve?” (FATOS...,
1990).
Outro encontro possível nas manifestações de rua é com a população. É a ela que o
discurso é dirigido, é ela quem o apoio em momentos críticos, garantindo a vitalidade do
movimento. Os entrevistados destacam diversos momentos em que a população marcava a sua
presença, dando apoio às manifestações.
Também, por vezes, esses manifestantes encontram-se com a Igreja, ora debatendo
com ela, ora ou reivindicando a sua proteção em momentos de repressão. A propósito, é
bastante sugestivo o depoimento de Gilson Mello, citado em outro capítulo, indicando que,
quando a repressão era mais intensa, os manifestantes escolhiam as escadarias da Igreja São
José, para conseguirem a proteção da Igreja.
Um outro elemento a ser considerado ainda quanto à relação entre a manifestação e
suas implicações na formação da identidade dos manifestantes diz respeito à possibilidade do
repertório sindical ser interpenetrado pelas diversas linguagens artísticas, bem como pelos
discursos dos novos movimentos sociais, dos movimentos de bairro, negros, homossexuais e
mulheres no mundo do trabalho (LE VEN, 1987).
Nesse aspecto, as atividades dos Bancários, principalmente aquelas situadas entre
meados dos anos de 1980 até meados dos anos de 1990, trouxeram às ruas uma diversidade de
linguagens. Bonecos foram trazidos para o espetáculo de rua o “Zé da CUT”, boneco
142
personagens: o “Velho”, a “Maria Miséria” e o “Capetalismo”, que transcenderam o
movimento sindical bancário e se tornaram personagens da cidade. Nessa linha também vale
mencionar as alegorias os bonecos – associadas ao carnaval pernambucano, que foram
incorporadas às manifestações de rua, os estandartes e as músicas (marchinhas) que eram
introduzidas no repertório sindical. ainda que se destacar o olhar atento às manifestações
que ocorriam em outros lugares do mundo, a exemplo da idéia de colocar a “camisinha” no
Pirulito, manifestação que já havia sido realizada na França.
Ainda com relação às diversas linguagens utilizadas pelo movimento sindical, vale
lembrar as estratégias que utilizavam para questionar a repressão policial. Uma dessas
situações foi mencionada anteriormente, por ocasião do teatro na porta do banco, em que a
polícia interveio. Outra situação é a relatada por Moisés Augusto: tendo lhe sido sugerido não
sair fantasiado de “Capetalismo”, por causa da perseguição policial contra o personagem,
então ele resolveu fantasiar-se de “Maria Miséria”, a mãe do “Capetalismo”. Se o
“Capetalismo” não podia, a mãe poderia.
A “Maria Miséria” era a mãe do “Capetalismo”. Então a polícia atirava no
“Capetalismo” mas não na mãe dele [risos] então eu até achava engraçado que no
dia seguinte eu saio pra passeata os policiais que me prenderam, me viram assim e
ficaram...fazer o que? Eles tinham que prender o “Capetalismo”, a e dele não,
então é...eu trabalhei toda aquela greve como a mãe do “Capetalismo” que foi um
negócio, aliás, foi um negócio muito mais interessante do que o personagem, porque
ela na verdade questionava o desaparecimento do seu filho e atribuía a
responsabilidade por isso. Então como o sistema ele tende a silenciar as diversas
vozes que o questioná-lo e como esse silenciamento, como ele não
é....a...a...questão de dominar a subjetividade, é impondo o medo...a repressão.
(Informação verbal).
64
Tais estratégias utilizadas pelo autor, como a apropriação da Praça por seus
personagens políticos, poderiam render um estudo específico, dada a riqueza de suas
interpretações.
Gilson Mello também relata uma estratégia inovadora utilizada pelos manifestantes.
Numa manifestação de Maio de 68 na França, os jovens colocaram um paredão de espelho
diante da polícia preparada para enfrentá-los, de modo que a polícia se visse ao invés de
verem os jovens. Gilson conta que resolvera fazer algo semelhante em Belo Horizonte numa
manifestação que ocorreu um dia após um duro enfrentamento com a polícia:
64
Entrevista concedida em 02/08/2007 por Moisés Augusto Gonçalves.
143
E como a gente não tinha dinheiro pra comprar espelhos, e sabíamos que eles
seriam quebrados, no dia seguinte a essa pancadaria, nós compramos algo em
torno de 300 metros de tecido preto e formamos um muro preto entre a polícia e a
passeata. (Informação verbal).
65
Por fim, ressalta-se a representação sobre a cidade, ou mais especificamente, o olhar
diferenciado que os entrevistados apresentam com relação à Praça Sete, tendo em vista a sua
inserção política e em função de ali terem participado de manifestações. Indagados sobre os
significados daquele espaço, os depoimentos trazem representações simbólicas que remetem
às palavras “coração” e “palco”:
A Praça Sete é o coração da cidade. A Praça Sete sempre foi um palco importante
na história de Belo Horizonte, manifestações políticas. Com variações de período
pra período, né?...então o...o...a Praça Sete sempre teve essa marca simbólica de
que é...é...ali sendo o coração da cidade, tudo que acontece ali tem repercussão né?
irradia com velocidade, e também ela tem essa forte marca me parece simbólica de
que os gritos que ali ocorrem, eles chegam aos ouvidos do poder.... (Informação
verbal).
66
Perguntamos ainda aos entrevistados qual o nome dariam à Praça Sete, tendo em vista
a história por eles vivida naquele espaço. Alguns nomes foram sugeridos: Praça Dona Helena
Greco, Praça da Liberdade, Praça da Democracia e Praça do Povo.
O nome de Dona Helena Greco foi mencionado por duas vezes. A explicação está no
fato de que ela teria sido um dos símbolos da luta contra a Ditadura, tendo participado de
diversas manifestações, desde a luta pela Anistia. Sobre ela, Tiãozinho ressalta o seguinte:
Ela representa Minas Gerais, o Brasil...muito mais do que ter acompanhado as
nossas mobilizações do sindicado dos Bancários. Eu acho que é a mulher pioneira a
defender os anistiados, sabe, a defender Cuba socialista, abrir espaço.... ela é a
primeira presidente da Associação José Marti, que é uma Associação de apoio ...
apoio a Cuba, na época. Cuba Socialista. Então, assim, ela representa muito mais
pra humanidade, muito mais pra Belo Horizonte, pra Minas Gerais e pro Brasil e
pras pessoas que lutaram nesse país, que morreram nesse país [...]. A Dona Helena
é uma das pessoas que deu a sua contribuição, que doou a sua vida. Eu acho muito
mais por isso. É esse reconhecimento.... é uma cidadã de fato, brasileira de fato.
(Informação verbal).
67
Solange Ayres, concordando com a sugestão, aproveita para fazer uma crítica à
simbologia contida na Praça Sete, monumento à Independência: “Pra dizer a verdade.... nós
gostaríamos que aquela Praça Sete não chamasse Praça Sete. Sete de Setembro me lembra
65
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
66
Entrevista concedida em 02/08/2007 por Moisés Augusto Gonçalves.
67
Entrevista concedida em 16/03/2007 por Sebastião Rodrigues da Costa – Tiãozinho do Banerj.
144
Pátria, essas coisas.” (Informação verbal).
68
Também Moisés Augusto faz um questionamento a respeito do nome atribuído à praça
localizada em frente à sede do Governo estadual, a Praça da Liberdade. Para ele o nome
Liberdade poderia substituir o nome Praça Sete, sobretudo porque
[..] a Praça Sete [o espaço] pra mim seria o órgão da liberdade, entendido a partir
da compreensão de que pra convergiam todos aqueles que pensavam...
efetivamente pensavam na emancipação humana. (Informação verbal).
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Essa nomeação da Praça Sete traz uma diversidade de mbolos associados a uma
visão mais ampliada de mundo. Por vezes, nos nomes sugeridos, os entrevistados levantam
representações de mundo, além de discutir as outras visões que permeiam aquele espaço
público. Quando o entrevistado sugere uma representação, é possível dizer que ele
efetivamente está também dizendo aquilo que as representações oficiais não contemplam. É
nesse sentido que compreendemos o questionamento de Solange, ao levantar uma crítica à
idéia de Pátria. O não-dito é o que restou no depoimento, mas a idéia sugerida é de também
confrontar com aquelas representações e até manifestações conservadoras, como a já referida
parada militar, em que os símbolos pátrios são largamente apresentados, mas que, conforme já
dissemos, buscam colocar o povo como expectador, do lado de fora do alambrado.
4.7.2 Importância das manifestações dos bancários para a cidade de Belo
Horizonte
Uma das conseqüências apontadas a partir das manifestações dos movimentos sociais
e, particularmente, do Sindicato dos Bancários no centro da cidade é que a cultura urbana e
social foi enriquecida com a ação política dos trabalhadores (LE VEN; NEVES, 1996).
Através da explicitação dos seus direitos e da manifestação pública, os bancários acabavam
incidindo sobre a formulação de uma visão política também para aqueles que assistiam. É o
que sugere Antônio Faria em sua entrevista. Le Ven e Neves, a propósito, confirmam aquela
sugestão do entrevistado, ao indicarem a importância das ações dos trabalhadores no espaço
público:
68
Entrevista concedida em 16/03/2007 por Solange Ayres.
69
Entrevista concedida em 02/08/2007 por Moisés Augusto Gonçalves.
145
Dessa forma, contribuíram para construir um espaço urbano como lugar do
“público”através de sua ação e de seu discurso, para além do espaço de trabalho.
Na história da cidade, a vontade dos trabalhadores de participar da construção do
espaço público foi uma constante. (LE VEN; NEVES, 1996, p. 101).
As manifestações no espaço urbano têm a importância de colocar questões sobre a
própria dinâmica da cidade. Alterando-se os fluxos, mesmo que momentaneamente, fazem
com que algumas polêmicas venham à tona.
A manifestação no espaço urbano, mesmo, e talvez sobretudo, quando incomoda o
transeunte e o trânsito, é um termômetro da qualidade democrática da vida política,
exatamente porque ela rompe, para o ator e o expectador, com a banalidade e a
rotina cotidiana. (LE VEN; NEVES, 1996, p. 101).
O ator Jacó do Nascimento apresenta ainda outras considerações sobre a importância
das atividades culturais do Sindicato para a cidade. Desperta o perguntar da população.
Eu acho que despertou esse perguntar da população ... essa... lutar pelos direitos
deles. saber... ter clareza o que não pode [pode] e o que não pode fazer. Então,
por mais alegria, por mais satisfação que o povo olha pra gente passar... fica
rindo, aplaudindo a gente... sentimos bem representados ali. Então isso foi uma... ah
eu acho que é o mais forte desse movimento todinho é isso. É como a gente tinha o
respaldo da população... quando a gente colocava um discurso claro, bem
humorado... a ai sentia representado quando a gente .../ “Uai! Isso que esse povo
falando eles são corajosos! A gente não consegue nem falar isso, mas estão
falando”. Ou que só aplaudindo assim...Isso era... era o melhor que tinha, né. Que a
alegria estava estampada. / A gente saía fazendo aquele percurso ali Afonso Pena,
Augusto de Lima e descia a Espírito Santo... aquilo ali, assim, o povo jogava papel
picado pela janela; balançava bandeiras, dava tchau e tudo o mais. (Informação
verbal).
70
Quando Blass analisa a greve dos Bancários de São Paulo em 1985, destaca a
importância das passeatas e manifestações na rua, pela sua irreverência, pela proximidade
com o dico, com o carnaval, atividades que, por vezes, lançam mão de repertórios variados
da cultura brasileira ou regional. Assim, é comum constatar a utilização de diversas
linguagens e diversas intervenções incorporadas do repertório popular, religioso, militar ou
artístico, dentre as quais lembramos os enterros simbólicos (fato recorrente nas manifestações
sindicais), os atos ecumênicos, a utilização de velas e archotes acesos iluminando passeatas,
ou a presença de autoridades religiosas nas manifestações. Além disso, podemos mencionar as
encenações, a linguagem radiofônica, televisiva, dentre tantas outras. Por vezes, também, é
comum a comunicação com outros movimentos sociais de esquerda, como forma de integrar
as lutas, de demonstrar apoio às causas. Nesse sentido, comuns também são as participações
70
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
146
do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) nas passeatas e mesmo em greves bancárias.
Por vezes também as manifestações discutem diretamente questões relacionadas com a
vida cotidiana da cidade, sugerindo críticas a alguns valores consagrados, e, particularmente,
questionando as funções da rua/praça. É nessa direção que podemos situar as denominadas
“feiras da miséria” (PARTICIPE..., 1986) e os placares das greves, na Praça Sete. Com essas
atividades, os manifestantes questionam os atributos da vida comercial, em que os produtos
são vendidos, não servindo à solidariedade. A feira, aqui, não tem uma intenção senão a de
comunicar a solidariedade e o encontro, servindo para denunciar uma situação econômica
difícil para aqueles que trabalham.
Tais formas de comunicação e de utilização de repertórios variados são indicativos
para a cidade de uma outra forma de ver o mundo. Trata-se de uma outra forma de utilizar e
viver na rua, confrontando-se com as formas previstas.
4.8 Novas tecnologias e repercussão sobre as manifestações
Os novos tempos em que as tecnologias informacionais apresentam-se como forma de
alterar as comunicações entre os indivíduos também trazem mudanças quanto às formas dos
sindicatos se comunicarem com suas bases. Dessa forma, os boletins sindicais, que antes eram
distribuídos nas portas dos bancos pelos ativistas, passaram também a ser veiculados nas
páginas da Internet. A comunicação com a categoria passou a ser feita de uma forma quase
instantânea, através da lista de e-mails; consultas à categoria podem ser realizadas sem a
necessidade de uma assembléia. Enfim, o fenômeno da comunicação de massas potencializa a
substituição de diversas atividades que antes eram conduzidas pelos militantes da categoria,
com um agravante de que, no caso dos bancos, os trabalhadores podem se conectar a essas
tecnologias com muito mais freqüência, que são profissionais bastante familiarizados com
as tecnologias de informação, dadas as características modernas da própria atividade.
As rotinas bancárias vêm sendo paulatinamente automatizadas desde a década de
60, para a área de processamento de dados (GRÜN, 1986). E, a partir da década de 1980, os
bancos deixaram de funcionar como simples agências de atendimento ao público e investiram
maciçamente na automação, criando inovações tecnológicas para facilitar o acesso às contas-
correntes, tais com os bancos instantâneos e modalidades de atendimento à distância,
procedimentos para acesso ao banco, via Internet ou telefone, dentre outras novidades. Essas
mudanças possibilitaram transformações do bancário num profissional bastante diferente
daquele de outros tempos atrás (DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA
147
E ESTUDOS ECONÔMICOS, 1984). alguns anos atrás, para se executar as operações
exigidas para a função de caixa, por exemplo, um domínio técnico era exigido do bancário.
Hoje, para se executar a mesma função, não são mais necessários aqueles domínios, que
boa parte das operações são realizadas pelo computador
71
. Não é à toa que os caixas, em
algumas oportunidades, se indignem com o rebaixamento de suas funções à condição de
caixas de supermercados. Em suma, as duas atividades nunca estiveram o próximas quanto
agora. Daí também advirem alguns problemas em tempos de negociações salariais: já existem
argumentos favoráveis à unificação dos digitadores, caixas de bancos e de supermercados em
uma categoria. Isto por si explica a drástica mudança do perfil do bancário de alguns
tempos para cá.
Antônio Faria vivenciou dois momentos distintos no banco. O primeiro, antes de 64, e
o outro, alguns anos depois. Tendo sido demitido por ocasião do Golpe de 64, ficou bom
tempo fora dos bancos, sendo readmitido, em 1980, em função da luta pela Anistia. Suas
palavras são relevantes para dar a dimensão dessas mudanças:
A modernização veio mais violenta depois de 64. E eu em 64 fui demitido do banco,
então, é, a lembrança que eu tenho disso é que quando eu voltei depois da Anistia,
em 1980, eu, eu não sabia manipular nenhuma daquelas máquinas, eram todas
rigorosamente novas para mim, eu não, eu não tinha nenhuma aptidão para nenhum
dos serviços mais do banco. (FARIA, 1999, fita 02, lado B, p.15)
Diante deste quadro, a questão que se propõe é saber se as novas modalidades de
comunicação (internet, teleconferência, mídia e outras) substituirão ou já estão substituindo as
ações sindicais, podendo interferir na disposição dos bancários em realizar manifestações ou
mesmo participar das assembléias da categoria.
Os entrevistados apontam a característica contraditória dessas novas tecnologias.
Perguntados sobre a possibilidade das novas tecnologias de informação virem substituir ou
terem substituído o espaço público das manifestações, alguns deles sugerem que essa
possibilidade é realmente colocada. Indagados sobre a possibilidade de o espaço perder o
significado perante essas novas tecnologias, Jacó aponta precisamente as limitações dessas
novas tecnologias. Elas substituem o contato face-a-face.
71
Conforme pesquisa DIEESE, os bancos passaram realizar investimentos maciços em automação e
informática no período de 1990-1993. Nesse período, os investimentos saltaram de US$ 1,8 bilhão, em 1991,
para US$ 3, bilhões, em 1993 (DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS
ECONÔMICOS, 1994).
148
Mas com essa, com essa coisa de computador, Internet, realmente perde-se um
pouco assim, o .... os diretores, ou o sindicato preferem trabalhar ali. Então reduz-
se o número de diretores, o sindicato não precisa ser o grande assim... então se
ele fica ali, então, dali dá pra discutir um monte de coisas. Então, dentro do monitor
ele coloca um monte de coisas, entendeu? Então fica mais difícil... pra que que ele
vai querer aquilo lá?[ir para as agências] (Informação verbal).
72
Gilson Mello chega a ser bastante enfático: para ele, nenhuma tecnologia poderá
substituir o espaço público. Ressalta também que a tecnologia não pode ser utilizada para
substituir a comunicação humana nas ruas.
De jeito nenhum. Não, não num tem como... o espaço público ele vai existir
enquanto existir o humano, né. Ele pode diminuir, aumentar, mas o espaço público,
é o lugar da relação humana. Não é isso? Essencialmente aquele lugar fora do
Estado, do... é o espaço da liberdade. A liberdade vai sempre existir enquanto
existir o humano. [...]. Então, assim, nada contra.... Agora, o que não pode é a...
esses meios de comunicação vir pra substituir a maior das comunicações humanas
que é o contato humano, né. Então esse encontro humano, do humano com o
humano, sem nenhum meio que não seja o próprio humano, esse é o lugar público,
não é. [...]. (Informação verbal, grifo nosso).
73
Fernando Neiva informa que os novos meios não esvaziaram o Sindicato. Considera
que não se trata de rejeitar as novas tecnologias, que os sindicatos precisam se adaptar às
novas linguagens do mundo globalizado para não ficarem em desvantagem perante os novos
tempos. Contudo, não acha que as novas ferramentas possam substituir o trabalho de base, o
corpo-a-corpo.
Não, acho que de forma alguma. [...]... porque o quorum pra decidir é a assembléia,
em qualquer sindicato. Esse negócio de pesquisa via Internet, não funciona. Tem
que ser aqui. [...] O principal meio de comunicação que o Sindicato tem que ter é o
Sindicato, né? São as lideranças....Claro que eu continuo defendendo que o
principal meio de comunicação é a presença do diretor junto à categoria ou junto à
sociedade, né? Agora, tem outros pontos que a gente....outras formas da gente
passar a mensagem, principalmente é o jornal do Sindicato, né?O jornal do
Sindicato ele é de suma importância e....na atual... Igual a partir de 1990, não o
Sindicato, mas qualquer empresa ou...seja o Sindicato Eletricitário ou de Saúde ele
tem que....se adaptar com o novo modelo, a globalização. [...] se o Sindicato não se
adaptar, seja e-mail, seja a própria página, né, do Sindicato, ele vai ficar pra trás,
porque a notícia...a notícia hoje é....vo bateu numa tecla, chega na sua casa.
(Informação verbal, grifo nosso).
74
72
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
73
Entrevista concedida em 14/08/2007 por Gilson Mello Martins.
74
Entrevista concedida em 03/08/2007 por Fernando Ferraz do Rêgo Neiva.
149
Outros apontam a necessidade de ser reinventar e reocupar o espaço público. José
Prata informa que o contato face-a-face é essencial, não havendo meios de comunicação que
possam substituí-lo.
Não, eu acho que tem que ser reinventado, certo? Tem que ver uma forma de
potencializar a comunicação, não é? e ela o substituir a mobilização, quer dizer,
não...// e também não se perder a... o contato face a face também, certo?Ele é
decisivo realmente. Eu lembro muito bem, quer dizer, na nossa época lá, eu fui
diretor administrativo do Sindicato e então eu fiquei muito atarefado com a
máquina do Sindicato e eu ia pro banco duas vezes pro local de trabalho. Eu era
acusado de ser um dos mais burocratizados. Eu ia duas vezes ao banco toda a
semana, ficava três horas dentro do banco, certo? Hoje, quem vai duas vezes
por mês, está de bom tamanho já, provavelmente, né? [...]. Então eu acho que isso
substituindo muito a.../Em vez de ir banco, no local de trabalho distribuir o
boletim, passa um e-mail só, mas perde o contato face-a-face, e perde muito também
a ligação do dirigente com sua base representada também. (Informação verbal,
grifo nosso).
75
As visões apresentadas acima a respeito da relação entre as novas tecnologias e o
esvaziamento do espaço público merecem ser associadas a uma discussão que Santos (2002)
levanta, com respeito à linguagem informática, marcante em nosso tempo. Ele sugere que o
computador, símbolo máximo desse momento, é uma tecnologia cujas operações estão
sustentadas numa forma de pensamento calculante, que não consegue operar com outras
lógicas inerentes à própria condição humana. Por conseguinte, tudo que é considerado inútil e
heterogêneo precisa ser eliminado (SANTOS, 2002). Semelhante lógica informacional tende a
simplificar as comunicações, submetendo-as a códigos que possam ser interpretados dentro do
padrão de operações dos computadores. Entretanto, as diversas esferas da vida humana, dentre
as quais ressaltamos a experiência política, a experiência da rua, a experiência do “estar
juntos”, não se enquadram naquele universo de operações.
Com respeito a essa discussão, Bondía (2002) ressalta que nosso mundo padece da
pobreza de experiência. E ele traz à tona as observações de Walter Benjamin a propósito da
discussão, para quem o nosso mundo está repleto de coisas, mas a experiência tem se tornado
raridade. Salienta que vivemos num mundo em que a informação é excessiva. O fato de
podermos acessar a Internet e realizarmos pesquisas não implica numa assimilação daquilo
que encontramos. Não raro nos perdemos diante de tantas informações. Longe do que
acreditam algumas pessoas, a informação não é experiência.
75
Entrevista concedida em 24/08/2007 por José Prata de Araújo.
150
[...] a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da
experiência, quase uma antiexperiência. Por isso a ênfase contemporânea na
informação, em estar informados, e toda a retórica destinada a constituir-nos como
sujeitos informantes e informados; a informação não faz outra coisa que cancelar
nossas possibilidades de experiência. (BONDIA, 2002, p. 21).
Estes apontamentos nos auxiliam a buscar algumas respostas também para o âmbito de
nossas questões. Assim sendo, podemos indicar o espaço blico como o lugar da
experiência, por excelência, de se viver a dimensão da política, do heterogêneo e do dissenso.
As novas modalidades de mobilização que se baseiam na informação tais como, as
teleconferências, os jornais e possíveis consultas à categoria via internet não podem se
colocar no lugar da dimensão do vivido, da experiência, que precisamente precisam do espaço
público para se concretizarem.
Sendo confirmados esses prognósticos sobre o esvaziamento do espaço público como
lugar das manifestações, o que se apresenta concretamente é um retorno à vida privada, um
esvaziamento das relações humanas. Esse movimento já vem ocorrendo de alguma forma.
151
5 CONCLUSÕES
As questões abordadas nesta dissertação dizem respeito ao tripé espaço público,
manifestações e movimento sindical. No decorrer da nossa argumentação, tivemos a
oportunidade de trazer à tona diversos aspectos de cada um desses elementos e da interação
entre eles. Acompanhar a trajetória de um movimento sindical foi um recurso importante para
que pudéssemos perceber os diferentes fatores considerados para a ocorrência das
manifestações. Pudemos comparar situações em que o espaço público esteve mais fechado
com outras em que as manifestações simplesmente inexistiam, a despeito da possível abertura
do espaço público. Em conseqüência, fechamos o último capítulo com uma discussão que nos
remete a uma crise atual do movimento sindical, cujas implicações estão relacionadas ao
esvaziamento das manifestações da categoria bancária nos últimos anos. Apresenta-se, no
momento atual, uma dificuldade do movimento sindical em ocupar o espaço público e fazer
manifestações.
Essas dificuldades de ação do movimento sindical estão relacionadas às questões do
mundo do trabalho de um modo mais geral. Particularmente quanto ao trabalho bancário,
esses dilemas apresentam-se agravados, sobretudo a partir dos anos 1990, com a
intensificação da automação, a chegada dos bancos estrangeiros e os processos de
terceirização e privatizações dos bancos públicos, medidas que representaram um drástico
enxugamento do setor financeiro. Isso implicou em uma mudança de perfil da categoria,
acarretando transformações também na ação sindical. Todavia, não podemos, a partir desse
contexto, simplesmente afirmar o fim das manifestações e greves no setor bancário. Não
obstante, é inegável o fato de que os anos de 1990 inauguraram um contexto de trabalho
distinto daquele dos anos de 1980. É um dado que precisa ser considerado. Nos anos de 1980,
as greves e manifestações tinham como contexto um período inflacionário, em que se
demandavam campanhas salariais emergenciais duas vezes ao ano para recuperação
monetária dos salários. Nos anos de 1990, verifica-se um significativo decréscimo do número
de greves, coincidindo também com fenômeno da globalização. Esse novo contexto não
afetou somente os bancários, mas os trabalhadores de uma forma geral.
A redução do número de manifestações não pode ser associada somente a uma crise do
mundo do trabalho. Fizemos alusão a alguns fatores que incidem sobre a percepção dos
indivíduos sobre as ruas e praças como espaços públicos. Ora, pode-se inferir que espaços
desprovidos do sentido de público não guardam a devida acolhida para a realização de
manifestações. Cidades sem praças públicas, onde a diversidade possa se expor, são cidades
152
sem a dimensão da vida política; são autoritárias, se não permitem que essas diferenças se
expressem, ou totalitárias, quando chegaram ao ponto de abolir as diferenças.
Alguns analistas da sociedade de consumo têm indicado uma constante necessidade de
“nivelamento” do espaço. Nesse sentido, vale dizer, uma constante apropriação do espaço
público como mecanismo de especulação, eliminando-se as possibilidades de apropriação que
fujam a esse critério. É um dos fatores que explicam o esvaziamento da dimensão pública,
que outros espaços de socialização estão sendo recriados, artificialmente, de forma a que os
indivíduos encontrem os seus iguais, e paguem por isso. São espaços sem estrias, espaços
previstos e para ações previstas. Ou, dito de outra forma, são espaços planejados para que
determinadas relações possam ocorrer ali. Ganha-se em artificialidenho qha--6.26345m qçs o d e(p)-0.294974294974(e)3.7l4(i)-2.16558(s)-1.2299182(p)-10..2359(o)-0.294363(4(s)-1.22997e94363(4(s)-1.2299774(s)-1.22997( )-4.74(s)-1.22997( )-51761(o)-0.295585(e)3..16558(a)3.74(m)-2.45995(e)3.7.20029(e)85(r)2.871( )-12.16436(s)-1.2312(s)-1a)3.74(s)-1.8815)2.8043 120.48 776346( )250O(.)-0.1464( )-140.229(o)-0.294974(u)-0.294974(t)-2.165TJ26s suas ue vin ejaiaord.74( )-20.1584(a)3TJ26im, re.16436(l)-2.16434( )-90.1997.16436(c)3.74(i)-2.16436(a)3.5585(a)3.7m.8043975..29ntde2944(i)-2.16554(v)-0.295585(i)-2.16558(í)-2.16558(t)-2.16558(ç)3.74(õ)-10.3730çõa se74(l)-2.16436(i)-12.1çõaoanoe noa can1 socpla585(t)]TJ25ão8043995.134pferoadameejadoisroa45995(e)3.74( )-140.22974(o)-0.295585( )-60.182ãosqd(s)-1.2315(d)-0.293145.134p776346( )250 -20.76 Td[(p)74(l)-2.16558(i)-2.l4(i)-2.165h0.294974(r)2.805(e)3.7elamena dorm, 97(o)-0.-0.2949722994(i)-2.16558(v)-0.e doe goa5(r)2.8030s q eaç875jaol lca dropli72997( .295585(a)3.74(ç)3.74(o030)4593E(.)-0.1477439( )-60.182(i)-2.1(q)-0.2955830)4593f836(f)2.802(i)-2.1649(d)-0.295585(i)-21.2310.1584(a)3TJ830esiqu nis
153
declínio do individualismo na sociedade de massas, ele acaba reforçando justamente a idéia
de um individualismo já que aposta numa tendência ao reforço das tribos, ou neotribalismo ou
um reforço da comunidade, com os indivíduos se localizando muito mais a partir de seus
grupos e não pelas questões universais, tais como a democracia, a sociedade nacional, o
direitos humanos. Conforme a perspectiva do autor, estas questões mais abrangentes não
mobilizam os indivíduos. Nesse sentido é que, embora não se apresente a questão do
individualismo, a tendência apontada é que os indivíduos não abracem senão as causas do
mundo particular. Diante desses apontamentos, verifica-se também uma tendência pessimista,
apontando a direção da perda de sentido das manifestações públicas e, em conseqüência, a
não reivindicação da importância desse espaço. É um apontamento para nosso tempo,
portanto.
Contudo, outra resposta também é possível de ser apresentada. quem aposte que o
espaço público continuará sendo um espaço estritamente relacionado com os ambientes
político-democráticos. Não o deixará de ser, nem agora, nem em outro momento, cabendo ao
mesmo a perspectiva de ser reinventado.
A propósito dos dilemas apontados ao longo da dissertação, não é correto dizer que o
espaço público fora esvaziado. Decerto, se tivéssemos o cuidado de observar cotidianamente
as cenas urbanas, e mais especificamente, as cenas que ocorrem na Praça Sete, veríamos que a
mesma ainda é palco de manifestações de diversas naturezas. Algumas merecem um olhar
mais acurado, que remetem a um novo traço que se associa a novas linguagens, com novos
atores também, comunicando-se com outros movimentos de outras partes do mundo. Fruto
desse novo contato “mundializado”, os movimentos trazem para o espaço público as
articulações entre o local e o global. Não é possível desconsiderar que essas novas
manifestações fazem parte do cenário de diversas partes do planeta. Na esteira desses
movimentos, questões que vão além do mundo do trabalho são apresentadas, tais como
movimentos contra o desemprego, as “Paradas Gay”, causas indígenas, movimento dos sem-
casa, dos sem-terra, articulados com apoiadores de diversas partes do planeta, numa
comunicação potencializada pelos novos meios de comunicação. Também nessa seara
estariam os denominados de movimentos anti-sistêmicos, ou seja, os movimentos que vêm
questionando as bases atuais do processo de globalização e o neoliberalismo
(WALLERSTEIN, 2005). No conjunto, esses movimentos não desprezam o espaço público;
ao contrário, fazem dele um lugar para expressarem suas lutas. A questão passível de ser
pesquisada é em que sentido esse “contágio” marca os movimentos da cidade de Belo
Horizonte. Ou, em outras palavras, em que sentido os movimentos sociais e o movimento
154
sindical lançam mão do repertório de ação que se elabora hoje com esses novos movimentos.
São questões que se apresentam como possibilidade analítica. O tema das manifestações
permite que se busque entender essas novas dinâmicas dos movimentos sociais da cidade.
Ao longo do trabalho, foi possível constatar que é sempre espinhoso tratar de questões
envolvendo sujeitos político-sindicais, situados em determinados momentos históricos e com
filiações ideológicas diversas. Corre-se o risco e nesse sentido assumimos desde nossa
parcela de responsabilidade de se atribuir um peso maior a determinados recortes históricos
ou matrizes discursivas, desconsiderando outros. Dessa forma, ao retomar a evolução
histórica do movimento, optamos por destacar aspectos associados ao auge das manifestações,
coincidindo com o final dos anos de 1970 até os anos de 1990. Em nossa discussão, esse
momento foi realmente significativo em termos de manifestações e greves, que apresentou
relevantes interseções envolvendo a cultura, a política e o sindicalismo, além da luta pelo
direito à cidade. Logo, tomamo-lo como um momento destacado de nossa análise. Isso não
quer dizer que consideramos esse tempo um exemplo para os outros ou que esse tempo seja
passível de se repetir em outras circunstâncias históricas. Não é o caso aqui de tecer
considerações sobre essa ou aquela diretoria do Sindicato, ou sobre esse ou aquele momento
de manifestações. É certo que determinados posicionamentos políticos, uma maior
burocratização sindical, uma situação de crise na entidade, podem interferir diretamente sobre
a propensão ou não em se manifestar.
Não poderíamos deixar de mencionar também as interseções que se abrem a partir da
temática. Tivemos a oportunidade de trazer as formulações de Lefebvre (2001b), Santos
(2002) e Arendt (1993), para que pudéssemos compreender as questões do campo da Filosofia
Política e a relação com a organização espacial da cidade. A interpretação que Arendt (1993)
nos proporciona a respeito do espaço público foi uma das contribuições mais significativas,
retomada em diversas circunstâncias nesse trabalho. A partir de sua leitura, pode-se entender a
cidade como um espaço político. Assim também são importantes as contribuições de Lefebvre
(2001b) e Santos (2002). Através desses autores, pudemos fazer as devidas considerações
sociológicas sobre o espaço, percebendo-o como um produto das relações sociais, conflituosas
e desiguais.
No estudo que ora apresentamos, cremos ter demonstrado, com base na Sociologia das
Manifestações, que há um rico campo de estudo relacionado ao tema das manifestações,
incluindo questões como trajetos, matrizes discursivas e visões de mundo, combinadas às
circunstâncias históricas, discursos e disputas sobre o espaço e no espaço. Diversas leituras
foram sugeridas, a começar pela farta produção francesa sobre as manifestações, com Favre
155
(1990), Fillieule (1993), Fillieule e Pechu (1993), Tartakowsky (1990) e Tartakowsky (2004),
dentre outras análises sobre apropriação da praça pública como espaço legítimo de expressão.
Tais obras ainda são pouco mencionadas nas Ciências Sociais brasileiras, embora constituam
um suporte teórico essencial para pesquisas no terreno das ações coletivas.
Enquanto o espaço for ocupado por grupos de protesto, quanto mais diversidade
comportar, maiores serão as possibilidades de investigação. A esse respeito, lembramos que
uma das perspectivas de análise dos autores que utilizamos para este estudo é justamente as
manifestações no contexto da globalização. É precisamente naqueles movimentos de
manifestação, que alguns poderiam apontar como sintomas de uma desagregação da
sociedade ou das instituições democráticas, outros têm percebido como possibilidade de
estudo, entendendo que as novas formas sociais da manifestação apontam novos elementos,
novas demandas, fazendo com que a história se mova e confirmando a noção da democracia
como um processo que incorpora novas demandas.
Se agregarmos a dimensão da expressão a manifestação como modo de expressão
então o enfoque ganhará ainda novas possibilidades, sobretudo porque tal perspectiva poderá
ser apropriada como forma de se analisar as visões de mundo associadas a determinados
segmentos sociais que realizam manifestações. Elas circulam por dentro dos movimentos
sociais, constituem a educação política, o modo como as pessoas passam a perceber o Estado,
a cidade e a política. Problemas sociais, como a exploração, a exclusão social e a
discriminação podem ser vivenciados por diversos indivíduos, mas sem que se procure
resoluções coletivas. Contudo, quando esses indivíduos se encontram com outros que
partilham as mesmas agruras, isto é, quando esses resolvem aderir a movimentos que
partilhem os mesmos anseios, então esses indivíduos tomam contato com questões que
extrapolam as dimensões individuais, trazendo a dimensão da cidade, do país e do mundo. É
um aprendizado. Esse aprendizado também está associado às manifestações, quer dizer, a
expressão dos indivíduos e do grupo.
156
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170
7 APÊNDICES
7.1 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semi-estruturada com ativistas
sindicais.
Apresentação: a entrevista versará sobre a relação pessoal com o movimento sindical e
político e sobre suas visões sobre as intervenções político-sindicais (de rua) dos bancários.
Mais precisamente, o cerne da entrevista é investigar a relação entre o sindicalismo e a
construção de um espaço público – A Praça Sete.
1. Primeiramente fale sobre você: sua formação e o início de sua militância junto ao
movimento sindical e político.
2. De que forma o Sindicato contribuiu para a sua formação política?
3. Como os bancários intervinham (ou intervém) no espaço público? Fale sobre a
relação do movimento sindical e o espaço público desde que você iniciou sua militância no
movimento sindical. Quais são as mudanças significativas nesse momento?
4. Como eram/são as manifestações dos bancários? Elas se diferenciam de outras
categorias nas suas manifestações?
5. Como se organiza (ou organizava) uma manifestação de rua? Quais eram (ou são) as
dificuldades, suportes, estratégias, situações inusitadas?
6. Cite alguns momentos significativos em que os bancários estiveram presentes na
Praça Sete.
7. Sobre o significado da Praça Sete nessa trajetória. O que representa (ou
representava) para você a manifestação na Praça?
8. Como é (era) a interlocução com a população?
9. Você acha que as suas intervenções e outras manifestações político-culturais
contribuíram para mudar as representações sobre a Praça Sete?
10. O que significava para você as intervenções de rua? O que sentia ao realizar tais
atividades?
11. Como você vê hoje a utilização da Praça Sete pelo movimento sindical?
12. Com respeito à introdução de novas ferramentas de comunicação (internet, jornais
e celulares), em sua opinião elas poderão substituir as manifestações dos movimentos sociais
no espaço público?
13. Tendo em vista a sua atuação político-sindical, se você pudesse dar um novo nome
para a Praça Sete qual nome seria? Por que?
14. Se o movimento sindical pudesse planejar a Cidade e mais especificamente as
Praças e Ruas do centro, quais seriam as suas sugestões?
171
7.2 APÊNDICE B – Manifestações políticas e Sindicais em Belo Horizonte
A partir das pesquisas efetuadas nos jornais, no Centro Histórico e também junto ao
Centro de Referência e Memória Sindical, foi possível ordenar um quadro em que consta os
diversos períodos históricos, a partir da fundação do Sindicato dos Bancários e as lutas
expressivas que marcaram cada período. Nesse quadro são incluídas as manifestações
ocorridas em Belo Horizonte, no período de 1932 a 2007. O quadro foi elaborado a partir de
diversas pesquisas, tais como: boletins do Sindicato dos Bancários, jornais do arquivo Público
Mineiro, pesquisa no Museu Histórico Abílio Barreto, atas de reunião da diretoria do
Sindicato, atas das assembléias, além da leitura de artigos e livros sobre o movimento
operário e manifestações de Belo Horizonte.
Manifestações no espaço público e atividades do SEEB-BH em Belo Horizonte. Período 1932-2007
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
1932 17/09/1932 Criação da Associação
Mineira dos Bancários
(STRALEN, 1995).
1933 09/03/1933 Fundação do Sindicato
dos Bancários
(STRALEN, 1995).
1933 Luta pela Jornada 6
Horas. A participação
do SEEB-BH foi muito
ínfima
(STRALEN, 1995).
1934 07/1934 Mobilização pela
criação IAPB
Não houve greve em
BH, mas muita
mobilização e apoio ao
pessoal do RJ e SP
(STRALEN, 1995).
1935 04/11/1935 Congresso Regional
de Minas Gerais (04-
07/11/1935)
Bancários oficialmente
não aderiram ao
Congresso.
A diretoria questionava
a imprensa por ter
publicado adesão do
sindicato que de fato
não houve.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1935).
1935-
40
Refluxo e repressão Desmobilização e
retrocesso da
organização sindical
(STRALEN, 1995).
1936-
37
Lei Segurança
Nacional
Repressão e fechamento
do SEEB-BH e
ausência de greves
(STRALEN, 1995).
1942 10/08/1942 Movimento
reivindicando entrada
do Brasil na 2ª Guerra
Mundial
Militantes comunistas
fizeram campanhas.
(CARVALHO, 2005).
1941-
44
Sinais de
ressurgimento da ação
sindical
Novas assembléias.
Diretoria inicia atuação
(STRALEN, 1995).
1944 11/1944 Movimento sindical
luta contra o fascismo.
O SEEB-BH atuou
nessa campanha
Comitê Pró-FEB que
foi importante para dar
visibilidade às novas
lideranças: Armando
(STRALEN, 1995;
GROSSI, 1981).
Cont.
172
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
Ziller
1945 07/07/1945 Concentração em
frente à Escola
Normal (hoje Instituto
Educação). Apoio aos
Pracinhas da FEB.
Imprensa cobre os
preparativos.
Comissões de fábrica:
fixam cartazes no
Centro de BH, faixas na
Praça Sete.
(STRALEN, 1995).
1945-
1946
Luta pela
democratização, pós
Guerra.
Ressurgimento do
movimento sindical
bancário
(GROSSI, 1981).
1946 19/01/1946 Preparativos da greve
de 1946
Assembléia e passeata
no Centro e Sede
Jornais
(STRALEN, 1995).
1946 23/01/1946 Ocupação das ruas
(redemocratização)
1ª primeira greve com
participação ativa dos
bancários de BH.
Duração: 19 dias e foi
nacional
Fundo de greve;
Placar da greve na
Praça Sete
Apoio da população
comprando bônus
Juramento coletivo na
rua
(STRALEN, 1995).
1946 15/04/1946 Questões políticas
aparecem nas
assembléias
Proposta de
rompimento com o
regime de Franco; luta
pela autonomia
sindical; Fundação de
Central Sindical; apoio
aos Estivadores de
Santos.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1946).
1947-
1950
Perseguição e
Repressão aos
militantes comunistas.
Deposição dos
dirigentes do PCB: 47
diretores, dentre eles
Armando Ziller.
(STRALEN, 1995).
1951 10/06/1951 Campanha salarial na
rua
Assembléia decide
concentração dos
bancários na Praça Sete
no dia em que fosse
encaminhada a tabela
de salários ao
Presidente da
República
Representantes da
imprensa estavam na
assembléia
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1951a).
1951 17/07/1951 Eleita Nova diretoria Nova diretoria Pres.
Magno Fernandes
esquiva-se de temas
político-partidários.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1951b).
1951 16/08/1951 Aprovada Proposta de
“Passeata monstro
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1951b).
1951 01/09/1951 Piquetes, passeatas,
shows e arrecadação
de fundos.
Deflagração da greve. (26 dias de paralisação).
Repressão policial.
Fracasso da greve se
deve à aliança com PTB
e Getúlio. Erro tático e
fim traumático
(STRALEN, 1995).
Cont.
173
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
1951 10/1951 Lacuna de atuação
bancária
Ausência de Atas deste
período até 1955
1952 Protestos contra
aumento dos
Ingressos
Teatro/Cinema
(PREFEITURA DE
BELO HORIZONTE,
1996).
1954 Eleição SEEB-BH:
nova diretoria
composta por novos
elementos: católicos e
comunistas
(STRALEN, 1995).
1954 1954 Passeata dos Mineiros
de Nova Lima..
Centro até Palácio da
Liberdade
(LE VEN; NEVES,
1996).
1959 26/09/1959 Proposta de passeata
com concentração
DRT.
Discussão do direito de
greve entra na pauta.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1959).
1960 15/01/1960 “Dia de Protesto e da
Omissão” – Protesto
contra a carestia
contra o governo.
(PROTESTO..., 1960).
1960 16/07/1960 Concentração dos
bancários no centro de
BH.
Assembléia aprova
concentração dos
bancários saindo do
SEEB-BH antes da
reunião com os
banqueiros
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1960).
1962 15/06/1962 Passeata das “Panelas
Vazias” Têxteis
Centro BH - Palácio
da Liberdade
SEEB-BH participou
dessa manifestação
Polícia armada para
dispersar a multidão
(LE VEN; NEVES,
1996; BOMBAS...,
1962).
1961 1961 Passeata dos Mineiros
de Nova Lima.
Rodovia Nova Lima-
Centro de BH
(LE VEN; NEVES,
1996).
1961 12/09/1961 Campanha Salarial
nas ruas.
Campanha Salarial
1961.
A diretoria aponta,
entre os preparativos, a
necessidade de “oficiar
o DOPS para fazer
transitar os carros com
alto falantes (o
“tinhoso” era o
megafone do
sindicato”).
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1961).
1961 17/10/1961 Ocupação do centro
da cidade. Passeatas e
piquetes.
Greve dos bancários (STRALEN, 1995; LE
VEN; NEVES, 1996).
1962 25/04/62 Agitação de
Estudantes na Praça
Sete.
Houve prisões e
quebra-quebras
(ESTUDANTES...,
1962).
1962 06/07/1962 Greve da CGT Os bancários não
paralisam, mas
manifestam-se na porta
O “Tinhoso” e o
presidente do SEEB-
BH, João Vieira, são
(PRESO..., 1962).
Cont.
Cont.
174
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
dos bancos e centro. presos pelo DOPS.
1962 17/07/1962 Clima político tenso:
diretoria propõe apoio
aos sindicalistas presos
na Guanabara
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1962a).
1962 14/08/1962 O Diretor Alberto José
dos Santos propõe a
criação de comissões
de propaganda, de
piquetes, feminina para
mobilizar a classe.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1962b).
1962 24/11/1962 Passeata Bancária no
centro
Luta pela Paridade com
Banco do Brasil
(EX-BANCÁRIO...,
1962).
1962 04/12/1962 Sindicato oficializa
solicitação junto do
DOPS para fazer
manifestação
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1962c).
1963 11/01/1963 Movimentações,
piquetes
Campanha pelo 1
Salário
18-20/01/1963. (SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1962a).
1963 21/01/1963 Greve dos Banqueiros
– Direita prepara o
Golpe
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1963a).
1963 05/03/1963 Manifestação Mafersa Diretoria propõe
participar da passeata
da Mafersa com faixa
de apoio
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1963b).
(PASSEATA..., 1963a;
METALÚRGICOS...,
1963).
1963 08/05/1963 Greve e passeata dos
Motoristas
A Polícia efetuou 35
prisões e dissolveu a
passeata.
(GREVE..., 1963a;
MOTORISTAS...,
1963).
1963 26/05/1963 Bancários entram em
greve por Reformas
(BANCÁRIOS...,
1963).
1963 11/06/1963 Cruzada do Rosário
em Família –
promovida pelos
setores conservadores
Cerca de 300 mil
pessoas se reuniram na
Praça Raul Soares.
Autoridades militares e
civis aderiram à
Cruzada.
(300..., 1963).
1963 01/06/1963 Greve nacional pelas
Reformas de Base –
CGT. Atividades de
rua.
A diretoria propõe
apoio à greve e formas
de atuação.
Correio de Minas
informa que greve é de
100 mil operários
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1963a;
GREVE..., 1963b).
1963 04/07/1963 Comício pró Fidel
Castro na Praça Sete
Ativistas que realizaram
um comício relâmpago
(PRISÃO..., 1963).
175
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
foram presos
1963 18/09/1963 Greve dos bancários (SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1963d;
APOS..., 1963).
1963 24/09/1963 Greve dos Bancos. Bancos fecham em
contra-ataque greve dos
bancários.
(BANCOS..., 1963)
1963 14/10/1963 Passeata dos
bancários rumo ao
Palácio da Liberdade
Campanha Salarial Utilização de Archotes
Acesos.
(PASSEATA...,
1963b).
1963 17/11/1963 Manifestação dos
Trabalhadores
Favelados
O SEEB-BH propôs
apoio a esta
manifestação.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1963a).
1964 19/02/1964 Indicativo de
concentração da
Frente de Mobilização
Popular.
SEEB-BH aprova
apoio a organizações
de esquerda
Apoio financeiro (CR$
30000,00).
Concentração
organizada pela Frente
de Mobilização Popular
– Ajuda ao Congresso
da JOC
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1964a).
1964 24 a
28/01/1964
Impedimento da
realização do
Congresso CUTAL.
Diretoria do SEEB-BH
discute a participação
no evento
Estava programado para
BH, mas reação de
grupos direitistas
obrigou à transferência
para DF.
(STARLING, 1986).
1964 25/02/1964 Comício pró-
Reformas de Base
Repressão de grupos da
Direita e da PM.
Participantes são
atingidos a pedradas
(muitos saem feridos).
(STRALEN, 1995;
STARLING, 1986).
1964 13/03/1964 Comício no RJ SEEB-BH envia
delegação de
bancários.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1964b).
1964 13/05/1964 Marcha da Família
com Deus pela
Liberdade
Manifestação de apoio
ao Regime Militar
(STARLING, 1986).
1964 30/07/1964 Intervenção Militar no
SEEB-BH
Diretoria antiga sofre
perseguição.
(POLÍTICA..., 1964).
1968 03/1968 Concentração operária
na Secretaria de Saúde
(GROSSI, 1979).
1968
176
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
1968 10/1968 Greve Mannesmann,
Bancários, professoras
primárias, operários
da PBH, Marceneiros
e Metalúrgicos.
(GROSSI, 1979).
1979 01/04/1979 Ato Público em apoio
aos Metalúrgicos do
ABC e Lula.
SEEB-BH fez
divulgação do evento
(ATO..., 1979).
1979 1979 Passeata das
Professoras Ensino
Público em direção ao
Palácio da Liberdade
– Praça da Liberdade
Recebidas à Jato d’água
pelo governador do
estado.
(LE VEN; NEVES,
1996).
1979 11/06/1979 Passeata bancários do
Banco Nacional pelo
pagamento dos 20%
Campanha Salarial
Banco Nacional
(BANCÁRIOS...,
1979).
1979 30/07 a
03/08/1979
Greve dos operários
da Construção Civil
Confronto entre PM e
grevistas nas ruas do
centro, deixando um
operário morto.
(FREITAS, 1993).
1979 16/08/1979 Manifestações dos
bancários nas ruas do
centro.
Greve. Prisões de bancários e
afastamento do
Presidente Arlindo
Ramos por incitar
greves (16 e 17/08/79).
(NOBRE, 1993).
1981 Eleições no Sindicato OSB concorre às
eleições pela primeira
vez.
(ARAÚJO, 1993).
1984 25/02/84 Comício das Diretas (PREFEITURA DE
BELO HORIZONTE,
1996).
1984 25/04/84 Manifestação pelas
Diretas
Houve confrontos com
a Polícia Militar
(PREFEITURA DE
BELO HORIZONTE,
1996).
1985 Manifestação da TFP
na Praça Sete
A CUT revidou com
bandeiras vermelhas
(CARVALHO, 2005).
1985 11/09/1985 Passeata pelas ruas do
Centro
Greve dos funcionários
do nacional
Atuação da OSB. Greve
abortada pela diretoria,
com panfleto
distribuído (Dois dias).
(NOBRE, 1993).
1986 06/09/1986 “Feira da Miséria”
Praça Sete.
Campanha Salarial
1986.
A OSB distribuiu
panfleto convidando os
bancários a
participarem.
(PARTICIPE..., 1986).
1988 13/03/1988 Greve dos funcionários
da CEF
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1988).
1988 06/04/1988 Manifestação
Funcionários do
Bradesco na Praça
Sete
Greve dos bancos
privados
(MANIFESTAÇÃO...,
1988).
1988 20/04/1988 Preparando a greve dos
bancários - 1988
(PREPARANDO...,
1988).
1988 05/1988 Manifestação das SEEB-BH divulgou o A Polícia Militar tentou (NO PEITO..., 1988).
177
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
Estatais - CUT evento rebocar a Kombi.
Ativistas do Sindicato e
CUT impediram.
1988 15/09/1988 Dia Nacional de Luta
– bancários do Banco
do Brasil.
Greve dos funcionários
da CEF continua
A greve foi marcada
por confrontos na rua.
Foram presos 05
grevistas, entre eles o
Presidente do SEEB-
BH.
(MUITA..., 1988).
1990 20/06/1990 Greve dos funcionários
Banco Nacional (10
dias).
(DE GREVE..., 1990).
1990 20/06/1990 Greve dos funcionários
do Banco Real
(FATOS..., 1990).
1990 05/09/1990 Passeata dos
funcionários do
Unibanco
Deflagração de Greve (SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1990).
1990 18/09/1990 Passeata.
Concentração na
Praça Sete.
Campanha Salarial
1990.
Convocação extensiva
às famílias dos
bancários.
(GRANDE..., 1990;
GREVE..., 1990).
1991 15/03/1991 Protesto contra
governo Collor
SEEB-BH distribuiu
jornais chamando a
categoria para o
evento.
(15..., 1991).
1991 19/03/1991 Greve dos
Funcionários. Motivo
ameaça de demissões.
(FUNCIONÁRIOS...,
1991).
1991 27/06/1991 Greve (SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1991).
1991 18/09/1991 Ato público na Praça
Sete
Greve dos funcionários
dos Bancos Federais.
A greve é considerada a
maior da CEF e BB
(FOI..., 1991).
1992 12/03/1992 Manifestação “Basta
Collor”. Praça Sete –
com Lula.
SEEB-BH distribuiu
adesivos e panfletos
(BASTA..., 1992)
1992 29/09/1992 Ato-Festa pelo
Impeachment
A proposta de adesão à
campanha “Fora
Collor” foi debatida na
Diretoria do Sindicato
O SEEB-BH distribuiu
adesivos e jornais na
campanha “Fora
Collor”
(1992..., 1992).
1993 05/05/1993 Show Pelo Reajuste
Mensal – Praça Sete
Campanha Salarial
1993. Reposição
emergencial.
(SHOW..., 1993).
1993 27/05/1993 Ato-Show Pelo
Reajuste Mensal
Campanha Salarial
1993. Reposição
emergencial.
(ATO-SHOW...,
1993a).
1993 21/09/1993 Ato Show contra a
ganância dos
banqueiros
Campanha Salarial
1993
(DIA..., 1993).
1993 08/11/1993 Ato Show contra a
corrupção
SEEB-BH fez a
divulgação do evento.
(ATO-SHOW...,
1993b)
1994 31/01/1994 I Campanha Carnaval
Sem AIDS.
O SEEB-BH colocou
uma imensa
Repercussão na
imprensa. Igreja
(SOLANGE AYRES,
2007; CAMISINHA...,
178
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
“Camisinha” no
Pirulito da Praça Sete.
Católica condena essa
manifestação.
1994).
1994 23/03/1994 Manifestação Dia
Nacional de Luta
CUT Contra Alta dos
Preços
(PANELA..., 1994).
1994 19/05/1994 Ato Contra o
desemprego na Praça
Sete.
SEEB promove ato
contra desemprego.
Cerca de 3000 pessoas
participaram. Diversas
entidades.
(GOVERNO..., 1995;
ATO..., 1994).
1994 22/09/1994 Início da “Operação
Kinderovo”
Repressão policial. Um
funcionário do SEEB-
BH foi ferido.
(PARAMOS!..., 1994).
1995 02/1995 II Campanha Carnaval
sem AIDS
(PROTEGIDO...,
1995).
1995 16/03/1995 Ato contra emendas
constitucionais de
FHC
O SEEB-BH fez
divulgação do evento.
(ATO..., 1995).
1995 16/08/1995 Ato-show contra a
política de juros FHC
O SEEB-BH fez
divulgação do evento.
(QUINTA..., 1995).
1995 28/08/1995 Manifestação “Enterro
do Plano Real” – nas
ruas do centro
O SEEB-BH fez
divulgação do evento.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1995).
1995 13/09/1995 Passeata “Alto Astral” Campanha Salarial
1995.
(CAMPANHA...,
1995).
1995 19/09/1995 Ato Show “Altíssimo
Astral”
Campanha Salarial
1995.
(ATO..., 1995; HOJE...,
1995;
NEGOCIAÇÃO...,
1995).
1995 25/10/1995 Greve bancos Federais
– CEF (até 06/11/95).
JSB n. 328 26/10/1995
1996 07/03/1996 Manifestação na Praça
Sete
A manifestação foi
discutida na reunião de
diretoria 06/03/1996.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO, 1996).
1996 13/11/1996 Manifestação Praça
Sete
Funcionários dos
bancos estaduais
reivindicam
cumprimento de
acordo
(MANIFESTAÇÃO...,
1996)
1996 27/11/1996 Greve dos funcionários
dos bancos estaduais
mineiros.
(GREVE..., 1996a)
1996 05/12/1996 Realização de carreata
nas ruas do centro
Funcionários dos
bancos estaduais
mineiros entram em
greve por tempo
indeterminado.
(GREVE..., 1996b)
1998 25/08/1998 Manifestações
conjuntas com o
Movimento dos
Trabalhadores Rurais
sem Terra (MST). em
diversos bancos.
25/08: Bradesco; 26/08:
Banco Central; 27/08:
CEF; 28/08: Dia do
Bancário; 01/09: Itaú:
04/09: BB.
(SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTO
S BANCÁRIOS DE
BELO HORIZONTE E
REGIÃO..., 1998).
179
ANO DATA MANIFESTAÇÕES
CENTRO BH-
DIVERSOS SETORES
PRINCIPAIS
ASSOCIADAS DOS
BANCÁRIOS
DESDOBRAMENTOS FONTE
2001 20/07/2001 Protesto dos Perueiros
na Praça Sete
31 feridos, 69 prisões e
141 remoções de
veículos irregulares.
(PERUEIROS..., 2001).
2001 20/12/2001 Protestos contra
demissões e desmonte
da CLT
O SEEB-BH fez a
divulgação do evento.
(PROTESTOS..., 2001)
2004 07/09/2004 10º Grito dos
Excluídos Praça da
Liberdade
(BRASIL..., 2004).
2005 13/12/2005 Campanha Defesa do
Consumidor – Praça
Sete.
Campanha do SEEB-
BH busca medidas para
a que os bancos
obedeçam ao Código
de Defesa do
Consumidor.
(SINDICATO..., 2005).
2007 24/05/2007 Centrais sindicais
fazem ato contra
Emenda 3
O Sindicato dos
Bancários integrou-se a
esta manifestação.
(CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DOS
TRABALHADORES
DO RAMO
FINANCEIRO, 2007).
2007 28/08/2007 Lançamento da
Campanha Salarial
Praça Sete – Praça
Sete.
Comemoração do Dia
do Bancário
(LANÇAMENTO...,
2007).
2007 07/09/2007 Grito dos Excluídos (KATTAH..., 2007).
2007 28/09/2007 Passeatas Praça Sete e
ruas do Centro.
Paralisação 24 horas (PARALISAÇÃO...,
2007).
QUADRO 1 Manifestações no espaço público e atividades do SEEB-BH em Belo Horizonte. Período 1932-
2007
Fonte: Dados da pesquisa, 2007
180
8 ANEXOS
8.1 ANEXO A – Carta do Bispo Dom Serafim ao Sindicato dos Bancários
181
Fonte: Arquivo do CRMS - SEEB-BH.
182
8.2 ANEXO B – Resposta do Sindicato à carta do Bispo
183
184
Fonte: Arquivo do CRMS- SEEB-BH.
185
8.3 ANEXO C – Alvará de circulação de carro de som
Fonte: Arquivo do CRMS- SEEB-BH.
186
8.4 ANEXO D – Solicitação de licença para som no chão
Fonte: Arquivo do CRMS- SEEB-BH.
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