Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
HOMERO AMARAL CIDADE JUNIOR
A AGRICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA:
FATORES QUE AFETAM SEU DESENVOLVIMENTO
CURITIBA
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
HOMERO AMARAL CIDADE JUNIOR
A AGRICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA:
FATORES QUE AFETAM SEU DESENVOLVIMENTO
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em
Agronomia, Programa de Pós-Graduação
em Agronomia - Produção Vegetal, do
Setor de Ciências Agrárias da Universidade
Federal do Paraná.
Orientadora: Prof. Dra. Nilce Nazareno da Fonte
Co-Orientador: Prof. Dr. Luciano de Almeida
CURITIBA
2008
ads:
Cidade Junior, Homero Amaral
A agricultura orgânica na Região Metropolitana de Curitiba:
fatores que afetam seu desenvolvimento / Homero Amaral Cidade
Junior.— Curitiba, 2008.
181 f.
Orientadora: Nilce Nazareno da Fonte.
Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Setor de Ciências
Agrárias, Universidade Federal do Paraná.
1. Agricultura orgânica – Curitiba (PR). 2. Pequenas
propriedades rurais – Curitiba (PR). I. Título.
CDU 631.58.01(816.21)
CDD 631.584
AGRADECIMENTO S
A Deus, que me deu o sopro da vida e me inspira neste e em outros momentos.
Aos meus pais e família, que me ensinaram os valores da vida, me
apresentaram à Verdade e me oportunizaram plantar muitas sementes. Hoje, é um dos
dias de colheita!!
À minha Rebeca, que soube participar da pesquisa e colaborar de maneira
fundamental. Você sabe o que está por trás de cada página, linha e entrelinha deste
trabalho. Acabou...
À Nilce, agradeço o seu zelo e carinho, desde detalhes na escrita do trabalho,
que quem trabalha com muito rigor possui, até os aprendizados de vida que
partilhamos. As linhas são insuficientes para expressar tamanha complexidade...
Ao Luciano, agradeço as sugestões que enriqueceram a pesquisa e que
apontam para mais trabalho.
Aos agricultores orgânicos, que com muita paciência me ajudaram a tecer, no
campo, esta pesquisa.
Agradeço o incentivo dos professores Renato e Cida para meu regresso à
universidade. E também o apoio, desde antes da pesquisa começar dos colegas do
CPRA, EMATER, IAPAR, IPARDES, SEAB, SMAB e do SENAR.
Aos amigos da Casa da Videira, com os quais pudemos praticar algumas das
proposições aqui elencadas e aproximar Vila Fanny e Universidade com as
“Comunidades Verdejantes”. Ao Claudio, pela oportunidade de inter-relacionarmos os
nossos mestrados.
Aos professores da banca: Cínthia Sena, Dirk Ahrens, Edmilson Paglia,
Luciano de Almeida, Márcia Marzagão e Nilce Nazareno, o meu muito obrigado. Sem a
sua participação, estas linhas estariam menos profusas e profundas.
Aos amigos do GEPETI e colegas de turma, pelos momentos de crescimento
na ciência e na amizade.
Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Agronomia
e funcionários do SCA, pelo apoio logístico, atenção e desvelo.
Enfim, uma pesquisa desta abrangência, que contou com o apoio de tanta
gente comete injustiças com estas poucas linhas de agradecimentos. Porém, agradeço
a sua colaboração, mesmo que seu nome ou entidade não esteja listada aqui. Creio que
há muitas linhas para tecermos daqui para frente... Agora, mãos à obra.
Temos de nos tornar a mudança que queremos ver no mundo.
Mohandas Karamchand Gandhi
RESUMO
Esta dissertação analisa os fatores que afetam o desenvolvimento da agricultura
orgânica na região metropolitana de Curitiba (RMC) – Paraná. Neste sentido, busca
compreender as interações entre os fatores que interferem na consolidação do
segmento. A agricultura orgânica, apesar de sua viabilidade técnica, ambiental e
social, não demonstra ganhos na qualidade de vida significativos para a sociedade,
em função de pequenos e irregulares avanços até o presente. A metodologia do
trabalho desenvolveu-se em três estágios. Inicialmente, a fase exploratória
consolidou os dados iniciais através de levantamento bibliográfico e de entrevistas
abertas. Posteriormente, o trabalho de campo consistiu em atividades individuais e
grupais junto aos representantes dos diversos segmentos relacionados à agricultura
orgânica. Por questões de otimização de tempo e recursos, a RMC foi dividida em
dois sistemas para ilustrar as duas realidades predominantes. O sistema Campo
Largo apresentou agricultores que comercializavam através de feiras (cadeia curta),
possuíam certificação participativa e que receberam pequeno apoio de políticas
governamentais. Por outro lado, o sistema Colombo apresentou agricultores
comercializando através de processadoras aos supermercados (cadeia longa),
certificação auditada e médio a grande apoio de políticas governamentais. O
encaminhamento desta fase seguiu os princípios da observação participante e
contou com entrevistas semi-estruturadas e grupos focais. Finalmente, a análise e
interpretação dos dados coletados foi feita considerando as diversas dimensões
envolvidas no problema da pesquisa e buscando configurar conclusões que
atendessem aquelas. Mostra-se como considerações finais que os serviços
mantidos com recursos públicos apresentaram alcance limitado e suas políticas
estão desarticuladas. Portanto, não apoiam os agricultores orgânicos e aqueles em
conversão, na intensidade suficiente para um crescimento sustentável do segmento.
Com relação aos aspectos de mercado, os consumidores têm dificuldade de acessar
os alimentos orgânicos por razões de localização, preço e reconhecimento. Os
agricultores elaboram os preços através de critérios arbitrários, que apenas ampliam
as dificuldades dos consumidores. Finalmente, o associativismo, que poderia ser
uma alternativa para mitigar estes entraves, não tem ambiente propício em função
do histórico de diversas iniciativas associativas na região.
Palavras-chave: Agricultura orgânica. Entraves. Desenvolvimento Rural. Região
Metropolitana de Curitiba.
ABSTRACT
This research analyses the main factors that affect organic agriculture’s development
in Curitiba’s metropolitan area (CMA) – Paraná state. It seeks to comprehend the
interactions among these factors that interfere in the sector’s consolidation. Organic
agriculture, despite of its technical, enviroment and social viability, is not showing
improvement in people’s life quality, because of its small and irregular advances until
now. The metodology strategy was composed of three stages. First of all, there was
an exploration phase that joined all the initial data through the bibliography research
and some open interviews. After that, field’s work took place in individual and group
activities with representatives of many segments in organic’s movement. In order to
save time and resources, the CMA was divided in two systems to show the two major
realities. Campo Largo’s system was composed of farmers which sell their products
at fairs (short chain). They have participative certification and received small support
of governmental’s policies. In other hand, Colombo’s system was composed of
farmers which sell their products to supermarkets (long chain). They have audited
certification and received medium to high support of governmental’s policies. This
phase followed participative observations skills and was made with semi-structured
interviews and focal groups. Finally, the collected data’s analisys and interpretation
were made considering many dimensions, in order to find multi-dimensional
conclusions. As final conclusion: services supported by public resources showed
limited results and its policies were disarticulated. So, they don’t support the organic’s
farmers and the ones in conversion period, with the strength they should have to
grow sustainably. In market aspects, the consumers have difficulty to acess organic
food because of localization, price and knowledge reasons. The farmers establish
prices through non-technical criteria, what increase consumer’s difficulties. Finally,
the associativism doesn’t have good environment to develop, because of historical
problems in the area.
Keywords: Organic agriculture. Bottlenecks. Rural Development. Curitiba’s
metropolitan area.
LIST A DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 -
DELIMITAÇÃO DAS APA’S DA RMC..........................................
18
FIGURA 2 -
MULTIDIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE …………………
28
FIGURA 3 -
IDENTIFICAÇÃO DOS SISTEMAS-TÍPICOS NA RMC ..............
31
FIGURA 4 -
DELIMITAÇÃO DAS MICRORREGIÕES DA RMC ....................
42
FIGURA 5 -
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ATIVIDADES LIGADAS À
PRODUÇÃO ORGÂNICA NA ASSOCIAÇÃO DE
AGRICULTURA ORGÂNICA DO PARANÁ (AOPA) ...................
44
FIGURA 6 -
MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE
CAMPO LARGO ENTREVISTADOS NA PESQUISA .................
51
FIGURA 7 -
MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE
FEIRANTES EM CURITIBA ........................................................
51
FIGURA 8 -
MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE
COLOMBO ENTREVISTADOS NA PESQUISA .........................
51
FIGURA 9 -
MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE
COLOMBO ..................................................................................
52
FIGURA 10
-
ASPECTOS TÉCNICOS-INSTITUCIONAIS CARACTERÍSTICOS DAS
UNIDADES EM OU COM CONVERSÃO TOTAL, E DAS
UNIDADES EM CONVERSÃO PARCIAL DOS GRUPOS
BEIJA-FLOR E MARGARIDA – LAPA, RMC DE CURITIBA,
PR................................................................................................
53
FIGURA 11
-
TEMPO NA ATIVIDADE DOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS EM CAMPO LARGO ....................................
55
FIGURA 12
-
TEMPO NA ATIVIDADE DOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS EM COLOMBO ............................................
55
FIGURA 13
-
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE AGRICULTORES
ORGÂNICOS DA SAFRA 2001/2002 À 2005/2006, RMC – PR .
56
FIGURA 14
-
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA DA SAFRA 2000/2001 À
2005/2006, RMC PR ......................................................................................
56
FIGURA 15
-
TIPOS DE AGRICULTURA PRATICADOS PELOS
AGRICULTORES ENTREVISTADOS: CAMPO LARGO (ESQ.)
E COLOMBO (DIR.) ....................................................................
58
FIGURA 16
-
OPÇÃO DE CERTIFICADORAS DOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS EM CAMPO LARGO ....................................
60
FIGURA 17
-
OPÇÃO DE CERTIFICADORAS DOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS EM COLOMBO ............................................
61
FIGURA 18
-
MOTIVAÇÃO PARA ESCOLHA DE CERTIFICADORA DOS
AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM CAMPO LARGO ......
63
FIGURA 19
-
MOTIVAÇÃO PARA ESCOLHA DE CERTIFICADORA DOS
AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM COLOMBO ...............
63
FIGURA 20
-
EQUIPAMENTO DESENVOLVIDO E SEU EFEITO NO
CANTEIRO DA DIREITA EM RELAÇÃO À TESTEMUNHA .......
68
FIGURA 21
-
ACESSO A SERVIÇOS MANTIDOS COM RECURSOS
PÚBLICOS PELOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM
CAMPO LARGO .........................................................................
70
FIGURA 22
-
FIGURA 27
-
PROPOSTAS PARA O CRESCIMENTO DA ATIVIDADE –
CAMPO LARGO .........................................................................
78
FIGURA 28
-
PROPOSTAS PARA O CRESCIMENTO DA ATIVIDADE –
COLOMBO ..................................................................................
79
FIGURA 29
-
DISTRIBUIÇÃO DA VENDA DOS AGRICULTORES
ORGÂNICOS ENTREVISTADOS EM CAMPO LARGO EM
RAZÃO DA FORMA DE COMERCIALIZAÇÃO ..........................
80
FIGURA 30
-
DISTRIBUIÇÃO DA VENDA DOS AGRICULTORES
ORGÂNICOS ENTREVISTADOS EM COLOMBO EM RAZÃO
DA FORMA DE COMERCIALIZAÇÃO .......................................
84
FIGURA 31
-
PREÇO DE PRODUTOS ORGÂNICOS, DE CONVENCIONAIS
IN NATURA EMBALADOS E DE PRODUTOS
CONVENCIONAIS, EM DIVERSOS SUPERMERCADOS DE
CURITIBA – PARANÁ – JUN 2006 .............................................
87
FIGURA 32
-
ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES RURAIS DA RMC ............
88
FIGURA 33
-
RELATO DOS AGRICULTORES SOBRE OS MOTIVOS QUE
LEVAM AS ASSOCIAÇÕES A ESTAREM NA SITUAÇÃO
ATUAL – CAMPO LARGO ..........................................................
91
FIGURA 34
-
RELATO DOS AGRICULTORES SOBRE OS MOTIVOS QUE
LEVAM AS ASSOCIAÇÕES A ESTAREM NA SITUAÇÃO
ATUAL – COLOMBO ..................................................................
92
FIGURA 35
-
FATORES RESTRITIVOS PARA O CRESCIMENTO DA
ATIVIDADE – CAMPO LARGO ..................................................
92
FIGURA 36
-
FATORES RESTRITIVOS PARA O CRESCIMENTO DA
ATIVIDADE – COLOMBO ...........................................................
93
FIGURA 37
-
DISTRIBUIÇÃO DAS CRIAÇÕES ANIMAIS NAS
PROPRIEDADES VISITADAS: CAMPO LARGO .......................
93
FIGURA 38
-
DISTRIBUIÇÃO DAS CRIAÇÕES ANIMAIS NAS
PROPRIEDADES VISITADAS: CAMPO LARGO .......................
94
FIGURA 39
-
CURSOS DE AGRICULTURA ORGÂNICA REALIZADOS
PELO SENAR NA RMC ..............................................................
103
FIGURA 40
-
CURSOS DE AGRICULTURA ORGÂNICA REALIZADOS
PELO SENAR EM CAMPO LARGO E COLOMBO DESDE O
INÍCIO DAS SUAS ATIVIDADES ................................................
103
FIGURA 41
-
LEGISLAÇÃO LIGADA À AGRICULTURA ORGÂNICA .............
108
FIGURA 42
-
GRUPOS VINCULADOS AO NÚCLEO MAURÍCIO B. AMARAL ...........
110
FIGURA 43
-
LOCAL, ESTRUTURA, DIA DE FUNCIONAMENTO E DATA
DE ABERTURA DAS FEIRAS ORGÂNICAS ORGANIZADAS
PELA PREFEITURA EM CURITIBA – PARANÁ ........................
113
FIGURA 44
-
EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE COMERCIALIZADA DE
PRODUTOS ORGÂNICOS NAS FEIRAS DE CURITIBA –
PARANÁ – 1997 – 2005 .............................................................
115
FIGURA 45
-
LOCAL, ESTRUTURA, DIA DE FUNCIONAMENTO E DATA
DE ABERTURA DAS FEIRAS ORGÂNICAS ORGANIZADAS
POR OUTRAS ENTIDADES EM CURITIBA – PARANÁ ............
115
FIGURA 46
-
LOCAL, ESTRUTURA, DIA DE FUNCIONAMENTO E DATA
DE ABERTURA DAS FEIRAS ORGÂNICAS NA RMC –
PARANÁ .....................................................................................
116
FIGURA 47
-
MAPA INDICANDO AS FEIRAS ORGANIZADAS PELA
PREFEITURA DE CURITIBA E POR OUTRAS ENTIDADES ....
117
FIGURA 48
-
SITUAÇÃO ATUAL DE ENTREGAS DE CESTAS POR
MUNICÍPIO NA RMC ..................................................................
120
FIGURA 49
-
SITUAÇÃO ATUAL DE COLHA-E-PAGUE POR MUNICÍPIO
NA RMC ......................................................................................
121
FIGURA 50
-
TIPOS DE TRANSFORMAÇÃO, EMPRESAS E
LOCALIZAÇÃO E PRINCIPAIS PRODUTOS – RMC .................
126
FIGURA 51
-
PONTOS FRACOS DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NA
ÓTICA DOS GERENTES DOS SUPERMERCADOS DE
CURITIBA – PR ..........................................................................
129
FIGURA 52
-
PRINCIPAIS GRUPOS DE PRODUTOS ORGÂNICOS
COMERCIALIZADOS EM LOJAS ESPECIALIZADAS,
CLASSIFICADOS POR PREFERÊNCIA E SEGUNDO A
ORIGEM ......................................................................................
129
FIGURA 53
-
PRINCIPAIS PRODUTOS COMERCIALIZADOS NO PAA –
LIST A DE T ABELAS
TABELA 1
-
DISTRIBUIÇÃO DAS ENTREVISTAS NA RMC..........................
33
TABELA 2
-
PERCENTUAL MÉDIO DE UNIDADES DE PRODUÇÃO
SEGUNDO AS RAZÕES QUE INFLUENCIARAM OS
AGRICULTORES NA DECISÃO DE PRODUZIR
ORGANICAMENTE ....................................................................
53
TABELA 3
-
PORCENTAGEM DE PESSOAS DA FAMÍLIA ENVOLVIDAS
NA PRODUÇÃO ORGÂNICA SEGUNDO O NÚMERO DE
INTEGRANTES ..........................................................................
57
TABELA 4
-
PORCENTAGEM DE TRABALHADORES CONTRATADOS
ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO ORGÂNICA .............................
57
TABELA 5
-
PORCENTAGEM DE TRABALHADORES TEMPORÁRIOS
ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO ORGÂNICA .............................
57
TABELA 6
-
AVALIAÇÃO DOS CUSTOS DE CERTIFICAÇÃO PELOS
ENTREVISTADOS: CAMPO LARGO E COLOMBO ..................
62
TABELA 7
-
PREÇOS MÉDIOS DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS E
CONVENCIONAIS – IN NATURA (FEIRAS), CURITIBA – PR ..
86
TABELA 8
-
PREÇOS MÉDIOS DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS E
CONVENCIONAIS – HIGIENIZADAS E EMBALADAS
(SUPERMERCADOS), CURITIBA – PR .....................................
86
TABELA 9
-
PRINCIPAIS DIFICULDADES APRESENTADAS PELOS
CONSUMIDORES DE ALIMENTOS ORGÂNICOS ....................
138
TABELA 10
-
PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO UTILIZADOS
PELOS CONSUMIDORES DE ALIMENTOS ORGÂNICOS
PARA SE INFORMAREM SOBRE ALIMENTAÇÃO ...................
140
LISTA DE ABREVIAT URAS E SIGLAS
AAO -
Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo
ACARPA -
Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná
ACOPA -
Associação de Consumidores Orgânicos do Para
ACV -
Associação Casa da Videira
AESCA -
Associação Estadual de Cooperação Agrícola
AOPA -
Associação de Agricultura Orgânica do Paraná e Associação para o
Desenvolvimento da Agroecologia
APA -
Área de Proteção Ambiental
APAC -
Associação dos Produtores Agrícolas de Colombo
APASEMA -
Associão Paranaense dos Secretários do Meio Ambiente e Agricultura
BB -
Banco do Brasil
CCA -
Cooperativa Central dos Assentados do Paraná
CEAO -
Conselho Estadual de Agricultura Orgânica
CEASA/PR -
Centrais de Abastecimento do Paraná S.A.
CEPOrg -
Colegiados Estaduais para a Produção Orgânica
CMO -
Certificadora Mokiti Okada
CNPOrg -
Colegiado Nacional para a Produção Orgânica
COMEC -
Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba
CONSEA -
Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional
CPOrg -
Colegiado Paranaense para a Produção Orgânica
CPRA -
Centro Paranaense de Referência em Agroecologia
CRM -
Central de Relacionamento Municipal
DESER -
Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais
DRS -
Desenvolvimento Regional Sustentável
ECOCERT -
Ecocert Brasil (Certificadora)
EMATER-PR
-
Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA -
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ET-UFPR -
Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná
FETRAF -
Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
FIES -
Faculdades Integradas Espírita
FLV -
Frutas, Legumes e Verduras
GEAE -
Grupo de Estudos de Agricultura Ecológica
GEAO -
Grupo de Estudos de Agricultura Orgânica
GEPETI -
Grupo de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares e Interdisciplinares
IAPAR -
Instituto Agronômico do Paraná
IBD -
Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural
IMO -
Instituto de Mercado Ecológico
IN -
Instrução Normativa
IPARDES -
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
IPPUC -
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IVV -
Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural
MAPA -
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MBA -
Maurício Burmester do Amaral (Núcleo da ECOVIDA)
MDA -
Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDS -
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
ONG -
Organização Não Governamental
PAA -
Programa de Aquisição de Alimentos
PARA -
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos
PMCL -
Prefeitura Municipal de Campo Largo
PR -
Paraná
PRA -
Programa Regional de Agroecologia
PRODORGAN
-
Associação Produtores Orgânicos de Campo Largo
PRONAF -
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PTS -
Parque de Tecnologias Sociais
PUC -
Pontifícia Universidade Católica
RMC -
Região Metropolitana de Curitiba
SANEPAR -
Companhia de Saneamento do Paraná
SEAB -
Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento
SEBRAE -
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAR-PR -
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado do Paraná
SETP -
Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social
SMAB -
Secretaria Municipal de Abastecimento de Curitiba
TECPAR -
Instituto de Tecnologia do Paraná
UFPR -
Universidade Federal do Paraná
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................
17
1.1 OBJETIVOS .................................................................................................
20
1.1.1 Objetivo geral .............................................................................................
20
1.1.2 Objetivos específicos .................................................................................
20
1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E HIPÓTESES .................................. 21
1.2.1 Problema .....................................................................................................
21
1.2.2 Hipóteses ....................................................................................................
21
2 MINHA CAMINH ADA ATÉ O MES TRADO .............. ....................................... .
23
3 MÉTODO E METODOLOGI A .......................... ............................................. .....
26
3.1 O MÉTODO .................................................................................................... 26
3.2 METODOLOGIA ............................................................................................
27
3.2.1 Universo da pesquisa ……......................................................................... 30
3.3 FASE EXPLORATÓRIA ….......................................................................... 31
3.4 TRABALHO DE CAMPO ............................................................................... 32
3.5 ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO …...............................................................
36
4 A AGRICULTUR A NA RMC …………….... ....................... ................................
40
4.1 A AGRICULTURA ORGÂNICA NA RMC ...................................................... 43
4.1.1 Histórico ….................................................................................................. 43
4.1.2 O conceito adotado ………..........................................................................
46
4.2 OS AGRICULTORES ORGÂNICOS E SUAS PROPRIEDADES ..................
49
4.2.1 Motivação ....................................................................................................
50
4.2.2 Tempo na atividade ............................... .................................................... 54
4.2.3 Mão-de-obra ............................................................................................... 56
4.2.4 Tipo de agricultura .....................................................................................
58
4.2.5 Certificação .................................................................................................
59
4.2.6 Produção .....................................................................................................
64
4.2.7 Serviços com recursos públicos ................................................................. 70
4.2.8 Comércio ..........................................................
...........................................
79
4.2.9 Política (Associações, cooperativas e outros)…......................................... 88
4.2.10 Fatores restritivos relativos à propriedade ................................................
92
4.2.11 Produção Animal .......................................................................................
93
4.2.12 Qualidade de vida ……………………………………………………………..
95
5 CARACTERIZ AÇÃO DAS POLÍTIC AS ......... ............................................. .....
96
5.1 EDUCAÇÃO ...................................................................................................
98
5.1.1 Educação Superior ..................................................................................... 99
5.1.1.1 Educação continuada de profissionais e Pós-Graduação.........................
100
5.1.2 Educação de nível Médio e Pós-Médio ...................................................... 101
5.1.3 Educação de agricultores ........................................................................... 102
5.2 PESQUISA .....................................................................................................
104
5.3 EXTENSÃO ................................................................................................... 105
5.4 LEGISLAÇÃO ................................................................................................
107
5.4.1 Certificação...................................................................................................
109
5.5 CRÉDITO .......................................................................................................
111
6 CARACTERIZ AÇÃO DO MERC ADO ..................... .........................................
112
6.1 DESCRIÇÃO DO MERCADO DA RMC .........................................................
112
6.2 Venda direta ................................................................................................ 113
6.3 Venda para processadoras ............................................................................
124
6.4 Venda para o varejo .......................................................................................
127
6.5 Venda para o mercado institucional ...............................................................
130
6.6 Caracterização dos consumidores .................................................................
134
6.6.1 Meios de comunicação usados pelos consumidores ..................................
140
6.6.2 Local para compra .......................................................................................
141
6.6.3 Desconhecimento de termos .......................................................................
141
6.6.4 Análise sobre os consumidores ..................................................................
142
7 ALGUM AS REFLEXÕES FINAIS ..... ..................................... ..........................
143
8 ALGUM AS PROPOSIÇÕES .. ........................ ........... ............................... ........
151
REFERÊNCI AS ... .......................... ............................................. ..........................
154
APÊNDICES ... ..................... .................................................. ...............................
167
APÊNDICE 1 .........................................................................................................
168
APÊNDICE 2 .........................................................................................................
176
ANEXOS ..... ........................ .................................................. ................................
177
ANEXO 1 .............................................................................................................. 178
ANEXO 2 .............................................................................................................. 179
17
1 INTRODUÇÃO
A agricultura brasileira a partir dos anos 1950 foi submetida aos preceitos da
revolução verde. Este modelo tecnológico que utiliza intensamente insumos
industrializados, mecanização e sementes melhoradas prometia elevadas
produtividades. Se este modelo gerou avanços, por outro lado desencadeou
impactos negativos significativos no meio ambiente (água, solos, animais e
alimentos) e por conseqüência atingindo as famílias dos agricultores e dos
consumidores, sendo esta uma avaliação assumida por diversos pesquisadores do
setor (KHATOUNIAN, 2001; GLIESSMAN, 2005; SOUZA, 2006).
Da mesma forma, no âmbito da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no
estado do Para (PR), os caminhos da agricultura não foram diferentes. O que
diferiu apenas foi que o fenômeno expressou-se com mais intensidade a partir de
1970. Assim sendo, em uma região com solos pouco profundos, mecanização
intensiva e cultivos convencionalmente exigentes em agroquímicos, os efeitos
deletérios foram emergindo com maior intensidade nos anos 1990. Enfim, erosão,
contaminação dos mananciais, custos de produção inviáveis foram despertando
pesquisas. Uma delas, realizada por Andreoli e Ferreira (1998), avaliou que a
qualidade das águas da RMC era deteriorada ano após ano em função da
contaminação por moléculas de agrotóxicos. Estes indicadores dentre outros foram
provocando reflexões na sociedade e fomentaram a criação de legislações
específicas.
Neste contexto foram criadas diversas áreas de proteção ambiental
1
(APA’s)
para salvaguardar a qualidade dos mananciais que abasteciam a RMC, tendo em
vista que alguns estavam comprometidos e o aumento da demanda de água era
expressivo (PARANÁ, 1995). Na figura 1 é possível observar a localização das
APA’s nos municípios vizinhos à cidade-pólo.
A criação de cada APA foi acompanhada de um estudo chamado
Zoneamento Ecológico-Econômico que regulamentava as atividades permitidas,
1
A primeira APA criada na região foi a do Rio Passauna em 5/6/1991, abrangendo os municípios
de Almirante Tamandaré, Araucária, Campo Largo, Campo Magro e Curitiba, posteriormente foram
criadas as APA’s: do Iraí, do Piraquara, do Pequeno e do Verde (COMEC, 2001b).
18
FIGURA 1 – DELIMITAÇÃO DAS APA’S DA RMC
FONTE: COMEC (2004a)
restritas e proibidas na área. De maneira geral, estes estudos eram bastante
restritivos com relação às atividades agropecuárias convencionais. Em função desta
problemática, os órgãos ambientais, de fiscalização profissional e de planejamento
territorial realizaram atividades para pressionar os agricultores no sentido de uma
melhor gestão dos recursos naturais (COMEC, 2001b).
Para o recrudescimento da situação, os dados do Programa de Análise de
Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), apontaram uma situação grave. O
Programa, que coletou e analisou, no período de junho de 2001 a junho de 2002, um
total de 407 amostras de nove diferentes tipos de hortaliças e frutas comercializadas
na RMC, eram alarmantes. Para surpresa dos pesquisadores Benatto e Scucato
(2003) do total, cerca de 55,3% apresentaram resíduos de agrotóxicos em algum
grau, provocando dentro das diversas instituições públicas, uma preocupação e a
busca por mudanças.
No sentido destas mudanças, a agricultura orgânica
2
havia começado na RMC de
forma incipiente por meio de trabalhos do órgão oficial de extensão rural, Instituto
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-PR) em meados de
1980, particularmente no município de Agudos do Sul. A partir daí, um processo
2
“Considera-se sistema orgânico de produção agropecuário todo aquele em que se adotam técnicas
específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socieconômicos disponíveis e o
respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade
econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de
energia não-renovável, e a proteção do meio ambiente” (BRASIL, 2003)
19
lento de sensibilização de agricultores e alguns técnicos foi iniciado. Porém segundo
CEAO (2002) apenas em 1995 o segmento tomou forma e constituiu a Associação
de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA).
De início, a atividade foi crescente e desenvolveu-se com grande ímpeto.
Havia muitos agricultores interessados, redes de varejo disputavam os produtos
orgânicos e até a mídia fomentava o seu consumo. Diversas instituições
governamentais (estaduais e municipais) apoiaram o segmento e o consideraram
uma panacéia para as APA’s (COMEC, 2001a, 2001b). Em contrapartida, a partir do
ano de 2001 até a presente data, a agricultura orgânica não avançou com a mesma
velocidade na RMC, apresentando em alguns momentos taxas negativas de
crescimento. A presente pesquisa emergiu justamente de inquietações surgidas
naquela época, quando da atuação do autor junto aos agricultores orgânicos em
Campo Largo – PR.
A estrutura do trabalho pode ser assim enunciada: no capítulo 2 trata-se
sobre a trajetória do autor até o mestrado, contextualizando a escolha do tema e o
modo como a pesquisa foi encaminhada.
O capítulo 3 apresenta a metodologia e o método adotado. Cabe alertar,
que neste trabalho adotou-se que ambos são distintos e por isso a sua diferenciação
é ali evidenciada.
O capítulo 4 apresenta uma rápida caracterização da agricultura na RMC,
sendo seguida pela inclusão da agricultura orgânica na mesma, a partir dos
aspectos históricos. O conceito de agricultura orgânica assumido neste trabalho foi
explanado para evitar interpretações equivocadas. Desenvolve-se uma análise das
famílias de agricultores entrevistados e das suas propriedades relacionando os
dados obtidos com pesquisas recentes realizadas no âmbito da RMC.
No capítulo 5 são discutidas as chamadas políticas públicas, porém, no
presente trabalho, elas são denominadas políticas com recursos públicos. É feita
uma reflexão sobre as suas origens, impactos e percepções por parte dos potenciais
beneficiários e executores.
O capítulo 6 inicia a caracterização do mercado da região, descrevendo as
suas diferentes modalidades, seus gargalos e potencialidades. Além disso, o
consumidor, seu perfil, opiniões e demandas são detalhados.
O capítulo 7 concentra as reflexões finais, onde se evidenciam as
conclusões das hipóteses e os resultados essenciais do presente.
20
Finalmente, o capítulo 8 incorpora proposições práticas implementadas,
durante a pesquisa, no sentido de ilustrar a viabilidade de algumas propostas.
Enfatizando uma afirmação de Gandhi (2007) “Temos de nos tornar a mudança que
queremos ver no mundo.”
Com base em diversas discussões, observações e vivências acumuladas
durante 13 anos de experiência nos municípios integrantes da RMC foi possível
amadurecer a proposta de investigar os fatores que afetam o seu desenvolvimento.
Portanto, as contribuições propostas neste projeto objetivam dar subsídios
para a identificação daqueles fatores, seus efeitos sinérgicos e multiplicadores.
Pretende-se desta forma que esta dissertação sirva de referência para possíveis
mudanças e reavaliações do segmento visando um desenvolvimento sustentável
para a região.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo geral
Analisar o desenvolvimento da agricultura orgânica na RMC diante das
concepções do método complexo, buscando diagnosticar a interação dos fatores
produtivos, tecnológicos, associativos, comerciais, entre outros, que interferem na
consolidação do segmento.
1.1.2 Objetivos específicos
analisar as pesquisas realizadas e informações disponíveis aos
agricultores orgânicos e suas organizações;
identificar os fatores que afetam o desenvolvimento (gargalos) da
agricultura orgânica na RMC;
21
identificar e analisar os sistemas de produção orgânica presentes nos
municípios da RMC pesquisados;
analisar os serviços mantidos com recursos públicos sob a ótica dos
agricultores orgânicos;
propor caminhos visando o fortalecimento e o desenvolvimento do
sistema de cultivo orgânico com o intuito de promover a
sustentabilidade da região.
1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E HIPÓTESES
1.2.1 Problema
A Agricultura Orgânica na Região Metropolitana de Curitiba desenvolve-se
tão lentamente que os benefícios apregoados pelo sistema de produção tendem a
não representarem ganhos na qualidade de vida, significativos para a sociedade.
1.2.2 Hipóteses
A presente pesquisa objetivou investigar os fatores que afetam o
desenvolvimento da agricultura orgânica na RMC. Estes fatores foram agrupados
para facilitar a formulação das hipóteses e as análises posteriores. Porém é possível
visualizar o imbricamento destes fatores relativos às tecnologias de produção
vegetal (H1), às políticas mantidas com recursos públicos (H2), ao mercado (H3, H4,
H5) e às estratégias de organização (H6). Desta forma, a partir dos pressupostos
explanados derivam-se as seguintes hipóteses:
H1: as pesquisas e técnicas de produção vegetal adequadas ao sistema
orgânico de produção não estão disponíveis aos agricultores de maneira
proporcional à sua demanda.
22
H2: os serviços de apoio à produção agrícola mantidos com recursos
públicos têm alcance limitado e suas políticas estão desarticuladas e por isso não
chegam com a intensidade desejada nos agricultores orgânicos e potenciais.
H3: o consumidor não está esclarecido o suficiente sobre o que é um
alimento orgânico.
H4: os canais de comercialização não se viabilizam no médio e longo prazo,
pois o preço elevado mantém a demanda em patamares baixos além do que os
pontos de venda estão concentrados em regiões centrais de Curitiba e municípios
metropolitanos.
H5: a formação de preço não está pautada em custos de produção.
H6: agricultores não se associam e quando o fizeram, os resultados foram
negativos.
23
2 MINHA CAMINHADA ATÉ O MESTRADO
Nasci em uma família de professores empreendedores. Meu pai, professor
de educação física e minha mãe de música e educação artística. Após um tempo na
atividade docente, tornaram-se pioneiros no ensino
24
Com os trabalhos no Grupo e estágios procurei me aproximar ao máximo do
meio rural. Busquei estágio no estado de São Paulo, na área da agricultura orgânica,
onde tive a oportunidade de trabalhar na roça e na venda direta na feira da cidade
grande. Esta possibilidade de vivenciar o processo dentro e fora da porteira” abriu
um horizonte analítico bastante interessante. Apesar da quase ausência de
conteúdos ligados a esta maneira de fazer agricultura, concluí a graduação em
1994.
No ano seguinte, iniciei minha atividade profissional no município de
Araucária tentando compatibilizar os conhecimentos das duas agriculturas que havia
aprendido. A receptividade dos agricultores para uma mudança na maneira de
pensar e fazer agricultura era muito pequena. Em 1997, meus caminhos foram
levados à vizinha cidade de Campo Largo, onde um grupo de agricultores e técnicos
estava desenvolvendo um trabalho inicial em agricultura orgânica. Pude aprender
muito neste tempo e participar em conjunto com os agricultores de uma quebra de
paradigmas. A partir daí, concluí que não era coerente receitar pela manhã um
agrotóxico e à tarde uma calda alternativa. Optei por não recomendar mais os
chamados agrotóxicos, redirecionando assim a minha prática profissional.
O trabalho avançou, vários agricultores mudaram as suas práticas e
galgaram mais qualidade de vida, além de conseguirem produzir, o que antes
parecia impossível. No início do ano 2000, criamos um grupo de estudos para
discutir com técnicos e agricultores a agricultura orgânica na RMC. O grupo
chamado GEAO reunía-se mensalmente para avançar em questões técnicas, que
o conhecimento ainda estava difuso e necessitava-se dele para subsidiar as
mudanças principalmente nos processos de conversão de agricultores e técnicos.
Por outro lado, a partir de 2002 comecei a sentir que alguns gargalos
estavam inviabilizando algumas famílias, inclusive levando outras a abandonar o
sistema. Sendo o facilitador do processo Agricultura Orgânica da RMC no âmbito do
órgão oficial de extensão rural (EMATER-PR), debatia estas questões com os outros
técnicos, agricultores, pesquisadores e consumidores. Mas, em função das
demandas crescentes de trabalho, o conseguíamos avançar na identificação
plena destes impedimentos nem na implementação de estratégias de avanço.
Após muita reflexão, resolvi retomar meus estudos com um objetivo muito
claro: reunir ferramentas metodológicas para identificar os gargalos existentes para o
desenvolvimento da atividade na região e produzir subsídios para a implementação
25
de processos que minimizem os impedimentos. Na ocasião, deixei minhas atividades
no município de Campo Largo, mas com um apoio consciente dos colegas da
extensão, pesquisa e das organizações dos agricultores. Conheci o trabalho da
professora Nilce da Fonte por recomendações de colegas do programa de pós-
graduação em Agronomia. Li a sua tese e percebi que tínhamos muito em comum.
Fui aceito no programa no início de 2006 e na oportunidade, em conjunto
com outros colegas e professora da linha de pesquisa, reativamos as atividades do
Grupo de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares e Interdisciplinares (GEPETI). O
grupo tem papel bastante importante no processo de construção deste trabalho, pois
a partir de discussões coletivas a respeito do mesmo e de outros trabalhos
científicos se pôde ampliar a qualidade com o amparo da visão transdisciplinar, que
aproxima o conhecimento do contexto.
Durante este tempo de curso, minha atividade profissional foi direcionada
para ministração de cursos na área de agricultura orgânica, o que possibilitou uma
pesquisa constante com os agricultores da região que desejavam mudar sua
maneira de pensar e aqueles que estavam pensando diferente. Esta prestação de
serviços para o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado do Paraná
(SENAR-PR) permitiu novas visões da realidade da região metropolitana, pois cada
grupo de educandos tinha características distintas, mas todos buscavam qualidade
de vida para sua família.
Em paralelo, a facilitação metodológica do Grupo de Estudos de Agricultura
Orgânica (GEAO), com suas reuniões mensais, também me aproximou dos
gargalos, pois os participantes eram de vários setores do movimento orgânico:
agricultores, consumidores, técnicos da pesquisa, da extensão, do ensino e
formuladores de políticas de estado. Nos eventos regionais e atividades promovidas
pelo órgão oficial de extensão, tive a oportunidade de consolidar as impressões,
hipóteses e conclusões deste trabalho.
26
3 MÉTODO E METODOLOGIA
3.1 O MÉTODO
O método de um trabalho pode ser definido como “o modo pelo qual os
estudiosos constroem seus conhecimentos no campo da ciência” (TURATO, 2003, p.
149). Neste trabalho foi escolhido o método complexo porque contempla a análise
de várias dimensões referente à determinada situação. Como afirma Mariotti (2000),
não se trata de teoria e sim de vida. Não basta fornecer “todas” as informações
sobre o assunto estudado, mas sim discutir e respeitar todas as suas dimensões e
articulações. Segundo Morin (2001), diante de outros métodos, pelas separações
das disciplinas e por conseqüência das dimensões, não é possível visualizar o
“todo”. Este saber, que isola as condições, fatores, não consegue agregar
conhecimentos transformadores da realidade, principalmente da realidade rural, que
devido às suas características intrínsecas é complexa.
Morin (2001, p. 339) pontuou que o método na visão de Descartes era “a
arte de guiar a razão nas ciências.” Nesta mesma obra, Morin avançou o conceito
dentro do método complexo e o definiu como “a arte de guiar a ciência na razão” (p.
338), o que demanda estratégia, arte e inventividade.
O método, gerado pela teoria, regenera-a. O método é a praxis fenomenal,
subjetiva, concreta, que precisa a geratividade paradigmática/teórica, mas
que, por sua vez, regenera esta geratividade. Assim, a teoria não é o fim do
conhecimento, mas um meio-fim inscrito em permanente recorrência.
(MORIN, 2001, p. 335 – 336)
na visão de Leff (2003), não um único método válido, mas métodos
que, ao trabalharem com a perspectiva da totalidade, podem e devem dialogar entre
si. Fonte afirma que (2004, p. 27),
o método da complexidade pede para que se pense nos conceitos sem
nunca -los por concluídos, para que se quebrem as esferas fechadas,
para que se restabeleçam as articulações entre o que foi separado, para
que se tente compreender a multidimensionalidade, para que se pense na
singularidade com a localidade, com a temporalidade, para que nunca se
esqueçam as totalidades integradoras.
27
Estes três autores tratam sobre a multidimensionalidade, que nos parece
ser uma das principais contribuições deste método. Porque a realidade é
multidimensional, cada dimensão retrata uma face desta mesma realidade e que não
devem ser tratadas de maneira isolada e não comunicante, na ótica de Morin (2001).
É o tecido formado por diferentes fios que se transformam em uma coisa. Então,
todas estas dimensões se cruzam, se entrelaçam para formar a realidade.
Morin (2001, p. 191-192) descreve o método complexo como uma estratégia
que nos permite avançar em terrenos desconhecidos. O autor compara com a arte
da guerra que
é estratégica porque é uma arte difícil que deve responder não à
incerteza dos movimentos do inimigo, mas também à incerteza sobre o que
o inimigo pensa, incluindo o que ele pensa que nós pensamos. A estratégia
é a arte de utilizar as informações que aparecem na ão, de integrá-las, de
formular esquemas de ação e de estar apto para reunir o máximo de
certezas para enfrentar a incerteza.
Nada mais apropriado para retratar a realidade na qual a agricultura orgânica
está “tecida” na RMC. Disputas, contradições, pressões ambientais, mercadológicas,
busca por qualidade, polêmica com relação aos preços, etc. Todos estes fatores
demandam a análise e interpretação a partir do método complexo e mediante as
metodologias que são apresentadas a seguir.
3.2 METODOLOGIA
Neste trabalho, se reconhece os termos método e metodologia como
distintos, apesar de serem tratados como sinônimos em muitos ambientes. O
método já foi descrito anteriormente e a metodologia compreende a organização dos
diversos métodos, seus paradigmas, objetivos, enfim as técnicas de pesquisa
relativas àquele campo do conhecimento (TURATO, 2003).
Dentro desta concepção e tomando como base o método complexo foram
escolhidas metodologias qualitativas para nortear o desenvolvimento desta
pesquisa, não deixando de lado nas análises as metodologias quantitativas. Nesta
28
pesquisa se adotou que ambas o se excluem, porém ampliaram a visão, pois
foram utilizadas com rigor científico e dentro de um contexto.
Neste sentido, considerando a importância da multidimensionalidade como
elementos de análise, vislumbra-se que a agricultura orgânica não pode deixar de
ser vista mediante o prisma da sustentabilidade. Caporal e Costabeber (2002a)
consideram-no possuindo seis dimensões distintas e relacionadas entre si, são elas:
ecológica, econômica, social, cultural, política e ética.
Na figura 2 é possível observar o caráter multidimensional da
sustentabilidade, inclusive com a proposição de diferentes níveis entre elas. As
dimensões contempladas no primeiro nível (ecológica, econômica e social) são
básicas para todo o processo. Não seria possível haver uma agricultura orgânica
sustentável na dimensão política (segundo nível) quando esta mesma não possui
sustentabilidade econômica.
FIGURA 2 – MULTIDIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE
FONTE: CAPORAL E COSTABEBER (2002a)
Nas metodologias qualitativas está compreendida uma preocupação que vai
além de leis e princípios. Por outro lado, a busca da qualidade é particularmente
“indicada para situações em que a teoria não é suficiente para solucionar o problema
e o pesquisador necessita buscar em campo as variáveis que serão consideradas na
análise”, como é o caso na presente (DENCKER, 1998, p.98).
Dentre as metodologias qualitativas, a observação participante compreende
uma forma de coleta de dados na qual o pesquisador interage pessoalmente com o
contexto observado. Segundo Haguette (2005), o observador pode desempenhar um
29
papel passivo, quando procura interagir o mínimo possível, ou um papel ativo, que
potencializa a sua participação, com a finalidade de obter dados de melhor
qualidade e integrar sua ação dentro das ações do contexto que observa.
Normalmente, quanto mais tempo o pesquisador está ligado ao contexto
pesquisado, mais se assume o papel de observador ativo, o que inclusive pode
facilitar mudanças na realidade.
Se por um lado esta abordagem favorece a qualidade dos dados, por outro,
em função da proximidade observador/observado, pode causar alguma diminuição
da percepção do contexto. Além disso, existe a desvantagem de não se poder
generalizar os dados para outras populações da mesma forma como se faria com
um levantamento quantitativo. Porém, a profundidade dos dados permite ilustrar
realidades e favorecer uma compreensão mais ampla de determinada situação. Nas
palavras de Haguette (2005, p. 76), “sua força é também sua fraqueza...”, avalia-se
os pontos positivos da abordagem com a consciência dos pontos fracos ou cego,
pelo envolvimento e proximidade com a atividade.
Enfim, para uma avaliação adequada da agricultura orgânica na RMC se
exige muitos métodos e dados. A pesquisa
da ação empírica exige [...] a observação sistemática dos acontecimentos;
inferir os sentidos desses acontecimentos das (auto-)observações dos
atores e dos espectadores [que] exige técnicas de entrevista; e a
interpretação dos vestígios materiais que foram deixados pelos atores e
espectadores [e que] exige [...] uma análise sistemática. (BAUER e
GASKELL, 2002, p. 18-19)
Na concepção de Bauer e Gaskell (2002), existem quatro dimensões na
pesquisa. A primeira diz respeito aos seus princípios estratégicos e neste caso, foi
escolhida a observação participante por contemplar os objetivos da melhor maneira.
A segunda é relacionada com os métodos de coleta de dados, basicamente
expressos por: entrevista individual, grupos focais, observação sistemática e coleta
de documentos. A terceira trata das análises dos dados, que é fundamental e
contempla análises qualitativas e quantitativas. Finalmente, a quarta dimensão
refere-se aos interesses do conhecimento que quando produzidos servem para
emancipação e “empoderamento” do segmento na região, ou seja, dos agricultores e
consumidores.
Esta técnica de observação participante foi utilizada em diversos eventos
ligados à agricultura orgânica, a maioria deles com freqüência regular, como é o
30
caso da reunião do grupo ligado à rede Ecovida de Certificação Participativa em
Campo Largo, do Grupo de Estudos de Agricultura Orgânica (GEAO), Colegiado
Paranaense para a Produção Orgânica (CPOrg), entre outros, que serão listados
posteriormente. Em nenhum dos casos foi ocultado o objetivo da pesquisa. A
importância destes diversos pontos de vista dos segmentos da atividade, em
diversos momentos, configuram um quadro analítico cada vez mais nítido. Esta
nitidez foi conseguida por repetidos questionamentos acerca dos fatores limitantes
ao desenvolvimento naqueles eventos.
3.2.1 Universo da pesquisa
A Região Metropolitana de Curitiba abrange 25 municípios, conforme a
figura 3. Porém, neste estudo foi feito um recorte para viabilizar as análises com
relação ao objetivo geral do trabalho no que diz respeito aos fatores que interferem
na consolidação do segmento. Portanto, foram considerados os municípios aonde o
trabalho dos agricultores orgânicos vem sendo realizado há mais de cinco anos e
onde os mesmos estão organizados ao redor de alguma entidade associativa. Estas
entidades são associações de produtores, cooperativa ou grupos ligados à Rede
Ecovida de Agroecologia. Estes critérios delimitam o universo da pesquisa e
permitem a avaliação das diversas hipóteses elencadas. Os municípios que se
enquadram nesta condição foram (10): Almirante Tamandaré, Bocaiúva do Sul,
Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Lapa, Mandirituba,
São José dos Pinhais e Tijucas do Sul.
Em função de aspectos práticos, os municípios foram agrupados
respeitando características similares, em dois sistemas distintos, representados por:
Campo Largo (Almirante Tamandaré, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul,
Campo Largo, Campo Magro, Lapa, Mandirituba,) e Colombo (Colombo, São José
dos Pinhais e Tijucas do Sul).
31
FIGURA 3 - IDENTIFICAÇÃO DOS SISTEMAS-TÍPICOS NA RMC
FONTE: IPPUC (2002)
O sistema-típico Campo Largo possui na sua maioria, produtores com
comercialização direta (feiras), certificação predominantemente participativa e
pequeno apoio de políticas públicas municipais. Campo Largo foi estudado como
município-tipo para que suas análises sirvam como ilustração para aqueles outros
pertencentes ao sistema. O sistema-típico Colombo demonstrou produtores com
comercialização indireta (associação e empresa), certificação predominantemente
auditada e médio a grande apoio de políticas públicas municipais.
3.3 FASE EXPLORATÓRIA
Inicialmente foi realizada a fase exploratória que compreendeu a busca de
materiais bibliográficos e realização de entrevistas abertas junto aos diversos
setores da agricultura orgânica da região. A pesquisa bibliográfica e a pesquisa
documental foram feitas junto às Associações de Produtores, entidades da
sociedade civil organizada, além dos dados das entidades governamentais e
trabalhos de pesquisa de pós-graduação de diversas áreas do conhecimento.
Sistema Campo Largo
Sistema Colombo
32
As informações coletadas nesta fase remontam materiais publicados ou
não, conversas, visitas técnicas realizadas, em suma as minhas atividades
profissionais, a partir de 1997 até a presente data.
3.4 TRABALHO DE CAMPO
O trabalho de campo compreendeu entrevistas semi-estruturadas junto aos
agricultores e suas famílias, entrevistas abertas junto aos representantes dos
diversos segmentos relacionados à agricultura orgânica e grupo focal contemplando
estes dois públicos.
A entrevista conferiu certa liberdade ao entrevistador para que o mesmo
faça as suas adaptações. Para Minayo (2001) a entrevista é o procedimento mais
usual no trabalho de campo. Por meio dela, o pesquisador busca obter informações
contidas na fala dos atores sociais. Com o enfoque qualitativo, a entrevista não é
feita para contar opiniões ou pessoas e sim para explorar os diversos pontos de
vista. Em um determinado meio social, existe normalmente um número relativamente
limitado de opiniões sobre uma temática. Por isso foi feita uma seleção intencional
dos agricultores entrevistados, o que não pode ser confundido com amostra, onde:
a amostragem carrega, inevitavelmente, conotações dos levantamentos e
pesquisa de opinião onde, a partir de uma amostra estatística sistemática
da população, os resultados podem ser generalizados dentro de limites
específicos de confiabilidade (BAUER e GASKELL, 2005, p.68).
Neste caso, o número de entrevistados foi considerado suficiente (10 em
Campo Largo e 10 em Colombo) para uma avaliação da realidade com
profundidade. O interesse ao fazer a seleção dos entrevistados foi o de descobrir o
que justifica e fundamenta aqueles diferentes pontos de vista.
As entrevistas estão distribuídas da forma apresentada (TABELA 1),
privilegiando as várias instâncias que compõem o segmento na região. Buscou-se
levantar subsídios para posterior análise por triangulação (investigar um mesmo
ponto de mais de uma maneira), conforme enfatiza Dencker (1998), como um dos
procedimentos para maximizar a confiabilidade dos dados. O ítem universo estimado
compreende a quantidade de pessoas aproximada em determinado estrato. A
33
percentagem do universo retrata a quantidade de pessoas entrevistadas em relação
ao universo estimado.
TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DAS ENTREVISTAS NA RMC
DESCRIÇÃO DO PÚBLICO NÚMERO DE
ENTREVISTAS
UNIVERSO ESTIMADO % DO
UNIVERSO
Profissionais da extensão e de
assistência técnica*
2 2 100
Agricultores 10 /município
-típico
20 em Campo Largo e
30 em Colombo
50 e
33
Gerentes do Banco do Brasil
dos municípios*
2 2 100
Dirigentes municipais de política
agrícola*
2 2 100
Dirigentes de Associações de
produtores orgânicos*
2 3 66
FONTE: CIDADE JUNIOR (2006)
NOTA: (*) O público identificado foi entrevistado por meio do roteiro do apêndice 2
Antes da realização definitiva das entrevistas foi feita uma entrevista-piloto
com os agricultores orgânicos de Campo Largo. Procedeu-se alguns ajustes de
linguagem e forma e daí mais uma vez foi testada, desta feita em Campo Magro.
Mais alguns ajustes se fizeram necessários e então a entrevista foi levada à campo.
A seleção dos entrevistados foi feita priorizando os agricultores familiares
em detrimento dos chamados neorurais, os quais são formados por pessoas
oriundas do meio urbano, que adquirem propriedade rural e desenvolvem diversas
atividades agrícolas (FEIDEN, 2001). Isso se deu, devido ao grande número de
agricultores familiares que se encontram na região e que poderão ser beneficiados
pelos resultados da pesquisa. Em contrapartida, os agricultores neorurais, devido às
suas características econômicas e sociais, não enfrentaram os mesmos entraves
que os familiares. A sua entrada na seleção dos entrevistados acarretaria uma série
de equívocos nas conclusões, pois os entraves dos neorurais não se configuraram
nas respostas dos agricultores familiares (DAROLT, 2000).
Nesta fase do trabalho, as entrevistas foram divididas em duas partes. Um
primeiro contato, onde os objetivos do trabalho foram apresentados e inclusive para
aqueles agricultores que ainda não conheciam o entrevistador. Foi feita a
apresentação pessoal, além de informar que o extensionista municipal conhecia a
pesquisa e havia recomendado seu nome. Este último fato colaborou no sentido de
dar mais confiabilidade ao pesquisador e reduzir as dúvidas e medos naturais dos
agricultores diante de uma pessoa estranha que fez muitas perguntas, em um
34
contexto metropolitano cada vez mais violento. No caso de concordância da família
em participar da pesquisa, se agendou a data da próxima fase.
A segunda parte foi composta por uma vivência, onde o pesquisador passou
de 4 a 6 horas junto com a família em atividades cotidianas de trabalho. Desta
forma, vários aspectos foram observados, desde as questões tecnológicas até os
motivos de mudança e as lógicas contempladas nestes processos. Na seqüência foi
feita uma entrevista semi-estruturada, conforme apêndice 1.
Nesta entrevista,
algumas perguntas foram feitas para confirmar ou confrontar o discurso com a
prática do agricultor, devido à observação anterior. Ao final da entrevista deixou-se
uma folha contendo os principais pontos da conversa para que na eventualidade da
família recordar de alguma questão relevante, pudesse então anotar para posterior
coleta, no caso no grupo focal, porém não houve retorno de nenhuma folha.
A etapa seguinte compreendeu um trabalho de grupo focal. Foi proposta
uma reunião com todos os participantes daquele município, onde foram discutidos os
resultados levantados nas entrevistas. Diante da perspectiva grupal e comunitária,
foi feita uma leitura da dinâmica coletiva no sentido de buscar ainda mais
contextualização. Isso se porque os valores do grupo influenciam as atitudes de
cada família individualmente e vice-versa. Barros (1994, p. 412-413) afirma que
“entre nós e os demais membros do nosso grupo uma atitude de ‘expectativa’,
que é bidimensional, porque sempre esperamos dos outros determinada atitude, ao
mesmo tempo que os outros esperam de nós a mesma coisa.”
Nesta reunião, os participantes foram estimulados a falar sobre os pontos
mais centrais da pesquisa e foi observada a dinâmica grupal. Em comparação com a
entrevista, o grupo focal possui uma interação mais profunda, pois é uma pequena
unidade social em ação. Nela “os sentidos ou representações que emergem são
mais influenciados pela natureza social da interação do grupo em vez de se
fundamentarem na perspectiva individual, como no caso da entrevista.” (BAUER e
GASKELL, 2005, p.75).
No grupo focal se manifestam processos que dificilmente afloram em uma
entrevista e que são fundamentais na explicação de gargalos ou dificuldades para o
avanço da agricultura orgânica. O grupo possui atributos diferenciados, por exemplo,
sinergia: ele representa mais do que a soma de cada participante. Nesta unidade
social em movimento de ação e reação, percebe-se um envolvimento emocional que
dificilmente é notado em uma entrevista. Os processos de liderança e expressão de
35
opinião se manifestam colaborando na triangulação das análises (BAUER e
GASKELL, 2005).
Para este trabalho foram utilizados figuras e objetos como materiais para
estimular a discussão e a reflexão, o que redundou em bons resultados, por ampliar
a contextualização da problemática e de alguma forma poder concretizar o tema.
Neste sentido, Minayo (2005) afirma que o objetivo reside em explorar a “topografia”
das opiniões, buscando os assuntos mais polêmicos, que inevitavelmente estão
ligados aos gargalos da agricultura orgânica na região.
Com relação ao trabalho de campo, muitos dos agricultores que foram
entrevistados já conheciam o pesquisador de longa data. Especialmente, os
agricultores de Campo Largo, município que trabalho 11 anos e onde
começamos a agricultura orgânica praticamente juntos. Aprendi muito com eles e a
recíproca é verdadeira. Por outro lado, com os agricultores de Colombo, tive uma
vivência menor, pois trabalhei no município por um período curto. Mas, em diversas
visitas técnicas e eventos, sempre mantivemos contato. Estas visitas técnicas
privilegiavam o município de Colombo em função do número de agricultores
orgânicos do município, políticas de apoio e associativismo consolidado.
Este trabalho difere de outros, pois os entrevistados foram observados,
analisados, indagados, muitas vezes e por muito mais tempo do que por uma
entrevista padrão ou questionário. Este fato colabora no sentido da acuracidade dos
dados levantados, pois além do instrumento de coleta de dados (roteiro de
entrevista) existe o conhecimento do histórico da família, da área e não apenas uma
fotografia do presente, que pode às vezes iludir o pesquisador menos atento.
Neste sentido, o entrevistador não é um total desconhecido, pois faz parte
do segmento, o apenas como consultor, pesquisador, mas também como
consumidor. O entrevistado pôde dedicar-se aos pontos nevrálgicos do trabalho e
em momentos específicos foi questionado em função do histórico e da realidade
conhecidos pelo entrevistador.
Por certo, esta posição não tem apenas vantagens, pois em algumas
questões, o que se perguntou dizia respeito ao trabalho de pessoas próximas ou até
do próprio entrevistador. Mas, na ciência não é possível pensar que o observador
não afeta o observado. Quem assim o faz, acaba se iludindo, pois um simples gesto
descontextualizado durante uma entrevista pode mudar todo o seu resultado.
Segundo Minayo (2005), em sendo a observação uma interação de pessoas, nela o
36
pesquisador altera o contexto e por ele é alterado. Se por um lado, a presença do
observador pode provocar comportamentos artificiais ou respostas “bonitas” e falsas;
por outro, quanto maior o tempo no campo de pesquisa, menor o efeito-visita. Os
agricultores tanto em grupo quanto no âmbito de sua família foram se acostumando
com a presença do observador, o que favoreceu e muito a pesquisa.
Também, foram coletados dados e informações oriundas das reuniões
mensais do GEAO (Grupo de Estudos de Agricultura Orgânica). Neste grupo foram
discutidos temas no âmbito da Região Metropolitana com os diversos atores. A
seleção do tema é definida no mês anterior e o grupo busca pessoas/instituições
para aprofundar o mesmo. A participação foi livre e os participantes foram bastante
heterogêneos quanto aos municípios e papéis dentro do segmento. Desde
estudantes, consumidores, agricultores até dirigentes setoriais participaram das
reuniões. Neste grupo foram gerados relatos que além de serem enviados aos
participantes para averiguar a sua fidedignidade, serviram como coleta de dados no
âmbito da observação participante.
Portanto, neste enfoque existe a integração do pesquisador que tem um
papel no grupo pesquisado, mas não tem uma ação pré-estabelecida. Na realidade
o grupo conhecia os objetivos da pesquisa e o próprio pesquisador. Um dos pontos
mais ricos deste enfoque é a possibilidade de observar as relações e inter-relações
entre os atores no momento em que elas ocorrem e a partir disso estabelecer alguns
indicativos que apenas em entrevistas isoladas não seriam captados (DENCKER,
1998).
Em suma, buscou-se, através destas abordagens (qualitativas),
apreenderem a dinâmica e a complexidade dos fenômenos sociais em seu contexto
natural, apresentando-se como alternativa para a rigidez, a fragmentação e o
distanciamento entre pesquisador e objetos pesquisados (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).
3.5 ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO
A análise e interpretação dos dados exigem tempo e esforço. Não existe
uma fórmula ou planilha que tabula as informações qualitativas. Bauer e Gaskell
(2005) concluíram que esta fase demanda uma imersão do pesquisador na
37
pesquisa, onde um processo de leitura e releitura dos roteiros, aliados às
observações durante e após as entrevistas. O que residia nas entrelinhas e o que
não foi falado, mas foi comunicado, colaborou no processo de traçar algumas linhas
de análise.
As entrevistas o foram transcritas, porém durante a realização das
mesmas, todas as informações eram anotadas, inclusive os pensamentos não
relacionados àquela pergunta, pois de alguma maneira havia uma ligação entre eles.
Após o final de cada entrevista, distante dos entrevistados, se gravava uma série
de impressões, comentários e fatos observados durante a entrevista e a vivência. No
momento da análise das entrevistas, estes comentários foram recuperados para
colaborar no processo de interpretação. O mesmo se deu após a realização dos
grupos focais para manter a riqueza das discussões.
A organização dos dados para posterior processamento é uma das fases
mais complexas na análise desta pesquisa e está ligada intensamente com as fases
anteriores. Neste caso, foram planejados eixos comuns que guiaram a organização
dos dados e sua posterior análise. Por exemplo, nas dificuldades dos agricultores no
período de conversão, foram elencadas, na parte qualitativa, fatos e informações
que possibilitassem dimensioná-las, considerando um repertório de respostas. Da
mesma forma, na parte quantitativa, os relatos foram organizados de modo que
ampliassem o entendimento da mesma questão que fora qualitativamente
dimensionada (MINAYO, 2005).
Com relação aos dados coletados através das entrevistas, eventos e
vivências nos municípios de Campo Largo, Colombo e Curitiba, foram suficientes
para a análise das hipóteses. Neste sentido, observou-se que as informações e
idéias sobre as questões da pesquisa começavam a se repetir, dentro do número de
entrevistas arbitrado. Esta condição indica, segundo Minayo (2005, p.189) “que o
material construído no campo está suficiente” e que o número de entrevistas e a
seleção dos entrevistados foram acertados.
Contribuindo na organização dos dados, foram elaboradas estruturas de
análise. Elas foram constituídas por aproximações progressivas que deram origem a
conjuntos, por exemplo, quanto à certificação foram agrupadas questões relativas à
motivação, avaliação de custo, quantidade de certificados por propriedade,
impressões sobre a mesma, demandas de melhorias nas propriedades. Enfim, todas
38
estas informações eram organizadas para se estabelecer as conclusões da forma
que as mais diversas categorias facilitassem a compreensão do todo.
Os prodedimentos que se seguem foram adotados para as análises:
considerou-se como fundamental a fala e a prática dos agricultores e
os não-agricultores (técnicos, gestores e consumidores) nas
entrevistas individuais, por se avaliar que este era o material mais
rico da investigação qualitativa;
igualmente, foi considerada a fala, a interação nos grupos focais e
reuniões observadas;
os materiais foram divididos por duas categorias de atores:
agricultores e não-agricultores;
objetivou-se triangular as falas dos grupos focais com as entrevistas
individuais, relatos de observação no campo, além de materiais
produzidos pelo setor na região;
os relatos de cada categoria foram organizados ao redor das
questões principais (fatores que afetam o desenvolvimento):
tecnologias de produção vegetal, políticas mantidas com recursos
públicos, mercado e estratégias de organização;
dentro de cada categoria, separaram-se os relatos por sistema-típico
(Campo Largo e Colombo) (MINAYO, 2005).
É necessário chamar a atenção para alguns conceitos básicos ligados ao
termo interpretação. Segundo Minayo (2005), é fundamental a diferenciação de
descrição, análise e interpretação de dados. De fato, na descrição existe apenas a
reprodução dos dados, com a idéia questionável de que “os dados falam por si”. A
análise preconiza a decomposição de um conjunto de dados e busca a relação entre
as partes. Normalmente, é um passo além da descrição. Finalmente, a interpretação
busca os sentidos das falas, ações e reações para chegar além dos limites da
análise e da descrição. Este “é o ônus do investigador” (MINAYO, 2005, p. 203).
Diante deste ônus, não se pode esquivar, quando o objetivo é uma pesquisa
conseqüente.
Ainda, segundo Minayo (2005), a interpretação é a parte mais rica do
trabalho, pois representa uma interpretação das interpretações dos entrevistados. Se
por um lado, os procedimentos de descrição e análise dividem, separam e
39
desconstróem, por outro lado, na interpretação são substituídos por atividades de
síntese, de tecer junto e de suturar. Nesta etapa, explica-se o que foi dito, visto,
representado, sentido e também se conta dos conflitos e paradoxos inerentes à
mesma.
Esta “sutura” ocorreu e viabilizou a contextualização concebida inicialmente
da pesquisa, a partir dos diálogos entre:
a dimensão teórica (os conceitos e os referenciais) e os dados
empíricos;
os textos e seus contextos;
as questões, os pressupostos, os objetivos e os dados; as informações
trazidas do campo e os indicadores previamente estabelecidos
(MINAYO, 2005, p. 207).
40
4 A AGRICULTURA NA RMC
A agricultura na RMC teve grande impulso com a chegada dos imigrantes
europeus no final do século XIX. Isso se deu em função da influência do presidente
da Província do Paraná, o Sr. Lamenha Lins, que incentivou este processo para
dotar a capital de abastecimento de alimentos (SAGA DOS POLACOS, 2007). Com
o passar do tempo as colônias foram se estruturando e desenvolvendo suas
aptidões agrícolas. Os colonos poloneses e ucranianos avançaram na cultura da
batata, centeio e trigo. os italianos, que trouxeram a videira, implementaram a
vitivinicultura. Segundo Camargo (2006), até 1900, cerca de 29 colônias foram
instaladas ao redor de Curitiba com aproximadamente 30 mil imigrantes. Enfim, cada
colônia buscou a sua subsistência e depois a comercialização através de feiras que
aconteciam no centro de Curitiba, mais precisamente no Largo da Ordem e também
em outras regiões.
A agricultura aos anos de 1960 era diversificada e integrava a pecuária e
a agricultura além da exploração das florestas remanescentes. Havia pouca
depedência de insumos de fora da propriedade e os animais eram a principal forma
de tração.
nos anos 1970, com o processo chamado modernização da agricultura,
fomentou-se pelo uso do crédito rural a adoção de pacotes tecnológicos que
visavam basicamente o aumento da produção utilizando intensivamente os adubos
químicos, sementes melhoradas, os agrotóxicos e a tração mecânica. Foram criadas
as Centrais de Abastecimento do Paraná S.A. (CEASA) em Curitiba para organizar o
mercado, a Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná (ACARPA) atual
EMATER-PR estava em fase de grande crescimento.
Nos anos 1980, as áreas cultivadas cresceram e a cultura da batata
generalizou-se na porção oeste da RMC, enquanto a olericultura avançou no norte e
leste.
Na década de 1990 os efeitos deletérios da agricultura moderna começaram
a se expressar por meio do aumento das intoxicações de agricultores, perdas de
solos e contaminação de mananciais. Os prejuízos econômicos para os agricultores
que não conseguiram competir com outras regiões produtoras levaram muitos a sair
da região ou parar com as atividades.
41
A RMC sofreu grandes mudanças nos últimos 15 anos. A cultura da batata,
que era um sustentáculo da economia de muitos agricultores e fazia o comércio
próspero em muitos municípios, migrou para regiões que ainda possuíam solos em
condição de suportar a cultura em manejo convencional. As culturas de milho e
feijão também migraram para regiões com áreas maiores e relevo que facilita a
mecanização, notadamente o Centro-Oeste brasileiro. Com a perda de
competitividade para estas áreas, muitos agricultores se inviabilizaram e passaram
por um tempo de descapitalização e sucateamento de máquinas e equipamentos
(COSTA, 2004).
Um expressivo êxodo rural, principalmente de jovens, se abateu sobre a
região. A proximidade da capital, o acesso facilitado através de uma rede integrada
de transporte público e os insucessos na agricultura configuravam um sedutor
convite. Desta forma, Moura e Kleinke (1999), avaliaram o crescimento populacional
da capital e dos núcleos urbanos das cidades metropolitanas como significativo.
Outro fator que colaborou neste processo foi a atração de diversas indústrias do
ramo da metal-mecânica para a região em meados dos anos 1990.
Todos estes fatores colaboraram para o aumento da demanda de água na
RMC, o que impulsionou a Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) a
buscar mais locais para a captação de água e fomentar a melhoria da qualidade em
alguns outros. Para tanto, foram criadas diversas APA’s estaduais para a proteção
dos mananciais e com isso ficaram estabelecidos zonamentos específicos para
estas áreas (ANDREOLI et al., 2000).
Se por um lado a legislação buscava proteger os mananciais, por outro lado
restringia as atividades agropecuárias convencionais pelo seu impacto no ambiente.
Isto abriu diversas possibilidades para a implantação da agricultura orgânica em
áreas significativas, porém não é o que se observa na realidade, conforme será
discutido mais adiante.
A figura 4 mostra a divisão da região para os trabalhos do órgão oficial de
extensão rural: Microrregião de Agricultura Intensiva, Microrregião do Alto Ribeira e
Microrregião dos Mananciais (EMATER-PR, 2004).
42
FIGURA 4 – DELIMITAÇÃO DAS MICRORREGIÕES DA RMC
FONTE: COMEC (2004b)
Curitiba
Microregião de Agricultura Intensiva
Microregião do Alto Ribeira
Microregião dos Mananciais
43
4.1 A AGRICULTURA ORGÂNICA NA RMC
4.1.1 Histórico
Como já mencionado, a agricultura orgânica na região teve seu início por
meio de um trabalho do órgão oficial de extensão rural (EMATER), no início dos
anos 1980, no município de Agudos do Sul, sendo que após a saída do profissional
que assessorava o grupo de agricultores o trabalho ficou prejudicado. Por volta de
1986, uma família de agricultores chegou do oeste do estado com uma experiência
de 15 anos de produção orgânica na bagagem. A família Konzen estabeleceu-se no
município de Colombo e iniciaram suas atividades. Faziam a comercialização por
meio de sacolas, e em 1991 conseguiram autorização para montar uma barraca na
feira de artesanato do Largo da Ordem em Curitiba (MANUAL DE AGRICULTURA
ORGÂNICA, 1991).
Segundo Darolt (2000), neste mesmo ano, era criado o Instituto Verde Vida
de Desenvolvimento Rural (IVV), por um grupo de técnicos e pessoas que
desejavam expandir e promover a agricultura orgânica nos moldes do Instituto
Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD) de Botucatú SP. Suas atividades
foram focadas em cinco regiões no Paraná, estando a RMC contemplada em um
projeto de olericultura.
Com o avanço destes trabalhos novos agricultores foram se aproximando
desta “nova maneira de produzir. A partir de junho de 1993, um grupo maior de
feirantes se somou à família Konzen, na feira de domingo. Mas, das oito barracas
pioneiras restaram cinco no final de 1994. Ainda neste ano, com o advento do
Programa Paraná Rural, do governo estadual em parceria com o Banco Mundial,
foram capacitados 25 extensionistas da EMATER-PR (DAROLT, 2000).
Segundo CEAO (2002) após pesquisas da Prefeitura Municipal, bem como
a consulta aos agricultores e também apoio da EMATER-PR, foi recriada aquela
feira, porém em local e dia diferenciado: Passeio Público e aos sábados. A nova
iniciativa aconteceu em março de 1995 e contou com 10 agricultores.
A partir da Associação Paranaense dos Secretários do Meio Ambiente e
Agricultura (APASEMA) foi organizada uma excursão técnica para o Rio Grande do
44
Sul, envolvendo agricultores e profissionais das Prefeituras e EMATER-PR da RMC
em 1996. Durante dois dias, o grupo visitou propriedades orgânicas e comprovaram
a sua viabilidade. Nesta empreitada, conheceram pessoalmente o Sr. Delvino
Magro, o qual preconizou o biofertilizante “Supermagro”. Este grupo retornou a RMC,
com muitas idéias e animados pelos profissionais da assistência técnica iniciaram as
suas experiências (CIDADE JUNIOR
3
, 1996).
Afirma Karam (2001) que a atividade encontrava-se em franca expansão,
originando ainda em 1995 a Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA),
com sede em Quatro Barras e atualmente intitulada Associação para o
Desenvolvimento da Agroecologia. Nesta época, o IVV conseguiu aprovar um
projeto junto a entidades européias e com isso pode implementar a assistência
técnica aos agricultores.
Em 1996, a AOPA firmou uma parceria com a Associação Estadual de
Cooperação Agrícola (AESCA) e com uma agência de cooperação belga e
viabilizaram recursos para implementar o Programa Regional de Agroecologia
(PRA). Este programa teve o enfoque no desenvolvimento da agricultura orgânica
mediante a visão de toda a cadeia (CEAO, 2002). O efeito desta iniciativa e de
outras proporcionou os resultados que podem ser avaliados na figura 5.
ATIVIDADES NÚMERO DE ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS 1996
1997
1998
1999
Agricultores Orgânicos 180 219 265 301
Grupos de Agricultores Orgânicos
9 13 18 21
Municípios 9 13 16 19
Feiras 1 2 2 2
Lojas (Superm., Quitandas) 0 4 12 21
FIGURA 5 - EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ATIVIDADES LIGADAS À PRODUÇÃO ORGÂNICA NA
ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA DO PARANÁ (AOPA)
FONTE: CEAO (2002); DAROLT (2000)
no ano de 1997, a AOPA passou a atuar junto com a Associação de
Produtores Agrícolas de Colombo (APAC) e otimizou o uso de suas instalações, bem
como fortaleceu o grupo de agricultores daquele município. A parceria foi proveitosa
também para a APAC que se beneficiou da base filosófica e da organização da
AOPA (SILVA, 2002).
3
CIDADE JUNIOR, H. A. Relato de viagem à Ipê e Antônio Prado – RS. Araucária, 07/1996.
Informação verbal.
45
A parceria entre as associações durou até o ano de 2000, quando
divergências entre seus dirigentes levaram a AOPA a buscar nova localização em
Curitiba. Percebe-se assim a fragilidade do associativismo na região, inclusive entre
associações. Com esta cisão, as duas associações passaram a ser concorrentes
como fornecedoras das redes de supermercados de Curitiba.
A AOPA apresentou dificuldades na comercialização e pagamentos dos
associados que amargaram prejuízos no ano de 2001, levando ao encerramento das
atividades comerciais da associação. No início de 2002, foi fundada a empresa
Armazém Agroecológico pela empresa INCOFIN Paraná Participações S.A. e um
grupo de consumidores e agricultores para operacionalizar vendas de produtos, que
durou até 2003. A partir daí a AOPA trilhou um caminho mais próximo das atividades
de uma organização não governamental, com uma representação mais pronunciada
diante de outras entidades e do governo, além de organizar a produção e tentar abrir
novos canais de comercialização (CEAO, 2002).
Neste sentido, ainda segundo CEAO (2002), foi elaborado um trabalho em
conjunto com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para resolver a
problemática do processamento do leite e derivados que vinha apresentando
problemas, que variavam desde maquinários, tecnologias até questões legais.
Porém, as dificuldades prevaleceram e atualmente existe apenas um produtor de
leite orgânico na RMC, o qual possui um prazo para finalizar seu processo de
adequação.
Em outras áreas os agricultores individualmente continuaram suas
atividades, comercializando por meio das feiras ou por empresas. A AOPA buscou
uma nova missão mais voltada ao fomento da agroecologia, cursos e execução de
projetos e desde então desenvolve projetos como o Iguatu e Florestando, alguns
deles com abrangência na RMC.
Como a atividade anterior da AOPA estava ligada à comercialização, a
certificação dos grupos era realizada sob a organização da mesma. Ao mudar o
foco, os grupos integrantes ficaram sem certificação. Como havia uma articulação
nos estados do sul do Brasil referente à certificação participativa, a AOPA através de
sua estrutura e conhecimento regional criou o cleo Maurício Burmester do Amaral
(MBA) para que pudesse ser realizada esta maneira de certificação em 14/11/2002
(PINHEIRO, 2004).
46
Já a APAC, ampliou suas instalações com recursos do Programa Paraná 12
Meses e com verbas de emendas parlamentares sendo uma referência no estado,
recebendo diversas caravanas técnicas para conhecer os associados e sua infra-
estrutura. Porém, em 2005, em uma conjugação de problemas administrativos, de
descontos absurdos exigidos pelas redes de supermercados e de falta de
acompanhamento dos associados, esta associação fechou as portas. Era a última
associação da RMC que funcionava com atividades comerciais e encerrou seu
funcionamento após 20 anos deixando dívidas e dúvidas.
Ainda com relação ao histórico do setor empresarial é possível citar
iniciativas, como a da empresa Nova Era (Campo Largo - 1998-99) que
comercializava com redes de supermercado. o resistiu às práticas de
comercialização dos supermercados, tendo que ratear os prejuízos com os seus
fornecedores (outros agricultores familiares), alguns deles desanimaram de maneira
definitiva e retornaram para a convencional.
a empresa Rio de Una, começou a se estruturar no ano 2000, com a
contratação da agrônoma Rosângela de Almeida, que iniciou os trabalhos na região
de Colombo, quando prestou serviços para a EMATER-PR. Sua linha de produtos é
composta por hortaliças embaladas e processadas e está presente nas maiores
redes de supermercados.
Para completar as iniciativas empresariais, cita-se a empresa Fruto da
Terra, que é oriunda de Colombo. Seus proprietários tiveram a oportunidade de ir na
viagem técnica ao Rio Grande do Sul (1996) e iniciaram a produção orgânica
naquela época. Foram associados da AOPA, depois fizeram parte dos agricultores
que abasteciam a AOPA e a APAC e finalmente desenvolveram-se a ponto de
seguirem seu próprio caminho, na comercialização.
4.1.2 O conceito adotado
No presente trabalho se reconhece a discussão e confusão de termos
envolvendo a agricultura orgânica e a agroecologia na RMC. Porém, este litígio não
é o foco principal deste trabalho, portanto assume-se aqui a expressão agricultura
orgânica, porque é o termo mais consolidado junto aos agricultores e consumidores
47
da região. É necessário esclarecer que mesmo o termo orgânico ainda é uma
incógnita para muitos consumidores que costumavam igualá-lo com a hidroponia
4
.
Isso quando não afirmam que aquela é superior a esta, pelas plantas não estarem
em contato com a terra.
Além disso, o que contribui ainda mais para esta confusão é a prática de
algumas redes de supermercado que misturam deliberadamente estes produtos nas
gôndolas. Esta confusão foi bem relatada nos estudos de Silva (2006, p. 77) que
afirmou: “para muitos consumidores, um passa por sinônimo do outro.”
Adicionalmente, a legislação brasileira relativa ao assunto, por meio da Lei
10.831 de 23/12/2003, concebeu que:
O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial
abrange os denominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo,
biológico, agroecológicos, permaculturas e outros que atendam os
princípios estabelecidos por esta Lei (BRASIL, 2003).
A dimensão legal colabora para a organização de qualquer setor e a partir
da regulamentação da lei será possível vislumbrar menos confusões de termos.
O conceito de sistema orgânico de produção adotado por esta lei é:
Todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a
otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o
respeito à integridade cultural das comunidades rurais tendo por objetivo a
sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios
sociais e a minimização da dependência de energia não-renovável,
empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e
mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação
do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes,
em qualquer fase do processo de produção, processamento,
armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio
ambiente (BRASIL, 2003).
Entretanto, foi identificado na região, notadamente no segmento dos
profissionais de assistência técnica, algumas organizações o governamentais
(ONG’s), empresas públicas e universidades, uma corrente pontuando a
agroecologia com um patamar superior à agricultura orgânica e em alguns casos
uma simples substituição de termos. Segundo Caporal e Costabeber (2002a, p. 71),
é muito comum confundir a “Agroecologia com um modelo de agricultura, (...) e a
4
Hidroponia é uma técnica de cultivo de plantas em meio líquido, utilizando uma solução com adubos
altamente solúveis. Nesta técnica, a utilização de agrotóxicos não é proibida, ocorrendo com
freqüência.
48
com a oferta de produtos “limpos” ou ecológicos”. Essa confusão é amplificada,
quando os agricultores ouvem frases equivocadas do tipo: “agora, temos que
converter as áreas orgânicas para agroecológicas”. Isto piora o quadro de
entendimento dos consumidores, que conforme já mencionado, não estão
solidamente posicionados sobre o que é o alimento orgânico, quanto mais sobre o
agroecológico.
No entendimento de Caporal e Costabeber (2002a), a agroecologia é um
enfoque científico fundamental para subsidiar a transição da agricultura
convencional para modelos mais sustentáveis. No entanto, ela vai além de uma
disciplina, reúne vários campos do conhecimento. Colaborando neste sentido,
segundo Gliessman (2005, p. 56), a agroecologia é o estudo de processos
econômicos e de agroecossistemas” e também “um agente para as mudanças
sociais e ecológicas complexas que tenham necessidade de ocorrer no futuro a fim
de levar a agricultura para uma base verdadeiramente sustentável.”
Finalmente, conclui-se que a agroecologia não é um novo tipo de
agricultura, porém propõe e estuda caminhos para agriculturas mais sustentáveis. É
uma ciência. As cisões e partidarismos observados, onde os defensores da
agroecologia criticam os da orgânica, são contraproducentes.
O fato que deve ser criticado é a “agricultura ecologizada”, que segundo
Caporal e Costabeber (2002a), não se sustenta no passar do tempo, tem
características próximas da convencional, porém “maquiada” com alguns atributos
verdes. Esta agricultura, apenas troca os insumos, consegue atender os parâmetros
mínimos das normas de produção, por algum tempo, mas não se preocupa com a
sustentabilidade do sistema. O único objetivo desta agricultura é um prêmio
econômico e por isso minimiza certos compromissos éticos, ambientais e sociais.
Então, chamar isso de agricultura orgânica é prestar um desserviço à comunidade,
aumentar a confusão dos consumidores e criar polêmicas desnecessárias no setor.
O conceito adotado de agricultura orgânica neste trabalho é derivado da
frase do agricultor gaúcho Jaime Tondello, que ao receber a delegação de técnicos
e agricultores da RMC, em 1996, sentenciou: “agricultura orgânica é o agricultor
estender a sua mesa ao consumidor”
(CIDADE JUNIOR, 1996). Trata-se de alimento
produzido com qualidade, respeito, tecnologia, amor, saúde, enfim, muitos valores
dificilmente mensuráveis e pertencentes às dimensões distintas. Definitivamente, vai
49
muito além do simplismo de não utilização de agrotóxicos e adubos altamente
solúveis e possuir um selo.
4.2 OS AGRICULTORES ORGÂNICOS E SUAS PROPRIEDADES
Os agricultores orgânicos na RMC têm sido classificados em três trajetórias
sociais diferentes, conforme Darolt (2000), Karam (2001) e Pinheiro (2004, p. 79):
“agricultor tradicional”, para os casos em que o entrevistado percorreu toda
a sua trajetória social no meio rural; “neorural” para designar pessoas
provenientes do meio urbano e que posteriormente se tornaram
agricultores e “migrante” para aquele agricultor que migrou para a cidade,
teve um período de experiências urbanas e retornou posteriormente a
agricultura.
Neste trabalho, foi priorizada a categoria dos “agricultores tradicionais”
devido à representatividade desta em relação às outras no contexto metropolitano e
por ser esta categoria que enfrenta de maneira mais intensa os fatores que afetam o
desenvolvimento, aqui chamados de gargalos.
Em pesquisa realizada entre 1998 e 2000, Darolt (2000) evidencia que a
maior parte dos agricultores orgânicos entrevistados por ele estava concentrada em
três municípios: Colombo (26,3%), Tijucas do Sul (26,3%), Campo Largo (22,8%) e o
restante (24,6%) estava distribuído em outros nove municípios. No que tange às
características pessoais, a maioria possuía na época idade média de 40 anos, eram
“casados (76,5%) e em média as famílias são compostas pelo casal e mais 2 ou 3
filhos” (DAROLT, 2000, p. 181). Em outra pesquisa, Darolt afirma que os agricultores
orgânicos são mais jovens e têm um mero menor de filhos que os convencionais.
(DAROLT, 1999)
Ainda sobre o perfil dos agricultores orgânicos, Darolt (2000) afirma que
89,7% são proprietários das áreas, o que configura um nculo estável com a terra,
colaborando para a sustentabilidade da atividade. Cerca de 82% do que foi
produzido serve para a comercialização. Ainda, 17,5% não possuíam animais na
unidade produtiva, além da constatação da pouca produção de frutas, o que
caracteriza uma debilidade do sistema com relação à diversidade de produtos.
50
Finalmente, nesse estudo conduzido quase 10 anos, 95% dos agricultores
desconheciam as políticas públicas para o setor.
4.2.1 Motivação
A presente pesquisa levantou nos dois municípios-tipo dados referentes aos
51
20%
10%
70%
Sde
Ambientais e
filosóficos
Econômicos
FIGURA 6 MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE CAMPO LARGO
ENTREVISTADOS NA PESQUISA
FONTE: O AUTOR (2007)
27%
15%
13%
9%
9%
27%
Sde
Não Agredir o
meio ambiente
Qualidade de
vida
Não usar
agrotóxico
Econômicos
Outros
FIGURA 7 – MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES FEIRANTES EM CURITIBA
FONTE: CURITIBA (2006a) ADAPTADO PELO AUTOR
Em Colombo, neste mesmo sentido, os motivos que levaram as famílias
entrevistadas para a mudança de sistema estão expressos na figura 8, onde
novamente as questões econômicas foram as prevalentes.
20%
40%
10%
30%
Sde
Ambientais
Econômicos
Incentivo de
técnicos
FIGURA 8 MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE COLOMBO ENTREVISTADOS
NA PESQUISA
FONTE: O AUTOR (2007)
52
em outro estudo conduzido em Colombo, Almeida (2003) discutiu as
motivações para a mudança para agricultura orgânica. Encontrou 50% dos
entrevistados afirmando que o motivo era a perspectiva de ampliar rendimentos
aproveitando o crescimento da demanda, 30% apontou questões de saúde e 20%
outros motivos, como retrata a figura 9. Percebe-se claramente a priorização da
dimensão econômica sobre as outras.
20%
30%
50%
Sde
Econômicos
Outros
FIGURA 9 – MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE COLOMBO
FONTE: ALMEIDA (2003)
Ainda citando outra pesquisa conduzida com agricultores orgânicos na
RMC, Darolt (2000) identificou na sua amostra uma maior preocupação dos
agricultores com a saúde para a mudança (68,4%). Sendo seguida de perto pelos
motivos econômicos (66,7%) e em terceiro lugar as convicções ideológicas com
35,1% das respostas, o que corrobora a argumentação anterior. Darolt entrevistou
57 agricultores e os dividiu em quatro categorias, que apresentaram lógicas
diferentes com relação à motivação para mudança, conforme pode ser observado na
tabela 2. Cabe ressaltar que esta questão admitiu mais de uma resposta, por isso a
soma dos valores ultrapassou 100%.
53
TABELA 2 - PERCENTUAL MÉDIO DE UNIDADES DE PRODUÇÃO SEGUNDO AS RAZÕES QUE
INFLUENCIARAM OS AGRICULTORES NA DECISÃO DE PRODUZIR
ORGANICAMENTE
RAZÕES PARA TIPOS DE AGRICULTORES MÉDIA
PRODUZIR ORGANICAMENTE PERCENTAGEM (%) MÉDIA DE
UNIDADES
TOTAL
AFT
N = 32
AFO
N = 20
EAO
N = 03
EAT
N = 02
N = 57
Saúde pessoal e da família 75 65 33 50 68,4
Razões econômicas (obter mais lucro) 65,6 65 100 50 66,7
Convicção ideológica 25 45 33 100 35,1
Conservação dos recursos naturais 21,8 15 0 50 19,3
Saúde do consumidor 6,2 30 0 0 14,0
Conjuntura político-econômica 21,8 0 0 0 12,3
Melhorar a produtividade 6,2 5 0 0 5,3
FONTE: DAROLT (2000)
NOTA: AFT= Agricultor Familiar em Transição
AFO= Agricultor Familiar Orgânico
EAO= Empresário Agrícola Familiar
EAT= Empresário Agrícola em Transição
Em contrapartida, no município da Lapa, Hernández (2005) conduziu um
estudo envolvendo 14 famílias e apontou dois grandes fatores que motivaram a
mudança tecnológica dos agricultores: preservação do meio ambiente e motivos
econômicos (mercado garantido). A autora estabeleceu uma diferenciação entre
estas duas vertentes motivacionais e sua influência na lógica de conversão da
propriedade, número de técnicas na produção vegetal e fonte de informações
(FIGURA 10).
ASPECTOS
TÉCNICOS-INSTITUCIONAIS
UNIDADES EM OU COM
CONVERSÃO TOTAL
UNIDADES EM
CONVERSÃO PARCIAL
Fator principal que motivou
A conversão
Preservação do meio ambiente Mercado garantido
Extensão da conversão Conversão total da unidade Conversão parcial da unidade
de uma área de 0,5 ha
Áreas de produção adotadas Vegetal, animal e florestal Vegetal ou animal, apenas
uma
Número de técnicas adotadas
na produção vegetal
Mais de oito técnicas Uma cultura
Fontes externas de informação
de maior influência
Rede Ecovida, AOPA e Curso
Técnico em Agroecologia (ET-
UFPR)
Lapinha Clínica SPA
Naturista
FIGURA 10 ASPECTOS TÉCNICOS-INSTITUCIONAIS CARACTERÍSTICOS DAS UNIDADES EM
OU COM CONVERSÃO TOTAL, E DAS UNIDADES EM CONVERSÃO PARCIAL DOS
GRUPOS BEIJA-FLOR E MARGARIDA – LAPA, RMC DE CURITIBA, PR
FONTE: HERNÁNDEZ (2005)
Quando o fator principal estava ligado a motivos econômicos a
pesquisadora percebeu uma redução do número de técnicas adotadas, notadamente
caracterizando um sistema mais simplificado, sendo chamado por Gliessman (2005)
54
de propriedades adotantes de tecnologias de produto. Segundo Hernández (2005, p.
116) estas tecnologias implicam em
menor grau de reorganização, sedimentação e maturação de novos
conhecimentos se comparadas com as tecnologias de processo. As
tecnologias de produto também representam uma complexidade menor na
implantação de rotinas, o que facilita o processo de aprendizado de
técnicas orgânicas de produção, diminuindo o tempo de conversão e
aumentando a velocidade do processo de certificação.
Diante destes vários estudos foi possível concluir que os fatores
motivacionais foram bastante diversos e que eles influenciaram a lógica de
produção, conversão e de comercialização. Os fatores que motivaram a mudança
trazem consigo valores invisíveis no discurso, porém expressos de maneira explícita
na prática, como será discutido nas reflexões finais. No que tange às mudanças
fundadas em motivações econômicas se observou claramente a busca da
viabilização da família na atividade agrícola. Isto se deveu ao cenário de custos de
produção crescentes na agricultura convencional e preços dos produtos declinantes,
o que em certas culturas não motivavam sequer a colheita.
4.2.2 Tempo na atividade
O tempo na atividade foi contrastado entre os dois municípios-tipo, no qual
Campo Largo apresentou agricultores com mais tempo na atividade em relação à
Colombo, como pode ser observado nas figuras 11 e 12. Os agricultores com menos
tempo (até cinco anos) representaram pequena proporção dos entrevistados, o que
evidencia um pequeno número de agricultores “iniciantes”. Estes números deveriam
ser mais expressivos, em função dos índices de crescimento que têm sido
apontados em diversas fontes (SOUZA, 2006; EMBRAPA, 2007a; EMATER, 2008).
Entretanto, os dados da pesquisa mostram que existiu uma entrada de mais
agricultores no sistema Colombo nos últimos 5 anos (30% dos entrevistados) em
relação ao sistema Campo Largo (20%). Isto se deve ao crescimento do número de
empresas processadoras que atua naquela região, favorecendo a entrada de novos
agricultores em Colombo.
A característica de comercialização no sistema Campo Largo, como dito
anteriormente, está calcada nas feiras. Este equipamento de comercialização não
55
obteve a atenção necessária por parte da administração do município de Curitiba na
gestão de 2001-2004 e não oportunizou a entrada de novos. Com a mudança
ocorrida no pleito eleitoral, a atual gestão (2005-2008) implementou novas feiras,
provocando a entrada destes 20%, nos últimos 2 anos.
80%
20%
11 - 20 anos
< 5 anos
FIGURA 11 - TEMPO NA ATIVIDADE DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM CAMPO
LARGO
FONTE: O AUTOR (2007)
60%
10%
30%
11 - 20 anos
6 - 10 anos
< 5 anos
FIGURA 12 - TEMPO NA ATIVIDADE DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
No sentido de reforçar a percepção empírica de desaceleração da atividade
na RMC, apresentam-se os dados de SEAB/EMATER, elaborados pelos
engenheiros agrônomos Maurício Lunardon e Iniberto Hamerschmidt, que em
colaboração com diversos profissionais do estado, os sistematizam de maneira
pioneira no país desde 2000. Nas figuras 13 e 14 onde se pode observar a redução
do número de agricultores e por decorrência de produção. Os dados relativos ao
número de agricultores se referem a uma contagem com repetição. Um agricultor
possuindo olericultura e fruticultura foi contado duplamente.
56
0
100
200
300
400
500
600
700
800
2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006
Número de agricultores
FIGURA 13 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE AGRICULTORES ORGÂNICOS DA SAFRA 2001/2002
À 2005/2006, RMC – PR
FONTE: SEAB (2007)
NOTA: Produtores com repetição
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006
Toneladas
FIGURA 14 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA DA SAFRA 2000/2001 À 2005/2006, RMC PR
FONTE: SEAB (2007)
4.2.3 Mão-de-obra
Naquela mesma pesquisa realizada pela Prefeitura de Curitiba, como pode
ser observado na tabela 3, quando perguntados sobre o envolvimento da família na
produção, a maior freqüência de respostas referiu-se a dois trabalhadores familiares
57
(42,9%), sendo seguidos por três em 14,3% das respostas. Pinheiro, em outro
estudo (2004) concorda com estes dados, apontando 43,3% dos entrevistados, onde
duas pessoas da família trabalhavam na atividade, em um estudo que entrevistou 60
agricultores participantes da Rede Ecovida de Certificação Solidária na abrangência
do Núcleo MBA.
TABELA 3 PERCENTAGEM DE PESSOAS DA FAMÍLIA ENVOLVIDAS NA PRODUÇÃO
ORGÂNICA SEGUNDO O NÚMERO DE INTEGRANTES
ESTUDO/ N°DE PESSOAS
0 1 2 3 4 5 6 OU MAIS
Curitiba (RMC) 5,4%
10,7%
42,9%
14,3%
10,7%
8,9%
7,2%
Pinheiro (RMC) 0 13,3%
43,3%
15% 15% 8,3%
5%
Campo Largo 0 0 10% 40% 20% 20% 10%
Colombo 0 10% 20% 20% 20% 10% 20%
FONTE: CURITIBA (2006a); PINHEIRO (2004) e o AUTOR (2007)
A tabela 4 expõe a situação de uso de mão-de-obra contratada de forma
efetiva sob o ponto-de-vista destes dois estudos e da presente pesquisa.
TABELA 4 PORCENTAGEM DE TRABALHADORES CONTRATADOS ENVOLVIDOS NA
PRODUÇÃO ORGÂNICA
ESTUDO/ N°DE PESSOAS
0 1 2 3 4 5 OU MAIS
Curitiba (RMC) 80,4%
10,7%
8,9%
0 0 0
Pinheiro (RMC) 63,3%
21,7%
10% 3,3%
1,7%
0
Campo Largo 0 0 0 0 0 0
Colombo 60% 10% 0 10% 0 20%
FONTE: PINHEIRO (2004), CURITIBA (2006a) e o AUTOR (2007)
Da mesma forma, a tabela 5 expõe a situação de uso de mão-de-obra
eventual sob o ponto de vista destes dois estudos.
TABELA 5 PORCENTAGEM DE TRABALHADORES TEMPORÁRIOS ENVOLVIDOS NA
PRODUÇÃO ORGÂNICA
ESTUDO 1 2 3
4 5
Curitiba (RMC) 23,2%
0 0
1,8%
1,8%
Pinheiro (RMC)
18,3%
13,3%
0
0 0
FONTE: PINHEIRO (2004), CURITIBA (2006a)
Quanto aos entrevistados em Campo Largo, apenas 40% afirmaram
contratar trabalhadores temporários (diaristas) no intuito de atendimento de
demandas em épocas de colheita e capina. A necessidade média foi de 36
dias/homem/ano. Já em Colombo, 30% contrataram os diaristas em uma média
anual de 30 dias por propriedade. Desta forma, fica evidenciada a mão-de-obra
58
predominantemente familiar e conforme relatos dos entrevistados a quase
inexistência de trabalhadores externos nas comunidades pesquisadas.
4.2.4 Tipo de agricultura
Diante da confusão de termos agricultura orgânica X agroecologia, os
entrevistados desta pesquisa foram questionados sobre o tipo de agricultura que
praticavam (FIGURA 15). Enfatiza-se que esta foi uma questão aberta e que
suscitou muitas dúvidas por parte dos entrevistados. Em Campo Largo, a resposta
objetiva foi acompanhada de comentários como: “Agroecologia é mais que a
agricultura orgânica, por causa do uso do esterco.” E também: “Posso considerar o
meu sistema agroecológico, porque a gente planta de tudo e os insumos são
ecológicos.” Isto indicou uma falta de compreensão do que é a agroecologia e que
esta visão distorcida está sendo repassada aos consumidores.
70%
10%
20%
Agricultura
Orgânica
Agroecológica
A caminho da
Agroecológica
90%
10%
Agricultura
Orgânica
Ecológica
FIGURA 15 TIPOS DE AGRICULTURA PRATICADOS PELOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS: CAMPO LARGO (ESQ.) E COLOMBO (DIR.)
FONTE: O AUTOR (2007)
em Colombo, um agricultor afirmou que: “Estou na agricultura orgânica,
mas gostaria de ir para a agroecológica.” Em consonância com os depoimentos do
outro município, foi considerada pelos entrevistados a agroecologia como uma forma
de agricultura mais sustentável.
59
4.2.5 Certificação
A primeira certificadora a se estabelecer na região foi o Instituto Biodinâmico
de Desenvolvimento (IBD), em meados dos anos de 1990. Em função da parceria
com a AOPA para certificação da associação nos grupos municipais, sedimentou
sua clientela, que hoje é composta pelas empresas que comercializam produtos
orgânicos. Estas organizam os produtores-parceiros em grupos e assim solicitam a
certificação que depois pertence à empresa. Se um agricultor pretender atender
outro mercado, deverá solicitar processo distinto na mesma ou em outra
certificadora. Por este motivo, não é raro uma propriedade possuir mais de uma
certificação em função dos seus compradores.
Atualmente, o Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), empresa
pública de direito privado, certifica propriedades no estado desde 2004, inclusive
com parcerias com prefeituras de dois municípios da RMC (Araucária e São José
dos Pinhais) e outras em vista (Campo Largo e outros). Por ser empresa pública tem
procurado cobrar tarifas mais aproximadas da realidade dos agricultores familiares.
Outra certificadora presente na região é a Rede Ecovida de Certificação
Participativa, que como consta no nome, possui características que possibilitam a
participação dos agricultores, consumidores e técnicos no processo. Ao contrário
das duas anteriores, aonde um profissional vem auditar a propriedade, neste tipo de
certificação que será detalhado mais adiante, os agricultores se visitam e avalizam-
se mutuamente. Desde 2001 atua por meio do núcleo Maurício Burmester do Amaral
(MBA), que integra 23 grupos da RMC, Litoral e Campos Gerais.
Em Campo Largo, quando o grupo de agricultores constituía um núcleo da
AOPA (1997-2000) sua certificação era vinculada ao IBD, sendo que apenas dois
agricultores possuíam certificação da Associação de Agricultura Orgânica de São
Paulo (AAO). Com o encerramento das atividades comerciais da AOPA, alguns
agricultores ainda permaneceram vinculados ao IBD e outros ficaram sem
certificação. Apenas em 2002, com a consolidação da Rede Ecovida, o grupo,
denominado Associação de Produtores Orgânicos de Campo Largo (PRODORGAN)
ligou-se à Rede e contou novamente com certificação.
Nos entrevistados de Campo Largo, 90% participam da Rede Ecovida,
porém notou-se um descontentamento em função das exigências de presença nas
60
reuniões do grupo, que se realizam no primeiro domingo do mês. Exige-se presença
em todas as reuniões, permitindo-se acumular 3 faltas no ano, com a devida
justificativa. Este fato aponta para uma das dificuldades de pensar e agir
coletivamente, que está mais do que evidenciado na RMC e tem rebatimentos na
questão do associativismo. (EMATER-PR, 2007b)
Além disso, o grupo deve mandar representantes em reuniões bimestrais na
sede da AOPA, em Curitiba, e disponibilizar representantes em cursos e visitas de
olhar externo em outros grupos. É uma visita para conhecer o trabalho do grupo e
avalizar o que está sendo feito, sugerir melhorias, enfim fortalecer o trabalho de
rede. Com relação ao valor cobrado pela certificadora, os agricultores afirmaram que
é elevado no caso da certificação auditada, e barato na certificação participativa.
Quando perguntados sobre quanto tempo possuíam a certificação, 30%
afirmaram tê-la mais de 10 anos, 40% entre 6 e 10 anos e apenas 30% com
tempo igual ou inferior a 5 anos. Os entrevistados demonstraram uma diversidade na
opção por certificadoras (FIGURA 16). Finalmente, para 80% dos entrevistados, o
processo de adequação às normas foi fácil e para o restante o processo representou
dificuldade de intermediária à grande. Isto reafirmou a menor entrada ou
permanência de agricultores nos últimos cinco anos contradizendo algumas
estatísticas que apontam um crescimento de 10 – 30% ao ano (SOUZA, 2006;
EMBRAPA, 2007a; EMATER, 2008).
40%
30%
20%
10%
ECOVIDA
ECOVIDA +TECPAR
ECOVIDA +TECPAR+IBD
TECPAR
FIGURA 16 - OPÇÃO DE CERTIFICADORAS DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM
CAMPO LARGO
FONTE: O AUTOR (2007)
Com relação às melhorias recomendadas pelos auditores das certificadoras
nas propriedades entrevistadas em Campo Largo, na sua maioria estavam ligadas à
61
documentação: outorga de uso de água e averbação de reserva legal. Estes
documentos até então eram opcionais, mas agora se tornaram condição básica para
emissão do certificado, principalmente colocada pelo TECPAR. Além disso, foi
demandado o aumento das áreas com vegetação arbórea para atendimento da
legislação ambiental e ampliação das barreiras vegetais isolando as áreas orgânicas
das vizinhas. Outra recomendação foi de recolhimento de sobras de plástico que
estavam espalhados pela propriedade.
a situação em Colombo (FIGURA 17), apresenta 43% dos entrevistados
com sua certificação pelo IBD, porém de posse da empresa comercializadora e com
isso não têm autonomia para comercializar como orgânico a não ser para a
empresa. Além disso, 28% estão ligados ao grupo Sabugueiro, que aglutina
agricultores de Colombo e Bocaiúva do Sul, ligados ao núcleo MBA da Rede
Ecovida e 29% estão em processo, pela TECPAR. Na questão relativa ao valor
cobrado pelas certificadoras, os agricultores afirmaram que não pagam diretamente,
pois estes custos são absorvidos pelas empresas, mas têm a consciência de que em
algum momento este valor é descontado. Os agricultores que arcam com o custo,
consideraram elevado no caso da certificação auditada e barato na certificação
participativa.
10%
10%
60%
20%
ECOVIDA
ECOVIDA+TECPAR
IBD
TECPAR
FIGURA 17 - OPÇÃO DE CERTIFICADORAS DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM
COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
Quando perguntados sobre quanto tempo possuíam a certificação: 40%
afirmaram tê-la mais de 10 anos, 30% entre 6 e 10 anos e apenas 30% com
tempo igual ou inferior a 5 anos. Finalmente, para 70% dos entrevistados, o
processo de adequação às normas foi fácil e para o restante o processo apresentou
62
grande dificuldade. Isto como no caso de Campo Largo, reafirmou a menor entrada
ou permanência de agricultores nos últimos cinco anos contradizendo algumas
estatísticas que apontam um crescimento de 20 – 30% ao ano (SOUZA, 2006;
EMBRAPA, 2007a; EMATER, 2008).
Com relação às melhorias na propriedade recomendadas pelos auditores,
em Colombo, na maioria estão ligadas à conservação dos solos, manejo da
adubação orgânica e ampliação das barreiras. Além disso, a documentação
ambiental foi solicitada: outorga de uso de água e averbação de reserva legal,
semelhantemente à Campo Largo.
Em estudo elaborado por CEAO (2002) com abrangência estadual, a
certificação foi avaliada pelos agricultores entrevistados como procedimento não
exigido por 58% dos seus clientes. Salienta-se que naquele momento, ainda não
estava em vigência a Lei 10.831 e apenas a Instrução Normativa n°7 e 6
regulavam o setor. Pelo fato de serem instruções normativas o eram encaradas
com a seriedade devida, pois o peso deste instrumento legal é menor que o de uma
lei. Porém, os problemas levantados na pesquisa continuam atuais e foram os
seguintes: custo alto, consumidor não exige, a certificação o apóia a
comercialização da maneira como os agricultores esperavam, não oferece
assistência técnica e falta sensibilidade quanto à agricultura familiar.
A tabela 6, que apresenta a avaliação dos custos de certificação, corrobora
com os dados do CEAO, principalmente quando é analisado o município de
Colombo, que possui como característica uma presença maior da certificação
auditada. Os custos, neste tipo de certificação variaram de 600 reais a R$ 1,5 mil por
propriedade/ano e foram considerados altos. o conceito de barato ficou
relacionado à certificação participativa, que apresentou custos próximos de 20 reais
por propriedade/ano. Esta percepção é notada em Campo Largo, que utilizou a
certificação participativa em maior freqüência e desta forma avaliou o custo como
barato na maioria dos entrevistados.
TABELA 6 AVALIAÇÃO DOS CUSTOS DE CERTIFICAÇÃO PELOS ENTREVISTADOS: CAMPO
LARGO E COLOMBO
MUNICÍPIO/ CUSTO
ALTO
ACESSÍVEL
BARATO
NÃO INFORMOU
Campo Largo 40% 60% -
Colombo 40% - 20% 40%
FONTE: O AUTOR (2007
)
63
As motivações que determinaram as escolhas das certificadoras estão
expressas a seguir nas FIGURA 18 e 19. Cabe ressaltar, que a categoria “grupo”
corresponde à associações que obtém certificação grupal, o que redunda em custos
menores em função do rateio das despesas. A partir deste pressuposto, na análise
do sistema Campo Largo (FIGURA 18) pode-se equiparar a categoria custo com a
de grupo. Portanto, concluiu-se que o fator custo foi decisivo na escolha da
certificadora. Com relação ao sistema Colombo (FIGURA 19) a categoria Empresa
foi a mais citada, em razão da certificadora ser contratada pela empresa
comercializadora. Isto pode representar uma ameaça aos agricultores integrados,
pois os mesmos não possuem um certificado para comercialização fora da empresa,
ficando com uma possibilidade de escoamento da produção muito estreita.
40%
40%
10%
10%
Custo
Grupo
Gosta do
sistema
Não informou
FIGURA 18 - MOTIVAÇÃO PARA ESCOLHA DE CERTIFICADORA DOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS EM CAMPO LARGO
FONTE: O AUTOR, 2007
20%
20%
50%
10%
Custo
Grupo
Empresa
Sempre
trabalhou com
ela
FIGURA 19 - MOTIVAÇÃO PARA ESCOLHA DE CERTIFICADORA DOS AGRICULTORES
ENTREVISTADOS EM COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
64
Apesar da vantagem em termos de menor custo pecuniário da certificação
participativa, um entrevistado citou a exigência na participação das reuniões como
um custo de tempo expressivo. Além disso, foi relatado por outro agricultor que este
tipo de certificação apresentou um inconveniente político, onde grupos receberam
tratamentos distintos diante da mesma situação. Porém, ele mesmo atribuiu isso à
falta de experiência dos participantes do sistema, no início da implantação do
mesmo, porém chamou a atenção que ultimamente eventos similares ocorreram.
Isto fragiliza esta forma de certificação, pois a confiança e o respeito além da
isonomia são valores fundamentais para o bom funcionamento da mesma.
Neste sentido, foi identificado nos depoimentos dos agricultores um
movimento em direção à certificação auditada que se expressou assim: “Estou
buscando mais uma certificadora para ter mais segurança.”; “A forma da outra
certificadora (auditada) é mais segura.”; “Mais espaço para vender e em outras
praças (SP, MT)”; “Não é bom ter uma só, vamos ter uma particular.”; “É mais
reconhecida.”. Porém, estes mesmos agricultores se ressentiram da morosidade
do processo, onde os documentos têm sido solicitados aos poucos, o que alonga por
demais o trâmite.
4.2.5 Produção
Nesta seção serão evidenciadas as questões relativas ao manejo dos solos,
plantas, insetos, plantas espontâneas, enfim do modo de fazer agricultura. Em
Campo Largo, o preparo do solo não variou entre os entrevistados, constituindo-se
de roçada, gradagem e depois uso de enxada rotativa, respeitando a orientação de
não executar práticas mecânicas no sentido morro-abaixo. A conservação de solos
utilizando curvas de nível foi observada em 30% das unidades produtivas, porém
não se observou visualmente presença significativa de erosão em sulcos, durante as
vivências nas propriedades.
As análises de solos foram encontradas em 90% das propriedades, porém a
freqüência com que foram feitas foi bastante irregular: alguns a faziam a cada 2 anos
e outros a cada 5 anos ou mais. Metade dos agricultores possuía análises com mais
de 5 anos, o que demonstra que as adubações e correções estão sendo feitas sem
65
critérios técnicos. Quando perguntados do porquê desta situação alegavam falta de
tempo ou motivos ligados à observação de qualidade das colheitas ou presença de
plantas indicadoras.
Como estratégias para manter e incrementar a fertilidade dos solos foi
mencionada a utilização de compostagem, adubação verde, biofertilizantes, esterco
de peru e cama de aviário. Desde o tempo da conversão da propriedade, os
agricultores relataram que as práticas mecânicas de manejo dos solos não foram
alteradas, porém a qualidade do solo tem melhorado ano após ano sob o ponto de
vista de análises químicas e avaliação das quantidades colhidas e sua qualidade.
Em Colombo, o preparo do solo não variou entre os entrevistados,
constituindo-se de roçada, gradagem e depois uso de enxada rotativa, porém com o
agravante de práticas mecânicas no sentido morro-abaixo, em função do relevo e do
hábito da região. A conservação de solos utilizando curvas de nível não foi
observada visualmente e a presença significativa de erosão laminar foi detectada
logo após chuva intensa. Em uma das propriedades, a erosão foi tamanha que a
estrada interna da propriedade ficou prejudicada pelo solo fértil que a invadiu. Isso é
resultado de intenso uso de enxada rotativa, falta de cobertura morta e intensificação
da erosão.
Com relação às análises de solos foram encontrados resultados próximos
do sistema Campo Largo, com a diferença de que em função do projeto de extensão
SOLO-PLANTA da Universidade Federal do Paraná (UFPR), alguns agricultores
tinham análises e recomendações bastante recentes.
Como estratégias para manter e incrementar a fertilidade dos solos foi
mencionada a utilização de cama de aviário, adubos minerais permitidos: sulfato de
potássio, além de biofertilizantes. Desde o tempo da conversão da propriedade, os
agricultores relataram que a maneira de trabalhar o solo não foi alterada no geral,
apenas uma redução no uso da enxada rotativa está sendo tentada. Apesar disso a
qualidade do solo tem melhorado ano após ano dentro da análise empírica dos
agricultores e também dos indicadores quantitativos das amostras de solo coletadas.
Nos relatos dos entrevistados de Campo Largo e Colombo sobre as
doenças das plantas, ficou amplamente demonstrado que as maiores dificuldades
foram enfrentadas no período da conversão. Apenas nos agricultores que
trabalhavam com plantas da família botânica das solanáceas foi relatado aumento
de incidência de doenças fúngicas nos últimos anos. Isso se deve, ao incremento da
66
área plantada em suas propriedades, diminuição do período de tempo entre cultivos
com a mesma família favorecendo a presença de inóculo e lavouras convencionais
vizinhas abandonadas e com alta produção de esporos, sobretudo da requeima,
Phytophthora infestans. Segundo GALLI et al. (1968, p. 189), “os esporângios são
levados pelo vento e pela chuva, que os distribui de uma planta para outra, com a
maior concentração próxima ao foco e menor em um círculo de 150 a 180 m de
raio”. Então, o diagnóstico dos agricultores está de acordo com a bibliografia e com a
experiência de campo.
Uma patologia que causou problemas, sobretudo na safra 2006/07, foi a
virose conhecida como vira-cabeça, que causa severos prejuízos na cultura do
tomate. Ela é causada por várias espécies de tospovírus da família Bunyaviridae
(EMBRAPA, 2007b). Vários agricultores relataram perdas totais, o que poderia ser
evitado com pulverizações de extratos botânicos ou com aquisição de material
genético resistente. Enfim, simples práticas redundariam em resultados expressivos.
reside uma questão: qual o motivo que levou à não aquisição de sementes que
apresentassem resistência? Qual o motivo para não pulverizar as caldas
preventivamente? Seria por falta de informação, de tempo ou de assistência técnica?
Estas questões dizem respeito à hipótese 1 e serão aprofundadas oportunamente.
Se por um lado as doenças são as mesmas, por outro o modo de controle é
diferente nos municípios-tipo. Campo Largo, na sua maioria utiliza calda bordalesa
com pH equilibrado ao redor de 7, como discutido em vários cursos realizados no
município e discussões entre técnicos e agricultores. em Colombo, os
agricultores, na maioria das vezes, usam caldas cúpricas industrializadas, para não
perder tempo no preparo e por conseqüência elas têm o pH ajustado. O que se
tem notado é o crescimento da oferta de produtos industrializados, com entregas
rápidas por motociclistas ou por vendedores ambulantes, particularmente em
Colombo. Não há diferença de eficiência, desde que a calda feita na propriedade
seja feita com critério, porém chama-se a atenção sobre a dependência externa
estar crescente no sistema Colombo.
A calda Viçosa e a calda sulfocálcica foram citadas por apenas um
entrevistado, apesar da sua viabilidade técnica e econômica. Alguns agricultores
apontaram problemas de fitotoxicidez em algumas culturas com a calda sulfocálcica,
provavelmente por questões de temperatura após a aplicação ou por dosagem
equivocada. Como alguns fazem a calda sem a utilização do aerômetro de Baumé,
67
fica muito difícil estabelecer a diluição da calda. Além disso, ainda faltam pesquisas
a respeito da eficiência desta calda em nossas condições.
O biofertilizante “SuperMagro”, apesar de ter sido citado apenas uma vez no
manejo de doenças, foi observado em diversas propriedades e sua utilização ainda
é bastante generalizada. Não são todos os que o elaboram na propriedade, mas
através de permutas acabam abastecendo a vizinhança, inclusive alguns
agricultores convencionais. A Embrapa (1998, p. 18) tem identificado que além das
propriedades no controle de doenças, através da “presença de metabólitos
produzidos pelos microorganismos presentes no biofertilizante” [ou] “[...] pela sua
ação direta sobre o patógeno e sobre o hospedeiro”, existe a influência nutricional de
macro e de micronutrientes presentes na receita. É esta ação nutricional que chama
a atenção até dos agricultores convencionais, em tempos em que os adubos foliares
estão tão dispendiosos.
Na busca de informações sobre os insetos-praga que mais trazem
problemas, também ficou evidenciado que as situações são praticamente as
mesmas nestes dois municípios. O que difere são as formas de controle, sendo que
a maioria dos agricultores de Colombo utiliza caldas industrializadas e em
contrapartida em Campo Largo os agricultores, de modo geral, elaboram na
propriedade os preparados utilizando recursos disponíveis na região.
No âmbito das plantas espontâneas
5
, conhecidas por alguns como
“daninhas” ou invasoras, as soluções encontradas que mais se destacam nos dois
municípios são respectivamente, enxada e carpideira.
Com o advento da agricultura orgânica até algumas terminologias estão
sendo questionadas. Quem julga o que é daninho? Uma planta pode ser daninha em
um momento e depois não ser mais? Diversos autores já têm discutido a temática de
acordo com os princípios da agroecologia como ALVES et al. (2007) e FAVERO et
al. (2001), portanto neste trabalho não se avançará em uma discussão mais
profunda nesta temática. Porém a questão foi diagnosticada porque seu manejo
configurou-se como grande problema em áreas infestadas.
Apenas em uma propriedade foi observado um equipamento que utilizava
fogo para controle de espontâneas em pré-emergência de cenoura. O mesmo foi
5
Neste trabalho, cabe esclarecer, a nomenclatura escolhida foi de plantas espontâneas em
detrimento dos termos utilizados no meio acadêmico: “daninhas”. Como postula Lorenzi (1990, p. 8)
“planta daninha é qualquer ser vegetal que cresce onde não é desejado.”
68
desenvolvido pelo agricultor, não contando com assessoria nenhuma e com
resultados que podem ser observados na figura abaixo. Como é de conhecimento, a
cenoura é uma planta que possui emergência muito lenta e com isso a competição
inicial com as espontâneas é muito expressiva. O aparelho é passado, praticamente
na véspera da emergência da cenoura. Então, as espontâneas são queimadas e a
cenoura emerge “no limpo” (FIGURA 20).
FIGURA 20 EQUIPAMENTO DESENVOLVIDO E SEU EFEITO NO CANTEIRO DA DIREITA EM
RELAÇÃO À TESTEMUNHA
FONTE: O AUTOR (2007)
No que diz respeito ao material de propagação utilizado, ou seja, sementes
e mudas, em Campo Largo a escolha do material se dá, na maioria dos casos por
influência do mercado de insumos, que não tem uma linha específica para
agricultura orgânica. Portanto, muitas vezes os agricultores fizeram testes de
materiais novos ou utilizaram cultivares que não tiveram bons resultados neste
sistema de produção. Isso acarretou aumento do custo de produção e evidenciou a
falta de pesquisa na área.
Em 50% das propriedades é feita a produção de sementes, porém apenas
de algumas espécies: abóbora, milho, feijão, rúcula, cenoura para citar as mais
freqüentes, o que por si já configura uma semente orgânica. Isto se dá em função do
processo produtivo orgânico por diversos anos. Porém sobre a utilização de
sementes orgânicas além destas, a resposta foi negativa em 100% dos
entrevistados. Quando perguntados sobre o motivo, a maioria afirmou a falta de
oferta no mercado como o principal motivo, apesar da sua existência comprovada
em lojas de sementes na região.
69
Se por um lado existe a oferta de sementes orgânicas, por outro a sua
qualidade é questionável até o momento em função do seu desempenho em nossas
condições. Esta informação foi repassada pelos próprios vendedores de sementes,
que acabam por receber as críticas e reclamações de seus clientes. O segmento
sementeiro ainda está iniciando suas atividades junto à agricultura orgânica. A
maioria das certificadoras ainda tolera o uso de sementes convencionais, por
reconhecer que ainda não oferta organizada e de qualidade, porém este quadro
tende a se alterar no médio prazo, quando o setor terá que se adequar e para tanto
as pesquisas são fundamentais.
Em Colombo a definição do material se dá, na maioria dos casos, por
influência do produtor de mudas, que já tem estabelecido as cultivares para o
convencional que são as mesmas para o orgânico. Este viveiro, situado em Colombo
pertence a Agrofior Produção de Mudas e atende aos agricultores da região como
um todo, inclusive de Campo Largo, e possui certificação vinculada a uma empresa
comercializadora de hortaliças da região. Possui uma estufa dedicada ao manejo
orgânico, onde prepara um substrato diferenciado e tem tratos culturais adaptados
às normas de certificação.
Em 10% das propriedades é feita a produção de sementes, porém apenas
de algumas espécies mais comuns como: abóbora e milho. Quando perguntados
sobre o uso de sementes orgânicas, nenhum agricultor afirmou utilizar e
manifestaram como motivo o fato de comprarem as mudas, na maioria dos plantios.
Um caso a ser comentado é o da cultura do morango, que tem crescido
exponencialmente na região. Isso se deve, principalmente no sistema orgânico, em
função dos dados da Secretaria de Saúde do Paraná, que assinalam resíduos acima
do permitido ou proibidos em 92,3% das amostras coletadas na RMC (BENATTO e
SCUCATO, 2003). As mudas que abastecem a RMC vêm do Chile, onde são
cultivadas em sistema convencional, portanto ainda toleradas na falta de mudas em
sistema orgânico. Alguns agricultores têm experimentado aproveitar os estolões
emitidos nos meses quentes do verão (janeiro-fevereiro) para estabelecer novas
plantações, mas por questões nutricionais o resultado tem sido apenas razoável.
70
4.2.7 Serviços com recursos públicos
Quanto aos serviços com recursos públicos, as perguntas feitas eram
explícitas a respeito do apoio do governo em diferentes áreas: cursos, assistência
técnica, pesquisas e crédito. As respostas estão expressas a seguir (FIGURAS 21 e
22).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Cursos Assistência
Técnica
Crédito Pesquisas
FIGURA 21 - ACESSO AOS SERVIÇOS MANTIDOS COM RECURSOS PÚBLICOS PELOS
AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM CAMPO LARGO
FONTE: O AUTOR (2007)
Em Campo Largo, o acesso aos cursos foi mais intenso durante o período
da conversão do que na seqüência e estes foram ministrados pelas seguintes
entidades em ordem decrescente de observações: EMATER-PR e SENAR, AOPA,
UFPR e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).
Cerca de 60% afirmaram terem participado de 10 a 20 cursos e 40% em até 5
eventos. No aspecto relativo aos cursos que gostariam de fazer, os mais solicitados
foram respectivamente em ordem decrescente: manejo de pragas e doenças; novas
caldas; cultivo de tomate; fruticultura geral e viticultura; criações; manipulação de
alimentos e conservas; cultivo de batata e preparo do solo.
Em Colombo, a procura aos cursos foi mais intensa após o período da
conversão e estes foram ministrados pelas seguintes entidades em ordem
decrescente de observações: EMATER-PR, SENAR, Prefeitura, AOPA, Rede
ECOVIDA e CPRA. O fato de 100% dos entrevistados terem participado de no
máximo 5 cursos chamou a atenção, pois demonstrou um pequeno interesse no
aprendizado de novas técnicas ou pequena disponibilidade de tempo para este fim.
71
No aspecto relativo aos cursos que gostariam de fazer, os mais solicitados foram
respectivamente em ordem decrescente: comercialização; manejo de doenças e
caldas; pós-colheita; agricultura orgânica; sementes; computador e nutrição de
plantas.
Comparando-se os dois sistemas, se vê claramente a característica dos
agricultores de Colombo em fazer os cursos após a conversão e em menor número.
Isto indica a urgência na mudança e a noção de pouco tempo para investir em
capacitação, que pôde ser atenuado pela presença maior da assistência técnica e
proximidade entre as propriedades em relação ao sistema Campo Largo.
O manejo de doenças e as caldas foram os assuntos comuns entre os
sistemas e um dos mais requisitados. Desta demanda pode-se depreender que as
questões fitossanitárias, ainda causam perdas substanciais na produção e devem
obter mais atenção junto aos segmentos da pesquisa, como se discutido mais
tarde.
No sistema Campo Largo, em função da sua comercialização dar-se nas
feiras, os agricultores receberam demandas de seus consumidores para a ampliação
de diversidade dos produtos ofertados e por isso, aqueles demandam cursos em
fruticultura geral, viticultura, tomate e conservas. Os agricultores entrevistados em
Colombo expressam sua maior demanda ligada à comercialização, refletindo a
situação de uma propriedade diante uma cadeia longa. Os outros assuntos se ligam
à comercialização de maneira indireta, como: pós-colheita, nutrição de plantas e
computador.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Cursos Assistência
Técnica
Crédito Pesquisas
FIGURA 22 - ACESSO AOS SERVIÇOS MANTIDOS COM RECURSOS PÚBLICOS PELOS
AGRICULTORES ENTREVISTADOS EM COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
72
A assistência técnica foi um aspecto bastante demandado e apresentou
abrangência menor em Campo Largo em comparação com Colombo, o que indica
que avanços necessitam ocorrer. Em Campo Largo, os agricultores afirmaram que
recebiam mais assistência na época da conversão do que na atualidade. em
Colombo, 50% dos entrevistados informou que recebe mais assistência hoje do que
no tempo da conversão.
A qualidade do serviço foi considerada boa nos dois sistemas e é prestada
pela EMATER-PR e Prefeituras. Um fator a ser analisado é a rotatividade de
profissionais neste serviço, o que preocupa, pois se trata de uma atividade complexa
e o conhecimento do histórico da família e da área favorece diagnósticos, projetos e
intervenções. Na média dos dois municípios, houve 4 profissionais por propriedade
em um período de menos de 10 anos.
A grande rotatividade de profissionais nas propriedades se deve a
alternância de gestões nas prefeituras, que por não possuírem profissionais
concursados trocam de quadros técnicos a cada 4 anos. Esta é uma estratégia que
favorece a descontinuidade de projetos e trabalhos, infelizmente muito comum e
recorrente na RMC, o que demonstra claramente a falta de planejamentos de médio
e longo prazo, que não é exclusividade da municipalidade, sendo encontrada da
mesma forma na esfera estadual e federal.
A descontinuidade administrativa chega a acontecer até em processos de
reeleição do executivo ou durante um mesmo mandato, quando se altera o
responsável da Secretaria da Agricultura, não é raro mudam-se radicalmente os
cargos técnicos e administrativos, causando uma ruptura. Isso acarreta a
inexistência, inclusive, de políticas de Estado
6
; pois o que se poderia-se chamar
no máximo de política de governo
7
.
Como as ações ligadas à agricultura têm um horizonte de planejamento
bastante longo, para que haja mudança significativa é necessária a elaboração de
um plano compatível com esta realidade. Os recursos são escassos e recomeçar a
cada 4 anos, gera desconfiança nos contribuintes (agricultores) e retrocessos.
6
São multidimensionais e têm força para criar um estado de espírito favorável às mudanças que há
tempos vêm sendo reinvindicadas pela sociedade. Uma política de Estado tem objetivos claros e de
longo prazo, além de ser construída de forma democrática, por consensos e acordos...”
(WERTHEIN, J; CUNHA, C., 2004).
7
São unilaterais e estão circunscritas à agenda dos ocupantes eventuais de cargos executivos e de
seus delegados, portanto configurando uma vigência de curto prazo (LESSA, 2002).
73
Os retrocessos são visíveis também, quando por interesses “políticos”,
funcionários são transferidos de município ou colocados na “geladeira”. O que está
por trás destes interesses são razões ligadas à visibilidade do profissional no setor
ou no município, que podem afetar pretensões eleitorais de alguns ou o simples
trabalho que produz frutos e desencadeia processos de competição. Afirmo isso,
com base na observação do histórico das transferências de funcionários do Instituto
EMATER e de prefeituras da RMC, ocorridos nos últimos 20 anos.
A fragilidade de diversas instituições, bem como de profissionais tem
acarretado diversas interrupções nos trabalhos e o setor mais atingido é do agricultor
e de sua família. As instituições continuam, os profissionais de alguma forma ou de
outra, seguem trabalhando; entretanto o público através dos impostos continua
contribuindo cada vez mais para a existência daquelas e para o salário destes,
apesar da situação declinante.
Apesar desta situação alarmante, destaca-se o município de Colombo, pelo
recente concurso público que contratou uma engenheira agrônoma para o quadro da
Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente, no ano de
2006, fato inédito em Colombo. No município de Campo Largo, não houve concurso
público para esta categoria até o momento da pesquisa.
No âmbito das pesquisas, Almeida (2002, p. 35) instiga o debate apontando
para uma
“reformatação” da pesquisa agronômica, retirnado-lhe aquele viés tradicional
que tende a particularizar as rotinas de investigação e métodos para a
produção do conhecimento, que leva a recortar a realidade segundo
processos básicos formativos de seu campo específico de trabalho.
Confrontada a outras realidades, a pesquisa clássica poderia produzir
melhores resultados, desde que fosse operada “por demanda” e não mais a
partir de uma oferta nascida apenas de estratégias das agências
fomentadoras da pesquisa nas instituições tradicionais de experimentação,
estas muitas vezes distanciadas das realidades do “mundo rural”.
Com relação aos dois sistemas, indo de encontro à necessidade de se
trabalhar com as demandas originadas no público, citam-se as maiores: domínio de
técnicas de plantio e de eficiência de preparados com finalidades de controle de
patógenos ou de questões nutricionais. Na seqüência, as tecnologias de
comercialização e finalmente as de gestão de negócios e pessoas.
74
Quanto ao acesso às informações, tecnologias e pesquisas, os
entrevistados informaram que as obtém por meio da televisão, em segundo lugar por
amigos e em terceiro pela assistência técnica.
Com relação ao crédito, ainda no âmbito dos dois sistemas, a maioria tem
acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)
na atualidade. Mas, não foi sempre assim, pois diversos documentos e relatos orais
enfatizaram a dificuldade de obtenção de crédito até bem pouco tempo. Estas
dificuldades ocorriam desde a falta de interesse das agências até falta de
instrumentos que contemplassem a atividade na rotina do crédito, por exemplo,
planilhas.
Cabe salientar que no ano de 2007, o Banco do Brasil (BB) iniciou um
processo de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) e que as agências da
RMC elegeram como atividade prioritária a agricultura orgânica. De um total de 12
agências, 11 elaboraram diagnósticos e planos em conjunto com as forças vivas
municipais, o que redundou em um plano regional. Na linguagem usada pelo banco,
é um trabalho de “concertação”, de arranjo dos “instrumentos” para promover um
afinado “concerto”.
No âmbito estadual, a agência de Colombo do BB foi a maior mobilizadora
de recursos do PRONAF em 2007. Isso foi em função do trabalho orquestrado pelo
técnico da EMATER-PR, prefeitura, agricultores e banco. Isto demonstra claramente
que quando existe vontade e cooperação entre as pessoas que atuam nas
entidades, os resultados aparecem.
Porém, ao analisar o histórico da região avalia-se a pequena proporção de
planos de crédito em programas específicos de agricultura orgânica como o Banco
do Brasil (BB) Agricultura Orgânica e o PRONAF Agroecológico. Isto demonstra que
um programa concebido em um local, pode ser inviabilizado por arranjos regionais e
até locais.
A partir das entrevistas pôde-se avaliar a abrangência de programas de
governo nas famílias visitadas. No município de Colombo, identificado como pólo
de recebimento de recursos blicos para agricultura na RMC, foi relatada a
participação direta de 70% dos entrevistados nestes programas. A maior freqüência
relatada foi do Projeto Paraná 12 Meses, depois aparecendo os programas
municipais e por último o PAA do governo federal. em Campo Largo, apenas um
75
agricultor (10% dos entrevistados) relatou a participação no programa da SEAB
chamado Morango para todos, em 1995.
Ainda nesta reflexão, quando perguntados sobre o que o governo fez
para o desenvolvimento da agricultura orgânica (FIGURA 23), apenas 10% afirmou a
ação do governo municipal na criação de mais feiras em Campo Largo e uma
possível subvenção para a certificação, a exemplo das Prefeituras de São José dos
Pinhais e Araucária, mas que ainda não se efetivou. Somente, 10% afirmou que uma
certificação mais barata foi uma das ações, talvez fazendo alusão à certificação do
TECPAR, que apresentou valores mais adequados à realidade dos agricultores da
RMC. Finalmente, 10% mencionaram o trabalho do Banco do Brasil através do
Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS). Os outros respondentes afirmaram
que se havia algo, eles não sabiam ou não haviam sido comunicados. Isso traz duas
possíveis interpretações para a discussão: a) não foi feito nada ou b) foi feito, mas a
comunidade por algum motivo não consegue identificar ou reconhecer.
50%
10%
10%
10%
10%
10%
Nenhuma
Está tentando
Feira
Certificação mais
barata
DRS
Não opinou
FIGURA 23 PERCEPÇÃO POR PARTE DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS DAS AÇÕES
DO GOVERNO COM RELAÇÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA – CAMPO LARGO
FONTE: AUTOR (2007)
NOTA: DRS É O PROGRAMA DO BANCO DO BRASIL DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
SUSTENTÁVEL
76
30%
50%
20%
Nenhuma
PRONAF e PAA
PR 12 meses
FIGURA 24 PERCEPÇÃO POR PARTE DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS DAS AÇÕES
DO GOVERNO COM RELAÇÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA – COLOMBO
FONTE: AUTOR (2007)
No âmbito de Colombo (FIGURA 24), as opiniões foram contrastantes,
desde a fala de um entrevistado sobre o crédito: O PRONAF é uma ajuda boa.” Até
posições opostas, como o depoimento deste agricultor: “O governo deu o maquinário
para a associação, sem perguntar se ela tinha os 30% para pagar...” ou “Não fez
nada. E eu estou bem aborrecido.” O fato que chamou a atenção foi a não
percepção sobre as ações governamentais, mesmo os agricultores sendo
beneficiários de programas, como foi o caso do PRONAF.
O crédito acessível é recente, portanto seus resultados ainda não podem
ser avaliados. No que tange ao aporte de recursos governamentais para atividades
grupais, que foi mais expressivo em Colombo, nota-se que devido à desarticulação
das organizações dos agricultores e do governo acabaram apresentando resultados
inócuos.
Parece oportuno o comentário de que em dois eventos onde a temática era
justamente sobre as políticas públicas de apoio à agricultura orgânica no Paraná, os
representantes da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (SEAB)
foram prolixos na sua apresentação. No primeiro evento, realizado na Lapa em julho
de 2007, mais precisamente no Encontro Ampliado da Rede Ecovida, o palestrante
preferiu falar o que era uma política pública. E no outro evento, III Paraná Orgânico
realizado em Pinhais em dezembro do mesmo ano, foi discutida a diferença entre
agricultura de substituição de produtos e a agroecologia.
Desta forma, foram perdidas oportunidades de divulgar as políticas, que
no primeiro evento os participantes pertenciam aos três estados do sul e no segundo
havia agricultores de todas as regiões do estado. Em função desta falta de
77
objetividade, chega-se à conclusão de que, ou as referidas políticas não existem, e o
discurso é apenas vazio, ou se tem vergonha de expô-las ou falta interesse genuíno
na questão.
Os agricultores foram questionados sobre os fatores restritivos que têm
impedido o desenvolvimento da agricultura orgânica na RMC. Na seqüência, foram
colocados em uma situação hipotética, onde seriam os gestores públicos, com o
aparato estatal para impulsionar a atividade. Os resultados são apresentados a
seguir em ordem decrescente de freqüência por categoria (FIGURAS 25 a 28).
CATEGORIAS
FATORES RESTRITIVOS
Pouca ou nenhuma propaganda, principalmente quando se avalia a televisão Divulgação
Consumidores não têm consciência do que é orgânico
Preço para o consumidor é alto
Os agricultores que poderiam entrar acham que não tem mercado
Mercado
A maior parte dos consumidores faz compras no supermercado e tem hábito de
consumo estreito
Falta assistência técnica Políticas
Faltam novos agricultores no sistema para termos mais força
FIGURA 25 – PERCEPÇÃO POR PARTE DOS AGRICULTORES DOS FATORES RESTRITIVOS DA
ATIVIDADE – CAMPO LARGO
FONTE: AUTOR (2007)
CATEGORIAS
FATORES RESTRITIVOS
Falta incentivo do governo
Divulgação para novos produtores
Falta assistência técnica
Faltam cursos, agora agricultores entram no embalo dos motivos financeiros
Falta a entrada de agricultores com mais área
Falta infra-estrutura para a assistência técnica estatal
Certificação muito cara
Falta financiamento
Dinheiro fácil de financiamento e agricultor não sabe o que fazer
Políticas
Políticas
Falta pesquisa
Preço para o consumidor é alto
Valor recebido é baixo
Estamos acuados pelas redes de supermercados
Confusão com hidropônicos
Mercado
Faltam pontos de venda
Falta organização dos agricultores
Falta processamento de hortaliças em grupo
Agricultores
Falta motivação dos agricultores
Falta divulgação na televisão (em emissora líder e em horário nobre)
Os consumidores não sabem o que é o orgânico
Divulgação
Falta marketing
FIGURA 26 – PERCEPÇÃO POR PARTE DOS AGRICULTORES DOS FATORES RESTRITIVOS DA
ATIVIDADE – COLOMBO
FONTE: AUTOR (2007)
Os fatores restritivos tiveram uma avaliação bastante distinta entre os
sistemas, o que reforça a diferenciação entre as lógicas de condução das
78
propriedades. No sistema Campo Largo, o principal fator restritivo foi a divulgação e
reflete a problemática de comercialização de cadeia curta, onde os consumidores
ainda estão desinformados sobre o que é um alimento orgânico e onde encontrá-lo.
Em contrapartida, no sistema Colombo, onde predomina a comercialização
em cadeia longa, os entrevistados apontaram a divulgação como último fator
restritivo. Paradoxalmente, estes agricultores mencionaram as questões políticas
como o principal problema, apesar de todos os recursos públicos que foram
canalizados para o município. Dentro do que ficou categorizado como questões
políticas, os cursos de formação foram apontados como um ponto restritivo, porém
os mesmos entrevistados informaram pequena participação nestes eventos, o que
demonstra um contrasenso.
Na avaliação dos dois sistemas, o preço alto dos alimentos orgânicos foi
apontado dentro da categoria mercado, que obteve o segundo lugar na lista de
fatores restritivos. Esta conclusão é importante, pois se coaduna com o que foi
levantado junto aos consumidores em diversos estudos (CURITIBA, 2006a; 2007;
EMATER, 2007; IPARDES, 2007). Ainda na categoria mercado, os dois sistemas
apresentaram suas ressalvas diante das redes de supermercados. O sistema
Colombo é o que mais se relacionava com este segmento e apontou dificuldades
severas e que vêm sendo sentidas em outras partes do território nacional (CPI,
2002; DULLEY, 2004; ACTIONAID, [2005?]).
CATEGORIAS PROPOSTAS
Mostrar o que é o orgânico através de propagandas Divulgação
Divulgar através da televisão
Políticas
Contratar mais técnicos
Contratar agrônomo para prestar assistência cnica aos feirantes, se fosse a
Prefeitura de Curitiba
Assistência
Técnica
Incentivar a produção de hortaliças orgânicas
Financiar a atividade sem juros ou juros mais baixos
Financiar análises de solo e sua correção
Isentar a taxa de uso de solo nas feiras de Curitiba
Crédito
Apoiar a instalação de telefonia em localidades não atendidas
Fiscalizar o transgênico Legislação
Lei para proteger o orgânico e reduzir os venenos na convencional
Facilitar a venda na feira de Curitiba, pois estão pressionando demais. “Pegar no
pé” dos agricultores convencionais também.
Viabilizar mais espaços de comercialização local
Comercialização
Manter as estradas rurais em condição de trafegabilidade
Pesquisa Estudar os gargalos e daí discutir as soluções com os agricultores
Ensino Realizar atividades nas escolas para sensibilizar a comunidade
FIGURA 27 – PROPOSTAS PARA O CRESCIMENTO DA ATIVIDADE – CAMPO LARGO
FONTE: AUTOR (2007)
79
CATEGORIAS PROPOSTAS
Criar linha de crédito vinculada com a garantia de compra da produção
Viabilizar um programa de compra de produtos para escolas e creches
Melhorar as condições de venda: preço mais justo
Comercialização
Criar novos pontos de comercialização sem custos
Mostrar o que é o orgânico através de propagandas Divulgação
Divulgar as diferenças entre convencional, hidropônico e orgânico
Viabilizar patrulhas mecanizadas comunitárias
Fortalecer as linhas de financiamento
Destinar os recursos para financiar: investimento (80% do montante) e custeio
(20%), sem juros.
Criar um seguro agrícola
Crédito
Remunerar a conservação e manutenção de matas
Contratar mais técnicos
Contratar profissionais que colaborem no gerenciamento da produção e da
comercialização
Assistência
Técnica
Criar programas que trabalhe com a estima dos agricultores para que ele honre
a camisa que veste
Pesquisa Realizar um estudo sobre o mercado para convencer mais agricultores
Ensino Estabelecer um programa que ensine a lidar com dinheiro nas escolas
Certificação Criar procedimentos mais simples, eliminando a papelada
FIGURA 28 – PROPOSTAS PARA O CRESCIMENTO DA ATIVIDADE – COLOMBO
FONTE: AUTOR (2007)
As propostas elaboradas pelos agricultores do sistema Campo Largo foram
focadas nas questões de divulgação, que foi o maior problema elencado. Já, o
sistema Colombo evidenciou as questões de mercado por meio da categoria
comercialização. Na qual, indicou uma tendência no encurtamento da cadeia de
comercialização, contemplando venda em novos pontos e direto para o mercado
institucional. Em segundo plano, as questões de divulgação acompanharam a visão
do sistema Campo Largo.
4.2.8 Comércio
O presente trabalho, ao questionar os agricultores com relação ao comércio,
se aproxima de uma área muito complexa e reputada como o maior fator restritivo da
atividade, em diversos estudos (DAROLT, 2000; CURITIBA, 2006a e IPARDES,
2007).
A forma de comercializar foi um dos critérios estabelecidos para caracterizar
os municípios-tipo. Campo Largo conta com a comercialização de cadeia curta pela
venda direta (85,2%), sendo que os outros tipos de venda estão expressos (FIGURA
29) a seguir. A comercialização direta por ser a mais representativa neste sistema foi
80
81
ligados a problemas de manejo. E com a inexistência de uma gestão organizada da
propriedade, estes problemas tornam-se crônicos e amplificam os custos.
Para evidenciar o quadro crítico da administração da propriedade, observou-
se que 80% dos entrevistados não têm controle dos seus custos e muitos têm
dificuldades de enumerar quais seriam os componentes de custos. Certificação,
perdas, propaganda e depreciação foram os componentes menos citados em
questão aberta. Os 20% que afirmaram conhecer os custos de produção estimaram
um valor entre 25% a 45% do preço final, o que representa uma cifra muito elástica.
O reflexo disso é uma precificação com base em tabelas de outras feiras
orgânicas, que foram originadas de uma pesquisa de preços nas Centrais de
Abastecimento do Paraná (CEASA/PR) e nas feiras convencionais de Curitiba, no
início dos anos 2000.
Percebe-se assim, que os preços o possuem um critério técnico de
elaboração e variam de acordo com o equipamento de comercialização. As leis de
mercado, onde se observa o comportamento da demanda
82
assim como o monopólio, ocorre basicamente devido à existência de barreiras à
entrada de novas empresas no setor”.
A entrada em uma feira orgânica está condicionada a uma vaga no
equipamento de abastecimento, além das devidas comprovações de que os
produtos são orgânicos (certificação), o que demanda a conversão da propriedade e
assim por diante. Desta forma, as barreiras para a entrada rápida de muitas
“empresas” estão configuradas. O número de feirantes manteve-se estável até 2004,
devido ao processo moroso no planejamento e ampliação de novas feiras pela
municipalidade de Curitiba. As feiras existentes não eram ampliadas, pois havia uma
pressão dos feirantes mais antigos no sentido de não permitirem novos feirantes que
dividiriam uma mesma clientela.
Diante de um quadro oligopolista podem ser encontradas duas formas de
atuação: concorrência, estabelecida por meio de guerra de preços ou por promoções
e cartelização, denotada por fixação ou alinhamento de preços (VASCONCELLOS,
2002).
Durante a pesquisa foi relatada por diversos agricultores uma pressão por
parte de outros feirantes orgânicos para que não houvesse a prática de preços mais
baixos. Os agricultores “pressionados”, normalmente iniciantes nas feiras, estavam
tentando praticar a concorrência, citada anteriormente, sendo assim forçados a
assumir a cartelização.
Conforme revelado, esta pressão se deu por meio de conversas amistosas
com enfoque no corporativismo até por comportamentos coercitivos ou
intimidadores, onde alguma retaliação poderia ser implementada, em uma eventual
rebelião do novato. Esta cartelização, porém, vai contra os princípios da própria
Rede Ecovida de Agroecologia, que preconiza comércio justo (uma parceria
comercial, baseada no diálogo, no respeito e na transparência, que visa uma maior
equidade no comércio) e ao que foi propagandeado sobre processos produtivos que
não degradem o meio ambiente (REDE ECOVIDA, 2008).
Segundo a Rede Ecovida (2008) que congrega e certifica a maior parte dos
feirantes da RMC, um dos seus objetivos “é estimular o trabalho associativo na
produção e no consumo de produtos ecológicos; (...) e aproximar, de forma solidária,
agricultores e consumidores”. Desta forma, o discurso é um e a prática na feira é
outra. Isto é lamentável e demonstra seus frutos nos resultados decrescentes da
comercialização das feiras (CURITIBA, 2006a).
83
O problema é que esse discurso, que era afeito apenas pelos
atravessadores orgânicos, está sendo assumido na prática pelos agricultores
familiares, como foi verificado na realização do grupo focal em Campo Largo durante
a pesquisa de campo. Neste momento específico foi levantada a questão do preço
elevado e do alinhamento de preços em contraposição à forma “solidária” de
aproximação. Esta argumentação gerou polêmica e revelou que o objetivo da
maioria está, apenas, na maximização dos lucros (VASCONCELLOS e GARCIA,
2006).
Para finalizar a questão da precificação, na avaliação dos agricultores
entrevistados em Campo Largo os preços têm se mantido estáveis no último ano
para 50% deles, visão não compartilhada por 30% que afirmaram estar em alta e
20% em queda. Apesar disso, os agricultores que teriam condições de baixar os
preços, não o fizeram. Preferiram praticar o mesmo preço o ano todo, o que conferiu
certa previsão nas entradas de recursos, porém este “congelamento” de preços não
acarreta somente aspectos positivos, como a falta de competitividade em alguns
momentos do ano.
Ressalte-se que em algumas épocas do ano, os feirantes retornaram para a
propriedade com muito produto que virou adubo. A possibilidade de fazer promoções
e elaborar uma nova política de preços é pontual e logo desarticulada. Portanto
ainda persiste a dificuldade de acesso ao alimento orgânico, por razões financeiras.
Aqui não se contesta a maximização dos lucros, mas o conhecimento do papel dos
preços de produtos substitutos (convencionais) é fundamental (MENDES e PADILHA
JUNIOR, 2007). Dentro da análise econômica, sobretudo da microeconomia, “os
84
do Capão da Imbuia, CEASA/PR, entre outros) ou desanimaram com os prejuízos e
pararam suas atividades.
Os dados de local de venda e proporção referentes aos pesquisados são
detalhados a seguir. A estrutura de mercado, onde as empresas processadoras
estão envolvidas, foi considerada como um oligopólio concorrencial. Assim, as
mesmas não se organizaram para fixação de preços e repartição do mercado.
Portanto, até onde foi observado, disputam o mercado, tentando se diferenciar. Isto
se torna mais difícil, pois o produto agrícola apresenta características homogêneas,
onde uma alface orgânica da empresa A é, em tese, igual a da empresa B
(VASCONCELLOS, 2002).
35,0%
10,0%
55,0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Direta Varejo Processadora
FIGURA 30 DISTRIBUIÇÃO DA VENDA DOS AGRICULTORES ORGÂNICOS ENTREVISTADOS
EM COLOMBO EM RAZÃO DA FORMA DE COMERCIALIZAÇÃO
FONTE: AUTOR (2007)
O que chama a atenção é o grau de insatisfação dos agricultores com o seu
sistema de comercialização (90%). De fato esta insatisfação foi traduzida nas
seguintes ações em ordem decrescente de freqüência: busca de novos mercados,
inclusive pela certificação própria; participação em curso de empreendedorismo
rural, reunião de agricultores para discutir a questão; diversificação de produtos;
contratação de agente de comercialização; fornecimento para restaurante.
Ainda neste assunto, os agricultores alegaram sentir elevação nos seus
custos de produção em 70% dos entrevistados, enquanto que 30% avaliaram que a
situação estava estabilizada. Porém, os mesmos 70% dos entrevistados o
elaboraram seus custos e muitos apresentaram dificuldades de enumerar quais
seriam os componentes de custos. As perdas, propaganda e depreciação foram os
85
componentes menos citados em questão aberta, apesar da sua importância na
sustentabilidade da propriedade.
Portanto este quadro evidencia problemas na gestão da propriedade,
também no sistema-típico Colombo. A obtenção de alimentos orgânicos pode ser
feita por meio de diversos processos produtivos, que combinarão insumos e outros
fatores de produção. Segundo Vasconcellos e Garcia (2006), a escolha do processo
produtivo depende da sua eficiência, que pode ser tecnológica ou econômica:
Um método é tecnicamente eficiente (eficiência técnica ou tecnológica) quando,
comparado com outros métodos, utiliza menor quantidade de insumos para produzir
uma quantidade equivalente de produto. A eficiência econômica está associada ao
método de produção mais barato (isto é, os custos de produção são menores)
relativamente a outros métodos (VASCONCELLOS e GARCIA, 2006, p. 59, grifo do
autor).
Neste sentido, o sistema Colombo tem uma eficiência tecnológica, em
função do histórico do município na produção de olerícolas, que é o produto mais
demandado pelos seus compradores, das condições edafo-climáticas, da mão-de-
obra e maquinário. Porém, não conseguiu ainda, arranjar estes fatores técnicos com
as questões econômicas (preço, gestão da propriedade) para ampliar a sua
sustentabilidade.
Com relação aos preços recebidos, estes estavam de acordo com a tabela
das empresas que possuíam um preço médio anual em função de padrões de
qualidade. Porém, as empresas constantemente sofrem pressões das redes de
supermercados através das práticas abusivas, inclusive sacramentadas em
contratos. Segundo depoimentos dos agricultores, “pagamos as perdas aos
supermercados, mesmo que elas não ocorram e muitas vezes nossos pedidos são
devolvidos, simplesmente porque o pessoal do mercado esqueceu de digitar o
pedido...”
Estes são apenas alguns de muitos relatos de abusos que ocorrem diante
de um setor extremamente fortalecido, como é o supermercadista na RMC.
Percebe-se assim, nas palavras de Alcântara et al. (2005), a fragilidade dos
agricultores orgânicos diante de grandes grupos econômicos que costumam “alugar”
espaços para exposição de produtos, pois são a parte mais frágil desta corrente de
comercialização.
86
O fato de organizações dos agricultores, empresas individuais, terem
sucumbido diante da relação com estas redes, em um passado próximo deveria
chamar a atenção do poder “público”. Conforme Vasconcellos e Garcia (2006, p. 85),
“o Brasil possui, desde os anos 1960, extensa legislação que procura coibir os
abusos do poder econômico em defesa da concorrência e da proteção dos
consumidores.” Porém, o que se tem visto é a falta de ação dos órgãos
competentes, onde fica fragilizado o consumidor e o agricultor (CPI, 2002; DULLEY,
2004; ACTIONAID, [2005?]).
Para concluir a questão dos preços, na avaliação dos agricultores, os
mesmos se mantiveram estáveis no último ano para 60%, apresentaram elevação
para 10% e queda para 30%.
Para ilustrar a questão preço em diferentes canais de comercialização,
apresenta-se os dados da pesquisa de Vieira (2006), onde o autor comparou o preço
das hortaliças em 5 feiras orgânicas, 2 feiras convencionais (TABELA 7) e 5 redes
de supermercados (TABELA 8), no mês de setembro de 2006.
TABELA 7 PREÇOS DIOS DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS E CONVENCIONAIS IN NATURA
(FEIRAS), CURITIBA - PR
PRODUTO UNID.
PREÇO MÉDIO
DAS
HORTALIÇAS
ORGÂNICAS
(R$)
PREÇO MÉDIO DAS
HORTALIÇAS
CONVENCIONAIS
(R$)
DIFERENÇA DE PREÇO
(ORGÂNICO/CONVENCIONAL)
(%)
Alface
americana
Un 1,52 1,50 1,33
Alface lisa Un 1,06 0,95 11,58
Batata kg 2,50 1,35 85,19
Beterraba Un 0,35 0,27 32,83
Cenoura Un 0,26 0,14 94,07
Tomate kg 4,04 1,50 169,33
FONTE: VIEIRA (2006)
NOTA: A diferença média de preços encontrada nos 17 produtos que compuseram a pesquisa
completa foi de 46,29%.
TABELA 8 PREÇOS MÉDIOS DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS E CONVENCIONAIS
HIGIENIZADAS E EMBALADAS (SUPERMERCADOS), CURITIBA - PR
PRODUTO
UNID
PREÇO MÉDIO
DAS
HORTALIÇAS
ORGÂNICAS (R$)
PREÇO MÉDIO DAS
HORTALIÇAS
CONVENCIONAIS (R$)
DIFERENÇA DE PREÇO
(ORGÂNICO/CONVENCIONAL)
(%)
Alface am. kg 11,44 6,72 70,14
Alface lisa Kg 19,87 6,30 215,40
Beterraba Kg 6,82 3,96 72,31
Cenoura Kg 7,15 3,73 92,04
Tomate kg 8,81 7,16 22,97
FONTE: VIEIRA (2006)
NOTA: A diferença média de preços encontrada nos 17 produtos que compuseram a pesquisa
completa foi de 71,25%.
87
Salienta-se a diferença de preços, o que pode ser comprovado, apesar das
diferentes unidades de medida dos produtos. No caso do tomate, que é um produto
emblemático na produção orgânica, pela dificuldade na sua produção e pelos
índices de contaminação no seu congênere convencional, a diferença entre o preço
praticado no supermercado em relação à feira orgânica é superior em mais que o
dobro.
Finalmente, para estabelecer um comparativo entre as processadoras de
alimentos orgânicos comparam-se os preços entre estas empresas, seus similares
da convencional (embalados) e produtos a granel. Os produtos apresentados aqui
foram selecionados porque possuem seu congênere em várias formas de
apresentação e modos de produção (FIGURA 31).
ORGÂNICOS EMBALADOS CONVENCIONAIS
EMBALADOS
CONVENCIONAIS
PRODUTO FORNECEDOR
PREÇO
(R$/kg)
FORNECEDOR
PREÇO
(R$/kg)
PREÇO (R$/kg)
Alface
americana
A 8,47 C 5,93 1,59
Batata A 3,44 - - 0,80
Cenoura
inteira
A 5,18 D 7,47 1,09
Cenoura
inteira
B 8,75 - - -
Couve-flor A 8,37 D 5,87 -
Couve-flor B 8,26 C 4,13 -
Tomate B 10,72 D 7,97 0,95
Tomate - - C 3,94 -
FIGURA 31 PREÇO DE PRODUTOS ORGÂNICOS, DE CONVENCIONAIS IN NATURA
EMBALADOS E DE PRODUTOS CONVENCIONAIS, EM DIVERSOS
SUPERMERCADOS DE CURITIBA – PARANÁ- JUN 2006
FONTE: IPARDES (2007)
NOTA: (1) Os preços foram coletados em época sem ocorrência de evento climático recente
atípico/desfavorável
(2) As empresas orgânicas (A e B) e convencionais (C e D) foram codificadas
Segundo o IPARDES (2007), no estudo completo, de um total de 15
produtos, apenas três eram mais baratos nos orgânicos (cenoura, chuchu e ervilha).
A abobrinha era comercializada com o mesmo preço e nos outros mais caros,
principalmente na batata, aipim, couve-flor, repolho. Com relação às duas
processadoras que atuavam na região na época da pesquisa, as mesmas
apresentam preços similares no ítem couve-flor e diferenças significativas no caso
da cenoura inteira, o que demonstra um processo de concorrência estabelecido,
como já foi comentado.
88
4.2.9 Política (Associações, cooperativas e outros)
Os processos associativos formais na região remontam aos anos de 1980,
quando da administração do Sr. Claus Germer na pasta estadual da Agricultura. Na
sua gestão, de 1982 a 1984, foram criadas 14 associações na RMC, com a
finalidade de ser um canal de comercialização para os agricultores. Além das
finalidades comerciais, era esperado destas entidades um papel representativo da
classe. As 14 entidades estão ilustradas na figura 32.
MUNICÍPIO ENTIDADE SIGLA
Agudos do Sul
Associação dos Produtores de
Hortigranjeiros de Agudos do Sul
HORTISUL
Almirante Tamandaré Assoc
iação dos Produtores
Rurais de Almirante Tamandaré
ASTRO
Araucária Assoc
iação dos Produtores
Rurais de Araucária
APRA
Balsa Nova Assoc
iação dos Produtores
Rurais de Balsa Nova
AGRONOVA
Campina Grande do Sul Assoc
iação dos Produtores
Rurais de
Campina Grande do
Sul
ACOMGRASUL
Campo Largo
Associação dos Produtores
Rurais de Campo Largo
AGROCAMPO
Colombo Associação dos Produtores
Agrícolas de Colombo
APAC
Contenda
Sociedade União Agrícola de
Produtores Senhor Bom Jesus
SUACAN
Mandirituba
Associação dos Produtores
Rurais de Mandirituba
APRAM
Quatro Barras Associ
ação dos Produtores
Rurais de Quatro Barras
AGROBARRAS
Rio Branco do Sul
Associação dos Produtores
Rurais de Rio Branco do Sul
RIOSUL
São José dos Pinhais
Associação dos Produtores
Rurais de São José dos Pinhais
APROSP
Adrianópolis com extensão para:
Apiaí, Barra do
Turvo, Iporanga e Ribeira (SP) e Bocaiúva do
Sul e Cerro Azul
Associação dos Produtores do
Vale do Ribeira
AGROVALE
Federação Paranaense de
Associações de Produtores
Rurais*
FEPAR
FIGURA 32 – ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES RURAIS DA RMC
FONTE: BALESTRIN (2002)
NOTA:
*Criada em 1985 com o respaldo das associações dos seguintes municípios: Adrianópolis, Agudos
do Sul, Alm. Tamandaré, Araucária, Camp. Gr. do Sul, Campo do Tenente, Cerro Azul, Colombo,
Lapa, Mandirituba, Morretes, Quitandinha, Rio Br. do Sul, São José dos Pinhais e Tijucas do Sul
89
A criação acelerada de associações, que até nos seus nomes/identidade,
parecem seguir uma fórmula, foi uma iniciativa de caráter estatal. Claramente, se
pode notar o sentido da criação: de cima para baixo. Inicialmente, a associação
recebia através do estado diversos recursos para construir sua sede, armazéns e
para adquirir caminhões, máquinas, tratores, entre outros. Normalmente a
municipalidade colaborava com a doação de um terreno. Apenas para citar um
exemplo da falta de autonomia, a Federação Paranaense de associações de
Produtores Rurais (FEPAR) era administrada por técnicos da EMATER-PR até 1993,
o que caracteriza seu atrelamento ao governo do estado (BALESTRIN, 2002).
Na trajetória histórica das associações que trabalharam com a agricultura
orgânica cita-se, inicialmente a da Associação dos Produtores Agrícolas de Colombo
(APAC). Esta associação foi criada em 1984, na comunidade do Boicininga em
Colombo. Sua atividade principal era a comercialização de cestas em Curitiba e
nesta época utilizavam a estrutura da igreja da comunidade. Em 1988, receberam
um terreno da prefeitura e até meados de 1990 não tiveram muitas atividades, como
a maioria dos seus pares na região. Por volta de de 1995, segundo Balestrin (2002)
a APAC prestava serviços de preparo do solo e possuía uma cozinha para
manipulação para produtos de origem vegetal.
Nesta época, com apoio fundamental da prefeitura, iniciaram a
comercialização junto ao programa da merenda escolar e em algumas redes de
supermercado. Em 1997, aconteceu a parceria com a AOPA, que trouxe a APAC
90
necessidade de ampliação do beneficiamento;
restrição financeira aliada à dificuldade de acesso ao crédito para
investimento;
a comercialização era complicada, sendo necessário a ampliação de
outros canais de comercialização para reduzir a dependência das
redes de supermercados.
Estas dificuldades perduraram e acompanharam a APAC até o seu
fechamento em 2005. A maioria dos entrevistados de Colombo foi associada da
APAC e lamentou seu fechamento, alegando as mais diferentes versões, desde
gestão, passando por falta de apoio do governo até por sofrer das práticas abusivas
das redes de supermercados. Neste trabalho, não se busca fazer juízo sobre esta
questão, porém o simples fato do ocorrido mostra um cenário complicado com
relação ao modo de viver o associativismo na RMC.
A trajetória da AOPA foi detalhada anteriormente, porém se faz
necessário apresentar mais alguns dados relativos às suas dificuldades
evidenciadas no documento produzido por CEAO (2002), que pontua:
falta de crédito para estruturação das propriedades e das atividades
produtivas;
carência de assistência técnica voltada a agroecologia;
entraves legais e tecnológicos nas etapas de processamento;
falta de canais de comercialização mais favoráveis aos agricultores.
Com o intuito de enfrentar estes problemas, a AOPA propôs naquela época
suas estratégias:
fortalecimento da organização dos agricultores e agricultoras
agroecológicos;
formação e capacitação de seus associados;
estruturação da certificação participativa (Rede Ecovida);
busca de canais alternativos de mercado;
construção de um conjunto de parcerias com vários setores da
sociedade.
Finalmente, a AOPA conseguiu estruturar a rede de certificação e tem
atuado através de projetos na formação de seus associados e de agricultores
interessados na mudança para a agricultura orgânica.
91
Com relação aos aspectos associativos dos agricultores entrevistados de
Campo Largo, ficou claro que a maioria (90%) participa da Associação dos
Produtores Orgânicos de Campo Largo (PRODORGAN) e também do grupo da
Rede Ecovida, denominado também PRODORGAN, pois apesar de terem
finalidades distintas, eles operam juntamente ficando difícil discernir as duas
entidades. A PRODORGAN foi originária do amadurecimento de um cleo
municipal da AOPA. o grupo da Rede se formou em função da necessidade de
certificação dos agricultores.
Em oficinas realizadas em 2005, para se avaliar o grupo e quais eram as
suas possibilidades de crescimento, ficou evidenciada a característica individualista
no grupo. Nos trabalhos de grupo, quando as pessoas eram provocadas para dizer
qual era o seu papel na associação, muitos afirmaram que era trazer produto para
“ela” vender ou presenciar as reuniões. Isto, de fato é muito pouco, quando se pensa
em construir um processo abrangente de sustentabilidade.
Os agricultores em Campo Largo afirmaram em 30% das entrevistas que
tiveram problemas com associações e que estes estiveram ligados à: desvio de
recursos, desistência e desânimo de outros associados e decepção com dirigentes.
Os agricultores avaliaram que as associações de um modo geral estão nesta
situação em função dos seguintes motivos (FIGURA 33).
Má administração ou falta de tempo dos dirigentes para tomar decisões.
Conflito de interesses: financeiro maior que outros interesses.
Individualismo.
Faltam dirigentes comprometidos.
Não viu resultados. AOPA aproveitou para projetos. O primeiro resultado foi a compra conjunta de
tomate da PRODORGAN com preço mais baixo que os atravessadores.
Pequenas encrencas e as pessoas que começam já param.
FIGURA 33 RELATO DOS AGRICULTORES SOBRE OS MOTIVOS QUE LEVAM AS
ASSOCIAÇÕES A ESTAREM NA SITUAÇÃO ATUAL – CAMPO LARGO
FONTE: O AUTOR (2007)
Por outro lado, no município de Colombo, onde o processo associativo foi
muito mais traumático, 50% relataram problemas com as associações ocorridos em
função de discordâncias no modo de gerir a associação e de prejuízos causados
pelas mesmas. Como demonstra a fala de um integrante da APAC: “Eles quase me
quebraram!” Em função, destes problemas acredita-se que existe atualmente uma
aversão generalizada ao redor do associativismo, que tem as suas raízes no
histórico, que foi explanado. Os agricultores avaliaram que as associações estão
nesta situação em função dos depoimentos transcritos na figura 34.
92
Existe interesse particular e político.
Envolvimentos com políticos. Agrônomos não foram bem na gestão de associações, é a segunda que
eles quebram na cidade.
Pessoal só vê dinheiro.
Quando mexe com dinheiro, complica para vender.
Onde tem muita gente que manda, não dá certo.
Faltam pessoas para por a mão na massa. Cachorro que tem muito dono, morre de fome.
Grandes redes atrapalham. Falta infraestrutura.
O associado tem culpa. Quando a verdura está cara no mercado, desvia a produção da associação.
O grande come o pequeno. Quatro ou cinco comem, o que 20 juntaram com trabalho.
Má administração. Só pensam no bolso.
FIGURA 34 RELATO DOS AGRICULTORES SOBRE OS MOTIVOS QUE LEVAM AS
ASSOCIAÇÕES A ESTAREM NA SITUAÇÃO ATUAL – COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
4.2.10 Fatores restritivos relativos à propriedade
Os respondentes avaliaram como “gargalos” que entravam o crescimento da
agricultura ogânica os seguintes ítens, segundo os dados dos gráficos que se
93
30%
40%
20%
10%
Comércio
Financeiro
Falta de mão-de-obra
Terra
FIGURA 36 – FATORES RESTRITIVOS PARA O CRESCIMENTO DA ATIVIDADE – COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
4.2.11 Produção animal
Cerca de 90% das propriedades registraram a presença de criações de
animais em Campo Largo. Apenas, 30% manejavam estes animais com
procedimentos orgânicos, o que causa um desequilíbrio no sistema em função dos
medicamentos veterinários convencionais. Estes afetam a qualidade do esterco,
urina e subprodutos das criações, que na maioria são utilizados na propriedade.
30% dos entrevistados não informaram e outros 40% os manejavam com as técnicas
convencionais. O rebanho encontrado estava dividido conforme a figura 37.
90%
70%
60%
50%
10%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Aves Bovinos Einos Suínos Peixes
FIGURA 37 DISTRIBUIÇÃO DAS CRIAÇÕES ANIMAIS NAS PROPRIEDADES VISITADAS:
CAMPO LARGO
FONTE: O AUTOR (2007)
94
Cerca de 70% das propriedades registraram a presença de criações de
animais em Colombo. Apenas, 40% manejavam estes animais com procedimentos
orgânicos, os outros 30% os manejavam com as técnicas convencionais e 30%
não informaram. O rebanho encontrado estava dividido conforme a figura 38.
30%
40%
20%
30%
10%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Aves Eqüinos Bovinos Suínos Abelhas
FIGURA 38 DISTRIBUIÇÃO DAS CRIAÇÕES ANIMAIS NAS PROPRIEDADES VISITADAS:
COLOMBO
FONTE: O AUTOR (2007)
Apesar das exigências crescentes das certificadoras e da preconização da
diversificação da propriedade, os agricultores entrevistados dos dois sistemas
estudados não revelaram esforços em direção ao manejo orgânico dos animais. É
conveniente citar alguns fatores que colaboram para a manutenção deste quadro:
a quase ausência de profissionais habilitados nesta área com os
conhecimentos da agroecologia.
desconhecimento de tecnologias ligadas ao manejo dos animais.
utilização destes animais apenas para o consumo da família, em
função das exigências da legislação quanto ao processamento de
carne, leite, ovos e derivados; apesar de uma demanda reprimida
considerável (CURITIBA, 2006a).
4.2.12 Qualidade de vida
No tocante à qualidade de vida, 95% dos entrevistados da pesquisa (Campo
largo e Colombo) afirmaram a sua melhoria após a mudança para a agricultura
95
orgânica. Os motivos alegados estão ligados aos aspectos de renda, saúde e
segurança no trabalho. Entretanto, um dos entrevistados relatou a piora em função
de muita correria e estresse, o que denota que a agricultura orgânica pode trazer
resultados ambientais e financeiros positivos e em contrapartida incorporar, também,
efeitos deletérios. Por este motivo uma visão multidimensional é importante no
tocante ao planejamento e à gestão da propriedade. Caso contrário, apenas os
insumos foram mudados, mas a lógica de dependência e heteronomia persiste
(CAPORAL e COSTABEBER, 2002a; GLIESSMAN, 2005).
Com relação ao consumo de alimentos orgânicos, todas as famílias
entrevistadas manifestaram que se auto-abastecem de alimentos orgânicos. Porém,
apresentaram dificuldade de acessar outros produtos oriundos de outras regiões do
estado como: café, açúcar, farinhas, arroz e carne. O que chama a atenção é que
vários destes produtos encontram-se disponíveis na região com preço similar ao
convencional e por falta de informação não são consumidos. Percebe-se, assim, que
a conscientização que muitos entrevistados consideram como importante deve
começar a ser feita dentro de suas próprias casas. Isto também denota a falta de
articulação entre as regiões produtoras, onde se poderia estabelecer trocas de
produtos, até usando relações não-monetárias, como em algumas experiências
alvissareiras realizadas pela Rede Ecovida a partir do segundo semestre de 2007, o
chamado Circuito-Sul de Comercialização. Neste sentido, é possível vislumbrar um
ciclo virtuoso de comércio, mas que o pode se submeter aos vícios
mercadológicos.
96
5 CARACTERIZAÇÃO DAS POLÍTICAS
O presente trabalho pretendeu também evidenciar a compreensão da
diferença entre as chamadas políticas públicas e políticas com recursos públicos.
Para tanto é preciso conceituar política, “que é derivada do adjetivo politikós
originado de lis, que significa tudo o que se refere à cidade e, conseqüentemente,
o que é urbano, civil, público” (BOBBIO et al., 2004, p. 954). Pode estar relacionada
com a atitude de governos em relação a determinado assunto ou problema de
interesse da população.
Segundo Cruz (1994), os termos público e privado surgiram no Império
Romano e o relacionados ao Direito Público e Privado que, por sua vez, são os
alicerces do Direito Romano, que origina todo o Direito das sociedades ocidentais.
Por outro lado, o conceito do que é público advém da civilização grega. “Na
pólis grega o espaço público é a esfera de ação do cidadão, é o espaço onde se
compete por reconhecimento, precedência e aclamação de idéias” (CRUZ, 1994,
p.1). Na sua origem, o termo público remonta à coletividade e ao exercício do poder
na sociedade de iguais.
Neste sentido, Bobbio et al. (2004, p. 11) afirma que a administração pública
é designada pelo conjunto das atividades diretamente destinadas à execução
concreta das tarefas ou incumbências consideradas de interesse público ou comum
numa coletividade ou numa organização estatal.” Este é de fato o senso comum a
respeito do tema, mas esconde a realidade que é muito diferente.
Na atualidade, o privado se refere ao mercado e ao indivíduo. Cruz (1994,
p.1) sinaliza que o público “passa a ser identificado com o Estado e o espaço onde
ocorrem as relações políticas da sociedade.” Porém, as demandas da sociedade,
principalmente aquelas ligadas à agricultura orgânica, não estão sendo atendidas
plenamente nem por uma esfera nem por outra. Isto torna imperioso uma avaliação
séria e detalhada da situação e a proposição de novas formas de interação da
sociedade.
O que se observa na região é que o público, ou seja, nas palavras de Cunha
(1986) o que é relativo ao povo ou à coletividade. As políticas “públicas” estão sendo
executadas, mesmo quando as pessoas não estão sendo ouvidas. Com o interesse
de quem? Com que resultado? Por quê? Para quem? Este questionamento é
97
fundamentado nos dados desta pesquisa que evidenciaram o desconhecimento da
política “pública”, se é “pública” como pode ser desconhecida pelo blico, que na
região não é tão numeroso nem inacessível.
Conforme os dados apresentados, em Campo Largo, 50% dos
entrevistados não identificaram nenhuma atividade dos órgãos governamentais em
relação à agricultura orgânica. Ao analisar as outras respostas a situação ainda
piora, pois 10% dos agricultores entrevistados não opinaram. Além disso, 20%
afirmaram que as ações se resumem até o momento apenas à tentativas.
Finalmente, o que de concreto foi apresentado foi 10%, que afirmaram a realização
de ões municipais relativas ao abastecimento e mais 10%, que apontaram os
trabalhos conjuntos de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) conduzidos
pelo Banco do Brasil em parceria com outras entidades.
A situação visualizada em Colombo não foi diferente, 30% não relataram
nenhuma atividade, 10% mencionaram um programa onde a Associação (APAC)
recebeu um recurso para maquinário, mas como era necessário uma contra-partida
pecuniária, reclamou que ninguém perguntou se a associação tinha como pagar. Isto
revela o papel paternalista ainda esperado pelo blico em função das políticas
anteriores e a falta de visão empreendedora. Outros 10% afirmaram ter participado
do Paraná 12 Meses, um programa estadual que teve atividades de 1997 até 2006.
Por fim, 50% relataram a participação no PRONAF e no Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA), ambos programas federais. O PRONAF foi extensamente elogiado
pelo seu alcance, prazos e taxas de juros. Em contrapartida o PAA recebeu críticas
relativas ao seu funcionamento, burocracia e contingenciamento de recursos, que
foram evidenciadas, também, no trabalho de IPARDES (2007).
As políticas chamadas públicas continuam a não atender ao blico, pois
dificilmente as avaliações das mesmas são utilizadas para seu aprimoramento. Os
formuladores ssfGísKU;N;M6âí,K2N62G6RGíbKUâNRD22ZílKâNR;M2âíeK;N6RGGGí KU;GDNLZí²K;N6RGGí KU;;6N6ââú;ísKU;N;MRípK;N6RGGGíúKU;NDMRMDíiKâNR;M2âífKUG22G6RíiKU;NDMRMRívKU;N;MZZíaK;N6RGGílKU;NDMRMRíiKU;NDM6â6ícKU;;Nâ26ZíoK;N6âR6;ínK;N6RGGGítK2N62;LââíiKU;GNM;L;ínK;N6RGGGíuK;N6RGGGía²K;N6RGGíeK;N6RGGGí ²K;N6RGGíAKUZNGMZâDí KU6N6âR6;íKUG2ND2NGMMad
98
não é exclusividade dos pequenos municípios, infelizmente se reproduz em todas as
escalas da administração pública, onde sob a égide da governabilidade se amplia
uma base aliada para fazer a “máquina pública” funcionar.
Colaborando neste sentido, Borsatto (2007, p. 126-127), em sua dissertação
“Agroecologia: um caminho multidimensional para o desenvolvimento agrário do
litoral paranaense”, afirmou que “os pequenos agricultores locais nunca foram
beneficiados pelas políticas públicas, pelo contrário, na maioria das vezes foram os
maiores prejudicados.” E continua “as políticas públicas mais recentes continuaram a
beneficiar somente ao grande agricultor patronal por meio de créditos e subsídios.”
Por todos estes motivos, se questiona nesta dissertação as chamadas
políticas “públicas” e em razão da realidade, aqui são chamadas de políticas com
recursos públicos, já que ainda não atenderam aos interesses públicos, mas contam
com o seu suporte financeiro. Acredita-se que a partir desta discussão se possa
trazer o segmento para uma reflexão sobre o exercício da cidadania, apropriação
dos espaços de avaliação das políticas e inclusive da formulação e regulação.
Porém, sabe-se que a tarefa possui seus inconvenientes por se tratar de mudanças
estruturais em um sistema de exercício do poder dito “público”.
As políticas com recursos públicos estão divididas neste trabalho nas
seguintes áreas: crédito, educação, extensão (assistência técnica e extensão rural),
legislação (certificação) e pesquisa.
5.1 EDUCAÇÃO
Neste ítem objetivou-se retratar a situação das diversas iniciativas
relacionadas com a eduação abrangendo atividades de formação profissional,
educação formal e não-formal. A realidade de cada instituição foi explanada tendo
como pano de fundo a RMC, que foi o foco deste trabalho.
99
5.1.1 Educação Superior
Notadamente, os cursos de Engenharia Agronômica, das duas
universidades da região (UFPR e Pontifícia Universidade Católica) o trazem na
sua estrutura curricular nenhuma matéria específica
100
época, o grupo possuía uma área na Estação Experimental do Cangüirí, onde
desenvolviam várias pesquisas e mantinham unidades demonstrativas.
Naquela mesma época, onde este pesquisador teve mais contato com a
UFPR, durante todos os anos havia o Ciclo de Atualização da Agronomia, promovido
pelo Centro Acadêmico, onde assuntos não discutidos na grade curricular ou novos
eram ministrados aos alunos na forma de cursos. Nenhum curso com a temática da
agricultura orgânica foi sequer ofertado no período.
Diante da situação em que a formação universitária não favorece o
conhecimento da agricultura orgânica, o número de profissionais atuando neste
campo do conhecimento parece ser proporcional. Os profissionais que desejaram
enveredar por esta área tiveram que buscar os saberes em outros locais, quando
uma instituição de ensino superior deveria contemplar todas as matizes de
conhecimento para uma formação plena. Frente à sua missão no que concerne à
sustentabilidade, a Universidade esbanja omissão com relação à agricultura
orgânica.
Atualmente, devido ao ingresso de novo docente de Olericultura na UFPR, o
professor Átila Mógor, iniciaram-se trabalhos de pesquisa voltados à agricultura
orgânica. Os mesmos foram apresentados pelos acadêmicos por ocasião do III
Paraná Orgânico, no começo de dezembro de 2007 e impressionaram os
agricultores presentes. Tal evento contou com a colaboração do professor Luciano
Almeida, da disciplina de Extensão Rural, que também possui trabalhos nesta área.
Se não fosse esta iniciativa, poderia-se dizer que a Fazenda da UFPR,
depois do decreto da APA do Iraí, ficou praticamente paralisada. Por outro lado, era
de se supor que a fazenda fosse a primeira a atender às demandas ambientais
impostas pelo zoneamento ecológico-econômico da APA.
5.1.1.1 Educação continuada de profissionais e Pós-Graduação
No ano de 2005, foi iniciada uma turma do Curso de Especialização em
Educação do Campo e Agricultura Familiar e Camponesa, uma espécie de
residência agronômica envolvendo várias universidades da região sul e sudeste,
sendo a UFPR uma delas. Foram s-graduados aproximadamente 15 alunos e
101
muitas das monografias foram realizadas na RMC. Outros cursos de pós-graduação
nesta área, apesar do interesse de algumas instituições de ensino superior como a
Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Faculdades Integradas Espírita (FIES), não
se viabilizaram até o momento por falta do número mínimo de participantes.
5.1.2 Educação de nível Médio e Pós-Médio
Os colégios agrícolas não estavam presentes na área de abrangência deste
estudo até o ano de 2.004, quando da fundação do Colégio da Lapa, que tem um
Curso Técnico em Agroecologia, pelo governo do estado. No ano de 2005, a
Universidade Federal do Paraná, através da Escola Técnica (ET- UFPR),
desenvolveu uma turma do Curso Técnico em Agroecologia em parceria com
diversas entidades do terceiro setor. Esta primeira e última turma, nesta modalidade,
formou aproximadamente 32 técnicos com grande participação de residentes em
municípios da RMC, mais especificamente dois técnicos residem em Campo Largo,
um dos municípios-tipo desta pesquisa. O processo de seleção destes educandos foi
feito pelas organizações dos agricultores e contemplou com 95% das vagas,
agricultores ou seus filhos. O curso foi estruturado dentro da pedagogia da
alternância, o que propiciou a participação efetiva dos educandos, pois a distância
para um deslocamento freqüente seria um entrave definitivo. A alternância era
composta de um período de aulas, em torno de uma semana e mais um período de
atividades na propriedade e comunidade (HOELLER, 2006).
Ressalte-se a pequena participação de professores do Setor de Ciências
Agrárias da UFPR como docentes deste curso, que segundo sua proposta inicial
deveria aproveitar os recursos humanos disponíveis da Universidade.
Mais recentemente (2007), foi criado no Colégio Estadual Newton Freire
Maia, o Curso Técnico em Agropecuária com ênfase em Agroecologia. Aproveitando
a estrutura do antigo Parque de Exposições Castelo Branco (Pinhais) e parte das
instalações do Centro de Treinamento do Instituto EMATER-PR, o curso neste
primeiro ano atende 39 alunos, oriundos basicamente de municípios do Vale do
Ribeira.
102
5.1.3 Educação de agricultores
A dinâmica de cursos de formação para os agricultores tem sido bastante
heterogênea e com vários enfoques dependendo da instituição que ministra o
evento. Apenas recentemente houve uma parceria orquestrada do Instituto
EMATER-PR
103
ANO NÚMERO DE CURSOS
NÚMERO DE PARTICIPANTES CONCLUINTES
2003 4 57
2004 5 72
2005 28 317
2006 36 406
2007 13 142
TOTAL
86 994
FIGURA 39 – CURSOS DE AGRICULTURA ORGÂNICA REALIZADOS PELO SENAR NA RMC
FONTE: SENAR – PR (2007)
NOTA: Participantes concluintes são aqueles que têm freqüência e desempenho suficiente para a sua
aprovação
Verifica-se na figura 40 como a participação dos agricultores em cursos por
município-tipo ficou distribuída, o que revela um perfil de utilização do tempo e de
busca de infomações pelos mesmos, o que será amplamente discutido
posteriormente.
MUNICÍPIO
CAMPO LARGO COLOMBO
2005 7 cursos e 64 participantes 0
2006 5 cursos e 43 participantes 2 cursos e 16 participantes
2007 1 curso em conjunto, 2 participantes
1 curso em conjunto, 7 participantes
FIGURA 40 CURSOS DE AGRICULTURA ORGÂNICA REALIZADOS PELO SENAR EM CAMPO
LARGO E COLOMBO DESDE 1993
FONTE: SENAR – PR (2007)
NOTA: O curso em conjunto foi realizado em Colombo envolvendo agricultores de diversos
municípios da RMC
Com relação ao trabalho das organizações do terceiro setor, cita-se o
trabalho da AOPA no âmbito de seus projetos Iguatu e Florestando. O projeto Iguatu
promoveu a gestão adequada dos recursos hídricos através da agroecologia. Foram
mais de 600 famílias contempladas na RMC e em outras regiões do estado. As
atividades desenvolvidas foram ligadas à formação, adoção de tecnologias e
geração de referências técnico-científicas (PROGRAMA PETROBRAS AMBIENTAL,
2007).
O projeto Florestando a Agricultura Familiar no Paraná trabalhou com mais
de 400 famílias na RMC e outras regiões do estado ligadas à AOPA, à Cooperativa
Central dos Assentados do Paraná (CCA) e à Federação dos Trabalhadores da
Agricultura Familiar (Fetraf). A perspectiva adotada foi de criar uma assessoria
técnica para a consolidação de uma educação florestal e agroflorestal (JORNADA
DE AGROECOLOGIA, 2008).
104
5.2 PESQUISA
A pesquisa neste campo do conhecimento ainda se encontra restrita aos
setores governamentais. Como maiores representantes estão posicionados: Centro
Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), Instituto Agronômico do
Paraná (IAPAR), Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
(IPARDES) e as universidades.
A autarquia denominada Centro Paranaense de Referência em
Agroecologia (CPRA), criada em 28/12/2005, possui como missão: “divulgar, apoiar
e promover ações de ensino, pesquisa e extensão voltados ao desenvolvimento de
modelos agrícolas sustentáveis”. (PARANÁ, 2005) Neste intuito o centro tem
promovido diversas pesquisas, que são listadas no anexo 1.
Por sua vez, o IAPAR criou seu Programa de Pesquisa em Agroecologia em
2004, “com a finalidade de congregar e coordenar ações de pesquisa, visando
promover sistemas sustentáveis de produção agroecológica, incluindo a orgânica”
(IAPAR, 2007, p. 1).
No âmbito da RMC contava com um pólo regional de pesquisas no Cangüiri,
município de Pinhais, onde hoje funciona o CPRA. Na atualidade, sua sede regional
é em Curitiba e conta com um difusor de tecnologia ligado ao programa de
Agroecologia, Moacir Darolt, além do pesquisador Nilceu R. Xavier de Nazareno da
área de fitopatologia e que desenvolve pesquisas na área de batata orgânica, tendo
lançado a cultivar Cristina em 2006 e com um livro sobre o tema no prelo. As
pesquisas do Programa do IAPAR estão relacionadas no anexo 2.
Contribuindo com pesquisas para o segmento, porém ligado à Secretaria de
Estado de Planejamento e Coordenação Geral, está o IPARDES. Suas atribuições
estão na esfera de estudar a realidade social e econômica para subsidiar a
formulação, execução e avaliação das ditas políticas públicas. Possui um núcleo de
Desenvolvimento Rural que tem produzido em parceria com outras instituições
importantes estudos para a agricultura orgânica na região e para o estado. Como
exemplo tem-se os estudos “O Mercado de Orgânicos no Paraná caracterização e
tendências” (2007)
8
e “Identificação de Gargalos Tecnológicos da Agricultura
8
Este trabalho contou com a participação do IAPAR (RODRIGUES, A. S.; DAROLT, M. R.)
105
Familiar” (2005). Os pesquisadores com maior participação em eventos junto aos
agricultores, técnicos e consumidores da região são Ivo Melão e Marina Mori.
Segundo Appoloni (2003, p.1) as universidades têm a pesquisa como um
dos pilares da sua atividade. Nas palavras de Appoloni, “a Pesquisa, em seu sentido
mais amplo, é o cerne da Universidade.” Com relação à agricultura orgânica, aos
poucos os docentes e discentes buscam investigar a questão. O fato alvissareiro é
que a cada ano que passa, surgem novas e diversas pesquisas tanto na graduação,
como as apresentadas pelos educandos da disciplina de Olericultura do curso de
Agronomia em dezembro de 2007, quanto em diversos programas de pós-graduação
da UFPR. Cabe ressaltar que apesar destes recentes esforços, a demanda ainda é
grande e a dívida do setor é histórica.
No sentido de reforçar a gravidade da situação, Almeida (2002, p.35)
acrescenta que:
A falta de uma melhor compreensão técnico-científica dos princípios
agroecológicos por parte dos técnicos e agricultores, [...] tem levado também
a uma certa lentidão na detecção de problemas no âmbito dos sistemas de
produção. O ainda baixo nível de conhecimento técnico sobre as propostas
ou tecnologias agroecológicas leva freqüentemente à repetição de
argumentos genéricos e/ou generalizantes, reforçando chavões que o
largamente reproduzidos tanto no debate social mais geral como no meio
acadêmico.
5.3 EXTENSÃO
Os serviços de assistência técnica e extensão rural iniciaram no país no
final da década de quarenta, imersos em um contexto de política desenvolvimentista.
Seu objetivo era de promover a melhoria das condições de vida da população rural
e apoiar o processo de modernização da agricultura, inserindo-se nas estratégias
voltadas à política de industrialização do país.” (BRASIL, 2004, p.4) Esta visão de
extensão trata de estender o conhecimento àquele que desconhece, mas segundo
Barros (1994, p. 665), vai além porque é: “ao mesmo tempo, um processo de
comunicação e de educação planejada que destina mudar o comportamento
econômico e social” das pessoas.
106
Este extensionismo convencional recebeu críticas desde 1960, por Paulo
Freire, entre outros. No entendimento de Caporal e Costabeber (2002b, p.13),
estas críticas tiveram seu auge no período da Nova República, com o
chamado Repensar da Extensão Rural. Desde aquela época, as diversas
entidades que desenvolviam atividades de extensão buscaram uma Nova
Extensão Rural que busca incorporar princípios e enfoques técnicos e
metodológicos distintos dos convencionais, direcionando suas ações para
a promoção de estilos de agricultura e de desenvolvimento rural que
respeitem as condições específicas de cada agroecossistema e apóiem a
preservação e o resgate da diversidade biológica e cultural.
No âmbito da RMC estas duas visões opostas de extensão convivem e
produzem os seus resultados. A extensão tem sido feita a partir de entidades
estabelecidas na região como é o caso do EMATER-PR, das Prefeituras, das
universidades e das ONG’s.
No que tange ao Instituto EMATER-PR, este tem como missão: “Contribuir,
de forma educativa e participativa, para o desenvolvimento da agricultura, para o
desenvolvimento rural sustentável e para a promoção da cidadania e da qualidade
de vida da população rural” (EMATER-PR, 2007a).
Pode-se dizer que dentro desta missão destacam-se os termos
“sustentável” e “qualidade de vida”, que dizem respeito claramente à agricultura
orgânica. Portanto, pelo histórico apresentado e pelas atividades do presente
avalia-se a importância deste Instituto no avanço da atividade. O EMATER-PR
apesar de possuir 67 técnicos atuando na RMC, conta apenas com 8 atuando na
área com ênfase em agricultura orgânica. A maior dificuldade destes profissionais é
conciliar as suas atividades, que cada vez demandam mais tempo, com o
atendimento dos agricultores orgânicos. Estes, devido às características relativas à
conversão da propriedade entre outras, demandam muita dedicação (ZANINI, 2006;
EMATER-PR, 2007b).
Na visão de Denardi (2001, p. 60, grifo do autor),
no caso da estrutura estatal de assistência cnica e extensão rural,
devemos considerar pelo menos dois fatores adicionais: o envelhecimento
da estrutura; e o dilema entre um passado de (quase) monopólio e
autosuficiência e um futuro ainda não muito definido, de serviços públicos
não exclusivos e não necessariamente estatais. Em função disso, uma
resistência e uma dificuldade concreta para fazer parcerias com outras
instituições (principalmente com as não-governamentais), em todas as
esferas, mas sobretudo no local (município e microrregião), sem ter um
modelo, "receita" ou garantias verticais (de cima para baixo).
107
Este envelhecimento da estrutura foi identificado, porém as ações para
mitigá-los ainda foram tênues. Após um período sem contratação de profissionais
para a extensão estatal de 16 anos (1991-2007), foi realizado um concurso onde foi
prevista a contratação de apenas 5 engenheiros agrônomos para o estado todo. Em
dezembro de 2007, começaram suas atividades na extensão, aqueles 5 e mais
outros 113 profissionais, entre técnicos agropecuários, veterinários e engenheiros
florestais (EMATER, 2007c). Não se trata aqui de desmerecer a iniciativa, porém a
envergadura deste concurso não supriu o número de vagas vazias causadas pelo
falecimento e aposentadorias regulares de funcionários e daqueles que aderiram ao
plano de demissão voluntária do final dos anos 1990. Além disso, a cifra não chega
próximo do número de funcionários cedidos das prefeituras para o Instituto que no
ano de 2005 eram 219 (EMATER, 2007d). Isto significa que a contratação realizada
no concurso não supera o número de profissionais que foram cedidos pelas
municipalidades para o Instituto.
As prefeituras da região, além de cederem funcionários para o estado, estão
estruturando quadros técnicos próprios, por meio de concursos públicos, e vêm
efetivando estes profissionais para evitar descontinuidades no atendimento da
população rural, o que infelizmente ainda é muito comum. Cita-se o trabalho da
Prefeitura de Campo Largo, Colombo e Araucária, que possuem técnicos com
experiência na área, apesar de apenas um ter estabilidade como funcionário
concursado.
A organização do terceiro setor que atua na RMC é a AOPA, que após
mudança estatutária foi denominada Associação para o Desenvolvimento da
Agroecologia e ampliou sua atuação. Ela iniciou seus trabalhos no entorno de
Curitiba e com o advento do Projeto Iguatu focou suas atividades na porção norte da
região, sabidamente no Vale do Ribeira.
5.4 LEGISLAÇÃO
As leis que tratam da agricultura orgânica são recentes, sendo que a mais
importante é a lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Esta lei, como já foi descrito,
trata do que é sistema orgânico de produção:
108
todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização
do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à
integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a
sustentabilidade econômica e ecológica, ... (BRASIL, 2003)
Na falta da regulamentação desta Lei, foi editada a Instrução Normativa (IN)
16, de 11 de junho de 2004. Esta normativa trata do registro e renovação de
registro de produtos orgânicos e matérias-primas animais e vegetais, junto ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Ainda no âmbito das Instruções Normativas, foi editada a n°7, de 17 de maio
de 1999. Nesta edição ficaram estabelecidas as normas para produção,
processamento, certificação de produtos orgânicos, bem como citam os produtos
permitidos nas produções vegetais e os produtos e condutas permitidos nas
produções animais. A IN n°6, de 10 de janeiro de 2002, trata apenas da questão de
certificação, que será explorada mais adiante.
O conhecimento das leis é fundamental para o desenvolvimento da
agricultura orgânica. A figura 41 aponta o endereço para acessar as legislações por
inteiro, na internet.
NÚMERO DATA DE
ASSINATURA
ENDEREÇO PARA CONSULTA
Instrução
Normativa
n°6
10/01/2002 http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1771
Instrução
Normativa
n°7
17/05/1999 http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1662
Instrução
Normativa
n°16
11/06/2004 http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=7796
Lei 10.831 23/12/2003 http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=5114
Decreto
6.323
27/12/2007 http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=18357
FIGURA 41 – LEGISLAÇÃO LIGADA À AGRICULTURA ORGÂNICA
FONTE: BRASIL (2007)
Todas as atividades produtivas são regidas por estas normas e lei. Na IN
n°7 foi criado um órgão nacional, chamado Colegiado Nacional para a Produção
Orgânica (CNPOrg) e também foram criados nos estados, os Colegiados Estaduais
para a Produção Orgânica (CEPOrg). O objetivo destes órgãos é assessorar e
acompanhar a implementação das normas, avaliando e emitindo pareceres sobre o
credenciamento de certificadoras e fornecendo informações para as atividades e
109
projetos ligados à agricultura orgânica (SOUZA, 2006). No estado do Paraná o
colegiado foi implantado, porém encontra-se com as atividades em estado letárgico
em função da demora na regulamentação da lei e falta de participação dos
segmentos da agricultura orgânica.
5.4.1 Certificação
Apesar da certificação não ser um serviço exclusivo do poder público em
nosso país, é considerado neste trabalho como uma atividade relacionada às
políticas com recursos blicos. No estado do Paraná, uma das certificadoras é o
TECPAR, que é uma entidade pública de direito privado e que tem apresentado um
crescimento nas propriedades certificadas da RMC nos últimos dois anos.
Com relação à lei 10.831, que trata da agricultura orgânica, a mesma
aponta para três formas de certificação: auditada, participativa e facultativa. Na
certificação auditada, os agricultores recebem a visita de um inspetor que conferirá a
situação da propriedade como um todo, além de indicações de pontos a melhorar.
Em algumas oportunidades recolherá amostras para análise de resíduos. NmíuK;GNLZ26í KU;;6N6ââíaK;N6RGGML6Mí KUDMN2NZââLZâí K[”GNLZZâí KU6LNLDMRíeK;N;MZZí.K2N62;LâM e.DdGNM6MDâíKU;N;M6âí KUGD6N6GâídK;LMGDDNâíaK;N6RGGGí.rKGNM6GâLíázKUâNRD;L6íbK;N;MZZí KUG2NDGGâídK;LGRKU;NílKU;GNM;;âíKUG2NDGGâííaK;N6RGGGí KUGD6NG6DípKUâGRKU;NívUG2NDGGâíDMRíeK;N;MKU;NDMâ;RídKUâNRD2ZR6íuK;N6RGGGírdK;N6RGGGípKUâGRKU;NíéUGD6NG6DípKUâGRKU;NíoKUâNR6âDZííbK;N;MZZí KU;NDMRMRíéKUâNRD;L6ínK;N6RGGGíszKUâNRD;L6KUâNRD;L6íaK;N6âR6;ísKU;N;N6;6íaK;NMGDDNMlas abzarKU;GNM;;âí KULZ;NG6ZícKU;GRn
110
desta rede, chamado Maurício Burmester do Amaral, que contempla 21 grupos no
total, sendo 14 relacionados à pesquisa (FIGURA 42). Até o momento, esta
certificação está objetivando o mercado interno.
NOME DO GRUPO MUNICÍPIO NÚMERO DE PARTICIPANTES
Manancial* Almirante Tamandaré 8
Sabugueiro* Bocaiúva do Sul e Colombo 12
Campina Grande do Sul*
Campina Grande do Sul 11
Prodorgan* Campo Largo e Balsa Nova
11
Solo Vivo de Dahvi* Campo Magro 14
Sertaneja Orgânica* Cerro Azul 10
Beija Flor* Lapa 5
Estrela* Lapa 4
Margarida* Lapa 10
Terra Livre* Lapa 10
Vida e Saúde* Mandirituba 11
Fruto Caipira* Quitandinha 3
João de Barro* Tijucas do Sul 11
Pintassilgo* Tunas do Paraná 5
Arrozeiro Guaraqueçaba 6
Sabiá da Mata Morretes 11
Apep Palmeira 18
Bioland Palmeira 4
Cheiro da Mata Paranaguá 7
Apeco Ponta Grossa 8
Três Barras Ponta Grossa 5
FIGURA 42 – GRUPOS VINCULADOS AO NÚCLEO MAURÍCIO B. AMARAL
FONTE: PINHEIRO (2004) e REDE ECOVIDA (2007)
NOTA: (*) Grupos pertencentes à RMC
Certificação facultativa: Os agricultores familiares, que comercializam
diretamente com os consumidores, podem optar por este sistema. Isso é possível
desde que possuam um processo próprio de organização e controle social. Esta
organização deverá ser cadastrada junto ao Ministério da Agricultura e permitir aos
consumidores e ao Ministério da Agricultura o livre acesso aos locais de produção e
processamento, bem como assegurar a rastreabilidade (STRINGHETA e MUNIZ,
2003).
111
5.5 CRÉDITO
O crédito tem sido apontado como indutor de diversas atividades, dentre
elas a agricultura orgânica. No modelo de crédito rural que vigorava até bem pouco
tempo, não havia instrumentos apropriados para a atividade. Apesar da propaganda,
o fato de o existir uma planilha específica para a agricultura orgânica ou por o
poder enquadrar um agricultor em conversão, era barreira mais que suficiente
para a não concessão do crédito. A maioria dos agricultores trilhou a conversão e
por conseqüência arcou com os custos da certificação (fases muito críticas do ponto
de vista econômico), sem nenhum apoio financeiro externo (STRINGHETA e MUNIZ,
2003).
Apenas a partir de 2006, o Banco do Brasil passou a financiar projetos que
estavam em fase de transição (conversão), por meio do PRONAF Agroecologia.
Porém, apesar desta nova característica, não houve substancial adesão à linha na
RMC, porque a maioria dos financiamentos foi para olericultura o que caracteriza
recebimento de até 50% a mais do valor do financiamento (sobre-teto). Esta seria a
única diferença prática entre as linhas de financiamento e a explicação para tão
poucos planos de crédito agroecológicos (BANCO DO BRASIL, 2006).
Ainda nesta reflexão, o fato novo na região foi o crescimento pronunciado
dos projetos ligados à agência Colombo do Banco do Brasil, que inclusive foi a
recordista no estado em PRONAF na safra 2007/08 em função de um grande
trabalho do extensionista municipal do EMATER-PR.
112
6 CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO
O Mercado tradicionalmente tem sido definido como “um área geográfica na
qual vendedores e compradores realizam a transferência de propriedade de bens e
serviços” (MENDES e PADILHA JUNIOR, 2007, p. 176). Se por um lado, ele é
mecanismo de formação de preço regido por leis abstratas, como a da oferta e da
demanda, por outro, os mercados são também estruturas sociais, que refletem
“poder, estruturas, convicções, normas e controles sociais” (ABRAMOVAY, 2001,
p.7).
De fato, os mercados espelham o contexto institucional em que são
formados e não podem ser analisados sem estes requisitos. Como enfatiza este
mesmo autor, os mercados funcionam a partir de uma gica, que impõe
oportunidades e ameaças (ABRAMOVAY, 2001).
6.1 DESCRIÇÃO DO MERCADO DA RMC
O mercado na região, foi amplamente estudado por diversos
pesquisadores (CUPERSCHMID, 1999; RUCINSKI, 2003; CURITIBA, 2006a; SILVA,
2006; VIEIRA, 2006; IPARDES, 2007), o que configura uma base bastante sólida
para as discussões que se seguem. Os produtos orgânicos estão disponíveis à
população por meio de quatro formas de comercialização:
Venda direta;
Venda para processadoras;
Venda para o varejo;
Venda para o mercado institucional.
113
6.2 Venda direta
A venda direta se configura pelo contato agricultor/consumidor face a face.
Existem diversas maneiras que configuram esta modalidade: feiras, cestas, colha-e-
pague e mercados do produtor.
Feiras
A maneira mais usual da venda direta é a feira. A primeira feira da região
iniciou em 1989, quando um agricultor conseguiu uma barraca na tradicional Feira
do Largo da Ordem, em Curitiba. Depois de 6 anos, esta iniciativa deu origem à
Feira Verde do Passeio Público, a maior da região e posteriormente a outras feiras
verdes. A figura 43 apresenta a situação atual das Feiras Verdes, que a partir da
Portaria n° 30/2005 passaram a ser denominadas Feiras Orgânicas.
LOCAL/BAIRRO NÚMERO DE
BARRACAS
DIA DA SEMANA /
PERÍODO
DATA DE
ABERTURA
Passeio Público/ Centro 22 Sábado / manhã 18/03/1995
Terminal de ônibus / Campina
do Siqueira
10 Terça-feira / man 13/01/1998
Praça Itália / Jardim Botânico 7 Sábado / manhã 27/01/2001
Emater / Ahú (feira mista) 3 (orgânicas) Quarta-feira / manhã 30/09/2003
Praça do Expedicionário /
Centro
8 Quarta-feira / manhã 20/10/2004
Praça do Japão / Batel 12 Quinta-feira / tarde 20/02/2005
Prefeitura / Centro Cívico 2 Quarta de manhã / / 2006
Praça da Ucrânia / Bigorrilho 8 Sábado de manhã 21/04/ 2007
Praça S. Paulo da Cruz / Cabral 9 Quinta à noite / / 2007
FIGURA 43 LOCAL, ESTRUTURA, DIA DE FUNCIONAMENTO E DATA DE ABERTURA DAS
FEIRAS ORGÂNICAS ORGANIZADAS PELA PREFEITURA EM CURITIBA
PARANÁ
FONTE: IPARDES (2007) e CURITIBA (2007)
Cabe observar a dificuldade expressiva encontrada por diversos agricultores
de entrar nas feiras, conforme relatado pelos mesmos durante as entrevistas, fato
que perdurou até o ano de 2004, por razões ligadas à municipalidade de Curitiba.
Para uma cidade do porte de Curitiba, tratava-se de avanço muito tímido. A cidade
de União da Vitória, contando com 80.000 habitantes, possuía na época (2001) 8
114
feiras chamadas agroecológicas e Curitiba com aproximadamente 16 vezes mais
população possuía 3 feiras.
Os entraves começavam no cadastro e o futuro feirante ficava meses à
espera de uma vaga em uma feira existente ou aguardava a criação de uma nova.
Ao mesmo tempo em que a demanda nas feiras era muito grande, faltava
oportunidade para novos feirantes. Cito o exemplo ocorrido em 2000, com duas
agricultoras familiares, que precisaram marcar uma audiência com o Secretário de
Abastecimento da Prefeitura de Curitiba para solicitar explicações da morosidade em
preencher vagas existentes nas feiras. Após esta reinvindicação, as vagas foram
preenchidas, o que denotou a falta de sensibilidade do poder público, naquele
momento, com relação à agricultura orgânica, que apenas dava respostas à custa de
pressão e demandas.
Diante do crescimento no número de agricultores e da frustração de
iniciativas de comercialização via associações, a pressão por novos espaços de
venda foi crescendo no início dos anos 2000. Alguns agricultores, por não
conseguirem escoar a sua produção, acabaram desanimando e abandonando a
atividade. Em diversas reuniões com a Prefeitura de Curitiba, estes fatos ficaram
evidenciados, apresentando-se argumentos da oferta (agricultores) e da demanda
(consumidores). Porém as justificativas ligadas à autorização de uso de espaço
público e desvio de trânsito eram apresentadas como os maiores entraves.
Com a mudança na administração da Prefeitura de Curitiba, a partir de
2005, o número de feiras cresceu. Cabe ressaltar que a Feira Mista da EMATER-PR
não contou, na época, com apoio da municipalidade. Então, atualmente a cidade de
Curitiba conta com 9 feiras semanais coordenadas pela Prefeitura. A evolução do
consumo nas feiras está expressa na figura 44.
115
0
100
200
300
400
500
600
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
T
o
n
e
l
a
d
a
s
FIGURA 44 EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE COMERCIALIZADA DE PRODUTOS ORGÂNICOS
NAS FEIRAS DE CURITIBA – PARANÁ – 1997 – 2007
FONTE: CURITIBA (2007)
A figura demonstra um amplo crescimento ocorrido durante o ano de 2000,
com o advento das dificuldades da AOPA em comercializar nas redes de
supermercado, sendo que por conseqüência esta produção foi canalizada para as
feiras. No ano de 2001, segundo CEAO (2002), a queda visualizada se deu por
fatores climáticos, inverno muito rigoroso e estiagem, o que comprometeu a
produção regional. Apenas em 2004, a oferta se igualou ao patamar atingido em
2001.
Convém salientar que desde o início as feiras orgânicas foram concentradas
em áreas centrais (FIGURA 47). Isso tem dificultado o acesso para um grande
contingente da população que reside distante destes locais. Avaliando a estratégia
de distribuição de lojas de varejo, sejam supermercados, ou hipermercados pela
cidade, e se comparando com a distribuição das feiras, pode-se pensar em regiões
ainda não exploradas pela venda direta.
Ainda no âmbito das feiras, algumas organizações se articulam para ampliar
o abastecimento de produtos orgânicos em novas áreas (FIGURA 45).
BAIRRO NÚMERO DE
BARRACAS
DIA DA
SEMANA/PERÍODO
DATA DE
INÍCIO
ENTIDADE
PROMOTORA
Vila Fanny 1 Sábado / tarde 24/03/2007 Associação Casa da
Videira(ACV)
Pinheirinho 1 Sábado / tarde 2007 Agricultores da RMC
Jardim das
Américas
1 Terça-feira / manhã
e tarde
2007 ET - UFPR
FIGURA 45 LOCAL, ESTRUTURA, DIA DE FUNCIONAMENTO E DATA DE ABERTURA DAS
FEIRAS ORGÂNICAS ORGANIZADAS POR OUTRAS ENTIDADES EM CURITIBA
PARANÁ
FONTE: O AUTOR (2007)
116
Além das iniciativas da municipalidade de Curitiba, a figura 46
apresenta a situação na RMC.
Município Número de
barracas
Dia da
Semana/período
Data de
início
Entidade Promotora
117
FIGURA 47 MAPA INDICANDO AS FEIRAS ORGANIZADAS PELA PREFEITURA DE CURITIBA E
POR OUTRAS ENTIDADES
FONTE: IPPUC (2005)
118
Fatores restritivos e ameaças:
A localização das feiras está concentrada nos bairros centrais, o que
dificulta o acesso dos moradores de outras áreas. As barracas de bambu são muito
bonitas, porém não apresentam facilidade na montagem e resistência aos ventos em
comparação às barracas das feiras convencionais. Isto causa uma série de
inconvenientes para os feirantes. Apesar do projeto das novas barracas ter sido
realizado recentemente (2007), contando com diversos testes e protótipos, os
problemas não foram resolvidos. O custo de uma barraca deste tipo é bastante
elevado e devido às suas características artesanais, têm dificuldade de serem
produzidas em escala. Isto limita a criação rápida de uma nova feira para feirantes
novatos, que não tenham barracas.
Conforme discutido, os feirantes praticam o alinhamento de preços, o que
gera uma série de conflitos entre os mesmos e contribui para a manutenção dos
preços nos patamares criticados por muitos consumidores orgânicos e afastando
consumidores potenciais. Com relação à divulgação da feira, os feirantes não se
acham responsáveis e continuam mantendo elevados os índices de
desconhecimento da existência de feiras por parte dos “vizinhos” das mesmas. Em
pesquisa realizada pela Prefeitura de Curitiba (2006a), a maneira como os feirantes
divulgaram a feira foi o chamado boca-a-boca, porém na avaliação dos
consumidores esta foi uma das últimas maneiras deles saberem da feira, o que
mostrou claramente uma visão distorcida de como fazer a divulgação. Apesar da
divulgação desta pesquisa para os feirantes, não ocorreu nenhuma mudança na
maneira de propagandear a feira, ficando os feirantes à espera de ações da
municipalidade, o que revela uma postura que aguarda as ações dos outros, passiva
e não ativa, portanto. Além disso, o tempo gasto na comercialização é elevado em
comparação com outros canais, porque demanda preparar a produção para a venda,
permanecer no local da feira durante o tempo regulamentar, desmontar a barraca e
retornar às atividades produtivas.
Os consumidores ainda estão contaminados com a visão de que o preço é
elevado, em função dos produtos que eles observam nas redes de supermercado,
considerando assim todos os produtos orgânicos inacessíveis, inclusive os
comercializados nas feiras.
119
Potencialidades
Os agricultores do município de Campo Largo, em parceria com a prefeitura,
têm avançado na organização de pontos de feira. Isso lhes proporcionou uma venda
direta sem a necessidade de percorrer grandes distâncias e rápido retorno à
propriedade para continuar as atividades produtivas. Desta maneira, conseguiram
estabelecer um preço estável e recebimentos em dinheiro e à vista. Em
contrapartida, no município de Colombo ainda não há feiras orgânicas, o que ilustra
a realidade da RMC, se configurando como grande oportunidade em razão da
expressiva população destes municípios.
Cestas
A partir de 1985, o grupo pioneiro de agricultores orgânicos da RMC
(Agudos do Sul) optou por esta forma de comercialização. Mais de 20 anos se
passaram e esta modalidade se mantém viável para alguns agricultores. A venda de
cestas compreendia no fornecimento semanal ou quinzenal de produtos previamente
acordados entre o agricultor e o consumidor. Alguns agricultores trabalhavam com
uma cesta fixa e outros oscilavam a composição por demanda dos consumidores.
Suas características principais são: agricultor necessita de muita variedade,
para não tornar a cesta monótona, o que demanda parceria com outros. Produtos
processados são fundamentais. Perdas pós-colheita são mínimas, devido ao pedido
antecipado.
Para a utilização deste modo de comercialização em municípios maiores,
alguns problemas foram vislumbrados como pedidos dispersos pela cidade, que
podem inviabilizar a entrega pelo tempo gasto no trânsito ou pelo custo do
transporte. As oportunidades estão ligadas à diminuição dos custos unitários de
entrega por aumento da escala. Isso pode ser feito pela entrega em empresas ou
condomínios, onde muitas unidades são fornecidas no mesmo local. Além disso, o
mercado das cidades metropolitanas está ávido por este produto, porém com um
120
trânsito mais fluido e distâncias menores a serem percorridas. Na figura 48 pode-se
visualizar um panorama das entregas de cestas.
MUNICÍPIO
PRODUTOR
MUNICÍPIO DE
ENTREGA
NÚMERO DE CESTAS
(SEMANAIS)
ANO DE
INÍCIO
Almirante Tamandaré Curitiba 20 2000
Bocaiúva do Sul Curitiba Não informado Não informado
Campo Largo Curitiba 25 2000
Campo Largo Campo Largo 15 2007
Campo Magro Curitiba 20 1999
Colombo Colombo e Curitiba 30 11/2007
Lapa Lapa 20 2005
Mandirituba Curitiba Não informado Não informado
Quatro Barras Curitiba 15 2005
Tijucas do Sul Curitiba Não informado Não informado
FIGURA 48 – SITUAÇÃO ATUAL DE ENTREGAS DE CESTAS POR MUNICÍPIO NA RMC
FONTE: IPARDES (2007) e o AUTOR (2007)
Colha-e-pague
Esta modalidade de venda direta proporciona a maior proximidade do
consumidor com o agricultor, sua família e área produtiva. Costuma ser
complementar às feiras e potencializadora da confiança e valorização do trabalho da
família do agricultor. Normalmente está associada à atividade do turismo rural, onde
a colheita configura-se como um atrativo turístico. Os agricultores reservam um
pedaço da área produtiva, normalmente mais próxima da casa, onde de forma
assistida ou autônoma os consumidores citadinos escolhem e colhem os alimentos
que são comprados.
Pelas características intrínsecas dos produtos orgânicos, pode-se realizar a
atividade sem riscos para a saúde dos clientes. Neste caso as crianças são as
maiores beneficiadas, por aprenderem na prática sobre saúde e a produção de
alimentos.
Os gargalos desta forma de comercializar estão na logística de acesso às
propriedades. Em alguns casos, a longa distância entre a casa dos consumidores e
a propriedade inviabiliza uma compra mais freqüente. Esta compra se concentra nos
finais-de-semana, que é o tempo que os consumidores têm para realizar estes
percursos, porém demanda a presença de pessoa disponível para atendimento.
121
Momentos chuvosos ou muito frios podem inibir a vinda dos clientes, provocando
perdas na receita.
Dentro da perspectiva das oportunidades, a organização de excursões de
consumidores, inclusive durante a semana, pode fomentar uma demanda conhecida
e programada. A Associação de Consumidores Orgânicos do Paraná (ACOPA)
costuma realizar passeios em propriedades da região com este intuito. Além disso,
alguns roteiros de turismo rural oferecem formalmente as propriedades orgânicas
como atrativos. Na figura 49, é possível observar a situação atual.
MUNICÍPIO NÚMERO DE PROPRIEDADES
TIPO DE PRODUTOS
Almirante Tamandaré
1 Morango e olerícolas em geral
Campo Magro 1 Morango e olerícolas em geral
Colombo 3 Morango e olerícolas em geral
FIGURA 49 – SITUAÇÃO ATUAL DE COLHA-E-PAGUE POR MUNICÍPIO NA RMC
FONTE: O AUTOR (2007)
Mercados do Produtor
Neste trabalho optou-se por diferenciar os mercados do produtor das feiras,
em função do crescimento daquele segmento no último ano e perspectiva
promissora no âmbito regional (Araucária, Colombo e Curitiba). A administração do
município de Curitiba visualizou a oportunidade de constituir o primeiro mercado
público de orgânicos do país e para isso mobilizou parcerias com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), viabilizando em 2006 os recursos financeiros para
a sua construção. Este fato desencadeou uma série de discussões na RMC,
culminando nas constituição de novos projetos municipais.
O mercado está sendo construído anexo ao Mercado Municipal de Curitiba.
A entrega da obra está prevista para maio de 2008, sendo que o mesmo conta
com 3.700m² de área, contemplando 23 pontos comerciais. Os ramos de produtos
abrangidos serão: vegetais frescos e processados, lanchonetes, mercearias,
restaurante, açougue, artesanato, cosméticos e confecção.
A ocupação do Mercado se dará por licitação pública em 70% dos espaços
e o restante será ocupado por organizações participantes de uma incubadora de
desenvolvimento comercial. Segundo os idealizadores do Mercado, diante de
122
minuciosa pesquisa do perfil dos agricultores familiares orgânicos, foi identificado o
reduzido grau de conhecimento de gestão de negócio, percepção de mercado, entre
outros. Isto, inclusive corrobora com alguns resultados apresentados neste trabalho.
Desta forma, a Prefeitura Municipal criou a incubadora que apoiará as organizações
selecionadas nas questões relativas a gerenciamento, marketing e outras atividades
inerentes ao comércio sustentável (CURITIBA, 2006b).
Atualmente, no Mercado Municipal, existem dois espaços de
comercialização sendo ocupados com produtos orgânicos. Um destes é ocupado por
uma família de agricultores de Colombo, ofertando produtos in natura e
processados. Anteriormente, o mesmo espaço era ocupado pela Associação dos
Produtores Agrícolas de Colombo (APAC). O outro apresenta produtos processados
de uma empresa de Santa Catarina, que tem interesse em se estabelecer no
Mercado Municipal Orgânico.
Nas cidades da RMC, o Mercado Municipal Orgânico de Curitiba
incentivou iniciativas locais. O município de Araucária deve concluir as obras do seu
mercado, que também vai priorizar os produtos orgânicos, no início de 2008. O
município de Colombo já concluiu um mercado, em 2007, no populoso bairro do
Maracanã e pretende ofertar produtos orgânicos, entre outros.
Na época do lançamento da pedra fundamental do Mercado Orgânico, junho
de 2006, as Centrais de Abastecimento do Paraná S.A. (CEASA/PR) anunciaram de
maneira informal a criação de espaço para comercialização exclusiva de orgânicos
aos sábados na sua unidade de Curitiba. A iniciativa o contou com divulgação
expressiva e durou por poucas semanas, sendo que naquela ocasião participaram
agricultores do município de Mandirituba. Infelizmente, atividades elaboradas sem
planejamento acabam por frustrar ou dispersar ações dos agricultores.
Por outro lado, constatou-se, pela presente pesquisa, que dentro do sistema
de abastecimento de Curitiba, mais precisamente no Varejão do Capão da Imbuia,
existem bancas oferecendo produtos orgânicos como convencionais. São
agricultores oriundos de Colombo, que eram vinculados à APAC e que em função do
fechamento da associação, buscaram uma nova maneira de comercializar. Estão
buscando certificação própria para diferenciar mais o seu produto naquele mercado.
O Varejão atende a população aos bados e domingos, porém existe uma
demanda por parte dos consumidores e dos permissionários para que haja um
atendimento durante a semana.
123
Fatores restritivos
Apesar da dificuldade na comercialização, avalia-se que ainda oferta
insuficiente de produtos para a abertura e consolidação dos novos mercados
municipais, pois suas aberturas se darão em épocas próximas acarretando uma
pressão de demanda. Segundo a pesquisa realizada pela Prefeitura de Curitiba
(2006a) os consumidores orgânicos não são majoritariamente vegetarianos e
macrobióticos, como se pensava anteriormente. Sua dieta é diversificada com carne
vermelha e derivados de leite e por isso demandam uma gama bastante variada de
alimentos que ainda os agricultores da RMC não conseguíram produzir.
Outro entrave identificado foi a realização de projetos sem o planejamento
necessário ou concebidos sem a informação suficiente, que trouxeram resultados
insatisfatórios como, por exemplo, o ponto de vendas de orgânicos na CEASA,
mencionado. Nesta mesma linha de raciocínio, de investimentos “frágeis”, observa-
se que dirigentes com interesses políticos-eleitorais têm utilizado a agricultura
orgânica como uma plataforma interessante para discursos na cidade e no campo.
Mas, no momento de apoiarem com recursos, esquecem-se de tudo. Cita-se, neste
sentido, o Programa de Merenda Agroecológica, entre outros que será discutido na
venda para o mercado institucional.
Potencialidades
As possibilidades são interessantes quando se avalia o potencial de
mercados municipais nas cidades metropolitanas, pois podem colaborar no
escoamento da produção orgânica de maneira mais localizada, priorizando um
comércio mais próximo e por conseqüência com menores custos: infra-estrutura,
frete, embalagem e tempo. Com isso podem viabilizar o consumo mais amplo por
consumidores das mais distintas faixas de renda da sociedade.
O Mercado Municipal de Curitiba, segundo o estudo de Curitiba (2006a),
receberá mais 6.000 novos consumidores em razão da construção do anexo
124
orgânico e poderá dar mais viabilidade para os alimentos orgânicos favorecendo os
outros meios de comercialização.
Com relação aos diversos projetos e programas já preconizados e
executados por órgãos governamentais e ONG’s é possível avaliar os êxitos e erros
para a constituição de novos projetos, o que segundo Silva e Costa (2000) não é
corrente nas instituições brasileiras. Nas palavras de Cândido Júnior (2001) estes
terão a possibilidade de chegar mais próximos das demandas do segmento e
poderão, no mínimo, cometer erros diferentes, pois diversos programas
governamentais foram redundantes nos erros e tem onerado o setor produtivo com
esta ineficiência.
6.3 Venda para processadoras
Esta modalidade de comercialização foi a mais utilizada pelos agricultores
da RMC desde os primórdios da atividade, quando se avalia o volume de produção
comercializada. Após a venda direta, este foi o canal escolhido, principalmente
porque ele dava acesso à venda no varejo, notadamente para as redes de
supermercados estabelecidas na capital do Paraná e em outros estados, como será
tratado mais adiante.
No estudo O Mercado de Orgânicos no Paraná, o IPARDES (2007, p. 129)
apontou três tipos atividades das processadoras:
Processamento: os “produtos passam por algum processo de
transformação, mudando as características físicas, químicas [...] do
produto original”. Este é o caso de empresas que elaboram produtos
derivados de leite e de erva-mate, geléias, conservas, pães e
bolachas.
Processamento mínimo: os produtos passam por pequenas
modificações nas suas características iniciais, que lhe confere mais
praticidade para o consumo. Os exemplos são as processadoras de
hortaliças.
Beneficiamento: os produtos passam apenas por procedimentos
simples, que não alteram a natureza do mesmo, normalmente:
125
lavagem, limpeza, classificação e embalagem. Na região foram
126
TIPOS DE
TRANSFORMAÇÃO
EMPRESAS /
GRUPOS
MUNICÍPIOS PRINCIPAIS
PRODUTOS
TEMPO DE
ATIVIDADE NA
RMC (ANOS)
Lapinha
Alimentos
Orgânicos
Lapa Geléias, sucos,
bolachas e
derivados de leite
3
Quina Amarela Campina
Grande do Sul
Geléias 10
Cooperativa
Agrícola do
Terceiro Plano*
Contenda Conservas 6
Processamento
Tribal Brasil Campo Largo Chás e erva-mate 3
Fruto da Terra Colombo Hortaliças 10
Rio de Una São José dos
Pinhais
Hortaliças 7
Processamento
mínimo
Sítio Tucano Campo Largo Hortaliças 4
Indústria Breyer Campo Largo Mel e derivados 3 Beneficiamento
Sabores da
Natureza*
Colombo Hortaliças 0,2
FIGURA 50 TIPOS DE TRANSFORMAÇÃO, EMPRESAS E LOCALIZAÇÃO E PRINCIPAIS
PRODUTOS – RMC
FONTE: IPARDES (2007) e o AUTOR (2007)
NOTA: (*) Agricultura familiar
As processadoras possuem diferentes vínculos com os seus fornecedores,
porém o procedimento mais comum é o contrato. Este instrumento garante inclusive
aos agricultores diversos serviços que apóiam a sua atividade, tais como:
assistência técnica, acesso facilitado a insumos e certificação. Em função destes
fatores, aliados ao planejamento de produção, que “força” o agricultor a se planejar,
a tendência é de crescimento dos mesmos, pois com isso ele obtém uma renda
conhecida e menos oscilante. Cabe ressaltar, que nesta modalidade o agricultor não
é proprietário da certificação, ficando impossibilitado de comercializar excedentes e
outros produtos como orgânico, se não tiver um certificado próprio.
As dificuldades de comercialização nesta modalidade residem na
complicada relação das processadoras com seus compradores, pois as redes de
supermercados têm estabelecido uma relação desigual, como será tratado na
próxima sessão. Os ajustes impostos pelos supermercados acabam por atingir
127
indiretamente os agricultores. Neste caso, os ajustes podem ser responsáveis por
alterações nos contratos entre a processadora e os agricultores.
As dificuldades legais e sanitárias são reconhecidas como um entrave
bastante expressivo para as unidades processadoras. As exigências em termos de
construções, equipamentos e análises são apropriadas para empresas de grande
porte, onde as unidades familiares e com pequena escala não setão contempladas.
Este fato é comprovado pelos dados da FIGURA 50, onde apenas duas iniciativas
estão calcadas no âmbito da agricultura familiar.
Como potencialidades convêm citar: investir em novos produtos,
principalmente nos processados; criar novos canais de comercialização,
aproveitando pequenas redes de supermercados ou lojas isoladas.
6.4 Venda para o varejo
O setor de vendas no varejo foi dividido aqui de maneira didática em:
supermercados, lojas e restaurantes. A comercialização de orgânicos na RMC
esteve próxima dos supermercados, desde 1996, quando a AOPA tentou
comercializar com redes paulistas e deparou-se com a frustração. Em 1997, em
solo paranaense, buscaram as redes locais para negociar e obtiveram bom resultado
durante o início da parceria. No ano de 1998, o grupo português Sonae arrematou a
maior parte das redes locais e introduziu algumas práticas no ramo, que não
favoreceram os agricultores. Neste mesmo ano, a empresa Nova Era, de Campo
Largo, iniciou um processo de atendimento a três redes de supermercados em
Curitiba. A empresa comercializava a produção de 10 famílias, mas em função das
práticas de comércio abusivas praticadas pelas redes compradoras, acumulou
prejuízos rapidamente, por conta de descontos e perdas de produtos por “quebra”.
Estes prejuízos foram rateados entre os parceiros e alguns não suportaram o revés
financeiro e pararam com a atividade, causando um abalo na atividade que estava
em plena ascensão. O empresário, que não havia deixado de sua banca, retornou
às vendas na Feira Orgânica.
a AOPA, neste período aumentou a participação junto aos
supermercados, tendo a incumbência de comercializar produtos, não da RMC,
128
mas também da região dos Campos Gerais, Centro-Sul e Litoral. Esta associação
resistiu até 2001, quando as relações contratuais e as práticas “comerciais” tornaram
insustentável a “parceria”. Os principais motivos alegados, segundo IPARDES
(2007) foram:
devolução integral;
pagamento para cadastrar produto no sistema;
aquisição de espaço;
dilatação de prazo de pagamento, que chegou até a 120 dias.
A APAC, por sua vez, conseguiu durar até 2005, quando motivos bastante
parecidos acometeram a associação de uma insolvência aguda, que encerrou suas
atividades sem conseguir saldar as dívidas com fornecedores e funcionários, nem
com os agricultores que haviam fornecido os produtos.
Atualmente, três empresas fornecem hortaliças para os supermercados de
Curitiba. Como ficou evidenciado na figura 51, duas entregavam produtos
embalados e minimamente processados, enquanto a empresa mais recente no
mercado (Sabores da Natureza), apenas embala.
Ainda, no importante estudo do IPARDES (2007), foi levantado que o
consumo de hortaliças orgânicas está variando de 8% a 15% do total, o que
caracteriza um avanço desde 2004, quando representava menos de 3%. A
dificuldade de se obter informações deste segmento gerou problemas para os
pesquisadores, que não conseguiram estimar a representatividade dos outros
produtos além das hortaliças na RMC. Tal dificuldade foi também relatada por Silva
(2006), que teve que usar a criatividade para entrevistar 600 consumidores das
redes de supermercados.
Nas redes de supermercados de Curitiba, dos produtos oriundos da RMC,
além de hortaliças in natura, apenas três iniciativas se fazem presentes: Quina
Amarela (geléias), Cooperativa Agrícola Terceiro Plano (conservas) e Tribal Brasil
(chás). Cabe salientar, que os produtos orgânicos não gozam de nenhum benefício
das redes, apesar do entendimento de que são produtos importantes para a loja,
porque trazem consumidores interessantes (renda elevada) de maneira freqüente ao
estabelecimento. Na avaliação de IPARDES (2007) as redes de supermercados
avaliaram os produtos orgânicos como apresentando um diferencial em relação à
qualidade alimentar e como um potencial de venda quando a gama de produtos for
ampliada. A posição revelada pelos gerentes com respeito aos produtos orgânicos
129
não foi diferente com relação aos outros produtos (hidropônicos, convencionais)
demonstrando que se o segmento orgânico quer se diferenciar, precisará utilizar as
mesmas ferramentas daqueles. As redes de supermercados por meio dos seus
gerentes de frutas, legumes e verduras (FLV) apontaram como pontos fracos os
seguintes itens (FIGURA 51).
PONTO FRACO DOS
ORGÂNICOS
POSIÇÃO DAS REDES DE SUPERMERCADOS
Preço elevado Não revelaram sua margem de preço
Pouca diversidade e
volume
Afirmaram que seus consumidores exigem a mesma diversidade na
orgânica, que estavam acostumados na convencional
Pouca divulgação do que
é orgânico
Alegaram que isso é atribuição dos seus fornecedores
FIGURA 51 PONTOS FRACOS DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NA ÓTICA DOS GERENTES
DOS SUPERMERCADOS DE CURITIBA – PR
FONTE: IPARDES (2007)
As lojas especializadas, no momento da pesquisa, estavam em processo de
consolidação. A maioria que está em atividade está no mesmo espaço de um
restaurante especializado ou cafeteria. Na figura 52 são apresentados os produtos
mais procurados e sua origem.
GRUPO DE
PRODUTOS
PRODUTOS EM ORDEM DECRESCENTE
DE PREFERÊNCIA
PRODUTOS ORIUNDOS
DA RMC (%)
Hortaliças Folhosas Alface americana, rúcula, espinafre 100
Hortaliças Flores Brócolis, couve-flor 100
Hortaliças Frutos Tomate, pepino japonês, abobrinha 60
Raízes Batata, cenoura, beterraba 60
Grãos, cereais e
subprodutos
Feijão carioca, feijão preto, adzuki, arroz,
soja, fubá
60*
Frutas Laranja, mamão papaia, caqui, abacaxi,
manga
25
Produtos de origem
animal
Derivados de leite, frango, peixe, suínos Não informado
Processados Sucos de uva, citros e amora, geléias,
farinhas
20*
FIGURA 52 PRINCIPAIS GRUPOS DE PRODUTOS ORGÂNICOS COMERCIALIZADOS EM
LOJAS ESPECIALIZADAS, CLASSIFICADOS POR PREFERÊNCIA E SEGUNDO A
ORIGEM
FONTE: IPARDES (2007)
NOTA: * Indica participação desconhecida na RMC, porém a percentagem indica origem da produção
no estado do Paraná
Ficou evidente a grande oportunidade de oferecer frutas temperadas e
tropicais, já que a RMC possui microclimas que favorecem ambas atividades, pois a
demanda das lojas foi atendida apenas em 25%. Este percentual diz respeito
apenas a duas frutas: laranja e banana. As possibilidades na fruticultura, neste caso
são promissoras. Com relação aos produtos processados, apenas 20% foi atendido
130
pelo estado do Paraná. Neste caso, não se precisou a participação da RMC, mas
com estes dados é possível avaliar as oportunidades.
Finalmente, os produtos de origem animal não foram mensurados com
relação à região, mas conforme dados de Curitiba (2006a), os consumidores
entrevistados afirmaram que os produtos que tinham mais dificuldade em encontrar
eram as carnes e derivados em 35% dos casos, sendo seguidos pelas frutas em
34%. Convém salientar que a RMC possuía apenas produtores de leite e frango,
estando desguarnecida nas outras atividades pecuárias.
Como entraves à venda para o varejo citam-se: legislação sanitária
complicada, falta de profissionais para elaborar projetos que atendam esta
legislação, alto preço dos produtos em função da escala aroji â;RísKU;N;M6âílKU;N6RGGGí KUnZâGNLZZâídKUâUâNRD22ZíaK;GNLZZâ â;R22ZíaK;GN e aá MG6âNZ;RD22ZínK;GNLZMZ6é5U;N;M6;2R;ío;D;2,*$pK;GNLZMZírVK;GNLZZâí.KU;D2íqKUâNRD22ZíuK;NâN;Râ;MíaKUâNRD;6GGíiKGNLZMZírp;N6RGGGílKU;NDMâ;RíN;M6âí KU;D2ícKU;N;;íuK;GNLZZâíoKUG2NDGZâuK;GNLZZâíídK;N6RGGGíoK;G;N;MGRísKMDRNG;âíaK;N6RGGGírKGN6RGGGílKKUâN;RZZMíoKUâNRD;L6í KUâN;Râ;MíaKâN;Râ;MídK;N6RGGGíoK;N;N6RGGGísKU;N;MZZí66;Zí KU;ZRNLL;GNLZZâíN6RGGGísKUí-KGNMDâMZísKU;N;MZZíoK;GNLZZâKNLML6Mí â;R22ZM6ZMLíoKGâN;Râ;MíGGíaK;N2ZR6;RísKU;N;;2N2ZR6MG6âNZ;RD22ZKU;NDMâ;RíN²K;N6RLZGínK;GNLZZâí KU6LNLDLísKU;;Nâ2R;íoKUâNRZM,”‘tkíeK;N6RGâDí6âNZZDívKU;;Nâ26ZíLíoK;GNLZZâísKU;N;M6âí KULNRD;L6í KU6LNLDLísâísKU;N;M6âíoKUâNRZM,”22ZM6ZMLíobíoK;GNLZZdK;N6RGGGíeK;N6RLZGíK;GNLZZâKNLML6M62GkícKU;;Nâ2RâZtKU;2N2ZR6íaK;n6âZínK;GNLZMZ6KU;;Nâ;N6RGGGíoK;G;N;MGRísKMDRNG6,”‘-KGNMDâMZí;N6RGGGíeK;N6âR6;í KULâLNGZLíCGNLZMZ6KU;;KU;N;MZZí KK;N6RGGGíoK;N;N6RGGGísKU;ZDZ6RG66;Zí KU;ZRNLLRífKU;2N26N62;LââídKaori a eGNLZMZ6nqui a aL,2,”‘tkísKU;N;MZZíeK;N6MRMRífKU;2N;MZZí KU;2RGGGígKUâNRD;L6íuK;GNLZ26ít?KU;2N26GGíeK;N6RGGG;GN6U;NDMRU;N;MZZíeK;NLâN2;GíPKUMNDZ6MLíCGNLZMZ6KU;;ns : ²l6;ZítK2N62G6RíaGND2Dâ;RísKU;N;M6âílUâNRD22ZíoK;GN;M6âíãKícKU;N;M6âaK;N6RGGGí,K2N66M;Lí Kz;N6âR6;íuícKU;N;;íuK;GM;;N6MLKGN6RGGGílKKmadP à aln ss PUâNRD;L6íeK;N6âR6;í KUZLGNZLLí.âNRD;L6íenKUâ;;N6MM;E;GNLZZâí.K;RNMLâ;,”‘tkílKU;NKUnZâGNLZZâídKUn oP ;N6RGGGíeK;N6LZZâímKUG2N22M6í nKUâ;;N6MM;m KU;N;MZZíãK;N6â;;N6MM;âNR;M2âísKU;NLZZâísKU;N6RGGG;N6Ls n idU;;Nâ2R;í KU;NLZZâísKm n aUMNDZ6MLíCíaK;N6RGGGíoZíoK;N6RGâDZDK;NRííeK;GNLZ26í,”‘tkícKU;N;M6;ZíoK;6;ZítK2N62G6Ría;N6LK;22ZKU;NDMâ;RíNaU;;Nâ2R;Kl;NLZZâísKmKURNLM;22í KUZLGNZLLíUMDRNG;âíànGLâN2;GíPKdK;GNLZLGíaKUâNRDZírpU;N;MZZí KU;D2N22LíeK;GNLZZâímKUâN;íoKââp;N6RGGGílKU;ND6RLZGíuK;GNLZZâíeK;N6RGGGí eK;N6RGGGKU;2N2ZR6íoKM6ZMLíobíoRKUGNâRMRRíMK;NL;RRUâNRD22ZíaK;GNLZZâídKUâNRD22ZíoKNM6GâLímKUUâNRD22ZíoK;GNLZZâísKKU;LâN2;GímuZLGNZLLíKU;N;MZZíãK;GN6U;NDMRMRíi;íoKââpâDí6âNZZDívéZLGNZLLíUMDRNGí K[”V,2,”‘tkílKU;NDMípK;N6RGG;íoKââpK;N6RGGGífKU;rKGNM6â2LíaK;26N2GD?KU;2N26GGíoK;N6RGGGísKU;N;MZZí KUâMN6RRMíqKUâNRD;L6íuK;N6RGGGíeK;N6RGGGí ²K;N6RGGGí KU;D2N22LílKUtUGGZNGZRZ;;GNLZZâí6RGG;íoKââpq;2N26GGíeK²K;N6RGGGínK;RD;L6í KUâN;íoKââpK2N66M;LL;K;N6RGGGíaKsKU;N;MZZíoUâNRD22ZíaK;G2N262Rí K2N6NLZLGíçKU;N;MZZíãK;N6RNâ26ZíeK;N6RGGGí ;GN6U;NDMRMRíiNâ26ZídK;GNLZLGíaKUâNRD;L6ídK;N6RGGGíeK;N6RGGGísKU;NRGGGíeLRLNR;DídK;N6RGGGíeK;N62LâMípKUâNRD;L6írKK;GNLZZâMí KUâN;íoKâZbíoRKUGNRGGGínK;RD;L6RGâDí4K;GNLZZâí%KU6NZ2M6Gí.KNGZRZ;;;RísKU;N;M6âílKU;NDMRMRícKU;;Nâ2R;íaK;GNLZZâídKUG2NDGZâuK;GNLML6Mí KULâLNGZZíí â;RísKU;N;M6âílKU;UâNRD22ZíeK;GGNLZLGíaKUâNRDZírpU;N;MZZí KUN;â;66íjKU;GNNLML6MMRRíMK;NL;RRKUâNRD;L6íoK;GNLGGGí eKNM6GâLíiUâNRD22Zíel;NLZZâísKU;N;MZZí KUKGNM6GâLíaKUâNRD;L6ídK;GNLZZâíoKmKURNLM;2Mí KURRGGGíaK;GNLD;L6ínK;G;GNLZLGílKU;GNGGíeK;N6M6GâLíiKU;NDMRMRígK;N6RGGGíeK;N6M6GâLíiiKU;NDMRMRínK;GNZâísKU;NaK;GN KU;2N6M;LL;KsKU;N;MZZíodK;GNZâísKU;NN2ZR6í ²K;GNLZLGílínK;RD;L6í KUâLLDNGGL,KUâNRD;L6í KU6RGGGí ²K;N6G22DZoK;GNLGGGí eKNM6GâReK;N6RGGGí KUâMND2GítKN6RGGGíiLLK;GNLZZâíbK;GNZâísKprf fURNLML6Mí U;NLZZâísKK[”VtGDâNâRZ,2,”‘tkíaN;MZZí.K2NZRLZ6Zí K[”VN;MZZí KUZLGNâ26ZíuK;N6âR6;íáK;NLLDNGGL,iKU;NDMRMRítK2N62;LââíßNGGL,iKU6â;DâílKâNR;M2âídK vuN2ZR6í Kntd
131
realizada a avaliação da oferta de produtos e também da demanda. Após este
diagnóstico é realizada a compatibilização entre os agricultores e as entidades
habilitadas para receber os produtos como doação. Atualmente a cota por agricultor
no ano é de até R$ 3,5 mil, apenas para agricultores enquadrados no PRONAF do
nível A até o D
9
. Os produtos são remunerados mediante uma tabela elaborada para
todo o país, que apresenta valores médios, que são muito relativos em função das
disparidades regionais encontradas no território nacional. Este valor correspondia a
R$ 2,5 mil no início do programa (2004-06) e foi majorado para ampliar o benefício
tanto para as famílias agricultoras, quanto para os consumidores na cidade
(IPARDES, 2006).
Porém, apesar destes benefícios, apenas alguns grupos da RMC
participaram do programa. Em Campo Largo, os agricultores orgânicos não se
interessaram pelo programa, alegando falta de produto para atender mais esta forma
de comercialização. Por outro lado, os agricultores de Colombo participaram via
APAC, que fornecia nas duas modalidades: orgânico e convencional. Porém, o
resultado prático não se demonstrou favorável, pois após auditoria no projeto foram
evidenciadas uma série de irregularidades que suspenderam a sua participação e
algumas até hoje estão em litígio.
No ano de 2007, Campo Largo foi beneficiado pelo programa, porém de um
projeto de aproximadamente R$ 30 mil foi aprovado apenas R$18 mil. Com isso,
diversas alterações se fizeram necessárias, incluindo rateio de receitas e redução de
beneficiários urbanos. Isto gerou desgaste, pois todo o processo de fomento do
programa foi difícil e após a mobilização dos parceiros se recebeu a notícia de
aprovação parcial dos recursos.
Com isso se evidencia a distância entre o discurso (propaganda em
televisão pública) e a prática. Isso sem mencionar as etapas do programa que
exigem uma série de reuniões, cerimônias de lançamento que não estão
sintonizadas com a escassez de tempo dos agricultores e sua localização geográfica
em relação à sede do município.
9
O PRONAF A é voltado para famílias assentadas pela reforma agrária ou beneficiárias do crédito
fundiário. O PRONAF B atende famílas com renda bruta anual (RBA) até R$ 2 mil. Já o
componente C atende famílias com RBA de R$ 2 mil a R$ 14 mil e o D às famílias com RBA de R$
14 mil a R$ 40 mil (BRASIL, [2007?]).
132
No total de produtos comercializados no programa, conforme IPARDES
(2006), a participação de produtos orgânicos não é superior a 5% do total. Apesar do
diferencial de remuneração para alimentos orgânicos ser de 30% a mais sobre o
valor tabelado, o interesse ainda é pequeno.
Fatores restritivos
Quanto aos fatores restritivos relacionados à venda para o mercado
institucional, podem ser apontados: recursos contingenciados durante o programa
(PAA); alguns produtos estão com remuneração o atrativa para os agricultores da
região; burocracia e demora na análise e aprovação do projeto; muitos agricultores
plantaram e colheram e o projeto estava em análise. Assim, os agricultores
perderam a oportunidade de vender para o programa, que deixou de atender a
entidades.
Potencialidades
Com respeito às potencialidades destacam-se: complementação da renda
de agricultores que estejam consolidando seu sistema de comercialização; um
programa de entregas pode reduzir as perdas e em função do histórico de produtos
comercializados, observa-se a possibilidade de atendimento pelos agricultores da
região, até porque as condições edafo-climáticas os favorecem (FIGURA 53).
133
PRODUTOS QUANTIDADE (kg)
134
lado os agricultores e os estudantes, favorecendo a indústria e outros grupos
econômicos. Se os alimentos convencionais in naturatêm dificuldade de entrar no
cardápio, os orgânicos ainda têm uma longa jornada até chegar aos pratos dos
estudantes.
Segundo IPARDES (2007) o programa estadual de Merenda Agroecológica,
previu recursos para atender 75,7 mil estudantes em 24 municípios em 2006, já que
em 2005 havia contemplado 45 mil alunos. Na RMC, a presença de alimentos
orgânicos na merenda foi fruto do PAA e não do programa de alimentação escolar,
até o presente momento.
Os entraves do programa estão nas dificuldades burocráticas, pequeno
número de organizações dos agricultores na RMC com preparo em gestão e
prestação de contas junto a programas de governo, ausência de leis municipais que
favoreçam os alimentos orgânicos, escasso conhecimento sobre a qualidade dos
orgânicos frente aos convencionais e dificuldade de integração de ações ligadas às
áreas diferentes do governo: educação, agricultura, abastecimento e saúde.
Finalmente, o reduzido número de merendeiras, que por contingências
orçamentárias em muitas escolas acumulam a função de zeladoras, tendo seu
tempo reduzido para a elaboração do alimento.
As oportunidades estão ligadas à redução no “passeio” de produtos, pois os
agricultores poderão entregar mais próximo à suas casas; incremento da economia
local, fazendo o dinheiro circular nos pequenos e médios municípios. Além disso,
melhoria na qualidade de vida dos estudantes, ampliando a segurança alimentar
desta população, que por razões intrínsecas é frágil.
6.6 Cacterização dos consumidores
Os consumidores de alimentos orgânicos, em geral, apontam a saúde da
família e a segurança do alimento como fator decisi
135
Darolt (2005) identificou dois tipos de consumidores, que estão explicitados
na figura 54.
CARACTERÍSTICAS NOVO CONSUMIDOR ANTIGO CONSUMIDOR
Ato de ir à compra
de produtos
orgânicos.
Ocasional Regular (fidelidade)
Tempo de consumo Menos de 5 anos Mais de 5 anos
Preferência de local de compra Supermercados Feiras e lojas
Preço suplementar (disposição
para pagar mais)
Até 15% Até 30%
Qualidade percebida pelo
consumidor
Saúde e segurança alimentar
(menos agrotóxicos)
Saúde, preocupação com o meio
ambiente, qualidade de vida
Limitantes para a compra Preço, falta de informação Procedência (origem do produto)
Valores Comprometido (1) Consciente (2)
FIGURA 54 – TIPOLOGIA DE CONSUMIDORES ORGÂNICOS
FONTE: DAROLT (2005)
NOTA: (1) Trata-se de consumidores preocupados com a coletividade, porém existe uma distância
entre seu discurso e sua prática
(2) Trata-se de consumidores preocupados com a coletividade e a melhoria da comunidade
em que vivem, transformando discurso em prática
Reforçando estes dados, se observa que nas redes de supermercados, os
consumidores são eventuais e não compram de maneira sistemática. Em
contrapartida, junto às feiras encontra-se um consumidor mais fiel e comprometido,
que inclusive se reúne em associação: a Associação dos Consumidores de Produtos
Orgânicos do Paraná (ACOPA). Na pesquisa feita por Rucinski (2003) ficou claro o
perfil do associado que possui nível de escolaridade elevado, busca de um estilo de
vida mais saudável, suas preocupações vão além do foco inicial que seria a sua
própria saúde, para outros assuntos como: mercado justo, preservação ambiental e
êxodo rural.
O que preocupa é a falta de noção de alguns consumidores que desejam
todos os atributos ambientais e de segurança dos orgânicos e ainda exigem
aparência externos idênticos aos convencionais. Isto não se consegue nos primeiros
estágios da conversão, de maneira geral. Em contrapartida em alguns produtos a
aparência e os aspectos externos ou como nomeados “cosméticos” podem
inclusive ser superiores nos orgânicos. (GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS
AGROINDUSTRIAIS, 2004)
Schmidt (2004, p. 20) destaca dois aspectos que se consideram importantes
nesta discussão: “os motivos ou as motivações para que os consumidores comprem
136
alimentos orgânicos; e as percepções, valores, crenças ou atitudes que os
explicam.” A mesma autora enfatiza que apesar das idéias e discursos que os
consumidores podem elaborar a respeito do alimento orgânico, apenas após o ato
da compra é que ele é de fato um propulsor do sistema de produção orgânico.
Cabe aqui fazer uma retrospectiva a respeito da trajetória dos consumidores
orgânicos de Curitiba, que se organizaram formalmente utilizando-se de uma
associação em 2000. Assim é criada a Associação dos Consumidores Orgânicos do
Paraná (ACOPA), impulsionada pelo grupo dos feirantes do Passeio Público. Nas
palavras de uma associada da ACOPA, que resume o fato:
A ACOPA não surgiu como idéia dos consumidores, mas de alguns
produtores, pessoal ligado a AOPA, porque foi criado o Conselho de
Agricultura Orgânica do Estado do Paraná e depois de um tempo, foi criado
[sic] uma cadeira para os consumidores e aquela cadeira estava vaga, o
conselho já vinha se reunindo, deste conselho fazem parte no IAPAR,
EMATER, produtores de várias entidades do interior do Paraná. Não existia
um representante dos consumidores, aí veio a idéia que foi sugerida pelo
Rogério Rosa que era o presidente da AOPA naquela época e ele começou
a conversar com os consumidores do Passeio Público sobre a importância
de se ocupar desta [sic] cadeira. (RUCISNKI, 2003, p. 10)
A partir de uma demanda externa, a ACOPA se organizou e iniciou com a
produção de alguns informativos, visitas às propriedades dos feirantes e plantões de
conscientização na Feira do Passeio. em 2003, possuía 260 simpatizantes e 35
associados. Os assim chamados associados são aqueles que pagam a taxa de
anuidade. Encontram-se divididos em duas categorias: os atuantes que participam
de alguma atividade promovida pela associação e os não-atuantes, que acabam por
não se articular com os seus pares. os simpatizantes, são potenciais associados
pelo entendimento da visão da ACOPA. Na atualidade, os simpatizantes são
aproximadamente 400.
Durante estes sete anos de existência, a ACOPA ministrou várias palestras
em eventos no país e no exterior, onde apresentou a sua pioneira experiência para
os mais diversos públicos. Em parceria com entidades da sociedade civil e do poder
estatal, promoveu eventos e lançou materiais didáticos. Cabe ressaltar a
participação dos presidentes da entidade: Moacir Darolt, Inês Muller e Ivo Melão.
Em pesquisa realizada por Rucinski (2003), que era associada da ACOPA,
através de observação participante, ela traçou o perfil dos associados: a maioria
137
quase absoluta de profissionais com o ensino superior concluído e igualitariamente
distribuídos conquanto ao gênero.
A associação tem colaborado com inúmeras pesquisas relacionadas ao
consumidor e ao mercado orgânico (DAROLT, 2003; CURITIBA, 2006a; KIRCHNER,
2006). Nestas pesquisas ficou demonstrado que o consumidor orgânico é
preponderantemente do sexo feminino (aproximadamente 65%), o que distoa dos
dados de Rucinski (2003), porém os outros dados que compuseram o perfil dos
consumidores se aproximaram, como o fato de serem casados em mais de 60% dos
casos. Do total de entrevistados, 60% possui graduação em curso universitário
(CURITIBA, 2006a).
Dentre estas pesquisas destacamos o estudo de Kirchner (2006), que
buscou traçar um panorama do consumo de orgânicos em Curitiba, a partir da
análise das feiras. A autora entrevistou 240 consumidores, no ano de 2006. Metade
foi entrevistada na feira orgânica do Passeio Público e a outra metade em uma feira
convencional, que conta com fluxo de consumidores semelhante, realizada na Praça
29 de março, no bairro das Mercês.
O perfil encontrado na feira orgânica aponta que mais de 70% possuem
filhos e que a renda familiar excede os nove salários mínimos em 70% dos
entrevistados. Isto indica que são compras realizadas por pessoas que detém um
nível de instrução e de renda acima da média, o que denota, teoricamente um nível
de exigência elevado diante dos produtos.
Em outro estudo, este conduzido pela Prefeitura de Curitiba, com o objetivo
de subsidiar a instalação do Mercado Municipal Orgânico, foi entrevistada uma
amostra de 472 consumidores divididos em 4 equipamentos de comercialização:
Mercado Municipal, feiras, supermercados e restaurantes. A amostra foi
representativa estatísticamente e apontou diversas informações que são basilares
no planejamento de abastecimento municipal. (CURITIBA, 2006a)
Do total de entrevistados, 72% afirmou que o motivo que predomina na
valorização do alimento orgânico está ligado à saúde. Ainda, neste estudo, mais de
70% se abastecem através de compras semanais. Conclui-se que o alimento
orgânico traduz saúde no sentido amplo para estas famílias e que necessitam de
abastecimento freqüente, o que representa uma possibilidade de divulgação dos
mesmos junto aos profissionais da saúde. Nesta mesma pesquisa, nenhum
entrevistado relatou ter recebido indicação de consumo de orgânicos por parte deste
138
setor profissional. Tais fatos indicam parte dos fatores limitantes, que são sentidos
pelos consumidores e que serão apresentados a seguir.
As maiores dificuldades que estes consumidores relataram foram
contrastadas em duas realidades distintas (TABELA 9). As duas primeiras foram
realizadas no mercado de Curitiba e a última, a título de comparação, foi realizada
no Rio de Janeiro.
TABELA 9 - PRINCIPAIS DIFICULDADES APRESENTADAS PELOS CONSUMIDORES DE
ALIMENTOS ORGÂNICOS
DIFICULDADES ESTUDO KIRCHNER
(CURITIBA)
ESTUDO
PREFEITURA
ESTUDO
UFRRJ
FEIRA
CONVENCIONAL
FEIRA
ORGÂNICA
CURITIBA RJ
Preço Elevado 43% 40% 37% 25%
Pouca variedade 6% 21% 37% -
Local para aquisição 33% 21% 41% 35%
FONTE: FONSECA (2005); CURITIBA (2006a) e KIRCHNER (2006)
Analisando a pesquisa de Kirchner (2006), o fator que mais desmotiva o
consumidor das feiras, seja orgânica ou convencional, é o preço alto (FIGURA 55).
Por outro lado, na pesquisa de Curitiba (2006a), o local para aquisição foi o maior
desmotivador, sendo seguido muito próximo por preço alto e pouca diversidade
(FIGURA 56).
43%
33%
6%
6%
6%
6%
Preço alto
Dificuldade de
achar
Falta
regularidade
Pouca variedade
Praticidade
Hábito
40%
21%
12%
21%
2%
4%
Preço alto
Dificuldade de
achar
Falta
regularidade
Pouca
variedade
Falta de
qualidade
Não confia
FIGURA 55 RAZÕES DE DESMOTIVAÇÃO DO CONSUMO DE ORGÂNICOS NAS FEIRAS
CONVENCIONAIS (ESQ.) E ORGÂNICAS (DIR.) EM CURITIBA
FONTE: KIRCHNER (2006)
139
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Local Preço alto Pouca
variedade
o confia Falta
identificação
Outros Não sabe
FIGURA 56 DIFICULDADES PARA A COMPRA DE ORGÂNICOS EM DIVERSOS CANAIS DE
COMERCIALIZAÇÃO EM CURITIBA
FONTE: CURITIBA (2006a)
NOTA: Os resultados ultrapassam 100% devido a possibilidade de resposta múltipla
Colaborando com esta análise, nas grandes redes de supermercados, os
gerentes entrevistados no estudo de Kirchner (2006, p. 118) afirmaram que “o
principal fator que dificulta ao consumidor comprar orgânicos é também o preço
alto.”
o trabalho de Silva (2006) faz uma análise sociológica das escolhas dos
consumidores diante de produtos orgânicos, convencionais e transgênicos. Foram
coletados dados com 600 consumidores em 41 supermercados de Curitiba.
Portanto, os dados de Silva (2006), obtidos nestas redes concordam com
esta afirmação quando apresentam os fatores que os consumidores levam em
consideração na hora da compra: preço (76,2%), seguido dos benefícios à saúde
(54,2%) e a marca (36%).
Dos 600 entrevistados nesta pesquisa, 210 afirmaram que consomem
produtos orgânicos, entre outros, o que representa uma cifra bastante elevada
(35%), fato que chamou a atenção do pesquisador e que a considerou elevadíssima.
Ressalte-se que este resultado merece cuidado na análise, pois está destoando de
outros estudos realizados. O próprio autor faz uma separação dentro desta
categoria de consumidores: os que compram semanalmente (53,3%) e os que se
abastecem esporadicamente, sem freqüência definida (43,3%). Acredita-se que
analisando a questão mediante esta divisão, é provável que se aproxime mais da
140
realidade encontrada pelos demais autores. Finalmente, o pesquisador aponta que
67% dos consumidores orgânicos entrevistados nos supermercados consideram
caros os alimentos orgânicos.
Assim não restam dúvidas de que, enquanto permanecerem os altos preços
vigentes, o setor se manterá sem grandes alterações, até porque o poder de compra
dos habitantes da RMC não tem crescido de maneira tão expressiva. Com relação
aos preços, nas diferentes formas de comercialização, estes serão comentados mais
adiante.
6.6.1 Meios de comunicação usados pelos consumidores
Um dos objetivos da pesquisa de Silva (2006) foi elaborar um perfil dos
diferentes tipos de consumidores e analisar quais meios de comunicação que
influenciaram os seus atos. Na tabela 10, os dados dos clientes dos supermercados
são contrastados como os dados de 4 equipamentos de comercialização, citados
na pesquisa da Prefeitura.
TABELA 10 – PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO UTILIZADOS PELOS CONSUMIDORES DE
ALIMENTOS ORGÂNICOS PARA SE INFORMAREM SOBRE ALIMENTAÇÃO
MEIO DE COMUNICAÇÃO
SUPERMERCADOS
DIVERSOS CANAIS*
TV 78,3% 37%
Contato pessoal 44% 11%
Revistas semanais 37,8% 27%
FONTE: CURITIBA (2006a); SILVA (2006)
*NOTA: Mercado Municipal, feira orgânica, supermercado, restaurante e lanchonete
Estes dados levam à conclusão de que os consumidores tentam obter junto
à televisão informações para orientar as suas compras em primeira instância. Isto
ocorre de maneira eventual e, portanto a exposição do consumidor ao assunto é
baixa e não sistemática.
141
6.6.2 Local para compra
No que tange aos locais de compra, pode-se visualizar nitidamente a
concentração dos equipamentos de abastecimento, na figura 47.
Pela Central de Relacionamento Municipal (Curitiba, 2007), serviço ligado a
Prefeitura de Curitiba, foi realizada uma enquete em julho de 2007 para verificar a
visibilidade de três feiras orgânicas e a impressão da vizinhança sobre os alimentos
orgânicos. Foram entrevistadas 1.000 pessoas residentes a menos de 1.000 metros
de cada feira e chegou-se a conclusão que o maior motivo para a não ida à feira era
a localização, no caso da feira do Passeio Público (35%). Nas outras duas feiras
(Pracinha da Igreja do Cabral e Praça do Japão) era o segundo maior motivo, com
18% e 19% respectivamente, sendo o primeiro a falta de tempo.
Outro item importante é o indicativo de que, na média, 68% dos “vizinhos”
das feiras, não as conheciam. Isto denota a necessidade de divulgação urgente das
feiras, principalmente quando uma delas funciona mais de 12 anos no mesmo
local e horário.
6.6.3 Desconhecimento de termos
No estudo realizado por Curitiba (2006a), 29% dos entrevistados não
sabiam ou não informaram a diferença entre alimento orgânico e hidropônico e 22%
não sabiam a distinção entre o orgânico e o convencional. Isso demonstra que
apesar de todos os esforços feitos, ainda existem pessoas consumindo um
produto pensando que estão consumindo outro. É corriqueiro o relato em eventos de
sensibilização de consumidores, onde estes admitiram ter comprado produtos
hidropônicos achando que fossem até melhores que os orgânicos (GUIVANT et al.,
2003).
142
6.6.4 Análise sobre os consumidores
Com relação à análise das informações sobre os consumidores foram
tomadas algumas precauções para evitar generalizações que podem não expressar
a realidade. Richter
10
(2002, citado por Guivant, 2003) aponta algumas falhas no
desenho e interpretação dos questionários que resultam em conclusões
questionáveis. Na figura 57, apresenta-se a problemática.
SITUAÇÃO PROBLEMAS
Comparação direta entre pesquisas de diferentes regiões
com amostras não representativas.
Falta de parâmetros para
comparação. Generalização frágil.
Perguntas sobre o significado de um produto ser orgânico. Superestimar a faixa de
consumidores.
Perguntas sobre intenção de pagar mais por um produto
orgânico.
Dificuldade em confrontar a resposta
com a prática do respondente.
Valorização e detecção limitada dos fatores que influenciam
as decisões de consumo.
Não capta razões sutis e até
inconscientes, porém fundamentais
que definem a escolha.
Coleta quantitativa sobre motivos abstratos, por exemplo:
produtos mais saudáveis, mais saborosos, mais caros; sem
considerar o contexto de respondente.
Idem.
FIGURA 57 – PRINCIPAIS PROBLEMAS DE ANÁLISES DE CONSUMIDORES ORGÂNICOS
FONTE: RICHTER
10
(2002, citado por Guivant et al., 2003)
NOTA: Modificado pelo autor
Existem diversos relatórios que contextualizam de maneira mais
aprofundada, indo além dos motivos econômicos, no sentido das mudanças culturais
“que têm impacto na forma em que as pessoas vivem, e, portanto, na forma que
consomem produtos...” (GUIVANT et al., 2003, p. 74), porém ainda não estão
disponíveis no âmbito nacional.
Finalmente, o consumidor médio, apesar da preocupação crescente com a
qualidade de vida e saúde, ainda escolhe os produtos, principalmente as Frutas,
Legumes e Verduras (FLV) “pela aparência cosmética e a expectativa de um sabor
agradável.” (GUIVANT et al., 2003, p. 76)
10
RICHTER, T. Conceptual basis for national standardized data gathering concerning organic
consumption and influencing factors. In: Proceedings of the 14
th
IFOAM Organic World Congress.
Victoria, Canada, p. 186-187. 2002.
143
7 ALGUMAS REFLEXÕES FINAIS
Diante do que foi pesquisado e analisado seguem as reflexões finais
relativas às hipóteses formuladas e ao final uma avaliação mais ampla é feita.
H1: As pesquisas e técnicas de produção vegetal adequadas ao
sistema orgânico de produção não estão disponíveis aos agricultores de
maneira proporcional à sua demanda.
Hipótese aceita por conta das demandas estabelecidas pelos entrevistados
durante o processo de coleta de dados e o conflito com as pesquisas produzidas na
RMC. Colaborando para esta análise IPARDES (2007, p. 175) afirma
no que tange à pesquisa na área de produção, o estudo identificou que as
mesmas estão dispersas em instituições governamentais, universitárias e
ONGs, abordando temas bastante específicos e pontuais relativos ao
sistema de produção. O que se constata é a necessidade de se
estabelecer uma política de investigação para a área, com apoio e recursos
financeiros adequados para a realização de pesquisas e estudos. Mas,
para tanto, é essencial que se proceda a um levantamento do que existe,
que se estabeleçam linhas de pesquisa de médio e longo prazos, focados
nos agroecossistemas regionais e da agricultura familiar. (grifo nosso)
Desta forma, fica evidente um fator limitante que se expressa pela
dificuldade de articulação entre estas diversas iniciativas, que às vezes têm matizes
ideológicas e metodológicas opostas, o que dificulta as parcerias. Para complicar a
situação, existe historicamente uma dificuldade de comunicação entre os órgãos de
pesquisa e o setor produtivo (agricultores e assistência técnica e extensão rural).
Isso ficou evidente quando se questionou o setor produtivo sobre os resultados das
pesquisas realizadas com a sua colaboração, sendo que o retorno foi mínimo.
Esta situação, inclusive, atrapalhou a realização desta pesquisa, pois
alguns agricultores se queixaram de um “excesso” de entrevistas e visitas em suas
propriedades, que acabavam consumindo um tempo precioso em uma atividade que
utiliza muita mão-de-obra familiar. Um agricultor em específico solicitou que não
fosse entrevistado, por este motivo, apesar de todas as explicações iniciais.
A sustentabilidade das pesquisas na RMC está sendo ameaçada por falta
de comunicação entre os pesquisadores e pesquisados, por falta de clareza das
propostas iniciais feitas aos parceiros ou por falta de retorno dos resultados ao setor
produtivo, que teoricamente seria o maior interessado. As bibliotecas e revistas
144
científicas estão recebendo a ciência, mas a comunidade que ajudou a gerar ou
gerou o conhecimento está distante. Seja uma distância física, entre uma biblioteca
e uma propriedade rural ou escritório de extensão rural, ou seja, uma distância
hermenêutica em função da linguagem acadêmica. Se nada for feito para mudar
esta realidade, não será impossível conceber uma “greve de informações” por parte
deste setor, que a cada dia está mais consciente dos seus direitos.
Um fato novo na RMC foi a constituição do CPRA no município de Pinhais
no local do antigo Pólo de Pesquisas de Curitiba do IAPAR, englobando áreas do
EMATER, Colônia Penal Agrícola, Hospital Adauto Botelho e da SANEPAR. Aos
poucos, eventos e pesquisas começam a ser feitas em consonância com as
demandas regionais, o que por si representa uma iniciativa alvissareira, mas que
carece ainda de lastro financeiro e de pessoas para fazer frente aos desafios que se
impõem. Cabe ressaltar que, assim como todas as instituições governamentais, não
está imune às mudanças radicais na sua trajetória em função da alternância de
grupos políticos frente ao governo estadual, como a propósito ocorreu naquela
mesma área por diversas vezes. Estas mudanças na administração governamental,
apesar de seus efeitos deletérios à sociedade, foram muito comuns na história
recente do estado do Paraná e inspiram preocupações do movimento da agricultura
orgânica.
H2: Os serviços com recursos públicos têm alcance limitado e suas
políticas estão desarticuladas e por isso não chegam com a intensidade
desejada nos agricultores orgânicos e potenciais.
Hipótese aceita em função da baixa percepção das ões governamentais
por parte dos agricultores e da sua efetividade. No caso específico de Campo Largo,
consolidando as categorias de resposta “nenhuma ação” e não opinou”, ficou
caracterizado que 60% não perceberam suas ações. Com relação à participação em
programas governamentais, apenas 10% relataram positivamente seu envolvimento.
Em contrapartida, por conhecimento do histórico no município nos últimos 10 anos
pode-se afirmar que a participação foi superior ao relatado. O motivo é o Programa
Paraná 12 Meses, que beneficiou no subcomponente de capacitação a maioria dos
entrevistados, porém algo que não favoreceu a lembrança ou o reconhecimento
como um programa governamental.
145
Por outro lado, no caso específico de Colombo, com relação à participação
em programas governamentais 70% dos entrevistados relataram seu envolvimento.
Isto denota uma participação mais intensa em programas governamentais que os
agricultores de Campo Largo. Um dos principais fatores que promoveram este fluxo
de recursos se deu em função de uma secretaria municipal de agricultura com
contatos sólidos em diversos segmentos do governo e a parceria com o Instituto
EMATER-PR.
Apesar do montante de recursos públicos estaduais e federais que foram
aportados acima da média regional, como foi o caso de Colombo, persiste um
descontentamento que pode ser evidenciado nos depoimentos dos agricultores
entrevistados diante de alguns programas, por exemplo, o programa municipal de
troca de lixo por hortaliças orgânicas: “Se não tivesse maldade, ia bem. Porém,
sempre tem alguém querendo tirar vantagem.” Ou sobre o PAA: “Era complicado
fazer as entregas. O preço não é essas coisas... Para umas sobras é bom”. E
ainda o Programa de turismo rural: “Falta divulgação. Eles prometeram as placas,
mas até agora...”
Fonte (2006, p. 135, grifo nosso) amplificou a problemática sobre o assunto
pontuando em sua tese de doutorado “Limitações e possibilidades para o
desenvolvimento do Vale do Ribeira”:
Mais uma vez se pode fazer duas observações sobre as inadequações dos
projetos estatais, por seus caracteres descendentes e sem participação
popular: um dos programas implantados, o de caprinocultura, apresentou
resultados muito ruins, com altíssima mortalidade dos animais. A
população não sabia manejar os animais e não foi suficientemente
preparada. No segundo caso, do programa de melhoria do rebanho leiteiro,
foram repassadas aos produtores, vacas leiteiras holandesas, conhecidas
por sua especialidade e exigências de manejo. Os resultados foram
igualmente desastrosos.
Todos estes depoimentos denotam a insatisfação perante os programas
governamentais, que em muitas gestões têm apresentado características
paternalistas, o que inclusive colaborou para este descontentamento. O grau de
paternalismo foi tamanho que em certas instâncias provocou a perda de autonomia
das comunidades. O paternalismo gerou dependência que deu à luz” a compra do
voto e outras práticas como o voto de cabresto, que manteve certos grupos no poder
e perpetuou este ciclo vicioso. Se assim não fora, não haveria uma grande
preocupação de dirigentes municipais (prefeitos) em indicar os presidentes de
146
Conselhos que gerem as políticas públicas”, como afirma IPARDES (2003) na sua
avaliação sobre os conselhos municipais de desenvolvimento rural.
Apesar deste quadro complicado, os agricultores quando indagados sobre
as políticas que eles implementariam se fossem os mandatários, surpreenderam.
Alguns permaneceram em receitas tradicionais de políticas que não provaram
resultado algum, mas outros mostraram muita visão nas suas propostas, o que
reforça a impressão de que processos realmente participativos tendem à obtenção
de resultados mais profícuos. De fato, não adianta querer “inventar a roda”: se o
programa deve atender determinada população, esta deve ser a primeira a ser
consultada. Porém, apesar de todos os nomes darem a impressão de participação,
como audiência pública e orçamento participativo, o que se observou foi a falácia
pública. E os chamados beneficiários dos programas foram os últimos a serem
ouvidos e por isso a tendência é de que os programas continuarão a não alcançar o
que apregoam nas propostas iniciais.
Como afirma Fonte (2006),
as decisões deveriam ser definidas, em um primeiro momento, pelos
Conselhos Rurais Municipais, de forma descentralizada, democrática e
ascendente. Lamentavelmente, foi o programa [Paraná 12 Meses] que mais
ingerências políticas sofreu. Segundo funcionários da SEAB, eram comuns
as ingerências de prefeitos e vereadores nas decisões sobre o que deveria
ou não ser apoiado como ação. Os Conselhos, que deveriam ser formados
democraticamente para que pudessem representar com propriedade o
município, em muitos casos foram criados exclusivamente pelo prefeito, para
cumprir a legislação, desvirtuando completamente o sentido da medida[!].
Com exceção do crédito rural, que avançou nos últimos anos, não se
delineia nenhum outro serviço mantido com recursos públicos em ascenção no
atendimento aos agricultores orgânicos (ASSIS e ROMEIRO, 2007). Em Mudanças
Técnicas na Agricultura: Perspectivas da Transição Agroambiental em Colombo -
PR, Almeida (2003) analisa a discrepância entre a perspectiva de crescimento da
atividade com a carência de políticas e estruturas que a suportem. Foi identificada a
falta de consistência destas políticas e mencionou a “freqüente defesa que certas
instituições fazem da agricultura orgânica como uma alternativa para proteger os
mananciais de Curitiba”, o que não traduziu em fatos concretos (COMEC, 2001a;
2001b). Ou nas palavras de um entrevistado: “Uma foguerinha e [já] pára.”
Com relação à assistência técnica, sua ação não se expressou em 50% dos
entrevistados em Campo Largo e a mesma cifra em Colombo. Neste sentido,
147
IPARDES (2007) elencou a dificuldade apresentada por estes profissionais desde a
capacitação necessária para atender aos agricultores até a dificuldade de integração
das entidades ao redor da agricultura orgânica. Isso ficou evidft giceo
148
H3: O consumidor não está esclarecido suficientemente sobre o que é
um alimento orgânico.
Hipótese aceita em função das dificuldades de conceituação de um alimento
orgânico pelos consumidores, bem como a sua identificação, como foi evidenciado
na pesquisa. Destaca-se aqui a importância de uma divulgação mais organizada e
coordenada onde se trabalhe desde as escolas até os meios de comunicação de
massa. Estas atividades foram elencadas pelos entrevistados como prioritárias para
alavancar a comercialização.
Convém registrar os esforços de algumas entidades no sentido de promover
palestras para sensibilização de consumidores. O gibi “Escolha freguês” do
cartunista Ziraldo, viabilizado com recursos do Ministério do Desenvolvimento
Agrário é um exemplo.
H4: Canais de comercialização não se viabilizam no médio e longo
prazo, pois o preço praticado mantém a demanda em patamares baixos, além
do que, os pontos de venda estão concentrados em regiões centrais de
Curitiba e municípios metropolitanos.
A primeira parte da hipótese foi aceita, pois esta demanda, ainda que
apresente-se crescente, estava reprimida em função dos preços elevados, o que
determina sobra de produtos em determinadas épocas do ano. Isso acarretou
prejuízos que foram assumidos ora pelas processadoras ora pelos agricultores,
dependendo do canal de comercialização.
Diante dos estudos de Darolt (2005), os consumidores conscientes que
compraram orgânicos nos últimos cinco anos, apresentaram disposição para pagar
30% a mais para um produto orgânico. Porém, o que se observou foi um sobrepreço
muito superior a esta cifra, determinando assim uma compra reduzida dos
consumidores conscientes e influenciando os ainda o conscientes de que este
produto é muito caro e talvez impagável. Desta forma, até os gerentes dos
supermercados concordaram que um dos pontos fracos dos orgânicos era o preço
elevado.
Ainda, como agravante da situação cita-se na cadeia de comercialização
longa, vinculada às redes de supermercados, um comportamento insustentável por
meio de contratos e práticas de comércio abusivas. Na cadeia curta, representada
na maioria dos casos pelas feiras, observou-se a cartelização.
149
A segunda parte da hipótese também foi aceita e diz respeito à
concentração da oferta, que no caso das feiras orgânicas restringiu-se basicamente
a área administrativa da prefeitura chamada Regional Matriz, que abrange os bairros
limítrofes ao centro da cidade. Quanto às lojas especializadas, restaurantes e até o
futuro Mercado Municipal Orgânico, todos se enquadram nesta área geográfica. As
redes de supermercados foram o único canal de comercialização encontrado nas
diferentes regionais da cidade, porém apresentaram os maiores preços de orgânicos
causando o chamado “efeito-susto”, onde um potencial consumidor ao ver o preço
desiste imediatamente da compra.
No sentido de novas possibilidades, foram localizadas na RMC, algumas
iniciativas de consumidores se organizando para comprar dos agricultores. Além das
novas feiras que tem ajudado a descentralizar os pontos de oferta de alimentos
orgânicos.
H5: A formação de preço não está pautada em custos de produção.
Hipótese aceita em função da análise da situação dos agricultores de
Campo Largo e Colombo, que informaram apenas elaborar os custos de produção
em 20% e 30%, respectivamente. A formação de preço foi influenciada por tabelas
de outras feiras, acordos com processadoras ou com redes de supermercados e
finalmente por pressão do “cartel orgânico”. Acredita-se que a inclusão de critérios
contábeis e sociais na formação de preço pode colaborar para um incremento nas
quantidades comercializadas e atingir a escala necessária para viabilizar mais
agricultores e por conseqüência mais consumidores.
H6: Agricultores não se associam e quando o fizeram, os resultados
foram negativos.
Hipótese aceita em função da maneira como o associativismo
“desembarcou” na RMC nos anos de 1980 com uma visão de cima para baixo, onde
“eles” foram os protagonistas e o eu” e o “nósficaram distantes, produzindo. Isto
também se expressa em outras regiões do Paraná, como observa Ahrens et al.
(2006, p. 70) a respeito da vizinha região Centro-Sul, enfatizando que “a formação
individualista e capitalista, em muitos casos, dificulta a organização coletiva e o
pensamento cooperativista.”
150
Esta visão ainda subsistiu por muito tempo e o resultado foi o fechamento
de todas aquelas associações. Com este sentimento negativo de fracasso, prejuízo,
roubo, entre outros, ficou instalado um quadro de individualismo mais exacerbado do
que o anterior, que já era intenso, até em função do histórico da RMC. Os
agricultores foram de certa forma “imunizados” contra o associativismo e este quadro
somente será alterado a partir de uma mudança de valores.
151
8 ALGUMAS PROPOSIÇÕES
Atendendo a um dos objetivos preconizados anteriormente neste trabalho,
apresentam-se algumas contribuições/sugestões para o aumento da viabilidade da
agricultura orgânica que pretende colaborar em termos de qualidade de vida para as
pessoas no campo e na cidade.
As proposições foram agrupadas conforme as hipóteses para facilitar a
visualização. Apesar da constituição dos dois sistemas-típicos (Campo Largo e
Colombo), para a análise da RMC, no que tange as proposições, não houve
diferenças significativas. Na sua ocorrência, os detalhes são pormenorizados.
H1 Tecnologias de produção:
Estabelecer um plano regional de pesquisas. Conquistar parcerias
para viabilizar o plano, sabendo que o mesmo possui apenas um
dono: o público (agricultores e consumidores).
Implementar maneiras inovadoras de construção do conhecimento e
concomitante troca.
Constituir profissionais com tempo, infra-estrutura e vontade para
atendimento inovador junto aos agricultores.
H2 Políticas:
Favorecer a constituição de políticas a partir do público e com
avaliação e gestão do mesmo.
Evitar programas engessados” focados apenas em práticas de
manejo.
Elaborar programas que contemplem as pessoas e não apenas as
tecnologias produtivas.
Oportunizar conselhos e órgãos de gestão realmente participativos.
Atender as demandas estabelecidas neste trabalho quer seja com
relação à pesquisa, ensino, extensão, legislação ou certificação.
152
H3 – H5 Mercado:
Sensibilizar os consumidores através de atividades envolvendo
profissionais de educação, saúde, agrárias, sociais aplicadas e a
comunidade.
Desenvolver ferramentas que privilegiem a comercialização direta,
favorecendo o comércio local e evitando gastos de combustível
desnecessários.
Ampliar o fornecimento de alimentos orgânicos para grandes
consumidores (institucionais ou privados).
No caso do sistema Colombo, reduzir gradualmente a oferta de
alimentos junto às redes de supermercados predatórias, ou de
maneira articulada obter negociações mais justas e sustentáveis.
Trabalhar a gestão da propriedade para reduzir o preço com critérios
visando ampliar a base de consumidores.
Auxiliar na formação de grupos de consumidores e agricultores que
se apóiem mutuamente.
Divulgar a agricultura orgânica através de diversas mídias, quem está
envolvido nesta atividade e quais as externalidades positivas
geradas, por exemplo (FEIRA ORGÂNICA, 2007):
http://blog.docaminho.com.br/videos/associacao-
casa-da-videira-geral/feira-organica-acv/
H6 Estratégias de organização:
Investir de maneira relacional.
Estabelecer um canal de comunicação entre o público e os gestores
dos recursos públicos para otimização dos mesmos no sentido de
integrar as atividades, evitando trabalhos semelhantes e paralelos e
ausência de ação em outras áreas.
Realizar eventos que extrapolem as questões tecnológicas (comércio
justo, gestão da propriedade) e discutam as raízes dos fatores
restritivos desta e de outras atividades: VALORES! (autonomia,
153
cooperação, solidariedade, amor, ...) E a partir destes valores tentar
colocar em prática em pequenos experimentos.
Estas contribuições podem parecer distantes ou utópicas, mas algumas
delas já foram realizadas concomitantemente ao trabalho de pesquisa e
demonstram os seus primeiros resultados. Pretende-se em breve relatá-las e
encerro reafirmando que “um outro mundo é possível, necessário e está a
caminho”...
154
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Desenvolvimento e instituições: a importância da explicação
histórica. In ARBIX, G.; ZILBOVICIUS, M.; ABRAMOVAY, R. Razões e ficções do
desenvolvimento. São Paulo: UNESP/EDUSP, 2001. Disponível em: <
http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/artigos_cientificos/2001/Desenvolvimento.pdf
>. Acesso em: 7/01/2008.
ACTIONAID. Stop corporate abuse. Rio de Janeiro: Actionaid, [2005?]. 1 fôlder.
Disponív.el em:
<http://www.chamadacontrapobreza.org.br/down/Abuso_Corporativo.pdf>. Acesso
em: 24/04/2008.
AHRENS, D. C. (org.); RODRIGUES, A. S.; RADOMSKI, M. I.; MILLÉO, R. D. S.
Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas: uma abordagem sistêmica no
Centro-Sul do Paraná. Londrina: Instituto Agronômico do Paraná, 2006. 79 p.
ALCÂNTARA, R. L. C.; BATALHA, M. O.; SOUZA, A. P. O.; MARCHESINI, M. M. A
dinâmica de mercado de hortícolas orgânicas: algumas considerações para reflexão.
In: Workshop Identificação de Gargalos Tecnológicos na Agroindústria Paranaense.
Resultados / Workshop Identificação de Gargalos Tecnológicos na
Agroindústria Paranaense. Curitiba: IPARDES, 2005. 129 p. Disponível em: <
http://www.IPARDES.gov.br/webisis.docs/
seti_gargalos_tec_agroindustria_workshop_resultados_2005.pdf>. Acesso em
12/02/2008.
ALMEIDA, J. Agroecologia: paradigma para tempos futuros ou resistência para o
tempo presente? Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n. 6, p. 29-40, jul./dez.
2002.
ALMEIDA, L. Mudanças técnicas na agricultura: perspectivas da transição
agroambiental em Colombo – PR. 312 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
ALVES, E. M.; ALMEIDA, R. G.; HELFENSTEIN, F. G.; JUNG, R. F.; GERLADI, L.;
MARQUES, C. A. G. Incidência de plantas espontâneas e severidade da queima-
das-folhas em função do espaçamento nos sistemas de produção de cenoura de
base ecológica e convencional. Revista Brasileira de Agroecologia, Porto Alegre,
v. 2, n. 2, p. 1123-1126, 10/2007. Disponível em:
<http:www6.ufrgs.br/seeragroecologia/ojs/include/getdoc.php?id=5439&article=1884
&mode=pdf>. Acesso em: 15/12/2007.
155
ANDREOLI, C.V; FERREIRA, A.C. Levantamento quantitativo de agrotóxicos
como base para a definição de indicadores de monitoramento de impacto
ambiental na água. Revista Sanare, Curitiba. V.10 n.10, p.30-38, 1998.
ANDREOLI, C. V.; DALARMI, O.; LARA, A. I.; RODRIGUES, E. M. ; ANDREOLI, F.
N. Os mananciais de abastecimento do sistema integrado da Região Metropolitana
de Curitiba – RMC. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 9., 2000, Porto Seguro. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 2000. p. 196-
205. Disponível em: <
http://www.sanepar.com.br/Sanepar/Gecip/Congressos_Seminarios/Gestao_de_man
anciais/Mananciais_de_abastecimento_da_RMC.pdf>. Acesso em: 5/01/2008.
APPOLONI, C.R. Universidade e Pesquisa. In: SIMPÓSIO SOBRE COMUNICAÇÃO
E CULTURA NO TERCEIRO MUNDO, 10., 2003, Londrina; Palestra proferida...
Londrina: Uel, 2003. p. 1-16. Disponível em:
<http://uel.br/proppg/pesquisa/documentos_ct/Universidade_Pesquisa.pdf>. Acesso
em: 10/12/2007.
ASSIS, R. L.; ROMEIRO, A. R. O processo de conversão de sistemas de produção
de hortaliças convencionais para orgânicos. Revista de Administração Pública,
Rio de Janeiro, v. 41, n. 5, set./ out. 2007. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
76122007000500004&lng=e&nrm=iso&tlng=e>. Acesso em: 11/02/2008.
BALESTRIN, N. L. Associação da Agricultura Orgânica do Paraná: uma proposta
em (re)construção.121 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2002.
BANCO DO BRASIL. O caminho natural para o sucesso da sua produção. São
Paulo: Banco do Brasil, 2006. 1 fôlder.
BARROS, E.V. Princípios de ciências sociais para a extensão rural. Viçosa:
UFV, 1994. 715p.
BAUER, M.; GASKELL, G. (Ed.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som:
um manual prático. 4. ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2005. 516 p.
BENATTO, A.; SCUCATO, E. S. Relatório do Programa de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos no Estado do Paraná. Junho de 2001 a junho de
2002. Curitiba: Secretaria de Saúde do Paraná, 2003. 55 p.
156
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. vol. 1 e 2. 12.
ed. Brasília: UNB, 2004.
BORSATTO, R. S. Agroecologia: um caminho multidimensional para o
desenvolvimento agrário do litoral paranaense. 150 f. Dissertação (Mestrado em
Agronomia) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2007.
BRASIL. Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura
orgânica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 24 dez. 2003. Disponível em:
<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=5114>. Acesso em:
8/12/2007.
______. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília:
25/05/2004. Disponível em:< http://www.mda.gov.br/saf/arquivos/0878513433.pdf>.
Acesso em: 24/04/2008.
______. Sistema de consulta à Legislação. Disponível em:
<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do;jsessionid=c0a8017a30d63a9a03a3dcf7408d8c06d
8b856e34717.e3uQb3eQb3ySe3uKbxmNc38Tci0 >. Acesso em: 31/11/2007.
______. Pronaf Microcrédito Rural. Brasília: [2007?]. 27 transparências, color.
Disponível em:
<http://www.unitins.br/ates/arquivos/outros/Agricultura%20Familiar/Pronaf-
Palestra.ppt#256,1,Slide 1>. Acesso em: 26/04/2008.
CÂNDIDO JÚNIOR, J. O. Os gastos públicos no Brasil são produtivos?
Planejamento e Políticas Públicas, Brasília, n. 23, p. 233-260, jun. 2001.
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp23/Parte6.pdf>. Acesso em:
7/2/2008.
CAMARGO, R. R. Da agricultura convencional à agroecologia: uma trajetória
mediada pela consciência de produtores rurais no município de Colombo – PR. 64 f.
Monografia (Especialização em Educação no Campo e Agricultura familiar e
Camponesa) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2006.
157
CAPORAL F. R.; COSTABEBER, J. A. Análise Multidimensional da Sustentabilidade:
Uma proposta metodológica a partir da Agroecologia. Revista Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.3, n.3, p. 70-85, jul./set.
2002a.
______. Construindo uma Nova Extensão rural no Rio Grande do Sul. Revista
Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.3, n.4, p. 13-
15, out./dez. 2002b.
CEAO – Conselho Estadual de Agricultura Orgânica. 2º Relatório Parcial do
Diagnóstico da Cadeia Produtiva Orgânica do estado do Paraná. Curitiba:
AOPA/DESER, 2002. 179 p.
CIDADE JUNIOR, H. A. A agricultura orgânica na região metropolitana de
Curitiba: alguns fatores que afetam seu desenvolvimento. Curitiba. 2006. 14 p.
Anteprojeto.
______. Relato de viagem à Ipê e Antônio Prado – RS. Araucária, 07/1996.
Informação verbal.
COMEC. Plano de Desenvolvimento Integrado. Curitiba: COMEC, 2001a. 181 p.
Relatório técnico, documento para discussão.
______. Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de
Curitiba. Curitiba: COMEC, 2001b. 79 p. Relatório técnico, documento síntese para
discussão.
______. APA’s e UTP’s. Curitiba: COMEC, 2004a. Disponível em: <
http://www.pr.gov.br/comec/mapas/novos/rmc_2004Apa_Utp.jpg
>. Acesso em:
25/12/2007.
______. Divisão Política. Curitiba: COMEC, 2004b. Disponível em: <
http://www.pr.gov.br/comec/mapas/novos/rmc_2004Politico.jpg
>. Acesso em: 30/12/2007.
CONAB. Programa de Aquisição de Alimentos Acões da CONAB em 2005.
Disponível em: <
http://www.conab.gov.br/conabweb/agriculturaFamiliar/arquivos/paa_sumario_2005.p
df> . Acesso em: 26/12/2007.
158
COMPLEXO. In: FERREIRA, A.B.H. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1977. p. 115.
COSTA, M. B. B. Análise da sustentabilidade da agricultura da região
metropolitana de Curitiba pela ótica da agroecologia. 227 f. Tese (Doutorado em
Meio Ambiente e Desenvolvimento), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
CPI do Leite indicia cinco empresas gaúchas. Panambi On-line, Panambi, 11 junho
2002. Disponível em:<http://www.profnet.com.br/ver_agri.php?codigo=736>. Acesso
em: 24/04/2008.
CRUZ, M. S. Público e Privado: o surgimento e a evolução dos conceitos. Bate
Byte, Curitiba, ago./set. 1994. n. 36. Disponível em:
<
http://www.pr.gov.br/batebyte/edicoes/1994/bb36/publico.htm
>. Acesso em: 12/12/2007.
CUPERSCHMID, N. R. M. Atitudes em relação ao meio ambiente e sua
influência no processo de compra de alimentos em Curitiba. 171 f. Dissertação
(Mestrado em Administração) – Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 1999.
CUNHA, A. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. 2. ed.
17 imp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 839 p.
CURITIBA. Diagnóstico dos sistemas de comercialização de produtos
orgânicos na região metropolitana de Curitiba. Curitiba: PMC, out./2006a.
Relatório de pesquisa. 2 planilhas eletrônicas.
______. Mercado de Orgânicos de Curitiba. Curitiba: PMC, 2006b. Relatório de
atividades. 6p.
______. Enquete Feira Orgânica: pracinha igreja do Cabral – praça do Japão –
Passeio Público. Curitiba: ICI, jul. 2007.
DAROLT, M.R. Agricultura orgânica: a região metropolitana de Curitiba em
destaque. Agricultura Biodinâmica, Botucatu, Ano 16, n. 82, p. 42-48, 1999.
______. As Dimensões da Sustentabilidade: um estudo da agricultura orgânica na
Região Metropolitana de Curitiba. 310 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2000.
159
______. Agricultura orgânica: inventando o futuro. Londrina-PR: IAPAR – Instituto
Agronômico do Paraná,2002. Cap. 1 e p. 200-203.
______. O consumidor e o mercado de produtos orgânicos. In: Simpósio sobre
Pesquisa em Agricultura Orgânica, 1., 2003, Lavras- MG. Anais...Lavras: UFLA,
2003. p.20-30.
______. Construindo novas relações entre agricultores e consumidores: a
experiência da Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná –
ACOPA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 3., 2005,
Florianópolis. Anais ... Florianópolis: ABA, 2005. 1 CD-ROM.
DENARDI, R. A. Agricultura familiar e políticas públicas: alguns dilemas e desafios
para o desenvolvimento rural sustentável. Agroecologia e Desenvolvimento Rural
Sustentável, Porto Alegre, v. 2, n. 3, p. 56-62, jul./set. 2001.
DENCKER, A.F.M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo:
Futura, 1998. 286 p.
DULLEY, R. Princípios da agricultura orgânica. In: Seminário de alternativas para a
pequena propriedade orgânica, 1, 2004, São Paulo. Resumo... São Paulo: AAO,
2004. Disponível em: <http://www.aao.org.br/sem1.asp>. Acesso em: 9/2/2008.
EMATER-PR. Sistema de Informações para Planejamento da Emater-PR.
Curitiba: EMATER, 2004. 1 CR-ROM.
______. Missão. Disponível em:
<http://www.emater.pr.gov.br/modules/conteudo.php?conteudo=8>. Acesso em:
10/12/2007a.
______. Proposta Regional de Trabalho em Agroecologia Curitiba e região
Metropolitana. Curitiba, 2007b.
160
______. Estrutura física. 2007d. Disponível em:<
http://www.emater.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=14>.
Acesso em: 12/02/2008.
______. Processo Agricultura Orgânica. Disponível em:
<http://www.emater.pr.gov.br/emater.php?emater=2&mid=87>. Acesso em:
25/04/2008.
EMBRAPA. Controle de doenças de plantas com biofertilizantes.
Jaguariúna:EMBRAPA, 1998. 22p.
______. Produção Orgânica de Hortaliças. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2007a. 308 p.
______. Cultivo de tomate para industrialização. Disponível em:
<http://sistemasdeprodução.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Tomate/TomateIndustri
al/doencas_virus.htm>. Acesso em: 14/12/2007b.
FAVERO, C.; JUCKSCH, I.; ALVARENGA, R. C.; COSTA, L. M. Modificações na
população de plantas espontâneas na presença de adubos verdes. Pesq. agropec.
Bras., Brasília, v. 36, n. 11, p. 1355-1362, 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0100-
204X2001001100005&Ing=en&nrm=iso>. Acesso em: 15/12/2007.
FEIDEN, A. Conversão de Sistemas de Produção Convencionais para Sistemas
de Produção Orgânicos. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2001. 20p.
FEIRA ORGÂNICA. Direção de Tiago Couto. Curitiba: Associação Casa da Videira:
Bravo!, 2007. 1 DVD (4 min.), color. Disponível em: <
http://blog.docaminho.com.br/videos/associacao-casa-da-videira-geral/feira-organica-
acv/>. Acesso em: 11/02/2008.
FONSECA, M. F. A. C. A institucionalização do mercado de orgânicos no
mundo e no Brasil: uma interpretação. 476 f. Tese (Doutorado em Sociologia) -
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2005.
FONTE, J. R. Limitações e possibilidades para o desenvolvimento do Vale do
Ribeira. 168 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Setor de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
161
FONTE, N.N. A Complexidade das plantas medicinais: algumas questões atuais
de sua produção e comercialização. 183 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Setor
de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
GALLI, F.; TOKESHI, H.; CARVALHO, P. C. T.; BALMER, E.; KIMATI, H.;
CARDOSO, C. O. N.; SALGADO, C. L. Manual de Fitopatologia. São Paulo: Ceres,
1968. 640p.
GANDHI, M. Frases. Disponível
em :<http://www.pensador.info/autor/Mahatma_Gandhi/2/> Acesso em 24/12/2007.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável.
3.ed. Porto Alegre: UFRGS, 2005. 653 p.
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS AGROINDUSTRIAIS. A dinâmica de
mercado de hortícolas orgânicas: algumas considerações para reflexão. Curitiba:
DEP/UFSCAR, 2004. 37p. Relatório técnico GEPAI.
GUIVANT, J. S.; FONSECA, M. F. A.; RAMOS, F. S. V.; SCHEIWEZER, M. Os
supermercados e o consumo de frutas, legumes e verduras (FLV) orgânicos
certificados. Ago./2003. Disponível em:
<http://www.planetaorganico.com.br/trabflv.htm#A%20Caracterização%20dos%20Co
nsumidores%20Orgânicos>. Acesso em 30/10/2007. Relatório final de pesquisa
“Apoio ao desenvolvimento de normas, processos de certificação e programas de
acreditação de certificadoras de produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar
no Brasil para comercialização no mercado interno e externo” CNPq n° 520874/01-3.
HAGUETTE, T. M. F. Metodologias Qualitativas na Sociologia. 10. ed. Petrópolis-
RJ: Vozes, 2005. 243 p.
HERNÁNDEZ, M. G. O Processo de Difusão Tecnológica da Agricultura
Orgânica na Região Metropolitana de Curitiba. 153 f. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Econômico), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.
HOELLER, S. C. Princípios norteadores para a estruturação de um projeto
político pedagógico para a formação de profissionais na área de agroecologia.
103 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Setor de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
IAPAR. Programa de Agroecologia. 2007. 4p.
162
IPARDES. Caracterização dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento
Rural: análise comparada 2000-2002. Curitiba: IPARDES, 2003. 21p.
______. O mercado de orgânicos do Paraná: caracterização e tendências.
Curitiba: IPARDES, 2007. 188 p. Relatório técnico.
IPPUC. Mapa com a atual composição municipal da Região Metropolitana de
Curitiba. Curitiba: IPPUC, 2002. Disponível em: <
http://ippucnet.ippuc.org.br/Bancodedados/Curitibaemdados/anexos/2002_MUNICÍPI
OS_Mapa%20da%20RMC%20com%20Municípios.jpg>. Acesso em 5/01/2008.
______. Mapa de Hipermercados e Supermercados de Curitiba. Curitiba: IPPUC,
2005. Disponível em: <
http://ippucnet.ippuc.org.br/Bancodedados/Curitibaemdados/anexos/2005_Mapa%20
de%20Hipermercados%20e%20Supermercados%20de%20Curitiba.jpg>. Acesso em
5/01/2008.
JORNADA DE AGROECOLOGIA: Projeto Florestando lança cartilha sobre
agroflorestas. Disponível em:<http:www.jornadadeagroecologia.com.br/noticias.view.
php?id=60>. Acesso em: 7/01/2008.
LESSA, R. Discurso na posse da FAPERJ. Jornal da Ciência, 6 maio 2002.
Disponível em:< http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=2077>. Acesso em:
24/04/2008.
KARAM, K. F. Agricultura orgânica: estratégia para uma nova ruralidade. 232 f.
Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) - Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2001.
______. A agricultura orgânica como estratégia de novas ruralidades: um
estudo de caso na Região Metropolitana de Curitiba. Disponível em:
<http://www.planetaorganico.com.br/TrabKarem1.htm>. Acesso em: 5/12/2007.
KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu:
Agroecológica, 2001. cap. 1.
KIRCHNER, R. S. Panorama do consumo de orgânicos na cidade de Curitiba –
PR a partir da análise das feiras. 137 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
163
LEFF, E. (org.). A Complexidade Ambiental. São Paulo: Cortez, 2003. 342p.
LORENZI, H. Manual de identificação e controle de plantas daninhas:
164
______. Decreto n.º 832, de 26/05/1995. Aprovado o Zoneamento Ecológico-
Econômico da Área de Proteção Ambiental do Passaúna - APA DO PASSAÚNA.
Publicado no Diário Oficial Nº 4517 de 26/05/1995. Disponível em:<
http://celepar7cta.pr.gov.br/SEEG/sumulas.nsf/fcc19094358873db03256efc0060183
3/b113c9b4dd47079b03256e980072321f?OpenDocument>. Acesso em 23/04/2008.
PINHEIRO, G. S. R. Agricultor familiar e projeto agroecológico de vida. 134 f.
Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
PRIMEIRA JOÃO. In: BÍBLIA Sagrada. 1. ed. São Paulo: Vida, 2003. Cap. 4, vers. 8,
p. 2154.
PROGRAMA PETROBRAS AMBIENTAL: Projeto Iguatu. Disponível em:<
http://www2.petrobras.com.br/ResponsabilidadeSocial/portugues/PetrobrasAmbiental
/ProjetoIguatu.asp>. Acesso em: 7/01/2008.
REDE ECOVIDA. Núcleos e Membros. Disponível em:
<http://www.ecovida.org.br/?sc=SA003&estado=PR&nucleo=7&membro=670&expan
d=#membro670>. Acesso em: 10/12/2007.
______. Quem somos. Disponível em: <
http://www.ecovida.org.br/?sc=SA002&stp=STP0002 >. Acesso em: 07/01/2008.
RUCINSKI, J. ACOPA: uma associação em construção. 104 f. Dissertação
(Mestrado em Sociologia) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
SAGA DOS POLACOS. Disponível em: <http: //www.ui.jor.br/polaco5.htm>. Acesso
em: 12/12/2007.
SCHMIDT, V. D. B. Consumidores urbanos e agricultura orgânica: entre
discurso, intenção e gesto. 98 f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) –
Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2004.
SEAB. Produção Orgânica – Núcleo Regional de Curitiba. Curitiba: SEAB, 2007.
4 planilhas eletrônicas.
165
SENAR. Cursos ministrados na Região Leste. Curitiba: 2007. 1 Planilha
eletrônica.
______. Trabalhador na Agricultura Orgânica: informações básicas. Curitiba,
2008. No prelo.
SILVA, J.C.B.V. Dilemas de uma trajetória rumo à agroecologia: o caso de
Colombo – PR. 21 f. Monografia (Especialização em Agroecologia e
Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.
SILVA, P.J. Escolhas e influências dos consumidores de alimento na
modernidade reflexiva: um estudo em supermercados. 161 f. Dissertação
(Mestrado em Sociologia) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
SILVA, P. L. B.; COSTA, N. R. A avaliação de políticas públicas na América do Sul.
A avaliação de programas públicos: uma estratégia de análise. In: Congreso
Internacional del CLAD sobre la Reforma del estado y de la Administración Pública,
5., 2000, Santo Domingo. Anais… Santo Domingo. Disponível em: <
http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/CLAD/clad0038402.pdf>.
Acesso em: 7/2/2008.
SOUZA, J.L. Manual de Horticultura Orgânica. 2. ed. Viçosa: Aprenda Fácil, 2006.
843 p.
STRINGHETA, P.C.; MUNIZ, J.N. (Ed). Alimentos orgânicos: produção, tecnologia
e certificação. Viçosa: UFV, 2003. 452 p.
TURATO, E.R. Tratado da metodologia da Pesquisa Clínico-Qualitativa.
Petrópolis- RJ: Vozes, 2003. 685 p.
UFPR. Missão e Valores. Disponível em <http:
//www.ufpr.br/adm/templates/p_index.php?template=1&Cod=80&hierarquia=6.1.1>
Acesso em: 8/12/2007.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro: teoria e exercícios, glossário
com os 260 principais conceitos econômicos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 439 p.
166
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2006. 246 p.
VIEIRA, F. H. A. O mercado de produtos orgânicos em Curitiba/PR e região
metropolitana. 126 f. Monografia (Graduação em Economia) – Setor de Ciências
Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
WERTHEIN, J; CUNHA, C. Educação, Ciência e Tecnologia: por uma Política de
Estado. Correio Braziliense, Brasília, 22 setembro 2004. Disponível em:
<http://www.unesco.org.br/noticias/opiniao/artigow/2004/politica_estado/mostra_docu
mento>. Acesso em: 24/04/2008.
ZANINI, L. Um retrato do movimento agroecológico em Colombo. 26 f.
Monografia (Especialização em Educação no Campo e Agricultura familiar e
Camponesa) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2006.
167
APÊNDICES
APÊNDICE 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTAS: AGRICULTORES .............................................. 164
APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTAS: RESPONSÁVEIS PELA POLÍTICA AGRÍCOLA
MUNICIPAL E PROFISSIONAIS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA ...................................................
172
168
APÊNDICE 1
ROTEIRO DE ENTREVISTAS: AGRICULTORES
Entrevista n.:_____
Data: / /
Roteiro
Identificação
1.Quem é responsável por tocar a produção?
2.Nome do entrevistado:
3.Tel: 4.Endereço/Comunidade:
5.Município
6.Localização geográfica:___________________________________
7.Área da propriedade: 8.Área de produção orgânica:
9.Faz agricultura convencional? ( ) S ( ) N 9.1Qual a área? _____ 9.2Por quê?
Propriedade:
10.Mão-de-obra(n°): ( )familiar ( ) contratada permanente
( ) contr. Temporária, dias/ano, ____________
11.Quantas pessoas? ( ) homens ( ) mulheres ( ) jovens
12.Quando começou com o orgânico? (ano) ______
13.Por quê? ( ) Financeiro ( )Saúde da família ( ) intoxicação ou receio ( ) Incentivo
de técnicos ( )Outros. Qual?
Certificação
14.Possui certificação? ( ) S ( ) N. 14.1Qual é a certificadora? ______________
14.2Por que a escolheu? ( ) custo ( ) facilidade nas informações ( ) associação ( )
15.Como foi para se enquadrar nas normas de certificação? ( ) Fácil ( ) Médio
( ) Difícil
16.Quando você conseguiu a certificação?
17.Na sua avaliação como o valor cobrado é? ( )Alto ( ) Acessível ( ) Barato
18.Qual é o valor anual? R$ _______
19.Possui mais alguma certificação? ( ) S ( ) N
169
19.1Qual? ________________________19.2Por quê?
20.O que precisa melhorar diante das recomendações da certificadora? ( ) barreiras
( ) preparo do solo ( ) adubação ( ) sementes e mudas ( ) documentação ambiental,
outorga, averbação ( ) outros:
Produção
Solos
21.Como você prepara o solo para o plantio?
( )Preparo mecânico ou tração animal: ( )preparo convencional ( ) cultivo mínimo
( ) enxada rotativa ( )plantio direto ( )
22.Adubação:
( )cama de aviário ( )compostagem ( ) adubação verde ( )biofertilizantes
( ) adubos minerais permitidos( ) esterco de poedeiras ( ) esterco de perú
23.Conservação: ( )curva de nível ( ) plantio atravessado ( ) cobertura morta ou viva (
)
24.Tem análise de solos? ( ) S ( ) N 24.1De quando? ___________________
24.2Por quê? __________________________
25.Quais as dificuldades no momento com relação à
25.1Preparo:
25.2Adubação:
25.3Conservação:
26.O jeito de trabalhar o solo mudou da época da conversão?
Doenças
27.Quais doenças aparecem mais?
Quando aparece uma doença, o que faz?
27.1Doença 1: ____________:
27.2Doença 2: ____________:
27.3Doença 3: ____________:
27.4Doença 4: ____________:
27.5Doença 5: ____________:
170
28.Na época da conversão, os problemas eram diferentes? Como? ( ) Mais ( )
Menos
( ) Igual
Insetos
171
Sementes e mudas
35.Como escolhe as variedades a serem plantadas? ( ) mercado ( ) Assist Téc.
( ) viveirista ( ) outros:
36.Quais utiliza?
Alface americana: Alface crespa: Alface lisa:
Alface______:
Batata: Beterraba: Brócolis: Cenoura:
Couve-flor: Feijão: Morango: Repolho:
Tomate:
37.Produz semente própria? ( ) S ( ) N 37.1Quais?
( ) hortaliças _______________ ( ) grãos ___________________( )
________________
38.Produz mudas próprias? ( ) S ( ) N 38.1Quais?
39.São orgânicas? ( ) S ( ) N 39.1.Por quê?
40.Compra sementes orgânicas? ( ) S ( ) N 40.1Quais?
40.2Por quê?
41.Na época da conversão, usava sementes diferentes? 41.1Quais?
Apoio do governo (Cursos, Assistência Técnica, Informações e Financiamento)
42.Você tem apoio do governo? (S ou N)
( ) Cursos ( ) Assistência Técnica ( )Informações ( ) Financiamento ( ) Outros.
______________________________
43.Quais cursos já fez?
44.Quem deu o curso? ( ) EMATER ( ) SENAR ( ) Prefeitura ( ) SEBRAE ( )
Outros.______________
45.Qualidade? ( ) Muito Ruim ( ) Ruim ( ) Médio ( ) Bom ( ) Ótimo
46.Faz mais cursos hoje do que no tempo da conversão? ( ) S ( ) N
47.Qual curso está faltando para você fazer?
48.Recebe Assistência Técnica? ( ) S ( ) N
49.Recebia Assistência Técnica no começo? ( ) S ( ) N
172
49.1Se sim, quantas vezes por mês? __ 49.2Quem prestava assistência?
( ) EMATER ( ) Prefeitura ( ) Ongs __________ ( ) outros.______________
50.Qualidade? ( ) Muito Ruim ( ) Ruim ( ) Médio ( ) Bom ( ) Ótimo
51.Que técnicos já deram assistência técnica na propriedade?
52.Quais problemas de técnica você tem na propriedade? (demanda de pesquisa)
53.Como tem acesso às informações, produtos, sementes? ( ) TV ( ) Assist. Técn.
( ) Amigos ( ) Inst. de pesquisas e Universidades (
)Outros._______________________
54.Você já pegou algum financiamento para agricultura orgânica? ( ) S ( ) N.
Se sim, quais? ( n°) ( ) PRONAF ( ) PRONAF Agroecológico ( ) Outro:
___________
54.1Por quê?
55.Você participou de algum programa governamental nos últimos anos? ( ) PR
Rural
( ) PR 12 meses ( ) Prosan ( ) PAA ( ) Programas Municipais ( ) Outros.__________
55.1Qual a sua opinião sobre ele?
Comércio:
56.Onde você vende? ( ) supermercado ( ) empresa ( ) direto: feira ( ) direto: cestas
( ) direto: em casa ( ) restaurante ( ) outros
57.Como você vende? (%)( ) supermercado ( ) empresa ( ) direto: feira ( ) direto:
cestas
( ) direto: em casa ( ) restaurante ( ) outros
58.Está satisfeito com a comercialização da produção? ( ) S ( ) N
58.1Por quê?
59.O que tem feito para melhorar?
60.Como está o mercado hoje? ( ) querendo mais produto que antes
( ) querendo menos ( ) igual
61.O que produz? Do mais importante para o menos em termos de renda.
173
62.Sabe qual é o seu custo de produção? ( ) S ( ) N
62.1De quais culturas?
63.O que leva em conta na hora de calcular? ( ) mão de obra ( ) adubo ( ) semente
( ) caldas ( ) certificação ( ) frete ( ) propaganda ( ) perdas ( )
64.Como eles (custos) estão no último ano? ( ) subindo ( ) estáveis ( ) baixando
65.Como faz o preço de venda para o mercado? ( ) mercado dita ( ) tabela _
________ ( ) 30 %+ ( ) Outros
66.Como eles estão no último ano? ( ) subindo ( ) estáveis ( ) baixando
67.Como você decide o que e quanto plantar?
68. Tem interesse em ampliar a área plantada? ( ) S ( ) N. Com que cultura?
69.Por que ainda não aumentou? ( ) terra ( ) mão-de-obra ( ) dinheiro ( ) mercado ( )
outros
Social
70.Participa de alguma associação? ( ) S ( ) N
70.1Qual? ( )AOPA ( )PRODORGAN ( ) APAC ( ) REDE ECOVIDA ( )
71.Como participa na associação?
72.Por quê?
73.Já teve algum problema com associações? ( ) S ( ) N
73.1Qual?
74.Por que elas estão desta maneira?
Gargalos gerais
75.O que você acha que está faltando para a agricultura orgânica crescer mais?
76.O que o governo já fez?
174
77.Se você pudesse mandar um dia na política, o que você faria para a agricultura
orgânica crescer?
78.Quais são as suas maiores dificuldades para crescer?
( ) terra ( ) mão-de-obra ( ) recursos financeiros ( ) outros
79.Além do trabalho feito na sua propriedade, como acha que pode contribuir no
crescimento da agricultura orgânica no geral?
Comentários:
80.Que tipo de agricultura faz? ( ) Agricultura Orgânica ( ) Agroecológica ( ) não sei
( ) Outra.
81.É consumidor de produtos orgânicos? Quais?
82.Animais na propriedade? ( ) S ( ) N Quais?
83.Manejo orgânico? ( ) S ( ) N
84.Como está a vida agora? ( ) melhor ( )igual ( )pior 84.1Por quê?
175
Folha deixada com a família para anotações posteriores, se lembrarem de mais
informações.
Identificação
Nome do entrevistado:
Gargalos gerais
O que está faltando para a agricultura orgânica crescer mais?
O que o governo já fez?
Se você pudesse mandar um dia na política, o que você faria para a agricultura
orgânica crescer?
Quais são as suas maiores dificuldades?
( ) terra ( ) mão-de-obra ( ) recursos financeiros ( ) outros
Além do trabalho feito na sua propriedade, como acha que pode contribuir no
crescimento da agricultura orgânica no geral?
1. Dificuldades na atualidade
Certificação
Produção
Apoios do governo (Cursos, Pesquisas, Assistência Técnica e Crédito)
Comércio e associações
2. 1. Dificuldades na época da mudança (conversão)
Certificação
Produção
Apoios do governo (Cursos, Pesquisas, Assistência Técnica e Crédito)
Comércio e associações
176
APÊNDICE 2
ROTEIRO DE ENTREVISTAS: RESPONSÁVEIS PELA POLÍTICA AGRÍCOLA
MUNICIPAL E PROFISSIONAIS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA
1. Como vê a agricultura orgânica?
2. O que está faltando para seu desenvolvimento?
3. Comente sobre as políticas públicas vigentes?
4. É consumidor de alimentos orgânicos?
5. Há quanto tempo está na administração pública?
177
ANEXOS
ANEXO 1 - PROJETOS CONDUZIDOS E EM ANDAMENTO NO CPRA ................................... 174
ANEXO 2 - PROJETOS CONDUZIDOS NO PROGRAMA AGROECOLOGIA DO IAPAR........... 175
178
ANEXO 1 – CPRA
PROJETOS CONDUZIDOS E EM ANDAMENTO NO CPRA
Designação Situação
Batata orgânica. Em andamento
Fruticultura. Em andamento
Transformação da bovinocultura de leite convencional p/ orgânica. Em andamento
Avaliação de produtos alternativos em olericultura. Em andamento
Bovinocultura de leite: Sistema Silvopastoril. Em andamento
Bovinocultura de leite: Pastoreio Racional Voisin. Em andamento
Controle de carrapato através do uso de capim limão. Encerrado
Identificação da concentração de óleo de neem no controle de
carrapato.
Em andamento
Uso da homeopatia e método Famache no controle de verminose
ovina e caprina.
Em andamento
Uso de própolis e óleo de linhaça como produto p/ secagem de
vacas em final de lactação.
Em andamento
Avaliação de sistemas de policultivos (encerrado); Encerrado
Avaliação do teor de óleo essencial em manjericão com diferentes
adubos orgânicos.
Em
andamento
Avaliação de métodos para diminuir infestação de losna brava. Planejamento
Avaliação de produtos no controle da ferrugem asiática na soja. Planejamento
Avaliação de produtos no manejo fitossanitário de frutíferas de
caroço.
Planejamento
Avaliação de Sistema Agroflorestal (SAF). Planejamento
179
ANEXO 2 – IAPAR
PROJETOS CONDUZIDOS NO PROGRAMA AGROECOLOGIA – PAG
Avaliação integrada de tecnologias visando o estabelecimento de um
sistema para produção de leite em base orgânica na região centro-
sul
do Paraná.
Pinhais
(Metropolitana)
Produção Agroecológica de Bovinos de Corte
Fazenda
Modelo Ponta
Grossa
Desenvolvimento de sistemas de produção de batata orgânica com
qualidade e sustentabilidade para a região centro-sul do Paraná.
Pinhais e Lapa
(Metropolitana)
Desenvolvimento de tecnologias com bases agroecológicas para
sistemas familiares de produção: cultivares de feijão, adubos verdes e
manejo de plantas daninhas.
Pinhais,
Bituruna, Irati e
União da
Vitória
(Metropolitana
e Centro-Sul)
Ajuste/validação de inovações tecnológicas, visando a conversão
para o cultivo orgânico, melhoria de praticas culturais e
beneficiamento de sementes próprias em parte do território Paraná
Centro
Irapuá,
Pitanga, Nova
Tebas, Manoel
Ribas, Cândido
de Abreu e
Ariranha do
Ivaí (Centro)
Estratégias de manejo da minhocultura em sistemas agroecológicos
Pinhais
(Metropolitana)
Avaliação do uso de microondas e água quente no controle de
plantas invasoras em áreas de plantio direto e orgânico.
Londrina
(Norte)
Estudo
prospectivo da demanda e tendência do mercado de produtos
orgânicos no PR
PR
Condução da fruticultura no Centro-Sul do PR de forma agroecológica
Centro-Sul
Manejo de insetos-praga em sistemas de produção agroecológico
familiar
Centro-Sul e
Litoral PR
Contribuição ao uso da homeopatia na agricultura: desenvolvimento
de Matéria Vegetal Homeopática e avaliação de bioterápico para
controle de doenças de plantas.
Londrina
Tratamento de sementes com pós de rocha e subprodutos do xisto
Londrina e
Curitiba
Controle de sigatoka amarela e sigatoka negra em sistemas
orgânicos no litoral paranaense
Litoral PR
180
PROJETOS DA LINHA AGROCOLÓGICA CONDUZIDOS EM OUTROS PROGRAMAS
PROGRAMA PROJETO
PAR Arroz de sequeiro IPR 117
PCA (Norte e Oeste)
Caracterização da qualidade do café produzido em diferentes sistemas de
cultivo orgânico para a agregação do valor do café do Paraná.
PCA (Norte)
Levantamento dos fatores que interferem na sanidade dos cafeeiros sob o
cultivo orgânico: formulação das bases para sustentabilidade deste
processo de exploração.
PCA (Norte) Racionalização de cafezais orgânicos e caracterização do microclima.
PCA (Norte)
Táticas bioecológicas no controle da broca-do-café Hypothenemus hampeil
para cultivo em sistema orgânico e convencional.
PCA (Norte)
Uso do lodo urbano higienizado e resíduos orgânicos de origem animal e
vegetal no crescimento do cafeeiro pós - transplante.
PCD Coleção de plantas medicinais e olerícolas potenciais
PCD Controle integrado de pragas em agroecossistemas
PCD
Introdução e avaliação de clones e cultivares de mandioca no Estado do
Paraná
PCD Manutenção de banco de germoplasma de rami.
PCD
Monitoramento da base tecnológica utilizada no cultivo orgânico de feijão,
arroz, milho, soja, trigo, café, cana-de-açúcar e mandioca no Estado do
Paraná.
PCD Multiplicação das espécies promissoras de adubos verdes
PCD
Palmeiras para a produção de palmito, fibra e óleo. Introdução e avaliação
de desempenho nas regiões tropicais do Paraná
PCD Pinhais, Lapa,
Londrina
Seleção de clones de batata para o cultivo orgânico
PCD
Validação de tecnologias para diferentes condições agroecológicas das
regiões sericícolas, para proporcionar sustentabilidade da sericicultura em
sistemas de agricultura familiar no Paraná
PCD
Zoneamento edafoclimático de regiões apropriadas à cultura da pupunha,
diagnóstico de sistemas de produção e mercado
PCD
Mandioca IAPAR 19 Pioneira, Tremoço azul IAPAR 24, Guandu anão
IAPAR 43 Aratã, Batata doce alaranjada IAPAR 69, Nabo forrageiro IPR 116
PCI
Centeio IPR 89, Trigo mourisco precoce IPR 91 Bali, Trigo mourisco tardio
IPR 92 Altar
PFE Lançamento de cultivar rústico de feijão IPR
PFE (Norte) Eficiência do óleo de nim no controle de doenças do feijoeiro
PFE (Norte, Oeste e
Sul)
Integração de tecnologias para viabilizar o cultivo do feijoeiro no sistema
orgânico no norte do Paraná.
PFO
Capim Hemarthria IAPAR 35 Roxinha, Aveia preta forrageira IAPAR 61,
Batata doce forrageira IAPAR 70, Ervilha forrageira IAPAR 83, Aveia branca
forrageira IPR 126
PFR Seleção de plantas de acerola em propriedade do noroeste do Paraná
PFR (Norte)
Controle biológico da broca do abacate: identificação de parasitóides e
avaliação do potencial de controle da broca através de inimigos naturais.
PRF(Noroeste) Manejo florestal, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas.
PRF(Norte e
Noroeste)
Desenvolvimento de sistemas agrossilviculturais adaptados ao Paraná.
Projeto Itaipu
Manejo orgânico de plantas invasoras em soja
PMI
Milho variedade IPR 114
PPA
Caprinos, bubalinos, raça Purunã, homeopatia animal
181
PROJETOS DA LINHA AGROCOLÓGICA CONDUZIDOS EM OUTROS PROGRAMAS
PSA (Pinhais)
Avaliação da influência da água de xisto e xisto retortado no controle de
doenças de batata em sistema orgânico de produção
PSA
Avaliação do lodo frigorífico da lagoa de decantação no reflorestamento de
eucalipto.
PSA (Norte)
Coleção de espécies e manutenção de banco de inoculo de fungos
microrrízicos vesículo arbusculares.
PSA
Desenvolvimento de métodos de preparo de solo em sistemas de lavoura
diversificada em rotação de culturas e adubação verde
PSA Efeito da matéria orgânica do solo na calagem em sistema de plantio direto
PSA
Genoma estrutural e funcional de bactéria fixadora de nitrogênio endofítica
Herbaspirillum seropedicae.
PSA
Geosafras - estimativas da produtividade regional de cultivos no estado do
Paraná.
PSA
Identificação de propriedades rurais com potencial risco de poluição dos
recursos hídricos por águas residuárias de suínos
PSA (Pinhais)
Influência da peletização de sementes de feijão e soja com diferentes pós de
rocha para controle de doenças transmitidos por doenças
PSA
Influência das coberturas vegetais na infestação das culturas e no seu
controle
PSA (Pinhais)
Isolamento e purificação de Pythium sp em laboratório para experimentos de
avaliação da eficiência de pós de rocha para controle de doenças de
tombamento
PSA Mobilização do calcário no solo em plantio direto
PSA
Modelagem da trafegabilidade do solo sob manejo conservacionista através
da lógica Fuzzi
PSA Monitoramento agroclimático do Estado do PR
PSA
Monitoramento de ciclagem de nutrientes pelas plantas espontâneas, nas
culturas anuais, em plantio direto e sua ação sobre a microbiologia do solo
em diferentes regiões no estado do Paraná
PSA
Monitoramento do aporte de sedimentos no Lago de Itaipu e modelagem dos
riscos de erosão na bacia do Rio Paraná.
PSA (Norte e
Noroeste)
Produção de inoculação microbianos de espécies arbóreas para a
recuperação de áreas com solos degradados.
PSA Recomendação de doses de chorume em função do tipo de solo.
PSA
Sistema de suporte à decisão para escolha das melhores épocas de
semeadura de culturas anuais
PSA
Uso de marcadores moleculares na determinação da diversidade de fungos
micorrízicos arbusculares em diferentes sistemas de cultivo
PSA
Uso dos subprodutos do processamento do xisto pirobetuminoso na
agricultura
PSA (Oeste) Uso racional de resíduo de suínos na região oeste do estado do Paraná.
PSA Zoneamento agrícola do Estado do Paraná
PSP Produção de leite em pasto na região do lago o de Itaipu (Oeste)
PSP (Centro-Sul) Rede de propriedades familiares agroecológicas
PSP (Norte)
Validação do sistema de plantio direto para a cultura de soja orgânica no
norte do Paraná.
PSP (Oeste)
Desenvolvimento da agricultura orgânica nos municípios lindeiros ao lago de
Itaipu.
PSP(Norte, Noroeste,
Sudoeste, Oeste
Centro-Sul)
Construção de referencias técnicas e econômicas de sistemas de produção
orgânicas para a agricultura familiar paranaense por meio da instalação de
redes de propriedades.
PAR Programa Arroz, PCA Programa Culturas alimentícias, PCD Programa culturas diversas, PCI
Programa culturas industriais, PFE Programa Feijão, PFO Programa Forrageiras, PFR Programa
recursos florestais, PFR Programa fruticultura, PMI Programa milho, PPA Programa produção animal,
PSA Programa solo e água, PSP Programa sistema de produção
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo