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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-Graduação
Faculdade de Educação
O ENSINO RELIGIOSO E A FORMAÇÃO DE SEUS
PROFESSORES: dificuldades e perspectivas
Maria Cristina Caetano
Belo Horizonte
2007
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Maria Cristina Caetano
O ENSINO RELIGIOSO E A FORMAÇÃO DE SEUS PROFESSORES:
dificuldades e perspectivas
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Educação da Pontifica Universidade Católica de Minas
Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Educação.
Área de Concentração: Sociologia e História da Profissão
Docente.
Linha de Pesquisa: Direito a Educação e Políticas Públicas
Educacionais.
Orientadora: Prof. Dra. Maria Auxiliadora Monteiro
Oliveira
Belo Horizonte
2007
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Maria Cristina Caetano
O ENSINO RELIGIOSO E A FORMAÇÃO DE SEUS PROFESSORES:
dificuldades e perspectivas
Dissertão apresentada ao Programa de Pós-graduão em Educação da
Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, ----------------
Prof. Dra. Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira
(Orientadora) - PUC Minas
Prof. Dr. Carlos Roberto Jamil Cury
PUC Minas
Prof. Dr. Amauri Carlos Ferreira
PUC Minas
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A produção de um trabalho como este nunca é feita apenas por quem
escreve. Muitas pessoas contribuíram com idéias, palavras, leituras,
correções; outras com uma palavra de incentivo e, ainda outras, até mesmo
assumiram minhas atividades, para facilitar um tempo maior de dedicação
ao estudo. Sendo assim, ao finalizar esse trabalho, não poderia deixar de
agradecer a algumas dessas pessoas:
A Deus, que, com seu amor de pai, sustentou-me nesta caminhada e deu-
me coragem para enfrentar todos os desafios, provenientes desse tempo.
À Congregação do Sagrado Coração de Maria, na pessoa da Terezinha
Cecchin, que compreendeu a importância dessa formação no meu processo
profissional, apoiou-me nesse tempo de estudo e demonstrou paciência sem
precedentes, no desdobramento deste meu trabalho.
À minha família e à minha comunidade de vida, que, em muitos
momentos, compreenderam e aceitaram a minha ausência.
À Professora Doutora Maria Auxiliadora Monteiro de Oliveira, pela
amizade, orientação competente e segura. Além de orientar a pesquisa, ela
consegue promover seus/suas orientandos/as e incentivar cada um de
acordo com suas potencialidades. Muito obrigada pela sua dedicação,
prontidão, pelo acolhimento aos processos vividos e sentidos e pela sua
sabedoria em indicar o melhor caminho, na fase da escrita da dissertação.
Aos professores e à direção da escola pesquisada e aos professores das
diferentes instituições da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que
ajudaram a compreender um pouco mais a situação do Ensino Religioso,
no contexto escolar. Ao Departamento Arquidiocesano de Ensino
Religioso, nas pessoas de Maria Aparecida de Oliveira e Ana Terezinha,
que se disponibilizaram a dar as informações sobre o Departamento e
possibilitaram o meu contato com os docentes.
Aos professores e funcionários do Programa de Pós-graduação em
Educação da Pontifícia Universidade Católica Minas Gerais,
principalmente ao Prof. Dr. Carlos Roberto Jamil Cury, que foi o
Parecerista deste Projeto, colaborando com sugestões e bibliografia.
Às pessoas que, através de diálogos, via internet, contribuíram para o
desenvolvimento dessa pesquisa: Anísia de Paula Figueiredo, Lílian
Blanck de Oliveira, Sérgio Junqueira. E tantas outras que me socorreram
com sugestões de referências, tais como: Amauri Carlos Ferreira e Antônio
Francisco da Silva. Não posso deixar de fazer um agradecimento especial
a Maria Ângela Machado, leitora minuciosa da dissertação e Virgínia
Coeli B. de Queiroz Matias com quem partilhei alguns momentos desse
processo.
RESUMO
O objeto desta pesquisa centra-se no Ensino Religioso. Os capítulos que integram
este trabalho, assim se apresentam: A Trajetória do Ensino Religioso desde o
Período da Colônia até a Atualidade; A História da Formação/Profissionalização de
Professores no Brasil, sobretudo da Formação dos Professores para o Ensino
Religioso; A Pesquisa realizada na Escola Estadual Marlielle; A Investigação feita no
Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso. Seu objetivo geral consiste tanto
no estudo trico-documental referente ao Ensino Religioso e a formação de seus
professores no contexto brasileiro, quanto à realização de pesquisas que retratam a
realidade vivenciada pela disciplina, no âmbito do Sistema Estadual de Ensino de
Minas Gerais. A metodologia utilizada privilegia a pesquisa qualitativa, em
interlocução com a quantitativa, sendo usados como instrumentos: a análise
documental, a observação livre, a entrevista semi-estruturada e o questionário. Os
dados coletados são interpretados à luz da Alise dos Conteúdos. Os resultados da
pesquisa mostram que: o Ensino Religioso se desenvolveu, no País, como elemento
de doutrinação, ocultando uma dialética entre a secularização e a laicidade e
disputas entre o blico e o privado; O Ensino Religioso, mesmo sendo integrante
dos currículos das escolas estaduais, de Minas Gerais, está atrelado à hierarquia
religiosa que, em síntese, indica seus contdos, programas e práticas pedagógicas,
orienta e capacita seus professores. Apesar de certas conquistas do Ensino
Religioso, como área de conhecimento, principalmente após a promulgação da Lei
n. 9475/97, não foram resolvidos os problemas e as questões, sobretudo quanto à
formação/profissionalização dos seus professores; os gestores das políticas
estaduais, assim como os diretores das escolas e os 47ão dos seusu em
ABSTRACT
The object of this research is centered on the Religious Education. The chapters that are part
of this work are presented as follows: The Trajectory of the Religious Education since the
Period of the Colony until the Present, The History of Training/Profissionalization of
Teachers in Brazil, especially in the training for Religious Education Teachers; The
Research Done in the School Escola Estadual Marlielle; The Investigation done in
the Department of Religious Education. Its general objective consists both on the
theoretical-documentary study concerning the Religious Education and the training of
its teachers in the Brazilian context, and the execution of researches that depict the
reality experienced by the subject, in the ambit of the State System of Education of
Minas Gerais. The methodology used privileges the qualitative research, in dialogue
with the quantitative, using as instruments: the documentary analysis, the free
observation, the semi-structured interview and the questionnaire. The data collected
are interpreted under the Content Analysis. The results of the research show that: the
Religious Education developed in the country as an element of indoctrination, hiding
a dialect between the secularization and the laic, and disputes between the public
and private; The Religious Education, although being part of the curriculums of the
state schools of Minas Gerais, is connected to the religious hierarchy that,
summarizing, indicates its contents, programs and pedagogical practices, guides and
capacitates its teachers. Despite some achievements of the Religious Education as a
knowledge dominion, especially after the promulgation of the Law nº 9475/97, the
problems and matters were not solved, especially concerning the
training/profissionalization of its teachers: the managers of the state policies, as well
as the principals of the schools and the teachers of other subjects do not recognize
the meaning and the importance of the subject considered; the subject, several
times, is "useful" to complement the hourly load of teachers; the necessity of initial
and continuous training of teachers for this specific area and also the participation of
them in the Pedagogical Project of the school; the Religious Education model to be
privileged should consider the social-religious diversity and the differences of the
students.
Key-words: Public Policies for the Religious Education; Training of Teachers for the
Religious Education; Reality of the Religious Education in Minas Gerais in the context
of a public school.
LISTA DE ABREVIATURAS
Adm. Administrador
Art. Artigo
Ed. Edição
Org. Organizador
Orgs. Organizadores
PER- Professor de Ensino Religioso
PROF. Professor
LISTA DE GFICOS
GRÁFICO 1 Resultado da EE Marlielle ....................................................................... 210
GRÁFICO 2 Como os alunos consideraram as aulas em 2005 ................................... 211
GRÁFICO 3 Disciplina em que os alunos mais aprenderam ....................................... 212
GRÁFICO 4 Tipo de aula que os alunos mais gostaram em 2005 .............................. 213
GRÁFICO 5 Tempo de experiência ............................................................................. 266
GRÁFICO 6 Jornada de Trabalho ............................................................................... 267
GRÁFICO 7 Hábito de leitura ...................................................................................... 268
GRÁFICO 8 Uso do computador ................................................................................. 269
GRÁFICO 9 Local de uso do equipamento.................................................................. 270
GRÁFICO 10 Motivos que levaram a ser docente do Ensino Religioso ...................... 273
GRÁFICO 11 Carga horária......................................................................................... 284
GRÁFICO 12 Cursos de Graduação dos Docentes ..................................................... 286
GRÁFICO 13 Cursos de Pós-Graduação dos Docentes ............................................. 287
GRÁFICO 14 Participação no Fórum Nacional de Ensino Religioso ........................... 292
GRÁFICO 15 Situação do docente de Ensino Religioso ............................................ 300
GRÁFICO 16 Problemas da prática docente do Ensino Religioso ............................. 301
GRÁFICO 17 Técnicas, Recursos e Atividades desenvolvidas pelos docentes ......... 313
LISTAS DE QUADROS
QUADRO 1: Cursos de Graduação dos Docentes ...................................................... 286
QUADRO 2: Cursos de Pós-Graduação dos Docentes ............................................... 287
QUADRO 3: Situação do docente de Ensino Religioso ............................................... 302
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Resultado da EE Marlielle .......................................................................... 210
TABELA 2 Como os alunos consideraram as aulas em 2005 ..................................... 211
TABELA 3 Disciplina em que os alunos mais aprenderam .......................................... 212
TABELA 4 Tempo de experiência dos docentes ......................................................... 266
TABELA 5 Jornada de Trabalho dos docentes ............................................................ 267
TABELA 6 Hábito de leitura ......................................................................................... 268
TABELA 7 Uso do computador .................................................................................... 269
TABELA 8 Local de uso do equipamento .................................................................... 270
TABELA 9 Motivos que levaram a ser docente do Ensino Religioso ........................... 273
TABELA 10 Carga horária ........................................................................................... 284
TABELA 11 Participação no Fórum Nacional de Ensino Religioso .............................. 292
TABELA 12 Situação do docente de Ensino Religioso ................................................ 300
TABELA 13 Técnicas, Recursos e Atividades desenvolvidas pelos docentes............ 314
LISTAS DE SIGLAS
ABE- Associação Brasileira de Educação
ABESC- Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas
ACB- Ação Católica no Brasil
AEC- Associação de Educação Católica
AEC- Associação de Escolas Católicas do Brasil
AID- Agency for International Development
ANDE- Associação Nacional de Educação
ANFOPE- Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação
ANPAE- Associação Nacional de Profissionais de Administração da Educação
ANPED- Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação
ASSINTEC- Associação Interconfessional de Educação de Curitiba - PR
CALADEC- Conferência Latina Americana de Educação Cristã
CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEDES- Centro de Estudos Educação e Sociedade
CEP- Controle Estastico do Processo
CFE- Conselho Federal de Educação
CGT- Confederação Geral dos Trabalhadores
CIER- Conselho de Igrejas para Educação Religiosa
CIER- Conselho de Igrejas para Educação Religiosa
CNBB- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNEC- Campanha Nacional de Escolas da Comunidade
CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienfico e Tecnológico
CONER- Conselho Nacional de Ensino Religioso
CONIC- Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
CONSED- Conselho dos Secretários de Educação
CPB- Confederação dos Professores do Brasil
CQT- Controle de Qualidade Total
CRB- Conferência dos Religiosos do Brasil
CUT- Central Única dos Trabalhadores
DAER- Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso
ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio
ENER- Encontros Nacionais de Ensino Religioso
ERE- Ensino Religioso Escolar
FASUBRA- Federação das Associações dos Servidores das Universidades
Brasileiras
FCO- Fundação Christiano Otonni
FDG: Fundação de Desenvolvimento Gerencial
FENEN- Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino Particulares
FENOE- Federação Nacional de Orientadores Educacionais
FMI- Fundo Monetário Internacional
FONAPER- Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso
FUNDEF- Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental.
GPER- Grupo de Pesquisa Educação e Religião
GRECAT- Grupo de Reflexão Nacional de Catequese
GRERE: Grupo de Reflexão sobre o Ensino Religioso Escolar.
INEP- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB- Leis de Diretrizes e Bases da Educação
LEC- Liga do Eleitorado Católico
MEB- Movimento de Educação de Base
MEC- Secretaria de Educação Superior
OAB- Ordem dos Advogados do Brasil
PCNER- Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso
PCNs- Parâmetros Curriculares Nacionais
PPP- Projeto Político Pedagógico
PROINFO- Programa Nacional de Informática na Educação
PSDB- Partido da Social Democracia Brasileira
SAEB: Sistema de Avaliação da Educação Básica
SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SEAF- Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas
SESU/MEC- Secretaria de Educação Superior do MEC
TREMG- Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais
UBES- União Brasileira de Estudantes Secundaristas
UCB- Universidade Católica de Brasília
UNE- União Nacional dos Estudantes
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 17
1.1 Caracterizão da Pesquisa ................................................................................. 17
1.1.1 Definição do Tema ................................................................................................ 17
1.1.2 Objetivo Geral ....................................................................................................... 20
1.1.3 Objetivos Específicos............................................................................................ 20
1.1.4 Problematizações ................................................................................................ 21
1.2 Metodologia ........................................................................................................... 21
2 O ENSINO RELIGIOSO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA................... 28
2.1 Revio Histórica ................................................................................................... 28
2.1.1 Do Período Colonial ao Imrio ............................................................................ 28
2.1.2 Período da República ........................................................................................... 42
2.1.3 O Estado Novo ..................................................................................................... 60
2.1.4 A República Populista ........................................................................................... 64
2.1.5 A Ditadura Militar .................................................................................................. 77
2.1.6 O advento da Nova Reblica: outras perspectivas a partir de 1985 ................... 90
2.2 O Ensino Religioso no Campo Escolar .............................................................. 105
3 FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DE PROFESSORES .............................. 115
3.1 Formação/Profissionalização de professores no Brasil: um breve relato
histórico...................................................................................................................... 115
3.2 Formação/Profissionalizão de Docentes para o Ensino Religioso ............. 155
4 A PESQUISA REALIZADA: DADOS COLETADOS............................................... 176
4.1 O Rosto da Instituição Pesquisada ................................................................ 176
4.2 Organização e Funcionamento Administrativo-pedagógico da Escola
Marlielle ...................................................................................................................... 187
4.2.1 Acompanhamento pedagógico ........................................................................... 187
4.2.2 Quanto ao Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Marlielle ................ 190
4.2.3 Condições de trabalho do docente ofertadas pelo Estado e pela escola ........... 194
4.2.4 Trabalho interdisciplinar ...................................................................................... 197
4.2.5 Formação em Serviço ......................................................................................... 200
4.2.6 Quanto à finalidade da escola e perfil dos alunos .............................................. 203
4.2.7 Produtividade Escolar ......................................................................................... 209
4.2.8 Desempenho dos alunos .................................................................................... 214
4.3 O Ensino Religioso nas ries finais do Ensino Fundamental da Escola
Estadual Marlielle: dados coletados pela pesquisa ............................................... 217
4.3.1 Múltiplos olhares sobre o Ensino Religioso: as falas de professores e
profissionais da Escola Estadual Marlielle ................................................................... 220
4.3.1.1 A inclusão do Ensino Religioso no contexto da Escola Pública ....................... 221
4.3.1.2 Profissionalização/ formação dos professores do Ensino Religioso ................ 229
4.3.1.3 Concepção de Ensino Religioso ...................................................................... 234
4.3.2.4 Contribuição do Ensino Religioso para formação do discente ......................... 244
4.4 Depoimentos dos professores de Ensino Religioso da Escola Marlielle ....... 246
4.4.1 Razões da escolha pelo magistério do Ensino Religioso.................................... 246
4.4.2 Formação do professor de Ensino Religioso ...................................................... 247
4.4.3 Saberes/experiências ......................................................................................... 249
4.4.4 O Sentir do docente de Ensino Religioso ........................................................... 250
4.4.5 Pré-requisitos que devem fundamentar a prática do docente do Ensino
Religioso ...................................................................................................................... 252
4.4.6 Procedimentos diticos e o tratamento dos conteúdos..................................... 253
4.4.7 As Dimensões da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, da ética e do
fenômeno religioso, no contexto da sala de aula ......................................................... 255
4.4.8 Avaliação no Ensino Religioso ............................................................................ 259
4.4.9 Importância do Ensino religioso para a formação dos alunos ............................. 260
5 O DEPARTAMENTO ARQUIDIOCESANO DE ENSINO RELIGIOSO: UMA VISÃO
MAIS AMPLA SOBRE A DISCIPLINA........................................................................ 261
5.1 Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso: caracterizão,
atribuições e competências ...................................................................................... 261
5.2 A Pesquisa Realizada .......................................................................................... 265
5.2.1 O Perfil dos Professores ..................................................................................... 265
5.2.2 As Percepções dos Professores: suas falas nas entrevistas .............................. 270
5.2.2.1 Razões da escolha pelo magistério do Ensino Religioso ................................. 271
5.2.2.2 Formação do professor de Ensino Religioso ................................................... 274
5.2.2.3 Saberes/experiências ...................................................................................... 279
5.2.2.4 O Sentir do docente de Ensino Religioso ........................................................ 282
5.3.2.5 Tipo de Ensino Religioso ................................................................................. 302
5.3.2.6 As percepções dos outros profissionais e professores sobre o Ensino
Religioso ...................................................................................................................... 304
5.3.2.7 Pré-requisitos que devem fundamentar a prática do docente do Ensino
Religioso ...................................................................................................................... 307
5.3.2.8 Procedimentos diticos e o tratamento dado aos conteúdos ......................... 311
5.3.2.9 As Dimensões da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, da ética e do
fenômeno religioso, no contexto da sala de aula. ........................................................ 319
5.3.2.10 Avaliação no Ensino Religioso ....................................................................... 322
5.3.2.11 Importância do Ensino Religioso para a Formação dos Alunos ..................... 324
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 328
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 334
APÊNDICE.....................................................................................................................356
APÊNDICE A: Ações significativas realizadas na prática docente ....................... 357
APÊNDICE B: pontos imprescindíveis para o magistério do Ensino Religioso .. 359
Apêndice C: DADOS SOBRE O TIPO DE ENSINO RELIGIOSO .............................. 360
APÊNDICE D: GRÁFICOS DE PERFIL DOS PROFESSORES DE ENSINO
RELIGIOSO ................................................................................................................. 364
Apêndice E: ROTEIRO DE ENTREVISTAS ............................................................... 367
APÊNDICE f: Roteiro DE Entrevistas ...................................................................... 369
APÊNDICE G: Roteiro DE Entrevistas..................................................................... 371
APÊNDICE H: MODELO DE QUESTIONÁRIO - APOIO PARA A PESQUISA ......... 372
ANEXOS...................................................................................................................... 379
ANEXO A: QUADRO DE CURRÍCULO DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM
ENSINO RELIGIOSO, FORMULADO PELO FONAPER ............................................ 380
ANEXO B: QUADRO DE RELAÇÃO DE CURSOS DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES PARA O ENSINO RELIGIOSO ....................................................... 382
17
1 INTRODUÇÃO
1.
.
18
Enfatizamos que a análise comparativa entre as duas pesquisas realizadas,
evidenciou uma grande similaridade nos dados coletados por elas.
Os motivos, que levaram à escolha da temática pesquisada, nasceram da
experiência como profissional da disciplina em pauta. Ao longo de nossa própria
história, pudemos perceber o quanto ser professora de Ensino Religioso exige uma
construção diária.
Constituir-se como profissional dessa área de conhecimento, sem se ter um
reconhecimento por parte dos gestores das políticas blicas e mesmo dos diretores
de muitas escolas, exige uma revisão constante da própria identidade como pessoa
e como educadora. Este fato tem sido constatado por muitos professores e,
particularmente, por s e por um grupo de professores, ligados a uma escola
pública do Estado do Espírito Santo. Acontece que esses professores e eu fizemos
concurso, fomos classificados, nos submetemos aos exames, providenciamos os
documentos necessários para sermos efetivados no Estado.
Entretanto, no dia da assinatura de nossa investidura na profissão, fomos
comunicados de que estávamos impossibilitados de assumir o cargo como
professores de Ensino Religioso, pelo fato de não termos um curso específico,
dentro da área. Contudo, paradoxalmente, logo depois, fomos chamados para
assinar um contrato temporário. Diante do exposto, questionamos o significado
dessa trama: assumir o cargo não poderíamos, mas para um contrato temporário
éramos considerados habilitados. Como a Secretaria de Educação podia exigir,
como critério de investidura, a conclusão licenciatura em Ensino Religioso, se no
Estado o havia a oferta desse curso? Que interesses estavam por trás dessa
posição? Que aparelho ideológico perpassava essa decisão?
O que ocorreu conosco o se constitui como um fato isolado no Estado do
Espírito Santo. A falta de uma política efetiva, relacionada à formação e à
profissionalização de professores de Ensino Religioso, no âmbito dos Estados, faz
com que, no Brasil, se continue, segundo FONAPER,
[...] a conviver com uma das mais extensas crises éticas, estendendo-se à
ética profissional; como é o caso de grande mero de profissionais da
educação a serviço do Ensino Religioso sem alternativas para a garantia de
seus direitos individuais e sociais, notadamente em muitas unidades da
Federação.
19
Não perdemos de vista que se trata também de um dado cultural, que é
verificado quando se levanta a origem ou proveniência do Ensino Religioso
instalada no Brasil, nos sucessivos períodos da história da educação e da
formação cultural do povo brasileiro (FONAPER, 2004, p. 12).
Meus colegas e eu recorremos, através de uma ação judicial, no ano de 2002,
mas não conseguimos levar a causa para frente, porque os advogados, que
procuramos, tiveram dificuldade em transitar, de forma efetiva, na complexidade da
legislação vigente na época, a respeito do Ensino Religioso, nos âmbitos estadual,
municipal e federal, o que dificultou, sobremaneira, seus trabalhos.
Sentimos que a falta de uma política efetiva de formação e profissionalização
de professores para o Ensino Religioso, em nívTj0.048 Tc (pa) Tj-0.Tj0.04810.192 Tc (e) Tj-43o i
20
Ampliar a reflexão em torno desse objeto de estudo passa pelo desejo de ver
os profissionais do Ensino Religioso assumindo a docência por seus próprios
méritos, pela sua competência técnico-pedagógica e não, simplesmente, através da
indicação por parte de autoridade religiosa ou para complementar carga horária de
docentes de diferentes disciplinas. Faz-se urgente, neste contexto, preparar
especialistasestudiosos/pesquisadores do fenômeno religioso em suas constantes
e em sua diversidade de manifestações culturais, além de um mediador deste saber
no conjunto de saberes/ciências de que se compõe o currículo escolar
(MENEGHETTI, 2002, p. 52).
1.1.2 Objetivo Geral
Analisar a trajetória do Ensino Religioso e a Formação de seus professores,
considerando-se o contexto atual e os documentos normativos, formulados para
esses campos do conhecimento, destacando-se o papel social dessa formação na
vida dos profissionais e os saberes a ela inerentes.
1.1.3 Objetivos Específicos
- Historicizar a trajetória do Ensino Religioso, no Brasil, desde seus primórdios
até a atualidade, dando ênfase a sua contextualização e seus aspectos normativos.
- Descrever, de forma sucinta, uma retrospectiva histórica da
formação/profissionalização de professores no Brasil.
- Explicitar a capacitação de professores para o Ensino Religioso,
identificando seus retrocessos e avanços.
- Relatar os dados coletados pela pesquisa, realizada nas séries finais do
Ensino Fundamental de uma escola estadual.
- Verificar o papel do Departamento Arquidiocesano do Ensino Religioso, no
que tange a capacitação de professores para o Ensino Religioso.
21
- Relatar a pesquisa realizada com professores de Ensino
Religioso,vinculados às diversas instituições estaduais de Belo Horizonte.
1.1.4 Problematizações
- Como o Ensino Religioso é considerado nos documentos normativos e no
contexto atual?
- Como se desenvolve a formação dos professores no contexto da educação
brasileira?
- A formação de docentes para o Ensino Religioso tem conseguido prepará-
los para o exercício da sua profissão, considerando a multiplicidade de dimensões,
advindas do contexto social, antropológico e religioso dos alunos?
1.2 Metodologia
Para que a pesquisa se desenvolvesse da melhor forma possível, tornou-se
necessário adotar estratégias metodológicas que orientassemo caminho do
pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade (MINAYO, 2000, p.
16).
Segundo essa autora, a pesquisa é:
[...] a atividade sica da Ciência na sua indagação e construção da
realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza
frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática trica, a
pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser
intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um
problema da vida prática. As questões de investigação estão, portanto,
relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São
frutos de determinada inseão no real, nele encontrando suas razões e
seus objetivos (MINAYO, 2000, p. 17-18).
Assim, para a realização desta investigação optou-se por trabalhar,
sobretudo, com a pesquisa qualitativa, devido ao fato de ela apreender, melhor, a
22
multiplicidade de sentidos, presente no campo educacional. Além disso, esse tipo de
pesquisa ajuda na compreensão de mundo dos sujeitos e entende os femenos,
segundo as perspectivas dos participantes, colaborando para situar a interpretação
dos fenômenos estudados.
O objetivo de um estudo qualitativo é o de traduzir e expressar o sentido dos
fenômenos do mundo social, reduzindo a distância entre indicador e indicado, entre
teoria e dados, entre contexto e ação (NEVES, 1996, p. 01). Para que isso ocorra, o
pesquisador precisa visualizar o contexto, se inserindo nele.
De acordo com Bogdan e Biklen
[...] Os investigadores qualitativos freqüentam os locais de estudo porque se
preocupam com o contexto. Entendem que as ações podem ser mais bem
compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de
ocorrência. Os locais têm de ser entendidos no contexto da história das
instituições a que pertencem (BOGDAN; BIKLEN 1994, p. 48).
No âmbito da pesquisa qualitativa, optou-se pela realização de um Estudo de
Caso que viabilizou apreender as diversas facetas que envolvem a questão
investigada.
Segundo Bogdan e Bilklen (1994, p. 89),o Estudo de Caso consiste na
observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de
documentos ou de um acontecimento específico”. O Estudo de Caso, segundo
Ludke e André (1986, p. 17), “é o estudo de um caso, que seja simples e específico.
Para essas autoras, os Estudos de Caso se caracterizam pela descoberta; pela
interpretação em contexto; pela percepção da realidade de forma completa e
profunda; pela variedade de fontes de informação; pela experiência vicária e
generalização naturalística; pela representação dos diferentes e conflitantes pontos
de vista, presentes numa situação social; pela linguagem e forma mais acessível do
que a usada por outros tipos de pesquisa.
Assim, o Estudo de Caso, que se efetivou, colaborou para a interpretação da
realidade, revelando a multiplicidade de dimensões, presentes no cenário
pesquisado.
Foram estes os instrumentos utilizados para perceber e interpretar os
significados e os sentidos do objeto pesquisado: pesquisa bibliográfica, análise
documental, entrevista semi-estruturada e observação livre. A intenção de
23
compreender um fenômeno complexo é um elemento que torna propício o emprego
de métodos qualitativos. De acordo com Neves,
[...] Compreender e interpretar fenômenos, a partir de seus significados e
contextos são tarefas sempre presentes na produção de conhecimento, o
que contribui para que percebamos vantagens no emprego de métodos que
auxiliam a ter uma visão mais abrangente dos problemas, supõem contato
direto com o objeto de análise e fornecem um enfoque diferenciado para a
compreensão da realidade (NEVES, 1996, p.5).
A análise documental, na concepção de Neves (1996. p. 03),
é constituída pelo exame de materiais que ainda não receberam um
tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados com vistas a uma
interpretação nova, complementar ou de onde se pode retirar evidências
que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador.
Ela foi importante neste trabalho, pois ajudou a construir os dados históricos,
referentes ao desenvolvimento do Ensino Religioso e à formação de seus
professores, como também se efetivou na realização das pesquisas feitas.
A pesquisa bibliográfica, segundo Pretti (1995, p 9),é conduzida,
principalmente, através do uso de materiais escritos. Seu objetivo é conhecer e
analisar as principais contribuições tricas, existentes sobre um determinado
assunto, tema ou problema. Esse instrumento proporcionou uma consistência
trica a este trabalho
De acordo com as pesquisadoras Ludke e André (1986, p. 33), aentrevista e
a observação ocupam um lugar privilegiado nas novas abordagens da pesquisa
educacional. O contato pessoal, através da observação do pesquisador, com o
fenômeno pesquisado é o melhor teste de verificação da ocorrência de um
determinado femeno, permitindo chegar mais perto da perspectiva dos sujeitos e
do significado que eles atribuem à realidade que os cerca, ajudando a descobrir
aspectos novos de um problema.
A entrevista tem algumas vantagens sobre outras técnicas, pois
[...] ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada,
praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados
tópicos. Uma entrevista bem feita pode permitir o tratamento de assuntos de
natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de natureza
complexa e de escolhas nitidamente individuais (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p.
35).
24
Desse modo, o pesquisador deve fazer o maior esforço possível, para
formular perguntas que: favoreçam o discurso dos sujeitos entrevistados; que
respondam com exatidão àquilo que o pesquisador está investigando; que levem o
entrevistado a responder o que acha e não o que o entrevistador tem em mente.
Fez-se a opção em trabalhar com a entrevista semi-estruturada por não exigir
uma ordem rígida de questões, possibilitar aos sujeitos uma maior fluidez ao
discorrer sobre o tema e oferecer amplo campo de interrogações que pode ser fruto
de novas hipóteses.
Para a realização das entrevistas
2
, elaborou-se, previamente um roteiro que
serviu como um referencial aberto, buscando respeitar o conteúdo das falas dos
sujeitos entrevistados. Foram realizadas dezesseis entrevistas com os professores
da instituição, responsáveis pelo magistério de disciplinas, relativas às diferentes
áreas do conhecimento, duas entrevistas foram feitas com profissionais do setor
administrativo e duas foram realizadas com os docentes de Ensino Religioso.
Os dezesseis professores das diferentes áreas do conhecimento foram
selecionados a partir de suas disponibilidades e os dois profissionais do setor
administrativo foram escolhidos pelo fato de conhecerem a história da instituição.
Para aos dois professores de Ensino Religioso, não houve opção, pois apenas eles
trabalhavam com a disciplina, na escola pesquisada.
As entrevistas tornaram-se fundamentais no levantamento de dados,
viabilizando uma melhor compreensão da temática estudada.
No que tange à análise e à interpretação dos dados, foi utilizada a
denominada Análise dos Conteúdos, pois, através dela, segundo Gomes;
[...] podemos encontrar respostas para as questões formuladas e tamm
podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho
de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do
que está por trás dos contdos manifestos, indo além das aparências do
que está sendo comunicado. As duas funções podem, na prática, se
complementar e podem ser aplicadas a partir de princípios da pesquisa
quantitativa ou da qualitativa (GOMES, 2000, p. 74).
Assim, a partir dasfalas dos sujeitos entrevistados, identificou-se um
conjunto de categorias. Essa atividade significa agrupar elementos, iias ou
expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso (GOMES, 2000,
2
O modelo do roteiro da entrevista encontra-se na seção referente aos “ANEXOS” deste trabalho.
25
p. 70).
Dessa maneira, as categorias foram estabelecidas, a partir da classificação
dos dados coletados nas entrevistas. Algumas categorias exigiram subdivisões,
devido às especificidades dos temas. Fazer uma análise temática, segundo Bardin,
[...] consiste em descobrir os cleos de sentido que compõem a
comunicação e cuja presença, ou freqüência de aparição podem significar
alguma coisa para o objectivo analítico escolhido. [...] O tema é geralmente
utilizado como unidade de registro para estudar motivações de opiniões, de
atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc. As respostas a
questões abertas, as entrevistas (não directivas ou mais estruturadas)
individuais ou de grupo, de inquérito ou de psicoterapia, os protocolos de
testes, as reuniões de grupos, os psicodramas, as comunicações de massa,
etc., podem ser, e são frequentemente, analisados tendo o tema por base
(BARDIN, 1995, p. 105-106).
Nessa divisão temática, os objetivos foram descobrir ideologias, tendências e
outras determinações, expressas nas falas dos entrevistados e estabelecer
articulações entre os dados e os referenciais tricos da pesquisa.
A análise categorial, segundo Bardin,
[...] pretende tomar em consideração a totalidade de um texto, passando-o
pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a freqüência de
presença (ou ausência) de itens de sentido. [...] É o método das categorias,
escies de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação
dos elementos de significação constitutivas, da mensagem (BARDIN, 1995,
p. 36-37).
Tanto na pesquisa feita na escola, quanto na realizada no Departamento
Arquidiocesano de Ensino Religioso, foram identificadas as categorias e efetivado
um trabalho de interlocução da teoria, com a empiria, que demandou um
considerável esforço.
Segundo Gomes,
[...] Nem sempre a tarefa de formular categorias a partir dos dados
coletados é simples. Às vezes, essa tarefa pode se transformasarmm2 Tc (do) Tj0
26
Embora a opção tenha sido feita pela pesquisa qualitativa, na investigação
feita no Departamento Arquidiocesano foi aplicado um questionário. Como se sabe,
os métodos qualitativos e quantitativos não se excluem. Autoras como Ludke e
André (1986) defendem a iia da combinação de técnicas quantitativas e
qualitativas, como possibilidade de completar um conjunto de fatos, de enriquecer as
constatações e de validar as descobertas.
Essa combinação de métodos quantitativos e qualitativos é chamada de
triangulação. Segundo Neves (1996, p. 2),a triangulação pode estabelecer
ligações entre descobertas obtidas por diferentes fontes, ilustrá-las e tor-las mais
compreensíveis, pode, também, conduzir a paradoxos, dando nova direção aos
problemas a serem pesquisados.
O questionário
3
foi aplicado em vinte e quatro sujeitos, vinculados a diferentes
instituições da Região Metropolitana de Belo Horizonte, e em dois docentes que
pertencem ao quadro da escola pesquisada. Esses docentes se encontravam
fazendo um curso de capacitação no referido Departamento e foram convidados a
participar da pesquisa.
A aplicação desse instrumento teve em vista:
- ampliar a visão sobre o saber que fundamenta o trabalho do docente de
Ensino Religioso, nos campos da teoria/prática;
- apreender os sentidos de sua formação/profissionalização;
- traçar o perfil do professor de Ensino Religioso.
Os dados, coletados pelo Questionário, contribuíram para o aprofundamento
e para a análise do que foi explicitado nas entrevistas
4
realizadas, ampliando a
interpretação e a compreensão dos materiais obtidos.
Tendo em vista o grande mero de dados, coletados pela pesquisa, optou-
se por não apresentá-los, integralmente, no corpo do texto. Assim, alguns dados
encontram-se disponíveis na parte referente aos Apêndices e Anexos.
Para se viabilizar uma adequada compreensão didática, esta Dissertação está
dividida em capítulos que mantêm, entre si, grande interlocução.
O Capítulo 1, que consiste na Introdução, está subdividido em duas partes:
Caracterização da pesquisa e Metodologia utilizada.
3
O modelo do questionário encontra-se na seção “APÊNDICES”.
4
O modelo da entrevista encontra-se na seção “APÊNDICES”.
27
O Capítulo 2, intitulado O Ensino Religioso na História da Educação
Brasileira, também está subdividido. A primeira parte, denominada Revisão
Histórica, apresenta a trajetória do Ensino Religioso, desde o período Colonial até a
atualidade e a segunda parte, intitulada O Ensino Religioso no Campo Escolar”,
evidencia, de forma sucinta, uma visão sobre o Ensino Religioso na área da
educação.
O Capítulo 3 é denominado Formação e Profissionalização de Professores.
Na sua primeira parte, intitulada Formação/Profissionalização de Professores no
Brasil um breve relato histórico, procedeu-se a uma sucinta retrospectiva dessa
temática. A segunda parte, Formação/Profissionalização de Docentes para o Ensino
Religioso, explicita os avanços e os recuos no campo específico desse objeto.
O Capítulo 4, intitulado A Pesquisa Realizada na Escola Estadual, enfoca,
inicialmente, a caracterização da instituição pesquisada, através de uma breve
genealogia e se organiza da seguinte forma: O Rosto da Instituição Pesquisada;
Organização e Funcionamento Administrativo-pedagico da Escola Marlielle e O
Ensino Religioso nas Séries Finais do Ensino Fundamental da Escola Estadual
Marlielle. Esta última parte está dividida em: Múltiplos Olhares sobre o Ensino
Religioso: as falas de professores e profissionais da Escola Estadual Marlielle e
Depoimentos dos Professores de Ensino Religioso da Escola Marlielle nos quais
são explicitados os dados, coletados pela entrevista.
O capítulo 5 é cognominado O Departamento Arquidiocesano de Ensino
Religioso: uma visão mais ampla da disciplina. Este capítulo contempla quatro
partes: O Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso: caracterização,
atribuições e competências; A Pesquisa Realizada, O Perfil dos Professores, As
Percepções dos Professores: suas falas nas entrevistas.
Finalmente, são apresentadas algumas Considerações Finais.
28
2 O ENSINO RELIGIOSO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
2.1 Revio Histórica
2.1.1 Do Período Colonial ao Imrio
O Ensino Religioso, no âmbito da escola brasileira, insere-se na trajetória
histórica da educação e se processa, sobretudo, através das relações, estabelecidas
entre o Estado e a Igreja Católica.
Nos três primeiros séculos da história do Brasil, a união entre Igreja e Estado
caracterizava-se pelo regime do Padroado, acordo celebrado entre o monarca de
Portugal e o Sumo Pontífice, no qual estavam confirmadas prerrogativas concedidas
ao rei, tendo em vista a propagação da fé católica.
Através da união entre Imrio e Igreja e sob o regime em vigor, o do
Padroado, Imrio e doutrina católica dão-se as mãos para promover uma ação
colonizadora no Brasil, marcada pela submissão e pela docilidade, sintonizadas e
favoráveis aos objetivos da metrópole, visando tanto à exploração da riqueza da
terra, quanto à pregação e à propagação do Evangelho. Nessa perspectiva,
defendia-se a idéia de que Deus, o rei e o senhor local agiam como um pai que
protege, resolve os problemas, ampara e impõe. Além disso, o monarca português,
considerado uma pessoa sagrada, pela unção divina, governava a Igreja nos seus
territórios, por delegação ponticia e indicava, pessoalmente, os eclesiásticos para
funções de liderança na Igreja.
Sobre esse poder do rei, comenta Azzi,
[...] não é exercido em virtude de nenhum direito humano, mas apenas pelo
privilégio da escolha divina. O monarca é o eleito de Deus; e por foa
dessa eleição gratuita, seu poder é humanamente incontestável. O poder
real é, assim, considerado como um dom, como uma graça divina. É pela
graça de Deus que o monarca ocupa sua posição de chefia política sobre o
povo.
[...] O fortalecimento do poder real era considerado imprescindível, na
medida em que a figura do monarca emergia como um verdadeiro baluarte
na defesa da unidade e da ortodoxia católica. Conseqüentemente, nos
29
primeiros séculos do período colonial, os eclesiásticos se destacam como
verdadeiros apologistas do poder real, e seus intransigentes defensores. Em
virtude do direito de padroado, a sacralidade do rei português se tornava
ainda mais consistente, em vista da delegação recebida por parte do
Pontífice Romano para implantar a fé nas novas terras descobertas. Por
essa razão, antes de viajar para o além-mar, os religiosos missionários iam
a Lisboa prestar ao monarca o juramento de fidelidade (AZZI, 1987, p.
39.40).
A vivência do Padroado garantia ao Imperador poderes muito amplos de
censura e de fiscalização sobre as decisões e atividades eclesiásticas. Até mesmo a
cobrança dos dízimos eclesiásticos era feita em nome do rei.
Deve-se enfatizar que a evangelização brasileira, realizada sob a égide do
Padroado, se processou de modo violento, sem considerar a cultura e as
especificidades dos povos africanos e indígenas.
[...] O caráter guerreiro do discurso evangelizador fez também com que os
missionários não tivessem interesse real em conhecer e respeitar a cultura
dos outros aos quais foram enviados: africanos e indígenas. [...] A Igreja
que evangelizou o Brasil foi uma Igreja em de guerra. Ora, a guerra
mobiliza as pessoas, para conquistar, dilatar, expandir, propagar. Na
guerra, o que importa é a disciplina: daí o caráter imposto e disciplirio de
toda a catequese durante o antigo sistema colonial, daí também o lugar
central ocupado pela doutrinação (HOORNARERT, 1992, p. 27).
Essa sociedade, que foi sendo configurada no Brasil, possibilitou, de início, a
expansão colonial e a formação da aristocracia rural. O povoamento da terra era
alvo do projeto colonial, apresentado como uma obra divina da política
mercantilista e ideológica, priorizada pelos conquistadores.
Esse desenvolvimento colonial era influenciado pelo contexto internacional. A
Europa passava por revoluções no âmbito do pensamento e da epistemologia e,
principalmente, sofria os desdobramentos da Reforma Protestante, que deu origem
ao nascimento de outras Igrejas Cristãs e, entre várias conseqüências, instaurou a
questão da intolerância religiosa. A Portugal e à Espanha foi atribuída a tarefa de
preservação dos princípios católicos, frente à expansão do protestantismo.
Assim, resgatou-se o modelo da Igreja católica,
[...] denominado “cristandade, que começava a sofrer abalos no continente
após desfrutar de uma hegemonia absoluta desde o século IV. Esse modelo
remontava ao período em que Constantino oferecera favores especiais à
Igreja e ao momento da oficialização do cristianismo como religião do
Estado romano nos tempos de Teodósio, nas últimas cadas do século IV.
30
Assim, a fé católica foi incorporada ao Estado, e o monarca passou a ser
considerado, a partir de então, protetor da Igreja (MOURA, 2000, p. 19).
Portanto, o princípio condicionador da evangelização foi o Padroado, que teve
suas raízes ligadas ao conceito mais amplo de cristandade. Fundamentalmente,
cristandade indica a utopia de construir uma sociedade integralmente cristã, ou
seja, a religião cristã deve penetrar todos os segmentos da vida tanto do cidadão
como da coletividade (MATOS, 2001, p. 97).
Através de tal modelo, a conquista e a catequese, na Colônia, foram
consideradas obras religiosas, devocionais, nas quais Igreja Católica e Estado se
tornaram parceiros. A religião, na maioria das vezes, era utilizada para interesses
políticos e econômicos, prejudicando, assim, o projeto de evangelização e
cerceando a liberdade da Igreja e de seus representantes no anúncio do Reino de
Deus e na sua dimensão profética. Não é de estranhar que, em semelhante
situação, a Igreja fosse instrumentalizada em função do projeto imperial português.
O início da obra evangelizadora e educacional, no Brasil, se deu com a
chegada de seis jovens jesuítas que desembarcaram com Tomé de Souza, o
primeiro governador-geral, em 27 de março de 1549, na Bahia. Pe. Manoel da
Nóbrega foi o superior dessa primeira comunidade da Companhia de Jesus. A
finalidade principal da obra missionária dos inacianos, na colônia, foi restabelecer os
bons costumes entre os que já eram cristãos, converter os gentios à fé católica e
fazê-los obedientes às autoridades civis.
Segundo Saviani,
[...] Chegando à colônia brasileira os primeiros Jesuítas cumpriram mandato
do Rei de Portugal, D. João III, que formulara, nos Regimentos, aquilo que
poderia ser considerado a nossa primeira política educacional. O ensino
jesuíta então implantado, já que contava com incentivo e subsídio da coroa
portuguesa, constitui a nossa versão da educação pública religiosa. Essa
situação se consolidou com o estatuto da redízima instituída em 1564 (Cf.
MATTOS, 1958, p. 275) mediante a qual um cimo da receita, obtida pela
coroa portuguesa, na colônia, se instalou no país, primeiro na versão do
plano de Nóbrega, que eu chamaria de pedagogia brasileira, pois
procurava se adequar às condições específicas da colônia, e depois, na
versão do Ratio Studiorum”
5
cujos cânones foram adotados por todos os
colégios jesuítas no mundo inteiro (SAVIANI, 2005, p. 30 - 31).
5
Ratio significa ‘plano’, ‘ordem, regra’, razão’, etc.; Studiorum significa estudos. Ratio Estudiorum
pode ser traduzido por Ordem e Maneiras dos Estudos. Publicado em 1599, associava-se à ‘política
católica’ portuguesa como um conjunto de normas, que definiam saberes a serem ensinados e
condutas a serem inculcadas, e um conjunto de práticas que permitiam a transmissão desses saberes
e a incorporação de comportamentos, normas e práticas (HANSEN, 2000, p.13).
31
A partir de 1550, com a criação das primeiras escolas jesuíticas, o Ensino
Religioso começou a despontar no cenário da educação brasileira. Os Jesuítas
fundaram as Escolas de Meninos para os gentios, nas quais estudavam, também, os
órfãos trazidos de Lisboa e os filhos de índios e mamelucos, que sabiam a língua da
terra, sendo que estes últimos eram preparados para a catequese. Ali aprendiam
boas maneiras, primeiras letras e, às vezes, recebiam fundamentos de
humanidades.
Os colégios, criados pelos inacianos, possuíam objetivo essencialmente
religioso, de conteúdo literário e de método escolástico, oferecidos aos filhos das
famílias portuguesas e, mais tarde, aos clérigos, numa educação clássica,
humanística, acadêmica e abstrata.
Essas instituições ofereciam o curso elementar, no qual se ensinava a ler,
escrever e contar. Posteriormente, era ofertado o curso de gramática ou de
humanidades, predominando o Latim. Estimulava-se o aprendizado do tupi ou
língua geral. Terminado o curso de Letras, iniciava-se o de Artes, o de Física, de
Metasica e de Ética. Para os postulantes ao clero, foi introduzido o curso de
Teologia (duração de quatro anos), que se dividia em Teologia Moral e Teologia
Especulativa ou Dogmática. Assim, priorizando uma educação de cunho humanista,
os Jesuítas realizaram o trabalho de expansão da fé católica.
Ao longo do Período Colonial, pode-se constatar que a educação jesuítica foi
marcada por um caráter disciplinador, dando ênfase à catequese. As expressões
culturais e os valores religiosos, peculiares à cultura dos nativos e dos negros, foram
considerados, muitas vezes, como empecilhos à propagação da verdadeira fé.
Nessa perspectiva, a educação jesuítica, então instaurada, tinha como premissa
sica a adesão à cultura portuguesa e aos princípios do catolicismo.
Paiva (2000) esclarece o contexto escolar, então vivenciado:
[...] o colégio plasmava o estudante para desempenhar, no futuro, o papel
de vigilante cultural, de forma que a prática, mesmo desviante, pudesse ser
recuperada. O colégio era a adesão à cultura portuguesa. Lendo a
gramática do colégio, entenderemos a gramática da cultura. Sublinho aqui
as linhas-mestras do Ratio Studiorum, o código pedagógico dos jesuítas. A
destinação do homem e de todos os seus atos para Deus, compreensão
própria de uma sociedade teocêntrica, funda a visão pedagógica. A
religiosidade, pois, forma a esses atos. Em outras palavras, os atos são
compreendidos como função de um mundo religioso e expresso em
linguagem religiosa. O princípio estrutural é a autoridade hierarquizada
Deus como princípio e fim do que decorrem a centralização, a
32
uniformidade e a invariância. A disciplina se torna, aí, instrumento capital:
disciplina de costumes, disciplina acadêmica, disciplina ascética. [...] é
preciso treinar as pessoas a agir de acordo com o plano divino. O proposto
pela pedagogia jesuítica era a prática das virtudes, o amor das virtudes
sólidas (PAIVA. 2000, p 49-50).
Portanto, o Ensino Religioso na Colônia, compreendido e efetivado como
ensino da religião, privilegiava o contdo doutrinário como parte integrante do
currículo escolar, salvaguardando as verdades fundamentais da fé católica e,
conforme Severino,
[...] os princípios de uma ética individualista e social fundada na suprema
prioridade da pessoa sobre a sociedade. A qualidade moral dos indivíduos
repercutirá necessariamente sobre a qualidade moral da sociedade. Todo o
investimento da evangelização, em sentido estrito, como da educação, sob
inspiração cristã, se deu historicamente nesta linha. Foi por isso mesmo que
o Cristianismo e a Igreja conviveram pacificamente com situações sociais de
extrema opressão, com a escravidão, a exploração no trabalho etc. É como
se estas situações independessem da vontade do homem, bastando que as
consciências individuais se sentissem em paz, nada se podendo fazer
contra estas situações objetivas (SEVERINO, 1986, p. 71).
Por volta de 1750, Portugal começa a participar dos novos rumos culturais e
científicos, em curso na Europa, desde o século XVI. Com o movimento do
Renascimento, faz-se uma ruptura com o passado medieval e assiste-se ao início de
um irreversível processo de secularização da sociedade. Matos explica:
[...] essa tendência é refoada com o racionalismo do século XVIII,
conhecido na história como a época do iluminismo. Toda a atenção se volta
para o homem como indivíduo, e sua capacidade cognitiva é sumamente
valorizada. Desenvolve-se um espírito crítico aos tradicionais dogmas da
fé e às autoridades que os sustentam e defendem. Semelhantes correntes
manifestam-se fortemente na Inglaterra, onde verificamos também suas
primeiras aplicações práticas (a ‘Revolução Industrial), mas é na França
que vigoram com maior intensidade e recebem sua expressão filosófica
mais elaborada. A nota característica de seu conteúdo é o anseio por
liberdade em todos os setores da atividade humana. E isso em detrimento
da tradicional submissão religiosa e aceitação dos poderes estabelecidos...
Também no campo religioso essas iias têm sua ressonância, dando
origem ao deísmo (Deus existe, sim, mas se mantém à distância, e não
influi efetivamente no cotidiano dos homens e da natureza). Cresce um
indiferentismo ou até ceticismo em relação às formas religiosas
convencionais e particularmente à instituição eclesstica. A maçonaria,
surgida na Inglaterra em 1717, torna-se um instrumento eficaz na
divulgação da mentalidade racionalista (MATOS, 2001, p. 283-284).
Com o objetivo de modernizar o Estado português e tirá-lo do isolamento em
relação ás outras nações européias, o Marquês de Pombal (1750-1777), apoiado
33
pela burguesia urbana, revestida de seu novo potencial econômico, empreende uma
Reforma, reduzindo a influência da aristocracia rural e da hegemonia eclesiástica
que, em sua opinião, eram entraves ao progresso do País. O Estado, considerado
sacral, deveria ceder lugar a um Estado leigo, moderno e civil. Sob a influência de
Pombal, a Igreja, em todos os seus níveis, passou a ser mantida sob controle e
dominação do Estado. De acordo com Nery, Pombal objetivava
[...] introduzir a sociedade lusitana e brasileira na modernidade européia,
liderada pela Inglaterra. As bandeiras levantadas eram progresso e
ciência, trazendo consigo o modelo ideológico do racionalismo iluminista, a
maçonaria, as doutrinas galicanas, dos jansenistas 6 e as do liberalismo
político-religioso. A idade da razão emergia com foa, provocando uma
crise na idade da fé ou cristandade (NERY, 1993, p. 8).
Pombal considerava que os Jesuítas tinham um poderoso domínio sobre os
territórios lusos. O afastamento dos inacianos desse poder significaria, para ele, a
libertação do Estado, com possibilidade de instaurar uma ordem política moderna e
plenamente autônoma. Em vista disso, vários questionamentos foram feitos, até
chegar à expulsão oficial da Companhia de Jesus dos domínios portugueses, em
1759, sob a alegação de serem os inacianos traidores do Rei e dos seus Estados.
No período retratado, a pedagogia católica manteve sua hegemonia, que foi
pouco impactada, mesmo após a expulsão dos jesuítas em 1759 e os conseqüentes
reflexos da Reforma Pombalina, no Brasil, consubstanciados na instauração das
Aulas Régias
7
, que introduziram a primeira experiência de instrução blica
(SAVIANI, 2005).
Por ocasião de sua expulsão, esses religiosos mantinham quarenta e três
missões, localizadas nos pontos mais importantes do Brasil: escolas de ler e
escrever em quase todas as povoações e aldeias, por onde se espalhavam suas
residências, além dos estabelecimentos de ensino secundário, entre colégios e
6
Movimentos e doutrinas que compõem o quadro caracterizado como anti-romantismo universal.
Esses movimentos e doutrinas repercutiram na orientação filosófico-religiosa de vários países,
inclusive, no Brasil. Dentre eles: o Jansenismo, que pretende restaurar a disciplina eclesiástica
primitiva; o Galicanismo, que desde o século XVII havia submetido a Igreja ao Estado, pretende o
enfraquecimento dos poderes do papa. A autonomia dos bispos franceses, a nacionalização da Igreja
na França, o que concorreu para o fortalecimento do Regalismo (FIGUEIREDO, 1996, p. 21), ou seja,
fortalecimento do poder real, em detrimento da autoridade papal, visando assegurar ao monarca as
condições de realizar a modernização econômica do reino.
7
As Aulas Régias eram aulas avulsas das diversas disciplinas, anteriormente objeto
34
semirios. Todas essas obras foramentregues aos Franciscanos e Beneditinos
que, tamm, não tinham a simpatia do Governo pombalino, pois eram contrários às
novidades do movimento iluminista” (JUNQUEIRA, 2002a, p.21). Começava, assim,
uma nova orientação, igualmente católica, formulada por padres de outras ordens
religiosas, com destaque para os oratorianos
8
(SAVIANI, 2005, p. 31).
O historiador Laerte Ramos de Carvalho explicita que
[...] o objetivo da reforma pombalina nos estudos foi o de criar a escola útil
aos fins do Estado e nesse sentido, ao invés de ela preconizar uma política
de difusão interna e externa do trabalho escolar, o Marquês de Pombal
pretendia organizar uma escola que, antes de servir aos interesses da fé,
servisse aos imperativos da Coroa (CARVALHO, 1978, p 140).
Sobre a Reforma feita por Pombal, Junqueira (2002a) enfatiza que
[...] a reforma pombalina foi acompanhada pela mudança na filosofia da
educação por uma de caráter iluminista. A nova concepção foi caracterizada
por um cunho nacionalista, reformista e progressista, contudo não repudiou
o catolicismo. Na realidade, reimplantou a tradição humanista na área
pedagógica, com a valorização dos professores leigos, que passaram a ser
considerados exemplos para toda a sociedade (JUNQUEIRA, 2002a, p. 21).
O projeto pombalino se constituiu como um processo autoritário de
aculturação dos índios, através da imposição da língua portuguesa e da adoção de
costumes lusos. Somente depois da decretação do subsídio literário”
9
, em 1772, é
que as Aulas Régias, do ponto de vista quantitativo, atingiram a amplitude dos
tempos jesuíticos anteriores. Essas aulas só foram implantadas doze anos após a
expulsão dos inacianos e se constituíram, reitera-se, como a primeira experiência de
ensino blico no País. Foram criticadas, sobretudo, pelo seu caráter fragmentado,
pelo pouco investimento do Estado e pela continuidade do ensino jesuítico, em
termos da organização ditica e curricular (OLIVEIRA, 1993).
No Semirio Sacerdotal de Olinda (1800), através da ação de Dom José
Joaquim da Cunha de Azevedo Coutinho, bispo de Olinda, as reformas pombalinas
tiveram uma aplicação mais sintonizada com a realidade brasileira, através da
8
A pedagogia oratoriana, sistematizada por Verney, influenciou a reforma do ensino Luso e criou uma
nova metodologia para o ensino do Português e do Latim que, por ser mais simples e funcional,
atendia aos interesses da burguesia. OLIVEIRA, M. Auxiliadora Monteiro. O Ensino da Filosofia no
Grau da escola brasileira: um percurso histórico, até a realidade mineira dos anos 80. 1993. p.
34)
9
Subsídio literário era um imposto sobre a aguardente.
35
adoção de uma postura mais crítica diante da realidade da terra e de seu povo. O
roco deveria ser um homem totalmente aberto às novas perspectivas da cultura
moderna, imbuído das idéias filosóficas, racionalistas e cienficas, orientando o povo
para que pudesse trilhar os novos caminhos do progresso humano.
A proposta educacional de Azevedo Coutinho estava ligada ao
reconhecimento das riquezas naturais do reino, visando a sua futura exploração
econômica. Para tanto, era necessária a formação defilósofos naturalistas - os
cientistas da época - dispostos a se interiorizarem para que os recursos brasileiros
nos reinos mineral, da flora e da fauna fossem inventariados” (ALVES, 2000, p. 68).
Ele se preocupou em dar essa formação para os padres, já que eles deviam estar
onde se encontravam suas ovelhas e deveriam ser possuidores de conhecimentos
sobre o uso das plantas medicinais.
Para levar à prática as aspirações renovadoras de Azevedo Coutinho, o plano
de estudos do referido colégio-semirio pernambucano compreendia cinco
matérias, que se sucediam cronologicamente, na ordem seguinte: Gramática Latina
(visava à busca do entendimento, na apreensão da “razão das coisas, e à língua
latina, construída sobre a base da língua nacional), Retórica (utilizava os clássicos
latinos, valorizava as manifestações literárias da língua nacional, em especial a
poesia de Camões, incorporava a História e a Geografia), Filosofia (estudava
filosofia natural - Física experimental, desenvolvida ao lado da Lógica, da Metasica
e da Ética, e, no segundo ano, a Química), Geografia (abrangia conteúdos de
Aritmética, Trigonometria e Álgebra elementar) e Teologia (teorética ou especulativa,
seguida da Teologia prática ou moral).
A difusão dos princípios iluministas, no Brasil, acirrou a crise do sistema
colonial, nos meados do século XVIII, pois despertou um sentimento de
questionamento generalizado entre o povo, do qual alguns padres tornaram-se
porta-vozes, assumindo a bandeira dos direitos humanos e da busca pela
liberdade. Preconizava-se, através do clero liberal, uma desvinculação da Igreja dos
interesses políticos da Metrópole, fazendo-se uma crítica radical ao regime colonial.
Nesse período, cresceu no Brasil a consciência de sua submissão aos
interesses e necessidades da Metrópole, despontando a convião de que a
transformação da ordem social e política abriria novas perspectivas para a Colônia.
Com esse espírito, assiste-se à ocorrência de diversos movimentos nativistas (a
36
Inconfidência Mineira, de 1789 e a Revolução Pernambucana, de 1817), nos quais
participaram numerosos representantes do clero e dos religiosos, reforçando a idéia
de que a Colônia poderia ter um status bem diferente, podendo, inclusive, suplantar
a Metrópole no campo econômico e conquistar sua independência.
Do ponto de vista cultural e educacional, o Brasil encontrava-se numa posição
de marginalização. A escola blica estava completamente abandonada. Entre a
expulsão dos Jesuítas, em 1759, e a decretação do subsídio literário, em 1772,
para fomentar as denominadas Aulas Régias, houve negligência das autoridades
públicas com a educação colonial. Somente com a chegada da família Real
Portuguesa, em 1808, foi estimulada a organização de uma estrutura de educação
para a elite. Não era de interesse do Governo, então instaurado, estabelecer um
sistema nacional de ensino, que integrasse seus graus e modalidades e atendesse
às necessidades das classes menos favorecidas.
Algumas escolas superiores foram criadas, sendo regulamentadas as vias de
acesso aos cursos, especialmente por meio do ensino secunrio e dos exames de
ingresso aos estudos de nível superior. Mas verifica-se que, até às vésperas da
Independência, o atendimento oficial era feito para resolver as necessidades do
momento, sem qualquer plano diretor.
Com relação ao Ensino Religioso,
[...] continua sendo de caráter mais privativo, doméstico e de templos. O
clero sai fortalecido como funcionário do governo, mas se enfraquece como
hierarquia da Igreja. Acentua-se o fosso entre o catolicismo tradicional
popular luso-brasileiro, leigo, medieval, social, familiar e sincrético e o
catolicismo renovado, isto é, romano, clerical, tridentino, individual,
sacramental e aliado do poder (NERY, 1993, p. 9).
No ano de 1820, eclodiu em Portugal a Revolução constitucionalista e os
Constituintes exigiram a volta imediata do rei de Portugal, que estava em sua Corte,
no Brasil. Dom João VI deixou, no Brasil, seu filho Dom Pedro e partiu para Portugal,
em 25 de abril. Chegando à Metrópole, a Corte desejosa de fazer o Brasil voltar a
seu anterior status de colônia, fez com que ele ordenasse a Dom Pedro I ir para
Portugal, mas este reagiu às determinações, com o famoso Fico, rebelando-se
contra as ordens portuguesas.
A corte lisboeta, imediatamente, tentou substituir o Governo de Dom Pedro,
por outra regência, presidida pelo arcebispo da Bahia. Esse fato acabou precipitando
37
a independência do País, que se concretizou no dia 07 de setembro de 1822. Criou-
se, a partir de então, a Monarquia Constitucional, que se traduziu na implementação
do Imrio do Brasil (1822-1889). Contudo, o País continuava unido a Portugal,
tanto pelos laços com a família imperial Bragança, quanto pela herança cultural. A
Igreja Católica passou a se constituir como a depositária da religião oficial do
Estado.
Nessa época, como a escravio persistia, a população negra era muito
grande, iniciou-se, então, um movimento político, com a finalidade de promover o
branqueamento da raça brasileira, através da instalação paulatina de colônias de
imigrantes em algumas regiões do país.
Sob o comando do Imperador, prosseguiram as ações que objetivavam à
construção de uma nova nação. Em 1824, D. Pedro I outorgou a Primeira
Constituição Política do Imrio do Brasil. Essa lei maior recebeu influência liberal,
mas não se constituiu como democrática. Garantia direitos civis (de cidadania) aos
brasileiros brancos, mas não aos índios e escravos, e direitos políticos (de voto),
apenas aos brasileiros que tinham, no mínimo, renda de 100 mil réis anuais,
instituindo o denominado voto censitário.
Outro aspecto relevante, no texto dessa Constituição Imperial, está centrado
na confirmação e na legitimidade do poder da Igreja. O texto proclamava que Pedro I
era Imperador do Brasil por graça de Deus e unânime aclamação dos povos. No
capítulo sobre o Poder Executivo, o Art. 102 estabelecia as seguintes atribuições
para o Imperador:
[...] nomear bispos e prover os benecios eclessticos (inciso II) e
conceber, ou negar, o beneplácito aos decretos dos concílios e letras
apostólicas e quaesquer outras constituições eclesiásticas que se no
appozerem à Constituição; e procedendo approvação da Assembléia, se
contiverem disposição geral (Inciso XIV). (BRASIL, 1824, p. 2)
O Artigo 5 afirmava que a religião católica era a religião oficial do Imrio e o
Art. 103:
[...] o Imperador antes de ser acclamado prestará nas mãos do Presidente
do Senado, reunidas as duas maras, o seguinte Juramento Juro manter
a Religião Catholica Apostólica Romana, a integridade, e indivisibilidade do
Imrio; observar, e fazer observar a Constituição Política da Nação
Brasileira, e as Leis do Imrio, e prover ao bem geral do Brasil, quanto em
mim couber. (BRASIL, 1824, p. 2)
38
O Artigo 141 enfatizava que os Conselheiros de Estado deveriam prestar um
juramento de manter a Religião Catholica Apostólica Romana. O capítulo que trata
da inviolabilidade dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros (Art. 179)
determinava queninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez
que respeite a do Estado, e não offenda a Moral Pública (BRASIL, 1824, p. 2).
Essa Constituição, no seu Art. 179, Inciso XXII, embora tenha estabelecido
que a instrução primária gratuita fosse aberta a todos os cidadãos, não teve, na
prática, seu cumprimento efetivado. Assim, o chamado ensino primário, segundo
Junqueira (2002 a), ficou a cargo das províncias que, devido aos seus orçamentos
escassos, tiveram grandes dificuldades de implementá-lo de forma adequada.
Nos anos de 1826 e 1827, ocorreram debates em torno da educação escolar
popular. Nessa ocasião, o deputado liberal-radical, Januário Cunha Barbosa,
apresentou um projeto de organização da educação escolar, composto de escolas
elementares, secundárias e superiores que o foi aprovado. Esse texto foi
reapresentado, mas sofreu tantas emendas que, quando obteve aprovação como lei,
em 15/10/1827, estava reduzido apenas à manutenção das aulas avulsas blicas
de primeiras letras, as já referidas Aulas Régias, para meninos e meninas. Além
disso, adotou a estratégia do Ensino Mútuo como a forma de organização das aulas
de primeiras letras, para as localidades mais populosas (HILSDORF, 2003).
Nessa lei de 15 de outubro de 1827
10
, foi feita a primeira referência ao Ensino
Religioso, vinculado a uma legislação, relativa à organização da educação escolar,
que determinou tanto a criação de escolas deprimeiras letras em todas as cidades,
vilas e lugares mais populosos do Império, quanto a regulamentação dos salários
dos professores. Esse documento normativo visava promulgar o inciso XXXII, do Art.
179 da Constituição Imperial.
Em 1834, foi editado o Ato Adicional que modificou a Constituição de 1824,
estabelecendo que as Províncias assumissem o ensino primário e secundário, e o
poder central se encarregasse, apenas, do ensino superior ou acadêmico, referente
10
Art 6. A lei determina que em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos haverá escolas de
primeiras letras que forem necessárias. O mero delas e sua situação serão indicados pelos
presidentes em conselho, obtidas as câmaras municipais respectivas. Nela os professores ensinarão
a ler, escrever, as quatro operações de arithmética, prática de quebrados [...] e os princípios de moral
cristã e da doutrina da religião catholica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos
meninos; preferindo para as leituras e Constituição do Imrio e a história do Brasil [...] (HISRIA da
Educação no Brasil, 1827, p. 2).
39
aos ministrados nas Faculdades Médicas e Jurídicas.O ensino primário não era
pré-requisito na seqüência da escolarização hierárquica das matérias e das séries;
ênfase era dada às matérias de humanidades (JUNQUEIRA, 2002a, p. 22).
Quanto ao ensino superior, pode-se afirmar que se reduzia a um número
escasso de escolas isoladas, destinadas à formação de profissionais liberais,
sobretudo no âmbito do Direito, e constata-se que o havia uma organização
adequada de um sistema de ensino (PILETTI, 1996).
Durante o Imrio, o Brasil obteve sua independência política. Mas não se
tornou uma nação livre do ponto de vista ecomico porque, por um lado, ficou sob
o domínio do imperialismo inglês e, por outro, passou a depender da França. Nessa
época, os princípios de liberdade e de igualdade eram proclamados, mas
mantinham-se a escravidão e a exclusão social de amplos setores do povo.
Problemas como a impopularidade do Imperador, a oposição ao seu governo,
o aumento da dívida do País junto a bancos ingleses, os acontecimentos políticos
internos de Portugal, decorrentes da sucessão de Dom João VI, que morreu em
1826, tornaram impraticável a permanência de Dom Pedro I, no Brasil. Por isso, ele
abdica, em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho Dom Pedro II e retorna a
Portugal.
As a partida do Imperador, é instituída uma Regência (1831-1840), pelo
fato de o único herdeiro ao trono, Pedro de Alcântara, ser menor de idade. Nesse
momento, o comando político da nação passou para os liberais.
A Igreja, então, continuava exercendo inflncia sobre o Estado, ancorada em
um movimento que pode ser chamado de regalista, nacionalista e liberal. Entre os
anos de 1826 e 1842, segmentos significativos da Igreja Católica Nacional
desligaram-se da autoridade papal, ou ficaram formalmente unidos à Sé Romana. O
Papa era reconhecido como chefe honorífico da Igreja Católica de todos os países,
mas sem possuir uma efetiva autoridade na Igreja nacional. O Imperador tinha
amplos poderes sobre a Igreja, considerada como nacional. Assim, a Igreja passou
a ser submissa ao Estado e, aos olhos do governo, ela constituía-se como uma
Igreja brasileira, mais ligada ao Estado do que à Santa Sé.
O movimento reformista, liderado pelo clero liberal, especialmente pelos
Padres Diogo Antônio Feijó e Padre Manuel Joaquim do Amaral Gurgel, pretendia
fazer uma ampla reforma na Igreja Católica no Brasil. Pensava-se que a moralização
40
e a elevação cultural dos padres eram a condição primeira para a Igreja se renovar.
Nessa perspectiva, a Igreja poderia ajustar seus quadros institucionais e tornar-se
um importante sustentáculo para a moral pública. Essa reforma tinha, como base, os
princípios regalistas, que deveriam ser levados a efeito pelo próprio poder civil, uma
vez que a “religião oficial dependia do Estado.
Segundo Matos (2002), outro movimento deve ser destacado nessa época.
Trata-se do ultramontano, movimento conservador que atuou até meados do século
XIX, defendendo maior aproximação com Roma e maior sintonização com as
diretrizes do Concílio de Trento (1545-1563) e, posteriormente, com as do Concílio
Vaticano I (1869-1870). Seus integrantes propugnavam uma Igreja mais
centralizadora, com nítidas preocupações doutrinárias e disciplinares. Exemplos
desse posicionamento se traduziram na Encíclica Quanta Cura (1864),
acompanhada do catálogo que continha oitenta condenações ao mundo moderno, a
declaração da Infalibilidade Papal, expressa no Concílio Vaticano I, e a concepção
tridentina de sociedade perfeita, pela qual já não se aceitava uma subserviência da
Igreja ao Estado. Para os adeptos e defensores dessas tendências romanizadoras, o
centro de toda a vida da Igreja estava na pessoa do Papa, representante direto de
Deus na terra. Defendiam o princípio de que a união Igreja-Estado não podia resultar
em um enfraquecimento do poder espiritual. Assim, era necessário existir harmonia
entre Trono e Altar, não devendo ocorrer invasão indébita do poder civil em áreas
especificamente eclesiásticas.
Na sociedade civil brasileira de meados do século XIX percebia-se,
igualmente, um movimento centralizador em torno da figura de Dom Pedro II. As
idéias abolicionistas, burguesas, liberais e republicanas cresceram no segundo
Imrio, sobretudo após a Guerra do Paraguai (1865-1870), pois os militares,
estimulados pelas vitórias obtidas, exigiam uma maior participação na vida política.
No cenário mais amplo, assiste-se, no período do Segundo Reinado, a uma
nova fase evolutiva do capitalismo industrial, que apregoava a necessidade de
expansão do mercado consumidor, das idéias liberais da Revolução Francesa e das
idéias humanitárias. No Brasil, essas mudanças provocaram o questionamento a
respeito do trabalho servil, como um regime social e economicamente desvantajoso,
que impedia o avanço da modernização da sociedade.
41
O processo de industrialização, instalado de forma precária e sob a tutela da
Inglaterra, o avanço da urbanização e as mudanças conjunturais no capitalismo
foram fatores que provocaram, gradualmente, o enfraquecimento do regime
escravocrata no Brasil. Mesmo assim, os setores conservadores, ligados aos
latifundiários, resistiram à abolição, enquanto o governo Imperial procurava uma
solução definitiva para o problema. A libertação dos escravos só foi concretizada em
1888, depois de muita luta interna, que contou com o apoio incisivo da Inglaterra,
segundo a qual o tráfego não mais se constituía como atividade rentável.
À monarquia, a partir de então, foram feitas críticas acirradas, sobretudo dos
setores dominantes da agricultura nacional. O Imrio não conseguiu solucionar os
graves problemas de ordem sócio-ecomica. Aumentaram as queixas quanto ao
caráter centralizador da monarquia e questionava-se, também, a posição do Imrio
com sua religião obrigatória.
Nessa época, a idéia de progresso dominava o espírito da elite brasileira e o
setor econômico interno. Os ideais republicanos, a influência do positivismo, do
iluminismo, do liberalismo e do cientificismo no processo de modernização da cultura
brasileira serviram, segundo Severino, de:
[...] suporte político para todo um programa de reformas sociais: abolição
dos privilégios aristocráticos, separação da Igreja do Estado, instituição do
casamento e registro civil, secularização dos cemitérios, abolição da
escravatura, libertação da mulher através da instrução para que
desempenhasse seu papel de esposa e de mãe, e a crença na educação
enquanto chave dos problemas fundamentais do país (SEVERINO, 1986,
p.66).
Nesse contexto, o Episcopado viu seus poderes temporais serem diminuídos.
Simultaneamente, cresceu a idéia da necessidade de uma Igreja independente do
Estado, sobretudo em conseqüência das reformas decorrentes do Concílio Vaticano
I que promoveram a romanização do clero brasileiro.
Pode-se constatar que, ao longo das fases colonial e imperial, o Regime do
Padroado e do Regalismo foram mantidos, conferindo à religião católica tanto os
privilégios junto à Coroa, quanto o monopólio do ensino. Nesse contexto, a
concepção de educação priorizada ancorava-se no ideário humanista-católico.
Assim, no âmbito escolar eram ministradas aulas de religião, visando à
evangelização, na perspectiva da cristandade, e a seleção de conteúdos, a serem
42
ministrados, foi orientada por uma fiel ortodoxia.
Analisando o contexto político-educacional, Severino explica que:
[...] no processo ideológico da política educacional desenvolvida pelo
Estado brasileiro, é característica a utilização do ideário católico como
concepção de mundo, exercendo a função ideológica para a sustentação e
a reprodução desse modelo de sociedade. A cosmovisão católica serviu de
ideologia adequada para a promoção e a defesa dos interesses da classe
dominante ao mesmo tempo em que fundamentava a legitimação, junto às
classes dominadas, dessa situação econômico-social, objetivamente
marcada pela exploração e dominação da maioria por uma minoria
(SEVERINO, 1986, p. 70).
No cenário da época, o desenvolvimento do sistema educacional, do país, foi
sendo desenhado de forma precária, devido à carência de uma política educacional
e econômica brasileira, servindo, ao contrário, de reforço para a reprodução da
ideologia dominante e das condições econômico-sociais existentes. A maioria da
população vivia marginalizada e excluída do acesso à educação formal.
Objetivando minimizar essa situação na área educacional, foi veiculada uma
legislação que permitia a qualquer cidadão o direito de abrir escolas. Essa medida
obteve resultados, pois foi empregado o denominado Método de Ensino Mútuo,
concebido por Lancaster, bastante usado nos Estados Unidos, que resolveu o
grande problema de falta de professores, uma vez que empregava o sistema de
monitoria.
2.1.2 Período da República
A República foi proclamada, no Brasil, a partir de um golpe militar, deflagrado
em 15 de novembro de 1889, que s fim aos sessenta e sete anos de regime
monárquico. A Proclamação da República apanhou de surpresa muitos segmentos
da população, inclusive os próprios republicanos. Um clima de perplexidade e de
insegurança invadiu a sociedade e, naturalmente, os meios eclesiásticos.
Como pontua Costa (1977), a Proclamação da República é
[...] o resultado [...] de profundas transformações que se vinham operando
no país. A decadência das oligarquias tradicionais ligadas à terra, à
43
abolição, à imigração, o processo de industrialização e urbanização, o
antagonismo entre zonas produtoras, a campanha pela Federação
contribuíram para minar o edicio monárquico, e para deflagrar a subversão.
Os setores mais progressistas, eliminando o trabalho escravo, esposando
relações capitalistas de produção, ansiando por reformas, opunham-se aos
setores estacionários e retrógrados que apoiavam a monarquia e eram
apoiadas por ela. Interessados em monopolizar o aparelho do Estado, os
grupos progressistas deram acolhida às iias mais avançadas: abolição,
reforma eleitoral, federação e, finalmente, República (COSTA,1977,p.294-
295)
Esse movimento político, que instaurou uma nova forma de governo, recebeu
grande influência do positivismo, concepção elaborada por Comte que, entre outros
pressupostos, pregava o laicismo na sociedade e, conseqüentemente, na educação.
A Igreja, desde o início, posicionou-se contrária ao sistema republicano e,
obviamente, aos seus princípios norteadores. No dia 7 de janeiro de 1890, Rui
Barbosa, segundo Matos (2002), apresentou, na reunião do Ministério do Governo
Provisório, da recém-proclamada República, um texto que tratava da questão
referente à separação da Igreja e o Estado. Tendo sido aprovado no mesmo dia, o
texto consubstanciou-se no Decreto 119-A que passou a servir como referência para
o comportamento do poder civil, em relação às questões religiosas.
Esse Decreto determinou a separação total entre a Igreja e o Estado, pondo
fim à obrigatoriedade do Ensino Religioso nas escolas blicas (Art. 1º). Além disso,
ele extinguiu o Padroado (Art. 4º) e todas as suas instituições, recursos e
prerrogativas. O documento abria espaço para a liberdade da prática de diversos
cultos ou denominações, sem a intervenção do poder público (Art. 2º e 3º). Ao
mesmo tempo, concedia personalidade jurídica a qualquer culto sob os limites
postos pelas leis concernentes à propriedade de mão-morta (Art. 5º)
11
. O Art. 6º
mantinha por um ano, no plano federal, os compromissos financeiros com os
eclesiásticos que, no Imrio, eram servidores blicos, e deixava a critério de
cada Estado o arbítrio de manter os futuros ministros desse ou de outro culto
(CURY, 2001).
Os Bispos, diante dessa determinação que proclamava o Estado leigo,
reagiram com algumas reservas e tom moderado ao Decreto, através de uma Carta
Pastoral Coletiva, de 19 de março de 1890. Eles rejeitaram a efetivação da
11
Segundo Cury, mão morta’ é um tipo de propriedade de sociedades religiosas ou de fins não-
lucrativos que não poderia ser negociada. Os ‘bens de mão-morta’ eram inalienáveis. E estes limites
não foram aceitos pelo episcopado. (CURY, 2001, p. 65). Mais detalhes sobre esse assunto,
consultar (CURY, 2001).
44
separação absoluta e hostil entre Igreja e Estado e se declararam a favor da união,
posicionando-se contrariamente à independência entre os dois poderes, estimulando
os católicos a tomarem parte na vida política. Nessa Carta, os Bispos reconheceram
os efeitos negativos da visão regalista da União, tal como existia no Imrio, e a
opressão, exercida pelo Estado, em nome do Padroado.
Cury (2001), ressaltando aspectos dessa Carta Pastoral, enfatiza que os
bispos atacaram tanto a referida separação, quanto a secularização dos cemitérios e
os novos dispositivos que passaram a reger o casamento civil, cujo teor já se havia
tornado público. Assim, a crítica à secularização foi radicalizada, perpassando todo o
texto do mencionado documento. Além disso, os Bispos explicitaram, nessa Carta
Pastoral (1890), que a crise do Brasil era de vida ou morte. Para a vida, se todo o
nosso progresso social fosse baseado na religião; para a morte se o não fosse.
Assim, a doutrina da separação, conforme Brasil, Congresso, Câmara dos
deputados (1981)
12
, citado por Cury (2001, p. 64)não a podemos os católicos
admitir, porque conduz à morte de um traço distintivo da nacionalidade.
Esse autor comenta que a Carta pedia uma união que nascesse de acordos e
entendimentos entre as partes, pois eram os mesmos brasileiros que, como
católicos, estavam sujeitos ao poder terrestre e religioso e se constituíam como a
maioria da nação. Assim, esse documento usava o argumento da maioria não para
levar à tolerância, ao Estado laico e ao consenso, mas para justificar o poder dela,
maioria, em estabelecer as normas e requerer seu status, diante das outras
religiões.
[...] A laicização, na perspectiva da tolerância, mostra uma face humanística
e democrática uma vez que, em si mesma, ela é antidiscriminatória no
terreno das crenças religiosas. Essa perspectiva, modelar em todos os
terrenos da vida humana, guarda em si princípios de uma sociedade livre de
discriminações econômicas, sociais, políticas e culturais (CURY, 2001, p.
114).
Enfim, o mencionado Decreto 119A e outros
13
, elaborados após o processo
de laicização impactaram a sociedade e a educação brasileira.
12
BRASIL, Congresso, mara dos Deputados. A Igreja na República. Brasília: Editora UNB, 1981.
13
Para um maior conhecimento sobre esses decretos (Decreto 155-B de 14/01/1890; Decreto
Imperial de 21/12/1822, Decisão 41 e 26/03/1890, Decreto 115-B e outros), ler CURY (2001).
45
[...] encerra-se, na órbita nacional, o poder divino do imperador e a aliança
oficial entre União, Estado e Igreja. O Decreto é francamente interditivo. E,
conquanto houvesse a possibilidade de os Estados manter os futuros
ministros desse ou de outro culto, esta exceção do Art. não teria foa
para invalidar a interdição posta no Art. .
Enfim, a ordem jurídica abria-se para as referências jurídicas próprias do
jusnaturalismo. A Igreja saía da ordem da sociedade política (politischer
staat) e entrava na sociedade civil (rgerliche gesellschaf) (CURY, 2001,
p. 65-66).
Mesmo diante de vários apelos dos Bispos do Brasil aos gestores do Estado,
a Primeira Constituição Republicana (1891) incluiu dispositivos que normatizaram
essa separação, vedando a subvenção, a manutenção e a restrição ao exercício de
cultos e de crenças e, no âmbito da educação, ela se tornou laica na rede blica de
ensino. Além disso, essa Lei Maior deixou de fora a invocação a Deus no seu
Prmbulo, ao proclamar que todo o poder provém do povo, e em seu nome é
exercido.
Nesse sentido, observa Cury,
[...] A Constituição se laiciza, respondendo a liberdade plena de culto e a
separação da Igreja e do Estado (conforme a Constituição provisória”) e
põe o reconhecimento exclusivo pelo Estado do casamento civil, a
secularização dos cemitérios e finalmente determina a laicidade nos
estabelecimentos de ensino mantidos pelos poderes públicos (CURY, 1996,
p. 76).
O Art. 72 da Constituição e, mais especificamente, a seção denominada
Declaração de Direitos trata da questão da laicidade:
[...] todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e
livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens,
observadas as disposições do direito comum.
A República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será
gratuita.
Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela
autoridade municipal, ficando livre a todos os cultos religiosos e practica dos
respectivos ritos em relação aos seus crentes, desde que não offendam a
moral pública e as leis.
. Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
Nenhum culto ou igreja gosará de subvenção official, nem terá relações
de aliança com o governo da União, ou dos Estados.
28º Por motivo de crença ou função religiosa, nenhum cidadão brasileiro
poderá ser privado de seus direitos civis e políticos nem eximir-se do
cumprimento de qualquer dever cívico.
29º Os que allegarem motivo de crença religiosa com o fim de se isentarem
de qualquer ônus que as leis da República imponham aos cidadãos, e os
que acceitarem condecorações ou títulos nobiliarchicos estrangeiros
perderão todos os direitos políticos. (BRASIL, 1891, p.3)
46
Esse mesmo artigo, no seu parágrafo 6, explicita a liberdade do ensino, a
liberdade religiosa, a importância da consciência e a igualdade de direitos. Em
decorrência, no campo educacional, aconteceram debates, centrados em
argumentos a favor e contra a laicização de ensino blico.A afirmação do laicismo
era a forma encontrada pelo Estado para recusar a ingerência direta da Igreja em
sua política e para dispensar a mediação da ideologia católica na consecução de
seus objetivos (SEVERINO, 1986, p. 66).
Deve-se enfatizar, neste período, a existência de um grupo de sacerdotes a
favor da República e da separação entre Igreja e Estado, defendendo a idéia de que,
assim, a Igreja poderia se unir ao povo, assumindo a questão social e a missão a ela
confiada. A maioria dos padres, entretanto, questionava uma política sem Deus,
demonstrando nostalgia dos privilégios do passado. Bispos, padres e leigos
católicos consideravam a Constituição de 1891 como a cristalização do espírito
arreligioso dos republicanos, que contrariava os sentimentos mais profundos do
povo brasileiro.
Outros, contudo, já entendiam que o Estado deveria ser leigo e não uma
instituição religiosa. Para eles, Estado leigo não queria dizer contrário a todo e
qualquer sentimento religioso, mas aquele que não tinha religião oficial e, assim, o
deveria impor a inclusão de determinado Ensino Religioso nas escolas públicas.
Assim, segundo Cury:
[...] Estas definições implicaram debates ácidos e diferenciação de posições.
Mas o raciocínio que conduziu a estas definições foi o de que haveria um
respeito pela distinção entre o blico/leigo x privado/livre e nesse caso não
haveria nenhum tipo de impedimento à liberdade de expressão e de culto.
Estas modalidades de interface entre educação e outros temas ficam mais
claras quando se examina a questão específica da instrução como
educação escolar (CURY, 1996, p. 76).
A Igreja foi aceitando, pouco a pouco e em parte, o novo regime,
reconhecendo que sua separação oficial do Estado permitia-lhe reestruturar, com
mais liberdade, os seus quadros eclesiásticos e estreitar as suas ligações com
Roma. Em termos mais radicais de oposição ao laicismo, Dom Leme se destacou
como o líder que a Igreja Católica necessitava para a orientação de seus propósitos
(CURY, 1978).
47
Como afirma Beozzo,
[...] consumada a separação entre a Igreja e o Estado, a Igreja não cessará
de denunciar o divórcio entre o Estado Leigo, para não dizer laicista, e a
nação, católica em sua grande maioria. O ensino, principalmente, era visto
como uma grande violência imposta à consciência católica. Seu caráter
leigo conflitava com a fé da maioria dos alunos e com a fé professada pela
nação. Toda a campanha da Igreja - e ela será constante - está vazada na
luta pelos direitos da maioria que deveriam traduzir na legislação e na
prática do Estado os sentimentos católicos do povo brasileiro (BEOZZO,
1984, p. 280).
Os Bispos, na Segunda Carta Coletiva, de 6 de janeiro de 1900, reivindicaram
o reconhecimento oficial da Igreja Católica, explicitando a importância dessa união,
como beneficiária para a própria tria. Segundo essas autoridades religiosas,
deixando de prestigiar o ensino da religião católica, o Estado contribuiria para
solapar os próprios fundamentos éticos, tradicionalmente presentes na organização
da sociedade brasileira.
Os Bispos, ao se dirigirem aos crentes - católicos, protestantes, metodistas,
calvinistas, afirmavam que
[...] a escola neutra é um verdadeiro presente de gregos. Seus filhos o
encontram na escola um ambiente favorável à liberdade de consciência,
pois o que lá existe é hostilidade indiferente á liberdade religiosa [...] a
celeuma levantada em torno da circular do episcopado nasce de uma
lamentável confusão. É um erro supor que os católicos exigem a
obrigatoriedade do ensino do catecismo nas escolas públicas para os
alunos. O que eles pretendem é que a expressão ensino leigo’ não seja
confundida, como muitas vezes acontece, com ensino ateu e irreligioso
(NERY, 1993, p. 11).
As controvérsias, em torno da determinação constitucional, traduzida no será
leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos blicos, acentuaram a iia do
Ensino Religioso como elemento eclesial, na escola, por interesse da Igreja Católica
e, em decorrência, foi se acentuando a tendência de se atribuir às instituições
religiosas, e não ao Estado, o encargo de promover a manutenção do referido
ensino, fora do sistema escolar público.
Na análise desse contexto Figueiredo afirma que:
[...] na primeira República, o vocábulo leigo ou laico, para designar a
natureza do Estado, foi alvo de dupla interpretação: uma de conotação
francesa e outra americana. Pela vertente francesa o vocábulo laico
48
significou hostilidade a qualquer manifestação de conotação religiosa em
ambiente ou instituições públicas mantidas pelo Estado. Na França, a
separação entre Estado e Igreja se deu num contingente histórico diferente
do americano. Na concepção americana, o mesmo vocábulo foi empregado
como forma de salvaguardar o princípio da liberdade religiosa como direito
inalienável do cidadão, portador desta ou daquela crença, ou sem crença
alguma. Os argumentos franceses de cunho ideológico presidiam uma
corrente de pensamento no Brasil, liderada por José Soriano, enquanto a
concepção americana foi liderada por Rui Barbosa, principal autor do
Projeto da 1ª. Lei Maior Republicana e de Leis que precederam a
implantação do novo regime. Ambos mantiveram posições diferenciadas,
mas influentes na questão do ensino religioso (FIGUEIREDO, 2006, p. 48).
Assim, no Brasil, a expressão será leigo o ensino (Art. 72, Inciso 6), da
Constituição de 1891, foi interpretada segundo a concepção francesa pelos
defensores do princípio republicano da separação entre Estado e Igreja
14
.
Contudo, os benecios da separação entre Estado e Igreja começaram a ser
percebidos, pois ela possibilitou condições favoráveis, tanto para a restauração da
vida religiosa no Brasil, quanto para a vida de muitas Congregações Religiosas, no
período de 1890 a 1930. O campo preferencial de atuação, dessas Congregações,
foi a educação católica, ministrada em colégios próprios, cuja clientela provinha,
preferencialmente, das classes mais favorecidas.
Atuando através de uma presença congregacionista forte, em colégios e
escolas nas cidades e em internatos ou semi-internatos,a Igreja pôde continuar
sendo uma instituição segura, dedicando atenção especial ao público feminino,
reconhecidamente majoritário nas escolas normais para professores (CURY, 2005,
p. 86).
Muitas congregações, que tinham como carisma a educação, enviaram
religiosos e religiosas para o Brasil e para a América Latina, transladando, para o
novo continente, suas experiências no campo educacional. Não obstante, a maior
parte dos institutos religiosos tivesse pouco interesse em analisar a realidade do
país, a fim de verificar a viabilidade e a compatibilidade de suas propostas
educativas. Esses religiosos começaram a atuar em áreas geográficas nas quais
havia uma presença mais significativa de imigrantes europeus, partindo do
pressuposto de que os jovens teriam maior facilidade de assimilar seus modelos de
ensino. Por essa razão, as instituições católicas foram implantadas, prioritariamente,
nos centros urbanos, sobretudo, da região Centro-Sul do país (AZZI, 1996).
14
Para maior conhecimento sobre esses decretos, ler FIGUEIREDO (1996 e 2006)
49
O objetivo maior desses colégios era o de formar, na fé católica, as classes
médias urbanas e fazer frente ao laicismo dominante na República, contribuindo,
assim, para a revitalização da Igreja no Brasil, em uma perspectiva voltada para os
cânones de Roma. Essas Ordens encontravam, na burguesia e na classe média, o
aporte financeiro de que precisavam, já que não recebiam o apoio do Estado.
Assim, o conflito entre Igreja e Estado foi se amenizando, pois as referidas
classes optavam, geralmente, pelo ensino confessional, ministrado pelas escolas
católicas e as classes menos favorecidas, que encaminhavam seus filhos para o
ensino blico, não questionavam a retirada do ensino religioso.
[...] toda a questão escolar, ponto nevrálgico da disputa entre a Igreja e o
Estado, não atingia a população pobre, inteiramente ausente do sistema
escolar. Também a Igreja não se preocupava em abrir escolas para o povo.
[...] Esta mesma questão do ensino religioso nas escolas oficiais o
chegava a sensibilizar e mobilizar as classes dominantes pois estas podiam
sempre enviar seus filhos e filhas para os colégios de padres e freiras a eles
destinados e aí obter uma educação religiosa. Por isso mesmo, as
reclamações da Igreja contra o Estado adquirem um caráter mais retórico
que real (BEOZZO, 1984, p. 281).
Por volta de 1920, o Brasil passou por uma profunda crise sócio-ecomica.
O clima de descontentamento, dela decorrente, levou a rebeldia aos campos social e
político. O Presidente Artur Bernardes (1922-1926) governou o País em constante
estado de sítio, para combater o espírito contestador, então vivenciado. Algumas
mudanças se fizeram sentir nesse período, sobretudo relacionadas à ascensão da
nascente burguesia urbana, voltada para o mercado interno, que colocou em cheque
o tradicional modelo das elites latifundiárias, ligadas à agroexportação,
principalmente do café. Esse período se caracterizava pela valorização das
expressões arsticas e literárias genuinamente nacionais que ganharam força na
Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo. No campo político, destacaram-
se a fundação do Partido Comunista e a Revolta do Forte de Copacabana,
movimento encabeçado pelos tenentes, visando à reforma política. No campo da
educação, conforme Oliveira (1993), foram veiculadas a Reforma Epitácio Pessoa
(1901), que determinou a adoção de currículos de caráter cienfico, conforme
orientação comteana e a Reforma Carlos Maximiliano (1915), que reafirmou a
orientação positiva e procedeu à liberdade de ensino e de freqüência escolar e a
desoficialização do ensino.
50
Esse clima de conflito tornou-se propício à reaproximação da Igreja com o
Estado, sobretudo no que tangia ao pedido explícito do presidente Arthur Bernardes
de contar com a colaboração da Igreja Católica, para conter a onda revolucionária e
promover o progresso nacional. Esse pedido foi encarado como uma oportunidade
de restabelecer a influência católica no Brasil, e, assim, reestabelecer o Estado
Cristão.
As proposições de Dom Leme, segundo Cury,
[...] ganharão relevância e intensidade quando de sua transferência de
Olinda para o Rio de Janeiro. Único cardeal latino-americano á sua época,
formado nos quadros do Pio Latino, fundador do Pio Brasileiro, dotado de
rara perspectiva de inteligência. D. Leme tentará eficazmente transpor
operacionalmente os padrões do catolicismo universal (leia-se europeu e
em especial romano) para o catolicismo brasileiro. E o fará através de sua
liderança em relação à hierarquia e da congregação em torno de si de uma
seleta elite intelectual, saída das camadas médias urbanas (CURY, 1978, p.
15).
Em 1921, Jackson de Figueiredo, recém convertido ao catolicismo, com o
apoio de Dom Leme cria a Revista A Ordem que se tornou o principal veículo de
difusão das posições católicas.
Dom Leme, valendo-se das festas comemorativas do 1º Centenário da
Independência em 1922, organizou, no Rio de Janeiro, um grande encontro eclesial,
o Congresso Eucarístico Nacional, que propiciou uma ascensão das forças
religiosas. O símbolo dessa reafirmação do catolicismo brasileiro, como força
nacional regeneradora foi o lançamento, durante esse Congresso, da pedra
fundamental para a construção do Monumento do Cristo Redentor, no alto do
Corcovado (04/10/1922), no Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, foi criado o Centro Dom Vital, que objetivava formar
quadros católicos, atuantes no cenário católico brasileiro. Sua direção foi confiada a
Jackson de Figueiredo. Depois de sua morte, em 1928, ficou a cargo de Alceu de
Amoroso Lima, tendo como assistente eclesiástico o padre Leonel Franca.
Esse centro e a revista por ele editada direcionavam-se para as elites e
tinham como finalidade recristianizar a nação, através dos ensinamentos da Igreja,
assegurando o reconhecimento do poder eclesiástico. Este reconhecimento se
consubstanciaria na participação da Igreja, no poder civil, através de uma
Concordata, ou de uma união oficial. Essas proposituras possibilitariam a
51
reintrodução do Ensino Religioso nas escolas, a assistência religiosa aos quadros
militares, a subvenção oficial, através de dotação de verbas, e a atuação no meio
operário. Com isto, pretendia-se desenhar um novo encontro dos pressupostos da
sociedade capitalista com os valores religiosos, minimizando ou eliminando a
influência maçônica positivista e combatendo o perigo de uma revolução socialista
(CURY, 1978).
Horta atribui ao Centro Dom Vital o papel de articulação das forças católicas:
[...] será, sobretudo através do Centro Dom Vital que a Igreja se mobilizará,
entre 1924 e 1926, para conseguir que as emendas católicas sejam
introduzidas na Constituição, por ocasião da revisão constitucional
promovida pelo Governo Bernardes. Entre estas emendas incluíam-se o
reconhecimento do catolicismo como a religião da maioria do povo brasileiro
e a reintrodução do ensino religioso nas escolas públicas. Apesar da
campanha desencadeada nas páginas de A Ordem e do apoio de alguns
deputados, entre os quais Francisco Campos, as emendas católicas
sofreram a oposição do Presidente Bernardes e foram rejeitadas. Como
afirma Tânia Salem, esse fracasso denota que o grupo católico, na Primeira
República, não se constituía ainda num ator suficientemente expressivo a
ponto de conseguir impor seu programa na esfera de decisões políticas
Contudo, os católicos não deixaram de obter algumas vitórias parciais.
Assim, em setembro de 1926, dois dias antes de sua posse, o Presidente
eleito do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada,
depois de salientar a importância da religião para a formação e o
aperfeiçoamento do caráter, declara: o Estado leigo afeta aos pais de
família esse importante aspecto da educação infantil; mas eu entendo que
lhe é vedado ir até o extremo de proibir o ensino religioso, desde que em tal
sentido, se verifique o pronunciamento expresso e iniludível dos que, pais
ou tutores, diretamente respondam pelo destino da criança (HORTA, 1994,
p. 95-96).
A questão referente à laicidade é tratada na Revisão Constitucional de 1925-
1926:
[...] O tema da laicidade retorna também, e com bastante ênfase, na
Revisão Constitucional de 1925-26, já que a Igreja tentou incluir, através de
emenda assinada por vários deputados (católicos ou não), o ensino
religioso facultativo nas escolas públicas. Diga-se de passagem, que vários
Estados da Federação já haviam permitido o retorno de tal disciplina nas
suas escolas, via de regra, fora do horário normal das disciplinas comuns.
Embora não houvessem conquistado a maioria necessária para sua
aprovação (faltaram apenas 11 votos), as famosas emendas religiosas
obterão apoio no decorrer da Constituição de 1933-34 (CURY, 1996, p. 11)
Em Minas Gerais, o Congresso Catequético, realizado em 1928, conseguiu
uma conquista para a Igreja Católica, pois o presidente do Estado, Antônio Carlos,
concedeu licença para as escolas oficiais ministrarem o Ensino Religioso. Logo
52
após, em 1929, a Assembléia Legislativa converteu essa licença em lei estadual
15
.
No período entre 1930 e 1937, o Brasil viveu um momento de grande
radicalização política. Getúlio redefiniu o quadro político, social e ecomico e deu
margem para que:
[...] vários setores sociais manifestassem o desejo de ver o seu projeto de
Brasil adotado pelos novos mandatários ou, então, suplantando os novos
mandatários. De um modo geral, podemos dizer que liberais, católicos e o
governo desejavam transformações dentro da ordem, enquanto
integralistas e aliancistas se debatiam por transformações que levassem a
uma nova ordem. Os integralistas sonhavam com um Estado totalitário no
estilo nazi-fascista. Em posição antagônica fixaram-se os aliancistas que
desejavam um governo democrático-popular com tendências socializantes.
É sabido que o governo Vargas foi hábil em conquistar os vários setores
sociais e, principalmente, em controlar os trabalhadores através de uma
política que se esmerou em utilizar ora a alternância, ora a concomitância
das táticas de cooptação das lideranças reformistas e a decretação
paternalista de benefícios sociais como salário mínimo, férias, apoio à
gestante, etc. Era, de fato, o início da realização do populismo-trabalhista
getuliano (GHIRLADELLI, 2003, p. 41).
No campo da educação, desenvolveu-se um esforço governamental no
sentido de controlar as duas grandes tendências do pensamento educacional,
esboçado nos anos 20, que se traduziam nos defensores da ideologia liberal, os
denominados escolanovistas e nos defensores da ideologia católica, que
advogavam o direito da família escolher a escola para seus filhos, respaldando,
assim, as escolas particulares, sobretudo, as confessionais.
Entretanto, os defensores da nova política educacional, para o País,
encontravam, no Governo Vargas, o apoio e o respaldo, através de
[...] um clima propício à divulgação e à implantação de suas iias.
Estimulados pelo próprio governo, os profissionais da educação, grupo de
educadores formado na cada de vinte com o objetivo de lutar pela
popularização e melhoria do nosso ensino, do qual faziam parte, entre
outros, Anísio Teixeira, Lourenço filho, Heitor Lyra e Fernando de Azevedo,
intensificaram sua luta em favor da democratização do ensino. Com o apoio
dos políticos liberais, os profissionais da educação, como eram chamados,
defendem a intervenção da União nos assuntos educacionais e o
estabelecimento de uma política nacional da educação como fatores
indispensáveis para a instituição no país de uma rede de ensino público,
obrigatório, leigo e gratuito.
A posição renovadora encontra apoio na retórica governamental. O
governo, reconhecendo a importância da educação como instrumento de
persuasão e controle, afirma que nunca, no Brasil, a educação foi encarada,
sistematizada e erigida como deve ser, um legítimo caso de salvação
nacional (PEIXOTO, 1983, p. 199).
15
Lei n. 1092, de 12 de outubro de 1929, do Governo do Estado de Minas Gerais.
53
Nos fins de 1930, Getúlio Vargas cria o Ministério da Educação e Saúde
Pública, tendo como primeiro ministro Francisco Campos, um dos líderes da
Revolução de 30 e quem, também, encabeçou a Reforma de Ensino Primário e
Normal, no Estado de Minas Gerais, ao lado de Mário Casasanta.
Francisco Campos, com facilidade de transitar entre liberais e conservadores,
tratou de promover uma reforma do ensino em nível federal, marcando, assim, o
início de uma ação mais objetiva do Estado brasileiro em relação ao ensino,
principalmente, no sentido da implantação de uma estrutura para o ensino
secundário.
Em síntese, a Reforma Francisco Campos traçou diretrizes para o ensino
superior, substituindo o modelo, fundado nas faculdades isoladas, pelo modelo
universitário centralizador; organizou o ensino secundário, dando-lhe um caráter
eminentemente educativo, seriado e articulado, que deveria ser ministrado em
cursos regulares de cinco anos de duração (curso Ginasial a Fundamental),
acrescido de mais dois anos de preparação para o superior (curso Complementar);
criou e organizou o ensino técnico-comercial. No que tange ao Ensino Religioso,
rompeu com a política de laicidade, promovendo sua inclusão nas escolas blicas.
Durante a gestão de Campos criou-se um clima de debates e reflexões,
conforme mostra Peixoto:
[...] realizam-se no País reuniões e debates que têm como tema nossa
problemática educacional. Conferências nacionais se sucedem, promovidas
pelos pioneiros da cada de vinte. Nelas se debatem as bases para a
formulação de uma política nacional de educação. Grande é o presgio
dessas reuniões e de seus promotores.
Durante a IV Conferência Nacional de Educação, realizada em dezembro de
1931, para tratar do tema As grandes diretrizes da educação popular”,
Getúlio Vargas e Francisco Campos, presentes à abertura do encontro,
declaram que o governo revolucionário não tinha uma política educacional
traçada e solicitam aos educadores, ali reunidos, que definam o sentido
pedagógico da revolução. Dessa conferência resultam o Convênio
Estastico, firmado em 20/12/1931, entre União e o Estado, em que se
fixam os padrões e as normas de ação em conjunto para a uniformização
das estasticas do ensino e a iia de um documento que
consubstanciasse o sentido básico da política educacional brasileira. Surge
então o Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932, no qual os mais
renomados educadores brasileiros reclamam uma solução global para os
problemas educativos e um plano unitário de ensino, em que as reformas no
campo educacional se vinculam às reformas ecomicas. Solicitam a
intervenção da União como condição indispensável à continuidade na
implantação e execução de um plano nacional de educação. Protestam
contra o empirismo grosseiro que, segundo eles, é comum na solução dos
nossos problemas educacionais, reafirmam a possibilidade de tratamento
54
científico para os problemas educacionais e qualificam o terreno
educacional como uma área eminentemente técnica. Os pioneiros insistem
na regionalização do ensino e na sua adequação às profissões industriais
dominantes no meio, podendo ser encarado o manifesto, desse ponto de
vista, como um primeiro apelo em favor do planejamento educacional.
Defendem ainda a educação das massas rurais e do elemento trabalhador
na cidade (PEIXOTO, 1983, p. 201-202).
Francisco Campos, alguns meses após a sua posse no Ministério da
Educação e Saúde, encaminhou, para o Governo Provisório, um projeto de decreto
que tratava da questão referente à reintrodução do Ensino Religioso, nas escolas
públicas. Ainda em 1931, Getúlio Vargas, consciente do apoio que poderia obter da
Igreja Católica, do alcance político que o seu ato acarretaria e sentindo a
necessidade de veicular os valores que constituíam a base da justificação
ideológica do pensamento político autoritário, privilegiado por seu Governo, decidiu,
ampliar em nível nacional a licença para as escolas públicas ministrarem o Ensino
Religioso.
Cury explica o interesse de Vargas em manter uma relação amistosa com a
Igreja:
[...] A revolução de Trinta, entretanto, acaba por transformar a Igreja em
uma foa social indispensável ao processo político. Afinal, a linha da Igreja
interessava a diversos grupos da classe dominante. Além disso, a
indefinição ideológica inicial dos vitoriosos (não entre eles ainda um
grupo capaz de se impor aos outros) e a instabilidade política do regime
representam o grande momento de a Igreja voltar ao procênio político e
exercer influências em vista de seus interesses. O futuro da própria Igreja,
única instituição já organizada em todo o país, dependeria de como ela
trabalhasse esta indefinição e instabilidade. O que daria as linhas de sua
relação com o poder temporal do Estado (CURY, 1978, p. 16-17).
Assim, o Ensino Religioso passou a constar como disciplina facultativa nas
escolas blicas, sendo, contudo, dispensados da freqüência, os alunos cujos pais
ou tutores assim o requeressem, no ato da matrícula. Essa determinação normativa
causou muitos protestos dos que eram contrários ao referido ato governamental, que
transformaria em decreto, alegando que ele feriria a liberdade de consciência das
pessoas. Entretanto, o referido projeto de decreto se consubstanciou no Decreto n.
19941, promulgado pelo Chefe do Governo Provisório, em 30 de abril de 1931.
55
Gabaglia (1962)
16
citado por Cury (1993) afirma que:
[...] O Decreto é minucioso e define campos, mas está eivado de certa
ambiidade e precariedade. Ambiidade: o ensino é facultativo e o
pode prejudicar o horário normal das aulas; mas os pais devem requerer a
sua dispensa. Precariedade: basta conferir o art 11º. À vista desta situação
e da assimilação de uma Constituinte, a Igreja deveria continuar a insistir na
campanha por essa vital reivindicação (CURY, 1993, p. 27).
O conflito entre a ideologia católica e a liberal se acirra, tendo como ponto alto
a instituição da Assembléia Nacional Constituinte, de 1933. Os Pioneiros, ou
Profissionais da Escola Nova, representantes do grupo empenhado em reestruturar
a educação, sintonizando-a mais com a realidade do País, defendem princípios que
se opõem aos princípios liberais. Assim, eles advogam a instauração de uma escola
pública, obrigatória, gratuita e leiga, que não faça a segregação de cor, sexo ou tipo
de estudo. Essa escola deveria estar apta a forjar uma nova sociedade mais justa e
igualitária, através da extinção do ensino tradicional, acadêmico, literário e formalista
e da implementação de um ensino, centrado no aluno, no qual o professor,
concebido como incentivador e orientador, fosse capaz de formar sujeitos mais
livres, reflexivos, criativos e independentes.
Nessa perspectiva, a escola deveria assumir os seguintes papéis:
[...] A escola deveria ser aberta a todos os cidadãos, comum e única. Uma
sociedade que busca a democracia social deve também buscar os meios de
expressá-la. Para isto a base da educação deve ser comum. O Estado, a
fim de atingir todos os elementos da sociedade dentro das novas condições,
não pode permitir dentro do seu sistema escolar o acesso a uma minoria por
graça de um privilégio econômico. A educação inicial, igual para todos, só
sofre restrições, segundo o grupo reformador, naquelas sociedades ou
grupos onde as reformas pedagógicas estão dissociadas das reformas nas
relações sociais. Assim, são as reformas sociais que condicionam as
reformas pedagógicas. Essas, por sua vez, dinamizam aquelas. Entende o
grupo que a formação única, para crianças entre 7 e 15 anos, comum e
igual para todos, o quer dizer uniforme. É uma medida de caráter político-
administrativo que visa adaptar o programa ao meio específico, servindo a
comunidade e evitando a discriminação de pessoas.
[...] Os princípios, segundo os renovadores, não param aí. Segundo eles a
escola, numa sociedade heterogênea e diversificada, deve estar acima de
crenças, disputas religiosas e dogmatismo sectário. Tais realidades, que
pertencem ao foro íntimo das pessoas, devem ser expressas dentro de seus
próprios credos e jamais nas escolas. Por isso o princípio da laicidade que
deve reinar na escola respeita a heterogeneidade da sociedade
pluralisticamente composta e a integridade da personalidade em formação.
A laicidade garante a liberdade de consciência e permite assinalar, no
16
GABAGLIA, Lauria Pessoa Raja (Rosário, Ir. Maria Regina do Santo). O cardeal Leme: (1882-
1942). Rio de Janeiro: Livraria José Olyimpio, 1962 (Documentos Brasileiros)
56
estudo das civilizações, o que em todos os credos existe de bom, justo e
aproveitável. E garante a autonomia científica da escola (CURY, 1978, p. 93
e 95).
Em suma, observa Cunha, omanifesto defendeu a autonomização do campo
educacional diante do campo político, do campo religioso, do campo econômico,
assim como das classes sociais que lhes estão subjacentes e que se reforçam a
partir de seu funcionamento (CUNHA, 2005, p.3)
Os escolanovistas tiveram, como opositores, os educadores católicos,
liderados pelo padre Leonel Franca e o trico, Alceu Amoroso Lima que defendiam
a ideologia católica, sobretudo, no que tange à obrigatoriedade do Ensino Religioso,
em todas as escolas, inclusive, nas blicas.
Por detrás dessa defesa ferrenha do Ensino Religioso, segundo Peixoto,
[...] estava o temor de perda de um importante instrumento de controle
ideológico da sociedade civil, caso a educação efetivamente passasse ao
controle do Estado. Estava também presente o receio de prejuízos de
ordem financeira e o medo do acesso das demais classes aos privilégios
conferidos pela educação (PEIXOTO, 1983, p. 203).
Segundo Figueiredo (1996), a defesa dos princípios católicos foi feita pelo
jesuíta Leonel Franca, sobretudo através de seu trabalho, intitulado Ensino Religioso
e Ensino Leigo17. Dentre os vários pontos, explicitados em seu tratado, a questão
da Escola Leiga”
17
é analisada sob o ponto de vista jurídico, pois a escola é
concebida não como lugar da neutralidade religiosa, mas de abertura aos vários
credos, sendo considerado o Ensino Religioso como uma questão afeita à liberdade
de consciência:
[...] para reconhecer-lhe a legitimidade não é mister ser catholico; todos,
crentes ou não, deveriam unir-se num sentimento de lealdade, de justiça, de
respeito mútuo para applaudir com unanimidade a sabedoria de uma
reforma que condiciona, de modo absoluto, a regeneração moral do Brasil
(FIGUEIREDO, 1996, p. 53).
Severino (1986) explica a ação do Estado, como intermediador das relações
societárias, ocorridas neste período:
[...] esta política educacional, fundada no compromisso e na conciliação de
interesses até certo ponto divergentes, era possível porque o Estado, tendo
17
FRANCA, Pe. Leonel, Ensino Religioso e Ensino Leigo. Rio de Janeiro: Schmidt Editor, 1931, p.
163.
57
assumido e assumindo-se como mediador da sociedade, mantém, na
realidade, sua identificação com a classe dominante brasileira, cindida,
nesse largo período histórico, em dois grandes poderosos grupos: o setor
tradicional, da oligarquia agrária, apoiada pela Igreja, e o setor moderno da
nova burguesia urbano-industrial, no caso da educação, apoiada pelos
educadores intelectuais renovadores. Ditatorial ou liberalmente, o Estado
empenhava-se, mediante sua política educacional, em garantir incólumes os
interesses dessa classe dominante, ao mesmo tempo que não podia deixar
de levar em conta, fazendo as devidas concessões, os interesses da
camada média e das camadas populares urbanas, segmentos que, na
história da República, cada dia mais se firmavam como interlocutores que
não era mais possível ignorar (SEVERINO, 1986, p. 82).
No período do Governo Vargas, a Igreja Católica reconstituiu o modelo de
cristandade, autoafirmando-se como religião oficial. Nesse momento, a vida religiosa
da população foi marcada tanto pela ação de Pio XI, que institui Nossa Senhora
Aparecida como Padroeira do Brasil, quanto pela inauguração do Cristo Redentor,
no Corcovado. Esses atos se constituíram como momentos para reunir o
Episcopado brasileiro, mostrar a força viva do catolicismo, capaz de mobilização
popularno intuito de atingir propósitos nem sempre do povo, em si, mas do
aparelho eclesiástico (BEOZZO, 1984, p. 293).
Por ocasião da inauguração do Cristo Redentor, Dom Leme entregou ao
Presidente Vargas a lista de reivindicações a serem contempladas, no projeto da
nova Constituição, em processo de elaboração e, segundo Horta (1994, p. 110),
citando Salem, o Cardeal advertia:O nome de Deus está cristalizado na alma do
povo brasileiro. Ou o Estado reconhece o Deus do povo, ou o povo não reconhecerá
o Estado.
Com a proximidade das eleições para a Constituinte, segundo Matos (2003)
Dom Leme daria origem a uma iniciativa de largo alcance político: a criação
da Liga Eleitoral Católica, LEC (20-09-1932) [...] para mobilizar o eleitorado
católico no sentido de apoiar e endossar as principais reivindicações da
Igreja a serem incorporadas no texto da nova Constituição Republicana. [...]
O programa da LEC era simples e eficaz: ‘apresentava um programa de
reivindicações (três fundamentais e sete secundários) a todos que
pretendiam uma cadeira na Assembléia. Aos que assinassem um
compromisso de defender os três postulados essenciais (Ensino Religioso
facultativo nas escolas públicas, a indissolubilidade do casamento, a
assistência religiosa facultativa às classes armadas), a LEC apresentava
como merecedores dos votos dos católicos, sem diferença de partidos. Com
um compromisso assinado, controlaria, depois, a seqüência das sessões
nas Câmaras e continuaria o seu trabalho de pressão para conseguir os
seus objetivos imediatos. O resultado obtido foi surpreendente. Nas eleições
para a Assembléia Constituinte, em maio de 1933, quase todos os
candidatos da LEC foram confirmados. (MATOS, 2003, p.76-77)
58
Segundo Horta, outra vitória alcançada pela Igreja se relacionava com o
direito da mulher, de uma forma ampla, poder participar do processo eletivo:
[...] a Igreja trabalhou pela extensão do direito de voto a todas as mulheres.
Até 1930, este direito não existia na legislação eleitoral brasileira. O projeto
de Código Eleitoral, preparado em 1932, previa a concessão do direito de
voto somente às mulheres desquitadas ou abandonadas e às solteiras,
casadas ou viúvas que dispusessem de economia própria. A Igreja
considerou este dispositivo um golpe nos direitos da família, e através da
Confederação Católica do Rio de Janeiro, interveio junto à Comissão de
elaboração do Código Eleitoral obtendo a concessão do voto feminino em
sentido amplo. [...] Dentro da estratégia da Igreja, a mulher era uma aliada
indispensável na defesa das suas reivindicações com relação à família e à
escola (HORTA, 1994, p. 112 - 113).
Esse grupo, vinculado à Liga do Eleitorado Católico (LEC), propôs questões
substantivas, referentes à separação da Igreja do Estado e ao Ensino Religioso,
numa perspectiva de defesa ao ideário católico: indissolubilidade do laço
matrimonial; reconhecimento da validade civil do casamento religioso; incorporação
legal do Ensino Religioso, de matrícula facultativa, nos currículos das escolas
públicas; regulamentação da assistência religiosa às Forças Armadas.
Desse modo, tornou-se mais fácil selar, na Constituição de 1934 (art. 154), a
união entre Igreja e Estado, assim como a reintrodução do Ensino Religioso, agora,
com caráter facultativo e multiconfessional:
o ensino religioso será de freqüência facultativa e será ministrado de acordo
com os princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada pelos pais ou
responsáveis, e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas
primárias, secundárias, profissionais e normais (BRASIL, 1934, p. 2).
A partir desse momento, a Igreja Católica, resgatando sua situação
privilegiada, iniciou o fortalecimento de seus quadros internos, procurando assegurar
e ampliar o seu controle sobre o laicato e o combate aos protestantes. Dom Leme,
seguindo as diretrizes de Pio XI, promoveu um movimento de revitalização do laicato
católico, motivando as massas populares nos grandes eventos, ordenando as
atividades sociais das diversas organizações católicas, consolidando a Ação
Católica Brasileira e apelando aos intelectuais na defesa da fé.
Nesse contexto, segundo Horta (1994), a Igreja procura obter maiores
dividendos, no seu relacionamento com o Estado:
59
[...] a Igreja procura obter o máximo rendimento do princípio de “colaboração
recíproca em prol do interesse coletivo institucionalizado
18
.
Este princípio traduzia-se por um pacto segundo o qual a Igreja recebia do
governo, em nome da justiça distributiva, ajuda (principalmente
econômica) para as obras e instituições por ela mantidas (escolas orfanatos,
hospitais, missões entre os índios etc); em troca, a Igreja ofereceria ao
Governo sua colaboração, em nome da justiça social.
Esta colaboração não se concretizava apenas na manutenção de obras
sociais, por parte da diocese, paróquias e ordens religiosas. Ela
manifestava-se também por meio de pronunciamentos e tomadas de
posição explícitas em favor do Governo
19
(HORTA, 1994, p. 114).
Uma outra questão, levantada pelo grupo dos católicos, se referia à infiltração
comunista, principalmente no setor da educação, nos sindicatos, no Ministério do
Trabalho e no Governo Municipal do Rio de Janeiro. A Igreja Católica reivindicava do
Estado uma ação repressiva ao comunismo para que o caminho se tornasse livre,
para sua ação no campo religioso e social. Para que se viabilizasse esse objetivo,
segundo Amoroso Lima (1935)
20
, citado por Horta (1994) seria necessário
[...] expurgar o Exercito e a Marinha de elementos políticos revolucionários,
reforçar a política, excluir dos sindicatos e dos quadros do Ministério do
Trabalho elementos agitadores, organizar a educação e entregar os postos
de responsabilidade nesse setor importanssimo a homens de toda
confiança moral e capacidade técnica (HORTA, 1994, p.115))
Em setembro de 1937, o episcopado brasileiro publicou uma Carta Pastoral
sobre o Comunismo Ateu, que explicitava sua interpretação das doutrinas e
processos do comunismo ateu, e conclamava os católicos a rezar, pedindo a Deus
para preservar o Brasil dessa ideologia e a reivindicar das autoridades uma ação, no
sentido de preservar a ordem social e o patrimônio da civilização brasileira, que se
encontrava ameaçada.
Getúlio, em 1937, aproveitando o confronto existente entre esquerda e direita,
um golpe nas forças esquerdistas, consubstanciadas na Aliança Nacional
Libertadora e, sob o pretexto da ocorrência de uma iminente guerra civil, desfechou
o Golpe de Estado, implantando a ditadura que ficou conhecida como Estado Novo.
18
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1934, Art. 17: “É vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos municípios: [...] III, ter relação de aliança ou dependência com
qualquer culto ou Igreja, sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo.
19
A esse respeito consultar: HORTA, José Silvério Baía. O Hino, o Sermão e a ordem do dia: a
educação no Brasil (1930-1945). Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1994, p. 114.
20
LIMA, Alceu Amoroso. Carta a Gustavo Capanema: 16 de jundo de 1935. CPDOC: Arquivo
Gustavo Capanema, GBC/Lima.
60
2.1.3 O Estado Novo
Com a instauração do Estado Novo, em 1937, as lutas ideológicas em torno
dos problemas educacionais entravam numa escie de hibernação e a tendência
liberal, que caracterizou a segunda República, é substituída pelo autoritarismo.
O novo regime de arbítrio tinha diretrizes bem definidas e ideologias próprias,
objetivando colocar o sistema de ensino a serviço do Governo e formar o cidadão
do Estado Novo. A educação é encarada, então, como um fator capaz de contribuir
para a legitimação do novo regime e como um instrumento de difusão ideológica,
sendo incluída no quadro estratégico do Governo para buscar soluções no campo
social e no combate à subversão (PEIXOTO, 1983).
Gustavo Capanema, então Ministro da Educação, querendo firmar sua
posição, defende que a educação devia atuarnão no sentido de preparar o homem
para uma ação qualquer na sociedade”, masno sentido de prepará-lo para uma
ação necessária e definida, de modo que ele entre a constituir uma unidade moral,
política, econômica, que integre e engrandeça a Nação (HORTA apud CAPANEMA,
1994, p. 167).
Desde o início, Getúlio Vargas mostrou, claramente, sua intenção de fazer
com que a doutrina do Estado Novo informasse e dirigisse toda a educação,
reafirmando, em seus discursos, a necessidade de se dar diretrizes uniformes à
política educacional.
O que interessava a Vargas no campo educacional, segundo Horta,
[...] não era o estabelecimento de diretrizes técnico-pedagógicas que
orientassem a União no exercício de sua ação coordenadora e
incentivadora com relação aos sistemas de ensino, como queriam os
educadores liberais, mas a fixação de diretrizes políticas que permitissem
ao Estado conformar e orientar a educação nacional para que esta
exercesse a função de preparação política dos cidadãos, capacitando-os
para resistir ao influxo dissolvente do comunismo. Estas diretrizes políticas
deveriam, de acordo com Vargas, ser levadas em consideração no
momento de se estabelecerem as bases do ensino nacional e de elaborar o
“Plano Nacional de Educação (HORTA, 1997, p. 34).
Assim, as linhas ideológicas que definiram a política educacional do período
se orientaram pelas matrizes instituintes do Estado Novo: centralização,
61
autoritarismo, nacionalização e modernização (HILSDORF, 2003).
No aspecto educacional, a Carta de 37 reflete essa nova orientação. Ela
atribuiu à União competência parafixar as bases e determinar os quadros da
educação nacional, traçando as diretrizes a que deve obedecer a formação sica,
intelectual e moral da infância e da juventude e inverteu as tendências
democratizantes da Carta de 34, preterindo a educação pública, que assumiu um
papel subsidiário (Art. 125), e quanto ao ensino, visualizado como direito de todos e
gratuito, passou-se a exigir uma contribuição mensal, para a caixa escolar, por
parte daqueles que nãopuderem alegar escassez de recursos (Art. 130). (BRASIL,
1937, p. 4)
Em linhas gerais, a política educacional do Estado Novo é explicada por
Peixoto:
[...] A política nacional de educação adotada pelo Estado Novo se integrava
a uma estratégia mais geral, destinada a solucionar a questão social e a
sedimentar o poder político e a ordem sócio-econômica vigente no país. As
palavras de Gustavo Capanema na abertura da 1ª. Conferência Nacional de
Educação são bastante expressivas: O objetivo do encontro era reunir as
iias, as vontades e os corações [...] numa falange nacional. Esse
simsio, patrocinado pelo governo, girou em torno do problema do ensino
elementar em conexão com o ensino técnico-profissional e da criação da
juventude brasileira destinada ao ensino pré-militar e à educação cívica e
moral dos jovens. Entre as recomendações da 1ª. Conferência está a de
que a União auxilie os Estados na difusão do ensino primário, promova a
expedição da Lei Ornica do Ensino Primário e o ajuste de um Convênio
Nacional do Ensino Primário, a ser firmado entre a União e os Estados, com
vistas à concessão de auxílio financeiro e técnico-pedagógico para o
desenvolvimento de ensino primário em todo o país (PEIXOTO, 1983, p.
205).
Quanto ao Ensino Religioso, objeto desse trabalho passou a o ter, na nova
Constituição, as mesmas prerrogativas presentes na Carta Magna anterior. Embora
mantido na Constituição de 1937, não mais assegurava sua oferta como disciplina
obrigatória, nos currículos escolares. O Art. 133 estabelecia:o Ensino Religioso
poderá ser contemplado como matéria do curso ordirio das escolas primárias,
normais e secundárias. Não poderá, porém, constituir objeto de obrigação dos
mestres ou professores, nem de freqüência compulsória por parte dos alunos.
(BRASIL, 1937, p. 3)
A Igreja, mesmo tendo garantias, por parte do Governo, de que as relações
não seriam alteradas, é obrigado a adequar-se à situação. Sua posição o é mais
62
de umdireito inscrito na Constituição, mas de uma concessão, que dependia do
arbítrio do Governo (BEOZZO, 1984, p. 340) e, além disso, para o Governo
instaurado, a atuação da Igreja, segundo Horta
[...] deveria limitar-se ao domínio religioso, em sentido estrito: pregação e
domínio das almas. Em troca, o Estado Novo esperava dos membros do
clero que estes, através da palavra e do exemplo, ensinassem aos fiéis a
obediência à lei, a ordem e a disciplina.
Esta concepção, considerada por Dom Aquino Correa como uma escie de
“concordata moral entre o Estado e a Igreja no Brasil, será posta em prática
por Vargas e aceita pela Igreja. Assim, em 1938, quando surgem problemas
entre o governo e certos elementos do clero, suspeitos de serem
simpatizantes do integralismo, Getúlio Vargas não hesita em mandar o seu
Chefe de Polícia, Felinto Muller, encontrar-se com Monsenhor Dainese e
encarregá-lo de comunicar a Dom Leme que o governo ficaria satisfeito se o
Cardeal determinasse a todo o clero que, nas suas pregações,
acentuassem a necessidade de ser cumprido o que manda a Igreja no que
se refere ao respeito, à obediência e ao acatamento às autoridades
constituídas (HORTA, 1994, p. 118-119).
Muitas medidas foram tomadas para dar uma nova configuração à educação,
tendo em vista a vigência da Constituição de 1937, sobretudo a Reforma Capanema
que instituiu as denominadas Leis Orgânicas, veiculadas através de decretos-leis,
emitidos entre 1942 a 1946, que criaram os ramos de ensino: primário, secundário,
industrial, comercial, normal e agrícola. Deve-se ressaltar, nessa Reforma do ensino
secundário, a discriminação do ensino técnico-profissional. Foi, em síntese, uma
reforma elitista e conservadora que promoveu a dualidade estrutural, traduzida em
não permitir o acesso dos egressos do ensino técnico-profissional, ao nível superior
de ensino.
Junqueira (2002a) enfatiza que Gustavo Capanema, ao preparar
pessoalmente a Lei Orgânica do Ensino Secundário, durante o ano de 1941, redigiu
um manuscrito no qual determinava a inclusão da instrução religiosa no currículo
desse ensino, que deveria figurar entre as disciplinas de educação geral
21
.
Segundo esse autor, Gustavo Capanema teria utilizado, como referência, uma
legislação espanhola, que incluía o ensino da religião católica, durante os sete anos
21
Nota: [] A religião terá que ser ensinada em aula e praticada na conformidade de seus
mandamentos (confissão, comunhão, missa, exercícios religiosos). A escola entrará aqui em
entendimento com a Igreja e a família [...] O ensino religioso não se confunde, entretanto, com a
prática, culto ou devoção religiosa. O ensino deve ser instituído pelas escolas [...] reservando-se, para
ele, um certo período do horário semanal. O professor será um sacerdote ou leigo, conforme a maior
conveniência do estabelecimento [...] (CAPANEMA, G. Projeto da Lei Orgânica do Ensino
Secundário. Rio de Janeiro: Mimeo, 1941).
63
dos cursos de nível secunrio, objetivando alicerçar a formação da personalidade,
a partir da construção de uma firme fundamentação religiosa. Por isso, colocou entre
as questões importantes, a necessidade de contemplar a religião como fator de
elevação do poder nacional.
Nas primeiras versões do anteprojeto da Reforma, Capanema fez constar um
artigo sobre a educação religiosa, como uma matéria, contudo sem caráter de
obrigatoriedade, provocando reações do Pe.. Leonel Franca e de Alceu Amoroso
Lima que argumentaram sobre a importância dessa disciplina, para a formação
integral das novas gerações. Portanto, para eles, ela deveria ser obrigatória no
ensino secunrio.
A versão final da Lei Ornica do Ensino Secundário, veiculada através do
Decreto 4244 (9 de abril de 1942), levou em consideração a posição das lideranças
católicas, estabelecendo, também, que os programas de religião e seu regime
didático seriam fixados pela autoridade eclesiástica:
Art. 21- O ensino de religião constitui parte integrante da educação da
adolescência, sendo lícito, aos estabelecimentos de ensino secunrio,
incluí-lo nos estudos do primeiro e segundo ciclo.
Parágrafo único: Os programas de ensino de religião e o seu regime
ditico serão fixados pela autoridade eclesiástica (REPÚBLICA DOS
ESTADOS UNIDOS DO BRASIL
, 1942, p. 25)
22
Diante desse Decreto
23
, D. Jaime de Barros Câmara, procurando seguir as
normas estabelecidas pelo Ministério, elaborou, ainda em 1942, os programas e as
instruções metodológicas para o Ensino Religioso, explicitando que a finalidade do
curso de religião seria formar cristãos. Entre os contdos propostos, destacavam-
se as principais verdades da fé, a moral cristã, o culto e os sacramentos. No curso
colegial, depois de uma revisão dos conteúdos, priorizados no ginasial, seriam
estudados o problema do humanismo e as questões mais importantes da
adolescência. No final do curso colegial, deveria ser apresentada aos alunos a
posição da Igreja, em face dos problemas econômicos, estéticos, cienficos,
22
REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. Decreto lei n. 4244 (9 de abril), In: Coleção
das leis do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942, p. 25. v.3
23
Outros decretos contemplam o Ensino Religioso: Decreto - Lei n. 8530/46 (Lei Orgânica de Ensino
Normal: Art. 15); Decreto-Lei n. 8529/46 - Lei Orgânica do Ensino Primário: Art. 13; Decreto-Lei n.
4073/42 - Lei Orgânica do Industrial: Art. 53; Decreto-Lei n. 6141/43 - Lei Orgânica do Ensino
Comercial: Art. 13; Decreto-Lei n. 9613/46 - Lei Orgânica do Ensino Agrícola: Art. 48 - (Cf.: República
dos Estados Unidos do Brasil Coleção das Leis do Brasil). Rio de Janeiro, Imprensa, 1942. v.3
64
políticos, sociais e religiosos (HORTA, 1994).
Segundo esse autor, o programa baseava-se em uma concepção moralista da
religião e em uma visão triunfalista da Igreja. Essa perspectiva foi dominante no seio
da Igreja Católica, do Brasil, nos anos seguintes. Assim, o Ensino da Religião
assumiria, cada vez mais, um caráter apolotico, em sintonia com o espírito da
grande ofensiva antiprotestante e antiespírita, desencadeada pelo Secretariado
Nacional de Defesa da Fé, criado pelo Concílio Plerio Brasileiro, em 1939. Ao
cabo de alguns anos, começou a despontar, no meio católico, uma tendência
progressista que passaria a ser responsável tanto pelo surgimento da esquerda
católica, no Brasil, final da cada de 50, quanto por um aprofundamento da aliança
da Igreja com as classes populares, depois de 1964 (HORTA, 1994).
2.1.4 A República Populista
Com o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), várias mudanças e
desafios se generalizaram pelo mundo. Por um lado, anunciava-se uma nova era, de
construção de governos populares e democráticos na Europa e, por outro,
estabelecia-se um clima de guerra fria entre duas potências: Estados Unidos e a
União Soviética. No Ocidente, o capitalismo consolidou-se como sistema
socioeconômico dominante, sustentado por ideologias que visavam legitimá-lo. No
Brasil, o modelo nacional desenvolvimentista prosseguiu no processo de
industrialização, sob a influência direta dos Estados Unidos, que passaram a injetar
capital na economia brasileira, gerando, assim, um desenvolvimento não auto-
sustentado.
Em consonância com o clima de redemocratização que dominava o mundo e
que penetrou no País, no final do Estado Novo (1945), a Associação Brasileira de
Educação (ABE) promoveu o IX Congresso Brasileiro de Educação, que tinha como
centro o estudo e o planejamento da educação nacional, em todos os graus,
segundo diretrizes e em bases democráticas (HORTA, 1997).
Oficialmente, o Estado Novo terminou em 29 de outubro de 1945, devido à
deposição de Vargas. O Marechal Eurico Gaspar Dutra foi eleito Presidente da
65
República. Sucederam-no Getúlio Vargas (1951-1954); João Café Filho (1954-1955),
Carlos Luz, por dois dias; Nereu Ramos (1955-1956); Juscelino Kubitschek de
Oliveira (1956 a 1961), Jânio da Silva Quadros (31/01/1961 a 25/08/1961); Paschoal
Ranieri Mazzilli (25/08/1961 - 07/09/1961) e João Belchior Goulart (1961-1964).
A partir de Gaspar Dutra, iniciou-se o processo de redemocratização do País,
sobretudo, devido ao crescimento dos movimentos populares, da formação de
partidos, das eleições para a presidência da República. Entretanto, esse clima de
maior liberdade se restringia a
[...] uma democracia limitada, com muitas restrições: o Partido Comunista foi
posto em ilegalidade em 1947, apenas dois anos depois de sua legalização;
os analfabetos não puderam votar; as desigualdades na distribuição da
renda e da propriedade da terra tornavam quase impossível a participação
dos pobres, etc. (PILETTI, 1996, p. 98).
Em 18/09/1946, a nação recebe uma nova Constituição, caracterizada pelo
espírito liberal e democrático de seus enunciados, reforçando, no campo da
educação, as posições dos educadores, ligados à concepção liberal, os
denominados profissionais da educação, sem, contudo, comprometer a continuidade
dos princípios, defendidos pelos grupos ligados à ideologia católica.
A Constituição de 1946 reintroduziu alguns princípios que haviam sido
suprimidos pela Carta Ditatorial de 1937 tais como: a educação como direito de
todos, a escola primária obrigatória, a assistência aos estudantes e a gratuidade do
ensino oficial para todos, ao nível primário e aos níveis ulteriores, para quantos
provassem falta ou insuficiência de meios (CHAGAS, 1980, p. 57).
Essa Constituição estabeleceu que caberia à União legislar sobre as diretrizes
e bases da educação nacional (Art. 5º, item XV, letra d”), propondo os requisitos
mínimos para sua elaboração. Além disso, exigiu concurso de títulos e provas para
preenchimento do cargo de magistério (Art. 168, item VI), determinando a
organização do sistema educacional, de forma descentralizada, administrativa e
pedagogicamente, estipulando, também, o papel da União. Previa os recursos
mínimos, destinados à educação, procurando assegurar o direito à educação,
estipulado pelo artigo Art. 169.
A Carta de 1946, norteada pelos princípios de liberdade de consciência, de
crença e de culto, estabeleceu um novo tipo de relação entre Estado e Igreja através
66
do artigo 31, inciso II:à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é
vedado ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto ou igreja, sem
prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo. (BRASIL, 1937, p.
3).
Outros aspectos importantes se fizeram sentir na nova postura, estabelecida
entre Igreja e Estado: a dimensão da liberdade de consciência e de culto, garantidos
pelo Artigo 141 parágrafos 7, 8 e 10, da referida Constituição:
É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública
ou os bons costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade
jurídica na forma da lei civil. Por motivo de convião religiosa, filosófica ou
política, ninguém será privado de nenhum dos seus direitos, salvo se a
invocar para se eximir de obrigação, encargo ou serviço impostos pela lei
aos brasileiros em geral, ou recusar os que ela estabelecer em substituição
daqueles deveres, a fim de atender escusa de consciência. [...]Os
cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela autoridade
municipal. É permitido a todas as confissões religiosas praticar neles os
seus ritos. As associações religiosas poderão, na forma da lei, manter
cemitérios particulares (BRASIL, 1946, p. 2).
Esse importante documento normativo manteve o Ensino Religioso obrigatório
para os estabelecimentos blicos, devendo ser ministrado segundo a confissão
religiosa dos alunos, assegurando, assim, a liberdade religiosa. O Art. 168, inciso V,
determina que:o Ensino Religioso constitui disciplina dos horários das escolas
oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão
religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal
ou responsável”. (BRASIL, 1946, p. 3)
Nesse período, a Igreja continuou dando suas diretrizes na legislação,
referente ao Ensino Religioso. O seu leque de atuação foi se ampliando, a partir de
1945, quando se reestruturou a Ação Católica no Brasil (ACB) que visava direcionar
suas ações para os meios sociais a serem evangelizados: o mundo rural,
estudantil, operário e universitário. O alvo preferencial, dentre esses quatro meios,
era a juventude católica. O interesse principal da Igreja era o engajamento efetivo do
leigo, na realidade social. Para tal objetivo, era indispensável o uso de uma
aprimorada consciência crítica, obtida mediante a formação de uma metodologia
centrada no VER, JULGAR e AGIR. A juventude, se fosse bem formada, em termos
de aquisição de uma fé lúcida, alargada pela visão objetiva do problema social,
67
atuaria como fermento na massa.
Os movimentos, dirigidos pela Igreja, na época, propiciaram uma atuação
organizada e crítica do laicato e representaram uma nova forma de presença da
Igreja na sociedade, ajudando, através do uso de uma nova pedagogia, a mudar a
maneira de interpretar o evangelho e a descobrir aspectos novos na fé.
Um passo importante foi dado para promover a organização interna da Igreja
Católica, através da criação de importantes Associações e Instituições, como a
Associação dos Educadores Católicos (AEC - 1945), a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB
24
- 1952), as Semanas Pedagógicas, realizadas em 1955 e
1956, e as Classes Experimentais, nos anos seguintes, que se orientavam por
princípios escolanovistas europeus, advindos, sobretudo, das teorias de Montessori
e Lubienska.
[...] Por meio de palestras e cursos intensivos divulgam-se nos meios
católicos as novas iias pedagógicas, principalmente as de Montessori e
Lubienska
25
. Surge, assim, na esteira do predomínio da concepção
humanista moderna de educação, uma escie de escola nova católica
[...] Vê-se, assim, que o predomínio das iias novas força, de certo modo,
a renovação das escolas católicas. A questão que estava em pauta era,
pois, renovar a escola confessional sem abrir mão de seus objetivos
religiosos. Para os colégios católicos, cujo alunado integrava as elites
econômica e cultural, era, mesmo, uma questão de sobrevivência. Com
efeito, com o predomínio do ideário renovador, as famílias de classe média
tendiam a usar como um dos critérios de escolha da escola para seus filhos,
a sintonia metodológica com as novas iias pedagógicas. A Igreja
necessitava se renovar pedagogicamente, sob o risco de perder a clientela.
O caminho que a Igreja Católica encontrou para responder a essa exigência
foi assimilar a renovação metodológica sem abrir mão da doutrina
(SAVIANI, 2005, p. 42-43).
Nesse período, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se reorganizou,
estabelecendo os Secretariados Nacionais de Educação, da Ação Social, de Ensino
Religioso, de Semirio e Vocações Sacerdotais, do Apostolado Leigo, da Liga
Católica. Além disso, passou a assumir a responsabilidade pela experiência das
escolas radiofônicas de Natal, estendendo-a para as regiões Norte, Nordeste e
24
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - que tinha como objetivos: promover uma ação
pastoral mais articulada com o conjunto das diversas dioceses; revitalizar as linhas de comunicação
entre os bispos do país; superar as lacunas individuais dos membros do Episcopado Nacional; prover
uma unidade mínima à administração cotidiana, estudar e discutir problemas de interesse do
episcopado e de interesse comum.
25
Sobre a preferência pelas iias pedagógicas de Lubienska por parte das escolas católicas, ler.
SAVIANI, Dermeval, In: RAMOS, Lílian M. P. C. Igreja, Estado e Educação no Brasil. Rio de
Janeiro: Papel Virtual Editora, 2005.
68
Centro-Oeste. Nesse contexto, implantou-se em 1958 o Movimento de Educação de
Base (MEB) que se constituiu como a primeira grande iniciativa promovida pela
Igreja, em relação às classes populares do interior, com o objetivo da promoção
social.
O Movimento de Educação de Base, ligado à Igreja Católica, pode ser considerado como o mais
amplo programa implantado no Brasil, no âmbito desse nível educacional. Esse movimento, embora
tivesse como objetivo promover a alfabetização, sobretudo, das camadas sociais marginalizadas,
visava, principalmente, conseguir mobilizar e politizar a sociedade civil, lançando mão do conceito de
conscientização. O método usado no processo de alfabetização era o de Paulo Freire, que, após um
processo inicial de politização conscientizadora, utilizava palavras e temas geradores que tinham
uma propositura de conscientizar o aluno sobre seus direitos, enquanto cidadão.Assim, na referida
metodologia, alfabetização, politização e conscientização se constituem como seu tri sustentador.
Embora o método tenha sido usado em todas regiões brasileiras, as regiões norte, nordeste, centro-
oeste e norte de Minas foram as priorizadas, devido ao fato de possuírem níveis mais altos de
analfabetismo. O MEB, também incentivava a participação de camponeses e operários, sujeitos
historicamente marginalizados, nos processos sócio-políticos. Em síntese, pode-se afirmar que esse
movimento obteve êxito, alfabetizando e conscientizando politicamente, um considerável número de
pessoas e esse sucesso, em parte, foi conseqüência do aproveitamento da experiência, vivenciada
pelas escolas radiofônicas de Natal, criadas por Dom Eugênio Sales em 1958 (BRUMEAU, 1974)
Em 1961, Jânio Quadrosassinou o Decreto n. 50.307, pelo qual o Estado
responsabilizava-se pelo financiamento do MEB, enquanto a Igreja executava seu
programa de educação de base, principalmente mediante escolas radiofônicas em
regiões carentes (MATOS, 2003, p. 149).
Os religiosos e as religiosas do Brasil se organizaram e, em 13/02/1954, foi
oficializada a fundação da Conferência dos Religiosos do Brasil, com a finalidade de
coordenar e articular as diversas comunidades religiosas, facilitar os estudos sobre
seus problemas e promover a criação de serviços de interesse comum, visando à
colaboração mútua.
Esse novo rumo na missão da Igreja do Brasil foi reforçado, tendo como
pressuposto as decisões do Concílio Vaticano II (1962-1965), que inaugurou uma
nova fase na vida da CNBB. Essa entidade tornou-se espaço de diálogo e de busca
da unidade na multiplicidade, apresentando-se, legitimamente, como um organismo
catalisador das aspirações e dos desafios que interpelavam o ministério episcopal no
Brasil.
A partir de 1960, os Bispos no Brasil começaram a elaborar um planejamento
pastoral, tendo em vista uma missão evangelizadora, sintonizada com a realidade do
País. Freitas (1997) afirma que o
69
planejamento ajudou a criar uma nova consciência eclesial e uma nova
compreensão do que significa ser povo de Deus e sujeito histórico da
evangelização. Alimentou, também, uma atitude de serviço e uma imagem
de Igreja servidora do Evangelho. (FREITAS, 1997, p. 399)
O Plano de Pastoral de Conjunto foi aprovado, na VII Assembléia da CNBB,
em 1965.
A Igreja, no decorrer desses anos, passou a atuar mais, através dos seus
organismos (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Conferência dos Religiosos
do Brasil, Liga Católica, Associação dos Educadores Católicos). Nessa direção, ela
se posicionou durante o longo processo de elaboração das primeiras Diretrizes e
Bases da Educação, iniciado em 1948 e concluído em 1961. Esse período foi
caracterizado por calorosos embates entre os defensores da ideologia católica e os
que advogavam os princípios da ideologia liberal, como já ocorrera, na cada de
30.
Segundo Buffa (1979), as polêmicas entre escola particular e escola blica
foram iniciadas em novembro de 1956 a partir de dois acontecimentos: no dia cinco,
do mês referido, o padre deputado Fonseca e Silva pronuncia um primeiro discurso
na Câmara Federal, atacando Anísio Teixeira, diretor do Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos (INEP) e Almeida Jr., relator geral do anteprojeto original (de
1948), de se insurgirem contra os interesses das escolas confessionais. No dia 14
de novembro, pressionada por reiteradas reclamações do plenário da Câmara, a
Comissão de Educação e Cultura apresentou, finalmente, o seu parecer. Com isso,
os debates passaram a se desenvolver, predominantemente, no plenário da
Câmara, o que conferia às discussões em torno das Diretrizes e Bases da Educação
uma feição nitidamente política. O discurso de Fonseca e Silva teve o mérito de levar
os interesses conflitantes a se manifestarem num jogo político aberto.
Segundo a mesma autora, esse discurso advertia o Ministério da Educação
contra as influências do pragmatismo e do materialismo dialético, ancoradas na
direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, dirigido por Anísio Teixeira.
Protestava, também, contra a atitude facciosa e antidemocrática de Almeida Jr., ao
presidir o I Congresso Estadual de Educação, realizado em Ribeirão Preto, de 16 a
23 de setembro de 1956, por não permitir que fossem discutidas, no evento,
questões ligadas ao problema do Ensino Religioso na rede blica de ensino.
(BUFFA, 1979). Para Almeida Júnior, os professores de Ensino religioso não
70
passam de elementos agnósticos e cripto-comunistas, que se ancoram em altos
postos, para desfechar uma campanha contra a formação religiosa do povo
brasileiro (BUFFA, 1979, p. 21).
Fonseca e Silva, em diversas ocasiões, fez ataques a Anísio Teixeira,
acusando-o de empreender uma velha campanha, inspirada no filosofismo
pragmatista de John Dewey, que, desde 1932, vinha levantando uma bandeira
contra o apostolado da Igreja Católica, no campo do ensino, e contra os colégios
particulares. A implantação, no campo educacional, dos princípios deweynianos cujo
rígido materialismo, aliado à evolução sociológica, coincidem com as linhas mestras
do materialismo histórico (BUFFA, 1979).
Na realidade, Anísio Teixeira não advogava o monopólio da educação pelo
Estado, mas o direito democrático à educação blica
26
.
O clima de conflito entre as duas facções continuou a se manifestar no IV
Congresso dos Antigos Alunos da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da
Universidade de São Paulo, realizado em janeiro de 1957. Nesse evento, debateu-
se o tema: Ensino Religioso e subvenção do Estado a escolas religiosas.
A partir daí, constatou-se o acirramento do conflito entre as duas facções, que
deixou de ser discutido apenas no Congresso, para ganhar os círculos intelectuais
do País e a sociedade civil. O Congresso chegou às seguintes conclusões, segundo
Buffa (1979):
[...] manifestam-se contrários ao ensino religioso nas escolas públicas
(embora a Constituição o permitisse); contra a subvenção, pelo Estado, das
escolas religiosas, a não ser as que se dedicam realmente ao ensino
gratuito de alunos pobres, sem qualquer discriminação religiosa. Propõem
ainda que o IV Congresso aprove uma moção de desagravo aos ilustres
educadores Fernando de Azevedo, A. Almeida Júnior e Anísio Teixeira que,
por ocasião do I Congresso Estadual de Educação, foram injuriados por um
setor mal informado e sectário da imprensa de Ribeirão Preto (BUFFA,
1979, p. 26).
Três dias após o encerramento desse Congresso, o Correio Paulistano
publica um editorial, intitulado Uma Tese Lamentável, refutando tanto os
considerandos, como as conclusões dos congressistas:
[...] Acusava a minoria que a ele compareceu de, sem debate, ressuscitar
26
Sobre a posição de Anísio Teixeira em relação a escola pública, consultar BUFFA, Ester. (1979).
71
preconceitos de idade caduca, ódios sepultados, facciosismos vencidos e,
em alguns pontos, tolices incompreensíveis em universitários de
responsabilidade. Na opinião do jornal, dizer que o ensino religioso nas
escolas viola a livre pesquisa e aceitação da verdade equivale a passar
atestado de supina ignorância sobre a participação das confissões
religiosas na evolução da ciência em todo mundo. Quanto a outro
considerando dos congressistas, a da coação das minorias religiosas, diz o
edital que seus signatários estão totalmente ausentes do nosso país,
porquanto se um país nesse planeta, onde não se assinala a coação
sobre a minoria, é o nosso. A bem da verdade, o documento dos
congressistas não fala em coação a minorias religiosas, como afirma o
citado editorial, mas textualmente afirma num dos considerandos: que as
tentativas de aprovação de leis sobre o ensino religioso, frontalmente
prejudiciais às minorias religiosas, e atentatórias à Constituição, tentativas
realizadas inclusive em nosso Estado, não podem ficar sem uma enérgica
repulsa de nossa parte (BUFFA, 1979, p. 26-27).
Esse debate desencadeou uma verdadeira guerra ideológica entre defensores
da escola blica, representados principalmente pelos educadores, filiados ao
Movimento da Escola Nova, e defensores da ideologia católica, que se vincularam
aos interesses da escola privada. No debate a favor do ensino privatizado, os
empresários das escolas particulares, voltados para interesses comerciais,
utilizaram-se da Igreja Católica que lhes forneceu os velhos argumentos, centrados
na liberdade de ensino e no direito da família na educação dos filhos. Desse
modo, menciona Severino (1986) que
[...] a ideologia católica, na sua especificidade doutrinária religiosa, não lhes
interessava, camuflando sua real rejeição do contdo religioso na defesa
genérica da liberdade de consciência e de culto. Religião, na sociedade
como na escola, é um assunto de opções individuais. Na realidade, uma
ideologia política muito mais abrangente estará por trás e mais além dessa
alegada neutralidade (SEVERINO, 1986, p. 84).
A comissão, encarregada de realizar estudos e propor um anteprojeto para as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi presidida pelo Prof. Lourenço Filho,
sendo esse projeto encaminhado à Câmara Federal, em novembro de 1948. Entre
as idas e vindas do projeto, da Comissão de Educação e Cultura para o Plenário da
Câmara e vice-versa, assistiu-se a uma longa luta, entre liberais versus católicos,
que se prolongou durante o processo de elaboração desse documento normativo,
isto é, durante 13 anos. Para Romanelli (1987),
[...] era a retomada de uma luta iniciada cadas antes. Os aspectos
ideológicos em jogo eram os mesmos de antes. No fundo, era uma nova
investida das lideranças conservadoras contra a ação do Estado, que se
72
separara da Igreja com a Proclamação da República, e vinha, desde então,
assumindo um papel que antes cabia a esta, com prioridade: o da educação
(ROMANELLI, 1987, p. 178).
Enquanto o Projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional era discutido
na Câmara dos Deputados, os debates em torno da liberdade de ensino se
intensificavam.
No início de 1958, Dom Vicente Scherer fez um pronunciamento, durante a
missa de comemoração do seu undécimo aniversário episcopal, tanto contra Anísio
Teixeira por estar promovendo não só o laicismo do ensino, quanto contra a
laicização e o materialismo da vida, defendendo a escola particular e a subvenção
do Estado às escolas particulares.
Com relação a esses dois aspectos, de acordo com Buffa (1979), Scherer
assim se posicionou:
[...] o monopólio estatal do ensino é um violento atentado a prerrogativas
insuprimíveis da família. E mais adiante, ao discorrer sobre o monopólio e
os regimes totalitários afirma que o monopólio estatal do ensino é tese
essencialmente totalitária e antidemocrática.
[...] é uma clamorosa injustiça que o Estado comete obrigando os pais, que
desejam uma escola informada de determinados princípios educativos, a
pagar duas vezes a taxa escolar, uma vez contribuindo para os impostos
comuns, com que são mantidos os estabelecimentos públicos de ensino, e
outra vez, atendendo às justas exigências da escola particular em que os
filhos estudam (BUFFA, 1979, p. 30).
Anísio Texeira, segundo Buffa (1979), respondeu às críticas, feitas por D.
Vicente Scherer, em entrevista dada ao jornal O Globo, respaldando os conceitos já
expressos em sua conferência, proferida no Congresso de Ribeirão Preto, sobre A
escola blica universal e gratuita. Esse trico, numa outra entrevista, ao
defender-se de acusações idênticas, feitas pelos bispos gaúchos, se expressou
desta forma:
[...] a atitude dos senhores bispos do Rio Grande do Sul revela-se contra a
escola pública e não em defesa da escola particular, que declaram
hostilizada, mas, sobre o que nada concretizam, pois, a realidade é que a
escola particular longe de ser hostilizada pelo Poder Público é ajudada por
ele e com verbas cada vez mais crescentes (BUFFA, 1979, p. 32).
Segundo Buffa (1979) as reações contra os posicionamentos de Anísio
Teixeira levaram muitos educadores e intelectuais de Pernambuco e de outras
73
partes do País a se solidarizarem com ele, criticando as declarações do episcopado.
Os Professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio
Preto, em manifesto dirigido a Anísio Teixeira, assim se expressaram:
[...] também que a atitude do clero católico indica em última análise uma
reação contra a nova orientação do sistema educacional brasileiro, pois só
agora o Brasil começa a entrar nas etapas decisivas da luta para vencer seu
subdesenvolvimento, mediante a industrialização de sua economia, a
urbanização de suas populações, a secularização do serviço público em sua
cultura e a democratização da sua vida política, fatores de progresso
nacional que permitem e exigem a educação popular (BUFFA, 1979, p. 33).
A mais alta hierarquia católica brasileira, reunida em Goiânia, de 3 a 11 de
julho de 1958, elaborou um documento que tratava, entre outros assuntos, da
educação. Com relação a esse tema,
[...] na proposição de meios para a expansão e melhoria da qualidade do
ensino, invocam os mesmos princípios já manifestados em outras
publicações, exigindo a liberdade de ensino: educar, porém, não é a sua
(do Estado) tarefa própria. Pertence a outro grupo natural que lhe é anterior:
a família. O Estado não deve ignorar ou desinteressar-se da obra
educativa, pois é uma grande foa supletiva na obra da educação. À
propoão que o Estado amplia sua rede de arrecadação de impostos, a
gratuidade do ensino primário e secundário se impõe, diretamente para as
suas escolas e indiretamente para as particulares. Daí que a subvenção do
Estado às escolas particulares não é favor, pois ao Estado cabe
assegurar meios para que a escola pública ou particular atinja aos seus fins
(BUFFA, 1979, p. 35).
No final de 1958, a Comissão de Educação e Cultura recebeu um substitutivo
- o substitutivo Lacerda - que alterava profundamente o texto original. Pelo fato de
esse substitutivo defender os interesses dos donos das escolas privadas e ao
74
Finalmente, o Projeto de Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi
aprovado, em 1961, com mais de 200 emendas que procuraram conciliar as
tendências em disputa. Entretanto, a referida legislação acabou frustrando as
expectativas dos setores mais progressistas, porque garantiu igualdade de
tratamento, por parte do Poder Público, tanto para as escolas públicas, quanto para
as particulares, viabilizando, assim, o encaminhamento de verbas blicas para as
escolas particulares.
Em síntese, segundo Severino (1986), o Estado, como sempre, procurou
conciliar as duas tendências em conflito, contemplando, em grande parte, suas
reivindicações.
A Lei n. 4024/61mantém a velha neutralidade a respeito do Ensino Religioso
na escola, legitimado sempre como elemento eclesial no universo escolar
(FIQUEIREDO, 1996, p. 61). Homologado como Ensino Religioso Confessional,
tornou-se, portanto, uma catequese escolar. Pode-se afirmar que essa Lei Magna
Educacional refletiu as lutas ideológicas, deflagradas entre os defensores das
escolas blicas e privadas.
O Art. 97, da Lei 4024/61, contempla o Ensino Religioso, da seguinte forma:
O Ensino Religioso constitui disciplina dos horários normais das escolas
oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado sem ônus para os cofres
públicos, de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele,
se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável.
parágrafo- A formação de classe para o ensino religioso independe de
mero mínimo de alunos.
parágrafo- O registro dos professores de ensino religioso será realizado
perante a autoridade religiosa respectiva (BRASIL, 1961, p. 3).
Para Junqueira (2002a), a Lei de Diretrizes de 1961 (Lei. 4024) homologou o
modelo mais antigo e utilizado do Ensino Religioso, compreendendo suas bases na
etimologia do Verbo Religio como Reeligere de re-colher. Junqueira (2002a) busca
a etimologia dos termos em Santo Agostinho e Macróbio:
[...] Agostinho reconhece que a palavra religio é derivada de Cícero em seu
livro De natura deorum, de RELEGERE”, de RELER e repassar as
cerimônias do culto divino para fazer bem, de religare vincular ou relacionar
Deus com os homens, com o conhecimento, o amor, o favor e o culto;
REELIGERE”, reeleger a Deus, voltar a Ele, depois de nos separarmos de
Deus por meio das obras más. Macróbio assinala outra etimologia mais rara
defendidas por educadores progressistas do mundo inteiro (BUFFA, 1979).
75
RELINQUERE, porque a religião é coisa de entrega e tradição que nos
deixaram os antepassados. Mas, em seu livro, A verdadeira
religião”(aproximadamente 390 d.c) escrito para atrair os seus amigos ao
cristianismo. Relige ergo nos religio ommnipotenti Dio (Religuemos a
religião com o Deus todo poderoso, pois entre a nossa mente, com a que
conhecemos como a paz e a verdade, este a luz interior, como a que
entendemos, não existe nenhuma interferência nenhuma criatura).
Apresenta uma conexão entre Deus e a Criatura, mas também aborda a
necessidade de “ELIGERE” - eleger, como uma vocação, estabelecendo um
caminho para chegar a Deus (JUNQUEIRA, 2002a, p. 38).
Essa visão implica uma necessidade de alimentar uma “relação íntima da
criatura com o criador, uma opção ou reopção dentro de uma confissão religiosa e a
defesa de um conjunto de verdades próprias de determinado credo religioso.
Esse mesmo autor explicita que,
[...] a nomenclatura da disciplina é uma variante de aula de religião, pois à
medida que a própria catequese deixa de ser aula de catecismo, os efeitos
da evolução catequética são sentidos, sobremaneira, no espaço escolar,
indicando novo perfil para todo o trabalho sobre a religião.
[...] O programa curricular está relacionado, em geral, ao temário de um
catecismo: sacramentos, elementos fundantes da fé, história sagrada. [...]
Considerava-se que o ponto central da educação religiosa seria levar o
educando a se encontrar diretamente com Deus Nosso Senhor”,
assumindo uma mentalidade diversa da dos pagãos (JUNQUEIRA, 2002a,
p. 39).
Essa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional manteve os
mesmos princípios da Constituição Federal de 1946, a respeito do Ensino Religioso,
uma vez que ela não poderia interferir naquilo que estava determinado pela Carta
Magna. Entretanto, apesar de se constituir como uma vitória para a Igreja Católica,
o referido documento normativo promoveu tanto a preterização do professor de
Ensino Religioso, (devido ao fato de ele não ter direito à remuneração por seu
trabalho, pois não deveria haver ônus para os cofres públicos), quanto à
discriminação do próprio Ensino Religioso, devido ao tratamento diferenciado das
demais disciplinas, sempre fora do sistema escola (FIGUEIREDO, 1996, p. 63).
Dessa forma, foi criada uma situação inusitada, uma vez que os professores da
referida disciplina não faziam parte do corpo docente da instituição e não possuíam
vínculo com a rede blica de ensino.
Figueiredo (1996) enfatiza outros problemas de natureza administrativa e
pedagógica, em conseqüência do tratamento diferenciado dado ao Ensino Religioso:
a divisão das turmas em grupos diversificados; a ausência de espaço sico na
76
escola, para a acomodação dessas turmas; o controle de horários; as dificuldades
de entrosamento entre o corpo docente, envolvido no processo educacional, uma
vez que os professores de ensino religioso ficaram à parte do cotidiano escolar.
Essa foi uma situação vivenciada não só no período de vigência da Lei 4024/61,
mas recentemente.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, preocupada com o Ensino
Religioso, criou, em 1952, o Secretariado da Doutrina Cristã que, em 1958, passou a
denominar-se Secretariado Nacional de Ensino da Religião (SNER). Esse
Secretariado, ao longo da cada de cinqüenta, promoveu diversos encontros e
congressos nacionais e estaduais que tinham como objetivo discutir o Ensino
Religioso.
A partir daí, ocorreram algumas tentativas, visando diferenciar o trabalho da
paróquia, do da escola, conforme explica Junqueira:
[...] Entre os que ensaiaram as primeiras experiências para diferenciar o
trabalho da paróquia, com o da escola, destaca-se o Pe. Álvaro
Negromonte, autor da primeira coleção de manuais de ensino religioso,
usados nos gisios da época. Nessa mesma perspectiva de inovação da
pedagogia religiosa, estavam presentes os livros de Meyer e traduções de
manuais elaborados na Europa, especialmente na Bélgica, os quais de
1938 a 1964, lideram todo este movimento nacional (JUNQUEIRA, 2002a,
p. 45-45).
A Igreja, através da CNBB, fez todos os esforços para manter o Ensino
Religioso, no âmbito da escola blica. Nessa direção, a referida entidade realizou a
Reunião Nacional dos Diretores Diocesanos do Ensino da Religião, de 23 a
27/02/1959, e nomeou, em 1961, Dom José Costa Campos para a função de
Secretário Nacional da Comissão Episcopal de Ensino da Religião. Dom José teve a
assessoria do Pe Hugo Paiva que foi:
[...] responsável pela reorganização da catequese no Brasil, organizou um
Instituto de Catequese Pastoral e criou o Centro de Informação e
Documentação, além de estruturar a equipe nacional de assessoria para
atuar em todo o território brasileiro. Para divulgar as experiências e as
informações, criou o Boletim Informativo do Secretariado Nacional de
Ensino da Religião’ (JUNQUEIRA, 2002a, p. 45).
Paralelamente ao movimento de renovação pedagica da catequese,
despertou-se, naqueles que lecionavam Ensino Religioso, a necessidade de melhor
77
estruturar seu trabalho. Outro elemento foi a preocupação com a relação escola e
paróquia, pois a compreensão de Ensino Religioso e Catequese assumiu,
praticamente, a mesma operacionalização; o contato entre estes dois espaços
deveria ser monitorado para tornar viável o projeto de formação dos fiéis
(JUNQUEIRA, 2002a)
Nessa perspectiva, a CNBB, no seu Plano de Emergência para a Igreja do
Brasil, em 1962, enfatiza:
[...] A formação religiosa deve penetrar e informar toda a catequese. Não se
pode separar, na educação religiosa, a catequese - que é transmissão
direta da doutrina de um espírito religioso, penetrando e informando toda
a educação. Os dois aspectos se completam. É preciso que todas as
oportunidades sejam aproveitadas para uma vivência do Cristianismo,
sobretudo na Caridade e na Justiça. As aulas de religião devem ser vivas e
ilustradas, usando-se as técnicas modernas da pedagogia. O conteúdo
pode e deve ser de doutrina, aplicando-a a assuntos práticos da vida de
todo o dia, que estejam ligados à vida do educando, à situação nacional e
internacional. O professor de religião deve ter, também, um bom
conhecimento de psicologia e da doutrina social da Igreja. É preciso, ainda,
não esquecer a necessidade da conjunção de foas: escola, família,
paróquia. É indispensável que a paróquia exea a sua atividade ao lado da
escola, atendendo às exigências do educando, assim como é imprescindível
que a família acompanhe muito de perto a educação de seus filhos. A
escola, por sua vez, deve procurar se entrosar e colaborar com a paróquia,
principalmente na catequese, no apostolado e no culto (CNBB, 1962, p. 38).
2.1.5 A Ditadura Militar
No período que antecede o Golpe Militar, ocorreu uma expansão da indústria,
sobretudo devido à participação e ao comando do Estado. Essa participação do
Estado, na implantação de condições favoráveis ao progresso industrial, não só
interessava aos empresários, às camadas médias com seus desejos de ascensão
social, como também aos operários e às forças de esquerda por considerarem que
esse avanço possibilitaria o surgimento decondições necessárias para uma
revolução nacional, ou mesmo, para uma revolução de caráter socialista
(GHIRLADELLI, 2003, p.118).
A política ecomica, baseada no nacionalismo desenvolvimentista, adotada
principalmente nos governos de Juscelino Kubitschek e de João Goulart, foi
preterida, a partir da instauração do período de arbítrio. Os governos passaram a
78
conceder enormes vantagens ao capital estrangeiro, nas suas transações e
investimentos no País, visando promover a aceleração e a implementação de
indústrias de consumo durável que, contudo, se fizeram de modo não auto-
sustentado, aumentando a dívida externa brasileira.
O desenvolvimento industrial buscado, abrindo as portas da economia
nacional ao capital estrangeiro, gerou questionamentos entre aqueles que
defendiam o plano nacionalista de desenvolvimento.
No comentário de Romanelli,
[...] as contradições chegam a um impasse com a radicalização das
posições de direita e esquerda. Os rumos do desenvolvimento precisam
então ser definidos, ou em termos de uma revolução social e econômica
pró-esquerda, ou em termos de uma orientação dos rumos da política e da
economia de forma que eliminasse os obstáculos que se interpunham à sua
inseão definitiva na esfera de controle do capital internacional. Foi esta
última a opção feita e levada a cabo pelas lideranças do movimento de 1964
(ROMANELLI, 1987, p. 193).
Por outro lado, a classe burguesa, a classe média e o operariado sentiam,
cada vez mais, que seu poder de compra ia diminuindo, devido ao atrelamento da
economia nacional à americana.
O Governo Goulart, controverso e controvertido desde o seu início, quando
teve grandes dificuldades para tomar posse, se articulou de uma forma que
provocou grande irritação nas elites e nas Forças Armadas, sobretudo pelo plano de
promover marcadas Reformas de Base, que englobavam mudanças: eleitoral,
administrativa, tributária, urbana, bancária, educacional e agrária.
A polêmica mais acirrada foi à relacionada à Reforma Agrária. Esse projeto
sensibilizou os setores d(i) Tj-0.192 Tc (b) Tj-0.92 Tc (b) Tj-0.92a223 (e) Tj0 Tc (s) Tj5.784 Tc ( )
79
O apoio a Goulart por parte considerável da sociedade civil foi abafado,
conforme explica Chiavenato:
[...] ampla campanha, divulgada pela televisão e em jornais, assustou a
classe média. Tudo acontecia às claras. Os mil4 Tc (r) Tj0.024 Tc (t)416224 Tc (l) Tj-0.08448 Tc (a)Tj0.024 Tc ( ) 08448 Tc (à) Tj-0.24 Tc (s Tj-0.08448 Tc (a)o Tj0 Tc (s) Tj1.51776 Tc da) Tj2.23776 TcTc (s Tj-0.08(.]) Tj2.23776 Tc ( ) Tj-0.32448Tc (i) Tj-0.08448 Tc (a) Tj1.d0.24 Tc 2 (o) Tj0.15552 T) Tj1.vTj-0.08448 Tc (a)Tj0.0cTc (sz12 Tc (T) Tj-0.08448 Tc (udo) Tj1.547776 Tc ( ) Tj0.1c (il4 Tc (r) Tj0.024 Tc (t)42432nu23776 Tc ( ) Tj-0.08448cTc (s“Tj-0.08448 Tc (o) eu7776 Tc (il4 Tc (r) TjTc (l) Tj-0.08448 Tc (a) Tj0 .51776 Tc ( )) Tj0 Tc (c) Tj0.-0.024 TcTc (s”-0.24 Tc (s) Tj0.07776 Tc (,) Tj2.qu23776 Tc ( ) Tj-0.08448cc (l) Tj-0.32448 Tc (e) Tj0.24 Tc448 Tc (o) hTj-0.08(.]) Tj2.23776 Tc ( ) Tj-0.32448(panha) Tj0.07776 Tc (,) Tj2.223776 Tc ( ) Tj-0.08448.08448 Tc (a) Tj0 TTc (s) Tj-0.08448 Tc (u) Tj-0.24Tc (l) Tj-0.08448 Tc (a) ndo0.08448 Tc (u) Tj.3776 Tc ( ) Tj-0.08448cTc (sA32448(panha) Tj0.07776 Tc (,) Tj2.poj0 TTc (s) Tj-0.08448(m) Tj-0.07776 TTj1.51770.16224 Tc (i) Tj-0.24 Tc (s) Tj-0.08448 Tc (ão) Tj2.6 Tc (m) (u) Tj2oj0 TTc (s) Tj-0.084Tc ( ) Tj-0.08448cTc (s“Tj-0.08448 Tc (o)g-0.24Tc (l) Tj-0 Tc (u) Tj2.0.24 Tc448 Tc (o) 6 Tc (m)39(u) Tj2.024 TcTc (ss47776 Tc ( ) Tj0. Tc (,) Tj2.poj0 T.51776 Tc ( ) Tj048 Tc (u) Tj24350.24 Tc1776 Tc ( t0.08448(m) Tj-0.07776 TTj1. Tj-0.08448 Tc (a) 3776 Tc ( ) Tj-0.08448 Tc ”-0.2424 Tc (i) Tj-0.240.55l) Tj-0.08448 Tc (a) Tj2.23776 Tc ( )ondTjndo0.0844855l) Tj-0.08448.08448 Tc (a) b3776 TcTc (s Tj-0Tc (il4 Tc (r) Tj0.024 Tc (t)416224 Tc ( ) Tj-0.08448.08448 Tc (a)eTj0 Tc (c) Tj-0.08448 Tc (on) Tj0.07776 T.55l) Tj-0.08448 Tc (aJ Tj2.23776 Tc ( )o-0.24 Tc (T.55l) Tj-0.08448 (c) Tj-0.GTj-0.08448 Tc (a) 3776 Tc Tc (di) Tj0.24 Tc (v) Tj-0.32448 Tc (u) Tj0.16224 Tc (l) Tj-0c (c) Tj-0.0-0.240.55l) Tj-0.08448Tc (on) Tj0.07776 T.55l) Tj-0.08448.08(.]) Tj2.23776 Tc55l) Tj-0.08448Tc (on) Tj0.p6224 Tc (l) Tj-0.08448 Tc (a)Tj0.048 Tc (a) Tj-0 (v) Tj0.16224 Tc (i) Tj-0.24 Tc (Tc55l) Tj-0.08448Tc (on) Tj0.d23776 Tc55l) Tj-0.08448c (m) Tj-0.07776 Tcc (s) Tj1.51776 Tc da) Tj2.26224 Tc (l) Tj-0.08448 Tc (a)TTj0 TTc (s) Tj-0.08448c (u) Tj2.47776 Tc ( ) Tj0. Tc ( ) Tj0.0n08448c (m) Tj-0.07776 TTc (s Tj-0.08(.]) Tj2.23776 Tc ( ) Tj-0.324484855l) Tj-0.08448.08448 Tc (a) j0 TTc (s) Tj-0.0844855l) Tj-0.08448 ( (.) Tj1FTj-0.08448 Tc (a)o Tj0 Tc (s 51770.16224 Tc (i) Tj j0 TTc (s) Tj-0.0844855l) Tj-0.08448 Tc (sAr7776 Tcc (s) Tj1.51776 Tc da) Tj2.ad j0 TTc (s) Tj-0.0844855l) Tj-0.08448 Tc (e) Tj2.23776 Tc ( ) Tj-0.084484855l) Tj-0.08448 Tc (s“Tj-0.08448 Tc (o)223776 Tc3) Tj-0.0f08448 Tc (e) Tj2.23776 -0 (v) Tj0.16224 Tc (i) Tj23776 Tc55l) Tj-0.08448Tc (on) Tj0.d23776 Tc55l
80
9 de abril, alterando a Constituição de 1946, no que se refere às eleições para
presidência da República. O seu Artigo 2º rezava que a eleição seria realizada pela
maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, dentro de dois dias, a contar
daquele Ato. No dia 11 de abril de 1964, foi eleito, indiretamente, o general
Humberto de Alencar Castelo Branco e, no dia 15 de abril, ele tomou posse da
Presidência.
O Presidente, cumprindo o disposto no Artigo 6º do Ato Institucional n. 4, de 7
de dezembro de 1966, encaminhou um Projeto de Constituição para o Congresso
Nacional e, no dia 24 de janeiro de 1967, foi outorgada a quinta Constituição da
República, obviamente contemplando a visão de mundo e do regime ditatorial e
centralizador, então instaurado.
No período do regime militar,
[...] o Governo passou a configurar-se como uma aliança entre a
tecnoburocracia militar e civil e a burguesia industrial e financeira nacional e
multinacional. Institucionalizou-se um pacto autoritário, baseado na aliança
da tecnoburocracia com a burguesia e com as empresas multinacionais.
Neste processo, a tecnoburocracia militar e civil acabou obtendo o controle
exclusivo da sociedade política, racionalizando e ordenando a economia no
sentido de favorecer o processo de acumulação e centralização do capital.
(GHIRLADELLI, 2003, p. 166).
O modelo econômico priorizado, embasado na centralização da riqueza nas
mãos de poucos e na extrema dependência dos Estados Unidos, provocou o
aumento dos contrastes sociais internos e criou uma dívida externa que acabou
comprometendo o desenvolvimento produtivo e societário.
Além disso, o regime militar, estimulado por forças internas e externas e
apoiado na Doutrina de Segurança Nacional, mostrou-se autoritário, freando os
avanços e conquistas populares, cassando os mandatos de membros do Poder
Legislativo, sendo que, muitos desses, foram presos e exilados. O povo brasileiro foi
impedido de escolher o presidente da República, os governadores dos Estados, os
prefeitos das capitais e de outros municípios, considerados como áreas de
segurança nacional. Numerosos sindicatos foram invadidos pela polícia e milhares
de líderes sindicais foram destituídos de seus cargos e presos.
A Igreja Católica, constatando o processo de repressão e de iniqüidade,
imposto pelo regime militar, começou a ter consciência da incompatibilidade entre as
pretensões totalitárias dos militares e a verdade do Evangelho. Assim, com um novo
81
modo de ver sua presença e missão na sociedade, tornou-se uma grande opositora
dos militares, assumindo a luta contra os excessos das forças de segurança, em
favor da justiça social, da liberdade e da conscientização das pessoas, quanto às
medidas injustas e desumanas. Os grupos da esquerda católica, mais envolvidos
nessa luta, foram: a Ação Popular, a Juventude Universitária Católica e a Juventude
Estudantil Católica.
Segundo Severino, o Governo então instaurado, prescindia da ideologia
católica, pois:
[...] a postura sica do novo regime é ideologicamente laica, além de
modernizadora, dispensando qualquer contribuição da ideologia católica, a
não ser quando, na sua feição mais conservadora e tradicional, colabora
para a manutenção da atitude fatalista e resignada da população frente à
política do Estado. Enquanto não se imiscuía nos necios do Estado, ela
não foi perseguida por iniciativa do governo (SEVERINO, 1986, p. 91).
O setor educacional sentiu também a mão da ditadura. Algumas escolas
foram invadidas pela polícia, muitos professores e estudantes foram presos e
exilados e as instituições educacionais passaram a ser observadas por agentes dos
órgãos de informações do Governo, através do Serviço Nacional de Informação
(SNI).O próprio Governo, por lei, instituiu, anualmente, Conferências Nacionais de
Educação, convocadas pelo MEC e freqüentadas por dirigentes do ensino
previamente escolhidos(GHIRALDELLI, 2003, p. 168). O Governo Militar instituiu o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) para fazer frente ao Movimento de
Educação Popular. O Mobral se reduzia a uma alfabetização pontual, aligeirada que,
em síntese, não conseguiu resolver o problema do analfabetismo nacional, nem em
termos quantitativos e nem qualitativos.
Ao lado da repressão, ocorrida nessa primeira fase, constatou-se uma
aceleração do ritmo de crescimento da demanda social de educação, o que
provocou o agravamento da crise do sistema educacional. O Governo buscou
atender às exigências quantitativas da demanda, mas a ação foi ineficiente, porque
a crise ecomica, pela qual passava o País, exigia uma política de contenção.
Sobre essa questão, Romanelli se expressa:
[...] mais do que em conter gastos, o Governo estava preocupado em
capitalizar, em acumular, para investir. A expansão da rede escolar,
segundo as exigências da demanda social de educação, poderia
82
comprometer, em parte, a política econômica do Governo. Daí por que a
expansão se deu em limites estreitos e, por não acompanhar nem ao menos
o ritmo do crescimento da demanda, acabou agravando a crise do sistema
educacional (ROMANELLI, 1987, p. 206).
Essa crise educacional serviu de justificativa para serem assinados doze
acordos entre o MEC e a Agency for International Development (AID) para
assistência técnica e cooperação financeira dessa Agência à organização do
sistema educacional brasileiro.
[...] Na verdade, a crise, em si, não era a condição básica para esses
programas de cooperação, mas sim, segundo o que podemos perceber, a
necessidade de se anteciparem projetos de reformas que preparassem o
sistema educacional para contribuir e atuar mais eficazmente, na fase de
retomada da expansão, já então prevista pelo setor externo, dadas as
condições de viabilidade criadas pelo setor interno. A crise servia de
justificativa de intervenção, mas não passava de um pretexto para
assegurar ao setor externo oportunidade para propor uma organização de
ensino capaz de antecipar-se, refletindo-a, à fase posterior do
desenvolvimento econômico. O momento era propício para essa
intervenção, porque estavam asseguradas as pré-condições políticas e
econômicas da retomada da expansão e havia, para tanto, uma condição
objetiva justificando-a (ROMANELLI, 1987, p. 209).
Os objetivos dessa agência são descritos, de forma sintética, por Romanelli
(1987, p. 210):
1- Estabelecer uma relação de eficácia entre recursos aplicados e
produtividade do sistema escolar;
2- Atuar sobre o processo escolar em nível do microssistema, no sentido de
se melhorarem conteúdos, métodos e técnicas de ensino;
3- Atuar diretamente sobre as instituições escolares, no sentido de
conseguir delas uma função mais eficaz para o desenvolvimento;
4- Modernizar os meios de comunicação de massas, com vistas à melhoria
da informação nos domínios da educação extra-escolar”;
5- Refoar o ensino superior, com vista ao desenvolvimento nacional.
A partir dessa assistência técnica, o regime de arbítrio percebeu a
necessidade de se implantar uma política educacional atrelada ao mercado de
trabalho e de alinhar o sistema educacional à política econômica vigente. Para tanto,
determinou-se que o ensino de 1º grau deveria atender à massa, enquanto o ensino
universitário deveria continuar reservado às elites. O segundo grau se revestiu de
conteúdos com elementos utilitários, práticos e de cunho profissionalizante que
instauraram a denominada profissionalização compulsória.
83
A ditadura militar, através de uma propositura político-conservadora,
reformulou, a partir da orientação dos Acordos MEC-USAID, o ensino universitário,
através da lei 5.540/68 e o ensino de 1º e 2º graus, através da lei 5692/71, que
alterou a LDB de 1961.
A reforma universitária, implantada pela lei 5.540/68, criou a
departamentalização e a matrícula por disciplina, instituindo o curso parcelado,
através do regime de créditos. Esse fato acabou por desfazer os grupos de
estudantes que caminhavam juntos na sua trajetória acadêmica, eliminando o
espírito de grupo, de classe e de organização dos estudantes. A
departamentalização promoveu um corte entre ensino e pesquisa, porque os
professores passaram a se reunir a partir das áreas de conhecimentos afins. Criou,
além disso, uma mentalidade empresarial dentro da academia. Adotou, também, o
vestibular unificado e classificatório, o que eliminou, com um passe de mágica, o
problema dos excedentes, alvo principal de críticas dos estudantes.
A referida Lei 5.692/71 foi elaborada no momento de maior repressão do
regime militar e num período de euforia da classe média, devido à ocorrência do
denominado Milagre Brasileiro, que lançou mão de um desenvolvimento não auto-
sustentado, através de empréstimos financeiros que aumentaram, reitera-se,
vertiginosamente, a dívida externa brasileira.
Romanelli (1987, p.253) resume o que essa legislação propunha:
1- a extensão da obrigatoriedade escolar;
2- a eliminação de parte do esquema seletivo das escolas;
3- a eliminação do dualismo educacional (ensino secundário x ensino
profissional) proveniente de um dualismo social mais profundo;
4- a previsão mais objetiva de meios de execução das reformas;
5- a profissionalização, em nível médio;
6- a cooperação das empresas, em nível médio;
7- a integração geral do sistema educacional desde o grau ao superior.
Essa autora menciona que um processo de modernização atingiu o ensino
de 1º e 2º graus. Os aspectos, por ela sintetizados, revelam a extensão das
inovações formalmente propostas para o sistema educacional, porém as
contradições internas dessas inovações são o reflexo da polarização dos interesses,
na esfera das decisões. A necessidade de se adequar o modelo escolar ao modelo
de expansão econômica chocava-se, em parte, com as soluções de ordem política
apresentadas pelo Governo. O adentramento da concepção tecnicista promoveu o
84
atrelamento da escola ao setor produtivo e a diminuição da demanda no nível
superior de ensino. Em síntese, propunha-se uma visão pouco objetiva, não só das
funções que a Universidade vinha assumindo na estratificação e situação das
camadas sociais, como, também, uma visão distorcida da própria crise dos
excedentes e das funções reais do ensino técnico de nível médio.
No que concerne à atuação da Igreja, no campo da educação, nessa época, é
importante ressaltar que a Educação Cristã da Juventude, no Brasil, encontrava-se
sintonizada com as orientações do Vaticano II, de 1965.
Parte desse documento, referente à Educação Cristã, pode ser resumida nos
seguintes pontos:
1- Importância da educação na vida do ser humano e seu reflexo, cada vez
maior, no progresso social do nosso tempo.
2- Consideração de que toda pessoa humana tem direito inalievel à uma
educação correspondente a sua dignidade como pessoa.
3- Conscientização da necessidade da educação religiosa e a deficiência da
educação laica, porque a educação visa à formação da pessoa, integralmente.
4- Consideração da importância dos progressos da psicologia, pedagogia e
didática, tendo em vista a complexidade da tarefa de educar e de conduzir as
crianças e jovens para a maturidade
5- Valorização de uma Educação Cristã que se preocupa em fazer com que
as pessoas batizadas se tornem, cada vez mais conscientes da fé que receberam.
6- Priorização da família no dever de educar, que deve ser complementado
pela escola. É missão da escola, além de cultivar as faculdades intelectuais,
desenvolver a capacidade de julgar corretamente, introduzindo a pessoa no
patrimônio intelectual, construído pelas gerações passadas, promovendo o sentido
dos valores, preparando para a vida profissional e favorecendo a disposição e
compreensão.
Esse Concílio influenciou a prática educativa nos colégios católicos, acirrando
o reconhecimento de valores como a liberdade de consciência e de expressão
religiosa, buscando a formação integral de alunos e alunas. Foram incluídos, nos
currículos das escolas, a formação sexual, o acompanhamento psicológico e a
formação social e profissional.
85
No campo escolar, segundo Severino,
[...] A Igreja católica podia manter sua rede de escolas, desde que não
desafiasse a orientação ideológica do novo sistema de poder. A história
recente vem mostrando que as instituições tradicionais de ensino, mantidas
pela Igreja, ou se identificaram com as novas exincias, ou continuaram
como instituições que se imem pela boa qualidade de ensino, inspiradas
na pedagogia renovada, atendendo à formação de quadros de elite sem
questionar, diretamente, a nova sociedade ou, então, ousando assumir
posicionamentos mais críticos, passaram a enfrentar dificuldades de toda
escie, quando não sofreram repressão. Também foram desmantelados os
movimentos de educação alternativa que a Igreja desenvolvia a partir do
início da cada de 1960. A verdade é que o preço é muito alto: custa sua
autenticidade mais profunda, uma vez que é foada a conviver com o mais
declarado dos materialismos, presente no habitus capitalista do
consumismo.
Na realidade, a Igreja foi incentivada, e até mesmo empurrada, a engrossar
o grupo privatista, o grupo empresarial da educação, este sim realmente
apoiado pelo Estado. Este é o grande vitorioso na implantação do sistema
educacional brasileiro s-64 (SEVERINO, 1986, p. 91).
Uma ação mais libertadora da Igreja Católica foi ganhando corpo, sobretudo,
a partir da realização das Conferências Episcopais Latino-Americanas, acontecidas
em Medellín, Colômbia (1968), e em Puebla, México (1979). A partir dessas duas
conferências, que deram ênfases mais acentuadas à evangelização libertadora e à
libertação integral para a comunhão e participação, a Igreja, no Brasil, toma maior
distância dos regimes e sistemas com os quais convivia, inaugurando-se um novo
modelo de relações com a sociedade civil, sem a intermediação do Estado.
Essa perspectiva mais politizada da atuação da Igreja não encontrou
aceitação por parte de todo o Episcopado brasileiro e, obviamente, por parte da
ditadura militar, que procurou reprimir, perseguir, deportar e difamar aqueles que se
solidarizaram com as lutas populares.
No decorrer desse período da ditadura militar, a Constituição de 1967, Art.
168 § 3º, item IV, determina que: O ensino religioso de matrícula facultativa
constituirá disciplina dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e
médio.
Na prática, o Ensino Religioso nas escolas públicas, a partir de então, passou
por violenta crise, principalmente porque o Governo Militar impõe, tanto nas escolas
públicas, quanto nas escolas católicas, a disciplina Moral e Cívica e o Centro Cívico,
mediações para o ensino da ideologia da Segurança Nacional. Evidentemente, todo
material didático, referente ao Ensino Religioso, que possuía um cunho libertador,
86
passa a ser suspeito como, por exemplo, a Coleção Escolar da Editora Sono Viso,
Por uma Nova Educação (Rumo à Terra Prometida, Um Lugar ao Sol), de autoria
de Irmão Antonio Cechin, proibida pelo Ministério da Educação, em 1971.
A Lei 5692/71 aumentou o mero de disciplinas obrigatórias de cunhos
ideológico e profissional nos currículos, em âmbito nacional, e o Ensino Religioso
passou
87
desenvolvimento econômico; a ajuda que se pode dar à juventude na busca de
sentido e de caminhos. Assim, o mencionado Parecer ressaltava a importância do
Ensino Religioso, para a formação integral do aluno:
[...] a partir do entendimento de que a escola e a família devem-se
complementar na formação integral do aluno e que a educação religiosa
explica o sentido da existência e congrega os homens levando-os a uma
vida harmoniosa, dispôs, como já vimos, que: O Ensino Religioso, de
matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos
estabelecimentos oficiais de e Graus (CFE, Parecer 540/77 -
10/02/1977). (BRASIL, 1971, p. 2)
Essa relatora, ao concluir sua posição sobre o Ensino Religioso, retomou a
liberdade de escolha, que ficava assegurada pela matrícula facultativa ao aluno e
mostrava a necessidade desse ensino ser ofertado em vários credos. Não caberiam
aos Conselhos de Educação, nem às escolas, estabelecer os objetivos do Ensino
Religioso nem seus conteúdos, pois isso era atribuição específica das diversas
autoridades religiosas:
[...] É sentido da vida buscado de modo condizente com a dignidade de
pessoa humana e a sua natureza social, mediante liberdade de escolha que
fica assegurada pela matrícula facultativa ao aluno e o oferecimento do
ensino de vários credos.
Não cabe aos Conselhos de Educação, nem às escolas, estabelecer os
objetivos do Ensino Religioso nem seus contdos. Isto é atribuição
específica das diversas autoridades religiosas (CFE, Parecer 540/77 -
10/02/1977). (BRASIL, 1971, p. 4)
Essa questão contraditória ligava-se ao fato de a legislação delegar às Igrejas
a supervisão e o planejamento das atividades do Ensino Religioso, dando-lhes
liberdade de atuarem, independentemente dos sistemas de ensino. Essa situação,
vivenciada pelo Ensino Religioso, foi criticada por Gruen:
[...] lhe é sem dúvida desfavorável: não contribui para uma valorização do
Ensino Religioso e, pelo contrário, prejudica-o na medida em que o dissocia
dos projetos educacionais, concedidos pelos estabelecimentos, que devem
ser, exatamente, estimulados a diferenciar-se na busca da individualização
que corresponde às diferentes realidades em que se inserem (GRUEN,
1995, p. 67):.
Além disso, corria-se o risco de se organizar um Ensino Religioso, sem a
preocupação com a formação integral dos educandos e sem abertura para o diálogo
88
religioso.
Gruen explica:
[...] o Ensino Religioso não deve constituir um parêntese religioso no curso
normal da vida escolar, um prolongamento, na escola, da vida eclesiástica e
paroquial; pelo contrário, de ser um elemento que surge dentro da
mesma escola, integrado e integrante na missão da instituição escolar, e,
portanto, orientado explicitamente para os fins próprios da escola (GRUEN,
1995, p.70).
A partir da cada de 70, a Igreja toma uma série de iniciativas relacionadas
ao Ensino Religioso. Tendo em vista as mudanças sociais e políticas na educação
brasileira, a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) incluiu, entre suas linhas de
atuação, a análise, o acompanhamento e a avaliação do Ensino Religioso nas
escolas confessionais ou públicas. O Padre Gruen, em1976, edita um trabalho
intitulado O Ensino Religioso na Escola Pública, que se tornou uma referência para
as reflexões sobre o sentido de Ensino Religioso, em escolas blicas, numa
sociedade pluralista.
As secretarias estaduais e municipais de Educação, assessoradas pelas
entidades religiosas, buscaram uma nova proposta para o Ensino Religioso, através
da elaboração de programas curriculares para as diferentes séries escolares. Foram
realizados encontros nacionais dos coordenadores estaduais, objetivando desenhar
a identidade do Ensino Religioso e, também, propondo a formação de professores
para a disciplina em pauta,
[...] assim como passam a ser publicadas resoluções, decretos, portarias,
instruções, a fim de nortear a disciplina, chegando a um total de dezenove
Unidades da Federação possuírem uma estrutura adequada para o apoio
ao Ensino Religioso, bem como explicitando novos critérios para definição
dos que terão de opinar, legislar e acompanhar esta disciplina
(JUNQUEIRA, 2002a, p. 84).
Figueiredo (1995) relata que os Encontros Nacionais tiveram seu início no ano
de 1974, o que permitiu a troca de experiência e o aprofundamento do perfil da
disciplina. O primeiro Encontro objetivava construir uma visão panorâmica do Ensino
Religioso, nas Escolas da Rede Pública, nos diversos estados; avaliar os programas
de catequese escolar”, desenvolvidos pelos estabelecimentos da rede oficial de
ensino; refletir sobre a formação dos professores. No segundo Encontro Nacional,
89
em 1976, e no terceiro, em 1981, voltou à tona a questão da confessionalidade,
como uma das preocupações centrais das entidades religiosas, além dos temas
referentes à formação de professores e às exigências atuais desse ensino, diante de
uma sociedade cada vez mais pobre e de uma educação progressivamente em
decadência. O quarto Encontro, realizado em 1984, elegeu como principais temas a
metodologia a ser usada no Ensino Religioso e o perfil do professor. Mereceram
destaque, nesse evento, as dimensões dos trimios: Ensino Religioso
Confessional, Ensino Religioso Aconfessional, Ensino Religioso Pré-
Confessional, que foram retomados e aprofundados.
Na perspectiva interconfessional, algumas experiências foram construídas, a
fim de desenvolver atitudes ecumênicas entre as Igrejas e de minimizar o
proselitismo que desrespeitava a identidade religiosa dos alunos. Propunha-se,
então, levantar com os alunos temas de discussão que respondessem às questões
existenciais, referentes ao seu desenvolvimento psicológico, social, político e
cultural. Contudo, um ensino de caráter interconfessional ou ecumênico, geralmente
não era praticado na maioria das escolas.
Com o passar do tempo, os debates e reflexões foram amadurecendo,
viabilizando diferenciar melhor Ensino Religioso e Catequese. Assim, em 1983, a
Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB)
[...] aprova e publica o Documento 26, por Ed. Paulinas, Catequese
Renovada, Orientações e Conteúdos, que introduz nos parágrafos 124 e
125, com base num discurso de João Paulo II (05/03/1981), a denominada
diferença e complementaridade entre Ensino Religioso e Catequese. No
período de implantação das orientações de “catequese Renovada (1983
1986), a CNBB cria e dinamiza duas instâncias de apoio que muito ajudam
tanto a Catequese como o Ensino Religioso: o GRECAT (Grupo de Reflexão
Nacional de Catequese) e o GRERE (Grupo de Reflexão Nacional de
Ensino Religioso). As reuniões periódicas do GRERE e os Encontros a cada
dois anos de todos os Coordenadores Estaduais de Ensino Religioso são
importante apoio para o Ensino Religioso em seus diversos aspectos, como
por exemplo identidade em relação à evangelização e à catequese,
conteúdos, metodologias, professores, orientações para a regulamentação
nos Estados e Municípios, etc. (NERY,1993, p.16).
Sintetizando, o que se pretendia não era o ensino de uma religião e nem uma
catequese, mas um ensino que visasse à educação da religiosidade do educando, à
formação de sua identidade, à construção responsável do seu projeto de vida,
objetivando ajudá-lo a vivenciar práticas transformadoras.
90
Pode-se dizer que a Igreja Católica participou do processo de regulamentação
do Ensino Religioso, mediante a realização de Congressos e a formação de
comissões de trabalho. Assim, o Ensino Religioso voltava ao âmbito da
responsabilidade do Estado, de onde havia se apartado, desde 1889.
A partir do que foi relatado sobre os Anos de Chumbo e o processo de
desvinculação da Igreja do Estado autoritário, indaga-se sobre qual seria o motivo
da permanência do Ensino Religioso, tanto na Constituição de 1967, quanto nos
pareceres do CFE (Conselho Federal de Educação).
É importante observar que na relação entre Igreja e Estado ocorreu uma
ruptura, mas no campo específico do Ensino Religioso, nas escolas blicas, os
encaminhamentos se davam de modo diferente.
Cury explica, muito bem, essa questão:
[...] Se a Igreja não abandona essa disciplina, mas ao contrário, a vê cada
vez mais enquadrada no entrecruzamento do planejamento e organização
curricular (como veremos), o Estado, por sua vez, quer deixar sua marca
direta na socialização escolar das novas gerações, através do ensino de
Moral e Cívica e de Problemas Brasileiros.
Trata-se, na expressão de AZEVEDO (1981), de um retorno da “religião
civil expressa no Decreto 869/69 da Junta Militar.
-se, pois, a dupla contradição. De um lado, Estado e Igreja rompem
antigas alianças místicas ou reais no âmbito dos direitos humanos e
enquanto esta última assume o papel dos que não têm vez nem voz,
aquele aprofunda os custos sociais do crescimento. De outro lado, se a
Igreja Católica não abandona o ensino religioso nas escolas oficiais, mas
até o incentiva, também o Estado não se ausenta em explicar na escola o
sentimento de patriotismo nacionalista que dissemina pelo País.
E parece que, consoante a própria complexificação da sociedade brasileira,
ambas as instituições se deixam mediar pela dimica geral do
planejamento. Este ultimo, marcante na situação da época, passa a ser
considerado não só na organização do sistema (HORTA, 1982) como
também a estrutura curricular passa a ser visualizada sob essa ótica
(CURY, 1993, p.30).
2.1.6 O advento da Nova Reblica: outras perspectivas a partir de 1985
A cada de oitenta se constituiu como uma fase de profunda recessão
econômica, na qual o País começava a pagar as contas do denominado milagre
econômico, ocorrido no período de arbítrio. Sem recursos para contornar a situação
econômica dicil, recorreu-se ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que impunha
91
muitas exigências, baseadas na racionalidade financeira e provocavam o
desemprego, o arrocho salarial, a crescente inflação, maior concentração de renda
nas mãos da elite e a diminuição do paraíso de consumo da classe média.
Esse tempo de transição do autoritarismo para a democracia é marcado pela
participação da sociedade civil. Aos poucos, ela foi se reorganizando num
movimento de resistência, desenvolvendo a prática do enfrentamento ao regime
militar, que havia perdido sua base de legitimidade junto à sociedade, devido ao
acirramento da crise econômica.
Matos esclarece que:
[...] com a progressiva flexibilização da ditadura, iniciada na 2ª metade do
governo do General Ernesto Geisel (1974 -1979) e continuada por João
Batista Figueiredo, último presidente militar (1979-1985), a Igreja entra
plenamente na luta pela reconquista democrática, ao lado de outros
organismos da sociedade brasileira. Tendo anteriormente denunciado as
principais deficiências do sistema vigente, agora a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) procura traçar um novo modelo político segundo os
ideais do Evangelho. Os bispos insistem no retorno ao Estado de Direito, no
qual o estatuto jurídico pudesse retomar o seu significado real e no qual se
garantisse a participação de todos os setores sociais (MATOS, 2003, p.
230).
Com o apoio da Igreja, apesar de toda a estrutura autoritária militar, grupos e
organizações de base, transformaram-se em sujeitos políticos e/ou agentes
transformadores.
Nesse período, o processo de redemocratização do País entrou em sua fase
decisiva, com a ocorrência de movimentos que reivindicavam eleições diretas para
Presidente. Mas, levadas para o Congresso Nacional, as pretensões da maioria da
sociedade civil foram derrotadas. Em 1984, embora de forma indireta, foi eleito o
primeiro presidente civil, após a vigência de vinte Anos de Chumbo. Assim,
Tancredo de Almeida Neves, que representava uma coligação de forças, foi eleito,
mas adoeceu antes da posse. José Sarney assumiu a Presidência em 15/03/1985,
aguardando o restabelecimento de Tancredo. Mas, devido às complicações
cirúrgicas ocorridas, seu estado de saúde se agravou, vindo a falecer no dia 21 de
abril do mesmo ano.
Passado o tempo da posse e de instalação do novo governo, Sarney
convocou a Assembléia Nacional Constituinte. O clima em torno da elaboração da
nova Constituição mobilizou diferentes setores da sociedade civil e política: a elite,
92
os setores populares, as instituições religiosas, as organizações educacionais, as
áreas de saúde e os meios de comunicação, entre outros.
Nesse cenário, a sociedade civil passou a se organizar em conselhos,
movimentos, fóruns com caráter propositivo que faziam amplas negociações com o
Governo, então instaurado. Essas ações articuladas passaram a exercer o
importante papel de promover a participação dos setores societários no processo de
elaboração da Constituição, visando garantir os direitos referentes à cidadania, no
documento. Nesse processo, entretanto, entraram em cena, tanto os interesses
conservadores quanto os mais progressistas. Cada grupo lutava para assegurar
seus objetivos e aumentar privilégios e/ou a obtenção de novas conquistas.
No campo educacional, desenvolveram-se, no momento da elaboração da
Carta Magna, intensos debates, promovidos pelas organizações, ligadas a esse
setor, que, de certo modo, influenciaram na elaboração do capítulo, referente à
educação, na Constituição de 1988.
Reportando-se a esse período, Vieira (2000) afirma que, além das
contribuições apresentadas ao Congresso, outras foram decorrentes da ação da
sociedade civil organizada como, por exemplo, o Fórum Nacional da Educação na
Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito (Fórum, 1987) que teve, como
objetivo, defender o ensino blico, frente às crescentes pressões do setor privado.
Nesse sentido, destaca Vieira,
[...] algumas conquistas importantes são asseguradas, tais como: a
consagração da educação como direito blico subjetivo (Art. 208 & ), o
princípio da gestão democrática do ensino público (Art. 206, VI); o dever
do Estado de prover “creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de
idade (Art. 208, IV); a oferta de ensino noturno regular” (Art. 208, VI); o
ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso em idade própria (Art. 208, I); o atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiências (Ar 208, III), para citar apenas
algumas das conquistas sociais, em matéria de educação, no texto
aprovado (VIEIRA, 2000, p. 63).
A questão do Ensino Religioso se constituiu como um tema de debates,
durante o processo de desenvolvimento da Constituinte (1987-1988). O Grupo de
Reflexão de Ensino Religioso (GRERE) intensificou seu trabalho, em conjunto com a
Associação de Educação Católica, com a finalidade de acompanhar os debates,
realizados em torno do Ensino Religioso, antes e durante a Assembléia Constituinte
93
e, posteriormente, na fase de regulamentação do dispositivo constitucional sobre a
matéria.
Segundo Figueiredo,
[...] O GRERE com seus esfoos publicou o documento n. 49 da Coleção
de Estudos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, intitulado O
Ensino Religioso, contendo uma visão panorâmica do Ensino Religioso no
Brasil e o comentário da legislação em vigor, no país, da Primeira República
ao período de transição, iniciado em 1985. Tal publicação vem subsidiar o
debate empreendido ao longo do processo constituinte, efetivado através do
e Encontros Nacionais de Coordenadores Estaduais de Ensino
Religioso, realizados em Brasília em 1986 e 1987. O documento alimenta a
reflexão sobre o assunto, durante as fases da mobilização nacional, nos
respectivos Estados, em vista do encaminhamento de emendas ao
Congresso Nacional.
A atuação do Grupo se prolonga através de outras publicações, contatos
com os constituintes, em nível federal e estadual, inúmeras reuniões
realizadas e assessoria prestada aos respectivos Estados, em todas as
fases do processo de elaboração da legislação, [...] dirige-se ao relator da
Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte para
reforçar os pedidos feitos anteriormente, mediante argumentos que vão ao
encontro dos interesses da sociedade brasileira [...] e da compreensão de
que a educação é um processo de formação que por si mesmo exclui uma
postura neutra a respeito do homem e do mundo. Consideramos ser do
interesse da sociedade brasileira uma educação de qualidade em que
participação, liberdade, pluralismo e explicitação dos grandes valores de
raiz do ser humano, entre os quais os relacionamentos com o
transcendente, ajudam o homem a ser sujeito do seu próprio
desenvolvimento e da transformação da sociedade, para que seja justa e
soliria. O transcendente, a articulação que torna o homem mais livre e
mais humano, não pode, a nosso ver, ser ignorado nas propostas
curriculares de uma escola de qualidade (FIGUEIREDO, 1996, p. 74-76).
Com a promulgação da denominada Constituição Cidadã, em 1988,
constatou-se que ela, atendendo a reivindicação dos grupos religiosos, incluiu o
Ensino Religioso no seu Art. 210 § 1º: O Ensino Religioso, de matrícula facultativa,
constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental.
A luta a favor do Ensino Religioso o parou com a inclusão do referido
dispositivo na Constituição Federal, porque esse teria de ser assegurado, no âmbito
das Constituições Estaduais, nas Leis Ornicas dos Municípios e na futura Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estava sendo objeto de reflexões e
de debates.
94
No processo de elaboração do referido documento normativo, um grupo,
liderado pelas entidades/associações representativas dos docentes
28
, defendeu a
escola blica e gratuita e a destinação dos recursos blicos, exclusivamente, para
ela. Entre outros princípios, esse grupo, advogava que:
[...] os princípios do sistema educacional devem garantir a liberdade de
expressão e o respeito aos direitos humanos, visando ao desenvolvimento
da capacidade de elaboração e reflexão crítica e de preparação para o
trabalho. O Estado, a nível nacional, estadual e municipal, deve ser o
responsável pela manutenção de ensino público, ao qual todos devem ter o
direito ao acesso. O ensino público é um direito de todos os cidadãos
brasileiros, sem distinção de sexo, raça, idade, confissão religiosa, filiação
política ou classe social (PINHEIRO, 1996, p. 261).
Um outro grupo defendia os interesses da escola particular e o
encaminhamento de verbas públicas para ela, destacando-se, nesta perspectiva,
diversas associações
29
, que não se constituíram como um bloco único e coeso e,
por isso mesmo, nem sempre se posicionaram conjuntamente
30
.
Esses grupos que se posicionaram a favor da escola blica ou da escola
privada, além de unirem forças e promoverem encontros para divulgação de suas
propostas, mantiveram contatos com os parlamentares, responsáveis pela
Constituinte, visando ganhar apoio para as suas pretensões. Esses movimentos
ganharam força e ocuparam um espaço relevante de envolvimento na sociedade
civil (PINHEIRO, 1996).
28
O FÓRUN (Fórum Nacional da Educação em Defesa do Ensino Público e Gratuito) foi criado depois
de muitas reuniões para elaborar uma plataforma comum de defesa da escola pública. Entidades que
fizeram parte dessa instância: ANDE (Associação Nacional de Educação); ANDES (Associação
Nacional de Docentes do Ensino Superior; ANPAE (Associação Nacional de Profissionais de
Administração da Educação; ANPED (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação); CEDES
(Centro de Estudos Educação e Sociedade) FENOE (Federação Nacional de Orientadores
Educacionais); UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas); SEAF (Sociedade de Estudos
e Atividades Filosóficas); CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores); CPB (Confederação dos
Professores do Brasil; CUT (Central Única dos Trabalhadores); OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil); UNE (União Nacional dos Estudantes); FASUBRA (Federação das Associações dos
Servidores das Universidades Brasileiras).CONSED (Conselho dos Secretários de Educação), SBPC
(Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
29
. Entre essas associações se destacaram: AEC (Associação de Educação Católica); CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil); ABESC (Associação Brasileira de Escolas Superiores
Católicas); CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade); FENEN (Federação Nacional
dos Estabelecimentos de Ensino Particulares).
30
Sobre as propostas de algumas associações ligadas ao setor privado para subsidiar o Capítulo da
Educação, na nova Constituição, aconselha-se a leitura de: PINHEIRO, Maria Francisca (1996). In:
FÁVERO, Osmar (org.). 1996.
95
Resgata-se, nesse momento, a velha briga pela manutenção de privilégios,
envolvendo diferentes grupos, presentes na Assembléia Constituinte, visando
gara0.216 Tc (i) Tj0.04Tj0.024 Tc (,) Tj5.78 (t(a) Tj5.784 Tc48 Tc (e) Tj0.64 TD (ga) Tj0.084 Tc (r) Tj0.0480 Tc (“) Tj0 Tc (e) Tj6j5.78 (t(a) Tj5.784 Tc48 Tc (e) Tc (m) Tj0.288 T 48 Tc (p) Tj-0.156 Tc (r) Tj0.x4 Tc ( ) Tj0.048 Tc (p) Tj-0.c (m) Tj0.288 T 6jc) Tj0.048 Tc (é) Tj0.216 Tc (i) Tj-0.192 Tc (a) Tj5.784 Tc ( ) Tj-0.024 Tc c (t) Tj0.56 Tc (r) Tj0.cTj0.048 Tc (o ) Tj0 -20Tj0 Tc 084 Tc (-) Tj0 aTj0.048 Tc (o l Tc (i) Tj-0.19. -0.192 Tc0.216 0.216 Tc (N8 Tc (p) Tj-0.c (m) 2.10.048 Tc (g) Tj0.084 Tque (m) 2.10.048 Tc (g) Tjf-406.08 -28.56 TD -0.0nge (m) 2.10.048 Tc (g) Tj6j5.78 (t(Tc (ç) Tj0.046jc (de) Tj0.984 Tc ( ) Tj.048 Tc (end) Tj0.984 Tc ( ) Tj0.048 Tc) Tj0.048 Tc ((ha) Tj0 Tj0 Tc (ss) Tj0.048 Tc (e) Tj0.984 Tc ( ) Tj-0.396 Te (m) 2.10.048 Tc (g) Tjac (m) 2.10.048 Tc (g) Tj0.048 TE84 Tc48 Tc (e) Tj0j0.048 Tc (a0a) Tj5.784 Tc48 Tc (e) Tc (m) 2.10.048 Tc (g) Tj26 ( ) Tj0 -714.96 TD ( ) Tj Tj0.984 Tlend) Tj0.984 Tc ( ) TjTc (ç) Tj0.216 Tc (i) Tj-0.24 Tc (v) Tj-0.024 Tc (i) Tj Tj0 Tc (v) TTj-0.192 Tc (u)2.10.048 Tc (g) Tja) Tj Tj0.984 Tlend) Tjr) Tj0.0uTj0j0.048 Tc (2.10.048 Tc (g) TjTc (r) Tj0.0 Tj Tj0 Tceend) Tjr) Tj0.ãot(Tc (çeend) Tjr) Tj0. (e) Tj0.984 Tc ( ) Tj-0.396 Tac (d) Tj0.216 Tc (i) Tj0.024 Tc (f) Tj0.048 Tc Tj0.216 Tc (l) Tj-0.192 Tc0.216 Tjrãolo r
96
confessional, reivindicando a incorporação de suas propostas no texto
constitucional.
Junqueira sintetiza, à luz dos debates ocorridos, durante o processo de
elaboração da Constituição, que o Ensino Religioso, no campo escolar deveria ter
um caráter ecumênico, pautado no respeito pela liberdade religiosa; inserir-se no
campo do currículo escolar; merecer um tratamento igualitário no processo global da
educação, no que tange ao reconhecimento de que as diferentes Igrejas precisam
ter intico direito para entrar no espaço escolar. De tudo isso, emergiu a
necessidade de estabelecernovos referenciais para lidar dentro da escola, com o
aspecto religioso do ser humano, sobretudo com os questionamentos sofridos, ao
longo da Constituinte (1986-1988)(JUNQUEIRA, 2002a, p. 104).
Aprovada a Constituição de 1988, uma nova etapa de organização se fez
necessária, no que tange à elaboração da legislação pertinente em níveis federal,
estadual e municipal, para resolver questões referentes à escola pública e à escola
particular, e à postura laicista, que transfere o Ensino Religioso para instâncias o
públicas, por considerá-lo de cunho eclesial. Fez-se, também, necessário o
aprofundamento em questões que envolviam a prática concreta do ensino da
referida disciplina, tais como: seu adentramento no currículo escolar, a formação de
seus professores e a discriminação a ela feita, por muitos tricos e gestores
educacionais.
Muitos esforços foram feitos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
pelos Encontros Nacionais e Estaduais de Ensino Religioso e pelos sujeitos
encarregados desse setor, no âmbito da Igreja. Nesse sentido, aumentou-se a
consciência da importância de se proporcionar uma formação sólida para os
professores da disciplina, em pauta, através da criação de Institutos e/ou Escolas
Especializadas, em todo o território nacional. Além disso, aprofundou-se o nível de
reflexão sobre a realidade educacional brasileira e, especialmente, do Ensino
Religioso nos currículos escolares, objetivando definir melhor o que se pretendia
com essa disciplina, delineando linhas comuns de ação. Constatou-se, ainda, a
necessidade de uma connua avaliação do processo de ensino, referente à
mencionada disciplina, da troca de experiência sobre as questões pedagógicas e do
aprofundamento de estudos que encaminham o Ensino Religioso para a prática da
interconfessionalidade (FIGUEIREDO, 1996).
97
Várias questões foram colocadas em pauta nas reuniões do Setor Religioso
da CNBB e nos Encontros Nacionais de Ensino Religioso, no período de 1987 a
1990: publicações sobre o Ensino Religioso; texto-referência para promover e
efetivar a participação das bases, no processo de reflexão e preparação para os
Encontros Nacionais de Ensino Religioso; inclusão de docentes com experiência em
escolas blicas, para fazer parte do Setor de Ensino Religioso da CNBB; definição
de princípios e critérios para o Ensino Religioso, quer de natureza confessional ou
interconfessional; organização de equipes pedagógicas para o Ensino Religioso, no
âmbito das Secretarias de Educação Estaduais e Secretarias de Educação
Municipais; discussões sobre o secularismo e o pluralismo; dimensão metodológica
com enfoque antropológico e pedagico; alises da situação atual da educação
no Brasil e das condições precárias, sobretudo dos professores de Ensino Religioso
(FIGUEIREDO, 1996).
Outro aspecto importante para a disciplina, em apreço, foi a instalação do
Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER)
31
, durante a
celebração dos 25 anos do Conselho de Igrejas para o Ensino Religioso, em Santa
Catarina, em 1995, que se constituiu como espaço de discussão de questões de
caráter pedagógico e não eclesial e de análise das demandas suscitadas para esse
ensino.
Segundo Cunha,
[...] O FONAPER atua em todo o país, e desenvolve uma dupla atividade.
No interior do campo religioso, ele exerce a posição da Igreja Católica sobre
as demais confissões religiosas, especialmente as do espectro cristão; fora
desse campo, ele exerce influência sobre os campos político e educacional.
Essa influência tem o sentido da defesa da efetivação do ER nas escolas
públicas e da inclusão, na legislação de cada sistema, de um conteúdo
interconfessional, com professores credenciados pelas entidades religiosas,
inseridos no corpo docente por concursos públicos e remunerados pelo
Estado.
A atuação do FONAPER tem se mostrado eficaz diante da maior
diversidade e do menor controle burocrático das Igrejas Evangélicas, sem
falar nas demais religiões, com menor grau ainda de institucionalização
31
O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso é uma entidade civil constituída por
educadores de todo o país, com as mais variadas vinculações acadêmicas e confessionais. Foi criado
como: - espaço pedagógico, centrado no atendimento ao direito do educando de ter garantida a
educação de sua busca do Transcendente; - espaço aberto para refletir e propor encaminhamentos
pertinentes ao Ensino Religioso, sem discriminação de qualquer natureza
Cf: Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Diálogo - Revista de Ensino Religioso, mar./
1996, p.63.
98
como os cultos afro-brasileiros. Assim é que, uma após outra, as unidades
da Federação vêm aprovando leis que incorporam, em alguma medida, a
plataforma daquela entidade. Certamente, mais dicil será transformar as
determinações legais em práticas efetivas (CUNHA, 2005, p. 6).
Como foi explicitado, após a promulgação da Constituição de 1988, começou
a tramitar no Congresso um Projeto de Elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Com isso, diferentes setores da sociedade civil, entidades políticas e
religiosas não mediram esforços para efetivar a participação de diferentes setores,
nas discussões então estabelecidas. Esse Projeto, que representava os interesses e
necessidades da sociedade civil, principalmente dos educadores e de suas
entidades representativas,que contou com a participação efetiva de Dermeval
Saviani, foi apresentado na Câmera, pelo deputado mineiro, Otávio Elias.
Entretanto, logo depois, foi apresentado um outro Projeto ao Senado,
elaborado por Darcy Ribeiro, Maurício Corrêa e Marco Maciel que, por se encontrar
mais sintonizado com os interesses do Governo Fernando Henrique Cardoso,
acabou sendo o aprovado, passando a se constituir como a Lei n. 9394/96, a
segunda Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira (OLIVEIRA, 2003).
A parte que trata do Ensino Religioso, na referida lei, devido à expressão
sem ônus para os cofres blicos, criou muitas polêmicas. Na primeira versão da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o artigo 33 determinava o seguinte sobre o
Ensino Religioso:
§ - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo
oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências
manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu
responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos
preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades
religiosas, ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades
religiosas que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo
programa.
§ - Os sistemas de ensino atuarão de forma articulada com as entidades
religiosas para efeito da oferta do ensino religioso e do credenciamento dos
professores ou orientadores.
§ - Aos alunos que não optarem pelo ensino religioso será assegurado
atividade alternativa que desenvolva os valores éticos, o sentimento de
justiça, a solidariedade humana, o respeito à lei e o amor à liberdade.
99
Na versão final da referida Lei, o artigo 33 que trata o Ensino Religioso,
assim, estabelece:
Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo
oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências
manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu
responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos
preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades
religiosas, ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades
religiosas que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo
programa. (BRASIL, 1996, p. 2)
Dois fatos podem ser destacados nessa nova redação do artigo, que integra a
LDB em vigor.
Primeiro, a definição do Ensino Religioso para as escolas públicas se
apresenta em duas modalidades: confessional e interconfessional, o que criaria um
tratamento desigual do Estado em relação às diversas igrejas, sendo que a
subvenção seria desproporcional à demanda. Segundo, a inclusão da expressão
sem ônus para os cofres blicos, implicaria em dificuldades para a organização e
sistematização da pratica pedagica deste ensino na escola. Trata-se, segundo
Caron (1998), de uma expressão resultante de uma emenda aditiva, de última hora,
introduzida no texto legal.
Contudo, os debates sobre a questão do Ensino Religioso continuaram,
principalmente em torno da expressão sem ônus para os cofres públicos, da
necessidade de serem salvaguardados os princípios da liberdade religiosa e do
direito do cidadão que freqüenta a escola pública.
Para Caron, isso:
[...] implica nenhum cidadão poder ser discriminado por motivo de crença;
em ter assegurada uma educação integral, incluindo o desenvolvimento de
todas as dimensões de seu ser, inclusive a religiosa, independente de
concepção religiosa ou filosófica de qualquer natureza.
A motivação principal destas novas discussões foi a tradicional
argumentação republicana da separação Estado e Igreja, Estado e
religião, nos termos do Decreto n. 119ª, de janeiro de 1890, revisto e
incluído, em 1988, nos termos do Art. 19 da Constituição Federal em vigor.
(CARON, 1998, p. 23).
32
32
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios: I estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público.
100
Em virtude dos problemas provocados pela formulação da lei e pelo
descontentamento das comunidades escolares e das diversas denominações
religiosas, foram apresentadas três propostas de modificação do parágrafo 33 da
LDB:
a) O Projeto de Lei n. 2.757/97 do Deputado Nelson Marchezan, pretendeu
alterar o artigo 33, simplesmente retirando a expressão sem ônus para os
cofres públicos;
b) O Projeto do Deputado Maurício Requião, sob o número 2.997/97, propôs
uma alteração significativa do artigo 33, da Lei n. 9394/96, através dos
dispositivos assim redigidos:
Art 33- O Ensino Religioso é parte integrante da formação do cidadão.
§ - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos
horários normais da escola pública fundamental, vedadas quaisquer formas
de doutrinação ou proselitismo.
§ - Assegurado o respeito à diversidade cultural brasileira, os conteúdos
do ensino religioso serão definidos segundo os parâmetros curriculares
nacionais e de comum acordo com as diferentes denominações religiosas
ou suas entidades representativas.
c) O Projeto n. 3043/97, de iniciativa do Poder Executivo - após ampla
consulta aos estados, via Secretaria de Estado da Educação, e a setores da
sociedade em geral - tramitou em regime de urgência constitucional, nos
termos do artigo 64, parágrafo da Constituição Federal, acrescentando a
modalidade de Ensino Religioso ecumênico às outras duas existentes no
artigo 33 da LDB: confessional e interconfessional. A este tipo de ensino
religioso, o ecumênico, no Parecer, conforme a Exposição de Motivos n.
78 de 13 de mao de 1997, não se aplica o dispositivo sem ônus para os
cofres públicos (CARON, 1998, p. 24-25).
Esses projetos estavam em sintonia com os dispositivos constitucionais sobre
o Ensino Religioso, atendiam às reivindicações de diferentes orientações religiosas e
defendiam a inclusão do Ensino Religioso, como parte integrante da formação do
cidadão, possibilitando-lhes o acesso à compreensão do fenômeno religioso e ao
conhecimento de suas manifestações nas diferentes denominações religiosas.
Obrigava o Estado a promover o Ensino Religioso no que diz respeito ao seu custeio
e a sua previsão na grade horária curricular, prevendo-o no espaço e tempo da
grade curricular.
Segundo Caron (1998),
[...] O Deputado Pe. Roque Zimmermann após muitos estudos e ouvida a
sociedade representada pela CNBB, pelo Fórum Nacional de Ensino
Religioso, CONIC e MEC, elaborou um Substitutivo ao Projeto de Lei n.
2757, de 1997, de Nelson Marchezan, levando em conta as propostas
apresentadas nos demais projetos. Esse projeto se apresenta como
substitutivo de toda a redação do artigo 33 da LDB (CARON, 1998, p. 26).
101
Assim, após muita polêmica a respeito do artigo 33 da LDB, foi aprovado o
Substitutivo n. 9475/97, com a seguinte redação:
Da nova redação do Art.33 da Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
O presidente da República
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. - O art. 33 da Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, passa a
vigorar com a seguinte redação:
Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação sica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
§ - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos contdos do ensino religioso e estabelecerão as normas
para a habilitação e admissão dos professores.
§ - Os sistemas de ensino ouvirão entidades civis, constituídas pelas
diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do
ensino religioso.
Art. - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 22 de julho de 1997; 176º da Independência e 109º da República.
Fernando Henrique Cardoso
Paulo Renato Souza (BRASIL, 1997, p. 2)
Essa nova redação do artigo 33, da LDB n. 9394/96 é mais abrangente,
porque concebe o Ensino Religioso como disciplina escolar, portanto o considera
como uma área de conhecimento e como parte integrante da formação sica do
cidadão. Em síntese, o mencionado Substitutivo: respeita a diversidade cultural
religiosa; responsabiliza os sistemas de ensino pela regulamentação dos
procedimentos para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e pela
elaboração de normas para a habilitação e admissão dos professores e determina o
ônus para o cofre público. Com esse dispositivo, observa Zimmermann,
[...] se criam oportunidades de sistematizar o Ensino Religioso como
disciplina escolar que não seja doutrinação religiosa e nem se confunda
com o ensino de uma ou mais religiões. Tem como objeto a compreensão
da busca do transcendente e do sentido da vida, que dão critérios e
segurança ao exercício responsável de valores universais, base da
cidadania. Esse processo antecede qualquer opção por uma religião.
[...] A grande novidade do presente substitutivo, agora transformado em lei,
poderia ser sintetizado em dois pontos:
Primeiro: até o presente, o Ensino Religioso, por mais que não o quisesse,
acabava sendo desagregador, visto que ao afirmar uma religião como única
ou verdadeira, segregava todas as demais. Pelo presente projeto, ao
priorizar o princípio religioso, sem acentuar esta ou aquela confissão
religiosa, cada aluno será aceito independente de qual credo confesse.
Portanto, o que se quer é um Ensino Religioso agregador, de tal forma que
102
católicos, evangélicos, budistas, membros de ritos afro-brasileiros e outros,
sentarão lado a lado e sentir-se-ão aceitos como tais pelos colegas sem se
sentirem inferiorizados, como acontecia muitas vezes no passado. Isto
poderá soar estranho e herético para muitos, mas é esta a orientação que
cremos necessária num mundo e escola pluralista e até laica.
Segundo: como dedução lógica do ponto anterior, um dos principais valores
acentuados no presente substitutivo é o da tolerância. Ao se excluir
qualquer forma de doutrinação - no mau sentido - e do proselitismo, far-se-á
com que fundamentalismos de todos os matizes sejam banidos - ou, ao
menos, mitigados - do nosso meio. Aliás, é importante recordar que este
princípio está presente em diversos documentos do Vaticano II e, que,
finalmente é instituído como princípio e prática de nosso Ensino Religioso
Escolar. É, portanto, uma lei agregadora e não desagregadora como foi até
agora. [...] As longos anos de atuação concreta no Ensino Religioso
Escolar, cremos que este substitutivo vem responder a uma ânsia presente
em todos os que buscam implantar sinceramente os verdadeiros valores
que deveriam estar presentes num ensino autenticamente religioso e
humano, como convém nesse final de milênio (ZIMMERMANN, 1997, p. 54-
55)
Em decorrência, a entidade civil deverá ser ouvida, através das diferentes
entidades/denominações religiosas, no que tange à definição dos conteúdos de
Ensino Religioso (BRASIL, 1997, p. 2).
[...] As denominações religiosas constituir-se-ão em uma entidade civil, reconhecida
pelos sistemas de ensino. A lei não define o que seja denominação religiosa,
entretanto, o exclui nenhuma delas. Os sistemas de ensino ouvirão, diz a lei, a
entidade civil para a definição dos conteúdos do ensino religioso.
Alguns critérios para a constituição e gestão da entidade civil: evitar toda e
qualquer forma de proselitismo; respeitar a diversidade cultural e religiosa do Brasil;
comprovar envolvimento efetivo com a educação sistematizada, em nível escolar,
nos sucessivos ciclos da educação sica no país, respeitando a especificidade da
escola pública; demonstrar sua intenção em manter um diálogo contínuo com as
demais denominações, bem como a sua predisposição à reciprocidade, na
perspectiva da colaboração, da atualização pedagogia e das iniciativas que visem a
melhoria da qualidade do ensino (CARON, 1998, p 33).
Diante do exposto e com o objetivo de colaborar com o aperfeiçoamento e na
implantação da oferta de ensino religioso, Zimmermann, sugere:
[...] a) aos sistemas de ensino fundamental: a abertura de processos
democráticos de debate sobre o assunto, na perspectiva de primar pela
interpretação correta do texto constitucional e legal e o incentivo à
organização da entidade civil prevista no parágrafo , do Art. 33 da LDB, na
nova redação dada pela Lei n. 9475/97. b) às diversas confissões religiosas
e aos movimentos sociais de pais, de estudantes e de profissionais da
educação, ligados ao ensino fundamental: que se articulem na entidade civil
prevista na lei (citada acima) e que participem, ativamente, dos debates da
implementação da nova lei, denunciando possíveis ilegalidades e distoões
(ZIMMERMANN, 1998, p. 57).
103
Desse modo, essa primeira emenda à LDB resolveu, em grande parte, as
discussões sobre a natureza e a função do Ensino Religioso, no sistema público de
ensino, mas sendo de oferta integrada aos horários normais das escolas públicas. É
preciso compreender, de acordo com Carneiro, que:
[...] i) a educação integral inclui o ensino religioso; ii) a inclusão do ensino
religioso na escola o é concessão do Estado às igrejas, mas é uma forma
de operacionalizar o princípio universal da liberdade; iii) abrir um espaço
para o ensino religioso não é abrir um espaço para a catequese, mas
ensejar a valorização da espiritualidade humana. iv) o conteúdo do ensino
religioso deve contribuir para que o aluno transite da consciência ingênua
para a consciência crítica da realidade, na busca da transformação do
mundo (CARNEIRO, 1998, p. 105).
Depois da promulgação da Lei 9394/96, além da discussão em torno do artigo
33 e da carga horária, outros pareceres do Conselho Nacional se fizeram
necessários para detalhamento de questões específicas da educação sica. Entre
os pareceres emitidos, está o Parece 3/97, aprovado em 12 de março de 1997, que
tratou da questão dos Parâmetros Curriculares Nacionais
33
, documento elaborado
sob a coordenação da Secretaria de Educação Básica do MEC.
Paralelamente à luta para modificar a redação do artigo 33 da LDB, uma outra
frente foi aberta para empreender a construção dos Parâmetros Curriculares para o
Ensino Religioso, já que, no âmbito dos Parâmetros Curriculares Nacionais
34
, do
MEC, não constava a área referente ao Ensino Religioso.
33
O Art. 210 da Constituição Federal em vigor, explicita no seu caput: “Serão fixados conteúdos
mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação sica comum e respeito aos
valores culturais e arsticos nacionais e regionais.
A lei n. 9394/96, dispõe em seu Art. 26: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma
base nacional comum a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar,
por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura,
da economia e da clientela.
34
Em 1998, a mara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, em sua Resolução
n. 02/08, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, enfatizando em
seu Art. - item IV, que: em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade de acesso para
alunos a uma base nacional comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade de ação
pedagógica na diversidade nacional. A base comum nacional e sua parte diversificada deverão
integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise estabelecer a relação entre a educação
fundamental e a) a vida cidadã através da articulação entre vários dos seus aspectos como: saúde,
sexualidade, vida familiar e social, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura, linguagens e
b) as áreas de conhecimentos: Língua Portuguesa, Língua Materna (para populações indígenas e
migrantes), Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística,
Educação sica e Educação Religiosa. Cf: Câmera de Educação Básica/Conselho Nacional de
Educação. Resolução n. 02/98. Brasília, MEC, 1998.
104
Tendo em vista o exposto, Caron explica:
Ciente da situação, a CNBB, através do Grupo de Reflexão sobre Ensino
Religioso (GRERE), e o Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso
mobilizaram-se para que houvesse a inclusão de parâmetros também para
a citada disciplina.
A coordenação do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso
assumiu a tarefa da elaboração e divulgação de tais parâmetros, contando
com a participação de muitos educadores e entidades religiosas,
relacionadas com a questão em pauta.
Assim, em tempo recorde, foi constituído um grupo de trabalho, que
elaborou os Parâmetros para o Ensino Religioso para o Conselho dos
Secretários de Educação (CONSED), reunido em setembro de 1996. O
mesmo procedimento se deu, logo a seguir, junto ao MEC e à Câmara do
Conselho Nacional de Ensino Básico. A Comissão dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, de posse do referido trabalho, fez uma apreciação
positiva do texto concluído, em tempo hábil, na intenção de ser
transformado, posteriormente, em diretrizes para o Ensino Religioso no
Brasil (CARON, 1998, p. 24).
Os Parâmetros Curriculares, mesmo com uma avaliação positiva dos
pareceristas do MEC, não foram publicados pela imprensa oficial e sim, pela editora
Ave Maria, em 1997. O texto publicado tenta romper com a confessionalidade,
através da proposta de enfatizar o femeno religioso como objeto de
conhecimento, encontrando, assim, o que de comum numa proposta educacional.
Desse modo, observa Cândido,
[...] o texto dos PCNER aponta para a compreensão do conhecimento como
construção, considerado como patrimônio construído e adquirido pela
humanidade. Para além da concepção de conhecimento em geral, tem seu
lugar a concepção de conhecimento religioso, que parece ser o sinal da
especificidade desta disciplina (CÂNDIDO, 2005, p. 26).
Assim, o Ensino Religioso, a partir da lei 9394/96 e dos Parâmetros
Curriculares do Ensino Religioso, vai se caracterizando como uma disciplina, com
conteúdos próprios, ficando claro que essa área de conhecimento não pertence a
nenhuma denominação religiosa e, por isso, o credenciamento dos professores deve
ser dado por meio de políticas próprias dos sistemas de ensino.
Além do empenho para a implantação da nova concepção do Ensino
Religioso, descrita na legislação, apontava-se a necessidade de reconhecimento do
profissional do Ensino Religioso e de sua formação acadêmica, pois a disciplina em
apreço, além de estar ao lado das outras áreas de conhecimento, possuía, também,
uma episteme própria. No que se refere à formação de professores, há necessidade
105
de se realizá-la, mediante cursos de graduação.
2.2 O Ensino Religioso no Campo Escolar
O Ensino Religioso deve ser compreendido como área de conhecimento, não
se constituindo como um espaço da catequese, nem do doutrinamento, mas sim da
descoberta existencial da vida, no que ela tem de mais radical e de mais profundo.
Assim, ele deve ser entendido numa abordagem mais antropológica, com uma
dimensão humana a ser formada e como área de conhecimento, deve fazer a sua
busca de identidade como disciplina escolar. Este modelo de Ensino Religioso,
conforme Gruen,
[...] não conta com a fé como ponto de partida, nem mesmo ousa propor a fé
como objetivo, pois a fé explícita, assim como não deve ser excluída, não
pode ser programada: como dizem os tlogos cristãos, ela é dom de Deus,
graça. O objetivo do Ensino Religioso é proporcionar ao aluno as oportunas
experiências, informações e reflexões ligadas à dimensão religiosa da vida,
que o ajudem a cultivar uma atitude dimica de abertura ao sentido radical
da sua existência em comunidade e a preparar-se assim para uma opção
responsável do seu projeto de vida (GRUEN, 1995, p. 37).
Nessa perspectiva, o Ensino Religioso pretende criar as condições para o
aluno melhor compreender a vida, o ser humano, o mundo e abrir possibilidades
para o educando pensar e agir no mundo em que vive de forma mais humanizada.
O ser humano é por excelência um ser em relação. A partir do momento em
que o sujeito entra no mundo,desenvolve as mais variadas formas de
relacionamento com a natureza, com a sociedade e com o transcendente, na
tentativa de superação da sua provisoriedade, limitação, ou seja, finitude (PCNER,
1996, p. 19). Questões como quem sou, de onde vim, para onde vou estão
presentes na vida da pessoa num permanente movimento de procura por si próprio e
de se fazer presente nesse mundo. Freire menciona que,
[...] a consciência do mundo e a consciência de si como ser inacabado
necessariamente inscrevem o ser consciente de sua inconclusão num
permanente movimento de busca. Na verdade, seria uma contradição se,
inacabado e consciente do inacabamento, o ser humano o se inserisse
106
em tal movimento. É nesse sentido que, para mulheres e homens, estar no
mundo necessariamente significa estar com o mundo e com os outros. Estar
no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem
tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem
musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, da águas, sem usar as mãos, sem
esculpir, sem filosofar, sem pontos de vistas sobre o mundo, sem fazer
ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem
ensinar, sem iias de formação, sem politizar não é possível (FREIRE,
1998, p. 64).
Inconcluso, o ser humano busca as razões para estar no mundo. Mais do que
ser no mundo, observa Freire,
[...] o ser humano se tornou uma Presença no mundo, com o mundo e com
os outros. Presença reconhecendo como si própria. Presença que se
pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma,
que fala do que faz, mas também do que sonha, que constata, compara,
avalia, valora, que decide, que rompe (FREIRE, 1998 p. 20).
O sujeito, nessa busca de atribuir um significado para si e para o seu estar no
mundo, observa fenômenos que o permitem ir mais além e produzir conhecimentos
diversos como forma de organizar o seu ser no mundo, de criar significados para o
seu agir e de conhecer outras unidades de referência para aprender a ser neste
mundo e decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida. Tal
movimento ou experiência de busca, segundo Figueiredo,
[...] é algo próprio do ser humano, pois o situa na condição transcendente,
sem perda da sua realidade imanente. Então poderíamos dizer que: ser
humano é ser religioso; e ser religioso é ser humano. Duas faces
inseparáveis de um único ser qualificado como religioso. É religioso por
conta dos ideais e propósitos de uma vida humana na sua plenitude
(FIGUEIREDO, 2001a p. 13).
Esse sujeito ativo que se constitui no complexo imbricamento de suas
perguntas existenciais com o seu desejo de aprender a conhecer, aprender a fazer e
aprender a ser busca tanto superar a provisoriedade, diante do mistério insonvel
da própria vida, como se sente maravilhado com o desconhecido, com a
possibilidade do totalmente Outro que se revela nas diversas situações da vida.
De alguma forma, além do ser humano desejar transcender a sua
singularidade, experimenta a sensação de completude, de profundo encantamento
com a vida, atribuído a algo ou algm que o transcende. Estas experiências,
portadoras de sentido, são vivências impregnadas de religiosidade,pois todas
107
apresentam faces de uma ligação com a vida e sua sacralidade conjunta que
transpõe a materialidade das coisas, a provisoriedade dos acontecimentos humanos
e a transitoriedade do tempo. (CORTELLA, 2004, p.17).
Nesse caso, o Ensino Religioso necessita despertar, no contexto escolar, a
atenção para a dimensão da religiosidade dos alunos que, segundo Gruen,
[...]é a atitude dinâmica de abertura do homem ao sentido radical de sua
existência, seja qual for o modo como é percebido este sentido. Não se trata
apenas de uma atitude entre muitas: quando presente, a religiosidade está
à raiz de todas as dimensões da pessoa; melhor, está à raiz da vida
humana a sua totalidade (GRUEN, 1995, p. 75).
A dimensão religiosa, que acontece no coração do ser humano, envolve a
pessoa como um todo e se irrompe no cotidiano, através da admiração e do
encantamento diante de pequenos ou grandes fenômenos. Por isso, a educação o
pode perder de vista a dimensão religiosa que a pessoa traz consigo, pelo fato de
revestir de sentido as demais potencialidades do ser humano. Assim, de acordo com
Figueiredo,
[...] uma educação a que muitos qualificam de integral suscita ou mantém o
desejo de ser na totalidade. Permite aos que dela se beneficiam: perceber o
ponto de encontro da razão com a vida; do imanente com o transcendente;
do desejo com a realidade; da parte com o todo e do todo com as partes; do
individual com o social e vice-versa; da matéria com o espírito.
Enfim, de outras tantas polaridades que suscitam concepções de valores,
fortalecem os ideais, incentivam a participação, exercitam a predisposição
para prosseguir rumo a infinitos horizontes.
Aqui se percebe a sensibilidade religiosa no conjunto das demais funções
como estimuladora do caminhar connuo do ser humano, gradual e
intencionalmente, como parte do seu desenvolvimento natural até a
maturidade humana.
Em dado momento, essa sensibilidade se reveste de um caráter novo: a
religiosidade. Isso quando tal sensibilidade assume a função de manter viva
a chama do desejo em prosseguir, em ir além do aqui e agora,
condicionando o ser humano espiritual mais potente e aberto a acol-lo
nas suas inquietudes, tensões e conflitos. Não é um desejo qualquer, pois
mantém o esfoo na busca de equilíbrio entre as polaridades: entre o
imanente e o transcendente, dentro ou fora de uma religião (FIGUEIREDO,
2001a, p. 19-20).
Nessa perspectiva, o Ensino Religioso tem o seu método, conteúdo e
procedimentos que justificam a razão de ser de uma área de conhecimento. A sua
meta, observa Figueiredo,
108
[...] é a educação religiosa, compreendida como parte integrante do sistema
escolar, a partir de uma hermenêutica propiciadora de sua inclusão e
efetivação nesse sistema, “como e “com as demais áreas do
conhecimento. Como ensino, está voltado para um universo educacional,
estruturado segundo projetos pedagógicos específicos e adequados ao
sistema escolar. Qualificado como “religioso, parte de uma natureza
própria, que tem a ver com o seu destinatário. Religioso é o seu
destinatário. Como ensino deverá propiciar o desenvolvimento do ser
religioso desse destinatário, num ambiente favorável a isso (FIQUEIREDO,
2001a, p. 31).
Dessa forma, o Ensino Religioso visa tanto à educação do cidadão, à
dimensão religiosa do ser humano, nessa busca de transcendência, quanto
conhecer o significado das manifestações e expressões religiosas no seu contexto
específico, ou seja, a partir da experiência humana do sagrado e dos referenciais
que identificam a religiosidade da pessoa humana ao longo da história. Nota-se que
o objeto desse estudo é a pessoa em sua experiência religiosa e no seu encontro
com o transcendente.
Esse modelo, da educação da religiosidade, foi sistematizado pelo Pe. Gruen.
A partir de princípios antropológicos, esse autor expõe os objetivos desse ensino e
como devem ser as suas aulas:
[...] proporcionar ao aluno experiências, informações e reflexões que ajudem
a cultivar uma atitude dinâmica de abertura ao sentido mais profundo de sua
existência em comunidade, e a encaminhar, assim, a organização
responsável de seu projeto de vida. Em outras palavras, visa-se a ajudar o
aluno a formular existencialmente, em profundidade, o questionamento
religioso, e ir dando a sua resposta devidamente, responsável, engajada. A
aula de Ensino Religioso ajudará a vivenciar práticas transformadas;
remover eventuais obstáculos à fé; a compreender as diversas expressões
religiosas; a valorizar a própria crença e respeitar a dos outros. Será uma
atividade propedêutica inestimável, seja qual for a opção de vida que a
pessoa um dia vier a fazer (GRUEN, 1995, p. 82).
Para Gruen, constitui conteúdo do Ensino Religioso
toda aprendizagem prática e trica, considerada importante para a
consecução dos objetivos desse ensino. Não é mero conjunto de temas; é
um jogo de relações educativas, do qual participam cosmovisões, vivências,
opções básicas, métodos, linguagem (GRUEN, 2004, s.p).
Para ele, o contdo abrange, basicamente, duas vertentes interligadas:
[...] 1. O universo de vivências dos educandos: valores básicos, atitudes
“religiosas, experiência de religiosidade; esmulo a participar da própria
109
comunidade de fé. 2. O conteúdo tematizado: informações que encaminham
a formação pelo educando, de um quadro de referência sólido, que o oriente
e anime: ajude a discernir e tomar posição, resistir a manipulações,
preconceitos e relativismo, a corrigir distoões, libertar e libertar-se; a ir
expandindo seus horizontes; a ser agente de justiça e paz. Fazem parte
desta tematização também, mas não exclusiva nem prioritariamente, as
principais religiões presentes no espaço hermenêutico local. Fique claro que
não se trata de ensinar um coquetel de religiões nem, muito menos, de criar
uma nova “religião natural. Esse universo será aprofundado como os
demais conteúdos da escola: através de atividades, projetos, temas de
estudo. Como em todo processo educativo, fica patente que conteúdo e
métodos interpenetram; conteúdo é método, método é conteúdo (GRUEN,
2004, s.p).
Para outros, a modalidade de Ensino Religioso tem como objeto o fenômeno
religioso
35
. Este modelo parte da experiência individual, porém sem perder de vista
as experiências acumuladas e transmitidas pela humanidade e vividas pelas
tradições religiosas, mediando o desenvolvimento integral do educando.
Nessa perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso
(1996), optaram, de acordo com Junqueira,
[...] pelo fenômeno religioso, pois para desenvolver a compreensão como
disciplina escolar deveria considerar duas áreas em conjunto nas quais este
componente está envolvido: Educação-Ensino (escola) e Religião
(religiosidade).
O Ensino Religioso, na escola, quer contribuir no aspecto do fenômeno
religioso, considerando religioso a qualidade do questionamento e da
atitude com que a enfrentamos, uma vez que o Ensino Religioso trata o
religioso como capacidade que vai além da supercie das coisas,
acontecimentos, gestos, ritos, normas e formulações, para interpretar toda a
realidade em profundidade crescente e atuar na sociedade de modo
35
O fenômeno religioso é objeto de estudo da fenomenologia religiosa. Mas o que se pode entender
por fenomelogia religiosa? Segundo Piazza, a fenomenologia religiosa é o estudo sistemático do fato
religioso nas suas manifestações e expressões sensíveis, ou seja, do comportamento humano, com a
finalidade de apreender o seu significado profundo. [...] Três coisas ficam assim bem claras: -
Tomando por objeto o estudo do fato religioso, situamo-nos no campo da investigação histórica e
científica, e não no da polêmica filosófica ou teológica. Buscando a compreensão de seu significado
profundo, situamo-nos no campo da interpretação existencial, e não no da especulação racional; -
Adotando o método da redução fenomenológica, situamo-nos no campo da observação objetiva, e
não no da interpretação subjetiva. [...] sua finalidade não é “classificar”os vários fenômenos religiosos,
mas apreender o seu significado próprio, como expressão da mais alta espiritualidade do homem. A
fenomenologia estuda o significado deste tijolo, ou seja, a sua capacidade para a construção de uma
parede, mas não vai mais além. [...] A Fenomenologia Religiosa isenta de toda a preocupação
filosófica e teológica, procura determinar as razões profundas que motivaram o homem a praticar
certos ritos e a enunciar certos mitos, para conhecer o significado próprio deles
O fenômeno religioso tem o seu sentido específico, que é de uma reação espontânea, o
racionalizada, perante o Sagrado, mas em si mesmo ainda não traz uma doutrina, e, por isso, pode
fazer parte tanto de um sistema religioso como de outro. É como um tijolo, elemento sico de uma
construção, mas que em si mesmo não define a construção de que pode fazer parte. [...] o Fenômeno
religioso se funda em sua experiência do Sagrado, que, como experiência existencial, se radical no
indivíduo humano, embora esteja condicionada, em sua expressão exterior, à linguagem e à estrutura
social em que o indivíduo humano está inserido (PIAZZA, 1983, p. 18. 19. 23-27)
110
transformador e libertador (JUNQUEIRA, 2002b, p. 83).
Associado à opção pelo fenômeno religioso, os Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Religioso assumiram o conceito de religião, a partir da
etimologia da palavra, associada à trajetória da disciplina. De acordo com Siqueira
(2003), citando FONAPER:
[...] durante séculos, ou seja, até a segunda metade do século XX,
predominou no Brasil o Ensino Religioso na concepção de reeligere, no
entendimento do reescolher, com finalidade de fazer seguidores. Nesse
contexto, ele se caracteriza como evangelização, aula de religião,
catequese, ensino bíblico. O conhecimento veiculado era da informação
sobre elementos da religião e a LDB n. 4024/61 refletiu bem essa
concepção.
A segunda concepção, religare, significando religar as pessoas a si mesma,
aos outros, à natureza e a Deus, visou tomá-las mais religiosas. Nesse
contexto, o Ensino Religioso caracterizou-se como pastoral, aula de ética e
valores, e o conhecimento veiculado foi da formação antropológica da
religiosidade, pelo saber em relação (em relação a si próprio, aos outros, ao
mundo, à natureza e a Deus) Esta concepção desenvolveu-se a partir dos
anos 80 e está refletida na LDB n. 5692/71.
Desde a instalação do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso
(1995) está-se fazendo a transição - a passagem para uma nova concepção
de Ensino Religioso, a partir do entendimento do relegere - que significa
reler - fenômeno religioso no contexto da realidade sociocultural, que a nova
redação do art 33 da LDBEN n. 9394/96 expressa (SIQUEIRA, 2003, p. 76-
77).
O Ensino Religioso objetiva, de acordo com os PCNER,
[...] proporcionar o conhecimento dos elementos sicos que compõem o
fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas percebidas no contexto do
educando; subsidiar o educando na formulação do questionamento existencial, em
profundidade, para dar sua resposta devidamente informado; analisar o papel das
tradições religiosas na estruturação e manutenção das diferentes culturas e
manifestações socioculturais; facilitar a compreensão do significado das
afirmações e verdades de fé das tradições religiosas; refletir o sentido da atitude
moral, como conseqüência do fenômeno religioso e expressão da consciência e
da resposta pessoal e comunitária do ser humano; possibilitar esclarecimento
sobre o direito à diferença na construção de estruturas religiosas que têm na
liberdade o seu valor inalienável (PCNER,1996, p. 30).
Pelo exposto, nota-se que tais objetivos privilegiam o respeito à diversidade
cultural e religiosa; proporcionam reflexões que ajudam o educando a se abrir para o
sentido profundo de sua existência e confrontar-se com questões realmente vitais
para a sua vida. Além disso desencadeiam o respeito à tolerância para com o
diferente, a partir do estudo do fenômeno religioso e da descoberta gradual da
dimensão religiosa, presente em toda experiência humana pessoal ou comunitária.
111
Para Gruen, “o que torna religioso o ensino ou discurso o é a realidade analisada
e sim a qualidade do questionamento e da atitude com que a enfrentamos” (GRUEN,
1988, p. 15).
Para Siqueira (2003) o modelo que tem como foco o estudo do fenômeno
religioso contém elementos válidos, principalmente no que concerne ao rompimento
com a confessionalidade, mas possui limitações quanto aos seus pressupostos
pedagógicos. Nesse sentido, essa autora destaca algumas idéias:
[...] o fenômeno religioso não esgota a “religiosidade e nem mesmo a religião; o
fenômeno religioso não é aprofundado só pelo saber; atitudes que são pré-
requisitos para se conhecer o próprio fenômeno religioso. [...] Em que sentido os
defensores desse modelo tomam o conceito de fenômeno? Se for no sentido
popular, do que cai sob os sentidos, o estudo será superficial; se o tomarem no
sentido da fenomenologia religiosa, cedo ou tarde, terão que adotar o modelo da
educação da religiosidade; no estágio da heteronomia que caracteriza a infância, o
universo plural é explorado a partir de uma identidade definida, a da família. Existe
algum estudo que garanta ser sadia, em sala de aula, a abordagem de diversas
religiões, todas apresentadas como válidas? Que efeito terá esse descentramento
prático sobre a construção da identidade da criança? (SIQUEIRA, 2003, p. 78).
O Ensino Religioso no decorrer de sua história, no País, tem convivido com
diversas modalidades de ensino.
O Ensino Religioso que vigorou, na época da Colônia, foi o modelo
confessional. Essa modalidade de ensino perdura, ainda, em alguns estados e
pressupõe um ensino entre grupos de uma mesma confissão religiosa, incluindo visão de
ser humano e de mundo, culto, ritos, princípios ético-morais, costumes, organização interna.
Esta categoria de ensino visa educar e aprofundar a fé dos alunos e está voltado para o
estilo cateqtico/doutrinal.
Nesse modelo, segundo Gruen,
[...] Deus é dado indiscutível a partir do qual é organizada toda a catequese:
objetivos, métodos, conteúdos. Mesmo quando se procura provar” a
existência de Deus, parte-se de uma dúvida que é apenas metódica; nas
aulas seguintes, este ponto supõe resolvido; aliás já se supunha resolvido
desde que se procedeu à programação do curso. Toda a catequese é
orientada pelas perspectivas que foram inspiradas às respectivas
comunidades fundadoras (“arquétipos”) pela sua fé em Deus (GRUEN,
1995, p. 77).
Portanto, o que se ministra é uma catequese na escola e de predominância
católica com verdadeiros manuais catequéticos e introdução dos sacramentos na
escola.
112
A partir dos anos 70, além do modelo fenomenológico e da educação da
religiosidade, já citados, são defendidas outras concepções de Ensino Religioso que
serão discutidos a seguir.
O modelo ecumênico atende as confissões cristãs, pois várias autoridades
religiosas se põem em acordo sobre um programa comum a ser ministrado nas
aulas de Ensino Religioso. Segundo Dantas (2007, p. 47),
a sua grande limitação é justamente a sua ênfase especificamente cristã,
que privilegia essa matriz confessional porque se fundamenta numa teologia
que a considera caminho privilegia6(l) Tj-0.08448 Tc (eg) Tj0.16224 Tc( ) Tj-0.08448 Tc (p) Tj0 Tc (r) Tj0 Tc4c (eg) Tj0.16224 Tc( ) Tj-0.0847iv (f) Tj-0.08448 Tc (uncTc (r) Tj-c (p) Tj0 Tc (c) T.8224 Tc (j) Tj-0. Tj0.16224 Tc((r) Tj-c (p) Tj0 Tc (c) T.8224 T448 32448 Tc (u) Tc (s) Tj0.024 Tc (t) Tj.15552 Tc (n) Tj0.2433.3Tc ( ) Tj0.07776 Tc d) Tj0.16224 Tc (i) Tj0.07776 Tc (f) Tj0.1 Tc (i) Tj-0.08448 Tc (4 Tc ( 8448 Tc (que) Tj4.63776 Tc ( ) Tj2433.3T (() Tj051776 Tc ( ) Tj4.63776 Tc ( ) Tj-0.t) Tj-0.08448 Tc m) Tj-0.08448 Tc (en) Tj0.0od0.16224 Tc (i) Tj-0.0844808448 Tc (oj0.1 Tc (i) Tj-0.0844 Tj-0.0847) Ta8 Tc (u) Tc (s) Tj0.024 Tc (t)j0.1 Tc (i) Tj-0.0844 Tj-0.0847) oTc ( 8448 Tc (que) Tj4c (i) Tj-0.0844 Tj-0.0847) d0.16224m
113
interior da representação, ou seja, é um conjunto de significados que vieram a ser
representados em nossa cultura religiosa, constituindo a possibilidade de uma
determinada identidade religiosa”(ROCHA, 2005, p. 5).
Hall (1999) esclarece que,
[...] a formação de uma cultura religiosa contribui para criar padrões de
comportamento moral, ético, político, econômico, etc. As culturas religiosas
são compostas de símbolos e representações. Uma cultura religiosa é um
discurso - um modo de constituir sentidos que influenciam e organizam
nossas ações quanto à concepção que temos de s mesmos, do mundo,
das relações, de nossas vidas e mortes, com os quais podemos nos
identificar, construir identidades (HALL, 1999, p. 30)
A comunicação do religioso não é da ordem da transmissão baseada em
fatos, mas, sim, da leitura em profundidade desses fatos, através da comunicação
de experiências. Nesse sentido, merecem destaque a linguagem religiosa,
apropriada pelo professor, e as estratégias, utilizadas para lidar com os conteúdos
dessa área de conhecimento, porque o religioso não se atém exclusivamente às
religiões.
O ponto de partida, de acordo com Cruz,
[...] é a pergunta existencial em vários níveis. Isso estaria bem dentro do
princípio construtivista: educar é provocar desequilíbrio adequado ao nível
de desenvolvimento. As perguntas sobre o sentido da existência - ou de
uma parte dela - não são luteranas, nem católicas, nem umbandistas; são
humanas, universais.
Universal é também a busca humana, do além, do sagrado, daquilo que
chamamos Deus. A religiosidade é uma constante na antropologia. Parece
que o ser humano foi criado com uma escie de antena para captar um
algo mais, invisível. Não fizemos essa antena, nascemos com ela. Isso vale
para todos, até mesmo para os que se dizem ateus e continuam procurando
a sua razão de viver, dando ao objeto dessa busca variados nomes: ideal,
projeto de vida, desenvolvimento espiritual (CRUZ, 2001, p.67).
A postura do professor, frente à dimensão da religiosidade, pode contribuir
tanto para formação de sujeitos ativos, éticos, comprometidos com a realidade social
e diversidade cultural, quanto para a conservação e a reprodução social. Portanto, o
fazer pedagógico deverá viabilizar uma formação que dê condições para o
desenvolvimento de habilidades, para relacionar-se consigo, com a natureza, com a
sociedade, com o transcendente, a fim de interpretar suas vivências e elaborar
114
novos significados para a realidade da vida.
À escola, de acordo com Gruen,
[...] está confiada a importante missão de, lenta e sistematicamente, iniciar a
criança ao simbolismo: para que esta criança seja capaz de sentir a vida e
ver o seu sentido, mesmo nos aparentes absurdos do viver humano: para
que seja capaz de celebrar, de festejar. Esta gradual educação ao
simbolismo será um dos grandes caminhos pelos quais a criança aprenderá
a abrir-se àquilo quele) que a transcende. Não é preciso sublinhar o valor
“religioso desta educação (GRUEN, 1995, p. 33).
Portanto, o Ensino Religioso, segundo Ferreira (2001, p. 49), ao ser plural e
apreender contextos nos quais os indivíduos estão inseridos, poderá contribuir na
formação do ser humano em sua totalidade.
115
3 FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DE PROFESSORES
Pensar no sentido e no significado da formação docente, num contexto no
qual a complexidade e a abrangência das transformações, decorrentes do femeno
da globalização, dos avanços cienficos e tecnológicos e da adesão a um projeto
conservador e contabilista da sociedade e do mundo produtivo, se constitui num
grande desafio, que remete a uma necessária discussão sobre essa temática.
Para se compreender melhor como vem se desenvolvendo a política de
formação de professores para o Ensino Religioso, considerou-se importante
proceder a uma retrospectiva histórica da formação/profissionalização de
professores, num âmbito mais geral, porque essa temática não pode ser descolada
do contexto social, político, econômico e educacional em que está inserida.
Garcia (1999) enfatiza que a formação e a profissionalização docente se
constituem como unidades dialéticas, imbricadas. Por isso, devem ser abordadas de
forma conjunta e articulada. Para esse trico, o termo profissionalização, cuja raiz
semântica é semelhante à de professor, está ligado ao movimento de construção de
uma profissão e articulado ao saber/conhecimento, inerentes à formação docente.
3.1 Formação/Profissionalizão de professores no Brasil: um breve relato
histórico
Historicamente, a educação no Brasil inicia-se com o adentramento dos
jesuítas (1549) e, mais especificamente, após a instauração de colégios que
visavam à formação da elite dirigente e de quadros para a ordem dos inacianos,
segundo orientações emanadas das Constituições da Companhia de Jesus
(OLIVEIRA, 1993).
Nesses colégios, a formação do padre-professor confundia-se com o
exercício do sacercio, porque, para obter uma sólida formação, o jesuíta recebia
uma preparação tanto para exercer a missão evangelizadora, quanto para praticar a
função educadora. Segundo Brzezinski,
116
[...] a preocupação primeira da Companhia de Jesus, na formação dos
eclesiásticos, era a Moral, à qual eram reservados dois anos de estudos. O
futuro preparador de almas deveria dedicar-se, primeiramente, ao cuidado
da sua própria alma, dominando suas paixões, seus caprichos e suas
tendêc (m) Tj0.16224 Tc (i) Tj-0.0alm nando aliririp
117
inclusive em Portugal, decorrentes do movimento Iluminista, assentado na primazia
de novas concepções filosófico-cienficas.
A capacitação dos professores para dar as Aulas Avulsas
36
, introduzidas nas
principais cidades da Colônia foi, em geral, como comenta, Azevedo (1975) de baixo
nível. Os docentes revelavamnão só uma espessa ignorância das matérias que
ensinavam, mas uma ausência absoluta do senso pedagógico (AZEVEDO, 1976, p.
51)
O “recrutamento de professores podia ser feito por três vias: protecionismo,
traduzido pela indicação de bispos; encaminhamento e contratação de docentes
lusos, através de concurso blico.
Mais tarde, embora o processo de laicização da educação continuasse, a
Igreja procurou manter sua hegemonia, através da atuação de novas ordens
religiosas, vindas para o Brasil. Elas colocaram em prática, sobretudo no Semirio
de Olinda, fundado por Azevedo Coutinho, os princípios que orientavam as reformas
pombalinas e contribuíram para difundir uma nova concepção de educação.
Em 1808, a vinda da Corte, especialmente do príncipe Regente, D. João VI,
para a Colônia, trouxe grandes mudanças econômicas, culturais e educacionais. No
campo educacional, foi instituído o ensino superior nas áreas de Engenharia,
Medicina, Química e Agricultura. Esse nível de ensino superior nasceu sob o signo
do Estado Nacional e tinha como objetivo proporcionar educação para uma elite
aristocrática e formar quadros que dariam suporte ao aparelho administrativo aqui
implantado. No Brasil, observa Cunha,
[...] o príncipe regente (rei D. João VI), a partir de 1817 não criou
universidades, apesar de aqui reproduzir tantas instituições metropolitanas.
Em vez de universidades criou cátedras isoladas de ensino superior para a
formação de profissionais, conforme o figurino do país inimigo naquela
conjuntura: de Medicina, na Bahia e no Rio de Janeiro, em 1808; e de
Engenharia, embutidas na Academia Militar, no Rio de Janeiro, dois anos
depois. Essas eram unidades de ensino de extrema simplicidade,
consistindo num professor que com seus próprios meios ensinava seus
alunos em locais improvisados. Foram as escolas, as academias e as
faculdades, surgidas mais tarde, a partir das cátedras isoladas, as unidades
de ensino superior que possuíam uma direção especializada, programas
sistematizados e organizados conforme uma seriação preestabelecida,
36
As aulas avulsas, ou Aulas Régias, compreendiam: Primeiras Letras, Gramática, Latim e Grego.
Posteriormente, ampliaram-se com Retórica, Matemática, Filosofia e Teologia. Cada uma delas
formava uma unidade de ensino; pois era autônoma. Essas aulas assim se denominaram e
constituíram por serem dadas em diferentes locais, uma vez que não se podia contar com instalações
próprias, como ocorria com as escolas jesuítas.
118
funcionários não-docentes, meios de ensino e local próprios (CUNHA, 2000,
p. 154)
Nessa época, também foram implantados cursos que objetivavam capacitar
mão de obra especializada, para atender à demanda, criada pela instauração das
manufaturas. Nessa perspectiva, foram criados cursos de serralheiros, oficina de
lima e espiragardeiras, entre outros. Na verdade, esses cursos se constituíam como
aulas isoladas, organizadas estanquemente, tendo o objetivo estrito de formação
profissionalizante (OLIVEIRA, 1993).
A educação nacional não conseguia se firmar, pois, embora a Constituição de
1824 instituísse a gratuidade da educação elementar, isso não ocorreu. O Ato
Adicional de 34 concedeu maior autonomia às Províncias, no âmbito dos ensinos
primário e secundário, mas favoreceu a omissão do poder central, o que acarretou a
fragmentação, a precariedade e a falta de organicidade desses níveis de ensino.
Esse documento normativo incentivou a criação de Escolas Normais para formação
de professores, entretanto, poucas conseguiram se manter.
Outro grande problema, vivenciado nessa época, relaciona-se à carência de
docentes. A Lei de 20/10/1823 concedia a qualquer cidadão o direito de abrir
escolas elementares e nelas empregar o denominado Ensino Mútuo, que trabalhava
com o Sistema de Monitoria, no qual os alunos mais aplicados lecionavam para os
alunos iniciantes, ou com problemas de aprendizagem. Paralelamente e de forma
um pouco paradoxal, foram criadas iniciativas de organização e de normalização da
profissão docente.
Segundo Nóvoa (1997), o processo de profissionalização docente se iniciou
no momento em que o Estado passou a substituir a Igreja, como entidade
responsável pela tutela da educação. Esse processo se desenvolveu de modo mais
acirrado e de maneira lenta, em termos nacionais.
Assim, percebe-se um nítido abandono da instrução elementar que ficou, por
muito tempo, mais ligada à esfera privada. Havia formas diversas e locais de ensinar
e aprender, variando de acordo com as posses da família e do interesse em enviar
seus membros e mantê-los numa escola particular, sobretudo, confessional
católica. Somente no inicio do século XIX, no reinado de D. João VI, é que
119
[...] se inicia um controle progressivo do Estado sobre a educação formal e
as primeiras iniciativas para organizar um sistema de instrução primária.
Nesse período, são nomeados cerca de 120 professores e aposentados
outros 30 a 40. Percebe-se, pela documentação oficial, um início de
normalização (solicitações, autorizações, exigências do juramento, um
currículo mínimo como expectativa) (VILLELA, 2000, p. 99).
No campo da profissionalização, segundo Tardif (2006), consolidou-se, nessa
época, em níveis internacionais e também no âmbito nacional, uma imagem de
professor, com resquícios na atualidade, centrada numa concepção de magistério
como sacercio, como apostolado, devendo ser exercido com humildade e
obediência, pois se tratava de uma função exercida por sujeitos remunerados e
controlados pelo Estado. Ocorreu, assim, a busca de uma certa normalização da
profissão docente.
Desse modo, no período compreendido entre a chegada da família real ao
Brasil e início do Imrio, a formação de professores era feita de forma difusa e
carecendo de um adequado planejamento.
Um pouco mais tarde, ocorreu a instalação de Escolas Normais que o
tiveram grande êxito. A primeira Escola Normal, a iniciar suas atividades em 1835,
no Rio de Janeiro, foi criada como espaço importante para difundir princípios de
cunho conservador e positivista.
Os gestores educacionais fluminenses:
[...] pretendiam difundir sua visão de mundo e para isso era necessário fazer
com que cada indivíduo identificasse os objetivos dessa classe com os
seus. Por isso, era necessário colocar ordem no mundo da desordem -
“civilizar” para melhor conhecer e controlar o povo. É nesse contexto que
reconhecem a necessidade de formar o professor como um agente capaz
de reproduzir o tipo de conhecimento que desejavam difundir um
conhecimento que não se destinasse a subverter as condições materiais
dessa sociedade, mas que, ao contrário, a conservasse tal como se
apresentava. A Escola Normal de Niterói, pelo seu potencial organizativo e
civilizatório, transformava-se numa das principais instituições destinadas a
consolidar e expandir a supremacia daquele segmento da classe senhorial
que se encontrava no poder (VILLELA, 2000, p. 106).
Os pré-requisitos para admissão nessa Escola Normal do Rio de Janeiro, que
serviram de modelo para várias outras, eram, sobretudo, as condições morais dos
candidatos. Além disso, eles deveriam ter nacionalidade brasileira, saber ler e
escrever e ter 18 anos. Em síntese, o peso maior para a admissão recaía sobre o
aspecto da moralidade. Os princípios religiosos e os bons costumes deveriam ser
120
comprovados pela autoridade local e referendados pelo presidente da Província. A
avaliação dos alunos era feita através de uma simples verificação dos seus
desempenhos na leitura e na escrita. Observa-se, dessa forma, que os aspectos
morais e religiosos eram priorizados, em detrimento dos embasamentos trico-
práticos e diticos, enfim de uma formação docente consistente.
O currículo da Escola Normal e o das escolas primárias não diferiam,
[...] a não ser pela parte metodológica, já que os futuros mestres deveriam
dominar, trica e praticamente, o método lancasteriano. Isso indica que
inexistia uma intenção de oferecer ao futuro mestre da escola primária uma
formação mais aprofundada em termos de conhecimentos laicos, ao passo
que a formação moral e religiosa era muito enfatizada. (VILLELA 2000, p.
107)
A opção pelo método lancasteriano estava ligada ao seu potencial
disciplinador, ao controle exercido através da suavidade, por uma vigilância sem
punição física e, não, pelo seu potencial de instruir bem. Sua função era a de
preservar a hierarquia e a ordem, sem se preocupar com a qualidade da formação
conceitual e didática dos docentes, já que a base do método utilizado era a
monitoria.
A escola, como acontece até hoje, serviu para acentuar as diferenças
culturais entre escravos e homens livres, entre mulheres e homens, entre a elite e a
grande maioria da sociedade. Assim, os negros eram proibidos de freqüentar a
escola, as mulheres recebiam uma educação mais simples, pois lhes era reservado
um papel doméstico e não intelectual. À grande maioria dos alunos e aos
trabalhadores era ofertado um ensino com currículo dosado, para adestrá-los à
acomodação, à submissão social e ao setor produtivo.
As mulheres não eram legalmente proibidas de freqüentar as Escolas
Normais, mas eram submetidas a um currículo diferenciado, em consonância com o
papel a elas reservado numa sociedade patriarcal, marcada por preconceitos quanto
à capacidade intelectual feminina.
Segundo Villela,
[...] desde as discussões dos parlamentares em tono do currículo das
escolas de meninas que antecederam a promulgação da Lei Geral do
Ensino de 1827, apesar de alguma oposição venceu a emenda que
121
propunha a simplificação do conteúdo daquelas escolas. O Senador
Visconde de Cayru profere um longo discurso defendendo a superioridade
masculina e, por fim, o Marquês de Caravellas conclui: as meninas não têm
desenvolvimento de raciocínio tão grande como os meninos. Por que então
escolarizar as meninas?
Durante todo o século XIX, veremos firmada essa diferença nos currículos
tanto das escolas primárias, quanto nas seções femininas das escolas
normais. A matemática era a ausência mais flagrante, nunca indo além das
operações mais simples. Também a geometria era subtraída dos programas
dessas escolas. Somente no final do século, com a experiência da co-
educação, num momento em que o mero de mulheres superava o de
homens, vamos ter um currículo unificado. No entanto, esse nivelamento em
geral vai ser feito por baixo e disciplinas como, por exemplo, a matemática,
nunca seriam realmente oferecidas com profundidade, nesses cursos,
sendo evidente, mesmo durante o século XX, a fragilidade das chamadas
disciplinas de formação geral (VILLELA, 2000, p.109).
O primeiro compêndio pedagógico, voltado para professores de primeiras
letras, escrito pelo Barão Dégerando, foi organizado em sintonia com o Método
Lancasteriano. O livro foi organizado em forma de dezesseis conferências, que
objetivavam nortear o ocio do professor, tendo, assim, um caráter de prescrição
formativa.
[...] tratavam dos assuntos mais variados, como: funções de um professore
de primeiras letras, qualidades do professor, educação sica, educação
intelectual, cultivo da atenção, imaginação, memória, juízo e razão, método
na instrução, educação moral, sentimento dos deveres, educação religiosa,
ensino dos deveres, fortificação do caráter, hábito e imitação, trabalho e
ordem.
Por fim, ainda apresentava conselhos aos professores como, por exemplo, a
maneira de organizar sua biblioteca pessoal e a dos alunos com leituras
para meninos, jovens e adultos; recomendava também a escrita de um
pequeno diário com reflexões sobre o ofício e incentivava o hábito da
economia, sugerindo rigorosa ordem nos negócios, poupança em montepio
e caixa econômica (VILLELA, 2000, p. 110).
O currículo das Escolas Normais era bem simplificado. A Reforma de 1847,
além de enriquecê-lo, fundiu a Escola Normal ao Liceu Provincial e determinou uma
formação diferenciada para os professores de ensino preliminar e os de ensino
médio
37
Luís Pereira do Couto Ferraz, através do Decreto n. 1331-A, de 17 de
fevereiro de 1849, fez uma tentativa de reconstrução da educação nacional que
37
Para os candidatos do ensino preliminar foram inseridas as cadeiras de língua nacional, aritmética,
álgebra, geometria elementar, catecismo, religião do Estado e ditica, música e canto; desenho
linear, geografia e história nacional. Para os alunos, o currículo era o mesmo, acrescido de história
universal e sagrada, noções gerais de ciência sicas e de história natural aplicável aos usos da vida
(VILLELA, 2000).
122
começara a ser esboçada a partir da Constituição de 1824. Esse documento
normativo, que determinava a obrigatoriedade do ensino primário, não conseguiu, na
prática, concretizar esse intento, pois os gestores educacionais não priorizavam a
democratização do ensino e a formação docente.
Com relação às Escolas Normais, Couto Ferraz s por terra todo o esforço
de melhorar o currículo e a qualidade desses cursos. Assim, a formação de
professores se reduziu a um pragmatismo, no qual um professor mais experiente
repassava a um docente adjunto sua prática, sem preocupação com a formação
trico-conceitual. Nessa época, procedeu-se à extinção das Escolas Normais,
ocorrendo um rebaixamento do nível da formação intelectual do professor. Além
disso, houve diminuição dos salários dos professores, regulamentação da ação
educativa, estabelecendo os padrões de conduta para os docentes.
Nesse contexto, a formação docente era desvalorizada, privilegiando-se uma
capacitação prática e uma formação em serviço, ministrada pelos prestigiados
inspetores de ensino e que se limitava, geralmente, ao cumprimento de normas e
leis. Deve-se ressaltar, tamm, que o “recrutamento pela via de concurso era mais
valorizado do que a formação docente.
Em 1859, para as Escolas Normais, um novo currículo é estabelecido
38
e
passa a ter diferenciações segundo o nero, isto é, homens e mulheres eram
submetidos a uma formação diferenciada
39
.
De um modo geral pode-se afirmar que as décadas de 1850 e 1860 do século
XIX não contribuíram para a consolidação da formação e profissionalização dos
professores, pois embora as Escolas Normais tivessem sido reinstaladas, elas se
caracterizaram por uma situação de instabilidade, devido às reformas sucessivas,
extinções e mudanças de prédio. Por outro lado, segundo Hipólito (1997), as
análises sociológicas sobre a formação e profissionalização docentes eram muito
38
Nesse currículo constava: língua nacional, caligrafia, doutrina cristã, pedagogia; aritmética,
inclusive metrologia, álgebra (até equações de grau), noções de geometria trica e prática e
desenho linear; elementos de cosmografia e noções de geografia e história compreendendo com
maior desenvolvimento a do Brasil; música e canto. Nota-se o aparecimento da caligrafia, da
metrologia, da cosmografia e o estabelecimento das cátedras, entregues a diferentes professores.
(VILLELA, 2000, p. 111).
39
Nesse período, o fato mais interessante é a criação de um curso especial para mulheres (que
estudariam em dias alternados aos dos homens), no qual as normalistas aprenderiam todas as
matérias do curso masculino, com exceção da álgebra, e a geometria se limitando ao aprendizado de
noções mais elementares. Por outro lado, no seu currículo eram incluídos os trabalhos de agulha e
prendas do exercício doméstico. A nova escola, assim organizada, só começou a funcionar
realmente em 1862 (VILLELA, 2000, p. 111).
123
midas e quase inexistentes. As disponíveis priorizavam uma perspectiva romântica
e idealista, desconsiderando as condições concretas sobre as quais elas se
assentavam.
No período de 1870, foram feitas mudanças em vários setores do tecido
social, tais como o enfraquecimento das bases de poder dos conservadores e o
conseqüente avanço das idéias liberais, a disponibilização de capitais, financiando
obras que viabilizaram as comunicações como a construção de estradas de ferro, a
navegação a vapor, os cabos telegráficos, a iluminação blica, a libertação dos
filhos de escravos e a questão da representatividade eleitoral, que passava a
contemplar o voto do alfabetizado. A partir de então, assistiu-se, no país, a um
movimento denominado de Entusiasmo pela Educação, de caráter mais
quantitativo e que objetivava promover a expansão da rede escolar, para erradicar o
analfabetismo, tendo em vista uma propositura política de aumentar o mero de
eleitores. Além disso, a demanda por educação era aumentada pela participação,
cada vez mais efetiva, da mulher, no setor societário (RIBEIRO, 1978).
Nesse cenário, adentraram no país, concepções, sobretudo americanas,
dando ênfase à propagação do método intuitivo, que defendia o contato direto ou
imediato da mente com o real
40
. Essas experiências pedagógicas fizeram reacender
o interesse pelas Escolas Normais, o que se fez sentir na Reforma de Leôncio de
Carvalho, de 1879 (Decreto n.7247), que incentivou a propagação das mesmas.
Além disso, o Art. 9 do referido decreto determinava: a divisão do Curso Normal em
séries, o elenco das disciplinas a serem ministradas e as condições para o exercício
do magistério nas mencionadas escolas.
Esse documento, em síntese, preterizou a formação e a profissionalização
docentes, como concorda Brzezinski, ao afirmar que
[...] acentuou a pseudo-profissionalização do professor, descaracterizando
sua formação e seu exercício profissional, uma vez que o relatório
apresentado à Assembléia Legislativa por Leôncio de Carvalho (1878)
facultava o exercício profissional do magistério aos leigos, ao postular que
40
O método intuitivo deve essa denominação à acentuada importância que os seus defensores
davam à intuição, à observação, como momento primeiro e insubstituível da aprendizagem humana.
Ancorados nas tradições empiristas de entendimento dos processos de produção e elaboração
mental dos conhecimentos, sobretudo na 1776 Tc ( ) Tj-0.08(m) Tj-0aç
1776 Tc ( ) Tj-0.08(m) Tj-0a--0.08(m) Tj-0a m
124
possam ensinar todos aqueles que para isso se julgarem habilitados, sem
dependência de provas oficiais de capacidade ou prévia autorização; e que
a cada professor seja permitido expor livremente suas iias e ensinar
doutrinas que repute verdadeiras pelo método que melhor entender (p.23)
(BRZEZINSKI, 2004, p. 20)
Em 1880, instaura-se a primeira Escola Normal Pública, no Município da
Corte, destinada à formação de professores e professoras, tendo como base uma
concepção, fundada nos princípios positivistas, mas que acenava para certo nível de
formação.
O período era marcado pela busca de maior formação de professores e isso
se expressava nas várias reformas dos currículos e nas discussões sobre
tempo de formação, pré-requisito, necessidades da prática nas escolas
anexas, possibilidade ou não da co-educação, dentre outras questões
(VILLELA, 2000, p. 117).
Contudo, as Escolas Normais continuaram a ser marcadas pela instabilidade,
ou seja, por movimentos de criação/extinção e recriação. De acordo com Chagas
(1984)
[...] nas províncias, ora se criavam cadeiras de Pedagogia anexas aos
liceus, ora se improvisavam escolas ditas normais que em seguida eram
extintas mais tarde reabertas, depois reextintas e novamente reabertas,
numa interminável sucessão de avanços e recuos próprios daqueles dias
(CHAGAS, 1984, p. 30)
No final da cada em pauta, a Assembléia Legislativa colocou em discussão
a necessidade da cadeira de História Sagrada, no currículo das Escolas Normais.
Mas o que estava, verdadeiramente em foco, era o ensino da religião, cancelado
com o advento da República. Deve-se esclarecer que a República, alicerçada nos
princípios positivistas, promoveu a extinção do Padroado - ligação do Estado com a
Igreja - o que levou a um processo de laicização da sociedade. O positivismo se
contrapunha à Igreja e ao ensino de cunho humanístico, escolástico e religioso,
defendendo a idéia de que só tinha validade e utilidade o saber que provinha do
dado cienfico, que seria indiscuvel. Assim, os princípios de verificabilidade,
identificando significados e condições empíricas, excluíam o Ensino Religioso, a
Filosofia e as Humanidades do domínio de conhecimento real (OLIVEIRA, 1993).
Os primeiros anos da República Brasileira, instaurada em 1889, trouxeram
poucas modificações. Muitos problemas eclodiram, sobretudo quanto ao
125
atendimento aos princípios federativos que consagraram a autonomia dos poderes
estaduais, na construção dos seus sistemas de ensino, o que gerou uma
desorganização no campo da educação, nos referidos níveis administrativos. A
primeira Constituição Republicana (1891) respaldou a vinculação dos ensinos
primário e normal no âmbito dos estados.
A Reforma de Benjamim Constant (1890-1892), veiculada pelo Decreto
981/1890, foi uma tentativa frustrada para solucionar tais problemas. Benjamim
Constant substituiu o currículo acadêmico, por um currículo enciclopédico, com
inclusão de disciplinas cienficas, requeridas pela visão positivista o que levou à
exclusão do Ensino Religioso e da Filosofia de cunho tomista, em síntese, do ensino
baseado no humanismo clássico. O ensino primário foi dividido em 1º e 2º graus. O
primeiro grau subdividia-se em curso elementar (dos sete aos nove anos), curso
médio (dos nove aos onze anos) e superior dos (onze aos treze anos). O segundo
grau, para adolescentes (de treze aos quinze anos).
Além disso, as Escolas Normais deveriam teranexa uma escola primária
modelo (Art. 12) e o provimento de cargos para o magistério era feito por concurso
público, aberto aos professores, titulados pela Escola Normal. Contudo, essa
determinação legal estava longe de ser cumprida, porque a nomeação dos
professores, de acordo com Brzezinski (1987), era feita por quem detinha o poder -
governadores, deputados, prefeitos e vereadores - numa perspectiva de criar
vínculos de dependência, altamente rentáveis, tendo em vista propósitos político -
eleitoreiros.
A mencionada Reforma, apesar de não conseguir fazer valer seus propósitos
quanto à admissão de docentes, tendo em vista critérios de profissionalização,
determinava que alguns professores fossem capacitados no Exterior.
De dous em dous anos o conselho director designará, com approvação do
governo, dous professores, um do sexo masculino e outro do sexo feminino,
que vão a paízes estrangeiros examinar miudamente os progressos do
ensino primário e aperfeiçoar suas habilitações profissionais (Reforma
Benjamim Constante, art 22). (BRASIL, 1890, 2)
O Art. 24, desta legislação, criou o Pedagogium - centro propulsor de
reformas e melhoramentos das atividades pedagógicas no País - que visava auxiliar
os professores no trabalho docente e impulsionar as reformas necessárias ao
126
desenvolvimento da educação nacional.
O Pedagogium, de acordo com Cury,deveria conter um museu pedagógico,
manter cursos e conferências, laboratórios, exposições, escola primária modelo e a
publicação de uma Revista Pedagógica” (CURY, 2001, p. 104). Esse mesmo autor
considera interessante o exposto no parágrafo 2º da citada legislação:
o Pedagogium estabelecerá relações estreitas com as autoridades e as
instituições congêneres dos demais Estados da República e dos países
estrangeiros, a fim de fazer constante permuta de documentos e acquisição
de especimens de todas as invenções e melhoramentos dignos de attenção
(CURY, 2001, p. 104).
Este tipo de proposta para um País agrícola, comenta Cury, é um avanço,
pois ela contém, em embrião, o que hoje seria a CAPES, o INEP e o CNPq
41
, e uma
escie de gérmen do sistema nacional de educação, ao menos para o primário
(CURY, 2001).
Contudo, a morte prematura de Benjamim Constant, os novos rumos da
República, a descentralização do ensino, as críticas feitas ao currículo pretensioso, a
carência de uma infra-estrutura institucional adequada e a falta de apoio da elite,
que priorizava uma concepção tradicional de ensino, dificultaram a implantação da
reforma.
A descentralização republicana e o processo de desenvolvimento econômico,
traduzido no processo de industrialização, contribuíram para a expansão e a
melhoria da qualidade dos ensinos Primário e Normal. Entretanto, essa evolução foi
desigual, pois alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais, fizeram considerável
progresso no setor educacional, sobretudo devido aos seus desenvolvimentos
econômico e industrial. Os outros estados, devido à escassez de recursos, não
conseguiram desenvolver adequadamente o campo educacional. Nesse contexto,
São Paulo reivindicou o privilégio de assumir primeiramente, em território brasileiro,
os estudos pedagógicos de caráter público em nível superior, com o objetivo de
formar professores” (BRZEZINSKI, 2004, p. 22). Mas esse intento não se efetivou e,
com o passar do tempo, a perspectiva de sua criação foi extinta dos documentos
normativos, relativos à educação paulista.
41
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) INEP (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais) CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienfico e
Tecnológico)
127
Em 1890, Caetano Campos, com a experiência de trabalho na Escola Normal
de São Paulo, formulou um projeto que propunha a instauração de uma Escola
Normal, que atendesse tanto as exigências arquitetônicas, quanto as pedagógicas,
que teriam como base os princípios da pedagogia moderna, inspirados em
Pestalozzi, Froebel e Herbat.
Segundo Campos,
[...] chegou-se à conclusão de que os métodos intuitivos eram os melhores.
Reconhecendo que a Alemanha, a Suíça e os Estados Unidos já haviam
desenvolvido esses métodos, chamou a atenção para a importância, não de
os adotar, mas sim de os adaptar às necessidades de São Paulo, sempre
tendo em vista o que seria, ou não, possível e desejável fazer. Inicialmente
cuidou das condições físicas mínimas para que o prédio pudesse abrigar a
escola, assim como da instalação das escolas-modelo anexas. Concentrou
o espírito da reforma na prática que os alunos mestres deveriam ter, nas
duas escolas-modelo anexas uma para cada sexo, para a direção das quais
foram contratadas as duas professores com melhor reputação da época. A
recomendação geral era a de que as aulas deveriam ser mais empíricas do
que tricas (CAMPOS, 1990, p. 9).
Pela Reforma da Instrução Pública (Lei 88/09/1822), a Escola Normal
destinava-se à preparação de professores para escolas primárias, elementares e
complementares. Os docentes das escolas secundárias, chamadas de gisios, e os
próprios professores da Escola Normal primária deveriam ser formados em um curso
de nível superior, criado por essa lei, e deveria ficar anexo à própria Escola Normal
(CAMPOS, 1990).
A formação de professores em nível superior segundo Brzezinski coube,
[...] à Ordem dos Beneditinos de São Paulo, em 1901, a criação da primeira
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras com o Instituto de Educação em
anexo. Esta faculdade foi fundada em decorrência dos debates e indicações
dos I e II Congressos Católicos realizados respectivamente, na Bahia, em
1900, e no Rio de Janeiro, em 1901. Em atendimento às deliberações deste
último fundou-se a primeira Universidade Católica a mais antiga do Brasil,
denominada Ponticia Faculdade de Filosofia e Letras que funcionou
durante seis anos, a partir de 1908, no Semirio Arquidiocesano de São
Paulo. Tal experiência sustentou-se em preceitos da livre iniciativa liberal e
deslocou professores estrangeiros para o Brasil. Essa Universidade,
contudo, foi logo fechada devido à dispersão destes professores, como
conseqüência da I Guerra Mundial.
Os pioneiros dessas duas instituições de estudos pedagógicos, em nível
superior, prenunciavam a audácia dos católicos que manteriam a solidez do
futuro no sistema particular das Universidades Católicas Brasileiras.
(BRZEZINSKI, 1996, p. 527).
128
Na cada de 1920, ocorreram transformações nos setores econômico, social
e político brasileiro que acarretaram o desenvolvimento dos processos de
industrialização e de urbanização. Além dessas mudanças, nesse momento,
começaram a adentrar novos conhecimentos pedagógicos, ligados ao ideário liberal,
que foram exigindo um redimensionamento do campo educacional.
Desta forma, observa Peixoto,
[...] políticos e educadores pronunciam-se a respeito de uma completa
revisão no sistema educacional brasileiro, com vistas não só à oferta de
oportunidades escolares a toda a população do País, mas também à
melhoria de sua qualidade. Os educadores defendem a democratização do
ensino, pois a encaram como um instrumento indispensável à realização
humana, e à construção de uma sociedade democrática, aberta e, portanto,
um direito inalienável de todo o cidadão. Os políticos liberais (entre estes os
membros das Listas Nacionalistas) defendem-na como um meio para a
consecução da reforma eleitoral, cujo corolário seriam as eleições livres
(PEIXOTO, 1983, p. 72).
Nesse contexto, o Congresso Nacional passou a reivindicar uma ação mais
efetiva da União no que tange ao ensino primário e à capacitação dos professores, o
que, no entanto, não se concretizou.
A Reforma João Luis Alves, instituída pelo Decreto n. 16.782 - de janeiro de
1925, foi a que mais interferiu no Ensino Primário e Normal nas primeiras cadas
republicanas. Ocorreu, então, uma solicitação, para que o Governo Federal
passasse a criar e a manter escolas, para promover a propagação do ensino
primário, através de acordos com os Estados.
Nessa cada de 1920, inicia-se o adentramento do escolanovismo que
visava promover a modernização da educação não só em seus aspectos
pedagógicos, mas também em sua função social, atribuindo à escola o papel de
transformadora da sociedade. Nesse sentido, Cunha (1980) explicita que
o objetivo a ser atingido pela escola, como fator de reconstrução social, é de
edificar uma sociedade aberta no País, definida como sendo aquela em que
inexistam barreiras objetivas que impeçam qualquer indivíduo de realizar
suas potencialidades pessoais. (CUNHA, 1980, p. 51)
O Movimento da Escola Nova criticava a pedagogia tradicional, centrada no
professor, propondo uma educação voltada para: as necessidades pessoais do
indivíduo; o uso de recursos didáticos; o emprego de técnicas diticas modernas e
129
de novos ambientes escolares. Nessa perspectiva, o professor deveria despertar, no
aluno, a vontade de aprender, planejando atividades que mobilizassem as atividades
intelectuais, estimulassem o espírito de cooperação e atendessem às diferenças
individuais.
Segundo Peixoto, na concepção escolanovista, observa-se:
[...] uma preocupação explícita em relação à natureza do trabalho docente e
que se traduz na tentativa de tornar o processo da aprendizagem escolar
tão natural quanto o processo de desenvolvimento e maturação,
característico do ser humano. Essa visão reflete uma concepção do ser
humano, que assim se resume: o homem é um complexo biopsíquico,
social. Enquanto é por natureza um organismo vivo, suas funções físico-
biológicas estabelecem uma série de necessidades a serem satisfeitas, de
acordo com o estágio de desenvolvimento em que se encontra. Como
resultado da própria condição humana, o homem possui necessidades de
natureza psicológica. E o homem é um ser social, na medida em que nada
nele, enquanto indivíduo, que se justifique por si mesmo. As faculdades
humanas só existem em função do meio social, onde são aplicadas e
exercidas (PEIXOTO, 1983, p. 96).
A organização escolar para a formação dos professores primários, em Minas
Gerais, que acabou sendo referência nacional, foi regulamentada através de três
níveis: Escolas Normais de 1º grau, Escolas Normais de 2º grau e Cursos Normais
Rurais, que deveriam elevar-se, gradualmente, atendendo às necessidades do
ensino primário e às condições ecomicas regionais. O Curso Normal de 2º Grau
distinguia-se do de 1º Grau quanto aos objetivos, currículo e entidade mantenedora,
pelo papel que exercia na formação das lideranças educacionais. Por meio dele,
o Governo buscava garantir certa uniformidade na forma de atuação dos
profissionais ligados ao ensino primário e dos professores de Metodologia e
Prática Profissional, disciplinas, consideradas estratégicas na difusão dos
princípios e métodos da Escola Nova (PEIXOTO, 2003, p. 62).
Pode-se observar, então, a ação do Estado sobre o trabalho docente.
Deve-se enfatizar que os professores, ao longo da história da educação
brasileira, foram levados à subordinação, inicialmente à Igreja e, posteriormente, ao
Estado, as suas normas e diretrizes. Isso provocou, nos professores, uma situação
de dependência e de falta de autonomia, sobretudo, quando os comparamos com
outras categorias profissionais que têm condições de se auto-determinarem, auto-
controlarem e auto-formarem (FIDALGO; OLIVEIRA, 2006).
130
Em 1930, o Governo Provisório nomeou o mineiro Francisco Campos como
Ministro da Educação e da Saúde, tendo em vista o êxito de sua experiência como
Secretário de Educação, em Minas Gerais.
Como ministro, Francisco Campos desencadeou um processo de
modernização, fundamentado nos pressupostos da centralização, burocratização e
eficácia:
[...] transfere para a administração escolar os princípios do taylorismo,
refletindo a crença de que o conhecimento técnico e o conhecimento
organizacional da administração pública da educação se combinariam
constituindo um fator estratégico para gerar resultados eficientes, na
administração. Isso permite a Campos impor às escolas uma série de
medidas de cunho administrativo e pedagógico, que fazem de sua reforma
um marco no sentido de se dotar o País de um estado burocrático e
desmobilizador, capaz de gerenciar, em nome dos princípios da eficácia,
todos os setores da vida nacional, o que se explicita com o Estado Novo,
em 1937 (PEIXOTO, 2003, p. 126).
Objetivando combater o analfabetismo, priorizou-se a democratização da
educação primária e a busca pela melhoria no que tange à formação docente.
Nessa perspectiva, na Escola Normal, ocorreram avanços significativos,
sobretudo nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, os quais se
consubstanciaram numa maior consistência curricular, priorizando as disciplinas
científicas; o aumento da duração do curso para quatro anos e a exigência de
exames para o ingresso nos cursos de formação de professores (MONARCHA,
1999).
Nessa mesma época, regularizou-se o exercício do magistério secundário,
por meio da Exposição de Motivos, de Francisco Campos, que apresentava, no
Decreto n. 19851/1931, o Estatuto das Universidades Brasileiras e, no Decreto
19852/1931, determinava a criação da Universidade do Distrito Federal,
intensificando-se esforços para a formação docente em nível superior (BRZEZINSKI,
2004).
Pelo Estatuto das Universidades Brasileiras (Decreto 19851/1931), foi criada,
no Distrito Federal, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras com os objetivos de
promover a investigação e a formação de professores. Na exposição de motivos,
feita por Francisco Campos, percebe-se a intenção de criar uma instituição que
transcendesse o caráter utilitário e prático dos institutos puramente profissionais e
cumprisse o papel da alta cultura ou de ciência pura e desinteressada (BRZEZINSKI,
131
2004).
Essa Faculdade, segundo Cunha (1980)
42
, citado poD 0.024 Tc (,) n048 Tc (a) Tj4.824 Tc ( ) Tj0o3j-0.192 Tc (oD ( ) Tj0.108Tc (eg) Tj-0.192 Tc (u) Tj0.048 Tc (ndo).0aTc (l) Tj0.048 Tc (d-0.216 Tc (. ) Tj35.592 Tc (0)) Tj/207.92 Tf234.48 5.2 Tc (0)) Tj/2 Tc (. ) Tj35.52 -20. (d-0.216 Tc (. )-0.21f(,) n048 Tc (a) Tj4.824(ndo).0aTc (oD (27j4.82Tc 4.8( ) .024 Tc (t) T)) Tj/ong) Tj-0.192 Tc (u) j0.048 Tc (do) j0.048 Tc (a) Tj0.048 Tc (d T)) Tj/uTc (a) Tj0.048í Tc (d) Tj0.048 Tc (e) T(ndo).0a Tc (oD 0.024 Tc Tj4.824 Tc ( ) Tj0o3) Tj0.048 Tc (e) T(ndo).0atj4.824 Tc ( ) Tj0o3) T.024 Tcêg) Tj-0.192 Tc (u) j0.048eg) Tj-0.192 Tc (u) Tj0.048g
132
A Constituição de 1934 procurou contemplar as reivindicações dos pioneiros
da educação tais como: educação como direito de todos; ensino primário obrigatório;
elaboração pela União de um Plano Nacional de Educação
43
que englobasse todos
os graus e ramos de ensino; organização dos sistemas estaduais de educação,
segundo diretrizes definidas pela União e pelos Conselhos Estaduais de Educação.
Além disso, determinou a aplicação dos impostos na educação: 10% no âmbito dos
municípios e 20% na esfera dos estados. Embora a formação docente fosse tema
discutido, esse importante documento normativo não tratou da formulação de um
Plano Unificado de Capacitação Docente.
No Rio de Janeiro, o Instituto de Educação foi incorporado à Universidade do
Distrito Federal, pelo Decreto n. 5515/1935. A Escola de Formação de Professores,
vinculada a esse Instituto, tinha:
[...] o objetivo de formar professores para todos os graus. Nela deveria se
desenvolver a escola de pesquisas educacionais e de cultura superior da
Universidade, consolidando-se o estudo científico da educação, o que
superaria o tratamento empirista até então emprestado aos problemas
educacionais b3.67776 Tc ( ) Tj-( ) Tj-0.08448 Tc (b3.67( ) Tj-( ) Tj-0.08448 Tc (a) T (a) Tj0 Tc (s224 Tc (i) Tj0 Tc (r) Tj) Tj-0.24 Tc (s) Tj.15552 T5 Tj-( ) Tj-0.084.15552 T5 Tj-( ) Tj-0.084.15552 T5 T. Tj-0.084.15552 T7776 Tc ( ) Tj-0.]7776 Tj1 ) Tj-0.24 Tc (s) m
133
comunistas e todos aqueles que faziam frente ao novo regime. Pôs fim aos
princípios democráticos, defendidos pelo escolanovismo e ims a adoção de uma
política de educação autoritária e centralizada, voltada para o desenvolvimento do
espírito patriótico e nacionalista, a fim de fazer das escolas não só um veículo de
divulgação do novo regime e de mobilização da juventude, mas um instrumento
capaz de garantir um regime de paz política e social e de fazer da massa um
exército a serviço da nação.
Nessa perspectiva, foi necessário revisar os objetivos e os processos
educacionais. Seria preciso integrar o indivíduo na nova ordem, oferecendo-lhe a
instrumentalização pertinente ao desempenho de uma profissão e incutindo-lhe uma
nova moral, em que o trabalho não fosse considerado uma forma de castigo e, sim,
um meio de servir à tria. Também seria prioritário adequar a educação às
necessidades culturais do País e preparar a elite brasileira para assumir o comando
da cultura a ser transmitida ao povo (PEIXOTO, 2003).
Para concretização desses objetivos, segundo Morais (1941), propunha-se
um currículo que se pautasse:
[...] culto à sde, através da Educação sica e da Educação Sanitária,
pelo culto ao trabalho ao orientar para o trabalho, pelo culto à economia
ensinando a poupar e saber gastar, pois é necessário que os
estabelecimentos de ensino não só esclareçam teoricamente às gerações
novas a técnica do bem gastar, como praticamente concorram para que os
discípulos das várias classes sociais e de ambos os sexos tenham suas
cadernetas ecomicas e cuidem consciente e carinhosamente de
aumentar os seus depósitos, do culto à moral ensinando a aceitação dos
deveres impostos pelo Estado, pois os indivíduos não têm direitos, têm
deveres. Os direitos pertencem à coletividade. E o Estado, sobrepondo-se à
luta de interesses, garante os direitos da coletividade e faz cumprir os
deveres para com ele (MORAIS, 1941, p. 35)
O Governo, em vigência, considerava a educação como um instrumento
capaz de resolver os conflitos sociais, mas, paradoxalmente, constatava-se um
descaso para com ela. Apesar do discurso em favor da universalização dos ensinos
primário e secundário, os gestores das políticas transferiram para os estados,
municípios e para a iniciativa particular a responsabilidade para com esses níveis de
ensino.
Na Carta Constitucional de 1937, a formação de professores não foi
mencionada e a educação passou a ser controlada pelo Estado em sua
134
organização, conteúdo e funcionamento, imprimindo, no seu desenvolvimento, um
caráter nacionalista e patriótico. A Escola Normal continuou como o lócus principal
da preparação de professores, ficando a capacitação, no nível superior, restrita ao
magistério secundário.
No Governo Vargas, pela Lei 452 de 5/07/1937, foi instaurada a Universidade
do Brasil, na qual constavam a Faculdade Nacional de Educação, que visava formar
profissionais e professores, e a Faculdade Nacional de Filosofia, que tinha como
finalidade preparar trabalhadores intelectuais, realizar pesquisas e preparar
candidatos ao magistério do ensino secunrio e normal. Nesta data, segundo
Damis (2002), a formação do profissional da educação em nível superior no Brasil
continuou não saindo do nível do estatuto.
Pelo Decreto - Lei n. 1190, de 4 de abril de 1939, foi alterada a estrutura da
Faculdade Nacional de Educação sendo esta subdividida em duas seções: a seção
de Pedagogia, para formar o bacharel em educação, em três anos e a seção
especial de Ditica para formar o professor das diferentes áreas da Filosofia, das
Ciências e das Letras. Estabeleceu-se, assim, uma dicotomização entre conteúdo e
método.
O Curso de Didática, de acordo com Damis,
[...] foi criado para ministrar, em um ano, estudos de administração escolar,
psicologia educacional, ditica geral, ditica especial, fundamentos
sociológicos da educação e fundamentos biológicos da educação, aos
bacharéis formados nas diversas da Faculdade de Filosofia com a finalidade
de se fornecer licença para o exercício do magistério no ensino médio em
educação, ciência e letras (DAMIS, 2002, p. 105).
As experiências da Universidade do Estado de São Paulo (USP), associadas
às da Universidade do Distrito Federal e da Universidade de Minas Gerais, serviram
para promover a estruturação do Curso de Pedagogia, da Faculdade Nacional de
Filosofia do Rio de Janeiro, em 1939. Sua instalação, segundo Brzezinski,
[...] de início foi marcada por uma falta de identidade, pois segundo o
padrão federal das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, criadas em
1939, eram necessários três anos para cursar o conteúdo específico da
área de saber e mais um para o curso de Ditica, que formava licenciados.
Nesse esquema, que perdurou por vinte e três anos e passou para a
história dos estudos pedagógicos em nível superior com a denominação
esquema 3 + 1, primeiramente, concentravam-se os estudos nos
conteúdos específicos, relacionados a cada bacharelado, depois, eram
135
feitos os estudos de conteúdo pedagógico de curso de Ditica. Então, por
uma artificial simetria ao bacharelado, nos períodos iniciais, o curso de
Pedagogicr
rseguicr
mr
s
cífico
136
sobre a situação educacional no País, traduzida na criação de órgãos que deveriam
se dedicar a essa tarefa:
[...] é preciso destacar a criação do Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (INEP), em 1938, órgão que desde os seus primeiros
momentos desenvolveu importante trabalho para a formação e
aperfeiçoamento do professor e a melhoria qualitativa do ensino em geral,
ao lado de estudos voltados para o conhecimento da realidade educacional
do ponto de vista quantitativo. Não se pode deixar de reconhecer, também,
que a influência das medidas, adotadas no setor educacional, durante o
Estado Novo, ultrapassa, em muito, o período para o qual foram formuladas.
Como afirma Cunha, o término do Estado Novo não foi capaz de deter, de
imediato, o processo de constituição do aparelho escolar, que se esboçava
desde os primeiros dias da Era Vargas. (PEIXOTO, 2003, p. 317).
No clima de democratização, criado após a deposição de Vargas, os
educadores liberais retomaram os debates, iniciados na cada de 1930, centrados
na igualdade de oportunidades, na descentralização administrativa e pedagógica, na
exigência de títulos e provas para preenchimento de cargos no magistério e na
previsão dos recursos mínimos a serem destinados à educação. O País assistiu a
um vigoroso debate em torno de propostas para a educação, concebidas como
integrantes das denominadas e requeridas “reformas de base.
Nesse contexto, os princípios postulados pelos pioneiros foram incorporados
na Constituição de 1946 que, no campo educacional, garantiu a unificação do
sistema de educação nacional, por meio da competência, atribuída à União, para
legislar sobre diretrizes e bases de educação (Art. 5º, item XV, letra d), entre outras
questões.
Na época, o desenvolvimento econômico, político e social da sociedade
brasileira e a política de expansão da escola primária tiveram reflexos sobre a
Escola Normal, que no período de 1945 a 1960, apresentou um crescimento
significativo. A formação de professores deveria, então, ser intensificada para
atender à demanda de expansão das escolas. Assistiu-se, também, a um processo
de criação de cursos superiores, consubstanciado na implementação de
universidades blicas e particulares e na proliferação desordenada de escolas
superiores isoladas. Instalar uma Faculdade, segundo Florestan Fernandes (1962)
46
,
citado por Brzezinski (2004),tornou-se um empreendimento fácil, o que permitiu sua
46
FERNANDES, F. A reforma universiria e a faculdade de filosofia. REBP 37 (86). Rio de Janeiro, MEC
INEP, abr./jun.1962, p. 195-197. Resenha.
137
expansão desordenada. As instalações eram feitas sempre em caráter precário e os
professores, recrutados entre os de Escolas Normais (FERNANDES, 1962, p. 195)
Retomando a Reforma Capanema que instituiu, através de Leis Ornicas, os
denominados Ramos de Ensino, o Decreto-Lei n. 8530/46 fixou as normas para o
Ensino Primário e para a implantação do Curso Normal em todo o território nacional,
tendo como finalidade: promover a formação do pessoal docente, necessário às
escolas primárias; habilitar administradores escolares, destinados às mesmas
escolas; desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas, relativas à educação
da infância.
O referido Decreto determinou que:
[...] o ensino normal ficou subdividido em cursos de dois níveis. Como curso
de ciclo, passava a funcionar o curso de formação de regentes de ensino
primário, com a duração de 4 anos, que funcionaria em escolas com o
nome de Escolas Normais Regionais. Como cursos de ciclo,
continuavam a existir os cursos de formação de professores primários, com
a duração de 3 anos, que funcionariam em estabelecimentos chamados
Escolas Normais.
Além das Escolas Normais Regionais e das Escolas Normais, foram
criados os Institutos de Educação, que passaram a funcionar com os
cursos citados acima, mais o Jardim de Infância e a Escola Primária
anexos e os cursos de especialização de professor primário e habilitação
de administração escolar.
Esses cursos de especialização e habilitação que, como determinava a lei,
só poderiam funcionar nos Institutos de Educação, seriam ministrados a fim
de especializar professores para educação pré-primária, ensino
complementar primário, ensino supletivo, desenho e arte aplicados e
música, assim como para habilitar pessoal em administração escolar
(direção de escolas, orientação de ensino, inspeção escolar, estastica
escolar e avaliação escolar) (ROMANELLI, 1987, p. 164).
O currículo, estipulado pelo Decreto-Lei n. 8530/46, Artigo 7, fixado para
todas as Escolas Normais, apresentava algumas falhas, sobretudo com relação ao
ensino normal do 1º ciclo. Nessa matriz curricular, havia predominância de
disciplinas de formação geral sobre as de formação profissional, evidenciando certa
preterização das disciplinas de formação especial (ROMANELLI, 1987).
Segundo a referida autora, algumas determinações dessa lei, como a prática
exagerada de provas e exames, a falta de articulação com os demais ramos do
ensino, a admissão de alunos com idade inferior a 25 anos, repetiam os mesmos
erros presentes em outras Leis Orgânicas. Acresce, ainda, que essa legislação o
resolveu a questão histórica, ligada à inadequada formação docente, sobretudo
138
porque os professores em exercício, com mais de vinte e cinco anos, não podiam
ser qualificados.
O Ensino Normal, pela Reforma Capanema, se constituía como ramo da
educação profissional. A implementação da Lei Ornica do Ensino Normal ajudou
os Estados a reorganizarem esse ensino de forma mais unificada, consolidando, no
País, um padrão único no que se refere ao regime de estudos, aos conteúdos
programáticos, aos métodos e processos didáticos de formação, ocorrendo, apenas,
pequenas variações regionais. Além disso, essa Reforma deixou evidentes as
especificidades necessárias para cada nível de formação do aluno.
Nas cadas de 50 e 60, paralelamente à priorização da díade planejamento
- gestão desenvolvimentista, veiculou-se a idéia de se promover uma estreita
ligação entre educação e desenvolvimento econômico. Essa perspectiva provocou a
necessidade de se preparar pessoal especializado, para assumir as atividades,
advindas das mudanças, que estavam ocorrendo no setor produtivo e a educação
passou a ser revestida de um caráter pragmatista e produtivista.
O privilegiamento da racionalidade técnica na condução do trabalho
pedagógico levou a uma objetivação semelhante à existente no trabalho da fábrica.
Em decorrência, a formação docente tornou-se instrumentalizada e fragmentada,
dificultando o desenvolvimento de uma educação critica, criativa e reflexiva.
O Plano de Metas do Governo de Juscelino Kubitschek provocou um
processo de desenvolvimento industrial que demandou uma força laboral qualificada
e, ainda, o trabalho feminino.
Nessa perspectiva, observou-se o adentramento mais intenso da mulher no
setor produtivo, sobretudo no campo do magistério:
[...] o magistério primário apresentava-se como a profissão mais indicada à
acomodação do padrão doméstico ao padrão profissional, passando a
ser exercido pela maioria da população feminina economicamente ativa,
visto que a disseminação de estabelecimento de ensino primário, nas
comunidades brasileiras, foi muito grande nesta época e o período
relativamente curto do horário de trabalho docente facilitava aquela
acomodação (BRZEZINSKI, 1987, p. 139).
A partir de então, assistiu-se a um processo mais acirrado de feminização
do magistério, sobretudo, em seus níveis elementares.
139
Arroyo (2003) enfatiza que o magistério, historicamente, careceu das
características peculiares a um mestre de oficio, ou a um profissional liberal
prestigiado e valorizado socialmente, sobretudo por não ter um código de ética e
normas profissionais, controladas pela corporação. Esse quadro de precarização da
profissão é mais acirrado, no âmbito da educação infantil e anos iniciais do ensino
fundamental, devido à maciça atuação das mulheres.
A demanda de alunas para o Ensino Normal cresceu e, em conseqüência,
ocorreu a necessidade de ampliação da rede sica para a instalação de Cursos
Normais que, providencialmente, recebiam recursos financeiros do Instituto Nacional
de Estudos Pedagógicos (INEP). Esse Instituto atuava, no âmbito pedagógico,
exercendo função supletiva à da União, em relação ao ensino primário e normal. A
sua ação mais efetiva foi evidenciada a partir de 1955, quando foram criados:
[...] o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, com sede no Distrito
Federal, e os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais em São Paulo,
Salvador, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Eles tinham como objetivos
treinar” e aperfeiçoar professores de escolas normais e primárias, elaborar
textos, preparar material de ensino e desenvolver estudos sobre
administração escolar, formação de professores e outros temas que
concorressem para o aperfeiçoamento do magistério nacional
(BRZEZINSKI, 1987, p. 140)
É importante ressaltar que Cursos Técnico-profissionalizantes, inclusive o
Normal, não davam acesso ao nível superior. Os egressos desses cursos tinham de
prestar exames das disciplinas, referentes ao ensino secundário, para obter a
equivalência e adquirir o direito de candidatar-se ao concurso vestibular para os
cursos superiores. De acordo com Brzezinski,
[...] a aplicação das leis de equivalência ao sistema de formação do
professor primário por um lado veio acentuar o caráter propedêutico do
ensino ministrado nas escolas normais e imprimir-lhe cunho preparatório
para o ensino superior, a exemplo do que, tradicionalmente, acontecia com
outras modalidades da escola secundária. Por outro lado, este desvio deu
um cunho de cultura geral aos cursos profissionalizantes, que na época, se
limitavam ao adestramento de alunos (BRZEZINSKI, 1987, p. 141).
A referida direção preparatória dos cursos normais levou muitos sujeitos a
optarem por esses cursos, com o objetivo de prosseguirem os estudos, sem a
intenção de exercerem a docência. Conseqüentemente, na cada de 50, havia um
mero considerável de egressos de Cursos Normais, mas no âmbito das escolas
140
primárias, era comum a presença de professores leigos. Na verdade, esse
desinteresse pelo magistério estava relacionado, principalmente, às precárias
condições salariais e de trabalho, o que contribuía para o desrespeito à categoria e
ao seu processo de profissionalização (FIDALGO; OLIVEIRA, 2006).
Uma forma de diminuir o mero de professores leigos no ensino Primário e
de melhorar a qualidade do material ditico utilizado se deu através de acordo
firmado, em meados da cada de 1950, entre o Ministério da Educação e Cultura, a
Secretaria do Estado de Minas e o Governo norte-americano, denominado Programa
Brasileiro- Americano de Assistência ao Ensino Elementar (PABAEE).
Esse programa, instalado no Instituto de Educação de Minas Gerais, visava à
qualificação do professor primário, através dos aportes dados pelos docentes,
formados pelas Escolas Normais; à produção de materiais didáticos para as Escolas
Normais e Elementares de Minas e de outros estados; ao envio de professores aos
Estados Unidos, para renovarem suas práticas
47
.
Desde meados da cada de 1940, havia um consenso em torno da
necessidade da elaboração de uma legislação que determinasse as diretrizes e
bases para a educação nacional. Assim, em 1946, em atendimento à Constituição
Nacional, foi instituída uma comissão de educadores para elaborar o projeto.
Contudo, o processo de formulação foi muito longo e conturbado, sobretudo porque
duas correntes a dos profissionais, escolanovistas, defensores da educação
pública e laica e a vertente vinculada à escola particular, particularmente, a de cunho
confessional entraram em conflito.
Segundo Oliveira,
[...] Iniciou-se, então, uma fase de grande participação popular e de muitos
debates em torno da nova lei. Essas discussões gravitaram principalmente
acerca dos limites da competência do Estado no âmbito educacional,
deixando em segundo plano as questões relativas à qualidade de ensino ou
à necessidade de se reformular o sistema educacional brasileiro (OLIVEIRA,
1993, p. 85).
47
Foram enviados cinco grupos de docentes, vinculados ao ensino normal e elementar, para
estudarem durante um ano, no referido País. Tendo se qualificado, eles passaram a exercer a função
de instrutores de professores, durante dois anos. Esse Programa, mais tarde, passou a formar
especialistas e a fomentar a construção de prédios escolares, tendo se estendido para outros
estados.
141
Finalmente, em 1961, foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, através da Lei n 4024/1961, que acabou contemplando os
interesses dos dois grupos. Essa lei, entre outras questões, promoveu a
flexibilização da estrutura do ensino, determinou a equivalência de todos os cursos
de 2º grau e acabou com a denominada dualidade estrutural, determinada por
Capanema, o que possibilitou, aos egressos dos cursos técnicos, o acesso ao
ensino superior.
Essa lei maior da educação nacional não apresentou uma nova proposta para
a formação de professores, deu apenas continuidade à organização estabelecida,
em 1946, ou seja: ginasial (ministrado em escolas normais de grau ginasial); grau
colegial (ministrado em escolas normais de grau colegial ou institutos de educação);
s-normal (ministrado em cursos de especialização de professores primários e de
formação de administradores, orientadores e supervisores escolares, ministrados
nos Institutos de Educação).
Brzezinski critica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n. 4024/1961,
no que tange à formação docente.
[...] A inobservância da elevação progressiva dos níveis inferiores, até atingir
um nível ideal de formação de professores primários para cada localidade,
e a o prescrição em lei do caráter provisional desses níveis inferiores
talvez tenham sido as mais graves falhas da Lei 4024, com seu Capítulo IV,
que trata da formação do magistério (BRZEZINSKI, 1987, p. 145).
O Parecer n 292/62 estabeleceu a carga horária das matérias, referentes à
formação pedagógica, oferecida para os alunos do bacharelado que pretendiam
obter a licenciatura. Esse Parecer, de acordo com Damis,
[...] instituiu uma estrutura acadêmica na qual todos os cursos de
licenciatura deveriam ser tratados como um grau equivalente ao lado do
bacharelado. Pretendeu-se, a partir desse momento, não mais permitir que
a um curso de três anos para formar o bacharel se acrescentasse mais um
ano de curso de ditica para formar o professor. Embora os currículos
devessem ser organizados de maneira que durante os estudos, fixados para
o bacharelado, fossem acrescentados os estudos, voltados para a
compreensão do aluno e do método, essa nova estrutura não significou
alteração fundamental na estrutura acamica dos cursos, uma vez que o
referido parecer ainda considerou o que ensinar como preexistente ao como
ensinar, e de certo modo como seu condicionante. Também para o curso de
Pedagogia, o Parecer n. 251/62 manteve a mesma estrutura acadêmica:
primeiro a formação do técnico em educação (bacharel) e depois a do
professor de escola normal, no curso de ditica (DAMIS, 2002, p. 117).
142
Na verdade, comenta Brzezinski (1999), o Parecer n 251/62 que
regulamentou o currículo mínimo do Curso de Pedagogia e o Parecer 292/1962 que
legislou sobre a formação pedagógica o conseguiram, na prática, extinguir o
esquema 3 +1. Assim, a licenciatura continuou formando dicotomicamente, pois
conferia uma carga horária significativa à capacitação teórica e, apenas, um ano, o
último, era destinado à prática de ensino. Considerando a organização curricular dos
cursos, seria impossível ocorrerem momentos de concomitância, se as disciplinas de
didática e prática de ensino fossem acrescentadas ao bacharelado, para formar o
licenciado, na etapa final do Curso de Pedagogia. Então, por um passe de mágica,
com apenas duas disciplinas, o bacharel se transformava em professor licenciado.
A sociedade brasileira, no período que antecedeu ao Golpe de Estado de
1964, assistiu à consolidação do modelo econômico urbano/industrial, à
internacionalização do mercado interno, ao avanço tecnológico e ao congelamento
do salário. Mobilizações sociais, ocorridas em todo o País, reivindicavam melhorias
salariais e um maior nível de participação política. Na área da educação, foram
realizados intensos debates no âmbito universitário, com participação de estudantes,
professores e gestores, voltados, especialmente, aos rumos da educação brasileira
e à necessidade de se promover uma reforma universitária.
O Governo Goulart, de cunho populista, incomodava as elites, na medida em
que se propunha fazer reformas de base, inclusive a reforma agrária. Em
decorrência, forças conservadoras, lideradas pelos governadores de Minas, Rio de
Janeiro e São Paulo, sob tutela de Lincol Gordon, embaixador americano e
contando com o apoio da maioria das Forças Armadas, deram o Golpe de Estado de
64, instaurando o período de arbítrio.
O Governo então vigente, em sintonia com os interesses dos capitais
nacionais e do internacional, caracterizou-se pela atrofia e neutralização do
Congresso, pelo fortalecimento do executivo e pela repressão acirrada à sociedade
civil.
No campo educacional, o clima de debate, anteriormente vivenciado, foi
fortemente reprimido, especialmente após a outorga do Ato Institucional n. 5 e do
Decreto-Lei 477, que recrudesceu a violência nos denominados anos de chumbo.
Nesse cenário, sob a iluminação norte-americana, a educação passou a se
articular, de forma mais concreta, com o setor produtivo. Com essa intencionalidade,
143
aqui adentrou a concepção tecnicista, que tinha como pressuposto a questionada
Teoria do Capital Humano (OLIVEIRA, 1993).
Com isso, o professor perdeu, ainda mais, sua autonomia, pois foi
expropriado do seu saber e submetido ao comando dos denominados
especialistas. Contudo, Hipólito (1997) enfatiza que, por mais que o trabalho docente
fosse programado, planejado por forças externas, existia uma autonomia relativa
para ele adaptar métodos, técnicas e introduzir novos materiais, pelo simples fato
desse trabalho ser realizado por seres humanos, em relação com outros seres
humanos. Diferentemente de outras categorias proletarizadas, o docente possui
certo controle dos meios de execução de seu ocio.
A pedagogia tecnicista influenciou na formação docente, no cotidiano da sala
de aula, promovendo a organização racional, eficiente e contábil do ensino, com
vista ao atendimento do mercado e aos interesses do capital.
O professor, dentro dessa premissa, tornou-se um mero executor de um
processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficavam a cargo de
especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais (SAVIANI,
1984, p. 17), e, conseqüentemente, foi expropriado do seu saber.
Desse modo, o direcionamento dado à política educacional tinha, como
imperativo, o modelo econômico de desenvolvimento. Por isso, buscou-se transferir
a organização do trabalho na fábrica para a escola, pois se privilegiou o taylorismo
que dicotomiza concepção, de execução, objetivando obter níveis maiores de
eficiência e de produtividade. Assim, os princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade foram transplantados da teoria econômica e adaptados à educação,
eliminando o cunho humanista, até então priorizado.
Sobre o paradigma educacional imposto, segundo Brzezinski,
[...] ocorreu por imposição de duas linhas de interferência: uma exógena,
outra endógena. A linha de interferência exógena foi transplantada dos
Estados Unidos pelos profissionais programados nas instituições norte-
americanas e pela literatura acerca das concepções da pedagogia
tecnicista. A de interferência endógena era representada pelo grupo militar e
liderada pelo general Meira Mattos, membro da Escola Superior de Guerra
(ESG) e responsável pelas ações repressivas, em especial pelas dirigidas
aos estudantes e professores universitários com respaldo no Ato
Institucional n. 5 e no Decreto-Lei 477.
As linhas de interferência receberam apoio do governo, já que o treinamento
para maior produtividade e a busca da racionalidade, adotados, eram
utilizados como mecanismos controladores da liberdade de pensamento e
144
da criatividade. Desse modo, a linha evolutiva e as de interferência
conviveram no mesmo período, mas o se encontraram (BRZEZINSKI,
2004, p. 65).
Duas legislações importantes foram implementadas, no período ditatorial: a
Lei 5692/71 que modificou a LDB de 61, implementou a denominada
profissionalização compulsória e organizou o ensino de 1º e 2º graus e a Lei
n.5540/68 que promoveu a Reforma Universitária. A Lei da Reforma Universitária
introduziu mudanças significativas no sistema universitário brasileiro. No âmbito da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras ocorreram transformações substantivas. O
ponto central da reestruturação impactou o campo da formação de professores,
sobretudo devido à criação de diversos Institutos, responsáveis pelos conteúdos
específicos. A formação de professores e as mudanças na Faculdade de Educação,
de acordo com Brzezinski, passaram a ser realizadas
em dois locais: de um lado, cada Instituto de “conteúdos específicos com
responsabilidade pelo bacharelado e pela licenciatura de sua área de saber,
de outro, a Faculdade de Educação, à qual coube a formação do pedagogo
e a oferta das disciplinas pedagógicas para as licenciaturas (BRZEZINSKI,
1999, p. 90).
A dimica da Faculdade de Educação e a nova estruturação curricular do
Curso de Pedagogia foram definidas pelo Parecer 252/1969, pela Resolução do
Conselho Federal de Educação n. 02/1969 e pelo Parecer 632/1969. Esses
documentos normativos regulamentaram a formação do pedagogo, substituíram a
formação do técnico em educação, pela capacitação do especialista; fixaram o
mínimo de conteúdos exigidos, a duração do Curso de Pedagogia e estabeleceram
as disciplinas obrigatórias da parte comum e da parte diversificada do currículo, do
Curso de Pedagogia, para atender às especificidades de cada habilitação em
educação e à docência para o Curso Normal. Definiram, também, a finalidade e o
conteúdo específico da Faculdade de Educação. O Parecer 252/69, de acordo com
Brzezinski,
[...] provocou mudança na estrutura do Curso de Pedagogia, ao sugerir o
cleo que serviria como formação sica e uma parte diversificada em
habilitações específicas para desenvolver algumas especialidades que se
haviam firmado a partir dos anos 30, sobretudo as de Orientação
Educacional, de Supervisão, sem falar na clássica Administração. No
Parecer estava prevista a criação de outras habilitações que poderiam vir a
145
ser escolhidas pelas Instituições. De início foram regulamentadas cinco
habilitações: Ensino das disciplinas e atividades práticas dos cursos
normais, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão
Escolar, Inspeção Escolar e Planejamento Escolar (BRZEZINSKI, 1987, p.
167).
Essa Reforma fez com que as Instituições de Ensino Superior modificassem
seus currículos, tendo em vista a formação dos especialistas, marginalizando, às
vezes, a habilitação para o Magistério. A exacerbação da formação do técnico, em
detrimento da formação do professor, parece constituir-se na maior deturpação da
aplicação das orientações, ensejadas no Parecer 252/69 (BRZEZINSKI, 1987, p.
167). Além disso, critica-se a formação do especialista, sobretudo pelo seu caráter
pragmatista e fragmentado.
A Lei 5692/71 integrou os antigos cursos primário e ginasial, no âmbito do 1º
grau, que passou a ter oito anos de duração. No âmbito do 2º grau, ocorreu um
arremedo da denominada escola única profissionalizante.
Assim, devido à obrigatoriedade da profissionalização compulsória que,
segundo Kuenzer (1997), estaria correta em seus princípios, mas inviável na prática,
as instituições blicas, com exceção das ligadas à Rede Federal, não tinham
professores habilitados, oficinas e laboratórios necessários à prática laboral. Por sua
vez, as escolas particulares, voltadas para os filhos da elite, encontraram saídas
na lei, para continuar ministrando um ensino propedêutico e seletivo.
O curso normal transformou-se, assim, em mera habilitação do ensino de 2º
grau, o que descaracterizou as Escolas Normais e os Institutos de Educação
(NUNES, 2002).
Nessa perspectiva, o Curso Normal teve seu currículo modificado, através do
Parecer 349/72, passando a compor-se de um cleo comum, obrigatório em âmbito
nacional, e de uma parte diversificada que, no caso, representava o mínimo
necessário à habilitação profissional.
De acordo com Chagas,
[...] o perfil do novo magistério seria assim fundamentado em cinco
princípios sicos: o da progressividade e o da cumulatividade, como
integração vertical; o da polivalência, como integração horizontal; o da
especificidade, como diversificação; e o da concomitância, como síntese
ditico-metodológica de todos (CHAGAS, 1980, p. 23)
146
Em 1975, houve uma tentativa do Conselho Federal de Educação (CFE) de
promover a reformulação do Curso de Pedagogia, mas os educadores e
profissionais da educação, insatisfeitos com a marginalização que lhes fora imposta
e pelo autoritarismo dos gestores educacionais, organizaram-se nacionalmente,
criando o Movimento Nacional para Reformulação dos Cursos de Formação do
Educador. Esse movimento, comenta Brzezinski,
[...] passou a desenvolver ações de resistência às arbitrariedades das
políticas educacionais definidas pelo aparelho estatal, contrapondo-se ao
modelo tecnicista, às medidas que feriam a democracia, desvalorizavam o
professor e ameaçavam a extinção do curso de Pedagogia. Inicialmente,
instalou-se o Comitê Nacional Pró-Formação do Educador (1980). Três
anos depois, esse Comitê foi transformado em Comissão Nacional de
Reformulação dos Cursos de Formação do Educador e, a partir de 1990,
organizou-se como Associação Nacional pela Formação dos Profissionais
da Educação (BRZEZINSKI, 1996, p. 531).
A Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação
(ANFOPE), em 1990, passou a representar, de modo bastante aguerrido, os
interesses dos educadores e dos especialistas em educação. Essa entidade se
contrapunha ao currículo mínimo e à capacitação dos especialistas, feita de forma
fragmentada, pragmática, sem contar com os aportes advindos de uma formação
inicial, no campo do magistério. Em síntese, a ANFOPE passou a defender uma
formação inicial de qualidade, a construção de uma base comum nacional e de uma
sólida formação continuada, que deveriam ser direito dos profissionais em educação
e um dever do Estado.
A referida entidade vem, ainda hoje, se destacando pela luta contra a
proletarização da profissão, o aligeiramento da formação docente e o descaso dos
gestores das políticas blicas para com a formação dos docentes. Além disso, ela
reivindica a ampliação da educação para todos, a gestão democrática da escola, a
organização do trabalho pedagico e a ruptura com o pensamento tecnicista,
pragmatista e neoliberal que vem dominando o campo educacional.
Em termos do Curso de Pedagogia, desde 1983, a propositura do Movimento
Nacional foi a de erigir a docência como base da identidade profissional do
pedagogo. Nessa perspectiva, comenta Brzezinski,
[...] a docência é entendida como a base comum de formação de todo
educador. Essa tendência, que não se fecha exclusivamente na formação
147
do professor, contrapõe-se àquela que atravessou a maioria dos cursos de
Pedagogia no Brasil, s 69, a de formar o especialista sem um preparo
para o desempenho das tarefas docentes. É porém uma tendência
(BRZEZINSKI, 1996, p. 531).
Embora tivessem ocorrido posições contrárias, no II Encontro Nacional da
Comissão de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador, realizado em
1986, foi reafirmada a necessidade de se constituir uma base comum, centrada na
docência:
[...] formar o pedagogo, tendo como cleo fundamental ou como base de
formação a docência que poderia ser complementada com estudos
similares aos das áreas de concentração, agora denominados
habilitações. Essa complementação poderia ser cursada em nível de
graduação no curso de Pedagogia ou em nível de s-graduação em cursos
da Faculdade de Educação (BRZEZINSKI, 1996, p. 534).
Em torno dos debates, referentes à elaboração da segunda LDB, discutiu-se,
no IV Encontro Nacional (1989), a defesa da revitalização da Escola Normal, para
formar docentes em nível do 2º grau; quanto à formação de professores, para os
níveis elementares, no âmbito do ensino superior, Brzezinski, assim, se posiciona:
[...] tornava-se imperativo regulamentar na LDB a formação do professor
para as séries iniciais no nível superior e no curso de Pedagogia. A
modalidade normal constituiria uma solução transitória e somente para as
localidades sem condições de manter, com qualidade, um curso de
Pedagogia. Essa posição foi incorporada no anteprojeto de LDB/88 da
mara dos Deputados, defendido pelos educadores brasileiros que fazem
parte do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (BRZEZINSKI, 1996,
p. 532)
Outra questão rediscutida no V Encontro Nacional da Comissão Nacional de
Reformulação dos Cursos do Educador (1990) foi a adoção de uma base comum
nacional, entendida como cleo essencial da formação do profissional da educação
e como ponto de referência para a formação desse profissional.
O conceito de base comum nacional,supõe que haverá uma fundamentação
comum para todos os cursos de formação do educador, considerando a docência -
entendida como trabalho pedagógico - o maior fator de identidade profissional de
todo educador (SCHEIBE, 2003, p. 176).
Assim, a partir de 1994, a base comum de formação do Pedagogo passou a
ser a docência e o mais a formação dos denominados especialistas, ou seja:
Orientador Educacional, Supervisor Escolar, Administrador Escolar e Inspetor
148
Escolar, como
149
Essa LDB, ao estabelecer em seu artigo 21
48
, dois níveis de educação escolar
- a educação sica e a educação superior - alterou a formação do professor,
condicionando-a aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino que
integram a educação básica.
As definições, decorrentes dessa lei, evidenciaram uma desqualificação da
formação do professor, sobretudo, ao erigir o Curso Normal Superior como instância
privilegiada, desconsiderando que esse espaço, ao contrário da Universidade,
carece do tripé - ensino, pesquisa e extensão - que geralmente assegura um ensino
de qualidade. Deve-se esclarecer que o Decreto 3276/99 colocava a formação dos
professores exclusivamente no âmbito dos Institutos/Cursos Normais Superiores e
que, devido à resistência das entidades representativas dos docentes, foi substituído
pelo Decreto 3554/99 o qual, embora enfatizasse como lócus preferencial o Curso
Normal Superior, permitia que a formação docente fosse feita no lócus universitário.
O artigo 62 da LDB, em vigência, admite o Curso Normal de nível médio,
como suficiente para o magistério nos níveis da educação infantil e dos anos iniciais
do ensino fundamental. Entretanto, esse artigo foi equivocadamente interpretado,
pois começou-se a difundir que, até o final da denominada Década da Educação, os
professores que atuassem nestes níveis, teriam de ser graduados, em nível superior.
Essa interpretação, equivocada, da LDB acarretou a proliferação de Cursos Normal
Superior, geralmente de qualidade questiovel, para os quais se direcionaram
imeros professores, para obterem um diploma de nível superior.
O esclarecimento da legislação foi feito pelo Conselho Nacional da Educação,
o que foi muito importante, por um lado, por minimizar a criação exacerbada dos
Cursos Normal Superior, de qualidade questiovel, por outro, para diminuir a
tensão e ansiedade de professores, que com imenso sacricio, ingressavam nesses
cursos, temerosos de perderem seus trabalhos. Contudo, considera-se importante a
formação em nível superior, mas precisa-se lutar contra a mercantilização e
encontrar outras formas de qualificar o docente, como o PROUNI (Programa
Universidade para Todos), que permite às professoras do ensino público, cursarem,
com bolsas, universidades ou outras instituições particulares.
48
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I- educação sica, formada pela educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio; II- educação superior” (Lei n. 9394/1996).
150
Realmente, deve-se lutar para que todos os níveis da educação básica sejam
ministrados por docentes qualificados, adotando-se políticas blicas que consigam,
de fato, profissionalizar e formar, em nível superior, esses sujeitos:
[...] a exigência da formação em nível superior, para atuar em todos os
níveis, aos que pretendam ingressar no sistema de ensino, a partir de 2007,
quando finda a cada da Educação (Art. 87, parágrafo )
49
, porém abre
uma exceção de modo a ser admitida formação por meio de treinamento em
serviço, o que indica a possibilidade de admissão no sistema dos não
formados em nível superior. Pelo que se constata, fica “regulamentada, por
força de lei, a tradicional prática do Estado de ser conivente com a
desprofissionalização docente e desvalorização do profissional do
magistério (BRZEZINSKI, 2002, p. 15).
A orientação para a formação docente, dada pela LDB e pelas Diretrizes
Curriculares para a Formação de Professores para a Educação Básica, vem sendo
questionada, sobretudo por: preterir a formação inicial a favor da educação
continuada, sendo que ambas são importantes; estimular a educação à distância,
devido aos seus custos menores; propor uma formação mais pragmática, em
detrimento de uma formação trico-conceitual; abrir espaço para a capacitação de
graduados de outras áreas, apenas com a realização de um curso curto, voltado
para os aportes teórico-didático.
Em vista desse quadro, a ANFOPE vem lutando para a melhoria da formação
docente, através de:
[...] concepções avançadas sobre a formação do educador, não apenas por
destacar seu caráter sócio histórico, mas principalmente por contribuir com
a construção de propostas de superação das dicotomias presentes na
formação de professores e dos especialistas. Esta é uma exigência dada
pela democratização das relações entre os sujeitos no trabalho pedagógico
e na construção de novos projetos coletivos. A explicitação da dimensão
social da educação e da escola torna evidente a estreita vinculação entre a
forma de organização da escola na sociedade capitalista e a formação do
educador, fato que coloca em oposição os projetos conservadores da
sociedade atual e o projeto histórico que busca a superação do capitalismo
e anuncia a concepção de futuro da humanidade que pretendemos
(FREITAS, 1999, p.31).
49
O Conselho Nacional de Educação, tendo em vista dirimir dúvidas e diminuir a expansão
exacerbada de Cursos Normais Superior através dos Pareceres CNE/CEB n 1 e3/2003 e da
Resolução CNE/CEB n. 1/2003 esclareceu que para as professoras que estavam lecionando na
educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, o diploma do curso de magistério em
nível médio é suficiente.
151
Outra linha de luta da ANFOPE relaciona-se à profissionalização, à conquista
de melhores condições salariais e de trabalho para a categoria docente. Essa
questão, que não se desvincula da formação, tem, historicamente, sido
problemática, sobretudo por não ser, geralmente, uma prioridade dos gestores
educacionais. Essa situação tem similaridade com outros países. Para Garcia
(1999), o ensino como profissão, ocupação ou atividade possui uma tradição
histórica, marcada pelo conservadorismo ideológico e pelo controle político, tendo
uma conotação sociológica de classe baixa. Na atualidade, a profissão de ensinar
está ligada à burocratização, proletarização, à intensificação do trabalho e à
feminização, sobretudo nos primeiros níveis de ensino. O professor tem, cada vez
mais, sua autonomia cerceada, pois tem de se submeter tanto à legislação e à
burocracia do Estado, que determinam as políticas públicas, quanto às normas da
instituição na qual trabalha.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da
Educação Básica foram aprovadas pelo Parecer do CNE/CP 009/2001 e pela
Resolução n. 01/2002. Esse documento destaca os seguintes princípios
orientadores para a formação de professores: a) concepção de competência como
nuclear, na orientação de Curso de Formação Inicial de Professores; b) coerência
entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor; c) a pesquisa
como elemento essencial na formação profissional do professor.
As Diretrizes Curriculares, ao priorizarem a noção de competência como
princípio nuclear para orientar a formação dos professores, preterizou a formação
trica e os saberes docentes. Dessa forma, elas marginalizam os projetos de
formação docente, defendidos pelo movimento dos professores, para adequar essa
formação às exigências legais tanto da educação sica, quanto da avaliação, em
seu caráter regulador.
A regulação, comenta Freitas,
[...] atinge ainda os sujeitos do processo educativo em outra dimensão: do
trabalho e da realização profissional. A lógica das competências, ao
enfatizar a individualização dos processos educativos, a responsabilização
individual pelo aprimoramento profissional, produz o afastamento dos
professores de sua categoria profissional como coletivo e, em
conseqüência, de suas organizações.
[...] As competências, caracterizadas como um conjunto de habilidades
características de cada indivíduo, contrapõem-se, nesse sentido, à
dimensão conceitual de qualificação profissional e profissão, avalizada pelo
152
diploma e que foa ao conceito de profissão.
[...] A lógica das competências individuais passa a conformar as
subjetividades, via formação de professores, e a educação das novas
gerações, de modo a inseri-las desde a mais tenra idade na lógica da
competitividade, da adaptação individual aos processos sociais e ao
desenvolvimento de suas competências para a empregabilidade ou
laboralidade.
É esse processo de regulação do trabalho, de habilidades, atitudes,
modelos diticos e capacidades dos professores que vem orientando as
diferentes ações no campo da formação (FREITAS, 2004, p. 101).
O segundo princípio, a coerência entre a formação oferecida e a prática
esperada do futuro professor,
tem duas peculiaridades muito especiais: ele apreende a profissão no lugar
similar àquele em que vai atuar, porém, numa situação invertida. Isso
implica que deve haver coerência entre o que se faz na formação e o que
dele se espera como profissional (Parecer 009/2001, p. 31). (BRASIL, 2001,
p. 2)
Essa simetria é importante, mas a própria relatora, Raquel Figueiredo
Alessandri, reconhece o risco que pode advir, quando afirma: Não se trata de
infantilizar a educação inicial do professor, mas de torná-la uma experiência análoga
à experiência de aprendizagem que ele deve facilitar a seus futuros alunos
(BRASIL, 2001, p. 2) pois uma coisa
é levar em conta para que tipo de desempenho profissional se está
formando o professor e outra é amarrar essa formação aos procedimentos,
adotados na educação básica. , nesse sentido, um perigoso
reducionismo e uma desnecessária instrumentalização na formação do
professor (PALMA FILHO, 2004, p. 157)
A concepção de aprendizagem, priorizada pelo Parecer, tem por base uma
visão construtivista, quando esclarece que osindivíduos constroem seus
conhecimentos em interação com a realidade, com os demais indivíduos e
colocando em uso suas capacidades pessoais” (BRASIL, 2001, p. 2). No Parecer, o
processo de construção de conhecimento desenvolve-se: no convívio humano, nas
interações do indivíduo, na cultura em que vive, nas situações de aprendizagem,
focada em situações-problema, ou no desenvolvimento de projetos que possibilitem
a integração dos diferentes conhecimentos, que podem estar organizados em áreas
ou disciplinas, conforme o desenho curricular da escola (PALMA FILHO, 2004).
153
As concepções de conteúdo e de avaliação, apresentadas no texto, seguem o
mesmo referencial prescrito nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) para o
ensino fundamental e a educação sica. Assim, a concepção de conteúdo é tratada
nas suas diferentes dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal e a concepção
de avaliação é implantada, mediante o conceito de desempenho e competência,
focalizando a avaliação do desempenho dos estudantes em exames tais como:
Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM) e Exame Nacional de Cursos, conhecido como Provão, substituído
pelo ENADE (Exame Nacional de Avaliação de Desempenho do Estudante) (PALMA
FILHO, 2004).
Competência e estabelecimento de sistemas de avaliação andam de braços
dados, na definição dos currículos nacionais e das Diretrizes Nacionais para a
Formação de Professores para a Educação Básica,mediante a organização de um
sistema federativo de certificação de competência dos professores de educação
sica (FREITAS, 2004, p. 102). Tal preocupação com a avaliação de desempenho
docente está ligada ao enxugamento dos recursos públicos para a educação e, por
trás da idéia de verificar o desempenho de docentes, está implícito o marco
regulatório, presente nas políticas do Governo de Fernando Henrique Cardoso e
Lula.
O Parecer 009/2001 ao se referir à pesquisa como elemento essencial na
formação do professor, o faz de forma reducionista, colocando o foco principal no
próprio processo de ensino e de aprendizagem dos conteúdos escolares, referentes
à educação sica. (BRASIL, 2001).
Palma Filho critica essa limitação da pesquisa,
[...] um claro reducionismo de natureza psicologizante, uma vez que o
processo educacional, por ser multideterminado, implica também pesquisar,
por exemplo, sobre a própria natureza do conhecimento, e não apenas
deter-se na pesquisa relacionada com a questão de como o aluno aprende.
Aqui se comete o mesmo equívoco que anteriormente fora cometido por
ocasião da elaboração dos PCNs, ou seja, dissocia-se o aprender do
ensinar (PALMA FILHO, 2004, p. 157).
Em decorrência desse cerio de desqualificação da educação, observa-se,
também, que o magistério e os professores vêm sendo desvalorizados e o trabalho
docente não tem avançado, em termos de sua profissionalização.
154
Para Freitas:
[...] a ausência de políticas de profissionalização e valorização do
magistério, a condição degradada do exercício do trabalho educativo, com
professores submetidos a dupla jornada e baixos salários; a ausência de
uma política de formação continuada que vincule os professores ao projeto
político-pedagógico em apenas uma escola; as péssimas condições de
funcionamento da grande maioria das escolas públicas; e a redução dos
recursos públicos para o aprimoramento do processo educativo. Essas
condições, difo
155
de sistemas e instituições de ensino em geral, o acompanhamento de programas e
atividades educativas.
A formação em Pedagogia deve articular conhecimentos do campo
educacional, com as práticas profissionais e de pesquisa. Tais práticas
compreendem tanto o exercício da docência, quanto o de diferentes funções do
trabalho pedagico, em escolas, o planejamento, a coordenação, a avaliação de
práticas educativas em espaços não-escolares e a realização de pesquisas que
apóiem essas práticas.
O campo de atuação do licenciado em Pedagogia, segundo o Parecer,
abrange o trabalho pedagógico, realizado em espaços escolares e o-escolares,
que têm a docência como base. Nessa perspectiva, a docência é compreendida
como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em
relações sociais, étnico-raciais e produtivas, que influenciam conceitos, princípios e
objetivos da Pedagogia.
Em síntese, são definidos os espaços dos licenciados, em Pedagogia, que
abarcam o magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação
Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas, nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos.
3.2 Formação/Profissionalizão de Docentes para o Ensino Religioso
A formação de professores para o Ensino Religioso vem sofrendo influência
do contexto sócio-político-cultural, se constituindo como uma das áreas que provoca
muita polêmica, no campo educacional, sobretudo no que tange à sua inclusão no
âmbito dos currículos da rede pública de ensino. Pode-se afirmar que a formação de
professores em nível superior, para a referida disciplina, só começou a se
concretizar em 1997, assim como a definição, com maior clareza, do seu objeto
como disciplina.
156
Historicamente, comenta Oliveira,
o processo de formação docente para o Ensino Religioso, no Brasil, esteve
diretamente ligado ao processo formador dos agentes pastorais das
instituições religiosas, que tinham a incumbência de desenvolver o processo
educativo para esta área do conhecimento nas unidades escolares
(OLIVEIRA, 2003, p. 26).
Para procurar atender à demanda de formação dos professores para o Ensino
Religioso, de acordo com Caron (1997), vêm se desenvolvendo cursos de Teologia,
Ciências da Religião, Catequese, Educação Cristã e outros similares. Essas
iniciativas de formação, desenvolvidas pela Igreja, quase sempre conta com
subsídios vindos do exterior e, muitas vezes, são os próprios docentes que arcam
com suas capacitações.
A questão do Ensino Religioso é complexa, uma vez que toma como
referência pressupostos e princípios de religião (ões), sendo que no Brasil, a
primazia é a do catolicismo. Com a extinção do Padroado e as conseqüentes
liberdade religiosa e promoção da laicidade do ensino, a inclusão dessa disciplina
nos currículos escolares tem suscitado debates e polêmicas. Ressalta-se que seu
significado, sua identidade como área do conhecimento e seu estatuto profissional
encontram-se, ainda, em processo de legitimação/reconhecimento. Decorrem daí,
como observa Figueiredo,os impasses filosóficos, administrativos, pedagógicos e
outros mais, entre os quais transitam as diferentes tendências de organizações e
práticas do Ensino Religioso em algumas regiões do Brasil (FIGUEIREDO, 2006, p.
52).
Historicamente, a situação do docente da disciplina tem sido a de
precarização, pois é excluído do quadro da carreira do magistério, muitas vezes não
recebe a remuneração pelo seu trabalho, não possui vínculo com o sistema de
ensino e recebe, geralmente, uma formação veiculada por entidades religiosas. Para
Figueiredo (1996) essa é uma realidade histórica, que antecede à vigência da
primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4024/61) e que
persistia, até pouco tempo, nas escolas estaduais do mais populoso estado da
federação, mesmo depois de o Ensino Religioso ter se constituído como disciplina
do sistema educacional, após a promulgação da Lei 5692/71, que reformulou a lei
4024/61.
157
Segundo Figueiredo,
[...] poucos estados e municípios adotam a admissão de profissionais para o
exercício da referida função, pelo sistema de concurso público. Na realidade
as Instituições de Ensino Superior não se organizaram para possíveis
ofertas de Cursos de Habilitação em ensino religioso, na forma da Lei que
hoje rege qualquer Curso de Magistério de nível Superior para a Educação
Básica. , no entanto, os que dependem do credenciamento da entidade
religiosa de seu respectivo credo. Este consiste num termo de apresentação
ou declaração de que o candidato está apto a assumir, provisoriamente a
docência da disciplina. Revela, assim, que a intervenção do sistema
religioso no sistema de ensino é constante em todo o século XX e ainda
prevalece no século XXI, mantendo acesa a chama do imagirio coletivo
de que esse ensino é algo do sistema escolar, mas dependente do religioso
(FIGUEIREDO, 2006, p. 56).
A falta de uma política efetiva para a formação de professores de Ensino
Religioso, em níveis nacional e estadual, vem acarretando uma descontinuidade de
ações e a o-valorização dos seus docentes. Fórum Nacional Permanente de
Ensino Religioso (FONAPER) assim se posiciona:
É necessário destacar de antemão, que se trata primeiramente de um
resgate da justiça em relação a esses profissionais. O tratamento
diferenciado aos quais muitos desses profissionais estão sendo submetidos
em se tratando de direitos profissionais denota a pouca ou nenhuma
compreensão e respeito aos direitos individuais e sociais salvaguardados na
legislação referida anteriormente.
Com imenso pesar, constata-se mediante depoimentos provenientes de
determinados Estados, que professores atuando na disciplina de Ensino
Religioso durante mais de 30 anos consecutivos, não têm acesso aos
direitos legais trabalhistas. [...] Este fato decorre de ainda não existir uma
política nacional para a formação de docentes nesta área do conhecimento
e não estarem instituídas as Diretrizes Nacionais para a Licenciatura de
Graduação Plena em Ensino Religioso, abrindo-se desta feita lacunas para
procedimentos de tal porte (FONAPER, 2004, p. 12).
A partir da vigência da Lei 5692/71, que determinou a inclusão obrigatória da
disciplina nos currículos das escolas públicas, como matrícula facultativa, o Ensino
Religioso passou a ser o tema privilegiado de discussões que contemplavam,
sobretudo, questões como: a identidade do Ensino Religioso que pressupõe a
distinção entre ensino religioso escolar e catequese; o reconhecimento dessa
disciplina como área de conhecimento; as abordagens pedagógica e metodológica,
adequadas ao trabalho com essa disciplina; a necessidade da qualificação dos
professores; o perfil do seu docente; a sua inserção funcional no quadro do
magistério; a priorização do pluralismo religioso no contexto escolar.
158
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi a primeira entidade,
a expressar sua preocupação, a respeito da formação de docentes para a disciplina
em apreço;
Foi a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1974. Iniciou
promovendo e realizando Encontros Nacionais para Coordenadores e
Professores de Ensino Religioso (ENER). Continuou esta atividade, até
1999, realizando neste espaço de tempo, 12 Encontros Nacionais para
coordenadores e professores de Ensino Religioso das escolas públicas.
Seguiram-se outros cursos promovidos pelo Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs (CONIC) e pela Conferência Latina Americana de Educação Cristã
(CALADEC). A partir de 2000, a CNBB - Setor Ensino Religioso, passou, a
desenvolver Semirios, Encontros, para a formação de professores deste
ensino nas Escolas Católicas, em parceria com a Associação de Escolas
Católicas do Brasil (AEC) (CARON, 2005, p. 108).
Uma das proposições dos Encontros Nacionais de Ensino Religioso tem
estado ligada à necessidade de se intensificar esforços, no âmbito da formação de
professores e agentes, envolvidos no magistério dessa disciplina, estabelecendo
linhas-mestras, em nível nacional, para nortear essa qualificação. Tais encontros, de
acordo com o FONAPER (2004), provocaram inúmeros debates, tanto sobre a
formação de professores de Ensino Religioso, a partir da própria identidade da
disciplina, quanto sobre o desenho do perfil de seus docentes. Segundo Junqueira
(2002b), esses Encontros foram espaços significativos para promover uma maior
articulação entre os profissionais que vêm se dedicando ao magistério dessa
disciplina.
Durante a implementação das Propostas, elaboradas pela referida entidade, o
estado de Santa Catarina foi o pioneiro na elaboração de um Programa de Ensino
Religioso de caráter ecumênico
50
. Decorrente do mencionado Programa, foi criado o
Conselho de Igrejas para Educação Religiosa (CIER
51
). Além disso, chegou-se ao
50
Para maiores informações sobre a história dos programas de Ensino Religioso de Santa Cataria
pesquisar Caron, 1997.
51
O CIER (Conselho de Igrejas para Educação Religiosa) tem princípios, finalidades, estatuto,
regimento, normas e assembléias próprias. Está organizado em nível estadual, regional e municipal,
exercendo influência sobre o trabalho desenvolvido no Ensino Religioso. De acordo com Caron,
(1997, p. 56), o CIER para cumprir sua finalidade procura: articular as diversas confissões religiosas
cristãs e representá-las junto aos óros oficiais e extra-oficiais; buscar a unidade na
diversidade,evitando proselitismo; comprometer-se com Jesus Cristo; [...] orientar e acompanhar as
atividades da Educação Religiosa Escolar; conveniar com as entidades particulares e públicas
recursos necessários; atender outros objetivos que correspondam às suas finalidades; desencadear
um processo de Educação Religiosa Cristã transformadora, através de um programa integrado na
escola pública, com as respectivas secretarias de educação, promovendo o sentido da vida do Reino
de Deus.
159
consenso de que a formação dos docentes para a disciplina deveria ter um cariz
ecumênico, considerando os componentes curriculares propostos. A formação dos
professores em Santa Catarina, segundo Caron (1997), desenvolveu-se, tendo em
vista a seleção de contdos que se constituíram como base para a formulação dos
Programas da disciplina. Entre os anos 1970 a 1995, foram elaborados planos,
projetos e programas, objetivando discutir a formação de professores, diretores,
supervisores, especialistas em educação, coordenadores e professores de Ensino
Religioso. Enfatiza-se que, geralmente, esses Cursos de formação de docentes para
o Ensino Religioso tinham um caráter menos consistente do que os ofertados para
outras áreas do saber e se revestiam de pouco significado para promover a melhoria
da vida funcional dos docentes da disciplina.
Para Caron (1997), algumas experiências de formação, nesta área, têm
merecido destaque: o Curso Superior em ERE (Ensino Religioso Escolar) do Estado
do Pará, o de Pedagogia Religiosa do Estado do Paraná e o Curso de
Aprofundamento para professores de Educação Religiosa Escolar, ofertados em
Santa Catarina. Até agora, em âmbito nacional, o Ministério de Educação ainda não
definiu uma política para a criação de Cursos de Formação de Professores, em nível
superior, na área específica do Ensino Religioso.
O processo de elaboração da LDB em vigor (Lei 9394/96) viabilizou a
ocorrência de reflexões e debates sobre o Ensino Religioso e sua integração nos
currículos das escolas oficiais. Contudo, mais importante, foi a alteração feita em
1997, traduzida na Lei 9475/97 que reformulou o artigo 33 da LDB e garantiu a
incorporação do Ensino Religioso nos currículos oficiais, do Ensino Fundamental.
Deve-se destacar a criação do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso
(FONAPER), em 1995, como espaço de discussão pedagógica, não eclesial sobre o
Ensino Religioso. Em sua primeira fase, de acordo com Junqueira, foram propostos
três objetivos significativos:
[...] inicialmente garantir a presença do Ensino Religioso na LDB, fato este
concluído com a alteração do artigo 33,no final do primeiro semestre de
1997; a produção e publicação de Parâmetros Curriculares Nacionais para
esta disciplina, também concluído, como produção nesse mesmo ano, já
apresentado ao Ministério de Educação e Cultura, para ser discutido e
aprovado: a formulação de uma proposta para a formação em nível de
graduação, para o profissional desta área (JUNQUEIRA, 2002b, p. 49).
160
O FONAPER se empenhou para obter a inclusão do Ensino Religioso, no rol
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, referendados pelo MEC. A referida entidade
lutou para a formulação dos Parâmetros, propondo um texto preliminar, como
referência para essa área de conhecimento e para garantir, assim, a concretização
dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação do Ensino Religioso
(SIQUEIRA, 2003).
Poucos meses depois, comenta Siqueira,
[...] ficaram definidos os eixos necessários para a elaboração dos
Parâmetros e foram contatadas as pessoas para assessorar os textos que
dariam sustentação aos parâmetros, dentre os quais se destacam: Anísia de
Paula Figueiredo, Henry Sobel, Danilo Streck, Elli Benincá e Luís Alberto
Souza Alves (SIQUEIRA, 2003. p.59).
No processo de formulação dos Parâmetros, uma questão fundamental foi a
de não colocar o Ensino Religioso como tema transversal, mas como componente
regular de um currículo. Para isso, segundo Siqueira (2003), foi necessário fortalecer
a identidade do Ensino Religioso, distinguindo-o da ética e, ao mesmo tempo,
estabelecendo seu objeto de conhecimento.
A redação final dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso
(PCNER) foi concluída em 1996 e foi aprovada pelo Plerio do Fórum Nacional
Permanente de Ensino Religioso, na terceira sessão em Piracicaba/SP, no mês de
março de 1997. A coordenação do Fórum entregou o texto ao MEC, solicitando a
indicação de pareceristas, para avaliarem os PCNER. Eles foram reconhecidos
pelos pareceristas, mas não foram publicados pela imprensa oficial, ligada ao
Ministério da Educação, sendo veiculadas pela Editora Ave Maria, em 1997. Mesmo
não tendo um reconhecimento oficial, esse texto tem servido de referência para os
professores e pesquisadores da área.
Para Siqueira (2003), os PCNER avançaram, ao romperem com o caráter de
confessionalidade, ao considerar o fenômeno religioso como objeto de
conhecimento dessa área. Contudo, tanto pela própria história dessa disciplina,
quanto pela falta de um referencial oficial nacional, muitos modelos acabaram se
desenvolvendo nas escolas brasileiras. A busca de um referencial para a disciplina
contou com a colaboração de sujeitos, ligados às várias tradições religiosas.Como
educadores conseguiram, juntos, encontrar o que de comum numa proposta
161
educacional que tem como objeto o Transcendente (PCNER, 1997, p. 5).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso fazem uma
breve exposição sobre o papel do professor do Ensino Religioso, evidenciando, em
linhas gerais, o perfil desse docente, ressaltando a importância de uma formação
específicaonde sejam contemplados, entre outros, os conteúdos: Culturas e
Tradições Religiosas; Escrituras Sagradas; Teologias comparadas; Ritos e Ethos,
garantindo-lhe a formação adequada ao desempenho de sua ação educativa
(PCNER, 1997, p. 28).
A mudança da concepção do Ensino Religioso, a partir da Lei 9475/1997 que
deu nova redação ao Art. 33 (Lei 9394/96) dos PCNER e da Resolução 02/98 da
CEB/CNE que considera o Ensino Religioso como área de conhecimento, demandou
a elaboração de novas propostas de formação docente para a disciplina em pauta.
Para atingir essa finalidade, o FONAPER elaborou uma Proposta de Diretrizes
Curriculares
52
para a Formação de Professores, estabelecendo uma Base Comum
Nacional integrada a uma formação geral e específica para a área de Ensino
Religioso (ANEXO A)
A referida proposta teve como base, os seguintes pressupostos: o artigo
210, parágrafo da Constituição Federal de 1988; o artigo 33 da Lei n.
9394/1996, alterado pela Lei 9475/1997; os debates a respeito da formação
de professores, sobretudo, do Ensino Religioso, sendo que esta foi mais
desenvolvida a partir do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso,
em 1995; os Semirios que foram realizados, após o referido Fórum; a
implantação de Cursos de Licenciatura, em nível de graduação plena em
Ensino Religioso; as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, em nível superior (Resolução n. 2 do
CNE/CP); o acervo de estudos realizados pelo FONAPER, sobretudo, nos
anos de 2001/2002; a Reunião Nacional das Universidades Brasileiras que
contemplou questões relativas à formação continuada de docentes de
Ensino Religioso; a criação de Licenciatura de Graduação Plena em Ensino
Religioso em pareceria com o FONAPER (FONAPER, 2004, p. 3)
52
O currículo, portanto, é o projeto que preside às atividades do processo de ensino e de
aprendizagem. O termo currículo, segundo Sacristán provém da palavra latina currere, que se refere
à carreira, a um percurso que deve ser realizado e, por derivação, a sua representação ou
apresentação. A escolaridade é um percurso para os alunos/as, e o currículo é seu recheio, seu
conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade. Implica, pois, a iia de regular e controlar a
distribuição do conhecimento. Além de expressar os conteúdos do ensino o que é e, por isso
mesmo, o que não é objeto de ensino -, estabelece a ordem de sua distribuição. É obvio, que tem
certa capacidade reguladora da prática, desempenhando o papel de uma escie de partitura
interpretável, flexível, mas de qualquer forma determinante da ação educativa (SACRISTÁN, 1998, p.
125).
162
Esse envolvimento do FONAPER, na formulação das Diretrizes Curriculares
para os Cursos de Licenciatura, para os Cursos de Lato Sensu e para os Cursos de
Extensão, inseriu-se no processo que envolvia a educação em geral - Edital 04/97,
da Secretaria de Educação Superior do MEC (SESU/MEC) - e que convocou os
Institutos de Ensino Superior para elaborarem as Diretrizes Curriculares referentes
aos diferentes cursos.
Várias reuniões e debates ocorreram para discutir as propostas elaboradas.
Finalizado o trabalho, referente às Diretrizes Curriculares para a Formação de
Professores de Ensino Religioso, a Coordenação do FONAPER encaminhou o
documento para ser apreciado pela Câmara de Ensino Superior do Conselho
Nacional de Educação, no dia 15 de julho de 1998.
O Conselho Nacional de Educação e, mais especificamente, a Câmara de
Educação Superior emitiram o Parecer 097/99 que trata da Formação de
Professores para o Ensino Religioso, nas escolas blicas de ensino fundamental.
O referido Parecer faz uma breve exposição sobre a questão do Ensino
Religioso, a partir da vigência da Constituição Brasileira de 1988; contempla,
também, o artigo 33 da LDB 9394/96 e a Lei 9475/97 que dá nova redação ao citado
artigo. O Parecer expõe sobre: a formação de professores para o Ensino Religioso; a
impossibilidade de se estabelecer uma diretriz curricular uniforme, para nortear a
licenciatura em Ensino Religioso, que contemple as diferentes opções (a Lei 9475/97
atribui aos sistemas de ensino, a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e as
normas para habilitação e admissão dos professores); e mostra que a Lei 9475/97
não trata, isoladamente, de um curso específico de licenciatura, nesta área, mas
faculta que a formação possa ser feita, tanto por entidades religiosas, quanto por
organizações ecumênicas.
Segundo a relatora do Parecer:
[...] É preciso evitar que o Estado interfira na vida religiosa da população e
na autonomia dos sistemas de ensino. Devemos considerar que, se o
Governo Federal determinar o tipo de formação que devem receber os
futuros professores responsáveis pelo ensino religioso, ou estabelecer
diretrizes curriculares para curso específico de licenciatura em ensino
religioso, estará determinando, em grande parte, o conteúdo do ensino
religioso a ser ministrado.
Este parece ser, realmente, a questão crucial: a imperiosa necessidade, por
parte do Estado, de não interferir e, portanto, não se manifestar sobre qual o
conteúdo ou a validade desta ou daquela posição religiosa e, muito menos,
de decidir sobre o caráter mais ou menos ecumênico de conteúdos
163
propostos. Menos ainda deve ser colocado na posição de arbitrar quando,
optando-se por uma posição ecumênica, diferentes seitas ou igrejas
contestem os referidos conteúdos da perspectiva de sua posição religiosa,
ou argumentem que elas não estão contempladas na programação.
Por estas razões, parece-nos impossível, sem ferir a necessária
independência entre Igreja e Estado, estabelecer uma orientação nacional
uniforme que seria necessária para a observância dos processos atuais de
autorização e reconhecimento.
Ante o anteriormente exposto e considerando: - a enorme diversidade das
crenças religiosas da população brasileira, freqüentemente contraditórias
umas em relação às outras e muitas das quais não estão organizadas
nacionalmente; - a liberdade dos diferentes sistemas de ensino em definir os
conteúdos de ensino religioso e as normas para a habilitação e admissão
dos professores, da qual resultará uma multiplicidade de organização do
conteúdo dos cursos; - a conseqüente impossibilidade de definir diretrizes
curriculares nacionais para a formação de professores para o ensino
religioso e critérios de avaliação dos cursos que não discriminem, direta ou
indiretamente, orientações religiosas de diferentes segmentos da população
e contemplem igualmente a diversidade de conteúdos propostos pelos
diferentes sistemas de ensino (BRASIL, 1999, p. 3).
A conclusão do Parecer CNE/CP n. 097/1999 se encerra nos seguintes
termos:
[...] - não cabendo à União, determinar, direta ou indiretamente, conteúdos
curriculares que orientam a formação religiosa dos professores, o que
interferiria tanto na liberdade de crença como nas decisões de Estados e
municípios, referentes à organização dos cursos em seus sistemas de
ensino, não lhe compete autorizar, nem reconhecer, nem avaliar cursos de
licenciatura em ensino religioso, cujos diplomas tenha validade nacional; -
Devendo ser assegurada a pluralidade de orientações, os estabelecimentos
de ensino podem organizar cursos livres ou de extensão, orientados para o
ensino religioso, cujo currículo e orientação religiosa serão estabelecidos
pelas próprias instituições, fornecendo aos alunos um certificado que
comprove os estudos realizados e a formação recebida; - Competindo aos
Estados e municípios organizarem e definirem os conteúdos do ensino
religioso nos seus sistemas de ensino e as normas para a habilitação e
admissão dos professores, deverão ser respeitadas as determinações legais
para o exercício do magistério, a saber: - diploma de habilitação para o
magistério em nível médio, como condição mínima para a docência nas
séries iniciais do ensino fundamental; preparação pedagógica nos termos
da Resolução 02/97 do plenário Conselho Nacional de Educação, para os
portadores de diploma de ensino superior que pretendam ministrar ensino
religioso em qualquer das séries do ensino fundamental; diploma de
licenciatura em qualquer área do conhecimento (BRASIL, 1999, p. 3).
Esse Parecer responsabiliza os estados e municípios pela organização e pela
definição dos contdos do Ensino Religioso e das normas para a habilitação e
admissão dos seus professores, respeitadas as determinações legais, quanto ao
exercício do magistério na Educação Básica, no nível do Ensino Fundamental.
Desse modo, os professores de Ensino Religioso são excluídos, no âmbito de uma
164
política nacional de formação docente.
O FONAPER reconheceu, em um doss elaborado em 2004, centrado na
formação de professores, que a elaboração de Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Professores da Educação Básica, e, especificamente, para o
Ensino Religioso, ainda que embrionária,
[...] vem sendo alimentada em nível nacional durante mais de trinta anos
consecutivos; na intenção de se chegar a estabelecer alguns marcos de
sustentação de uma proposta de formação, em nível nacional, sem perda da
autonomia das Instituições Educacionais de nível Superior e das
possibilidades de adaptação necessária às respectivas realidades regionais;
apontando-lhes formas concretas e adequadas à sua operacionalização,
enquanto lugar propício e qualificado a habilitar professores para todas as
áreas de conhecimento (FONAPER, 2004, p. 6).
A Proposta de Diretrizes Curriculares, elaborada pelo FONAPER, não deve
ser considerada como uma camisa de força para ser seguida, ortodoxamente. Ela
deve ser trabalhada de forma contextualizada, articulada e democrática, tendo em
vista os problemas sociais mais amplos e voltada para formar sujeitos arfices de
sua história.
A estrutur
165
A Proposta de Diretrizes para o Curso de Licenciatura de Graduação Plena
em Ensino Religioso apresenta como campo de atuação profissional:
docência no Ensino Fundamental e Médio; produção e difusão do
conhecimento cienfico na área de Ensino Religioso e Ciências Humanas;
assessoria em empresas e instituições educacionais, governamentais, não
governamentais e religiosas (FONAPER, 2004, p. 24).
A matriz curricular do Curso de Licenciatura de Graduação Plena em Ensino
Religioso é centrada em áreas temáticas com vistas a:
[...] possibilitar ao profissional de Ensino Religioso o referencial trico-
metodológico, que oportunize a leitura e a interação crítica e consciente do
fenômeno religioso pluralista atual; habilitar o profissional de Ensino
Religioso para o pleno exercício pedagógico, através da busca da
construção do conhecimento, a partir de categorias, conceitos, práticas e
informações sobre o fenômeno religioso e suas conseqüências
socioculturais no universo pluralista da educação; qualificar o profissional de
Ensino Religioso, a ter acesso ao conhecimento e à compreensão do
fenômeno religioso presente em todas as culturas, para o exercício
pedagógico no âmbito social, cultural, antropológico, filosófico, ético,
pedagógico, científico e religioso na escola; possibilitar aos profissionais de
Ensino Religioso o acesso aos direitos previstos nas legislações específicas
do magistério (FONAPER, 2004, p. 28).
Pode-se afirmar que a matriz curricular do Curso tem contemplado as
exigências de uma formação mínima, visto que inclui as disciplinas necessárias para
a formação geral e específica, possibilitando, ao professor, participar do debate
contemporâneo mais amplo, através da interlocução de uma rede de disciplinas,
oriundas de saberes históricos, filosóficos, sociológicos, psicológicos,
antropológicos, educacionais, metodológicos e das Ciências da Religião.
Essa formação sica, segundo Nagamine,
[...] metodologicamente, deve ser desenvolvida de tal modo que o graduado
seja capaz de se tornar sujeito do seu próprio processo continuado de
formação, bem como de ser capaz de diagnosticar e formular soluções aos
desafios que encontrará em sua ação profissional. Assim, a concepção de
um curso para formação de professor precisa estar contextualizada nas
demandas e desafios da sociedade, bem como nas transformações da
educação nos seus vários níveis e modalidades (NAGAMINE, 2006, p. 85).
Outro aspecto a ser considerado é a configuração do perfil do egresso, pois
ele dá identidade ao curso e contribui para selecionar os conteúdos e metodologias
166
adequadas. O Curso de Licenciatura Plena em Ensino Religioso, de acordo com
FONAPER visa:
[...] formar profissionais comprometidos com a dimensão profunda da
realidade humana em nosso País; aptos ao desempenho de sua ação
educativa nas mais diversificadas situações e realidades em que se
encontram os educandos, compreendendo o ser humano como sujeito do
conhecimento religioso em processo de connuo desenvolvimento, a
levantar questionamentos nas sucessivas etapas da vida sobre a conjuntura
humana na sua globalidade. Este profissional deve dedicar especial atenção
ao estudo do fenômeno religioso, numa atitude investigativa de suas razões
de ser e de buscar a sua compreensão na escola; esta situada em meio a
diversidades de concepções e acepções, onde se dá a complexidade da
questão religiosa característica da pluralidade cultural brasileira (FONAPER,
2004, p. 22).
Além disso, competências e habilidades são fatores indispensáveis para a
elaboração do currículo e da proposta pedagógica. Assim, o licenciado em Ensino
Religioso, de acordo com o FONAPER,
[...] deverá ser identificado por suas múltiplas competências e habilidades
adquiridas ao longo de sua formação acadêmica específica, incluindo a
teoria e a prática e a própria experiência que vai am dela. Trata-se da
experiência que lhe permite uma visão crítica do presente e perspectivas de
futuro, diante das expectativas do novo. Para isso, faz-se necessário
adquirir: - sólida formação no campo das ciências, com ênfase nas ciências
humanas; - fundamentos tricos iluminadores da reflexão e orientadores
da ação no campo pedagógico; - consciência crítica e aguçado espírito
investigativo; - visão e predisposição à criatividade, contextualizadas e
direcionadas para a totalidade numa perspectiva inter, multi e
transdisciplinar; - conhecimento do ser humano em processo de connuo
desenvolvimento e na integralidade de sua condição imanente e
transcendente, inserido em determinado contexto; - sensibilidade,
capacidade de discernimento e maturidade profissional nas relações com o
fato religioso em suas diversas manifestações no tempo, no espaço e nas
culturas; - atitudes que impliquem compromisso: para com a vida na sua
totalidade; para com a história de cada ser humano; para com a história dos
grupos junto dos quais atua, numa perspectiva de inclusividade na
alteridade; ética profissional que inclui a co-responsabilidade diante da
técnica e da solidariedade planetária; - aptidões para solucionar os
possíveis problemas que surgem em cada etapa do itinerário educativo; -
predisposição para acolhida do novo com sensibilidade crítica; - motivações
renovadas para aprender a aprender e apreender para recriar; -
sensibilidade diante das questões que impliquem valorização da dignidade
humana, implicando respeito para com o diferente e as diferenças do
universo educacional e social em todos os níveis de abrangência pessoal e
comunitária (FONAPER, 2004, p. 22-23).
As Diretrizes Curriculares para a Formação do Professor de Ensino Religioso
têm como eixos centrais a docência, a gestão e a pesquisa. No que se refere ao
167
Curso de Licenciatura, considera-se que ele deve contribuir para a formação de um
profissional, capaz de fazer a integração entre teoria e prática; de construir sua
identidade como intelectual e pesquisador da educação; de compreender,
criticamente, os determinantes e as contradições do contexto em que está inserido e
de atuar na transformação desse contexto e na criação das condições, para que se
efetivem os processos de ensino e de aprendizagem, de forma adequada.
Os eixos do Curso de Licenciatura em Ensino Religioso, incorporados nas
Diretrizes propostas pelo FONAPER, estão sintonizados com a concepção da
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), que
elege a docência como parte fundamental no processo de formação dos
profissionais, sendo concebida numa dimensão mais ampla, que atende aos
diferentes espaços de atuação do professor, na atualidade.
O FONAPER (2004) determina que a seleção e o ordenamento dos
conteúdos das diferentes áreas de conhecimento, que devem compor a matriz
curricular para a formação de professores, são da competência das IES (Instituições
de Ensino Superior). O planejamento é considerado como primeiro passo para a
transposição ditica e a transformação dos conteúdos, selecionados em objeto de
ensino dos professores. Segundo Moraes,
[...] embora um currículo possa se basear em referenciais preestabelecidos
com planos objetivos mais amplos, ele não deixa de levar em consideração
a ação do sujeito conforme as ações educativas se estabelecem. Um
currículo em ação é flexível, respeita a capacidade do indivíduo de planejar,
executar, criar e recriar conhecimento, ou seja, sua ação concreta. É algo
que, mesmo levando em consideração planos e objetivos existentes, sabe a
priori das possibilidades de alterá-los com base na ação individual e
coletiva. Está sempre em processo, em diálogo transformador, baseado nas
peculiaridades das situações locais (MORAES, 2004, p. 148).
Uma organização curricular inovadora, de acordo com o FONAPER,
[...] deve contemplar uma sólida formação profissional, acompanhada de
possibilidades de aprofundamentos e opções realizadas pelos estudantes;
propiciar tempos/espaços para pesquisa, leituras e participação em eventos,
entre outras atividades; além da elaboração de um trabalho final de curso,
visando ao aprofundamento de questões tricas ou práticas, síntese de
suas experiências e/ou de suas reflexões acadêmicas com vistas à
intervenções inovadoras no campo da educação sica e formação de
docentes (FONAPER, 2004, p. 26-27).
168
As possibilidades formativas do Curso de Licenciatura em Ensino Religioso
estão relacionadas, segundo Lima & Reali (2002, p. 226),ao modo como se
organizam, à natureza das atividades, que incluem em seus currículos, à seleção de
conteúdos que realizam, ao tipo de conhecimento que proporcionam. As
potencialidades do curso, para eles estariam na sua capacidade de gerar marcos de
referência, esquemas cognitivos capazes de instruir, orientar, clarificar, favorecer o
melhor entendimento da prática profissional.
A prática pedagógica, de acordo com o FONAPER (2004), deve se configurar
através: de trabalho coletivo entre os professores; da relação entre teoria e prática
como eixo articulador no conjunto da produção do conhecimento, e de diversas
modalidades de práticas pedagógicas, sintonizadas de acordo com o
desenvolvimento do curso.
O FONAPER (2004) sugere três formas de trabalhar com a prática
pedagógica:
[...] a) Instrumento de integração e conhecimento do aluno com a realidade
social, econômica e do trabalho de sua área/curso - possibilitando a
interlocução com os referenciais tricos do currículo. Deve ser iniciada nos
primeiros anos do curso e acompanhada pela coordenação docente. Essa
modalidade de estágio deve permitir a participação do aluno em projetos
integrados, favorecendo a aproximação entre as ações propostas pelas
disciplinas/áreas/atividades;
b) Instrumento de iniciação à pesquisa e ao ensino - compreendida como
instrumento de iniciação à pesquisa e ao ensino, na forma de articulação
teoria-prática, considera que a formação profissional não se desvincula da
pesquisa. A reflexão sobre a realidade observada gera problematizações e
projetos de pesquisa, entendidos como formas de iniciação à pesquisa
educacional.
c) Instrumento de iniciação profissional - destinada à iniciação profissional,
deve ocorrer junto às escolas e unidades educacionais, nas atividades de
observação, regência ou participação em projetos, como um saber
fazerque busca orientar-se por teorias pedagógicas para responder às
demandas, colocadas pela prática pedagogia. Estarão presentes, desde os
primeiros anos do curso, configurando a prática pedagógica necessária ao
exercício profissional (FONAPER, 2004, p. 27).
A referida entidade, visando colaborar para o ensino da disciplina, fez
sugestões de algumas atividades de trabalho para serem utilizadas:
[...] práticas curriculares em Ensino Religioso; pesquisas sobre o fenômeno
religioso; elaboração de artigos afins; estudos comparativos sobre as
Tradições Religiosas de matriz ocidental, oriental, indígena e africana;
construção desofts educacionais em Ensino Religioso; construção de
materiais para educação à distância; elaboração de currículos para o Ensino
169
Religioso; construção de instrumentos favoráveis à interdisciplinaridade,
adaptação à realidade e criatividade que possibilitem a concretização do
Ensino Religioso como área de conhecimento no conjunto das demais áreas
curriculares (FONAPER, 2004, p. 28).
Quanto ao Curso de Licenciatura, o FONAPER recomenda que ele considere
o ensino, a pesquisa e o trabalho interdisciplinar como fundamentais para os
sujeitos, envolvidos na prática pedagica, no estágio supervisionado e nos estudos
independentes.
A pesquisa deve permear todo o processo de formação de professores, pois
segundo Nagamine,
[...] é essencial para manter a qualidade do ensino em si e para o avanço do
próprio processo. A pesquisa de caráter pedagógico desenvolvida com e
pelos alunos é essencial para introduzi-los na atividade de construção do
conhecimento, única forma de tor-los sujeitos de seu próprio processo de
aprendizagem, portanto, da sua educação continuada (NAGAMINE, 2006,
p. 88).
A importância do trabalho interdisciplinar é ressaltada pelo FONAPER. Assim,
um ensino baseado na interdisciplinaridade, segundo Santomé,
[...] tem um grande poder estruturador, pois os conceitos, contextos tricos,
procedimentos, etc., enfrentados pelos alunos, encontram-se organizados
em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e
metodológicas, compartilhadas por várias disciplinas. Além disso, depois
fica mais fácil realizar transferências das aprendizagens assim adquiridas
para outros contextos disciplinares mais tradicionais. Alunos e alunas com
uma educação mais interdisciplinar estão mais capacitados para enfrentar
problemas que transcendem os limites de uma disciplina concreta e para
detectar, analisar e solucionar problemas novos. A motivação para aprender
é muito grande, pois qualquer situação ou problema que preocupar ou
interessar os estudantes poderá transformar-se em objeto de estudo
(SANTOMÉ, 1998, p.74).
A perspectiva de um trabalho interdisciplinar pode tanto proporcionar a
melhoria da formação do professor, quanto superar a dicotomia, existente entre
ensino e pesquisa. Contudo, Santomé (1998) alerta para alguns problemas que
podem ocorrer na interdisciplinaridade, sobretudo quando o aluno só entra em
contato com sínteses de conhecimentos, apresentados de maneira mecânica e
rotineira e quando o problema se reduz à dificuldade de respeitar certas hierarquias
conceituais e procedimentos, que possibilitariam uma melhor progressão no âmbito
do conhecimento. Para isso, é necessário que os professores, com os aportes de
170
outros especialistas nas disciplinas em interlocução, detectem quais são as
hierarquias imprescindíveis, para poder planejar seqüências de unidades diticas,
que ajudem os alunos a construírem seus conhecimentos.
No que tange à Metodologia do Trabalho Cienfico, Projetos de Pesquisa e
Estágio Supervisionado, considera-se que deveriam ser ministrados ao longo do
curso, para promover um ensino de melhor qualidade, segundo Lima & Reali,
[...] o desenvolvimento profissional de professores não é um estado de
maestria que se adquire por intermédio de ações formativas pontuais, mas
que se trata de um estado nunca acabado, em reconstrução connua.
[...] A prática docente, por sua vez, é tamm importante fonte de
aprendizagem, na medida em que gera, integra, revisa, rejeita ou convalida
diversos tipos de saberes. A prática docente profissional é, então, ao lado
de toda a experiência pessoal dos professores, contexto privilegiado de
aprendizagem, na medida em que estes são levados a enfrentar e lidar com
situações multifacetadas e sempre dimicas da escola e da sala de aula
(LIMA & REALI, 2002, p. 221).
Para Fávero (2004), visualizar a formação profissional como processo,
significa aceitar que não existe separação entre formação pessoal e profissional, que
não formação fora de qualquer relação com os outros, mas dentro da relação
com a realidade concreta. Além disso, é preciso garantir a unidade entre teoria-
prática e assegurar que o estágio seja contextualizado, levando em conta não só a
realidade mais ampla, como, também, o cotidiano da sala de aula.
Esses aspectos explicitados acima, requerem que o currículo seja, segundo
Moraes,
[...] rico em diálogos, em significados, em possibilidades de interpretação. É
um currículo inter-relacionado, gerado nos processos de reflexão e
transformação que ocorrem no ato de aprender. É, portanto, um currículo
indeterminado, cujos limites levam em conta o concreto da relação que
estabelece entre os participantes do processo e o meio onde está inserido
(MORAES, 2004, p. 148).
O FONAPER (2004), no que se refere ao Trabalho de Conclusão do Curso,
chama a atenção para a necessidade de se estabelecer atividades de orientação,
acompanhamento e avaliação, necessários à sua concretização. Além disso, sugere
que esse trabalho decorra de experiências, propiciadas pelas próprias práticas
pedagógicas ou por temáticas que atendam ao interesse do aluno, sobretudo
171
através de estudos independentes
53
.
Os Estudos Independentes se constituem, segundo Nagamine, como:
[...] um dos recursos ditico-pedagógicos mais importantes na flexibilização
curricular para o desenvolvimento de competências e habilidades do aluno.
Mas para isso, não podem ser aleatórios, nem de livre escolha do aluno,
sem nenhum critério. São componentes curriculares, e sua natureza, formas
de acompanhamento e avaliação, bem como sua integração aos demais
componentes curriculares, devem estar definidas nos projetos pedagógicos
dos cursos (NAGAMINE, 2006, p. 86).
Segundo a Proposta do Curso, os alunos deverão elaborar: um Relatório Final
do Estágio Supervisionado, devendo analisar as atividades desenvolvidas; a
produção de trabalho acadêmico e sua apresentação no Semirio de Integração.
Assim, o FONAPER, ao sugerir as diretrizes, os pressupostos, as
concepções, os valores, as visões de mundo e de homem, está evidenciando sua
concepção de formação dos professores. Essa formação deve ser feita, a partir de
uma perspectiva epistemológica e política mais crítica, flexível, aberta ao pluralismo
cultural e religioso e direcionada para uma formação, centrada nas Ciências da
Religião.
A formação de professores para o Ensino Religioso traz à tona a necessidade
de se discutir as diferenças conceituais entre Teologia e Ciências da Religião. Para
Meneghetti (2003), o campo da teologia vincula-se ao âmbito das
confessionalidades. Seu papel é o de dar normas para a experiência simlica que
se origina das experiências de fé. As Ciências da Religião fundamentam-se na
concepção de que a religiosidade é mais uma forma, entre tantas outras, de explicar
o sentido da existência humana. Seu objeto de estudo centra-se na análise dos
elementos comuns e específicos às diversas religiões, isto é, relaciona-se com o
fenômeno religioso em si e em suas múltiplas expressões. Trata-se de uma ciência
construída, em seus princípios e métodos, no seio da tradição das ciências
modernas.
Embora a LDB vigente (Lei 9394/96) defina que a formação de professores
deveria ser feita em nível superior, constata-se a carência de Cursos de Habilitação
53
O FONAPER (2004) sugeriu as seguintes atividades para os Estudos Independentes: monitorias e
estágios, programas de iniciação científica e extensão universitária; estudos complementares; cursos
e projetos realizados em áreas afins; participação em eventos científicos no campo das ciências
humanas, entre outros. Para tais, as IES devem definir critérios de avaliação para o aproveitamento
desses estudos efetuados pelo estudante.
172
em Ensino Religioso, em termos de licenciatura de graduação plena. É bom ressaltar
que esses cursos já estão sendo ofertados, em muitos Estados da Federação. De
acordo com Figueiredo,
[...] os que encontram solução interna, tanto para a formação de
Professores em Cursos de Licenciatura Plena, como Habilitação em Ensino
Religioso, como para concursos públicos. Em Santa Catarina, esses Cursos
estão incluídos em Projetos específicos do sistema, como o Projeto
Magister. O sistema tem promovido concurso público para os concluintes
dos referidos Cursos, com o respaldo da própria legislação estadual. Da
mesma forma, a Universidade Estadual do Pará tem oferecido Cursos de
Licenciatura Plena para a formação de Professores de Ensino Religioso. Em
Belo Horizonte, a PUC-MG adota o sistema de Cursos de Pedagogia com
ênfase em Ensino Religioso para a formação de Professores para o Quadro
do Magistério de Educação Básica. Outros cursos tiveram uma primeira
experiência nesse sentido e aguardam um momento propício para
continuarem as suas atividades, enquanto é notado, também o esfoo de
setores interessados em algumas regiões, em encontrar solução adequada
para esta necessidade. Em meio a tal esfoo, os que não entendem o
espírito da Lei e buscam alternativas em iniciativas inadequadas para a
formação de professores e cursos oferecidos, ou de seus programas que
pouco têm a ver com a formação específica na disciplina de sua atuação
(FIGUEIREDO, 2006, p. 56).
Em diferentes partes do País, têm sido elaboradas propostas tanto de
formação continuada, quanto de licenciaturas de graduação plena, formuladas de
acordo com a legislação em vigor. Os Cursos de Licenciatura em Ensino Religioso e
de Ciências da Religião, segundo Oliveira et al.
têm uma grande contribuição a dar no sentido de formar profissionais para
essa área de conhecimento, uma vez que analisam e pesquisam o campo
religioso dentro da complexidade, a partir de um olhar e de abordagens de
cunho inter e transdisciplinar (OLIVEIRA, et al, 2006, p. 93).
Os pesquisadores do Grupo de Pesquisa Educação e Religião (GPER)
elaboraram uma relação de Cursos de Formação de professores para o Ensino
Religioso, mas alertam que nem todos os cursos citados estão em sintonia com os
Parâmetros do MEC e recomendam que as pessoas interessadas em cursá-los se
informem sobre sua validade (ANEXO B).
Esses pesquisadores constataram, no levantamento de dados feitos sobre os
cursos existentes, que:
[...] em grande mero dos cursos pesquisados a preocupação era o estudo
do fenômeno religioso, porém sem abordar os processos metodológicos
173
para a formação de professores de Ensino Religioso. Basicamente, a oferta
de cursos de formação acontece, em sua maioria, na pós-graduação lato
sensu e extensão. Já os cursos livres e de menor carga horária apresentam
um foco específico na formação continuada desse profissional. Observamos
que, para atender às legislações vigentes, tornou-se necessário ampliar a
carga horária e a densidade das disciplinas (OLIVEIRA, et al., 2006, p 101).
Pelo exposto, percebe-se que o FONAPER tem lutado, desde 1996, para a
formação dos professores e o reconhecimento do Ensino Religioso tanto no seu
aspecto legal, quanto na sua identidade. Em vista disso, vem organizando Sessões
de Estudos, Semirios de Capacitação Docente, Congressos e Cursos, para
discutir essas e outras questões que afetam a disciplina.
Deve-se enfatizar que a Primeira Sessão de Estudo, ocorrida nos dias 24 a
26/03/1996, em Brasília, teve em vista as seguintes finalidades: filiação/adesão e
estudo sobre o currículo Básico do Ensino Religioso. Nesse evento, reiterou-se tanto
a importância do Ensino Religioso como disciplina curricular e não como um tema
transversal, quanto a necessidade da elaboração de um texto preliminar sobre os
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Nas Sessões seguintes, até 2006, o foco de discussão esteve centrado nos
seguintes temas: Parâmetros Curriculares de Ensino Religioso, o currículo,
capacitação de professores de Ensino Religioso, Políticas para o Ensino Religioso
nas Legislações; medidas para alterar o texto substitutivo do Art. 33 da LDB
9394/96; discussões sobre os fundamentos epistemológicos do Ensino Religioso; o
Ensino Religioso nos Sistemas de Ensino; identidade civil do Ensino Religioso;
Competências para o Ensino Religioso como área de conhecimento; Workshops
sobre a qualificação dos professores e as instituições de Ensino Superior;
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso e os currículos; estruturação
para funcionamento do Ensino Religioso local; o tratamento ditico do Ensino
Religioso, conforme a política dos PCNs; Ensino Religioso na formação de
profissionais para o Curso Normal, na Educação Infantil
54
.
Os Congressos, coordenados pelo FONAPER, ocorridos em 2000 e 2002,
privilegiaram os seguintes temas: Professor de Ensino Religioso aprendendo: a ver,
a saber, a fazer e a ser; Manifestações Religiosas no mundo contemporâneo:
interfaces com a Educação; Identidade Pedagógica do Ensino Religioso.
54
Mais informações sobre as Sessões consultar FONAPER.
174
De 1997 a 2006 foram realizados nove Semirios, objetivando a capacitação
profissional para o Ensino Religioso, visando à reflexão sobre as seguintes
temáticas: Formação do Profissional de Ensino Religioso; Ensino Religioso na LDB:
história e encaminhamentos; Ensino Religioso nos Sistemas de Ensino (Estaduais e
Municipais); Processo de Habilitação dos Professores de Ensino Religioso; Política
dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso; Política de Organização
do Ensino Religioso no Brasil; Áreas Temáticas de Capacitação de Professores:
culturas e tradições religiosas; Políticas de Formação Docente para o Ensino
Religioso na Realidade Brasileira; O Ensino Religioso: uma área de conhecimento
para a formação do cidadão; O diálogo entre o Ensino Religioso e as Ciências da
Religião.
Outra iniciativa do FONAPER, ocorrida em 2000, objetivando agilizar a
formação de docentes para essa disciplina, foi a criação do Curso de Extensão à
Distância, de 120 horas, denominado: Ensino Religioso, Capacitação para um Novo
Milênio”
55
. O primeiro curso ocorreu, em parceria com a Rede Vida, e o segundo
curso, com a Televisão Educativa (TVE) do Paraná. Desde agosto de 2005, de
acordo com Caron (2005, p. 109), a Universidade Católica de Brasília (UCB), está
desenvolvendo um Curso de Educação, à distância, em interação e cooperação,
denominado Especialização em Ensino Religioso”, organizado pelo Projeto da
Católica Virtual, da Universidade de Brasília/DF. Este foi o primeiro curso da área,
no Brasil, em nível de Pós-graduação lato sensu, reconhecido pelo Ministério da
Educação. Os egressos a esses cursos devem ter sido capacitados na leitura crítica
e interativa do fenômeno religioso, numa visão pluralista, sem proselitismo e
comprometida com os princípios éticos da paz e da justiça que fundamentam a
cidadania (CARON, 2005).
Em 2000 e 2001, foram publicados dois Cadernos Temáticos do FONAPER
com a finalidade de dar continuidade à formação de professores. De acordo com
Siqueira (2003), citando o FONAPER (2000):
55
Os temas abordados nos módulos foram: Ensino Religioso é disciplina integrante da formação
sica do cidadão; Ensino Religioso na diversidade cultural-religiosa do Brasil; Ensino Religioso e o
conhecimento religioso; o fenômeno religioso no Ensino Religioso; Ensino Religioso e o fenômeno
religioso nas tradições religiosas de matriz indígena; O fenômeno religioso nas tradições religiosas de
matriz oriental; Ensino Religioso e o Ethos na vida cidadã; Ensino Religioso e os seus Parâmetros
Curriculares Nacionais; O Ensino Religioso na proposta pedagógica da escola; O Ensino Religioso no
cotidiano da sala de aula.
175
[...] o primeiro deles, intitulado Ensino Religioso: referencial curricular para a
proposta pedagógica da escola, apresenta o propósito de apoiar e de
incentivar a capacitação dos profissionais da educação para ser uma
oportunidade de construção coletiva do Ensino Religioso, na Proposta
Pedagógica da Escola, e para o aprofundamento individual de cada
educando, nesta área do conhecimento.
A segunda publicação é intitulada Ensino Religioso: Culturas e Tradições
Religiosas, ressaltando, na apresentação, que as Culturas e Tradições
Religiosas constituem-se no cleo central em torno do qual os PCNER
estabelecem o desafio da construção de um currículo que responda às
exigências legais para o Ensino Religioso: área do conhecimento
fundamentada no respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil,
marcadas pelas Tradições Religiosas de matriz afro, indígena, ocidental
(SIQUEIRA, 2003, p. 74-75).
Pelo exposto, constata-se que foram realizadas várias iniciativas para
viabilizar a formação de professores para o Ensino Religioso, mas falta uma política
nacional mais consistente, capaz de assegurar os elementos indispensáveis para a
oferta, a autorização e o reconhecimento dos cursos de Graduação, na área em
pauta, e, tamm, garantir um processo de profissionalização dos docentes de
Ensino Religioso.
176
4 A PESQUISA REALIZADA: DADOS COLETADOS
Os dados coletados numa escola estadual, aqui denominada de Escola
Estadual Marlielle, se referem: à análise de documentos, relativos à escola; às
entrevistas com 16 professores, docentes da instituição, responsáveis pelo
magistério de disciplinas das diferentes áreas do conhecimento; às entrevistas feitas
com dois profissionais do setor administrativo e às entrevistas realizadas com dois
docentes, de Ensino Religioso, da escola.
4.1 O Rosto da Instituição Pesquisada
A escola investigada, situada no município de Belo Horizonte, possui uma
longa tradição, como instituição blica de ensino, tendo marcado o cenário sócio-
educacional mineiro, desde sua criação, ocorrida nove décadas, nas nove
cadas. Neste longo tempo, vem se dedicando ao ensino dos anos iniciais do
Ensino Fundamental
56
e, a partir de 1995, passou a contemplar, tamm, as séries
finais deste nível de ensino.
A história dessa instituição centenária iniciou-se em 30 de outubro de 1906,
constituindo-se como Primeiro Grupo Escolar”, de Minas Gerais, sendo responsável
pela sua criação, o professor Artur Joviano, fundador e diretor do Instituto de
Educação, antiga Escola Normal do Estado, que tinha como auxiliar Francisco
Numar Mota, então chefe de seção da Secretaria do Interior. Suas portas foram
abertas para 160 alunos, distribuídos em cinco classes de 1º, 2º e 3º anos para
atender, sobretudo, à demanda dos filhos de funciorios públicos, então chegados
de Vila Rica para ocupar cargos/funções no Palácio da Liberdade e nas Secretarias
Estaduais que se situavam nas imediações da recém-criada instituição, lócus desta
56
É oportuno esclarecer que se está lançando mão da terminologia atual, segundo os documentos
normativos, emitidos após a vigência da Lei 9394/96.
177
investigação.
Mas, somente no dia 01 de fevereiro de 1907, a partir do Decreto de n. 1960,
de 24 de janeiro de 1907, que esse Primeiro Grupo Escolar
57
foi instalado de fato,
reiniciando suas atividades no dia 14 de fevereiro de 1907, na casa cedida pelo,
então, Secretário do Interior, João Carvalho de Brito, local onde funciona,
atualmente, a Escola Estadual Afonso Pena. Nessa época, esse grupo era dirigido
pela professora Helena Pena.
Em 1912, através da Portaria de 08/03/1912, a instituição em apreço passou
a denominar-se Grupo Escolar Marlielle”
58
. Nessa época, esse Grupo Escolar
contava com cerca de 728 alunos e funcionava em dois turnos. Em 1974, devido ao
Decreto de n. 16244 do Governo do Estado, o Grupo Escolar passou a ser
denominado de Escola Estadual Marlielle.
O seu prédio foi construído em 1913, no Governo de Júlio Bueno Brandão e
instalado oficialmente, no dia 15 de junho de 1914, sendo que, arquitetonicamente,
tem a forma triangular e a frente está voltada para o nordeste.
Em 1995, através da Resolução n. 7611, da Secretaria de Educação
Estadual, a escola ampliou suas atividades, promovendo a extensão de séries,
passando, então, a contemplar o ensino fundamental integralmente, isto é, iniciando
a expansão, com a oferta de mais seis turmas de 5ª série, passando a totalizar 1300
alunos. Nessa época, a escola realizou uma reforma, que, em síntese, recoms o
telhado, construiu mais duas salas de aula e realizou a pintura da fachada externa e
do interior da instituição. Além disso, salas anexas se transformaram em laboratórios
de Ciências e de Informática. Em 1998, foi implementado o turno noturno, tendo em
vista o desenvolvimento do projeto A caminho da cidadania, que teve a duração de
quatro anos.
57
Os Grupos Escolares, em Minas Gerais foram instituídos em 1906, a partir da Reforma João
Pinheiro, e substituíram as chamadas Escolas Reunidas, nas quais os professores lecionavam para
alunos, num mesmo ambiente, estando esses sujeitos, em estágios diferentes de conhecimento.
Nessas instituições, o professor tinha grande autonomia e o seu trabalho ocorria, tendo em vista a
sensibilidade, a experiência e a capacidade docente. Devido a ocorrência nesta época, dos
processos de industrialização e de consolidação do capitalismo, se demandava uma formação de
trabalhadores com níveis de maior escolaridade, apregoando-se a necessidade de criação dos
grupos escolares, que deveriam funcionar à semelhança da forma industrial de conceber e organizar
o trabalho. (ARANHA, 2005, p.83)
58
Esclarece-se, tendo em vista princípios éticos, tanto a instituição, quanto os docentes entrevistados
não foram identificados.
178
Em 1999, a mencionada escola encontrava-se em estado lastimável,
sobretudo apresentando problemas na parte elétrica, no setor hidráulico e nos
telhados. As paredes se encontravam sujas, pichadas e o mobiliário escolar era
insuficiente, ocorrendo dificuldades de reposição, pois carteiras e mesas
estragadas/depredadas ficavam entulhadas, no tio. O estado precário em que se
encontrava a escola, é comentado por uma ex-aluna da escola:interfere na auto-
estima dos alunos, fere a imagem de um bairro nobre da cidade, dificultando a nossa
luta pelo respeito à coisa pública (MARINA, 2002, p. s.d.).
Na referida época, o conceito da instituição se encontrava abalado,
principalmente, devido: ao uso de drogas pelos alunos; à violência; ao desrespeito
para com os professores e ao alto índice de gravidez (1,5% ao ano), no âmbito de
alunas adolescentes. Essa situação exigia, de acordo com a diretora, que fossem
tomadas medidas que melhorassem a situação geral da escola, no seu aspecto
sico, que ajudassem as crianças e adolescentes a se constituírem como pessoas e
que essas gostassem da escola. Para minimizar a questão da gravidez precoce e do
problema vício, as professoras desenvolveram trabalhos de conscientização dos
adolescentes sobre sexualidade e uso de drogas (ENTREVISTA 2006).
Uma outra iniciativa importante foi a parceria, estabelecida com o jornal
Estado de Minas, que objetivava travar uma batalha para a recuperação da
instituição quase centenária, através da veiculação de artigos, escritos por ex-
alunos/as, que convidavam e sensibilizavam seus antigos colegas e as autoridades
a se engajarem no processo de restauração da Escola Estadual Marlielle.
Além da restauração do aspecto físico e da infra-estrutura, era necessário
reavivar o ensino, através da adoção de uma nova concepção de educação. Nesta
perspectiva, em 2002, passou-se a priorizar os princípios democráticos da Escola
Sagarana
59
que, entre outras propostas: optou pelo sistema de Ciclos na sua
organização do tempo escolar; ampliou e valorizou o fazer pedagógico,
59
A Escola Sagarana se constituiu como o modelo de educação a ser seguido pelas escolas
estaduais de Minas Gerais, durante o Governo de Itamar Franco. Essa concepção se norteava por
uma postura sócio-histórica, voltada para a formação do cidadão, através da oferta de um ensino de
qualidade. O Projeto Veredas, proposta de formação de professores, que contemplava tanto a
formação inicial, quanto a em serviço, reconhecida em nível nacional, integrava a denominada Escola
Sagarana. Entretanto, com a mudança do Governo e o início da Gestão de Aécio Neves, o Veredas
foi extinto, mostrando, mais uma vez a ocorrência da política do Zig/Zag (CUNHA, 1998) pela qual,
predominam, no País, políticas de Governo e não de Estado. Ressalta-se, entretando, que no início
de 2007, o Projeto Veredas, voltou a ser ofertado, mas, até então, de um modo mais restrito, se
limitando a instância da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
179
consubstanciado no trabalho docente; captou recursos para a criação da Rádio-
Escola; criou a Sala de Apoio Pedagógico para orientação dos professores e
implementou a Mostra Literária, como forma de valorizar a leitura do livro, da
linguagem poética, da arte e da palavra. Tendo em vista que a escola pode
representar, para muitos alunos, a única oportunidade de ler e conhecer os diversos
tipos de texto, a criação de um espaço para valorizar a literatura como forma de
lazer, de crescimento cultural e de apropriação cultural se fazia um imperativo. O
encontro com autores, exposições dos trabalhos, a feira de livros, as atividades
performáticas (como peças teatrais), a apresentação de poesias e as horas do
Conto, ganharam significado novo com a participação das famílias, no fechamento
da Mostra (MARLIELLEinforma, 2002).
No ano de 2000, a Escola, representando as escolas blicas, foi agraciada
com a medalha Gustavo Capanema, oferecida pelo Governo mineiro. Essa
condecoração’ aconteceu quando a secretaria fez setenta anos. O
governador quis homenagear uma série de pessoas que tinham se
destacado na educação, nesses setenta anos, e foi concedida uma medalha
à Escola Marlielle por ser a primeira escola Estadual, a ser criada em Minas
Gerais. (ENTREVISTA, Diretora, 2006).
O já referido Projeto Rádio Escola foi implantado, em 2001, com o objetivo de
melhorar a aprendizagem dos alunos, em Língua Portuguesa, basicamente, em
leitura oral, escrita e entendimento do texto, além de auxiliar na compreensão e no
desempenho das demais disciplinas do currículo. Outros objetivos fizeram parte
desse projeto tais como: mostrar aos alunos a importância da comunicação séria e
bem feita, formar cidadãos críticos em relação aos meios de comunicação e
constituir um espaço agradável para os alunos usufruírem durante o intervalo. Para
esse objetivo, foi definido o espaço da sede da rádio, sendo que as paredes da sala
foram revestidas com caixas de ovos, uma maneira criativa para melhorar a
acústica. A partir daí, os alunos passaram a construir textos e a buscar nocias, para
serem divulgados pela Rádio Alternativa.
A Escola Estadual Marlielle foi, segundo uma das fundadoras desse projeto,
a primeira escola pública em Belo Horizonte a ter a Rádio Escola. Ela foi
muito usada, muito curtida pelos adolescentes, porque a iia era essa
mesmo, era fazer um projeto que desse para o adolescente a condição dele
trabalhar, gostar e fazer aquilo de que ele estava gostando. Então, na
180
verdade, eu acho que a rádio cumpriu esse objetivo (ENTREVISTA,
Diretora, 2006)
Esse empreendimento radiofônico projetou a escola no meio educacional. A
Rádio Escola obteve o 1º lugar no Concurso de Inovações Pedagógicas, promovido
pelo SESC, na categoria: Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries, sendo a única
Escola Pública a ser destacada, por ter tido uma iniciativa inovadora, que obteve
resultados excelentes, tanto de participação dos alunos quanto de assimilação dos
temas, abordados ao microfone. Além disso, esse projeto conferiu à instituição de
ensino, um perfil mais alegre e uma melhoria nas relações interpessoais
(MARLIELLEinforma, 2002).
Para Scheimberg, o rádio se constitui como um recurso,
[...] rico em sugestão. A capacidade de criar imagens, estabelecer laços
afetivos e suscitar uma cálida sensação de intimidade com o ouvinte que
recebe a mensagem em sua solidão facilita a adesão, a identificação afetiva
mais que intelectual.
[...] O trabalho em programas de rádio permite integrar áreas que de outro
modo se encontram separadas. É muito estimulante para o desenvolvimento
da criatividade, o trabalho em grupo, a expressão oral e escrita e de várias
capacidades e habilidades; em suma, de uma experiência educativa
intensa. Estes projetos despertam interesse e compromisso; a pessoa
participa ativamente e põe em jogo as suas capacidades e habilidade.
Propiciam o crescimento integral do participante no cognitivo, estético,
social, afetivo e ético (SCHEIMBERG, 1997, p. 50-52).
O Laboratório de Informática, até então inativo, passou a ser utilizado no ano
de 2000, através do estabelecimento de convênios com a Belgo Mineira Sistemas
S/A e do apoio da Secretaria de Estado da Educação. Foram capacitados alguns
professores em informática educativa e esses se transformaram em multiplicadores
dessa tecnologia, facilitando, assim, o acesso dos alunos a essa importante
ferramenta de pesquisa e de trabalho. Deve-se explicitar que esse fato reafirma a
pesquisa, coordenada por Oliveira (2001), na qual se conclui que o Programa
Nacional de Informática na Educação (PROINFO) não alcançou/vem alcançando os
objetivos aos quais se propunha.
No intuito de assegurar o adentramento mais intenso no mundo digital e
comunicacional, a escola participou do 1º Fórum de Informática Aplicada à
Educação, sendo representada por uma professora e um aluno, do 1º ano do Ciclo
Avançado. A escola participou, também, do 1º Encontro Inclusão Digital na Escola
181
Pública, apresentando um Projeto de Geografia. Outras iniciativas nesta área foram
a elaboração do Site da Escola, feito com a colaboração dos alunos, e a criação do
jornal Marlielle Informa, coordenado por uma professora, que conta com a
colaboração efetiva dos alunos. Além disso, integrou o Projeto Eleitor do Futuro, de
iniciativa do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TREMG), no qual
participaram 130 alunos, coordenados pelas professoras de História.
Ressaltam-se a importância da inclusão da escola na denominada sociedade
de informação e as possibilidades que ela pode trazer para a área da pesquisa, do
meio ambiente, da cultura e da educação. O jornal, veiculado pela instituição,
enfatizava, como consta da citação a seguir, a importância da Informática e da Rádio
Alternativa:
[...] Acreditamos poder contribuir para a formação do sujeito que queremos -
um sujeito máximo, que pense muito, analise o tempo todo, reivindique seus
direitos e tenha consciência de seus deveres e, que, nesse exercício,
aprenda a se organizar para concretizar seus sonhos e projetos. O que
queremos é que nossos alunos participem, com espaços para desenvolver
atividades criativas, cerebrais, e não sejam repetidores e receptores
passivos. Trabalhamos para que nossos alunos sejam críticos em relação
aos meios de comunicação e que, entre as ações de ouvintes e leitores, se
destaquem como divulgadores de fatos e formuladores de textos, chegando
a formadores de opinião, capazes de desenvolver a cidadania e a
democracia ativa. Acreditamos que, assim, a Escola esteja contribuindo
para que uma nova sociedade se desenhe, mais justa e, principalmente,
mais humana (MARLIELLEinforma, 2002, p. 2).
A informática, no campo educacional, vem sendo objeto de reflexões, debates
e posições diferenciadas. Alguns tricos se posicionam como apologetas,
laudatários das tecnologias, visualizando-as como capazes de resolver todos os
problemas educacionais. Outros, mais sensatos, consideram as tecnologias como
criações humanas, historicamente produzidas, que não são boas, nem más, pois
dependem do uso que delas se faça. Nesta perspectiva, consideram que no âmbito
educacional, elas se constituem como valiosas ferramentas para a ampliação do
processo ensino aprendizagem.
Segundo Oliveira:
[...] Na escola, o uso da informática exige, em especial, um esfoo
constante dos educadores para transformar a simples utilização do
computador, numa abordagem educacional que favoreça efetivamente o
processo de conhecimento do aluno. Dessa forma, a sua interação com os
objetos de aprendizagem, o desenvolvimento de seu pensamento hipotético
182
- dedutivo, da sua capacidade de interpretação e análise da realidade,
tornam-se privilegiados e a imergência de novas estratégias cognitivas do
sujeito é viabilizada. (OLIVEIRA, et al. 2001, p. 38).
Pelo que foi observado, acredita-se que a Escola Marlielle vem assumindo o
papel tanto de transmissora da cultura, quanto de formadora de alunos reflexivos,
com capacidade de buscar informações, de fazer leituras críticas da realidade. Além
disso, vem oportunizando aos alunos aproximarem-se dos conteúdos de forma
diversificada e criativa, com o propósito de estimular e facilitar a apreensão, tanto da
cultura historicamente acumulada, quanto do domínio das tecnologias informacionais
e comunicacionais.
Cabe ressaltar que o adentramento das novas tecnologias na educação
deveria ser considerado como parte de uma estratégia global de política educativa,
nos âmbitos dos Governos Federal, Estadual e do espaço escolar, objetivando:
incorporar ritmos e metodologias mais adequados às necessidades educativas
atuais; aumentar a motivação dos alunos, melhorar suas capacidades de
pensamento lógico; desenvolver suas faculdades de aprendizagem autônoma e de
criatividade. Nesta perspectiva,espera-se que as Novas Tecnologias da Informação
e da Comunicação sirvam para incrementar a eficiência da gestão escolar e para
aumentar a potência e intensidade dos processos de ensino e aprendizagem.
(BRUNNER, 2004, p. 56).
No ano de 2001, em decorrência de seu espírito comprometido com a
melhoria do ensino, a Escola Estadual Marlielle revitalizou a Associação de Pais e
Mestres e Amigos da Escola, como espaço de participação democrática, aberta aos
seguimentos escolares e da comunidade. Nesse período, também, foi implantado o
Laboratório de Ciência, visando ao mesmo objetivo explicitado.
Em 2002, a Escola, envolvendo a participação de ex-alunos e da comunidade
em geral, começou a fazer o resgate da história da instituição em apreço e a
restauração do prédio que a abriga. Além disso, segundo informações recebidas, a
melhoria da qualidade de ensino foi fortalecida com a parceria, estabelecida entre
Escola e a Fundação de Desenvolvimento Gerencial.
A Fundação de Desenvolvimento Gerencial (FDG) nasceu dos propósitos dos
professores José Martins de Godoy e Vicente Falconi Campos que, em 1998,
vislumbraram a constituição de uma entidade, capaz de difundir as melhores
183
técnicas e metodologias gerenciais disponibilizadas, através da extinta Fundação
Christiano Otonni (FCO). Devidamente respaldada no inciso I do artigo 5º de seu
Estatuto Social, em vigor, e em conformidade com o Novo Código Civil Brasileiro (lei
10.8333/2002), a FDG começou a conduzir projetos eminentemente assistenciais,
sem nenhuma contraprestação. Segundo dados coletados, ela é uma instituição de
direito privado, sem fins lucrativos, auto-sustentável, destinada ao desenvolvimento
e difusão de técnicas e métodos de gerenciamentos, voltados à obtenção de bons
resultados nas organizações humanas. Essa parceria com as escolas se estabelece,
através:
[...] da aplicação de método e técnicas de gestão moderna adaptados à
área educacional. O projeto, que tem o foco na melhoria dos resultados na
área pedagógica, se desenvolve a partir de ações voltadas para a estrutura
sica (limpeza e organização), além de priorizar, também, o melhor
relacionamento entre as pessoas. Paralelamente ao investimento no
ambiente da qualidade, a comunidade escolar é orientada para o
estabelecimento de metas na área pedagógica, elaboração de planos de
ação, implementação das ações, verificação dos resultados, correção e/ou
padronização das ações implementadas. O Método de Gestão utilizado pelo
FDG é o PDCA, sigla cujas iniciais significam: Plan, Do, Check, Action, ou
seja, Planejar, Fazer, Controlar e Agir.(MARLIELLEinforma, 2004, p. 2).
O objetivo principal da Fundação de Desenvolvimento Gerencial, na Escola
Marlielle, é o de melhorar o processo de ensino aprendizagem, através de
indicadores de aprovação, reprovação, abandono e aprovações em concursos e de
melhorar o ambiente através do Programa 5S - utilização, ordenação, limpeza,
saúde, autodisciplina
60
.
Para o desenvolvimento do Programa 5S, escolhe-se um/a monitor/a por
turma para ser o porta-voz, alguém que se preocupa em ajudar a turma a se engajar
no programa. O Controle da Qualidade Total, sobretudo, quando transladado para a
educação tem sido muito criticado. Trata-se de uma estratégia, aplicada no chão da
fábrica ,que foi/vem sendo transferida para o chão da escola.
Oliveira no seu livro, Escola ou Empresa? (1998), explicita pesquisa
realizada em uma escola estadual, que se constituía como a menina dos olhos da
60
Originalmente, o Programa dos 5S é decorrente do Modelo Japonês e significa: seisohi (senso de
limpeza), seiktsu (senso de higiene), skitsu (senso de autodisciplina) e seiril (senso de ordenação).
Esse programa é uma das estratégias do controle da Qualidade Total (CQT) que em Minas Gerais foi
concepção privilegiada pelo Governo Azeredo, nas duas gestões na Secretaria da Educação, liderada
pelos irmãos Mares Guia.
184
mencionada Fundação Christiano Otonni, por ter obtido grande êxito, na
implementação da Qualidade Total. Em síntese, os dados coletados pela pesquisa,
assim se expressaram: resultados escolares forjados com uso de estratégias uasc
185
área de suporte, da cantina e da sala de espera para o serviço pedagógico. Foram
feitas, também, a ampliação na sala dos professores, a construção do banheiro para
a direção, a restauração da quadra de futebol que passou a ter arquibancadas, as
reformas da lanchonete e dos porões que se transformaram em arquivo e sala de
livros diticos.
A formação continuada dos professores foi, em 2003, o alvo da Semana
Pedagógica, realizada no Libert Hotel. Essa formação objetivou motivar os docentes
para os desafios, inerentes ao seu trabalho. A semana começou com café da
manhã, música e poesia, a cargo do Grupo Voz e Poesia. Logo em seguida, a
psicóloga Maria Luzia Faria ministrou uma palestra cujo tema foi centrado na
motivação e na auto-estima. Outro momento da formação para os professores foi
realizado com Edna Bonsucesso e com a psicóloga Tânia Zaguri, autora de vários
livros, voltados para a educação e a disciplina.
Outra atividade, promovida pela escola, foi a Manhã Ecológica, ocorrida no
dia 11 de outubro de 2003, que contou com apresentações de vídeos, teatros e
oficinas, nas quais pais, professores e alunos puderam aprender um pouco de
tudo. Nesse evento, foram ofertadas aulas de rádio, dança do ventre, grafite, dança
de rua, jardinagem, horta, artesanato, dança de salão, pintura, modelagem, bijuteria,
cerâmica e artesanato feito com jornal. Nessa manhã, ocorreu a apresentação da
peça teatral, Dom Quixote Reciclado, que mostrou a importância da coleta seletiva
do lixo e do reaproveitamento de alguns materiais que podem ser reciclados de
modo criativo. Essa peça foi encenada pelos alunos do 1º ano, do Ciclo Básico. Em
decorrência dos trabalhos desenvolvidos, foi criado, na Escola, o Clube de Botânica,
sob a orientação de uma professora da área de Ciências. Os botânicos mirins
conseguiram produzir mudas de plantas ornamentais.
A Escola Estadual Marlielle conta com uma área total de 4544m2, dispondo
de 2.109m2 de área construída e 2435 de área livre. Possui 40 salas de aula; 1 sala
de professores; 2 salas de coordenação; 1 sala da diretora, 1 secretaria com 3
computadores ligados na Internet e 2 impressoras, 1 biblioteca com um acervo de
mais ou menos 6.000 livros; 1 laboratório de informática com 11 computadores, e 1
impressora, que se encontra ligado à Internet. Possui 6 banheiros, 1 cozinha com
refeitório, 2 quadras poliesportivas, 1 auditório, almoxarifado; entre outros espaços
do departamento.
186
A escola possui duzentos e quarenta e três alunos na 1ª fase do Ensino
Fundamental e um mil e trinta e três na 2ª fase do Ensino Fundamental. O corpo
docente da instituição é formado por quarenta e cinco professores que têm formação
em nível superior e por doze docentes que já possuem Cursos de Especialização.
O corpo administrativo é formado por: uma secretária e seis auxiliares de
secretaria, sendo dois com formação no magistério e cinco com graduação. No
serviço de limpeza, a escola conta com dezessete serviçais, sendo catorze
designados e três efetivos.
O Serviço pedagógico e de orientação educacional é realizado por quatro
profissionais que possuem curso de s-graduação.
A Escola Estadual Marlielle é administrada, segundo o Regimento Geral, pela
Diretoria: A diretoria da E.E. Marlielle será exercida por um diretor e vice-diretor,
auxiliados pelo Colegiado, conforme legislação em vigor, em consonância com as
necessidades do estabelecimento (ESCOLA Estadual Marilelle, 2006, p. 11).
De acordo com o Art. 27 do Regimento, a E.E. Marlielle ministra o Ensino
Fundamental, desenvolvido em nove anos, estruturado de acordo com as normas
vigentes. O Ensino Fundamental assim se organiza: cinco anos do Ciclo de
Alfabetização e quatro anos de seriação, assim distribuídos: Ciclo inicial de
alfabetização (fase introdutória, fase 1, fase 2); Ciclo complementar de alfabetização
(fase 3, fase 4); Regime seriado (5ª série, 6ª série, 7ª série, 8ª série) (ESCOLA
Estadual Marilelle, 2006).
O papel atribuído aos denominados especialistas, que pela LDB, em vigência,
passaram a se denominar
profissionais da educação (Supervisor Pedagógico ou Orientação
Educacional), é o de articular o trabalho pedagógico, coordenado e
integrado ao trabalho dos docentes, dos alunos e de seus familiares, em
torno de um eixo comum: os processos de ensino e de aprendizagem que
envolvem professores, alunos e famílias. É competência dos especialistas:
coordenar o planejamento e a implementação do Projeto Político
Pedagógico, tendo em vista as Diretrizes definidas no Plano de
Desenvolvimento da Escola; coordenar o programa de capacitação do
pessoal da Escola; realizar a orientação dos alunos, articulando o
envolvimento da família no processo educativo. (ESCOLA Estadual
Marilelle, 2006, p. 11).
187
4.2 Organização e Funcionamento Administrativo-pedagógico da Escola
Marlielle
Para possibilitar uma maior estruturação metodológico-ditica, este item foi
dividido nos seguintes itens/categorias: acompanhamento pedagógico; Projeto
Político Pedagógico da Escola Estadual Marlielle; condições de trabalho do docente,
trabalho interdisciplinar; a formação em serviço; finalidade da escola e perfil dos
alunos; metas de produtividade e desempenho dos alunos.
4.2.1 Acompanhamento pedagógico
Nesta primeira categoria, foram coletados dados a respeito do trabalho,
realizado pela Supervisão/Orientação Pedagógica, nos quais se constatou que:
cinco professores entrevistados expuseram que não existe um acompanhamento do
seu trabalho pedagógico, como retrataram os depoimentos:
[...] Não, acho que não. Acho que não, eu até imaginava que teria, por
exemplo, assim... eu venho de uma escola, uma escola do interior... mas a
gente, por exemplo, fazia reuniões por área, reuniões de planejamento, para
discutir o fazer pedagógico. Aqui, a gente tem reunião geral e eu acho
assim... que a gente vai a reunião mais para escutar. O espaço para falar do
professor, eu acho, é muito pouco (PROF. 1).
[...] Não. A gente aqui faz como a gente acha... faz como manda a
consciência, às vezes você é criticado. Não existe um acompanhamento do
trabalho da gente. Às vezes eles ficam sabendo, que a gente está fazendo
um trabalho muito bacana, por um estagiário, por um aluno ou por um elogio
feito por algum professor ou então, chega até a direção alguma reclamação
feita por parte do aluno, porque eles sabem do direito deles e fazem
reclamações quando a coisa não anda bem, mas não tem ninguém
acompanhando direito (PROF. 2)
[...] “Não tem nenhum acompanhamento (PROF. 3 e PROF. 8).
[...] Não. O acompanhamento é feito de maneira informal. As pessoas
observam os trabalhos. É um acompanhamento muito sutil, muito
superficial. Se você quiser debater com alguém, não tem. Inclusive o que
me ajudou muito, me deu um embasamento, solidificou o meu saber fazer
188
foi um curso que eu fiz de s-graduação (PROF. 4).
Três outros Professores entrevistados disseram que existe um
acompanhamento pedagógico, mas as suas falas não condizem muito com essa
afirmação:
[...] Seria para ser acompanhado, nunca ninguém foi atrás de mim para
perguntar, o que e como estou fazendo as coisas. Mas a gente passa o
plano de curso para eles. Não sei se eles olham nos cadernos dos alunos o
que s estamos trabalhando. Mas nunca ninguém foi atrás de mim para
perguntar o que estou fazendo (PROF. 5).
[...] O acompanhamento é feito no Conselho de Classe, no final de cada
etapa e no dia-a-dia. É na medida da procura do professor, em que ele precisa ser
socorrido. Não tem um horário regular de atendimento (PROF. 6).
[...]É muito dicil ter uma reunião. Quando tem alguma reunião é... assim
mais de forma geral para tratar sobre a disciplina, sabe... e, assim, geralmente, é por
série. Às vezes falamos sobre o conteúdo, mas não é mais específica (PROF. 7).
Para sete professores, esse acompanhamento é feito dentro do possível:
[...] Geralmente não é aquela coisa sistemática... ... o tempo todo... ...
geralmente no início do ano ... ... no final do trimestre (PROF. 9)
[...] É dentro do possível, porque nós temos aqui uma equipe pedagógica
muito pequena, são muitos professore e tal... e a gente tem reuniões de vez
em quando, porque não podemos dispensar o aluno para fazer reuniões.
Por isso a gente dentro do possível tem um bom acompanhamento. É
apenas um supervisor e um orientador em cada turno, precisaria de mais
gente na equipe para exercer esse tipo de função. Então a gente vai
tentando fazer o melhor dentro de nossas possibilidades. Nós precisamos
enriquecer o nosso trabalho procurando novos cursos para passar o que foi
aprendido aqui dentro da Escola, porque se você esperar algo daqui de
dentro, realmente não tem muita coisa. Mas essas são as condições que o
governo permite... ... e a escola também precisaria de um professor para
dar refoo para os alunos. Teria que ter um apoio extra-classe, num outro
horário para o aluno tirar suas vidas. Esse é um sonho de brasileiro, mas
penso que com isso conseguiríamos recuperar os 30% que estão com
problemas de rendimento escolar (PROF. 10).
[...] A Escola cumpre esse acompanhamento dentro do possível. O Estado
deveria colocar mais Supervisores e Orientadores para eles cumprirem os
seus papéis de orientar os alunos e supervisionar os professores.
Atualmente, o que a maioria faz é apagar incêndio ... porque os meninos
não te deixam dar aulas, você chama atenção ... né... tem que dar um
acompanhamento a esses meninos, pois não existe o disciplinador e com
isso esses dois especialistas acabam exercendo o papel de disciplinador.
s professores efetivos fazemos um planejamento... ... e entregamos o
mesmo no final do ano. Agora, tem uma coisa, se eu cumprir esse
planejamento ... eu vou cumprir. Ninguém chega perto de mim e... onde está
189
seu planejamento? Está dando conta?. Eu tenho o hábito de fazer as provas
e mostrar para o supervisor para ver se ele está de acordo. [...] Os
professores que vêm substituir os que entram de licença, eu para falar a
verdade, eu nunca vi esse professor que vai substituir sendo chamado na
sala de supervisão... olha, o planejamento da professora é esse, ela deu até
aqui, você vai dar isso e isso pro aluno. [...] Agora, duas pessoas para fazer
papel de disciplinador, supervisionar professor e aluno, o que eles vão
fazer? ... eles preferem mil vezes ainda fazer toda a parte burocrática da
escola. Então alguma coisa fica a desejar... entendeu... mas é uma equipe
tranqüila, boa, que procura ajudar a gente dentro do que pode, o só eles,
como a vice-diretora, a direção da escola ... é muito boa nesse ponto
(PROF. 11).
[...] Eu sempre passo o que estou fazendo para os pedagogos, mas falta um
horário especial para a gente explorar essas conversas. Eu acho que tanto
a Escola como o Estado deveriam organizar esse acompanhamento. Não
podemos dispensar o aluno e com isso não temos tempo para fazermos
reunião de área com os pedagogos. Temos uma reunião, mas é dividida em
parte administrativa, uma parte pedagógica. Quando chega nessa última
parte já está quase terminando a reunião. O tempo é corrido (PROF. 15).
[...] O acompanhamento poderia ser mais pessoal, mas é impossível. Para
isso acontecer precisaria de mais gente para realizar esse serviço porque
são muitos alunos para dar atendimento e com isso o orientador
educacional e o supervisor correm muito para fazer esse trabalho. A falta de
investimento público para aumentar o número de pessoas trabalhando pela
educação, demonstra uma desvalorização para com que trabalha nas
escolas (PROF. 14).
[...] Esse acompanhamento é feito através das reuniões, conversas e no
momento em que você solicita (PROF. 16).
[...] s temos um supervisor e uma orientadora. Eu acho muito precário
esse acompanhamento, realmente não para fazer, assim, um trabalho
excelente, de vez em quando a gente chama um palestrista, a gente chama
o pessoal de fora para dar uma injeção de ânimo, para fazer coisas novas
(ADM.1).
Nesse item, um professor não quis se posicionar sobre o acompanhamento
pedagógico feito pela Escola, pelo fato de ter pouco tempo de trabalho na mesma e
dois outros docentes não abordaram essa temática.
Segundo o Projeto Político Pedagógico (PPP) da referida Escola, cabe à
Equipe Pedagógica orientar e acompanhar todo o processo de planejamento e
execução dos trabalhos, propondo estratégias e recursos pedagógicos, fazendo
interferência se necessário. (PPP, p. 3). Contudo pelas entrevistas, ficou claro a
carência de profissionais para compor a equipe pedagógica da escola, pelo fato de
se contar, apenas com um supervisor e orientador educacional no turno matutino e
190
um supervisor e orientador no turno vespertino. Tendo em vista essa realidade,
como os professores reconheceram, fica muito dicil o trabalho dos referidos
especialistas que ainda ficam encarregados de resolver questões administrativas e
atender aos pais.
Paro (2000) no seu livro Por dentro da Escola Pública enfatiza que,
sobretudo na atualidade, as instituições públicas de educação sica, devido ao
processo de enxugamento feito, tendo em vista a diminuição do papel do Estado,
estão despidas de recursos humanos. O diretor que é um profissional da educação,
habilitado para exercer essa função, fica envolto em um acúmulo de atividades
burocrático-administrativas, que se constituem como atividades-meios, e, devido a
isso, não consegue desenvolver atividades-fins, ligadas especificamente ao fazer
pedagógico. Por outro lado, os especialistas, além de cada vez mais escassos, ou
inexistentes nas escolas, se vêm também afogados com tarefas que envolvem a
gestão e a burocracia escolar. Decorrentemente, os docentes se sentem cada vez
mais isolados e sozinhos na realização de suas práticas.
Fonseca e Toschi (2004) no livro Escolas gerenciadas explicitam que, dado
a prioridade conferida ao gerenciamento, as questões ditico-pedagógicas,
vinculadas ao acompanhamento do trabalho docente, são preteridas. O que importa,
segundo os ditames da concepção produtivista, priorizada por muitas escolas, é
fazer a gestão, pois todos os problemas escolares se reduzem, em síntese, ao
gerenciamento eficiente e eficaz. Trata-se do resgate da concepção tecnicista que
se reveste de uma roupagem s-moderna e cada vez mais sofisticada, aos
aportes de controle da produtividade, efetuado pelas tecnologias digitais.
4.2.2 Quanto ao Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Marlielle
Nesta segunda categoria, explicita-se a posição dos entrevistados sobre
Projeto Político Pedagógico. O PPP da Escola Estadual Marlielle foi elaborado,
contando com a participação dos professores, de acordo com o depoimento da
Diretora da Escola. Contudo, nas entrevistas realizadas com os professores, alguns
informaram que conhecem o projeto, mas questionam sua efetivação, outros sabem
191
que existe, mas não o conhecem e outros nem sabiam da sua existência.
Segundo os depoimentos dos professores entrevistados:
[...] Na medida do possível ele é realizado, muita coisa fica aquém, outras
são feitas, mas não como fazer melhor. Todo mundo aqui está
empenhado, da direção até os serviçais para trabalhar para o bem comum,
para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Mas, muita
coisa deixa a desejar, o por culpa da escola, do processo e sim por
dificuldade mesmo, desafios que a vida nos oferece. Nem por isso vamos
desistir porque estamos aqui para educar. Dizer que segue o Projeto
Político Pedagógico a risca é impossível, porque nada nessa vida é perfeito
(PROF. 10).
[...] Eu não li o Projeto Pedagógico daqui. O Projeto Pedagógico tem o quê?
Ele tem história? O Projeto Político Pedagógico, aqui, seria o quê? Temos
aqui alguns projetos trabalhados dentro desses princípios: afetivo, droga,
sde. s temos um projeto de educação ambiental, s temos tamm a
parte de laboratório de informáticas, temos laboratório de ciências. Então,
toda a estrutura da escola está voltada para aquela parte da missão da
escola. Qual é a missão? Educar ... ... e fazer do indivíduo um cidadão
ciente das suas responsabilidades (PROF. 11).
[...]Cada ano alguma modificação e a gente realmente senta para fazer
isso. Esse início de ano, por exemplo, sentamos por área para olhar e fazer
modificações. Todos os profissionais da escola participaram” (PROF. 14).
[...] Eu participei de sua elaboração e o vi nesse época, mas nem sempre
ele é aplicado. s estamos vivendo num tempo em que as coisas vão
mudando muito rápido e a direção da escola e as Secretaria de Educação
vão cedendo com muita facilidade a qualquer pressãozinha que os alunos
fazem, então eu nunca vi um Projeto Político Pedagógico ser cumprido,
nesses longos anos de magistério. A elaboração foi feita por uma equipe de
professores, inclusive que colheu dados com os alunos na época e uma
equipe juntou, discutiu... é lógico que tem sempre alguém que fica com a
cabeça nesse trabalho. Mas foram vários professores pensantes. Eu não
me lembro a data, tem bastante tempo. Eu acho que foi na primeira gestão
da atual diretora (PROF. 2).
[...] Eu sei que existe, mas eu nunca vi e nunca li (PROF. 5).
[...] Não sei se participei. Eu acho que o nosso é bem antigo (PROF. 6).
[...] Isso aí, eu não sei falar (PROF. 7).
[...] Não. Entrei agora, então ainda não tenho esse tal conhecimento (PROF.
8 e PROF. 13).
[...] Olha, francamente, para te dizer assim... não conheço (PROF. 9).
[...] Conheço assim... já peguei, já até li, mas para falar a verdade eu nem
lembro (PROF.12).
192
[...] Devo conhecer, mas no momento eu não estou lembrando os detalhes
para falar sobre(PROF16)
[...] A construção do PPP foi feita mais tempo. Foi numa reunião que
durou muito tempo porque a discussão foi muito grande através das opiniões. No
momento, ele já está precisando de uma reforma (ADM.2).
Nota-se, através dos dados, coletados pelas entrevistas, que, de início, na
fase da elaboração, o Projeto Político Pedagógico teve uma participação mais
efetiva dos docentes e da própria comunidade escolar. Na atualidade, apesar de
todo o dinamismo da direção da escola, o processo de desenvolvimento do Projeto
não vem envolvendo a comunidade escolar, conforme evidenciam os depoimentos.
O Projeto Político Pedagógico, por ser pouco conhecido e vivenciado, pouco ou
nada tem contribuído para nortear a prática docente e a reflexão sobre a mesma.
Contudo, acredita-se que a comunidade escolar vem dando provas de que, quando
devidamente motivada e acionada, pode realizar um trabalho coletivo, com
competência e responsabilidade. Assim, a escola já deu provas, como foi mostrado,
que ao se deparar com situações diceis, tanto do seu aspecto sico, quanto do
comportamento discente foi capaz de organizar e resolver esses problemas.
Tendo em vista a melhoria urgente do espaço sico, a direção e a
coordenação pedagógica planejaram o que se poderia fazer para enfrentar essa
situação. Reuniram a comunidade escolar e expuseram os problemas e, a partir daí,
se mobilizaram numa ação conjunta, elaborando diversos projetos, a partir do ano de
1999, para resolver a questão que foi exposta:
[...] Começamos um trabalho intensivo de valorização do patrimônio público,
sobre sua conservação e valorização. Mesmo assim não é fácil. O nosso
aluno tem que ser muito trabalhado para poder respeitar e resguardar aquilo
que é público. Ele ainda não tem a noção de que a coisa pública é dele. Ele
não se sente parte do público, por isso pode estragar porque não é dele.
Em vista disso, elaboramos o projeto patrimonial, o de meio ambiente. No
projeto ambiental são os professores de ciências que estão responsáveis,
mas acaba envolvendo toda a escola.
Enquanto os alunos eram envolvidos nesses projetos, s fomos
trabalhando para reativar o laboratório de informática e o de ciências.
Fizemos: áreas diferenciadas com banquinhos, um anfiteatro numa área
que o era usada para nada e criamos esse espaço para o professor
diferenciar as aulas e sair com os alunos de sala de aula e compramos um
DVD. (ADM.1).
193
Outros projetos foram construídos para melhorar a qualidade de vida dos
alunos e diminuir o nível de violência, de consumo de drogas e de vandalismo. Para
obter êxito, nos projetos, segundo um entrevistado:
[...] Precisava tocar no coração desses alunos, nos seus sentimento. Para
isso fizemos a mostra literária em dois mil para motivar o trabalho com a
poesia porque até então, poesia era coisa de mulher e os meninos não
aceitavam trabalhar com poesia. A partir desse projeto, trouxemos vários
autores, fizemos várias entrevistas com escritores e a gente fez um
trabalho, realmente, muito bom. A partir daí, a gente foi verificando que os
meninos tinham coisas ótimas para escrever e os próprios alunos ficaram
surpresos com o que faziam. Nesse trabalho foi desenvolvido o teatro, a
música. Então a gente começou a trabalhar não só com a literatura, mas
também com a arte. Essa foi uma forma que nós encontramos para
sensibilizar o aluno. A mostra literária é realizada todos os anos, desde que
começou. (ADM.1).
Nessa época, a ação conjunta sensibilizou a comunidade escolar, em prol de
uma mudança institucional, voltada para conseguir uma escola mais bela, prazerosa
e aprendente. Na atualidade, acredita-se que seria sempre necessário retomar o
PPP, buscando, sobretudo, envolver a comunidade escolar na discussão da
qualidade de ensino e outras questões importantes para a gestão da in a idscot
194
contemplar aquilo que vem sendo construído no cotidiano da escola.
4.2.3 Condições de trabalho do docente ofertadas pelo Estado e pela escola
A terceira categoria se relaciona com as posições dos professores, no que
tange as suas condições de trabalho, ofertadas pelo Estado e pela própria escola:
[...] Eu acho que a escola tem uma infra-estrutura boa. Das escolas públicas
que a gente conhece, essa é a que tem melhor infra-estrutura e daria para
fazer um trabalho mais coletivo, mas a falta de tempo reflete nesse trabalho.
Eu acho que cada um vem, faz a sua atividade e já está doido para ir
embora porque tem outra coisa para fazer. Com essa questão de ganhar
mal, está todo mundo procurando outra forma de sobrevivência, restando
pouco tempo para a escola (PROF. 1).
[...]Não existe por parte da escola algo que incentive e facilite o trabalho
(PROF. 3).
[...] Ser professora é um desafio, é uma profissão desvalorizada
culturalmente e financeiramente. O professor ganha muito mal. A rede
municipal paga o dobro praticamente da rede estadual. Muitos professores
têm que trabalhar de manhã, de tarde e de noite para poder se sustentar no
sico: manter uma casa e cuidar dos filhos. Com isso, que horas o
professor vai corrigir as provas? Que hora o professor vai fazer uma
reflexão? Que horas ele vai se aprimorar nos seus estudos? Procurar novos
conhecimentos? Você vê que professor é pior do que o lixeiro. O desafio é a
gente reconhecer que o professor pertence a uma classe, a uma categoria,
que nós temos direitos, s temos principalmente que lutar por esses
direitos financeiramente e por melhorias de trabalho. Aqui na escola eu me
encontro numa condição corporativa, que eu nunca observei em nenhuma
escola estadual por onde eu tenha passado (PROF. 4).
[...] Se você não é reconhecida pelo que você faz e não tem apoio, o seu
trabalho vai ficando a desejar. Eu acho que a desvalorização é do governo,
do próprio aluno, dos pais. Se o pai valorizasse, ele ia ajudar nas questões
das atividades, na questão da fixação da matéria, viria conversar sobre os
problemas do aluno. Eles jogam o aluno na escola e deixam tudo por nossa
conta. Então, aqui, a gente é psicóloga, mãe, pai, médico. Você entendeu?
Você faz aquele trabalho geral, mas por trás você não é valorizada. A gente
faz o trabalho porque realmente gosta do trabalho, mas se depender de um
apoio, seja qual for... eu não acho que tem. Se você não gostar do que faz,
você não faz nada (PROF. 7).
[...] Um dos grandes problemas é a questão da indisciplina, questão salarial,
questão da falta de material para trabalharmos e a falta de um
acompanhamento sistematizado dos alunos. Todo mundo está muito
195
ocupado e falta pessoal para o trabalho (PROF. 9).
[...]O trabalho poderia sair muito melhor se a gente tivesse um horário para
discutir os projetos interdisciplinares. A gente tem muitas iias boas, mas não tem
tempo para concretizá-las” (PROF. 15).
[...] O que precisamos mesmo é o reconhecimento da classe dos
professores porque ela está um lixo, porque quem ganha menos de um
salário mínimo nesse país se sente como se fosse um lixo. Para você ter
uma idéia, eu tenho 25 anos de sala de aula, minha faxineira ganha R$
30,00 por dia e eu ganho R$ 25,00. Eu saio deixando R$30,00 sabendo que
eu vou ganhar R$25,00 e ela é semi-analfabeta. Ganho um pouco mais
porque estou no final da carreira. É uma humilhação para o professor
(PROF. 2).
Nota-se, pelos depoimentos, a consciência dos professores sobre a
precarização do trabalho docente, que traz desdobramentos na sua prática. Além
disso, alguns docentes explicitaram a carência de reconhecimento pelo Estado
(Minas Gerais) da necessidade de se valorizar a categoria magistério, dando
melhores condições salariais e de trabalho aos professores. Tardif (2002) enfatiza
que, historicamente, a categoria docente vem sendo preterida e desqualificada. Os
docentes, segundo esse trico, por não possuírem um código de ética e por o
terem autonomia, uma vez que são tutelados pelo Estado, sobretudo no nível
sico, são considerados semiprofissionais.
Os professores, ao responderem sobre as suas condições de trabalho,
explicitaram também, que, na sua prática como docente, a escola é ainda um
espaço blico de transformação:
[...]Os resultados positivos dos alunos são as energias boas do nosso
trabalho (PROF. 14).
[...] Eu não fiz magistério, mas eu acredito na educação. Acredito que o
único meio de salvar o ser humano é pela educação, enquanto eu acreditar
nisso, eu vou esta na sala de aula. Acredito também, que dentro de sala de
aula você pode não atingir 100% dos alunos, mas se você atingir 50%, você
estará mudando 50% das pessoas. Assim, você estará de alguma forma
mudando o mundo. Eu acredito que a gente só vai conseguir mudar o
mundo através da educação A minha esperança é essa. O desafio é juntar
a família e a escola para fazer um trabalho em conjunto. Não adianta eu
querer fazer uma coisa e os pais fazerem outra, então teria que ser todo
mundo envolvido nessa mudança: governo, família e escola. Todos
trabalhando pelo bem comum que é o aluno para que este atinja os quatro
196
pilares da educação que é aprende a aprender, aprender a fazer, aprender
a ser e aprender a conhecer (PROF. 11).
[...] Essa é uma profissão que eu escolhi. Já trabalhei 10 anos noutra
profissão na área administrativa financeira de grandes empresas e um belo
dia resolvi que ia para a sala de aula. Eu entrei na sala d aula e descobri
que aqui era o meu mundo. É o que eu gosto de fazer, que me realiza e eu
não faço para receber nenhum tipo de elogio de ninguém. A única coisa que
salva o meu dia é quando eu descubro que o aluno foi capaz de
compreender aquilo que eu estou tentando ensinar e está aplicando aquele
conhecimento (PROF. 10).
[...]Para mim, ser professora é uma coisa importanssima! Eu saio de casa
e venho com muita felicidade para o meu trabalho, acreditando estar
melhorando o mundo e contribuindo na transformação dos alunos. Tem
aluno que já me convidou para ir no casamento, na formatura. Quando você
é um bom profissional, o aluno nunca te esquece (PROF. 5).
[...]É bom ver o aluno se esforçando, correndo atrás, mesmo quando eles
não são excelentes na matéria” (PROF. 8).
[...] Eu faço o meu trabalho com prazer porque eu gostou. Poderia ter feito
outras coisas, mas sinto prazer em ensinar. Eu adoro ensinar texto,
ortografia. Tenho satisfação quando encontro com um ex-aluno e ele fala:
Ah! Professora... você foi minha professora de tal época, hoje eu estou
fazendo faculdade. Já encontrei ex-alunos que hoje são professores e diz
que foi ser professor por causa da minha matére
197
Constata-se, desta forma, que os docentes demonstram ter motivação,
sentem, mesmo diante de um tempo de incerteza, que estão contribuindo para a
formação dos seus alunos e acreditam que a escola é, ainda, um espaço blico de
transformação social. Dessa forma, essa confiabilidade dos professores em suas
ações pode ser reforçada por um Projeto Pedagógico que aponte caminhos pelos
quais se pode andar para melhorar a qualidade da educação, ofertada pela
instituição. Mais importante do que produzir um documento perfeito, importa
envolver os professores no processo de desenvolvimento do PPP, para engajar
todos na busca de uma educação, cimentada nos pressupostos de uma educação
sócio-histórica e crítica.
4.2.4 Trabalho interdisciplinar
Nessa quarta categoria, observou-se, a partir das entrevistas, que a
instituição busca a realização de um trabalho interdisciplinar. Contudo, ele tem
encontrado certas dificuldades ligadas, sobretudo, à falta de tempo para a realização
de encontros com os docentes de outras disciplinas. O acúmulo de trabalho,
sobremaneira, dificulta a ocorrência de ações interdisciplinares:
[...] Existem projetos pedagógicos interdisciplinares, mas a gente tem que
correr atrás e chegar no professor de outra matéria e fazer o pedido para
trabalhar junto. Mas tudo é muito corrido, é tanta matéria, é tanta coisa, o
stress é tão grande que você acaba não fazendo um trabalho como deveria
ser feito. Eu tenho trabalhado com a professora de história num projeto
sobre a Copa do Mundo. O trabalho foi apresentado por um professor e
dividido entre os demais o que era próprio de cada matéria (PROF. 3).
[...] O projeto da Copa do mundo está envolvendo quase todas as
disciplinas, mas é muito dicil porque a gente o tem um tempo para
sentar e organizar o projeto. Os nossos horários vagos não coincidem com
os dos outros professores que est(s)
198
[...] Eu estou trabalhando a história da Grécia Antiga junto com a professora
de português e vários professores estão trabalhando com o Projeto da
Copa. As conversas sobre esse projeto da Copa foram feitas nos intervalos.
s fizemos meio sem preparo e não foi uma coisa bem organizadinha
(PROF. 1).
[...] Temos a Feira de Cultura todo o ano. Ela faz uma integração com todas
as matérias. Em alguns anos tem um tema definido e todos trabalham em
cima daquele tema e em outros anos você trabalha o que quer, depende da
sua conversa dentro da sala de aula (PROF. 7).
[...] s temos projetos interdisciplinares, mas nem sempre eles terminam.
Na hora que o projeto começa é um projeto bom, mas eu acho que a falta
de horário, de tempo para organizar com os professores das outras áreas
dificulta a realização do mesmo (PROF. 5).
[...] É muito dicil acontecer um trabalho interdisciplinar, aqui, na escola. Eu
até gostaria. Já trabalhei em vários lugares com trabalho interdisciplinar,
mas eu não ... até hoje assim... talvez, pode ser dificuldade minha mesmo...
... eu não vejo muita possibilidade de trabalhar dessa forma aqui. Para
realizarmos esse trabalho precisaríamos de uma coordenação pedagógica,
orientando os projetos. Aqui só tem uma pedagoga no turno da tarde, para
12 turmas e, no turno da manhã, também, só tem uma, para 20 turmas. É
quase impossível um trabalho desse porte, porque elas ficam ocupadas com
os problemas dos alunos. Eu acho que precisaríamos, no mínimo, de três
especialistas (PROF. 12).
[...]Já vi algum professor tentando fazer esse trabalho interdisciplinar, mas
eu nunca tive essa iniciativa (PROF. 8).
[...]A gente procura contextualizar o ensino. Agora, na Copa, fizemos um
trabalho interdisciplinar (PROF. 16).
[...] Eu só posso falar do projeto que estou desenvolvendo, com outros
professores da 7ª série, sobre drogas e sexualidade. s vimos que essa
era uma necessidade muito grande, vimos que essa era uma das causas
dos meninos pularem os muros e as janelas da escola. A droga faz com que
o aluno perca completamente a vontade de estudar. O aluno fica
desanimado, sem vontade para estudar, brigam, ficam indisciplinados, etc.
A gente acha que tudo isso está muito ligado às drogas. Por isso,
começamos com esse projeto. Ele está indo muito bem. Já chamamos
pessoas para fazer palestras, teatros, filmes e conversar com os alunos,
tentando mostrar para eles que entrar no caminho da droga não vale a
pena... ... e que eles precisam cuidar da saúde, ter uma mente sã para
eles conseguirem desenvolver mais nos estudos. O projeto sobre
sexualidade está muito ligado a essa fase da adolescência... . Hoje
mesmo, tiveram uma palestra sobre aborto... sabe... os males que causam e
suas as conseqüências. Estamos passando para eles as doenças ... ...
que são transmissíveis ... ...explicando a utilidade do uso da camisinha
(PROF. 2).
[...] A preparação desses projetos é feita na hora do recreio. Pedimos um
tempo para a coordenação para preparar esses projetos, mas disseram que
199
não podiam dispensar os alunos. Quando a gente acha um texto bom na
Internet, a gente manda para o outro. Quando esse não tem Internet a gente
imprime o texto e para ele. Não tivemos oportunidade de sentar para
fazer uma avaliação e ver o que foi positivo, negativo e como vamos dar
seqüência. A articulação é feita entre s professores. Eu acho que poderia
ser muito melhor se tivéssemos as reuniões (PROF. 5).
[...] Essa parte eu não posso falar muito porque não lido diretamente com a
parte pedagógica, mas tem sim, tem professores que trabalham muito com
o projeto. Agora, não tem um horário específico para organizar esses
projetos. Eles têm muita boa vontade de trazer de casa alguma coisa pronta
e de arrumar os tempos para conversar sobre o assunto. A carga horário
dos alunos não está permitindo essas reuniões e depois do horário o
professor o gosta. Todo mundo trabalha dois horários, tem outras
atividades, mas na medida do possível eles se reúnem (ADM.2).
[...] O tema da mostra literária vai ser sobre o centenário da Escola. Esse
tema está sendo trabalhado por alguns professores da Língua Portuguesa.
s vamos trabalhando com os alunos a temática, durante o semestre, a
gente vai guardando o trabalho do aluno para ser apresentado na mostra
cultural. Este é um trabalho que desenvolve, principalmente, a parte oral dos
alunos, porque eles expõem os trabalhos para os visitantes da mostra. Eu
acho que é muito produtivo (PROF. 15).
Analisando os depoimentos coletados, observou-se que o mais importante é
promover o desenvolvimento de um modo de pensar a construção e a definição de
ações, para que as experiências desenvolvidas possam se concretizar e serem
legitimadas pela comunidade escolar. Considera-se que um projeto interdisciplinar
deve extrapolar o simples agrupamento coletivo de atividades diversas.
Segundo Fazenda (2000), a interdisciplinaridade é um dos elementos
importantes para promover a qualidade do ensino. Contudo, ela é dificultada por
diversos fatores tais como: a fragilização de uma base epistemológica entre os
docentes que favoreça a sua real concretização; a falta de disponibilidade de tempo
dos professores que, geralmente, trabalham em mais de uma instituição e, até, a
falta de espaços adequados para viabilizar o trabalho interdisciplinar.
A elaboração de um Projeto Político Pedagico, que envolva a participação
da comunidade escolar, pode contribuir para a realização de um trabalho coletivo e
interdisciplinar.
Segundo Veiga:
[...] O Projeto Político Pedagógico, ao se constituir em processo democrático
de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do
trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando
impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior
200
da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que
reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
[...] É preciso entender que projeto político pedagógico da escola dará
indicações necessárias à organização do trabalho pedagógico, que inclui o
trabalho do professor na dimica interna da sala de aula. Buscar uma nova
organização para a escola constitui uma ousadia para os educadores, pais,
alunos e funcionários. (VEIGA, 1995, p. 13-14).
4.2.5 Formação em Serviço
Nesta quinta categoria, percebe-se que a melhoria da qualidade da formação
profissional não é enfocada, explicitamente, no Projeto Político Pedagico e no
Regimento Escolar da instituição pesquisada. Entretanto, o capítulo IV que versa
sobre os Serviços Pedagógicos enfatiza que os especialistas devem coordenar um
Programa de Capacitação do Pessoal da Escola, efetuando o levantamento das
necessidades de formação dos seus docentes. Alguns deles assim se expressaram,
sobre a capacitação em serviço, ofertada pela escola:
[...]Na escola tem algum momento de formação para discutir alguns assunto
internos, principalmente sobre rendimento escolar e disciplina” (PROF. 8; PROF. 9;
PROF. 7).
[...] “Não tem momentos de formação (PROF. 6, PROF. 3).
[...] Este ano não teve um momento de formação. Essa formação
acontecerá no próximo sábado, dia 24/06. É uma parceria da Escola com a
Universidade Newton Paiva e a Fundação de Desenvolvimento Gerencial.
Teremos oficinas com os temas determinados para os alunos, pais e
professores. Já participei de um curso promovido pelo Estado, sobre Cultura
Negra, no currículo de história (PROF. 1).
[...] Existem momentos de formação. Vira e mexe tem algum cartaz de
algum curso que está sendo oferecido pelo Estado ou por outras entidades.
Agora, no sábado, dia 24/06 serão oferecidas as seguintes palestras para
os pais: Sexualidade na adolescência, Psicopedagogia e Técnicas de
Relaxamento. Para os alunos de 5ª a 8ª série, as palestras serão:
Prevenção ao uso de drogas, Sexualidade, Cuidados para uma perfeita
sde bucal, Orientação profissional e a Magia da escolha. Para os
professores será oferecido o assunto Novas tecnologias e como utilizá-las
na sala de aula. É curtinho, mas não deixa de ser um momento de formação
(PROF. 4).
201
[...] Tem poucos momentos de formação. Já participei de um dentro da área
de crescimento pessoal. Mas a gente tem muito pouco, é uma coisa que a gente
reivindica até em reunião que a gente faz (PROF. 15).
[...]Eu já fiz muitos cursos de formação, mas ultimamente parece que não
está tendo não (PROF. 14).
[...] No dia 24/06/2006, a Newton de Paiva vem aqui desenvolver um
trabalho de formação. Mas já tivemos outros momentos em que s
sentávamos em círculo para estudar alguma apostila. Um dos assuntos foi
sobre questões disciplinares para nos ajudar em sala de aula. Não para
fazer isso toda semana porque não podemos dispensar os alunos (PROF.
10).
[...] “Já discutimos sobre métodos de avaliação (PROF. 11).
[...]De vez em quando tem cursos dados pela FDG , mas é muito pouco em
relação ao que precisamos (PROF. 2).
[...] Não teve nenhuma formação. A única coisa que s tivemos esse ano foi
uma palestra com uma fonoaudióloga, explicando como funciona a voz, como a
gente deve usa a voz... só isso (PROF. 5).
[...] Já tivemos semirio ou reuniões sobre avaliação, bem interessante...
muito interessante e, um outro, foi com um Psicólogo chamado Dr Marcelo,
não sei o sobrenome. Foi bem interessante. O assunto foi sobre análise
transacional, voltado para o relacionamento do professor na escola. Foi
muito interessante, precisava de uma continuidade... ... isso que eu acho
que peca um pouquinho, que é muito solto assim... ... acontece um
momento, some... acontece outro momento ... ..., mas de tudo que eu fiz,
esse último foi o mais gratificante. Depois teve um sobre Educação Afetivo
Sexual promovido pelo Estado. Mas, só dois professores participaram
(PROF. 12).
[...] De vez em quando a gente chama palestrista, a gente chama o pessoal
de fora para dar uma injeção de ânimo, para trazer coisas novas. No final de
2005, por exemplo, s trouxemos um psiquiatra ele fez um workshop em
dois dias aqui e a gente permaneceu na escola o dia inteiro, de manhã e a
tarde, e ele fez esse trabalho justamente para levantar questões que são
importantes para o professor trabalhar nele mesmo, para ele poder ter um
bom desempenho, para ele ter um desgaste menor na escola. Nesse ano,
s trabalhamos três dias sobre avaliação. s chegamos à conclusão de
que os resultados não estavam tão bons, o porque o aluno estava tão
ruim, mas porque o professor não estava sabendo, corretamente, como
avaliar. Alguns professores já têm uma noção clara do que é a avaliação
hoje em dia, mas outros ainda estão apegados àquela avaliação antiga
(ADM.1).
202
Segundo Freitas (2005), as políticas atuais vêm desqualificando a formação
inicial e valorizando a formação em serviço. Contudo, se constata que essa
formação, em serviço, vem sendo feitatop-down, isto é, de cima para baixo, sem
levar em conta os interesses e necessidades dos professores. Acresce, ainda,
segundo a pesquisadora, que, geralmente, essas capacitações têm sido feitas de
forma aligeirada e pragmática.
As falas dos docentes da escola evidenciaram e res
203
4.2.6 Quanto à finalidade da escola e perfil dos alunos
A sexta categoria busca analisar as Finalidades da Escola Estadual
Marlielle, o perfil e o desempenho dos seus alunos, através dos dados coletados,
documentais e entrevistas.
A finalidade da escola, segundo seu Regimento, tem como foco a formação
integral do educando, assegurando os princípios e fins da educação nacional, que
devem estar refletidos nos âmbitos da transmissão e da apreensão dos conteúdos e
da vivência de valores indispensáveis ao exercício da cidadania.
Os fragmentos dos documentos abaixo, mostram isso:
A Escola Estadual “Marlielle tem por finalidade a formação integral dos
alunos, a promoção da aprendizagem dos conteúdos das diversas áreas de
conhecimento e a transmissão e vivência de valores éticos, morais e
sociais, assegurando ao aluno uma formação indispensável para o exercício
da cidadania. (PPP, p. 1).
A escola abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais. (ESCOLA Estadual Marlielle, 2006, p. 5).
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem, por finalidade, o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (ESCOLA Estadual Marlielle, 2006, p. 5).
A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando,
assegurando-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores. (ESCOLA Estadual Marlielle, 2006, p. 6).
As finalidades de uma escola devem ter como pressupostos: a busca da
qualidade do ensino almejada, o perfil desejado dos professores e de outros
profissionais, o papel que o aluno deve exercer nos âmbitos escolar e social. No
entanto, a Escola Marlielle, ainda que busque cumprir a sua função de preparar as
novas gerações para o exercício da cidadania e para a inserção no mundo do
trabalho, apresenta uma peculiaridade e certa dificuldade, nessa missão, devido às
especificidades do seu alunado. Nessa instituição, as diferenças sócio-culturais e
financeiras, entre os alunos, têm sido uma marca histórica, desde a sua fundação.
204
Esse fato pode ser comprovado nos livros de matrícula da escola
61
e nos
depoimentos dos professores, entrevistados a respeito do perfil do aluno.
[...] É um caso meio complicado falar quem é o aluno nessa escola porque
aqui nessa escola concentram-se alunos de várias partes da região de Belo
Horizonte. A realidade sócio-econômica dos alunos é muito diversificada.
s temos alunos com bom poder aquisitivo, outros que são de favelas
locais. É uma escola bem peculiar nesse quesito (PROF. 8).
[...] São alunos heterogêneos, tanto no nível sócio-econômico como na
aprendizagem. São turmas muito heterogêneas. Alguns têm uma situação sócio
econômica boa e outros são dos aglomerados: (PROF. 6).
[...]Existe uma diferença social entre os alunos. Alguns são da classe média
e outro mais pobres (PROF. 7,16).
[...]Há alunos com condição econômica favorável, saíram de escolas
particulares e vieram para cá. Existem tamm alunos carentes, que não têm
condição de comprar as coisas direito (PROF. 4).
[...] Os alunos dessa escola são desinteressados. Não têm interesse e eu
vejo que o é só na minha matéria. Eles não têm interesse em nada, em
matéria nenhuma. Existe uma diferença social, aqui na escola, entre os
alunos, mas o nível é bem melhor do que eu estou acostumada. crianças
que vieram de escolas particulares, porque os pais não conseguiram pagar
a mensalidade (PROF. 3).
[...]É uma turma heterogênea, mas são alunos indisciplinados. Eu não tenho
nenhum problema com eles (PROF. 15).
[...] O perfil do aluno é muito heterogêneo. Existem uns 70% a 80%,
digamos, de meninos de classe média, uma quantidade razoável de
meninos de classe média alta e acredito que uns 20% mais ou menos 25%
de meninos da classe baixa. Eu acho que essa diferença ajuda na troca de
experiências (PROF. 12).
61
Profissões dos pais dos alunos: comerciante, farmacêutico, funcionários, advogado, dentista,
engenheiro, agricultor, guardador de livros, militar, operário, industrial, jardineiro, médico, professor,
proprietário, viajante, chofer, fazendeiro, costureira, carpinteiro, hoteleiro, médico, mecânico,
açougueiro, jardineiro, ferreiro, tabelião, lavadeira, guarda civil, oleiro, eletricista, escriturário, escultor,
lixeiro, tipógrafo, jornaleiro, empregado, bombeiro, leiteiro, alfaiate, motorneiro (LIVROS DE
MATRÍCULAS 1925 a 1928). A situação atual se assemelha, em muito, à descrita nesta nota,
conforme foi relatado nos depoimentos apresentados. A referida diversidade dos alunos, expressa
nas profissões de seus pais, talvez possa ser explicada pela localização da instituição, que se situa
na confluência dos bairros Serra e Funcionários, onde reside uma população posicionada na classe
média que convive com a população de um grande conglomerado de favelas.
205
[...] Os alunos são muito carentes, tanto de alimentação como de afeto e
isso gera a indisciplina. Além disso, eles não têm assistência em casa...
... de pai para cobrar, então também o estudo, a fixação da matéria, a
aprendizagem ficam muito defasadas (PROF. 5).
[...]Aqui é bem heterogêneo. Eu considero isso muito bom, mas existem
crianças que vêm do Aglomerado da Serra mais diceis de lidar e aí você tem que
ter paciência em dobro (PROF. 13).
[...] s temos meninos do Sion, nós temos meninos do Morro do
Papagaio, s temos meninos do Aglomerado da Serra, do Jardim Canadá,
da Pampulha. Eles vêm de longe para poder estudar aqui. Então, a escola é
a cara do Brasil, a escola ela tem todas as classes sociais (PROF. 2).
Para se compreender, melhor, as disparidades sócio-culturais e financeiras,
apresentadas pelos alunos da escola, decidiu-se acrescentar outros depoimentos:
[...] Eu acho que nós somos privilegiados, porque os meninos são uma
gracinha, eu tenho simpatia muito grande com eles, tenho uma felicidade
muito grande de ser professora deles, eu falo assim que é um terreno muito
fértil, quando adubado, é só jogar as sementinhas que nascem. Uma
minoria tem alguma dificuldade, não estão alfabetizados, mas a maioria é
bom aluno, assiste às aulas, participa, é interessado e eu me sinto assim
realizada e feliz. A condição social dos alunos é muito heterogênea.
Quanto ao ensino aprendizagem desse aluno. Em alguns momentos esta
diferença se faz sentir através de piadinhas. Um chama o outro de favelado,
de pobre, de negro. Inclusive a gente aproveita essa situação para fazer um
trabalho de conscientização. Agora, por exemplo, eu estou recolhendo
blusas dos que têm blusas sobrando em casa para dar para os que têm
necessidade. Em outro momento, os que têm condição pagam o ônibus na
excursão para os que não têm. Quando eles chegam à 7ª série eu não sei
se existe um trabalho com os alunos e se eles reagem assim com os
colegas. Não sei se os professores continuam esse trabalho de perceber
que s somos diferentes de condição social, mas s somos iguais como
seres humanos (PROF. 2).
[...] Em termos sócio-econômico, eu tenho a impressão de que aqui tem
uma classe média baixa e uma popular. Essa diferença dificulta o nosso
trabalho. Não que eu seja a favor de excluir os alunos da classe popular,
..., que eles deveriam estar noutra escola, uma escola só deles lá na
favela em que eles moram ... sabe ... não é por isso. Mas eu acho que
um desnível cultural que é comprometedor ... ... porque a gente fica meio
sem saber para que lado que a gente trabalha, em termos de realidade
mesmo ... ... Eu acho que a gente o tem um suporte para trabalhar
com essas diferenças, a sociedade é toda composta por pessoas
diferentes.... ...., mas quando chega na escola, a gente teria de ter um
suporte maior para poder trabalhar com essas diferenças. Às vezes, tem
menino, por exemplo, que tem Internet, menino que tem tudo que de
última geração ... e tem alunos que não têm nada, que não têm nem mesa
dentro de casa para fazer as atividades ... né? Então isso gera um
desequilíbrio ... assim em termos de aprendizagem a gente deixa de pedir
determinados trabalhos porque a gente sabe que tem grupo que não tem
206
acesso a informação (PROF. 1).
[...] s temos alunos aqui da periferia, da favela e do centro. Aqui temos de
ter um jogo de cintura muito grande para conviver com essa diferença
social, para não existir um grupo separado do outro, principalmente nos
momentos dos trabalhos de grupo para não ficarem os mais forte com os
mais fortes. Por isso, s estamos sempre misturando os grupos de
trabalho, senão acontece essa separação (PROF. 14).
[...] s temos uma escola em que o nível dos alunos é bem heterogêneo
tanto com relação à diferença de classe social, como de aprendizagem. s
temos alunos de uma classe boa, que a gente até pode falar que é uma
classe A, que tem pai que interessa pelos filhos. s temos filho de médico,
de advogado aqui na escola e temos alunos que vêm do aglomerado. Como
vê, a parte cultural e social é bem diversificada. Temos alunos de pleno
interesse, que têm vontade de aprender, de fazer tudo que na sala de
aula, mas temos alunos que você pode plantar bananeira que eles não
aprendem, não estão interessados. O bom aluno não significa que ele é da
classe A, porque alunos pobres que são muito bons e temos alunos lá de
cima... que são ssimos em todos os sentidos. s temos que trabalhar a
falta de limites, que é muito grande nos alunos ... né? Essa escola dá
espaço para os alunos reclamarem, fazer tudo, mas a gente não (PROF.
11).
[...]Não vejo que o não rendimento escolar vem pelo aluno ser da classe x
ou y e sim pelo o comprometimento do aluno (PROF. 16).
[...] Olha, s atendemos a várias classes, nós temos alunos que vêem de
setenta e dois bairros diferentes. s temos desde o Cafezal até a zona sul.
Então é bem heterogênea. Eu brinco que esta escola é a cara do Brasil, é
bem uma mistura, s temos todas as classes desde daquele aluno que
vem para a escola sem alimento, porque não tem o alimento em casa, até
aquele que traz o dinheiro para comprar a merenda. s temos filhos de
médicos, de engenheiro e gente do aglomerado. Por isso, eu te falo que a
gente tem uma heterogeneidade muito grande (ADM.. 2).
[...] A gente lida com uma diversidade muito grande de alunos, tanto de
classe social e econômica quanto de formação dos alunos, de crença
religiosa. Aliás, eu acho que uma das maiores riquezas da escola é, ao
mesmo tempo, um dos nossos maiores problemas, administrar essas
grandes diferenças, né? O aluno é invejado, é cobiçado quando ele tem o
dinheiro. Às vezes, isso acarreta o roubo, brigas, sentimento de
inferioridade. Isso tudo a gente tem que trabalhar no dia-a-dia. s temos
na escola 50% da classe média e 50% da classe menos favorecida, alunos
que vêm de áreas realmente muito empobrecidas (ADM.. 1).
A fala dos professores mostra a especificidade da escola por receber
alunos, provenientes das camadas sociais marginalizadas, cujos responsáveis,
geralmente, participam pouco das atividades escolares, como mostra um conhecido
pesquisador, explicitado a seguir.
207
Paro (2000) enfatiza que a escola blica, via de regra, tem recebido uma
demanda origiria de classes sociais menos favorecidas. Talvez em decorrência
disso, os pais (geralmente, as mães) participam pouco e, raramente, se interessam
em procurar saber as razões pelas quais seus filhos estão indo mal nos estudos. Na
verdade, o que mais incomoda a esses sujeitos, é quando uma greve é instaurada,
não, propriamente, pelas suas conseqüências no âmbito da qualidade do ensino; o
que lhes incomoda e gera reclamações é o fato das mães não terem um lugar para
deixar seus filhos, enquanto estão trabalhando. Assim, a escola se reduz a um
depósito de crianças, não sendo considerada como um espaço no qual deveria
ocorrer a aprendizagem, o desenvolvimento integral, a formação cidadã e ética.
Campos (1983) explicita uma situação semelhante, vivenciada pela instituição
pesquisada. Essa mesma pesquisadora em investigação realizada em duas escolas
públicas municipais de São Paulo, situadas em uma região, tanto próxima de bairros
que atendem à classe média, quanto de favelas, observou que nelas conviviam
alunos, provenientes de dois estratos sociais, muito diferenciados. Segundo os
depoimentos de muitas mães, seus filhos estudavam em instituições particulares,
mas devido ao acirramento de problemas financeiros, tiveram de transferi-los pra
escolas blicas. Pela fala de uma das diretoras, tomou-se conhecimento de que
esse fato era muito freqüente, sendo até histórico na instituição. Ela relatou,
também, que essas mães da classe média eram muito presentes, acompanhavam o
que era dado na escola, iam às reuniões, cobravam das professoras um ensino de
qualidade. Essa realidade foi levando a instituição a ter uma gestão cada vez mais
competente, e os professores a se dedicarem e terem maior envolvimento e
responsabilidade com a aprendizagem dos alunos.
A escola, lócus desta investigação, por conviver com um público, com um
alunado muito diversificado, precisa divulgar e internalizar valores como a
solidariedade, a cooperação, o respeito à alteridade, às diferenças, para que todos
tenham oportunidades de crescimento, substituindo a lógica da homogeneidade pela
lógica da diversidade.
A diversidade social, segundo os depoimentos dos professores entrevistados,
constitui, para alguns, uma riqueza e ao mesmo tempo um desafio. Para outros, o
desnível sócio-econômico e cultural afeta o processo ensino-aprendizagem e a
relação entre os alunos fica comprometida. Por exemplo, no momento da divisão da
208
turma, para formar grupos de estudo, necessita-se de uma interferência do professor
para sua organização. Destacaram também as piadinhas que são dirigidas aos
alunos das classes menos favorecidas pelos seus colegas. Alguns professores
afirmaram que gostariam de ter um suporte pedagógico, para lidar com essas
diferenças sociais, mas, mesmo sem contar com esse aporte, eles conseguem lidar
com a diversidade, fazendo um trabalho de qualidade. Outro professor expressou
que uma situação social menos favorecida não interfere na aprendizagem, porque
tanto os alunos da classe popular, quanto os da classe média podem apresentar o
mesmo nível de rendimento escolar, desde que ocorra um comprometimento dos
professores.
A exposição realizada confirmou que a escola é uma trama de relações
sociais, na qual os processos de socialização, que a permeiam, acontecem, também
e preferencialmente, como conseqüência de práticas sociais e relações sociais que
se estabelecem e se desenvolvem em grupos sociais, como os presentes na escola
(MEZ, 1998).
Esse trico, no depoimento a seguir, mostra que a aprendizagem dos alunos
extrapola o contexto escolar:
[...] aprendem e assimilam teorias, disposições e condutas o apenas
como conseqüência da transmissão e intercâmbio de iias e
conhecimentos explícitos no currículo oficial, mas tamm e principalmente
como conseqüência das interações sociais de todo tipo que ocorrem na
escola ou na aula. Além disso, normalmente, o conteúdo oficial do currículo,
imposto desde fora para a aprendizagem dos alunos [...], não cala nem
estimula os interesses e preocupações vitais da criança e do adolescente.
Converte-se, assim, numa aprendizagem acadêmica para passar nos
exames e esquecer depois, enquanto que a aprendizagem dos
mecanismos, estratégias, norma e valores de interação social, que requer o
êxito na complexa vida acadêmica e pessoal do grupo da aula e do colégio,
configura, paulatinamente, representações e pautas de conduta que
estendem seu valor e utilidade além do campo da escola. Esta vai induzindo
assim uma forma de ser, pensar e agir, tanto mais válida e sutil quanto mais
intenso seja o isomorfismo ou semelhança entre a vida social da aula e as
relações sociais no mundo do trabalho ou na vida pública (GÓMEZ, 1998, p.
17)
209
4.2.7 Produtividade Escolar
Nesta sétima categoria, percebeu-se, pelos dados da pesquisa, que a escola
vem estabelecendo índices, metas de produtividade a serem seguidas:
[...] buscar uma aprendizagem mais efetiva de seus alunos que deverá se
traduzir no alcance de metas cada vez mais ambiciosas para os ciclos
sico, intermediário e avançado, de tal forma, que possamos ver a Escola
Estadual “Marlielle até o ano de 2006, tendo perto de 100% de seus alunos
conquistando as competências, atitudes e habilidades contempladas nos
parâmetros curriculares nacionais nos respectivos ciclos; marcar sua
atuação nos dias atuais, de uma gestão moderna focada em resultados,
conquistando, até 2006, um lugar entre as cinco primeiras escolas de Belo
Horizonte (SIMAVE), o que deverá se refletir na formação de alunos mais
autônomos, solucionadores de problema, conscientes, que se apercebam
como parte do coletivo e sejam capazes de uma atuação mais soliria e
mais justa (ESCOLA Estadual Marlielle, 2006, p. 14).
[...] aprovar 60% dos alunos com desempenho acima de 70% até dezembro;
aprovar 97,5% dos alunos de 1ª a 4ª série até dezembro de 2006; aprovar
88% dos alunos de 5ª e 6ª série até dezembro de 2006; aprovar 85% dos
alunos de 7ª a 8ª série até dezembro de 2006; aprovar 25% dos alunos
candidatos a cursos técnicos em exames de seleção; atingir pelo menos
80% do padrão mínimo de 5S nas avaliações bimestrais de 2006 (FDG,
2006, p. 2)
Conforme já foi abordado neste trabalho, adentrou a escola o paradigma do
Controle da Qualidade Total que tem, como um de seus princípios básicos, o
Controle Estastico do Processo (CEP). Este deve ser seguido com rigor. Em
sintonia com o CQT, os resultados obtidos devem ser traduzidos em gráficos que
evidenciam, com maior clareza, as metas atingidas.
- Gráficos de Resultados Históricos
210
Gráfico 1: Resultado da EE Marlielle
Fonte: Dados da pesquisa/2006
TABELA 1
Resultado da EE Marlielle
Resultado da EE Marlielle
Aprovado
Abandono
2002 95,6
96,8
80,8
2003 3,1
2,2
2,2
2001 0,8
1
0,2
Fonte: Dados da pesquisa
Em abril de 2006, segundo o Site da Fundação de Desenvolvimento
Gerencial, foi realizada uma pesquisa com os alunos da Escola Marlielle sobre as
práticas pedagógicas, referentes ao ano de 2005. O objetivo da pesquisa foi o de
identificar o tipo de aula em que os alunos mais aprendem e pelo qual mais se
interessam. A pesquisa levantou, tamm, em quais disciplinas os alunos
consideraram terem aprendido melhor, em 2005, levando em consideração o tipo de
aula ministrada. Segundo os gestores do CQT, os resultados da pesquisa poderiam
211
orientar os professores quanto ao tipo de aula e/ou técnica ditica a serem
priorizadas, para que os alunos aprendessem com mais prazer e qualidade.
Resultados da pesquisa:
Gráfico 2: Como os alunos consideraram as aulas em 2005
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 2
Como os alunos consideraram as aulas em 2005
Como os alunos consideraram as aulas em 2005
Interessante Eficaz
Desinterrantes e Ineficazes
5ª 71%
29%
6ª 88%
12%
7ª 67%
33%
8ª 66%
34%
Total geral 78%
22%
Fonte: Dados da pesquisa/2006
Em geral, os alunos consideraram as aulas de 2005 interessantes e eficazes.
A 6ª série foi, entre todas, a que considerou as aulas mais interessantes e eficazes e
a 8ª série foi a que considerou as aulas menos interessantes e eficazes.
212
Gráfico 3: Disciplina em que os alunos mais aprenderam
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 3
Disciplina em que os alunos mais aprenderam
Disciplina
%
Português 20%
Matemática 47%
Geografia 29%
História 49%
Ciências 56%
Inglês 49%
Fonte: Dados da pesquisa
Os alunos consideraram que a disciplina na qual mais aprenderam, em 2005,
foi Ciências e a que menos aprenderam foi Português.
213
Gráfico 4: Tipo de aula que os alunos mais gostaram em 2005
Fonte: FDG, 2006
Pela leitura do gráfico, podem-se verificar os tipos de aulas que os alunos
consideraram como as melhores, ou seja, trabalhos em grupo, jogos e informática.
Tipos de aulas que os alunos menos gostam: expositiva, semirio, palestra e júri
simulado. De acordo com o gráfico, os alunos de 5ª a 8ª séries fizeram as mesmas
opções quanto à preferência do tipo de aula
62
.
Considera-se que o CQT reduz a qualidade de ensino à utilização de
técnicas/recursos diticos eficientes, desconsiderando a formação docente, a
importância das condições salariais e de trabalho dos professores, a relevância de
uma base trico-conceitual consistente. Além disso, são priorizados os
índices/metas de produtividade, que são obtidos em atendimento ao bimio ensino-
aprendizagem (OLIVEIRA, 1998).
É de se estranhar que uma instituição, tradicional como a Marlielle, tivesse
lançando mão da referida estratégia. Mas ao que tudo indica, embora não tenha sido
divulgado, na gestão de Eduardo Azeredo, a Qualidade Total foi resgatada em
62
Fundação de Desenvolvimento Gerencial, 2006.
214
algumas escolas da Rede Estadual
63
de Belo Horizonte.
4.2.8 Desempenho dos alunos
Nesta oitava categoria, os professores se posicionaram sobre o desempenho
dos alunos, sem considerar os dados, coletados pelo controle Estastico do
Processo, elaborado pelos gestores da Qualidade Total:
[...]tem turmas mais fracas e extremamente complicadas, mas também tem
turmas com boa capacidade de aprendizagem (PROF. 8).
[...] alunos que são destaques e outros apresentam uma defasagem
muito grande na aprendizagem. O rendimento é heterogêneo, alguns alunos
aprendem com mais rapidez tem um refoo em casa e por isso tem um
bom aproveitamento. Outros não, outros já têm problemas na família, não
são acompanhados em casa, o que acarreta mais dificuldades na
aprendizagem. A indisciplina, também, conduz para um aproveitamento
ruim (PROF. 6).
[...] “Se o pai e a mãe atuassem mais, eu acho que o rendimento seria três
vezes mais... entendeu? Porque são muitos meninos que deixam de fazer o
dever. Acho que é em casa que o aluno fixa a matéria e como não tem um
acompanhamento, não tem uma cobrança, a aprendizagem fica a desejar
(PROF. 7).
[...] Conheço pouco da escola para poder caracterizar o aluno. Mas pelo
que a gente observa em termos de aprendizagem, eu acho que é um nível
mediano porque a gente tem um número de alunos muito interessados por
sala. Temos uns 40% de alunos medianos, 40% de alunos bons e 20% de
alunos muito fracos, muito sem interesse.
[...]Muitos alunos não têm acompanhamento em casa, não tem suporte
financeiro. Isso dificulta a aprendizagem (PROF 15).
63
No dia 11 de agosto de 2006, foi realizada uma cerimônia de assinatura dos Convênios de
Assistenciais da FDG. Essa cerimônia objetivou a formulação de novos convênios, a renovação de
parcerias já desenvolvidas e a exposição no novo modelo de contrato a ser celebrado. O encontro
contou com a presença do Presidente do Conselho de Administração Superior da FDG, Dr. Wilson
Martins de Assis, Membros dos Conselhos Curador e Fiscal da Fundação, respectivamente, Dr.
Orlando Euler de Castro e Dr. Sebastião Dirceu Guedes, além da Presidente Executiva, Eliane
Corrêa. Também compareceram à cerimônia os representantes de todas as instituições assistidas,
instrutores conveniados à Fundação, assessorias e colaboradores administrativos. Foram renovados
os contratos com as seguintes escolas: Escola Estadual Maestro Villa Lobos; Escola Estadual
Professor Leopoldo de Miranda e Escola Estadual Barão do Rio Branco. Novos contratos foram
efetivados com as seguintes escolas: Escola Estadual Pedro II; Escola Estadual Professor Pedro
Aleixo; Escola Estadual Técnica Professor (FDG, 2006).
215
[...] Na minha opinião, aqui na escola, s temos excelentes alunos com
capacidade de adquirir conhecimento no processo educacional dele. A
grande maioria dos alunos tem uma competência grande, mas s temos,
também, alunos com pouco interesse. Acredito que essa falta de interesse é
devido à falta de valorização, por parte da sociedade, do diploma e pela
falta de emprego. A gente insiste com esses, para fazer o que é cobrado. Eu
gostaria que esse fazer dos alunos fosse mais espontâneo, que eles
desejassem fazer as tarefas que o professor determina (PROF. 10).
[...] Eu fiz um levantamento do rendimento do aluno na minha matéria: eu
tive 40% de aluno excelente no rendimento, 30% de alunos bons que
ficaram na média. Então você vê que 70% ficaram entre excelente e bom e
apenas 30% abaixo da média (PROF. 1).
[...] A indisciplina prejudica o rendimento escolar. Mas eu sempre perguntei
o que é rendimento escolar? O que rende é o que fica, é o que sobrou.
Então eu vejo que o adianta passar uma prova muito dicil de conteúdo e
de memorização. O aluno pode tirar nota boa porque memorizou, mas o
conteúdo não ficou. No ano seguinte, ele não sabe do que se trata, não
lembra, não recorda. Então isso, para mim, não é rendimento escolar.
Existem dois tipos de rendimento, aquele que você prova através de nota.
Rendimento escolar é o que ficou, o que o aluno aprendeu, aquilo que o
aluno conseguiu operar (PROF. 4).
[...]Eu acho que essa diferença social ajuda na troca dos conhecimentos.
Um aprende com o outro. Eles aprendem com o tempo a ter o respeito pelo
diferente (ADM.2).
[...] Eu acho que, como toda escola, o rendimento tem estado sempre
aquém do desejável .... tá... os meninos dessa escola não têm... como que é
mesmo ... muita disciplina, falta ajuda de casa, a gente não sabe cobrar, os
pais não cobram (PROF. 13).
Contudo, pelo que se pode perceber, a escola, seus gestores e professores
vêm conseguindo conviver e trabalhar com as diferenças, existentes entre seus
alunos, e têm obtido bons resultados escolares.
Segundo Gómez:
[...] A organização da aula e da escola, e a formação profissional do docente
devem garantir o tratamento educativo das diferenças, trabalhando com
cada aluno/a, desde sua situação real, e não do nível homogêneo da
suposta maioria estastica de cada grupo de classe. [...] A igualdade de
oportunidades não é um objetivo ao alcance da escola. O desafio educativo
da escola contemporânea é atenuar, em parte, os efeitos da desigualdade e
preparar cada indivíduo para lutar e se defender, nas melhores condições
possíveis, no cenário social.
[...] o objetivo da tarefa educativa da escola obrigatória nas sociedades
industriais deve ser, em nossa opinião, provocar e facilitar a reconstrução
216
dos conhecimentos, atitudes, e formas de conduta que os alunos/as
assimilam direta e acriticamente nas práticas sociais de sua vida anterior e
paralela à escola (GÓMEZ, 1998, p. 24-25).
Mais importante do que transmitir informações e obter resultados satisfatórios,
a escola deve buscar dar uma formação consciente teoricamente e voltada para a
cidadania, através da construção de projetos bem elaborados, que busquem: romper
com a simples reprodução, repensar os espaços e os tempos escolares; viabilizar a
formação continuada dos docentes; oportunizar a vivência de práticas sociais e o
intercâmbio acamico para que induzam à solidariedade, à colaboração, à
experimentação compartilhada, assim como a outro tipo de relações com o
conhecimento e a cultura que estimulem a busca, a comparação, a crítica, a
iniciativa e a criação. (MEZ, 1998, p. 26).
Considera-se que a heterogeneidade, presente no cotidiano da escola, pode
ajudar os alunos a despertarem para a alteridade, para as diferenças, para aprender
a reinterpretar os significados da cultura, mediante processos solidários de
intercâmbio, compreensão e interação.
Retomando a qu0 Tc (c) Tj0.04844 Tc ( )168216 Tc (l) Tj0.048 Tcaã0 Tj1.944 Tc ( ) Tj192 Tc (o) Tj-0.094(ã0 Tj1.9444 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.048 Tc (een) Tj0 Tc (s) Tj0.0új192 Tc (o) Tj-0.0984 Tc ( ) Tj0.04(ã0 Tj1.944 Tc ( ) Tpc (i) Tj0.048 Tc (o) Tj264 Tc (j) Tj0.048 Tc (192 Tc (o) Tj-0.094(ã0 Tj1.940.192 Tc (a) Tj6.2264 Tc (j) Tj0.048 Tc (u0.084 Tc (r) Tj0.048 Tc Tj-0.192 Tc (d) Tj0.048 T4 Tc ( ) Tj0.04(ã0 Tj1.944 Tc ( ) Td024 Tc (t) Tv0 Tc (s) Tj0.048 Tc (ão) T-.084 Tc (r) Tj0.048 Tc (o) j0.048 Tc (d) Tj-04 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.048 Td) Tj0.048 Tc (p) Tj0.084 Tc (r) TjTj0 Tc (sc) Tj-.048 Tc (qu0 Tc (c) 4 Tc ( ) Tj0.048 Tc (a) Tj0.2642.18R) Tj0.048 Tc (e) Tj0 (c) 4 Tc ( ) Tjuj0 Tc (sc) Tj-.048 2.18R) Tj0.048 048 Tc (o) Tj0 T2.18R) Tj0.048 T4 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.048 048 Tc (o) hi) Tj0.048 Tc (an) Tj0.02c0.048 Tc (p) Tj0.084 Tcc (u) Tj0.216 Tc (l) Tj0.048 Tc (een) Tj0 Tc (s) Tj0.Tj-0.192 Tc (e) j0 T2.18R) Tj0.048 T4 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.084 Tc (r) Tj0.048 Tc (een) Tj0 Tc (s) Tj0.048 Tc48 Tc (â) Tj-0.396 Tc (m) Tj0.264 Tc (j) Tj0.048 Tc (Tj0.024 Tc (,) TTj0 Tc (sc) TjTj0 T2.18R) Tj0.048 Tj-0.156 TTj-0.024 Tc (i) Tj0.2.18R) Tj0.048 T4 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.084Tc (qu0 Tc (c) Tj0.04844pTj-0.024 Tc (i) Tj0.2.18R) Tj0.048 Tc (een) Tj0 Tc (s) Tj0.048 Tc48 Tc ( ) Tj6348 Tc48 (s) Tj6.264 Tc ( ) Tj0 Tc (4 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.084T(o) Tj-0.094(ã0 Tj1.944 Tc ( ) Tj0.0480c (i) Tj0.2.18R) Tj0.048 24 Tc (,) TTj0 Tc c ( ) Tj0 Tc (4 Tc 4 Tc (t) Tj0.04c0.048 Tc (p) Tj0.084 Tcc ( ) Tj0.084c (c) Tj0.048 Tc (e) Tj0 Tc (s) Tc (r) Tj0.048 Tc Tj-0.10.0480c (i) Tj0.192 Tc (e) Tj0.084(a) Tj0.264 (qu0 Tc (c) Tj0.04844 0.024 Tc48 (s) Tj6.2643.1ã0 Tj1.944 Tc ( ) Tu0.084 Tc Tc (.) Tj-0.216 Tc ( )6.2643.1ã0 Tj1.944 Tc ( ) T0.048 Tc (qu0 Tc (c) Tj0.04844 0.048 048 Tc (o) Tj0 Tc c ( ) Tj0 Tc t) Tj0.04z1.944 Tc ( ) Tg048 Tc48 Tc (â) Tj-3.1ã0 Tj1.944d) Tj0.048 Tc (p) Tj0.0840.048 Tc (a) Tj-0.156 Tc (r) Tj6.264 Tc ( ) Tj0.048 Tc (o) Tj-0.24 Tc (s) Tj6.264 Tc ( ) Tj0 Tc (s)) Tj0.048 Tc (ot Tj-0.24 Tc (s) Tj6.264 Tv0 Tc (s) Tj0.)) Tj0.048 Tc (o. Tj-3.1ã0 Tj1.94-Tc (qu0 TP) Tj0.048 Tc (Tj0.024 T (s) Tj6.264 T6 Tc ( )6.2643.1ã0 Tj1.944 T0.216 Tc (i) Tj0.048 T) Tj6.2264 Tc (j) Tj0.0 Tc (e) j0 T3.1ã0 Tj1.94-Tc48 Tc (ot Tj-0. Tc (c) T0.084Tc (qu0 Tc (c) Tj0.048440.048 048 Tc (o) 0.048 Tc (a) Tj-.084 Tc (r) Tj0.c (sc) Tj-.048 2.90R) Tj0.048 Tj-0.156 T(an) Tj0.02c0.048 T.048 Tc (an) Tj0.024 Tj0.048 Tc (o) c (o) TjTc (qu0 Tc (c) 4 T0 Tc (e)Tj0.024 Tc (t) Tj-0.3.1ã0 Tj1.94-Tc44264 Tv0 Tc (c (p) Tj0.0840.048 Tc (Tj0.024 Tc (,) Tb (c) 4 T0 Tc (e)T048 Tc (e) Tj0 Tc (s) 0.04z1.944 Tc ( ) Tj0.048 Tc (a) Tj0.2643.1ã0 Tj1.94-Tcc ( ) TjTj0.084(a) Tj0.264 (qu0 Tc (c) Tj0.04844 0 Tc (4 Tc (r) Tj0 Tc (c) T0.048 Td) Tj0.0480.048 Tc (ot Tj-0.24 Tc (s) Tj6. T0.216 Tc (i) Tj0.048 Tu48 Tc (e) Tj0 Tc (s) 0.04e) Tj-0.216 Tc ( ) Tj0.216 Tc (i) Tj-0.1923.38R) Tj0.048 Tj-0.156 e0.1923.38R) Tj0.048 4 Tc ( ) Tj0.0483.38R) Tj0.048 T264 Tv0 Tc0.192 Tc (a) Tj6.2264 Tc (j) Tj0.048 Tc (T0.084 Tc (s) Tj6.264 Tc ( ) Tj0 Tc (4 Tc z1.944 Tc ( ) T1.94-Tc44264 Te) Tj-0. Tj0.048 Tca) Tj1.3.38R) Tj0.048 Tj-0.156 dTj-0.024 Tc (i) Tj0.3.38R) Tj0.048 T264 T(r) Tj0 Tc (c) T0hej-0.024 Tc (i)c (c) 4 T0 Tc (e)Tj0.0 Tcc (u) Tj0.216 Tc (l) Tj0.048 Tc (een) Tj0 Tc (s) Tj0.Tj-0.1c (i) Tj0.3.38R) Tj0.048 Tc (e) Tj0.024 Tc3.38Re
217
muito baixo e que hoje são doutores... ... e um outro que está fazendo
doutorado na França. Esses estudaram na escola pública a vida toda. Eu já
tive aluno que estudava embaixo do poste, utilizando a luz do poste, porque
não tinha energia elétrica em casa... ... e ganhou uma bolsa de Mestrado
em Paris. Então eu acho que não é o nível social, que vai determinar se o
aluno é bom ou ruim e sim o querer. Se ele quer, ele consegue. É a vontade
do aluno que determina. Agora aqui, nessa escola, o que eu mais vejo é
que eles não estão querendo saber de nada... sabe... assim... eu estou
falando no geral ... é claro que tem uma porcentagem de 10% que estão
estudando, que os pais dão assistência, fazem os exercícios em casa, mas
a grande maioria não. A gente pede para prestar a atenção e a resposta é
que eles serão aprovados do mesmo jeito. Eles falam: não adianta o
professor reprovar a gente, porque a Secretária aprova e a gente sabe que
elas vão atrás de vocês para subir a nossa nota. Eu acho que isso é um
grande prejuízo para o ensino. Os alunos saem do ensino fundamental sem
saber interpretar um texto. Eles não conseguem falar o que leram. Então
isso aí, eu acho que vai ser uma perda muito grande para eles, tanto na
vida profissional como de estudante... ... eu acho que alguma coisa tem
de ser feita, mas realmente a gente é bastante cobrado em relação a nota
do aluno. É dar nota, dar nota, então a aprendizagem está bastante fraca e
eu estou andando triste demais com o ensino ultimamente... sabe,
decepcionada mesmo com o ensino! (PROF. 5).
Em síntese, o professor enfatiza que o sucesso da aprendizagem está
relacionado ao querer” do aluno e, não propriamente, as suas condições sociais. E
que se deve levar em conta as relações e as trocas, que acontecem entre os
próprios alunos e entre alunos e professores, que favorecem os processos de
aprendizagem. Ela critica, também, a cultura dos resultados, das notas, da
aprovação, que preteriza a importância de uma formação mais consistente e que se
preocupe, realmente, com a qualidade da educação.
Considerando tais pressupostos, passou-se através de entrevistas, realizadas
com professores de diferentes áreas do conhecimento, a tecer as teias de
significados, conferidos ao Ensino Religioso, a partir da pesquisa realizada em uma
escola estadual de Belo Horizonte.
4.3 O Ensino Religioso nas ries finais do Ensino Fundamental da Escola
Estadual Marlielle: dados coletados pela pesquisa
A Escola Estadual Marlielle, através do seu Projeto Político Pedagico,
respeitando os encaminhamentos legais determinados pela Lei 9394/96, modificado
pela Lei 9475/97, em relação ao Ensino Religioso, enfatizava que
218
[...] o currículo escolar do ensino fundamental deverá possibilitar aos alunos
o acesso a uma base comum para garantir a unidade e a qualidade da ação
pedagógica e a uma parte diversificada, integradas em torno do paradigma
curricular que vise à relação entre as áreas de conhecimento, a vida cidadã
e a educação fundamental. As áreas de conhecimentos, estabelecidas
como base nacional comum compreendem: Língua Portuguesa,
Matemática, Ciências, Geografia, História, Artes, Educação sica e
Educação Religiosa. A Língua Estrangeira moderna, tanto a obrigatória
quanto as optativas, serão incluídas no cômputo da carga horária da Parte
Diversificada (PPP, 2006 p. 2).
Isso significa dizer que, no conjunto dos componentes curriculares, o Ensino
Religioso era reconhecido como área de conhecimento, fazia parte integrante da
formação do educando, estava alicerçado e aberto ao pluralismo religioso, existente
numa comunidade escolar.
Embora a Proposta Política Pedagógica não fizesse uma outra alusão
explícita ao Ensino Religioso, a finalidade da escola e o que ela definia como vida
cidadã
64
podiam servir como pontos de referência, para organizar uma de suas
propostas de ensino que se traduzia na opção por uma formação ética, pluricultural
e cidadã
65
do aluno, de forma crítica, reflexiva e interdisciplinar.
Essa Proposta enfatizava, entre outros itens, que um dos princípios
pedagógicos, adotados como estruturador do currículo do Ensino Fundamental, era
o da Interdisciplinaridade. Mas, nas entrevistas, realizadas com os professores das
diferentes áreas de conhecimento, a interação do Ensino Religioso com essas outras
áreas, ou seja, a interdisciplinaridade ficava mais no campo do discurso do que da
prática:
[...]Se tivesse um trabalho interdisciplinar com os temas sobre afetividade,
sexualidade e afetividade seria muito gratificante (PROF. 12).
64
“A escola tem por finalidade a formação integral do aluno. Além de promover a aprendizagem dos
conteúdos das diversas áreas de conhecimento, visa à transmissão e à vivência de valores éticos,
morais e sociais, assegurando-lhe a formação indispensável, para o exercício da cidadania (PPP,
2006, p.1)
“A vida cidadã abrange aspectos variados como saúde, sexualidade, vida familiar e social, meio
ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura, linguagem e valores morais e éticos (PPP, 2006,
p.2)
65
A construção ética, pluricultural e cidadã está bem delineada no Art. das Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental: as escolas deverão estabelecer, como norteadores de suas
ações pedagógicas: a) os princípios da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do
respeito ao bem comum; b) os princípios dos Direitos e dos Deveres da Cidadania, do exercício da
criticidade e do respeito à ordem democrática; c) os princípios estéticos da sensibilidade, da
criatividade e da diversidade de manifestações arsticas e culturais. (BRASIL, 1998)
219
[...] Acho dicil acontecer a integração do Ensino Religioso com as outras
disciplinas porque o Ensino Religioso acontece uma vez por semana. As
aulas da professora são concentradas, então, às vezes, ela não tem
oportunidade de entrar em contato com os demais professores. Isso é feito
na medida do possível, mas depende muito da boa vontade dos
professores, de se dispor a ficar e de entrar em contato com os outros
(ADM.1).
[...] A professora faz até um trabalho bem bacana com as outras
professoras. Existe um projeto interdisciplinar sobre droga e sexualidade e a
professora de Ensino Religioso está muito integrada nesse trabalho (PROF.
5).
[...] A integração dessa disciplina com as demais áreas é muito dicil devido
à carga horária muito reduzida. Fica muito dicil discutir uma proposta com
esse profissional que vai duas ou três vezes à escola e, mesmo assim, com
todo o horário preenchido (PROF. 9).
[...] Nada aqui é integrado. Aqui é cada um por si e Deus por todos. Às
vezes, coincide de um estar trabalhando a mesma coisa e a gente até pede
ajuda, mas não tem essa integração. o é só o Ensino Religioso que não
trabalha integrado. São todas as disciplinas (PROF. 2).
Um aspecto percebido, tanto nas conversas informais com os professores,
quanto nos dados coletados, é que a Escola realizara, em 1999, um projeto
interdisciplinar para buscar minimizar as questões relativas à gravidez precoce e ao
uso de drogas. As professoras, então, desenvolveram trabalhos de conscientização
dos adolescentes sobre sexualidade e uso de drogas, para que eles, além de serem
mais bem informados, se precavessem de forma adequada.
Nesse caso, o Ensino Religioso desempenhou, junto com as outras
disciplinas, a parte que lhe coube no referido processo de conscientização,
desenvolvendo a abordagem sobre a identidade do adolescente na relação consigo
mesmo e com o outro. Hoje, esse projeto perdeu seu caráter interdisciplinar, mas se
tornou um dos temas integrantes nas aulas de Ensino Religioso.
Considera-se que o trabalho interdisciplinar poderia evitar a desconexão e a
fragmentação dos conteúdos, peculiares no âmbito das disciplinas. O diálogo do
Ensino Religioso com as outras disciplinas poderia contribuir para uma melhor
formação do aluno, abrindo-lhe horizontes para compreender o mundo
contemporâneo, superar fronteiras de uma visão pouco consistente das religiões e
redefinir valores e novos referenciais.
Na matriz curricular do Ensino Fundamental da Escola Marlielle, o Ensino
Religioso ministrado da 5ª à 8ª séries, totalizava 40 aulas anuais, possuindo uma
carga horária anual de 33h. 20m., em cada série, constituindo-se, assim, como
220
disciplina da matriz curricular da instituição. Enfatiza-se que a carga horária do
Ensino Religioso não era computada para o mínimo de horas-aula, ofertado pela
escola, por ser de matrícula facultativa
66
.
Trabalhar com essa carga horária tão reduzida era um grande desafio para a
professora de Ensino Religioso, pois demandava escolher atividades que pudessem
ser mais bem aproveitadas, tendo em vista esse limite de tempo.
Quando se pensa nos fundamentos do Ensino Religioso, faz-se necessário
perguntar que concepções os educadores trazem no seu imagirio, a respeito
dessa disciplina? Que tipo de ser humano o Ensino Religioso deseja construir, neste
contexto atual tão plural, que incide sobre as realidades das escolas e das suas
comunidades? Como os diversos atores, professores e profissionais da educação se
posicionam sobre essa disciplina, no âmbito da prática pedagógica escolar?
4.3.1 Múltiplos olhares sobre o Ensino Religioso: as falas de professores e
profissionais da Escola Estadual Marlielle
O Ensino Religioso, considerado como disciplina curricular e como área de
conhecimento, recebia grande influência do imagirio vivencial dos professores.
Foi, a partir de suas experiências de vida, que os 16 professores das diversas áreas
66
A questão referente à carga horária foi um dos temas que, após a vigência da LDB 9394/1996,
precisava ser regulamentado. No que concerne ao Ensino Religioso, existe o parecer 5/97 [...] Nunca
será demais enfatizar que somente serão computados nas oitocentas horas, previstas pela lei, os
componentes a que o aluno esteja obrigado, nelas não se incluindo, por exemplo, a educação física
nos cursos noturnos e o ensino religioso Cf. Conselho Nacional de Educação, Parecer 5/07 -
Proposta de Regulamentação da Lei 9394/96, aprovado em 07/05/97. (BRASIL, 2006c).
A carga horária é também discutida no Parecer 12/97, a fim de esclarecer dúvidas sobre a disciplina
em apreço, em complemento ao Parecer 5/07. No Parecer 12/97 item 2.3. O Ensino Religioso e sua
carga horária mínima [...] também foi perguntado se o ensino religioso é computado para a totalização
do mínimo de oitocentos horas e a resposta é, não. Por um motivo fácil de ser explicado. Carga
horária mínima é aquela a que todos os alunos estão obrigados. Desde o Art. 210, parágrafo da
Constituição Federal está definido: O ensino religioso de matrícula facultativa (grifo do relator),
constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. O Art. 33 da
Lei n. 9394/96, com a nova redação que lhe deu a Lei n. 9475/97, como não poderia deixar de ser,
embora regulamentando, o dispositivo constitucional mencionando, o faz mantendo facultativa a
matrícula. Ora, se o aluno pode optar por freqüentar, ou não, a referida disciplina, haverá quem
optará por não fazê-lo. E quem assim decidir, terá menos de oitocentas horas por ano, na hitese de
a escola se ater ao mínimo exigido por lei, o que art 24, inciso I não admite. Cf. Conselho Nacional
de Educação, Parecer 12/07 - Esclarece vidas sobre a Lei n. 9394/96 (Em complemento ao
Parecer CEB n. 5/07, aprovado em 08/10/97). (BRASIL, 2006c).
221
de conhecimento e dois profissionais do setor administrativo da Escola Marlielle se
posicionaram a respeito do Ensino Religioso e sua inserção no campo escolar.
Para viabilizar uma adequada compreensão desses posicionamentos, acerca
do Ensino Religioso, considerou-se importante analisar os dados, a partir do
estabelecimento de quatro categorias: a inclusão do Ensino Religioso, no contexto
da escola pública; profissionalização/formação dos professores do Ensino Religioso;
concepção de Ensino Religioso; contribuição do Ensino Religioso para a formação
do discente.
4.3.1.1 A inclusão do Ensino Religioso no contexto da Escola Pública
Nesta primeira categoria, os diferentes sujeitos entrevistados não colocaram
objeção quanto à inclusão do Ensino Religioso na escola blica, mas explicitaram
seus posicionamentos sobre a disciplina e como eles a compreendem. Os dados
coletados, nessa categoria, foram agrupadas pelos modos semelhantes de conceber
a disciplina em pauta: compreensão ecumênica do Ensino Religioso; posição
contrária à postura ecumênica do Ensino Religioso; um Ensino Religioso embasado
na experiência e na formação de valores e atitudes; modelo catequético de Ensino
Religioso - confessional; Ensino Religioso em uma dimensão holística e pluralista;
Ensino Religioso e capacitação docente.
- Compreensão ecumênica do Ensino Religioso
[...] É bom que tenha Ensino Religioso na escola, mas não pode ficar ligado
a uma religião. Ele deve ser ecumênico. Tem de ter uma visão mais
abrangente. Se for uma aula ligada a uma determinada religião não é
cabível para uma escola pública (PROF. 4).
Nesse caso, o docente entrevistado considera, em sua fala, o pluralismo que
deve haver; a complexidade que peculiariza o Ensino Religioso e a importância de
se desenvolver um trabalho ecumênico. Nessa perspectiva, o Ensino Religioso
necessita ser concebido em uma dimensão ecumênica, porque, como observa
Caron:
222
[...] uma escola que tem sua proposta político-pedagógica com vistas à
formação integral do educando pode oportunizar que educandos e
educadores façam a experiência da vida socializada e compartilhada. Nela,
ambos vivem e convivem com a pluralidade de diferenças culturais. Assim,
educandos e educadores podem, também na escola, tentar fazer a
experiência da fraternidade universal. Para atender, na globalidade, o
universo religioso da clientela estudantil é preciso que a visão e prática
ecumênica da ERE ultrapassem as fronteiras das igrejas e cheguem a ir
além da visão puramente cristã. A ERE, desenvolvida com esta
abrangência, está dentro de uma compreensão integral de ecumenismo. É
de suma importância considerar o ecumenismo a partir do diálogo inter-
religioso (CARON, 1997, p. 70).
- Posição contrária à postura ecumênica do Ensino Religioso
[...] Eu acho útil ter aulas de Ensino Religioso, mas os assuntos devem ser
mais diversificados porque eu acho que não seria muito efetivo falar sobre
as religiões, devido às diversidades, existentes na escola. Esse é um
momento muito interessante para o aluno refletir um pouco sobre outros
assuntos fora da Matemática, Português, História, etc. (PROF. 8)
[...] Eu acho que o Ensino Religioso deve existir na escola pública, mas não
focalizando nenhuma religião. Ela deveria ser um suporte para todas as disciplinas,
através dos assuntos sobre valores, cidadania e sobre a vida (PROF. 16)
Nota-se, pelos discursos dos professores, que existe uma concordância sobre
a integração do Ensino Religioso, no currículo da escola blica. Mas eles se
posicionam contra um Ensino Religioso confessional e contra a abordagem da
temática das religiões, devido à diversidade de credos, praticadas pelos alunos da
escola. Os sujeitos, entrevistados, criticaram a priorização de conteúdos ditos
“religiosos, o que pode evidenciar tanto uma preferência pela laicidade do ensino,
quanto uma crítica a um ensino marcado pelo privilegiamento da questão doutrinal.
Essa concepção, relativa ao Ensino Religioso, pode privar o educando da
possibilidade de enriquecimento espiritual, de uma maior compreensão do direito à
liberdade religiosa, da valorização das diversas manifestações culturais que os
educandos trazem consigo. No contexto escolar, para contemplar o pluralismo
presente, “é necessário que os programas e aulas de Ensino Religioso considerem a
dimensão da religiosidade, fundamento antropológico da religião (CARON, 1997, p.
72).
Desconsiderar a dimensão de religiosidade, expressa no contexto escolar e
suas implicações na vida dos educando, é desconhecer, de acordo com
223
Brandenburg (2004, p. 45), quea escola é um lugar multidisciplinar por acolher
pessoas de diferentes etnias, situações socioeconômicas, partidos políticos, gêneros
e confissões religiosas e que o sagrado encontra-se nas situações aparentemente
profanas das nossas vidas.
O Ensino Religioso, considerado componente curricular obrigatório, se
apresenta como um espaço de inclusão, no qual as conviões e a liberdade
religiosa dos educando devem ser ouvidas e respeitadas. Nesse espaço de
construção do conhecimento, observa Gaarder (2000, p. 14),a tolerância, ou seja,
respeito pelas pessoas que têm pontos de vista diferentes do nosso, é uma palavra
chave no estudo das religiões, pois nenhuma tradição religiosa pode pretender ter a
posse de Deus, negando os valores sagrados das demais”.
Mas, muitas vezes, não basta somente cultivar a tolerância religiosa, enfatiza
Pereira (2004)
67
, citado por Hoff (2005)
[...] é preciso ir além, pois este ideário nos envolve em um sentimento de
aceitação do outro, mas não compõe um quadro de inclusão, pois, na
perspectiva da diversidade, a diferença e a identidade tendem a ser
naturalizadas, cristalizadas e essencializadas [...]. Dessa forma,
diversidade e alteridade sinalizam para um outro fator que deve ser
considerado no espaço de construção do conhecimento, sobretudo o
religioso: o fator identidade. Ele está muito presente no cotidiano das salas
de aula, principalmente nos encontros de Ensino Religioso, e se exterioriza
através das falas significativas dos alunos, quando os mesmos declaram-se
adeptos dessa ou daquela confissão religiosa, demonstrando a diversidade
religiosa, existente naquele espaço. Assim, pode-se afirmar que a diferença
é uma marca importante na construção da identidade humana [...], pois os
seres humanos o são iguais e devem aprender na diferença (HOFF,
2005, p. 229).
Outro aspecto merecedor de atenção, no depoimento do professor de mero
16, é a percepção de que o Ensino Religioso deve ser suporte para as outras
disciplinas. O Ensino Religioso pode mesmo contribuir para a formação do cidadão,
assim como o espaço escolar deve ser rico em significações para que os alunos se
apropriem do seu ser e tomem consciência de seu estar no mundo, de modo
consciente e crítico. Entende-se que o Ensino Religioso é importante, tanto para a
formação de valores, atitudes, quanto como um componente curricular que, através
67
PEREIRA, GILSON DE ALMEIDA. Identidade, diferenças e preconceitos no ambiente escolar: a
importância do toque no processo educativo. In: Anais V Semirio Interdisciplinar em Supervisão
Escolar. Carla Lavínia Pacheco da Rosa, Rudimar Serpa de Abreu (org). Santa Cruz do Sul: Ed.
Edumisc, 2004.
224
da sua proposta, contemple a pessoa do aluno nos seus aspectos sico, moral,
religioso e político. Nesta perspectiva, a Resolução CEB n. 2 de 1998 explicita que:
[...] as escolas deverão reconhecer que as aprendizagens são constituídas
pela interação dos processos de conhecimento com os de linguagem e os
afetivos, em conseqüência das relações entre as distintas identidades dos
vários participantes do contexto escolarizado; as diversas experiências de
vida de aluno, professores e demais participantes do ambiente escolar,
expressas através de múltiplas formas de diálogo, devem contribuir para a
constituição de identidades afirmativas, persistentes e capazes de
protagonizar ações autônomas e solirias em relação a conhecimentos e
valores indispensáveis à vida cidadã (BRASIL, 1998, p. 14).
Assim, o conteúdo do Ensino Religioso não se constitui como um saber pelo
saber, mas como uma área de conhecimento que deve oportunizar o saber de si e,
conseqüentemente, os elementos sicos que comem o fenômeno religioso para
que o educando compreenda a sua busca em direção ao transcendente.
- Um Ensino Religioso embasado na experiência e na formação de valores e
atitudes:
[...] Eu acho que para ele existir tem de ser nessa forma em que é dado,
sem ser uma coisa focalizando um tipo de religião, porque hoje nós temos
várias religiões. Tendo um bom profissional, as aulas ficam muito
interessantes. O trabalho que a professora dessa disciplina desenvolve, a
partir de temas do interesse dos alunos, é muito interessante e os alunos
gostam. Ela proporciona uma discussão que os adolescentes gostariam de
fazer com um adulto (PROF. 2).
[...] Acho importante ter o Ensino Religioso porque é ele que ensina os
valores. Você não vai ensinar um menino a rezar, a ler a Bíblia na aula. O
menino aprende os valores, como vai se situar como ser humano no
ambiente em que vive. Vai aprender a viver com dignidade. Vai aprender
que, se ele beliscar o colega vai doer nele, se ele roubar do outro vai... não
é porque é pecado, mas porque não pode... isso aí é questão de valor. Para
mim Ensino Religioso é ensinar o aluno a dar bom dia, boa tarde, falar com
licença, por favor. Ensinar religião é função dos pais. Cada um tem a sua
religião. As aulas são para os alunos aprenderem a refletir sobre a vida
(PROF 11).
[...] Não vejo que nas aulas deveria ser tratado o tema da religião, mas o da
bondade, caridade. É isso que é a religião para mim. Ser bom e ter bons
hábitos é muito importante para o ser humano. Deus é um só. Ele quer que
seus filhos sejam bons, honestos, caridosos. É isso que importa em
qualquer Igreja que a pessoa estiver freqüentando. Eu acho que tem de
trabalhar os bons hábitos e não a religião (ADM.2).
225
[...] o Ensino Religioso deve acontecer do jeito que é trabalhado aqui na
escola, porque aborda as questões emocionais, trabalha os valores, a
sexualidade e a afetividade, em geral. Acho importanssimo esses
assuntos. São esses os temas que pegam no Ensino Religioso. Discordo
quando chega um outro professor e começa a trabalhar a Bíblia. Na minha
disciplina, quando fui trabalhar a evolução das escies, entrou o assunto
sobre religião. Alguns alunos começaram a falar que a religião X é do
capeta. Propus um debate sobre as religiões depois de uma pesquisa feita
pelos alunos. Esse trabalho foi gratificante. A Bíblia pode entrar como um
dos assuntos, mas não concordo quando se diz que Jesus é o único filho de
Deus direto e nem estudar a Bíblia como o único livro sagrado. Já tive
alunos mulçumanos. Na época, eu pedi que eles trouxessem o Alcorão. Se
eu fosse professora de Ensino Religioso trabalharia todos os grandes livros
das religiões. Se os professores trabalharem assim, eu concordo que se
trabalhe as religiões. Não concordo quando o trabalho é direcionado para o
cristianismo, ou só para a religião católica, ou para a Evangélica. É isso que
acontece. Se fosse para fazer um debate geral, levantar tudo que fosse
positivo, fazer crítica aos aspectos negativos, aí eu sou a favor (PROF. 12).
Os professores e o pessoal não docente consideraram que o papel da
disciplina, em apreço, seria o de trabalhar a formação de atitudes, se posicionando
contrário a um aprofundamento das temáticas que envolvem as religiões. Nessas
falas, existiu uma aproximação, não com a religião em si, mas com sentimentos e
atitudes que toda pessoa deve cultivar e, de certo modo, foi priorizada uma visão
que aproximasse a espiritualidade à própria vida, como sendo o cultivo de atitudes a
serem vividas. Observa-se, portanto, a preocupação com a formação do ser humano
do educando, a fim de ajudá-lo a tomar consciência de si e do outro e a poder se
situar melhor no contexto da sociedade e da escola.
O Ensino Religioso, de acordo com Cândido,
[...] ao tratar das respostas aos questionamentos existenciais, a concepção
de mundo seria a instância capaz de ordenar os conhecimentos recebidos
como respostas e possibilitar uma visão global do mundo. A tradição
religiosa, a política, a ideologia são apresentadas como estruturantes da
concepção de mundo (CÂNDIDO, 2005, p. 26).
Outro educador (PROF. 12), a partir de sua experiência em sala, considerou
que é importante trabalhar as religiões, desde que não seja numa perspectiva
confessional. O Ensino Religioso, de acordo com Sena (2005), não pode ser
entendido como mera informação a respeito de religiões, ou manifestações
religiosas, mas através do conhecimento das grandes experiências religiosas da
humanidade e das expressões, em busca do sentido da vida, devendo favorecer o
autoconhecimento do educando e seu posicionamento, diante da vida, na inter-
226
relação respeitosa com os demais.
O depoimento do docente (PROF. 12) expôs a necessidade de se trabalhar
com os livros sagrados, enfatizando que uma das tarefas do Ensino Religioso seria a
introdução à linguagem religiosa. Os alunos deveriam ser levados a perceber que,
nos textos sagrados das diversas religiões, existe uma linguagem que aponta para a
ação divina no mundo, pois, de acordo com PCNER:
[...] o conhecimento religioso é um conhecimento disponível e, por isso, a
Escola não pode recusar-se a socializá-lo.
Por questões éticas e religiosas, e pela própria natureza da Escola, não é
função dela propor aos educando a adesão e vivência desses
conhecimentos, enquanto princípios de conduta religiosa e confessional, já
que esses são sempre propriedade de uma determinada religião (PCNER,
p. 22, 1997).
- Modelo Catequético de Ensino Religioso - Confessional
[...]Eu acho que o Ensino Religioso faz falta nas escolas porque deveríamos
estar sempre esclarecendo sobre a religião. Como os alunos não têm orientação
religiosa em casa é bom estudarem um pouco sobre as religiões (PROF. 3).
[...] Eu acho que deve existir o Ensino Religioso tanto na escola pública,
quanto na particular porque é importante a pessoa ter uma religião, acreditar
num ser superior. Apegar-se a isso é muito importante. O Ensino Religioso
precisa ser mais valorizado para estar no mesmo de igualdade das
outras disciplinas (PROF. 5).
[...]É interessante que se tenha Ensino Religioso na escola porque ajuda na
integração do aluno e as famílias estão muito distantes da formação religiosa. Mas o
professor não pode ensinar religião, não é?” (PROF. 14).
Esses professores entrevistados, de certo modo, privilegiaram um modelo
catequético para o Ensino Religioso. Eles transferiram, para a escola, a tarefa de
incutir a fé no educando, através das aulas de Ensino Religioso, garantindo a sua
ligação com as confessionalidades e contribuindo para a formação religiosa desses
alunos. Nessa perspectiva, caberia à escola a valorização das experiências
religiosas, construídas pelos alunos e o trabalhar unilateralmente, sobre uma
determinada fé religiosa. O objetivo do Ensino Religioso, para eles, não deve ser o
de substituir a família, no que tange à orientação religiosa.
227
O Ensino Religioso deve proporcionar experiências de vida, privilegiando as
trocas significativas entre os educandos, para que eles possam assimilar elementos
novos na vivência de sua fé, compreender melhor a fé dos outros e perceber as
implicações que a religiosidade tem na sua vida pessoal e na história da
humanidade.
Enfatiza-se que, é preciso preservar o respeito àquilo que a pessoa do aluno
traz de experiência religiosa, numa perspectiva ética, sem a qual é impossível
desenvolver um trabalho enriquecedor, em consonância com as premissas do
Ensino Religioso. Cabe a eles, portanto, de acordo com Hoff,construir com seus
educandos uma proposta de visão sistêmica da realidade religiosa presente no
mundo, sem, entretanto, cometer proselitismo religioso (HOFF, 2005, p. 229).
- Ensino Religioso em uma perspectiva holística e pluralista
[...] Penso que deve mudar alguma coisa. Por exemplo, precisa ser
explorado o aspecto da cultura religiosa. Esse assunto é muito interessante.
Penso que tratar o Ensino Religioso, só a partir de temas, fica muito
disperso. Acaba não tendo o que é específico da cultura religiosa. Seria
interessante mostrar as diversidades das religiões, valorizá-las (PROF. 5).
[...] Acho que o Ensino Religioso é importante, mas, às vezes, eu penso que
o Ensino Religioso deveria centrar mais na temática do cidadão, da ética e
das diferenças religiosas. É importante aprofundar isso, mas, dependendo
da realidade, é muito complicado, por causa da postura fechada dos alunos
(PROF. 13).
[...] É bom que o Ensino Religioso aconteça, mas de forma mais holística
com discussões de temas que ultrapassem a religião, que abranjam o ser, a
vontade, o querer. Porque eu penso que estas coisas, no fundo, estão
relacionadas com a religião (PROF. 4).
Esses depoimentos se revestem de uma abrangência maior, pois apontam
para uma aprendizagem integral do educando, fundada tanto nos valores humanos,
políticos e éticos quanto nas tradições religiosas. A aprendizagem holística, sugerida
por um entrevistado (PROF. 4), facilita uma vivência mais integral dos conteúdos,
superando o Ensino Religioso, concebido, apenas, a partir de temas e carente de
uma consistência teórica. Segundo Junqueira,
[...] O conhecimento transcende o reino do determinismo para o reino das
possibilidades infinitas do ser. Ele deve se tornar um instrumento para uma
prática libertadora do espírito humano. A aprendizagem, além de ser a
228
aquisição de conhecimentos e habilidades técnicas, é um processo pelo
qual o aprendiz se coloca a caminho do saber-ser. É construir a ciência com
consciência. Desse modo, a aprendizagem não está centrada no educador,
nem no educando, mas no encontro experiencial entre eles.
É função de a educação propiciar a aquisição do saber científico,
estabelecendo pontes entre estes e a Filosofia, a Arte e as Tradições
Religiosas (JUNQUEIRA, 2002c, p.21).
Assim, é fundamental que o Ensino Religioso pense o ser humano numa
visão mais holística, a fim de percebê-lo como sujeito epistêmico, ético-social,
afetivo, psicológico e sexual. Esse modo de conhecer e de perceber o sujeito
sensibiliza para o Mistério e para a compreensão do sentido da vida e do homem
como ser inconcluso e inacabado, tendo em vista uma dimensão planetária, que
promova ações que reduzam a miséria e a exclusão. Enfim, cabe ao Ensino
Religioso refletir o humano nas perspectivas biológica, social, psicológica,
transcendente e sagrada.
Nessa direção, cabe ao docente da disciplina estabelecer linhas e
referenciais, de acordo com a etapa de vida dos alunos, buscando construir um
processo pedagógico-didático que tenha significado de mudança na suas realidades.
O professor de Ensino Religioso, para construir uma proposta pedagico-
didático, numa visão holística, precisa fazer uma interlocução com todas as
disciplinas, a fim de se buscar a construção coletiva do conhecimento, levando os
alunos a pensarem na complexidade da vida humana e a serem despertados para
uma consciência planetária. Santos Neto (2002) esclarece:
[...] Nosso tempo necessita de uma concepção mais ampliada do ser
humano, de uma concepção mais religativa do ser humano. Necessita
resgatar a espiritualidade do ser humano. Necessita desenvolver a
consciência ecológica, entendida aqui nas suas três dimensões: humana, a
social e a ambiental. O nosso tempo necessita desenvolver a consciência
planetária (SIQUEIRA, 2003, p. 80).
- Ensino Religioso e capacitação docente
[...] Eu acho que o Ensino Religioso deve acontecer , mas acho que há
pouco profissional preparado para isso, muito pouco mesmo. Se o Ensino
Religioso não for apresentado de forma atrativa, o professor não consegue
nada. Primeiro, porque as próprias famílias não valorizam a religião, não é?.
Eu acho que a escola não tem que se preocupar com a doutrina, eu acho
que a escola tem que se preocupar com a vida, com a qualidade de vida,
com os valores do ser humano (ADM.1)
229
Concorda-se que o profissional, para essa área de conhecimento, necessita
ser habilitado, porque não se aceita mais um professor leigo, voluntário que
represente uma faão religiosa, dando aulas de religião, segundo certos modelos
catequéticos e teológicos, através de uma prática docente amadorística. Assim, o
Ensino Religioso necessita de trabalhar com profissionais competentes, habilitados
através de uma formação específica.
A valorização do ser humano, a preocupação com a vida, com os valores,
com o exercício da alteridade seriam, segundo os entrevistados, tarefas do Ensino
Religioso. Pode-se, perceber, assim, a complexidade de finalidades que os sujeitos
entrevistados atribuem ao Ensino Religioso, responsabilizando-o pela formação de
diferentes aspectos do ser humano, mostrando para os alunos as infinitas
possibilidades de fazer algo melhor para si e para a sociedade.
Tendo em vista a necessidade da referida disciplina de valorizar a pessoa,
promover a vida e cultivar valores éticos, o caminho para alcançar esses objetivos,
tão complexos, poderia ser o desenvolvimento de um trabalho coletivo dos docentes,
viabilizado através da realização de projetos.
O depoente (ADM.1) considera que o Ensino Religioso não pode ficar
centrado na veiculação da doutrina. A tarefa do Ensino Religioso é, para esse
entrevistado, um compromisso para com os princípios éticos e humanísticos. A
tarefa de humanização é de toda a sociedade, mas as aulas de Ensino Religioso
podem contribuir para a concretização desse objetivo. Essa disciplina deve, também,
colaborar para a promoção da paz, para a defesa da vida, através do exercício da
reflexão e conscientização, que podem trazer aportes para melhorar a vida dos
adolescentes e do ambiente em que eles convivem.
4.3.1.2 Profissionalização/ formação dos professores do Ensino Religioso
Nesta segunda categoria, foi solicitado aos entrevistados que explicitassem
sua opinião a respeito da formação/profissionalização do docente de o Ensino
Religioso. Em suas falas, eles manifestaram posições sobre: habilidades para lidar
com a diversidade de religiões; formação geral, ditica e humana; valorização do
230
docente; postura do professor de Ensino Religioso e habilidades necessárias à
prática docente.
- Habilidades para lidar com a diversidade de religiões
[...] Dado o grau de diversidade das religiões e de liberdade religiosa, eu
acho que a professora tem que ser muito bem preparada na área da
religião, tem de saber falar desse assunto, porque já trabalhei em escolas
em que o pai impedia o filho de participar das aulas de Ensino Religioso
com medo do que poderia ser falado na sala de aula. O pai que é da Igreja
Evangélica acha que esse ensino é da Igreja Católica Apostólica Romana
(PROF. 13).
[...] O professor de Ensino Religioso deve ter uma formação bem adequada
para lidar com a diversidade de religiões dos seus alunos. Essa formação
não pode ser feita por uma Igreja. Ele tem de ter cursos superiores para
fazer a sua formação (PROF. 1).
Esses professores reconheceram a complexidade do Ensino Religioso,
sobretudo devido ao grau de diversidade das religiões. Esta peculiaridade da
disciplina requer professores habilitados e com competência para trabalhar a
temática, referente às religiões. Segundo Cortella:
[...] A construção da competência do docente de Ensino Religioso, por ser
área profundamente delicada e usualmente polêmica, carece de maior
substância e necessita ser feita de forma embasada, consistente, metódica,
com os recursos e reflexões da Ditica e da Pedagogia sobre os processos
educativos (CORTELLA, 2004, p. 20).
- Formação geral, formação ditica e humana
[...] O profissional do Ensino Religioso teria de ser conhecedor de
dinâmicas, de jogos, para trabalhar de forma diferente e agradável. Se
fizesse assim, os alunos adorariam as aulas. Nós temos, por exemplo, uma
professora que os meninos adoram a aula dela. Mas tivemos outras que
os alunos detestaram. Elas não conseguem disciplina, os alunos não têm
um mínimo de interesse pelas aulas e respeito pelo que ela está sendo
falado. Por isso, eu acho que os professores precisam de um preparo muito
bom para dar aulas de Ensino Religioso. A formação desses profissionais
teria de mudar (ADM.1)
[...] O professor tem que ter uma índole boa, porque ele vai passar com sua
vida os valores para os alunos. Os cursos de graduação ou outros deveriam
fazer uma triagem para poder saber quem é bom para dar aula dessa
disciplina, porque não é questão só de estudos, ter o diploma. Ele tem que
gostar do Ensino Religioso porque ele está formando o ser da outra pessoa.
Ele é muito mais responsável por essa formação do que os outros
231
profissionais. Antes de tudo ele tem de ter uma índole boa, agora, ninguém
tem estrela na testa. Esse profissional tem que gostar mais do que ninguém
do que faz. Ele teria que ter maior conhecimento de todas as áreas para
estar integrado com todas as áreas de conhecimento. Por exemplo, tem
determinadas coisas na Ciência que o professor de Ensino Religioso
deveria estar por dentro porque tem muita relação com o desenvolvimento
do ser humano, com a sua origem. Agora, eu estou exigindo até muito. Isso
é utopia, mas eu acho que deveria ser assim (ADM.2).
Pelo exposto, considera-se que a formação do professor de Ensino Religioso
teria de mudar, tendo em vista a promoção de uma adequada prática docente, a
valorização dos valores éticos e a interlocução com as demais áreas de
conhecimento. A formação de docentes, para a mencionada disciplina, precisa
contemplar a formação inicial e a continuada, a fim de prepará-los para trabalhar
com a complexidade dos contdos, dessa área, e para conseguir que eles
ministrem uma prática pedagógica adequada à formação integral dos alunos.
Assim, necessidade do profissional, dessa área, ao trabalhar os conteúdos
referentes às diversas tradições religiosas, conhecer a complexidade sociocultural
da questão religiosa, para ajudar o aluno a interpretar a vida, estabelecer relações
entre os fatos, escolher caminhos e discernir valores.
Merece atenção a fala de um depoente a respeito da triagem/seleção que
deveria ocorrer nos cursos de graduação ou outros, para aferir se o sujeito tem
qualidades adequadas para lecionar a disciplina em apreço (ADM.2). O que está por
detrás dessa posição? Por que essa exincia de triagem/seleção? Que tipo de
imagem está sendo construída a respeito do profissional de Ensino Religioso? As
responsabilidades, apontadas pelos entrevistados, não seriam as mesmas para
todos os profissionais? O profissional do Ensino Religioso teria de ser testado, o
tanto pela sua formação acadêmica, mas, também, pela sua formação humana?
Assim, o posicionamento dos entrevistados se traduz no sentimento daquele
que vê o professor de Ensino Religioso como quem exerce um trabalho diferenciado
na escola, pois está centrado em torno da vida concreta do educando, devendo
despertá-lo para o verdadeiro sentido de existir no mundo.
- Valorização do docente
[...] O professor de Ensino Religioso tem que ser valorizado e tem de ter os
seus direitos reconhecidos como os outros professores das outras áreas.
Além disso, essa matéria deveria ser avaliada como as outras. Porque para
232
ela os alunos recebem conceito e para as outras não? (PROF. 15)
O depoente reconhece que a valorização do trabalho do professor de Ensino
Religioso, se comparada com o dos profissionais das outras disciplinas, é bem
menor. Para maior valorização da disciplina, é preciso que ela seja incluída no
âmbito dos Parâmetros Curriculares, elaborados pelo MEC.
- Postura do professor de Ensino Religioso
[...] O professor de Ensino Religioso, sendo de uma determinada Igreja, o
pode falar a partir dos princípios em que ele acredita, usando a seguinte fala
para os alunos: eu que estou certa. Ela tem de ver as diferenças da sala de
aula, avaliar as suas posturas e a dos alunos e, até mesmo, a sua própria
igreja (PROF. 13).
O docente do Ensino Religioso não é um agente religioso, mas também não
pode ser alguém afastado da sua confissão religiosa. A clareza quanto a sua própria
convião e aos objetivos do Ensino Religioso devem fazê-lo capaz de trabalhar com
as diferenças, existentes no contexto da sala de aula. A aceitação do outro e a
tolerância pelo diferente, comenta Miele,constituem-se em peça chave para a
constituição do ser humano (MIELE, 2005, p. 283).
O professor de Ensino Religioso deve tanto dominar o seu campo de saber,
quanto possuir certas peculiaridades:
[...] precisa conhecer o conteúdo, o objeto de estudos, e tamm s048 Tc (4j-0.08448 TTj0.084 Tc (m) Tj3.384 T.5[.) Tj0.07776 Tc (t) Tj-8448 Tcx(p) Tj0 Tc (r) Tjtst(i) Tj-0.24 Tc (s) Tj-0.0.95776 Tc ( ) Tj071c (c) Tj-0.08448 Tc (e) Tj-3224 Tc (s) Tj0.310.08448 Tclissm
233
[...]O professor é o mediador das discussões, das conversas que acontecem
na sala de aula. É aquele que tamm passa as iias positivas nessa fase da
adolescência para que os alunos possam viver de forma positiva (PROF 5).
[...] A professora que trabalha na escola é excelente. O trabalho que a
professora faz sobre a pessoa humana, as atitudes e outras questões que
são própria da idade do adolescente ajuda muito a escola, principalmente
no aspecto da formação de atitudes (ADM.2).
As posições, apresentadas pelos entrevistados, demandam por parte dos
docentes da disciplina, uma interação dialógica com os sujeitos aprendentes, no
sentido de estabelecer relações e desencadear, com eles, um processo de
formação, mediado pela interação, a fim de proporcionar experiências de
aprendizagem significativas, que possam ajudar os educandos a dar sentido à
própria vida e a suas ações. Para tanto, o professor deve ser capaz:
[...] de assimilar uma tradição pedagógica que se manifesta através de
hábitos, rotinas e truques do ofício; deve possuir uma competência cultural
oriunda da cultura comum e dos saberes cotidianos que partilha com seus
alunos; deve ser capaz de argumentar e de defender um ponto de vista;
deve ser capaz de se expressar com uma certa autenticidade, diante de
seus alunos; deve ser capaz de gerir uma sala de aula de maneira
estratégica a fim de atingir objetivos de aprendizagem, conservando sempre
a possibilidade de negociar seu papel; deve ser capaz de identificar
comportamentos e de modificá-los até um certo ponto. O saber-ensinar
refere-se, portanto, a uma pluralidade de saberes (TARDIF, 2006, p. 178).
Esta tarefa, tão complexa, demanda, inevitavelmente, do professor de Ensino
Religioso uma atitude de estar sempre em estado de reflexão e de análise, diante
das diversas situações, contextos vivenciados pelos seus alunos e, ao mesmo
tempo, deve ficar atento à realidade do mundo porque aprender, como observa
Freire (1998, p. 77),é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico
do que meramente repetir a lição dada. Aprender para s é construir, reconstruir,
constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do
espírito.
234
4.3.1.3 Concepção de Ensino Religioso
Nesta terceira categoria, foi perguntado aos docentes da Escola Marlielle que
concepção de Ensino Religioso deveria ser privilegiada em numa escola pública.
Alguns dos entrevistados se restringiram a explicitar os conteúdos que deveriam ser
trabalhados; outros adentraram nos aspectos ditico-pedagógicos e, finalmente,
três se ativeram à questão relativa à concepção que consideravam adequada à
referida disciplina.
- O conteúdo do Ensino Religioso
Sobre a temática dos contdos, alguns opinaram por assuntos mais ligados
à etapa de vida do adolescente, trabalhando-as em uma perspectiva crítica.
[...] Quando eu penso nos conteúdo, acho que deveriam ser tratados os
temas mais ligados com a etapa de vida dos adolescentes, por exemplo:
sexualidade, namoro, droga. Estes são os temas mais trabalhados na
escola. Mas o tenho certeza se, nessas aulas, deveriam conciliar esses
temas com um pouco de conhecimento da cultura religiosa pelo resultado
positivo que temos na escola ao tratar dos temas próprios do adolescente.
Tenho dúvidas quanto ao que estou dizendo. Penso que é difícil tratar o
tema religiões, porque cada um tem uma religião. Por isso, eu acho que um
tema mais amplo é mais interessante do que a religião em si (PROF. 15).
[...]Ele deve trabalhar com o ser como um todo, os anseios dos
adolescentes. Ele não pode ficar preso aos ensinamentos bíblicos (PROF. 4)
[...] Acho que é mais interessante abordar os temas sobre a adolescência,
sobre a vida dele, o dia-a-dia porque é mais educativo e torna-se mais
interessante. Esses temas o estão enquadrados dentro de uma religião e
do fanatismo religioso. Para falar de religião teria que deixar claro os erros
cometidos pelas religiões, inclusive os da religião católica, quando mandou
queimar pessoas, livros e desprezou a cultura dos índios e negros. O Papa
pediu perdão, então a gente tem sempre que reconhecer os erros, porque
todo mundo erra e quem pratica a religião é ser humano e ser humano erra
(PROF. 2).
[...] O conteúdo do Ensino Religioso deveria estar voltado para questões
afetivas e sexualidade. Hoje os adolescentes precisam demais disso porque
eles têm informações que não levam para uma forma educativa de agir.
Eles precisam de um adulto que orientação sobre o tema afetivo-sexual
(PROF. 14).
235
Os entrevistados mostraram a importância de se priorizar conteúdos que
fazem parte da vida do adolescente, por ser mais educativo e mais interessante. No
caso de se privilegiar a abordagem da temática sobre as religiões, deve-se trabalhar
numa postura crítica e ética, porque todas as religiões, embora tenham algo de
sagrado, elas se manifestam no mundo, através de instituições humanas sujeitas ao
erro, ao fanatismo, ao abuso de poder.
O diálogo analítico crítico sobre a história das religiões deve ser feito por
quem seja profundamente conhecedor desta temática, que saiba respeitar a
diversidade e tem comprometimento para com a vida, a fim de possibilitar práticas
integradoras entre as diversas religiões, no cotidiano da sala de aula. Cruz (2001)
enfatiza que uma das temáticas a serem contempladas na disciplina é a análise do
comportamento religioso, do rito, da tradição, visando averiguar:
[...] como esses elementos influem na vida social, na cultura e no
comportamento pessoal. Independentemente da filiação religiosa de cada
um, é preciso reconhecer as conseqüências positivas ou negativas de cada
postura religiosa para o bem comum, a paz, a pratica da justiça. Não preciso
aderir à doutrina budista para reconhecer o quanto ela pode contribuir para
a paz; não preciso deixar de ser cristã para admitir que a religião hindu
contribuiu muito para que Gandhi fosse um grande homem; não preciso ser
anglicana para ficar contente quando o bispo Desmond Tutu recebe o Nobel
da Paz... Aliás, biografias de pessoas de várias confissões religiosas, que
contribuíram para melhorar um pouco o mundo a partir da fidelidade à fé,
são um recurso interessante no Ensino Religioso. Além das pessoas
famosas, podem ser apresentadas à turma histórias de gente comum, que
procura viver a fraternidade de acordo com a sua consciência (CRUZ, 2001,
p. 71).
Tendo em vista a complexidade da realidade escolar e a concepção que se
tem sobre a religião, fica dicil se proceder ao estudo das diversas manifestações
religiosas como conteúdos a serem contemplados pela disciplina:
[...] Acho que é um projeto de dicil execução porque convivermos na escola
com alunos com diversas religiões, diversos credos. Quando falamos de uma
religião, o outro não concorda. Aí a situação fica um pouco dicil de conviver
(PROF. 8).
[...] Não é legal tratar esse assunto nas aulas porque a religião é algo que
nasce na família. Se a pessoa nasce numa família que é espírita, vai ser
espírita, se nasce católica, vai ser católico. Então s não podemos
interferir. Essa é uma coisa que vem da família, o que podemos desenvolver
é o senso humano do aluno para as relações do aluno na escola, como por
exemplo, os valores da religião. Nada de tão profundo que venha a bater de
236
encontro com a religiosidade da família, porque eu sou católica... estou feliz
assim, nasci numa família assim, optei por ser, já tenho maior idade, poderia
mudar...mas o menino que está começando agora aprende com os pais. Os
pais são o referencial maior para este assunto. Tratar desse assunto no
contexto da sala de aula é meio complicado porque você mexe com aquilo
que já está condicionado desde bebezinho. Eu acho que isso pode chocar
um pouco, porque as famílias não vão permitir esse tipo de coisa com receio
de levar o sujeito para outro tipo de religiosidade. Isso o é legal (PROF.
10).
[...] Depende de co
237
religião em si não é mais importante. O que importa é você acreditar num
Deus, você ter fé na vida é acreditar, que quando você está bem, você está
cumprindo aquilo que Deus determinou para o ser humano. Então eu
costumo falar com os meninos: o que você sente quando faz uma boa
ação? Você sente bem com você mesma, sente prazer com essa ação.
Então, isso é ter Deus. A religião é você estar de acordo com a natureza
que é a natureza de ser bom, a natureza de fazer o bem para o outro.
Agora, como somos seres humanos fazemos coisas que a gente se
arrepende. Essas coisas não são coisas que dão prazer, portanto não é
vida (ADM.1).
Na resposta deste depoente, observa-se que ele está marcado pela positeb
238
que se declaram incrédulos. A coexistência dessas duas opções, dentro da sala de
aula, pode viabilizar a promoção de um autêntico diálogo entre os alunos. As
experiências religiosas dos alunos podem proporcionar a redescoberta de si e do
outro, favorecendo a assimilação de valores, que conduzam à vida e ao exercício
pleno da cidadania, abrindo-se para a finitude do seu ser, para algo que está além
do humano.
Para Goto, é pela experiência (vivência) que a pessoa toma consciência de si,
pois a compreensão de experiência,
[...] amplia-se como vivência e radica-se em duas evidências: a existência
do mundo que o homem experimenta o tempo todo e a certeza de um eu
que sou, como abertura constituinte para este mundo. [...] De modo geral, é
pela vivência que se tem a certeza do mundo e do eu e é por ela que
nossos atos intencionais estruturam-se, ordenando-se e dando sentido e
significação ao nosso existir.
[...] Entretanto, a existência humana comporta muitas vivências, isto é,
diferentes atos intencionais, tais como: as vivências sicas, as sociais, as
estéticas e muitas outras, e é diante disso que podemos perguntar: E a
experiência religiosa? E sua importância na existência humana? Segundo a
fenomenologia da religião, a experiência religiosa é a vivência fundante do
homem, porque é nela que realizamos o nosso diálogo com o mundo e,
principalmente, com o significado último das coisas e do homem em relação
ao sagrado.
[...] A fenomenologia da religião realiza, então, a descrição da religião,
considerando a vivência religiosa como vivência fundamental, no projeto de
ser humano. E é só a partir dela que temos a abertura para o mundo,
dando-lhe sentido e significado (GOTO, 2004, p 61.62).
O entrevistado considera, também, a importância de se refletir com os alunos
sobre a prática de uma boa ação (ADM.1). Nessa fala, existe um querer perpetuar
as ações boas, através da validação do aluno. De acordo com Veloso,
[...] a valoração não vai apenas repetindo o passado, mas aumentando as
possibilidades do nosso horizonte histórico. Ela sempre se refere a uma
situação em que estamos envolvidos e que já está repleta de significações.
Antes de nossa atividade, os outros já valoraram o mundo de tal modo que
a nossa tomada de consciência da necessidade de uma valoração
responsável, crítica e criativa, não vai nos fechar sobre s mesmos, mas
vai obrigar-nos a uma definição em relação aos outros. É um processo que
nos obriga à comunicação com o outro; esta comunicação não se dará
somente com os nossos contemporâneos, através do diálogo imediato e do
contato aberto, mas pela presença atual do passado nas obras, através das
quais vivemos também com as outras gerações (VELOSO, 2000, p. 46).
É importante ressaltar que a religião, além de estar alicerçada na própria
natureza das coisas, é questão de escolha pessoal e se encontra imbricada no
239
processo histórico, através do qual nossa civilização se formou. Portanto, ela vai
além de um simples cumprimento da natureza de ser bom como observa a
entrevista acima (ADM. 1). Na religião, podem ser encontradas variedades de ritos,
mitos e, através dela, a pessoa se liga às coisas sagradas como fonte de vida, força
e garantia da harmonia. Para Rubens Alves:
[...] A religião é a divindade do homem, o caráter sagrado dos seus valores,
o absoluto do seu corpo, a bondade de viver, comer, ouvir, cheirar, ver... [...]
a religião fala do sentido da vida. Ela declara que é possível ser feliz e sorrir.
[...] Mas o sentido da vida não é um fato. Num mundo ainda sob o signo da
morte, em que os valores mais altos são crucificados e a brutalidade triunfa,
é ilusão proclamar a harmonia com o universo, com a realidade presente. A
experiência religiosa, assim, depende de um futuro. Ela se nutre de
horizontes utópicos que os olhos não viram e que só podem ser
contemplados pela magia da imaginação. Deus e o sentido da vida são
ausências, realidades por que se anseiam, são dádivas da esperança. De
fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança. E talvez
possamos afirmar, com Ernest Bloch: onde está a esperança ali também
está a religião (ALVES, 1996, p 79. 96. 101).
Portanto, não vidas de que o sentimento religioso é uma presença na
história humana, que como um dado antropológico e sociocultural tem a força de
fundamentar ações mais conservadoras ou transformadoras, mais perversas ou
benéficas (PASSOS, 2006, p. 41). O desafio que se coloca é o de encontrar um
equilíbrio, pois os pontos divergentes (conservador/transformado;
perversas/benéficas) e as posturas sectárias inviabilizam os diálogos e criam
conflitos religiosos pelo mundo. Boeing comenta:
[...] É preciso aperfeiçoar a concretização da religiosidade, mas não
desconsiderar o seu potencial.
Mesmo com o risco de domesticar o sagrado dentro de padrões
estabelecidos por um indivíduo ou grupo, a experiência do sagrado sempre
tem algo de novidade. Isto é, algo de selvagem que transcende a
domesticação, estabelecida pelos sistemas sociais e, especialmente,
religiosos, como analisa Roger Bastide. O enquadramento dentro de um
modelo único não potencializa as múltiplas expressões de vida. O objetivo
mais ou menos comum da dimensão religiosa é aliviar os sofrimentos e dar
sentido à vida e, quanto maior o desencantamento, maior a sua produção
com o intuito de encarnar a vida. Quanto mais o sagrado seduz e encanta a
vida, mais ele se perpetua. Por isso, sem a decodificação da complexidade
do fenômeno religioso, com as suas múltiplas variantes, o diálogo torna-se
inexistente ou mido e, no geral, sobre questões periféricas. A educação
pode contribuir nesta abertura, pois com bem afirmou Nelson Mandela em
vários de seus discursos: ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da
pele, pela sua origem, ou ainda pela sua religião. Para odiar as pessoas
precisam aprender, e se podem aprender odiar porque não podem aprender
amar?
240
Eis a responsabilidade dos processos educativos (BOEING, 2006, p. 38-39).
Outros entrevistados já vêem a possibilidade de um programa/conteúdo mais
aberto para outras dimensões da vida e da cultura religiosa:
[...]Se eu tivesse de montar um programa para o Ensino Religioso, eu
trataria de assuntos voltados para a ética, para os valores, para os princípios de
vida, para as relações humanas e um pouco de história das religiões (PROF. 1).
[...] “Eu acho que o conteúdo de Ensino Religioso deveria ser
especificamente ligado à cultura religiosa e não ficar nesses temas
dispersos. Esse trabalho sobre as diversas religiões deveria ser tratado a
partir da curiosidade dos alunos e ser trabalhado de forma integrada com as
outras áreas de conhecimento (PROF. 9).
[...]Penso que deve falar sobre todas as religiões, mas principalmente tratar
do respeito a todas as religiões (PROF. 5).
[...]Traria como assunto para a sala de aula: valores, respeito ao meio
ambiente, higiene, cuidado com o lixo e a questão do próprio corpo, amor, amizade.
Esses temas seriam trabalhados através de jogos (PROF. 12).
Defendendo uma concepção de educação que visa à formação integral dos
educandos, este grupo de entrevistados sugere temas que envolvem tanto a
dimensão religiosa, quanto a dimensão humana. Dessa forma, o Ensino Religioso se
proporia ser um elemento integrador da pessoa, na medida em que objetivaria obter
a melhoria do sujeito e a valorização das crenças e experiências de vida dos
educandos.
- Aspecto didático/metodológico do Ensino Religioso
Os professores, nas entrevistas sobre questões ditico /metodológicas, do
Ensino Religioso, enfatizaram a importância de trabalhar o ecumenismo, através do
Método de Projetos, de promover debates sobre as realidades do mundo e do Brasil,
de convidar especialistas para participar dos debates sobre as diversas religiões, de
discutir temas de interesse dos alunos, de usar jornal como material para discussão
de diversas temáticas, presentes no contexto atual. Além disso, os docentes
sugeriram aulas mais atraentes, através do uso de: dimicas, mesa redonda,
entrevistas, pesquisas. Ressaltaram também, a importância do professor de Ensino
241
Religioso ser um pesquisador e imprimir dinamismo às suas aulas:
[...] A melhor forma de trabalhar o Ensino Religioso seria através de
projetos. Seria muito interessante trabalhar o ecumenismo através de
projetos. Para isso, o professor teria de estudar muito sobre o ecumenismo
para montar esses projetos. Penso que essas aulas devem ser bem
dinâmicas (PROF. 13).
[...] Penso que ajudaria bem as aulas de Ensino Religioso se tivesse
debates sobre a realidade do mundo, do Brasil. Trazer pessoas entendidas
no assunto para ajudar nesses debates. Outro debate seria sobre as
religiões, porque se eu tivesse filhos eu apresentaria as religiões para o meu
filho e deixaria que ele decidisse sobre que Igreja gostaria de freqüentar,
independente da idade (PROF. 12).
[...] s trabalhamos aqui com adolescentes, então adolescente é inquieto,
contestador, ele não é qualquer coisa. Então as aulas tinham que ser
preparadas com mais dinamismo, por isso que eu falo que as aulas
deveriam ter jogos, discutir diversos assuntos do interesse dos
adolescentes. Poderia pegar jornais, discutir as questões que estão escrita
sobre política, por exemplo. Essa discussão não seria no sentido da política,
mas do caráter, analisar o que está sendo feito em termos de valores, o
é?. Assim como a gente conversou com os alunos sobre Zidane, o que deu
a cabeçada no colega na época da copa. Conversar com os alunos sobre
essa questão: como esse jogador poderia sair como herói depois da
violência cometida! Ele jogou por terra todo um trabalho bonito que fez
durante a copa. s trabalhamos essa questão na escola com o tema
valores. Quantas coisas boas podemos trabalhar com os alunos a partir do
acontecido com o Zidane: violência, conseqüências dos atos impensados,
sob a responsabilidade que cada um de nós tem com o coletivo, o sentido
de equipe (ADM.1).
[...]O professor poderia usar dimica de grupo com os alunos, mesa
redonda para trocar iias, mostrar o seu ponto de vida” (PROF. 5).
[...]Pensando no conteúdo ligado as religiões eu faria um trabalho através de
entrevistas, pesquisa. Além disso, convidaria pessoas para falar sobre as religiões
para os alunos saberem um pouco sobre a filosofia de cada religião (PROF. 3).
[...] Penso que o Ensino Religioso não deveria ser dado dentro da sala de
aula igual acontece com as outras disciplinas. Seria uma oportunidade para
dar mais formação do que informações. Faria muitos eventos que
envolvessem mais turmas, faria momentos de confraternização (PROF. 1).
As propostas, sugeridas pelos entrevistados, enfatizaram a relevância da
utilização de atividades diversas, para que as aulas se tornassem dimicas e
apropriadas à faixa etária dos alunos, buscando uma leitura mais crítica de si mesmo
e da realidade do mundo.
242
Caberia ao professor de Ensino Religioso proceder a uma criteriosa seleção
da metodologia a ser usada, para que, a partir dela, se procure construir
participativamente o conhecimento. O jeito de fazer, o modo como a ação se
processa na sala de aula se constitui como um processo desafiador, mas, ao mesmo
tempo, pode ser a porta de entrada para que as discussões se tornem
participativas, dimicas e questionadoras. Brandenburg enfatiza que:
[...] uma simbiose muito grande entre contdo e jeito de fazer. Devido a
isso, a organização também se nessa união dos dois aspectos. Ao
mesmo tempo em que o conteúdo desafia para a ação, a ação constrói o
conteúdo, pois a ação, o jeito de fazer da aula também é conteúdo, é
proposição curricular. Participação se verifica quando essa junção entre
conteúdo e jeito de fazer. E essa junção se torna significativa para a pessoa
aprendiz (BRANDENBURG, 2004, p. 192).
O Método de Projeto, sugerido para se trabalhar com o ecumenismo (PROF.
13), só terá resultado positivo se for traduzido numa atividade concreta, como, por
exemplo, poesia, teatro, culto ecumênico, entrevistas, exposição dos trabalhos que
evidenciem o significado da temática abordada. É bom lembrar que o Método de
Projetos, de um modo geral, demanda um trabalho interdisciplinar, pois, dependendo
da temática, é preciso enveredar pelos campos da História, da Ciência, da Arte, da
Filosofia e assim por diante, como uma grande oportunidade para ampliar os
conhecimentos e confrontar as experiências, trazidas pelos discentes
(BRANDENBURG, 2004).
O Ensino Religioso pede a utilização de uma metodologia dialogante. Assim,
as propostas metodológicas, sugeridas pelos professores, tais como conversas,
entrevistas, publicações de jornais, debates, mesa redonda precisam trazer
informações, conclusões e gerar outras atividades, outros enunciados e outras
questões.
- Um Ensino Religioso que objetiva uma formação para vivência dos valores e da
consciência cida
O Ensino Religioso, valorizado pelos entrevistados, deve buscar a formação
humana do educando:
[...]Eu acho que religião é vida e por isso, os assuntos tem de ser ligados à
243
vida. A gente não pode sair da vida real, do mundo real, para dar religião. Você tem
que pegar coisas do dia a dia (ADM.1)
[...] A aula de Ensino Religioso deveria ajudar a pessoa a viver em
sociedade, amando e respeitando o próximo como a si mesmo. Assim eles
vão aprender a respeitar os colegas, os professores, os funcionários da
escola. Ensinar a respeitar o pai e a mãe (PROF. 5).
[...] Eu acho que o Ensino Religioso seria para formar o cidadão, formar
para os valores, para a solidariedade, para a justiça, para a ética. Para
todas essas coisas que estão parecendo que estão perdendo o valor em
função da competição (PROF. 16)
Os entrevistados atribuíram ao Ensino Religioso a tarefa de preparar o
educando para comportamentos desejáveis, para o governo de si e dos outros e
para a produção de significados que permitam ao aluno dar sentido a si mesmo e ao
mundo que o rodeia. Para se conseguir esses propósitos, deve-se promover o
aprofundamento de temas como: respeito ao próximo e a si mesmo e formação de
valores. Essas temáticas têm sido, nas aulas de Ensino Religioso, um ponto forte,
como observa Brandenburg:
[...] Embora haja posicionamentos contrários à abordagem dos valores, ela
vem se impondo como um ponto forte da disciplina. Essa temática está
sendo trabalhada a partir da idéia pedagógica de temas transversais.
Aliás, essa abordagem tem auxiliado a própria sobrevivência da disciplina
do ER.
Desse modo, os assim chamados valores universais parecem ser boa
proposição para o Ensino Religioso. As pessoas são orientadas por uma
escala de valores, independentemente se é por decisão própria ou por
coação alheia. Esses valores são demonstrados nas escolhas, nas
vivências e nas atitudes da vida (BRANDENBURG, 2004, p. 156).
O Ensino Religioso pode ser um importante elemento na formação para a
vivência dos valores e para a formação da consciência cidadã. Para isso, há
necessidade de se utilizar linguagem e metodologia adequadas, que façam
interlocução com os conteúdos de outras áreas de conhecimento, das tradições
religiosas dos educandos, do contexto sóciopolítico-cultural.
244
4.3.2.4 Contribuição do Ensino Religioso para formação do discente
Nesta quarta categoria, os entrevistados da Escola Estadual Marlielle
opinaram sobre a contribuição do Ensino Religioso para a formação do aluno:
[...] Eu acredito que o Ensino Religioso colabora com a formação integral do
aluno porque são dados elementos para ele conviver fora da escola, para
fazer suas próprias opções, para entender até o próprio pai, mãe e entender
melhor a sua religião. Essa disciplina pode ajudar os alunos a trabalhar as
diferenças que existem entre as religiões e o respeito pelas diferenças. O
aluno pode aprender a olhar e respeitar o outro nas suas diferenças (PROF.
13).
[...]Penso que o Ensino Religioso colabora com o aspecto humano pelo fato
de trabalhar com valores, relação humana, relacionamento na família e com os
amigos (PROF. 12).
[...] Hoje ele contribui para o desenvolvimento do aluno pelo fato de não ser
direcionado para determinada religião. Antigamente o Ensino Religioso era
o ensino da religião católica. Hoje não é mais. O aluno de qualquer religião
vai participar das aula porque o vai se sentir agredido porque é
respeitado na sua religião. Além disso, são tratados muitos assuntos de
interesses dos alunos (PROF. 5).
[...]O Ensino Religioso poderia contribuir muito mais com a formação integral
do aluno se tivesse uma carga horária maior (PROF. 9).
[...] Com certeza o Ensino Religioso colabora com o desenvolvimento do
aluno. Eu acho que melhora em tudo, primeiro que um cidadão que tem fé,
ele tem menos risco numa sociedade que está tão promíscua como a
nossa. Se ele tem fé, se ele acredita em Deus, se ele trabalha dentro de
uma orientação de ser gente, de ser pessoa, ele corre menos o risco de
partir para a droga, de partir para a violência, porque ele acredita em Deus,
ele acredita que Deus está ali, observando. Isso ajuda que ele seja um
cidadão melhor e que cumpra o seu papel (PROF. 2).
[...]Pode conscientizar os adolescentes para as questões próprias da idade
(PROF. 15).
[...]Dependendo da forma como ele é dado contribuirá ou não com a
formação do aluno. Se ele é dado nesse sentido mais holístico da formação do ser,
do indivíduo estará contribuindo com a formação (PROF. 8).
245
[...]Se o educando tiver uma formação humanística, o Ensino Religioso
estará colaborando com a formação dos adolescentes(PROF. 1).
[...]Esse momento pode contribuir com a construção do aluno, porque ele
pode chegar a outras conclusões a respeito de outros temas que não estão ligados à
matemática, ao fazer contas e por aí vai... (PROF. 8).
[...] Com certeza. Eu acho que a fé, o respeito pelas pessoas, o respeito por
Deus leva a pessoa a ser uma boa pessoa, um ser integrado na sociedade.
Eu acho que isso é importante sim. Não importa em que religião a pessoa
está e nem o conceito de religião, o que importa é o respeito que a pessoa
tem pelo outro (ADM.2).
[...] Ensino Religioso é um suporte para a dimensão religiosa. Agora, a
professora tem de trabalhar com muito cuidado, porque cada um tem a sua
religião”(PROF. 16).
Nesses depoimentos, os entrevistados consideraram a importância do Ensino
Religioso para a formação integral dos alunos, na medida em que lhe proporciona
uma ação educativa, ligada ao aspecto psico-social, religioso do educando,
ajudando-o a se situar diante da complexidade de sua existência e a se descobrir na
relação com o outro, com o mundo e com o transcendente.
O professor (PROF. 5) afirma que, na atualidade, o Ensino Religioso colabora
para a formação integral do aluno, por não estar direcionado para uma religião. É
preciso facilitar o diálogo entre as religiões, para viabilizar a interlocução entre os
elementos comuns entre elas. A opção por uma proposta dialógica, de abertura e
troca de experiência, segundo Kanitz,exige e leva os sujeitos a uma postura de
alteridade, gerando um diálogo frutífero e salutar de respeito à diversidade. Sem a
alteridade o diálogo. Onde espírito de abertura e de valorização do
diferente, ali transcendência” (KANITZ, 2001, p. 137).
Outras questões, apresentadas pelos entrevistados (PROF. 2 e ADM.2), se
referem à importância da fé e do acreditar em Deus como elemento equilibrador da
vida. É bom reiterar que a questão da fé, geralmente, leva a muita controvérsia. O
Ensino Religioso não ignora a fé, mas não a trata como uma questão ortodoxa. Essa
disciplina visa educar para o entendimento da questão religiosa, de tal forma que
cada aluno tenha elementos para alimentar sua opção de fé e compreender a dos
outros. O Ensino Religioso, de acordo com Kanitz:
246
[...] deve educar o educando para sua abertura ao transcendente, pois isso
lhe confere uma nova dimensão como ser humano. A transcendência,
porém, não deve ser entendida no sentido dualista, de separação de corpo
e alma, mas como um horizonte de vida, em que é experimentada uma
relação com outras pessoas e que, assim, dão sentido à vida e respostas às
questões existenciais. É uma perspectiva real e concreta, e não abstrata e
idealizada. Assim, o transcendente se revela como fonte de sentido, que
anima e sustenta o enorme desafio de construir, desconstruir valores da
vida (KANITZ, 2001, p. 138)
4.4 Depoimentos dos professores de Ensino Religioso da Escola Marlielle
A partir das entrevistas com as duas professoras da Escola Marlielle, foram
identificadas nove categorias de discussão: razões da escolha pelo magistério de
Ensino Religioso; formação de professores de Ensino Religioso;
saberes/experiências; o sentir do docente do Ensino Religioso; pré-requisitos que
devem fundamentar a prática do docente do Ensino Religioso; procedimentos
didáticos e o tratamento dos conteúdos; as dimensões da religiosidade, do sagrado,
da espiritualidade, da ética e do fenômeno religioso, no contexto da sala de aula;
avaliação no Ensino Religioso; importância do Ensino Religioso para a formação dos
alunos.
4.4.1 Razões da escolha pelo magistério do Ensino Religioso
A primeira categoria mostra as razões pelas quais os dois professores
optaram pelo magistério do Ensino Religioso:
[...] Bom, foi uma história meio assim, até meio complicada porque eu era
professora de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental, quando saiu aquela
listagem que poderiam ficar de 1ª a 4ª série só os professores de nível P1 e
P2. Com isso eu fiquei como excedente porque na época eu era P6. Com
isso eu teria de sair da escola e procurar uma outra de nível médio. Nossa
escola começou com a extensão de séries, começando pela 5ª série e
aumentando gradativamente. Aí eu fiz o curso no Departamento de Ensino
Religioso e pedi minha mudança de titulação para o Ensino Religioso e,
nessa escola, eu sou a única professora efetiva no Ensino Religioso (PER
4).
247
[...] Devido eu ver a situação dos alunos, não ter uma pessoa para fazer um
trabalho de socialização, com eles. Quando eu comecei esse trabalho, foi
com alunos que faziam parte de gangue. A situação desses alunos na sala
de aula era crítica. As meninas tinham atitudes que fica difícil até de
comentar. Então eu sempre questionava! Precisa de alguém para fazer um
trabalho de socialização com eles. Aí, quando surgiu a oportunidade, eu
peguei as aulas de Ensino Religioso. Eu dava aula de Geografia e tinha
outro professor que tamm dava aula de Geografia e de Ensino Religioso.
Aí ele não pôde ficar. Com isso a Diretora pediu-me para fazer um curso no
Departamento de Ensino Religioso para assumir tal disciplina. Aí eu pensei:
agora é minha vez. Comecei a dar aula de Ensino Religioso por opção, para
fazer um serviço de socialização com os alunos, porque isso não tem na
escola (PER 7).
Para o professor (PER 4), tornar-se professor de Ensino Religioso foi a opção
mais viável para ele continuar trabalhando na mesma escola. Para o professor
(PER7), foi a oportunidade que lhe foi oferecida, que veio ao encontro da sua
vontade de fazer um trabalho diferenciado com os alunos.
4.4.2 Formação do professor de Ensino Religioso
A segunda categoria analisou a trajetória de formação dos docentes de
Ensino Religioso, da Escola Marlielle:
[...] Eu tenho o curso de licenciatura em História, e o curso do Departamento
Arquidiocesano de Ensino Religioso de 6 meses e Pós-graduação em
Ciências da Religião. Talvez esse curso de preparação para ser professora
de Ensino Religioso tenha sido um dos melhores cursos que já teve lá. Foi
um curso que me deu uma base trica e prática. Quando eu comecei a
fazer o curso eu já colocava em prática o que aprofundei no curso. Eu estou
sempre além. Eu acho que o professor de Ensino Religioso precisa estar
continuamente reestruturando, se modernizando a partir da formação para
levar para a sala aquilo que o aluno quer. Se você não faz isso, você
apenas passa na sala somente como professor de Ensino Religioso. Ele
precisa ser bem preparado com uma formação específica. No meu caso, os
cursos que fiz ajudaram-me muito. Além disso ele deve acompanhar a
tecnologia, o sistema de modernidade, o que passa na televisão porque o
mundo dos alunos é esse. Eles passam um bom tempo na Internet ou na
televisão quando os pais saem para o trabalho. O professor que fica
naquela linha dura, trabalhando só textos bíblicos as aulas tornarão difíceis
(PER 7).
[...] Eu acho que o curso que fiz foi muito importante, ajudou no meu
aperfeiçoamento e crescimento. Mas a gente precisa reciclar a cada dia. Eu
acho que só ficar nesse curso não ajudaria no meu desenvolvimento. Eu
acho que no dia a dia você tem que procurar fazer leituras para crescer
248
mais. Minha formação é em Pedagogia, Orientação Educacional e
Supervisão na Visão Integrada. Em relação ao Ensino Religioso fiz o curso
do DAER, exigido na época, em 1998. Mas se a pessoa for trabalhar
mesmo a questão das tradições religiosas, ela precisa ter uma formação
específica. Mas, aqui na escola eu trabalho com a necessidade do aluno,
sexualidade, afetividade e droga. Depois que começamos a trabalhar esses
assuntos, diminuiu a gravidez na adolescência. s achamos que foi um
avanço, teve uma melhora muito grande quando esses assuntos
começaram a ser tratados na escola. Então eu procuro assistir algumas
palestras sobre esses temas na Igreja do Carmo, e em outros locais (PER
4).
Os professores de Ensino Religioso, da escola pesquisada, iniciaram o
trabalho sem possuírem uma formação específica, em nível superior, carecendo,
assim, de uma fundamentação adequada ao magistério, da mencionada disciplina.
Os dois professores entrevistados reconheceram a importância da formação
específica para lecionar a disciplina, contudo somente um professor (PER7)
conseguiu, no decorrer da sua carreira, fazer o Curso de Pós-graduação em
Ciências da Religião.
A formação inicial é fundamental, pois é por meio dela que o futuro docente
tem acesso à teoria que fundamenta sua prática e solidifica a sua formação como
profissional. Geralmente, no campo do Ensino Religioso, os professores que
assumem esta disciplina têm formação em outras áreas de conhecimento, fato esse
que pode dificultar o trabalho, com temáticas específicas da mencionada área.
A formação continuada pode exercer um papel importante, no sentido de
atenuar a carência de formação inicial desses professores e de possibilitar sua
capacitação trica e prática.
Segundo Nóvoa,
[...] A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de
conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de
uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar
um estatuto ao saber da experiência.
[...] O diálogo entre os professores é fundamental para consolidar saberes
emergentes da prática profissional. Mas a criação de redes coletivas de
trabalho constitui, também um factor decisivo da socialização profissional e
de afirmação de valores próprios da profissão docente. O desenvolvimento
de uma nova cultura profissional dos professores passa pela produção de
saberes e de valores que dêem corpo a um exercício autônomo da profissão
docente (NÓVOA, 1997. p. 26. 27).
249
A prática da reflexão deve se constituir como parte inerente ao desempenho
do educador. Para Schon (1997), um professor reflexivo permite-se ser surpreendido
pelo que o aluno faz, pensa sobre aquilo que o aluno disse ou fez e,
simultaneamente, procura compreender a razão por que foi surpreendido. Depois,
ele reformula o problema suscitado pela situação e formula uma experiência para
testar a sua nova hitese. Esse processo de reflexão-na-ação o exige palavras.
Além desse exercício de reflexão-na-ação, é necessário o professor refletir sobre o
que aconteceu na sua prática, ou seja, realizar uma reflexão sobre a sua reflexão-
na-ação, para ressignificar a sua ação.
4.4.3 Saberes/experiências
Nessa terceira categoria, os professores, ao serem indagados sobre seus
saberes/experiências, explicitaram o modo como se apropriaram dos conteúdos
necessários para a sua prática em sala de aula e como foi importante conhecer os
alunos para orientá-los para a vida:
[...] Ah! Muita coisa. Eu achei que fui bem ousada ao começar dar as aulas
de Ensino Religioso sem ter feito um curso específico de afetividade,
sexualidade porque s montamos um projeto para ajudar os alunos nesses
assuntos. Eu acho que a gente vai crescendo na medida que você vai
procurando ler bastante sobre os assuntos que os meninos estão
precisando, fazer cursos e diversificar a sua aula”(PER 4).
[...] Uma experiência que adquiri foi a importância de estar próxima dos
alunos, ser amiga deles, conhecer a vida deles, porque Ensino Religioso é
para orientá-los para a vida (PER 7).
A consolidação do conhecimento pedagico, ligado ao Ensino Religioso, de
acordo com o depoente (PER 4), se deu por meio da prática e do aprofundamento
dos conteúdos. Assim, o professor assumiu a responsabilidade pelo seu próprio
desenvolvimento profissional e dos saberes que precisa mobilizar no exercício de
sua profissão. Segundo Gómez apoiar-se na prática,
[...] não significa que se reproduzam acriticamente os esquemas e rotinas
que regem as práticas empíricas e se transmitem de geração em geração
250
como resultado do processo de socialização profissional. Pelo contrário, o
conhecimento-na-aão só é pertinente se for flexível e se apoiar na
reflexão na e sobre a ação. Trata-se de partir da prática para desencadear
uma reflexão séria sobre o conjunto das questões educativas, desde as
rotinas às técnicas, passando pelas teorias e pelos valores. Assim
entendida, a prática é mais um processo de in(da) Tj-0.24 Tc (s) Tjsn(da) Tj-c (v) Tj-0.08448 j-0.08448s24 Tc (l) Tj-0.32448 Tc (e) Tj0.24 Tcuceu om
m
s (-) Tj-0.24 Tc (s) Tj-0.08448 Tc (e) Tj0.79776 Tc ( ) Tj-0.084ap87776 Tc ( ) Tj0.Tc (á) Tj-0.16224 Tc (t) Tj-0.0770.08448s24 Tc (l) Tj-0.32448 Tc (e) Tc (r) Tj-0.08448(e) Tj0.79776 Tc ( )3 (e) Tj-UTj0 Tc (A) 8 Tc (e) Tj0.79776 Tc ( ) Tj-0.084336 Tc (m) Tj3.43776 Tc ( ) Tj-0.08448 Tc (p) Tj0 Tc (r) Tj-0.08448 Tc (o) Tj0 Tc (c) Tj-0.08448 T1.0esse
251
para fazer um debate em sala. O professor de Ensino Religioso é o que vai
enfeitar a escola. [...] Um outro aspecto que acontece e que até melhorou
um pouquinho: antes era assim: chegou um professor de Geografia efetivo e
este perdeu duas turmas. Aí o que fizeram: deram as aulas de Ensino
Religioso para completar a carga horária. Com isso ele pegou as minhas
aulas. Perguntei-me: afinal o professor de Ensino Religioso só está na
escola como escada para servir para as pessoas subirem? De uma maneira
geral o professor de Ensino Religioso é utilizado para enfeitar a escola para
as festas, o é convidado para ser madrinha de turma porque só dá aula
uma vez por semana na turma (PER 7).
[...] O desafios são imeros, principalmente na escola pública pois falta
material para a gente trabalhar. Em algumas escolas você tem de estar
mimeografando os trabalhos para os alunos. Quando você tem X cópia para
trabalhar com os alunos, chega nas últimas aulas você está com um número
reduzido de cópias porque os alunos foram pegando essas cópias pelo
meio de caminho. Aí um trabalho que deveria ser individual você tem que
fazer de grupo. Já fui escolhida para ser madrinha. Isso só aconteceu
porque a turma não deu outra opção. Com isso em faço tudo para ter
informações sobre a turma e para conversar com eles. Quando tem algum
passeio na escola, normalmente o professor de Ensino Religioso não é
convidado. (PER 7).
[...]Minha esperança é a de que o Estado passe a valorizar mais o trabalho
do professor de Ensino Religioso, coloque um concurso público (PER 7).
[...] Eu costumo dizer o seguinte, eu nunca podia imaginar que poderia ser
professora de Ensino Religioso, mas estou encerrando a minha carreira de
uma forma muito feliz, porque é uma aula que os meninos gostam tanto que
você sai feliz. É bom ver a receptividade dos meninos nos assuntos
referentes à vida deles, ao seu desenvolvimento. Por isso eles adoram as
aulas. Eu acho que é uma fase da minha vida em que eu estou saindo,
aposentando e saindo muito bem. Eu quero aposentar no auge da minha
carreira. A gente tem de saber a hora de parar. Mas de uma maneira geral,
pelos comentários dos professores de Ensino Religioso, o que desvaloriza o
seu trabalho é o fato de não manterem uma postura de exigência do aluno,
no cumprimento das atividades e na participação da aula. Parece-me que
esses professores não acreditam no que fazem. O primeiro passo para a
valorização do Ensino Religioso é esse: acreditar no que está fazendo, mas
tem professores que dão aulas dessa disciplina somente para completar a
sua carga horária. Isso é ssimo para o Ensino Religioso (PER 4).
A fala do professor (PER 7) apela pelo reconhecimento social do professor no
contexto da escola. A carga horária reduzida e o próprio despresgio do Ensino
Religioso, em relação às outras disciplinas, dificultam a prática docente, que poderia
ser mais interpessoal, efetiva e integradora. Essa situação acaba tendo
desdobramentos no trabalho do professor da disciplina, contribuindo para que ele se
sinta marginalizado.
252
O professor (PER 4) enfatiza alguns fatores que denigrem a imagem do
Ensino Religioso, afetando-o como área de conhecimento, se consubstanciam na
postura, muitas vezes equivocada, do professor frente à condução da disciplina e na
falta de vocação, uma vez que ela pode lhe ser atribuída como complementação de
carga horária e de embasamento, tendo em vista que o docente não se encontra
qualificado para ministrá-la
Apesar dos 88 Tc (o) Tj-0.396 Tc (m) Tj0.048 Tc.048 Tc (de) Tj1.704 Tc ( Tj0 Tc0.24 Tc (c) Tj0.216 Tc (i) Tj0.048 Tc ( Tj3.1440.192 Tc (a) Tj0.084 4 Tc (t)( ) Tj0.048 Tc) Tj1.704 Tc ( )) Tj3.144 Tc (7Tj0.048 Tp6du ) Tj0.048 .192 Tc (d) Tj0.048 Tc (,) Tj0.264 Tc ( ) Tj0.048 Tc (d 4 Tc (t)( ) Tj0.0j0.048( Tj-0.24 Tc (s)PETj0.024 Tc ( ) R0.084 4 Tc (t)( ) Tj0.048 Tc) 4s
253
alunos. O professor de mero 7 enfatiza a importância de se ter um conhecimento
mais amplo na área de Filosofia, tradições religiosas e da pessoa humana. Nestas
falas, pode-se observar que esses docentes preocupam-se com a melhoria do seu
embasamento trico, para aprimorar sua ação socioeducativa. Nessa perspectiva,
cabe ao professor buscar, na teoria, a fundamentação para sua prática, trocar
experiências com outros colegas e ter uma atitude investigativa e compromissada,
sobretudo no campo sócio-educativo e religioso. Os dois educadores reconheceram
a necessidade de se aproximarem da linguagem dos alunos, respeitando-os como
sujeitos capazes de construir os seus próprios caminhos e de fazer escolhas.
Segundo Moraes,
[...] O papel do educador - educando é garantir o movimento, fluxo de
energia, a riqueza do processo o que significa a manutenção de um
diálogo permanente, de acordo com o que acontece em cada momento -,
propor situações problema, desafios, desencadear reflexões, estabelecer
conexões entre o conhecimento adquirido e os novos conceitos, entre o
ocorrido e o pretendido, de tal modo que as intervenções sejam adequadas
ao estilo do aluno, a suas condições intelectuais e emocionais e à situação
contextual (MORAES, 2004, p. 152).
4.4.6 Procedimentos diticos e o tratamento dos conteúdos
Essa sexta categoria busca identificar a prática pedagógica dos docentes:
[...] Olha! a gente tem várias dinâmicas, são jogos. Tem um que eles gostam
muito, que é do tipo jogo da verdade. É um jogo com questões, elaboradas
pelos alunos, referentes à sexualidade e eu vou respondendo sem falar
quem fez a pergunta. Abro espaço para conversas individuais com os
alunos, fora do meu horário. Às vezes, costumo brincar que tenho um
consultório psicológico aqui, na escola. Minha aula está voltada para o
interesse dos alunos. Eu acho que é por isso que eles gostam tanto (PER
4).
[...] Eu sempre faço uma aula sobre ética, qual o direito do cidadão, o que é
ser cidadão, quais os deveres. Trabalho, também, a questão da consciência
negra, questão da deficiência e outros temas. Eu faço o meu plano de curso
perguntando aos alunos o que eles gostariam de que fosse trabalhado. Às
vezes, eu dou algumas dicas: sexualidade, consumismo. Peço também para
fazerem uma crítica das minhas aulas. Normalmente, eles apresentam os
seguintes assuntos: sexualidade, problemas da adolescência, conflito
familiar, namoro, etc. Aqui, nessa escola, eles pedem para trabalhar com os
temas: drogas e vícios. Eu não trabalho o tema sobre as drogas em todas
254
as escolas, porque tem traficante na porta da escola. Então fica dicil de
trabalhar (PER 7).
[...] Minhas aulas estão mais direcionadas para aquilo que é necessidade
dessa etapa do adolescente, droga, sexualidade, afetividade, namoro. Elas
têm, também, o enfoque religioso. A gente nunca deixa de falar. Mas a
gente começa com a 5ª série, com a questão da puberdade, porque,
realmente, é uma fase de vida de mudança muito radical, mudança do
próprio corpo. A cabecinha deles é completamente diferente da de uma
criança. Além disso, eles não têm para quem perguntar e se perguntam os
pais ficam constrangidos. Essas aulas têm sido uma oportunidade para a
gente esclarecer os meninos sobre essa fase que eles estão passando. O
enfoque religioso está em todas as vezes em que a gente fala na
importância de preservar o corpo. A gente não fala de nenhuma religião
específica. Quando Deus nos fez, a própria criação, o nascimento de uma
criança é uma coisa fantástica. Então, a gente faz com que eles enxerguem,
nessas partes, o lado divino, o lado da criação. Não sei se fosse trabalhar
especificamente com as tradições religiosas se teria uma boa aceitação por
parte dos alunos. Mas eu não deixo de falar nessa parte. Por exemplo,
quando a gente trabalhou, na semana do dia da mulher, da sua importância,
a gente falou também de Maria, não a Nossa Senhora, porque aí estaria
vinculado a uma religião católica, mas a importância da Maria na época em
que viveu, o que ela sofreu por causa dos preconceitos. A gente aproveita
para perguntar, para os meninos de outras religiões, como que a Maria é
vista na religião que ele participa. Então eu falo que isso é uma cultura que
a gente precisa conhecer, a figura de Maria nas diversas religiões (PER 4).
Nota-se, pelas falas, que os professores trabalham com a problematização,
com a contextualização e com o desenvolvimento da autonomia dos alunos,
possibilitando-lhes adquirirem formas de pensar, de resolverem os desafios e de
participarem das decisões, considerando, assim, os educandos como elementos
dialogantes no processo de aprender a aprender”. Segundo Freire:
[...] saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para sua própria produção ou sua construção. Quando entro
em sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à
curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas indagações, à curiosidade, às
perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto
em face da tarefa que tenho - a de ensinar e não a de transferir
conhecimento (FREIRE, 1998, p. 52).
Quanto aos contdos, os dois entrevistados priorizaram os seguintes temas:
valores, ética e as temáticas relacionadas com as questões atinentes à
adolescência.
Para Catão (2005), a educação, fundada em valores, pareceu resolver o
problema de fundo do conflito, vivenciado no período republicano, que propôs um
ensino leigo da religião. Pode-se dizer que valores e religião se situam em níveis
255
semelhantes, no âmbito da Antropologia. Contudo, do ponto de vista pedagógico,
essa similitude não ocorre. Valores e religião são, a seu modo, manifestações da
transcendência, ambas indispensáveis ao desabrochar das personalidades
concretas, situadas no tempo e no espaço.
O professor (PER 4) considera que, em suas aulas, a dimensão religiosa
emerge na medida em que o educando percebe que existe algo que o transcende.
Isso ocorre quando ele trabalha com temáticas referentes: à preservação do corpo, à
criação, ao nascimento, entre outras. Além disso, ele relatou que conseguiu
estabelecer um diálogo inter-religioso, quando trabalhou com questões alusivas à
adolescência, à semana da mulher, quando solicitou dos alunos expressarem como
Maria é vista, nas diversas religiões. Esse professor motivou os alunos para o
conhecimento das tradições religiosas e ajudou-os a adquirir uma nova
sensibilidade, quanto ao pluralismo religioso e à aprendizagem da diferença. Assim,
de acordo com Ferreira (2001, p. 44)
se estrutura o respeito às relações pessoais e interpessoais, uma vez que o
sujeito pode não concordar com o outro; é um direito. No entanto, deve
respeitar o direito do outro em se manifestar. Nessa relação do eu com o
outro, o princípio de ser justo é referência para o processo de interiorização
e legitimação de valores.
Para Teixeira (2003), a abertura ao pluralismo constitui um imperativo
humano e religioso. Trata-se de uma das experiências mais enriquecedoras,
realizadas pela consciência humana: o reconhecimento do valor da diversidade
como traço e riqueza da experiência humana.
Portanto, a contribuição do Ensino Religioso consiste em alimentar o respeito
ao diferente e incentivar o diálogo entre as imeras formas como o aluno vivencia
sua relação com o transcendente.
4.4.7 As Dimensões da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, da ética e do
fenômeno religioso, no contexto da sala de aula
Nesta sétima categoria, os professores foram indagados sobre o modo como
256
a dimensão da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, do fenômeno religioso e
da ética é trabalhada na sala de aula:
[...] Os alunos de 5ª e 6ª série não questionam muito sobre o transcendente.
Eles estão mais ligados no agora de sua vivência. Às vezes, eles comentam
alguma coisa quando aparece uma notícia na Rede Globo, no programa do
Fantástico: você viu o que falaram no Fantástico? Você acredita? Ou como
você vê isso? Eles pegam aquela informação, mas logo deixam aquela
informação (PER 4).
[...] Eu acho que a religiosidade, a ética, o aprender a ser e viver com os
outros entra quando a gente trabalha os valores com os alunos. O mesmo
quando a gente fala do respeito para com o outro da mesma forma como eu
quero ser respeitado, da escolha do caminho certo. Isso não deixa de ser
uma coisa da religiosidade, de uma prática de religião, de ação, de
aceitação. Mas conhecendo os alunos, percebo que são poucos que fazem
uma primeira comunhão, participam de um grupo de jovens. Está faltando
uma orientação da família para a dimensão da religião. Hoje em dia, isto
está diminuindo muito. Cabe às famílias orientar os filhos. A formação é
dada quando a criança é pequena. Então, eu acho que essa questão da
religião está diminuindo muito nas famílias, elas não estão preocupadas
com a religiosidade dos filhos (PER 4).
[...] Eu tenho reparado que os alunos vêm para a escola totalmente sem
saber nada. Eles não sabem nem quem é Deus. Que eu faço nas minhas
aulas no final do ano? Faço um trabalho sobre religião. Em todo trabalho a
gente questiona alguma coisa sobre Deus. Nessa escola, eu fui trabalhar
sobre o que é namorar, ficar, apaixonar e o que é o amor. Aí um aluno
colocou no trabalho que o amor é quando você adora uma pessoa. Eu fiz a
seguinte observação: adorar a gente só adora a Deus. Ele rachou comigo.
Como você diz que não aula de religião, se você disse que adorar só
adora Deus. Isso é lógico, expliquei: adorar, s só adoramos a Deus. E se
eu for ateu, respondeu o menino. Perguntei: existe ateu mesmo? Quem te
criou? Quem fez tudo isso que está na sua frente? Em algumas turmas se
você trabalha sobre religiões, eles querem que o assunto seja tratado mais
vezes. Existe uma polêmica quanto ao rezar antes de iniciar as aulas. Em
algumas escolas em que eu trabalho isso acontece. Nessa escola, eles
fazem a oração do Pai Nosso antes de entrar para a sala (PER 7).
Considera-se importante que os docentes aproveitem as experiências prévias
dos alunos, respeitando os aportes e peculiaridades das diversas religiões e suas
opções religiosas. Contemplar essas vivências dos alunos, segundo o professor 4,
deve ser uma competência dos professores, pois a partir da riqueza das convicções
discutidas, viabiliza-se a elaboração de percepções significativas e enriquecedoras
para os mesmo, inclusive quebrando preconceitos e rompendo com posturas
estigmatizadoras.
O papel da escola, segundo Carniato (2005)., é o de aplicar, sobre as
informações dos alunos, o método cienfico para tor-las inteligíveis e, assim, lhes
257
proporcionar, por meio do conhecimento, a superação do temor, do tabu, da
mentalidade mágica, da indiferença, do preconceito.
Para alcançar esse objetivo, faz-se necessária uma condução adequada das
temáticas propostas e uma atitude investigadora do professor, a fim de despertar o
interesse da turma, levando os educandos a procederem à busca pela
transcendência. De acordo com Siqueira (2003), citando documentos do
FONAPER
68
(2000):
[...] destaca-se que a história e outras ciências constataram unanimemente
que ‘não povo algum, por mais primitivo que seja, sem Religião, sem
uma Tradição Religiosa. De fato, por mais que recuemos no tempo, sempre
encontramos algum indício de culto religioso, e por mais variadas que sejam
as culturas humanas, sempre nelas encontramos alguma forma religiosa.
Justifica-se que, na prática de sala de aula, o estudo deve desenvolver-se a
partir da decodificação desse fenômeno. Não trata, portanto, de
decodificar com os educandos os elementos constitutivos do fenômeno
religioso. Tratar da decodificação do fenômeno religioso é observar como se
essa busca de transcendência, a partir da experiência que pode ser
espiritual, religiosa, comunitária e institucional (SIQUEIRA, 2003, p. 50).
O professor (PER 4) considera que a dimensão da religiosidade está ligada
ao aprofundamento dos temas sobre os valores, o respeito e a escolha do caminho
certo (PER 4). Nessa perspectiva, Gruem esclarece que o religioso é uma categoria
que supõe alguma relação entre o homem e o sentido radical, mais profundo, de sua
existência. Religioso, nesta acepção, será o homem que leva a sério tal relação; que
faz dela a orientação sica de seu projeto de vida (GRUEN, 1995, p. 75).
Este docente ao relacionar os temas dos valores, da formulação do projeto de
vida, com a questão da espiritualidade está promovendo uma reflexão com os
alunos sobre o modo de ser religioso. Essa perspectiva apóia-se no que Dalai-Lama
(2000)
69
, citado por Boff (2001) considera sobre a espiritualidade:
[...] que espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do
espírito humano tais como amor e compaixão, paciência e tolerância,
capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção
de harmonia que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto
para os outros (BOFF, 2001, p.21)
68
RUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Ensino Religioso: referencial
curricular para a proposta pedagógica na escola. Brasília, s/ed. 2000, p. 16.
RUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Ensino religioso: capacitação para
um novo milênio. Brasília, s.ed, 2000. (caderno 4 o Fenômeno Religioso no Ensino Religioso p. 9).
69
DALAI-LAMA. Uma ética para o Novo Milênio. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
258
Segundo Boff (2001), as religiões constituem uma das construções de maior
excelência do ser humano. Elas todas trabalham com o divino, com o sagrado, com
o espiritual. Mas elas não são o espiritual. As religiões, ao substantivar-se e
institucionalizar-se como formas de poder, seja sagrado, social, cultural e militar,
perdem a fonte que as mantém vivas a espiritualidade. O resultado é a
mediocridade, a acomodação, o vazio de profetas e mártires e o emudecimento da
palavra inspiradora de novo ânimo e de nova vida. As instituições religiosas podem
tornar-se, com seus dogmas, ritos e morais, o túmulo do Deus vivo.
A espiritualidade, de acordo com Boff,
[...] tem a ver com experiência, não com celebrações, que são apenas
caminhos institucionais capazes de nos ajudar na espiritualidade, mas que
são posteriores à espiritualidade. Nasceram da espiritualidade, podem
conter a espiritualidade, mas não são a espiritualidade. São água
canalizada, não a fonte da água cristalina (BOFF, 2001, p. 66).
Segundo o professor de mero 7, quando ocorre discordância entre o
professor e o aluno sobre a questão de acreditar em Deus ou ser ateu é que ele
percebe melhor como o Ensino Religioso volta-se para a exposição de verdades,
marginalizando a priorização de um processo integrativo, interativo que poderia
assegurar espaço de liberdade, de organização de idéias, de formação de
conviões significativas, de favorecimento ao ambiente educativo, de construção da
experiência do transcendente.
Contudo, observa-se que faltou uma sensibilidade maior ao professor, para
perceber que o aluno estava usando uma linguagem do senso comum. Ele poderia
ter aproveitado o momento para falar das experiências amorosas e religiosas, do
fenômeno amoroso, a fim de estabelecer um diálogo com o aluno sobre a
experiência do namoro e a relação EU-TU (transcendente).
O professor deve assumir o papel de catalisador das falas dos alunos e de
suas experiências. Nessa perspectiva, é necessário que o educador seja capaz de:
saber ver, saber compreender, saber saber, saber fazer e saber ser (VIESSER,
1995).
259
4.4.8 Avaliação no Ensino Religioso
A oitava categoria refere-se ao modo como o professor avalia os alunos:
[...] Eu avalio diariamente, eu avalio a questão do interesse do aluno,
porque eu acho que isso é muito importante. Eu avalio o interesse do aluno.
As avaliações escritas são pouquíssimas. Avalio a participação do alunos
nos debates. Eu cobro muito a participação, eu cobro a disciplina. Eu
comento com eles, onde não existe disciplina não tem aprendizado. Ao
trabalhar os valores a gente trabalha esse aspecto da disciplina. Isso é um
modo de ajudar as outras matérias e de integrar o Ensino Religioso (PER 4).
[...] Em toda aula eu valorizo o que o aluno faz. Penso que a Secretaria da
Educação deveria olhar esta questão da avaliação do Ensino Religioso e
definir se a gente trabalha com conceito, nota ou outro modo de avaliar
porque cada escola dota um modo diferente (PER7).
Percebe-se que o professor (PER 4) tem uma intenção educativa, quando se
refere aos procedimentos diticos e ao tratamento do conteúdo. Na sua fala sobre
a avaliação dos alunos, ele afirmou optar por uma avaliação processual, utilizando-
se da avaliação qualitativa. Levando-se em conta a exiidade da disciplina e a
carência de orientação dos órgãos competentes, pode se constituir como uma forma
aceitável de avaliar os discentes.
O professor (PER 7) quer que a Secretaria de Educação defina critérios para
avaliar a disciplina, no âmbito da Rede Estadual de Ensino. A concepção de Klein,
sob avaliação, pode servir de referência.
[...] É necessário encontrar e articular caminhos para uma avaliação que
contemple o ser humano como ser pensante, capaz de realizar mudanças
significativas, projetando, dessa forma, um mundo mais humano. É preciso
ter clareza quanto à sociedade que queremos. Dessa forma, será possível
definir e estabelecer ações, estratégias e posturas para a prática
pedagógica e, consequentemente, para a avaliação (KLEIN, 2001, p. 140).
O Ensino Religioso, como componente curricular, não tem caráter de
terminalidade, estando mais ligado à formação da pessoa humana. Sua avaliação
deve ser vista como instrumento para o aperfeiçoamento da prática pedagógica,
capaz de promover o crescimento do educando na sua dimensão processual (saber,
saber fazer, saber ser, saber conviver) e de construir um projeto de vida,
referenciado na eticidade.
260
4.4.9 Importância do Ensino religioso para a formação dos alunos
Na nona categoria, os professores opinaram sobre a importância do Ensino
Religioso para a formação dos alunos:
[...] gico que o Ensino Religioso colabora com a formação do aluno.
Penso que trabalhar com valores ajuda bastante o aluno. Quando eu tenho
uma notícia, por exemplo, de corrupção, de fraude, de não sei o que, a
gente pergunta para os meninos o que está faltando no Brasil. Chamo
atenção para as coisas que estão piorando e mostro que as pessoas não
estão dando valor ao que, antigamente, era uma coisa sagrada, a questão
da honestidade. Eu tenho que mostrar que eu sou honesto. Quando a gente
trabalha os valores a gente está lidando com isso tudo. A gente nota que
essa questão de violência, o querer o que é do outro, a ambição está tudo
voltado para esse trabalho (PER 4).
[...] Sim, porque ele vai aprofundar sobre os valores, vai verificar que
aqueles valores que ele assimilou em casa através dos pais continuam na
escola e vai aprofundar também os limites. Agora tem aqueles que o
estão nem aí. Mas, muitos, a gente consegue mudar um pouquinho (PER
7).
Para os dois entrevistados, a importância do Ensino Religioso está em ajudar
o educando a construir um referencial de vida, baseado em princípios humanitários.
Para concretizar esse objetivo, o Ensino Religioso deve ser o mediador do diálogo
do indivíduo consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza, criando, de acordo
com Moraes,
ambientes de aprendizagem nos quais as atenções estejam voltadas para o
resgate do ser humano, para a busca e as descobertas de novas formas de
pensar e compreender o mundo, de valorar as questões pedagógicas, de
facilitar o resgate do potencial humano (MORAES, 2004, p 111).
261
5 O DEPARTAMENTO ARQUIDIOCESANO DE ENSINO RELIGIOSO: UMA VISÃO
MAIS AMPLA SOBRE A DISCIPLINA
Para analisar o saber que fundamenta o trabalho do docente de Ensino
Religioso, nos campos da teoria/prática, considerou-se importante proceder a uma
pesquisa, no Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso (DAER),
responsável pela orientação da disciplina, através da indicação dos conteúdos e
práticas, a serem realizados, no magistério da mesma. Além disso, periodicamente,
este Departamento promove Cursos de capacitação de professores. Neste lócus de
pesquisa, foi aplicado um questionário
70
em vinte e oito professores, vinculados a
diversas instituições, situadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Este
questionário foi, também, aplicado a dois docentes, ligados à escola estadual
pesquisada. Do conjunto desses professores, foram selecionados seis docentes
para serem entrevistados
71
. Esses instrumentos (questionário e entrevista)
buscaram apreender os sentidos da formação/profissionalização desses professores
e os significados de suas práticas, conhecimentos, desejos, crenças que, em
resumo, consubstanciam a prática dos professores desta disciplina. Os dados,
coletados no Questionário, foram usados para traçar o perfil dos sujeitos e fazer uma
interlocução com os dados coletados pelas entrevistas.
5.1 Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso: caracterização,
atribuições e competências
O Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso (DAER), de Belo
Horizonte, foi fundado, em 1932, pelo Pe. Álvaro Negromonte
72
, com a finalidade de
promover o Ensino Religioso nas escolas primárias e grupos escolares da Capital.
70
O roteiro do questionário está disponibilizado na parte referente aos Anexos.
71
O roteiro das entrevistas está disponibilizado na parte referente aos Anexos.
72
As informações sobre Pe. Álvaro Negromonte podem ser obtidas em: SILVA, Francisco da Silva.
Álvaro Negromonte: Modernidade, religião e educação. Uma tentativa de aproximação do privado
com o público na educação brasileira. 2005. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.
262
Para atingir esta finalidade, foi criado o Boletim Catequético que veiculava
publicações que estabeleciam as diretrizes para o desenvolvimento da catequese e
das práticas docentes com o objetivo de estimular e orientar os professores. Além
dessas iniciativas, programas de capacitação foram implementados.
[...] Cursos Intensivos, Semanas Catequéticas, nos quais eram estudados
assuntos para aumentar a cultura religiosa dos professores e catequistas,
abordando pontos básicos, como os Evangelhos, a Missa, os sacramentos
de iniciação cristã batismo, crisma e ainda conteúdo relacionado à
elaboração de planos de aula, como psicologia evolutiva da criança,
interesses e formação de hábitos e outros necessários à catequese (DAER,
s.d).
O Regimento (1998), do mencionado Departamento, explicita que a
coordenação Diocesana do Ensino Religioso não substitui a responsabilidade de
cada um, em nível pessoal, familiar, grupal, escolar, paroquial, regional, mas tem,
por finalidade, formar, incentivar, dinamizar, coordenar e orientar o desempenho
dessa responsabilidade em seus níveis. Esse Departamento tem um setor
responsável pela capacitação docente que oferece cursos, orientações, textos e
Manuais de Ensino Religioso.
Os pressupostos que norteiam o Departamento, apresentados no seu
Regimento (1998), são: a Comunhão e a Participação, a Conferência de Puebla e a
necessidade de construir, já, aqui a Cidade de Deus, na Cidade dos Homens
(Construir a Esperança).
As Metas traçadas, para a ação do Departamento, assim se apresentam:
desenvolver e aprofundar a Comunhão dos Agentes da Pastoral da Educação,
presentes na escola blica, com a Igreja local, particularmente com o Sr. Arcebispo;
desenvolver e aprofundar o relacionamento e o intercâmbio com as Regiões da
Arquidiocese; participar da coordenação da Pastoral da Arquidiocese; orientar-se
pelo princípio da subsidiariedade; promover intercâmbio de informações e diversas
formas de cooperação com outras instituições, que possam contribuir para o
desenvolvimento do Ensino Religioso (REGIMENTO, 1998).
Em 1988, esse Departamento fez parceria com as Igrejas que participavam
do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)
73
tendo em vista as mudanças
73
As Igrejas que fazem parte, atualmente, do CONIC são: Igreja Católica Apostólica Romana; Cristã
Reformada; Presbiteriana Unida; Episcopal Anglicana; Evangélica de Confissão Luterana no Brasil;
263
referentes à natureza do Ensino Religioso e à busca de sua identidade como
conteúdo do currículo escolar, distinto da catequese. Essa parceria visava,
sobretudo, estabelecer Diretrizes para o Ensino Religioso, no âmbito da Rede
Estadual de Ensino. Essa postura, de promover a participação de outras Igrejas,
objetivando suas colaborações na decisão de questões relativas ao Ensino
Religioso, cresceu a partir do III Encontro Estadual de Ensino Religioso, realizado
em 1990, no qual se tornou consensual a necessidade de dar à disciplina, uma
dimensão ecumênica.
Nesse Encontro, foram estabelecidos critérios tanto para o Credenciamento
de Professores de Ensino Religioso, quanto para a Formação de Professores. A
partir desse Encontro, o DAER passou a se responsabilizar pelas seguintes
competências:
[...] Cursos de Capacitação em Filosofia e Metodologia da Educação
Religiosa, como condição para o credenciamento dos profissionais
interessados junto à Secretaria de Estado da Educação e ao Conselho
Nacional de Ensino Religioso (CONER/MG); Formação Permanente para os
professores que lecionam esta disciplina na rede pública ou particular, o que
é pré-requisito para a renovação do seu credenciamento junto à Secretaria
de Estado da Educação e Conselho do Ensino Religioso (CONER/MG);
Atendimento diário aos professores, através de uma Secretaria que funciona
em horário comercial; Reunião periódica com representantes regionais da
Educação Religiosa na Região Metropolitana de Belo Horizonte;
Comunicação e/ou parcerias com a PUC-MG, Fórum Nacional Permanente
do Ensino Religioso, Comissão Central de Educação Religiosa (COMCER,
que representa oito entidades religiosas junto à Secretaria de Estado da
Educação) e a Comissão Regional Leste II da CNBB (DANTAS, 2002, p.
77).
Segundo esse autor, a Proposta Pedagógica do DAER concebe o Ensino
Religioso como educação para a religiosidade e, nessa perspectiva, a matriz
curricular deve contemplar as seguintes disciplinas:
[...] Ensino Religioso no Brasil; Fenomenologia do Ser Humano;
Fundamentos do Ensino Religioso; Psicologia e Religiões; Ética nas
Tradições Religiosas; Aspectos Filosóficos da Educação; Aspectos do
Fenômeno Religioso; Matrizes Culturais Brasileiras e Mineiras; Pedagogia
do Ensino Religioso; Narrativas e Textos Sagrados; Deus, Homem e
Escatologia nas Regiões Prevalentes do Brasil; Tópicos em História das
Igrejas Cristãs; e Técnicas de Trabalho em Sala de Aula (DANTAS, 2002, p.
110).
Metodista e Ortodoxa Síria do Brasil.
264
A partir de 2005, os cursos oferecidos pelo DAER deixaram de ser
obrigatórios, porque o mencionado óro perdeu a função de credenciar os
docentes para essa disciplina, devido à veiculação da Lei 15434, sancionada por
Aécio Neves, em 5 de janeiro de 2005. Segundo essa legislação:
[...] O exercício da docência do Ensino Religioso, na rede pública estadual
de ensino, fica reservado a profissionais que atendam a um dos seguintes
requisitos:
I - Conclusão de curso superior de licenciatura plena em ensino religioso,
ciências da religião ou educação religiosa;
II - Conclusão de curso superior de licenciatura plena ou de licenciatura
curta, autorizado e reconhecido pelo órgão competente, em qualquer área
do conhecimento, cuja grade curricular inclua conteúdo relativo a ciências
da religião, metodologia e filosofia do ensino religioso ou educação
religiosa, com carga horária mínima de quinhentas horas;
III - conclusão de curso superior de licenciatura plena ou de licenciatura
curta, em qualquer área de conhecimento, acrescido de curso de pós-
graduação lato sensu em ensino religioso ou ciências da religião, com carga
horária mínima de trezentas e sessenta horas, oferecido até a data de
publicação desta Lei;
IV - Conclusão de curso superior de licenciatura plena ou de licenciatura
curta, em qualquer área de conhecimento, acrescido de curso de
metodologia e filosofia do ensino religioso, oferecido até a data de
publicação desta Lei, por entidade credenciada e reconhecida pela
Secretaria de Estado da Educação.
Parágrafo 1: fica assegurada isonomia de tratamento entre os professores
de ensino religioso e os demais professores da rede pública estadual de
ensino.
Parágrafo 2: É garantido ao profissional que satisfizer requisito definido em
inciso do caput deste artigo o direito de participar de concurso público para
docência de ensino religioso na rede pública de ensino.
Art. Esta lei entre em vigor na data de sua publicação (BRASIL, 2005, p.
34).
Em síntese, o professor de Ensino Religioso não precisa ser mais
credenciado pelo Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso, para ministrar
a disciplina.
Contudo, o Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso continua
colaborando com a formação continuada dos docentes, acompanhando a legislação
referente ao Ensino Religioso, a fim de dar as devidas orientações para os
professores. Além disso, promove encontros com diretores, supervisores e
orientadores com objetivo de construir uma prática de Ensino Religioso que
corresponda às necessidades, valores e características das famílias e comunidades
escolares.
265
5.2 A Pesquisa Realizada
5.2.1 O Perfil dos Professores
Os professores, que responderam ao questionário e foram entrevistados,
estavam vinculados à Rede Estadual de Ensino e trabalhavam com alunos das
séries finais do ensino fundamental. O questionário foi aplicado em 28 professores,
que lecionavam a disciplina em diferentes instituições. Os dados, coletados pelo
citado instrumento, sintetizam: todos professavam a religião católica
74
; 89,28% eram
do sexo feminino; as faixas etárias de maior incidência eram: de 41 a 50 anos que
totalizavam 41,4%; e de 31 a 40 anos, que somavam 32,1%; 21,4% possuíam de 51
a 65 anos e 3,6% tinham de 25 a 30 anos; o estado civil predominante entre os
sujeitos era o de casado (64%), seguido de 28,6% de solteiros e 3,6% de
separados
75
. Quanto à experiência em docência no Ensino Religioso: 39% possuíam
de 6 a 10 anos de docência; 29% possuíam entre 1 a 5 anos de docência, 14%
possuíam de 16 a 20 anos de docência e 7% possuíam de 11 a 15 anos de docência
e dois não responderam essa questão.
Os gráficos, apresentados a seguir, retratam o Tempo de Experiência e a
Jornada de Trabalho dos Docentes.
74
O ideal seria ter realizado a pesquisa com professores de várias tradições religiosas, mas, na
época da aplicação do questionário, só estavam presentes, no Curso de Formação, administrado pelo
Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso, professores que se diziam da denominação
católica.
75
O modelo de questionário e os dados estasticos estão disponíveis na parte referente aos Anexos.
266
4%
31%
21%
32%
4%
4%
4%
1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos não respondeu
Gráfico 5: Tempo de experiência dos docentes
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 4
Tempo de experiência dos docentes
Tempo de experiência
1 a 5 anos 4%
6 a 10 anos 31%
11 a 15 anos 21%
16 a 20 anos 32%
21 a 25 anos 4%
26 a 30 anos 4%
não respondeu 4%
Fonte: Dados da pesquisa
A maioria dos respondentes, 53,6%, trabalhava em dois turnos; 28,6%
trabalhavam em um turno e 14,3% trabalhavam em três turnos de trabalho.
267
Gráfico 6: Jornada de Trabalho
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 5
Jornada de Trabalho dos docentes
Jornada de trabalho Freqüência %
Um turno 8
28,6
Dois turnos 15
53,6
Três turnos 4
14,3
Sem resposta 1
3,6
Total 28
100,0
Fonte: Dados da pesquisa
No que diz respeito ao bito de leitura, 46,4% dos respondentes liam
diariamente, 17,9% liam semanalmente, 25,0% liam esporadicamente e 10,7% liam
mensalmente.
268
Gráfico 7: Hábito de leitura
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 6
Hábito de leitura
Hábito de leitura
Liam diariamente 46,4%
Liam semanalmente 17,9%
Liam esporadicamente 25,0%
Liam mensalmente 10,7%
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto ao uso do computador, 50% utilizavam, sobretudo, através do Pacote
office e da Internet; 17,9% faziam uso somente do Pacote Office e 25% o
utilizavam esse equipamento e 7,1% o responderam.
46,4%
17,9%
25,0%
10,7%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
50,00%
Liam diariamente Liam semanalmente Liam esporadicamente Liam mensalmente
Liam diariamente Liam semanalmente Liam esporadicamente
Liam mensalmente
269
Gráfico 8: Uso do computador
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 7
Uso do computador
Uso do computador
%
Utilizavam, sobretudo, através do Pacote
office
e da Internet
50%
F
aziam uso somente do Pacote
Office
17,9%
Não utilizavam esse equipamento 25%
Não responderam 7,1%
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto ao local de uso do equipamento: 60,7%, utilizavam em casa; 7,1% no
trabalho, 25,0% não usavam o computador e 7,2% não responderam à questão.
270
Gráfico 9: Local de uso do equipamento
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 8
Local de uso do equipamento
Local de uso do equipamento
Utilizavam em casa 60,7%
No trabalho 7,1%
Não usavam o computador 25,%
Não responderam à questão 7,2%
Fonte: Dados da pesquisa
5.2.2 As Percepções dos Professores: suas falas nas entrevistas
A partir do material, coletado pelas entrevistas, procedeu-se a uma análise
dos dados, na qual foram identificadas onze categorias, que expressaram os
271
elementos comuns, presentes nas falas dos sujeitos.
As categorias identificadas assim se apresentaram: razões da escolha pelo
magistério do Ensino Religioso; formação do professor de Ensino Religioso;
saberes/experiências; o sentir do docente de Ensino Religioso; tipo de Ensino
Religioso; as percepções dos outros profissionais e professores sobre o Ensino
Religioso; pré-requisitos que devem fundamentar a prática docente do Ensino
Religioso; procedimentos didáticos e o tratamento dos conteúdos no Ensino
Religioso; as dimensões da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, da ética e
do fenômeno religioso na prática docente em Ensino Religioso; avaliação no Ensino
Religioso; importância do Ensino Religioso para a formação dos alunos.
5.2.2.1 Razões da escolha pelo magistério do Ensino Religioso
A primeira categoria, aqui apresentada, está centrada nos motivos pelos quais
os professores optaram pelo magistério no Ensino Religioso. As razões expostas,
nas entrevistas, pelos docentes, embora apresentassem diferenças, centravam-se,
basicamente, na questão da oportunidade que tiveram de lecionar a disciplina, como
se evidencia nos depoimentos:
[...] Eu era professora de Literatura quando uma professora do Ensino
Religioso saiu da escola. Com isso a Diretora convidou-me para ministrar
essas aulas. No começo, eu achei que não ia dar conta, porque não tinha
preparação nenhuma. Não sabia nem o que trabalhar dentro de sala de
aula. Mas fui fazendo alguns cursos, promovidos pela Secretaria de
Educação e depois pelo DAER. Eu estou nessa treze anos (PER 1).
[...] Primeiro eu formei em Psicologia, fiquei um tempo sem trabalhar, surgiu
a oportunidade de fazer o curso no Departamento de Ensino Religioso de
Educação Religiosa (DAER). Achei o curso muito interessante e foi, a partir
daí, que comecei a trabalhar na área de Ensino Religioso. Eu sempre gostei
da área de educação. Daí a melhor opção foi fazer o curso de Educação
Religiosa e o curso de Pós-graduação em Ciências da Religião. Tenho
interesse em fazer o Curso de Pedagogia com ênfase com o objetivo de
aprimorar e investir na minha formação. Quando der certo, eu pretendo
também fazer um Mestrado (PER 8).
Quando os docentes adentravam o campo do Ensino Religioso, para
completar sua carga horária, ou em uma outra situação semelhante, embora
272
possuíssem competência em outras áreas do conhecimento, apresentavam
dificuldades em trabalhar com a especificidade do assunto. Por isso mesmo, muitos
tinham procurado se qualificar, realizando cursos no DAER.
Algumas falas mostram ter ocorrido uma escolha pessoal, que envolvia: o
prazer e a vocação. Além disso, alguns afirmaram ter se identificado com alguém da
área e outros, por avaliarem ter um perfil adequado para lecionar a disciplina:
[...] Eu trabalhava como pedagoga e essa prática influenciou na decisão
para escolher ser professora de Ensino Religioso. Eu entro na sala é como
se estivesse entrando pela primeira vez. Uma supervisora disse-me que
gosta de passar na sala quando eu estou dando aula e ver o meu jeito de
estar ali com os meninos. Para mim é muito prazeroso estar com essa
disciplina (PER 2).
[...] Eu escolhi para orientar aquelas pessoas que o têm condições de ter
um caminho melhor na educação, na formação, mas também na vida
espiritual, uma formação mais cristã. Eu estudei com as filhas de caridade
em São Paulo no Instituto de Cegos. Foi lá que despertou em mim o desejo
de ser professora de Ensino Religioso, devido ao jeito delas darem essa
formação para s (PER 5).
[...] Primeiro, a legislação obrigava as escolas a colocarem o Ensino
Religioso. Com isso eu tive a oportunidade de fazer um curso do CONER
para ser professora dessa disciplina, mas eu tenho licenciatura plena em
Português e pós-graduação em Leitura e Literatura e, um tempo atrás, eu fiz
a s-graduação em Ensino Religioso pela Newton de Paiva. O que
contribuiu para eu chegar a ser professora de Ensino Religioso foi a minha
vivência em sala de aula, o gostar de dar aulas e senti que o meu perfil
adequava um pouco com a matéria e estou nessa 6 anos (PER 6).
Esses depoimentos evidenciaram que a escolha para ser professor, no caso
de um entrevistado, ocorreu anteriormente à experiência profissional (PER 5); com
outros dois docentes, a opção decorreu da experiência no campo educacional, por
se identificarem com a área, terem apreço pela disciplina e por acharem que seus
perfis estavam apropriados. Nesses depoimentos, percebe-se uma estreita relação
entre a pessoa e a função assumida.
Finalmente, um sujeito declarou que a escolha tinha ocorrido devido à
facilidade e ao interesse em trabalhar com o conteúdo da disciplina:
[...]Facilidade com o contdo, gostar de conhecer as tradições religiosas, o
ser humano nessa busca de quem é o outro e quem sou eu(PER 3).
273
Este gráfico evidencia as diferentes opções dos sujeitos:
Gráfico 10: Motivos que levaram a ser docente do Ensino Religioso
Fonte: Dados da pesquisa.
TABELA 9
Motivos que levaram a ser docente do Ensino Religioso
Motivos que levaram a ser docente de ER
Freqüência %
vocação/ interesse por esse campo de conhecimento
14
50,0
Formação voltada para a área do Ensino Religioso
8
28,6
Possibilidade de ingresso no mercado de trabalho
2
7,1
Crença na formação religiosa do ser humano
2
7,1
Complementação de carga horária
2
7,1
Total
28
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
274
Os dados apresentados mostram, de uma maneira clara, que a
vocação/interesse pelo Ensino Religioso se apresentou como a opção privilegiada e,
esse fato, sem vida, pôde contribuir para uma prática de qualidade da disciplina.
Constata-se, também, que os motivos, aqui apontados, têm grande semelhança com
os coletados na pesquisa, realizada na escola.
5.2.2.2 Formação do professor de Ensino Religioso
A segunda categoria está centrada na formação dos docentes para o Ensino
Religioso.
A formação de professores para o Ensino Religioso se constitui como um
desafio para as instituições formadoras. Deve-se esclarecer que, somente pouco
tempo, foram criados cursos de nível superior que se destinavam a formar docentes
neste campo de ensino.
Na pesquisa realizada, alguns docentes eram graduados em outras áreas de
conhecimento, ou em área técnica e, ao assumirem a disciplina, o possuíam
formação específica para o magistério do Ensino Religioso. Um dos entrevistados,
posteriormente, fez o Curso de Graduação em Pedagogia com Ênfase em Ensino
Religioso e Pós-graduação em Ciências da Religião; quatro desses sujeitos fizeram
Pós-graduação em Ciências da Religião e uma entrevistada continuava o
possuindo habilitação específica:
[...] Quando eu comecei a trabalhar com o Ensino Religioso eu não tinha
graduação, só o magistério. Eu era professora de Português e depois
passei para o Ensino Religioso. No início, eu tinha a concepção de Ensino
Religioso muito ligado à catequese, porque eu era catequista. Eu mesmo
fazia a confusão entre Ensino Religioso e catequese. Com o passar do
tempo, eu vi que essa disciplina era mais importante do que o próprio
Português com que trabalhava porque tinha oportunidade de trabalhar com
a dimensão humana dos alunos: quem sou? para onde vou? de onde eu
vim?. São questões essenciais. Eu só fui fazer a Pedagogia com ênfase em
Ensino Religioso, quando eu já estava, aproximadamente, uns dez anos,
lecionando Ensino Religioso. Em seguida, fiz a Pós graduação em Ensino
Religioso. Antes dessa graduação, eu fiz três módulos de estudo, oferecidos
pelo Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso (DAER) para ter
licença para lecionar essa disciplina. O primeiro foi de 120 horas. Agora, o
DAER oferece curso de formação permanente todo ano. Lembro de alguns
assuntos: fenômeno religioso, antropologia, pessoa humana, tradições
275
religiosas, o transcendente, mito, rito e a ditica do Ensino Religioso.
Quanto ao curso de Pós-graduação do PREPES, ligado ao Ensino
Religioso, esse deu um embasamento para sentir-me segura naquilo que
estava trabalhando. Eu já fui coordenadora do regional da cidade de Caeté
e, a partir do ano 2000, assumi a coordenação do DAER. Essa função exige
uma atualização constante para acompanhar os professores e ver o que
eles precisam em termos de formação. Nos Cursos ministrados pelo
Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso, a gente procura
trabalhar a questão prática: o professor em sala, a dificuldade que ele
enfrenta em sala de aula. O curso de Pós-graduação da PUC, como
qualquer outra habilitação, a teoria e no departamento, a prática. Muitos
que fizeram a habilitação vêm ao Departamento para aprender como lidar
com as questões em sala de aula. O embasamento depende mais do
profissional do que do curso em si. É o profissional que tem de correr atrás,
se ele quer ser um bom profissional (PER 3).
[...] Tanto o curso no DAER como o de s-graduação em Ciências da
Religião contribuíram muito com a prática, porque s fazíamos muitas
discussões, dimicas ressaltando como s devíamos ser dentro de sala,
questões práticas dentro da temática da ética, etc. Nesse sentido, eu acho
que os dois cursos supriram muito bem. Penso que o professor de Ensino
Religioso deve ter sua formação voltada para as questões das relações
humanas, porque se ele tem de ser uma pessoa compreensiva, paciente,
tranqüila para passar um conteúdo para os alunos. Se o fizer assim, vai
ser uma incoerência muito grande. s, da Educação Religiosa, temos que
ter cuidado nas nossas relações com os alunos, saber o que falar, como
falar porque a disciplina ensina a ética, o respeito, a compreensão, a
convivência, o amor ao próximo. Então se a gente não sabe conviver com
os colegas e alunos, fica complicado (PER 8).
[...] O curso de Pós-graduação em Ensino Religioso foi muito bom, foi
interessante. Em termos de conteúdo adquiri muitos conhecimentos, mas a
realidade de sala de aula, da sua clientela, da escola exige que a gente
procure outros canais. Primeiro, que você não tem material, livros diticos
para trabalhar com o Ensino Religioso, especificamente, para a escola
pública. alguns livros da escola particular, mas são livros confessionais e
é meio complicado você trabalhar com esse tipo de livro dentro de sala de
aula pública, porque você tem que observar bastante o proselitismo. Você
tem de correr atrás do material. Seria muito bom se entre os professores
tivesse uma troca de experiências, mas a relação é meio egoísta. De vez
em quando, você liga para alguns colegas para ver se existe possibilidade
de socializar alguma experiência ou material, mas geralmente você ouve
sempre um não. O DAER é um curso de reciclagem que a gente fazia uma
ou duas vezes por ano. Desde o ano passado, esse curso o é obrigatório.
Então as escolas não liberam a gente para fazer esse curso. Era um curso
importantíssimo porque a gente via muitas coisas novas, podia conversar
com outras pessoas. Agora não tem outro lugar para você procurar uma
atualização, uma renovação do seu contdo. Eu procuro ler bastante e
procuro os cursos da AEC (Associação de Escolas Católicas), mas,
geralmente, os cursos são caros e eles dão preferência para as escolas
católicas. Eu penso que uma graduação específica é interessante para a
professora de Ensino Religioso, porque seria até uma maneira de valorizar o
profissional e evitar comparações com o pessoal de outra área. Nesses
cursos, deveriam trabalhar a ditica, o manejo de sala, disciplina, a
psicopedagogia para aprendermos a conversar melhor com os alunos, um
curso voltado para a área afetivo-sexual, porque, muitas vezes, o
estamos preparadas para responder as perguntas dos alunos (PER 6).
276
[...] Apesar da minha dificuldade visual, eu fiz o curso de s-graduação em
Ciências da Religião, Teologia Pastoral e fiz o curso Religioso pela
Arquidiocese. Eu me interessei em fazer esses cursos, porque esse foi o
caminho escolhido por mim (PER 5).
[...] Eu gosto de trabalhar com o Ensino Religioso. Por isso, fui fazer o curso
de Pós-graduação em Ciência da Religião. Sinto que esse curso colaborou
muito para melhorar a minha atuação, em sala de aula, pelo embasamento
trico que ele me deu. Eu penso que todos os professores têm de ter uma
formação específica para tal disciplina. Ela tem que estar atualizada com os
assuntos sociais, com os fatos apresentados na televisão e jornais. Quanto
à formação do professor do Ensino Religioso, penso que deve ter uma linha,
mas não sei dizer como. Mas o professor tem de ter uma base trica sobre
a questão humana, sobre o social. Nem tanto sobre a questão religiosa,
porque a problemática do adolescente está no humano, no afetivo, esta
no... Eu não tenho muita preocupação com a parte da religião. Penso que o
professor de Ensino Religioso, hoje, tem de ser preparado para trabalhar
com essa orientação para a vida (PER 1)
Pelos depoimentos, percebe-se que os professores, quando começaram a dar
aula de Ensino Religioso, não estavam habilitados, em nível superior, para essa
área. A formação específica ocorreu, posteriormente. Quando iniciaram a lecionar,
visando ao credenciamento, para ser professor, dessa área, eles fizeram Cursos de
Formação Continuada, oferecidos pelo Departamento Arquidiocesano de Ensino
Religioso. Atualmente, este Departamento capacita os professores, mas não os
credencia.
Na investigação feita, constatou-se que, para alguns docentes, os Cursos de
Graduação ou de Pós-graduação lhes proporcionaram um embasamento trico que
os tornou mais seguros nas suas práticas docentes.
Outra questão, explicitada por um docente, foi a mudança de uma concepção
de Ensino Religioso de cunho catequético, para outra que o considera como área de
conhecimento (PER 5). Esse professor expressou que o seu trabalho e o seu saber
foram sendo modificados, com o passar do tempo, na medida em que ele foi
dominando os conhecimentos necessários para o seu desempenho, ou seja, foi
adquirindo os denominados saberes tácitos ou experiências.
Os professores consideraram importante buscar suas autoformações, para
melhorar suas práticas e atender melhor às necessidades dos educandos. Assim,
eles relataram a importância de buscarem outras formas de melhorar a prática da
disciplina, para atender determinadas necessidades, no contexto de sala de aula.
Segundo Tardif, o saber docente:
277
[...] profundamente social e é, ao mesmo tempo, o saber dos atores
individuais que o possuem e o incorporam à sua prática profissional para a
ela adaptá-lo e para transformá-lo. [...] É através das relações com os pares
e, portanto, através do confronto entre os saberes produzidos pela
experiência coletiva dos professores que os saberes experiências adquirem
uma certa objetividade: as certezas subjetivas devem ser então,
sistematizadas a fim de transformarem num discurso da experiência capaz
de informar ou de formar outros docentes e de fornecer uma resposta a
seus problemas (TARDIF, 2006, p. 15. 52).
Segundo um entrevistado (PER 6), uma dificuldade enfrentada pela formação
continuada dos professores da área de Ensino Religioso, se relacionava ao fato dos
cursos, ofertados pelo DAER, não serem obrigatórios. Devido a isso, algumas
escolas não liberavam seus professores, para fazerem essa formação.
Os depoentes consideraram que a formação devia ser voltada para as
relações humanas, porque o professor de Ensino Religioso deve ser, segundo eles,
compreensivo, seguro para transmitir os conteúdos e formar os alunos para a
aquisição de habilidades, valores e atitudes. Esses docentes consideraram que
precisavam ter uma postura diferenciada dos demais professores, devido à
especificidade da disciplina que lecionavam.
A partir desses depoimentos, percebe-se a necessidade de se promover
reflexões e debates sobre os saberes específicos, necessários ao magistério da
disciplina, para que se possam efetuar mudanças, na atuação dos professores, no
cotidiano da sala de aula, e nas suas formações inicial e continuada. Considera-se
que mudanças nas políticas, relativas à disciplina, só se concretizarão se houver
uma a ação coletiva dos professores. Para Ghedin,
[...] esse discurso subverte as relações postas no interior da sociedade e
coloca em crise um determinado modelo de orientação das políticas de
educação. Porém, isso não é de todo mal, pois, ao gerar essa crise,
possibilita e foa que os professores repensem sua atuação não na lógica
do Estado, mas respondendo a uma demanda que surge do próprio espaço
de atuação profissional que é a escola. Essa contracultura dos professores
esboça uma outra cultura na condução do processo educativo. Isso
possibilita repensar as práticas não à luz do discurso do Estado, mas à luz
de novos conhecimentos que propõem novas formas de conduzir a
aprendizagem no campo político e o mais exclusivamente no campo
pedagógico.
Assim, essa inversão de caráter ideológico coloca em xeque não só o
discurso das políticas, mas a própria possibilidade de efetivação das
mudanças pretendidas. De certo modo, podemos ver isso como uma forma
de resistência do professor perante um processo de mudança, seguido de
tantos outros que não interferiu, significativamente, na valorização social do
seu trabalho. Desse modo, podemos dizer que os professores o mudam
não porque não querem, mas porque o modo como se conduz a mudança
278
não faz sentido em seu universo de significações. Dizendo de outro modo, o
discurso político não atinge o cotidiano vivido pelo professor na escola. E
mesmo quando esse discurso atinge a vida do professor, ele não consegue
mobilizar coletivamente os professores para a incorporação das propostas.
Esse disparate entre o dito e o vivido cria uma barreira entre o que se está
fazendo e o que se pretende fazer. O que se pretende está distante do que
se faz efetivamente, e esse distanciamento é alienante no sentido de que
reforça as relações de poder que estão postas na escola pela sociedade
(GHEDIN, 2004, p. 399-400).
Um professor entrevistado que não possuía graduação, nem s-graduação
na área, assim se manifestou:
[...] O curso que fiz no DAER foi uma complementação na minha formação,
porque tenho o curso de pedagogia. Mas, é a minha prática, no campo da
educação, que tem contribuído, de modo positivo, nas aulas de Ensino
Religioso. Levando em conta que o curso no DAER é muito pouco, seis
meses apenas, ele não te dá uma formação completa. A experiência é que
ajuda no contexto da sala de aula. Eu acredito que a pessoa tem de ter uma
formação específica. Mas, na prática, quando você está lidando com a
problemática dos adolescentes, o que conta mesmo é a sua experiência,
porque muitas vezes o que você sabe pelos cursos não está ligado com o
que você precisa para lidar com os adolescentes (PER 2).
Esse depoente reconhecia a importância de uma formação específica para a
área, mas enfatizou que a prática docente ia se consolidando, através da
experiência, adquirida no dia a dia da docência. Segundo Tardif:
[...] os saberes, oriundos da experiência de trabalho cotidiano, parecem
constituir o alicerce da prática e da competência profissionais, pois essa
experiência é, para o professor, a condição para a aquisição e produção de
seus próprios saberes profissionais. Ensinar é mobilizar uma ampla
variedade de saberes, reutilizando-os, no trabalho, para adaptá-los e
transformá-los pela e para o trabalho. A experiência de trabalho, portanto, é
apenas um espaço onde o professor aplica saberes, sendo ela mesma
saber do trabalho sobre saberes, em suma: reflexividade, retomada,
reprodução, reiteração daquilo que se sabe naquilo que se sabe fazer, a fim
de produzir sua própria prática profissional (TARDIF, 2006, p. 21).
Esse autor enfatiza que:
[...] a maioria dos professores diz que aprendem a trabalhar trabalhando.
Esse aprendizado, muitas vezes, é difícil e ligado à fase de sobrevivência
profissional, na qual o professor deve mostrar do que é capaz, leva à
construção dos saberes experiências que se transformam, muito cedo, em
certezas profissionais, em truques do ocio, em rotinas, em modelos de
gestão da classe e de transmissão da matéria. Esses repertórios de
competências constituem o alicerce sobre o qual vão ser edificados os
saberes profissionais, durante o resto da carreira. Todavia, esses saberes
não se limitam, de modo algum, a um domínio cognitivo e instrumental do
279
trabalho docente. Eles abrangem, igualmente, aspectos como o bem-estar
pessoal em trabalhar nessa profissão, a segurança emocional adquirida em
relação aos alunos, o sentimento de estar no seu lugar, a confiança nas
suas capacidades de enfrentar problemas e de poder resolvê-los (alunos
difíceis, conflitos, etc.), o estabelecimento de relações positivas com os
colegas e a direção, etc. (TARDIF, 2006, p. 108).
5.2.2.3 Saberes/experiências
Nessa terceira categoria, os professores entrevistados responderam que o
conhecimento não era algo pronto e acabado, mas construído e que a situação de
vida dos adolescentes demandava capacidades gerais para lidar com seus
problemas de cunho material e os que envolviam a sexualidade e a afetividade. Eles
ressaltaram a importância do conhecimento investigativo, interligado com a prática
docente, no cotidiano escolar:
[...] Quando você não tem conhecimento sobre determinado assunto você
tem de pesquisar. Por exemplo, no trabalho que você desenvolve sobre
cultura religiosa você tem de estar bem consciente do que você está
levando para sala de aula, porque não podemos jogar nada para os alunos
sem ter um embasamento sobre o tema. Outros assuntos que exigem uma
pesquisa maior são a sexualidade, a afetividade. Graças a Deus, hoje em
dia, consigo trabalhar bem com esses temas (PER 1).
[...] Quando eu não dou conta de responder algumas perguntas dos alunos
eu falo que vou buscar informações, para comentar na próxima aula. Às
vezes, a gente tem que fazer isso, retomar, mas eu estou sempre lendo. O
único problema é que no braile a gente não encontra muito material
disponível. Para resolver isso, faço muitos cursos, até mesmo fora da área
de Ensino Religioso, para ampliar os conhecimentos e levar algo diferente
para os meus alunos, principalmente porque são deficientes visuais. Eles
são pessoas muito carentes, com muitos problemas de família, consigo
mesmo. Muitos perderam a visão depois de certa idade e, por isso, não
aceitam essa deficiência. Então, eu procuro fazer com que minha aula seja
bem atrativa, para eles criarem aquele clima de harmonia e de amizade
(PER 5).
Dois professores entrevistados mencionaram que, para trabalhar com a
complexidade do saber religioso e dar respostas às perguntas dos alunos, lançavam
mão da pesquisa, como ferramenta para a sua prática (PER 1, PER 5).
Segundo Ghedin:
[...] exercitamos a reflexão sobre a realidade como forma de sistematizar,
metodicamente, nosso olhar sobre o mundo para poder agir cirurgicamente
280
sobre os problemas. Isso quer dizer que não pesquisamos por pesquisar,
nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão quanto a pesquisa são meios
pelos quais podemos agir como sujeitos transformadores da realidade
social. Isso indica que nosso trabalho como professores é o de ensinar a
aprender para que o conhecimento, construído pela aprendizagem, seja
poderoso instrumento de combate às formas de injustiças que se
reproduzem no interior da sociedade (GHEDIN, 2004, p. 407).
É preciso que haja uma responsabilidade do docente de Ensino Religioso na
sua tarefa de trabalhar com os conteúdos. É necessário que ocorra um
aprimoramento constante a respeito das religiões, um aperfeiçoamento de sua
sensibilidade face ao enigma das religiões e uma formação humanística e
multidimensional. Conforme Tardif:
[...] O saber dos professores não é um conjunto de conteúdos cognitivos,
definidos de uma vez por todas, mas um processo em construção, ao longo
de uma carreira profissional, na qual o professor aprende,
progressivamente, a dominar seu ambiente de trabalho, ao mesmo tempo
em que se insere nele e o interioriza por meio de regras de ação que se
tornam parte integrante de sua consciência prática (TARDIF, 2006, p. 14).
Para os professores entrevistados, os saberes/experiências que eles foram
construindo estavam ligados a um processo de humanização.
[...] Eu tenho adquirido mais paciência, mais tranqüilidade, mais respeito
pelo aluno. Quando você tem o respeito, conversa com o aluno por mais
difícil que ele seja eu já percebi que ele escuta o que você fala. Ele vem
primeiro com agressividade no falar, ele reclama, mas eu falo com
tranqüilidade, nossa... você está sem educação hoje (PER 8).
[...] Minha grande experiência, ao longo desse tempo, foi o ter adquirido a
capacidade de saber respeitar as outras religiões e fazer com que as
pessoas me respeitassem, participar de um diálogo construtivo com
membros de diversas igrejas e aprofundar no conhecimento do outro (PER
3).
[...] Fui aprendendo a lidar com a carga de problemas que os adolescentes
trazem consigo: drogas, problemas familiares, crise existencial, fome, etc.
No início, sentia-me muito pequena, frágil ao querer resolver os problemas,
vivenciados por eles, e não dava conta. Conseguia ajudar um pouco, mas a
maioria eu não ... Nessas situações eu fui aprendendo a ser mais generosa,
mais humana e mais soliria. Uma outra aprendizagem é a escolha de
material ou livros para trabalhar com os alunos. Não podemos escolher
coisas que estejam centralizadas em uma religião (PER 2).
Considera-se que a aprendizagem ocorre nas relações dialógicas,
estabelecidas entre professores e alunos, nas quais o educador valoriza o aluno
281
como sujeito possuidor de saberes e de experiências. Segundo Freire, o ato de
ensinar exige saber escutar:
[...] quão importante e necessário é saber escutar. Se, na verdade, o sonho
que nos anima é democrático e solirio, não é falando aos outros, de cima
para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser
transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que
aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente
o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar a ele.
O que jamais faz quem aprende a escutar para poder falar com é falar
impositivamente. Até quando, necessariamente, fala contra posições ou
concepções do outro, fala com ele como sujeito da escuta de sua fala crítica
e não como objeto de seu discurso. O educador que escuta aprende a difícil
lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma
fala com ele (FREIRE, 1998, p. 127-128).
Esse é o clima que deve existir nas aulas de Ensino Religioso, marcado pela
aproximação, pelo respeito e pelo diálogo que viabilizam a humanização das
relações. O professor deve ser uma referência para o aluno, veiculando e sendo, ele
próprio, expressão dos valores humanos.
Segundo um professor (PER. 2), no decorrer de sua experiência, foi
aprendendo a lidar com os problemas dos adolescentes e com seus sentimentos de
frustração, por não conseguirem resolver, muitas vezes, as inquietações dos alunos.
Ele percebeu que o outro é sempre um enigma, extremamente complexo Nesse
sentido, observa Teixeira citando Tracy (1997)
76
[...] Compreender o outro é, antes de tudo, uma arte que exige uma atitude
de grande abertura e despojamento, e sobretudo uma sensibilidade
hermenêutica, na medida em que a relação com o outro envolve sempre a
possibilidade efetiva de uma apropriação de outras possibilidades.(TRACY,
1997, p 141)
Gadamer (2000) menciona que,
[...] Compreender não é, em todo caso, estar de acordo com o que ou quem
se compreende. Tal igualdade seria utópica. Compreender significa q0.1622473p
fi
282
de outros docentes se espera uma capacidade de ver/sentir a realidade dos alunos
com um olhar interpretativo, pois o educando está inserido num contexto muito maior
do que o da escola.
5.2.2.4 O Sentir do docente de Ensino Religioso
Esta quarta categoria buscava analisar o sentir do docente de Ensino
Religioso nos seguintes aspectos: desvalorização do Ensino Religioso e do seu
docente, os desafios enfrentados, sentimento de gratificação e de esperança e os
motivos da discriminação e da precarização do trabalho do professor de Ensino
Religioso.
- Desvalorização do Ensino Religioso e do seu Professor
Nas falas dos entrevistados, ficaram evidentes a desvalorização tanto da
disciplina quanto dos seus docentes.
[...] Um ponto que não deixo acontecer é os colegas pensarem que o Ensino
Religioso é para tapar buraco. Eu não penso assim e nem deixo acontecer,
porque eu luto para que essa disciplina seja importante dentro da sala de
aula e na escola. Eu não vou para escola passar tempo, eu vou para
trabalhar a dimensão humana com os meninos. Às vezes, nem é questão
religiosa, mas um trabalho de formação humana para mostrar para o aluno
que ele precisa ser bom, precisa ser gente. Já vi professores assumindo o
Ensino Religioso só para completar sua carga horária, sem ter
conhecimento para tal função (PER 1).
[...] A minha primeira experiência como professora de Ensino Religioso foi
muito sofrida porque na escola em que trabalhei eu não era valorizada, os
meninos o gostavam da aula e os horários eram ssimos.[...] Em outra
escola que já trabalhei, colocavam festa de professor na minha aula sem me
consultar, mudavam o horário sem me falar, então essas coisas te
machucam como profissional (PER 5).
[...] O problema está ligado à questão da desvalorização do profissional. O
professor de Ensino Religioso, ele existe para resolver tudo: disciplina,
resolver as questões com os alunos. Outro problema está ligado à confusão
que se faz entre Ensino Religioso e Catequese. Muitas escolas usam o
termo religião e não Educação Religiosa, algumas escolas que têm direção
católica ainda fazem missas, coroações e, até mesmo, primeira eucaristia.
Isso vai contra os outros alunos que são Evangélicos, que são Espíritas,
283
que não têm essa prática. Então, são questões que não mudaram ainda
(PER 3).
[...] Eu como professora me sinto muito confortável, eu valorizo o meu
trabalho, mas, às vezes, fico triste com a maneira como a escola vê a
professora de Ensino Religioso. Eles não entendem o Ensino Religioso,
mesmo você mostrando a legislação. É uma disciplina que não bomba,
que o aluno freqüenta as aulas se quiser. Sinto-me motivada como
professora, mas a escola não nenhum incentivo. Se eu ficasse
dependendo do retorno da escola, de pais de alunos eu já estaria
desanimada (PER 6).
[...] Eu acho que a maioria das escolas o valoriza o Ensino Religioso.
Essa disciplina é colocada no último horário. A gente escuta no dia-a-dia:
para que essa aula? Poderia colocar uma aula de Matemática ou de
Português no lugar. Então são aulas que não têm muita importância para a
vida dos professores, principalmente quando eles não têm nenhuma
religião. Então é assim, o Ensino Religioso é muito desvalorizado (PER 5).
Na expressão de alguns professores entrevistados, o Ensino Religioso era
uma disciplina colocada em segundo plano, visualizada como tapa buraco, pois,
muitas vezes, usava-se o horário das aulas, de Ensino Religioso, para resolver as
questões, demandadas por outros professores e pelo corpo técnico-administrativo.
Os professores de Ensino Religioso se sentiam discriminados pela falta de
respeito dos gestores e dos colegas, ao tirarem tempo, da já escassa carga horária
da disciplina. Além disso, criticaram as políticas blicas que só lhes conferiam uma
aula semanal.
Dos professores que responderam ao questionário, na questão referente à
carga horária, 78,6% afirmaram ser insuficiente, apenas uma aula semanal, para
trabalhar com a disciplina.
284
22
5
1
28
78,6
17,9
3,6
100
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Freência %
não sim Sem resposta Total
Gráfico 11: Carga horária
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 10
Carga horária
Carga horária
Freqüência %
Não
22
78,6
Sim
5
17,9
Sem Resposta
1
3,6
Total
28
100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Para esses docentes, o tempo disponibilizado (uma aula semanal) não era
suficiente para: desenvolver ao que propõe o programa; atender às demandas e aos
interesses dos alunos e estabelecer uma relação efetiva com os demais educadores
e educandos. Além disso, os professores questionaram o grande distanciamento
285
entre as aulas, uma vez que os encontros são semanais. Assim, fazia-se necessário
ampliar a carga horária, para melhorar a qualidade do trabalho desenvolvido. Eles
consideraram que a carga horária da disciplina deveria ser de duas aulas semanais,
para se conseguir desenvolver uma prática docente significativa e consistente.
O docente (PER 1) questionou o fato da disciplina, muitas vezes, ser usada
para complementação da carga horária, prejudicando a qualidade das aulas, o nível
conceitual e teórico, devido a sua falta de habilitação. Esse questionamento é
reafirmado nos Dados Coletados pelo Questionário.
No questionário aplicado, os dados assim se sintetizam: dos vinte e oito
professores que responderam ao questionário, somente seis possuíam a graduação
em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso; um era graduado em Metodologia e
Filosofia do Ensino Religioso. Os outros vinte e um professores fizeram graduação
em outras áreas. Oito, desses professores, possuíam dois cursos de graduação e
um professor era habilitado em três Cursos de Graduação.
O gráfico, a seguir, apresenta as graduações, cursadas pelos professores:
286
Gráfico 12: Cursos de Graduação dos Docentes
Fonte: Dados da pesquisa
Curso de Graduação Qtde
Pedagogia com Ênfase em ER 6
Metodologia e Filosofia do Ensino Religioso 1
Psicologia 2
Pedagogia 11
Geografia 3
Estudos Sociais 2
Letras 3
História 4
Ciências contábeis 1
Sociologia 1
Filosofia 2
Desenho e Plástica 1
Quadro 1: Cursos de Graduação dos Docentes
Fonte: Dados da pesquisa
Esse gráfico mostra os Cursos de Graduação, concluídos pelos professores,
podendo-se observar a notória prevalência dos que eram egressos do Curso de
Pedagogia.
Quanto aos Cursos de Pós-graduação, lato-sensu, dos vinte e oito
professores que responderam ao questionário: doze fizeram Especialização, na área
do Ensino Religioso; nove concluíram cursos em outras áreas do conhecimento e
287
dez professores não possuíam curso de Pós-graduação. Observa-se que o
somatório dos dados está aumentado, devido ao fato de três professores terem feito
dois cursos de Pós-graduação:
Gráfico 13: Cursos de Pós-Graduação dos Docentes
Fonte: Dados da pesquisa
Curso de Pós-Graduão
Qtde
Pós-graduação em Ciências da Religião
12
Pós-graduação em metodologia da história
1
Pós-graduação em Ensino Superior
1
Pós-graduação em Orientação numa visão integrada
1
Pós-Graduação Leitura e Literatura
1
Pós-graduação empresarial 1
1
Pós-graduação em psicopedagogia
2
Pós-graduação em Literatura do Brasil e história do Brasil
1
Pós-graduação em Estudos temáticos em linguagem alternativa no Ensino de História
1
Não Tem s-graduação
10
Quadro 2: Cursos de Pós-Graduação dos Docentes
Fonte: Dados da pesquisa
288
Assim, pode-se afirmar que o Ensino Religioso vem se constituindo como uma
área de todos, mas, ao mesmo tempo, é área de ninguém. É uma disciplinasui
generis. Por um lado tem espaço garantido nos currículos escolares, através da
Constituição Federal (Art. 210, parágrafo 1º), mas, por outro lado, não conta com
políticas adequadas para a inserção do professor nas escolas e para a sua formação
(BRANDENBURG, 2004).
A fala de um professor, entrevistado (PER 3), retratava o fato de algumas
escolas blicas terem, ainda, uma prática confessional católica, tais como missas,
coroações, restringindo ou anulando o sentido e o respeito pela diversidade religiosa
dos alunos. Dos dados coletados pelo questionário, sobre as ações significativas,
realizadas no contexto de sala de aula: 32,1% dos professores assumiram a
utilização da referida prática confessional (APÊNDICE A - Dados Coletados pelo
Questionário).
A realidade pluralista, encontrada no campo escolar, evidencia a necessidade
da busca de formas alternativas de vivências litúrgicas. Assim, uma celebração
declaradamente cristã, um culto cristão como normalmente realizado pelas
confissões religiosas, encontra restrições no espaço escolar. De acordo com
Brandenburg:
[...] A celebração é uma forma de organização da liturgia, isto é, uma ação
em benecio de outras pessoas. Sendo assim, na escola, a celebração é
uma ação, um fazer específico dentro dessa realidade. Mas não é qualquer
ação. Caso contrário, tudo o que se faz na escola poderia ser entendido
como celebração. A celebração envolve certas atividades próprias, um certo
ritual característico de um grupo que vivencia sua dimensão religiosa de
modo específico. A celebração precisa ser pensada de modo a ser
significativa para o grupo que celebra.
[...] Celebrar é expressão de espiritualidade. Pode ser de contemplação e
de ação. [...] Celebrar é estar junto, partilhar. É reunião. É construção
significativa para um determinado grupo. É fazer de corpo inteiro.
Celebração pode ser compreendida como uma festa, um festejar de um
grupo específico. Celebrar é vivenciar, é ter experiência de espiritualidade,
de expressão de sentimentos (BRANDENBURG, 2004, p.45).
- Os desafios sentidos
Os aspectos identificados nas falas dos entrevistados como seus maiores
desafios foram: a dificuldade de inserção no ambiente da escola; a gestão de sala
de aula; a precariedade das fontes de pesquisa e de material adequado e a
289
insegurança de ministrar temáticas, relativas às religiões:
[...] Um ponto complicador aparece quando você o conhece a realidade
da escola, os alunos não conhecem o seu trabalho e o Ensino Religioso não
foi trabalhado por outro professor de forma bacana, prazerosa. A tendência
de alguns alunos é te excluir até você conquistá-lo e mostrar o seu jeito de
trabalhar, o seu jeito de ver o Ensino Religioso. Fazendo isso você
consegue trabalhar numa boa (PER 1).
[...]O problema maior é a questão dos alunos indisciplinados e que querem
atrapalhar a sua aula (PER 2).
[...] Os desafios de que a gente tem conhecimento se referem à falta de
limite dos alunos, às brigas entre eles. Todos os professores, de qualquer
disciplina, enfrentam esses desafios. Uma coisa que me incomoda é que
eles ficam pedindo para a professora de Ensino Religioso conversar com o
aluno, como se a gente fosse psicóloga de formação. Isso é um peso para
s, porque nós não somos psicólogas. Quer dizer, a gente faz papel de
enfermeira, psicóloga, mãe e de tudo dentro de sala de aula. As pessoas
acham que a professora de Ensino Religioso é para dar um jeito, para incutir
nos alunos os valores como se fosse uma coisa que a gente tira da gaveta e
entrega para o aluno. Esse é um desafio (PER 6).
[...] O maior desafio é lidar com o mero de religiões diferentes que
aparecem nas escolas, porque o Ensino Religioso, pela lei, é interdisciplinar,
inter-religioso e ecumênico. O professor tem que estar seguro e dominar
bem aquilo que está querendo passar para os seus alunos (PER 3)
[...] Um grande desafio é a insegurança quanto ao trabalhar com a temática
das religiões. É um desafio muito grande, eu acho que a gente tem de ter
um embasamento muito bom para tratar desse assunto, porque podem
surgir mil perguntas e muitos questionamentos a partir dos comentários que
você faz. Eu fico muito insegura com esse assunto. Tenho muitas perguntas
sobre o assunto, tenho material para ler, para estudar, mas ainda não me
sinto satisfeita. É nesse ponto que tenho de investir mais: estudar mais as
religiões (PER 8).
A realidade da prática do Ensino Religioso é profundamente desafiadora
porque, muitas vezes, o professor se depara com uma dicotomia entre o que é
idealizado e a realidade do seu trabalho. Geralmente, o professor de Ensino
Religioso, como os outros, tem de lidar com alunos indisciplinados (PER 2) e
desestimulados, mas dele se espera uma postura diferenciada tanto no manejo de
sala de aula, quanto na maneira de se relacionar com os alunos. Isso o exige, muitas
vezes e fora do horário, segundo a fala do professor seis. Nesse sentido, espera-se
que o professor de Ensino Religioso assuma dupla responsabilidade: ser docente e
atuar, também, como orientador e mesmo como psicólogo.
290
A prática do e no Ensino Religioso, geralmente, é influenciada pela carência
de consistência trico-conceitual, decorrente de uma formação inadequada para
lecionar a disciplina, o que acarreta ansiedade e vidas quanto ao tratamento
adequado, para trabalhar com a dimensão da religiosidade e com o fenômeno
religioso. A relação do ser humano com o sagrado, com o transcendental, com o
mistério religioso e a forma como essa dimensão é percebida, nos níveis individual e
coletivo, geralmente são pouco trabalhados, pelos docentes, talvez por não se
sentirem seguros diante dessas questões.
Desse modo, a insegurança em trabalhar com os conteúdos filosóficos e
científicos, relativos à disciplina, é uma realidade, vivenciada pelos docentes que
fizeram um Curso de Graduação, na área, e pelos que fizeram o Curso de
Especialização em Ciências da Religião.
Os professores entrevistados tinham consciência de que a formação que
haviam recebido não tinha contribuído, suficientemente, para a sua prática docente.
Nos dados coletados pelo questionário, a questão referente aos pontos
imprescindíveis para o magistério do Ensino Religioso, foi respondida pelos
professores: o preparo técnico-pedagógico como prioridade, - ou seja, a capacidade
de articular a Pedagogia com as Ciências da Religião e a atualização constante, em
primeiro lugar. Em segundo lugar, eles explicitaram a relevância de uma postura
político-pedagógica, a coerência da articulação entre teoria e prática e a dimensão
antropológica-humana-afetiva. Em terceiro lugar, os docentes colocaram a
necessidade de uma atualização constante. Em quarto lugar, colocaram a postura
político-pedagógica e postura ecumênica. No quinto lugar, colocaram a postura
político-pedagógica, a coerência e a consistência entre a teoria e a prática
(APENDICE B).
De fato, a relação dos professores com os saberes é uma questão complexa.
Tardif indaga: “não será porque essas mesmas relações sempre implicam, no fundo,
certa distância - social, institucional, epistemológica - que separa e os desapropria
desses saberes produzidos, controlados e legitimados por outros? (TARDIF, 2006,
p. 42).
O professor de Ensino Religioso não pode se constituir como profissional,
isoladamente, sem contar com o diálogo com as outras áreas do saber. É preciso
desenvolver um trabalho coletivo, para discutir a natureza e as implicações do seu
291
magistério, ou seja, sua identidade, sua formação inicial e continuada, a reflexão
sobre as finalidades do Ensino Religioso e a complexidade dos seus conteúdos.
A citação, a seguir, pode contribuir para a compreensão das questões
expostas:
[...] Criar uma comunidade de interesse, de gostos e de enraizamento
social, histórico e cultural cuja memória e cujo elemento catalisador são os
professores. Aclimatar os jovens à obra cultural humana, conscientizá-los
com relação às dimensões ocultas da cultura (preconceitos, estertipos,
identidades nacionais, tribais, religiosas, sexuais) e aos fenômenos de
inclusão e de exclusão por elas desencadeados, suscitando o interesse
deles pelo contexto histórico das produções culturais e ajudando-os a
desenvolver seu senso crítico e sua responsabilidade como seres culturais,
eis algumas orientações que poderiam estar no cerne da escola
(MELLOUKI; GAUTHIER 2004, p. 562).
Essa seria uma iniciativa interessante, mas os dados coletados mostraram
que poucos professores participaram de eventos, ou seja, somente 14,3% dos
professores respondentes já haviam participado dos Congressos, preparados pelo
FONAPER (Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso).
No Gráfico 14, a seguir, a Participação dos Professores no Fórum Nacional de
Ensino Religioso:
292
Gráfico 14: Participação no Fórum Nacional de Ensino Religioso
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 11
Participação no Fórum Nacional de Ensino Religioso
Freqüência %
Não
23
82,1
Sim
4
14,3
Sem resposta
1
3,6
Total
28
100,0
Fonte: Dados da pesquisa
- Sentimento de gratificação e de esperança
Nas falas dos professores de Ensino Religioso, alguns expressaram sua
gratificação e suas esperanças em relação do magistério dessa disciplina. Eles se
sentiam gratificados quando eram: avaliados positivamente pelos alunos;
reconhecidos pelos membros da escola, a partir de algum trabalho realizado;
reconhecidos por terem uma postura diferenciada no trato com os alunos mais
indisciplinados; capazes de orientar e levar os alunos a produzirem um texto, a partir
293
do que foi aprofundado nas aulas; solicitados por docentes de outras áreas de
conhecimento, para ajudarem a resolver questões/problemas com os alunos;
levados a superarem suas fragilidades e inconsistências e valorizados, a partir do
reconhecimento do Ensino Religioso, como disciplina dos horários normais.
[...] O maior gratificação é quando existe por parte dos alunos uma
avaliação positiva do seu trabalho e de sua pessoa, quando o seu trabalho
é reconhecido pelos pais, quando a gente encontra um aluno na rua e
demonstra sua gratidão por algum acontecimento bacana na relação com
ele. Isso faz a gente exclamar: puxa vida, valeu a pena, sabe! (PER 1).
[...] Ter o reconhecimento, por parte da escola, do trabalho desenvolvido.
Normalmente, eu exponho os trabalhos dos alunos dentro de sala e, às
vezes, tem algum colega que chega perto de mim comentando que viu os
trabalhos e ficou admirada com o trabalho de algum aluno. E diz: nossa,
como você conseguiu que fulano fizesse tal trabalho!. Isso para mim é
gratificante porque é o aluno que vai demonstrar o que é o seu trabalho
dentro de sala. Os professores valorizam muito o meu trabalho, porque
tenho a intenção de acompanhar o que os alunos estão fazendo, ficando até
mesmo um tempo a mais fora do meu horário. Os professores até pedem
para eu conversar com os alunos quando eles têm problemas. É muito
gratificante quando um outro profissional pede para ajudar em algumas
questões ligadas aos alunos (PER 2).
[...] Minha gratificação é olhar para trás e ver onde cheguei, ter o prazer de
falar que eu tenho uma graduação, que os professores estão começando a
ser respeitados, que o Ensino Religioso já está sendo tratado como uma
disciplina nos horários normais, a carga horária é de uma disciplina. Sinto-
me realizada quando consigo resgatar um aluno que estava à beira de um
ataque de nervos, quando uma mãe fala da mudança do filho (PER 3).
[...] Na segunda escola já foi diferente porque trabalhei com crianças e
adolescentes muito pobres porque consegui deixar alguma marca nas
pessoas. No Instituto São Rafael, vejo que minha presença está surtindo
efeito porque as pessoas demonstram gostar da minha presença e das
aulas (PER 5).
[...] Minha gratificação é mais pessoal porque se formos olhar para o salário
que recebemos não para comprar um livro para melhorar o seu
conteúdo, não para assinatura de revistas. Se você olha para esse lado
a insatisfação é grande. Com essa falta de oportunidade, o professor tem de
procurar enriquecer as suas aulas só com as reservas que ele tem dentro
dele mesmo (PER 6).
[...] É muito bom quando o aluno vira para você e fala: eu nunca tinha
ouvido falar de valores, de virtudes e você está ensinando-me tudo isso.
Outra coisa é quando o aluno chega para você e diz que escreveu um texto
a partir do que ouviu e discutiu em sala de aula. As aulas foram inspiradoras
para a produção do texto. Então, isso é muito gratificante. É gratificante
quando você prepara uma dinâmica e ela um resultado positivo dentro
de sala de aula, quando você vê que o caderno está bem organizado e
caprichado. É bom ver que o mesmo cuidado que eles têm com o
Português, com a Matemática eles têm com a Educação Religiosa (PER 8).
294
[...] Tenho esperança de que conquistaremos o concurso para o professor
de Ensino Religioso, que teremos uma habilitação específica para o Ensino
Religioso porque a Pedagogia com ênfase, ainda não é uma habilitação
específica, mas, no momento, ela está suprindo a lei. Penso isso para o
Brasil porque a lei já faz essa ressalva. Alguns estados já têm o curso
específico de Ensino Religioso: Pará, Curitiba. O de São Paulo é
confessional (PER 3).
[...] Recebi os parabéns da vice-diretora pelo trabalho que venho realizando
na escola e ela disse que a professora anterior não conseguia dar aula, de
Educação Religiosa, porque não conseguia manter a disciplina. Agora, nas
suas aulas, eu vejo que os meninos estão ficando dentro da sala de aula,
estão assistindo e participando das aulas. Então, ela falou assim: você está
de parabéns. Esse é o meu segundo ano, nessa escola, e esse comentário
da vice diretora deixou-me feliz (PER 8).
[...] Minha expectativa é investir na profissão, fazendo outros cursos,
principalmente de dinâmicas, direcionados para a Educação, porque não
gosto de ficar repetindo as coisas, eu mesmo canso. Eu tenho um material
para trabalhar, mas eu mesmo canso dele. Quero coisa diferente e procuro
trazer coisas diferentes, para a sala de aula. Outra coisa que seria bem
bacana, para todos nós, se houver o concurso público para professoras de
Educação Religiosa, no Estado de Minas Gerais. (PER 8).
Nota-se, pelo exposto, que a gratificação maior acontecia quando havia o
reconhecimento dos alunos e da escola pelo trabalho que tinham realizado. Esse
reconhecimento confirma, para o educador, sua capacidade de ensinar e seu
adequado desempenho na prática da profissão.
- Motivos da discriminação e precarização do trabalho docente de Ensino Religioso
Os docentes do Ensino Religioso tinham consciência dos motivos que
levavam à precarização do seu trabalho.
O primeiro motivo era decorrente da própria marginalização da disciplina, no
contexto escolar, feita tanto pelo corpo técnico-administrativo, quanto pelos
professores que, geralmente, não reconheciam a importância do Ensino Religioso:
[...] “Penso que alguns professores de Ensino Religioso o fazem por onde
valorizar a sua disciplina porque não atuam como deveriam. Quando eu era
supervisora eu via muitos profissionais dessa forma. Então eu ficava
agoniada com o tipo de aula desses professores. Essa situação influenciou
a minha decisão em dar aulas dessa disciplina. Na escola em que eu
trabalho o Ensino Religioso é valorizado: as aulas são sempre no primeiro
horário. Outra coisa que prejudica a valorização é o professor não dar conta
dos processos de sala de aula e pedir a interferência do supervisor ou
coordenador. Esse problema tem de ser resolvido pelo professor. Ele tem
de tentar resolver os problema de sala, conquistar os alunos porque não
295
adianta pedir a supervisora para resolver o problema para você (PER 2).
[...] Agora, dentro da escola é o professor de Ensino Religioso que deixa a
sua disciplina ser discriminada. Se ele mostra com sua prática que o Ensino
Religioso não é uma disciplina qualquer, ele vai fazer a diferença. Numa das
escolas, em que já trabalhei, ouvi uma pedagoga falando para colocar o
Ensino Religioso e Educação Arstica em qualquer horário porque estas
duas disciplinas só existiam para tapar buraco. Mostrei para ela que não era
bem assim. Essa fala doeu. Falei: puxa, é assim que você vê o Ensino
Religioso e a Educação Artística! (PER 1).
[...] São discriminados dentro da escola, pela direção da escola, pelos
colegas, pelos alunos. Se tem qualquer coisa dentro da escola, uma
festinha, um ensaio, um jogo, qualquer atividade eles pegam a aula de
Ensino Religioso. Sua aula é sempre usada para outras atividades. A gente
briga por espaço, mas é dicil. Você não é convidada para as reuniões
pedagógicas, não sou convidada para conselho de classe, eu não fico
sabendo de conselho de classe, não fico sabendo das reuniões
pedagógicas, eu não fico sabendo o que acontece dentro da escola, porque
a professora de Ensino Religioso vai menos à escola, porque tem uma aula
por semana. Então o que aconteceu de segunda a quarta, ou de segunda a
quinta eu não tenho conhecimento. Eu vou saber na hora em que está
acontecendo a coisa, e se você questiona, dizem: depois eu te conto,
depois eu passo para você. Eu acho que a gente é muito discriminada em
sala de aula, quando você exige que o aluno faça atividade que você
preparou. Ele diz, mas essa matéria não bomba, a expressão é essa
bomba. Se você pergunta: posso usar a sala de vídeo, posso usar o
computador. A resposta é: não, tem outra professora que pode precisar.
Você é como um acessório dentro da escola, coloca para ficar melhorzinho,
porque é obrigatório você entendeu? Então semana passada já aconteceu
de me pedirem para não usar o aparelho de DVD porque senão ele ficaria
quente, e a outra professora poderia querer usar, e eu já teria usado e
teria atrapalhado. Ela nem manifestou que usaria, mas se eu usasse eu
poderia atrapalhar, então isso magoa. A gente vai ficando fragilizada dentro
da escola (PER 6).
[...] Já ouvi muitas professoras reclamando de que não são reconhecidas
dentro das escolas e pelos colegas. Existem algumas brincadeiras de mau
gosto, tipo assim, não sei para que existe essa matéria. Já ouvi comentários
desse modo: eu vou fazer curso Educação Religiosa para dar aulas de
Ensino Religioso porque é fácil demais, é muito tranqüilo dar aula de
Educação Religiosa, não tem trabalho nenhum! É muito simples. É tão
tranqüilo dar aulas de Educação Religiosa. Quando as pessoas falam isso
perto de mim eu sempre respondo de forma brava. Então o pessoal tem
muito cuidado de brincar comigo, porque eles sabem que vão ter uma
resposta nada bacana. Isso aconteceu em uma reunião, em que os colegas
brincaram e falaram, tipo assim, por que você está dando opinião no
conselho de classe se sua matéria não reprova, não tem valor nenhum. Eu
falei assim: olha, se não tivesse valor nenhum eu não teria cursado uma
faculdade como você. A mesma importância que tem o Português, a
Matemática, a História a Educação Religiosa também tem. Muitos
professores acham isso mesmo: para que ter a Educação Religiosa!.
Professor de Educação Religiosa enrola e não a aula. Se falar isso
comigo, eu fico brava porque o mesmo trabalho que eles têm, eu tenho. O
mesmo aluno que trabalho comigo, com todos os professores. Isso eu
já comprovei em uma reunião. Às vezes, eu ficava perguntando: esse aluno
só dá trabalho comigo? Mas ouvia os comentários dos outros professores a
respeito do mesmo aluno. Mas também já tive experiência de alunos darem
296
trabalho nas outras disciplinas e na minha aula ter uma postura bem
diferente. Eu acho que a desvalorização do Ensino Religioso não pelo fato
de ele não ter curso específico dentro da área, mas pela própria postura do
professor de não fazer um trabalho sério (PER 8).
Nota-se que o processo de precarização do trabalho do docente de Ensino
Religioso é responsável pelo crescimento do preconceito, que envolve a disciplina,
como área de conhecimento. Além disso, o docente se torna fragilizado, pois o
existe, por parte de algumas escolas, um reconhecimento positivo do papel por eles
desempenhado. A fala de um entrevistado (PER 8) explicita a existência até de uma
competição entre os docentes, para lecionarem a mencionada disciplina, pelo fato
de considerarem o Ensino Religioso como uma disciplina fácil e que demanda
menos responsabilidade. A mudança de mentalidade não depende exclusivamente
dos professores, mas de toda a comunidade escolar e das Políticas Públicas que
deveriam dar melhores condições de trabalho aos docentes, aumentando a carga
horária da disciplina e incentivando a produção de textos/materiais referentes ao
assunto.
Por outro lado, o Ensino Religioso, para garantir seu reconhecimento como
área de conhecimento, precisa contar com professores competentes, que se
apropriem e veiculem saberes significativos para a formação integral dos alunos e
que, conseqüentemente, saibam trabalhar com as competências, ligadas aos
conteúdos, à capacidade de se relacionar com os aprendizes e de respeitá-los, nas
suas diferenças.
Outro motivo que contribui para a precarização do Ensino Religioso, segundo
os depoimentos dos docentes, vem do próprio Estado, mais especificamente, da
Secretaria de Educação:
[...] Eu acho que o Estado tem discriminado o professor de ER porque até
hoje não colocou um concurso público para s. Além disso, a Secretaria do
Estado sempre convoca as outras áreas para algum curso, mas na nossa
área nunca fomos convocados para cursos de capacitação. Já que exige da
gente ser um profissional diferente, deveriam oferecer condições para
sermos esse profissional diferente. Eu acho que a gente mereceria ter uma
formação digna (PER 1)
[...] A discriminação no contexto da escola, ela hoje não aparece tanto. Já
teve épocas que era mais presente, mas o Estado discrimina a partir do
momento em que ele não tem um concurso não tem um professor efetivo aí
aparece uma discriminação (PER 3)
297
[...] O Estado desvaloriza todos os professores de uma forma geral com um
salário baixo. Agora, especificamente para o Ensino Religioso, não temos
momentos de formação como, às vezes, tem para as outras áreas de
conhecimento. Esses momentos de formação para todos da área de Ensino
Religioso seria uma oportunidade para refazer a caminhada, melhorar um
pouco o próprio nível de conhecimento. Falta, por parte do Estado, formar
os professores da área do Ensino Religioso (PER 5).
[...] Penso que o Estado deveria levar em consideração a formação dos
professores para o Ensino Religioso como faz com as outras áreas. Como
professora de Português, eu sou convocada pelo Estado todo o ano, para
algum curso de atualização. O Ensino Religioso não tem essas
atualizações, o que seria muito interessante se nós tivéssemos essa
oportunidade (PER 6).
[...] Acho uma incoerência muito grande o critério que está sendo posto no
momento para os professores de Ensino Religioso. O professor que está
fazendo o Curso de Pedagogia com ênfase em Ensino Religioso na PUC
está acima dos que fizeram os cursos no DAER. É uma pena isso estar
acontecendo, porque na realidade quem o apoio à Secretaria de
Educação é o DAER. Eu acho uma tremenda incoerência, mas a gente
sabe que tem uma jogada política por trás disso. Eu já trabalhei com
colegas que fizeram a formação no Curso de Pedagogia com ênfase em
Ensino Religioso na PUC, não é para me gabar, o que eu trabalho em sala,
dou de dez a zero nesse povo que estudou na PUC. Não é porque a
pessoa tem esse curso de graduação que ela vai ser melhor que a outra.
Falo isso porque já vi a postura deles no momento da designação. É de ficar
com vergonha de ser professora de Ensino Religioso. Teve um ano que na
hora da designação olharam só o tempo de estado e esqueceram de olhar
quem tinha o curso de Ensino Religioso. Em momento algum, eu
desvalorizo o curso que fiz no Departamento do Ensino Religioso. Alguns
professores que o curso na Católica e dão alguns conteúdos no DAER já
falaram que a postura do pessoal que faz curso no DAER é bem mais
participativa. Essa nossa situação de mudar de escola todo o ano é muito
ruim. Esse ano foi até melhor para mim, porque fiquei na mesma escola.
Todo o final de ano a gente fica nessa angústia, se a gente vai precisar ir
para outras escolas. No final do ano é aquela angústia. Já fui na
superintendência perguntar o motivo de não ter concurso para o Ensino
Religioso, mas não me deram uma resposta convincente (PER 8).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), em seu Art.
67, enfatiza a importância da valorização dos profissionais da educação,
assegurando-lhes: ingresso exclusivamente por meio de concurso blico de provas
de títulos; aperfeiçoamento profissional continuado, com licenciamento periódico,
remunerado para este fim; piso salarial; progressão funcional, segundo titulação ou
habilitação, e na avaliação de desempenho; período reservado ao estudo,
planejamento e avaliação e inclusão na carga horária do docente; condições
adequadas de magistério. Mas, na prática, muitos desses dispositivos não
contemplam a categoria docente e, de modo mais acirrado, o se aplicam aos
docentes de Ensino Religioso, segundo as falas dos entrevistados.
298
Outra razão que leva à precarização centra-se no fato do professor ter de
mudar de escola, geralmente, todo ano, segundo menciona o professor (PER 8).
Todos esses fatores expostos podem provocar, segundo Nault (1993)
[...] a erosão das competências. Por exemplo, os professores, em situação
precária, levam mais tempo para dominar as condições peculiares ao
trabalho em sala de aula, pois mudam freqüentemente de turma e
defrontam-se com as turmas mais diceis. Nesse sentido, sua busca de um
bem-estar pessoal, na realização desse trabalho, é, muitas vezes,
contrariada por inúmeras tensões, decorrentes de sua situação precária
(NAULT, 1993, p. 48)
Os educadores dessa disciplina são, de um modo geral, relegados a um plano
secundário, sobretudo pela inexistência de uma política condizente com a categoria,
o que contradiz um dos princípios sicos do ensino, explicitado na Constituição
Federal de 1897, Art 206, Inc VII, que versa sobre a necessidade de assegurar a
qualidade da educação.
O quadro de instabilidade, vivenciado pelos docentes, sobretudo, do Ensino
Religioso pode gerar um sentimento de frustração e de desencantamento, motivado,
principalmente, pela indiferença dos órgãos blicos, no que se refere à
instabilidade da função docente, da sua carga horária insuficiente e da falta de apoio
e de valorização do magistério.
O professor de mero oito afirmou que o fazer docente é limitado, por não
contar com condições mínimas de trabalho:
[...] O nosso trabalho é muito limitado por não ter um suporte pedagógico,
material para pesquisa. s professores é que temos de comprar os livros e
adquirir alguns materiais para trabalhar em sala. Não é igual a dos
professores das outras áreas que têm livros. O Estado deveria elaborar um
livro para os alunos estudarem, igual às outras disciplinas. Agora é que se
está fazendo um programa de Educação Religiosa, para o Estado, com a
colaboração do DAER. A Educação Religiosa para o MEC está sempre
deixada para depois (PER 8).
Realmente, pelo que foi pesquisado, o trabalho se torna limitado, dificultando
a ocorrência de um ensino criativo e instigador, capaz de oferecer referenciais
concretos aos educandos. Para que se concretize uma proposta adequada de
Ensino Religioso, é necessário que os professores sejam valorizados e tenham
condições objetivas para desenvolverem um trabalho competente.
299
Esse processo de precarização cria um entrave no desenvolvimento do
Ensino Religioso como área de conhecimento, sobretudo porque a formação inicial e
continuada, além de, muitas vezes, não dar o devido embasamento, não viabiliza o
acesso a elas por todos os docentes.
Sobre a formação do professor, Ghedin explicita:
[...] O professor o pode constituir-se como sujeito se, no seu processo de
formação (inicial e continuada), não puder constituir-se como produtor de
conhecimento sobre a prática e a partir da realidade que ele enfrenta em
seu cotidiano. Também, não possibilidade de o professor ser sujeito de
seu processo de produção se os cursos de formação não lhe possibilitam a
autonomia mediante um processo de pesquisa (GHEDIN, 2004, p. 407).
A formação docente é tanto uma exigência legal, quanto um desafio. Faz-se
urgente a criação de uma consistente Política Pública, capaz de assegurar as
condições indispensáveis para a oferta dos Cursos de Graduação que tenham
qualidade e promovam a valorização dos educadores.
O Ensino Religioso precisa de profissionais que estimulem discussões
multidisciplinares, que estejam atentos ao universo pluralista, que tenham
conhecimentos sicos sobre as novas tecnologias, que sejam capazes de provocar
reflexões sobre as concepções de ser humano, de cultura, de mundo e de
educação. Nesse sentido, observa Ghedin:
[...] Os professores precisam aprender a construir uma visão cultural de
modo que, ao ensinar, não só transmitam e possibilitem a construção dos
conhecimentos dos alunos, mas também sejam eles próprios agentes de
transformação cultural. Quero dizer, que os professores (e tamm seus
formadores) devem ter claro um projeto cultural que servirá de orientação
para as suas ações.
Esse projeto de formação cultural pode ser entendido como um modelo de
sociedade que se quer construir em concordância ou em oposição à
sociedade dominante hegemonicamente. Isso quer dizer que os professores
precisam manter-se numa postura crítica ante as ideologias, com uma visão
de mundo que possibilite repensar a utopia como horizonte de reconstrução
da sociedade. Esse horizonte utópico, expresso por um projeto de
formação cultural, serve de orientação e guia para a escolha dos contdos
que comporão os planos de ensino e o currículo da escola. É diante de um
projeto de tal natureza que escolhemos os conteúdos atitudinais,
procedimentais e conceituais que serão ensinados aos alunos nas escolas
(GHEDIN, 2004, p. 407).
Existe, ainda, a carência de uma política para garantir a estabilidade dos
professores da citada disciplina, pois os seus vínculos com as instituições são
300
temporários, como evidenciam as falas de dois entrevistados (PER 3 e PER 8) e os
dados Coletados pelo Questionário:
Gráfico 15: Situação do docente de Ensino Religioso
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 12
Situação do docente de Ensino Religioso
Situação do Docente de Ensino Religioso
Freqüência %
Efetivos
6 21,4
Temporários
21 75,0
Não respondeu
1 3,6
Total
28 100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Os professores entrevistados, quando foram efetivados, alcançaram este
status por terem feito concurso para outras disciplinas curriculares.
A situação de precarização do professor de Ensino Religioso está inserida
dentro de um quadro maior, que envolve a desvalorização do profissional da
educação, pelas Políticas Públicas vigentes as quais atingem, sobretudo, os
301
docentes dessa disciplina. Esse descaso para com a disciplina se faz perceber,
também, nos dados coletados pelo questiorio, referentes aos problemas que mais
interferem na desprofissionalização do professor de Ensino Religioso, conforme
evidencia o gráfico, a seguir:
Gráfico 16: Problemas da prática docente do Ensino Religioso
Fonte: Dados da pesquisa
302
Problemas da prática docente do Ensino Religioso
Qtde
Saberes/conhecimentos não trabalhados no curso de graduação
4
Ensino Religioso ser visto sobre a ótica de Evangelização e Pastoral
12
A falta de uma política efetiva relacionada a formação e capacitação de professores, em nível
nacional e estadual
17
Não oferecimento de concurso público específico para o Ensino Religioso de efetivação de
professores
17
Não ter estabilidade funcional no quadro do Magistério
11
Professores de Ensino Religioso em situação de formação fragilizada
13
Carência de uma identidade profissional
18
A comunidade não enxerga o professor de Ensino Religioso como professor
1
A falta de colaboração da equipe que compõe o corpo docente
1
Quadro 3: Problemas da prática docente do Ensino Religioso
Fonte: Dados da pesquisa
Os dados, coletados pelo questionário, e as falas dos entrevistados
criticaram as Políticas Públicas, por não considerarem os professores,
especialmente os da disciplina, como agentes indispensáveis ao processo
educativo, o que contribui para o estabelecimento do o-lugar” ou do lugar
possível, do Ensino Religioso, como observa Brandenburg,
[...] estabelece o vazio como espaço para a participação. Construir sobre o
vazio parece ser um desafio para a participação. Não se pode afirmar que o
Ensino Religioso resolve os problemas da escola, mas também não se pode
assegurar que a escola se arranja bem sem ele. Talvez, a princípio, não se
ressinta de sua falta, mas as questões fundamentais da vida, que são da
alçada do Ensino Religioso, emergirão de qualquer forma. Poderão, então,
ser bem ou mal trabalhadas (BRANDENBURG, 2004, p. 135).
5.3.2.5 Tipo de Ensino Religioso
Nesta quinta categoria, os docentes enfocaram as condições necessárias
para que o professor da disciplina pudesse ocupar um lugar mais significativo no
contexto escolar.
303
Este depoimento traduz o desejo dos docentes:
[...] Que o Ensino Religioso fosse uma disciplina reconhecida através: de
uma carga horária maior, de um Ensino Religioso fazendo parte dos
horários normais de aulas, ecumênico e com direito à reprovação. Que
possibilitasse a conscientização do corpo docente sobre a importância do
Ensino Religioso; que houvesse melhor direcionamento dos trabalhos, isto
é, um programa curricular adaptado à realidade do aluno. Uma disciplina
obrigatória, devido ao seu alto valor no processo de ensino e de
aprendizagem. Gostaria de que o fazer dos pedagogos incentivasse e
provocasse um trabalho interdisciplinar, considerando que essa disciplina é
muito importante para a formação do ser humano. A aula de Ensino
Religioso deveria ser elaborada, especificamente, para a realidade do aluno
(APENDICE C).
No que diz respeito à formação/profissionalização, eles expressaram as
mudanças necessárias para conferir melhor qualidade as suas práticas docentes:
[...] Ter profissionais preparados para lidar com os alunos de família
desajustadas e atentos às necessidades de cada turma; com habilitação
específica para o Ensino Religioso, com capacidade de interação com os
profissionais de sua área para maior aprofundamento das questões,
referentes ao Ensino Religioso, principalmente na luta para a implantação
de cursos para o Ensino Religioso e de curso de capacitação, oferecidos
pelo órgão competente e de forma continuada. Seria importante, também,
se o professor tivesse tempo para o seu aprimoramento e condições
financeiras para realizar tal formação. Ele precisa estar integrado ao quadro
do magistério, ser valorizado, pois só assim teremos a cidadania e a auto-
estima do professor resgatada e aulas bem preparadas. Desejo que os
profissionais busquem sempre mais conhecimentos, experiências práticas,
conteúdos, novas metodologias, recursos materiais, dentre outros. O
professor deveria estudar e se dedicar mais ao estudo dessa disciplina para
ser mais valorizado e trabalhar com uma mesma linha. Digo isso porque
muitos colocam em sua aula a sua religião, esquecendo o cotidiano do
aluno e as necessidades de cada turma. Deveria haver mais interação entre
os profissionais de Ensino Religioso para conhecimento do que é o Ensino
Religioso, para que ele existe, qual é o seu objetivo na escola. O professor
de Ensino Religioso precisaria fazer curso de dimica. Que todos os
professores, e não somente os designados, fizessem cursos de formação
permanente a fim de evitar a mesmice e, também, aprendessem técnicas
para motivar os alunos. As faculdades deveriam formar o professor para a
prática da sala de aula, pois a teoria é ótima, mas foge muito da realidade.
O professor precisaria ter nível superior (APÊNDICE C)
Para eles, o papel do Estado se traduziria em:
Receber material ditico, incentivo financeiro, cursos sem ônus para o
professor, apoio político, condições melhores de trabalho e de salário, uma
política de formação inicial e continuada, concursos públicos, efetivação em
cargo público. O Ensino Religioso pelas leis, deveria ser considerado uma
304
área obrigatória para os alunos como as outras disciplinas. Deveria
acrescentar ao nome Ensino Religioso educação para a vida, já que a
disciplina orienta o aluno para a vida, através das temáticas, ligadas aos
valores. Isso dignificaria o aluno como ser humano. Ser mais justo com os
professores. Valorizar o professor através de oferecimento de cursos e
oficinas. Ter uma política de estudo, projetos e metas, adequadas para o
Ensino Religioso (APÊNDICE C).
Quanto à participação da comunidade escolar, no campo do Ensino Religioso,
os docentes, assim, se posicionaram:
A comunidade escolar deveria se comprometer mais com o Ensino
Religioso de forma inteligente. Ela deveria valorizar mais o Ensino Religioso
e ser mais influente na luta para a implantação do currículo e cursos para o
Ensino Religioso. Ter apoio do corpo docente. Desmistificar a iia de que o
Ensino Religioso não ensina nada. Maior valorização do Ensino Religioso
pela direção e pela Equipe Pedagógica. Que haja meios e ambientes
adequados para ministrar as aulas. Ter recursos diticos adequados para
o Ensino Religioso. Ter reuniões com a comunidade para explicar a
importância da disciplina. Enfatizar o aspecto sócio-político-religioso. Que o
Ensino Religioso não seja visto como matéria isolada das outras, mas uma
matéria em conjunto (ANDICE C).
5.3.2.6 As percepções dos outros profissionais e professores sobre o Ensino
Religioso
Nesta sexta categoria, os professores de Ensino Religioso explicitaram a
percepção que outros sujeitos têm dessa disciplina. As falas dos docentes
explicitaram que o professor do Ensino Religioso contribui para as formações moral,
social e cognitiva dos alunos. Para isso, ele deve ter domínio dos conteúdos e um
comportamento diferenciado:
[...] Ela contribui com a formação moral e social do aluno e, até mesmo, no
desenvolvimento escolar do aluno. Ela é como se fosse uma orientadora
dos alunos, porque busca saber o que está acontecendo com os alunos, em
relação às outras disciplinas e procura ajudá-lo. Ela pode influenciar muito
na atitude do aluno, dentro da escola e na escolha de sua profissão. Ela tem
que envolver, conversando com o aluno quando ele está péssimo, com
alguma área do conhecimento. Ela é como se fosse uma orientadora do
aluno, entendeu?. Tentando buscar tudo dele no global, ela está ajudando
os outros professores (PER 2).
[...] A professora de Ensino Religioso é vista como uma pessoa diferente.
Ela não tem de ser diferente, porque todo o profissional tem de ter o mesmo
305
carisma da professora de Ensino Religioso. Mas o domínio que ela tem de
ter sobre o conteúdo específico é que a faz diferente. Ela, por ser professora
de Ensino Religioso, não tem de ser a certinha, a santinha e carregar o
rótulo de Freira ou de Padre. Ela é diferente por trabalhar com a formação
do ser humano, lidar com o eu das pessoas, com a moral, com o cidadão e
com a vida”(PER 3).
[...] As pessoas pensam que a professora de Ensino Religioso tem de ser
igual a uma Freira, ou a uma Pastora ou a uma missionária. Você não pode
se exaltar dentro de sala, que logo os alunos exclamam: nossa, uma
professora de Ensino Religioso fazendo isso!. As pessoas esperam muito da
gente e pensam que a gente não é uma pessoa comum e que vai resolver
todos os problemas que ninguém consegue resolver (PER 6)
[...] Tem um mito em relação a professora de Educação Religiosa porque
ela não pode xingar, tem que ser tranqüila e tem de ter uma postura
diferenciada da dos outros professores. Um dia, eu fui falar uma palavra na
sala e os alunos acharam que eu ia falar palavrão. Eu falei, gente é claro
que eu não vou falar um palavrão. Aí, um falou, vê... ela é professora de
Educação Religiosa, você acha que ela vai falar palavrão? Até então eu
nem tinha percebido que uma exigência diferenciada do professor dessa
disciplina. A gente tem de ter o maior cuidado com o que a gente fala,
dentro de sala. Precisamos ter uma postura ética em relação a nossa fala,
para não ofender os alunos nas suas diferenças. Até a maneira como os
alunos me tratam é diferente (PER 8)
O ser professora de Ensino Religioso implica separar a dimensão psico-
social do professor, do ato da aprendizagem dos alunos, sobretudo, pelas
expectativas que se tem da sua ação. O perfil do professor de Ensino Religioso,
desenhado pelos entrevistados, enfatiza a importância dele ter competência nos
conteúdos específicos da disciplina. Mas foi mais valorizada sua capacidade de se
comportar como sujeito capaz de uma efetiva interação com outros, numa
perspectiva de humanização. Para Carniato,
[...] A humanização é uma palavra chave para a ética do educador. O
educando, criança, adolescente ou jovem é o ser humano em
desenvolvimento. Precisa ser tratado, a partir dos valores humanos e
educado para desenvolvê-los em sua personalidade. Educa-se, em
confronto com seres humanos autênticos, que se tornam modelos. Em
certos casos, o educando não encontra, nos familiares, um adulto modelo
que preencha de modo coerente sua necessidade intuitiva de ver os valores
testemunhados (CARNIATO, 2005, p. 43).
Assim, o papel de orientação que vem sendo atribuído ao docente de Ensino
Religioso é fundamental, tendo em vista a necessidade de incutir os valores
humanos no aluno, numa época em que eles, cada vez mais, deixam de nortear o
306
agir dos indivíduos. Esse é um pressuposto fundamental para que a escola seja
humanizada e o educando cresça como um ser que se respeita e respeita o outro.
O alcance desses objetivos não pode ser da responsabilidade, apenas, dos
professores de Ensino Religioso, mas deverá envolver toda a comunidade escolar.
Esses objetivos integram a ética do educador, de acordo com Carniato,
[...] Ser o ponto de mediação, de apoio e de confiança na classe, para que o
processo de aprendizado e educação inclua todos os educandos. As
crianças brigam, discutem, se agridem, se insultam, se desprezam, criam
apelidos humilhantes, ridicularizam as mínimas diferenças. E o processo
educativo acontece justamente na dialética da classe: na superação de
conflitos, no equilíbrio de perdas e ganhos de cada um a cada dia.
Intermediar a procura de soluções para impasses e conflitos faz parte da
ética da ação de educar. Orientar e incentivar cada educando para que
supere a si mesmo, desenvolvendo capacidades de sinceridade,
reconhecimento dos próprios erros, respeito, solidariedade, justiça, etc. é
indispensável para que eles mesmos superem preconceitos, rivalidades,
temores, privilégios, desigualdades e diferenças que os levam a excluir-se
uns aos outros.
Por fim, adotar, no cotidiano da sala de aula, os recursos pedagógicos e as
atividades que favoreçam a integração de todas as dimensões da
potencialidade dos educandos no aprendizado e na educação integral
(CARNIATO, 2005, p. 44).
As representações, construídas por outros sujeitos, sobre o papel do
professor do Ensino Religioso, são, geralmente, por eles apropriadas e se
consubstanciam no seu modo de ser e de agir, no contexto escolar e na sociedade.
Desse modo, os professores, muitas vezes, legitimam uma prática cultural instalada,
trazendo para si o modelo da freira, do padre ou do pastor”. Segundo Mellowki &
Gauthier,
[...] a cultura fornece não só o material, os utensílios (conhecimentos,
sistemas de símbolos, de gestos e de signos, entre os quais a linguagem) e
as finalidades, mas, por vezes, também os modelos (o que é um bom
cidadão, um cientista, um médico, um professor, um homem, uma mulher,
um pai ou uma mãe, etc.) ou os esquemas de construção da relação. Ela
permite definir, elaborar ou modificar a relação consigo mesmo, com os
outros e com o mundo (MELLOWKI & GAUTHIER, 2004, p. 540).
307
5.3.2.7 Pré-requisitos que devem fundamentar a prática do docente do Ensino
Religioso
Nesta sétima categoria, os pré-requisitos, explicitados pelos professores,
estavam ligados: ao amor” pela disciplina, à importância da formação, à demanda
do aluno, à vivência cristã, ao trabalho coletivo; ao comprometimento para com o
trabalho, à postura do profissional e à metodologia e a linguagem docente:
[...] Em primeiro lugar você tem de gostar do que está fazendo,
principalmente porque esta disciplina não é fácil,devido à quantidade de
turmas diferentes que a gente tem de trabalhar. São várias séries diferentes.
Se você não gosta dessa disciplina, nada feito. Outro elemento importante é
você se especializar, procurar se informar, procurar fazer outros cursos,
esses cursos de capacitação, oferecidos pelo DAER. O fato de você estar
se informando o tempo todo, não deixa a coisa solta, vazia (PER 1).
[...] É importante você ter uma fundamentação trica, respeitar a prática
religiosa que cada aluno traz, gostar realmente desse trabalho e atualizar-
se. Ela deve estar muito atenta para os assuntos que os alunos trazem para
a sala de aula e provocar debates em torno desses temas (PER 2).
[...] Ele tem que crer em um transcendente, tem que ter uma religião, depois
uma habilitação que uma formação pedagógica, que saiba trabalhar com
inter-religioso, com o transcendente, o ecumênico, o interdisciplinar. É
necessário que ele reconheça que o outro é diferente dele e não faça
proselitismo. Ele tem que saber lidar com essas questões (PER 3).
[...] Primeiro, ter esse curso de cento e vinte horas que base geral.
Depois estar sempre lendo coisas, como, por exemplo, o mundo jovem, o
mundo em missão, outros livros relacionados com a formação humana,
cristã. Outro elemento importante é trabalhar com a vivência do aluno, por
exemplo, aquilo que eles trazem de experiência. Tudo isso pode ser
aproveitado da melhor maneira possível. Eu aproveito muito a experiência
que eles têm, histórias que eles contam. Então, eu coloco dentro da sala de
aula, as histórias que eles escreveram, às vezes, sem falar o nome de quem
escreveu. Isso ajuda a refletir, a fazer uma boa reflexão. Eu trabalho com
textos bíblicos, principalmente do semeador, do filho pródigo. Parábolas que
ajudam na vivência (PER 5).
[...] A primeira coisa, a professora tem que ter a sua própria vivência cristã,
seja em qualquer igreja. A professora tem que ter interesse por essa área,
porque uma professora que vai dar a aula de qualquer jeito não vale a pena.
Ela tem de ter uma formação sica começando pelo curso de cento e vinte
horas, depois fazer o curso de pós-graduação. Ela deve procurar fazer um
trabalho em conjunto com a escola e estar bem informada dos
acontecimento e mostrar que os assuntos, ligados à realidade, são muito
importantes nas aulas. Ele precisa ver nocias. Não é qualquer pessoa que
poderia dar aulas de Ensino Religioso. Às vezes, colocam pessoas que
estão encostadas para dar as aulas. Ela é efetiva, não tem vaga para outra
308
disciplina, então colocam-na para dar as aulas sem nenhuma preparação.
Ela precisa saber escutar os alunos, saber falar com eles. Eu acho que a
gente tem de dar um testemunho diferente, através do comprometimento
com seu trabalho, preparando bem as aulas, chegando no horário, estando
presente nas atividades da escola, estando engajada nos projetos da escola
(PER 5).
[...] É você ter uma ditica adequada, saber adaptar o curso de Graduação
que você fez para a realidade da sua clientela, não fazer proselitismo na
sala de aula. As crianças, geralmente, pensam que se você está dando
aulas de Ensino Religioso é porque você é uma freira, ou uma missionária,
ou uma pastora. É importante você saber adequar a linguagem para cada
fase de idade, ter interesse pelos seus alunos e acompanhar os seus alunos
e trabalhar o sentimento de desvalorização que você passa por causa
dessa disciplina (PER 6).
[...] A primeira questão é você ter ética. A ética é você estar bem preparada
para dar as aulas. A aula de Educação Religiosa não é para ser dada de
qualquer jeito. A gente tem de ter um embasamento trico, por mais
simples que seja a aula. Atualmente, a clientela com que eu trabalho é
muito simples, mas eu tenho de ter o maior cuidado com o que falo na sala
de aula, para não ofender ninguém. Outro aspecto da ética é sua postura,
na sala de aula, no momento de conversar com os alunos. A ética é tudo em
qualquer situação da vida. Outro ponto importante é trabalhar a auto-estima
do aluno. Eu acho que o Ensino Religioso é para projetar para a vida, por
isso eu incentivo os alunos quanto a um futuro melhor: fazer uma faculdade,
fazer um bom curso técnico. Eu levo o meu trabalho muito à sério, corrijo,
devolvo, dou notas nos trabalhos e valorizo o que os alunos fazem. Os
alunos falam que, em certos momentos, eu sou brava e exigente, mas
também sou mansa. Sou de conversar com os alunos. Então, isso é uma
postura do professor (PER 8).
[...] Eu acho que o professor de Ensino Religioso tem de ter uma formação
específica, porque ela não é uma matéria como a Matemática, o Português,
o Inglês. É uma matéria que ajuda mais na formação humana e cristã da
pessoa, ajuda a pessoa a se sentir gente, a reconhecer a sua dignidade,
sentir-se valorizado, perceber que é criado por Deus, que Deus o ama. O
Ensino Religioso tem que proporcionar, também, essas coisas, embora não
trabalhando especificamente com várias religiões. Existem várias pessoas
de várias religiões e tem que haver respeito. Você mostra para o seu aluno
que ele é filho de Deus e que é amado por Ele (PER 5).
As falas dos sujeitos entrevistados mostraram a importância da formação
acadêmica, voltada para a disciplina, como pré-requisito, necessário ao seu
magistério. O docente do Ensino Religioso deve ser um profissional com qualificação
acadêmica e competência para gerir a sala de aula, dominar sua área de saber,
liderar a discussão sobre o fenômeno religioso em sua relação às outras áreas do
conhecimento.
A LDB em vigência, no que se refere à formação de professores, é enfática
em defender a sua relevância. Segundo Meneghetti,
309
[...] está clara a necessidade de formação de profissionais que, no Ensino
Fundamental, não apenas dêem aulas, mas também compreendam a ação
pedagógica em sua totalidade. Assim, a pré-ocupação com a cultura geral e
profissional, o domínio do conhecimento específico para a área de atuação
e a compreensão da dimensão cultural, social, religiosa, política e
econômica da educação são fatores permanentes do perfil desse
profissional-docente (MENEGHETTI, 2004, p. 95).
A pesquisa evidenciou, ainda, a dimensão ética como pré-requisito para a
prática docente. Na opinião de um entrevistado (PER 8), essa dimensão ética do
trabalho envolvia responsabilidade quanto à preparação das aulas, postura
profissional, respeito pelos alunos e embasamento trico. Assim, na fala desse
sujeito, a dimensão ética se manifestava, tamm, no relacionamento efetivo com os
alunos, que apresentavam diversidades e necessidades diferenciadas. Para Tardif
(2006, p. 182), a ética do professor não é somente uma ética do trabalho bem feito,
é uma ética do sentido da educação como responsabilidade diante do outro. Estar
longe ou pior, fora da ética, entre s, mulheres e homens, segundo Paulo Freire
(1998), é uma transgressão. Para este mesmo autor, o estudo dos conteúdos não
pode dar-se alheio à formação moral do educando, porque educar é,
substantivamente, formar, demanda profundidade na compreensão e na
interpretação dos fatos, supõe a disponibilidade à revisão dos achados, a
possibilidade de mudar de opção, de apreciação e assumir a mudança operada
(FREIRE, 1998)
Outras questões, evidenciadas nos depoimentos dos docentes, se centravam
no respeito às diversas religiões (PER 2) e à capacidade de se trabalhar com o
pluralismo religioso (PER 3). Esse respeito tem de ser autêntico, marcado por uma
postura que respeita tanto as diversas conviões religiosas, quanto a opção
religiosa de cada aluno. Deve-se, assim, evitar, na prática pedagógica, o
proselitismo e a utilização de uma linguagem ortodoxa e veiculadora de
preconceitos. Essa é uma questão importante, de acordo com Teixeira,
[...] o favorecimento da percepção da riqueza e do valor do mundo plural e
diversificado. As religiões não são apenas genuinamente diferentes, mas
também autenticamente preciosas. que honrar essa alteridade, em sua
especificidade peculiar, reconhecendo o valor e a plausibilidade de um
pluralismo religioso de direito ou princípio. A diversidade religiosa deve ser
reconhecida, não como expressão da limitação humana ou fruto de uma
realidade e valor, um valor que é irredutível e irrevogável. A abertura ao
310
pluralismo constitui um imperativo humano e religioso. Trata-se de uma das
experiências mais enriquecedoras, realizadas pela consciência humana.
Assegurar o respeito à diversidade religiosa é garantir a integridade das
diferentes tradições religiosas e potencializar a perspectiva dialogal
(TEIXEIRA, 2006, p. 76).
Asfalas dos docentes, 1 e 2 enfatizaram que a base de todos os pré-
requisitos está no amor por esta disciplina. Segundo Incontri, Bigheto (2005, p. 50),
a postura existencial é uma diretriz ética, anterior às técnicas diticas. Um
professor, quando expressou a importância desse amor à disciplina, o fez ligado ao
desafio de trabalhar com as diferentes turmas com alunos multireferenciados
culturalmente (PER 1).
Os professores de Ensino Religioso têm, de acordo com Hoff (2005), um
papel fundamental no desenvolvimento e na construção humana dos seus
educandos, através da veiculação de atitudes e valores, da priorização de uma
cultura de respeito e de abertura ao diálogo, ao diferente e ao outro.
O educador, acima de tudo, deve ser alguém que sabe escutar com
paciência, que é atento às manifestações do educando, contribuindo para com uma
aprendizagem significativa, que viabilize a inserção do educando na sociedade, de
forma autônoma e consciente.
Dois entrevistados mencionaram a importância do professor de Ensino
Religioso ter clareza de sua religiosidade, como se pode verificar nos seguintes
depoimentos: Ele tem que crer em um transcendente, tem que ter uma religião
(PER 3); a professora tem que ter a sua própria vivência cristã, seja em qualquer
Igreja (PER 5). Essa experiência religiosa, como pré-requisito para a professora de
Ensino Religioso, é necessária, porque ningm partilha o que o tem. Contudo,
ela o pode estar restrita a sua verdade de fé, porque dificulta tanto o respeito à
diversidade religiosa, quanto à construção de uma visão crítica sobre a história das
diversas tradições religiosas. A vivência religiosa, sintonizada com uma postura
fenomenológica, de acordo com Bello (1998), deve:
[...] deve ser compreendida pela ótica da própria vivência, isto é,
precisamos viver aquele conteúdo particular a fim de poder, em seguida,
entender como outro ser humano por sua vez poderia experimentá-lo, e em
seguida descrever essa experiência no sentido de encontrar um fio condutor
dentro da diversidade vivencial (BELLO, 1998, p. 107)
311
O professor dessa disciplina, como observa Scussel,precisa valorizar as
vivências e trabalhar a partir delas. Valorizar o seu próprio processo religioso, para
poder interagir com os alunos e, num processo dimico de partilha e reflexão,
construir significados, dando mais sentido às próprias vidas (SCUSSEL, 2005, p.
334).
Outra questão, apresentada pelos professores (2 e 3), como pressuposto
importante, foi considerar as vivências que os educandos trazem para a escola. De
acordo com Figueiredo,
[...] um novo acervo: linguagem, modo de experimentar e interpretar a
realidade, diversificadas e novas concepções de ser humano e de mundo.
Disto decorre outra maneira de expressar a sua religiosidade, dependendo
ou não do grupo a que pertencem, dentro ou fora de uma religião. Em chave
de leitura cultural não podemos desconhecer que a experiência religiosa
dos educandos e educandas, hoje, é eclética, e, ao mesmo tempo,
simbólica, apesar de o conservarem os mesmos referenciais das
gerações anteriores. Permanecem, contudo, elementos constitutivos da
matriz cultural de diferentes povos dos quais procedem as nossas raízes,
desde os tempos remotos. Contudo, não podemos desconhecer as que
emergem dos tempos atuais das mais diversificadas culturas. Como povo
brasileiro, culturalmente condicionado a um universo mais amplo, estamos
em processo de formação. (FIGUEIREDO, 2000, p. 19-20).
5.3.2.8 Procedimentos diticos e o tratamento dado aos conteúdos
Esta oitava categoria se refere à prática pedagógica dos docentes. As
entrevistas feitas apontaram os conteúdos mais trabalhados, bem como os
procedimentos didáticos mais empregados.
- Procedimentos didáticos e atividades mais empregadas pelos professores de
Ensino Religioso
Os procedimentos diticos mais empregados pelos docentes, segundo seus
depoimentos, foram: trabalho com textos, preferencialmente vídeo, utilização do
retroprojetor; trabalho coletivo em projetos que envolvem os professores de
Português e Ciências; oficinas; dinâmicas de relacionamento; entrevistas; jogo da
verdade; debates; excursões, jornais, música, gravura, revista, desenhos, aula
312
expositiva, conversa informal, trabalho individual e de grupo, respostas às questões
dos alunos sobre sexualidade e tabus religiosos, pesquisa, atendimento individual:
[...] Eu trabalho com textos, faço trabalho em grupo, passo vídeo, pego
alguma reportagem importante ou mesmo jornal e revista. Uso o
retroprojetor, aula expositivas porque se você fica na tal cópia do quadro
sua aula se perde. Para cada série eu trabalho um tema diferente (PER 2).
[...] Nas minhas aulas procuro usar a conversa informal, aula expositivas,
temas propostos pelos alunos, questões que eles levantam sobre
sexualidade e tabus religiosos. Faço parceria com o professor de português
e ciências para fazer oficinas, faço muitas dinâmicas de relacionamento, de
entrosamento, de convivência. Através de uma brincadeira eles estão se
relacionando com o outro. Dependendo das questões que os alunos
levantam em sala eu trabalho com entrevistas com líderes de outras
religiões para ver onde tem um Deus diferente, se a pergunta é quem é
Deus ou como Deus está presente em determinadas religiões. Faço uma
pesquisa dentro de sala para ver as religiões que tem ali e fazemos um
confronto entre elas. Na 5ª série esta temática é um trabalho desenvolvido
em conjunto: professora e aluno. Na 7ª e 8ª séries, o aluno pode ir para rua
fazer uma entrevista com os líderes e fazer uma pesquisa nos livros (PER
3).
[...] As aulas de Ensino Religioso têm que ser muito variadas, com debates,
com dinâmicas, com filmes, com leituras, com reflexões orais, com trabalhos
de grupo. Então o Ensino Religioso tem o desafio de mostrar que não é uma
aula comum, uma aula qualquer, mas é uma aula especial porque leva a
pessoa a crescer como gente (PER 5).
[...] Quanto a metodologia, eu trabalho fora da sala de aula, faço questões,
trabalho de grupo, trabalho individual. Eu não gosto desse negócio de
escrever no quadro para a mãe ver. Eu deixo bem claro, no início do ano,
que não ficarei passando matéria no quadro. Não perco tempo com isso.
Falo para os meus alunos que tudo que a gente faz é uma aula: excursão,
assistir um vídeo, ler um texto, etc. (PER 1).
[...]Nas minhas aulas eu uso letra de música, gravura de revista para eles
poderem inserir o que estão vendo, desenho, produções feitas pelos alunos, vídeos,
etc. (PER 6)
Os Dados Coletados pelo Questionário se aproximar C
g
313
Gráfico 17: Técnicas, Recursos e Atividades desenvolvidas pelos docentes
Fonte: Dados da pesquisa
314
TABELA 13
Técnicas, Recursos e Atividades desenvolvidas pelos docentes
Técnicas, Recursos e Atividades desenvolvidas pelos docentes
Aula expositiva 9%
Metodologia de Projetos 4%
Trabalho interdisciplinar 5%
Leitura de textos 7%
Desenho, pintura 6%
Montagem de murais 4%
Debates em torno do tema 9%
Pesquisa em livros, revistas 3%
Teatros, encenações, danças 5%
Filmes - vídeo, DVD 9%
Textos literários e jornalísticos 3%
Dinâmica de grupos 9%
Palestras 3%
Entrevistas 3%
Produção de texto e exposição dos mesmos 6%
Conteúdos pre-determinados de acordo com o planejamento 3%
Pesquisa na internet e socialização da mesma 2%
Visitas aos locais das manifestações das tradições religiosas 1%
Músicas 8%
Fonte: Dados da pesquisa
Considera-se que as atividades mencionadas, se bem executadas e
conectadas com o tema enfocado, podem propiciar o envolvimento dos alunos,
conscientizando-os da necessidade de terem uma sensibilidade maior para com a
vida, com a sociedade, favorecendo o convívio com o diferente, proporcionando um
diálogo mais aberto aos alunos e suas múltiplas diversidades e demandas. Uma
postura ditica, para ser coerente, segundo Incontri & Bigheto,
[...] decorre, obviamente, de uma dada visão filosófico-pedagógica, que se
inicia na própria concepção do ser humano e das finalidades últimas da
educação. Por isso, o como prescrever e padronizar técnicas, como
receitas prontas, pois antes de qualquer aplicação possível e toda
aplicação ditica tem de se adaptar ao contexto e à realidade dos alunos,
dos docentes, da escola... - devemos examinar as motivações profundas de
uma ação pedagógica. Uma dada experiência, baseada em tais motivações,
pode, portanto, servir de inspiração, motivar outras propostas, levantar
debates e não restritamente propor técnicas fechadas (INCONTRI &
BIGHETO, 2005, p. 47).
315
Os professores, ao se expressarem sobre a prática que seria mais apropriada
para a docência, explicitaram que ela deve ser mais dinâmica e participativa. No
Questionário, eles mencionaram que é importante a utilização da música e a adoção
do livro ditico, que contribuem para trabalhar com a especificidade do Ensino
Religioso, tornando-o atraente para o aluno (ANDICE C).
O professor utilizando estratégias planejadas e ações metodológicas
adequadas,
[...] deve tornar melhores as crianças que estão sob a sua responsabilidade:
mais “cognoscentes, de bem consigo mesma e com os outros, dotadas dos
conhecimentos e das qualidades necessários ao exercício de uma atividade
profissional e à integração na sociedade. Ele deve, portanto, conforme a
missão confiada hoje à escola, agir sobre todas as dimensões da
personalidade da criança a fim de fazer dela um ser instruído, socializado e
qualificado para a vida em sociedade e para o trabalho (MELLOWKI &
GAUTHIER, 2004, p. 566).
Considera-se que os procedimentos metodológicos devem envolver o aluno
na sua totalidade, ou seja, corpo, espírito, razão, emoção e ainda atentar para a
importância dos aspectos lúdicos, estético, ético, histórico, social, econômico e
político.
- Tratamento a ser dado aos contdos
No item referente ao tratamento a ser dado aos conteúdos, ocorreu uma
grande similitude nas respostas. Algumas professoras afirmaram que o Ensino
Religioso deve tratar de questões relativas: amizade, valores, drogas, sexualidade,
afetividade, namoro, puberdade, violência, limites, tolerância, realidade atual, família,
deveres e direitos dos cidadãos.
Outros entrevistados, além de mencionaram essas mesmas temáticas,
incluíram outras: ser cristão, Páscoa, dia das mães, parábolas bíblicas. Um
entrevistado (PER1) considerou importante abordar a temática relativa às religiões,
na 8ª série. Finalmente, alguns professores explicitaram, também, a necessidade de
se levar em conta a realidade local e o atendimento às sugestões dos alunos, no
que tange à seleção dos contdos:
316
[...] Para a 5ª série, eu envolvo muito a questão do aluno ser bom, ser
cristão, isso o quer dizer ser católico. Falo sobre o perdão, a amizade. Na
6ª série, eu falo sobre os valores humanos, porque eles já estão na
adolescência e precisam conhecer os valores humanos de que a gente
tanto precisa, que são o respeito, o ser humano, a amizade, o perdão, o
amor. Na 7ª e 8ª séries, eu já trabalho com afetividade, sexualidade, o
namoro. Em alguns momentos, esses assuntos me fazem trazer alguma
citação da Bíblia. Um outro aspecto importante, um assunto não pode ser
muito grande porque só temos aula uma vez por semana. O assunto deve
demorar, no máximo, duas aulas (PER 2).
[...] Algumas pessoas pensam que a gente só pode falar de Deus, mas a
gente tem que ver a realidade da escola, para trabalhar os assuntos. Então,
os assuntos são: drogas, violência, preservação do prédio da escola,
valores, limites, olhar com carinho o outro. O objetivo do Ensino Religioso
não é só rezar em sala de aula, aliás, esse não é o objetivo. Então, os
conteúdos seriam trabalhar mais esses valores, que a gente até esqueceu.
Hoje, a juventude está esquecida do respeito para com os outros, limites, da
tolerância, etc. (PER 6).
[...] Para selecionar os assuntos, eu olho muito para a realidade em que eu
estou, escuto as sugestões e opiniões dos alunos, procuro sempre trabalhar
conteúdos do mundo atual, a relação deles com o mundo, com o dia-a-dia,
com a amizade deles, as questões dos valores com a família. Nesse
sentido, é que eu trabalho e dão bons resultados (PER 8).
[...] Os temas mais trabalhados são os valores. Mas, no início do ano letivo,
costumo dar um questionário pedindo para eles apontarem os assuntos de
que gostariam que fossem tratados nas nossas aulas. É lógico que eu já
tenho um roteiro que eu vou seguir, mas, eu faço esse tipo de pergunta para
eles. O assunto sobre as religiões é dado na 8ª série. Nas 5ª, 6ª e 7ª séries,
trabalho os valores humanos. Você pode ter um plano, mas é necessário
mudá-lo, a partir da realidade da escola e dos alunos. É importante ver o
que eles precisam e adequar o seu plano à realidade (PER1).
[...] Alguns professores selecionam os assuntos ligados às questões sociais,
é o caso das drogas, da sexualidade, da violência. Estas questões do
cidadão, do ser humano aparecem no plano de curso e no Projeto Político
Pedagógico da escola. As questões do religioso, do transcendente ficam
subtendidas. Daí, vem a necessidade de um plano de curso ou uma
proposta de programa que abranja todo um Estado. Eu faço o planejamento
por turma, levando em conta a necessidade da turma. O tema que é
trabalhado na 5ª pode ser repetido na 6ª e, até mesmo, na 8ª série,
depende do enfoque que vai ser dado. Posso trabalhar o tema quem sou
eu, nas diversas turmas com enfoque diferente. Assim como os problemas
existenciais, o conflito familiar, a auto-afirmação (PER 3).
[...] Quanto aos assuntos mais utilizados na sala de aula, eu sempre, no
início do ano, coloco alguns pontos essenciais do Ensino Religioso, que a
gente chama de regra. Elaboro com os alunos do São Rafael o que a gente
pode e o a gente não pode. Eu o posso, por exemplo, matar aula, ah! Por
que? o porque a aula é de Ensino Religioso, mas porque é importante
que eu esteja ali, que eu vá dar a minha contribuição. Depois, peço que
cada um elabore a sua história pessoal. Nesse relato, a gente tem
oportunidade de ver a situação do deficiente visual: rejeição familiar, alguns
são deixados as cuidados de outras pessoas que não são da família, etc.
Depois trabalho a Campanha da Fraternidade. O tema desse ano foi sobre
317
o deficiente. Ao meu ver, esta campanha fica muito no papel, mas eu tentei
passar este aprofundamento da melhor maneira possível, sobretudo o valor
que s temos como pessoa, não importa a deficiência. O que importa é o
que você é, o testemunho que você . Depois trabalho sobre a páscoa,
sobre as mães. Na comemoração dos dias das mães, nós tivemos um
momento no auditório com apresentações de canto, poesia, textos falando
sobre o valor da mãe. Depois trabalho a Copa. Trabalho, também, com as
parábolas da Bíblia, com o tema sobre amizade. Eu priorizo os assuntos,
também, de acordo com as necessidades dos alunos. Quando eu vejo que
tem uma falta de respeito, um apelido, alguma coisa que não está indo bem
na sala eu pego aquele conteúdo e falo com eles (PRE 5).
A relação dos temas, abordados pelos professores entrevistados, está, em
síntese, relacionada à vida dos adolescentes. Mas é importante destacar, que a
vinculação do aluno com a temática só será possível se o trabalho desenvolvido for
motivador, se o objetivo estiver bem delineado e se o docente estiver consciente do
para quê está se aprofundando, na abordagem da temática. É importante que o
conteúdo e o método estejam sintonizados com os objetivos. Por isso, são
fundamentais a reflexão e a conscientização, constantes da necessidade de se
promover a reformulação e a reorganização dos conteúdos e da metodologia, para
que se estimule o educando a valorizar a vida, a fazer um exercício da alteridade, a
se posicionar e a expressar seus próprios valores.
Na abordagem dos conteúdos, deve-se dar uma seqüência cognitiva aos
temas selecionados, para possibilitar que o processo de aprendizagem tenha
continuidade. Nesta perspectiva, os Parâmetros Curriculares do Ensino Religioso
sugerem critérios para a organização e seleção de conteúdos
77
.
As entrevistas realizadas enfatizaram que o religioso está presente na vida
dos adolescentes e, por isso, é preciso que se promova o aprofundamento da
77
O segundo capítulo dos PCNER contempla os critérios para a organização e seleção de conteúdos
e seus pressupostos diticos, a partir do fato religioso. Na primeira parte deste capítulo, define-se o
fenômeno religioso como a busca do Ser frente à ameaça do Não-Ser. Basicamente, a humanidade
ensaiou quatro respostas possíveis como norteadores do sentido da vida, além da morte: a
Ressurreição, a Encarnação, o Ancestral, o Nada. Cada uma dessas respostas organiza-se num
sistema de pensamento próprio, obedecendo a uma estrutura comum. E é, dessa estrutura comum,
que são retirados os critérios para organização e seleção dos conteúdos e objetivos do Ensino
Religioso. Assim, na pluralidade da Escola brasileira, os critérios para os blocos de conteúdos são:
Culturas e Religiões, Escrituras Sagradas; Teologias; Ritos; Ethos. A segunda parte faz a
caracterização dos eixos organizadores do conteúdo e a terceira contempla o tratamento ditico dos
conteúdos. O terceiro capítulo dos PCNER enfoca o Ensino Religioso nos quatro ciclos,
caracterizando cada ciclo, estabelecendo os seus objetivos, encaminhando pontos centrais para a
avaliação da aprendizagem e discorrendo de uma forma geral sobre o bloco de conteúdos e o
tratamento ditico de cada ciclo.
Cf. FONAPER, Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997,
p. 32ss.
318
temática, envolvendo os alunos, para que os conteúdos, ligados à diversidade
religiosa, fiquem conectados com a vida e seus cotidianos.
Os temas, tratados em sala de aula, devem ser conectados aos
conhecimentos de outras áreas, para responder às questões, levantadas pelos
alunos, e ajudá-los a construir referenciais para a interpretação e ressignificação dos
conceitos e para a elaboração de propostas que levem à uma convivência fraterna e
ao respeito mútuo. Para que isso se concretize, é necessário que o tratamento
metodológico e a abordagem dos conteúdos se embasem na “reflexão na ação e
sobre a ação.
No que se refere aos valores humanos, explicitados na fala do pelo
professor 1, Passos assim se expressa,
[...] Embora possamos e devamos falar em educação fundada em valores
humanos, políticos e éticos para os quais, em última instância, orientam-se
o ensino das ciências e a formação intelectual, aquilo que é ensinado numa
tradição científica; numa referência explicativa e valorativa que vá além do
senso comum e de interesses individuais e de grupos. Não se trata de negar
as tradições e as visões de mundo de cada educando, como bem nos
ensinam as teorias pedagógicas atuais, mas de proporcionar aos
estudantes uma articulação de seus mundos, inclusive o religioso, com as
referências oferecidas pelo acúmulo de conhecimento oferecido pelas
diversas ciências (PASSOS, 2006, p. 25).
Outra questão, expressa nas falas dos professores, está centrada em um
trabalho que privilegie conteúdos do mundo atual e a relação do adolescente com o
mundo (PER 8). Dentro dessa perspectiva, é importante despertar, no adolescente,
a responsabilidade social, visando à eliminação da exclusão social e ao aumento da
solidariedade. Em relação a esse item, os Dados Coletados pelo Questionário
mostraram que alguns professores vêm assim procedendo, pois procuram envolver
os alunos em campanhas de solidariedade tais como: a do agasalho, da cesta
sica, da doação de sangue, da ajuda às famílias carentes e a prática de visitas
sociais a creches, hospitais, asilo, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAEs) e Casa de Apoio ao Deficiente (APÊNDICE A)
O comprometimento social, para Brandenburg é importante:
[...] o despertamento para a responsabilidade social em relação a diferentes
situações que surgem no cotidiano é que vai demonstrar, de fato, o
processo de convívio com o diferente e a vivência de valores. A
responsabilidade social vai demonstrar que a vivência da religião não se
319
restringe à esfera pessoal, mas que vivenciar a dimensão religiosa tem
conseqüência na realidade circundante. Esse pode, justamente, ser um
aspecto importante no enfoque do Ensino Religioso (BRANDENBURG,
2004, p. 160).
Segundo os professores 8 e 1, a participação dos educandos e seus
envolvimentos nas referidas temáticas são essenciais para a aquisição de uma
vivência, sintonizada com os objetivos do Ensino Religioso. Além disso, eles podem
favorecer o estabelecimento de um melhor relacionamento interpessoal, fora e
dentro da sala de aula, contribuindo para uma prática docente mais efetiva. Para
Brandenburg,
[...] se a sala de aula constituir-se como processo em que todas as pessoas
do grupo têm parte na produção, na gerência e no usufruto dos bens sociais
ali existentes, então a participação será realidade para aquele grupo. [...]
Realizar em conjunto com o grupo de sala a seleção de assuntos já pode
ser um exercício muito importante e um momento de aprendizagem.
Exercita-se um pensamento complexo ao rejeitar ou escolher temática e
procedimentos. É necessário deliberar, argumentar, julgar, estabelecer
escala de valores. É fundamental tomar decisões (BRANDENBURG, 2004,
p. 101. 108).
5.3.2.9 As Dimensões da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, da ética e do
fenômeno religioso, no contexto da sala de aula.
Esta nona categoria está ligada aos pressupostos do Ensino Religioso que,
de acordo com PNCER, centram-se no fenômeno religioso.
Pelos dados coletados, somente um professor tinha segurança de trabalhar a
temática com os alunos:
[...] Trabalho a dimensão da religiosidade, da espiritualidade, do sagrado,
através da troca de experiência. A religiosidade todos têm, mas a religião
ela tem de ser trabalhada ,através da troca de experiências, porque só
assim um vai conseguir respeitar a religião do outro. Você trabalha a
questão da tradição e a ética ao mesmo tempo porque uma depende da
outra. Discuto com os alunos o que uma tradição religiosa não permite e o
que a sociedade permite. Então, é preciso trabalhar voltada sempre para a
questão da cidadania, formação do educando (PER 3).
320
O professor, ao abordar as dimensões da religiosidade e da espiritualidade,
deve partir da experiência religiosa do educando, respeitando a sua bagagem
religiosa-cultural, seus conhecimentos e experiências anteriores. Nessa direção, é
importante reiterar que o conhecimento sobre as religiões integra a educação geral e
contribui para a formação integral do educando. Oensino da religião não se afirma
como uma atividade cientificamente neutra, mas com clara intencionalidade
educativa, postula a importância do conhecimento da religião para a vida ética e
social dos educando (PASSOS, 2006, p. 32).
Alguns entrevistados disseram que trabalharam com a temática da dimensão
religiosa, mas que têm receio de abor-la, devido à sua complexidade que os deixa
meio inseguros.
Considera-se que, para trabalhar com essa temática, é necessário que os
professores possuam uma formação mais densa e consistente.
[...] Eu trabalho esses temas através de texto, debates, questões. No mês
de junho queria trabalhar a dimensão da religiosidade das festas juninas,
mas a supervisora falou que eu não podia falar de santos. Eu falei para ela
que não era falar sobre os santos, mas a religiosidade do povo, como o
povo vê isso. Cada aluno participou falando com é a expressão dessa festa
na sua cidade. Eu acho que a gente tem de trabalhar essas coisas com todo
o jeito porque as pessoas tem que valorizar as coisas e o Ensino Religioso
pode proporcionar isso e ajudar as pessoas a respeitar o outro (PER 5).
[...] Eu trabalho a dimensão da espiritualidade, da religiosidade de forma
bem ampla, mas eu tenho muito cuidado com essas questões por serem
temas bem delicados. Então, por isso, é importante uma formação maior em
torno desses assuntos. Seriam pontos que o DAER e o CONER poderiam
investir mais na formação dos professores (PER 8).
Nota-se que em muitas falas dos professores está explicitada a dificuldade
que eles têm de trabalhar temas mais específicos do Ensino Religioso, o que
evidencia carência de um maior embasamento teórico. Nos Dados Coletados pelo
Questionário, constatou-se que as temáticas, mais trabalhadas pela disciplina, o
estão centradas nas tradições religiosas, mas em questões ligadas à cidadania,
aos valores, às datas comemorativas, às campanhas de solidariedade. Somente
28,6% dos respondentes se referiram às tradições religiosas (APÊNDICE A).
Quanto ao tipo de Ensino Religioso mais apropriado, os docentes, além de
reiterarem as temáticas mencionadas, explicitaram outras:
321
[...] Os conteúdos poderiam ser voltados para os valores; para as questões
atuais e sociais; para a formação humana, para a cidadania, resgatando os
valores éticos e morais. Os assuntos estariam ligados aos dia-a-dia do
adolescente e seriam trabalhados de forma interdisciplinar (APÊNDICE C).
Um outro professor declarou que a disciplina deveria estar centrada em duas
dimensões:
[...] Eu organizaria o Ensino Religioso, voltado para tudo aquilo que é
humano, para o conhecimento pessoal, para a formação da identidade e
dos valores. Depois trabalharia o lado espiritual/cristão para que a pessoa
crescesse na própria fé, na opção de fé. Organizaria também um Ensino
Religioso, voltado para o respeito às diversas religiões (APÊNDICE C).
Considera-se importante que o professor seja capaz de dialogar, a partir dos
aportes da Ciência da Religião e desenvolver, em si e nos alunos, uma nova
concepção da religiosidade. Os conhecimentos sobre a religiosidade e sobre as
religiões deveriam fazer parte do processo formação, assim como o embasamento
nas diversas áreas de conhecimento. A religião, comenta Passos (2006), citando
Mendes Pinto (2005)
78
.
[...] Não é coisa tão-somente das instituições confessionais; ela é um fato
antropológico e social que permeia de maneira ativa todos os âmbitos da
vida dos cidadãos que compõem o Estado Plural e laico. Eis a razão
fundamental de seu estudo nas escolas. Portanto, a discussão do Ensino
Religioso não se inscreve, fundamentalmente, na esfera do debate sobre o
direito ou não à religiosidade, mas do direito à educação de qualidade que
prepare o cidadão para visões e opções conscientes e críticas em seus
tempos e espaços (PASSOS, 2006, p. 36)
O Ensino Religioso deve ser visualizado numa perspectiva política e de
interlocução constante com outras áreas disciplinares e com o fazer pedagógico. É
preciso que os docentes se dediquem à pesquisa, à troca de informações, aos
debates com os profissionais da área e a muita reflexão sobre o que ensinar, como
ensinar e para que ensinar.
Outros professores, nas suas falas, consideram ser difícil trabalhar com a
especificidade do Ensino Religioso, devido, sobretudo, às reações das famílias e ao
desinteresse dos alunos. Para eles, as questões da religiosidade, da ética, do
aprender a ser mais humano emergem quando se enfoca a dimensão dos valores.
78
MENDES PINTO, Paulo Mendes. Para uma ciência das religes em Portugal. Lisboa: Edições
Universitárias Lusófonas, 2005. p. 18, 44-45.
322
[...] Esta parte espiritual a gente costuma deixar para a comunidade religiosa
que o aluno freqüenta. Determinadas coisas eu pergunto como esse
assunto é tratado na Igreja de que o aluno participa. Eu não me prendo
nesses assuntos porque já tive problema com um pai que proibiu o filho de
freqüentar as aulas, por causa desses assuntos mais ligados à religião. Às
vezes, o aluno tem mais abertura para tal assunto do que os pais. Com isso
a gente fica mais presa à formação humana (PER 2)
[...] s temos uma diversidade de religiões no contexto da sala de aula.
Alguns alunos não gostam que a gente trate desses assuntos em sala,
porque já fizeram uma lavagem cerebral, dizendo que a religião dele é a
única, é a melhor. Mas quando eu trabalho sobre as diversas religiões, eu
trabalho sobre o respeito pela religião do outro. Uma vez trabalhei sobre o
Buda, a partir do interesse da turma. Acharam tão bom saber quem era
Buda que alguns até falaram que iriam pesquisar mais sobre ele. Fizemos
uma analogia entre a pregação de Jesus e a de Buda. Tudo isso é uma
questão da gente conhecer e respeitar. Não adianta você julgar a religião do
outro sem saber porque a pessoa faz daquele jeito. Percebo que esse
assunto é mais fácil de ser trabalhado com os alunos de 7ª e 8ª séries (PER
1).
[...] Não é fácil trabalhar o fenômeno religioso, mas eu penso que a gente
tem que tentar e fazer isso com todo o respeito. Mas trabalhar com
seriedade, fazer pesquisa dentro desse assunto, procurar livros que falem
disso, ou se você também não tem tanta firmeza naquele assunto convidar
uma pessoa que tem mais capacidade do que a gente para fazer esse
trabalho. Eu acho importante mostrar que Deus é pai de todos, que Deus é
um só, que tem que ter esse respeito (PER 5).
A rejeição de se trabalhar com temáticas de cunho especificamente religioso
pode ter relação com o enfoque tradicional da disciplina, vinculado a uma
perspectiva estritamente confessional. Então, não se trata de uma rejeição à
disciplina, mas à forma tradicional, com que se trabalha com ela.
5.3.2.10 Avaliação no Ensino Religioso
A cima categoria identificada se refere à forma de avaliar os alunos. Alguns
entrevistados enfatizaram a importância de uma avaliação processual e qualitativa,
que privilegiasse o atitudinal; outros declararam que preferiam usar uma avaliação
centrada nos conteúdos.
[...] Eu não fico bitolada em avaliar o aluno através de notas, mas sim pela
responsabilidade e compromisso do aluno. Eu trabalho muito com a auto-
avaliação. Eles se avaliam perante o relacionamento que o aluno tem com
323
os colegas e com os professores, principalmente o respeito. Avalio a
participação nos grupos Professor de ensino ER 1).
[...] Eu não tenho prova. Eu acho que tem que ser avaliado a cada dia, tudo
o que eles fazem no dia-a-dia eu valorizo. Avalio a participação. Mas, eu
acho que deveria ter sim, uma avaliação para eles valorizarem o Ensino
Religioso e saber que tem de estudar como outra matéria qualquer Deveria
ser igual as outras matérias (PER 5)
[...] Na escola que estou trabalhando, a direção exige uma prova mesmo.
Então os temas trabalhados durante o bimestre eles vão para uma
avaliação somatória. Mas isso vai de escola para escola e eu acho correto
porque é uma maneira de se igualar aos outros conteúdos. Alguns pontos
são distribuídos para a avaliação bimestral e outros restantes a gente avalia
o aluno em sala. Não é olhar o aluno pela cara, mas é pelo envolvimento
nos trabalhos desenvolvidos em sala, que pode ser trabalho em equipe,
trabalho extra-classe, uma exposição, uma palestra. Depende da turma e do
momento que você vai trabalhar. (PER 3).
[...] Eu costumo dar provas, mas é uma prova do que foi dado na sala de
aula. Aproveito as respostas dadas por alguns para discussão em sala de
aula. Podem ser respostas negativas ou positivas. Para os alunos não tem
coisa melhor porque eles se sentem valorizado. Explico para o aluno que eu
não vou reprová-lo, mas se ele estiver em condição ruim no Ensino
Religioso e nas outras disciplinas, ele será reprovado. Eu nunca tive
problema do aluno falar que não estudou para as minhas avaliações. O
caderno dos meus alunos é impecável. Eles dão um valor muito grande para
o caderno de Ensino Religioso. A escola que eu trabalho avalia através de
conceitos (A, B, C, ou D). Mas o aluno gosta de saber o valor desses
conceitos. Avalio também o aluno dentro da sala de aula: se ele fez as
atividades, ele participou do debate. Alguns alunos têm mais facilidade para
falar e outros para escrever. Temos de levar em conta isso na avaliação
(PER 2).
[...]O Ensino Religioso não trabalho com notas, mas com conceitos. Isso
desvaloriza o Ensino Religioso (PER 6).
A questão da avaliação no âmbito do Ensino Religioso é bastante complexa,
pois muitos temas trabalhados na sala de aula são diceis de serem avaliados
quantitativamente, por estarem mais ligados à conscientização, à formação atitudinal
e à uma sensibilização.
Os dados coletados pela pesquisa, mostraram que os docentes preferem
trabalhar com uma avaliação de cunho atitudinal, mais compavel com os objetivos
da disciplina que se traduzem: no compromisso, no relacionamento entre os alunos,
no respeito, no interesse e na participação. Entretanto, um dos entrevistados afirmou
que na escola em que trabalha exige que se faça uma avaliação tradicional, que
prioriza a apreensão dos conteúdos.
324
De um modo geral, foi considerado que, na avaliação da disciplina, deve-se
contemplar tantos as possibilidades e potencialidades dos alunos, tanto o próprio
processa a aprendizagem dos alunos.
A avaliação deve averiguar se o aluno conseguiu desenvolver a sua
autonomia, elaborar formas de pensar, resolver problemas, criar novas estratégias
de atuação, devendo ser sistêmica, processual e formativa.
5.3.2.11 Importância do Ensino Religioso para a Formação dos Alunos
Nesta cima primeira categoria, os professores se posicionaram a respeito
do significado do Ensino Religioso para a formação integral dos alunos.
Alguns dos entrevistados acentuaram a importância do Ensino Religioso para
a formação dos alunos, devido as suas temáticas estarem vinculadas, sobretudo,
aos valores fundamentais para a vida:
[...]Eu acredito que o Ensino Religioso contribui com a formação dos alunos.
Alguns alunos escreveram no final do semestre bilhetes dizendo o quanto o Ensino
Religioso está ajudando a melhorar a vida (PER 5).
[...]Penso que o Ensino Religioso colabora com a formação do sujeito sócio-
cultural (PER 6)
[...] Sim porque a gente trabalha o respeito, o amor ao próximo, a educação
para com os outros. Eu sempre falo com eles assim: é bonito tão legal você
falar, com licença, bom dia, por favor. Quando os alunos passam a ter essas
atitudes eu fico super feliz. Isso é sinal de alguma sementinha plantada na
vida deles. Acho importante trabalhar essa formação humana nos alunos, a
questão da auto-estima”(PER 8).
[...] Eu tenho certeza que as aulas de Ensino Religioso é o único momento
que o aluno tem para ser ele mesmo, porque aí ele consegue expor o que
pensa do mundo que o cerca e como pode colaborar com o mundo. Essas
discussões ajudam na formação dos hábitos e das atitudes (PER 3).
Em síntese, as falas dos entrevistados evidenciaram preocupações
referentes à construção da identidade do educando e a sua formação que devem
assegurar aquisição de valores, que colaborem para a instauração de uma
sociedade mais justa e igualitária. Segundo Figueiredo (2001),
325
[...] uma clara visão de aspectos fundamentais da filosofia dos valores torna-
se: uma valiosa contribuição para a educação, em todos os níveis e
situações, especialmente da juventude; fortalece as predisposições das
pessoas para a busca de compreensão das razões de ser e de agir
conscientemente, num mundo de transformações sociopolíticas,
econômicas e culturais; possibilita compreender melhor o sentido da vida
como um todo; favorece a união das aspirações mais profundas do ser
pessoal com os ideais de vida que cada um se propõe a realizar, em vista
de um bem maior na sociedade; desafia cada pessoa a atuar, nos tempos
modernos, com protagonista e agente de construção da história, rumo a
humanização. Em meio às novas situações de vida apresentadas pela
evolução da ciência e da técnica, urge maior compreensão do valor
primordial, ou seja, do ser humano como sujeito, na condição de princípio e
fim de todos os valores (FIGUEIREDO, 2001b, p. 9).
Quanto à contribuição que o Ensino Religioso pode proporcionar à formação
discente, um docente afirmou que ele procura trabalhar com a formação do sujeito
sócio-cultural (PER 6), lançando mão de princípios ligados à ética, à autonomia, à
responsabilidade, ao respeito, ao bem comum, através de prática docente articulada
com as outras áreas de conhecimentos, para se buscar uma formação mais ampla,
integrada e ommilateral.
Considera-se que as diferentes áreas de conhecimento, integrantes do
currículo escolar, deveriam colaborar, no sentido de levar o educando a desvendar e
se inserir no mundo. Deveriam, também, serem desenvolvidas ações educativas que
favorecessem a busca humana do vir-a-ser no mundo, para transformar a própria
vida dos que estão ao seu redor. A aproximação do educando consigo mesmo e
com o mundo, de forma transformadora, deve ser um desafio a ser buscado.
Outro entrevistado considera que a formação integral do aluno, depende do
nível de competência do docente:
[...] Eu acho que colabora muito, mas vai depender do profissional que está
trabalhando o Ensino Religioso. Humanamente é impossível falar que o
Ensino Religioso conta sozinho dessa formação integral do aluno. Mas
se o profissional é bom ele fará a diferença nos seus alunos. A diferença
começa quando a gente percebe a mudança do aluno na aceitação da
disciplina e de você como professora. Eu me preocupo em colaborar com a
transformação do aluno. Infelizmente, a educação deixa a desejar porque
tem muita gente que não se preocupa com a educação, por isso a escola
pública está desse jeito. As pessoas cruzam os braços, tratam os alunos
muito mal. Eu acho que tenho compromisso com a pessoa humana, tenho
responsabilidade com minha disciplina, entendeu e faço ela ser diferente
dentro da escola (PER 1)
Esse professor ao relacionar a formação integral do aluno à competência do
professor, reforçou a importância e a responsabilidade do trabalho docente, pois
326
para muitos, o bom desempenho dos alunos depende da ação docente.
O caráter projetado por esses sujeitos entrevistados sobre o professor de
Ensino Religioso, segundo Dias & Lopes:
[...] É o de um professor a quem muito se cobra individualmente na prática,
seja na responsabilidade pelo desempenho dos seus alunos, seja no
desempenho de sua escola, ou mesmo no seu desempenho particular,
embora o discurso aponte para a construção de um trabalho coletivo,
criativo, autônomo e singular (DIAS & LOPES, 2004, p. 1171).
Um depoente declarou que a responsabilidade, pela formação integral do
aluno, o é só do Ensino Religioso, mas de todos os outros docentes:
[...] Penso que todas as disciplinas deveriam contribuir para a formação
integral do educando porque o precisa ser só o professor de Ensino
Religioso a passar as coisas verdadeiras para o aluno. Todo professor tem
de estar envolvido nessa educação para a vida. As pessoas pensam que a
educadora do Ensino Religioso tem dar conta disso. Seria interessante se
você entrevistasse os alunos do Ensino Médio que tiveram aula de Ensino
Religioso. Você teria uma boa base para essa sua questão (PER 2).
Esse entrevistado considera que a tarefa de educar para a vida, não é uma
competência, apenas, do professor de Ensino Religioso, mas de todos os
profissionais da educação, tendo em vista a responsabilidade que receberam do
Estado e da sociedade, no sentido de assumir a tarefa de formar a juventude. Nessa
perspectiva, os docentes devem assumir o papel de formar os jovens para viabilizar
suas inserções nos setores societário e produtivo. Assim, o papel do professor
segundo Mellowki & Gauthier é tornar:
[...] o aluno - o aprendiz de hoje, o cidadão de amanhã consciente de sua
herança, colocando-o em contato com a obra humana passada e com as
culturas de outros lugares, com o desenvolvimento das letras, das artes, da
história, das ciências e das tecnologias. Mas seu papel não ra aí, pois a
cultura não se reduz nem a uma soma de conhecimentos nem a objetos que
precisamos conhecer: pintura, arquitetura, modos de vida, etc. Os
conhecimentos, objetos e modos de vida foram produzidos ou adotados em
contextos determinados e a fim de satisfazerem as necessidades
determinadas. É auxiliando o aluno a situar os conhecimentos, objetos
culturais e modos de vida em seu contexto social e histórico que o mestre
contribui para a formação cultural do aluno e para ajudá-lo a tomar
consciência dos pontos de junção e de ruptura que marcam a história
humana (MELLOWKI & GAUTHIER, 2004, p. 557).
327
Em síntese, o professor de Ensino Religioso deve contribuir para formação
integral dos alunos, dialogando e promovendo a interlocução com as demais áreas
do saber. Neste mundo s-moderno, marcado pela fragmentação, pelo
consumismo, pela decadência dos valores, pelo culto ao hedonismo e ao narcisismo,
pelo cultivo da permissividade e do relativismo é preciso que todos os professores
assumam suas responsabilidades referentes à formação da juventude.
328
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa referente ao Ensino Religioso como disciplina e/ou área do
conhecimento e, como tal, integrante dos currículos escolares, é bastante polêmica.
Nessa polêmica, incluem-se posições de pesquisadores que consideram que,
em um Estado laico e republicano, no qual a Constituição assegura a separação
entre a Igreja e o Estado, o adentramento do Ensino Religioso nas matrizes
curriculares, mesmo tendo matrícula facultativa e sendo orientado por uma
perspectiva cultural e ecumênica, não se justifica.
Numa posição diferente, outros tricos defendem a importância do Ensino
Religioso, para promover a formação integral dos alunos. Contudo, mesmo esses
sujeitos deixam bem explícito que o ensino de cunho confessional é um equívoco,
pois a opção pela fé se constitui como uma prerrogativa da família; assim, a escola
deve se limitar a ajudar crianças e jovens a compreenderem a complexidade do
mundo em que vivem. Não se justifica indicar um professor para ensinar uma
determinada crença, mas, também, torna-se impossível contar com docentes para
atenderem os alunos nos seus diferentes credos e crenças. Decorre daí, que a
discussão sobre a temática deve partir de pontos de vista filosófico, antropológico,
ecumênico e pluralista.
Em um mundo globalizado e s-moderno, ainda que a família não tenha uma
crença, é importante que a criança e o jovem possam entender o fenômeno
religioso, até mesmo para aprofundar na religião que recebeu da família, ter
subsídios para buscar outras, ou o ter crença alguma.
As pesquisas realizadas tanto na Escola Estadual, quanto no Departamento
Arquidiocesano de Ensino Religioso, coletaram dados que estão sintonizados com a
posição dos pesquisadores da segunda perspectiva exposta, ou seja, a maioria dos
sujeitos das investigações realizadas considera que o mais importante é discutir o
sagrado e as manifestações da religião na sociedade contemporânea, mostrando
aos alunos as diferenças e o respeito para com os diversos credos.
Entretanto, na prática da sala de aula, essa perspectiva constitui um desafio
para o professor devido à pluralidade de culturas e religiões existentes, à falta de
inclusão do Ensino Religioso no Projeto Político Pedagógico e ao fato dos
329
professores não se sentirem preparados para esse diálogo.
Adentrando, de modo mais específico nas pesquisas realizadas, enfatizamos
que elas, embora tenham demandado muito estudo e trabalho, possuem, ainda, um
caráter exploratório e inconcluso, o que justifica ter se denominado esta parte do
trabalho de Considerações Finais e não de conclusão.
Temos consciência de que, numa temática tão complexa e polissêmica,
sobretudo considerando-se o curto tempo, conferido ao Mestrado e as condições
objetivas que são dadas aos mestrandos, não tivemos condições de aprofundar e
tratar a multiplicidade de dados obtidos, da maneira que pretendíamos e se fazia
necessária.
Contudo, acreditamos que conseguimos coletar dados e informações
importantes para esclarecer e dar aportes relevantes, para o campo do Ensino
Religioso, além de podermos colaborar para que outras pesquisas sejam realizadas.
Segundo recomenda a metodologia de pesquisa, é fundamental que, na parte
final de uma investigação, seja averiguado se os objetivos e as problematizações
formuladas foram contemplados, de modo adequado.
Consideramos que, no referente aos objetivos, eles foram alcançados, ou
seja, todos foram atendidos, de uma maneira satisfatória. Devemos ressaltar,
entretanto, que tivemos dificuldade de identificar, referências bibliográficas
pertinentes à formação específica de professores para o Ensino Religioso, embora
tenhamos “rastreado esse campo e solicitado a colaboração de pesquisadores da
área que confirmaram existir carência de pesquisas pertinentes. Tivemos, também,
dificuldade em relação à quantidade de dados empíricos coletados, pois decidimos,
diferentemente do que estava previsto no Projeto, apresentar as duas pesquisas,
conforme já foi exposto. Essa decisão foi demorada, meio conflituosa, pois foi
decorrente de muitas questões/vidas levantadas: será que a pesquisa no DAER
deveria ser descartada, já que não estava planejada e poderia complexificar este
trabalho e seu entendimento? Será que ela deveria ser aproveitada, mas figurando
em um tomo à parte?
As reflexões conjuntas (com a minha orientadora e a funcionária
responsável pelo setor de normalização científica da PUC), decidimos que a
pesquisa, referente ao DAER seria contemplada, se constituindo como um capítulo
desta Dissertação.
330
Esta opção levou em conta que os dados, coletados no DAER, poderiam
complementar a pesquisa, realizada na Escola Estadual e proporcionar uma visão
mais ampliada da disciplina, no âmbito do Sistema Estadual de Ensino de Minas
Gerais.
No que se refere às problematizações, acreditamos que, também elas foram
respondidas. A primeira problematização Como o Ensino Religioso é considerado,
nos documentos normativos e no contexto atual? Avaliamos que essa questão foi
satisfatoriamente trabalhada; A segunda problematização. - Como vem se
desenvolvendo a formação/profissionalização do professor, no contexto da
educação brasileira? As pesquisas documental e bibliográfica foram realizadas de
modo sucinto, como planejáramos, mas mostraram as dificuldades, os retrocessos e
os poucos avanços, alcançados neste campo que é multifacetado e marcado por
políticas que mudam a cada posse de um novo mandatário, não tendo continuidade,
nem consistência teórico/empírica. Em síntese, se constituem como políticas de
Governo e não de Estado (CUNHA, 1980). A terceira problematização A Formação
de docentes para o Ensino Religioso tem conseguido prepará-los para o exercício da
sua profissão, considerando a multiplicidade de dimensões, advindas do contexto
social, antropológico e religioso? Essa recebeu uma resposta negativa que se
justifica pelos seguintes motivos: uma grande parte dos professores, sujeitos da
pesquisa, não é habilitada, especificamente, para lecionar a disciplina, pois é
graduada em outras áreas de conhecimento. Por isso mesmo, constatou-se que
muitos desses professores usam a disciplina para complementar módulos de suas
cargas horárias; carência de Cursos de Graduação na área específica do Ensino
Religioso; extinção do credenciamento dado anteriormente pelo DAER e,
conseqüentemente, seus cursos de capacitação se tornaram mais esporádicos e
pontuais.
Embora já constem desta Dissertação, nos capítulos referentes às pesquisas
realizadas, consideramos importante sintetizar os principais achados, a partir das
categorias levantadas.
Na investigação realizada na escola pesquisada com os professores das
diversas áreas de conhecimento e com o pessoal administrativo, constatamos que
esses sujeitos não colocaram objeção quanto à inclusão do Ensino Religioso, no
currículo da escola blica, reconhecendo sua importante contribuição na formação
331
integral dos alunos, mas se posicionando, diferentemente, quanto ao melhor modelo
a ser trabalhado, ou seja: confessional, ecumênico ou o pluralista. Eles
consideraram importante que o Ensino Religioso trabalhasse os valores, as atitudes,
a ética; criando oportunidades para que o educando descobrisse o sentido para sua
vida e fosse orientado para as questões próprias de sua idade.
Na investigação feita com os docentes de Ensino Religioso, tanto da escola
pesquisada, quanto de outras situadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
os dados coletados assim se sintetizam:
- Razões da escolha da profissão: elas se traduzem, sobretudo pela
oportunidade que apareceu para lecionarem a disciplina; para completarem carga
horária, por terem aceitado o convite da direção e por sentirem certa vocação.
- Falta de capacitação específica: os docentes começaram a lecionar sem
possuírem uma formação específica. No início da carreira, visando ao
credenciamento, participaram de Cursos de Formação Continuada, promovidos pelo
Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso, e, ao longo da profissão, fizeram
Curso de Graduação ou de Pós-graduação na área específica.
- Ligação entre teoria e prática: os sujeitos da pesquisa consideraram
importante a interlocução entre teoria e a prática.
- Especificidade do trabalho com a disciplina: foi considerado que o magistério
do Ensino Religioso requer uma dimensão mais humana e que a aprendizagem
ocorre nas relações dialógicas.
- Desvalorização/discriminação/precarização; os docentes explicitaram que a
disciplina é discriminada, tanto no contexto da escola, quanto no campo das
Políticas Públicas.
- Dificuldades em trabalhar com a disciplina: os professores afirmaram que é
dicil gerir a sala de aula, encontrar fontes de pesquisa e material adequado; além
disso, expressaram suas inseguranças em ministrar temáticas, relativas às religiões,
pela carência de uma consistência teórico-conceitual.
- Gratificação no magistério com a disciplina: os docentes consideraram que
se sentem recompensados, tanto quanto seu trabalho é reconhecido, quanto quando
percebem o crescimento dos alunos.
- Papel do docente de Ensino Religioso: eles responderam que esse papel se
traduz em ser orientador dos alunos, buscando resolver suas questões/problemas.
332
Em síntese, eles, às vezes são identificados como freira, padre ou pastor”.
- Contribuição da disciplina: eles consideraram que a disciplina contribui para
as formações moral, social e cognitiva dos alunos.
- Procedimentos diticos e temáticas usadas: segundo eles são utilizados
diferentes procedimentos diticos e os temas priorizados se relacionam,
principalmente, com as problemáticas dos alunos.
- Pressupostos necessários à prática docente: amor” pela disciplina;
formação específica, atendimento às demandas dos alunos, vivência cristã, trabalho
coletivo; comprometimento para com o trabalho; postura do profissional, metodologia
e linguagem adequadas, transposição ditica do conhecimento, ética, capacidade
de trabalhar com o pluralismo religioso e clareza quanto à sua experiência religiosa.
- Dimensão da religiosidade, do sagrado, da espiritualidade, da ética e do
fenômeno religioso: os professores afirmaram que trabalham com essas dimensões,
a partir das solicitações dos alunos, mas alguns explicitaram que se sentem
inseguros em relação a essas abordagens.
- Contribuição do Ensino Religioso para a formação discente: eles
responderam ser importante a elaboração de um referencial de vida, baseado em
princípios humanísticos, a construção da identidade dos alunos, através da
introjeção de valores.
- Avaliação da disciplina: foram citadas diferentes formas de avaliação, tendo
sido apontada a avaliação processual e qualitativa, que privilegia a habilidade
atitudinal. Contudo, alguns docentes continuam optando pela avaliação centrada nos
conteúdos.
Pelo exposto, conclui-se que o magistério do Ensino Religioso nas escolas
estaduais de Minas Gerais tem, por um lado, sido marcado por muitas dificuldades e,
por outro, se constitui como um desafio. Esse desafio só poderá ser vencido com
muita consciência, ação coletiva e determinação dos professores da disciplina, no
sentido de se organizarem e reivindicarem melhores condições de trabalho e de
profissionalização.
Enfatiza-se que a formação de professores para o Ensino Religioso constitui-
se em fecundo campo para novas e desafiadoras pesquisas. Compreender o
exercício da docência, a raiz cultural e religiosa dos professores, os processos de
construção da suas identidades e de suas profissionalizações poderá trazer
333
contribuições significativas para os Cursos de Formação Inicial, nesta área de
conhecimento. Gerar competências para avaliar o significado da presença do Ensino
Religioso, no contexto das escolas blicas, construindo um conhecimento
pedagógico especializado e ressignificando os conceitos que se tem do assunto,
poderá ser a meta de estudos que orientem os gestores.
Finalmente, mesmo levando em conta as condições adversas da disciplina,
no Sistema Estadual de Ensino, e mais especificamente, no cotidiano da sala de
aula, considera-se que o Ensino Religioso deva contribuir de modo mais efetivo,
para a formação dos alunos. Para isso, é preciso que neles sejam desenvolvidas a
imaginação e a capacidade criadora, através do incentivo à espontaneidade, à
curiosidade e ao questionamento de si mesmos, o respeito às diferenças, o
sentimento de solidariedade e a compreensão da realidade que os circunda.
Precisa-se, também, de desenvolver projetos educacionais multidisciplinares, nos
quais o Ensino Religioso assuma um papel integrador e humanista, pois suas
dimensões humana, social e espiritual viabilizam que os alunos transcendam. Nesta
perspectiva, é possível se fazer um novo diálogo com o educando, no seu
desenvolvimento humano, criando condições para seu aprimoramento, através da
relação consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza, o que poderá viabilizar
a ocorrência de formas de solidariedade, de cooperação e de sensibilidade.
334
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356
ANDICE
357
APÊNDICE A: AÇÕES SIGNIFICATIVAS REALIZADAS NA PRÁTICA DOCENTE
Ações
significativas
realizadas na
prática
Freqüência
%
Quais /Oque/como
Educação para a
convivência com o
diferente
17 60,7 Conscientização sobre a vida do deficiente,
conscientização de que todos são diferentes e que
esta diferença é a que completa o outro; as virtudes
do outro; questão de inclusão e aceitação das
diferenças, campanha da fraternidade sobre os
excluídos.
Como: visitas aos orfanatos, pastorais sociais e
APAE; textos, dinâmicas, concurso de redação,
música, textos, filmes e entrevistas.
Aprofundamento
sobre sexualidade e
afetividade
16 57,14
Vídeo, relatório, textos, dimica com o contorno do
corpo, pesquisas, palestras, debates, aula
expositiva, trabalho de grupo. Jogo de falso ou
verdadeiro, retroprojetor, entrevista com sexólogo e
pessoas envolvidas com adolescentes, palestras
com profissionais de ONGs.
Oficinas de valores ou
aprofundamento
sobre valores
15 53,6 Respeito, amor, amizade, honestidade, fidelidade,
moral, ética, paz Justiça, solidariedade, obediência,
tolerância, colaboração, Alteridade, Liberdade,
Responsabilidade, compromisso.
Datas comemorativas
14 50,0 Dia da mulher, das mães, das crianças, dos pais,
dos namorados, do amigo, dos estudantes, dia
mundial da água, consciência negra, pentecostes,
família, meio ambiente, dia da tria, festa junina,
primavera, projetos da escola.
Campanhas de
solidariedade
14 50,0 Do agasalho, cesta básica, doação de sangue,
ajuda às famílias carentes.
Exposição de trabalho
dos alunos
14 50,0 DSTs, tabaco, alcoolismo, drogas, copa do mundo,
relatórios, reflexões pessoais em torno de um tema,
desenhos, historinhas, poesias, arca de Noé (o
Bicho, o circo, meu corpo), amor e solidariedade,
entrevistas com deficientes, copa 2006.
Educação para o
exercício da cidadania
14 50,0 Jogos com campeonato, cesta sica em prol de
alguns alunos, Educação para o trânsito, Projeto
cidadania e solidariedade, liberdade, direitos e
deveres do consumidor, conscientização sobre a
escola limpa.
Como: aula expositiva, gincana, textos, trabalho de
grupos, mural educativo
Uma ação
interdisciplinar
10 35,7 Preconceito racial; Meio ambiente; Patriotismo;
Família; Copa do mundo; Meu lugar no espaço.
Eventos Religiosos
9 32,1 Campanha da Fraternidade; scoa, natal;
coroação à Nossa Senhora, Festa da Família, mês
da bíblica
Visitas sociais
9 32,1 Creches, hospitais, asilo, APAI, casa de apoio ao
deficiente.
Estudo das tradições
religiosas e seu
8 28,6 Conhecer a origem das religiões para se situar nos
dias atuais; Estudar as diferentes religiões para
perceber a importância de uma religião para o ser
358
significado sócio-
político-religioso
humano e o quanto a religião vivida com fanatismo
prejudica a vida das pessoas; Estudos tanto de
religiões ocidentais, quanto orientais; Aprender o
pluralismo religioso; Estudo das grandes religiões;
Budismo.
Como: entrevistas, pesquisas, texto, visitas aos
templos religiosos, painel sobre as religiões,
trabalho de grupo.
Aprofundamento das
questões existenciais
6 21,4 Conhecimento de si para perceber que o outro
existe,; quem sou eu por quê existo, para quê
existo, qual o sentido da vida; história de cada um,
valor da pessoa;
Metodologia questões para reflexão pessoal, textos,
perguntas; dimica do nome.
Fonte: Dados Coletados do Questionário
359
APÊNDICE B: PONTOS IMPRESCINDÍVEIS PARA O MAGISTÉRIO DO ENSINO
RELIGIOSO
Comando: Enumere por ordem de prioridade
Pontos
imprescinveis para
um profissional
lugar
lugar
lugar
lugar
lugar
lugar
lugar
lugar
lugar
10º
lugar
Preparo Técnico
pedagógico articular
pedagogia e Ciências da
Religião
6 2 2 3 1 5 0 1 0 1
Postura político-
pedagógica
1 4 1 5 5 1 1 2 1 0
Postura ecumênica 5 3 3 5 0 1 1 1 1 0
Dimensão antropológica-
humana-afetiva
2 4 2 3 3 3 3 0 1 0
Atualização constante 6 2 8 2 2 1 0 0 0 0
Coerência e consistência
entre teoria e prática
1 4 4 2 5 4 0 0 0 1
Reflexão sistemática
com o educando a partir
do seu contexto sócio-
cultural-histórico
0 2 0 1 2 0 5 7 1 3
Capacidade de realizar
interlocuções
importantes e
convenientes com as
demais áreas do
conhecimento
1 1 0 0 1 2 4 3 4 5
Capacidade de trabalhar
numa perspectiva
plurirreligiosa
1 0 0 0 1 4 5 4 5 1
Capacidade de
desenvolver em si e no
outro nova concepção de
religiosidade
1 1 0 0 1 0 2 2 6 8
360
APÊNDICE C: DADOS SOBRE O TIPO DE ENSINO RELIGIOSO
A partir de sua experiência como professor/a nessa área de conhecimento,
que tipo de Ensino Religioso seria apropriado para o âmbito escolar? Ou como deve
ser o Ensino Religioso no âmbito da escola blica? Responda os itens que você
acha apropriado.
Os professores assim se expressaram sobre o tipo de Ensino Religioso:
A) Quanto ao Ensino Religioso de um modo geral:
Gostaria de que o Ensino Religioso fosse uma disciplina, reconhecida através
de uma carga horária maior, que fizesse parte dos horários normais de aulas, que
fosse ecumênica e com direito à reprovação.
Que possibilitasse a conscientização do corpo docente sobre a importância do
Ensino Religioso; que houvesse melhor direcionamento dos trabalhos, isto é, um
programa curricular adaptado à realidade do aluno.
Uma disciplina obrigatória, devido ao seu alto valor no processo de ensino e
de aprendizagem.
Gostaria de que o fazer dos professores de Ensino Religioso incentivasse e
provocasse um trabalho interdisciplinar, considerando que essa disciplina é muito
importante para a formação do ser humano.
A aula de Ensino Religioso deveria ser elaborada especificamente para a
realidade do aluno.
B) Quanto aos conteúdos:
Os conteúdos poderiam ser voltados para os valores; para as questões atuais
e sociais; para a formação humana, para a cidadania, resgatando os valores éticos e
morais. Os assuntos deveriam estar ligados ao dia-a-dia do adolescente e deveriam
ser trabalhados de forma interdisciplinar. Deveriam ser uma orientação para a vida.
361
Os assuntos poderiam ser: amizade, trabalho, profissão, namoro, família, violência,
respeito, puberdade, sexualidade, amor (diferentes tipos de amor), drogas,
afetividade, gravidez, DST e outros temas atuais.
Deveria ser o voltado para tudo aquilo que é humano, para o conhecimento
pessoal, para a formação da identidade e dos valores. Depois trabalhar-se-ia o lado
espiritual/cristão, para que a pessoa crescesse na própria fé, na opção de fé.
Organizar-se-ia, também, um Ensino Religioso, voltado para o respeito às diversas
religiões.
C) Quanto ao aspecto metodológico
Mais dimico e participativo. Utilizar a música, o teatro, dança e adotaria um
livro ditico como forma de valorizar mais o Ensino Religioso e tor-lo mais
atraente para o aluno.
D) Quanto a profissionalizão/formação
Ter profissionais preparados para lidar com os alunos de família desajustadas
e atentos às necessidades de cada turma; com habilitação específica para o Ensino
Religioso, com capacidade de interação com os profissionais de sua área, para
maior aprofundamento das questões referentes ao Ensino Religioso, principalmente
na luta para a implantação de cursos específicos e de capacitação, oferecidos pelo
órgão competente, de forma continuada.
Seria importante, também, se o professor tivesse tempo para o seu
aprimoramento e condições financeiras para realizar tal formação.
Ele precisa estar integrado ao quadro do magistério, ser valorizado, pois só
assim teremos a cidadania e a auto-estima do professor resgatada e aulas bem
preparadas. Desejo ver os professores de Ensino Religioso entre os profissionais
que buscam sempre mais conhecimentos, experiências práticas, conteúdos, novas
metodologias, recursos materiais, dentre outros.
O professor deveria estudar e se dedicar mais ao estudo dessa disciplina,
para ser mais valorizado e trabalhar com uma mesma linha. Digo isso porque muitos
colocam em sua aula a sua religião, esquecendo o cotidiano do aluno e as
362
necessidades de cada turma.
Deveria haver mais interação entre os profissionais de Ensino Religioso, para
conhecimento do que é o Ensino Religioso, para que ele existe, qual é o seu objetivo
na escola.
O professor de Ensino Religioso precisaria fazer curso de dinâmica.
Que todos os professores, não somente os designados, fizessem cursos de
formação permanente, a fim de evitar a mesmice e, também, que aprendessem
técnicas para motivar os alunos.
As faculdades deveriam formar o professor para a prática da sala de aula,
pois a teoria é ótima, mas foge muito da realidade.
O professor precisaria ter nível superior.
E) Quanto ao Estado
Receber material didático, incentivo financeiro, cursos sem ônus para o
professor, apoio político, condições melhores de trabalho e de salário, uma política
de formação inicial e continuada, concursos públicos, efetivação em cargo público. O
Ensino Religioso, pelas leis, deveria ser considerado uma área obrigatória, para os
alunos como as outras disciplinas.
Deveria acrescentar ao nome Ensino Religioso educação para a vida, já que
a disciplina orienta o aluno para a vida, através de temáticas, ligadas aos valores.
Isso dignificaria o aluno como ser humano.
Ser mais justo com os professores. Valorizar o professor, através de
oferecimento de cursos e oficinas.
Ter uma política de estudo, projetos e metas, adequadas para o Ensino
Religioso.
F) Quanto à escola
A comunidade escolar deveria se comprometer mais com o Ensino Religioso
de forma inteligente. Ela deveria valorizar mais o Ensino Religioso e ser mais
influente na luta para a implantação do currículo e cursos para o Ensino Religioso.
Ter apoio do corpo docente. Desmistificar a idéia de que o Ensino Religioso não
ensina nada. Maior valorização do Ensino Religioso pela direção e pela Equipe
363
Pedagógica. Que haja meios e ambientes adequados para se ministrar as aulas. Ter
recursos diticos, adequados para o Ensino Religioso. Ter reuniões com a
comunidade para explicar a importância da disciplina. Enfatizar o aspecto sócio-
político-religioso.
Que o Ensino Religioso não seja visto como uma matéria isolada das outras,
mas uma matéria do conjunto.
Observação:
a) Três pessoas não responderam à questão.
b) Metodologia: as respostas para cada item foram condensadas num bloco,
sem fazer separação de cada respondente. Na formatação da resposta, não foram
colocados os itens que eram iguais.
364
APÊNDICE D: GRÁFICOS DE PERFIL DOS PROFESSORES DE ENSINO
RELIGIOSO
Faixa etária
Fonte: Dados da pesquisa
Estado civil
Fonte: Dados da pesquisa
365
Filhos
Fonte: Dados da pesquisa
Tempo de experiência no Ensino Religioso
Fonte: Dados da pesquisa
366
Região em que reside em Belo Horizonte
Fonte: Dados da pesquisa
Formação dos Docentes
Fonte: Dados da pesquisa
367
APÊNDICE E: ROTEIRO DE ENTREVISTAS
ENTREVISTA: Pessoas do setor administrativo da Escola Estadual Marlielle
Dados Pessoais e Profissionais
1. Formação
2. Tempo de experiência no magistério
3. Tempo em que trabalha na Escola Estadual Marlielle
4. Carga horária
5. Tradição religiosa
6. Na sua experiência no setor administrativo, como você se sente: condições
de trabalho, satisfações, desafios, esperanças precarização do trabalho docente.
Dados sobre a Escola Estadual Marlielle
1. Na escola existe um acompanhamento do fazer pedagógico?
2. O Projeto Político Pedagógico é vivenciado pela comunidade escolar? De
que forma?
3. Existe um trabalho interdisciplinar na escola? Qual/quais?
4. Existe na escola algum programa de capacitação em serviço?
5. Qual é o perfil do aluno dessa escola?
6. Informações sobre:
a) Condecoração que a escola recebeu: Medalha Gustavo Capanema
b) Aspectossicos, administrativos e pedagógicos
c) Projetos desenvolvidos pela escola
d) Parcerias com a Fundação de Desenvolvimento Gerencial
e) Eventos internos e externos.
f) Rádio comunitária
- Opinião sobre o Ensino Religioso, no contexto da Escola Estadual Marlielle
1. Qual a sua opinião a respeito do Ensino Religioso, na escola blica? Ele
deve existir no contexto da escola pública?
2. Existe uma integração do Ensino Religioso com as outras disciplinas?
3. Qual a sua opinião sobre a formação/profissionalização para o docente de
368
Ensino Religioso?
4. Em sua opinião, que tipo de Ensino Religioso seria mais apropriado, para o
contexto de uma escola pública?
5. Você considera que o Ensino Religioso colabora para a formação integral
do aluno e para que ele se insira, de forma comprometida, na sociedade atual,
multifacetada e multidimensional?
369
APÊNDICE F: ROTEIRO DE ENTREVISTAS
ENTREVISTA: Professores (as) das diversas áreas de conhecimento da Escola
Estadual Marlielle
- Dados Pessoais e profissionais
1. Formação
2. Tempo de experiência no magistério
3. Tempo que trabalha na Escola Estadual Marlielle
4. Disciplina - Séries
5. Carga horária
6. Você trabalha em outra escola?
7. Qual a sua tradição religiosa?
- Dados sobre a Escola Estadual Marlielle
1. Na escola existe um acompanhamento do seu fazer pedagógico?
2. O Projeto Político Pedagógico é vivenciado pela comunidade escolar? De
que forma?
3. Na sua experiência como professor como você se sente: condições de
trabalho, satisfações, desafios, esperanças precarização do trabalho docente.
4. Existe um trabalho interdisciplinar na escola? Quais?
5. Existe na escola algum programa de capacitação em serviço?
6. Qual é o perfil do aluno dessa escola?
- Opinião sobre o Ensino Religioso no contexto da Escola Estadual Marlielle
1. Qual a sua opinião a respeito do Ensino Religioso na escola blica? Ele
deve existir no contexto da escola pública?
2. Existe uma integração do Ensino Religioso com as outras disciplinas?
3. Qual a sua opinião sobre a formação/profissionalização para o docente de
Ensino Religioso?
370
4. Na sua opinião, que tipo de Ensino Religioso seria mais apropriado para o
contexto de uma escola pública?
5. Você considera que o Ensino Religioso colabora para a formação integral
do aluno e para que ele se insira, de forma comprometida na sociedade atual,
multifacetada e multidimensional?
371
APÊNDICE G: ROTEIRO ENTREVISTAS
- ENTREVISTA: Professores (as) da disciplina de Ensino Religioso
1. Quais as razões da sua escolha para ser professor de Ensino Religioso?
2. Qual foi a sua trajetória de formação, até torna-se docente de Ensino
Religioso?
3. Que saberes/experiências você tem adquirido, na prática cotidiana como
docente de Ensino Religioso?
4. Como você se sente no cotidiano da sua atuação?
5. O que as pessoas pensam a respeito do professor de Ensino Religioso?
6. Na sua opinião, quais são os pré-requisitos essenciais para fundamentar
uma adequada prática, na docência de Ensino Religioso?
7. Quais são os procedimentos diticos mais empregados e qual o
tratamento a ser dado ao conteúdo de Ensino Religioso?
8. Como são trabalhadas as dimensões da religiosidade, do sagrado, da
espiritualidade, da ética e do fenômeno religioso no contexto da sala de aula?
9. Qual a sua opinião a respeito da avaliação no Ensino Religioso?
10. Você considera que o Ensino Religioso colabora para a formação integral
do aluno e para que ele se insira, de forma comprometida na sociedade atual,
multifacetada e multidimensional?
372
APÊNDICE H: MODELO DE QUESTIONÁRIO - APOIO PARA A PESQUISA
- O Ensino Religioso e a Formação de seus Professores: Dificuldades e
Perspectivas
- Dados De Identificação
Nome completo:
__________________________________________________________
1. Sexo
Feminino
Masculino
2. Faixa Etária
20 25 anos
26 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 45 anos
46 a 50 anos
51 a 65 anos
3- Estado Civil
Solteiro(a)
Casado(a)
Divorciado(a)
Separado(a)
Viúvo(a)
4. Filhos
Tem filhos
Não tem filhos
373
5- Qual é a sua tradição religiosa
_____________________________________________
5.1 Região que reside
BH / Região Norte
BH / Região Sul
BH / Região Leste
BH / Região Oeste
Região Metropolitana
6- Hábitos de Cultura/Entretenimento
7- Freqüência de Leitura
Diariamente
Semanalmente
Mensalmente
Esporadicamente
8- Uso do computador
Pacote Office
Pacote Office e internet
Não usa
9- Local de uso do computador
Casa
Trabalho
Não se aplica
374
- Nível De Escolaridade
1. Nível superior
Concluído
Em andamento
Qual o curso
_____________________________________________________________
2. Pós-graduação - Lato-Sensu (Especialização)
Concluído
Em andamento
3- Você já participou de algum Congresso organizado pelo Fórum Nacional
Permanente de Ensino Religioso (FONAPER)?
Sim
Não
- Exercício Profissional
1. Tempo de experiência no magistério
1 a 5 anos
6 a 10 anos
11 a 15 anos
16 a 20 anos
21 a 25 anos
26 a 30 anos
375
3. Em quantos turnos você trabalha
1 (um )turno
2 (dois) turnos
3 (três) turnos
4. Tipo de contrato de trabalho
efetivo
temporário
5. Motivos de experiência como Professor(a) de Ensino Religioso
Vocação/interesse por esse campo de conhecimento.
Formação voltada para a área de Ensino Religioso.
Possibilidade de ingresso no mercado de trabalho
Crença na formação religiosa do ser humano
Complementação de carga horária
Outros motivos: Quais
____________________________________________
6. Na sua opinião quais os problemas que mais interferem na profissionalização ou
desvalorização do professor de Ensino Religioso?
Saberes/conhecimentos não trabalhados no curso de graduação
Ensino Religioso ser visto sobre a ótica de Evangelização e Pastoral
A falta de uma política efetiva relacionada a formação e capacitação de
professores, em nível nacional e estadual
Não oferecimento de concurso blico específico para o Ensino Religioso de
efetivação de professores
376
7. Na sua opinião, quais os problemas que mais interferem na prática do professor
de Ensino Religioso?
O Ensino Religioso não atingir a comunidade educativa como um todo.
Dicotomia entre o que está proposto como ideal e a realidade concreta
educacional do cotidiano
Professor não está suficientemente instrumentalizado e orientado para trabalhar
as questões postas sobre religiosidade e fenômeno religioso.
Atividades pontuais e descontinuas não orientadas por objetivos claros que
pudessem provocar impacto no desenvolvimento do aluno
Desinteresse por parte dos alunos
Outros _________________________________________________________
8. Enumere por ordem de prioridade os pontos imprescindíveis para um profissional
habilitado para ministrar o Ensino Religioso?
Preparo técnico-pedagógico - articular pedagogia e Ciência da Religião
Postura político-pedagógica
Postura ecumênica
Dimensão antropológico-humana/humano-afetiva
Atualização constante
Coerência e consistência entre teoria e prática
Reflexão sistemática com o educando a partir do seu contexto sócio-cultural-
histórico.
Capacidade de realizar interlocuções importantes e convenientes com as demais
áreas do conhecimento
Capacidade de trabalhar numa perspectiva plurirreligiosa
Capacidade de desenvolver em si e no outro uma nova concepção de religio-
sidade
377
9. Marque as opções metodológicas mais freqüentes nas suas aulas de Ensino
Religioso
Aula expositiva
Metodologia de Projetos.
Trabalho interdisciplinar
Leitura de textos
Desenho, pintura
Montagens de murais
Debates em torno de um tema.
Produção de texto e exposição dos mesmos.
Contdos predeterminados de acordo com o planejamento.
Pesquisa na Internet e socialização da mesma
Visitas aos locais das manifestações das diversas tradições religiosas
Músicas
Pesquisa em livros, revistas.
Teatros, encenações, danças.
Textos literários e jornalísticos
Dinâmica de grupos
Palestras
Entrevistas.
10. Marque as ações significativas realizadas na sua prática
Oficinas de valores ou aprofundamento sobre valores
Quais
________________________________________________________________
Eventos religiosos
Quais__________________________________________________________
Datas comemorativas
Quais__________________________________________________________
Campanhas de solidariedade. _ iTD ( ) Tj11.28 -20.64 TD 0.024 Tc8 Tc (panha) Tj0 Tc (s) Tj
378
Quais _________________________________________________________
Visitas sociais
Quais/Onde _____________________________________________________
Exposição de trabalho dos alunos
O que?_________________________________________________________
Educação para o exercício da cidadania
O que? Como foi realizada__________________________________________
Educação para a convivência com o diferente
O que? Como foi realizada__________________________________________
Estudo das tradições religiosas e seu significado sócio-político-religioso
O que? Como foi realizado __________________________________________
Aprofundamento sobre sexualidade e afetividade como foi realizado
realizado___________________________________________________________
Aprofundamento das questões existenciais
O que? Como foi realizado __________________________________________
Uma ação interdisciplinar
O que? Como foi realizado __________________________________________
- Ensino Religioso
1. A carga horária destinada ao Ensino Religioso é suficiente?
Sim
Não
2. A partir de sua experiência como professor/a nessa área de conhecimento, que
tipo de Ensino Religioso seria apropriado para o âmbito escolar? Ou como deveria
ser o Ensino Religioso no âmbito da Escola pública?
379
ANEXOS
380
ANEXO A: QUADRO DE CURRÍCULO DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA
EM Ensino Religioso, FORMULADO PELO FONAPER
Formação
Áreas Temáticas
Disciplinas
Característica
Créditos - Semestre Hora
Créditos
I II III IV V VI VII VIII Aula
Língua
Portuguesa
Lingüística Obrigatório 4 60 4
Produção do
Metodologia do
Trabalho
Cienfico
Obrigatório 2 30 2
Conhecimento
Projetos
de Pesquisa
Obrigatório
2 30 2
Informática
Informática e
Educação
Obrigatório
4 60 4
SUB-TOTAL DA FORMAÇÃO GERAL
8 2 0 0 2 0 0 0 180 12
Sociologia
Sociologia da
Educação
Obrigatório
4 60 4
Filosofia
Filosofia na
Educação
Obrigatório
4 60 4
História
História da
Educação
Obrigatório
4 60 4
SUB-TOTAL DA FORMAÇÃO SICA
8 4 0 0 0 0 0 0 180 12
Fundamentos
Epistemologia do
Fenômeno Relig.
Obrigatório
6 90 6
Epistemológicos
do Ens.
Religioso
Psicologia e
Trad. Religiosas
Obrigatório
4 60 4
Cultura Religiosa
Obrigatório
4 60 4
Culturas e
História e
Trad.Religiosas
Obrigatório
4 60 4
Tradições
Religiosas
Filosofia das
Trad.Religiosas
Obrigatório
4 60 4
Sociologia e
Trad. Religiosas
Obrigatório
4 60 4
História das
Narrat. Sagr. I e
II
Obrigatório
4 4 120 8
Escrituras
Sagradas
Textos Sagrados
I e II
Obrigatório
4 4 120 8
Hermenêutica
das
Escrit. Sagradas
Obrigatório
6 90 6
Teologia
Cosmogonia e
Cosmologia
Obrigatório
6 90 6
Comparada
Teologia nas
Trad.
Religiosas I, II, III
Obrigatório
4 4 4 180 12
Antropologia
Teológica
Obrigatório
4 60 4
Ethos
Ética nas Trad.
Religiosas
Obrigatório
6 90 6
Ética no Ens.
Rel.
Obrigatório
4 60 4
SUB-TOTAL FORM. EPISTEMOLÓGICA
4 16 16 12 14 8 6 4 1200 80
Didática Didática do ER Obrigatório
4 60 4
Metodologia do
Ensino Religioso
Obrigatório
4 60 4
Psicologia do
Desenvolvimento
Obrigatório
4 60 4
Psicologia da
Educação
Psicologia da
Aprendizagem
Obrigatório
4 60 4
Psicologia e
Religiosidade
Obrigatório
4 60 4
Integração
Seminário de
Integração
Obrigatório
2 30 2
Curricular
Trabalho
Monográfico
Obrigatório
6 90 6
G
E
R
A
L
B
Á
S
I
C
A
E
P
I
S
T
E
M
O
L
Ó
G
I
C
A
P
E
D
A
G
O
G
I
C
A
381
Prática de
Ensino
Estágio
Supervis. em ER
I e II
Obrigatório
10 10 300 20
382
ANEXO B: QUADRO DE RELAÇÃO DE CURSOS DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES PARA O ENSINO RELIGIOSO
CURSOS DE GRADUAÇÃO
LOCALIDADE
CURSOS
INSTITUIÇÃO
Joinvile/SC Licenciatura em Ciências da Religião
2.840 horas
Universidade da Região de
Joinvile UNIVILLE.
Belo Horizonte
MG
Pedagogia com Ênfase em Ensino
Religioso 2.560 horas
Ponticia Universidade Católica
de Minas Gerais
Belém/PA Licenciatura Plena em Ciências da Religião.
3.200 horas.
Universidade do Estado do Pará
UEPA
Salvador/BA Bacharelado em Ciências da Religião
2.720 horas
Faculdade social da Bahia
FSBA
Natal/RN Licenciatura em Ciências da Religião
2.790 horas.
Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte UERN
Brasília/DF Bacharelado em Ensino Religioso
2368 horas
Escola Superior de Teologia e
Filosofia do Brasil ESTEFIB
Blumenau/SC Ciências da Religião habilitação:
Licenciatura Plena em Ensino Religioso
2.916 horas.
Universidade Regional de
Blumenau.
Piracicaba/SP Licenciatura em Ciências da Religião
2.460 horas.
Universidade Metodista de
Piracicaba UNIMEP
383
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO PRESENCIAL
LOCALIDADE
CURSOS
INSTITUIÇÃO
Pará Especialização
390 horas
Instituto Esperança de Ensino
Superior IESPES
Goiás Especialização Universidade Católica de Goiás
UCG
Minas Gerais Especialização
360 horas
Ponticia Universidade Católica
de Minas Gerais PUC
Minas Gerais Especialização 400 horas Universidade Vale do Rio Verde
UNINCOR
Rio de Janeiro Especialização não tem dados sobre a
carga horária
Instituto de Filosofia e Teologia
Paulo VI Nova Iguaçu
São Paulo Especialização 360 horas PUC Campinas
São Paulo Especialização 3 anos Faculdades Integradas
Claretianas.
São Paulo Especialização 392 horas Instituto Teológico Pio XI
Paraná Especialização 360 horas Instituto Brasileiro de Pós-
graduação e Extensão IBPEX
Santa Catarina Especialização 360 horas Universidade Regional de
Blumenau FURB
Rio Grande do Sul Especialização 400 horas Instituto Ecumênico de Pós-
graduação em Teologia IEPG
Rio Grande do Sul Especialização 400 horas Universidade do Vale dos Sinos
UNISINOS
Rio Grande do Sul Especialização 400 horas Instituto de Teologia e Pastoral
do Passo Fundo ITEPA
Rio Grande do Sul Especialização 400 horas CESUCA Faculdade INED
Rio Grande do Sul Não fica claro se é Especialização ou
Extensão 400 horas
Faculdade Cenecista de Osório
Paraná Especialização 420 horas Faculdade Teológica Batista do
Paraná.
384
CURSOS A DISTÂNCIA
LOCALIDADE
CURSOS
INSTITUIÇÃO
Brasília PPG (Lato Sensu) em Fundamentos do
Ensino Religioso - Distância
436 horas
Universidade Católica de Brasília
UCB - Cento Católico
Virtual/EAD
Juiz de Fora PPG em Ciências da Religião - Distância -
não tem a carga horária.
Universidade Federal de Juiz de
Fora
Maringá Especialização em Ensino Religioso -
Semi-presencial. - 360 horas.
Instituto de Educação do Paraná
INSEP
Curitiba Formação do Professor para o ER Escolar
Especialização Semi-presencial 360
horas
PUCPR
Batatais/SP Ciências da Religião Graduação
Educação à Distância (Bacharelado)
Três anos o aluno se programa para
melhor desenvolver sua aprendizagem.
Centro Universitário Claretiano
de Batatais CEUCLAR
São Paulo Ciências da Religião Graduação
(Distância)
Associação Brasileira de
Educação a Distância ABED
São Paulo Formação de professores para o ER
(Extensão Distância)
São Paulo Ensino Religioso PPG Lato Sensu
(Distância)
São Paulo Doutorado em Ciências da Religião
(Distância
Faculdade de Teologia e
Ciências Humanas da América
Latina FATEBOM
São Paulo Licenciatura Plena em Educação Religiosa
(Distância)
São Paulo Ciências Sociais da Religião (Curso de Pós
Graduação Lato Sensu) - Distância
385
CURSOS DE EXTENSÃO
LOCALIDADE
CURSOS
INSTITUIÇÃO
Curitiba Curso de Qualificação em Ensino Religioso
- 10 horas
Instituto Polis Civitas
Pelotas/RS Curso de Extensão Universitária para
Professores de Ensino Religioso
(Presencial) - 400 horas
Universidade Católica de Pelotas
- UCPEL
Santa Cruz do Sul,
Águo, Sobradinho,
Cachoeira do Sul,
Osório, Capão da
Canoa - RS
Ciências da Religião e Qualificação de
Professores para o Ensino Religioso -
Extensão Qualificação Profissional
Presencial
Informações e inscrições na
Secretaria de Pós-Graduação e
Extensão Sala 110
Fone: (51) 37177343
Ijuí e Santa Rosa
RS
Curso de Extensão Universitária em Ensino
Religioso (Presencial)
Campus IJUÏ e Santa Rosa
Porto Alegre/RS Curso de Extensão em Ensino Religioso
(Presencial) 40 horas
PUCRS
Lajeado Curso de Extensão Ciências da Religião e
Ensino Religioso - 400 horas
UNIVATES
CURSOS LIVRES
LOCALIDADE
CURSOS
INSTITUIÇÃO
Rio de Janeiro Magistério do Ensino Religioso na
Educação Básica (Livre) - 735 horas
Faculdade Batista do Rio de
Janeiro.
PROGRAMAS DE STRICTO-SENSU
LOCALIDADE
CURSOS
INSTITUIÇÃO
Curitiba Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação 24 meses.
Ponticia Universidade Católica
do Paraná PUCPR
Recife - PE Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências
da Religião 24 meses.
Universidade Católica de
Pernambuco UNICAP
São Paulo Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências
da Religião (Mestrado e Doutorado)
Universidade Católica de São
Paulo PUCSP.
Juiz de Fora Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências
da Religião (Mestrado 24 meses e
Doutorado 48 meses).
Universidade Federal de Juiz de
Fora UFJF
Goiânia Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências
da Religião 24 meses.
Universidade Católica de Goiás
UCG
São Bernardo do
Campo - SP
Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências
da Religião (Mestrado 24 meses e
Doutorado 48 meses
Universidade Metodista de São
Paulo
São Paulo Pós-Graduação Stricto Sensu em
Ciências da Religião
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
Fonte: Grupo de Pesquisa - Educação e Religião, 2007.
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