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Lílian Sabrina Silvestre de Andrade
Avaliação terapêutica das pomadas do polissacarídeo do Anacardium
occidentale L. e do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze em
feridas cutâneas produzidas experimentalmente em caprinos (Capra hircus
L.). Aspectos clínicos, bacteriológicos e histopatológicos.
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência Veterinária da
Universidade Federal Rural de
Pernambuco, como requisito parcial
para obtenção do grau de DOUTORA
em Ciência Veterinária.
Orientadora: Maria Cristina de Oliveira Cardoso
Coelho
Recife-PE
2006
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Ficha Catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
A553a Andrade, Lílian Sabrina Silvestre de
Avaliação terapêutica das pomadas do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. e
do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze em feridas cutâneas produzidas
experimentalmente em caprinos (Capra hircus L.)Aspectos clínicos, bacteriológicos e
histopatológicos / Lílian Sabrina Silvestre de Andrade – 2006.
76f.:il.
Orientadora: Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho.
Tese (Doutorado em Ciência Veterinária) – Universidade Federal Rural
de Pernambuco. Departamento de Medicina Veterinária.
Inclui anexo e bibliografia.
CDD 636.390.897
1. Caprino
2. Cicatrização
3. Avaliação terapêutica
4. Anacardium occidentale L.
5. Jacaratia corumbensis O. kuntze
6. Aspectos clínicos
7. Aspectos bacteriológicos
8. Aspectos histopatológicos
I. Coelho, Maria Cristina de Oliveira Cardoso
II. Título
Suely Manzi
Bibliotecária
CRB 809
...E no fim tudo termina bem!
Se ainda não está bom é porque ainda não é o fim.
(Autor desconhecido)
DEDICATÓRIA
À minha FAMÍLIA, minha mãe, meus irmãos, meu marido e meus tios; meu alicerce,
onde encontro apoio e conforto essencial à minha vida.
À minha filha, OLÍVIA, minha fonte de inspiração, nos momentos mais difíceis
encontrava nela coragem para prosseguir.
E em especial à minha orientadora, Profa. MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA
CARDOSO COELHO, uma pessoa especial que eu tive a sorte de conhecer. Sem ela
nada disso seria possível.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, POR ME DAR FORÇA E CORAGEM PARA SEGUIR EM FRENTE.
À MINHA MÃE, POR SEU AMOR, CORAGEM E DETERMINAÇÃO, ME
ENSINANDO TODOS OS DIAS QUE TUDO É POSSÍVEL.
AO MEU MARIDO GUSTAVO, MEU PORTO SEGURO, MEU COMPANHEIRO
DE TODAS AS HORAS, OBRIGADA PELA COMPREENSÃO EM TANTOS
MOMENTOS DE AUSÊNCIA E POR SEMPRE ESTAR PRESENTE.
AOS MEUS AMIGOS VANDA LÚCIA, GRAZIELLE ALEIXO, PATRÍCIA
GALINDO, SABRINA GURJÃO, ANA KARINA MOTA, ERICK TORRES,
FLÁVIA MENEZES, JÚLIO RODRIGUES, SUYIENE FALCÃO, PELA
AMIZADE, INCENTIVO, DISPONIBILIDADE, AJUDA E MOMENTOS DE
DESCONTRAÇÃO.
ÀS PROFESSORAS ROSEANA DINIZ E ANA PAULA TENÓRIO, PELA
AMIZADE, DISPONIBILIDADE E PELOS MOMENTOS DE DESCONTRAÇÃO.
AOS FUNCIONÁRIOS ILMA, MARIA E MARQUINHOS QUE MUITO
CONTRIBUÍRAM DURANTE O DESENVOLVIMENTO DO EXPERIMENTO.
AO DR. GILIATE, PELA PACIÊNCIA E COMPREENSÃO SEMPRE
DEMONSTRADAS.
À SECRETÁRIA EDNA CHÉRIAS, PELA COOPERAÇÃO EM TODOS OS
MOMENTOS.
AO CNPQ PELA CONCESSÃO DA BOLSA.
AOS ANIMAIS, EM ESPECIAL, PELA INOCÊNCIA E CONFIANÇA.
SUMÁRIO
Pág.
RESUMO
x
SUMMARY
xi
LISTA DE FIGURAS
xii
LISTA DE TABELAS
xiii
ANEXOS
xvi
INTRODUÇÃO
1
REVISÃO DE LITERATURA
3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
12
EXPERIMENTO 1
Estudo comparativo de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.) tratadas
com a pomada do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. e a pomada do
extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze – Aspectos Clínicos
17
Resumo
18
Summary
19
Introdução
20
Material e Métodos
22
Resultados e Discussão
27
Conclusão
38
Referências Bibliográficas
38
EXPERIMENTO 2
Avaliação bacteriológica de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com a pomada do polissacarídeo Anancardium occidentale L. e a
pomada do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze
42
Resumo
43
Summary
44
Introdução
44
Material e Métodos
46
Resultados e Discussão
48
Conclusão
54
Material de Pesquisa
54
Referências Bibliográficas
54
EXPERIMENTO 3
Avaliação histopatológica de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com a pomada do polissacarídeo Anacardium occidentale L. e a
pomada do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze
58
Resumo
59
Summary
60
Introdução
60
Material e Métodos
64
Resultados e Discussão
67
Conclusão
73
Referências Bibliográficas
73
RESUMO
Título : Avaliação terapêutica das pomadas do polissacarídeo do cajueiro Anacardium
occidentale L. e do extrato em da Jacaratia corumbensis O. kuntze em feridas
cutâneas produzidas experimentalmente em caprinos (Capra hircus L.). Aspectos
clínicos, bacteriológicos e histopatológicos.
Autor: Lílian Sabrina Silvestre de Andrade
Orientadora: Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho
As perdas cutâneas são freqüentes nos animais domésticos, tendo como agravantes
diferentes etiologias, a extensão da ferida e os custos com o tratamento. Com o objetivo
de avaliar o efeito terapêutico das pomadas do polissacarídeo do cajueiro Anacardium
occidentale L.(policaju) e do extrato em da Jacaratia corumbensis O. kuntze
(jacaratia) no tratamento de feridas cutâneas, foram utilizadas 20 cabras, com peso
médio de 24Kg nas quais foram produzidas seis falhas cutâneas de 4cm
2
na região
torácica direita e esquerda, sendo as do hemi-tórax direito dos 20 animais as feridas
consideradas controle, as quais receberam aplicação tópica da lanolina estéril, as
localizadas no hemi-tórax esquerdo de dez animais que receberam a aplicação tópica da
pomada do policaju e as localizadas no hemi-tórax esquerdo dos outros dez animais
que receberam a aplicação tópica da pomada de Jacaratia. O curativo foi efetuado
diariamente, aplicando-se 1ml de cada formulação preconizada no leito de cada ferida
em ambos os grupos. As lesões cutâneas também foram submetidas a avaliações
clínicas, histopatológicas e microbiológicas. Para realização do exame histopatológico,
as feridas foram submetidas a biópsias em tempos diferentes e previamente
determinados; nas produzidas cranialmente a biópsia foi realizada ao dia, as lesões
localizadas na região médio-ventral ao 14º dia e as localizadas caudalmente a biópsia
foi realizada ao 28º dia de evolução pós-cirúrgica. As avaliações clínicas foram
realizadas utilizando-se uma escala descritiva para avaliação dos parâmetros
observando-se nos grupos a presença de hiperemia e edema circunscritos à lesão até o 3º
dia de evolução pós-cirúrgica; tecido de granulação a partir do dia e tecido cicatricial
a partir do dia. Ao 21º dia de pós-operatório todas as feridas estavam reepitelizadas.
O exame microbiológico foi realizado no momento da produção das feridas, onde não
observou-se crescimento bacteriano e nos momentos das biópsias, identificando-se a
presença de Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Bacillus sp, Shigella sp, Enterobacter
sp e Micrococcus sp. A avaliação histopatológica das feridas revelou infiltrado
inflamatório, neoangiogênse, fibroblastos e fibras colágenas. Concluiu-se que as
pomadas testadas podem ser usadas como uma opção de tratamento para feridas
cutâneas em caprinos.
Palavras-chave: Anacardium occidentale L., Jacaratia corumbensis, ferida, caprino,
cicatrização.
SUMMARY
Title: Therapeutic evaluation of the ointments of polysaccharide of the cashew tree
(Anacardium occidentale L.) and the powdered extract of Jacaratia corumbensis O.
kuntze in cutaneous wounds experimentally produced in goats (Capra hircus L.).
Clinical, bacteriological and histopathological aspects.
Author: Lílian Sabrina Silvestre de Andrade
Adviser: Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho
The cutaneous losses are frequent in domestic animals, having as aggravating different
etiologies, the extension of the wound and the costs with the treatment. With the
objective of evaluating the therapeutic effect of the ointments of polysaccharide of the
cashew tree Anacardium occidentale L. (policaju) and the powdered extract of
Jacaratia corumbensis O. kuntze (jacaratia) in the treatment of cutaneous wounds 20
goats were used, with medium weight of 24Kg in which six cutaneous flaws of 4cm
2
were produced in the right and left thoracic area, being the one of the right hemi-thorax
of the 20 animals considered the control wounds, which received topical application of
sterile lanolin, the ones located in the left hemi-thorax of ten animals that received
topical application of the ointment of policaju and the ones located in the left hemi-
thorax of the other ten animals that received topical application of the ointment of
jacaratia. The curative was made daily, applying 1ml of each formulation at each wound
bed in both groups. The cutaneous lesions were also submitted to clinical,
histopathological and microbiological evaluations. For accomplishment of the
histopathological exam, the wounds were submitted to biopsies in different and
previously determined times; in the ones produced cranially the biopsy was
accomplished at the 7th day, the lesions located in the medium-ventral area at the 14th
day and on the ones located caudally the biopsy was accomplished at the 28th day of
pos-surgical evolution. The clinical evaluations were accomplished using a descriptive
scale for evaluation of the parameters, being observed in the groups the presence of
hyperemia and circumscrite edema to the lesion until the 3rd day of pos-surgical
evolution; granulation tissue starting from the 4th day and cicatricial tissue starting from
the 6th day. At the 21st postoperative day all the wounds were reepithelized. The
microbiological exam was accomplished in the moment of the wounds production,
when bacterial growth was not observed and in the biopsies moments, identifying the
presence of Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Bacillus sp, Shigella sp, Enterobacter
sp and Micrococcus sp. The histopathological evaluation of the wounds revealed
infiltrated inflammatory cells, neoangiogenesis, fibroblasts and collagens fibers. Was
concluded that the ointments produced can be used as a treatment option for cutaneous
wounds in goats.
Key-words: Anacardium occidentale L., Jacaratia corumbensis, wound, goat,
cicatrization.
LISTA DE FIGURAS
Página
REVISÃO DA LITERATURA
Figura 1 Anacardium occidentale L (Cajueiro).
Fonte: Herbario nacional, 2006.
06
Figura 2
Jacaratia corumbensis O. kuntze (Mamãozinho de
veado.
Fonte: Herbário Nacional, 2006.
07
EXPERIMENTO 1
Figura 1 Procedimentos desenvolvidos durante o estudo
experimental. A -Feridas cutâneas produzidas no
hemi-tórax esquerdo após ressecção de pele total no
momento da cirurgia (To). B - Feridas no momento da
cirurgia (To) após aplicação tópica da pomada do
extrato de Jacaratia corumbensis O.kuntze e curativo
secundário. C-Alojamento individual dos animais
observando-se um caprino com curativo externo
confeccionado com compressa de gaze utilizado no
pós-operatório. D - Decalque das lesões em acetato de
celulose no momento da cirurgia (To).
26
Figura 2
Percentual de feridas com crosta na avaliação com 14
dias segundo o grupo.
32
Figura 3
Percentual de feridas com sangramento na avaliação
com um dia segundo o grupo.
.
32
Figura 4
Percentual de feridas com curativos na avaliação com
um dia segundo o grupo.
33
Figura 5
Valor médio (cm2) da área das feridas ao 7º, 14º e 28º
dia de evolução pós-cirúrgica. Letras iguais significam
p>0,05.
35
Figura 6
Valor médio do percentual de contração (%) da área
das feridas ao 7º, 14º e 28º dia de evolução pós-
cirúrgica. Letras iguais significam p>0,05
35
Figura 7
Evolução das feridas do Grupo Controle. A -
Visualização da ferida ao 7º de evolução pós-cirúrgica
observando crosta rugosa e aderida recobrindo toda
área cruenta. B - Visualização da ferida ao 14º de
evolução pós-cirúrgica observando crosta espessa em
37
toda área cruenta e tecido cicatricial ao redor de toda
ferida. C - Visualização da ferida ao 28º de evolução
pós-cirúrgica observando reepitelização da área.
Figura 8
Evolução das feridas do Grupo Policaju (GT I). A -
Visualização da ferida ao 7º de evolução pós-cirúrgica
observando crosta rugosa e aderida recobrindo toda
área cruenta. B - Visualização da ferida ao 14º de
evolução pós-cirúrgica observando crosta rugosa e
tecido cicatricial ao redor de toda ferida, além de
tecido de granulação. C - Visualização da ferida ao
28º de evolução pós-cirúrgica observando
reepitelização da área.
37
Figura 9
Evolução das feridas do Grupo Tratado. A -
Visualização da ferida ao 7º de evolução pós-cirúrgica
observando crosta recobrindo toda área cruenta com
aspecto semelhante à pomada do extrato de Jacaratia
corumbensis O. kuntze. B - Visualização da ferida ao
14º de evolução pós-cirúrgica observando crosta
delgada em toda área cruenta e tecido cicatricial ao
redor de toda ferida.C - Visualização da ferida ao 28º
de evolução pós-cirúrgica observando reepitelização
da área.
37
EXPERIMENTO 2
Figura 1 Prevalência das bactérias isoladas nas feridas dos
grupos tratados com a pomada do Anacardium
occidentale, com a pomada de Jacaratia corumbensis
e com a lanolina estéril, ao 7º de avaliação.
50
Figura 2
Prevalência das bactérias isoladas nas feridas dos
grupos tratados com a pomada do Anacardium
occidentale, com a pomada de Jacaratia corumbensis
e com a lanolina estéril, ao 14º de avaliação.
50
Figura 3
Prevalência das bactérias isoladas nas feridas dos
grupos tratados com a pomada do Anacardium
occidentale, com a pomada de Jacaratia corumbensis
e com a lanolina estéril, ao 28º de avaliação.
51
Figura 4
Aspecto morfológico de colônias de Staphylococcus
sp. semeadas em placas de Petri, contendo ágar
sangue.
52
EXPERIMENTO 3
Figura 1 Aspectos histopatológicos das feridas ao dia de
evolução pós-cirúrgica. Tricrômico de Masson. A -
dia controle 400X; B - 7º dia grupo policaju 400X e C –
7º grupo Jacaratia 400X.
70
Figura 2
Aspectos histopatológicos das feridas ao 14º dia de
evolução pós-cirúrgica. Tricrômico de Masson. A - 14º
dia controle 100X; B - 1
dia grupo policaju 100X e C
14º grupo Jacaratia 100X.
71
Figura 3
Aspectos histopatológicos das feridas ao 28º dia de
evolução pós-cirúrgica. Tricrômico de Masson. A - 28º
dia controle 100X; B - 28º dia grupo polica
28º grupo Jacaratia 100X.
72
LISTA DE TABELAS
Página
EXPERIMENTO 1
Tabela 1 Avaliação comparativa do edema e da hiperemia
segundo o grupo por tempo de avaliação pós-cirúrgica
27
Tabela 2 Avaliação da crosta, sangramento, curativo secundário
e tecido de granulação segundo o grupo por tempo de
avaliação.
30
Tabela 3 Avaliação do tecido cicatricial segundo o grupo por
tempo de avaliação.
33
ANEXOS
Página
EXPERIMENTO 1
Anexo1 Ficha de evolução clínica das feridas com escala
descritiva dos aspectos avaliados.
41
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a caprinocultura no Brasil vem se consolidando como
importante alternativa pecuária, principalmente para o pequeno produtor, que emprega
mão-de-obra familiar e utiliza produtos regionais e de baixo custo (WANDER et al.,
2003). Esta espécie no Nordeste desempenha um importante papel por esta região
concentrar 93,75% do rebanho nacional (ANUALPEC, 2003). Entre os fatores que m
colaborado para essa consolidação, destacam-se o preço atrativo do leite, da carne e a
produção de peles (VASCONCELOS e VIEIRA, 2002). Dada a importância
econômico-social da criação de caprinos são extremamente válidas opções terapêuticas
pouco onerosas e que não apresentem efeito residual.
As lesões cutâneas constituem patologias comuns à espécie caprina, sobretudo às
localizadas nos membros ou em áreas sujeitas a exigências mecânicas variadas, e
freqüentemente estão relacionadas a traumas, acarretando processos inflamatórios que
podem tornar-se crônicos. O tratamento destas lesões resulta em cicatrizes diminuindo o
beneficiamento das peles, além de ser dispendioso para o criador (SIMPLÍCIO et al.,
2004).
Uma ampla variedade de produtos naturais tem sido usada no tratamento de
feridas pela facilidade de utilização, inocuidade, baixo custo e poder bactericida ou
bacteriostático. Entre eles destacam-se o mel (MATHEWS, BINNIGTON, 2002), a
própolis (RAHAL et al., 2003) e uma diversidade de plantas como o confrei
(Symphytum officinale L.) relatam Oliveira et al. (2000), a calêndula (Calendula
officinalis L.) cita Menezes (2006). Diante disto, as plantas medicinais têm tido seu
valor terapêutico pesquisado mais intensamente, a fim de elucidar a ão dos seus
princípios ativos aliado ao conhecimento da cultura popular (ALBUQUERQUE, 1989).
Como constituintes químicos das plantas podemos destacar os polissacarídeos ou
açúcares múltiplos. Dentre as plantas que apresentam na sua estrutura polissacarídeos,
destacam-se o Anacardium occidentale L (cajueiro) e a Jacaratia corumbensis O.
kuntze (mamãozinho de veado).
O Anacardium occidentale, conhecido popularmente como cajueiro, ocupa lugar
de destaque entre as plantas frutíferas tropicais, em face da crescente comercialização
de seus produtos principais. O caju é importante para o Nordeste, como uma atividade
econômica e social de grande expressão, garantindo renda para mais de 300 mil pessoas
e gerando divisas superiores a 100 milhões de dólares anuais (BANDEIRA, 1991). A
goma (ou resina) do cajueiro é constituída, principalmente, por um heteropolissacarídeo
ramificado (MENESTRINA et al., 1998) e tem sido utilizada na reabilitação de lesões
cutâneas em camundongos, contribuindo com o processo cicatricial (ROCHA et al.,
2001). Recentemente Schirato et al. (2006) a utilizaram em feridas cutâneas de ratos
frente ao processo inflamatório, verificando que os sinais flogísticos apresentaram-se
menos intensos no grupo tratado.
A Jacaratia corumbensis O. kuntze, conhecida popularmente como
mamãozinho de veado, é um arbusto nativo da região semi-árida nordestina e de fácil
cultivo . O tubérculo desta planta é utilizado para fabricação de doces caseiros e na
alimentação de animais durante a seca (CAVALCANTI, 2002), porém esta planta é
pouco estudada quanto às suas potencialidades para uso como fitoterápico e não
relatos na literatura de seu uso na cicatrização de feridas. Em estudos preliminares
observou-se que esta planta é rica em açúcares e proteases (DUARTE et al., 2002) e não
contém substâncias tóxicas.
Dessa forma, estudos voltados para opções terapêuticas que possam minimizar
as interferências no processo de cicatrização e os custos com os tratamentos justificam o
desenvolvimento de pesquisas científicas aliadas ao conhecimento popular.
Este trabalho teve como objetivo avaliar as terapias tópicas com a pomada do
polissacarídeo do cajueiro Anancardium occidentale L. e com a pomada do extrato em
da Jacaratia corumbensis O. kuntze em feridas induzidas experimentalmente em
caprinos, através de estudos clínicos, histopatológicos e bacteriológicos.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A fitoterapia, prática do uso de plantas ou suas partes com finalidade terapêutica,
vem se impondo atualmente e já o pode ser mais considerada como simples modismo
(FETROW e AVILA, 2000). Por não ser uma especialidade médica, como a homeopatia
ou a acupuntura, se enquadra dentro da chamada medicina natural e está sendo utilizada
cada vez mais por povos de todo o mundo (CÂNDIDO, 2006).
O uso de plantas medicinais tem sido descrito em toda a história da humanidade.
Desde o início da civilização, o homem faz uso das plantas pela necessidade de
sobrevivência, levando-o à descoberta de possíveis aplicações terapêuticas de
determinadas espécies (RIBEIRO, 1996). O conhecimento sobre plantas medicinais
simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos
étnicos. Ainda hoje nas regiões mais carentes do país e até mesmo nas grandes cidades
brasileiras, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares
e encontradas em quintais residenciais (MACIEL et al., 2002).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), planta medicinal é aquela
que possui em um ou em rios de seus órgãos, substâncias utilizadas com finalidade
terapêutica, ou que estas substâncias sejam ponto de partida para a síntese de produtos
químicos e farmacêuticos. A maioria das plantas medicinais utilizadas no Brasil é
nativa, crescendo espontaneamente nas mais diferentes formações vegetais do país.
Estima-se que pelo menos 50% das espécies vegetais brasileiras tenham alguma
da cultura popular. (ALBUQUERQUE, 1989). As funções fisiológicas dos princípios
ativos nas plantas ainda não estão completamente esclarecidas, mas associa-se sua
produção à defesa da planta contra agentes externos, como doenças, pragas, radiação
solar, etc, ou a resíduos do metabolismo vegetal. Estes princípios ativos possuem
funções ecológicas importantes à sobrevivência da espécie e são produzidos (quase
todos) pelo metabolismo secundário das plantas (CARVALHO, 2005).
Dentre os constituintes químicos das plantas podemos destacar os
polissacarídeos ou açúcares múltiplos. Os polissacarídeos são carboidratos formados
pela união de mais de dez moléculas monossacarídeos, constituindo, assim, um
polímero de monossacarídeos. Os polissacarídeos são solúveis em água; não alteram,
pois, o equilíbrio osmótico das células e se prestam muito bem à função de
armazenamento ou reserva nutritiva (CHAMPE e HARVEY, 1997).
Os polissacarídeos são, atualmente, considerados moléculas farmacologicamente
ativas, classificadas como modificadores da resposta biológica (MBR) ou
biomoduladores (BOHN e BeMILLER, 1995), ou seja, apresentam a habilidade de
modificar a resposta imune (FIELDS e KOELLER, 1993).
Os polissacarídeos e seus derivados são utilizados com fins medicinais desde os
tempos mais remotos (BONONI et al., 1995). O uso de açúcar, mel e cogumelos tém
sido descrito para tratamento de diversas afecções. Substâncias contendo açúcares como
melaço e xaropes eram utilizadas pelos índios do Peru, Chile e Colômbia (BIONDO-
SIMOES et al., 1993). Algumas tribos indígenas brasileiras usavam a orelha de pau
vermelha, Pycnoporus sanguineus, para a cicatrização de feridas (BONONI et al.,
1995).
Prata et al. (1988) relatam o uso do açúcar para tratamento de feridas em ratos
observando efeitos bactericida ou bacteriostático, oferta de nutrientes às células lesadas,
diminuição do edema local pela ação higroscópica, estimulação dos macrófagos e
formação rápida do tecido de granulação.
Produtos como o mel também têm sido utilizados na reabilitação de feridas
cutâneas. Schossler e Schossler (1994) utilizaram o mel no tratamento de queimaduras
de terceiro grau em cães, obtendo prevenção na formação de pús, promoção da
epitelização e cicatrização total em 60 dias. Andrade et al. (1999) trataram com mel
feridas produzidas assepticamente em camundongos, observando redução no tempo de
cicatrização das feridas tratadas em relação às do grupo controle.
No campo biomédico e farmacêutico os polissacarídeos hidrossolúveis
modificados m encontrado um grande número de aplicações. Estudos recentes
mostram que estas moléculas podem ser usadas, por exemplo, como modificadores da
viscosidade, matrizes para imobilização de enzimas e de drogas, e como suporte para
cromatografia hidrofóbica (CRESCENZI, 1994). No que se refere a atividade anti-
tumoral, mecanismos in vivo e in vitro de polissacarídeos de diferentes origens (fungos,
vegetais, liquens) foram amplamente revisados e investigados por Bohn e Bemiller
(1995), Wasser e Weiss (1999) e Kidd (2000).
Dentre as plantas medicinais, várias apresentam polissacarídeos na sua estrutura,
dentre elas o Anacardium occidentale L (cajueiro) e a Jacaratia corumbensis O. kuntze
(mamãozinho de veado).
O Anacardium occidentale L, conhecido popularmente como cajueiro,
pertencente à família Anacardiaceae, é uma planta frutífera tropical, 100% brasileira, e
ocupa lugar de destaque face à crescente comercialização de seus produtos principais: a
castanha e o caju (Fig. 1). Na homeopatia e na fitoterapia esta planta é utilizada como
remédios contra impotência sexual e a debilidade em convalescentes (BANDEIRA,
1991).
A goma ou exsudato do cajueiro é constituída, principalmente por um
heteropolissacarídeo ramificado. O termo goma pode ser definido genericamente, como
substâncias poliméricas que, na presença de solventes ou agentes de inchamento
adequados são capazes de formar dispersões/soluções altamente viscosas ou géis. Na
indústria farmacêutica é utilizada como aglutinante de cápsulas e comprimidos e na
indústria de alimentos como estabilizante de sucos, cervejas e sorvetes (RODRIGUES
et al., 1993).
O polissacarídeo proveniente de A. occidentale (P-JU) vem sendo utilizado em
diversas pesquisas e tem apresentado resultados terapêuticos satisfatórios,
potencializando o processo de cicatrização de lesões cutâneas em camundongos
(ROCHA et al., 2001). Este polissacarídeo apresentou atividade antitumoral in vitro
frente a lulas He-la (MENESTRINA et al., 2000). Foi testado ainda in vivo contra o
Sarcoma 180, obtendo-se inibição do crescimento tumoral na ordem de 39,6% e 55,1%,
utilizando-se uma única aplicação i.p., nas doses de 100mg.Kg
-1
e 200 mg.Kg
-1
,
respectivamente (MENESTRINA et al., 1998). Sua atividade farmacológica também
tem sido observada em outros modelos, a exemplo do tratamento de infecções
experimentais pelo Schistosoma mansoni (GADELHA et al. 2001).
Figura 1. Anacardium occidentale L (Cajueiro)
Fonte: Herbario nacional, 2006.
A Jacaratia corumbensis O. kuntze, conhecida popularmente como mamãozinho
de veado, é um arbusto nativo da região semi-árida Nordestina e de fácil cultivo (Fig.
2). Seu fruto é consumido pelos animais silvestres e o xilopódio ou túbera é utilizado
para a alimentação dos animais em época de estiagem, por ser rico em água e nutrientes
(CAVALCANTI, 2002) e para fabricação de doce para consumo humano pelos
agricultores (ARAÚJO e BRITO, 1998). Porém esta planta é pouco estudada quanto as
suas potencialidades para uso como fitoterápico e não relatos na literatura de seu uso
na cicatrização de feridas. Em estudos preliminares observou-se que esta planta é rica
em açucares e proteases (DUARTE et al., 2002) e não contém substâncias tóxicas. Com
base que o açúcar é capaz de acelerar o processo de cicatrização em feridas topicamente
tratadas (BIONDO-SIMÕES et al., 1993) extratos de plantas ricos em açúcares podem
contribuir para a restauração da integridade funcional e estética da pele, representando,
assim, uma alternativa de tratamento simples e economicamente viável para todas as
camadas sociais.
Figura 2. Jacaratia corumbensis O. kuntze (Mamãozinho de veado)
Fonte: Herbário N447( )-6.346332306(e)8.214.
proteínas séricas, plaquetas e fatores de coagulação (KOOPMANN, 1995). As plaquetas
são as primeiras lulas a produzirem citocinas essenciais à modulação da maioria dos
eventos cicatriciais subseqüentes, nesta etapa ocorrem a fase granulocítica e
macrofágica, através de células granulocíticas (polimornucleares) e macrófagos,
respectivamente. Os macrófagos além da fagocitose também iniciam a reparação através
da secreção de proteases, citocinas e substâncias vasoativas que o continuidade às
fases cicatriciais (FOWLER, 1993; PAVLETIC, 1993; RODRIGUES et al., 1993;
CANDIDO, 2006).
A fase de fibroplasia é caracterizada pela formação de um tecido composto de
capilares, colágeno e proteoglicanos, denominado tecido de granulação. A formação
neocapilar resulta da liberação de fatores angiogênicos secretados pelos macrófagos que
estimulam a proliferação de células endoteliais dos vasos sangüíneos. Nesta etapa
produção de colágeno pelos fibroblastos. Aliada à granulação, manifesta-se a
reepitelização com migração e divisão mitótica das células basais nas bordas da ferida.
O terceiro evento dessa etapa é a contração, processo pelo qual ocorre o fechamento
espontâneo da ferida, através da ação dos miofibroblastos (RODRIGUES et al., 1993;
CANDIDO, 2006).
A fase de maturação ou de remodelação permanece por meses ou anos
(CANDIDO, 2006; RODRIGUES et al., 2001) e nesta, as células inflamatórias agudas e
crônicas diminuem gradativamente, cessando também a angiogênese e a fibroplasia. É
também neste período que se constata o equilíbrio entre a síntese e a lise do colágeno,
sendo esta remodelação responsável pela força tênsil do tecido cicatricial (FOWLER,
1993; PAVLETIC, 1993; CANDIDO, 2006; RODRIGUES et al., 2001).
A cicatrização pode ocorrer por primeira intenção (as bordas da ferida estão
justapostas sendo possível uni-las), segunda intenção (as bordas não estão próximas,
não sendo possível a união e a ferida cicatriza de forma aberta) ou terceira intenção
(fechamento primário retardado). Em qualquer tipo de cicatrização esta vai ocorrer na
dependência do tipo de ferida, localização, contaminação e viabilidade do tecido
(KENT LLOYD, 1992).
O tratamento destas lesões convencionalmente é conduzido de dois modos:
através de métodos clínicos, mediante o uso de pomadas, antissépticos e uso bandagens
compressivas (LEE et al., 1987), emprego de membranas amnióticas (ACETO, 2002),
substâncias tópicas que dinamizem o processo de cicatrização ou por meios cirúrgicos
entre os quais as dermorrafias ou os enxertos de pele (MENEZES, 2001). Todavia estas
opções terapêuticas preconizadas podem apresentar limitações no decorrer do
tratamento, pois podem se constituir num fator limitante devido à posologia,
recomendações para o uso e/ou o custo.
A evolução do processo cicatricial por segunda intenção também depende de
outros fatores como a colaboração do proprietário, disponibilidade de assistência
médica, ausência de infecção, assim como hábitos inerentes aos animais, como
lambeduras e retirada dos curativos, contato com fezes ou com material contaminado e
presença de miíases (COELHO, 1998).
O estudo do processo de cicatrização tem permitido conhecer muitos fatores que
influeciam a progressão cicatricial. Dentre eles são citados a infecção, presença de
tecidos desvitalizados, anemia, deficiências de nutrientes, vitaminas e minerais,
utilização de corticóides, antiinflamatórios e antissépticos (BARBOSA e SOUZA,
1986; EHRLICHMAN et al., 1991; CORSI et al., 1995; EAGLSTEIN e FALANGA,
1997). A infecção retarda o processo cicatricial por prolongar a fase inflamatória, sendo
as feridas cutâneas de qualquer etiologia um ambiente favorável para o crescimento
bacteriano. Muitos dos microrganismos encontrados nas feridas são usualmente
patógenos e podem ser deletérios à cicatrização apesar de pertencerem à flora bacteriana
da pele (BOWLER, 1998). As bactérias encontradas na pele podem ser classificadas
em três categorias: as residentes, estabelecidas sobre a pele onde se multiplicam e
mantêm uma população estatística e consistente; as transitórias, que se proliferam, mas
não conseguem manter um nicho e são consideradas contaminantes; e as nômades”,
que são capazes de colonizar e reproduzir em um curto espaço de tempo (SCOOTT et
al., 1995; IHRKE, 1996; SAIJONMAA-KOULUMIES e LLOYD, 1996). Para ser
considerada infectada a ferida deve possuir 10
5
bactérias por grama de tecido
(KOOPMANN, 1995).
Diversas plantas são utilizadas no tratamento de feridas por serem dotadas de
ação cicatrizante. O uso de plantas no tratamento tópico de lesões cutâneas foi descrito
por Andrade et al. (1999) que utilizaram o alecrim pimenta (Lippia sidoides cham.) em
feridas de pele produzidas experimentalmente em camundongos, observando que a
mesma é dotada de ação cicatrizante por reduzir o tempo de cicatrização. Oliveira et al.
(2000) utilizaram o confrei (Symphytum officinale L.) para tratamento de feridas
cutâneas de ratos, observando resultados superiores na cicatrização das feridas do grupo
tratado. Rocha (2000) utilizou uma emulsão de polissacarídeo extraído da goma do
cajueiro Anacardium occidentale l. em feridas produzidas em camundongos,
verificando que a reepitelização das feridas ocorreu em 12 dias no grupo tratado e em
17 dias no grupo controle. Em estudo mais recente com o polissacarídeo extraído do
Anacardium occidentale L. Schirato et al. (2006) frente ao processo inflamatório de
feridas cutâneas de ratos verificaram que os sinais flogísticos apresentaram-se menos
intensos no grupo tratado. A pomada de calêndula (Calendula officinalis L.) foi
utilizada por Menezes (2006) para tratamento de feridas cutâneas produzidas em cães,
sendo observado que as feridas tratadas com a mesma apresentaram uma organização
celular superior em relação às feridas do grupo controle.
Em vista disso, vem-se buscando na farmacopéia veterinária alternativas
terapêuticas eficazes, de fácil aplicação e baixo custo, levando assim a um interesse por
medicações fitoterápicas que possam incrementar o processo cicatricial. Como os
polissacarídeos têm sido estudados na cicatrização e o Anacardium occidentale e a
Jacaratia corumbensis têm sido relatados no saber popular como cicatrizante de feridas
este estudo visou avaliar a aplicação tópica das duas plantas supracitadas em feridas
cutâneas induzidas experimentalmente em caprinos.
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Estudo comparativo da cicatrização de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus
L.) tratadas com as pomadas do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. e do
extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze – Aspectos Clínicos
Experimento 1
Trabalho formatado de acordo com as normas da
Revista Ciência Veterinária nos Trópicos-ISSN 1415-6326
Recife-PE
Estudo comparativo da cicatrização de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com as pomadas do polissacarídeo Anacardium occidentale L. e do extrato em
pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze – Aspectos Clínicos
Comparative study of cicatrization of cutaneous wounds in goats (Capra hircus L.)
treated with the ointment of the polysaccharide of the cashew tree Anacardium
occidentale L. and the powdered extract of Jacaratia corumbensis O. kuntze - Clinical
Aspects
Lílian Sabrina Silvestre de ANDRADE
1*
; Maria Cristina de Oliveira Cardoso
COELHO
2
; Grazielle Anahy de Sousa ALEIXO
1
; Vanda Lúcia da Cunha
MONTEIRO
1
; Patrícia Galindo CARRAZZONI
1
RESUMO: Objetivou-se através desse estudo avaliar comparativamente a evolução
clínica pós-operatória de feridas experimentalmente produzidas na pele de 16 caprinos,
fêmeas, tratadas com as pomadas do polissacarídeo do cajueiro Anacardium occidentale
L. e do extrato em da Jacaratia corumbensis O. kuntze. Foram avaliados os
parâmetros, hiperemia, edema, sangramento, presença das crostas, do curativo
secundário, de tecido de granulação e de tecido cicatricial no momento da produção da
ferida, no 7º, 14º, e 28º dia de evolução pós-cirúrgica. Para a avaliação dos parâmetros
foi utilizada uma escala descritiva (escores). Para análise dos dados foram obtidas
distribuições absolutas e percentuais e utilizado o teste exato de Fisher para a
comparação entre os grupos. Quando as variáveis foram analisadas observou-se que não
houve diferença significativa entre os grupos experimentais. Concluiu-se que a
utilização das pomadas no tratamento de feridas cutâneas de caprinos não reduziu o
tempo de cicatrização.
Palavras-chave: Feridas, cabras, pele.
1
Médica Veterinária, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária (PPGCV) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
2
Médica Veterinária, Doutora, Professora Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE.
*Autora para correspondência. Endereço: Estrada do Arraial, 3720. Aptº 704. Casa Amarela. Recife-PE.
Cep.: 52050-130. E-mail: lilianssandrade@yahoo.com.br
SUMMARY: It was aimed through this study to comparatively evaluate the
postoperative clinical evolution of wounds experimentally produced in the skin of 16
goats treated with the ointment of the polysaccharide of the cashew tree Anacardium
occidentale L. and of the powdered extract of Jacaratia corumbensis O. kuntze. The
following parameters were evaluated, hyperemia, edema, bleeding, presence of crusts,
the secondary curative, the granulation tissue and of cicatricial tissue in the moment of
the production of the wound, and in the 7th, 14th, and 28th day of pos-surgical
evolution. For the evaluation of the parameters a descriptive scale was used (scores).
For analysis of the data was obtained absolute and percentile distributions and the exact
test of Fisher was used for comparison among the groups. When the variables were
analyzed it was observed that there was no significant difference among the
experimental groups. Was conclued that the use of the ointments cutaneous wounds
induced experimentally of goats do not reduce the cicatrization time.
Key-words: Wounds, goats, skin.
INTRODUÇÃO
A caprinocultura historicamente é uma atividade de importância econômico-
social, particularmente em países de clima árido e semi-árido (CARDOSO, 2002). No
Brasil vem se consolidando como importante alternativa pecuária (WANDER et al.,
2003), e esta espécie no Nordeste desempenha um importante papel por esta região
concentrar 93,75% do rebanho nacional (ANUALPEC, 2003). Entre os fatores que m
colaborado para essa consolidação, destacam-se o preço atrativo do leite e da carne e a
produção de peles (VASCONCELOS e VIEIRA, 2002).
Em se tratando da pele de caprinos, dos produtos que chegam aos curtumes
nordestinos, um significativo montante é impróprio para indústria. Isto se deve
principalmente a problemas ligados ao manejo, o qual tem a caatinga como principal
suporte forrageiro. Em adição, o abate tardio expõe os animais por um período mais
longo à vegetação espinhosa e às cercas de arame farpado. Por outro lado, problemas
está dividido em três fases: inflamatória, fibroplasia e maturação (COTRAN et al.,
2000).
A cicatrização pode ocorrer por primeira intenção (as bordas da ferida estão
justapostas sendo possível uni-las), segunda intenção (as bordas não estão próximas,
não sendo possível a união e a ferida cicatriza de forma aberta) ou terceira intenção
(fechamento primário retardado). Em qualquer tipo de cicatrização esta vai ocorrer na
dependência do tipo de ferida, localização, contaminação e viabilidade do tecido
(KENT LLOYD, 1992).
Diversas plantas são utilizadas na alimentação e tratamento de afecções dos
animais domésticos. A utilização de plantas para cicatrização de feridas cutâneas têm
sido descrita desde os tempos mais remotos (PHILLIPSON, 2002). Andrade et al.
(1999) utilizaram o alecrim pimenta (Lippia sidoides cham.) em feridas de pele
produzidas experimentalmente em camundongos, observando que a mesma é dotada de
ação cicatrizante, por reduzir o tempo de cicatrização. Oliveira et al. (2000) utilizaram o
confrei (Symphytum officinale L.) para tratamento de feridas cutâneas de ratos,
observando resultados superiores na cicatrização das feridas do grupo tratado. A
pomada de calêndula (Calendula officinalis L.) foi utilizada por Menezes (2006) para
tratamento de feridas cutâneas produzidas em cães, sendo observado que as feridas que
receberam a respectiva pomada apresentaram uma organização celular superior às
feridas do grupo controle.
Dentre as plantas nativas da região Nordeste, de fácil cultivo e acesso destacam-se
o Anancardium occidentale L (cajueiro) e a Jacaratia corumbensis O. kuntze
(mamãozinho de veado ).
O cajueiro ocupa lugar de destaque face à crescente comercialzação de seus
produtos principais: a castanha e o caju. Na homeopatia e na fitoterapia esta planta é
utilizada como remédios contra impotência sexual e a debilidade em convalescentes
(BANDEIRA, 1991).
Rocha (2001) utilizou uma emulsão de polissacarídeo extraído da goma do
cajueiro Anacardium occidentale L. em feridas produzidas em camundongos,
verificando que a reepitelização das feridas ocorreu em 12 dias no grupo tratado e em
17 dias no grupo controle. Em estudo mais recente Schirato et al. (2006) observaram
frente ao processo inflamatório de feridas cutâneas de ratos que os sinais flogísticos
apresentaram-se menos intensos no grupo tratado.
O tubérculo do mamãozinho de veado é utilizado para fabricação de doces
caseiros e na alimentação de animais durante a época de estiagem (CAVALCANTI,
2002), porém esta planta é pouco estudada quanto às suas potencialidades para uso
como fitoterápico e não há relatos na literatura de seu uso na cicatrização de feridas. Em
estudos preliminares observou-se que esta planta é rica em açucares e não contêm
substâncias tóxicas.
Como a cicatrização de feridas, principalmente aquelas que cicatrizam por
segunda intenção, demanda tempo e custos, produtos pouco onerosos e isentos de
toxicidade são de grande valia para o tratamento de lesões cutâneas.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a cicatrização de feridas cutâneas de
caprinos tratadas com as pomadas do polissacarídeo proveniente do Anacardium
occidentale L. e do extrato em pó da Jacaratia corumbensis, através de avaliações
clínicas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado utilizando 16 caprinos, sem raça definida, fêmeas,
adultas, em estado nutricional e com peso médio de 24kg, provenientes da cidade de
Camaragibe-PE. Os animais foram alojados em apriscos suspensos e ripados nas
dependências do Hospital Veterinário do Departamento de Medicina Veterinária
(DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sob regime intensivo.
Inicialmente os mesmos eram mantidos em número de cinco para cada aprisco, mas
após a fase inicial de adaptação às condições de manejo e alimentação (10 dias), os
pacientes foram instalados individualmente.
foram considerados elegíveis para o estudo, aqueles pacientes onde após
detalhado exame clínico, hematológico e coproparasitológico, constatou-se estado de
higidez.
Aos animais foram fornecidos água, capim elefante (Pennisetum purpureum) e sal
mineral
1
ad libitum, além de ração balanceada
2
para caprinos.
Para obtenção e preparação da pomada do polissacarídeo proveniente do
Anacardium occidentale L., a goma isenta da casca do cajueiro amarelo, foi purificada
de acordo com o todo de Oliveira (1992). A goma bruta foi triturada utilizando
1
Ovifós. Supranor. Recife-PE
2
Ração para Caprinos Socil. São Lourenço da Mata-PE
moinho tipo mandíbula, solubilizada em água destilada na concentração de 20% (p/v), a
28ºC e filtrada em tecido (Vual) e tela de serigrafia (90 e 110 fios). O filtrado restante
foi precipitado, com etanol (3=1 v/v), permanecendo os mono e oligossacarídeo em
solução. O produto obtido foi macerado manualmente com gral 75 e pistilo 75,
para obtenção do Policaju.
A pomada do extrato em da Jacaratia corumbensis O. kuntze foi produzido a
partir da túbera que após lavagem com água corrente foi descascado e finamente
laminado para posterior secagem a temperatura ambiente. Realizou-se então a trituração
com gral e pistilo, obtendo assim o extrato em pó.
Foram preparadas duas pomadas, uma obtida pela adição de Policaju a lanolina, na
concentração de 33%(p/p) e outra preparada a partir do extrato em e lanolina estéril,
na proporção de 1:2 m/m respectivamente, a lanolina usada como veículo excipiente.
Para o delineamento experimental, após jejum hídrico e alimentar, de 12 e 24 horas
respectivamente, os animais foram pré-medicados, com Sulfato de Atropina
3
, na dose de
0,02mg/Kg e após dez minutos administrou-se Cloridrato de Xilazina
4
, na dose de
0,1mg/Kg, ambos por via intra-venosa. O campo operatório foi preparado empregando-
se tricotomia da região torácica direita e esquerda e antissepsia com álcool etílico
5
70%
e gluconato de clorohexidina
6
. Para efetuar a manipulação cirúrgica foi realizado um
bloqueio local infiltrativo em “L” duplo, utilizando Cloridrato de lidocaína
7
sem
vasoconstrictor, na dose de 7mg/Kg. Este anestésico foi diluído em solução fisiológica
na proporção de 1:1. Foram efetuadas seis feridas, sendo três em no hemi-tórax direito e
três no hemi-tórax esquerdo, na região caudal a escápula, abaixo 10cm da coluna dorsal
e com distância de 10cm entre si (Fig. 1A). As feridas foram produzidas com auxílio de
moldes adesivos de papel de 4,0cm
2
previamente confeccionados e esterilizados em
autoclave. Após demarcação da área a pele foi incidida com lâmina de bisturi e
divulsionada da tela subcutânea com tesoura e pinça anatômica até sua ressecção. A
hemostasia da área foi realizada por compressão digital sobre os capilares.
As lesões cutâneas receberam o tratamento de acordo com a metodologia
estabelecida:
3
Sulfato de Atropina 0,025%. Lafepe.PE
4
Anasedan 2%. Vetbrands do Brasil.SP
5
Álcool etílico. Lafepe.PE
6
Riohex. Rioquímica.SP
7
Lidoston 2%. Ariston.SP
Grupo Controle (GC), foram consideradas as feridas localizadas no hemi-tórax
direito, dos 16 animais, as quais receberam aplicação tópica de lanolina e curativo
secundário
8
;
Grupo Policaju (GTI), as feridas localizadas no hemi-tórax esquerdo de oito
animais e que receberam aplicação tópica da pomada de Policaju e curativo secundário
e
Grupo Jacaratia (GTII) as feridas localizadas no hemi-tórax esquerdo de oito
animais e que receberam a aplicação tópica da pomada de Jacaratia corumbensis O.
kuntze e curativo secundário (Fig.1B).
Diariamente os tratamentos terapêuticos supracitados foram realizados. Foi
colocado um curativo único externo previamente confeccionado com compressa de gaze
e atadura de crepom
9
(Fig.1C). Os exames clínicos para avaliação das feridas foram
realizados com 24 horas de pós-operatório e a cada três dias, observando-se a presença
de hiperemia, edema, sangramento, presença das crostas, do curativo secundário, de
tecido de granulação e de tecido cicatricial. As interpretações foram registradas em
fichas de evolução clínica pós-operatória (Anexo 1). Cada parâmetro contém as
descrições observadas nas feridas de cada grupo durante as avaliações. Para cada
parâmetro e suas respectivas manifestações foram atribuídos valores numéricos
(escores). Verificou-se o resultado das sete variáveis, segundo o grupo em cada um dos
tempos de avaliação. O estudo estatístico dos escores foi analisado pelo teste exato de
Fisher. O nível de significância foi de 5% (0,05).
Para avaliar a contração das feridas, as mesmas foram fotografadas, decalcadas em
acetato de celulose
10
(Fig.1D) e medidas as suas bordas empregando-se paquímetro, no
momento da cirurgia (To), no 7º (T
1
), 14º (T
2
) e 28º (T
3
) dias de evolução pós-cirúrgica.
Para o cálculo das áreas das feridas, foi realizada a medição de suas bordas no momento
da produção das falhas e nos dias de avaliações (T
1
, T
2
e T
3
), observando-se o maior e
menor diâmetro. A partir desses elementos, a área foi calculada, utilizando a equação
matemática recomendada por Prata et al. (1988) onde “A” representa a área, “R” o raio
maior e “r” o raio menor da lesão.
A = π.R.r
8
Adaptic. Johnson & Johnson.SP
9
Atadura de crepom. Cremer.SC
10
Transparência. IBA.SC
O cálculo do grau de contração foi expresso em percentual assim como o índice de
cicatrização utilizando-se a equações matemáticas propostas por Ramsey et al. (1995),
onde Wo = a área inicial da ferida; Wi = a área da ferida no dia da biopsia (T
1
, T
2
e T
3
).
Percentual médio de contração
100 X (Wo – Wi) = M= +/- DP
Wo
Para realização do estudo estatístico os resultados de área e contração das feridas
foram expressos como média + desvio padrão, submetidos à análise de variância e ao
Teste de Tukey. O nível de significância utilizado foi de 5% (0,05).
Figura 1. Procedimentos desenvolvidos durante o estudo experimental. A -Feridas cutâneas produzidas
no hemi-tórax esquerdo após ressecção de pele total no momento da cirurgia (To). B - Feridas no
momento da cirurgia (To) após aplicação tópica da pomada do extrato de Jacaratia corumbensis O.kuntze
e curativo secundário. C-Alojamento individual dos animais observando-se um caprino com curativo
externo confeccionado com compressa de gaze utilizado no pós-operatório. D - Decalque das lesões em
acetato de celulose no momento da cirurgia (To).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
o houve diferença significativa entre os tratamentos efetuados nas feridas dos
grupos experimentais.
Neste estudo verificou-se que até o dia de evolução pós-cirúrgica todas as
feridas apresentavam hiperemia (100%), edema circunscrito a área da ferida (75%) e
ausência de secreção (100%). Estas reações são consideradas fisiológicas representando
pré-requisito à cicatrização, correspondendo à fase inflamatória caracterizada pelo
aparecimento de rubor, calor, tugor e dor mediada pela ação da bradicinina e cinina
(MODOLIN, 1992; KOOPMANN, 1995). Os resultados observados neste estudo não
corroboram com o que foi observado por Schirato et al. (2006) que relataram menos
intensidade nos sinais flogísticos em feridas tratadas com o polissacarídeo proveniente
do Anacardium occidentale L., uma vez que em todos os grupos experimentais deste
estudo os parâmetros supracitados foram uniformes.
Os resultados do edema e da hiperemia segundo o grupo por tempo de avaliação
apresentam-se na Tabela 1. No 1º dia de evolução pós-cirúrgica todas as feridas
apresentavam edema e hiperemia nas quatro bordas; nas avaliações ao 7º, 14º e 28º dias
nenhuma ferida apresentava tais alterações. Para nenhuma das variáveis analisadas foi
comprovada diferença significante entre os três grupos em nenhum dos tempos de
avaliação.
Tabela 1. Avaliação comparativa do edema e da hiperemia segundo o grupo por tempo
de avaliação pós-cirúrgica
Grupo
Variável/Tempo de
avaliação
Escore GC GT I GT II Grupo Total Valor de p
N % N % N % n %
EDEMA
1 dia 4 bordas 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
7 dias Ausente
8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
14 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
28 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
HIPEREMIA
1 dia 4 bordas 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
7 dias Ausente
8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
14 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
28 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0 p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,0
(1) – Através do teste Exato de Fisher.
Foi observada a presença de crosta em todas as feridas, sendo que no grupo
controle a o dia havia ausência da crosta em 100% das feridas provavelmente
devido ao constante trauma produzido pela aderência e retirada do curativo. Quanto ao
aspecto clínico as colorações das crostas variaram de vermelha a marrom, de delgada a
espessa no grupo controle, no grupo Jacaratia, de amarela a marrom, tendo aspecto
semelhante à pomada produzida com o extrato da planta, neste grupo a crosta também
variava de delgada a espessa, porém despreendia-se com facilidade, durante a troca de
curativos. No grupo Policaju foi observado que a pomada formava uma película sobre o
leito cruento das feridas, conferindo um melhor aspecto clínico às feridas em relação
aos demais grupos.
A presença de crosta em uma ferida não é considerada pré-requisito para a
cicatrização (STRACHAN, 1996) e pode apresentar vantagens e desvantagens para a
evolução do processo. A crosta é formada pela dessecação da superfície da ferida e
funciona como uma barreira física protegendo-a de contaminação, servindo também
como bandagem natural à homeostase (FITCH e SWAIM, 1995), porém a espessura da
crosta pode interferir no processo de cicatrização por dificultar a oxigenação local
(STRACHAN, 1996) e a migração do epitélio que se desenvolve abaixo dela, de modo
que as células epidérmicas precisem secretar enzimas proteolíticas a fim de dissolver a
base da estrutura da crosta e prosseguir a epitelização (POPE, 1993).
Os resultados das variáveis: crosta, sangramento, curativo secundário e tecido de
granulação segundo o grupo por tempo de avaliação apresentam-se na Tabela 2. No
primeiro e no 28º dia nenhuma ferida apresentou crosta; no dia todas as feridas
tinham a crosta presente; no 14º dia todas as feridas do GC e GT II apresentaram crosta
enquanto que no GT I, apenas 50% feridas tinham a crosta presente (Figura 2). A única
diferença significativa entre os grupos foi registrada aos 14 dias (p < 0,05).
Em relação ao sangramento, na avaliação com um dia todas as feridas do GC
apresentaram sangramento, sendo este parâmetro presente nas feridas deste grupo até o
dia de evolução pós-cirúrgica nas avaliações. Nos demais dias de avaliação não foi
observado sangramento nas feridas de todos os grupos experimentais (Figura 3). A
única diferença significativa entre os grupos foi registrada no dia (p < 0,05). Este
achado presente nas feridas do GC deveu-se a aderência do curativo secundário às
feridas, uma vez que a lanolina fixava-se aos curativos aderindo-os ao leito cruento das
feridas, causando o sangramento todas as vezes que o curativo secundário era retirado.
No dia de avaliação pós-cirúrgica todas as feridas do GC e do GT II tinham
curativo secundário e no GT I apenas duas feridas tinha o referido curativo presentes.
No dia 75% das feridas do GC, 50% do grupo GT I e 25% do grupo GT II tinham o
curativo presente. No 14º e 28º dia todas as feridas estavam sem curativo secundário
(Figura 4). A única diferença significativa entre os grupos foi registrada no dia de
avaliação (p < 0,05).
Foi evidenciado tecido de granulação a partir do dia de evolução pós-cirúrgica
em todas as feridas. No GT II a partir do dia este tecido preenchia todo o leito das
feridas. Como no GC as crostas eram bem aderidas, o tecido de granulação muitas vezes
não era visualizado nas avaliações. A coloração observada variava de rósea a vermelho.
Esta cor conferida ao tecido de granulação se deve à grande quantidade de vasos
neoformados (MODOLIN, 1992), sendo essencial para a cicatrização pois carreia novos
fatores para o interior da ferida (STEED, 1997). O tecido de granulação caracteriza a fase
de fibroplasia e corresponde ao primeiro produto de crescimento fibroblástico e
endotelial (OLIVEIRA, 1992), conferindo à ferida uma barreira protetora contra
microrganismos (ANDERSON, 1996), sendo resistente à infecção desde que possua
suprimento sanguíneo adequado. Com relação ao tecido de granulação observou-se a
ausência do mesmo em todas as feridas 1º e 28º dia de evolução pós-cirúrgica. No 7º dia,
com exceção de duas feridas do GT II, todas as demais feridas tinham tecido de
granulação presente. Para nenhum dos tempos de avaliação comprovou-se diferença
significativa entre os grupos.
Tabela2. Avaliação da crosta, sangramento, curativo secundário e tecido de granulação
segundo o grupo por tempo de avaliação
Grupo
Variável/Tempo de
avaliação
Escore GC GT I GT II Grupo
Total
Valor de p
n % n % n % n %
CROSTA
1 dia Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
7 dias Presente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
14 dias Presente 8 100,0
4 50,0 8 100,0
20 83,3 p
(1)
=
0,0198*
Ausente - - 4 50,0 - - 4 16,7
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
28 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
SANGRAMENTO
1 dia Presente 8 100,0
- - - - 8 33,3 p
(1)
<
0,0001*
Ausente - - 8 100,0
8 100,0
16 66,7
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
7 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
14 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
28 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
CURATIVO
SECUNDÁRIO
1 dia Presente 8 100,0
2 25,0 8 100,0
18 75,0 p
(1)
=
0,0006*
Ausente - - 6 75,0 - - 6 25,0
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
7 dias Presente 5 62,5 4 50,0 2 25,0 11 45,8 p
(1)
=
0,4591
Ausente 3 37,5 4 50,0 6 75,0 13 54,2
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
14 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
28 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
TECIDO
GRANULAÇÃO
1 dia Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
7 dias Presente 8 100,0
6 75,0 8 100,0
22 91,7 p
(1)
=
0,3043
Ausente - - 2 25,0 - - 2 8,3
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
14 dias Presente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
28 dias Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
(*) – Diferença significante a 5,0%. (1) – Através do teste Exato de Fisher.
100,0
50,0
100,0
0
20
40
60
80
100
120
GC GT I GT II
Percentual feridas com crosta
Figura 2. Percentual de feridas com crostas, na avaliação com 14 dias, segundo o grupo
100,0
0,0 0,0
0
20
40
60
80
100
120
GC GT I GT II
Percentual feridas com sangramento
Figura 3 – Percentual de feridas com sangramento, na avaliação, com um dia segundo o grupo
100,0
25,0
100,0
0
20
40
60
80
100
120
GC GT I GT II
Percentual feridas com curativo
secundário
Figura 4. Percentual de feridas com curativos, na avaliação com um dia, segundo o grupo
Os resultados de tecido cicatricial segundo o grupo por tempo de avaliação
podem ser analisados na Tabela 3, onde se verifica que no 1º dia de avaliação nenhuma
ferida tinha tecido cicatricial enquanto que nas avaliações ao 7º, 14º e 28º dias todas as
feridas analisadas tinham presença do referido tecido nas quatro bordas. Não se
comprovou diferea significativa entre os grupos para nenhum dos tempos analisados.
Tabela 3. Avaliação do tecido cicatricial segundo o grupo por tempo de avaliação
Grupo
Variável/Tempo de
avaliação
Escore GC GT-I GT-II Grupo
Total
Valor de p
n % n % n % n %
TECIDO
CICATRICIAL
1 dia Ausente 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
7 dias 4 bordas 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
14 dias 4 bordas 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
28 dias 4 bordas 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
p
(1)
=
1,0000
TOTAL 8 100,0
8 100,0
8 100,0
24 100,
0
(1) – Através do teste exato de Fisher.
Na avaliação da contração das feridas verificou-se que o valor médio da área das
lesões foi de 4,27cm
2
+0,81 no GC, 4, 40cm
2
+0,80 no GT I e 4,43cm
2
+0,83 no GT II
ao dia, reduzindo para 0,56cm
2
+0,35, 0,94 cm
2
+0,41 e 0,55cm
2
+0,31 ao 14º dia,
respectivamente(Figura 4).
Com relação ao percentual médio de contração observou-se que no de evolução
pós-cirúrgico havia ocorrido uma redução na área das feridas de 33,34% no GC, 32% no
GT I e 32,1% no GT II. No 14º dia esta redução já era de 91,25%, 90% e 91,62%,
respectivamente, no GC, GT I e GT II.. Foi observado que no 28º dia de avaliação todas
as lesões estavam cicatrizadas (Figura 5).
Na análise estatística não houve diferença significativa entre os grupos quanto à
área e o percentual de contração das feridas.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
7 14 28
Dias de Avaliação
Área da Ferida (cm
2
)
Grupo Controle (GC)
Grupo Policaju (GTI)
Grupo Jacaratia (GTII)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
7 14 28
Dias de Avaliação
Percentual de Contração (%)
Grupo Controle (GC)
Grupo Policaju (GTI)
Grupo Jacaratia (GTII)
b
b
c c c
b
Figura 5. Valor médio (cm2) da área das feridas ao 7º, 14º e 28º dia de evolução pós-cirúrgica. Letras
iguais significam que não há diferença estatística.
Figura 6. Valor médio do percentual de contração (%) da área das feridas ao 7º, 14º e 28º dia de evolução
pós-cirúrgica. Letras iguais significam que não há diferença estatística.
A contração da área da ferida ocorre juntamente com a epitelização,
caracterizando a cicatrização por segunda intenção (MADDEN e AREM, 1991). Ao
dia os miofibroblastos alinhados nos eixos de contração e produzindo movimentos
centrípetos das bordas da ferida (POPE, 1993), são capazes de reduzir a área da lesão
a a a
a a a
b
b
b
c
c
c
facilitando a epitelização. A contração do tecido de granulação, segundo MAC-GRAFT
(1982) está associada à ação mediadora das prostaglandinas. Como o 14º dia
corresponde à fase de fibroplasia (OLIVEIRA, 1992) observa-se a presença do
fibroblasto e do miofibroblasto correspondendo a 30% da população (MODOLIN,
1992) sendo esperado que a contração seja mais pronunciada nesta fase, conforme
observado neste estudo. Com 28 dias ocorre à fase de maturação da cicatrização, que
corresponde à diminuição do número de fibroblastos e miofibroblastos
(KOOPMANN,1995) com remodelação de colágeno (MODOLIN, 1992).
Todas as feridas evoluíram dentro do tempo esperado (Figuras 6, 7 e 8),
ressaltando que ao 21º dia de evolução pós-cirúrgica todas as lesões estavam
reepitelizadas. Tal resultado pode ser explicado pelos cuidados direcionados para com
as feridas, o estado clínico dos caprinos, a individualidade dos mesmos e a utilização de
curativos de proteção externa.
Vale ressaltar que apesar de não haver diferença significativa na evolução do
processo cicatricial das feridas dos grupos experimentais, a pomada proveniente
polissacarídeo do Anacardium occidentale mostrou-se de mais fácil manuseio e
aplicação, pois não aderia-se ao aplicador e formava uma película sobre o leito das
feridas conferindo um melhor aspecto clínico às feridas, além de formar uma barreira de
proteção à microrganismos e presença de miíases.
Figura 7. Evolução das feridas do Grupo Controle. A - Visualização da ferida ao 7º de evolução pós-
cirúrgica observando crosta rugosa e aderida recobrindo toda área cruenta. B - Visualização
da ferida ao 14º de evolução pós-cirúrgica observando crosta espessa em toda área cruenta e
tecido cicatricial ao redor de toda ferida. C - Visualização da ferida ao 28º de evolução pós-
cirúrgica observando reepitelização da área.
Figura 8 Evolução das feridas do Grupo Policaju (GT I). A - Visualização da ferida ao de evolução
pós-cirúrgica observando a película formada pela utilização da pomada do Policaju
recobrindo toda área cruenta. B - Visualização da ferida ao 14º de evolução pós-cirúrgica
observando a película e tecido cicatricial ao redor de toda ferida, além de tecido de
granulação. C - Visualização da ferida ao 28º de evolução pós-cirúrgica observando
reepitelização da área.
Figura 9. Evolução das feridas do Grupo Jacaratia (GT II). A - Visualização da ferida ao 7º de evolução
pós-cirúrgica observando crosta recobrindo toda área cruenta com aspecto semelhante à
pomada do extrato de Jacaratia corumbensis O. kuntze. B - Visualização da ferida ao 14º de
evolução pós-cirúrgica observando crosta delgada em toda área cruenta e tecido cicatricial
ao redor de toda ferida.C - Visualização da ferida ao 28º de evolução pós-cirúrgica
observando reepitelização da área.
CONCLUSÕES
A utilização das pomadas provenientes do polissacarídeo do Anacardium occidentale L.
e do extrato em da Jacaratia corumbensis O. kuntze em feridas cutâneas induzidas
experimentalmente não reduz o tempo de cicatrização.
A utilização da pomada proveniente do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. foi
de fácil aplicação em feridas cutâneas, conferindo uma alternativa para tratamento de
feridas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, D. Wound management in small animal practice. In Practice. march, p.
115-128, 1996.
ANDRADE, L.S.S.; ALMEIDA, E.L.; COELHO, M.C.O.C. Utilização de mel e Lippia
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ANEXO 1. Ficha de evolução clínica das feridas com escala descritiva dos aspectos
avaliados
PARÂMETRO ESCORE DESCRIÇÃO
Edema 0
1
2
3
4
Ausente
Uma borda
Duas bordas
Três bordas
Quatro bordas
Hiperemia 0
1
2
3
4
Ausente
Uma borda
Duas bordas
Três bordas
Quatro bordas
Crosta 0
1
Ausente
Presente
Sangramento 0
1
Ausente
Presente
Curativo secundário 0
1
Ausente
Presente
Tecido de Granulação 0
1
Ausente
Presente
Tecido Cicatricial 0
1
2
3
4
Ausente
Uma borda
Duas bordas
Três bordas
Quatro bordas
Avaliação bacteriológica de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com as pomadas do polissacarídeo proveniente do Anacardium occidentale
L. e do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze
Experimento 2
Trabalho formatado de acordo com as normas da
Revista Veterinária Notícias - ISSN 0104-3463
Uberlândia-MG
Avaliação bacteriológica de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com as pomadas do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. e do
extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze
Bacteriological evaluation of cutaneous wounds in goats (Capra hircus L.) treated with
the ointment of the polycaccharide of the cashew tree Anacardium occidentale L and
the of powdered extract the Jacaratia corumbensis O. kuntze
Lílian Sabrina Silvestre de Andrade
1*
; Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho
2
;
Grazielle Anahy de Sousa Aleixo
1
;
Vanda Lúcia da Cunha Monteiro
1
;
Patrícia Galindo
Carrazzoni
1
RESUMO
Objetivou-se através desse estudo identificar, através de análises microbiológicas, os
principais tipos bacterianos presentes em 30 feridas experimentalmente produzidas na
pele de caprinos, tratadas com a pomada do polissacarídeo do Anacardium occidentale
L. e com a pomada do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze. Foram
utilizados swabs estéreis para realização das coletas no momento da produção da ferida,
no 7º, 14ºe 28º dias de evolução pós-cirúrgica. As bactérias encontradas foram
Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Bacillus sp, Shigella sp, Enterobacter sp e
Micrococcus sp. Conclui-se que feridas experimentalmente produzidas em animais da
espécie caprina e tratadas com as referidas pomadas estão susceptíveis à contaminação
por uma variedade de bactérias, principalmente por aquelas que fazem parte da
microflora da pele, como o Staphylococcus aureus.
Palavras-chave: Bactérias, cabras, pele.
_____________________________
1
Médica Veterinária, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária (PPGCV) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
2
Médica Veterinária, Doutora, Professora Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE.
*Autora para correspondência. Endereço: Estrada do Arraial, 3720. Aptº 704. Casa Amarela. Recife-PE.
Cep.: 52050-130. E-mail: lilianssandrade@yahoo.com.br
SUMMARY
The objective of this study was to identify, through microbiological analysis, the main
bacterial types present in 30 wounds experimentally produced in the skin of goats
treated with the oitement of the polycaccharide of the cashew tree Anacardium
occidentale L (GTI) and of the powdered extract the Jacaratia corumbensis O. kuntze
(GTII). Swabs sterile were accomplished in the moment of the production of the wound
(T
0
) and on the days 7
(T
1
), 14 (T
2
) and 28 (T
3
) after-surgical to identify present
bacteria. The bacteria found were Staphylococcus sp, Bacillus sp, Shigella sp,
Enterobacter sp and Micrococcus sp (GTI) and Staphylococcus sp, Streptococcus sp
and Bacillus sp (GTII). It was concluded that wounds experimentally produced in goats
treated with to referring ointment are susceptible of contamination by a variety of
bacteria, mainly by those that are part of the microflora of the skin such as
Staphylococcus aureus.
Key-words: Bacteria, goats, skin.
INTRODUÇÃO
As feridas cutâneas, sejam elas natural ou experimentalmente adquiridas, se
revestem de importância para a área médica, devido à sua alta freqüência, ao sofrimento
que ocasionam para o paciente, e à proliferação de bactérias que são verificadas na
maioria dos casos, além dos altos custos dos tratamentos usualmente empregados
(PEIXOTO e SANTOS, 1988).
Uma ampla variedade de produtos naturais tem sido usada no tratamento de
feridas pela facilidade de utilização, inocuidade, baixo custo e poder bactericida ou
bacteriostático (MATHEWS e BINNIGTON, 2002).
O Anacardium occidentale L, conhecido popularmente como cajueiro, é uma
planta frutífera tropical, pertencente à família Anacardiaceae (MENESTRINA et al.,
1998), sendo utilizada para a reabilitação de feridas cutâneas em camundongos, por
colaborar com o processo cicatricial (ROCHA et al., 2001). Já a Jacaratia corumbensis
O. kuntze, popularmente conhecida como mamãozinho de veado, é um arbusto nativo
da região semi-árida do Nordeste (CAVALCANTI et al., 2002). Essa planta tem sido
pouco estudada em relação às suas potencialidades para uso como fitoterápico
(DUARTE et al., 2002).
Apesar do arsenal de medidas terapêuticas existentes para o tratamento de feridas,
a presença de infecção na mesma tem a capacidade de retardar o processo de
cicatrização, na medida em que um prolongamento de uma de suas fases, a
inflamatória. Muitos dos microrganismos presentes nas feridas são patógenos e podem
ser deletérios à cicatrização, mesmo pertencendo à flora bacteriana da pele (BOWLER,
1998).
O organismo humano e dos animais possui uma flora normal conhecida como
microbiota, que se refere aos microrganismos, sejam eles bactérias, vírus ou fungos, que
vivem normalmente sobre ou no interior dos mesmos (CARTER, 1988a; SOUZA e
SCARCELLI, 2000) e por causa dos hábitos dos animais e ambientes em que vivem, é
comum que os mesmos apresentem uma flora bacteriana e fúngica diversificada em seus
pêlos e pele (CARTER, 1988a).
As bactérias encontradas na pele podem ser classificadas em transitórias, quando
se proliferam, mas não conseguem manter um nicho e são consideradas contaminantes;
residentes, que se multiplicam e mantêm uma população estatística e consistente; e, por
último, nômades, quando têm a capacidade de colonizar a pele e se reproduzir em um
curto espaço de tempo (SCOOTT et al., 1995; IHRKE, 1996; SAIJONMAA-
KOULUMIES & LLOYD, 1996).
Nas feridas as bactérias podem estar presentes causando contaminação ou
infecção. Para a ferida ser considerada infectada, ela deve possuir 10
5
bactérias por
grama de tecido (KOOPMANN, 1995).
Tem - se observado que as microbiotas de várias espécies de animais domésticos
não têm sido o estudadas, quando comparadas aos seres humanos e ratos (CARTER,
1988a).
Visto à escassa produção de trabalhos científicos relacionados à microflora
bacteriana da pele de caprinos, esse trabalho foi desenvolvido com o intuito de
contribuir para a identificação dos principais gêneros de bactérias que podem
contaminar ou infectar feridas cutâneas em animais dessa espécie, tratados com a
pomada do polissacarídeo proveniente do cajueiro Anacardium occidentale L. e com a
pomada do extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização do experimento foram estudadas 30 feridas produzidas em 20
caprinos, sem raça definida, fêmeas, adultas e com peso médio de 24kg, provenientes da
cidade de Camaragibe-PE. Os animais foram alojados em apriscos suspensos e ripados
nas dependências do Hospital Veterinário do Departamento de Medicina Veterinária
(DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sob regime intensivo.
Inicialmente os mesmos eram mantidos em número de cinco para cada aprisco, mas
após a fase inicial de adaptação às condições de manejo e alimentação (10 dias), os
pacientes foram instalados individualmente.
Só foram considerados elegíveis para o estudo, aqueles pacientes onde após exame
clínico, hematológico e coproparasitológico, constatou-se higidez.
Aos animais foram fornecidos água, capim elefante (Pennisetum purpureum) e sal
mineral ad libitum, além de ração balanceada para caprinos.
Para obtenção e preparação da pomada do polissacarídeo proveniente do cajueiro
Anacardium occidentale L. (P-JU), a goma isenta da casca do cajueiro amarelo, foi
purificada de acordo com o método de Oliveira (1999). A goma bruta foi triturada
utilizando moinho tipo mandíbula, solubilizada em água destilada na concentração de
20% (p/v), a 28ºC e filtrada em tecido (Vual) e tela de serigrafia (90 e 110 fios). O
filtrado restante foi precipitado, com etanol (3=1 v/v), permanecendo os mono e
oligossacarídeo em solução. O produto obtido foi macerado manualmente com gral
75 e pistilo nº 75, obter o P-JU.
A pomada do extrato em da Jacaratia corumbensis O. kuntze foi produzida a
partir da túbera que após lavagem com água corrente foi descascada e finamente
laminada para posterior secagem à temperatura ambiente. Realizou-se então a trituração
com gral e pistilo, obtendo assim o extrato em pó. Foram preparada
Grupo Controle (GC): foram consideradas as feridas localizadas no hemi-tórax
direito, dos 20 animais, as quais receberam aplicação tópica de lanolina e curativo
secundário;
Grupo Policaju (GTI): as feridas localizadas no hemi-tórax esquerdo de dez
animais e que receberam a aplicação tópica da pomada de P-JU e curativo secundário e;
Grupo Jacaratia (GTII): as feridas localizadas no hemi-tórax esquerdo de dez
animais que receberam aplicação tópica da pomada de Jacaratia corumbensis O. kuntze
e curativo secundário.
Foi colocado um curativo único externo previamente confeccionado com
compressa de gaze e atadura de crepom. A troca de curativos foi realizada diariamente,
aplicando-se 1ml das formulações preconizadas no leito de cada ferida.
As análises bacteriológicas foram realizadas utilizando-se amostras colhidas
através "swabs" na área da lesão no momento da produção da ferida (T
0
) ,(T
1
), 14º
(T
2
) e no 28º (T
3
) dias após a cirurgia. O material foi encaminhado ao Laboratório de
Doenças Infecto-Contagiosas da mesma instituição, onde as amostras foram semeadas
em placas de petri, contendo Ágar sangue ovino e Ágar Levine e incubadas em estufa
bacteriológica à 37ºC, durante 24 horas. Posteriormente, efetuaram-se leituras,
anotando-se os aspectos de crescimento das colônias e produção de hemólise em Ágar
sangue. A classificação foi realizada de acordo com as características morfológicas das
colônias e morfotintorias à técnica do Gram.
Para classificação de enterobactérias utilizaram-se as provas bioquímicas de
Citrato, Lisina Descaboxilase, Ágar Triples Ferro e Açúcar (TSI), Vermelho de Metila
(VM), Voges Proskauer (VP), Produção de Endol, Urease e Motilidade. Os
estafilococos foram classificados através de provas bioquímicas tais como: Fermentação
e Oxidação da Glicose, Fermentação da Maltose, Dnase, Fermentação do manitol, além
da observação da produção de pigmentos da colônia, coagulase, presença e o tipo de
hemólise em ágar-sangue seguindo-se a metodologia recomendada por CARTER
(1988d).
Considerou-se cultura positiva quando houve o crescimento de microrganismos
consistente em pelo menos duas estrias em cada amostra. A presença de secreção nas
feridas determinou a coleta imediata do material para realização de cultura e
identificação do microrganismo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas avaliações realizadas no momento de produção das feridas cutâneas (To)
não houve crescimento bacteriano. Isto ocorreu provavelmente devido à atividade da
clorohexidina utilizada como antisséptico neste experimento. Segundo Dealey (1996), a
clorohexidina é amplamente utilizada em várias fórmulas aquosas, dada a sua eficácia
contra microorganismos Gram-positivos e Gram-negativos, além de apresentar baixa
capacidade citotóxica. Também é citado por Lee et al. (1982), Boddie et al. (1990),
Phillips et al. (1991) e Swaim et al. (1991) que esse agente bactericida de amplo
espectro apresenta atividade residual prolongada e mantém sua atividade antibacteriana,
mesmo na presença de matéria orgânica.
As bactérias isoladas nos demais momentos foram agrupadas de acordo com o dia
de avaliação. No dia (T
1
) observou-se crescimento de Staphylococcus sp,
Streptococcus sp e Bacillus sp no GC, Staphylococcus sp, Bacillus sp e Enterobacter
agglomerans no GTI e no GTII e Staphylococcus sp, Streptococcus sp.
No 14º dia (T
2
) observou-se o crescimento de Staphylococcus sp, Streptococcus
sp, Bacillus sp no GC e GTII, e no GTI Staphylococcus sp, Bacillus sp, Shigella sonnei
e Enterobacter agglomerans.
No 28º dia (T
3
) foi observado crescimento de Staphylococcus sp e Bacillus sp no
GC, Staphylococcus sp, Bacillus sp, Shigella sonnei e Micrococcus sp no GTI e no GTII
Staphylococcus sp, Streptococcus sp.
As figuras 1, 2 e 3 ilustram as bactérias isoladas nas fridas dos grupos GC, GT I
e GT II, nos dias de avaliação.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Prevalência (%)
7 14 28
Dias de Avalião
G.TII -Staphylococcus sp
G.TII -Streptococcus sp
G.TII - Bacillus sp
Figura 3. Prevalência das bactérias isoladas nas feridas do grupo tratado com a pomada de Jacaratia
corumbensis, 7º, 14º e no 28º de avaliação.
Durante a realização do experimento todos os animais foram mantidos com um
curativo externo ao redor do tórax, pois de acordo com Pereira e Arias (2002) o curativo
pode ser considerado um aliado essencial no tratamento de feridas abertas, visto que ele
funciona como uma barreira física, protegendo as feridas de contaminação. Mesmo
assim foi observado neste estudo a contaminação das feridas pelas bactérias
supracitadas.
Ao se analisar todas as amostras, observou-se maior incidência de bactérias
Gram positivas, dentre elas, o Staphylococcus aureus (Fig. 4), presente em todos os
momentos de avaliação. Resultado semelhante foi obtido por Coelho et al. (2002)
atribuiram a maior freqüência dessa bactéria ao fato desse microrganismo ser
pertencente à flora da pele. Traverso et al. (2003) citam que ela é normalmente
encontrada na pele e mucosas de animais. Esses dados corroboram com Scoott et al.
(1995), Ilrke (1996), Saijonmaa-Koulumies (1996) e Souza Filho (1997), que relatam
que o Staphylococcus aureus, por pertencer à microbiota da pele, pode migrar para o
leito da ferida tornando a mesma contaminada ou infectada. Neste estudo não foi
realizada análise quantitativa das bactérias, porém pode-se presumir que não houve
infecção nas feridas avaliadas, uma vez que as mesmas não apresentavam sinais
sugestivos como secreção, presença de pus e odor fétido, bem como não houve retardo
no processo cicatricial, pois bactérias presentes em tecidos infectados liberam toxinas,
enzimas proteolíticas e detritos celulares, prolongando a fase inflamatória da
cicatrização.
Outro dado importante é que os Staphylococcus sp são as bactérias não
esporuladas que mais resistem no meio ambiente, podendo desta forma servir como
fonte de contaminação ou infecção por um período mais prolongado em relação às
outras bactérias menos resistentes (ANVISA, 2004).
Figura 4. Aspecto morfológico de colônias de Staphylococcus sp. semeadas em placas de Petri, contendo
ágar sangue.
Bactérias do gênero Streptococcus sp isoladas em feridas dos animais do GTII
do GC, provavelmente surgiram pelo fato deste microrganismo também estar presente
na pele dos animais, corroborando com as observações de Carter (1988b) o qual cita que
microrganismos dessa classe são amplamente distribuídos na natureza, podendo estar
presentes na flora cutânea, tanto espécies potencialmente patogênicas como não
patogênicas.
A presença do Bacillus sp no leito das feridas dos animais de todos os grupos
estudados, pode ter sido ocasionada por contaminação ambiental no momento em que
bacteriana pode ainda ser encontrada em águas contaminadas com fezes humanas, sendo
comumente associadas a surtos de toxi-infecção alimentar em seres humanos, ou ainda
no solo e vegetais. De acordo com Merchant e Packer (1970) as moscas também devem
ser consideradas como importante meio de difusão.
O fato dos animais serem mantidos em apriscos de madeira suspensa, que tem o
intuito de facilitar o escoamento das fezes, não impediu a presença dessas bactérias de
origem intestinal nas amostras analisadas, o que pode levar à dedução de que mesmo
nesse tipo de instalação, a contaminação por bactérias fecais o é totalmente
suprimida. A contaminação pelas bactérias Bacillus sp, Enterobacter agglomerans e
Shigella sonnei pode ter se dado no momento em que esses animais se deitaram com a
região abdominal em contato direto com o piso. Ressalta-se ainda que no GTI 50% dos
animais retiraram parcialmente o curativo externo expondo as feridas, o que
provavelmente ocasionou a contaminação por Enterobacter agglomerans e Shigella
sonnei, os quais não contaminaram as feridas dos demais grupos.
De acordo com os resultados observados, pode-se sugerir que o crescimento
bacteriano detectado em todos os grupos em todos os momentos de avaliação, tenha se
originado da flora cutânea do animal, do ambiente ou de fezes, uma vez que a solução
de continuidade pode levar a passagem de bactérias para o foco da mesma.
CONCLUSÃO
Feridas cutâneas experimentalmente produzidas em caprinos tratados com as
pomadas do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. e do extrato em da
Jacaratia corumbensis O. kuntze podem apresentar bactérias dos gêneros
Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Bacillus sp, Shigella sp, Enterobacter sp e
Micrococcus sp.
______________________________
MATERIAIS DA PESQUISA
a) Ovisfós – Supranor– Recife/PE
b) Ração para caprinos Socil – São Lourenço da Mata/PE
c) Farmácia de Manipulação Roval – Recife/PE
d) Sulfato de Atropina 0,025% – Lafepe – Recife/PE
e) Anasedan 2% – Vetbrands do Brasil – São Paulo/SP
f) Álcool etílico – Lafepe – Recife/PE
g) Riohex – Rioquímica – São Paulo/SP
h) Lidoston 2% – Ariston – São Paulo/SP
i) Adaptic – Johnson & Johnson – São Paulo/SP
j) Atadura de crepom – Cremer – Florianópolis/SC
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Avaliação histopatológica de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com as pomadas do polissacarídeo Anacardium occidentale L. e do
extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze
Experimento 3
Trabalho formatado de acordo com as normas da
Revista Ciência Rural - ISSN 0103-8478
Santa Maria-RS
Avaliação histopatológica de feridas cutâneas em caprinos (Capra hircus L.)
tratados com as pomadas do polissacarídeo do Anacardium occidentale L. edo
extrato em pó da Jacaratia corumbensis O. kuntze
Lílian Sabrina Silvestre de Andrade
1*
; Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho
2
;
Grazielle Anahy de Sousa Aleixo
1
;
Vanda Lúcia da Cunha Monteiro
1
Patrícia Galindo
Carrazzoni
1
RESUMO
Objetivou-se através desse estudo avaliar comparativamente, através de avaliações
histopatológicas, a evolução do processo cicatricial de feridas cutâneas de caprinos
tratadas com a pomada do polissacarídeo proveniente do Anacardium occidentale e com
a pomada do extrato em da Jacaratia corumbensis. Para realização do exame
histopatológico, as feridas foram submetidas a biópsias em intervalos diferentes e
previamente determinados; nas produzidas cranialmente a biópsia foi realizada no
dia, as lesões localizadas na região médio-ventral ao 14º dia e as localizadas
caudalmente a biópsia foi realizada ao 28º dia de evolução pós-cirúrgica. Os resultados
revelaram infiltrado inflamatório, neoangiogênse, fibroblastos e fibras colágenas nos
grupos estudados. Concluiu-se que o houve diferença, sob o ponto de vista
histopatológico, entre as feridas tratadas topicamente com as respectivas pomadas.
Palavras-chave: Feridas, cabras, pele.
_____________________________
1
Médica Veterinária, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária (PPGCV) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
2
Médica Veterinária, Doutora, Professora Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE.
*Autora para correspondência. Endereço: Estrada do Arraial, 3720. Aptº 704. Casa Amarela. Recife-PE.
Cep.: 52050-130. E-mail: lilianssandrade@yahoo.com.br
SUMMARY
This study had as objective a comparative evaluation, through histopathological
evaluations, of the evolution of cicatricial process in goats, cutaneous wounds treated
with the ointment of Anacardium occidentale polysaccharide and with from the
powdered extract of Jacaratia corumbensis. For accomplishment of the
histopathological exam, the wounds were submitted to biopsies in different and
previously determined times. The biopsies were done 7 days after surgical production in
cranial wounds, 14 days after surgical production in medium-ventral wounds and 28
days after production in caudal wounds. The results revealed inflammatory infiltrate
cells, neoangiogenesis, fibroblasts and collagens fibers in all studied groups.
Concluding that there was no difference, under the histological point of view.
Key-words: Wounds, goats, skin.
1. INTRODUÇÃO
A pele é o órgão que recobre toda a superfície corporal do homem e dos animais e
considerada o maior órgão do corpo (Amâncio, 2003), exercendo diversas funções,
entre as quais estão proteger contra o traumatismo, agentes químicos, radiação e invasão
de microrganismos; colaborar na termorregulação; impedir a perda de água por
evaporação (dessecção); reservatório de eletrólitos, água, lipídios, carboidratos, e
proteínas, e excreção de várias substâncias (Pavletic, 1993; Hedlund, 2002). Devido a
suas muitas terminações nervosas, permite que o animal responda a vários estímulos
externos, como tato, pressão, vibração, calor, frio e dor Ddyce et al., 1997; Pavletic,
1998).
A pele é formada por duas camadas histologicamente distintas, uma porção epitelial,
a epiderme, que fica localizada mais superficialmente, e a derme, uma porção
conjuntiva, localizada abaixo da epiderme (Ramalho et al., 1997; Amâncio, 2003).
A camada mais externa da pele é constituída por um epitélio pavimentoso
estratificado, e se encontra dividida em cinco camadas (estrato córneo, lúcida, granulosa
e espinhosa) (Banks, 1991).
A derme (ou cório) é o tecido sobre o qual se apóia a epiderme (Junqueira e
Carneiro, 1999). É a camada mais grossa da pele, representando mais de 90% da sua
espessura total (Dockhorn et al, 1992). Apresenta duas camadas, uma superficial
conhecida como papilar, e outra profunda, chamada reticular, que são semelhantes entre
si e de limites pouco distintos (Banks, 1991; Dockhorn, et al, 1992; Ramalho et al.,
1997). Apresenta numerosos vasos sangüíneos, nervos e vasos linfáticos (Banks, 1991;
Hedlund, 2002). Na derme também são encontradas outras estruturas derivadas da
epiderme, como os folículos pilosos, glândulas e unhas (Dyce et al., 1997).
As feridas cutâneas se revestem de importância em função da sua alta freqüência,
do sofrimento que produzem, da proliferação bacteriana verificada em expressivo
número de casos, e também do elevado custo dos tratamentos usualmente ministrados
(PEIXOTO e SANTOS, 1988).
Nos seres vivos a capacidade de reparação tecidual é importante para sua
sobrevivência (SANCHEZ NETO et al., 1993) e diante de uma lesão tissular uma série
de eventos metabólicos são estimulados, visando à reparação dos tecidos por meio da
regeneração e/ou cicatrização (COHEN et al.,1996; CÂNDIDO, 2006; PEREIRA e
ARIAS, 2002).
A cicatrização das feridas é um fenômeno fisiológico que se inicia a partir da
perda da integridade da pele, gerando uma solução de continuidade que atinge os planos
subjacentes em diversos graus e depende de uma série de reações químicas (KENT
LLOYD, 1992). Classicamente este processo constitui uma resposta complexa e
organizada que ocorre logo após uma lesão (STEED, 1997) e está dividido em três
fases: inflamatória; fibroplasia e maturação (COTRAN et al., 2000).
Na primeira fase, inflamatória ou exsudativa, predominam eventos relacionados
com a coagulação sanguínea e o processo inflamatório (PAVLETIC, 1993). Do ponto
de vista histopatológico traduz-se por tumor, calor, rubor e dor (MODOLIN, 1992).
Inicialmente ocorre uma vasodilatação para que ocorra um maior afluxo de sangue,
proteínas séricas, plaquetas e fatores de coagulação (KOOPMANN, 1995). As plaquetas
são as primeiras lulas a produzirem citocinas essenciais à modulação da maioria dos
eventos cicatriciais subseqüentes, nesta etapa ocorrem a fase granulocítica e
macrofágica, através de células granulocíticas (polimornucleares) e macrófagos,
respectivamente. Os macrófagos além da fagocitose também iniciam a reparação através
da secreção de proteases, citocinas e substâncias vasoativas que o continuidade as
fases cicatriciais (FOWLER, 1993; PAVLETIC, 1993; CÂNDIDO, 2006;
RODRIGUES et al., 2001).
A fase de fibroplasia é caracterizada pela formação de um tecido composto de
capilares, colágeno e proteoglicanos, este tecido é denominado tecido de granulação. A
formação neocapilar resulta da liberação de fatores angiogênicos secretados pelos
macrófagos que estimulam a proliferação de células endoteliais dos vasos sangüíneos.
Nesta etapa há produção de colágeno pelos fibroblastos. Aliada à granulação, manifesta-
se a reepitelização com migração e divisão mitótica das células basais nas bordas da
ferida. O terceiro evento dessa etapa é a contração, processo pelo qual ocorre o
fechamento espontâneo da ferida, através da ação dos miofibroblastos (CÂNDIDO,
2006; RODRIGUES et al., 2001).
A fase de maturação ou de remodelação permanece por meses ou anos
(CÂNDIDO, 2006; RODRIGUES et al., 2001) e nesta, as células inflamatórias agudas e
crônicas diminuem gradativamente, cessando também a angiogênese e a fibroplasia. É
também neste período que se constata o equilíbrio entre a síntese e a lise do colágeno,
sendo esta remodelação responsável pela força tênsil do tecido cicatricial (FOWLER,
1993; PAVLETIC, 1993; CÂNDIDO, 2006).
O tratamento de feridas cutâneas representa um desafio na rotina veterinária e
várias pesquisas na área de medicamentos vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de
minimizar os custos e efeitos colaterais das drogas comumente empregadas na
cicatrização de feridas.
As plantas medicinais têm sido tradicionalmente utilizadas no tratamento de
doenças. Na cultura de plantas medicinais, o interesse é focado no teor de princípios
ativos e seus principais constituintes (CARVALHO, 2005).
Dentre os constituintes químicos das plantas podemos destacar os
polissacarídeos ou açúcares múltiplos (CHAMP e HARVEY, 1997). Os polissacarídeos
e seus derivados são utilizados com fins medicinais desde os tempos mais remotos
(BONONI et al., 1995). O uso de açúcar, mel e cogumelos tem sido descrito para
tratamento de diversas afecções. Os polissacarídeos são considerados atualmente,
moléculas farmacologicamente ativas que apresentam a habilidade de modificar a
resposta imune (FIELDS e KOELLER, 1993).
Várias plantas apresentam na sua estrutura polissacarídeos, dentre elas o
Anacardium occidentale L (cajueiro) (RODRIGUES et al., 1993) e a Jacaratia
corumbensis O. kuntze (mamãozinho de veado) (DUARTE et al., 2002). Ambas são
plantas nativas, de fácil cultivo e acesso a pequenos produtores de caprinos. O
polissacarídeo proveniente de A. occidentale (Policaju) vem sendo utilizado em diversas
pesquisas e tem apresentando resultados terapêuticos satisfatórios, potencializando o
processo de cicatrização de lesões cutâneas (ROCHA, 2000; SCHIRATO et al., 2006).
A Jacaratia corumbensis O. kuntze, é uma planta rica em polissacarídeos e
proteases (DUARTE et al., 2002) e não contêm substâncias tóxicas. É utilizada para a
alimentação dos animais em época de estiagem, por ser rico em água e nutrientes,
principalmente, carboidratos (CAVALCANTI, 2002). Porém esta planta é pouco
estudada quanto às suas potencialidades para uso como fitoterápicos e não há relatos na
literatura de seu uso na cicatrização de feridas.
Portanto, extratos de plantas ricos em açúcares podem contribuir para acelerar o
processo de cicatrização de feridas topicamente tratadas (BIONDO-SIMÕES et al.,
1993), representando uma alternativa de tratamento simples e economicamente viável
para todas as camadas sociais.
Este trabalho teve como objetivo avaliar comparativamente, através de exames
histopatológicos, a evolução do processo cicatricial de feridas cutâneas de caprinos
tratadas com as pomadas do polissacarídeo proveniente do Anacardium occidentale\ e
do extrato em pó da Jacaratia corumbensis.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Hospital Veterinário, do Departamento de
Medicina Veterinária (DMV), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),
utilizando 20 caprinos, fêmeas, adultas, sem raça definida, com peso médio de 24Kg e
consideradas clinicamente sadias, provenientes da cidade de Camaragibe-PE.
Os animais foram alocados em baias individuais sob regime intensivo, recebendo
ração balanceada
11
duas vezes ao dia, capim elefante (Pennisetum purpureum) água e
sal mineral comercial
12
ad libitum. Foram protocolados em fichas individuais, e a seguir
submetidos a exames hematológicos e parasitológicos de fezes, recebendo vermífugo
baseado no resultado dos exames, sendo mantidos em adaptação por um período de dez
dias.
Para a obtenção e preparação da pomada do polissacarídeo proveniente do
Anacardium occidentale L. (Policaju) e da pomada do extrato de Jacaratia corumbensis
O. kuntze, foram utilizados a goma isenta da casca do cajueiro amarelo Anacardium
11
Ração para Caprinos Socil. São Lourenço da Mata-PE
12
Ovifós. Supranor. Recife-PE
occidentale L., foi purificada de acordo com o método de Oliveira (1992). A goma bruta
foi triturada utilizando-se moinho tipo mandíbula, solubilizada em água destilada na
concentração de 20% (p/v), a 28ºC e filtrada em tecido (Vual) e tela de serigrafia (90 e
110 fios). O filtrado restante foi precipitado, com etanol (3=1 v/v), permanecendo os
mono e oligossacarídeos em solução. O produto obtido foi macerado manualmente com
gral nº 75 e pistilo nº 75, obtendo o polissacarídeo (Poliaju).
O extrato da Jacaratia corumbensis O. kuntze foi obtido a partir da túbera que
após lavagem com água corrente foi descascada e finamente laminada para posterior
secagem à temperatura ambiente e trituração com gral e pistilo, obtendo-se assim o
extrato em pó.
Foram preparadas duas pomadas, uma obtida pela adição de policaju a lanolina
13
,
na concentração de 33%(p/p) e outra preparada a partir do extrato seco e lanolina estéril,
na proporção de 1:2 m/m respectivamente, a lanolina usada como veículo excipiente.
Para o procedimento cirúrgico experimental, os animais foram pré-medicados
após jejum hídrico e alimentar, respectivamente de 12 e 24 horas, com Sulfato de
Atropina
14
e Cloridrato de Xilazina
15
, na dose de 0,02mg/Kg e 0,1mg/Kg,
respectivamente, por via intra-venosa.
O campo operatório foi preparado empregando-se tricotomia da região torácica
direita e esquerda e antissepsia com álcool etílico
16
70% e gluconato de clorohexidina
17
.
Para efetuar a manipulação cirúrgica foi realizado um bloqueio local infiltrativo em “L”
duplo, utilizando Cloridrato de lidocaína
18
sem vasoconstrictor, na dose de 7mg/Kg,
diluído em solução salina na proporção de 1:1 (v/v). Foram efetuadas seis feridas, sendo
três em no hemi-tórax direito e três no hemi-tórax esquerdo, na região caudal a
escápula, abaixo 10cm da coluna dorsal e com distância de 10cm entre si .
Para demarcação da área foram usados moldes adesivos de papel de 4,0cm
2
previamente confeccionados e esterilizados em autoclave. A pele foi incidida com
lâmina de bisturi e divulsionada da tela subcutânea com tesoura e pinça anatômica até
13
Farmácia de Manipulação Roval- Recife-PE
14
Sulfato de Atropina 0,025%. LAFEPE-PE
15
Anasedan 2%. Vetbrands do Brasil-SP
16
Álcool etílico. LAFEPE-PE
17
Riohex. Rioquímica-SP
18
Lidoston 2%. Ariston-SP
sua ressecção. A hemostasia da área foi realizada por compressão digital sobre os
capilares.
As lesões cutâneas receberam o tratamento de acordo com a metodologia
estabelecida:
Grupo Controle (GC): foram consideradas as feridas localizadas no hemi-tórax
direito, dos 20 animais, as quais receberam aplicação tópica de lanolina e curativo
secundário
19
;
Grupo Policaju (GTI): as feridas localizadas no hemi-tórax esquerdo de dez
animais e que receberam aplicação tópica da pomada de P-JU e curativo secundário e
Grupo Jacaratia (GTII): as feridas localizadas no hemi-tórax esquerdo de dez
animais e que receberam a aplicação tópica da pomada de Jacaratia corumbensis O.
kuntze e curativo secundário.
Foi colocado um curativo único externo previamente confeccionado com
compressa de gaze e atadura de crepom
20
. A troca de curativos foi realizada
diariamente, aplicando-se 1ml das formulações preconizadas no leito de cada ferida.
As avaliações histopatológicas foram realizadas ao 7º, 14º e 28º dias de pós-
operatório. Os fragmentos de pele, os animais foram obtidos através de incisão elíptica,
abrangendo parte do tecido lesado e parte do tecido sadio, para efetuar esta manipulação
foi realizado um bloqueio local infiltrativo em “L” duplo, utilizando Cloridrato de
lidocaína sem vasoconstrictor, na dose de 7mg/Kg, diluído em solução salina na
proporção de 1:1 (v/v). Os fragmentos foram submetidos ao processo histológico de
rotina (MICHALANY, 1991). As peças foram fixadas em formaldeído 10% (v/v),
preparado em solução salina tamponada (PBS 0,01M, pH 7,2) desidratadas em
concentrações crescentes de etanol, diafanizadas em xilol e incluídas em parafina.
As feridas de ambos os grupos localizadas cranialmente sofreram biópsias ao
dia de evolução pós-cirúrgica, as localizadas na região médio-ventral ao 14º dia e as
feridas localizadas caudalmente ao 28º dia.
Após microtomia, os cortes foram corados pela Hematoxilina-eosina e Tricrômico
de Masson.
19
Adaptic. Johnson & Johnson.SP
20
Atadura de crepom. Cremer.SC
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No decorrer do experimento através das avaliações histopatológicas,
caracterizaram as fases inflamatória, fibroplasia e de maturação como cita Cotran et al.
(2000), apesar de constatar-se histologicamente, interações entre os três eventos
conforme citaram Fowler (1993), Pavletic (1993), Cohen et al. (1996), Candido (2006),
Pereira e Arias (2002), uma vez que a cicatrização é um processo dinâmico em uma
avaliação pode-se evidenciar interação das três fases supracitadas.
Os achados histopatológicos visualizados nas feridas de todos os grupos ao de
evolução pós-cirúrgica (Fig. 1 A, 1B e 1C) evidenciam presença de crosta com
coloração eosinofílica em todos os grupos. A crosta é formada pela desidratação de
plasma e sangue extravasado quando ocorre perda da continuidade dos vasos no
momento inicial da lesão. Sua presença na ferida não é considerada pré-requisito para a
cicatrização e pode apresentar vantagens e desvantagens para a evolução do processo
(STRACHAN, 1996). A crosta funciona como uma barreira física protegendo a ferida
de contaminação, servindo também como bandagem natural à homeostase (FITCH e
SWAIM, 1995), porém a espessura da crosta pode interferir no processo de cicatrização
por dificultar a oxigenação local (STRACHAN, 1996) e a migração do epitélio que se
desenvolve abaixo dela, de modo que as células epidérmicas precisem secretar enzimas
proteolíticas a fim de dissolver a base da estrutura da crosta e prosseguir a epitelização
(POPE, 1993).
Em todas as feridas dos grupos experimentais evidenciou-se infiltrado
inflamatório com numerosos polimorfonucleares, sendo este achado mais evidente no
grupo controle. Os polimorfonucleares predominam na fase inicial do processo
inflamatório e por terem vida relativamente curta são repostos constantemente na área
inflamatória. Os macrófagos, células predominantes, são responsáveis pela fagocitose
(STRACHAN, 1996). A presença de infiltrado inflamatório mais evidente no grupo
controle em relação aos grupos tratados provavelmente deve-se ao fato de as pomadas
supracitadas tornarem o leito cruento da ferida menos contaminado e com menos debris,
requisitando um menor número de lulas inflamatórias fagocíticas. Ao dia
evidencia-se tecido de granulação, o qual caracteriza a fase de fibroplasia e corresponde
ao primeiro produto de crescimento fibroblástico e endotelial (OLIVEIRA, 1992),
conferindo à ferida uma barreira protetora contra microrganismos (ANDERSON, 1996),
sendo resistente à infecção desde que possua suprimento sanguíneo adequado, sendo
essencial para a cicatrização, pois carreia novos fatores para o interior da ferida
(STEED, 1997). Este tecido é formado por vasos neoformados e serve de arcabouço
para os fibroblastos (MODOLIN, 1992).
Fibras colágenas também foram observadas neste dia de avaliação, sendo as
mesmas mais modeladas no grupo controle, o que não é observado nos grupos tratados.
As figuras 2A, 2B e 2C ilustram as feridas do GC, GT I e GTII ao 14º dia de
evolução pós-cirúrgica, revelando que ainda observou-se presença de crosta e a
presença de tecido de granulação fibrovascular em todos os grupos. Entretanto, pode se
observar a presença de infiltrado inflamatório bem evidente sob a crosta do GT II, a
hiperplasia do epitélio foi evidenciada com mais intensidade no GT I. O revestimento
epitelial tem importante papel no processo de cicatrização por apresentar lulas com
finalidade proliferativa e reparadora (MEDEIROS, 1992).
Ao 28º dia evidenciou-se em todos os grupos a completa reepitelização das
feridas, observando-se áreas de queratinização (Fig. 3A, 3B e 3C). O tecido de
granulação apresentou-se nesta fase com características fibrosas, as fibras colágenas
organizadas, modeladas e paralelas à superfície da lesão. Segundo Modolin (1992),
Fowler (1993), Pavletic (1993), Cândido (2006), esta fase é chamada de maturação e
caracteriza-se pela deposição, agrupamento e remodelação do colágeno, bem como pela
regressão endotelial. Nas feridas que cicatrizam por segunda intenção, a epitelização
ocorre juntamente com a contração da área da ferida (MADDEN e AREM, 1991). Os
miofibroblastos, células que apresentam capacidade de contração (MANDELBAUM et
al., 2003) se alinham nos eixos de contração e produzem movimentos centrípetos das
bordas da ferida (POPE, 1993), reduzindo a área da lesão facilitando a epitelização. A
contração do tecido de granulação, segundo Mac-Graft (1982) está associada à ação
mediadora das prostaglandinas. Com 28 dias ocorre a diminuição do número de
fibroblastos e miofibroblastos (KOOPMANN,1995) com remodelação do colágeno
(MODOLIN, 1992).
A
B
C
Figura 1. Aspectos histopatológicos das feridas ao dia de evolução pós-cirúrgica. Tricrômico de
Masson. A - 7º dia controle 400X; B - dia grupo policaju 400X e C dia grupo Jacaratia
400X. Q- Crosta; E- Infiltrado inflamatório; G- Granulação; I- Inflitrado inflamatório; D-
Fibras colágenas
A
B
C
Figura 2. Aspectos histopatológicos das feridas ao 14º dia de evolução pós-cirúrgica. Tricrômico de
Masson. A - 1dia do grupo controle 100X; B - 14º dia grupo policaju 100X e C 1dia
grupo Jacaratia 100X. C- Crosta; i- Infiltrado inflamatório; E- Epitélio; G- Granulação
A
B
C
Figura 3. Aspectos histopatológicos das feridas ao 28º dia de evolução pós-cirúrgica. Tricrômico de
Masson. A - 28º dia grupo controle 100X; B - 28º dia grupo policaju 100X e C – 28ºdia grupo
Jacaratia 100X. q- Queratina; e- epitélio; F- Folículo piloso
4. CONCLUSÃO
Diante dos resultados conclui-se que não houve diferença, sob o ponto de vista
histopatológico, entre as feridas tratadas topicamente com as pomadas do polissacarídeo
proveniente do Anacardium occidentale e do extrato em da Jacaratia corumbensis,
quando comparadas ao grupo controle.
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