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Ficha catalográfica
S237a Santos, José Carlos Pacheco dos
Análise das capturas do anzol “circular” em relação ao
anzol “J” em embarcações com espinhel pelágico no Oceano
Atlântico / José Carlos Pacheco dos Santos. -- 2007.
37 f. : il.
Orientador : Fábio Hissa Vieira Hazin
Dissertação (Mestrado em Recursos Pesqueiros e Aqüi –
cultura ) -- Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Departamento de Pesca e Aqüicultura.
Inclui bibliografia.
CDD 639. 22
1. Espinhel pelágico
2. Anzóis circulares
3. Mortalidade
4. Fauna
I. Hazin, Fábio Hissa Vieira
II. Título
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE PESCA E AQÜICULTURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS PESQUEIROS E
AQÜICULTURA
JOSÉ CARLOS PACHECO DOS SANTOS
ANÁLISE DAS CAPTURAS DO ANZOL “CIRCULAR” EM RELAÇÃO AO ANZOL “J”
EM EMBARCAÇÕES COM ESPINHEL PELÁGICO NO OCEANO ATLÂNTICO
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e
Aqüicultura da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, para obtenção do título de Mestre
em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Hissa Vieira Hazin
Co-Orientador: Dr. David William Kerstetter
Prof. Dr. Paulo Eurico Travassasos
Recife, PE
Setembro - 2007
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE PESCA E AQÜICULTURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS PESQUEIROS E AQÜICULTURA
ANÁLISE DAS CAPTURAS DO ANZOL “CIRCULAR” EM RELAÇÃO AO ANZOL “J”
EM EMBARCAÇÕES COM ESPINHEL PELÁGICO NO OCEANO ATLÂNTICO.
Por: José Carlso Pacheco dos Santos
Esta dissertação foi julgada para a obtenção do título de Mestre em Recursos
Pesqueiros e Aqüicultura e aprovada em ____/____/______ pelo Programa de
Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura, em sua forma final.
___________________________________________
Prof. Dr. Paulo E. P. F. Travassos
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Dr. Fábio Hissa Vieira Hazin - Orientador
Universidade Federal Rural de Pernambuco
______________________________________________
Prof. Dr. Paulo E. P. F. Travassos – Membro Interno
Universidade Federal de Pernambuco
______________________________________________
Prof. Dr. Vanildo Souza de Oliveira – Membro Externo
Universidade Federal Rural de Pernambuco
______________________________________________
Prof. Dr. Humberto Gomes Vieira Hazin - Membro externo
Universidade Federal Rural de Pernambuco
______________________________________________
Prof. Dr. William Severi – Suplente – Membro interno (Suplente)
Universidade Federal Rural de Pernambuco
3
“O Mar é meu Lar”
José Carlos Pacheco dos Santos
4
Aos meus pais e meu irmão, que me ensinaram a ser humano:
Graça, José Carlos e Paulo
Ao meu irmão, que se foi mas está sempre presente na minha vida:
Flávio Pacheco
Aos que fazem minha vida ter sentido:
Ana Flávia, Igor, Caio e Marina
5
AGRADECIMENTOS
À minha família, pela paciência e força principalmente durante os momentos
de ausência.
Ao professor, amigo e orientador Fábio Hissa Vieira Hazin, pela confiança e
oportunidade de executar este trabalho e pela orientação até o fim deste segundo
ciclo.
Aos meus Co-Orientadores David Kerstetter e Paulo Travassos, por todos os
ensinamentos repassados, os quais me acompanharam por toda essa longa
caminhada acadêmica.
Aos Professores do Mestrado, que me repassaram conhecimentos de grande
valia para conclusão desta minha pós-graduação.
A minha turma do mestrado: Allan, Ana Cecília, Beatriz, Danielle, Danielli,
Fernando Kim, Iru, Isabela, Juliana, Miguel, Mônica, Renata, Sâmia, Sandra, Ugo,
Verônica, Wanessa, Kátia e Sueli.
Aos Estagiários do LATEP/LOP: Daniel, Antonio, Guri, Lucas, Robéria, Felipe
e Denise, Milena, Dimonique, Ilka, Tati, Sibeli, Léo, Talita, Aninha.
Aos amigos Rafael, Lecca, Mônica, Drauzio, Mari Rego, Paulinho, Patricia,
Arley, Dani, Catarina, Mari Portuga, Mariana, Humberto e Felipinho, por todo apoio
na construção deste trabalho.
Aos meus irmãos Felipe Pimentel e Thiago Landim, membros da equipe “P”.
Aos funcionários do Departamento de Pesca e Aqüicultura: Telma, Dona
Eliane, Selma, Dona Tânia, Socorro e Vaneli.
A Rosa, pelo alimento de quase todos os dias.
As amigas Isabela e Ana Paula, pelo companheirismo de sempre.
A empresa NORPEIXE e todos seus funcionários, em especial aos diretores
Gabriel e Lúcia Calzavara.
Ao amigo e companheiro neste trabalho, Rivaldo.
Aos Tripulantes das embarcações “UXIA”, ALBATOS” e “Mr. NR” .
A todos que eu não lembrei, mas que contribuíram de forma direta ou indireta.
Ao criador de tudo e de todos, DEUS, pela saúde, paz, alegria e sucesso, que
tenho e compartilho com todos que convivem comigo.
6
RESUMO
No intuito de comparar o desempenho dos anzóis, o índice de captura por
unidade de esforço, o posicionamento do anzol no corpo do animal capturado, e a
condição do peixe no recolhimento, foram observados 81 lances de uma pescaria
comercial com espinhel, operando no Atlântico sul equatorial, na qual os anzóis
“circulares” (tamanho 18/0) e os anzóis do tipo “J” (tamanho 9/0) foram utilizados de
forma alternada. As taxas de captura para albacora branca (Thunnus alalunga),
albacora laje (Thunnus albacares) e o espadarte (Xiphias gladius) não apresentaram
diferenças significativas entre os dois tipos de anzol, enquanto que a albacora
bandolim (Thunnus obesus) principal alvo da pesca, foi significativamente mais
capturada nos anzóis “circulares”, os quais apresentaram, também, uma taxa de
mortalidade no momento do recolhimento muito menor, podendo assim aumentar a
taxa de descarte vivo de animais que compõem a fauna acompanhante, como por
exemplo os agulhões negro e branco, que no Brasil estão sendo capturados além
das cotas estipuladas pela International Commission for the Conservation of Atlantic
Tunas - ICCAT. Tal fato resulta em uma melhora substancial da qualidade do
pescado na hora do desembarque, resultando, assim, em uma melhor qualificação
do produto final para exportação e consequentemente um melhor preço de venda.
Palavras-chave: espinhel pelágico, anzois circulares, mortalidade, fauna
acompanhante.
7
ABSTRACT
Aiming compare the indices of catch per unit of effort, hook location, and the
condition of the fishes caught in two different types of hook, the “circle” (18/0) and “J”
(9/0), 81 pelagic longline sets in a equatorial area were observed. The indices of
catches for the albacore (Thunnus alalunga), yellowfin tuna (Thunnus albacares) and
swordfish (Xiphias gladius) had not presented a significant differences between the
two the types of hook, whereas the bigeye tuna (Thunnus obesus) target specie in
these fisheries, were significantly more caught in the circle hooks than in “J” hooks.
The “circle” hooks also showed a mortality rate lesser than the “J” hooks, thus
increasing the indices of non target species discarded alive, as for example the blue
and white marlin, which in Brazil are being caught beyond the quotas stipulated by
the ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas). This
fact brings a substantial quality improvement results during the disembark, resulting a
high final products qualifying to export and consequently a best sale price.
Keywords: Pelagic longline; Circle hooks; Mortality; Bycatch.
8
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 12
2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 14
2.1. Objetivo Geral ........................................................................................... 14
2.2. Objetivo Específico ................................................................................... 14
3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 14
4. ARTIGO CIENTÍFICO: ANÁLISE DAS CAPTURAS DO ANZOL “CIRCULAR”
EM RELAÇÃO AO ANZOL “J” EM EMBARCAÇÕES COM ESPINHEL PELÁGICO
NO OCEANO ATLÂNTICO.................................................................................... 18
Resumo ................................................................................................................. 18
Introdução ............................................................................................................. 19
Métodos ................................................................................................................ 20
Resultados ............................................................................................................ 24
Discussão .............................................................................................................. 32
9
Agradecimentos .................................................................................................... 35
Referencias ........................................................................................................... 35
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 37
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 38
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Área de atuação das embarcações Uxia, Albatroz e Mr.NR., no estudo da
captura dos anzóis do tipo circular e do tipo J. .......................................... 21
Figura 2 – Desenho esquemático do material de pesca utilizado pelas
embarcações. ........................................................................................ 22
Figura 3 - Fotos dos anzóis utilizados pelas embarcações.................................... 23
Figura 4 - Foto do “snap” utilizado na linha secundária que continha o anzol
“circular”, com indicação da marca (círculo)........................................... 23
Figura 5 - Comparação da CPUE (captura por unidade de esforço) entre os anzóis
“C” 18/0 e “J” 9/0, separados em grupos: (A) espécie-alvo; (B) agulhões;
(C) tubarões e raias e (D) outras espécies............................................ 28
Figura 6 - Estado físico (vivo ou morto) de todos os animais capturados,
independentemente do tipo de anzol no momento do recolhimento, de
acordo com o posicionamento do anzol: externo (canto da boca,
mandíbula e olho) e interno (esôfago e estômago) ............................... 30
Figura 7 - Posição do anzol por grupos de animais capturados no Atlântico Sudoeste
Equatorial ............................................................................................... 31
.
11
LISTA DE TEBELAS
Tabela 1 - Composição das capturas e percentual de mortalidade no recolhimento
por tipo de anzol ...................................................................................... 26
Tabela 2 - Resultados do teste t (significância de p=0.05/5, para que P
adj
=0.01) para
as freqüências de comprimento1 Tfdospéc ies captura Tfd nos anzóis
“C” e “J”. ................................................................................................. 30
12
1. INTRODUÇÃO
Das diversas atividades pesqueiras praticadas no Brasil, a pesca oceânica,
realizada por barcos nacionais e arrendados, com espinhel pelágico, voltada para a
pesca de atuns e espécies afins (principalmente, Thunnus albacares, Thunnus
obesus, Thunnus alalunga e Xiphias gladius), todas de alto valor comercial, destaca-
se como um dos principais vetores para o desenvolvimento da produção pesqueira
nacional. Por serem espécies altamente migratórias, capturadas por diversas artes
de pesca em vários países, o ordenamento da pesca de atuns e afins no Oceano
Atlântico cabe à Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico-
ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas). As últimas
avaliações, realizadas pelo comitê de pesquisa e estatística (SCRS- Standing
Comitte on Rescarch and Statistics) da ICCAT demonstram que os estoques
administrados pela mesma estão sendo capturados, em sua maioria, em níveis
abaixo ou muito próximos do Rendimento Máximo Sustentável- RMS, com exceção
do Thunnus thynnus do atlântico leste e dos agulhões negro Makaira nigricans e
branco Tetrapturus albidus.
O Brasil, desde 2002, vem ultrapassando o limite de captura com
comercialização autorizada estipulado pela ICCAT para o M. nigricans (253 t) e T.
albidus (52 t). Os montantes superiores a esses valores, embora possam ser
desembarcados, tem a sua comercialização proibida pela comissão. No intuito de
assegurar o cumprimento das medidas de conservação implementadas pela ICCAT,
e tendo em vista as históricas dificuldades enfrentadas pelo país para controlar e
fiscalizar adequadamente os desembarques da frota pesqueira comercial, a
13
SEAP/PR- Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, proibiu a comercialização de
qualquer exemplar de agulhão branco ou negro capturado. Além disso, todos os
exemplares dessas duas espécies que se encontrarem vivos no momento do
recolhimento do espinhel deverão ser obrigatoriamente liberados (SEAP/PR-
Instrução Normativa Nº. 12, de 14 de junho de 2005). Apesar da existência desta
I.N., contudo, a mesma ainda vem sendo, em grande medida, descumprida.
No período compreendido entre julho de 2004 a junho de 2005, por exemplo,
em 163 cruzeiros de pesca realizados por 29 embarcações arrendadas, com a
presença de observadores de bordo, foram capturados 8.258 agulhões brancos, dos
quais apenas 11,8% foram devolvidos ao mar. Desses, 41,8% foram devolvidos ao
mar vivos, enquanto 58,2% já estavam mortos na hora do descarte. Em relação aos
agulhões negros, foram capturados 7.733, dos quais apenas 405 foram devolvidos
ao mar, equivalendo 5,2% do total capturado. Desses, 57,8% foram devolvidos ao
mar vivos, enquanto que 42,2% estavam mortos no momento do descarte (Carvalho
2005).
Recentemente, o anzol circular tem sido introduzido na pesca de espinhel,
como forma de aumentar a sobrevivência dos animais capturados, reduzindo ao
mesmo tempo, a captura de fauna acompanhante, como tartarugas e aves. No
presente trabalho, a utilização do anzol circular em barcos espinheleiros operando
no país foi testada, em comparação com os anzóis tradicionais, em forma de “J”. A
expectativa é de que a utilização dos anzóis circulares possa contribuir para não só
reduzir a captura dos agulhões branco e negro, como para aumentar, ao mesmo
14
tempo, a taxa de sobrevivência dos mesmos, propiciando, assim, em função da I. N.
12, um incremento significativo no número de agulhões branco e negro devolvidos
vivos ao mar.
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Comparar a eficiência de captura dos anzóis “circular” e “J”, na frota
pesqueira que utiliza o espinhel longline, quanto a taxa de captura e sobrevivência
das diversas espécies capturadas.
3.2. Objetivos Específicos
Analisar o posicionamento dos anzóis nos peixes capturados pelos anzóis tipo
“circular” e “J” e a taxa de sobrevivência dos mesmos, pós-captura.
Avaliar a mortalidade dos agulhões capturados pelos anzóis tipo “circular e
“J”, no espinhel pelágico oceânico.
3. REVISÃO DA LITERATURA
Os anzóis do tipo “circular” são comumente utilizados pela pesca esportiva.
Estudos realizados com peixes capturados com anzol circular, demonstram
reduzidos danos aos mesmos (PRINCE et al., 2002; SKOMAL et al., 2002;
MALCHOFF et al.,2002), aumentando a sua taxa de sobrevivência quando
libertados (HORODYSKY & GRAVES, 2005).
15
O descarte vivo da fauna acompanhante na pesca de espinhel pelágico pode
ser ampliado, aumentado as taxas de captura dos peixes vivos no recolhimento. A
atenção recente foi dada aos anzóis circulares (anzol com a ponta perpendicular a
sua haste) como meio de reduzir a mortalidade dos peixes, pois tendem a deslizar
sobre o tecido macio e girar freqüentemente quando o olho do anzol sai da boca,
tendo por resultado o anzol travado na maxila (Cooke e Suski, 2004).
Segundo Falterman & Graves (2002), a mortalidade no recolhimento do
espinhel pelágico foi de 31% com anzol circular e de 42 % com anzol “J”, para as
espécies alvo e fauna acompanhante, embora a diferença não tenha sido
estatisticamente significativa. Hoey (1996) observou um padrão similar nas capturas
realizadas pela frota dos Estados Unidos que utiliza o espinhel pelágico.
Os anzóis circulares foram usados por anos nas pescarias comerciais no
noroeste do Oceano Pacífico (IPHC, 1998), sendo atualmente imperativos na
pescaria de espinhel pelágico dos Estados Unidos. Outros estudos mostraram taxas
reduzidas de danos sérios com anzóis circulares (Skomal et al., 2002; Malchoff et al.,
2002) e aumento das taxas de descarte vivo (Horodysky e Graves, 2005). Na
pescaria de espinhel pelágico, uma proporção mais elevada dos peixes fisgou na
boca ou na maxila, resultando em menos danos físicos ao animal e provavelmente
aumentando às taxas de sobrevivência no recolhimento e após a liberação da fauna
acompanhante.
16
Kerstetter and Graves (2006) observaram diferenças significativas na CPUE
da espécie T. albcares capturada pelo circle hook e J-style hook, mas não
encontraram diferenças significativas paras as capturas do X. Gladius. Resultados
preliminares deste trabalho realizado entre março e agosto de 2006 por Kerstetter et
al (2006), demonstraram diferenças significativas entre os anzóis “circular” e “J” para
as espécies X. gladius e T. albacares, onde os anzóis circularas obtiveram melhores
valores de CPUE.
Berkeley e Edwards (1996) observaram uma menor taxa de mortalidade para
os agulhões capturados com circle hook no golfo do México. Juvenis de bluefin tuna
Thunnus thinnus também tiveram uma taxa de mortalidade reduzida quando
capturado com circle hook (28%; Skomal et al., 2002).
Os efeitos da mudança terminal da linha secundária na pescaria de espinhel
pelágico foram cada vez melhores documentado. O uso dos anzóis circulares na
linha secundária do espinhel pelágico apesar dos bons resultados, não foi aceito
prontamente pelas embarcações como um tipo terminal igualmente eficaz, e uma
porcentagem grande das embarcações que utilizam o espinhel pelágico no Oceano
Atlântico continua a usar os anzóis do tipo “J”. Algumas embarcações que alvejam o
atum aderiram voluntariamente aos anzóis circulares que seguem os estudos
preliminares que sugeriram que este estilo de anzol pode aumentar as taxas de
captura (e.g., Hoey, 1996; Falterman and Graves, 2002).
17
ARTIGO CIENTÍFICO
ANÁLISE DAS CAPTURAS DO ANZOL “CIRCULAR” EM RELAÇÃO AO ANZOL
“J” EM EMBARCAÇÕES COM ESPINHEL PELÁGICO NO OCEANO ATLÂNTICO.
Resumo ................................................................................................................. 18
Introdução ............................................................................................................. 19
Métodos ................................................................................................................ 20
Resultados ............................................................................................................ 24
Discussão .............................................................................................................. 32
Agradecimentos .................................................................................................... 35
Referencias ........................................................................................................... 35
Trabalho a ser publicado na revista ICES Journal of Marine Science - Elsevier
18
ANÁLISE DAS CAPTURAS DO ANZOL “CIRCULAR” EM RELAÇÃO AO ANZOL
“J” EM EMBARCAÇÕES COM ESPINHEL PELÁGICO NO OCEANO ATLÂNTICO.
J.C. Pacheco
1*
, D.W. Kerstetter
2
, R.S.S.L. Segundo
1
, F.H. Hazin
1
, J.E. Graves
3,
Humberto
Hazin
1
, Carvalho, F.
4
, and P.E.Travassos
1
Resumo
No intuito de comparar o desempenho dos anzóis, o índice de captura por unidade de
esforço, o posicionamento do anzol no corpo do animal capturado, e a condição do peixe no
recolhimento, foram observados 81 lances de uma pescaria comercial com espinhel, operando
no Atlântico sul equatorial, na qual os anzóis “circulares” (tamanho 18/0) e os anzóis do tipo
“J” (tamanho 9/0) foram utilizados de forma alternada. As taxas de captura para albacora
branca (Thunnus alalunga), albacora laje (Thunnus albacares) e o espadarte (Xiphias gladius)
não apresentaram diferenças significativas entre os dois tipos de anzol, enquanto que a
albacora bandolim (Thunnus obesus) principal alvo da pesca, foi significativamente mais
capturada nos anzóis “circulares”, os quais apresentaram, também, uma taxa de mortalidade
no momento do recolhimento muito menor, podendo assim aumentar a taxa de descarte vivo
de animais que compões a fauna acompnhante, como por exemplo os agulhões negro e
branco, que no Brasil estão sendo capturados além das cotas estipuladas pela International
Commission for the Conservation of Atlantic Tunas - ICCAT. Tal fato resulta em uma
melhora substancial da qualidade do pescado na hora do desembarque, resultando, assim, em
uma melhor qualificação do produto final para exportação e consequentemente um melhor
preço de venda.
Palavras-chave: espinhel pelágico, anzois circulares, mortalidade, fauna acompanhante.
19
Introdução.
Das diversas atividades pesqueiras praticadas no Brasil, a pesca oceânica realizada por
barcos nacionais e arrendados, com espinhel pelágico, voltada para a pesca de atuns e
espécies afins (principalmente, Thunnus albacares, Thunnus obesus, Thunnus alalunga e
Xiphias gladius), todas de alto valor comercial, destaca-se como um dos principais vetores
para o desenvolvimento da produção pesqueira nacional. Por serem espécies altamente
migratórias, capturadas por diversas artes de pesca em vários países, o ordenamento da pesca
de atuns e afins no Oceano Atlântico cabe à Comissão Internacional para a Conservação do
Atum Atlântico- ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas).
As últimas avaliações, realizadas pelo comitê de pesquisa e estatística (SCRS- Standing
Comitte on Rescarch and Statistics) da ICCAT demonstram que os estoques administrados
pela mesma estão sendo capturados, em sua maioria, em níveis abaixo ou muito próximos do
Rendimento Máximo Sustentável- RMS, com exceção do atum azul Thunnus thynnus do
atlântico leste e dos agulhões negro Makaira nigricans e branco Tetrapturus albidus.
No caso destas duas ultimas espécies, o Brasil, desde 2002, vem ultrapassando o limite
de captura com comercialização autorizada estipulado pela ICCAT para o M. nigricans (253
t) e T. albidus (52 t). Os montantes superiores a esses valores, embora possam ser
desembarcados, tem a sua comercialização proibida pela comissão. No intuito de assegurar o
cumprimento das medidas de conservação implementadas pela ICCAT, e tendo em vista as
históricas dificuldades enfrentadas pelo país para controlar e fiscalizar adequadamente os
desembarques da frota pesqueira comercial, a SEAP/PR- Secretaria Especial de Aqüicultura e
Pesca, proibiu a comercialização de qualquer exemplar de agulhão branco ou negro
capturado. Além disso, todos os exemplares dessas duas espécies que se encontrarem vivos no
momento do recolhimento do espinhel deverão ser obrigatoriamente liberados (SEAP/PR-
20
Instrução Normativa Nº. 12, de 14 de junho de 2005). Apesar da existência desta Instrução
Normativa, contudo, a mesma ainda vem sendo, em grande medida, descumprida.
No período compreendido entre julho de 2004 e junho de 2005, por exemplo, em 163
cruzeiros de pesca realizados por 29 embarcações arrendadas, com a presença de
observadores de bordo, foram capturados 8.258 indivíduos de agulhão branco, dos quais
apenas 11,8% foram devolvidos ao mar. Desses, 41,8% foram devolvidos ao mar vivos,
enquanto 58,2% já estavam mortos na hora do descarte. Em relação aos agulhões negros,
foram capturados 7.733 indivíduos, dos quais apenas 405 foram devolvidos ao mar,
equivalendo a 5,2% do total capturado. Desses, 57,8% foram devolvidos ao mar vivos,
enquanto que 42,2% estavam mortos no momento do descarte (Carvalho, 2005).
Recentemente, o anzol circular tem sido introduzido na pesca de espinhel, como forma
de aumentar a sobrevivência dos animais capturados, reduzindo, ao mesmo tempo, a captura
de fauna acompanhante, como tartarugas e aves. No presente trabalho, a utilização do anzol
circular em barcos espinheleiros operando no país foi testada, em comparação com os anzóis
tradicionais, em forma de “J”. A expectativa é de que a utilização dos anzóis circulares possa
contribuir para não só reduzir a captura dos agulhões branco e negro, como para aumentar, ao
mesmo tempo, a taxa de sobrevivência dos mesmos, propiciando, assim, em função da I. N.
12, um incremento significativo no número de agulhões branco e negro devolvidos vivos ao
mar.
Métodos
O presente trabalho foi desenvolvido no período de agosto de 2006 a janeiro de 2007,
a bordo de três embarcações espinheleiras, sediadas em Natal-RN (Uxia, Albatroz, MR. NR.),
que atuaram no oceano Atlântico sudoeste equatorial, entre as latitudes de 05
0
N e 05
0
S e
21
longitudes
de 32
0
W e 27
0
W (Fig. 1). Todas as três embarcações utilizadas no
desenvolvimento deste trabalho direcionavam seu esforço de pesca para a captura dos atuns
(T. obesus, T. albacrees e T. alalunga) e do espadarte (X. gladius). O espinhel utilizado era
formado por uma linha principal de monofilamento de 3,5mm (poliamida), com
aproximadamente 50 milhas náuticas, com cinco bóias rádios, vinte e quatro bóias balão e
cento e quarenta bóias bala, unidas a cabos de boia de monofilamento de 2,0mm (poliamida),
com comprimento aproximado de 18m. Cada secção compreendida entre duas bóias bala,
chamada de samburá, era constituída por cinco linhas secundárias, compostas de um “snap”,
uma seção de monofiliamento com 18m (2,0mm poliamida), um destorcedor de 75g, uma
seção de monofilamento com 3,8m (2,0mm poliamida) e um anzol na extremidade (Fig.2).
Figura 1. Área de atuação das embarcações Uxia, Albatroz e MR.NR., no estudo da captura
dos anzóis do tipo circular e do tipo J.
22
Figura 2. Desenho esquemático do material de pesca utilizado pelas embarcações.
Os anzóis tipo “J” 9/0 e “circular” (C) 18/0 (Fig. 3) foram utilizados de forma
alternada, a cada linha secundária, durante todo o experimento. Cada samburá continha cinco
anzóis para assegurar posições alternadas de cada anzol dentro do mesmo ao longo da linha
principal (isto é, um samburá teria C-J-C-J-C e o seguinte J-C-J-C-J). O “snap” da linha
secundária do anzol circular tinha uma marca indicadora, de forma a facilitar a sua
23
9/0,0 off-set
J-Style (Mustad #7698)
0
18/0, 0 off-set
circle (LPCIRSS0)
0
Figura 3. Fotos dos anzóis utilizados pelas embarcações
Figura 4. Foto do “snap” utilizado na linha secundária que continha o anzol “circular”.
Foram realizados, em média, 13,5 lançamentos por embarcação, variando entre 11 e
15 lances, com o recolhimento ocorrendo sempre de forma não reversa, isto é, o primeiro
anzol lançado no fim da tarde era o primeiro a ser recolhido no começo do dia. No período
estudado, foram realizadas seis expedições que totalizaram 81 lançamentos e recolhimentos,
sendo testados 50.170 anzóis (25.085 “circular” e 25.085 “J”). Os lançamentos começavam
sempre ao meio da tarde, às 15:30 h, e o recolhimento no início do dia seguinte, às 04:00 h.
Todos os animais capturados foram identificados e medidos, quanto ao comprimento
total e furcal, coletando-se, ainda, diariamente, dados sobre: data, latitude e longitude de
lançamento e recolhimento, posição do anzol e captura no espinhel, tipo de anzol e local de
fixação do anzol no peixe (externo= canto da boca, mandíbula e olho; interno= esôfago e
estômago). Todos os agulhões capturados vivos foram liberados, após terem sido marcados
com uma marca plastica da NOAA/NMFS (Natioanal Oceanic and Atmospheric
24
Administration / National Marine Fisheries Service), com número de identificação e telefone
para futuro contato caso o peixe seja re-capturado.
A captura por unidade de esforço (CPUE) foi analisada de acordo com o número de
indivíduos capturados por 1000 anzóis. As análises foram feitas distinguindo-se as espécies
alvos, da fauna acompanhante. As espécies consideradas alvo das pescarias foram: albacora
branca (Thunnus alalunga), albacora bandolim (Thunnus obesus), albacora laje (Thunnus
albacares) e o espadarte (Xiphias gladius). As espécies consideradas fauna acompanhante
foram: agulhões negro (Makaira nigricans), branco (Tetrapturus albidus), vela (Istiophorus
platypterus), e verde (Tetrapturus pfluegeri), tubarões azul (Prionace glauca), galha branca
oceânico (Carcharinus longimanus), cachorro (Pseudocarcharias kamoharai), e outros, raia
preta (Pteroplatytrigon violacea), outros teleósteos (cavala, Acanthocybium solandri,
dourado, Coryphaena hippurus, e outros peixes) e tartarugas (tartaruga de couro,
Dermochelys coriacea, tartaruga oliva, Lepidochelys olivacea e tartaruga verde, Chelonia
mydas).
Nas análises estatísticas foi considerado o nível de significancia de 5%. Para analisar
as diferenças entre a CPUE e os tamanhos de captura dos peixes dos anzóis “circular” e “J”,
foi aplicado o test “t”, empregando-se o teste do chi-quadrado (goodness-of-fit) para analisar
as diferenças no estado físico do animal no momento do recolhimento (vivo ou morto) e
posição de captura do anzol.
Resultados
Durante o período de estudo foram capturados 2.262 peixes, pertencentes a 21
espécies e 30 quelônios representados por três espécies. As espécies alvos da pescaria
responderam por 79%, em número, da captura total (n=1.831). As albacoras (Thunnus spp.)
25
responderam pelo maior percentual de captura (53%), seguido pelo espadarte (27%),
elasmobrânquios (13%), agulhões (3,0%), outros teleósteos (3,0%) e tartarugas (1,0%)
(Fig.5). A espécie mais capturada foi a albacora bandolim, representando 39,0 % do total. A
albacora bandolim e o espadarte, foram capturados em 78 dos 81 lances realizados. A fauna
acompanhante representou 21,0 % da captura total (n=461) (Tabela 2).
Os animais capturados com o anzol “J” apresentaram maior índice de mortalidade para
todas as espécies capturadas, exceto para a cavala, que apresentou a mesma taxa de
mortalidade (83,3 %) para ambos os anzóis. As albacoras bandolim capturadas com anzol
“C”, tiveram um índice de mortalidade bem abaixo das capturadas com anzol “J” (33,2%
versus 49,9%) (P<0.0001). Da mesma forma que para a albacora bandolim, os agulhões
negro, branco e verde capturados no anzol “circular”, tiveram um índice de mortalidade bem
menor do que os capturados no anzol “J” (P=0.0021) (Tabela 1). O anzol “C” capturou nove
agulhões negro, dos quais quatro estavam vivos e foram libertados (descarte vivo= 44,0%),
enquanto o anzol “J” capturou 4 exemplares, todos mortos (descarte vivo= 0%). Em relação
ao agulhão branco, 16 indivíduos foram capturados no anzol “C”, dos quais oito foram
libertados vivos (descarte vivo= 50,0%), e dezoito no anzol “J”, com apenas quatro vivos
(descarte vivo= 22,0%).
26
Tabela 1. Composição das capturas e percentual de mortalidade no recolhimento por tipo de
anzol
Espécies Porcentagem
Percentual de
Mortalidade
Nome vulgar/Nome cintífico Composição (n)
Anzol
“C”
Anzol
“J”
Albacora branca/Thunnus alalunga 3,0 (74) 87,8 90,9
Albacora bandolim/Thunnus obesus 40,0 (916) 33,2 49,7
Albacora laje/Thunnus albacares 10,0 (233) 43,7 63,8
Espadarte/Xiphias gladius 27,0 (608) 86,3 89,5
Agulhão vela/Istiophorus platypterus 0,5 (12) 0 100
Agulhão branco/Tetrapturus albidus 1,5 (34) 50,0 77,7
Agulhão negro/Makaira nigricans 0,6 (13) 55,5 100
Agulhão verde/Tetrapturus pfluegeri 0,3 (6) 0 100
Dourado/Coryphaena hippurus 1,2 (27) 27,2 66,6
Cavala/Acanthocybium solandri 1,3 (30) 83,3 83,3
Outros teleósteos 0,1 (3) 0 33,3
Tubarão azul/Prionace glauca 3,0 (69) 2,9 11,4
Tubarão galha branca/Carcharhinus longimanus 0,9 (20) 27,2 66,6
Tubarão cachorro/Pseudocarcharias kamoharai 1,0 (25) 11,7 25,0
Outros tubarões 0,4 (10) 33,3 50,0
Raia manta/Manta birostris 0,3 (7) 0 0
Raia pelágica/Pteroplatytrygon violacea 7,6 (175) 0 1,9
Tartarugas 1,3 (30) 0 5,2
Outros peixes= Lepidocybium flavobrennum e Ruvettus pretiosus; outros tubarões= Isurus spp
e Carcharhinus falciformes); Tartarugas= tartaruga de couro Dermochelys coriacea, tartaruga
oliva Lepidochelys olivacea e tartaruga verde Chelonia mydas.
A CPUE do anzol “circular” alcançou um valor (44,53) um pouco maior do que o do
“J” (44,37), embora a diferença não tenha sido estatisticamente significante (P=0.329).
Em relação às espécies alvo, a CPUE da albacora bandolim capturada no anzol “C”
(20,97) foi significativamente maior do que no anzol “J” (15,55) (P<0.0001), não ocorrendo o
mesmo, contudo, para as outras espécies de tunídeos nem para o espadarte. No caso da fauna
acompanhante, da mesma forma, não houve diferença estatística da CPUE entre os anzois “C”
e “J”, para as espécies de peixes e tartarugas, com exceção da raia preta, que apresentou uma
taxa de captura no anzol “J” (6,80) muito maior do que no anzol “C” (0,80) (P<0.0001)
(Fig. 5).
27
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
Makaira nigricans Istiophorus
platypterus
Tetrapturus pfluegeri Tetrapturus albidus
Fauna Acompanhante
CPUE (Ind/1000 anzóis)
28
O índice de mortalidade em relação ao posicionamento do anzol nos peixes,
independentemente do tipo do anzol, demonstrou que os animais capturados na parte interna
apresentaram um índice de mortalidade muito maior do que os fisgados externamente (76,0%
versus 43,0%; P<0.0001) (Fig. 6).
Interno
Vivo Morto
Externo
Vivo Morto
Figura 6. Estado físico (vivo ou morto) de todos os animais capturados, independentemente
do tipo de anzol no momento do recolhimento, de acordo com o posicionamento do
anzol: externo (canto da boca, mandíbula e olho) e interno (esôfago e estômago).
O anzol “C” obteve em todos os grupos índices de, no mínimo, 70,0% de animais
fisgados externamente, enquanto o anzol “J” alcançou percentuais, em geral, inferiores, a
50,0%. O anzol “C” apresentou índices de fixação interna inferior ao anzol “J” para todos os
grupos de espécies. Considerando-se todas as capturas em conjunto, o anzol “C” alcançou um
índice de fixação interna igual 14,0%, contra 47,1% obtido pelo anzol “J”, demonstrando uma
diferença altamente significante (P<0.0001).
O grupo das albacoras, alvo da pescaria, composto pelas albacoras laje, bandolim e
branca, apresentaram um percentual elevado de capturas no canto da boca com anzol “C”,
igual a 81,0 %, contra 58,0 % com o anzol “J” (diferença de 23,0%) (Fig. 7).
29
EXTE
R
NO INTERNO
Atuns
(n = 923)
Espadarte
(n = 558)
Aguhões
(n = 65)
Tubarões
(n = 118)
Raias
(n = 182)
Teleósteos
(n = 60)
Tartarugas
(n = 29)
0
0
-
offset
Circle
100
-o
ff
se
t
J
-s
t
y
l
e
Circular
18/0
0
0
J
10/0
10
0
Figura 7. Posição do anzol por grupos de animais capturados no Atlântico Sudoeste
Equatorial.
O espadarte, que também foi alvo da pesca, por sua vez, obteve um índice de captura no
canto da boca pelo anzol “C” de 79,0%, contra 46,0% do “J”. Já os agulhões capturados pelo
canto da boca pelo anzol “C” totalizaram 96,0%, contra apenas 31,0% no anzol “J”. Os
tubarões apresentaram um índice de captura de 86,0% pelo canto da boca, com o anzol “C”,
contra 42,0% com o anzol “J”. Os outros teleósteos apresentaram o maior índice de captura
pelo canto da boca com o anzol “C”, igual a 97,0%, contra apenas 39,0%, com o anzol “J”.
Todos os grupos citados acima apresentaram alta diferença significativa (P<0.0001). O grupo
das raias, principalmente a raia pelágica, e as tartarugas foram os únicos grupos que não
30
apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os percentuais de captura no
canto da boca para os anzóis “C” e “J” (raia preta igual a 90,0% e 87,0%, e tartarugas igual
70,0% e 47,0%, respectivamente), embora em ambos os casos, assim como para as demais
espécies, o percentual de captura pelo canto da boca tenha sido maior que para o anzol
circular.
Discussão
No presente estudo, a CPUE da principal espécie-alvo da pescaria, a albacora bandolim,
cujas capturas responderam por mais de um terço dos desembarques (39,0 %) foi
significativamente maior no anzol “C” do que no anzol “J”, enquanto a CPUE das duas outras
espécies de albacoras também alvo da pesca, as albacoras laje e branca, embora tenham
apresentado valores também maiores no anzol “circular”, não exibiram diferenças
estatisticamente significantes. A falta de significância estatística das diferenças encontradas
nesses casos, porém, provavelmente resulte do número muito mais reduzido de exemplares
capturados. Já o espadarte cujos números de captura foram bem mais próximos da albacora
bandolim, apresentou CPUEs praticamente idênticas para os dois tipos de anzol, resultado
semelhante ao encontrado por KERSTETTER e GRAVES (2006). Os referidos autores
também só observaram diferenças significativas para a principal espécie-alvo da captura, no
caso, a albacora laje, com uma CPUE bem maior no anzol “C” do que no anzol “J” (10,7
versus 6,4). Uma CPUE bem maior no anzol “C”, em relação ao anzol “J”, foi também
relatada por FALTERMAN e GRAVES (2002). Das espécies que compõem a fauna
acompanhante, apenas a raia preta apresentou diferença significativa, com a CPUE do anzol
“J” tendo sido bem maior que a do “C” (6,18 versus 0,80 respectivamente), resultado parecido
31
com o observado por KERSTETTER e GRAVES (2006) (12.5 para o anzol “J” versus 4.4
para o anzol circular).
O local de fixação do anzol (independentemente do tipo) nos animais capturados
parece influenciar diretamente na sobrevivência dos mesmos com um índice de mortalidade
no recolhimento para aqueles fisgados internamente (esôfago ou estômago) muito maior do
que os que apresentavam uma fixação externa (mandíbula, canto da boca, etc.) (76,0 % versus
43,0 %). Uma maior taxa de sobrevivência para os peixes capturados na área externa foi
também relatada por FALTERMAN e GRAVES (2002), tanto para as espécies-alvo, como
para a fauna acompanhante. COOKE e SUSKI (2004), por sua vez, concluíram que o uso dos
anzóis circulares na pesca esportiva também resultava em menor mortalidade quando
comparado com os outros anzóis tradicionalmente utilizados. Também trabalhando com a
pesca esportiva, PRINCE et al. (2002) relataram uma alta freqüência de fixação do anzol no
canto da boca e na mandíbula quando da utilização do anzol circular na captura do agulhão de
vela no Oceano Pacifico. Resultado semelhante foi obtido por DOMIER et al. (2003) e por
HORODYSKY e GRAVES (2005), para o agulhão listrado (Tetrapturus audax) e para o
agulhão branco, respectivamente, assim como por HONEY (1996), para peixes capturados
com espinhel pelágico no Golfo do México. Trabalhando na mesma área, BERKELEY e
EDWARDS (1998) também observaram uma menor taxa de mortalidade para os agulhões
capturados com o anzol circular, enquanto que SKOMAL et al. (2002) obtiveram resultados
semelhantes para juvenis de atum azul, Thunnus thynnus.
Os resultados presentes indicam que a utilização do anzol circular tamanho 18/0 pode
reduzir significativamente a mortalidade no recolhimento, tanto das espécies alvo como da
fauna acompanhante, aumentando, ao mesmo tempo, as capturas das espécies de atum,
particularmente da albacora bandolim, principal alvo da pescaria no presente caso. Os índices
32
de captura da segunda espécie mais importante, nessa pesca, por sua vez, o espadarte,
mantiveram-se praticamente inalterados. Além disso, uma taxa de sobrevivência maior dos
peixes capturados no momento do recolhimento do espinhel determina uma melhora
substancial da qualidade do pescado na hora do desembarque, resultando, assim, em uma
melhor qualificação do produto final para exportação e consequentemente um melhor preço
de venda.
No caso dos agulhões branco e negro, particularmente, a introdução dos anzóis
circulares na pesca de atuns e afins com espinhel no Brasil, associada à Instrução Normativa
SEAP/PR nº2, de 12 de abril de 2004, que tornou obrigatória a soltura de exemplares dessas
espécies que se encontrem vivos no momento do recolhimento, poderá resultar em um
expressivo aumento do descarte vivo desses animais.
Tal aumento reveste-se de grande significância para a conservação dessas duas
espécies de agulhão as quais se encontram em situação de sobrepesca, aspecto especialmente
relevante no caso do Brasil, em função de suas expressivas capturas de ambas espécies. A
forte redução do índice de captura de outras espécies da fauna acompanhante, como a raia
preta, por exemplo, espécie sem qualquer valor comercial e sobre a qual há uma forte carência
de dados, constitui outra grande contribuição do anzol circular no sentido de tornar o espinhel
mais seletivo e menos impactante, do ponto de vista ecológico, para o ecossistema marinho
pelágico.
Como resultado imediato da presente pesquisa, a frota de barcos de pesca de atum com
espinhel sediada em Natal-RN com a qual o trabalho foi desenvolvido, em parceria, aderiu
voluntariamente ao anzol “circular”, empregando o mesmo, atualmente na integralidade dos
seus espinhéis.
33
Agradecimentos
Nós autores gostariamos de agradecer a Secrearia de Aqüicultura e Pesca– SEAP/PR
pelo financiamento deste estudo, bem como a Universidade Federal Rural de Pernambuco-
UFRPE, Departamento de Pesca e Aquicultura- DEPAq, Laboratório de Tecnologia
Pesqueira- LATEP, Natioanal Oceanic and Atmospheric Administration– NOAA, National
Marine Fisheries Service- NMFS, Rosenstiel School for Marine and Atmospheric- RSMAS,
University of Miami, Cooperative Institute for Marine and Atmospheric Studies- CIMAS,
Virginia Institute of Marine Science- VIMS, pelo trabalho cooperativo que é de tão grande
importância para realização de pesquisas de alto nível. Agradecemos ainda a empresa
Norpeixe Industria e Comércio de Pescado Ltda, em especial ao Sr. Gabriel e Sra. Lúcia
Calsavara, bem como a todos os tripulantes das embarcaçãoes “Uxia”, “Albatos” e “Mr. NR”,
pela colaboração para realização deste estudo.
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Soc. Symp. 30: 57-65.
35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A explotação pesqueira de espécies costeiras e oceânicas tem causado a
depleção de alguns estoques, colocando, inclusive, em risco a sobrevivência de
algumas delas, principalmente daquelas que não constituem alvo da pesca. A
utilização de técnicas de pesca e tecnologias que possam mitigar o impacto da
atividade pesqueira sobre as mesmas, portanto, tem se tornado um aspecto crucial
para a sustentabilidade dessas pescarias.
Os anzóis circulares já são utilizados em larga escala pela pesca esportiva,
uma vez que diminuem a mortalidade dos indivíduos capturados, devido à redução
dos danos causados aos órgãos internos, por tais anzóis fisgarem mais
frequentemente no canto da boca ou na maxila. Os mesmos anzóis, utilizados na
pesca oceânica, alvo deste estudo, demonstram que além de não influenciarem de
forma negativa na CPUE das espécies alvo, diminuem a mortalidade dos animais
capturados aumentado a qualidade do pescado, principalmente dos atuns, os quais
são exportados como peixe fresco.
Os resultados obtidos neste trabalho, se somam a outros similares realizados
no Atlântico Norte, sugerindo que a introdução de anzóis circulares na pesca
oceânica poderá contribuir de forma significativa para o aumento do descarte vivo da
fauna acompanhante, principalmente dos agulhões negro e branco, os quais se
encontram em estado de sobrepesca, segundo a International Commission for the
Conservation of Atlantic Tunas - ICCAT.
36
REFERÊNCIAS
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