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materiais, eles queriam pegar a grana do pessoal. Vendiam encanação, adubo químico,
essas coisas, a maior parte do químico foi comprado lá na IAMETAMA, de lá que saía
essas conversas e o agricultor acreditava [...]. (Entrevista com agricultor – Associação
Nossa Senhora dos Remédios – dezembro de 2004)
As pessoas falavam assim: “não rapaz esse aqui é projeto de fundo perdido,
(referindo-se ao FNO) daqui mais um tempo o governo vai acabar, o Governo vai
eliminar com isto e pronto. Isto aí é fundo perdido que vem pra vocês [...]”. Uma vez o
próprio presidente da EMATER disse assim: “rapaz, trabalha pra lá, vão trabalhando,
vê o que vocês fazem que isto aqui é fundo perdido”.
(Entrevista com agricultor –
Associação Trombetas – dezembro de 2004)
[...] começaram a falar que era fundo perdido, ninguém teve uma orientação antes do
projeto, se tivesse uma orientação “olha, dinheiro vai sair, o projeto é de doze mil
reais, mas é dinheiro que tem que devolver”. Não, mas pensava que era fundo perdido,
ninguém pagava, o dinheiro vinha, ninguém ia pagar. E quando o negócio correu tava
já na metade, não tinha mais jeito, depois quem foi na idéia de fundo perdido não era
nada, era mentira [...]
(Entrevista com agricultor – Associação Nossa Senhora dos
Remédios – dezembro de 2004)
De acordo com o relato de um agricultor que em conversas com um técnico do Banco da
Amazônia, obteve a seguinte resposta:
[...] aí eu perguntei pra ele assim, mas me diga uma coisa, se for “pegar pra capar”
mesmo, como é que vai ficar esse negócio, a gente vai pagar? A gente vai ter que
entregar a nossa casa, essas coisas? Ele disse “não, isso não vai acontecer. O
presidente da Associação vai ter que analisar. Se a Associação tiver algum bem vai ser
leiloado pra poder pagar o banco”. E se a Associação não tiver bem nenhum? Ele
disse: “é o presidente da associação que financiou o projeto que vai assumir todinho”
é, porque está no nome da Associação e ela é avalista [...].
(Entrevista com agricultor –
Associação Nossa Senhora dos Remédios – dezembro de 2004).
Não conseguimos identificar a veracidade da informação junto ao banco, mas de uma
forma ou outra, esta questão pode ter contribuído para reforçar a opinião inicialmente formada,
uma vez que, de acordo com o agricultor, originava-se em “fonte segura”, e por sua vez, caso
não houvesse pagamento, nenhum prejuízo que viesse comprometer a sua família estava em
jogo, pois os danos designados a associação ou em último caso, para o presidente da associação,
estaria inocentando a sua participação enquanto agricultor.
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