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GRACE CLAUDIA GASPARINI
A IMPORTÂNCIA DA REEDUCAÇÃO POSTURAL DE
CRIANÇAS DA 1ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL
PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)
CAMPO GRANDE-MS
2007
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GRACE CLAUDIA GASPARINI
A IMPORTÂNCIA DA REEDUCAÇÃO POSTURAL DE
CRIANÇAS DA 1ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL
PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Psicologia como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em
Psicologia, da Universidade Católica Dom
Bosco. Área de concentração: Psicologia da
Saúde sob a orientação do Prof. Dr. Reinier
Johannes Antonius Rozestraten.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)
CAMPO GRANDE-MS
2007
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Ficha Catalográfica
Bibliotecária responsável: Clélia Takie Nakahata Bezerra CRB 1/757
Gasparini, Grace Claudia
A importância da reeducação postural de crianças da 1ª série do Ensino
Fundamental para o processo de aprendizagem / Grace Claudia Gasparini;
orientador, Reinier Johannes Antonius Rozestraten. Campo Grande, 2007.
104 p.; il. + anexos
Dissertação (mestrado) Universidade Católica Dom Bosco
Inclui bibliografias
1. Carteiras escolares adaptadas. 2. Postura. 3. Aprendizagem.
A dissertação apresentada por GRACE CLAUDIA GASPARINI, intitulada “A
IMPORTÂNCIA DA REEDUCAÇÃO POSTURAL DE CRIANÇAS DA 1ª SÉRIE
DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM”,
como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em PSICOLOGIA à
Banca Examinadora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), obteve
conceito............................., para aprovação.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Prof. Dr. Reinier Johannes Antonius Rozestraten (orientador/UCDB)
_____________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Moraes Cruz (UFSC)
______________________________________________________
Profª Drª Heloisa Bruna Grubits Freire (UCDB)
Campo Grande-MS, de 2007.
Às crianças da 1ª série do Ensino
Fundamental da Escola Municipal João
de Paula Ribeiro, Campo Grande, MS.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela presença constante em minha vida, iluminando meus passos
e me sustentando nos momentos mais difíceis.
À minha família, pelo apoio, paciência e compreensão nos momentos de
ausência e estresse e pelo amor incondicional. Em especial à minha irmã Pati que
em seus momentos de folga empenhou-se na revisão gramatical enriquecendo,
ainda mais, a minha escrita cientifica.
Ao Prof. Dr. Reinier Johannes Antonius Rozestraten pelas valiosas orientações,
incentivos nos momentos de desânimo e, principalmente, pelo privilégio em
compartilhar e absorver dos seus conhecimentos e amor na arte de ensinar.
Às minhas queridas e eternas alunas que hoje se encontram no exercício
da profissão e que estiveram comigo nos estudos, muito antes da realização desse
trabalho. Em 2002, Pámela Felix, Mireile Mücke, Elina Arakaki, Danieli Lima, Thatyane
dos Santos. Em 2003, Nilce Basso, Gleide Maciel, Thaina Barros, Gizelle Nammoura,
Lenice Orsini e Grazielle Franco. Em 2004, muito especialmente à Camila Locatelli e
Grazielle Franco que estiveram comigo até o final com dedicação e amor sem limites.
Às minhas grandes colaboradoras, Camila Locatelli e Michelle Casali que,
em 2005, não mediram esforços em me ajudar a concluir este trabalho.
Ao Paulo Carvalho, Marlene de Oliveira e Aparecida Monteiro, diretor,
coordenadora e professora, respectivamente, da Escola Municipal João de Paula
Ribeiro, a quem serei eternamente grata, cuja colaboração foi imprescindível para a
realização desse trabalho.
À colega e terapeuta ocupacional Silene Alves Atalla, que me ensinou as
primeiras lições sobre ergonomia.
Ao professor e amigo Leandro Sauer pela colaboração e apoio dedicados
na estatística da pesquisa
A Sra. Elizabeth Puccinelli, coordenadora do Projeto Mais, que por
acreditar e confiar em nosso trabalho, conseguiu que a Prefeitura de Campo
Grande, na gestão do prefeito André Puccinelli, patrocinasse todas as carteiras
adaptadas. Minha eterna gratidão pelo apoio, pois sem ele, não teria concluído
este estudo.
Agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para o
desenvolvimento desta pesquisa
O degrau de uma escada não serve
simplesmente para que alguém permaneça
em cima dele, destina-se a sustentar o pé
de um homem pelo tempo suficiente para
que ele coloque o outro um pouco mais
alto.
Thomas Huxley
RESUMO
A ergonomia tem ido muito além das atividades produtivas industriais,
estendendo-se também ao ambiente doméstico e escolar. As cadeiras e mesas
das escolas, para serem consideradas educacionais, devem cumprir um papel
que facilite o aprendizado, devendo, para isso, ser corretamente dimensionadas,
ser projetadas em função dos requisitos inerentes às atividades pedagógicas e
com custos compatíveis com a realidade. Esse trabalho teve como objetivo
realizar um estudo com crianças de 1ª série do Ensino Fundamental de uma
escola municipal de Campo Grande-MS demonstrando a importância da
adequação postural para o rendimento escolar e, conseqüentemente, para o
processo de aprendizagem. Foi realizada uma comparação entre as carteiras
convencionais, incompatíveis ao tamanho dos usuários, com carteiras reguláveis
e adaptadas aos seus tamanhos, posicionando-os com melhor alinhamento e
estabilidade corporal. Trata-se de um estudo no qual foi utilizado um método
comparativo, experimental e observacional entre comportamento postural e
aprendizagem utilizando carteira escolar convencional e, posteriormente, carteira
regulável e adaptada ao tamanho do usuário. A análise dos resultados refere-se
às medidas antropométricas das crianças em relação às carteiras convencionais e
carteiras reguláveis e adaptáveis; a comparação do comportamento postural das
crianças nos dois tipos de carteiras; a análise do desempenho escolar das
crianças observadas nos dois tipos de carteira, a fim de averiguar se a postura
interfere no processo de aprendizagem e, por último, refere-se à análise da
percepção dos alunos em relação à melhora da postura com a cadeira adaptada.
Embora os dados coletados não mostraram diferenças entre as notas médias da
aprendizagem dos alunos em relação a um mobiliário e outro, acredita-se que o
curto período de observação nas carteiras adaptadas não foi suficiente para
avaliar o rendimento escolar e melhora na aprendizagem, porém, houve
significativa melhora nos comportamentos posturais adotados nas carteiras
adaptadas e na percepção dos alunos durante o uso delas, em relação aos das
carteiras convencionais.
Palavras-chave: Carteiras Escolares Adaptadas. Postura. Aprendizagem
ABSTRACT
The ergonomics have gone far beyond the industrial productive activities, also
extending itself to the domestic and school environment. The chairs and desks of
schools, to be considered educational, must play a role that facilitates learning,
being correctly sized, projected in function of the inherent requirements to the
pedagogic activities and having costs compatible to the reality. This work had as
an objective, to accomplish a study with children in the first grade of Primary
Teaching in a municipal school in Campo Grande - MS, demonstrating the
importance of the postural adaptation for the school performance and,
consequently, for the learning process. A comparison was made among the
conventional desks, incompatible to the users' size, with regulated and adapted
desks to their sizes, positioning them with better body alignment and stability. It is
a study in which was used a comparative, experimental and observational method
between postural behavior and learning using conventional school desks and, later
on, adjustable and adapted desks to the user's size. The analysis of the results
refers to the children's anthropometric measures in relation to the conventional
and the adjustable and adapted desks; the comparison of the children's postural
behavior in the two types of desks; the analysis of the observed children's school
performance in the two types of desks, in order to check if the posture interferes in
the learning process and, at last, refers to the analysis of the students' perception
in relation to the posture improvement with the adapted chair. Although the
collected data didn't show differences between the average marks of the students'
learning in relation to a furniture and the other, it is believed that the short
observation period in the adapted desks, was not enough to evaluate the school
performance and the improvements in the learning, however, there was significant
improvement in the postural behaviors adopted in the adapted desks and in the
students' perception during their use, in relation to the conventional desks.
Keywords: Adapted School Desks. Posture. Learning.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Coluna vertebral............................................................................ 33
Figura 2 Modificações das curvaturas da coluna vertebral......................... 37
Figura 3 Rotação da pelve em várias posturas........................................... 43
Figura 4 Deslocamento do tronco para frente............................................. 48
Figura 5 Cadeira com assento inclinado para trás...................................... 48
Figura 6 Mesa baixa requerendo mais inclinação do tronco para frente.....
49
Figura 7 Assento com inclinação alta na parte de trás................................
50
LISTA DE FOTOS
Foto 1 - Carteira convencional....................................................................... 62
Foto 2 - Carteira adaptada............................................................................. 62
Foto 3 - Regulagem da altura do assento...................................................... 62
Foto 4 - Regulagem da altura do encosto...................................................... 62
Foto 5 - Regulagem da profundidade do assento.......................................... 63
Foto 6 - Regulagem da altura da mesa.......................................................... 63
Foto 7 - Cadeira convencional........................................................................
71
Foto 8 - Mesa convencional........................................................................... 71
Foto 9 - Conjunto de carteira convencional....................................................
71
Foto 10 - Cadeira adaptada Regulagem mínima........................................ 72
Foto 11 - Mesa adaptada Regulagem mínima............................................ 72
Foto 12 - Conjunto de carteira adaptada Regulagem mínima.....................
72
Foto 13 Cadeira adaptada Regulagem máxima.......................................
73
Foto 14 Mesa adaptada Regulagem máxima...........................................
73
Foto 15 Conjunto de carteira adaptada - Regulagem máxima....................
73
Foto 16 - Carteira convencional..................................................................... 74
Foto 17 - Carteira adaptada........................................................................... 74
Foto 18 - Pernas flexionadas sobre o assento............................................... 77
Foto 19 - Afastamento do encosto para permitir dobra do joelho e elevação
do ombro.........................................................................................
77
Foto 20 - Postura lateralizada........................................................................ 77
Foto 21 - Postura em pé.................................................................................
77
Foto 22 - Cadeira afastada da mesa e descanso da cabeça sobre a mesa.. 78
Foto 23 - Pés balançando.............................................................................. 78
Foto 24 - Pés apoiados no chão.....................................................................
78
Foto 25 - Profundidade do assento permitindo dobra do joelho.....................
78
Foto 26 - Altura das mesas reguladas de acordo com o tamanho das
crianças...........................................................................................
79
Foto 27 - Altura da mesa, altura do encosto, profundidade do assento e
altura do assento compatíveis ao tamanho da criança...................
79
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo estatístico descritivo das medidas antropométricas das
crianças (em cm)..........................................................................
69
Tabela 2 - Diferenças entre as medidas das carteiras e as medidas
antropométricas das crianças.......................................................
69
Tabela 3 - Percentual de crianças que diminuíram os comportamentos
posturais inadequados com a adaptação da carteira...................
75
Tabela 4 - Comparação entre as medias do desempenho escolar dos
alunos antes e após carteira adaptada........................................
80
Tabela 5 - Diferença entre as percepções das crianças em relação às
mudanças nas carteiras...............................................................
81
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Gráfico de barras representando as diferenças médias entre as
medidas antropométricas e as carteiras convencionais e
adaptadas.....................................................................................
70
Gráfico 2 Porcentagem de crianças que apresentaram uma melhora no
comportamento.............................................................................
76
Gráfico 3 - Média do desempenho escolar dos alunos antes e depois do
uso da adaptação da carteira.......................................................
80
Gráfico 4 - Proporção de respostas antes e depois da adaptação da
carteira..........................................................................................
82
LISTA DE ABREVIATURAS
ABERGO
- Associação Brasileira de Ergonomia
CEP - Código de Endereçamento Postal
DORT - Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho
IEA - Associação Internacional de Ergonomia
INETOP - Institut National d’Etudes de Travail et d’Orientation Professionnelle
LER - Lesão por Esforço Repetitivo
NR - Norma regulamentadora
RTs - Recomendações Técnicas
ISOP - Instituto de Seleção e Orientação Profissional
UCDB - Universidade Católica Dom Bosco
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 16
2 REFERENCIAL TEÓRICO..........................................................................
19
2.1 A ERGONOMIA........................................................................................
19
2.1.1 Conceito de ergonomia......................................................................... 19
2.1.2 Histórico.................................................................................................
21
2.1.3 O papel social e econômico da ergonomia........................................... 24
2.1 4 O papel da ergonomia no ambiente doméstico.....................................
27
2.1.5 O papel da ergonomia no ambiente escolar..........................................
31
2.2 POSTURA SENTADA................................ ............................................. 32
2.2.1 Aspectos biomecânicos da coluna vertebral e da postura sentada...... 32
2.2.2 Postura sentada e ergonomia............................................................... 37
2.2.3 Carteira escolar e ergonomia................................................................ 41
2.2.4 O lado psicológico da ergonomia.......................................................... 52
3 OBJETIVOS................................................................................................ 59
3.1 GERAL..................................................................................................... 59
3.2 ESPECÍFICOS......................................................................................... 59
4 METODOLOGIA......................................................................................... 60
4.1 MÉTODO..................................................................................................
60
4.1.1 Participantes..........................................................................................
60
4.1.2 Recursos humanos................................................................................
60
4.1.3 Local da pesquisa..................................................................................
61
4.1.4 Material e instrumentos......................................................................... 61
4.1.5 Procedimentos.......................................................................................
63
4.1.6 Aspectos éticos da pesquisa................................................................. 66
5 RESULTADOS E ANÁLISE........................................................................
68
5.1 ANÁLISE DAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS................................... 68
5.2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO POSTURAL.....................................
74
5.3 ANÁLISE DO DESEMPENHO ESCOLAR............................................... 79
5.4 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DA MELHORA COM A
CARTEIRA ADAPTADA............................................................................
81
6 DISCUSSÃO............................................................................................... 83
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 89
REFERÊNCIAS..............................................................................................
92
ANEXO...........................................................................................................
96
ANEXO A Declaração da Instituição........................................................... 97
APÊNDICES.................................................................................................. 98
APÊNDICE A - Planilha de observação do comportamento postural............
99
APÊNDICE B Roteiro de entrevista estruturada......................................... 101
APÊNDICE C Autorização dos envolvidos na pesquisa............................. 102
APÊNDICE D Termo de compromisso do pesquisador e da instituição..... 103
APÊNDICE E Declaração sobre o uso e destinação dos dados coletados 104
1 INTRODUÇÃO
Como terapeuta ocupacional atuando na área da reabilitação física com
crianças portadoras de disfunção neuromotora, sentiu-se a necessidade de se
criar ou adaptar mobiliários para favorecer a manutenção de posturas mais
adequadas para essas crianças.
Uma vez que as crianças, que necessitam de cuidados especiais, estão
sendo incluídas no ensino regular, há a necessidade de se confeccionar
mobiliários alternativos, mesmo quando o quadro motor não requer adaptações
específicas. Bastaria apenas que as carteiras escolares fossem compatíveis com
as medidas antropométricas da criança.
Ao adentrar nas escolas para adequar o posicionamento das crianças com
disfunção neuromotora, pôde-se observar que as crianças que não apresentavam
nenhum tipo de alteração neurológica também se mostraram com hábitos
posturais inadequados e comportamentos indisciplinados
Era comum observar crianças realizando cópia da lousa em pé ao lado da
cadeira, crianças mexendo-se constantemente e adotando posturas variadas a
todo o momento, crianças em movimentação excessiva pela sala causando,
muitas vezes, estresse para a professora e também para elas próprias.
Um mobiliário escolar mal projetado pode contribuir para um
comportamento agressivo, devido à indução das crianças de se levantarem
constantemente e, por isso, serem repreendidas e impedir a concentração, dada a
necessidade da busca constante de uma melhor posição de conforto.
A maioria das tarefas escolares requer a sustentação da postura sentada e
a concentração por longos períodos, o que leva a uma fadiga do sistema visual e
psicológico, afetando a motivação e atenção. Como fica então, o rendimento
escolar e o processo de aprendizagem dessas crianças somando-se a isso a má
postura desencadeada por mobiliários inadequados?
Foi através desses questionamentos que surgiu a necessidade de
investigar se a má postura, desencadeada por carteiras escolares incompatíveis
17
ao tamanho de seus usuários, interfere no rendimento escolar e processo de
aprendizagem das crianças. Para esse estudo, foram selecionadas crianças de 1ª
série do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Campo GrandeMS.
Pode-se inferir que a manutenção de um bom alinhamento postural
associado à diminuição da atividade muscular, mantidos durante todo o período
de aula, poderia diminuir a fadiga muscular, o que influenciaria positivamente no
processo de aprendizagem e evitaria o desenvolvimento de hábitos posturais
inadequados reduzindo, talvez, a incidência de dores nas costas em gerações
futuras.
A ergonomia é muito importante para que o trabalho seja fonte de saúde e
produtividade para as pessoas e as organizações. Ela nasceu de necessidades
práticas e se apóia em dados sistemáticos, utilizando métodos científicos. A
ergonomia possibilita que o trabalho seja bem dimensionado e que se obtenham
os melhores resultados, ao mesmo tempo em que permite que as pessoas
desenvolvam suas atividades em condições mais favoráveis à promoção da sua
saúde e prevenção de certos grupos de doenças.
A ergonomia tem se interessado pelas atividades de ensino, procurando
torná-las mais eficientes. A carteira escolar deve ser projetada de acordo com a
estrutura física e biomecânica dos indivíduos que a utilizam, pois uma postura
corporal desconfortável pode ser responsável pela diminuição do interesse do
estudante pelas atividades propostas em sala de aula.
Estudos são realizados enfatizando problemas posturais e patologias da
coluna em conseqüência da postura sentada. Esses problemas podem incapacitar
temporariamente ou definitivamente o indivíduo para as atividades profissionais.
Muitas das patologias degenerativas da coluna no adulto são atribuídas às
alterações posturais na infância e, considerando-se que a criança permanece em
média quatro horas nas instituições escolares, sentadas em carteiras com
proporções inadequadas ao seu tamanho, pode-se inferir que esse é um fator
agravante de hábitos posturais impróprios no adulto.
Além de ser um fator contribuinte para as alterações posturais, as carteiras
escolares encontradas nas escolas públicas do Brasil também contribuem para
que a criança apresente um comportamento inquieto devido ao desconforto
provocado pela dificuldade em manter um alinhamento postural.
18
A maioria das atividades propostas em sala de aula, que estão
relacionadas com a leitura e escrita, requerem uma elevada demanda de
concentração e exigem que os alunos permaneçam por período de tempo
prolongado na postura sentada e quietos. Isso faz com que os mesmos tornem-se
desatentos, derrubem constantemente objetos da mesa e se movimentem o
tempo todo.
A incompatibilidade entre mobília escolar e criança está relacionada aos
efeitos do design dos mobiliários convencionais sobre o sistema músculo-
esquelético das crianças.
O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo com crianças de
1ª série do Ensino Fundamental demonstrando a importância da adequação
postural para o rendimento escolar e, conseqüentemente, para o processo de
aprendizagem. Foi realizada uma comparação entre as carteiras convencionais,
incompatíveis ao tamanho dos usuários, com carteiras reguláveis e adaptadas
aos seus tamanhos, posicionando-os com melhor alinhamento e estabilidade
corporal.
As exigências na área cognitiva são muitas e a criança deve dispor de um
mobiliário escolar que permita que ela preste atenção, concentre-se sobre suas
tarefas sem sentir incômodos por uma má postura proporcionada pelo conjunto
carteira-cadeira.
A aprendizagem exige um equilíbrio entre uma arte, que são as interações
humanas entre o professor e o aluno, e uma ciência, que estabeleça as condições
ideais para a experiência de cada criança como candidata à educação. Um dos
fatores que favorecem a aprendizagem está em compreender e utilizar a
importância da postura, a fim de favorecer a concentração e a atenção na sala de
aula.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A ERGONOMIA
A ergonomia é muito importante para que o trabalho seja fonte de saúde e
produtividade para as pessoas e as organizações, possibilitando que o mesmo
seja bem dimensionado e se obtenham os melhores resultados ao mesmo tempo
em que permite que as pessoas desenvolvam suas atividades em condições mais
favoráveis à promoção da sua saúde e prevenção de certos grupos de doenças.
A ergonomia é uma tecnologia multi e interdisciplinar que investiga as interações
observáveis entre o homem e o ambiente físico e social da ocupação (NUNES et
al., 2001).
2.1.1 Conceito de ergonomia
A necessidade de precisão do conceito de ergonomia é investigada
por diversos estudiosos no assunto (IIDA, 1993; DUL; WEERDMEESTER, 1995;
RIO, 1999; DANIELOW, 2004) embora, tal precisão, ainda não tenha sido
encontrada. A ergonomia trabalha a partir de conceitos gerais que tratam sobre
conhecimentos científicos referentes ao trabalho humano, aos produtos e
processos utilizados e construídos pelos seres humanos no seu trabalho.
Para Iida (1993), engenheiro de produção e um dos grandes propulsores
da ergonomia no Brasil, a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao
homem, tendo o trabalho um significado mais abrangente, não se restringindo
apenas às máquinas e equipamentos, mas também à relação entre o homem e
seu trabalho. Nessa relação enquadram-se o ambiente físico e os aspectos
organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir
os resultados almejados.
20
Uma vez que é mais difícil adaptar o homem ao trabalho, a ergonomia
parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-o às
capacidades e limitações humanas.
Em 1949, na Inglaterra, psicólogos, fisiologistas e engenheiros, por
iniciativa do engenheiro Murrel, da Universidade de Oxford, criaram a primeira
sociedade de ergonomia, a Ergonomics Research Society, que segundo Iida
(1993, p. 1) definiu ergonomia de uma forma concisa:
[…] é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu
trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação
dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução
dos problemas surgidos desse relacionamento.
Em 1969, a Associação Internacional de Ergonomia (IEA) definiu
ergonomia como “[…] o estudo científico da relação entre o homem e seus meios,
métodos e ambiente de trabalho” (DANIELLOU, 2004, p. 24).
RIO (1999) faz uma revisão de importantes conceitos trazendo uma maior
compreensão sobre a ergonomia.
Grandjean (1983 apud RIO; RIO, 1999, p. 24) definiu ergonomia como “o
estudo do comportamento do homem no seu trabalho”, convertendo-se o mesmo
homem no sujeito-objeto de seu estudo “das relações entre o homem no trabalho
e seu ambiente”.
Em um conceito mais recente, Couto (1996 apud RIO; RIO, 1999, p. 27)
define que
Ergonomia é um conjunto de ciências e tecnologias que procura a
adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e seu
trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de
trabalho às características do ser humano.
O termo “ergonomia” é originado das palavras gregas ergon (trabalho) e
nomos (regras), e é aplicado ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas de
tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no
trabalho (DUL; WEERDMEESTER, 1995).
21
A ergonomia tem um caráter interdisciplinar por se apoiar em diversas
áreas do trabalho e um caráter aplicado representado na adaptação do posto de
trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador.
2.1.2 Histórico
Foi na Grã-Bretanha, em 1947, durante a Segunda Guerra Mundial, que o
termo ergonomia foi usado oficialmente. Três pesquisadores, o engenheiro
Murrel, o fisiologista Floyd e o psicólogo Welford, utilizaram esse termo para
denominar as atividades que eles e colaboradores desenvolviam a serviço da
Defesa Nacional Britânica, pois, a pressão ocasionada pela guerra fez com que
cientistas provindos de disciplinas diferentes e de modo de pensar distintos,
trabalhassem juntos. O objetivo da ergonomia na Grã-Bretanha era adaptar a
máquina ao homem (DANIELLOU, 2004).
A freqüência de acidentes durante o uso de determinados aparelhos que
exigiam dos operadores decisões rápidas e execução de atividades novas em
condições críticas demonstravam as incompatibilidades entre o progresso
humano e o progresso técnico. A partir daí, equipes de médicos, psicólogos e
engenheiros foram sendo organizadas para que os equipamentos fossem
repensados a fim de que fossem melhores adaptados ao ser humano.
(DANIELLOU, 2004)
No início, as pesquisas científicas eram voltadas para o estudo do corpo
humano em situação de trabalho, e tinham em vista avaliar as aptidões próprias
do trabalhador para seleção e orientação, sendo ainda escassas as propostas de
mudanças no trabalho. Após a 2ª Guerra Mundial, as equipes de pesquisadores
tinham como objetivo adequar operacionalmente equipamentos, ambientes e
tarefas aos aspectos neuropsicológicos da percepção sensória, aos limites da
memória, atenção e processamento de informações, à capacidade fisiológica de
esforço, adaptação ao frio ou ao calor e de resistência às mudanças de pressão,
temperatura e biorritmo (GOMES FILHO, 2003).
A ergonomia apareceu na França no meio dos anos 50 do século passado,
sendo criado o primeiro laboratório na indústria francesa, e o objetivo da
ergonomia, nesse país, era de adaptar o trabalho ao Homem, se opondo,
completamente, à adaptação do Homem à sua profissão, cujo conceito era o que
22
dominava na época. Um dos ergonomistas franceses, que formou mais
ergonomistas brasileiros, foi o professor Alan Wisner, médico fisiologista e
professor pesquisador no Conservatoire dês Arts et dês Métiers e no Institut
National d’études de Travail et d’Orientation Professionnelle (INETOP), em Paris.
Isto sem diminuir os méritos dos psicólogos ergonomistas como Jacques Lepat,
C. Levy-Leboyer, J.-C. Sperandio e Faverge, um dos fundadores da ergonomia
na língua francesa cujo interesse é centrado na relação do comportamento do
homem com o trabalho.
Algumas disciplinas contribuíram para a ergonomia que começa a aparecer
e, segundo Daniellou (2004), as disciplinas mais importantes foram a fisiologia do
trabalho, a antropometria, a biomecânica e a psicologia experimental.
A “fisiologia do trabalho” era bastante dominante na época, principalmente
nos laboratórios da Alemanha e da França. Esta disciplina estava baseada
essencialmente nas questões energéticas do trabalho muscular, ou seja, as
medidas de consumo de oxigênio, da freqüência cardíaca e da temperatura
central do corpo permitiam estudar a fisiologia do trabalho muscular e os efeitos
do calor. Não constavam nesses laboratórios pesquisas sobre neurofisiologia do
trabalho, apenas aquelas referentes à visão e à fadiga auditiva (DANIELLOU,
2004).
A antropometria” direcionada para a ergonomia interessava-se em
estudar as características dos trabalhadores vivos, distinguindo as idades e os
sexos, com objetivo de melhor avaliar as populações heterogêneas na maneira
como elas se apresentavam, tanto como trabalhadores ou como consumidores.
Isso gerou um conflito com a antropometria física que se preocupava em estudar
os esqueletos das etnias vivas ou restos encontrados em escavações, uma vez
que este tipo de estudo não respondia às necessidades da ergonomia
(DANIELLOU, 2004).
A “biomecânica” demonstrou ser indispensável para a ergonomia em
vários aspectos como: a compreensão e o modelo do gesto voluntário, a acústica,
os efeitos das vibrações, os modelos do homem sob o ponto de vista dos
movimentos músculos-esqueletais e a aplicação de forças. Uma das dificuldades
encontradas nesta disciplina foi o distanciamento uns dos outros, entre os
especialistas em mecânica e, também, os seus conhecimentos estavam pouco
adaptados às necessidades dos ergonomistas (DANIELLOU, 2004).
23
Por fim, a “psicologia experimental”, tinha como modelo, na época, o
behaviorismo e por ser experimental, facilitou a comunicação entre especialistas
que contribuíram para a ergonomia, uma vez que era necessária a prova
experimental. Porém, divergências também surgiam entre os fisiologistas e os
psicólogos como, por exemplo, o número de pessoas usadas nos experimentos,
que, para os fisiologistas, poderia ser um número reduzido e, para os psicólogos,
um número mais extenso e, as variações dos resultados das experiências
encontradas nas pesquisas dos psicólogos surpreendiam os fisiologistas
(DANIELLOU, 2004).
Todas as divergências entre as disciplinas se devem às diferenças
epistemológicas com relação ao modelo compartilhado da experimentação e a um
conceito da ergonomia que consistia em fornecer ao engenheiro dados científicos
sobre o homem, destinados a possibilitar uma melhor compreensão dos fatos.
Os principais países europeus adotaram o termo “ergonomia” sendo
fundada a Associação Internacional de Ergonomia em 1961. Nos Estados Unidos
foi criada a “”Human Factors Society” em 1957, sendo utilizado o termo “human
factors” (fatores humanos), mas, o termo “ergonomia” é aceito como sinônimo
(IIDA, 1993).
Atualmente a ergonomia é divulgada em todos os países do mundo, com
instituições de ensino e pesquisa atuando na área e eventos em nível nacional e
internacional são realizados anualmente para discussão dos resultados de
pesquisas. Embora as pesquisas na área continuem, já se encontra um acervo
rico em conhecimentos sobre ergonomia que pode contribuir significativamente
para tornar menor o sofrimento dos trabalhadores e melhorar a produtividade e as
condições de vida em geral.
No Brasil, a ergonomia foi introduzida, no início do ano de 1960, pelo
professor Sérgio Augusto Penna Kehl, no curso de Engenharia de Produção, da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A partir daí, foi se
desenvolvendo cada vez mais em função do aparecimento de diversas
instituições de ensino e órgãos de estudos e pesquisas (GOMES FILHO, 2003).
Mas a ergonomia no Brasil veio propagar-se no ano de 1980, em decorrência da
necessidade de prevenção da Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbio
Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (LER/DORT) acometendo um grande
24
número de trabalhadores, principalmente os digitadores da área de
processamento de dados no sistema bancário (LANCMAN, 2004).
Em virtude disso, Lancman (2004) ressalta que o Sindicato de
Processamento de Dados do Estado de São Paulo, em conjunto com as
instituições governamentais comprometidas com a melhoria das condições de
trabalho dessa classe profissional, criaram a NR 17 Ergonomia, Norma
Regulamentadora de Segurança e Medicina do Trabalho do Ministério do
Trabalho (BRASIL, 1990) que regulamentou e estabeleceu normas e critérios
referente à organização do trabalho, sendo introduzidas pausas, jornada de
trabalho, condições de mobiliário e equipamentos, levantamento e transporte de
carga.
O primeiro Seminário Brasileiro de Ergonomia foi realizado no Rio de
Janeiro em 1975, por iniciativa do Profº Franco Lo Presti Seminério, diretor do
Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP). Dez anos depois, por
intermédio dele, foi fundada a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO),
cujo primeiro presidente foi o Eng. Itiro Iida.
Os problemas surgidos em decorrência da geração e transformação do
mundo da produção, tanto de produtos como de serviços, têm acelerado a
expansão da ergonomia nos últimos anos, tornando-a fortemente ligada ao
desenvolvimento tecnológico e às relações sociais.
2.1.3 O papel social e econômico da ergonomia
A ergonomia pode ajudar na solução de um grande número de problemas
relacionados à saúde, segurança, conforto e eficiência. Muitos acidentes são
causados por erros humanos que vão desde a operação de grandes
equipamentos até as tarefas domésticas comuns. As análises mostram que
grande parte desses erros se deve ao relacionamento inadequado entre os
executores e suas tarefas. Para Dul e Weerdmeester (1995, p.15):
A probabilidade de ocorrência dos acidentes pode ser reduzida
quando se consideram adequadamente as capacidades e
limitações humanas durante o projeto do trabalho e de seu
ambiente.
25
Apesar de existir, no Brasil, uma grande quantidade de informações sobre
ergonomia, a utilização desses conhecimentos para efetivar uma correta
aplicação entre usuário e objeto ainda deixa muito a desejar. Entende-se por
objeto todo e qualquer ambiente, produto, sistema de produção e sistemas de
informações que mantêm com o homem uma permanente relação de utilização
em nível intelectual, físico ou sensorial (GOMES FILHO, 2003).
Talvez essa dificuldade em utilizar os conhecimentos sobre ergonomia se
deva à falta de conscientização da sua importância por parte dos educadores das
instituições de ensino superior e a falta de conhecimento, pois, a implantação da
disciplina de ergonomia nos programas curriculares dos cursos é ainda muito
recente (GOMES FILHO, 2003).
Muitas condutas adotadas no trabalho e mesmo na vida cotidiana são
prejudiciais à saúde. Doenças da coluna, como as dores nas costas que
envolvem o sistema músculo-esquelético e as doenças psicológicas causadas
pelo estresse, são hoje consideradas as mais importantes causas de
incapacitação e falta ao trabalho. Essas razões podem estar relacionadas ao mau
projeto e ao uso inadequado de objetos, sistemas e tarefas (DUL;
WEERDMEESTER, 1995).
Embora a ergonomia ainda não seja utilizada como deveria, ela pode
contribuir para a prevenção de erros operacionais, melhorando o desempenho.
Alguns conhecimentos de ergonomia foram convertidos em normas oficiais, com o
objetivo de estimular suas aplicações. Essas normas, segundo Dul e
Weerdmeester (1995, p.16):
[...] se encontram nas normas ISO (International Standardization
Organization), nas normas européias EM da CEN (Comitê
Européen de Normatisation), bem como nas normas nacionais,
por exemplo, na norma ANSI (Estados Unidos) e BSI (Inglaterra).
Além disso, há normas específicas de ergonomia que são
aplicadas em certas empresas e setores industriais.
Como foi dito, no Brasil, há a Norma Regulamentadora NR 17 que propõe
estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, a fim de proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 1990).
26
Nos países industriais que exportam tecnologia, grandes transformações
técnicas ocorreram devido à automatização, à informatização, ao progresso das
comunicações e à produção de energia barata, em particular a de origem nuclear.
Observa-se ainda, a intensa mecanização da agricultura e o aumento da
velocidade, da segurança e a diminuição de preços, no caso dos transportes
(DANIELLOU, 2004).
O autor relata ainda que fortes investimentos financeiros e orientação
determinada da pesquisa e do ensino fizeram com que a ergonomia passasse de
uma disciplina assimilada para a luta pela saúde do trabalhador contra acidentes
e pela melhoria das condições de trabalho, tornando-se uma parte importante na
contribuição para o sucesso técnico, econômico e financeiro das novas
tecnologias.
Além disso, houve grandes progressos em disciplinas que existiam no
momento da criação da ergonomia, mas que tinham orientações teóricas e
metodológicas diferentes como é o caso da cognição individual ou compartilhada,
que se tornou uma parte essencial da psicologia. Alguns psicólogos ergonomistas
acreditavam que poderiam passar, sem maiores dificuldades, do
comportamentalismo à psicologia cognitiva, na medida em que seus
conhecimentos continuariam a ser obtidos no mesmo esquema positivista, graças
a experimentos.
Para reforçar esta posição, Daniellou (2004) relata que esses psicólogos
participaram do movimento conhecido como das ciências cognitivas, onde
neurofisiologistas, psicólogos experimentalistas e matemáticos propuseram,
simultaneamente, representações sobre a cognição humana diretamente
utilizáveis na indústria da informática. Isso provém da grande diversidade dos
comportamentos reais em situação de trabalho.
É possível notar comportamentos diferentes entre operadores e em um
mesmo operador, de acordo com seu grau de aprendizagem, a hora da jornada, o
estado de saúde ou o seu estado físico e mental, e para Daniellou (2004), mesmo
se levando em conta as variações das máquinas, das matérias-primas, dos
defeitos que o operador observa na sua produção, do estado geral de
funcionamento do sistema técnico, das dificuldades encontradas por seus
colegas, do tipo de ajuda que ele recebe dos técnicos de manutenção, dos
especialistas do controle de qualidade, da hierarquia do setor, e do julgamento
27
ético feito pelo operador com relação ao seu trabalho e ao de outros. O operador
também considera seu próprio estado fisiológico e psíquico, sua fadiga, as dores
que ele sente por causa de sua postura e dos esforços que deve exercer, de sua
patologia permanente ou passageira, dos riscos que ele considera e de sua
moral.
Esta formação dos problemas por parte do trabalhador pode passar por
fases longas de estabilidade nas atividades repetitivas, ou sofrer variações de um
instante a outro, em particular em atividades ligadas a outros seres humanos, a
mudanças naturais ou dos dispositivos de produção (DANIELLOU, 2004).
Esse autor afirma ainda que é necessário fornecer, a quem pratica
ergonomia, as ferramentas que permitiriam fazer o seu trabalho dentro dos limites
da ergonomia.
2.1 4 O papel da ergonomia no ambiente doméstico
As atividades domésticas representam uma das maiores ocupações em
todo o mundo. Nelas estão envolvidas tanto os adultos como crianças e pessoas
idosas, porém, predomina o sexo feminino nesse ambiente. Cada dia mais
surgem aparelhos altamente sofisticados, com controles eletrônicos de tempo e
de temperatura, principalmente na cozinha (GOMES FILHO, 2003).
Esse autor ainda ressalta que quando se pensa em um produto de uso
doméstico não se pode esquecer o padrão de qualidade desse produto. Deve-se
considerar a pesquisa nas soluções para a configuração do produto trabalhando-
se três conceitos essenciais que são a função, a estrutura e a forma. Levando-se
em consideração esses três aspectos, obtém-se a garantia global do produto.
Para Gomes Filho (2003, p. 31),
[...] a elaboração, confecção ou fabricação efetiva do objeto, vai
depender dos recursos humanos, tecnológicos, métodos de
produção industrial, etc., adequados e suficientes para o alcance
da otimização da qualidade final do produto.
Ao se falar em ergonomia de produto, deve-se pensar em análises,
diagnósticos e comentários sobre os problemas típicos ergonômicos revelados
28
nos produtos que se observam e que se referem, basicamente, às características
do aspecto físico e às qualidades de uso funcionais e perceptivos (IIDA, 1993).
Do ponto de vista ergonômico, todos os produtos, sejam eles grandes ou
pequenos, simples ou complexos, destinam-se a satisfazer certas necessidades
humanas e, dessa forma, direta ou indiretamente, entram em contato com o
homem (IIDA, 1993).
Segundo Iida (1993), para que esses produtos funcionem bem em suas
interações com os seus usuários ou consumidores, devem ter como
características básicas a “qualidade técnica” que é a parte que faz funcionar o
produto do ponto de vista mecânico, elétrico, eletrônico ou químico e ainda, de
acordo com esse autor (1993, p. 354), na qualidade técnica, “[...] considera-se a
eficiência com que o produto executa a função, o rendimento na conservação de
energia, a ausência de ruídos e vibrações, a facilidade de limpeza e manutenção
e assim por diante”.
Outra característica é a “qualidade ergonômica” que está relacionada à
facilidade de manuseio, à adaptação antropométrica, ao fornecimento claro de
informações, às compatibilidades de movimentos e outros itens relacionados ao
conforto e segurança (IIDA,1993).
E por fim a “qualidade estética” que envolve a combinação de cores,
formas, uso de materiais, texturas, para que os produtos sejam visualmente
agradáveis (IIDA, 1993).
Iida (1993) destaca ainda que embora essas qualidades em geral estejam
presentes em quase todos os produtos, pode ocorrer que, em cada tipo de
produto, uma ou outra qualidade predomine em relação às outras e, muitas vezes,
os fabricantes preferem alterar os aspectos estéticos e ergonômicos dos produtos
por questões mercadológicas, fazendo com que os fatores econômicos e a
preferência dos consumidores prevaleçam sobre essas qualidades.
Gomes Filho (2003) enfatiza que alguns critérios são básicos para uma
leitura ergonômica do produto e são essenciais para contribuir com sua qualidade
e não causar insegurança e desconforto ao seu usuário. Entre os critérios citados
pelo autor encontram-se a “tarefa” que se refere à função de uso do produto
envolvendo todos os passos para esse produto funcionar, abrangendo mais o
estudo das ações do que a descrição do procedimento de uso. Gomes Filho
(2003, p. 28) relata que:
29
[...] os problemas ergonômicos em relação a esse fator são,
sobretudo, aqueles que contribuem ou trazem dificuldades ao
usuário quanto à utilização do produto, em termos de suas
características antropométricas, seu sexo, grau de instrução,
experiência anterior, idade, habilidades especiais, etc., bem como
quanto às ações que se concentram na interface usuário-objeto
em termos de informações e controles.
Um outro critério a ser enfatizado é o da “segurança”, ou seja, a certeza de
que o produto não vai oferecer riscos e acidentes que possam envolver o usuário
ou grupo de usuários. Para Gomes Filho (2003, p. 29), os problemas ergonômicos
expostos a esse fator dizem respeito:
[…] à proteção que o usuário deve ter das características da
configuração formal dos objetos e seus dispositivos mecânicos,
eletroeletrônicos, pneumáticos, hidráulicos, térmicos, sonoros,
informacionais (no âmbito dos sistemas de comunicação),
ausência de anfractuosidades e assim por diante, bem como dos
aspectos de projetos mal resolvidos que induzem ao erro humano
em relação ao comportamento de uso e/ou operacionalidade dos
objetos.
O conforto é um critério a ser analisado pela ergonomia, que visa à
sensação de bem-estar, comodidade e segurança percebidas pelo usuário e, os
problemas ergonômicos relacionados a ele, dizem respeito às condições ou
situações de uso dos produtos que podem levar à fadiga, doenças e
constrangimentos no organismo humano (GOMES FILHO, 2003).
Gomes Filho (2003) afirma que postura” é um critério que está relacionado
diretamente às características anatômicas e fisiológicas do corpo humano e
mantém um restrito relacionamento com a atividade do indivíduo, ou seja, uma
mesma pessoa poderá adotar posturas diferentes praticando ações diferentes.
O critério de “aplicação de força” diz respeito aos movimentos e esforços
físicos gastos pelo usuário em relação às ações de manejo e controle de
determinados produtos. Se o projeto de peças e componentes de manejo for
inadequado, irá exigir esforços físicos incompatíveis com a capacidade física do
usuário, principalmente em postos de trabalho e atividades, tornando-se um
problema ergonômico (GOMES FILHO, 2003).
30
O critério “materiais” diz respeito a todo e qualquer componente do produto
e, para Gomes Filho (2003, p. 33), a sua escolha deve estar relacionada
diretamente “[...] à adequação das características de uso, funcionais,
operacionais, técnicos, tecnológicas, econômicas, perceptíveis e estético-formais
do objeto”. Caso esses tópicos não sejam considerados, o produto se torna um
problema do ponto de vista da ergonomia.
E por fim, o critério “estereótipo popular”, que significa a prática de uso
adotada pela maioria das pessoas no que diz respeito aos movimentos de manejo
e controle, leitura etc., na execução de dispositivos. Esses critérios podem estar
compatíveis ou incompatíveis com o estereótipo popular (GOMES FILHO, 2003).
Se o manejo do produto trouxer desconforto e insegurança ao usuário, problemas
ergonômicos estarão presentes. Esses problemas serão ainda maiores se forem
causados por indução a erros invertendo-se a forma de manejar ou executar o
produto, em função do aspecto de incompatibilidade dos movimentos esperados
como padrão.
Para Iida (1993), as atividades domésticas podem ser consideradas de
média intensidade, exigindo um gasto energético de 2400 a 2800 Kcal/dia,
podendo chegar a 3.000 kcal/dia em tarefas mais pesadas e quanto maior for a
incidência dessas tarefas, maior será o gasto energético.
Comparando-se ao trabalho industrial, em linhas de produção, o trabalho
doméstico é bastante variado, permitindo freqüentes mudanças de postura e
inclusão de pausas durante o trabalho. Mesmo assim, muitas tarefas domésticas
exigem posturas inadequadas, provocando dores lombares e, para prevenir essas
dores, é importante que os fabricantes de móveis, arquitetos e decoradores criem
locais de trabalho onde as atividades possam ser executadas com o dorso na
vertical, seja na postura de pé ou na sentada (IIDA, 1993).
Um especialista em ergonomia, quando participa de equipes de projeto do
produto, além de melhorar as qualidades de uso e funcionalidade do mesmo,
deve estar atento também às questões de uso não-funcional do produto, uma vez
que isso pode gerar acidentes domésticos como, por exemplo, os frascos de
remédio que dependem de certa pressão para serem abertos evitando que
crianças consigam abri-los por não terem força suficiente (IIDA, 1993).
31
2.1.5 O papel da ergonomia no ambiente escolar
A ergonomia tem-se propagado muito além das atividades produtivas
industriais e o sujeito das pesquisas em ergonomia não está mais restrito à mão-
de-obra produtiva. Com a expansão do seu campo de atuação, está sendo
necessário estudar cada vez mais o trabalho feminino, das crianças, dos idosos e
de deficientes físicos (IIDA, 1993)
Além disso, com o alargamento das suas aplicações, os critérios não estão
mais restritos apenas à segurança, eficiência e produtividade, mas também à
qualidade de vida, ao bem-estar social e à satisfação dos consumidores.
Cada vez mais a ergonomia tem se interessado pelas atividades de ensino,
procurando torná-las mais eficientes. O ensino ainda se realiza, na maioria dos
casos, com aulas do tipo verbal-expositivo, que faz com que os alunos passem
longas horas sentados em carteiras. Isso requer posições estáticas de sua
musculatura, que dificulta a circulação e provoca fadiga. Além disso, o método de
avaliação da maioria das escolas públicas e privadas consiste de provas mensais
que acabam provocando estresse por serem consideradas aversivas pelos alunos
e são muito espaçadas no tempo. As avaliações funcionam como um processo de
realimentação ou feedback e, para que isso seja efetivo, deveriam ser mais
freqüentes e menos demoradas (IIDA, 1993).
O projeto adequado dos mobiliários, salas de aula, bibliotecas, laboratórios
e outros recursos didáticos podem influir no desempenho dos professores e
alunos, podendo citar o desenho adequado de carteiras escolares, o
posicionamento correto do quadro-negro e janelas que não provoquem brilhos ou
ofuscamentos.
Os especialistas em ergonomia citam a importância do ambiente físico
sobre o rendimento do usuário, seja qual for a tarefa que esteja desempenhando;
portanto, a iluminação, ruídos, temperaturas, ventilação e uso de cores influem no
conforto físico e psicológico para o rendimento escolar (BRACCIALLI; VILARTA,
2000).
Para Moro et al. (1997 apud MORO, 2005) o mobiliário escolar, juntamente
com outros fatores físicos, é notadamente um elemento de sala de aula que influi
circunstancialmente no desempenho, segurança, conforto e em diversos
comportamentos dos alunos.
32
Uma vez que o foco central desse trabalho refere-se ao mobiliário escolar,
será dada maior ênfase ao assunto em um tópico à parte, discutindo a
importância da postura sentada em sala de aula.
2.2 POSTURA SENTADA
Postura é a organização dos segmentos do corpo no espaço. Uma postura
se expressa na imobilização de partes do esqueleto em posições determinadas,
interdependentes umas das outras e que conferem ao corpo uma atitude de
conjunto (GOMES FILHO, 2003).
Toda posição assumida pelo corpo, quer seja na ação conjunta dos
músculos atuando contra a gravidade, quer seja quando mantida durante
inatividade muscular é denominada postura (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998).
Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), postura é definida como uma
posição ou atitude do corpo cujas partes se dispõem relativamente para realizar
uma atividade específica com o menor gasto energético ou mesmo para sustentar
o próprio corpo.
Para manutenção ou adaptação de uma postura é necessária a ação
integrada de vários grupos musculares que operam para atuar contra a força da
gravidade, quer seja em movimento, quer seja durante inatividade muscular.
Além dos fatores intrínsecos influenciando a postura, como é o caso do
sistema muscular, outros fatores, inerentes ao corpo humano, necessitam ser
considerados, como é o caso das superfícies de sustentação, uma vez que a
forma como são construídas torna-se um aspecto importante que influencia as
posturas.
2.2.1 Aspectos biomecânicos da coluna vertebral e da postura sentada
Segundo Knoplich (1996), o nome de “postura” é dado à posição que o
corpo assume no espaço em função do equilíbrio dos quatro constituintes
anatômicos que formam a coluna vertebral que são as vértebras, os discos, as
articulações e os músculos.
33
As vértebras são as unidades ósseas que se superpõem formando uma
pilha de ossos que se intercalam com os discos intervertebrais, sendo esta, a
parte fibrocartilaginosa que serve como amortecedor e também é formada por
ligamentos e músculos (MERCÚRIO, 1997). A sua principal característica é a
flexibilidade, pois as vértebras apresentam mobilidade entre si e a estrutura
ligamentar e osteomuscular, além de ser responsável pelo movimento, fornece a
estabilidade.
Segundo Knoplich (1996), a coluna vertebral é o centro de suporte do
organismo humano e sendo o eixo e o centro de gravidade do corpo, tem três
funções: a de sustentação do organismo desempenhado pelas vértebras e pelos
discos intervertebrais; a de movimentação do corpo realizada pelas articulações
das vértebras existentes na parte posterior e a de proteção da medula espinhal.
Observando a extensão da coluna vertebral nota-se que os discos
intervertebrais variam de formato e espessura e que na região cervical e lombar
apresentam uma curvatura côncava, permitindo que a coluna exerça de forma
precisa suas funções de flexibilidade e rigidez (FIGURA 1).
Figura 1 Coluna vertebral.
Fonte: O CORPO humano. Sistema ósseo: coluna vertebral: III.
Disponível em: <http://ww.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_
osseo/coluna_vertebral/verteb3.htm>.Acesso em: 22 jan.2006.
34
A postura estática mantém o organismo do homem em equilíbrio na
posição parada, seja em pé, sentado ou deitado de forma que não produza
nenhum dano às estruturas da coluna vertebral e nem dor quando a posição for
mantida por muito tempo (KNOPLICH, 1996).
Uma atividade estática exige uma contração prolongada de alguns
músculos para manter uma determinada posição, ao contrário de uma atividade
dinâmica que permite contrações e relaxamentos sucessivos dos músculos (IIDA,
1993).
Quando músculos espinhais se contraem, apresentam um efeito
compressivo sobre os discos intervertebrais e conseqüentemente, contrações
musculares excessivas durante solicitações corriqueiras podem ter um efeito
prejudicial sobre a nutrição dos discos (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998).
Os autores relatam ainda que um músculo sem irrigação sanguínea entra
em fadiga muito rapidamente e não poderá se manter em contração por muito
tempo. Se o músculo se contrair e relaxar alternadamente, ele próprio funcionará
como uma bomba sanguínea, ativando a circulação nos vasos e aumentando o
volume do sangue circulado. Assim sendo, o músculo passa a receber mais
oxigênio, aumentando sua resistência contra a fadiga.
Segundo Iida (1993), atividades estáticas são aquelas que exigem
contração contínua de alguns músculos para manter uma determinada posição,
são altamente fatigantes e devem ser evitadas sempre que possível e, quando
não for possível de serem evitadas, devem ser atenuadas através de mudanças
de posturas e apoios para partes do corpo, buscando reduzir as contrações
estáticas dos músculos. Qualquer postura que resulte em trabalho muscular
estático induz à fadiga, assim sendo, uma posição que reduz ao mínimo o
trabalho muscular é considerada uma ótima posição.
Manutenções estáticas prolongadas podem também induzir ao desgaste
das articulações, dos discos intervertebrais e dos tendões (KNOPLICH, 1996).
Para esse autor, uma pressão repetitiva e freqüente sobre os discos
intervertebrais, independente da intensidade, pode causar a aceleração da
degeneração discal, levando à perda da propriedade de amortecimento.
O modelo biomecânico da coluna do homem não foi construído para
permanecer por longos períodos na posição sentada, mantendo posturas
estáticas fixadas.
35
A postura sentada foi considerada um fator de risco para a coluna vertebral
e ao se sentar ela é colocada numa posição anormal.
A modificação da curvatura lombar leva a uma tração dos ligamentos e a
uma compressão dos discos. Além disso, no interior dos músculos existem
inúmeros vasos sanguíneos muito finos que transportam oxigênio até eles.
Quando um músculo está em contração, em torno de 60% de contração máxima,
há um aumento da pressão interna nesses vasos, levando a uma constrição e
fazendo com que o sangue deixe de circular nos músculos contraídos e os
resíduos metabólicos deixam de ser retirados e estes, acumulando-se, irão
provocar dor e fadiga muscular (IIDA, 1993).
A postura estática da posição sentada é um fator importante no
agravamento da dor na região dorsal. Para Oliver e Middleditch (1998), pessoas
que mudam suas posturas, variando a posição sentada com movimentação
apresentam, no todo, uma baixa incidência de dor na região dorsal.
Segundo Viel e Esnault (2000), quando sentado sobre uma superfície
horizontal não se obtém 90º de flexão dos quadris, mas apenas 60º e que os 30º
restantes são realizados pela região lombar baixa fazendo com que ocorra
retificação da lordose ou o aparecimento de uma cifose lombar e que inclinações
do tronco para frente ou torções do tronco devidas às exigências da tarefa, sejam
elas visuais ou de movimentos, levam a um aumento de mais de 30% na pressão
sobre o disco intervertebral.
A pressão sobre o disco intervertebral é mais elevada na posição sentada
sem apoio do que na posição em pé e o aumento ou diminuição na pressão
intradiscal podem ser produzidos por uma alteração na lordose lombar, na
inclinação do assento ou do encosto e na altura do suporte lombar, da cadeira e
se necessário ainda, da mesa (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998).
Braccialli e Vilarta (2000), em estudos realizados sobre postura, relatam
que nas diferentes posições sentadas ocorre uma alteração na pressão intradiscal
e esta estará diminuída quando o indivíduo sentar sem apoio de tronco com as
costas retas, e haverá ainda, uma diminuição adicional desta pressão quando os
braços estiverem apoiados nas coxas. A pressão no disco diminuirá e trará menos
prejuízo quando o indivíduo sentar com apoio de tronco. Existe uma relação entre
a pressão discal e inclinação do encosto, pois quando se aumenta a inclinação do
encosto, a pressão diminui, assim como, ao sentar com inclinação anterior do
36
tronco fará com que a pressão no disco aumente, pois a curvatura lombar se
retifica e os músculos posteriores da coluna contraem para agir contra o efeito da
força de gravidade no tronco.
Os autores apontam ainda que, nos estudos sobre a postura sentada com
apoio, ocorrerá uma diminuição da pressão discal, pois parte do peso corpóreo
será transferido para o encosto. Além disso, se o apoio for colocado na região
lombar, fazendo com que a coluna se mova para a posição de lordose a pressão
será ainda menor em relação ao apoio colocado na região torácica que
movimenta a coluna lombar para cifose e, conseqüentemente, aumenta a pressão
discal.
A melhor posição para uma atividade prolongada nessa postura seria a
inclinação para frente do assento da cadeira, ocorrendo a retificação da coluna
vertebral e, conseqüentemente, uma redução das pressões de tração e
compressão (VIEL; ESNAULT, 2000).
Segundo Oliver e Middleditch (1998), a posição sentada ideal é aquela em
que as articulações intervertebrais se posicionam de forma que permitem
liberdade de movimento com os músculos anteriores e posteriores em equilíbrio.
Para se ter a percepção das modificações das curvaturas da coluna
vertebral, Viel e Esnault (2000, p. 11) apontam cinco situações de postura
sentada em uma cadeira comum (FIGURA 2). Na Figura 2A, observa-se o sujeito
com uma cifose lombar onde deveria haver uma lordose. Na Figura 2B,
esforçando-se para um endireitamento se estabelece novamente a lordose
lombar, porém, essa postura não pode ser mantida por muito tempo. Na Figura
2C, colocando-se uma toalha enrolada sob os ísquios, a lordose é restabelecida,
proporcionando um estado de conforto. Na Figura 2D, o conforto e a lordose
também podem ser readquiridos deslizando o corpo para a parte anterior do
assento, liberando as coxas, colocando um pé a frente do outro, inclinando-se e
apoiando os cotovelos sobre a mesa. E por fim, na Figura 2E, observa-se a
recuperação da lordose, inclinando-se sobre os pés anteriores da cadeira e
apoiando os cotovelos sobre a mesa, nessa posição as distensões na região
lombar são evitadas.
37
Figura 2 Modificações das curvaturas da coluna vertebral.
Fonte: VIEL, Eric e ESNAULT, Michèle. Lombalgias e cerviacalgias
da posição sentada: conselhos e exercícios. São Paulo:
Manole. 2000. p. 11.
Uma vez que o ato de sentar é tido como uma postura humana natural para
aliviar a fadiga da postura em pé, a postura do ato de sentar naturalmente
adotada pelo indivíduo, deve manter suas costas eretas, de maneira a se
posicionar de tal forma que minimize as pressões em seus discos intravertebrais,
sem com isso criar tensões nos músculos eretores do tronco, preservando a
curvatura da coluna tanto quanto possível (VIEL; ESNAULT, 2000).
Para Nunes et al. (2001), a postura sentada é uma postura estável que
favorece maior precisão de movimentos óculo-manuais, exige menor atividade
muscular para manutenção do padrão postural, reduz a pressão intravascular nas
extremidades e diminui consideravelmente a movimentação do padrão postural do
indivíduo.
2.2.2 Postura sentada e ergonomia
Do ponto de vista da ergonomia, o ato de sentar prevê a melhor relação de
ajuste entre o usuário e a cadeira, tendo como ponto de referência básica o
conceito de conforto corporal aliado ao de segurança (GOMES FILHO, 2003).
Segundo Oliver e Middleditch (1998), os problemas posturais podem ter
início muito cedo na vida de uma pessoa. Um número considerável de crianças já
38
apresenta dores na região dorsal e a inadequação das carteiras escolares está
sendo apontada como a principal causa desse fator.
Em estudos realizados entre as dimensões das cadeiras e mesas e a
estatura de seus usuários, Braccialli e Vilarta (2000) relatam que atividades
realizadas em mesas muito altas ou cadeiras baixas provocam o deslocamento
lateral dos braços fazendo com que o centro de massa se mova para as laterais,
aumentando a carga na coluna. Da mesma forma, se as mesas forem muito
baixas ou as cadeiras muito altas, a cabeça e o tronco tenderão a inclinarem-se
para frente aumentando a carga sobre a coluna vertebral.
Para Iida (1993), o fato de se tentar realizar uma leitura que está difícil, irá
requerer a inclinação da cabeça para frente a fim de se ter uma melhor visão e
isso se deve ao fato do assento ser muito alto, a mesa ser muito baixa ou ainda a
cadeira estar longe da atividade para melhor fixação visual. Essa postura irá
provocar fadiga nos músculos do pescoço e ombro devido à cabeça ter um peso
relativamente elevado que é em torno de 4 a 5 kg.
É natural que na posição sentada, a cabeça se flexione para frente de
acordo com o local onde se encontra o objeto que estiver sendo olhado e,
geralmente, durante uma atividade, o olhar é dirigido para baixo, com a cabeça
inclinada para frente e esta posição é normal (VIEL; ESNAULT 2000).
A posição da cabeça deve ser espontânea e não imposta e qualquer
atividade que exija uma contração muscular voluntária é fatigante e não pode ser
mantida por muito tempo.
Para Kendall, McCreary e Provance (1995) não existe uma cadeira correta.
A altura e a profundidade da cadeira deve ser apropriada para a pessoa. A
cadeira deve ser de uma altura que permita que os pés se apóiem
confortavelmente sobre o solo e desse modo evite pressão atrás das coxas. Uma
cadeira que tenha uma profundidade excessiva não proporcionará suporte para a
coluna ou sofrerá pressão indevida contra a parte inferior da perna, assim como,
os quadris e joelhos devem estar com um ângulo de aproximadamente 90 graus.
Brandimiller (1999) também afirma que não existe cadeira ideal que
permita que a pessoa possa trabalhar por muitas horas sem sentir desconforto ou
cansaço e, por mais confortável que seja a cadeira, nenhuma irá suprir a
necessidade fisiológica da pessoa, de tempos em tempos, de levantar-se,
movimentar-se, fazer alguma coisa em pé ou dar alguns passos.
39
O projeto de uma cadeira ideal depende de um estudo ergonômico
complexo, relacionado a dados antropométricos e fisiológicos, referentes aos
diversos biótipos de usuários (GOMES FILHO, 2003).
Gomes Filho (2003) refere ainda que o objetivo da ergonomia é buscar
sempre a melhor adequação ou adaptação possível do objeto aos seres vivos em
geral, principalmente no que diz respeito à segurança, ao conforto e à eficácia de
uso ou de operacionalidade dos objetos, mais particularmente, nas atividades e
tarefas humanas.
A principal atribuição da ergonomia, no que se refere à cadeira, está
relacionada ao conforto e ao tempo em que a pessoa permanecerá sentada,
realizando uma determinada tarefa. Também cabe a ela determinar os materiais a
serem utilizados para o encosto ou assento (GOMES FILHO, 2003).
Na Norma de Ergonomia NR-17, item 17.3.3 (BRASIL, 1990, p. 2), as
exigências mínimas adotadas para uma cadeira foram: assento plano sem
formato, com a borda da frente arredondada; encosto com apoio para a região
lombar; altura do assento regulável, podendo ser ajustada pelo usuário de acordo
com sua estatura e com as necessidades do trabalho.
Para Gomes Filho (2003), os planos do assento e encosto não devem
formar ângulo reto e sim, ter um ângulo maior que 90 graus, pois o ângulo reto
entre o encosto e o assento faz com que o usuário curve seu tronco para frente
trazendo desconforto. Esse autor recomenda que a cadeira tenha uma leve
inclinação para trás, impedindo que o corpo escorregue para frente. Relata ainda
que o revestimento de uma cadeira depende de diversos fatores que vão desde
nível de conforto desejável para realização de uma tarefa até custo do produto,
mas ressalta que a necessidade de estofamento é evidente nos casos em que as
tarefas são de longa duração, sobretudo em situações de trabalho.
Brandimiller (1999) aponta algumas características de conforto para
cadeiras em situações de trabalho. Para o autor, o assento deve ser plano com
estofamento pouco espesso e firme que irá facilitar para que o peso do corpo se
distribua corretamente sobre os ísquios ao invés de se deslocar para nádegas e
coxas causando compressão dessas. O assento deve ter leve inclinação para
trás, cerca de 5 graus, que irá facilitar o apoio das costas no encosto e evitar o
deslizamento do corpo para frente.
40
O revestimento do assento e do encosto deve ser antiderrapante, sendo
recomendável que o tecido do revestimento seja um pouco áspero para que o
usuário não escorregue, assim como evitar revestimentos sintéticos por serem
impermeáveis e reterem calor dificultando a evaporação do suor. O assento tem
que ter uma largura suficiente para que o usuário não sinta as bordas laterais do
assento; a borda da frente deve ser arredondada e curvada para baixo para evitar
a compressão das artérias, veias, nervos e tendões dos músculos atrás do joelho.
O comprimento do assento deve ser menor que o tamanho da coxa de forma que
haja um espaço de 10 cm entre a parte de trás da perna e a borda do assento.
O autor relata ainda que a regulagem da altura do assento da cadeira é
indispensável, pois deve se ajustar ao comprimento da perna do usuário; porém,
essa regulagem não é de todo suficiente para um bom ajuste postural senão
houver, também, regulagem da altura da mesa para favorecer uma posição
confortável para as mãos e membros superiores durante o trabalho.
Brandimiller (1999) cita, ainda, algumas características para o encosto. O
apoio deve ser na região lombar, encaixando-se na curvatura lombar, pois o apoio
nessa região dá sustentação ao tronco. É ideal que esse encosto também seja
regulável em sua altura para que se ajuste com precisão à curvatura lombar. A
profundidade do apoio lombar também deve poder ajustar-se para frente e para
trás de acordo com o comprimento da coxa de quem o utiliza, deixando um
espaço livre entre a perna e a borda do assento. A posição do encosto deve ser
reclinável permitindo posições entre 90 graus, que é posição vertical, e 110 graus,
formando uma pequena inclinação para trás; porém, ressalta que a posição
vertical entre 90 e 95 graus é mais confortável para escrever ou trabalhar com as
mãos sobre a mesa e posições mais inclinadas são mais confortáveis para o uso
do computador, digitar, usar mouse e observar a tela.
Além das características do conforto para a cadeira, deve-se levar em
conta a importância da mesa, seja em situações de trabalho ou de aprendizagem.
Brandimiller (1999) salienta que a altura deve estar adequada ao tamanho do
usuário; deve haver espaço suficiente para as pernas sob a mesa; a largura deve
dispor de espaço para colocar os equipamentos, acessórios e materiais de
trabalho mais utilizados.
41
2.2.3 Carteira escolar e ergonomia
As duas maiores funções da carteira escolar são sustentar a criança
enquanto presta atenção no professor e quando escreve ou desenha na
superfície de trabalho. Essas atividades requerem a adoção de posições físicas
bem diferentes pela criança.
Embora a cadeira e a mesa tenham sido projetadas para fornecer suporte
para o corpo, uma outra função da carteira escolar é assegurar que a criança
permaneça em um mesmo lugar a fim de facilitar o monitoramento de seu
comportamento e desempenho em sala de aula e diminuir um comportamento de
distração.
Segundo Nunes et al. (2001), em um levantamento de dados realizado nos
Estados Unidos da América com cerca de 200 professores de Educação Especial
foi constatado que alguns tipos de mobília escolar estavam associados a
comportamentos diruptivos além dos aspectos do design da mobília escolar
serem considerados inapropriados para o desenvolvimento de tarefas específicas.
Quase a metade dos professores que participaram da pesquisa referiu-se a
acidentes envolvendo cadeiras e mesas e mais da metade deles informaram que,
além do mobiliário produzir ruído excessivo quando deslocado, os seus alunos
permaneciam na posição sentada por um período que variava de três a quatro
horas diárias.
Do ponto de vista da ergonomia, uma outra função da carteira escolar
deveria ser a de facilitar a aprendizagem, fornecendo um local de trabalho
confortável e sem estresse. A fim de atingir isso, é admissível que as carteiras
escolares precisam ser projetadas para permitir que a criança se mova sobre
seus assentos, não sendo natural ficarem paradas por longos períodos uma vez
que fadiga muscular localizada e dores podem ser resultados de imobilizações
posturais (HIRA, 1980 apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000).
Não basta que cadeiras e mesas educacionais, para serem reconhecidas
como tal, localizem-se dentro das salas de aula. Antes de mais nada, essas peças
de mobiliário devem cumprir seu papel facilitador no processo educacional
(NUNES et al., 2001).
Esses autores relatam ainda que muitas das respostas exibidas pelas
crianças em sala de aula parecem originadas por eventos físicos presentes na
42
própria mobília escolar. Foram observados alguns comportamentos indesejáveis
tais como produzir ruídos pelo arrastar de cadeiras e mesas, movimentar-se
excessivamente, balançar-se na cadeira convencional e abandonar
sistematicamente o assento.
Estudos realizados sobre posições posturais adotadas em sala de aula
(FLOYD; WARD, 1969 apud KNIGHT; NOYES, 1999) mostram três tipos de
comportamento mais freqüentemente observados:
a) sentar sem apoio nas costas, sendo que o encosto de uma cadeira era
mais freqüentemente usado quando apenas um dos braços estava
apoiado sobre a mesa ou quando ambos os braços não estavam em
contato com a mesa de forma alguma;
b) tronco inclinado para frente;
c) inclinação à frente com ambos os braços suportados pelo apoio deles
sobre a mesa. Esta postura foi adotada não apenas no ato da escrita,
mas por uma considerável quantidade de tempo durante outras
atividades, de forma que alguns alunos despendiam cerca de 80% de
seu tempo nessa posição de inclinação para frente. Isso é
compreensível, uma vez que as atividades de escrita ocupam crianças
escolares por cerca de 30% de seu tempo, sentadas na cadeira. Os
autores concluíram que esse tipo de postura era adotado mesmo
quando a exigência da tarefa não impunha esta postura.
Segundo Nunes et al. (2001) foram realizados estudos experimentais na
área da Biomecânica a fim de verificar os efeitos do design do mobiliário escolar
no comportamento de crianças. A amostra constituiu de 15 crianças de baixa
renda na faixa etária de 8 a 14 anos, freqüentadoras de classe de reforço, da
primeira série do Ensino Fundamental da rede pública de ensino em uma cidade
do interior do Estado de São Paulo. A pesquisa envolveu dois tipos de resposta,
uma acadêmica com atividades em Língua Portuguesa e Aritmética e a outra,
respostas de comportamento do tipo virar-se para trás, levantar-se do assento,
virar-se de lado e balançar-se na cadeira convencional. A pesquisa foi dividida em
duas etapas. Na primeira etapa as crianças utilizaram mobília convencional para a
realização de tarefas escolares e na segunda etapa, os móveis convencionais
foram substituídos por cadeiras e mesas projetadas segundo critérios
biomecânicos.
43
De acordo com autores, os resultados iniciais desse estudo indicaram que
as crianças permaneciam na posição sentada por mais de três horas diárias em
cadeiras reforçadoras de vícios posturais e produtoras de sensação de
desconforto. As respostas indesejáveis tais como levantar-se do assento,
balançar-se e virar-se para o lado ocorreram com maior freqüência quando as
crianças faziam uso do mobiliário escolar convencional. Os níveis de desempenho
em tarefas acadêmicas envolvendo Português e Aritmética não apresentaram
mudanças significativas.
A anatomia e fisiologia do usuário são considerações essenciais ao se
projetar uma carteira escolar (FIGURA 3) e as análises devem ser focalizadas na
atividade muscular e estresse da coluna. Mandal (1981 apud KNIGHT; NOYES,
1999) estudou a posição sentada relaxada de 1.035 crianças e descobriu que
nenhuma delas preservava a curvatura lombar característica da posição
naturalmente relaxada (FIGURA 3C). Se as crianças fossem solicitadas a se
sentarem com tensão muscular consciente, 30,5% demonstrariam uma curvatura
lombar. Entretanto, esta posição é difícil de manter por muito tempo, assim, em
uma postura sentada normal, a região lombar tende a reverter para uma curva
convexa (FIGURA 3D).
Figura 3 - Rotação da pelve em várias posturas.
Fonte: Reprinted from Applied Ergonomics, 12, Mandal, A. C., The
seated man (Homo Sedens), 19-26, Copyright (1981), with
permission from Elsevier Science apud KNIGHT and NOYES,
1999, p. 750).
44
Viel e Esnault (2000) apontam estudos realizados em crianças no que diz
respeito à limitação da amplitude nos quadris e à retificação da lordose ou cifose
lombar que, no adulto, quando se senta, instala-se automaticamente. Infere-se
que, no adulto, isso acontece em virtude de um enrijecimento progressivo de todo
o corpo e dos quadris, ao passo que, no jovem seria observada uma flexão
suficiente dos quadris que não exigiria a retificação da lordose da coluna
vertebral.
A criança e o adolescente são tão flexíveis que as posições irregulares
adotadas por eles não devem ser fatores de preocupação, desde que eles mudem
freqüentemente de posição. Somente quando a mesma posição se repete
freqüentemente que deve se tornar um fator preocupante, mas, mesmo assim, é
desaconselhável que seja tentada uma correção completa da postura da criança
(VIEL; ESNAULT, 2000).
Uma carteira escolar deve permitir aos alunos assumirem posições
extremas e diversas, a fim de quebrar a monotonia de uma posição adotada
permanentemente e deve ser igualmente privilegiada a liberdade de movimento
das pernas (VIEL; ESNAULT, 2000).
A carteira escolar deve proporcionar um espaço livre entre a cadeira e a
mesa, permitindo que o estudante possa se posicionar ereto e possibilite o entrar
e sair da carteira (HIRA, 1980 apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000), porém o
espaço não pode ser excessivamente grande, o que levaria à inclinação anterior
do tronco durante as atividades de escrita.
Informações antropométricas para o projeto de uma cadeira devem focar
dados da estatura das pessoas para os quais os assentos são projetados. Para
Dul e Weerdmeester (1995, p.23), “[...] a antropometria ocupa-se das dimensões
e proporções do corpo humano”.
A antropometria difunde que um padrão aceitável de mobília poderá ser
identificado como aquele que acomoda o maior número possível de indivíduos de
uma população (NUNES et al., 2001).
Todas as populações humanas são compostas de indivíduos de diferentes
tipos físicos ou biótipos, fazendo com que essa diversidade influencie nas
medidas antropométricas (IIDA, 1993). O autor relata ainda que a migração dos
povos para outras regiões com clima, hábitos alimentares e culturas diferentes
dos seus locais de origem, possibilitou a realização de estudos sobre a influência
45
desses fatores sobre as medidas antropométricas, a fim de verificar até que ponto
as etnias são determinantes dessas medidas. Os estudos realizados em diversas
regiões mostraram que não houve grandes alterações nas proporções corporais
mesmo havendo uma mudança da estatura média da população.
Na área da antropometria há uma tendência de evolução para padrões
mundiais, embora não existam medidas antropométricas confiáveis para a
população mundial e, como a maior parte dessas medidas foi realizada nas
décadas de 60 e 70, é possível que elas tenham evoluído, principalmente
naqueles países que se desenvolveram economicamente a partir daquelas datas,
proporcionando melhores condições de vida aos seus cidadãos (IIDA, 1993).
No Brasil, ainda não existem medidas antropométricas que servem de norma
para a população. A composição étnica, bastante heterogênea, da população brasileira
e o processo de miscigenação, além dos desníveis socioeconômicos, que têm
influência sobre medidas corporais, a partir de variantes nutricionais, dificultam o
estabelecimento de padrões antropométricos (RIO; RIO, 1999).
Os projetistas dos postos de trabalho de máquinas e de móveis devem ter
sempre em mente que existem diferenças individuais entre seus usuários
potenciais. A altura de uma cadeira, que é adequada para um indivíduo médio,
pode ser desconfortável para aqueles mais altos ou mais baixos. Uma cadeira
que tenha ajustes de altura pode adaptar-se às diferenças individuais desses
usuários (DUL; WEERDMEESTER, 1995).
Reis et al. (2002) relatam que os mobiliários escolares devem ser
projetados para atender a característica antropométrica de cada estudante, pois,
em cada faixa etária, também se têm indivíduos com medidas diferenciadas.
Esses autores relatam ainda que para haver bem-estar na execução das tarefas,
os mobiliários escolares não poderão ser projetados para indivíduos médios, pois,
o uso desse percentil mediano não tem alcançado o objetivo do conforto, saúde e
segurança no trabalho no ambiente escolar.
No Brasil, crianças e adolescentes continuam utilizando mobiliários
inadequados e pesquisas realizadas por Reali (1984 apud BRACCIALLI;
VILARTA, 2000) demonstraram que as atividades e eficiência dos trabalhos
propostos estavam sendo afetadas devido às dimensões e características do
ambiente. As crianças freqüentemente utilizavam posturas sentadas, que
requeriam a utilização de mesas e cadeiras e, utilizando-se de medidas
46
antropométricas, observou-se que a altura do encosto da cadeira era superior às
necessidades das crianças, implicando em apoio lombar inadequado; a altura do
assento da cadeira era adequada para aproximadamente 5% da população,
sendo alto para a maioria; a largura do assento era superior às necessidades da
maioria dos usuários. Esse tipo de cadeira utilizada, geralmente, era grande para
as dimensões da clientela, inadequada para utilização contínua e favorecia uma
má postura, por falta de apoio lombar e apoio para os pés. A altura das mesas,
também, era inapropriada, sendo alta para a maioria das crianças.
Para Mandal (1983 apud NUNES et al., 2001) a incompatibilidade do
mobiliário escolar usuário sugere que os projetistas aplicaram pouco do que já é
conhecido a respeito da anatomia de crianças na posição sentada.
Nunes et al. (1994 apud REIS et al., 2003a) apontam a necessidade de um
projeto mais humanizado do conjunto cadeira e mesa escolar que atenda às
medidas antropométricas de seus usuários.
Em 1998, o Ministério da Educação e do Desporto elaborou um guia para o
Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA) onde se encontram as
Recomendações Técnicas (RTs) que fixam procedimentos aplicáveis e exigíveis
para a elaboração de Projetos e Desenvolvimento de Equipamento Mobiliário,
para edificações escolares de primeiro grau. Os órgãos responsáveis pelas redes
físicas estaduais e municipais podem usá-las na determinação das exigências
mais adequadas aos propósitos e às condições locais (SOUZA, 1998).
Quando bem concebido para as suas diversificadas funções, o
equipamento mobiliário para as escolas do primeiro grau torna-se um apoio
inestimável à eficiência dos métodos pedagógicos que estiverem sendo
praticados, passando, assim, a integrar o próprio sistema educacional. Por essa
razão, os móveis devem ser modernos e atualizados, versáteis no uso e
orientados para o futuro. Além disso, devem ser econômicos, de fácil distribuição,
instalação, manutenção e reposição (YONAMINE, 1995).
Quanto às exigências próprias, à dinâmica das atividades nas escolas do
primeiro grau, sobretudo para utilização direta dos alunos, trata-se de móveis para
atender as exigências de uma clientela que se caracteriza pelo sexo e pela faixa
etária que pode ser: 7 a 10 anos (da 1ª a 4ª séries); ou 11 a 14 anos (da 5ª a 8ª
séries) ou ainda 7 a 14 anos (da 1ª a 8ª séries); pela fase de crescimento e
formação e, também, pela utilização dos móveis durante parte do dia que pode
47
ser de manhã ou à tarde e, por último, pelas diversas atividades que podem ser
individuais ou em grupos (YONAMINE, 1995).
Em relação às carteiras escolares, estas devem conter vários atributos, não
apenas técnicos, financeiros ou econômicos, mas também qualidades
ergonômicas, estéticas, funcionais e outras voltadas ao atendimento correto das
crianças e dos adolescentes (SOUZA, 1998).
Antes que os projetos para um novo mobiliário sejam iniciados, é
interessante promover avaliações dos móveis existentes, a se realizarem nas
próprias escolas, na dinâmica real das suas atividades. Trata-se de saber que
especificações merecem ser conservadas ou substituídas de fato. Ou seja, os
pedagogos e os especialistas em “Desenho Industrial” devem ser convocados a
opinar e a formular em relatório as recomendações básicas para um novo
equipamento mobiliário, se for este o caso. As soluções antigas servem como
advertência quanto aos erros cometidos. Do mesmo modo, antes que seja
iniciada a concepção do novo design, é interessante conhecer em detalhe o
design que está sendo usado em outros países (SOUZA, 1998).
Os esforços para melhorar a postura de uma pessoa sentada têm sido
baseados em quatro princípios de projetos considerados errôneos que Mandal
(1982 apud KNIGHT; NOYES, 1999) coloca como sendo: (1) a necessidade de
um apoio lombar; (2) um assento inclinado para trás; (3) uma cadeira baixa; e (4)
uma mesa baixa.
Quando a pessoa apóia-se para frente, para trabalhar sobre uma
superfície, ela necessariamente se desloca para frente, no assento, para tentar
aumentar o ângulo entre a parte inferior das costas e das coxas, a fim de diminuir
a pressão na vértebra lombar. Isso faz com que a pessoa perca contato com o
encosto que aparentemente fornece suporte lombar (FIGURA 4).
Portanto, um assento com uma inclinação para trás tem o propósito de
ajudar o corpo a manter contato com o encosto fazendo aumentar o ângulo entre
a pelve e coxas, mas essa postura, segundo Viel e Esnault (2000), é ideal para
repouso ou para ser utilizada durante uma reunião onde a pessoa se limita a
escutar e a falar, sem ter que escrever sobre uma mesa ou utilizar um teclado
(FIGURA 5).
48
Figura 4 - Deslocamento do tronco para frente.
Fonte: VIEL, Eric; ESNAULT, Michèle. Lombalgias e
cerviacalgias da posição sentada: conselhos
e exercícios. São Paulo: Manole. 2000. p. 53.
Figura 5 Cadeira com assento inclinado para trás.
Fonte: VIEL, Eric ; ESNAULT, Michèle. Lombalgias e
cerviacalgias da posição sentada: conselhos e
exercícios. São Paulo: Manole. 2000. p. 91.
Kendall (1995) descreve que, se a cadeira for alta, haverá falta de suporte
para os pés e os quadris e os joelhos ficarão com flexão excessiva e que a altura
da cadeira deve permitir que os pés fiquem confortavelmente sobre o solo,
evitando, assim, pressão nos glúteos e coxas, e favorecendo o aparecimento de
dores.
49
Cadeiras baixas inevitavelmente aumentam a flexão na parte inferior das
costas à medida que as coxas encontram a pélvis em um ângulo pequeno,
enquanto mesas baixas requerem mais inclinação para acomodar a distância
visual entre o material colocado em sua superfície e o usuário (FIGURA 6).
Figura 6 Mesa baixa requerendo mais inclinação do tronco para frente.
Fonte : VIEL, Eric; ESNAULT, Michèle. Lombalgias e cerviacalgias da posição
sentada: conselhos e exercícios. São Paulo: Manole. 2000. p. 37.
Reis et al. (2002) relatam que conforme o design da superfície do assento,
o aumento da pressão se distribui para outras regiões das nádegas e das pernas,
que não são adequadas para suportar as pressões, causando estrangulamento
da circulação sanguínea no capilares, o que provoca dores, dormência e fadiga.
Esses autores relatam ainda que a criança deve sentar-se com os dois pés
apoiados sobre o chão, com os joelhos flexionados em ângulo reto, pois, nesta
posição sentada, o peso do corpo é transferido para o assento, piso, encostos e
braço da cadeira, diminuindo picos localizados de pressão.
Para Mandal (1993 apud KNIGHT; NOYES, 1999), há dois tipos diferentes
de modelos de cadeiras a serem considerados: o tradicional com suas variantes
de assento na horizontal ou inclinado para trás e seus encostos e, um assento
com inclinação mais alta na parte de trás que, segundo o autor, é o assento mais
favorável (FIGURA 7). Para Viel e Esnault (2000), o assento com inclinação mais
alta atrás modifica a posição da pelve, recuperando a curvatura lombar.
50
Figura 7 - Assento com inclinação alta na parte de trás.
Fonte: VIEL, Eric; ESNAULT, Michèle. Lombalgias e
cerviacalgias da posição sentada: conselhos e
exercícios. São Paulo: Manole, 2000. p. 54.
O assento inclinado permite uma abertura do ângulo coxofemoral superior
aos noventa graus convencionais reduzindo a pressão intradiscal da coluna
vertebral (NUNES et al., 2001).
Esses autores relatam ainda que a ausência de inclinação no tampo da
carteira escolar constitui-se em fator de distorção em pelo menos 5% do tamanho
dos caracteres, o que pode contribuir para problemas de desempenho do aluno
na atividade de leitura, além de contribuir com uma sobrecarga no sistema
músculo-esquelético, principalmente na região cervical. Mesas de superfície
plana, sem nenhuma angulação estão associadas a queixas de dores lombares e
cefaléias ao final da jornada de trabalho.
Reis et al. (2003b), em estudos realizados sobre o mobiliário escolar,
demonstraram o quanto é prejudicial para a saúde das crianças a utilização de
mobiliários inadequados, em especial as mesas altas, acarretando problemas na
articulação umeral. Nesses estudos, os autores relatam que a média de altura da
mesa ficou em 47 cm, e que a mesa utilizada pelos alunos tem uma altura de 72
cm, com uma diferença de 23,51 cm, sendo que 80% dos alunos se queixaram de
dor nos ombros e 70% de dores na região cervical, comprovando que trabalhar
em um plano alto com ombros abduzidos, além de diminuir a performance,
51
aumenta o gasto energético e poderá ser fator fundamental no surgimento de
patologias como a bursite.
É útil reafirmar que ao se adotar uma carteira escolar, esta deve permitir
que os alunos assumam posições diversas e extremas, a fim de quebrar a
monotonia de uma posição adotada permanentemente (VIEL; ESNAULT, 2000).
Ao relacionar ambiente escolar e postura percebe-se que os problemas são
diversos, sendo que a disposição e proporções inadequadas do mobiliário são
responsáveis pela manutenção, aquisição ou agravamento de hábitos posturais
inapropriados. Na maior parte do tempo, todas as tarefas requerem a sustentação
da postura sentada e de concentração por longos períodos. Estas atividades são
responsáveis pela fadiga do sistema visual e psicológico afetando, assim, a
motivação e atenção e, conseqüentemente, o rendimento escolar (BRACCIALLI;
VILARTA, 2000).
As atividades propostas em sala de aula exigem uma elevada demanda de
concentração. Os mecanismos de manutenção visual, auditiva, motora e cognitiva
são constantemente estimulados, levando a um estado de fadiga e falta de
motivação em relação aos conteúdos trabalhados. Ao mesmo tempo, para realizar
as atividades previstas pelos professores, as quais geralmente se detêm na
leitura e na escrita, exige-se que os alunos permaneçam por períodos de tempo
prolongado, na postura sentada e quietos (BRACCIALLI; VILARTA, 2000).
Segundo Nunes et al. (2001), a posição sentada parece ser a mais
indicada para a realização do trabalho em sala de aula, entretanto, as relações do
design do mobiliário e o desempenho do aluno em atividades que envolvem a
utilização de carga cognitiva como por exemplo, níveis de atenção, rapidez de
cálculo e compreensão de leitura permanecem ainda desconhecidas.
Para Hira (1980 apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000), a carteira escolar
desempenha o papel de facilitadora da aprendizagem, permitindo e encorajando
uma boa postura sentada.
A carteira deve ser projetada de acordo com a estrutura física e
biomecânica dos indivíduos que a utilizam, pois uma postura corporal
desconfortável pode ser responsável pela diminuição do interesse do estudante
pelas atividades propostas em sala de aula.
52
Para diminuir o esforço humano das crianças que permanecem por longos
períodos em cadeiras incompatíveis com o seu tamanho, é conveniente que o
professor desenvolva atividades variadas que induzam posturas diferenciadas.
As carteiras escolares devem ser projetadas ergonomicamente, uma vez
que carteiras ergonômicas possibilitam uma redução na atividade muscular do
tronco médio e inferior, ajudam a manter a lordose lombar natural e diminuem o
ângulo de flexão do pescoço (VIEL; ESNAULT, 2000).
Pode-se inferir que a manutenção de um bom alinhamento postural
associado à diminuição da atividade muscular, mantidos durante todo o período
de aula, poderia diminuir a fadiga muscular, o que influenciaria positivamente no
processo de aprendizagem e evitaria o desenvolvimento de hábitos posturais
pobres reduzindo, talvez, a incidência de dores nas costas em gerações futuras.
Embora o design das carteiras escolares possa afetar os níveis de conforto
no ambiente de trabalho, a sua relação com índices de produtividade e níveis de
atenção, nas atividades escolares, precisam ser melhores investigados. Além do
comportamento motor, os ergonomistas buscam verificar relações entre a carteira
escolar e atividades que exijam a utilização dos processos cognitivos,
principalmente no que se refere à atenção, desempenho e compreensão em
leitura e raciocínio aritmético (NUNES et al., 2001).
2.2.4 O lado psicológico da ergonomia
O objetivo último da Ergonomia, na realidade, é o psicológico. Embora as
diretrizes de Taylor visassem, em primeiro lugar, ao aumento de produção, ele
também preparou o caminho para a ergonomia (informação verbal)
1
.
Iida (1993) relata que Taylor defendia que o trabalho deveria ser
cientificamente observado, de modo que, para cada tarefa, fosse estabelecido o
modo correto de executá-la, com um tempo determinado, usando as ferramentas
corretas.
Estudos na construção fizeram com que se chegasse à conclusão que um
pedreiro poderia produzir muito mais por hora se os tijolos estivessem ao alcance
de sua mão esquerda e o recipiente com cimento imediatamente ao alcance de
1
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
53
sua mão direita. Assim, o pedreiro não perderia tempo em se curvar para pegar
um tijolo do chão como também para pegar, com sua pá de pedreiro, a massa.
Dessa forma, sob a análise da ergonomia, o pedreiro produziria mais diminuindo o
gasto de energia e se cansaria menos, pois não precisaria se curvar centenas de
vezes e, analisando do lado psicológico, verificou-se que ele ficaria mais satisfeito
com isso, pois produziria mais, sem se cansar tanto. A última finalidade da
ergonomia é transformar um trabalhador sofredor em um trabalhador satisfeito e
feliz.
Pode-se observar também a evolução do trabalho de um escritor, que no
começo do século XX usava uma pena de metal e um tinteiro, passando depois
para a caneta tinteiro que o livrou de molhar a pena a todo o momento, e
posteriormente, para a caneta esferográfica, eficiente e mais barata. Nesse
período, surgiu a máquina de escrever, porém com alto custo, mas que aos
poucos se popularizou. Na era da máquina de escrever, observou-se a dificuldade
em se corrigir o que estava escrito, sendo criada então, a máquina de escrever
eletrônica que já permitiu apagar um pouco os erros. Por fim, sempre se
aperfeiçoando, chegou-se a era do computador, que facilitou muito o trabalho do
escritor e este, sem dúvida, ficou mais satisfeito com esses progressos que
tornaram seu trabalho menos fatigante (informação verbal)
2
.
O juiz, o procurador e o advogado também se beneficiaram com a era da
informática, pois antes tinham que abrir dezenas de livros de leis até encontrarem
as leis que procuravam. Agora, com as leis na internet ou em um software, tudo
fica mais acessível, mais informação em menos tempo com menos esforço.
Diversos congressos internacionais foram organizados para estudar o lado
ergonômico do computador: a posição do operador, a iluminação ideal, um
assento de cadeira mais adaptado e meios para se evitar a LER/DORT. Tudo isso
para que o operador pudesse fazer seu trabalho sem sofrimento e com maior
satisfação.
Nos veículos automotores, tudo foi estudado para tornar o dirigir mais
agradável e mais eficiente: a direção hidramática; o câmbio leve ou até
automático; indicadores que informam a velocidade, a temperatura do motor e o
2
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
54
nível do óleo e da água; a visibilidade para trás, para direita e esquerda. Desde os
primeiros tempos da criação dos veículos, realizada pelo engenheiro alemão Karl
Benz, achava-se que dirigir um veículo era extremamente complexo sendo que,
nos dias atuais, tornou-se uma atividade prazerosa.
A ergonomia entrou em quase todas as profissões permitindo que o
trabalhador execute seu trabalho sentindo-se contente e não, um sofredor
(ROZESTRATEN, 2006).
E a criança, o que a ergonomia fez para a criança? Primeiramente deve- se
perguntar, ”o que a ergonomia pode fazer para a criança que não trabalha”? Aí
está um dos maiores enganos, como se trabalho necessariamente estivesse
ligado apenas a atividades remuneradas. Criança não ganha dinheiro com suas
atividades, portanto não trabalha. Se esse raciocínio estivesse certo, Vincent van
Gogh não seria considerado um trabalhador, pois não conseguiu vender um só
quadro em vida, não sendo remunerado com suas pinturas (SWEETMAN, 1993).
Quando o trabalho é definido como: “uma atividade para alcançar um
determinado objetivo” ou “aplicação das forças e faculdades humanas para
alcançar um determinado fim”, seu conceito muda (FERREIRA,1999).
Muitos músicos gastam sua energia no piano ou em outros instrumentos
simplesmente pelo prazer de estar criando música. Atletas correm 20 km por dia
sem ganhar nada imediatamente; porém, no futuro, podem se tornar campeões
mundiais (informação verbal)
3
.
Ainda para esse autor, a criança também trabalha, mesmo que o limite
entre brincar e trabalhar seja difícil de traçar. Uma criança trabalha (gasta sua
energia) desde seu nascimento para, aos poucos, adequar-se aos padrões dos
adultos em sua pátria. Ela tem que aprender a descobrir seu próprio corpo, tem
que descobrir como evitar o que é muito quente, tem que descobrir as diversas
formas dos objetos. A partir da simples tábua de Gessell com os recortes de
círculo, quadrado e triângulo, desenvolveu-se uma série de brinquedos
pedagógicos de encaixe das mais variadas formas. A criança tem que aprender
que algumas contas redondas passam pelo gargalo de uma garrafa e outras não,
ela aprende os conceitos de maior e menor, dentro e fora, caber e não caber.
Aprende também que os sons podem ter um significado. Só para aprender a falar
3
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
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direito sua língua materna ela gasta por volta de 12 anos. Um trabalho de 12
anos! Os brinquedos não são mais do que meios para ajudar a criança a aprender
alguma coisa de que ela vai precisar para adequar-se à cultura em sua volta de
uma maneira mais prazerosa. Além de reconhecer as formas, ela tem que
aprender a produzir formas simples como um círculo, um quadrado, para depois
“desenhar” as letras e os números.
Para Fonseca e Mendes (1987), é manipulando que a criança adquire e
aprende os instrumentos concretos para se poder equipar com os conhecimentos
práticos elementares, ponto de partida e base de apoio para a conquista do mundo.
A criança trabalha para se adequar à cultura, para se apoderar dos meios
de expressão, para poder se comunicar com os outros, para entender o que os
outros querem dela. A criança está sempre aprendendo, este é seu trabalho:
aprender. A ergonomia pode ajudar a tornar esta aprendizagem mais agradável e
menos penosa. Através dessa aprendizagem, a criança se sente mais feliz, mais
potente, consciente de estar a caminho de ser um bom cidadão. Este é o lado
psicológico.
A criança enquanto é pequena, e mesmo quando vai crescendo, já
necessita de diversos utensílios adaptados ao seu tamanho: a cama, a mesa, a
cadeira para sentar, a cadeira própria para comer, a cadeira para ficar segura no
carro, além, naturalmente, o crescente tamanho de sapatos e de roupas. Tudo
para a criança estar segura e se sentir bem. Essa consciência de que a criança
não é um adulto em fase pequena apenas surgiu no começo do século XX. A
partir daí, as adaptações ergonômicas começaram a crescer mesmo antes de a
ergonomia surgir como uma ciência-técnica (informação verbal)
4
.
A pré-escola pode ajudar a criança enormemente na sua descoberta do
mundo, no controle de seus movimentos manuais, no intercâmbio com outras
crianças, enfim, na sua socialização. A mobília em geral é mais simples,
constituída de mesas e cadeiras pequenas. A atividade é mais lúdica, o que não
quer dizer que a criança não esteja fazendo seu trabalho que é aprender.
Chega o momento do ensino formal, o Ensino Fundamental, a escola com
aulas, com carteiras, com diversas disciplinas que necessitam mais atenção e
compreensão. Começa a entrada em uma outra parte da cultura, uma parte em
4
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
56
que os símbolos, os conceitos, as regras e normas desempenham um papel muito
grande. Para isso é necessário que a criança seja capaz de prestar atenção por
mais tempo, que saiba executar tarefas e que se acostume a ser avaliada pela
qualidade de suas tarefas.
A cadeira deve ser cômoda permitindo que a criança possa ficar nela por
horas sem sentir dores, mas, por outro lado, não tão cômoda que a convide a
dormir. A atenção psicológica exige uma postura com certa tensão muscular, uma
posição ativa e não uma posição que pode induzir à sonolência (informação
verbal)
5
.
Segundo Braccialli e Vilarta (2000), ao escolher a cadeira certa para
trabalhar é importante verificar o conforto, mas não tanto quanto a possibilidade
de mobilização enquanto na cadeira. Para esses autores, os movimentos
previnem úlceras de pressão, melhoram a circulação e previnem e aliviam a
rigidez dos músculos e articulações.
A carteira deve ter uma altura compatível ao tamanho do usuário, tanto
para a leitura de um livro como para atividades como desenhar e escrever e que
possam ser executadas por longo período sem provocar dor ou cansaço. O
trabalho do aluno, que é a aprendizagem, exige tempo, exige repetições, exige
pensar e resolver questões, memorização e reflexão. Para todo esse trabalho
psicológico é necessário que o corpo esteja numa posição de conforto, que não
exija força muscular demais de modo que o estudante não se canse facilmente.
A atividade cognitiva que a criança tem que exercer durante o tempo que
permanece nas aulas somente é possível se o corpo não apresentar desconforto,
exigindo, a todo momento, adotar outras posições para se sentir bem acomodada.
A posição corporal que é permitida pela mobília escolar é a base para um
eficiente trabalho de aquisições das funções cognitivas e da coordenação motora
fina exigida no ato da escrita (informação verbal)
6
.
Quando os alunos são mantidos durante todo o período de aula na posição
57
Ainda para esses autores, a possibilidade dos alunos trabalharem os
diversos conteúdos em lugares diferentes da sala de aula, permite que os
mesmos explorem toda sua potencialidade criativa e experimentem sensações
nas quais os movimentos e expressões corporais são estimulados. Talvez, assim,
a escola se tornasse um ambiente mais prazeroso, proporcionando uma melhor
aprendizagem e a formação de indivíduos mais participativos.
Segundo Fonseca (1988), entre os comportamentos que a escola exige
destacam-se a mobilidade e a inteligência, e entre eles não há separação, pois é
pelo movimento que o pensamento se estrutura. Considera ainda que a
exploração do corpo é a preparação das aprendizagens escolares, constituindo-
se em um fator preventivo dos problemas de aprendizagem.
Em estudos realizados por Moro (2005), o design do mobiliário escolar tem
demonstrado ser uma variável que induz e mantém vários repertórios de
comportamento dos alunos, mostrando uma estreita ligação entre carteiras
escolares e problemas médicos, segurança e disciplina na aula.
A ergonomia pode ajudar para que a aprendizagem se torne algo
prazeroso. Uma criança que continuamente percebe que sua carteira é alta
demais, que sua cadeira não permite se sentar direito, não vai poder prestar a
atenção necessária para a realização das tarefas cognitivas. Além disso, as
carteiras devem ser colocadas de tal modo que a criança tenha uma boa visão,
sobretudo no que a professora apresenta no quadro negro.
Além de um exame dentário, que é muito necessário, todas as crianças
escolares deveriam ser submetidas a exames de visão e audição. Às vezes, uma
criança se dispersa por não estar vendo direito o que a professora escreve no
quadro ou porque não está ouvindo direito o que ela está falando. Isso também é
uma questão ergonômica: os estímulos devem ser apresentados de forma a
serem compreendidos e o organismo deve estar em condições para receber e
diferenciar corretamente esses estímulos (informação verbal)
7
.
Segundo IIda (1993), para que ocorra a transmissão da informação ou
comunicação, é necessário haver uma fonte, um meio e um receptor. A
comunicação só ocorre quando o receptor recebe e interpreta corretamente a
mensagem que a fonte desejava transmitir.
7
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
58
O professor é a fonte transmissora de informações, o mobiliário escolar é
um dos itens que compõe o meio facilitador dessas informações e o aluno, o
receptor. Portanto, o mobiliário escolar deve ser cômodo e não exigir tensões
exageradas; deve permitir o apoio para os pés e a carteira ter uma altura
adequada para não haver elevação excessiva dos ombros, evitando-se, assim,
uma tensão na região cervical.
A aprendizagem da criança é a introdução dela no mundo simbólico de
nossa cultura, tanto na parte cognitiva como na parte motora. A criança deve
aprender os símbolos que correspondem aos sons da linguagem, esses símbolos
devem ser conhecidos e reconhecidos, mas também copiados com os
movimentos manuais. Depois devem ser agrupados em palavras; em seguida,
vêm as regras gramaticais e sintáticas pelas quais as palavras numa frase têm
uma determinada ordem, seja afirmativa, negativa ou em forma de pergunta. Além
disso, têm os símbolos numéricos e as operações aritméticas e suas aplicações
práticas que exigem cognição e motricidade.
Mesmo o Ensino Fundamental, sendo atualmente de nove anos, para
muitos jovens não é o suficiente para alcançar uma base sólida. O trabalho da
criança no Ensino Fundamental não é fácil, exige muito dela, muitos conceitos
novos, muitas regras, muitas exigências para se tornar um adulto competente e
adequado à cultura de seu país. Uma vez que as exigências na área cognitiva são
tantas, a criança deve dispor de um mobiliário escolar que permita que ela preste
atenção, concentre-se sobre sua tarefa sem sentir incômodos por uma má
postura proporcionada pelo conjunto carteira-cadeira (informação verbal)
8
.
Uma boa ergonomia aplicada na mobília escolar é a base para a ativação e
o bom exercício da capacidade cognitiva e motricidade manual no escrever com
prazer e satisfação. Por isso, pode-se dizer que o objetivo último da ergonomia é
o psicológico.
8
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Realizar um estudo comparativo do comportamento postural usando
inicialmente mobiliários escolares convencionais, incompatíveis ao tamanho do
usuário e, posteriormente, cadeiras e mesas adaptadas ao seu tamanho,
posicionando-o com melhor alinhamento e estabilidade corporal objetivando
demonstrar a importância da adequação postural para o rendimento escolar e,
conseqüentemente, ao processo de aprendizagem.
3.2 ESPECÍFICOS
Realizar levantamento dos aspectos que provocam alterações nos padrões
posturais, ocasionadas pela carteira convencional, durante a aprendizagem
acadêmica.
Verificar o comportamento postural de cada criança durante o uso das
carteiras convencionais.
Apresentar as modificações que foram introduzidas para tornar a mobília
escolar mais adaptada ao tamanho do usuário
Verificar se houve ou não mudanças ocorridas no comportamento postural
de cada criança após a introdução das carteiras projetadas compatíveis ao seu
tamanho.
Avaliar como a criança percebe e sente eventuais melhoramentos nos seus
comportamentos posturais com as carteiras adaptadas.
Avaliar o rendimento do aluno através de avaliações aplicadas sobre o
conteúdo oferecido em sala no dia da avaliação a fim de averiguar a assimilação
desses conteúdos.
4 METODOLOGIA
4.1 MÉTODO
Na presente pesquisa utilizou-se um método comparativo, experimental e
observacional entre comportamento postural e aprendizagem de crianças
utilizando carteira escolar convencional e, posteriormente, carteira regulável e
adaptada ao tamanho do usuário.
4.1.1 Participantes
Os critérios adotados para a seleção das crianças observadas foram:
crianças da 1ª série do Ensino Fundamental, período vespertino, equivalente a
vinte crianças de um total de vinte e oito crianças, sendo onze meninos e nove
meninas com idade de 6-7 anos completados no mesmo ano e que não
apresentavam histórico de dificuldade de aprendizagem em decorrência de
disfunções físicas, sociais e emocionais. A exclusão de certas crianças foi
realizada mediante investigação com a professora responsável pela sala que já
tinha conhecimentos prévios acerca do rendimento escolar dos alunos por já
possuírem histórico de dificuldades de aprendizagem oriundas da pré-escola.
4.1.2 Recursos humanos
A pesquisa foi realizada por uma terapeuta ocupacional e duas acadêmicas
do 5º semestre de Terapia Ocupacional da Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB), Campo Grande, MS.
61
4.1.3 Local da pesquisa
A área geográfica abrange a Escola Municipal João de Paula Ribeiro,
situada na Rua 14 de Julho, nº 5.100 Bairro São Francisco, CEP: 79011-470
Campo Grande, Mato Grosso do Sul, telefone (67) 3314-7436.
A escola foi fundada no dia 30 de abril de 1991 durante a gestão do senhor
Lúdio Martins Coelho, então prefeito municipal de Campo Grande, e teve como
patrono o senhor João de Paula Ribeiro, vereador por duas gestões e deputado
por três vezes.
A escola funciona em dois turnos: matutino e vespertino. Conta com 27
professores que atendem 520 alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental
(pré-escola a 9º ano), tratando-se, portanto, de uma escola de porte médio. No
período matutino funciona a pré-escola e do 1º ao 4º ano e no vespertino do 5º ao
9º ano.
A pesquisa foi realizada em uma sala de aula para alunos do 1º ano do
Ensino Fundamental no período vespertino, sendo a única sala de 1º ano em
funcionamento nesse período. A maioria das crianças era oriunda do Centro
Educacional Infantil Monte Castelo (CEINF) localizado ao lado da Escola
Municipal João de Paula Ribeiro. Embora essa sala estivesse sob a direção e
coordenação da Escola João de Paula Ribeiro o espaço físico pertencia ao CEINF
Monte Castelo.
A escolha do local da pesquisa foi sugerida pela equipe do Projeto Mais
sob a coordenação da Sra. Elizabeth Puccinelli, que intermediou junto à Prefeitura
de Campo Grande, na gestão do prefeito André Puccinelli, o patrocínio de todas
as carteiras adaptadas. Esses estudos foram iniciados em 2003 através de
Projeto de Extensão desenvolvido pelo Curso de Terapia Ocupacional da UCDB
sob a coordenação da pesquisadora.
4.1.4 Material e instrumentos
Foram utilizadas carteiras convencionais (FOTO 1) e, posteriormente,
carteiras reguláveis e adaptadas ao tamanho do usuário (FOTO 2) constituindo a
variável independente, sendo que a variável dependente é a mudança de postura
das crianças, nestas últimas.
62
Foto 1 - Carteira convencional
Foto 2 - Carteira adaptada
As carteiras adaptadas foram confeccionadas pela Mov Flex Fabricação de
Móveis e Equipamentos para escritórios na cidade de Campo Grande - MS.
As medidas mínimas das carteiras adaptadas foram baseadas nas
medidas das cadeiras e mesas de tamanho infantil, geralmente utilizada com
crianças na fase pré-escolar. A partir da medida mínima, o conjunto de cadeira e
mesa adaptada aumenta gradativamente buscando adequar-se ao tamanho de
seus usuários. Os sistemas de regulagem para a cadeira são: altura do assento,
(FOTO 3), altura do encosto (FOTO 4) e profundidade do assento (FOTO 5). Em
relação à mesa, a regulagem se refere apenas à altura (FOTO 6).
Foto 3 Regulagem da altura do assento. Foto 4 Regulagem da altura do encosto.
63
Foto 5 Regulagem da profundidade do
assento.
Foto 6 Regulagem da altura da mesa.
Os instrumentos utilizados para coleta de dados referente à pesquisa
foram:
a) Planilha de Observação do Comportamento Postural I e II apresentando
dez crianças cada, totalizando 20 crianças, que foram observadas por
duas colaboradoras, sendo cada uma delas responsável por uma
planilha, ou seja, cada colaboradora ficou responsável em observar dez
crianças. As planilhas são iguais, diferindo apenas quanto às crianças
observadas e quanto às colaboradoras. Essas planilhas foram criadas
pela pesquisadora (APÊNDICE A);
b) Roteiro de Entrevista Estruturada, elaborado pela pesquisadora com
objetivo de averiguar a opinião do aluno quanto à carteira convencional
e posteriormente quanto à carteira adaptada (APÊNDICE B);
c) Fita métrica para realização das medidas antropométricas;
d) Provas escritas elaboradas pela professora responsável pela sala
observada. O conteúdo das provas era referente aos conteúdos
ministrados no dia da prova;
e) Máquina fotográfica e filmes.
4.1.5 Procedimentos
1. Inicialmente foi realizada uma observação in loco pela pesquisadora dos
comportamentos posturais adotados por todas as crianças de uma sala de aula
da 1ª série do Ensino Fundamental durante o período de aula, sendo
64
selecionados 12 comportamentos posturais que mais comumente eram adotados
por elas. A partir daí foi elaborada a planilha de observação (APÊNDICE A).
2. As observações relacionadas às planilhas foram feitas por duas
acadêmicas do 5º semestre de Terapia Ocupacional, sendo estas treinadas pela
coordenadora do projeto. Em um primeiro momento, as observadoras estiveram
com a coordenadora a fim de se inteirarem dos comportamentos posturais
contidos na planilha e suas variáveis que poderiam ser ou não consideradas.
Após a seleção das 20 crianças, estas foram divididas entre as duas
observadoras ficando cada uma responsável por 10 crianças observadas com a
mesma planilha e que deveriam acompanhá-las até o final da coleta de dados.
3. As planilhas foram utilizadas em duas etapas: a) observação do
comportamento postural das crianças nas carteiras convencionais durante dois
meses (2ª quinzena de abril, maio e 1ª quinzena de junho de 2005); e b)
observação do comportamento postural nas carteiras reguláveis e adaptáveis ao
tamanho de cada criança, no período de outros dois meses (2ª quinzena de
agosto, setembro e 1ª quinzena de outubro de 2005).
4. As observações das planilhas foram divididas em dois momentos: no
primeiro momento cada criança era observada durante cinco minutos, sendo
anotados todos os comportamentos posturais que ela realizava. Após os cinco
minutos, a observadora passava para outra criança até completarem as 10
crianças. Se a criança faltasse, este período ficava sem uso. Vencendo os
primeiros 50 minutos de observação, retornava-se à primeira criança repetindo
todo o processo, totalizando 100 minutos de observação para cada planilha.
5. As crianças foram observadas sempre no mesmo dia da semana, às
quintas-feiras, exceto quando o dia de observação coincidia com feriado ou outra
atividade extra organizada pela escola. Nestes casos, as observações eram
realizadas em outro dia da semana, porém sempre nos mesmos horários,
compreendidos entre 13h15min às 14h55min.
6. Antes de serem iniciadas as observações e anotadas nas planilhas, era
averiguado se as crianças estavam em suas respectivas carteiras e se as
regulagens correspondiam ao tamanho de cada criança. Esse procedimento era
realizado nos primeiros quinze minutos, ou seja, das 13hh00min as 13h15min,
logo que as crianças adentrassem à sala de aula.
7. Para não haver interferência nos comportamentos posturais adotados
65
pelas crianças, as mesmas não sabiam que suas posturas estavam sendo
observadas e anotadas. Em um primeiro momento, a fim de que cada
observadora pudesse reconhecer as crianças de suas planilhas, as carteiras
foram etiquetadas com cartões coloridos, sendo vermelho para identificar as
crianças da observadora I e amarelo para identificar as crianças da observadora
II. As demais crianças que não faziam parte das observações eram indicadas com
cartões azuis. A justificativa fornecida para as crianças sobre esse procedimento
foi que seus nomes seriam colocados em cartões coloridos para que se pudesse
memorizar seus nomes e que as cores de cada um seriam sorteadas, e assim,
sem que percebessem, foram sorteadas as crianças da observadora I para os
cartões vermelhos, depois as crianças da observadora II para os cartões
amarelos e, por último, as crianças referentes aos cartões azuis.
8. Os instrumentos utilizados, exceto as planilhas I e II, foram aplicados,
individualmente, em todas as crianças da sala. Anteriormente à aplicação dos
instrumentos (Roteiro de Entrevista Estruturada e medidas antropométricas) as
crianças foram informadas do procedimento que seria realizado. Em relação às
planilhas I e II, as crianças não ficaram sabendo que as observações eram
individuais e também o que estava sendo observado. Foi explicado apenas que
estava sendo feito um estudo sobre o tamanho dos mobiliários que estavam
usando e, quando as carteiras adaptadas foram introduzidas, foi explicado que o
estudo continuaria, agora, com carteiras adaptadas aos seus tamanhos.
9. Foi aplicado, ao final de cada período de dois meses de observação, um
“Roteiro de Entrevista Estruturada” (APÊNDICE B), contendo sete perguntas
fechadas e duas abertas que foram respondidas pelas crianças. Esse roteiro tinha
por finalidade averiguar a opinião das crianças quanto à carteira convencional
comparada à carteira regulável.
10. Semanalmente era aplicada uma avaliação por meio de prova escrita,
ao final do período da aula, sendo o dia da semana escolhido aleatoriamente pela
professora e o conteúdo da prova era referente aos conteúdos ministrados no dia
da prova. As provas eram elaboradas pela professora, a fim de averiguar a
aprendizagem realizada pela criança e se os comportamentos posturais adotados
nas carteiras convencionais e, posteriormente nas carteiras reguláveis, interferiam
no processo de ensino-aprendizagem. Os resultados foram dados em forma de
nota de zero a dez apresentados em gráficos.
66
11. Foram realizadas medidas antropométricas ao iniciar o uso das novas
carteiras, com o objetivo de adequar as regulagens das carteiras de acordo com a
estatura de cada criança e observar se as medidas da carteira adaptável
(regulagem máxima e mínima) eram compatíveis com as medidas
antropométricas das crianças.
12. Os critérios utilizados para análise dos dados, para poder estabelecer
as discussões sobre os resultados, foram qualitativos referentes à observação in
loco dos comportamentos posturais em sala de aula para elaboração da planilha;
e quantitativos referentes às aplicações dos demais instrumentos citados acima.
13. A análise dos resultados foi dividida em quatro partes: a primeira dizia
respeito às medidas antropométricas das crianças em relação às carteiras
convencionais e carteiras adaptadas; a segunda fazia uma comparação entre o
comportamento postural das crianças na carteira convencional e depois na
carteira adaptada; a terceira analisava o desempenho escolar das crianças
observadas nos dois tipos de carteiras e a quarta dizia respeito à análise da
percepção dos alunos em relação à melhora da postura com a cadeira adaptada.
14. Na comparação entre as medidas antropométricas das crianças e as
medidas das carteiras convencionais e das carteiras adaptadas foi utilizado o
teste t-student para dados emparelhados. Na análise do comportamento postural,
foi utilizado o teste Qui-Quadrado (?
2
) para verificar a freqüência do comportamento
postural durante o uso das carteiras convencionais e, posteriormente, durante o uso
das carteiras adaptadas. Na análise do desempenho escolar, novamente, foi aplicado
o teste t-student para dados emparelhados. E finalmente, na análise da percepção dos
alunos em relação às carteiras convencionais e, posteriormente, às carteiras
adaptadas, foi utilizado o teste Qui-Quadrado e, quando o mesmo não pode ser
aplicado, foi utilizado o teste Exato de Fisher.
4.1.6 Aspectos éticos da pesquisa
Após um extenso trabalho de consulta a instituições, pesquisadores e
comunidade, o Conselho Nacional de Saúde aprovou a Resolução 196/96, que
estabelece as novas Diretrizes para a Pesquisa em Seres Humanos (GOLDIM,
2000). Essas diretrizes não se aplicam apenas às pesquisas na área da saúde,
67
mas em toda e qualquer área de investigação que envolva a coleta de dados com
seres humanos.
O Conselho Federal de Psicologia, através da Resolução n. 016/2000,
também dispõe sobre a realização de pesquisas em psicologia com seres
humanos, ressaltando os cuidados e deveres dos pesquisadores que realizam
coleta de dados com seres humanos (CFP, 2000).
O Código de Ética do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional (COFFITO) não faz nenhuma ressalva sobre a Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde. É dito no artigo 8º que é proibido ao fisioterapeuta e
ao terapeuta ocupacional promover ou participar de atividade de ensino ou
pesquisa que envolva menor ou incapaz sem observância às disposições legais
pertinentes e, ainda, fica proibido promover ou participar de atividade de ensino
ou pesquisa em que o direito inalienável do homem seja desrespeitado, ou
acarrete risco de vida ou dano a sua saúde (COFFITO, 2002).
A presente pesquisa foi encaminhada e avaliada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UCDB, bem como obteve autorização da direção da escola para sua
realização. Essa Declaração de Autorização da Instituição (ANEXO A) juntamente
com as autorizações dos envolvidos na pesquisa (APÊNDICE C) foi entregue ao
Comitê de Ética, assim como o Termo de Compromisso do Pesquisador e da
Instituição (APÊNDICE D) em relação a todos os aspectos éticos da pesquisa
(APÊNDICE E).
Os responsáveis pelas crianças foram informados sobre os objetivos do
estudo, além de serem devidamente esclarecidos sobre o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C), estando livres para aceitar a
participação na pesquisa ou mesmo desistir a qualquer momento, caso houvesse
consentido sua participação.
5 RESULTADOS E ANÁLISE
Os dados apresentados a seguir referem-se ao resultado dos dados
colhidos sobre o comportamento postural das crianças observadas na sala de
aula utilizando carteira escolar convencional e, posteriormente, carteira regulável
e adaptada ao tamanho do usuário e a interferência da postura sobre o
rendimento escolar e processo de aprendizagem.
Dividiu-se a análise em quatro partes descritas a seguir, das quais a
primeira refere-se às medidas antropométricas das crianças em relação às
carteiras convencionais e carteiras reguláveis e adaptáveis; a segunda busca
comparar o comportamento postural das crianças nos dois tipos de carteiras; a
terceira faz uma análise do desempenho escolar das crianças observadas nos
dois tipos de carteiras, com objetivo de averiguar se a postura interfere no
processo de aprendizagem e a quarta refere-se à análise da percepção dos
alunos em relação à melhora da postura com a cadeira adaptada.
5.1 ANÁLISE DAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS
Os resultados da análise das medidas antropométricas das crianças estão
representados na Tabela 1. Iniciou-se com um resumo estatístico das medidas
antropométricas das crianças e, em seguida, apresentou-se a diferença obtida
entre as medidas das carteiras convencionais e das crianças, com o objetivo de
averiguar se as medidas das carteiras convencionais são incompatíveis com o
tamanho das crianças para a faixa etária de 6-7 anos. Para finalizar, foi
apresentada essa diferença após a introdução das carteiras adaptadas (TABELA
2).
69
Tabela 1 - Resumo estatístico descritivo das medidas antropométricas das crianças
Medidas antropométricas em cm
Medidas estatísticas
Altura Comprimento Largura Sentado
Valor mínimo 28,0 28,0 20,0 54,0
Primeiro quartil 29,0 31,0 25,0 55,7
Média 30,7 32,7 26,6 57,3
Mediana 30,0 32,0 26,0 57,0
Terceiro quartil 31,7 35,2 28,7 58,5
Valor máximo 38,0 37,0 34,0 62,0
Desvio padrão 2,3 2,5 3,3 2,2
Altura = altura poplítea; Comprimento = comprimento sacropoplíteo; Largura = largura do quadril;
Sentado = do chão até apêndice xifóide.
Tabela 2 - Diferenças entre as medidas das carteiras e as medidas antropométricas das crianças
(em cm)
Variável
Diferença
média
Diferença
mínima
Diferença
máxima
A diferença é
significativamente
maior? P-valor
Altura 9,2 2 12 Sim, p valor < 0,01
Comprimento 7,7 3,5 12 Sim, p valor < 0,01
Largura 9,3 2 16 Sim, p valor < 0,01
Carteira
convencional
Sentado 16,9 12 20 Sim, p valor < 0,01
Altura - 0,06 -1 0 Não, p-valor = 0,33.
Comprimento 1,8 0 5 Sim, p valor < 0,01
Largura 9,9 3 17 Sim, p valor < 0,01
Carteira
adaptada
Sentado -2,1 -5 0 Sim, p valor < 0,01
Altura = altura poplítea; Comprimento = comprimento sacropoplíteo; Largura = largura do quadril;
Sentado = do chão até apêndice xifóide.
Na Tabela 2, foi analisado o ajuste das carteiras em relação às medidas
antropométricas das crianças. Foi calculada para cada criança a diferença entre a
medida da carteira convencional e a medida antropométrica da criança e a
medida da carteira adaptada e a medida antropométrica da criança. Para realizar
estas comparações foi aplicado o teste t-student para dados emparelhados. Um
ajuste perfeito pode ser observado quando a diferença entre as medidas
(carteiras e medidas antropométricas) for igual a zero, ou melhor, não diferir
70
significativamente de zero. Assim, pode-se verificar na Tabela 2 que somente no
quesito “altura” foi obtida, com a mudança das carteiras, uma adaptação perfeita,
evidenciada por não haver diferença significativa entre a medida da carteira e a
medida antropométrica da criança (p=0,33). Contudo, pode-se observar que as
alterações médias observadas pós-modificação das carteiras concentraram-se em
torno de 2 cm, indicando que, se não foi obtido uma adequação estatisticamente
perfeita em todos os quesitos analisados, em termos funcionais a adaptação ficou
muito próxima disso. O quesito “largura” se manteve o mesmo não interferindo no
comportamento postural, sendo que ambos os assentos estavam compatíveis ao
tamanho dos usuários que se encontravam na faixa etária de 6-7 anos (GRÁFICO
1).
Gráfico 1 - Gráfico de barras representando as diferenças médias entre as medidas
antropométricas das crianças e as carteiras convencionais e adaptadas.
Altura = altura poplítea; Comprimento = comprimento sacropoplíteo; Largura = largura do
quadril; Sentado = do chão até apêndice xifóide.
É importante salientar o significado do sinal nas diferenças observadas. Os
números positivos indicam que a medida do mobiliário é maior que a medida
antropométrica da criança, e os números negativos indicam o contrário.
9,2
-0,06
7,7
1,8
9,3
9,9
16,9
-2,1
-5
0
5
10
15
20
antes depois antes depois antes depois antes depois
altura Comprimento Largura Sentado
71
Para maior clareza dos dados observados, as medidas da carteira
convencional foram: altura do assento = 40cm; profundidade do assento =
40,5cm; largura do assento = 36cm e altura da mesa = 74 cm (FOTOS 7, 8 e 9).
Foto 7 - Cadeira convencional.
Foto 8 Mesa convencional.
Foto 9 Conjunto de carteira convencional.
Na carteira adaptada foram obtidas as medidas mínimas e máximas
proporcionadas pela regulagem. Nas medidas mínimas têm-se: altura do assento
72
= 29 cm, profundidade do assento = 23 cm, altura do encosto = 36 cm e altura da
mesa = 59 cm (FOTOS 10 e 11 e 12).
Foto 10 Cadeira adaptada Regulagem
mínima.
Foto 11 Mesa adaptada Regulagem mínima.
Foto 12 Conjunto de carteira adaptada Regulagem
mínima.
Nas medidas máximas têm-se altura do assento = 42 cm, profundidade do
assento = 32 cm, altura do encosto = 39 cm e altura da mesa = 77 cm. A largura
do assento não difere entre a medida máxima e mínima mantendo-se equivalente
a 36 cm (FOTOS 13,14 e 15).
Foto 13 Cadeira adaptada Regulagem
máxima.
Foto 14 Mesa adaptada Regulagem máxima.
Foto 15 Conjunto de carteira adaptada -
Regulagem máxima.
Observa-se que as diferenças médias das carteiras convencionais são
superiores às das carteiras adaptadas, podendo-se inferir que a carteira adaptada
acomoda melhor a criança, em relação às suas medidas antropométricas.
As Fotos 16 e 17 permitem uma visão mais clara das diferenças
desproporcionais entre o tamanho das carteiras convencionais e estatura das
crianças e sua adequação através das carteiras adaptadas.
74
Na Foto 16, observa-se o afastamento do encosto para permitir dobrar os
joelhos, apoio em ponta de pé para alcance do chão, curvatura cifótica da coluna,
cadeira afastada da mesa e elevação do ombro proporcionado pela altura da
mesa.
Na Foto 17, pode ser observada uma melhor adequação postural
proporcionada pelo conjunto cadeira e mesa regulável. A cadeira encontra-se
próxima à mesa, a coluna dorsal está apoiada no encosto e pés apoiados no
chão, favorecendo ângulo de 90 graus do quadril, joelhos e pés e a altura da
mesa também favorece ângulo de 90 graus dos antebraços.
Foto 16 - Carteira convencional.
Foto 17 - Carteira adaptada.
5.2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO POSTURAL
Para análise do comportamento postural das crianças foi realizada a
comparação entre a freqüência de observações posturais antes e após o uso da
carteira adaptada. Foi calculada a diferença na freqüência de observações
posturais da criança antes e após a introdução da carteira adaptada (TABELA 3).
As diferenças de freqüência de comportamento postural maiores que zero
indicam que o comportamento ocorreu mais vezes antes da adaptação da
75
carteira, indicando que a mudança do mobiliário produziu uma melhora na postura
da criança.
Na Tabela 3 é apresentada a distribuição do percentual de crianças que
apresentaram melhora em relação a cada uma das posturas inadequadas.
Por exemplo, com relação ao comportamento postural “Afastamento do
encosto para permitir dobrar os joelhos”, todas as crianças apresentaram melhora
(100%). Como se está trabalhando com uma amostra de crianças, foi
apresentada, na tabela abaixo, uma estimativa para o percentual de crianças que
em condições análogas deveriam apresentar melhora com a adaptação das
carteiras. Para este comportamento, num nível de 95% de confiança, esta
estimativa deve ficar entre 82% e 100% das crianças.
Tabela 3 - Percentual de crianças que diminuíram os comportamentos posturais
inadequados com a adaptação da carteira
Comportamento
(%) na
amostra
Intervalo com
95% de
confiança(%)
Afastamento do encosto para permitir dobrar os
joelhos
100 82 100
Pés balançando por estarem sem apoio 94 73 99
Pernas flexionadas sobre o assento 68 43 87
Pernas entrelaçadas nos pés da cadeira 57 33 80
Curvatura cifótica da coluna com ou sem apoio
nas costas
43 20 67
Apoio em ponta de pé para alcance do chão 94 73 99
Elevaçã0.75 re f360 353.ai7ã0.9
76
“pernas entrelaçadas nos pés da cadeira”; “curvatura cifótica” e “postura
lateralizada”, houve uma melhora em torno de 50% das crianças, evidenciada
pelo intervalo de confiança conter o valor 50%.
Os dados da tabela 3 podem ser visualizados no Gráfico 2, e como pode
ser observado, houve quatro variáveis mostrando que a proporção de crianças
que melhoraram o comportamento postural foi de 100% (afastamento do encosto
para permitir a dobra dos joelhos, elevação do ombro, postura em pé e
distribuição assimétrica de peso nos ísquios), ou seja, todas as crianças
diminuíram a freqüência nesses comportamentos. Nos demais comportamentos,
também houve melhoras, sendo que na variável “Curvatura Cifótica da coluna”,
apenas 43% das crianças melhoraram. Pode-se inferir que esse percentual se deva ao
curto período de uso da carteira adaptada, fazendo com que as crianças ainda
adotassem vícios posturais oriundos das carteiras convencionais.
100
94
68
57
43
94
100
78
73
78
100 100
0
20
40
60
80
100
120
Afastamento
do encosto
Pés
balançando
Pernas sobre
o assento
Pernas
entrelaçadas
nos pés da
cadeira
Curvatura
ciflótica da
coluna
Apoio em
ponta de pé
Elevação do
ombro
Cabeça
sobre a
mesa
Postura
lateralizada
Cadeira
afastada da
mesa
Postura em
Distribuição
assimétrica
de peso nos
ísquios
Proporção de crianças que apresentaram melhora
Gráfico 2 Porcentagem de crianças que apresentaram uma melhora no comportamento.
As Fotos 18 a 23 permitem visualizar alguns tipos de comportamentos
posturais mais adotados nas carteiras convencionais.
77
Foto 18 - Pernas flexionadas sobre
o assento.
Foto 19 - Afastamento do encosto
para permitir dobra do
joelho e elevação do
ombro.
Foto 20 - Postura lateralizada.
Foto 21 - Postura em pé.
78
Foto 22 - Cadeira afastada da mesa e
descanso da cabeça sobre a
mesa.
Foto 23 - Pés balançando
Nas Fotos 24 a 27, observa-se a adequação postural das crianças na
carteira regulável e adaptada ao tamanho da criança.
Foto 24 - Pés apoiados no chão.
Foto 25 - Profundidade do assento
permitindo dobra do joelho.
Foto 26 - Altura das mesas reguladas
de acordo com o tamanho das
crianças.
5.3 ANÁLISE DO DESEMPENHO ESCOLAR
A análise do desempenho escolar dos alunos foi medida pelo professor.
Como foi colocado no item 4.1.5 Procedimentos, inciso 7, semanalmente era
aplicada uma avaliação por meio de prova escrita. As provas tinham o intuito de
averiguar a aprendizagem retida pela criança e se os comportamentos posturais
adotadas nas carteiras convencionais e, posteriormente, nas carteiras adaptadas,
interferiam no processo de ensino-aprendizagem. Foi usado o teste t-student de
dados emparelhados. Isso irá mostrar se as notas médias dos alunos antes da
carteira adaptada diferem significativamente das notas médias dos alunos após o
uso desta.
A Tabela 4 mostra a nota média e o desvio padrão dos alunos antes e
depois da implantação da carteira adaptada.
Foto 27
-
Altura da mesa, altura do
encosto, profundidade do
assento e altura do assento
compatíveis ao tamanho da
criança.
80
Tabela 4 - Comparação entre as médias do desempenho escolar dos alunos antes e após
carteira adaptada
Desempenho escolar
Média das
Notas
D.P.
Há diferença significativa entre
as médias do desempenho
escolar? (P-valor)
Antes carteira adaptada 8,2 1,66
Após carteira adaptada 8,0 1,48
Não, p = 0,31.
D.P. = Desvio Padrão.
De acordo com o teste, não houve diferença significativa entre as notas
médias dos alunos, ou seja, a utilização da carteira adaptada, apesar de melhorar
o comportamento postural dos alunos, como observado na análise do
comportamento, não influenciou no desempenho escolar dos mesmos, medida
pela prova escrita.
O Gráfico 3 faz a representação da Tabela 4 e, de acordo com o que foi
observado, as médias dos alunos estão muito próximas entre si, o que implica
dizer que são iguais, como mostra a Tabela 4, e que a utilização da carteira
adaptada não melhorou nem piorou as notas dos alunos.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Antes da cadeira adaptada Após a cadeira adaptada
Notas médias
Gráfico 3 - Média do desempenho escolar dos alunos antes e depois do uso da adaptação da
carteira.
81
5.4 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DA MELHORA
COM A CARTEIRA ADAPTADA
Para analisar a percepção de melhora com o uso da carteira adaptada
pelos alunos, foi aplicado o questionário: “Roteiro de Entrevista Estruturada” antes
e depois das mudanças. A técnica estatística utilizada foi o teste Qui-Quadrado
(?
2
) e, quando o mesmo não pode ser aplicado, foi utilizado o Teste Exato de Fisher.
A Tabela 5 mostra a proporção das respostas afirmativas de cada questão
antes e depois do uso das carteiras adaptadas, e seus respectivos p-valores do
teste ?
2
.
Em todas as questões o p-valor indica que não houve significância, ou seja,
não houve uma percepção de melhora, devido, provavelmente, ao número restrito
de crianças na utilização da carteira adaptada, como pode ser melhor visualizado
no Gráfico 4. Contudo, os dados sugerem que, com uma amostra maior de
crianças, seria possível uma percepção estatisticamente significativa de melhora
proveniente da introdução da carteira adaptada.
Tabela 5 - Diferença entre as percepções das crianças em relação às mudanças nas carteiras
Percentual de repostas
afirmativas
Questões
Carteira
Convencional
Carteira
Adaptada
Há percepção de
melhora
significativa com a
carteira adaptada?
(P-valor)
Você acha essa carteira boa? 61,1 100,0 Não. P-valor = 1
Você se sente bem nessa carteira? 55,5 100,0 Não. P-valor = 1
Você sente dores? 61,1 16,7 Não. P-valor = 1
Você se mexe muito quando sentado
nessa carteira?
72,2 44,4 Não. P-valor = 0,31
Você se sente cansado quando
passa muito tempo sentado nessa
carteira?
61,1 44,4 Não. P-valor = 0,63
Você acha que a maneira como
senta nessa carteira fica difícil
prestar atenção na aula?
61,1 11,1 Não. P-valor = 0,49
Você acha que sentado nessa
carteira fica mais difícil para você
escrever?
50,0 0,0 Não. P-valor = 1
Essa carteira o incomoda? 66,7 11,1 Não. P-valor = 0,10
82
0
20
40
60
80
100
Carteira boa? Você se
sente bem
nessa
carteira?
Sente dores? Mexe muito
quando
sentado
nessa
carteira?
Sente
cansado
quando passa
muito tempo
nessa
carteira?
fica difícil
prestar
atenção na
aula?
Sentado
nessa
carteira fica
mais difícil
para você
escrever?
Carteira te
incomoda?
Sim - Antes da cadeira adaptada Sim -Após a cadeira adaptda
Gráfico 4 - Proporção de respostas antes e depois da adaptação da carteira.
6 DISCUSSÃO
Os dados apresentados na seção dos resultados sugerem algumas
inferências a respeito do comportamento postural das crianças em relação às
carteiras convencionais utilizadas no local da pesquisa.
Buscou-se demonstrar neste trabalho a interferência da má postura, no
processo de aprendizagem de crianças da 1ª série do Ensino Fundamental,
ocasionadas pelo uso de carteiras escolares incompatíveis com seus tamanhos.
Porém, não se chegou aos dados conclusivos nesse aspecto, podendo-se supor
que o período de tempo em que foi realizada a coleta de dados não tenha sido
suficiente para se chegar aos resultados pretendidos neste trabalho.
Pesquisadores como Iida (1993), Nunes et al. (1989; 2001), Braccialli e
Vilarta (2000), Reis et al. (2002, 2003b), Moro (2005), Rozestraten (2007)
9
relatam
em seus estudos, no campo da ergonomia, que o papel das carteiras escolares,
além de sustentar a criança com conforto e segurança, deveria ser de facilitador
da aprendizagem. Embora todos sejam coesos em relação ao papel do mobiliário
escolar no desempenho acadêmico do aluno, nenhum estudo comprovou de
forma objetiva esses dados.
Neste estudo, ainda que não se tenha chegado aos resultados pretendidos,
houve significativa melhora nos comportamentos posturais adotados nas carteiras
adaptadas em relação aos das carteiras convencionais.
É comum observar a incompatibilidade existente entre as dimensões das
carteiras escolares e o tamanho dos usuários. Esse fatTc .146 T1gdo
84
Na pesquisa realizada, pôde-se comprovar o quanto as carteiras
convencionais são maiores que as medidas antropométricas das crianças e essas
carteiras, além de trazer desconforto, insegurança e provocar comportamentos
indesejados, também podem acarretar problemas posturais no futuro. Como
aponta Oliver e Middleditch (1998) a inadequação das carteiras escolares já está
sendo apontada como principal causa de dores na região dorsal.
Neste estudo pôde-se verificar a freqüência de alguns comportamentos
posturais mais adotados pelas crianças durante o uso de carteiras convencionais
e a diminuição dessa freqüência após a introdução das carteiras adaptadas.
Alguns comportamentos como ”afastamento do encosto”, “elevação do
ombro”, “postura em pé” e “distribuição assimétrica de peso nos ísquios” tiveram
100% de melhora, ou seja, não estiveram presentes durante as observações
realizadas. Pode-se inferir que esse fator esteja relacionado ao melhor
acomodamento das crianças em carteiras que são adaptáveis às suas medidas
antropométricas.
É evidente que carteiras reguláveis acomodam melhor as crianças
proporcionando melhor conforto, segurança e restringe comportamentos de
distração. Isso foi visto por Nunes et al. (2001) que mostraram que muitos
comportamentos apresentados pelas crianças em sala de aula são originados
pela mobília escolar, tais como: movimentar-se excessivamente, balançar-se na
cadeira e abandonar o assento. Moro (2005) também evidencia, em seus estudos,
que o design do mobiliário escolar é um fator que induz e mantém vários tipos de
comportamentos, contribuindo para o aparecimento de problemas médicos,
segurança e disciplina na aula.
Os comportamentos que mostraram “apoio em ponto dos pés” e “pés
balançando” também tiveram uma melhora significativa na carteira adaptada, visto
que a regulagem da altura do assento favorece uma melhor acomodação das
crianças. Brandimiller (1999) afirma que a regulagem da altura do assento da
cadeira é necessária, pois deve se ajustar ao comprimento da perna do usuário,
porém, essa regulagem não é de todo suficiente para um bom ajuste postural
senão houver, também, regulagem da altura da mesa para favorecer uma posição
confortável para as mãos e membros superiores durante o trabalho.
85
A mesa do conjunto de carteira adaptada, por apresentar dispositivo de
regulagem, favoreceu, como referido anteriormente, uma melhora de 100% no
comportamento que diz respeito à “elevação dos ombros”
A postura “curvatura cifótica da coluna”, embora tenha tido uma melhora
com diminuição desse comportamento, não foi significativa e pode-se inferir que
isso se deva a própria anatomia e fisiologia das crianças que apresentam uma
maior flexibilidade das articulações quando comparadas aos adultos. Essa
flexibilidade dificulta a manutenção de posturas em maior grau de tensão
muscular, mesmo quando estão conscientes da postura que devam adotar como
foi citado por por Mandal (1981 apud KNIGHT; NOYES, 1999).
Viel e Esnault (2000) mostraram que nos adultos, estes, quando se
sentam, instala-se automaticamente a retificação da lordose ou cifose,
provavelmente em virtude do enrijecimento progressivo de todo o corpo e quadril.
Para esses autores, na criança e no jovem, a flexibilidade, principalmente vista na
articulação do quadril, não exigiria a retificação da coluna vertebral. Eles apontam
ainda que as posições irregulares adotadas por eles não devem ser fatores de
preocupação, desde que eles mudem freqüentemente de posição fazendo com
que se quebre a monotonia de uma posição adotada permanentemente.
Na pesquisa, a percepção das crianças em relação às carteiras, sob a
análise estatística, não foi significativa; porém, ao se verificar as respostas das
crianças, quando questionadas se sentiam dores, 61,1% apontavam que sim
enquanto usavam a carteira convencional e apenas 16,7% disseram que ainda
sentiam dores na carteira adaptada. E quando questionadas se a carteira os
incomodava, 66,7% disseram que sim na carteira convencional e 11,1%
afirmaram acontecer o mesmo na carteira adaptada.
Braccialli e Vilarta (2000) mostraram em seus estudos que quando os
alunos permanecem por muito tempo na posição sentada estes se tornam
desatentos, derrubam constantemente objetos da mesa e movimentam-se o
tempo todo. Na pesquisa, ao questionar as crianças se estas se mexiam muito
quando sentadas nas carteiras, 72,2% disseram que sim enquanto utilizavam a
carteira convencional e 44,4%, quando estavam na carteira adaptada.
O número de crianças que disseram se mexer na carteira adaptada foi
menor que o da carteira convencional, e isso, provavelmente, esteja relacionado
ao maior conforto proporcionado pela carteira adaptada. Embora esse fator ainda
86
seja significativo nas carteiras adaptadas, é justo afirmar que a manutenção de
posturas estáticas não é favorável para qualquer pessoa, uma vez que provocam
dores na região dorsal. Oliver e Middleditch (1998) apontam em seus estudos
que pessoas que mudam suas posturas, variando a posição sentada com
movimentação, apresentam uma baixa incidência de dor na região dorsal.
A cadeira adaptada, apesar de estar mais próxima das medidas
antropométricas das crianças, não conseguiu atender às necessidades de todos
os seus usuários. Não existe cadeira perfeita e isso foi muito bem colocado por
Kendall, McCreary e Provance (1995) e Brandimiller (1999) que afirmam não
existir uma cadeira ideal que permita que a pessoa possa trabalhar por muitas
horas sem sentir desconforto ou cansaço e, por mais confortável que seja a
cadeira, nenhuma irá suprir a necessidade fisiológica da pessoa, de tempos em
tempos, de levantar-se, movimentar-se, fazer alguma coisa em pé ou dar alguns
passos.
As mesas das carteiras convencionais mostraram-se muito altas para as
crianças, favorecendo a elevação e abdução dos ombros e proporcionando
desconforto.
Ao serem questionadas se sentiam dificuldades para escrever enquanto
sentadas nas carteiras, 50% disseram que sim na carteira convencional e
nenhuma criança sentiu dificuldades de escrever na carteira adaptada. Isso,
provavelmente, deve-se à posição do encosto que favorece uma posição vertical
de 90 graus e as regulagens das mesas das carteiras adaptadas permitiram um
ajuste mais próximo aos seus usuários. Brandimiller (1999) afirma que a posição
vertical entre 90 e 95 graus é mais confortável para escrever ou trabalhar com as
mãos sobre a mesa e evidencia também que a altura da mesa deve estar
adequada ao tamanho do usuário.
Esse fato também é comprovado por Reis et al. (2003b) que afirmam que
trabalhar em um plano alto com ombros abduzidos diminui a performance,
aumenta o gasto energético e poderá levar ao aparecimento de patologias como a
bursite.
Esse estudo não teve como objetivo mostrar um projeto de carteiras
escolares dentro de padrões considerados ergonômicos, visto que o conjunto de
cadeira e mesa adaptada não foi submetido a uma análise ergonômica. Apenas
procurou mostrar a necessidade de se ter carteiras escolares mais próximas às
87
medidas antropométricas e estruturas biomecânicas e fisiológicas de seus
usuários, principalmente em se tratando de crianças que se encontram em fase
de crescimento.
De acordo com a Norma da Ergonomia NR-17, item 17.3.3 (Brasil, 1990,
p.2) o conjunto de carteira adaptada apresentada no estudo, embora não atenda
a todos os preceitos ergonômicos, está próximo às exigências mínimas adotadas
para uma cadeira. Ela apresenta assento plano sem formato, encosto com apoio
para a região lombar e altura com assento regulável.
Para Brandimiller (1999), além de um assento plano, a cadeira deve ter um
estofamento pouco espesso e firme, que irá facilitar para que o peso do corpo se
distribua corretamente sobre os ísquios ao invés de se deslocar para nádegas e
coxas causando compressão dessas. Esse fator encontra-se presente no
conjunto de carteira adaptada visto que no comportamento “distribuição
assimétrica de peso sobre os ísquios” houve 100% de melhora.
Ainda de acordo com as indicações apontadas nos estudos realizados por
esse autor, a cadeira adaptada, utilizada na pesquisa, tem o r
88
deve dispor de espaço para colocar os equipamentos, acessórios e materiais de
trabalho mais utilizados e esses quesitos são encontrados nas mesas do conjunto
de carteira adaptada.
A aprendizagem exige tempo, exige repetições, exige pensar e resolver
questões, memorização e reflexão. Para todo esse trabalho psicológico é
necessário que o corpo esteja numa posição de conforto, que não exija força
muscular demais, de modo que o estudante não se canse facilmente, a posição
corporal permitida pela mobília escolar é a base para um eficiente trabalho de
aquisições das funções cognitivas e da coordenação motora fina exigida no ato da
escrita (informação verbal)
10
.
10
Fornecida por Reinier Johannes Antonius Rozestraten no Mestrado em Psicologia, em Campo
Grande, MS, em 2007.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos nesta pesquisa não foram conclusivos pois, embora
haja estudos que relacionam os aspectos ergonômicos das carteiras escolares
aos aspectos anatômicos e fisiológicos de seus usuários, pouco se sabe sobre
sua interferência no desempenho escolar e processo de aprendizagem.
Faz parte do ambiente físico das escolas as instalações, os equipamentos
e os mobiliários que têm a função de garantir o bem-estar do educando de forma
que este esteja apto à assimilação e aplicação dos conhecimentos e técnicas
fornecidas. Além do mais, fatores como iluminação, ventilação e higiene,
juntamente com os recursos pedagógicos, são determinantes no desenvolvimento
do processo de aprendizagem.
A ergonomia tem ido muito além das atividades produtivas industriais,
estendendo-se também ao ambiente doméstico e escolar. Hoje, para se
considerar as cadeiras e mesas das escolas como educacionais, estas devem
cumprir um papel que facilite o aprendizado, devendo, para isso, ser corretamente
dimensionadas, ser projetadas em função dos requisitos inerentes às atividades
pedagógicas e com custos compatíveis com a realidade.
Esta pesquisa buscou enfatizar a importância de carteiras reguláveis e
adaptáveis ao tamanho de seus usuários, não apenas do ponto de vista postural,
visto que é impossível definir qual a melhor postura para um sujeito, já que não
existe uma única postura ideal, mas também enfatizar a importância de um bom
posicionamento para o rendimento escolar e processo de aprendizagem.
Várias posturas são consideradas boas e, mesmo assim, são alteradas
periodicamente, a fim de evitar o estresse causado por aquelas posturas mantidas
por um longo período. As consideradas boas posturas são aquelas que
proporcionam conforto no desempenho da tarefa e não interferem na execução e
resultado desta. O local de trabalho, seja ele em uma indústria ou em uma sala de
aula, deve fornecer a possibilidade das constantes mudanças de posição, fato
que caracteriza a dinâmica postural do ser humano.
90
A fim de evitar os males advindos da adoção das posturas inadequadas no
ambiente escolar, é imprescindível o fornecimento de apoios compatíveis e
dimensionamentos adequados nas carteiras escolares, adaptando-as aos
tamanhos de seus usuários. Sabe-se que é impossível reunir todos os requisitos
que compatibilizem os usuários de diversas medidas antropométricas numa
carteira de um único tamanho e, por outro lado, carteiras reguláveis são caras e
de tempo de vida útil bastante reduzido.
No Brasil, a educação ainda caminha de forma precária e os problemas
originados por carteiras incompatíveis ao tamanho de seus usuários estão muito
longe de serem solucionados. Muitas das crianças de hoje serão, em um futuro
próximo, adultos que sofrerão os malefícios causados por esses mobiliários.
Embora os dados coletados não tenham mostrado diferenças entre as
notas médias dos alunos em relação a um mobiliário e outro, acredita-se que o
curto período de observação nas carteiras adaptadas não foi suficiente para
avaliar o rendimento escolar e provocar melhora na aprendizagem das crianças
observadas. Acredita-se ainda que um fator contribuinte para isso tenha sido o
fato de elas trazerem vícios posturais proporcionados pelas carteiras
convencionais, necessitando de um tempo maior para conscientização postural
nas carteiras adaptadas.
O uso de carteiras adaptáveis à estatura de seus usuários poderá
contribuir, em longo prazo, não apenas para evitar hábitos posturais impróprios no
adulto, mas também contribuir para o processo de aprendizagem de todas as
crianças em fase escolar.
Vale ressaltar a importância da continuidade de pesquisas nessa área a fim
de alertar e conscientizar não apenas a população, mas também seus dirigentes,
para que medidas mais resolutas sejam tomadas.
A escola, por sua vez, não pode mais se omitir e deve arcar com o ônus de
ser uma das responsáveis por problemas de lombalgias encontradas nos adultos,
frutos das carteiras escolares mal dimensionadas usadas desde o tempo da
infância.
Aos profissionais da saúde, fica a responsabilidade da continuidade de
pesquisas e alertas sobre problemas secundários causados pela má postura em
conseqüência de equipamentos mal projetados.
91
Aos estudiosos da ergonomia e design cabe a consciência do problema e a
busca de projetos que visem a uma solução, levando-se em conta não apenas os
aspectos biomecânicos e fisiológicos de seus usuários, mas principalmente os
aspectos psicológicos, pois, como foi dito anteriormente, uma boa ergonomia
aplicada na mobília escolar é a base para a ativação e o bom exercício da
capacidade cognitiva e motricidade manual, no escrever com prazer e satisfação.
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produção do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2004.
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analysis: percept mot skills. PubMed, v. 30, n. 3, p. 699-702, jun. 1970.
KENDALL, F. P.; McCREARY, K. E.; PROVANCE, P. G. Músculos: provas e
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KNIGHT, G.; NOYES, J. Children’s behaviour and the design of school furniture.
Ergonomics, v. 42, n. 5, p. 747-760, 1999.
KNOPLICH, J. A coluna vertebral da criança e do adolescente. São Paulo:
Panamed, 1985.
______. Enfermidades da coluna vertebral. São Paulo: Panamed, 1986.
______. Viva bem com a coluna que você tem: dores nas costas: tratamento e
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LANCMAN, S. Saúde, trabalho e terapia ocupacional. São Paulo: Roca, 2004.
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94
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7., 2002, Recife, PE.; CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 12., 2002,
Recife, PE; SEMINÁRIO BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE INTEGRAL, 1.,
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Acesso em: 4 abr. 2007.
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programas, informação, ambiente construído. Disponível em:
<http://www.boletimef.org/?canal=12&file=248>. Acesso em: 4 abr. 2007.
______. Constrangimentos na articulação escápula-umeral em escolares do
ensino fundamental: um problema de inadequação ergonômica. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL DE ERGONOMIA E USABILIDADE DE INTERFACES
HUMANO, 3., 2003b, Rio de Janeiro. Tecnologia: produtos, programas,
informação, ambiente construído. Disponível em: <http://www.boletimef.org/?canal
=12&file=239>. Acesso em: 3 abr. 2007.
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1989, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro, RJ: ABERGO; FGV, 1989.
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SWEETMAN, D. Vincent van Gogh: uma biografia. Trad. Maria Luiza X. de A.
Borges. Rio de Janeiro: Zahar Editora,1993.
ANEXO
APÊNDICES
99
APÊNDICE A - Planilha de observação do comportamento postural.
Planilha de Observação do Comportamento Postural 10ª criança
Observe a primeira criança da lista, durante cinco minutos, e marque com um X, os
aspectos da postura encontrados. Faça isso sucessivamente, para cada criança, até o
término da aula. Veja que, após 50 minutos, você retorna a observar a mesma criança.
Uma legenda dos aspectos posturais analisados encontra-se abaixo da tabela. Não
esqueça de preencher horário e data das observações.
Horário:............ matutino Responsável: ................................ Data: ....../....../........
Tipo de postura inadequada
Obs. Nome
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11
12
Criança 1
Criança 2
Criança 3
Criança 4
1
Criança 5
Criança 6
Criança 7
Criança 8
Criança 9
Criança 10
Criança 1
Criança 2
Criança 3
Criança 4
2
Criança 5
Criança 6
Criança 7
Criança 8
Criança 9
Criança 10
1 - Afastamento do encosto para permitir dobrar os
joelhos
7 - Elevação do ombro proporcionado pela altura da
mesa
2 - Pés balançando por estarem sem apoio 8 - Descanso da cabeça sobre a mesa
3 - Pernas flexionadas sobre o assento 9 - Cadeira lateralizada em relação à mesa
4 - Pernas entrelaçadas nos pés das cadeiras 10 - Cadeira afastada da mesa
5 - Curvatura cifótica da coluna com ou sem apoio
nas costas
11 - Postura em pé
6 - Apoio em ponta de pé para alcance do chão 12 - Distribuição assimétrica de peso nos ísquios
para que um pé possa alcançar o chão.
100
Planilha de Observação do Comportamento Postural 11ª 20ª criança
Observe a primeira criança da lista, durante cinco minutos, e marque com um X, os
aspectos da postura encontrados. Faça isso sucessivamente, para cada criança, até o
término da aula. Veja que, após 50 minutos, você retorna a observar a mesma criança.
Uma legenda dos aspectos posturais analisados encontra-se abaixo da tabela. Não
esqueça de preencher horário e data das observações.
Horário:............ matutino Responsável: ................................ Data: ....../....../........
Tipo de postura inadequada
Obs. Nome
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11
12
Criança 11
Criança 12
Criança 13
Criança 14
1
Criança 15
101
APÊNDICE B Roteiro de entrevista estruturada.
Roteiro de entrevista estruturada
1. Você acha essa carteira boa?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
2. Você se sente bem nessa carteira?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
3. Você sente dores? Marque com um X o local nas figuras abaixo:
4. Você se mexe muito quando sentado nessa carteira?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
5. Você se sente cansado quando passa muito tempo sentado nessa carteira?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
6. Você acha que a maneira como senta nessa carteira fica difícil prestar atenção
na aula?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
7. Você acha que sentado nessa carteira fica mais difícil para você escrever?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
8. Essa carteira te incomoda?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
9. O que poderia ser mudado em sua carteira para melhorá-la?
__________________________________________________________.
102
APÊNDICE C Autorização dos envolvidos na pesquisa.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Senhores Pais ou Responsável
Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre a interferência da postura no
103
APÊNDICE D Termo de compromisso do pesquisador e da instituição.
Termo de Compromisso
Declaramos, por meio deste, que, ao realizar esta pesquisa com as crianças da 1ª
série do Ensino Fundamental, para averiguar a importância da reeducação
postural para o processo de Aprendizagem, todos os termos da Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde serão cumpridos, de forma a garantir o completo
sigilo dos dados, a participação voluntária de todos os sujeitos sem o
envolvimento de qualquer penalidade e a possibilidade de desistência da
participação na pesquisa a qualquer momento.
Por ser verdade, comprometemo-nos.
Campo Grande, 28 de fevereiro de 2005.
__________________________ __________________________
Pesquisadora Responsável Responsável pela Instituição
Nome: Nome:
RG: RG:
104
APÊNDICE E Declaração sobre o uso e destinação dos dados coletados.
Declaração sobre o uso e destinação dos dados coletados
Eu, Grace Claudia Gasparini, pesquisadora do tema “A importância da
reeducação postural de crianças da 1ª série do ensino fundamental para o
processo de aprendizagem”, sob orientação do Prof. Dr. Reinier Johannes
Antonius Rozestraten, declaro, para os devidos fins, que, ao término desta
pesquisa, os materiais e/ou dados coletados serão apresentados, se necessário,
aos membros da banca de avaliação de minha dissertação de mestrado e,
posteriormente, guardados sob sigilo da pesquisadora.
Por ser verdade, firmo a presente.
Campo Grande, 28 de fevereiro de 2005.
__________________________________________
Grace Claudia Gasparini - pesquisadora responsável
RG: 7731614 SSP/SP
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