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valorização da fidalguia, na formação de grupos de fazendeiros e/ou
industriais, que defendiam ou tinham a escravidão como um valor
profundamente arraigado em todas as consciências. Valores típicos das
sociedades de ordens do Antigo Regime, eram eles que informavam aqueles
homens e mulheres, que criaram fazendas e sítios, nas matas e cerrados do
Extremo Oeste Mineiro (LOURENÇO, 2002 p 196).
Dentro do contexto mencionado, pode-se perceber que a sociedade triangulina,
historicamente, exibe as marcas de uma sociedade que, por detrás de um comportamento
religioso e cristão inteiramente altruísta, sempre manteve os privilégios e a riqueza de sua
classe dominante, fundamentada no conservadorismo, impregnado por preconceitos
originados nos latifúndios desta região; muitos deles permanecem ainda até hoje.
Desse modo, podemos afirmar que, em cada região do estado de Minas Gerais,
existem características bastante peculiares, advindas do processo de sua formação. Nesse
sentido, Lourenço (2002, p. 197) afirma que “a fundação dos arraiais do Extremo Oeste
Mineiro, diferentemente dos aldeamentos do Sertão da Farinha Podre
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(Triângulo Mineiro)
resultou, em todos os casos, de iniciativas das oligarquias rurais, pela formação de
patrimônios religiosos”. No caso de Indianópolis, segundo relato de alguns moradores mais
antigos, as capelas eram construídas nas próprias terras dos fazendeiros. Já no Extremo-Oeste
Mineiro, como afirma o autor, as capelas eram construídas pela comunidade, em terras doadas
pelos próprios fazendeiros, em nome de um Santo qualquer; antes de sua primeira atividade
religiosa, a benção do vigário era a atividade mais importante. Segundo Murilo Marx (1991),
a benção tratava de um reconhecimento, por parte do Estado e, principalmente, da Igreja, para
a legitimação e existência de um povoado.
No caso de Indianópolis, segundo relatos de alguns fazendeiros do município, era
muito comum construir-se uma capela ou um cruzeiro na fazenda, como sinal de fé e proteção
para esta, onde eram também realizados terços e festas. As capelas maiores, dos povoados ou
locais próximos, eram construídas com a doação do terreno, geralmente feita por um
fazendeiro qualquer, sendo a construção tarefa executada quase sempre pela comunidade, por
intermédio de doações; nesses locais realizavam-se, as grandes festas.
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Existem três versões para o nome “Sertão da Farinha podre”. A primeira seria por estar localizado em uma
região, na época, de pouca fertilidade de seus solos. A segunda revela o fato de que, como esta região está
localizada no sertão mais interiorano, era comum que as primeiras entradas dos paulistas nestas paragens,
deixassem alimentos em certos locais para depois recuperá-los, para o sustento das tropas. Como as distâncias
eram enormes e os caminhos difíceis, quase sempre, quando as tropas chegavam nestes pontos de abastecimentos
encontravam os alimentos, especialmente um dos viveres mais importantes, que era a farinha, apodrecidos.
Assim, tornou-se “Sertão da Farinha Podre”. Porém, existe uma terceira explicação para este nome. Tal alcunha
pode estar relacionada a uma região portuguesa, próxima a Trás dos Montes, que seria a matriz deste nome,
Farinha Podre. No entanto, ainda não se tem uma versão considerada definitiva para tal denominação.