Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
COMO LIDAR COM OS NEOLOGISMOS
NO TEXTO JORNALÍSTICO
Dissertação de Mestrado
Marinella Stefani Peruzzo
Porto Alegre, 2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
MARINELLA STEFANI PERUZZO
COMO LIDAR COM OS NEOLOGISMOS
NO TEXTO JORNALÍSTICO
Dissertação de Mestrado para a obtenção
do título de Mestre em Estudos da Linguagem
Programa de Pós-Graduação em Letras da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Orientador: Prof. Dr. Félix Bugueño Miranda
Porto Alegre
2007
ads:
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, cujas normas reais se aproximam
bastante daquilo que tenho por norma ideal
Ao meu orientador, Prof. Dr. Félix Bugueño, que se mostrou
extremamente competente, generoso e dedicado na busca pela
elucidação de problemas próprios da atividade jornalística
À amiga Cristina que, com o seu exemplo, estimulou-me
a ingressar no Mestrado
RESUMO
Este trabalho parte da idéia de que os neologismos recebem, nos dicionários e manuais
de redação jornalística, um tratamento assistemático, desprovido de rigor e critérios para que
os jornalistas (e pessoas em geral) os reconheçam como tais e saibam lidar convenientemente
com eles. A partir da elaboração de uma taxonomia própria, identificamos diferentes tipos de
neologismos e constatamos que eles são um fenômeno natural na língua, que permite a sua
subsistência e continuidade. Porém, ainda que naturais e necessários, os neologismos
costumam ser “incômodos”: nos manuais de redação, são logo considerados “incorretos” ou
“inexistentes”, embora a própria menção que se faz a eles ateste sua existência. Após o exame
dos conceitos de correção e incorreção na língua, propomos, com o apoio de Rabanales
(1984), a substituição dos termos “correto/incorreto” e “existente/inexistente”, que,
geralmente, caracterizam-nos, por “necessário/desnecessário”, “culto/inculto”,
“formal/informal”, “exato/inexato” e “genuíno/falso”, de acordo com os tipos de neologismos
que identificamos.
Palavras-chave: neologismo, lexicografia, dicionário, redação jornalística, manuais de
redação jornalística
ABSTRACT
Our starting point in this paper is the belief that neologisms receive a non systematic
treatment in dictionaries and newspaper stylebooks. There is no rigour nor criteria for
journalists to be able to recognize them for what they are and to deal conveniently with them.
Through the design of our own taxonomy for them, we were able to identify different types of
neologisms and consider them as a natural fenomenon of language which permits its
subsistency and continuity. However, even if they are something natural and necessary, they
are also seen as troubling: in the stylebooks they are usually considered “incorrect” or
“inexistent”, but the mere fact of having been mentioned in these kind of books proves their
existence. After examining the concepts of correction and incorrection in language, we
propose, following Rabanales (1984), the substitution of the terms “correct/incorrect” and
“existent/non existent” for “necessary/unecessary”, “cult/incult”, “formal/informal”,
“exact/inexact” and “genuine/false” according to the types of neologisms.
Key-words: neologism, lexicografy, dictionary, news writing, stylebook
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................... 12
1.2 HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ................................................................ 13
1.3 ESTRUTURA GERAL DO TRABALHO .................................................... 13
2 REVISÃO DA LITERATURA E PROPOSTA DE TAXONOMIA ................. 16
2.1 DEFINIÇÃO DE NEOLOGISMO ................................................................ 16
2.2 CAUSAS PARA A FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS ............................ 18
2.3 TAXONOMIAS ................................................................................................... 19
2.3.1 Uma proposta de taxonomia ........................................................................... 25
2.3.1.1 Processos formais (novo significante) ................................................... 26
2.3.1.2 Processos sêmicos (novo significado) .................................................... 29
2.3.1.3 Processos de incorporação de signo ................................................................ 32
2.3.1.4 Transposição funcional ........................................................................... 34
3 NORMA LINGÜÍSTICA ....................................................................................... 37
3.1 DISTINÇÕES COSERIANAS ........................................................................... 37
3.1.1 Língua histórica .................................................................................................. 38
3.1.2 Língua funcional ...................................................................................... 39
3.1.3 Norma .............................................................................................................. 39
3.2 OUTROS AUTORES ...................................................................................... 41
3.2.1 Norma culta, norma padrão norma exemplar ................................................... 41
3.2.2 Norma prescritiva, norma estatística ............................................................... 45
3.2.3 Norma objetiva, norma subjetiva ............................................................... 45
3.2.4 Norma correta ou correção lingüística ............................................................... 47
3.2.5 Modalidades, níveis, estilos e registros ................................................... 50
3.3 QUEM DETERMINA A NORMA IDEAL, O “BEM-DIZER”? ................ 51
3.3.1 Escritores ................................................................................................... 52
3.3.2 Gramáticos e lexicógrafos ........................................................................... 53
3.3.3 Academias de língua ....................................................................................... 54
3.3.4 Estado ............................................................................................................... 56
3.3.5 Sistema de ensino ....................................................................................... 56
3.3.6 Meios de comunicação social ........................................................................... 57
3.4 A QUEM CABE “ESTABELECER” A NORMA IDEAL? ............................ 58
3.5 CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DA NORMA IDEAL ................ 59
3.5.1 Grego e latim ................................................................................................... 60
3.5.2 Língua escrita ................................................................................................... 61
3.5.3 Lógica ............................................................................................................... 62
3.5.4 Autoridade de escritores, academias de língua, da Corte e do Estado ................. 62
3.5.5 Pureza da língua ........................................................................................ 63
3.5.6 Freqüência .................................................................................................... 65
3.6 OUTRAS DIFICULDADES PARA O ESTABELECIMENTO DA NORMA ...... 66
3.7 DESCRITIVISTAS X NORMATIVISTAS ..................................................... 69
3.8 RESUMO DE COMO SE CONSTITUI A NORMA ......................................... 71
4 O DICIONÁRIO E A NORMA ............................................................................ 73
4.1 DICIONÁRIOS NORMATIVOS ................................................................ 73
4.2 DICIONÁRIOS DESCRITIVOS ................................................................ 75
4.3 ONDE SE INSEREM OS MANUAIS ................................................................ 78
5 LINGUAGEM JORNALÍSTICA E NEOLOGISMO ........................................ 79
5.1 LINGUAGEM JORNALÍSTICA ................................................................ 79
5.2 GÊNEROS JORNASTICOS ............................................................................ 82
5.2.1 Os gêneros e editorias nos jornais ................................................................. 85
5.3 MANUAIS DE REDAÇÃO E ESTILO ................................................................. 87
5.3.1 Os precursores ..................................................................................................... 87
5.3.2 A preocupação com a norma ............................................................................. 89
5.3.3 As autoridades empregadas .............................................................................. 90
5.3.4 A quebra da norma: o neologismo .................................................................. 91
5.3.5 O neologismo nos manuais de redação .................................................................. 94
5.3.6 Análise do mérito da prescrição .................................................................. 96
5.4 O NEOLOGISMO NOS DICIONÁRIOS ...................................................... 98
6 PROPOSTAS ..................................................................................................... 104
6.1 PROPOSTAS DE ACORDO COM A PROCEDÊNCIA .............................. 106
6.1.1 Estrangeiros ..................................................................................................... 107
6.1.2 Vernáculos .................................................................................................... 113
6.2 PROPOSTAS DE ACORDO COM OS ALGORITMOS ............................. 114
6.2.1 Mudança de significante ............................................................................ 114
6.2.2 Mudança de significado ............................................................................ 116
6.2.3 Incorporação de signo ........................................................................................ 119
6.2.4 Mudança de função ........................................................................................ 121
6.3 RESUMO DAS PROPOSTAS ............................................................................ 125
CONCLUSÃO .................................................................................................... 126
RETOMADA DOS QUESTIONAMENTOS INICIAIS ......................................... 127
AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES ............................................................................ 129
LIMITES DO ESTUDO E PERSPECTIVAS .................................................... 130
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 132
LISTA DE ABREVIATURAS
GERAIS
cf. – conferir, conforme
p. – página
s.v. – sub voc
v. ver
DICIONÁRIOS
Au (1999) – Dicionário Aurélio
AuE (2004) – Dicionário Aurélio em versão eletrônica
HouE (2001) – Dicionário Houaiss em versão eletrônica
MANUAIS DE REDAÇÃO JORNALÍSTICA
MaAbr (1990) – Manual de Estilo Editora Abril
MaESP (1997) – Manual de redação e estilo de O Estado de S. Paulo
MaFSP (2006) – Manual de Redação da Folha de S. Paulo
MaOGL – Manual de redação e estilo de O Globo
VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
FSP – jornal Folha de S. Paulo
OESP – jornal O Estado de S. Paulo
OS – jornal O Sul
Vj – revista Veja
ZH – jornal Zero Hora
LISTAS DE ESQUEMAS E QUADROS
ESQUEMAS
Esquema 1: Proposta taxonômica ................................................................................. 36
Esquema 2: Registros de linguagem ................................................................................. 81
QUADROS
Quadro 1: Neologismos em Alves (1994) ..................................................................... 21
Quadro 2: Skatista, skater, esqueitista ..................................................................... 77
Quadro 3: Categorias e gêneros jornalísticos ......................................................... 83
Quadro 4: Palavras padronizadas no MaFSP ..................................................................... 95
Quadro 5: Propostas em HouE (2001) e Rabanales (1984) ............................................. 101
Quadro 6: Categorias e gêneros ................................................................................ 105
Quadro 7: Editorias ........................................................................................................ 105
Quadro 8: Procedência ............................................................................................ 105
Quadro 9: Algoritmos ........................................................................................................ 106
Quadro 10: Ocorrência de empréstimos e estrangeirismos em obras de referência .......... 110
Quadro 11: Estrangeirismos e empréstimos necessários e desnecessários conforme a
identificação de equivalentes na língua receptora e o uso ............................................. 112
Quadro 12: Neologismos por mudança de função ......................................................... 122
Quadro 13: Opções de redação ................................................................................. 123
Quadro 14: Seminovos ............................................................................................. 123
Quadro 15: Propostas ......................................................................................................... 125
1 INTRODUÇÃO
Observamos em nossa relação com a língua duas tendências opostas: uma mais
conservadora, que tende a defender a língua padrão acima de tudo, como se houvesse um
“falar correto” absoluto, e outra mais liberal, que aceita toda inovação e não sentido em
tantas regras e restrições ao nosso modo de expressão. Existem boas razões para ambas as
posturas e, às vezes, é difícil conciliá-las.
Uma razão para se defender a língua padrão tal qual a temos é que precisamos, de fato,
de uma língua nacional, compreendida por todos, pela qual possamos nos comunicar em
situações mais formais - uma língua que reúna o conhecimento acumulado ao longo dos anos
por um povo.
Porém, nenhuma língua é estática. Ela muda a todoíntcl ngngoo lín ngsamr294974(t)-274(m)-2.45995(,8.7495585( )-130.223(d)-0.2958.7495585( )-130.223(m)-2.45995(o)-0.295585(d029(e)3.2958.74938.74( )-40.1702(q)-0.295585(u)-0.74(m)-2.45995(,8.7495574( )-10.1537(s)-1.228.74963.74( )-40.17010.213(a)3.74(b)-0.29315(d)-0.294363(e)3.74(r)2.80561(v)-0.74( )-150.2a7(s)-1.228.74938525(t)-2.16436(e)3..228.74938574( )-150.274( )-40.170i9(l)-219142(o)-0.2931428.749385p(o)-0.23749558(n)-0.5(d)-0.294363(e)3í4( )-240.286(t)-2.16436(o)-0.295585(d)-0.295582(o)-0.2931428.7493854(n)-0.295585(d)-0.295540.288(e)3.74(s)-1.2374( )-110.212(i)-2.1643.1702)-40.1705585(n)-0.2(o)-0.2931428.7493854(n)-0.29558a7(s)-1.228.749385h(n)-0.295585(d)-0.295540.288(e)3.74(s)-1.23ó[(P)-4.33117(o)-010.1295585(c)3.74(i)-2.228.74938525(t)3794974(8.7493854(n)-0.298027(n)-0.29315(o)-0.295585(s)-1.2312(t)--1.2312(e)3.74244(n)-0.2931585(r)2.80439(-0.293142(s)-11.23237495550]TJ-271.75( )-0.147792(u)-0.294974(m)-2.46059 -20.76 Td[(p)-0.2949774(m)-2.460574( )-110.213(o)-0.295585(u)-0.295585(t)-2.165(d)-0.295585(o)-0.e)3.74(,)-0.147796( )-0.147792(p)-0.2955885( )-130.223(d)-02.16436(á)2.1674( )-10.1537(s)-1.22)-0.147796( )-0.1477974(f)-7.20029(e)3.85(s)-1.22997(s)-1r7( )-40.1712)-0.147795(u)-0.295585(t)-2.16558(r)24(n)-0.294974(l)-2.16558(a)-186436(á)3.7485( )-150.235(s)-1.2.74(a)3.774( )-150.235(d)-10.3.74(a)3.774( )-210.271(q)-0.295585(u)-0.2(o)-0.293142.74(a)3.774( )-10.1525(l)-2.16436(í)-2.16436(( )-210.271(u)-0.25.6654(l)]TJ271.72 2(o)-0.293142.74(a)3.74(n)-0.295585(d)-0.2955f(p)-0.295585(r)25(p)-0.295585(r)212(i)-2.1643.17(s)-1.2374( )-240.288(e)35(o)-0.295585(.)-04(r)2.8 12( )'35.420À -26.64 T74(i)-2.16558(3.7425497( )-0.147792(v)-0.295585(e)3.74(z)-6.2659(e)3.74(s)-1.22997(,3.74254985(m)-2.45995(p)-0.295585(r)274( )-150.236(t)-2.16558(e)3.74(n)-0.2955855(s)-1.2312(a)3.74(m)-2.45995(o)-02.16558(3.7425494(n)-0.295585(d)-0.2955295585(e)3.74(z)-244(a)3.742443.7425385(h)-0.295585(u)-0.295585(m)-2.453.74253885( )-50.1761(c)3.7e)3.74(c)3.74(i)-2.16436(s)-.453.742538e36(s)-.453.7425384(n)-0.295585(d(s)-1.23295585(e)3.74(z)130.228(a)(a)3.74(m)-2.45995(o)-0.2955853.74253874( )-110.213(o)-0.295585(d)-0.2s)-374(l)]TJ12( )-130.223(r)2c)3.74(a)3.74(.3.742538Q2(I)-16402(q)-0.295585(u)-0.5(p)-0.295585(r)2228(a)(a)3.74(m)-2.45995(o)-0.29314253.7425384(n)-0..71035(d)-0.2955295585(1.23.74(z)130.5(p)-0.295,)3.74(a)3.74(.3.742538p02(a)3.74244(n)-0.2931474( )-40.17436(s)8.77471(55250]TJ-327.0774( )-140.229(e095585(r)2228(a).29491 -20.76 Td.80683(29495(d)-0.295585(o)-0.e)3.74(6(s)8.7/R456049( )49-02.4(l)]TJ4(b)-0.295585(s)-1.2299b5(m)-2.45995((s)-1.22997(l)-2.16436(o)-0.2955810.209(a)3.742.16.80683(2949h(n)-0.29558a)500(O)-2.46049( )59.3154(l)]TJ74(s)-1.22997(,)r)2.8 Td[(U)1.57442(m)-26.2659(e)3.74(s)-1.22997(,)35(a)3.12(t)-2.16436(e)3.74(m)-6.263v(n)-0.2955855(s)-z5(d)-10.3015(e)-6.264(n)-0.295585(d)-0.295540.288(e)385(s)-1.22997(s)-1.2315(o)-0.295585(,)-0.14654(n)-0.295585(d)-0.2955295585(e)3.74(z)-.16436(e)3.74(m)-2.45995(o)-0.295585(35(a)3.*))8.7/R456049( )159.6.64(l)]TJ4(b)-01.22997(s)-1.231m2(I)-1640b5(m)-2.45995((s)-2.1643(l)-2.16436(o)-0.2955810.209(a)3.74774( )-10.15h(n)-0.29558a)500(O)-2.46049( )67.9605(n)]TJ24(o)-0.295585(.)-0.1465A2(I)-1640l(d(s)-1.238(n)-0.295585(g)9.7103585(r)2.80(e)3.0.3015(e)-6.2674( )-10.1525(q)-0.295585(u)-0.2955e)-6.26702(a)3.74244(n)-0.293142(o)-0.29314255e)-6.264(n)-0.2931446( )-150.23ç95585(1.2327(m)-2.46236(s)8.77436.07850]TJ-256.471 -20.76 Td[(p)-0.294979 -20.76 Td[(d)-074(o)-0.2á(d)-0.2958.749554( )-0.147792(d)-0.2955295585(e)3.74(z)-245585(e)3.2958.7495574( )-10.1525(q)-0.295585((d)-10.30158.74948.*))8.7/R456049( )91. Td34(l)]TJ4(b)-0.295585(s)-1.2299m -26.76 Td[(O)1.5744r.3015(e)3.43(l)-2.16436(o)-0.2955810.209(a)3.74774( )-12949h(n)-0.29558a)500(O)-2.46049( )68.0.71(l)]TJ250.8.749385“4(f)-7.20029(e)3.85(r)-7.20151(ã)3.74(o9.749.1537(s)-123(E)0.640026(x)-10.3015(i)-2.16436(s)-1.2312(t)-2”(u)-0.74(m)-2295585(.8.74938.74( )-40.1702(q)-0.295585(u)-0.5(.8.74938..20151(ã)3.74(o9.749.15“(h)-0.295585(e4(l)-2.16558(a).295.1702)-40.1705585(n)-0.8(o)-0.2959.749.1559( )-2406(s)8.7/R456049( )5e)-32.4(l)]TJ4(b)-01.22997(s)-1.231b5(m)-2.45995((s)-2.1643(l)-2.16436(o)-0.29558105585(e)3.74(z)-74( )-10.15h(n)-0.29558a)500(O)-2.46049( )59.4355(n)]TJ24(o)-0.295585(.8.74938.9 -26.64 Td[(P)-4.33117(o)-0.295585(r)2.805613.74274(m)-2295585(.8.74938..805613.74274( )-110.212(i)-22931446( )-150.23439(a)3.74244(t)-2.1643229(a)3.74244(s)-1.2369.81850]TJ-327.079 -20.76 Td[(d)-071 -20.76 Td[(p)-0.29497.45995(a)3.74(i)-2.16574(m)-2.45995(,)51(a8.74(õ)-0.294974(e)3.85(s)-1.22997(s)-1.22)51(a8.74(c)36(l)4( )-240T85(s)-1.2295(u)-0.295585(m)-2.45951(a8.76( )-0.1477974(f)-7294974(e)3.85(s)-129553(b)-0.295585(o)-0..45951(a8.76( )-0.147792(p)-0.2955885( )-130.223(d)-017(o)-0.295á(o)-0..45951(a83.74( )-110.212(i)-2.16437( )-0.147792(v)-0.12(i)-2.1643.1702)-40.1a(d)-017(o)-0.295.45951(a83.5(h)-0.295585(u(e)3.0.327(m)-2.46239(51(a83.295585(g)9.71032(o)-0.71032(o)-0.71032[5585(e9.0454(l)]TJ12( )-130.223(r)2585(s)-1.2312(,)51(a83.4(n)-0.295585(d(s)-1.238(n)-0.295875(s)-1.2312(a)3.74(m)-2.45995(o)-0.295585(s)-1.2312(,)51(a83.*))8.7/R456049( )73.4834(ê)]TJ291.652 0 Tde4(l)-2.1685(s)-1.22997(o)-0.40.1705585(n)-0.g(n)-0.295585(d)-0.295540.288(e)3.74(s)-1.2374( )-110.236(i)-2.1(t)-2.1643m -26..22997( )--1.2312(e)3.74244(n)-0.293158444.(e)(O)-2.46049( )87.41164(l)]TJ74(s)-11.2312(,)51(a83.e)1( )-74244(m)-12.4130.9250]TJ-244.102(n)-0.295585(h(p)-0.2949736(i)-2.16436(á)50l(d(s)-10.2a7(s)-1.22212(e)3.74( )-240.288(m)-2.4599[(s)-1.22997(i)-2.165295585(ã)3.74(o)-0.293792( )-240.289(n)-0.10.209(a)3.747294974(e)3.85(s)-1.229á7(s)-1r7( )-40.1[(s)-1.229a5( )-110.212(e)-6.3312( )-200.265(n)-0.29558212(e)-6.338( )-0.147792(c)3.74(o)-0.29558436(s)-1.2312(t)-2x(o)-0.29558436(s)-1.23ç)3.74(ã)3.74(o)-0.295585(t)-2.16436(e)3.74(m-0.146571( )-110.212(q)-0.295585((s)-1.22212(e)22a7(s)-1.22212(e)3.5(n)-0.295.74(s)-1.2374( )-110.274(i)-2.16436o)-0.295355(n)]TJ2z4(l)-2.1685(s)-1.22992(q)-0.29558295585(g)9.71)-0.295585(t)-240.288(e)371( )-110.212(q)-0.295585((s)-110.209(a)3.74-1.2312(e)3.16436(o)-0.295585(d)-0.2955436(á)3.7485( )-150.235(s)-1.2)-0.295574( )-150.235(d)-10.30-0.146571( )-110.212(q)-0.295585((s)-1.22212(e)22.1702)-40.1a(d)-01228(a)3.74244(m)-2.4623é74(z)130.228(a)3.74244o)-0.293142( )-110.5(o)-0.295585(s)-1.23121( )-74244(m)-12.4.295355(0]TJ-256.476 Td[(“[(p)-0.294974(o)-0.22(u)-0.294974(m)-2.46m)-2.459958(í)-2a)3.7.74(z)-6.2659(ã)3.74(o)-0.295537(s)-123(E)0.640026(x)-1a)3.74(i)-2.16574( )-150.236(t)-2.46m)-2.9558–.2659(ã)3.74(om)-2.460574( )-110.213(o)-0.29558.46m)-2.459958(í)-229558.74(z)-6.2659(ã)3.74(os)-1.22997( )-0.23(E)0.640026(x)-1a)3.74(i)-2.16574( )-150.2[(s)-1.229a5(d)-10.3.74(a)3.7558(r)24(n)-0.1.23é5(d)-10.3.74(a)3.72(v)-0.12(i)-2.1643.1702)-40.158.753 0 Td[(ã)3.74(o)-0.295585(.)-0.295585(.)-0.147593( )]TJ35.42071( )-240.274(i)-2.16574( )-150.2a7(s)-1.22225(e)32 -20.64 Td[(s)-1.22997(i)-2.16558(t)-2g)9.71032(o)585(a)-6.2659(ç)3.74(ã)3.74(o)25(e)3–)3.74(ã)3.74(o)25(e)385( )-130.223(d)-0.295585(e)32 -20.64 Td3(d)-0.295585(e)35(n)-0.295585(a)3.3(d)-017(o)-0.295.1702)-40.1a(d)-017(o)-0.295.45(s)-1.23295585(g)9.710(l)-2.16558(a).295a7(s)-1.22225(e.235(h)-0.295585(u)-0.2955.22225(e.23“0.209(a)3.74774( )-40.17558(a).29574(t)-2.16558(o)-0.295585(e)3.74( )-1.45(s)-1.23295 )-150.274( )-40.1705(h)-0.29558c6o)-0.29.11358(n)-0.244(t)-2)3.7.45(s)-1.2385( )-130.223(d)-0.6( )-0.147792(p)-0.29558.45995(a)3.74(i)-2.16436(s)-1.2312( )-210.271(c)3.74(o)-0.7223(d)-0..1702)-40.12(v)-3.226436(á)3.74024(-)2.804ç)3.74(ã)3.74(o)25(e)3–)3029(e)3.295(s)-1.23é74(z)130.295(s)-1.2344(m)-2.46239(b)-0.293142(a)3.74585(s)-1.2312(t)--1.2312(e)3.74244(n)-0.2931585(r)2.8044(m)-12.4.94.534(0]TJ-256.473 -20.64 Td[(c)3.72(u)-0.29495( )-0.147792(u)-0.294974()r)2.8 T85( )-130.225(n)-0.295585(o)-0.29557(,)r)2.8 Td[(U)1.57442(m)-2n4( )-40.1705(h)-0.2955861(m)-2.45995(a)3.74(i)-2.16558()r)2.8 T74( )-150.236(d)-0.29558()r)2.8195(p)-0.295585(r)2d95585(g)9.710(l)-2.16585(a)-6.2659(ç)3.74(ã)3.74(o)r)2.819j24(-)2.804ç)3.74(ã)3.7558(a).295.20029(e)3.1032(o)-0.71032(o)í45995(a)3.74(i)-2.16.16436(á)3.74(t)-2.16436(i)-2.16436(c)3.74(a)3.74(.)r)2.8 TO2(I)-16404(.)7)2.87(M4(i)5243-2.16436(F)5.67436(S -26.64 Td9 -26.64 Td4(o)-0.81.9264(l)]TJ(58(a)-1862)3.74(ã)3.70)3.74(ã)3.70ãão78( )-0.147792(c)3.74(o)-0.2955885( )-130.223(d)-0..20029(e)3.10dãonoso dm 7574(l)]TJp02(a)3.7424r.3015(e80439( )-210.v9( )-210.i(n)-0.2931585(r)2.80w)667(O)-2.46049( )38.06254(l)]TJ74((e)3.74244(m)-12./R456049( )-451(74650]TJ-327.073 -20.65( )-0.1477974(i)-2.16574( )-150.24 Td[(c)3.72((I)-1.222(d)-0.2955295s)-1.22997(l)-2.1643r)389(O)-2.46049( )52)-011(l)]TJ250.2e m l
mais profundamente sobre a língua, pode parecer que eles sejam feitos a priori e que
possamos utilizar as palavras que neles constem. O que ocorre, porém, é o contrário. Os
dicionários são feitos a partir do uso que as pessoas fazem das palavras, geralmente aquelas
mais instruídas, os grandes escritores, considerados modelos de perfeição lingüística mas
não só eles.
A língua falada costuma ser mais dinâmica, mais rápida, pois atende a necessidades de
expressão que surgem todos os dias. Os dicionários não podem acompanhá-la no mesmo
ritmo. Não há como mudar essa realidade.
O que se pode mudar, no entanto, é a forma como os próprios lingüistas ou
dicionaristas apresentam a língua que acompanham e descrevem. O que se constata nessas
obras de referência, como veremos neste trabalho, é que elas mesmas não têm uma visão clara
a respeito dos neologismos, uma visão clara de como integrá-los à norma ideal. Eles quase
não são reconhecidos. Entram nas obras sem critérios muito definidos, sem marcação própria,
sem uma indicação ao usuário de que ele está consultando uma palavra nova, instável, que
poderá até ser excluída em edições posteriores. O neologismo, a palavra recém criada, é
tratada do mesmo modo com que se tratam palavras consagradas, que estão séculos no
falar das pessoas.
Este trabalho procura aprofundar essas posturas contraditórias, respondendo a uma
série de perguntas que se podem fazer em relação aos neologismos e à forma como eles
aparecem em textos jornalísticos e obras de referência consultadas pelos jornalistas, isto é,
dicionários e manuais de redação. Algumas dessas indagações:
a) Como os jornalistas lidam com os neologismos em seus textos ou como os
neologismos se apresentam nos textos jornalísticos?
b) Os neologismos devem ser aceitos ou vetados nesses textos?
c) Como os manuais de redação jornalística os apresentam? E os dicionários?
d) Observa-se um tratamento coerente em relação a eles nessas obras?
e) O que fazer com palavras que ainda não constam nem nos dicionários nem nos
manuais de redação?
f) O que dizem os dicionários e manuais de redação a esse respeito?
g) Como acolhem as novas palavras?
h) Como lidar com o paradoxo de que os dicionários recorrem aos jornais como fonte
de atualização e os jornais recorrem aos dicionários como fonte de autoridade?
Esses questionamentos preliminares se configuram em objetivos que dão forma a este
trabalho.
1.1 OBJETIVOS
A partir dos questionamentos apontados no item anterior, estabelecemos como
principais objetivos de nosso trabalho os seguintes:
a) Determinar formas de o jornalista lidar com o fato léxico do neologismo: como
enxergar e compreender o neologismo.
b) Analisar a pertinência (ou o mérito) do dicionário e dos manuais de redação (na
medida em que estes possam ser concebidos como dicionários ou obras lexicográficas) para
elucidar dúvidas quanto ao mesmo fato lexicográfico.
c) Propor critérios para inclusão e marcação de neologismos no dicionário e nos
manuais de redação.
Para tal, o fenômeno do neologismo será encarado de uma tripla perspectiva:
a) Como fato léxico, isto é, como um fenômeno ontogênico da linguagem, que permite
a sua subsistência e continuidade, exigindo uma reflexão sobre conservadorismo versus
câmbio nas línguas naturais.
b) Como fato lexicográfico, o que levanta pelo menos duas questões: a primeira ligada
a uma concepção macroestrutural do dicionário (e dos manuais de redação), como lidar com
“jovens” palavras (devemos marcá-las ou não?; se o devemos, como fazê-lo?); a segunda, em
relação ao fato de o dicionário mostrar “a língua de ontem” para “o consulente de hoje” (isto
é, como orientar o usuário de forma geral para que ele saiba como se portar diante de uma
palavra nova, que não esteja ainda descrita no dicionário, já que este é feito sempre a
posteriori?).
c) Como fato normativo, uma vez que o neologismo está intimamente atrelado a uma
disposição natural de se tentar estabelecer a diferença entre o “certo” e o “errado”.
1.2 HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO
Retomando-se novamente as indagações feitas acima, estabelecemos as seguintes
hipóteses de investigação para este trabalho:
a) Os neologismos não pertencem todos a uma mesma categoria, eles devem
ser discriminados e tratados distintamente, conforme o caso;
b) Os neologismos recebem tratamento assistemático nos dicionários e nos
manuais de redação, desprovido de rigor e critérios para que os jornalistas
(e pessoas em geral) os reconheçam como tais e saibam lidar
convenientemente com eles.
A falta de rigor e critérios, por sua vez, é capaz de anular o próprio mérito desse tipo
de obra, que tem como uma de suas finalidades orientar o usuário quanto ao uso de novas
palavras.
1.3 ESTRUTURA GERAL DO TRABALHO
Após a introdução aqui apresentada, partimos para o segundo capítulo deste travalho
definindo o nosso objeto o neologismo e distinguindo-o conforme a sua procedência e os
modos pelos quais se configura. Seja qual for o tipo de neologismo identificado por novo
significante, significado, signo ou função – ele é algo natural na língua, inerente a ela; não
como ser contido, nem deve sê-lo. Surge a partir de uma necessidade expressiva ou de
economia discursiva, por meio de processos comuns, naturais e recorrentes, em que palavras
antigas se combinam, palavras novas passam a designar objetos e situações novos,
significados e funções se modificam.
No capítulo seguinte, constatamos que a língua não é una, homogênea, e sim composta
de várias “línguas funcionais”, cada qual com seus próprios critérios de correção. O que é
correto numa língua funcional pode não sê-lo em outra. O “certo” e o “errado” estão
relacionados a uma maior ou menor adequação da língua funcional à situação em que é
empregada.
Existe uma ngua padrão, ideal, formal mais estável do que a língua do dia-a-dia
que está representada nos dicionários e gramáticas. O neologismo está fora dessa língua
padrão, fora do dicionário e fora da gramática, é um elemento novo, estranho, porém está ou
deveria estar previsto neles.
A configuração da língua padrão nos dias de hoje não se dá com base apenas nas obras
de grandes escritores, mas também, e principalmente, na linguagem jornalística, que, por sua
vez, busca, muitas vezes, na linguagem coloquial o seu modelo. O jornalista deve conhecer
muito bem a língua padrão para poder contrariá-la conscientemente – e não involuntariamente
– quando for necessário.
No quarto capítulo, destacamos que há dicionários normativos (velada ou abertamente)
e dicionários descritivos. O manual de redação é um tipo de dicionário abertamente
normativo: apresenta palavras estranhas à norma ideal (como os neologismos) e determina
como se deve agir em relação a eles.
O jornalista tem à sua disposição, portanto, um instrumento para orientá-lo quanto
àquilo que está fora da norma, porém esse instrumento é falho por conter informações
contraditórias, isto é, condena de antemão os neologismos em geral por estarem fora da norma
(i.e. fora do dicionário), mas, ao mesmo tempo, aceita-os em alguns casos, sem mencionar
que são neologismos, o que levanta questionamentos quanto ao mérito das orientações
contidas nos manuais.
No quinto capítulo, abordamos a linguagem jornalística, que possui como principais
características a simplicidade e clareza. A correção ou a adequação do neologismo à
linguagem jornalística estará condicionada ao entendimento da notícia e também ao gênero do
texto e ao público que se pretende atingir.
Oferecemos, no sexto capítulo, propostas de integração das observações contidas nos
capítulos precedentes, criando critérios para se enxergar os neologismos no texto jornalístico e
utilizá-los de forma adequada, levando-se em conta as diferenças existentes entre os tipos
identificados.
Finalmente, no último capítulo, apresentamos nossas considerações finais, após
retomarmos os questionamentos e hipóteses mencionados neste primeiro capítulo
introdutório.
2 REVISÃO DA LITERATURA E PROPOSTA DE TAXONOMIA
A língua está em constante movimento: novas palavras surgem a todo instante e velhas
palavras ganham novas acepções, ao passo que outras tantas saem de circulação até serem
esquecidas. De maneira geral, essas novas palavras e velhas palavras com novas acepções o
chamadas neologismos, enquanto, no outro extremo, palavras que saem de uso na língua
corrente denominam-se arcaísmos. Trata-se de um processo natural da língua, que atende,
conforme Bechara (2004, 351), a necessidades de renovação cultural, científica e da
comunicação de um modo geral. Uma situação, um processo ou objeto que não existia ou não
era percebido pode passar a sê-lo, exigindo um signo que o represente. Algumas vezes esse
signo é adotado por muitos e se propaga mais ou menos rapidamente, podendo ou não se
firmar na ngua, como os recentes mensalão
7
, valerioduto
8
, verticalização
9
e metrossexual
10
;
outras vezes, restringe-se a uma situação específica que dificilmente se repete, como
psicopoliticodélico
11
, utilizado em relação a uma peça teatral. Está sempre, portanto, num
equilíbrio lábil, podendo sobreviver ou não na língua.
2.1 DEFINIÇÃO DE NEOLOGISMO
Segundo Dubois et al. (1997, s.v.) neologismo é “uma unidade lexical (novo
significante ou nova relação significante-significado) que ocorre dentro de um modelo de
comunicação determinado, não realizada anteriormente
12
”. O novo significante caracteriza a
neologia de forma, que consiste na formação de novas unidades léxicas a partir de
significantes inéditos, enquanto a nova relação significante-significado se refere à neologia de
conteúdo, que consiste no emprego de um significante existente na língua associado a um
conteúdo que não tinha até então. Segundo os autores, a neologia de forma poderia admitir
ainda os empréstimos de língua estrangeira.
7
Vj 22/02/06, 41.
8
Vj 08/03/06, 44.
9
Vj 08/03/06, 54.
10
Vj 24/08/05,
11
Espetáculo teatral Fala, , de José de Abreu, em cartaz em Porto Alegre, em abril de 2006.
12
[une unité lexicale (nouveau signifiant ou nouveau rapport signifiant-signifié) fonctionnant dans un modèle de
communication déterminé, et qui n’était pas réalisée antérieurement]
A não-realização anterior de uma unidade ou o seu caráter de “novidade”, porém, nem
sempre é algo fácil de se determinar. Boulanger (apud FERRAZ, 2006, 223-224) procura
fazê-lo a partir de três critérios:
a) o critério diacrônico;
b) o critério psicológico;
c) o critério lexicográfico.
O critério diacrônico se ampara na data de surgimento de uma unidade léxica,
conforme registrado em obras lexicográficas ou corpora: tem-se um neologismo quando seu
primeiro registro na língua tiver ocorrido num período determinado.
O critério psicológico se baseia no sentimento de “novidade” que uma unidade léxica
desperta numa comunidade: uma palavra é nova se as pessoas assim o sentirem.
O critério lexicográfico, por ser menos subjetivo do que os anteriores, costuma ser o
mais utilizado nos estudos neológicos: considera-se neologismo toda palavra que não consta
no dicionário (com exceções identificadas a posteriori, como muitas palavras terminadas
pelos sufixos mente e -inho
13
). Como lembra Ferraz (2006, 223), para muitos estudiosos “a
noção de neologismo começa no dicionário (com o critério de identificação lexicográfico) e
termina no dicionário (uma unidade lexical entra em processo de desneologização quando
passa a ser registrada em uma obra lexicográfica)”.
Uma palavra, surgida numa determinada língua funcional a partir de processos que
serão mais tarde explicitados, pode ser usada por muito tempo numa comunidade específica,
como a dos informatas, por exemplo, e não ser conhecida pelas pessoas em geral. Num dado
momento, porém, essa palavra, digamos debugar (do inglês to debug), seja por ocasião do
“Bug do Milênio”, seja pelo aumento no número de usuários de computadores, pode vir a
ampliar seu raio de ação. O “sentimento de novidade” em relação a ela começa então a
diminuir, até a sua inclusão nos dicionários. Ela pode ser “sentida” como “neológica”, por um
critério psicológico, mas não ser neológica por um critério diacrônico, que figurava na
língua (dos informatas) há bastante tempo.
Os critérios podem ser combinados, assim quando uma palavra é sentida como nova
(critério psicológico), acorre-se ao dicionário para se verificar se ela de fato o é (critério
lexicográfico), conferindo-se a data de seu surgimento (critério diacrônico).
13
Por exemplo, pneuzinho e magistralmente não constam nos dicionários, mas nem por isso poderiam ser
consideradas neologismos.
2.2 CAUSAS PARA A FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS
Para Rocha (2003, 79), são três as causas da formação de novas palavras:
a) as exigências do sistema lingüístico;
b) a influência do sujeito-falante;
c) o papel das funções semânticas.
A essas causas, segundo ele, associam-se três funções:
a) Função de mudança categorial (por exigência do sistema lingüístico): quando é
necessário empregar um item lexical de uma classe em outra, pois seria muito anti-econômico
para a língua criar um novo item. Faz-se então uma adaptação morfológica com o auxílio de
um sufixo, por exemplo, com a conseqüente mudança da classe lexical. Ex: A Petrobras
precisa atingir a produção de 1.200.000 barris de petróleo [...]. Mas esse atingimento [...].
b) Função expressiva de avaliação (por influência do sujeito-falante): quando o papel
do sujeito-falante é preponderante na formação do novo item lexical. É o que se com os
sufixos afetivos, enfáticos e intensificadores, como em: “Filhinho, vai para a caminha”.
c) Função de rotulação: quando a necessidade de se dar nomes às coisas, às ações,
aos lugares, como em: malufar, tancredar, carreata, bondeata, sambódromo.
Todos esses fatores ou funções podem ser resumidos, a nosso ver, em dois, que atuam
combinados:
a) necessidade expressiva;
b) economia discursiva.
Desse modo, quando o autor afirma que, às vezes, “é necessário empregar um item
lexical de uma classe em outra, pois seria muito anti-econômico para a língua criar um novo
item”, isso se dá para atender a uma necessidade expressiva da forma mais condensada
possível. É mais fácil criar uma palavra como petista do que dizer “filiado ou simpatizante do
PT” toda vez que se for referir a este. O mesmo se pode dizer quanto a malufar, tancredar,
carreata, bondeata e sambódromo. Palavras como papamóvel ou (senador) biônico, possuem
conotação jocosa ou irônica por associação de idéias, atendendo à necessidade expressiva de
se transmitir esse “algo a mais”; bem como palavras estrangeiras importadas procuram
atender a necessidades expressivas não contempladas na língua receptora.
2.3 TAXONOMIAS
Para Bechara (2004, p.351), o neologismo entra na língua por diversos caminhos: o
primeiro, mediante a “utilização da prata da casa”, isto é, “dos elementos (palavras, prefixos,
sufixos) já existentes no idioma, quer no significado usual, quer por mudança do significado”,
resultando em unidades como selinho
14
, beijação
15
, secretariáveis
16
e microssaia
17
; o
segundo, mediante empréstimos e calcos lingüísticos, isto é:
[...] palavras e elementos gramaticais (prefixos, preposições, ordem de palavras)
tomados (empréstimos) ou traduzidos (calcos lingüísticos) ou de uma outra
comunidade lingüística dentro da mesma língua histórica (regionalismos,
nomenclaturas técnicas e gírias) ou de outras línguas estrangeiras inclusive grego
ou latim -, que são incorporados ao léxico da língua comum e exemplar
(BECHARA, 2004, p.351).
Como exemplos de empréstimos, nessa visão, podemos citar: blog
18
, wireless
19
, palm-
top
20
e overbooking
21
, tomados tais como em seu idioma original; escâner, iene, ofurô e
haraquiri, adaptados gráfica e fonologicamente à ngua receptora; e estresse, colesterol e
antioxidante, “importados” das áreas biomédicas para a linguagem do dia-a-dia.
Como exemplos de calcos lingüísticos, temos: deletar (ingl. to delete), assassino serial
ou em série (ingl. serial killer), buraco negro (ingl. black hole) e disco rígido (ingl. hard
disk), traduzidos literalmente do inglês para o português.
Um terceiro e quarto caminho de criação lexical, segundo Bechara (2004, p.351),
ocorre pela “criação de certos produtos ou novidades que recebem o nome de seus inventores
14
Vj 01/03/06, p.63.
15
Vj 08/03/06, p.26.
16
ZH 21/03/06, p.10.
17
Vj 08/03/06, p.38.
18
ZH 20/03/06.
19
ZH 20/03/06, p.41.
20
ZH 20/03/06, p.41.
21
ZH 21/03/06, p.17.
ou fabricantes”, como macadame e gilete
22
, e pelas onomatopéias e palavras expressivas”,
que levam em conta “os sons naturais (fonossimbolismo) produzidos por seres e objetos”.
Os caminhos mencionados colocam “processos de formação neológica” e
“procedência de novas unidades na língua” em um mesmo nível, sem distinção clara.
Alves (1994, p.5), que faz um amplo mapeamento dos neologismos encontrados em
textos jornalísticos, é mais precisa ao afirmar logo de saída que essas unidades podem ser
formadas por: a) mecanismos oriundos da própria língua, os processos autóctones ou; b) por
itens léxicos provenientes de outros sistemas lingüísticos. Porém, após essa distinção inicial,
referente à procedência neológica, enumera exemplos dos vários processos de formação
lexical como próprios de um ou outro grupo, o que nem sempre ocorre, como se procurará
mostrar mais adiante. A descrição em Alves (1994, p.5-82), realizada a partir de textos
recolhidos na imprensa brasileira, pode ser resumida da seguinte maneira
23
:
22
Nesses exemplos o que se é um processo de metonímia, que ocorre dentro da língua ao lado de outros
processos sêmicos envolvendo figuras de linguagem. (v. item 2.3.1.2).
23
Mantivemos a terminologia e os exemplos da autora.
Quadro 1: Neologismos em Alves (1994)
PROCESSOS AUTÓCTONES
Neologismos
fonológicos
Neologismos
sintáticos
Conversão
Neologismos
semânticos
Outros
Onomatopéias
Recursos fonológicos: tchurma, xou, bebemorar.
Derivados:
não-violentos, anticonjugal, sem-teto, pró-familiar,
brizolismo, achistas, apalhaçar.
Compostos: enredo-denúncia, operação-desmonte, cinco-em-
um, capa-e-espada, papamóvel.
Compostos sintagmáticos: produção independente, cesta
básica, crimes de colarinho branco.
Compostos formados por siglas ou acronímicos: PCB, Anfavea,
UDR, ZPEs.
Mudança de função: (os) consorciados, (o) digladiar.
Por figuras de linguagem: baixinho (criança).
De vocabulário específico: corpo-a-corpo (discussão difícil),
garimpagem (busca de elementos interessantes e preciosos),
papagaio (tagarela).
Truncação: euro (de europeu), niver (de aniversário).
Palavra-valise: brasiguaio, showmício.
Reduplicação: trança-trança.
Derivação regressiva: amasso (de amassar).
EMPRÉSTIMOS
Estrangeirismo (sem adaptação): himologhi, jamonaria, leasing, know-how.
Estrangeirismo + tradução: gray power (o poder grisalho), fiber glass (fibra de vidro).
Empréstimo (integrado à língua): new-jecas, niu-jeca, ranking.
Decalque (versão literal do item léxico estrangeiro para a língua receptora): alta
tecnologia (high tech).
A neologia fonológica, segundo Alves (1994, p.11), é extremamente rara, pois “supõe
a criação de um item léxico cujo significante seja totalmente inédito, isto é, tenha sido criado
sem base em nenhuma palavra existente”. Como exemplo, ela cita a unidade gás, que teria
se originado do grego khaos, e as criações onomatopaicas, “calcada[s] em significantes
inéditos”, mas não “totalmente arbitrária[s]”. Alguns recursos fonológicos, conforme a autora,
podem provocar alterações no item lexical, como se vê em tchurma, bebemorar e xou
(ALVES, 1994, p.12-13) este, relativo à apresentadora de televisão Xuxa, cujo x no nome
estimulou a criação de variantes para palavras grafadas com [s], [sh] ou [ch]
24
. Podemos
dizer, no entanto, que tchurma, xou e bebemorar, bem como muitas criações de etimologia
popular
25
, situam-se ao lado de unidades classificadas pela autora como “neologismos
sintáticos” (formados por composição e derivação), isto é, passam pelas mesmas
transformações por que passam estes ao nível do significante. A unidade bombril, por
exemplo, formada pela junção de bom + bril(ho), “compõe-se”
do mesmo modo que xou, que
combina o [x] de Xuxa a show; bebemorar reúne beber + comemorar (acrescentando-se aqui a
alusão a comer) e tchurma associa a unidade turma a um elemento que, para nós, é ignorado,
mas que, no momento de sua criação, há de ter tido uma razão funcional.
Nos neologismos sintáticos, Alves (1994, p.14-59) identifica a combinatória de
elementos existentes no sistema lingüístico, constituindo compostos e derivados. Como se
viu, a “motivação” para a formação desses compostos e derivados pode ser “fonológica” e
também gráfica, semântica (metafórica, metonímica...), simultaneamente ou não. Alves (1994,
p.14) os denomina “sintáticos” porque “a combinação de seus membros constituintes não está
circunscrita exclusivamente ao âmbito lexical (junção de um afixo a uma base), mas concerne
também ao nível frásico”, uma vez que: a) “o acréscimo de sufixos pode alterar a classe
gramatical da palavra-base”; b) “a composição tem caráter coordenativo e subordinativo” e; c)
“os integrantes da composição sintagmática e acronímica constituem componentes frásicos
com o valor de uma unidade lexical”.
24
Além de xou, no lugar de “show”, encontramos pela ferramenta de buscas do Google: 311 ocorrências de
xucesso, 9.360 de xuper e 935 de axim + xuxa.
25
Conforme Dubois et al. (1997, s.v.) étymologie populaire, ou étymologie croisée, é “le phénomène par lequel
le sujet parlant se fondant sur certaines ressemblances formelles, rattache consciemment ou inconsciemment une
forme donnée à une autre forme avec laquelle elle n’avait aucune parenté génétique; les mots soumis à cette
attraction paronymique finissent par se rapprocher sur le plan sémantique: le français voit souvent dans
choucroute le mots chou et crûte, alors que le mot vient de l’allemand dialectal surkrut (sauerkraut) « aigre chou
»; de même forcené, rattaché à force par les sujets parlants et qui vient de fors « hors » et sen « sens ».
L’étymologie populaire est appelée aussi fausse étymologie, et on lui oppose l’étymologie savante, fondée sur la
connaissance des formes anciennes et lois qui ont présidé à leur évolution. On rérserve parfois étymologie
populaire aux erreurs individuelles comme Trois-cadéro pour Trocadéro”.
Esse nível frásico, no entanto, é pouco evidente em muitos casos, como em
superelegante, microcurso, imexível e outros derivados, o que nos faz preferir chamá-los
“combinatórios”, no lugar de “sintáticos”.
Os neologismos semânticos, ainda conforme Alves (1994, p.62), revelam-se de
diferentes maneiras: a mais usual ocorre quando se verifica uma mudança no conjunto de
semas de uma unidade léxica” por meio de figuras de linguagem, como no caso de baixinhos,
que, no contexto do Xou da Xuxa, passa a significar “crianças” (ALVES, 1994, p.63); um
outro tipo ocorre quando um termo, característico de um vocabulário, extrapola os limites
desse vocabulário e passa a integrar outra terminologia ou a fazer parte da língua geral”, como
garimpagem, que passa de atividade que consiste na exploração de metais e pedras
preciosas”, numa linguagem específica, a “busca de elementos interessantes e preciosos” na
língua geral (ALVES, 1994, p.65).
Observamos que nos dois exemplos (baixinhos e garimpagem), e não apenas no
primeiro, o que ocorre é uma mudança de semas por meio de uma figura de linguagem
(metáfora)
26
.
Alves (1994, p.68-71) classifica de outros processos a truncação (por exemplo,
euro, a partir de europeu); a palavra-valise (como brasiguaio), que, para nós, é um tipo de
composição; a reduplicação (como trança-trança), também, para nós, um tipo de composição;
e a derivação regressiva (por exemplo, amasso, a partir de amassar).
A conversão, conforme Alves (1994, p.60), consiste num tipo especial de formação
lexical pelo qual “uma unidade léxica sofre alterações em sua distribuição sem que haja
manifestação de mudanças formais”. O fenômeno é exemplificado com adjetivos que
assumem a função de substantivo, como consorciados na frase: “deveremos dar um salto para
dez milhões de novos consorciados” (ALVES, 1994, p.60).
Alves (1994, p.72) afirma que todos esses processos utilizam-se de bases da língua
portuguesa, mas que uma outra forma de se ampliar o léxico é pelo empréstimo de
elementos estrangeiros. A primeira parte da afirmação pode ser contestada com exemplos
que a própria autora fornece: o substantivo gate, “emprestado” do inglês, adquire valor sufixal
26
Essa questão será revista em 2.3.1.2.
no português, denotando “corrupção” ao se unir a outros elementos, como em Mogigate
27
(ALVES, 1994, p.40).
A autora destaca quatro formas de manifestação do empréstimo de elementos
estrangeiros (ALVES, 1994, p.72-80):
a) numa primeira etapa é denominado “estrangeirismo”, quando ainda “é sentido como
externo ao vernáculo” da língua receptora e adotado tal como em sua língua de origem;
b) ao mesmo tempo, muitas vezes, para que seja compreendido, esse estrangeirismo é
acompanhado de sua tradução, como em: “o chamado gray power – o poder grisalho – assusta
todos os candidatos”;
c) é denominado “empréstimo” quando já é sentido como integrado à língua receptora,
seja por adaptação gráfica, morfológica ou semântica, seja pela freqüência com que é
empregado ou pela geração de derivados e;
d) é denominado “decalque” (“calco lingüístico”, para Bechara (2004, p.351)) quando
o item léxico estrangeiro recebe uma versão literal na língua receptora, como alta tecnologia,
decalcado no inglês “high tecnology”.
Embora apresente essas distinções, Alves (1994), ao mesmo tempo, insere
estrangeirismos e decalques numa categoria maior de “neologismos por empréstimo”,
diferentemente de Bechara (2004, p.351), que denomina “empréstimos” os elementos
tomados de uma outra língua e “calcos lingüísticos” (decalques) os elementos traduzidos.
Outra diferença entre os dois autores é que Alves (1994) não menciona entre os
“empréstimos” (que, para ela, abrangem os decalques) as unidades provenientes de “uma
outra comunidade lingüística dentro de uma mesma língua histórica (regionalismos,
nomenclaturas técnicas e gírias)”, como o faz Bechara (2004, p.351). Por empréstimos, a
autora entende apenas as unidades estrangeiras, ou, na terminologia usada por Bechara (2004,
p.351), “provenientes de outras línguas históricas”
28
.
27
Ainda que, no momento em que isso acontece, a unidade (Watergate) que deu origem à combinação citada já
seja sentida como “integrada” ao português.
28
Para os conceitos de “língua histórica” e “língua funcional”, recorremos a Coseriu (1979, p.23): Uma ngua
histórica (isto é, uma língua delimitada historicamente e normalmente identificada por ‘adjectivum proprium’:
por exemplo, ‘língua alemã’, ‘língua francesa’, ‘língua inglesa’) não é, mesmo abstraindo do discurso repetido,
uma técnica homogênea do discurso, mas normalmente um complicado composto de tradições de falar em parte
coincidentes e em parte divergentes; ela oferece diferenças geográficas, diferenças entre camadas socioculturais
e entre tipos de expressão situacionalmente condicionadas (diferenças diatópicas, diastráticas e diafásicas); é
pois um conjunto de dialetos, níveis e estilos de ngua. Uma ngua funcional é uma língua delimitada dentro
duma língua histórica, e unitária sob estes três pontos de vista, por outras palavras, uma língua sintópica,
sinstrática e sinfásica, isto é, um determinado dialeto num determinado nível e na forma de um determinado
Os processos descritos até aqui podem, assim, aplicar-se tanto a elementos vernáculos
como importados, devendo-se distinguir, porém, esses “processos de formação lexical” da
“procedência dos elementos que compõem o léxico”.
A fim de facilitar a compreensão do fenômeno do neologismo em sua complexidade,
propomos uma nova taxonomia que distinga os diferentes níveis de análise mencionados.
2.3.1 Uma proposta de taxonomia
A nossa taxonomia distingue:
a) a origem do elemento neológico;
b) os “algoritmos”
29
que produzem o neologismo.
Palavras como bombril e xerox, por exemplo, surgiram como nomes próprios, marcas
registradas de determinados produtos: respectivamente, “esfregão de de aço” (HouE (2001,
s.v. bombril)) e “máquina usada na reprodução de texto ou imagem” (HouE (2001, s.v.
xerox)). Em HouE (2001), encontramos no registro de uso dos dois verbetes: “marca
registrada que passou a designar o seu gênero”.
No primeiro caso, temos uma unidade vernácula, formada, conforme HouE (2001, s.v.
bombril), pela junção de bom (adjetivo) e bril (redução de brilho). Em xerox, temos uma
unidade importada de outra língua, que, além de designar a máquina que reproduz textos e
imagens, isto é, que faz fotocópias, passa a designar a própria fotocópia, por metonímia.
Vêem-se processos intrínsecos à língua portuguesa que se aplicam a palavras de quaisquer
procedências.
estilo. Designa-se por ‘funcional’, porque é precisamente a língua que funciona imediatamente no falar: não se
fala nunca ‘alemão’ sem qualquer determinação, mas sempre uma determinada forma de alemão. Num texto
podem encontrar-se línguas funcionais diferentes, porém em cada ponto do texto é apenas realizada uma
determinada língua funcional, e isto porque só esta língua funciona realmente. Normalmente, se poderão
estabelecer ulteriormente unidades e estruturas comuns a línguas funcionais diferentes dentro duma língua
histórica ou até toda a língua histórica”.
29
Empregamos o termo “algoritmo” por julgarmos fundamental o conjunto de opções de que dispõe a língua
portuguesa para criar novas unidades. Segundo Blackburn (1997, s.v.), algoritmo é o “conjunto de regras ou
instruções que resultarão na solução de um problema”. Todo neologismo obedece a um padrão, tanto no plano da
forma como no do conteúdo, ou seja, é uma opção realizada dentro de um conjunto de regras. É, portanto, uma
“solução algorítmica”.
A palavra Mogigate, mencionada, é outro exemplo de processo de formação lexical
no português brasileiro aberto à importação de elementos estrangeiros. Recentemente,
acompanhamos o surgimento de outras unidades com o mesmo sufixo: Paloccigate, para
designar o escândalo envolvendo o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci (Vj 05/04/06,
p.32); e Aerusgate, referente à intervenção do governo federal no fundo de pensão dos
funcionários da Varig, o Aerus (ZH 13/04/06, p.33).
Os neologismos, sejam de procedência vernácula ou estrangeira, por sua vez, nascem
por processos que ocorrem dentro da língua e que classificaremos em:
a) processos formais (novo significante);
b) processos sêmicos (novo significado);
c) processos de incorporação de signo;
d) transposição funcional.
A seguir, desenvolvemos cada um deles.
2.3.1.1 Processos formais (novo significante)
Nos processos formais ou de mudança de significante, observamos uma alteração na
forma de uma ou mais unidades léxicas já conhecidas originando uma nova. É um mecanismo
muito fértil de criação lexical na língua portuguesa, especialmente por composição e
derivação.
Constatamos nesse tipo de processo duas possibilidades:
a) de combinação;
b) de redução.
Os processos combinatórios utilizam-se de conjuntos finitos e conjuntos infinitos.
Os primeiros abrangem formações criadas a partir de elementos limitados na língua
30
, os
afixos, que geram palavras como secretariável, besteirol, chavista, bolivariana e caroneiro,
30
A rigor, não poderíamos falar em conjuntos “limitados”, uma vez que se admite a possibilidade de unidades
léxicas estrangeiras (infinitas) adquirirem “valor sufixal”, como vimos em Mogigate (v. p.24), mas mantemos
aqui classificação já consagrada.
por acréscimo de sufixo; microssaia, superlotação, megafábrica e desburocratizar, por
acréscimo de prefixo; e enceguecer, endinheirado, abilolar e emparedar, por parassíntese,
isto é, acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo.
Alguns afixos, como -inho (-zinho), -inha (-zinha), -ex e -mente, são tão sistemáticos e
recorrentes na língua que se torna difícil delimitar quando as palavras formadas por eles
constituem um neologismo. Os dicionários só as incluem em sua macroestrutura quando
ocorre uma mudança de significação, como em camisinha
31
, que deixa de ser apenas uma
“camisa pequena” para significar também “preservativo”, bondinho
32
(“carro de elevador de
rua ou teleférico”) e lindinha
33
(“cachaça”). Em jeitinho
34
e marquetezinho
35
, também não se
está falando de um “jeito ou de um marketing pequenos”, mas, respectivamente, de uma
“maneira hábil, esperta, astuciosa de conseguir algo” e de um “marketing de baixa categoria”.
É o sufixo -inho (-zinho) que confere a essas palavras um caráter informal ou pejorativo.
Os conjuntos infinitos referem-se às unidades léxicas que se combinam na formação
de compostos. A composição, conforme Bechara (2004, p.355), “consiste na criação de uma
palavra nova de significação única e constante, sempre e somente por meio de dois radicais
relacionados entre si”, o que não impede “que um dos elementos do composto seja ele mesmo
já um composto”.
Para Dubois et al. (1997, s.v. composé), “chama-se palavra composta uma palavra que
contenha dois ou mais de dois morfemas lexicais e que corresponda a uma unidade
significativa”
36
.
Ambas as definições se mostram insuficientes para o caso de orações inteiras como as
destacadas por Bechara (2004, p.356): Deus-nos-acuda, (mais vale um) toma (que dois) te
darei e (os) disse-me-disse. Porém, uma definição mais ampla poderia abrir a fronteira para os
derivados – fronteira esta já tênue, como se percebe nas palavras de Cunha (2001, p.84):
31
HouE, 2001, s.v.
32
HouE, 2001, s.v.
33
HouE, 2001, s.v.
34
HouE, 2001, s.v.
35
Vj 08/03/06, p.26.
36
[on appelle mot composé un mot contenant deux, ou plus de deux, morphèmes lexicaux et correspondant à une
unité significative]
Poderia-se discernir as formações em que entram prefixos que são meras
partículas, sem existência própria no idioma (como des- em desfazer e re- em
repor), daquelas de que participam elementos prefixais que costumam funcionar
também como palavras independentes (assim: contra- em contradizer, entre em
entreabrir). No primeiro caso haveria derivação; no segundo, seria justo falar-se em
composição.
E de Bechara (2004, p.357):
Vários autores fazem da prefixação um processo de composição de
palavras. Os prefixos assumem valor semântico que empresta ao radical um novo
significado, patenteando assim a sua natureza de elemento mórfico de significação
externa subsidiária.
Além disso, cabe lembrar o caso dos “pseudoprefixos” ou “prefixóides”, revelados na
“recomposição” (CUNHA, 2001, p.113). Nesse processo de criação lexical, um radical
assume o sentido global da unidade da qual faz parte, recombinando-se com esse novo
significado a uma outra unidade. O autor dá como exemplo, o prefixo -auto (do grego autós =
“próprio”, “de si mesmo”), que se emprega com seu significado original em autodidata e
autógrafo, mas também como forma abreviada de automóvel (“veículo movido por si
mesmo”) em auto-estrada e autódromo. O processo envolve uma etapa combinatória de
prefixo + radical (automóvel), uma redução (auto) e uma recombinação, que desemboca,
poderíamos dizer, num “composto por integração parcial” (auto-estrada).
De qualquer modo, mantemos a divisão tradicional de “derivados” e “compostos”,
apresentando para estes a seguinte classificação geral:
a) compostos por integração, quando se constituírem da junção de palavras inteiras
(passatempo, amor-perfeito) ou com pequenas alterações (aguardente, fidalgo), que serão:
homolexêmicos, se essas palavras forem iguais, como troca-troca e pega-pega; ou
heterolexêmicos, se forem diferentes, como e-maildependência, entrevista-churrasco,
blogosfera e Deus-nos-acuda.
b) compostos por integração parcial, quando se referirem a criações formadas por
partes de palavras (morfêmicos)
37
, como portunhol, brasiguaio e showmício, ou suas iniciais,
compondo as siglas (não-morfêmicos).
Os processos de redução abrangem o que alguns autores chamam de “abreviação”;
outros, “truncação”; e outros ainda, “derivação regressiva”. Alves (1994, p.68-69) considera a
“truncação” um “tipo de abreviação em que uma parte da seqüência lexical, geralmente a
final, é eliminada”. Como exemplos, cita as palavras níver (de aniversário), euro (de europeu)
e coq (de coquetel). Bechara (2004, p.371) menciona como exemplos de “abreviação” as
unidades extra (de extraordinário ou extrafino) e foto (de fotografia), e inclui, como “caso
especial de abreviação”, as siglas: ONU (Organização das Nações Unidas), PUC (Pontifícia
Universidade Católica) etc.
Bechara (2004, p.372) exemplifica o que chama de “conversão” (e que chamaremos,
mais tarde, de “transposição”) com alguns casos em que se dá “a passagem [...] de um grupo
de vocábulos (geralmente a final) a palavra isolada: Ele tem certas fobias”, em vez de
fotofobias, xenofobias ou outras. Ocorre, nesse caso, uma mudança na função da partícula -
fobia, porém, em relação ao significante, o que se observa é simplesmente uma “redução”
ou, poderíamos dizer, conforme a terminologia do autor, uma “abreviação”.
Nicola e Infante (1989, p.75) consideram como exemplos de “derivação regressiva” as
formações china (de chinês), comuna (de comunista) e estranja (de estrangeiro). Um
exemplo mais recente poderia ser *ceva (originado, talvez, de cerveja ou cevada).
2.3.1.2 Processos sêmicos (novo significado)
Uma unidade léxica já conhecida pode adquirir novas significações por meio de:
a) figuras de linguagem;
b) etimologia popular;
c) empréstimo semântico (decalque).
37
Optamos por chamá-los “compostos por integração parcial” em oposição a “compostos por integração” e
“morfêmicos”, em oposição a “não-morfêmicos”, mas também encontramos para eles as seguintes
denominações: “palavras-valise”, “cruzamentos vocabulares”, portmanteau”, “contaminações” e
“combinações” (cf. ALVES, 1994, p.69; BECHARA, 2004, p.372).
Nas três situações, ocorre uma mudança na estrutura sememática dos signos em
questão (cf. Schifko (1992)).
No primeiro caso, temos, por metáfora, as palavras blindagem
38
, que no noticiário
político passou a designar “proteção”; mala
39
, que se entende por “indivíduo inconveniente,
maçante”; e abobrinha
40
, por “conversa superficial”. Também temos aqui, pelo processo de
metonímia, palavras que se originaram dos “nomes-fantasia” ou marcas dos produtos que eles
designam, como gilete, modess, bombril, xerox e aspirina.
Bechara (2004, 397) enumera como causas que motivam a mudança de significação
das palavras”, além da metáfora e da metonímia: a catacrese, a braquilogia ou abreviação, o
eufemismo, as alterações semânticas por influência de um fato de civilização e a etimologia
popular.
Por “catacrese”, entende a “translação do significado por esquecimento do significado
original”, como se em panacéia universal (originalmente, panacéia: “remédio para todos
os males”) e bela caligrafia (caligrafia: “boa letra”); por “braquilogia” ou “abreviação”, “as
diversas acepções de uma palavra devidas à elipse do determinante ou vice-versa, como em
“dou-lhe a minha palavra(isto é, “palavra de honra”) e “vamos à cidade” (isto é, ao “centro
da cidade”); por “eufemismo”, a translação de sentido pela suavização da idéia, como finar-
se, falecer e dar o último suspiro (“morrer”) e abrideira, água-que-gato-não-bebe
(“cachaça”); por “influência de um fato da civilização”, entende, por exemplo, tonto
(“louco”), que nos remete ao tempo em que se rapava a cabeça aos loucos, e (de) cor (“saber
guardar”), de “coração”, quando este era tido como a sede dos sentimentos, da inteligência e
da memória (BECHARA, 2004, p.397-400).
Vemos que, em todos os casos, trata-se de figuras de linguagem
41
: o que autor chama
de “braquilogia” ou “abreviação”, podemos considerar exemplos de metonímia; o que cita
como “eufemismo” não deixa de ser também metáfora, bem como os casos “influenciados por
fatos de civilização”.
Os exemplos de mudança por etimologia popular referem-se àquelas unidades que, por
semelhanças formais a outras unidades, passam a ser empregadas com a significação destas.
Segundo Melo (2001, p.227), trata-se de um “processo de modificação e de formação de
38
ZH 13/04/06, 74.
39
Hou (2001, s.v.)
40
Hou (2001, s.v.)
41
As figuras de linguagem consistem nos “aspectos que assume a linguagem para fim expressivo, afastando-se
palavras, e, às vezes, até de frases, muito caro ao
em espanhol como decalque, isto é, como um rótulo buscado na língua receptora que imita a
metáfora da língua originária.
Kiesler (1993) distingue no decalque a “tradução literal emprestada”, ou conforme
Haensch (apud KIESLER, 1993), o “decalque por tradução integral”, da “tradução livre
emprestada”. A primeira tem como exemplos: arranha-céus (do inglês skyscraper), cachorro-
quente (do inglês hot dog), supermercado (do inglês supermarket), guerra fria (do inglês cold
war) e, no espanhol, ratón (do inglês mouse). A segunda se forma sobre o modelo de uma
palavra estrangeira de forma livre e parcial, como em fuga de cérebros (do inglês brain
drain), em vez de *drenagem de cérebros. Essas diferenças, porém, tornam-se menos nítidas
quando pensamos numa unidade como disco rígido, do inglês hard disk, que poderia ter sido
traduzida por “disco rijo” ou “disco duro”.
Os exemplos citados ratón, disco rígido, arranha-céus são importados por não
haver, no momento em que isso ocorre, correspondentes vernáculos para as realidades que
designam. Algumas vezes, porém, as acepções importadas decorrem de traduções mal-feitas,
como se com realizar, assumir e papel, utilizadas no lugar de perceber, supor e
documento, por influência das inglesas (falsos cognatos) to realize, to assume e paper.
Podemos citar também como decalque no nível fraseológico o fenômeno chamado na
imprensa de “gerundismo”
43
, que consiste no emprego excessivo e/ou desnecessário de
formas no gerúndio, especialmente por parte de operadores de telemarketing, que contatam o
cliente dizendo que “estarão transferindo”, “estarão confirmando” ou “estarão enviando”, em
vez de “vou transferir”, “vou confirmar” ou “vou enviar”. A origem do gerundismo teria sido
a tradução literal de manuais de call center escritos em inglês, com frases prontas que
aparecem na tela do computador enquanto o operador de telemarketing fala com o cliente.
2.3.1.3 Processos de incorporação de signo
Além do surgimento de palavras novas por mudanças nos significantes ou
significados, encontramos ainda palavras que entram “inteiras” na língua, com significante e
significado próprios, ainda que, uma vez na língua receptora, venham a passar pelos processos
de criação lexical próprios dessa língua. Elas podem:
43
OS 06/06/2005, p.13.
a) manter a grafia original do idioma do qual provêm, como spam, e-mail, chat, roller
e shopping center (estrangeirismos);
b) adaptar-se fonológica e graficamente ao idioma que as recebe, como uísque, iene e
escâner (empréstimos), que convivem ainda com as formas whiskey, yen e scanner);
c) numa adaptação ainda maior, receber uma versão traduzida, constituindo um
empréstimo semântico (decalque), examinado no item precedente.
Em geral, será o uso a determinar se a palavra estará em a) ou b). O fato, talvez, de
uma palavra ser inicialmente mais grafada em sua forma original (estrangeira) do que ouvida
ou pronunciada poderá fixá-la nessa forma. Se, porém, ela for mais ouvida do que visualizada,
poderá, no momento em que se quiser reproduzi-la por escrito, dar origem a forma(s)
“aportuguesada(s)”. Mais tarde, então, instrumentos normativos como o Vocabulário
Ortográfico da ngua Portuguesa (VOLP) e dicionários se encarregam de determinar a
forma padrão.
Escritores e jornalistas têm grande influência no modo como essas palavras serão
incorporadas à língua e, freqüentemente, exercem sua autoridade sobre ela. O colunista do
jornal Zero Hora Davi Coimbra costuma aportuguesar expressões estrangeiras como recurso
estilístico. Assim, para ele, e-mail é imeil, oh yeah vira ouié e o grupo musical Bee Gees, Bi
Dis. Naturalmente, seus leitores o compreendem, podendo imitá-lo ou não.
Os decalques parecem estar na divisa entre um processo de incorporação de
significado e de incorporação de signo, especialmente no caso das unidades sintagmáticas
cachorro-quente, arranha-céus, disco rígido –, que existem na ngua receptora, mas não
combinadas dessa forma. Essa “nova combinação” ou “nova forma”, associada a um novo
significado, poderia incluí-las num processo de incorporação de signo.
Podemos considerar também como unidades formadas por incorporação de signo as
onomatopéias, já que nelas se associa um conteúdo a uma nova forma gráfica. Gírias e
termos técnicos poderiam ser sentidos como “alheios” à língua e, portanto, também
enquadrados nos processos de incorporação de signo, porém são alheios somente à ngua
padrão; pertencem a uma língua histórica desde o momento de seu surgimento em grupos
restritos.
Nem todos os estrangeirismos, como já foi dito, entram na língua por incorporação de
signo. O substantivo inglês gate se insere no português com valor sufixal para se combinar a
outras unidades num processo mórfico. Outras vezes, importa-se o conteúdo semântico de
uma unidade estrangeira, num processo sêmico, como o da palavra marcar, que adquire uma
nova acepção em marcar (um gol), originária de seu similar francês, marquer (un but),
conforme Kiesler (1993, p.517), e da já citada ratón.
2.3.1.4 Transposição funcional
Existe ainda um processo neológico pelo qual as palavras adquirem, não uma nova
forma ou significação, mas uma nova função, identificada pelo contexto. É o que Alves
(1994, p.60) chama de “conversão” ou “derivação imprópria” e que chamaremos de
“transposição”.
Câmara Jr. (1997, s.v. transposição) a define como o “processo gramatical que
consiste em dar a um termo uma aplicação diversa da que lhe é própria”. Segundo ele, “a
retórica greco-latina considerava-a na figura de linguagem”, porém trata-se de “um
mecanismo lingüístico muito mais amplo e fundamental [...] condicionado pelo fenômeno da
polissemia”: “a função e significação mais comum, dita congruente [...], é desviada para uma
função incongruente, que coloca em primeiro plano certas possibilidades funcionais e
significativas já contidas na forma lingüística, como um halo marginal”.
Cunha (2001, p.104) explica que “basta, por exemplo, antepor-se o artigo a qualquer
vocábulo da língua para que ele se torne um substantivo”, como em: “esperava um sim e
recebeu um não”.
Segundo ele, explica-se por esse processo (que ele chama de “derivação imprópria”) a
passagem de: a) substantivos próprios a comuns, como damasco e quixote; b) substantivos
comuns a próprios, como Coelho e Leão; c) substantivos a adjetivos, como burro e (colégio)-
modelo; e) substantivos, adjetivos e verbos a interjeições, como silêncio!, bravo! e viva!; f)
verbos a substantivos, como afazer e jantar; g) verbos e advérbios a conjunções, como ... ;
h) particípios a preposições, como mediante e salvo; i) particípios a substantivos e adjetivos,
como conteúdo e resoluto.
Nos dois primeiros casos, porém, temos exemplos de metonímia, que consiste,
conforme Câmara Jr. (1997, s.v.) “na ampliação do âmbito de significação de uma palavra ou
expressão [...]”, e não em uma mudança de função. No terceiro, temos uma metáfora em
burro, e uma composição com o substantivo modelo, que, ligado a um outro substantivo,
adquire valor sufixal.
Alves (1994, p.60) oferece como exemplos de conversão” [transposição] os adjetivos
e verbos empregados substantivamente, como semi-elaborados, no lugar de produtos semi-
elaborados, e (o) digladiar; certos prefixos, como vice-, pós-, e super-, que ganham valor de
substantivo, passando a significar, respectivamente, vice-presidente, pós-graduação e
supermercado; e prefixos combinados a substantivos, formando adjetivos, como (coleira)
anti-pulgas e (solução) pós-carnaval.
Para Bechara (2001, 372), “como a conversão [transposição] não repercute na
estrutura do significante de base, muitos estudiosos, com razão, não a incluem como processo
especial de formação de palavras”. Porém, considerando a palavra, com Rocha (2003, 70),
como uma unidade constituída de significante, significado e função, julgamos necessário
incluir esse processo em nossa taxonomia.
Como se viu, esses quatro processos de criação neológica muitas vezes se sobrepõem,
devendo ser entendidos como uma classificação meramente didática que nos permitirá
abordar o neologismo, nosso objeto de análise, com mais clareza, sob diferentes aspectos.
A seguir, oferecemos um esquema do modelo taxonômico até aqui exposto:
Esquema 1: Proposta taxonômica
PROCESSOS
FORMAIS
(NOVO
SIGNIFICANTE)
PROCESSOS
SÊMICOS
(NOVO
SIGNIFICADO)
PROCESSOS DE
INCORPORAÇÃO
DE SIGNO
PROCESSOS DE
TRANSPOSIÇÃO
FUNCIONAL
COMBINATÓRIOS
DE REDÃO
("abreviação", "truncão",
"derivação regressiva")
CONJUNTOS
FINITOS ("derivados")
CONJUNTOS
INFINITOS
("compostos")
COMPOSTOS
POR
INTEGRAÇÃO
homolexêmicos
heterolexêmicos
COMPOSTOS
POR
INTEGRAÇÃO
PARCIAL
morfêmicos
não-morfêmicos
FIGURAS DE LINGUAGEM
ETIMOLOGIA POPULAR
EMPRÉSTIMO SEMÂNTICO
ESTRANGEIRISMOS
EMPRÉSTIMOS
GÍRIAS
TERMOS
ALGORITMOS PARA A FORMAÇÃO DE NEOLOGISMOS
3 A NORMA LINGÜÍSTICA
No primeiro capítulo, apresentamos uma taxonomia com base em algoritmos capazes
de gerar novas palavras. A identificação desses algoritmos mostra o quanto a formação de
palavras é um fato natural, espontâneo, inerente à língua. No entanto, ainda que assim o seja,
o neologismo costuma ser “incômodo”, pois atua em uma estrutura que se tem como
relativamente estável.
Na realidade, essa parte relativamente estável da língua, que parece ameaçada pelo
fato novo que é o neologismo, constitui a norma”, da qual falaremos a seguir. Além dela,
existe uma outra, ideal, que corresponde aos anseios normativos das pessoas em geral, a um
“bem-dizer” que se estabelece a partir de uma rie de critérios (que também serão discutidos
neste capítulo).
Em meio à tradição e às expectativas que envolvem a língua, o neologismo se insere
ora como variação necessária, ora como transgressão a ser combatida. Ele é logo julgado
como “bom” ou “mau”, “certo” ou “errado”. Palavras novas que definem objetos, situações
ou fenômenos novos, mesmo estrangeiras, como impeachment e mensalão, e palavras com
novos significados adquiridos por meio de figuras de linguagem, como mala (“maçante”),
parecem ser mais bem aceitas entre os falantes; enquanto palavras novas que já tenham
equivalentes, como nominar (“indicar”), e novos significados adquiridos por etimologia
popular, como falaz (que passa por “falador”), tendem a ser rejeitadas, quando identificados
seus concorrentes ou significados originais.
Nas próximas linhas, introduzimos alguns conceitos importantes para que se possa
buscar o lugar do neologismo na língua e as formas de se lidar com ele.
É com Coseriu (1973) (1979) que iniciamos essa busca.
3.1 DISTINÇÕES COSERIANAS
Em resposta à idéia de uma língua una, homogênea, relevante apenas como sistema de
oposições funcionais - conforme se passou a entendê-la a partir de Saussure (1998) -, Coseriu
(1973) (1979) introduz algumas distinções importantes para o estudo dos câmbios
lingüísticos: os conceitos de “língua histórica”, “língua funcional” e “norma lingüística”.
Por meio deles, é possível enxergar uma língua heterogênea, composta de várias outras
línguas (ou “subsistemas”), mas, ainda assim, unitária, representada por uma língua padrão ou
exemplar.
3.1.1 Língua histórica
Uma língua histórica, para Coseriu (1979, p.23), significa uma língua delimitada
historicamente, como, por exemplo, a língua alemã, a língua francesa ou a língua inglesa.
Segundo ele, quando nos perguntamos apenas “como é” uma determinada língua, não a
estamos considerando como um “objeto histórico”, mas simplesmente como um objeto entre
outros da mesma espécie, como um sistema oposto a outros sistemas, o que corresponde a
uma visão estrutural desse objeto. Se nos perguntarmos, porém, “por quê uma língua é desse
modo e não de outro” ou “que língua é essa”, as respostas deverão resultar, de algum modo,
numa narrativa, isto é, numa “história”.
A língua que não muda, segundo Coseriu (1958, p.10), é a língua abstrata, que
consiste, na verdade, numa determinada “idéia de língua”, limitada às gramáticas e aos
dicionários, além da língua considerada sincronicamente. A língua real, segundo ele, “em seu
existir concreto” (ou, poderíamos dizer, em seus vários falares concretos”) é uma língua que
muda, uma “língua histórica”.
Essa língua histórica, ainda conforme Coseriu (1980, p.113), “não pode ser descrita
estrutural e funcionalmente como um sistema lingüístico, como uma estrutura unitária e
homogênea”; ela é, ao contrário, um conjunto de sistemas, um “diassistema”, constituído de
“dialetos”, “níveis” e “estilos de língua” diversos
44
.
Os dialetos ou “unidades sintópicas” compreendem as variedades regionais de uma
língua histórica; os níveis ou “unidades sinstráticas” abrangem os estratos socioculturais; e os
estilos ou “unidades sinfásicas”, as modalidades expressivas (como o estilo familiar, formal,
informal etc.).
44
Mais tarde, como relata Welker (2004, p.131), esse modelo de diassistema é ampliado para o uso na
metalexicografia, abrangendo as seguintes variedades: diacrônicas, diatópicas, diaintegrativas, diamediais,
diafásicas, diatextuais, diatécnicas, diafreqüentes, diaevaluativas e dianormativas.
3.1.2 Língua funcional
Uma língua funcional, segundo Coseriu (1979, p.23), é uma ngua delimitada dentro
de uma língua histórica, e unitária sob os três pontos de vista mencionados (sintópico,
sinstrático e sinfásico), isto é, “um determinado dialeto num determinado nível e na forma de
um determinado estilo”. Ele explica que ela é “funcional”, porque:
[...] é precisamente a língua que funciona imediatamente no falar: não se fala
nunca ‘alemão’, por exemplo, sem qualquer determinação, mas sempre uma
determinada forma de alemão. (COSERIU, 1979,
p.
23)
E complementa:
Num texto, podem encontrar-se nguas funcionais diferentes, porém em
cada ponto do texto é apenas realizada uma determinada língua funcional. Unidades
funcionais podem ser identificadas na língua funcional, e isto porque esta língua
funciona realmente. Naturalmente, se poderão estabelecer ulteriormente unidades e
estr6.33537(n)5.72023(c)-2.05734(i)a34(l)-11.3345(m)6.4428(p)-6.3339(o9911.3349(n)5.7217(t)0-2.05734(n)5.7217c)-2.05734(i)0.72104(e)-2.0544( 9911.33468(q)-6.3339(u9911.33445(n)-6.3339(g)-6.3339(u5.7217(a)-2.0544( )250]TJ-208.80.3338(n)5.7217(a)1)-66677(n)5.7217(c)-2.05734(i)0.721099(o)]TJ208.808 0 Td[()-2.05734(i)0.721099(s)-8.83567( )-135.779(d)-6.3339(i9911.2099(a)-2.05734(t)0.72104(r)-4.55617(e)-14.1129(n)5.7217(t)0.721099(ea)-2.05734(,)-3.16695( )-51.384(e)-2.0544( 9911.334[(i)-2.(c)]69e)-2.057(t)0.721099(ea)-2.05734(,)-3.16629(n)5.72174(e)-2.05734(9911.334[(-2.0544( )-2.05734( s)3.21993( q)-6.3339(u9911.33445(n)-6.3339(g)-6.3339(u5.7217(a)-2.0544( )250]TJ-208.80.333(a)1)-66677hd)-6.3339(a)-2.05442(a)-2.0544( )-39.333ó(m)18.4984(e)-14.1129(a)-2.0544c214.452 -8(l)0.724042(9911.334o(-2.0544( )-2.0573411.52 Td[(ec)]69e734(s)3.221499(a)]TJ217.213 0 Td95(a)-2.05734(p)-6.3339( )-3.16695(é)-2.057334( )-3.16695(p)-6.33537(o)-6.33599(n)-6.3339(g)5.7217(u)5.7217(a)-2.0544( )250]TJ-208.80.333(a)o)-6.335hd)-6.3339(g)-6.33399(a)-2.05734(b)-6.333ó(m)18.4984(e)-14.1129(a)-22.05734(l)-11.3345(m)18.49895(()-4.55617(C)3.94103(O)-1.33624(S)1.4422(E)-.724042(R)3.94103(I)-4.55617(U)-1.33624(,)-3.16695( )-3.16695(1)-6.3339(9)-6.33399(a)-22.057b(a)-2.05734(t)0.7210[(-2.0544(764( )]TJ86.76 Td 0 1 121.08 511.04 Tm[(E)06.333822 -24 )'448.- )Tj26.76 Ti)-2.1657792(1)-0.294974(.)-0.147792(2)-0.294974( )-10.17792(1)-0.29o)-0.295585(N(a)3.793439(q)-0.295585(u)-.16558(n)-0.295]TJ26028 Td( ) )Tj26.76 TLT*[(U)1.57442(m)-2.4599A(a)3.74( 3(u)-q)-36558(a)3.74(:39(q)-0.295585(u)-.16558(n)-0.295]TJ261714(“)3.74(u)-0)-q)-36p)-2.16436(”)3240.859585(u)-.165)2.80561(u)-q seru240.859585(u)-.16558(o)-0.295938(()2.80439(15q)-3312(i)-2.68395585(7)-0.295585(9)-0.298585(9)-0.290571( )-80.1948(p)-0.295580.999386 0 0 1 411.48 554.24 Tm[(27-6.33302.6)250]TJ/777e ela:39(q)-0.2955lné85(u)-0.2939(15q)-35(m)-2.45995(p)-0.29585(u)-0.29rnin
(ou uma “norma ideal”, se levarmos em conta a referência do autor quanto ao dialeto toscano
adotado como norma ideal do italiano comum
45
).
O sistema, para Coseriu (1958, p.31), é um conjunto “de possibilidades, de
coordenadas que indicam os caminhos abertos e os caminhos fechados de um falar
compreensível em uma comunidade”
46
; representa, neste sentido, a “dinamicidade da língua”.
A norma é “um sistema de realizações obrigatórias”
47
, consagradas social e
culturalmente, abarcando, portanto, somente o realizado, “aquilo que já se disse”,
correspondendo “à fixação da língua em moldes tradicionais” (COSERIU, 1958, p.31). Por
“obrigatoriedade”, Coseriu (1958, p.24) entende não uma “imposição externa”, e sim um
“compromisso contraído”, uma “obrigação consentida”
48
.
Esse tipo de norma a que ele se atém difere da concepção de norma que se tinha até
então, como o próprio autor ressalta:
[...] não se trata da norma no sentido corrente, estabelecida ou imposta segundo
critérios de correção e de valoração subjetiva do expressado, mas da norma
objetivamente comprovável numa língua, a norma que seguimos necessariamente
por sermos membros de uma comunidade lingüística, e não aquela segundo a qual
se reconhece que “falamos bem” ou de maneira exemplar na mesma comunidade
49
.
(COSERIU, 1973,
p.
90)
De maneira geral, Coseriu (1973, p.90) chama o primeiro tipo de “norma normal”,
“norma de realização” ou, simplesmente, “norma”, e o segundo, de “norma exemplar”.
A norma exemplar pressupõe a existência de outras normas (não-exemplares), o que
significa que ela se dá (como uma opção consentida) numa língua histórica e não numa língua
funcional (que possui uma única norma de realização).
45
Cf. Coseriu (1980, p.122).
46
[posibilidades, de coordinadas que indican los caminos abiertos y los caminos cerrados]
47
[un sistema de realizaciones obligadas]
48
[[...] no es la “obligatoriedad”, en el sentido de imposición externa, sino lo que para destacar el sentido
etimológico del término – podría llamarse “ob-ligatoriedad”: tienen el carácter de empeño o compromiso
contraído, de
Coseriu (2000, p.80) fala de uma língua exemplar como “forma idealmente unitária”
da língua comum de uma comunidade idiomática, porém, cabe destacar aqui a possibilidade
de mais de uma língua exemplar numa língua histórica. É o que se dá na língua portuguesa, na
qual podemos identificar uma norma exemplar, padrão, no Brasil, e outra em Portugal (e
outras, talvez, nos demais países lusófonos). Não são apenas “variedades diatópicas” de uma
mesma língua histórica, mas sim o padrão, a norma ideal, em seus respectivos países.
Temos, desse modo, dois tipos principais de normas:
a) uma norma real (ou de realização), numa língua funcional;
b) uma ou mais normas ideais dentro de uma determinada língua histórica
(selecionada(s) dentre as várias normas reais das línguas funcionais que a(s)
compõem), refletindo o ideal de correção, o “bem-dizer”, na língua (seja qual for o
critério alegado para essa seleção, como se verá no item 3.5).
3.2 OUTROS AUTORES
Além das normas “real” e “ideal” de Coseriu (1958), existe uma série de outros
qualificativos que costumam acompanhar o termo, dependendo do autor que o aborda ou do
enfoque que se ao tema: culta, padrão, prescritiva, preceptiva, normativa, comum, literária,
correta, estatística, gramatical, formal, informal, popular, vulgar, escrita, falada etc.
A seguir, apresentamos alguns desses tipos de normas.
3.2.1 Norma culta, norma padrão, norma exemplar
Os termos “norma culta”, “norma padrão” e “norma exemplar” são utilizados
indistintamente por alguns autores e por outros não.
Entre os primeiros estão, por exemplo, Coseriu (1958), Bechara (2000), Rabanales
(1984) e Trask (2004)
50
.
50
Trask (2004) registra uma entrada apenas para língua padrão e não para norma ou língua culta, porém no
apêndice o tradutor acrescenta um texto sobre a “definição de norma lingüística no Brasil” no qual destaca a
Rabanales (1984, p.54) fala de uma “norma culta formal” igual a uma “norma
exemplar” ou “língua padrão”, que é:
[...] o meio pelo qual é possível expressar os conteúdos mais refinados de nossa
cultura imaterial, por isso é a norma empregada predominantemente na literatura,
na chamada imprensa séria oral ou escrita nas obras científicas, tecnológicas,
filosóficas, religiosas e pedagógicas (textos de estudo); nos escritos e atos oficiais
das instituições públicas e privadas, nas reuniões protocolares, na cátedra, nas
conferências, no púlpito, no palanque. É a norma privilegiada pela comunidade,
considerada como exemplar, como modelo do bem-dizer, como forma superior do
falar, até o ponto de a sentirmos como língua padrão nacional
51
.
Coseriu (2000, p.80) chama de “língua exemplar” ou “língua padrão” aquela “que se
estabelece como forma idealmente unitária” de uma língua comum para as tarefas e atividades
culturais, políticas, sociais de toda uma comunidade idiomática.
Trask (2004, s.v. língua padrão, dialeto) define língua padrão como “a variedade de
uma língua que é considerada pelos falantes como a mais apropriada nos contextos formais e
educacionais” ou “um dialeto bastante especial de um idioma, um dialeto que foi codificado e
elaborado para ser utilizado em uma ampla variedade de domínios”.
No Brasil, porém, alguns autores, como Bagno (2001) e Lobo et al. (1991), têm
preferido distinguir norma(s) culta(s) ou variedade(s) culta(s) como aquela(s) usada(s) pelas
pessoas “cultas”, isto é, que receberam um tipo de cultura formalizado pelo sistema de ensino,
e norma padrão, como a norma apresentada nas gramáticas normativas.
Ainda que se possa, de fato, distinguir uma norma ideal, padrão, das rias normas
reais utilizadas pelas pessoas cultas e que se mesclam a normas “incultas”, a distinção
proposta costuma encerrar alguns mal-entendidos. Muitas vezes, essa norma culta que se
pretende diferenciar da norma padrão é simplesmente confundida com uma modalidade falada
da língua. É o que identifica Duarte
52
(2004, p.51): “Confrontados com o insucesso escolar,
diferença existente entre o “português culto” que emerge de trabalhos como o Projeto de Estudo da Norma
Urbana Culta (NURC) e o “português descrito nas gramáticas tradicionais”.
51
[[...] el medio por el cual es posible expresar los contenidos más refinados de nuestra cultura inmaterial, por lo
que es la norma empleada predominantemente en la literatura, en la llamada “prensa seria” oral o escrita -, en
las obras científicas, tecnológicas, filosóficas, religiosas y pedagógicas (textos de estudio), en los escritos y actos
oficiales de las instituciones públicas y privadas, en las reuniones protocolares, en la cátedra, en las conferencias,
en el púlpito, en el estrado. Es la norma privilegiada por la comunidad, considerada como ejemplar, como
modelo del bien decir, como forma superior de hablar, hasta el punto de sentírsela como lengua estándar
nacional].
52
Lingüista portuguesa, da Universidade de Lisboa.
muitos lingüistas brasileiros subscrevem a idéia de que a norma padrão deve ser construída
exclusivamente sobre a língua falada (ainda que nem sempre o explicitem)”.
Lobo et al. (1991, p.148), por exemplo, realizam um estudo para mostrar as diferenças
entre a “prescrição”, a norma padrão, representada em cinco gramáticas da língua portuguesa,
com relação à colocação dos pronomes átonos, e o uso real que as pessoas cultas (i.e. com
grau universitário) fazem desses pronomes. Esse “uso real” baseia-se em um corpus do
Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta no Brasil (Projeto NURC), que, por sua vez,
ocupa-se apenas da língua falada. O resultado do estudo revela que, na maioria dos casos, os
falantes cultos não seguem a prescrição gramatical, porém sabe-se que, em qualquer país, as
pessoas não falam do mesmo modo como escrevem.
Conforme Duarte (2004, p.52):
[...] desde o esforço modernista para acentuar a especificidade da “língua
brasileira”, em parte como reação ao purismo exacerbado das elites das gerações
anteriores, [...] manteve-se entre as elites brasileiras e, em particular, entre muitos
lingüistas brasileiros, a ilusão de que os falantes da variante européia falavam a
língua escrita das obras do cânone literário e das gramáticas que nelas se apoiavam.
recentemente o estreitamento de laços e a cooperação na investigação de
lingüistas portugueses e brasileiros tem permitido começar a desmistificar tal ilusão
e a matizar algumas proclamações de diferenciação gramatical radical habituais na
literatura lingüística produzida no Brasil a partir dos anos setenta.
Quando falamos aqui de língua falada x língua escrita, estamos nos referindo, em
realidade, não a mera realização fônica x realização gráfica, mas a um “contínuo
concepcional”, como explica Oesterreicher (2004), que situa a produção lingüística entre dois
pólos: de “informalidade ou imediatez comunicativa” (oralidade) e de “formalidade ou
distância comunicativa” (escrituralidade).
As pessoas ditas cultas utilizam em seu dia-a-dia uma grande variedade de línguas
funcionais, e, evidentemente, não apenas aquela referente à norma exemplar ou padrão
representada nas gramáticas e nos dicionários; por isso, quando se fala que a “norma utilizada
pelas pessoas cultas” (ou, simplesmente, a “norma culta”) é muito diferente da “norma
padrão” está-se dizendo que essa norma culta é, na verdade, um “conjunto de normas”,
manifestadas em vários níveis e estilos - diferentemente da norma padrão, que é relativamente
unitária e homogênea, mais reflexiva e elaborada.
Esse poliglotismo
53
dos falantes cultos, que utilizam várias “línguas” (funcionais),
dentro de uma “língua maior” (histórica), num mesmo “texto”
54
, pode tornar mais árdua a
tarefa dos lingüistas, mais especificamente gramáticos e lexicógrafos, de refletir e estimular
uma língua padrão em seu nível mais “elevado”
55
, mas nem por isso esse ideal se torna
desnecessário. Cabe a eles acompanhar e avalizar as mudanças necessárias para se garantir
esse “padrão elevado” e descartar as que possam constituir “ruídos” (sem deixar de descrevê-
las), por meio de critérios ainda a serem discutidos e aperfeiçoados.
Se é preciso que falantes cultos adaptem ou simplifiquem sua linguagem a fim de
serem compreendidos eventualmente por falantes de outras línguas funcionais que não
receberam determinada educação formal (e esses falantes cultos podem e devem fazê-lo) ou
para atender a necessidades expressivas não atendidas pela norma padrão, isso não quer dizer
que esse conhecimento lingüístico, mais reflexivo e elaborado, deva ser preterido em todas as
situações ou pouco estimulado.
Retornando a Coseriu (1958), verificamos que a distinção observada entre uma
“norma padrão” e uma “norma cultaé equivalente à que se entre uma “norma ideal” e
uma “norma real”. A norma real sempre estará à frente da norma ideal, e o problema que os
lingüistas brasileiros identificam é justamente essa distância, que eles julgam muito grande;
não é, portanto, a norma ideal em si ou o estabelecimento dessa norma, mas a permanente e
lenta atualização que deve se dar na norma ideal, a partir de critérios bem definidos.
Essa “interferência” na norma ideal é tarefa dos lingüistas que a descrevem e
sistematizam a partir de uma norma real e/ou várias normas reais, atendendo a uma
necessidade de normatividade dos próprios falantes da língua, que acorrem aos dicionários
para saber como se escreve ou o que significa determinada palavra.
53
Bechara (2005, p.148) costuma afirmar que “a verdadeira e sadia educação lingüística é fazer do falante
escolarizado um poliglota em sua própria língua”.
54
Cf. Coseriu (1979, p.23).
55
Alguns autores rejeitam a idéia de hierarquização das línguas (e, conseqüentemente, expressões como “língua
em seu nível mais elevado”), mas devemos distinguir essa idéia daquilo que Coseriu (2000, p.81) denomina
“hierarquização ingênua” e “normatividade dogmática e vulgar”. Segundo ele, a hierarquização ingênua
“interpreta erroneamente a falta de elaboração secundária como deficiência intrínseca e considera, portanto,
certas línguas como estruturalmente inferiores a outras, e as modalidades primárias da língua histórica como
corrupções da língua exemplar”. Já a normatividade vulgar “reconhece a língua exemplar como ‘correta’” e
“nas suas formas extremas, pretende que em qualquer circunstância se fale só a ngua exemplar”. Porém,
renunciar à hierarquização e à normatividade, segundo o autor, seria optar pelo igualitarismo e pelo [...]
‘liberalismo’ lingüístico”, ainda mais “danosos”.
3.2.2 Norma prescritiva, norma estatística
Ettinger (1982, p.360) reconhece as distinções de Coseriu (1958), mas se atém a dois
tipos de normas que chama de “norma estatística” ou “norma de uso” e “norma prescritiva”
ou “preceptiva”.
A norma estatística, conforme Ettinger (1982, p.361), “abarca tudo aquilo que se
aceita numa língua como uso lingüístico normal, quer dizer, tudo aquilo que corresponde ao
bom uso”, e pode ser registrada “por estatísticas
56
. Não equivale, portanto, à norma real de
Coseriu (tampouco à norma ideal em toda a sua extensão); é aquela norma que, “por
comprovação numérica, é a mais difundida e aceita, em geral, pelos falantes
57
.
É estranho que o autor fale em “bom uso” quando trata de uma norma baseada apenas
no critério da freqüência, independente de um julgamento valorativo.
A norma prescritiva é, para Ettinger (1982, p.361, 370), o registro lingüístico que,
através dos mais variados atos normativos, declarou-se como obrigatório para todos os
falantes de uma comunidade lingüística”
58
, podendo “prever uma série de restrições que não
Rey (1972, p.5) fala d.16558(a)3.a ml a nd.16558(a)3od.16558(a)3rml a r.af.a.aa àa “abd.16558(a)3svd.16558(a)3(a)3.74çe a, aa “a a a saa o bd.16553142(jl)-2.14363.aae 250]TJ-290.8 12-20.640 Td[.a .aa .a o aa rlaaa àa “alaaaaaa( )120.2175(d.16558(a)3.a)3.74( )120.2175ua]TJ2436.231 0 Td[ml ( )120.2175s a d.16558(a)3.a aaa.a, a a jlnd.16553142(tl)-2.14363od.16553142(( )120.2175(d.116559(.a)-6.23464( 250]TJ-2436.231-20.760 Td[il)-2.16558nd.165549.74tl)-2.16558.a)3.74nd.165549.74çe aaaa
3.2.4 Norma correta ou correção lingüística
Coseriu (1993, p.36) distingue três tipos de saberes lingüísticos e associa a idéia de
correção a apenas um deles: o saber idiomático. Como exemplo desse tipo de saber, ele cita o
caso de um italiano ou de um catalão, que poderiam dizer em português “vou aí” e *“venho
aí”, indistintamente, isto é, sem perceber o erro” que estariam cometendo, que em suas
línguas não existe distinção nesse caso. No nível do saber idiomático, tem-se, conforme
Coseriu (1993, p.35), “tudo aquilo que constitui uma regra, uma função própria de uma
língua”, enquanto o desvio a essa regra “é uma incorreção nessa língua, podendo não sê-lo em
outra”.
Os demais saberes lingüísticos, segundo o autor, são o saber elocucional, ao qual
corresponde a idéia de “coerência” ou “congruência”, e o saber expressivo, que encerra as
idéias de “apropriado” e “inapropriado”.
O saber elocucional se refere a “um conjunto de princípios gerais do pensar” e a “um
conhecimento geral humano das coisas, isto é, da realidade extralingüística da qual se fala”
(Coseriu (1993, p.32)). O exemplo que o autor fornece para esse tipo de saber consiste num
desvio à sua realização normal: na frase Os cinco continentes são quatro: Europa, Ásia e
África” não é um “erro de português” que se verifica, mas um “‘erro’ no modo de se pensar”,
que o autor prefere chamar de “incoerente” ou “incongruente” (reservando o termo
“incorreto” para o desvio verificado no nível do saber idiomático).
O saber expressivo é “o saber estruturar textos, o saber falar em situações
determinadas de acordo com os tipos de fatores da situação em que se fala, com a pessoa ou
as pessoas a quem se fala, de acordo com as coisas de que se fala e com as circunstâncias em
que se fala” (Coseriu (1993, p.35)). Quando alguém, por exemplo, utiliza uma expressão
vulgar num ambiente solene, desvia-se da realização normal desse tipo de saber, constituindo
não uma “incorreção idiomática”, mas um discurso “inapropriado” (que se desdobra, por sua
vez, em “inadequado”, com respeito às coisas de que se fala, “inconveniente”, com respeito
ao destinatário do discurso, e “inoportuno”, em relação às circunstâncias do falar (Coseriu
(2000, p.79-80)).
Bechara (2005, p.148) afirma que cada variedade de uma língua tem sua própria
norma de correção. Assim, segundo ele, existe, por exemplo, uma norma popular que diz
*sastisfeito e *framengo e que está “correta” na comunidade a que pertence.
É o que diz também Carvalho (2003, p.157):
A correção consiste [...] na observância da norma lingüística própria do
grupo a que o indivíduo pertence e ainda das circunstâncias momentâneas em que
se exprime, isto é, a obediência à norma adequada a cada indivíduo, segundo o
quadro social em que está integrado e a finalidade expressiva ou comunicativa
específica de cada um dos seus atos lingüísticos.
Segundo ele, “o critério de correção gramatical ou expressiva não é o mesmo para
todos os membros da comunidade”, ou seja:
Não comete erro, na medida em que realiza a norma lingüística própria do
seu grupo social e cultural, o aldeão que diga andemos por andamos, semos ou
samos por somos, formas que seriam inadmissíveis na boca de um citadino
medianamente culto (CARVALHO, 2003, p.157).
Seguindo-se a terminologia de Coseriu (1993, p.36), porém, as formas mencionadas
não estariam nem corretas” nem “incorretas”, e sim “apropriadas” em determinada
comunidade e “inapropriadas” em outras.
Costuma-se associar, muito freqüentemente, a norma ideal refletida nos dicionários e
gramáticas à norma correta, como se tudo o que não estivesse nessas obras fosse
automaticamente “incorreto” ou “inexistente”. Os neologismos de fato “inexistem” na norma
ideal (padrão, exemplar), pois esta é sempre posterior à norma real da língua funcional em que
se baseia (v. 3.1.3). Isso não significa que sejam incorretos ou inexistentes em outras línguas
funcionais. A partir do momento em que são incorporados à norma ideal, costumam deixar de
ser considerados neologismos
60
.
Buscando tratar o problema de forma mais ampla e levando em conta a renovação do
léxico, Rabanales (1984, p.53) propõe, no lugar das expressões “correto” e “incorreto”, as
60
A inclusão de uma palavra no dicionário, mesmo com alguma marcação diassistêmica, pode representar o
momento em que ela "deixa de ser" um neologismo. Porém, antes que isso ocorra (se é que venha, realmente, a
ocorrer), temos um neologismo quando: a) a palavra é de fato nova em sua forma, conteúdo e/ou função, isto é,
nunca havia sido registrada em qualquer ngua funcional, como mensalão; b) a palavra já existia numa
determinada língua funcional, mas não em outra (por isso, é um neologismo nesta, que pode vir a ser a “língua
culta”, isto é, a norma real das pessoas ditas cultas), como baratinados (“preocupados”, “perturbados”, da gíria
dos toxicômanos, vulgarizado pelo contato desse grupo com a sociedade contemporânea (cf. Preti (2002,
p.196))); e c) a palavra já existe numa determinada língua histórica, mas é nova em outra (o que a torna
neológica nesta), como piercing.
seguintes categorias: “culto” e “inculto”, “formal” e “informal”, “genuíno” e “falso”,
“necessário” e “desnecessário” e “exato” e “inexato”.
Como exemplos de formas cultas e incultas, cita, respectivamente, em espanhol,
anduve, anduviera e andé, andara. Como “informais”, as palavras plata, lindo, tragar, frente
às “formais” dinero, bello, deglutir. Como “genuínas” carné e boxeo, frente às “falsas” carnet
e box, cujas estruturas fonológicas não pertencem ao espanhol, pois não se admite –t e –x ao
final de uma palavra que não seja sigla, onomatopéia ou interjeição. Como “desnecessárias”,
os sinônimos explosar e explosionar, junto à “necessária” (por já existir antes daquelas)
explotar, e concretizar, junto a concretar. Como “inexatas”, as palavras antiproyecto,
antidiluviano e restrospectivo, em vez de anteproyecto, antediluviano e retroactivo, já que, ao
se confundir uma palavra com outra de forma semelhante, mas significado diferente, estará se
dizendo uma coisa por outra.
Aplicando-se as categorias do autor a exemplos extraídos do MaESP (1997) e do
MaFSP (2006), temos, por exemplo:
a) convalescença, corriola e coxão (carne), como formas cultas, e *convalescência,
*curriola e *colchão como formas incultas;
b) câmpus e chique, como formas genuínas, e campus e chic, como falsas;
c) embasar, *nominado e performance como desnecessárias, frente às sinônimas
“necessárias” fundamentar/basear, indicado e desempenho/atuação;
d) famigerado, com o significado inexato de “bandido”, em vez do exato “famoso”, e
penalizar, com os significados inexatos de “castigar”, “punir” e “prejudicar”, no lugar dos
exatos ”causar pena ou desgosto a”, “magoar”, “afligir”;
e) *muso e relax, como informais, frente às formais “homem bonito” e “relaxamento”.
Com relação a esta última dicotomia, sentimos falta de uma categoria intermediária,
que situaria “homem bonito” e “relaxamento” num registro “neutro”, mais do que num
registro “formal”; com relação à primeira dicotomia, podemos admitir mais de uma forma
culta, como nas variantes laosiano/laociano e vietnamense/vietnamita.
Quanto à categoria de sinônimos necessários e desnecessários, cabe lembrar, com o
autor, que, algumas vezes, o emprego de palavras supostamente “desnecessárias” se torna
“útil” ou “necessário” por evitar que o estilo se torne pesado pela repetição de uma mesma
voz, por diferenças de “carga afetiva” ou porque, com o passar do tempo, alguns termos
acabam por se diferenciar semanticamente. É o que ocorreu, segundo o autor, com os pares
afiche-cartel, sofisticado-complicado, tour-excursión.
Além dessas categorias, existem, naturalmente, outras marcas de uso que se poderiam
aplicar às palavras examinadas.
Os termos elemento e meliante, por exemplo, extraídos do MaESP (1997), além de
desnecessários, pertencem ao jargão policial. Esculhambar, mais do que informal, é
considerada vulgar; amarelo (pessoa de origem oriental) e polaco são pejorativas.
O MaESP (1997) apresenta uma lista de “palavras vetadas”
61
, que classifica, de forma
geral, como: “antijornalísticas”, “pernósticas”, “desnecessárias”, “redundantes”, “mal-
formadas” e/ou “inadmissíveis”. No entanto, muitas dessas palavras são classificadas desse
modo apenas por serem novas.
Ao identificar uma unidade como neológica, o jornalista deve se perguntar se ela é
necessária, formal, culta, exata e genuína, buscando sua adequação ao texto, em vez de taxá-la
apressadamente como “correta/incorreta” ou “existente/inexistente”.
3.2.5 Modalidades, níveis, estilos e registros
61
São elas: adentrar, aduzir, aeródromo, agilização, agilizar, agudização, agudizar, alavancagem, alavancar,
alcaide, a nível (de), antenado, ao apagar das luzes, apoiamento, assertiva, através de (a não ser no sentido
físico), avacalhação, avacalhar, azar, bólide ou bólido, bricolagem, brioso (soldado), burgomestre, calor
escaldante ou senegalesco, campo-santo, carnavalizar, carreata, causídico, colocação (como opinião,
observação, ponto de vista), congressual, contrafluxo, correr atrás do prejuízo, crista da onda, debutar,
decúbito, departamento médico (em futebol), desabalada carreira, detonar (como provocar), devido a (como por
causa de), disparar (como afirmar), dispensa apresentações, edil, edilidade, elemento (como pessoa ou
marginal), elencado. elenco (de medidas), elo de ligação, embasamento, embasar, emergencial, encarar de
frente, encontrar a morte, enfrentar de frente, ente querido, entrementes, erário público, erva maldita,
esculhambação, esculhambar, exitoso, extrapolar, facultativo (como médico), fechar as cortinas, ferros
retorcidos, fisicultor, flexibilização, flexibilizar, folclórico (como exótico, engraçado, ridículo), galopante
(inflação), ganhar grátis, genitor(a),gentilmente cedido, gesto tresloucado, gestões (como negociações),
goleirão, graciosamente (como de graça), guardado a sete chaves, há... atrás, hortifrutigranjeiro, implantação
(a não ser no sentido médico), implantar (a não ser no sentido médico), implementação, implementar, inserido
no contexto, isto posto, jaez, já... mais, lei de meios, leque de alternativas, literalmente lotado, matéria (em vez
de notícia, artigo, resportagem etc.), matrimônio, manter o mesmo, manter o seu, meliante, mentalização,
mentalizar, morfético, móvel (como motivo), necrópole, no bojo de, nosocômio, otimização, otimizar, outrossim,
parabenizar, patamar (como nível de), pavoroso incêndio, pelo contrário, penalizar (como punir), praticar
(para preços ou taxas), precioso líquido, precipitação pluviométrica, prefeitura municipal, prestigiamento,
profissional do volante, próprio da municipalidade, sediar, sendo que, separar o joio do trigo, sinalizar (como
indicar), sofrer melhora, soldado do fogo, telinha (como tv), tirar uma posição (como definir-se), todos são
unânimes, trabalhar com bola, tratativa, tríduo de momo, via de regra, vias de fato, viatura, violento incêndio,
vítima fatal, xingamento, xingar, zagueirão.
Coseriu (1980, p.112), como se disse, define uma língua histórica como “um
conjunto mais ou menos complexo de ‘dialetos’, ‘níveis’ e ‘estilos de língua’”. Por “níveis”
entende os dialetos sociais e, por estilos”, as modalidades expressivas, como o estilo
familiar, o estilo literário épico etc.
Bechara (2005, p.146) exemplifica essas variedades apresentando diferenças diafásicas
(de estilo) entre o português falado, o português escrito, a língua de uso, a língua literária, o
português familiar, o português solene, a língua da prosa e a língua da poesia e diferenças
diastráticas (de níveis sociais) entre, por exemplo, o “português padrão” e o “português
popular”. Os limites de níveis e estilos nem sempre se verificam de forma clara, como
reconhece Coseriu (1980, p.113).
Bagno (2001, 172), citando Lopes (1993, p.29), fala de uma norma, que pode ser culta
ou popular, e se manifesta na modalidade escrita ou falada e no registro formal ou informal.
Essas modalidades e registros, e também os dialetos ou variedades regionais, são mais
um fator que contribui para a multiplicidade de qualificativos que acompanham os termos
“norma culta” ou “norma padrão”, registrando-se assim uma “norma culta formal”, uma
“norma culta informal”, uma “norma culta escrita”, uma “norma culta falada”, uma “norma
culta do Rio de Janeiro”, uma “norma culta do Rio Grande do Sul”.
A norma culta informal tende a se aproximar da norma culta falada, enquanto a norma
culta formal tende a se aproximar da variedade escrita. Isto é, a norma culta formal e escrita
parece se aproximar da língua padrão que apresentam as gramáticas, isto é, da norma ideal,
enquanto a norma culta informal e falada é observada em pesquisas como a do Projeto Norma
Urbana Culta (NURC), que procurou identificar o português falado por pessoas com grau
universitário, ainda que haja variedades escritas informais e variedades faladas formais.
3.3 QUEM DETERMINA A NORMA IDEAL, O “BEM-DIZER”?
O estabelecimento de uma norma ideal numa sociedade pode se dar de maneira oficial,
por força do Estado (especialmente no caso da ortografia), ou de maneira tácita, pela
confiança que se deposita em certas pessoas ou entidades e pelo próprio uso que os falantes
fazem de sua língua.
Na criação das normas ideais da maioria das línguas européias tais como as
conhecemos, isto é, na sistematização de cada uma dessas línguas históricas heterogêneas
com vistas a uma língua funcional mais unitária, destaca-se o papel de escritores consagrados,
gramáticos, lexicógrafos, academias de língua e até mesmo do Estado. Mais tarde,
mecanismos como os meios de comunicação social e o sistema de ensino vêm a fixá-la.
Apresentamos cada um desses agentes a seguir:
3.3.1 Escritores
na Grécia antiga, por volta do ano 100 a.C., Dionísio, o Trácio, definia a gramática
como “o saber prático dos usos [modos de escrever] de poetas e escritores”
62
, conforme relata
Robins (1990, 36). Seu contemporâneo latino, Terêncio Varrão (116-27 a.C.), apresentava
entendimento similar: “o saber sistemático dos usos da maioria dos poetas, historiadores e
oradores”
63
(ROBINS, 1990, p.56). Na língua grega, a Téchne grammatiké, de Dionísio,
buscou a regularidade, o padrão, especialmente na obra de Homero. Foi a partir desses
modelos que se estabeleceu toda a disciplina gramatical tal como a temos hoje.
Escritores destacados, como Lutero, na língua alemã, Dante, Petrarca e Boccaccio, na
língua italiana, tiveram, segundo Ettinger (1982, p.371), papel fundamental na criação da
norma de seus respectivos países. O Vocabulario degli Academici della Crusca, publicado em
1612, é um exemplo (o primeiro) de obra lexicográfica normativa que resultou da
sistematização da língua literária encontrada nos autores florentinos mencionados.
Em relação à língua portuguesa, Elia (2002, p.96-97) relata que o padrão culto foi
modelado segundo o português literário do período clássico de autores portugueses como Luís
de Camões, de Miranda, Antônio Ferreira, Fr. Heitor Pinto, Fr. Luís de Sousa, Francisco
Rodrigues Lobo, Pe. Antônio Vieira, D. Francisco Manuel de Melo, Pe. Manuel Bernardes e
Pe. Francisco Manuel do Nascimento, e de brasileiros como Santa Rita Durão, Basílio da
Gama, Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
Biderman (2000, p.35), ao descrever a constituição do dicionário Aurélio, destaca a
influência dos escritores Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Alexandre
Herculano, Aquilino Ribeiro e Luís de Camões.
62
[the practical knowledge of the general usages of poets and prose writers]
63
[the systematic knowledge of the usage of the majority of poets, historians, and orators]
A respeito desse padrão culto brasileiro, Faraco (2002, p.42) considera que ele foi
construído “de forma excessivamente artificial”, uma vez que não se tomou como referência
“a norma culta brasileira” (i.e. a norma real dos brasileiros cultos) de então, mas “um certo
modelo lusitano de escrita, praticado por alguns escritores portugueses do romantismo”, como
voltaremos a abordar mais adiante.
3.3.2 Gramáticos e lexicógrafos
As primeiras gramáticas (e dicionários normativos) procuravam reunir os usos dos
melhores escritores, como se viu acima, apresentando-os como modelos de “correção
lingüística”, que deveriam, portanto, ser imitados por aqueles que desejassem “falar bem” a
língua.
Nos dias de hoje, essas obras procuram refletir os usos de uma camada mais ampla da
população, recolhendo exemplos de jornais, revistas e outros
64
, sem preocupações normativas
explícitas. Porém, por mais descritivos que se proponham a ser, adquirem, automaticamente,
aos olhos de seus usuários, um caráter normativo.
Segundo Neves (2002,
p.
45):
[...] paradigmas podem ser interpretados em dois níveis: num vel imediato,
superficial, eles são organizações descritivas e, portanto, neutras que
simplesmente constroem um sistema de entidades, isto é, retratam o que a língua é;
num nível mais velado, profundo, eles são organizações modelares e, portanto,
diretivas que, ao abrigar formas em um sistema, excluem outras formas e, por aí,
mesmo sem que se empregue nenhum discurso injuntivo, dizem o que a língua deve
ser.
É o que se vê, por exemplo, no momento de se escolher entre duas ou mais variantes
de uma mesma palavra. O consulente em dúvida deverá optar por aquela que o dicionário
apontar como a mais freqüente (ou na qual conste definição completa, e não apenas a
remissão à sua equivalente), reforçando-se, assim, a preferência por essa forma mais
freqüente.
64
Em Au (1999), lê-se no prefácio à primeira edição: “Pretendeu-se fazer um dicionário [...] atento não à
língua dos escritores [...], senão também à língua dos jornais e revistas, do teatro, do rádio e da televisão, ao falar
do povo, aos linguajares diversos – regionais, jocosos, depreciativos, profissionais, giriescos...”.
Além disso, dicionários e gramáticas tendem a ser vistos como depositários das regras
e das formas de um saber acabado, como se a língua não se renovasse. Certas palavras e
expressões, para muitos, simplesmente “não existem” se não constarem no dicionário, como
afirma, por exemplo, o MaESP (1997) a respeito dos verbetes apoiamento
65
, campesinato,
disponibilizar, *massivo e *muso. Elas “passam a existir” ou “a fazer parte da norma” ao
serem reconhecidas por gramáticos e lexicógrafos.
3.3.3 Academias de língua
As academias de língua, como a francesa e a espanhola, fundadas, respectivamente,
em 1635 e 1714, tiveram como principal intento, de acordo com Ettinger (1982,
p.
371),
estabelecer a norma prescritiva em seus países. A maioria dos membros desse tipo de
instituição, porém, é eleita, segundo o autor, por méritos literários, e não por seus
conhecimentos lingüísticos (melhor dizendo, “metalingüísticos”), isto é, eles não são
lingüistas ou estudiosos da língua, e sim alguns de seus “melhores falantes” (geralmente
escritores destacados).
No Brasil, cabe lembrar, nem sequer os méritos literários são o fator determinante para
a escolha dos nossos “imortais”, que provêm das mais diversas áreas de atuação profissional,
como a política, o direito, o jornalismo e a medicina.
No site da Academia Francesa (disponível em: www.academie-francaise.fr; acesso em
jun.2006), verificamos, ainda nos dias de hoje, uma forte preocupação com um ideal de língua
a ser perseguido e exaltado. O texto de apresentação do site informa que a missão da
instituição é “trabalhar com todo o cuidado e toda a diligência possíveis a fim de oferecer
regras precisas à nossa língua e torná-la pura, eloqüente e apta a atender as artes e as
ciências”
66
.
A Real Academia Espanhola (RAE) também mantém um site (disponível em:
www.rae.es), no qual responde às dúvidas mais freqüentes dos usuários em relação à língua
espanhola.
65
Conforme Melo (2000, p.59-60): “[...] apoiamento não está errado, é perfeitamente vernáculo [...] tanto apoio
como apoiamento são derivados legítimos de apoiar. O primeiro chama-se ‘derivado regressivo’, o segundo
‘progressivo’ ou sufixal”.
66
[travailler, avec tout le soin et toute la diligence possibles, à donner des règles certaines à notre langue et à la
rendre pure, éloquente et capable de traiter les arts et les sciences]
Rabanales (1984, p.52) destaca o caráter “descritivo” das recomendações: “a RAE
mostra como procede geralmente o falante e não como deve proceder; descreve o que se faz,
para orientar aquele que não sabe, e não ordena como se deve fazer”
67
. Porém, nos últimos
anos, podemos constatar uma certa busca pela “normatividade”, atendendo às necessidades e
aos anseios dos falantes comuns da língua espanhola, com a publicação do DPD (2005), por
meio do qual a academia espanhola apresenta seus “critérios de correção”
68
, de uma
“perspectiva pan-hispânica”
69
, a “todos aqueles que falam e escrevem em espanhol e desejam
fazê-lo corretamente”
70
(MATUS, 2006, p.16). A academia volta a assumir, assim, um papel
regulador nos assuntos referentes à língua.
A Academia Brasileira de Letras (ABL) possui, nessas questões, um papel bem mais
discreto do que o de suas similares francesa e espanhola, apenas publica o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) (disponível em:
www.academia.org.br/vocabulario/apresentacao.htm), informando a ortografia de palavras
vernáculas e estrangeiras. No entanto, mesmo esse serviço não é de todo elucidativo, uma vez
que se apresentam palavras com mais de uma possibilidade de grafia, sem que se informe qual
a mais usada ou recomendada, como escâner/scanner, kafaesco/kafkesco,
marginália(s.f.)/marginalia(s.m.pl.), e omitem-se palavras dicionarizadas, como cache e
paparazzo
71
.
Bagno (2001, p.50) critica “o caráter eminentemente feudal, aristocrático e retrógrado”
da ABL e a própria concepção das academias de língua em geral e sugere que os assuntos
67
[la RAE muestra cómo procede generalmente el hablante, y no cómo debe proceder; describe lo que se hace,
para guiar al que no lo sabe, y no ordena cómo se debe hacer]
68
[criterios de corrección]
69
[perspectiva panhispánica]
70
[todos quienes hablan y escriben español, y que desean hacerlo correctamente]
71
Sobre a edição de 1998 do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, lê-se em matéria da revista Veja
(16 set.1998, p.113): "[...] grande parte de todos os estrangeirismos recém-incorporados à língua veio do
hebraico, língua familiar e religiosa de aproximadamente 110.000 pessoas no Brasil. Seria compreensível que
palavras hebraicas passassem a fazer parte de uma lista como a feita pela Academia [Brasileira de Letras] se
tivessem sido colhidas por meio de um critério razoavelmente rigoroso. Não foi isso que aconteceu. 'Recebemos
a colaboração espontânea de um rabino e não tivemos tempo de consultar especialistas de línguas como o
japonês e o italiano', diz [um dos coordenadores do projeto, Antônio José] Chediak. Assim, palavras nipônicas
de uso corrente no Brasil como sushi e sashimi, devido à popularidade dos restaurantes japoneses espalhados
pelo país, não foram incluídas na lista. Em vez destas, o rol da Academia incorporou vocábulos como inro, que
quer dizer, pasmem, ‘porta-remédio’ em japonês. Entre as palavras hebraicas introduzidas contam-se verbetes
como chanuká (uma festa judaica), chalá (um tipo de pão), chazan (o cantor da sinagoga), gefiltefish (bolinho de
peixe), tzedaká (uma boa ação) e shofar (chifre de cabra usado como berrante em cerimônias religiosas
judaicas)".
Na versão atual do vocabulário (disponível em <http://www.academia.org.br> Acesso em set.2006), porém,
encontramos sushi e sashimi - mas não paparazzo e ofurô.
referentes à língua sejam tratados por entidades com “competência científica”, como a
Associação Brasileira de Lingüística.
É uma sugestão que se deveria levar em conta e cuja execução teria de partir dos
próprios lingüistas, conhecedores das lacunas na área e dos métodos mais adequados para
preenchê-las.
3.3.4 Estado
Além dos escritores, gramáticos, lexicógrafos e academias de língua, também o Estado
interfere, eventualmente, na norma ideal, impondo o “certo” e o “errado” na língua por meio
de leis e decretos.
Essa intervenção é mais freqüente no âmbito da ortografia e, no Brasil, ocorreu
algumas vezes, resultando no Acordo Ortográfico de 1943, que aproximou as variedades do
português brasileiro e de Portugal, e na reforma de 1971, que eliminou acentos diferenciais
72
.
Em 1999, apresentou-se um projeto de lei para “defender” a língua portuguesa de uma
suposta “invasão” de estrangeirismos
73
. A proposta, que previa sanções (inclusive
pecuniárias) àqueles que desrespeitassem suas instruções, acabou sendo rejeitada.
Existem ainda maneiras mais sutis de o Estado atuar sobre a norma lingüística, como
ocorre, por exemplo, quando determina quais dicionários e livros didáticos serão adotados nas
escolas públicas do país. Recentemente, o Ministério da Educação e Cultura promoveu uma
avaliação dessas obras, selecionando as mais indicadas ao ensino e autorizando a sua
compra
74
. Como o conjunto dessas obras é bastante heterogêneo
75
, apresentando diferenças na
seleção dos lemas e na grafia, a indicação de uma determinada obra, em detrimento de outras,
como mais adequada ao ensino refletirá uma maior representatividade desta na norma ideal.
3.3.5 Sistema de ensino
72
Cf. Trask (2004, 309-310) e Au (1999, XXV).
73
Projeto de Lei n° 1676, de 1999, de autoria do então deputado Aldo Rebelo, “sobre a promoção, a proteção, a
defesa e o uso da língua”, resultou no livro Culta, Bela e Ultrajada - Um projeto em defesa da Língua
Portuguesa (REBELO, 2001).
74
Cf. notícia “MEC compra 4,6 milhões de dicionários para o ensino fundamental”, disponível em:
<www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=/noticias/releases/2005/09_30_2.html>.
75
Cf. a esse respeito, Damim (2005).
Em geral, é pelo sistema de ensino que as pessoas têm seu primeiro contato com a
modalidade escrita da língua ideal (padrão). Costuma-se dizer, de maneira simplista, que se
vai à escola para se aprender a ler e a escrever. Antes disso, uma criança conhece apenas
aquela norma falada em sua família e nos círculos sociais de que faz parte. É a “norma
transmitida” (MELO, 2000, p.89), que pode se aproximar da norma ideal em sua modalidade
falada ou diferir bastante dela. Se for similar, tanto mais fácil deverá ser para a criança
ampliá-la e desenvolver sua modalidade escrita pelas práticas escolares.
Na escola a pessoa aprende, “adquire”, uma nova variedade de língua, a “norma
adquirida” (MELO, 2000, p.89), padrão, que, somada à norma de que ela dispunha, deve
enriquecê-la. Nem sempre, porém, esse entendimento é pacífico, pois a norma padrão é em si
identificada, às vezes, com um instrumento de “opressão” e “exclusão social”
76
. Escreve
Bechara (2001, p.10):
[...] assistiu-se entre nós, na década de 60, a um insurgimento contra o ensino da
gramática em sala de aula; em vez de dotá-la de recursos e medidas que a
tornassem um instrumento operativo e de maior resistência às críticas que
justamente lhe eram endereçadas desde há séculos, resolveram muitos professores e
até sistemas estaduais de ensino aboli-la, sem que trouxessem, à sala de aula,
nenhum outro sucedâneo que, apesar das falhas, pudesse sustentar-se pelo espaço
curto de uma única geração.
De todo modo, apesar desses conflitos, o sistema de ensino mantém (ou, em alguns
casos, retoma) seu papel de propagar a norma ideal refletida nos dicioná5(a)3.74( )-150.0]TJ-eelç0 0 1 121.08 379.76(r)2.80439(m)-2.452ioe ioi74(l)-244( )250]TJ-297.656 -19(a)3.74(p)-0.295-297.656 -20.64 Td[(m3.74(r)-7.20(s)-1.2312( )-120.2585(t)-2.164365(e)3.74(r)2..45995( )-200.265(s)-1.229792( )-220.2785(e)3.74(585(a)3.74( )-2009(ê)3.74024h)-200.265(s)-1.229792( )-220.2785(e)3.74(4(s)-1.2312(s295585(u))-2.46056(p)-0.294974((s)-1.2312(i)-2.165659(r)2.80561(i)-2.1636(a)3.õ92( )-120.219(a)3.74(p)--7.20151(e585(u)-0.147593(p)())2.80561(:)-2.1 )250] 0 1 1-80561(:)-2.1653( )[(30.64 Td[(m.74(l)-2.16530.64 Td[(m.74(l)-2.16560.64 Td[(m3.74(r)-7.20 )-40.17312(e)-6.2i0.236(r)2.805(e)3.74(t792( )-220.2785(e)3.74(36(d)-0.295585(a)3.74(d)-0-7.20(s)-1.2312( )-120.2585(t)-2.16)-1.22875(p)-0.295585(u)58(i)-2.16558(f)2.80s)-1.23136(a)3.u)-0.295585(s)-1.2312(5(e)3.74(r)2..45995(( )-230.282(s)-1.2312(o)-0561(i)-2.16)-2.4605p)())2.80561(:)-2.1 )250] 0 1 12.1653(j19.8)-0.147792( )(a)3.74(.57442(,a)(a)3.74(.57442(,558(a)3.74( )-200.266(n)-0.295585(o)-0.295585(r)2.80561.57442(,74(i)-2.16558(r)2.805(i)-2.16436(d)-0.2955855294974.57442(,t)-2.16436(i)-2.164792( )-220.27815(188 31 121.08 3795(a)3.74( s)-1.231o)-0.295585p)-0.295585(r)2.80439(á)3.74(t)-2.16(i)-2.16436(c)3.7424(a)3.74(l)-2.16 995(a)3.74(r)2.80439( )-150.235(d)-0.295585(i)-2.16436(c)3.74(i)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(á5(a)3.74( )-150.0]TJ-)2.805(e5(a)3.74(i)-2.16436(s)-1.2s)-1.22997( )-2203142( -10.1502955-2.16436)-0.147792( )-30.1655(p)-0[(m)-2.45995(a)3.74(r)2.80561( )-210.272(b)-)3.74(s)-1.)-0.295585())2.80439(,l)-2.16436( )-50.1761(e)3.74(m)-2.45995( )-50.1761(s)-1.21761(e)3.74()-30.1655(p)-0[(m)-2.41(c)3.74244g8(r)2.805(i)-s)-1.231o)-0.295585)-0.29514571761(e)3.74()-30.1676(u)-0.2-)2.805(e5(a)3.74n)-0.295585(f)2.80439(4(r)2.80439(a)-6.2659(p)-0.2976(u)-08.7742(n)-0.293142(8)-1426346( )250]TJ20.76 Td[(i)-2.165 9(e)3.74(,g0.76 Td[(i20.76 Td[(t)-2.16558(r)2.8(r)2.80561( )-120.219(d)-220.278e)3.74(,585(e)3.74( )-100.207(e)3.74(s)-1.22997(c)-6.2659(r)2.80561()-200.266(n)-0.295585(3015(e)3.74(z)-6.2659(e)3.74(s)-1e)3.74(,a2( )-150.236(r)2.)-40.1702(qa2( )-5585l-0.294974((s)-1.2312()-0.295585(m)-2.45995(e)3.558(s)-1.22)-1e)3.76(o)-0.295585u)-0.295585(s)-1.2312(3.74244(.74( )-150.0]TJ-)2.805(e3.74244((r)2.80439(i)-2.16436(m)-2.45.74( )-150.0]TJ-)2.805(e3.74244(995(a)3.74( )-40.1702(d)-0.295c85(e)3.74267-200.265(s)]TJ269.1585(t)-2.16)-1.22875(p)-0.295585(u)58(i)-2.74(t)-2.16(i)-2.1ç07(e)3.74u)-0.295585(s)-1.2312(3.74244()-0.295585( )-230.282(s)-1.2312(o)-0.295585(c)3.74(i)-2.16029(é)3.74(m)-2.45995(,(s)-1.2312( )-120.25851.2312(o5585(s)-1.2312(3.74244(j36(m)-2.45.74( )-150.0a)-6.2659(n )-50.1761(s)-1.21( )-120.217(s)-1.2312029(é)3.74(m)-2.45995(,6(s)-1.2312(c)3.74244(r)2.80439()-0.295585(l)-2.16436(i)-2.16436(s)-1.2312(s)-1.2312029643.74(o)-)-1.2312(.74267-244( )250]TJ20.76 Td-0.2955995(a)3.1872i0.236(r)2.805(e)3.74(s)-1.22997(o2785(e)3.74(4((a)3.74(d)-0-7.20585(e)3.74( )-150.236(i0.236(r)2.n )-230.282(s)-1.2312(o)-0r)2.r)2.80561(o)-0.2955l-0.294974((s)-1.2312()-0.295585(m)-2.45995(a)3.74(n)-0.29.74(d)-0-7.20a(s)-1.2312(s2955-7.2095(e)3.558(s)-1.22l5(e)3.558(s)-1.25585v0.295585(u)58(i)-2525(s)-1.22997(d)-0.295585(r)2.80439(ã)3.74(o)-0.ã)3.74(o))-0.146571( )-50.1761(q)-0.295585(ã)3.74(o))-0.295585( )-210.271(m)-2.45995(a)3.74(i)ã)3.74(o)i)-2.16436(t)-2.164659(c)3.74(í)-2.12.45x85(e)3..178-0.295585(m)]TJ5585(r)-7.20029(é)3.74(m)-2ã)3.74(o))-0.29575( )-120.219(m)-2.45995(o)(í)-2.12.45659(c)3.74(í)-2.12.45t)-2.16(i)-2.1585(t)-2.164365(e).295585(e)3.4365(e).2955)-2.45995(o)(í)-2.12.45659(c)3.74)-1.22875(p)-0.295585(u)59(d)-0.295585(a)3.74(585(t)-2.160151(e)3.74(s)-1.2310.1461)-2.1 )250][(ATL( )'102(d)-0.14(585(a)3.74( )-2009(ê)3.74024702(e)3.74(l)-21.8(r)2.80561( )-120..74(l)-21.8m)-2.45995( )-220.278(u)-0.80561(,)-0.147792( .74(s)-11.2359(c)3.74(o )-100.207(74(e)3.74(n)-0.294974((f)2.80439(i)-2.16192(.295585())2.80561(,59(d)-0.295585(a)3.74(d)-d)-0.295m)-2.45995( )-220.278(u)-0.805602(s)-1.2312(o)-0.295)-0.295585(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295585(l)-2.16436(i)-2.16436(s)-1.(h)-0.298027(a)3.74244(,)-0.146.74( )-40.1702(d)-0.295m)-2.45995( )-220.278(u)-01(s)-1.231.295585(n)-0.2995(e)3.74(n)-0.295585(l)5(e)3.5.06)-2.05734( --2.16436(s)-1.(h)-0.298027(a)3.74244(,)-0.146.74( )-40.1702(d)-0.295m)-2.45995( )-220.278(u)-0d)-0.295p9(d)-0.295585(a)3.74(85(n)-0.29)-0.295585( )-230.282(n )-50.1761(s)(a)3.74(m)-2.45995( )-2.1585(t)-2.16436.74244(,)-00.1702(q)-0.295585(u)-10.3n )-50.85(n)p)-0.2976(u)4(r)2.80439(e)-2.46239( )-120.217suuu812 T
falar de toda a população. Mais tarde, dicionaristas e estudiosos da língua recolhem” esse
modo de falar e o “autorizam” formalmente na língua ideal ou em outras línguas funcionais
(com marcas de uso) no momento em que os inserem em suas obras.
Um exemplo notório desse processo é o que ocorreu com a palavra imexível,
registrada pela primeira vez nos anos 90 a partir da fala de um ministro desprovido da
chamada “educação formal”. Ainda que ela fosse “possível” no sistema lingüístico ou,
segundo Bechara (1996, p.45-46), estivesse “conforme com aquilo que os lingüistas chamam
a virtualidade ou potencialidade do idioma”, criticou-se intensamente o seu emprego por parte
do ministro. A palavra ganhou destaque na mídia por “não existir” (nos dicionários) e, mais
tarde, devido à grande visibilidade alcançada, passou então “a existir”, isto é, a constar na
maioria dos dicionários.
3.4 A QUEM CABE “ESTABELECER” A NORMA IDEAL?
A partir do que se viu, podemos afirmar que a norma real se constitui naturalmente,
pelo falar espontâneo de uma comunidade, enquanto a norma ideal é estabelecida de forma
elaborada e consciente.
Enquanto as pessoas em geral (não-lingüistas) utilizam um número limitado de línguas
funcionais tais como elas se apresentam nos grupos sociais que freqüentam, os lingüistas
podem observar, descrever e estudar as variedades da língua de maneira mais ampla,
totalizante, o que lhes condições de realizar um certo mapeamento da realidade lingüística
no país. A população em geral, que enxerga a língua de forma mais limitada, necessita dessas
“descrições” (que, muitas vezes, convertem-se em norma prescritiva) para, eventualmente,
esclarecer dúvidas quanto a determinados usos que desconhece.
Cabe aos lingüistas, portanto, preferencialmente de forma organizada e institucional,
apresentar os resultados de seus estudos da língua, estabelecendo a norma ideal de uma
sociedade, a partir dos usos que observam em seus “melhores falantes” e/ou falantes em geral.
Cabe também aos lingüistas estabelecer mecanismos de atualização permanente da
norma para que a defasagem que, necessariamente, ocorre entre uma língua real culta e uma
língua ideal não se torne excessiva.
Não devem os estudiosos da língua se manter omissos e permitir que o Estado ou
pessoas/entidades não-especializadas tomem a dianteira nas questões lingüísticas,
apresentando propostas como o PL 1676, de 1999 (v. nota de rodapé 73).
Para se transformar uma norma real em norma ideal, deve-se antes:
a) admitir a necessidade de uma norma ideal, isto é, acreditar que as pessoas
reconhecem um “falar exemplar” (ou um falar mais reflexivo e elaborado), e
desejam assimilá-lo
77
;
b) conhecer e descrever as (várias) normas reais presentes na sociedade;
c) reconhecer a necessidade de permanente atualização/ajuste da norma ideal; e
d) estabelecer mecanismos para a execução desse ajuste.
3.5 CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DA NORMA IDEAL
Ao se perguntar de onde vêm as regras da gramática tradicional, Crystal (1987, p.3)
enumera as seguintes possibilidades: do grego e do latim, da língua escrita e da lógica.
Ettinger (1982, p.373), por sua vez, apresenta como critérios normalmente alegados
para o estabelecimento de uma norma (ideal) prescritiva: a lógica, a tradição, a dignidade, a
pureza da língua, a estética, a sonoridade e a autoridade de escritores, das academias e da
Corte. Sem se deter a cada um deles, declara-os “pouco convincentes de um ponto de vista
lingüístico” e “quase nunca aplicáveis” e considera a freqüência o “único critério válido”.
Bechara (2000) menciona sete critérios de “correção da linguagem”, citados por
Jespersen - o critério da autoridade, o critério geográfico, o critério literário, o critério
aristocrático, o critério democrático, o critério lógico e o critério estético – que ora se
sobrepõem aos critérios mencionados por Crystal (1987, ibid) e Ettinger (1982, ibid), ora os
complementam.
Falaremos de cada um desses critérios a seguir.
77
Esse anseio pode ser demonstrado pelo fenômeno da “ultracorreção”, definido em AuE (2004, s.v.) como:
“preocupação de falar bem que redunda em erro”. Exemplo: o emprego de houveram no lugar de houve.
3.5.1 Grego e latim
A respeito do grego e do latim, Crystal (1987, p.3) explica que “a forma inalterável
dessas línguas, o alto prestígio que têm na educação européia e o indiscutível brilhantismo da
literatura clássica foram os motivos que levaram gramáticos de outras línguas a adotá-las
como modelos de perfeição lingüística”.
Como descreve Robins (1990, p.29):
É no campo da gramática que os gregos (e romanos) fizeram seu melhor
trabalho, de resultados mais efetivos e duradouros. Neste, não apenas vemos a
construção intencional e frutífera das gerações posteriores sobre os resultados
daquelas anteriores, mas sabemos de obras de autoridade escritas sobre as
gramáticas grega e latina, muitas das quais ainda existentes, e as descrições
gramaticais contidas nelas foram mantidas numa tradição contínua por toda a Idade
Média e o mundo moderno para se tornarem as bases das gramáticas padrão dessas
línguas hoje. Além disso, as teorias, as categorias e a terminologia desenvolvidas
pelos estudiosos antigos em relação à gramática das suas próprias línguas se
tornaram parte do aparato gramatical geral dos lingüistas descritivos dos nossos
dias
78
.
A base da descrição gramatical na Antiguidade ocidental, conforme o autor, era a
“palavra” e, apesar da riqueza dos estudos morfológicos clássicos, não se chegou a uma teoria
dos morfemas. Os enunciados gramaticais da época, segundo ele, “exibem o vigor e a
fragilidade de uma morfologia baseada na palavra”
79
.
Não se pode, portanto, apesar da importância dessas línguas nos estudos gramaticais
de hoje, recorrer a elas ou aos seus modelos em quaisquer circunstâncias, como exemplifica
Crystal (1987, ibid) em Juan recibe una carta. Seguindo-se o modelo clássico, deveríamos
78
[It was in the field of grammar that the Greek (and the Roman) world did its best work, with the most effective
and lasting influence on the future. In this we not only see the purposeful and fruitful building of later
generations on their predecessors’ results, but we know of authoritative books written on Greek and on Latin
grammar, several of which are extant, and the grammatical descriptions provided in them were maintained by a
continuos tradition through the Middle Ages and the modern world to become the basis of the standard
grammars of these languages today. Moreover the theories, categories, and terminology evolved by ancient
scholars in relation to the grammar of their own languages have become part of the general grammatical
equipment of descriptive linguists of our own day].
79
[The framework of grammatical description in western antiquity was the word and paradigm model. Despite
the richness of classical morphology, a theory of the morpheme was not achieved, and the classical grammatical
statements exhibit the strengths and the weaknesses of a word based morphology. [...] A word based grammar
involves three main procedures: the identification of the word as an isolable linguistic entity, the establishment
of a set of word classes to distinguish and classify the words in the language, and the working out of adequate
grammatical categories to describe and analyse the morphology of words entering into paradigms of associated
forms and the syntactic relations obtaining between words in the construction of sentences].
considerar nessa frase que una carta é acusativo, porém, em espanhol (e em português), os
nomes não possuem flexão casual, o que demonstra, nesse caso, a não-aplicabilidade da
gramática latina, sendo necessária uma terminologia metalingüística própria.
Outro exemplo: o modelo de frase do latim Tarquino Superbo regnante Pythagoras in
Italian venit, se transposto literalmente para o português, resultaria incompreensível:
“Tarquino Superbo reinante, Pitágoras veio à Itália”; pois o particípio do presente não tem
para nós o mesmo valor que tem ou teve no latim. Traduzida de forma adequada, sem se
adotar o modelo latino ipsis litteris, teríamos de fazer um certo desdobramento: “Quando
Tarquino Superbo reinava...”.
3.5.2 Língua escrita
Em relação à língua escrita, Crystal (1987, ibid) ressalta que ela possui mais prestígio
e permanência do que a fala, por isso, muitas vezes, exige-se que se fale da maneira como se
escreve; assim, por esse critério, conforme o autor, deveria-se dizer, em espanhol, voy com
som de [v], distinto de [b] ainda que essa distinção não seja fonologicamente pertinente.
A respeito disso, Melo (2000, p.84) escreve:
[...] os tatibitates do rádio e da televisão resolveram dizer, sistematicamente,
dômingo, sêgunda, êstar, dôente, joêlho, lícia, sêmestre, Alêxandre, êscuro, gêar,
futêbol, verno, pêdir, êstação, êspecial, sêguinte, dêsêmprego, cômércio, fêliz,
vêludo... Escusado observar que a pronúncia espontânea normal é dumingo,
sigunda, star, duente, juelho, pulícia, simestre etc.
O critério se aplica também à orientação de algumas gramáticas e manuais para que se
atente contra a chamada “epêntese viciosa”: “inserção equivocada de um ou mais fonemas no
meio de uma palavra, geralmente para facilitar a pronúncia” (COSTA, 2006), como em
[adevogado], no lugar de [advogado], ou [impreguína], em vez de [impregna]
80
.
80
Escreve Costa (2006):
Advogado, Ad(e)vogado ou Ad(i)vogado?
1) Quando se tem, em determinado vocábulo, p+e, pronuncia-se pe; já p+i soa, logicamente, pi. P sozinho,
todavia, não seguido de vogal alguma na palavra, não é pe nem pi; constitui apenas um ruído, e não um som,
uma vez que este se caracteriza pela presença de uma vogal: a, e, i, o, u.
Ainda que se busque uma maior aproximação entre a escrita e a fala, nenhum sistema
gráfico é capaz de reproduzir todos os sons da língua falada.
3.5.3 Lógica
Crystal (1987, p.3) afirma que muitas pessoas acreditam que a gramática deveria
seguir os princípios da lógica, segundo os quais frases como não tenho nada não poderiam ser
ditas, uma vez que duas negações equivaleriam a uma afirmação. A primeira negação, porém,
como explica o autor, é exigida pela posição pós-verbal do pronome nada (se o nada estivesse
antes do verbo, como em nada tenho, não se usaria o não), e esse fato, segundo o autor, “nada
tem a ver com lógica”.
Usamos a lógica para criar ou compreender palavras como *gigoloa ou *ronalducho,
nas situações em que elas surgem, mas, ao mesmo tempo, a abandonamos ao aceitarmos
compressão, e não *comprimição, medroso, e não *medoso, consideração e fingimento, e não
*consideramento e *fingição. Isso porque a língua tem mais a ver, talvez, com oposições
(sistema) e tradição (norma) do que com lógica.
Como lembra Rocha (2003, p.90), recebemos do latim, de fases anteriores da língua ou
de línguas estrangeiras muitos “pares” prontos, como afligir (de affligere) e aflição (de
afflictione), adotar (de adoptare) e adoção (de adoptione), agredir (de aggredire) e agressão
(de agresione), o que explica a “inexistência” das formas *afligição, *adotação e *agredição.
3.5.4 Autoridade de escritores, academias de língua, da Corte e do Estado
Bechara (2000) fala de um “critério de autoridade” para a correção lingüística que
pressupõe a “existência de um poder central donde emanam recomendações, ou mesmo
determinações, que levam ou obrigam a que a comunidade se regule pelas normas fixadas”. É
2) Deve-se ter em mente essa realidade, quando se está diante de palavras com consoantes desacompanhadas
de vogais: absoluto, administração, admirar, advogado, captar, optar, pneu, psicologia.
3) Tente o leitor, como exercício, pronunciar, diferenciando, pe, pi e simplesmente p. Quando notar a
diferença, verá, por exemplo, que a pronúncia não será p(i)neu nem p(e)neu, mas apenas pneu. Em seguida, tente
exercitar-se na pronúncia de outras palavras que tenham consoantes desacompanhadas de vogais, como as da
lista anterior.
4) Quando isso ocorrer, de verificar, para o caso específico da consulta, que não se pronuncia
ad(e)vogado nem ad(i)vogado, mas apenas advogado”.
nesse critério, segundo ele, que se baseiam as academias - espanhola, francesa e italiana [sc. e
o próprio Estado, por meio de leis e decretos].
A esse critério poderíamos unir aqui os critérios “literário” e “aristocrático”
(mencionados pelo mesmo autor), que também pressupõem uma autoridade, a de escritores e
a da Corte (francesa).
Conforme Bechara (2000), o critério aristocrático “consiste em atribuir importância à
chamada ‘boa sociedade’”. O grande obstáculo desse critério, segundo ele, é determinar que
fração da sociedade integra essa classe de falantes.
Ettinger (1982, p.375) chama esse mesmo critério de “sociológico” e relata que a
pertinência a uma classe social prestigiada teria sido, na França, o único critério decisivo para
o estabelecimento da norma prescritiva do francês. O “bom uso” antes da Revolução
Francesa, conforme o autor, referia-se exclusivamente ao comportamento lingüístico dos
membros da Corte.
Nos dias de hoje, essa limitação à Corte não faz mais sentido, porém o critério
sociológico se mantém sob a idéia de se determinar um grupo social (por exemplo, a “camada
culta da população”, isto é, que recebeu educação formal, limitada a um espaço geográfico
neste caso, temos também um “critério geográfico”, conforme mencionado à página 20),
como modelo do falar ideal.
O “critério literário” a que se refere Bechara (2000) diz respeito à autoridade dos
grandes escritores, como se viu, destacando-se, mais recentemente, na língua portuguesa,
Graciliano Ramos, Manuel Bandeira e Érico Veríssimo (BECHARA, 2000).
3.5.5 A pureza da língua
Ettinger (1982, p.375) destaca critérios de “qualidade moral” de uma determinada
variante lingüística a encobrir idéias elitistas que classificam os fatos lingüísticos como
“bons” ou “maus”, sem que se explique como se chegou a tais conclusões, e de “qualidade
histórica” a determinar que “tudo o que é antigo é bom” e “toda transformação lingüística
significa decadência e deve ser contida”. Como exemplo desse pensamento, ele destaca o
empenho da França em “desterrar os anglo-americanismos”.
Faraco (2001, p.137-139) afirma que “a atitude prescritiva e proscritiva com relação
aos empréstimos [...] não tem propriamente um fundamento empírico (vale dizer, científico),
mas tem a ver com um imaginário sociocultural que concebe a língua como uma realidade
uniforme, homogênea e pura”
81
. Nesse imaginário, segundo ele, “a mudança, a
heterogeneidade e a mistura” são “percebidas como fenômenos desviantes, como ‘erros’,
como ‘vícios’, que ameaçam a integridade e o futuro da ngua, cabendo, por conseqüência,
combatê-los e eliminá-los”.
Essa crença, conforme Trask (2004, s.v. purismo) de que “as palavras, e outros
elementos lingüísticos, de origem estrangeira são uma forma de contaminação que mancha a
pureza da língua”, recebe o nome de “purismo”.
Segundo Faraco (2001, p.137-139), “a premissa do discurso purista é sempre falsa
(não há, de fato, língua pura)”, assim “sua sustentação se faz por meio de apelos
emocionais diante de um difuso perigo que ameaça o que é ‘nosso’, seja a ‘nossa raça’, seja a
‘nossa religião’, o ‘nosso país’, a ‘nossa cultura, a ‘nossa língua’”.
Matus (2006, p.17) manifesta opinião semelhante sobre a ngua espanhola ao
considerar que ela “tem sistemas imunológicos muito poderosos e se defende sozinha;
assimila o que necessita e descarta as toxinas”. Cita como exemplo o caso dos anglicismos:
Uma vez pensou-se que o anglicismo nos invadiria totalmente. uns
cinqüenta anos, toda linguagem do futebol nos países hispano-americanos era
inglesa. E isso se regulou sozinho. Agora o léxico do futebol é majoritariamente em
língua espanhola. Até a palavra football se espanholizou (MATUS, 2006, p.17)
82
.
Além da preocupação com a “ameaça” que um inteiro sistema lingüístico (uma língua
estrangeira) possa representar para outro, também se um embate entre normas reais de um
mesmo sistema. A propósito disso, Matus (2006, p.17) relata o que se dá nos chats da
internet:
81
Cf. a esse respeito a nota 66, referente à missão da Academia Francesa de Letras apresentada no site da
instituição.
82
[Alguna vez se penque el anglicismo nos iba a invadir totalmente. Hasta hace unos cincuenta años todo el
lenguaje del tbol em los países hispanoamericanos era inglés. Y eso se reguló solo. Ahora el léxico del fútbol
es mayoritariamente en lengua española. Hasta la palabra football se españolizó.]
Ali cria-se uma situação de tipo familiar, cotidiana; é como um diálogo
informal rápido, e os que se comunicam por esse meio se ajustam a um intercâmbio
dessas características. Escrevem-se palavras sem acentos, usam-se encurtamentos e
‘emoticons’. É uma comunicação que não deveria influir demasiadamente em nossa
comunicação verbal, já que os falantes sabem quando falar informalmente e quando
devem ser formais
83
.
3.5.6 Freqüência
Para Ettinger (1982, p.361-379), o único critério válido para o estabelecimento da
norma ideal é o da freqüência (estatístico). Não faz sentido, segundo ele, recorrer-se, nos dias
de hoje, à norma de uma camada social mais elevada (como nos tempos da Corte), de modo
que a norma ideal se aproxima cada vez mais de uma norma “estatística”.
A elaboração dessa norma, porém, apresenta, segundo o autor, pelo menos três
grandes dificuldades:
a) Ao se elaborar uma norma estatística parte-se da idéia de que se poderá obter uma
média matemática do uso de todos os falantes de uma determinada língua. Porém,
na prática, vemos que algumas áreas geográficas menos significativas
numericamente constituem, na verdade, centros econômicos, culturais e políticos
cuja influência lingüística no restante da população se vemais tarde; uma
pesquisa meramente quantitativa não avaliaria corretamente a sua importância. No
Brasil, a língua falada no eixo Rio-São Paulo costuma influenciar todo o falar
nacional por meio da televisão.
b) O segundo problema se refere à própria natureza do objeto de investigação. Para
captá-lo de maneira representativa deve-se definir exatamente o que ele é e
responder antes a perguntas bastante complexas, como as que surgem no momento
de se elaborarem inventários léxicos: Língua falada ou língua escrita? Em que
proporções? Até que ponto se levam em conta os tecnoletos e níveis de estilo?
83
[Allí se crea una situación lingüística de tipo familiar, cotidiana. Es como un diálogo informal rápido. Y los
que se comunican por ese medio se ajustan a un intercambio de esas características. Se escriben palabras sin
acentos, se usan acortamientos y emoticones. Es una comunicación que no debería influir demasiado en nuestra
comunicación verbal, ya que los hablantes sabemos cuándo hablar informalmente y cuándo debemos ser
formales.]
c) Por fim, toda descrição do uso lingüístico real de uma comunidade de falantes
tende a se converter em norma prescritiva, o que faz com que os dois conceitos se
misturem.
3.6 OUTRAS DIFICULDADES PARA O ESTABELECIMENTO DA NORMA
No Brasil, Trask (2004, s.v. língua padrão) relata que a tentativa de se determinar uma
variedade de língua apropriada para o ensino e o uso em contextos formais levantou uma série
de outros problemas:
a) “o de definir uma variedade brasileira de língua literária”;
b) “o de definir o português do Brasil em oposição ao português europeu e africano”;
c) “o de escolher e apontar como português padrão uma variedade geográfica” e;
d) “o de definir até que ponto as recomendações dos gramáticos têm respaldo em usos
reais de pessoas cultas e/ou dos escritores”.
A propósito de cada um deles, faremos algumas considerações:
Os itens a) e b) estão bastante interligados, uma vez que a formação da língua literária
no Brasil esteve freqüentemente relacionada a uma necessidade de independência de Portugal.
Como relata Cairo (2000, p.382), estabelece-se, no Brasil, desde o início da
colonização, “uma relação tensa entre colonos e reinóis”. Essa tensão, segundo o autor, pode
ser identificada em vários textos literários, como, por exemplo, alguns poemas de Gregório de
Matos (1623-1696)
84
.
84
Cairo (2000, 382) cita o poema intitulado “Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia”:
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para levar à Praça e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
No culo XIX, após as lutas da independência, a construção de uma nacionalidade
brasileira se torna o centro das discussões dos nossos escritores, porém continua-se
modelando o português à norma de Portugal.
No século XX, o modernismo procura fixar uma “língua brasileira” distinta daquela de
origem. Elia (2000, p.87) relata o empenho de Mário de Andrade em “dar forma gramatical”
ao “material vernáculo disperso pelo território brasileiro” por meio de uma “Gramatiquinha”
85
da fala brasileira, projeto que, mais tarde, ele abandona. Essa fala brasileira (ou “língua
nacional”, como ele passa a chamá-la) seria construída a partir de fragmentos de vários falares
regionais, de todas as classes sociais, e não de uma variedade específica, o que só poderia
resultar, segundo Elia (2000, p.88), numa “estilização da norma”.
Naquele tempo, o que se discutia era se português brasileiro e o português de Portugal
eram duas línguas distintas ou duas variedades de uma mesma língua. O entendimento que se
tem hoje é de que se trata de uma mesma língua com variedades regionais ou diatópicas (que,
por sua vez, podem constituir normas ideais diferenciadas dentro de uma mesma língua
histórica)
86
.
Se antes, lamentava-se uma suposta “degeneração” da língua portuguesa em território
brasileiro, em anos mais recentes, é comum encontrarem-se artigos na imprensa de Portugal e
países africanos lusofalantes condenando as mudanças na língua promovidas pelas telenovelas
brasileiras, que se tornaram muito populares naqueles países
87
.
A respeito do terceiro item, referente à identificação do português padrão com uma
variedade geográfica, Leite e Callou (2002, p.9) afirmam que a escolha de um falar local
padrão sempre girou em torno de três grandes centros urbanos”, Rio de Janeiro, São Paulo e
Salvador, tendo a preferência recaído sobre a primeira, por razões prioritariamente
extralíngüísticas: estar situada no centro de uma polaridade norte/sul, ter sido centro político
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
85
Segundo Elia (2000, p.87), o escritor “não se abalançava a uma ‘gramática’, desiderato que tinha por superior
à sua competência lingüística”.
86
Alguns autores (, porém, discordam dessa visão, defendendo que o português do Brasil consiste numa língua
diversa da de Portugal.
87
Cf. “Novelas brasileiras causam danos na língua portuguesa”, disponível em
<
www.angonoticias.com
>
.
do país por mais tempo e apresentar menor número de marcas locais e regionais, com uma
tendência universalista, dentro do país.
Para Teyssier (2001, p.98), ainda que os lingüistas distingam determinadas áreas na
tentativa de elaborar um mapa dos dialetos brasileiros, “as divisões dialetais no Brasil são
menos geográficas que socioculturais”:
As diferenças na maneira de falar são maiores, num determinado lugar,
entre um homem culto e o vizinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo
nível cultural originários de duas regiões distantes uma da outra. A dialetologia
brasileira será assim menos horizontal que vertical.
Biderman (2000, p.45) propõe como “português brasileiro padrão”:
[...] a variedade falada e escrita no eixo Rio-São Paulo, particularmente
aquela usada nos grandes meios de comunicação de massa, a saber: as redes de
televisão de alcance e audiência nacional, como a TV Globo, o SBT, a TV Cultura
de São Paulo (caso de alguns programas: “Opinião Nacional”, “Castelo Rá-tim-
bum”) e as principais revistas, alguns jornais do Rio e de São Paulo, que têm
circulação nacional e são lidos pela classe média letrada do Brasil.
A norma proposta prevê, assim, uma variedade escrita e uma falada e, aparentemente,
exclui uma variedade literária. Considera-se a classe média letrada” como o grupo social
formador da norma.
Rabanales (1984, p. 54) distingue, no espanhol, uma “norma culta formal” e uma
“norma culta informal”, das quais não se depreende facilmente a que mais se aproxima da
norma padrão para o português proposta por Biderman (2000, ibid):
Um uso culto formal isto é, aquele que faz uma pessoa instruída em
situações formais e que idealmente incluiria somente os usos genuínos, exatos e
necessários do idioma tem prestígio social, e isso porque o tem a cultura que
representa, frente a um uso culto informal, próprio do trato com amigos e
familiares, ou simplesmente inculto, desacreditado pelas pessoas cultas – junto com
seus usuários, a gente iletrada, que se coloca em situação muito desmedrada, pelo
fato de vivermos numa sociedade altamente competitiva -, uso perfeitamente
viável, contudo, entre essas pessoas
88
.
88
[Un uso culto formal es decir, el que hace una persona instruida en situaciones formales y que idealmente
tendría que incluir sólo los usos genuinos, exactos y necesarios del idioma – tiene prestigio social, y ello porque
lo tiene la cultura que representa, frente a un uso culto informal, propio del trato con amigos y familiares, o
simplesmente inculto, desacreditado pelas personas cultas – junto con sus usuarios, la gente iletrada, a la cual se
Uma tentativa de se definir a norma culta no Brasil teve início no final dos anos 60,
quando se criou o Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta (NURC), que tinha como
objetivo descrever o português dos falantes com grau universitário das cinco cidades maiores
cidades do país: Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Paulo e Porto Alegre” (Trask (2004,
p.326-327)). De acordo com Trask (2004, p.327), “a imagem do português culto que emerge
desses estudos não permite identificá-lo com o português descrito nas gramáticas
tradicionais”. Ainda segundo ele, “é nesse português culto que se publicam as revistas e
jornais mais lidos, que são compostas em sua maioria as letras de música popular, que se
aula nas universidades” e que se usa no rádio e na televisão.
3.7 DESCRITIVISTAS X NORMATIVISTAS
A proposta de Ettinger (1982, p.361-379) de estabelecer uma norma ideal com base
em critérios estatísticos (ainda que conserve a idéia do “bom uso”) reflete uma preocupação
geral da lingüística moderna, que, segundo Crystal (1988, s.v norma), “enfatiza a descrição do
uso real na comunidade, em oposição à preocupação prescritiva de manter um conjunto de
padrões lingüísticos”.
As duas posturas são, às vezes, levadas a extremos, como nos mostra Crystal (1987,
p.3):
Os gramáticos descritivos têm sido apresentados como pessoas que não se
preocupam com padrões, que consideram que todas as formas são igualmente
válidas, enquanto que os gramáticos normativos são representados como cegos
partidários de uma tradição histórica. Esta oposição sempre foi formulada em
termos quase políticos, de liberalismo radical contra conservadorismo elitista
89
.
Coseriu (2000, p.82) critica o “liberalismo lingüístico” declarando que “muito pior do
que as normas rigorosas é a ausência de normas, que é a barbárie”.
coloca en situación muy desmedrada, dado que vivimos en una sociedade altamente competitiva -, pero uso
perfectamente viable, sin embargo, entre tales gentes.]
89
Vários autores destacaram o conservadorismo do Projeto de Lei 1676 de 1999, estranhando fato de que ele
tenha sido proposto por um deputado “de esquerda” (Cf. Faraco (2001, p.25-26)).
Trask (2004, s.v. mudança lingüística), por outro lado, ironiza o conservadorismo de
alguns falantes:
Algumas vezes, eles chegam a iniciar movimentos que visam a fixar sua
língua numa forma particular pela qual têm admiração, como se fosse uma
borboleta morta num mostruário, sem mais mudanças permitidas a não ser depois
de um longo processo de decisão por parte de autoridades competentes.
Por mais que se descrevam as várias normas reais presentes numa ngua e se
reconheça o valor de cada uma delas como fato lingüístico, por mais também que se ampliem
as bases sobre as quais se estabelece a norma ideal, fazendo com que ela acompanhe certas
mudanças na língua, a fixação dessa norma ideal é sempre mais lenta e cautelosa do que a das
demais normas, passa pela análise e ponderação de gramáticos e lexicógrafos.
Rabanales (1984, p.54) descreve da seguinte maneira o lugar da norma ideal em
relação às demais normas:
O prestígio social da norma culta formal deriva de ser o meio pelo qual é
possível expressar os conteúdos mais refinados de nossa cultura imaterial [...]. De
fato, por ser a mais elaborada, reflexiva e intelectual, é a que menos difere (ainda
que difira) de país a país, dentro do mundo hispânico, frente às outras normas (culta
informal e incultas), claramente distintas de uma comunidade a outra. Contudo, não
se deve usá-la em qualquer circunstância, pois a norma culta informal, mais
“fresca” e espontânea, supera-a em recursos de expressão da afetividade. Enquanto
a maneira de falar das pessoas não instruídas ou com baixo nível de escolaridade
carece de prestígio do ponto de vista sociocultural, do ponto de vista lingüístico é
também importante, que incide no destino da língua, pois seus usos com
freqüência terminam, ao longo do tempo, por se incorporar aos das pessoas cultas,
adquirindo um novo status
90
.
A norma ideal, portanto, é um patrimônio construído histórica e socialmente, que tem
uma função integradora numa sociedade complexa, constituída de várias outras normas.
90
[El prestigio social de la norma culta formal deriva de ser el medio por el cual es posible expresar los
contenidos más refinados de nuestra cultura inmaterial [...]. De hecho, por ser la más elaborada, reflexiva e
intelectual, es la que menos difiere (pero difiere) de país en país, dentro del mundo hispánico, frente a las otras
normas (culta informal e incultas), claramente distintas de una comunidad a otra. Con todo, no es para usarla en
toda circunstancia, pues la norma culta informal, más “fresca” y espontánea, la supera en recursos de expresión
de la afectividad. En cuanto a la manera de hablar de las personas no instruídas o de bajo nível de escolaridad, si
3.8 RESUMO DE COMO SE CONSTITUI A NORMA
Recapitulando o que se viu, servem de modelo para a elaboração dessa norma ideal os
usos:
- de escritores consagrados;
- dos meios de comunicação social, impressos e falados; e
- das pessoas cultas, isto é, com grau universitário, que, por sua, vez, também são
influenciadas pelo modo de falar das pessoas “incultas”.
Quem sistematiza esses usos na forma de uma norma padrão (ideal) são:
- gramáticos;
- lexicógrafos;
- a academia de língua, com a publicação do VOLP, por exemplo; e
- o Estado, especialmente na questão ortográfica.
Quem os reforça e os propaga são:
- o sistema de ensino;
- os meios de comunicação social; e
- as pessoas cultas.
Esses mesmos falantes cultos, escritores e meios de comunicação também questionam
e modificam a norma, revelando a natureza dinâmica da língua. Pouco a pouco, as mudanças
são ou devem ser incorporadas à norma “oficial”, padrão, ideal, necessariamente mais
conservadora, sistematizada por aqueles que acompanham, descrevem e estudam a língua em
sua totalidade, e então “devolvida” à sociedade. Quando esse trabalho não é feito, isto é,
quando a norma padrão se congela num passado remoto, e não se desenvolvem mecanismos
para sua atualização, a própria sociedade pode questioná-la. Isso não significa, no entanto, que
se deva dispensá-la, pelo contrário, deve-se retomá-la e procurar definir os ajustes necessários
para que ela continue servindo como língua supra-regional, integradora.
Como fazer esses (re)ajustes? Como e em que momento integrar o novo, o neologismo
(seja este lexical, sintático ou outro) à língua ideal, estática sincronicamente? Existe aqui um
problema metodológico, que consiste em conciliar a mudança, o novo, que é inerente à língua,
e o já dito, o tradicional, a norma.
O primeiro passo é justamente aceitar a mudança, o neologismo, como um fenômeno
natural, inerente à língua, conforme se viu no primeiro capítulo. A partir da descrição que se
fez, dos tipos de neologismos identificados, pode-se tentar então determinar o “lugar” de cada
um deles em torno da norma padrão, com o auxílio de marcas de uso.
Palavras formadas internamente com novo significante, como mensalão, podem
receber num dicionário ou manual de redação a marca “neologismo” para que se saiba que se
trata de uma unidade nova, ainda instável na língua. Palavras importadas, como impeachment,
podem ser marcadas também como “genuínas” ou “falsas” e “necessárias” ou
“desnecessárias”.
Antes desse exame, porém, será necessário abordar a diferença entre dicionários
normativos e dicionários prescritivos e também a semelhança que existe entre eles na prática,
uma vez que eles são percebidos como depositários da norma ideal.
4 O DICIONÁRIO E A NORMA
Ainda que se encontre no sistema de ensino e nos meios de comunicação social uma
forte tendência normativa, atendendo a um anseio legítimo
91
, dificilmente um dicionário de
língua geral assume abertamente essa postura.
Diferentemente de dicionários de épocas anteriores, que procuravam fixar o “uso
correto” na língua a partir dos textos de escritores clássicos, as obras mais recentes tendem a
ser mais cautelosas em suas declarações, procurando “descrever” a língua em seus diversos
níveis e estilos.
Na prática, porém, por mais descritivo que se declare, um dicionário é sempre tido por
seus usuários como uma obra de referência, isto é, como “norma ideal”, pois recorre-se a ele
para se esclarecerem dúvidas quanto a pronúncia, ortografia, significado e uso de
determinada palavra.
4.1 DICIONÁRIOS NORMATIVOS
A criação de academias de língua em vários países, a partir do século XVII, marca a
publicação dos primeiros dicionários normativos, que procuravam reunir e “prescrever” os
“melhores usos” da língua.
O primeiro dicionário normativo de que se tem notícia foi o Vocabulario degli
Academici della Crusca (Veneza, 1612), que fixou as bases de uma língua literária italiana
sobre o uso toscano, especialmente dos três grandes poetas florentinos, Dante, Petrarca e
Boccaccio (HAENSCH, 1982, p.112). Em 1694, a Academia Francesa publicou o
Dictionnaire de l’Académie Française, renunciando às citações de autores clássicos e criando
ela própria, a partir dos usos lingüísticos da época, os exemplos a serem utilizados. Nessa
mesma linha, Samuel Johnson publicou, em 1755, o Dictionary of the English Language.
Entre 1726 e 1739, a Real Academia Espanhola apresentou o Diccionario de autoridades,
buscando fixar o “uso correto” na língua com base nos textos de autores clássicos (as
autoridades).
91
O fato de se venderem obras normativas, que buscam ensinar o “certo” e o “errado”, indica que existe, de fato,
um anseio das pessoas em falar e escrever “bem” ou “corretamente”.
No século seguinte, destacaram-se os dicionários de Noah Webster (norte-americano,
1828), dos irmãos Grimm (alemão, 1852-1961), de Tommaseo, Bellini e Meini (italiano,
1858-1879), de Littré (francês, 1863-1873) e de James A. H. Murray (inglês, 1884-1928).
Crystal (1987, 2) afirma que os gramáticos (e lexicógrafos) daquele tempo perseguiam
um triplo objetivo:
a) “codificar os princípios que regiam as línguas para demonstrar que havia um
sistema por detrás do caos aparente do uso”;
b) “ter um meio que lhes permitisse resolver as disputas sobre o uso” e;
c) “assinalar quais os erros comuns a fim de ‘melhorar’ a língua”.
Não havia, segundo o autor, meio termo; a tarefa do lingüista era emitir um valor,
determinar o “certo” e o “errado”.
Nos dias de hoje, Welker (2004, p.183), citando Melkiel, apresenta a seguinte
tipologia para os dicionários normativos, de acordo com:
a) a intenção:
- o dicionário é elaborado com intenções normativas, mostrando extratos de
discursos exemplares e omitindo fatos lingüísticos tidos como inadmissíveis ou;
- chamando atenção para os erros e indicando as formas corretas.
b) a autoria:
- a norma proposta pelo dicionário emana do autor ou;
- de instituição reconhecida.
c) a abrangência da norma:
- o caráter normativo do dicionário compreende somente a nomenclatura (por
exemplo, exclui estrangeirismos) ou;
- também a ortoepia, a ortografia e a sintaxe.
d) o modelo:
- a função normativa do dicionário se baseia no uso dos melhores autores do
passado ou;
- os dicionaristas dispensam tais modelos.
Assim, temos, em relação ao primeiro item, dicionários:
a) abertamente normativos e;
b)
bsosen436(c)3.74(i)3.74(n)-0.295585(t)-12.1715(e)3.74( )-0.45995(o)-0.2955585(o)-0.295585(r)2.80561(.16301995(a)3.74(t)-2.16558(i)-2.16558(v)-0.295585(o)-0.295585(s)-1.2312( )-10.1525(e)3.74(;63.0372 -26.64 Td((b)-0.295585 -26.76 Td[585())LT*[(M(e)33( 56)-2.16558(s)-1.22958(v)-0.295í8(v)-0.295n)-2.16436(o)-0.295z3( )-0.1455892.1009(l)-2.16436(o)-0.29555892.1009(S)-Tj3117312( )-10.152u2( )-10.152z3( )-0.14a-0.29555892.1009(((s)-1.22912( )-10.15292( )-10.15292( )-10.1525014(a)3.74(,)-0.295585(55892.1.16558(m)-74(;63.0372-2.165585(s)-1.2363.0372-2.16 )250588 0 45.76 Td53(.135(s)-1.2436(c)3.74(i)-2.16436(o)-0.295)-0.295585(n)-0.295585(á)3.74244(r)]TJ251a1(m)-2.45995((m)-74(;585(n)-0.295585(á)3.74255892.1.1655585(r)2.80561(m)-2.45995((m)-74(;)-28.430271a1(m)-2.4599)-2.45995(,585(n)-0.29v)-0.1465500588 0 6.76 Td1083.745(s)-1.2f9( )-0.1455892.1.165l)-2.16436(o)-0.295f(m)-2.45995(e)3.74(in)-2.16436(o)-0.29555892.1.16561(.163019955892.1.165l)-2.16436(o)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(á)3.74244(r)]TJ251.909 036(m)-2.45995(.14770395585(á)3.74255892.1.1655585(r)31229o585(r)312296(m)-2.459571(t)-2314a-0.29 Td)-2.45995(,585(n)-0.29v)85(r)31229o585(r)31229,3.0372-2.16 )250588 -29616559550333]TJ/R39(i)-2496558(s)-1.o)-0.295792( )-0.14c2.16558(s)-1.5585(o)-0.2958(v)-0.295585(o)-0.295585(s)-1.2312( )-10.15255892.1009(12( )-10.152u2( )-10.15255892.1009(39(i)-2.16436(m)-258(a)3.74(çc2.1655)3.74(çp1(m)-2.4599)-2.459.295585(o)-0.295585(s)-1.2312(.163019955892.1.16558(m)-2.45995(,)-0.147792( )-0.14p1(m)-2.4599l-0.45995(o)-0.295s((m)-74(;)-2.295585(t)-12.1715(e)3.74( )-0.45995(,)-0.14655892.1.165c)-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.14755892.1.165a-0.295q2( )-10.152u29.7103( )-0.14 Tdl1.909 -26.)-0.14655i)-2.62)-785(s)-1.2“-0.295q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.29555892.1.1656(m)-2.459e3( )-0.14g29.7103( 2( )-0.146571(m)-2.45)-0.45995(,6(m)-2.459a-0.29555892.1.16561((,)-0.14755892.1.165585(s)-1.23é-0.295x2(.1630199)-2.16436(o)-0.29561((,)-0.14755892.1.165q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.29555892.1.16571(m)-2.45)-0.14655892.1.165c)-0.1 Tdo585(r)312295585(r)31229s((m)-74(;585(n)-0.29d585(r)31229)-0.14 Td6(m)-2.459a-( )-03466 )250588 -262)-7855503())333]39(i)-249655)3.74(n436(c)3496558(s)-1.oã-0.29561((,)-49655”)444588 0 6.[(b)5.08 795.8 8Tm( )T123 5 1292( )[292(7.75872(25500588 0 6.76 Td 795.8 Tm( )T131n)- 5 4.4( )[27792(e)3.74(m)-2.1627295585(r)2.805ã-0.29561((,)-0.1475582.16272995(,)-0.147792( )-0.14p1(m)-2.459961(m)-2.45995(a)3.74(t)-2.45995(e)3.74(n5585(r)2.805d2(.163019961((,)-0.1475582.162729a-0.295q2( )-10.152u28(s)-1.22997(p)-0.2956571(d)-0.295582.162714p1(m)-2.459961(m)-2.45995(a)3..459)-2.16436(s)-1.231715(e)3.74( )-0.45995(,61(m)-2.45996571(d)-0.295582.16271461((,)-0.1475582.162795585(d)-0.295585(e)3.74(l)-2.16436(o61((,)-0.1475582.162795c)-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.1475582.1626(o)-0.295s((m)-74(;71(m)-2.45)-0.1465582.162714p1i)-2.7[(b84.295585(e)3.74(d1(m)-2.45995((7.201915ã-0.29561((,)-0.1475582.162713é-0.295558221627(s)-1.23139(i)-2.16436(m)-2.459)-0.295s((m)-74(;t)-12.1715(e)3.74( )-0.1477524a-0.29 Tdd585(r)31229o585(r)31229,3.0372-2.16 )82.162713s((m)-74(;t)-12. Td5582.162713é-0.29 Td55250588 -324.1.19550333]TJ/R436(c)349655)3.74(çc2.1655585(s)-95(e)3.74(n5((7.2009(e)3.74(d1(m)-2.45996571(i)-2.16436(t)-3.74(12( )-10.152u2( )-10.1525585(o)-0.295585(r)2.805ã-0.29561((,)-0.14763.0372 -26.64 TdT*[(5582701.295G(s)-1.229585(s)-95(e)3.74(n)-2.459.295585(o)-0.29g29.7103( 558216304(ny)19.716(;)-2.4(,)3((((7.20029s)-1.23139(i)-2.1643u585(e)3.74(l)-2.16436(o)-2.4(,)3(W-( )560271E589R7 188(L)10333.14K(s)-1.229E589R7 188(R)-3.39 56),3.0372-2.16 )8.4(,)29s2)-2.16436(o0)-2.16436(o0)-2.16436(o41(m)-2.45996571(d)-0.29558.4(,)3(p1((,)-0.14763.0372 -26.12( )-10.15282( )-10.1525014(a) 12 Tf9m)-2.459,3.0372-2.16 )8.4(,)29sp1(m)-2.459961(m)-2.45995(a)3..459é-0.146571( )-0.14657.1653( ) )8.4(,)29sl)-2.16436(oá-0.295558.4(,)29sa2.1655585.1477039g4 Td311-394295585(u585(e)3.74(12(a)-6.2659(m)-2.4604558.4(,)29se-0.295x2(.1630199)-0.146571( )-0.14p1(m)-2.4599l-0.4591.2312(:)-2.16775( )]TJ-2 )8.4(,)29sl)-2.16436(oe3( )-0.14s((m)-74(;71(m)-2.45)-0.14 Td5( )]TJ-2 )8.4(,)29s571(t)-2314o585(r)31229d585(r)31229o585(r)312295( )]TJ-2,29.8-26355250588 -311-394550333]TJ/R8(s)-1.o)-0.295)-2.459.295585(o)-0.298(s)-1.o)3.74(n436(c)34965561((,)-49655792(d)-0.295585(i)-2.16558(s)-1.229)-0.2955585(o)-0.29558(c)3.74(i)-2.16558(o)-0.295585(n)-0.295585(a)3.74(r)2.1630199.909 036(m)-2.22997(t)-2.165997( )-0.147792(d)-0.295585(i)-2.16f((7.20029s6(m)-2683s)-1.231715(e)3.74( c2.1655)3.74(ç792()]TJ59se-0.235587792(d)-0.295585(i)-2.16436(c)3.74(i12(:)-2.16775( )]TJ-2 )85(i)-2.165( )]TJ-2é3.74(çc2.1655u1(m)-2.4599l-0.4591.2312(:)-2.16775( )]TJ-2 )85(i)-2.16X)((b)1.22(I(a)3..459X(s)-1564655i)-2.45.7885(s)-1.2)-0.2955585(o)-2.16X)s)-15646X)s)-15646:0106 -26.76 Td[2.1636495585())333]54 12 Tf9.36552 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.6451 0 Td[(a)3.74(b)-0.295585(e-0.295x2(.163019939(i)-2.16436(m)-258(a)3.74(ç97(i)-2.16558(m)-2.459õ58(s)-1.229)-0.295792(d)-0.295585(i)-2.16)-0.146571( )-0.14p1(m)-2.45996(m)-258(a)3.74(ç97(i)-2.165)-2.45995(e)3.74(nd2(.1630199)-0.147792(d)J-2 )85(i)-2.16a3( )-0.149014(a)0.1525585(o)-2.165585(s)-1.23o15(e)3.74( c2.1655e)3.74(r)2.80561(t)u1(m)-2.4599l-0.4591.23.909 036(m)-2.45995((n)-0.295585(á)3.7425585(i)-2.16436(c)3.74(ia-0.2955585(o)-2.16585(s)-1.22997.16301995(a)3..459a-0.295l-0.4591.236571(d)-0.295585(i)-2.16c3( )-0.149014(a)31229m5i)-2.60)1.4(s)-1.22997( )-0.147 )250588 0 45.76 Td9.005.4(s)-1.22-2.16558(2(d)J-28(2(d)J-2a1(m)-2.4599436(c)3.74(i12500588 0 6.76 Td32.0.135(s)-1.25585(i)-2.1612( )-10.152u2( )-10.15255250588 0 45.76 Td5b)-0.290))333]39(i)-2.45995((m)-74(;12( )-10.15295((n)-0.29b2( )-10.15295((n)-0.29d585(r)31229o5500588 0 6.76 Td41.4 Td90))333];)7.84154655i)-2-379.544())333]TJ/RTJ/R54 12 Tf9.96588 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.0.0106 -26.76 Td[(b)5585(s)-1.2)-0.45995(o)-0.2955(a)3.74(t)-2.16558(i997( )-0.147792(d)-0.295585(i)-2.16q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.2955585(i)-2.16558(s)-1.229)-0.2955585(r)2.80561(m)-2.4599)-2.45995(e)3.74(n)-0.295585(436(t)-3.74(12( )-10.1525585(i)-2.16436(c)3.74(ie3( )-0.14s((m)-74(;v2( )-10.15295((n)-0.2912( )-10.1525585(i)-2.16436(c)3.74(ie30.2955585(o)-2.16u2-2.16436(o)-2.16558(i)-2.1655585(o)-2.166(m)-2.459e3( )-0.14g29.7103( 5((7.201915)-2.1656571(d)-0.295585(i)-2.16c3-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.14755250588 0 45.76 Td242.0635(s)-1.2c3-0.146571(p)-0.298(2(d)J-28(2(d)J-2)-0.295)-2.4590.2912500588 0 6.76 Td35630085(s)-1.25585(i)-2.1612( )-10.152u2( )-10.15255250588 0 45.76 Td5b)-0.290))333]95(e)3.74(in)-2.16436(oc3-0.146571(p)-0.298(2(d)J-28(2(d)J-2)-0.295)-2.4590.2912500588 0 6.76 Td44.66635(s)-1.2;-2.4590.2955i)-2-35b)-5195585())333]c4 12 Tf9.36552 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.6451 0 Td[(a)3.74(b)-0.295585(39(i)-2.4599a-0.295l-0.45995(e)3.74(nv571(p)-0.298(a)3.74(t)-0.147792(d)-0.295585(i)-2.16q2( )-10.152u2-.1630199)-0.1465585(i)-2.16)-0.146x2(.163019939(i)-2.16436(m)-258(a)3.74(ç97(i)-2.16558(m)-2.459)3.74(n)-0.295585(436(t)--2.16a3( )-0.14436(t)-2.16436(e)3.74(m436(c)3.74(ié-0.295585(n)-0.29)-2.1655585(o)-2.16436(c)3.74(ie30.2955585(o)-2.16q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.2955585(i)-2.1612( )-10.1525585(i)-2.16l-0.4591.23)-0.146x2(.1630199)-2.16436(o)-0.295ó2(.1630199g29.7103( 5(m)-2.459a-( )-0.14f((7.201915o(i)-2.15(i085(s)-1.25585(i)-2.165585(r)2.805ã-0.29561((,)-0.1475585(i)-2.16c3-0.146571(p)-0.29n)-2.16436(oc3-0.146571(p)-0.298(m)-2.459d2(.1630199)-0.1475585(i)-2.16c3-0.146571(p)-0.29585(s)-1.225585(i)-2.1612( )-10.1525585(i)-2.16u2-2.1680271792()]TJ.1612( )-131229,3.0372-2.16 )250588 -215(i085550333]TJ/Rc3-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.14755250588 0 45.76 Td29.0.585(s)-1.2a571(p)-0.29n)-2.16436(o6571(p)-0.2958s)-1.229a571(p)-0.29l-0.45995(ei-0.45995(e)3500588 0 6.76 Td45638685(s)-1.27792(e)3.74(m)588 0 45.76 Td6.003545(s)-1.2a571(p)-0.29n)-2.16436(o6571(p)-0.29r8(m)-2.459m)s)-15646a571(p)-0.29l-278588 0 6.76 Td40.7745(s)-1.2,3.0372-2.16 )250588 0 45.76 Td6.003545(s)-1.25585(r)2.805ã--2.16436(o6571(p)-0.295585(i)-2.16c3-0.146571(p)-0.29n)-2.16436(ov)-0.14é-0.14657722588 0 6.76 Td57.51395(s)-1.2;-2.4590.2955i)-2-203.2895585())333]436(c)3.74(if9.96588 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.0.0106 -26.76 Td[(b)5585(s)-1.2)-0.45995(o)-0.2955(a)3.74(t)-2.16558(i997( )-0.147792(d)-0.295585(i)-2.16q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.2955585(i)-2.16)-0.146x2(.163019939(i)-2.16436(m)-258(a95(,)-0.147792( )-0.14)-0.147792(r)2.80561(e)3.-2.16u2-2.16436(o)-2.16558(i)-2.1655585(o)-2.16997( )-0.147b9(i)-2.16436(m)-2.45995((n)-0.29g9(i)-2.4599a-0.295-0.294363-0.146571(p)-0.29,3.0372-2.16 )8.1653( )c3-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.14755250588 0 45.76 Td214.32290))333]436(c)3.74(ie30.295v-( )-0.14e3( )-0.67(-(m)-2.45971(m)-2.45)-0.1465585(i)-2.16436(c)3.74(i)-2.16436(oz1(m)-2.45)-0.146r)389588 0 6.76 Td )Tj35.(s)-1.2,3.0372-2.16 )250588 0 45.76 Td6.003545(s)-1.25585(r)2.805ã--2.16436(o6571(p)-0.295585(i)-2.1671(m)-2.45)-0.1465585(i)-2.16436(c)3.74(ie3( )-0.14v2.1655)3.74(ç61(e)3.-2.16u2-2.16436(o(m)-2.46049( .162996r)389588 0 6.76 Td80)15585(s)-1.2;-2.4590.2955i)-2-381.825())333]TJ/Re4 12 Tf9.36552 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.6451 0 Td[(a)3.74(b)-0.295585(j5(,)-0.147u1(m)-2.4599l-0.4595.29g29.7103( )3.74(n)-0.295585(t)-12.1715(e)3.74( )-0.45995(o997( )-0.147792(d)-0.295585(i)-2.16p1(m)-2.459961(m)-2.459958(m)-2.45995(,)-0.14758(v)-0.295585(o)-0.295585(s)-1.2312( )-10.1525(e)3.-0.147792(e)-0.295585(i)-2.16c3-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.14755250588 0 45.76 Td.4(,7235(s)-1.2é3.74(ç61(e)3.-2.16b585(s)-1.2312( )-10.152m(s)-156465585(i)-2.16436(c)3.74(i)-2.16436(oz1(m)-2.45)-0.146r)389588 0 6.76 Td55.953.(s)-1.2,3.0372-2.16 )250588 0 45.76 Td6.003545(s)-1.2p1(m)-2.459961(m)-2.4599436(c)3.74(ie30.29024(-(m)-2.45971(m)-2.45)-0.146558.1653( )m(s)-15646u28(s)-1.22997(p)-074(m)-2.45995(,6571(p)-0.295585(i)-2.16r)2.80561(t)-2.1655m(s)-156465585(i)-2.16436(c)3.74(i)-2.16436(oz1(m)-2.45)-0.146r)389588 0 6.76 Td117.6695(s)-1.263.0372-2.16 )i)-2-370.1895585 -26.76 Td[T*[(41(m)-249655.585(i)-2.1621(m)-2496555585(i)-2.16D-28.43088(I(am)-168(C-2.3.404(nI)1m)-1199O8s)-1.229N8s)-1.229Á8s)-1.229R1(m3.40199I)1m)-1199O8s)-1.229S)-Tj311735585(i)-2.16D-s)-1.229E5033300269S)-14.3J.16C)-3.394349R1(m3.40199I)am)-14(nT589R7 188(I)1m)-1199V-28.432713O(s)-15646S)-Tj30616 )i)-2(A)1.57442(s -26.76 Td[T*[(W-( )560271)-0.295585(s)-95(ek)2.80561(t)-2.16556(m)-258(a55825.8056(((s)-1.2292)-2.16436(o0)-2.16436(o0)-2.16436(o41(m)-2.45996571(d)3.74(m)-25.8056(p1((,)-0.14763.0372 -26.12( )-10.15282( )-10.15262(.1630199f9m)-258(a55825.8056(d2(.1630199)-2.1640.295585(s)-1.2336(e)3.74(m436(c)3.74(i)-0.14655825.8054312( )-10.1525(e)3.J-2 )825.80543l)-2.16436(o)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(á)3.74244(r)]TJ251.909 036(m)-2.45995(.4591.2312(:)-2.16775( )]TJ-2 )8.60)32“-0.295436(c)3.74(ie3( )-0.14c2.1655585(s)-0.29)-2.1655(m)-2.459a-i)-2.67.51890))333]436.1630199)-0.147)-2.295585(t)-12.1715(e)3.74( )-0.45995(,)-0.14655825.80543l)-.1630199)-0.1465( )]TJ-2c)-0.1 Td6(m)-2.45995(.459-26.)-2.45995(,585(n)-0.29v)85(r)-1.2312( )-10.1525(e))]TJ.16”)-12. Td55825.80543)-0.14 Td571(t)-2314 )825.80543l)-2.1631229o585(r)312292( )-0.146571(m)-2.4599250588 -302.9395550333]TJ/R58(v)-0.295585(o)-0.2939(i)-24965561((,)-49655792(d)-0.29:0106 -26.76 Td(A)1.57442(s)-1.229954 12 Tf9.36552 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.6451 0 Td[(a)3.74(b)-0.295585(e)3.74(q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.295l-0.45995(o)-0.295s((m)--0.295585(i)-2.16q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.2957792(e)3.74(m)-2.45995( n2(.1630199)-0.1475585(i)995( )-2.295585(t)-12.1558(c)3.74(i)-2.16558(o436(c)3.74(ia-0.2955585(o)-2.16d2(.163019961((,)-0.1475585(r)2.80439(i)-2.164312(:)-2.16775( )]TJ-25( )]TJ-2í85(n)-0.29v)85(r)-1.23)-0.295585(s)-1.237792(e)-0.295585(i)-2.166(m)-2.459)-0.295a-0.295l-0.4591.23)-2.295585(t)-12.1715(e)3.74( )-0.45995(,)-0.1465585(i)-2.1671(m)-2.4563-0.14657.16301995585(o)-2.16d2i)-2.15(7085(s)-1.2)-0.1465( )]TJ-2c)-0.136(m)-2.45995(.4591.23)-2.45995(,585(n)-0.29v)85(r)-1.2312( )-10.1525(e)d)J-2 )85(i)-2.16]TJ-18.0106 --26.64 Td[(68.718())333]TJ/RTJ/R54 12 Tf9.96588 0 Td( )Tj/R7 12 Tf8.0.0106 -26.76 Td[(b)5585(s)-1.2e)3.74(q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.295l-0.45995(o)-0.295s((m)--0.2955815.80.29q2( )-10.152u2-2.16436(o)-0.29555815.80.29792()]TJ59sã-0.29561((,)-0.14755815.80.299)-2.16436(o)-0.295585(s)-95(e)3.74(n436.1630199)- )-0.146571(t)5585(t)-12.1715(e)3.74( )-0.45995(,)-0.14655815.80.29n)-2.16436(o6571(p)-0.29r8m)-2.459571(t)558(i)-2.16558(v)-095(,585(n)-0.29v)85(r)-1.2312( )-10.1525(e)d)J-2 )815.80.29n)-0.295585(s)-1.23l-0.4591.2312(:)-2.1677 )815.80.29f((7.201915)-2.16558(v)-0174(12( )-10.15255815.80.29436(c)3.74(ie3i)-2.68.3585(s)-1.255815.80.29n)-0.295585(6(m)-2.45995(.4591.235585(s)-1.2336(e)3.74(ml-0.4591.23)-( )-0.14g29.7103( 2( )-0.1465)-2.1655(m)-2.459)-0.147792(r)2.80561(160)241 c2.1655)3.74(ç5((7.201915)-2.45995(,6571(p)312295( )]TJ-255815.80.29u571(p)312295( )]TJ-2o585(r)312295( )]TJ-2,29.8-26355250588 -.68.35855503())333]6571(p)-0.29585(s)-1.2295(,)-0.14758(v)-0.295585(o)-0.295585(r)2.805d2(5(r)-1.2312( )-10.1526571(d)3.74(m)-21653964p1(m)-2.459961(m)-2.45995(a)3.74(tm)-21653964e)1.74(.14x2(.1630199)-0.146571( )-0.14p1(m)-2.4599l-0.45995(o997( )-0.147,3.0372-2.16 )8216538(çc21.74(.14e-2.1655(m)-2.459)-2.45995(,6571(p)-0.295( )]TJ-2 )8.16538(çl-0.4591.23)-0.146x2(.1630199)-0.146571( )-0.14)-0.147792(d)J-2,3.0372-2.16 )8216538(ç12( )-10.152u2( )-10.152558216538(ç)-1.23139(i)-2.16436(m)-2.459)-0.295s((m)-74(;t)-12.1715(e)3.74( )-0v)-0174(a-i)-2.54.1.5(s)-1.25585(r)2.805d2(5(r)-1.2312( )-10.1526571(d)-2.16 )8216538(çc2-0.146571(p)-0.29585(s)-1.22997(,)-0.147558216538(ç)-1.231b585(s)-1.2312( )-10.152r)2.80561(i)-2.1655-0.2943õ58(s)-1.229)-0.231567792(d)J-2,3..1653( ) )8216538(ç558216538(ç)-1.23 Tdp585(r)31229)-0.14 Td5585(r)31229)-1.23 Td5(e))]TJ.16 )250588 -214.1.5550333]TJ/R58(v)-0.295)-0.146x2(.1630199)-0.45995(o997( )-0.147792(d)-0.295585(i)-2.16558(s)-1.229)-0.2955585(o)--26.558(s)-1.229oati585(o)-0.295585(r)2.805ed1(m)-2.45996571(i)-2.165(e)diim i:
Num sentido amplo, todo dicionário é inerentemente normativo. Por mais que se
proponha a descrever a realidade lingüística, sempre haverá uma margem de escolha e
julgamento, seja na seleção do léxico, seja na decisão do que deve ser marcado.
Quanto à seleção do léxico, um dicionário descritivo teria de informar se a descrição
proposta concerne apenas a língua padrão ou inclui outras línguas funcionais. Quando se
detiver à língua padrão, poderá incluir outras formas alheias a ela desde que devidamente
marcadas, com indicações de “popular”, “vulgar”, “regional” etc. Caso se declare descritivo,
mas não informe que “parte” da língua privilegia, estará sendo veladamente normativo ao
incluir apenas unidades padronizadas, como eletricista, balde e mendigo, e não *eletrecista,
*barde e *mendingo.
HouE (2001) afirma que não privilegia determinada faixa cronológica ou geográfica
da ngua: versa diacronicamente sobre fenômenos não apenas do português contemporâneo
do Brasil e de Portugal, mas ainda, embora de forma seletiva, sobre vocábulos da língua
antiga e da arcaica, cujo registro se justifica pelo percentual de sua ocorrência na história da
literatura portuguesa.
Au (1999, XI) considera-se um “dicionário médio, ou inframédio, etimológico, com
razoável contingente vocabular [...], atualizado (dentro dos seus limites), atento não à
língua dos escritores [...], senão também à língua dos jornais e revistas, do teatro, do rádio e
televisão, ao falar do povo, aos linguajares diversos regionais, jocosos, depreciativos,
profissionais, giriescos”.
Nem um nem outro se autocaracterizam como normativos ou descritivos, mas se
constata que tratam prioritariamente da língua culta, isto é, ideal, prescritiva - somada a
realizações informais, populares, regionais, giriáticas e outras. Se tivessem um propósito
exclusivamente descritivo (de representar a língua portuguesa como um todo), talvez unidades
“incultas” com equivalentes na norma culta, como as supracitadas *eletrecista, *barde e
*mendingo, teriam de ser incluídas em suas macroestruturas, o que não ocorre.
No aspecto ortográfico, o dicionário pode e deve ser normativo, que existem
inclusive leis que regulamentam a questão
93
. Ainda que o uso indique um determinado
caminho, os dicionários e instrumentos lexicográficos em geral devem seguir as orientações
previstas em lei. Como exemplo, Moreno (disponível em:
93
Cf. Formulário Ortográfico, Instruções para a Organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
em Au (1999, XX-XXV).
<http://www.sualingua.com.br/06/06_xopin.htm> Acesso em dez.2006) justifica a opção por
uma forma e não outra:
[...] prefiro a tradução "centro comercial" ao aportuguesamento "xópin".
Contudo, tenho certeza de que a maioria dos falantes não gosta de "centro
comercial". Nesse caso, assim como aconteceu com football > futebol, a tendência
é passarmos de shopping para xópin.
Por que "x", e não "ch"? A resposta é simples: porque é com "x" que
costumamos nacionalizar os vocábulos estrangeiros grafados com "sh": shilling >
xelim; shampoo > xampu; shaman > xamã; Shangai > Xangai; Sherazade >
Xerazade; Hiroshima > Hiroxima. Celso Pedro Luft aponta como um raro caso
divergente o nosso chutar, proveniente do Inglês shoot, que deveria ter dado
"*xutar", mas não deu, e agora é tarde. Se um dia vencermos nossas resistências e
aportuguesarmos "show", a forma resultante vai ser "xou" - a mesma usada pela
Esse comportamento, porém, em relação aos derivados de nomes estrangeiros não é
regra. HouE (2001)
95
assim se manifesta a respeito:
Os termos derivados de nomes próprios estrangeiros com grafias estranhas
ao português (com w, y, ll, th etc.) preservam, neste dicionário, as características da
grafia original, de acordo com praticamente todas as convenções de simplificação
ortográfica do português tentadas historicamente no Brasil e em Portugal:
byroniano, kepleriano, beaufórtia, wagneriano, behaviorismo etc. O dicionário
também registra, quando existentes, as formas equivalentes mais aportuguesadas,
mas como entradas remissivas (boemita -> boehmita). A regra é quebrada no
caso de vocábulos que desceram ao nível zero da língua, popularizando-se: dália (e
não dahlia, embora o epônimo seja um botânico sueco de nome A. Dahl).
A exceção, portanto, parece ser (além dos “vocábulos que desceram ao vel zero da
língua”) os derivados “híbridos” (como skatista) que se confrontam com formas originais e/ou
aportuguesadas, independentemente das estatísticas de uso de uns e outros.
4.3 ONDE SE INSEREM OS MANUAIS
Os manuais de redação jornalística são tipos de dicionários abertamente normativos.
Dizem como deve e não deve ser, baseando suas justificativas ora nos dicionários, ora no uso,
ora na opinião de uma autoridade. Não abordam a língua como um todo, mas as partes que
costumam suscitar dúvidas, as formas recentes, os usos que estão se modificando e algumas
formas muito presentes mas ainda capazes de gerar confusão por semelhança a outras
formas vernáculas ou estrangeiras.
Discutiremos no capítulo seguinte como os manuais (e os dicionários) abordam o novo
na ngua, a que anseios atendem ao tratá-los do modo como o fazem e qual o mérito deste
modo.
95
No item “Conhecendo o dicionário, detalhamento do verbete e outras informações técnicas”, nº 20.
5 LINGUAGEM JORNALÍSTICA E NEOLOGISMO
5.1 A LINGUAGEM JORNALÍSTICA
O texto jornalístico tem características próprias que o configuram como tal e o
distinguem de outros tipos de texto: “existe um ‘modo de fazer’ jornalístico, claramente
diferenciável do modo próprio do estilo literário puro, do didático, do filosófico, do científico
e até da fala popular ou coloquial”
96
(VIVALDI, 1993, p.23). Para Lage (2005, p.73), o que o
caracteriza “é o volume de informação factual”. O texto básico do jornalismo, segundo o
autor, é a “notícia”, que “expõe um fato novo ou desconhecido, ou uma série de fatos novos
ou desconhecidos do mesmo evento, com suas circunstâncias”.
É escrito numa linguagem definida no MaESP (1997, p.15) como um meio-termo
entre a linguagem literária e a falada”. Segundo o MaFSP (2006, s.v. linguagem coloquial), “o
texto de jornal deve ter estilo próximo da linguagem cotidiana, sem deixar de ser fiel à norma
culta, evitando erros gramaticais, gíria, vulgaridade e deselegância”
97
.
na primeira orientação do MaESP (1997, p.15) se apresentam os principais
elementos dessa linguagem: “seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso”.
Para Vivaldi (1993, p.29), a clareza é a “condição primeira do texto jornalístico”
98
:
deve-se escrever, segundo ele, para que todos entendam: “o douto e o menos douto, o erudito
e o não erudito, o especialista na matéria e o leigo, o muito inteligente e o menos
inteligente”
99
, o que exige do escritor “clareza de idéias e transparência expositiva”
100
.
Isso significa que, quando a informação provém de uma área especializada do
conhecimento, ela deve ser “traduzida” por meio de palavras mais simples; não basta nem se
deve simplesmente reproduzir as declarações de um cientista, de um político, de um
economista, se estas não forem facilmente compreendidas. Conforme o MaFSP (2006, s.v.
96
[existe um “modo de hacer” periodístico, claramente diferenciable del modo propio del estilo literario puro,
del didáctico,del filosófico, del científico y hasta del habla popular o coloquial]
97
Como se viu no capítulo anterior, nem sempre é fácil definir o que é essa “norma culta”. Se a entendemos
como “norma padrão”, como norma da maioria dos dicionários e gramáticas, temos de lembrar, no entanto, que o
próprio manual se encarrega de infringi-la ao sugerir formas padronizadas desconformes àquelas do dicionário
Aurélio (cf. Manual de redação da Folha de S. Paulo (2006, s.v. palavras padronizadas)).
98
[condición primera de la prosa periodística]
99
[el docto y el menos docto; el erudito y el no erudito; el especialista en la materia y el profano; el muy
inteligente y el menos inteligenter]
100
[claridad en las ideas y transparencia expositiva]
linguagem coloquial), “palavras difíceis e construções rebuscadas dificultam a comunicação e
tornam o texto pedante”, assim “ele não sabe quanto gastou na compra é melhor que ele não
dispõe dos custos exatos da transação comercial”.
A maioria dos manuais de redação apresenta exemplos similares para ilustrar a
questão. O MaESP (1997, p.15) determina: “Em qualquer ocasião, prefira a palavra mais
simples: votar é sempre melhor que sufragar, pretender é sempre melhor que objetivar,
intentar ou tencionar; voltar é sempre melhor que regressar ou retornar, tribunal é sempre
melhor que corte, passageiro é sempre melhor que usuário; eleição é sempre melhor que
pleito; entrar é sempre melhor que ingressar”.
O MaOGl (2001, p.25) afirma que “quando o policial diz viatura, cabe ao jornalista
traduzir para carro, caminhonete ou o que for. O economista se preocupa com reversão
negativa de expectativas; o jornalista resumirá para decepção. O advogado faz rapapé com
egrégia corte; o jornalista secamente dirá tribunal”.
Lage (2001a, p.71-73) situa o texto jornalístico entre dois pólos: de um lado um grupo
social influente, com liderança econômica, política e intelectual, empenha-se em preservar o
que chama de vernáculo; de outro, o compromisso com a eficácia da comunicação exige a
linguagem mais coloquial possível. O próprio autor lembra, porém, que “a questão tem outros
aspectos relevantes”: “a adoção do coloquialismo como critério implicaria rápidas mudanças e
regionalização dos idiomas nacionais”, o que afetaria “o próprio conceito de nação (a difusão
de leis, regulamentos, expressão de direitos)” e “também o aprendizado de ciências e artes e a
durabilidade dos documentos”. E acrescenta: “Se, do ponto de vista lingüístico, a língua real,
primeira, é oral [...], do ponto de vista sociopolítico, as sociedades modernas, com seu aparato
tecnológico e cultural, fundam-se justamente na relativa durabilidade e amplitude geográfica
dos idiomas – na preservação, enfim, de certo nível de formalidade”.
Lage (2001a, ibid) distingue dois conjuntos de itens léxicos e formas gramaticais: “o
do registro formal da linguagem, construído pelas palavras e usos gramaticais consagrados,
que aponta para a modalidade escrita, âmbito nacional, a postura solene e o passado recente
da língua”; e “o registro coloquial de linguagem, próximo do enunciado oral, da comunicação
expressiva, regional ou dialetal, e, muitas vezes, do futuro imediato do idioma”. A conciliação
desses dois conjuntos, segundo ele, é atingida “toda vez que a comunicação utiliza como
linguagem básica aquela composta dos itens léxicos e formas gramaticais possíveis tanto no
registro coloquial quanto no registro formal da língua”. Lage (2001a, p.73) os representa da
seguinte maneira:
Esquema 2: Registros de linguagem
Embora se busque a simplicidade - o “meio-termo entre a linguagem literária e a
falada” -, a precisão também é um elemento fundamental no texto jornalístico. De acordo
com o MaOGl (2001, p.28), uma palavra é “imprecisa” quando seu significado não
corresponde exatamente à idéia que se quer transmitir, e “ambígua” quando corresponde a
mais de uma idéia. Segundo o MaESP (1997, p.17), deve-se desconfiar dos “sinônimos
perfeitos” e de “termos que sirvam para todas as ocasiões”, pois, “em geral, uma palavra
para definir uma situação”. Pode-se recorrer, segundo o manual, aos termos técnicos quando
estes forem indispensáveis.
Além de claro e preciso, o texto jornalístico, como lembra o MaESP (1997), deve ser
“direto, objetivo e conciso”. Sobre a concisão, o MaFSP (2006, s.v. concisão) afirma que
“tudo o que puder ser dito em uma linha não deve ser dito em duas”. Expressões como por
outro lado, enquanto isso, ao mesmo tempo, não obstante são consideradas vícios lingüísticos
pelo MaESP (1997, p.18), que recomenda dispensá-las.
Ser direto e objetivo significa eliminar comentários e opiniões, deixando que o leitor
tire dos fatos relatados suas próprias conclusões. Adjetivos como feio, bonito, gordo, magro,
inteligente e outros dependem da subjetividade de quem os profere, por isso, como explica
Lage (2005, p.131), é preferível, por exemplo, alinhar os bens de uma pessoa para demonstrar
que ela é rica ou reproduzir depoimentos de entendidos sobre a beleza para provar que é bela.
O texto jornalístico costuma ser estruturado de forma que o elemento mais importante
da notícia venha sempre em primeiro lugar. É o que se chama de técnica da “pirâmide
invertida”. As informações vão sendo alinhadas em ordem decrescente de importância. O
primeiro parágrafo constitui o que se chama no jargão jornalístico de lead (inglês) ou lide
(aportuguesado). É a abertura do texto e contém as informações mais importantes do fato em
questão. Deve responder às perguntas essenciais relativas ao acontecimento (ou à maioria
delas): o quê, quem, quando, onde, como, e por quê?
101
Essas orientações configuram uma linguagem jornalística básica, mais voltada para o
texto noticioso, informativo. Porém, o texto jornalístico também se caracteriza pela variedade:
apresenta-se em diferentes veículos (rádio, jornal, televisão), categorias (opinativo,
informativo, interpretativo, diversional) e gêneros (nota, notícia, reportagem, artigo), e, em
cada um deles, as regras se aplicam com maior ou menor rigor, dependendo da função que se
quer privilegiar (informativa ou opinativa, por exemplo). É por essa razão que Vivaldi (1993,
p.29-35) apresenta qualidades e requisitos de um bom estilo jornalístico que, por vezes,
parecem se chocar: clareza, concisão, densidade, exatidão, precisão, simplicidade,
naturalidade, brevidade, detalhismo, correção e propriedade, ao lado de originalidade,
variedade, atratividade, ritmo, cor e sonoridade. A originalidade se refere à sinceridade
expressiva, à autenticidade (“o escritor original é aquele que não imita ninguém e que
ninguém consegue imitar”). A variedade significa evitar a monotonia, a pobreza de
vocabulário (o que o significa, por exemplo, empregar causídico ou doutor, no lugar de
advogado (Cf. MaFSP, 2006, s.v. repetição de palavras). A atratividade é contrário de um
estilo “torpe”, “cinza”, “insosso”.
O autor de um artigo assinado terá mais liberdade na escolha do léxico do que o autor
de um texto informativo, um relato de interesse humano tenderá a ser mais leve e “colorido”
do que uma matéria sobre a alta do dólar.
A seguir, falaremos desses gêneros e categorias.
5.2 GÊNEROS JORNASTICOS
Como se disse, o texto jornalístico não é uniforme. Costuma ser dividido em gêneros,
de acordo com a sua finalidade, estilo, modo de escrita, natureza do tema, articulações
interculturais (Melo, apud PENA, 2005, p.67), dentre outros.
A primeira tentativa de classificação dos gêneros ocorreu, segundo Melo (1994, p.37),
no início do século XVIII, quando o editor inglês Samuel Buckeley, do jornal Daily Courant,
101
Alguns autores ampliam o número de perguntas básicas: Quem fez? O quê? A quem? Quando? Por Quê? Para
quê? Onde? Como? Com que desdobramentos? (Cf. PENA, 2005, p.42).
decidiu separar as notícias (news) dos comentários (comments) ou, em outras palavras, a
informação da opinião. Essa divisão, conforme Pena (2005, p.66), levou quase duzentos anos
para ser efetivamente aplicada pelos jornalistas e ainda hoje causa divergências, já que a
objetividade pretendida no texto informativo a rigor não existe (ainda que o jornalista deva
procurar ser o mais objetivo possível)
102
. De acordo com Melo (1994, p.182) (1985, p.148),
um dos autores, ao lado de Beltrão (1980), que mais se dedicaram ao estudo dos gêneros
jornalísticos no Brasil:
a fronteira entre a informação e a opinião, metodicamente implantada pelo
jornalismo inglês e levada às últimas conseqüências pelo jornalismo norte-
americano, nunca existiu entre s. Praticamos sempre formas de expressão
jornalística que, a não ser residualmente, deixaram de seguir o exacerbado
panfletarismo francês e tampouco absorveram o receituário da objetividade norte-
americana.
Após apresentar um apanhado de classificações dos gêneros jornalísticos em diversos
países, Melo (1994, p.64-65) chega ao seguinte modelo para a realidade brasileira,
distinguindo duas categorias principais (jornalismo informativo e jornalismo opinativo) e
doze gêneros:
Quadro 3: Categorias e gêneros jornalísticos
Categorias Jornalismo informativo Jornalismo opinativo
Gêneros
Nota
Notícia
Reportagem
Entrevista
Editorial
Comentário
Artigo
Resenha
Coluna
Crônica
Caricatura
Carta
102
Cf. MaFSP (2006, s.v. objetividade).
Melo (1994, p.62-64) leva em conta dois parâmetros para determinar essas duas
grandes categorias: a intencionalidade determinante dos relatos de reproduzir o real e de ler o
real; e a natureza estrutural desses relatos.
Quanto ao primeiro parâmetro, o jornalismo se articula, conforme o autor, em função
de dois núcleos de interesse: “a informação (saber o que se passa) e a opinião (saber o que se
pensa sobre o que se passa)”.
Quanto ao segundo parâmetro, os gêneros informativos “se estruturam a partir de um
referencial exterior à instituição jornalística”, isto é, a partir da eclosão e evolução dos
eventos; enquanto os gêneros opinativos são determinados por variáveis controladas pela
instituição jornalística e que assumem duas feições: “de autoria (quem emite a opinião) e
angulagem (perspectiva temporal ou espacial que sentido à opinião)” (MELO, 1994, p.65-
66).
Segundo Melo (1994, p.65), no jornalismo informativo:
- a nota c2.16436(ã)3.74244(o)-05(o)-0.295585(t)-2.165504(m)-( )6.237-0.146571(i)-2.16.16192(i)-9584(l)-2.16436(a)-6.26 Td2.5172(a)-13 c75(a)3.7285(d)-0.295585(o)-0.2588(L )-20.1584R71(i)-2.16.16185(p)-0.295585(i)(e)3.74( )-70.187 o)LO,o vo5pdoo5
- a coluna é a “seção especializada [...] publicada com regularidade, geralmente
assinada e redigida em estilo mais livre e pessoal do que o noticiário comum”
108
, “tem como
espaço privilegiado os bastidores da notícia, descobrindo fatos que estão por acontecer,
pinçando opiniões que ainda não se expressaram”;
- a crônica é para alguns “um gênero tipicamente brasileiro, não encontrando
equivalente na produção jornalística de outros países”, que “designa uma composição breve,
relacionada com a atualidade”
109
;
- a caricatura é “uma forma de ilustração que a imprensa absorve com sentido
nitidamente opinativo”
110
;
- e a carta é a opinião dos leitores.
Os dois últimos - a caricatura e a carta - têm seu peso e seu espaço no conteúdo
editorial do jornal, porém, do ponto de vista lingüístico, não nos são relevantes.
Outros autores citados por Melo (1994, p.36-66) identificam, ao lado do jornalismo
informativo e do jornalismo opinativo, um jornalismo interpretativo, que procura mostrar ao
leitor o background dos acontecimentos, bem como explicar sua gênese e delinear possíveis
desdobramentos”, e um jornalismo diversional, ameno ou de entretenimento, que abrange
notas pitorescas, segundo alguns autores, e caricatura, quadrinhos, nota policial, nota
esportiva e nota da sociedade, segundo outros; isto é, além de informar e opinar, a intenção
do autor (ou a finalidade do texto) pode ser também de interpretar ou entreter. Melo (1994,
p.63), porém, entende que essas categorias não se aplicam à realidade brasileira. Segundo ele,
“a interpretação (enquanto procedimento explicativo, para ser fiel ao sentido que lhe atribuem
os norte-americanos) cumpre-se perfeitamente através do jornalismo informativo”; e a
diversão é um “mero recurso narrativo que busca estreitar os laços entre a instituição
jornalística e o seu público e não transcende a descrição da realidade”
111
.
5.2.1 Os gêneros e editorias nos jornais
107
Melo (1994, p.125).
108
Melo (1994, p.136-137).
109
RÓNAI, Paulo. Um gênero brasileiro: a crônica (apud MELO, 1994, p.146).
110
Melo (1994, 164).
111
Melo (1994, 63).
O MaFSP (2006, s.v.) identifica como gêneros jornalísticos:
1) a análise: contém a interpretação do autor e é sempre assinada;
2) o artigo: contém a opinião do autor e é sempre assinado;
3) o editorial: expressa a opinião do jornal e nunca é assinado; deve ser enfático,
equilibrado e informativo, apresentar a questão tratada e desenvolver os argumentos
- Esporte.
O MaESP (1997) não apresenta os gêneros nos quais se enquadram as matérias do
jornal, mas podemos distinguir as seguintes editorias:
- Nacional;
- Internacional;
- Vida;
- Esportes;
- Caderno 2;
- Cidades;
- Economia & Negócios.
O tratamento dispensado aos neologismos não é o mesmo para todos os gêneros,
categorias e veículos, conforme mostraremos mais adiante.
Os veículos - rádio, tevê, jornal, revista, internet - possuem peculiaridades, que se
refletem na linguagem adotada: o que difere o texto do rádio dos textos da imprensa é a
instantaneidade do meio: o ouvinte tem uma chance para entender o que está sendo dito
(BARBEIRO, 2001, p.62), não pode ler de novo o que não compreendeu, por isso o cuidado
deve ser redobrado com a cacofonia, o ordenamento, a escolha e a pronúncia das palavras. Em
relação ao texto televisivo, o texto veiculado no rádio (e também na imprensa) deve ser mais
completo e descrever de forma clara o que o ouvinte não está vendo: na tevê, as imagens,
muitas vezes, “falam mais do que as palavras”. Deteremo-nos, porém, aos jornais, cujos
manuais de redação nos servem de mote.
5.3 MANUAIS DE REDAÇÃO E ESTILO
5.3.1 Os precursores
O primeiro manual de imprensa no Brasil foi escrito em 1950 pelo então chefe de
redação do jornal Diário Carioca, Pompeu de Souza. Denominado Regras de Redação do
Diário Carioca, baseava-se nos stylebooks americanos e em leituras de jornais ingleses e
franceses. Como relata Souza (apud MACHADO, 2003):
Meu objetivo era de criar ou adaptar para nós a técnica redacional baseada
no copy-desk
113
. Estabelecer as linhas mestras de uma redação objetiva, com
informações objetivas, sem nenhum comprometimento com a opinião. Foi então
que surgiu o lead, logo em seguida o sublead
114
, e com eles o copy-desk.
Segundo MACHADO (2003), “antes da implantação dessas novas técnicas a
apresentação das matérias jornalísticas era feita à base de nariz-de-cera, ou seja, criava-se
primeiro todo um contexto, e a notícia mesmo só aparecia no pé da matéria”.
Lage (2005, p.58) descreve o manual como um “documento sintético”:
Contém algumas concessões ao espírito da época: não se admitia chamar
uma mulher casada, pelo menos as da classe dominante, pelo nome; era necessário
precedê-lo de d. Da mesma forma, o pronome para o Papa não era ele, mas Sua
Santidade, e temia-se que fosse impossível suprimir inteiramente o Exa. do nome
de alguns personagens. Esses preceitos tiveram que ser modificados ao longo do
tempo, à medida que a evolução dos costumes ia permitindo as mudanças.
Pouco depois da adoção das Regras de Redação do Diário Carioca, ainda na década
de 50, o jornalista Carlos Lacerda lançou o manual da Tribuna da Imprensa, também
inspirado nos stylebooks da imprensa americana.
Dos veículos atuais não jornais, mas também emissoras de rádio e de televisão –,
a maioria possui regras escritas divulgadas internamente e/ou também externamente.
O jornal O Globo editou seu primeiro manual de redação no início da década de 60.
De circulação interna, foi mais tarde sucedido por novas edições atualizadas.
O jornal A Folha de S. Paulo foi o primeiro a apresentar suas normas ao público em
geral com o lançamento do Manual da redação em 1984. Seguiram-no os manuais da Editora
113
O copy-desk ou copidesque, conforme Lage (2005, p.69), é o profissional na empresa jornalística que tem a
incumbência de revisar originais.
114
O sublead, segundo Lage (2005, p.77), é o segundo parágrafo de um texto jornalístico, que contém
informações adicionais ao lead.
Abril, em 1990, do Estado de S. Paulo, em 1990, d’O Globo, em 1992, da Zero Hora, em
1994, e outros.
5.3.2 A preocupação com a norma
O surgimento e a permanência de manuais de redação nos principais jornais do país
demonstra uma preocupação com um modelo ideal de língua (ainda que esse modelo se
choque, por vezes, com o modelo ideal das gramáticas e dos dicionários) que possibilite a
descrição dos fatos do dia-a-dia de forma compreensível para o maior número possível de
pessoas. Não serve à empresa jornalística que cada profissional escreva do modo que lhe
convier, pois isso revelaria desorganização e ausência de critérios, existe a necessidade de se
manter uma linha, um nível elevado”, que represente planejamento, observação, cuidado e
rigor.
No capítulo denominado “Padronização e estilo”, o MaFSP (2006, p.50) é explícito a
respeito da necessidade e da busca de um ideal: “Neste capítulo, na forma de verbetes,
resumem-se as recomendações que a Folha faz a seus jornalistas para a elaboração de textos
de acordo com os critérios de excelência do jornal”. Em HouE (2001, s.v.), excelência
(“qualidade do que é excelente, qualidade muito superior”) está ligada a ideal, em sua quinta
acepção (“modelo de perfeição ou excelência”).
O MaAbr (1990, p.9) inicia o prefácio com a pergunta “Por quê um Manual de
Estilo?”. E responde:
[...] nosso objetivo tem sido sempre o mesmo: transmitir notícias corretas,
informação confiável, conhecimento, entretenimento e reflexões da maneira mais
precisa, mais agradável e mais clara possível. Isso é muito mais difícil do que pode
parecer à primeira vista. Pois não regras para definir o que seja “escrever bem”,
nem escolas para ensinar a fazê-lo. No máximo e já é muito consegue-se ajudar
os interessados a escrever corretamente. [...] precisávamos de algum instrumento
para codificar e transmitir os padrões desenvolvidos e as lições aprendidas.
Novamente se vê a necessidade de se guiar por certos padrões, descritos no manual:
Há, felizmente, algumas normas práticas e testadas para nos orientar. Elas
nasceram do bom senso, da inteligência, da experiência e do sofrimento de
jornalistas e escritores que passaram pelo pior. O presente Manual de Estilo
procura sintetizar várias observações como essas, que de um jeito ou de outro
influenciaram os textos de qualidade que têm sido publicados nas revistas da
Editora Abril.
Assim como fizeram e vêm fazendo gramáticos e lexicógrafos ao longo dos séculos,
também os jornalistas e autores de manuais de redação procuram reunir e sistematizar o que
se considera “certo” ou “errado”, “desejável” ou “indesejável” na língua e na comunicação.
O MaOGl (2001, p.75) informa que “é responsabilidade exclusiva do autor zelar pela
integridade gramatical de seu texto [...] por brio profissional [...] e por duas outras razões”:
1. O mau português freqüentemente mutila a informação e torna difícil
entendê-la; e sempre ofende o senso estético de quem lê. Para o jornalista, os erros
mais graves estão nos capítulos do vocabulário (uso de palavras erradas,
inadequadas ou inexpressivas) e da sintaxe (problemas de organização e
relacionamento das palavras dentro da frase e do período). Mas todos os tropeções
são desmoralizantes. Se um texto revela ignorância sobre algo tão simples como o
uso da crase, o leitor tem direito a considerar o autor desleixado (porque não quis
aprender) ou intelectualmente deficiente (porque não conseguiu aprender). Não se
poderá acusar esse leitor de injusto se concluir que a notícia mal escrita é irmã da
apuração claudicante.
2. O jornal é a única leitura habitual de milhões de cidadãos e, se a
imprensa não tem a pretensão de ensinar o povo a falar e escrever corretamente,
tem pelo menos a obrigação de não deseducá-lo.
As mesmas preocupações básicas se revelam no prefácio do MaESP (1997, p.9): “O
Manual não pretende [...] tolher a criatividade de editores, repórteres e redatores, nem impor
camisas-de-força aos jornalistas da empresa. Seu objetivo é claro: definir princípios que
tornem uniforme a edição do jornal”.
5.3.3 As autoridades empregadas
Os manuais de redação e estilo recorrem a diferentes “autoridades” para justificar suas
escolhas. São elas:
- o dicionário Aurélio
- o dicionário Houaiss
- o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP)
- a gramática (sem especificar qual)
- estudiosos do idioma
- a própria instituição jornalística ou o autor do manual
Na apresentação do MaESP (1997, p.5), depara-se com a autoridade do próprio autor,
que tem “a experiência de quem chefiou incontáveis editorias no jornal, foi seu secretário de
Redação e por oito anos auxilia a direção na qualidade dos textos publicados”. No prefácio,
salienta-se a colaboração do filólogo Celso Cunha e da professora Flávia de Barros Carone.
Dicionários e gramáticas são apresentados na bibliografia. Na macroestrutura da obra, porém,
a autoridade mais freqüentemente mencionada é o dicionário, quando se determina que não se
usem certas palavras por não estarem dicionarizadas.
O MaFSP (2006, p.146) determina que se siga a orientação do dicionário Houaiss a
respeito da palavra mini (com fen e sem acento antes de palavra iniciada por h: mini-
hospital, mini-helicóptero) e do VOLP a respeito da aceitação das formas anti-sepsia, anti-
sepsiar e anti-séptico e antissepsia, antissepsiar e antisséptico. Determina, porém, que se
infrinja a norma do dicionário Aurélio em alguns casos, como, por exemplo, black tie, dona-
de-casa e hot dog, no lugar de black-tie, dona de casa e hot-dog.
O MaAbr (1990, p.11) recomenda que se conheça bem o idioma e suas regras
gramaticais, “até para quebrá-las”.
5.3.4 A quebra da norma: o neologismo
Ainda que se reforce sempre a necessidade de se seguir e de se conhecer um padrão,
sabe-se que a linguagem jornalística freqüentemente se caracteriza também por quebrar essas
regras. Seja por falta de espaço num título, seja por um necessidade expressiva (por exemplo,
chamar a atenção do leitor com uma expressão mais forte” ou irônica), seja pela ausência de
um termo vernáculo a representar uma nova realidade, criam-se palavras constantemente.
Lage (2005, p.129) admite os neologismos como parte da linguagem jornalística:
Criam-se neologismos e atualizações necessárias (malufista, petista),
formas condensadas que se originam da circunstância de os tulos terem letras
contadas (desarme por desarmamento), bem como incorporam-se expressões
populares e de gíria que se generalizam (bumbum, bicheiro etc.) (LAGE, 2005,
p.129).
[...] a linguagem jornalística incorpora, eventualmente grifadas, expressões
de criação recente, que nela se marcam pelo exotismo (frescões, ônibus com ar
refrigerado”; fusca, “sedã Volkswagen”) (LAGE, 2001a, p.74).
Da mesma forma, surgem denominações transpostas de jargões científicos
ou siglas para designar novos objetos (radar, leiser), com intenção crítica
(senadores biônicos, marajás do serviço público), atualizações necessárias
(castelista, petistas). Expressam-se, nessas criações, realidades do poder; é o caso
da incorporação de termos surgidos na televisão, que é veículo hegemônico, ou da
introdução recente de expressões técnicas dos economistas (insumo, estagflação) no
vocabulário dos meios de comunicação social (LAGE, 2001a, ibid).
Assim, segundo o autor, os neologismos no texto jornalístico nascem de:
a) atualizações necessárias (malufista, petista);
b) formas condensadas que se originam da circunstância de os títulos terem letras
contadas (desarme por desarmamento);
c) expressões populares e de gíria que se generalizam (bumbum, bicheiro);
d) expressões “exóticas” (frescões, “ônibus com ar refrigerado”; fusca, “sedã
Volkswagen”);
e) jargões científicos ou siglas para designar novos objetos (radar, leiser);
f) expressões técnicas dos economistas (insumo, estagflação);
g) expressões com intenção crítica (senadores biônicos, marajás do serviço público).
Como vimos no primeiro capítulo, essas configurações decorrem de duas causas:
necessidades expressivas e economia discursiva.
As expressões populares e de gíria que se generalizam, as expressões exóticas e as
expressões com intenção crítica (itens c, d e g) decorrem de uma necessidade expressiva e
representam uma economia discursiva ao sintetizarem uma idéia.
As formas condensadas em função do título também se dão por uma economia
discursiva, bem como as atualizações necessárias e os jargões técnicos e científicos (itens a, b,
e e f). Como se viu à página 3 do primeiro capítulo, é mais fácil criar uma palavra, como
petista, por exemplo, do que dizer “filiado ou simpatizante do PT”.
Vivaldi (1993, p.367) não prevê o uso do neologismo no texto jornalístico como o
estimula, ao defini-lo:
[...] vocábulo ou acepção novos numa língua ou idioma; palavra de nova
criação que brota da imperiosa necessidade vital de dar nomes a coisas novas
(objetos ou conceitos). Exemplos: todos, ou quase todos, os vocábulos da
Astronáutica ou da Eletrônica: cosmonauta, satélite artificial, radar, computador
etc. A linguagem jornalística, por sua obrigatória proximidade à fala popular, é
deve ser criadora e divulgadora de neologismos. Todo o novo e o jornalismo é
essencialmente “novidoso” de contar com o vocábulo expressivo que o
designe. Só se impõe ao jornalista uma certa atitude crítica ante o neologismo
quando a palavra nova for cacofônica, quando, morfologicamente, repugnar o
sentido do idioma ou quando não for absolutamente indispensável por haver
outra ou outras palavras em pleno uso que designem o que o novo vocábulo
pretende expressar.
Assim como palavras novas são incorporadas à linguagem jornalística, outras palavras,
novas e velhas, são vetadas, banidas por tempo indeterminado. Lage (2001a, p.76), citando
Eduardo Prado Coelho, enumera alguns itens lexicais “interditados na imprensa durante os 46
anos” do regime salazarista em Portugal: comunista, fascista, luta de classes, orgasmo,
virgem, censura, Partido Comunista Português, tortura. No Brasil, segundo LAGE (2001a,
ibid), estiveram banidas no noticiário palavras como camponês (em seu lugar, lavrador),
latifundiário (grande fazendeiro), amante (parceiro), Partido Comunista (salvo se precedido
da palavra extinto ou referido a países remotos), greve (paralisação), burguesia (classes
produtoras), parentes (familiares) e pobre (modesto, humilde).
Lage (2001a, p.77) ressalta também as “invenções politicamente corretas”, pela qual
se vetam determinadas palavras e se sugerem outras para substituí-las, como afro-americano,
no lugar de negro, ou gênero, no lugar de sexo. Segundo ele ainda, “deve-se ter cuidado com
o modismo recente de trocar denominações para ‘melhorar a imagem’ dos entes nomeados”:
Chamar uma pessoa de “idosapode ser gentil, mas dizer que ela está “na
melhor idade” pode ser tomado como escárnio. Como a lepra é hoje curável, tem
cabimento chamá-la de hanseníase, suprimindo o estigma associado ao nome. Mas
certamente não basta trocar o nome de uma favela para “vila operária” ou
“condomínio popular” para que as pessoas que moram vivam, ou suponham que
vivem, menos mal (LAGE, 2005, p.130).
A situação inversa parece se dar na imprensa sensacionalista, quando, em vez de se
“suavizar” uma idéia, empregam-se palavras “fortes” para dar mais importância à notícia do
que ela realmente tem.
Os neologismos, embora previstos e estimulados por alguns autores e encontrados em
profusão nos textos jornalísticos, são tratados pelos manuais de redação, de maneira geral,
como algo a se combater.
5.3.5 O neologismo nos manuais de redação
Nos manuais de redação existe uma preocupação com as palavras novas na língua, os
neologismos, porém eles não costumam ser identificados como tais. A preocupação dessas
obras consiste quase sempre em combatê-los, evitar o seu uso, como se fossem um mal por si
só. Por não constarem nos dicionários, são considerados “palavras inexistentes”, porém sua
“existência” se torna inequívoca pelo fato mesmo de serem lembrados e combatidos. O
MaESP (1997) considera inexistentes as palavras agilizar, sediar e disponibilizar, todas hoje
dicionarizadas. No próprio site do jornal O Estado de S. Paulo (disponível em
<www.estadao.com.br>), uma busca por cada uma delas registra diversas ocorrências.
Os manuais de redação apresentam um comportamento estritamente normativo, como
se percebe pelas orientações imperativas e/ou categóricas: “a palavra não existe”, “nunca
use”, “palavra vetada; use...”, “prefira... a...”, “evitável; prefira...”, “desnecessária”, “substitua
por...”, “só pode ser usada (de tal forma)”.
O MaFSP (2006. s.v. palavras padronizadas) afirma que, em geral, “adota a ortografia
recomendada pelos dicionários de língua portuguesa mais conceituados”, porém, em alguns
casos, opta por contrariar a norma dos dicionários
115
:
Quadro 4: Palavras padronizadas no MaFSP (2006)
Palavras padronizadas
Use (forma indicada
pela Folha)
Não use (forma admitida
pelo Aurélio)
“babysitter”
birô
“black tie”
dona-de-casa
estresse
“fair play”
faits-divers”
free-lance
garagem
grife
habeas corpus
hot dog
jeton
jiu-jitsu
livre comércio
long play
manicure
poeta (feminino)
quórum
Réveillon
striptease
trólebus
videogame
“welfare state”
xerox
baby-sitter
bureau
black-tie
dona de casa
stress
fair-play
fait divers
freelance
garage
griffe
habeas-corpus
hot-dog
jetom
jiu-jítsu
livre-comércio
long-play
manicura/manicuro
poetisa
quorum
réveillon
strip-tease
tróleibus
video game
welfare State
xérox
115
Em edições anteriores, o manual determinava que não se utilizasse mais o trema e, de fato, aboliu-o nos textos
do jornal, desprezando a lei ortográfica em vigor; mais tarde, porém, voltou a adotá-lo.
No MaESP (1997), fala-se de “estrangeirismos”, “palav85(a)3.7as deapa(s)-146”85(e)3.74( )-330.585(e)3.74( )-330.345(e)24p elap a(s)-146 Elpenlstaptas”,,sam,ldeptlfiee39014024(-)2.80.74(l)-2.16558(a)7585(s)29972.74(,)-0.147792(,)-0.147.74(p)-0.295442(o)-0.295585(,)-0.146585(e)3.74(p)-0.295312(i)-12.1a85(e)3.74(p)-0.295312(t)-2.16442(o)-0.295.74(,)-0.146571(,)-0.146c85(e)3442(o)-0.295312(m)-2.4599t,deotogismos,,pos,easosnam,op a30.15792(,)-0.146442(o)-0.295585(,)-0.146585(s)-1.2ã61(a)24p ,, ,0n mas0n s“gd“0nde0ni“sma0ntip p e859336 a36.924(E)11 0 T585(s)29972u74(p)-49eg“rlppo24(2192a41(“)3.74(d)-0.295585(e)3.74(n)-10.3558(a)7585(s)29972571(24(2192q42(o)-0.295u74(p)-0.295581(“)-6.2571(24(2192585(s)29972e31(“)-6.2571(24(2172442(o)-0.295585(s)29972571(24(2192341(“)3e36(a)3.74(v85(a)3.i74(l)-2.16t)2(t)-680.585(e)3.741 )-2232e39(a)3312(m)-2.45792(24(2172t)2(t)-2.16585(e)3x74(n)-1195312(t)-2.16442(o)-0.295585(s)-1.2571(24(2172.74(p)-0.295442(o)-0.295t12(t)-2.16439(i)-2.16c45(e)24)3i12(t)-2.1644)556259s)-36411 0 T585(s)-1.2442(o)-0.295585(s)-1.2312(”)3.74(,)-0.146571(24(2172p74(p)-0.295442(o)-0.295439(i)-2.16436(s)-1.2571(24(2172341(“)3.74(p)-0.295442(o)-0.295341(d)-0.295585(e)3312(m)-2.45792(24(2172436((s)-146585(e)3703(r)2.80792(24(2172d74(p)-0.295581(“)-6.2571(24(2172659(e)3.74(p)-0.295312(t)-2.16e39(a30516n74(p)-3130.d74(p)-3130.439(i)-2.16312(m)62.80e45(e)24)3n74(p)-3130.312(t)-2.16442(o)-3130. )250)556-259s)-36924(7611 0 T703(r)5Te39(a)3585(s)29972312(t)-2.16703(r)5Ti74(l)-2.16312(t)-2.16o74(p)-49e)3312(”)3.74(,)-0.147792114(213Td[(N)1.57442(o)-0.295585114(213Tv41(d)-0.295585(e)3r5())2.80b74(n)-1195585(e)3t)2(t)-2.16e39(a)3 )250)556]TJ/R45 12105t)826411 0 T.74(p)-0.295582(o)-0.295l12(i)-1195582(o)-0.295v85(e)3r55(s)29972a42(o)-0.295585(s)29972571(14(213T659(e)3.74(s)-1.2312(t)-2.16434(s)-1.2a42(o)-0.295.74(p)-0.295g41(d)-0.295585(e)3i12(t)-2.16434(s)-1.2a42(o)-0.29558389)556]Tj/R7 12106.5036411 0 T.74(,)-0.146571(14(2123.74(p)-0.295442(o)-0.295703(r)2.80é81(“)-6.2312(m)-2.45.74(,)-0.146571(14(2123561(a)3d74(p)-0.295442(o)-0.295t12(t)-2.16a85(e)3.74(14(2123u74(p)-0.295312(m)-2.45561(a)3571(14(2123.74(p)-0.295442(o)-0.295.74(s)-1.2312(t)-2.16u42(o)-0.295703(r)2.80561(a)3571(14(2123312(m)-2.45659(e)3.74(p)-0.295442(o)-0.295585(s)-1.2571(14(2123c85(e)3561(a)3u74(p)-0.295312(t)-2.16e39(a)24)3.74(l)-2.16442(o)-3130.585(s)-0-12a41(“)24)3:74(l)-2.16571(14(2123341(“)-346(A[(N)319. )250)556-2((s685.924(E)11 0 TF)5.675356o74(p)-49e)3.74(l)-2.16h74(p)-49e)3561(a)3571(8(p)546c85(e)3442(o)-0.295n42(o)-0.295585(s)29972i74(l)-2.16341(d)-0.295581(“)-6.2703(r)5.80561(a)3571(8(p)546585(s)29972u74(n)-10.3558(a)7571(8(p)546343(f)2.80u42(o)-0.295n42(n)-10.3ç58(a)12.2ã61(a)7442(o)-0.29558518(p)546c81(“)-6.2703(r)5.80i74(l)-2.16a85(e)3703(r)2.80792(8(p)546[)-4 710.80.74(,)-0.146.74(,)-0.146.74(,)-0.146])-4 710730792(8(p)53T659(e)3q42(o)-0.295u74(p)-0.295i12(t)-2.16v41(d)-0.295585(a)3.74(l)-2.16659(e)3.74(p)-0.295312(t)-2.16e39(a4658)556252.0296411 0 T571(8(p)53T[)-4 710.80.74(p)-0.295442(o)-0.295585(8(p)53T.74(p)-0.295442(o)-0.295703(r)2.80312(t)-2.16u42(o)-0.295015(g)9.71u41(d)-0.295ê59(e)3.74(s)-1.2])-4 710.80585(8(p)53T439(s)-1.2312(e)3312(m)-2.45p42(o)-0.29570-4 710.80e58(a)7571(8(p)532q42(o)-0.295u74(p)-0.295588(a)7571(8(p)532.74(p)-0.295442(o)-3130.585(s)-10.585(s)-10.í12(t)-2.16v41(d)-3130.e39(a)24)3.74(l)-2.16571(8(p)532442(o)-3130.u74(n)299. )250)556-252.0296924(7611 0 Ta41(“)3.74(d)-49e)3o74(p)-49e)3703(r)5Tt)2(t)-2.16u74(p)-49e)3015(g)9936u74(n)-10.3e39(a)3585(s)29972a85(e)3703(r)2.80.74(n)1)373558(a)7571(n)1)373015(g)9.7170-4 710293558(a)7343(f)2.80439(i)-2.16a85(e)3792(,)-0.147341(d)-0.295585(e)3.74(n)1)373.74(d)-43635585(a)3.74(l)-2.16a85(e)3v42(o)-0.295703(r)5.80561(a)3585(s)29972571(,)-901)3d74(n)-10.3e39(a)3792(,)-0.146442(o)-0.295u74(p)-0.295312(t)-2.16703(r)2.80561(a)3585(s)-1.2571(,)-0.146.74(l)-2.16í12(t)-2.16.74(n)-10.3015(g)9.71u41(d)-0.295581(“)-6.243)556243.0236411 0 T”39(a)24)3.74(,)500.1657)556-207.602.926.E)11 0 TD[(N)1.57439(i)-2.16a85(e)3.74(p)-0.295312(t)-2.16e39(a)3.74(n)1)373341(d)-0.295585(e)3.74(n)1)373u74(p)-0.295312(m)-2.45561(a)3571(n)1)373u74(p)-0.295.74(p)-0.295i74(l)-2.16341(d)-0.295561(a)3d74(p)-0.295585(e)3.74(n)1)373.74(n)-10.3442(o)-0.295v41(d)-0.295585(a)3571(n)1)-12n41(d)-0.295a85(e)3.74(n)1)-12.74(l)-2.16í12(t)-2.16.74(o)-0.295015(g)9.71u41(d)-0.295a12(”)3.74(,)-0.146571(n)1)-12442(o)-0.295585(s)-1.2571(n)1)-12312(m)-2.45561(a)3n42(o)-0.295u74(n)-10.3558(a)7439(i)-2.16436(s)-1.2571(n)1)T439(s)-1.231)556258.2726411 0 T571(n)1)-12a41(“)3.74(d)-0.295703(r)2.80659(e)3.74(s)-1.2.74(s)-1.2a85(e)3312(m)-2.45792(n)1)-12e39(a)3312(m)-2.45792(n)1)-12v41(d)-0.295585(e)3t)9(i)-2.16á81(“)-8114024(-)2.80.74(l)-2.16436(a)37922n)1)845585(e)3.74(n)1)25.d74(p)-3130.e39(a)24)3c45(e)24laa-l“ 7611 0 Ti74(l)-2.16n74(p)-49eenlstapta,0nopaopo,0nd“0n)aalldana,(n)-33c85(e)3561(a)3b41(d)-0.295581(“)-6.2703(r)2.80i74(l)-2.16436(a)3792(0n)--47d74(p)-0.295i74(l)-2.16z41(“)-6.2651(“)-6.2703(r)2.80792(0n)--47“85(e)356gnarna0n mato0n estan ttidape0npo 0n tarmna,Eaoeplngismopesde“as(s)-6.2á85(e)3r554 710293i12(t)-2.16442(o)-0.295”85(e)3.742nopoptrareeoiaopa“aomisapeopanaaeanaeaso,d[(()2.80995(o)-0.2957922nmatorsp“asoapitprielperev85(a)3.i74(l)-2.16436(s)-1.2312(t)-2.16a85(e)35712nseaoel)eooan emolopeseolttmo0 mp p alo ,ap0916924(E)11 0 T558(a)7571(,)-0.147703(r)5Te39(a)3.74(v8549e)3439(i)-5.16585(s)29972312(t)-2.16558(a)757250
ocasião, em busca da originalidade e do lado humano dos acontecimentos, dedicou amplo
espaço a uma corrida de de automóveis, falando do público, dos personagens, do espetáculo,
sem informar, no entanto, o vencedor da corrida.
Nunes (1994, p.8-9) acredita que hoje os jornalistas sejam mais despreparados que
antigamente (“lêem pouco (e lêem mal)”), por isso a necessidade de um manual:
Até meados dos anos 60, tivemos muitos jornalistas brilhantes, mas
pouquíssimos jornalistas profissionais. Hoje, sobram jornalistas profissionais, mas
poucos são efetivamente brilhantes sobretudo se prevalecer, entre os critérios
utilizados nessa avaliação, o domínio da língua portuguesa. [...] Se mesmo quem
supostamente vive da palavra escrita não consegue poupá-la de socos e pontapés,
deduz-se que o brasileiro médio também não trate o idioma com a necessária
clemência. Tal suposição amplia a abrangência c99(v)5.7217(e)-14.112p anual.
manual), para que não se perca a neste tipo de orientação e todas as suas instruções sejam
desconsideradas.
As deficiências que se observam nos manuais não são exclusivas deles, pois os
próprios dicionários nos quais eles muitas vezes se baseiam apresentam inconsistências, ou
melhor, não assinalam os neologismos como tais, nem prevêem um tratamento diferenciado
para o seu acolhimento, como veremos a seguir.
5.4 O NEOLOGISMO NOS DICIONÁRIOS
HouE (2001), ainda que apresente a datação dos verbetes, não faz qualquer referência
a neologismos em suas páginas de apresentação. No item “registro diacrônico”, assinala
apenas o que chama de “arcaísmo”, “vocábulo antigo na língua”, “obsoleto” ou
“obsolescente” e “arqueologia verbal”.
Au (1999), no prefácio à terceira edição, afirma que “um dicionário é, por excelência,
uma obra dinâmica” e que: “A expansão da informação, nos dias atuais, é constante, e,
conseqüentemente, o surgimento de novas tecnologias; a língua se modifica por exigência das
várias áreas científicas, literárias, etc., e ainda pela boca do povo”. Diferentemente de HouE
(2001), apresenta em sua lista de abreviaturas a rubrica “neologismo”, porém, sua utilização
no corpo do dicionário é extremamente rara
116
.
Em ambos, o que se percebe é que não uma preocupação específica com esse tipo
de unidade, não se diz ao usuário que a palavra que ele busca é nova e, por isso, mais instável
na língua. Ela é simplesmente inserida no dicionário num dado momento, sem a informação
de que estava ausente em edições anteriores. Aparentemente, essa inserção ocorre quando
se aposta na permanência da nova palavra na língua, isto é, quando ela adquiriu certa
“estabilidade” − e, pelos critérios cronológico e psicológico, deixou de ser um neologismo.
Apesar de não dispensar um tratamento especial aos neologismos, HouE (2001)
menciona uma “gradação normativa” que se poderia aplicar a eles e, muitas vezes, se lha
aplica. Distingue formas “preferenciais” e “não preferenciais”, formas “mais corretas” e
“menos corretas” e palavras ou formas “a evitar” - além de formas “mais usadas” e “menos
usadas” e “uso impróprio” (como se viu, o uso também pode ser um “critério de correção”).
116
Das unidades apresentadas como neológicas neste trabalho, somente agilizar apresenta a rubrica
“neologismo” em AuE (2004, s.v.).
Por “forma não preferencial” entende “aquela julgada menos boa que outra ou outras
[grifo nosso], geralmente por estar mais afastada morfológica ou graficamente de seu étimo
do que estas”. “Mais correto” e “menos correto”, explica, “foram fórmulas criadas para
caracterizar vocábulos diferentes, e não formas variantes de um mesmo vocábulo, como no
caso da forma preferencial e forma não preferencial”. Em seu grau mais elevado de
normatividade, está a “palavra ou forma a evitar” “por preferência de ordem terminológica”
ou “por vício de formação”. Neste caso, HouE (2001) sequer apresenta definição, apenas
escreve “palavra a evitar” e indica outra forma para substituí-la. No verbo rebutar, por
exemplo, encontramos o seguinte: “palavra a evitar, [sc. substituir] por reinicializar
GRAM/USO verbo malformado e inútil, por a língua contar com os vernáculos religar,
repôr em funcionamento, reiniciar etc”.
Podemos comparar essas expressões utilizadas em HouE (2001) formas
preferenciais, formas mais corretas, palavras a evitar etc. - à proposta classificatória de
Rabanales (1984, p.53), examinada no terceiro capítulo deste trabalho (item 3.2.4). Aquilo
que HouE (2001) chama de “palavra a evitar por preferência terminológica ou vício de
formação” poderia se enquadrar nas categorias “exato/inexato” ou “necessário/desnecessário”
do autor. Os estrangeirismos e formas aportuguesadas corresponderiam às classificações de
“falso” e “genuíno”.
um paralelo entre o que cada um chama de “formal/informal” exigiria algumas
ressalvas.
A linguagem formal em HouE (2001) é aquela “de uso culto, literário ou não literário,
empregada no vocabulário poético e no vocabulário solene (oratória acadêmica, religiosa etc.)
ou na linguagem dita esmerada”. A linguagem informal em HouE (2001) é a “denominação
genérica para as palavras, locuções ou acepções classificadas em outras fontes como
popularismos, plebeísmos, gíria, linguagem familiar e linguagem infantil”.
Para Rabanales (1984, p.53), porém, a categoria “formal” existe apenas em oposição à
categoria “informal”, isto é, o “formal” correponde a tudo o que não é “informal”, a todo o
conteúdo neutro, não-marcado, do dicionário. Por exemplo, relaxamento seria formal para ele,
que relax contemplaria a categoria informal; enquanto, para HouE (2001), relaxamento
seria neutro, reservando-se a categoria formal, como disse, para aquelas unidades de “uso
culto [...], empregada[s] no vocabulário solene [...] ou na linguagem dita esmerada”.
Em relação à categoria “culto/inculto”, podemos dizer que HouE (2001) registra
apenas o que se tem por “culto” (incluindo os registros formal e informal, isto é,
popularismos, plebeísmos etc.). Unidades “incultas”, como *mendingo (em vez de mendigo),
*tauba (em vez de tábua), *fumo (em vez de fomos) e *vortemo (em vez de voltamos), não
constam em suas páginas.
As duas propostas aparecem confrontadas na tabela a seguir:
Quadro 5: Propostas em HouE (2001) e Rabanales (1984)
HouE (2001) Rabanales (1984, p. 53)
menos
correto:
basquetebol
mais correto:
bola-no-cesto
forma não-
preferencial:
abreugráfico
absenteísta
forma
preferencial:
abreográfico
absentista
vocábulos e formas
variantes de um
mesmo vocábulo
117
julgados mais ou
menos bons que
outro(s), geral-
mente por estarem
mais afastados
morfológica ou
graficamente de
seus étimos do que
este(s).
Propõe substituir os
termos “mais correto” e
“menos correto” pelos
termos abaixo:
[fr.]
118
:
bureau
forma aportu-
guesada: birô
falso: carnet,
box
genuíno: carné,
boxeo
inexato:
antiproyecto,
antidiluviano,
restrospectivo
exato:
anteproyecto,
antediluviano,
retroactivo
forma ou
palavra a
evitar:
flavorizante
rebutar
[substituir
por:]
aromatizante,
condimentante,
odorizante
reinicializar,
religar, reiniciar
formas a evitar, ou
não, por preferência
terminológica ou
por vício de
formação
desnecessário:
explotar,
concretar/
explosar e
esplosionar,
concretizar
necessário:
explotar,
concretar
mais usado:
basquetebol
absenteísta
azaléia
menos usado:
bola-no-cesto
absentista
azálea
[todo o
conteúdo do
dicionário,
formal e
informal]
culto: anduve,
anduvier
inculto: andé,
andara
formal:
luctíssono
informal:
bumbum,
salafrário
formal:
dinero, bello,
deglutir
informal: plata,
lindo, tragar
117
“Forma preferencial” e “forma não-preferencial” se referem a formas variantes de um mesmo vocábulo (ex:
abreográfico e abreugráfico) e “mais correto” e “menos correto”, a vocábulos diferentes (ex: bola-no-cesto e
basquetebol).
118
Neste caso, o exemplo é de um francesismo, mas poderia ser [am.], de americanismo, ou outro.
No verbete bola-no-cesto, temos, em HouE (2001), as indicações “mais correto” e
“menos usadoque basquetebol. Porém, se o uso, a freqüência, também é um critério de
“correção”, a indicação “mais correto” não nos parece adequada. HouE (2001) não informa
que a forma reduzida basquete é ainda mais usada que as formas basquetebol e bola-ao-cesto;
apenas a remete à basquetebol.
HouE (2001), como se disse, não explica o seu entendimento sobre os neologismos
(nem sequer contempla marcas de uso para eles), porém dois exemplos nos mostram a forma
incoerente com que os trata:
a) Classifica o verbete aistórico, compnos ma st axem aoammcoba na Td[(o)-0.29314l7 12 Tf42.8653 0-11.236653 0-11.271( )250]TJ/R8 1 TdaTf6.72397 0 Td[(cd[484)-0.29ree t
Em nossa opinião, os dicionários deveriam apresentar de forma clara a marcação
“neologismo” acompanhada de outras marcações, como as sugeridas por Rabanales (1984,
p.53) e as próprias marcações já utilizadas em HouE (2001) e AuE (2004).
Esse reconhecimento é importante para que o usuário do dicionário saiba que
determinada unidade é recente e, portanto instável, e possa escolher utilizá-la ou não com
consciência desse fato.
6 PROPOSTAS
Os manuais de redação e estilo dos grandes jornais adotam uma postura claramente
normativa em relação aos neologismos (ou a tudo aquilo que não consta no dicionário).
Instruem o jornalista a evitá-los de maneira geral
120
e particular
121
, porém, em muitas
situações, contradizem sua própria determinação, como, por exemplo, ao sugerirem as formas
mi e bi (não dicionarizadas), no lugar de milhão e bilhão (MaFSP (2006, s.v.)). Além disso, a
regra geral que condena os neologismos contraria o que se observa na prática jornalística, isto
é, nas páginas dos jornais, nas quais se vê diariamente a proliferação de novas palavras, como
albergueiro, burkini (ZH, 06/12/06, 1-2), superbombearam, manchetou, mascalzone,
superpasta, mensalão, personal trainer e torpedear (FSP, 02/12/06, A1-A4).
Os manuais não conseguem, nem poderiam, apresentar todos os casos controversos
um a um, todas as palavras novas à medida que elas surgem. Assim, por mais “confortante”
que possa ser para o jornalista encontrar neles pelo menos algumas dessas palavras com seus
respectivos “receituários”, isto é, com a indicação de como devem ser utilizadas (ou de
quando devem ser vetadas), as soluções simplistas por vezes apresentadas e a incoerência de
alguns argumentos acabam por anular o alento inicial.
Uma visão mais ampla do problema, no entanto, como se tem tentado apresentar neste
trabalho, poderá levar a orientações mais claras e coerentes.
No primeiro capítulo, apresentamos os tipos de neologismos quanto a:
a) sua procedência;
b) os algoritmos que os produzem.
No capítulo anterior, constatamos que o tratamento dispensado a essas unidades difere
conforme o gênero jornalístico, a categoria, a editoria e o veículo
122
.
Temos, desse modo, o seguinte conjunto de variáveis:
120
Cf. MaFSP (2006, s.v. neologismos) e MaESP (1997, s.v. palavras inexistentes).
121
Cf. MaFSP (2006, s.v. falsas traduções) e MaESP (1997, s.v. agilizar, apoiamento, sediar).
122
Detivemo-nos ao veículo jornal.
Categorias e gêneros jornalísticos:
Quadro 6: Categorias e gêneros
Categorias Jornalismo informativo Jornalismo opinativo
Gêneros
Nota
Notícia
Reportagem
Entrevista
Editorial
Comentário
Artigo
Resenha
Coluna
Crônica
Editorias (divisão por temas) identificadas em dois jornais de circulação nacional:
Quadro 7: Editorias
Folha de S. Paulo O Estado de S. Paulo
Brasil
Mundo
Dinheiro
Cotidiano
Ilustrada
Ciência
Esporte
Nacional
Internacional
Vida
Esportes
Caderno 2
Cidades
Economia & Negócios
Tipos de neologismos quanto à sua procedência:
Quadro 8: Procedência
Vernáculos Estrangeiros
Tipos de neologismos quanto aos algoritmos que os geram:
Quadro 9: Algoritmos
Tipos de neologismos
Por processos formais
(novo significante)
Combinação
Conjuntos finitos: derivados (formados por afixos)
Conjuntos infinitos: compostos
por integração: homolexêmicos ou
heterolexêmicos
por integração parcial: morfêmicos
ou não-morfêmicos
Redução
"abreviação", "truncação", "derivação regressiva"
Por processos sêmicos
(novo significado)
Figuras de linguagem, etimologia popular, atração
homonímica, empréstimo semântico
Por processos de
incorporação de signo
Estrangeirismos, empréstimos, onomatopéias, decalques
sintagmáticos, gírias, regionalismos, idioletos, termos (os
quatro últimos, dependendo do enfoque)
Por transposição
funcional
Substantivos que se tornam adjetivos, verbos e advérbios que
se tornam conjunções, qualquer palavra que se torna
substantivo etc.
Trataremos de cada um desses tipos a seguir; primeiramente, quanto à sua procedência
e, mais detidamente, quanto aos algoritmos que os geram, confrontando-os com categorias,
gêneros jornalísticos e editorias.
6.1 PROPOSTAS DE ACORDO COM A PROCEDÊNCIA
Em relação à sua procedência, os neologismos podem ser vernáculos ou estrangeiros.
6.1.1 Estrangeiros
Quando o neologismo que tivermos em mente for estrangeiro, devemos primeiramente
levar em conta se existe um equivalente para ele na língua, isto é, se o elemento forâneo é
“necessário” ou “desnecessário”, conforme a terminologia de Rabanales (1984, p.53). Às
vezes, uma palavra estrangeira parece ser a única (ou a melhor) opção para exprimir um
conteúdo numa determinada situação. Porém, se a palavra tiver um equivalente em
português, a escolha do estrangeirismo pode ser tomada como de “mau-gosto”. Segundo
Bechara (2004, p.2):
Hoje o fator impulsionador [sc. para o emprego excessivo de expressões
de língua inglesa] é o esnobismo, a imaturidade, a inconsciência da cidadania, que
vê, no termo ou expressão estrangeira, o esforço de marcar a superioridade do outro
em detrimento e menosprezo do nacional. É o traço, aparentemente inocente, da
falência da cidadania, que não mede a distância de chamar mouse ao que seria rato
ou ratinho e dar nomes estrangeiros, como ultimamente foi divulgado pela
imprensa, a ruas de favelas do Rio (Hide Park), de títulos de prédios residenciais e
comerciais. Chamar a um edifício Green Park parece mais elegante ou enganador
do que outra denominação com a prata da casa. Faltou aqui bom senso e bom gosto
que sobraram a quem a prédio recém-construído no Rio de Janeiro deu o nome de
Varandas de Olinda.
Bechara (2004, p.1-2) distingue esse fenômeno atual (decorrente, segundo ele, do
esnobismo e da infantilidade) de outros movimentos anteriores na história da língua
impulsionados então pelo contato cultural e artístico natural entre nações. Para ele, portanto,
não é mero purismo lingüístico o esforço de se conter o excesso de estrangeirismos na língua
portuguesa. O autor exagera, porém, a nosso ver, ao defender como oportuna e louvável
“qualquer medida legal que ponha cobro a essa pletora de estrangeirismos que não nos
chegam pela via do progresso cultural, artístico e tecnológico”. Usando as palavras de Matus
(2006, p.16), a língua se defende sozinha (cf. também FARACO, 2001).
Os jornalistas podem, é claro, utilizar unidades estrangeiras em seus textos – ou
aportuguesamentos e os manuais podem e devem orientá-los para que o façam de maneira
consciente, como um recurso expressivo conforme aos princípios da linguagem jornalística
(explicitados no capítulo anterior), em decorrência do domínio do idioma e não de sua
ignorância. Nem sempre é isso que fazem, como se viu também no capítulo anterior.
Assim, constatamos as seguintes possibilidades:
a) A unidade estrangeira pode ser incorporada à língua tal qual em seu idioma de
origem e ser necessária, por não possuir equivalente na língua receptora, como piercing.
b) A unidade estrangeira pode ser incorporada e adaptada morfologicamente à língua
receptora, como escâner, e, ao mesmo tempo, conviver nesta mesma língua com a forma
orginal (scanner). Neste caso, será papel dos manuais e dos dicionários indicar qual a forma
mais usual ou recomendada em dado momento.
Quando ainda não uma forma aportuguesada em outros meios (trabalhos
científicos, peças publicitárias, livros), uma maneira de a imprensa sugeri-la é grafar sua
pronúncia entre parênteses, ao lado da forma original.
O MaFSP (2006, s.v. palavras estrangeiras) declara que é função do jornalista criar
equivalentes sempre que possível ou aportuguesar a grafia de palavras de outras línguas.
Porém, se tomada esta orientação literalmente, os jornalistas poderiam se sentir livres para
escrever imeil e ouié, em vez de e-mail e oh yeah, como o faz, de fato, o colunista Davi
Coimbra, conforme se viu no capítulo 2 (item 2.3.1.3), por questões de estilo. Não se trata,
nesse caso, de uma linguagem jornalística, mas de um idioleto. Ele pode julgar que o “seu
leitor” conhece o seu estilo e entende os temas abordados e, por isso, será capaz também de
entender ou aceitar certas formas inventadas. Naturalmente, ao adotar essa postura, o
colunista também assume o risco de não ser compreendido ou receber desaprovação.
em um texto informativo, noticioso, impessoal, dirigido ao maior número possível
de leitores e no qual a assinatura do autor não tem importância, a orientação do manual de se
aportuguesarem palavras estrangeiras pode significar, a nosso ver, que: diante de duas
unidades que convivem na língua, uma aportuguesada e outra o, opte-se pela primeira; e
não que se promovam aportuguesamentos ex-nihilo. Mesmo assim, se a forma original
estrangeira estiver sendo amplamente usada, o jornal estará indo contra o princípio da
máxima clareza ao escolher uma forma aportuguesada pouco reconhecida entre os falantes.
As unidades skate e esqueite ilustram a questão: HouE (2001, s.v.) registra ambas as formas,
sem informar, no entanto, qual a mais usada (embora preveja marcas de uso para tais
situações em sua introdução, como vimos no item 5.4). Pela maneira como são apresentadas
no dicionário, supõe-se, porém, que a forma mais usada seja esqueite, uma vez que em sua
microestrutura encontra-se a definição da palavra, enquanto em skate apenas uma remissão
para a forma aportuguesada. Uma pesquisa no Google (e a própria intuição dos falantes)
desfaz essa suposição, revelando 1.050.000 ocorrências para skate e apenas 378 para
esqueite
123
.
Para efeito de comparação, mostramos na tabela a seguir o número de ocorrências no
Google e a presença ou ausência em obras de referência lexicográfica das palavras citadas
(skate, scanner, staff e stress), cujas propostas de aportuguesamento de certo modo se
assemelham, e de seus respectivos derivados.
123
É interessante notar que skate gera os substantivos skatista (83.500 ocorrências no Google, ausente no VOLP)
e esqueitista (377 ocorrências no Google, presente no VOLP), mas verificam-se apenas 42 ocorrências para
skatear (ausente no VOLP) e duas para esqueitear (ausente no VOLP), enquanto scanner registra 1.130.000
ocorrências no Google, contra 31.600 para escâner, que gera escanear (190.000 ocorrências), escanerizar (45
ocorrências), escaneador (780 ocorrências), escaneadora (22.200 ocorrências), escaneamento (65.800
ocorrências), escanado (142 ocorrências), escanar (126 ocorrências) todas presentes no VOLP, e escaneado
(23.200 ocorrências, ausente no VOLP).
Quadro 10: Ocorrência de empréstimos e estrangeirismos em obras de referência
124
:
Unidades Google
125
VOLP HouE (2001) AuE (2004)
skate
1.050.000
sim sim sim
skatista 83.500
não não não
skatear 42
não não não
skater 92.800
sim sim
não
esqueite 378
sim sim
não
esqueitista 377
sim sim
não
esqueitear 2
não não não
scanner
1.130.000
sim sim sim
escâner 31.600
sim sim
não
scanear 37.000
não não não
escanear 190.000
sim sim sim
escanar 126
sim sim
não
escanerizar 45
sim sim
não
escaneado 23.200
não
sim
não
escanerização 536
sim
não não
escaneirização
5
As diferenças verificadas indicam que o critério para o acolhimento dessas unidades
nos instrumentos mencionados não é necessariamente o uso real; tampouco é o mesmo para
todos, que, para o VOLP e para HouE (2001), por exemplo, as unidades skate, scanner e
staff foram aportuguesadas para esqueite, escâner e estafe, enquanto AuE (2004) registra
apenas os originais estrangeiros.
Diante desse quadro de divergências, acreditamos que o jornalista possa fazer uso de
um instrumento como o Google e de sua própria intuição de nativo falante ao optar por uma
forma ou outra.
c) Às vezes, uma unidade estrangeira é adaptada morfologicamente, porém de forma
desnecessária (como nominado
127
e customizar, do inglês nominated e to customize), que
existem equivalentes para ela na língua receptora (indicado e personalizar), ainda que, numa
coluna social, por exemplo, possa-se, eventualmente, considerar mais “charmoso” customizar
camisetas do que personalizá-las.
d) A unidade estrangeira (por exemplo, to realize) também pode ser traduzida
equivocadamente gerando falsos cognatos (realizar), que os manuais devem apontar e tentar
conter, evitando confusão entre os leitores.
e) A unidade pode ser traduzida literalmente quando possuir um conteúdo metafórico
que se pretende manter na língua receptora, como hard disk, cujo equivalente em português se
torna disco rígido, e mouse, que, em espanhol, vira ratón.
Essas possibilidades, vistas nos itens a, b, c, d e e, estão representadas na tabela a
seguir:
127
A forma nominado teria sua origem nas transmissões ao vivo da cerimônia do Oscar, quando os profissionais
contratados para narrar o evento muitas vezes confundem-se ao realizar a tradução simultânea e criam formas
desconhecidas no português a partir do inglês. Assim nominated é apressadamente “traduzido” como
“nominado”, no lugar de “indicado”.
Quadro 11: Estrangeirismos e empréstimos necessários e desnecessários
conforme a identificação de equivalentes na língua receptora e o uso
Exemplos Originadas a
partir de:
Equivalentes
em português
Uso (Google) em
relação ao
equivalente
128
Necessidade
piercing piercing
necessário
scanner
skate
scanner
skate
escâner
esqueite
1.130.000
ocorrências, contra
31.600 para escâner
1.050.000
ocorrências, contra
378 para esqueite
aparentemente
desnecessário por ter
equivalente, mas mais
usado, mais
reconhecido entre os
falantes
aparentemente
desnecessário por ter
equivalente, mas muito
mais usado, muito mais
reconhecido entre os
falantes
nominado
customizar
nominated
to customize
indicado
personalizar
178.000 ocorrências
95.500
ocorrências
desnecessário
desnecessário, exceto
em situações especiais
assumir
realizar
to assume
to realize
supor,
considerar
perceber
desnecessários
disco-
rígido
cachorro-
quente
hard disk
hot dog
necessários
O exemplo piercing revela que a palavra é necessária por não possuir equivalente na
língua portuguesa.
O dicionário deveria se limitar a registrar os estrangeirismos e empréstimos na língua
receptora, em vez de sugerir formas com pouco ou nenhum respaldo no uso. A criação de
128
Em páginas em português.
palavras parte dos falantes comuns da língua, conforme o seu conhecimento e as suas
necessidades, e não da vontade ou do gosto dos estudiosos da língua, que é feita de consenso.
Assim, apesar de uma possível “preferência” em HouE (2001), como vimos à gina 99, pela
forma esqueite, a original skate continua sendo mais usada ainda que, futuramente, graças
ao efeito normativo que os dicionários exercem (v. capítulo 4) esta situação possa vir a se
modificar.
As duplas scanner/escâner e skate/esqueite são dois casos bastante similares. Houve
em cada um a dicionarização da forma original e da forma aportuguesada, porém observa-se
um número bem mais significativo de ocorrências para a forma escâner do que para esqueite
(apesar de as duas datarem do mesmo ano, conforme HouE (2001, s.v.)). O não-
reconhecimento da forma aportuguesada esqueite pelos falantes acaba tornando o original
skate “necessário”.
Nominado e customizar também parecem refletir uma mesma situação (a de palavras
“desnecessárias” por já possuírem equivalentes na língua), mas dizer customizar, em vez de
personalizar, é já em si uma forma mais “personalizada” de se expressar e, por isso, preferida
(e “necessária”) em certas situações.
6.1.2 Vernáculos
Quando tratarmos de neologismos vernáculos, devemos ter em mente duas forças que
podem se manifestar em direções opostas:
a) a criatividade, a atratividade, a originalidade, que são bem vindas no texto
jornalístico (v. capítulo anterior);
b) a necessidade de compreensão, de entendimento, de clareza, de se atingir o maior
número possível de pessoas, fundamentais no jornalismo.
Naturalmente, a criatividade, a originalidade das formas, a inovação são qualidades
positivas, que enriquecem um texto. Na linguagem literária, são próprias dos grandes
escritores, como Guimarães Rosa, cujo léxico singular chega a dar origem a dicionários
dedicados exclusivamente a explicá-lo. No texto jornalístico, porém, como se salientou muitas
vezes, o entendimento, a clareza estão acima desses valores. A palavra mais simples, mais
fácil é quase sempre a preferencial. Por isso, deve-se ponderar no momento de se optar por
um neologismo se este vai facilitar o entendimento ou dificultá-lo. Isso vai depender do tipo
de neologismo, do tipo de texto jornalístico de que se está tratando e do leitor que se pretende
atingir
129
, como procuraremos detalhar adiante. Não basta, portanto, uma regra geral banindo
os neologismos do texto jornalístico, como apresentam os manuais de redação.
6.2 PROPOSTAS DE ACORDO COM OS ALGORITMOS
Quanto aos tipos de neologismos identificados a partir dos algoritmos que os
produzem, temos, como se viu no primeiro capítulo:
- processos formais (mudança de significante);
- processos sêmicos (incorporação de significado);
- processos de incorporação de signo;
- processos de transposição (mudança de função).
É importante separá-los por tipos para que possamos apresentar formas diferenciadas
de se lidar com eles no texto jornalístico.
6.2.1 Mudança de significante
No caso dos neologismos nos quais ocorre uma mudança de significante, apoiada nos
significados dos morfemas, está-se, em geral, enriquecendo a língua, utilizando-se os seus
múltiplos recursos para se expressar uma idéia nova. Assim, opta-se por chamar o profissional
que prepara banquetes de banqueteiro
130
e o universo dos blogs de blogosfera
131
, já que estes
sintetizam um significado que, de outro modo, só poderia ser expresso por uma paráfrase.
129
A rigor, escreve-se para todos os tipos de leitor cf. MaESP (1997, 15) –, porém alguns textos especiais
como os de certos colunistas pressupõem também um tipo especial de leitor, mais educado. A questão volta a
se referir, portanto, ao tipo de texto.
130
HouE (2001, s.v.).
131
ZH, 20/03/2006.
O mesmo se dá com as palavras sediar, agilizar, disponibilizar (hoje já dicionarizadas)
e desgauchização
132
.
Porém, o abuso de palavras inéditas pode ser equivalente ao que se verifica num texto
rebuscado: não é errado, porém pode ser inadequado. Num texto informativo, o que conta é
justamente a informação, o fato que se está relatando, por isso utiliza-se uma linguagem
funcional, sem determinadas “novidades” ou termos obscuros que possam dificultar
minimamente o entendimento.
Como se viu, a linguagem jornalística se situa no limite da norma culta informal com a
norma culta formal e assimila, portanto, expressões populares e de gíria, capazes de
aproximar o leitor. Uma expressão popular é, muitas vezes, mais atraente e expressiva do que
outra mais tradicional. Por exemplo, panelaço
133
, apitaço
134
e sapataço
135
são mais
expressivos do que protesto ruidoso com (respectivamente) panelas, apitos e sapatos. O
mesmo se pode dizer de projeto “pizza” (ou projeto-pizza), mais expressivo e econômico em
um título do que projeto de resolução que poderia beneficiar deputados processados no
Conselho de Ética
136
. A expressividade, no entanto, decorre, neste caso, de um conteúdo
irônico, pejorativo, que encerra uma crítica e já é, portanto, opinativo
137
.
O excesso de coloquialismo e a mistura de opinião e informação revelada por certas
escolhas léxicas devem ser controlados porque, se todo o jornal adotar essa postura, de usar
palavras “apelativas”, chamativas, o recurso acaba perdendo o efeito ou, pior, causando o
efeito contrário, isto é, afastando o leitor, que não se pode enganá-lo ou desviá-lo da
informação por meio de jogos de palavras, que ele pode buscar em outros tipos de texto.
Desse modo, a “regra geral” acaba sendo de se “evitar a novidade”, ainda que escrita desta
maneira, num manual de redação e estilo, sem distinções ou explicações adicionais, possa
causar inibição e tornar o texto jornalístico extremamente chato” e “burocrático” (ou, nas
palavras de Vivaldi (1993, 34), “torpe, cinza e insosso”), o que é um outro extremo que não se
deve tampouco almejar.
132
ZH, 19/03/2007, p.6.
133
Dicionarizada em HouE (2001).
134
FSP, 02/12/2006, p.A20. Não consta em HouE (2001), nem em AuE (2004).
135
ZH, 04/05/2006, p.14.
136
www.terra.com.br, em 12/12/2006.
137
A questão que se levanta, portanto, em muitos casos não se refere apenas à possibilidade de se criarem
palavras ou não, mas à velha e permanente indagação quanto aos limites entre a opinião e a informação. O jornal
Zero Hora, por exemplo, adotou a expressão albergueiros para se referir aos deputados estaduais acusados de
manter albergues em troca de votos; o site da Assembléia Legislativa, que, de certa forma, representa os
deputados, não utiliza esse termo por considerá-lo pejorativo.
O jornalista pode, portanto, utilizar novos significantes em textos informativos, porém
com o cuidado de que esses significantes tornarão o texto mais claro e atraente, sem
prejudicar, modificar ou ocultar a informação.
Em 15 textos opinativos da edição de 02/12/06 de OESP, observamos 18 novas
unidades formadas a partir de elementos existentes na língua portuguesa e, em 89 textos
informativos, apenas 8; isto é, procura-se realmente evitar as novidades formais em textos
noticiosos, preferindo-se formas já conhecidas do leitor. Nos textos opinativos, no entanto, os
autores parecem se sentir mais livres para explorar os múltiplos recursos da língua
138
.
6.2.2 Incorporação de significado
Em relação aos neologismos formados por incorporação de significado, temos: aqueles
em que essa mudança decorre de uma confusão com outra forma semelhante (atração
homonímica) ou da reinterpretação de uma forma semelhante (etimologia popular); aqueles
em que o conteúdo semântico de unidades estrangeiras é transferido para formas que
existem na língua receptora com outras significações; e aqueles criados a partir de figuras de
linguagem, em que são explorados os amplos recursos da língua.
No primeiro caso, está-se dizendo uma coisa por outra. Seu uso não se por uma
necessidade expressiva, nem por economia discursiva, mas por um engano, por
desconhecimento da língua. É o que exemplifica Moreno (2006) ao falar de jovial:
138
Em cinco editoriais de OESP (02/12/06), temos as seguintes unidades formadas por mudança de significante:
não-evento, reunismo, bolsa-família, emessetista e logotipados. Em três artigos: antineoliberalismo, anticapital,
psico-política, pedagiadas e PPPs. Em dois comentários: auto-explicável, neo-adesistas e ultralight. Em uma
crítica, nenhuma. Em duas crônicas: homem-árvore, galhadas, encariocando e malucão. Em duas colunas:
Aerolula.
Em treze notícias e reportagens nacionais, temos nenhuma. Em nove internacionais: apitaço e chavistas.
Em quatorze de Vida&, temos: intergeracional e subnotificada. Em dez de esportes: pole (redução de pole
position). Em doze do Caderno 2: temas-tabus e micro-ações. Em quatorze de Cidades: megaempreendimento.
Em dezessete de economia, nenhuma.
Para nós, é um adjetivo que significa "alegre, folgazão, divertido,
Os neologismos formados por atração homonímica são um fenômeno comum na
língua, porém devem ser evitados pelo jornalista, que expressam um conteúdo diverso
daquele pretendido. O mesmo se com alguns decalques ou empréstimos semânticos que
podem ser considerados traduções mal-feitas, como nominar (no lugar de “indicar”), assumir
(no lugar de “admitir”) e realizar (no lugar de “perceber”).
As palavras criadas por etimologia popular no significado que lhes atribui Melo (2001,
p.227-228; v. item 2.3.1.2 deste trabalho) também expressam um conteúdo diverso do
pretendido, ainda que haja um esforço de interpretação por parte de quem as formula para que
façam algum sentido.
As figuras de linguagem são um mecanismo que, assim como as mudanças por
significante, exige e revela criatividade e conhecimento da língua e de seus recursos,
enriquece o texto, por isso não pode ser condenada no texto jornalístico. Deve-se, porém,
estar atento a duas questões:
a) Novamente, deve-se ter em mente se a figura não confunde mais do que esclarece a
mensagem a ser dada. Em literatura, pode ser aceitável fazer o leitor pensar e descobrir
mensagens subentendidas; no texto informativo, porém, esse recurso deve ser usado com
alguma parcimônia, pois, a informação deve chegar de forma rápida e direta para o leitor. A
figura deve facilitar o entendimento do texto e não dificultá-lo. Se o relato for, por exemplo,
de uma experiência científica complexa, que em sua origem, teria muitos termos técnicos,
vale simplificá-la por meio de imagens equivalentes, por meio de metáforas, como
exemplifica o MaFSP (2006, padronização e estilo”, s.v. metáfora): “Placas tectônicas são
balsas que carregam os continentes sobre um mar de rocha incandescente”. Quando usadas
por uma personalidade, costumam ser reproduzidas pelo impacto ou “colorido” que dão à
notícia: “o PMDB é um elefante com dislexia(declaração do deputado Ciro Gomes (OESP,
02/12/06, p.A7)) ou é como se fôssemos cinco ararinhas azuis (Aguinaldo Silva, em
entrevista a OESP, 02/12/06, p.D3). Num texto informativo, impessoal, esses mesmos
exemplos (elefante com dislexia e ararinhas azuis) estariam inadequados ou por lhe
conferirem um caráter opinativo ou por dificultarem o entendimento.
b) No entanto, o uso de figuras de linguagem pode cair no que os manuais chamam de
lugar comum, cacoetes, clichês, chavões ou modismos. A expressão cardápio da reunião
como metáfora para o “conjunto de temas em discussão em uma reunião” pode ser atrativa e
interessante quando usada pela primeira vez numa coluna assinada, por exemplo. Porém, a
mesma expressão repetida várias vezes ou usada em um texto mais formal pode soar pouco
séria, superficial. A diferença de unidades como cardápio da reunião e usina de idéias de
outras apresentadas ao lado delas como “expressões desgastadas pelo uso” no MaFSP (2006,
s.v. cacoetes de linguagem), como caixinha de surpresas, trocar figurinhas, a toque de caixa
e abrir com chave de ouro é que estas estão praticamente lexicalizadas, isto é, ainda que
suas origens metafóricas possam ser percebidas, os conteúdos originais literais, denotativos
– foram já suplantado pelos conotativos.
Não se pode, portanto, falar de uma regra única para esse tipo de neologismo por
incorporação de significado. Como se trata de formas que já existem na língua, deve-se
verificar se elas mais esclarecem ou mais confundem o leitor. As atrações homonímicas, as
etimologias populares e alguns empréstimos semânticos mais o confundem, pois, em geral,
significam algo diferente do pretendido e se confrontam com outras formas que cobrem
esse significado pretendido. Alguns empréstimos semânticos, porém, são necessários por
trazerem consigo da língua original um conteúdo metafórico que não se utilizava na língua
receptora, mas que era possível, enquanto as figuras de linguagem são necessárias quando
auxiliam a compreensão de um tema e desde que não se tornem lugar-comum caso
contrário, afastariam o leitor.
6.2.3 Incorporação de signo
Quanto aos neologismos criados a partir de uma incorporação de signo, temos aqueles
provenientes de outras línguas históricas, os estrangeirismos, e aqueles vernáculos, de outras
línguas funcionais que não a língua padrão. Os primeiros podem manter a grafia original (e-
mail, spam, chat, roller), adaptar-se fonológica e graficamente (iene, escâner, xampu) ou ser
traduzidos (disco rígido (do inglês hard disk), cachorro-quente (do inglês hotdog)). Neste
último caso, temos uma incorporação de significado, que difere, porém, das traduções mal-
feitas mencionadas anteriormente por não se confundirem com outras unidades da língua de
destino e conservarem nesta o mesmo conteúdo metafórico da língua de origem.
Podemos considerar neologismos vernáculos os elementos de gíria, os regionalismos,
idioletos e termos técnicos e científicos.
A gíria, muitas vezes, aproxima-se da linguagem coloquial, informal, que, por sua vez,
constitui a base da linguagem jornalística, por isso pode, eventualmente, ser absorvida e
ampliar seu “raio de ação”, deixando de ser gíria de um grupo restrito e passando à linguagem
coloquial geral (como baratinado, v. nota de rodapé 60 (item 3.2.4).
Palavras próprias de determinados grupos profissionais ou áreas específicas podem
entrar na linguagem jornalística quando o tema a que se referem se torna importante e
recorrente no noticiário. Num primeiro momento, o termo costuma ser apresentado entre
aspas e com uma explicação a respeito do seu significado (por exemplo, “‘spintrônica’, um
tipo de eletrônica que usa uma propriedade quântica dos elétrons diferente da carga, como
ocorre em aparelhos comuns”
139
). Pouco a pouco, porém, à medida que o termo se torna mais
familiar, esses cuidados se tornam desnecessários (nanodispositivos, nanométrica,
nanofios
140
).
Palavras novas, sejam vernáculas, sejam estrangeiras, provenientes de grupos restritos
ou mesmo de um indivíduo devem ser usadas no texto jornalístico quando não houver
termo equivalente na língua geral e também quando se pretende atrair a atenção do leitor,
aproximá-lo do universo que se está descrevendo. Seria adequado, por exemplo, utilizar-se de
uma gíria de novela em um texto sobre novelas ou da expressão de um ministro ao se
descrever uma reunião ministerial, mas o contrário provavelmente não o seria, isto é, a
expressão da novela no texto sobre a reunião de governo e a fala do ministro no texto sobre
novelas.
No entanto, freqüentemente os jornalistas se especializam num determinado tema e
assimilam a linguagem técnica ou restrita, esquecendo-se desse seu caráter específico. Castro
(2002, p.152) relata que, no início dos anos 90, os ferros-velhos receptadores de carros
roubados passaram a ser chamados “insistentemente”, na televisão, de “desmanches” o que
incomodava muitos telespectadores, que essa palavra “não existia na língua portuguesa”
(isto é, não estava dicionarizada); havia apenas desmancho e desmancha. Segundo o autor,
desmanche seria um “termo do jargão dos ladrões, assimilado pelos policiais, fonte em que
provavelmente foram beber os repórteres que o utilizavam”. Contratado pela TV Globo para
fazer um relatório diário dos telejornais, que incluía observações sobre a linguagem, o autor
sugeriu aos repórteres que passassem a usar o substantivo desmonte, uma vez que os veículos
“nascem” numa montadora e, “quando morre[m], vítima[s] dos ladrões”, são desmontados.
Apesar da recomendação adequada (i.e. substituir o jargão dos ladrões por um equivalente da
língua geral), a forma desmanche estava assimilada e continuou a ser utilizada. Mais tarde,
139
FSP, 02/12/06, p.A30.
140
FSP, 02/12/06, ibid.
passou a constar também nos dicionários (cf. HouE (2001, s.v.) e AuE (2004, s.v.), ao passo
que desmonte conservou apenas suas acepções originais.
O exemplo demonstra, novamente, que a língua é feita de consenso e, se os manuais
de redação podem orientar os jornalistas a tomarem decisões em relação a novas palavras, eles
têm um limite, não constroem a língua a priori, podem apenas procurar aproximá-la de um
ideal, sem afastá-la demais da linguagem coloquial.
6.2.4 Mudança de função
Os neologismos por mudança de função são criações bastante recorrentes, já que
qualquer palavra pode mudar de função para atender a uma necessidade expressiva específica
indicada pelo contexto. Geralmente, são utilizados nos títulos, sintetizando expressões mais
longas.
Temos, por exemplo:
Quadro 12: Neologismos por mudança de função
Títulos Corpo da matéria
Federais estudam fim do vestibular
(OESP, 02/12/06, p.A36)
País importa menos que emergentes
(FSP, 02/12/06, p.B4)
Futebol esfria no Brasil e reacende sonho
de atletas do clube dos ‘sem-equipe
(FSP, 02/12/06, p.D2)
Mínimo deverá ter ganho real
(ZH, 20/12/06, p.22)
Aérea obriga passageiros obesos a
comprar duas passagens
(www.terra.com.br, em 20/12/06)
Reitores, diretores e professores das 57
Instituições Federais de Ensino
Superior do Brasil [...]
O Brasil importa pouco, comparado aos
demais países emergentes.
Enquanto isso, dirigentes tentam agendar
duelos amistosos dos atletas sem time
contra clubes de todos os Estados e
divisões do Brasil.
O governo quer incluir na Constituição
uma regra permanente para o reajuste do
salário mínimo [...]
A companhia aérea Air France está
sendo processada por um passageiro
obeso que foi obrigado a comprar duas
passagens por “ser gordo demais”.
Chamar as “universidades federais” apenas de federais” é algo corrente entre
estudantes e professores, mas talvez não o seja para o público em geral, o leitor comum. Por
outro lado, se a matéria está numa página com a cartola ensino superior” e logo em seguida,
no corpo do texto, lê-se “universidades federais”, o recurso se torna aceitável no título para se
poupar espaço, mas não ainda no corpo do texto. O mesmo se pode dizer em relação a
“emergentes” e “sem-equipe”. Neste caso, porém, a expressão não reaparece apenas na 39ª
linha do texto é que se se faz referência aos “atletas ‘sem time’”. No último exemplo, retirado
de site na internet, a redução de “companhia aérea” para apenas “aérea” ainda causa
estranhamento, podendo-se confundir “Aérea” com o nome de alguma empresa. No entanto,
novamente a escolha é feita para se poupar espaço. Algumas alternativas seriam:
Quadro 13: Opções de redação
Empresa obriga passageiro obeso a comprar duas passagens
Empresa obriga obeso a comprar duas passagens para voar
Empresa aérea faz passageiros obesos pagarem por dois
Empresa aérea obriga passageiros obesos a pagar por dois
Obeso é obrigado a comprar duas passagens para voar
Air France exige duas passagens de passageiro obeso
Obeso processa empresa aérea que o fez pagar por dois
(Aérea obriga passageiros obesos a comprar duas passagens)
Às vezes, inicia-se a matéria com a expressão completa para depois então reduzi-la:
Quadro 14: Seminovos
Primeiro parágrafo Mais adiante
Um feirão com 5 mil veículos seminovos
oferece até amanhã modelos de todas as
marcas [...]
(OESP, 02/12/06, p.B3)
Muitos consumidores preferem comprar
um seminovo com opcionais a um
popular zero quilômetro básico por preço
similar.
Nesse caso, independentemente de constar ou não apenas “seminovos” no título, o
corpo da matéria reúne a expressão completa “veículos seminovos”. Mais tarde, porém,
quando está esclarecido que o assunto são “veículos”, reduz-se apenas para “seminovo” e
“popular”, que são familiares ao leitor em virtude, principalmente, de textos publicitários,
que muito freqüentemente utilizam essas formas.
Pelos exemplos, verifica-se que a mudança de função (especialmente, de mudança de
adjetivo para substantivo) é bastante comum, porém deve ocorrer de forma gradativa.
Primeiro, a forma é apresentada em um contexto em que esteja claro a que ela se refere, é
necessário que se fixe no corpo da matéria a expressão integral até que o leitor consiga
entender a redução (e a conseqüente transposição funcional) pretendida - para que não ocorra
o estranhamento que se verifica em (companhia) aérea. (Atletas) sem-equipe e (atletas) sem-
timeo passam por esse processo porque, além de estarem na página de esportes, são
compreendidos facilmente por confrontação (analogia) com outras formas lexicalizadas:
sem-terra, sem-teto etc.
6.3 RESUMO DAS PROPOSTAS
Quadro 15: Propostas
QUADRO-RESUMO DE COMO LIDAR COM
OS NEOLOGISMOS NO TEXTO JORNASTICO
QUANTO À PROCEDÊNCIA, os neologismos podem ser:
VERNÁCULOS
A aceitação de novas unidades depende do balanço das seguintes
características:
• criatividade, originalidade, atratividade, de um lado;
• clareza, simplicidade, entendimento, de outro.
QUANTO AOS ALGORITMOS QUE OS GERAM
NOVO
SIGNIFICANTE
Necessários quando designarem um conceito novo que, de outro
modo, só poderia ser expresso por uma paráfrase. Ex: sediar.
Não recomendados, se prejudicarem o entendimento da
informação.
Às vezes, conferem caráter opinativo ao texto. Ex: albergueiro.
NOVO
SIGNIFICADO
Recomendados no caso de figuras de linguagem que sirvam para
esclarecer idéias complexas, mas tomando-se o cuidado de não se
recair em clichês.
Não recomendados quando seu emprego significar dizer uma coisa
por outra. Ex: alguns casos de etimologia popular, atração
homonímica e empréstimos semânticos.
NOVO SIGNO
Necessários no caso de estrangeirismos que designem um conceito
novo para o qual ainda não há tradução.
Necessários gírias que aproximem o leitor e termos acompanhados
de explicação.
NOVA FUNÇÃO
Necessários quando resumirem um conteúdo sem prejudicar o
entendimento do texto.
CONCLUSÃO
Na introdução deste trabalho e em várias páginas subseqüentes, apresentamos uma
situação comum no dia-a-dia e nos manuais de redação jornalística: aquela de se dizer que
uma determinada palavra não existe, porque não consta no dicionário, e que, por isso, não
deve ser utilizada, mesmo que todos os interlocutores a tenham compreendido. Por serem
novos, os neologismos não aparecem nos dicionários, mas nem por isso devem ser
imediatamente condenados.
Como vimos no segundo capítulo, existe uma norma ideal que reflete os usos de
escritores consagrados, das pessoas cultas e também das pessoas incultas que interferem no
modo de falar daquelas. Dicionaristas, gramáticos, acadêmicos e até mesmo o Estado
sistematizam e atualizam essa norma.
A partir da exposição de como se constitui essa língua ideal (no segundo capítulo) e da
classificação dos tipos principais de neologismos (no primeiro capítulo), pudemos constatar
que:
a) Os neologismos são um fenômeno natural na língua e como tal devem ser
encarados. Essa constatação é o primeiro passo para que eles possam ser integrados à norma
ideal. Não nada de errado em se usarem neologismos nos textos jornalísticos; pelo
contrário, eles são, muitas vezes, indispensáveis para que se compreenda uma idéia,
diferentemente do que os manuais de redação afirmam em determinados momentos, como
vimos no item 4.3.5 do quarto capítulo.
b) Os neologismos, evidentemente, diferem entre si. Alguns são tidos como
necessários por sintetizarem um conteúdo que, de outro modo, poderia ser expresso por
uma paráfrase (ex: mensalão); outros são tidos como desnecessários, supérfluos (ex: nominar)
por haver na língua unidades equivalentes. Outros ainda, mesmo necessários em
determinadas situações, são tidos como desnecessários por se avaliá-los superficialmente,
como se existissem por si sós, separados do contexto (ex: customizar, cujo uso,
eventualmente, pode ser justificado, de acordo com o tipo de texto no qual se insere).
O jornalista pode e deve se apoiar nos manuais de redação e nos dicionários, até certo
ponto, para ampliar seu conhecimento das palavras, mas sabe que não as encontrará todas
nesses instrumentos e terá de fazer suas próprias escolhas, com base nos elementos que
apresentamos neste trabalho.
Um desses elementos é o princípio de clareza da linguagem jornalística, isto é, o
neologismo deve servir para promover a comunicabilidade, para complementar a informação
e não para “enfeitá-la” ou dificultar o seu entendimento.
Esse princípio de clareza é fundamental em todo texto jornalístico, mas ainda mais no
texto essencialmente informativo. Em textos opinativos, assinados, existe uma liberdade
maior na utilização das palavras.
RETOMADA DOS QUESTIONAMENTOS INICIAIS
Em resposta aos questionamentos iniciais que apresentamos na introdução do trabalho,
vimos que os jornalistas lidam com a língua de forma bastante contraditória. Ora os
neologismos são condenados, ora aceitos, sem questionamento.
Os neologismos devem, de fato, ser estimulados em alguns casos e vetados em outros,
mas de acordo com certos critérios, com os tipos que configuram e com o texto em que se
inserem, como vimos no capítulo anterior.
Além disso, dicionaristas, autores de manuais de redação jornalística e jornalistas
lidarão com essas unidades neológicas de diferentes maneiras, por isso fazemos as seguintes
considerações:
Para os dicionaristas, cabe salientar que:
a) Os neologismos devem ser reconhecidos como tais. Vimos que nos dicionários esse
reconhecimento é bastante deficiente. De modo geral, os neologismos passam despercebidos,
não existe uma preocupação em marcá-los.
b) O dicionário não deve se antecipar à norma real, registrando palavras não
observadas no uso. Deve registrá-las tais como elas se apresentam na fala das pessoas,
marcando-as com os registros correspondentes, isto é, pode dizer se uma forma é de uso
popular/coloquial ou mais recomendada no uso culto, mas não sugerir aportuguesamentos ex-
nihilo, por exemplo.
c) A marcação dos neologismos poderá ser feita pela identificação dos tipos
apresentados neste trabalho: neologismos por mudança de significante, por mudança de
significado, por incorporação de signo ou por mudança de função e os subtipos que
identificamos no interior desses tipos: etimologia popular, figuras de linguagem etc. A partir
desses tipos e subtipos, é possível dizer preliminarmente se um neologismo é necessário ou
desnecessário, genuíno ou falso, culto ou popular, mas o texto em que se insere poderá
confirmar ou não sua real necessidade isto é, ainda que identifiquemos a unidade
customizar, por exemplo, como desnecessária por já haver na língua um equivalente para ela
(personalizar), o tipo de texto (mais informal, voltado para um público jovem, que aprova e
utiliza estrangeirismos, por exemplo) poderá indicar a validade de sua utilização.
Para os autores de manuais de redação jornalística, destacamos que:
a) Assim como o dicionário, o manual de redação jornalística também não deve se
antecipar à norma real indicando formas não observadas no uso ou criações ex-nihilo.
b) Pode contrariar a orientação do dicionário quando este não cumpre sua função, por
exemplo, quando apresenta contradições ou difere de outro dicionário. Exemplo: o MaFSP
(2006) orienta seus usuários a escreverem babysitter, black tie e poeta, em vez de baby-sitter,
black-tie e poetisa, admitidas em AuE (2004).
c) Poderá manter uma lista a ser atualizada periodicamente, por exemplo, ano a ano,
com os principais neologismos observados na língua do dia-a-dia, devidamente classificados
(conforme os tipos descritos neste trabalho) e acompanhados de recomendações quanto a seu
uso, inspiradas nas orientações dadas no capítulo anterior.
Para o jornalista, ressaltamos que:
a) Deverá conhecer a língua profundamente, pois tem responsabilidade na constituição
da língua padrão, cuja necessidade está ligada ao conceito de nação.
b) Quando tiver dúvida a respeito de uma unidade, deverá consultar o dicionário ou o
manual de redação.
c) Se a palavra não constar nessas obras, isso não significa que se deva condená-la ou
descartá-la automaticamente. Primeiramente, é necessário avaliar:
c
1
) que tipo de neologismo ela configura.
c
2
) se é necessária, exata, se atende à necessidade expressiva que se deseja e,
no caso de ser estrangeira, se não outra na própria língua, ou se revela um
desconhecimento desta.
c
3
) Em que tipo/gênero de texto se insere. Se é um te
LIMITES DO ESTUDO E PERSPECTIVAS
Embora tenhamos apresentado, neste trabalho, uma proposta de como os dicionários,
os manuais de redação e os jornalistas devem lidar com os neologismos, nosso objeto de
estudo (isto é, a dinamicidade da língua) é extremamente complexo, o que torna difícil uma
sistematização total.
Uma palavra pode entrar na língua num dado momento, ser registrada nos dicionários
e, pouco tempo depois, esquecida. O termo desgauchização, por exemplo, surgiu nos anos
1970, em razão da compra de empresas gaúchas por empresas de fora do Estado. Foi então
deixado de lado, até retornar aos noticiários, recentemente, por ocasião da compra de uma
empresa
141
. Por um lado, não podemos dizer que desgauchização seja, em sentido estrito, um
neologismo, uma vez que não é inédito. Por outro, tampouco podemos considerá-lo integrado,
Em relação às perspectivas que este estudo oferece, identificamos: a necessidade ou a
importância de uma formação lingüística mais rigorosa nos cursos de comunicação social, que
auxiliaria os jornalistas a compreenderem melhor o fenômeno neológico; e a necessidade de
uma maior fundamentação teórica quanto aos fatos da língua nos manuais de redação
jornalística.
Julgamos ser necessária uma revisão dessas obras e um planejamento de como lidar
com as novas unidades lingüísticas à medida que estas são detectadas. Parte dessa tarefa,
parece-nos, vem sendo realizada por meio do Observatório de Neologismos Técnicos e
Científicos do Português Contemporâneo da Universidade de São Paulo projeto, que, desde
1988, “procura observar, analisar e difundir aspectos da criatividade lexical”
142
.
Este trabalho reafirma uma série de princípios jornalísticos e estudos lingüísticos, de
modo a unir ambas as atividades jornalismo e lingüística. Pensamos, com isso, atenuar
dúvidas e fortalecer a confiança de quem precisa da língua para se comunicar da melhor
maneira possível, mas se sente inseguro ao encontrar contradições nas obras de referência que
deveriam orientá-lo. Evidenciadas muitas dessas contradições e explicadas suas origens, os
usuários dispõem de critérios para fazerem suas próprias escolhas.
142
Conforme o texto disponível em <www.fflch.usp.br/dlcv/neo/>. Acesso em mar.2007.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1994.
BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola
Editorial, 2001.
_______. Preconceito lingüístico. O que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual do radiojornalismo. Rio de
Janeiro: Campus, 2001.
BECHARA, Evanildo. A norma culta face à democratização do ensino. Conferência
proferida no dia 4 de julho de 2000, em ciclo de palestras promovido pela Academia
Brasileira de Letras. Disponível em < http://www. portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=
artigos /docs/normaculta > Acesso em: jul. 2006.
_______. Ainda outra vez: o que se entende por correção idiomática 2. In: Na ponta da
língua, vol. 7. Rio de Janeiro: Liceu Literário Português / Lucerna, 2005, 147-149.
_______.
Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade? São Paulo: Ática, 2002.
_______. Imexível não exige imexer. In: Idioma, nº 18. Rio de Janeiro: UERJ, 1996.
_______. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
BELTRÃO, Jornalismo opinativo. Porto Alegre: Sulina/ARI, 1980.
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Aurélio: sinônimo de dicionário? In: Alfa, Revista de
lingüística, v. 44. São Paulo: Unesp, 2000, 27-55.
CAIRO, Luiz Roberto. Memória cultural e construção do cânone literário brasileiro. In:
Estudos Lingüísticos e Literários, 25-26. Programa de Pós-Graduação em Letras e
Lingüística. Salvador: Universidade Federal da Bahia, jan.-dez.2000, 381-391.
CARVALHO, Herculano de. Correção e norma lingüística – 1. In: Na ponta da língua, vol. 5.
Rio de Janeiro: Liceu Literário Português / Lucerna, 2003, 155-158.
CASTILHO, Ataliba Teixeira. Variação Dialetal e ensino institucionalizado da língua
portuguesa. In: BAGNO (org.). Lingüística da norma. São Paulo: Loyola, 2002.
CASTRO, Marcos de. A imprensa e o caos na ortografia. Com um pequeno dicionário de
batatadas da imprensa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
COSERIU, Eugenio. A língua literária. In: MELO, Gladstone Chaves (org.). Na ponta da
língua, vol. 2. Rio de Janeiro: Liceu Literário Português / Lucerna, 2000, 79-82.
_______. A perspectivação funcional do léxico. In: Problemas da Lexicologia e Lexicografia.
Companhia Editora do Minho – Barcelos, 1979.
_______. Do sentido do ensino da Língua Literária. In: Confluência. Revista do Instituto de
Língua Portuguesa do Liceu Literário Português, 5. Rio de Janeiro: Liceu Literário
Português, 1993, 29-47.
_______. Lições de lingüística geral. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980.
_______. Sincronía, diacronía e historia – el problema del cambio lingüístico. Universidad de
la Republica, Facultad de Humanidades y Ciencias: Montevideo, 1958.
_______. Teoría del lenguaje y lingüística general – cinco estudios. Madrid: Gredos, 1973.
COSTA, José Maria da. Gramatigalhas: as migalhas gramaticais. Disponível em:
http://www.migalhas.com.br/mig_gramaticais.aspx?cod=26096&lista=S. Acesso em: 13
set.2006.
CRYSTAL, David. Enciclopedia del lenguaje. Ed. española Juan Carlos Moreno Cabrera.
Cambridge: Taurus, 1987.
CUNHA, Celso, CINTRA, Luís F. Nova gramática do português contemporâneo. ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
DAMIM, Cristina. Parâmetros para uma avaliação do dicionário escolar. Dissertação
(Mestrado em Letras). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.
DUARTE, Inês. Gramática descritiva, ngua padrão e variação. Departamento de
Lingüística Geral e Românica. Faculdade de Letras. Universidade de Lisboa. Lisboa:
Universidade de Lisboa, 2004.
ELIA, Sílvio. A língua literária 3. In: Na ponta da língua, vol. 4. Rio de Janeiro: Liceu
Literário Português / Lucerna, 2002, 96-98.
_______. Mário de Andrade e a língua brasileira. In: Confluência. Revista do Instituto de
Língua Portuguesa do Liceu Literário Português, n
os
17 e 18. Rio de Janeiro: Liceu Literário
Português, 2000, 83-93.
ETTINGER, S. La variación lingüística en lexicografía. In: HAENSCH, G. et al. La
lexicografía: de la lingüística teórica a la lexicografía práctica. Madrid: Gredos, 1982, 359-
394.
FARACO, Carlos Alberto. Empréstimos e neologismos: uma breve visita histórica. In: Alfa,
Revista de lingüística, vol. 45. São Paulo: Unesp, 2001, 131-148.
_______. Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.
_______. Norma-padrão brasileira. Desembaraçando alguns nós. In: BAGNO, Marcos (org.).
Lingüística da norma. São Paulo: Loyola, 2002, 37-61.
FERRAZ, Aderlande Pereira. A inovação lexical e a dimensão social da língua. In: SEABRA,
Maria Cândida (Org.). O léxico em estudo. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG,
2006.
HAENSCH, G. Tipología de las obras lexicográficas. In: HAENSCH, G. et al. La
lexicografía: de la lingüística teórica a la lexicografía práctica. Madrid: Gredos, 1982, 95-187.
KIESLER, Reinhard. La tipología de los préstamos lingüísticos: no sólo un problema de
terminología. In: Zeitschvift für romanische Philologia. 1993.
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. 3ª ed. rev. Florianópolis: Insular, Ed. da UFSC,
2001a.
_______. Linguagem jornalística. Série Princípios. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2001b.
_______. Teoria e técnica do texto jornalístico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
LEITE, Yonne; CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2002.
LOBO ET AL. A norma culta brasileira e as prescrições gramaticais: colocação dos pronomes
átonos. In: Estudos Lingüísticos e Literários, 11. Salvador: Universidade Federal da Bahia.
Ago.1991.
MACHADO, Izamara Bastos. A reforma do Diário Carioca na cada de 50. Rio de Janeiro:
UFRJ, 2003. Disponível em < http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/anais/
gt1_impressa/a%20reforma%20do%20diario%20carioca%20na%20decada%20de%2050.doc
> Acesso em out. 2006.
MATUS, Alfredo. Entrevista concedida ao jornal El Mercurio de Valparaíso. Valparaíso: El
Mercurio de Valparaíso, 29 jan. 2006, 16, 17.
MEC compra 4,6 milhões de dicionários para o ensino fundamental. FNDE (Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação. Disponível em: www.fnde.gov.br/home/ Acesso em
dez.2006
MELO, Gladstone Chaves de. Etimologia popular. In: Confluência, revista do Instituto de
Letras do Liceu Literário Português, nº 22, 2º semestre. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
MELO, Gladstone Chaves (org.). Na ponta da ngua, vol. 2. Rio de Janeiro: Liceu Literário
Português / Lucerna, 2000, 59-60, 82-84, 89-91.
MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. ed. rev. Petrópolis: Vozes,
1994.
_______. Para uma leitura crítica da comunicação. São Paulo: ed. Paulinas, 1985.
MORENO, Cláudio. Sua língua. Disponível em <www.sualingua.com.br/06/06_xopin.htm>
Acesso em dez.2006.
NEVES, Maria Helena de Moura. Heranças: a gramática. In: BASTOS, Neusa Barbosa (org.).
Língua portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: IP-PUC-SP/EDUC, 2002, 43-52.
NICOLA, José, INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. São
Paulo: Scipione, 1989.
NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA? Revista Veja, 16 set.1998, 113.
NOVELAS brasileiras causam danos na língua portuguesa. Disponível em:
<www.angonoticias.com> Acesso em out. 2006.
OESTERREICHER, Wulf. El problema dde los territorios americanos. III Congreso
Internacional de la Lengua Española. Aspectos ideológicos y sociales de la identidad
lingüística. 2004 Disponível em http://cvc.cervantes.es/obref/congresos/rosario/ponencias/asp
ectos/oesterreicher_w.htm. Acesso em dez. 2006.
PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. Rio de Janeiro: Contexto, 2005.
PRETI, Dino. Oralidade e gíria: como tratá-las no ensino. In: BASTOS, Neusa Barbosa (org.).
Língua portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: IP-PUC-SP/EDUC, 2002, 193-199.
RABANALES, Ambrosio. ¿Que es hablar correctamente? In: Revista de Educación, 119,
ago. 1984, 49-58.
REBELO, Aldo. Culta bela e ultrajada: um projeto em defesa da língua portuguesa. ed.
Brasília: Câmara dos Deputados, 2001.
REY, A. Usages, jugements et prescriptions linguistiques. In: Langue Française 16, Paris:
Larousse, 1972, 4-28.
ROBINS, R. H. A short history of Linguistics. 3ª ed. London: Longman, 1990.
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas Morfológicas do Português. reimpressão. Belo
Horizonte: UFMG, 2003.
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2000.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1998.
SCHIFKO, Peter. Lexicología y semática. In: HOLTUS, Günther, METZELTIN, Michael,
SCHMITT, Christian (ed.). Lexicon der romanistischen Linguistik, VI, 1 Tübingen: Max
Niemayer Verlag, 132-148, 1992.
SILVA, Maria Emília Barcellos da. A fala nossa de cada dia. In: Cadernos do CNLF, Série V,
n
o
03. Estudos Filológicos - DE/EM Textos Literários. Anais do V Congresso Nacional de
Lingüística e Filologia. Rio de Janeiro, 27 a 31 de agosto de 2001. Disponível em <
http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ3_01.htm >.
SOUZA, Martínez de. Diccionario de Lexicografía Práctica. Barcelona: Bibliograf, 1995.
TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Tradução: Celso Cunha. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
TRASK, L. R. Dicionário de linguagem e lingüística. Tradução: Rodolfo Ilari. São Paulo:
Contexto, 2004.
VIVALDI, G. Martín. Géneros periodísticos. Reportaje, crónica, artículo. ed. Madri:
Paraninfo, 1993.
WE47593( )]TJ8216436(o)2-12.36(o)2-16558(n)-0.294974(f)2.b5585(ü)-10(n)-0.294974(f)2.80561(t)-2.(o)2-12.36Ao 6830(n)-0.2a6558(e)3.74(s)-1.95585(.)-0.147792( )250]TJ/R45 146.6067.8059 0 Td[(D)1.57442(i)-2.16558(c)3.74(i)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(á)-0.295584(r)-1.2312(i)-2.16436(o)-0.295585(s)389]TJ/R7 : ua95585( )-150.312(p)-0.295585(eq3.74(d)-0.295585(u)-0.2e7442(é)3.74(n)-0.2a.235(e)3.74( )-1416436(i)-2.16436(n)-0.280439(t)-2.93142(r)2.16436(o)-0.295585(d)-0.295585(u)-0.295585(ç)-6.2659(ã)3.74(o)-0.2)3.74( )-14à.235(e)3.74( )-140.229(l)-2.e5585(ç)-6x5585(ü)-1016436(i)-2.16436(c)3.74(o)-0.2g5585(u)9.40026(r)2.80439(af3142(r)2.80439(i)-2.95585(a)3.74(.)-0.146585( )-15B)6.6(u).295536(f)-7.52434(a)3.16436(s)-116436(í)-2.0.229(l)-2.16436(i)-2.52434(a)3.95585(:)-2.16( )2500428.495 -13.80.229(T)0.6h6558(n)-0.216558(e)3.74(s)-1.33117(a)3.74(u)-0.294974(f)2.u6436(o)-0.295.74(s)-1.22997(,)-0.147792( )-0.147792(2)-0.295585(0)-0.295585(0)-0.295585(4)-0.295585(.)-0.147593( )]TJ
DUBOIS, Jean et al. Dictionnaire de linguistique et des sciences du langage. Paris: Larousse,
1997.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio: versão 5.0.
Rio de Janeiro: Positivo, 2004.
_________. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. ed. revista e
ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa: versão 1.0.5a. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2001.
MANUAIS DE REDAÇÃO
GARCIA, Luiz (org.). O Globo Manual de redação e estilo. 28ª ed. São Paulo: Globo, 2001.
MANUAL DA REDAÇÃO: Folha de S. Paulo. São Paulo: Publifolha, 2006.
MANUAL DE ESTILO EDITORA ABRIL: Como escrever bem para nossas revistas. 15ª ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e estilo de O Estado de S. Paulo. ed. revista e
ampliada. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1997.
NUNES, Augusto. Manual de redação de Zero Hora. Porto Alegre, 1994.
.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo