108
Esses locais de trabalho são de propriedade de alemães, numa clara representação do que
havia nessa região da Porto Alegre real em termos de comércio e indústria. O Caminho Novo, por
exemplo, ficou “gravado na memória dos moradores da capital como ‘rua dos alemães’” (GANS,
2004, p. 39). Os imigrantes alemães e seus descendentes já somavam em torno de 20% da
população da capital gaúcha na década de 1920. Em termos de trabalho e renda, aos primeiros
que chegaram à então província para cultivar a terra, a partir de 1824, seguiram-se inúmeros
outros que se tornaram comerciantes e industriais na cidade. Nesse sentido, nos mais diversos
ramos contava-se com a presença alemã. A cerveja, por exemplo, foi industrializada pelos
alemães. Fischer (2006, p.41 e 43) assim explica:
Alemães bebem cerveja, como se sabe. Não foram os inventores do precioso líquido,
mas o desenvolveram de modo particular, a ponto de ficarem identificados com ela.
Alemães em Porto Alegre produzem cerveja: a partir da década de 1880 a capital
gaúcha vai conhecer fábricas da bebida, sempre de propriedade de sobrenomes como
Bopp, Becker, Sassen e Ritter, algumas das quais, no futuro, vão-se fundir na Cervejaria
Continental, que vai ocupar prédios inaugurados em 1911 e ainda hoje existentes na
Floresta, prédios mais conhecidos como “da Brahma”, denominação esta que sucedeu à
Cervejaria Continental. (Aqueles belos prédios saíram da inventividade do arquiteto
Theo Wiederspahn, que nos anos seguintes seria responsável por vários dos mais lindos
prédios da cidade, como o atual prédio do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e o
Memorial, ambos na praça da Alfândega). Um número eloqüente: na segunda metade
do século 19, nada menos que vinte e uma fábricas de cerveja viram a luz do dia na
cidade de Porto Alegre, dos seguintes proprietários, conforme anotação do cronista
Athos Damasceno Ferreira: Kauffmann, Christoffel, João Diehl, Polidoro & Irmão,
Isidoro Volkmer, Frederico Bohrer & Barth, Henrique Mariante, Hoffmann, Jacob
Braun, Theobaldo Friedrichs, Carlos Bopp, Sebastião Campani, Guilherme Becker,
Oliveira Alves, Frederico Schmidt, João Jorge Lemmertz, Henrique Lubb, Kessler, José
Varnieri, Francisco Riegel, Henrique Ritter (16 sobrenomes alemães no total).
A casa dos Meyer fica na rua Coronel Vicente
32
. Nas redondezas há muitos botequins,
freqüentados assiduamente pelos personagens teutos, que encontra, em qualquer um “a mesma
atmosfera de taverna e a mesma alegria barulhenta e simples: cerveja, fumo, cantorias e mais
cerveja...” (p. 20). O velho Meyer é um fiel freqüentador desses locais. Vendida a loja, “passava
os dias pelas cervejarias do beco do Rosário
33
e adjacências ou à praça Quinze de Novembro,
31
Esta rua fica no bairro Floresta, sendo uma de suas vias mais antigas. Pelos registros citados por Sérgio da Costa
Franco no Porto Alegre: guia histórico (1992), existia já em 1834, como um local chamado beco do Motta. A partir
de 1857, passou a ser a Rua da Princesa, representando mais uma homenagem ao regime imperial. Com a República,
líderes do governo acharam por bem fazer outra homenagem, agora à abdicação do primeiro imperador, que se deu
em 7 de abril, e a rua passou a ser rua Sete de Abril, assim conhecida até hoje.
32
Rua da região central de Porto Alegre; existe desde 1877 e é assim chamada ainda hoje.
33
Este local, hoje, é a rua Otávio Rocha, na região central de Porto Alegre.