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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
ANA LÚCIA PEREIRA DE ALBUQUERQUE
CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE
LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no
contexto hospitalar
Fortaleza – Ceará
2007
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ANA LÚCIA PEREIRA DE ALBUQUERQUE
CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE
LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no
contexto hospitalar
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde, Área de
Concentração em Enfermagem do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito para obtenção do Título de
Mestre.
Orientadora: Profª. Drª. Consuelo Helena Aires
de Freitas Lopes
Fortaleza - Ceará
2007
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Universidade Estadual do Ceará
Curso de Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde
Área de Concentração: Enfermagem
Título do Trabalho: CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE
LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no contexto hospitalar
Autora: Ana Lúcia Pereira de Albuquerque
Aprovada: 26/12/2007
Banca Examinadora
___________________________________________________________
Profª. Drª. Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes
Universidade Estadual do Ceará
Presidente e Orientadora
_____________________________________________________________
Profª. Drª. Luiza Jane Eyre de Souza Vieira
Universidade de Fortaleza
1º Membro
____________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Salete Bessa Jorge
Universidade Estadual do Ceará
2º Membro
____________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Veraci Oliveira Queiroz
Universidade Estadual do Ceará
Membro Suplente
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação a minha família, em especial aos meus pais, Antonio e
Ambrosina, por tudo o que sou hoje, pelo aconchego da vida familiar e pelo exemplo de
dedicação, carinho, compreensão e perseverança que souberam me transmitir, ao longo
da vida.
Ao meu esposo, Daniel por ser um companheiro compreensivo e amoroso, acreditando
em meu potencial e sempre me incentivando e apoiando em tudo o que faço, dando-me
forças e tranqüilidade para construção e formatação desse trabalho.
A minha filha, Letícia que surgiu na minha vida como um presente abençoado de Deus,
trazendo-me força, alegria, esperança e incentivo para seguir em frente na construção
desse estudo.
Aos meus irmãos Antonio e Carlos, pelas demonstrações de carinho que sempre
dispensaram a mim em diversos momentos de convivência familiar.
A minha sogra Vera, meu sogro Hamilfon e minha cunhada Renata que em muitos
momentos, através de palavras de incentivo e otimismo, me estimularam a seguir em
frente.
AGRADECIMENTOS
A Deus, autor e senhor da minha vida, pois sem a sua condução nos meus caminhos, eu
com certeza não teria chegado até aqui.
A minha Orientadora Profª Drª Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes, por ter me
adotado como filha, contribuindo intensamente em todas as etapas de construção desse
estudo, onde após cada orientação aprendi a conhecer, admirar e respeitar cada vez mais
essa docente, não pela sua gama de conhecimentos científicos, mas também por
todos os ensinamentos de vida, humildade, respeito e otimismo que ela repassava a cada
encontro. Diante de tudo isso só me resta dizer: MUITO OBRIGADO.
A Profª Drª Maria Salete Bessa Jorge pela disponibilidade e generosidade em colaborar
com suas ricas experiências e ensinamentos.
As Profª que fazem parte do CMACCLIS um local de crescimento pessoal e
profissional, com ensinamentos éticos, humanitários e solidários.
A querida Rafaela, secretária do CMACCLIS, sempre dedicada e disposta a ajudar,
mantendo um jeito sorridente e meigo, transmitindo a todos tranqüilidade e conforto nos
momentos de aflição.
Aos companheiros de sala de aula, onde juntos mantivemos um convívio de construção
harmonioso e agradável, no qual cada um teve sua parcela de contribuição para o meu
crescimento profissional e pessoal.
Aos funcionários da Unidade de Neurologia do Instituto Dr. José Frota, que foram
sempre solícitos e acolhedores em meu processo de coleta de dados.
Aos pacientes vítimas de lesão medular do Instituto Dr. José Frota, assim como seus
familiares que confiaram em mim e partilharam comigo suas experiências e emoções
naqueles momentos de sofrimento, tornando possível a realização desse trabalho.
RESUMO
ALBUQUERQUE, ALP. CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS
DE LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no contexto
hospitalar. 2007. f. Dissertação (Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde.
Área de Concentração em Enfermagem) Centro de Ciências da Saúde Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará, 2007.
A compreensão da produção do cuidado a saúde de pessoas vítimas de lesão medular
nos remete antes de tudo a compreender o contexto social e de saúde existente no
cotidiano das pessoas. Atualmente as doenças crônicas não transmissíveis vêm se
apresentando com aumento gradativo e significante, dentre elas destacam-se as lesões
raquimedulares. O estudo buscou compreender os significados das experiências
vivenciadas pelo ser vítima de lesão medular no con
ABSTRACT
ALBUQUERQUE, ALP. FULL NURSING CARE TO VICTIMS OF VERTEBRA
LESION: interpretation of experiences of patients in hospital context. F. Dissertation
Academic Mastership Clinical Care in Health. Área of Concentration in Nursing. Center
of Health Sciences. State University of Ceará, Fortaleza, Ceará, 2007.
The comprehension of production of care to health of people victims of vertebra lesion
send us overall to comprehend the social and health context existing in daily of people.
Nowadays the chronic diseases not transmissible are presenting themselves with rise
gradation and meaningful, among them it highlights the raquispinals lesions. The study
searched to comprehend the meanings of experiences lived by the being victim of
vertebra lesion in hospital context and to describe the narratives in range of experiences
lived. The same was developed inside a qualitative approach with theoretical axis in
Symbolic Interactionism of Norman Denzin. The subjects of research were 7 patients
victims of traumatic vertebra lesion, hospitalized in an Unity of Neurology of Institute
Dr. José Frota, sited in Fortaleza-CE. The data were gotten through participant
observation, interview and information of file, where we used as analysis method the
hermeneutic phenomenology of Paul Ricoeur. The ethical legal principles were obeyed.
From 7 patientes, 6 were men and 1 was woman, where 4 live currently in Fortaleza and
the others 3 in municipals of state. The vertebra lesion had traumatic origin, being 4
victims of fall, 2 accidents of motorcycle and 1 lesion58(o)-0.2949y fire gun. Based upon the
findings, it was possible to apprehend that the cares developed along these patients were
directed to biological needs, as hygiene, alimentation, vesicle eliminations, among
others, cares these, several times done without no preoccupation with individuality of
each human being, creating thus, uncomforted and em9arrassment to patient. We
RELAÇÃO DE FLUXOGRAMAS
Fluxograma 1 Percurso metodológico para a análise das narrativas
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AVC - Acidente Vascular Cerebral
TCE - Traumatismo Crânio Encefálico
TRM - Traumatismo Raquimedular
LM - Lesão Medular
SNC - Sistema Nervoso Central
LME - Lesão Medular Espinhal
SUS - Sistema Único de Saúde
UTI - Unidade Terapia Intensiva
MMII - Membros Inferiores
MMSS - Membros Superiores
MID - Membro Inferior Direito
CNS - Conselho Nacional Saúde
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FLUXOGRAMA
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
1. A TRAJETÓRIA DE PESSOAS VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR NO CONTEXTO
HOSPITALAR 11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-METODOLÓGICA 19
2.1 Referencial Teórico: Interacionismo Interpretativo de Norman Denzim 19
2.2 O Caminhar Metodológico 22
2.2.1 A Pesquisa Qualitativa Interpretativa e o Ponto de Encontro com o Objeto do Estudo 22
2.2.2 O Cenário da Investigação 23
2.2.3 Os Sujeitos da Pesquisa 26
2.2.4 Estratégias para Obtenção de Dados 27
2.2.5 Aspectos Éticos Legais 31
2.2.6 O Método para Análise Interpretativa 32
3. A VIVÊNCIA DE PACIENTES VÍTIMAS DE TRM NO CONTEXTO HOSPITALAR 35
3.1 Descrição dos Sujeitos da Pesquisa 35
3.2 Ser Lesionado Medular 37
3.2.1 Relembrar é Viver o Inesperado 41
3.3 O Cuidado Recebido no Hospital 44
3.4 A Tecnologia das Relações Afetivas 52
4. CONSIDERAÇÕS FINAIS 56
5. REFERÊNCIAS 59
APÊNDICES 64
Apêndice I - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP 64
Apêndice II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 65
Apêndice III - Observações Participantes 66
Apêndice IV - Entrevistas
67
ANEXOS 68
Anexo IV - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa 68
1 A TRAJETÓRIA DE PESSOAS VÍTIMAS DE LESÃO
MEDULAR NO CONTEXTO HOSPITALAR
A compreensão da produção do cuidado a saúde de pessoas vítimas de lesão
medular nos remete antes de tudo a compreender o contexto social e de saúde existente
no cotidiano das pessoas. Quando nos reportamos à determinada situação problema de
saúde, no âmbito da pesquisa e assistência, torna-se necessário olhar a problemática nos
diversos espaços da sociedade, considerando as causas, dados epidemiológicos,
intervenção, prevenção e controle, assistência dos serviços de saúde, cuidado dos
profissionais de saúde como segmentos do processo saúde-doença.
Na sociedade atual as doenças crônicas não transmissíveis vêm se apresentando
com aumento gradativo e significante. Estudos revelam que a urbanização desenfreada
tem contribuído para determinação deste quadro, visto que a violência urbana e o
crescente índice de acidentes de trânsito e de trabalho traduzem elevação do número de
acidentes com lesões traumáticas, em especial as lesões raquimedulares, no qual deixam
um grande número de indivíduos, em plena fase produtiva ou não, vítimas de alguma
deficiência, como a paraplegia ou tetraplegia, passando para o perfil de pessoas inativas,
deficientes e dependentes do Estado e família. Este cenário pertence também a outros
países, sendo um problema de ordem mundial.
Estatísticas norte-americanas mostraram uma população de aproximadamente
200 mil indivíduos, com uma incidência anual de aproximadamente 10 mil casos.
Durante os últimos 20 anos, nos Estados Unidos persistiram ainda como principais
causas, os acidentes automobilísticos (45%), as quedas (22%), os atos de violência
(16%) e a participação em esportes (13%). No Brasil, na maioria dos casos, essas lesões
são de origem traumática, sendo que as causas externas mais freqüentes são os acidentes
automobilísticos, seguidos por ferimentos por arma de fogo e quedas (SANTOS, 1989).
Os acidentes de trânsito se destacam representando em nosso país um grande
problema de saúde pública. Anualmente milhares de pessoas morrem ou se ferem em
acidentes de trânsito, e mais da metade dos feridos ficam com lesão ou seqüelas
permanentes. Campanhas educativas com vistas a prevenção de acidentes no trânsito
parecem não obter controle das ocorrências, observa-se que a ingestão de bebidas
alcoólicas associada ao ato de dirigir é fator muito presente.
Dados da Unidade de Vigilância Epidemiológica de instituição hospitalar
especializada em emergências da cidade de Fortaleza, Ceará apontam que no ano de
2005 foram registrados 7.893 atendimentos a pessoas vítimas de lesão medular, sendo
5.390 homens e 2.503 mulheres, na faixa etária entre 19 a 28 anos. A maioria de origem
traumática, com registros de 12.146 atendimentos decorrentes de acidentes
automobilísticos, sendo 6.053 acidentes de moto, 3.581 atropelamentos e 2.512 colisões
automobilísticas. Em seguida constatamos 6.668 casos de violência, sendo 5.154
agressões físicas em geral e 1.514 casos de lesão por arma de fogo. Por último foram
registrados 3.544 casos de quedas, sendo 2.783 quedas de bicicleta e 761 quedas de
carro.
Os dados registrados são preocupantes, não somente pelo quantitativo das
ocorrências, mas, sobretudo pela ocorrência diária registrada neste serviço, mostrando
ineficácia de medidas preventivas nos diversos setores da sociedade, retratando
problemas de ordem macroestrutural movidos pela violência e desinformação
pertencente a todas as camadas sociais. A preocupação dos dirigentes e profissionais da
saúde é centrada não somente no atendimento de emergência a população, que embora
seja de alta complexidade, envolvendo atenção especializada de vários profissionais da
saúde, requer a manutenção de custos e tecnologia avançada, mas principalmente
devido à gravidade e permanência do estado de saúde que as pessoas passam a adquirir,
que em fase posterior a situação de emergência, este passa a condição crônica
requerendo assistência permanente dos serviços de saúde, fato que além dos danos do
indivíduo, acomete a família, instituição de saúde e Estado.
Nosso interesse pela temática teve início ainda no processo de formação
acadêmica onde tivemos a oportunidade de entrar em contato com pessoas vítimas de
lesões neurológicas variadas, sendo mais freqüentes as lesões do tipo acidente vascular
cerebral - AVC, traumatismo crânio-encefálico - TCE e traumatismo raquimedular -
TRM. Dentre essas, os pacientes portadores de TRM, despertaram em nós o interesse de
conhecer toda a complexibilidade que envolve as pessoas vítimas desse trauma.
Percebemos que essa clientela era composta, na sua maioria de pessoas jovens, do sexo
masculino, vítimas de lesão medular de origem traumática.
A lesão medular (LM) pode ser provocada por diversas causas e ocorre como
conseqüência da morte dos neurônios da medula e da quebra de comunicação entre os
axônios que se originam no cérebro e suas conexões. Esse rompimento interrompe a
comunicação entre o cérebro e todas as partes do corpo que ficam abaixo da lesão,
determinando as diferentes alterações observadas nas pessoas com seqüela de LM, pois
é de acordo com a altura do trauma na medula e a gravidade da lesão que é definido o
comprometimento, entre outros, dos movimentos, da sensibilidade, do controle dos
esfíncteres, do funcionamento dos órgãos internos, da circulação sangüínea e do
controle da temperatura (POLIT; HUNGLER, 1995).
Sabe-se que a gravidade desse trauma deve-se ao fato de que a medula espinhal
localiza-se dentro da coluna vertebral, sendo uma parte do Sistema Nervoso Central -
SNC, que conecta o cérebro aos nervos responsáveis pela condução das respostas
motoras e sensitivas. A lesão da medula espinhal (LME) é uma lesão traumática ou não,
que pode variar desde discreta concussão medular, com dormência transitória, até a
tetraplegia imediata e completa, trazendo conseqüências que alteram a rotina familiar
determinando um novo estilo de vida para todos os membros da família. As lesões
traumáticas podem ser originadas em acidentes automobilísticos, quedas de alturas,
mergulhos em águas rasas, ferimentos por armas brancas, ferimentos por armas de fogo
(projétil). As lesões de origem não-traumáticas podem ser geradas por acidente vascular
cerebral - AVC, hérnias de disco, entre outros (POLIT; HUNGLER, 1995).
Ao adquirir essa deficiência, a pessoa sofre limitações para exercer o controle
sobre as suas condições de vida, acesso à escola, trabalho, lazer, bem como satisfação
de suas necessidades básicas. A sociedade parece também ser responsável pelas
deficiências que essas pessoas enfrentam ao tentar exercer o direito de ir e vir,
deficiências desencadeadas pela organização da cidade, pelas barreiras arquitetônicas,
transportes inadequados, falta de acessibilidade aos recursos (trabalho, educação, lazer).
A constatação de uma deficiência gera ainda, uma situação de crise na vida
familiar. Dela decorrem alterações psicológicas e sociais, sentimentos de negação,
culpa, vergonha, medo, pena e rejeição que podem levar ao isolamento social.
Devemos pensar no cuidado integral a saúde desses sujeitos, considerando a sua
condição de lesionado medular e contexto, levando em consideração distúrbios,
sofrimentos, dor, risco de vida, bem como outros aspectos. Do ponto de vista da relação
usuário-profissional de saúde, a atenção integral supõe tanto o oferecimento de todo
recurso técnico disponível para o restabelecimento e preservação da saúde quanto o
oferecimento de qualidade nos vínculos usuário-profissional. Essa qualidade nos
vínculos é aqui entendida como atenção à maneira pelas quais as relações se
estabelecem, pelo respeito às singularidades e pela boa comunicação interpessoal. A
realização de qualquer ação técnica acontece sempre a partir de uma relação
intersubjetiva e provoca repercussões em todos os envolvidos. O reconhecimento destas
repercussões é um importante fator para conhecimento e atendimento das necessidades
ali expressas, no entanto, esta tarefa é bastante complexa (RIBAS, 2002).
O que geralmente acontece é a priorização de aspectos biológicos e relativos à
doença em detrimento de aspectos subjetivos, sociais e culturais. Esta priorização,
comum à lógica dos serviços de saúde, tem implicações tanto para o usuário quanto para
o profissional de saúde. Para o atendimento do usuário, traz uma dificuldade de
compreensão da amplitude e da singularidade de seu sofrimento e do alto grau de
imprevisibilidade que caracteriza os acontecimentos nos processos de saúde-doença, de
cura e de morte. Para o profissional de saúde, a quase ausência de consideração de
aspectos de sua subjetividade traz implicações tanto para a qualidade da oferta de
cuidado ao usuário quanto para o reconhecimento das suas próprias demandas no
exercício de seu trabalho (RIBAS, 2002)
No dia a dia, as pessoas parecem que não se chamam à atenção de olhar e
verificar a gravidade da problemática, a maioria das situações pode ser prevenível, e que
passam a constituir a condição do ser portador de deficiência física. Diante desse
conhecimento, acreditamos que o período inicial de hospitalização de uma pessoa
vítima de lesão medular apresenta-se repleta de sentimentos contraditórios, dentre eles,
a incerteza sobre as seqüelas que aquele trauma pode ocasionar.
Observamos a questão da assistência prestada pelos diversos profissionais de
saúde às pessoas vítimas de lesão medular, pessoas essas, que muitas vezes diante de
uma fatalidade, em questão de segundos, tiveram suas vidas modificadas, tendo agora,
alterações biológicas, sociais e espirituais, significativas. Faro (1999) comenta que a
pessoa com lesão medular apresenta alterações significativas de motricidade e
sensibilidade, dentre tantas outras, ocorrendo, muitas vezes, dependência de terceiros
para atividades antes tidas como corriqueiras e outras mais íntimas, como a higiene após
as eliminações. Portanto, esse tipo de paciente é caracterizado como dependente dos
cuidados da enfermagem e família para desenvolver atividades básicas da vida diária,
como alimentar-se, vestir-se, despir-se, posicionar-se na cama ou na cadeira e
higienizar-se.
Observando que os cuidados realizados diariamente, pelos diversos profissionais
de saúde, cada um dentro da sua competência, aconteciam de forma rotineira, tecnicista
e desvinculada de uma visão holística do paciente, pois eram priorizadas apenas as
necessidades biológicas como: verificação de sinais vitais, higienização, curativos,
administração de medicação, dieta e sondagens, assim como a individualidade de cada
ser não era considerada, a partir do momento que eles tinham que se adequar a uma
rotina programada e muitas vezes, sem nenhuma possibilidade de alteração.
O cuidado da enfermagem constitui um eixo na condução das disciplinas e
organização das práticas de enfermagem. E na perspectiva de concretizar a integralidade
do cuidado na saúde é necessário pensar esse cuidado em todos os cenários onde ele se
encontra, seja na formação dos profissionais, nos serviços, na gestão e nos espaços de
participação da sociedade civil. É preciso criar formas de sentir, falar e fazer nossa
prática de modo compartilhado no campo da saúde.
A integralidade, como um dos princípios do SUS que exige novos padrões de
relacionamento entre serviços, profissionais e usuários, se efetiva através da relação
entre os diversos atores com suas diferentes perspectivas e interesses, no interior das
instituições, nos vários níveis de atenção do sistema de saúde.
Tendo esta concepção como ponto de partida, o exercício da integralidade
pressupõe um olhar atencioso às diversas perspectivas que compõem o processo de
produção de saúde: dos usuários, dos grupos de profissionais, das instituições e serviços
e do sistema de saúde. No processo de inter-relação destas perspectivas estão presentes
demandas e ofertas que revelam uma pluralidade de diferenças que, muitas vezes, se
apresentam de forma desarticulada e contraditória (PINHEIRO, MATOS, 2001).
Diante de tais observações surgiu a necessidade de buscarmos compreender os
significados das experiências vivenciadas por vítimas de lesão medular, dentro daquele
contexto hospitalar, pensando no cuidado integral a saúde daquelas pessoas que se
encontravam em momento de crise.
Tínhamos a lucidez da difícil tarefa de buscar esta subjetividade. Assim
identificamos o Interacionismo Interpretativo de Norman Denzin (1989) como
perspectiva teórica que se atem a tentativa de fazer o mundo da experiência da
problemática vivida, diretamente acessível, por meio da interpretação do pesquisador
Andrade, Tanaka (2000). De acordo com Denzin (1989), o ato de interpretar
significado a uma experiência, mesmo quando expressada simbolicamente e que, a
pesquisa evolui em torno de interações humanas, com organização da conduta, tomando
por base eventos negociados e não previstos.
Pensando assim, buscamos elaborar questionamentos que nos proporcionasse
maior aproximação com o fenômeno em estudo, ou seja a vivência do TRM no âmbito
hospitalar com vistas a apreender a maior necessidade desses sujeitos no
desenvolvimento do cuidado integral a saúde. Sendo eles os seguintes: Fale da sua
experiência no hospital. Como está a sua assistência aqui no hospital? O que você sabe
sobre o seu estado de saúde? O que você sabe sobre o seu tratamento? O que poderia
melhorar nesse momento? Como você está se sentindo?
Acreditamos que compreender os significados das experiências vivenciadas pelo
ser vítima de lesão medular no contexto hospitalar de um serviço de urgência e
emergência, trará uma contribuição significativa no processo de cuidar integral da saúde
dessas pessoas, no estabelecimento de vínculo com o paciente, e prestação de cuidado
mais humanizado, direcionado as reais necessidades do ser vítima de lesão medular.
Durante esse período percebemos que a assistência hospitalar ainda estava muito
voltada para as necessidades biológicas e para o “ser-doente”, no qual as necessidades
sociais e espirituais são colocadas em segundo plano. Concordamos também que neste
momento é prioridade o atendimento das necessidades biológicas dada a busca de
melhores condições clínicas do estado de saúde e que estas deveriam ser desenvolvidas
levando em consideração as demais dimensões do ser humano, em destaque as
psicológicas e sociais.
Outro aspecto identificado foi à assistência prestada aos familiares do paciente,
assistência essa, muitas vezes repleta de desinformação e descaso, observado
principalmente durante as visitas das equipes de saúde, onde as discussões eram
direcionadas aos aspectos técnicos e biológicos da lesão medular e a família, muitas
vezes presente, não era vista, nem comunicada. Isso retrata que o paciente não era
tratado como um ser possuidor de um mundo, de uma família, que estava ali
acompanhando passo a passo o tratamento do seu ente querido.
O estudo também virá a contribuir no campo da pesquisa, pois a partir da
divulgação dos resultados obtidos, um número maior de profissionais terá acesso a essas
informações podendo utilizá-las para repensar sua prática profissional, assim como,
incentivar esses profissionais para a realização de novas pesquisas sobre essa temática.
Proporcionará importância especial para os profissionais de saúde que trabalham
na Instituição, no qual a pesquisa será desenvolvida, pois a partir dos resultados obtidos
e divulgados em meios científicos, esses profissionais que direta ou indiretamente
prestam cuidados a essa clientela, terão conhecimentos de informações relevantes sobre
os mesmos, podendo a partir daí desenvolver um trabalho mais direcionado as
necessidades não biológicas mais psicológicas e sociais daquele ser vítima de lesão
medular, trazendo benefícios para os pacientes em questão, assim como para a
instituição como um todo, portanto pretendemos desenvolver a socialização dos
resultados dessa pesquisa junto aos profissionais de saúde que cuidam do paciente
vítima de lesão medular apresentando a pesquisa e disponibilizando a mesma na
instituição como forma de contribuir para a melhoria do cuidado a esta clientela.
Portanto, pontuamos como objetivos:
Compreender os significados das experiências vivenciadas pelo ser
vítima de lesão medular no contexto hospitalar;
Descrever as narrativas no âmbito das experiências vividas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - METODOLÓGICA
2.1 REFERENCIAL TEÓRICO: Interacionismo Interpretativo de Norman Denzin
O presente estudo foi fundamentado na perspectiva teórica do Interacionismo
Interpretativo de Norman Denzin (1989). É uma perspectiva teórico-metodológica
denominada interacionista porque parte do pressuposto de que as ações do ser humano
se dão em direção ao outro, com o outro, a partir do outro, num processo mútuo, sendo
que essas ações resultam em experiências interacionais mediadas por símbolos e pela
linguagem. É denominada interpretativa porque busca a atribuição de significados e sua
tradução em termos que levam a compreensão do fenômeno que se pretende estudar
(ANDRADE e TANAKA, 2000).
O Interacionismo Interpretativo tem suas raízes na teoria crítica, teoria feminista,
pragmatismo, estudos culturais ou etnometodologia, teoria de conflito e interacionismo
simbólico, cuja natureza auto-reflexiva e política da conduta diária e científica
percebem o ato da pesquisa nela mesma, sendo em instância da interação interpretativa
simbólica.
Vale salientar que o interacionismo simbólico teve sua origem no fim do século
dezenove, onde reuniu estudos de CHARLES HORTON COOLEY (1864-1929), W.I.
THOMAS (1863 1947) e GEORGE HERBERT MEAD (1863 1931). MEAD
colocou os fundamentos da abordagem do interacionismo simbólico na academia, tendo
sido disseminador deste conhecimento enquanto professor na Escola de Chicago no
período de 1893 a 1931.
Denzin, professor de pesquisas em comunicação, de sociologia, de estudos de
cinemas, de críticas e teorias interpretativas, entretanto sua área primária de interesse
são os estudos culturais e pesquisas interpretativas, cinema e teoria da raça crítica,
estudos de desempenho e etnografia. A pesquisa de Denzin cobre a extensa teoria da
prática institucional. Seus livros The Alcoolic Self e The Recovering Alcoolic o fizeram
ganhar o prestígio de Charles H. Cooley Award e da sociedade para o estudo da
interação de símbolos e foi designado para o C. Wrighr Mills Awara.
Suas recentes publicações incluem : Screening Race: Hollywood and a Cinema
of Racial Violence, Interpretive Ethnography, The Cinematic Society, Images of
Postmodern Society, The Research Act, Interpretive Interactionism e Hollywood Shot by
Shot. Em 1997 ele foi premiado por George Herbert Award pelo estudo do
Interacionismo Simbólico, sendo também PHD em Sociologia na Universidade de Iowa.
Denzin (1989) apresenta uma abordagem de Interacionismo Interpretativo sob o
ponto de vista de que os sociólogos devem diminuir a lacuna que existe entre os
métodos e suas teorias, adotando um modelo interpretativo comum no julgamento de
que método e teoria devem ter a mesma perspectiva.
O Autor defende a idéia de que papéis recíprocos devem ser claramente
definidos e que devemos encarar a vida humana como um vasto processo interpretativo
em que pessoas sozinhas ou coletivamente definem objetos e vivem situações que
encontram. É nesta perspectiva que afirma que as teorias são interpretações do mundo
social.
Uma tese básica direciona o Interacionismo Interpretativo: a importância da
interpretação e compreensão de um fenômeno ou questão chave da vida social. Afirma
que na vida social apenas interpretação, isto é, a vida cotidiana gira em torno da
interpretação e julgamento que as pessoas fazem sobre os comportamentos e
experiência de si mesmo e dos outros (DENZIN, 1989).
O foco da pesquisa interpretativa é centrado nas experiências da vida que
radicalmente afetam e moldam o significado que as pessoas dão a elas próprias e aos
seus projetos de vida. Seu foco centra-se nas epifanias, que nada mais são que
experiências que deixam marcas na vida das pessoas.
Sob esta perspectiva a pesquisa interpretativa apresenta algumas características,
sendo elas: é ideográfica, porque trata cada indivíduo como um universo singular; é
normotética, porque pretende certa generalização; é progressivo-regressiva, porque
remete a dimensão futura, temporal do interpretativismo (progressivo) e trabalha com
retornos no tempo (regressiva); é naturalística, porque está localizada na experiência do
mundo cotidiano; é permeada pela história; traz a marca da emoção, impregnada no
humor e nos sentimentos das pessoas; cria condições para a compreensão, pois emoção
e experiência compartilhada propiciam as condições para a compreensão profunda e
autêntica; é crítica, pois deve prover uma minuciosa análise das estruturas e processos
que estão sendo investigados.
De acordo com Denzin (1989) o Interacionismo Simbólico repousa em 3
suposições básicas:
- Como a realidade social é sentida, conhecida e compreendida, é uma
produção social, indivíduos interagem, produzem e definem suas próprias
definições de situações;
- Os seres humanos são considerados capazes de se engajar em
comportamentos pensados e auto-reflexivos, sendo capazes de mudar e
dirigir seu próprio comportamento e de outros;
- No decorrer de tomar seu próprio ponto de vista e adaptar esse ponto de
vista aos comportamentos dos outros, os humanos interagem uns com os
outros.
Essa perspectiva define que o mundo social dos seres humanos não constituem-
se de objetos com significados intrínsecos, ou seja o significado dos objetos está nas
ações que seres humanos tomam em relação a eles, onde essas definições dos objetos
podem sofrer alterações de acordo com a experiência humana.
Denzin (1989) coloca que o comportamento humano é observado em dois
níveis: simbólico e interacional, então central a compreensão de tal comportamento está
à variação e variedade de símbolos e significados simbólicos compartilhados,
comunicados, manipulados por “eus” ou “egos interagentes” em condições sociais, onde
a sociedade contribui com elementos sociais que refletem diretamente nas interações
completas, através de mbolos ou linguagem, fornecidas ou comunicadas, através do
processo de socialização, ou ainda, os cenários comportamentais concretos em que
ocorrem as interações.
O objetivo das atividades interpretativas é criar um corpo de material que
forneça os elementos para a interpretação e compreensão. A interpretação é a tentativa
de explicar o significado de algo, de tomar o não familiar e torná-lo familiar.
A interpretação objetiva descobrir os conteúdos, expressos na forma de relatos,
que estruturam as experiências das pessoas, experiências estas vividas em um contexto
com significados culturais.
Baseado nas colocações apresentadas fizemos a opção em desenvolver este
estudo, utilizando como referencial teórico, o Interacionismo Interpretativo de Norman
Denzin (1989), em busca da compreensão da interpretação de pacientes vítimas de lesão
medular sobre a sua experiência no contexto hospitalar.
2.2 O CAMINHAR METODOLÓGICO
2.2.1 A pesquisa qualitativa interpretativa e o ponto de encontro com o objeto do
estudo
Fizemos a opção pelo estudo qualitativo com eixo teórico no Interacionismo
Simbólico Interpretativo de Denzin (1989), por acreditar na perspectiva teórico-
metodológica que se propõe a interpretar o mundo da experiência da problemática
vivida. Neste estudo, trata-se da vivência de pacientes vítimas de lesão medular no
contexto hospitalar, que por meio da compreensão do fenômeno, a identificação de
ações para o cuidado integral de enfermagem fosse desveladas. Neste intuito, sabemos
que várias são as questões que permeiam a construção do cuidado.
Este tipo de abordagem qualitativa se ampara fortemente na descrição e
interpretação da experiência direta das pessoas com relação ao fenômeno em questão,
porque tenta tornar o mundo da experiência vivida compreensível. A compreensão do
fenômeno estudado foi obtida pela interpretação e entendimento do significado que é
sentido, pretendido e expresso pelas pessoas (ANDRADE E TANAKA, 2000).
A matéria prima da pesquisa interpretativa é a experiência da vida, visto que
estudos interpretativos são organizados em termos de eventos ou momentos
significativos na vida de uma pessoa. Este evento, como é vivido, como é definido e
como é conformado na vida do sujeito, constitui o foco da pesquisa interpretativa.
Para Denzin (1989) estudos sob esta perspectiva podem ter implicações em
políticas publicas como respostas a determinados problemas, a partir da perspectiva
primeira das pessoas que experimentam tais problemas. Tais respostas, dizem respeito
às questões de mudança de comportamento que no campo de pesquisas sociais em saúde
requerem descrições detalhadas, em profundidades, que as pessoas apresentam a partir
de suas experiências.
Assim, percebemos identificação da perspectiva teórica-metodológica do
Interacionismo Interpretativo com o objeto do estudo que busca a compreensão da
vivência do ser vítima de lesão raquimedular no contexto hospitalar.
2.2.2 O Cenário da Investigação
O presente estudo foi realizado em uma das Unidades de Neurologia de um
Hospital Público de Urgência e Emergência de Fortaleza-CE-Brasil, o mesmo é
referência no atendimento terciário na rede Sistema Único de Saúde (SUS) para o
Estado do Ceará e municípios adjacentes. A equipe é multiprofissional, composta por
Médicos, Enfermeiros, Auxiliares de enfermagem, Fisioterapeutas, Nutricionistas e
Psicólogos. Constitui-se de um hospital de ensino, sendo campo de estágio para
discentes de graduação e pós-graduação de diversos cursos como Enfermagem,
Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Farmácia, Serviço Social e
Psicologia.
Ao iniciar nossa aproximação com o campo de pesquisa e os pacientes
lesionados, pudemos presenciar situações cruéis e inaceitáveis de pessoas simples que
se amontoavam sobre macas frias nos corredores intermináveis da emergência do
Instituto Dr. José Frota - IJF, cada ser daquele tinha sido vítima de algum trauma ou de
alguma patologia, que os levaram para aquela emergência, não poderiam imaginar,
assim como seus familiares, que ao chegar ao hospital seriam novamente timas, agora
de um enorme problema de Saúde Pública, problema esse previsto e anunciado
tempos, por profissionais de saúde, pela população, pela imprensa escrita, falada e
televisionada.
Deveríamos seguir para o nosso campo específico de observação que era a
unidade de Neurologia, contudo não conseguimos sair daquela emergência sem
observar com total indignação à realidade cruel que aquelas pessoas enfrentavam
naquele momento. Ao passar pelas macas que se aglomeram nos corredores,
percebíamos em cada olhar um pedido de socorro e uma história de sofrimento para
contar, alguns gemiam de dor, outros vomitavam no chão e alguns ficavam em silêncio
com a sua dor, todos do seu jeito e da forma que dava para agüentar esperavam por
alguém que pudesse amenizar aqueles momentos intermináveis de sofrimento.
Identificamos naqueles momentos de observação outra vítima de gestões
ineficientes e incapazes que permeiam os níveis macro e micro-estruturais, os
profissionais de saúde. Médicos e equipe de enfermagem, profissionais que andavam de
um lado para outro sem saber por onde iniciar ou a quem primeiro atender. Para a
sociedade, a mídia e o senso comum, esses profissionais parecem ser algozes, entretanto
avaliando a real situação enfrentada pela saúde em nosso país, percebemos que aqueles
profissionais são tão vítimas quanto aquelas pessoas deitadas nas macas frias daquela
emergência, simbolicamente, estes estão deitados na impotência de suas ações diante de
um problema que tem raízes profundas na má efetivação das políticas públicas de saúde.
Naquele momento começamos a pensar sobre os pacientes vítimas de lesão
medular, pessoas que mantinham sua rotina de vida comum e que por algum
acontecimento de origem traumáticas, desenvolveram uma lesão medular e naquele
momento estavam ali entre aqueles pacientes, naquele instante era impossível identifica-
los. Começamos a refletir sobre o que passará na mente daquelas pessoas,
principalmente se a lesão sofrida deixará, inicialmente, algum tipo de paralisia dos
membros, o que aquele ser pensava ou sentia naqueles momentos de espera, com a
ausência de movimentos, o fantasma de uma cadeira de rodas e a incerteza do futuro,
certamente esses pensamentos tornavam-se muito mais assustadores e aterrorizantes
com toda aquela demora de horas ou até mesmo dias a espera de um atendimento.
Com essa assustadora vivência inicial, seguimos em direção a unidade de
neurologia, no qual o estudo foi realizado, a mesma localizava-se no andar, dispondo
de uma área de internação de 4.847,97destinados a receber pacientes da emergência,
centro cirúrgico, UTI e unidade de observação. Este setor específico dispõe de 38 leitos,
onde os pacientes hospitalizados, geralmente são vítimas de traumatismo crânio-
encefálico - TCE, lesão medular espinhal - LME, acidente vascular cerebral - AVC,
assim como outras afecções neurológicas.
Ao chegarmos visualizamos uma realidade mais amena, apesar de também
complexa. Ao passarmos pelos corredores das enfermarias, observamos todos os leitos
ocupados, percebíamos que os pacientes olhavam atentamente o movimento nos
corredores, como se esperassem algo de novo ou alguém que pudesse trazer alguma
notícia que os tirassem daquele leito hospitalar. Quando entrávamos nas enfermarias,
sempre éramos recebidos com sorrisos tímidos, olhares interrogativos e algumas vezes
perguntas sobre o prognóstico do paciente ou de alguma solicitação para mudança de
soro ou medicações para dor, por não trabalharmos na unidade, não tínhamos respostas
para muitas indagações e assim percebíamos que essa ausência ou incerteza nas
respostas causavam uma certa decepção por parte dos pacientes ou mesmo
acompanhante, entretanto conseguíamos amenizar essa deficiência com atenção, toque,
e conversas sobre assuntos referentes as diversas patologias que atingiam aqueles
pacientes.
Os profissionais de saúde daquela unidade, em especial os de enfermagem
trabalhavam de forma harmoniosa, pois como os pacientes hospitalizados naquele setor,
geralmente apresentavam seqüelas principalmente motoras, em decorrência de TCE,
AVC ou LM, os cuidados de enfermagem dispensados a eles exigiam muita técnica e
vigor, pela dificuldade na execução, devido a isso, os profissionais sempre procuravam
trabalhar em equipe, ajudando-se mutuamente. A relação com os pacientes durante a
execução dos cuidados como banho no leito, curativos, mudança de decúbito era
agradável, percebíamos que eles conversavam e se sentiam a vontade na presença
desses profissionais.
Em muitos momentos de conversa com a equipe de enfermagem percebíamos
que aquelas trágicas histórias de vida, não pareciam atingi-los, quando indagados sobre
alguns casos específicos de pacientes vítimas de lesão medular eles faziam relatos e
davam opiniões de forma fria, como se falassem sobre acontecimentos comuns,
entretanto em algumas frases e expressões não verbais conseguíamos perceber que essa
frieza não era devido a uma relação de indiferença com todos aqueles acontecimentos
trágicos vivenciados diariamente e sim pelo tempo de convivência com aquele
ambiente, talvez aquela aparente indiferença fosse a forma encontrada, até mesmo de
forma inconsciente por aqueles profissionais de não se envolverem emocionalmente
com tantas fatalidades, fatalidades essas muitas vezes evitáveis se as políticas públicas
de nosso País fossem realmente eficazes.
No que se refere ao ambiente físico observamos enfermarias pequenas, quase
sempre escuras e quentes, algumas tinham televisão outras não. Todas apresentavam
poluição visual, ou seja, as mesinhas de cabeceira estavam sempre ocupadas com
ventiladores, copos descartáveis, produtos de higiene pessoal ou bolsas. Muitas cadeiras
de plástico para os acompanhantes ficavam amontoadas entre os leitos ou
espreguiçadeiras abertas durante o dia, nas paredes figuras de santo, orações e até
mesmo fotos de familiares. O chão era lavado diariamente, entretanto em alguns dias,
essa lavagem era feita tardiamente, coincidindo com o almoço dos pacientes,
percebíamos que esse fato causava incômodo tanto para os pacientes quanto para os
acompanhantes.
Ao sair daquela unidade e daquele hospital e voltar para as nossas atividades
diárias normais, ficamos lembrando de cada detalhe observado durante aqueles dias
dentro daquela instituição, o simples fato de tomar banho, nos alimentar ou mesmo
andar nos faziam pensar em cada história de vida explorada no nosso estudo. Esses
pensamentos nos faziam valorizar cada uma dessas atividades que antes fazíamos de
forma comum, sem nenhum significado importante, naquele momento ficávamos
imaginando o que aquelas pessoas dariam, o quanto elas desejariam e agora
valorizariam se novamente tivessem a oportunidade de realizar essas atividades comuns
do dia a dia.
2.2.3 Os Sujeitos da Pesquisa
O estudo em questão contou com a participação de 07 (sete) pacientes vítimas de
lesão medular hospitalizados na Unidade 12 de Neurologia do Instituto Dr. José Frota
IJF, sendo 6 (seis) do sexo masculino e 1 (um) do sexo feminino. Esses números vêm
confirmar os dados da Unidade de Vigilância Epidemiológica dessa mesma instituição
do ano de 2005, onde mostram que os homens são as maiores vítimas de traumas
resultando em lesão medular, podendo isso estar associado ao fato de que os homens se
expõem mais a situações de risco do que as mulheres, em decorrência da maior ingestão
de bebidas alcoólicas, um maior contato com armas de fogo ou de dirigirem motos ou
motocicletas com maior freqüência.
Investigamos pacientes que atendiam os seguintes critérios de inclusão:
pacientes vítimas de lesão medular de origem traumática, de ambos os sexos, que se
encontravam na faixa etária de 18 a 65 anos, hospitalizados a mais de uma semana em
uma Unidade de Neurologia do referido hospital, e que estivessem conscientes,
orientados, em condições hemodinamicamente estáveis, inclusive de verbalização. Tais
critérios foram definidos baseados em dados da Unidade de Vigilância Epidemiológicas
dessa Instituição que apresenta como faixa etária de maior freqüência pacientes entre 19
a 30 anos, no entanto ampliamos a faixa etária da pesquisa por existir também pacientes
com idade inferior a 18 anos, optamos por investigar assim os de maior idade. E ainda,
definimos que os pacientes estivessem internados a pelo menos uma semana nessa
unidade, por compreender ser este um tempo razoável, para que estes tenham tido
vivência com fatos concretos e significativos para relatar sobre suas experiências do seu
adoecimento e hospitalização.
Definimos como critérios de exclusão: pacientes com lesão medular de origem
não-traumática, de menor idade e idade superior a 65 anos, com tempo de
hospitalização inferior a uma semana, que se encontrem em estado de saúde
comprometendo suas funções vitais, desorientados e com dificuldade de verbalização.
2.2.4 Estratégias para a Obtenção de Dados
Esta fase da pesquisa nos causou de início certo receio e apreensão na busca dos
significados da vivência dos pacientes vítimas de TRM e que ainda se encontravam em
momento de crise após o trauma. Não podíamos perder de vista os objetivos a que nos
propusemos, pois tínhamos sempre em mente a questão norteadora do estudo: o que
significa para você está vivendo esta experiência?
Seguimos as recomendações metodológicas de Denzin (1989), baseado nos sete
princípios descritos pelo autor quando mostra ensinamentos para o pesquisador social
da conduta humana, tais princípios sugerem passos para que o pesquisador tenha um
direcionamento no desenvolvimento da pesquisa.
- Primeiro princípio metodológico: símbolos e interações devem ser
combinados antes de uma pesquisa terminar, esse princípio sugere que
símbolos, significados e definições são forjados em altas definições e
atitudes, a natureza reflexiva do próprio eu deve ser capturada, isto é, o
pesquisador deve indicar como definições variadas do eu, estão refletidos
em padrões contínuos de comportamento. Pesquisadores devem, portanto
ver a conduta humana do ponto de vista daqueles que está estudando.
No atendimento a este princípio, fizemos a investigação por meio da observação
de campo da pesquisa no período de 21 de junho a 02 de agosto de 2007, no qual
aconteceram em 7 sessões, nos turnos da manhã e tarde, tendo cada sessão uma duração
média de 80 minutos, perfazendo um total de 560 minutos. Inicialmente apresentamos e
explicamos aos profissionais de enfermagem, da unidade onde as observações foram
realizadas, a finalidade da nossa pesquisa. Posteriormente iniciamos um primeiro
contato com alguns pacientes que apresentavam lesão medular de origem traumática,
essa aproximação nos permitiu observar às ações e reações, os sentimentos, e as
relações que esses pacientes mantinham, junto aos profissionais e familiares diante dos
acontecimentos vivenciados naquela unidade hospitalar.
- Segundo princípio metodológico: o pesquisador deve tomar perspectiva
ou papel de agir como o outro e ver o mundo do ponto de vista do sujeito, ao
fazer isso o pesquisador deve manter a distinção entre concepção diária e
científica da realidade, portando o modelo interpretativo deve está
fundamentado no mundo das perspectivas vividas.
Durante aqueles momentos de aproximação com o campo e interação com aqueles
sujeitos vitimados por algum acontecimento traumático resultando em uma lesão
medular, buscamos enquanto pesquisadora a subjetividade enquanto ser lesionado,
procurando, contudo a neutralidade, evitando assim um envolvimento que pudesse
interferir nos resultados dos aspectos observados.
- Terceiro princípio metodológico: Esse princípio deriva definitivamente de
uma concepção da sociologia que defende o impacto diante das estruturas
sociais e individuais que devem ser explicadas.
Identificamos que muitas dessas lesões de origem traumática estavam associadas
ao álcool e o ato de dirigir, ao uso indiscriminado de armas de fogo, aos trabalhos sem o
uso de qualquer tipo de equipamentos de proteção individual, a violência, enfim esses
comportamentos adotados nos fazem refletir questões de ordem macroestruturais
relacionadas a políticas públicas de saúde e educação. Percebemos assim que a lesão
medular vem surgindo por causas que estão mais relacionadas a questões da promoção
da saúde.
Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus
determinantes, a promoção da saúde propõe a articulação de saberes técnicos e
populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados
D-4.324774d som2.46056((o)-0.29589( )-480.43(d)-006012414)-0.294974(o)-0.2997(o)-0.294974 p sA-4.32934(uc)-6.2659(et)30.293142( )-0.148403r.6.61021(r)-00601244( )-480.43(p )-130.225(d)-060124(so)-0.294974é-1.2312( t)30.293142( )-0.148403(o)-0.294974( )-60.182(p )-130.225(d)-0601244(e)3.74122( )-130.225(s)-160124(spe)3.74122( )-130.225( )-130.225((u)-0.293142(i)-2.16558(s)-1.22936(c)3.74122(r)-1.22753(e)3.601244o)-0.296806( )-480.43(s)-2.16558(a)3.74122(,(l)-2.16742(u) 0 Td78.32-0.296806ól)-2.16742()-2.16558(n)-0.294974u s(f)2.80683(i)-0.293142s spo (r)2.80683(i)-130.225()3.73939(ui)-2.16558(t)-2.16742((a)3.74122(d)-0.296806s)-160124(s(o)-0.293142(s)-11.2383(82.767 -2030.57Td[(d)40.295432)-10.30084(t)-2.16558(e)3.74039(r)2.805( )-90.1997()3.74122(r)2.8064974m)-2.45873((n)-0.293142(c)-6.2997(a)3.741467e )-130.225(o)-0.29589(s)-1.23028(a)33526597(,)-0.14028(n)]TJ261.6i(i)-2.16558(ói)-2.16558(,)-0.146571ou á(r)2.80683(i( )-10.1528((e)3.74122( )-130.225( )-380.372(r)2.526597(o)-0.293142)2.805(m)-2.45964(:)-0.146571r)2.526597()-360.359(a)3.73939(r)-0.293142(t)-2.16742(o)-0.293142.74031(s)-1.23225(a)3.74122(ms)-11.2347( )-6.16558(i)-2.16558()-360.359(( )-0.148403(2).526597( ) 0 Td75.68310.1519(d)-.526597()-1.23225(x)3.74122(m(r)2.80683(i)-130.225()-2.16558(v)-0.293142o)-0.293142)-0.296806(f)2.80683(ir)2.80683(u( )-480.43(s( )-0.148403(2).526596(e)3.74122(s)-11.2383(vf)2.80683(i)-0.293142(t)-2.16742(o)-0.2922( )-480.432(o)-0.293142)-0.296806(f)2.80683(ir)2.80683(u( )-480.43(s)-0.146571( )-20.1608(p).511 -20.75.6831-( ))59.296806(e)3.74031(t(i)-2.16558(o)-0.2031(u)-0.29497490.1997((i)-2.16558()3.7494974)3.73939(oõo).73939(m)-1.23028( )-20.159(e)3.4526413spe)3.74122( a2.805( )-90.1997(i)-2.16467(f)2.805(i)-)2.8064974m)-2.45873(pi)-2.16558()3.7496806(f)2.806742(o)-.805(,)- ,oscriói2.16558(g)9.71215(i)-1.22936( )-60.182(q)-045264122(e)3.74122( )-130.225(e)345264122voã( )-0.148403(2)0.36419so t o 0 Td7 1 180.296806(e)3.742936( )-380.372(n)-45264142(i)-2.16558()-10.3003( )2-0.148403(e)45264142s (f)2.80683(i )2-0.148403(r)2.80683(i( )-10.683(i)-2.16558(i)-2.16467(uc)-6.2659(e(a).74122(m( )-480.43(s)-0.146571e)345264122)2.806856(d)-45264122)-2.16192(m)-2.45467(i)-2.163142o
Interacionismo Simbólico. Para esse estudo a pesquisa foi desenvolvida por meio da
observação participante, entrevista e dados contidos no prontuário.
- Sexto princípio metodológico: É o princípio que necessariamente torna-se
mais abstrato e reflete diretamente os locais dos métodos em todo
empreendimento sociológico. Coloca no próprio ato do engajado, uma
pesquisa social que deve ser vista como um processo de interação simbólica.
Após os momentos iniciais da aproximação no campo, buscávamos interagir
com as pessoas que se encontravam, inicialmente profissionais de saúde e familiares
para que com maior envolvimento e apreensão da história de cada paciente, tivéssemos
pois preparados para a interação com estes.
- Sétimo princípio metodológico: Os métodos devem ser construídos de
forma que contribuam para a teoria formal e interpretativa enquanto ao
mesmo tempo permitem a análise do conceito sensibilizante e a descoberta
de interpretações interativas universais.
A observação participante (Apêndice III) foi elaborada e realizada junto aos
pacientes no ambiente hospitalar, profissionais de saúde e familiares, com atenção
voltada para as relações sociais, expressões, ações e reações destes pacientes junto à
família, profissionais e ao ambiente, diante de todos os eventos ocorridos nesta vivência
na condição de vítima de lesão medular.
Durante o percurso de investigação realizamos observação e aproximação com
15 (quinze) pacientes vítimas de lesão medular, entretanto foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas (Apêndice IV) com sete pacientes, sendo esse um número satisfatório
para saturação dos dados. Segundo Denzin (1989) a produção de uma entrevista,
envolve interação simbólica e de gêneros, nesse sentido toda atividade de pesquisa pode
ser considerada uma produção interacional, dessa forma, o instrumento de investigação
foi utilizado, permitindo ao paciente um discurso aberto e satisfatório às suas
colocações e opiniões, mas com o devido cuidado para direcioná-lo ao roteiro do estudo
(Apêndice IV).
Na presente investigação seguimos estas etapas, cuja interpretação foi
fundamentada nas concepções de Norman Denzin. Para Denzin (1989) a hermenêutica
constitui em esclarecer o surgimento de um fenômeno em que a interpretação sólida se
de forma textualizada, historicamente embutida, processual e sensível ao gênero
incorporando compreensões e interpretações anteriores. Denzin evidencia que a
hermenêutica é considerada incompleta quando o pesquisador volta ao mesmo assunto
em outro momento, sendo assim inacabado. As observações participantes consistiram
na apreensão dos conteúdos de maior consistência, sendo estes complementados pelos
depoimentos obtidos por meio das entrevistas e informações contidas nos prontuários.
2.2.5 Aspectos Éticos e Legais
As questões éticas foram obedecidas as Diretrizes e Normas Reguladoras de
Pesquisa envolvendo seres humanos, conforme a Resolução
196 de 10 de outubro
de 1996
do Conselho Nacional de Saúde – CNS (BRASIL, 1996).
O projeto de pesquisa foi encaminhado em maio de 2007 ao Comitê de Ética em
Pesquisa do Instituto Dr. José Frota localizado na cidade de Fortaleza-CE-Brasil, no
qual obteve parecer positivo (Anexo I).
As entrevistas foram gravadas, de acordo com a aceitação do paciente, onde foi
garantido o anonimato e o sigilo das respostas, mediante um termo de consentimento
livre e esclarecido (Apêndice II), conforme prevê a resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, que envolve a pesquisa com seres humanos assegurando a
confidência e garantindo que nada será usado para desabonar a conduta dos
entrevistados, pelo contrário, queremos somente investigar, implementar e alertar os
mesmos para que coloquem em prática todas as respostas positivas que pudermos traçar
em prol da compreensão dos significados das experiências vivenciadas pelo ser vítima
de lesão medular, no contexto hospitalar, de um serviço de urgência e emergência.
O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado ou identificado por
impressão dactiloscópica, pelo sujeito da pesquisa ou por seu representante legal. O
mesmo foi elaborado em duas vias, onde uma ficou retida pelo sujeito da pesquisa ou
por seu representante legal e uma arquivada pelo pesquisador.
2.2.6 O método para a análise interpretativa
Para o presente estudo utilizamos a fenomenologia hermenêutica de Paul
Ricoeur como método que se coloca entre a linguagem e a vida vivenciada por meio de
uma série de conceitos interpretativos entre os quais o distanciamento, a apropriação, a
explicação e a compreensão (CAPRARA, 2005). Identificamos assim como método
para a análise interpretativa, pois nos estudos interpretativos, as descrições densas são
relatos detalhados, profundos e ricos das experiências dos indivíduos. Esses relatos
geralmente expõem as intenções e significados que organizam as ações. Mais do que
registrar a experiência de uma pessoa apresenta detalhes, contextos, emoções e rede de
relacionamentos sociais que une as pessoas umas às outras. Evoca emoção e sentimento,
insere a história na experiência, estabelece o significado da experiência.
Para melhor compreensão do processo de coleta das informações
elaboramos o fluxograma seguinte.
Fluxograma I: Percurso Metodológico para a Coleta das Informações.
PERCURSO METODOLÓGICO PARA A COLETA DAS INFORMAÇÕES
OBSERVAÇÃO
PARTICIPANTE
ENTREVISTA
SEMIESTRUTURADA
PRONTUÁRIO
IDENTIFICAÇÃO DAS UNIDADES DE SIGNIFICADOS
ANÁLISE ESTRUTURAL DOS TEXTOS
LEITURA DE MATERIAL E IDENTIFICAÇÃO DE UNIDADES DE SENTIDO
GERAÇÃO DE TEXTOS NARRATIVOS
ETAPAS DO PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS
O processo interpretativo pode ser representado por etapas principais como a
vida vivenciada expressa por meio da linguagem, recolhida mediante entrevista
transcrita em texto e interpretada (GEANELLOS, 2000).
À medida que o material ia sendo obtido e apreendido, o percurso para a
interpretação aconteceu da seguinte forma.
1 Os discursos transcritos foram transformados em textos narrativos.
2. Leitura simples dos textos para o entendimento do contexto.
3. Análise estrutural que examina o texto.
4. Compreensão do texto de forma abrangente.
Estas fases fazem parte de um processo estrutural da compreensão que é o
círculo hermenêutico em espiral e não vicioso porque se compreende no imediato,
sendo evidente, mas nem sempre garantido a certeza. A interpretação vai se tornando
evidente, fazendo-se maior distanciamento para a compreensão mais ampla e maior
aproximação da essência da interpretação (BARREIRA, MOREIRA, 1999).
3. A VIVÊNCIA DE PACIENTES VÍTIMAS DE TRM NO
CONTEXTO HOSPITALAR
3.1 Descrição dos sujeitos da pesquisa
A pesquisa contou com a participação de sete pessoas adultas, sendo seis
homens e uma mulher, que encontravam-se hospitalizados em decorrência de uma lesão
medular. A faixa etária variava entre 25 e 65 anos, isso representa que os traumas
atingem pessoas ainda na fase produtiva da vida, onde muitas vezes eles são os únicos
responsáveis pelo sustento da família, e a partir desse trauma poderá ocorrer um
desequilíbrio em todo o contexto familiar, podendo esse fato ser um agravante na
recuperação desse ser vítima da lesão medular.
O grupo de pessoas entrevistadas era bastante heterogênio no que se refere ao
estado civil, haviam cinco pessoas casadas, uma solteira, e uma viúva. A maioria dos
entrevistados, no total de cinco, viviam na companhia do conjugue e filhos, formando
família do tipo nuclear, um morava com os pais e um com os filhos. Dantas (2006)
reconhece a importância da família para o ser humano e esclarece que a pessoa na
condição de portador de alguma patologia necessita compartilhar este enfrentamento
com sua família ou pessoas próximas deste grupo social primário, buscando ajuda e
apoio, pois esta situação requer adaptação individual e familiar.
Dos sete entrevistados, cinco eram analfabetos, pois nunca tinham freqüentado
qualquer tipo de instituição escolar, relatando não saberem ler nem escrever, dois
relataram ter estudado, entretanto não sabiam informar até que série, e não quiseram
assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice II), onde um deles
justificou estar com a mão enfraquecida e o outro não apresentou qualquer justificativa.
Apresentaremos o perfil dos sujeitos do estudo, que na preservação do
anonimato denominamos com nomes bíblicos, como forma de homenagear suas crenças
religiosas, pois todos eram católicos, e neste momento de suas vidas a religião
apresentava um grande significado.
1. Maria: procedente e residente de Fortaleza, 64 anos, viúva, analfabeta, católica, dona
de casa, tem 5 filhos, sendo 2 homens e 3 mulheres. Estava hospitalizada a 15 dias em
decorrência de uma queda no banheiro, no qual resultou em uma lesão medular ao nível
da região lombar, não apresentava seqüelas motoras. Encontrava-se em repouso
absoluto por indicação médica, até que fosse decidida a necessidade ou não de uma
intervenção cirúrgica.
2. Josué, procedente de Canindé, residindo atualmente em Fortaleza, 41 anos, solteiro,
analfabeto, católico, jardineiro, tem 6 filhos, sendo 3 homens e 3 mulheres. Estava
hospitalizado a 9 dias em decorrência da uma queda de uma árvore, no qual resultou em
uma lesão medular ao nível da região cervical, não apresentava seqüelas motoras. Fazia
uso contínuo do colar cervical, sendo orientado a manter repouso absoluto.
3. Pedro, procedente e residente de Parambú, 53 anos, casado, analfabeto, católico,
desempregado, tem 4 filhos, sendo 2 homens e 2 mulheres. Estava hospitalizado 14
dias em decorrência de um acidente de moto, no qual resultou em uma lesão medular ao
nível da região cervical, apresentava paralisia nos MMII e MMSS, fazia uso contínuo
do colar cervical e mantinha repouso absoluto no leito.
4. Simão, procedente e residente de Itapajé 51 anos, casado, analfabeto, católico,
agricultor, tem 23 filhos, sendo 12 mulheres e 11 homens. Estava hospitalizado a 12
dias em decorrência de uma queda de um muro, no qual resultou em uma lesão medular
ao nível da região torácica, apresentava paralisia dos MMII, fazia uso contínuo do colar
cervical e mantinha repouso absoluto no leito.
5. Abrão, procedente e residente de Guaraciaba do Norte, 29 anos, casado, ensino
fundamental incompleto, católico, agricultor, tem 1 filha. Estava hospitalizado a 18 dias
em decorrência de um acidente de moto, no qual resultou em uma lesão medular ao
nível da região lombar, apresentando inicialmente paralisia do MID, no qual foi
revertido após procedimento cirúrgico, encontra-se no 5º dia do pós-operatório.
6. Moisés, procedente do Piauí e residente de Fortaleza, 42 anos, casado, analfabeto,
católico, pedreiro, tem 2 filhos homens. Estava hospitalizado a 9 dias em decorrência de
uma queda de um muro, resultando em uma lesão medular ao nível da região lombar,
não apresentava seqüelas motoras, fazia uso contínuo do colar cervical, sendo orientado
a manter repouso absoluto no leito.
7. Abel, procedente e residente de Fortaleza, 25 anos, casado, ensino fundamental
incompleto, católico, reciclador, tem 1 filho. Estava hospitalizado a 20 dias em
decorrência de uma lesão por arma de fogo no pescoço, resultando em uma lesão
medular a nível da região cervical, apresentava paralisia no MID e encontrava-se no
dia de pós-operatório.
Quadro I: Caracterização dos Sujeitos Entrevistados
Nome
Fictício
Idade
Natural/
Residente
Estado
Civil
Grau de
Instrução
Profissão/
Ocupação
Causa
da Lesão
Maria 64 Fortaleza Viúva Analfabeto Dona de casa Queda
no
banheiro
Josué 41 Canindé/
Fortaleza
Solteiro Analfabeto Jardineiro Queda de
árvore
Pedro 53 Parambú Casado Analfabeto Desempregado Acidente
de moto
Simão 51 Itapajé Casado Analfabeto Agricultor Queda de
muro
Abrão 29 Guaraciaba
do Norte
Casado grau
incompleto
Agricultor Acidente
de moto
Moisés 42 Piauí/
Fortaleza
Casado Analfabeto Pedreiro Queda de
muro
Abel 25 Fortaleza Casado grau
incompleto
Reciclador Lesão
por arma
de fogo
3.2 SER LESIONADO MEDULAR
A lesão medular é um trauma que, nos dias de hoje, acomete pessoas das
diversas faixas etárias e níveis sociais. Esta poderia ser comparada a outras patologias
clínicas, entretanto a lesão medular apresenta características que envolvem causas,
tratamento e prognóstico.
As causas podem ser percebidas por meio de dados estatísticos da Instituição em
questão, assim como da própria observação diária dos noticiários a grande ocorrência de
casos de acidentes automobilísticos, envolvendo principalmente os motociclistas, das
cenas de violência agravadas pelo uso indiscriminado de armas de fogo, assim como
casos de quedas e afogamentos, onde muitas vezes essas causas estão ligadas ao
consumo abusivo de bebidas alcoólicas, ou mesmo pela certeza que esses agressores
têm da falta de punição as pessoas que causam alguma injúria ao outro.
Tais causas associadas ao trauma medular nos fazem refletir sobre a fatalidade
dessa lesão, pois percebemos que todas elas atingem o indivíduo de forma abrupta,
inesperada e trágica, tirando o mesmo de sua rotina de vida e trazendo-o para um mundo
desconhecido que envolve medo, dor e incertezas sobre o futuro, visto que a lesão
medular é uma alteração que pode deixar seqüelas graves e irreversíveis. Nas narrativas
de Pedro e Abel interpretamos as causas comuns que geram essa lesão.
Eu estava na moto voltando de uma festa da prefeitura ai me desequilibrei e
caí, só que eu tinha bebido pouco. (Pedro)
Foi um tiro no pescoço, mas eu não fiz nada não e nem sei quem foi (Abel).
A leitura das narrativas de Pedro e Abel permite-nos apreender que as causas
que levaram a ser lesionado medular vão além de acidentais expressas pelas vitimas,
pois, o acidente de moto parece estar associado a dirigir um motoveículo, que de
imediato não oferece segurança, estando este associado ao uso do álcool. Quanto à
causa de Abel, relacionada à exposição de ter sido atingido por arma de fogo, salienta-se
aqui o acesso de armas de fogo por pessoas de todas as camadas sociais, muitas vezes
de forma ilegal e sem preparo algum, fato que tem levado muitas pessoas inocentes ou
as mesmas causadoras de tragédias a sofrerem danos dos mais diversos níveis de
complexidade. Portanto, percebemos que tais situações que levaram estes dois homens a
paraplegia, são causas aparentemente acidentais, mas que mediante as circunstâncias
apresentadas, podemos considerar como causas pertencentes a questões de ordem
estrutural que envolve aspectos educacionais, de segurança, políticos e sociais.
O tratamento é outra fase que torna a lesão medular uma patologia grave e
temida, pois quase sempre esta etapa ocorre de forma demorada, dolorosa e cercada de
incertezas, onde os profissionais definem os tratamentos para a saúde baseada na
evolução diária de cada pessoa. Essa espera pode gerar no indivíduo vítima de lesão
medular, vários sentimentos conflitantes, visto que esse trauma atinge mais homens, em
plena fase produtiva, onde muitas vezes eles são os únicos ou os maiores responsáveis
pelo sustento da família, ou seja, além de toda a preocupação em relação à patologia em
si, ainda tem como fator estressor a problemática do sustento familiar.
Interpretamos que Simão e Moisés demonstravam grande preocupação com a
renda da família.
Eu tenho 23 filhos, e deixei todos lá, não sei como é que ele tão fazendo né,
porque quem ajeita tudo na roça sou eu. Não sei o como é que vai ser.
(Simão)
quem trabalha sou eu, a minha mulher e meus filhos o vivendo da
caridade dos vizinhos, eu nem sei se vou poder trabalhar depois disso.
(Moisés)
Percebemos que Simão e Moisés são homens de famílias humildes e numerosas,
cujo provedor de renda para o sustento familiar eram eles. Interpretamos que além do
momento de crise que estavam vivendo dada a fatalidade, os mesmos mostravam-se
preocupados com o sustento da família, a meio das incertezas, medos e
desconhecimento do futuro de suas vidas.
Tinham apenas uma certeza, que seria por meio do desenrolar no tratamento que
estavam sendo submetidos nesta fase de recuperação do trauma medular, que teriam as
afirmativas não tão exatas, mas perspectivas para o retorno familiar. Consideravam
sendo essa etapa fundamental em suas vidas, cheia de incertezas e ansiedades, onde ela
iria determinar a volta e continuidade da rotina diária normal ou a volta e adequação do
indivíduo e família a todas as mudanças das seqüelas que a lesão pode ocasionar,
seqüelas essas muitas vezes irreversíveis.
Nas narrativas de Simão, interpretamos o pânico que estava vivendo ao pensar
ou ter a certeza de ficar paralítico.
Se eu ficar paralítico o que é que eu vou fazer da minha vida. (Simão)
Neste momento, ficamos apenas com um olhar de que nada podia ser dito, e
permanecemos calados, pois a condição de estar perdido na vida, poderia ser
encontrada por si próprio dento do seu mundo de vida.
Interpretamos que o fantasma da cadeira de rodas atormentava esses indivíduos
em todas as etapas que envolviam essa lesão, isso porque independente do grau de
instrução ou da classe social todas as pessoas sabem que, um ser portador de algum tipo
de deficiência, sejam elas motoras, sensitivas entre outras, sofrem preconceitos, assim
como terão uma enorme dificuldade de deslocamento pelas ruas da cidade, totalmente
despreparada para o deslocamento de qualquer pessoa que porte uma deficiência.
Maria demonstrou preocupação de dependerem de uma cadeira de rodas:
Nada me incomoda não, eu fico pensando se eu for ficar em uma cadeira
de rodas. (Maria)
Os seres humanos são considerados capazes de se engajar em comportamentos
pensados e auto-reflexivos, sendo capazes de mudar e dirigir seu próprio
comportamento e de outros (DENZIN, 1989)
Outro fato é saber da dificuldade de conseguir algum tipo de auxílio financeiro
por parte dos órgãos públicos, pois esses recursos são dispensados ao cidadão depois
do cumprimento de uma série de etapas, que envolvem consultas, entrega de
documentos, entre outras, essas que se tornam difíceis de serem cumpridas pelo
portador da deficiência física, assim como pela família que muitas vezes não dispõem,
nem sequer do dinheiro para deslocar-se em busca da aquisição desses documentos. Na
narração de Moisés interpretamos a preocupação em necessitar desse auxílio.
Espero que eu fique bom, mas se eu não ficar eu queria receber um auxílio
do governo, porque se não como é que vai ser. (Moisés)
Moisés deixa claro que “ficar bom” seria retornar a sua condição produtiva antes
do trauma raquimedular. Neste momento em que estava vivendo a incerteza da
uma produção social, indivíduos interagem, produzem e definem suas próprias
definições de situações (DENZIN, 1989).
3.2.1 Relembrar é viver o inesperado
As pessoas ao sofrerem acidentes traumáticos de maior complexibilidade são
transportados para o Instituto Dr. José Frota IJF, que é o hospital de referência em
trauma para o Estado do Ceará. Muitos municípios do Estado também transferem seus
pacientes por meio de ambulâncias, muitas vezes sucateadas, onde ali mesmo as vítimas
recebem os primeiros atendimentos.
A narrativa de Moisés demonstra que ele não esqueceu do percurso feito do local
do acidente até o hospital, revelando o despreparo, principalmente ético, dos
profissionais que prestam atendimento pré-hospitalar durante o transporte nas
ambulâncias, no qual realizam comentários pessoais, diante do paciente, sobre o
prognóstico do mesmo, sem nenhum embasamento científico.
Tinha medo de ficar paralítico, porque na ambulância os enfermeiros
comentavam que o meu caso era perigoso e que poderia ficar em uma
cadeira de rodas. (Moisés)
Essa fala demonstra uma grave problemática na Saúde Pública do nosso Estado,
sendo agravado nos municípios, no que se refere à falta de profissionais de saúde
qualificados para o atendimento a população, sendo essa qualificação fundamental para
o atendimento de emergência pré-hospitalar, onde a qualidade na prestação do socorro
poderá está diretamente relacionado com o quadro clínico futuro do paciente,
principalmente quando se trata de uma vítima de lesão medular.
Essa problemática é agravada pelo sucateamento ou até mesmo ausência de
ambulâncias para transportarem as vítimas até as instituições de saúde, visto que muitos
municípios não apresentam condições físicas, de aparelhagem e de profissionais para a
prestação do atendimento, sendo assim as ambulâncias tornam-se fundamentas para o
deslocamento rápido e de qualidade dessas pessoas.
Essa deficiência apresentada pelas instituições de saúde dos municípios aparece
como um dos fatores causadores da superlotação do Instituto Dr. José Frota IJF,
gerando assim, demora no atendimento, sobrecarga de trabalho de todos os
profissionais, principalmente da emergência, espera por leitos da unidade de terapia
intensiva, aumento no número de infecções, assim como o deslocamento intermunicipal
para a realização do tratamento, constitui-se um problema que limita a convivência
familiar.
Essa realidade pode ser constatada na fala de Abrão e Abel.
Agora está bom, mas fiquei muito tempo esperando atendimento na
emergência, passei 15 dias esperando uma cirurgia, se fosse mais rápido eu
já estava em casa. (Abraão)
Quando eu estava na emergência eu pensei que ia morrer, demoram muito
para falar com a gente. (Abel)
Esse deslocamento intermunicipal pode também ser constatado nos dados
levantados pela pesquisa, onde das 7 (sete) pessoas que fizeram parte do estudo, 4
(quatro) eram procedentes da Capital , 1 (um) de Parambú, 1 (um) de Itapajé, 1 (um) de
Guaraciaba do Norte, sendo que os pacientes que vieram de Parambú e Guaraciaba do
Norte relataram ter recebido atendimentos inicial nos municípios de origem, entretanto a
falta de estrutura dessas instituições, assim como a gravidade da lesão os fizeram serem
transportados para o IJF.
Os sujeitos do estudo relataram possuir baixo poder aquisitivo, onde a maioria
ganhava 1 salário mínimo ou menos e apenas 2 (dois), que eram agricultores recebiam o
benefício de aposentadoria da Previdência Social, dos outros, 1 (um) era jardineiro, 1
(um) pedreiro, 1 (um) reciclador, 1 (um) desempregado e 1 (um) dona de casa, sendo
assim, identificamos que as dificuldades financeiras eram alvo de grande preocupação
por todos, e se constituíam de agente estressor aos pacientes e familiares, uma vez que
as atividades laborativas foram suspensas em virtude da lesão medular, e que muitos se
encontravam na posição de pais ou conjugues, assumindo as responsabilidades com seu
lar e com as condições de vida da família.
Comungamos com Carreira e Marcon (2003) ao afirmarem que a atividade
laboral tem papel determinante no equilíbrio psicológico do ser humano, constituindo
muitas vezes, fator norteador da vida do homem, além de proporcionar meios para sua
Deus é um bom pai , eu espero só de Deus mesmo, sair daqui bem,
andando. (Josué)
O perfil dos sujeitos do estudo, mostra que os portadores de lesão medular de
origem traumática vivenciam uma situação complexa em suas vidas, assim como de
seus familiares, essas alterações repentinas em dec
muito, pois a ventilação vinha através de janelas de madeira, que muitas vezes
encontravam-se sujas e com aspecto envelhecido ou de ventiladores próprios dos
pacientes que ficavam localizados nas mesinhas de cabeceira. Cada enfermaria dispunha
de um banheiro, sendo este pequeno e muitas vezes inadequado para acomodar um
paciente em uma cadeira de rodas e até mesmo o fluxo de acompanhantes ao desprezar
diurese e outras eliminações provenientes dos pacie
nutricional, incontinência urinária e fecal, doenças metabólicas e idade avançada. Os
fatores externos são: medicamentos, higiene pessoal, falta ou mudanças de decúbito
insuficiente e o tipo de colchão (TIAGO, 1994).
De acordo com a profundidade e a extensão das feridas, podem ser classificadas
como de: grau 1, eritema na pele intacta; grau 2, úlceração superficial com perda da
camada epidérmica e derme, sem atingir o subcutâneo; grau 3, danos ao nível da
epiderme, derme e subcutâneo com proximidade da fáscia muscular que, embora possa
estar exposta, ainda não foi atingida; grau 4, extensiva destruição com necrose de
tecido, danos em estruturas musculares, tendões, ossos e até cápsula sinovial (FARO,
1996).
Dos 3 (três) pacientes que apresentavam úlceras, todas localizavam-se na região
sacra-coccígena, sendo essas de grau. Esse fato aparece como uma grande
problemática, visto que essas lesões representam uma porta de entrada para possíveis
microorganismos causadores de infecção, que podem evoluir para uma septicemia, e
que além da perda de substâncias, gerando desconforto, alterando a autoimagem, esta
poderá evoluir para a necessidade de cirurgias plásticas, prolongando o tempo de
internação do paciente e familiares.
Sabemos que à aplicação das medidas preventivas no surgimento dessas úlceras,
tornam-se complicadas quando nos referimos a pacientes vítimas de lesão medular com
seqüelas motoras, visto que a imobilização no leito aparece como um dos fatores de
risco principais para seu surgimento, imobilização essa necessária a esse tipo de
paciente. Desta forma a equipe de enfermagem deve intensificar o cuidado no que se
refere a inspeção cuidadosa da pele, manter o leito limpo e os lençóis esticados, higiene
adequada do períneo, utilização de sabonete neutro durante o banho, enxaguar a pele
delicadamente não friccionando a toalha contra a mesma e manter áreas sensíveis à
pressão bem lubrificadas e hidratadas pelo uso diário de creme umectante.
Diante de todas as mudanças ocorridas na rotina de vida daquelas pessoas a
questão da sondagem vesical, foi um dos procedimentos relatados pelos 3 (três)
pacientes do estudo que apresentavam seqüelas em decorrência da lesão medular, como
sendo um dos mais incômodos que eles se sentiam constrangidos pela exposição de
seus corpos bem como pela frustração de não conseguirem realizar uma função que
outrora faziam sem nenhuma dificuldade.
A bexiga é controlada por mecanismos voluntários e involuntários, e,
imediatamente após um trauma medular, torna-se atônica e não pode contrair-se pela
atividade reflexa. A retenção urinária é o resultado imediato da lesão medular. Como o
paciente não sente a distensão vesical, o superestiramento da bexiga e do músculo
detrusor pode ocorrer e retardar o retorno da função vesical. Qualquer lesão nervosa que
interfira neste mecanismo origina uma bexiga neurogênica. quando a lesão do centro
miccional (ao vel das raízes S2, S3 e S4 que correspondem às vértebras T11 e T12)
isola a bexiga da medula, o paciente pode referir vontade de urinar, mas não
esvaziamento vesical. Caso faça algum esforço, é possível que ocorra a drenagem de
urina da bexiga autônoma (FARO, 1996).
As limitações permanentes desencadeadas pelo desenvolvimento da bexiga
neurogênica ressaltam o papel do enfermeiro como educador e facilitador da
reabilitação e reintegração do indivíduo e sua família na sociedade, buscando a
adaptação à sua condição de saúde e tornando-o, cada vez mais, independente e
responsável pelo autocuidado (MAGALHÃES, CHIOCHETTA, 2002)
Observamos atentamente que diariamente era realizado pela enfermeira o
esvaziamento vesical desses pacientes por meio do cateterismo intermitente, a cada 4 ou
6 horas, para evitar o superestiramento da bexiga e a infecção do trato urinário.
Percebíamos que esse era um momento de extremo constrangimento, visto nitidamente
pela expressão no rosto desses pacientes, constrangimento esse que poderia ser
amenizado pela profissional de enfermagem, visto que muitas vezes ela expunha a
região genital do paciente sem anteriormente manter nenhuma interação com o mesmo,
no sentido de prepará-lo para aquele momento.
A técnica utilizada para a realização do cateterismo vesical foi outro fator que
observamos com grande apreensão, uma vez que não era utilizada nesse procedimento a
bandeja específica para o cateterismo, bem como deixava a desejar a cnica utilizada
pela enfermeira, no que se refere à assepsia da região genital, aumentando assim o
potencial de infecção tão presente nesse tipo de procedimento. A rejeição pelo
cateterismo diário foi interpretada pela forma como Pedro e Abrão expressaram os seus
sentimentos e comportamentos.
Eu sei que ela (enfermeira) vem e coloca um negócio (sonda vesical) pra
eu urinar, mas é chato, eu quero ir embora logo. (Pedro)
Depois de velho tenho que passar por isso, não poder nem urinar sozinho,
eu só não sei por que eu não sinto vontade de urinar. (Abrão)
Tudo leva a crer que Pedro e Abraão não estavam informados acerca da perda de
suas funções de eliminação, ou seja, eles deveriam conhecer fisiologicamente a
condição que ali se encontravam. Tal desconhecimento parecia gerar grande
insatisfação e até revolta pela forma como estavam sendo submetidos ao procedimento.
Essa perspectiva define que o mundo social dos seres humanos não se constituem de
objetos com significados intrínsecos, ou seja o significado dos objetos está nas ações
que seres humanos tomam em relação a eles, onde essas definições dos objetos podem
sofrer alterações de acordo com a experiência humana.
Para Denzin (1989), o objetivo das atividades interpretativas é criar um corpo de
material que forneça os elementos para a interpretação e compreensão. A interpretação é
a tentativa de explicar o significado de algo, de tomar o não familiar e torná-lo familiar.
Outro fator que observamos foi à questão das eliminações intestinais, onde
percebemos que dos 7 (sete) pacientes vítimas de lesão medular, somente os 3 (três) que
apresentavam seqüelas motoras apresentavam constipação. Esse fato pode ser devido à
interrupção dos nervos da medula espinhal, onde as mensagens advindas da porção retal
para o rebro não conseguem passar pelo bloqueio na altura da lesão, o que pode
resultar em movimentação intestinal insuficiente e acarretar constipação e impactação
fecal. Os efeitos da imobilidade dessa musculatura variam dependendo do nível e da
extensão da lesão (FARO, 1996).
Pudemos observar que a constipação tinha como fator contribuinte a posição de
decúbito dorsal contínua que esses pacientes eram obrigados a permanecer, posição essa
que não estimula a eliminação das fezes, assim como essa imobilização retarda a função
intestinal. Diante disso é fundamental que os profissionais de saúde, em especial a
nutricionista fosse informada sobre essa problemática para que medidas adequadas para
a necessidade e especificidade de cada paciente em questão fossem elaborada. Essa
dificuldade pode ser vista na fala de Abel.
É muito ruim fazer obra aqui deitado, desde que cheguei eu fiz duas
vezes, mais eu nem percebi que tinha feito, é muito ruim. (Abel)
Recomenda-se uma alimentação balanceada e uma hidratação adequada. Três
refeições por dia (café da manhã/almoço/jantar) são recomendadas para que se tenha
massa fecal suficientemente volumosa. A ingesta drica (aproximadamente de 2,5 a 3
litros) torna menos consistente o bolo fecal facilitando sua eliminação. Quando ocorre
constipação, devem-se ingerir mais líquidos, o que não se restringe somente à água, mas
também sucos de frutas, vitaminas, leite e iogurtes. Deve-se evitar chás e refrigerantes
porque são constipantes e provocam flatulência (FARO, 1996)
Sendo a alimentação e hidratação uma medida fundamental na prevenção e
tratamento das constipações, torna-se importante que os pacientes gostem e aceitem o
alimento oferecido na unidade hospitalar, para que a ingestão ocorra de forma
satisfatória surtindo o efeito desejado, entretanto não é isso que percebemos nos
discursos de Pedro e Josué, que comentam sobre o sabor, bem como a quantidade dos
alimentos.
A comida não é tão ruim o problema é a quantidade, pois é muito pouco
para um homem como eu. (Pedro)
A comida é sem sal e pouca, mas dá pra passar. (Josué)
Além de a alimentação ser importante como fator regulador das funções
intestinais ela também é essencial para a manutenção das funções normais de outros
órgãos, para o crescimento e reprodução, para a eficiência no trabalho, assim como para
a reparação de agressores que o organismo possa sofrer, como acidentes, infecções e
cirurgias.
Durante o tempo que permanecemos na unidade, observamos que algumas
vezes, no período da manhã a alimentação era distribuída no horário em que a
higienização dos pacientes estavam sendo realizadas, esse fato gerava certa rejeição dos
alimentos por parte dos mesmos, uma vez que o odor nas enfermarias era bastante
desagradável.
Outro aspecto que dificultava a ingestão adequada dos alimentos era percebido
junto aos pacientes que apresentavam seqüelas motoras, pois devido à posição de
decúbito dorsal era difícil realizar a deglutição, sendo esses os mesmos pacientes que
apresentavam problemas intestinais. Essa dificuldade foi relatada por Pedro.
A comida é pouca e mesmo assim o consigo comer toda, o sei como é
que eu como deitado. (Pedro)
A higiene foi outro procedimento que identificamos como fator constrangedor
por parte dos pacientes, pelos mesmos motivos relatados no cateterismo vesical, ou seja
a exposição do corpo e a impossibilidade de realizar uma atividade que antes era
simples, somado a isso também percebemos a insatisfação por parte dos 3 (três)
pacientes que necessitavam receber o banho no leito, devido a impossibilidade de
deambulação, quanto a eficácia do procedimento. Essa insatisfação pode ser percebida
nas falas de Simão e Pedro.
É muito ruim ficar tomando banho assim, na frente de todo mundo, ó
situação né. (Simão)
Eu não gosto desse banho, esse algodão no presta pra nada e é porque é
ruim tomar banho assim né. (Pedro)
O banho no leito era realizado diariamente, no período da manhã, pelas
auxiliares e enfermagem. Dos 3 (três) pacientes que necessitavam desse procedimento,
todos homens, somente 2 (dois) tinham acompanhantes que eram seus filhos, entretanto
na hora do banho nenhum esboçava qualquer tipo de ajuda, pelo contrário, muitas vezes
se ausentavam da enfermaria, obrigando a auxiliar de enfermagem a realizar o
procedimento sozinha, sendo essa uma tarefa difícil, devido ao peso do paciente, bem
como restrição de movimentação.
O banho era realizado com algodão, água e sabão do próprio hospital, já que os
pacientes submetidos a esse procedimento não dispunham de nenhum material de
higiene pessoal, contudo sabemos que o algodão apresenta pouca eficácia, no que se
refere à retirada de sujidades, bem como o sabão hospitalar pode ressecar a pele,
propiciando o surgimento ou agravando das úlceras de pressão, no caso, já presentes nos
3 (três) pacientes em questão. Observamos também, que muitas partes do corpo do
paciente como axilas, mãos e pés ficavam sem ser higienizadas, visto que a preocupação
maior por parte da profissional era a limpeza da região perineal.
Outro aspecto que percebemos foi à ausência da higiene oral dos pacientes, que
não foi realizada nem após o banho no leito nem após as refeições. Sabemos da
impossibilidade da escovação normal por parte desses pacientes, contudo a limpeza da
cavidade oral com espátula, algodão e anti-séptico deveria ser feita, com a finalidade de
retirar sujidades, evitar halitoses, bem como promover um melhor bem estar ao
paciente.
Ao observar o dia a dia daqueles pacientes percebemos a relação do binômio
pacientes profissionais, relação essa bastante intensa, principalmente junto aos
profissionais de enfermagem, que desenvolviam cuidados intensivos com os mesmos,
como a verificação dos sinais vitais, higienização, curativos, cateterismo vesical,
mudanças de decúbito, entre outros, todos esse cuidado no que se refere ao atendimento,
eram percebidas e elogiadas pelos pacientes do estudo, como narraram Maria e Moisés.
Não tenho do que reclamar, todo mundo me trata bem, as enfermeiras, os
médicos todos são muitos bons. (Maria)
Desde que cheguei até agora fui bem tratado, as meninas me dão banho, me
dão remédio, ta tudo bom. (Moisés)
Percebemos que estava sendo determinante a mudança dos hábitos na vida
dessas pessoas. A imposição terapêutica associada às novas formas de higienização,
eliminações e alimentação estavam sendo desenvolvidas sem o devido cuidado de
orientação, comunicação e participação dos pacientes e familiares para a construção do
cuidado no atendimento as necessidades dessas pessoas. Interpretamos que as
necessidades psicológicas não eram vistas, e que muitas vezes identificamos momentos
de depressão, solidão, tristeza, arrependimento, entre outros sentimentos que
atormentavam aqueles pacientes já tão vitimados pela lesão medular.
Denzin (1989) coloca que o comportamento humano é simbólico e interacional,
então central a compreensão de tal comportamento está à variação e variedade de
símbolos e significados simbólicos compartilhados, comunicados, manipulados por
“eus” ou “egos interagentes” em condições sociais, onde a sociedade contribui com
elementos sociais que refletem diretamente nas interações completas, através de
símbolos ou linguagem, fornecidas ou comunicadas, através do processo de
socialização, ou ainda, os cenários comportamentais concretos em que ocorrem as
interações.
Ao pensar no cuidado integral, junto aos pacientes vítimas de lesão medular,
percebemos a importância do profissional ser preparado para o cuidado, pois a
realização de procedimentos não constitui cuidado ao ser humano mediante as
dimensões que fazem a sua existência.
3.4 A TECNOLOGIA NAS RELAÇÕES AFETIVAS
Ao falar em tecnologia é comum a associação a máquinas industriais, entretanto
quando falamos em tecnologia na saúde ocorre uma associação a máquinas de
diagnóstico, recursos laboratoriais e técnicas mais modernas. Neste sentido, Lalande
(p.1109 - 1993) coloca a tecnologia como o saber fazer de maneira estruturada,
universal e objetiva sem muito espaço para a subjetividade e particularidade, como
podemos perceber na seguinte definição: Conjunto de procedimentos bem definidos e
transmissíveis, destinados a produzir certos resultados considerados úteis.
Em contrapartida Santos et al (s.d.) ao parafrasear Mendes-Gonçalves
(ANO: p.3)
define tecnologia como:
Um conjunto de saberes e instrumentos que expressa nos processos de
produção dos serviços, a rede de relações sociais entre agentes e práticas,
conformada em uma totalidade social, que é constituída não apenas pelo
saber, mas também pelos seus desdobramentos materiais e não-materiais
Desta forma percebemos que a compreensão da subjetividade de cada ser é
fundamental no processo do cuidado integral, excedendo a objetividade do saber fazer,
daí a importância dos profissionais de saúde terem conhecimento dos significados das
experiências que os pacientes estão vivenciando dentro daquele processo de internação,
podendo assim, direcionar a assistência prestada visualizando o outro de forma
holística.
Quando nos referimos a uma lesão tão traumática, como a medular, é de extrema
importância às relações afetivas entre o paciente e seus familiares assim como os
pacientes e os profissionais de saúde, visto que essas relações promovem uma maior
interação entre as partes citadas, trazendo benefícios para todos que formam esse
contexto.
Durante a nossa observação percebemos que dos sete pacientes que compunham
o estudo, quatro tinham acompanhantes, sendo eles uma mulher que tinha a filha como
acompanhante e três homens, onde dois deles eram acompanhados pelos filhos e um
pela esposa. Os outros três relataram diferentes motivos por não terem acompanhantes,
um disse não ter ninguém disponível para permanecer no hospital, outro relatou que só a
mulher poderia ficar, entretanto tinha que cuidar dos quatro filhos e o último justificou
que era do interior e ficava difícil alguém ficar o tempo todo no hospital, devido a
distância.
Em um processo de hospitalização, principalmente se essa hospitalização está
associada a uma lesão traumática como a lesão medular, é fundamental que o paciente
tenha ao seu lado a presença de um membro da família, ou mesmo de uma pessoa que
independente do grau de parentesco seja importante para ele. O acompanhante aparece
como parte integral do tratamento, tendo a oportunidade de ser ensinado como pode
contribuir com o cuidado ao paciente, entretanto percebemos que muitas atribuições
profissionais estão sendo delegadas ao acompanhante, sendo esta uma questão que deve
ser pensada e discutida nas instituições de saúde.
A importância da presença de um acompanhante foi identificada nos discursos
de Maria e Moisés. Para Denzin (1989), no decorrer de tomar seu próprio ponto de vista
e adaptar esse ponto de vista aos comportamentos dos outros, os humanos interagem
uns com os outros.
A minha filha me ajuda no banho, penteia meu cabelo, reza comigo, Ave
Maria se não fosse ela. (Maria)
Ela (esposa) fica o tempo todo comigo e às vezes vai em casa ver o
menino (filho). (Moisés)
À hora da visita também era percebida como momento de grande expectativa e
ansiedade por parte dos pacientes do estudo, onde dos sete, apenas dois, sendo eles
Josué e Abel, não recebiam visitas diariamente, no qual esse fato, aparentemente, não
lhes causava transtorno. Através dos discursos abaixo eles justificavam essa ausência.
A minha mulher não tem dinheiro pra ta vindo todo dia não, quando ela
vem. (Josué).
A minha mãe trabalha, pega coisa pra reciclar, mas elaveio umas vezes me
ver. (Abel)
Os outros cinco pacientes que recebiam constantemente familiares e amigos
durante as visitas, não escondiam a emoção desse momento, no qual conversavam sobre
o acidente, a hospitalização, faziam perguntas sobre o dia a dia da família, as
dificuldades, bem como a vontade de ir embora. Mesmo naquelas horas de
descontração, percebemos por parte de alguns familiares, momentos de silêncio, olhares
apreensivos e duvidosos, como se estivessem analisando a situação de seu ente querido.
Ao fim da visita percebemos que alguns pacientes enfrentavam momentos de
tristeza e solidão, onde uns choravam por alguns minutos, outros ficavam em silêncio
olhando para a janela ou para o teto. Isso era um acontecimento diário, no qual
apreendemos que o fim da visita significava uma despedida, um afastamento forçado
daquele paciente que se encontrava fragilizado com os membros de sua família. Esses
sentimentos foram identificados nas falas de Maria e Simão.
Quando eles vão embora (os filhos) e eu fico aqui, parece que estou sendo
abandonada, me dá vontade de chorar. (Maria)
Eu tenho pena deles (filhos), porque eles não têm ninguém, e eu to doente.
(Simão)
Na visão de Merhy (2002), a tecnologia se divide em tecnologia dura, leve-dura
e leve, sendo elas classificadas da seguinte forma:
A tecnologia dura é o que envolve a compreensão mais comum do termo, ou
seja, é tudo aquilo que inclui a operacionalização de máquinas e equipamentos, assim
como normas e estruturas organizacionais que compõem o serviço de saúde.
A tecnologia leve-dura é a que compreende os saberes que atuam no processo de
trabalho em saúde. Ela é menos dura, por não se tratar de ferramentas e aparelhos, desta
forma, é considerada leve por se tratar de saberes que, a partir do momento que se
adquirem, fazem parte do indivíduo e de como ele atua sua prática. É ao mesmo tempo
dura, por se tratar de saberes estruturados, padronizados, normatizados e organizados. E
nessa classificação se encontram os saberes de profissionais como médico, psicólogo,
enfermeiro.
A tecnologia leve é aquela que considera as relações resultantes do trabalho em
saúde através da produção de vínculo, acolhimento e gestão. Essas relações vão surgir a
partir do cuidado implícito à produção do trabalho em saúde que se feito de forma
humanizadora, suscitará essa tecnologia não material tão importante para a satisfação do
serviço produzido. Desta forma ela acontece a partir de:
(...) um encontro entre duas pessoas, que atuam sobre a outra, e no qual
opera um jogo de expectativas e produções, criando-se inter-subjetivamente
alguns momentos interessantes, como os seguintes: momentos de falas,
escutas e interpretações, no qual a produção de uma acolhida ou não das
intenções que estas pessoas colocam neste encontro; momentos de
cumplicidade, nos quais a produção de uma responsabilização em torno
do problema que vai ser enfrentado; momentos de confiabilidade e
esperança, nos quais se produzem relações de vínculo e aceitação.
(MERHY, s.d:05)
Apreendemos que a produção do vínculo que surge através do encontro de dois
sujeitos que experienciam confiança e esperança aumentam a possibilidade dos
profissionais de saúde desenvolverem junto aos pacientes vítimas de lesão medular uma
assistência de melhor qualidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do estudo em busca da interpretação dos significados das
experiências vivenciadas por pessoas vítimas de lesão medular no contexto hospitalar, a
partir dos ensinamentos de Norman Denzin, nos permitiu interpretar sentimentos e
comportamentos dos pacientes junto aos familiares mediante os cuidados recebidos dos
profissionais de saúde.
O perfil sócio-demográfico dos pacientes investigados constituiu-se de pessoas
jovens na sua maioria, em plena fase produtiva da vida, maior número de homens, e por
lesões de origem traumática ocasionadas por acidentes automobilísticos, muitas vezes
em situações de alcoolismo; e ainda lesões por arma de fogo e quedas. As situações
estudadas confirmam os dados apresentados pela Vigilância Epidemiológica da
Instituição nos últimos anos.
Interpretamos sentimentos de tristeza, solidão, incerteza e medo; situações de
choro e desabafos. A saudade da família e do trabalho, e dificuldades financeiras
enfrentadas pelas famílias foram predominantemente narradas, assim como o medo das
perdas funcionais, principalmente naqueles com lesões motoras.
Contudo, observamos que os profissionais de saúde direcionam os cuidados para
as necessidades biológicas do paciente de forma fragmentada e desintegrada das
dimensões psicológicas, sociais e econômicas, e que dentre o atendimento das
necessidades biológicas identificamos que as mais afetadas foram a alimentação,
eliminação e de higiene, em que interpretamos momentos de satisfação e de não
satisfação por parte dos pacientes ao serem cuidados.
As narrativas de desconforto durante a alimentação devido à posição de decúbito
dorsal em que permanecem no leito, por todos eles foram devido a disfagia, sabor
desagradável dos alimentos e insatisfação na quantidade da alimentação.
Os procedimentos realizados quanto ao cateterismo vesical, banho no leito e
higienização após as eliminações intestinais, que são cuidados necessários aos pacientes
imobilizados no leito, devido às seqüelas da lesão medular, foram interpretados por
constrangimento, desconforto e dificuldade de acomodação no leito. Entretanto,
percebemos que as condições físicas nas enfermarias não proporcionava o conforto aos
pacientes, sendo observado falta de materiais e equipamentos que permitissem a
adequada inndividualidade do paciente bem como leitos adequados para pacientes
imobilizados. Observamos ainda, o despreparo dos profissionais de saúde durante os
cuidados realizados, com vistas o conforto físico, social e psicológico.
Interpretamos que pessoas timas de lesão medular, situação que ocasiona o
processo de hospitalização de forma repentina, em que o enfrentamento das condições
de saúde mediante as alterações nos diversos sistemas orgânicos, com perdas de funções
básicas no atendimento de suas necessidades humanas, requer a prestação de cuidados
especializados por parte de profissionais que lidam com pacientes nesta situação. Faz-se
necessário preparo e competência no cuidado integral as vitimas e familiares que estão
vivenciando momentos de dificuldades, perdas, incertezas e impotência neste momento
de suas vidas.
E mediante a compreensão das experiências vivenciadas no contexto hospitalar,
recomendamos o desenvolvimento de estratégias para a melhoria da assistência a esta
clientela. Pontuamos, melhores condições de infra-estrutura nas enfermarias com vistas
a possibilitar maior conforto ao paciente e na qualidade dos cuidados realizados; melhor
qualificação dos profissionais ao lidar com os pacientes e familiares, no cuidado voltado
a orientação e realização de procedimentos, na identificação das necessidades
prioritárias para os mesmos.
No intuito de buscar a sensibilização dos profissionais de saúde em busca do
cuidado integral a esta clientela, propomos de inicio apresentar os resultados da
pesquisa a instituição e mediante a este momento, nos colocar com disponibilidade para
o desenvolvimento de ações educativas integradas ao processo de trabalho dos
profissionais de saúde. Em especial para a equipe de enfermagem, desenvolver junto a
coordenação de enfermagem oficinas de trabalho na interpretação do que seria “ser
lesionado medular”. Para Denzin (1989), o observador, papel que desenvolvemos de
forma enfocada durante a trajetória da pesquisa, pode decidir empregar uma relação
interativa como unidade de análise enfocando famílias, grupos de trabalho entre outros
com vistas a manter o compromisso interacionista de estudar atos conjuntos. Pois,
entendemos que o estudo não teve a pretensão de esgotar a compreensão das
experiências vivenciadas para o ser lesionado medular, no entanto, consideramos que as
interpretações aqui obtidas são de valiosa contribuição não somente para a instituição
que recebe esta e clientela, mas para a comunidade cientifica que tem enquanto foco de
atenção e estudo a tecnologia do cuidado integral da saúde de pessoas vitimas de lesão
medular.
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Enfermagem 1991,10(3): 128-31
59. SMELTZER, S.C.; BARE, B.G.; BRUNNER e SUDDART. Tratado de
enfermagem médico- cirúrgico. 7ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 1994.
60. TIAGO, F.; Feridas: etiologia e tratamento. 3ªed., Ribeirão Preto – SP, 1994.
61. TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
APÊNDICE I
MINISTÉRIO DA SAÚDE - Conselho Nacional de Saúde - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP
.
1.
Projeto de Pesquisa: Cuidado Integral de Enfermagem a Vítimas de Lesão Medular : interpretação das experiências de pacientes no contexto hospitalar.
2. Área do Conhecimento: ENFERMAGEM
3. Código: 4 4. Nível: T
5. Área(s) Temática(s) Especial (s) 6. Código(s): 4.04 7.
Fase: (Só área temática 3) I ( ) II ( ) III ( ) IV ( X )
8. Unitermos: ( 3 opções )
Trauma raquimedular, Cuidados de Enfermagem, Significados
SUJEITOS DA PESQUISA
9.
Número de sujeitos
Total: 09
10. Grupos Especiais : <18 anos ( ) Portador de Deficiência Mental ( ) Embrião /Feto ( ) Relação de Dependência
(Estudantes , Militares, Presidiários, etc ) ( ) Outros (X ) Não se aplica ( )
PESQUISADOR RESPONSÁVEL
11. Nome: ANA LÙCIA PEREIRA DE ALBUQUERQUE
12. Identidade:
9.0002276718
13. CPF.:
70299994368
19.Endereço (Rua, n.º ):
RUA: CAMPOS NOVOS
N.88
APTO. 501B
14. Nacionalidade:
BRASILEIRA
15. Profissão:
ENFERMEIRA
20. CEP:
60.425390
21. Cidade:
FORTALEZA
22. U.F.
CE
1. Maio itulação:
ESPECIAISTA
7. Cargo6.943736( )]TJ-10.0859 -9.11836 Td(( )Tj/R9 8.04 Tf132.079 9.11836 Td[21)-7.7578(3)7.17535(.)250]TJ/R7 8.04 Tf10.0859 0 Td[( )-3.88027(F)18.3732(o)7.17535(n)-7.7578(e)10.9107(:)93.0541( )]TJ-10.0859 -9.11836 Td[(()4.45178825) 39256
24. Fax
COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA – CONEP
54. Nº Expediente :
55. Processo :
56.Data Recebimento : 57. Registro na CONEP:
APÊNDICE II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos desenvolvendo uma pesquisa intitulada: Cuidado integral de
enfermagem a vítimas de lesão medular: interpretação das experiências de
pacientes no contexto hospitalar, na qual refere-se a um estudo qualitativo na linha
compreensiva e interacionista, a ser realizado na Unidade de Neurologia do Instituto Dr.
José Frota, no período de junho a agosto de 2007 em que pretende-se: Compreender os
significados das experiências vivenciadas pelo ser vítima de lesão medular no contexto
hospitalar; Descrever as narrativas no âmbito das experiências vividas. Assim
gostaríamos de contar com a sua participação, garantindo o anonimato da identidade
bem como a liberdade de participar ou não, ficando livres para desistir em qualquer fase
da pesquisa, sem que haja nenhum prejuízo. Haverá benefícios para esta clientela na
melhoria do atendimento e por não se tratar de uma pesquisa intervencionista não
ocorrerá nenhum risco ou desconforto e a forma de utilização dos dados será
exclusivamente para fins da pesquisa com pleno consentimento dos participantes.
Se necessário, pode entrar em contato com o(a) coordenador (a) da pesquisa Ana
Lúcia Pereira de Albuquerque, pelo fone: 30821407.
Fortaleza, ________ de __________________________ de 2007
______________________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
Tendo sido satisfatoriamente informado(a) sobre a pesquisa intitulada:
Sujeito da Pesquisa/Representante Legal
APÊNDICE III
ITENS DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Instituição:
Unidade:
Data: Horário:
N° de Enfermarias: F: M:
N° de pacientes com lesão medular:
Profissionais que compõem a equipe:
Atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional:
Condições clínicas do paciente:
Cuidados dispensados ao paciente:
Cuidados dispensados a família:
APENDICE IV
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1. Dados de Identificação
Nome: Data de nascimento:
Estado civil: Procedência:
Profissão (trabalho, ocupação): Escolaridade:
Religião:
N. de filhos:
2. Dados da hospitalização
Data da internação.
Causa da internação.
Diagnóstico atual.
Acompanhante.
3. Questões Norteadoras
Fale sobre a sua experiência no hospital?
Como está a sua assistência aqui no hospital?
O que você sabe sobre o seu estado de saúde?
O que você sabe sobre o seu tratamento?
O que poderia melhorar nesse momento?
Como você está se sentindo?
ANEXO 1
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Milhares de Livros para Download:
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