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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
ANA LARISSA GOMES MACHADO
A VIVÊNCIA DO CUIDADOR FAMILIAR DE PESSOA INCAPACITADA POR
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: uma abordagem interacionista
FORTALEZA - CE
2008
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ANA LARISSA GOMES MACHADO
A VIVÊNCIA DO CUIDADOR FAMILIAR DE PESSOA INCAPACITADA POR
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: uma abordagem interacionista
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Acadêmico em Cuidados
Clínicos em Saúde e Enfermagem da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do
Título de Mestre.
Orientadora: Profa. Dra. Consuelo
Helena Aires Freitas
FORTALEZA - CE
2008
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Autorizo a reprodução total ou parcial desse trabalho para qualquer meio convencional ou
eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Universidade Estadual do Ceará
M149v Machado, Ana Larissa Gomes.
A vivência do cuidador familiar de pessoa
incapacitada por acidente vascular cerebral: uma
abordagem interacionista/ Ana Larissa Gomes Machado.
__Fortaleza, 2008.
75p.
Orientadora: Profa. Dra. Consuelo Helena Aires de
Freitas.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em Cuidados
Clínicos em Saúde e Enfermagem) – Universidade
Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde.
1. Enfermagem. 2. Assistência domiciliar. 3.
Cuidadores. I.Universidade Estadual do Ceará, Centro de
Ciências da Saúde.
CDD:610.73
ANA LARISSA GOMES MACHADO
A VIVÊNCIA DO CUIDADOR FAMILIAR DE PESSOA INCAPACITADA POR
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: uma abordagem interacionista
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Acadêmico em Cuidados
Clínicos em Saúde e Enfermagem da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do
Título de Mestre.
Defesa em: 25/02/2008.
Conceito Obtido: Satisfatório (Nota:10,0).
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Consuelo Helena Aires de Freitas
Universidade Estadual do Ceará (UECE) - Orientadora
_____________________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Maria Salete Bessa Jorge
Universidade Estadual do Ceará (UECE)- 1º Membro Efetivo
_____________________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Raimunda Magalhães da Silva
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) - 2º Membro Efetivo
_____________________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Thereza Maria Magalhães Moreira
Universidade Estadual do Ceará (UECE) – Membro Suplente
DEDICATÓRIA
Ao meu Deus de sabedoria infinita que alimenta minha vida com
graças, alegrias e ensinamentos.
Aos meus pais que, com muito amor, fazem parte do planejamento
e da execução de cada passo da minha caminhada.
Aos meus irmãos nos quais encontro apoio e companhia nos
momentos difíceis e de contentamento.
AGRADECIMENTOS
A Deus que ilumina nossas vidas e nos dá coragem e sabedoria
para superar as adversidades.
Aos meus pais porque entendem as minhas escolhas e estão ao meu
lado em todos os momentos da minha vida.
Aos meus amigos/irmãos que me amparam e me dão o carinho
necessário para que minha caminhada seja mais suave.
Aos cuidadores que fizeram parte dessa pesquisa e permitiram
minha aproximação com seus mundos de vida.
À minha orientadora, Profa. Consuelo Freitas, que me ensinou a
cuidar de uma forma mais humana, respeitando os valores e as
crenças do outro.
A todos os profissionais do PAD, no qual desenvolvi o estudo, que
me acolheram com carinho e respeito e tornaram possível a
realização desse trabalho.
Aos companheiros de sala de aula e aos professores do CMACCLIS
com os quais dividi bons momentos de minha vida e aprendi que
podemos ser mais humanos e fraternos uns com os outros.
RESUMO
Estudo qualitativo realizado com cuidadores familiares de pessoas incapacitadas por
AVC cadastradas em um Programa de Assistência Domiciliária (PAD) de um hospital
público terciário da cidade de Fortaleza/CE. Teve como objetivo compreender a vivência
do cuidador familiar no processo de cuidar de pessoas incapacitadas por AVC no
contexto domiciliar. Utilizou-se a teoria do Interacionismo Simbólico como referencial
teórico-metodológico. Foram investigados nove cuidadores que se encaixaram nos
critérios de inclusão pré-estabelecidos. A coleta dos dados ocorreu no período de maio a
setembro de 2007, no PAD e nos domicílios dos cuidadores. Os dados foram coletados
por meio da observação participante e da entrevista semi-estruturada, e sua organização
seguiu os pressupostos da técnica da análise temática. Após a organização e a análise do
material, emergiu o tema: A vivência dos cuidadores familiares e as seguintes categorias
temáticas: A caracterização dos cuidadores, por que eu cuido?, percebendo o familiar
vitimado pelo AVC, as atividades diárias dos cuidadores, percebendo-se cuidador e as
transformações nas vidas do cuidadores. As categorias emergiram a partir dos
depoimentos dos cuidadores acerca de seus modos de cuidar, dos quais foram
apreendidos os significados, as ações e os sentimentos envolvidos no cuidado ao familiar
que apresenta incapacidades. A compreensão da vivência dos cuidadores permitiu
ampliar o alcance da prática clínica do enfermeiro para além do doente. A capacitação
da família para o cuidado apresentou-se como um grande desafio para os profissionais
que atuam no contexto domiciliar, principalmente porque, nesse campo de atuação, os
saberes técnicos não são os únicos requisitos para humanizar o cuidado que se realiza.
Há que se valer de estratégias e conhecimentos relacionais e comunicacionais a fim de se
oferecer um cuidado de qualidade. Para que o cuidado domiciliário aconteça, os
profissionais devem reconhecer o papel do cuidador familiar, pois é por meio dele que a
comunicação com a família mostra-se possível e que o acompanhamento terapêutico
produz os resultados desejados.
UNITERMOS: Enfermagem; cuidadores; assistência domiciliar.
ABSTRACT
Qualitative study carried through with familiar caregivers of people incapacitated for
CVA registered in cadastre in a home assistance program (HAP) of a tertiary public
hospital of the city of Fortaleza/CE. It had as objective to understand the experience of
the familiar caregiver in the process of to take care of people incapacitated by CVA in
the domiciliary context. It was used the Symbolic Interaction Theory as theoretician-
methodological referential. Nine caregivers who fulfilled the criteria of inclusion had
been investigated. The collection of the data occurred in the period of May the
September of 2007, in the HAP and the domiciles of the caregivers. The data had been
collected by means of the participant observation and of the half-structuralized
interview, and its organization followed the presuppositions of the technique of the
thematic analysis. After the organization and the analysis of the material, emerged the
subject: The experience of the familiar caregivers and the following thematic categories:
the characterization of the caregivers, why I take care of?, perceiving the familiar
victimized by the CVA, the daily activities of the caregivers, perceiving themselves as
caregivers and the transformations in the lives of the caregivers. The categories had
emerged from the depositions of the caregivers concerning to their ways of to take care,
of which were apprehended the meanings, actions and feelings involved in caring for
familiar with disabilities. The understanding of the experience of the caregivers allowed
to extend the reach of the practical clinic of the nurse for beyond the sick person. The
qualification of the family for the care was presented as a great challenge for the
professionals who act in the domiciliary context, mainly because, in this field of
performance the technician know about them is not the only requirements to humanize
the care. It is necessary to use strategies and relationary and communicational
knowledge to offer a care of quality. To make the domiciliary care happens, the
professionals must recognize the paper of the familiar caregiver, therefore is by means
of it that the communication with the family reveals possible and that the therapeutical
accompaniment produces the results desired.
KEYWORDS: Nursing; caregivers; home assistance.
SUMÁRIO
RESUMO ..............................................................................................................................
ABSTRACT ..........................................................................................................................
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................
2 O CUIDADO DE ENFERMAGEM NO DOMICÍLIO A VÍTIMAS DE AVC ..............
2.1 Características clínicas e epidemiológicas da doença cerebrovascular (AVC) .........
2.2 O cuidado de enfermagem no contexto domiciliário .................................................
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA .................................................
3.1 A perspectiva teórica do Interacionismo Simbólico ..................................................
3.2 O objeto de estudo e a teoria interacionista ...............................................................
4 PERCURSO METODOLÓGICO ....................................................................................
4.1 Natureza do estudo .....................................................................................................
4.2 Contextos de investigação ..........................................................................................
4.2.1 O programa de assistência domiciliária (PAD) ......................................................
4.2.2 O contexto domiciliar .............................................................................................
4.3 Os cuidadores dos incapacitados por AVC ................................................................
4.4 Instrumentos e procedimentos para a coleta dos dados ..............................................
4.5 Análise dos dados .......................................................................................................
4.6 Aspectos éticos e legais ..............................................................................................
5 A VIVÊNCIA DOS CUIDADORES FAMILIARES ......................................................
5.1 A caracterização dos cuidadores ...............................................................................
5.2 Por que eu cuido? .......................................................................................................
5.3 Percebendo o familiar vitimado por AVC .................................................................
5.4 As atividades diárias dos cuidadores .........................................................................
5.5 Percebendo-se cuidador ..............................................................................................
5.6 Transformações nas vidas dos cuidadores .................................................................
6 REFLEXÕES ...................................................................................................................
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................
ANEXOS ..........................................................................................................................
APÊNDICES ....................................................................................................................
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72
1 INTRODUÇÃO
A opção pelo estudo dos sujeitos que cuidam de familiares vitimados por
acidente vascular cerebral (AVC) deu-se em virtude do conhecimento de que essa
doença quando não leva à morte, causa freqüentemente deficiências parciais ou totais
nos indivíduos. Este fenômeno requer da família cuidados que possam prevenir ou
minimizar os agravos advindos da doença.
Em estudo realizado por Karsch (1998) com cuidadores domiciliares de
pessoas que sofreram o primeiro episódio de AVC, evidenciou-se que, após um ano,
elas continuaram incapacitadas, e que, provavelmente, envelheceriam na dependência
de um cuidador. Em alguns casos, este pertence ao grupo familiar do ser cuidado e
realiza atividades responsáveis, de certo modo, pela reabilitação de seu familiar
enfermo.
A ampla variedade de déficits causados pelo AVC impõe à equipe de saúde,
em especial ao enfermeiro, o planejamento e a implementação de um plano de cuidados
que contemple o paciente e sua família. Os familiares necessitam de preparação e de
apoio, uma vez que poderão viver um momento de desestruturação familiar, em virtude
do impacto da doença (CHAGAS; MONTEIRO, 2004).
A política de incentivo à alta hospitalar dos pacientes apresenta-se como um
desafio aos enfermeiros para o preparo dos pacientes e das famílias na reorganização de
seus lares, visto que a fase de recuperação poderá ocorrer no domicílio. Vê-se, então, a
importância de se investigar não somente o processo de cuidado realizado pelo familiar,
mas o cuidado do enfermeiro voltado às necessidades do cuidador.
O interesse em discutir o cuidado clínico de enfermagem aos familiares que
cuidam retoma conceitos que agregam o cuidado ao fazer do enfermeiro como essência
da profissão. O cuidado discutido neste trabalho situa-se, assim, numa esfera relacional,
sob o ponto de vista das interações entre o enfermeiro e o cliente, ultrapassando a
dimensão técnica dessa prática.
11
Nessa perspectiva, o cuidado acontece durante a interação com o outro, ou
seja, aquele que cuida deve mostrar-se capaz de compreender o outro em seu mundo de
vida e, dessa forma, potencializar a sua capacidade para o enfrentamento de problemas a
partir dos significados, conceitos e crenças que possui (BLUMER, 1969).
O cuidado voltado à clínica do corpo doente ou da doença desloca seu olhar
e o redireciona para a potencialidade dos indivíduos para se cuidar. Ao repensar as
práticas em saúde e discutir a reformulação da clínica, na perspectiva fenomenológica
de Basaglia (1985), Campos (2003) argumenta que a reforma da clínica moderna
assenta-se sobre o deslocamento do olhar exclusivamente técnico, centrado na doença,
para o sujeito real, concreto. Esse sujeito concreto sofre influência da perspectiva de
cidadania ativa, ou seja, é um sujeito que deve ser preparado para fazer valer os próprios
direitos e construir um mundo melhor para si e para os outros.
Assim, o acompanhamento em domicílio de uma pessoa com incapacidades
geradas pelo AVC envolve o ensino e a capacitação dos cuidadores familiares, uma vez
que esses indivíduos são partícipes do processo de cuidar. Os cuidadores são sujeitos
que necessitam ter suas capacidades de autocuidado e de cuidado com o outro
potencializadas. Para isso, a construção de vínculos com os profissionais de saúde passa
a funcionar como um recurso terapêutico, já que indica compromisso dos profissionais
com os pacientes e vice-versa (CAMPOS, 2003).
Pontua-se, portanto, o estabelecimento de vínculo como um movimento
bilateral e necessário para a prática de uma clínica de qualidade. De um lado, estão o
paciente e sua família, que somente assumirão compromissos com a equipe quando
acreditarem que esta irá contribuir com a defesa de sua saúde. Do outro lado, estão os
profissionais, que, a depender do modo como se responsabilizam pela saúde dos
pacientes e das famílias destes, poderão construir vínculos com a população e estimulá-
la ao autocuidado (CAMPOS, 2003).
É nessa perspectiva que a compreensão da vivência do cuidador familiar de
pessoas vítimas de AVC trará elementos para que se repense o cuidado clínico de
enfermagem, considerando a existência e a vivência do cuidador. Isso significa incluir
12
esse sujeito e seu contexto como objeto de estudo para a construção de práticas de
cuidado de enfermagem que envolvam os pacientes e suas famílias na produção de sua
saúde.
O interesse relacionado ao estudo dessa temática desenvolveu-se na
graduação, quando houve a oportunidade de participar, como bolsista de iniciação
científica, de um projeto de pesquisa que proporcionou a interação com familiares
cuidadores de pessoas com doenças crônicas, no contexto domiciliar.
A continuidade da investigação da temática ocorreu com a elaboração da
monografia de graduação em Enfermagem, em 2005, período no qual interagiu-se com
familiares cuidadores em seus domicílios, a fim de identificar suas crenças e
significados atribuídos aos cuidados realizados nesse contexto. Observou-se naquele
ensejo o quanto os cuidadores investigados necessitavam de orientação e de apoio
profissional para o cuidado de seus familiares (MACHADO; FREITAS; JORGE, 2007).
A partir dos resultados dessas pesquisas, permaneceram o interesse e a
inquietação acerca da atenção dispensada pelos cuidadores familiares nos processos de
cuidado para a reabilitação das pessoas vitimadas por doenças crônico-degenerativas.
Preocupou-se, ainda, com o cuidado da equipe de saúde voltado a esse cuidador diante
da situação vivida.
Assim, ao ingressar no Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em
Saúde da Universidade Estadual do Ceará, foram desenvolvidos estudos acerca do
cuidado familiar e da participação da enfermagem no cuidado domiciliar, apresentados
em eventos científicos locais e nacionais (MACHADO; FREITAS, 2006; MACHADO
et.al., 2006).
A partir dessas investigações, retomou-se o interesse que permanecia latente
e se direcionou o olhar para o cuidado ao familiar que vivencia a experiência de cuidar
de pessoa incapacitada por AVC no contexto domiciliar.
Para a compreensão dos significados advindos das vivências dos familiares
no processo de cuidar, foi utilizada, neste estudo, a teoria do Interacionismo Simbólico,
uma vez que traz conceitos importantes para o estudo do ser humano como ser social.
13
Na perspectiva dos teóricos interacionistas, as pessoas constroem seus significados e
crenças ao longo dos anos de interação social com objetos e outros indivíduos.
Blumer (1969) traz em sua obra que o significado atribuído pelas pessoas às
coisas é formado no contexto de interação social delas e que seu uso envolve um
processo interpretativo. Isso significa que, ao deparar-se com situações distintas, como
tornar-se cuidador, por exemplo, a pessoa indica a si própria o evento em relação ao
qual precisa agir e, num processo interno, escolhe, checa e transforma o significado da
situação em que ele é colocado para, então, direcionar a sua ação.
As ações do cuidador, portanto, são mediadas por significados oriundos de
um processo interpretativo. Para a compreensão desses significados, são necessários o
diálogo, que permitirá a verbalização daquilo que realmente tem significado para o
cuidador, e a observação nos momentos em que o mesmo age, ou seja, cuida.
Refletindo sobre esse assunto, apontam-se os questionamentos do presente
estudo: Qual o significado de ser cuidador para o familiar? Quais as mudanças que o
cuidado trouxe à vida do cuidador?
Acredita-se que as respostas a tais indagações possam revelar sentimentos e
motivações pessoais que auxiliam na compreensão e no apoio aos sujeitos do estudo,
implicando em contribuição para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento
mais humanizadas por parte das instituições, profissionais de saúde e familiares.
Portanto, esta pesquisa chama o enfermeiro a repensar suas práticas clínicas,
no âmbito individual ou no coletivo, voltadas para o cuidado aos sujeitos que,
inesperadamente, se tornam responsáveis pelo cuidado de seus familiares com
incapacidades.
Também instiga a reflexão acerca do despertar para o cuidado voltado à
ampliação da clínica, ou seja, a práticas clínicas que possam valer-se de outros
instrumentos terapêuticos além daqueles sedimentados pela clínica tradicional ou
oficial, como a medicalização, a fixação em procedimentos técnicos e a abordagem
terapêutica excessivamente voltada para a noção de cura.
14
Além disso, oferece aos pacientes e às famílias a busca pelo reconhecimento
de suas necessidades e das possíveis formas de satisfazê-las, uma vez que produz
conhecimento a ser compartilhado com os profissionais de saúde em prol de um
atendimento que reconheça as expectativas da população no processo terapêutico.
No tocante ao ensino e à pesquisa, este trabalho colabora com o
aprofundamento das discussões sobre as práticas clínicas encontradas nos diversos
serviços de saúde do Brasil, ao enfatizar a reconstituição de vínculos entre o profissional
e sua clientela. O conhecimento produzido por tais discussões, quando incorporado
pelos profissionais de saúde em formação e pelos egressos das universidades, constitui
fator determinante para uma prática clínica de qualidade.
Pontua-se, portanto, como objetivo deste estudo compreender a vivência do
cuidador familiar no processo de cuidar de pessoas incapacitadas por AVC, no contexto
domiciliar.
15
2 O CUIDADO DE ENFERMAGEM NO DOMICÍLIO A VÍTIMAS DE AVC
Ao abordar o cuidado ao familiar de pessoa incapacitada por AVC,
considera-se importante refletir sobre alguns conceitos envolvidos nesse processo. Entre
eles, destacam-se as características clínicas e epidemiológicas da doença
cerebrovascular e alguns apontamentos sobre o cuidado de enfermagem no contexto
domiciliar. Acredita-se que, a partir do entendimento desses assuntos, a compreensão da
vivência dos cuidadores incorpora conteúdos que valorizam a capacidade dos sujeitos
para o cuidado, sem negar o progressivo desenvolvimento de saberes e de técnicas da
clínica tradicional.
2.1 Características clínicas e epidemiológicas da doença cerebrovascular (AVC).
O fenômeno de transição epidemiológica observado no Brasil, caracterizado
pela redução de mortes por doenças infecciosas e pelo concomitante aumento das
mortes por doenças crônicas não-transmissíveis e por causas externas, tem impactos
diretos sobre o indivíduo, sua família e a sociedade (BRASIL, 2007).
Entre as doenças crônicas não-transmissíveis, as do aparelho circulatório
respondiam por 10% das internações hospitalares em 1996, sendo responsáveis por
17,2% dos gastos em saúde no período. As deficiências e as incapacidades geradas por
essas doenças representam um desafio para os profissionais dos serviços de saúde, pois
necessitam instrumentalizar-se para, junto com as famílias, oferecer cuidados de
qualidade durante a recuperação dos pacientes.
Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2002, mostram
que, entre 1991 e 1998, houve aumento na taxa de mortalidade por doenças do aparelho
circulatório em todas as regiões brasileiras e que, entre 1996 e 2000, as doenças
cardiovasculares (DCV) apareceram como a segunda principal causa de morbidade
hospitalar, excluindo-se gravidez, parto e puerpério.
As elevadas taxas de mortalidade, associadas às doenças do sistema
cardiovascular, podem ter como fatores contribuintes os déficits funcionais e cognitivos
16
decorrentes de sua ocorrência. Os acidentes cerebrovasculares, por exemplo, geram
incapacidades, como perda do controle voluntário dos movimentos musculares,
problemas sensoriais, incontinência, e problemas na comunicação e na fala, que
comprometem a saúde física, emocional e social de uma pessoa (OMS, 2003).
O termo acidente vascular cerebral (AVC) refere-se à redução súbita da
circulação cerebral em um ou mais vasos sanguíneos. As implicações que dele decorrem
envolvem além da mortalidade, um grande impacto econômico, em virtude das seqüelas
17
Como tentativa de evitar prejuízos à vida de milhares de brasileiros por
seqüelas do AVC, foi implantado em julho de 2007, no estado do Ceará, o Comitê
Estadual de Atenção à Doença Cerebrovascular, cujas primeiras medidas foram tornar o
AVC doença de notificação obrigatória a fim de se obter um conhecimento fidedigno da
realidade da doença no estado, e capacitar profissionais de diferentes áreas para o
diagnóstico precoce (COMITÊ, 2007).
Ações como essa objetivam o cuidado imediato às pessoas vitimadas pelo
AVC, uma vez que o atendimento pré-hospitalar, quando realizado de forma rápida e
eficaz, contribui para a redução de eventos incapacitantes que podem trazer graves
repercussões para a vida das pessoas. Trata-se de uma medida que envolve diferentes
setores da saúde pública e que exige de seus profissionais saberes e técnicas essenciais
ao reconhecimento precoce dos casos.
Pontua-se também que é cada vez mais comum o manejo das incapacidades
geradas pela doença no contexto familiar. Vários estudos reforçam o importante papel
da família como determinante nos resultados do processo de reabilitação (Perlini; Faro,
2005; Lavinsky; Vieira, 2004; Bocchi; Angelo, 2005). Diante de tal fato, os
profissionais são chamados a interagir com os membros familiares e, para isso, devem
pautar seus cuidados para além da orientação de normas de vida.
Torna-se necessário incorporar à prática clínica cuidados aos sujeitos que
irão possibilitar o tratamento fora do contexto hospitalar. Isso significa associar a
terapêutica baseada na doença às singularidades das vidas das pessoas.
2.2 O cuidado de enfermagem no contexto domiciliário
O ato de cuidar vai além da execução de práticas de saúde fundamentadas
em saberes e técnicas. Deve incluir o sujeito e seu contexto para a identificação de suas
necessidades singulares, numa dimensão intersubjetiva (AYRES, 2001; CAMPOS,
2003).
18
O cuidado, portanto, é uma relação que se estabelece entre os sujeitos e
envolve interação, acolhimento, compreensão, respeito, conhecimento e sensibilidade.
As partes envolvidas buscam amparo, realização e crescimento. É importante destacar
que as características do ambiente em que se vive denotam o objetivo dessa relação.
As habilidades para o indivíduo cuidar de si e do outro podem ser
potencializadas pelos envolvidos, desde que sejam sensibilizados e capacitados para
isso. A enfermagem, identificada por Waldow (2006) como a profissionalização da
capacidade humana de cuidar, desenvolveu teorias que buscam conceituar a realidade
inventada ou descoberta, a fim de descrever, explicar ou prescrever o cuidado.
O cuidado de enfermagem tem caráter relacional, ou seja, compreende a
interação entre o enfermeiro e seu cliente. Utiliza conhecimento científico e habilidades
que ultrapassam o altruísmo de servir aos outros. Busca a potencialização da capacidade
de adaptação das pessoas, dialogando com os sujeitos para despertar neles o desejo e a
ação de cuidar-se. Deve-se lembrar, contudo, de que esse despertar gera
responsabilização do profissional pela vida do outro, uma vez que é um ato voltado à
construção de um projeto de vida (WATSON, 1988; ORLANDO, 1990; MEILEIS,
1997; CHINN, 1998; AYRES, 2001).
Como compreender o cuidado realizado pelo cuidador familiar sem tecer
considerações acerca do cuidado de enfermagem no ambiente domiciliar? A capacidade
desse sujeito para cuidar foi elaborada reunindo-se conteúdos adquiridos a partir de sua
interação com os elementos do seu mundo de vida. Tal interação tem vários ambientes
para desenvolver-se, e o domicílio apresenta-se como espaço no qual o cuidador adquire
conhecimentos, a partir das relações estabelecidas com a família, com os amigos e com
os profissionais de saúde que acompanham o tratamento de seu familiar enfermo.
Cabe aos profissionais questionar-se sobre o papel desempenhado nesse
modelo de atenção à saúde. A família com um ente incapacitado necessita cuidar.
Acredita-se que, ao se descobrirem meios de aproximação com as famílias, o cuidado de
enfermagem toma a forma necessária para responder às demandas daquele grupo.
19
Conhecer a realidade ou o contexto em que vivem os sujeitos que precisam
ser cuidados colabora com o planejamento de ações direcionadas a cada situação. As
orientações não poderão ser feitas de forma verticalizada, ou seja, devem ser
estabelecidas mediante diálogo com os pacientes e as famílias, fato que poderá se
constituir como alternativa para as práticas de cuidado adotadas atualmente, objetivando
a adesão à terapêutica.
A atenção domiciliária à saúde constitui a modalidade de cuidado prestada
no domicílio e engloba o atendimento, a visita e a internação domiciliares. Neste estudo,
acompanhou-se o atendimento domiciliário baseado na interação do enfermeiro com o
cuidador familiar, instrumentalizado pela visita domiciliária.
O fazer do enfermeiro no domicílio exige do profissional a capacidade de
desenvolver interações com a família, pois é fundamental a preocupação não apenas
com o ser enfermo, mas também com os recursos disponíveis na casa, as condições de
higiene e de segurança e os fatores econômicos, espirituais e culturais da família
(GIACOMOZZI; LACERDA, 2006).
Para Lacerda e Oliniski (2003), o trabalho do enfermeiro no contexto
domiciliar consiste em cuidar, ajudar a cuidar, orientar e encaminhar. Os seus
conhecimentos e o vivenciar das situações possibilitam-lhe saber como agir. Não há
como prever uma rotina de atendimento pela dinâmica de cada domicílio. Exige-se do
profissional capacidade de readaptação constante, criatividade e atitude interdisciplinar
(PASKULIN; DIAS, 2002).
O domicílio deve ser percebido pelo enfermeiro como um ambiente ímpar a
oferecer a oportunidade de constatar o modo como as pessoas enfrentam uma situação
de desestruturação em seu seio familiar. Além disso, o enfermeiro deve ater-se aos
problemas oriundos do fato de se haver um indivíduo dependente de cuidados contínuos
em uma família.
Em virtude da importância da continuidade dos cuidados extra-hospitalares
em algumas situações, a família é chamada a responsabilizar-se pelo seu ente enfermo.
20
Nessa perspectiva, o cuidado de enfermagem ocorre a partir do encontro do profissional
com os familiares cuidadores.
Nessa relação, deve-se fazer presente um espaço de educação, no qual a
assistência seja feita por meio de um trabalho educativo instrumentalizado por saberes e
técnicas que visem à proximidade física, à criatividade, ao respeito pelos costumes e
culturas e ao preparo da família para assumir os cuidados com a saúde do ser enfermo.
O cuidado de enfermagem no domicílio, portanto, apresenta desafios para a
profissão. A clínica voltada ao ser humano e às suas subjetividades implica a
necessidade da formação de enfermeiros que incorporem à sua prática saberes que
valorizem as necessidades das famílias no enfrentamento de doenças e busquem a
capacitação destas para a promoção de sua saúde.
21
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
3.1 A perspectiva teórica do Interacionismo Simbólico
O termo interacionismo simbólico é usado como denominação para uma
abordagem relativamente descritiva do estudo do grupo e da vida humana. Alguns
autores destacaram-se por utilizar essa abordagem ou por contribuir para a sua
fundamentação, dentre eles, o mais destacado foi George Herbert Mead (1863-1931).
A obra interacionista de Mead é póstuma e foi organizada a partir de suas
aulas e manuscritos. Ele é considerado o fundador da teoria e, dentre os seus mais
importantes livros, está Mind, Self and Society (1934). A obra explora a relação
complexa entre o indivíduo e a sociedade e aborda o processo de comportamento da
mente humana.
O período que antecedeu a publicação da mais importante obra de Mead foi
conhecido como período “meadino” e nele se desenvolveram as mais importantes idéias
da teoria. À época, os interacionistas estavam menos interessados em saber como as
pessoas se comunicavam, do que no impacto dessa comunicação sobre a sociedade e os
indivíduos (LITTLEJOHN, 1982).
Mead via os seres humanos e a sociedade como inseparáveis e
interdependentes. Para ele, as ações humanas devem ser explicadas em termos sociais
ou de ação, uma vez que o homem vive em sociedade e esta é constituída por indivíduos
em interação, cujas atividades ocorrem em resposta de um ao outro ou de um com o
outro (SILVA; MAMEDE, 1998).
A preocupação dos primeiros interacionistas era analisar a relação dos seres
humanos com a situação social. Sustentavam que o comportamento de uma pessoa não
podia ser estudado independentemente do contexto em que ocorria e da percepção que
ela tinha do meio ambiente.
22
Os três conceitos principais na teoria de Mead (1934) são: mente, self(eu) e
sociedade- termos encontrados no título de sua obra célebre. São categorias
relacionadas ao mesmo processo: o ato social. Para entendê-lo, é preciso conhecer a
noção básica do pensamento do Autor: o homem é um ator e não reator.
Isso significa que o homem age a partir de estímulos e sua ação depende de
percepção, atribuição de significado, repetição mental, ponderação de alternativas em
sua mente e consumação final. O ato social foi descrito por Littlejohn (1982, p.69)
como a uma relação triádica: “um gesto inicial de um indivíduo, uma resposta a esse
gesto por outro indivíduo e uma resultante do ato, a qual é percebida ou imaginada por
ambas as partes na interação”.
A fim de proporcionar melhor entendimento acerca da teoria de Mead, serão
tecidos breves comentários acerca dos conceitos postulados por ele. Para iniciar,
examina-se a sociedade. Não há nenhuma espécie de organismo vivo que possa existir
ou manter-se em completo isolamento, pois todas as espécies vivas estão ligadas por
complexas relações e interações (MEAD, 1934).
O conceito de sociedade implica em inter-relações entre membros de um
grupo, que pode ser formado por pessoas ou por animais. A diferença básica entre os
comportamentos em cada sociedade é que os animais comportam-se de forma previsível
e instintiva. Já os seres humanos sentem as ações do outro, imaginam ações futuras e
respondem às intenções do outro de forma apropriada (LITTLEJOHN, 1982).
O segundo conceito, o self(eu), relaciona-se a um processo interno de
interação do indivíduo consigo mesmo. É algo que resulta do processo de experiências e
atividades sociais, é a capacidade de respondermos a nós mesmos, situação não
vivenciada por animais inferiores. É a imagem que temos de nós mesmos e que, para ser
formada, sofre influência direta da forma como as outras pessoas nos vêem.
Para um melhor entendimento, Mead (1934) oferece uma analogia de uma
partida de beisebol, na qual cada jogador deve ver simultaneamente todos os nove
papéis e responder em conformidade com eles. Segundo Littlejohn (1982, p.70), “a
pessoa deve generalizar um papel compósito das definições dela por todos os outros”.
23
Haguette (1992, p.37) também explica o conceito:
(...) o self surge do processo de interação social no qual outras
pessoas estão definindo alguém para si mesmo (...) a pessoa deve ver-
se a si mesma ‘de fora’, ou seja, colocando-se no papel dos outros e
vendo a si própria.
O self apresenta-se como um processo dividido em duas partes distintas: o
eu-mesmo e o mim. O “eu-mesmo” é entendido como o aspecto espontâneo e impulsivo
do indivíduo, enquanto o “mim” representa o conjunto de padrões organizados
compartilhados com os outros. O eu-mesmo dá, então, propulsão ao ato e o mim
direção (JORGE, 1997).
24
Ele iniciou suas idéias com três premissas importantes:
1.o ser humano age com relação às coisas na base dos significados
que elas têm para ele;
2. o significado dessas coisas deriva, ou surge, da interação social que
alguém estabelece com seus companheiros;
3. esses significados são manipulados e modificados através de um
processo interpretativo usado pela pessoa ao tratar as coisas que ela
encontra (BLUMER, 1969, p. 4-5).
As coisas às quais Blumer se refere fazem parte do mundo das pessoas e se
dividem em objetos físicos (coisas), sociais (pessoas) e abstratos (idéias). Observa-se
também nas premissas um papel de destaque para o conceito de significado.
Acerca da importância do significado Blumer (1969, p.5) afirma:
(...) ignorar o significado das coisas em relação às quais as pessoas
agem é visto como falsificação do comportamento sob estudo.
Ultrapassar o significado em favor de fatores alegados para produzir
comportamento é considerado um esquecimento grave do papel do
significado na formação de comportamento. O significado surge do
processo de interação entre duas pessoas e é formado dentro e através
de atividades definidoras das pessoas quando interagem.
Uma das áreas em que Blumer ampliou o pensamento de Mead foram os
aspectos metodológicos da teoria. A obra daquele sustenta a importância do método
para a própria natureza do interacionismo simbólico. Blumer (1969) lidou com a teoria
interacionista não como uma doutrina filosófica, mas como uma perspectiva de ciência
social empírica. A teoria deveria fornecer conhecimento verificável da vida grupal e da
conduta humanas e seus princípios metodológicos deveriam satisfazer as exigências
fundamentais da ciência empírica.
Segundo Blumer (1969), o princípio mais básico para a ciência do
comportamento deve ser o mundo empírico. Tal mundo existe como algo disponível
para observação, estudo e análise. A realidade para a ciência empírica somente pode ser
pesquisada e verificada no mundo empírico.
Ainda para o mesmo Autor, o mundo empírico do interacionismo é o mundo
natural de vida e de conduta em grupo. Nele, localizam-se os problemas. Por exemplo,
se o pesquisador deseja estudar o uso de drogas entre adolescentes, deverá ir ao
25
encontro dos adolescentes nos locais que estes freqüentam para observar e analisar tal
uso. Sua posição metodológica é aquela que examina direto o mundo social empírico.
Para a observação direta do mundo empírico, Blumer (1969) sugere dois
estágios. A exploração é definida como a forma pela qual o pesquisador pode formar
um conhecimento estreito e abrangente de uma esfera de vida social que não lhe é
familiar. As técnicas podem incluir a observação direta e a entrevista. O segundo
estágio, a inspeção, “é um exame concentrado e intensivo” a ser realizado no contexto
da área que está sendo investigada.
A partir do esclarecimento dos conceitos e princípios metodológicos do
interacionismo simbólico, são estabelecidas relações entre a teoria e o objeto de estudo
desta pesquisa.
3.2 O objeto de estudo e a teoria interacionista
Ao ter como objetivo a compreensão da vivência dos cuidadores familiares
no processo cuidativo de pessoas incapacitadas por AVC, este estudo preocupa-se com
um nível de realidade que requer interpretação e subsídios teóricos adequados.
Optou-se pelo uso do interacionismo simbólico, considerando que a teoria
tem como objetivo compreender a causa da ação humana, transformada de maneira que
a definição dada pelo indivíduo tenha significado e, portanto, autodireção e escolhas
sobre as situações (CHARON, 1989).
A análise da aplicação da teoria e de sua integração com o cuidado realizada
por Lopes e Jorge (2005) mostrou a configuração de um referencial teórico que
possibilita o estudo sobre aspectos relacionados ao conhecimento de determinadas
situações e a avaliação de resultados em saúde, quando se parte do entendimento de que,
para sua compreensão, devem ser consideradas as relações interpessoais.
Entende-se que é necessário conhecer as percepções dos cuidadores acerca
da situação de cuidado que vivenciam, ou seja, o significado atribuído por eles ao
26
cuidado que realizam, podendo, assim, relacioná-lo com as questões culturais que
envolvem a prática cuidativa à pessoa acometida por AVC.
Silva e Mamede (1998) afirmam que os símbolos passam a ter significado
por meio da interação entre os membros de um grupo social. Partindo-se dessa
premissa, acredita-se ser possível conhecer os significados elaborados pelos cuidadores
familiares durante o processo cuidativo de um membro familiar com incapacidades, a
partir da interação com eles no cenário domiciliar.
O ambiente familiar, nesse contexto, figura como pano de fundo no qual
ocorre a construção de significados e crenças, por meio da interação dos seus membros
entre si e com o mundo.
A observação direta do “mundo da realidade” dos cuidadores, tal como
evidenciado por Blumer (1969), irá fornecer informações que só existem porque a
experiência humana ali presente lhes confere significado e importância. As relações
familiares estabelecidas irão determinar o significado real que a situação de cuidado
investigada tem para quem a realiza.
Ao estudar o comportamento humano, buscam-se os conteúdos manifestos e
não manifestos que sinalizam os valores e as crenças de um grupo ou de uma família.
Não se pode fazer inferências acerca da conduta humana sem antes conhecer o contexto
de vida das pessoas e os fatores ambientais e culturais que influenciam seu
comportamento.
Acredita-se que, para a compreensão da vivência do ser humano como
cuidador, conforme objetiva este estudo, faz-se necessário o uso de uma teoria que
estude as causas da ação humana e forneça subsídios metodológicos para que o
pesquisador alcance seu objetivo. Não se trata de tarefa fácil, porém a teoria
interacionista trata a questão de forma clara e propõe caminhos a serem percorridos a
fim de que a investigação seja bem sucedida.
Esta análise, portanto, buscou associar as experiências observadas e relatadas
pelos cuidadores aos significados construídos a partir da interação social com seus
27
membros familiares para o enfrentamento da doença, fato que proporcionou a
construção de estratégias voltadas para a promoção de um relacionamento mais
humanizado entre o profissional de saúde e a clientela.
28
4 PERCURSO METODOLÓGICO
4.1 Natureza do Estudo
Esta pesquisa é de natureza qualitativa e trabalhou com significados não
passíveis de quantificação. Correspondeu ao estudo do espaço profundo de relações e de
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO,
2001).
4.2 Contextos de investigação
4.2.1 O Programa de Assistência Domiciliária (PAD)
O PAD no qual se desenvolveu o estudo pertence a um hospital público
terciário do município de Fortaleza/CE, e a implantação desse programa sucedeu a
elaboração de um projeto da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, o qual previa o
funcionamento do serviço nos hospitais da rede pública. Sua implantação data de
novembro de 1999, sendo credenciado pelo Ministério da Saúde em março de 1998,
pela Portaria ministerial n.º 2.416.
Atualmente, o grande desafio enfrentado pelo programa diz respeito à sua
regulamentação. O que existe de concreto é o seu regimento interno, datado de 2005.
Esse documento fora encaminhado à direção do hospital, no mesmo ano de sua
elaboração, porém, até o momento, não foi regulamentado.
A equipe do PAD elaborou em 2007 uma proposta para um novo
credenciamento do serviço no Ministério da Saúde (MS), segundo a Portaria ministerial
nº 2529, de outubro de 2006, que instituiu a internação domiciliar no Sistema Único de
Saúde (SUS). Caso haja aprovação da nova proposta de credenciamento pelo MS, o
PAD irá receber verbas para sua estrutura física, tais como para a compra de móveis e
de computadores. A informatização dos prontuários ainda não é uma realidade no
programa. Além disso, parte da verba liberada poderá ser utilizada para o pagamento de
29
profissionais especializados que não compõem a equipe e que, eventualmente, são
necessários para avaliar os pacientes, por exemplo, psicólogos, fonoaudiólogos e
neurologistas.
Dentre os programas de assistência domiciliar (PAD’s) existentes na rede
pública do estado do Ceará, optou-se por esse serviço, pois funciona em um hospital
que conta com vários leitos de terapia intensiva, ocupados, em sua maioria, por
pacientes vitimados pelo AVC. Alguns desses pacientes, após a alta hospitalar, podem
ter a continuidade do tratamento em seus domicílios, sob os cuidados da equipe do
PAD, com visitas programadas.
Os serviços oferecidos à comunidade vão desde o fornecimento de material
médico-hospitalar (pacote com material para curativos e sondas de aspiração),
medicação padronizada do hospital, cama hospitalar e suporte nutricional enteral
(frascos, equipos e seringas), até a marcação de consultas especializadas, coleta de
exames laboratoriais em domicílio e capacitação de cuidadores domiciliares leigos para
prestar assistência à saúde na residência. A equipe é composta pelos seguintes
profissionais: coordenador médico, coordenador técnico (enfermeiro), médico e
enfermeiro visitadores, assistente social, fisioterapeuta e nutricionista. Há ainda uma
equipe de apoio composta por secretária e motorista.
A rotina de trabalho no programa é organizada de segunda a sexta-feira, em
horário comercial. As visitas domiciliárias são agendadas para os dias de terça, quarta e
quinta-feira, no período da manhã. As famílias são comunicadas das visitas com
antecedência pela enfermeira e podem se deslocar até o serviço para obter material
médico-hospitalar para o cuidado em domicílio. Em caso de dúvidas ou intercorrências,
o cuidador é orientado a comunicar-se com a coordenação do PAD nos dias úteis. Em
casos urgentes, o paciente deverá ser levado ao serviço de emergência mais próximo de
sua residência ou à emergência do hospital no qual funciona o programa.
Nos finais de semana e feriados, funciona um sistema de sobreaviso para
liberação de atestados de óbitos após a comunicação do médico do PAD pelo programa
social da emergência do hospital.
30
Para a inclusão dos pacientes no PAD são estabelecidos alguns critérios, que
serão descritos a seguir e constam no regimento interno do programa. São eles:
internação atual com duração mínima de quatro dias no hospital; avaliação do médico
assistente e solicitação específica em formulário próprio; avaliação do enfermeiro
baseada nas observações feitas durante o contato com o paciente e sua família; anuência
do paciente e/ou responsável registrada em documento específico; existência de
cuidador; condições de infra-estrutura física no domicílio, segundo registro de avaliação
do assistente social; renda mínima familiar de um salário mínimo; condição clínica do
paciente; moradia na área de abrangência da Unidade de Saúde, no município de
Fortaleza; apresentação de cadastro de pessoa física (CPF) e cartão saúde e idade
mínima de 17 anos.
A fim de que os pacientes recebam alta ou desligamento do PAD devem ser
obedecidos os seguintes critérios, também descritos no regimento interno: alteração da
condição clínica do paciente (recuperação por cura total ou parcial; possibilidade de
deslocamento do paciente até a unidade de saúde), ausência de condições domiciliares
mínimas para a continuidade da assistência domiciliar, descumprimento persistente das
orientações da equipe do PAD, opção do paciente ou da família por prescrições ou
orientações de profissionais externos, contrárias às da equipe, e óbito.
Uma vez cadastrados, os pacientes contam com o apoio da equipe
multidisciplinar, que orienta os cuidadores familiares a participarem diretamente do
processo de reabilitação. Os cuidadores são inseridos nas dinâmicas das atividades
educacionais da equipe e participam efetivamente das atividades desenvolvidas no
domicílio.
Realiza-se anualmente um encontro entre a equipe do PAD e os cuidadores
com a finalidade de apoiá-los quando estão iniciando o cuidado domiciliar. São
oferecidos treinamento e capacitação para a realização de procedimentos, tais como
troca de curativos simples, higiene, alimentação, mobilização do paciente no leito,
prevenção de úlceras por pressão, aspiração traqueobrônquica, limpeza das cânulas do
traqueóstomo e cuidados com as sondas enterais e vesicais. Participam também desses
encontros os cuidadores que já assumem os cuidados há algum tempo como tentativa de
reforçar as orientações realizadas quando da admissão do paciente no programa.
31
4.2.2 O Contexto Domiciliar
O contexto domiciliar constitui-se como um dos espaços nos quais são
desenvolvidas as atividades da equipe do PAD. O programa objetiva prestar assistência
e vigilância à saúde nesse contexto e, com vistas a isso, direciona ações e práticas de
saúde para o acompanhamento e a visitação domiciliários.
O estudo tem como segundo campo de investigação o domicílio, ambiente
no qual são construídos valores e significados que irão influenciar a formação pessoal
dos membros do grupo familiar e determinar suas ações e enfrentamentos diante das
mais diversas situações de vida.
No domicílio foi possível a observação das práticas de cuidado
desenvolvidas pelos cuidadores, as características das famílias, seus hábitos e distintos
modos de cuidar. O planejamento dos cuidados dos profissionais do programa baseou-
se nas características de cada família, ao considerar o grau de instrução dos membros e
as condições financeiras disponíveis para os gastos com o tratamento.
Por isso, para atuar no ambiente domiciliar, os profissionais precisam dispor,
além de seus conhecimentos científicos, de habilidades comunicacionais e relacionais,
visto que irão conviver e interagir com o paciente e seus familiares. E cada grupo
familiar possui mundos de vida, complexidades e necessidades específicas.
Os domicílios visitados pertenciam aos seguintes bairros da periferia da
cidade de Fortaleza/CE: Bela Vista, João XXIII, Messejana, Cajazeiras, Barroso, Praia
do Futuro, Luciano Cavalcante e Mondubim. O acesso aos domicílios pelo transporte
público coletivo foi difícil. As linhas dos ônibus não chegavam até as casas, o que
tornava necessário caminhar do ponto de parada do transporte até as residências. Esse
percurso gerava insegurança, uma vez que as ruas eram estreitas, com esgoto a céu
aberto e, em alguns casos, sem transeuntes.
32
Essa foi uma dificuldade enfrentada na coleta de dados, ocorrida no período
de maio a setembro de 2007. Nos quatro últimos meses de coleta, foram feitas nove
visitas domiciliárias pela pesquisadora sem a companhia da equipe do PAD. Nesse
período, a distância e os índices de violência dos bairros a serem visitados causaram
temor, principalmente porque o deslocamento até os domicílios deu-se por meio do
transporte público que, como já mencionado, não faz o trajeto até as casas, implicando
em caminhada pelas ruas do bairro.
A partir dessa observação, pontua-se que os cuidadores e suas famílias
encontram dificuldades para seus deslocamentos, já que também utilizam o sistema
público de transporte. O percurso até o hospital é feito a cada mês pelos cuidadores para
a obtenção de material médico-hospitalar e de vale-transporte a fim de auxiliar nas
despesas com o deslocamento. Segundo informões do PAD, a perda desses benefícios
pelas famílias, quando o paciente é desligado do programa, representa um importante
motivo para os familiares tentarem prorrogar o período de permanência do paciente no
serviço.
Dois dos domicílios visitados situavam-se em condomínios populares,
distan725 an795.5003ez o táfegoe éiantnsço.Oos d(m)8.7(a)-0.3oisegrams casaa de Dois a ian
aois visita500.3(o)03(es, )]TJ189915 -1.725 TD0.0001 Tc-0.0063 Tw[ obseroua-se qué os domicíliospo
habsitaias porfcamíliao de têis a nov emebrdso.As emis
eresas comnha
baxdonívelo deianstrunçãoasem ocupvação, principalmenteosá m(s)-543( )]TJ-17935 -1.725 TD0.0053 Tc-0.0545 Tw(jnovns. , )Tj/TT4 81 fc0 -1.325 TD0 Tc0 Tw( )Tj02 -1.725 TD0.0003 Tc-0.0003 Tw[4.3.Oos cuioadoresadosrina pacita5oee porAVC( )]TJ/TT2 81 fc0 -1.125 TD0 Tc0 Tw( )Tj-4.49 -1.725 TD0.0002 Tc0.7983 Tw[OsA partncipnocofnfofamslencionados
eeaoa porAVC(de era, rcebindo(em)7.9( sus esidnênci,( )]TJ-17852 -1.725 TD0.0007 Tc009383 Tw[ão f)3.7(a))5.5(m)8.5xiliarrina pacita.5007(ohás pell m)8.5eéntriamdores mo
33
A seleção do número de participantes do estudo foi definida a partir da
observação do fluxo de pacientes no PAD a cada mês, seguindo-se os critérios de
inclusão estabelecidos. No primeiro mês de coleta, maio, foi realizado um levantamento
da quantidade de pacientes cadastrados e sobre quantos de seus cuidadores poderiam
participar da pesquisa.
Naquele mês, havia 27 pacientes cadastrados e apenas 13 de seus cuidadores
atendiam aos critérios de seleção. No mês seguinte, junho, realizaram-se as três
primeiras entrevistas. A partir de então, foram entrevistados dois cuidadores no mês de
julho, um em agosto e três em setembro. A partir da leitura e da análise dos conteúdos
das entrevistas realizadas até setembro, percebeu-se que temas comuns começaram a
aparecer nos achados.
Esse fenômeno é descrito por Gaskell (2002) como saturação teórica.
Segundo o Autor, a partir do momento em que o pesquisador percebe que temas comuns
começam a aparecer e, em determinado momento, vê que novas percepções não
aparecerão, sente que é o momento de parar as entrevistas. Dessa forma, as entrevistas
foram encerradas com o nono cuidador, ao se perceber que o material coletado atingira
os objetivos propostos pelo estudo.
Os participantes foram identificados pela letra E, seguida pelo número
correspondente à seqüência das entrevistas.
4.4 Instrumentos e procedimentos para a coleta dos dados
Para a coleta dos dados, foram utilizados os princípios metodológicos de
Blumer (1969). A seguir, será descrita a forma como estes foram adotados na presente
investigação:
1º princípio: O pesquisador deve fazer uso de algum quadro prévio de referência ou
esquema do mundo empírico em estudo.
34
Sob esse aspecto, o estudo contemplou a leitura e o fichamento de textos
pertinentes aos assuntos atingidos pelo objetivo. Esse momento desenvolveu-se durante
todo o trabalho e auxiliou o pesquisador a refletir e a analisar de forma consistente e
aprofundada os dados coletados.
2º princípio: O pesquisador deve elaborar interrogações sobre o mundo empírico em
estudo, sendo esses os problemas que nortearão o estudo.
Aqui se destacam as questões norteadoras do estudo. São os elementos que
inquietam o investigador. A partir desses questionamentos, o pesquisador iniciou suas
leituras e direcionou seu olhar para um dado objetivo.
3º princípio: O pesquisador deve determinar os dados a serem coletados e os meios
pelos quais os dados serão coletados, sendo que os meios utilizados
dependerão da natureza dos dados.
O pesquisador, nesse momento, apresentou o objetivo do estudo, a finalidade
da investigação. Para o seu alcance, foi determinante a escolha das técnicas e dos
instrumentos de coleta dos dados.
Nesse estudo, destacam-se como técnicas a observação livre e participante e
a entrevista semi-estruturada.
Para a entrevista, utilizou-se um instrumento aplicado no domicílio contendo
questões pré-determinadas sobre as características pessoais dos sujeitos do estudo e
questões abertas sobre suas impressões acerca do cuidado que realizam (Apêndice 3).
Para a observação participante, seguiu-se um roteiro, utilizado no PAD (Apêndice 2), e
anotações resultantes da observação livre no domicílio, registradas em diário de campo.
A entrevista semi-estruturada apreende dados descritivos na linguagem do
próprio sujeito, fornece elementos essenciais à compreensão das relações entre os atores
e uma dada situação e objetiva a compreensão detalhada das crenças, atitudes e
motivações das pessoas em contextos sociais específicos (BOGDAN; BIKLEN, 1994;
GASKELL, 2002).
35
A observação complementa o seguimento da entrevista, uma vez que permite
captar expressões e movimentos não ditos, mas são bastante significativos no processo
de investigação. É um dos componentes do trabalho de campo, quando o sujeito
entrevistado deverá ter seu comportamento global “capturado” pelo entrevistador, em
particular a comunicação ou linguagem não-verbal do informante (TURATO, 2003).
A técnica da observação permite a aproximação com o mundo empírico, tal
como definido por Blumer (1969). O pesquisador necessita aproximar-se do ‘mundo
natural de vida’ no qual o fenômeno que se pretende investigar torna-se evidente e
espontâneo.
As sessões de observação no PAD e nos domicílios ocorreram no período de
maio a setembro de 2007, no período da manhã e da tarde. Foram quatorze sessões de
observação no PAD, totalizando 1845 minutos. O conteúdo observado foi registrado em
diário de campo. As anotações continham a data, o horário de início e de término e o
local em que foram realizadas. Da mesma forma, foram registradas as observações
realizadas nos domicílios, correspondendo a dez sessões, com um tempo total de 605
minutos.
A partir do que fora observado no PAD, foi possível conhecer seus
profissionais, os recursos materiais de que dispunha, os mecanismos de eleição dos
pacientes para o cadastro no serviço, os cuidados e as orientações disponibilizados aos
pacientes e suas famílias, o processo de interação e de capacitação dos cuidadores pelos
profissionais e a organização da equipe para a realização das visitas domiciliárias.
As observações realizadas em domicílio foram obtidas de duas formas
distintas. Uma delas corresponde ao período em que a pesquisadora acompanhou a
equipe do programa durante as visitas domiciliárias, atuando como observadora. Esse
momento ocorreu no primeiro mês de coleta. A segunda forma corresponde ao período
em que as visitas ao domicílio foram realizadas com o objetivo de entrevistar o cuidador
e de observar sua rotina, sem a presença da equipe do PAD. Momento da coleta que
ocorreu nos quatro meses seguintes.
36
As visitas foram agendadas de acordo com a disponibilidade do cuidador.
Em dois dias de visitas, a observação foi realizada com a equipe do programa. Nesse
período, foi observada a interação dos profissionais com seis famílias distintas. Em duas
dessas famílias, os cuidadores atendiam aos critérios de inclusão da pesquisa e foram
convidados a participar dela. Um deles não concordou.
As oito sessões de observação em domicílio que se seguiram permitiram as
entrevistas e a interação da pesquisadora com o cuidador. Os cuidadores foram
selecionados de acordo com os critérios já referidos e totalizaram nove sujeitos. As
visitas ao domicílio foram realizadas da seguinte forma: uma visita agendada com a
cuidadora por telefone após interação no domicílio, em visita realizada com a equipe do
PAD; duas visitas agendadas após interação com os cuidadores no hospital; duas visitas
agendadas por telefone sem contato prévio com o cuidador, por intermédio da
enfermeira, coordenadora do PAD, e uma visita agendada por telefone pela
pesquisadora sem contato prévio com o cuidador.
4º princípio: O pesquisador precisa determinar padrões de relações entre os dados
coletados.
Nesse momento do estudo, foram realizadas leituras exaustivas do material
coletado e foram observadas as congruências e as divergências entre os dados. A
resultante desse processo foi a elaboração de temáticas que reúnem os núcleos de sentido
emergidos das falas.
5º princípio: O pesquisador realiza a interpretação dos resultados obtidos a partir do
referencial teórico. Aqui, se o referencial utilizado for falso, as
interpretações também o serão.
Após a leitura e a organização dos resultados, utilizou-se o referencial
teórico do interacionismo simbólico para a fase de interpretação. Os depoimentos foram
então interpretados a partir dos conceitos da teoria e da literatura específica pertinente.
37
6º princípio: Finalmente, o pesquisador deve conceituar o que foi descoberto.
Nesse momento foram estabelecidas as contribuições da pesquisa. O que foi
descoberto? O que o estudo ofereceu de novo? Situam-se, nessa fase, os significados
trazidos pelos cuidadores em seus relatos ao cuidado realizado, as mudanças ocorridas
em suas vidas após o evento e como essas descobertas podem contribuir para orientar a
elaboração de novas práticas de cuidado.
4.5 Análise dos dados
A compreensão dos significados apresentados nos depoimentos pautou-se na
análise das premissas básicas do interacionismo simbólico, anteriormente descritas. A
teoria forneceu conceitos (sociedade, eu/self e mente) e princípios metodológicos
essenciais à compreensão da vivência dos cuidadores do estudo e sua aplicação ocorreu
nas discussões dos resultados obtidos.
Os dados obtidos a partir das entrevistas semi-estruturadas foram
organizados a partir da técnica de análise temática, de acordo com os pressupostos de
Bardin (1977). A técnica propõe desmembrar o texto em categorias, de acordo com
agrupamentos de unidades análogas.
A análise dos achados envolveu as seguintes etapas: a pré-análise, a análise e
o tratamento dos resultados e interpretação.
A pré-análise compreendeu a organização, a leitura flutuante e a preparação
do material a ser analisado durante a pesquisa. Nesse momento definiu-se o corpus do
trabalho. A análise correspondeu ao período de exploração do material para a aplicação
da análise temática. Aqui se concentraram as fases de recorte do corpus, categorização e
descrição das categorias. A fase de tratamento dos resultados e de interpretação consistiu
nas inferências feitas sobre os achados, sua interpretação diante dos objetivos propostos.
O tema resultante do processo de análise foi: A vivência do cuidador
familiar, com as seguintes categorias temáticas: a caracterização dos cuidadores, por
38
que eu cuido?, percebendo o familiar vitimado pelo AVC, as atividades diárias dos
cuidadores, percebendo-se cuidador e as transformações na vida do cuidadores.
4.6 Aspectos éticos e legais
Quanto às questões éticas e legais, foram obedecidas as Diretrizes e Normas
Reguladoras de Pesquisa envolvendo seres humanos, contidas na Resolução 196, de 10
de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital em
que a pesquisa foi desenvolvida. Após sua devida aprovação, os sujeitos da pesquisa
foram informados da realização do trabalho por meio de termo de consentimento livre e
esclarecido (Apêndice 1), o qual garantiu a participação voluntária na pesquisa, o
anonimato e o consentimento para divulgação dos resultados obtidos.
A pesquisa recebeu financiamento da Fundação Cearense de Apoio à
Pesquisa (FUNCAP), fato que implica na realização de um estudo consistente e
relevante, pois proporciona uma reflexão sobre a prática clínica do enfermeiro e sugere
a ampliação desta, defendendo a participação dos sujeitos na produção social da saúde.
39
5 A VIVÊNCIA DOS CUIDADORES FAMILIARES
5.1 A caracterização dos Cuidadores
Participaram do estudo 09 cuidadores familiares, sete do sexo feminino e
dois do sexo masculino, com idades compreendidas entre 35 e 60 anos. Tratavam-se de
filha/o (07), esposa (01) e genro (01) dos seres cuidados.
Quatro (04) cuidadores eram casados, 04 solteiros e 01 viúvo. A renda
relatada por eles dividiu-se em <1 salário mínimo (01 cuidador), entre 1 e 2 salários
mínimos (04 cuidadores) e 2 salários mínimos ou mais (03 cuidadores). Apenas um
cuidador afirmou não possuir renda.
O nível de instrução dos cuidadores variou da seguinte forma: 02 não
concluíram o ensino fundamental, 02 possuíam ensino fundamental completo, 04
concluíram o ensino médio e 01 cuidador concluiu o ensino superior.
O tempo de cuidado dos familiares com AVC no domicílio variou de 07
meses a 05 anos. Considerou-se o tempo de cuidado importante, pois para que a
investigação da prática do cuidador fosse consistente, este deveria tê-la vivenciado por
um período considerado suficiente para a elaboração de estratégias e de modos de
cuidado, derivados da interação com os profissionais da equipe e com os próprios
familiares incapacitados.
O grupo de cuidadores familiares investigados constituiu-se por pessoas com
características sociodemográficas similares. A função de cuidador, na maior parte dos
casos, foi assumida por mulheres da família do vitimado por AVC. Esse achado
confirma as informações apresentadas na literatura acerca dessa temática.
Entre os nove cuidadores, apenas dois eram homens. A presença da mulher
como provedora de cuidados apresentou-se como se esse papel fosse feminino
40
essencialmente. A associação entre a mulher e o cuidado foi evidenciada mesmo nos
domicílios nos quais os cuidadores mais próximos do familiar com AVC eram homens.
Nesses casos os homens contavam com o apoio de outros membros da
família, geralmente do sexo feminino. Compreende-se que essa questão pede um estudo
mais específico para o esclarecimento maior acerca de como atua o cuidador do sexo
masculino e se há diferenciais na sua prática de cuidar.
À mulher associa-se, cultural e socialmente, a responsabilidade pelo cuidado
das crianças, dos maridos e dos parentes. Esse cuidado relaciona-se às atividades
rotineiras, como cozinhar, lavar as roupas e cuidar da casa. Pontua-se, portanto, que à
mulher são associadas tarefas relativas ao fazer doméstico, inerentes à rotina de cada dia
(GALASTRO; FONSECA, 2006).
Esse perfil de atividades atribuídas à mulher foi identificado entre os
cuidadores. Eles manifestaram a assunção de tarefas que iam desde o cuidado com a
saúde física do familiar até a realização de atividades de cuidado com a casa. Essa rotina
era relatada como trabalhosa, difícil e geradora de grande cansaço físico. O relato das
tarefas cotidianas fora acompanhado por momentos de silêncio, pressa, preocupação e
exaustão.
Era comum observar o acúmulo de tarefas pelas mulheres, principalmente
aquelas que possuíam filhos. O desejo de ser ajudada, ou seja, de ter com quem dividir
as tarefas era explícito. Apesar disso, as cuidadoras mostraram-se passivas e pouco
contestadoras acerca de sua situação.
Nenhuma delas esboçou atitudes que pudessem ajudá-las a ter mais tempo
livre para si mesmas. Suas vidas encerravam-se dentro dos domicílios, junto aos
familiares. A falta de perspectivas para a própria vida sinalizou para a necessidade de
apoio a essas mulheres.
Destacam-se aquelas cujos projetos de vida foram suspensos diante da
necessidade de assumir os cuidados com as mães que desenvolveram algum grau de
incapacidade após o AVC. Eram três mulheres solteiras, com idades compreendidas
41
entre 35 e 44 anos. Uma delas demonstrou dificuldades para adaptar-se à sua nova
condição, já que abandonou o emprego e fazia referências ao fato de que deixou de
realizar o trabalho intelectual de professora para assumir tarefas de ordem doméstica.
Foi percebido em sua fala o significado do trabalho para a sua vida. A
cuidadora definia-se como pessoa ativa, pois creditava sua atividade intelectual e os
cuidados com a mãe ao trabalho. Afirmava que, para se tornar cuidadora, enfrentava a
situação como o aprendizado de uma nova profissão.
As outras duas cuidadoras solteiras mantinham suas perspectivas de vida na
recuperação do familiar. Não falavam no futuro com possibilidades de crescimento e de
desenvolvimento para elas. Sequer conseguiam imaginar-se vivendo sem ter a mãe ou o
pai para cuidar. A idéia da perda do familiar parecia distante para elas, e, em seus
depoimentos, deixavam clara a naturalidade com a qual desempenhavam seus cuidados
de filhas.
Acerca do grau de parentesco dos cuidadores, os resultados da pesquisa
corroboram os achados extraídos da literatura. Em obediência às normas e padrões
socioculturais e pela proximidade afetiva e física, os elementos familiares que mais
assumem o papel de cuidador são, hierarquicamente, as esposas, as filhas mais velhas e
a filha solteira ou viúva (DIOGO; CEOLIM; CINTRA, 2005).
Explicitando o que foi afirmado anteriormente, destacam-se uma esposa, seis
filhas, um filho e um genro como os cuidadores do estudo. Percebe-se um número
maior de filhos (as) provendo o cuidado, sendo quatro solteiros e uma viúva. Os
familiares vitimados pelo AVC cuidados pelas filhos (as) eram mulheres cujos cônjuges
encontravam-se em uma das situações: eram idosos, moravam em outro município ou já
haviam falecido. Apenas em dois domicílios, os seres cuidados eram do sexo masculino.
Um deles era cuidado pela esposa e o outro, pela filha.
Das três cuidadoras casadas, duas responsabilizavam-se pelos cuidados com
a mãe e a outra com o marido. Os cuidadores recebiam apoio, em maior ou menor
intensidade, de outros membros femininos da família, como irmãs, sobrinhas, filhas e
esposa.
42
5.2 Por que eu cuido?
Responder a essa questão consiste em revelar sentimentos e motivos
verbalizados pelos cuidadores acerca do cuidado de seu familiar. Foi percebida a
subjetividade implícita nos depoimentos, principalmente quando esses estavam
direcionados para a narração de como cada participante tornara-se cuidador.
Inicialmente aparecem como grandes motivos para a assunção de tarefas de
cuidado os papéis do pai e da mãe dentro do grupo social. Para os cuidadores cujos pais
eram os elementos da família que estavam doentes, realizar atividades de cuidado
determinava-se por uma composição de sentimentos, dentre os quais a obrigação e o
amor.
O sentimento de obrigação de cuidar da mãe e/ou do pai revelou-se nos
seguintes depoimentos:
É muito importante por ser minha mãe [...] é por obrigação.
(E6,E7,E9)
[...] por livre e espontânea vontade não é. Tem horas que eu me sinto
obrigada a cuidar dele. (E8)
O primeiro depoimento fundamenta-se na percepção do cuidador como filho,
pois demonstra valores acerca do seu papel social diante da figura materna. Enquanto a
mãe pode cuidar, tem saúde física e mental para isso, ela é a cuidadora, ou seja, cuida da
família e dá suporte aos filhos e ao marido.
No momento em que ela adoece, os filhos vêem-se com a obrigação de
retribuir o amor, os cuidados e tudo o que foi feito pela mãe para sua família. Nesse
momento, os cuidadores amparam suas falas no dever sociocultural de cuidar da mãe
(LAVINSKY; VIEIRA, 2004).
No segundo depoimento, observou-se o sentimento de obrigação de uma
filha ao cuidar do pai. A doença paterna representa para a cuidadora ter que cuidar do
43
familiar, mesmo sem vontade. Tratava-se de uma mulher solteira que desejava mais
tempo livre para si, porém, diante da obediência às normas sociais, ela anulava seus
planos de vida para dedicar-se ao cuidado do pai em tempo integral.
A figura materna é tão presente no imaginário dos cuidadores que um deles
faz o seguinte desabafo:
[...] já que eu não tenho mãe eu cuido dela. (E2)
Com toda a dificuldade que demonstra no cuidado de sua sogra, observada
no domicílio, ele se esforça para que ela receba a atenção de um filho. O cuidador
relatou que sua esposa trabalha e como ele estava desempregado, responsabilizava-se
integralmente pelos cuidados com a sogra.
Em seu domicílio, o cuidador também dava suporte às suas filhas, ainda
menores de idade. Essa nova configuração familiar, na qual o pai fica em casa e assume
as tarefas atribuídas socioculturalmente à figura feminina, reflete a entrada da mulher no
mercado de trabalho. São casos isolados, pouco corriqueiros, mas retratam as mudanças
na estrutura e na organização das famílias contemporâneas, fato retratado em estudo
nacional relacionado à assistência domiciliária ao idoso (KAWASAKI; DIOGO, 2001).
Um segundo fator relatado pelos cuidadores como motivador para assumir o
cuidar também se relaciona com aspectos culturais: o cuidado do marido pela esposa.
Além da questão de gênero, está implícita nesse caso a idéia, mais uma vez, do papel
que cada indivíduo desempenha dentro de um grupo social.
As concepções de sociedade, status ou papel referem-se às relações das
pessoas umas com as outras. Blumer (1969) traz em sua obra que qualquer sociedade
humana é composta por pessoas que se engajam, que interagem entre si. Nesse
movimento interacionista, cada pessoa representa um papel que envolve normas e
valores sociais.
44
Dessa forma, ser esposa, dentro de qualquer sociedade, tem um significado
ou uma representação. A mulher, no caso dado, assume a tarefa de cuidar do marido
como um compromisso. Eis o seu depoimento:
[...] é minha obrigação. Nem que a gente num goste [...] além dele ser
pai dos meus filhos. Tem que cuidar [...] (E4)
Nessa situação a mulher demonstra não só o próprio papel dentro do grupo,
mas também o do marido. Ele é o pai dos filhos dela, portanto, há uma regra social que
deve ser cumprida. Ele tem que ser cuidado, pois pertence ao seu grupo familiar e
representa o pai, aquele que gera e oferece subsídios para a sobrevivência dos filhos.
Além dos papéis de prestígio dos pais dentro das famílias, outro aspecto
usado pelos familiares para responder ao questionamento “por que eu cuido?”, foi a sua
situação familiar. Quando se discutiu no tópico anterior acerca dos elementos familiares
que mais assumiam os cuidados, as filhas solteiras, mais velhas e viúvas, segundo a
literatura, apareceram em destaque.
Neste estudo não foi diferente. A responsabilização pelo familiar
incapacitado também significou para duas participantes a ausência de outra filha nas
mesmas condições que elas. Eis os seus depoimentos:
[...] Porque não tem ninguém. Tem filha, mas não vem. Filho vem,
olha assim, a nora vem olha, pronto. Só pra olhar mesmo, porque pra
cuidar [...] sou só eu mesmo. (E3)
[...] Além de eu ser filha dele, tô praticando uma caridade. [...] não
posso abandonar, não tem quem cuide dele, não tem quem queira [...]
(E8)
O primeiro depoimento é de uma cuidadora casada, filha mais velha do
familiar com AVC, cujos filhos já eram adultos e, segundo ela, com recursos
financeiros para abrigar a mãe em sua casa. Ela se queixava da falta de apoio dos irmãos
para cuidar e relatava que a mãe vivia em um município do interior do estado do Ceará.
Para a cuidadora, manter a mãe em Fortaleza trazia menos transtornos financeiros para a
família, uma vez que não precisava gastar com transporte. Apesar disso,
45
sobrecarregava-se com os cuidados, já que os outros familiares vinham à sua casa
apenas fazer-lhes visitas periódicas.
Já a cuidadora do segundo depoimento exerce esse papel por falta de outra
pessoa que possa fazê-lo. Ela é solteira e não tem filhos. Em virtude de ter que cuidar
em tempo integral do pai, não exerce atividades fora do domicílio e, portanto, não tem
renda própria. Em seu depoimento, demonstrou muita amargura e desejo de que sua
vida passasse por transformações.
Não ser casada implica em responsabilização direta pelo familiar para as
filhas. Os irmãos recebem o indulto de possuir filhos ainda pequenos e de ter que
trabalhar fora de casa para suprir as necessidades da família. Em mais um caso, as
instituições ou normas sociais vêm ditar a conduta humana.
Apenas para duas cuidadoras o sentimento de amor pelo familiar foi relatado
como o maior impulsionador para que elas fossem as responsáveis pelo cuidado. Eis os
seus depoimentos:
Porque eu amo, porque eu gosto, porque eu quero que ela fique bem.
(E1)
[...] sempre que eu tô dando o banho dela eu digo que ela é o amor da
minha vida [...] Eu sabia que no fim da vida dela eu tinha que tá ao
lado dela [...] (E9).
O sentimento de amor pela mãe, nos dois relatos, remete aos laços que são
construídos dentro de uma família. Eles explicam o desejo dos familiares nos domicílios
visitados de estar próximos e de se cuidar mutuamente. O amor que sentem uns pelos
outros transformou a situação de adoecimento em oportunidade de aprendizado para a
família.
Estudos demonstram que o afeto entre o sujeito que cuida e o familiar é
essencial, porém não garante a competência para o cuidado. Apenas a experiência do
cuidador, principalmente daquele sem formação específica na área, não é suficiente para
um cuidado efetivo. Dessa forma, fica explícita a necessidade de apoio e de orientação
46
aos familiares que cuidam com amor e assim tornam possível a recuperação e o
tratamento de seus parentes no domicílio (KAWASAKI; DIOGO, 2001).
Como foi discutido, os motivos que movem um familiar cuidador são
variados e resultam de uma multiplicidade de fatores. Os sentimentos de amor e de
gratidão e os aspectos culturais denunciados pelos cuidadores demonstraram que o
cuidado envolve conteúdos subjetivos, inerentes à pessoa, e externos, agenciados por
instâncias pertencentes ao mundo exterior, que transcendem ao sujeito.
5.3 Percebendo o familiar vitimado pelo AVC
Nessa categoria são apresentadas as impressões relatadas pelos cuidadores
acerca das incapacidades geradas pela doença nos seus familiares. Concomitantemente,
são feitos relatos acerca das condições clínicas das pessoas incapacitadas pelo AVC,
observadas pela pesquisadora.
Dentre as incapacidades relacionadas ao AVC observadas durante as visitas
domiciliárias, citam-se déficits motores e sensitivos, dificuldades na articulação da
palavra, déficit de linguagem, apraxias e agnosias, redução do nível de consciência,
hemiparesias e hemiplegias.
Os cuidadores reconheciam essas incapacidades nos familiares e ainda
associavam a elas distúrbios decorrentes da necessidade de cuidados contínuos com o
familiar. Dentre esses distúrbios, destacam-se o aparecimento de problemas de pele, em
virtude da imobilidade no leito, como as úlceras por pressão, as deficiências nutricionais
nos pacientes com gastrostomias, a broncoaspiração nos familiares com infecções
respiratórias associadas e, o mais marcante para os cuidadores, a dependência completa
e/ou parcial gerada pela perda de contato com a realidade, para aqueles pacientes
adinâmicos e pouco responsivos aos estímulos sonoros e visuais.
47
Para exemplificar esse cenário, apresenta-se o seguinte depoimento:
[...] na minha concepção a minha mãe ia melhorar, ia ficar como ela
era [...] ela não era doente. Ela só tinha as limitações dela [...] doente
ela é agora que não dá conta de nada que acontece. (E9)
Está implícito na fala da cuidadora o seu pesar por perceber que a mãe não
se comunica mais com ela. Durante a entrevista, foi observado que a paciente estava
acamada, praticamente imóvel no leito, não esboçava nenhum tipo de comunicação,
necessitava de sessões de aspiração traqueobrônquica freqüentes e se alimentava pela
sonda de gastrostomia.
Como se pode notar, havia uma série de deficiências com as quais a
cuidadora precisou familiarizar-se para cuidar. Segundo ela, a atividade de cuidado mais
difícil de ser realizada era a aspiração traqueobrônquica. Sentia que estava agredindo ou
maltratando a mãe todas as vezes em que realizava o procedimento.
Alguns aspectos clínicos dessa paciente merecem consideração. Um deles é
a imobilidade dela no leito, uma vez que se trata de um fator gerador de várias
complicações, dentre as quais pode ser citado o comprometimento da circulação
sanguínea e, conseqüentemente, alterações na oxigenação tecidual de várias partes do
corpo. Os tecidos moles, por exemplo, sofrem quando um indivíduo, por sua condição
de imobilidade física, aplica à pele uma pressão que excede a pressão capilar normal,
resultando em lesão tecidual. Essa lesão é conhecida como úlcera por pressão ou de
decúbito, e sua prevenção depende basicamente da educação dos cuidadores para a
tomada de cuidados sistemáticos, como a hidratação da pele e a mudança de decúbito
(BAJAY; JORGE; DANTAS, 1999).
O segundo aspecto de grande relevância clínica é a condição nutricional da
paciente, fator determinante para a sua recuperação. Ao observar a cuidadora,
constatou-se que ela administrava dieta caseira para a mãe por meio da sonda de
gastrostomia. Sabe-se que o preparo e a administração desse tipo de dieta necessita de
cuidados. A adequada combinação dos alimentos é importante para o fornecimento de
uma dieta completa e equilibrada.
48
O não fornecimento de nutrição enteral industrializada pelo hospital no qual
os pacientes do PAD são atendidos gera mais responsabilidades para o cuidador. A
qualidade da dieta preparada no domicílio depende sobremaneira do seguimento das
orientações acerca de seu preparo, administração, limpeza da sonda/seringa e equipo,
armazenamento da dieta e da quantidade de alimentação a ser administrada. Essas
orientações são fornecidas principalmente pela nutricionista e enfermeira da equipe.
A preocupação dos profissionais do PAD com a orientação dos cuidadores
para a importância da obediência aos cuidados com a administração da nutrição enteral
no domicílio foi observada. Apesar disso, durante as entrevistas com alguns cuidadores,
foi verificado que duas pacientes com gastrostomia, inclusive a paciente descrita
anteriormente, apresentavam más condições nutricionais.
A segunda paciente nessa situação era cuidada por seu genro. Apesar do
esforço do cuidador, a mulher apresentava-se caquética. Assim como no caso anterior,
não esboçava nenhuma tentativa de comunicação. A dieta oferecida pela sonda também
era preparada no domicílio. Considera-se esse fato dificultador no processo de
recuperação da paciente, uma vez que até para a aquisição de alimentos a família
demonstrava dificuldades.
É inegável que, em se tratando de nutrição enteral, apenas o fornecimento de
equipos, frascos e seringas pelo hospital representa mais gastos e maior necessidade de
preparo dos cuidadores pelo PAD. O acompanhamento contínuo dos cuidados
realizados em domicílio é feito a cada visita pela equipe e sempre há correções a serem
feitas.
Outro aspecto relacionado às incapacidades advindas do AVC e relatado
pelos cuidadores foram as paralisias, ou seja, as dificuldades de deambulação dos
familiares. Eis os depoimentos que retratam essa condição:
[...] ele jamais pensava ficar deitado numa cama assim [...] (E4).
[...] de repente paralisou um lado, fica completamente imóvel,
paralisa todo, não tem movimento nenhum e a comunicação ficou
difícil [...] (E6).
49
A primeira fala refere-se à sensação da cuidadora acerca da sua percepção
quanto à imobilidade do marido no leito. Ele, por sua vez, é um dos três pacientes que
mantiveram seus níveis de consciência preservados após o AVC. Em alguns momentos,
durante a entrevista, o paciente se manifestava e se lembrava do seu período de
hospitalização.
A cuidadora relatou que para o marido a maior incapacidade trazida pelo
AVC foi a impossibilidade de continuar trabalhando. A seu modo, ela relatou que antes
da hospitalização, o marido nunca havia aceitado a ajuda de qualquer pessoa. Após a
doença, viu-se dependente das filhas e da esposa e sofreu bastante com isso. Segundo
ela, o marido passa os dias entre a cama e a cadeira de rodas e sonha com o dia em que
poderá retornar ao trabalho.
O segundo depoimento vem de um cuidador muito dedicado à mãe. Durante
a entrevista, várias demonstrações de carinho entre eles foram observadas. Ele
procurava informar-se sobre a doença da mãe para buscar realizar um cuidado mais
efetivo e recebia ajuda direta de sua irmã para isso.
Segundo o cuidador, sua mãe, antes de ser vitimada pelo AVC, apresentava
um quadro clínico de Alzheimer. Ele conhecia e relatava os sintomas da doença e os
comparava com aqueles apresentados pela mãe após o AVC. Dizia que tinha mais
facilidade para cuidar dela sem a agitação e a agressividade características da doença de
Alzheimer (D.A.). Apesar dessas manifestações, ele lembrava que a mãe, antes do
AVC, andava e falava. Isso gerava no cuidador sensações de desânimo e impotência
visíveis.
As alterações de comportamento configuram-se como um grande problema
para o portador da D.A. e sua família, pois geram muita ansiedade nos cuidadores e são
responsáveis pela institucionalização com mais freqüência do que as seqüelas cognitivas
geradas pela doença. É a forma mais comum das síndromes demenciais. Seu tratamento
objetiva a redução das perdas cognitivas e a correção das alterações de humor e de
comportamento (FERRAZ; OKAMOTO, 2006).
50
Senger (2004) em seu estudo acerca da prevenção de demências, estabelece
associações entre fatores de risco para doenças cardiovasculares e D.A. Enfatiza que o
empenho em reduzir a ocorrência de AVC também reduziria a incidência da D.A. O
trabalho de Manieri et al (2007) corrobora a idéia do primeiro ao afirmar que a doença
cerebrovascular traria maior risco para a demência do tipo Alzheimer.
Não é possível afirmar que a mãe do cuidador teria apresentado ambas as
doenças em virtude das evidências científicas apresentadas no parágrafo anterior.
Apesar disso, sabe-se que a sobreposição de doenças que representam risco para o
declínio da função cognitiva torna seu portador cada vez mais dependente, com déficits
importantes de raciocínio, memória, percepção, comunicação e de execução de
atividades da vida diária, fato que implica na necessidade da presença de um cuidador
para apoiar o indivíduo acometido pela doença (SILVEIRA; CALDAS; CARNEIRO,
2006).
Nesse momento surge a tão dolorosa e difícil dependência do familiar. Para
os cuidadores, ver que a mãe, o marido ou o pai estão acamados, com o nível de
consciência reduzido e praticamente sem contato com o mundo exterior causa angústia,
medo e necessidade de assumir um novo papel no seio da família. Nos depoimentos que
se seguem, são encontradas evidências para essa afirmação:
[...] sabia que ela tava falando, andando e de repente parar e precisar
da gente em tudo. Aí você sente, é muito difícil se acostumar[...].
(E1, E7)
[...] Troca a noite pelo dia [...] é totalmente indefesa, é uma criança
total. (E3)
Os depoimentos revelam o incômodo e a transformação na vida do cuidador
gerados pela dependência do familiar para a realização de tarefas cotidianas simples.
Para Karsch (2003), a dependência, em especial de idosos com alguma incapacidade
gerada por doença crônico-degenerativa, vem sendo mantida no âmbito familiar dos
domicílios. O suporte aos familiares que cuidam representa um grande desafio para os
profissionais e os serviços de saúde brasileiros.
51
Para habituar-se a uma nova dinâmica na vida familiar imposta pela doença
o cuidador necessita ser orientado e ter suas habilidades de cuidado potencializadas.
Além da assistência à saúde, o familiar com incapacidades requer atenção e carinho,
elementos que acabam sendo esquecidos diante do acúmulo de tarefas e de
procedimentos priorizados no início do processo de adaptação a essa nova situação.
5.4 As atividades diárias dos cuidadores
Nessa categoria são apresentadas as atividades realizadas nos domicílios
cotidianamente pelos cuidadores para a assistência ao familiar com incapacidades.
Observou-se que os cuidados subdividiram-se em atividades da vida diária (AVDs),
como a alimentação, a integridade cutânea, a higiene, as eliminações, a terapêutica, a
locomoção e a movimentação do ser cuidado, e as atividades instrumentais da vida
diária (AIVDs) do cuidador, como preparar as refeições, lavar e passar as roupas, limpar
a casa e realizar tarefas extradomiciliares.
Independente de haver divisão de tarefas com outros elementos da família,
os cuidadores relataram a dificuldade e o cansaço físico gerados a partir do cuidado
contínuo nas 24 horas diárias. O acúmulo de atividades pelo cuidador foi evidenciado
no estudo bibliográfico realizado por Bocchi (2004).
A pesquisa apresentou a visão de vários autores acerca da sobrecarga do
AVC sobre as famílias e concluiu que esta relaciona-se ao nível de dependência física
do portador da doença, ao isolamento social do cuidador, às mudanças e às insatisfações
conjugais, às dificuldades financeiras geradas pelo abandono do emprego após a doença
e aos déficits na saúde física e no autocuidado do cuidador.
A presente investigação corrobora os achados do estudo apresentado e
aponta as atividades de cuidado responsáveis pela sobrecarga do cuidador. É importante
salientar que a descrição dos cuidados foi possível não somente devido à verbalização
realizada pelos cuidadores, mas também devido à observação realizada pela
pesquisadora nos domicílios.
52
As AVDs ocupam grande espaço na vida cotidiana dos cuidadores e dos
familiares por eles cuidados. Os cuidados com alimentação, hidratação e medicação são
destacados no seguinte depoimento:
[...] você começa o dia muito cedo, seis horas da manhã tem o
medicamento [...] em torno de sete horas tem a parte da alimentação,
de hora em hora tem água, tem que dar água [...] então é trabalho na
cama, sobe, desce [...] tem um esgotamento físico [...]. (E1, E6).
Acerca dos cuidados com a alimentação, faz-se necessária uma distinção no
tocante à sua administração e preparo. Dentre os nove familiares dos cuidadores do
estudo, cinco alimentavam-se por via oral e os demais, por sonda de gastrostomia no
período da entrevista. Há relatos de cuidadores de que, logo após o AVC, os familiares
que naquele instante se alimentavam sem o auxílio de sondas retornaram para o
domicílio com sondas para gavagem.
Diante dessa observação, atenta-se para o fato de que o AVC pode
comprometer a função da deglutição, em virtude dos prejuízos ao nível de consciência
que também acarreta. Essa complicação é reversível e a superação dessa fase depende
do apoio e da orientação dos cuidadores pelos profissionais para que, enquanto for
necessário, a alimentação enteral seja fornecida dentro das necessidades dos familiares.
O relato a seguir apresenta a reação do cuidador ao fazer uma reflexão
acerca da dependência da sonda para a nutrição da mãe logo após o AVC:
[...] quando eu vi aquela sonda na mãe eu pensava que ela nunca ia
sair [...] porque ela não dormia à noite, ficava atrás de tirar, aí
automaticamente eu não dormia também [...]. (E1)
O fato de existir uma alteração na capacidade da mãe para alimentar-se sem
auxílio de terceiros implica em transtornos para a vida da cuidadora. O fato agrava-se
por saber ser essa uma atividade essencial para a sobrevivência da mãe.
A preocupação com a integridade cutânea também foi relatada pelos
cuidadores. A prevenção das úlceras por pressão e a troca de curativos são assuntos
53
bastante recorrentes nas entrevistas e fazem parte das orientações recebidas pelos
cuidadores durante as visitas da equipe do PAD.
Sabendo-se que, dos nove familiares visitados, sete eram acamados, é
possível compreender a preocupação dos cuidadores e da equipe de saúde com as
orientações acerca dos cuidados com a pele. Os depoimentos revelaram que os cuidados
não se limitavam à mudança de decúbito, mas incluíam a hidratação dos pacientes, a
higiene íntima e a troca regular de fraldas e a transição, quando possível, dos familiares
para a cadeira de rodas.
Nos pacientes que já possuíam úlceras de decúbito, a preocupação dos
cuidadores girava em torno da troca dos curativos. Falava-se muito no material
fornecido pelo hospital, e foi possível presenciar a realização do procedimento por um
cuidador. Ele o realizava com técnica limpa e utilizava material insuficiente. Eis o seu
depoimento:
[...] a ferida da lateral da nádega dela tá sarando [...] Durante o dia eu
mudo quatro, cinco vezes esses curativos. Porque se deixar, a
tendência é crescer. Aí eu tem que tá movimentando ela pra lá e pra
cá [...]. (E2)
Vê-se que o cuidador, além de ter a preocupação em manter a ferida limpa,
empenhava-se em movimentar a paciente no leito, já que demonstrava saber dos
benefícios dessa prática. Apesar da escassez de recursos, o cuidador utilizava os
instrumentos e materiais fornecidos pelo hospital e as orientações da enfermeira para
cuidar das feridas de seu familiar.
Hoje se sabe que o processo de cicatrização sofre influência de vários fatores
e que o mercado dispõe de uma variedade de produtos que previnem e tratam feridas,
portanto são extremamente importantes as orientações acerca dos cuidados para a troca
dos curativos reforçadas pela equipe de saúde no domicílio para a obtenção de
resultados positivos, como a prevenção de possíveis complicações advindas de feridas
contaminadas e/ou com deiscência de paredes (BAJAY; JORGE; DANTAS, 1999).
54
Outro aspecto de grande relevância no que diz respeito aos cuidados básicos
exigidos pelas vítimas de AVC são aqueles relacionados às disfunções vesicais. O uso
de cateteres urinários intermitentes ou de demora é indicado tanto para a prevenção de
complicações mecânicas e infecciosas quanto para a diminuição da dor e desconforto.
A impossibilidade do controle esfincteriano vesical traz vários problemas
para o paciente, entre eles, a não aceitação social, a limitação do programa de
reabilitação e as complicações clínicas, como as infecções urinárias, litíases vesicais e
hidronefrose (PADULA; SOUZA, 2007).
O cuidador pode manifestar dificuldades para realizar a passagem de uma
sonda vesical, entre elas a falta de habilidade para proceder utilizando a técnica correta
e o constrangimento ao tocar o corpo do familiar, principalmente nos casos em que os
(as) filhos (as) são os cuidadores.
Outra dificuldade apontada por uma cuidadora foi o tempo requerido na
sondagem vesical intermitente, uma vez que o procedimento era repetido a intervalos de
tempo regulares:
[...] o que eu não gosto é disso a doutora sempre bate na mesma tecla
de passar a sonda [...] Eu já tenho uma vida muito agitada, dá mais
preocupação, quatro vezes ao dia, bota e tira, bota e tira. É um
sofrimento esse negócio de sonda aqui mesmo. É o que mais me
incomoda [...]. (E8)
Percebe-se que a cuidadora demonstrou claramente não se sentir à vontade
para executar o cuidado, inclusive isso atribuiu maior ocupação para ela. Não se
observou, portanto, que a cuidadora reconhecesse a necessidade e a importância da
sondagem vesical para a prevenção de complicações e mesmo para o bem-estar de seu
familiar. Preocupava-se com sua falta de tempo, pois a passagem e retirada da sonda
representavam apenas mais uma atividade para ela, em meio a tantas outras.
A respeito da sobreposição de tarefas para o cuidador, atenta-se neste estudo
para o fenômeno de que cuidar do familiar não se restringe a ter cuidados com sua
saúde. As atividades domésticas também fazem parte do mundo de vida dos cuidadores.
55
Fala-se em atividades como ir ao supermercado ou à farmácia e cuidar da casa. Para os
sujeitos que cuidam sem que haja divisão de tarefas, essa realidade é marcante nos
depoimentos:
[...] não é muito fácil a vida que eu tenho, é muito difícil.[...] eu tenho
que varrer casa, eu tenho que lavar banheiro, eu tenho que fazer
comida, eu tenho que cuidar dele, eu tenho que resolver as coisas de
mercantil, eu tenho que resolver as coisas fora [...] quando eu vou
resolver minhas coisas, já é lá pra trás, fica mais adiante. (E5, E8)
Como se observa, as AIVDs estão presentes na rotina de cuidados, dão
suporte à dinâmica das famílias e preenchem os dias dos cuidadores. São atividades
necessárias para que o ambiente domiciliar mantenha-se em ordem para proporcionar ao
familiar condições de ser higienizado e de se alimentar em quantidade e horários
corretos.
O problema começa quando as responsabilidades não são divididas. Atribuir
a um único membro familiar todos os cuidados resulta, indubitavelmente, em desgastes
físicos e emocionais para o cuidador que podem levar a conflitos entre os familiares.
Em três domicílios visitados, a condição clínica do familiar incapacitado
sucumbia diante das relações de poder entre cuidador e ser cuidado.
De um lado, está o cuidador investido de poder para determinar todos os
passos e as atividades a serem feitas para o familiar e, do outro, o familiar incapacitado,
passivo diante da sua condição, sem incentivos para recuperar a sua autonomia. Isso
representava um círculo vicioso e merecia atenção da equipe, pois, quanto mais o
cuidador fazia pelo familiar, maior tornava-se sua sobrecarga de trabalho e sua
responsabilidade.
Nesse caso o cuidador acreditava que, ao assumir a função, deveria fazer
tudo pelo familiar. Dessa forma, estava desconsiderando o ser cuidado como sujeito
ativo e participativo no processo de recuperação.
56
5.5 Percebendo-se cuidador
Essa categoria reúne as características dos cuidadores, segundo suas próprias
impressões. Eles falaram como se percebem diante do desafio de cuidar integralmente
de um familiar incapacitado e quais os sentimentos que emergem na relação entre
cuidador e ser cuidado.
Rememorando os conceitos da teoria interacionista, trata-se da auto-
interação do cuidador. O conceito de self encaixa-se nesse momento. O indivíduo
elabora uma definição ou um conceito sobre si mesmo. Esse fato, como já discutido
anteriormente, sofre influência da percepção de outras pessoas a respeito de quem é o
cuidador (BLUMER, 1969).
Alguns cuidadores acreditavam ser capazes de desenvolver quaisquer
atividades de cuidado, sem sofrimento e sem dificuldade. Apesar do incômodo que
demonstravam ao refletir sobre suas vidas, conseguiram perceber que realizavam suas
atividades com satisfação e prazer.
O depoimento que se segue demonstra claramente essa afirmação:
Eu tenho o prazer de fazer o que eu faço, apesar do cansaço. Eu me
sinto orgulhosa do que eu faço. Quando eu tenho uma coisa pra
resolver que eu me saio vitoriosa, eu tenho prazer. (E7, E8, E9).
Apesar da sobrecarga física que o fazer cotidiano acarreta para os
cuidadores, eles se mostraram aptos a responsabilizar-se pelos cuidados com seus
familiares e se sentiam orgulhosos, pois julgavam seu trabalho bom e eficiente. Essa
sensação de prazer, sem dúvida, foi responsável por momentos de grande crescimento
para o cuidador que respondeu imprimindo ao seu cuidado respeito, amor e
compreensão.
Em pesquisa realizada por Lavinsky e Vieira (2004), evidenciou-se que, em
paralelo à sobrecarga de trabalho, um segundo e fundamental aspecto para um ‘bom
cuidador’ é a vontade de cuidar. Certamente esse desejo não se manifesta em todos os
57
cuidadores da mesma forma. Os significados atribuídos por cada cuidador para o ato de
cuidar de um familiar incapacitado depende do seu contexto de vida, ou seja, das
histórias que fizeram parte de seu desenvolvimento como pessoa e que despertaram
sentimentos norteadores de seus comportamentos.
Baseado nesse pressuposto, ressalta-se que apesar do cansaço que o cuidado
diário provoca, cada cuidador possui mecanismos de significação das experiências que
vivencia ao lado de seu familiar e, a partir de tais significados, seleciona
intencionalmente seus atos. Portanto, não se pode generalizar as manifestações que
serão apresentadas por cuidadores que experienciam situações de cuidado similares. O
contexto social em que se vive irá determinar as respostas comportamentais de cada
pessoa diante das mais adversas situações (BLUMMER, 1969).
Para reiterar o parágrafo anterior, apresentam-se respostas distintas de outros
cuidadores para as mesmas condições de cuidado, ou seja, cuidar no domicílio, não ter
formação técnica, ser membro da família e cuidar de pessoa incapacitada por AVC:
Às vezes eu me sinto assim uma incapaz. (E1)
[...] eu queria mais paciência e mais amor em mim [...] queria ter
mais e mais pra dar [...] (E3, E4, E6).
Os sentimentos de satisfação e de prazer cedem lugar na discussão para a
impotência, a impaciência, a insegurança, a angústia e até mesmo para a culpa. Sentir-se
incapaz para cuidar exprime o fato de o cuidador não enxergar possibilidades de
recuperação da autonomia de seu familiar. Ele não vê melhora no quadro clínico do
doente e, após ter creditado sua confiança no tratamento e em seus cuidados, vê-se
impotente, angustiado e incapaz.
Ressalta-se, porém, que o aprendizado exigido dos cuidadores em um curto
espaço de tempo pode implicar nos sentimentos negativos que exprimem diante da
situação. A elaboração de estratégias pelos cuidadores para promover a recuperação de
seus familiares incapacitados depende de uma série de conteúdos. O julgamento
negativo que fazem de si mesmos pode ser compreendido a partir da análise de suas
características pessoais e de sua cultura, como discutido anteriormente.
58
A impaciência pode ser observada tanto nos cuidadores como em seus
familiares, diante da impossibilidade de realização de algumas atividades. Como
exemplos, citam-se as experiências de cuidadores que se angustiavam com o fato de que
a mãe não dorme à noite, ou não aceita a dieta oferecida. Essas situações geravam
momentos de tensão nos cuidadores que chegavam a rogar paciência, pois julgavam
que, somente agindo dessa forma resolveriam seus problemas naquele momento.
Diante dos significados que atribuíam aos seus comportamentos nas
situações de estresse, os cuidadores chegavam a demonstrar sentimentos de culpa e se
dirigiam à religião em busca de perdão. Era uma prática bastante comum entre os
cuidadores culpar-se por demonstrar aos pais e a si mesmos que estavam insatisfeitos e
cansados de responsabilizar-se pelos cuidados. O componente cultural faz-se presente
na determinação desses comportamentos e também foi encontrado no depoimento
seguinte:
[...] um pai. [...] eu cuido dela como se ela fosse minha filha
[...] (E2)
Nesse caso não se trata de um filho que cuida do pai, mas de um homem que
precisa cuidar de sua sogra e o faz transferindo os sentimentos de um pai para seus
filhos. A dependência originada pelo AVC transforma a visão do cuidador acerca do seu
papel diante do familiar, culminando em associar os seus cuidados aos de um pai com
uma criança.
Indubitavelmente esse comportamento deriva das significações de
dependência construídas ao longo dos anos de interação social pelo cuidador. Ele faz
parte de um contexto social que o ajudou a elaborar seus significados diante dos
fenômenos, e os atos sociais derivados desse processo são coerentes com os valores e as
crenças apreendidas.
59
5.6 Transformações nas vidas dos cuidadores
A elaboração de significados pelo homem é um processo interpretativo que
resulta em ação, pois, ao enfrentar o mundo que o cerca, ele é chamado a agir, ou seja, a
enfrentar as situações com as quais se depara. Para chegar a tal intento, ele reflete, faz
interpretações e determina sua ação à luz de suas reflexões (BLUMER, 1969).
Isso significa que situações como tornar-se cuidador, ter um familiar
dependente de seus cuidados e assumir tarefas que antes não conhecia afetam
diretamente o cotidiano de um indivíduo. Inconscientemente, ele analisa a situação e
fornece respostas a ela. Tudo que ele venha a aprender representa mudança. Ocorrem
alterações em sua rotina de vida e nos conteúdos com os quais deve lidar
cotidianamente.
As implicações impostas à vida do sujeito que cuida são retratadas nessa
categoria. Procurou-se elencar as transformações ocorridas na vida do cuidador a partir
de seus relatos e das observações realizadas no domicílio.
A primeira mudança marcante surgiu nos seguintes depoimentos:
[...] eu era uma pessoa ativa num outro sentido, porque quando eu
não tava trabalhando, eu tava lendo e essa atividade agora eu não
consigo fazer [...] (E1).
[...] ia pra igreja, tinha reunião e tinha os grupos, eu não fui mais.[...]
O que mais me tirou foi da minha vida que eu tinha na igreja. (E9)
Retratam-se alterações na realização de atividades rotineiras pelo cuidador.
São tarefas antes realizadas com freqüência e que traziam bem-estar para quem as
praticava. Além dos compromissos com o emprego ou com os cuidados da família, o ser
humano também necessita preocupar-se com seu lazer e divertimento. São essas as
atividades mais atingidas, uma vez que os familiares incapacitados requerem, em grande
parte, cuidados nas vinte e quatro horas diárias, fato que dificulta a existência de
momentos de relaxamento para o cuidador.
60
A segunda mudança observada foi a alteração no próprio ritmo de vida dos
sujeitos. Foram alterados os horários dos cuidadores para acordar, os seus hábitos
alimentares e as atividades que desenvolviam durante o dia.
Mudou um pouco assim, porque a gente tem que se acordar cedo [...]
tem que cuidar dela, limpar ela, zelar ela [...] Se eu num tivesse
trabalhando, ia pra casa dum irmão, agora eu tenho mais essa
responsabilidade de cuidar dela. (E2)
[...] Eu mudei meus hábitos alimentares por causa dela. Desde
quando a gente soube que ela era hipertensa [...] acostumou a comer
com pouco sal. (E1)
Observa-se que os cuidadores abdicaram de seus horários e prazeres em
detrimento do cuidado com o familiar. Apesar da constância dessa situação entre os
cuidadores, eles esforçavam-se para deixar claro que não sentiam raiva ou tristeza por
vivenciá-la. Quando se tratavam dos filhos cuidadores, o medo ou mesmo a culpa de
reconhecer seu cansaço diante da responsabilidade de cuidar dos pais refletiam-se em
seus discursos com manifestações diversas, tais como o choro, a preocupação em
explicar pormenorizadamente o que diziam, o silêncio diante da constatação do próprio
sofrimento e a afirmação de crenças para justificar seu papel de cuidador.
Para o sujeito que possuía uma profissão e a exercia antes de tornar-se
cuidador, ao ser chamado a responsabilizar-se integralmente pelos cuidados com o
familiar, uma nova forma de enxergar a própria vida se apresenta:
[...] muda tudo na vida da gente [...] de repente deixa de ser
professora, deixa até de ser filha pra ser enfermeira. (E1)
As significações acerca de si mesmo, incluídos os papéis que desempenha no
núcleo familiar e na sociedade, passam por um processo de ressignificação. A partir dos
significados atribuídos por ele ao cuidado e às pessoas que cuidam, ele estabelece um
novo papel para si. Analisa o que está aprendendo e fazendo para indicar a si mesmo
quem é e o que faz.
61
Para o cuidador do depoimento anterior, as exigências do cuidado e as novas
tarefas que ele passa a realizar, relacionam-se com a enfermagem. Dessa forma, vê-se
como um enfermeiro, uma vez que associa o seu fazer ao fazer da profissão.
Essas mudanças são marcantes para o cuidador e chegam inesperadamente,
por isso requerem tempo para a adaptação dos sujeitos. Os mecanismos ou estratégias
elaboradas pelos cuidadores representam sua sobrevivência diante da situação que se
apresenta em suas vidas, de repente. Com o passar do tempo, eles vão adquirindo
prática no seu fazer, sabedoria para enfrentar a situação sem sobressaltos e, ao final
desse processo, conseguem relaxar um pouco e extrair lições para suas vidas a partir do
vivido.
62
6 REFLEXÕES
A partir da compreensão da vivência dos familiares cuidadores apreendeu-se
que considerar a doença é necessário porque influi na definição de que terapêutica a
qual se deve recorrer, mas significou também pensar nas necessidades dos sujeitos que
cuidam. Essas pessoas estão quase sempre oferecendo apoio, adaptando-se às demandas
de cuidado de seus familiares, aprendendo a cuidar e descobrindo que precisam ser
cuidadas, principalmente quando não possuem apoio na divisão das tarefas ou quando
sentem dificuldades no enfrentamento de sua nova condição de vida.
A aproximação com as singularidades dos cuidadores permitiu o
conhecimento de seu “mundo de vida” e proporcionou a reflexão sobre a prática clínica
do enfermeiro na situação de assistir a família que necessita de reestruturação para
receber o ente querido incapacitado na residência.
As dificuldades demonstradas pelos cuidadores refletiram o grande déficit no
tocante à orientação das famílias, no momento em que o paciente recebe alta hospitalar.
É a situação na qual surgem as dúvidas e as inquietações acerca dos cuidados que serão
exigidos no domicílio, e a assistência do PAD, verdadeiramente, mostra-se necessária.
A partir do momento em que a família é informada acerca do
acompanhamento que receberá da equipe do PAD, os profissionais mobilizam-se para
orientá-la a eleger um cuidador e a ele são fornecidas, a priori, as informações
necessárias para a condução de seu familiar ao domicílio.
Nesse momento a enfermagem necessita valer-se de instrumentos de cuidado
que facilitem o processo de adaptação da família à nova situação. Destacam-se, então, a
criatividade e a sensibilidade do profissional para promover a capacitação dos
cuidadores que irão colaborar diretamente com a equipe de saúde para possibilitar a
continuidade dos cuidados extra-hospitalares.
Os resultados do estudo mostraram que o processo de acompanhamento dos
cuidadores pelos profissionais do PAD é uma necessidade que se estende por um grande
período e que requer, além de insumos materiais, habilidades dos profissionais para
63
lidarem com seres humanos em sofrimento. O enfrentamento das implicações do AVC
dentro da família gerou, em alguns casos, desgastes e conflitos emocionais somente
superados após diálogos da equipe do PAD com os cuidadores e os familiares.
A fim de que se tenha um cuidado humanizado no domicílio, a “técnica”
deve estar sob o domínio da “ética profissional”. A naturalidade social da casa precisa
ser respeitada, isto é, as ações empreendidas pelo enfermeiro devem estar em
consonância com as regras e os costumes já estabelecidos nesse espaço.
Apesar disso, deve-se ter cuidado para não se diluir nas crenças da família e
também não permitir que a família dilua-se nas crenças e valores do profissional.
Quando adentra o domicílio, a equipe de saúde encontra o ambiente cultural do outro e
deve se questionar como fazer isso com ética.
No contexto domiciliar, entre o profissional e o paciente existe a família.
Essa, por sua vez, apresenta ruídos, crises, neuroses e jogos de poder. O profissional,
portanto, precisa munir-se de conhecimentos e de habilidades para não deixar-se
envolver em situações de conflito familiares que possam confundir o objetivo da sua
presença no domicílio.
O cuidado domiciliário efetivo, então, só é possível quando se tem um
serviço organizado e profissionais conscientes de seu papel dentro da proposta de
assistir o paciente e sua família no domicílio, com o olhar voltado à assistência integral
à saúde das pessoas.
Os cuidadores familiares são reconhecidos como parceiros importantes nessa
modalidade de cuidado, pois são os elos de comunicação com os demais membros
familiares. É por meio dessa comunicação que as dúvidas são expostas e os problemas
decorrentes da inexperiência da família com a nova situação apresentada são
conhecidos.
Acredita-se que quando se abre um canal de comunicação com a família, o
cuidado no domicílio torna-se possível e gera resultados positivos na recuperação do
doente. Por essa razão, é preciso que aos cuidadores familiares seja dada voz. Eles
64
assistem diretamente o familiar enfermo e sabem das suas necessidades de cuidado com
propriedade.
Aos enfermeiros fica o desafio de elaborar estratégias de aproximação com
essas pessoas. A sugestão que se pode apresentar é a formação de grupos de apoio aos
cuidadores e o fortalecimento dos que já existem. Isso significa construir espaços para o
diálogo, a exposição de dificuldades, o esclarecimento de dúvidas e o sentimento de
acolhimento.
Sentir-se acolhido em um grupo no qual todos vivenciam as mesmas
situações pode representar para o cuidador um escape para o seu sofrimento e superação
de medos. Uns podem auxiliar os outros na construção de novas formas de lidar com a
dependência dentro das residências.
O enfermeiro deve engajar-se em projetos dessa natureza, pois estará
colaborando com a conquista da autonomia dos sujeitos que são cuidados, fato que
implica em redução de reinternações e em menores dúvidas para a realização de um
cuidado mais seguro e humano pelos cuidadores familiares.
65
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70
ANEXOS
71
ANEXO I
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Conselho Nacional de Saúde
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP
FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
FR - 138526
Projeto de Pesquisa
A vivência do Cuidador Familiar de Pessoa Incapacitada por Acidente Vascular Cerebral: uma abordagem interacionista
Área de Conhecimento
4.00 - Ciências da Saúde - 4.04 - Enfermagem - Nenhum
Grupo
Grupo III
Nível
Não se aplica
Área(s) Temática(s) Especial(s)
Fase
Não se Aplica
Unitermos
enfermagem, cuidadores, assistência domiciliar
Sujeitos na Pesquisa
Nº de Sujeitos no Centro
15
Total Brasil
15
Nº de Sujeitos Total
15
Grupos Especiais
Placebo
NAO
Medicamentos
HIV / AIDS
NÃO
Wash-out
NÃO
Sem Tratamento Específico
NÃO
Banco de Materiais Biológicos
NÃO
Pesquisador Responsável
Pesquisador Responsável
Ana Larissa Gomes Machado
CPF
633.647.193-49
Identidade
2003009060532
Área de Especialização
CUIDADOS CLÍNICOS EM SAÚDE
Maior Titulação
GRADUAÇÃO
Nacionalidade
BRASILEIRA
Endereço
RUA DONDON FEITOSA, Nº35. APTO. 501
Bairro
DAMAS
Cidade
FORTALEZA - CE
Código Postal
60426-090
Telefone
91269558 / 85 32324636
Fax
Email
analarissa2001@yahoo.com.br
72
APÊNDICES
73
APÊNDICE I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pesquisa: A Vivência do Cuidador Familiar de Pessoa Incapacitada por AVC: uma
abordagem interacionista.
Pesquisadora Responsável: Ana Larissa Gomes Machado
Informações sobre a pesquisa:
Estaremos desenvolvendo um trabalho científico sobre o cuidado realizado
por familiares cuidadores de pacientes cadastrados no serviço de atendimento
domiciliário de um hospital público terciário de Fortaleza-CE, com o objetivo de
compreender os significados atribuídos por eles às atividades efetivas que realizam.
Sua participação é muito importante, pois nos mostrará a participação da
família na assistência aos pacientes que, mesmo após a alta hospitalar, continuam
dependendo de cuidados contínuos no domicílio. Este trabalho poderá contribuir para
um maior conhecimento das necessidades dos cuidadores e para o desenvolvimento de
estratégias de aproximação da equipe de saúde com a família.
Para isso pedimos seu consentimento para fazer algumas perguntas sobre a
sua experiência como cuidador, assim como para gravarmos seu depoimento.
Esclarecemos que você tem liberdade para desistir retirando seu consentimento em
qualquer fase ou momento da pesquisa, não tendo, com isso, prejuízo.
Garantimos o respeito e o sigilo ao seu nome ou a qualquer outro dado que
possa identificá-lo. Você não terá custo financeiro com a pesquisa, bem como não
correrá qualquer risco ou dano físico.
Tendo recebido todas as informações acima e ciente dos meus direitos,
concordo em participar da pesquisa.
_______________________________
Assinatura do entrevistado
_______________________________
Pesquisadora responsável
Fortaleza, ____/______/______.
74
APÊNDICE II
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Data:
Horário:
O CONTEXTO DO PROGRAMA
¾ Recursos materiais do PAD (material médico-hospitalar/ ambulância/ disposição
da estrutura física/ material de apoio aos cuidadores e pacientes/ prontuários
médicos)
¾ Profissionais (distribuição e atividades desenvolvidas)
¾ Avaliação clinica dos pacientes
¾ Cuidados realizados
¾ O processo de cadastro dos pacientes (tempo de permanência, limitações
apresentadas).
¾ O apoio aos cuidadores (financeiro, psicológico, educativo)
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE CUIDADO DO
PACIENTE
¾ O processo de inserção dos familiares cuidadores nas atividades do programa.
¾ As limitações e os questionamentos mais freqüentes apresentados pelos
cuidadores familiares.
75
APÊNDICE III
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CUIDADOR
NOME (iniciais):
IDADE: ANOS
SEXO: F __ M ___
ESTADO CIVIL:
ESCOLARIDADE: ____________________
PROFISSÃO: ________________________
OCUPAÇÃO: ___________________________
RENDA:
_____________________________
H
Á QUANTO TEMPO ACOMPANHA O PACIENTE:
DIAS MESES ANOS
NÚMERO
DE MEMBROS DA FAMÍLIA: ______________________________
DIVIDE AS ATIVIDADES CUIDATIVAS? SIM NÃO
C
OM QUEM? ______________________________________________________
PARENTESCO COM A PESSOA CUIDADA: ________________________________
INCAPACIDADES GERADAS PELO AVC PERCEBIDAS PELO CUIDADOR:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2 IMPRESSÕES DO CUIDADOR FAMILIAR
1. O que significa para você ser cuidador (a)?
2. Como você se percebe como cuidador? Por que você cuida?
3. Quais as mudanças ocorridas com você após assumir o cuidado de seu familiar?
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