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HENRIQUE RODOLFO THEOBALD
A EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES COM IDÉIAS HISTÓRICAS: O CASO DO
“GRUPO ARAUCÁRIA”
Dissertação apresentada como
requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em Educação, Curso de Pós-
Graduação em Educação, Linha de
Pesquisa “Cultura Escola e Ensino”,
Setor de Educação, Universidade
Federal do Paraná.
Orientadora: Profª Drª Maria Auxiliadora
Schmidt
CURITIBA
2007
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ii
Catalogação na publicação
Sirlei R.Gdulla – CRB 9ª/985
Biblioteca de Ciências Humanas e Educação - UFPR
Theobald, Henrique Rodolfo
T385 A experiência de professores com idéias históricas: o
caso do “grupo araucária” / Henrique Rodolfo Theo-
bald. – Curitiba, 2007.
240 f.
Dissertação (Mestrado) – Setor de Educação , Univer-
sidade Federal do Paraná.
1. História - estudo e ensino. 2. Professores - história.
3. História – professores. 4. Intelectuais – professo-
res - Paraná. I. Título.
CDD 372.89
CDU 372.89
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iii
AGRADECIMENTOS
Em especial à minha família, aos filhos Mariana e Gabriel, e à Marisa
minha esposa, pelo apoio, incentivo e compreensão nos momentos de
dificuldades e ausências afetivas que esse processo requer.
À minha mãe Helena, de quem herdei o gosto pelos estudos e pela leitura,
e me alfabetizou em meio às tarefas domésticas, antes de ir à escola.
Ao meu pai Maximiliano Roque, pelo incentivo aos filhos a seguirem o
caminho dos estudos e da busca do conhecimento, no interior do Estado do
Paraná, dando o apoio necessário para vencer situações adversas e distâncias,
diante das dificuldades econômicas e por não ter curso superior na região.
Aos meus irmãos Irmgard Margarida, Cristina, Eugênio, Fernando e
Ricardo, pelas trocas fraternas de apoio e incentivo na formação escolar e
universitária.
Aos professores do Curso de Mestrado em Educação da UFPR, que em
suas aulas contribuíram com as leituras, atividades e reflexões, e enriqueceram
os conteúdos aqui abordados.
Aos colegas de Curso, mestrandos e doutorandos, especialmente Ana
Cláudia, Marcelo, Marlene, Rosi, Expedita, Lilian, Adriane e Geyso, do grupo de
investigação em Educação Histórica, que contribuíram com esta pesquisa com
seu apoio, reflexões, críticas construtivas e partilha de angústias.
Aos professores e pedagogos do Município de Araucária que permitiram a
minha participação nas reflexões e proposições de políticas públicas, por meio da
representação sindical, atuação esta que proporcionou uma dimensão a mais no
olhar sobre a profissão de professor, a carreira e a educação.
iv
Aos professores do “Grupo Araucária”, que contribuíram com a minha
formação continuada como professor de História, e pelas contribuições com suas
produções e respostas aos questionários de investigação, conteúdo empírico
desta investigação.
Aos colegas de trabalho, das escolas em que atuei, do sindicato, do Fundo
de Previdência e das Secretarias Municipais de Educação e do Trabalho e
Emprego. Em todos esses lugares sempre tive o apoio humano e logístico
necessário para desenvolver essa pesquisa.
À professora Drª. Maria Auxiliadora Schmidt, “Dolinha”, pela orientação de
qualidade dispensada, alternando intervenções sábias de mestre e intelectual,
lapidando o orientando em seus pontos críticos no percurso, para chegar a uma
produção e formação significativas e de qualidade.
À professora Drª. Tânia Maria Braga Garcia pela contribuição significativa
nas reflexões metodológicas, sendo coorientadora no processo de investigação.
Aos professores Dr
es
. Daniel Hortêncio de Medeiros e Selva Guimarães
Fonseca, pelas participações nas bancas de qualificação e defesa,
respectivamente, contribuindo com seus conhecimentos para o êxito deste
trabalho.
Aos amigos Lindamir, Alamir, Ida, Ronaldo e Solange que contribuíram de
forma especial para que essa investigação fosse bem sucedida.
E a todos aqueles que de alguma forma colaboraram para que esse projeto
se viabilizasse.
Muito Obrigado!
v
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................ iii
SUMÁRIO .............................................................................................................. v
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................vi
LISTA DE QUADROS...........................................................................................vii
LISTA DE ANEXOS.............................................................................................. ix
RESUMO................................................................................................................ x
ABSTRACT........................................................................................................... xi
INTRODUÇÃO................................................................................................... - 1 -
CAPÍTULO I - Experiência e Educação: algumas aproximações ............... - 12 -
Introdução.................................................................................................- 12 -
1.1. A categoria experiência......................................................................- 14 -
1.2. Experiência e escolarização...............................................................- 20 -
1.3. Experiência e conhecimento ..............................................................- 25 -
CAPÍTULO II – Experiência com o conhecimento e a função do professor - 41
-
2.1. O professor como intelectual..............................................................- 42 -
2.2. O professor de História como intelectual............................................- 53 -
CAPÍTULO III - O “Grupo Araucária”: uma experiência de professores de
história. ........................................................................................................... - 67 -
3.1. O contexto da experiência do “Grupo Araucária”...............................- 67 -
3.2. “Experiência” do “Grupo” construída na relação com o Sistema Municipal
de Educação.............................................................................................- 74 -
3.3. Experiência de “Grupo” construída na relação com o Sindicato ........- 81 -
3.4. Experiência do “Grupo” construída na relação com as produções
curriculares................................................................................................- 86 -
3.5. Experiência do “Grupo” construída na relação com a universidade, com a
pesquisa e com a produção de conhecimento........................................- 109 -
3.6. A experiência do “Grupo Araucária” na visão dos professores........- 122 -
CAPÍTULO IV - A experiência dos professores do “Grupo Araucária” com as
idéias históricas ........................................................................................... - 130 -
4.1. A presença das idéias históricas substantivas e de segunda ordem nas
elaborações curriculares.........................................................................- 131 -
4.2. A relação dos professores com as idéias históricas.........................- 146 -
4.2.1. Análise dos resultados do estudo piloto........................................- 148 -
4.2.2. Análise dos resultados do estudo definitivo ..................................- 159 -
4.2.3. Categorização das idéias históricas dos professores do “Grupo
Araucária”................................................................................................- 190 -
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... - 213 -
FONTES......................................................................................................... - 225 -
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. - 231 -
ANEXOS ........................................................................................................ - 234 -
vi
LISTA DE ABREVIATURAS
ANPUH – Associação Nacional de História
APA – Associação dos Professores de Araucária
CME – Conselho Municipal de Educação de Araucária
DHI-UEM – Departamento de História – Universidade Estadual de Maringá
ENPEH – Encontro Nacional de Pesquisadores de Ensino de História
FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação
FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério
ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
PCCV – Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais
PNLD – Plano Nacional do Livro Didático
PPs – Produções dos Professores
PR – Paraná
PT – Portugal
RJ – Rio de Janeiro
SISMAC – Sindicato dos Servidores do Magistério de Curitiba
SISMMAR – Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária
SMED – Secretaria Municipal de Educação de Araucária
UFPR – Universidade Federal do Paraná
UMINHO – Universidade do Minho - Portugal
vii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Formação dos professores................................................................ 69
Quadro 2 – Tempo de magistério x tempo de magistério em Araucária............. .70
Quadro 3 – Atuação e experiência de produção e investigação.......................... 72
Qudaro 4 – V Perspectivas do Ensino de História.............................................. 111
Qudaro 5 – V Jornadas Internacionais de Educação Histórica........................... 111
Qudaro 6 – XXIII Simpósio Nacional de História – História: Guerra e Paz......... 112
Qudaro 7 – XIX e XX Semanas de Ensino, Pesquisa e Extensão – UFPR........ 113
Qudaro 8 VII Encontro Nacional de Pesquisadores de Ensino de História
ENPEH................................................................................................................ 113
Qudaro 9 – VI Jornadas Internacionais de Educação Histórica.......................... 114
Qudaro 10 – X Encontro Regional da ANPUH-PR............................................. 115
Quadro 11 – Idéias Substantivas........................................................................ 135
Quadro 12 – Idéia de tempo histórico................................................................. 137
Quadro 13 – Idéia de documento histórico......................................................... 143
Quadro 14 – Opinião sobre a organização dos conteúdos em eixos temáticos. 149
Quadro 15 – Temáticas mais e menos significativas.......................................... 150
Quadro 16 – Ordem de Importância das relações temporais............................. 153
Quadro 17 – Inclusão de outra relação temporal................................................ 153
Quadro 18 – Relação temporal mais importante................................................ 154
Quadro 19 – Importância do documento histórico.............................................. 155
viii
Quadro 20 Presença da narrativa histórica no manual didático, na produção do
aluno e no currículo, na ótica do professor......................................................... 156
Quadro 21 – Definição de narrativa histórica...................................................... 158
Quadro 22 – Idéias substantivas como eixos temáticos citadas......................... 160
Quadro 23 – Inclusão e exclusão de eixo temático............................................ 161
Quadro 24 Opinião dos professores sobre a organização dos conteúdos em
eixos temáticos.............................................................................................162/163
Quadro 25 – Temáticas mais e menos significativas................................... 167/170
Quadro 26 – Ordem de Importância das relações temporais............................. 176
Quadro 27 – Inclusão de outra relação temporal................................................ 177
Quadro 28– Relação temporal mais importante.......................................... 178/179
Quadro 29 – Importância do documento histórico....................................... 180/181
Quadro 30 Presença da narrativa histórica no manual didático, na produção do
aluno e no currículo, na ótica do professor.................................................. 183/185
Quadro 31 – Definição de narrativa histórica...................................................... 188
Quadro 32 – Professores e as idéias de consciência histórica categorizadas... 203
ix
LISTA DE ANEXOS
QUESTIONÁRIO DO INSTRUMENTO DE INVESTIGAÇÃO PILOTO
QUESTIONÁRIO DO INSTRUMENTO DE INVESTIGAÇÃO DEFINITIVO
x
RESUMO
Pesquisa, inserida no campo das investigações da Educação Histórica, que busca
analisar a formação e experiência do grupo de professores de História do
Município de Araucária, o “Grupo Araucária”, em suas dimensões de relação: com
o “grupo”; com o sistema municipal de educação; com o sindicato; com a
universidade; com a produção de conhecimento histórico e com as idéias
históricas. A análise teórica fundamenta-se na categoria da experiência do sujeito
de relação com o conhecimento, construída a partir das contribuições de
Thompson, Dubet, Martuccelli e Charlot. Por pressuposto, entende-se o professor
como sujeito, capaz de exercer a sua intelectualidade, ao se apropriar dos meios
de produção do conhecimento com que trabalha, por meio da investigação,
produção, publicação e reconhecimento da produção, a partir das contribuições
de Gramsci, Giroux, Goodson, García, Gonzáles e Schmidt. Os conceitos de
idéias históricas substantivas e idéias históricas de segunda ordem de Lee
permitem a análise das idéias que os professores têm da História. Fundamentado
na idéia de Thompson de que a experiência se manifesta na consciência, o tipo
de relação que estabelecem com as idéias históricas é analisado e categorizado
na perspectiva da tipologia de consciência histórica desenvolvida por Jorn Rüsen:
tradicional, exemplar, crítica e genética, para verificar a presença da idéia
predominante e a ocorrência de possíveis mudanças na estrutura da consciência
histórica por meio das idéias expressas pelos professores. Utilizando as
especificidades metodológicas de um “estudo no caso”, a investigação, no campo
empírico, tomou por fontes documentais as produções curriculares de história do
município de Araucária, a legislação e as produções dos professores do “grupo”, e
questionários para levantar dados sobre as relações dos professores com o
“grupo”, o sistema municipal de educação, o sindicato, a universidade, a produção
de conhecimento histórico e as idéias históricas.
PALAVRAS-CHAVE: educação histórica, experiência, professor de história, idéias
históricas, produção de conhecimento.
xi
ABSTRACT
Research within the investigation field of Historical Education aiming to analyze
educational background and professional experience of History teachers group at
Araucária Municipality “Araucária Group” in all its relational dimensions: within
the group itself; with the municipal education system; with the teachers
association; with the universities; with the historical knowledge and with the
historical ideas. The theoretical analysis relies on the category of the subject
experiencing its relation with knowledge, which has been built up upon Thompson,
Dubet, Martuccelli and Charlot contributions. As presupposition, the teacher is
perceived as a subject with the ability of exerting his/her intellectuality by
appropriating knowledge means of production involved in his/her daily routine
through investigation, production, publication and production recognition, based on
the contributions of Gramsci, Giroux, Goodson, García, Gonzáles and Schmidt.
Substantive historical ideas and Lee second order historical ideas concepts allow
analysis of ideas that teachers have about History. Based on Thompson`s idea
that the manifest experience if in the conscience, the kind of relation
established with historical ideas is analyzed and categorized in the perspective
within the typology of historical consciousness developed by Jorn Rüsen -
traditional, exemplary, genetic and critical in order to verify the presence of a
main idea as well as the occurrence of possible changes in the historical
consciousness structure through ideas expressed by the teachers. Making use of
the methodological specificities of a case study, the documental investigation
which has been carried out in the empirical field - has sourced: the History
curricular production of Araucária municipality; the legislation; the teachers
“Araucária group” production; questionnaires surveying the relation of teachers
“Araucária group” with remaining teachers; the municipal education system; the
teachers association; the universities; the production of historical knowledge and
the historical ideas.
KEY WORDS: historical education, experience, history teacher, historical ideas,
knowledge production.
- 1 -
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem sua origem na experiência e nas inquietações do próprio
investigador como professor de História do Sistema Municipal de Ensino de
Araucária
1
, onde ingressou por meio de Concurso Público em fevereiro de 1992.
no primeiro ano de atuação teve a oportunidade de participar dos estudos,
debates e da escrita da proposta curricular de História do Município
2
, fato que
despertou um processo de reflexão sobre o ensino de História e levantou uma
gama de desafios e questionamentos sobre o processo que vai das produções
historiográficas aos encaminhamentos em sala de aula, deslocando o foco da
mobilização de professores e pedagogos do enfoque restrito da sala de aula. No
ensino de História, essas reflexões tiveram continuidade pelo “Grupo Araucária”,
nome dado ao grupo de professores de História do Sistema Municipal de Ensino,
que se encontra institucional e regularmente para estudos, assessoramentos,
investigações, publicações de suas investigações e encaminhamentos sobre o
ensino de História no ensino fundamental, mensalmente, desde 1990. Além do
caráter institucional, um dos fatores que propiciam ao “Grupo Araucária” uma
relação diferenciada com a investigação e a produção do conhecimento é a sua
relação orgânica com a Universidade
3
.
1
A Rede Municipal de Ensino de Araucária, Município da Região Metropolitana de Curitiba, foi
transformada em Sistema Municipal de Ensino através da Lei Municipal nº 1528/2004.
2
Em 1992 o Município de Araucária elaborou as primeiras propostas curriculares para todas as
séries e áreas do ensino fundamental.
3
Sobre o nome “Grupo Araucária” e a sua relação orgânica com a pesquisa e a Universidade
pode-se ver em SCHMIDT, M. A., e GARCIA, T.M.B. Pesquisas em Educação Histórica: algumas
experiências. In. SCHMIDT, M. A., e GARCIA, T.M.B. (org)
Educar em Revista: Número Especial
2006, Dossiê: Educação Histórica. Curitiba, PR: Editora UFPR, 2006. n 164. p. 11 a 31.
- 2 -
Essa experiência desafiadora, questionadora, reflexiva e de deslocamento
do foco da sala de aula para o processo que vai da relação de alunos e
professores com o conhecimento à produção do conhecimento histórico, foi
potencializada na minha vivência como investigador, por atuar ao mesmo tempo
no sistema público de Araucária e na rede privada de ensino, vivenciando tensões
entre concepções de História, de ensino de História, de aluno, de professor, de
saber, de relação com o saber e do processo de ensino aprendizagem,
evidenciados concretamente na relação com encaminhamentos metodológicos
diversos, adotados pelo sistema público e privado.
Concretamente, essas diferenças se manifestavam nos encaminhamentos
metodológicos do ensino de História nos sistemas público e privado, refletindo
divergências entre, de um lado, o ensino privado que à época entendia o aluno
como receptor do conteúdo, determinado pela opção da escola por uma ‘apostila’.
Nesta, o saber é algo produzido, a ser assimilado por alunos e professores, e
está organizado em narrativas, atividades, exercícios e avaliações previamente
definidas. O professor era concebido como um técnico na disciplina, executor da
tarefa de transmissão do conteúdo e da aplicação de atividades, bem como de
aplicador de avaliações em tempos e espaços pré-determinados, objetivando um
resultado de apreensão quantitativa do saber pelo aluno. De outro lado, o ensino
público de Araucária tinha a pretensão de permitir ao professor experimentar um
processo de participação na seleção de conteúdos, produção de materiais,
desenvolvimento de atividades e formas de avaliação que privilegiassem a
produção de textos pelos alunos, além de debater tentativas de construção de um
processo da relação dos sujeitos com o saber.
- 3 -
Essa experiência divergente influenciou minhas inquietações e reflexões
sobre a prática do ensino de História e deu início a um processo de mudança
conceitual e transformação lenta na prática como professor, a qual, partindo da
provocação de uma insegurança inicial, abriu um leque de novas possibilidades.
Outro fator que influenciou na construção do objeto desta investigação foi a
minha militância sindical, uma vez que atuei na direção do Sindicato municipal da
categoria de 1996 a 2005. Esta atuação contribuiu para um olhar solidário às
angústias do trabalho docente em relação, especificamente, ao ensino de História,
numa dupla perspectiva. Uma vez que, num período, exercia as atividades
sindicais e no outro período permanecia em sala de aula, pude acompanhar os
debates em torno das questões políticas, sindicais e pedagógicas mais amplas, à
luz da atuação sindical e também do ‘chão da escola’.
As inquietações e reflexões sobre o processo de produção do
conhecimento histórico e a relação com esse saber, proporcionadas pela minha
experiência como professor na elaboração da proposta curricular de História de
Araucária de 1992 e posteriores
4
, e na participação das atividades do “Grupo
Araucária”, aliadas à tensão da experiência como professor do sistema público e
privado, bem como à perspectiva do olhar de sindicalista, levaram-me à
significativas mudanças conceituais sobre o processo de produção e de relação
com o saber no ensino de História. Essas mudanças conceituais puderam ser
teorizadas e explicitadas durante o percurso como mestrando, quando tive contato
com os estudos e investigações no campo da Educação Histórica, no diálogo com
os trabalhos de LEE (2001), BARCA (2000, 2001 e 2005) e SCHMIDT & GARCIA
4
O Ensino Municipal de Araucária passou por processos de reeleboração de propostas e
diretrizes curriculares em 1992, 1994, 1996, 2000 e 2004.
- 4 -
(2005 e 2006), os quais, entre outros, de vários países, vêm desenvolvendo
pesquisas sobre as idéias que crianças e jovens têm sobre a História e como elas
se relacionam com esse conhecimento. São investigadores que buscam entender
como os sujeitos do processo de ensino aprendizagem, crianças, jovens e
professores, constroem e se relacionam com as idéias históricas em situações
concretas de aprendizagem, como essas idéias são construídas e apropriadas por
estes sujeitos e como se apresentam nos conceitos prévios, nos currículos,
manuais didáticos, e outros meios e narrativas utilizados no ensino de História.
É importante situar que o início da constituição do “Grupo Araucária”
insere-se numa das temáticas favoritas das últimas décadas do século XX
pertinentes à educação que é a questão curricular, tanto no que se refere à
elaboração de novas propostas e diretrizes, como os estudos, pesquisas e
teorizações sobre este movimento, conforme levantamento realizado por ANJOS
(2001)
5
.
Com base nesse levantamento, pode-se afirmar que os processos de
elaboração e reelaboração de propostas e diretrizes curriculares para os sistemas
educativos estatais e não estatais, se fizeram cada vez mais pertinentes e
necessários, para coordenar um número cada vez mais massivo de profissionais
e recursos exigidos pelo processo de expansão da escolarização e da
5
A Dissertação de Mestrado em Educação na PUC-Campinas e UFPR de ANJOS, L dos.
Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná: tendências
temáticas das dissertações (1977-2000). Curitiba, 2001, constata a concentração das dissertações
na temática de Currículo no final do segundo milênio. Esta tendência migra para as temáticas de
Processos de Ensino Aprendizagem e História da Educação no período de 2001 a 2004, conforme
constataram ARAUJO, Fabiana Munaraka. ARAUJO, Márcia Baiersdorf. CARVALHO, Carla. DA
SILVA, Expedita Estevão. TEIXEIRA, Claudio. THEOBALD, Henrique e VASCONCELLOS, Sônia
Tramujas.
Análise das dissertações do programa de pós-graduação em Educação da UFPR
no período de 2001 a 2004.
Trabalho apresentado na disciplina A organização da informação e a
produção do conhecimento sobre a escola
, do Programa de Pós-graduação de Educação da
UFPR, na Linha de Pesquisa Cultura, Escola e Ensino, sob orientação da Profª Drª Leilah Bufren,
em 2005.
- 5 -
necessidade de adequação do processo de ensino aprendizagem, diante das
mudanças provocadas pelo aumento da velocidade na produção do conhecimento
e de sua difusão, no contexto dos avanços tecnológicos, da informatização da
mídia e da informatização do próprio cotidiano de professores, alunos e escolas.
Segundo KEMMIS (1998, p. 148)
6
essas elaborações curriculares ocorrem
nos sistemas de ensino, carregando em si reflexos das tensões entre o
pensamento burocrático e o pensamento comunitário, onde o primeiro representa
as estruturas burocratizadas e o segundo a reação dos envolvidos no processo a
estas estruturas, sendo que os sistemas geralmente se pautam pelo pensamento
e pela ação burocrática, fazendo com que seu combate e transformação sejam
cercados de dificuldades.
O contexto da confluência da minha trajetória com o “Grupo Araucária”
propiciou a construção do objeto desta investigação, qual seja, a preocupação em
conhecer a experiência dos professores de História de Araucária com as idéias
históricas, no processo de participação das mudanças conceituais e
transformações que ocorreram no ensino de História, por meio de sua adesão aos
processos de discussões e produções curriculares, bem como de sua organização
em um grupo de professores de História, cujo objetivo se tornou estudar,
investigar e produzir conhecimento no ensino de História. Em suma, instigou-me a
investigar a experiência de professores como intelectuais transformadores do
conhecimento histórico, analisando as condições, as características e as
manifestações que deram à essa experiência uma natureza qualitativamente
diferente.
6
Para ver mais sobre as relações entre pensamento burocrático e comunitário ver Kemmis, S. El
curriculum:
más allá de la teoría de la reproducción. Madrid: Ediciones Morata, 1998.
- 6 -
Diante do exposto, para nortear a pesquisa, construiu-se a seguinte
questão de investigação:
Qual é a natureza da experiência dos professores com as idéias
históricas no município de Araucária?
Para construir as categorias teóricas de investigação, para contextualizar e
localizar a investigação e para efetivamente investigar a relação dos professores
com as idéias históricas, foi necessário construir as seguintes questões
específicas:
O que se entende por experiência e qual a sua relação com a
escolarização e o conhecimento?
Qual a relação entre experiência, conhecimento e a função do professor?
Como se deu a construção da experiência do “Grupo Araucária”?
Como os professores do “grupo” se relacionam com as idéias históricas?
Quais os produtos dessa relação?
Para responder a estas questões foi necessário adentrar com a
investigação no campo empírico em duas dimensões: fontes documentais e
questionários.
A pesquisa documental foi feita nas produções curriculares de História do
Município de Araucária, que tiveram a participação de professores do “Grupo” em
sua elaboração, indiciárias para se entender a construção da experiência do
grupo na relação com as políticas educacionais da Secretaria Municipal de
Educação de Araucária – SMED - e para se identificar a presença de idéias
históricas nessas produções. Essa investigação serviu de base para a elaboração
do questionário onde se buscou entender a relação dos professores com as idéias
- 7 -
históricas. As produções de investigação sobre elementos da prática do ensino de
História, de autoria de professores do “Grupo”, apresentados em Congressos,
Encontros, Seminários, Jornadas e Simpósios entre 2004 e 2006, também
serviram de fonte documental para se conhecer a experiência na relação com a
universidade, com a pesquisa e com a produção de conhecimento.
Os questionários foram elaborados para caracterizar os professores que
participaram da investigação, para subsidiar a construção da experiência em
relação ao sistema educacional, ao sindicato, às produções curriculares e para
analisar a relação dos professores com as idéias históricas.
Os questionários foram aplicados aos professores do “Grupo Araucária”,
em duas etapas, um estudo piloto em meados de 2006 e um estudo principal no
quarto trimestre de 2006.
O processo de construção do campo empírico e de análise dos dados
caracterizam assim, esse trabalho, como um “estudo de caso”, no seu espectro
mais geral, na esteira dos trabalhos de LESSARD-HÉBERT, GOYETTE &
BOUTIN (2005); BOGDAN & BIKLEN (1994) e ANDRÉ (1995), assumindo-se
alguns pressupostos dessa metodologia de investigação, particularmente os
seguintes elementos:
Que se trata de um modo de investigação em que o pesquisador está
pessoalmente envolvido num estudo aprofundado de casos particulares;
Trata-se do estudo de uma unidade em sua complexidade e do seu
dinamismo próprio, a partir de diferentes técnicas de recolha de dados: fontes
documentais e inquéritos (questionários);
- 8 -
Buscou-se analisar um grupo específico de pessoas na perspectiva
sociológica apontada por BOGDAN & BIKLEN,
as pessoas que interagem, que se
identificam umas com as outras e que partilham expectativas em relação ao
comportamento umas das outras
(1994: p. 91).
Admitindo esses pressupostos é importante ainda, apontar para o fato de
que o Grupo Araucária não agrega todos os professores de História do Município
de Araucária em número de trinta e cinco no total, apesar desse estudo reunir
uma parcela significativa destes, dezoito. Assim, pode-se afirmar que esse
trabalho realizou um “estudo no caso”, dentro das especificidades metodológicas
desse estudo.
A realização da pesquisa resultou na elaboração do trabalho em quatro
capítulos.
O primeiro capítulo, Experiência e Educação: algumas aproximações,
objetiva estabelecer algumas aproximações entre a categoria experiência e a
educação. Partindo da explicitação da categoria da
experiência referenciada nas
contribuições dos estudos do historiador inglês E. P. THOMPSON (1981) sobre a
experiência, desenvolvidos num diálogo com a filosofia marxista na perspectiva de
Althusser. Para o historiador a experiência é um processo humano em que
homens e mulheres tornam-se sujeitos em suas relações produtivas, afetivas,
culturais e axiológicas. Essas relações são elaboradas racionalmente numa
dinâmica de produção do ‘ser social’ através de uma relação dialética de
confronto, choque e ruptura com a ‘consciência social’, que provoca e alimenta a
reflexão, provoca mudanças, não qualquer mudança, e sim, mudanças
conceituais em quem as experiencía.
- 9 -
As contribuições de Thompson (1981) auxiliam para definir a experiência
como um processo humano que se manifesta na consciência. No entanto, para
utilizar a categoria da experiência na investigação de uma experiência concreta,
localizada, ou seja, a experiência de professores de História de Araucária com
idéias históricas no contexto da educação escolarizada, referências de teóricos
que investigam a experiência no processo de escolarização são importantes para
a delimitação da categoria da experiência nesta perspectiva. Estabeleceu-se, com
esta finalidade, ainda no primeiro capítulo, um diálogo com os estudos
sociológicos de DUBET (1994) e DUBET & MARTUCCELLI (1997) sobre a
‘experiência escolar’.
Na experiência escolar a função primordial do professor é a relação com o
saber, com o conhecimento. O foco desta pesquisa, sendo a investigação de uma
experiência de professores com idéias históricas, uma experiência de relação com
o conhecimento, de relação de sujeitos com o saber, socialmente localizada no
ambiente escolar, apontou a pertinência de uma caracterização mais específica
da experiência de relação com o saber. É nos estudos de CHARLOT (2000) sobre
a experiência antropológica de relação com o saber, propondo o desenvolvimento
da sociologia do sujeito, através de diálogos com a sociologia da ação, filosofia,
psicologia, antropologia e lingüística, que se buscou alguns elementos para o
entendimento da categoria da experiência da relação do sujeito com o
conhecimento, com o saber.
O segundo capítulo,
Experiência com o conhecimento e a função do
professor, tem por objetivo investigar as dimensões coletiva, investigativa e
produtiva, da experiência de relação de professores com o saber, ou seja, a
- 10 -
experiência com o conhecimento e a função do professor. Parte-se do
pressuposto que o professor, em sua experiência de relação com o saber, pode
ser tomado na dimensão do intelectual que investiga, produz e transforma por
meio de experiências organizadas, coletivas e situadas, as relações sociais e as
relações de saber em que está inserido. Investiga e transforma as concepções
que tem em relação a si próprio, à sua função, aos alunos em suas relações com
o saber, à sua formação e em relação ao conhecimento com o qual trabalha, sua
produção e seu ensino.
Para debater em que sentido o professor pode ser um intelectual, quais os
elementos necessários para o professor ser um intelectual e os elementos que
são necessários para o professor de História ser intelectual, buscou-se
contribuições dos estudos de GIROUX (1997) sobre a experiência de professor
como intelectual transformador; GOODSON (1992) sobre a experiência de
professor reflexivo; GARCÍA (1999) sobre o desenvolvimento profissional pela
investigação; FORQUIN (1993) sobre cultura escolar; GRAMSCI (1978) sobre o
intelectual coletivo; GONZÁLEZ (1984) e SCHMIDT (2006) sobre a experiência de
apropriação da produção do conhecimento; LAUTIER (1997) sobre o professor de
história enquanto profissional; e do campo da Educação Histórica: BARCA (2000,
2001 e 2005), que em seus estudos delimita o campo de investigação; LEE
(2001), com seus estudos sobre as idéias históricas substantivas e de segunda
ordem; RÜSEN (1992, 1993 e 2001) com seus estudos sobre a narrativa e o
tempo histórico na formação da consciência histórica; e SCHMIDT & GARCIA
(2005 e 2006) com seus estudos sobre Educação Histórica no Brasil, para
- 11 -
levantar alguns elementos que permitam analisar a dimensão do professor como
produtor de conhecimento na relação com idéias históricas.
O terceiro capítulo,
O “Grupo Araucária”: uma experiência de professores
de história, tem por objetivo caracterizar o “Grupo” e compreender, à luz da
categoria da experiência humana de relação com o saber, o contexto da
construção da experiência do “Grupo Araucária”. Isto é, como essa experiência foi
construída na relação com o Sistema Municipal de Educação, na relação com o
sindicato, na relação com as produções curriculares, na relação com a
universidade, com a pesquisa e com a produção de conhecimento, e como os
professores do “Grupo” vêem a construção dessa experiência.
O quarto capítulo, A experiência dos professores com as idéias históricas,
partindo do pressuposto de Thompson, da possibilidade da experiência do
“Grupo” com idéias históricas se manifestar na consciência desses professores,
buscou analisar e categorizar a relação que estabelecem com essas idéias.
Inicialmente buscou-se explicitar o caminho percorrido para chegar às
idéias históricas dos professores do “Grupo”, investigando a presença das idéias
históricas substantivas e das idéias históricas de segunda ordem, nas produções
curriculares de História.
A investigação da presença de idéias históricas substantivas e de segunda
ordem nas produções curriculares de história permitiu elaborar o questionário para
verificar a relação dos professores com essas idéias.
A análise da relação que os professores estabelecem com as idéias
históricas substantivas e de segunda ordem foi feita na perspectiva da Educação
Histórica, uma vez que a experiência de professores com idéias históricas é uma
- 12 -
relação com o conhecimento de natureza histórica e as pesquisas no campo da
Educação Histórica vêm tendo a preocupação de investigar a relação que
professores e alunos estabelecem com as idéias históricas (BARCA: 2005).
Por fim, buscou-se categorizar as idéias históricas dos professores,
principiando uma análise dos tipos de consciência histórica que expressaram, na
perspectiva da tipologia de consciência histórica elaborada por RÜSEN (1992):
consciência histórica tradicional, exemplar, crítica e genética, que converge com a
perspectiva thompsiana de repercussão da experiência na consciência.
CAPÍTULO I - Experiência e Educação: algumas aproximações
Introdução
O objetivo deste capítulo é estabelecer algumas aproximações entre a
categoria experiência e a educação. Como o objetivo do trabalho é investigar a
experiência de um grupo de professores com as idéias históricas, a questão que
norteia este capítulo é: Que relações são possíveis de se estabelecer entre a
experiência e a educação, mais especificamente, experiência e conhecimento?
A categoria da experiência é aqui utilizada tomando por referência as
contribuições dos estudos de THOMPSON (1981), desenvolvidos num diálogo
desse historiador com a filosofia marxista na perspectiva de Althusser. Na
proposta thompsiana a experiência é um processo humano em que homens e
mulheres tornam-se sujeitos em suas relações produtivas, afetivas, culturais e
axiológicas. Esse tornar-se sujeito é elaborado racionalmente numa dinâmica de
produção do ‘ser social’ através de uma relação dialética, que pode ser de
- 13 -
confronto, choque e ruptura com a ‘consciência social’, que provoca e alimenta a
reflexão, incentiva mudanças, não qualquer mudança, e sim, mudanças
conceituais. As contribuições de Thompson (1981) auxiliam para definir a
experiência como um processo humano com repercussões na consciência, de
forma ampla. No entanto, para utilizar a categoria da experiência na investigação
de uma situação concreta, localizada, ou seja, a ação e a relação de professores
de História de Araucária com idéias históricas no contexto da educação
escolarizada, referências de teóricos que investigam a experiência no processo de
escolarização também são importantes para a delimitação dessa categoria.
Estabeleceu-se com esta finalidade um diálogo com os estudos sociológicos de
DUBET (1994) e DUBET & MARTUCCELLI (1997) sobre a ‘experiência escolar’.
Mas, não se trata apenas da relação com as formas de escolarização
7
,
pois, na experiência escolar a função primordial do professor é a relação com o
saber, com o conhecimento. O foco desta pesquisa é, ainda, investigar uma
experiência de professores com idéias históricas, ou seja, a relação com o
conhecimento, com o saber, socialmente localizada no ambiente escolar. É nos
estudos de CHARLOT (2000) sobre a experiência antropológica de relação com o
saber, propondo o desenvolvimento da sociologia do sujeito, através de diálogos
com a sociologia da ação, filosofia, psicologia, antropologia e lingüística, que
buscamos alguns elementos para o entendimento da categoria da experiência da
relação do sujeito com o conhecimento, com o saber.
7
Sobre o conceito e a teoria da forma escolar, ver VICENT, G., LAHIRE, B., THIN, D. Sobre a
história e a teoria da forma escolar. In.
Educação em revista. Dossiê: trabalho e educação. Belo
Horizonte: Faculdade de Educação, UFMG, 2001, v. 33, junho/2001, p. 7 - 47.
- 14 -
1.1. A categoria experiência
Fez-se a opção pela categoria experiência na perspectiva proposta por
Thompson (1981), principalmente, porque busca-se superar algumas dificuldades
que o método marxista encontra ao analisar a ação dos sujeitos na realidade
empírica, bem como permitir a compreensão desta ação na perspectiva da
relação dialética entre os sujeitos e as estruturas
8
.
Num diálogo crítico com Althusser, Thompson (1981, p. 9), parte do
pressuposto de que o conhecimento é finito e precisa ser revigorado pela
investigação da realidade empírica, vigor este de certa forma atrofiado pelo que
denomina de letargia conceitual do materialismo histórico, que tem sua
importância como método histórico investigativo, mas que impôs uma
problemática própria às investigações, provocando uma auto regulação à sua
própria dinâmica e uma autoconfiança na concepção materialista da história.
Para Thompson (1981, pp. 10, 11, e 181) a historiografia marxista
negligenciou o diálogo com a própria teoria a partir do empírico, reduzindo-o a
uma manifestação da ideologia burguesa, negando assim as evidências da
realidade, reduzindo o alcance de sua epistemologia e caindo em um círculo
vicioso, numa prisão conceitual, o idealismo. Isto ocorre, segundo o autor, porque
Marx silencia sobre a
experiência humana e Althusser a nega, provocando uma
letargia conceitual e teórica: Ao recusar a investigação empírica, a mente está
sempre confinada aos limites da mente. Não pode caminhar do lado de fora. É
imobilizada pela cãibra teórica e a dor é suportável se não movimentar seus
8
Sobre a relação entre a ação dos sujeitos e a estrutura consultar LLOYD, C. As estruturas da
História.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
- 15 -
membros (THOMPSON: 1981, p. 185). Essa recusa é, de certa forma, a negação
da manifestação na mente da relação dialética com a realidade, negação da
experiência.
O materialismo histórico, segundo Thompson (1981, p. 182) ao identificar
os modos de produção, especialmente o capitalista, e a história como um
processo, não foi capaz de identificar a relação dos modos de produção (base)
com o processo histórico (estrutura), especialmente não explicitando como se
processam as mudanças no interior da estrutura, ao negar a categoria da
experiência humana, na negação do empirismo. Em outras palavras, certo
materialismo histórico não explica a relação entre a ação dos sujeitos e as
estruturas, não explica o tratamento racional que é dado a essa relação na
consciência dos sujeitos.
Para superar esse impasse teórico, Thompson (1981, pp. 12, 184, 185 e
187) propõe a categoria da experiência humana como esse mecanismo estrutural
preciso para ligar a base e a estrutura
, buscando defender a própria razão, dentro
da tradição marxista. A introdução dessa categoria serviria para dar ao
diálogo
com a evidência empírica, inerente à produção do conhecimento, um sentido mais
verdadeiro, superando o que ele chama de confusão entre diálogo empírico e
empirismo. Para permitir um novo impulso à própria tradição marxista, a
experiência humana é, para o autor, a chave para explorar as fronteiras do
desconhecido, por meio do diálogo do conhecimento, reordenar todo conjunto de
conceitos teóricos, criando um novo espaço teórico para enfrentar todo novo
campo de problemas que o marxismo permitiu desnudar.
- 16 -
Thompson (1981) define a categoria da experiência como sendo humana,
onde homens e mulheres são sujeitos que:
(...) experimentam suas situações e relações produtivas determinadas
como necessidades e interesses e como antagonismos, e em seguida
“tratam” essa experiência em sua
consciência e sua cultura (...) das mais
complexas maneiras (...) e em seguida (...) agem, por sua vez, sobre a sua
situação determinada. (THOMPSON: 1981, p. 182)
A dimensão da experiência humana de homens e mulheres situados
econômica, social e culturalmente, é para Thompson (1981, p. 16) uma categoria
válida e efetiva, quando tomada dentro de seus limites, ou seja, é preciso
considerar que a experiência é singular ou de grupo, e quando de grupo, singular
dentro do grupo, localizada e não generalizável, onde
o agricultor ‘conhece’ suas
estações, o marinheiro ‘conhece’ seus mares, mas ambos permanecem
mistificados em relação à monarquia e à cosmologia. Dessas considerações do
autor pode-se afirmar que o professor conhece o seu saber e fazer em relação ao
conhecimento que trabalha.
Para Thompson (1981, p. 16) a categoria da experiência humana também
tem seus limites quanto à racionalidade, pois surge espontaneamente nas
relações sociais de homens e mulheres, mas não sem a intencionalidade deles,
que refletem sobre o que acontece a eles e ao seu mundo, ou seja, é
racionalizada por eles (grifo meu). Essa reflexão das pessoas sobre a sua
realidade provoca mudanças que originam a experiência modificada, que é
determinante, pois exerce pressões sobre a consciência social existente, propõe
novas questões e proporciona grande parte do material sobre o qual se
desenvolvem os exercícios intelectuais mais elaborados, ou seja, os exercícios
intelectuais mais racionalizados. Dessa forma, a experiência constitui uma parte
- 17 -
da matéria-prima oferecida aos processos do discurso científico da demonstração.
Os próprios intelectuais não estão imunes às
experiências. Nesse sentido pode-se
pensar a trajetória de uma classe ou de um grupo como o “grupo Araucária”.
Para Thompson (1981, p. 17), reconhecer a experiência como matéria-
prima para produção de conhecimento, é reconhecer também que existe um outro
tipo de produção de conhecimentos, que se processa fora dos padrões
acadêmicos, fora das universidades, no mundo real, que é propulsionado por
sujeitos, com os quais a experiência permite o diálogo. A experiência proporciona
assim o diálogo entre o ser social e a consciência social, e torna-se um
contraponto da ideologia e de conceitos ideologizados. Ou seja, a experiência
permite um diálogo entre a razão e a realidade, oxigeniza o racionalizado e o
intelectualizado.
Thompson (1981, pp. 15 e 188) foi buscar a categoria da experiência
humana na sua própria experiência como historiador e professor, que o
impulsionou a procurar respostas para o que ele chama de
silêncios de Marx.
Partindo de sua prática social cotidiana, o pesquisador ocupa-se da
formação da
consciência social e de suas tensões e trabalha com os acontecimentos em suas
múltiplas evidências, que é seu principal objeto de investigação. Ele também
desenvolve um método próprio de investigação, e percebe que o ser social,
presente nos acontecimentos, entra em choque, em confronto, em debate e
rompe freqüentemente com a consciência social existente, sendo a experiência
uma categoria indispensável ao investigador, que compreende a resposta
mental e emocional, seja de um indivíduo ou de um grupo social, a muitos
- 18 -
acontecimentos inter-relacionados ou a muitas repetições do mesmo tipo de
acontecimento
.
Ainda como investigador, ao explorar na teoria e na prática, os conceitos
de junção (como “necessidade”, “classe” e “determinação”), pelos quais, através
do termo ausente, “experiência”, a estrutura é transmutada em processo, e o
sujeito é reinserido na história
, Thompson (1981) constata que a categoria da
experiência permite
(...) reexaminar todos esses sistemas densos, complexos e elaborados
pelos quais a vida familiar e social é estruturada e a consciência social
encontra realização e expressão (...): parentesco, costumes, as regras
visíveis e invisíveis da regulação social, hegemonia e deferência, formas
simbólicas de dominação e de resistência, religiosa e impulsos
milenaristas, maneiras, leis, instituições e ideologias tudo o que, em sua
totalidade, compreende a “genética” de todo processo histórico, sistemas
que reúnem todos, num certo ponto, na experiência humana comum, que
exerce ela própria (como experiências de classe peculiares) sua pressão
sobre o conjunto. (THOMPSON: 1981, pp. 188-189)
Os estudos de Thompson (1981, p. 189), ao considerarem a ‘experiência
humana’, gerada na ‘vida material’, permitem avançar para o entendimento de que
uma relação dinâmica entre o ‘ser social’ e a ‘consciência social’, superando a
visão da determinação unilateral da estrutura sobre o sujeito. Para exemplificar
essa relação dinâmica entre sujeito e estrutura, ele recorre à relação entre o
sujeito e sua cultura e aos valores culturais em que está inserido. Quanto à
cultura, afirma que as pessoas, homens e mulheres, são sujeitos que
(...) também experimentam sua experiência como sentimento e lidam com
esses sentimentos na cultura, como normas, obrigações familiares e de
parentesco, e reciprocidades, como valores ou (através de formas mais
elaboradas) na arte ou nas convicções religiosas. Essa metade da cultura
(e é uma metade completa) pode ser descrita como consciência efetiva e
moral. (THOMPSON: 1981, p. 189)
- 19 -
Quanto aos valores
(...) não são “pensados”, nem “chamados”; são vividos, e surgem dentro do
mesmo vínculo com a vida material e as relações materiais em que surgem
as nossas idéias. (...) Além disso, os valores, tanto quanto as
necessidades materiais, serão sempre um terreno de
contradição, de luta
entre valores e visões-de-vida alternativos. (...) Homens e mulheres
discutem sobre os valores, escolhem entre valores, e em sua escolha
alegam evidências racionais e interrogam seus próprios valores por meios
racionais. Isso equivale a dizer que essas pessoas são
tão
- 20 -
1.2. Experiência e escolarização
Definida a categoria da experiência a partir de Thompson (1981), é
necessário aproximar esta categoria da escolarização e do conhecimento, ou
seja, da escola como lugar de experiência com o conhecimento, que possibilite
uma análise da experiência e da relação de professores com o conhecimento no
contexto escolar. Para auxiliar no entendimento da escola como lugar de
experiência com o conhecimento, são pertinentes as contribuições dos estudos
sociológicos de Dubet, (1994), sobre a sociologia da experiência e Dubet &
Martuccelli (1997), sobre a sociologia da experiência escolar.
Dubet (1994) propõe uma sociologia da experiência ou da ação, a partir de
sua experiência de investigação, e de diálogos com a sociologia clássica e crítica.
Além da sociologia, busca também contribuições da antropologia e da história
para construir seus pressupostos em base empírica, desenvolvendo estudos em
comunidades de jovens, de trabalhadores e em escolas. Seu objetivo é reescrever
a teoria sociológica à luz da categoria da experiência, promovendo um diálogo
com a teoria à luz das evidências dessas experiências.
Esse diálogo faz com que Dubet (1994) constate uma heterogeneidade de
manifestações de princípios e de fenômenos culturais, que formam uma unidade
na diversidade, uma vez que a experiência humana se constitui num trabalho,
numa atividade de relação do homem com a natureza e com os outros homens.
Essa experiência, para o autor, é complexa, individual e coletiva, e ocorre dentro
das relações sociais de produção, conceito muito próximo da categoria da
experiência elaborada por Thompson (1981). Desta forma, busca romper com as
- 21 -
teorias sociológicas do individualismo, partindo do concreto, do real pensado,
submetido à teoria.
Dubet (1994) concebe a experiência como a atividade humana do trabalho,
que se manifesta simbolicamente na consciência e se expressa a partir de
fenômenos culturais, onde o sujeito estabelece uma separação entre ele e o
sistema social, construindo historicamente um conjunto de imagens, linguagens,
significados, símbolos e elementos à luz da cultura da sociedade e do tempo em
que vive. Assim, a experiência constitui-se na construção, por meio de operações
cognitivas, de códigos de conduta social próprios, de lógicas de ação.
Para Dubet (1994), o sujeito realiza essa experiência de construção numa
relação com a cultura, pois dela ele incorpora, pela consciência, uma série de
códigos, símbolos, palavras e idéias para identificar objetos e sentir emoções que
nela pré-existem. Essa é a porta de entrada do autor para estudar a experiência
escolar, pois aqueles elementos que a cultura disponibiliza dentro da escola,
constituem-se na cultura escolarizada e permitem a experiência escolar.
E a escola? Como Dubet entende a escola?
Para Dubet (1994, pp. 170 a 181), a escola não é mais uma instituição com
uma função social definida de educar, selecionar e socializar, como entendia, por
exemplo, o funcionalismo. Tampouco é uma instituição ajustada para reproduzir
as expectativas da sociedade. A massificação da escolarização desajustou a
escola, relativizou o seu valor. Trata-se, segundo o autor, da sucumbência do
modelo de organização da escola com a função de institucionalizar valores, pois a
educação escolar não é apenas um espaço de reprodução, mas também de
- 22 -
produção, apontando para os atores da escola como construtores de sua própria
ex
periência.
Nos estudos feitos por Dubet & Martuccelli (1997, pp. 13 e 14) sobre a
escola francesa, desde a escola clássica, passando pela escola funcionalista e
chagando a escola republicana, esses autores questionam o que a escola fabrica
(produz) e constatam que esta se parece cada vez mais com um mercado, do que
com uma instituição, onde uma competição entre os diversos atores, os quais,
por meio de diversas estratégias, estão em busca de qualificações cada vez mais
raras, submetendo a importância social das filosofias e valores educativos às
expectativas e promessas advindas do êxito escolar. Quanto ao ‘produto’ da
escola, dizem eles, ela não fabrica mais, de forma harmônica, atores e sujeitos
que desempenham papéis pré-estabelecidos e pré-definidos. Os papéis a serem
desempenhados, e a própria noção de papel, passam a ser redefinidos,
construídos a partir da experiência, pois os estudantes buscam uma formação que
os capacite a programar e conduzir suas experiências de aprendizado, não mais
se submetendo à aprendizagem de papéis definidos e sucessivos.
A escola era considerada como uma instituição que transformava valores
coletivos em personalidades individuais, a socialização podia ser
essencialmente concebida como um processo de interiorização de normas
e valores. Assim foi considerada pela sociologia clássica, que postulava a
identidade do ator e do sistema. Se, no entanto, se admite que a
integração das diversas “funções” da escola não serve, o processo de
socialização, especialmente em sua dimensão de subjetivação, deve ser
estudado na atividade dos atores que constróem sua experiência escolar e
enquanto são formados por ela. É nessa capacidade mesma de elaborar
sua experiência, onde os indivíduos jovens se socializam para além de
uma inculcação cultural, quando a unidade do mundo social não é um
dado imediato da experiência, quando as situações escolares não estão
reguladas desde o início por papéis e expectativas acordadas, mas, são
- 23 -
construídas ao vivo pelos atores presentes (DUBET & MARTUCCELLI,
1997, p. 63)
9
.
Em seus estudos, Dubet & Martuccelli (1997, p. 14) dão vazão à vertente
subjetiva do sistema escolar, constatando que os estudantes combinam e
articulam as lógicas da integração da cultura escolar, as lógicas e estratégias do
mercado e o manejo subjetivo dos conhecimentos e das culturas que portam a
cultura escolar e o mercado. A educação passa da inculcação da escola regulada
a um processo de autoeducação, onde os atores trabalham sobre si mesmos, se
socializam por meio destas diversas aprendizagens e se constituem como sujeitos
em sua capacidade de administrar sua experiência.
Por este trabalho sobre si mesmo, o indivíduo não é somente um ator
social, é também um sujeito: a formação deste sujeito participa plenamente
de sua socialização, o que proíbe conceber a socialização como uma
clonagem (DUBET & MARTUCCELLI, 1997, pp. 62-63)
10
.
Para Dubet & Martuccelli (1997, p 14), o processo de formação subjetiva
não se realiza somente na escola, na relação pedagógica com professores e
colegas, mas ocorre de forma mais ampla, envolvendo uma multiplicidade de
relações e de esferas de ação. Os alunos são, ao mesmo tempo, alunos e
9
Traduzido pelo investigador do original em espanhol: Mientras la escuela era considerada como
uma institución que transformaba valores colectivos en personalidades individuales, la
socialización podía ser essencialmente concebida como un processo de interiorización de normas
y de valores. Así fue considerada por la sociología clássica, la que postulaba la identidad del actor
y del sistema. Pero si se admite que la integración de las diversas “funciones” de la escuela ya no
sirve, el processo de socialización, especialmente en su dimensión de subjetivación, debe ser
estudiado en la actividad de los actores que construyen su experiencia escolar y en cuanto que
son formados por ella. Es en esa capacidad misma de elaborar su experiência escolar y en cuanto
que son formados por ella. Es en esa capacidad misma de elaborar su experiencia, donde los
jovenes individuos se socializan más allá de una inculcación cultural, cuando la unidad del mundo
social ya no es un dato inmediato de la experiencia, cuando las situaciones escolares no están
reguladas al inicio por roles y expectativas acordadas, sino que son construidas
in vivo por los
actores presentes.
10
Traduzido do original em espanhol: Por este trabajo sobre mismo, el individuo no es
solamente un actor social sino que es también un sujeto: la formación de este sujeto participa
plenamente de su socialización, lo que prohíbe concebir la socialización como un
clonage.
- 24 -
crianças, alunos e adolescentes, alunos e jovens. Aprendem a crescer em todas
estas dimensões de sua experiência. Esse aprendizado não se restringe somente
ao ambiente escolar, amplia-se para além da escola onde administram as
amizades e os amores infantis e juvenis, o entusiasmo e as tristezas, os fracassos
e os êxitos, que são dimensões de uma experiência que se transforma e que têm
participação na formação dos indivíduos, assim como as aprendizagens
escolares. Os autores chamam a atenção que essa formação em etapas têm
modulações diversas, segundo a posição no sistema e segundo diversas
situações sociais dos atores escolares.
Dubet & Martuccelli (1997, pp. 14 e 15) concluem que, para compreender o
que fabrica e produz a escola, é necessário compreender como se constrói a
subjetividade de indivíduos, como se esse trabalho de construção da
subjetividade na experiência. Essa compreensão deve ser o mais objetiva
possível para que a escola possa ampliar o entendimento sobre a subjetividade
que hoje escapa de seu controle, ainda que fabricada em seu seio. Compreender
esta parte incontrolada, a subjetividade, parece cada vez mais importante que a
parte que surge da
clonagem educativa, a tal ponto são diversos os públicos
escolares, são diversas as subjetividades, e as situações escolares parecem
pouco reguladas que, às vezes, podemos ter o sentimento de que os alunos se
constroem ao largo e contra a escola.
Dubet (1994) e Dubet & Martuccelli (1997) agregam dois elementos à
categoria da experiência para minha investigação: definem a escola como um
lugar social da experiência dos atores escolares: crianças, adolescentes e jovens,
e por que não, professores, e resgatam a dimensão da ação subjetiva do sujeito
- 25 -
no processo de socialização pela experiência vivida na escola e nos demais
ambientes de experiência dos sujeitos, que ele denomina atores no processo.
Nesse caso, o espaço da experiência dos professores investigados é o próprio
“grupo Araucária”.
1.3. Experiência e conhecimento
A partir das contribuições de Thompson (1981), Dubet (1994) e Dubet &
Martuccelli (1997), a categoria da experiência passa a ser entendida como
processo em que homens e mulheres tornam-se sujeitos em suas relações
produtivas, afetivas, culturais e axiológicas, em que a escola é um dos lugares
sociais, mas não único, das experiências de homens e mulheres enquanto
crianças, adolescentes, jovens, alunos e professores, uma experiência onde a
dimensão subjetiva do sujeito também age. No entanto, como se essa
experiência de relação com o conhecimento, ou seja, a experiência de relação de
sujeitos com o saber?
É nos estudos de CHARLOT (2000) sobre a experiência antropológica de
relação com o saber, propondo o desenvolvimento da sociologia do sujeito, por
meio de diálogos com a sociologia da ação, filosofia, psicologia, antropologia e
lingüística, que buscamos alguns elementos para o entendimento da categoria da
experiência da relação do sujeito com o conhecimento ou com o saber.
Assim como Dubet (1994) e Dubet & Martuccelli (1997), Charlot (2000, p. 9)
em suas pesquisas, parte de questões do âmbito da experiência escolar para
investigar as relações com o saber. Parte da questão
sociomidiatizada e
ideologizada do fracasso escolar. No entanto, diferentemente dos que o
- 26 -
antecederam em estudos sobre essa temática, não busca entender o fracasso
escolar em si, nem busca suas causas na reprodução social das classes sociais.
Seu objetivo é compreender os alunos como sujeitos em situação de fracasso.
Mais, compreender como esses sujeitos, os alunos enquanto crianças,
adolescentes e jovens, especialmente de classes menos favorecidas, se
relacionam com o saber e com a escola.
Para Charlot (2000, p. 14), o fracasso escolar é uma noção-encruzilhada
que permite muitos debates: sobre o aprendizado, eficácia dos docentes, serviço
público, igualdade das ‘chances’, modos de vida e o trabalho na sociedade de
amanhã, formas de cidadania. Para ele não é esta a porta de entrada para
investigar a questão pedagógica da experiência de relação com o saber, pois
seria partir da constatação ideologizada e generalizada da desigualdade social,
da ineficácia pedagógica dos docentes.A porta de entrada para entender as
experiências de relação com o saber é o aluno enquanto sujeito em situação de
fracasso.
Existem alunos que não conseguem acompanhar o ensino que lhes é
dispensado, que não adquirem os saberes que supostamente deveriam
adquirir, que não constroem certas competências, que não são orientados
para a habilitação que desejariam, alunos que naufragam e reagem com
condutas de retração, desordem, agressão.(CHARLOT: 2000, p. 16)
Segundo esse autor, o fracasso escolar não existe enquanto entidade
concreta, como objeto de investigação. Um conjunto de fenômenos é que são
assim conceituados. O que é possível ser investigado são alunos fracassados,
situações de fracasso, histórias escolares que terminam mal (CHARLOT: 2000, p.
17), que estatística e hierarquicamente são posicionados de acordo com suas
- 27 -
diferenças em relação aos alunos que têm êxito, realçadas e justificadas pelas
diferenças sociais, na perspectiva de deficiências, falta de algo.
Para esse pesquisador francês o fracasso escolar vai muito além de
diferença estatística e diferença social. Têm várias dimensões:
É também uma experiência que o aluno vive e interpreta e que pode
constituir-se em objeto de pesquisa. (...) designa: as situações nas quais
os alunos se encontram em um momento de sua história escolar, as
atividades e condutas desses alunos, seus discursos. (...) que (...) traz a
marca da diferença e da falta: ele encontra dificuldades em certas
situações, ou orientações que lhe são impostas, ele constrói uma imagem
desvalorizada de si ou, ao contrário, consegue acalmar esse sofrimento
narcísico que é o fracasso (...)”. (CHARLOT:, pp. 17-18)
Para superar as investigações sociológicas do fracasso escolar como
situação social, como diferença estatística e social, e como experiência dessa
diferença, nas quais Charlot (2000, pp. 18, 21-23) limites, fazemos diálogos
com os estudos de Bourdieu e de Dubet, os quais propõem analisá-los na
perspectiva de experiências diferentes na “relação com o saber e a escola”. Na
sociologia da diferença (especialmente de Bourdieu), o autor aponta limites na
resposta às seguintes questões: a) A criança é sujeito na construção de sua
posição social ao longo de sua história, que é singular. Essa posição é “objetiva” e
“subjetiva”, onde a primeira é a posição social efetivamente ocupada pelos pais e
pela própria criança, e a segunda é a posição social assumida, adotada no
espaço social, que pode ter lugar no pensamento e manifestar-se no
comportamento. Ou seja, não basta saber a posição social dos pais e dos filhos;
deve-se também interrogar sobre o significado que eles conferem a essa posição.
b) A posição social dos filhos não é “herdada”, à maneira de um bem que
passasse de uma geração a outra por uma vontade testamental; a posição social
- 28 -
é produzida por um conjunto de práticas familiares que vão desde o
acompanhamento e a atenção que os pais dispensam às tarefas, às atividades
culturais e educacionais e ao próprio esforço e
trabalho como atividade prática
dispensado pelos filhos aos estudos e às atividades culturais e educativas. c) A
posição escolar é uma posição específica, regida por regras específicas e
desenvolve-se em condições específicas de apropriação de um saber.
Assim, para analisar o fracasso escolar, é necessário levar em
consideração
O fato de que ele “tem alguma coisa a ver” com a posição social da família
sem por isso reduzir essa posição a um lugar em uma nomenclatura
socioprofissional, nem a família a uma posição
; a singularidade e a história
dos indivíduos
; o significado que esses sujeitos conferem à sua posição, à
sua história, às situações que vivem e à sua própria singularidade
; a sua
atividade efetiva, suas práticas
; e a especificidade dessa atividade, que se
desenrola (ou não) no campo do saber
. (CHARLOT: 2000, p. 23)
Não considerar estes pontos, e simplesmente atribuir o fracasso escolar a
origem social e a deficiência sociocultural é fazer uma leitura negativa da
realidade social interpretada em termos de faltas. Faz-se necessário uma inversão
nesta leitura, ou seja, a análise da relação com o saber implica (...) uma leitura
positiva dessa realidade: liga-se à experiência dos alunos, à sua interpretação do
mundo, à sua atividade. (CHARLOT: 2000, pp. 29-30)
Essa passagem da leitura negativa à leitura positiva proposta por Charlot
(2000, p. 30) é fundamental, pois se trata de uma “postura epistemológica e
metodológica”, que, ao invés de reificar as deficiências, carências e lacunas,
aniquilando o aluno, pensando-o como um objeto incompleto, dominando-o como
um objeto, trata-o como sujeito por meio do questionamento do que está
ocorrendo com o aluno, que atividades desenvolve, que sentido às atividades,
- 29 -
situações de aprendizagem e relações com os outros, busca compreender como
se constrói a situação de um aluno que fracassa em um aprendizado e, não, “o
que falta” para essa situação ser uma situação de aluno bem-sucedido
.
“Raciocinar em termos de carências é pensá-lo como um objeto
incompleto, do ponto de vista do dominante, que se situa como sujeito
realizado e e trata o dominado como objeto. Procurar compreender o
fracasso como uma situação que advém durante uma história é considerar
que todo o indivíduo é
um sujeito, por mais dominado que seja. Um sujeito
que interpreta o mundo, resiste à dominação, afirma positivamente seus
desejos e interesses, procura transformar a ordem do mundo em seu
próprio proveito. Praticar uma leitura positiva é recusar-se a pensar o
dominado como um objeto passivo, “reproduzido” pelo dominante e
completamente manipulado, até, inclusive, em suas disposições psíquicas
mais íntimas. Mas sem incorrer em ingenuidade e sem esquecer que o
dominado é, com certeza, um sujeito, porém um sujeito dominado”
(CHARLOT, 2000, p. 31).
Para fazer essa inversão da leitura negativa para a leitura positiva da
situação de fracasso escolar, Charlot (2000, p. 33) propõe o desenvolvimento de
uma
sociologia do sujeito, pois o aluno é um sujeito, não importa sua situação, é
uma
criança, um adolescente, um jovem, um ser humano em relação com outros-58(sua )1 la83(em )-edp uma
- 30 -
sujeito. Para ele, Durkheim desenvolveu uma sociologia sem sujeito, por tomar as
representações coletivas ou fatos sociais como coisas, modos de agir, de pensar
e sentir, exteriores ao indivíduo, dotados de um poder de coerção exterior ao
sujeito, em virtude do qual se impõem a ele. Desenvolveu, assim, uma sociologia
e um psiquismo sem sujeito, não podendo contribuir para
dar conta da experiência
escolar dos sujeitos
.
Em Bourdieu, Charlot (2000) vê avanços ao enfatizar que o sujeito é social,
e é social na constituição do psíquico, do
habitus, no entanto também não pode
dar conta da experiência escolar dos sujeitos, pois vincula a interiorização do
psíquico à posição social. A sociologia de Bourdieu, segundo o autor, pode
contribuir para compreender a relação de um grupo com o saber, mas não da
relação de um sujeito que pertença a este grupo com o saber, pois a experiência
escolar é a de um sujeito e uma sociologia da experiência escolar deve ser uma
sociologia do sujeito (pp. 35-38). Assim, a referência a Charlot justifica-se no
sentido de que a experiência dos professores de História de Araucária com o
saber faz-se no e a partir de “Grupo Araucária”, mas, também, trata-se da
experiência de cada um deles em particular.
Quanto a Dubet, Charlot (2000) reconhece que construiu uma sociologia da
experiência escolar, elegendo como objeto a subjetividade dos atores do
processo, no entanto não constituiu-se ainda como uma sociologia do sujeito, pois
não consegue livrar-se totalmente dos limites que a sociologia clássica se impõe
ao recusar-se a tomar em consideração a especificidade do sujeito, mas sim
como uma sociologia da subjetivação, uma sociologia da ação, na qual o conjunto
social é formado pela co-presença de três sistemas regidos por lógicas diferentes:
- 31 -
a comunidade pela lógica da integração, os mercados competitivos pela lógica da
estratégia
e o sistema cultural pela lógica da subjetivação. O indivíduo está
submetido a cada uma dessas lógicas e constrói sua subjetividade e reflexividade
na dinâmica da articulação das diversas lógicas de ação diferentes, onde a
experiência social é a combinação subjetiva de diversos tipos de ação. A Escola
não é mais uma instituição com funções pré-estabelecidas, com um sentido
dado, ela é estruturada por várias lógicas de ação: a socialização, a distribuição
das competências, e a educação. O sentido da escola deve ser construído pela
ação dos atores, pela experiência escolar onde os atores, individuais e coletivos,
combinam as diversas lógicas da ação que estruturam o mundo escolar
. Essa
atividade de articulação entre as lógicas da ação
constitui a subjetividade do ator
(pp. 38-39).
Para Charlot (2000) esse modelo de análise apresenta alguns limites, como
a falta de coerência interna onde convivem dois modelos incompatíveis, um
- 32 -
para com o social, é sim um ser singular que se apropria do social sob uma
forma
específica, transformada em representações, comportamentos,
aspirações, práticas, etc. Nesse sentido, o sujeito tem uma realidade social
que pode ser estudada, analisada, de outra maneira, não em termos de
diferença ou distância. (CHARLOT: 2000, p. 43)
Charlot (2000, p. 46) aponta para a necessidade de uma sociologia do
sujeito dialogar com a psicologia, não com a psicologia do desenvolvimento de
Piaget, desenvolvida com referência na biologia e na lógica, sem ignorar o social,
mas com os estudos em que a psicologia estabeleça como princípio que toda
relação de mim comigo mesmo passa pela minha relação com o outro, ou seja,
que considere a relação do sujeito com ele mesmo, com os outros, com o social e
com as contribuições e efeitos que essas relações têm na construção do sujeito e
do outro.
Toda relação consigo é também relação com o outro, e toda a relação com
o outro é também relação consigo próprio. um princípio essencial
para a construção de uma sociologia do sujeito: é porque cada um leva em
si o fantasma do outro e porque, inversamente, as relações sociais geram
efeitos sobre os sujeitos que é possível uma sociologia do sujeito. ,
também, um princípio fundamental para compreender-se a experiência
escolar e para analisar-se a relação com o saber: a experiência escolar é,
indissociavelmente, relação consigo, relação com os outros (professores e
colegas), relação com o saber. (CHARLOT: 2000, pp. 46-47)
Para Charlot (2000, p. 47) a relação com o saber é uma relação de alguém,
de um sujeito, de um sujeito movido pela dinâmica do desejo, e desejo é sempre o
desejo de alguma coisa, de um objeto de desejo, que em última análise, sempre é
o outro, que pode ser buscado pelo saber, ou seja, pelo desejo de saber, através
da relação com o saber. O componente do desejo, da busca do outro e da relação
do sujeito com o saber que é uma condição essencialmente humana, leva à
necessidade de um diálogo com a Antropologia, pois essa questão lhe pertence.
- 33 -
A perspectiva antropológica está ausente em Dubet, que situa a
socialização e a subjetivação, mas esquece a hominização. (...) o sujeito e
seu desejo não são inteligíveis senão através da condição humana. É daí
que é necessário partir: da condição do filho do homem, condição que faz
dele um sujeito, ligado ao outro, desejando, partilhando um mundo com
outros sujeitos e com eles transformando esse mundo. Essa condição
impõe ao filho do homem que se aproprie do mundo e construa a si
mesmo, se eduque e seja educado. (CHARLOT: 2000, pp. 48-49)
Segundo Charlot (2000, pp. 57-59), os seres humanos são levados pelo
desejo de relação com o outro e abertos para um mundo social no qual ele ocupa
um lugar, uma posição, do qual é um elemento ativo, onde o sujeito pode
tornar-se (sujeito) na relação obrigatória com o saber através da atividade, da
mobilização e do significado, a apropriar-se do mundo, ingressando no mundo
através do aprendizado, do aprender.
A relação do sujeito com o saber é muito mais ampla que o sujeito de
saber, sujeito racional, o que o sujeito sabe. Charlot (2000, p. 61-62) não parte do
sujeito de saber para investigar a relação com o saber. Busca se dedicar a
apreender as relações dos sujeitos com o saber, pois o que existe não é o saber
em si ou sujeitos que sabem, e sim sujeitos que estão em relação com o saber,
numa dinâmica atividade de relações consigo mesmo e com os outros, onde o
conhecimento é resultado de uma experiência pessoal, com primazia da
subjetividade, de apropriação de informações e saberes com primazia da
objetividade, no confronto com outros sujeitos onde a primazia é da
intersubjetividade e o próprio saber é relação, produto e resultado da interação de
conhecimento do mundo por um sujeito.
Não há sujeito de saber e não há saber senão em uma certa relação com o
mundo, que vem a ser, ao mesmo tempo e por isso mesmo, uma relação
com o saber. Essa relação com o mundo é também relação consigo
mesmo e relação com os outros. Implica uma forma de atividade e,
- 34 -
acrescentarei, uma relação com a linguagem e uma relação com o tempo.
(CHARLOT: p. 63)
Para Charlot (2000), o saber implica ainda outras relações: é construído em
uma história coletiva
, é validado por comunidades científicas, é produto de
relações epistemológicas, é transmitido enquanto reconhecido pela sociedade,
sendo essencialmente, relações sociais. Dessa forma o saber é apropriado
pelo sujeito, se torna uma relação significativa com o saber se ele se instalar
na relação com o mundo que a constituição dessa saber
(construção coletiva)
supõe. Essa relação significativa com o saber o sujeito transfere para outras
relações com o mundo. A não situação do sujeito numa relação significativa com o
saber, onde se aproprie das relações e formas de construção desse saber, leva a
uma apropriação descontextualizada do saber, uma relação negativa com o
saber, pouco contribuindo para a sua formação, deteriorando sua relação com o
mundo.
Não saber sem uma relação do sujeito com esse saber. (...) o sujeito
jamais é um puro sujeito de saber: mantém com o mundo relações de
diversas espécies. Também, um enunciado que possa ser investido em
uma relação com o mundo que seja uma relação de saber pode também
ser investido em um outro tipo de relação com o mundo: o aluno aprenderá
para evitar uma nota baixa ou uma surra, para passar de ano, para ter uma
boa profissão mais tarde, para agradar ao professor que considere
simpático, etc. Nesse caso, a apropriação do saber é frágil, pois esse
saber pouco apoio recebe do tipo de relação com o mundo
(descontextualização, objetivação, argumentação...) que lhe um sentido
específico; e adquire sentido em outro sistema de sentido. Nesse caso
também, a apropriação do saber não é acompanhada pela instalação em
uma forma específica de relação com o mundo e não surte quase nenhum
efeito na formação, nem, tampouco, de ‘transferência’. (CHARLOT: pp. 63-
64)
Entender que a relação do sujeito com o saber é mais ampla que o sujeito
de saber, racional, o que ele sabe, buscar apreender as relações dos sujeitos com
- 35 -
o saber implica, segundo Charlot (2000, p. 64), em conseqüências metodológicas,
teóricas e pedagógicas.
Metodológicas, pois o ponto de partida passa a ser a
relação e não o saber ou o sujeito. Teóricas, pois o saber passa a ter sentido e
valor para além do próprio saber, passa a ter sentido e valor como saber em
relação: de produção, de apropriação e de movimentos objetivos e subjetivos que
produz no sujeito nas relações consigo mesmo, com o mundo e com os outros.
Principalmente conseqüências pedagógicas, pois se o saber é relação, o
processo que leva a adotar uma relação de saber com o mundo é que deve ser o
objeto de uma educação intelectual e, não, a acumulação de conteúdos
intelectuais
.
A
relação de identidade com o saber é caracterizada por Charlot (2000, p.
72) como sendo a dimensão do aprender referenciado no sujeito, em sua história,
em suas expectativas, em sua concepção de vida, em suas relações com os
outros, na imagem que tem de si mesmo. A dimensão da identidade confere
sentido ao aprender, com reflexos na construção da imagem que o sujeito constrói
de si na relação com os outros e com o saber. Crianças e adolescentes aprendem
para conquistar sua independência e para tornar-se alguém. O sucesso escolar
lhe traz segurança e age como um reforço narcísico. O fracasso provoca estragos
na relação consigo mesmo podendo levar a depressão, dependência química,
violência, inclusive a suicida. É possível ser alguém através das diferentes figuras
do aprender, mas a sociedade e a escola impõem a figura do saber-objeto como
passagem obrigatória para que o sujeito seje alguém. No entanto, toda relação
com o saber comporta uma dimensão relacional, que é parte integrante da
dimensão identitária.
- 36 -
Outra dimensão da relação com o saber apontada por Charlot (2000, p. 73)
é a
dimensão social. A relação com o saber se através de um sujeito em
relação com o mundo e com os outros, mundo estruturado por relações sociais. A
relação com o saber não deixa de ser uma relação social, embora sendo de um
sujeito. A dimensão social não se acrescenta às dimensões epistêmica e
identitária: ela contribui para lhes dar forma. Os aspectos identitário e social são
inseparáveis no sujeito.
Para Charlot (2000, p. 74) a relação com o saber é social não apenas no
aspecto da posição social, mas também em relação à história. Para compreender
a relação de um indivíduo com o saber, deve-se levar em consideração sua
origem social, mas também a evolução do mercado de trabalho, do sistema
escolar, das formas culturais, etc.(...) rupturas entre as gerações. Isso implica em
questões de método quanto à análise da relação com o saber, que, enquanto
relação social deve ser feita através da análise das dimensões epistêmica e
identitária e não independentemente, ocupando-se de histórias sociais e modos
de apropriação do mundo superando o estudo apenas de posições ou trajetórias
sociais e o modo de acesso a elas.
A análise das dimensões epistêmica, identitária e social das relações com
o saber remetem à seguinte questão pedagógica: o que é uma aula interessante?
é possível compreender o que é uma aula interessante entendendo as
relações com o saber. Para Charlot (2000, p. 73), uma aula “interessante” é uma
aula na qual se estabeleça, em uma forma específica, uma relação com o mundo,
uma relação consigo mesmo e uma relação com o outro, ou seja, onde estejam
- 37 -
imbricadas e haja um respeito às relações epistêmica, identitária e social que os
sujeitos estabelecem com o saber.
Concluindo, Charlot (2000,) define a relação com o saber, construída em
relações sociais de saber, como
(...) o conjunto das relações que um sujeito mantém com um objeto, um
‘conteúdo de pensamento’, uma atividade, uma relação interpessoal, um
lugar, uma pessoa, uma situação, uma ocasião, uma obrigação, etc.,
ligados de uma certa maneira com o aprender e o saber; e, por isso
mesmo, é também relação com a linguagem, relação com o tempo, relação
com a ação no mundo e sobre o mundo, relação com os outros e relação
consigo mesmo enquanto mais ou menos capaz de aprender tal coisa, em
tal situação. (CHARLOT: 2000, p. 81)
Em síntese, Charlot (2000) contribui com minha investigação com o
conceito da experiência da relação com o saber, experiência de sujeitos em
relação com o saber, em que a relação com o saber é condição humana e de
humanização, sendo para tal necessário o aprendizado da relação com os
objetos, com as pessoas e com o próprio conhecimento, por meio de relações
epistêmicas, identitárias e sociais com o saber. Essas perspectivas de Charlot
embasam, sob a forma de experiências, as potencialidades que os professores do
“Grupo Araucária” criam no decorrer de sua construção como grupo, motivadas
pela experienciação de um tipo de relação com o saber. Essa “experiência” esteve
intrinsecamente matizada pelo desejo explícito e implícito de uma nova relação
com o saber histórico e sua forma escolar.
Percorridos os teóricos Thompson (1981), Dubet (1994), Dubet &
Martuccelli (1997) e Charlot (2000), que contribuíram com elementos para
explicitar a categoria da experiência antropológica de relação como o
- 38 -
conhecimento no contexto escolar, podemos sistematizar alguns elementos
fundamentais, onde se ancoram esse trabalho:
A “experiência” é humana, ou seja, é um processo em que homens e
mulheres, enquanto crianças, adolescentes, jovens e, dentre estes,
professores, se tornam sujeitos em suas relações produtivas, afetivas,
culturais, axiológicas e de saber.
Esse processo é permeado de elaborações racionais, de dinâmicas de
produção do ‘ser social’ por meio de relações de confronto, choques e
rupturas com determinadas formas de ‘consciência social’, e construção de
outras.
A “experiência” provoca e alimenta a reflexão, produz mudanças conceituais,
permite a oxigenação do racionalizado, do estruturado, por meio da
realimentação da produção do conhecimento, no diálogo entre razão e
realidade.
A “experiência” permite a relação dinâmica entre o sujeito e a estrutura que se
manifesta pela relação, ao mesmo tempo, espontânea, intencional,
contraditória e de luta, do sujeito com a cultura e os valores da sociedade em
que está inserido.
A “experiência” ocorre nas relações sociais, dentre estas, na escola, ou em
outros lugares educativos, lugares de experiência da relação com o saber,
onde alunos e professores são sujeitos, não importa sua situação ou posição
social.
- 39 -
Na experiência de relação com o saber, professores e alunos são sujeitos
com ação subjetiva, em relação com outros seres humanos, também sujeitos
com ação subjetiva, portadores de desejos e movidos por eles.
Na experiência de relação com o saber, professores e alunos são seres
sociais, com família, posição social, inseridos em relações sociais e se
apropriam do universo social dos possíveis.
Na experiência de relação com o saber, professores e alunos são seres
humanos singulares, únicos entre a espécie humana, com sua própria história
e visão de mundo. Dão um sentido a esse mundo, à posição que ocupam
nele, às suas relações com os outros, às suas próprias histórias, às suas
singularidades, às suas experiências de relação com o saber.
A experiência de relação com o saber pode ser singular ou em grupo, e
quando em grupo, é singular dentro do grupo, portanto, não generalizável;
Na experiência de relação com o saber, professores e alunos são dotados de
um psiquismo regido por uma lógica específica e constróem seu mundo
singular tendo por referência lógicas de ação heterogêneas.
A experiência de relação com o saber é condição humana, portanto, homens
e mulheres tornam-se sujeitos de seu processo de humanização em suas
relações com o saber, com o conhecimento, pela educação. A humanização
por meio da relação com o saber é tanto mais humanizante quanto mais
significativa for esta relação.
Uma relação significativa com o saber pressupõe que o ser humano, sendo
social e singular, para agir no e sobre o mundo, aprenda a relacionar-se com
- 40 -
os objetos, com as pessoas e com o próprio conhecimento, por meio de
relações epistêmicas, identitárias e sociais com o saber.
Esses elementos fundamentais nos permitem avançar para uma outra
incursão, agora por teóricos que contribuem para compreender a relação da
experiência com o conhecimento no contexto escolar, a função do professor e
suas relações com o saber e o conhecimento específico.
- 41 -
CAPÍTULO II Experiência com o conhecimento e a função do
professor
As idéias de Thompson, Dubet, Martuccelli e Charlot são fundamentais
para compreender a experiência humana de relação com o conhecimento. O
objetivo deste capítulo é investigar as dimensões coletiva, investigativa e
produtiva, da experiência de relação de professores com o saber, ou seja, a
experiência com o conhecimento e a função do professor.
Partimos do pressuposto de que o professor, em sua experiência de
relação com o saber, pode ser tomado na dimensão de intelectual que investiga,
produz e transforma pelas experiências organizadas, coletivas e situadas, as
relações sociais e as relações de saber em que está inserido. Ademais, ele
também investiga e transforma as concepções que tem em relação a si próprio e
à sua função; aos alunos em suas relações com o saber; à relação com a sua
formação e à relação com conhecimento com o qual trabalha, sua produção e seu
ensino.
Esses pressupostos colocam em questão a importância de se pensar o
professor como intelectual e os elementos que o constituem como tal.
Uma reflexão sobre essa natureza da profissão docente nos leva à um
diálogo com os estudos de GIROUX (1997), sobre a experiência de professor
como intelectual transformador; GOODSON (1992), sobre a experiência de
professor reflexivo; GARCÍA (1999), sobre o desenvolvimento profissional através
da investigação; FORQUIN (1993), sobre cultura escolar; GRAMSCI (1978), sobre
- 42 -
o intelectual coletivo; GONZÁLEZ (1984) e SCHMIDT (2006), sobre a experiência
de apropriação da produção do conhecimento; LAUTIER (1997), sobre o
professor de história enquanto profissional; e do campo da Educação Histórica
para levantar alguns elementos que permitam analisar a dimensão do professor
como produtor de conhecimento na relação com idéias históricas.
2.1. O professor como intelectual
GIROUX (1997: pp. 26-27), no contexto de suas reflexões sobre o
discurso
11
da teoria educacional radical, caracteriza os professores como
intelectuais transformadores e auxilia na compreensão do professor nessa
dimensão. Para ele, deve-se reconhecer o conteúdo crítico da teoria educacional
radical, mas pondera que, enquanto presa a uma linguagem que liga as escolas
principalmente às ideologias e práticas da dominação, ou aos parâmetros
estreitos do discurso da economia política, essa teoria oferece um instrumental
para ver a escola apenas como local de reprodução das desigualdades sociais, e
para viabilizar-se como um projeto político. Assim, necessita do desenvolvimento,
pelos professores que a defendem, de um discurso que combine a linguagem da
análise crítica com a linguagem da possibilidade. Este discurso, segundo o autor,
deve permitir duas coisas: a análise do funcionamento cotidiano das escolas para
detectar as oportunidades para lutas e reformas democráticas; a possibilidade de
oferecer as bases teóricas para que professores e demais indivíduos encarem e
experimentem a natureza do trabalho docente de maneira crítica e potencialmente
11
Giroux utiliza a palavra discurso no sentido de linguagem prenhe de análise crítica e proposta
transformadora.
- 43 -
transformadora. Como elementos fundamentais desse discurso, o autor aponta a
necessária
definição das escolas como esferas públicas democráticas e a
definição dos professores como intelectuais transformadores.
Para elucidar o papel do professor como intelectual transformador, Giroux
ao definir as escolas como esferas públicas democráticas, politiza a noção de
escolarização
, pois são
(...) lugares públicos onde os estudantes aprendem o conhecimento e as
habilidades necessárias para viver em uma democracia autêntica (...)
construídas em torno de formas de investigação crítica que dignificam o
diálogo significativo e a atividade humana (...) como instituições que
fornecem as condições ideológicas e materiais necessárias para a
educação dos cidadãos na dinâmica da alfabetização crítica e coragem
cívica, e estas constituem a base para o funcionamento como cidadãos
ativos em uma sociedade democrática (GIROUX: 1997, pp. 28-29).
Além da escola como esfera pública e democrática, Giroux (1997) aponta
outras condições necessárias que delimitam ou fortalecem as práticas do
professor como intelectual transformador, quais sejam: as condições de trabalho;
a função social; a participação política; as condições materiais concretas; a
participação na organização do tempo, do espaço, das atividades e do
conhecimento no cotidiano nas escolas; a criação de ideologia e condições
estruturais necessárias para escrita, pesquisa e trabalho em grupo na produção
de currículos e participação nas decisões; o desenvolvimento de um discurso e
- 44 -
tecnocrática e instrumental que os ameaça nas escolas públicas, reduzindo a sua
autonomia no planejamento curricular, na prática e na intervenção pedagógica na
sala de aula, devolvendo-lhe uma
forma de repensar e reestruturar a natureza da
atividade docente. A categoria de intelectual devolve à atividade de docência o
caráter de trabalho intelectual, superando-a como mero trabalho instrumental ou
técnico, integrando pensamento e prática, destacando
a essência do que significa
encarar os professores como profissionais reflexivos
, que, desta forma, vão
questionar, na prática, a separação da conceitualização, planejamento e
organização curricular dos processos de implantação e execução dos mesmos,
assumindo
responsabilidade ativa pelo levantamento de questões sérias acerca
do que ensinam, como devem ensinar, e quais são as metas mais amplas pelas
quais estão lutando. (...) assumir um papel responsável na formação dos
propósitos e condições de escolarização.
Outro aspecto importante que Giroux (1997) pontua é a função social do
professor como intelectual que tem relação intrínseca com a concepção de escola
como local econômico, cultural e social, uma vez que o professor estrutura a
natureza de seu discurso, as relações sociais em sala de aula e os valores que
transmitem, visando legitimar seus interesses políticos e ideológicos, num
contexto definido que é a escola, em que
(...) as escolas são lugares que representam formas de conhecimento,
práticas de linguagem, relações e valores sociais que são seleções e
exclusões particulares da cultura mais ampla. (...) as escolas são, de fato,
esferas controversas que incorporam e expressam uma disputa acerca de
que formas de autoridade, tipos de conhecimento, formas de regulação
moral e versões do passado e futuro devem ser legitimadas e transmitidas
aos estudantes (GIROUX: 1997, p. 162).
- 45 -
A função social do professor enquanto intelectual o levará a ser
transformador na medida em que potencializar a relação entre o pedagógico e o
político e vice-versa, ou seja, colocar o pedagógico a serviço de uma formação
para a democracia, instrumentalizando os jovens a lutarem pela justiça social, de
um lado, e de outro, politizar o conteúdo pedagógico, com
(...) formas de pedagogia que tratem os estudantes como agentes críticos;
tornem o conhecimento problemático; utilizem o diálogo crítico e afirmativo;
argumentem em prol de um mundo qualitativamente melhor para todas as
pessoas. (...) dêem aos estudantes voz ativa em suas experiências de
aprendizagem. Também significa desenvolver uma linguagem crítica que
esteja atenta aos problemas experimentados em nível de experiência
cotidiana, (...) Como tal, o ponto de partida destes intelectuais não é o
estudante isolado, e sim indivíduos e grupos em seus diversos ambientes
culturais, raciais, históricos e de classe e gênero, juntamente com a
particularidade de seus diversos problemas, esperanças e sonhos
(GIROUX: 1997, p. 163).
Para Giroux os professores como intelectuais transformadores,
(...) precisam desenvolver um discurso que una a linguagem da crítica e a
linguagem da possibilidade, (...) eles devem trabalhar para criar condições
que dêem aos estudantes a oportunidade de tornarem-se cidadãos que
tenham o conhecimento e coragem para lutar a fim de que o desespero
não seja convincente e a esperança seja viável (GIROUX:1997, p. 163).
Observamos que, para esse autor, o conteúdo político da ação docente é o
fundamento principal da natureza intelectual do professor. A esse conteúdo
político, o autor não agrega a necessidade de uma relação qualitativamente
diferente com o conhecimento e a sua produção.
Giroux (1997) converge com FORQUIN (1993) no conceito de seleção
cultural
12
, de escola e especialmente da cultura escolar, em seus estudos sobre o
currículo, afirmando que, toda educação, e em particular toda educação de tipo
12
O conceito de seleção cultural, Forquin constrói a partir de Raymond Williams (La larga
revolucion, 2003), que constata haver uma tradição seletiva da memória coletiva, um mecanismo
que permite conservar vivos certos aspectos do passado e outros não.
- 46 -
escolar, supõe sempre na verdade uma seleção no interior da cultura e uma
reelaboração dos conteúdos da cultura destinados a serem transmitidos às novas
gerações
.
Segundo Forquin (1993), nesta seleção cultural, a escola
(...) transmite no máximo, algo da cultura, elementos de cultura, entre os
quais não forçosamente homogeneidade, que podem provir de fontes
diversas, ser de épocas diferentes, obedecer a princípios de produção e
lógicas de desenvolvimento heterogêneos e não recorrer aos mesmos
procedimentos de legitimação... A cada geração, a cada renovação da
pedagogia e dos programas, são partes inteiras da herança que
desaparecem da ‘memória escolar’, ao mesmo tempo que novos
elementos surgem, novos conteúdos e novas formas de saber, novas
configurações epistêmico-didáticas, novos modelos de certeza, novas
definições de excelência acadêmica ou cultural, novos valores. Devemos
assim reconhecer o grande poder de seleção da ‘memória docente’, sua
capacidade de ‘esquecimento ativo’. Pode-se então perguntar quais são os
determinantes, os mecanismos, os fatores desta seleção cognitiva e
cultural que faz com que uma parte da herança humana é assim mantida ‘a
salvo do esquecimento’ de geração a geração, enquanto que o resto
parece consagrado ao sepultamento definitivo (FORQUIN, 1993, p. 15).
Para Forquin (1993, p. 16) esta seleção, autoriza e legitima parte da
cultura, pois a educação escolar não consegue jamais incorporar em seus
programas e seus cursos senão um espectro estreito de saberes, de
competências, de formas de expressão, de mitos e de símbolos socialmente
mobilizadores
.
Giroux contribui com elementos para compreender que é possível abordar
o professor como intelectual transformador da realidade em que vive, militando
por uma escola como esfera pública democrática, contribuindo para superar a
racionalidade técnica e instrumental da profissão, assumindo a sua função social,
repensando e reestruturando a natureza da atividade docente, defendendo uma
pedagogia crítica realizável, e desenvolvendo um discurso que combine a
linguagem da análise crítica com a linguagem da possibilidade. É uma concepção
- 47 -
de professor como intelectual transformador no viés da construção da cidadania,
pela ação política transformadora.
O viés do professor como intelectual transformador, o qual se busca
compreender aqui, vai além da perspectiva que assume sua função política na
construção da cidadania. Trata-se também de levar em conta o professor que
investiga elementos de sua prática e domina o processo de produção do
conhecimento com que lida, além de transformar o ensino.
GOODSON (1992, pp. 67–68), ao buscar dar voz ao professor, às suas
histórias de vida e ao seu desenvolvimento profissional, bem como ao utilizar os
conceitos de professor auto-regulador, professor como investigador ou
profissional de competências alargadas, para designar aquele professor que pelo
método investigativo-ativo, pesquisa sobre a própria prática, auxilia a analisar a
dimensão investigativa do professor. A dimensão destacada por esse autor é a
pesquisa sobre a própria prática, quando o professor toma conhecimento das
investigações educacionais, participa da elaboração e reelaboração de propostas
e diretrizes curriculares, passa a ter uma maior clareza sobre o exeqüível em
relação ao currículo, desenvolve atividades específicas de seu campo de ensino e
desperta para a busca de métodos próprios e de cunho investigativo e reflexivo.
Para Goodson (1992) a reflexão sobre a própria prática produz resultados
significativos como: leva a uma tomada de consciência das reais dificuldades do
processo de ensino-aprendizagem das crianças, adolescentes e jovens com que
se trabalha; contribui para questionar e relativizar parte das investigações sobre a
realidade educativa e a cultura escolar
13
em que está inserido e que não dizem
13
O conceito de cultura escolar aqui tomado refere-se a FORQUIN, Jean-Claude. Escola e
Cultura
: As bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes
- 48 -
respeito às suas angústias e preocupações; contribui para se assumir a formação
continuada em grupo, alicerçada num método de investigação-ação e reflexão
sobre a própria prática. Essa reflexão também é um caminho para buscar
respostas à necessidade de qualificar a intervenção pedagógica diante dos
questionamentos da sociedade, quanto ao papel e responsabilização do
profissional de educação, no que se refere aos resultados, bem como desperta
para novas exigência e novas questões de investigação, sendo e dando voz aos
profissionais que dão concreticidade ao processo.
Ainda sobre a relação do professor com a investigação, GARCÍA (1999, p.
184) distingue duas tendências: a de investigação-ação, em que a problemática
da investigação surge da prática dos professores, que também são os que
coordenam e conduzem o processo de investigação; e a de
colaboração, onde
quem propõe a problemática é uma equipe externa à escola, podendo ser
adequada à necessidade dos professores, que se tornam colaboradores do
processo, como
trabalhadores de campo na investigação pedagógica aplicada.
Para García, não importa a tendência, de investigador ou de colaborador de
investigação, é importante notar a existência de um novo papel do professor, que
precisa ser contemplado pela formação inicial ou continuada, e
surge com o
objetivo de contribuir para melhorar a profissionalidade do professor.
Goodson constata a importância e os avanços do professor que investiga a
sua ação, García aponta a investigação sobre a ação do professor como um novo
papel a ser contemplado pela formação inicial e continuada. O que necessitamos
ainda, é adentrar na natureza desse novo papel investigativo do professor, o
Médicas, 1993, aprofundado por MAFRA, A sociologia dos estabelecimentos escolares: passado e
presente de um campo de pesquisa em re-construção. In: ZAGO, N.; CARVALHO, M. P.; VILELA,
R., T. (Orgs).
Itinerários de pesquisa. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 125-131.
- 49 -
papel de professor como intelectual que produz conhecimento, o que nos leva à
algumas reflexões de Gramsci.
Para Gramsci (1978, pp. 3 e 7)
todos os homens são intelectuais, mas nem
todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais. E a
sociedade tem uma dinâmica histórica, orgânica e específica de produzir seus
intelectuais. Os grupos sociais e as funções específicas e essenciais no mundo da
produção econômica criam para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma
ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da
própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no
político
.
Ao analisar a escola de Gramsci, NOSELLA (2004), insere os escritos
gramscianos sobre os intelectuais no contexto da necessidade de se resolver um
problema real, que é o de compreender a influência reacionária dos intelectuais
tradicionais sobre as populações, especialmente a camponesa do sul da Itália,
mantendo-os fora ou até contra uma aliança proletária (p. 166). Ao mesmo tempo
em que os intelectuais tradicionais têm uma influência reacionária sobre a
população, Gramsci reconhece a importância dos intelectuais e constata que a
questão é a sua formação. A escola tradicional está em crise e o capitalismo
industrial emergente, além de cooptar intelectuais tradicionais cuja formação está
em crise, propõe uma escola ‘interessada’
14
, prático-produtiva, para formar
técnicos que sirvam aos seus interesses de expansão. Para se contrapor a esses
interesses, a classe operária necessita formar seus intelectuais, os intelectuais
orgânicos, que dêem organicidade, tanto como quadros qualificados, quanto na
14
Segundo NOSELLA (2004) Gramsci utiliza o termo ‘interessada’ para designar um ensino
prático-produtivo, que têm um objetivo imediato e ‘desinteressada’ para designar um ensino mais
humanista, que não tenha um interesse imediato.
- 50 -
vivacidade interna do projeto proletário. Para formar esse intelectual orgânico
Gramsci propõe a escola unitária, que, em seu ensino,
funde a característica
formativo-humanista com a sua dimensão prático-produtiva (p. 170). A função de
coordenar a escola unitária cabe à sociedade unitária por meio do Estado.
Nesse sentido, a partir do conceito de homem coletivo de Marx, a quem, no
sistema de fábrica, pode ser atribuído a mais valia coletiva, Gramsci elabora o
conceito de intelectual coletivo, que no modo capitalista de produção é
responsável pelo ‘trabalho abstrato’. O consumo produtivo do trabalho abstrato
pode ser a base de uma organização social que assuma o coletivo como um dado
e, a partir desta condição, torne-o uma condição normal, não constritiva, da qual
possa emergir a consciência de indivíduos que autodirigem as suas vidas
(INSTITUTO GRAMSCI, 1978, p. 18).
Nessa perspectiva gramsciana, a partir do pressuposto do trabalho coletivo
ou integral, em que o trabalhador recupera a totalidade do processo de produção
sobre a mercadoria,
o capital pode ser expropriado da sua capacidade de dirigir o
processo social, e também dos seus caracteres de inteligência social e produtiva,
à condição de que uma nova inteligência coletiva se contraponha a ele
.
(INSTITUTO GRAMSCI, 1978, p. 19).
Pensar o professor como intelectual nessa direção é pensá-lo a partir de
uma relação unitária entre teoria e prática, em que a posse dos processos de
produção do conhecimento - atividade eminentemente teórica -, não pode ser
desarticulada das atividades a partir das quais ele exerce a sua função de
intelectual. A especificidade dessa unidade entre o conhecimento e sua prática
reside no fato de que a atividade cognoscitiva individual não pode ser concebida,
- 51 -
para Gramsci, a não ser em função da direção política, em que o termo política é
entendido em relação ao conceito de sociedade civil e, portanto, à idéia de
coletivo. (INSTITUTO GRAMSCI, 1978).
Segundo GONZÁLEZ (1984), isso pode significar, em outras palavras, que
a relação do intelectual com o conhecimento é, ao mesmo tempo, uma relação
cognoscitiva individual e social, a qual pressupõe uma reapropriação dos meios
de produção do conhecimento mediante a aquisição e desenvolvimento dos
meios intelectuais de produção desse conhecimento, porque a produção
intelectual,
entendida como processo de trabalho intelectual, se caracteriza pela
elaboração de produtos teóricos
, além de que os conhecimentos não são
derivados de ações gratuitas nem fortuitas, porque exigem esforço consciente e
intencionalidade na sua produção (p. 211). Para a autora, a produção intelectual
pressupõe também, condições específicas para se chegar a ela na prática
educativa escolar e superar a reprodução social. Este esforço consciente, a
intencionalidade e as condições para produção intelectual na prática educativa
escolar requerem a posse dos meios intelectuais de produção, ou seja, dos
conhecimentos, experiências e metodologias, traduzidos na força de trabalho
intelectual qualificada, e de condições materiais para dar vazão à dimensão
produtiva da relação como o saber (pp. 213 e 226).
Ora, essa é uma das principais questões que envolvem a atividade do
professor como intelectual, pois a sua prática educativa escolar tem sido
abordada muito mais pela sua natureza de transmissão de conhecimentos –
ensino, e não como produtora de conhecimentos pesquisa. É preciso levar em
conta que, de um lado, a atividade de ensino não implica, necessariamente, um
- 52 -
processo de transformação dos elementos que a constituem. Por outro lado, a
capacidade de transformação dos elementos que constituem a atividade de
ensino está intimamente relacionada com a posse e o desenvolvimento dos meios
exigidos para que isso ocorra, ou seja, a atividade de pesquisa exige, como a de
ensino, uma qualificação específica. Assim, para que a prática educativa se
realize em função da atividade de pesquisa, é necessário que sejam fornecidos os
meios adequados para a produção do conhecimento e também, não menos
relevante, que sejam propiciadas condições materiais para que isso ocorra
(SCHMIDT: 2006)
15
.
Os estudos de Giroux (1997), Forquin (1993), Goodson (1992), García
(1999), Gramsci (1978), Gonzáles (1984) e Schmidt (2006), ressalvados os
limites, apontam para a possibilidade da dimensão intelectual do professor. Essa
dimensão intelectual educati219 2e transformaçG3e Garr,ão c os
- 53 -
2.2. O professor de História como intelectual
No Brasil, pesquisas sobre o professor de História, na perspectiva de
intelectual que produz conhecimento sobre o ensino de História a partir da
investigação de elementos de sua prática específica, estão em fase de
desenvolvimento.
Sobre professores de História temos os estudos de FONSECA (1997) e
MONTEIRO (2002), que investigam experiências pessoais e educacionais desses
professores de História, como eles significam sua trajetória no ensino de História
e como os professores de História, por meio da transposição/mediação didática,
mobilizam os saberes que dominam para ensiná-los, respectivamente. Outro
estudo referenciado é o da pesquisadora francesa LAUTIER (1997) que aponta
alguns elementos da experiência do professor de história enquanto profissional e
como ele se identifica com a sua profissão. No entanto, um outro campo de
pesquisa que tem como preocupação a prática investigativa de professores sobre
os elementos da natureza do ensino de história, é o campo da Educação Histórica
(BARCA 2001 e 2005; LEE 2001 e SCHMIDT & GARCIA 2006).
A investigação de FONSECA (1997) situa-se no campo da história oral de
vida. A autora investigou experiências pessoais e educacionais de professores de
História que atuaram no Brasil, em vários níveis de ensino, na segunda metade do
século XX, trabalhando testemunhos de vários professores, analisando as origens
familiares, temporais, geográficas e sociais dos narradores; a formação e a opção
pelo ensino de História; a experiência profissional e a carreira; a sua concepção e
o modo de ensinar; a sua relação com as reformas educacionais e com as
- 54 -
mudanças sociais; e a participação e vivência cotidiana dessas mudanças.
Deteve-se também na análise da forma como cada narrador significa sua
trajetória, constrói e reconstrói a sua imagem de professor de História, naquilo em
que se tornou mais competente, nos melhores e piores momentos da carreira; a
relação com as instituições onde trabalha, a conciliação com a vida particular,
afetiva e familiar e como vê o fim da carreira.
Quanto à metodologia, optou pela história oral de vida para
registrar as
histórias individuais dos sujeitos que fazem e ensinam a história, neste caso dos
que ensinam história, por trazer o professor para o centro do debate.
Fazer história oral de vida de professores consiste numa tentativa de
produzir documentos e interpretações, nos quais os personagens
sujeitos que produziram e ensinaram explicitam e atribuem diferentes
sentidos às suas experiências, mostrando como suas produções, suas
ações profissionais estão intimamente ligadas ao modo de ser e viver
(FONSECA: 1997, p. 43).
Quanto à escolha dos narradores-colaboradores adotou dois critérios: ter
atuado ou estar atuando no ensino de história no ensino fundamental ou médio,
em fase final de carreira, aposentado ou ter encerrado a carreira; contemplar
experiências diversificadas quanto à distribuição geográfica de norte a sul,
capitais e interior do país: quanto a atuação em escolas públicas, privadas ou
comunitárias; quanto aos níveis e graus de ensino; quanto a carreira, quanto à
formação e quanto às opções teóricas, políticas e religiosas, visando contemplar o
registro de uma multiplicidade de vidas, projetos e concepções (FONSECA: pp.
46-47).
Entrevistou 15 narradores e produziu 13 documentos finais apresentados
na obra. As entrevistas, que variavam entre a diretividade e a não-diretividade,
- 55 -
visavam obter dos narradores o percurso de vida, a formação e preparação
pedagógica, a influência cultural, a opção pela história, a opção pelo ensino, a
experiência profissional, a carreira e o modo de ensinar. Buscou informações
sobre as
(...) avaliações, preparação de aulas, programas de ensino, livros didáticos,
outros materiais de ensino, prioridades no ensino de história, como
concebia os currículos, como participou das reformas educacionais, como
as mudanças sociais, políticas e econômicas afetaram seu trabalho com o
ensino, como ele viveu/participou dessas mudanças, o cotidiano de vida e
trabalho (...) (FONSECA: 1997, p. 49).
Após apresentar as narrativas transcritas e textualizadas, inicialmente
Fonseca (1997) localiza as experiências de vida dos narradores em seus tempos
e espaços, e faz uma análise que enfatiza os movimentos, as mudanças, as
semelhanças, as diferenças e as especificidades nas trajetórias pessoais e
profissionais. Em seguida analisa as perspectivas com que os narradores vêem
sua formação, sua carreira e suas práticas de ensino. Segundo a investigadora,
as narrativas revelam que a prática pedagógica dos professores de história está
intimamente ligada às concepções de história, de mundo, de educação, de escola
que foram construídas e cristalizadas ao longo de suas histórias, nos diferentes
momentos e espaços, exemplificados pela rigorosidade na avaliação oral de
determinado professor como reflexo das dificuldades que ele mesmo encontrou
no início de sua formação, em línguas; o privilegiar do trabalho coletivo por outra
professora por entender a avaliação ser mais um momento de reflexão coletiva,
do que um instrumento para medir o conhecimento, sendo esta visão fruto de sua
concepção de professora-militante. A prática centrada no aluno era privilegiada
por outro professor que, em sua formação, teve um mestre que o ensinou a
- 56 -
pensar no aluno, em seus ritmos, preparando seu espírito para o conhecimento.
As concepções em relação aos livros e manuais didáticos também apresentam
variações que vão desde a adoção do livro único, passando pela consulta a vários
livros, à elaboração do material didático em consonância com os projetos de
ensino (FONSECA: 1997, pp. 211-212).
Em relação ao modo de ensinar história, a pesquisadora aponta traços
gerais
predominantes,
(...) sendo que alguns deles permanecem em nosso atual contexto
educacional, independente da heterogeneidade do público de alunos. Além
do livro didático, o mais significativo é a técnica de aula expositiva. Nos
relatos, percebemos que ela varia quanto à forma de ser colocada em
prática na sala de aula: através de esquemas na lousa, ao microfone para
grandes platéias, seguida de debates, de perguntas e respostas, ou
acompanhada pelo livro didático ou recheada com alguns “temperos”
(curiosidades, materiais para motivação)... As técnicas de trabalho em
grupo são mencionadas por apenas alguns narradores. As práticas de
avaliação são diversificadas, variam desde a temida “chamada oral”, até a
auto-avaliação feita pelos próprios alunos (FONSECA: 1997, pp. 213-214).
Aponta dois pontos importantes para os professores/narradores: sua
concepção de prática pedagógica, que em síntese, é: “pensar no aluno”. E,
mesmo diante das diferentes concepções, fruto de formações distintas, com
motivações teóricas, políticas e religiosas por vezes antagônicas, têm uma
preocupação com o caráter formativo da história (FONSECA: 1997, p. 214).
Em sua investigação, MONTEIRO (2002, p. 6), tem o objetivo de investigar
a experiência dos professores de História na mobilização dos saberes que
dominam para ensiná-los. Parte do pressuposto de que os professores dominam
e produzem saberes, num contexto de autonomia relativa, numa construção que
apresenta uma especificidade decorrente do fato de ser integrante de uma cultura
- 57 -
escolar e busca contribuições de autores que utilizam as categorias ‘saber
escolar’ e ‘saber docente’.
Relacionando
saber escolar e saber docente, Monteiro (2002, p. 7) buscou
investigar as formas como professores de história mobilizam os saberes que
dominam para lidar com os saberes que ensinam, e como são articulados os
saberes disciplinares, curriculares, pedagógicos e de experiência, numa criação
própria e significativa para seus alunos. Focalizando os saberes ensinados,
buscou compreender a síntese elaborada a partir dos subsídios dos saberes
disciplinares, sua dimensão educativa, as escolhas axiológicas e o processo de
didatização.
Buscou com sua pesquisa,
(...) investigar como professores experientes e bem sucedidos mobilizam,
justificam e avaliam os saberes que dominam para ensinar o que ensinam,
em experiências significativas para os alunos, nas quais conteúdos
relevantes são articulados por lógicas explicativas onde as marcas da
racionalidade do campo disciplinar estão mediadas pela dimensão
educativa e, portanto, considerando a especificidade da cultura escolar
(MONTEIRO: 2002, p. 9).
Monteiro (2002, p. 233) definiu como campo de investigação de sua
pesquisa uma região de fronteira entre os campos da História e da Educação e,
dentro deste último, na confluência das áreas de didática, currículo e formação de
professores. Mais especificamente este trabalho se insere no campo do ensino de
história.
Monteiro (2002, p. 83) utiliza o conceito de transposição didática
(Chevallard 1991) para articular o saber histórico acadêmico com o saber histórico
escolar. Aponta limites ao conceito de transposição didática, uma vez que esse
conceito propõe denunciar uma ruptura, mas como termo parece indicar apenas
- 58 -
uma mudança de lugar sem mudança conceitual. Segundo Monteiro, Chevallard
refere-se somente ao saber acadêmico como única referência para elaboração do
saber ensinado e não considera em sua análise a dimensão educativa como
elemento estruturante fundamental para compreensão do processo de
constituição do saber escolar.
Diante dessa insuficiência do conceito de transposição didática, a
investigadora propõe a utilização do conceito de
mediação didática de Lopes
(1997) em que a mediação tem o sentido dialético de constituição de uma
realidade através de mediações contraditórias, de relações complexas, não
imediatas, com um profundo senso de dialogia
(MONTEIRO (2002, p. 87).
Se existe um movimento que articula os saberes histórico acadêmico e
histórico escolar, põe-se uma questão, ou seja, a história acadêmica apresenta
diferentes perspectivas de inteligibilidade: positivista, Annales, marxista e das
análises macro-econômicas, Nova História; e diferentes formas de definição e
organização dos eixos de análise: temática, geopolítica, cronológica, espacial.
Diante dessa variedade de perspectivas, qual história utilizar como referência
acadêmica para se contrastar com o saber a ensinar? (MONTEIRO: 2002, pp.
100-101).
Monteiro conclui que os professores produzem conhecimento, uma vez
que, autores de seu trabalho, o dominam e o mobilizam com autonomia relativa,
pois agem dentro de padrões e injunções culturais, políticas e institucionais
transitórias e transponíveis, saberes plurais e heterogêneos para ensinar o que
ensinam. O saber que ensinam é, por sua vez, uma criação da cultura escolar que
apresenta marcas dos saberes de referência e de seus criadores. O saber
- 59 -
escolar, os saberes ensinados ou conteúdos pedagogizados, estruturados a partir
das finalidades educativas, de forma própria e racional, vai além de meras
transposições do conhecimento científico e se expressam em suas aulas
(MONTEIRO: 2002, p. 242).
A pesquisa de Monteiro (2002) contribui com o elemento da valorização da
relação do professor de História com o saber histórico, e como mobilizador deste
saber, de sua forma acadêmica, e relacionado-o com os saberes dos alunos, com
outros saberes, entre eles o saber da experiência docente, e o transformar, com
relativa autonomia, no saber histórico escolar. É o processo que ela chama, com
base em Chevallard e Lopes, de transposição/mediação didática. No entanto,
pode-se questionar se esta transposição/mediação didática é produção de
conhecimento. Pode até ser, mas não é na perspectiva da investigação
sistemática sobre o ensino de história, sua natureza e sobre as idéias históricas.
Têm mais duas questões que se fazem pertinentes. A pesquisadora remete
ao professor a responsabilidade de eleger a perspectiva do saber histórico
acadêmico que vai utilizar como referência. A outra questão refere-se às
atividades próprias da História. Segundo a pesquisadora, com base em Moniot, o
ensino de história,
diferentemente da matemática, línguas, educação física, não
possui exercícios ou atividades que lhe sejam próprias. Toma de empréstimo de
outras disciplinas as atividades que desenvolve em seu ensino (MONTEIRO:
2002, p. 107).
Os trabalhos de Fonseca e de Monteiro são fundamentais para a pesquisa
sobre professores de História no Brasil. No entanto, para caracterizar a função do
professor de história na perspectiva da profissionalização e de sua identificação
- 60 -
com a profissão, buscamos as contribuições dos estudos de LAUTIER (1997), que
analisa a experiência do professor de história na França, enquanto profissional.
Em sua investigação, essa autora busca delimitar as características de uma
identidade profissional do professor de história, em um contexto de mutação, na
França dos anos 90, em que as reformas administrativas na educação passam a
exigir um profissionalismo cada vez maior dos professores, superando o ofício de
mestres, que tinha características mais artesanais. Para delimitar essas
características de uma identidade profissional, a pesquisadora buscou investigar
os traços de permanências e mudanças presentes no ambiente educacional
imediato e no contexto cultural e ideológico, e saber como cada indivíduo é
influenciado por este ambiente e como, do seu lugar, cada um participa da
constituição tanto da conservação das permanências quanto das possibilidades
de mudanças
(LAUTIER: 1997, p. 130)
16
.
Para não ficar em testemunhos individuais e extrair contribuições da
comunidade dos professores no que chamou de produção de uma cultura comum,
a investigadora, com o auxílio de uma grade de leitura psicosocial, preocupou-se
em articular os níveis individuais e coletivos, partindo do núcleo mais consistente
das representações socialmente compartilhadas pelos professores, definindo os
lugares onde se formam e se transformam as normas da cultura de ensino e, ao
realçar o nível individual, considerou a diversidade com a qual cada professor lida
ao ajustar os múltiplos papéis de seu ofício (LAUTIER: 1997, p. 130).
Em sua pesquisa, Lautier (1997, pp. 131-132) aponta que os professores
investigados se identificam com a disciplina de história por meio de três eixos
16
Traduzido pelo investigador do original em Francês: comment chaque individu est influencé par
cet environnement et comment, de sa place, chacun participe à constituer aussi bien la
conservation des permanences que les possibilités de changements
.
- 61 -
principais: o rigor da história explicativa, a finalidade educativa do ensino de
história, e a natureza específica da relação que cada indivíduo mantêm com a
"Grande História", da qual somos todos os atores.
O primeiro ponto de pertencimento profissional é expresso, como cultura
comum, pela identificação com uma história científica, explicativa e rigorosa,
alicerçada na legitimidade da formação universitária, nos concursos públicos e em
compromissos pessoais em trabalhos de investigação histórica, em que o rigor, o
raciocínio, a ordenação das idéias e a crítica das fontes pela identificação dos
documentos são exigências básicas. Há ainda abordagens diferentes como a
identificação com a história problematizante, com a narrativa, com a cronologia e
a linearidade ou até com a reconstituição retrospectiva.
O segundo ponto de pertencimento profissional é, como cultura comum, a
identificação com o alcance educativo dos conteúdos da história ensinada. De
forma diversa, uma sensibilidade com as finalidades éticas - individuais e/ou
cívicos da história e até com a possibilidade desta finalidade integrar a natureza
da disciplina em alguns de seus conteúdos.
O terceiro ponto que leva os professores a compartilharem com um
sentimento de pertença à disciplina é a comunhão com uma História na qual todos
os atores são parte integrante, ensinam uma matéria com a qual mantêm uma
relação de intimidade. Isto demarca sua diferença em relação às “disciplinas frias”
como a matemática e a física e serve para motivar nos alunos este mesmo
sentimento de pertença.
Segundo Lautier (1997, p. 133) o professor de História, enquanto membro
dessa comunidade participa, em diferentes níveis, da elaboração e reelaboração
- 62 -
de um conjunto de normas, balizas e marcas identitárias, de uma cultura comum,
em diferentes lugares, ou seja, na formação inicial e nos lugares de socialização
"secundários” entendidos como as diversas formas de experiência diária e
formação continuada.
Podemos resumir as contribuições de Lautier (1997) para esta investigação
no fato de constatar mudanças na profissão do professor, de ‘artesão’ a
profissional do ensino, que exige uma nova postura do professor enquanto
profissional, uma identificação mais profunda com a natureza de sua disciplina,
que passa pelo domínio de sua cientificidade e do alcance educativo de seus
conteúdos, numa perspectiva mais racional, e de um componente afetivo, a
intimidade ou paixão pela disciplina, pois a história é condição humana e inscreve-
se na dimensão da relação identitária com o saber de Charlot. Além dessa
identificação, um necessário compromisso contínuo de participação na
elaboração e reelaboração de suas normas, balizas e marcos, desde a formação
inicial à formação continuada. Podemos apontar, como um limite de sua
investigação, o fato de não apontar para experiência investigativa das relações
com o saber histórico, como um componente que se apresenta como pertinente
ao professor de história como profissional no contexto atual.
Uma identificação mais profunda do professor de História com a natureza
de sua disciplina e o domínio de sua cientificidade passam pela dimensão
investigativa da natureza do ensino de História. A necessidade de elementos para
compreender essa dimensão investigativa nos remete à Educação Histórica.
O que caracteriza o campo da Educação Histórica?
- 63 -
A Educação Histórica é um campo em construção no Ensino de História,
que, a partir de pesquisas em vários países, especialmente no Reino Unido,
Canadá, Estados Unidos, Espanha, Portugal e no Brasil, vem se preocupando em
investigar e compreender como a História criou várias formas de pensar, ensinar e
aprender os conhecimentos de natureza histórica e
dedicados à exploração deste
mundo fascinante: as idéias, estratégias cognitivas e progressão de pensamento
dos sujeitos que aprendem e ensinam história. (BARCA: 2001, p. 7)
Ainda para Barca (2005):
Nestes estudos, os investigadores têm centrado a sua atenção nos
princípios, fontes, tipologias e estratégias de aprendizagens em História,
sob o pressuposto de que a intervenção na qualidade das aprendizagens
exige um conhecimento sistemático das idéias históricas dos alunos por
parte de quem ensina (e exige também um conhecimento das idéias
históricas destes últimos) (p. 15).
SCHMIDT & GARCIA (2006), a partir de um arcabouço teórico que tem
contribuições dos estudos sociológicos, antropológicos, especialmente da
etnografia educacional, e das pesquisas de BARCA e LEE
17
, têm desenvolvido
vários projetos de pesquisa no campo da Educação Histórica no Brasil, em que
possibilidades são abertas aos professores, sujeitos que ensinam, e aos alunos,
sujeitos que aprendem, de estabelecerem novas relações com as idéias
históricas.
Esta linha de investigação tem seus fundamentos pautados em indagações
como as que buscam entender que sentidos os jovens, as crianças e os
professores atribuem a determinados conteúdos históricos como revolução
francesa, renascimento e reforma protestante, chamados “conceitos
substantivos” e/ou os “conceitos de segunda ordem”, tais como narrativa,
explicação ou evidência histórica, e as ações deles decorrentes,
apreendidos e conceituados em e a partir de contextos concretos de
17
Isabel Barca em Portugal e Peter Lee na Inglaterra.
- 64 -
ensino, bem como articulados aos modos de educar de cada época e
sociedade (SCHMIDT & GARCIA: 2006, p. 21)
Esse campo surge inserido no debate da própria História, e da ciência em
todos os seus campos, frente à crise provocada pela pós-modernidade e no
quadro de referência da crítica que se faz à racionalidade histórica moderna,
debruçando-se sobre a natureza da própria História e, mais especificamente, do
Ensino de História, assumindo a natureza da História como parte constitutiva
fundamental do método histórico. RÜSEN (1992) afirma que
(...) a atitude crítica frente à modernidade é um dos elementos do
desenvolvimento dos modernos estudos históricos desde seu início. No
entanto, o conceito atual de pós-modernidade é a forma mais radical de
crítica à racionalização dos estudos históricos. É radical porque critica
exatamente os dois elementos essenciais que definem a modernidade do
pensamento histórico: o conceito de história e o conceito de método.
Método no sentido de que a racionalidade é a única porta para penetrar no
interior da realidade do passado e das forças motrizes, que transformam os
objetivos da vida humana e constituem a sua história em sujeito dos
estudos históricos (p. 127)
18
.
Rüsen reafirma a importância da racionalidade histórica. Sobre essa
posição de Rüsen, HORTÊNCIO (2005) ao tratar da questão da crítica à
modernidade feita pelos críticos da pós-modernidade faz a seguinte análise:
Rüsen aceita tais críticas, mas procura incluí-las no processo mesmo do
desenvolvimento da racionalidade a partir do Iluminismo. Propõe “ouvir”
atentamente tais críticas, assim como fazer um balanço minucioso da
trajetória de delimitações, críticas e superações da modernidade. Por fim,
admite uma fronteira entre modernidade e pós-modernidade e traça um
18
Traduzido do original em espanhol: la actitud crítica hacia la modernidad es um elemento
del desarrollo de los modernos estúdios históricos desde su mismo inicio. Sin embargo, el
concepto actual de post modernidad es la forma más radical de esta crítica de la
racionalización en el desarrollo de los estúdios históricos. Es radical porque critica
exactamente estos dos elementos esenciales que definen la modernidad del pensamiento
histórico: el concepto da la historia y el concepto de método. Método quiere decir
racionalidad como única puerta para penetrar en el interior de la realidad del pasado y de
las fuerzas motrices, que cambian los objetivos de la vida humana constituyendo la
historia en sujeto de los estudios históricos.
- 65 -
painel de ‘perdas e ganhos’ do cenário da crise, no qual aponta claramente
para a continuação da racionalidade histórica (p. 7).
A Educação Histórica objetiva uma revigoração da aprendizagem em
História, na perspectiva da racionalidade que promove um diálogo entre o
passado e o presente, orientado pela experiência. Rüsen (1993) define essa
aprendizagem Histórica como uma apreensão qualitativa do passado, conduzida
pela experiência, e seletiva uma vez que subjugada pela expectativa do futuro
que pode ser positiva ou negativa, pois estamos em luta constante para superar a
idéia de morte, visando perpetuar a vida. Esta aprendizagem é tão mais profunda
quanto mais desenvolvida a capacidade de interpretação histórica, ou seja,
quanto mais aguçada a competência de encontrar significado entre o passado, o
presente e o futuro, cujo objetivo é a
consciência histórica. O desenvolvimento da
capacidade de atribuir significado à História é assim um dos componentes para o
entendimento da historicização, que é a capacidade de entender a História como
um dos instrumentos de orientação na vida presente diante das certezas e
incertezas do futuro.
A partir dos autores analisados é possível pensar os professores como
intelectuais transformadores e investigadores, incluindo aí a especificidade do
conhecimento histórico. Ademais e particularmente na perspectiva da Educação
Histórica, essa possibilidade pressupõe a necessidade de uma nova relação com
o conhecimento histórico, na qual os elementos principais são a posse dos
processos de produção do conhecimento histórico, bem como a publicização dos
seus trabalhos, ressaltando-se, ainda, que esse processo e esses produtos não
são resultados, necessariamente, de investigações sobre a sua prática, mas
- 66 -
relacionados e pertinentes à experiência dos professores com as formas de
escolarização e/ou com o conhecimento histórico escolar.
- 67 -
CAPÍTULO III - O “Grupo Araucária”: uma experiência de professores
de história.
A perspectiva de análise referendada nesse trabalho, que tomou como
pressuposto principal um diálogo entre a categoria da experiência e a educação,
cujo recorte é a experiência humana da relação com o conhecimento, indicou o
percurso desse capítulo.
Em primeiro lugar e para apreender as condições concretas que definem a
natureza dessa experiência como única, localizada e historicamente determinada
pelo e no interior das relações sociais, procuramos analisar o contexto da
construção dessa experiência do “Grupo Araucária”.
Em outro momento, buscamos entender essa experiência a partir da forma
pela qual ela foi racionalizada na e pela consciência de sujeitos que constituem o
“grupo Araucária”.
3.1. O contexto da experiência do “Grupo Araucária”
“Grupo Araucária” é o nome dado ao grupo de professores de História do
Município de Araucária, Região Metropolitana Sul de Curitiba, Estado do Paraná,
formado, atualmente, por trinta e cinco professores efetivos do Município, que se
reúnem com regularidade no dia da hora-atividade, sob a coordenação da
coordenadora da Área de História para estudo, assessoramento, formação
continuada, pesquisa e troca de experiências, tendo, por vezes, a participação de
- 68 -
professores das séries iniciais, especialmente da série cuja hora-atividade
coincide com o dia da semana da hora-atividade de História.
Para caracterizar os professores do “Grupo” que participaram da
investigação, faz-se a opção pelo instrumento de investigação, em forma de
questionário
19
, construído a partir de um estudo sobre a presença de idéias
históricas nas produções curriculares de História de Araucária, para um estudo
exploratório com três professores do “grupo”, realizado em agosto de 2006,
identificados como professor A, B e C, e para o estudo definitivo, incluindo-se uma
questão para levantar dados sobre a relação dos professores com o sistema
educacional do município e com a entidade sindical, encaminhado a trinta e dois
professores, dos quais quinze o devolveram devidamente respondido até meados
de dezembro de 2006, identificados na pesquisa pelas letras D, E, F, G, H, I, J, K,
L, M, N, O, P, Q e R.
Dos professores que participaram da investigação, doze são do sexo
feminino e seis do sexo masculino, predominando as mulheres na proporção de
dois por um.
Quanto à formação dos professores do “grupo Araucária”, o Quadro 1,
construído a partir das informações de identificação dos questionários piloto e
definitivo conforme anexos I e II, permite verificar que nove professores têm
formação superior em História, cinco em Filosofia, dois em Estudos Sociais e um
em Ciências Sociais e Pedagogia respectivamente. Dois professores também
possuem formação superior em Geografia e um está cursando Psicologia. Para
além da formação superior, indica que são professores que se preocupam com a
19
Sobre os questionários, ver anexos I e II.
- 69 -
sua qualificação, pois dezessete deles têm uma ou mais especializações, dos
quais um tem Mestrado em Educação e dois estão em fase inicial.
Quadro 1 – Formação dos professores
Professor (a) Formação Superior Especialização Mestrado
A Filosofia Metodologia de Ensino de 1º e 2º Graus Educação
B Filosofia Filosofia da Educação Educação
(iniciando)
C História Metodologia do Ensino Superior -
D História História e Geografia do Paraná -
E História História -
F Estudos Sociais História / Ed. Infantil / Ed. Inclusiva /
Alfabetização
-
G Filosofia Metodologia do Ensino de História -
H História Educação de Jovens e Adultos -
I História e Geografia História e Historiografia do Brasil -
J Pedagogia Formação Pedagógica do Professor
Universitário
Educação
(iniciando)
K Filosofia e Geografia Metodologia e Tecnologia Educacional -
L Filosofia Historiografia Brasileira / Gestão
Técnica do Meio Urbano / Gestão
Escolar
-
M História Metodologia Científica -
N História Educação Inclusiva -
O Estudos Sociais e
Psicologia (em
curso)
Ensino de História / MBA em Gestão
Educacional Pública Municipal
-
P Ciências Sociais Formação de Professores -
Q História - História
R História Metodologia do Ensino de História -
- 70 -
Quadro 2 – Tempo de magistério x tempo de magistério em Araucária
PROFESSOR (A) TEMPO / MAGISTÉRIO TEMPO DE MAGISTÉRIO / MUNICÍPIO
A 23 17
B 21 15
C 14 2
D 12 12
E 19 19
F 23 23
G 18 18
H 12 5
I 27 3
J 7 5
K 19 10
L 21 16
M 20 17
N 15 15
O 22 22
P 20 13
Q 7 5
R 8 2
Média 17,11 11,61
Quanto ao tempo de magistério e tempo de magistério em Araucária, o
Quadro 2, construído a partir das informações da questão 1 dos questionários
piloto e definitivo conforme anexos I e II, nos mostra que, em média, os
professores têm 17,11 anos de magistério e 11,61 anos de magistério no
- 71 -
Município de Araucária. Isso mostra que trata-se de um grupo de professores com
uma boa experiência de magistério, estando na média na metade de sua carreira.
Ao ingressarem no quadro do município tinham, em média, cinco anos e meio de
experiência no magistério. Nove professores, metade dos pesquisados, atuam no
Município mais de 15 anos, tendo acompanhado de alguma forma as
produções curriculares desde 1992. Seis deles, um terço, atua menos de 10
anos, tendo acompanhado apenas a produção curricular de 2004 ou nem mesmo
esta.
O
Quadro 3 (próxima página), construído a partir das informações obtidas
com: as questões 1 e 2 do questionário piloto (anexo I), 1 e 3 do questionário
definitivo (anexo II) e quadros 4 a 10 deste capítulo, indica os professores que
tiveram atuação e participação nas produções curriculares, realizaram
investigações sobre o ensino de História que foram apresentadas em eventos,
além de participarem como representantes na coordenação da Área de História
na Secretaria Municipal de Educação do Município.
- 72 -
Quadro 3 – Atuação e experiência de produção e investigação
Professor Atuação Participação nas
produções curriculares
Investigações
apresentadas
em eventos
Coordenação
de Área
A 5ª a 8ª no Município e
no Estado
1992, 1994, 1996, 2000 e
2004
5 2
B 5ª a 8ª no Município e
no Estado
1992, 1994, 1996, 2000 e
2004
4 -
C 5ª a 8ª no Município e
no Estado
2004 3 -
D Pré a 4ª e 5ª a 8ª no
Município
2004 - 1
E Pré a 4ª e 5ª a 8ª no
Município
1996, 2000 e 2004 1 -
F Pré a 4ª e 5ª a 8ª no
Município
- - 1
G Pré a 4ª e 5ª a 8ª no
Município
1996, 200 e 2004 - -
H 5ª a 8ª no Município e
no Estado
2004 - -
I 5ª a 8ª no Município,
pré a 4ª em Curitiba
2004 2 -
J Pré a 4ª no Município 2004 3 -
K 5ª a 8ª no Município e
no ensino privado
1996, 2000 e 2004 - -
L 5ª a 8ª no Município 1992, 1994, 1996 e 2000 - -
M 5ª a 8ª no Município 1992, 1994, 1996, 2000 e
2004
1 -
N 5ª a 8ª no Município 2004 1 -
O 5ª a 8ª no Município 1992, 1994, 1996, 2000 e
2004
- 1
P 5ª a 8ª no Município e
no Estado
1996, 2000 e 2004 - 1
Q 5ª a 8ª no Município - - -
R 5ª a 8ª no Município e
no Estado
- - -
- 73 -
Os dados do Quadro 3 demonstram que apenas um professor atua
somente de pré a 4ª séries, os demais atuam de pré a 4ª e de 5ª a 8ª séries ou só
de 5ª a 8ª séries.
Quanto à participação nas produções curriculares, quatro professores
participaram de todas as elaborações; quatro professores participaram das
elaborações de 1996, 2000 e 2004; seis professores participaram apenas da
elaboração de 2004; um professor participou das elaborações de 1992, 1994,
1996 e 2000; três professores não participaram das elaborações curriculares.
Oito professores apresentaram produções de investigação sobre o ensino
de História em eventos e cinco professores exerceram a coordenação da Área
de História do Município.
Esses dados evidenciam que uma relação efetiva dos professores do
“grupo Araucária” com o sistema educacional do município tanto através da
atuação nas séries do ensino fundamental, quanto como coordenador da Área de
História. Seis professores têm relação com o sistema estadual e um professor
com o sistema de Curitiba e privado respectivamente. Evidenciam também, que
uma relação com as produções curriculares e com o conhecimento histórico
escolar no sentido de investigar e publicizar suas investigações.
- 74 -
3.2. “Experiência” do “Grupo” construída na relação com o Sistema Municipal de
Educação
A formação do “Grupo Araucária” no Sistema Municipal de Ensino de
Araucária
20
está inserido em um contexto de mudanças que tiveram início na
década de 1980, período de movimentos sociais intensos, que visavam a
redemocratização do país e que culminaram com a Constituição Federal de 1988
e as eleições diretas para Presidente da República em 1989. Em Araucária, no
ano de 1987, foi aprovado o Estatuto do Magistério Municipal
21
, que, entre outras
conquistas, instituiu o concurso público como forma de ingresso no magistério e
definiu a jornada de trabalho em vinte/quarenta horas semanais, sendo esta
jornada dividida em período de horas-aula e período de hora atividade nunca
inferior a vinte por cento do total. Outra contribuição deste Estatuto foi a instituição
de um avanço por qualificação profissional.
Em 1990 foi efetivamente instituída a hora-atividade unificada, ou seja, os
professores da pré-escola e das quatro séries iniciais passaram a ter a hora-
atividade no mesmo dia da semana em todas as escolas do município, o mesmo
ocorrendo com os professores das disciplinas nas quatro últimas séries do ensino
fundamental. A hora-atividade unificada e o avanço por qualificação profissional
possibilitaram a implementação, não sem conflitos, de um processo de formação
continuada por meio de cursos e assessoramentos, dirigidos e implementados por
20
Este breve histórico tem como base o documento da PREFEITURA MUNICIPAL DE
ARAUCÁRIA / Secretaria Municipal de Educação.
Diretrizes para o ensino de História em
Araucária: Texto preliminar.
Araucária: 2004, na participação do próprio pesquisador nesse
processo e em questões do inquérito de investigação.
21
PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAUCÁRIA. Lei Municipal nº 673/1987.
- 75 -
Coordenadores de Áreas, criando condições materiais para a formação e
continuidade do “Grupo”.
A importância da hora-atividade e da Coordenação de Área para a
formação e continuidade do “Grupo Araucária” pode ser constatada em algumas
respostas dos professores em questões diversas dos questionários dos anexos I e
II:
Creio que a formação de grupos por disciplinas, reunindo-se nos dias de
Hora-Atividade, é um excelente método de formação continuada e
fundamental para a motivação individual no trabalho em classe (Prof. P)
Outro aspecto a ser destacado é a importância do espaço institucional para
as reuniões na hora atividade unificada. Sem esse espaço talvez o grupo
de História de Araucária não existisse (...) Quanto à Secretaria de
Educação de Araucária um dos aspectos que considero relevante é a
continuidade da chamada hora atividade unificada por disciplina, com uma
coordenação, pois sem estas condições não sei realmente se o grupo de
História existiria. Este é o aspecto mais positivo. (Profª. A).
Com relação a isto, destaco a permanência da “hora-atividade unificada”
que garante a constituição do Grupo de professores de História (Profª. D).
O processo de escolha dos diretores de escola; a proposta curricular; os
cursos nas horas-atividades; coordenador de área e calendário escolar
(Prof. B).
Em resposta à questão 2 (anexo II), um professor reconhece os eventos
realizados pela Secretaria de Educação e a Coordenação do Grupo, mas aponta
limites nessa organização como a falta de integração do “grupo” e discorda dos
encaminhamentos da Secretaria Municipal para com o mesmo, apontando esses
encaminhamentos como responsáveis pela desintegração da ‘classe’, sem
especificar se está se reportando à categoria dos professores ou ao “grupo”.
Com a Secretaria da Educação a possibilidade de participação em eventos
como Semana Pedagógica, ter uma Coordenação do Grupo de História,
- 76 -
embora este grupo não esteja integrado a contento, pois alguns
professores sequer se conhecem. A Secretaria deixa muito a desejar no
que tange aos encaminhamentos do grupo de História, fato que contribui
para a desintegração da classe (Prof. M).
Ainda no campo da relação profissional com o sistema, vários professores
de História ocupam cargos de Direção e Direção Auxiliar nas escolas, para os
quais foram eleitos pelos pares, pais e alunos, outros ocupam cargos de
coordenação e assessoramento na Secretaria Municipal de Educação – SMED - e
no Conselho Municipal de Educação. Nas escolas, além de cargos de direção, os
professores também participam dos Conselhos Escolares e da elaboração dos
Projetos Político-Pedagógicos, Planos de Ação e Regimentos Internos. No
momento em que se realizava esta pesquisa, ocorriam negociações entre a
administração municipal e o magistério em torno de um novo Plano de Cargos,
Carreira e Salários. Essa participação efetiva na gestão da educação do município
caracteriza a participação política no processo. Os relatos da professora G e do
professor L ilustram algumas dessas atividades afins exercidas pelos professores
do “Grupo”:
Com a Secretaria de Educação passei a ter uma relação mais próxima
depois de assumir a direção da escola em 2001, antes desse período
participava dos assessoramentos com coordenadores de área. Atualmente
por estar trabalhando no Conselho Municipal de Educação tenho uma
relação mais próxima com a SMED, especialmente porque o CME tem seis
conselheiros indicados pela SMED (Profª. G).
Atuei no Departamento de Infra-estrutura de 2001 a 2004, destaco como
relevante a ampla participação nas discussões do orçamento da SMED.
Atualmente participo da criação do setor de Estrutura e Funcionamento
Escolar, responsável pela implantação do Sistema Municipal de Ensino
(Prof. L).
No dia-a-dia não tenho preocupação com a Secretaria por acreditar que
neste setor trabalham pessoas preparadas. Como estiveram em sala e
- 77 -
certamente vão estar no futuro, acredito que suas decisões visam o
benefício de educandos e educadores (Prof. K).
A principal relação pedagógica dos professores de História com o sistema
se por meio do grupo de professores de História, “Grupo Araucária”, que se
reúne num tempo e espaço, conquistados por meio de um processo de
organização e reivindicação da categoria profissional para todas as áreas, e
assumido, do ponto de vista da organização e da infra-estrutura, pela Secretaria
Municipal de Educação. Neste tempo e neste espaço ocorreram as participações
nas elaborações e produções curriculares, a formação continuada, as trocas de
experiência e o processo de relação com a Universidade por meio das
consultorias e assessorias às produções curriculares e também dos cursos de
formação continuada. Os professores assim se expressam em suas respostas à
questões 2 (anexo II) sobre essa relação, tanto de forma positiva quanto com
ressalvas:
Como faz muito tempo que estou na rede municipal de ensino, posso dizer
o quanto a SMED é extremamente relevante, pois existe um investimento
significativo na formação continuada dos professores nos diferentes níveis
de atuação (Profª. O).
Em relação à SMED, realizo os cursos propostos como semana
pedagógica, participei de várias reuniões do grupo de História (Profª. Q)
Os dois aspectos mais relevantes em relação a estas instâncias parecem
ser o da gestão democrática e da formação continuada (Profª. D).
Participo em cursos e assessoramentos (Profª. E).
A minha relação com a secretaria é boa (Profª. J).
Participação nos cursos de capacitação promovidos pela Secretaria
Municipal de Educação (Profª N).
- 78 -
O aspecto negativo se revela na falta de publicidade dos trabalhos
realizados pelo grupo. Em determinado momento, depois das
apresentações dos 17 trabalhos em Londrina, houve uma proposta de
publicação numa parceria Universidade e Prefeitura que não se
concretizou, pois não houve interesse da Secretaria (Profª. A).
A regulamentação das relações de trabalho dos professores com o Sistema
Municipal ocorreu na década de 1980, mais precisamente em 1987, através da
Lei Municipal 673, que
disciplina o provimento de pessoal nos quadros do
Magistério Público Municipal em regime Estatutário e toma outras providências.
O
Estatuto do Magistério Municipal de Araucária estabelece a contratação de
professores e pedagogos através de concurso público (Art. 3º), a remuneração
pela habilitação (Art. 5º), a jornada de vinte horas-aula semanais (Art. 22), sendo
vinte por cento destas horas-aula constituídas de horas-atividade (Art. 23). Além
do avanço na carreira pela maior habilitação, o Estatuto de Magistério também
prevê avanços na carreira para a formação continuada, ou seja, por
aperfeiçoamento profissional (Art. 32) e por tempo de serviço (Art. 33).
Essa regulamentação criou condições de trabalho que favorecem a
organização do “grupo Araucária”. Na década de 1990 ocorreram
regulamentações em âmbito federal com alcance municipal. Algumas dessas
regulamentações vieram consolidar as condições já existentes em Araucária,
como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB - Lei Federal 9394/96. Mas a
Emenda Constitucional 14 e a Lei do FUNDEF Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério Lei
Federal 9424/96 e a Resolução do Conselho Nacional de Educação, Câmara de
Educação Básica n.º 3, de 8 de outubro de 1997 que regulamentam esta Lei
Federal, foram especialmente prejudiciais ao Sistema Municipal de Ensino de
- 79 -
Araucária, por causarem, uma diminuição dos recursos para educação dos
municípios produtores. Municípios produtores são aqueles que possuem um
parque industrial proporcionalmente superior à população, gerando impostos,
especialmente ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias muito acima
de municípios consumidores, pois este imposto é recolhido no local da produção e
não do consumo. Como o FUNDEF é um fundo constituído por recursos advindos
do “seqüestro” de impostos de estados e municípios, especialmente do ICMS, e
posterior repasse conforme o número de alunos atendidos, os municípios
produtores têm expressivas perdas de recursos que beneficiam os municípios
consumidores, servindo de pretexto para seus governantes reduzirem
investimentos, precarizarem as condições de trabalho e subtrair conquistas da
carreira do magistério.
Na década atual as regulamentações ocorreram no âmbito municipal, com
a aprovação da Lei Municipal 1528/2004 que instituiu o Sistema Municipal de
Ensino e da Lei Municipal 1527/2004 que instituiu o Conselho Municipal de
Educação
22
. E está em processo de negociação o novo Plano de Cargos, Carreira
e Salários do Magistério Municipal. Neste processo de negociações, há uma
proposta da Secretaria Municipal de Educação, de transformar a jornada dos
professores de a séries do ensino fundamental das vinte horas semanais,
divididas em horas-aula (atualmente de 45 minutos) e horas-atividade (também de
45 minutos), em horas-aula de 60 minutos e horas-atividade de 60 minutos. Como
esta proposta ocorreu nos dias da aplicação do questionário, trouxe as seguintes
22
Para aprofundar as implicações do FUNDEF e da implantação do Sistema Municipal de Ensino
em Araucária ver SOARES, Marcos Aurélio Silva.
A descentralização do Ensino no Brasil e a
implementação dos Sistemas Municipais de Ensino: razões e determinações.
Dissertação de
Mestrado em Educação. Curitiba: UFPR, 2005.
- 80 -
manifestações dos professores, sobre a Secretaria, em resposta à questão 2
(anexo II):
Em relação à Secretaria de Educação, o que acho relevante é a
necessidade urgente, de voltar a ter um bom relacionamento com os
professores, pois diante dos últimos acontecimentos ficou inviável qualquer
tipo de consideração ou respeito. Acredito que a maioria dos professores
está se sentindo traída, assim como eu. Quando eu deixei a prefeitura de
Curitiba e fui para Araucária, foi exatamente por causa das condições de
trabalho ofertada, a qual vinha sendo praticada desta forma anos.
Se fosse para trabalhar com esta nova forma de trabalho eu teria ficado
trabalhando onde estava. É uma pena que a secretária e o prefeito
tomaram esta atitude. Eu nutria uma grande simpatia e respeito pelo
trabalho deles, e o que sinto agora é decepção. Eles estão se
“QUEIMANDO” em termos políticos e práticos, pois com uma jornada
desta, vai aumentar consideravelmente as faltas de professores, danos
com a saúde, desestímulo, desânimo, sem falar dos projetos como os que
nós desenvolvemos vai ficar muito difícil de ser concretizado devido a falta
de tempo para sentar com tranqüilidade, analisar, montar. Com certeza na
escola não dá para fazer isso. Isso tudo foi o que eu presenciei quando fui
professora da rede municipal de Curitiba, ainda que lá, a cada quinze dias,
havia um dia sem vínculo (Profª. C).
SMED: Não existe relação, existe sim um autoritarismo por parte deles.
Eles mantêm precariamente as escolas, não existe um atendimento à
saúde do trabalhador em educação, observo que não seriedade por
parte deles com relação a “incompetência” de muitos profissionais (Profª.
I).
Estas respostas demonstram a importância das condições de trabalho
concretas, como a jornada de trabalho e a hora-atividade, para a “experiência do
grupo”, sendo que a ameaça sobre elas trás um sentimento de decepção aos
professores, pois sem elas a interação entre os professores e destes com o
conhecimento também ficam ameaçadas.
Também compõe a relação pedagógica dos professores com o sistema o
processo de escolha do manual didático do PNLD Plano Nacional do Livro
Didático, que tem sido um momento importante, onde os professores analisam os
livros disponibilizados e fazem uma escolha coletiva, evidenciando, por vezes,
- 81 -
uma certa heterogeneidade nas concepções dos professores, expressas nas
diferentes opções relacionadas à organização dos conteúdos, desde a forma mais
linear e cronológica, até a forma mais temática. Para preparar uma escolha mais
fundamentada para o próximo ano, o grupo de professores está investigando o
uso do manual didático pelo professor e pelo aluno na perspectiva da Educação
Histórica. Sobre esta questão a professora G assim se manifestou:
divergências de concepções e nem todos seguem na mesma linha
teórica; prova disto ‘foi’ às divergências quando da escolha do livro didático
em 2003.
Na relação do “Grupo” com a Secretaria Municipal de Educação sobressai
a importância positiva do espaço da hora-atividade unificada, da coordenação de
área, da formação continuada por meio dos cursos e assessoramentos. A gestão
democrática, apesar de ressaltada, apresenta uma certa crise, tanto pelo não
apoio dado pela mantenedora ao grupo para divulgação de suas produções,
quanto pela proposta de precarizar as condições de trabalho, fundamentais para a
continuidade do “Grupo”.
3.3. Experiência de “Grupo” construída na relação com o Sindicato
A categoria do magistério municipal de Araucária está organizada em
sindicato desde 23 de setembro de 1989, quando a Associação de Professores de
Araucária - APA, criada em 1984, decidiu se transformar em Sindicato dos
Servidores de Magistério Municipal de Araucária - SISMMAR
23
, uma vez que, só a
partir da Constituição Federal de 1988, os servidores públicos tiveram o direito à
23
Conforme Livro Ata do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária.
- 83 -
Educação de Araucária, e as tensões que envolveram este processo, entre
entidade sindical e sistema de ensino, segundo afirma
(...) buscou nos relatos de dirigentes do SISMMAR e da SMED, em cada
gestão, a partir de 1983, elementos que pudessem desvendar e esclarecer
a relação expressa entre estas duas entidades, que adotaram como
prioridade a elaboração conjunta de um Plano Municipal de Educação para
Araucária, bem como analisar o papel que o Sindicato assumiu na defesa
de um processo de decisão participativo (p. 03).
Esta defesa de um processo de decisão participativo, ou seja, da gestão
democrática, sempre foi um ponto presente nas pautas de reivindicações de data-
base da categoria, ressaltando-se a defesa da eleição para diretores e
coordenadores das Unidades Escolares - Escolas Municipais e Centros
Municipais de Educação Infantil - bem como para os Coordenadores das Áreas,
sendo significativa a gestão para o retorno às Coordenações de Área, suprimidas
em 1997 e restabelecidas em 1999.
Os professores do “Grupo”, em resposta à questão 2 (anexo II), se
expressaram sobre a relação com a entidade de classe de várias formas. Uma
parte se reporta à sua forma de participação, que vai da não-sindicalização;
sindicalização; representação da escola; à participação na diretoria:
Quanto ao sindicato não sou sindicalizada (Profª. R).
Sou sindicalizada desde o meu ingresso no magistério municipal (Profª. N).
Sindicato – participação como representante da escola; informações (Profª.
E).
Em 2004 fui representante da minha escola nas reuniões do sindicato
(Profª. J).
- 84 -
(...) fui representante da escola no sindicato, agora não mais por falta
de liberação da direção da escola no ano de 2005 (Profª. Q)
Meu relacionamento com o SISMMAR é semelhante ao da maioria dos
professores municipais. Sou sindicalizado e compareço às assembléias.
Penso, no entanto, que a participação de todos deveria ser mais efetiva
(Prof. P).
Estive fazendo parte da diretoria do Sindicato do Magistério por 2 gestões
(2000 a 2005) e sempre participei das discussões e movimentos do
SISMMAR desde meu ingresso no magistério municipal (Profª. G).
Outros professores fizeram outros tipos de análises, de positiva a pontual e
crítica, com visões, como a que contrapõem sobre o sindicato ser a categoria toda
ou só a diretoria:
Quanto ao Sindicato da categoria, existe uma participação ativa na
construção dos avanços referentes à categoria do magistério (Prof. O).
O Sindicato ainda está preso ao corporativismo e pouco atua na formação
e aprimoramento dos profissionais a ele vinculados (Prof. H).
SISMMAR necessidade de maior transparência na gestão financeira
(Prof. L).
Sindicato: como eu participei das lutas históricas do SISMAC em Curitiba
tenho estranhado muitas atitudes do sindicato (ou melhor, da diretoria, pois
sindicato somos todos), como por exemplo na mesma mesa de discussão
sentar a diretoria com a secretária de educação, me parece bastante
estranho (Profª. I)
Estar no sindicato jamais se alcança uma unanimidade e quem está fora
sempre está esperando algo a mais. Em 2006 houveram momentos
importantes para que a atual diretoria adquirisse experiência na função
- 85 -
administração municipal, tanto na Secretaria de Educação, quanto em outros
órgãos:
Quanto ao Sindicato da Categoria, estávamos muito bem representados
até a última eleição. Na última eleição, por pouquíssimos votos, uma chapa
inexperiente ganhou e está trazendo muitos problemas, pois a "formação"
em exercício dos participantes está prejudicando toda uma caminhada
construída pelo magistério (Profª. A).
Quanto ao sindicato a falta de experiência ficou visível e com ela as
conseqüências estão bem claras. Aos poucos, com a ajuda, eles vão
aprendendo (Profª. C).
No que diz respeito à relação com o Sindicato, hoje não está sendo
relevante pela “fraqueza” da diretoria atual e por minha própria culpa. Num
passado recente, esta relação foi bem mais forte, tendo de minha parte
uma participação mais efetiva. Porém, uma parte significativa das diretorias
sindicais anteriores resolveram aderir ao “patrão”, fato que enfraqueceu
significativamente a luta da categoria, embora isso não signifique o
abandono das reivindicações, ao contrário, serve como aprendizado e de
acordo com os princípios de cada um, devemos lutar sempre em defesa de
nossos direitos (Prof. M).
Apenas um professor apontou como relevantes as funções do sindicato:
A organização da categoria (por meio de) reunião de representantes,
assembléias, congressos, plano de luta, PCCV, salarial, diretrizes
inerentes a categoria (saúde, formação, tempo de trabalho,
qualidade no ensino) (Prof. B).
Na experiência dos professores construída na relação com o Sindicato
destaca-se a importância da defesa das condições de trabalho, entre elas a hora-
atividade, a defesa das coordenações de área, a defesa da gestão democrática e
a organização da categoria em torno de questões educacionais e pedagógicas
como a elaboração de legislação municipal para organizar a educação: Sistema
Municipal de Ensino, Conselho Municipal de Educação, Plano Municipal de
Educação e Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos, que podemos caracterizar
- 86 -
como um compromisso contínuo de participação na elaboração e reelaboração
das normas, balizas e marcos, da profissão, desde a formação inicial à formação
continuada, na perspectiva de LAUTIER (1997).
Pode-se concluir que, embora eivada de tensões, a relação dos
professores do grupo Araucária tem sido efetiva e marcada pela inclusão de
aspectos pedagógicos em suas reivindicações políticas. Pode-se afirmar que esse
é um fator importante na construção das condições concretas para uma relação
qualitativamente diferente com o conhecimento.
3.4. Experiência do “Grupo” construída na relação com as produções curriculares
A formação do “Grupo” ganhou um impulso inicial em 1991 e 1992 quando,
parte significativa dos professores, teve a possibilidade de participar dos estudos
que culminaram com a elaboração de uma nova proposta Curricular de História
para o Município. Esta experiência demandou muito estudo, contato com a
renovação historiográfica, com diferentes concepções pedagógicas,
metodológicas e de avaliações, que levaram um grupo de professores, ainda
embrionário, a optar por uma proposta curricular com recorte temático dos
conteúdos. Houve também a elaboração do material didático a ser utilizado e,
como metodologia, foi introduzida a perspectiva da recorrência histórica, em que
os conteúdos são propostos a partir do presente para o passado e retorno ao
presente para compreensão histórica, visando superar uma linearidade histórica
baseada na cronologia. A produção de textos, histórias em quadrinhos, quadros
comparativos, pesquisas orientadas, problematizações, construção de textos e
outros instrumentos, passaram a incorporar o processo de ensino-aprendizagem e
- 87 -
a prática avaliativa, propondo uma superação dos testes objetivos e dos
questionários, remanescentes do ensino mais tradicional. Ademais, a presença de
pelo menos um pedagogo em cada escola, para intermediar, assessorar, discutir
e promover reflexões em torno dos encaminhamentos metodológicos e dos
processos avaliativos, faz parte desse conjunto de condições que permitiram um
intenso intercâmbio de experiências e elaboração de material entre os
professores, dando início a um processo de interação e reflexão a partir da prática
docente.
As produções curriculares foram elaboradas com a participação dos
professores, sendo possível constatar uma certa supremacia do que KEMMIS
(1998, p. 155) caracteriza como
pensamento comunitário em relação ao
pensamento burocrático, ou seja, o processo permitiu um entendimento da
importância da interação nas relações sociais, que junto com as relações de
produção, formam um todo superando a pressuposição da regulação das relações
sociais pelos meios de produção, que Thompson chamaria de regulação do
sujeitos pelas estruturas. O pensamento comunitário privilegia a razão prática e
crítica, superando a razão instrumental onde os meios justificam os fins do
pensamento burocrático.
O Plano Curricular de História: texto preliminar, de 1992
25
, foi elaborado
sob a coordenação da Área de História de Lindamir Zeglin Fernandes, com a
participação dos professores Alamir Muncio Compagnoni, Alfredo L. Nette,
Ambrozio Iantas, Arlete do Rocio Ribeiro Lopes, Henrique Rodolfo Theobald,
Leôncio Portes, Ludimar Rafanhim, Matilde Rossi e Sergei H. Hoffmann; das
25
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA/Secretaria Municipal de Educação. Plano
Curricular de História: texto preliminar
. Araucária, novembro de 1992.
- 88 -
pedagogas Arlete Inchot Mikosz, Cristina Maria de Andrade, Maria da Graça S. e
Lima, Raquel de Freitas, Silvania A. E. de Oliveira e Simone Bus, sob a
consultoria do Prof. Luis Carlos Ribeiro e da pedagoga Maria Madselva Ferreira
Feiges da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Dos professores e pedagogos
que participaram da elaboração do documento de 1992, apenas Ambrozio Iantas
e Maria da Graça S. e Lima (ambos in memorian) não atuam mais no quadro
próprio do magistério.
O Plano Curricular de História de 1992 parte da concepção de História
como um processo dinâmico das sociedades onde o homem se constrói pela
prática social, que é definida como as relações que esse sujeito estabelece com a
natureza e com os outros homens através do trabalho; é o fazer dos indivíduos no
cotidiano complexo das relações sociais, é o ‘fazer-se’ do homem enquanto um
ser histórico
(p. 1).
No documento de 1992 não questionamentos quanto à cientificidade da
História, que, enquanto tal, estuda o homem no tempo e no espaço, sua atividade
produzindo cultura, sua prática social enquanto comportamentos individuais
contextualizados ou como ações sociais e coletivas, seu cotidiano, complexo e
dinâmico, onde valores estão em constante processo de mudança. Estuda os
grupos humanos em todos os seus aspectos, visando uma história total, onde se
entrelaçam o econômico, o político, o cultural e o antropológico. Para estudar a
construção cultural humana, nas suas contradições, variedade de necessidades,
aspirações, emoções, sentimentos, razões e desejos, como sujeito social que
improvisa, forja saídas e resiste, a História enquanto ciência, deve ser múltipla e
diversa (p. 2).
- 89 -
O documento curricular de 1992 propõe que o ensino de História parta dos
conteúdos socialmente vividos por professores e alunos, e utilize-se da
Recorrência Histórica, visando o aprofundamento desses conteúdos. Entende
como recorrência histórica a busca no passado das sociedades de elementos que
permitam uma compreensão ampla da dinâmica social, para melhor entender o
cotidiano, as estruturas sociais, políticas, econômicas, culturais em que se
encontram inseridos professores e alunos. Desta forma, através dos conteúdos
aprofundados na recorrência ao passado e articulados com o presente, o ensino
de História permite estabelecer uma forma diversa de se afastar no tempo,
proporcionado uma ruptura com a cronologia linear e contínua, ampliando a
noção de tempos trabalhando as semelhanças, diferenças, simultaneidade,
duração, permanências e mudanças (p. 3).
Em 1992 os conteúdos foram organizados num recorte temático, sociedade
na pré-escola e nas duas primeiras séries iniciais; terra, trabalho e cultura na 3ª,
4ª, e séries;
democracia e cidadania na série; e formação do estado
brasileiro
na 8ª série. No entanto, a proposta não apresenta o que entende
substantivamente por terra, democracia, cidadania e estado, como o faz com
sociedade, trabalho e cultura.
Também pontua os conceitos de tempo e espaço: quanto ao conceito de
tempo, aponta a necessidade de atentar para as permanências e mudanças, a
cronologia, a simultaneidade, a duração, a semelhança e a diferença, visando
desenvolver a compreensão do aluno para a multiplicidade temporal da História.
Propõe o rompimento com a visão de tempo único, cronológico e linear, propondo
o entendimento dos conceitos fundamentais de tempo curto (o fato), tempo médio
- 90 -
(a conjuntura) e tempo longo (estrutura), na perspectiva dos Annales (pp. 4-6). Em
relação ao conceito de
espaço, visa superar a noção de espaço limitado ao físico
e ao geográfico, e propõe a ampliação para uma noção de espaço histórico,
culturalmente construído nas relações sociais (p. 6). O conceito de sociedade é
apresentado como espaço das relações dos homens no seu momento histórico (p.
7). O conceito de
cultura é entendido como toda produção humana, desde a
produção material que inclui a habitação, o vestuário, a alimentação, o transporte,
os utensílios e instrumentos de trabalho, à produção não-material das
representações mentais, do direito, do pensamento religioso e filosófico, da língua
e das artes, as estruturas sócio-econômicas e as relações sociais, numa
perspectiva de construção cultural (p. 8). Finalmente, o conceito de
trabalho é
entendido numa perspectiva marxista como alienado do trabalhador, que não
domina os meios de produção e vende sua força de trabalho, submisso ao capital,
como mercadoria, e é desvinculado do lazer, do prazer, da cultura, da vida enfim
(pp. 9 e 10).
Como encaminhamento metodológico, a proposta de 1992 aponta o jogo-
brinquedo como ideal para a pré-escola, acompanhado de reflexões e
problematizações de conteúdos na primeira série, trabalho coletivo, observação,
reflexão, discussão e pesquisa na segunda série, análise, pesquisa de campo e
bibliográfica, observação, reflexão e discussão na terceira série, observação,
reflexão e discussão na quarta série, discussões problematizadoras, questões que
provoquem a reflexão e o questionamento e a elaboração de textos
sistematizadores do conhecimento nas demais séries do ensino fundamental.
Esses encaminhamentos, sempre permeados de um processo de recorrência
- 91 -
histórica, um partir do presente ao passado e aportando no presente, visam
mediar a relação entre a criança, em seu conhecimento ‘fragmentado’ e de ‘senso
comum’, e o conhecimento sistematizado (pp. 11 e 12).
Quanto aos conhecimentos de natureza histórica, em 1992 uma ênfase
na busca da
compreensão pelo aluno da organização das sociedades e suas
relações em diferentes tempos e espaços
, preocupação que permeia a proposta
tanto no encaminhamento metodológico quanto na avaliação.
Sobre o processo de elaboração da proposta curricular de 1992, em
resposta às questões 2 (anexo I) e 3 (anexo II), os professores que dela
participaram se manifestaram como tendo sido uma referência de participação
positiva e marcante:
Foi uma relação bastante intensa, pois fazíamos parte de um grupo de
professores bastante empolgado com a possibilidade de mudança coletiva
no Ensino de História. Também era um momento histórico importante
porque estávamos no período do que poderíamos chamar de “transição
democrática” de uma ditadura para uma democracia. Além disso, no Brasil
todo haviam discussões e construções de currículos. Lembro-me da
vontade de rompermos com a linearidade dos conteúdos e então, a
construção de temáticas que iniciavam sempre pelas discussões de um
tema no presente para depois haver a “recorrência histórica”, isto é, após a
discussão do tema no presente a busca do mesmo tema em outras
épocas. Apesar de todo o esforço ainda ficamos amarrados a cronologia,
mas com mudanças significativas, muito próximos da história temática
(Profª. A).
Participei das leituras, discussões e redação (Prof. B).
Não tive participação direta na elaboração, participei com idéias, opiniões,
experiência (Profª F). (Para todas as elaborações).
Participei com maior empenho na elaboração das propostas de 1992 e
1994 (Prof. L).
Posso afirmar que minha maior colaboração foi nas propostas de 1992 e
1994, sobretudo na primeira, pois a Secretaria da Educação na época, deu
- 92 -
grande importância para a elaboração da proposta curricular de todas as
disciplinas e todos os professores de todas as áreas puderam participar
(Prof. M).
Acredito que contribui em todos os momentos de discussão, desde 1991
quando nos reuníamos em pequenos grupos para a elaboração da
proposta, mesmo diante da heterogeneidade do grupo, houve muitos
avanços (Profª. O).
O “Grupo” foi amadurecendo a partir da implantação, na prática, da
proposta curricular de 1992 por um intenso intercâmbio de experiências e
elaboração de material entre os professores, que deram início a um processo de
reflexão “sobre a prática”. Dessas atividades resultou a elaboração de outra
proposta curricular em 1994, visando incorporar alterações advindas do processo
de implantação, mas que não teve sua efetivação por questões políticas que
envolveram mudanças nas coordenações das áreas.
A revisão do Plano Curricular de História, de 1994
26
, elaborado por Alamir
M. Compagnoni, Alfredo L. Nette, Ambrozio Iantas “in memorian”, Arlete do Rocio
Ribeiro Lopes, Arlete Inchot Mikosz, Cristina Maria de Andrade, Henrique Rodolfo
Theobald, Leôncio Portes, Lindamir Zeglin Fernandes, Ludimar Rafanhim, Maria
da Graça S. e Lima “in memorian”, Matilde Rossi, Sergei H. Hoffmann e Silvania
A. E. de Oliveira, sob a consultoria de Luis Carlos Ribeiro, com a colaboração de
Raquel de Freitas e Simone Bus, apresenta a História com três significados: como
prática social; como estudo dessa prática social; e como área de conhecimento
ensinada na escola.
Como prática social mantêm a concepção de 1992 de processo dinâmico
das sociedades nas quais o homem, através de sua prática social, se constrói
26
História. Este é o nome do documento elaborado em 1994, que não foi assumido como oficial
pela Secretaria Municipal de Educação, e faz parte do acervo particular deste investigador.
- 93 -
como sujeito histórico. (...) Relações que esse sujeito histórico estabelece com a
natureza e com os outros homens, mediados pelo trabalho
(p. 2).
Sem questionar a cientificidade da História, mantêm como seu objeto de
estudo a prática social entendida como resultado das ações sociais e coletivas
dos homens, ou seja, das ações dos homens nos diferentes tempos e espaços.
A concepção de História, da revisão do Plano Curricular de História, de
1994, pouco difere do Plano Curricular de 1992. Em relação ao ensino de História
constata que a concepção de ensino de História que temos, não objetiva apenas
repassar ao aluno o conhecimento do passado. Não pretende fazer do aluno um
observador que se distancia do objeto de seu estudo, mas um sujeito que
participa da História. Nessa perspectiva, propõe que, mais do que conhecimento,
o ensino de História deve instrumentalizar o aluno a pensar sobre a sua condição
de sujeito histórico e agente transformador de seu tempo (p. 14).
Como estratégia que possibilite essa tomada de consciência, propõe a
reflexão do aluno sobre a sua realidade, tomando como referência o seu
cotidiano, exercita a recorrência histórica a outros tempos e espaços para que
descubra que a sua experiência não é algo particular, mas possui identidade com
outros indivíduos, seja no passado, seja no presente, proporcionando ao aluno
condições para, do senso comum, do conhecimento apenas empírico de sua
realidade, alcance um pensamento mais reflexivo e mais crítico da sociedade (p.
14).
Se em 1992 a compreensão, pelo aluno, do processo histórico, era a
principal preocupação da natureza do conhecimento da História, em 1994, além
dessa permanência, apresenta a necessidade de instrumentalizar o aluno na
- 94 -
reflexão para essa compreensão. No entanto, não uma mudança na estratégia
proposta, ou seja, a
recorrência histórica permanece como encaminhamento
metodológico, surgindo uma preocupação com o pensar historicamente, mas
ainda preso à concepção de sujeito histórico condicionado a um conhecimento
aprendido e não produzido. Após dois anos de uma prática reflexiva sobre a
viabilidade de um currículo produzido pelos professores, também aparece a
necessidade expressa de proporcionar condições a professores e alunos para
que exerçam um aprimoramento de seu conhecimento, desenvolvam uma
capacidade reflexiva, percebam a provisoriedade e a dinamicidade de seus
conhecimentos históricos.
Quanto à organização dos conteúdos, a revisão curricular de 1994 mantém
em todo ensino fundamental a perspectiva da compreensão das diferentes
formas de organização das sociedades e suas relações em diferentes tempos e
espaços”, com um recorte temático nas quatro séries finais, terra, trabalho e
cultura no Brasil
na série, trabalho e cultura urbana no Brasil na série,
relações de poder e cidadania na série e trabalho e cidadania nas sociedades
capitalistas e socialistas na 8ª série.
Os conceitos de tempo, espaço, sociedade, cultura e trabalho permanecem
inalterados em relação à proposta de 1992, e os conceitos terra, poder e
cidadania não são explicitados. No entanto, surge uma reflexão sobre a seleção
dos conteúdos, apresentando-a como comprometida com o lugar ideológico que
ocupam os que fazem essa seleção e justifica a seleção feita por entender que
permitirá aos alunos construir um conceito de cidadania.
- 95 -
No encaminhamento metodológico uma preocupação em
instrumentalizar o aluno para que possa pensar sobre a sua condição de sujeito
histórico. A recorrência histórica é apresentada como método que permite
identificar a temporalidade histórica e que o aluno exercite o ato de inquirir sobre a
historicidade de suas experiências vividas. Para registrar essas reflexões, propõe,
como estratégias de ensino, a análise de textos, relatórios de pesquisas,
sistematizações e elaboração de cartazes, numa complexidade crescente a cada
série, e na oitava série propõem análises comparativas.
Quanto aos conceitos de natureza histórica, a compreensão continua
sendo o objetivo principal que permeia a revisão curricular de 1994.
Sobre o documento de 1994, nas respostas às questões 2 (anexo I) e 3
(anexo II), além de manifestações de participação referenciadas junto com as
de 1992, houve poucas considerações, inclusive com discordância quanto ao ano
e a própria realização do estudo:
Pelos meus conhecimentos essa data não é 1994, é 1993, pois eu diria
que esse currículo é o mesmo de 1992, na essência. O de 92 tinha sido
escrito coletivamente (no sentido mais angustiante e sofrido do
coletivamente) e o de 93 foi uma espécie de revisão mais fundamentada
em torno das reflexões de 1992. Eu não dividiria em 92 e 94, pois acredito
que fazem parte de um mesmo processo (Profª. A).
Participei das leituras, discussões e escolha dos conteúdos (Prof. B).
Não me recordo de ter havido elaboração curricular em 1994 (Prof. P).
- 96 -
As Diretrizes Curriculares: Texto preliminar História, de 1996
27
partem da
concepção de homem como um ser eminentemente histórico que, como sujeito,
se faz e se humaniza nas relações com os outros homens através do trabalho em
diferentes tempos e espaços. E define a História como um processo dinâmico de
construção, produto da ação de todos os homens em sociedade, que se constitui
a partir de múltiplas dimensões e tem caráter contraditório. Para compreendê-la é
essencial à análise das transformações, mudanças e permanências de
determinadas sociedades em diferentes tempos. A sociedade se organiza em
- 97 -
fundamental. Não há uma preocupação em definir outros conceitos como as
propostas anteriores o fizeram.
É nas Diretrizes Curriculares de 1996, que se volta a atenção para a
importância do conteúdo
significativo, acompanhado da necessidade de criar
situações de aprendizagem e da visão do aluno como sujeito que conhece e
produz, conhecendo assim a natureza da História, como pressuposto
metodológico do ensino de História:
O ensino de História deve partir daquilo que é significativo para a vida do
aluno em sociedade, levando-se em consideração o que ele pensa, sabe,
com o que se interessa e se preocupa. O professor deve criar situações de
aprendizagem para que o aluno se identifique enquanto sujeito do
processo histórico e isso só é possível quando conhece e entende os
processos de produção desse conhecimento (DIRETRIZES
CURRICULARES 1996, p. 4).
A recorrência histórica é mantida como pressuposto metodológico, com o
objetivo de quebrar a noção de tempo linear e aproximar das múltiplas dimensões
temporais. No entanto, essa recorrência deve ser acompanhada de uma análise e
seleção criteriosa dos documentos a serem utilizados, dentro de situações
concretas”, com a utilização dos documentos históricos como fontes de
informação do passado, introduzir o aluno no método histórico de interrogar o
documento, buscando respostas à diversidade de questões, entendendo a
produção da história e expressando de forma escrita e oral suas idéias sobre o
passado a partir dessa aprendizagem situada (pp. 5-6).
Quanto aos conceitos de natureza histórica há uma preocupação para além
da compreensão sobre o passado, presente em 1992 e 1994. Em 1996 a
multiperspectiva, a inferência e a narrativa históricas aparecem de uma forma
tímida, sem muita clareza e fundamentação, mas estão presentes de forma direta
- 98 -
ou indireta no texto, podendo ser indicado como um avanço reflexivo sobre a
prática específica do ensino de História em relação às propostas anteriores.
O “Grupo” teve nova experiência com a reelaboração curricular em 1996,
produzindo novas Diretrizes Curriculares. Em resposta às questões 2 (anexo I) e 3
(anexo II), os professores A e E destacam a incorporação da importância do
documento histórico para o ensino de história nas sistematizações. No entanto, a
coesão de 1992 não está mais presente. questionamentos, tanto quanto a
elaboração, que não envolveu os professores como o processo de 1992, bem
como na incorporação prática pelos professores do documento elaborado,
conforme relatos, por vezes contraditórios, dos professores A, B, K, M e N.
Por motivos que não discutiremos aqui, este foi escrito apenas pela
coordenadora do Grupo, sem a participação dos membros diretamente.
Embora tenha havido curso sobre a importância do uso do documento
histórico, importante avanço nesse momento e que foi amplamente
contemplado em 1996 (Profª. A).
Participei das leituras, discussões, escolha dos conteúdos e redação (Prof.
B).
Estive presente em algumas discussões a partir de 1996, quando entrei no
grupo. Não lembro bem os encaminhamentos, mas me senti bem próxima
dessas propostas (Profª. E).
Em 1996, participei do curso sobre o uso de documentos históricos..., que
influenciou fortemente na reformulação das diretrizes de História (Profª. G).
Fiz parte das discussões após 1996, contudo a minha auto-crítica é no
sentido que deveria ter me envolvido mais (Prof. K).
Acompanhei as de 1996 e 2000 (Prof. L).
Nas outras propostas de 1996/2000/2004 tive participação muito
superficial. Convém ressaltar que nenhuma delas foi colocada em prática,
pois “esbarrou” nos trâmites burocráticos da administração pública do
- 99 -
município, ou mais precisamente, faltou vontade política para implementá-
las (Prof. M).
Não estive envolvida diretamente com a elaboração das propostas
curriculares de história. Entretanto, as experiências e sobretudo as
inovações capitaneadas pelo grupo elaborador foram levadas a cabo por
mim. Sempre me alinhei e defendi estas investidas promovidas nas
propostas (Profª. N).
Nas elaborações curriculares de 1996 e 2004 participei nas ocasiões e na
forma solicitada pelas coordenadoras de cada um desses períodos, nas
reuniões do grupo dos professores de História (Prof. P).
Esta precária coesão interna do grupo em torno da proposta de 1996 teve
conseqüências. Em decisão política, a Secretaria de Educação adotou, em 1997,
o Currículo Básico do Estado do Paraná, suprimindo as Diretrizes Curriculares do
Município, as Coordenações de Área e inviabilizando a continuidade dos
encontros do “Grupo”, tanto para assessoramentos, como para elaboração do
material didático. Esta instabilidade levou os professores de História a retornarem
à ‘segurança’ do livro didático, interrompendo o processo de estudos em grupo,
assessoramentos, sucumbindo todas as condições espaço-temporais, político e
materiais que permitiram o desenvolvimento do período anterior.
Em 1999 houve uma nova mudança política na Secretaria de Educação.
Por pressão política das bases, retornaram as Coordenações de Área e o “Grupo”
voltou a se reunir institucionalmente, sendo em 2000 produzido o documento
Estudo do Currículo: Sistematização Preliminar e Provisória, que visava o resgate
e o retorno à caminhada iniciada em 1992 e interrompida em 1997.
- 100 -
O Estudo do Currículo: Sistematização Preliminar e Provisória de 2000
28
apresenta-se como um estudo e ateve-se mais em reflexões e considerações
sobre as propostas e diretrizes curriculares anteriores, visando superar a ‘ruptura’
ocorrida em 1997, quando o Currículo Básico do Estado do Paraná foi ‘imposto’
pela equipe de ensino de então. Diante disso, os questionamentos propostos pela
consultoria e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
29
, sistematizadas pelo
grupo, não se ativeram a uma concepção mais concreta de História, nem ao seu
objeto ou sua cientificidade, focando-se na perspectiva de resgate do que já havia
sido construído antes da ‘ruptura’, à luz dos estudos sobre currículo, muito fortes
naquele momento, expresso na introdução geral deste Estudo do Currículo:
No início do processo de discussão curricular deste ano, definiu-se que a
proposta curricular de 1992 e o texto preliminar de diretrizes curriculares de
1996 seriam tomadas como referência. A partir daí seriam discutidas as
tendências dos estudos curriculares da última década e as disposições
legais em relação ao currículo. Essa decisão foi um reconhecimento de
que a discussão curricular em Araucária tem uma história expressiva que,
no momento atual, deve ser respeitada (p. 4).
O Estudo do Currículo: Sistematização Preliminar e Provisória de 2000
propõem reflexões em torno do ensino de História, a partir da proposta histórico-
crítica, de Adorno e se aproxima da categoria de cultura escolar e da produção do
conhecimento pelo sujeito dessa escola, quando aponta a necessidade de
ressignificar na perspectiva da escola o conhecimento construído no cotidiano
pelo aluno.
28
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA/Secretaria Municipal de Educação. Estudo do
Currículo: Sistematização Preliminar e Provisória
. Araucária, 2000. Este documento apresenta
como participantes do grupo de estudo e elaboração os seguintes professores: Jair Fernandes dos
Santos, Andréa Voronkoff, Ivo Luis Viana, Aurora Miranda e Cristiane Peretto, e a pedagoga Eva
Vera Druszcz, o consultor Marcos Cordiolli, e pela SMED, Ida Hammerschmitt de Lima e Janete
Maria Miotto Schiontek.
29
Os Parâmetros Curriculares Nacionas, PCNs, foram implementados no país em 2000.
- 101 -
Parte da referência à pedagogia histórico-crítica, que propõe ao ensino de
História levar os alunos à aquisição do conhecimento sistematizado, necessários
à sua compreensão do mundo para a transformação do capitalismo, presente na
proposta de 1992, onde o aluno precisa conhecer a essência dos valores
estruturados e estruturantes da sociedade para avaliar a realidade, contestá-la ou
transformá-la. Questiona os Parâmetros Curriculares Nacionais, que propõem a
discussão de problemas sociais e não a estrutura capitalista, ‘naturalizando’ dessa
forma, a sociedade e o capitalismo
, e recorre a Adorno, para quem o objetivo da
escola deve ser a construção do pensamento reflexivo aberto, respeitando os
valores dos alunos, tendo como limite da ‘abertura’ o papel da escola na formação
de valores contra a barbárie (p. 147). O Estudo de 2000 aponta também para a
importância da adoção de encaminhamentos que levem o aluno à ‘postura
reflexiva’ e aberta (p. 148).
Nessa perspectiva, o documento propõe que o ensino de História deve
assumir o papel de contribuir para o aluno ressignificar na (cultura) escolar as
suas percepções da realidade histórica em suas múltiplas dimensões: espacial;
temporal; de ação histórica e social; textual oral ou escrita; de conteúdo; de
contexto e de fontes, o conhecimento construído no cotidiano.
O estudo do currículo de 2000, como o próprio nome sugere, ateve-se ao
apontamento de questões relacionadas às discussões curriculares e uma análise
pontual das propostas anteriores, não apresentando uma organização de
conceitos e conteúdos históricos.
Sobre o Documento de 2000, além das considerações manifestadas junto
com as de 1996, como ela foi sistematizada por uma comissão, conforme relato
- 102 -
do professor P, poucos professores teceram considerações nas respostas dadas
às questões 2 (anexo I) e 3 (anexo II), sendo relevantes as feitas pela professora
A que vê, no documento e no momento em que foi produzido, sinais de mudança:
Não participei diretamente, mas foi democrático. Foi aberta a participação
para representantes. Na época não pude participar, mas sou simpática a
muitas idéias nele contidas como por exemplo, a idéia de que o ensino de
história deveria, entre outros, servir para sistematizar o patrimônio cultural
da comunidade onde a escola esta inserida. Infelizmente a sistematização
e divulgação deste ficou prejudicada por mudança de grupo político na
prefeitura, mas haviam algumas críticas muito interessantes ao
“Savianismo” no documento geral que embasava as disciplinas. Além disso
um curso realizado em 1999 na rede, sobre “Relação entre Conteúdo e
Método no Ensino de História”, nesse mesmo contexto foi muito motivador,
pois foi a primeira vez na qual nós professores nos tornamos
pesquisadores em contexto da sala de aula. Muitas mudanças no ensino
de História se anunciavam (Profª. A).
Participei das leituras e discussões. Não participei da sistematização
preliminar (Prof. B).
Em 2000, fazia parte da comissão de reformulação das diretrizes, porém,
esse movimento não trouxe uma proposta efetiva de reformulação e
redimensionamento da prática dos professores de História (Profª. G).
Em relação ao processo de discussão curricular ocorrido no ano de 2000,
tive a tarefa de registrar por escrito as discussões do grupo formado por
todos os professores de História e da equipe responsável pela
sistematização que era constituída de seis pessoas (quatro professores/as
– de História e de 1ª - 4ª série, uma pedagoga e o coordenador da Área de
História) (Prof. P).
Estas mudanças começaram a se concretizar nos anos de 2003 e
posteriores, quando os professores de História de Araucária têm se debruçado, de
forma mais sistemática, sobre o Ensino de História. Essa prática reflexiva teve um
impulso significativo com a participação de vários professores de História do
Município de Araucária, em setembro de 2003, no seminário do curso de
Mestrado em Educação da UFPR, Investigar em Ensino de História, que se ateve
- 103 -
na investigação dos conhecimentos prévios dos alunos em História, com a
Orientação de Barca
30
e Schimdt.
31
Este seminário deflagrou um processo de reflexão mais aprofundada sobre
a prática docente, uma vez que introduziu uma sistemática científica de análise
dos conhecimentos prévios dos alunos sobre os conceitos históricos, tendo
referência os pressupostos da Educação Histórica. Esses pressupostos levaram
os professores a planejar uma intervenção pedagógica sobre o conteúdo
específico, alicerçada em vários documentos históricos,contribuindo para que os
alunos a cruzassem informações e elaborassem suas análises e narrativas,
tornando-se sujeitos do processo de produção do conhecimento sobre o conteúdo
e os conceitos propostos. Após a intervenção pedagógica, os professores foram
orientados a retomar os conceitos trabalhados na investigação sobre os
conhecimentos prévios e a reelaborar os mesmos para verificar as mudanças
provocadas pela intervenção pedagógica.
Esta parceria com a Universidade introduziu o componente da pesquisa e
da investigação sobre a prática, bem como o registro destas investigações, sua
apresentação aos colegas na “Grupo” e a inscrição dos trabalhões em Encontros,
Seminários, Congressos, Simpósios e Jornadas sobre o Ensino de História, que
será detalhada no próximo tópico. Também o documento:
Diretrizes Municipais do
Ensino de História, de 2004, foi elaborado dentro desta nova perspectiva.
30
Isabel Barca. Professora doutora em Ensino de História pela Universidade Londres e mestra em
Ensino de Ciências Sociais pela Universidade do Boston. Professora do Centro de Investigação
em Educação (CIEd), Instituto de Educação e Psicologia, UNIVERSIDADE DO MINHO, Braga, PT,
31
Maria Auxiliadora Schmidt. Professora doutora em História e Pós-doutora em Educação pela
Capes. Professora de Metodologia e Prática de Ensino de História da Universidade Federal do
Paraná.
- 104 -
As mudanças anunciadas nas Diretrizes Curriculares de 1996 e os
movimentos e inquietações que são perceptíveis no Estudo do Currículo de 2000,
sedimentam-se em 2004 nas
Diretrizes Municipais de Educação História
32
, que
a concebe como construção na e pela prática social em tempos e espaços plurais,
pressupondo que ela é feita por diferentes sujeitos e classes sociais. O diferencial
está no objeto de estudo da História, que passa a priorizar as investigações em
torno da experiência humana no tempo, para subsidiar o ensino de história, cuja
finalidade é ensinar o aluno a pensar historicamente para formação da
consciência histórica, onde o aluno é entendido como sujeito da própria história,
partindo daquilo que é significativo para sua vida em sociedade, levando-se em
consideração o que ele pensa, sabe e se preocupa, bem como a sua participação
na realidade social (p. 78).
No documento, o aluno é visto como uma criança ou um jovem, inserido
socialmente numa cultura infanto-juvenil urbana, ruurbana ou rural, para quem
uma das contribuições fundamentais da escola é a
construção ou reconstrução de
sua identidade, num mundo em que a globalização provoca efeitos perversos na
32
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA/Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes
Municipais de Educação
. Araucária, 2004. Neste documento são referenciados todos os
professores e pedagogos que de alguma forma participaram dos estudos, análises e escrita. Ao
todo são 1.067, dentre eles constam os nomes dos seguinte professores de História: Lindamir
Zeglin Fernandes (coordenadora da Área), Alamir Muncio Compagnoni, Alfeo Luiz Cappellari,
Alfredo Luís Nette, Andréa Vorenkoff Ormenez, Aurora Aparecida Antunes Miranda, Clari
Elizabeth Thoele, Crisitane Perretto, Elenice Elias, Evaristo Pitágoras Boeira de Souza, Gilca
Silveira Fiúza, Helena Lima Weber Pereira, Hélio Antonio Caetano, Henrique Rodolfo Theobald,
Ivete Coelho Moreira, Jair Fernandes dos Santos, Joceli de Fátima Tomio Arantes, Kátia Silene
Godoi dos Santos, Leida Regina Tiblier, Leôncio Batista Portes, Marcos Rogério Gonçalves, Maria
Catharina Nastaniec de Carvalho, Maria da Glória de Oliveira, Marlene Terezinha Grendel, Matilde
Gawlak Rossi, Neide Teresinha Nóbrega Lorenzi, Nilcéia Alves de Freitas Gavronski, Rafael de
Jesus A. de Almeida, Rosalia Maria Ptok O. Martins, Sergio Pin. Além desses professores
participaram professores de pré q séries e pedagogos, de difícil nominação, bem como nem
todos os professores de história nominados podem ter participado dos estudos e análises de
História, pois alguns atuavam em coordenações de Centros de Educação Infantil, podendo ter
participados de autras áreas ou mesmo da área da educação infantil. Consultoria de Profª Drª
Maria Auxiliadora Schmidt, da UFPR.
- 105 -
cidadania (p. 78). A construção ou reconstrução dessa identidade refere-se ao
entrelaçamento histórico entre o presente, o passado e o futuro, por meio do
estabelecimento de
nexos significativos, num processo dialético, do sentido de
pertencimento a uma família, comunidade, nação, grupo ou classe social,
possibilitando o nascimento de uma consciência histórica, superando os valores e
formas de viver que supervalorizam o presente, propagados por parte da mídia,
que contribui para a negação ou o desconhecimento das experiências dos
sujeitos do passado dessas crianças e jovens e suas famílias, comunidades,
nações, povos e grupos sociais de pertencimento.
O documento de 2004 organiza os conteúdos em temáticas históricas,
algumas anunciadas nas propostas anteriores, e outras pertinentes à seleção e
organização dos conteúdos numa perspectiva que objetive,
(...) desenvolver o interesse pelo passado; compreender as diferenças
entre modos de vida e de pensar do passado e do presente; desenvolver
um conhecimento cronológico; buscar e construir explicações para as
mudanças; compreender que os acontecimentos têm uma multiplicidade de
causas e de hipóteses sobre mudanças e continuidades; desenvolver
valores de cidadania e informações e explicações sobre o passado, o
presente e o futuro. Outra atitude a ser desenvolvida é a empatia e a
contextualização. A primeira é a capacidade de se colocar no lugar dos
outros e a última de entrelaçar acontecimentos de forma diacrônica –
relacionando com o passado e sincrônica relacionando com a
simultaneidade dos acontecimentos do presente (DIRETRIZES
MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO – HISTÓRIA, p. 81).
É proposição de método e de conteúdo que as temáticas históricas:
Famílias, Cotidiano, Trabalho, Cultura, Poder e Movimentos Sociais sejam
exploradas de forma diferenciada em todas as séries do ensino fundamental,
articulando os conteúdos da história local, regional, nacional e global.
O documento de 2004 faz uma opção pela Educação Histórica, como
caminho para entender os contornos de relativa autonomia que o ensino de
- 106 -
História toma no contexto da escola como saber histórico escolar, ao passar pelo
processo de transposição didática. Nessa perspectiva, as categorias da
infância e
da juventude são fundamentais para entender este contexto e propor
encaminhamentos metodológicos que considerem e possibilitem ao aluno a
condição de sujeitos do processo de ensino-aprendizagem. Esses
encaminhamentos devem levar em conta os conhecimentos prévios dos alunos
estabelecendo as relações com o saber escolar, trabalhar com uma diversidade
de fontes e documentos históricos para desenvolver a capacidade de inferências,
deduções, hipóteses e explicações acerca do passado a partir das evidências
desses documentos, o contato com as várias temporalidades históricas e
desenvolver a construção de narrativas históricas, tornando clara e necessária a
articulação entre os conceitos substantivos e os conceitos de segunda ordem
33
no
ensino de história, uma vez que objetivam a construção de significâncias,
compreensões, narrativas, multiperspectivas, explicações, empatias, inferências e
contextualizações históricas, que são competências específicas da História e de
seu ensino na perspectiva da Educação Histórica, cuja finalidade é a formação da
consciência histórica (p. 82).
Sobre a elaboração do documento de 2004, ainda nas respostas dadas
pelos professores às questões 2 (anexo I) e 3 (anexo II), é possível constatar uma
participação expressiva dos professores, com referências positivas, ressalvando o
comentário do professor H.
33
Sobre conceitos substantivos e conceitos de segunda ordem ver LEE, Peter. Progressão da
compreensão dos alunos em História. In. BARCA, Isabel. (Org.).
Perspectivas em Educação
Histórica: Actas das primeiras jornadas internacionais de educação histórica
. Braga: Centro
de Estudos em Educação e Psicologia UMINHO, 2001. p. 13 27. Estes conceitos são
trabalhados no capítulo IV deste trabalho.
- 107 -
Foi uma relação bastante intensa (...), investigando paralelamente também
em sala de aula. Acredito que foi uma experiência tão intensa quanto o de
1992. Embora o de 1992 tenha havido a participação de praticamente
100% do grupo, o de 2004 não teve essa participação tão grande. Muitas
idéias adquiridas na caminhada do grupo foram trazidas para esse
currículo, como o trabalho com os conhecimentos prévios, o trabalho com
a narrativa (dois que eu mais destaco, pois fazem parte da discussão e
construção do campo da Educação Histórica). Uma nova formatação dos
conteúdos não foi implantada. Houve até uma proposta nesse sentido, mas
ela não foi aceita pelos pedagogos da equipe pedagógica da SMED e não
houve tempo hábil para novas defesas. Mas acredito que tivemos alguns
avanços (Profª. A).
Participei das leituras, cursos, discussões, sistematização, escolha dos
conteúdos e redação (Prof. B).
Não vou poder fazer alguma colocação, pois quando cheguei no final de
agosto de 2004, não participei de nenhuma reunião ou elaboração de
propostas curriculares. fui fazer contato com o grupo quando este
tinha formalizado as propostas curriculares. Obs. Eu participei sim de
alguns assessoramentos em 2004, pois lembrei que apresentei um
pequeno esboço de um trabalho sobre as mulheres na Grécia (que eu não
gostei), comparando com as mulheres de hoje. Desculpe, havia esquecido
(Profª. C).
participei da elaboração da proposta de 2004, mesmo assim como
representante de à séries. Minha participação efetiva, no grupo,
ocorre em 2005. Anterior a esse período procurei participar das discussões
nos encontros de História com 1ª à 4ª (Profª D).
Na de 2004, participei do grupo de sistematização de alguns textos da
gestão democrática (Profª E).
Em 2004, participei parcialmente dos assessoramentos, devido a
dificuldade por estar na direção de escola, porém acompanhei o processo,
sem no entanto estar efetivamente elaborando o documento (Profª. G).
Participei em 2004. Não tenho formação teórica suficiente. “Acho” que foi
conduzido de forma a nos fazer aceitar mais um modismo. Podia ter sido
oferecido um leque de opções teóricas, com palestrantes de outras
vertentes de pensamento. As discussões foram insuficientes (Prof. H).
Como eu estou pouco tempo na rede, acompanhei as últimas discussões.
Ela (a coordenadora da área) sempre me pareceu competente no que
fazia, ouvia sempre a base, base essa que resumiu-se em poucos
professores, pois a maioria não participa (não entendi ainda por quê?). O
- 108 -
assessoramento da UFPR sempre aconteceu de forma positiva no sentido
de oferecer subsídios com as últimas produções acadêmicas da
historiografia (Profª. I).
Participei da elaboração da proposta curricular somente de 2004. Percebi
que os professores de História estavam realmente envolvidos e
conscientes do trabalho que estavam desenvolvendo. O trabalho foi
democrático em todo o processo. Aprendi muito com essa experiência
(Profª. J).
É importante ressaltar a resistência dos pedagogos e da equipe
pedagógica da SMED para uma formatação dos conteúdos na perspectiva da
Educação Histórica, o que pode demonstrar uma certa distância destes da relação
com e do domínio dos conhecimentos de natureza histórica, apontando um
possível descompasso com as experiências dos professores do “grupo”.
O comentário feito pelo professor H destoa dos demais, podendo ser
sintoma de uma afinidade maior com os conteúdos historiográficos do que com os
conteúdos do ensino de história.
No geral, as manifestações dos professores sobre a participação na
elaboração das propostas curriculares apontam que as elaborações curriculares
de 1992 e 2004 ocorreram na perspectiva do pensamento comunitário de
Kemmis, num clima de relações cooperativas e de decisões compartilhadas e com
participação expressiva, entendendo o trabalho de sua elaboração como um
processo de cooperação, que contempla práticas informais e pessoais, superando
o pensamento burocrático de elaboração centralizada em decisões de “expertos”
a serem executadas pelos demais através de procedimentos normatizados,
formais e impessoais, características mais presentes nas elaborações de 1996 e
2000.
- 109 -
3.5. Experiência do “Grupo” construída na relação com a universidade, com a
pesquisa e com a produção de conhecimento
A relação do “grupo Araucária” com a Universidade, especificamente a
UFPR, teve início em 1992, com as consultorias do prof. Luis Carlos Ribeiro e da
pedagoga Maria Madselva Ferreira Feiges na elaboração da Proposta Curricular
de História. Esta relação teve continuidade com assessoramentos de professores
da UFPR ao grupo nos anos seguintes.
Ainda na década de 1990, uma parte dos professores de História fizeram a
pós-graduação em
Linguagens e Ensino de História na UFPR. Em 1999 foi
organizado o curso
Construindo a relação conteúdo método no ensino de História,
em convênio com a UFPR, ministrado nos assessoramentos em hora-atividade
pela Profª. Drª. Maria Auxiliadora Schmidt.
A prática reflexiva do “grupo” teve um impulso significativo com a
participação de vários professores de História do Município de Araucária, em
setembro de 2003, no seminário do curso de Mestrado em Educação da UFPR,
Investigar em Ensino de História. Este seminário, organizado pelas Drª
s
. Maria
Auxiliadora Schmidt (UFPR) e Isabel Barca (Universidade do Minho - PT), e a
continuidade do intercâmbio com a Universidade deflagrou um processo mais
intenso de reflexão a partir de investigação sobre a própria prática com uma
opção pela perspectiva da Educação Histórica.
Em junho de 2004, parte significativa dos professores do “grupo” participou
do seminário Dificuldades contextuais de natureza disciplinar no Ensino de
História e o valor formativo da História, do Mestrado em Educação da UFPR,
- 110 -
organizado pelos Dr
es
. Maria Auxiliadora Schmidt (UFPR) e Joaquin Prats
(Universidade de Salamanca).
Essa relação dos professores de História de Araucária com a pesquisa e
com a Universidade é bem caracterizada por SCHMIDT & GARCIA (2006), ao
apresentarem o saldo da trajetória das investigações em Educação Histórica do
Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica, do Programa de Pós-Graduação
em Educação da UFPR referindo-se a
Constituição de grupo de investigação sobre o ensino de História,
envolvendo professores do ensino fundamental (1ª. a 8ª. séries) de escolas
públicas (Projeto “Grupo Araucária”), cujos produtos contabilizados são:
Reestruturação coletiva do currículo básico do município de Araucária;
Artigos produzidos pelos professores do “Grupo Araucária” e apresentados
em encontros nacionais (...) e encontros internacionais (SCHMIDT &
GARCIA: 2006, pp. 27-28).
São, ao todo, quarenta e três trabalhos apresentados em eventos de 2004
a 2006, sendo cinco no V Perspectivas do Ensino de História RJ em 2004; dois
nas V Jornadas Internacionais de Educação Histórica Uminho Braga - PT em
2005; dezoito no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz
Londrina em 2005; dois na XIX e XX Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão
UFPR Curitiba, PR - 2005; dois no X Encontro Nacional de Pesquisadores de
História – Belo Horizonte em 2006; nove nas VI Jornadas Internacionais de
Educação Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação Histórica
Curitiba - PR em 2006 e cinco no X Encontro Regional da ANPUH-PR, XII
Seminário de Pesquisa DHI-UEM: O Profissional da História - Maringá em 2006,
conforme os Quadros 4 a 10. No texto, essas produções dos professores serão
identificadas, daqui por diante, com a sigla PP, Produção dos Professores.
- 111 -
Qudaro 4 – V Perspectivas do Ensino de História
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
GRENDEL, Marlene
Terezinha
O trabalho de produção do
conhecimento histórico
Rio de Janeiro 2004
COMPAGNONI,
Alamir Muncio
Investigar em ensino de História Rio de Janeiro 2004
MIRANDA, Aurora
Aparecida Antunes e
SCHMIDT, Maria
Auxiliadora
Quem faz o currículo? Os
saberes de alunos e professores
na produção do currículo
Rio de Janeiro 2004
THEOBALD,
Henrique Rodolfo
Investigação de conhecimentos
prévios no ensino de História
Rio de Janeiro 2004
FERNANDES,
Lindamir Zeglin
Saber escolar: patrimônio
cultural da escola
Rio de Janeiro 2004
Qudaro 5 – V Jornadas Internacionais de Educação Histórica
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
THEOBALD,
Henrique Rodolfo
Princípio de Educação Histórica em
Araucária
Uminho – Braga - PT 2005
GRENDEL, Marlene
Terezinha
Os conhecimentos prévios no ensino de
história: uma experiência
Uminho – Braga - PT 2005
- 112 -
Qudaro 6 – XXIII Simpósio Nacional de História – História: Guerra e Paz
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
TALAMINI, Jaqueline
Lesinhovski
O trabalho infantil hoje e em épocas diferentes: uma
nova abordagem para o Ensino de História nas séries
iniciais
Londrina
– PR
2005
COMPAGNONI, Alamir
Muncio
Narrativas e leituras no Ensino de História Londrina
– PR
2005
SANTOS, Kátia S.
FURMAN, Ivan e
SCHMIDT, Maria A.
O universo vivenciado pelo aluno em uma aula de
História e a questão da cidadania
Londrina
– PR
2005
SCHERREIER, Ana
Cristina Burkot
O uso do documento histórico na prática pedagógica Londrina
– PR
2005
NETTE, Alfredo Luís A produção de tijolos em uma olaria local Londrina
– PR
2005
FERNANDES, Lindamir
Zeglin
Patrimônio Cultural e Saber Histórico Escolar Londrina
– PR
2005
REMES, Palite
Terezinha Buratto
Conhecer e despertar a curiosidade: formação da família Londrina
– PR
2005
MACIEL, Édina Soares Guerra e Paz: práticas pedagógicas possíveis aos
alunos em fase de alfabetização
Londrina
– PR
2005
GRENDEL, Marlene
Terezinha
Os conhecimentos prévios no ensino de História: uma
experiência
Londrina
– PR
2005
LIMA, Sandra do Rocio
Cordeiro de
O uso de documentos diversificados nas séries iniciais
para recriação dos conhecimentos prévios
Londrina
– PR
2005
ALMEIDA, Rafael de
Jesus Andrade de
A narrativa, o documento e a criação do conflito Londrina
– PR
2005
LORENZI, Neide
Terezinha Nóbrega
O uso metodológico do documento no Ensino de História Londrina
– PR
2005
SPACK, Patrícia Crianças percorrendo o cotidiano do passado e do
presente nas asas de um velho caderno de caligrafia
Londrina
– PR
2005
BYTNER, Luciana
Nadília de Fátima
Qual é a sua história? Londrina
– PR
2005
FERREIRA, Sueli de
Fátima
Evolução cultural e tecnológica e as transformações nas
relações do cotidiano da família contemporânea
Londrina
– PR
2005
CARVALHO, Maria
Catharina Nastaniec de
Legislação trabalhista: situação dos trabalhadores em
Araucária, no mercado formal e informal
Londrina
– PR
2005
ELIAS, Elenice Uso do documento histórico na sala de aula Londrina
– PR
2005
THEOBALD, Henrique
Rodolfo
A Educação Histórica e a mudança de paradigma na
cultura escolar no Município de Araucária
Londrina
– PR
2005
- 113 -
Qudaro 7 – XIX e XX Semanas de Ensino, Pesquisa e Extensão - UFPR
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
THEOBALD,
Henrique Rodolfo
Educação Histórica: um projeto em construção
na experiência do Grupo de Professores de
História de Araucária
Curitiba -
PR
2005
GRENDEL, Marlene
Terezinha
Cadernos de alunos e a transposição didática do
saber histórico escolar
Curitiba -
PR
2006
Qudaro 8 – VII Encontro Nacional de Pesquisadores de Ensino de História -
ENPEH
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
COMPAGNONI,
Alamir M. et alli
Perspectivas da consciência
histórica em jovens brasileiros
Belo Horizonte – MG 2006
GRENDEL, Marlene
Terezinha
Cadernos de alunos e a
transposição didática do saber
histórico escolar
Belo Horizonte - MG 2006
- 114 -
Qudaro 9 – VI Jornadas Internacionais de Educação Histórica
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
REMES, Pálite
Terezinha Buratto
Pensar o passado e o presente Curitiba - PR 2006
LORENZI, Neide
Terezinha Nóbrega
e PORTES, Leôncio
Direitos e deveres dos jovens – (Grêmio
Estudantil)
Curitiba - PR 2006
COMPAGNONI,
Alamir Muncio
Uma experiência educativa com alunos de 8ª
série do ensino fundamental com textos e
imagens: Poder –As crises do capitalismo –
A 1ª guerra mundial
Curitiba - PR 2006
FERNANDES,
Lindamir Zeglin
A conquista dos direitos da mulher e seu
significado para os alunos e suas famílias
Curitiba - PR 2006
GRENDEL, Marlene
Terezinha
Cadernos de alunos: conceitos substantivos
e idéias de 2ª ordem
Curitiba - PR 2006
ALMEIDA, Rafael J.
A. de
Memória familiar e identidade nacional Curitiba - PR 2006
TALAMINI,
Jaqueline
Lesinhowski
Reflexões sobre as atividades de lazer hoje e
em diferentes épocas: uma análise sobre o
trabalho com o livro didático em sala de aula
Curitiba - PR 2006
THEOBALD,
Henrique
Os conceitos de segunda ordem nas
produções curriculares do grupo de
professores de História de Araucária
Curitiba - PR 2006
CARVALHO, Maria
Catharina N. de e
MARTINS, Carlise
R. V.
O uso do rádio na Era Vargas Curitiba - PR 2006
- 115 -
Qudaro 10 – X Encontro Regional da ANPUH-PR
PROFESSOR (A) PRODUÇÃO LOCAL ANO
THEOBALD,
Henrique Rodolfo
Idéias substantivas e de segunda ordem
nas produções curriculares do Grupo de
Professores de História de Araucária
Maringá – PR 2006
FERNANDES,
Lindamir Zeglin
A conquista dos direitos da mulher e seu
significado para os alunos e suas famílias
Maringá – PR 2006
TALAMINI,
Jaqueline
Lesinhovski
Reflexões sobre as atividades de lazer
hoje e em diferentes épocas: uma análise
sobre o trabalho com o livro didático em
sala de aula
Maringá – PR 2006
ALMEIDA, Rafael de
Jesus Andrade de
Memória familiar e identidade nacional Maringá – PR 2006
REMES, Pálite
Terezinha Buratto
Pensar o passado e o presente Maringá - PR 2006
As PPs são frutos de projetos de investigação realizados pelo “Grupo
Araucária”, com o apoio institucional da Secretaria Municipal de Educação através
da Coordenação da Área de História, e em colaboração com Universidade
Federal do Paraná (UFPR), por meio do Laboratório de Pesquisa em Educação
Histórica, na Linha de Pesquisa Cultura, Escola e Ensino, do Programa de Pós
Graduação em Educação, coordenado pelas Profª
s
. Drª
s
. Maria Auxiliadora
Schmidt e Tânia Maria Braga Garcia, que desenvolvem pesquisas onde
professores, licenciandos, jovens e crianças de escolas fundamental e média,
sujeitos e partícipes dos processos didáticos que incluem a relação com este
conhecimento, (...) são os principais sujeitos das reflexões e pesquisas em
desenvolvimento (SCHMIDT & GARCIA: 2006, p. 13) e intercâmbio com os
- 116 -
estudos em Educação Histórica desenvolvidos em Portugal pela pesquisadora
Isabel Barca e na Inglaterra pelos pesquisadores Peter Lee e Rosalyn Ashby
34
.
Ao analisar as PPs, é possível identificar um leque de questões
relacionadas ao ensino de história sendo investigadas. Inicialmente, como se
fosse uma conclamação a incorporação de um novo olhar nas práticas dos
professores:
A maioria dos professores não incorpora, em suas práticas, a noção da
importância de ensino e pesquisa caminharem juntos, resultando, entre
outros, o pouco empenho no trabalho com as fontes da memória e da
documentação pessoal e escolar, na constituição dos saberes local e
escolar no cotidiano da sala de aula. Esta aproximação, necessária, entre
ensino e pesquisa, que existe no campo acadêmico, buscando formas
didáticas para o ensino de História, apresenta-se como a principal
possibilidade para a construção e uso de acervos escolares pertinentes ao
patrimônio cultural escolar (FERNANDES: 2004).
Trabalhar a produção de conhecimento supõe perceber nos alunos sujeitos
protagonistas de seu processo de aprendizagem, com capacidade de
construir e de transformar. Não é somente o professor o depositário de
autoridade e saber. É preciso gostar da aula e de seus alunos (GRENDEL:
2004).
Outros começam a identificar que a prática investigativa provoca uma
mudança conceitual qualitativa sobre o ensino de história e sobre a relação com o
conhecimento em quem a experiencía, valorizando a natureza do conhecimento
histórico, os conhecimentos prévios dos alunos e sua importância para todas as
idades e níveis de ensino para a construção do sujeito em sua relação com o
saber, tanto para o aluno quanto para professores:
O trabalho realizado na referida escola buscou resgatar o aluno como
sujeito de sua própria aprendizagem, mostrando que este não aprende
agindo apenas como sujeito passivo em relação ao que é repassado pelo
34
Para um aprofundamento sobre estas pesquisas em Educação Histórica ver EDUCAR EM
REVISTA, Curitiba, PR: Ed. UFPR, n. 1, jan. 1981. Série Revistas da UFPR, n.164 Edição
Especial 2006 – Dossiê: Educação Histórica, e no terceiro capítulo deste trabalho.
- 117 -
professor. A experiência desenvolvida não serviu apenas para reforçar o
conteúdo que estava sendo trabalhado em sala de aula, mas
principalmente para dar um novo significado para as aulas,
compreendendo o quanto o ensino de História é vivo e dinâmico e
principalmente que os alunos fazem incontestavelmente parte dela
(
TALAMINI: 2005).
Fazendo uma análise do trabalho realizado, concluiu-se que os resultados
satisfizeram as expectativas, pois tornaram possível a atuação dos alunos
como agentes de sua própria história e abriram um leque de possibilidades
de tratamento do assunto, o qual teve como ponto crítico, a dificuldade de
se organizar as informações, sem perder de vista o tema inicialmente
proposto (REMES: 2005).
Cabe ainda ressaltar que o ensino de história não precisa ocupar posição
secundária no cotidiano escolar uma vez que o processo de aquisição da
leitura e da escrita ocorreu de forma significativa no contexto da pesquisa
em questão. A valorização do ensino de história nas classes de
alfabetização deve ser transformada em elemento primordial para a
formação do aluno, e portanto, surge a necessidade de investir na
formação do professor alfabetizador de modo que ele possa ter subsídios
para cumprir essa tarefa com qualidade (
FERREIRA, S. F.: 2005).
A experiência do curso de História foi de grande importância para os
professores das séries iniciais, pois possibilitou que estes tivessem a
oportunidade de ver o ensino de História além da forma distante e
fragmentada como haviam aprendido. Possibilitou também a consciência
de que não deve haver separação entre ensino e pesquisa, ressaltando,
portanto a necessidade e a importância do nculo com a Universidade.
Quando esta forma de trabalho ensino/pesquisa ocorre, nota-se
nitidamente a maior valorização que se ao trabalho desenvolvido pelos
professores das séries iniciais. Muda-se a imagem do ensino marcado pela
mera reprodução do senso comum, do trabalho visto com menor prestígio
ou marcado muitas vezes por palavras pejorativas como ensino de tias ou
de professorinhas. A experiência relatada anteriormente pode ser vista
como uma nova possibilidade na formação continuada do professor de
educação básica, mostrando uma importante mudança de paradigma na
ação docente, sobretudo dos profissionais que atuam nas séries iniciais.
Por meio desta experiência observa-se que o ensino de História não deve
ser ignorado nos primeiros anos de escolaridade, nem tampouco ser
reduzida a memorização de fatos e conceitos. O trabalho nas séries iniciais
é fundamental para que o aluno construa a noção de pesquisa e do
tratamento da informação disponível, pois isso ajudará na compreensão de
que a História é sempre uma ciência em construção e não uma verdade
absoluta sobre o passado (
TALAMINI: 2005).
Com esta experiência pode-se, portanto, perceber a importância de adotar
a investigação dos conhecimentos prévios como metodologia nas aulas de
história. Por meio desta investigação o professor pode observar em que
- 118 -
níveis de conhecimento estão seus alunos. Mas para que essa
constatação ocorra é preciso que o professor também apresente uma
postura investigativa em relação a como se constrói o conhecimento
histórico em sala de aula, para que se deve construir conhecimento
histórico e, principalmente, que tipo de conhecimento se quer construir
(TALAMINI: 2006)
Para além das mudanças conceituais, as PPs, sobre elementos de sua
prática de ensino de História, também levantam questões em torno da
metodologia do ensino de história, questões em torno da utilização das fontes e
do documento histórico, importantes nas investigações em Educação Histórica:
Com base nessa experiência, constatou-se que os alunos passaram a
reconhecer com maior facilidade as semelhanças e diferenças sociais do
seu cotidiano e do seu grupo de convívio em relação a outros grupos,
estabelecendo relações entre o presente e o passado por meio da
exploração de documentos históricos. Desse modo, ficou evidente que,
mesmo trabalhando com alunos de 1.ª série do ensino fundamental, o
conteúdo se torna mais significativo quando utilização desse recurso,
ou seja, o aprendizado acontece com maior facilidade quando é possível
apreciar um registro histórico “palpável” ou que de algum modo faça parte
do cotidiano da criança. As aulas, fundamentadas no contato com as
fontes históricas, facilitam a familiarização dos alunos com formas de
representação das realidades do passado e do presente, permitindo que a
relação entre professor, aluno e conhecimento seja interativa. Ao fazer
comparações entre o passado e o cotidiano do aluno, constrói-se uma
ponte que liga ambos e torna mais estimulante a compreensão de fatos
históricos por meio de documentos, cuja denominação produz no aluno
grande expectativa (
SCHERREIER: 2005).
O objetivo de socializar minha experiência foi o de mostrar que o uso de
documentos diversificados, certamente, diminui as dificuldades para se
ensinar conteúdos necessários e que não são objetivos para os alunos.
Porém, é a opção por incluir as idéias expressas pelos alunos das séries
iniciais no planejamento e desenvolvimento da metodologia do trabalho
que permite tornar mais fácil conhecer as distorções a que eles estão
expostos e que muitas vezes dificultam a compreensão e o aprendizado.
(
LIMA, S. R. C.: 2005)
A conclusão a que chegamos é que na idade em que se encontram,
os(as) alunos(as) em estudo conseguem construir de forma mais
elaborada os conceitos científicos, a partir de um ensino da história, por
meio do qual ele possa visualizar os acontecimentos, através das
imagens, relacionadas à narrativa do acontecimento. A outra idéia que
percebemos no decorrer das aulas, é que os(as) alunos(as) mostram
- 119 -
curiosidade e prazer em estudar o conteúdo quando trabalhamos com
diversas fontes e não só o texto do livro didático (COMPAGNONI: 2006).
Também as questões relacionadas à incorporação metodológica da
narrativa, do cotidiano, da memória familiar e do caderno do aluno na prática, no
ensino de história, e a implicação destas investigações para a reestruturação
curricular, para com o uso do livro didático e do caderno, para a construção da
identidade do aluno e do professor, e a investigação da relação de professores e
alunos com idéias históricas, tomam contornos nas investigações:
A pesquisa de narrativas familiares, pautadas no uso de documentos
históricos como práxis cotidiana, tem contribuído para recuperar a própria
metodologia do conhecimento histórico, despertando situações que
mobilizam estruturas cognitivas dos educandos; Para finalizar, o trabalho
tem apontado para a necessidade de adotarmos uma História Temática,
delegando às experiências familiares um sentido de identidade e
demonstrando a vivência concreta de cada momento histórico (
ALMEIDA,
R. J. A.: 2005)
Os resultados indiciam a importância das entrevistas orais e da
socialização das mesmas em sala de aula para o aumento da significância
histórica possibilitando uma maior relação entre o conteúdo estudado de
maneira mais abrangente e universal e a vida da família do aluno. (...) As
implicações desse trabalho para o ensino são três, essencialmente:
primeiro, a necessidade de repensar o extenso rol de conteúdos da
série para permitir um maior tempo de trabalho com as temáticas;
segundo, a incorporação pelos livros didáticos de novas temáticas como as
questões relacionadas à mulher; e terceiro, um maior entrelaçamento entre
a história das famílias e a história geral (FERNANDES: 2006).
Ao cruzarmos as informações da segunda etapa com a terceira etapa
percebemos claramente uma contradição, especificamente no papel do
negro, enquanto 76% dos alunos reconhecem a importância dos negros na
construção da identidade nacional, apenas uma aluna se reconheceu
como afro-descendente. Por outro lado o papel dos imigrantes italianos é
claramente super valorizado ao definirem a suas próprias formações
étnicas (
ALMEIDA, R. J. A.: 2006).
A investigação desenvolvida permitiu apontar alguns elementos
relacionados ao uso do livro didático para a construção do conhecimento
histórico com crianças na fase inicial de escolarização. O primeiro deles diz
respeito ao fato de que apesar de ser apontada, no manual dos
- 120 -
professores, a importância dos conhecimentos prévios dos alunos, no
capítulo referente ao tema trabalhado os autores não iniciaram a discussão
valorizando algum conhecimento dos alunos, pois o assunto foi introduzido
apresentando um conceito sobre o lazer. No manual também não uma
orientação de que fosse necessário realizar alguma atividade previamente
ao uso do texto do livro, nem havia uma orientação específica sobre como
o professor poderia valorizar os conhecimentos prévios dos alunos.
Portanto, tem-se aqui um limite do manual didático que precisa ser
observado pelos professores, se desejarem levar em conta os
conhecimentos que os alunos produziram em sua experiência cultural. Um
outro ponto se refere ao fato de que, a trabalhar o conteúdo de história
com crianças pequenas, é necessário que se faça antes algum tipo de
mobilização, uma forma de despertar o interesse dos alunos sobre o
assunto, causando assim uma empatia histórica. No trabalho com o livro,
acredita-se não ter sido possível despertar essa empatia, pois o conteúdo
foi introduzido abruptamente, sem estabelecer alguns pontos de relação
com as experiências das crianças. Além disso, a diagramação do livro
também não estava voltada para o público infantil (TALAMINI: 2006)
Considerando o exposto, fica claro que o caderno pode ter como função
fundamental ser um instrumento e receptáculo da construção do
conhecimento histórico. Enquanto docentes, não podemos assumir um
posicionamento ingênuo, mas devemos arriscar um novo tipo de
diálogo
tendo como foco principal a noção da essência e da natureza do
conhecimento histórico que é
a investigação desse produto da cultura
escolar, como fonte importante para se conhecer que idéias históricas são
propostas aos alunos e de que forma isso se dá. Esta investigação poderá
contribuir para que se conheça melhor a relação dos alunos com o
conhecimento histórico escolar (GRENDEL: 2006)
Esta investigação nos remete, entre outras, à necessidade de investigar a
presença dos conceitos substantivos e de segunda ordem nas idéias dos
professores que participaram dessas elaborações curriculares, categorizá-
las e analisá-las à luz das teorizações no campo da Educação Histórica.
Também à necessidade de investigar a presença destas idéias nos
manuais didáticos. Contribuindo para as reflexões sobre as práticas
docentes, sobre o Currículo e sobre os manuais didáticos (THEOBALD, H.:
2006)
Essas considerações nos permitem apontar a importância de continuidade
nas investigações sobre as idéias históricas de jovens alunos,
principalmente no que se refere á sua relação com as temporalidades
históricas (COMPAGNONI: 2006).
As considerações de COMPAGNONI (2006) apontam para
questionamentos em torno da compreensão de uma idéia histórica de segunda
ordem, a temporalidade, por parte dos alunos e a implicação para a construção da
- 121 -
consciência histórica na perspectiva de Rüsen, como competência para encontrar
significado entre o passado, o presente e o futuro, orientando-se pelas
experiências do passado e expectativas de futuro:
Nossa frustração fica na questão temporal. Eles contam o que discutiram e
compreenderam, sem a mínima preocupação com o tempo cronológico.
Para esses jovens alunos, a questão do tempo se coloca como algo a
pensar ou um elemento do raciocínio histórico se forem diretamente
instigados a fazê-lo. Em todas as narrativas da última questão, não
aparece nada sobre o tempo (COMPAGNONI: 2006).
Para nós, fica a indagação se o uso da temporalidade cronológica não
seria fundamental para a educação histórica, na medida em que essa
temporalidade é a que temos para lidar no dia a dia, com o objetivo de
localizar acontecimentos nos seus respectivos anos, séculos e dias
(COMPAGNONI: 2006).
O resultado dessa investigação nos apontou como os jovens se relacionam
bem com o passado, o que contradiz afirmações que vêm sendo feitas de
que eles se interessam mais pelo presente, mas também nos mostrou que
essa relação é feita a partir de um processo seletivo, no qual os jovens
organizam os acontecimentos a partir da dinâmica do próprio
acontecimento e não obedecendo a medidas temporais, como a
cronologia. Essa relação dos jovens alunos com a temporalidade, não
estaria mais próxima do que HELLER (1985) afirmou de que o tempo nada
mais é do que a irreversibilidade dos acontecimentos? (COMPAGNONI:
2006).
O foco em questões relacionadas a elementos da prática, do ensino, da
aprendizagem e da relação que as crianças e jovens estabelecem com o
conhecimento histórico, e a sistematização das pesquisas estão criando um novo
significado para o professor como intelectual, que o levam a apropriar-se dos
meios de produção do conhecimento relativo ao ensino da disciplina de História. A
posse desses meios de produção de conhecimento estavam, até então, restritos à
Universidade, mas o tipo de relação que estabelecem com ela está
proporcionando essa experiência de relação produtiva com o conhecimento.
- 122 -
3.6. A experiência do “Grupo Araucária” na visão dos professores
Analisar as idéias que os professores que participaram da investigação
fazem e expressam sobre o “Grupo Araucária” e sua experiência é o que
possibilitaram as respostas dadas às questões 3 (anexo I) e 4 (anexo II). É
possível organizar essas idéias em cinco níveis, do mais distante ao mais próximo
da idéia de ser um lugar social de uma experiência de relação identitária com o
saber por meio da investigação de elementos da prática e da produção de saber
sobre o ensino de História.
Há os professores que não têm uma idéia formada, expressam-se de forma
distanciada, pelo que ouvem falar sobre o “Grupo”. São idéias que vão desde a
admiração, passando por reservas, ou até mesmo por discordâncias com seus
rumos:
Estou afastado devido ao cargo que ocupo, mas vejo pessoas bastante
comprometidas (Prof. H).
Acompanhei (...) que o grupo tem se destacado nacionalmente por alguns
projetos (Prof. L).
Considero o grupo disperso. Os poucos professores que conheço, que
freqüentam as reuniões, considero-os muito esforçados em seguir as
orientações (...). Mas percebo uma certa acomodação no sentido de
participação das discussões, de dar opiniões (Profª Q).
Não tenho participado das discussões do grupo. Não concordo com a
organização e condução dos encontros do grupo. Acredito que a
coordenação deve ser dirigida e orientada por representante do grupo e
não (por outros) interesses (Profª. F).
- 123 -
outros professores que realçam a importância do grupo, sua
participação, mas gostariam de ver esta importância contagiar mais, até a
unanimidade se fosse possível:
O grupo infelizmente é a minoria, seria importantíssimo que mais
professores de História participassem para que houvesse unidade real na
proposta. Meu relacionamento como os que participam é muito bom, tenho
aprendido bastante com o pessoal e com as leituras propostas pela
orientadora (Profª. I).
O grupo de professores de História de Araucária, embora minúsculo, é um
grupo coeso ainda, pois está trilhando um caminho que a meu ver não
contribui o suficiente para tornar o grupo mais participante e ampliar a
participação dos professores (Prof. M).
aqueles professores que fazem uma análise mais racional, têm clareza
dos conflitos, de sua relação com o grupo e compreendem esse processo como
sendo histórico. Nessa perspectiva, Lautier (1997, p. 130)
35
diz que se a soma
dos indivíduos não nos a inteligência do grupo, é necessário avaliar os efeitos
da influência das trocas; é necessário procurar os canais da construção de uma
cultura comum, alguns professores assim se expressam:
Eu sempre procurei estar presente, buscando defender a união, a
permanência e a importância do grupo para o ensino de história em
Araucária. Percebo que uma pequena divisão em termos de idéias e
encaminhamentos dos trabalhos, alguns preferem a ausência (Prof. B).
O grupo não tem 100% de participação de todos os professores
atualmente. Como todo processo histórico, teve períodos (1992, 1996 e
2004) com maior participação, em outros períodos com menor
participação. Há divergências de concepções e nem todos seguem na
mesma linha teórica; prova disto foi as divergências quando da escolha do
livro didático em 2003. De 1995 a 2000 fui bastante freqüente e
participativa nos assessoramentos do grupo. A partir de 2001 procurei
acompanhar na medida do possível os assessoramentos e cursos de
35
Traduzido do original em Francês: si la somme des individus ne donne pas l’intelligence du
grupe, il faut évaluer les effets d’influence, des échanges ; il faut rechercher les canaux de la
construction d’une culture commune.
- 124 -
extensão na UFPR, porém não tive maior freqüência e participação por
estar fora da sala de aula (Profª. G).
O grupo de História é capaz, com experiência e preparo teórico e prático.
Estão envolvidos com trocas de experiência que os capacitam no
processo. Minha participação tem sido regular, com uma intensidade que
poderia ser melhor. Me envolvo com atividades na escola e nem sempre
estou com o grupo (Prof. K).
Considero o grupo de história, um grupo extremamente participativo e
crítico. Sempre que possível participei ativamente, inclusive coordenando o
grupo no ano de 1993 e 94 (Profª. O).
No entanto, é expressiva a manifestação dos professores que vêem o
“Grupo” com um sentimento de pertença e acolhida, um lugar de construção de
uma identificação mais profunda com a natureza da disciplina, estando presente o
componente da intimidade, da afetividade, na perspectiva de Lautier:
O grupo é especial Quando ouvi falar dele e da forma como funcionava,
o trabalho desenvolvido em sala, fiquei muito assustada, mas ao mesmo
tempo curiosa para saber como funcionava na prática. E foi uma surpresa
maravilhosa, quando de repente me senti fazendo parte integrante dele. A
reunião é muito importante, porque todo mês nos alimentamos de novos
desafios, e o apoio dos colegas tem sido fundamental (Profª. C).
Sempre respeitei o grupo de História de Araucária, quando iniciei no grupo
parecia que não iria dar conta de participar das discussões, mas todos os
colegas passaram muita confiança. Após participar de vários encontros,
posso dizer que “to” em casa! O grupo de História de Araucária é uma
referência positiva para a Educação (Profª. E).
Desde meu ingresso em 1992 no magistério municipal, participo, a
despeito da parcimônia oral. Considero um grupo inovador, corajoso e,
especialmente, disposto a reparar erros cometidos nas várias tentativas de
inovação (Profª. N)
O grupo é um espaço de formação continuada e de convivência. Desde
meu ingresso no magistério de Araucária procuro ser assíduo às reuniões
e cursos. Nos primeiros anos sentia-me especialmente motivado a
comparecer aos eventos do grupo a fim de me integrar ao pensamento e
às práticas dos professores “mais antigos”, e daqueles que como eu
estavam começando. Nem sempre consigo manter a assiduidade (Prof.
P).
- 125 -
A relação com os professores de História é ótima, nunca me senti excluída
do grupo, o que poderia ocorrer por não ter formação em História (Profª. J).
Outro aspecto a ser destacado é a importância do espaço institucional para
as reuniões na hora atividade unificada. Sem esse espaço talvez o grupo
de História de Araucária não existisse. Como trabalho no Estado que não
possibilita esse espaço unificado para os professores posso comparar as
duas situações e compreendo como é importante pertencer e ter uma
identidade num grupo. Pois quando ficamos praticamente isolados e as
idéias não circulam o peso do cotidiano na sala de aula é pesado demais.
Ao passo que depois das reuniões eu me sinto conflitada pelo muito a ser
feito diante de tantas demandas, às vezes, mas desafiada a seguir em
frente abrindo e ampliando perspectivas. Outro aspecto a ser destacado é
a questão da humildade e a solidariedade que você adquire nessa
convivência: as máscaras caem, ninguém sabe mais que ninguém.
Estamos numa busca constante e vale também a solidariedade do
empréstimo de um texto, de um telefonema para pedir uma referência, ou
até para dizer de uma angústia do como fazer. E também às vezes se
partilham lágrimas de tantas angústias e demandas que se misturam entre
a vida profissional e particular. Acredito que todos os educadores deveriam
pertencer a um grupo dessa natureza, pois se sentiriam reforçados tanto
no seu lado profissional quanto no seu lado mais humano e afetivo (Profª.
A).
Por fim, os professores que expressam uma idéia do grupo como um lugar
de construção de uma relação identitária com o saber (Charlot) através da
investigação de sua prática (Goodson). Os professores do “Grupo”, no entanto,
ainda não se vêem como produtores de conhecimento sobre o ensino de História,
mas vislumbram que a pesquisa não os faz mais apenas retransmissores do
conhecimento.
O grupo de professores de História de Araucária pode ser definido como
um grupo de professores investigadores e que investigam porquê ensinam.
A metodologia do trabalho é envolvente e desacomoda qualquer um.
Minha freqüência tem sido constante e a cada encontro alimento e renovo
conceitos a respeito da Educação Histórica (Profª. D).
O grupo de história de Araucária tem sido uma referência fundamental
nesses anos todos. Pois é nele, nas discussões, nas partilhas que tenho
aprendido muito sobre o ensino de História, e por que não dizer, sobre o
ser humano. Eu diria que não é apenas o aspecto intelectual que é
reforçado, pois nessas partilhas todos percebemos nossas limitações e
problemáticas, mas também nossas esperanças, nossas possibilidades.
- 126 -
também que se destacar a importância da Universidade estar
possibilitando a ponte: academia, prefeitura, escola (Profª. A).
Minha relação com o grupo é ótima, sempre que possível procuro estar
presente nos encontros. Nos assessoramentos com o grupo de História
encontrei um modo diferente de aprender do que nos assessoramentos de
outras disciplinas, pois os encontros com o grupo privilegiam a pesquisa e
esta por sua vez influencia em minhas experiências como professora, pois
na maioria das vezes o que se encontra em outros cursos é o mero
repasse de informações (Profª. J).
No que se refere ao grupo de História estou aos poucos me relacionando
com os participantes e com suas atividades. (...) Um grupo bastante
dinâmico onde estou aprendendo muito, principalmente no que se refere a
novas metodologias, participo freqüentemente dos encontros e estou
participando das discussões e dos projetos (Profª. R)
Pode-se concluir que a experiência dos professores, construída na relação
com o sistema, com o sindicato, com as produções curriculares e com a
investigação sobre elementos de sua ação, se caracteriza como uma experiência
concreta de relação dialética entre sujeito e estrutura, em que a relação com a
evidência empírica inerente à produção do conhecimento reordenou todo um
conjunto de conceitos teóricos por meio de um diálogo entre a razão e a
realidade, provocando reflexões e mudanças (Thompson). Nesse processo foi
possível constatar algumas condições objetivas para a formação do “Grupo”,
como:
As condições de trabalho, que envolvem a hora atividade e sua unificação
para as áreas do conhecimento e para as séries iniciais e de educação
infantil, a Coordenação das Áreas e a presença de um ou mais pedagogos
em cada escola, que permitem uma retomada constante, em grupo, da
reflexão a partir do real.
- 127 -
Os estudos, reflexões e elaborações em torno do Currículo em 1992, 1994,
1996, 2000 e 2004, os quais permitiram uma aproximação com a
epistemologia da História e de seu ensino, bem como contribuíram para
tornar parte dos professores sujeitos no processo de elaboração e
reelaboração curricular.
A investigação dos conhecimentos prévios dos alunos e a investigação e
reflexão não sobre a prática, mas em torno de objetos relacionados à
prática, com o registro e apresentação dos resultados destas
investigações, parecem ser condições que contribuem para um processo
de mudança conceitual em relação ao Ensino de História, por parte dos
professores desta disciplina no Município de Araucária.
A opção pela perspectiva da Educação Histórica e a “adoção” do “Grupo
Araucária” como um grupo de investigação do Laboratório de Pesquisa em
Educação Histórica, do Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFPR, dando suporte de cientificidade às suas investigações e produções
e uma organicidade entre a cultura escolar e a cultura acadêmica.
No processo de construção do “Grupo Araucária” pela relação dos
professores de História com o próprio “Grupo”, é possível destacar o aspecto da
construção coletiva, no qual aparecem os conflitos inerentes a um processo
coletivo, em que uma parte tem suas restrições ao “rumo” investigativo produtivo
que o “Grupo” está tomando e outros expressam por ele um sentimento de
pertença e acolhida, o vendo como um lugar de construção de uma identificação
mais profunda com a natureza da disciplina, estando presente o componente da
- 128 -
intimidade e da afetividade. Ou ainda, o vendo como um lugar de construção de
uma relação identitária com o saber por meio da investigação de objetos
relacionados à sua prática. No entanto, os professores do “Grupo”, apesar de não
se verem como produtores de conhecimento sobre o ensino de História,
vislumbram que a pesquisa não os faz mais apenas retransmissores do
conhecimento.
Cruzando as idéias que os professores têm sobre o “Grupo” com a
experiência construída na relação com a pesquisa e com as produções, é possível
vislumbrar um caminho progressivo destacando-se a identificação da prática
investigativa como provocadora de uma mudança conceitual qualitativa sobre o
ensino de história e sobre a relação com o conhecimento, em quem a experiencía;
a valorização da natureza do conhecimento histórico, dos conhecimentos prévios
dos alunos e sua importância para todas as idades e níveis de ensino, no
processo de construção do sujeito em sua relação com o saber, tanto para o
aluno quanto para professores.
Para além das mudanças conceituais, os objetos das investigações dos
professores também levantam questões em torno da metodologia do ensino de
história, questões em torno da utilização das fontes e do documento histórico. Os
temas investigados apontam para a necessidade da incorporação metodológica
da narrativa, do cotidiano, da memória familiar e do caderno do aluno na prática
de ensino de história.
Os resultados das investigações apontam implicações para a
reestruturação curricular, a relação com o uso do livro didático, uso do caderno e
para a construção da identidade do aluno e do professor e as investigações sobre
- 129 -
a função de professor de história, a produção de conhecimento sobre esses
elementos, e a comunicação em eventos desse conhecimento produzido
caracteriza-se como uma nova forma de encarar a formação continuada, papel
que cabe ao professor assumir individual ou coletivamente, para melhorar sua
profissionalidade e a qualidade do seu trabalho. É uma movimentação de sujeitos
em relação às estruturas, provocando mudanças nas estruturas e absorvendo,
não passivamente, suas influências.
A análise dessas produções aponta elementos de um processo coletivo de
produção de conhecimento pelo “grupo” de professores de História. São vários
objetos de investigação relacionados às práticas dos professores, tais como a
investigação dos conhecimentos prévios dos alunos, a relação que os alunos
estabelecem com o livro didático, com o caderno de história, com memórias,
fontes e documentos históricos, como eles constróem narrativas históricas e com
se relacionam com as idéias históricas.
Pode-se caracterizar esse processo como uma atividade intelectual
inserida coletivamente no movimento da História, que produziu uma experiência
de posse dos meios intelectuais de produção, ou seja, uma relação com
conhecimentos, experiências e metodologias. Possibilitou a experiência de
professor como intelectual transformador, ao propor conteúdos e metodologias de
formação para a cidadania. Por fim, permitiu compreender a necessidade de
buscar um caminho que o auxilie a migrar, enquanto professor, da natureza da
transmissão dos conhecimentos para a natureza da produção do conhecimento.
- 130 -
CAPÍTULO IV - A experiência dos professores do “Grupo Araucária”
com as idéias históricas
Neste capítulo busca-se analisar e categorizar a relação que os
professores do “Grupo Araucária” estabelecem com as idéias históricas, mais
especificamente, como os professores se relacionam com as idéias históricas
substantivas e de segunda ordem, no sentido da expressão da natureza de sua
experiência, da relação estabelecida com o conhecimento escolar e com o
conhecimento histórico.
Esta análise da relação que os professores estabelecem com as idéias
históricas substantivas e de segunda ordem toma por referência o pressuposto de
Thompson, da possibilidade da experiência do “Grupo Araucária” com essas
idéias manifestar-se na consciência dos professores, e a perspectiva da
Educação Histórica, por entender que a experiência de professores com idéias
históricas é uma relação com a natureza do conhecimento histórico. Ademais, as
pesquisas no campo da Educação Histórica têm a preocupação de investigar a
relação que professores e alunos estabelecem com as idéias históricas, numa
perspectiva epistemológica.
A categorização das idéias históricas dos professores, principiando uma
análise dos tipos de consciência histórica que expressaram, toma por base a
perspectiva da tipologia de consciência histórica elaborada por RÜSEN (1992):
consciência histórica tradicional, exemplar, crítica e genética, que converge com a
perspectiva thompsiana de repercussão da experiência na consciência.
- 131 -
Para investigar a relação dos professores com as idéias históricas, o
caminho passou pela investigação da presença das idéias históricas substantivas
e das idéias históricas de segunda ordem nas produções curriculares de História,
que tiveram a participação de professores do “Grupo Araucária”. A investigação
da presença desses conceitos substantivos e de segunda ordem tem um duplo
objetivo: verificar a presença das idéias históricas nos documentos e selecionar as
idéias históricas que permitiram elaborar o questionário (já referido no capítulo
anterior), para investigar a relação que os professores estabelecem com essas
idéias históricas.
4.1. A presença das idéias históricas substantivas e de segunda ordem nas
elaborações curriculares
Na experiência do “Grupo Araucária”, construída na relação com as
produções das propostas curriculares, foi possível constatar alguns pressupostos
da Educação Histórica. Para aprofundar a análise sobre esta opção, buscou-se
investigar a presença de categorias importantes da Educação Histórica, quais
sejam, as
idéias históricas substantivas e as idéias históricas de segunda ordem
conforme estudos de LEE (2001), nas produções curriculares elaboradas com a
participação destes professores.
A opção pelas produções curriculares se fez porque foram elaboradas com
a participação dos professores e permitiram constatar uma certa supremacia do
que KEMMIS (1998, p. 155) caracteriza como pensamento comunitário em
relação ao pensamento burocrático, como já foi referido no capítulo anterior.
- 132 -
Numa perspectiva cognitiva, ao investigar as idéias de crianças, jovens e
professores em relação à História e seu ensino, as pesquisas em Educação
Histórica buscam entender a natureza do conhecimento histórico e como ele se
estrutura na perspectiva da filosofia da história, voltando sua atenção, entre
outros, para as investigações dos
conceitos históricos substantivos e de segunda
ordem
, que COLLINGWOOD (2001) caracteriza como idéias históricas, e LEE
(2001) assim define:
Existem conceitos substantivos, como agricultor, impostos, datas, eventos,
que são muito importantes. Embora a compreensão dos conceitos
substantivos seja muito importante, em Inglaterra começamos a ter em
conta outro tipo de conceitos também, os ‘conceitos de segunda ordem’. É
este tipo de conceitos, como narrativa, relato, explicação, que
consistência à disciplina. (...) Conceitos substantivos são os que se referem
a conteúdos da História, como por exemplo o conceito de indústria.
Conceitos de segunda ordem são os que se referem à natureza da História,
como por exemplo explicação, interpretação, compreensão (pp. 15 e 20).
A importância de investigar as idéias históricas das pessoas está
referenciada em COLLINGWOOD (2001), que contribui com o entendimento de
que as idéias sobre o passado são elaboradas pelo pensamento humano.
O historiador não se limita a reconstituir o pensamento passado, faz a sua
reconstituição no contexto do seu conhecimento. Deste modo, ao
reconstituí-lo, critica-o, forma um juízo próprio sobre o seu valor, corrige
quaisquer erros que consiga discernir nele. Esta crítica do pensamento,
cuja história ele traça, não é de modo algum secundária em relação ao
delineamento de sua história. É uma condição indispensável do próprio
conhecimento histórico (COLLINGWOOD: 2001, p. 230).
Quanto às idéias substantivas, as produções curriculares de Araucária
privilegiam uma organização dos conteúdos em forma de eixos temáticos,
seguindo uma tendência confirmada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
que, (...) tiveram como proposta fundamental a modificação da estrutura dos
- 133 -
conteúdos apresentados, até então como propostas curriculares oficiais. A idéia
básica era a transformação dos conteúdos organizados de forma linear em eixos
temáticos
(SCHMIDT & CAINELLI, 2004: p. 14).
As produções curriculares de Araucária privilegiaram as idéias substantivas
de Família, Poder, Trabalho, Cultura, Cotidiano e Movimentos Sociais, como eixos
mais recorrentes em todas as produções curriculares e serviram de base para
organização dos conteúdos na Diretriz Curricular de 2004. Quanto às ideais de
segunda ordem, são mais recorrentes as idéias de tempo, narrativa e documento
histórico.
Para investigar a presença das idéias históricas substantivas e de segunda
ordem nas produções curriculares do município de Araucária utilizou-se a análise
de conteúdo, aplicando, especificamente nesta parte da investigação, o processo
de codificação teórica e categorização de FLICK (2004: pp. 189-197) ao material
empírico, ou seja, os cinco textos das propostas curriculares de História do
Município de Araucária: Plano Curricular de História: texto preliminar, de 1992;
História, de 1994; Curri4(d1hd30(curricul3ria: )-T04(texto50-204(prelimria: 3 Tmprod8Td[(História, )-244(de )-20061992; )] TJ0 -2.3 TEstu-85(d68)-85(ds )d30(unicurro3ria )-S[(e-90egorização )P04(prelimriam )-53(e )Pr e sHistórias )-59(de )e )0;5(ds )eados Currios
- 134 -
texto de forma genérica, que permitem a formulação de novas questões e um novo
processo de análise, codificação e categorização, até a sua saturação,
desenvolvendo uma teoria fundamentada coerente com o objeto de investigação.
Numa primeira indagação sobre a presença nos textos curriculares de
conceitos históricos substantivos e de segunda ordem, foi percorrido o primeiro
passo da codificação teórica, ou seja, a codificação aberta que permitiu constatar
a presença de idéias substantivas e de natureza histórica. Constatada a presença
de conceitos substantivos e de natureza histórica, ou seja, dos conceitos de
segunda ordem, tornou-se necessário investigar quais eram essas idéias
históricas, quais ocorrem com maior freqüência e como era possível categorizar
essas idéias.
À verificação da presença de conceitos históricos substantivos e de
segunda ordem, seguiu-se o segundo passo da
codificação teórica que é o
processo de codificação axial, e permitiu selecionar as idéias substantivas de
família, poder, trabalho, cultura, cotidiano e movimentos sociais e as idéias de
segunda ordem de tempo, narrativa e documento histórico como categorias de
maior relevância. Estas idéias não apresentavam uma presença uniforme nos
textos, levando a um novo processo de codificação, o terceiro passo da
codificação teórica que é a codificação seletiva, agrupando em subcategorias
essas idéias para uma melhor análise.
Essa categorização a partir da grounded theory permitiu agrupar as idéias
substantivas encontradas nas produções curriculares, como conteúdo, eixos
temáticos ou categorias organizadoras dos conteúdos, de acordo com sua
presença nos textos curriculares por série, conforme Quadro 11 (próxima página).
- 135 -
Quadro 11 – Idéias Substantivas
Idéias substantivas como
conteúdo, eixo temático ou
categoria organizadora dos
conteúdos por série:*
Texto 1992
/
Série
Texto 1994
/
Série
Texto 1996
/
Série
Texto 2000
/
Série
Texto 2004
/
Série
1. Família: Pré, 1ª, 2ª e 7ª Pré, 1ª e 2ª
todas
2. Poder
4ª,
e 4ª, e e 8ª
Referido
todas
3. Trabalho
Pré, 1ª,
,
,
e
Pré, 1ª, 2ª, 3ª,
4ª,
e
todas,
pré
Referido
todas
4. Cultura
, , e 4ª, e
resgatada
todas
5. Cotidiano Pré, 1ª, 2ª, 7ª
todas
6. Movimentos sociais Pré a 8ª Pré a 8ª Pré a 8ª
todas
Não negritadas: aparecem como conteúdo das séries;
Negrito: aparece como eixo temático das séries;
Todas: aparece como categoria organizadora dos conteúdos das séries.
A idéia de família aparece como conteúdo a ser trabalhado na pré-escola e
nas duas primeiras séries iniciais nos textos de 1994 e 1996, sendo que como
categoria organizadora dos conteúdos para todas as séries, aparece apenas no
texto de 2004, justificada pela memória familiar como sendo a primeira memória
coletiva em que o indivíduo se insere
, bem como por a família ser uma
comunidade social que tem sua história.
A
idéia de poder está presente em todos os textos, aparecendo como
conteúdo da série em 1992, 1994 e da série em 1996. Como eixo temático
da e série em 1992 e 1994, série em 1996. Em 2000 a idéia de poder é
apenas referenciada e aparece como categoria organizadora dos conteúdos de
todas as séries em 2004, justificado pelo objetivo de fornecer ao aluno os
elementos fundamentais para ele se pensar como cidadão do seu tempo.
- 136 -
A idéia de trabalho é a que perpassa todas as propostas curriculares.
Aparece como conteúdo em 1992 para a Pré-escola, e séries; em 1994 para
pré a séries; Em 1996 para a pré-escola. Como eixo temático de a séries
em 1992; de 5ª e séries em 1994; de a 8ª séries em 1996. Em 2004 também
é uma das categorias organizadoras dos conteúdos de todas as séries,
compreendido como toda atividade humana material e imaterial aglutinador de
conteúdos como divisão técnica e social do trabalho em sua abrangência espacial
e temporal.
A idéia de cultura aparece como conteúdo para a série em 1994, como
eixo temático para 3ª a séries em 1992; 5ª e série em 1994. Em 1996 a idéia
de cultura desaparece até na forma de conteúdo, sendo resgatada em 2000 como
núcleo organizador das turmas, e em 2004 torna-se uma das categorias
organizadoras dos conteúdos de todas as séries, entendida como todo um modo
de vida e devido
(...) à necessidade de conhecer as maneiras de viver, o tamanho e a
forma geral das sociedades e a natureza das classes sociais, dos papéis
de gênero, dos aspectos étnicos, das religiões e das crenças. Relaciona-
se, também, com tudo o que significa criatividade humana na arte, na
arquitetura, na música, na dança, na língua e na literatura, bem como com
aspectos da cultura disponibilizada pela mídia e na cultura comum.
(SCHMIDT & CAINELLI, 2004: p. 65)
A idéia de cotidiano aparece como conteúdo da pré-escola, 1ª, e
séries em 1992; 1ª série em 1994. A idéia de cotidiano não é eixo temático
específico de alguma série, mas por várias vezes aparece a necessidade de se
levar em conta os conteúdos vivenciados pelos alunos como pressuposto do
encaminhamento metodológico, na perspectiva da Recorrência Histórica. Como
categoria organizadora dos conteúdos de todas as séries, a idéia de cotidiano é
- 137 -
justificada filosoficamente como espaço de realização das generalidades e
peculiaridades humanas
, na perspectiva de HELLER (2004, p. 17-18), e como um
dos objetos de estudo dos historiadores.
A idéia de movimentos sociais aparece como conteúdo da todas as séries
em 1992, 1994 e 1996. Por isso é uma das categorias temáticas organizadoras
dos conteúdos de todas as séries em 2004, para viabilizar o estudo das
relações
sociais dos sujeitos entre si e com os grupos
, os movimentos sociais, tanto dentro
da ordem social vigente como as formas de discordância e de resistência ao poder
estabelecido e às mudanças.
A categorização a partir da
grounded theory permitiu agrupar as idéias de
segunda ordem
em idéias de tempo, narrativa e documento histórico. Já a idéia de
tempo histórico foi possível agrupar em seis subcategorias principais, a partir das
referências feitas em cada texto curricular conforme Quadro 12:
Quadro 12 – Idéia de tempo histórico
Idéia de tempo histórico como:
Texto
1992
Texto
1994
Texto
1996
Texto
2000
Texto
2004
1. Objeto central da História e seu ensino 2 1 - 1 3
2. Processo histórico/historicidade 7 4 4 4 1
3. Cronologia e linearidade 4 3 3 2 3
4. Presente e passado como recorrência histórica 6 5 3 - 1
5. Curta, média e longa duração / multiplicidade temporal 7 6 3 1 3
6. Consciência histórica: presente e passado lugar
de experiência humana
- - - - 17
- 138 -
A idéia de tempo histórico como objeto central da História e do ensino de
História está presente no texto de 1992 enquanto
estudo do homem no tempo (p.
1) e da noção de tempo como elemento fundamental no ensino da História, que
também aparece no texto de 1994, acrescido da importância que a noção de
tempo tem para superar a concepção de História enquanto fatos e datas e na
medida que permite situar o aluno diante das permanências e mudanças nas
sociedades (p. 10). Ausente do texto de 1996 essa idéia em 2000 aparece como
referência ao texto de 1992. No texto de 2004 o estudo da experiência humana no
tempo e dos tempos plurais, que levam o aluno a pensar historicamente para a
formação da consciência histórica
(p. 78) é referido como objeto central da
História. Outra referência aponta que
o essencial da História se encontra na
temporalidade e, por isso, é necessário que, para se compreender o processo
histórico implica em analisá-lo à luz do sentido e da importância que ele tem para
aqueles que vivem no presente e isso significa tomar a inserção no presente como
orientação para se colocar em questão o passado (...)
(p. 79).
A
idéia de tempo como processo histórico/historicidade é referida sete
vezes no texto de 1992, sendo a idéia de que (...) é necessário que o professor e
aluno compreendam o processo histórico, entendendo que a história dos homens
é dinâmica, processual e pluridimensional (...) deve verificar se o aluno estabelece
relações históricas (...) apreendendo sua historicidade (...) (p. 42) a mais
elaborada. No texto de 1994 esta idéia é referida quatro vezes, que de uma
forma mais elaborada, como a idéia de que
(...) o que importa é o conhecimento reflexivo do processo histórico, como
algo inacabado e vivo (...) o que importa no processo de
ensino/aprendizagem de História, é o desenvolvimento de uma capacidade
reflexiva que permita professores e alunos compreenderem a dinâmica da
- 139 -
História e perceberem a provisoriedade de seus conhecimentos (...). Essa
concepção elimina a visão de uma História pronta e acabada e recupera a
idéia da apreensão histórica a partir da historicidade de memórias
singulares e diversas (...) assumir essa postura é abandonar o dogmatismo
da verdade absoluta e trabalhar a diferença. É abandonar a possibilidade
da História totalizante e passar a trabalhar com a historicidade onde o
fundamental é a diversidade (...) (1994, pp. 7-9).
O texto de 1996, também com quatro referências à idéia de tempo como
processo histórico/historicidade, a elabora da seguinte forma: Devemos lembrar
sempre que a história é processo, é construção de vários sujeitos num campo de
múltiplas possibilidades, ela não é cíclica, nem linear e, sim, dinâmica e
contraditória, podendo ter avanços, recuos ou retrocessos (...) (p. 4). O texto de
2000 apresenta quatro referências à idéia de tempo como processo
histórico/historicidade, no entanto são idéias fragmentadas que podem demonstrar
uma certa saturação desta idéia na forma como vinha sendo apresentada. No
texto de 2004 aparece apenas uma referência à idéia de tempo como processo
histórico/historicidade, no entanto numa nova perspectiva, onde busca-se um
aluno crítico, sujeito do processo histórico, com subsídios para agir
intencionalmente, portanto com consciência histórica (...) (p. 81).
A idéia de tempo histórico relacionada à cronologia e linearidade aparece
referenciada em todos os textos, sendo que no texto de 1992 uma transição,
onde duas referências propõem um rompimento com a idéia de cronologia e
linearidade, enquanto outra referência chama a atenção para o fato de que
(...) quando se fala em tempo histórico, está se tratando da cronologia
apenas, o que é um equívoco, a cronologia, isto é, as noções de ano,
década, século e milênio do calendário cristão, embora importante para
situar o aluno no tempo, abarca apenas um dos aspectos do tempo
histórico (...) para se constatar que (...) rompe-se com a visão de tempo
único, cronológico, linear, para se afirmar a simultaneidade de tempos
diversos (...) (1992, p. 5).
- 140 -
o texto de 1994 refere-se à cronologia e à linearidade para negá-las,
como sendo representantes da história das elites e dos heróis. O texto de 1996
volta a ter uma maior tolerância à cronologia e à linearidade em suas referências,
propondo que:
A análise das permanências e mudanças da sociedade deve romper com a
noção de tempo único, linear, progressivo, o que não significa negar a
cronologia e a periodização, mas situá-las enquanto conceitos
culturalmente construídos e ampliar a noção de tempo para a análise das
diferenças, semelhanças, da simultaneidade e da duração (1996, p. 1).
O texto de 2000 aponta para a necessidade de superar a linearidade
temporal na organização dos conteúdos, o que é confirmado pelo texto de 2004,
na perspectiva de organizá-los de forma temática, visando
superar as formas de
organização factual, cronológica e linear (p. 78). No entanto, recupera a
necessidade de se desenvolver um conhecimento cronológico (p. 81) através de
atividades específicas que levem a uma tríplice tomada de consciência: de
duração, de permanências, de mudanças (p. 81).
A idéia de tempo passado e presente como recorrência histórica aparece
referenciada seis vezes no texto de 1992 no sentido de metodologia, onde o aluno
(...) reelabora o conhecimento histórico produzido na relação
presente/passado/presente, superando o seu conhecimento de senso
comum (...) estabelece relações entre a sociedade em que vive e outras
sociedades em diferentes tempos e espaços (aqui/agora, agora/em outro
lugar, aqui/antigamente, outro tempo/outro lugar) (1992, p. 42).
É com a mesma conotação metodológica que esta idéia é referenciada
cinco vezes no texto de 1994. No texto de 1996 essa conotação metodológica é
estendida a outras formas de trabalho com o tempo,
- 141 -
Com o uso da recorrência histórica “quebra-se” a noção de tempo linear,
único e percebe-se as múltiplas dimensões temporais, o que não significa
que o professor não deve trabalhar com os alunos a noção de tempo
cronológico ou as periodizações e sim que este seja percebido e entendido
como construção cultural... Para situar os alunos nas simultaneidades e na
duração, que são conceitos fundamentais para se entender o método de
produção da história, o professor pode trabalhar com a linha do tempo, que
é um recurso que permite ir além do trabalho com o tempo cronológico
(1996, pp. 5-6).
O texto de 2000 não se refere a esta idéia, e o texto de 2004 refere-se à
recorrência histórica como um avanço metodológico das propostas anteriores ao
analisá-las.
A idéia de tempo como curta, média e longa duração/multiplicidade
temporal
aparece referenciada mos textos de 1992 e de 1994, na mesma
perspectiva, podendo ser caracterizada pelo texto de 1992:
É preciso desenvolver a compreensão do aluno para a multiplicidade
temporal da História, analisando as durações em termos daquilo que é
novo, daquilo que permanece, daquilo que se repete (...) A simultaneidade
e a duração são noções de tempo que devem ser desenvolvidas desde as
séries iniciais para que o aluno gradativamente compreenda a
contemporaneidade (...) que os acontecimentos não estão isolados no
tempo e no espaço, mas fazem parte de uma teia de relações (...) As
noções de diferença e semelhança são importantes para o entendimento
da multiplicidade, do contraditório, da heterogeneidade das sociedades (...)
rompe-se com a visão de tempo único, cronológico, linear, para se afirmar
a simultaneidade de tempos diversos. Essas noções remetem ao
entendimento de outros conceitos fundamentais na ciência histórica: o
tempo curto (o fato); o tempo médio (a conjuntura) e o tempo longo
(estrutura). Tempo curto (...) tempo do indivíduo, do acontecimento, da
narrativa (...) do fato enquanto elemento de uma série e não pela sua
unicidade (...) Tempo médio, é a conjuntura, é usada para designar as
mudanças mais freqüentes e momentâneas (...) Tempo da estrutura,
abrange séculos inteiros, é a história limite entre o móvel e o imóvel (1992,
pp. 5-6).
O texto de 1996 mantém a idéia com o mesmo sentido dos textos
anteriores. O texto de 2000 faz uma referência à necessidade da multiplicidade
temporal. o texto de 2004 introduz a necessidade de situar o sujeito na
- 142 -
multiplicidade temporal, bem como da contextualização, ou seja, da capacidade
(...) de entrelaçar acontecimentos de forma diacrônica – relacionando com o
passado e sincrônica relacionando com a simultaneidade dos acontecimentos
do presente
(p. 81).
A idéia de tempo como consciência histórica onde o presente e o passado
são lugar de experiência humana aparece apenas no texto de 2004 e com o maior
número de referências, dezessete, cujo sentido pode ser sintetizado no
entendimento de
(...) que a consciência histórica nasce desse entrelaçamento crítico
presente, passado, futuro, possibilitando a dialética
construção/reconstrução da identidade. Assim, as perguntas que fazemos
ao passado são importantes para nos situarmos, mas não suficientes
porque elas necessitam ser organizadas sob a forma de uma narrativa
histórica. Por isso a importância da Educação Histórica (2004, p. 78).
Se a idéia de tempo histórico aparece em todos os textos, a idéia de
narrativa histórica aparece referenciada no texto de 2004, com o sentido de
produção autônoma e como pressuposto metodológico para construção da
consciência histórica.
(...) uma das propostas assumidas é com o rompimento da narrativa
histórica única, possibilitando que o aluno construa sua própria narrativa,
tendo em vista a pluralidade de interpretações que o saber histórico
construiu e pode construir sobre o passado (...) Para romper com a
narrativa pronta, tanto do texto do livro didático, quanto à elaborada no
acúmulo histórico/prático do professor, e permitir que o aluno aprenda e
construa uma narrativa própria, como o passado percebido aqui e agora, o
trabalho com documentos e fontes históricas é um dos encaminhamentos
metodológicos importantes (...) Uma metodologia que utiliza diversas
formas de documentos e valoriza opiniões contrárias, dando ênfase às
vozes de vários grupos terá grandes chances de tornar nosso aluno um
produtor de narrativas (...) (2004, pp. 81-83).
- 143 -
a idéia de documento histórico aparece nos textos de 1996 e 2004. Foi
possível agrupá-la em duas categorias principais, a partir das referências feitas em
cada texto curricular conforme Quadro 13.
Quadro 13 – Idéia de documento histórico
Idéia de documento histórico como:
Texto
1992
Texto
1994
Texto
1996
Texto
2000
Texto
2004
1. Evidência do passado histórico, vestígio, registro
das atividades humanas / artefato cultural.
- - 4 - 3
3. Pressuposto metodológico do ensino de História - - 3 - 4
A idéia de documento histórico como evidência do passado, vestígio,
registro das atividades humanas / artefato cultural no texto de 1996 se reporta à
necessidade do diálogo com as fontes para recuperar no passado os elementos
culturais criados pelos homens para atender às suas necessidades, sendo o
documento histórico
(...) pressuposto fundamental no resgate da história. Não considerando-o
apenas como documento escrito, mas como as mais variadas formas de
vestígios e registros das atividades humanas (...) o documento não é visto
como expressão única da “verdade”, mas como expressão de um
determinado momento. Os documentos são testemunhos de pensamentos
e ações de pessoas atuantes no tempo, sendo expressão do real e não o
real (...) (1996, p. 2).
Neste mesmo sentido, o texto de 2004 chama a atenção para a idéia de
documento histórico como instrumento para conhecer a vida em outros tempos,
construir inferências e deduções sobre o passado de que são evidências.
- 144 -
É como pressuposto metodológico que a idéia de documento histórico
aparece de forma clara no texto de 1996, propondo que
As experiências de trabalho com documentos em sala de aula devem se
- 145 -
da Educação Histórica, propondo avanços no entendimento da organização dos
conteúdos por meio de categorias temáticas, alicerçados em pesquisas.
Quanto às idéias de segunda ordem, podemos concluir que as três
primeiras produções curriculares formam um ciclo que privilegiava as idéias de
processo histórico/historicidade, de presente e passado como recorrência histórica
e de curta, média e longa duração / multiplicidade temporal, idéias que se
coadunam com uma proposta pedagógica histórico-crítica, de buscar socializar o
saber elaborado. A idéia de narrativa histórica não aparece nestes três textos. O
documento de 1996 destoa dos anteriores ao apresentar a idéia da utilização do
documento histórico em sala de aula, na perspectiva de criar situações de
aprendizagem que possibilitem a produção autônoma dos alunos. O texto de 2000
parece manifestar uma certa “crise” no sentido dessas idéias, mesmo que não
tenha sido efetivamente uma elaboração curricular, mantendo-se mais num nível
de estudo de currículo, levantando mais questionamentos do que idéias sobre a
natureza da História. Essas idéias retornam numa nova perspectiva na produção
de 2004, que opta pela Educação Histórica, manifestada pela presença forte das
idéias de tempo na perspectiva da consciência histórica, em que o passado e o
presente são o lugar da experiência humana, no sentido que Rüsen (2001) propõe
de apropriar-se do passado para orientar-se no presente. Esta opção pela
Educação Histórica manifesta-se também pela presença das idéias de narrativa
histórica como forma de articular a apropriação do passado, e da idéia de
documento histórico, como evidência deste passado que precisa ser apropriado.
Constatada a mudança da presença das idéias históricas substantivas e
de segunda ordem nas várias produções curriculares de Araucária, que tiveram a
- 146 -
participação dos professores do “Grupo Araucária”, e que houve uma clara
transformação na perspectiva da Educação Histórica no texto das Diretrizes
Curriculares de História de 2004, chegou o momento de investigar como os
professores de História, que participaram da elaboração destas propostas e
diretrizes curriculares, se relacionam com essas idéias.
4.2. A relação dos professores com as idéias históricas
A investigação da relação que os professores estabelecem com as idéias
históricas foi feita em duas etapas. Um estudo piloto, do qual participaram três
professores do “Grupo Araucária”, escolhidos por representarem
heterogeneamente o “Grupo”, denominados professor A, B e C, e o estudo
principal, encaminhado a trinta e dois professores, exceto os que participaram do
estudo piloto, dos quais quinze devolveram o questionário de investigação
respondido, denominados professor D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q e R.
Tanto os professores que participaram do estudo piloto, quanto do definitivo,
foram caracterizados no terceiro capítulo desta investigação, quanto ao sexo,
formação, tempo de atuação no magistério e tempo de atuação no município, bem
como já foram analisadas as suas idéias sobre a relação com o sistema, o
sindicato, o grupo e as produções curriculares.
A parte do questionário pertinente à relação com as idéias históricas foi
construído a partir dos estudos do levantamento realizado nas produções
curriculares, sobre as idéias históricas substantivas e de segunda ordem. Cinco
questões, 4 a 8 (anexo I) e 5 a 9 (anexo II), tiveram o objetivo de verificar junto
aos professores, a idéia que eles têm sobre a organização dos conteúdos por
- 147 -
eixos temáticos e como se relacionam com essa organização. Ademais, procurou-
se verificar a idéia e a importância que atribuem aos conceitos substantivos que
aparecem nas elaborações curriculares, possibilitando sugestões de inclusão ou
exclusão de conceitos históricos substantivos, que eram considerados relevantes
no entendimento do professor e que estavam ausentes das diretrizes curriculares,
ou presentes e não relevantes, no seu entender.
Um outro bloco de seis questões, 9 a 14 (anexo I) e 10 a 15 (anexo II), teve
por objetivo recolher dados para analisar como os professores se relacionam com
as idéias históricas de segunda ordem, como temporalidade, documento e
narrativa, que estavam presentes nas produções curriculares. Em relação à
temporalidade histórica, procurou-se observar como os professores significam e
qualificam, em ordem de importância, as relações temporais como Cronologia,
Processo, Sucessão e Recorrência Histórica, bem como se eles incluiriam outro
tipo de relação temporal não elencada. Solicitou-se também que eles
discorressem sobre a relação temporal que consideravam mais importante. Em
relação ao documento histórico, o instrumento teve como objetivo investigar a
importância que o professor lhe confere. Quanto à narrativa histórica, além de
verificar a idéia que os professores têm, o objetivo consistia em saber como o
professor percebe a narrativa histórica no manual didático, na produção do aluno
e no currículo.
- 148 -
4.2.1. Análise dos resultados do estudo piloto
Na questão sobre os conceitos substantivos, (questão 4 do anexo I)
solicitou-se que os professores relacionassem os eixos temáticos utilizados como
categorias de organização dos conteúdos nas séries do ensino fundamental, nas
Diretrizes Curriculares de 2004, conforme se lembrassem. Nas respostas, os três
professores relacionaram os seis eixos temáticos: Famílias, Poder, Cotidiano,
Movimentos Sociais, Trabalho e Cultura, demonstrando conhecimento das
mesmas.
Ao ser solicitado sobre a sua opinião acerca da inclusão de uma temática
nova ou da exclusão de alguma das temáticas propostas, (questão 5 do anexo I),
a professora A propôs a unificação de Movimentos Sociais e Poder, o Professor B
propôs a inclusão da temática Terra e Propriedade. A professora C manteria as
temáticas existentes.
Sobre a organização dos conteúdos curriculares em eixos temáticos,
(questão 6 do anexo I), as respostas foram organizadas num quadro, e
classificadas como manifestações favoráveis, com ressalvas e criticas, conforme
é possível visualizar no Quadro 14, na próxima página:
- 149 -
Quadro 14 – Opinião sobre a organização dos conteúdos em eixos temáticos
Profes-
sor
Resposta Manifestação
A
É muito importante. Mas na minha prática e na própria relação dos
conteúdos na última diretriz curricular do município ainda me sinto
presa à linearidade cronológica. Tenho consciência das minhas
limitações no trabalho com os eixos temáticos e analiso que o livro
didático adotado não ajuda muito com o rompimento dessa
perspectiva. Há alguns avanços como o trabalho com os
conhecimentos prévios que demanda outros materiais que não o do
livro didático, mas ainda acredito muitas melhoras no meu próprio
trabalho com o ensino de História.
Favorável com
ressalvas
B
Os temas estão desconexos dos conteúdos, há uma necessidade de
reorganizar os conteúdos a seus temas.
Crítica
C
Eu ainda não me habituei 100% com o uso dos eixos temáticos, pois
foram muitos anos trabalhando a linearidade da História. Mas quando
percebo que estou na antiga rotina tento recomeçar o desafio. Já
houve um bom avanço na busca da mudança.
Favorável com
ressalva
Tivemos duas manifestações favoráveis com ressalvas e uma
manifestação crítica.
Quanto à fundamentação das opiniões:
A organização dos conteúdos por eixos temáticos gera uma tensão entre
eixo temático e linearidade cronológica. Segundo a profª. A, na sua prática
e na própria relação dos conteúdos na última diretriz curricular do município
ainda me sinto presa à linearidade cronológica; A profª. C também enfrenta
essa tensão: ainda não me habituei 100% com o uso dos eixos temáticos,
pois foram muitos anos trabalhando a linearidade da História. Mesmo
diante dessa tensão, ambas acreditam no trabalho por eixos temáticos.
A profª. A aponta para o Livro Didático como um dificultador do trabalho na
perspectiva da organização por eixos temáticos.
O prof. B a necessidade de reorganizar os conteúdos curriculares, que
estão desconexos da organização por eixos temáticos.
- 150 -
Quadro 15 – Temáticas mais e menos significativas
Profes-
sor
Temática selecionada 1 Temática selecionada 2 Temática não
selecionada
A
Cultura: Compreendo cultura na
perspectiva mais antropológica de
Raymond Williams “como todo
modo global e característico de
vida” e não apenas na dimensão de
conhecimentos sistematizados,
científicos de uma sociedade.
Assim, como diria Paulo Freire,
todo ser humano possui cultura,
mesmo que seja um analfabeto. A
rigor, todo ato humano é um ato de
cultura. Essa concepção traz
implicações para o ensino de
História. Reforça a importância de
valores do respeito às diferenças
nos modos de vida das pessoas e
do combate aos preconceitos.
Também nos faz pensar sobre a
“cultura escolar” que tanto alunos
como professores carregam sobre
como deve ser ou não as aulas de
história.
Cotidiano: A historiografia
tem contemplado o estudo
do cotidiano das várias
sociedades e povos. Ou
seja, o estudo dos modos
de vida dos povos (suas
maneiras de se alimentar,
de se relacionar, de morar,
de se divertir, seus rituais
em relação à morte e
outros). Acredito que o
estudo do cotidiano é muito
importante para o ensino
de História principalmente
para o ensino fundamental
visto possibilitar às
crianças e adolescentes a
relação presente passado
com outros tempos e
povos, comparando com a
própria sociedade onde
vive.
Como eu já disse
anteriormente, eu
não extinguiria,
mas colocaria
conjuntamente
Movimentos
Sociais e Poder.
Ficaria aglutinado
em Poder, visto
que Poder é maior
que Movimentos
Sociais.
Considerando
para isso que o
poder está difuso
em todas as
relações sociais,
desde as relações
familiares até as
relações entre a
comunidade e o
Estado.
B
O
Poder na história é fundamental
ser trabalhado, pois, construirá a
consciência histórica no aluno, e
assim possibilitará um cidadão que
queira uma sociedade democrática.
A cultura nos faz na
história a possibilidade de
formar um aluno que se
disponha a viver em uma
sociedade que respeita a
diversidade.
Todos são
importantes.
C
Trabalho: Acho muito importante
destacar o processo de
desenvolvimento do trabalho, para
que o aluno perceba a atual
conjuntura em que vive, dele
percebe-se a formação do poder,
das classes, da evolução do
conhecimento, etc.
Cotidiano: É primordial
tomar ciência da forma
como viveram no dia-a-dia
os povos. Sua
alimentação, seu vestuário,
as formas de vivência, a
maneira de se portar, dos
vários modelos, ou melhor,
das inúmeras sociedades
que foram se formando ao
longo da História, as
constantes batalhas pela
sobrevivência, o
desenvolvimento industrial,
tecnológico, a evolução
cultural do homem, etc.
O
Poder
quando vem
demonstrado
como poder
político, poder
econômico,
ressaltando uma
pequena elite,
desprezando o
poder da cultura,
do conhecimento,
da criação e da
evolução humana.
Esse poder
limitado a
algumas pessoas
eu deixaria de
lado.
- 151 -
Para uma aproximação com as idéias que os professores têm sobre as
temáticas, foi solicitado que escolhessem duas e escrevessem sobre elas
(questão 7 do anexo I). Na outra questão, (questão 8 do anexo I), entre as
mesmas temáticas, ele indicava qual não selecionaria, justificando. O
Quadro 15,
da página anterior, organiza essas escolhas e as justificativas, para posterior
análise:
Analisando o Quadro 15, pode-se observar que entre as temáticas mais
significativas estão, Cultura e Cotidiano, selecionadas por dois professores. Em
seguida vem Poder e Trabalho, selecionadas por um professor. A temática Poder
não foi selecionada, outro professor aglutinaria Poder e Movimentos Sociais.
Adentrando mais nas idéias expressadas, elas apontam:
Para uma idéia de cultura como ‘todo modo global e característico de vida’
(professora A citando Raymond Williams), um conceito antropológico onde
todo homem possui cultura, implicando no respeito a diferença e
diversidade como um valor no ensino de História.
Para uma idéia de cotidiano como estudo dos modos de vida dos povos e
forma de estabelecer vínculos entre os modos de vida do presente de
crianças e adolescente e os modos de vida do passado.
Para uma idéia de poder como possibilidade de formação para cidadania e
democracia e rejeição da idéia de poder sectário, de elite.
Para uma idéia de trabalho como possibilidade de estudo da conjuntura de
poder (contraditória com a rejeição apontada no ponto anterior e advinda
da mesma manifestação – professora C).
- 152 -
Quanto à relação com as idéias históricas de segunda ordem, como
temporalidade, documento e narrativa, no estudo piloto foi possível fazer a
seguinte análise.
Na primeira questão, (questão 9 do anexo I), foi proposto aos professores
que enumerassem, da mais para a menos importante, as seguintes relações
temporais: Cronologia, Processo Histórico, Sucessão e Recorrência Histórica.
Estas idéias históricas de temporalidade foram ordenadas a partir das
investigações sobre sua presença nas propostas curriculares. O conceito de
Cronologia refere-se à linearidade cronológica da História; o conceito de
Recorrência Histórica engloba as idéias de presente/passado/presente e
permanências/mudanças; o conceito de sucessão histórica resume as idéias de
simultaneidade, duração, rupturas e continuidades, curta, média e longa duração,
na perspectiva dos Analles; e o conceito de processo histórico resume as
concepções marxistas e dialéticas de tempo histórico.
A ordem de importância atribuída pelos professores às relações temporais
foi tabulada e pode ser observada no Quadro 16, na próxima página.
Analisando as informações do
Quadro 16, é possível observar que as
relações temporais, atribuindo-se peso inversamente proporcional à ordem de
importância, ficaram com a seguinte ordem, de acordo com seus respectivos
pesos: Recorrência Histórica em primeiro com 11 pontos; Processo Histórico e
Sucessão Histórica em segundo com 8 pontos; e Cronologia Histórica a seguir
com 3 pontos.
- 153 -
Quadro 16 – Ordem de Importância das relações temporais
Professor
A Recorrência
Histórica
4 pontos
Processo
Histórico
3 pontos
Sucessão
Histórico
2 pontos
Cronologia
1 ponto
B Recorrência
Histórico
4 pontos
Processo
Histórico
3 pontos
Sucessão
Histórico
2 pontos
Cronologia
1 ponto
C Sucessão
Histórico
4 pontos
Recorrência
Histórico
3 pontos
Processo
Histórico
2 pontos
Cronologia
1 ponto
Ordem das relações
temporais por soma
de pontos
Recorrência
Histórico
11 pontos
Processo
Histórico
8 pontos
Sucessão
Histórico
8 pontos
Cronologia
3 pontos
As respostas dadas pelos professores no estudo piloto, quando
questionados se incluiriam outra relação temporal, diferente das propostas na
questão anterior, (questão 10 do anexo I), podem ser conferidas no
Quadro 17:
Quadro 17 – Inclusão de outra relação temporal
Professor Sugestão de inclusão
A
Bom. Pois é. Novamente a minha indefinição dos termos. Se eu entender que a
“Recorrência Histórica” é partir do presente, ir ao passado e voltar novamente ao
presente para amarrar e analisar permanências e mudanças; e ainda, se o
processo histórico incluir as noções de simultaneidade, duração, rupturas,
continuidades: as principais relações temporais estariam contempladas no
Ensino de História. Cheguei à conclusão que teria que dar uma estudada nessas
questões para esclarecer.
B Não
C Acho que não neste momento
- 154 -
Analisando as respostas do Quadro 17, sobre a inclusão de outra relação
temporal importante para o ensino de História, apontam para a necessidade de
um aprofundamento sobre a temporalidade histórica e/ou uma definição das
relações que os termos englobam.
O Quadro 18 apresenta as respostas dadas pelos professores que
participaram do estudo piloto, sobre a relação temporal que consideram mais
importante (questão 11 do anexo I).
Quadro 18 – Relação temporal mais importante
Professor Idéia sobre a relação temporal mais importante
A Para mim são as relações presente e passado, envolvidas nas noções de
permanências e mudanças. Pois acredito que elas contribuem para o
desenvolvimento da consciência histórica, na medida em que o aluno desperta para
a historicidade do humano. Ou seja, o trabalho com essa relação das permanências e
mudanças no ensino de história mostra que os processos humanos não existem
naturalmente, são construídos, são organizados intencionalmente. Dessa maneira é
possível existir mudança, é possível projetar o futuro, situar-se no presente como
indica Rusen.
B
Recorrência Histórica, toda vez que você faz um recorte na história e inclui um
tema no estudo da sala de aula, o professor faz sua recorrência histórica e situa a
análise do tema.
C O processo histórico – acho bem mais objetivo pois quando analiso a processo
histórico consigo perceber a importância dele na compreensão da evolução histórica.
A análise das respostas sobre a relação temporal mais importante do
Quadro 18 aponta elementos importantes sobre a temporalidade:
A presença da idéia de processo histórico como uma perspectiva linear e
evolutiva;
A opção pela Recorrência Histórica, no sentido metodológico de fazer um
recorte na história, para situar a análise da temática trabalhada;
- 155 -
A opção indireta por uma nova relação temporal, presente na produção
curricular de 2004, da idéia de tempo histórico como consciência da
necessidade de conhecer o passado para orientar-se no presente diante
das expectativas de futuro, na perspectiva de Rüsen, mais inclinada à
Educação Histórica:
O
Quadro 19 apresenta a idéia dos professores do estudo piloto sobre a
importância do
documento histórico (questão 12 do anexo I).
Quadro 19 – Importância do documento histórico
Professor Importância do documento histórico
A A importância do documento histórico está na idéia de que é preciso que o aluno se
envolva a pensar e considerar “o fazer histórico”. Pois dessa maneira o aluno terá
mais subsídios para entender como o historiador não é dono da verdade, mas
trabalhou com evidencias e inferências para chegar a algumas conclusões. E ainda,
terá possibilidades de generalizar esse procedimento para outras áreas da sua vida,
tornando-se menos “crente” nos discursos que ouve, seja de propagandas
publicitárias, de políticos, de editores e outros.
B Cria a possibilidade do aluno pesquisar e compreender, as várias interpretações da
história.
C É de fundamental importância para a compreensão e entendimento da História, pois é
usando o documento ou os documentos que facilita a compreensão e o entendimento
do meu aluno sobre o assunto trabalhado. Fica enriquecido o conteúdo abordado.
As considerações dos professores do estudo piloto sobre a importância do
documento histórico apontam para:
Idéia de levar o aluno a pensar sobre o “fazer histórico” e os limites da
inferência sobre o documento, evidência do passado;
- 156 -
Possibilitar ao aluno a pesquisa e a compreensão das multiperspectividade
da história;
Possibilita enriquecer o conteúdo;
Levar o aluno a transferir o questionamento ao documento a outras áreas
de sua vida.
Quadro 20 – Presença da narrativa histórica no manual didático, na produção do
aluno e no currículo, na ótica do professor
Profes-
sor
Narrativa no manual
didático
Narrativa na produção do
aluno
Narrativa no currículo
A No manual didático:
normalmente aparece
como naturalizada,
sem autoria.
Geralmente a narrativa
dos livros didáticos
está cristalizada numa
tradição canônica dos
mesmos conteúdos e
narrativas parecidas.
Na produção do aluno:
quando não trabalhada
devidamente aparece muito
como cópia. No entanto, se
devidamente trabalhada é
uma grande possibilidade de
entrelaçar o global e o
particular. Como exemplo o
trabalho com conteúdos mais
clássicos no ensino de
História e a metodologia da
história oral para os
conhecimentos locais.
No currículo de 2004 foi a
primeira vez que aparece
explicitamente a questão da
narrativa, embora ainda muito
timidamente, sem muita
fundamentação. Mas a prática
da narrativa (não com esse
nome) foi muito incentivada no
currículo de 1992. E também
foi praticada, inclusive com
trabalho conjunto, muitas
vezes, com o professor de
Português.
B No manual didático; é
a forma como o
autor(a) explica a sua
versão da história.
Na produção do aluno: pois é
aí que se percebe como
ocorreu o ensino da história,
a relação do aluno com a
consciência histórica.
No currículo; aparece como
idéia de encaminhamento e
orientação de trabalho.
C No manual didático –
têm várias narrativas
históricas. O autor
submete a história,
suavemente, a um
exame crítico – ele
tenta colocar as idéias
de causa,
continuidade,
mudança no discurso
colocado.
Já na produção do aluno, vai
depender mais da série,
Algumas, como 5ª e 6ª séries
têm um pouco mais de
dificuldades de reescrever
esta história, já as 7ª e 8ª
narram com um pouco mais
de interpretação, têm mais
facilidade de criar,
reproduzir, compreender.
O currículo dá uma boa
abertura para que o professor
utilize constantemente da
narrativa.
- 157 -
Como os professores, no estudo piloto, percebem a presença da narrativa
histórica no manual didático, na produção do aluno e no currículo é o que
apresenta o Quadro 20, na página anterior (questão 13 do anexo I).
Analisando o
Quadro 20, sobre como percebem a presença da narrativa
histórica no manual didático, na produção do aluno e no currículo, surgem os
seguintes elementos:
No manual didático a narrativa histórica, segundo os professores, aprece:
Naturalizada, sem autoria, está cristalizada numa tradição canônica dos
mesmos conteúdos e narrativas;
Como a explicação da história na versão do autor(a);
De formas variadas. (Não ficou claro se estas formas variadas são de
perspectivas diferentes ou se é uma variedade semelhante)
Na produção do aluno a narrativa histórica, segundo os professores, aparece:
Com vários graus de elaboração, dependendo da intervenção pedagógica,
e da série em que o aluno se encontra;
Como um instrumento de avaliação do ensino de história e do grau de
relação do aluno com a consciência histórica.
No currículo, a narrativa histórica, segundo os professores, aparece:
Explicitamente, embora timidamente e sem fundamentação, no currículo de
2004 pela primeira vez;
Sua prática, como produção de texto, foi incentivada no currículo de 1992,
posta em prática em trabalho interdisciplinar com o professor de Português;
Como encaminhamento metodológico e abertura para sua utilização.
- 158 -
Como os professores que participaram do estudo piloto definem a narrativa
histórica
é o que apresenta o Quadro 21 (questão 14 do anexo I).
Quadro 21 – Definição de narrativa histórica
Professor Definição de narrativa histórica
A É o contar articulado sobre um determinado tema. Essa articulação envolve
seqüência, causalidade, explicação, temporalidade, espacialidade , entre outras
coisas.
B É quando contamos a história, ou escrevemos a história de um tema, segundo a
nossa análise e interpretação.
C Significa relacionar a história com os princípios organizativos – as idéias de causa,
continuidade, mudança – do discurso complexo. É uma forma de interpretação que
faz com que o fato seja compreensível.
A análise das respostas do Quadro 21 permite apontar para a idéia se
narrativa histórica como:
Um discurso articulado com a objetividade da ciência histórica, ou seja, que
envolve seqüência, causalidade, explicação, temporalidade, espacialidade,
continuidade, mudança;
Contar ou escrevemos a história segundo a análise e interpretação de
quem conta ou escreve.
Estas definições de narrativa histórica ainda não refletem uma clara
aproximação da idéia de narrativa como um ato de lembrança, de dar
significado para a existência no tempo, e, através da memória, unir as
experiências do passado com as expectativas de futuro, realizando a
função prática de orientar uma pessoa no presente, em relação ao tempo,
dando significado à existência (RÜSEN: 1993), perspectiva que persegue a
Educação Histórica.
- 159 -
A análise dos resultados do questionário piloto demonstrou que as
questões foram eficazes para verificar a relação dos professores com as idéias
históricas substantivas e de segunda ordem, sendo o mesmo utilizado no estudo
definitivo sem alterações.
4.2.2. Análise dos resultados do estudo definitivo
O estudo definitivo teve a participação de quinze professores, denominados
professor D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q e R.
- 160 -
Quadro 22 – Idéias substantivas como eixos temáticos citadas
Eixo
Professor
Famílias Poder Trabalho Cultura Cotidiano Movimentos
sociais
Outros
D x x x x x x
E x x x x x x
F x x x x x x
G x x x x x x
H x x x x x x
I x x x x x Jovens
J x x x
K x x x x x x Terra
L x x x x X x
M x x x x x Terra
Homem
N x x x x x x
O x x x x x x
P x x x x x x
Q x x x x x x Jovens
R x x x x x
Total
15 13 14 14 15 13
- 161 -
A questão que solicitava ao professor, se incluiria uma temática nova, ou
excluiria alguma das temáticas propostas, teve as respostas organizadas
conforme o Quadro 23 (questão 6 do anexo II).
Quadro 23 – Inclusão e exclusão de eixo temático
Professor Resposta
D Talvez precisaríamos antes de incluir ou excluir, avaliar como já estamos
trabalhando as temáticas e se estamos trabalhando a história temática.
E Não
F Não
G Incluiria um eixo relacionado a temática “cidadania”, após discussão com o grupo
(porém essa temática pode ser um subtema da temática Poder).
I (incluiu Jovens na questão anterior)
J Não
K Incluiria o “contexto histórico”, considerando os fatores condicionantes, fazendo
uma ponte com o cotidiano de ontem e de hoje. Deve-se trabalhar o contexto
temporal ligado à cronologia. (Incluiu Terra na questão anterior)
L Incluiria: Mídia e Tecnologia.
M (Incluiu Terra e Homem na questão anterior)
N Poder, trabalho e cultura (famílias, cotidiano e movimentos sociais fazem parte da
cultura).
O Não incluiria e nem excluiria.
P Não
Q Talvez desse mais ênfase em alguns, como família e cotidiano. (Incluiu Jovens na
questão anterior)
R Se realmente for necessário trabalhar com eixos eu ficaria somente com: poder,
trabalho e cultura, visto que os outros acabariam sendo incluídos no processo.
Ao analisar o Quadro 23, as respostas dos professores D e R apontam
para a necessidade de um aprofundamento sobre os eixos temáticos,
- 162 -
constatando e demonstrando uma certa insegurança sobre o trabalho dessa
forma, o que os professores A e C já tinham evidenciado no estudo piloto.
Os professores N e R propõem uma redução para três eixos temáticos,
diluindo os demais em cultura (N) ou no processo (R).
Os professores G, K e Q propõem uma atenção maior para cidadania no
viés do poder (G), para o contexto histórico no viés do cotidiano (K) e para família
e cotidiano (Q).
O professor L propõe eixos temáticos totalmente novos: mídia e tecnologia.
Sobre a organização dos conteúdos curriculares em eixos temáticos, as
respostas (questão 7 do anexo II) foram organizadas num quadro, e classificadas
em três grupos de manifestações: favoráveis, favoráveis com ressalvas, críticas,
contrárias, e contrárias com ressalvas, conforme é possível visualizar no
Quadro
24:
Quadro 24 – Opinião dos professores sobre a organização dos conteúdos em
eixos temáticos
Profes-
sor
Resposta Manifes-
tação
D
Proporciona um rompimento com um ensino tradicional, conteudista, linear
e cronológico, e permite tomar o aluno como referência, sua memória
familiar, seus modos de vida, sua cultura, seus grupos sociais.
Favorável
E
Não desenvolvi nenhuma aula, pois estou fora de sala de aula há seis
anos, mas acompanho muitas das discussões e acredito que com essa
organização o conteúdo chega mais “perto do aluno”; as relações do
conteúdo com sua vida não são vazias; existe mais sentido no que se
ensina e no que se aprende.
Favorável
F
A organização desta forma dificulta a organização de tempo para o aluno,
que fica dependente da organização do professor. E também pode ocorrer
uma organização tendenciosa conforme interesses.
Contrária
- 163 -
G
Por eixos temáticos o trabalho flui melhor, facilitando a relação com o
presente, analisando as permanências/mudanças. O domínio do conteúdo
do professor precisa ser bastante grande para fazer as relações
necessárias da temática estudada com o tempo. Facilita ainda a
aproximação do aluno, de sua realidade com os conteúdos de História.
Favorável
I
É preciso definir nosso programa curricular (conteúdos), os que existem
são muitas vezes títulos do penúltimo livro adotado pelo município.
Crítica
J
É bem importante, pois assim é possível relacionar os conteúdos e torná-
los mais significativos.
Favorável
K
É uma forma diferente e inovadora de encaminhamento, fugindo do
tradicional. Contudo não pode estar engessado, estando aberto a outros
encaminhamentos teóricos.
Favorável
com
ressalvas
L
A organização por eixos temáticos permite estabelecer relações de
temporalidade entre os conteúdos da história local, regional, nacional e
global. Como são temas tratados de forma diferenciada em cada série,
permite que o aluno perceba-se inserido no contexto social, ampliando sua
visão de mundo.
Favorável
M
Considero importante a organização em eixos temáticos, embora não
conheça nenhuma obra que dê conta de sistematizá-los da forma como
desejamos.
Favorável
com
ressalvas
N
Esta organização possibilita um rompimento com a linearidade. Pensar o
passado na sua totalidade, me parece um exercício inóquo.
Favorável
O
Eu acho importante essa organização, porque possibilita um trabalho
levando-se em consideração a pluralidade das memórias existentes.
Favorável
P
Para ser franco acho que essa questão ainda não está muito clara para
mim, apesar de estar bem definida no documento de 2004 quando fala em
“organização dos conteúdos a partir da tematização histórica”. Indica os
temas famílias, cotidiano, trabalho, cultura, poder e movimentos sociais, a
serem explorados, “de forma diferenciada em cada série (...) articulando
conteúdos da história local, regional, nacional e global” e a “História e
Cultura Afro-brasileira”.
Crítica
Q
Acho pouco eficiente e não vejo isso ser aplicado em sala de aula.
Sinceramente, utiliza-se apenas no momento de fazer o planejamento. Na
prática vejo professores seguirem seus respectivos livros didáticos. Isto é,
currículo é uma coisa totalmente desvinculada da prática, portanto, não faz
muita diferença.
Contrária
R
A realidade em sala de aula e os livros didáticos disponíveis dificultam o
trabalho em eixos temáticos, prefiro a forma tradicional, os eixos
possibilitam muito a divagação e no final o que prevalece realmente são os
conteúdos tradicionais, logicamente que estes conteúdos devem ser
trabalhados de forma diversificada.
Contrária
- 164 -
Analisando o Quadro 24, tivemos 14 opiniões sobre a organização dos
conteúdos em eixos temáticos, sendo sete manifestações favoráveis; duas
favoráveis com ressalvas; duas críticas; três manifestações contrárias.
Quanto à fundamentação das opiniões:
Está presente a tensão entre o tradicional e o novo, assim como ocorreu no
estudo piloto. A professora D é favorável por ser uma forma de organização
dos conteúdos que permite um rompimento com o ensino tradicional
(entendido como conteudista, linear e cronológico); o professor K afirma
que é inovadora e
foge do tradicional; a professora R afirma que prefere
a forma tradicional.
Outra tensão presente é a relação com a temporalidade, também presente
no estudo piloto. Para a professor G com os eixos temáticos o trabalho flui
melhor, facilitando a relação com o presente, analisando as
permanências/mudanças; para o professor L a organização por eixos
temáticos permite estabelecer relações de temporalidade entre os
conteúdos da história local, regional, nacional e global. Para a professora N
esta organização possibilita um rompimento com a linearidade, pensar o
passado na sua totalidade lhe parece um exercício inóquo. A professora F
é contrária a organização por eixos temáticos, por dificultar a organização
de tempo para o aluno, que fica dependente da organização do professor.
No estudo piloto o Livro Didático foi apontado como dificultador do trabalho
na perspectiva de eixos temáticos. Aqui três professores se manifestaram
sobre a relação entre esse tipo de organização e o Livro Didático: para o
- 165 -
professor M essa forma de trabalho é importante, embora não conheça
nenhuma obra que conta de sistematizá-los da forma como desejamos
;
Para a professora Q na prática vejo professores seguirem seus respectivos
livros didáticos; e para a professora R a realidade em sala de aula e os
livros didáticos disponíveis dificultam o trabalho em eixos temáticos.
A crítica que foi feita à relação entre organização temática e os conteúdos
curriculares no estudo piloto, também está presente no estudo principal.
Para a professora I é preciso definir nosso programa curricular (conteúdos),
os que existem são muitas vezes títulos do penúltimo livro adotado pelo
município.
E para a professora Q currículo é uma coisa totalmente
desvinculada da prática
.
Das manifestações contrárias, uma se fundamentou na preocupação com a
neutralidade, segundo a professora F, pode ocorrer uma organização
tendenciosa conforme interesses. É uma opinião de difícil sustentação
diante da perspectiva da multiperspectividade. As manifestações contrárias
das professoras Q e R têm suas fundamentações na descrença nessa
forma de trabalho e na segurança que dá o trabalho na forma tradicional. A
questão da insegurança em trabalhar com a organização temática, devido
à falta de clareza (experiência) parece ser a fundamentação da posição
crítica do professor P.
O que surge de novo nas manifestações são as várias justificativas que
apontam para a experiência do trabalho em sala de aula em que o aluno e
sua relação como o saber histórico ganha contornos de importância e vem
para o centro das discussões, apontando para uma superação do embate
- 166 -
entre tradicional e inovado e dando segurança aos professores. Para a
professora D a organização em eixos temáticos
permite tomar o aluno
como referência, sua memória familiar, seus modos de vida, sua cultura,
seus grupos sociais; para a professora G facilita a aproximação do aluno,
- 167 -
Quadro 25 – Temáticas mais e menos significativas
Profes-
sor
Temática selecionada 1 Temática selecionada 2 Temática não
selecionada
D
Famílias: permite um trabalho
com a pluralidade de
memórias e inter-relação com
outras temáticas. Desperta
empatia entre os alunos, pois
as questões trazidas pelos
documentos históricos podem
ser relacionadas com as suas
vivências.
Cultura: é uma das
temáticas mais
abrangentes, pois é
entendida como todo um
modo de vida e relaciona-
se também com tudo o que
significa criatividade
humana na arte,
arquitetura, etc., o que
também permite um
trabalho interdisciplinar na
minha opinião.
Todas as temáticas me
parecem relevantes e
englobam a
historiografia de forma
abrangente.
E
Famílias: me identifico muito
com esse item, pois consigo
desenvolver uma aula com
muita facilidade, já que posso
aproveitar um assunto rico e
amplo com os alunos.
Poder: procuro analisar
algumas questões
relacionadas ao tema e o
assunto rende boas
discussões.
Nenhum
F - -
Família, porque os
professores não têm
preparo emocional,
psicológico para
trabalhar com um tema
que causa polêmica e
gera preconceito.
G
Cotidiano: esse tema traz
muita facilidade na
aproximação do que se quer
trabalhar com a realidade do
aluno, puxando discussões
acerca do cotidiano do aluno,
é possível fazer recorrências
históricas que o motivam e
podem inserir discussões
sobre os outros temas
poder, trabalho e cultura.
Gosto muito de trabalhar esse
eixo temático, porém, é
preciso tomar cuidado para
não ser um estudo
reducionista do modo de vida
dos povos, mas ser também
um elo de estudo com as
outras temáticas.
Poder: um eixo temático
bastante rico para
trabalhar, porém não deve
reduzir-se somente ao
poder no viés político, mas
também econômico,
cultural, religioso, etc.
Nenhum. Todos tem
uma importância na
construção da
consciência histórica
do aluno. Depende
muito da forma, da
metodologia utilizada
para trabalhar cada
temática. A
importância de dar
“ouvidos” aos
diferentes discursos e
utilizar diferentes
documentos históricos
para a construção da
narrativa própria do
aluno é fundamental,
mais do que a temática
selecionada.
- 168 -
Quadro 25 – Temáticas mais e menos significativas (continuação)
Profes-
sor
Temática selecionada 1 Temática selecionada 2 Temática não
selecionada
I
Poder: vejo a necessidade
atual de trabalhar com nossos
alunos dentro do eixo do
poder, direitos e deveres dos
jovens na história e hoje.
Corremos o risco de trabalhar
um rol de conteúdos que não
querem dizer nada para eles e
não ajudá-los na busca da
cidadania.
Famílias: nossos alunos
precisam saber que fazem
história, que seus
antepassados fizeram a
história, construíram a
cidade onde vivem e
sofrem as conseqüências
de uma sociedade que não
se apresenta justa e
democrática.
-
J
Cotidiano: escolhi esses dois
temas porque eles são
fundamentais para se
trabalhar História com as
crianças. Partir do cotidiano é
fundamental para que os
alunos se interessem pelo
passado.
Famílias: já a família é o
primeiro referencial da
criança.
Não selecionaria
Poder; é um tema
importante, porém um
pouco abstrato para a
faixa etária em que
atuo.
K
Poder: para entender o
desenrolar dos fatos,
acontecimentos e processo
histórico, é necessário ter
clareza das relações de poder
envolvidas entre as classes
sociais envolvidas. O jogo de
interesse, quer das classes
dirigentes ou das subalternas
e subjugadas, impulsionam as
relações de poder e é aí que a
história se dá.
Cotidiano: Acho
importante o professor de
História incluir “atualidades
em suas aulas, para que o
educando passe a se
politizar desde cedo.
Talvez “famílias”, pois
embora uma instituição
importante para
compreendermos o
funcionamento das
sociedades, até
mesmo determinando
padrões de
pensamento e
comportamento, é um
tema que poderia ser
melhor trabalhado pela
Filosofia e Sociologia.
L
Poder: permite ao aluno
pensar como um cidadão do
seu tempo. Como se
organizam as diversas formas
de poder na sociedade.
Cotidiano: permite
trabalhar aspectos da vida
diária do aluno, sua
maneira de viver está
inserida no cotidiano de
outras crianças, famílias,
grupos e classes.
Considero todos
importantes.
- 169 -
Quadro 25 – Temáticas mais e menos significativas (continuação)
Profes-
sor
Temática selecionada 1 Temática selecionada 2 Temática não
selecionada
M
Poder e movimentos sociais:
os dois estão inter-
relacionados, considerando da
maior importância o
aprofundamento do
estudo/debate, sobre eles,
pois acredito que são os
motores da própria história.
-
Todos estão
entrelaçados
N
Poder: é importante apreender
no passado as relações de
mandonismo, dos mais
visíveis e impactantes aos
mais capilares, para
compreender o percurso que a
humanidade fez e até as mais
diversas possibilidades
apresentadas aos homens no
presente.
Trabalho: toda produção
humana é relevante para
se compreender a trajetória
da humanidade no tempo e
no espaço.
Família: entendo que
este eixo deveria ser
incluído no eixo
cultura.
O
Família: A família constitui a
primeira memória coletiva do
indivíduo, sendo assim é
responsável por conservar
elementos que são essenciais
para a vida em comunidade,
mesmo sabendo que as
transformações ocorrem nos
diferentes tempos e espaços
ela é responsável por muitas
permanências na história do
sujeito. È através das
mudanças e permanências
ocorridas na família que
poderemos entender alguns
fatores da nossa história atual.
Trabalho: O trabalho
precisa ser entendido
como responsável pelas
nossas atividades
humanas, responsável
pela prática social
historicamente construída
nos diferentes tempos e
espaços. Através das
formas com que o homem
produz a divisão do
trabalho nos diferentes
tempos e espaços
possibilita entender as
relações de poder e
principalmente as relações
sociais.
Não existe um tema
que eu não
selecionaria
.
- 170 -
Quadro 25 – Temáticas mais e menos significativas (continuação)
Profes-
sor
Temática selecionada 1 Temática selecionada 2 Temática não
selecionada
P
Trabalho: porque é a
partir dele que os
humanos se humanizam
(ou desumanizam). É o
trabalho que torna o
humano um criador,
inclusive de cultura. Nas
relações de trabalho
também se estabelecem
relações de poder.
Movimentos sociais: destes e
de suas variadas formas de
organização podem ser criados
e difundidos novos valores,
novas relações de trabalho,
novas relações familiares,
convivências cotidianas. Neles
também podem ser reforçados
valores e relações que se quer
conservar.
Nenhum
Q
Poder: é o mais tratado,
visto que ainda temos
muitos resquícios
marxistas. Geralmente é
colocado lado a lado com
a posse da terra, e se
pode trabalhá-lo desde os
primeiros homens
sedentários, os medievos,
até colonizações e
descolonizações, sem-
terra, etc. é o chão do
professor de história. E o
poder político, que é o
nosso positivismo do dia-
a-dia
Cultura: apesar de ser muito
importante e interessante, é o
eixo mais abandonado. Ou por
não dar tempo, ou por se
entender pouco do assunto, os
professores relegam o ensino
ao político e econômico. Mas
também, cultura é um termo tão
abrangente que acho que está
contemplada mais no cotidiano
e famílias. Bem, vejo que os
alunos se interessam muito
mais quando falamos de
religiões, posições dos homens
de outras épocas frente a
situações como as festas, a
morte, as artes, o namoro e o
casamento, etc. Roupas,
costumes, comportamentos
para nós inusitados e
impensados. Bem, mas é que
eu tenho mesmo mais
proximidade com as
sociabilidades...
Nenhum, todos são
importantes. A única
objeção que eu faria a
alguns deles é a da
repetição, da extrema
importância dada
durante muito tempo, e
ao cunho ideológico
esquerdista que se põe
demais nas questões
econômicas, políticas e
de movimentos sociais.
Mas não os excluiria de
maneira alguma, só
amenizaria.
R
Poder: aspecto relevante
ao conhecimento
histórico, todos os fatos e
acontecimentos estão
diretamente ligados ao
poder e ao seu
significado.
Cultura: todas as
manifestações da humanidade
devem ser estudadas e
privilegiadas dentro do
conhecimento histórico.
Família e cotidiano:
devemos entender que
se estudamos poder,
cultura e trabalho,
estaremos também
estudando o aspecto
familiar e cotidiano das
pessoas envolvidas ou
da sociedade em
questão, não se pode
estudar tais aspectos
fora do contexto familiar
e cotidiano.
- 171 -
Analisando o conjunto as respostas dos professores no Quadro 25, nas
páginas anteriores, pode-se observar que a temática mais significativa é Poder,
com 9 escolhas; seguido de Famílias, com 5 escolhas; Cotidiano, com 4 escolhas;
Trabalho e Cultura, com 3 escolhas e Movimentos Sociais, com 2 escolhas. Das
temáticas que não seriam selecionadas: Famílias, teve quatro escolhas; Cotidiano
e Poder, uma escolha cada. No entanto, é necessário adentrar mais nas idéias,
para entender melhor o que expressam:
No estudo piloto a idéia de poder apontava para a possibilidade de
formação para a cidadania e democracia. Com esse viés ele aparece duas
vezes estudo definitivo: como eixo para trabalhar direitos e deveres dos
jovens na história e hoje, e para não correr o risco de trabalhar um rol de
conteúdos que não querem dizer nada para eles e não ajudá-los na busca
da cidadania
(I); pois permite ao aluno pensar como um cidadão do se
tempo
, e compreender como se organizam as diversas formas de poder na
sociedade (L). Um outro viés que aparece no estudo definitivo é a idéia de
poder como disputa de classes: é necessário ter clareza das relações de
poder envolvidas entre as classes sociais envolvidas. O jogo de interesse
quer das classes dirigentes ou das subalternas e subjugadas, impulsionam
as relações de poder e é que a história se (K); é importante
apreender no passado as relações de mandonismo, dos mais visíveis e
impactantes aos mais capilares, para compreender o percurso que a
humanidade (N). Outra perspectiva que se apresenta no estudo principal é
- 172 -
da relação do poder com a posse da terra: lado a lado com a posse da
terra, e se pode trabalhá-lo desde os primeiros homens sedentários, os
medievos, até colonizações e descolonizações, sem-terra, etc. é o chão do
professor de história
(Q).
A idéia de poder teve no estudo piloto uma rejeição ao seu viés sectário e
de elite. No estudo definitivo houve uma referência ao reducionismo da
idéia de poder ao viés político (G). A professora J não selecionaria a
temática Poder por considerá-la muito abstrata para os alunos com que
atua (1ª série do ensino fundamental).
A escolha da idéia de Famílias no estudo definitivo, que não foi
contemplada no estudo piloto, indica que é possível um trabalho
significativo com os alunos, por ser o primeiro referencial da criança (J), ser
a primeira memória coletiva do indivíduo (O), por permitir um trabalho com
a pluralidade de memórias e inter-relação com outras temáticas (D), por ser
responsável por muitas permanências na história do sujeito (O), e por
permitir aos alunos saber que fazem história, que seus antepassados
fizeram a história, construíram a cidade onde vivem e sofrem as
conseqüências de uma sociedade que não se apresenta justa e
democrática (I). Na visão dos professores, a temática Família auxilia a
entender o aluno como sujeito do ensino de História, pois é um referencial
na construção da consciência histórica, ou seja, na compreensão do
passado como ferramenta para auxiliar a orientar-se no presente, balizado
pelas expectativas de futuro.
- 173 -
A idéia de Família como eixo temático é também a mais controversa e que
mais sofre resistência, pois não seria selecionada por quatro professores,
no estudo definitivo. Eles apontam para uma ausência da compreensão do
viés histórico desse conceito, pois não é objeto do ensino de Filosofia e
Sociologia (K). Alegar falta de
preparo emocional, psicológico dos
professores
para trabalhar com um tema que causa polêmica e gera
preconceito
(F) é duplamente questionável: a temática não será tratada em
História em seu viés emocional e psicológico, e se for para não trabalhar
temáticas polêmicas, a História ficará sem conteúdos. O que pode ser
discutível é a sua incorporação pelo eixo temático da Cultura, mas se
afasta do entendimento do aluno como sujeito do processo de formação de
sua consciência histórica.
O estudo piloto apontava para uma idéia de cotidiano como estudo dos
modos de vida dos povos e forma de estabelecer vínculos entre os modos
de vida do presente de crianças e adolescente e os modos de vida do
passado. No estudo definitivo esta idéia está presente em três das quatro
manifestações: puxando discussões acerca do cotidiano do aluno, é
possível fazer recorrências históricas que o motivam e podem inserir
discussões sobre os outros temas (G), e para trabalhar História com as
crianças, partir do cotidiano é fundamental para que os alunos se
interessem pelo passado (J), e permite trabalhar aspectos da vida diária do
aluno, sua maneira de viver está inserida no cotidiano de outras crianças,
famílias, grupos e classes (L).
- 174 -
No estudo piloto a idéia de cultura como ‘todo modo global e característico
de vida’ (professora A citando Raymond Williams), um conceito
antropológico onde todo homem possui cultura, implicando no respeito à
diferença e diversidade como um valor no ensino de História se fez
presente. O entendimento permanece o mesmo no estudo definitivo:
é
entendida como todo um modo de vida e relaciona-se também com tudo o
que significa criatividade humana na arte, arquitetura, etc., o que também
permite um trabalho interdisciplinar na minha opinião
(D), ou ainda como
temática que permite uma aproximação dos alunos, que se interessam
muito mais quando falamos de religiões, posições dos homens de outras
épocas frente a situações como as festas, a morte, as artes, o namoro e o
casamento, etc. Roupas, costumes, comportamentos para nós inusitados e
impensados (Q). É a temática da Cultura que permite todas as
manifestações da humanidade possam ser estudadas e privilegiadas
dentro do conhecimento histórico
(R).
A idéia de trabalho que apontava para a possibilidade de estudo da
conjuntura do poder no estudo piloto, no estudo definitivo amplia essa
possibilidade, além de permitir o entendimento das relações de poder por
meio do entendimento histórico das relações de produção e da sua divisão,
é o responsável pelas nossas atividades humanas e prática social
historicamente construída nos diferentes tempos e espaços (O), e, é a
partir dele que os humanos se humanizam (ou desumanizam). É o trabalho
que torna o humano um criador, inclusive de cultura (P).
- 175 -
A idéia de Movimentos Sociais que não foi referida no estudo piloto, surgiu
no estudo definitivo no sentido de
motor da própria história e como formas
de organização
em que podem ser criados e difundidos novos valores,
novas relações de trabalho, novas relações familiares, convivências
cotidianas. Neles também podem ser reforçados valores e relações que se
quer conservar (P).
A relação dos professores, que responderam ao questionário no estudo
definitivo, com as idéias históricas de segunda ordem: temporalidade, documento
e narrativa, é objeto de análise daqui por diante.
A primeira questão (10 do anexo II) proposta aos professores solicitava que
enumerassem, da mais para a menos importante, as relações temporais:
Cronologia, Processo Histórico, Sucessão e Recorrência Histórica. O conceito de
Cronologia refere-se à linearidade cronológica da História; o conceito de
Recorrência Histórica engloba as idéias de presente/passado/presente e
permanências/mudanças; o conceito de sucessão histórica resume as idéias de
simultaneidade, duração, rupturas e continuidades, curta, média e longa duração;
e o conceito de processo histórico resume as concepções marxistas e dialéticas
de tempo histórico.
- 176 -
A ordem de importância atribuída às relações temporais pelos professores,
utilizando-se pesos inversamente proporcionais à ordem de importância, ficou
tabulada conforme o Quadro 26.
Quadro 26 – Ordem de Importância das relações temporais
Professor
D Recorrência
4 pontos
Processo
3 pontos
Cronologia
2 pontosD Recorrência
4 pontos
Processo
3 pontos
Cronologia
2 pontos Recorrência
4 pontos
Processo
3 pontos
Cronologia
2 pontos Processo2 pontos
Recorrência
3 pontos
2 pontos
Cronologia Processo2 pontos
Recorrência
3 pontos
2 pontos
Cronologia Cronologia
4 pontos
Processo
3 pontos
Recorrência
2 pontos Processo2 pontos
Recorrência
3 pontos
2 pontos
Cronologia Processo2 pontos
Recorrência
3 pontos
Cronologia
2 pontos Processo2 pontos
Recorrência
3 pontos
Cronologia
2 pontos
- 177 -
Analisando o Quadro 26 é possível observar que a importância atribuída
às relações temporais pelos professores, no estudo definitivo, ficou na seguinte
ordem de pontuação: Processo Histórico 48; Recorrência Histórica 37;
Cronologia 23; e Sucessão Histórica 21. Cruzado com a investigação piloto,
houve alterações na ordem de importância atribuída, uma vez que naquela
investigação a ordem tinha sido: Recorrência Histórica; Processo e Sucessão
Histórica e Cronologia.
As respostas dadas pelos professores ao questionamento sobre se
incluiriam outra relação temporal, diferente das propostas na questão anterior,
podem ser conferidas no Quadro 27 (questão 11 do anexo II):
Quadro 27 – Inclusão de outra relação temporal
Professor Sugestão de inclusão
D Não me ocorre nenhuma outra no momento
E Não saberia indicar
F Não
G Não sei, não tenho elementos teóricos para responder
H -
I -
J -
K -
L Mudança/permanência; semelhanças/diferenças; desigualdades/conflitos
M A questão do poder ao longo da História
N Simultaneidades, mudanças, continuidades, rupturas, semelhanças e diferenças
O Não
P -
Q -
R -
- 178 -
As propostas de inclusão feitas no estudo definitivo, assim como no estudo
piloto, demonstram a necessidade de um aprofundamento sobre a temporalidade
histórica, especialmente que a sucessão histórica engloba conceitos como
permanências, mudanças, simultaneidade, duração, continuidade, semelhanças e
diferenças.
O
Quadro 28 apresenta as respostas dos investigados sobre a relação
temporal que consideram mais importante (questão 12 do anexo II).
Quadro 28– Relação temporal mais importante
Professor Idéia sobre a relação temporal mais importante
D
Recorrência Histórica: formata os conteúdos problematizando-os com um recorte
sobre o presente.
E
Recorrência Histórica – Proporciona uma forma de ajudar o aluno a pensar sua
participação como sujeito que constrói a história. Pode-se analisar questões do
presente/passado fazendo com que o aluno esteja vendo essas relações como
forma de compreensão do seu cotidiano.
F Acredito que deve-se considerar todas as relações importantes.
G
A compreensão do
processo histórico de uma temática estudada remete a
possibilidade da
recorrência histórica que implica no domínio da cronologia. Por
exemplo, a partir do estudo de uma temática como a “democracia”: é necessário
pesquisar o que o aluno entende sobre o tema, trabalhar com ele o
processo de
construção
na história do conceito de democracia (seu significado em diferentes
épocas
históricas – suas permanências/mudanças, semelhanças/diferenças). A
partir desses estudos, torna-se possível a
recorrência histórica no sentido de
ajudar o aluno a pensar historicamente e adquirir uma
consciência histórica do
conceito de democracia. Nesse sentido a compreensão da
cronologia torna-se um
instrumento para a
recorrência histórica que se fez necessária.
H
Não sei se lhe respondo, mas acredito que as
permanências e mudanças no
processo histórico são relevantes.
I
Processo Histórico, onde junto com os alunos adquirimos a capacidade de análise
da
relação presente-passado, onde nos preocupamos com uma pluralidade de
memórias.
Tentamos transformar nosso aluno em sujeito do seu próprio
conhecimento e do conhecimento histórico.
- 179 -
J -
K
A “
cronologia” é fundamental e básica na História, a fim de localizar e situar o
educando no tempo. Após a cronologia, considero o “
processo” fundamental para o
entendimento dentro de um contexto. Se “o homem é filho do seu tempo” é
necessário esclarecer e inteirar-se do processo para a melhor compreensão das
causas e conseqüências das relações históricas e até mesmo fazer uma ponte para
se ter uma leitura do que acontece hoje.
L
A categoria histórica da
mudança/permanência permite recuperar a função crítica
do ensino de História, relativisando a factualidade. Permite ainda, a compreensão
do aluno sobre a natureza social e individual do ser humano, na sua dinâmica
relacional, capaz de ampliar: a análise, a interpretação crítica, síntese, juízo de valor
sobre as fontes de informação.
M
Processo Histórico: Considero muito importante o processo histórico, pois permite
compreendermos como os fatos aconteceram ao longo do tempo.
N
O tempo da história é um tempo que se apresenta como um
processo. Algo que
está em construção. O passado não é algo que está estanque, consolidado, deve
sim ser revolvido e apreendido pelos estudiosos da história.
O Considero de extrema importância no ensino de história trabalhar com o tempo
histórico, poder compreender as relações entre o tempo subjetivo e aquele tempo
que pode ser medido. Levando em conta os contextos de
permanência/ mudança,
semelhanças/ diferenças, passado/ presente.
P
Processo Histórico, porque considero que a compreensão da História não é
possível sem contextualização, sem a consciência de que vários e ilimitados
elementos concorrem para a ocorrência de uma realidade histórica.
Q
Processo histórico, pois acho que as outras estão aí contidas.
R
Processo Histórico: esta relação é importante, pois as pessoas precisam entender
que a História possui um processo, contínuo e não é algo fragmentado que quando
termina um conteúdo e começa outro tudo terminou. É necessário destacar que os
fatos possuem relação entre si e tudo é um processo em constante construção.
O Quadro 28 aponta para duas idéias predominantes de relação temporal,
consideradas mais importantes pelos professores, no estudo definitivo. A idéia de
recorrência histórica como uma forma de ir do presente ao passado, voltar ao
presente para identificar permanências e mudanças, inclusive quando
referências a permanências e mudanças, semelhanças e diferenças, sem se
referir a Recorrência Histórica (H, L e O). E a idéia de processo histórico, que
parece abarcar todas as possibilidades de relações temporais, o que aponta,
- 180 -
assim como o estudo piloto, para a necessidade de um aprofundamento sobre as
relações temporais, excetuando-se a idéia, muito bem construída, da professora
G, que conseguiu expressar, por meio de um exemplo de organização temática,
“democracia”, a importância de todas as relações temporais presentes na
proposta curricular de 2004. É um resgate da importância de cada uma delas,
necessárias aos vários enfoques do tema, como base para a construção da
consciência histórica, que também havia sido apontada no estudo piloto.
Um professor, K, considera a cronologia como a relação temporal
fundamental e básica da História.
O
Quadro 29 apresenta a idéia que os professores, no estudo definitivo,
tinham sobre a importância do documento histórico (questão 13 do anexo II).
Quadro 29 – Importância do documento histórico
Professor Importância do documento histórico
D Ampliação da capacidade de análise, interpretação crítica e síntese por parte dos
alunos, fazendo-os compreender que o conhecimento histórico é por natureza
provisório e discutível.
E O documento histórico nos ajuda a aproximar o aluno ao conteúdo trabalhado.
Permite analisar situações com mais facilidade de compreensão para o aluno,
contrapor visões...
F O documento histórico é importantíssimo no ensino de história (necessário,
primordial).
G O uso do documento histórico possibilita ao aluno a compreensão de como a história
é construída, possibilita a ele aprender história sendo alguém que pergunta, que
formula hipóteses e teorias a partir do documento. Faz com que o aluno se perceba
também como construtor da História. Todavia, o documento histórico deve ser
utilizado pelo professor como uma fonte histórica possível de questionamentos e não
como uma “verdade absoluta”. Assim, a forma como o documento é utilizado em sala
de aula é mais importante do que o próprio documento (ele é uma representação).
H Temos farto material disponível em nossas comunidades, entre fotos, objetos, entre
outros. Nos falta competência intelectual para fazer uso dos mesmos. Devo ressaltar
que vejo colegas da rede que fazem isto muito bem.
- 181 -
I Muito importante, pois através do uso do documento histórico o aluno pode descobrir
o passado e reconstruí-lo, num diálogo entre passado e presente, sem contudo,
acreditar que os conhecimentos postos estão prontos e acabados e que os
documentos são indícios de acontecimentos passados e não o passado.
J Acredito que a utilização do documento histórico torna a aula mais interessante, pois
faz com que o aluno entre em contato com um material diferenciado e não apenas a
exposição do professor. Os documentos históricos fornecem indícios sobre o
passado, então o aluno pode tecer suas próprias considerações sobre o passado e
compreender um pouco como é o trabalho de um historiador.
K Confere ao ensino de História mais veracidade e fidedignidade, construindo o
conhecimento respaldado em algo concreto.
L Permite a construção de situações de aprendizagem em que o aluno confronta suas
representações do mundo com os documentos históricos, fontes de novos
conhecimentos.
M O documento histórico é de fundamental importância já que é processado, elaborado
a partir do fato concreto. É preciso levar em consideração a fonte e em que
circunstâncias ele foi escrito para que seja próximo do verossímel.
N O documento histórico possibilita a empatia e, sobremaneira, a aproximação com o
passado. É ao mesmo tempo, um facilitador do processo de produção do saber por
parte do aluno.
O O ensino de história deve ter como pressuposto metodológico os documentos,
através deles podemos ensinar as crianças e adolescentes a pesquisar, investigar,
trocar experiências quanto ao trabalho com os documentos, dessa forma entendo
como sendo um dos encaminhamentos metodológicos mais importantes no ensino de
história.
P O uso do documento em sala de aula é importante em alguns aspectos: serve para
problematizar alguma situação, mas pode ser útil mesmo quando apenas ilustra uma
descrição histórica. “Acho”, no entanto, que para compreender determinado
documento são necessárias outras informações que o tornem compreensível. Basta
procurar no livro didático que encontraremos reproduções de algumas imagens que
sem informações complementares não dá para entender. Outra importância é
possibilitar alguma aproximação do aluno e do professor com o processo de
produção do conhecimento histórico.
Q É muito importante, mas acho que não no sentido do aluno “construir a história”, mas
sim como um tipo de atividade mais inteligente que os antigos questionários. Pois na
hora de analisar um documento ele precisa usar todos os conhecimentos a que teve
acesso sobre a determinada época, e pesquisar mais para compreendê-lo, e tirar
informações dele. Também é um ótimo exercício de leitura e interpretação de textos,
matéria em que nossos alunos são, infelizmente, muito deficientes. Explico por que
não acredito no aluno que “constrói a história”: os documentos são escolhidos por
nós, professores, com um determinado objetivo, e todo o trabalho é encaminhado
para que o aluno perceba aquilo que queremos. É induzido demais.
R Tal fato precisa de um documento que o comprove, sendo assim, o documento
histórico é que dará a legitimidade ao conhecimento histórico e possibilitará um
melhor entendimento dos fatos e o uso do documento em sala facilita a compreensão
por parte dos alunos.
- 182 -
As resposta dos professores, no estudo definitivo, sobre a importância do
documento histórico
(Quadro 29), apontam para duas idéias centrais: a primeira,
fortemente presente, entende ser o uso do documento histórico um importante
pressuposto metodológico para produção de conhecimento histórico na
experiência de relação com o saber histórico. Nesta perspectiva, o uso do
documento histórico é importante para:
Ampliar a capacidade de análise, interpretação crítica e síntese, como um
facilitador do processo de produção do saber por parte do aluno;
Que o aluno compreenda, por meio dos os limites da inferência sobre o
documento, evidência do passado, a provisoriedade do conhecimento
histórico;
Possibilitar ao aluno e ao professor descobrir o passado e reconstruí-lo,
num diálogo entre passado e presente, através dos documentos, indícios
de acontecimentos passados, aproximando-os do processo de produção do
conhecimento histórico;
Permitir a construção de situações de aprendizagem em que o aluno
confronte suas representações do mundo com os documentos históricos,
fontes de novos conhecimentos e possa tecer considerações sobre o
passado;
Estabelecer empatia com o passado.
A outra idéia presente entende ser o documento histórico importante para
confirmar a pertinência do conteúdo que está sendo trabalhado, na perspectiva de
transmissão de um saber elaborado, quando ao documento é conferida a função
de:
- 183 -
Veracidade, fidedignidade, ser verossímel;
Comprovação e legitimidade do conhecimento histórico;
Exercício de leitura e interpretação de texto.
Uma resposta, da professora Q, apresenta uma idéia cética sobre o uso do
documento histórico: Explico por que não acredito no aluno que “constrói a
história”: os documentos são escolhidos por nós, professores, com um
determinado objetivo, e todo o trabalho é encaminhado para que o aluno perceba
aquilo que queremos. É induzido demais.
Como os professores, no estudo definitivo, percebem a presença da
narrativa histórica no manual didático, na produção do aluno e no currículo é o
que apresenta o
Quadro 30 (questão 14 do anexo II).
Quadro 30 – Presença da narrativa histórica no manual didático, na produção do
aluno e no currículo, na ótica do professor
Profes-
sor
Narrativa no manual
didático
Narrativa na produção do
aluno
Narrativa no currículo
D Nos manuais didáticos, a
narrativa única é a mais
presente...,
observamos que a proposta
curricular de Educação
Histórica, através dos
trabalhos realizados pelos
professores do grupo, vêm
considerando a vivência dos
alunos, compreendendo este
sujeito como parte do
processo ensino-
aprendizagem.
No currículo,
observamos a proposta
de rompimento com a
narrativa histórica
única, apontando para a
possibilidade da
construção de narrativa
própria pelo aluno.
E A narrativa vem pronta,
seguindo uma seqüência
de fatos, considerando que
os mesmos são aqueles
citados ali, sem
possibilidade de mudança.
Existe uma única versão.
A narrativa vem com a opinião
do aluno, podendo contrapor
outros documentos com o que
já conhecia sobre o assunto.
Tem a proposta de
romper com a narrativa
pronta e acabada,
podendo oferecer ao
aluno várias
possibilidades de
construção de sua
própria narrativa.
- 184 -
Quadro 30 – Presença da narrativa histórica no manual didático, na produção do
aluno e no currículo, na ótica do professor (continuação)
Profes-
sor
Narrativa no manual
didático
Narrativa na produção do aluno Narrativa no
currículo
F - - -
G Muitas vezes a narrativa
histórica se dá como
verdade absoluta, sem
recorrência histórica, com
relações frágeis. Mas é
importante ser utilizada
em classe a partir desse
olhar crítico, entendendo
que ela é uma construção
a partir dos elementos
que o autor utilizou, não
pode ser trabalhada como
narrativa pronta.
A narrativa do aluno deve ser
valorizada. É necessário que o
professor, a partir dos
conhecimentos prévios dos
alunos e do trabalho com
diferentes documentos históricos
(que apresentem discursos e
representações diversas sobre o
tema) possibilite ao aluno a
construção de sua narrativa,
interferindo no sentido de
questioná-lo sobre seus
argumentos também, fazendo da
sua narrativa um documento
histórico.
A narrativa histórica é
uma metodologia de
trabalho no sentido de
explorar as narrativas
históricas construídas
e construir novas
narrativas a partir dos
estudos e da
recorrência histórica.
Desse modo ela deve
estar presente no
currículo, sendo
entendida como o
olhar do historiador
(ou do aluno que a
produz) sobre a
temática estudada.
H Considero o manual um
atraso de vida...
A produção do aluno é mais
resultado do encanto do professor
do que de sua metodologia, ou do
manual utilizado.
-
I No manual que adotamos
é tradicional e linear como
no currículo.
Na produção do aluno depende
da interferência do professor.
No manual que
adotamos é tradicional
e linear como no
currículo.
J A narrativa presente no
livro é importante pois o
manual se constitui
muitas vezes o único
material disponível,
porém, esta é uma
narrativa pronta e se o
professor não souber
intervir, esta pode ser
distante da vivência dos
alunos.
A narrativa do aluno expressa a
compreensão que o mesmo tem
do passado, o estudante nesta
fase já demonstra um processo
de compreensão histórica. Esta
produção ou narrativa também
pode ser feita por crianças.
-
K Um recurso de linguagem
que enriquece o material
didático, estruturando-o
na linha da narrativa.
Importante e necessário no
desenvolvimento de habilidades,
como escrita e oralidade. Deve o
educando a exercitar, pois a
narrativa pode se basear em fatos
concretos e fictícios.
Não tenho opinião
formada quanto ao
currículo.
- 185 -
Quadro 30 – Presença da narrativa histórica no manual didático, na produção do
aluno e no currículo, na ótica do professor (continuação)
Profes-
sor
Narrativa no manual
didático
Narrativa na produção do
aluno
Narrativa no currículo
L A narrativa do manual e do
currículo é pronta e por si
só não permite que no
processo de (ensino)
aprendizagem o aluno
aprenda a construir sua
própria narrativa, pois a
mesma se dá em contexto
alheio ao do aluno.
A narrativa do manual e do
currículo é pronta e por si só
não permite que no processo
de (ensino) aprendizagem o
aluno aprenda a construir sua
própria narrativa, pois a
mesma se dá em contexto
alheio ao do aluno.
A narrativa do manual e
do currículo é pronta e
por si só não permite
que no processo de
(ensino) aprendizagem
o aluno aprenda a
construir sua própria
narrativa...
M - - -
N O livro adotado na grande
maioria das escolas do
município contêm uma
narrativa parcial,
tendenciosa e linear.
Vai depender da forma como
cada professor vai trabalhar
cada conteúdo, a utilização de
documentos históricos e
suportes pedagógicos, tudo
isto proporcionará uma
qualidade na produção final do
aluno.
A forma como está
organizada a proposta
curricular de Araucária
permite a construção de
uma narrativa histórica.
O Entendo como algo pronto
que não leva o aluno a
reflexão.
Possibilita ao aluno o
aprendizado da construção da
sua própria narrativa, criando-
se assim uma maior
consciência crítica.
Necessário para um
maior entendimento de
qual narrativa deverá
ser trabalhada.
P - - -
Q Considero muito importante
a presença da narrativa
histórica nas três esferas
apresentadas. É claro que
alguns, a maioria dos
manuais apresenta apenas
a narrativa histórica
fechada.
Mas fico muito feliz quando
leio narrativas dos meus
alunos, textos em que
explicam algum evento
histórico, fico feliz quando
percebo a compreensão
expressa em textos próprios.
Afinal, a história é uma
narrativa.
-
R Dependendo do livro
didático a narrativa é
bastante erudita
dificultando a compreensão
por parte dos alunos que
não conseguem
acompanhar o raciocínio do
autor.
Os alunos encontram bastante
dificuldade para produzirem
narrativas, fato que se deve a
questão da escrita e
interpretação. Nossos alunos
produzem poucas narrativas.
-
- 186 -
Analisando o conjunto das respostas dos professores, apresentadas no
Quadro 30, nas páginas anteriores, surgem os seguintes elementos:
No manual didático a narrativa histórica:
Aparece como narrativa única, seqüencial, pronta, linear, tradicional,
parcial, fechada, erudita e até tendenciosa;
É a única narrativa a que os alunos têm acesso;
Não permite que no processo de ensino-aprendizagem o aluno aprenda a
construir sua própria narrativa;
Necessita de intervenção do professor com um olhar crítico para ser
utilizada em classe, entendendo que ela é uma construção a partir dos
elementos que o autor utilizou, não pode ser trabalhada como narrativa
pronta.
Na produção do aluno a narrativa histórica:
Têm vários graus de elaboração, dependendo da intervenção pedagógica,
da série em que o aluno se encontra e do domínio da escrita e
interpretação;
Deve ser valorizada, incentivada pelo professor, a partir dos conhecimentos
prévios dos alunos e do trabalho com diferentes documentos históricos
possibilite ao aluno a construção de sua narrativa, interferindo no sentido
de questioná-lo sobre seus argumentos também, fazendo da sua narrativa
um documento histórico.
Expressa a compreensão que o aluno das várias séries têm do passado;
- 187 -
No currículo a narrativa histórica:
Permite a construção de uma narrativa histórica devido a forma como está
organizada a proposta curricular de Araucária.
Propõe o rompimento com a narrativa histórica única, apontando para a
possibilidade da construção de narrativa própria pelo aluno.
Aparece como narrativa pronta, tradicional e linear.
Esta última percepção dos professores, qual seja, de que no currículo a
narrativa aparece como pronta, tradicional e linear, contrasta com a idéia de
narrativa presente nas Diretrizes Curriculares de História de 2004:
Para romper com a narrativa pronta, tanto do texto do livro didático, quanto
a elaborada no acúmulo histórico/prático do professor, e permitir que o
aluno aprenda e construa uma narrativa própria, como o passado
percebido aqui e agora, o trabalho com documentos e fontes históricas é
um dos encaminhamentos metodológicos importantes (...) Uma
metodologia que utiliza diversas formas de documentos e valoriza opiniões
contrárias, dando ênfase às vozes de vários grupos terá grandes chances
de tornar nosso aluno um produtor de narrativas.
Conforme já constatado no estudo piloto, é uma idéia que aparece no
currículo de 2004 pela primeira vez, sobre a qual parte dos professores têm
clareza e outros não.
Como os professores que participaram do estudo definitivo definem a
narrativa histórica é apresentado pelo Quadro 31 (questão 15 do anexo II), na
próxima página:
- 188 -
Quadro 31 – Definição de narrativa histórica
Professor Definição de narrativa histórica
D Constitui-se em uma produção embasada em pesquisa, investigação e troca de
experiências e vivências de natureza humana e histórica.
E Com base em documentos, relatos e outros, pode-se construir uma narrativa onde
também seja considerado as vivências da pessoa que esteja escrevendo ou
produzindo essa narrativa.
F É a tentativa de descrever o fato (acontecimento) baseado em opiniões,
testemunhos, documentos e interesses políticos, sociais e econômicos vigentes.
G É o olhar do historiador sobre o saber histórico. É uma interpretação construída a
partir dos documentos.
I É o relato de acontecimentos históricos no tempo e espaço, apresentando diversas
versões e pontos de vista, pois o fato acontece, é contado por alguém
contemporâneo, é escutado ou lido por alguém depois do acontecido, tem a visão
do historiador, do manual, do professor e do aluno.
J É o narrar a História. No que diz respeito ao aluno, a narrativa é a produção escrita
do aluno sobre a História.
K Entendo que é uma modalidade textual, uma maneira diferente de escrever e
encarar a disciplina, com ênfase na narrativa.
L A narrativa histórica presente nos manuais didáticos não permite que o aluno
deduza, especule, questione, pondere sobre as situações vivenciadas no seu dia-a-
dia, na sua história de vida. Que, frente as evidências históricas, aprenda a fazer
perguntas e respondê-las.
M É a explicação dos fatos ocorridos ao longo da História, fundamentada em fontes
(documentos).
N É a produção do saber aprendido na relação com o passado.
O É algo que vai além de repetir o que está escrito nos livros didáticos, jornais e
outros. É ser capaz de construir inferências, deduções, levantamento de hipóteses e
acima de tudo ser capaz de explicá-las.
P É contar, descrever ou explicar uma situação, uma época, uma realidade ou
interpretação da história.
Q Narrativa histórica é o texto. É o resultado do trabalho do historiador, contar a
história, conforme seus objetivos e questionamentos realizados a partir de
determinadas teorias. Há intenso debate acerca da cientificidade da história, ou do
seu caráter meramente literário. Eu, pessoalmente, gosto muito do caráter literário
da história, admiro alguns historiadores pelo seu estilo. Portanto, é claro que não
acredito na verdade histórica, ou qualquer coisa relacionada a isso.
R Narrar um fato histórico de forma coerente que contemple todos os aspectos
relevantes para a sua compreensão, ou seja, aspecto temporal, causas, processo e
conseqüências.
- 189 -
A análise das respostas do Quadro 31, na página anterior, permite apontar
para a idéia de narrativa histórica como:
Texto, resultado do trabalho do historiador, contar a história, conforme seus
objetivos e questionamentos realizados a partir de determinadas teorias.
Olhar interpretativo do historiador sobre o saber histórico, construído a
partir dos documentos.
É o relato, na visão do historiador, do manual, do professor e do aluno, de
acontecimentos históricos no tempo e espaço, apresentando diversas
versões e pontos de vista.
Produção embasada em pesquisa, investigação, documentos e troca de
experiências e vivências de natureza humana e histórica.
No que diz respeito ao aluno, a narrativa é a produção escrita do aluno
sobre a História.
É a capacidade de construir inferências, deduções, levantamento de
hipóteses e acima de tudo ser capaz de explicá-las.
É a produção do saber aprendido na relação com o passado.
Estas definições de narrativa histórica, quando consideram a experiência e
a vivência humana, a capacidade de inferência e deduções sobre os documentos,
a produção escrita sobre a História, do saber aprendido na relação com o
passado, apontam para uma idéia de narrativa como um ato de lembrança, de dar
significado para a existência no tempo, e, pela memória, unir as experiências do
passado com as expectativas de futuro, realizando a função prática de orientar
- 190 -
uma pessoa no presente, em relação ao tempo, dando significado à existência
(RÜSEN: 1993), perspectiva que persegue a Educação Histórica.
É uma narrativa fundamentada na racionalização das experiências
passadas, com base nas evidências trazidas pela memória e pelos documentos, e
não ficcional, que ocorre na vida real das pessoas e se apresenta como
necessidade real para orientação no presente, contrastando com a afirmação da
professora Q, de que há um
intenso debate acerca da cientificidade da história, ou
do seu caráter meramente literário.
4.2.3. Categorização das idéias históricas dos professores do “Grupo Araucária”
Para categorizar as idéias históricas manifestas pelos professores do
“Grupo Araucária”, tomou-se o conceito de consciência histórica, tendo-se como
referência os estudos de RÜSEN (1992) sobre as competências narrativas
(experiência, interpretação e orientação) e os tipos de consciência histórica que
desenvolveu: tradicional, exemplar, crítica e genética, que converge com a
perspectiva thompsiana de repercussão da experiência na consciência.
Para Rüsen (1992, pp. 28-29) a aprendizagem da história pode ser
explicada como uma mudança estrutural na consciência histórica. A consciência
histórica, para ele, funciona como um modo específico de orientação em
situações reais da vida presente, ajuda a compreender a experiência passada
para compreender a realidade e os movimentos de mudança do presente sob as
perspectivas de futuro, para as quais estas mudanças apontam, dando à vida
prática diária, uma marca e uma matriz temporal.
- 191 -
Segundo o autor, a mudança estrutural da consciência histórica manifesta-
se pelo desenvolvimento de suas
competências narrativas: a competência da
experiência, de interpretação e de orientação. A competência da experiência se
caracteriza pelo desenvolvimento da sensibilidade histórica, como habilidade em
resgatar a qualidade e a importância das experiências passadas, diferenciando-as
da experiência do presente. A
competência de interpretação se caracteriza pela
habilidade de diferenciar os tempos passado, presente e futuro, suas dimensões e
mudanças, sem perder a perspectiva de totalidade da temporalidade. A
competência da orientação se caracteriza pela habilidade em utilizar o conteúdo
da experiência e da interpretação para guiar as ações na vida presente,
articulando a identidade humana com o conhecimento histórico numa realidade de
mudança temporal (RÜSEN: 1992, p 30).
Se mudança estrutural na consciência histórica, tipos de consciência
histórica entre as quais o sujeito se movimenta ou não, em processos de
mudança que podem ter motivações externas e/ou internas. Rüsen (1992, pp. 30-
33) desenvolveu a seguinte tipologia de consciência histórica: tradicional,
exemplar, critica e genética.
Rüsen (1992, p. 34) desenvolveu sua tipologia com base em argumentos
teóricos e aponta para a necessidade de confrontá-las com evidências empíricas,
por isso neste trabalho serão intercaladas as definições do autor com idéias
históricas expressas pelos professores do “Grupo Araucária” que apresentam
elementos que permitem categorizá-las nas tipologias de Rüsen.
A consciência histórica do tipo tradicional, segundo Rüsen (1992, pp. 30-
31), se orienta pela continuidade obrigatória dos modelos de vida e culturais do
- 192 -
passado, mesmo diante de mudanças temporais. Significa a história como um
processo de permanência de modelos culturais e de vida, o que muda é apenas o
tempo. Essa permanência é justificada por uma razão moral e valorativa estática,
pré-acordada no passado e válida para todos e por todos os tempos.
A análise das idéias históricas expressa pelos professores, permitiu
selecionar algumas com elementos que levam a categorizá-las como sendo de
consciência histórica do tipo tradicional.
Da professora F foram selecionadas duas idéias com elementos da
consciência histórica do tipo tradicional. Ao justificar o motivo da não seleção da
temática família como eixo ela pondera que os professores não têm preparo
emocional e psicológico para trabalhar com um tema que causa polêmica e gera
preconceito.
Ainda, ao justificar sua rejeição à organização dos conteúdos em
eixos temáticos, a professora F afirma que a organização desta forma dificulta a
organização de tempo para o aluno, que fica dependente da organização do
professor. E também pode ocorrer uma organização tendenciosa conforme
interesses.
Da professora R foram selecionadas duas idéias com elementos da
consciência histórica do tipo tradicional. A primeira ao defender a manutenção da
forma tradicional de organização dos conteúdos:
A realidade em sala de aula e os livros didáticos disponíveis dificultam o
trabalho em eixos temáticos, prefiro a forma tradicional, os eixos
possibilitam muito a divagação e no final o que prevalece realmente são os
conteúdos tradicionais, logicamente que estes conteúdos devem ser
trabalhados de forma diversificada (Professora R).
A segunda ao afirmar que o documento histórico é importante ao legitimar
o conhecimento histórico e propiciar melhor entendimento dos fatos:
- 193 -
Tal fato precisa de um documento que o comprove, sendo assim, o
documento histórico é que dará a legitimidade ao conhecimento histórico e
possibilitará um melhor entendimento dos fatos e o uso do documento em
sala facilita a compreensão por parte dos alunos (Professora R).
Do professor K foi selecionada uma idéia com elementos da consciência
histórica do tipo tradicional quando afirma que o documento histórico
confere ao
ensino de História mais veracidade e fidedignidade, construindo o conhecimento
respaldado em algo concreto.
Do professor M foram selecionadas duas idéias com elementos da
consciência histórica do tipo tradicional. Uma ao ponderar que o
documento
histórico é de fundamental importância que é processado, elaborado a partir do
fato concreto. É preciso levar em consideração a fonte e em que circunstâncias
ele foi escrito para que seja próximo do verossímel. Outra ao considerar muito
importante o processo histórico, que permite compreender como os fatos
aconteceram ao longo do tempo e ao considerar a narrativa explicação dos fatos
ocorridos ao longo da História, fundamentada em fontes (documentos)
.
A
consciência histórica do tipo exemplar, para Rüsen (1992, p.31), se
orienta pelas lições ensinadas pelos acontecimentos do passado. A história é
traduzida por estes acontecimentos exemplares, dos quais se derivam regras e
modelos atemporais que podem ser aplicados a situações presentes de forma
generalizada. Neste caso, a moral e os valores também são atemporais.
A análise das idéias históricas expressa pelos professores, permitiu
selecionar algumas com características que levaram a caracterizá-las como sendo
de consciência histórica do tipo exemplar.
- 194 -
Do professor B foi selecionada uma idéia com elementos da consciência
histórica do tipo exemplar sobre o conceito de democracia ao apontar a temática
do poder como sendo fundamental ser trabalhado em história
, pois construirá a
consciência histórica no aluno, e assim possibilitará um cidadão que queira uma
sociedade democrática.
Dos professores C, E, K, N, O e P foram selecionadas idéias com
elementos da consciência histórica do tipo exemplar ao se referirem ao “Grupo
Araucária”:
O grupo é especial Quando ouvi falar dele e da forma como funcionava,
o trabalho desenvolvido em sala, fiquei muito assustada, mas ao mesmo
tempo curiosa para saber como funcionava na prática. E foi uma surpresa
maravilhosa, quando de repente me senti fazendo parte integrante dele. A
reunião é muito importante, porque todo mês nos alimentamos de novos
desafios, e o apoio dos colegas tem sido fundamental (Professora C).
Sempre respeitei o grupo de História de Araucária, quando iniciei no grupo
parecia que não iria dar conta de participar das discussões, mas todos os
colegas passaram muita confiança. Após participar de vários encontros,
posso dizer que “to” em casa! O grupo de História de Araucária é uma
referência positiva para a Educação (Professora C).
O grupo de História é capaz, com experiência e preparo teórico e prático.
Estão envolvidos com trocas de experiência que os capacitam no
processo. Minha participação tem sido regular, com uma intensidade que
poderia ser melhor. Me envolvo com atividades na escola e nem sempre
estou com o grupo (Professor K).
Desde meu ingresso em 1992 no magistério municipal, participo, a
despeito da parcimônia oral. Considero um grupo inovador, corajoso e,
especialmente, disposto a reparar erros cometidos nas várias tentativas de
inovação (Professora N).
Considero o grupo de história, um grupo extremamente participativo e
crítico. Sempre que possível participei ativamente, inclusive coordenando o
grupo no ano de 1993 e 94 (Professora O).
O grupo é um espaço de formação continuada e de convivência. Desde
meu ingresso no magistério de Araucária procuro ser assíduo às reuniões
- 195 -
e cursos. Nos primeiros anos sentia-me especialmente motivado a
comparecer aos eventos do grupo a fim de me integrar ao pensamento e
às práticas dos professores “mais antigos”, e daqueles que como eu
estavam começando (Professor P).
Dos professores E, K e O também foram selecionadas idéias que contêm
elementos da consciência histórica do tipo exemplar ao tecerem considerações
sobre família como eixo temático:
Famílias: me identifico muito com esse item, pois consigo desenvolver uma
aula com muita facilidade, já que posso aproveitar um assunto rico e amplo
com os alunos (Professora E).
Talvez “famílias”, pois embora uma instituição importante para
compreendermos o funcionamento das sociedades, até mesmo
determinando padrões de pensamento e comportamento, é um tema que
poderia ser melhor trabalhado pela Filosofia e Sociologia (Professor K).
A família constitui a primeira memória coletiva do indivíduo, sendo assim é
responsável por conservar elementos que são essenciais para a vida em
comunidade, mesmo sabendo que as transformações ocorrem nos
diferentes tempos e espaços ela é responsável por muitas permanências
na história do sujeito. È através das mudanças e permanências ocorridas
na família que poderemos entender alguns fatores da nossa história atual
(Professora O).
Do professor P ainda foi selecionada uma idéia com elementos da
consciência histórica do tipo exemplar ao se referir aos movimentos sociais como
exemplares para a criação, difusão e manutenção de valores.
Movimentos sociais: destes e de suas variadas formas de organização
podem ser criados e difundidos novos valores, novas relações de trabalho,
novas relações familiares, convivências cotidianas. Neles também podem
ser reforçados valores e relações que se quer conservar (Professor P).
A consciência histórica do tipo crítico se orienta pela problematização do
passado, segundo Rüsen (1992, pp. 31-32). Essa problematização pode ir da
negação à construção de uma contra-narrativa sobre o passado, em que a história
- 196 -
passa a ser uma ferramenta para destruição, rompimento e negação da validade
do passado e das totalidades temporais, tornando-as uma orientação negativa
para o presente. A razão moral estática e exemplar é desafiada, e os valores
relativizados como construções culturais.
Ao analisar as idéias expressadas pelos professores extraiu-se algumas
com elementos que permitem categorizá-las como sendo da consciência histórica
do tipo crítico.
A maior parte das idéias selecionadas, dos professores F, I, M e Q,
referem-se com elementos da consciência histórica do tipo crítico ao “Grupo
Araucária”, quanto a sua organização, condução, incapacidade de aglutinar e
motivar a participação dos professores.
Não tenho participado das discussões do grupo. Não concordo com a
organização e condução dos encontros do grupo. Acredito que a
coordenação deve ser dirigida e orientada por representante do grupo e
não (por outros) interesses (Professora F).
O grupo infelizmente é a minoria, seria importantíssimo que mais
professores de História participassem para que houvesse unidade real na
proposta. Meu relacionamento como os que participam é muito bom, tenho
aprendido bastante com o pessoal e com as leituras propostas pela
orientadora (Professora I).
O grupo de professores de História de Araucária, embora minúsculo, é um
grupo coeso ainda, pois está trilhando um caminho que a meu ver não
contribui o suficiente para tornar o grupo mais participante e ampliar a
participação dos professores (Professor M).
Considero o grupo disperso. Os poucos professores que conheço, que
freqüentam as reuniões, considero-os muito esforçados em seguir as
orientações. Mas percebo uma certa acomodação no sentido de
participação das discussões, de dar opiniões (Professora Q).
- 197 -
Da professora C, foi selecionada uma idéia com elementos da consciência
histórica do tipo crítico em relação ao eixo temático poder quando restrito ao
poder da elite.
O Poder quando vem demonstrado como poder político, poder
econômico, ressaltando uma pequena elite, desprezando o poder da
cultura, do conhecimento, da criação e da evolução humana. Esse poder
limitado a algumas pessoas eu deixaria de lado (Professora C).
Da professora Q, também foi selecionada uma idéia com elementos da
consciência histórica do tipo crítico que questiona o cunho esquerdista de parte
dos eixos temáticos.
Nenhum, todos são importantes. A única objeção que eu faria a alguns deles é a
da repetição, da extrema importância dada durante muito tempo, e ao cunho
ideológico esquerdista que se põe demais nas questões econômicas, políticas e
de movimentos sociais. Mas não os excluiria de maneira alguma, amenizaria
(Professora Q).
A consciência histórica do tipo genético, para Rüsen (1992, pp. 32-33), se
orienta pela sensibilidade de que os tempos mudam, são dinâmicos, e as
mudanças passam a ser a essência da história. O futuro passa a ter maior
importância sobre o presente que o passado. Diversos pontos de vista podem ser
aceitos porque se integram numa perspectiva de mudança, os valores morais se
temporalizam, deixam de ser estáticos e sua validação depende de
argumentações relacionadas às mudanças temporais, estabelecidas num
processo de diálogo para superar as diferenças.
A análise das idéias expressadas pelos professores permitiu selecionar
algumas com elementos que levaram a categorizá-las como sendo da consciência
histórica do tipo genético.
- 198 -
Da professora A foram selecionadas duas idéias com elementos que
permitiram categorizá-las como sendo da consciência histórica do tipo genético:
uma sobre as relações temporais, ressaltando-se as idéias de historicidade e
mudanças; outra sobre a importância do documento histórico como subsídio para
compreender as várias possibilidades de interpretações sobre o passado.
Para mim são as relações presente e passado, envolvidas nas noções de
permanências e mudanças. Pois acredito que elas contribuem para o
desenvolvimento da consciência histórica, na medida em que o aluno
desperta para a historicidade do humano. Ou seja, o trabalho com essa
relação das permanências e mudanças no ensino de história mostra que
os processos humanos não existem naturalmente, são construídos, são
organizados intencionalmente. Dessa maneira é possível existir mudança,
é possível projetar o futuro, situar-se no presente como indica Rüsen
(Professora A).
A importância do documento histórico está na idéia de que é preciso que o
aluno se envolva a pensar e considerar “o fazer histórico”. Pois dessa
maneira o aluno terá mais subsídios para entender como o historiador não
é dono da verdade, mas trabalhou com evidencias e inferências para
chegar a algumas conclusões. E ainda, terá possibilidades de generalizar
esse procedimento para outras áreas da sua vida, tornando-se menos
“crente” nos discursos que ouve, seja de propagandas publicitárias, de
políticos, de editores e outros (Professora A).
A idéia: eu ainda não me habituei 100% com o uso dos eixos temáticos,
pois foram muitos anos trabalhando a linearidade da História. Mas quando
percebo que estou na antiga rotina tento recomeçar o desafio. houve um bom
avanço na busca da mudança, expressada pela professora C, foi selecionada
como sendo de consciência histórica genética por compreender a idéia de
consciência de mudança. A relação da professora C com a mudança, também
pode ser constatada por expressar idéias com elementos que transitam pelas
idéias de consciência exemplar, crítica e genética.
- 199 -
Da professora D foram selecionadas três idéias com elementos que
permitiram categorizá-las como sendo da consciência histórica do tipo genético: a
primeira idéia se refere à constatação da complexidade que o “grupo” vem
tomando; a segunda idéia é sobre o eixo temático família como espaço de
pluralidade de memórias e relação da vivência com os documentos históricos; a
terceira é a idéia da natureza provisória do conhecimento histórico.
O grupo de professores de História de Araucária pode ser definido como
um grupo de professores investigadores e que investigam porquê ensinam.
A metodologia do trabalho é envolvente e desacomoda qualquer um.
Minha freqüência tem sido constante e a cada encontro alimento e renovo
conceitos a respeito da Educação Histórica (Professora D).
Famílias: permite um trabalho com a pluralidade de memórias e inter-
relação com outras temáticas. Desperta empatia entre os alunos, pois as
questões trazidas pelos documentos históricos podem ser relacionadas
com as suas vivências (Professora D).
Ampliação da capacidade de análise, interpretação crítica e síntese por
parte dos alunos, fazendo-os compreender que o conhecimento histórico é
por natureza provisório e discutível (professora D).
Da professora G foram selecionadas as idéias da necessidade de um
método para dar conta da complexidade do conhecimento histórico, da
necessidade do domínio das várias dimensões da temporalidade e da
necessidade do uso do documento histórico para compreensão desse
conhecimento, como idéias com elementos que permitiram categorizá-las como
sendo da consciência histórica do tipo genético.
Todos (eixos temáticos) têm uma importância na construção da
consciência histórica do aluno. Depende muito da forma, da metodologia
utilizada para trabalhar cada temática. A importância de dar “ouvidos” aos
diferentes discursos e utilizar diferentes documentos históricos para a
construção da narrativa própria do aluno é fundamental, mais do que a
temática selecionada (Professora G).
- 200 -
A compreensão do processo histórico de uma temática estudada remete a
possibilidade da recorrência histórica que implica no domínio da
cronologia. Por exemplo, a partir do estudo de uma temática como a
“democracia”: é necessário pesquisar o que o aluno entende sobre o tema,
trabalhar com ele o processo de construção na história do conceito de
democracia (seu significado em diferentes épocas históricas suas
permanências/mudanças, semelhanças/diferenças). A partir desses
estudos, torna-se possível a recorrência histórica no sentido de ajudar o
aluno a pensar historicamente e adquirir uma consciência histórica do
conceito de democracia. Nesse sentido a compreensão da cronologia
torna-se um instrumento para a recorrência histórica que se fez necessária
(Professora G).
O uso do documento histórico possibilita ao aluno a compreensão de como
a história é construída, possibilita a ele aprender história sendo alguém
que pergunta, que formula hipóteses e teorias a partir do documento. Faz
com que o aluno se perceba também como construtor da História. Todavia,
o documento histórico deve ser utilizado pelo professor como uma fonte
histórica possível de questionamentos e não como uma “verdade
absoluta”. Assim, a forma como o documento é utilizado em sala de aula é
mais importante do que o próprio documento (ele é uma representação)
(Professora G).
Da professora I foi selecionada a idéia do uso do documento histórico como
meio para reconstruir o passado num diálogo com o presente, com elementos que
permitem categorizá-la como sendo da consciência histórica genética.
Muito importante, pois através do uso do documento histórico o aluno pode
descobrir o passado e reconstruí-lo, num diálogo entre passado e
presente, sem, contudo, acreditar que os conhecimentos postos estão
prontos e acabados e que os documentos são indícios de acontecimentos
passados e não o passado (Professora I).
Da professora J foram selecionadas as idéias sobre o “grupo” que
proporciona experiências que provocam mudanças, sobre os eixos temáticos,
cotidiano e família, como referenciais para despertar interesse sobre o passado, e
de documento histórico como indícios sobre o passado, com elementos que
permitem categorizá-la como sendo da consciência histórica genética.
Minha relação com o grupo é ótima, sempre que possível procuro estar
presente nos encontros. Nos assessoramentos com o grupo de História
- 201 -
encontrei um modo diferente de aprender do que nos assessoramentos de
outras disciplinas, pois os encontros com o grupo privilegiam a pesquisa e
esta por sua vez influencia em minhas experiências como professora, pois
na maioria das vezes o que se encontra em outros cursos é o mero
repasse de informações (Professora J).
Cotidiano e Famílias: escolhi esses dois temas porque eles são
fundamentais para se trabalhar História com as crianças. Partir do
cotidiano é fundamental para que os alunos se interessem pelo passado.
Já a família é o primeiro referencial da criança (Professora J).
Acredito que a utilização do documento histórico torna a aula mais
interessante, pois faz com que o aluno entre em contato com um material
diferenciado e não apenas a exposição do professor. Os documentos
históricos fornecem indícios sobre o passado, então o aluno pode tecer
suas próprias considerações sobre o passado e compreender um pouco
como é o trabalho de um historiador (Professora J).
Do professor L foram selecionadas as idéias sobre as dimensões da
temporalidade e sobre o uso do documento histórico para criação de situações de
aprendizagem com elementos que permitem categorizá-la como sendo da
consciência histórica do tipo genético.
A categoria histórica da mudança/permanência permite recuperar a função
crítica do ensino de História, relativisando a factualidade. Permite ainda, a
compreensão do aluno sobre a natureza social e individual do ser humano,
na sua dinâmica relacional, capaz de ampliar: a análise, a interpretação
crítica, síntese, juízo de valor sobre as fontes de informação (Professor L).
Permite a construção de situações de aprendizagem em que o aluno
confronta suas representações do mundo com os documentos históricos,
fontes de novos conhecimentos (Professor L).
Do professor P, foi selecionada uma idéia com elementos que permitem
categorizá-la como sendo da consciência histórica do tipo genético ao tecer
comentários em relação ao uso do documento histórico
O uso do documento em sala de aula é importante em alguns aspectos:
serve para problematizar alguma situação, mas pode ser útil mesmo
quando apenas ilustra uma descrição histórica. “Acho”, no entanto, que
- 202 -
para compreender determinado documento são necessárias outras
informações que o tornem compreensível. Basta procurar no livro didático
que encontraremos reproduções de algumas imagens que sem
informações complementares não para entender. Outra importância é
possibilitar alguma aproximação do aluno e do professor com o processo
de produção do conhecimento histórico (Professor P).
Da professora R foi selecionada uma idéia que evidencia um processo de
mudança ao expressar a idéia de que o “grupo” está proporcionando mudanças,
elementos que permitem categorizá-la como sendo da consciência histórica do
tipo genético.
No que se refere ao grupo de História estou aos poucos me relacionando
com os participantes e com suas atividades. (...) Um grupo bastante
dinâmico onde estou aprendendo muito, principalmente no que se refere a
novas metodologias, participo freqüentemente dos encontros e estou
participando das discussões e dos projetos (Professora R).
Para Rüsen (1992, pp. 33-34) existe uma crescente complexidade entre as
consciências históricas tradicional, exemplar, crítica e genética, sendo necessário
o desenvolvimento de uma crescente capacidade humana para ordená-las e de
uma ordem lógica de pré-condições, como uma ampliação das experiências e
conhecimentos do passado para mover-se de um tipo de consciência para outro.
Segundo o autor, também um crescimento na complexidade de significar a
história, como por exemplo: na consciência histórica do tipo tradicional não existe
diferença relevante entre o fato e seu significado. Na forma exemplar existe entre
o fato e o significado do fato uma divergência. No tipo crítico o significado dos
fatos muda durante a história. A compreensão da complexidade das mudanças de
significado dos fatos é central na consciência histórica do tipo genético. O mesmo
crescimento de complexidade ocorre nos graus de abstração, operações lógicas,
orientação interna e externa e identidade histórica.
- 203 -
Quadro 32 – Professores e as idéias de consciência histórica categorizadas
Profes-
sor
Idéias
Tradicionais
Idéias
Exemplares
Idéias
Críticas
Idéias
Genéticas
Não teve idéia
categorizada
A 2
B 1
C 1 1 1
D 3
E 2
F 2 1
G 3
H X
I 1 1
J 3
K 1 2
L 2
M 3 1
N 1
O 2
P 2 1
Q 2
R 2 1
Total 8 11 6 17 1
O Quadro 32, apresenta a tabulação das idéias selecionadas a partir dos
elementos que permitiram categorizá-las na tipologia de consciência histórica de
Rüsen (1992) por professor. A análise feita permitiu selecionar oito idéias de
- 204 -
quatro professores com elementos que levaram a categorizá-las como
tradicionais. Onze idéias de sete professores com elementos que levaram a
categorizá-las como exemplares. Seis idéias de cinco professores com elementos
que levaram a categorizá-las como críticas. E dezessete idéias de nove
professores com elementos que levaram a categorizá-las como genéticas. Um
professor que não teve idéia de consciência histórica categorizada.
É importante notar que idéias expressas por um mesmo professor(a)
apresentaram elementos que possibilitaram categorizá-las em vários tipos de
consciência histórica, evidenciando a possibilidade de trânsito em mais de um tipo
de consciência histórica (C, F, I, K, M, P e R), o que pode esta evidenciando um
processo em curso de mudança estrutural na consciência histórica dos mesmos,
demonstrada pelas mudanças expressas pela competência narrativa.
A constatação de uma presença maior de expressão de idéias de
consciência histórica do tipo genético, pelos professores do “Grupo”, nas idéias
selecionadas, pode ser um indicativo da manifestação na consciência de
mudanças, alicerçadas por um percurso em que os professores estão tomando
posse dos processos de produção do conhecimento na ciência com que
trabalham, produzindo conhecimento, publicando os resultados e sendo
reconhecidos como produtores de conhecimento. Percurso possível devido às
condições efetivas de trabalho conquistadas e mantidas para que pudessem se
dedicar às pesquisas, investigar a natureza do conhecimento com que trabalham
e apresentar os resultados de seus trabalhos em eventos científicos.
A investigação da presença das idéias históricas substantivas e de segunda
ordem nas produções curriculares permitiu elaborar um instrumento de
- 205 -
investigação para avaliar a relação que os professores estabelecem com essas
idéias e constatar que, quanto à organização dos conteúdos curriculares por eixos
temáticos está presente a tensão entre o tradicional, o inovador e a questão do
rompimento com a temporalidade linear. Outra tensão constatada é em relação ao
livro didático, que, segundo os professores, dificultaria o trabalho na perspectiva
dos eixos temáticos. Há os professores que ainda não sentem segurança em
trabalhar nesta perspectiva e outros que têm uma opção clara pelo trabalho na
perspectiva tradicional.
No entanto, para boa parte dos professores, o trabalho com a organização
dos conteúdos por eixos temáticos, permite tomar o aluno e sua relação com o
saber histórico como referência, a partir de sua memória familiar, seus modos de
vida, sua cultura e seus grupos sociais, que aproximam o aluno e sua realidade
dos conteúdos de História, tornando-os mais significativos. Olhando na
perspectiva do aluno, o embate entre tradicional e inovador vem sendo superado,
dando aos professores certa segurança para o trabalho com os eixos temáticos.
Ao investigar como os professores se relacionam com as idéias históricas
substantivas família, poder, trabalho, cultura, cotidiano e movimentos sociais,
aquelas que provocaram um material mais farto e provocativo, até mesmo por
terem sido de maior ressonância, foram as idéias históricas de poder e família.
A
idéia de família no currículo aparece como primeira memória coletiva em
que o indivíduo se insere, sendo a família considerada uma comunidade social
que tem sua história.
Os professores se relacionam com a idéia de Família de uma forma mais
ampla que a presente no currículo, pois é para eles uma idéia que:
- 206 -
Permite um trabalho significativo com os alunos, por ser o primeiro
referencial da criança, por ser a primeira memória coletiva do indivíduo;
Permite um trabalho com a pluralidade de memórias e estabelecer relação
com outras temáticas, uma vez que é responsável por muitas
permanências na história do sujeito;
Permite aos alunos saberem que fazem história, que seus antepassados
fizeram a história, construíram a cidade onde vivem e sofrem as
conseqüências de uma sociedade que não se apresenta justa e
democrática;
Permite ao aluno entender-se como sujeito do ensino de História, pois é um
referencial na construção da consciência histórica, ou seja, na
compreensão do passado como ferramenta para auxiliar a orientar-se no
presente, balizado pelas expectativas de futuro.
É uma idéia controversa para alguns professores que entendem ser objeto
de outras ciências e não da História, como a Filosofia, a Sociologia e a
Psicologia, ou, no máximo, uma temática a ser absorvida pela temática da
Cultura.
A idéia de Poder no currículo está presente com objetivo de fornecer ao
aluno os elementos fundamentais para ele se pensar como cidadão do seu tempo.
Os professores relacionam-se com essa idéia também de uma forma muito
mais ampla que ela aparece no currículo.
Está presente a idéia do currículo de contribuir para que o aluno possa se
pensar como um cidadão do seu tempo, compreendendo como se
organizam as diversas formas de poder na sociedade e formando para a
- 207 -
cidadania e democracia, mas com a ressalva de que se deve trabalhar num
viés interessante para os jovens.
Está presente também a idéia de poder como disputa de classes: é
necessário ter clareza das relações de poder, o jogo de interesse quer das
classes dirigentes ou das subalternas e subjugadas, sendo importante
apreender no passado as relações de mandonismo, dos mais visíveis e
impactantes aos mais capilares, para compreender o percurso da
humanidade.
Está presente ainda a idéia da relação do poder com a posse da terra e a
história de conflitos em torno de sua posse.
Está presente uma preocupação com a redução da idéia de poder ao seu
viés sectário, de elite e político, bem como uma preocupação com a
distância das idéias dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental.
A idéia de trabalho no currículo aparece como toda atividade humana
material e imaterial, aglutinador de conteúdos, tais como divisão técnica e social
do trabalho em sua abrangência espacial e temporal.
Os professores se relacionam com esta idéia como possibilidade de estudo
da conjuntura do poder por meio do entendimento histórico das relações de
produção e da sua divisão, e como atividade humana, a qual, pela prática social
historicamente construída nos diferentes tempos e espaços, os humanos se
humanizam ou desumanizam, tornam-se criadores, inclusive de cultura.
A idéia de cultura no currículo aparece como maneiras de viver, o tamanho
e a forma geral das sociedades e a natureza das classes sociais, os papéis de
gênero, os aspectos étnicos, as religiões e as crenças. Para os professores,
- 208 -
relaciona-se, também, com tudo o que significa criatividade humana na arte, na
arquitetura, na música, na dança, na língua e na literatura, bem como com
aspectos da cultura disponibilizada pela mídia e na cultura comum.
A
idéia de cotidiano no currículo aparece como espaço de realização das
generalidades e peculiaridades humanas, na perspectiva de Heller (2004, p. 17-
18), e como um dos objetos de estudo dos historiadores.
Os professores se relacionam com essa idéia na perspectiva das
contribuições para o ensino de História, por meio do estudo dos modos de vida
dos povos, para estabelecer vínculos entre os modos de vida do presente de
crianças e adolescentes e os modos de vida do passado, pela recorrência
histórica, despertando o interesse dos alunos pelo passado e trabalhando
aspectos da vida diária do aluno, inserida no cotidiano de outras crianças,
famílias, grupos e classes.
A idéia de movimentos sociais no currículo aparece para viabilizar o
estudo das relações sociais dos sujeitos entre si e com os grupos, os movimentos
sociais, tanto dentro da ordem social vigente como as formas de discordância e de
resistência ao poder estabelecido e às mudanças. Foi a idéia que menor
ressonância teve entre os professores, que se relacionam minoritariamente com a
idéia de motor da própria história e como formas de organização em que podem
ser criados e difundidos novos valores, novas relações de trabalho, novas relações
familiares, convivências cotidianas. Neles também podem ser reforçados valores e
relações que se quer conservar.
As idéias históricas de segunda ordem: temporalidade, documento e
narrativa, aparecem no currículo imbricadas, pois a idéia de relação com o tempo
- 209 -
é fundamental para a formação da consciência histórica, em que o presente e o
passado são lugar de experiência humana, e a orientação no presente depende da
capacidade de conferir significado à experiência passado à luz da expectativa de
futuro. Da capacidade de entrelaçar criticamente presente, passado e futuro,
nasce a consciência histórica, pois possibilita a dialética construção/reconstrução
da identidade. A capacidade de conferir significado às experiências do passado
está ligada à capacidade de construir narrativas sobre o passado a partir da
relação com as memórias e os documentos históricos.
Lidar com a temporalidade, com o documento e com a narrativa são formas
de relação com idéias históricas de segunda ordem que contribuem para a
formação da consciência histórica, fundamentais na perspectiva da Educação
Histórica.
Os professores se relacionam com a idéia de temporalidade de uma forma
ainda buscando um caminho, fazendo a tentativa de rompimento com a
linearidade, com respingos na cronologia, um namoro profundo com o tempo
dialético do processo, da recorrência e da sucessão histórica, surgindo indícios
de uma superação por incorporação, mas não sem a necessidade de um
aprofundamento sobre as relações temporais. Ao analisar as idéias dos
professores sobre as relações temporais elas apontam para uma confusão em
relação aos termos.
Significativo no rumo dessa superação é o exemplo construído pela
professora G para externar sua compreensão das várias relações temporais:
A compreensão do processo histórico de uma temática estudada remete a
possibilidade da recorrência histórica que implica no domínio da cronologia.
Por exemplo, a partir do estudo de uma temática como a “democracia”: é
necessário pesquisar o que o aluno entende sobre o tema, trabalhar com ele
o processo de construção na história do conceito de democracia (seu
- 210 -
significado em diferentes épocas históricas – suas permanências/mudanças,
semelhanças/diferenças). A partir desses estudos, torna-se possível a
recorrência histórica no sentido de ajudar o aluno a pensar historicamente e
adquirir uma consciência histórica do conceito de democracia. Nesse
sentido a compreensão da cronologia torna-se um instrumento para a
recorrência histórica que se fez necessária.
Neste exemplo ela sintetizou a importância de todas as relações temporais
presentes na proposta curricular de 2004, resgatando a importância de cada uma
delas, necessárias aos vários enfoques do tema, como base para a construção da
consciência histórica, como capacidade de orientar-se no tempo.
As dificuldades com a temporalidade não são ‘privilégio’ dos professores do
“Grupo Araucária”, Lautier (1997) também detectou em suas pesquisas com
professores de história franceses, abordagens diferentes, como a identificação
com a história problematizante, com a narrativa, com a cronologia e a linearidade
ou até com a reconstituição retrospectiva.
Na mesma direção, as considerações de COMPAGNONI (2006) em seu
trabalho de investigação em relação à forma como os alunos tratam a
temporalidade nas narrativas que constróem, apontam para questão em torno da
forma como eles lidam com a idéia da temporalidade e que implicação isso tem
para a construção da consciência histórica como competência para encontrar
significado entre o passado, o presente e o futuro.
Para estabelecer uma relação com o passado, que contribua para a
construção da consciência histórica é necessário produzir conhecimento sobre o
passado por meio das evidências, das memórias e dos documentos. Os
professores se relacionam com esta idéia numa perspectiva muito promissora,
uma vez que para eles o documento histórico
- 211 -
Amplia a capacidade de análise, interpretação crítica e síntese, como um
facilitador do processo de produção do saber por parte do aluno;
Permite compreender: os limites da inferência sobre o documento como
evidência do passado; e a provisoriedade do conhecimento histórico;
Possibilita ao aluno e ao professor descobrir o passado e reconstruí-lo,
num diálogo entre passado e presente, pelos documentos, indícios de
acontecimentos passados, aproximando-os do processo de produção do
conhecimento histórico;
Permitir a construção de situações de aprendizagem em que o aluno
confronte suas representações do mundo com os documentos históricos,
fontes de novos conhecimentos, podendo tecer considerações sobre o
passado;
Permite estabelecer empatia com o passado.
A consciência histórica, no entanto, necessita da capacidade de articular
significativamente o presente com o passado. A narrativa histórica é um caminho
para essa articulação, uma narrativa significativa, construída pelos sujeitos.
A relação dos professores com a idéia de narrativa histórica não é ainda tão
clara como a relação com o documento, mas, na prática, as suas pesquisas,
investigações e apresentação de trabalhos em eventos, se constituem em
narrativas construídas por eles, do que podem ainda não ter clareza, no entanto, já
lhes permite vislumbrar que a narrativa como:
Produção embasada em pesquisa, investigação, documentos, inferências,
deduções e troca de experiências e vivências de natureza humana e
histórica.
- 212 -
Produção escrita do aluno sobre a História.
Produção do saber aprendido na relação com o passado.
A categorização de elementos das idéias históricas dos professores do
“Grupo Araucária” na tipologia de consciência histórica de Rüsen (1992):
tradicional, exemplar, crítica e genética, permitiu verificar que vários professores
expressam idéias que transitam entre vários tipos de consciência histórica e uma
presença consistente de idéias com elementos de consciência histórica do tipo
genético.
A constatação de uma mudança estrutural na consciência histórica em
curso no “Grupo Araucária”, manifesta em suas idéias, fruto do percurso de
conhecimento e apropriação dos meios de produção, produção de conhecimento,
publicação dos resultados e reconhecimento da produção por encontros
científicos da Área de História nacionais e Internacionais como: Encontro Nacional
da ANPUH Associação Nacional dos Professores de História; ENPEH
Encontro Nacional de Pesquisadores de História; Perspectivas do Ensino de
História e Jornadas Internacionais de Educação Histórica são características do
que, para Gramsci, seria a profissão de intelectual. No caso, de professores de
História, buscando trilhar um percurso que permita exercer a função de intelectual.
- 213 -
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou contribuir com a análise de uma experiência, qual
seja, a da relação dos professores de História de Araucária, com o conhecimento,
tomando como pressuposto teórico a categoria da experiência do sujeito e da sua
relação com o conhecimento. Essas categorias foram construídas a partir das
contribuições de Thompson (1981), Dubet (1994), Dubet & Martuccelli (1997) e
Charlot (2000).
O percurso da investigação permite concluir, pelo menos, a explicitação de
quatro dimensões da experiência da relação dos professores do “Grupo
Araucária” com o conhecimento. A dimensão do professor como sujeito, individual
e coletivo, em que cada professor está no grupo como indivíduo, interagindo, de
forma consensual ou conflituosa, com o grupo e com o não grupo. A dimensão do
professor em relação à estrutura, uma relação, individual e coletiva, com o
sistema educacional municipal, com o sindicato e com a universidade. A
dimensão do professor como sujeito na relação com o saber, com as idéias
históricas. E a dimensão investigativa do professor, da relação com a produção do
conhecimento.
Na dimensão do professor como sujeito, é possível destacar o processo de
construção coletiva do próprio “Grupo Araucária”. Experiência de construção
coletiva, não sem os conflitos inerentes a um processo coletivo. Verifica-se que os
professores expressam pelo grupo um sentimento de pertença e acolhida, vendo-
o como um lugar de construção de uma identificação mais profunda com a
- 214 -
natureza da História, estando presente o componente da intimidade e da
afetividade. Ou ainda, o vêem como um lugar de construção de uma relação
identitária com o saber, por meio da investigação de elementos de sua prática. No
entanto, os professores do “Grupo”, não se vêem ainda como produtores de
conhecimento sobre o ensino de História, mas vislumbram que a pesquisa
não os faz mais apenas retransmissores do conhecimento.
Na dimensão da relação do professor com a estrutura, foi possível
evidenciar a experiência de construção do “Grupo Araucária” na sua relação com
o sistema, com o sindicato, com as produções curriculares e com a universidade.
Uma experiência de relação dialética entre sujeitos e estruturas, em que a relação
com a evidência empírica, inerente à produção do conhecimento, reordenou todo
um conjunto de conceitos teóricos por meio de um diálogo entre a razão e a
realidade, provocando reflexões e mudanças.
Entre as condições objetivas que contribuíram para a formação do “Grupo”
tiveram destaque as condições de trabalho, que envolvem a hora atividade dos
professores e sua unificação para as áreas do conhecimento, para as séries
iniciais e de educação infantil e a coordenação da área de História sempre
orgânica com o “Grupo”. Condições, cuja ameaça de precarização pelo processo
de regulamentação do Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos em curso,
mobilizam os professores em sua defesa e luta pela manutenção.
Os estudos, reflexões e elaborações em torno de propostas curriculares em
1992, 1994, 1996, 2000 e 2004, permitiram uma aproximação dos professores
com a natureza da História e de seu ensino; contribuíram para tornar parte dos
- 215 -
professores sujeitos no processo de elaboração e reelaboração curricular
organizando e selecionando conteúdos e oportunizaram uma maior clareza dos
professores sobre o exeqüível em relação ao currículo.
A opção pela perspectiva da Educação Histórica e a “adoção” do “Grupo
Araucária” como um grupo de investigação do Laboratório de Pesquisa em
Educação Histórica, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR, tem
contribuído para dar suporte de cientificidade às suas investigações e produções.
Na dimensão do professor como sujeito na relação com as idéias
históricas, está presente a tensão entre o tradicional, o inovador, bem como a
questão do rompimento com a temporalidade linear na organização dos
conteúdos por eixos temáticos. Outra tensão presente é a relação com o livro
didático, que dificulta o trabalho nessa perspectiva. também a tensão dos
professores que ainda não sentem segurança em trabalhar na perspectiva dos
eixos temáticos e os que têm uma opção clara pelo trabalho na perspectiva
tradicional.
No entanto, para parte dos professores, o trabalho com a organização dos
conteúdos por eixos temáticos permite tomar o aluno e sua relação como o saber
histórico como referência, a partir de sua memória familiar, seus modos de vida,
sua cultura e seus grupos sociais, que o aproximam, bem como a sua realidade,
dos conteúdos de História, tornando-os mais significativos. Olhando na
perspectiva do aluno, o embate entre tradicional e inovador vem sendo superado,
dando lugar à segurança dos professores nessa perspectiva de trabalho.
- 216 -
Na investigação sobre como os professores se relacionam com as idéias
substantivas, as que tiveram maior ressonância, foram as idéias históricas de
poder e família.
Os professores se relacionam com a idéia de família de uma forma mais
ampla que a idéia presente no currículo, confirmando que este conceito permitiu
um trabalho significativo com os alunos, porque é o primeiro referencial da
criança, e porque é a primeira memória coletiva do indivíduo. Afirmam também,
que tal conceito permitiu um trabalho com a pluralidade de memórias e o
estabelecimento de relações com outras temáticas, uma vez que é responsável
por muitas permanências na história do sujeito. Ademais, possibilita aos alunos
saberem que fazem a história, que seus antepassados fizeram a história e
construíram a cidade onde vivem; permite aos alunos entenderem-se como
sujeitos do ensino de História, pois é referência na construção da consciência
histórica, ou seja, na compreensão do passado como ferramenta para auxiliar a
orientar-se no presente, balizado pelas expectativas de futuro.
No entanto, família é uma idéia controversa para alguns professores, que
consideram ser objeto de outras ciências e não da História, como a Filosofia, a
Sociologia e a Psicologia, ou, no máximo, uma temática a ser absorvida pela
temática da Cultura.
Com a idéia de poder os professores também estabelecem uma relação
mais ampla que a presente na proposta curricular de Araucária. Esta idéia
contribui para que o aluno possa se pensar como um cidadão do seu tempo,
compreendendo como se organizam as diversas formas de poder na sociedade;
forma para a cidadania e democracia, mas com a ressalva de que se deve
- 217 -
trabalhar num viés interessante para os jovens. Está presente também a idéia de
poder como disputa de classes, porque, para os professores, é necessário ter
clareza das relações de poder, o jogo de interesse quer das classes dirigentes ou
das subalternas e subjugadas, sendo importante apreender no passado as
relações de mandonismo, dos mais visíveis e impactantes aos mais capilares,
para compreender o percurso da humanidade. Para eles, ainda, a idéia da relação
do poder com a posse da terra e a história de conflitos em torno de sua posse.
Outra indicação sobre esse tema é a preocupação com a redução da idéia de
poder ao seu viés sectário, de elite e político, bem como uma preocupação com a
distância entre a compreensão dessa idéia e a aprendizagem dos alunos das
séries iniciais do ensino fundamental.
Com a idéia de trabalho, cultura, cotidiano e movimentos sociais a relação
dos professores não foi muito além da idéia presente nas propostas curriculares.
Quando se trata das idéias históricas de segunda ordem ou da natureza da
História: de temporalidade, documento histórico e narrativa, constata-se uma
relação em construção.
Nota-se que os professores se relacionam com a idéia de temporalidade de
uma forma ainda precária no que diz respeito à superação da crítica e tentativa de
rompimento com a temporalidade linear, com sérios respingos na cronologia, um
namoro profundo com o tempo dialético do processo, da recorrência e da
sucessão histórica. Aparecem alguns indícios de uma superação por
incorporação, mas não sem a necessidade de um aprofundamento, acerca das
relações temporais, pois as suas idéias, ainda apontam, para uma confusão em
relação aos conceitos temporais.
- 218 -
Significativo no rumo dessa superação é o exemplo construído pela
professora G, para entendê-la e externar sua compreensão das várias relações
temporais:
A compreensão do processo histórico de uma temática estudada remete a
possibilidade da recorrência histórica que implica no domínio da
cronologia. Por exemplo, a partir do estudo de uma temática como a
“democracia”: é necessário pesquisar o que o aluno entende sobre o tema,
trabalhar com ele o processo de construção na história do conceito de
democracia (seu significado em diferentes épocas históricas suas
permanências/mudanças, semelhanças/diferenças). A partir desses
estudos, torna-se possível a recorrência histórica no sentido de ajudar o
aluno a pensar historicamente e adquirir uma consciência histórica do
conceito de democracia. Nesse sentido a compreensão da cronologia
torna-se um instrumento para a recorrência histórica que se fez necessária.
Neste exemplo, a professora sintetizou a importância de todas as relações
temporais presentes na proposta curricular de 2004, resgatando a importância de
cada uma delas, necessárias aos vários enfoques do tema, como base para a
construção da consciência histórica, como capacidade de orientar-se no tempo.
As dificuldades com a temporalidade não são ‘privilégio’ dos professores do
“Grupo Araucária”, Lautier (1997) também detectou em suas pesquisas com
professores de história, várias abordagens diferentes, como a identificação com a
história problematizante, com a narrativa, com a cronologia e a linearidade ou até
com a reconstituição retrospectiva.
Na mesma direção, as considerações de Compagnoni (2006) em seu
trabalho de investigação em relação à forma como os alunos tratam a questão
temporal nas narrativas que constróem, apontam para questão em torno da forma
- 219 -
competência para encontrar significado entre o passado, o presente e o futuro,
orientando-se pelas experiências do passado e expectativas de futuro.
Os professores se relacionam com a idéia de documento histórico numa
perspectiva muito promissora, uma vez que para eles o documento histórico
amplia a capacidade de análise, interpretação crítica e síntese, como um
facilitador do processo de produção do saber por parte do aluno; permite
compreender, por meio dos limites da inferência sobre o documento, evidência do
passado, a provisoriedade do conhecimento histórico; possibilita ao aluno e ao
professor descobrir o passado e reconstruí-lo, num diálogo entre passado e
presente, por meio dos documentos, indícios de acontecimentos passados,
aproximando-os do processo de produção do conhecimento histórico; permitir a
construção de situações de aprendizagem em que o aluno confronte suas
representações do mundo com os documentos históricos, fontes de novos
conhecimentos e possa tecer considerações sobre o passado e permite
estabelecer empatia com o passado.
Os professores expressam uma relação com a narrativa histórica mais
incipiente que a relação com o documento. Na prática, as produções de
investigação sobre elementos de sua prática se constituem em narrativas
construídas pelos professores, do que podem ainda não ter clareza. No entanto
lhes permite vislumbrar a narrativa como uma produção embasada em pesquisa,
investigação, documentos, inferências, deduções e troca de experiências e
vivências de natureza humana e histórica, como uma produção escrita do aluno
sobre a História e como uma produção do saber aprendido na relação com o
passado.
- 220 -
Na dimensão investigativa, da relação dos professores com o
conhecimento, ele pode ser considerado um intelectual coletivo que assume a
dimensão da pesquisa e de produção de conhecimento sobre elementos de sua
prática e sobre a natureza do conhecimento com que lida, apropriando-se
coletivamente dos meios de produção do conhecimento, integrando teoria e
prática, e lutando coletivamente pelas condições materiais para dar vazão à
dimensão produtiva da relação com o saber.
No ensino de História, a Educação Histórica é um campo de investigações
que tem uma preocupação clara com a prática investigativa sistemática de
professores sobre os elementos da natureza do ensino de história, mais
especificamente sobre as idéias substantivas (conteúdos substantivos), sobre os
conceitos de segunda ordem (explicação, narrativa, evidência, empatia,
significância, temporalidade histórica, entre outros) e sobre elementos da didática
da história (valorização dos conhecimentos prévios dos alunos, a relação com o
livro didático, o uso dos documentos históricos, a multiperspectividade da história,
atividades de natureza histórica).
A experiência construída na relação com a prática investigativa, a pesquisa
e as produções publicadas em eventos, despertaram a atenção para a
necessidade de incorporar um novo olhar sobre elementos da prática dos
professores, e provocaram uma mudança conceitual qualitativa sobre o ensino de
história e sobre a relação com o conhecimento histórico.
Esta mesma experiência valorizou a natureza do conhecimento histórico,
dos conhecimentos históricos prévios dos alunos e sua importância para todas as
- 221 -
idades e níveis de ensino, no processo de construção do sujeito e em sua relação
com o saber, tanto para os alunos quanto para os professores. Ademais, levantou
questões em torno da metodologia do ensino de história, da utilização das fontes
históricas e apontou para a necessidade da incorporação metodológica da
narrativa, do cotidiano e da memória familiar na prática de ensino de história.
Os resultados das investigações apontam implicações para a
reestruturação curricular, a relação com o uso do livro didático, o uso do caderno
e para a construção da identidade do aluno e do professor. Apontam também,
para a necessidade de aprofundar a investigação da relação de professores e
alunos com idéias históricas.
A investigação sobre elementos da função de professor de história, a
produção de conhecimento sobre esses elementos e a comunicação em eventos
desse conhecimento produzido, apontam para uma nova forma de encarar a
formação continuada, onde cabe ao professor o papel de assumir individual ou
coletivamente, a melhoria de sua profissionalização e a qualidade do seu
trabalho. Observa-se uma movimentação dos sujeitos em relação às estruturas,
provocando mudanças nas estruturas e absorvendo, não passivamente, a
influência delas.
A análise das produções dos professores aponta elementos de um
processo coletivo de produção de conhecimento pelo “grupo” de professores de
História. Tratam-se de investigações sobre vários elementos da prática docente.
Desde a investigação dos conhecimentos prévios dos alunos, até a relação que
os alunos estabelecem com o livro didático, com o caderno, com memórias, fontes
- 222 -
e documentos históricos, como constróem narrativas históricas e como se
relacionam com as idéias históricas.
Pode-se caracterizar esse processo como uma atividade intelectual
inserida coletivamente no movimento da História, que produziu uma experiência
de posse dos meios intelectuais de produção, ou seja, uma relação com
conhecimentos, experiências e metodologias da natureza do próprio
conhecimento histórico. Isso leva à necessidade de buscar caminhos que o
auxiliem a migrar, enquanto professor, da transmissão dos conhecimentos para a
produção dos conhecimentos.
A investigação da relação dos professores com as idéias históricas e a
categorização de elementos dessas idéias na tipologia de consciência histórica de
Rüsen (1992): tradicional, exemplar, crítica e genética, permitiram constatar uma
mudança estrutural na consciência histórica, em curso no “Grupo Araucária”,
manifesta nas idéias de professores que permitem constatar o trânsito entre os
vários tipos de consciência histórica e a presença consistente de idéias com
elementos da consciência histórica do tipo genético, que, além de indicar o
desenvolvimento de sua competência narrativa, permite vislumbrar uma sintonia
de parte dos professores com os objetivos da Educação Histórica, de contribuir
com a revigoração da aprendizagem em História, na perspectiva da racionalidade
que promove um diálogo entre o passado e o presente, orientados e
fundamentados nas experiências investigativas.
Rüsen (1993) define essa aprendizagem histórica como uma apreensão
qualitativa do passado, conduzida pela experiência, e seletiva uma vez que
- 223 -
subjugada pela expectativa do futuro que pode ser positiva ou negativa, pois
estamos em luta constante para superar a idéia de morte, visando perpetuar a
vida. Esta aprendizagem é tão mais profunda quanto mais desenvolvida a
capacidade de interpretação histórica, ou seja, quanto mais aguçada a
competência de encontrar significado entre o passado, o presente e o futuro, cujo
objetivo é a consciência histórica. O desenvolvimento da capacidade de atribuir
significado à História é assim um dos componentes para o entendimento da
historicização, que é a capacidade de entender a História como um dos
instrumentos de orientação na vida presente diante das certezas e incertezas do
futuro.
Esta pesquisa contribui com possibilidades para a formação de professores
e para novas investigações no ensino de História:
A principal contribuição deste trabalho para a formação dos professores é a
possibilidade do professor assumir, individual e coletivamente, mediante certas
condições de trabalho, o papel de investigador sobre elementos da prática
docente, passando de transmissor a produtor de conhecimento.
Como possibilidades para novas investigações no ensino de História pode-
se propor:
a) Analisar as resistências dos professores à relação investigativa e produtiva com
o conhecimento histórico e que tipo de idéias históricas têm esses professores.
b) Analisar que tipo de idéias históricas podem ser encontradas na relação dos
professores com os alunos.
- 224 -
c) Aprofundar as investigações das relações que professores, alunos, crianças,
jovens e adultos estabelecem com as idéias históricas de tempo.
d) Aprofundar as investigações da relação de professores com a idéia histórica
substantiva de família como uma categoria nova e controversa de organização
dos conteúdos.
e) Investigar a relação de professores e alunos com a narrativa histórica do livro
didático.
f) Investigar como os alunos se relacionam com a produção de narrativas
históricas.
g) Aprofundar a análise e categorização dos produtos das investigações dos
professores do “Grupo Araucária”.
- 225 -
FONTES
ATAS
SISMMAR Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária.
Ata
da Assembléia de Fundação, 23 de setembro de 1989
. Livro 1.
PRODUÇÕES CURRICULARES DE HISTÓRIA DO MUNICÍPIO
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA/Secretaria Municipal de
Educação. Diretrizes Curriculares: Texto preliminar História. Araucária, 1996.
PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAUCÁRIA / Secretaria Municipal de Educação.
Diretrizes para o ensino de História em Araucária: Texto preliminar. Araucária:
2004.
PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAUCÁRIA / Secretaria Municipal de Educação.
Diretrizes Municipais de Ensino de História. Araucária: 2004.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA/Secretaria Municipal de
Educação. Estudo do Currículo: Sistematização Preliminar e Provisória.
Araucária, 2000.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA/Secretaria Municipal de
Educação.
Plano Curricular de História: texto preliminar. Araucária: 1992.
LEGISLAÇÃO
ARAUCÁRIA - PR. Lei Ordinária 673, de 18 de dezembro de 1986. Disciplina o
provimento de pessoal nos quadros do Magistério Público Municipal em regime
Estatutário e toma outras providências. Diário Oficial do Estado do Paraná.
ARAUCÁRIA. Lei Municipal nº 1527, de 02 de novembro de 2004. Institui o
Conselho Municipal de Educação de Araucária, conforme especifica. Diário Oficial
do Estado do Paraná.
ARAUCÁRIA - PR. Lei Ordinária 1528, de 02 de dezembro de 2004. Institui o
Sistema Municipal de Ensino do Município de Araucária, e dá outras providências.
Diário Oficial do Estado do Paraná.
BRASIL. Emenda Constitucional 14, de 12 de setembro de 1996. Modifica os
arts. 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e nova redação ao art. 60 do
Ato das Disposições constitucionais Transitórias. Diário Oficial da União.
- 226 -
BRASIL. Lei Federal 9394, de 23 de dezembro de 1996. Estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União.
BRASIL. Lei Federal 9424, de 24 de dezembro de 1996 - Dispõe sobre o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. Diário Oficial da União.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Básica.
Resolução CNE/CEB nº 3, de 8 de outubro de 1997. Fixa Diretrizes para os Novos
Planos de Carreira e de Remuneração para o Magistério dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.
TEXTOS DOS PROFESSORES APRESENTADOS EM EVENTOS
ALMEIDA, Rafael de Jesus Andrade de. A narrativa, o documento e a criação
do conflito.
Trabalho apresentado nas VI Jornadas Internacionais de Educação
Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação Histórica Curitiba - PR:
Agosto de 2006.
ALMEIDA, Rafael de Jesus Andrade de.
Memória familiar e identidade
nacional
. Trabalho apresentado nas VI Jornadas Internacionais de Educação
Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação Histórica Curitiba: Agosto
de 2006. e no X Encontro Regional da ANPUH-PR. Maringá: ANPUH, 2006.
BYTNER, Luciana Nadília de Fátima.
Qual é a sua história? Trabalho
apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz.
Londrina: ANPUH, 2005.
CARVALHO, Maria Catharina Nastaniec de.
Legislação trabalhista: situação dos
trabalhadores em Araucária, no mercado formal e informal. Trabalho apresentado
no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz. Londrina:
ANPUH, 2005.
CARVALHO, Maria Catharina N. de e MARTINS, Carlise R. V. O uso do rádio na
Era Vargas. Trabalho apresentado nas VI Jornadas Internacionais de Educação
Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação Histórica Curitiba: Agosto
de 2006.
COMPAGNONI, Alamir Muncio. Investigar em ensino de História. In. V
ENCONTRO NACIONAL: Perspectivas do Ensino de História, Sujeitos Saberes e
Práticas. Rio de Janeiro: 2004. Anais Digitais.
COMPAGNONI, Alamir M. Uma experiência educativa com alunos de série
do ensino fundamental com textos e imagens: Poder –As crises do
capitalismo – A 1ª guerra mundial. Trabalho apresentado nas VI Jornadas
- 227 -
Internacionais de Educação Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação
Histórica – Curitiba - PR: Agosto de 2006.
COMPAGNONI, Alamir Muncio.
Narrativas e leituras no Ensino de História.
Trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e
Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
COMPAGNONI, Alamir M. et alli.
Perspectivas da consciência histórica em
jovens brasileiros. Trabalho apresentado no VII ENPEH - Encontro Nacional de
Pesquisadores em Ensino de História – Belo Horizonte: Fevereiro de 2006.
ELIAS, Elenice. Uso do documento histórico na sala de aula. Trabalho
apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz.
Londrina: ANPUH, 2005.
FERNANDES, Lindamir Zeglin.
A conquista dos direitos da mulher e seu
significado para os alunos e suas famílias.
Trabalho apresentado nas VI
Jornadas Internacionais de Educação Histórica: Perspectivas de Investigação em
Educação Histórica Curitiba: Agosto de 2006 e no X Encontro Regional da
ANPUH-PR. Maringá: ANPUH, 2006.
FERNANDES, Lindamir Zeglin. Saber escolar: patrimônio cultural da escola. In. V
ENCONTRO NACIONAL: Perspectivas do Ensino de História, Sujeitos Saberes e
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Sujeitos Saberes e Práticas. Rio de Janeiro: 2004. Anais Digitais.
GRENDEL, Marlene Terezinha. Os conhecimentos prévios no ensino de
história: uma experiência. Trabalho apresentado nas V Jornadas Internacionais
de Educação Histórica. Uminho, Braga – PT: Março de 2005.
GRENDEL, Marlene Terezinha. Os conhecimentos prévios no ensino de
história: uma experiência. Trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de
História – História: Guerra e Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
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- 228 -
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2006.
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saber histórico escolar. In. GONÇALVES, Nadia Gaiofatto, e VALENTE, Tâmara
da Silveira, (orgs.). Anais / XX Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão.
Curitiba: UFPR. Setor de Educação, 2006.
GRENDEL, Marlene Terezinha.
Cadernos de alunos: conceitos substantivos e
idéias de ordem.
Trabalho apresentado nas VI Jornadas Internacionais de
Educação Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação Histórica
Curitiba: Agosto de 2006.
LIMA, Sandra do Rocio Cordeiro de.
O uso de documentos diversificados nas
séries iniciais para recriação dos conhecimentos prévios.
Trabalho
apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz.
Londrina: ANPUH, 2005.
LORENZI, Neide Terezinha Nóbrega e PORTES, Leôncio.
Direitos e deveres
dos jovens (Grêmio Estudantil). Trabalho apresentado nas VI Jornadas
Internacionais de Educação Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação
Histórica – Curitiba: Agosto de 2006.
LORENZI, Neide Terezinha Nóbrega. O uso metodológico do documento no
Ensino de História. Trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História
– História: Guerra e Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
MACIEL, Édina Soares. Guerra e Paz: práticas pedagógicas possíveis aos alunos
em fase de alfabetização. Trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de
História – História: Guerra e Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
MIRANDA, Aurora Aparecida Antunes e SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Quem faz o
currículo? Os saberes de alunos e professores na produção do currículo. In. V
ENCONTRO NACIONAL: Perspectivas do Ensino de História, Sujeitos Saberes e
Práticas. Rio de Janeiro: 2004. Anais Digitais.
NETTE, Alfredo Luís. A produção de tijolos em uma olaria local. Trabalho
apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz.
Londrina: ANPUH, 2005.
REMES, Palite Terezinha Buratto. Conhecer e despertar a curiosidade:
formação da família. Trabalho apresentado nas V Jornadas Internacionais de
Educação Histórica. Uminho, Braga – PT: Março de 2005.
REMES, Pálite Terezinha Buratto. Pensar o passado e o presente. Trabalho
apresentado nas VI Jornadas Internacionais de Educação Histórica: Perspectivas
de Investigação em Educação Histórica – Curitiba: Agosto de 2006. e no X
Encontro Regional da ANPUH-PR. Maringá: ANPUH, 2006.
- 229 -
SANTOS, Kátia S. FURMAN, Ivan e SCHMIDT, Maria A. O universo vivenciado
pelo aluno em uma aula de História e a questão da cidadania. Trabalho
apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz.
Londrina: ANPUH, 2005.
SCHERREIER, Ana Cristina Burkot. O uso do documento histórico na prática
pedagógica. Trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História
História: Guerra e Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
SPACK, Patrícia.
Crianças percorrendo o cotidiano do passado e do presente
nas asas de um velho caderno de caligrafia.
Trabalho apresentado no XXIII
Simpósio Nacional de História – História: Guerra e Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
TALAMINI, Jaqueline Lesinhovski.
O trabalho infantil hoje e em épocas
diferentes: uma nova abordagem para o Ensino de História nas séries iniciais.
Trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e
Paz. Londrina: ANPUH, 2005.
TALAMINI, Jaqueline Lesinhovski.
Reflexões sobre as atividades de lazer hoje
e em diferentes épocas: uma análise sobre o trabalho com o livro didático
em sala de aula. Trabalho apresentado nas VI Jornadas Internacionais de
Educação Histórica: Perspectivas de Investigação em Educação Histórica
Curitiba: Agosto de 2006. e no X Encontro Regional da ANPUH-PR. Maringá:
ANPUH, 2006.
THEOBALD, Henrique Rodolfo. A Educação Histórica e a mudança de
paradigma na cultura escolar no Município de Araucária. Trabalho
apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História História: Guerra e Paz.
Londrina: ANPUH, 2005.
THEOBALD, Henrique Rodolfo. Educação Histórica: um projeto em construção na
experiência do Grupo de Professores de História de Araucária. In. GONÇALVES,
Nadia Gaiofatto, e VALENTE, Tâmara da Silveira, (orgs.). Anais / XIX Semana de
Ensino, Pesquisa e Extensão. Curitiba: UFPR. Setor de Educação, 2006.
THEOBALD, Henrique Rodolfo. Idéias substantivas e de segunda ordem nas
produções curriculares do Grupo de Professores de História de Araucária.
Trabalho apresentado no X Encontro Regional da ANPUH-PR. Maringá: ANPUH,
2006.
THEOBALD, Henrique Rodolfo. Investigação de conhecimentos prévios no ensino
de História. In. V ENCONTRO NACIONAL: Perspectivas do Ensino de História,
Sujeitos Saberes e Práticas. Rio de Janeiro: 2004. Anais Digitais.
THEOBALD, Henrique Rodolfo. Princípio de Educação Histórica em Araucária.
Trabalho apresentado nas V Jornadas Internacionais de Educação Histórica.
Uminho, Braga – PT: Março de 2005.
- 230 -
THEOBALD, Henrique Rodolfo. Os conceitos de segunda ordem nas
produções curriculares do grupo de professores de História de Araucária.
Trabalho apresentado nas VI Jornadas Internacionais de Educação Histórica:
Perspectivas de Investigação em Educação Histórica – Curitiba: Agosto de 2006.
- 231 -
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Pedagógico).
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Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 (Atas do Encontro Internacional de
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Investigação Qualitativa: Fundamentos e Práticas. Edição. Lisboa, PT:
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campo de pesquisa em re-construção. In: ZAGO, N.; CARVALHO, M. P.; VILELA,
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La larga revolucion. Buenos Aires: Nueva Visión, 2003.
ANEXOS
ANEXO I - QUESTIONÁRIO DO INSTRUMENTO DE INVESTIGAÇÃO PILOTO
Nome:.....................................................................................................................................
Fone:.............................................. email:.............................................................................
Formação
Superior:.................................................................................................................................
Especializações/Pós Graduações:.........................................................................................
Tempo de magistério:............................................................................................................
Tempo de magistério em Araucária:......................................................................................
1. Sua atuação no magistério:
( ) Tempo integral no ensino de História em Araucária
( ) Intergral em Araucária, sendo em História e na Ed. Infantil à 4ª série
( ) Um período em Araucária e outro no Estado
( ) Um período em Araucária e outro no ensino privado
( ) Apenas um período em Araucária
( ) Outro .................................................................................................................
2. Como você define a sua relação com a elaboração das propostas curriculares de
História de Araucária de 1992, 1994, 1996, 2000 e 2004?
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
- 235 -
3. Defina o grupo de professores de História de Araucária e a sua participação nele
(freqüência, discussões, outras considerações).
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
4. Aponte os eixos temáticos das Diretrizes Curriculares de História de Araucária de
que você se lembra.
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
..................................................................................................................................
5. Você incluiria algum eixo temático novo ou excluiria algum deles?
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
6. Dê a sua opinião sobre a organização dos currículos em eixos temáticos.
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
7. Selecione dois itens entre os propostos e escreva sobre eles:
a) Famílias
b) Poder
c) Trabalho
d) Cultura
e) Cotidiano
f) Movimentos Sociais
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
8. Entre os mesmos itens, qual deles você não selecionaria? Por quê?
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
- 236 -
9. Enumere, do mais importante ao menos importante, as relações temporais que
deveriam ser privilegiados no ensino de História:
( ) Cronologia Histórica
( ) Processo Histórico
( ) Sucessão Histórica
( ) Recorrência Histórica
10. Você incluiria alguma outra relação temporal importante para o ensino de História?
...................................................................................................................................
11. Destaque a relação temporal que você considera mais importante e escreva sobre
ela.
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
12. Qual a importância do documento histórico para o ensino de História?
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
13. Como você definiria a presença da narrativa histórica:
No manual didático;
Na produção do aluno;
No currículo.
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
14. Em poucas palavras, explique o que é narrativa histórica.
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
- 237 -
15. Utilize este espaço para tecer considerações e/ou observações que queiras fazer
em relação às questões e ao instrumento (dificuldades de compreensão,
esclarecimentos, sugestões de melhorias).
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
...................................................................................................................................
- 238 -
ANEXO II - QUESTIONÁRIO DO INSTRUMENTO DE INVESTIGAÇÃO
DEFINITIVO
Nome:.....................................................................................................................................
Fone:............................................ email:................................................................................
Formação
Superior:.................................................................................................................................
Especializações/Pós Graduações:.........................................................................................
Tempo de magistério:......................... tempo de magistério em Araucária:...........................
1. Sua atuação no magistério:
( ) Tempo integral no ensino de História em Araucária
( ) Intergral em Araucária, sendo em História e na Ed. Infantil à 4ª série
( ) Um período em Araucária e outro no Estado
( ) Um período em Araucária e outro no ensino privado
( ) Apenas um período em Araucária
( ) Outro ..................................................................................................................
2. Escreva sobre os aspectos que você considera relevantes em sua relação com a
Secretaria Municipal de Educação, com o Sindicato da Categoria e com os
professores de História do Município.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
3. Como você define a sua relação com a elaboração das propostas curriculares de
História de Araucária de 1992, 1994, 1996, 2000 e 2004?
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
4. Defina o grupo de professores de História de Araucária e a sua participação nele
(freqüência, discussões, outras considerações).
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
- 239 -
5. Aponte os eixos temáticos das Diretrizes Curriculares de História de Araucária que
você se recorda.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
6. Você incluiria algum eixo temático novo ou excluiria algum deles?
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
7. Dê a sua opinião sobre a organização dos currículos em eixos temáticos.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
8. Selecione dois itens entre os propostos e escreva sobre eles:
a) Famílias
b) Poder
c) Trabalho
d) Cultura
e) Cotidiano
f) Movimentos Sociais
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
9. Entre os mesmos itens, qual deles você não selecionaria? Por quê?
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
10. Enumere, do mais importante ao menos importante, as relações temporais que
deveriam ser privilegiados no ensino de História:
( ) Cronologia Histórica
( ) Processo Histórico
( ) Sucessão Histórica
( ) Recorrência Histórica
- 240 -
11. Você incluiria alguma outra relação temporal importante para o ensino de
História?
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
12. Destaque a relação temporal que você considera mais importante e escreva sobre
ela.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
13. Qual a importância do documento histórico para o ensino de História?
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
14. Como você definiria a presença da narrativa histórica:
No manual didático;
Na produção do aluno;
No currículo.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
15. Em poucas palavras, explique o que é narrativa histórica.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
16. Utilize este espaço para tecer considerações e/ou observações que queiras fazer
em relação às questões ou sobre algo relevante que não tenha sido contemplado
por elas.
....................................................................................................................................
....................................................................................................................................
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