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nenhum paradigma é abandonado enquanto não houver outro que o substitua com sucesso.
Para Kuhn (2003) o abandono de um paradigma é simultâneo à adoção de outro, pois “rejeitar
um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência” (p.
109). O surgimento de anomalias dentro do paradigma vigente gera sucessivas crises que
conduzirão ao surgimento de novos paradigmas, reorganizando um domínio científico
específico, num processo radicalmente novo sem vínculo com o paradigma anterior, portanto
perdendo o caráter acumulativo da ciência normal. Num processo revolucionário substituem-
se paradigmas e surge um novo período de normalidade para a ciência.
Como afirmam Machado e Teixeira (2007), Kuhn estabelece uma postura relativista
no estudo da ciência, o pesquisador passa a ser considerado um negociador que produz
diversas formas de interpretação do real que precisam ser legitimadas pelo maior número de
pessoas, consolidando-se assim o paradigma defendido. A postura relativista rejeita a idéia de
critérios únicos, estáveis e atemporais da ciência. “O acordo é puramente social, ele é fruto
das interações e das negociações entre os pesquisadores que compartilham de um sistema de
crença que, em sua época, lhes parece objetivo, ao passo que esse mesmo sistema foi objeto
de negociação.” (MACHADO; TEIXEIRA, 2007, p. 5)
Brown (1993) também defende o forte caráter social e político presente no processo de
institucionalização das Ciências, do século XIX até a atualidade. Para o autor as negociações
dentro da ciência são políticas com a necessidade de formalizar alianças estratégicas, derrotar
os opositores, recrutar novos cientistas, formular programas de conduta para defesa de seus
interesses. Richard Whitley considera que a institucionalização da ciência envolve processos
cognitivos relacionados à epistemologia, à formulação de paradigmas, ao estabelecimento de
métodos e práticas de pesquisa e um processo social relacionado à estrutura organizacional da
matriz disciplinar. (KOBASHI; SANTOS, 2006) Destaca-se que mesmo com a separação
destes aspectos em categorias distintas, ambas as institucionalizações ocorrem permeadas
pelos interesses políticos e sociais presentes na comunidade científica.
Sucintamente foi apresentada a teoria kuhniana para o processo de desenvolvimento
da ciência, no entanto os conceitos de paradigma presentes em “A estrutura das revoluções
científicas” foram objetos de críticas de diversos historiadores, filósofos e sociólogos da
ciência. Masterman (1974) identifica mais de vinte diferentes acepções para o termo
paradigma, tais como mito, filosofia, manual, tradição, realização científica, analogia,
dispositivo geralmente aceito, fonte de instrumentos, ilustração normal, expediente, fábrica de
ferramentas, conjunto de instituições políticas, modelo, princípio organizador, ponto de vista