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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO
AVALIAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO E DA DINÂMICA
EROSIVA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE
IPAMERI
-
GO.
ERICA APARECIDA VAZ ROCHA
UBERLÂNDIA
-
MG
2007
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i
ERICA APARECIDA VAZ ROCHA
AVALIAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO E DA DINÂMICA
EROSIVA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE
IPAMERI
-
GO.
Uberlândia
MG
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
2007
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção
do titulo de Mestre em Geografia.
Área de Concentração: Geografia e Gestão do
Território.
Orientador: Prof. Dr. Sílvio Carlos Rodrigues.
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Erica Aparecida Vaz Rocha
AVALIAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO E DA DINÂMICA EROSIVA: UM
ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE IPAMERI
-
GO.
________________________________________________
____________________
Prof. Dr. Sílvio Carlos Rodrigues (orientador)
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Idelvone Mendes Ferreira
_____________________________________________________________________
Prof
. Dr. Adriano Rodrigues dos Santos
Data: _____/ ___________ de __________.
Resultado: ___________________________.
iii
A
Celestia
l, meu marido
pelo incentivo, apoio e amor em todos os
momentos...
iv
Agradecimentos:
Ao amigo e professor Sílvio Carlos Rodrigues pela orientação no conhecimento e no
crescimento profissional, o que foi possível devido a confiança, a paciência e o respeito
que a mim dedicou.
Ao meu querido marido Celestial, meus lindos filhos Matheus e Gabriel e minha amável mãe
Ana Maria pelo companheirismo, amizade, carinho e principalmente pela compreensão nas
horas difíceis.
Aos meus irmãos Edu, Renato e Graciele pelo incentivo, apoio e confiança.
Ao Prof. Dr. Idelvone Mendes Ferreira e Prof. Dr. Adriano Rodrigues dos Santos por terem
aceitado participar da banca e pelo auxílio na conclusão deste trabalho.
Aos amigos Malaquias e Rosângela pela amizade, carinho e o apoio técnico na realização
desta pesquisa.
Ao pessoal do Laboratório de Engenharia Civil, pelo tempo dedicado para a realização dos
ensaios.
Aos meus amigos e colegas de trabalho do Colégio Comercial de Ipameri, Colégio Estadual
Professor José Pio de Santana e Colégio Objetivo pelo apoio e compreensão nas minhas
ausências.
Aos amigos do Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos LAGES, em especial a
Paulinha, toda minha gratidão.
Aos meus grandes amigos e companheiros de mestrado Fernando e Ricardo, valeu!
a
v
“De repente, a vida começou a impor
-
se,
a desafiar
-
me com seus pontos de
interrogação, que se desmanchavam para
dar lugar a ou
tros... Eu liquidava esses
outros e apareciam novos”.
Carlos Drummond de Andrade
vi
RESUMO
Pal
avras
-
chave: processos erosivos, voçoroca, monitoramento.
Esta dissertação apresenta uma revisão bibliográfica sobre os aspectos fundamentais do
processo erosivo e os fatores que condicionam o seu desenvolvimento. Para demonstração de
sua evolução foram utilizadas técnicas de monitoramento, com a intenção de relacionar dados
de chuva, características do solo e cobertura vegetal. Foi selecionada uma ramificação que
apresentava grande atividade, para determinação de sua evolução em um período de dois
anos.
Foi instalado no interior da voçoroca um vertedouro para monitoramento da vazão e
co
leta de sedimento transportado, o material coletado foi analisado no laboratório de
Geomorfologia e erosão de solos UFU, para obter informações sobre a granulometria.
Atr
avés da técnica de estaqueamento foi possível quantificar a evolução das bo
vii
ABSTRACT
Key Words: Erosion proces
s, gully, monitoring,
The municipal district of Ipameri has his economy based in agricultural activities that it
unchained a series of erosive processes. This study had as objective a bibliographical revision
about the fundamental aspects of the erosive process and the factors that condition his
development. For demonstration of her evolution monitoring techniques were used, with the
intention of relating rain data, characteristics of the soil and vegetable covering. It was
selected a ramification that presented great activity, for determination of her evolution in a
period of two years. It was installed inside the gully a drain for monitoring of the flow and
collection of transported sediment The collected material was analyzed in the Laboratório de
Geo
morfologia e Erosão de Solos -UFU, to obtain information on the granulometry. It was
possible to quantify the evolution of the borders of the gully and to identify the responsible
mechanisms. The: regression, erosion goes fall of water, therefore that the
superficial drainage
i the main factor goes the development of these process. The analysis granulometry of the
material determined that the transport dynamics vary in agreement with the pluviometric
index that alters the volume of the flow that consequently increase his/her transport capacity.
The material collected in the walls of the gully presented a plasticity index between 6 and
15% indicating that it is an area that presents measured resistance the erosion interns, what
determines that the main responsible factor for the erosive dynamics is the drainage
superficial. The evolution of the gully has as cause the effects of natural factors as the
characteristics of the soil, because it is treated of a soil that can be divided in three layers
being to superior a loamier layer, second composed by pebbles of originated quartz of the
own rock and a third that it is the altered rock, in that way the explanation can come for the
mass movements, since the third layer is sandier is therefore crumblier, another factor is the
topography that contributed to the formation of the superficial drainage and the characteristics
of the rains. The erosion of the soil manifest as the biggest problem for the people who make
the use of the land.
viii
SÚMARIO
1. INT
RODUÇÃO
01
2. OBJETIVOS DA PESQUISA
04
2.1. Objetivo Geral
04
2.2. Objetivos específicos
04
3. JUSTIFICATIVA
05
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO
-
METODOLÓGICA
08
4.1. Processos erosivos
08
4.2. Fatores controladores dos processos erosivos
12
4.
2.1. Topografia
14
4.2.2. Solo
15
4.2.3. Cobertura vegetal
19
4.2.4. Clima
20
4.3. Escoamento Superficial
21
4.4. Escoamento Subsuperficial
23
4.5. Ravinas e voçorocas
24
5
. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS
34
5.1. Revisão Bibliográfi
ca
35
5.2
-
Trabalho de campo
35
5.3. Laboratório
36
5.3.1. Determinação do Limite de Liquidez e Plasticidade
36
5.3.2. Análise Granulométrica
37
5.4
-
Monitoramento da voçoroca com estacas.
38
ix
5.5. Levantamento Fotográfico
39
5.6. V
ertedouro
39
5.7
-
Vazão
41
6. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
42
6.1. Geologia
42
6.2. Geomorfologia
44
6.3. Solos
45
6.4. Aspetos Bióticos
48
6.4.1. Aspectos da vegetação
48
6.4.2. Aspectos da Fauna
50
6.5. Ocupação do solo d
o município
51
6.6. Clima
54
6.7. Hidrografia
55
6.8. Histórico de ocupação
58
7. RESULTADOS
62
7.1. Descrição da voçoroca
62
7.2. Monitoramento com estacas
75
7.3. Descrição dos perfis de alteração
81
7.4.
Transporte de partículas po
r fluxos concentrados no interior da
voçoroca
86
8.0. CONSIDERAÇOES FINAIS
93
9.0. REFERENCIAS
95
x
LISTA DE FIGURAS
1. Mapa de localização de Ipameri no Estado de Goiás e a área de estudo.
03
2.
Descrição diagramática do processo erosivo
18
3. Bal
anço hidrológico
21
4. Morfologia de sulcos e voçorocas
26
5. Modelo para ravinas e voçorocas.
27
6.
Aparelho utilizado para determinação do limite de plasticidade
“CASAGRANDE”
37
7. Vertedouro montado no interior da voçoroca.
41
8. Medição da variaç
ão da vazão.
42
9. Formas de relevo encontradas no município
45
10. Vista geral do solo aflorante nas paredes da voçoroca
47
11. Cultura de soja numa colina próxima ao Córrego Vai e Vem
52
12. Plantação de algodão na região dos topos planos
53
13. Cac
hoeira do Vai Vem
56
14. O Córrego Vai e Vem
57
15. Lençol aflorado no interior da voçoroca em período chuvoso.
62
16. Margem esquerda da voçoroca, vegetação mais desenvolvida.
63
17. Margem direita da voçoroca, área transformada em pastagem.
64
18.
Ramificação monitorada.
64
19. Alcovas de regressão formada pelo escoamento superficial.
65
20. Caminho formado pelo pisoteio do gado.
66
21. Escoamento superficial concentrado sendo desviado para fora da área da
voçoroca.
67
xi
22. Representação da dinâ
mica de escoamento superficial na área estudada.
68
23. Fluxo sendo desviado para fora da área da voçoroca.
69
24. Fluxo desviado para a estrada.
69
25. Fluxo concentrado na estrada.
69
26.
Processo de encachoeiramento do fluxo superficial na borda da
voçoroca
70
27.
Erosão por queda
-
d’água
70
28.
Sulco formado pelo escoamento superficial no interior da voçoroca.
71
29.
Rachaduras na parede da voçoroca local onde ocorreu a queda do talude
72
30. Formação de
Piping
73
31.
Canal feito por um animal
74
32.
Representação da forma como foram dispostas as estacas para o
monitoramento da evolução desta ramificação na área de pesquisa
76
33. Escoamento superficial concentrado na cabeceira da voçoroca
79
34.Representação do perfil de alteração. Parede
da voçoroca
81
35.
Escorregamentos das paredes da voçoroca, processo que contribui para o
avanço das bordas da voçoroca.
84
36. Dispositivo usado para a coleta de sedimentos
87
37.
Determinação da vazão
87
38. Foto tirada no dia 14/09/2006
88
39. Tr
ansporte de material no interior da voçoroca. Blocos de 25 cm
89
40. Representação da variação da vazão em três dias monitorados
91
41. Variação no transporte de sedimentos
91
xii
QUADROS
Quadro 01
-
Principais rebanhos da região Centro Oeste entre 19
85 e 1996
60
Quadro 02
- Medidas obtidas com o monitoramento feito com estacas no
período de 11/12/2004 a 26/07/2005 (período chuvoso)
.
78
Quadro 03
- Medidas obtidas com o monitoramento feito com estacas no
período de 26/07/2005 a 26/11/2005 (período c
huvoso)
.
79
Quadro 04
- Medidas obtidas com o monitoramento feito com estacas no
período de 28/11/2005 a 15/09/2006.
80
Quadro 05
Resultado da análise granulométrica.
83
Quadro 06
Índice de Plasticidade.
85
Quadro 07
Dados do Peneiramento
92
1
INTRODUÇÃO
A preservação do meio ambiente e dos recursos naturais tornou-se atualmente uma
grande
preocupação,
e o solo devido a sua importância na natureza e sua utilização pelo
homem, está entre os recursos naturais a serem preservados.
Com as
ativi
dades agropecuárias que vem sendo intensificada para suprir as
necessidades do homem, aliada ao uso da terra de maneira inadequada, sem a necessária
preocupação com a preservação de suas potencialidades, acaba por gerar perdas
irrecuperáveis,
entre elas es
o aumento da suscetibilidade à erosão, que causa modificações
no relevo, remoção da camada superficial e rtil do solo, assoreamento dos rios, além de
conseqüências indiretas.
Os prejuízos causados pela erosão existem a muito tempo, porém o que mais p
reocupa
é a ação do
Ho
mem, a medida que intensifica suas atividades utilizando as terras além de sua
capacidade. Felizmente, a cada momento, surgem novos métodos para se estabelecer áreas de
maior risco à erosão, a proporção das perdas de solo, medidas de contenção, possibilitando,
assim, uma atuação na tentativa de controle.
Sendo então a erosão de solos uma das principais causas da diminuição da
produtividade dos solos agricultáveis, torna-se necessário o conhecimento dos fatores que a
determinam, bem como a magnitude de cada um deles e de suas interações, possibilitando
assim o seu uso e manejo de maneira adequada, com perdas mínimas de sua produtividade
pelos processos erosivos.
Para isso há
vários métodos para a identificação e determinação de áreas
susceptíveis a
erosão que podem ser obtidos através de monitoramento da evolução de processos eros
ivos,
diagnóstico de ocorrência e cadastramentos, entre os quais está a estimativa dos parâmetros
envolvidos com perdas de solo por erosão, e também o uso de modelos de
prognóstico
de
2
perdas de solo para avaliar a capacidade de resistência que uma determinada área apresenta
frente ao processo erosivo.
Os desenvolvimentos de processos erosivos em diferentes áreas estão relacionados
com a erodibilidade do solo, com a influência da topografia e dos fatores climáticos além do
tipo e forma de uso da terra que são desenvolvidos. A interação desses fatores irá determinar
uma maior ou menor atividade erosiva, em conformidade com os aspectos ecodinâmicos
presentes na ár
ea.
Na área de estudo, localizada no município de Ipameri sudeste do Estado de Goiás
(Fig.01), foram realizados estudos a fim de apresentar dados referentes aos fatores atuantes no
processo erosivo, conhecendo sua dinâmica, identificando as causas e conseqüências deste
fenômeno. Com a caracterização da área, os dados do monitoramento com estacas, análise
granulométrica, ensaios de laboratório, mapas, fotografias e outras informações importantes
para a conclusão do trabalho, poderão também ser úteis para no
vas pesquisas na região.
A voçoroca situa-se próximo a cidade, onde estão localizados as instalações das
empresas Caramuru (depósito de soja e fábrica de óleo) e Algodoeira
Califórnia
, é uma área
que desperta muito interesse
pois
é um
local destinado a i
nstalação
de outras empresas.
Como o município vem se destacando como um grande pólo agrícola na produção de
grãos aumentando as expectativas de crescimento econômico do município, cresce
a
necessidade de intensificação de estudos voltados à utilização dos recursos naturais, pois o
conhecimento adequado dos recursos, analisando o conjunto dos elementos da natureza e seus
limites, possibilita a diminuição dos impactos causados por atividades humanas sem o devido
planejamento.
Portanto, é de grande importância conhecer os fatores que de forma integrada
determina a erosão, sendo então indispensável para o planejamento de atividades que tem
com
o objetivo a conservação do solo e da água.
3
Fig.01
Representação da localização do município de Ipameri no Estado de Goiás. Em destaque
(vermelho
) está a área de estudo. (Organizado por
ROCHA
Junho de 2006).
4
2-
OBJETIVOS
DA PE
SQUISA
2.1
-
Objetivo Geral:
O presente trabalho visa caracterizar os mecanismos de evolução atuantes na voçoroca
localizada no município de Ipameri-
GO
a partir de monitoramento e análise dos processos
erosivo
s internos e nas margens da voçoroca.
2.2
-
Objetivos Específicos:
Determinar a intensidade com que as bordas da voçoroca estão recuando, vis
ando
avaliar seu crescimento
.
Realizar uma análise das características físicas da área de estudo, com vistas à
contextualização geográfica do local.
Re
lacionar a quantidade de chuva com o
crescimento
da voçoroca.
Coletar e analisar os sedimentos erodidos no interior e paredes da voçoroca, com a
intenção de
conhecer as características físicas do material transportado.
5
3-
JUSTIFICATIVA
A crescente urbanização do Brasil nas últimas décadas ocasionou a ocupação do
Cerrado o que provocou o aparecimento de cidades com economia baseada na exploração do
solo. Este domínio
que predomina terras de baixa fertilidade passou a ser explorado a partir da
utiliza
ção de corretivos e fertilizantes além da adoção de uma agricultura altamente
mecanizada, transformando a região Centro
-
Oeste em um grande produtor de grãos.
A economia do município de Ipameri-
GO
é baseada na agricultura e pecuária, onde
atualmente
o mun
icípio
conta com técnicas
moderna
s e mecanizadas, principalmente na
região da Chapada, localizada ao norte do município, apresentando características como
relevo plano que favorece a cultura de grandes lavouras.
O município se destaca como o maior produtor de grãos da região Sudeste de Goiás e um
dos maiores do Estado, os produtos de maior destaque são; algodão, já que o solo e o clima do
município são adequados para produção deste com boa qualidade e a soja que se adaptou bem
trazendo grande produtividade
e rentabilidade.
A região apresenta um grande potencial para a agricultura, o que traz também
conseqüências danosas para o meio ambiente como erosão de solos. Em se tratando da
agropecuária, a bovinocultura é a de maior destaque, sendo destinada para corte e produção
leiteira.
De
acordo com a economia da região e as expectativas de crescimento do município
de Ipameri-GO, aumenta a necessidade de intensificação de estudos voltados à utilização dos
recursos naturais, pois o conhecimento adequado dos recursos, analisando o conjunto dos
elementos da natureza e seus limites, possibilita a diminuição dos impactos causados por
atividades humanas sem o devido planejamento.
6
que, atividades humanas desordenadas, como a retirada da cobertura vegetal
substituindo
po
7
relativamente menos recursos naturais no local, mas introduzem no meio ambiente novos
elementos e produtos causadores de desequilíbrios.
Guerra
(2005) apresenta
estudo
s sobre processos e
rosivos
que
tem sido feito em todo
mundo com a utilização de uma série de novas técnicas e métodos de acordo com os objetivos
de estudo, recursos humanos e financeiros e características
geográficas
do local.
Na intenção de conhecer a dinâmica erosiva da área de estudo optou-se por adequar
técnicas para obter as informações necessárias deste processo em questão. Com os
procedimentos utilizados pretende-se obter dados para quantificação da evolução da voçoroca
no período de dois anos. Então, a pesquisa procurou mensurar a evolução da voçoroca,
conhecer os fatores atuantes no processo erosivo, quantificar e analisar os sedimentos
transportados no interior da voçoroca.
Assim,
pretende-se com este trabalho levantar e organizar informações sobre a
dinâmica dos processos erosivos, caracterizar a área de estudo e a desenvolver a utilização de
técnicas alternativas para monitoramento de voçorocas.
8
4-
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO
-
METODOLÓGICA
4.1
-
Processos erosivos
O termo erosão originou-se do latim (erodere) que significa corroer. Este termo é
usado para designar o desgaste da superfície da Terra causado pela ação conjunta de agentes
naturais como a água corrente, o gelo, o vento e organismos vivos. É na verdade um
fenômeno geológico comum que resulta em uma forma de desenvolvimento do relevo, este
processo ocorre através do desprendimento e arraste das partículas de solo.
Identificam
-
se duas formas de processos
erosivos:
Erosão
geológica que é um processo natural de evolução da superfície terrestre,
caracterizado pela desagregação e transporte de partículas do solo pelos
agentes erosivos, é um
processo
que
acontece de forma lenta e contínua.
Erosão
acelerada que é aquela desenvolvida principalmente pela ação humana
que gera desequilíbrio nas fases da erosão natural e de sedimentação, que se
trata de um processo acelerado e destrutivo.
Diz Silva et al (apud Aciesp, 1997) a erosão natural ou geológica é o desgaste da
superficie da terra por água, gelo ou outros agentes naturais, sob condições de meio ambiente
natur
al em termos de clima e vegetação, sem pertubações provocadas pelo Homem, sendo
possível estabelecer o ciclo dessa forma de erosão. Verifica-se uma sequência de fases
evolutivas das formas de relevo a partir da dissecação e aplainamento vertical da paisage
m.
Essas fases podem ser divididas em juvenil, matura e senil.
Morgan,1995 (apud
Miranda 2005) define que a erosã
o do solo é um
processo bifás
ico
de destacamento de partículas individuais do solo e seu transporte pela água e o vento. A
9
deposiçã
o ocorre e
a energia é insufici
ente para transportar as partículas, c
onsidera ainda dois
tipos de agentes erosivos:
Aqueles que atuam realmente e que removem uma espessura relativamente u
nifome
do solo. O destacamento pelas gotas de chuva e o escoamento superficial como fluxos
rasos de largura infinita incluem
-
se neste caso;
E aqueles que concentram sua ação em canais, como os fluxos de água em pequenos
sulcos, os quais podem ser obliterados por intemperimo, ou feiçõ
es
permanentes e de
maiores dimensões como ravina
s.
A atuação do Homem com suas atividade5 Tm(u)Tj0.09187 0 0 -0.09187 80172 Tm(u)Tj6
aa
f
10
Para Cavinatto et al (1999) as ações humanas que afetam os solos produzem sempre
conseqüências nocivas de maior ou menor monta. Enumeram-se então algumas dessas ações
exercidas sobre o solo e as principais conseqüências que delas podem derivar:
Remoção da cobertura vegetal: a vegetação atua como um protetor natural do solo,
pois
ameniza
o impacto
das gotas de chuvas,
permiti
maior infiltração das águas, r
eduz
a quantidade e a velocidade das enxurradas que provocam o arrastamento da camada
superficial e mais fértil do
solo para os recursos hídricos.
Atividades agropastoris: o manejo inadequado do solo nestas atividades constitui uma
das principais causas da erosão e do transporte de solos férteis. O uso de
quinas
destrói as estruturas do solo, desagregando-o tornando-o mais suscetível a erosão.
pecuária, o pisoteio do gado causa uma das maiores destruições, pois compactando o
solo torna-o mais impermeável formando canais de escoamento concentrado
intensificando a erosão.
Mineração: atividade para obtenção de minérios é feita no solo e subsolo é uma
atividade destrutiva, pois compromete o solo e o ambiente próximo pela poluição,
além de destruir a estrutura do solo e subsolo.
Urbanização: os espaços urbanos são destinados às construções, tendem a ser
ambiente diferen
te a natureza. As atividades de construção levam a impermeabilização
da área aumentando o escoamento superficial das águas acelerando o processo de
erosão, provocando também enchentes e inundações da própria cidade.
Estando o solo desprotegido dá-se inicio ao processo erosivo, conforme Guerra
(1999), a dinâmica erosiva tem início quando as gotas da chuva batem nos solos, começando
o
splash, que pode causar a ruptura dos agregados, provocando a selagem do solo, seguida
pela infiltração de água e formação de poças (ponds), a medida que o solo torna-se saturado.
A partir daí, a água começa a escoar na superfície, primeiramente em lençol, depois
11
através de fluxos lineares, que evoluem para microrravinas, podendo algumas formar
cabeceiras, e algumas dessas cabe
ceiras podem bifurcar, formando novas ravinas.
Para diferenciar os tipos de feições erosivas, são utilizados os seguintes termos e
definições:
Erosão laminar: caracteriza
-
se pela remoção de uma fina camada de solo relativamente
uniforme, causada pela chuva e pelo escoamento superficial. Segundo Bertoni &
Lombardi Neto (1990) a remoção de camadas delgadas de solo sobre toda a área é
uma forma de erosão menos notada, e por isso a mais perigosa. Os solos tomam uma
coloração diferente e diminui a produtividade. A erosão laminar arrasta as partículas
mais leves do solo, e considerando que a parte mais ativa do solo de maior valor, é a
integrada pelas menores partículas, podem-se julgar os seus efeitos sobre a fertilidade
do solo.
Erosão linear: caracteriza-se pela formação de canais, onde a remoção e o transporte
das partículas de solo são feitos pelo escoamento concentrado e em velocidades
maiores, porém condicionado as características do local, possui um poder erosivo
maior formando feições lineares como, sulc
os, ravinas ou voçorocas.
- Sulcos: pequenos canais resultantes da concentração de
escoam
entos superficiais concentrado
- Ravinas: Feições erosivas resultantes do aprofundamento dos
sulcos oriundos da concentraç
ão do escoamento superficial;
- Voçorocas: constituem feições de erosão mais complexa e
destrutiva no quadro evolutivo da erosão linear e são originadas por
dois tipos de escoamento que podem atuar em conjunto ou
separadamente: o superficial e o subsuperficial. São erosões de
grande porte, com formas variadas e de difícil controle.
12
Cerri et al. 1997 (apud Cruz, 2001), de acordo com revisão dos principais conceitos
sobre os processos erosivos, ressaltam a grande variedade de termos relacionados à erosão d
os
solos e a necessidade de haver uma colocação clara dos conceitos adotados em estudo de
erosão. Segundo os autores as voçorocas representam a forma de erosão mais complexa e
mais destrutiva no quadro evolutivo da erosão linear. Correspondem ao produto da ão
combinada das águas do escoamento superficial e subterrâneo, desenvolvendo diversos
fenômenos como piping (erosão interna), liquefação de areias, escorregamentos, corridas de
areia, etc.
S
ão erosões de grande porte, com formas variadas e de difícil c
ontrole.
Ainda de acordo com o autor, as a
lterações
no equilíbrio morfo-
hidro
-
pedoló
gico, em
decorrência do inadequado uso e ocupação do solo, são consideradas como fatores principais
o surgimento de voçorocas. Quando se instalam ao longo dos cursos d’ág
ua,
principalmente
em sua cabeceira, são denominadas de voçorocas de encosta. Em geral são ramificadas, de
grande profundidade, apresentando paredes irregulares e perfil transversal em “U”.
Para Bigarella et al. 1994, apesar da questão da erodibilidade produtora de voçorocas
representar um enfoque sistêmico, verifica-se que em países tropicais onde o índice
pluviométrico é mais acentuado, o efeito resultante é o presente dinamismo hídrico que
também resulta em forte impacto no ambiente. Este impacto pode ser estudado tendo em vista
as características do relevo, o uso e ocupação do solo assim como o tipo de solo em conjunto
com outros fatores.
4.2
-
Fatores controladores dos processos Erosivos
As
condições naturais que exercem grande influência no apareci
mento,
desenvolvimento e resultado dos processos erosivos, incluem os fatores naturais climáticos,
hidrológico
s, topogr
áfico
s, geológic
os, pedológico
s e
características da
vegetação.
13
Além desses fatores destacam-se também as atividades antrópicas, como os
desmatamentos, plantações, abertura de estradas e a expansão de cidades, ações que aceleram
o processo erosivo.
Segundo Bertoni & Lombardi Neto, (1999) os processos erosivos são decorrentes dos
seguintes fatores: declividade, pluviosidade, comprimento da encosta, capacidade de absorção
da água pelo solo, resistência do solo à erosão e a densidade da cobertura vegetal, sendo a
água o mais importante agente erosivo e o escoamento concentrado ocasiona entalhes
profundos, bem como o movimento de grandes massa
s de solo.
E, em Filho (1998) as características litológicas do substrato rochoso, associadas à
intensidade do intemperismo e à natureza da alteração e grau de fraturamento, condicionam
também
a suscetibilidade do material à erosão.
Em Salomão & Iwas
a (1995):
Com a deflagração dos processos erosivos, em função da ocupação do solo,
estes são comandados por diversos fatores relacionados às condições
naturais dos terrenos, destacando-se a chuva, a cobertura vegetal, a
topografia e os outros tipos de solo
.
Em Silva et al. (2004) “a erosão é um processo complexo no qual vários fatores
exercem influência, de forma e magnitude variável, conforme o local de ocorrência”
. Assim,
erosão de solos trata
-
se de um processo interativo e natural influenciado por fato
res que
podem ser naturais ou antrópicos.
.
14
4.2.1
-
Topografia
Em Casseti (2004):
A vertente se caracteriza como a mais básica de todas as formas de relevo,
razão pela qual assume importância fundamental para os geógrafos físicos.
Essa importância pode ser justificada sob dois ângulos de abordagem: um,
por permitir o entendimento do processo evolutivo do relevo em diferentes
circunstâncias, o que leva à possibilidade de reconstituição do modelado
como um todo (conceito de geomorfologia “integral” de Hamelim, 1964), e
outro por sintetizar as diferentes formas do relevo tratadas pela
geomorfologia, encontrando-se diretamente alterada pelo homem e suas
atividades (conceito de geomorfologia “funcional” do referido autor).
Ainda de acordo com o autor uma vertente contém informações importantes para a
compreensão dos mecanismos morfogenéticos que são responsáveis pela elaboração do relevo
na escala de tempo geológico (propriedades geoecológicas), possibilitando também a
compreensão das mudanças processuais recentes (processos morfodinâmicos), na escala de
tempo histórico, se individualizando com
o palco de transformações sócio r
eprodutoras.
Portanto, o processo erosivo envolve diferentes fatores que atuam de forma e
magnitude variada, entre estes se destacam: a topografia do terreno
,
que
é representada pela
declividade e pelo comprimento do declive, que são fatores
de
grande influência sobre a
erosão. O tamanho e a quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem da
velocidade com que ela escorre, e essa velocidade é função do comprimento do declive e da
inclinação do terreno.
Para Bertoni & Lombardi Neto (
1999
) o comprimento da rampa é um dos mais
importantes fatores na erosão do solo, pois com o aumento do comprimento da rampa, ocorre
um aumento no volume de escoamento superficial, produzindo um aumento na intensidade de
erosão, principalmente sobre a forma de sulcos.
15
4.2.2
-
Solo
A natureza do solo, com suas propriedades físicas, principalmente estrutura, textura,
permeabilidade e densidade, assim como as características químicas e biológicas do solo
exercem diferentes influências na erosão. Suas condições físicas e químicas, ao conferir maior
ou menor resistência à ação das águas, caracterizam o comportamento de cada solo exposto a
condições semelhantes de topografia, chuva e cobertura vegetal (BERTONI & LOMBARDI
NETO
1
990).
A erodibilidade do solo
é
uma conseqüência de suas características físicas e do seu
manejo, enquanto que a erosividade é medida através das características
da
chuva.
A
erodibilidade
torna
-
se
mais complexa, pois está ligada a outras variáveis. Assim, conhecer o
solo é importante para saber se e como usá
-
lo.
As
principais características físicas e químicas do solo que podem influenciar no
processo erosivo são
:
A
textura que compreende a distribuição quantitativa das classes de tamanho de
partículas que compõem o solo. É uma propriedade permanente do solo que depende
das características do material originário e dos agentes naturais de formação do solo
(
BERTONI & LO
MBARDI NETO,
1990).
A estrutura se relaciona à forma como se arranjam às partículas do solo, estas formas
determinarão
a variação da permeabilidade à água como também a resistência a
erosão. Segundo Bertoni & Lombardi Neto (
1999
) dois aspectos de estrutura do
solo a ser considerado no estudo de erosão:
A propriedade físico
-
química da argila
;
A
propriedade biológica causada pela matéria
orgânica;
16
A porosidade refere-se à proporção de espaços ocupados pelos fluidos e gases em
relação ao espaço ocupado pela massa de solo, a perda da porosidade está associada à
redução do teor de matéria orgânica, a compactação e ao efeito do impacto das gotas
da chuva, fatores que causam diminuição dos tamanhos dos agregados, reduzindo o
tamanho dos poros Bertoni & Lombardi
Neto (1990).
A permeabilidade é uma característica do solo ligada a capacidade que este possui em
deixar a água passar através do perfil. É um fator relacionado ao tamanho, volume e
distribuição dos poros, que varia com a profundidade (BERTONI & LOMBARDI
N
ETO
1990).
A
densidade do solo, relação entre a sua massa total e volume, é inversamente
proporcional
, resulta na diminuição dos interstícios, tornando o solo menos erodível
(
SALOMÃO,
1999).
A quantidade de matéria orgânica no solo é também um fator de grande importância
,
em Salomão & Iwasa (1995):
A matéria orgânica incorporada no solo permite maior agregação e coesão
entre partículas, tornando o solo mais estável em presença de água, mais
poroso, e com maior poder de retenção de água. A matéria orgânic
a retém de
duas a três vezes o seu peso em água, aumentando assim a capacidade de
infiltração.
Os autores ressaltam também que:
Dependendo do argilomineral presente no solo, observa-se diferente
comportamento erosivo. As argilas do tipo montmorilonita são pouco
estáveis em água ao contrario das caulinitas; as ilitas apresentam
comportamento intermediário
.
Assim, em Lepsch (1982), a mais importante propriedade coloidal da argila é a
afinidade pela água e pelos elementos químicos nela presente. O pequeno tamanho das
partículas aumenta a superfície específica, o que lhe confere maior adsorção de íons nas
reações do solo. Esse fato explica a grande variação entre o comportamento físico e físico-
17
químico das argilas e das areias, pela grande diferença que existe entre as superfícies
específicas desses dois constituintes do solo e suas composições mineralógicas
.
Outra característica importante do solo, com relação ao comportamento erosivo é a
s
ua
espessura. Solos rasos permitem rápida saturação dos horizontes superiores, favorecendo o
desenvolvimento de enxurradas (
SALO
MÃO & IWASA 1995), e ainda, uma característic
a
relevante no processo erosivo é:
A gradiência textural entre os horizontes superiores do solo é uma das
características pedológicas mais importantes em relação ao seu
comportamento erosivo. Trata-se da relação entre os teores de areia e argila
observada nos horizontes superiores do solo. Solos com alta gradiência
textural apresentam, portanto, horizonte A bem mais arenoso que o
horizonte B, subjacente. Assim, por exemplo, solos do tipo podzólico, são
em geral, mais suscetíveis à erosão que os do tipo latossólico, por
apresentarem, logo abaixo do horizonte A (superior), um horizonte com
maior
concentração de argilas e com poucos macroporos que represent
a
certa barreira à infiltração das águas. Como conseqüência, o fluxo de água
logo abaixo da superfície, paralela a encosta, e a saturação do horizonte
superior favorecem o desenvolvimento de enxurradas, tendendo a propiciar
maior erosão nos podzólicos.
Um aspecto a ser mencionado referente ao solo é a atividade biológica que se
desenvolve no solo e os processos bioquímicos correspondentes, pois estes m participação
ativa na agregação das partículas, e também na formação de canais proporcionando um
aume
nto da permeabilidade.
Quanto à plasticidade, esta é definida como uma propriedade dos solos, que consiste
em uma maior ou menor capacidade de serem eles moldados, sob certas condições de
umidade. Em
Gidigaw
(
1976
apud
Miranda
2004) cita como influente na plasticidade dos
solos, os seguintes fatores: a
natureza dos minerais
; a
porcentagem de fração argila
, a
natureza
dos Cátions Trocáveis e a
quantidade de matéria orgânica.
Bertoni & Lombardi Neto (1990, apud Casseti
2003
)
destacam, dentre as propriedades
do solo que influenciam na erosão, aquelas que controlam a velocidade de infiltração da água,
a permeabilidade e a capacidade de absorção, e aquelas ligadas à coesão, que resistem à
dispersão, ao salpicamento, à abrasão e às forças de transporte da chuva
e
enxurrada.
18
Para Casseti (2003), a erodibilidade refere-se às propriedades inerentes ao solo
(textura, estrutura, porosidade e profundidade) e reflete a sua suscetibilidade à erosão, a figura
abaixo representa uma descrição diagramática do processo de er
osão.
Fig. 02
Descrição diagr
amá
tica do processo erosivo, segundo Ramos (1982, apud, Prochnow 1990).
19
4.2.3
-
Cobertura Vegetal
A cobertura vegetal é uma defesa natural contra a erosão, pois atua como uma
proteção direta contra o impacto das gotas de chuva. Além de contribuir para a dispersão da
água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo, aumenta a infiltração da água;
melhora estruturação do solo devido o acréscimo de matéria orgânica ao solo, aumentando a
capacidade de retenção de água e a diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada
pelo maior atrito na superfície.
Segundo Bertoni & Lombardi Neto 1985, os principais efeitos da cobertura vegetal
perante aos processos erosivos:
Proteção direta contra o
splash.
Dispersão e
quebra da energia das águas da chuva.
Possibilita o aumento da infiltração, devido ao trabalho das raízes.
Portanto, vegetação natural exerce uma melhor atuação na proteção dos solos frente à
ação do efeito splash e contra a ação do escoamento concentrado, na vegetação artificial
tem perdas bem maiores de solo. Assim, a cobertura vegetal funciona como um escudo de
proteção do solo contra a erosão.
A cobertura vegetal é uma defesa natural do solo contra a erosão. De acordo com
Jorge e Uehara, 1998:
A
cobertura vegetal tanto pode ser natural como a vegetação da Serra do
Mar, quanto artificial ou cultural como as plantações. Entretanto a vegetação
natural pode ser primitiva, virgem quando não tocada pelo homem, ou
secundaria, quando alterada pela ação an
trópica.
Em todos os casos o solo
dispõe de uma certa cobertura que exerce uma ação maior ou menor de
proteção contra as intempéries. Entretanto, pode se considerar que
a
relação
de equilíbrio existente entre a vegetação primitiva e o solo, adquiridas ao
l
ongo
anos, apontam para este tipo de cobertura vegetal como a de maior
ação de proteção. A cobertura vegetal apresenta influência na distribuição da
água pela interceptação, escoamento pelos troncos e concentração na
serrapilheira.
20
4.
2.4
Clima
O clima exerce grande influência no processo erosivo, os principais efeitos do clima
na degradação
estão
aliado
s ao fenômeno da precipitação e sua cap
acidade erosiva.
A chuva
é
um
dos fatores climáticos de relevância na erosão dos solos, o volume e a velocidade da
enxurrada dependem da intensidade, duração e freqüência do evento chuvoso (BERTONI &
LOMBARDI NETO
p
RR
E
N
N
21
4.3
-
Escoamento superficial
Em
Casseti
2003
, p
ara
se ter uma idéia das diferentes formas de escoamento da
água em uma vertente, apresenta-
se
o
esquema
utilizado por Carson & Kirkby (1972),
denominado de balanço hidrológico próximo à
super
fície.
Fig.03
Balanço hidrológico.
Assim, de acordo com o autor citado:
A água precipitada sobre uma vertente apresenta vários caminhos. Parte é
evapotranspirada e outra é armazenada ou ainda interceptada pelo dossel,
momento em que se registra o fluxo pelo tronco. A partir de então se tem o
processo de infiltração na zona de maior permeabilidade, podendo chegar a
maiores profundidades, com armazenamento da umidade no solo e fluxo de
subsuperfície (
throughflow
). O excedente, ou o que não foi infi
ltrado
fica
armazenado em depressões superficiais, onde parte é evaporada e outra
escoada na superfície (
overland flow
), podendo integrar o fluxo fluvial
.
22
Para Jorge et al (1998) o
escoamento superficial corresponde à parcela da água
precipitada que permanece na superfície do terreno, sujeita à ação da gravidade que a conduz
para cotas mais baixas, que depende das características hidráulicas do solo e das rochas, da
cobertura vegetal e das estruturas biológicas, assim como da forma da bacia de drenagem, da
declividade de sua superfície e do teor de umidade dos seus terrenos. Se a área for ocupada
com atividades antrópicas deve se considerar as diversas formas de uso que intensificam ou
atenuam o escoamento.
O escoamento superficial tem inicio à m
edida
que a água infiltra no solo e começa a
saturá
-lo, formando poças na superfície. Para Horton (1945) apud Guerra (1999), quando a
precipitação excede a capacidade de infiltração do solo, inicia-se o escoamento superficial. A
água acumula-se em depressões (m
icrotopogra
fia) na superfície do solo, até que começa a
descer a encosta, através de um lençol (
sheetflow
), que pode evoluir para uma ravina. Nesse
processo, esse fluxo passa a ser linear (
flowline
) depois evolui para microrravinas (micro-
rills
), em seguida para microrravinas de cabeceiras (
headcuts
). Ao mesmo tempo em que essa
evolução vai se
estabelecendo
na superfície do terreno pode ocorrer também o
de
s
envolvim
e
nto de bifurcações, através dos pontos de ruptura (
knickpoiunts
) das ravinas.
A forma como se dá este escoamento superficial ao longo da vertente e que vai
determinar a forma de desenvolvimento da erosão, se laminar ou linear. Se o escoamento
acontece de forma difusa, ocasionando uma remoção de forma relativamente uniforme do
solo, temos uma erosão laminar, se uma concentração do fluxo formando incisões na
superfície do solo, desenvolve-se então a erosão em sulcos que poderá evoluir com o
aprofundamento para ravinas.
23
4.4
-
Escoamento Subsuperficial
De acordo com Casseti
(
2003
):
O escoament
o de subsuperfície pode carrear quantidade variável de grãos de
solo, partículas de argila e outros colóides, além de material em solução
iônica. Algumas mudanças de estado se dão durante o transporte, tornando-
se impraticável a distinção rígida entre dissolução e transporte em
suspensão. Dentre os fatores que geram fluxo de subsuperfície podem se
considerar as descontinuidades de horizontes pedogênicos e os contatos
litoestratigráficos diferenciados por fatores texturais.
Em Guerra (1999)
:
O escoamento
subsuperficial
é o movimento lateral da água em
subsuperfície, nas camadas superiores do solo, controla o intemperismo,
afeta a erodibilidade dos solos, através de suas propriedades hidráulicas,
influenciando o transporte de minerais em solução. Este processo possui
efeitos erosivos, provocando o colapso da superfície situada acima,
resultando na formação de voçorocas. A propósito disso, Dunne 1970 e 1980
(apud Baccaro 1999) ressalta que há vários fluxos e caminhos a serem
percorridos pela água que podem desencadear processos erosivos, como o
retorno da água subsuperficial a superfície, exfiltração dos fluxos
subsuperficiais, pode acionar a erosão (seepage erosion) no ponto de alívio
do aqüífero ou promover a lavagem e remoção de partículas em túnel.
Os pi
pings
são túneis onde ocorre erosão interna em subsuperficie que podem variar
em diâmetros e são formados a partir do intemperismo de acordo com as condições
geoquímicas e hidráulicas do local. Neles remoção e transporte de material,
proporcionando então o desenvolvimento dos canais, o que pode ocasionar a queda do solo
que está acima.
O fenômeno piping provoca a remoção de partículas no interior do solo formando
cana
is que evoluem em sentido contrário ao do fluxo de água, podendo dar origem a colapsos
do terreno, com desabamentos que alargam a voçoroca ou criam novos ramos. Assim a
voçoroca é acompanhada de erosão superficial, que se conjugam no sentido de dotar essa
forma de erosão de e
levado poder destrutivo (SALOMÃO,
1999).
24
4.5
-
Ravinas e Voçoroca
s
O escoamento superficial segue em forma de canalículos anastomosados, cujo traçado
é comandado pelas irregulares do solo, da serrapilheira e pela vegetação da vertente. Este
escoamento é responsável pela erosão laminar, remoção uniforme da parte superior do solo,
porém,
a água pode se concentrar em canais, gerando incisões caracterizando a erosão linear,
onde pode gerar feições como sulcos, ravinas e voçorocas. De acordo com alguns autores e
técnicos do IPT
-
SP:
Admite
que, com o aprofundamento e alargamento das incisões passa-
se
progressivamente de sulcos às ravinas e destas às voçorocas (ALMEIDA
FILHO, 2001; IWASA e FENDRICH, 1998; INFANTI JUNIOR e
FORNASARI FILHO, 1998). Nesta visão, adotada aqui, sulcos são as
incisões menores com larguras e profundidades que não ultrapassam os 50
cm e evoluem principalmente por erosão devida ao escoamento superficial
canalizado. Ravinas são incisões cuja largura e profundidade ultrapassa
aquelas dos sulcos e evoluem sob ação de escoamento superficial difuso,
escoamen
to superficial canalizado e movimentos de massas. Voçorocas são
caracterizadas pela interseção do lençol freático, com o aparecimento de
surgências nas cabeceiras e nas laterais da incisão. Além dos processos
atuantes nas ravinas, as voçorocas evoluem também pela erosão devida às
águas subterrâneas.
São encontradas várias definições para ravinas e voçorocas, pretende-se fazer então
um levantamento dos conceitos encontrados. No projeto Voçorocas e ravinas em Anápolis
(GO): Evolução no período 1965-
2004
(2
003)
(em fase de elaboração)
,
encontra
-se as
seguintes definições:
Segundo GUERRA (1998) voçorocas tem paredes íngremes e fundos
geralmente planos, com perfil em “U”. Uma abordagem um pouco mais
detalhada da morfologia das voçorocas é proposta por MAGALHÃES e
FURTADO (2001), que as classificam em ovóides, coalescentes e lineares:
as voçorocas ovóides têm a forma de anfiteatro de paredes íngremes a
montante e um canal a jusante; nas voçorocas coalescentes observa-se a
presença de vários anfiteatros, devidos a existência de ramificações do sulco
principal; as voçorocas lineares o as mais simples, constituídas por um
sulco que pode terminar em um canal estreito.
Uma abordagem da morfologia das erosões relacionada a sua evolução é
apresentada por MACIEL FILHO (1997) que assinala quatro fases:
formação de ravina; aprofundamento da incisão erosiva; alargamento da
25
erosão com formação de fundo plano e interseção do lençol freático, quando
a erosão torna-se uma voçoroca; estabilização da voçoroca com redução da
dec
lividade das paredes e instalação da vegetação. Este autor assinala que
uma mesma erosão pode apresentar estágios diversos em diferentes partes da
incisão.
COTTON (1958) descreve a evolução de voçorocas e ravinas iniciando na
parte baixa de uma vertente c
ôncavo
-convexa, progredindo em direção à
montante e coalescendo com as erosões adjacentes, devido ao alargamento
das incisões. Segundo este autor as erosões se estabilizariam resultando
numa nova vertente, com declividade menor d
o que a da encosta inicial.
Para
Oygarden (2003 apud Reis 2004) outra definição para distinguir ravinas de
voçorocas. As ravinas iniciam-se por pequenos sulcos com formatos em V, enquanto que as
voçorocas têm as margens íngremes ou abruptas com formato em U. As voçorocas se
des
envolvem como as ravinas resultantes do escoamento superficial.
Ainda em Reis (2004):
Também existem voçorocas que não foram iniciadas por ravinas, mas pelo
escoamento superficial, pela erosão por
piping,
por solapamento e por
infiltração
erodindo a base da escarpa. Uma combinação de processos pode
ainda ocorrer dificultando fazer uma descrição da evolução de maneira mais
detalhada.
Entretanto, o desenvolvimento de voçorocas requer elevadas taxas de
energia
(aumentando o escoamento superficial) para ambos retirarem e
transportarem as partículas. A Soil Science Society of America (2001) define
voçoroca como sendo o processo erosivo no qual o escoamento superficial
concentrado resulta freqüentemente em estreitos canais, em curtos períodos,
removem o solo dest
es e
limita
-
se a aprofundar.
Para Torri & Borselli (2003 apud Reis 2004), os fatores determinantes nas erosões do
tipo voçorocas mais comuns são: uma incisão linear é uma voçoroca quando a seção
transversal é maior que o valor de referência de ravinas e sulcos próximos do local; numa
segunda definição voçoroca é uma incisão linear que não pode ser removida por cultivos no
terreno durante a atividade agrícola normal. Outras definições se baseiam, sobretudo em
evidências morfológicas ou sobre o tipo de processos que fazem com que surja uma voçoroca
em um determinado lugar. Por exemplo, uma voçoroca pode ser definida como um perfil nos
quais as dinâmicas das paredes laterais são importantes e predominantes sobre as dinâmicas
de fundo.
26
Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT (1986
apud Miranda, 2005) na formação e aprofundamento dos sulcos, interceptando o lençol
freático, pode-se observar um somatório de processos erosivos pela ação concomitante das
águas superficiais e subs
uperficiais fazendo com que o ravinamento atinja grandes dimensões.
É nesse estágio que se deve aplicar a designação de voçoroca, diferenciando de ravinas.
Como ravinamento, entende-se a erosão causada simplesmente pela concentração do
escoamento superficial, processo este que, muitas vezes, coroa a degradação do solo iniciada
pela erosão laminar.
Salomão (1999) diferencia ravinas de voçorocas da seguinte maneira: o
ravinamento se processa em função apenas da erosão superficial, com a linha de água
aprese
ntando grandes declives, canal profundo, estreito e longo, as voçorocas formam-
se
devido tanto a erosão superficial como a erosão subterrânea, com tendência tanto para alargar
-
se como para aprofundar
-
se até atin
gir o seu equilíbrio dinâmico.
Fig. 04
M
orfologia de sulcos e voçorocas. (Karmann, 2000
).
Oliveira (1999) elaborou um modelo para as ravinas e voçorocas, destacando três
padrões principais de voçorocas: formas conectadas a rede regional de canais onde
prevaleceriam os fluxos superficiais, formas desconectadas e que ocorrem nas encostas
27
superiores das cabeceiras de drenagem, com fluxos superficiais dominantes e formas
resultantes da junção das duas anteriores, com uma interação de fluxos superficial e
subsuperficial
(fig.05
.).
I
Voçoroca
conectada a rede hidrográfica.
II
Voçoroca desconectada da rede hidrográfica.
III
integração entre os dois tipos anteriores
Fig. 05
Modelo para ravinas e voçorocas.
As voçorocas constituem uma forma impressionante e também muito complexa do
proce
sso erosivo, pois nelas atuam diferentes processos que vão desde o escoamento
superficial até os de erosão interna como os solapamentos, pipings, desabamentos,
28
escorregamentos e outros que de maneira alternada operam durante a sua evolução, gerando
feições
de grandes dimensões.
As ocorrências de voçorocas afetam a produtividade do solo, restringe o uso da terra,
ameaça as estradas e construções
e
o solo erodido pode causar assoreamento dos recursos
hídricos e se contaminados por produtos químicos afetam a qualidade da água, portanto trás
conseqüências diretas e indiretas que de alguma forma prejudica o meio ambiente.
O surgimento de voçorocas está ligado à formação de escoamento superficial
concentrado, pois o
fluxo
gerado atinge uma velocidade capaz de destacar e transportar
partículas de solo. Ressalta-se que a atuação da água subterrânea constitui como um fator que
diferencia as voçorocas de outros tipos
de
processos erosivos como os sulcos e ravinas. E,
como adquirem grandes profundidades, com a proximidade do lençol freático pode provocar
uma intensificação do processo erosivo favorecendo o desenvolvimento de mecanismos como
a erosão interna e os movimentos de massa.
As voçorocas de acordo com Guerra (2005) são canais d’água intermitentes, sendo
maior
es do que as ravinas, nestes canais o escoamento da água durante e imediatamente
após as chuvas e, ao contrário das ravinas, as voçorocas não podem ser removidas pelo
preparo do solo normal. E, as voçorocas tendem a se formar onde grandes volumes de
esc
oamento superficial são concentrados e descarregados em encostas com solos erodíveis, as
voçorocas são comuns em pastagens e é provavelmente, a principal forma de erosão em
bacias hidrográficas. As voçorocas podem não ser tão significativas como as ravinas, em
termos de quantidade total de solo erodido, mas podem ser bastante destrutivas em termos de
danos as rodovias, aterros e bacias hidrográficas.
Segundo
Carvalho
(
1992
apud
Santos
,
1997
) propõe o seguinte processo de
voçorocamento:
Sulcagem do terreno
promovida pelo fluxo superficial concentrado
;
29
Aprofundamento do sulco até atingir o lençol freático, com conseqüente elevação
do gradiente hidráulico de saí
da e promoção de erosão interna;
Remoção eficaz dos escombros e do produto de erosão interna pelo es
coamento
torrencial
;
Manutenção temporária de paredes subverticais com fissuração das paredes
durante o período seco;
Formação de cavidades abobadadas ao pé das cabeceiras pela ação combinada dos
seguintes fenômenos: jateamento pela enxurrada, erosão interna e de
sarticulação
estrutural do solo;
Colapso das porções destacadas das fissuras das paredes
;
Aquietação gradual do fenômeno pela diminuição progressiva do gradiente
hidráulico de saída e pela
redução da contribuição externa;
Segundo Santos (1997), na fase madura a voçoroca atinge um perfil em “U”,
apresentando quase sempre grandes dimensões. O desenvolvimento de diversos braços é bem
representativo para voçorocas desenvolvidas sobre solos espessos e em regiões onde o clima
registra duas estações distintas. Quando é atingida a estabilização do fundo da voçoroca, as
paredes evoluem até um perfil de equilíbrio, onde é obtido o perfil em “V”, cuja profundidade
é limitada pela ocorrência do substrato rochoso.
As voçorocas são difíceis de serem controladas, segundo Guerra (2005) um controle
eficiente deve estabilizar tanto a base do canal quanto as cabeceiras, já que o desgaste
contínuo da base da voçoroca leva ao seu aprofundamento e alargamento, enquanto o desgaste
das cabeceiras prolonga o canal para área
s ainda não atingidas pela voçoroca e aumento a rede
de canais
e a
densidade através do desenvolvimento de tributários.
30
E
m
Oliveira (1999) os principais mecanismos envolvidos no processo
erosivo,
acompanhados de considerações genéricas de ordem física são:
Deslocamento de partículas por impacto de gotas de chuva;
Transporte de partículas de solo pelo escoamento superficial difuso;
Transporte de partículas por fluxos concentrados;
Erosão por quedas
-
d’água;
Solapamento da base de taludes;
Liquefação de mater
iais de solo;
Movimentos de massa localizados;
Arraste de partículas por percolação;
Arraste de partículas por fluxos concentrados em túneis ou dutos;
Entre os prejuízos causados pelas voçorocas, ressalta
o
transporte de sedimentos
conforme Reis (2004):
As voçorocas e canais são fontes consideráveis de sedimentos e dependendo
do período de observação, o percentual de perda do solo será parcialmente
determinado pela magnitude e freqüência dos eventos chuvosos
caracterizando normalmente por haver um decréscimo na produção total de
sedimentos no período seco e um aumento na contribuição de sedimentos no
período chuvoso.
De acordo com Christofoletti (1988 apud Reis 2004) os sedimentos levados pelos
cursos d’água possuem diferentes granulometrias e por isso sofrem um processo de transporte
que varia dependendo dos aspectos físicos locais e do escoamento. Boa parte da carga
de
sedimentos dos cursos d’ água é resultante da ação erosiva que as águas exercem sobre as
paredes das margens e do fundo do canal. No entanto a maior parte dos sedimentos tem sua
origem na remoção detrítica das vertentes.
31
O material que é transportado para corpos d’água como rios, várzeas e re
presas
provoca assoreamento e diminui a disponibilidade de água para os agroecossistemas e para o
consumo humano.
De acordo com Miranda (2004) a prática agrícola associada
às
características
climáticas são as principais causas de erosão e de degradação do solo no Brasil, as perdas
ambientais associadas ao recurso do solo para o uso agrícola e florestal, causadas por
processos de erosão são estimadas em 5,9 bilhões de dólares ou 1,4% do PIB brasileiro. O
Ministério do Meio Ambiente estima que se perca anualmente, um bilhão de toneladas do
solo, por causa da erosão
.
Para Guerra (2005) o estudo das form
as de relevo é de importância fundamental para a
recuperação de áreas degradadas. Na realidade, as atividades econômicas que o H
omem
desenvolve na superfície terrestre estão situadas sobre alguma forma de relevo e algum tipo
de solo, e estas formas de relevo darão uma resposta, que pode ser mais catastrófica ou de
menor impacto, dependendo do uso do solo e das técnicas utilizadas, além das características
do meio físico.
Cunha & Guerra (
2000
apud Reis 2004
)
ressaltam que a
Geomorfologia
tem grande
importân
cia
nos estudos de impactos ambientais, com relação à quebra da harmonia natural
resultantes da degradação ambiental, seja ela numa bacia hidrográfica ou em parte dela, numa
vertente, uma voçoroca entre outros objetos de estudos, os quais são importantes p
ara
conhecer a dinâmica da evolução dos processos de degradação do meio ambiente. Outro fator
de destaque é procurar inter-relacionar os estudos do meio físico com as ações antrópicas,
pois quem os desencadeia também procura resolver, recuperar, recompondo locais
degradados.
São realizadas diversas pesquisas com a utilização de variados métodos para obtenção
de dados sobre as formas de degradação. O monitoramento de processos erosivos, por
32
exemplo, tem sido feito com a utilização de diferentes técnicas e procedimentos. São
realizados estudos referentes a fatores físicos, econômicos e sociais, além de experimentos
destinados a determinações de perdas por erosão, realizando diagnósticos das áreas
degradadas.
Metodologia é definida como a explicação, detalhada de toda ação desenvolvida no
método que é o
(caminho)
da pesquisa. Para Casseti (2003) as metodologias são guias que
programam as investigações e o método é um auxiliar da estratégia
, e esta
se caracteriza como
segmento programado “metodológico”.
Ainda
segundo o autor para uma compreensão fácil da diferença entre método e
metodologia utilizando se o argumento geomorfológico, como exemplo, os níveis
sistematizados por Ab’Sáber (1969)
que
se caracterizam como estratégia auxiliar para o
desenv
olvimento da pesquisa geomorfológica, portanto, referem-se propriamente ao método,
ao passo que as formas e instrumentais utilizados para o estudo de cada um dos referidos
níveis correspondem a metodologia
.
Ab’Saber 1969 (apud Casseti, 2003) desenvolve uma metodologia aos estudos
geomorfológicos sobre o Quaternário composto de três partes integradas: a compartimentação
topográfica, a estrutura superficial e a fisiologia da paisagem. A fisiologia da paisagem, parte
fundamental da pesquisa que pressupõe as duas primeiras, procura desenvolver um
entendimento da funcionalidade ou organização da paisagem através do conhecimento
da
função de cada elemento do quadro ambiental, no processo de funcionamento da paisagem
como os fluxos de energia e matéria que fazem funcionar dinamicamente a paisagem
(ROSS,
2000, p.39).
Com base no exposto acima neste estudo pretende-se desenvolver a pesquisa com
apoio nos três níveis de tratamento geomorfológico propostos por Ab’ Saber (1969), que: no
33
1º nível
constitui em realizar
a compartimenta
ção topográfica na área de estudo através de um
levantamento de documentos topográficos com vistas a obter informações sobre a topografia
local na intenção de elaborar um prognóstico relativo aos fatores condicionantes e a
susceptibilidade a erosão linear.
No nível que se refere a estrutura superficial da paisagem através de um
levantamento e identificação dos sistemas pedológicos representativos da área de estudo
reconhecidos pelos dos perfis de alteração onde foram também coletadas amostras para
ensaio
s de laboratório relativos a caracterização dos materiais. E o nível, fisiologia da
paisagem q
34
5-
PROCEDIMENTOS
OPERACIONAIS
É possível encontrar diversos trabalhos que demonstram técnicas e procedimentos
diferentes utilizados para estudar processos erosivos. Para Bertoni & Lombardi Neto (
1990
)
em linhas gerais as pesquisas dos fatores físicos que
influenciam
sobre a erosão podem se
resumir assim:
a) características de intensidade, duração e freqüência das chuvas.
b) características físi
cas e químicas dos solos.
c) características da vegetação.
d) perdas de solo e água ocasionada pelas diferentes chuvas em várias unidades de solo com
diferentes coberturas vegetais.
e) estudo da influência do clima, vegetação e solo sobre a erosão e enxurr
ada.
f) efeitos das práticas vegetativas, edáficas e mecânicas sobre as perdas de solo e água.
g) efeitos econômicos das diferentes práticas e sistemas de manejo.
Portanto, para o desenvolvimento da pesquisa proposta foram adotados procedimentos
para que fosse possível conhecer a correlação entre os fatores atuantes no processo erosivo e
sua dinâmica de desenvolvimento, caracterizando fatores como: solo, declividade, clima,
vegetação, áreas de maior atividade erosiva, o uso da terra e outros fatores que interferem na
evolução do processo erosivo.
Após os levantamentos no campo e dados obtidos através de técnicas utilizadas para
monitoramento foi possível a definição dos tipos de ensaios que seriam necessários para
análise do processo erosivo em questão.
35
5.1
-
Revisão bibliográfica.
Para o desenvolvimento da pesquisa foram feitos levantamentos bibliográficos a fim de
conhecer os trabalhos realizados nesta área tanto nacional como internacional e assim
enriquecer cientificamente o projeto proposto. Assim foram levantados conteúdos
relacionados a processos erosivos, mecanismo de voçorocamento, monitoramento de erosão,
características geoambientais da área, para tanto foram selecionados produções nacionais e
internacionais.
5.2
-
Trabalho de campo
Com intenção de alcançar os objetivos propostos para esta pesquisa seguiu-se uma
metodologia de trabalho em que as observações feitas no campo são de fundamental
importância para a caracterização dos fatores envolvidos no processo erosivo, bem como sua
dinâmica.
Para tanto foram coletadas amostras de solo para os ensaios no laboratório,
realização de medidas, levantamento topográfico, registros fotográficos, identificação das
áreas de maior atividade erosiva e outros fenômenos
atuantes
em voçorocas.
As visitas ao campo foram realizadas a fim de determinar melhor uma correlação
visual entre os mecanismos erosivos no local e os fatores
atuantes
envolvidos no
dese
nvolvimento do processo erosivo, são fatores importantes como: topografia, declividade
do terreno, caracte
rísticas do solo, vazão, cobertura vegetal e uso do solo.
Durante os
trabalh
os de campo também foram
realizado
s a descrição dos perfis de
alteração
observados nas paredes da voçoroca e com material coletado no local para ensaios
em laboratório, visando descrever as características morfológicas, como: profundidade,
36
transição entre os horizontes, cor, textura, porosidade, consistência e presença da atividade
biológica,
considerando como
uma outra forma de avaliar as feições
erosivas.
5.3
-
Laboratório
Para avaliação dos mecanismos atuantes em um processo erosivo fez se necessários
ensaios específicos em laboratório, visto que apenas caracterização visual não seria suficiente.
A fim de determinar parâmetros como: granulometria e consistência foram coletados
ma
teriais nas paredes da voçoroca para análise em laboratório os quais foram definidos diante
das observações feitas no campo, com a intenção de compreender propriedades físicas do
solo, e seu potencial erosivo, os ensaios foram realizados nos Laboratórios de Geomorfologia
e Erosão de Solos (LAGES) do Instituto de Geografia e Engenharia Civil, ambos da
Universidade Federal de Uberlândia.
Entre eles:
5.3.1.
Determinação do Limite de Liquidez (NBR 6459- 1984) e Limite de Plasticidade
(
NBR 7180
-
1984
)
Para Vargas 1977 (apud Santos 1997) as propriedades físicas de maior interesse do
ponto de vista geotécnico no estudo de um solo são: textura, plasticidade e estrutura, sendo
possível através destas propriedades físicas realizar uma identificação satisfatória dos solos.
Salienta que estas propriedades são suficientes para a identificação dos solos, já que a
previsão do comportamento geomecânico depende também das condições naturais em que o
solo se encontra.
Para que maiores informações sobre as características físicas do solo fossem
disponíveis para conhecimento da influência deste fator na evolução da voçoroca, que a
partir de observações feitas no campo foram identificados processos como taludes
37
praticamente verticais com alcovas de regressão e grande quantidade de queda de blocos no
interior da voçoroca, portanto, optou-se pela realização de ensaios de caracterização, a fim de
correlacionar as características físicas do solo com a susceptibilidade a erosão. Estes foram
realizados no Laboratório de Engenhari
a Civil da Universidade Federal de Uberlândia.
Com o ensaio foi possível identificar a influência das partículas argilosas,
demonstrando que o solo pode ter comportamento diferente de acordo com as características
dos minerais presentes.
Fig.06
-
A
parelho utilizado para determinação do limite de
plasticidade
“CASAGRANDE”
Autor: ROCHA, E. A. V., set. /2006.
5.3.2
- Análise
granulométrica
A análise granulométrica dos sedimentos transportados no interior da voçoroca foi
baseada na proposta da EMBRAPA (1979). Os sedimentos foram coletados em dispositivos
colocados no interior da voçoroca onde era monitorado
o tempo.
Em laboratório era feita a separação entre o material mais grosseiro daquele de menor
fração, este processo era realizado através do peneiramento com peneiras que variavam entre
38
>3,35 e <0,053. Antes desse processo é retirado 20 g para a análise granulométrica, onde é
feita
a separação do material mais fino, para isso foram ut
ilizado 100m
l de água destilada e 15
ml de Hidróxido de Sódio (NaOH) para a desagregação das partículas, sendo usado para este
resultado a mesa agitadora. Todo o material é pesado a fim de deduzir a quantidade
transportada
no evento chuvoso monitorado.
5.
4-
Monitoramento da voçoroca com estacas.
Para se determinar a evolução de uma voçoroca
são
necessárias medições tanto no
desenvolvimento vertical quanto horizontal. Para isso estacas colocadas em intervalos
regulares e com as medições feitas fornecem dados para determinar a intensidade com que as
bordas da voçoroca estão se movimentando.
De acordo com Guerra
(
2005):
(...)
as voçorocas são formas resultantes de processos erosivos
acelerados
que evoluem no tempo e no espaço,
para se conhecer como e para on
de estão
evoluindo, é necessário fazer o seu monitoramento.Uma das maneiras
utilizadas
é colocar estacas no solo, ao redor das voçorocas, afastadas uma
das outras cerca de 20 metros (esse afastamento pode ser maior caso a
dimensão da voçoroca seja
quilomét
rica), com afastamento de pelo menos
10 metros das
bordas da voçoroca. Após a colocação dessas estacas é preciso
que se faça um esquema da distribuição espacial das estacas e seja medida a
distância de cada estaca até a borda da voçoroca. A cada dois ou três meses
(ou com uma periodicidade relacionada à distribuição temporal das chuvas)
retorna-se ao local e realiza-
se
nova medição. Com isso, pode-se traçar com
um bom grau de
precisão
a evolução da voçoroca
, no tempo e no espaço.
Essa evolução pode estar associada com a distribuição das chuvas, com as
propriedades do solo, com a cobertura vegetal, com o uso e manejo da terra,
etc.
Portanto a
dotou
-se a metodologia proposta por Guerra com modificações para a
conf
ecção das malhas de referência. As malhas foram construídas com a utilização do
teodolito, trena e estacas de madeira em torno da ramificação monitorada da voçoroca
,
seguindo uma forma
retangular com medidas iguais entre as estacas
. Estaqueou
-
se ao redor da
voçoroca, mantendo-se uma distância de 5 metros entre cada uma delas. Uma vez colocadas
39
as estacas no solo e feito o esquema da distribuição espacial das mesmas formando um
retângulo
, retornou-se uma vez por mês ao campo para a medição da distância das estacas em
relação à borda da voçoroca, verificando assim se ocorreu ou não o aumento da
erosão.
Tal
método não deve ser utilizado como única fonte para avaliar o desenvolvimento do processo
erosivo
, pois devem ser observados os fatores condicionantes que alteram o desenvolvimento
da voçoroca
.
A distribuição retangular das estacas deve-
se
ao fato que colocadas dessa maneira
obtém
-
se
maior controle das medidas, visto que se por ventura alguma se perca, através das
outras é
possível determinar o avanço das bordas da voçoroca.
5.5
-
Levantamento fotográf
ico
Foi realizado um trabalho com registros fotográficos a fim de fornecer mais
informações para a pesquisa. De acordo com Silva et al, (
2004
) métodos fotogramétricos
oferecem
suporte informativo a outros métodos utilizados. Qualquer tipo de fotografia é
útil
para o estudo de processos erosivos.
Assim todo evento diferente observado na voçoroca era fotografado com o intuito de
obter a representação do fenômeno, data, local e outros dados importantes para a pesquisa.
5.6
-
Vertedouro
Definidos os fatores que influenciam no desenvolvimento de um processo erosivo, as
técnicas para avaliação de sua dinâmica devem levar em conta as inter-relações entre os
fatores, visto que estudados isoladamente podem propiciar uma compreensão diferente de
quando visto como um todo. Com essa intenção as técnicas utilizadas para o monitoramento
40
da voçoroca possibilitam quantificar, determinar, demonstrar o conjunto de fatores atuantes
em uma erosão.
Afim de que fosse possível estabelecer as perdas de solo foi instalado um verte
douro
no interior da voçoroca, com 1,60cm de comprimento, 80 cm de altura, 50 cm de largura,
construído com placas de concreto, com a finalidade de coletar o material transportado, tanto
sedimento de fundo, quanto sedimento suspenso
.
Foram
colocadas no fundo do vertedouro armadilhas para coleta do material de fundo
,
para sedimentos suspensos, foram adaptados tubos de PVC com alturas de 5, 10 e 15 cm para
coleta desse material suspenso, todo material foi analisado em laboratório e sempre
relacionado a outra
s metodologias para estudos desse processo erosivo.
A enxu
rrada
passa pelo vertedouro adaptado com os coletores de sedimentos de onde
são retiradas amostras para determinação da quantidade e a textura do solo transportado por
análise em laboratório.
Segund
o Reis 2004 (apud
Chr
istofoletti
1988): ”o sedimento de fundo é maior e mais
denso do que o sedimento suspenso e por isso, o seu transporte é realizado por meio de arraste
no fundo do canal”. Este tipo de sedimento origina-se basicamente de rochas e solo,
e
dependendo do tamanho do canal em que o transporte está sendo realizado, ele poderá ter o
diâmetro de alguns milímetros e ter seu peso dado em gramas ou poderá ter o diâmetro em
metros e o peso ser dado em quilos.
Assim, foram feitas coletas em período chuvoso bem como em períodos de estiagem,
para obtenção de dados referentes ao material sólido arrastado, a quantidade deste
correlacionado ao tempo de coleta.
41
Fig.
07 –
Vertedouro montado no interior da voçoroca.
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. /2005.
5.7
Vazão
Para a realização desta pesquisa na qual
trabalhou
-
se
com o acompanhamento do
processo de evolução das bordas da voçoroca e também os fatores atuantes no processo
erosivo, fez se necessário a determinação da vazão e quantidade de sedimentos transportados,
possibilitando então conhecimento de alguns fatores referentes a dinâmica erosiva.
Foram
adaptados alguns dispositivos e metodologias para obter estas informações.
Este acompanhamento foi feito no final do vertedouro, ut
ilizando
uma vasilha de 6
litros que compreendia
todo
o fluxo de água e o tempo era cronometrado, o material coletado
era levado para o laboratório pesado e peneirado.
Coleta de
sedimentos
Dados de
vazão
Coleta de
sedimentos
42
Fig. 8
Técnica utilizada para m
edição da variação da vazão.
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. /2005.
6- CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Mesmo se tratando de uma área que teve sua cobertura vegetal retirada, compactação
do solo,
manejo inadequado
para plantio
que são situações
que deixam o solo propício a
processos erosivos, para uma avaliação e análise da evolução da voçoroca é necessário que se
tenha um conhecimento sobre as características físicas do loca
l e uso do solo
como também a
relação en
tre
estes fatores.
6
.1
– Geologia
O município de Ipameri encontra-se sobre rochas do Pré Cambriano, constituídas por
metassedimentos do Grupo Araxá,
estando
inserida
no segmento meridional da Faixa de
Dobramentos Uruaçu, configurando
-
se dentro da F
aixa B
rasília.
43
Segundo
Almeida
et al., 1976; Marini et al., 1984 d
enomina
-
se
como Faixa Brasília
uma unidade geotectônica formada por variadas unidades de rochas metassedimentares que
foram depositadas e deformadas na borda oeste do Cráton do São Francisco, que evoluiu do
meso ao neo
-
Proterozóico, sendo que este metamorfismo e deformação são mais intensos em
direção a oeste o que deixa evidenciado a importância do evento termal Brasiliano, percebe
-
se
então a presença de terrenos mais antigos e ciclos orogenéticos pré-Brasilianos. Além de
extensos terrenos gnáissicos e granulíticos expostos especialmente nas suas porções centro,
oeste e norte que constituiriam o embasamento antigo das seqüências supracrustais da faixa,
tendo sido +
incluídos no chamado Maciç
o Med
iano de Goiás.
O Grupo Araxá definido por Barbosa (1955) ocorre principalmente no segmento
sudeste da Faixa Brasília, e é constituído por micaxistos
e
quartzitos. Na base desta unidade é
possível observar biotita e hornblenda, além de em alguns locais
ser
possível de detectar a
presença de rochas vulcânicas associadas com o
micaxisto do próprio G
rupo Araxá
.
Já uma grande área
na parte central do sudeste do E
stado de Goiás é caracterizada pela
exposição de terrenos de alto grau metamórfico denominado por Complexo Anápolis-
Itauç
u.
Este está exposto entre rochas metassedimentares do Grupo Araxá, que ao longo da zona
interna da faixa Brasília forma uma zona alongada de noroeste para sudeste sobre (260x70
km) estendendo dos limites de Itauçu no noroeste para a área do município de Ipameri no
sudeste de Goiás.
Para Araújo et al., 1994, Winge 1995, Wolff 1991 este complexo é formado por uma
associação de diferentes tipos de rochas de alto grau metamórfico formado por granulitos
ortoderivados que inclui corpos máfic
os
-utramáficos granulitizados, constituídos por
metagabros, metapiroxenitos, metanortositos, e também corpos de composição charnoquitica
e enderbitica, migmatitos e ortognaisses de composição tonalítica a granítica e um grande
volume de granulitos e gnaisses aluminosos, contendo sillimanita e granada, eventualmente
44
apresentando cordierita, espinélio e safirina, possivelmente derivados de sedimentos pelíticos
a grauvaquianos.
6.2. Geomorfologia
O Estado de Goiás em sua maior parte está localizado no
Pl
analto Central, este que
apresenta terrenos cristalinos e sedimentares antigos. Para Barbosa et al (
2004
) o relevo tem a
fisionomia de um vasto planalto formado por chapadas e chapadões cristalinos e sedimentares
de estrutura horizontal e sub-horizontal, seus antigos planaltos foram modificados por
processos erosivos e de sedimentação.
Analisando as formas do relevo do município de Ipameri este se localiza na área de
transição entre as Morfoestruturas da Bacia Sedimentar do Paraná e da Bacia Sedimentar do
Araguaia
-Tocantins. Apresenta formas de relevo em que predomina o padrão de morros
intercalado por algumas planícies fluviais e por colinas. Ocorrem também além destas formas
os topos planos.
Os morros ocorrem justamente em áreas que coincidem com atividades endógenas
mais recentes, principalmente pela presença de material intrusivo. As intrusões elevaram o
material da crosta terrestre de forma diferenciada, causando a elevação de algumas áreas em
relação a outras. Com o passar do tempo geológico algumas dessas elevações e outras mais
antigas passaram a sofrer erosões diferenciais, formando assim o padrão de forma de colinas
intercalado entre os morros. O material erodido foi então acumulado nos grandes vales
fluviais, dando origem às planícies fluviais. Os topos dos morros com maiores extensões
passaram por um processo erosivo que culminou na formação de topos planos, os quais se
tornaram extremamente úteis para a aplicação da agricultura mecanizada.
45
Contudo, a forma do relevo influencia sobre o modo e intensidade que o Homem
ocupa e pratica suas atividades. Como prova disto, pode ser citado o fato de os topos planos e
as colinas aplainadas e extensas terem passado por intenso processo de mecanização agrícola,
se tornando seleiros produtores de grãos. As colinas e as áreas mais acidentadas estão sendo
ocupadas pelas pastagens, enquanto que as planícies fluviais estão sendo utilizadas como
pastagem e para culturas de subsistência.
Fig. 09
Esta figura serve para ilustrar a diversificação de formas de
relev
o que existe no município
de
Ipameri. Ao fundo é possível observar um padrão de forma de morro e ao centro é possível
ver colinas longas e aplainadas intercaladas por pequ
enas planícies fluviais
.
Autor: ROCHA, E. A. V., Maio/ 2006.
6.3
Solos
Os solos em áreas de Cerrado apresentam características diferentes devido a
variação
climática
, o grau de intemperismo, as formas de relevo e variação do material litológico,
assim, pode ser encontrado solos como os latossolos, cambissolos, gleyssol
os,
organossolos e
solos podzólicos.
46
De acordo com o mapa de solos no município de Ipameri o predomínio de uma
associação de latossolo vermelho escuro + latossolo vermelho amarelo, ambos distróficos,
com textura argilosa, relevo suave ondulado e plano + Cambissolo distrófico ou álico Tb
textura argilosa cascalhenta ou média cascalhenta relevo ondulado ou suave ondulado todos A
moderado (Led 8). E, associação de Cambissolo distrófico ou álico Tb, textura média
cascalhenta ou argilosa cascalhenta, relevo ondulado e forte ondulado + solos Litólicos
distróficos textura média cascalhenta relevo forte ondulado, ambos fase pedregosa +
Cambissolo álico Tb, textura argilosa relevo suave ondulado e forte ondulado, todos
distróficos a moderado. Esta informação foi
retira
da do mapa elaborado pelo SIEG (Sistema
Estadual de Estatística e de Informações Geográficas de Goiás, 2004) em escala maior,
portanto na área do município podem ser encontrados outros tipos de solo, como, por
exemplo, o neossolo litó
lico.
A voçoroca localiza-se em material de alteração
sobre
embasamento de
micaxistos pertencentes ao Grupo Araxá, que foram definidos através de análises no
laboratório e trabalhos de campo. Este
material
é profundo, de boa drenagem, textura argilosa,
boa agregação e de
estrutura granular,
possui
boa permeabilidade e porosidade.
Identifica
-
se na parede da voçoroca
a ocorrência de três camadas, sendo a primeira um
manto superficial composto por partículas mais finas sem material grosseiro e suas
propriedades estão relaci
onadas com as características do saprolito.
Em
seguida uma camada de quartzo que varia quanto à profundidade e espessura, em
alguns locais é possível identificá-la na superfície, sua composição mineralógica corresponde
a fragmentos da rocha local. A camada inferior é o saprolito, isto é, a rocha alterada por
fatores de formação do solo mantendo ainda as características da qual este se formou.
47
(A)
(B)
Fig. 10
-
(A) Vista geral
das
paredes da voçoroca. (B) Detalhe do perfil, camada
supe
rficial e
camada d
e cascalho quartzitico.
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. / 2006.
48
6.4
Aspectos Bióticos
6.4.1
Aspectos da Vegetação
O Cerrado é a grande unidade fitogeográfica do Estado de Goiás, que de acordo c
om
Barbosa et al (
2004
) constitui uma paisagem fitogeográfica originária dos seguintes
componentes:
Deficiência dos minerais do solo, parcela reduzida de húmus e f
atores
ecológicos ou ambientais, como o clima e logo que associados determinam diferentes tipos de
Cerrado.
Para Ferre
ira
(
2003
) conceitualmente, hoje
pode
se definir o Cerrado como sendo uma
savana tropical constituída por vegetações rasteira e arbustiva e principalmente por gramíneas
coexistentes com árvores e arbustos esparsos, ou seja, englobando os aspectos florísticos e
fisionômicos da vegetação, sobre um solo ácido e relevo suave ondulado, recortada por uma
intensa malha hídrica.
O Cerrado abrange uma grande área do Brasil recobrindo quase dois milhões de
quilômetros quadrados, ou aproximadamente 23% do território, inclui quase a totalidade dos
Estados de Goiás e Tocantins, e parte de outros estados. Constitui-se em uma área que desperta
grande interesse a diversas áreas de pesquisa, representa um dos maiores domínios do Brasil em
se tratando de aproveitamento econômico, já que tem sido explorado em grande parte por
lavouras e criação de gado.
Trata
-se de um domínio que apresenta diferentes aspectos, isto relacionado com
características do clima, solo, recursos hídricos, relevo, portanto em regiões mais úmidas, ou n
as
baixadas a vegetação é composta por árvores de maior porte, em regiões mais secas a vegetação
predominante é aquela de gramíneas e pequenos arbustos.
Barbosa
et al (
2004
) diferencia os elementos fisionômicos desse Bioma quanto aos seus
extratos arbóreo
e arbustivo
-
herbáceo:
49
Estrato arbóreo: árvores de porte baixo, caule tortuosos recobertos de casca grossa, folhas
grandes e pilosas, ausência de árvores espinhosas. Exemplos:
pequizeiro,
lixeira, sucupura, ipê e
outros.
Estrato arbustivo-herbáceo: cara
cterizam
-se pela existência por moitas, tufos, espécies
arbustivas e semi-arbustivas. Exemplos: gabiroba, pitanga, capim-gordura, caju, assa-peixe e
outros.
Ainda segundo o autor, o bioma Cerrado distribuído pelo território nacional, no contexto
da globalização da economia, está sofrendo rigoroso processo de impactos ambientais em
termos de degradação e destruição de significativos ecossistemas brasileiros. que devido
ao
aumento da população cresce a necessidade de se associar desenvolvimento científico e
tecnológico com desenvolvimento social, portanto vive-se um momento em que ciência,
produção e sociedade estão interligadas, o que leva a necessidade de um desenvolvimento
sustentável, assim ter melhores oportunidades econômicas, sociais e culturais em busca de
melhoria na qualidade de vida e conservação do meio ambiente.
A região de Ipameri é uma área onde o Cerrado é significante, em todo o município
encontram
-se tipos fisionômicos diferentes, apesar de hoje existirem extensas áreas de
degradação, isto devido ao aumento das lavouras para o cultivo principalmente de soja e
algodão, além de grande área destinada à pastagem.
Na área de estudo devido aos processos de ocupação a vegetação natural foi degradada,
pois se trata de uma área com pastagens, que teve sua cobertura natural retirada, havendo assim
destruição de espécies da flora e fauna.
50
6.4.2
– Aspectos da Fauna
O Cerrado possui uma grande diversidade faunística, tendo catalogado mais de 1.600
espécies animais, entre mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Isto faz com que este ecossistema
possua o segundo maior conjunto animal da Terra. As aves representam a grande maioria
destas espécies, representando mais da metade do total de animais identificados (AMBIENTE
BRASIL, 2006). Não se deve esquecer que ainda existem os invertebrados que são
encontrados de forma abundante no Cerrado, como por exemplo, as térmitas, as formigas,
abelhas, vespas e mosquitos.
O avanço da ocupação humana sobre o Cerrado provocou o desmatamento do habitat
dos animais. C
om isto, toda a cadeia alimentar foi desestruturada, porque com a devastação da
vegetação a quantidade de consumidores primários diminuiu drasticamente, e
conseqüentemente
, as espécies dos níveis tróficos superiores também diminuíram. Além do
mais, houve um período em que a caça não era tão fiscalizada quanto atualmente,
principalmente durante o início da ocupação do Cerrado. A ocupação do Cerrado foi
catastrófica para a fauna, pois houve uma diminuição acentuada da quantidade de animais
silvestres; 65 espécies deste ecossistema estão ameaçadas de extinção, como por exemplo, os
mamíferos tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o lobo-guará (
Chrysocyon
brachyurus
) e as aves
como
mutum
-
do
-sudeste (Crax blumenbachii) e a arara-
azul
-
grande
(
Anodorhynchus h
yacinthinus
).
Algumas espécies de animais podem ser observadas com mais freqüência no
município, principalmente espécies de aves, como a saracura (Aramides cajanea), pica-
pau
(Colaptes campestris), bem-
te
-vi (Pitangus sulphuratus), periquito (Brotogeris ch
iriri
), beija-
flor (
Amazilia versicolor
)
, codorna (
Nothura maculosa
), tucano (
Ramphastos toco
) e seriemas
(Cariama cristata). Alguns répteis também, entre eles a cobra cascavel (Crotalus durissus
51
collilineatus
), a jibóia (Boa constrictor amarali) e pequenos lagartos e espécie de mamífero,
como o tamanduá
-
bandeira (
Myrmecophaga tridactyla
).
Devido ao fato do município ter passado por um intenso processo de desmatamento e
parte das espécies animais sofrerem com as caçadas, atualmente torna-se muito difícil o
contato direto com algum tipo de animal.
Muitos animais mortos são encontrados nas estradas pavimentadas que dão acesso à
Ipameri. Nelas são comumente observadas carcaças de animais atropelados por automóveis,
como por exemplo, tamanduá-bandeira (ameaçado de extinção), ta
a
nd
u
á
-
m
i
r
i
,
r
a
p
o
s
a
,
52
bem estruturados sejam usadas pelos fazendeiros. O recente interesse por este tipo de terra (a
partir de 1980) acaba causando uma falsa idéia de que os fazendeiros tomaram consciência
dos danos ambientais causados quando as regiões de declividades mais acentuadas e os
morros são utilizados na produção rural. Na realidade o que se é que este interesse é
movido quase que exclusivamente pelo lucro que as monoculturas mecanizadas das terras
planas oferecem em detrimento com as culturas ou criação de gado nas
áreas mais acidentadas
que possuem solos rasos e poucos estruturados.
Nos topos planos uma predominância do cultivo do algodão (fig. 12). Mais não
deixam de ocorrer plantações de soja, milho e arroz, porém, em escala bem reduzida. O
algodão toma conta desta paisagem principalmente porque melhores condições de trabalho
concebidas pela terra plana, que acaba facilitando o uso extensivo de máquinas agrícolas que
esta cultura exige.
Fig. 1
1 –
Cultura de soja numa colina pró
xima ao Córrego Vai e Vem
Autor:
ROCHA
, E. A. V., Abril / 2006
.
53
Fig.12
Plantação de algodão na região dos topos planos. Este cultivo é feito
por
parceiros da
A
lgodoeira Califórnia.
Autor: ROCHA, E. A. V., Junho / 2006
.
A procura por terras planas ficou mais acentuada com o passar do tempo,
principalmente porque as monoculturas se mostraram como fontes extremamente ren
táveis.
Quando estas terras já se encontravam intensamente ocupadas, o ambiente das veredas passou
a sofrer drenagens para que estas terras também pudessem ser utilizadas na produção agrícola,
gerando um impacto ambiental negativo quase que irreversível pa
ra o meio ambiente.
Apesar do uso do solo proporcionado pelo Homem causar uma série de impactos
ambientais negativos na área estudada, este uso é necessário para garantir a produção de
alimentos para a população dos centros urbanos. Para amenizar os impactos ambientais,
diversas medidas vêm sendo tomadas pelos produtores rurais, como por exemplo, a
diminuição do uso de agrotóxicos, racionalização do uso da água e a aplicação da técnica do
plantio direto que ameniza os problemas ocasionados pelos processos erosivos quando o solo
fica completamente exposto no período após a colheita.
54
6.6
Clima
Em Goiás o clima tropical é predominante, sendo sua característica mais marcante a
presença de duas estações bem definidas: um verão úmido e um inverno seco. As
te
mperaturas médias variam entre 18º e 26º C, com uma amplitude térmica significativa,
considerando
-
se o regime dominante nos planaltos elevados que forma grande parte de Goiás.
A cidade de Ipameri está localizada em uma região do Cerrado onde o clima segund
o
Köpper é o Tropical Semi-úmido (CW). O clima local é caracterizado por apresentar uma
temperatura média anual de 23°C, média pluviométrica anual entre 1300mm e 1700mm e uma
estação chuvosa e quente (verão) e outra apresentando temperaturas mais amenas (i
nverno)
(MENDES 2001).
Na área de pesquisa foram registrados pelo Instituto Nacional de Meteorologia –
INMET
10
o
Distrito de Meteorologia de Goiânia um total de chuvas de 1.895,80 mm
no ano
de 2005 e
de 2.625,30 mm no ano de 2006.
Distribuição da Precipitação em 2005/2006
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
320
340
360
380
400
420
440
460
480
500
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Precipitão/mm
Precipitão 2005 Precipitação 2006
Fonte: INMET
10
o
D
istrito de Meteorologia de Goiânia
Org. ROCHA, E. A. V., dez. / 2006.
55
6.7.
Hidrografia
O município de Ipameri está localizado dentro da Bacia Hidrográfica do Paraná, que é
uma bacia hidrográfica de âmbito internacional sendo de extrema importância para
o
desenvolvimento econômico e social do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Devido a grande importância desta bacia hidrográfica a preocupação com o seu
manejo e recuperação vem crescendo, e uma das provas disto foi a instituição dos Comitês de
Bacias Hidrográficas e da criação da ANA (Agência Nacional de Águas) que vem atuando
concomitantemente no controle do uso dos recursos hídricos, na elaboração de leis de uso, no
cumprimento das leis e punindo os infratores que não respeitam as regras e fogem do co
nceito
de “sustentabilidade”, ou não possuem as devidas licenças ambientais para utilização do
recurso.
Ao dividir a Bacia do Paraná em sub-bacias, Ipameri insere-se na sub-bacia do Rio
Paranaíba, sendo que as águas que vertem pelo município são importantes afluentes da
margem direita deste rio. Os rios que cortam o município são: Rio Corumbá, Veríssimo e Rio
do Braço. Estes rios possuem a sua vazão sustentada pelo fluxo proveniente de uma série de
córregos e ribeirões das mais variadas ordens, constituindo assim todo o sistema de drenagem
do município. Entre estes córregos e ribeirões destacam-se o Ribeirão Sucuri e o Córrego Vai
e Vem.
Estão nas terras do município também o rio do Braço, que nasce na chapada em um
local chamado de Pindaibal, e o rio Veríssimo que nasce em um local conhecido como
Cabeceiras. O rio do Braço deságua no Veríssimo, que por sua vez é afluente o Paranaíba.
o rio Corumbá aflui para o Paranaíba, na parte tida como a mais alta, a sudoeste e o São
Marcos que banha as terras do município em curta extensão também aflui para o Paranaíba na
parte mais baixa a sudeste.
56
O ribeirão Vai-
Vem
possui uma importância expressivamente maior em relação a
outros pertencentes ao município, as nascentes deste ribeirão estão localizadas próximas as
áreas urbanas do Município de Ipameri, sendo que alguns quilômetros depois ele e outros de
seus afluentes cortam a cidade. Na área urbana, o Vai e Vem teve a sua estrutura bastante
modificada pela ação do Homem, principalmente no que diz respeito ao desmatamento de sua
mata ciliar, a canalização de seu curso e da modificação da qualidade de suas águas. Este
córrego é utilizado pela população da cidade de formas variadas, como por exemplo, captação
de água para o abastecimento da cidade e como receptor da rede de esgotos do município. As
suas águas também abastecem as propriedades rurais e servem também para um outro uso
ainda não o difundido entre os habitantes, que é o turismo ecológico, principalmente por
causa de uma seqüência de corredeiras e quedas de água localizada em seu curso médio que
banha a cidade
, este é tributário do Veríssimo.
Fig. 13
Este local é conhecido como Cachoeira do Vai e Vem e possui um grande potencial
de
aproveitamento turístico até então nã
o tão difundido entre a população local.
Estas quedas de água
57
De acordo com moradores desta área é comum encontrar espécies típicas da Sub-
bacia
do Paranaíba, como por exemplo, o lambari, o piau e o mandi. É notada por eles a diminuição
da quantidade e qualidade dos peixes
coincide
justamente
com
o período do avanço
da
fronteira
produtiva
sobre
a re
gião,
que
culminou
também
na
diminuição
da vegetação,
incluindo a da mata ciliar e também na mudança das propriedades químicas da água com a
presença maior de poluentes.
Fig. 14
-
O Córrego Vai e Vem é bem caudaloso, comprovando o fato de
ser um can
al fluvial
de grande
importân
cia desta micro
-
bacia
.
Autor: ROCHA, E. A. V. Maio / 2006.
A maior parte da mata ciliar deste córrego já foi retirada para dar lugar a pastagens ou
culturas de ciclo curto. Além disso, a maior parte da vegetação natural da bacia também já foi
retirada, e a falta destas vegetações influencia diretamente na ocorrência de processos
erosivos. Próximo à área de influência deste canal foi possível observar a presença de
processos erosivos nas mais diversas fases, como erosão pelo efeito
splash
”, erosão laminar,
erosão por sulcos, ravinas e voçorocas. Todos estes processos erosivos geram uma grande
58
quantidade de sedimento a cada período chuvoso e essas partículas de sedimentos são
transp
ortadas para o canal do Vai e Vem contribuindo para o aumento de sua taxa de
assoreamento. A taxa de transporte de sedimento é tão elevada que mesmo em períodos de
seca a uma distância de aproximadamente 12 quilômetros da zona urbana, as suas águas são
obs
ervadas na tonalidade escura. Outro processo erosivo também visto neste canal foi o
solapamento das margens, ocasionado pelo poder abrasivo da água associado a falta de
vegetação ciliar.
Uma outra característica peculiar do Vai e Vem é que ele possui uma ampla planície
de inundação no seu entorno, que pode atingir a marca de até 2Km de largura, apresentando
diversas marcas de inundações recentes. A ocorrência destas inundações faz com que a
planície seja fertilizada pelas águas com matéria orgânica e outros nutrientes, possibilitando a
formação de solos mais férteis, os quais são destinados pelo Homem na maioria das vezes
para o cultivo de pastagens.
6.8
- H
istórico de ocupação
Segundo Pires (2000) seria possível resumir a história da região Centro Oeste e
m
quatro fases. A primeira seria o ciclo da preação de índios e a extração de minérios, que
perduraram nos primeiros séculos do período colonial e imperial. A segunda fase foi marcada
pela decadência do ouro e outros minérios preciosos e a expansão da pecuária extensiva.
Nesse período sobressai a política dos coronéis e donos de grandes extensões de terra. Inicia-
se, ao final, a construção de ferrovias e outras estradas que acabam alterando o cenário
regional. A terceira fase (1930-1950) voltou para a busca da modernização e integração
nacional. Por fim, a última fase tem seu auge a partir dos anos 1970 e intensificada na década
59
seguinte: destinou-se à exploração da fronteira agrícola, com base na tecnologia e no capital
intensivo.
A pecuária formou uma base para a economia agrária regional. A expansão das
fazendas de gado foi responsável pela ocupação de grandes áreas de terra no sudeste goiano,
especialmente em áreas de Cerrado. Tal situação não foi diferente no município de Ipameri-
GO.
Segundo Moreyra (1982) a pecuária em Goiás teve início paralelamente a fase da
mineração, esta atividade desenvolveu-se uma ativa sociedade de criadores e comerciantes de
gado. Ainda no período colonial, muitas fazendas e arraiais surgiram a partir dessa atividade
econômica.
Para Barsanuf (1994) os pontos de grande importância para a introdução do gado em
Goiás foram os currais nordestinos e os paulistas. Fazendeiros do Piauí e da Bahia
conduziram suas boiadas, subindo o São Francisco; depois de percorrerem o oeste baiano e
ultrapassar a fronteira natural do Espigão Mestre, alcançaram o território goiano. Pará e
Maranhão também foram pontos de partida de rebanhos, os quais seguiram o vale do
Tocantins e se dispersaram a partir do norte do Estado. O gado que partiu de São Paulo e
Minas Gerais traçou a mesma trilha dos mineradores; após atravessar o Triângulo Mineiro, os
rebanhos espalharam em território goiano.
Um dos fatores que favoreciam a criação de gado era o baixo custo exigido pela
atividade, além das boas condições físicas e climáticas oferecidas pela região, outro fator de
destaque era a pastagem natural do Cerrado que favorecia o desenvolvimento desta atividade.
Cita
-se como fato importante para o desenvolvimento das atividades agropecuárias na
década 60 à ampliação das rodovias ligando a região Centro Oeste a regiões mais
desenvolvidas do país, aumentando assim o processo de ocupação do Cerrado com
60
implantação de atividades agropecuárias modernas, atraindo pessoas de outras regiões como
das Regiões Sudeste e sul.
na década de 70 a Fronteira Agrícola avança sobre a região Centro Oeste
provocando modificações na economia. De acordo com Pires (2000) a ação estatal fora
fundamental para imprimir o desenvolvimento regional baseado na agricultura moderna.
Nesse período é que são lançados vários programas e projetos de injeção de recursos e
indução de práticas agrícolas modernas e capitalizadas. Nessa época surgem o Programa de
Desenvolvimento da Região de Grandes Dourados (PRODEGRAN), para a região de
Dourados
MT, o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO), para 12
pólos espalhados na região do Cerrado, incluindo Minas Gerais, o Programa de Cooperação
Nipo Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados PRODECER e outros de cunho mais
estadual.
A produção de grãos na Região Centro Oeste é responsável pela produção de 24% da
produção nacional, conforme dado fornecido pelo IBGE. Porém mesmo com tais dados sobre
o crescimento das atividades agrícolas, a expansão da criação de gados tem uma grande
importância, dados fo
rnecidos pelo IBGE mostram o grande aumento desta atividade nos anos
de 1985 a 1996.
Quadro
01
-
Principais rebanhos da região Centro Oeste entre 1985 e 1996
1985
1996
UF
Bovinos
Suínos
Aves
Bovinos
Suínos
Aves
MS
15.017.906
400.656
2.801.000
19.754
.356
508.813
10.971.000
MT
6.545.956
671.150
3.673.000
14.438.135
671.789
13.066.000
GO
14.476.565
1.442.031
11.448.000
16.488.390
1.004.074
13.281.000
DF
75.866
34.981
2.446.000
85.615
69.321
5.778.000
TOTAL
36.116.293
2.548.818
20.368.000
50.766.496
2.253.997
43.096.000
Fonte: IBGE
-
Produção da Pecuária Municipal (1985) e Censo Agropecuário 1995
-
1996.
61
O município de Ipameri tem sua origem em um arraial de agricultores e criadores de gado,
fundado por Francisco José Dutra. Os primeiros moradores vieram do estado de Minas Gerais
por volta de 1816 e fixou nas proximidades do Ribeirão Vai-Vem. Em 1845 devido ao
aumento de habitantes, o arraial passa a ser uma paróquia, em 1858 é elevado à vila, neste
período com o nome de Vai Vem pelo fato do Ribeirão
que banha o local possuir sinuosidade.
Já em 12 de setembro de 1870 desmembrou-se do município de Catalão recebendo o nome de
Entre Rios por estar localizado entre os rios Veríssimo e Corumbá. Em 26 de março de 1904,
com a Lei Estadual nº. 42, a cidade passa a se chamar Ipameri, Ipau-mery que significa entre
águas ou entre rios. Hoje o município é formado por três distritos: Ipameri, Cavalheiro e
Domiciano Ribeiro. Possui uma área de
4.368,6
km² e uma população estimada de 25.000
habitantes.
Em 1913 inicia-se a construção da primeira etapa da ferrovia, que trouxe um grande
progresso, conectando Ipameri à Capital do Estado e ao restante do país de forma rápida e
eficiente, possibilitando a ligação d
o município com centros maiores.
Na década de 50
N
62
7.0
-
RESULTADOS
7
.1
-
Descrição
da voçoroca
Trata
-se de uma voçoroca com grandes dimensões, sua extensão é de
aproximadamente
1.050 metros,
variando
de 10 a 15 metros de profundidade, é uma feição
erosiva que possui paredes com contornos tortuosos, e largura de até 60 metros, está
interligada ao curso d’água local, mostra-se parcialmente estabilizada com presença de
vegetação com diversificadas espécies.
Localiza
-se no município de Ipameri-GO, que, de acordo com relatos de antigos
moradores da cidade aquele local era uma antiga estrada muito utilizada por carros de boi, a
voçoroca foi utilizada também como local de treinamento de tiro pelos militares do
Batalhão de caçadores, que foi transferido para Jataí
-
GO
no ano de 1975.
A voçoroca possui dois canais com diferentes graus de estabilidade, apresenta o lençol
freático aflorado, o volume de escoamento de água em seu interior varia de acordo com as
alterações climáticas, diminuindo o volume no período de estiagem e aumentando no período
chuvoso (Fig.15
).
Fig.15
Lençol aflorado no interior da voçoroca em
período
de estiagem.
Autor: ROCHA, E. A. V.
set./2005.
63
A margem esquerda do canal principal apresenta
-se mais estável, pois h
á um avançado
desenvolvimento da vegetação que contribui para a
estabilização.
Essa vegetação tem como
contribuição a proteção ao solo quanto ao impacto da gota de chuva, o aumento da capacidade
de infiltração e retenção da água no solo, dispersão e quebra da energia do escoamento
superficial, além do reforço ocasionado pelo sistema radicular aumentando a estabilidade da
massa, desta forma neste talude é onde se percebe um menor crescimento da voçoroca
(Fig.16
).
De acordo com Santos (1997)
atingida
a estabilização do fundo da voçoroca, as
paredes laterais evoluem até um perfil de equilíbrio com posterior desenvolvimento de
vegetação”.
Fig.16
Talude esquerdo
da voçoroca, vegetação mais desenvolvida.
Autor: ROCHA, E. A. V. set./
2005.
a margem direita apresenta-se menos estabilizada, pois o uso do solo nesta margem
da voçoroca é um fator que contribui para o avanço do processo erosivo, pois, a retirada da
cobertura vegetal transformando a área em pastagem, a compactação do solo causada pelo
pisoteio do gado, e os caminhos por eles criados canalizam a água concentrando o fluxo
64
contribuindo com a dinâmica erosiva, portanto é mais ativa com ocorrência de mecanismos
como a erosão por queda
-
d’á
gua e movimento de massa (Fig.17
).
Fig.
17
Talude direito
da voçoroca, área transformada em pastagem.
Autor: ROCHA, E. A. V. Abril/2005.
Encontra
-se no canal principal na margem direita uma ramificação que apresenta um
elevado estágio de evolução, e sua dinâmica aparentemente está ligada ao uso do solo e a
outros fatores que contribuem com o processo erosivo aumentando o seu poder destrutivo,
nela é possível identificar alguns destes fatores como alcovas de regressão, movimentos de
massa, erosão por queda-d’água, sulcos e ravinas e filetes subverticais, fatores que justificam
o fato de ter escolhido tal ramifica
ção para o monitoramento (Fig.18
).
Fig.18
Ramificação monitorada.
Autor: Jury
Maio
/ 2004.
65
O uso do solo da área de estudo é destinado a atividades agropecuárias e com a
substituição da vegetação local e o pisoteio do gado possibilitou um aumento do poder
erosivo através da ação da água sobre o
solo,
assim, as atividades praticadas no local
possibilitaram a formação de um fluxo concentrado de água que escoa para dentro da
voçoroca provocando uma erosão por queda d’água, ocasionando a formação de alcovas de
regressão, movimentos de massa, arraste de sedimentos no interior da voçoroca, mecanismos
estes que contribuem para a evolução do processo erosivo, possibilitando o recuo das bordas
da voçoroca.
As alcovas de regressão são formadas pelo escoamento superficial tanto por filetes
subverticais como pela exfiltração do lençol freático e mesmo em ação conjunto entre estes
fatores.
Na área monitorada podem ser observadas alcovas de regressão formadas a partir do
escoamento superficial (fig.19)
,
observam
-
se
estas feições erosivas, que contribui para o
r
ecuo da cabeceira
.
Fig.19 –
Alcovas de regressão formada pelo escoamento superficial.
Autor: ROCHA, E. A. V. set./2005.
66
Vale ressaltar que o escoamento concentrado formado pela água da chuva nos
cam
i
nhos feito pelo pisoteio do gado (canais)
atingiu
algumas das ramificaç
ões do lado direito
da voçoroca, fato percebido em trabalho de campo em um dia de muita chuva.
O escoamento superficial formado segue pela encosta aatingir estes canais feitos
pel
o pisoteio do gado, que desviará grande parte da água para fora da área que está a
voçoroca. Assim não são todas as ramificações do lado direito da voçoroca que recebe este
fluxo concentrado
, portanto nota
-se que algumas apresentam maior atividade que outr
as
( Fig.
20 e 21)
.
Fig.20
Caminh
o formado pelo pisoteio do gado.
67
Fig. 21
Escoamento superficial concentrado sendo desviado para fora da
área da voçoroca.
Autor: ROCHA, E. A. V. dez../2005.
O lado esquerdo da voçoroca não é tão afetado por este escoamento, pois a água é desviada
por uma estrada, passando a “correr” pelo lado contrário a erosão. Como a empresa que
está
instalada próximo construiu uma rede pluvial para captação da água da chuva, contribuiu ainda
mais para o controle do escoamento superficial, possibilitando uma maior proteção do lado
esquerdo
, não sendo observado então grande avanç
o da voçoroca.
68
Fig. 22
Representação da dinâmica de escoamento superficial na área estudada.
Formação do escoamento superficial
Canais formados pelo pisoteio do gado
Rede pluvial const
ruída pela empresa Caramuru.
69
Fig. 23
Fluxo
de escoamento pluvial
sendo desviado para fora
da
área da voçoroca.
Fig. 24
Fluxo
de escoamento pluvial
desviado para a estrad
a.
Fig. 25
Fluxo
de escoamento pluvial
concentrado na estrada.
Autor: ROCHA, E. A. V. dez../2005.
V
oçoroca
Empresa
Caramuru
Voçoroca
Curso d’água
Voçoroca
Acesso a
estrada
Desvio da água
para fora da
área da
voçoroca.
Estrada entre a
voçoroca e a
empresa.
70
A ação das águas superficiais concentradas ao desaguarem na voçoroca em forma de
cachoeira provoca a erosão por queda d’água.
Este
processo se inicia a partir da turbulência
formada pela água que remove materiais no ponto onde o impacto sobre o solo é mais intenso,
escavando uma depressão na base da borda erosiva. A intensidade de sua atuação depende do
volume e duração da chuva. Na
voçoroca estudada este mecanismo ocorre de forma acentuada
na ramificação que está sendo monitorada na margem direita, como mostra as figuras
26 e 27.
Fig.
26
Processo de encachoeiramento do fluxo superficial na
borda da voçoroca.
Fig.27 –
Erosão por queda
-
d’água.
Autor: ROCHA, E. A. V. dez../2005.
71
Os sulcos podem ser formados no interior da voçoroca devido ao escoamento
concentrado que indica “rotas de organização”, através deste escoamento é possível observar
o material erodido sendo transportado.
Fig. 28
-
Sulcos formado pelo escoamento superficial no interior da voçoroca.
Notar que os
sulcos
cortam o sedimento depositado no fundo da erosão. Em destaque diferentes níveis de
depósitos.
Autor: ROCHA, E. A. V. dez. ./2005.
O avanço das paredes da voçoroca está associado também aos solapamentos da base
dos taludes, observações feitas durante a pesquisa em momentos de chuva onde ocorria a
queda d’ água no interior da voçoroca (Fig. 29). Este mecanismo ocorre quando o solo é
encharcado pela chuva ou acontece a diminuição do fluxo de escoamento superficial que
deságua na erosão em forma de cachoeira, este mecanismo tende a evoluir remontante com
grande poder erosivo, como foi descrito acima, quando mencionado o mecanismo de
voçorocamento.
Este fato também pode ser observado na ramifi
cação
que está sendo
monitorada
72
Os movimentos de massa localizados acontecem devido a fatores que aumentam o
cisalhamento ou diminuem a resistência às tensões do cisalhamento nos taludes, são
provocados por fatores como, solapamentos, modificações na estrutura,
desmatamentos,
características físicas do solo.
No último período chuvoso foram observados vários acontecimentos assim em toda a
voçoroca inclusive na ramificação monitorada, as causas são diferentes, porém é um
mecanismo associado à ação da água superficial ao atingir a voçoroca, o escoamento no
interior da voçoroca e os ressecamentos nos períodos de estiagem são fatores ligados a estes
mecanismos.
Fig.
29
(A) Rachaduras na parede da voçoroca local onde ocorreu a
queda do talude.
(B) Queda do talude.
Autor: ROCHA, E. A. V./ 2005.
73
É importante salientar que mecanismos de difícil reconhecimento no campo como
os
pipings
que ocorrem na maioria das voçorocas, é um mecanismo complexo ligado a
fenômenos como os desabamentos e solapamentos, pois estes permanecem após a chuva,
retirando material da base, contribuindo
com o processo erosivo (Fig.30)
.
Fig.
30
Piping
Autor: R
OCHA, E. A. V. set./2006.
Um fator de grande relevância no processo erosivo é a agregação das partículas, para
isto, as atividades biológicas e processos bioquímicos correspondentes são importantes para
este resultado. Em locais onde as atividades biológicas são intensas, além da agregação das
partículas, devido às substâncias viscosas que são produzidas pelos organismos, estes também
têm participação na formação de canais e no aumento da permeabilidade quando constroem
seus caminhos no interior do solo.
Na voçoroca em questão foi constatada a presença de tatus,
e
uma grande quantidade
de canais escavados por eles, o que facilita o escoamento da água da chuva por estes canais
ocasionando também t
ransporte de sedimentos. (Fig.31
)
74
Fig.31
Túnel originado de perfuração por tatu que se transforma em local
de transporte de sedimentos e contribui para o crescimento da voçoroca.
Autor: ROCHA, E. A. V.,
nov.
/ 2005
.
Canal feito
por um
animal.
Saída da água
da chuva
75
7.2
- Monitoramento com estacas
A
quantificação
da
s taxa de crescimento da voçoroca
foi
obtida através do
monitoramento de uma das ramificações, a qual apresenta grande atividade, sendo, portanto
um exemplo da área mais ativa da mesma. São vários os mecanismos atuantes no processo
erosivo, para a confirmação do desenvolvimento da erosão baseando na metodologia proposta
por Guerra (1996) e por Hudson et al. (1993) a partir do estaqueamento esta foi monitorada
por um período de dois anos. Assim,
determinou
-
se
o recuo de sua borda sendo possível
também
identificar os fatores mais atuantes no processo erosivo. Após o estaqueamento as
medições
foram
feitas em intervalos de três meses
.
As estacas foram fixadas com uma distância de 5 metros entre cada uma e com uma
trena as medidas eram tiradas e anotadas em uma ficha, como as estacas foram numeradas e a
ramificação foi mapeada com o uso de um teodolito, facilitou o acompanhamento do avanço
da borda desta ramificação.
A ramificação mostra-se em fase de evolução com fenômenos que contribuem para a
sua evolução, entre eles foi possível observar formação de alcovas de regressão,
d
esbarrancamento de suas paredes, atividades biológicas. Porém pode
-se dizer que o principal
fator contribuinte para tais
fenômenos é o escoamento superficial.
A área onde se localiza a voçoroca tem sua vegetação formada por pastagem que
devido ao pisoteio do gado formaram-se canais que contribuíram para a concentração do
escoamento superficial que ao atingir a cabeceira da ramificação monitorada contribuía com a
sua evolução, portanto foram constatados grandes avanços em três estacas neste ponto.
Observe o croqui da ramificação com a localização das estacas
(Fig. 32).
76
Fig.
32
R
epresentação da forma como foram
dispostas as estacas para o
monitoramento da evolução desta ramificação
na área
de pesquisa
Autor: ROCHA, E. A. V., mar.
/ 2005
.
Na ramificação monitorada os pontos marcados pelas estacas 01, 02 e 03 localizados
na cabeceira
mostram
-se em fase de recuo
com
desbarrancamento de suas paredes, os demais
se mostram estáveis, apenas com erosão
superficial.
Nos quadros 02 e 03 são apresentados os dados coletados através das medições feitas
sempre na mesma direção, com o auxílio de cordões amarrados nas estacas, evitando dúvidas
77
quanto a medir sempre no mesmo lugar. Estas informações foram associadas com os dados
de
precipitação.
Vale ressaltar que, foram
identificados
na ramificação monitorada os p
rincipais
mecanismos de erosão co
mo:
transporte de partículas por fluxos concentrados, erosão por
quedas
-d’água e pequenos movimentos de massa localizados, além de outras feições erosivas
identificadas
como:
sulcos e ravinas no interior das voçorocas, alcovas de regressão, marmitas
ou pan
elas e quedas de torrões.
As alterações feitas na metodologia proposta por Guerra (1996) foram baseadas nas
técnicas apresentadas por Hudson (
1997
), onde a distribuição espacial das estacas feita de
forma retangular deve-se ao fato que, se alguma das estacas fosse perdida, através das outras
que estão distribuídas mantendo a mesma medida (5 metros) entre cada uma, possibilita a
continuação das medições naquele ponto. Assim, durante os trabalhos de campo, com a fita
métrica era realizado as medições da esta
ca até a borda da voçoroca.
No dia
26/02/2005
(intervalo de três meses após o estaqueamento) foi realizada a
primeira medição com o intuito de
averiguar
a progressão da voçoroca. Foi
constata
do
um
avanço da borda da erosão na estaca 1 de 1.45m
e na es
taca
2 o avanço foi 1.33m,
ressalta
-se que estas estão localizadas na cabeceira da voçoroca, em toda sua extensão as
medidas continuaram as mesmas
,
pois ficou determinado que o crescimento da voçoroca
pode
est
ar
mais ligado ao escoamento superficial concentrado, que nestes pontos provocaram
mecanismos de erosão que contribuíram para o recuo das bordas. Em toda a ramificação
foram identificados mecanismos como estes, mas não com a mesma intensidade, que o
fluxo de escoamento concentrado não atinge toda a ramificação, portanto nas laterais da
área
monitorada houve recuo de no máximo 10 cm em algumas estacas. Assim, estes mecanismos
responsáveis pelo crescimento da voçoroca são mais ativos nos pontos em que um recuo
78
maior das bordas representados pelas estacas de 1, 2 e 3, as outras estacas apresentaram
pequenas diferenças nas medida.
Observa-se que entre
Dezembro
e
Julho
, o crescimento da voçoroca aconteceu
associado
a mecanismos provocados principalmente pelo escoamento concentrado, que ao
atingi
r a erosão possibilita a formação de alcovas de regressão. Como também foram
monitorados a dinâmica de transporte de sedimentos, verificou-se que, com o avanço das
bordas provocado pela erosão interna, relacionado com o índice de pluviometria, a quantidade
de sedimentos produzida e transportada era bem maior.
Quadro 02 Medidas obtidas com o monitoramento feito com estacas no período de
11/12/2004 a 26/07
/200
5
(período chuvoso)
.
Índice pluviom
étrico no período
=
1260,3
mm
DATA
PONTO 1
PONTO 2
PONTO 3
11/12/2004
4.63 m
5.03 m
4.03 m
26/02/2005
3.18 m
5.00 m
2.70 m
26/04/2005
3.18 m
5.00 m
2.70 m
26/07/2005
3.16 m
3.58 m
2.66 m
TOTAL
1.47
m
1.45
m
1.37
m
Organizado por: Erica A. V. Rocha.
Este avanço das bordas da ramificação monitor
ada
deve
-se a fatores como o
escoamento superficial que atinge diretamente esta borda e os mecanismos provocados por
ele, como: erosão por queda d’água, alcovas de regressão, movimentos de massa e mesmo as
características físicas do solo
(Fig.33
).
79
Fig. 33
Escoamento superficial concentrado na cabeceira da voçoroca.
Ramificação
monitorada,
neste local encontra
-
se as estacas nº 1,2 e 3
que apresentaram maior evolução.
Quadro 03 Medidas obtidas com o monitoramento feito com estacas no período
de
26/07
/2005
a 26/11/
2005
.
(Índice pluviométrico
no período
=
545,9
mm)
DATA
PONTO
1
PONTO 2
PONTO 3
26/07/2005
3.16 m
3.58 m
2.66 m
26/09/2005
3.16 m
3.58 m
2.66 m
26/11/2005
3.16 m
3.58 m
2.66 m
TOTAL
0.0
m
0.0 m
0.0 m
Or
ganizado por: Erica A. V. Rocha.
Quando comparado às informações dos quadros 02 e 03, vê-se que houve um maior
avanço da borda da voçoroca no período compreendido de Dezembro a
Julho
que apresenta
maior índice pluviométrico. Tal observação é evidenciada quando observado as medições nos
meses de
Julho a Novembro
, que
não apresentou crescimento.
E
staca nº 1
Estaca nº 2
80
No ano de 2006, através dos dados obtidos observa-se um crescimento maior em u
m
dos pontos (estaca de 01), é possível constatar também que os períodos chuvosos ocorrem
um crescimento maior, observe o quadro nº 04 e gráfico nº 01.
Quadro 04 Medidas obtidas com o monitoramento feito com estacas no período de
28/11/2005a 15/09/2006.
(Índice pluviométrico
no período
=
1379
mm)
DATA
PONTO 01
PONTO 02
PONTO 03
11
/12/2005
2.46 m
3.58 m
2.66 m
06/01/2006
1.96 m
3.58 m
2.66 m
08/03/2006
0.75 m
3.58 m
2.66 m
10/06/2006
0.58 m
3.58 m
2.66 m
15/09/2006
0.48 m
3.40 m
2.66 m
TOTAL
1.98 m
0.18 m
0.00 m
Gráfico nº 02
Precipitação 2005 e 2006.
0
100
200
300
400
500
600
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
0
100
200
300
400
500
600
Precipitão 2005
Precipitão 2006
81
7.3.
Descrição dos
perfis de alteração
Uma outra forma de avaliar os processos erosivos foi através da descrição dos perfis
de alteração observados nas paredes da voçoroca, foram feitos observações com base nas
seguintes características morfológicas: profundidade, transição entre os horizontes, cor,
textura, estrutura, porosidade, consistência e presença da atividade biológica, dentre outras.
Os
perfis representativos adotados foram aqueles onde as paredes possuíam maior
altura, nos quais foi possível identificar
a difere
nça entre os
horizontes, resultante do processo
de intemperismo. Em cada um dos horizontes identificados foram coletadas amostras para
an
álise em
laboratório
.
A descrição foi feita do topo para a base, ressaltando que a área não apresenta grandes
diferen
ças em suas características, a distinção é mais aparente a jusante, caracterizando neste
local também área de maior concentração da vegetação, e também próximo ao curso d’água.
Fig.34
Representação do perfil de alteração.
Parede da voçoroca.
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. / 2006.
1º camada
material
argilos
o
Camada de seixos
Rocha alterada
82
Assim de acordo com a descrição feita, nos pontos 1, 2 , 3, 4 e 5, delimitou-se as
camadas como (a), (b) e (c).
Ponto I:
(a) 0 a 2.60 metros: possui cor 5YR 5/8 vermelho amarelada, baixa porosidade, te
xtura
argilosa, com estrutura granular, consistência ligeiramente dura e sua transição para o
horizonte inferior é abrupta. Há presença de raízes.
(b) 2.60 m a 3.40 metros: sua caracterização muito semelhante ao horizonte superior
diferenciando na sua co
nsistência que é macia.
Ponto II:
(a)
0 a 2.40 metros: cor possui cor
5YR 5/8
vermelho amarelada, baixa porosidade, textura
argilosa, com estrutura granular, consistência ligeiramente dura e sua transição para o
horizonte inferior é abrupta.
(b)
2.40
a 5.20 metros: é um horizonte constituído por seixos de quartzo, com alta
porosidade.
(c)
5.20 metros: é um horizonte de rocha alterada, a cor é 2.5YR 4/6 v
ermelho
, possui
uma média porosidade, é de textura franco arenosa e consistência macia.
Ponto I
II:
(a) 0 A 2.00 metros: é semelhante aos outros horizontes, a cor é 5YR 5/8 vermelho
amarelada, de baixa porosidade, com textura argilosa, estrutura granular, a consistência é
ligeiramente dura e sua transição para o horizonte inferior é abrupta.
(b)
2.0 a 2.70 metros: ressalta-se que é um horizonte constituído por seixos de quartzo,
com alta porosidade, o qual está presente em toda a voçoroca, é um material da própria rocha
que não sofreu intemperismo.
(c)
2.70 metros: é de cor
2.5 YR 5/4
Bruno aver
melhado
, possui alta porosidade, é de
textura média e com estrutura granular, sua consistência é macia.
83
Ponto IV:
(a)
0 a 0.80 cm: cor
5YR 4/6 v
ermelho amarelado
, de baixa porosidade, é textura argilosa
e estrutura granular, a consistência ligeiramente d
ura.
(b)
0.80 a 1.90 metros: é um horizonte constituído por seixos de quartzo, com alta
porosidade.
(c)
1.90 metros: de cor 2.5 YR 5/4 Bruno avermelhado, alta porosidade, de textura franco
arenosa e consistência macia.
Ponto V:
(a) 0 a 0.82 cm: cor 2.5 YR 4/8 vermelho, alta porosidade, de textura franco arenosa e
estrutura granular, sua consistência é ligeiramente dura.
(b)
8.70 metros: cor 2.5 YR 4/8 v
ermelho
, com média porosidade, textura franco arenosa,
estrutura abrupta e consistência macia.
Q
uadro
05
Resultado da análise granulométrica
.
Amostra
Argila %
Silte %
Areia fina
%
Areia
Grossa%
Areia total
%
1 A
42,60
07,20
35,40
14,80
50,20
1 B
41,80
09,10
32,70
16,40
49,10
2 A
43,80
07,30
36,60
12,30
48,90
2 C
35,40
16,30
33,00
15,30
48,30
4
A
43,40
08,10
38,40
10,10
48,50
4 C
15,10
22,30
52,70
09,90
62,60
5 A
40,80
06,30
42,00
10,90
52,90
5 B
35,20
05,60
33,40
25,80
59,20
5 C
30,80
25,10
36,10
08,00
44,10
Amostras analisadas no Laboratório de Geomorfologia do Instituto de Geografia
UFU
200
6.
A ocorrência de escorregamentos que acontecem na voçoroca pode ser entendido
p
elas
característica
s do perfil do solo local, pois se a camada inferior é mais arenosa que a superior,
portanto pode ocorrer que o fluxo no interior da voçoroca solapa as paredes em processo de
84
erosão interna provocando então os escorregamentos, processos estes que contribuem para a
evolução da erosão.
(Fig.37
).
Fig.35-
Escorregamentos das paredes da voçoroca, processo que contribui
para o avanço das
bordas da voçoroca.
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. / 2006.
Para que estes mecanismos desenvolvam algumas condições são necessárias,
Carvalho
1992 (apud Santos
2002) descreve que:
São
condições necessárias, as estações chuvosa e seca bem definidas e a
presença de espesso manto de intemperismo pedologicamente bem
diferenciado, com horizonte superficial argiloso e coeso. Sendo, porém que a
primeira condição provê fluxos subterrâneo e superficial na estação chuvosa
e na seca encontra-se em condições preparatórias – fissuras nas paredes
subverticais e rebaixamento do lençol freático. Na segunda cond
ição
proporciona paredes subverticais estáveis na capa argilosa e armazenamento
de água nesta e abaixo, em terreno silto
arenoso em coesão.
Para realização dos ensaios de limite de liquidez foi utilizado o método de Casagrande,
feito com amostras coletadas nas paredes da voçoroca em cinco pontos diferentes, e a mesma
amostra foi seca
em placa de vidro para a realização do
s ensaios de limite de plasticidade.
85
Marsal e Nuñez (1983 pág.86) apresentam os seguintes dados para o índice de
plasticidade (IP) relacionada à erosão interna:
IP >15
Alta resistência (exceto solos com alto teor de
sódio
altamente susceptível
à eros
ão interna
)
6 < IP <
15
Média resistência
.
IP
< 6
Baixa resistência.
Assim sendo, em todos os pontos onde foram coletadas as amostras para a
determinação dos Limites de Atterberg (liquidez e plasticidade), os valores definidos são
maiores que 06 e men
ores
que 15, portanto o solo da área estudada possui média
resistência
à erosão interna, apenas o ponto de 4, menor que 6 que apresenta baixa
resistência a erosão interna.
Quadro 06
Índice de Plasticidade.
Índice de Plasticidade
%
PONTO 1 A
PONTO 1 B
0,2
9,8
PONTO 2 A
PONTO 2
B
8,9
10,3
PONTO 3
A
PONTO 3 B
10,5
N/P
PONTO 4
A
PONTO 4 B
11,8
N/P
PONTO 5 A
PONTO 5 B
10,4
N/P
Organizado
por: Erica A. V. R
ocha
86
7.4
-
Transporte de partículas por fluxos concentrados
no
interior da voçoroca
O material removido com a queda d’ água é transportado pelo escoamento pluvial no
interior da voçoroca, a quantidade e a velocidade do fluxo dependem das características da
chuva (intensidade e duração). Com o monitoramento da vazão e os dados pluviométricos
obtidos foi possível fazer uma comparação entre as informações chegando a resultados
sobre
a quantidade e tamanho dos sedimentos transportados. O material transportado varia de areia,
argila e silte, sendo, porém que uma variação na granulometria conforme o evento
chuvoso.
No período de estiagem a quantidade de sedimentos transportados diminui, assim
como a vazão
devido
a
ausênci
a de precipitações concentradas
.
Com o inicio da estação
chuvosa a quantidade de sedimentos transportada aumenta conforme a característica do
evento chuvoso,
e
vai ser modificado também as características granulométricas das partículas
transportadas.
O material transportado é fornecido por mecanismos de erosão
interna, “a vazão do
canal é uma variável i
mportante que influencia no destacamento, transporte e sedimentação
dos sedimentos transport
ados na calha da voçoroca” (REIS,
2006
).
Para Uehara (1998)
:
Durante o transporte de
partículas
elas podem se depositar de forma
diferenciada dependendo de sua granulometria, forma e densidade. Para
determinada granulometria as esferas decantam mais rapidamente bem como
os
minerais
mais pesados
assentam
-se antes dos minerais mais leves, estes
então serão favorecidos pelo transporte em suspensão
.
Foram coletadas informações relacionadas com a dinâmica de transporte de
sedimentos por arraste e suspensão com observação aos fatores atuantes neste processo. As
amostras para análise em laboratório foram coletadas no vertedouro
construído
no interior da
voçoroca, na ramif
icaç
ão
monitorada.
87
Fig. 36
. Dispositivos usado para a coleta de sedimentos
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. / 2005.
No intuito de determinar a qualidade e quantidade de material transportado,
foram determinados parâmetros como: a vazão, o peso e granulometria dos sedimentos, além
do índice pluviométrico.
Para tanto no fundo do vertedouro foram adaptados recipientes para a coleta dos
sedimentos transportados por arraste e na lateral do vertedouro canos de PVC em alturas
variando em 5 cm, 10 cm e 15 cm para a coleta de sedimentos em suspensão, o tempo de
coleta era monitorado bem como a vazão
(Fig.39
)
Fig 37
Determinação da vazão
.
Autor
: ROCHA, E. A. V., mar. / 2005.
Recipiente
para sedimento
transportado
por arraste.
Coletor de
sedimentos
suspensos
88
Para monitorar a vazão, a medição era feita com a utilização de uma bacia plástica
com capacidade de 6 litros. Marcava
-
se o tempo necessário para que a bacia enchesse e a
partir deste valor regras de três foram ela
boradas para saber a vazão do canal em litros por
segundo ou m³/s.
A vazão na voçoroca é alterada
principalmente
em função do índice pluviométrico, no
período de estiagem foram constatados momentos em que não havia vazão no interior da
voçoroca
(fig.00
).
A
fotografia abaixo foi tirada no dia 14/09/2005 o total de precipitação no
mês de agosto foi de 9.8 mm e sem chuva até este dia.
Fig.38 –
Foto
tirada no dia 14/09/2006.
Autor: ROCHA, E. A. V.
Fica constatada que com a ocorrência de chuva é o fator de maior influência quanto ao
transporte de sedimentos, tanto referente à variação da vazão quanto a contribuição para a
ocorrência de mecanismos de erosão
interna
, a tabela abaixo traz informações sobre a
variaç
ão da vazão e transporte de sedimentos.
Vazão 0
,00
89
Um outro dado importante a ser observado é que o tamanho do material transportado
é
resultado do volume e intensidade da chuva, visto que este material transportado pela água é
fornecido pela erosão, portanto maior volume de água, maior será a capacidade de transporte
de material em tamanhos variados. Na fig.41 abaixo é possível observar o transporte
de
matacões de 24 cm e aproximadamente 2 kilos em um dia de chuva forte aumentando a vazão
no interior da voçoroca.
Fi
g. 39
Transporte de material no interi
or da voçoroca. Blocos de 25 cm.
Autor: ROCHA, E. A. V., mar. / 2005.
Os canos de PVC instalados no vertedouro para a captação de material em suspensão,
foram colocados a uma altura de 5 cm, 10 cm e 15 cm, como a vazão no interior da voçoroca
não é volumosa, apenas em dias de muita chuva é que foi possível observar a qualidade do
material transportado. Para exemplificar, no dia 12/12/2005 com dados pluviométricos de
00,00 a água do escoamento atingiu 15 cm de altura no vertedouro, o material foi coletado e
feito o ensaio de peneiramento.
90
Constatou
-se que o material coletado a 5 cm de altura é composto de material mais
grosseiro com presença de seixos de 3,35>2 em pequena quantidade, mais da metade dos
sedimentos constituído de areia grossa. O material que atingiu 10 cm de altura, em menor
quantidade, composto em quase metade de areia grossa, a 15 cm, o material estava constituído
em grande maioria de areia média. Portanto, ocorre o transporte em suspensão quando a
intensidade de turbulência é maior que a velocidade de deposição das partículas
movimentadas, o transporte por arraste é também função da forma, tamanho e densidade
das partículas que compõe o material transportad
o.
Para obter dados sobre este material foi realizado no LAGES (Laboratório de
Geomorfologia e Erosão de Solos UFU) o ensaio de peneiramento facilitando a
identificação do tamanho das partículas transportadas, visando uma melhor interpretação do
potencia
l de transporte do fluxo no interior da voçoroca. Assim:
Dia 26/01
/2006,
registrou-se uma vazão de 0.17 l/s, foi feita uma coleta de
sedimentos em um período de 48 horas, tendo em vista que o transporte de sedimentos era
baixo necessitando de um tempo a mais para a coleta. Nesta semana não choveu, o último
dado registrado foi no dia 20/01 (14.19mm), foram identificados também movimentos de
massa neste período. Assim, obteve
-
se um valor de 0.10 gramas por segundo.
Dia 30/01/2006 o índice pluviométrico registrado foi de 14.20mm, a vazão de 0.35
l/s, a coleta de sedimentos foi feita em um período de 17 segundos, portanto um total de 1.58
gramas por segundo.
Dia 02/02
/2006
registrou-se 13.72 mm de chuva, durante esta semana choveu
bastante, a vazão foi de 3 l/s, constatando que a capacidade de transporte de sedimentos foi
maior, em quantidade e também quanto ao tamanho das partículas. Esta informação esta
relacionada aos movimentos de massa ocorridos nesta semana, em especial no dia 20/01,e aos
eventos chuvosos ocorridos neste período o que contribuiu com a remoção e acúmulo de
91
sedimentos em suspensão no interior da voçoroca. Foi coletado um total de 333 gramas por
segundo.
Abaixo segue gráficos que são representativos da variação do transporte de
sedimentos
em relação a vazão, demonstrando a influencia da condição climática quanto a
esta dinâmica
(Fig. 42 e 43)
.
Vazão
0
0,67
1,34
2,01
2,68
3,35
26-01-2006 30-01-2006 02-02-2006
litros/segundo
Vazão
Fig. 40
Representação da variação da vazão em três dias monitorados.
Org. ROCHA, E. A. V., set. / 2006.
Sedimentos
0
30
60
90
120
150
180
210
240
270
300
330
360
26-01-2006 30-01-2006 02-02-2006
Data
gramas/segundo
Sedimentos
Fig.4
1 –
Variação n
o transporte de sedimentos.
Org. ROCHA, E. A. V., set. / 2006.
O quadro 07 apresenta os dados do peneiramento do material coletado nestas datas
citadas acima, o ensaio foi feito no LAGES Laboratório de Geomorfologia e Erosão de
Solos
UFU.
92
Quadro
0
7
– Dados do Peneiramento
Amostra
26/01/2006
30/01/2006
02/02/2006
Seixos 20>50
-
-
9.37%
Seixos >3,35
0.33%
27.62%
Seixos 3,35 >2
0.03%
0.13%
1.17%
Areia grossa 2>0,210
49.26%
38.60%
40.01%
Areia média 0,210>0,125
30.61%
18.95%
17
%
Areia fina 0,125>0,053
18%
32.67%
4.59%
Silte e argila <0,053
2.10%
9.33%
0.20%
Total utilizado para o ensaio.
1.606.48g
27g
666.02g
Org. ROCHA, E. A. V., set. / 2006.
Com as informações quanto a granulometria do material é possível concluir
que a dinâmica do transporte está ligada
às
características da chuva, pois em dias de chuva
intensa são transportados sedimentos de tamanhos maiores
.
A produção e transporte de sedimentos fornecem diariamente uma grande quantidade de
sedimentos para os canais fluviais gerando impactos, os quais trazem sérios prejuízos ao meio
ambiente, pois a maior taxa de sedimentação nestes canais, aumenta os processos de
assoreamento.
93
8.0
-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a pesquisa foi possível atingir os objetivos propostos, já que possibilitou o
acompanhamento
do crescimento da voçoroca
, identificando os fatores mais
atuantes.
A análise das feições erosivas foi realizada com base nas informações obtidas através
do monitoramento do avanço das bordas da voçoroca e a dinâmica de transporte de
sedimentos
em conjunto com os resultados dos ensaios de laboratório e
a
caracterização
física
da área de estudo.
Conclui
-
se que o processo erosivo estudado foi originado principalmente por fluxos de
águas superficiais resultado das precipitações pluviométricas, com alguma contribuição das
águas de sub
-
superfícies
.
A
s
características físicas da área de estudo constituem os fatores que contribuem para
à erosão acelerada, como o relevo e o solo, visto que a declividade da área associada ao
escoamento concentrado que é formado nos caminhos feito pelo gado e também as
características das chuvas e a cobertura vegetal, além das
atividades
antrópica
s contribuíram
para que este processo acontecesse de forma acelerada.
Em observações feitas no campo e com o diagnóstico sobre a área, conclui-se que
a
geometria das feições erosivas é de forma linear, com desenvolvimento de mecanismos de
erosão de cabeceira ativa, devido a grande intensidade fluxos concentrados
superficiais
direcionados pelas declividades, provenientes de água de chuvas, o que determina também o
crescimento de algumas ramificações mais que as outras, que este fluxo não atinge todas as
ramificações.
De acordo com a constituição litológica e textural do material disposto no horizonte C
do perfil constitui-se de um material siltoso, rico em feldspato e micas, que se desagrega
facilmente pela ação da água, que ocasiona solapamentos de base, com posterior desabamento
94
das camadas superiores do perfil por força mecânica em função da perca de sustentação da
base.
A área ocupada com pastagens promove a degradação dos recursos naturais, o manejo
inadequado é responsável pela intensificação da ação dos fatores erosivos naturais o que
promove o aparecimento de feições erosivas lineares
.
Os resultados dos ensaios de laboratório
foram
conclusivos em mostrar que o solo
transportado no interior da voçoroca apresenta variação na granulometria de acordo com o
índice pluviométrico. Assim, nos períodos chuvosos a quantidade de material transportado é
maior e com granulometria mais grosseira.
Quanto ao Índice de Plasticidade, o solo da área apresenta
média
resistência a erosão
interna, portanto, o crescimento da voçoroca está mais relacionado com o período chuvoso
,
pois formação de um fluxo
concen
trado de escoamento superficial que contribui com este
processo.
O monitoramento feito com estacas possibilitou a determinação do crescimento da
ramificação em alguns lugares, apenas três estacas (1, 2 e 3) se destacaram com um grande
avanço da borda, e assim pode se dizer que o crescimento da voçoroca está ligado ao
escoamento superficial que desencadeia mecanismos que são atuantes no desenvolvimento de
processos erosivos, foram identificados processos como: alcovas de regressão, erosão por
queda d’
água, transporte de sedimentos no interior da voçoroca.
95
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