Mas a metodologia da aproximação da CMM favorece esses
momentos, na hora que vamos dar o banho, penteando seus cabelos,
maquiando-as, nos ensaios pela madrugada, comendo juntas, segurando
sua mão no hospital, fazendo bolo de a niversario, torcendo na platéia por
suas vitórias, se fortalecem os laços de confiança, porque elas reconhecem
nossos esforços, mesmo quando tudo parece dar errado e eu educadora
quero desistir, elas se preocupam, elas cuidam da gente e vê aqueles olhos
cheios de sonhos, vê a esperança invadindo, é o que me dá forças, me
sinto renovada, porque como educadora da CMM, não posso ensinar a
desistir de lutar, tenho que ensinar a enfrentar os obstáculos, quantas vezes
somos reeducados por elas? Com seus exemplos de vida? Perdi a conta.
Quando acho que já vivi todas as situações, elas insistem em me
surpreender.
É neste contato diário com vidas machucadas que se experimenta
profundamente a raiva, quando, por exemplo, uma criança ridiculariza o educador no
pátio diante das demais, chamando palavrões, agredindo fisicamente o educador, ou
quando ele recebe uma criança vítima de violência sexual toda machucada que ao
relatar - lhe o fato, se emociona e volta para casa , mas não consegue dormir
pensando na dor física e p síquica daquela criança. É necessário, portanto, um
acompanhamento contínuo dos educadores através de terapias grupais bimestrais,
ou trimestrais, semestrais, em última instância.
É nessa dinâmica da vida que se dá a relação, ou seja, educadores e
meninas vão se humanizando. E esse movimento que se vai dando a forma humana,
a existência, então, como diz Paulo Freire, é que o educador e as meninas vão se
“existenciando”, a existência se constrói e re constrói continuamente para o
amadurecimento, para que se t ornem mais pessoa, e desta forma o educador vai
instigando, também, as meninas a inserirem -se crítica e politicamente na sociedade.
Nesta teia pedagógica a criança e o adolescente são sujeitos de sua história,
deixam de ser vítimas, de serem tutelas por al guém e passam a assumirem -se
sujeitos. As meninas não são seres programados, teleguiados, mas sujeitos e,
enquanto tal, dignos de direitos e deveres, de acordo com sua condição peculiar de
desenvolvimento.